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Full text of "Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo"

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REVISTA 


to 


M 


t 


DE 


s.  Paulo 


VOLUME  XII 


1 


^/V 


/t 


I 


1907 


I 


SÃO  PAULO 

TTP.  DO    <  DIÁRIO   OFFICLAL  * 
190B 


1 


"1 


índice  do  volume  XII 


à  Gruta  IsABEL^pelo  tr.  dr.  Joaquim  Joeé  de  Carva^tí^*  3 
De.  LiTis  Bahbosa  da  Silva— pelo  ar,  dr.  Aagueto  Cessar 

de  Miranda  Azevedo     *.•••«•.,  20 

A    SaRRA  í>o   KsptNHAço— pelo  ^r.  dr.  Orville  Derby  •      »  40 

Jont  Clembkte  Pereira — (»elo  ar.  coronel  Ernesto  Senua  62 
JoaÈ  BoNiFACtn  (o  velho)— pelfi    ar.    dr,    Estevam    Li-af- 

Buurrf^ul *•••«  St 

DlCClONAlita   T0POOltAÍ>H:CO    DA    Ct>MARCA   DE    CaSA    BrA^CA 

^-pêki  gr,   Lafajette  de  Toledo 121 

APONTAMENTOS      Ri-LATtViíS      A      ALKIXO     GaRCIÉ  — ^  pcIo     ST. 

Ernesto  Guilherme  Young 217 

O  Voador — pela  sr.  dr.  José  Viena  í-azenda.  •  .  «  229 
JuiK  DK  KóRA  EM  SÃO  pAUixi— pelo   St,    dr ,  Alfrcdo   de 

Toledo •       244 

Fadrs  Bartholomeu  HE  GuanÂo  — pelo   ar.  dr.   Hoeaimah 

de  Oliveira  •      .      .      . 255 

Ouvidoria    dm   Paranaguá— pelo  sr.  dr.  Alfredo   de   To- 
ledo         .......       262 

LmEtRAS   NOTAS   DB   VIAGEM    D  '    HlO  DE  JAPÍBtBO  À  CAPITA- 
NIA DK  S.    Paulo,  no  Brasil,  no  vf.iUo  nw    1813, 

COM   ALOUMA6     ííOTiClA8     SOBRE   A   ClPA'*»    DA    BaHIA 

O  A  ILHA  Tristão  da  Cunha,  entre  o  >  abo  e  o 
Brasil  k  que  ba  i*ouco  rm  occu^ada— por  Gus- 
tavo Beyer.  Traducçâo  do  Bueco  pelo  ar.  dr.  Al- 
berto LofgreD .       275 

JUIJ&ADO    DE    PÒRA      B     OuVIDORlA     DE     ItÚ — peío     Br.      dr, 

Alfredo  de    Toledo 312 

Ob  Indigenas^ — peln  ar,  Leôncio  do  Amaral  Gurg^l  ,  .  319 
O  Padri:  Manorl  de  Moraejj — pelo  sr.  dr.  M,  de  Oliveira 

Lima, 331 

TlRADENTBtí    B    A    EdUCAÇAo  ClVICA.    CONFERENCIA.    ApPBN- 

diob:  I,  A  Execução  de  Tiradenteb,  ))  descri* 
pçio,  2)  Narração  rimada.  II,  Notas  w  esclare- 
cimentos: 1.*  A  Effigib  do  Haiídis.  2.*  A  rei- 
vindicação    pfrnambucana.     3,**    A    guerra     dor 

MASCATES.    4/    A  CONSPIRAÇÃO  MINEIRA,       5,"    VeNDEK 

é  J-  J.  DA  Maia.     6,"  Pomb*l    h  H.  José   de  Ti- 

RADBNTKS,    /,*  ADVERTÊNCIA  PINAJL^pelo  Sr.  proteSSOr 

Joué  Feliciano   ..*,,......       347 


ÍNDICE  n 

o  FAPBL   DE   JOSÊ   BOKJPACIO   SO   MOViMEKTO   DA    HJDEPEK-^ 

DENCXA — peb   ET.    ir,  M<  de  Oliveira  Lima,      ,      ,       412 

Os  MACHADOS  D  a  PEDHA  DOS  ÍNDIOS  DO  BftAâlL  B  O  SBO 
SICPRKOO    KAS   DBRBtJBADAS    Dlfi   MATO — polo    ir«   prO^ 

f«flBor  dr.  HertDSnn  ron  Iberíug' 426 

QuBRO-jà  (22  DB  JULHO  Dl  1840)-- pelo  »T ,  d r.  José  Vieira 

Paxenoa  .      .  ,      .      , 437 

EbvoluçAo  db  lB42^p6lo  sr     dr,  Joáo  Baptiita   de  Mo- 

raea     ...,,...,.  ,  441 

FoRTB  MAÇADA !  —^  pelo  BF-  corooel  H,  Ã.  de  Arar j o  Ma- 
cedo        ,  -      .  ...  ,      ,  618 

E^ccoRsio  ao  HcrwaNZOBi— cunfereceja  feita  pelo  Duque 
de  Abbmzzos  em  Londres  e  traduzida  pelo  sr.  dr. 
Ediíardo  Losehi .,.,..  ,      ,      .      .        628 

José  Lous«fíço  da  Costa  ãouiak  (D.)— pelo  sr.  Barão  d© 

Stadari    .*.»,,.,      656 

BltLIOGRAPHIA ,       .      -       .        658 

A    BlBLTOiHECA   BRA^lLtENSB    r»0   SR,  DR .  JoSèCa^LOS  Ko- 

DaiGUBa— peto  sr.  dr*  M.  de  Oliveira  Lima,      ,  658 

SíJDASlEKlKASISCHR  FELSZElCBNUÍfaEM  (PlCTOORAVORAft  BDL-* 
AMERICAN  AS)    DO    DR.     ThBODOB    KoCH  — peiO    BT,   Ho- 

dolfiho  ven    Iheriug 663 

Gustavo  Betbr.    .     .     • *     •       665 

ViAjANTK  Sl*kco  (18l3)— pelo  Br.  dr*  Joaé  Vieira  FazeD da.       665 

As    KOTAS    DE    VJAOEM    NO     BrASIL,     BM    I8l3,     DB     GuSTAVO 

BsYEB— pelo  sr.  dr.  M,  de  Oliveira  Lima«  .  •  669 
QoKH  BRA  Gustavo  Beyer  — pelo  sr.   dr.   M,   de  Oliveira 

Liina .     .     .     ,  672 

Actas  das  sessõib  realizadas  durante  o  anno  db  1907,  677 

DíSCUESa   DO   ORADOR   SR     HlPPOLYTO    DA    SlLVA    NA   SEStíÃO 

AHHTTERSARIA *       * 710 

RflLATORlO   DOS     TSABALtíOS     R     OCCURRBKClAfl     DCJRAKTSI     O 

ANNO  Dl;  1907,  apreacotado  pela  Directoria*  •  *  725 
Quadro  saciai  do  InntiíUrUt    hiaU/rho     e    Geographico    ãe 

S.   Pkulú,  em  dezembro  de  1907 729 

Directoria .      •  729 

PrmdenUí  hanorario *      -      .      »  729 

SodúM  hennmeritos  •.      +     ** 729 

Socioê  honorários    •••»««• 730 

Sócios    correspondmiie»    domicitiados   fora    do    Estado   de 

S,   Paulo 731 

Quadro  dos  sócios  accêtioa  ern  1906,      ......  733 

»          >       s              >          >    1907\     ......  734 

Edação  dos  êocios  faílecidos  até  31  de  dezembro  de  1907  73& 


BE  VI  ST  A 


DO 


Instituto  Histórico  e  Geograpliico 


DE 


SÂO   PAULO 


A  GRUTA  ISABEL 


Relatório   Eiimí^rio  de  Eim  exploiaçilo,  seguido  de  breves 
considertções  hÍEtoiico-geograficas 


«  Qnien  no  ndmirn,   eftrcmecido  por  nn  vértfgo  snbllme, 
desde  cl  borde  pedregoro  de  on  plcncbo  desigual, 
do  qoe  modo  bncia  el  ahisroo,  com  fragor  qae  el  pecbo  oprime, 
precipitaeo  el  torrente  por  ei  agrio  penaecal  ». 

Emillo  Ferrari 

Te  la  Réal  Academia  Erpanola.  (Poeiin-*  La»  Tierra*  Lianas» 
—  na  Revista -£/  íris  de  Pas- uno  XXIII  n.  i76,  de  29 
de  Jalbo  de  KOC.  Madrid.) 

O3  geólogos  principalmente,  os  que  provam  deleites  com 
estudarem  os  interessantissimos  fenomencs,  que,  em  indefesso 
trabalhar,  revolucionam  não  só  a  epiderma,  quanto  mais  quiçá  as 
entranhas  do  planeta  por  nós  habitado,  com  particular  atenç&o 
observam  e  admiram,  confessando- se  sem  frases  bastantes  para 
descrevei  em -nas,  o  sem  tintas  convenientes  na  paleta  para  de- 
pintarem-nas,  as  cavernas  mais  ou  menos  vastas,  as  grutas  de 
maior  ou  menor  amplidão,  por  especial  as  de  formação  calcarea, 
que  rompem  e  excavam  caprichosamente  as  colossaes  móies  ro- 
chosas, variegada  e  intricadissima   ossamenta  da    crosta    terreal. 

Taes  acidencias  são  trabalhadas  ali  pelo  desecamento  de 
sedimentos  inconsolidados,  fazendo  retrações,  alhures  por  abalos, 
tremeres,  casos  sismicos,  rompendo  os  estratos,  e,  num  ou  noutro 
caso,  produzindo  deslocações,  fendas,  soluções  de  continuidade  no 
âmago  dos  primitivos  ma^siços,  vindo  por  fim  a  insistente  a^ão 
erosiva  dos  subterreos  lençóes,  correntes  ou  fios  de  agua,  o  cau- 
sas outras  não  perfeitamente  definidas,  inclusas  as  trepidações 
vulcânicas,  onde  estas  ocorrem,  a  completarem  a  arquitetura  das 
giutas.  Assim  opinam  e  explicam  alguns,  quando  outros  por 
maior  simplicidade  cmtentam-se  cem  tudo  attribuirem  a  vacuolos, 
lacunas  ou  falhas,  abertos  pela  irregular  consolidação  dos  ele- 
mentos, na  fase  do  i esfriamento  planetário. 


—  4  — 

Assim  sendo,  ou  por  caaea  outra  dependente  de  ulteriore» 
estudos,  até  agora  ainda  nào  cabalmente  feitos,  fica  sempre  in- 
discutível, e  nimiamente  interessante  para  o  cientista,  a  suprema 
beleza  desses  antros,  deases  abismos,  decorados  pela  capricbosa 
fantasia  do  sublime  e  nataral  artista  (?),  que  inimitável  e  ar- 
roubadamente  os  produziu !. 

E  certo  é  que,  em  qualquer  parte  onde  êles  ^e  descobrem^ 
a  inteligência  dos  sapientes,  dos  veneradores  do  bélo  em  quaes- 
quer  linhas  de  projVçào,  imediatamente  os  regista  no  vasto  pa- 
trimónio cientifico  ;  e  as  administrações  esclarecidas  e  patrióticas, 
lhes  dispensam  as  maiores  e  melhores  solicitudes,  porque,  sem 
haver  negul-o,  êles  concon-em  paia  u  celebridade  dos  paizes, 
com  serem  dos  mais  admiráveis  e  selétos  encantos  naturaes. 

Nào  é  o  nosso  Brasil  dos  menos  aquinhoados  cem  os  prodí- 
gios desse  género,  de  mais  bem  podendo  ser  que  muitas  outras 
notáveis  sorprêsas  nos  ohtejam  cousoautemente  reservadas,  na  ex- 
tensa porção  ainda  incivílisada,  ou  menos  conhecida  de  nosso 
vastíssimo  território. 

Si  a  Grécia  zela  a  sua  Antiparos^  si  a  Bélgica  encaata-so 
com  a  sua  Han-sur-Lesse^  si  a  França  deleita-se  com  a  das 
Moças  e  a  de  Osselle^,  si  os  Esla-los  Unidos  afamam-se  cora  a 
Mammouth  no  K^ntucky  e  a  de  Alabastro  na  Califórnia  ne- 
nhuma dessas  excede  as  prodigiosas  fabricas,  os  rememoráveis 
encantos  da  nossa  Taperwsú  no  Paraná,  da  do  Inferno  em  Mato 
Grosso,  e  da  Isabel^  no  município  de  Bananal,  ao  norte  do  Pasta- 
do de  S  Paulo,  esta  que  eu  tive  a  ventura  de  explorar,  inda 
que  incompletamente,  que  fui  o  primeiro  o  único  a  desv*rever  n 
fazer  conhecida,  objéto  deste  invalioso  e  só  original  trabalho 

E  já  nao  pos:'o  deixar  de  meu -orar  também  as  Caveriias  do 
Iporanga^  sobretudo  a  do  Monjolinho^  que  m^íis  celebrisada  ficou 
para  os  cientistas,  porque  em  suas  aguas  foi  ha  pouco  pescado 
o  typh  obagrus  kroneiy  verdadeira  novidade  ictiologica,  o  primeiro 
espeleicola  (spdceicala)  encontrado  no  Brasil,  peixe  esse  que  tem 
a  triste  particularidade  de  ser  cego,  como  s&o  os  demais  amblío- 
psida^  {amhlyop4d(é)  da  America  do  Norte. 

Eu  vi,  na  Kosmos  n.  1  de^te  ano,  o  perfeito  desenho  desse 
curioso  peixe,  o  primeiro  bagre  encontrado  na  lôbrega  cariiérula 
de  uma  gruta,  não  pequeno  comtudo,  de  pele  translúcida  ;  e  vi 
também  duas  magnificas  fotogravuras  do  MonjoLinho ;  podendo, 
BÓ  por  isso,  asseverar  que,  confrontadas  as  duas  excavações,  leva- 
Ihe  vantagem  a  Gruta  Isabel, 

Da  interessantissima  descoberta  do  typhlohagrus  cabe  o  mere- 
cimento ao  Sr.  Eicardo  Krone,  de  Iguape ;  e  foi  em  honra  deste 
que  o  Sr.  Alipio  de  Miranda  Kibeiro  denominou -o — ti/phlobugrus 
kronei — ,  ciitorioso  e  justo  jiremio  assim  dado  ao  conspícuo  obser- 
vador, como  sóe  fazer  se  nas  lidas  da  ciência. 

E  qual  nào  foi  o  meu  prazer,  quando,  na  noite  de  7  de  Fe- 
vereiro, achandome  no    salão  da    Sociedade    Scientifica  de    São 


-  5  — 

Pauloy  abi  vi  uma  grande  e  ezplendida  fotografia  do  Monjo^ 
lÍ7iho;  e  mnis,  vi  também,  contemplei  por  muito,  apreciei  bas- 
ta» te  o  typhlobagrus  kronei^  êle  próprio,  o  peixe,  a  raridade, 
conservado  em  um  frasco,  que  ]á  se  acbava  a  contentara  curio- 
sidade dos  que  interesstidos  fossem  no  conhecimento  dessas  granded 
minúcias  da  historia  natural. 

Poucas  linhas  acima,  dice  eu  que  o  nosso  Brasil  nào  é 
dos  menos  aquinhoados  com  taes  prodigios ;  e  já  me  será  per- 
mitido corrigir  essa  frase,  pois  nos  é  licito  afirmar  dt-sassom- 
bradamente  que  nenhum  outro  país  no  mundo  é,  quanto  o  nosso, 
tão  opulento  de   encantos  taes ! 

Os  que  conhecem  a  fenomenal  bacia  do  rio  8.  Francisco 
sabem  d»s  inúmeras  grutas  calcáreas,  que  bordam-na. 

Nnnvi  daà  vertentes  do  morro  de  que  jaz  a  cavaleiro  o  forte 
de  Coimbra,  que  tâo  glorios» mente  célebre  deixou  o  nosso  bravo 
Porto  Carreiro,  na  epopéa  militar  do  Paraguay,  vê-te  a  imensa 
•Gruta  do  Inferno,  a  qual  pode  sem  constrangimento,  abrigar 
mais  de  mil  homens,  dando-Ee  inteiro  crédito,  como  cumpre,  á 
^palavra  do  cientista  dr.  Rodrigues  Ferreira,  que  naturalística- 
.meito  deixou-a  descrita  no  quarto  volume  da  Revista  do  In~ 
stituti)  Historicol 

Mais  de  duzentas,  muitas  delas  ricas  de  fosseis,  explorou  o 
insigne  dr,  Lund.  só  na  Lagoa  Sauta,  em    Minas  1 

Feita  rapidamente  pelo  sr.  Ireneu  Joflily  (no  ^lAlmanach  Po- 
pular Brasileiro^  de  1900,  publicaçfto  editada  por  Echenique  & 
Irmão,  Pelotas,  Rio  Grau  de  do  Sul)  deparou-se-nos  a  noticia  da 
^Gruta  da  Canastra-»  na  serra  desse  nome,  no  Estado  da  Para- 
hiba.  O  i^r.  I  Joífily,  por  um  processo  penoso  e  arriscadis- 
ftimo,  e  graças  á  conduta  de  ura  prático  sertanejo,  logrou  pene- 
trar essa  excavaç&o  natural,  aberta  em  rocha  gi-anitica,  com  500 
imetro»  de  extensão  por  3  a  4  na  maior  altura,  tendo  um  solo 
;poeirento  escuro,  com  dois  a  cinco  pés  de  espessura,  e  t&o  farta 
de  esqueletos  esparsos  que,  sem  exagero,  dá  para  chamar-se  um 
grande  ossuario  humano. 

Nos  banidos  calcareos  disseminados  pelo  nordeste  de  Cori- 
tiba,  entre  muitas  e  notáveis  grutas  de  estalactites,  nota-se  a 
já  referida  d«  Taperussú.  pelo  ilustre  engenheiro  Luis  Parigot 
visitada,  descrita  e  desenhada  em  1875,  ha  32  ânuos  quasi,  sem 
•comtudo  ficar  nem  ter  sido  até  h(>je  inteira  e  completamente 
explorada,  como  nào  foi  por  mim  nem  consta-me  por  outro  ter 
sido  a  Gruta  Isabel ; 

E'  que  um  profundo  respeito,  um  bem  fundado  receio,  pop 
muita  que  seja  a  nossa  curiosidade  cientifica,  nos  retiram  de  lá 
das  protundêzas  da  Terra,  quando  nos  aventuramos  em  ezplora- 
•ções,  que  se  retardam,  pdvados  de  ar  e  de  luz,  esses  sensualia» 
áticos  elementos  da  vida. 


—  6  — 


Como  e  porque  fui  á  gruta? 

Em  Julho  de  1887,  meu  excelente  amigo  e  compadre,  o 
finado  senadjr  dr.  Jofto  da  Silva  Carrão,  Eofreu  o  primeiro  in- 
sulto de  meningo — mielitp,  que  foi  por  mim  conjurado,  isto 
quando  êle  residia  no  Rio,  à  rua  Senador  Vergueiro ;  e,  entrando 
em  conTalescimento,  assentámos,  a  rzma.  Família  e  eu  seu  me- 
dico, em  afastal-o  da  atividade  politica  o  da  vida  opressa  da 
Corte  (como  se  então  dizia,  falando  da  hoje  Cap>ial  Federal) 
mesmo  da  afluência  do  visitas,  inoportunas  na  situação,  para  as 
liberdades  tranquilas  de  uma  vilegiatura. 

O  senador  Carrilo  aceitou  para  isso  o  oferecimento  de  seu 
concunhado,  o  sr.  Barão  de  Bananal  (vivo  pae  do  exmo.  depu- 
tado federal  iv.  Rodolfo  Miranda);  e,  na  manhã  do  dia  11  de 
Agosto  daquele  ano,  tomámos  acomodação  especial  e  convinhavel 
em  um  trem,  chegando  á  esplendida  Fazenda  do  Novo  Desti' 
nOf  a  1  hora  da  tarde. 

Como  seu  medico,  de  privada  confiança,  eu  tive  o  honroso 
e  grato  encargo  de  acompanhar  o  meu  caro  amigo,  cujo  resta- 
belecimento de  mais  a  ma^s  accntuava-se  de  dia  para  dia ;  e, 
folgando  a  minha  solicitude  com  esàas  melhoras,  no  dia  15  fui 
em  diversão  á  Fazenda  da  Piedade,  residência  e  propriedade  do 
meu  colega,  o  sr.  doutor  ^lanuel  Pinto  da  Silva  Torres,  sogro 
do  ilustre  Barão  de  Bananal. 

Para  tal  passeio  houve  alguma  premeditação. 

A  todos  os  ângulos  do  Municipio  de  Bananal  e  seus  lími- 
trofes  chegavam  noticias  da  descoberta  de  uma  gruta,  de  uma 
grande  maravilha  natural ;  essas  noticias  eram  já  decoradas  pela 
imaginação  popular  cm  seus  exaltamentos  pela  fábula,  e,  muito 
legitimamente,  despertaram  febril  curiosidade,  que  movimentada 
em    verdadeiras   caravanas  os  magotes  de  curiosos. 

A  c  Nova  Phase »,  periódico  loca',  estafava-se  em  noticias 
e  comentários;  e  á  própria  imprensa  fluminense  fora  levada  a 
nova,  embora  sem  o  critério  de  uma  informação  formal  e  completa. 

O  senador  Carrão,  o  Barão  de  Bananal,  o  dr.  Silva  Torres 
conceberam,  pois,  o  plano  de  fazerem-  mo  explorar  a  gruta,  para 
descrevel-a  tão  minuciosamente  quanto  possivel .  Foi  com  essa 
aludida  premeditação  que  se  organisou  o  passeio. 

Aos  desejos  dos  nobres  amigos  defrontaram -se  os  meus;  c 
foi  nas  acheganças  hospitalares  e  carinhosas  do  dr.  Silva  Torres 
que  organisou -se  o  grupo  excursionista  por  mim  chefiado.  ]Ma- 
talotagem,  fachos  do  taquarussú,  velas,  cand-eiros,  lanterna?,  papel, 
lápis,  trenas,  termómetros,  armas  de  defensa,  homens  sapadores, 
cães  batedores,  serviçaes,  um  bom  prático  dos  caminhos  e  do 
sitio  preciso,  o  que  mais  se  jul^^ou  mister,  indispensável  o  pos- 
sível de  obter  se  ali  e  de  transportar-se  até  lá,  tudo  preparar 
6  dispor  foi  obra  para  breves  momentos. 


—  7  — 

Peln  fresca  e  orvalhosa  madrugada  de  17  de  Agosto,  á  voz 
de  partidn,  puz  em  marcha  o  meu  bando  explorador,  parte  em 
cavalgada,  parte  por  peões. 

A'  gruta!..,, 

*  * 

Gruta  (da  baixa  latinidade —  crupta^ — grupta  em  um  texto 
de  887,  do  latim — crypia—,  da  raiz  Eauscrita—kru)  ou  Caverna 
ó  a  excavaçílo  uatural,  produzida  nas  montanhas  calcareas  pela  fil- 
tração das  aguas,  que  arrastam  em  seu  curso  as  camadas  terroses 
(>u  friáveis,  intercaladas  nas  rochas  mais  consistentes,  operando 
fisico-quimicamente. 

Essas  excavações  são  geralmente  tortuosas,  ramificadas,  di- 
vididas em  desiguaes  e  irregulares  compartimentos,  separados 
por  estreitas,  acidentadas  e  escorregadias  pasFagens,  de  pare- 
des ásperas,  arrebicadas  por  concreções  calcareas,  chamadas  es- 
talactites e  estalagmitest  apresentando  conformações  excêntricas, 
singulares,  com  que  brinca  a  rédeas  soltas  a  estuante  imagina- 
ção popular. 

Objéto  de  variado  e  interessantíssimo  estudo  fornecem  es- 
sas profundas  excavações  ao  naturalista,  ao  geólogo  especial- 
mente, que,  nas  diferentes  e  diversas  frisas  que  atravessa,  con- 
templa, define  e  determina  as  sciiadas  transformações,  vencidas 
pelo  planeta,  até  chegar  á  constituição  de  agora. 

Por  estudos  taes  é  que  sabemos  terem-se  consumido  648 
milhões  de  aros  para  fazer-se  a  solidificação  da  cresta  teira- 
quea ;  que  só  a  formação  da  camada  carbonífera  despendeu  um 
milhão,  quatro  mil  e  quasi  já  duzentcs  anos  pelos  cálculos  de 
Bischof,  ou  somente  G27  mil  e  quusi  duzentos  anos  pelo  côm- 
puto de  Chevandier;  que  a  formação  terciária,  cuja  espessura 
não  excede  a  mil  pés  ingleses,  levou  350  anos  a  completar-se ; 
e  que  350  milhões  de  anos  decorreram  para  que,  em  nosso 
planeta,  a  temperatura  baixasse  de  2000  para  200  gráos.  E* 
pela  llçilo  da  geologia  que  sabemos  contarem- se  na  espessura 
da  terra,  subdivididas  em  muitas  o  diversas  camadas,  nada  me- 
nos de  12  formações,  quaes  em  ordem  decrecente :  a  ahtviana, 
a  diluvianay  a  terciária,  a  calcar ea,  a  jurássica,  a  iriadica  ou 
irias,  o  liaSy  a  carbonífera^  a  devonica^  a  siluriana^  a  huronia" 
na,  e  a  laurentina. 

A  gruta  Isabel^  como  a  denominei  e  denominada  ficou  (si  a 
binilhosa  nomenclatura  republicana  não  crismou-a  depois  com 
qualquer  nome  inexpressivo)  em  honra  á  piedosa  Senhora,  que 
então  exercia  a  magistratura  suprema  da  Nação,  encontra-so  no 
Município  do  Bananal,  curato  de  Santo  António  do  Alambari, 
bairro  do  Capitão  Mór,  nas  terras  do  tenente-coronel  Joéé  Ra- 
mos da  Silva  Sobrinho,  na  mata  da  Cascata,  entre  floresta  vir- 
gem e  protegida  por  um  cipoal  secular,  rijo  e  musculoso,  onde, 
a  200  metros  acima  do  nível  do  rio  Capitão- Mór  e  por  iugreme 


—  8  - 

subida  de  80  7o>  entre  seixos  colossaes,  éla  abre-se  de  face 
para  o  oriente. 

Assim  deDominei  quando,  descoberta  apenas,  começavam  a 
cbamal-a — gruta  branca— ^  nome  que  gerador  seria  de  equivo- 
cos,  por  já  conhecerem-se  muitas  grutat  brancas  no  Brasil, 
al6m  de  razões  outras. 

O  verdadeiro  descobridor  dessa  maravilba  foi,  pelo  ano  de 
1885,  o  pobre  caçador  Francisco  Benedito  Ribeiro,  Chico  Ri- 
beiro no  trato  popular^  que  morava  em  terras  de  Manuel  Affon- 
BO  de  Carvalho.  A  tal  fato,  perfeitamente  averiguado,  escru- 
pulosamente tirado  a  limpo,  cumpre  dar-se  importância  histórica, 
porque  alguns  outros,  meros  visitantes,  procuraram  muito  logo 
empolgar  as  glórias  da  descoberta.  O  testemunho  dos  insus- 
peitos, a  que  recorri,  sendo  mais  valioso  o  do  velho  e  honrado 
capitão  Faustino  José  Correia,  ali  morador  e  afazendado  por 
cerca  de  30  anos,  depõe  incontestavelmente  a  favor  dn  Chico 
Ribeiro,  que,  na  procura  de  caseiro  alimento  acompanhado  por 
seu  filho  Benedito,  €entocou  uma  paca*  na  famosa  f^ruta,  que 
depois  penetrou,  vencndo  enormes  dificuldade?».  Entrando,  e 
deparando>se-lbe  larga,  extensa  e  es:'ura  cavidade,  serviu- se 
de  um  fósforo  parn  orientar-se;  e,  de  um  a  um,  «ssim  con- 
sumiu uma  caixa  inteira,  a  única  de  que  entào  dispunha,  já 
descurando  da  paca,  iodo  absorvido  peks  mag<ti(irenci^8,  de  que 
o  acaso  fizera-o  extasiado  contemplador,  o  primeiro  a  desí;or- 
tinal-as. 

De  regresso,  Chico  Ribeiro,  analfabeto,  figurára-se  na 
imaginação  que  aquela  maravilba  só  poderia  ser  um  templo, 
um  misterioso  esconderijo  confiado  ao  génio  e  á  proteção  do 
sob.enatural:  e  então,  com  relatar  ao  capitão  Faustino  a  sur- 
preendente descoberta,  assim  exprimiu-«e:  —  €  dfSCfjbn  uma 
igreja/*  — E^  que,  mesmo  na  fase  da  mais  elementar  simplêza, 
o  e*pirito  humano  nempr^  e  espontaneamente  praúca  as  opera- 
ções da  filosofia :  Chico  Ribeiro  fazia  uma  associação  de  ideias 
com  seu  dizer. 

Achegados  a  essa  maquina  colossal,  preaente-se  que  extra- 
nho  e  comovente  cfipetáculo  vae  começar.  No  pórtico,  que 
mede  lm,50  de  altura  por  igual  largura  e  5  metros  de  espes- 
sura, vè-se  ao  fundo,  onde  o  escuro  começa,  projetar-se  da 
parede  di  eita,  de  um  concreto  de  calcureo  e  granito,  uma  re- 
gularmeate  talhada  cabeça  de  elefante  com  pendente  tromba :  é 
o  pórtico  do  elefante . 

Transposto  es-e  compartimento,  e  iluminado  o  va^to  subter- 
râneo, acha-se  á  egquerd>i  um  vasto  salão  de  20  metros  de  fun- 
do, sobre  10  de  lar^o  e  5  de  alto,  abobadado,  suspenso  sobre 
grossas  paredes  de  2  metros  de  espes^urn,  de  linhas  irregulares, 
com  algum>is  grandes  estalactites  espars^is.  Ne^te  compartimento 
dna4  principaes  creações  ferem  a  atenção  do  visitante:  uma 
original  estalagmite  de  um  metro   de    altura,    que    irrompe    de 


—  9  — 

enorme  seixo,  com  as  formas  delineadas  de  extraordinário  carne- 
leào,  avançando  obliquamente,  a  meio  corpo,  para  galgar  outro 
seixo  fronteiro;  e,  na  parede  direita,  encravado,  um  nicho  per- 
feito, pronto  para  rfr^ceber  qualquer  veneranda  imagem.  Hesi- 
tando na  preferencia,  dei-lhe  por  isso  as  duas  denominações 
— paço  do  camdeõo  ou  fala  da  nicho. 

Contigua  a  esta  ha  um  pequeno  compartimento,  cujas  pa- 
redes sào  cobertas  por  espessa  camada  de  alvo  calcareo,  húmidas, 
fria.-»,  pastosnp  mesmo,  onde  se  vê  uma  creaçào  v-om  a  figura  de 
um  tomaior  {'oillettf.)  de  senhora.  Em  atençàn  á  deliciídêza 
com  que  o  capiíào  Faustino  J.  Correia  recebia  os  ex«:ur>ionÍ8ta8, 
que,  por  esse  tempo  já  e  n  numero  superior  a  2.00'^»,  atravessa- 
vam t^*rras  e  •  aocélas  da  sua  propriedade  dele,  pedindo-Ihe 
insaciáveis  explicações,  sacrificanio-lhe  muito  t»  mfo.  e  mere- 
cendo-llie  favore-  vários,  de  suaexma.  consorte  dei  o  nome  a  esse 
compartimento,  que  ficou  sendo  — o  toucador  de  D.*  Idalina. 

Na  K^ta  d  ^  entrada  rasga-se  outro  enorme  saiào  com  50 
metros  de  extensão  por  12  de  largura  e  6  de  altura,  de  teto 
ora  abobadado,  ora  plano,  cora  enormes  fendas,  que  se  continuam 
e  se  apritfundiim  pelas  paredes,  com  vastos  taboleiros  de  pedra 
carcomida,  &om  comtudo  notar-.e  ahi  figur.i  alguma  saliente,  de 
bom  desenho,  para  justificar  desig^açào  especial.  Atendendo 
eutào  ás  repetidas  visitas  por  ôle  feitas  á  gruta,  e  ao  caminho 
com  que  a  tstava  dotindo  o  benemérito  cavalheiro,  denominei 
esse  largo  compartimeuto  por  —  sala  do  Barão  de  Ribeiro  Bar^ 
hosa. 

Esâe  vasto  espaço  é  delimitado  ao  fundo  por  basta  trama 
de  estalactites  e  {)or  espessa  cercadura  de  estalagm-tes  chatas  e 
largas,  formando  assim  outro  comcartimento  em  plano,  um  metro 
mais  elevado  que  o  primeiro,  medindo  20  metros  de  compri- 
mento por  6  de  largura  e  5  de  altura.  Aqui  destacam-se  duas 
creações  principaes:  a  primeira  e  menor  tem  a  forma  de  pe- 
deíital  de  antiga  e  grande  estátua,  excavand"-Be  aos  pou-os.  mas 
não  f>erceptivelmente,  pela  açáo  do  um  preguiçoso  pingo  de  agua, 
que,  a  retardados  espaços,  filtra-se  do  teto;  a  segunda  é  um 
grupo  que  reclama  luz  e  prtje.çào  para  ser  analisado.  Colo— 
cando-ee  o  observador  no  extremo  esquerdo  da  hipotenusa,  e 
dando  pela  direita  a  projeção  da  luz  sobre  a  ma^^sa,  terá  diante 
de  si  a  bela  visào  de  um  homem,  que,  envolto  em  manto,  car- 
rega uma  mulher  bem  aconchegada  ao  seio,  dela  desprendendo-se 
a  cabeça  e  as  tranças,  que  emergem  e  caem  de  sob  a  capa  do 
raptor.  Dei  a  est^e  com i»arti mento  o  nome  de — Oaoerna  de  Plu- 
tão— recordando  o  rei  dos  infernos  a  transportar  a  encantadora 
Euridice,  roubada  aos  amores  de  Orfeu,   seu  marido. 

Ainda  ao  fundo  e  á  direita  ha  um  pequeno  quarto,  de  cujo 
teto  pende  uma  enorme  ej-talactite,  banhada  de  agua  porejante, 
com  quasi  um  metro  de  comprimento  sobre  quarenta  centímetros, 
de  largura,  a  qual,  por  sui  face  anterior,    desenha   uma  grande 


—  10  - 

e  Bolta  cfibuleiríi  do  mollipr,  desfiíiiizindo  extensos  novelos,  polo 
quQ.  ficou  com  o  nomo  de — Cabeleira  í^a  ^''eíiiís. 

CaTiiínbníido  depois  para  a  esquerdo,  entra-ee  em  outro 
compartimento,  obLiquamcnta  dirigido  parn  cima,  afuuilada,  ter- 
rainaudo  por  unia  nitgusta  abertura,  pel.a  qiiol  passámos  do  rastros, 
para  devassar  a  crt&la  pedregosn  da  montanha  l  dei^lhe  o  nomo 
de  ^janela  ou  olho  da  gruta  ^ 

Voltando  por  epsa  mesma  estreita  garganta,  e  depois  d© 
decer  8  metros,  gaitámos  cm  um  c.illiáo  do  dois  metros  de  altuTO, 
tlatiqueámo!-o,  paFsámfs  [  or  bai^ío  drdo  para  penfvtrar  entro 
ftalftfi,  dp  cuja  parede  direi tn,  formada  por  etiormo  lasca  de  pedra 
prodíjí-iosamente  equilibrada,  irrompe  a  iig^ura  bem  talbíida  díí 
colosfifll  tartarn^íi,  ]>elo  que  ficou  denominado — ú furna  daia'^ 
taruga. 

E^ía  furna  abre  para  um  túnel,  como  f^aleria  revest  da  pir 
cantaria,  tortuoso^  extcDslfsimo,  baixo,  frio,  húmido  e  escoirogndif*, 
que  cbnmei  o — ittueS  do  mijítérify, 

Ein  meio  dessa  galeria,  A  direita,  yè~%B  unm  perfeita  ban- 
queta de  altar,  lançada  em  seis  dcp^ráos  bem  regntareR,  ecníca, 
a  começar  por  um  para  ítcabar  em  meio  metro  de  largm-.i,  a 
que  dei   o  nome  áe— oratório  do  José  Ramos. 

Proscgníndo  ue^se  túnel  pola  extensão  de  mais  aesserita 
metro?,  á  d.reita.  de|>ára  sanes  ura  lindo  siimbório,  de  4  metros 
do  altura,  do  cujaa  inegiilfires  estalactites,  amareladas  e  feudidis, 
iuinterruptaiTiente  cíiem  poucas  gõtns  da  maia  límpida,  da  niaiá 
pura  agua;  denominei  o  a — fonte  das  lagrimas. 

Este  pilio,  em  voidade,  é  de  melflncolíea  poe^ia:  as  paredes 
&ãD  LumidaSf  os  seisoe  sào  de  frinldnd©  intcn6a,  tilo  fri»  s  que, 
tocando  08  ou  sobre  elei  assentíindo-se,  recebe  o  explorador 
seuiiaçíto  jgusl  á  do  confáto  de  bióeoâ  de  gí'lo.  A  agua  é  & 
que  mais  agratíavel  j^óde  imaginíirsoj  igual  punra  bebi;  o 
comigo  IroUíO  do  IA  algumas  gfinafíis,  das  quaea  mandei  uma 
ao  colega  dr.  José  Ferreira  de  Aiaujo,  da  (íaztta  de  Notidm 
do  Rio,  acompauhíindo  a  i^rimcira  dcscriçfio  que  íix  do  mínhi 
exploraçàr,  publicada  nesse  orgam  da  imprensa  diária,  pelo  fim 
do  mesmo  já  dito  ano  de  1B37. 

O  capitfto  Faustino  Correia  e  outro?,  quo  também  colheram 
porções  dofsa  agua,  fiubT^ieteram-na  a  experiência»,  pcsaram-D», 
e,  comparaudo-a  com  as  aguaa  limpas^  finíis  «  batidas  du  serrn, 
verificaram  ser  a  da  gruía  50  Vj  "if^iâ  leve  do  que  as  outras,  e 
reunir  as  deu:nÍ8  condições  toda»  da  potabilidade. 

Deixando  a  fonU  dus  lagrimas,  e  proseguíiido  pelo  iund 
do  misieriff,  dahi  para  diante  caroinha-so  sobre  Eeixos  rolados, 
do  rastros,  por  uma  rampa  íimoFa,  buoiida,  liquecente,  escorre- 
gadic;a,  passando  a  candeia  de  nuio  amlo,  ^té  pf  netrar  em  outio 
compartimento,  onde  a  temperatura  é  maia  baixa,  onde  fina 
chuva,  quasi  uma  névoa  húmida,  filtrando- se  da  abobada,  lèga 
incesBantemcnte  o  aólo  aréento;   chamei-o— o  banheiro  das  fadas. 


I 


—  11  — 

Assim  chegáramos  ao  marco  extremo  da    exploração. 

Tentámos  caminhar  adiante,  mas  ó  penosisBÍmo  e  arriscado, 
direi  mesmo  impossível  duhi  proscgnir,  porque  urge  colar  ventre  e 
face  ao  chão,  sorver  a  curtos  tragos  as  parcas  quotas  do  ar  con- 
finado desse  tenebroso  paço,  consumir  no  alimento  da  tibia  luz 
artificial,  cm  pleno  detrimento  da  hematose,  os  já  erradios  átomos 
de  oxigcneo,  tatear  á)  cegas  entre  riscos  muitos  e  periculosas 
peripécias,  quiçá  dizer  o  adeus  extremo  á  vida,  tudo  pela  im- 
provável compensação  de  poder  devassar  os  últimos  e  mais  an- 
gustiosos recessos  desse  confim  terreno  da  noite  e  do    silencio!. 

As  fadigas  de  maia  de  5  horas  de  exploração  em  posições 
contrafeitas,  entre  escorregões  e  quedas;  o  jisto  anceio  dcs  pul- 
mões pelo  balsâmico  ambiente  das  matas;  a  saudade  dos  esplen- 
dores do  dia;  o  enervamento  que  nos  resulta  dúS  frias  humi- 
dades  prolongadas;  e,  maia  que  tudo,  o  receio  de  comprometer  mi- 
nha filhinha  enfraquecida,  criança  do  oito  annos,  que  me  acom- 
panhara por  todos  os  recantos;  taes  circunstancias  reunidas 
impuzeram-me  retroceder.  Não  o  fiz,  porém,  sem  antes  provar 
a  6ensf.ção  que  salteia  o  homem  no  seio  desse  antro  profundissimo; 
e  mandei,  que,  uma  a  uma,  intervaladamente  fossem  apagadas  as 
lanternas 

Medonho!...  Horrivel!...  Não  ha  escuridão  a  essa  com- 
parável!... Como  deve  ser  torturante  a  cegueira  para  quem 
já  teve  luz  nos  olhos!... 

Kestabelecidas  as  luzes,  commandoi  a  volfa. 

De  lá,  do  fundo  inexplorado  dessa  profándissima  construção 
até  d  mencionada  Caverna  de  Plutão^  onde  some-so  misteriosa- 
mente, flúe  com  serena  placidez  um  ténue  fio  de  agua,  a  que, 
em  honra  ao  descobridor  Chico  Ribeiro,  dei  o  nome  de — lagrimai 
do  Caçador. 

A  capacidade  da  gruta  ficou  calculada  para  mais  do  mil  e 
quinhentas  pessoas. 

O  sr.  barão  de  Ribeiro  Ba'b)za,  que,  em  uma  de  suas 
visitas,  ahi  penetrou  com  50  luzes  e  três  lampeões  belgas,  ve- 
rificou a  insuficiência  dessa  iluminação*  Sò,  pois,  um  foco 
elétrico,  alimentado  por  forte  bateria  assest:ida  fora  da  gruta, 
poderia  projctar  luz  bastanto  para  um  exame  detido,  completo, 
satisfatório  de  tão  monstruosa  escavação. 

E',  creio  eu,  a  maior  gruta  do  Brasil,  embora  não  a  mais 
bela;  è  mesmo,  penso,  uma  das  maiores  entre  as  mais  celebres 
do  mundo  ! . . . 

Das  amostras  recolhidas  verifica-so  nessa  cava  gigantesca  a 
existência  de :  carbonatos  calcareos,  mica,  feldspato,  quartzo,  silica 
e  silicatos,    ligeiros  vestígios  do  ferro. 

A  entrada  da  formidanda  maquioa  é  arreíada  de  liames,  que 
se  enastram  e  graciosamente  pendem  em  sanef^is  e  cortinas,  som- 
breada por  seculares  gigantes  fiorestaes. 

As  denominações,  que  dei  aos    diversos    compartimentei    da 


—  12  — 

Gruta  Isabel,  certamente  não  me  levarão  ao  risível  no  jnizo  dos 
homens  de  leitura.  Conservo  e  aqui  reproduzo  os  mesmos  no- 
mes, que  figuraram  na  primeira  comunicação  minha,  •  ditorial- 
mente  publicada  pela  Oazeta  de  Notícias  do  Rio,  como  parte 
literária,  em  1887,  ha  20  anos  (1). 

Eu,  que  até  então  nada  havia  lido  especialmente  sobre  grutas, 
confesso  que,  ao  vêr  impresso  esse  meu  escrito,  não  deixei  de 
provar  tal  ou  qual  acanhamento,  quando  amigos  por  ôle  me 
felicitavam,  parecendo-me  que  um  pedaço  de  ridículo  eu  pre- 
parara, nos  pontos  em  que,  precisn mente,  todo  meu  exclusivo 
empenho  fora  re»» peitar  as  delicadezas  da  justiça. 

(  orridos  alguns  anos,  em  uma  de  minhas  encomendas  para 
Europa,  pedi  o  livro  de  Adolphe  Badin,  e  só  então  senti-me 
calmo  e  bem.  pois,  ao  lêr  a  interes^antissima  descrição  da 
Mam»  outh^s  Cave^  essa  gigantesca  mole  subterrânea  nos  calcareos 
da  bacia  do  Green-river,  vi  os  seus  compartimentos  com  as 
fantasiosas  denominações  de :  igreja  gótica^  camará  das  almas 
do  outro  mundo,  caminho  da  humildade  (por  ser  mister  abaixar- 
se  bem  o  visitante  para  atravessal-o),  poltrona  do  diabo,  camará 
estrelada f  sala  da  neve,  gruta  das  fadas,  gruta  dos  bandidos,  e 
outras  e  outras  mais,  que  dão  para  distinguir  as  226  galerias 
e  corredores,  ('S  47  zimbórios,  as  muitas  lagoas  e  cascatas,  os 
muitos  riachos  e  poços  desse  mundo  imenso  subterrâneo,  também 
ainda  não  todo  conhecido,  nem  explorado  até  ao  fim 

Si  A  tão  preconisada  coragem  dos  Americanos  do  Norte 
ainda  lhes  não  permitiu  a  ousadia  de  internarem~se  até  aos  con- 
fins de  sua  gruta,  também  não  me  envergonho  eu  de  não  ter 
excedido  o  pc-nto  a  que  cheguei  na  Gruta  Isabel,  porque,  e  no 
fim  das  contas,  o  caso  é  como  disse  Hutchings:  «  La  promenade 
etani  agréable,  le  prix  doux,  les  guides  attentifs,  H  le  spectacle  des 
plus  singuliers  et  imponant,  nous  disons  aux  autres—allez  y- 
voir  /  » 

E  continuo. 

Deixando  a  Chuta  Isabel,  quiz  ainda  excursionar  pelo  dorso 
da  montanha,  a  que  se  chega  por  sub  da  muito  mais  i'greme 
do  que  a  que  dá  para  a  gruta,  só  praticável  pelo  auxilio  que 
prestam  as  raízes  e  os  enormes  e  musculosos  cipós,  essas  gigan- 
tescas trepadeiras  convolvuláceas,  que  só  os  nossos  sertões  sabem 
produzir.  E  o  fiz  audaciosamente,  lavando  minha  filhinha  a  ca- 
valgar meus  hombros.  Guindando~me  a^sim  por  uns  vinte  me- 
tros, dei  com  a  entrada  de  outra  gruta,  a  cavaleiro  da  já 
descrita. 


(1)  Essa  primeira  pnblicaç&o  foi  apenas  uma  noticia  nfto  desenvolvida. 
9wuta  de  Noticias,  ano  XII 1,  ds.  27ã  e  'J80,  na  primeira  pagtnn  das  edições    dos  dias  5 
•  7  do  Oltsbro  de  1887. 


—  13  — 

Esta,  de  que  presumo  ter  sido  o  verdadeiro  descobiidor, 
quando  penetrada,  deixa  perceber  de  sob  os  ])é8,  e  a  cada  passo 
que  st)  dá,  uui  som  lOUco  e  vibrante,  como  de  quem  percute 
grossa  abobada  metálica.  Nào  tem  mais  de  trinta  metros  de 
extensão,  sendo  parte  imersa  no  escuro,  e  parte  lanhada  por 
fendas,  por  onde  se  côa  n  luz  solar.  As  paredes  dessa  cava  sào 
cristalino-calcaifas,  em  colunas  justapostas  ou  faixas  contíguas. 

Como  curiosidades,  qne  abi  ^e  notam,  dignas  de  rcfereut-ia, 
bem  poucas  que  são,  direi  que  na  parede  lateral  direita,  para 
quem  entra,  pela  altura  de  três  metros,  nota-se  um  pequeno 
gru|:o  de  quarenta  e  cinco  centímetros,  representando  o  OAboço 
em  mármore  de  uma  mulher  sentada,  acalentando  ao  colo  uma 
gorda  criança  ;  e,  ao  fundo,  cerce  ao  chão,  na  estreita  pa^^sagem 
de  vinte  centímetros,  rasga-se  a  fauce  hianre  de  tenebroso  e 
insondável  abismo.  Uma  enorme  vara  piesa  a  outra  enorme, 
introduzida  em  primeira  experiência,  flutuou  no  vácuo ;  e,  de- 
pois, algumas  pedras  que  propositalmente  arrojei,  de  variados 
tamanhos,  nào  denunciaram  sua  queda  jx^lo  som.  Esta  expe- 
riência das  pedras  foi  muito  repetida  por  todos  os  meus  compa- 
nheiros, em  pleno  silencio  nosso,  para  ouvirmos  qualquer  som, 
que  nunca  foi  percebido.  O  sr.  barão  de  Ribeiro  Barbosa  fez 
idêntica  observação,  diante  do  grande  comitiva,  cotirmando  o 
fato  por  mim  denunciado. 

C<  nfesso  nào  saber  expl  car  esse  mistério. 


Propriamente  da  Gruta  Isabel^  pi-r  Chico  Ribeiro  casual- 
mente descoberta,  por  mim  explorada  e  imediatamente  deg- 
crita,  até  onde  ó  licito  chegar-se  sem  ripco  para  a  vida,  ó 
quanto  cabe-rae  dizer  nesta  ex[)OSÍção,  que  reedito  com  melhor 
desenvolvimento,  ninda  a  desafio  do  testemunho  dos  vivos  sobre 
a  veracidade  e  a  fideliiiade  de  t<'do  o  exposto. 

E*  muito  post-ivel,  é  provável  mesmo  que  humanas  grosse- 
rias, produto  da  i^nor^ncia  do  povo  e  da  indiferença  dos  ad- 
ministradores, tenham  profanado,  arruinado  mesmo,  as  raturaes  e 
sublimes  belezas  que  ali  se  encerram  . .  Não  temos  nós  visto 
o  que  fazem  uns  desalmados,  uns  inconcientes  talvô-»,  nas  gru- 
tas e  nas  cascatas  artifíciaes  do  formoso  parque  da  Praça  da 
Republica,  no  RioV!...  Não  vimos,  quanto  custa  lembrai  o,  o 
que  fizeram  académicos  com  os  lindos  e  mansos  cervos  do  Jar- 
dim Publico  desta  cidade?!  .  Nào  vemos  ns  picarescas  figuras, 
as  torpes  versalheiras,  as  abomináveis  inscrições,  quo  produz  o 
ra{)azio  desregrado,  nos  pedestaes  de  nossos  monuniento-»,  nos 
mais  aprazíveis  sítios  de  nossos  a  rabaldes,  até  nos  fúnebre-  ca- 
tafalcos,  erigidos  com  enormes  dispêndios  e  com  tanta  piedade, 
em  nossos  cemitérios  ?  !, , , 


—  u  — 

o  qne  mais,  pois,  nfio  eiperar  da  biutêza  de  gente  com 
taes  bnbitos  afeita? 

A  Sociedade  Scieniifica  de  S,  Paulo,  na  sua  Ecssão  do  3  de 
MAr<;o  de  1904,  lia  3  anos,  já  discutiu  larçameuto  este  delica- 
do assunto;  e,  ainda  por  oficio  do  8  de  Dezembro  de  1906,  o 
operoso  presidente  da  niosma  sociedade,  sr.  dr.  Edmundo  Krug, 
estiradamente  analisou  a  crueldade  dos  estragos  feitos  nas  grutas 
calcareas  da  Ribeira  de  Iguape,  referindo- fe  mais  aos  artigos, 
consoantes  á  mesma  matoria,  por  ê'e  dados  á  estampa  em  o 
Correio  Paulistano,  edições  de  14,  18  e  20  de  Oitubro  de  1905, 

Tudo  isso  intolizmente,  ainda  parece  clamar  no  deserto ;  e 
eu  digo  só— j!)ar6C€,— porque  categoricamente  afírmal-o  ó  vergo- 
nba  imensa  para  a  socieda,'e  brasileira,  para  a  adminis trairão 
publica  no  Brasil ! 

Ah!...  Oxalá  n&o,  quanto  á  (7rM/a  Isabel  t[o  menos  \  Oxalá, 
recôndita  numa  elevada  garganta  da  terra,  abrigada  ao  pavês 
da  propriedade  particular,  ela  tenba  sido  respeitada,  e  conser- 
ve-so  na  inteireza  de  seus  rudes  encantos,  com  a  verdade  as- 
Eombrosa  de  f^uas  maravilhas,  para  eterno  deleite  dos  curiosos 
inteligentes,  dos  amadores  sinceros  do  belo,  dos  cientistas  que 
tudo  aproveitam,  tudo  utilizam,  tudo  t  ansformam  em  «nsina- 
montos  profícuos,  resultando  afínal,  como  ó  justo  e  esperável, 
apre<;os  muitos  para  este  opulento  Estado,  renome  e  fama  para 
o  Brasil ! . . . 

Devo  ainda  dizer  que,  como  sóc  acontecer  em  casos  taes,  a 
crendice  popular,  sempre  ávida  de  sensações,  de  estimulantes 
para  sua  objetivnçflo,  começou  sem  demora  atribuindo  miracu- 
losas propriedades  o  medicinaes  virtudes  á  agua  do  lagrimai  do 
caçador.  Assim  referia  o  capitão  Eugénio  de  Paula  Karaos  que 
a  filha  de  um  sr.  K-iê,  eofrendo  havia  Icngo  tempo  de  inflama - 
ç&o  (?)  dos  olhos,  com  corrimento  purulento,  resta beleceu-so, 
como  por  encanto,  com  poucas  lavagens  feitas  com  essa  agua ; 
referia- se  também  um  caso  de  reumatismo  crónico,  conjurado 
pelo  uso  da  agva  santa  (já  assim  chanjavam-n'a)  daquela  gruta. 

Foram  os  dois  casos  uniccs  chegados  a  meu  conhecimento, 
que  assim  relato  sem  comentar,  dando-Ihes  a  nomeada  pater- 
nidade, pois  nâo  quero  vôlos  passarem  por  creação  minha. 

Agora,  por  contiguidade  de  matéria  o  continuidade  de  as- 
sunto, nào  posso  sopitar  o  prazer  de,  perfuntoriamcnte  me.-mo, 
descrever  outras  sorpreendentes  belezas  desse  sitio  encantador. 

O  Morro  da  Cascata,  onde  bo  nc''a  a  colossal  fábrica,  está 
a  cavaleiro  do  rio  Capitõo  Mór,  que  ahi  se  abre  em  fenomenal 
cascata,  com  uma  queda  de  70  metros  em  três  lances,  sendo  o 
médio,  o  maie  volumoso  e  mais  interessante,  de  36  metros,  por 
onde  enrolam-se  e  desenrolam-se  maravilhosos  ílóc  s  de  ideial  ar- 
minhe, cachoando  em^  enredos,  que  se  não  descrevem. 


—  15  — 

A  altA  rocba,  de  que  audaciogamente  emborcn-EO  o  Capitão 
Mor,  é  ainda  lavada  por  tns  argentinos  fios,  como  negligen- 
ciadas madeixas,  que  os  ventos  do  sertão  desurdiram  daquela 
vasta  e  vaporosa  juba.  Em  baixo  é  rugidor  e  atroante  o  bor- 
boiinho  das  aguar,  que  se  espalham  em  borbotões,  rodando  com 
precipitada  fúria  sobre  o  álveo  pedregoso. 

Afastada  20  metros  do  sopc  da  ca  cata,  emerge  uma  poética 
e  verdejante  ilhota,  cujo  relvoso  tapeto  ó  amparado  por  grosso» 
gelxos.  Foi  ahi  que  fieliberei  fazermos  o  piquenique^  com  este 
vocábulo  intrujo  e  feio  qne,  ainda  por  muito  tempo  ha  do  cam- 
pear em  nossa  linguagem,  para  gáudio  dos  galiciparUs.  Assim 
me  exprimo  porque  at^.  o  insigne  vernaculista  Cândido  de  Fi- 
gueiredo nfto  hesitou  em  hos^eda1-o. 

O  coiiuescote  do  saudoso  e  ilustre  latinista  dr.  Castro  Lo- 
pes não  sat  sfaz,  por  só  propriamente  exprimir  a  refeição  pecu* 
n-ariamente  rateaia.  Com  tal  emprego  tenho  por  perfeito  o 
neologismo. 

Por  duas  horas  forcei  o  meu  foquito  a  comigo  deter  se 
lia  incontentavel  contemplação  des  o  cenário.  Não  iho  mais 
bélíis  as  noFsas  outras  cascatas  da  Tijuca,  de  Petrópolis,  de 
Fiiburgo,  do  Therezopolis,  nem  a  do  Salto  Grande  de  tíflo  João 
no  Paraná,  que  visitei  (m  companhia  do  sr.  dr.  Cândido  de 
Abreu,  hoje  senador  federal  por  esse  Estado,  tcndoa  também  eu 
descrito  na  imprensa  do  Coritiba. 

Pouco  difctante  da  Cascata  do  Capito/)  Mór,  e  quasi  á  ou- 
rela do  caminho,  depara-se-nos  uma  outra  queda,  formada  pelas 
flguas  do  Mucacaj  o  conhecida  por  Cascata  do  Fausfiiio;  e  ain- 
da, a  pequeno  decurso  desta,  vc  se  também  a  precípitaçílo  das 
cgua  Qc  Rio  do  Moinho,  Ambas  estas  ultimas  s&o,  por  certo, 
niaii  altas  que  a  do  Capitão  Múr,  porém  simples,  comuns,  a 
primeira  nfto  passando  de  uma  fita  de  agua,  a  segunda  apresen- 
tando a]:enas  um  pedaço  em  linha  finuosa,  do  ângulos  alterna- 
dos (o  siguczague  dos  galicistas),  que  ó  do  agradável   efeit>. 

Pela  feita  da  minha  exploração,  o  Capitão^Mór  estava  na  fase 
da  maior  seca ;  o,  mesmo  as  im,  o  cavalheiroso  sr.  capitão  Faus» 
tino  Correia  mandara  lançar  pranchões  sobre  as  pedras,  artifici- 
f.ndo  por  tal  forma  umns  pinguelas,  por  onde  os  da  minha  comi- 
tiva e  eu  prssámoé  íacil  e  comodamente.  Na  estação  das  chuvas 
o  rio  avoluma-ie,  ficando  impraticável  sua    vadeação. 

* 

Nas  linhas  que  lançadas  ficam,  com  que  poderia  dar  por  findo 
o  prtscnte  trabalho,  arrisquei  duas  proposições  correlat&s,  que, 
a  1  ão  traduzirem  mero  arroubo  do  patriotismo,  da  probidade 
cientifica  reclamam  demoustração  sincera  e  cabal.  Eu  dice  qne 
—  o  Brssil  era  o  paiz  mai^  lico  versanto  ás  belezas  naturaes  de 
que    trato    neste   escrito;    e  dice    que    a  Gruta  Isabel   era  das 


—  16  - 

maiort-B  e  das  mais  belas  do  Brasil  e  do  mundo  Convindo 
prova -o,  e  para  conclnir  entào,  eu  vou  agora  a  uma  ropida 
passagem  por  e^sas  fábricas  subterrâneas,  que  mais  rememoradas 
são  no  universo,  para  que,  defrontadas  umas  a  outras,  posãamos 
melhor  julgai- as. 

E*  o  que  passo  a  fazer,  sem  que  ordem  alguma  presida  i 
relação,  falando  de  cada  qual  lembrada  fôr,  somente  com  o 
empenbo  de  não  omitir  as  que  nos  livros  de  geografia  sào 
referidas  com  fama 

l.*"  A  Gruta  do  CJ(o,  perto  de  Pozzuolo,  á  margem  do 
lago  Agnano.  ua  Itália.  Não  piissa  de  uma  guarita  com  3  metros 
de  profundidade  por  1  de  largura  e  l^ftO  de  altura,  tendo  a 
entrada  fechada  por  uma  pcrta  cuja  chave  é  confiada  a  um  guarda. 
Bua  celebridade  consinte  em  uma  baixa  camada  de  acido  carbónico, 
de  0,^20  centímetros  na  entrada,  esiK^Sfandn-se  progressivamente 
da  frente  paia  o  fundo,  até  medir  O  ""tíO,  altura  em  que  um  cão 
morre  após  três  minutos  de  permanência. 

Não  vejo  no  fato  motivo  algum  para  celebrizar-se-o. 

Era,  a  meus  olhos,  pa-a  mais  fama  o  velno  castanheiro  da 
Sicília,  memorado  por  muitos  viajai. teF,  pelo  inglês  Brydcne 
principalmente,  e  até  assignalaio  em  um  mapa  BÍcili^^no,  publicado 
vae  por  dois  i-ecul  s  Es>a  arvore  tri^^antesca  tinha  a  distinta 
Cfinfonnação  exteri(»r  de  cine-».  f.indid;is  em  grupo. 

2.**     As  Gkutas  da  ilha  i>i  Capri  ou  Caprea,  que  í^fto  : 

a)  H  de  Mitramania^  outrora  ccnRat^rada  ao  culto  de  Mitra, 
qu»*  08  naturaes  crismarani  por-r//  Matrimonio  ;  st^m  importância; 

b)  a  Gruta  Verde,  na  face  meridional  da  ilha ;  também 
despida  de  importância ; 

c)  a  Gruta  Azul  ou  das  Ninfas^  que  figura-^e  á  imaginação 
qual  um  pnço  de  turquêzas  sohre  um  lago  de  sa firais.  Dóla  já 
eom  fnto&ia&mn  falava  Júlio  Cesare  Capai-cio,  literato  italiano, 
que  viveu  pelos  anos  de  1560  a  1631,  publicando  em  1605  a 
ohr &  —  HistoricB  ncpfjlitance  libri  duo. —  Maxime  du  Camp  visi- 
tou-a  e  descreveu-a  também.  E'  de  fato  um  dos  mais  esplen- 
didcs  fenómenos,  que  podem  vistas  humanas  cntemplar,  cum- 
prindo àaber-se  entretanto  que  essa  côr  azul,  de  tanto  renome, 
não  passa  de  um  efeito  de  óíica,  de  um  i  refração  :  é  o  que  se  dá 
com  a  mesma  côr  azul  do  céo,  com  a  côr  verde  das  aguas  do 
oceano  etc. 

Makor  importância  dou  eu  á  ilha  di  Capri  como  escrínio  de 
recordações  históricas,  que  rctpidamente  vou  relembrar.  Situada 
DO  mar  da  Toscana,  na  entrada  do  golfo  de  Nápoles,  antigo 
covil  de  cabia.H  selvagens,  de  que  lh««  proceieu  o  nome,  essa 
ilha  foi  dos  Napolitanos  adquirida  pelo  imperador  Augusto,  que 
por  éla  deu  a  de  Ischia,  Jepois  tão  poeticaint-ute  decantada  j>or 
Âlph     de  Lamartine.     Augusto  nela  passou  sua  velhice. 

Diceram  pouco  escrupulosos  narradores,  e  outros  repetem, 
VÔr-se  ainda  em  di  Capri  o  rochedo  em  que  foi  encerrada  Julia, 


-    17  — 

neta  de  Augusto;  isto  náo  pa^sa  de  tradlçÃo  de  uma  falsidade 
O  texto  dB  Tácito  (Ann  LiÒ.  IV^§71.)ó  positivo,  e  refere-noí 
qnfí  eB»a  Juiia,  adultero  mulber  de  Lúcio  Emílio  Patitn,  no  ano 
9  de  n09^a  éra,  foi  desterrada  para  a  ilba  de  Trc^mera^  nai 
coBta^  de  Apãlia,  seni^o  precisamente  abl  que*  tio  ano  2B  mor- 
reu A  eulposa  causadom  do  bauimeoto  do  temo  Ovidio,  qtie  a 
decantara  coni  o  nome  de  Carina.    (1) 

Ainda  maior  fwma  di  Capri  nos  traz  da  antiguidade  por 
Tibério,  que  abi  mandou  levantar  12  pãlflcioa  aos  12  grandes 
deuses ;  e,  em  negrejados  bordei»,  também  ahí  luJíuriou  oh  uKimos 
anos  de  bua  existência.  A  respeito  leism-se  Suetoniu  (ap  l^ib, 
§§  63  a  65)  e  Tácito  [Anji,  Lib.  VI  g  1)  como  verifiquei  ao 
lançar  é^tas  linbáB.   (fl) 

A  ilba  di  Capri  era  politicamente  dividida  em  paríe  de 
lé*te  ou  pi  opt lamente  Capri ^  c  parte  de  oeste  ou  Auacapri, 
IksftB  duas  parcialidade»  eram  rivae»  rancorcsas  e  irmconcili aveia, 
votando^sí**  ódio  eterno,  ódio  de  imiãoii»,  na  frase  de  Ugo  F*  scolo 
ou  »eí  soliia  fratribttn  odia*^  como  dicre  Tácito. 

Em  âi  Capri t  coutam  enamorados  viajatite»,  gojsa-ae  de 
panrrama  esplendoroso,  qun  relembra  eutre  saudade»  a  babin  do 
Eio  de  Janeiro  ou  a  entrada  de  Constaniinopla* 

3.*     A  GatiTi  D»  Fino  AL,  em  Stafla,  uma  da?  Hébiidas, 

Á  ilbota  de  RteffA  parece  totalmente  composta  f*or  matérias 
volcanícas,  pois  vê-ae-a  firmada  sobre  colnníis  dp  basalto.  Á' 
interessatite  caverna  dau-se  ídej  ois  de  Banks,  que  vÍEÍtou-fl  em 
1772)  o  nome  de  Gruta  dê  Fingàl  (íi  heroe  dos  poemíis  priraitivoB 
da  Eflcoeift,  conbecidos  por  CanUm  ou  Po&tnas  de  Ofiítian.  vertidos 
por  Macpberson)  nome  que,  dizem  modt^rnoa  eacritorea  iiig^lôsps, 
procedeu  de  um  equivoco  daquele  sábio,  nâo  fundando-ae  na 
tradição  dos  naturaPB,  quft  cbamam-na^Ctíuerrííi  da  ^fu}!ica-^ 
pela  barmonia  aelvflgem  ouvida  abi,  retuitante  da  sonoridado  do 
bramido  dai  ondaíi« 


{1 )  Taolia  qita,  «b  trabftlliot  cl«DttBc>a«,  urge  fidi^rrar  maxinDA  JtdeUãAãD  :  e  que 
le  dUo  flevc  «empre  oUlr  de  in«m{9rlji  ou  flrmndn  em  fé  nllheJA,  p;ira  «vitjtr  ^qulvotíos  e 
lapcoft,  «índ  pDdtfifl  arruliir  4  ^^h^  &&  latprr.biilAde,  ptii' Ikao  pabkó  h  tf^nícrever  ú  trrchâ 
Jfttino  cj&  flriRl  do  citndfi  §  71  dó  Iítto  IV  doi  Annati  de  T*citO  Onde  ie-«e  :  »Fer  Idem 
tempcLS  JuIJA  morlum  ribilt,  quam  Deptenii  AnjifUitiis.  convIctA  adult(?rU,  dnmnjivii^rat  proje- 
esràTqciâ  In  linsuljtni  Trlmeram,  faAHd  i^fqovl  nimHH  lltorltitiâ,  lUi^  rJgltiU  aunkis  ^xiílfam 
toleravit,  Anggnice  ope  snâtcDtJLtA^  qtiíB  llrirenl4?s  prlvteDOí  qnom  per  çtcultani  cubx-er' 
tUnoT,  mtEoricDrdiaiu  «r(^a  affltctoi  pftlam  oAtcn-tAbnt.' 

Como  ie  vf  iiosU  eiiAçáa'  nfto  «ó  n  ^tiliQtA  JmIIa  raorren  em  T^imcri.  e  eiK«  em  dí 
Cftjiri.  iDM  RO  vfrríftca  mnia  que  éla  dAd  raorren  do  v!oleEi<Êlai  eúFridjis^  «  st  memoriem 
âbiii-,  !Bt«  á  mort-fiu  de  morte  naiaral. 

V/i    Pelo  lUflitno  prltifllpio  tnvDiMulD  tt*  liot*  antocedeote,  trmucrvvo : 

a(  Bcepc!  In  propIfiqQH  degriiasEU,  Kditl»  jnxtA  Tibirlin  bortfi,  inxa  rati^Drn  et  roU- 
tadfDem  marli  repeilli;,  piidor^  bc&lerigm  «t  llbtdlnain  :  qii1bn«  ad^u  tndomjifp  «ixnrserftt, 
nt,  more  re^o,  pcibeni  In^enunm  êttipTis  po1|i]«r«i.  Ncso  formam  Utiínm  et  í!ecor«  wr- 
por«,  Eed  In  hU  modeftUm  pae^ritlAra.  lu  aLitt  irnafínM  rai^ofnai,  ioHLitrnetittim  cupiálnU 
babcbit :  tucidiao  prlinnm  l^ncit:i  apte  vocnbalft  repeiLa  «tint^  «âllarjinriiTn  L>t  apliiliJariiin,^ 
«X  fiBdltate  locd  ae  nvltlplld  patientla*.     Mii»,  Mb.  Vi,  $  i  .} 

Daixo  da  tnaureTer  de  í^de^ioiiSo  por  torn&r-Bú  iuqíco  loD|;a  a  tranicrilcAo  de  traa 
umgnfoi,  Altá«  chetoi  de  miaudeuQiaa  copaoajiiea  i  laxtirtA  do  teiwiialut*  e  devaftae 
Tlberío  era  di  Capri, 


—  18  — 

Vvítsn  ilha  e  dessa  caverna  foi  o  dr.  MnccuIIoch  quem  deu 
completa  e  íidoli^sima  descrição. 

4.*  Á  GuuTA  DE  Han. — Esta,  uma  das  mais  bélas  e  dai 
maiores,  com  mais  de  três  kilometro^  do  área,  acba-se  ua  provincia 
do  Namur,  na  Bélgica;  e,  para  percorrel-a,  despeudem-Bt^  duas 
horas. 

O  rio  Lesse  nela  precipiti.-se  com  fragor  pelo  abismo  de 
Belvaux;  e  a  tala  do  zimbório^  um  de  seus  compartimentos, 
mede  50  metros  de   altura. 

5  •  A  Gruta  db  Rochefort,  perto  da  precedente,  onde  ha 
utna  sala  t:\o  alta,  que  um  balílo  cativo  suspende  uma  tocha 
acôàa  á  altura  de  mais  de  60  metros. 

C*  A  Gruta  de  Adelsbero,  na  Iliria,  entre  Trieste  o  Lai- 
baich,  maior  do  que  a  de  Ilan,  é  cavada  sob  uma  colina  calearea, 
onde  abisma-se  o  rio  Poik.  Esta  apresenta  umi  suces>>ão  do 
Çalcrins  o  salas  i-mensas,  abrangendo  uma  extensAo  do  7  a  8  kilo- 
motroã.  que  se  percorrem  em  carros    rodantes  sobre    tr«lhos. 

7.*  A  Mammouth,  de  que  anteriormente  já  dice  muito,  a 
maior  gruta  da  terra,  verdadeiro  mundo  subterrâneo,  cem  gale- 
rias imensamente  grandes,  que  se  entrecruzam  o  se  super])uem, 
da  qual  tilo  apenas  bem  conhecidos  uns  23  a  24  kilometros, 
aindi  havendo  talvôs    muito  a  explorar. 

Em  181H,  foi  ahi  acha'lo  um  gigantesco  esqueleto  humano, 
medindo  5  pés  e  10  polegadas. 

8.'  A  Gruta  de  Lourdes.  Fale-se  também  dela,  aberta 
nas  rochas  Massabieilles,  onde,  diz  a  tradiçílo,  aoí  11  de  Fe- 
vereiro de  1858,  a  Virgem  Maria  revelou-so  á  menina  Berna- 
dette.  A  crença  popular,  a  coniiança  da  fé,  a  rcligiopidado  do 
povo  tornaram  celcberrima  essa  pequenina  e  insigiiiíicant^  cavi?, 
onde  a  piedade  erigiu  um  santuário,  quo  ficou  sendo  o  foi  con- 
stante alvo  de  copiosas  peregrinações,  ató  estes  últimos  tempos, 
hoje  encerrados  por  decreto  do  governo  da  llcpublica  Francesa. 

9.'  A  Gruta  de  Macau,  pequena,  na  cidade  desse  nome, 
na  pcninsula  do  Iliang-Chan. 

A  cidade  chama-se  do— Santo  Nomo   do  Deus  de  Macáo. 

Macáo  deriva-se  de  duas  palavras  chinôsas — Áme^  que  de- 
signa o  Ídolo  de  um  pagode,  ani  existente  em  remotos  tempo?, 
e  Cáuy  que  significa  porto. 

A  gruta  só  ficou  célebre  pela  tradiçflo  do  nela  haver  Camões 
escrito  a  maior  pirte  do  seu  poema. 

10.'  Milha  e  quarto  ou  1977  metros  diFtante  do  Cabo 
Lands^Endf  na  peninsula  de  Cornwall,  ha  um  grupo  de  ilhotes 
graníticos,  onde  eleva-se  um  farol  construido  cm  1707,  o  Longa- 
hip^s  light  hoiisCf  em  um  rochedo  de  forma  cónica  chamado— C(zí*«- 
BroSt—quf^  emerge  45  pés  acima  nivel  das  aguas  baixas.  Debaixo 
desse  farol  ha  uma  vasta  caverna,  onde  o  mar,  esbatendo-se  com 
furor,  em  mares  de  algumas  épocas,  produz  t?io  sinistro  e  pavo- 
roso estridor,    que  bastou   em  certa   ocasid.o  para  terrificar  tanto 


—  le- 
ia um  dcs  guardaSi  que  os    cabelos  se  lhe  encnnecOram  todos  no 
s6  espaço  de  uma  noite. 

Por  ter  falado  do  LancVs  End,  aprovoito-me  para  referir  a 
tradição  do  s?rem  a  esse  Cabo  ligadas,  em  remotissimo  tempo,  as 
ilhíis  de  Sc'lly,  por  verdes  o  férteis  campinas,  vestidas  de  po- 
voados e  aldeias,  de  onde  as  flechas  de  140  igrejas  rasgavam  as 
altas  nuvens. 

As  ilhas  Scilly  oferecem  ao  estudioso  um  grande  interesse 
sob  o  ponto  de  vista  das  antiguidades  célticas.  Borlasio,  histo- 
riador e  antiquário,  pretende  que  os  antigos  druidas  honravam 
nesses  rochedos  uma  das  roaterialisações  da  divindade.  Eviden- 
temente é  esse  o  sitio  do  mundo  em  que  os  rochedos  apresentam 
as  mais  cspecialisadaa  o  originacs  formas  e  dispositivos.  Ha  ahi 
um  rochedo  chamado — a  cadeira  do  Druida  (Druidas  chair) — onde 
narra  a  lenda,  as=entava-se  o  grão  sacerdote  para  presidir  á 
majestosa  solenidade  do  advento  do  sol  pelo  oriente. 

Dentre  as  curiosidades,  que  ms  Scilly  mais  têm  prendido  a 
atenção  dos  geólogos  e  dos  antiquários,  além  das  muitas  cavas 
tumulares  (barrows)^  ó  a  existência  das  pedras  movediças  {logan 
rocks)  principalmente  em  Saint  Mari/^s. 

*  * 

E  aqui  me  íico,  tendo  dado  quanto  sei  com  referencia  ao 
assunto» 

Fui  a  longps  peregrinações  no  confronto  estabelecido  ;  e,  dessa 
excursHo  historico-naturalista,  volvo-me  com  a  imaginação  ecom 
a  observação  ainda  mais  saudosas  das  terras  da  pátria,  onde,  até 
o  que  a  naturêsa,  nos  delírios  da  creação,  deixou  occulto  nas 
baixas  camadas  do  planeta,  ha  indescritiveis,  inenan'aveis,  sor- 
preendcntes  e  extasiantes  belêsas ! 

As  grutas  brasileiras  defrontaro-se  galhardamente  ás  demais 
do  universo :  e  a  Gruta  Isabel^  esfa  que  eu  percorri  o  a  que 
estou  ligado  como  seu  explorador  e  como  seu  historiador,  é  bem 
digna  de  que  uma  inteligência  mais  preparada  do  que  a  minha, 
de  que  uma  pena  mais  idónea  do  que  esta  com  que  rabisco, 
dela  se  ocupem,  para  fazel-a  condignamente  conhecida  e  afa- 
mada. 

São  Paulo,  Março  de  1907. 

Dr.  Joaquim  José  de  Carvalho. 


Dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva 


Na  historia  contemporânea,  oh  annos  valem  as  decndns  da», 
cbronicas  medievaes  e  ( s  séculos  das  mythnlogias  antigas. 

Os  Bucee88<>8  precipitam-se  mais  veloz-*i>,  o  as  a*  cieda']e9 
modernas,  na  febre  da  actividade  qu^  as  consome,  deixam  de 
occupar-se  com  os  factos  de  hontem,  ])0Í8  têm  a  attençAo  solicitada 

ͻor  occurroncias  do  dia,  e  presa  ao  estado  de  prciblemas  socio- 
og^cos  para  segurança  do  futuro.  Graças  á  cducaçAo  positivista, 
do  século,  aclia-se  mais  robustecida  a  intuição  de  justiça  e 
verdade  do  ])ovo,  por  isso  occupam-se  as  nações  roais  com  os  ho- 
mens da  sciencia,  ou  com  os  philantropos  do  que  com  os  con?- 
quistadores. 

A  imprensa  e  seus  representantes  têm  ganho  o  te-rreno 
que  a  pólvora  e  os  seu*heió  s  vfio  jjerdendo.  O  jornalismo,  ouja. 
influencia  fecunda  e  poderosa  dirigiu  e  preparou  o  grande  acon- 
tencimonto  da  humanidade— a  Revolução  de  J789,  tem  uma  parte 
brilhante,  senão  princif»al,  em  todas  as  phases  evolutivas  do 
progresso,  nas  nações  modernas. 

Nào  entra  em  nosso  plano  traçar  a  historia  do  jornalismo 
brasileiro,  nem  mesmo  rememorar  os  triumphos  de  nossos  jorna- 
listas. Falta-nos  o  valor  de  um  Leonard  Gallois,  para  historiar- 
o  papel  que  representou  entre  nós  um  Ledo,  ou  um  Evaristo 
da  Veiga,  e  para  descrever  todo  o  valor  de  um  José  Maria 
do  Amaral,  de  Justiniano  da  Rocha,  de  José  M.  da  Silva  Pa- 
ranhos, de  José  de  Alencar  e  de  tintos  e  tantos  talentos  do 
primeiro  quilate;  é  incumbência  para  ser  estudada  em  trabalho 
mais  pensado  e  melhor  acabado  Queremos,  porém,  contribuir 
com  o  fraco  contigente,  pr.ra  o  monumento  que  lifto  de  talvez, 
consagrar  á  memoria  dos  jornalistas  políticos  do  Brasil. 

Nesta  epocha  de  descrença  ]mblica,  ante  a  abjuração  de  convic- 
ções politicas,  cromos  de  bom  effeito  para  o  povo,  esboçar  a  firme 
individualidade  do  distincto  paulista  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva, 
typo  do  cidadão,  que  tudo  sacrificou  em  serviço  de  suas»  crenças 
politicas  e  sociaes. 

Já  é  tempo  da  pátria  tratar  de  esculpir  seu  nome  no  Pan- 
tbeon  dos  filhos  beneméritos,  e  de  archivar  seus  serviços  nos. 
registros  da  historia. 


—  21  — 

à  provinem  de  S.  Paulo,  tao  riea  de  grandezas  natntaosi  tão 
proíli^a  de  "varões  notáveis,  teve  a  feliiíidade  de  aer  o  bLTço  do 
UluBlre  patriota  e  diãtiucto  republicano  dr.  Luiz  Barbosa  da 
Silva. 

No  extremo  norte  da  província  de  S  Paulo,  no  miinkipio 
d(v  Banuual,  existo  a  fa-^ondu  da— GiiBcata— «>re&idt)nciu  pitto- 
rescH^  que  faz  lembrar  oâ  castelloí  da  Eicocia  e  o»  cautos  dô 
0:Ȑian,  ediiicada  em  itma  altura,  e  ao  lalo  de  uma  abuudnnte 
cAchoeirn  qoe  se  deiponha  cora.  murmúrio  eteruo  batendo  pelas 
penha^  escav padas  do  rochedo»,  (L)  Ahi  nasceu  a  30  de  Outubro 
de  1810  o  dí*  Luiz  Barbtua  da  Silva,  íillio  legifimo  do  com- 
merdftdor  ÃntoDÍo  Barbosa  da  Silva  e  de  d.  Maria  Arruda 
Barbosa, 

Era,  poiiantOf  neto  dos  distin^-tos  paulistas  que  em  1810  mais 
cfintribuiram  para  o  desenvolvimento  e  pf>voaf;âo  da  cidade  do 
Banana],  por  meio  do  doações  de  terrenos  e  outros  eabedaes  para 
eoiittruir-se  eg rejas  »  liabi tacões  para  os  povos  que  ahi  affluiam, 
chamados  pelos  esforças  dos  ânado«  Cf^mmeadador  António  Bar^ 
bosa  da  Silva  e  seus  cunliad-  s  coronel  Jcaquim  Silvério,  major 
Braz  Arruda  e  André  Lopes,  sendo  aquelles  avós  do  dr.  Luia 
Barbosa. 

Si  nào  teve  Luiz  Barbosa  cricumst anciãs  sobre  na turaes,  cotn 
que  as  lendas  costumam  revestir  o  nascimento  e  a  infância  de 
geuB  heróesj  revelou,  com  tudo,  bem  cedo  a  energia  e  firmeza  de 
seu  caracter  independente  e  a  agudeza  da  intelljgencia  que 
possuía 

Mais  de  um  facto  exiite  iia  sua  ytda  de  collegial,  que  decota  a 
franqueza  independente  e  tenacidade  com  que  defendia  os  seus 
direi tos^  sempre  que  eram  ofi^endidus  pela  injustiça. 

Do  collejçio  do  Castro,  em  Botafo^Oj  passou  para  o  collegio 
Ktípke,  em  Petrópolis,  onde  e^todou  diversas  disciplinas. 

Aos  12  annos  de  edade^  seicuiu  para  S.  Paulo  a  completar 
os  estudos,  pois  o  collegio  Kôpke,  apeaar  da  reputação  que  teve 
al^um  tempo,  era  muito  deficionte  quanto  á  organisaçào  do  en- 
sino, o  nâo  diíipunha  de  pessoal  habilitado  para  ministrar  a  edu- 
cação literária  necessária  para  a  matricula  nos  cursos  superio- 
les  do  paíz. 

Aos  14  annoa  Luiz  Barbosa  tinha  todos  os  exames  prepara- 
toriof,  estava,  portanto,  habilitado  a  matricular-s©  no  Curso  Ju- 
rídico. 

Grande  fora  o  trabalho  intellectnal,  por  iaao  resentia-se  o 
org'aoiamo  do  extraordinário  consumo  uervuso,  nfio  comptíusado 
por  um  bom  systefua  de  educação  physica.  Á  falta  desta,  entre 
a  nossa  infância,  n^o  avigc^rada  pelos  exercícios  gyra  nas  ticos,  e 
outros  meios  proscriptos  pela  hygiene,  tem  um  eloquente  e  triate 
exemplo  a  n^i^istrar  em  Luiz  Barbosa  da  Silva.     Em  outro  pai2 


11)  Zaltt»r.    FerfiÈr,  pelíi  Prot.   d«  fi.  Paalo.   P*g,  ej, 


—  22  — 

onde  a  instra::ç2Lo  é  bem  curada;  ondo  as  escolas  e  os  collcgioi 
a  pnr  dos  estados  literários  e  scientifícos,  com  que  illustram  as 
inteliigencias,  robustecem  lambem  o  corpo  pelos  exercícios  mus- 
culares e  fortalecem  os  orgauismos  infantis,  preparando  homens 
sábios  o  validos,  nílo  teria  talvez  Luiz  Barbosa  completado  os 
estudos  de  humanidades  aos  14  annoj,  mas  com  certeza  nSlo  teria 
perdido  um  anno  em  restabelecer  a  saúde  abulada,  o  nJ^o  seria 
arrebatado  á  pátria  ainda  moço  e  quando  podiam  dar-lhc  muitos 
fructos  Eua  alta  intelligencia    e  solida  instrucçAo. 

Nào  pareça  impertinência  nossa  o  considerações  descabidas 
o  que  acabamos  de  escrever;  cm  todo  o  paiz,  o  particularmente 
nesta  província,  peusa-se  talvez  mai^  em  aperfeiçoar  a  raça  ca- 
vallar  que  a  no3^a  própria.  As  casas  do  eJucaçiio,  em  geral, 
deixam  muito  a  desejar  quanto  ao  moral,  e  quasi  tudo  quanto  á 
hygiene,  nao  se  ligando  o  menor  cuidado  quanto  ao  desenvol- 
vimento physico  das  creança^.  E'  esto  assumpto  digno  de  toda 
a  ponderação;  em  vez  do  hippoiromos,  qu3  servem  paia  aco- 
roçoar  o  jogo,  edifiquem  sa  bons  lycous  e  construam  gymna<ios 
dignos  dos  filhos  desta  província,  merecedores  de  cousa  melhor 
que  os  seminários  e  recolhimentos  de  jt>s«itas,  que  altrahem  a 
mocidade  descuídcsa  ]iara  o  seu  seio,  c  cujos  fructos  amargos 
vemos  diariamente.  Em  que  pezo  a  muitos,  esta  é  a  verdade  o 
com  a  franqueza  de  paulis-ta  a  proelanmmos. 

Deixando  esta  ordem  de  considerações  nos  cccuparcmos  com 
a  vida  acadeaiíca  de  Luiz  Barbosa  da  Silva. 

Matriculado  em  1850,  aos  15  annos  de  edade,  na  Academia 
de  S.  Paulo,  percorreu  Luiz  Barbosa  da  Silva  com  applauso  e 
distíncçào  os  cinco  annos  do  curso  jurídico.  Deixou  nome  de 
intelligeuto  c  estudioso  entro  todos  os  seus  coUegas  quo  o  esti- 
mavam pelas  cxcellente?  qualidades  de  caracter. 

Nào  applicou  a  energia  do  seu  talento  só  ao  estudo  da 
Bcicncia  de  Ulpiniano  e  Ross",  entregou-se  também  aos  estudos 
literários  e  cultivou  as  sciencios  naluracs,  das  quaos  possuía  boas 
noções.  Nas  associações  literárias  de  então,  diítinguiuso  Luiz 
Barbosa,  conquistando  merecido  renome. 

Niio  posjuimos  maiores  efclarccimentos  sobre  este  período 
da  vida  de  Luiz  Barbosa,  mas  é  natural  que  existam  escriptos 
e  trabalhos  elaborados  nessa  epocha,  quiçá  alguns  publicados  nos 
periódicos  do  entilo. 

Graduado  pela  Academia  de  S.  Paulo,  fechou  brilhantemente 
este  primeiro  ciclo  de  sua  carreira.  Findara  o  período  em  quo 
as  illusões  tomam  maior  espaço  na  vida;  era  necessário  conhecer 
as  agruras  do  cstrugglo  for  lifo».  Em  1861,  foi  Luiz  Barbosa 
da  Silva  para  o  Rio  de  Janeiro  abrir  escriptorio  do  advogado. 
Durante  dois  annos,  mais  ou  menos,  teve  a  vida  aifanosa,  cheia 
de  decepções  o  estéril  quo  todos  os  moços,  embora  os  mais  dís- 
tinctos,  encontram  quando  saheni  das  Acaiemias  e  entram  para 
08  escriptorios  de  advocacia  cu  para  os  consultórios  medico?. 


-  23  — 

E'  A  velha  liistoria  renovada  sempre,  experimentada  per 
tnnto3  jovens  intelligentes  4UC  não  tem  patronos  poderosos  ou 
noniPs  berdados. 

PnEsenios  cs:n3  paginas  da  biographia  do  grande  patiiota  e 
vejaniol  o  na  sua  primeira  i^base  de  jornalista  cm  1864. 

Nessa  cpocLa  a  politica  do  paiz  passava  por  uma  transfor- 
mação especial.  Era  o  periodo  era  que  os  ministérios  succediam- 
se  cem  rapidez  extríiordinaria,  subindo  ao  poder  e  desorgauizan- 
do-se  por  questões  fúteis  ás  vezes.  A  crise  financeira  da  quebra 
dos  bancos,  c  o  pânico  que  dominava  todo  o  commercio,  ainda 
eram  agravados  pela  situaçfto  de  uma  guerra  estrangeira  que 
tantos  sacrifícios  carsou  ao  paiz. 

A  orgnnisaçrto  do  partido  progressista,  uma  das  mnitas  mys- 
tifica<;ões  que  a  monarchia  tem  imposto  ao  paiz,  com  o  seu  «pro- 
grama» eclético,  que,  segundo  alguns  dos  projirios  cbttVs  domi- 
nantes, nfio  tinba  sido  acceito,  (*)  imprimiu  cerla  coufusTto  na 
massa  do  partido  liberal. 

Nào  ó  occasiào  oi)portuna  para  discutir  as  diversas  feições 
que  aprcíciítavim  entào  os  partidos  mcnarcbicos,  degladiando  se 
em  lactas  estéreis  e  sem  um  alvo  elevado  e  patriótico.  O  grupo 
dos  €lil)eracs  históricos»,  gcsava,  porém,  de  maior  popularidade  e 
linha  ilhistres  representantes;  na  imprensa  a  «Actualidade»,  re- 
digida por  pcnnas  do  quilato  de  Flávio  Farnese,  sustentava  as 
tradições  democráticas  do  pai  tido.  Era  uma  folha  bem  acceitu 
o  com  uma  circulação  no  paiz  relativamente  considerável.  Em  1864 
entrou  Luiz  Barbosa  da  Silva  com  ecu  irmfto,  o  dr.  António 
Barbosa  da  Silva  e  Souza  para  a  redacção  detse  periódico  Des- 
de que  tomou  parte  na  gerência  da  cActualidade»,  dedicou-se- 
lhe  do  tal  forma  e  tâo  decidida  influencia  exerceu  que  pouco 
tempo  depois  era  seu  proprietário  exclusivo.  Reorganisou  então 
o  corpo  do  ledacçfto  e  de  ccllaboradores,  dando  maior  desenvolvi- 
mento á  parte  literária  e  politica  da  «Actualidade».  Acercou- 
se  de  talentos  laboriosos,  chamou  reputações  já  conhecidas,  con- 
vidou nomes  promettedores  de  muita  glorio,  o  também  algimá  de 
muita  decepçfto  como  os...  Mas  para  que  repetir  hi^toria8  de 
trans fugas  vergonhosos  e  de  mercenários  da  honra  o  da  digni- 
dade?... 

Si  histcriassemos  a  vida  do  jornalÍEmo  brasileiro,  cumpri- 
riamos  com  toda  a  franqueza  e  coragem  o  triste  e  doloroso  de- 
ver do  chronista  e  registraríamos  os  nomes  desses  «Lafayettes», 
assignalando-os  ao  desprezo  publico.  Actualmente  nSo  é  esse  o 
nosso  intento;  voltaremos  por  tanto  ao  assumpto. 


(•;    Amcríco    Brazlllense.-  O»  Progranjmat  dca  Partidos  o  o  Br gundc  Império. 
Pag.  21. 


—  24  — 

Entro  ofl  companheiros  do  dr.  Luiz  Barhofta  da  Silvii,  ei- 
tava  <•  mavioso  poeta  u  tli^t)llcto  n  mancista  Bernardo  Guimaràe», 
qu"  muito  trabalhou  pc'o8  créditos  da  •  Actualidade»,  c Entre 
8  Mi  muitos  «rti^os  Del:a  in-eitos.  alpruns  rubricados  com  a  »iia 
a^<*i  natura  e  outros  anonynv  s,  distin<;uem-se  n'>taYelmente  ot 
de  cri  rua  literária,  que  peccand»  talv>'Z  ás  vezes  )M.r  nimio- 
se  veros  para  oom  as  pro  iuoçòes  analysadas,  denunciam  C(imtado 
em  seu  Muctor  umn  razÃn  clara  e  pr*íicientH  applicacào  das  regras 
da  e-ithet  ca  »  (*)  CuMinre  observar  que  o  dr  Luiss  Barbosa  da 
Silva  era  m  tavel  pela  fatalidade  com  que  escrevia  e  pelo  modo 
pratico  c  claro  por  que  discutia  hh  quustòes.  Em  pouco  tempo 
tornoií-f^e  estimado  entre  seus  coireligionarios,  que  o  conside- 
ravam um  do<  ma'S  distinctos  jornalistas. 

Nem  tu 'o,  porém,  ira  bonança;  bem  cruéis  transes  sofFrea 
o  dr  Luiz  Baibosa  da  Silva  para  manter  a  «Actualidade»  e 
publica)-a  rf*gularment'«.  Teve,  apesar  de  todos  os  esforços,  de 
bUHfieuder  a  impress&o  e  tratou  de  liquidar  o  jornal.  Kestricto 
observador  das  leis  do  honesto,  e  cumprid  r  de  sua  ])alavra,  foi 
obrigado  a  «vender  tudo  o  que  possui»,  inclusive  todas  as  jóias  de 
familia»,  p.'ira  solvei  o  pasbivo  da  folha  que  dirigira  com  tanto 
brilhantismo  e  Hbueg'aç&o  E^^te  facto,  por  hi,  ú  suficiente  para 
dar  a  me  lida  do  grande  caractere  da  pureza  de  cousciencia  do 
dr.   Luiz  Barbosa  da  Silva 

A^sim  terminou  o  primeiro  período  de  sua  carreira  de  pu- 
blicista. 

Che  íi  do  decepções  amargas  voltou  á  vida  tranquilla  do  ga- 
binet»  de  advogado. 

Dispondo  de  extensas  relações,  contando  amigos  influentes 
como  o  cunselheiro  Francisco  Silveira  L^-bo,  que  veiu  a  ser  um 
ílo-i  Sfu-i  mais  chari  s  aíFectos,  o  dr.  Luiz  Barbosa  teve  em  pequeno 
prazo  uma  hôa  cliritela. 

Nào  o  dfixaram  j>or  muito  tempo  inactivo  seus  correligio- 
nários ;  em  Novembro  de  1866,  o  ministro  do  império,  Fernandes 
Torres,  noir  eou  o  presidente  do  Kio  Grande  do  Norte. 

Para  muitos  é  esse  cargo  ura  simples  brinde  de  parente,  e 
mí'io  faeil  de  recomendar-se  ao  governo  para  uma  candidatura 
á  Asst-inbiéa  Legislativa.  Se  alguns  caract<íres  sérios  preenchem 
com  zelo  e  dignidade  essa  commissào,  outros  limitam-t^e  ao  inglo- 
rii-  jiipfl  do  cabos  eleitoraes  e  de  simples  automatcs  do  gov*^rno 
que  os  dirigo  p<»r  meio  do  telegrapho,  até  na  demissào  de  delega- 
dos da  policia  local  I 


(*)  Innoc.    da    Silva.  — Dicc.    Bibliogr.   Tom     8,  pag.   3P4. 
(Supplemento). 


—  25  — 

E*  verdade  que  por  maito  poneo  tempo  occupou  esse  log-ar 
na  administniQ^o  pubiica  pois  a  5  de  Abril  dú  lí^rJT,  obtinha 
a  ex<»iietaçàa  que   pudtra. 

Se  nho  \'^t\x  Beu  nome  a  i^randes  melhoraTTientos  no  Rio 
Grande  do  Norte*  o  dr.  Luiz  Barbosa  ao  me  os  váo  tHve  um 
rt-rnortso  que  O  aflii£:;iijae  ao  deíxíir  a  presidência.  Em  umn  ep^^cha 
melindroso,  para  os  adminiíiitradoreB,  poia  tiiihíim  c[UB  enviar 
contÍTigente*  para  e&&e  vórtice  immr^iiBa  zi  cnin|  aniia  do  PaiuffUMj, 
o  dr,  LuÍ3ç  B-^rb  nu  í\ho  prMticiiu  uma  yifjleucia,  nà-o  fez  derramar 
lag-rinifl«  «  ijào  provnc*  U  inimí?-atí«8. 

Já  era  lím  grande  s^ucl^*  gso  entre  náè  conBe^íir  pste  de&ide- 
ratam  em  tRWfKJS  fàn  CíUamito?o8. 

A  saádrt  do  distincto  píitri(,ta  estava,  porém,  unvt^^  enfraque- 
cida;  tis  piímeíroB  symptomas  da  cruel  enfermidade,  qae  o  ar^ 
rebatou  tao  prematuramente,  revelar&m-se  oei-pa  occasiào.  Ke- 
tinm^se  para  seu  sitio  no  Passa-Tres,  e  ahi  teve  que  luctar 
euerg^icaraente  a  favor  dos  direitos  de  seu  »ogro  contra  o  com- 
mendador  Joaquim  Breves. 

Energ^ico  ©  veberaente  na  defesa  d'esfta  car.sa,  intent^iram 
contra  elle  três  acções  de  injurias  verbaes.  Níio  era,  porém,  o 
dr.  Luia  Barbosa,  homem  de  ceder  á  violência ;  mais  elevou  o 
diafasâo  de  »ua  linguag^em,  de  sorte  que  até  cditra  suf\  vida 
tentarnm,  segando  aftirmam  pessoas  bem  informadas.  O  que  é 
facto  uabido,  foi  a  tentativa  dirigida  c-ntra  elle,  por  baln  asâas- 
íina,  que  felizmente  nàt>  attingiu  o  alvo    a  que  fora  n^stínada. 

Surctimbíu,  porém,  sua  extremnâa  uiàe,  que  cciuvaliísceute 
de  grave  enfermidade,  ao  saber  d'eÉisa  nciíurencia,  recabin  e  pou- 
cos dias  depoiã  deixou  de  existir  a  24  d»*  Di-zembro  de  1869. 

E'  difficil  descrever  a  impressilo  profunda  e  o  penar  que 
affligtram  o  dr.  Luiz  Barbosa  por  cauga  den^e  tranche  dt^loroso. 

Seu  pae  resolvou-ae  mudar  para  o  Rio  de  Janeiro:  o  dr. 
LuÍ3£  Barbosa  acompanhoa-o  e  físou  residência  nrg^a  cidade. 

Era  a  epocba  em  que  nossos  bravos  compatriorriB  voltavam 
do  Sul,  cobertos  de  gloria,  o  cbí^ios  de  illusôes  vinham  encon- 
trar a  ingratidão  do  governo  imperial  em  recomjeu&a  de  servi- 
ço a  heróicos. 

O  enthusiaBino  era  geral;  todo?  os  cidadãos  procuravam 
mostrar  aoi  seus  valeutea  patriciOíí*  os  afutimetito*  de  aúmíra^^ao 
pela  coragem  que  os  disfcLUgtiia,  O  dr,  Luiss  Barbosa  da  Silva, 
coração  aberto  a  todas  as  grandes  í^mocões,  intelligencia  que  se 
aaimava  pelos  nobres  impukos,  nào  podja  permaDecer  inditftiren- 
te  ante  essa  tebre  do  povo  que  victoriava  seus  filhoa,  dtgnoá  de 
todas  as  honras,  Cotipos  presias  in^piradnfs  e  reeitou-as  em  di- 
versas occasiòea  de  chegada  de  voluntários;  entre  essas  algumas 
ha  de  subido  valor,  realçadas  ainda  pela  mngnifíca  recita; Ao  de 
seu  auctor,  como  a  dedicada  a  «Oscrioi  e  pronunciada  a  18  de 
Abril  de  1870. 


—  26  — 

Foi  a  pr^raeirA  voz  q'io  vimos  o  dr.  Luiz  Barbo- a  da  Sil- 
va, e  temos  ainda  bem  viva  a  impressão  quo  untiV)  sentimos. 
Foi  na  rua  do  Ouvidor,  prr  occasiao  da  passagem  dos  batailiOoa 
32,  42  e  4G. 

Era  immensa  a  í.flincncia  de  povo,  que,  como  sempre,  esco- 
lhia do  preícroncia  esf a  localidade  para  vêi*  desfilar  <  sseí  de- 
nodados servido*  es  da  pátria.  Ao  cLegar  á  i  squij)a  da  r-ia  Uru- 
{^ayann,  ainda  entAo  virgem  dos  triâces  assassinatos  de  1  de  Ja- 
neiro de  1880,  passou  a  brigada  cm  fronte  aos  «Dii.-oito  Billjarcst ; 
e  flbi  de  umas  das  j^n(*lla>\  o  dr.  Luiz  Barbosa  cheio  do  inspi- 
ração, como  os  bardos  d:i  antiguidade,  arrebatou  a  muhidílo  pela 
linguagem  de  fogo  co'n  que  celebrou  a  gloria  de  Ormío,  o  que- 
rido do  povo,  iuia  uiio  despiestigiaJo  pohi  farda  do  minisno 
imperial. 

Grande  era  a  admiraçiío  quo  votava  o  dr.  Luiz  Barbf  sa  por 
e£se  hcióo,  para  fcllo  a  synihese  df.s  sontinientos  generosos  do 
povo,  da  abnegação  e  do  valor  nacional. 

Foi  o  primeiro  que  teve  a  idéa  de  abrir  uma  subscripcjão 
popular  para  oftVrccer  uma  lança  de  honra  a  Osoiio,  projecto 
que  iniciou  e  quo  mais  tí.rde  foi  realizado  graçai  á  coarijuvaçiío 
l)oderosa  de  Octaviano  lludson. 

Vem  aqui,  naturalmente,  descrever  a  face  do  t-.Iento  piiu- 
logiado  do  dr.  Luiz  Barbosa,  como  cultir  inspirado  da  poe-ia. 
Conhecemos  alguns  ])ro.iuctos  de  su.i  musa;  qu.»3Í  todog  imUitos, 
que  talvez  sejam  cm  breve  publicados  ])or  seu  irmào  e  maior 
amigo,  o  iutelligcníe  e  illustrado  dr.  Braz  Barbosa  da  Silva. 
Nesses  cantrs  patriótico*,  o  arrojo  da  hypcrbole  ú  egnalado  á 
belleza  de  fó  ma  o  c^rrccçío  de  phiase. 

Julguem  da  verdade  deste  juízo  pela  seguinta  trauscripçào 
da  poesia  acima  referida: 


«Quem  ])óde,  como  tu,  dizer  á  tempestade: 
Mais  coiro  o  meu  corscl  nas  nuvens  da  laialha; 
Quem  braiar  f.o  trovíio,  aos  raios,  ao  pampeiro: 
Mais  I  ode  do  que  vós  a  lança  d'um  guerreiro  IV 

Quem  fóde,  como  tu,  Osório  destemido, 
A^s  balas  e  estilhaços,  ás  lanças  o  ás  empatia?, 
Bradar:  «Meu  peito  6  rocha,  e  vergareis  juim  iro, 
Para  chegar  aos  pés  do  um  bravo  brasileiro  I  V> 

Ileroo  dos  impossíveis!  Indómito  teu  peito 
Impòo  respeito  á  morle  I  Em  vào  de  paragaaycs 
Envolven-te,  sosinho,  um  batalhão  inteiro! 
Do  corsel  da  victoria  és  sempre  o  cavalleiro!* 


-  27  — 

Sentimos  uílo  poder  incluir  aqui  muitas  dns  bellas  pérolas 
do  escrínio  poético  do  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva.  Eutre  ellas 
a  intitulada  o  «Jongo»,  ó  cheia  de  conceitos  elevados,  e  tem  o 
mérito  da  côr  Iccal. 

Dansfl,  folga,  pobre  escra.o, 
A'  rubra  luz  aa  fogueira, 
Bate  o  tambor,  tino  o  piaío 
Fbz  a  festa  domingueira; 
O  grnndo  deus  do  trabalho 
Adora  d'essa  maneira! 

O  pae  da  nntureza  o  Deus  de  amor 
Que  o  mundo  povoa  ao  ulmas  delicias 
l^ara  ti  reservou  o  bem  supremo 
De  fem  queixas  soíTrcr,  do  rociar, 
Com  teu  suor  fecundo,  a  terra  dura 
Que  sustenta  o  verdugo  do  t''U  corpo 
E  com  teu  pranto,  a  palma  do  martyrio, 
Quo  faz  brotar  o  riso  entre  as  angustias 
E  a  lior  do  perdAo  entre  as  torturas 
i^ue  o  branco  te  infliugiul  • 

Não  parece  um  trecho  do  inspirado  poema  do  grande  poeta 
do  século,  a  «Piedade  suprema»? 

Erítro  as  composi<;õcs  lyrioas  do  dr.  Luiz  Barbosa,  ha  algu- 
mas do  subido  mérito  o  de  bastante   delicadeza. 

Nao  conhecemís,  porém,  todo  seu  thesouro ;  e  do  copia 
pofsuimos  apenas,  além  das  citadas,  mais  duas  — «A  tarde  da  par- 
tida» e  a  «Manhíl  da   volta». 

Creio  que  nao  tardará  muito  jaia  que  o  paiz  teuba  a  collc- 
cçao  dos  cantos  do  dr.  Luiz   Barbosa. 

Reatando  o  fio  da  biographia  d'esse  cidadão,  devemos  men- 
cionar sua  viagem  aos  Estados-Unidos. 

*  * 

A  14  do  Novembro  do  1870,  partiu  o  dr.  Luiz  Barbosa  da 
Silva  a  bordo  do  «Agameuon»  para  a  America  do   Norte. 

Ia  em  busca  de  um  e(u  cunhado,  victima  de  cruel  enfermi- 
dade, e  ao  qual  consaj^rava  estima  particular.  Já  não  o  encon- 
trou, pois  o  doente  chegara  pelo  vapor  immediato  ao  liio  de 
Janeiro. 

Nao  perdeu,  porém,  o  dr.  Luiz  Barbosa,  o  tempo;  na  terra 
do  fgo  f.head»,  durante  seis  meses,  viu,  estudou  e  aproveitou  a 
observação  do  que  colheu  n'et8a  viagem.  Cérebro  bem  organizado 
o  dado  a  encarar  os  problemas  pelo  lado  pratico,  recebeu  agradá- 
vel e  profunda    impressão  do  viver  social   dos   norte  americanos. 


—  28  - 

N5o  tendo  prttgramma  de  Pbileas  Fogrg,  nem  aspirandi')  a 
ridicul»  celebridade  de  vifljante-  lofomotivn,  aproveitou  a  perô- 
griníiçAo  pela  gTande   Republica, 

E^ta  e[Of'ha  dev®  ser  notada  na  bist^ría  do  partido  repa- 
bticano  britsileirc,  com  a  medma  veuera^o  que  a  «liegira»  de 
Mábomet,  na  l^-i  mul^umana. 

AÂté  abi,  suas  idéas  f^ram  sempre  liberaes,  mas  ainda  não 
tinhíiD)  t<>madn  uma  formula  definitiva.  Seu  t^^pirito  estava  per- 
plexo. Quantas  vezes  nAo  lli^  toriuriva  o  espirito  a  duvida:  Se 
i^eriam  ai  nosufis  iui^titalções  más,  se  os  homens?  t)e  volta  òe^^m 
admirável  republica  oode  n  pensador  viu  em  pratica  8ua<  idt^as 
de  liben.afie  individual,  barmoiiisíando-ae  com  a  forçji  collectiva, 
comedi  nu  a  tomar  corpo  em  &eu  espirito  a  idéa  republicana  como 
A  uniua  forma  de  retiliisar  o  aeu  ideal  de   govenif .» 

Sho  as  palavras,  acima  tranBcnptas,  de  um  mflim8:*riptf»  de  seu 
illustrado  irmão  e  gerando  admirador  n  dr.  Br^^ss  Barbosa  da  iSilva 

Na  realidade,  desde  entAo  contrju  o  partíio  rt-pubUcano  mais 
um  adt^pto  quo  bom  ou  sua  hnodeira,  sat^ritícaudo  até  a  vida  pela 
defeca  do^  principio»  que  adnptr  u.  >]aiã  adiante  trataremoA  da 
parte  brilhante  e  proeminente  que  teve  o  dr.  Luiz  Barbosa  da 
Silva  no  partido  republicflno    brasileiro. 

A  16  de  Maio  d  •  1871  eÍ-lo  annunciando  »eu  escriptorio  de 
advoírado  á  rua  do  Rosário  n.  ST  e  a  24  de  Junho  mudando-âo 
para  a  rua  Direita  ti.  13,  onde  Juiiccíouava  entã.o  o  cClub  Repu- 
blicano*, que  havia  pouco  tempo  »lii  e^tabelect^ra-se  eom  a  tjpo* 
graphía  que  publicava  a  tRepublíca*. 

Já  níio  âe  contentava  o  dr.  Lui^  Barbosa  em  aasialir  iudi- 
lídrento  o  trabalho  de  bouft  correligionários,  nho  podia  limitar 
seu  papel  a  simples  combatente^  mais  preocctipado  com  oa  «pro* 
vará&»  da  bauca  de  advog^ado  que  com  o  rápido  desenvolvimento 
que  assumia  o  partido  republicano. 

Agitava-ae  a  magna  que&tào  do  elemento  servil,  trazida  ao 
parlamento  pelo  notável  tiUenio  do  vi^condw  co  Hío  Brauco,  chefe 
do  gabinete  7  de   MarçOj,  que  entào  dirig^ia  os  npg0L*io*  de  estado- 

Ainda  se  recordam  to^os  do  m  vitLento  produzido  no  paiz 
por  eese  fticto;  na  interesses  particulaies  dos  grandfs  proprieta- 
rins  protestavam;  os  mercadores  de  cgado  humano*,  na  phrtise 
expressiva  de  Torreò-Hocnem,  turvavam  as  a>íUfts  dizendo  f^e  de- 
femores  da  lavoura  nHcional,  e  o  comniercio  queria  cdiíigir  a 
corrrnte»,  coutbrrae  declarou  na  reuuiào  pnblíca  em  qae  fundou- 
se  o  «Club  da  Lavoura  e   Commercio»* 

N*eBsa  phaae,  appareceu  um  pamjibletista  ônprg'ico  e  pa- 
triota que  veiu  dixer  ao  pniz  a  verdade  e  defender  a  jufttiça: 
*toi  Theodoro  Parker»;  assignatura  que  tcmítu  o  dn  Liuz  Bíir- 
boâa  dft  Silva,  quando  cumec^ou  a  discutir  eí^ta  questào  oai  co- 
lamrtas  da  «Republica*  a  29  de  Julho   de  1B71«  (1) 

(1)  A  «Republica»  n.  101.  Ànno  1  e  »eg. 


—  29 


Kas  p&gínas  ardentes,  prafundaa  e  eloqueotea  d^eiise  pam- 
plileto,  eptá  todo  o  caracter  politico  e  moral  do  dr.  Luiz  Bar- 
boia  da    Silva. 

Filho,  genro  e  pftrpnte  de  muitos  iiossnidores  de  grande 
e&cravâttira,  tiÃt»  trepidou  em  dar  goI|*és  prfifundoa  n*e8?a  insti- 
tuiçiio  iaíqua,  qu©  máu  ^rado  os  Martinhoa  do  Carapost  tetide  a 
deaappareier  em  breve  da  sociedade  brasileira. 

Nfto  se  julgue  que  o  dn  Lyi»  Baibo^a  surgiu  emauripa- 
dor,  Cf^mo  a  Minerva  da  fabulfl,  de  um  momento;  setnpre  niani- 
feMnu  borror  por  eisa  triste  herauca  de  nossoâ  conquiiitadorea, 
6  com  seus  fiados  n  cursos  peciinisriosi  libertava  tndots  09  escra- 
▼01  quf^  pos^-uia.  Ã'  propaganda  abfiticioniâta  didícou-!^e,  pois^ 
eoiJf  todi»  o  €iithiaiiia!^mo  e  tenacidade  de  uma  for^^a  de  votitâdo 
excepcional  ;  d'ahi  a  tua  perseverança  etn  trnbalbar  pela  idéa 
republicana,  que  apoderou-se  com  pie  ta  meu  te  de  toda  auii  Jndi- 
TÍdualidade 

Tinha  í»fitao  30  annr*,  a  epoeha  da  vida  himiana  em  que 
0t  grandes  homens  ás&amem  na  historia  as  po^it^oes  deíinitivaB. 

Vejamol-o  na    imprensa  Republicana, 

A  mudança  de  «ituacAo  politica.  efffctua*!a  a  Ifi  de  Julho 
dfi  18*" J0,  produziu  varias  coisequpticiaa  de  order*  publica  em 
tmdo  o  paj:E,  O  partido  lib»-ral  «peado  do  pod»^r,  nfto  ficou  si- 
lencioso ;  v-iu  rt-cnobí-cer,  coiiteasar  e  denunciar  os  vicios  do 
•ystí^ma  moTieirh*co  repiefcntativo.  Dessa  epocba  data  a  celebra 
fnrit*»  do  senador  Nhbuco,  que  evidencia  de  modn  indiscutível  o 
itbtoluti^mo  que  exerce  a  coroa,  sempre  dentro  das  Ti^ian  da  Con- 
BtituicAo   org-íjnizada    por  Pedro  L 

Os  liberaeSf  então  despeitados,  levantaram  o  grito  de  «refor- 
mia  ou  revoluçfto»  ;  sem  pensarem  que  o  «lapia  íntidico»  os 
eondpmnariH  10  annoii  mais  tarde  a  repreçientarem  o  mi-smo  pa* 
p€lif  obrigando-OB  «  pifríirem  €om  usura  em  ííenuflexôea  os  dopstoa 
MiradoH  por  seuft  tribunos,  contra  si  e  contra  os  seus,  «Comme 
les  autrea»  1  s-yntbe-te  expressiva  e  verdadeira  qoe  serve  para 
nivelar  todoi  os  bonsens  poiiticos  dos  dous  partidos  monarchi 
eoi,  ti  o  segundn    reinado. 

Ha  muito  qne  existia  uo  paiz  grande  numero  de  republi- 
canos, e,  Begundo  attesta  a  bisioría  pátria,  é  o  mais  antipo  dos 
partidofl  nacio.naes,  como  talvesi  dernotistrefoos  em  outro  escripto, 
riào  bavia,  fjorém,  nti.a  or^ani/^çâo  e  ainda  nào  se  apresentara 
como  em   18 TO  pnjhuíe  e    forte. 

Muito  contribuirão!  para  issso  os  mtig^nific-fl  arti^roa  e  pa- 
irioticoft  Bicriptoa  úr  *OpinÍSo  Liberal»  e  éo  ♦CotTeio  Nacional*, 
a  cuja  frente  ritiveram  os  drs,  Joéc  Monteiro  de  Souxa,  Hen- 
rique LimtKi  de  Abreu,  Jo^é  Lenndro  Godoy  de  Vasconcellps, 
Francisco  Kangel  PefatutiajC  para  os  quaes  coUaboravam  talentos 


J 


—  30  — 

notíivi^b  como  *>  dr,  Jo*é  Maria  do  Amaral,  Urbana  Sabino  Pes- 
íjoa  do  Mello,  dr.  António  Ferre  ir»  Jacobina  >  dr.  Antmb  Joa- 
quim Ribas,  6  t  An  tos  outroB  bem  Bnbidoã  do  paíz. 

Ainda  inafs  adiantou  a  orginisíaçílo  do  partido  repubíiiiano, 
crear-se  o  «Club  Rndicnlt  em  1863  ;  díinJo  grande  impalso  so 
movimenío  dcniocniticOf  m  Bwm  conferencias  populares,  feitas 
no  tbeatro  da  Pbfinii  Dramaticn, 

Ein  mondo  de  18*0,  bavía  no  Tíio  de  Janeiro,  trcj  fulbas 
Tadicaeg,  que  propagnvítm  íts  idúíis  rojíublícanas  n^fiia  ou  mcnog 
accentiiidainente,  Eva^n  a  «Opinião  Líbf^ial».  fob  a  tedacíjão  do 
dr.  Godoy  e  VagconccIloB  e  paJro  Marcos  Nevile;  o  «Correio 
NacionaU  doa  drs.  Henriqno  Limpo  de  Abreu  c  Francitco  Ran- 
fjel  Peí-tann,  c  o  «Radicfil  Académico*  redig-jdo  por  nlguns  es- 
tudantes do  medicina,  entro  03  quaes  oa  drs,  Fen*^im  Leal, 
Manoel  Felizardo  do  Azevedo^  Lopeâ  Trovílo^  João  da  Slatt  i  Ma- 
chado, Ramiro  Forte»  de  Darcelloa,  Costa  Senra,  c  muitos  yutroa, 
todos  republicanos,  entro  os  quaía  o  auctor  dcsLo  etbo^jo. 

Por  CíSa  oecasiào  cbe^^ou  do  8:a  viaf^em  ao  Kío  da  Prata 
o  notável  jornalista  brasileiro,  Qnintiuo  Rocayuva.  Logo  depois  do 
Eua  f fitada  ent^e  nós  avista  da  píiuíííjíIo  da  idéo  deaocraiica  no 
Urasil,  Uouve  pTojecto  de  uma  lií?a  jornalística  entre  as  folhas 
radicaes,  para  quo  diariamento  fua-c  publicado  na  imprenRa  iim 
orgam  das  idér-s  adiantadas.  Isoladae,  perJodicaSj  aa  ires  folíias, 
com  pequena  circulação»  nílo  tii-bam  a  foT(;a  que  adquiririam 
nnidaa  por  um  èó  pensamento  motor  o  inihjenciadai  por  ideu- 
lidado  fio  vistai  de  uma  rediic<;í\o    principal  e  commum. 

Na  reunião  convocada  para  es?e  lim,  aqne  a&sisti  por  parte 
do  «Radical  Académico*  estiveram  presentes,  6 leni  do  repre- 
sentante da  cj^da  uma  daqncUas  folhai,  o  sr.  B.  de  Moura,  pro' 
prietario  da  «Pátria»  e  outros  cavai heiros;  não  se  reaolveu,  porém 
cou^ja  definitiva, 

Mnl lograda  cEsa  primeira  tentativa,  procurou-io  organizar 
um  «Club»,  formado  com  os  homens  da  ideias  democráticas  mai» 
adiantadas  í  feitos  numerosos  convites  em  Outubro  de  1870,  reu^ 
»trani-ge  muitoa  cidadíloa  de  todas  as  classes  soeiae^,  á  ma  do 
Ouvidor  n.  2d  cons  ituíram-se  em  asFcmblêa  sob  n  presidência  do 
t-r.  Christiano  Benedicto  Ottoni,  quf?  at<;  cntfto  aínda  era  consi- 
derado ura  doA  noB^Oi  homens    ptUiticos    sérios. 

Trntou-se  logo  de  deliberar  o  nome  que  tonií^ria  etâo  «Club», 

O  dr.  Francisco  L.  Bittencourt  Sampaio  aprefeciUou  a  idúa  e 
ftindamentfU  bri  bantemeníe  sua  proposta,  para  que  fosso  deno- 
minado «Club  Republicano»,  poíâ  essa  era  a  maioria  da  opluiÈo 
que  alli  dominava, 

Seguiuso  lon^a  dÍFçu-slo  cm  que  defenderam  a  mesma  ideia 
OB  drs.  Jcstí  Maria  de  Albuquerque  Mello,  Aristides  da  Silveira 
Lobe,  Fedro  Bandeira  de  GotivOa  o  tulroa  cídadftos,  sendo  ac^ 
eeito  esEo  titulo  por  votaçJko  qua^i  unanimo.     Dedarou  se  então, 


—  31  — 

f.ue  aqr.ellfs  que  r.ílo  adhcrissein  n  esse  nrofriamnia,  ernm  livres 
de  retirar-se,  íciii  qnc  por  isso  houvesse   rciinro   ou  desar. 

De  facto,  dous  ou  trcí  cavai  hoiros  auson  tiram -se  e  mais 
t.in'c  Tavarea  Bastos  e  Urlmuo  Sabino  Pessoa  do  Mclio,  além 
de  €fUt.*05,  riscaram  eurs  a^signatuias  das  listis,  conftíccionadas 
anteriorinen'e  para  n  fuudaví^o  do  «Club»,  nllo.icnudo  qufj  «eram 
radií^nefl,  mas  nfto  republicanos,  por  ora!»  Es  as  listas  auto^ra» 
pliicas.  Até  ba  pouco  existiam  cm  poder  do  sr.  Jofu  do  Almeida, 
f[Ue  m*as  mostrou. 

Elegeu-ec  uma  commi>RÍ\u  composta  dos  srs.  drs.  Joaquim 
Saldatiha  Marinho,  Chrisiauo  Bcnedicto  Ottoni,  Aristides  da 
Silveira  I.ob.i,  Quintino  Bocayuvn  e  Flávio  Farncíe,  ]»»ra  redigir 
o  notável  manitusto  publicado  a  3  do  Dfzeiribro  du  1870. 

Foi  esio  immortal  documento  de  ixossa  historia  jiatria  lido 
em  BC&6&0  do  30  Xovembro  o  ap]>rovado  unnuiiiurmente:  a^ritan- 
do  f.e  ncría  occas'Ao  o  ponto  de  ser  ou  ulo  o  manifc-to  assigna 
do  por  t)dos  os  republicanos  pres^^ntcs  ou  só  p<*Ios  ij:cmbr  s  da 
commissr:o.  Xa  mesma  asscmbli^a  dcliherou-^(•.  fundnr  um  or;rnm 
representante  do  ]mitido  na  imprensa;  sn- pendendo  sua  publica- 
ruo  o  «Correio  Nacional»  e  a  «Opinião  Libera!»;  o  primeiro  nu* 
mero  da  <T!epublica»  nppareccu  a  3  de  Dezembro  de  IbTO. 

Nfto  6  opporiuao,  descrever  dia  jjor  dia  a  vida  da  «Kejm- 
blica»,  EUstontada  como  ortiam  do  «Club  Hepubicaoo»,  nem  é 
pnra  contar-so  agora,  quanto  facníicio  o  dedicaçfto  custou  aos 
seus  beneméritos  tundadores.  A  principio  jmblicava-so  três  ve- 
zes ]>or  semana,  imprioiindo-pe  em  uma  typo^rai  liia  particul.nr, 
á  rua  de  Gonçalves  Dias  n.  3:í.  (*)  A  21  de  Kcverfiro  de  1871, 
estava  montada  a  oíHcina  typopnpliica  de  que  o  «Club'»  fizera 
ncqut^içào,  á  Kua  Direita  n.  1^^,  imprimindo-se  pela  primeira 
vez  a  «Uepnblica»  com  material  seu. 

Por  muito  tempo  aanteve-^e  a  folba  vivendo  da  dedicação 
do  seus  corrclií^onarios,  di^cutindo  trdas  ns  questões  em  terreno 
elevado  e  pugnando  do  mndr-  brilhante  ])plns  idéas  republicanris. 

Jornalistas  do  valor  de  <^iiíntino  Bocayuva,  Aristides  Lobo, 
Salvador  de  Mendonça.  Lafayette  Perelrn,  Fl.ivio  Farnese,  Mi- 
pnel  Vieira  í^crreira,  B.  Ta^íplona,  V.  Meirellcs,  Bacharel  Lei- 
tfto  Júnior,  Luiz  Barbosa  da  SíKm,  Prdro  Ferreira  Vianna,  Joaquim 
Piret  d' Almeida,  Zoroastro  Piimplona  o  tantos  outros  illustravam 
81  colarrnas  da  «Republica»  como  redactores  eb^itos  pelo  «Club» 
(iQ  como  collaboradorós  dedicados  á  ideia  que  professavam,  tra- 
balhando em  prol  dessa  pro])a(;anda. 

Oa  recursos  pecuniários,  porém,  lulo  abundavam:  isso  fez 
com  que  o  «Club  Republicano»  em  tesgao  de  1'0  de  A^ro^to  de 
1871,  á  rua  de  S.  Joec  n.  31,  onde  costumava  se  reunir  então, 
tratasse  do  estabelecer  lascs  solidns  para  garaniir-se  a  vida  da 
folha. 

Entre  os  tocios  do  «Club»,  c.*tava  o  dr.  Luiz  BarlK)sa  da 
Silra,  qne  fora  proposto  a  10  de  Xovembio  pelo   dr.    Henrique 


F 


—  32  — 

Limpo  de  Abreu;  propoz  eB?e  distincto  patriota  tomar  a  si  a 
«Rapublicti»,  continuando  a  pubireal-a  do  mes^nio  fortnato,  pro- 
metiendo  dar- lhe  maior  desenvolYimento, 

O  <Clubí,  deptb  de  loíigo  debats,   dacidiu   transferir- lhe  & 

{iro[*nftdHde  da  folha,  com  todo  mnterial  typographico.  paasaudo- 
he  tambeto  oi*     Sf^iis  ónus» 

Á  1  de  Setfmbro  aununcíou  o  dr-  Luist  BarboSftj  qup  seria 
diária  a  uReimblica»  e  cornei; ou  a  ter  o  escriptorio  da  redae<;fto 
á  rua  d'Ajudíi  n.  20,  ondtí  era  íiquella  impressa  deade  25  de 
Maio . 

Termiuíida  esta  pequena  digressão,  em  que  fizemos  retenlia 
rápida  de  factoíi  importantes  e  nt-ceíisíiríoíi,  v-jeinoe  oa  serviços 
do  dr.  Luík  Barbosa  á  imprensa  republicana  e,  portanto,  no  par* 
tido  a  que   pertencia. 

Eie  BB  pHluTTHf!  com  que  se  dirigiu  ao  publico: 

«Nuíica  um  jorn**!  teve  no  Hra^il  mais  prospera  carreira  do 
qu©  a  *R«|  ublica»,  Desillus&o  das  in8tifEÍi;òea  gaataa  que  uos 
jesçem,  setitimento  republic&no  ou  verdadeira  crença  na  superio- 
ridade dos  priucipioB  da  democracia  pura,  o  acolhimento  que 
recebeu  em  quas^i  todo*  oã  pontoa  do  Brasil,  o  intereàso  crés* 
cente  qu©  desj>ertou  apesar  de  periodtca,  derflm-lhe  até  hojô 
unia  cirtuliiçào  effifctiva  de  2,000  exompdarps.  Eeta  aceeitaçAo 
admirável  em  um  paiz  atbda  nHo  habituado  á  leitura  e  mantido 
em  grande  atraaa  de  ioBtrucçilo  |ielo  influxo  obecurantíata  da 
mt^UHrcliiat  é  a  uuica  eitplicação  do  pas&o  que  hoje  damoB,> 

Depois  de  expor  o  plano  adoptado  relatiçametite  a  preçofi  de 
asd{^naturHS,  diz: 

*0  seu  fito  é  offerecer  aos  eapirítos  sérios  o  melíior  alimento 
po^aivel,  e  eafttifass^r  toda  a  legitima  curiosidade,  que  cada  qual 
sente  de  i^aber  do  que  v/*e  pelo  mundo,  de  que  sumoi*  operário» 
collaboradoret^  ©  a  que  nos  sen  timos  presos  pelo  laço  da  leapon 
B!iln1idnde  íudividuaí,  na  mais  intima  e  t^streita  solidariedade^ 
Tudo,  porém,  que  exh orbitar  dei-sa  eephera  eerá  rigorosamente 
bnnido  d^a  columnas  da  «Republica*,  oitde  jamais  por  coDside' 
rãçào  al^cutna,  e  menoB  pelo  máximo  interesse,  ©oconrrar&o  abri- 
go o  insulto,  a  iniuria,  a  calumnia,  a  diffamação  ainda  Cf<berto« 
pela  mai»  reforçada  responsabildado  kí^al  e  menrjs  terào  echo 
os  ódios  6  rancores  ppgsoaoi>  em  busca  de  dea*ibafo  ou  outra  pai- 
xfto  condemn»yet.  Tambera  nâo  teiiio  guarida  os  annuncios  cor- 
rfitorea  dw  serviços  de  escravos  ou  quaesquer  outros  que  se  refi- 
ram a  venda  ou  contractos  de  toda  a  ordem  sobre  captivos  A 
■Rej  ublica»  do&couhece  a  escíavidilo.  Inútil  é,  poisi  accescentar 
que  nào  annunciará  escravos  fugiios  e  nem  praçíis  de  escravos.» 

Para  destruir  boatos  adtede  espalhadi  s,  de  que  dAo  era  e6-» 
D&o  ©phemera  a  existência  da  folha,  e^^creveu: 


í*i  A  redaçAo  dm  «RapnMlca*  no  fl&ta«tt.r«  de  DâtemUro  n  Mftlo    compoz-KQ  doi  sn 
Arlattdõj^  da  Hil«>etri  Uoha,  dr    lligu«t  VIoIrA  Perrotra.  LAfnyeita    Eodrlgoet  t^onlra^   • 
Fedro  B.   Botaret  da  }latra]ilãi.  -  VLd.  <fiep.É>  Ad.   I,  o.  X  ■  Mot.   DIt. 


—  33  - 

«Â  cRepablica»  está  premunida  contra  qaaesquer  eventu- 
alidades |M>r  algum  tempo  com  certeza,  e  confia  o  resto  da  ac- 
ceitaç&o  que  ha  de  saber  merecnr  e  sempre  e  muito  dos  incan- 
sáveis auxiliares  que  nella  enxergam  sua  arca  de  esperançai^,  o 
symbolo  de  suas  crenças,  o  lábaro  que  ha  de  levar  o  Brasil  a 
seus  grandiosos  destinos.» 

De  facto  o  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva  trouxe  recursoA  pa- 
ra a  folha,  e  não  engnnou-se  confíando  o  futuro  d(«  seun  aasi- 
gnantes  que  eorrespo>  deram  de  modo  brilhante  á  chamada  feita. 

De»de  então  o  dr.  Luix  Barbosa  elevou  a  tira^^cni  a  8  (XO 
exemplarei,  instituiu  a  venda  avulsa,  á  semelhança  do  que 
se  praticava  aos  Es  ta  ios- Unidos  e  na  Europa  e  hoje  fass-se 
entre  nós. 

Auxiliado  por  dedicações  cr.mo  o  dr.  Jo^é  Maria  He  Albuquer- 
que Mell"  n  outrfjs,  correu  proa pt^ra mente  o  primeiío  mrs  rja  em- 
presa   e  Chdu  vez  mais  cresceram    sua  popularidade  e    {lr(*^ti<rio. 

Mas  o  dr.  Luiz  Barbosa  desejava  dar  maior  desenvolvimen- 
to á  f<  lha,  e  por  isso  tomou  para  sócio  commanditHrio  seu  ir- 
mAo,  dr.  Braz  Barbosa  da  Silva,  e  com  esse  reforço,  mudou  suas 
officínas  typosraphicas  i>ara  a  rua  do  Ouvidor  n.  13'J,  ahi  i<u- 
blicando  o  primeiro  numero  a  4  de  Outubro  de  1871.  Tomara 
para  a  redacção  o  dr.  Salvador  de  Mendonça  e  para  repórter  o 
o  conhecido  e  activo  sr.  João  de  Almeida. 

Desde  então  começou  a  lucta  inerente  do  dr.  Luiz  Hnrbnsa 
da  Silva;  a  tudo  assistia,  tudo  passava  por  exame  e  iisralisação 
sua.  Desde  a  matéria  politica  e  principal  da  folha  ati*  os  an- 
nuneios;  desde  a  revisão  dos  oriçinnes  »té  a  n:mes>a  pelo  cor- 
xeio  para  os  assignantes. 

Dormindo  muito  pouco,  pois  se  era  o  ultimo  a  deitar- se, 
exm  o  primeiro  a  levantar-se  ;  snlicitado  por  mil  prenccupRções, 
tentiu  o  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva,  enfraquecer  sua  ^iiiide. 

Cra  nessa  occasião  a  tiragem  da  «Kf publica»  de  7. ''CO 
exemplares;  apologista  enthuHfLiita  dos  hábitos  ainericiLuris,  or- 
ganisrn  o  plano  de  prémios  a  distribuir  aos  nov(*À  hií-í:  «guantes, 
no  valor  de  13.C00S000  de  réis. 

A  folha  era  então  procurada  e  lida  eom  afun  e  cu  rir  sidade ; 
tinha  entrada  na  seci etária  dos  mimstroti,  no  salão  da  Prflça  do 
Commercio,  no  gabinete  do  liremto,  no  escriptorio  do«  negoci- 
antes, dos  advogados,  dor  medi'.-os  e  na  ca^a  do  op^rarin. 

Além  dos  redactores  efiectivos,  do^  collaboradores  republica- 
nos, vultos  como  José  de  Alei.car  e  talentos  como  Francisco 
Octaviano  contribuíam  com  suas  joia^  literariHs  f>ara  a  «Hepu- 
blica».  As  bcllas  poesias  do  tr/idtict'  r  inspirado  de  r»yron  e  Os- 
sian  Bguravam  ao  lado  dos  romances  Ho  critico  erudito  e  (*.<<pi- 
rituofo  aristarcho  que  analysava  n  «Vate  Bragnntinn».  Os  ar- 
tigos de  fundo  escríptos  com  critério  e  em  e»tvio  elptrante  dis- 
eutiam  todas  is  questões  sempre  j^ela  melhor  faço  e  ein  terreno 
elevado. 


—  3t  — 

Náo  Be  julgue  que  toáo  o  tempo  do  dr,  Luiz  Baibata  era 
jeâdnado  n  ^orcQcia  da  folha  ;  froquctitemoiito  manejava  apeiiiia 
do  redactor  e  sempre  com  esito.  Artigos  conceituosos  ©  qne  foram 
tomados  em  con£ÍJeraç5o  [lelo  governo,  escreveu  ellc  sobre  a  cs^ 
trada  de  ferrro  de  Pedro  II,  e  ainda  sobre  outras  questões,  e^co- 
IhcnHo  de  preferencia  o  Indo  pratico  para  resolvel-as-  Â  sntyra 
r-âo  lhe  era  extranlia,  em  occaaiao  opportuno,  e  para  exem['lo 
lia  m-iia  de  um  t'scripto. 

N^Q  podemoB  aqui  rememorar  tedaa  na  pagina!  brilhantfla 
que  teve  a  «Republicu»,  nesse  período,  talve»  o  ma"s  glorioso 
de  su^  vila;  era  que  Quintiuo  Bocajuva  ia  até  escrever  o 
folbetim  artístico  a  Pedro  Américo  ;  Salvadcr  de  Mendonça 
discutia  esthetica  com  o  architecto  Francisco  Caminhoá;  Franciaco 
Cunha  enviava  do  Rín  Grand^ii  do  Sul  os  seus  primorcsos  trc^ 
chos  de  propaganda  republicana;  Aristides  Lobo  traiíiva  magís- 
tralmtia'e  perante  o  direito  do  «Conflícto  Allemao»  e  da  «liecla- 
maçílo  argcntinai  ;  Lueio  de  Mcndon<;n  publicava  fuaa  j^rimicias 
poéticas  ;  e  Feri  eira  de  Mouciíes  oa  seus  elefantes  folhelins  ; 
isto  para  nao  ciLnr  os  succulentoí  trabíilhos  de  Bculé,  de  Labo- 
ulaye,  de  Pernaíido  Garrido,  de  CastcIIar  que  prcfiucbiam  sem- 
pre as  columnas  da  «Republicais,  i:om  matéria  iustnictiva  e  in- 
tercsÈante. 

NfiO  de-cauçava,  porém,  aquelle  cérebro  privilegiado  ;  em- 
quanto  escrevia  ura  editorial  admirável  como  o  que  tem  por  titulo 
Philosop\o  OH  Farfaníe,  (l)  a  propósito  doa  festujoa  que  or^ani- 
aavara  p  um  a  cbe^ada  imperial;  publicava  um  novo  plano  do 
composição  typog^rapbica,  adoptando  certa*  ívllabaa  o  Ictrau 
dobradxs,  mandando  fundir  matrizes^  próprias  para  easemetbodo, 
A  18  de  Março  de  1872  publicou  esse  plaao,  e  tendo  que  respou^ 
der  a  alguém,  que  dída-se  primeiro  inventor  de  tal  çysteroa, 
fA-o  de  modo  vantajoso,  e  logo  publicou  outro  plano  melhor 
ideiado,  aeguado  os  especialistas, 

NíLo  se  tem  impuaeraente  um  ezct>Fso  tal  de  vitalidade 
nervoaa  sem  que  outros  svátomas  do  orgaiiÍ-4m>  siíTram  profun- 
damente ;  nílo  havia  compensação,  entre  aa  forças  qae  perdia  o 
o  combnslivel  que  assimilava, 

Forçido  a  ceder  perante  o  impossível;  a  instancias  da  família, 
do3  amigoi  e  por  mandado  do  medico,  que  também  era  amigo,  o 
dr.  Fernandes,  de  sauJosa  memoria,  retirou-se  em  Abril  para 
fora  d 3  Rio,  deixando  a  gerência  entregue  ao  dr.  Salvadcr  de 
Mendonça.  L^go  depois,  entrou  também  para  a  redacção,  o  dr. 
Ferreira  de  Menezes,  e  a^sim  foi  m^iutenlo-si  a  RôpMica* 
Notava-se,  porém,  qtie  alli  faltava  a  cn+^rgia  vivlficadora  do  dr, 
Luiz  Barbosa^  e  tudo  resentia-ge  de  sua  ausência. 

Boat^i  forjados  por  infame ?  detractores,  davani  a  empresa 
como   empenhada;   de   sorte  qu©   para   conjurar   isso,  declarou  o 


(Ij    V14.  Íi*pnllic9  do  2"S  de  Fevereiro  de  187^'.    Anuo  II,  o,  27T. 


—  35  — 

dr.  Luii  Barboza  na  primeira  columna  da  Jicpublira,  n  21  do 
Abril  que  cnada  dovia»,  convidando  a  qiiTn  bo  c  julgasse  cooi 
direito  a  qnalqaer  pngamoato  para  apresentar  a  Bua  conta  no 
escriptorio  ». 

Por  algans  dias  cc>8aram  os  boatos:  npproximando-s?,  porrin 
a  epocha  do  sorteio  dos  prémios  aos  assignantcs,  novas  Cassandra s 
começaram  a  propalar  que  a  Republica  sus])endeiia  a  publicaçíio 
antes  de  Maio,  nào  pagando  assim  os  prémios. 

O  dr.  Luiz  Burbosa  jil  estava  fora  do  I^io,  mas  tinba  todo 
seu  ser  ligado  ao  andamento  da  empresa,  o  diariamente  estava 
00  facto  do  que  se  passava  abi. 

£ncerrou-80  o  sorteio  no  dia  2  do  Maio  com  o  numero  de 
9.984  assignantes  especiaes,  e  no  ciia  3  a  empresa  annunciava  o 
nome  dos  premiados,  convidando-cs  a  virem  receber  as  quantias 
que  Ibe  eram  devidas;  a  todos  satisfez  integralmente,  publicando 
os  respectivos  recibos.  Não  ce  abateu  a  coragem  do  dr.  Luiz 
Barbosa;  o  annunciou  novo  sorteio  para  Agosto. 

Nao  permanecia  inactivo  lor  fora;  jirocurava  entro  correli- 
gionários amigos  e  parentes,  obter  novas  quotas  para  custeio  da 
folha;  a  saúde,  porém, peiorava  de  di-i  i)ara  dia.  Reconbeceu  seu 
estado  e  escreveu  a  Quintino  liocayuva  fará  que  viesse  da  Bahia, 
onde  ee  achava,  afim  de  assumir  seu  logar  na  direcção  da  folha. 

Continuou  sempre  a  occupar-se  com  toda  a  saa  solicitude 
da  marcha  moral  e  material  da  empresa;  nus  via  com  trizteza, 
que  n&o  era  auxiliado  como  esperava  )or  seus  eompanbeiros,  o 
que  perdera  improficuamente  seus  grandes  e  heróico?  sacrifícios. 

Nào  desejamos  demorar  a  penna  sobre  esto  periodo  doloroso 
da  vida  da  Republica^  para  nilo  excitar  susceptibilidades,  nem 
provocar  queixas. 

Desde  que  o  dr.  Luiz  Barbosa  começara  a  puUiear  o  jornal 
na  rua  do  Ouvidor,  como  que  absorvera  todas  as  outras  mani- 
feitaçôes  do  partido  republicano,  concentrada  abi,  quasi  todo  o 
vigor  dos  correligionários. 

Foi  um  erro  e  um  inconveniente,  que  sentiu-se  logo  depois; 
o  partido  não  conhecia  toda  a  extensão  dos  sacrifícios  do  dr. 
Luiz  Barbosa  e  mencs  ainda  sabia  das  difficuldades  pecuniárias 
com  que  Instava  para  sustentar  a  imprensa. 

Muitos  correligionários,  aliás  dedicados,  diziam  que  o  dr. 
Luiz  Barbosa  tinha  recursos  e  que  até  era  auxiliado  por  uma 
sociedade  republicana  dos  Estados-Uuido» ! 

Elle  próprio  conhecia  esta  situação  e  sabia  destes  boatos; 
em  conversa  comniigo,  mais  de  uma  vez,  disse-me:  «Quando 
perguntarem* te,  como  se  chama  a  aí^sociação  que  subvenciona  a 
Republica,  dize  que  c  o  c  Yankee-Club». 

Era  grande  a  acceitação  da  folha  que  em  menos  de  um 
anno  de  vida  diária,  attingira  a  12.000  assignantes.  Fez-se  ne- 
eestaiia  a  vinda  do  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva  em  meado  de 
Setembro  de  1872,  ao  Kio. 


A  23  do  mesmo  mes  assumiu  a  exclusiva  propriedade  e  re- 
sponsabilidade da  empresa,  conforme  annnncioUi  ficando  o  dr. 
Salvador  de  Mendonça  como  redacior-chefe,  auxiliado  pelo  dr. 
Ferreira  de  Menezes.  Nào  era  possivel,  porém,  sua  permanência 
no  Rio ;  procurou  portanto  entregar  ao  «  Club  »  o  deposito  sa- 
grado que  recebera,  sem  indemnizaçíio  alguma. 

Este  facto  bonra  o  desinteresse  do  caracter  integro  do*dr. 
Luiz  Barbosa.  Convocou  a  reunifto  do  partido;  mas  poucos  com- 
pareceram. Expoz-lbe  com  fritiiqu**za  o  estado  real  da  empresa 
e  pediu  cora  urgência  uma  deliberação, 

Nào  sendo  possivel  decidir-se  a  questão  com  essa  urgência, 
e  sob  a  prers.^o  de  circumstancias  desagradáveis,  decidiu  o  «Club», 
que  ficava-lhe  o  direito  de  dispor  do  material  da  typograpbia,. 
como  Ibe  aprouvesse,  com  tanto  que  salvasse  a  íolba  de  uma 
morte  desastrosa. 

Lavrou-se  uma  acta  da  reunião,  assignada  por  todos  os 
presentes,  qne  foi  entregue  ao  dr.  Luiz  Barbosa,  a  seu  pedido, 
como  documento  que  o  justificasse  de  qualquer  accusação  futura. 
Entrou  era  corabinação  cem  Quintino  Bocayuva  e  tran^mittiu- 
Ihe  a  folba  qu(^  passou  sob  a  nova  pbase,  appaiecendo  o  primeiro, 
numero  a  9  de  Outubro  de  1872. 

Ao  retirar-se  da  imprensa  eFcreveu : 

cNa  vida  de  retiro  a  que  o  meu  estado  valetudinário  me* 
obriga  só  almejo  ser  acorapan liado  pftla  justiça  d^aqudles  que 
me  conhecem,  e  que  espero  stfírmarão  que,  ^e  fiz  pouco,  fiz  en- 
tretanto tudo  quanto  se  podia  exigir  dos  fracos  recursos  de  que- 
dispuz  alentado  erabora  pela  mais  completa  abnegação.» 

Aqui  termina  a  nossa  tarefa  de  acompanhar  a  vida  da  «Re>^ 

Íublica»,  a  que  esteve  então   intimamente  ligada  a  vida  do  dr. 
tuiz  Barbosa. 

Ninguém  pôde  desconhecer  os  sacrificios  athleticos  que  fez. 
o  dr  Luiz  Barbosa,  para  manter  com  honra  e  brilhantismo  o 
papel  proeminente  que  teve  a  cKepublica»  no  jornalismo  bra- 
sileiro. 

Talvez  grande  parte  do  partido  ignore  esses  factris ;  nós  que- 
fomos  testemunha  de  vista,  do  quanto  trabalhou  aquelle  patriota. 
a  bem  das  ideias  republicanas,  trazemos  este  depoimento  sincero, 
verdadeiro  o  desinteressado,  para  algum  dia  ser  aproveitado  pelos 
nossos  historiadores,  para  que  justiça  seja  feita  ao  grande  mérito 
do  distincto  republicano  paulista,  morto  prematuramente  em  ser- 
viço da  boa  causa. 

Entregue  o  jornal  a  outras  mãos,  retirou-se  para  e  sitio,  á 
vida  particular  no  seio  da  família,  cercado  de  amigos  e  de  seus. 
magnificos  livros;  asMm  passou  cerca  de  dois  annos  e  meio  re- 
fazendo a  delicada  saúde. 

Aohando-se  um  pouco  melhor,  peson-Ibe  esta  vida  inactiva^ 
e  resolveu  abrir  escriptorio  de  advocacia  em  Barra-Mansa,  visto- 
como  era-lhe  prohibido  pelos  médicos  voltar  ao  Bio  de  Janeiro^ 


—  37  — 

  respeito  deste  nltimo  f«eriodo  da  vida  do  dr.  Luiz  Bar- 
bosa, seja-nos  licito  transcrever  as  eloquentes  palavras  de  seu 
maior  amig:»  e  admirador,  o  dr.  Braz  Barbosa: 

«Âhi  (na  Barra  Man<«a)  como  advogado,  ainda  seus  trabalhos 
sfto  con^faltados;  era  um  orncul')  e  como  homem  era  um  semi- 
den*  e  o  merecia.  S^u  espirito  crescia  com  os  annos.  seus  nobres 
seiítim-ntos.  sna  eloquência  nunca  exc»'didu.  tomaram  um  cunho 
particul  ir  dn  trrandfzi  de  quem  se  sente  fora  das  paixões  e  tor- 
pesas  humanais,  e  |>rHparado  a  ser  apre -indo  pelo  juiz  do:<juizes.> 

Âiiida  hoje  o  nome  do  dr.  Luiz  Barbosa  é  proferido  com 
amizade  e  respeito  uo  município  de  Barra- Mansa  e  nos  circum- 
vixiohos. 

Antes  de  concluir,  demo-í-lbe  os  traços  particulares,  que 
completam  esta  grande  individualidade. 

Alto,  esbelto,  de  phji^ionomia  expressivamente  sympathica,  o 
<lr,  Luiz  Barbosa  da  Silva  impre.-sionava  de  modo  »<;radavel 
desde  a  primeira  yez  que  se  via.  Testa  espaçosa,  bem  confor- 
mada, ulhns  vivos,  rosto  oval,  todos  os  traços  eram  b»*m  accen- 
tuados  e  correctos,  de  modo  que  a  palidez  do  semblante,  reve- 
lando uma  constituição  débil,  imprimia  um  aspecto  melancholico 
e  suave  ao  dr.  Luiz  Barbosa.  Â  voz  sonora  e  agradável,  em- 
bora fraca,  attrahia  a  sympathia  de  seus  ouvintes 

Frequentando  ainda  a  Academia,  enamorou  se  da  exma.  sra. 
d.  Emiliana  Morae  Barbosa  da  Silva,  com  quem  casou-se  a  7 
de  Setembro  de  1861. 

Foi  esta  distincta  senhora  quem  deu-lhe  toda  a  suavidade 
que  encontrou  n  •   lon^a  e  cruel  enfermidade  que  o  aniquilou. 

Deixou  apenas  dois  iilhos,  a  exma.  sva.  d.  Maria  Natalina  e 
o  sr.  António  Braz,  que  herdaram  seu  grande  nome,  e  que  têm 
a  vida  exemplar  de  seu  pae,  para  transmittir    aos  descendentes. 

alarido  exemplar,  p^e  extremoáis-iiino,  era  typo  de  bom  amigo, 
como  fora  do  íilho   desvelado  e  do  irmào  querido. 

Dotado  de  solida  e  variada  instrucçào,  tinha  a  intelligencia 
voltada  sempre  para  o  lado  útil  e  pratico  das  cousas ;  mais  ac- 
eentUttda  ainda  se  tomou  esta  feiçào  de  seu  caracter,  dep(>is  da 
viagem  aos  Estados-Unidos. 

Franco  e  leal,  nunca  soube  disfarçar  suas  o[)iniões,  nem 
calar  as  convicções  que  nutria,  foss^  qual  fosso  o  assumpto  ou  o 
o  individuo  de  que  se  trata-^se;  tudo  sacriticava  ante  o  direito  es- 
tabelecido pela  sua  razão  esclarecida  e  recta. 

Delicado,  ci  rtez  e  espirituoso,  tinha  como  Dumas,  o  segre- 
do da  palebtra,  sempre  nova,  attractiva  e  interessante. 

Em  literatura,  como  em  scieneias  ])0>itiva3,  ora  possuidor 
de  variado  e  grande  cabedal,    incessantemente    recovado    e  au- 


gmentado  pelo  estudo  e  pela  leiíura  do  sua  rica  e  jreciosa  bi- 
blictheca. 

Bahac  era  um  de  seus  auctores  picdilecios,  Legou vé  e  La- 
boulaye  tínbom  giaiido  influencia  sobro  Fuas  idcas. 

íhilan tropo,  como  todo  grande  coraçfto,  du?ante  toda  a  vida 
deu  uumerosos  o  eloquentes  exemples  dessa  grande  qualidade, 
deixando  em  seu  testamento  padrUo  immonedouro  dos  sentimen- 
tos elevados  que  os  animavam. 

Tao  completo  no  seu  todo,  era  também  livro  pensador  em 
matéria  religiosa,  ligando  A  theologia  e  suas  creações  o  valor 
que  a  sciencia  positivista  lhes  assignala  hoje. 

A  especulaçfto  clerical,  felizmente,  não  pôde  anniquilar  o 
documento  precioso  que  deixou  a  seus  filhos  e  á  posteridade  o 
que  ainda  o  recommenda  sob  esse  ponto  do  vista. 

Eis  c';mo  exprimiu-se  neste  assumpto,  em  seu  testamento, 
escripto  pouco  antes  de  fallecer,  e  quando  já  via  próximo  o 
termo  da  vida. 

*  Quero  ser  sepultado  sem  pompa  alguma  e  enterrado  nú  sem 
lençol,  caso  seja  prohibido  queimarem  o  meu  cadáver,  como  de- 
sejo, lançadas  as  minhas  cinzas  em  terreno  de  cultura  agriccla. 
Prohibo  que  se  digam  missas  por  minha  alma  o  que  se  me  fa- 
çam encommendações  ou  obséquios  religiosos  em  que  n5o  creio 
e  que  condemno  como  superstição  ímpia  o  esbanjamento  de  di- 
nheiro que  se  pode  aproveitar  cm  esmolas,  que  peço  aos  que 
se  lembrarem  de  mim  depois  de  minha  morte,  as  façam  em  meu 
nome  ou  intençào  como  so  diz  vulgarmente. » 

Dotado  do  caracter  enérgico;  nào  atreveram-se  os  zuavos 
de  ultramontanismo,  perturbarem-lhe  a  hora  extrema,  como  soem 
fazer,  uem  insultarem-lho  a  agonia  como  ao  grande  Cesara 
Zanousky,  ou  ousaram  representar  a  farça  burlesca  como  fize- 
ram com  o  inclyto  Osório. 

Póde-se  dizer  do  dr.  Luiz  Barbfsa  da  Silva  que  era  um 
paulista  á  antiga;  enérgico,  emprehendedor,  leal,  independente 
e  escravo  de  sua  palavra. 

A  enfermidade,  porém,  tinha  caminhado  a  passos  agigan- 
tados, sobrevindo-lhe  fortes  hemoptyses. 

«O  ultimo  anno  de  sua  existência,  escreveu  Quintino  Bo- 
cayuva,  (1)  foi  por  assim  dizer,  uma  agonia  prolongada;  mas 
nesse  mesmo  periodo,  novos  estudos,  novas  combinações,  novas 
esperanças,  illuminavam-lhe  a  alma.  o  elle  sentia-se  reviver, 
sempre  que  tinha  occasiflo  de  conversar  sobre  o  assumpto  que 
lhe  era  predilecto,  communicando,  com  vivo  prazer,  a  amigos  e 
estranhos  os  seus  cálculos  e  as  suas  aspirações.» 

  26  de  Junho  de  1875,  ás  4  horas  da  tarde,  na  fazenda 
Confiança^  propriedade  de  seu  sogro,   falleceu   o   dr.  Luiz  Bar- 


(1)    o  Olobo.   Anno  II,  n.  170.  29  do  Junho  de  1875. 


—  39  — 

bosa  da  Silv.i,  perdendo  a  jaovincia  de  ?.  Paulo,  um  dís  foiís 
mais  brilhantes  talentos,  o  Brasil  uin  drs  cidndAo&  mnis  di<rnos 
e  o  jaitído  rr|  ublicAuo  uxEa  do  suns  maia  cLaias  cspcianç»?  c 
talvez  uma  de  suas  n:nÍ8  fortes  ccluninn^. 

Felizmente  nfto  chepou  a  ver  tinta  deferçfto  vorpc-nlirsa 
o  nâo  teve  como  F'avio  Fnrnese,  que  o  jaeeedera  no  tiinuilo,  de 
corar  por  ler  ccníiado  em  alguns  individuo?,  formados  do  sen- 
timentos de  lacaio  e  do  lan^a  dcs  esterquilinics  impei  iacs. 

Terminaren.03  ettc  rápido  ,  sbo<;o  com  as  palavras  quo  es- 
creveu, ao  tra<;ir  o  necrológio  de  Flávio  Farnesc  a  7  de  Se- 
tembro de  1871 : 

«Mês  SC  não  llic  foi  dado  vrr  a  realização  das  ^uas  mais 
cliaras  esperanças,  sc-u  nome  abi  fíea  na  iLcnioria  do  povo,  ful- 
gido e  briibanti)  entro  os  clarões  da  aurora  democrática.  > 

Quando  no  futuro  o  Brasil  entrar  ia  communliào  dos  povos 
livres,  8í?u5  irmHc^,  na  America,  o  o  partido  repuUicaiío  levan- 
tar o  Pantlieon  do  ecus  beneméritos,  entro  es  mais  brilliantes 
gravará  o  do  dr.  Luiz  Barbosa  da  Silva,  |OÍs  «nenhum  barateou 
tanto  08  bens  da  fcrtuna,  o  tem]  o,  o  trabalho  cem  inteiía  «bne- 
gaçào  e  renuncia  de  todos  os  proveitos  ];essoaes,  crente  até  sua 
ultima  boia  nos  gloriosos  destinos   da   liberdade   e    da    pátria  !> 

Guaratinguetá,  Setembro  de  18S0. 

Dr.  a.  C.  de  Miranda  Aziívf.do. 


A   Serra  do  Espinhaço 


o  nome  «Serra  do  Espinbaçoi  foi  introduzido,  em  1822, 
na  literatura  yreof^rapliica  pelo  fundador  da  geologia  brasileira, 
Guilherme  vou  Eschwfgft  lí),  como  denominaçAo  compreheusiva 
para  as  diversas  unidades  orograpliicas  que  formam  um  grande 
divis  ir  de  aguas  entre  *>s  rids  que  desaguam  directamente  no 
Atlântico  e  os  que  deiiaguam  primeiro  no  Uruguay,  Paratiá  e 
S.  Francisco.  Conforme  o  us»  moderno,  e  de  facto  conforme  o 
u>o  su^»sequent«  do  próprio  Eschwege,  esta  denominação  tem 
sido  limitada  á  secção  de^te  divisor  de  agmis  que  corresponde 
á  bacia  de  Sào  Francisco,  sendo  conhecida  pflo  nome  de  SerrA 
da  Mantiqueira  a  maior  parte  da  correspondente  á  bacia  do 
Paraná,  «o  passo  que  o  rest  •  desta  secção  e  a  correspondente  á 
b?)cia  do  Uruguay  são  c«  nsideradas  como  pertencentes  á  Serra 
do  Mar.  O  nome  assim  limitado,  bem  que  roubado  de  muito 
da  sua  importância  e  pripriedade  primitiva,  é  applicada  a  uma 
feição  orographica  bem  saliente  e  distinguida  por  especiaes  ca- 
racteris ticos  topographicos,  ge  lógicos  e  tectónicos. 

Algumas  das  feiçftes  topographicas  e  geológicas  mais  dis- 
tinctivas  d««ta  s^^rra  foram  bem  discriminadas  por  Eschwege  nas 
descripçòo^  detalhadas  das  suas  diversas  viagens  nos  districtos 
aurift  ros  o  diamantiferos  (2)  comprehendidos  na  secç&o  que  se 
estende  de  Ouro  Preto  a  Diamantina,  sendo  que  a  existência 
de  ouro  (í  diamantes  è  por  si  só  um  dos  principaes  caracteristi- 
cos  da  serra.  Assim  elle  notou  o  contraste  entre  a  maior  ele- 
vação mé  ia  (1000  metros,  mais  ou  menos,  com  picos  que  fe 
elevHui  Mté  15'X)  a  1800  metros),  o  caracter  geral  de  planalto 
com  u\\  griíis  Íngremes,  o  aspecto  descalvado  e  áspero  dos  picos 
e  1  «uibadas  menores,  o  seu  alinhamento  geral  no  rumo  N — S. 
e  a  p»ei>ondcrancia  de  rochas  siíhistosas,  (especialmente  schistos 
quarizosos  e  feriuginosos;  e  também  a  altitude  menor,  topogra- 
]>hia  mais  suave  e  apf carentemente  sem  systema  («como  um  mar 
de  aivoredo  batido  pelas  tempestades»)  e  a  })reponderaucia  de 
rocbas  ciAStallinas  (])nncipalmente  gneiss  e  granito)  que  cara- 
cterizam as  zonas  adjacentes,  particularmente  a  que  íica  para  o 
lado  do  leste.  As  feições  tectónicas  da  serra,  pelo  contrario, 
imo  for^m  descriptas  j)or  elle,  nem  pelos  seus  successores.    (*) 


Cj  !  !ichwoí;e  tinh»  orna  hypothese  eepecÍAl,  chimico-crystallina,  a  respeito  do 
modo  de  formaçAo  da«  rochas  qao  no  eea  tempo  eram  conhecidas  pela  deoominacAo  de 
"prtaiitivas",  que  vem  exposta  detalhadamente  na  p.  II  et   $*q.   do   seu    Oêbirgtkundê. 


—  41  — 

Em  virtade  da  8ua  riqueza  em  ouro  e  diamantes  a  secçAo 
meridional  da  serra,  de  Ouro  Preto  a  Diamantina,  tem  sido  ire- 
queatemente  visitada  •  descripta  com  tentativas  a  dar  uma 
ideia  doi  bpus  característicos  geo1o^ico$«,  mas,  com  a  excepçj^o 
dos  escriptOB  de  Eschweg»*  (l,  2),  Spix  e  Martíu:*  (3),  Ilelmrei* 
chen  (4),  Henwood  (õ)  e  llus>ak  (1  )  pouco  sh  encontui  lui  lite- 
ratura um  tanto  volumosa  (comparada  com  a  referente  no  resto 
^o  Brasil)  relativa  a  esta  rej^^ifto,  que.  do  ]>onto  de  vista  geo- 
lógico, seja  compiehensivel,  ou  que  o  ^endo,  tenlia  vulor  per- 
manente. Ar  outras  Keccòes  e  as  re>riôes  a  cada  l.ido  ^ào  qunsi 
uma  tetra  incógnita,  tanto  d<>  ponto  de  vibta  topou rujiliico  como 
geológico,  e.  corar  em  todas  as  "Utras  partes  do  Hrasil,  a  falta 
de  bons  roappas  é  um  obstáculo  quasi  insuperável  para  estu- 
dos geológicos  dctalbados.  O  e^boço  (jue  or^an i/.'i mos  é  baseado 
oas  observações  ieitas  em  poucas  excursões  raf»idas  nas  regiões 
auriferas  n  diamantiferas  acima  mencionadas,  um  exame  parcial 
e  apressado  da  secção  diamrmtifera  da  serra  no  Estado  da  Babia, 
uma  viagem  no  Kio  Sào  Francisco  e  o  seu  tributário  o  Hio  das 
Velhas  e  uma  excursào  na  |)arte  média  da  b;icia  do  Jequiti- 
nhonha, a  qual.  prrém,  não  alcançou  a  mar<rem  oriental  da  re^iílo 
da  Serra  do  Espinh-iço  As  ob-ervações  que  podiam  ser  ftjitas 
nestas  ex^*ursõc8  rápidas  sào  manifestamente  insutlicientes  f»ara 
mais  do  que  um  ligeiro  esboço  da  regi  Ao. 

A  serra  do  Espinbaço,  como  agora  so  entende,  o<  ns^titue 
uma  zona  de  largura  de  50  a  100  kilometros  e  da  elevav^o 
média  de  mais  de  1000  metros,  caracterizada  por  feições  topo- 
g^phicas  ásperas  e  elevando  se  com  niarirens  abru]>tas  unias 
centenas  de  metrrs  a'ima  das  reíriòes  mais  baixas  e  de  t^po- 
graphia  mais  luavr  de  cada  lado.  Klla  se  estendo  com  paralle- 
lismo  quasi  perfeito  com  a  linba  da  costa  e  com  o  curso  do 
Sào  Francisco  (acima  da  grande  volta  de  Cabrobó),  e  com  a 
orientação  tieral  de  norte,  desde  cerca  de  latitude  20*"  30'  até 
cerca  de  latitude  9  ,  onde  o  rio  S^o  Francisco,  depois  de  ta/.er 
uma  volta  brusca  para  S.  E.,  corta  p<  r  c:la,  ou  m.-iis  provav*íl- 
mente  coire  em  redor  da  sua  extremidade  se]>tentTÍonal.  Em 
toda  esta  extensão  de  ma  s  do  K^OO  kilonictr»  s  esta  z«  na  forma 
a  beirada  oriental  da  bacia  de  Sâo  Fram-isco  (|ue  nccbc  a  dre- 
nagem da  sua  paite  occidental,  ao  passo  que,  a  da  parte  orien- 
tal escoa  directamente  para  o  Atlântico  j»eloB  rios  Doi-e,  Jeque- 
tinhonha,  Pardo,  Rio  de  Contas,  Paraguassú,  Itapcuiú  e  Vasa- 


Bntre  eitu  rochas  elle  Incloia,  como  uma  se^nda  (1ivfi>.1o.  as  camadas  areno^.ns  e  ar- 
gitloiM  da  Berra  do  Rspinhaço  Como,  por  esta  hypntlicsiR,  nJío  aiinittia  'Mitrc  ellas 
uma  raccenfio  de  sedimentos.  lifto  t<rnt<>u  feubdividil-.is  em  !4LrItí->  o  re.sulia<lu  raais 
infeliz  deste  ponto  de  vista  foi  a  ruuniSo  de  to<Ias  a^  rocha:;  quart/osas  da  r>'^i.lo 
debaixo  do  nome  içeral  de  «itacolumito*  <|ue  tem  :>ido  um  p<>^'l(ll>lo  p.tra  us  nstudun  da 
geoloçia  brulleira.  tíenún  um  hniúVi^^imo  obi>prv.iiIor  ;:eoli<i;ico.  (llc  n.lo  deixou  de 
notar,  entra  as  rochas  assim  deDominadaa,  evidcnciat»  d(>  duaiii  s<.tíos  nâo  confurmavoi^i 
entre  sU  mas,  retido  pela  sua  hypothese,  n&o  deu  a  esias  ohservavOcs  a  bua  devida 
iaporUncla. 


—  42  - 

barris.  Na  parte  superior  das  bacias  do  Eio  das  Velhas,  Jc- 
quetinlioiíba  o  Paraguassú,  e  em  gráo  mooor  na  do  Rio  de 
CoDtas  também,  os  cursos  de  drenagem  correspondem  approxi- 
madamento  com  a  orientação  N. — S.  da  serra,  e,  dop<Í3  de  es- 
capar delia,  o  Rio  das  Velhas  o  o  Jequetinhonlia  correm  por 
nma  dis-tanci»  considcravol  cm  parallelismo  geral  coru  as  suas 
margens.  Como  ccrtiis  feijões  da  estriictura  sào  mais  apparen- 
tes  na  secção  septentrional  do  que  na  meridional,  ha  convcuieucia 
em  fiizer  o  nosso  exame  do  norte  ])ara  o  nú. 

O  Sao  Francisco  a  uns  oitenta  kilometros  abaixo  do  Ca- 
brobó,  onde  seu  curso  muda  do  N.  E.  j)ara  S.  E  ,  oiitra  numa 
zona  constituída  por  grez,  que  fica  na  linha  do  prolongamento 
da  Serra  do  Espinhaço  comquanto  soja  duvidoso  que  deva  ella 
ser  incluída  naquella  cordilheira.  E^ta  zona  se  exteude  desde 
a  foz  do  pequeno  rio  Pajahú  até  peito  da  giande  catarncta  do 
Paulo  AfFonso  com  uma  largura,  ao  longo  do  uma  linha  E.— O., 
de  cerei  de  50  kilometros,  ao  passo  quo  a  alguma  distancia  do 
rio  a  largura  parece  ser  muito  mai-r.  O  rio  quo  acima  desta 
zona  corro  sobre  um  leito  de  gneiss  e  granito,  entra  na  de 
grez  na  elevaçílo  de  cerca  de  330  metros  e  a  deixa  com  a  de 
cerca  do  300,  para  outra  vez  correr  sr»bre  gneis?,  granito  e 
syenito,  nos  quaes  tem  excavado  um  profundo  canoi  que  con- 
tem uma  das  mais  uotavei')  das  cataractas  brasileiras.  O  grez, 
jiortanto,  jaz  por  cima  de  uma  base  quasi  horizontal  do  r-^chas 
cryètallinas  truncadas,  com  a  elevação  média  de  cerca  de  300 
metros,  c  eleva-se  em  taboleiros  o  lombadas  achapadas  a  cada 
lado  ate  uma  elevaçfto  quasi  egual,  ou  seja  COO  metros  acima 
do  nivel  do  mar. 

O  grcz  é  regularmente  duro  e  geralmente  de  grho  grosso 
com  hvqueutes  inclusões  de  s.íxos  quo  em  alguns  leitos  eo 
tornsm  bastante  abundantes  para  constituir  um  conglomerado. 
A  rocha  ó  frequentemente  argillosa  e  ap:  escuta  leitos  delgados 
de  Echisfo  marnoso  nos  qunes  encontrei  cm  dois  pontos,  (Atalho 
e  Angico,  cerca  do  seis  kilometros  distantes  um  do  outro)  ma- 
deiras fosEcis,  cyprides  o  ossos,  escamas  e  dentes  de  peixes  o 
reptis.  A  pequena  ccllccçào  feita  nestes  pontos  foi  infelizmente 
perdida,  mas  na  occasião  de  fazel-a  tive  a  forte  imprcEsfio  de 
uma  relação  intima  com  a  fauna  cri;tacea  do  agua  doce  dos  ar- 
redores da  Bahia,  sendo  esta  impressão  baseada  no  aspecto  ge- 
ral dos  fosseis  o  especialmente  das  escamas  que  identifiquei 
como  Lepidotus.  Nesta  connexAo  é  para  notar  quo  os  afama- 
dos peixes  fosseis  da  vizinhança  de  Jardim  no  E-tado  do  Ceará 
(inclusive  uma  espécie  de  Lepidotus)  se  acham  na  distancia  de 
cerca  de  200  kilometros  para  o  N.  E.  e  crn  frente  da  base 
de  uma  chapada  de  grez  que  so  pódd  presumir  ser  ligada  cem 
a  da  margem  do  São  Francitco.  As  camadas  de  grez  parecem, 
a  primeira  vista,  jazer  em  posição  horizontal,  mas  em  diver* 
8C8  pontos  80  observa  uma  ligeira  inclinação  (raras  vezes   maior 


—  43  — 

de  10")  para  o  noito,  iiào  se  notiiiío,  porém,  indícios  certoj   de 
dobrameuto  dos  estratos. 

jfi'  portfinto  duvidoso  so  o  rio  SAo  Francisco  njiicsen  ta  u' st  a 
zona  uma  secç.^io  trnnsvcrènl  dn  Sorra  do  Espinhaço  ou  nAo  (V); 
mas  uma  Eecçfto  induVitavel  v  a]  rcseiitada  pela  Oítrada  dot  ferro 
da  Bahia  ao  Sftn  Francisco  qu^í  a  atravessa  ]>crto  da  cidade  do 
Bom  Fim,  on  Villa  Nova  da  Hainlia.  Â  estrada  partiujo  do 
DÍTcl  do  mar,  na  Bahia,  corre  por  122  kilonictros  no  rumo  «rcral 
do  nordeste  ate  Alagriuh.is,  atravpz  de  uma  rci^iào  coiistituida 
por  camadas  molles  do  edadc  cretácea  e  toi ciaria  que  foi  bem 
dcscripta  por  Hartt,  líathbun  o  Derby  (li,  7).  De  Alaijroinlias 
para  diante  a  estrada  corre  no  ri;ino  ^eral  de  X.  E.  ra  distan- 
cia de  452  kiloinetro?,  cruzando  a  zona  da  Serra  do  Espinhaço 
entre  os  kilometrcs  3.0  e  370  cr  m  a  cota  niaxinn  do  G8:(  me- 
tros, terminando  em  Joazeiro  na  cota  do  372  m-tros,  g(  ndo  a 
estaçAo  terminal  pruco  elevada  nciína  do  nivel  daa  enchentes 
do  rir.  Numa  excursfto  p(r  esta  linha  jiuie  fazer  as  se«^nint('s 
observações  da  janclla  do  caro. 

Sahindo  de  Alng^oinhas  a  estrada  sób)  per  GO  kilomotros 
sobre  camadas  horizontaes  do  grcz  moUc  aNí  a  elcvaçíli  do  40lí 
metros.  Ate  a  cota  de  200  u:ctros  as  camadas  silo  bastante  ar- 
j^llosas  e  aqui  se  apresenta  um  horizonte  nquif*  ro  que  ])rovnU 
mente  denota  uma  mudança  na  estratificação,  visto  que  as  ca- 
madas acima  desta  cota  &ho  mais  arenosas  c  porosas,  sendo  em 
geral  fortemente  coloridas  ])or  oxido  do  ferro  o  no  jreral  com 
um  aspecto  differcnto  do  dns  camadas  de  ba  xo.  No  kilometro 
29  (cota  281  metros)  perto  da  estaçílo  de  Uruçanguinhas  eneoa- 
tra-se  num  corte  um  schisto  molle  ocraceo  contendo  follias  fosíeis 
hellamcnte  c  rseryadas.  Collecções  destes  fusíveis  furam  remctti- 
das,  ha  annos,  aos  especialistas  Sapota  e  Ettenhausen  mas  infeliz- 
mente ambos  morreram  antes  de  davp  aracer  sobre  elh  s.  Consta, 
]K>rém  que  furam  consideradas  como  representando  a  j-aitc  superior, 
(plíocena)  da  edade  terciaiia.  A  face  occiJental  desia  chagada 
terciária  apresenta  a  espessura  de  cerca  de  80  in^tro?,  appnre- 
cendo  o  guci&s  no  leito  de  um  ribeirão  no  kilometro  8")  na  cota 
de  322  metros.  Deste  ponto  até  Jacuricy  (kilometro  245)  a 
estrada  cruza  um  planalto  da  elevação  [^eral  de  cerca  do  400 
metros  diversificado  por  serrotes  e  lombadas  destacadas.  A  coberti 
do  EÓIo  ó  geralmente  delgada  apresentando-so  abaixo  delia  rochas 
gneissicas  e  granit  ca?,  dm  estas  apresenta-sc  em  extensões 
consideráveis  uma  rocha  preta  schidtosa  que  se  presume  ser 
fchisto  micaceo  ou  amphibolico.  Uma  parte  consiJeravel  deste 
trecho  da  estrada  corre  pelo  divisor  de  r.gua  entro  es  rios  Pa- 
ragnassú  e  Itapicuní  descendo  depois  para  o  valle  deste  ultimo. 
Ao  oeste  deste  trecho  relaii vãmente  nivela'lo  eleva- so  a  Serra 
de  Itiuba,  uma  lombada  abrupta  de  granito  vermelho  com  a 
altura  estimada  de  800  metros.  A  estrada  a  atravessa  numa  gar- 
ganta com  a  cota  de  437  mctrcs  e  desce  para  o  rio  Itapicurú 


1 


—  44  — 

nf»  kilfunétro  230  na  cota  de  354  metros;  e  entUo  sobe  sobre 
gneiss  e  g^ratiito  até  a  cidadn  d«  B-  m  Fim  (kilometro  320,  cota 
548)  na  fra^dn  da  Spíra  Ho  E«pinbaço.  Na  subida  para  o  a! to 
da  fçarí^atitíi  (kilometro  355,  cota  683)  os  cortes  apr^seEitam 
granito  afé  o  kilometro  EâB  on  Je  eomf^çAm  a  a^^parecer  qaartzitoA 
que  Ci>ntÍauani,  c  ra  algumas  ioterrupçòefi  de  granito,  ate  a  ee- 
tacão  de  Àng;icoB  (kilometro  383  cota  4BT),  que  éIcr  um  pouca 
além  da  b/istí  occideiitnl  da  Serra,  De  Ati*^icoa  até  o  fim  da 
estrada  mi»  Joazeiro  exteude-se  uma  plani(.'ie  gradual  monte  incli- 
nada e  tão  pouco  acci dentada  que  a  estrada  tbi  coD^truida  com 
uma  i^Hi^entf!  d«  60  kilometros.  Serrote»  destacados  de  g^neias, 
g-ríiuito  e  quurtzito  ae  elevam  brufecameute  acima  do  uivei  geral 
uniforme.  A»  rochas  que  *e  avistam  desde  a  base  da  Serra  do 
EBpiíihaí^o  até  o  kilnniBtro  391  (cota  490)  s&o  gueis^  e  i^rauito 
com  alguiis  aflí-ramentfis  de  quartzito  Dei^te  ponto  até  o  kdo^ 
metro  430  (cota  490)  a  roeba  ^up**rfi,'ial  é  um  cílcareo  esbran- 
quiçado em  camadas  borizontjiee  e  de  poncoã  metros  de  espeséura 
apenau.  O  f  specto  deste  c.(learf*o  é  o  de  uto  depoaito  de  agua 
doce  e  bem  qu*í  tiào  pude  encoutrar  fotaeif  neile,  presumo  quô 
seja  de  ediíde  terciária  ou  posBivetraoute  quateniHria.  Um  caleai-eo 
Bemelbante  ae  opreíeota  miiis  rio  acima  oa  vÍKinhança  de  Cbiqae- 
Chique  ond«  parece  cobrir  uma  área  couBideraveL  Ao  loogo  dos 
ultimoB  20  kilnmetros  da  eatrada  reapparecem  as  rochas  gneis-i- 
caB  e  granitlefla. 

Uma  excursão  recente  Da  regiào  diaiinantica  da  parte  superior 
da  baci  *  do  Para^aassú  roe  deu  occaâiào  de  eia  minar  a  ãecçãõ 
caracteriatica  do  vwlle  deste  rio.  A  TÍagem  fui  feita  ]iela  Es- 
trada de  Ferro  Central  da  Bailia  ati^  a  eetaíjâo  termiaal  de 
Bandeira  de  Mello,  situada  cerea  de  100  kilipmetros,  pelo  rio, 
ao  leste  do  ponto  onde  encapa  da  aerra,  em  Passagem  de  Anda- 
raby,  sendo  o  resto  da  viag-pm  feito  a  cavallo.  A  estrada  de 
ferro  sslúndo  de  Sao  Félix,  perto  da  foz  do  ri^^j  eleva-se  inime- 
diar^iaente  com  um  decli%'e  fV^rte  até  o  a)tn  de  um  planalto  de 
gneiss  com  a  ele¥a(,'íâo  j^eral  de  200  a  300  meíro8,  sobre  a  qual 
corre  em  rumo  parallelo  ao  rio  e  na  diatancta  de  cerca  de  20 
kilomefroe  ao  buI  sté  o  kilometro  165  onde  encrntra  outra 
veK  íi  rio  e  o  s^^gue  até  a  eõtaçílo  terminal  no  kilometro  259. 
O  planalto  gneissico  é  notax^elm^nte  nivelado,  porém  diversificado 
poT  st-rrotes  isoladoa  que  pela  maior  parte  parecem  conipt^sto*  de 
granitf»,  rocha  esta  que  também  í*e  apresenta  em  numeroBOB  la- 
geados  que  nfto  se  elevam  perceptivelmente  acima  do  nível  geral 
da  planicie.  Salvo  na  parte  oriental,  em  redor  das  cabeceiras 
de  um  pequeno  rio  que  corre  directamente  para  o  mar  e  que 
apparentemente  i-e  acba  nunm  ropríàn  de  chuvas  abundantes,  a 
coberta  d^  sola  é  muito  delgada,  «  mintasi  ví^zoa  falra  completa- 
mente. Tanto  uis&o  como  a  respeito  do  nivelamento  geral  da 
superfície,  a  parte  Occidental  desta  planicie,  como  acinm  deseripta 
ao  longo  da  estrada  de  ferro  do  S&o  Francisco,  parece  <  Êferecer 


—  45  — 

mn  bom  exemplo  de  formação,  sob  condições  áridas,  de  planícies 
yelo  truncamento  de  e8trat^^  inclinados  que  normalmente  deviam 
aprefentar  relevo  forte.  {*)  A  secçào  qne  acom|>flnba  o  rio  é 
egualmeute  pc>r  cima  de  gneiss  e  jrranito  que  se  elevam  umas 
centenas  de  metros  acima  do  rio,  e  aqui  o  viajante  nHo  pôde 
formar  ideia  exacta  da-  feições  topogra^hicas  da  rep&o  que 
•trave&sa.  Parece,  i  orem,  que  é  consideravelmente  mais  elevada 
do  qne  a  da  primeira  secçào  da  estrada,  â  entaçào  terminal, 
Bundeira  de  Mello,  acba-^e  cerc4  de  300  metros  acimn  do  nivel 
do  max  e  no  moio  de  morros  de  gneiss  e  i^ranito  qu»  se  elevam 
outro  tanto  acima  do  rio. 

Cerca  de  20  kilometros  ao  oeste  de  B.-nideira  de  Mello  en- 
contra-se  a  margreni  de  uma  re^iAo  de  rochas  i-edimentarins  que 
inelue  a  totalidade  da  bacia  do  Paraprunsf>il  acima  deste  ponto. 
Junto  ao  rio  esta  regíAo  começa  na  ]>ovoaçAo  de  B(>b(doiiro  com 
uma  escarpa  de  grez  e  calrareo  que  se  eleva  un-i  250  metros 
■cima  do  rio  até  um  planalto  da  elevaçAo  média  dn  cercu  de 
600  metros.  A  alguns  kilometros  ao  oeste  desta  escarjm  eleva- se 
um  outro  planalto  de  gr»-z  até  a  altitude  média  de  1000  metros, 
ou  mais,  constituindo  a  ?erra  d  •  Espinhaço  propriamente  dita, 
ou  como  é  abi  conhecido,  a  <  hnpada  Diamantina.  Ao  norte  do 
ParaguasBÚ  a  margem  da  serra  é  assigiialada  |:>elo  rio  Sào  José 
que  escapa  delia  próximo  a  Lenções  e  c^rre  ao  loniro  de  sua 
base.  Ao  sul  Ho  Pa1ag^a^fiú  esta  margem  faz  um  cotovelo  de 
alguns  k>lnmetrt  8  até  Mi  cambo,  a^sim  causando  unpi  grande 
volta  no  rio,  e  dahi  extende-se  para  o  sul  uma  lombada  alta 
enti^  os  pequenos  ri<  s  Piabas  e  Una.  Esta  parte  »»uj>eri«  r  pe- 
diroentaria  da  bacia  do  Paraguas^ú  apresenta  a  f('>ríi>a  de  um 
rectângulo  cujo  maior  eixo  é  dirigido  no  rumo  de  X  —  S,  vendo 
auim  perp  ndicular  ao  rumo  ger«l  de  O  —  E  que  caracteriza  as 
partes  média  e  inferior  da  me^sma  b;icia.  E'  caracterizada  topo- 
grapbieamente  p  r  valles  secundários  orientados  de  puI  ao  norte 
ou  de  norte  ao  sul,  aos  quaes  unem  as  suas  aguas  abaixo  da 
Passagem  onde  o  galho  meridion»!  sabe  da  serra  num  caúon 
profundo  e  onde  o  valie  principal  assume  o  rumo  geral  de  oeste 
para  o  ler  te. 

A  estructura  geológica  do  piimeiro  e  mais  baixo  ].lanaIto  é 
bem  exposta  no  caminho  entrn  Bebedouro  e  Mocambo.  Na  pri- 
meira destas  localidades  uma  bella  escar|>a  se  eleva  bruscamente 
da  margem  direita  do  rio  até  a  altura    estimada    de  250  metros 


n  V£de  uma  divcnssAo  de  denudaçfio  vab-«ere«  num  clima  árido  pelo  profeMor 
W,  H.  PaTis  DO  Journal  of  Gtoloijjf,  n.  .\  \W\U.  K»ltiim  dadus  posilivoi*  »  re^ípcito  da 
ohOTa  BDODal  média  nos  di»tricto>  aqui  conti«leradr>y,  ma»  é  qua>>i  certo  qae  ó  do  menos 
de  va  metro  e  qae  o  minimo  é  frf-qnentompnte  mcno^  de  melo  metro.  Com  n  oxcppçio 
do  Pa^Bg1las^&  e  do*  enrtos  de  a^na  na  lEnna  da  Serra  do  Rspinhaco,  tndiis  a»  correntes 
■ieeam,  ou  flcam  rednaidas  a  orna  linha  úv  poços,  durante  muitos  niczczt  de  cada  anno 
O  ellma  pôde,  portanto,  ser  considemUo  como  semi- árido  oa  sab-bumido  conforme  a 
Mneaeiatara  dos  mcteorologisus  nurte>americaoos 


1 


—  46 


e  extende-Bô  pam  o  tul  atú  ondn  alcai^n  a  vista.  A  sua  baao 
é  composta  de  um  grex  grasaeiro  avormelliado,  om  camadas  lio- 
tiíontfles.  Seguindo  um  ttillio  qtia  so  afasta  do  rio  i>or  entre 
oj  morro?,  vê-s©  que  o  grca  so  í4ova  iiin  líiia  20  íntstroa  iiclma 
do  ri(f  leiída  na  parta  suporinr  iutereallaçõea  de  Sí^hí^to  micaceo 
c  arenoso.  Tia  eiitAo  uma  iiit^rrupçào  na  bccçSo  lepreictxtãndo 
iiin  intervailo  de  cerca  de  40  ui?tros,  e  dtípciá  um  maííuifico 
paiedáo  do  cfílcarao  abulado  rm  lag-c^  finas  troni  a  alttira  dô 
cerca  do  40  melro?.  A] gruo 9  dos  Ititoa  do  calcareo  coutem  muitos 
nódulos  silicose s  que,  ficando  con^f^rva  Jos  quando  a  rocha  ^e 
dí^compòe,  fornecem  um  meio  do  rocoubccer  a  sua  existência  onde 
escondida  por  uma  coberta  do  tólo.  Na  cacliocira  do  Funil  a 
6  kilometroA  acima  do  Bebedruro  uioa  escarpa  semelhauto  se 
apresenta  no  lado  esquerdo  do  rio  o  Ee  ex tende  para  o  norte. 
Abi  SC  vê  qiio  a  bas^e  do  grt-z  consiste,  na  espessura  de  al|?iinf 
metros,  de  conglomeradc^  grosseiros  contendo  seixos  de  gncisj  e 
granito.  Em  um  pontj  abiixo  da  cncboeira  võ*se  o  conglome- 
rado jazendo  sobro  granito.  Da  cachoeira  a  estrada  fóbe  por 
uma  encosta  coberta  com  nódulos  silicosoa  até  o  alto  de  uma 
chapada  conhecida  polo  nomo  de  Sorra  das  Araras  que,  conformo 
coDstn,  termina  á  beha  do  rio  rum  paredAn  do  calcareo.  No 
alio  desta  chapada  o  aneróide  indicou  a  altura  de  575  metros. 
Pequenos  nHoramcntoi  de  calcareo  so  apresentam  na  descida  da 
chapada  no  lado  0CL:Ídenial  para  o  rio  UnSi  onde  logo  ab^iixo 
da  poutc  ba  um  ou  Iro  paredfio  de  cnkarco  com  a  »!Èwra  de  35 
luetrOB.  A 9  cimadas  aqui,  carao  cm  Bebedouro,  t**m  uma  ligeira 
inclinação  de  5'  a  10'  para  o  oraste.  Na  ^ubi  ín  do  rio  Una  a  ésti'ada 
paitsa  por  uma  espessura  do  cerca  do  100  metros  de  cornada  acima 
do  calcareo,  maa  nenhuma  rocha  se  aptogenta  ni  silu»  Os  nó- 
dulos silicosDS  EB  aprcfeutnm  «oitos  cm  ti  es  Kouas  distíuctas, 
dando  a  presumir  que  í.s  rochas  subjacent^a  sr^jam  scbistoi  e 
grex  com  jn terçai bçôcs  do  calcareo. 

Uma  bu-ca  diligente  em  procura  de  fosseis  ficou  sem  resul- 
tado, tanto  em  Bebedouro  eorao  no  Rio  Uua,  bem  que  o  calcareo 
parece  bastante  favorável  paia  os  conservar.  Consta  que  existe 
calcareo  na  r^giAo  da*  cabeceiras  do  líio  Una  e  á  de  presumir 
que  o  Tallo  deste  rio  seja  occupado  qunai  excluaivnm  nle  por 
etta  Eèrio  de  rochaí*,  que  lambem  se  aproaenta  ao  norte  do  Pa^ 
raguaçfcú  na  parte  baixa  do  valle  do  Santo  António  e  na  do 
Utinga  na  vizinhança  de  Pegas.  Tanto  quanto  se  pode  obscrv&r, 
esta  serie  apresenta  de  200  a  250  metcos  do  ospessura  e  é  ea^en- 
cialmento  sem  pcrturbaçõcst  ou,  cm  todo  caso,  muito  menos  per- 
turbada do  que  a  eeric  quo  caracteriza  a  7,  na  adjacente  da  Serra 
do  Espinhaço.  Cerca  da  quarta  ]iarte  desta  espessura,  e  talvez 
mais,  è  composta  do  cnlcareo  que  i\  caracieristicaroeote  silicoso, 
pelo  menos  em  muitas  dns  snai  camadns. 

Entre  Mocambo  e  Fnas/igem  a  ctrada  patsa,  com  a  eleva- 
íjilo  de  GOO  motroi  sobre  uma   lombnda   que  para  o   sul  se  eleva 


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consideravolmeuto.  Oa  afloramentos  das  rcclins  sAo  youco  sa- 
liiíactorias  consistindo  cm  groz,  ora  horizoutnl,  ora  com  inclinação 
moceiadn  para  o  leste  on  para  o  oc?te.  A  làccçAo  ao  lon^o  da 
estrada  parece  ser  a  da  <  xtrecLÍdade  expirante  do  uma  dobra 
qne,  ao  sul,  forma  a  lombrda  alta  conhecida  })eIo  nome  do  ^erra 
CO  Sincoin  ca  margem  oriental  do  planalto  da  Serra  do  Kspi- 
nbaçn.  C.nfírma  ctta  inter])r(^taçAo  o  aspecto  do  nina  càtriictura 
syncinnl  qne,  olbando  de  longe,  se  percebo  no  vall«  do  rio 
riabas  no  flanco  occidcntal  da  bupposla  dobra. 

A  frente  da  Serra  do  Espinlnço,  entre  Cbique-Chique  e 
Lençócs,  é  crnstituida  por  uma  F<^rie  possante  do  camadas  de 
grex  qu^  se  inclina  ao  oesto  com  o  angulo  do  cerca  do  VtO°  e 
se  eleva  desde  a  clevaçAo  mínima  de  o30  metros  no  fundo  do 
vallo  em  Pnssagom  á  de  110')- 1200  metros  na  crista  d^i  serra. 
Passando  a  crista  La  estrada  de  ChíqnoGbiqiic  jiara  Santa  Isabel 
observei  iircas  em  que  o  grez  se  apresenta  em  posií^ào  horiz-n- 
tal  e  outras  em  que  se  inclina  par<i  o  oesto.  Observei  também 
inclinações  para  o  oesto  ro  norte  d^^  L^nçócs  na  estrada  para 
Palmeira  o  em  redor  desta  ultima  localidade.  Os  detalhes  da 
e^tructura  nfto  podiam  ser  detf*rminado?,  mas  é  evidente  qr.e 
abi  um  grande  lençol  de  grez  acha-so  e«uurvalo  em  largas  do- 
bras anticlinaes.  Áo  que  parece  a  dobra  principal  do  districto 
começa  com  uma  extremidade  estreita  ao  norte  de  Lcnçóes  e 
alarga-se  para  o  sul  para  depois  se  estreitar  outra  voz  na  vizi- 
nhança do  Santa  Isabel  onde  se  ronfunde  com  outras  dobras. 
Os  vallcB  combinados  do  Sào  José  e  Chique-Chiqiio  fornm  ex- 
cavados  ao  longo  da  orientaçno  das  camadas  su])erior(-s  mais 
moUea  do  flanco  oriental  desta  dobra,  deixando  exposto  um  gru- 
po de  camadas  mais  duras,  quartzitic^s  e  congiomeriticas,  que 
se  apresenta  perto  do  meio  da  seiio.  O  memoro  mais  saliei(.te 
deste  grupo  ê  uma  camada  espessa  do  conglomerado  grosseiro 
que  é  ci-mantifera  e,  em  consequência  da  disposição  topogra* 
phica  dcs  estratos,  toda  a  frente  da  serra  desde  Lençúcs  até 
Cbique-Chique  acha-so  maiciída  por  uma  linLa  quasi  continua 
de  lavrai,  activas  ou  abandoiadas. 

Sobre  a  superflcie  do  planalto  que,  como  já  flcou  dito,  apre- 
senta a  elevação  media  de  1000  metros  ou  mais,  o  lençol  de 
grez  acha-se  muito  fragmentado  em  biocos  destacados  como  se 
pode  ver  nas  diversas  photographias  e  na  vista  da  cidade  de 
Santa  Isabel  portoncentes  ao  dr.  Henry  Furniss,  cônsul  america- 
no na  Bahia.  As  margens  e!>car|as  destes  blocos  e  outros  pho- 
oomenoi  no  dístricto  sAo,  as  vczcít,  suggrstivos  de  falhas,  mas, 
for  mais  importantes  que  fossem  e^tas  na  croduc^ilo  de  feicçòes 
menores,  é  evidente  qne  as  princi])aes  feições  tetonieas  da  re- 
gião tem  sido  produzi  ias  por  dobramento  e  denudação. 

O  lençol  oe  grt-z,  cuja  espessura  se  calcula  por  estimativa 
em  400  a  500  metros,  consiste  cm  uma  parto  inferior  averme- 
lhada   cem    estratificação    em  lages  (que  se  vô  bem  nos  morros 


'I 


—  Í8  — 


em  forma  <Je  Vocoa  em  reííor  de  Santa  lasbel)  Buccedida  por 
um  eong^lomt-i^ado  grosfieiro,  que  pasta  a  um  grea  eabrouquiçado 
com  seixoa  eaparsoB  e  com  manchas  «  If^itos  de  coiji^lomerado  e 
finalmt^nte  a  um  ^es  arg-illoso  e  a  »chisto&  areno»OB>  O  colí^Io- 
merado,  onde  viBto  em  cnotacto  com  o  ^rez  avermelhado  infe- 
rior, contem  ^andpfi  írap-mentog  desta  rocba  que  indicam  um 
intervallo  de  ti^mpo  €  nma  ínconfi  imabilidade,  pelo  menos  de 
Buperpo^içãf^  entre  oa  doie.  Álsunfl  doa  leitos  de  g^rez  loajn  aci- 
ma do  rongiomerado  fàn  muito  duros  e  quartzi ticos,  porím  no 
^eral  ftmbo»  o»  membros  da  serie  &ho  nài)-meramoiphoBeados, 
O  membro  mferior  pode  i ornar  n  nome  de  «í^ropo  de  Para^aas- 
8Ú»  viBto  fier  eapecialniente  bem  drpen volvido  na  vl^iiihanva  d© 
Santa  habd  (ou  Sâo  João)  do  Pariígna^sd  O  membro  suf>erior 
pode  cora  propriedade  ser  denominado  o  «grupo  das  Lavras*  via- 
to  ser  o  Bi*ií  men^bro  conglomeritico  o  principal,  senfto  o  unjco, 
repositório  dos  diamantes  qoe  tem  dado  o  nome  popular  de 
«Lavrais*  a  tc^do  o  distrcto.  A  espessura  do  ^rupo  do  Para- 
guflssii  pôde  Ker  estimuda  com  precisão  approximada  em  cerca 
de  250  metros ;  a  do  grupo  daa  Lavrai  nào  pode  ser  calculada 
com  a  mpsnia  preclsáo,  mas  é  provável  que  beja  proximamente 
egual. 

Com  a  e^scepçào  dos  fracrmí»nto»  ã*^  grew  acima  menciona- 
dos, OB  (ieixos  do  cf^fflomerado,  viívtos  por  milhares  em  centenas 
de  metros  quadrados  de  fracturas  limpas  que  lhes  atravpsam, 
sfto  excluBÍvíi.mHnte  de  quíirtztto.  Represeotíun  uma  ícarmação 
mais  antígiij  a  ser  mencionada  msis  adeante,  que  Be  apresenta 
em  outias  secções  da  Serra  do  Fspinhaço,  o  qu^  pre^umiveU 
mente  ^e  npr^^senia  lanibem  na  sec^Ào  íiqui  considerada  «o  oeste 
da  região  aqni  defcripta.  À  parte  central  da  cordilbeira  nesta 
secçÃo  o  a  rtifíiào  ao  oe«tf^  delia  tSo  muito  imperfeitamente  co- 
nbt^cidaR^  mas  a  occuirencia  de  lavras  de  diamantes  em  div^eraos 
pontoa  j  lia  ti  fica  a  preaumpçào  qne  o  colibri  orne  rado  das  I  avras 
rec  rrti  frequt*ntemeiite,  em  viriude  de  dobramontu,  sobre  grão* 
de  pa  te  delia.  A  rnais  orcide.ntNl  d^sUs  lavras  é  na  Serra  de 
Asií^uruá,  umn  lombada  destacada  perto  do  rio  São  Fraociseo, 
Burton  (20),  que  a  visitou,  menciona  a  occurrencla  de  um  con- 
glomerado ^rofseiro  que  elle  comparou  com  o  Velho  Gree  Ver- 
melho da    EscoBs^a. 

Uma  outra  sccçíto  íntermeEÍiaria  ©titr«  as  dna»  acima  dee- 
criptas,  atravez  da^  corditbeiraB  e  das  reg^íõt^s  adjacentes  de  cada 
lado,  è  dada  numa  nota  interi  ssante  pelo  Br,  J.  A.  Allen  pu- 
blicada por  Bartt  na  sua  obra  intitulada  Gmdogy  and  Physical 
Géf^graphy  tjf  Brazil  O  sr,  Allen  viajou  de  Chique  Chique  a 
Bahia  via  Jacobina  e  assim  iin%  cem  kilometros  ao  sul  da  pri- 
meira linha  aciraa  descripta.  O  seu  perfil  dos  caminhos  s  ea- 
boçoB  de  paisagens  carwcti-nsticos  diio  uma  excell<'nte  ideia  das 
fei^;Õea  topograpbicas  desta  parte  do  Estado  da  Bahia.  EUe 
descreve  a  sua  linha  de  viagem  como  eon^illtindo  easenciatmen- 


—  49  — 

te  de  tres  planaltos  distincto?,  a  sabr:  um  de  calcando  ao  ooste, 
um  de  (Erres  na  r<>giào  rentrNl  (ou  ua  da  Serra  do  Espinhaço), 
e  um  dtt  gtieiss  ao  lei^te.  Este  ultimo  apresenta  um  aspecto 
BOtavelmeote  nivelado,  sendo  np  parente  mente  de  altitude  quasi 
uniforme  por  toda  parte  mas  diver<iiíicado  por  serrotes  isoludos 
qae  he  elevam  bruscamente  hcimN  do  nivcl  pTal,  como  be  vô 
BC  esboço  jnnttf.  A  coberta  do  f.ólo  é  d«'Is:ada  e  muitas  vfzes 
eompletamentfl  Ausente  F>obre  áreas  de  algumas  hectares  em  ez- 
tensfto.  f*)  Xa  zona  da  serra  um  «rrez  horizontal  dá  ori«rom  a 
uma  bella  planície  campestre  que  occupa  o  alto  do  divisor  das 
a^as.  Para  o  ladf»  do  leste  esto  taboloiro  desce  Abrupta tnen te 
em  paredões  verticaes  ao  terreno  pneissicn  maia  baixo,  porôm 
para  o  oeste  o  declive  é  mais  g^radual  para  a  ]i]aincie  calcarea 
e  arrMvez  desta  ao  rio  Sfto  Franeisc  .  Sobre  a  superfície  ^e- 
nlment»^  nivelada  desta  ultima  jdnnicie  elevam -se  pináculos  ir- 
regulares e  serrot«>s  baixos.  O  caloareo  é  altam*'ntc  inclinado 
e  em  um  logar  foi  visto  jazendo  em  rstratifícaçAo  discordante 
em  baizo  das  camadas  hori/ontae»  de  ^rez  que  sh  extenderam 
para  o  sul  como  um  grande  soalho  nivelado.  Perto  da  base 
Occidental  da  serra  o  caminho  passou  ].or  dois  grandes  morros 
liitrados  com  ftedemeiras. 

Em  vista  das  feições  to}>ogra])hica&  geraes  da  zona  da  Ser- 
ra dn  Espinhaço  seria  natural  ]>TeMimir  que  o  lençol  di-  grcz  da 
regiAo  de  Jacobina  devia  ser  conf^iderado  como  o  prolongamen- 
to pira  o  norte  do  da  bacia  do  Paragnassú,  o  qual  am  o  ^eu 
conteúdo  caracteristico  de  diamant^-F,  8(*  extende  rcrtanionto  i>nra 
o  norte  até  o  Morro  do  Chapío,  ou  cerca  de  dois  terí,-(»8  da  dis- 
tancia entre  Lençóes  e  Jacobina.  Neste  caso  CB*e  lençol  fícou 
lem  dobras  na  parte  septentrionnl  desta  zona.  bypothese  e^ta 
qne  parece  pouco  provável ;  ou  as  evidencias  de  dobranu-nto 
eieaparam  á  observação  do  sr.  Âllen,  o  qun  também  pnece  pou- 
co provável,  visto  qne  o  seu  esboço  c<>nfírma  a  sua  d('S(;ri]>çAo. 
De  mais  a  mais.  existem  na  região  caiiadas  nAo  pprturhadns  de 
grés  em  distancia  que  nào  c  maior  do  que  a  de  Lenço-'»  u  Ja- 
cobina, c^mo  se  vô  no  esb  ç«t  junto  pelo  dr.  Tlieodoro  Sanifiaio 
de  nm  taboleiro  com  cerca  de  750  metros  de  akura  s*tna<io  aci- 
ma de  Joazeiro  e  próximo  ao  rio  SAo  Francisco,  o  qual,  segun- 
do suas  informações,  é  composta)  áf>  camnd;is  horizontaes  He  grés 
e  conglomerados  sobre])osraã  a  qnartzitos  inclinados.  Ah  ffiçòes 
topographicas  e  a  elevação  deste  taboleiro,  bem  coni)  de  (outros 


(*;  o  sr.  A1l9D  descreve  baracoí  i^int^Urefl  nau  rochng  dctita  repi.to  qoo  »Jlo 
frflqaentemeate  eh*fM  de  a^çoa  o  c  •nhecidon  pelo  nomi*  do  "caldPirfioí>*'.  dirpiido  qao 
llTenos  qae  examinoa  provaram  i»r  verd.vleiroii  culdeirAes  de  eronHo  {pui-h-Uf)  «eitdo 
algBM  de  ffrandef  dlmenatoa.  Bst<i8  aSo  provaveimcnto  da  moitma  aaturesA  daa  ca- 
TCmw.  com  o  aspioto  de  ninhos  gi(|^ante8uo«  d»)  :in  lorinhao  nnin  hancn  du  Kri;{!l;i,  quo 
!•  oliaerva  ooa  i«nrote«  (p-anlticoB  ao  Innço  da  Estrada  Central  da  Hahi.i.  Tiiiit>  quanto 
M  pode  Jalgar  aTl«tando>o«  de  loDg(>,  e^tea  silo  dcvidon  e  uma  aoc.^o  peculiarmeno  lo* 
««IímmSa  de  detlntegraçlo.  Os  que  ea  vi.  porCm,  oram  nos  lados  dob  serrotes  o  nAo 
poiiui  reler  afoa. 


F 


--  50  ^ 

na  vizinhança,  sho  muito  Bu^g:csíÍVíH  dos  piau  ai  tos  cretáceos  do 
bíiixo  Sào  Frrtnciico  e  â^m  Estados  da  Ceará  e  Piauhy,  e  juidíi 
dô  inwrj^imil  ha  ni  hypothe^e  do  que  eítua  viadoj  do  Piauhy, 
B6  extendain  até  a  regiáo  em  qtiô^tao,  Estn  hypotbeee  se  tmii- 
sfr^rm-iri.i  em  certexa  se  fusse  ucccitavel  sem  leservag  a  sffinra- 
çâo  drt  M.  L  aÍ3  (21)  que  dis  ter  eucoutrado,  em  lo^-ar  t-híimado 
Ent?enho  p^rto  da  parte  occideiit,*!  da  Serra  de  JuL-ol^ítiít,  nó- 
dulos de  L'alcareo  arpilloso  cou^endo  eacanias  de  Lepitloiny,  uin 
doiite  gaiioide  e  cnnehas  de  ^.-ifiteropodng  ijue  clle  identificou 
côtno  sendo  dos  fi^eneros  Paludtna  *^  Platioròifi.  Esttiâ  T  çseis,  com 
a  exi'epç?lo  dns  conchasj  sho  mu  to  aui^íícetivoa  doa  dn  cfliundíi 
de  pí*ixc3  fos^eía  do  Ceará,  oa  quaes  têm  sido  carn^^ndofi  por 
^iajantfía  paia  niuito  longje,  em  parto  provavelmente  |0r  eite 
m  gmri  fflm  nho  de  Jccobiua*  Do  outro  lado  tem  se  veriíii;ndo 
em  outras  partes  que  as  aíiiraia<;ijeB  deste  nuctor  só  podem  fcr 
ac3éitaa  com  cautela.  Com  tudo  iiíko  ha  improbíihilidado  iiihe- 
rent'  ua  bypoihese  de  que  oa  fuaseia  foram  encontrados  ui  .silu 
conforme  elle  declaro. 

Na  rí^«zífto  ao  oeste  da  Serra  o  ar.  Allen  parece  tor  gmc- 
ralizado  a  todc»  Oi  calcnreoa  aa  suas  obãer7«ç6ea  sobro  al^^^-uiis 
que  viu  iuclinadca,  E'  cevio  que  nog  arrcdorta  do  Ch  quo- 
Chique  ac  apreseíitam  camadas  horízoufaeô  do  calcareo  síemc- 
Ihaiite  ao  acima  meneie  nado  da  vizin  banca  de  Jnn?.eirn,  c,  como 
em  ooitrna  p-ates  dn  bacia  do  Sho  Francisco,  é  provável  qno 
entre  as  rochas  mnía  antigas  da  regiào  descri pta  pelo  sr.  Allen 
haj.t  calfnrcos  inclinado»  e  horizoniaep.  Os  morn^a  lastrados 
de  pederneiras  íào  bug^eitivoa  da  serie  ao  leste  da  serra  na 
bicia  do  Paragnassú. 

Uma  outra  cgtrada  atravfss  d.-i  zona  da  Serm  do  Esfiulmço, 
no  Estado  da  Bahia,  fica  ao  tuí  da  linha  do  Far.' giia>&ii  acima 
desciipta  ©  passa  por  Mari-.-as,  Sincorá,  Yi  la  do  Kio  do  Cfintn*, 
Ca«lété  o  Jlonte  Alto  para  Caraihanba  no  Kio  Érào  Fraociaco, 
Na  narrativa  do  Spix  e  Martius  (3)  e  no  relatório  do  dr.  Tbco- 
dorn  Sampaio  (22)  podeju-Ee  colher  algumas  itiforamcõea  intert^s- 
aantes  a  respeito  das  feições  topograpbicaa  e  geológicas  da  n^giâo 
atravesHída  pov  esta  ettradi.  Sahindo  do  Sâo  Felix  a  estrada 
por  ali; uma  disiancia  quasi  coincide  com  a  via  férrea  acima 
d  esc  ri  p  ti  q  pa^ís  l  por  uma  planicto  giiuis^ic:!  de  clov^açíio  mo- 
derada. Depois  elova-se  ao  alto  de  um  (danalto  gneissico  o 
granítico  que  em  Míiricíiis  apresenta  a  altitudo  do  cerca  de  UíOQ 
metros  o  que  forma  o  divisor  de  aguai  entre  o  Parag^uaísú  o  o 
Rio  do  Contai.  Este  planalto,  conforme  o  descreve  o  dr.  Sam- 
paio, apre  seu  ta  para  o  reíite  uma  margem  cscftrpada  de  cerca 
de  S50  meiroa  de  altura  que  domina  uma  rej^i^iilo  ondulada  com 
morros  destacadoi,  que  a  separa  da  Serra  do  S^ucnrá,  nome  lo- 
cl  da  mirçera  oriental  do  plamlto  da  Serra  do  Eápiubaço. 
Esta  ro-^iáo  intermediaria  è  também  coniprsta  piincipnlraentõ 
de  g^ueUs  6  granito,    mas    em  redor    das    cibect^ir^s  do  rto  Uua 


^ 


—  si- 


se apr^enta  timn  zitm  de  cilcnrco  ciozeuto  e  do  aeliUto  aver<^ 
inelliado  «ntre  as  rochas  crjstalliDas  o  o  pez  e  cong'1omerado 
da  Serra  de  Slticorá.  O  tiBcho  da  estrada  {^orrespou dente  á 
Seira  do  Espinh8<;r>  corre  por  cima  de  uiiifi  serie  altamente  Ííi- 
elinada  de  quartzitos  e  scbistrs  arg^illosoa  que  Spíx  e  Klartius 
ideutifícAvam  com  os  da  ro^^^iflo  aurifer.i  de  Mínaa  Gernes  (este 
dÍBtricto  bahtano  é  tnmbem  aunfero),  iíitetmeadca  com  nHota-* 
meti  loa  de  gneisi,  mkiíschiHtos  e  granito^  A  direi  ta  da  estrada 
#1  farinando  os  pontoa  culminantes  díi  re^riílo,  íiprpBetita-&a  at^itua 
deatAfi  roclias  autiírRs.  um  grcx  cooí^tomcritícn  qiirt  Spix  e  Mar- 
tins referiram  ao  liaihMiliefjmde  e  que  evidentemente  repre- 
&ent3  Cí porões  e  lanssas  de&tac^adaB  do  lençol  de  gr^K  da  bacia 
adjacente  do  alto  Píirpjíuassú,  A  f  ce  occidontal  da  planalto, 
conhecida  pelo  nome  loeal  de  <  Benti  Geral»,  6  abrupta,  mas 
sem  grande  eíevaçílo  (SfiO  metros)  no  divisor  de  aguas  perto  de 
Caetiié  on'íe  d  composta  do  gnei^s.  Ao  teste  da  serra  a  estrada 
f  asea  por  uma  plaoicíe  quasi  ao  uivei,  do  camadas  truncaáas  de 
íTTieiss,  fT^anito,  qoartzito  e  calcarcOj  maâ  com  ierrotea  elevan- 
de-re  acima  do  uivei  gerfll. 

Ao  ful  da  estrada  do  liin  de  Cíuíns  aíi;  Gião  Mogol  uo  Eç- 
tado  de  Miufts  Ocracs,  uma  dístacicia  de  cerca  d»  500  kilomctroe, 
fHJTico  se  fabe  a  respeito  do  jilanalto  da  Berra  do  Espinhaço  além 
do  facto  da  oecttrrencia  do  diamantes  em  diversos  pontos.  Para 
a  s  cçílo  em  redor  das  cabeceiras  septeiitrionaes  do  lio  Jeque- 
tlnbonba,  na  vÍKÍDb!tn<;a  da  cidade  de  GrAo  Mo|:;eT,  devemos  a 
H^lmreicheu  (4)  uraa  excelleute  dracripçíio  acompanhada  por  uma 
secçAo  geolog^ica  do  ^eu  caminho  desde  o  corso  m^dio  do  Jeque- 
tiiiUonha  atrav^íí  da  ferra  ate  o  Hin  Verde  (*)  conforme  esta  deacri- 
jiçÃo  e  fécçfio,  a  Sena  do  Es[itihaío  forma  ahi  um  planalto  monta- 
nhoso largo  que  íe  eleva  bniecamente  acima  de  plannltos  maia 
Vaixos  a  cada  lado,  O  do  lado  oriental  da  lena  cons-iste  de  es- 
tratos truucadps  de  gneits  miraeeo  e  míca&chisto  com,  projcimo 
á  base  da  serra,  intercala<;5çs  f blocos  destacados? )  de  quartzito; 
o  do  lado  cccident.l  do  cnmadn»  inclinadas  e  egualmeute  trun- 
cadas dp  granwrcko  e  calcnreo,  O  plrnalto  centrait  ou  Serra  do 
Etpiobaço  propriamfiue  dita,  couÊÍste  de  uma  parte  central  ondu- 
lada composta  de  vários  scbistoâ,  inclusive  quartzito  e  gneiss,  com 
mancbiis  de  g^rauito  o  rocha  amphibolica,  acima  da  qual  f©  le- 
vantam lombadas  do  quartzito  que  é  frequentemente  conglome- 
ra!Íco  (**}  e  que  é  d  ia  man  ti  fero,  circurastiiníTia  e^ta  que  tem  dado 


t*.  k  lecçlo  é  ao  longo  da  uniii  ílnbA  em  ilgae-iAgnei  que  em  p^^rta  Jicarnpjwbn 
II  ftrient!wçífl  ilá*  cninaiiai.  Aiíim,  L^mcgunoto  dá  ama  nccçíio  tranavcrajil  dn  cordiJicirn, 
deixa  4o  újtr  nmA  Idi^lai  ox&vU  dA  bn^rA  rdinlm  dm  dl?«ra)ii   Konaa, 

('^r  Helinreiclieu.  domtQivdo  jicínt  Idciai  da  Escbwegci,  renoin  lado$  di  QUKrtztUM 
dâ  regilU>  debnix^  An  aouQ  d^  iUculum^to,  o  Jntcriirctou  os  scixoi  do  ccirgiQtD^radõ' 
£«ittn  unfmreçí^i:*  cq  ef!gT0);4ÇiJi!i  Por  este  motivo,  bem  quo  deecrovca  e  Dg^arou  i^Uri- 
fnfintei  evld«nclat  de  iDcoDfõrmnblIldhdo  cnt-c  dont  scHcr  At$  qaíirLtlto,  elle  njU  ««  iDler* 
prcifoú  coma  U^4^  e  njelín  a  «pa  <^xedleatQ  dcicTipçAo  da  rcgift^i  porde  tiinito  do  seu  vAlor 
4«t4Í3ta  do  pontíi  de  \\à]A  g«oíogicD^ 


—  52  — 

grande  itnpíirtuncia  e  interesBô  a  localidade  de^Gr^o  Mog^ol.  Por 
aniofitms  qua  me  ti'm  vitido  a  niào  e  por  mfoiínaçôea  dadas  por 
dou»  tíxciíllentes  observadoies  geológico»,  os  dre.  FrímcÍFco  de 
Paula  Oliveira  e  Liiis  Fí-lij^e  Gonanga  d©  Campos  é  evidente 
fcomo  etn  lb82  projcnostíqiifti  que  efirla  evpniualnipnte  provado 
o  cft8í>  (12^1  quw  a  tecçàr'  era  Gt&o  Mn^ol  é  easefifialDieute  idên- 
tica com  a  dtà  Diamantina  qu«  «trá  j^^or^  conítideradu. 

Na  vízintiatKja  de  Di»mantíua  a  cordilbeiro  também  cí^nsiste- 
em  um  platiabo  tr^ntanho^o  brgo  com  a  elevação»  n.edia  de 
12CX)  a  iSnO  metros  qus  eíf-ya  bruecamente  acima  de  plaTialttí^ 
matB  baixos  de  caáa  hàu.  No  lado  de  leste  eay  ati  s  truncados 
de  piiei^e  e  tDÍcttiicl>i«tí>,  cL*  Íoè  d©  veeirc^i»  do  quartzo  qut^  Bfto 
frequeutt^nit^uie  auítíVrOB,  tpm  t^ido  nivelados  até  a  tíita  de  900 
metroíi  piroximnmente  por  cflmadisft  liorisíontaea  de  gre«  molle  que 
cobrt^m  uma  área  fiLtetiíia  tio»  víille^  de  Jequetinhouba  e  do  seu 
aguento  o  Aia&tuaby,  iV>rmando  cbapadas  entre  ob  valles  qtie 
tem  tíido  excíivwdos  de  2(10  a  300  meiroB  ji baixo  do  nivel  ^^eral 
da  planície,  Hartfc.  que  visitou  e^ta  reííííto  em  1865  (6J  ctirrola- 
cionou  esiaa  camadas  com  a  f^erie  terciaiía  do  littoral  e  aa  citou 
C0D10  prr  va  d«^  uma  fiublevnçí^o  geral  de^ta  parte  do  BraHÍl  na 
impOTi anciã  de  cerca  de  1000  metroa.  N&o  ba,  poriam,  evidencia 
que  t^&tas  cíininHaB  bÔo  de  origem    nu+rinbii,  e  parece  muito  mai» 

Í trova vel  que  foram  depf>iiítadas  ntima  bacia  fechada  do  interior 
o  continente,  a  qual  ue  extendin  por  uma  distancia  considerá- 
vel pc4o  vallrt  de  Jequetinlionba  abaixo,  ma^  separada  por  uma 
Eona  RÍta  de  rncba^  mais  àtitigas  da  serie  terciária  do  l)tt4>ral  que 
jaz  em  uivei  main  baiíso,  N^ste  caso  a  ©viHencia  do  sublcva- 
tnento  é  dada  pela  profundidade  da  excavii<,'âo  ãoh  valles  abaixo 
da  iupiríicie  destas  i amadas,  e  n^o  ]>e]a  <^]evaçho  dilata  tuper- 
ficie  acima  do  nivel  do  mar  ;  e  a  Bua  importância  (?ííO  metros) 
concorda  regularmente  com  a  indicada  pela«  próprias  camadas 
terciárias  do  litr^ral,  {*)  Ás  csmadaa  de  grez  gàOj  muitag  vesseii, 
pouco  e*ípessa!i  e  provi^velmente  em  parte  alguma  excedem  da 
100  metioB  de  e&pe^íiura. 

O  ]>i}inaho  ao  oe^te  da  Serra  do  Eapinhaco  apresenfa  a 
elevaçAo  geral  de  tíOO  a  900  metros  e  também  eon»ihie  de  eatra- 
Í09  fcrunt-iidoa  de  ftcbiatn,  grez  e  ealcareo  muito  cortados  por 
veeivíj^  de  quartzo.  M^íb  ao  oeste  e  perto  do  rio  Sfto  Francisca 
Apparet^em  taboleirosi  de  grfE  e  bcbisto^   boitzontaeB  c  m     cerca 


n  Vede  BriBiier  íl^)  <íBe  vérifl&DHí  que  •«  camudak  terotArifci  do  lUtorjil  ca  ex« 
teiidtiB  até  >i  catn  pihi»  iUt  dii  «i^triida  de  ferro  Bilsiu  e  DlaaA  ni  Pe<^iThdoi  Ajiaoréi. 
BaMi  úDLik  nKo  M  itnda  ipOT  dHo  per  acee^Kf^til  o  tiJv^UmeQtú  (la^itrud*.  nms  pnrinitihiià 
lettumfi  dp  uiriolda  pftr*çft  h^r  de  .H'  meir<j*  prcxlmiiiifeiite  Conifi  ji  M  notada  an 
Umfú  ÚA  f»tr?idada  fnrn  Bataí*  no  ^Ao  Pramcitco,  aa  camartai  tercfarfajt  fe  elevAUí  nlé^ 
4(i*  ntetrod.  DD  vm  |9«qco  Draii,  mat  lU  íí  [urte  fupertor  é  orli^iiiB^ía  do  ap^na  doce  é 
tatv»  bnftitnie  initi^  ie««'nic  do  qu**  a*  camanjnti  mr«riore»  qtte  correu $íon d í-m  ibelMr  aa& 
caracter  Cfitn  mb  da  linbn  Hitblia  q  Minai  liai  bAciaa  Ao  aWo  Rio  hõci*,  L'm  íHi}«h  Gera«'i, 
Tjelé  «  ^Arhhyha  pm  HAq  PauliO  «"xlrietn,  com  eio^vaçio  coDeíderaveii,  Hac^M  tere^arJat- 
#e  agua  d«c«  otrm  Tuiaeii  ^Be  pn recém  oorreipantler  «oot  a  ún  Je^ietinhonlia, 


—  53  ^ 

de  800  metros  de  elevâç&o.  Em  algumaB  destas  camadat  se  tem 
encontrado  madeiras  dicotylidúneaã  «Uiciílcad&s  que  ae  presa mem 
■er  de  edade  cretatea. 

O  planalto  central,  oa  Serra  do  Eapinhaço  propriamente  dita, 
mostra,  ein  ambos  os  flancofl  da  iecção  de  Diamantina,  camadas 
pogeanteft  de  gtez.  quartaitíco  que  se  inclinam  fortemente  para  o 
leste  no  flanco  orientat  e  para  a  t^wíe  no  occidental.  /"U,  12) 
Sobre  a  ^ona  co  ri  trai  a  inclinaçà«i  é  rasi»  suave  e  mai»  variável, 
ftcndo  as  camadas  quasi  horiaontaes  em  alguns  Icigares.  Sobre 
grrandea  áreas  o  grez  tem  sido  completamente  deenndado  reve- 
lando atmi  fiirie  snbjacentf?  da  quartzitos  e  &ehiâto$  arg^illoBOt 
€rm  uma  área  conaid*»ravel  d«  granito  em  utn  la^nr-  Como  nas 
Tígiôtís  do  Parsgua-ftú  e  Ur&o  Mn^ol,  ha  ahi  evidencia  abun- 
dlnte  de  qui'  o  írrt?^  é  a  fonte  dosi  diamante»  que  caracterizam  i 
re^ào.  Diversas  das  Uvras  sfto  abertas  cm  partea  tíonglnmeri- 
tkas  decomfK>»tiis  àn  leiii;ol  de  grea  p,  como  em  Grào  Mogol, 
tem  se  encontra  lo  diaraívntes  na  rocba  dura  também. 

A  sBcçAo  meridional  da  cordilheira,  formando  as  cabeceiras 
•da  bAeia  do  Rio  Doce  e  as  sua»  coiitrAvertt^ntes  i^endo  uma  re- 
gião de  chnvas  muito  abundantes,  experimentou  muítj  mais 
profundamente  os  effeitos  da  erosfto  do  que  at  acima  descri pta a  e 
«m  coofeqnencia  as  suas  feições  te  to  nicas  n&o  »Ao  muito  apparen* 
ies  ao  longo  das  yias  usunes  de  eon  munÍCi>i;ão,  aa  quaea  correm 
pftralJelas  a  sua  orientação  ou  a  n travessa  em  gargantas  profundas. 
A  Kona  central  é  occupada  por  enorme»  Iomh?idas,  ou  bines  de  quar- 
tzito,  ou  gre%  quartzitico,  que  se  elevam  á  altura  de  1500  a  1900 
lEietros  e  que  setido  relativamente  e-tertíis  em  ouro  e  dt?  díffi^iil  ac- 
ceséo,  tem  ficado  quasi  completamente  luexploradaij..  Pareeem  re- 
presentar um  grande  lençol  como  os  das  eccçòes  de  Jeque tinUnuba 
e  Para^assú}  o  qual  tk&ê  partes  mftis  baix:ad  t^-m  sido  comp!eta< 
mente  desEmido  ou  desnudado  ao  ponto  de  ser  djfficil mente  reco- 
nhecível por  se  confundir  com  uma  rocha  muito  semelijantô 
que  ae  apresenta  como  membro  da  fonnaçào  subjacente.  Esta 
ultima  consiste  em  uma  grandci  serie  de  pchistos  esBeneialmente 
argill»  SOS  e  micaceos  com  intercalações  de  quartzitos  micaceos 
«chbto&os^  qnartzitoa  ferruginosos  (itiibii-ito^]  e  calcareoi^  sendo 
toda  esta  serio  mais  ou  menos  aurífera.  No  fuodo  de  alguns  dos 
valles  se  apresentam  gueiss,  mica^chieto  «  f^ranito  que  aHo  as 
rochas  preuominante»  na  região  ao  leste  da  serra,  El  la  é,  porem, 
tfto  ímperftitameute  conhecida  que  iiílo  se  pode  traçar  sattsfar 
etoriamente  a  margetn  oriental  da  Serra  do  Eãpinhaço  nesta 
iecç&o-  A  margem  Occidental,  como  na  uecçâo  de  Jequetinhonha, 
é  abrupta  e  domina  uma  regi&o  semelhante  de  rochas  sedimea- 
tarias  truncadar,  as  quae*,  porêmi  numa  parte  considerável  da 
seci^ào^  se  ac^ham  separadas  da  base  da  serra  por  uma  zona  de 
gneiss    e  granito. 

Conforme  os  dados  acima  apresentados  se  vê  que  a  Serra 
4o  Espinhaço  consiste  em  um  «comple^u  ba«al*  de  rochas  metamor-^ 


-  54  — 

pliicas  6  einifllvas,  toado  s<'ibrepoètít,  com  estratificação  ékenr- 
danio,  utim  ou  mais  scriea  do  osLrntcft  (^natUosoa  que  tem  úáo 
perturb:i(ÍAi  por  um  systpma  do  dobiaa  com  a  oi'Íentav&i>  gôral 
(l6  nortQ,  ao  pBMo  que  iio  tí^Hú  da  râglâo  montauhoea  do  Brasil 
sudasite,  da  quul  esta  serra  conadtiie  utua  parto]  a  orletit^içl^o 
domíiiatite  dos  estratos  é  iioi-doste.  N.as  sQcíçõí^ã  uieridionaâj  fJe- 
quotiiibunlia  e  Doce)  o  movitnento  orogrApULco  que  produziu  as 
dobras,  produziu  também  um  corto  ^'au  de  metamorj^bismi:)  u% 
forma  do  latDÍuaçao  (shearing)  e  granulação,  aompaiihada  pálo 
deãeuvolvimeiíto  d^  mica  danio  á  roeba  um  aspecto  ti^o  &ome< 
Ihaate  íio  doa  membros  quartziticos  da  serie  metatnorpLica  su- 
bjacente que  om  geral  o 3  geQlo,£r,g  tâm  coníiiudido  as  duaa  de- 
baixo dy  uome  do  ítEieolamitO'  Nostaa  nreimai  eecçoeí,  porém, 
se  encontram  aíloramentoíi,  como  por  osomplo  iia  vJKÍiihaij<:a  de 
D]am:mtina,  oudo  a  rocba  é  ura  g-rez  ou  congloinerado  typico 
nao  metftmorphosoadt),  e  onde  lambera  vê  se  que  o  pluínomeno 
de  mctatnorphismo,  onde  vlh  existe,  é  um  caractoristico  IocaI  o 
uao  íçeral. 

Com  referencia  á  edade  do  sublevaniento  da  Bcrm  do 
Espinbaro  e  das  cnmadaa  que  foram  por  elle  aíFectadas  nflo 
ha  por  cmquantQ  evidencia  al<j:uraa  Batisfactoría,  visto  ufio  ao 
ter  encontrado  até  boje  fóssil  algum  nestas  camadas  ou  nouiras 
cujas  relações  com  ellaa  tenbam  i-ido  claiamcnt©  estabelecidas. 
Até  o  pinsent©  todos  os  escriptores,  eu  próprio  inclusive,  que 
têm  tratado  da  regjáo,  a  iGiii  eouaiderado  como  muito  antiga, 
arcbeaim  ou  palaeossoica.  Esta  opioiâo  se  baseãvoj  cm  graude 
l>arte»  no  metamorphismo  das  rocbas  nosdíatnctos  do  Ouro  Preto 
e  DianiatJtiíifl,  e,  no  meu  ciiao,  no  facto  que  em  outras  partes 
do  Brasil  le  pode  provar  por  fosseis  que  a  épci-ba  de  dobra- 
montoB  o  metamorpLismíJ  era  pre-devoniama.  Ambos  esteà  argu- 
mentos gào  evidentemente  frat^os  e  devem  agora  iBr  postos  de 
lado  em  vieta  do  aspecto  ;ião  metsmorpboseado  e  relativameute 
moderno  das  rocbf^s  dobradas  da  secção  bnbian^  da  Seira  do 
Espiubaçó  e  da  possibilidade  de  perturbações  locaes  afí^etando 
rochas  de  eiade  devoniana  ou  mni^  modernas.  Na  regiíLo  do 
littoral  doe  Estados  da  Fabia,  Sergipe  o  Alagoas  ha  evidenciado 
taea  perturbaç&es,  que  ge  relacionam  com  a  questão  aqui  codiI- 
derada- 

No  baixo  Hio  Pardo,  Hatt  (G)  achou  uma  série  inclinada 
de  conglomerados,  grez  e  echistos  com  reatos  vegetaca  obscuros 
que  reíerin  á  devoniana,  e  notou  no  baiso  Jequetinbon!ia  iudi- 
cios  da  eiist(^ncia  da  mesma  Eerie,  Numa  recente  excnriao  nesta 
regiào  verifiquei  que  cita  série  occupa  uma  zona  de  alguns  ki- 
lometrcs  de  largura  o  fui  informado  qu©  ao  oefcle  existe  uma 
zona  considerável  de  calcáreo  (mármore),  Eíjtaudo  o  rio  cheio 
não  pude  achar  a  localidade  dos  fosseis*  O  mesmo  conglomera- 
do se  encontra  no  Salobro  cerca  de  uuia  légua  distaute  da  mar- 
gem do  Rio  Pardo  seudo    ahi    diamantifero  (é  o  assim  chamado 


^ 


—  65  — 

ãistnvtn  àmmnnilfeTú  cie  Cnnnavíeiras).  A  occurréncia  dpttft  bc- 
rífi  no  baixo  JrqQc-tinbonlja  foi  contirmada  pctú  dr,  JooqQtm 
Bâhiana,  um  cbs^rvndor  geológico  comjietente,  ê  é  evidente  que 
eJla  occiípá  XLTUíi  zona  cofit-ideravel  an  Inn^o  da  mar^i^em  orieiítil 
ido  f^liinaho  írn^Uiko,  Brantíer  (17)  ttm  deÊCíipio  uma  franja 
femclliaiite  dn  pstratos  qae  se  preí>timcin  bct  de  cdade  pnlaeo- 
zo.cn  JJ03  EstadfJí  d«  Sergipe  c  A  lacras  o  ha  annos  vi  indicies 
d^  II1CS1114  ao  dordesto  da  cid.ido  da  Babia  na  vizioliaaça  de 
[iihambcipé«  Oí  fosseis  encciutrado»  jíor  líartt  no  Hio  Pardo  eram 
rfrê^puGi  mrics  e  pouco  satisíactorioa  de  n.odo  qnu  a  refe renda 
iquc  dellfi  fez  á  deToniana  eó  [  ode  ser  considerada  vniao  provi- 
sória. Com  tudo  é  altamente  prcyavel  que  n  tt'tib  s(>ja  d^  edade 
pakcoxriiea  c  certamente  nito  anterior  á  devoniana.  De  ijutfo 
Inéo  iif  enmad^t  perlurbada»,  referidas  por  Brauner  nos  Estados 
de  Sergipe  «  Alag^t^as  e  coDeistindu  em  c^  ngloincradoaj  giCí, 
ichistf+s  c  calcavcna,  filo  certamente  precretaccuT. 

O*  calca vcos  do  alto  Sào  Frane]£co  píireccm  representar 
{çtttan  Eáchweffe  (2)  Jà  indicrn)  dnas  formações  gcolosrica»  dis- 
iitictas.  AS  qu«t03  nâo  tem  sida  ákida  discriminadas  *  Uma  parta 
pertence  certamente  a  uma  serie  pertuibada  de  grcz  e  schií^tos 
qtie  píOvaVflraente  pertence  á  primeira  parfe  da  edade  palaeo- 
seoieii  o  prisumivclmente  é  auterior  ico  eublevamento  da  Serra 
do  Espinhaço;  uma  ou'ra  parte  jaz  horizontihiiente  peln  menos 
cm  al^^nua  loí^are»,  o  é  pregumivelment^  mais  recento  Em  Bom 
Jcstíâ  d;i  Lapa  na  marjrem  diíeita  do  Sao  Franciíco  o  quasi 
directamciito  ao  oeste  do  Rio  de  Contas  nL-he.i,  em  ISSO  (fl,9.10) 
eoraf^ft  losscis  mal  conservados  dos  géneros  Favo&ites  e  ChaeU" 
Uãíf)  que  indicam  edi  de  palacozoica  media  ou  bU]  erior  (Silu- 
ríana  inferior  n  Permiana),  E'  posí^iví*!  quo  este  calcaifo  poeia 
§cr  cf>rre1adonado  com  o  acima  ditctipto  ao  lette  da  serra  na 
reirià/1  do  Farfsguris&ú,  mas  sc»bre  isto  nada  de  definitivo  pode  ter 
dito  presputeroentc.  Se,  como  foi  ai,'Íma  su*:g-er.do  como  pnssi* 
vel,  o  g-re55  da  regiSo  de  Jacobina  provar  í^er  dobrado  e  dn  rda- 
dd  rrptací^a,  n  questAo  da  edade  do  sublevamcnto  f-eiia  decidida 
Côífío  tendo  cretacL^a  ou  po&t-crotacea,  mas  parece  pouco  pro- 
Tavel  que  isto  aconteça. 

As  roclsas  qne  entram  na  composiçílo  da  Serra  do  Espi^ 
nbaçõ  se  devidem  naturalmente  em  Ires  grujos,  fendo  |irovrivel 
que  eventualmL'nto  cada  um  destes  terá  do  eer  subdivido  em 
dois  cu  mais*  Estes  grupos  sào:  1.*— os  j^neitses  e  mica-scbifitos ; 
2.*^es  scListo?,  quartzitos  o  cakareos  das  repriòcs  auríferas;  o 
3.*— 05  quartzitos  e  grez  das  roíriues  diamantiíeriíp.  Cora  eatea 
^lupos  se  ncltam  associados  granitos  e  outras  rncbas  cruptivas 
que  apparentemeut©  nSo  peoetiaram  nas  d»  tcrio  superior  e  pre- 
iumtvclmeiíte  lAo  posteriores  a  ella. 

Como  Escliwege  já  observotit  o  gneiss  o  uiicascbíato  êó  í6 
oprcsentam  nos  níveis  inferiores  dn  zon»  da  Serra  do  Espinha- 
ço, ao  pasio  quo,  com  as  rochas  ernptivae  com    ellas  aisotiadas^ 


—  56  — 

forrtflm  a  ma^ta  piincpííl  dna  mootaníma  n  le^te  e  no  sul  por- 
tflTiceiítfíH  íioa  sy^renijis  da  St-rm  do  Mar  e  da  Serrí*  da  Manti- 
queira. K-taa  r(icba«  tem  j-ido  pouco  estudfldíJS  na  regiào  nqui 
con^idenid^,  mn»^  até  onátí  cutiliQpidaa  cnri6f poiídem  com  as  ou- 
tras pnrtfíi^  do  Bíuaii  e  pndem  com  gi^f^urançA  ^er  e^Ti&íderadafl 
como  aendo  á '<  edade  í<rt!beaaw,  Paiece  também  if  la  ti  vãmente 
g**^uríi  considerar  a  Éírand^^  ni  unria  doa  gnpjsaea  bra^itoiros  (pelo 
iD6iioa  09  quí3  pi'la  sua  rtàistencia  á  decc  mpoaíijào  fic-anunaiâ  em 
evidenciíi)  como  rccbaa  i-iu,  tivas  foibadas  (^heared)^  &endo  os  ty- 
poB  originot^B  granitfíiVi  tioritos,  díorítotí,  etc.  Uma  parte  doe  mi- 
caichi^toã  shii  tnmb(fíii  de  origt^m  fraptiva^  tnaa  pr6sumive~lmetite 
a  parte  maior  prosará  ser  cuostitiiida  de  aedimeutoâ  m^tamor- 
pbtf^ad<m.  Na  parfe  do  Brasil  aqui  cOQâidi^riida  titas  rcclias 
conetituem  uma  grande  área  tm  íorma  de  escudo  na  pai  te  orien- 
tal dos  Estados  de  Minaâ  Ueri^ea  e  Babia  (com  oa  P2âtadâa  adja- 
eejitea  de  Espiíiio  ^ant'>  c  Kio  de  J^iteiro)  a  qual,  pela  maior 
paftíí,  tem  sido  terra  firme  desde  os  tempos  arcbeanoSt  Naa 
margen 9  destas  arca,  pinticolEumente  no  lado  do  oeãte,  6  ttobrd 
as  suas  partes  maia  baixai,  fortim  depositadas  as  feries  âediíLeD- 
tariaa  mnia  ret^entes. 

A  serie  ncbií^tosa  da  Ferra  do  EapiuLaço  e  regiões  adja- 
cente», que  pode  convrnifu temente  ser  denominada  a  serie  dé 
MinaSt  consi&te  em  um  ^jaiide  compl^io  de  te  bis  tos  predomi- 
nantemente f^rgilloaoSj  cem  ma^igas  tiubordÍDadaa  de  quartzitos 
ordinários,  quíirtziti^^s  ferrug^iíioaoB  (Itabiritos  pa«sandf>  a  mine- 
reas  de  forro  puro)  e  cakareos.  Todas  e^tas  rochas  são  forte-» 
tnôtite  lauiiiadaa  {.^heared)  e  caracterizadas  por  um  desenvolvi- 
mento maior  ou  raenur  de  mineraes  micaceoá  (bioiite^  felicite, 
hematite  micaceo,  cblorite,  tulco,  etc.)  e,  Eendo  em  geral  muito 
decompostas,  ba  grande  difiiculdade  em  discriminar  os  difieren^ 
tes  n^embros  (^alvo  ok  quartzosos  e  ferruginosos)  de  modo  qmd 
as  tentativas  dí*  estabelecer  uma  ordem  de  aua  s^ecçáo  entre 
ellas  liho  teni  dado  i exultados  satiífac tórios.  E'  quasi  certo  que 
os  membros  qnart^sosos,  lérruginosos  o  calcareos  nho  repetidos 
fm  div^^rfOB  horizouteB  e  eventualmente  eStea  servirfto  d©  baie 
de  reierencia  pura  estabelecer  as  subdivisões  da  serie,  mas  nntes 
dJBío  aerá  firt^ciso  determinar  o  tomar  em  conta  aa  lepetiçòe» 
evidas  a  dobramentos  e  faJbaa.  Ao  que  parece  a  serie  inteirt 
pni  aido  encurvada  em  dcbraa  fortemente  comprimidas  e  inver- 
ti dns  e  BCm  duvida  e  atraveFsada  por  muitas  íalba^.  Antes  d» 
pospuirmts  n^appaa  topographicos  fidedignos  da  regiào,  ou  jelo 
menos  de  uma  parte  lypica  d»'l]a,  não  pode  baver  espeiançai  do 
deteimínar-se  a  sua  estrucmra  detalhada.. 


[*f  Depola  de  esciipta  o  tr»bilho  icfma  citid»  veln^me  Aa  mlci  nran  Jtmoctra  de  au 
doitrpo*  *bf  dlBCUUdofl  CO  «cbieto  cocn  n-cn«Èlici  de  £fto  JcAo  dK  Cb»piid»JqQe  i^tiretenift 
nu  Gt^otsetc»  «mptlTo  bou  dofloldo  com  quarfiltio. 


i 


—  57  — 

Os  membros  argillosog  da  serie  de  Minas  incluem  f-chistos 
micsceot  (principal  se  nAo  exclusivamente  bericiticos),  cale^reos, 
gnphitotos,  ehloriticofl  e  talcosns.  Uma  ]>arte  conBidt^ravel,  se 
nto  a  totalidade,  dos  dois  últimos  typos  consiste  indubitHvel- 
mente  de  eraptivos  laminados  e  metamorphÍBados,  e  num  outro 
trabalho  (13  14)  procurei  demonstrar  que  nmii  p.-riK  dod  t-cliis- 
tot  sericiticoB  í&o  da  mesma  origem,  i*)  Cdmtudo  nenhuma 
darida  pode  haver  que  a  maior  parto  án  sKri<«  do  Minas  ^«Jii  do 
oiigem  sedimentaria.  A  sua  edad»  só  yoái'  sct  detiTuiiiiuda  hy- 
potbetieamente,  mas  é  quasi  cai  to  quo  uA'*  será  niuis  reconte  do 
qae  a  cambriana  o  podendo,  pnrúm,  ter  mais  .'«nti^vi. 

A  serie  de  Ninas  sempre  tem  sido  coiisideia<la  corno  h  for- 
mação  caracteristica  da  Serra  do  t^spinbaço  e  é  certo  qui^  eila, 
OQ  outra  parecida  Ci*m  ellu,  si^  a,  rei^en  n  em  ti  do  o  coiiu>ri- 
nento  da  cordilheira.  Ao  norte  da  secção  do  Rio  Doce  os  mem- 
bros calcareos  e  ferruginosos  caracteristict  s  dehtíi  t^erie  ])Hrecem 
desapparecer  na  zona  da  serra,  bem  quH  te  ii premeu  tem  outra  vez 
nis  margens  do  Sào  Franci-co  entre  Urubu  e  Joazeiro.  Parece, 
portanto,  provável  que  se  ache  aqui  represencida  mais  de  uma 
lerie  geolotrica.  E'  também  certo  que  estes  m -mbriis  caructe- 
liiticoB  se  apresentam  por  ambos  os  lados  da  secção  do  Rio  Doce 
em  distancias  consideraveij  das  marj^ens  (ou  o  quH  ordinaria- 
mente se  considera  como  tacs)  da  zona  da  Serra  do  Kspinbaço 
e  com  indicações  de  dobias  orit  ntadas  para  N.  B.  e  as&im  pa- 
ndlelas  ás  das  montanhas  arclieanas  da  vizinhança.  Parece,  por- 
tanto, provável  que  o  seu  primciío  e  m;ás  to: te  d(b  amento  fot>se 
devido  a  um  movimento  produzindo  dobras  orieiMadas  p^ra  N. 
E.  e  presumivelmente  envolvendo  também  a  serie  de  scbistos, 
^res  e  calcareo  da  bacia  de  São  F^ranciseo.  A  occJirreiíoia  mais 
Bo  sal,  na  bacia  do  Paraná,  de  uma  s*'rie  muito  semelbante  a 
esta  nltima  e  que  t»mbem  ficou  envolvida  iias  dobras  orientadas 
para  N.  E.  da  regi&o  arcbeana  adjacente,  confirma  este  pcn^o 
d**  vista.  Estas  rochas  da  ba«!Ía  d>i  Paraná,  como  as  do  São 
Francisco,  sào  em  geral  pouco  metamorr>hoseadhã  e,  no  Estado 
do  Paraná,  s&o  8obre{>ostas  por  camadas  borizontaes  contendo 
fÒBieÍB  devonianos,  (15).  Bem  que  não  tem  fornecido  foí-seis  são 
presumivelmente  de  edade  siluriana  ou  cambriana. 

Efcta  serie  da  baoa  do  Paraná  c  abundantemente  injectada 
com  granito  e  assim,  para  esta  iea:iâo  pelo  menos,  a  edade  das 
eiupçôes  graniticas  fica  determinada  como  sondo  pre-devoniana 
Os  granitos  ifto  de  diversos  typos,  (ampbibolico,  biotitico,  e 
moBcovitico)  e  sem  duvida  acham-se  re|  resentadns  entre  eles 
diversas  epochas  de  erupção,  mas  presumivelmente  todas  eslta 
eram  contemporâneas  ou  posteriores,  ars  movimentos  orgânicos 
que  produziram  as  dobras.  0<  granitos  que  se  apresentam  coms 
certa  abundância  nas  áreas  occupadns  pela  serie,  de  Minas  não 
tem  sido  estudados,  mas  é  do  ]ire>umir  que  csia  conclusão  rela- 
tiva á  edade    e    epochas  do  erupção   seja    também    apidicavel  u 


=^  r>8  — 

elTes,  Álém  dos  granitos  estíi»  arríis  njirostufam  também  nffl)- 
ra meu  toa  frequentes  d^  rocLaa  empt]v;t8  bá-icn»  de  typos  gíib- 
broiticos,  díabflsieoB  e  ]iéridotiticog,  as  quacs,  atú  ond©  observa- 
das, apresentam  indiciofl  de  motamorphísma  (um  ceito  grau  de 
laminaçào  (Hhem^tng)  e  uma  alreraçílo  uvalitica  do  pyioxono) 
que  plausivi^lmcutc  podn  fcr  attribuldo  ao  níovimnit')  posterior 
de  Eublevamento  que  ei) volvi i  também  o  grcz  sribnjacente* 
Tmito  quanto  ee  tem  observado  até  hoje,  esto  ultimo  uíio  foi 
nfíVcíatio  ptilaí  ieijceções  rroptivas  o  oa  veeiro*  auriíero*  tão  ca- 
iflcteristicos  da  eerio  de  Miuns  Titio  fo  exfeudcm  até  el!o» 

A  capa  ^0  pre^  da  zona  da  Serra  do  EqMnhnço,  ^^m  todíi 
parto  onde  tem  sido  PxnraiMada,  apresou  ta  graúdo  uoif*rtn  idade 
de  aspcctn,  talvo  que  a  Bua  diviião  em  dua^  bptíoj,  noiad-i  na 
ÊCuí^Ao  do  Parog'irtssú,  nílo  tem  3Ído  o^^sf^rvada  cm  outra  pai  te - 
O  caracter  coaglomeritico  das  camadas  Buperlores  desta  &ecçao  i.\ 
gtr^l  por  toda  n  cordilhoiraj  e  bem  qui  a  rncha  seja  um  tanto 
metamorpboseaJa  em  alguns  logarea  nas  baciai  do  JequctiuUriuba 
e  Doce,  ( sta  nào  pareço  ser  motivo  aufficitíute  para  consideral-a 
como  distiucta.  Um  outro  cariicterlstico  muíto  goneraliçado  é  n 
occiírreucia  de  diamantea,  mas  estes  parecem  faltar,  pelo  menos 
em  quantidades  aproveitáveis,  na  eocçâo  meridional,  na  viziíib-inça 
de  Ouro  Preto,  e  também  na  fecçíVo  septputrional  na  regifio  de 
Jacobina  o  alem  (^),  Comn  jA  íicoii  dUo,  ha  motivos  paia  sus- 
peitai' qae  o  grez  de  Jacebina  Êt^ja  maií  roceuto  do  qna  dafí  par- 
tes mai&  meridionaeft  da  cordilheira,  m^^  Eobre  este  ponto  nada 
de  definitivo  jjóde  ser  di!o  por  omquantn.  Fíca  também  cm  du- 
vida Be,  com  esta  excepçfto  o  a  das  caraãdes  iuferiores  du  região 
do  I^arnguas^ii,  todo  o  grez  da  cordilbe  ra  deve.  ou  uíio,  ser  cou- 
siderado  como  constituindo  uma  unidade  geológica,  Pessoal- 
mente estou  inclinado  a  uma  opiniflo  afiirmativa, 

A  edado  ideológica  das  rochas  cara cteristi cai  da  zona  da 
Berra  do  E«pinha<;o  e  do  movimento  otogenetico  que  lhes  deu  a 
sua  altitude  actual  tem  também  de  ficar  em  duvida»  O  mais 
que  se  pôde  dizer  é  que  nem  uma  nem  outra  é  t5o  aotiga  como 
ate  agora  se  suppunha,  e  qup,  ao  que  parece,  a  devouiaoa  podo 
ser  tomada  como  limite  extremo  de  edade,  Lto,  porém,  envolve 
a  hypolheso,  que  por  si  nada  tem  do  ínvcrosimil,  de  uma  loca^ 
lízaçíio  do  movimento  orogenetico,  víslIo  que  os  depesitos  devonia- 
nos  definitivamente  conhecidos  em  outras  partes  do  Brasil,  noa 
Eítados  do  Paraná,  Mato  Grosso  e  Paiá,  nâo  fia'am  nffectados 
por  elíé.  O  outro  limite  exiremo  de  edade  é  ã  cretácea,  mai 
autes  de  um  exame  da  rpgíào  de  Jacobina,  afim  de  verificar  a 
exactidão  ou  a  falsidade  dn  reputada  doacoberta  do  fcsaeis  uella, 
esta  bypothesa  nSo  pode  ser  acceila  nem  completamente  potta 
ao  lado,     A  hypotbete    de  nma    e^ade    mesozóica   (cretácea    ou 


I 


no  BrAitl  Etrá  cúaililcri4a  «q  úqCto  iagu-. 


m  — 


^ 
^ 


^ 


pre-erelacea)  é  »9Íii«tin«  Tiffo  que  estjikelecedi  mu  conelAçlto, 
pek»  Dieiioi  ena  que  dii  nipeiio  à  edide*  entn  »$  f^cecrtraeias  4e 
aiftmajitet  luu  dtTmas  pttrtes  ^  Br^jl  0  &«  Ãfriei  Merrdioitvl, 
(IT)  mais  eottlim  efttA  kjpotJi^^  teaos  m  relaç&o  pTt«mtd«,  bes 
que  aio  deixãtíviíaeiíte  p^vçaá^.  de»  cmícmreos  hmi3Uítme%  à» 
Tille  de  S.  Frtneiiea  «  do  Rio  Uiu^  os  ^oácc,  fieU  nm^is  ^er 
emiiiisiifOy  lesi  il«  ser  «nuide ratios  eomo  piUMist&6M  «  nais  r«- 
eent^  do  qQ«  e  «sblemiDÊato  ã^  Serra  do  finilnlapir  Eu  rôlft 
de  t^  d^f  as  circmvftaiicisi  o  qme  ine  fiareeo  u»  |ir»TmTel  é  que 
a  edadíS,  taaUí  das  ntekai  coao  do  ialileia»eiit^  ierá  efeotual- 
mente  prorada  ser  palateoxdiea  ai«Jia  m  sap€fi»r  (deToaíana  á 
permlasa). 

Ab  mãT^&KÊ  eaearftãá»  da  «»3a  d^  Seir^  âo  Efpmliat<>  «^1 
em  iiimtjw  logarep,  imtito  so^^estiras  de  falbss  e  ati^  ree^ate- 
mente  fui  íacliiitfdo  a  Aimittir  a  ewteQCia  de  Unhts  d^  falhas 
de  proporç&ea  gtganl«aeaa.  Troio  i^ora  cooliecí mento  melhor 
âfts  zofias  aijaeenlo»  parece-^ae  proTiivrl  que  eãti  feitio  pôde  ser 
antes  devi  da «  em  grande  paite  pelo  me  no?,  á  denudado  &ob 
eoiiiikões  de  èmmf^m  e  elera^  difidrenies  das  actuaes.  A 
cordilhelrji,  numa  parte  constdefa?el  da  ina  e:tteusác,  aeha-fe 
nijirg-^^dji  |»tir  bem  definidas  pbnicíet  de  d^nuduçàOi  das  qtL&oã 
algnm^Si  eomn  a  de  Jn.iKeiro«  tAo  pouco  eseulptumiet.  ao  pasao 
que  outras  tio  dib^ec^dai  por  valle«  escavados  até  200  a  300 
metroB  abaixo  do  uivei  g«nL  Xa  râgiâo  da  Jet^uetinhouhn  Diedio 
Lavia  um  tempo»  prrvftYel mente  dãr&nlõ  nmn  parte  da  época 
terchria,  em  qtie  «i  condições  eram  ties  quí^  uma  bacLi  t^rrçstro 
£con  çh^ia  com  deposito»  borisontaea  até  qnasl  ao  uivei  ãn.  p\<i- 
akíe  de  denudaç-áo  qne  a  ctrcnmdon,  e  dt^^xã^  ambas  foram 
dtffi^ccadai  ate  a  protuodidade  de  200-30D  metroi  em  rtrlude 
de  um  fcubievaniento  íjeral  qne  modificou  os  coudiçôea  do  dre- 
nagem. Um  isibleramcnto  proximamente  e^al  é  indicado  petas 
camadas  terciárias  do  littoral,  pelas  creíaceas  peito  da  região  ã% 
cataracta  de  Panio  AfFmso  e  }>e1a  dissecção  da  plniiicie  de  deou- 
da<^o  e  das  camadas  horj^outae^  cretáceas  (?)  da  parte  superior 
da  bacia  do  Sào  Francisco,  d©  modo  que  este  movimento  pôde 
ícr  tomado  como  g:era1  e  proximamente  da  tnesina  imiuirtíiucia 
em  toda  a  reg-ião  aqni  considerada.  Ao  que  parece, ««  oamadas 
eretaeeas  da  repilo  de  Paulo  Aãonso  foram  depositadas  sobro 
orna  planície  de  denudação  ainda  mais  antiga  qn^  devia  ter  es- 
tado qnasi  ao  nivel  do  mar,  visto  que  a  sua  fauna  foi^il  apre- 
senta Lma  mistura  de  fóroias  marinhas  e  do  a^ua  d^ee  (tubarões 
«  cypridcs}.  A  denudaçAj  da  zona  montanhosa  foi,  portanto, 
«fMlnada  por  estados  successivos  e  âob  condiçòes  de  drenaí^r^^^ 
o  elevação  dífiarented,  e  sem  duvida  é  a  esta  C'rcnm^tançia  qne 
se  devem  muitos  dos  leuscaracteniticos  lopographicos. 
8.  Paulo,  16  de  Abril  de  1&06. 

Oevillv  a.  Dskbt. 


r 


—  60  — 


BIBLIOGRAPHIA 


1 — EscHWBOB,  W.  L,  voN*. — Geo^uostíscheà  Gemai  da  von  Bmei* 

lie.n   und    das    wahrBcheinlíchan    Mutt&rg:estBÍa    der  Di&- 

mau  teu.     Weimíir,  1822, 
2  — EscH  w  E  G  E  W  L »  TON , — Bei  tra  ge  zur  Ge  bi  rgsku  n  de  Br  a  siliens. 

Berlin,  1832» 
3 — Spix  à  MAETioa.— Heise  iu  BraaiHea.     Munchen,  183U1B3K 
4 — HRLMUistCHEJM,  VíRGiL  voN, — UebcF    dfi»    geogDOitiche    Vor- 

komraen  der  Diamanten  und  ihrfl  Gewinnung;»  Metkodeii 

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5 — Hêíí^vood  Wm,  J. — Observations  on  me  tal  li  fero  us  depusits  of 

the  gold  minea  of  Minfta  Gerae^    iu  BraziL     Trans.  Hoy. 

Geol.  Soe.  CorDwalL   VITI.     Penzaiice,   1871. 
€ — Hartt,  C.  F,— Geology  and  PLysical    Geography  of  Brazil» 

Boftttm,  1870. 
7 — Dbírby,  o.  ã.  ANn  Ratrbok,  R. — A  bacia  cretácea  da  Bahia 

de  TodoB  db  í^anto«.     Án^biroa    do  Museu  Nacional,    III, 

Rio  de  Janeiru,  1878. 
8— Dbrbt,  o.  a. -Contribuições  para  o    pstado    i^a  Geologia  do 

vaile  de  S.  Franciflco.     Archivofl  do  Museu  Nâciíjual,  IV, 

Rio  de  Jai-eiro,  1881. 
9— Derby,  o.  â. — Observações  Bobre    alg-umas  rochas  díamanti- 

ff^ras  de  Minas  Geraea.     ArchÍTOs  do  Museu  Nacional,  lY, 

Hio  de  Janeiro,  1881. 
10 — ^Dbrby,  o»  á* — Reconhecimento    geológico  do  valle  de  8ãa 

Francisco,  annexo  ao    Relatório  de    W*    Milner    Roberta, 

Chefe    da    CommÍB^o    Hydro^apkica    a^^bre  o    exame  do 

rio  Sào  FranciBCo,  Rio  de  Japeiro,  1880,     Kevíata  de  En- 
genharia, III,  Rio  de  Janeiro,  1884. 
11 — DEkaT,  O.  A.-Relatorio  apresentado  ao  ar.  conselheiro  Ma- 
noel Alvos  de  ÁrarrjOf  Ministro  de  Agricultura  etc-,  acerca 

doA  es  tudo  a  praticados  nos  YalleB  do»    rios    das    Velhas  6 

alto  S     Franeiíco,  Rio  de  Janeiro,  1882. 
12— Dbrby,  o.  a,— Modes  of  occurrence  of  the  diftmoud  in  Bra- 

zii.     Am.  Jour.  Sei.  April,  1882      New    Haven,  1882. 
13— Derby,  o*  a.— Notes  on    certain    schiats,  of  the    gold    aud 

diamond  regiona  of  eastern    Minas  Geraes,    BrastiL     Am» 

Jour,  Sei.  March,  1900. 
14^DBEBYr  O.  A.  — On  the  associatiou  of  argilIaceoUB  roeke  witli 

quarts  veing  iu  the    region  of    Dian-aiina,    BraziL.     Am. 

Jour.   Sei.  May,  1899, 
15— DÉBBr,  O.  A.— Geflogia  da  regi&o    diatnantifera  da    Prov^ 

do  Paraná  no  Brazil.     Arcb.  do  Mus.   Kac.  IV,  1881. 
16 — Debby,  o,  a  — Braísilian    evidence  ou  the    geneais  of   tliô 

diamond.   Journal  of  Qeology,  VI,  1898. 


á 


—  ei  — 

17 — BiiAsnm,  J.  C,—€n!tMçecmi  and  Tertiary  gmAo^oíth^  Sftr- 

gipe^  AU^osi  bnm  of  Bmttl  Tran^  Âtaer.  FhO.  8tte.  XVI, 

Phil  1889. 
IS^BtJkKSEit,  J-   C.— Tvo    ehar«etemtic    gf<»Ií»gic    ieet3<»D9  ou 

the    eortWatt    ervt  oÍ    PrsiiL  PrcM^  W*»hiiigtoii  Acaá« 

Science,  n,  J900. 
19 — Bcs&ASt  £  — Der  gvyfoKreiíiie  kieaige  Onartzlagerguig  voii 

Pisfagfm  in  Minas  Gt ratf ,  Bniilien.  Zeits.  f.  pr&k  Geol« 

Oct.  18Í-8 
20^BtiiTó?r,  Bicbãid  F.  — Exploratknt  of  tlie  liiglilãnils  of  Uie 

Biwl.  Lc^nden.  1B69. 
21 — LtAJ»,  EcDia  — Climali^  gcoT^^ir^  fanne  tt  gtograpbie    bo- 

unique  fln  Br^iU  Pa  ris,  1872. 
22 — SuiFihiri,  Tm^otK*Ro.  —  (Reí»t(mo  de  uma    Tiapem    de&de    a 

maig^n  do  Bio  Franciseo  aié  o  littoral).  BebtoHo  de  W. 

ViliMir  Bobeni^  eogr^nh^^iro  cbefe  da  Commiffào  Hydraii- 

Ii«a  tctri*  o  eiAtoe  do  Rio  Sio  Fimneitec^^Mio  de  Janeiít»» 

Typographia  KacionAl^  1880, 


José  Clemente  Pereira 


Tios  fact^ia  c  noB  homens  que  preparai  Am  e  real  ú  aram  a 
independência  do  Bra&il,  vè  o  hUtoiI.Mor  que  os  estuda  na  cíilnia 
coadn  [>or  trií*  quartéis  do  ffcnlo  decorridos  A  saliência  do  pain?! 
defftmpenbado  por  Portuguezes  natos  iutimanieute  Itgítdos  ii  Borto 
do  Brfiail  Do  1821  a  IP31  a  que-tâo  da  indeptridencia  cia  do 
povo  do  BrnfU  o  dAd  fomente  da  ^eate  brasileirn,  tetida  essa 
qnestào  para  oa  Pnrtiigue-zea  domiciliados  nesta  lerra  tíio  grai.dô 
interesse  económico  e  pesacal,  qu©  absorvia  o  interesse  poHiica 
do  domínio  do  p:iÍ2  natal. 

Fíim  ra  Portuguezes  \ínculadoa  ao  Brftsíl  pelo  senti  mento  de 
amor  Hõs.  ri  tios  em  que  haviam  ci*e  acido  e  proaptírado,  o  05  ti  mulo 
moral  peta  can^^a  da  independência  nSo  era  luen  e  vivo,  meiíoa 
puro  nem  incitava  menorci  ervtbnsinámoa  do  qtifs  aos  Braeilciroa^ 
O  seu  papel  na  obra  da  fomnijíio  da  nova  nacionalidade  americana 
foi  activo,  efficaz  e  cm  muitas  occasiôps  decisivo. 

Oa  patriota*  que  tomaram  a  vanguarJa  do  movimento  eman- 
cipador deram-lhe  o  impul-so  que  o  pcvo  miudo  seguiu  com  o 
entbusiasmo  riaa  m  çaaa  pelaa  cousas  m-vas  que  Ibe  promettem 
mellior  condiçfto  e  maia  aegnra  prosperidade,  A  graúdo  mriiona 
dos  lusos-brasileiroa  com  os  Brasileitoa  d©  nas^cimeuto  tiabalbaram 
á  porfia  pela  victorta  da  causa  que,  de  facto,  tanto  era  dellea 
como  dos  outroF. 

O  Príncipe  D.  Pedro  dava  aliáà  exemplo  a  todos  os  seus 
conterrâneos  quo  seguiam  a  sorte  do  Brasil,  e  foi  dessa  fusflo  da 
Yelba  com  a  nova  gente,  da  Eurot^a  com  a  americana,  que  sabia 
íi  inciueía  da  rovoluçàõ  de  1822  o  a  feiç5o  de  continuadora  da 
monarcbía  portuguesa  que  tomou  e  sempre  teve  a  monarcbia 
brasileira 

Dog  Portuguezes  próceres  da  nossa  indepondeocta  destaca-s© 
JoÊi^  Clemente  Pereira,  presidente  do  Senado  da  Camará  do  Sílo 
Seba&tiílo  do  Hio  de  Janeiro,  que  ousou  dar  o  primuiro  pa^so  no 
caminho  da  revolução,  que  todos  queriam* 

Só  em  Jaapíio  de  182  Í  a  revoluçAo  estava  nos  espirito?, 
mal  se  debucbavs.  ito9  actos. 

A  provoL^açilo  de  Jo^é  Clemente  na  representaçiio  official  do 
seu.  cargo  popular  ao  Príncipe  Regente,  ds  re.-i^tir  ás  ordena  do 
Rei  seu  pae  e  mais  ainda,  ás  dai  Cortes  de  Líâbâa  que  incarnavam 
politicamente  a  na^ão  toberana,  ú  o  primeiro  acto  revolucionário 


—  sn  -^ 

f^rto    doa  ncton    n^Toluçioonrios    que    tireram    seu    lenno    no 
Tpir.in^ii, 

E1»^A  «jlançlo  de  Jú%á  Cli  inrntQ  já  c  f^rnndjoEa  para  as  ^* 
rn(;ões  qito  £0  í»qcí-'€!  Jeiniii  á  £U:i  herdicâ  gt^rai;ão;os  acrviçtiâ  (|ue 
^Tr»toa  A  pntria  do  fteu  corni^^íio,  á  tcrrn  do  ãfua  atnorts  de  homem 
c  de  eidadâo,  clevfiram  irais  o  fieu  vulto  na  pci%terida^6»  Elle 
deiíiou  um  dos  nomct  ioíjU  |íoptilnre9  ueãta  Capílal  e  cm  todo  o 
Bmsit. 

No  Impeno,  pura  cuja  cnaçiio  iào  vnkntemcnto  cooperara, 
subiu  Ás  nmift  alfas  fuiicçòes  dji  rcf^rfEentaçâo  nacional,  inns  não 
foi  na  politica  qne  conquistou  ns  melbcre^  f^^orias  quci  o  auro- 
olaram.  O  seu  génio  dfi  organizador,  da  administradcii\  o  seu 
conbeciínento  das  necessidades  publicas,  levaram-n'o  a  fírandes 
CO  mmc  til  mantos  e  js  renderam  para  lem^^ire  o  sen  nome  aos  gian^ci 
inftitutrs  ^'c  cnrídíidé  e  do  amor  do  próximo,  que  silo  o  orgulbo 
da  ciditde  flomincnse  e  o  dcemplo  de  eítuitibos. 

Quando  o  Imperador  D,  Pciro  lí  fez  da  víuva  do  |>:randB 
hoir.ein,  que  O  povoem  mtsía  ncompíinbíivn  á  íepultuvií,  Coiidoí-sa 
dft  Picíiá-ie,  o  Soberano  rct>umiu  nesié  titulo  o  sentimento  cbri^tAo 
que  «nímara  a  vida  de  José  Clemente,  Fazer  o  btim  aos  outros 
e  trabalhar  |>ara  melbor  futuro  de  «eus  concidadãos. 

Á  tut  vida  ír  eom  effpito  a  do  trabalho  pcío  bem  publico  e 
boje  qu«í  se  completam  120  nnnos  do  fc:i  nascimeuto,  prettamoã 
neiUs  linhas  juita  homoimíem  á  meirioriíi  do  cidadfto  benouierito 
que  tantos  e  tào  alevauiadoa  tarviçói  prêstcu  ao  nrae.!. 


I 


Nasceu  o  illastre  patriota  a  17  de  Fevereiro  de  ITbTt  na 
W^lídade  denominada  Adetn,  termo  de  CfiBtello  Mendo,  comarçA 
dõ  Troncoso,  bbpado  de  Pinbelt  no  Reino  de  Pcrtug^al. 

Filho  doi  bontadoa  lavradores  Jo&é  Gonçalves  Pereira  e 
Maria  Pereira,  José  Clemente,  criança,  jn  demi>ufiUa?a  ncs  actca 
di  fua  meninice  bondade  do  crr^fiçào  e  de  amor  pelo  sf-n  semo- 
Ibante.  Arirato  e  év.  vtvacidada  precoce,  despertou  a  sincera 
JiffeíçJio  de  um  tio  íJicerdote,  qua  d  fade  1í>í;o  encarrei^ou-te  da 
^íiã  educai^i^o  literária,  babíliiandú-o  a  matricular-âo  i^a  Uni- 
versidade de  Coimbra,  onde  formou-se  em  direita  4\  cânon es- 

Academico  ainda,  por  occasifio  da  invasão  dt^  Francezes  em 
1807»  creado  o  Cor[»o  Açudem ico  de  que  to[  ^ommnndâute  José 
Bfinifacio  dfi  Audrada  e  Silva,  oiitào  lente  de  ujetallurtria  da 
Univcfâ idade,  nellt;  íilistr'U-âe  e  dÍBtin;ru  u-ge  por  lai  furma  que 
p^lo  ♦reueriil  ingl^K  Wellington»  foi  nomeado  capjtào  de  uma 
das  {guerrilhai  que  tanto  damno  cau^araoi  aos  invasorcâ*  Fe» 
par^e  do  exercite  an^lo-loz^ítano  que  sob  as  ordens  diiquelle 
irenera!  combateu  na  Hesjianba  e  ^loríoBAmentc  pi^aou  no  terri- 
tório francês.  Cor.quiFt  u  os  mais  lionrofos  documentos  de  elo^ioi 
de  divertoft  4;en<-rae*  iuprlezcs,  p«ío  leu  srdor  patriótico,  pela  *ua 
coragem   c  correcçlo   militar.     Terminada    a  campanha   vulvea 


-  64  — 

«os  seus  estudos  na  Universidade,  nhandoTiando  a  carreiía  militar. 
Foi  entfto  quo  resolveu  vir  para  o  BrasiL 

Etif^-ctivanieiite,  aqui  cbegou  a  12  de  Oatubro  de  1815,  ha 
idad^  de  28  nnnos. 

Esquecidos  tia  bpub  bons  aerviçoí  pela  mài-patria»  dedícou-te 
José  ClÉtíietitâ  a  advocacia^  adquirlndii  y^.]ú  seu  saber  jurídico 
e  pelo  seu  amor  proliasiouai  grande  reputaq-ào  fnrense, 

José  Boniríjcío,  entfln  já  ministro  no  BrasiL  o  nomeou  em 
X8l^  Jtiiz  de  Fora  da  villa  da  Príiia  Gmnde,  de  receut^  creaíjfto, 
hoje  Nitherohy,  entrando  í^ui  íxercÍL-io  em  11  de  Áfíoatíp  díiquelle 
anno.  Alli  lançou  ello  os  fundamentoa  dn  j:^rande  cidade  que 
lioje  i^e  diHiiiig^ue  pela  icgfiil aridade  da^  rua^  e  praças,  toda^  por 
elle  Imçadfjs,  iibeitat;  e  arruadas, 

8í*Tviu  no  carg^o  de  Jthz  de  Fora  até  7  de  Maio  de  1821,  e 
durante  <'ase  tempo  fez  editicur  quasí  comph^tamnnt-t  a  capella 
que  íilli  eiistía  e  que  bfje  serve  de\  mntri?;,  deu  agua  á  popu- 
lação,  que  sens  BUccessores  deixaram  perder,  trabalhou  incessan- 
teinentt*  pplo  progresBo  material  dn.  villa,  realissaiido  todoa  os 
iDelboriJmpnto6  por  ineio  de  subscripçõea  era  que  o  seu  nome 
figurava  em   primeiro  lugar. 

NAq  fofflm  os  seus  serviços  esquecidos  pelos  habitantes  da^ 
quella  villa,  que  ns  tinham  em  grande  confa  e  que  veneravam 
o  seu  nome  como  o  de  um  dns  mais  dedicados  servidores,  e* 
assim,  em  1840,  a  Camará  Municipal  da  já  entào  cidade  de  Ni- 
tbproy,  em  prova  publica  de  gratidão  hos  seu«  eerviçoa,  deu  a  uma 
dns  ru«»  a  defignçaão  de  S,  J*  sé,  e  no  s  u  IJvro  do  Tombo 
acerei centon  que  a  rosoluvAo  era  «df*diçada  ao  esi-,™*  sr  José 
Clemente  Pereira,  como  1  °  Juiz  de  Fora  e  edificador  da  viila» 
pelos  muito?  serviços  d©  que  lhe  é  devf^dora  esta  cidade*, 

Achava-se  o  i Ilustre  patriota  a  26  de  Fevereiro  de  Ía21, 
na  villa  d©  Maricá  quando  recebeu  a  noticia  de  que  o  pov*^  se 
reunira  no  Rín  dft  Janeiro  para  jurar  fidelidade  á  Constituição 
que  ns  Cortes  portu^nezas  estavam  fazendo.  Reuniu  immedia- 
tamente  a  Gamar«,  quo  prei-ton  o  mesmo  juramento,  ordenou 
festejos  e  illumjnaçào,  fazcuio  celeb  ar  um  Te^Deum  pelo  notá- 
vel acíintecimento  e  publicando  um  edital,  onde  se  encontrava 
todo  o  entbusiasmo  de  um  bom  patri^aa  e  toda  a  eneríria  de  um 
espirito  prompto  e  resoluto  para  i^randes  commettimeutos. 

No  dia  28  jeuniu  a  Camará  da  Praia  Grande,  tendo  proce- 
dido da    mesma    maneira,    como   consta    do  livru  doa  Termos  de 

Vereançã. 

Em  30  de  Maio  do  referido  anuo  atdumiu  o  exercício  da 
Juiz  de  Fora  do  Kio  de  Janeiro. 

Com  celeridade  succediam-se  os  grandes  acontecimentos 
precursores  da  independência.  José  Clemente  abraçou  com  en- 
tbuuaâmo  es^a  causa  e  po£  a  seu  siervivo  toda  a  sua  mascuia 
energia  e  jamais  desmentida  actividade. 


—  65  — 

E'  atsiiDi    qae  em   5   de   Junho    daquelle    anno,   yendo   em 

I,  no  largo  do  Rocio,  officiaes  dos  batalhòps  portuguezes, 
qne  queriam  que  ee  juraísem  as  bases  da  Conttitui^&o  Portu- 
guesa e  fosse  creada  uma  junta  de  nove  De|  utados  que  deviam 
■laistir  ao  despacho  do  Príncipe  Re^nte,  o  que  o  collocaria  ^ob 
a  dependência  de  Avilez,  José  Clemente,  Presidente  da  Camará 
6  Jaús  de  Fora,  oppos-te  com  uma  firmeza  e  coragem  que  causou 
a  admiraçfto  dos  seus  companheiros  de  yí  rearma,  con  o  el!es  mes- 
mos declararam  em  documento  que,  aésigrado  por  trid(  s,  f(i 
publicado  e  no  qual  afirmaram  o  seu  recfnheein.ento  ao  seu 
jOTen  Presidente. 

Desse  mesmo  documento  coubta  que  foi  elle  quem  proprz, 
na  ultima  verf^ança  de  Dezembro  de  1821,  a  reprt^smaçilo  de  9 
de  Janeiro  seguinte,  o  dia  do  Fico,  e  o  iiirtnitesto  do  Povo  do 
Rio  de  Janeiro  sobre  a  residência  do  Pr  ucipe  no  Brasil ;  daiado  de 
29  de  Dezembro  de  1821,  foi  redigido  de  fccôrdo  cem  elle  no 
eircalo  de  seus  amigos  Cónego  Januário,  Ledo,  Nóbrega  e  rutros. 

Foi  José  Clemente,  que  a  í>  de  Janeirí-,  á  frente  da  Cíima- 
ra,  leu  ao  Príncipe  Regente  o  celebre  discurto,  em  que  exi»oz 
A  necessidade  de  ficar  no  Braeil  e  o  exborta  a  desobedecer  ás 
ordens  das  Cortes  e  do  Rei,  que  o  cbnínav.iin  a  Portug»).  Nt^t- 
le  memorável  discurso,  quando  ainda  Avilez  dispunha  de  t(  dos 
os  recursos  militares,  preconizou  com  verdadeira  nnd/ic  a,  cora- 
gem e  civismo  a  necessidade  de  um  Poder  Legislativo  brasi- 
leiro e  de  um  Pcder  Executivo  ci  m  poderes  amplos,  foitts  e 
liberaes. 

Por  estes  trechos  do  dir  curso  bem  se  pode  avaliar  o  seu 
grande  aleunce  politico  e,  o  que  c  mais,  a  franqueza  e  o  sen- 
timecto  patriótico  que  o  dictou. 

«A  sabida  de  Vossa  Alteza  Real  dos  estadrs  do  Brasil 
será  o  decreto  fatal  que  sanccione  a  independência  deste  Rfino ! 
Exige,  portanto,  a  salvação  da  patiia  que  Vossa  Alteza  Real 
anspenda  a  sua  ida  atè  nova  determinaç&o  do  Boberano  con- 
gresso. 

Tal  é,  Senhor,  a  importante  verdade  que  o  Senado  da  Ca- 
mará deita  cidade,  impellido  pela  vontade  do  ])ovo,  que  repre- 
senta, tem  a  hoora  de  vir  representar  á  mui  alta  consideração 
de  Vossa  Alteza  Real;  cumpre  demon>tr»l-a. 

O  Brasil,  que  em  1808  viu  nascer  n(  s  v»stos  horizontes  do 
novo  mundo  a  primoira  aurora   de  sua  liberdade . . . 

O  Brasil,  que  em  1815  obteve  a  c&rta  de  sua  emnn  ipação 
politica,  preciosa  dadiva  d'um  rei  benigno...  O  Brasil,  final- 
mente, que  em  1821,  unido  á  n  fti-patria,  filho  tào  valente  como 
fiel,  quebrou  com  ella  os  ferros  do  pioscripto  despttismo. . .  re- 
corda sempre  com  horror  os  dias  de  sua  escravidão  reeem-]>as- 
sada...  teme  perder  a  liberdade  mal  f-egurii,  que  tem  lu-inci- 
piado  a  gozar  .  .  .  e  receia  que  um  futuro  envenenado  o  precijúte 
no  estado  antigo  de  sua  desgraça  ...» 


—  66  ^ 

«  Pernambuco,  guardando  as  niaterias  prioQn?  da  indepen- 
dencín  que  ]ux>clauiou  um  díu,  mal  lorirraJa  por  Lmmatura,  mas 
HÃO  extincta,  v[uem  duvida  quo  a  levantnrá  de  novo,  ae  um 
centro  próximo  de  politica  a  díIo  jireuderV 

Minai  principim  p^^r  aUribuir-se  um  jicdor  d»:  libera  li  vo, 
quô  tem  par  fím  examiuar  oj  df^crotoa  das  CôiteJ  fobcrana^  o 
uegar  obediência  áquelles  que  julgai-  op [tos tos  aos  eeui  i ateres- 
BâB;  já  deu  acce^sos  militares;  trata  de  alterar  a  lei  dos  dízi- 
mos; teu)  entrado,  sei^undo  dizem,  no  projecto  do  cuuliar  moe- 
da ..  ,  E  que  maU  iaría  uma  proviucia  que  £0  tivesse  j^rocla- 
mada  independanto  ? 

S,  Paulo  sobejamente  manifestou  o^  sentimentos  livres  que 
yossuc  nas  politicas  instrncções  que  díctou  aos  seus  í Ilustres  de- 
putados .  ,  . 

O  Uio  Graúdo  do  S.  Potiro  do  Sul  vai  sigaificar  a  Vossa 
Altesta  H'al  que  vive  poisuido  do  s^iitimentos  idênticos,  pelo 
protesto  detiSB  honrado  cidadão  que  võdes  iucorporado  a  nós 
(^Coronel  Carneiro  da  Fontoura), 

Ali,  Sonbor,  e  será  poj^sivel  que  estas  verdades,  Eendo  tlio 
publicas,  eàtejam  fora  do  conlieciraeuto  de  Vossa    Alteia    Real? 

Stírá  possível  q'ie  Vossa  Alteza  ignoro  quo  um  partido  re- 
publicano, mais  ou  menos  íortc,  existe  semeado,  aqui  e  bIU,  tím 
muitaa  da^  províncias  do  Braiií,  por  náo  dizer  em  todas  cilas?» 

cOi  habitantes  do  Ria  Grande  de  S,  Pedro  foram  sempre  dis- 
tinctos  por  estes  sentimentos  (áJelidade  e  gloria),  sentitnentcs  quo 
ba  ÈPcnlos  fíixcm  o  timbeie  ão  seu  caracter,  e  que  nestes  tírmpos  mais 
próximos  apparecem  com  toda  a  energia  ao  campo  èti  batalha. 

Real  Senhor,  foi  jjelos  interesses  da  naí^íio  e  consíqnonte- 
mento  pela  gloria  do  soberano  e  de  Vosia  Altesía  Heal,  que  esta 
briosa  tiibu  de  luso -brasileiros  formou  de  suas  espadas  e  da 
suas  vilas  uma  barreira  terrível  para  oâ  seus  iuímigoj,  uiuilai 
vezes  t;imentada  com  o  &aur;uo  doa  filhos  da  pátria,  6  tilo  firme, 
tào  i nabal íivel,  como  aquella  que  cingia  a  praça  de  Diu.  reba- 
tendo oí  ataques  das  diversas  ua<;òea  que  pretenderam  disputar- 
n03  a  poase  doB  Esta  dos  da  índia. 

O  Brasil  já  uito  é  um  pupillo,  jd  nuo  é  ura  escravo ,  nílo  ó 
o  p«Í35  doa  A?moneuB  e  dos  Cananeua,  expoit  s  ái  lanais  do 
primeiro  invasor:  nós  fazemos  hoj^í  grande  vulto  no  meio  das 
uaçtíss  da  Euro]ía :  devemos  ser  considerados  como  um  povo  na 
mocidade  das  navõe?,  possuindo  todoí  os  recursos  que  formam 
fi  engrandecem  os  Impérios». 

Diante  do  taes  palavras  uugtdns  de  acendrado  patriotismo, 
pela  sua  franqueza,  pela  nudez  da  verdade  e  pela  clara  exposi- 
i^lko  do  eitado  doa  espirifos  naquelle  momentOj  o  Príncipe  re- 
spondeii:  c  Como  è  para  bem  de  todos  e  felicidade  geral  da 
XaçAOj  eistcju  prompto,  diga  ao  povo  que  fico». 

Foi  eito  o  primeiro  passo  para  a  independência. 


—  G7  — 

Em  23  do  Maio  do  1822  foi  ninda  Jo  é  Clemente  que  á 
frente  da  Camará  apresentou  a  repiesenta<;ão  pedindo  a  convo- 
C£^ào  de  lima  assembléa  geral  das  províncias  do  Brasil. 

Já  então  estavA  a  iudepeudencia  em  todos  os  corações  patrio- 
ta!, mas  D&o  na  Hng'uaa;em  offíeial  c  solemne  ;  entretanto  o  dis- 
curso de  José  Clemente,  a  pretexto  de  salvar  a  iiniào  do  Brasil 
com  Portugal,  era  manifostamento  conducente  á  independência, 
parecendo  até  orna  exposição  d&s  queixas   do  Brasil. 

Tcve  José  Clemente  parto  activa  na  e> coíba  dos  emissários 
que  daqui  partiram  para  S.  Paulo,  Minns,  Montevideo,  ctc,  afnn 
do  disporem  os  anim*  s  para  a  ]>roclamavrio  da  independência.  No 
dia  10  de  Junho  é  ainda  elle  que  rcuno  a  Camaia  em  sessíio 
extraordinária  para  airradccer  a  convocação  da  assombb^a  geral 
e  para  manter  a  regência  do  Principe,  sendo  ainda  delle  a  cir- 
cular às  12  do  Outubro  para  a  acclam'i<jc\o  do    luiiícrador. 

Na  devassa  que  José  Bonifácio,  por  portiria  do  11  do  No- 
vembro de  1822,  mandou  fdz-,'r  contra  «uma  facção  occulta  o  te- 
nebrosa de  famosos  demago^^os  e  anarchi-ftas»,  foram  incluidos 
José  Clemente,  (íencral  Nóbrega,  Ledo,  Cónego  Januário,  padro 
Lessa,  P.  J.  da  Costa  Barros,  Domingos  Alves  Branco  ^luniz 
Barreto,  J.  J.  de  Gouvêa  e  outros,  tolos  oa  quaes  tinham  pres- 
tado os  mais  alevantados  serviços  á  causa  da  Independência,  mas 
combatiam  o  despotismo  dos  Andradai:. 

Era  geral  a  opinião  que  os  dous  irmãos  Jo«é  Bonifai-io  e 
Martim  FranciíCP,  com  o  rotulo  de  libeiaes,  eram  absolutistas 
como  01  factos  da  época  demonstraram  c  quo  para  elles  as  ten- 
dências verdadeiramente  liberaes  do  Joté  Clemente  c  seus  com- 
panheiros eram  anarchicas  demagógicas  e  exigiam  a  mais  enér- 
gica repressão. 

Daquelles,  muitos  foram  atirados  às  enxovias  das  foitalezas 
da  ilha  das  Cobrai  e  outras.  Ledo  conseguiu  lugir  para  Montevi- 
deo antes  de  ser  preso;  José  Clemente  c  o  General  Nóbrega, de- 
pois do  algum  tempo  na  prisão  daquolla  ilha,  íoram  deportados 
e,  uSo  podendo  residir  em  Portugal,  onde  eram  crimes  os  s-ervi- 
Ç08  por  elles  prestados  ao  Brasil,    foram  ]>ara    França. 

Quando  Pedro  I  não  podo  mais  supportar  o  desmedido  or- 
gulho e  o  génio  despótico  dos  dou3  irmãos  Andrada  cos  demettiu 
do  poder,  foram  elles,  com  António  Carloí*,  jjôrse  á  testa  da 
opposiçfto  e  provocaram  o  golpe  de  Estado  de  12  do  Novembro 
de  1823  que  dissolveu  a    Constituinte. 

Foram  entAo  por  sua  vez  deportados  os  Andradas  e  mais 
alguns  outros,  podendo  assim  José  Clemente  e  seu?  amigos  vol- 
tarem ao  Brasil. 

Nas  eleições  para  a  primeira  assembléa  g^ral  convocada  para 
1826,  foi  José  Clemente  eleito  deputado  por  Minas,  São  Paulo 
e  Kio  de  Janeiro. 

Exerceu  depois  o  cargo  de  Intendente  Geral  de  Policia  c  a 
15  de  Junho  de  1828  foi  nomeado  Minittro    do  Império. 


'I 


^  68  - 

Neise  Gabinete  serviu  i  d  te  rins  meu  te  n&s  pa^tftB  da  Guerra» 
Justiça  e  Fazenda.  Sua  posição  eomo  homem  politico  foi  dm  nitti» 
im portão tea;  todo  o  bem  e  todo  o  mal  lho  toram  attribuidos  e 
a  extensão  doa  ódios  politti^o»  que  contra  oUe  ae  desenvolveram 
em  diverfias  épocâs  mostra  betn  o  bou  ^raade  vaíor  como  aiocero 
patriota  de  idéas  liberai^s  moderadas. 

Esta  ci'Ha(Íe  dÃq  pode  ter  esquecido  que  deve  ao  eminente 
político  o  abaetecimeato  de  agua  pelo  encanamento  daLagoiaha 
para  o  aquedueto  da  Cartotra  e  os  primeiros  pastsoa  para  o  das 
Paineiras. 

Foi  elle  quem  fez  renovar  o  chafíttiz  do  Cosme  Velho,  co^ 
nhecido  por  Bica  da  Kaínba,  construi u  oa  cbí^farizea  da£  Laran- 
jeiras e  o  da  rua  He  B.  ChriitovÂo;  m4borou  u  encanameato  do 
rio  Maracfinã  e  abasteceu  os  bairros  de  S.  Christov&o  e  do 
Cattete, 

Organizou  os  serviços  do  Correio  pelo  recrulamento  de  5  do 
Março  de  1829,  elevaado-se  a  renda,  que  em  1Ô28  fôra  de  44:000$, 
a  maii  de  120:000$  em   1829. 

Como  deputado  apresentou  em  Maio  de  1827  um  projecto 
do  Código  Criminal  que,  refundido  com  outro,  deu  em  1830  o 
Código  Criminal  do  Império.  Em  1834  levou  a  Camará  o  pro- 
jíictr>  do  Código  Commercial,  elaborado  por  uma  commÍ9»ão  de 
que  elle  fa^ia  parte  com  J.  A  Lisboa  e  Igoacio  Ratton-  Pelas 
actas  das  seaadea  do  Senado  de  1847  a  1848  se  verificará  que 
foi  elle  o  verdadeiro  suste ntador  do  projecto  de  onde  sabíu  o 
Codiíco  Cõtnmercinl  que   l^mos. 

Logo  apóa  á  revolução  de  7  de  Ab:il  de  1831,  os  ódios 
nativistas,  que  já  no  aono  anterior  tinham  tentado  annullarlbe 
a  elt^içân,  resolveram  inutiJiaal-o  accuaando-o  de  ter  como  Mi- 
nistro induzido  o  Governo  a  proceder  o  recrutamento  e  ter  feito 
encomenda  de  armamento  sem  a  competente  autorização,  aendo, 
porém,  na  sessAo  do  Senado  de  1832  unicamente  abãnlvido  dessas 
accusaçôes,  Nào  foi  reeleito  para  a  legislatura  de  1834  a  1S37; 
conse^uiui  porém,  voltar  á  Camará  na  legislatura  de  1838  a  1841. 

No  segundo  Hiniaterio  da  maioridade,  2ã  de  Março  de  1841, 
occupou  a  pasta  dit  Guerra  e  teve  occa^iãn  de  prestar  maioreâ 
serviços  na  pr<^mpta  repressAõ  dos  movimeotos  revolucionários 
de  Minas  e  S.  Paulo,  Preparou  a  termlnãç&o  da  guerra  etvil  do 
Rio  Grande,  consf^guiudo,  apezar  da  opposição  de  Aureliano  Coi^ 
tinho,  a  nnmeaçd.o  do  então  Barão  de  Ca^tias  para  presidente 
daquella  província  e  commandaute  das  forças  legaes.  A  3  de 
Dezembro  de  1842  foi  escolhido  Senador  pelo  Pará,  tendo  antes 
en irado  era  líatas  triplices,  uma  vez  por  Alagoas  e  duas  pelo 
Bio  de  Ja^^eiro.  A  20  de  Jaueií^o  de  184^  deixou  o  Ministério. 
Sem.  comtudo,  abandouar  de  todo  a  politica^  didicou  a  sua  acti- 
vidade no  exer cicio  do  cargo  de  Presidente  do  Tribunal  do  Com* 
mercioe  de  Provedor  da  Santa  Casa  de  Mifiericordia 

Foi  esta,  em  ligeiros  traços,  a  vida  politica  do  grande  pa« 


triote ;  Tunoi  açora  Tel-o  como  administrador  energrico  e  altiro, 
<«  grand«  benemérito  em  obras  de  caridade. 

Depoii  de  ter  servido  um  anno  como  mordomo  dos  pre-sos, 
ibi  José  Clemente  eleito  provedor  da  Sauta  Casa  de  Miseri- 
4*ordia  em  8  de  Jnnho  de  1838. 

NSo  era  lisonjeira  a  si*^iiaçào  do  pio  e*t  belecimento  nesta 
oecasiào  pela  defic  encia  do  património,  i^endo  grandes  as  des- 
pesas. Taes,  I  orem,  foram  os  dedicados  esforços  do  novo  pro- 
Tedor,  qne  gradativament  •  foi  o  hospital  da  Santa  Casa  de  Mi- 
«ericordia  recebendo  utilíssimos  m«*lh(riimentos  e.  o  que  ê  mais, 
Aagmentado  o  património.  E*  a&sim  que  crct-u  uma  enf^rinaría 
para  trat -mento  dot  tuberculr  sos,  ])reparou  o  construiu  o  cemi- 
tério de  S.  Francisco  Xavier,  na  Ponta  do  Chjú,  installou  ma- 
chinas  pa>a  lavagem  de  rou}>a  do  hoiípital  na  chácara  da  Praia 
Vermelha,  denominada  ent&n  Chácara  d  3  Visrario  Geral,  itbastt- 
•cen  o  hospital  com  a<niA  do  Aqueduto  da  Carioca,  r(>tV>rmou  e 
«nelhorou  o  A^ylo  dos  Expostos  e  o  Recolhimento  dos  Orphi\os 
«  assim,  no  curto  espaço  de  um  anno  de  s'm  benéfica  e  salutar 
provedoria,  a|»esar  de  |>equeno  au«rniento  do  receita,  houve  o 
•deficit  de  9:657$937.  Nà»  desanimou  o  xeloro  administrador  em 
levar  por  deante  a  resolução  que  toin.úr.i  de  dotar  ehta  Capital 
-de  um  hospit^il  modelo  que  pudesse  receber  com  todo  o  contorto 
■e  eommtdidade  os  enfermos  e  ahi  rratiil-os  tie*;^undo  as  regras 
-da  hv$?iene  daquella  época. 

Na  sesità.i  de  30  de  Julho  de  1838,  demon>4trou  que  o  hos- 
'pital,  começado  ha  maia  de  dois  séculos  e  c  nistruido  aos  poucos 
•e  á  medida  do  auginento  da  populaçào,  n«o  oile.recia  as  condi- 
•çÕes  de  um  estabelecimento  desi>a  natureza  nem  obedecia  aoa 
imprescindíveis  preceitos  da  hygiene  hospitalar  o  eniAo  propòt 
-que  f>e  convidasse  a  Academia  Imperial  de  Medicina  para  apre- 
sentar as  bases  de  um  novo  hospital.  E  assim  a  Academia  e  o 
-engenheiro  architecto  Domin<>:o8  Monteiro  planejaram  o  majes- 
-toso  edifício  hoje  existente,  cuja  pedra  fundamental  foi  lançada 
■A  2  de  Julho  de  1840  e  inaugurado  dois  annus  depois  uo  dia 
de  Santa  Isabel. 

Disse  o  benemérito  provedor  em  peu  relatório  de  25  de 
Julho  daquelle  anno : 

«Prometti  que  o  anno  de  1839  a  1840  nào  havia  de  ser 
«menos  glorioso  para  a  Santa  ("asa,  que  o  di^  1888  a  1839; 
-eampri  minha  p<omes8a,  os  factos  o  íttestam:  o  por  diftícil  tivera 
410  corrente  anno  ultimar  o  de  empenho  do  pro^ramina,  que, 
deide  o  principio  da  minha  adininistraçíio,  mo  propuz :  —  au- 
;nientar  a  receita,  reduzir  a  despesa,  remover  o  cemitério,  intro- 
dnsir  ag^  nos  estabelecimentos  da  Santa  Casa,  lançar  a  pri- 
«meira  pedra  de  um  novo  hospital,  melhorar  a  easa  dos  Ex pontoa 
-e  o  Recolhimento  das  Orphàs  e  deixar  os  negócios  em  est'ido 
•dos  meus  successores  poderem  ultimar  a  obra  de  uma  reforma 
^eral  nos  três  estabelecimentos,  por  mim  encetada. 


^ 


—  70  — 


Louvemos  a  Divina  Providencia  pir  ího  aa-ií^naUdoa  bene- 
ficios ;  ag^rftdeçamoa  íio  Poder  Lpgislativo  a  niunificeticía  do  suas 
graças;  ao  goverao  de  Sua  Majeatado  o  Imporndor  o  auxilio  d© 
seua  doimtiv^os;  a  tão  poderosa  protecçilo,  síiihorea,  é  devida 
exclu^ivamcittí)  a  prosperidade  a  que  tem  iubido  a  Siinta  Casa 
de  Misericórdia»» 

popularmente  cofiUecido  e  admirado  pelo  eeu  eapirito  cari- 
doso, Josc  Ulemcnto  procurava  coín  rara  habiliditdo  obter  dona- 
tivos para  o  augraent)  do  patrímrhnio  da  Santa  Casa,  o  para 
conse^uil-o  rouuia  a  uoja  pacioacia  eváiifíelica,  o  estuda  espe- 
cial de  faKor-se  estimar  e  tcjrtvar-se  int  mo,  couERlheiro  e  pres- 
tativo par^i  aquellca  a  quem  a  sorte  favorecera  e  poder  aa&iai 
obter  genei^osas  doRÇòes  para  o  piedoso  éPtabelecimeuto  que  é 
hoje  om  padr&o  do  gloria  para  a  caridade  brasileim  e  o  maior 
rofujiio  dos  dosherdadia  da  fortuna  g^olpeadoa  pelan  enfermidades. 

Contam,  o  ainda  hoje  affirmam  alguas  de  seu^  parentes  por 
aBSnidade  originalisaimnfl  tceioa  que  empre^rí^a  José  Clemente 
para  con  eguir  obí:er  o  augmento  do  património  das  institui çôei 
pias  pgr  elle  dirigfidaa. 

Morava  no  Campo  da  Âcclamaçào»  esqoina  da  ma  do  Bílo 
Pedro,  no  local  onde  so  at-lm  actualmente  o  edíHcio  da  Prefei- 
tura, uma  eenhnra  viuva,  já  edoss,  do  nome  Luiza  A  vou  dano 
Póreira,  possuidora  de  bôa  fortun«.  Essa  senboj a  vivia  em  com- 
panhia de  varioa  escrav^os  e  pasmava  o  tempo  sentada  em  uma 
esteira  no  eõío,  divortindo-so  com  as  traquinadas  de  suas  cnos. 

Joaé  Clemente,  quaei  FCmpre  depois  do  despacho  imperial 
na  Quinta  da  Boa  Vista,  visitava  íatdado  a  velba  A  vou  dano, 
setjtaudo-Be  junto  delia  na  mepma  esteira  e  pre[*araudo  dous 
cigarros  oíIerecendo'lhe  um,  e  aiubos,  entre  o  snborear  do  fumo, 
dissertavam  sobre  actos  dt^  raridade  e  de  beneficenciaj  vindo 
eempre  á  tona  os  dispensados  aoá  infelizes  pela  Santa  Casa  do 
Mieericosdift, 

Horta  Avon  dano,  íe*ou  á  Santa  Casa  avultada  aomma  em 
predioi  c  dinheiro,  que  tem  rendido  até  hoje  cerca  de  doua 
mil  coitt>B.  Nomeado  tf  Btamente:ro  dessa  senhora,  recebeu  José 
Clemente  a  respectiva  vintpua  qrie  montou  em  íiS.OO  $000.  Ca- 
sado nessa  época  em  segundas  núpcias  com  d-  Eugracia  Jiaria 
da  Costa  Ribeiro,  de^iois  de  sua  morte  Condessa  da  Piedade, 
José  Clemente,  recebi^tido  aquella  somma,  entregon  15:r 00:^000 
a  sua  esposa  declarando  t^ue  era  para  os  aeus  alfinetes.  Inter- 
rogado por  elfa  acerca  do  destino  dos  ontros  15:000^00,  rea- 
Íi^ndeu  que  os  destinara  A  crea<,*uo  de  um  asylo.  Sua  esposa, 
leanto  do  tao  generoso  desprendimenlo,  cedeu  tambera  de  bom 
grado  a  quantia,  que  lhe  fora  offcrtada,  cm  fitvor  do  novo  cora- 
mettimeuto  de  José  Clemente* 

Existia  na  rua  do  Ouvidor  n.  90  um  modesto  botequim  d« 
propriedade  de  Estevam  José  de  Carvalho,  homem  abastado  o  de 
sent  mentos  religiosos. 


^  71  — 

José  Glí^ínente,  Êâbmdõ  um  dia  do  S^níiio,  aj  enu-se  á  porta 
âo  hotequim  e^  diríg^indo-se  a  Ettei^&ni,  díssB-lbo  Eaber  qDa&lli 
se  t  moTa  eicellente  café.  Dí-pois  de  servido  pelo  proprío  dono 
do  estabeleci meotúf  qoe  já  se  sentia  liEonjeâdo  com  o  itlu^^tre 
â«gis#*s,  Jfsé  Clemente  felicitou- o  pela  boa  tjaftlidiide  da  bebida 
e  qnasi  diíiriamente  Tinba  servir-se  de  caíé  no  bíiicqnim  e  as- 
sim conseguia  captar  a  auiiBade  do  botcquiiiciro  dci  tíil  forma 
que,  por  lan  morte,  cão  tendo  berdeiros  If  ^ou  qi^aaí  ioda  n  aiia 
fottuR»  aos  Hospitaes  da  Santa  Casa  e  dos  Lázaros.  O  pioprio 
testJizQf^cto  lhe  forít  entregue  muito  tempo  antes  |.tlo  íeg-alario, 
|»*ra  que  elle  o  guardíísao  nos  cofres  da  Sanía  Cata. 

A  fiua  tondafíe  caridosa  iníluia  podtrf  sí^meute  no  animo  de 
fedes  qne  o  cercavam,  de  tal  forma  que  couBt^^ia  sempre  obter 
pciaerosaã  donativt^ã  para  re''ili^fc(;ão  tfcâ  suus  inini'oa  pbilantro- 
picoi.  Fú  do  Visconde  de  GnaTaiiba»  seu  crmpanb^iro  de  ad- 
ininiílraçàr,  coiiÉeí^uiu  elle  cerca  de  80:0001000  paia  o  llospi- 
tal«  Asy!o  de  Orpbams  e  Casa  dos  Expotto«. 

Tinba  José  Clemente,  ou  Jo«é  Pequeno,  como  vnl^anuente 
en  coabectdo,  o  babito  do  ^>çrcorrer  qua»i  toda  a  lua  do  Ho- 
■arío,  onde  naquella  épcea  eram  estalelecidos  grandes  aintnzens 
de  roaotimenlõ»  e  cujos  proprietário?  eram  bomen^  de    fottuna. 

Com  elles  entretinba  amigios^g  pali^stra^.  fornsando  as.<-im  um 
l^rande  Duc!eo  de  admiradores  e  amigoí  qii«-  facilmente  o  atten- 
áiiijn  nos  Eeuâ  [ledidos,  detde  o$  dotiativos  de  «géneros  para  as 
instituições  que  admíoistrava  alé  valiosos  emj^reeiimos  jecnuia- 
tÍgs  para  solver  comprouiÍK&oi  tomado»  cm  piói  desces  ingtirutoB. 

Muitiãsímas  -vezi-*  fòía  visto  no  lIo?pit;^l  da  Santa  Casa  fa- 
zend<^  iarsperadas  visita»,  trarendo  sajiaus  de  borncba,  para 
nào  chaniar  a  altençjlo  doa  empregadof^  e  i>oder  n^úm  observar 
le  e]k*s  cDiupriam  cim  os  EeuB  deveres  e  a^^ístindo  em  ]ie?soa 
o  [ionto  df>s  o}«rarios  do  boBpital  em  eonstruc^ão. 

No  relatório  que  apreientcu  como  P  c-ved^  r  reeleito  em 
1841,  tratando  da  cbacara  do  Vigário  Geral  o  dos  melboiameu- 
íí»  íntroduiidos  na  lavanderia  do  Hospital  atli  tstabelecica«  já 
José  Oeuititte  se  preoccupava  com  a  idéa  da  cresçào  do  Hos-» 
IKCW  de  Alienados,  noi  termos  se^intes  : 

«Uns  V}êo%  estes  benefícios  maleriaes,  jHir  muito  valiosoi 
que  aejam^  são  poucos  comparadci  com  nntros  de  mais  fubído 
valer  que  a  metma  cbacara  está  j^restatido.  Visitai -a,  «enbrrrs, 
e  encontro rei^  consolação  cm  ver  allt  em  plena  liberdade,  res- 
|iímndo  ar  de  vida,  a  muitos  infelizes  alienados,  que  mezes  an- 
tes jaziam  encerrados  dgs  acanhados  af  escutes  que  a  n*  e-a  |iie* 
dade  podia  efi*»rfcer  á  sua  d ef graça!  Ide,  e  lerá  maior  o  nouo 
[irazer,  quando  enc^intrardes  no»  regiitros  da  Casa  o  ncme  de 
ãl|:«ni  que  alli  recobraram  o  ««u  juizo  jicrdido  e  vivem  hoje 
rectiiuid^s  acs  braçrs  de  lons  famílias! 

E  ew,  seiíhores,  a  esfe  prazer  que  já  ^abcreío,  n-uno  o  de 
ver  realizados  os  meus  presrntimentos  rtr velados  no  rela  u  rio    de 


—  72  — 

1840,  naf  segiiin^eâ  palavras:  «e  nào  sm  que  espirito  de  pre^ 
TÍdencia  me  inspira!  A  cbacara  do  Vig-ario  Geral  lia  d©  um 
dia  couverter-se  em  Hospício  de  Alienados*. 

Uma  vez,  na  villa  do  Pirabj,  em  miesAo  politica,  pensando 
na  fundai^o  desse  hospício,  solicitou  esmolas  para  o  novo  insti^ 
tu  to  de  caridade,  c  o  na  e  guindo  obter   2;0OOfOCO. 

Comf^çadftâ  as  obra^  do  ho&picío,  José  Clemãntef  que  tnorâ* 
va  na  raa  do  Cattete,  na  cbacara  n.  107,  de  sua  proprÍedad©j 
boje  tra  II  a  formada  em  grande  parte  pela  rua  Buarque  do  Ma- 
cedo e  par  novos  prédios,  sabia  da  casa  todoA  os  dias,  pela  ma- 
T)ban,  a  eayallo,  acomi>anbado  de  um  pa^em,  afim  de  visitar  aa 
obras  do  bospicio,  o  Hospital  da  Ba n ta  Casa  e  roais  dppende»ciafl. 

Uma  occaaião  o  Imperador  D.  Ppdro  II  viáitou  o  edifício  do 
hospício  em  constru^çàn  e  (fb-servou  s  Jo!*é  Cleméute  que  o  pór- 
tico da  entrada  era  estreito  e  af-anbado,  José  Clempnte  caloa-sCp 
e,  á  cusita  dos  s^-u*  próprio*  biveree.  mandou  demolir  o  pór- 
tico e  con  truiu  outtn,  gaEitando  de  seu  boUo  quatitia  superiora 
100:000^000. 

Achou  outra  vez  o  Imperador  grandioso  de  maie  o  ediilcíú 
para  o  recolhimento,  que  havia,  de  alienados.  O  benemérito 
fundador  do  hospirjo  repH^rou  que  elle  era  ainda  pequeno  para 
conter  os  douíos  que  ainda  existiam  fora  delle 

Foi  acerbamente^  cRosurado  por  ler  induzido  o  Governo 
a  concedí*r  titul  s  e  condecoravôesj  com  n  fim  de  obter  o 
dinheiro  n^tcessario  para  as  ohr  s  do  bof^picío,  maa  elle  dizia 
qu"!  era  obr^  meritoãi  fazer  utn  b^^spicif»  para  os  loucoâ  pobres 
com  o  dinheiro  dn;;  ricos  tolos  e  qu'^  oê  barões  e  co m me nd adorei 
morreriam,  mas  o  bfií[»tCÍO    havia  de  ficar. 

Servia  Jo^é  Cleinen^e  na  provt^doria  da  Panta  Casa  c  rca 
ÚB  16  ftnnOB,  prostrado  nesse  cargo  os  mais  alevantados  eervlçtí» 
pelo  seu  iLi^enio  iniciador,  pAn  sua  actividade  e  íotelligencía,  e,  o 
que  e  maíii,   pela  Kua  furça  de    vontade  e  resoluta  p«?rát^veiança, 

Posauia  Jasé  Clemente  duis  fazendas  denominadat  das  Cruzes 
e  Santa  Eugenia,  em  Vassouras  onde  tinha  perto  de  400  es-* 
crdvo*.  Nào  admitrindo  fllle  o  concubinato  doa  servos,  eram 
casados  a  mnior  pirte  dt^lles.  A  cadn  mãe  de  sete  crias,  conce- 
dia elle  a  carti,  d-^  filforria. 

Trajava  José  '  lem<^nte  sempre  de  preto,  usando  presilhas 
nas  ca'çaà  e  chapéu  alto.  Em  ca^a  seu  vestumio  era  sempre 
de  brim  branco.  Parco  nas  suas  refeif,'ões  e  em  excesso  temjie- 
rante,  tinha  genio  alegre  Alliado  a  especial  affabilidade  dé  trato. 
Em  sua  residência,  quando  de^occiípado,  coi^tumava  passear  com 
as  mãos  nas  costis  e  todas  &^  noites  dava  a  dua»  netas  de  sua 
esposa  a-  Regras  de  Cimliàade  que  eram  lidas  ora  por  uma  ora 
por  outra  em  voz  alta  e  com  a  sua  assistência. 

Depois  que  t' das  as  pessoas  de  casa  &e  recolbiAm  aos  sem 
apcsentos,  José  Clemente  dedicava<-se  ao  estudo  da  pa^K^ia  e  ao 
trabalho  até  aita  noite. 


—  73  — 

Nanca  tivi^ra  filhos,  havendo  ca«ado  duas  vezes,  sendo  a 
primeira  com  a  sra.  d.  Thereza  Mariana  de  Oliv^-ira  Coutinho 
e  a  lefpioda,  como  referimos,  com  a  ara.  d.  Eri^racia  alaria  da 
CoBtft  Ribeiro. 

Na  tarde  do  dia  10  de  Março  do  1854  acompanhara  José 
Clemente  a  procis9&o  qne  sabia  da  e^reja  dos  Carmelita-^,  con- 
dnsía  a  imagem  do  Senhor  dos  Passos  para  a  e^roja  da  Mi>i*ri- 
cordia  e  correr  os  ^ete  passos  inf-tHl!adcs  em  oratórios  no  perí- 
metro d4  cidade,  com  a  sua  opa  de  irmAo  Ha  Santa  (?;isa  e  a 
sua  vara  de  Provedor.  Dí^pois  da  proci.3sào  visitou  com  >ua  fa- 
mília uma  das  pessoas  de  t-uas  rel.KÒ^-s  e  diritriu-se  para  a  «^ua 
residência  á  rua  do  Cattete 

Seriam  11  horas  da  nf-ite  quando  d«»  df^ntro  de  sí'U  i|uarto, 
de  |>é  junto  do  leito,  ]»ediu  um  copo  com  airua.  declarando  sen- 
tir falta  de  ar. 

Pressurosa,  soa  esposa  correu  a  acudil-o,  m.i>  ao  rcírrcs^ar  o 
encontrou  morto,  «*ahido  í-ohre  o  leito-,  uma  apo]iIexia  fxtiniruira 
A  vida  do  grande  prócere  da  no»>a  independência,  do  beneiiicrito 
e  caridoso  fundador  do  Ilospicio  de  Alienados. 

Jifsé  Clemente,  qne  tanto  h  'urou  a  li uman idade  <*  tanto 
trabalhou  pela  pátria,  jamais  quiz  aceitar  tirulcs  nohili^lrohico8 
que  lhe  foram  offerecid^jo,  por-^ue,  dizia  elie  «tenlio  o  iionn'  liu^ado 
á  hirtoria  do  Imp-rio  e  tífWa  não  quero  apitral-o». 

Logo  depois  da  sua  morte  u  Imperador  Pedro  II  fez  pu- 
blicar as  seguintes   reso}u<;òe8 : 

«Ministério  do  Impei io — Decreto — íj-uerendo  dar  um  jiublico 
testemunho  do  meu  ]iarticular  apre<:o  e  imperial  rfcunlictrirnonto 
aos  mui  relevantes  serviços  pre>ta'os  ao  K-tado  pelo  fallecido 
Senador  Jo^é  Clemente  Pereira,  h^i  por  bem  nomear  Condensa 
da  Piedade  á  Sra.  D.  En^racia  Maria  da  Cesta  Ribeiro,  viuva 
do  me»mo    Senador. 

— Querendo  Dar  um  teste  r  uilio  Pes^o:*!  do  aprero  rm  que 
Tenho  os  serviços  prestados  á  hum^mi^lade  jc-lo  fallejido  Provador 
Santa  Casa  de  Misericirdia.  José  Cinim-nte  Pereira:  Hei  yr  bem 
qne  pela  Mordomia  da  minha  Imperial  Casa  s>í  m^tndc  fijzer  a 
sn*  estatua,  que  será  colocada  defronte  da  Minlia.  na  ^^ala  do 
Hospâcio  do  Meu  Nome.  Jo^é  Maria  Velho  da  Silva,  do  Meu  Con- 
aelho,  e  Mi-dormo  interino  da  Minha  Imperial  ^  asa.  o  v  uha  en ren- 
dido e  cumpra.  Palácio  do  Rio  de  Janeiro,  em  treze  d-*  M«n;o  de 
mil  i  itocentos  e  cincoenta  e  quatro.  triir»-5Ímo  t»rc-iro  da  Ind'*pen- 
dencia  do  Império  e  í^'om  a  rubrica  de  >u  i  Maj<»>tade  o  Imp»  r-id<.r», 

A  imprensa  da  époja  rapidamente  tratou  do  fíille.;irnenlo  do 
preclaro  cidadão  e  só  no  dia  12  deu  e^ta  noticia  o  Jornal  do 
Commereio 

«  Faleceu  ás  11  hoas  da  noite  de  sexta- feira  pn-ximo  pas- 
sado o  sr.  Conselheiro  de  Estado  Jo?é  Clemente  Pereira.  Sena- 
dor do  Império  |iela  provincia  do  J^ará  e  Provedrr  da  Santa 
Cata  de  Mijerieordia. 


—  74  — 

Na  dia  13  publicou  o  sfn-uintc:  «O  Sr.  Conselheiro  de  Es- 
tado José  Clemente  IVreira  foi  8e]iiiltado  liou  tem  no  cemitério 
de  S.  Francisco  XíiTier,  cora  todas  as  honras  devidas  ao  aeu  elô- 
Yftdo  cargo. 

O  préstito  foi  o  maior  de  que  La  lembrança  nesta  Corte. 
Era  nm  ]>re&tho  de  gratidno.* 

No  diíi  15  ainda  o  Jornal  publiec-n  mais  esta  noticia  en- 
IrelinliAdn  e  sem  litnlo  : 

mS,  M,  o  Imperador  querendo  dm- publico  teetemnubo  do  seu 
partcular  ajireço  o  imperial  reconhecimfnto  aoa  mnilos  ícryiçoa 
prestados  pelo  falecido  Senador  José  Ckmente  Pereirn,  houvo 
por  brm  conferir,  por  c^ecieto  da  data  do  hrnfeni,  á  Fra.  D. 
Eogrâcia  ílíivia  da  Ccsfa  Hibeiro  Peieíra,  viuva  do  n:eEmo  Se- 
nador, o  titulo  ãç  Condes; a  riu  Piedade. 

Ás  espie  snes  cora  q\w  S.  Jí.  o  imperador  se  di^rnou  re- 
conhecer os  letviços  que  ^j  ilhistre  finado  prestou  ao  Estado , 
acharam  í^cho  no  eojn(;rio  de  tidos  os  Brasileiros, 

Por  decreto  do  me* ma  data  ordenou  S.  JL  o  Impi^raiíor  que 
pela  Mordomia  do  sui  cnsa  mandíi&sB  fazer  a  eàtatna  do  Sr^  Jo- 
sé Clemcnle  Pereira  para  ter  col locada  na  tala  do  Hospício  de 
Pedro  n,  defronte  do  mesmo  Aus^usto  Senhcr, 

Si  ffi  servirna  jirestãdos  á  humanidade  peio  Provedor  da 
Santa  Císa  da  MisericorJia,  de  qne  é  aqnelle  hospício  um  doa 
mais  hrilhantes  padrões,  deram  ao  Sr.  Jo?ó  Clemente  Pereira  a 
mais  elevada  posiçrio  no  conceito  e  nas  afieii^ões  doa  Brasileircii, 
nho  pndiam  scrmenís  npreciadcs  peto  m(>narcha  qne  ness^as  mes- 
mas virtudes  achou  o  melhor  predicamento  da  majestade. 

(Quantas  ve^et  o  pensamento  de  alta  munificência  do  impr- 
radnr  teve  por  interprete,  por  inatrnmenio  da  sna  acçào,  esfO 
homem  cuja  memoria  vae  act  niji^nhada  daa  bênçãos  de  ttdo^  os 
infelisíes  1 

Assim  no  grande  monumfnto  consagrado  no  iiliivio  da  maior 
das  enfermidades  dos  homens,  a  pr^terídade  verá  a  eãiatua  do 
sr,  D.  Pedro  11  col  1  ceada  por  e&forços  e  deligeneíaB  do  Prove- 
dor Josi*  Ciemeíito  Pereira  e  defr  nito  delia  a  de  José  elemen- 
to Pereirft,  mandada  col  locar  pelo  Imperador  D.  Pedro  II.  E  a 
posteridade  bem  dirá  o  dia  em  que  a  beneficência  do  throno  as- 
sim galardoava  a  beneficência  do  súbdito.» 

Pei  a  ilida  José  Clemente  am  dos  fundndoixs  do  Ingtiiulo 
Hiatoricn  e  Geo^^^rapLico  Brntileiroi  eocío  da  Sociedade  Auxiliíi- 
dora  da  Industria  Nacional  e  ícu  presidente  for  niaiã  de  três 
annoB.  Era  dignitário  da  Ordem  do  Cruzcjro  e  grau  do  digui- 
tarío  da  Hi^sa  e  foi  ncmcfido  conselheiro  de  E^tndo  em  14  de 
Setembro  de  1850. 

A  estatua  de  José  Clemente  e  de  memore  o  aehn-se  no 
Hospício  de  Pedro  II,  lecdo  o  ti&hnlho  aTtÍ£tico  do  esculptor 
Fettrich. 


—  75  — 

Ejicerramaa  este  modesto  preito  de  sdniíra<;ao  o  de  resjieito 
  memoria  ão  úluttrQ  ]iatriota  e  philanlropo  eidadAn,  ]jublii;an- 
do  abftixo,  noi  docnmenta  de  ftaa  lavara  cujo  oiigiual  g;uArdnmoB 
coiDQ  preciosa  reljf|ui^. 


O  MiNiSTEr.To  ncs  Sus.  Akdrabas,— Por  decrelo  de  IG  do 
Janeiro  de  1822  foi  nomeado  Ministro  dos  Neíí^ocioa  du  Reino  e 
&lra oleiros  o  Sr.  Jom  Bonifácio  do  Andrada  e  Silvn  e  pov 
decreto  d«  3  de  JiiUio  do  meamo  mino  íoi  nomeado  MinUtro  da 
Faxenda  o  Sr.  Martim  Francisco  Ki  beiro  do  And  rada,  seu  innííc» 
Net^buDs  outros  euiravam  tta  administração  debnixo  do  melLo- 
re»  ãUFpicioB  de  opinífto  publica,  qiic  um  e  outro  ^^oKivani  em 
grio  BU|ierÍor  de  saber  e  pritrioti^tno,  principalmeuiti  o  primeiro. 
£ra  seg^uramente  eato  o  único  homem  npoiítado  cntíio  como  pos- 
suidor das  qualidades  uecesaariafi  para  dirigir  a  revõlufcâi  f"^' 
qnc  ao  prestijiío  de  «na  popularidade^  necessária  a  tridoí  os  Mi- 
nistras em  todos  o»  tempos,  e  com  muita  especialidade  cm  crí- 
fea  revolucionarias,  reunia  va^to  laber,  imaginiçHo  vivn,  activi- 
dade aem  iiíttnl  e  intrepidez  remarcjJveL 

Todas  estila  qualidadoâ  desenvolveu  durante  o  tempo  da  sua 
ftdmjn  is  trairão,  com  geral  conceito  e  apjdauEo  ;  assim  rlle  tives- 
se pfs-uido  ao  mesmo  (empo  a  de  ser  impenetrável  m  su;reBtôes 
de  g-eutís  iutrigantef,  que  apodernndo-Be,  por  desgríiçí»,  do  in- 
terior da  sua  cnsHi  Ibo  íiturdiram  os  ouvidos  com  es  ímprecn<,'oe8 
de  que  se  maquinava  contra  sua  pefsra  e  Governo,  o  que  nun- 
ca eiistio.  Daqui  nasceram  es  imssos  errados  que  eclipsariun  a 
floria  bem  merenda  deste  velho  venerando,  di^no  do  meíhor 
sorte  í  Patriarcba  respeitável  da  nossa  reííenera<.'rio  política,  cujos 
serviço»  relevantes  o  Brasil  nunca  Baberá  desconhecer  e  a  que 
a  postei  idade  fe  mostrará  nmis  agradecida  do  quo  os  seus  coa- 
teiaporaaecs  o  tèm  feito. 

Entrou  o  Sr,  José  Bonifácio  ra  crise  mais  assual adora  por 
que  esta  cidade  tem  passado.  J^r^íe  de  Avellar  íicabava  de  in- 
subordinar-se  A  testa  da  Divisão  Auxiliadora  do  Portu^íalj  na 
ooite  de  Jl  de  Janeiro^  oscandal  zada  da  uobro  resolmjíio  que 
S.  M.  o  Imperador,  entí\i  Frincipe  Rpf^enle,  havia  tomado  uo 
dia  9  do  mesmo  me^  de  iicnr  uo  Brasil. 

As  enérgicas  medidas  do  mesmo  Ecuhor,  secundadas  pela 
aUitude  guerreira  que  aa  tropas  brasileiras  e  o  Povo  fui  massa 
deetn  Capital  dcBon volveram,  no  dia  1"2  o  seguintes,  obTJgaram 
aqtiello  General  a  embarcar  com  oa  seuí  soldados  pítra  a  Praia 
Grande,  iías  isto  uao  bastava:  era  necessário  ohrígal-ca  a 
Aahir  para  fora  do  Prasíl.  Isto  se  conseguiu  com  eiTeito;enâo 
»e  pode  nep^ar  que  osta  ncçiko  heróica  foi  devida  á  energia  e 
intrepidez  do  Principe  Regente,  como  é  de  todos  bem  Bnbido; 
mas  esta  só  niio  fora  bastante  se  o  Sr.  José  Boniraeo  ufto  esti- 
vesflo  á  testa  dos  negócios,  c  os  nào  dirigisse  com    acerto,    Eem 


r 


—  T6  — 

flue  por  ias  o  qneirântús  ne^xar  ^-loria  d  is  ti  neta  ao  Ministro  da 
Guerra  o  Sr,  Joaquira  de  Oliveira  Alvares,  que  nesta  ocfasi&o 
ibe  coube,  pela  actividade  e  baa  disposiçào  de  suas  medidaa« 
Aqui  temos  um  acto  grande  deste  Ministério,  que  é  neeessario 
l<in<;ar  na  conta  das  snaa  obraa  boas. 

Seja  o  segundo  a  ereaçào  do  Conselbo  de  Pro curadores 
Geraes  das  Províncias  do  Brasil  por  decreto  de  16  de  Fevereiro 
de  1B22;  medida  politica  e  acertada,  que  lançando  os  prlmeiroi 
fundamentos  da  no&ea  representaçAo  nacional  foi  preciosa  pedra 
tman  que  principiou  a  atrahir  toda^i  as  proviíicias  a  um  centro 
sem  o  qual  a  divisão  houvera  sido  inevitável,  a  Ii^dependencia 
teria  sido  senão  im pratica vt^l,  pelo  menos  mais  difâcil  de  obter 
e  enlutada  de  muito  sangue,  e  o  Império  aparecia  Urde  oa 
uuncíi,  como  era  maia  natural,  Graça-a  portanto  ao  Governo  qU6 
nos  preparou  tào  g^rande  bem,  o  poupou  a  tantos  males. 

Para  que  tudo  fosse  rápido  na  cau^a  da  Independência,  o 
decretí>  de  3  do  Julbo  deliberado  no  Conselbo  dos  Procuradores 
Geraes,  e  referendado  pelo  Sr.  Andrada,  preparou  o  primeiro 
passo  para  elle»  on  s^ja  antes  o  secundo,  porque  o  primeiro  foi 
oa  nossa  opinião  o  majestoso  acto  de  9  de  Janeiro.  Convocada 
por  este  decreto  uma  Assem bláa  Geral  Conaiituiate,  segura 
íicou  dosde  logo  ao  Brasil  a  certes^i  de  qi^e  ia  ser  independente, 
e  possuir  uma  Constitui<;ào ;  assim  se  verificou  com  effeito  e  a 
quem  í^e  devrem  estps  dous  bens?  Sem  neijarmos  o  primeiro  movei 
de  pbenomeuoa  tào  espantosos  peFa  rafddez  com  quu  se  obraram 
á  força  da  Of^iniáo  dp  todo  o  povo  brasileiro  que  se  pronunciou 
a  uma  aó  voz,  com  força  soberana  e  irresistível,  cumpre  quo 
tributemos  ao  Governo  o  d  «vi  do  reconhecimento  pela  sabedoria, 
pratriotismo  e  exaltado  liberalismo,  com  que  soube  obedecer  a 
easa  mesma  opiuifto,  aproveitar-ae  delia  e  dirigil-a  para  pro*^ 
peridade  do  Brasil.  Menos  vit^ilancia  no  Governo,  se  eíle  tivesse 
tido  menos  patriotismo j  ou  illibera!  os  espirites  que  se  exAka- 
vam  com  amor  pela  Independência  e  Constituiçáo,  houveram 
tomado  outra  vereda.  Graças  pois  ao  Governo  que  p«flo  acerto 
com  que  dirigia  o  leme  da  náo  do  Estada  nos  levou  a  porto  da 
salvaçjio . 

Oâ  aentiroentos  de  Independência  enchiam  os  corações  dô 
todos  Qs  Brasileiros,  os  a^rtos  precedente?  imminentemente  na— 
cionae»  a  iniciavam  preparavam  e  annunciavam;  mas  ninguém 
ousava  levantar  o  gj-rito! 

Esta  gloria  estava  reservada  ao  patriota  fundador  do  Im- 
pério, e  devia  caber  á  provincta  de  &«  Paulo  a  invejada  dita  do 
ser  a  prc^vincia  que  da  Sua  Hea]  boca  ouvisse  o  delicioso  grito 
— Independência  ou  Morte—  que  fosse  a  primeira  que  o  repo* 
tisee,  e  que  também  fosse  a  prinieira  que  levantasse  a  voz  do 
acclamaçao  de  vivas  ao  Imperador  do  Brasil,  premio  bem  mere^ 
eido  de  quem  teve  o  patriotismo  de  ser  o  primeiro  qao  procla- 
mou Independência  ou  Marte. 


—  77  — 

Ot  nomes  de  Pedro  I,  Sete  de  Setembro,  Campos  do  Tpi- 
tanga  e  »  par  delleB  o  de  Paulistas,  serào  eternamente  iiisepa- 
laveii  nos  aanaes  da  Independência! 

Nós  nos  eialtamoB  sempre  que  nos  detemos  em  os  considerar; 
•  olhamos  com  respeito  para  a  província  de  S.  Paulo,  porque 
nella  divisamos  o  entrincheiramento  da  constitucionalidade,  sendo 
altamente  glorioso  para  ella  que  tenha  produzido  varões  cxcel- 
lantes  no  apreço  e  defesa  da  liberdade  re<*>rada,  sem  a  nódoa  de 
demagogi*mo,  no  valor  com  que  em  todas  as  épocas  tem  enno- 
lirecido  a  pátria,  quando  tem  &ido  necessário  voar  em  seu  si  ccorro 
com  as  armas  na  m&o,  e  por  sua  Lunca  manchada  lealdade  aos 
■ens  Soberanos 

Perdòe-se-nos  a  diji^ress^o  com  que,  involuntariamente  e  sem 
o  sentii,  sahimns  fora  do  nosso  objecto:  m'>s  ha  certos  incidentes, 
inseparáveis  dos  actos  principaes,  que  merecem  ser  tocaios,  e 
nenhum  mal  ha  em  se  tocarem :  nós  tornamos  a  entrar  em  matéria. 

N&o  podia  escapar  ao  génio  creador  do  |>rirceiro  Ministro 
do  Brasil,  que,  declarada  a  Independência,  principal  ponto  a  que 
caminhavam  snss  vistas,  era  necessária  a  acclamnç&o  do  Principe 
Regente:  este  passo  cortava  todas  as  vistas  de  espera nçH  que 
Portugal  ainda  pudesse  ter  sobre  o  Brasil,  e  destruía  ao  mesmo 
tempo  quaesquer  idéas  desvairadas  que  al<>:uma  província  por- 
ventura pudesse  ter,  e  é  fora  de  duvida  que  com  offeito  tinha: 
era  por  con8<>quencia  necess^irio.  Entrou,  pois,  ufsta  empresa,  e 
fiíeil  lhe  foi  levai -a  a  bom  resultado,  porque  os  animon  estavam 
dispostos.  Zelosos  patriotas  uniram-se  ao  Ministro,  dispuzeram- 
se  as  cousas,  e  verincou-se  a  acclamaçfto  no  sempre  memorável 
dia  12  de  Outoro  de  1822,  em  sein  provin:;ias  a  uma  >ò  voss,  e 
i  mesma  hora,  e  todas  as  outras  fízeram  outro  tanto,  immedia- 
tamente  que  puderam 

Na  nossa  opini&o  esse  passo  preservou  o  Brasil  de  grandes 
males,  firmou  a  soa  independência  e  apressou  o  reconhecimento 
desta.     E  porque  a  gloria   de    uma  grande    acção  é  sempre    do 

reral  que  a  dirige,  embora  seja  verdade  que  na  acclamaçào 
Imperador  tiveram  distincta  ])arte  muitos  homens  patriotas  e 
o  povo  todo  que  unanimemente  a  queria;  ninguém  ousará  negar 
ao  Ministro  que  a  presidio  o  lugar  distincto  que  nella  teve,  e 
que  fes  nm  serviço  relevante  á  sua  Pátria. 

A  ordem  natural  do  seguimento  da  causa  da  Independência 
obrigou-nos  a  alterar  a  recordação  de  diversos  actos  im])ortantes 
ane  simultaneamente  illustraram  a  marcha  patriótica, sábia  e  activa 
do  Governo.  Todos  sabem  a  actividade  que  se  tomou  contra 
Portugal  e  ocioso  será  recordar  a  guerra  que  do  Rio  de  Janeiro 
se  fez  ao  Madeira  e  ás  suas  tropas  na  Bahia.  O  maniiesto  do 
Príncipe  Regente  aos  {>ovos  deste  Imi>erío,  datado  de  1  de  Agosto 
de  1822,  e  outro  aos  Governos  e  á^  nações  amigas,  com  data 
de  6  do  mesmo  mez,  sào  peças  que  muito  honram  aos  t<ous  au- 
etores.     O  decreto  de  amnistia    pelas   passadas  opiniões,    de  18 


—  78  - 

do  Setembrí»,  ordenando  no  racsmo  teirpo  o  distinctivo— ^Inde- 
pendência  ou  JtoriGí— aJoptndo  pelrj  Frincipo  K€'gent«  noa  campos 
do  Ypirnn-^n,  r^  mandando  saliír  oe»  dissidente?,  ocSo  foi  nílo  bó 
do  patriotiâmo,  mas  de  génio  m^iit^  politico,  b 8 rafazejc»  e  liberal. 
Outros  do  meàmo  ineK  quo  d esi fanaram  o  topp  nacionaí  brasi- 
leiro, deram  ao  Br-sil  ura  escudo  do  nruiss  e  unidaram  a  cór 
das  fardiis  do*  criados  da  Casa  lm|>crial,  sào  piovns  nada  equi- 
vocofi  do  génio  tilo  nacionnil  como  creador  do  Ministro  que  os 
refíjrendoti .  E  pnra  quo  ir  mai^  linge?  O  ijue  fica  dito  bíistíi 
para  formar  o  conceito  do  quo  o  Governo  em  1823  fez  Berviçoa 
notaveiá  ao  Bríisil,  que  osto  nunca  deío  eâquecer* 

Os  míiiâ  membros  do  Ministério  t  abalharam  de  nccôrdo, 
mas  nS-o  tiveram  por  sua  posiçào  lugar  oppoituno  de  sobresa- 
birera^  Mna  nAo  é  bom  que  deixemos  de  fazer  boiírr^a  me- 
moria do  sr.  N^iíbrep^íi,  que  eo  ffK  djstincti  pelo  &ctt  amor  dos 
príucipios  coiiBtiluciouaes,  nem  do  sr,  Caet  uio  Pinto  Montenegro, 
depois  MarcjuPK  de  Villa  Keal  da  Praia  Grande,  eiu  quem  re- 
aplaudeceu  Eotatiro  amor  de  Justiça  e  bem  fazer. 

O  sr.  MRvtím  Francisco  illu^t-^oii  o  seu  Jlinisterio,  pelos 
principio»  sem  exemplo  q^ira  de^seuvolveu  da  mais  stricta  eco- 
nomia na  despesa  doí  dinlieircs  públicos,  e  esmiuçada  fiscali- 
Kaçfto  da  receita;  qualidades  tHo  estflsqaeuem  os  aeiis  inimigos 
lhes  lí^m  gabido  negar,  c  ellaa  fuKem  na  noí-ea  opinião  o  maia 
soberbo  elog^io  que  o  maia  perfeito  administrador  da  Fazenda 
pode  deEefar. 

Âtú  aqui  a  ponua  noB  coneu  bem,  porque  njlo  tcvo  senào 
actos  ^randoí  que  deacroveri  de  prosperidade  para  o  Brasil  o 
íjloria  para  o  Governo ;  o  uosao  uatural  propendo  para  dar  credito 
o  nome,  e  iiílo  o  tirar  a  uig'uem'.  oxalá  quo  aempre  o  pudeaae- 
mo8  frtzer! 

Mas  o  credito  njesmOj  e  bom  n>me  do  Governo,  que  dese- 
jamos  estabelecer,  exig:era  de  iíóí  o  aacrificio  de  ufto  poupar  na 
seus  defeitos:  ftomea  forçados  portanto  a  virar  o  quadro  dy 
outro  lado,  e  vamos  di/,^r  os  mfllea,  que  o  Ministério  dos  srs. 
Aiidrudas  fez  no  Brasil^  e  o  qu©  é  rnesmo  em  seu  abono,  pris  que 
tomados  com  os  bons,  se  ba  de  lirar  em  resultado,  que  estes 
foram  excessivamente  maiorep,  e  que  por  con&equfincia  este  Mí- 
nÍÊteiia  íVi  cxcelJente  ua  parte  bôa  e  uào  tílo  raáo  na  parte  má, 
como  querem  os  seiía  inimigoi,  e  que  oa  serviços  por  elle  ÍLitos 
ao  Brasil,  embora  eclipsados  por  algans  erros,  nunca  devem  por 
este  ser  esquecidos,  A  íajçratidfloé  defeH^  g-ave,  o  feio,  muito 
commum  nos  Povos,  que  silo  faceia  em  olvidár-ao  dos  serviços 
que  8©  lhes  fazem;  maa  que  o  Brasil,  por  ser  generoso,  e  leal 
por  eiccllenciaT  poisme  om  tneuor  gráo^  graças  ao  caracter  nobre 
dos  Bcui  filboi  1 

A  bistorta  das  revoluções  nfio  apresenta  uma  só  quo  nSo 
tenha  aido  enlutada  com  o  vexame  das  perieguições :  eslas  çao 
mesmo  da  natureza  da^  cousa?,  e  de    tooos  os  Gi> verãos  qne  as 


-  79  — 

levolaçôes  tirêani;  o  Brasil  é  síim  dtivíd*!  o  que  padeçeii  menca. 
Sempre  qm^  fo  rompem  os  vinculoa  BOCiaes  egitaiii-fie  oa  tspiíitaa 
dtí  todo  o  [tova^  a»  auctoridadfís  |j(*rdnni  sua  fijrça,  o  aa  reèlatencifls 
aa  sii%s  orden*  sio  inevitáveis.  Lembrados  dos  nbiisos  do  Governo 
queacAbi,  é  jii tirai  ncs  súbditos  o  roícii),  r  a  doícouíiaiiçíi  d«  quo 
ti  novo  Governo  09  queira  rt-stabelecdr,  todí>s  03  actoá  dcâtG  llie$ 
pareecítn  ftiroulados,  e  com:»  tendentua  a  este  íim:  qualquei*  me- 
dida lí  olbíidii  como  potto  ]íropria  da  nova  ordem  das  tou&aa, 
Iodas  vêai  esta;  ao  aeu  moio,  e  eiteaiem  que  o  Goví^rno  as 
Yè  tnal,  tidos  desejam  que  a$  reformas  èo  ojierem  cm  uru  luo- 
meníOt  e  que  a  prosparidade  ap[tareça  ãa  repente,  t ído5  ]iâra 
dizer  tud<j  d©  uma  èò  vez  quprem  a  rrfarma  na  eafiAi  dos  outroSi 
m49  nenhum  a  quer  na  siia,  D;iqui  ii:isce  a  falta  de  couíiáuça 
no  Governo,  reciprocamente  a  falta  de  confinn^a  dc^tc  noa  go- 
vernador. 

EJe  marcha  poi tanto  sobre  um  terreno  pouco  srg^iuo,  qual- 
quer pequena  opprisiçào  o  asausta,  e  como  não  está  certo  do  seu 
p  der,  vè-iô  obrigado  a  ap  iar-se  no  partido  que  Ibe  parece 
maia  favorável;  o  perfipgue  os  qae  se  llio  parecem  oppôi\  c  nis- 
to é  íacii  o  CD^^anar-SBj  porque  aquelles  qun  lisonjeixm  o  Po- 
der fiâi  oídlnaríamcnte  t&  mais  Ínrapa?.e3  do  o  sustentar,  e  os 
que  lhe  fazem  opposjçAo,  si  esta  nEio  exc  de  oa  limites  do  juato, 
*ào  o  seu  apoio  maia  seguro,  Bcmiire  qua  ctle  queira  ter  juàto, 

E'  a  esra  ordem  natural  das  cciisaa,  e  a  seus  effi-itrfi  ne- 
cessários, que  noa  sempre  attribnímos  as  perápgui^õfa  que  da- 
unte  o  Ministério  dos  ars*  Ândradas^  maia  do  que  em  nenhum 
eutro,  afflígiram  o  Braail. 

A  ncimcaçAo  de  um  commandaníe  ias  armas  da  [»rov!ncfa 
do  S,  Paulo,  que  não  merecia  a  ccn fiança  dctta  jirevitscia,  me- 
receu nlli  oppOíiçAo  o  deu  legar  a  alf^uitias  desordi  ns.  O  Mi- 
nbíerio  quiz  tustentar  a  sua  nomeação,  e  para  renovar  memoria 
de  f  cenas  desagrada  veia,  eata  opposiçáo,  a^^fíravada  por  outro 
a:io  de  inEubntdína<^llo,  que  antes  havia  nbri^ario  a  sahír  do 
governo  proviforio  o  sr.  Siartim  Francisío,  deu  lo^Çíir  a  tlevassas, 
prisões,  ©  ejcterminioÊ  dtí  muitas  pessoas  acreditadas  na  pri.yitjcia. 
Neceifario  é  rcconbccír  que  estas  re,  elidas  reBistencias  ao  g^o- 
verno  estabeleceriam  um  mau  precedente,  eÍ  ficassem  íin punidas, 
B  que  o  rrceio  de  que  tomassem  corpo,  e  so  repetissem  cm  ou- 
tras provinc^as  devia  assentar  o  ^linisterio  t  ma*  também  é  uma 
verdaie,  que  este  devia  attender,  qne  nos  achávamos  no  ]'rin- 
cipio  de  uma  revf<lui*fto,  que  nilo  esta  vários  ainda  constitnidoa, 
a  quâ  eltc  deu  causa  a  rcpuUa  que  se  lhe  (gz  do  cinutuandauto 
dii  armav,  nomeando  mn  homem  que  a  província  não  queria 
lec^her :  e?to  acto  que  em  tempos  ordinarics  ú  um  erro,  nao 
podia  deixar  do  o  aer  aínda  maior  em  uma  crise  revolucionaria. 

O  ca?o  é  que  toda  a  proviocia  de  S.  Paulo  se  pox  da  par» 
tê  dos  perrCguidcE,  e  logo  que  a  noricia  das  perseguições  che- 
gíiu  ao  líio  de  Janeiro,  a  opinião    publica  se  unio  ao  sentímeu- 


—  so- 
ta dos  paulUtaBf  e  aquelles    acharam  noB    Flominenii^s  valentes 

advogados  díi  sua  cansa.  Ctimpria  aos  era.  And  radas  retroceder 
e  serem  os  iirimeiroa  que  ao  Hei  ta»- em  a  susta<^Ílo  dos  procedi^ 
mentor  de  perseguíçÃo  encetados  na  sua  província,  rnSB  por 
mofino,  tilLo  sõ  o  não  íizeram,  mati  até  consta  que  levaram  mui* 
to  a  mal  o  2elo  do  alguas  procurad*  rea  dn  provinda,  que  boU- 
citaram  e  obtiveram  do  Príncipe  Reí^ente  o  primeiro  decreto  de 
23  de  Setembro  de  1822,  que  mandou  ficar  em  eterno  esqueci- 
mento íi  devasm  tirada  sobre  os  acontecimentos  do  dia  23  de  Maio, 
Sodendo  reverter  livremente  para  suas  casas  todos  aqueUes  que 
ellna  por  esae  motivo  se  liavíam  ausentado,  e  pondo-fo  era  li- 
berdade 03  que  estivessem  presos,  que  foi  substituído  por  nutro 
da  me^ma  data,  com  supprpssào  da  claui^ula  de  se  poderem  re-* 
verter  ^ara  suas  t!aaas  os  qu^  del!as  se  tivessem  ausentado. 

Alg^uem  touve  entfto,  e  lia  ainda  hoje,  que  quiz  atrribuir 
taeij  procedimento^  a  motivos  de  vinganças  particulardã ;  mas  quem 
fôr  impnrtsial  ba  de  reronbecer  que  as  rfluòes  de  Estado  aconse- 
lhavam que  se  nào  tnlerasâcm  as  resistências  que  appreceram  na 
província  de  Sâo  Paulo;  e  querem<is  por  consequência  attribuir 
a  erro,  e  nào  a  crime  do  Ministro  qualquer  excesso  que  oesta 
occastão  commetteese;  todavia,  estes  f.ict;o3  ainda  hoje  nào  es- 
quece ram  aos  Paulistas,  que  muito  desempenhara  a  ri^ca  o  rifào^ 
qui^  chama  Paulbta  a  quatquRr  hornem  firme  na  opinião,  ou  pro* 
jecto,  que  uma  vez  firmou, 

E  tanto  mfli-  pfttamo^  disto  convencidos  porque  souberao-i  a 
ease  tempo  de  bõa  parte  que  o  Sr,  José  Bonifácio  se  deixou  il- 
ludir  com  falsas  ínfurmaçòes  que  t(^v(i  de  qu^t  na  provincia  de 
S.  Paulo  existia  um  partido  quo  trabalhava  [}or  unil-a  a  Furtu^ifal, 
Tozes  que  elle  nunca  devera  acreditar,  por  conhecer  quanto 
isto  é  repugnante  ao  caracter  nacional  dos  Paulistas;  mas  i^to 
confirma  que  houve  erro  e  nfto  maldade. 

O  Kío  de  Janeiro  teve  também  suas  victímas,  effeitos  ne- 
cessários da  época  e  da  facilidade  que  o  Sr,  José  Bonifácio  tinha 
de  dar  ouvidcig  a  intrigas,  álg^nns  nescidos  em  Portugal  foram 
mandados  sahir  jiara  fora  do  Império,  sem  porocesao;  muitos  sem 
duvida  o  me rf  ciam,  senão  porque  maquinaram  para  obras  contra 
a  causa  do  BrAsil,  ao  menos  deram  lo^^ar  a  suel^^eitap,  mais  ou 
menoà  bem  fundadas  por  suas  palavras  indiscretas  . 

O  que,  porém,  ee  u&o  pode  perdoar  ai.  Ministério  dcs  sfp, 
Andradfts  é  a  cabala  de  30  de  Outubro  que  perseguío  homens 
decedid*  s  pela  causa  da  Independência  e  da  liberdade,  qtie  muito 
tinham  ajudado  o  Ministério  no  desenvimento  dos  meios  que  se 
empreitaram  para  tào  patrióticos  fins;  e  maia  que  tudo  magoou 
o  Brasil  uma  pnrtaria  que  se  expedio,  mandando  devassar  nas 
províncias  de  Emissarioa  que  se  diziam  ter  hido  daqui  enviadrs 
para  proclamar  uma  Hepubliea,  nào  tendo  ellea  recebido  outros 
que  não  fossem  os  que  eraproheuderam  penosas  viagens  ás  mesmas 
províncias  nas    patriótica    missào    de    promover  a  Indepencia,  6 


—  81  — 

a  aec^amaçfto  do  Impeiador,  antorizndas  por  portarias.  p»&8flporte8 
do  Ministério,  e  com  inteiro  conhecimento  delle.  Este  pncoH- 
mento  desU ai,  despótico  e  de  má  fó  nAo  podia  deixar  de  encon- 
trar grande  resistência  nos  ânimos  dos  habitantes  destH  Capital 
e  das  provineias ;de  facto  a  encontroa,  e  quando  a  prudência  di- 
ctava  que  o  Ministro  retrogradasse  no  seu  pa^so  errado,  obstinado 
cm  sustentar  a  sua  obra,  encheu  as  prisões  de  centos  de  victimas 
innoceutes.  Os  gritos  de  tantas  victimas  innoceutes  checaram 
los  ouvidos  do  Throno,  e  a  demissão  dos  Srs.  Andrudas  toruou-se 
inevitável. 

Os  homens  iorparciaes  conheceram  lop^o  o  ciúme  de  que 
alguns  cidadãos  notáveis  por  seus  serviços  á  causa  da  Indepen- 
dencÍA  e  da  Corstituiçflo  pudessem  lançar  os  srs.  Andiadrs  do 
Mini&tf  rio,  foram  a  causa  que  motivou  et» ta  per8e{;ui'ià<) ;  o 
processo  que  depois  se  formou  e  ])ub]icou,  jiistiticou  este  juizn ; 
ptrqu'^  a  maior  parte  das  testemunhas  denim  como  razíto  de 
seus  ditos,  que  os  perseguidos  falavam  ma\  do  Ministério  dos 
m.  Andradas,  e  aspiravam  os  seus  lu^an  s.  A  qun  nodoain  por 
gloria,  e  qu9  a  nâo  ser  elle,  o  houvera  conservado  ]»  r  muito 
tempo  no  Ministério,  onde  houvera  continuado  seus  berví(;<  s  e 
le  teria  opposto  a  tratados  e  empréstimo. 

Mas  esta  é  a  ordem  das  cousas  humanas,  e  a  experiência 
ensina  que  em  revoluções  os  que  se  mettem  aredemptorts  t^em- 
pre  morrem  crucificados. 

Temos  lançado  em  conta  do  Deve  e  ILiver  do  Ministério  dos 
ira.  Andradas  os  bens  e  os  males.  Aquelles  silo,  darem  ao  Hrasil 
a  BUA  Independência  e  a  convocação  dn  ^ua  assembléa  constituinte 
e  m  occlamaç&o  do  Imperador  :  os  mnles.  a  iierseirnição  de  al<j:u~ 
DM  pessoas.     O  saldo  é  a  favor  do  Ministério  t.    do  <r<>'eino. 

Um  dos  males  de  graves  consequências,  na  nos!>a  opiniAo, 
que  este  Ministério  fez  ao  Bntsil  tbi  o  s>«tema  que  estabclecfu 
de  ajustar  tratados  de  commercio  com  todas  ar  nações  da  Ku- 
lopa  reduzindo  todos  os  direit»s    de  importação  a  15  "/o* 

cEbte  prineipio  fci  funesto  para  an  noswas  finan(;as  e  ainda 
mais  prova- o  opinião  de  muitos  ])ublicÍEtas  e  economistas». 

Esta  parte  no  orij^inal  foi  riscada  e  Kilstituida  j^ela  sefrniiite: 

Este  sjctema  funda-^e  na  o])inião  de  eccnomistns,  fui  da-so 
no  principio  altamente  proclamado  de  que  quanto  nieiiores 
forem  os  direitos  que  os  géneros  pagarem  na  sua  entr;^da  tanto 
maio  ha  de  ser  a  concurrencia  e  os  rei-dimentos  das  alfandegas 
devem  por  consequência  crescei  prodigii  sãmente.  Não  negann  s 
eite  prineipio.  a  experienciA  o  tem  sanccionado  nn  ]>nitica  e  o 
rendimento  de  nossas    alfandegas  tem  com  effeito  crescido. 

Mas  qual  tem  sido  o  resultado?  A  introducçfto  qua>i  rápida 
e  espantosa  de  um  luxo  assollador  que  dessa  é^oca  em  deante 
tem  apparecido  entre  nós  e  que  nos  vai  levando  á  sepuituui  e 
o  desapparecimeuto  de  nof-sos  metaes  preciosos,  outra  causa  effi- 
ciente  orna  desgraças  publicas  que  sentimos. 


r 


^  82  ^ 

*Âbertfls  AB  poitAS» 

E^tAB  palíivnis  foram  riscadas  continuando  o  perlo  Io  na 
segui  f«  te  fornia  ; 

«Facilitada  ao  eatrangreiro  n  introducçào  de  todoa  o»  jçeneros 
de  sua  industria,  com  fi  reducçâo  dos  direitos  a  15  7„i  ^lóa  vi- 
mos loírí>  esta  capital  inundada  de  objectos  de  meto  e  flacandíi- 
loso  luxo;  n  sua  barateza  facilitou-lbta  o  consumo,  a  í^icilidade 
desta  animou  novas  importações,  e  em  bre^eâ  dias  viuiQ^  rb 
nossas  ruas  revoadas  de  quinquilharias  ©  modistas  estrftiif^eirah, 
Q  os  nossos  boinetis  e  senhoras  vestidos  e  penteados  a  e^tran^ 
geira,  como  se  vivesaera  na  França  ou  na  Inglaterra,  qoando  ró 
be  deviam  lembrar  de  que  viviam  no  Brasil.  Fácil  era  de  prtí- 
ver  os  resultados  necessários  dn  tudo  isto:  os  bons  patriotas  os 
viram  lo^o ;  e  elles  foram  com  effeito  o  desapparfci mento  de 
TiosEa  mof^dji»  quaado  do  Brasil  se  foí  esconder  n^s  burras  de 
Londres  e  de  Paris:  e  assim  devia  d©  ser  necesÊariameníe  por 
que  recebendo  noa  do  estrangeiro  annualmonte  50  por  exemplo, 
nas  offertas  que  nóí  importávamos,  e  nào  produzindo  para  Ibe* 
dar  em  pa^a  sínAo  HO,  que  elles  de  nÓ6  exportavam,  o  ^aldo  doa 
20  Hevia  aahíf  em  metaes  preciosos  c  porque  n  mesma  operação 
se  tem  re|ietido  por  tantos  ânuos  successivos,  railag^t;  ó  qne 
ainda  exista  ai  «ruma  moeda  de  (i§400  ou  i$000. 

Se  taeí  tratados  se  nfto  tivessem  feito,  tnbias  leis  íeriam 
])odi'ío  remediar  em  alguma  parte  este  mal,  prohibindo  a  en- 
trada de  certos  géneros  do  luxo,  ou  im]íindo-lheí  o  pagamento 
d©  direito  nas  alfandegas  que  fizesse  mais  diflScultOia  a  sua 
int]'oducQão . 

Embora  géneros  de  necessidade  ou  reconhecida  utilidade 
paga*í?om  e6  15  V,  oi*  ainda  menos,  mas  fazer  extensivos  estes 
direitos  a  fitinhíis,  renda?,  acua  de  Colónia,  caijtinbas  estofadas, 
flore»,  penteados,  cbicotinboa  e  eabellos  de  defunto»  fraucexea, 
licores.  bonfCragPEi  e  tra^ies  de  madeira  que  nâo  duram^  tendo 
nós  melhor  madeira  e  mais  durflçfto,  é  erro  qne  fe  uào  pode 
perdttar  e  de  que  até  oè  mesmos  estrangeiros  se  riem,  porque 
nesí-a  nâo  cahiriam  elleti. 

Para  que  serAo  bôaa  estas  cousas  entro  nd^?  Acaso  nossas 
senhoras  nao  vestiam  com  decência  ao  tempo  em  que  nfto  tí- 
nhamos modistas  francesas,  suas  cabeças  não  eram  maí^  formo- 
las  emquanto  seus  cabelloít  naturaea  uíio  foram  substituídos  pelo» 
artificiaes,  que  ao  Brasil  lhes  vieram  doa    comiterioi    fraoce^es? 

Seus  pés  ficavam  porventura  maiít  delicados  depois  que  ob 
sapatinhos  de  Farifr,  que  nã.o  chegam  a  durar  um  dia,  substi- 
tuíram os  que  dantes  calçavam? 

Não  se  entenda  que  queiiamos  que  alguma  naçáo  fosse 
excf^iituada  no  pagamento  de  direitos;  o  que  queríamos  era  que 
Cf'in  nenhuma  se  tivessem  feito  tratados  de  cominercio  e  que  os 
direitos  de  importaç&o  fossem  por  noE»!'as  leis  elevados,  oo  dimi- 
xtuidos  a  nosso  orbitrío,  segnndo  a  naturessa  dos  generosj  a    ne- 


.  —  a^  — 

eenidade  que  delles  tivcssenios,  ou  a  utilidade  que  dellos  nos 
adviesse. 

Foi  sempre  esta  a  nossa  opiniAo ;  e  agora  insistirumos  nes- 
tas a  Ter  se  podemos  obter,  que,  findo  o  prazo  dos  tratados  es- 
tes se  n&o  renovem. 

£  como  tomamos  por  tarefa  aproveitar  todas  as  occasiOes 
que  se  noa  offerecem  de  fazer  ver  quo  o  Augusto  Fundador  do 
império  vio  sempre  as  cousas  em  melhor  sentido  que  alguns  de 
ienB  ministros,  aqui  será  logar  do  publicar  que  no  tempo  do 
Ministério  dos  Srs.  Andradas,  elle  ^ra  de  opinião  de  que  se  não 
fizessem  taes  tratados,  de  certo  porque  essa  era  a  opiui&o  dos 
mesmci  senhoriíB,  e  grrande  parte  das  pessoas  que  se  achavam 
no  Paço  no  dia  12  de  Outubro  de  182*2,  f^.ram  teatemunhas  das 
expressões  sij?nifícativas  destes  sentiuKmtos  ouvidos  ao  ^Uniste- 
rio.  Os  fautores  dos  tratados  ao  lerem  nossa  censura  terfto  que 
nos  oppôr  o  principio  do  augmento  do  diridtos  nas  Alfandegas, 
eom  que  calculavam,  verificado  pela  ]>ratica  subsequente  e  o 
principio  de  reciprocidade  que  os  tratados  estabelecem  entre 
nosso  commercio  e  o  dessas  na(;ões.  Servia  esta  cartada  para 
justificar  sua  boa  fé,  que  no  intimo  do  coração  reconhecemos, 
ttbemos  que  pensaram  fazer  um  grande  serviço  ao  Império,  mas 
nós  contiuuaiemos  a  dixf^r  que  na  nossa  0[>inÍH0  talvez  ella  seja 
errada;  commetteram  um  erro  e  fizeram  um  mal. 

O  augmento  de  direitos  n«s  Alfandegas  fora  um  bom,  se 
elle  n&o  fosse  a  ]>rincipal  origem  da  introducçào  de  um  luxo 
que  nos  devora,  c  da  sabida  dos  metaes  precioso?,  cnja  falta 
nos  vai  precipitando  em  um  abysmo:  quando  dizemos  principal 
n&o  queremos  dizer  a  única;  um  outro  logar  falaremos  de  ou- 
tras ;  e  a  decantada  reciprocidade  não  existe  senão  no  papel  dos 
tratados,  porque  nòs  nenhum  commercio  fazemos  com  o  estran- 
geiro em  nossos  navios,  e  portanto  é  uma  guerra  e  um  verda- 
deiro fantasma  o  logro  escripto  para  uoi  illudir  com  o  estran- 
geiro que  quiz  pallear  suas  vantagens  como  nossos  negociadores 
le  querer&o  deixar  illudir;  mas  o  povo  não  se  illuda,  porque  jú 
lá  vai  o  tempo  de  enganar  a  homens.  E  para  mostrar  que  po- 
díamos passar  sem  tratados,  perguntaremos  em  que  anno  fize- 
mos o  dos  Estados  Unidos,  e  se  não  fomos  bem  com  esta  Na- 
çio  até  erse  tempo?  sendo  ella  aliás  áiy  um  repetido  commercio 
entre  nós?  Ultimamente  os  tratados  só  serviram  para  fixar  os 
direitos  n%  importação ;  quanto  ao  nmís  ífó  ficaram  para  declarar 
principios  de  direitos  das  Gentes,  que  nenhuma  Nação  desco- 
nhece ;  e  quando  sahiram  disto,  deram  o  direito  de  cidadão  bra- 
sileiro aos  estrangeiros,  recebendo  em  reciprocidade  livres  di- 
reitos para  os  Brasileiros.  Illusoria  reciprDcidade,  qu3  nunca 
existirá  para  nós,  e  que  muito  noi)  damna;  por  (|ue  as  leis  po- 
liciaes  da  França  e  Inglaterra — e  nús  qae  as  não  temos,  ou  não 
exeeatamos  as  que  temos,  somos  obrigados  a  fazer  boa  c  eife- 
etiva  exeeuç&o  desses  artigos,  n&o   sem    gravo    tro]>eço    da    boa 


r 


—  84  — 

administração  da  jniitiça,  como  a  pratica  tem  jâ  mostrado  «obre 
o  artig-o  que  eitabeloce. 

Sfl  noa  disaesFBm  que  os  tratados  eram  neco9âflrio&  para  o 
Teconliecimetito  da  nosan  Independeocia  ne (paremos  essa  neces- 
miríade.  Os  Eii^ados  UDÍdoa  para  que  nos  reconheceasem  só  ti— 
xeram  e^te  trwtndo  cm  1828  e  em  xieabum  caio  devíamos  com- 
p«ml-o.  ElIeB  necePBÍtavam  mais  dw  nó»  que  uóa  delles.  Era 
iBto  necessí^rio  para  dar  sabida  a  Tif>f«?os  gFueros.  Bflm  — dimi- 
nnír  os  direitca  de  «abída  e  augTnentar  ofi  de  entrada,  a  cntisa 
será  a  mesma,  cora  a  diftert^nça  de  ser  maift  favorável  aoa  nos- 
BOs  lavradores.  Ao  e8traii^'^eíro  é  indifferente  pagar  25  pífios 
géneros  que  importa,  levando  os  que  exporta  em  compensação 
Uvrep ;  nu  pagar  15  p^r  aqiíelles^  pagando  10  por  Bsteii,  Tudo 
recahirà  er>bre  o  consumídir,  mas  o  lavrador  ficou  alliviado, 
porquH  pap-ará  o  impdíito  só  do  quê  veoder  Mas  do  mí>do  que 
a  cousa  está  o  rorpo  Legislativo  vê-se  nn  grande  embaraço  de 
dar  UwíL  doutrina  reg-ubr  ao?^  impostoa,  porqufl  nfto  pôde  carre- 
gar 08  d(í  impOTtaçAo,  iiom  alliviar  oa  de  ex[)ortaçÃrt,  como  todos 
OB  priíicípaea  eeonomiHtaã  políticos^  ensinam,  e  as  neressidades 
de  prntp^er  nvêAíí  agricultura  e  industHa  imperiosamente  exíg-em. 

Ficamos  aqui  por  ora;  prott^stando  desenrolar  mais  efitaa 
idésB  em  r>utr'^  artigo  em  que  interpOTemos  DOSf^a  opinião  âobre 
o  modo  de  melborar  nossa  crieõ  financeira  Cfincluiremos  que 
OR  tratados  foiam  na  nossa  opinião  um  mal;  e  avf^Tiçaiuos  estíts 
idéas  nào  coui  naimo  de  a^aiar  o  Governo  que  as  fez »  que  acre- 
ditamos ter  obrado  com  o  fim  de  thzer  um  l^em;  mas  poique 
desejamot  rbamar  a  attençíio  do  mepmo  Onverno,  porque  os  nflo 
renove,  qvifiiídfi  acabarem,  aos  df>z  ânuos  da  t^ua  durav^o .  Em- 
bora haja  tratados  de  amiznde,  em  que  oa  direitos  dos  babitan- 
tea  eatranixtMros  se  tx^emi  em  bospítalidade  e  protecção,  mas  nào 
OB  haja  de  c-  mmercio,  seja  este  o  sen  impulso  naturjil ;  e  H^bre 
direitos  imponbam  os  estrang^eiroa,  se  quizerem ;  snbi©  nfisoa  gé- 
neros, esses,  ímporeuioa  o  qtie  quízermos,  e  veremoa  quem  sabe 
melbor  na  partid».  Elle-^  pouco  produaeTu  eouf^a  muit  *  boa  do 
neceí!»>)tamo^f  e  destes  sí^rá  [irofcepidn  a  introducçôc;  raí*a  tíínibem 
q|Xi©  produ^Fm  muitos,  que  nos  fazem  male:;^,  e  e&tea  tí^r&o  difljcul— 
tota  entrada;  o  que  nós  produzirmos  tudo  tem  consumo  prompto 
no  pstrang-eiro,  o  caso  eatá  em  qu«»  lhe  demos  o  bom  mercado. 
Pois  bem,  fiiminuiremos  og  direitos  de  i^ahida,  o  bum  mercado 
«envidará  o  eí*trang*»iro  e  ncssíg  geiíeros  terão  pahida,  etc». 

Nf^ãtH  artigo  ha  no  fim  do  original  as  seguinfes  indicaçõea 
que  pa'ecem  demonstrar  qne  Jo»^é  Clement**  Pereira  tencionava 
escrever  aobre  ellas;  Empréstimo  de  Londres — Bauco^Guenra 
do  Sul, 

O  orlgíniil  nfto  assigaala  a  data  em  que  foi  oscrtpto. 

ER|«fi8T0    BeNNA. 


:^ 


José  CLiiiL-inc  Paxira 


—  85  - 

QaÍ8sam&,  18  de  Fevereiro  de  1907 

nim.  Br.  Coronel  Ernesto  Senna 

Amigo  e  Sr. 

Li  com  grande  interesse  a  noticia  que  publicou  no  Jfrmal 
de  17  do  corrente  sobre  o  bpnemorito  Joeé  Clemente  Pt^reira,  e 
nella  se  me  deparou  um  pequf*no  engano.  Diz  V.  S.  que  em  1819 
Joié  Bonifácio  já  ministro  despucbára  José  Clemente  para  o  Ingar 
de  Juiz  de  Fora  da  Praia  Grande,   mas  ha  nisso  manifesto  «n- 

C,  pois  José  Bonifácio  só  foi  nomeado  ministro  pelo  Principe 
ate  em  16  de  Janeiro  de  18*22,  quando  José  Clemente  já 
servia  como  Juiz  de  Fora  do  Hio  de  Janeiro,  com  o  predicamento 
de  desembargador,  e  era  o  presidente  do  Senado  da  Gamara. 

Tenho  presente  o  Alvará   de  3   de  Setembro  de  1819  assig- 
nido   Rey.' .  o  qaal  alvará  ficou  registrado  a  fl    182  v.  do  livro 
16 do  Registo  Geral.     Nesse  alvará    El  Rey  manda  desanuexar 
da  comarca  e  ouvedoria    da  Corte    os    districtos  das  novas  vil- 
las— Villa  Real  da  Praia  Grande,  e  de  Santa    Maria  de  Maricá, 
aonexando-se  ao  logar  de  Juiz  de    Fora  das    mesmas    VíUas    a 
cerventia  dos  officios  de  Provedor  dns   Fazendas  dos  Defuntos  e 
Ausentes,  Capellas  e  Residuos  das  mesmas  Villas,  fazendo  merco 
do8  ditos  officioH  ao  bacharel  Jo^é  Clemente  Pereira  «que  ora  Me 
vai  servir  no  lugar  de  Juiz  de  Fora  dus  ditas  vi  las».     Nas  cos- 
tas lê-se    «Por    immediata  Resolução    de   Consulta  de  Sua  Ma- 
gestade  de  12    de    Agosto  de  1819  e  Despacho  do   Tribunal  da 
Mesa  de  Consciência  e    Ordens  de  25  do    dito  mez  e  anno  Re- 
gulamento   a    fl.    146  V  do   Livro    10.    Visconde  Yillanova    da 
Bainha». 

Como  vé  a  nomeação  de  Juiz  de  Fora  da  Praia  Grande  foi 
aindu  feita  pelo  rei  D.  Jofto  6.** 

Tenho  mais  um  alvará  de  4  de  Junho  de  1821  fazendo 
mercê  ao  bacharel  José  Clemente  Pereira  da  serventia  do  oíficio 
de  Provedor  da  Fazenda  dos  Defuntos  e  Ausentes,  Capellas  e 
BeiidnoB  da  cidade  do  Rio  do  Janeiro  pelo  tempo  que  servir  o 
logar  de  Juiz  de  Fora  desta  mesma  cidade  para  o  qual  o  nomeia. 
Está  assignado  Principe.*.  e  rubricado  pelo  desembargador  do 
Paço  Pedro  Alvares  Diniz,  que  como  sabe  a  5  de  Junho  subs- 
títaio  o  Conde  dos  Arcos.  Ora,  José  Bonifácio  nada  teve  com 
ÍMO.  Depois  deste  ministro,  foi  José  Clemente  despachado  para 
Tun  logar  Ordinário  de  Desembargador  da  Relação  aa  Bahia  com 
exercicio  na  Casa  da  Supplicaç&o,  continuando  também  na  de 
Juia  de  Fora  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro,  como  versa  o  aviso 
de  4  de  Outubro  de  1822  assignado  pelo  ministro  da  justiça  Cae- 
tano Pinto  de  Miranda  Montenegro  (depois  Marquez  da  Praia 
Grande^.  José  Bonifácio  era  então  ministro  do  Reino  e  Estran- 
geiro! e  nada  teve  com  ena  nomeação.  Imbuido,  com  seu  irmão 


—  86  — 

Martim  Francisco,  de  ideas  absnlutistap,  Josó  Bonifácio  não  podia 
f>ympathizar  com  José  Clemente,  a  quem  deportou  como  feroz 
republicano,  só  porque  reclamavam  elie  e  seus  amigos  uma  con- 
stituinte, um  governo  moderado.  Verdade  é  que  mais  tarde  esses 
mesmos  o  perseguiram  como  inimigo  da  constituição,  accusando-o 
de  ter  aconselhado  a  D.  Pedro  T  que  assumisse  o  governo  abso- 
luto. Teve  varias  occasiões  de  defender-se  cabalmente  em  1830, 
quando  quizeram  annullar-lbe  a  eleição ;  no  processo  de  1832 
do  qual  foi  unanimente  absolvido  pelo  Senado,  e  durante  a  ses- 
são de  1841  na  Gamara,  etc. 

Queira  dispor  de  quem  é  com  alta  estima. — De  V.  S. — Am.* 
e  Cr."  obg.*,  Manoel  de  Queirós  Mattoso  Ribeiro, 


José  Bonifácio  (o  velho) 


I 

Xa  Villa  de  Santor,  berço  do  tantos  varões  illustro.s  do  nos- 
ia  historia,  (1)  nasceu  José  Bonifácio  de  Andkada  b  Silva,  aos 
13  de  Junho  de  1763,  de  uma  fnmilia  nobre  desta  provincia, 
ramo  dos  antigos  Penhores  de  Bobadelln,  hoje  Coiidos,  e  dos 
Senhores  d^Enrre-lIomem  e  Cavado  na  Provincia  do  Minho,  que 
tÍTeram  ontrVa  o  titulo  de  Condes  de  AmíireR,  e  Matquezesde 
Montebello:  família  illustrada  na  rcimblica  dfis  lettras— pt^Ios 
doutores  José  Honifacio  de  Andrada  e  Tobias  Kibeirt'  àv  Andra- 
da,  e  o  padre  Jotlo  Florentino  Hibciío  de  Andrada,  tioi^  do  Con- 
selheiro:  o  primeiro  dos  quaes  se  distin«riiiu  nas  se  ei  cia»  phy- 
sieas  e  medicas,  cemo  se  mostra  das  obras  maini9cr)])t»s  que 
delle  existem;  e  o  segundo,  thesoureiro-mór  da  Sé  de  IS  Paulo, 
primou  como  grande  canonÍ£>ta  e  jurisconsulto.  O  t«*rceiro,  o 
padre  João  Floriano,  dotado  de  imaginiição  a  mais  rica,  foi  um 
poeta  celebre :  delle  ainda  <  xistcm  diversos  fVa^nu-ntos  poéticos, 
entre  eJles  a  Vida  de  S.  João  Nepomucemo,  testemunho  da  su- 
blimidade de  sua  fantasia  pcetica,  da  multiplicidade  de  seus  ca- 
bedaes  de  litteratura  e  da  for<;a  de  sua  r&zão.  (2) 

O  amável  menino,  pois  desde  entfto  se  distinguiam  já  suas 
qualidades  futuras,  escreve  o  auctor  anoitymo  de  uma  de  suas 
melhores  biographias,  ncebeu  sua  primeira  instruc:.8o  na  mes- 
xoa  Villa  do  seu  nascimento,  gob  os  olh<  s  d»  Feu  j  ae.  o  coronel 
Bonifácio  José  de  Andrada,  homem  a^sás  in^t.uido   para    o    seu 


fl)  A  Loi  proyfncini  n.  1.  de  28  de  Janeiro  de  1^39,  declara  cm  Fcn  artigo  único  : 
«Fiu  elevada  á  calhegoria  do  cidade  de  imantes  a  Villa  do  mesmo  nome- •pátria  de, 
Joaé  Bonifácio  do  Andrada  e  tSilva» 

aiilliet  de  Baint-Adolphc,  «Dírcion.  Orngr.  Híit.  e  Pescr.  do  Império  do  Brazil^ 
tOHD  II.  á  pag  f>24,  escnve.  nio  »abfmoii  lundado  tm  que:  «...  u  A^sembléa  provin- 
da! rotoa  unanimemente  a  Lei  de  26  de  Janeiro  de  li-39,  Fcpuudo  a  qnnl  devia  aqnel- 
1a  villa  ehamar-se  «Cidade  de  Bonifácio»:  prevaleceu,  porém,  o  primitivo  nome  do 
«Itaaica».  qne  tamanha  e  a  fcrça  do  cosinme». 

Entre  ontroi  homens  notáveis  nasceram  en  Fantos  :  padre  Andrr^-  dr>  Almoida.  pa- 
dre Gaspar  Gonçalrea  de  Araojo.  O-ei  bimAo  AIVMTef>.  padre  BartIiò'om(>u  Lourenço  de 
Qwmfto  (O  Toador),  frei  Patrício  de  Santa  Maria,  Alexandre  de  Gufmfio.  jmdrt!  Ignncio 
fiodrigaes,  José  de  Sonsa  Ribeiro  e  Araújo,  padre  JoAo  Alvnroft  de  hanta  M^iria.  Trci 
tlaspar  da  Madre  de  Deus,  José  Feliciano  Fernandes  Pir.tieiro  (Viscnn<!«  de  tí.  Leopoldo) 
Joiè  Ricardo  da  Costa  Aguiar,  Joaquim  Octávio  Ncbi:ie,  Joatiuim  Xavit<r  da  h.Iveira; 
fem  falar  na  Trilogia  Andradina.  O  Marquez  de  8  Vjccnt<>.  Jom'  Ai.tonio  Tinenta  Bue- 
BO.  a  qnem  Teixeira  do  Mel  o  e  outros  dSo  como  naM-ido  cm  íantr^,  cia  liUtuial  dca- 
U  Capital. 

It)    Eihoçoê  Bioçraphieot,  lem  nome  de  andor. 


r 


|ia:z  e  classe,  e  de  sua  nifiB,  d.  Maria  Bnrbarft  da  SÍIfa,  matro- 
iiH  ex -mplar  p-»r  suas  virtud(5*,  zt»lo  com  qiie  fdiicou  èViun  íilhoa 
e  caririade  p^rit  cotn  os  pobn^s,  e  que  alH  mereceu  o  nome  de 
—  iiià^^  dft  p- bressa. 

Aos  14  iiuQca.  cmpleta  a  Pua  educaçAo  primaria  em  Santos, 
pantion-se  píira  S,  Paulo.  onJe  o  sibio  D.  Fiei  Maonel  da  Resur- 
reiçào,  'â."  Bi-po  DioiíenHoo^  estabelecera  á  fua  custii  aulas  pa- 
ra f^iísm^  da  k>^ica,  da  metíiphyísica  t\  í^thíca,  da  tbetori.^a  e 
da  lihi^iifL  fr^ticí^í&a.  (1)  Libado  à  familta  And  rada,  D.  Frei 
Manunl,  impressionado  pelos  pro^reasoá  rápido*  do  moçi>  paulisa, 
lraiiqu<íuu«llie  a  sua  fscolb  da  hibliotbeca  e  tratou  de  onca- 
mítibíir  a  bem  da  E^çreja  aquella  extraordinária  vocflQâo  s-ieti- 
tJ&cH  e  litterâria.  Âng  dn^t^jos  d^  santo  ])rolado  n&o  atinuíram 
nem  o  jorrem  estudante  tiem  a  sita  família.  A  influencia  de  D, 
Frtii  Manuel  ftn  benéfica  e  muito  eontribiiín  para  enriquecer  o 
cabedril  do  rcmbei^iment-s  de  José  Bonifácio,  t*uj&  gratidfio  se 
manifestou  lo^o  depois,  ao  compor  um  elogio  de  seu  venerando 
protec*tor  6  amigo.  DaiJim  desta  época  oa  pritat^íroft  voos  pu€-^ 
tÍL*03  de  Américo  Elyjiin. 

Contando  |íOUconiHÍí  de  17  annop,  deixou  S.  Paulo  e  veiu  ao  Rio 
de  Janeiro,  de  onr^e  partiu  para  Liabôa,  a  ultimar  a  fua  educa- 
çfto  litterArjã,  em  Coimbra^  «'mcuja  Uuivaraida^e  matriculouâe  neiâ 
Faculdades  de  Pbiloarqibia  Natural  e  de  Dtreitn,  alcançando  ao 
cabo  de  »ieia  annos,  o  grau  de  bacbarel  formado,  com  aummo  lou- 
vor de  àem  lentes  e  admiração  de  sua  notivel  garação  aeademiciu 


4 


NnB  fins  do  séculos  XVIIl  e  noa  primeiro*  decennios  do 
século  XIX -dícramolo  sem  vaidade  nacional— coufeasava  Latino 
Coelbo,  na  Academia  Heat  de  S^rieiícias  de  Lisboa,  a  maioria  dos 
ucBSQ^  talentos  mais  formnsoa  baviam  tido  o  seu  berço  no  BrasU. 
A  lyra  brasileira  lionrHva~ae  com  o  nome  de  Pereira  Caldas,  o 
poeta  da  ÍDA[iir[içào  religiosa  Brasileiro  era  também  António  de 
Mor^i^s  e  Silva,  que  dotara  a  litti-ratura  nacional  com  o  maia 
co[iÍ08o  dicionário  que  em  seu  tempo  se  escrevera.  Brftsileiro 
Htpft^lyt  I  Coâtã,  o  pHtriarcba  do3  jornalistas  de  Portugal  e  do 
Brfl^àíl,  Braiiil^iro,  o  que  podemos  appel lidar  na  ordem  cbonologica 
o  primeiro  economista  portu^uea  o  bispo  de  Elvas,  D.  José 
Joaquim  da  Cunba  Azereio  Coutiobo.  Brasileiro  o  eminente  ^eome> 
tra  e  prntesaorp  antigo  secretario  desta  Academia  Franciáco  Vilella 
Barbu:ía,  Marquez  de  Paranaguá,  um  dot  maii  i1  lua  três  cooperA- 
doren  na  fundaçAo  do  Império  Americano»  Brasileiro,  Manuel  J&- 
cintbo  Nogueira  da  Gama,  lente  da  academia  de  marinbN,  depoit 
Marquez  de  Baependy,  e  notavet  estadi&ta,  qne  divulgara  em 
PoFbfjgal,  vertendo-aa  em  rortug-uez,  alí^umas  obras  clássicas  de  hy- 
draulica  ©  fippHcára  a  chiiuica  moderna  a  importantes  problemai 
ÚM  vida  IndustriaL  Mas  era  sobretudo  nas  scleociab  naturaes  que 


(1)    Vide  noiíM  Bpktmírídu  l^ioctJaaot, 


u  glorias  de<ta  naç&o  te  deviam  principalmente  aos  que  tinham 
nascido  em  terra  americana.  Vicente  Coelho  de  i>eahra  faxia 
resplandecer  em  Portnsral,  com  os  s-*us  Elementos  de  Chhnicay  os 
primeiros  clarões  da  sciencia,ji  reb^He  á-»  phanta-^iosns  tradições 
da  alchimia  e  da  S|ia^rÍL*a.  Fr.  J«  s<^  Mariano  da  C'>nceiçAo 
Velloso  deixava  o  seu  nome  memoraiio  ^nt-^e  f»s  bota-.ioí»*,  pelos 
seus  valiosos  trabalhos  ori(ri"ae9,  entre  elles  a  Ffnra  Ffuminenite. 
Alesandre  Rodri«rii«*P  Ferreira  }>ercorria  o  AinazouHit  como  itifati- 
gavi-1  ••xpL^radnr  e  aliava  ás  suns  plorias  H»^  eirreirio  naturalista 
o  funesto  destino  de  uma  txi^tencia  attribuKida  Jo.^o  da  Silva 
Feijó,  com  as  suhíí  explorac^i  *<  transa tlatiticas  e  os  s(*u>  cscriptoB 
miiiervilf->gico4,  le;;ava  de  si  lionr<ida  f.ima.  Ci^nio  investitrador  da 
natureza.  Manuel  Ferr«*ira  de  Araújo  Camará,  conip.niilieiro  de 
Jflsê  Bonifácio  nas  ex7ari-ões  seien titicas  pela  Kuropa,  si  não  ei:ua- 
lara  o  nome  do  colIe<ra.  inscrevia- se  como  um  dos  notitvf'is  re- 
presentantes da  sciencia  em  Portuiral.  Mello  Franco  e  Klias  da 
Silveira,  ambos  nascidos  no  Brazil,  i Ilustravam  a  modii'inH  ]M»rtu- 
gneia  com  os  seus  livn  s  e  nipmorias.  estamf>adas  ]ior  esta  Academia. 

Gsses  homens,  conclúe  Latino  Coelho,  que  enuobrocem 
presentemente  a  hii^toria  intellectual  do  Imperi-i  Brasileiro,  então 
eram  ainda  portugueze^.  Km  Portuíral  rotípctiam  o  peu  luzi- 
mento,  a  siia  gloria.  Cultivavam  as  lettras  pátrias.  Ensinavam 
nas  escolas  honrav-m  as  academias,  resplnndeciam  no  exercito, 
nas  dignidades  ecciesiasticas,  nos  oíBcios  da  ma<:istratura. 

Entre  elleí  era  certamente  o  primeiro  ])ela  scienc  a,  pelo 
engenho,  pela  funcç&o  que  devia  desempenhar  na  historia  do 
seu  povo,  o  dr.  José  Bonifácio  de  Audrada  o  Silva. 


No  ultimo  quartel  do  18."  século  achíimol-o  cursnndo  a 
Universidade  de  Coimbra.  Laureado  em  ambas  as  Faculdades, 
a  de  Philosophia  e  a  de  Leis,  eil-o  ahí  ao  mesmo  tempo  na- 
tnimlistf  e  jurisconsulto,  comprehendendo  como  ])hiiosopho,  na 
sua  indissolúvel  trava  ào  e  unidade,  as  sciencias  do  universo 
phjsieo  e  as  ^ciências  do  mundo  social.  (4) 

Fundara- se  então  a  Academia  de  Sciencias  de  Lisboa, 
egualmente  devotada  ao  progresso  da  sciencia  e8}>eculativa  e  ás 


fruetuosas  applicações  á  vida  social.     Nesta  nascente  insti- 
tido  ingresso  todos  os    talentos    que  p<  "  " 

casmente  collaborar  na  obra  delineada    i>elo  duque  de  Lafões  e 


pelo  egrégio  naturalista  Correia  da  Serra  (5).  José  Bouifacio 
teve  logo  ingresso  na  Real  Academa;  e,  por  proposta  delia,  foi 
eleito  pelo  governo  pnrtuguez  para  viajar  a  Europa,  como  na- 
turalista e  metal lurgista.  Era  certamente  o  mais  movo  dos  sócios 
da  sábia  congreg&çâo  :  «emaunos  tão  verdes  e  juvenis,  que  o  viço  da 
mocidade  parecia  contradizer  a  grave  compostura  do  académico.» 
Já  em  Coimbra  compuzera  algumas  dissertações,  princi]ial- 
menta  sobre  indios  e  esciavos  do  BrasiL    Na  collecção  das  Af«- 


r 


—  90  — 

marias  da  Afxtdemia  acLa-se  uma  excellente  memoria  se  br©  a 
peacfi  da  bflleiíi,  sobre  os  melhores  prot-essos  paia  a  jireparasâo 
do  stiii  aceite  e  Eobra  as  vantagetia  que  o  g^ovenio  tiraria  ani^ 
inatido  e  fHvorecendo  Rn  immensaâ  ptíscanoa  que  se  poderiam 
fazer  nns  costs»  da  Bra^iL 

Pouco  depois  de  sua  cbegaila  a  Lisboa,  tomou  estadn,  li- 
^Atido-se  a  uuia  arn^vel  e  eâúuiavel  leiíbura,  d.  Nnrcísa  Enjiliin 
Oieaiy,  de  ovigfetii  jrlaudftxa,  que  foi  niuito  conhecida  uaCôite, 
pela  su:i  illustrnçAo  e  fiu;ie(}idHde  de  caraí^fer  e  doçura  de  cos- 
tumes.    Desto  lelÍK  coiiBorcio  hou^e  três  filhos, 

U 

  viagem  scientlfica  de  Jo6(í  Bonifácio  e  dos  seua  dous 
companlieirof,  o  sen  patrício  Afanuel  Ferreira  da  Camará  d  o 
AlGm-Tejano  Joaquim  Pedro  Fraírcso,  todoa  formndoa  na  Uni- 
versidada  o  aocios  da  Academia  Real  das  Seieiicias,  priucipioa 
«ra  Juíiho  de  1790.  (1) 

A  França  estava  convulsionada  pela  RevoluçaDjea  Decla- 
ração dos  Direitos  do  Homeru^  d«^hConbecendo  oâ  Direitos  de 
DeuSf  ateara  o  incêndio  em  toda  a  Europa.  Ante  n  espectáculo 
da  trauBtormaçi&o  da  velha  sociedade  europeia,  ao  descambarão 
século  XVIII  com  a  derrocada  do  throno  dos  Bourbons  e  o  dcB- 
pontar  da  estrella  de  Napoleão  e  da  civilisaçáo  moderna,  ia  o 
sábio  brasileiro  fazer    a    aprendizagem  du.  liberdade. 

Em  Paris,  ouviu  as  licçòfa  doa  famosos  Chaptal  e  Fourcroy, 
continuadores  de  Lavoisler,  de  Jussieu,  o  botânico  genial,  de 
Hauy,  o  celebre  pbysico  e  mineialog-ista. 

L  ou  verteu  estOB  meatrcí  em  nmi^OB,  á  imitação  do  afamado 
medierj  porluí^ue?  lanches,  que  no  século  XVIII  S©  dirigiu  do 
Coimbra  a  Leyde  para  pra ficar  com  Boerhaave.  Não  limitou 
os  seus  estudoá  á  Capital  Franceza,  tbeatro  eutuo  de  aconteci- 
mentos memoráveis.  Gra^jaa  ao  empenho  do  eoibítixador  lusitano 
em  Faria,  d.  Vicente  de  Souza  Coutiuho,  o  governo  portuguez 
dilatou-lbe  o  termo  á  eommií^sfio. 

De  Paris  se^iu  para  Freyberg,  OTide  leccionava  o  illuitre 
Wcrner  e  doutrinavam  LempH,  Kobler,  Clot^sch,  Freiesleben* 
Lampadius :  luminares  da  mineralogia,  das  mathomaticas  puraa  e 
appliçadap,  do  direito  e  le«^i?lavào  das  minas,  dos  ensaios  chimieos 
dou  mineraes,  da    cbimica  pratiea,    dos  arcanos  da  nietalliirgia . 

<fQQflntv«  investi|radores  da  nutureza,  os  quaes  no  secttlo 
seg^uint©  haveriam  de  ser  a  gloria  da  scisncia,  cursavam  em  frn- 
leroal  catnaradaírem  oa  amphitheatros  o  oa  laboratórios  de  Frey- 


0"  «,.  rum  a  fln  â«  Htanm  AUt  vm  cnno  de  chJmtCA  e  ralrrerfllo^tn  â^^clrniiittca 
m  partionl.irmoiitâ  Ihi»  «ncotntnfsnitn  que  M  liosi  trr*v  vltiJjiQivt  toiln  n  prot^^cçâó»  F&r&  que 
ia  Ibcie  rAcíiltcm  oi  «irndo^*  —  0l9i;io  de  ]diilK  Fiiitri  tio  H^m^ll,  itiinEjitro  do?  Jicgocioi 
o!ttriinE;oíroi  o  da  ^erra,  parn  o  (^mbjiixAdDr  úo  Portugal  eia  Parli,  D.  Vicente  de 
Èfiaia  DvaUTilio,  ora  í»J  ú<3  Maíg  d»  t791>. 


I 


I 

à 


—  91  — 

lierg!  Qae  illustres  condi  scipuloB  pe  deparavam  ao  grande 
naturalista  portuguez,  ao  futuro  estadista  brasileiro !»  (1) 

Os  companheiros  de  Humboldt  em  seus  estados,  (diz  o  as- 
trónomo Cari  Bruhns,  na  sua  biograpliia  do  immortal  pbjrsico 
germânico),  erum,  entre  outros,  estes  que  bayiam  de  ser  depois 
os  mestres  da  sciencia^  Leopoldo  yon  Bach,  o  dínamarquei  Esmark, 
o  portuguez  Aiulrada^  o  bcspanbol  Del  Riot.  Noc  es  todos  re- 
gistrados na  historia  das  sciencias  physicas  e  naturaes,  como 
grandes  e  fecnndos  descobridores.    (2) 

Nào  contente  somente  com  as  licções  dos  illustres  profes- 
sores que  então  havia  nas  diversas  partes  da  Europa,  quiz  pedir 
i  própria  ob8orva<;ão  da  natureza  o  que  os  livros,  os  gabinetes, 
as  prelecções  n&o  fódem  completar.  Percorre  grande  parte  da 
França,  da  Gran-Bretanba,  da  Âllemnnba,  da  Bélgica,  da  Hol- 
landa,  da  Itália,  da  Hungria,  da  Bohemia,  da  Suécia,  da  No- 
roega,  da  Dinamarca,  da  Turquia.  Visita  as  minas  doTyroI, 
da  Styna,  da  Carinthia.  Ouve  ns  licçÕes  de  Volta,  de  Pries-* 
tley,  de  Davy,  de  Duhnmel,  de  Bergmann,  de  Abilgaard,  de 
Jussieu.  E  assignala  immorredouramente  o  seu  nome  por  des- 
cobertas preciosas,  que  o  consagram  um  dos  maiores  natura- 
listas do  século  XIX.  As  Academias  e  os  Institutos  o  acolhem 
com  frementes  applausos  em  seu  grémio;  e  osAnnaes  de  múl- 
tiplas associações  scientiíicas  agasalham  com  carinho  os  seus 
trabalhos  e  as  suas  memorias.  Sehurer,  em  sen  «JornoZ  de  Chi- 
mica,i3&  Allemanha;o  Jornal  das  Minas,  as  Actas  da  Sociedade 
de  Historia  Natural,  de  França,  os  Ânnaes  de  Chimica,  de 
Fourcroy;  o  Jornal  de  Physica,  de  Hatiy  etc,  revelam  ao  mundo 
Bcientifico  os  valiosos  descobrimentos  do  grande  sábio  americano. 

O  insigne  Lb  Plat,  percorrendo,  annos  depois,  os  mesmos 
litios  visitados  por  Andrada,  e  applaudido  nas  mesmas  Acade- 
mias que  o  laurearam  de  1790  a  1800,  encontrou  os  rastros  ge- 
itiaes  de  José  Bonifácio.  <Ce  fut  pour  moi  un  grand  étonne« 
ment  et  une  admiration  plus  grande  eneore9 1  exclama  a  águia 
dos  Ouvriers  Européens  e  da  Reforme  Soeiale,  cLe  jeunepor- 
tugais,  3Ir,  D'  Andrada,  a  íait  de  telles  découvertes,  que  soa 
pays  devrait  lui  dresser  des  statues  qui  puissent  perpétuer  et 
tnuumettre  aux  nouvelles  générations  la  mémoire  immortelle 
d'nn  des  plus  grands  savants  d'ane  époqne  si  féconde  eu  grande 
hommes...»  (3)  Le  Play  era  pouco  pródigo  de  elogios  e  me- 
nos ainda  susceptível  de  enthusiasmos. 


ri)  i.  M.  Jifttino  Coelho,  ob.  clt. 

rS)  ÁUxander  vou  Humboldt,  Etmê  wiietHteltafaicka  Síograptíê,  %,  I.  pHT.  '28. 
Ld^g.  Ib72. 

«O  titulo  de  matrt  da  teieneia,  oonrerldo  por  tio  ootarel  anctorldade  Bdeotffloa  ao 
MraenIogi»t5i  portogocs,  glorioMmente  Msoclftdu  e  poeto  em  parallelo  com  Mblos  de 
tio  vnlTersftl  e  eminente  repntaçlo,  como  Hnmboldt  e  Tieopoldo  too  Baoh,  ó  o  maU 
konroso  testemonho  do  conceito  era  qae  ainda  em  nossos  tempos  é  baTldo  n*  tem  das 
sdeocias  o  nome  benemérito  do  noMo  compatriota. 

{?.)  P.  Le  Play.  Lu  Outrien  Europémê,  t.  5.  1.»  ediç.,18M.  -  AMlgnaUmoa  esto 
lacto  em  nosso  artigo  sobre  O  eenttmario  dê  F.  U  Plag,  pablioado  em  flos  do  anno  pas- 
sado, Bft  £nuê  dê$  quntioiu  kiitwifuêt. 


r 


—  92  ~ 

Membro  o  maÍB  moço  da  recemcreada  Ãc&dêtnia  Real  dat 
8cie)](:itt{s  de  Ligbõa,  José  Boniíacio  viu- se  lhe  abrirem  de  par 
em  [>ar  aa  portas  da  Academia  de  Stockolmo,  da  de  Copunha- 
gen  P'  dn  dn  Turim,  da  Sueindade  dos  investigadores  da  Nata— 
reKft  de  Btidím,  das  de  Hi&tHna  Naturítl  e  Philomadca  de  Pa- 
ris, da  Geológica  de  Lnudres,  da  Werneriaoa  de  Edmburf^o,  à& 
Mineralo<;iea  h  da  Línneaua  de  íeita,  da  de  Phyflica  e  niatorÍA 
Natuihl  de  Génova,  da  Sociedade  Maririma  de  Lisboa,  da  Phi- 
Ifjsophka  de  Philadelphia  e  da  Aciadtjraia  Imperial  de  Medicina 
do  Rio  de  Janeiro» 

Aos  diamantes  do  Brasil,  descobertos  bavia  mais  de  60  an- 
noB  (1),  desconhecido*  na  Earopa,  consagra  elle  uma  njemori* 
elogiada  ]\v\o  abbade  Hítiiy  (2)  6  impr^^saa  nos  AnnaeB  de  Clii- 
mica  de  Fourcroy. 

E*  escreve  o  teu  i  Ilustre  consócio  e  admirador,  ent5o  um 
dos  maiti  bel  los  ornamentoB  das  leítras  no  Velho  Reino,  belle~ 
uista  e  scieutistai^é  então  que  elle  des^cobre  au  novas  eapéciei 
mineraf»,  a  que  dá  o  nome  de  Fetalítej  Ypodumene^  KryoUie  « 
Scapc/Uie,  com  que  ficaram  denominadas  na  Bciencia,  e  com  que 
hrje  se  conhecem  nos  tratadite  miiieralog^coí*,  em  todas  a»  lin- 
guagens enropêbe.  Ãnaly&ada  por  Àrfvedson  a  Petaliie.  desco- 
briu iiella  o  chímico  i*ueeo  a  lith  a,  e  coube  ao  mineralogista 
americann  a  honra  inestimável  de  deixar  o  nome  português  as-^ 
Bociado  a  um  dos  notáveis  dettcohrímentos  da  chimica    moderna. 

Em  uma  carta  que  foi  publicada  pela  primeira  vez  em  ai-* 
letnàú,  e  que  existe  na  Biblíothe^a  Publica  do  Rio  de  Janeiro, 
dirigida  ao  t^ngt^nheiro  Beyer,  engenheiro  das  minas  em  Schuee- 
berg,  apie&enta,  segundo  uta  methodo  particular,  uma  brev6 
descri pçao  dos  caracteres  diatinctivos  de  Doze  novos  minerae^ 
por  elle  de.^cobtrtos  noa  paizes  Scandinavos  (3),  Este  é,  sem 
duvida  al^^uma,  o  mais  importante  trabalho  mineralógico  do  il- 
lustre  brasilein},  do  qual  appareceram  logo  traducç^es  n^3  jor- 
naes  sei  en  ti  fico*  da  França,  Inglaterra,  Prússia  e  Amtría  (4). 
Quando  flie  nâo  tivesse  feito  mais  nada^  bastava  só  isto  para 
o  immortalisjir  (5). 

Escreveu  também  diveraas  memorias  »o br e  minas  da  Buecia; 
sobre  as  preciosas  minas  da  Saiba;  uma  Viagem  geognoJiUca  ao» 
MonieH  Eiiffaneo*  no  território  de  Fadua,  na  Itália,  discutindo  a 
origem  vulcânica  daquella  rocha;   um    eitudo    sobre    o    Muido 


1  Bm     \'tl.     Mtm      hiâL  »obr*  o<  diAmantêt  do  Branl,  por  Jl   ÍB  Rfliend*  Totto. 

2  O  iablo  frAELcev  e»creííj .-  Stàirant  Ut  obnrr^iímê  fitií4»  «r  t*»  litmx,  *í  cm- 
tíffnétê  dtau  Um  acia  d*  la  êocifíi  (f  húloírj  naturtit»,  pur  M.  Dfmáraáa,  mmeroloffiHf 
poríUffftÍM,  it'un  mértte  íréi  ãiãiinçUilt  h  lieu  mAtai  dê*  diamanti  dont  H  M'açit,  nt  ím 
crokt*  dê*  montagnu  aiíiUet  àaiu  tt  iiàirici  át  Btmi  do  F\Ho. , .  BAuy,  Traiti  d*  Mini'- 
rdtofft*,  F*rii,  »hJ2,  IV,  pâg.  41*7. 

<j  Hflses  Úetx9  mio^r&et  sLo  1.»,  AkfcQtlilkond ;  2,*,  BftodDiQeae  ;  3-*,  Bmbllte ;  C% 
Icht^Dpliiaima  ,  &^«,  Coccollte ;  e.«,  Aphrtilt«;  ?.«>,  Âlloelirolt^i ,-  iH.«,  Indlcolite/  9^o,    We^ 

4    Gabriel    ({'Aumb^ja*  Lu  Contfmpor^iru, 
t>    F.  L*   P]*r.  ob.    ctt. 


—  93  — 

EUcirico  e  outros  mnitos  trabnlbos»,  em  portugiiez,  c  outroR  em 
fnocez  e  allem&o,  conatantes  dos  Annaea  dos  Institutoi^  p  Aca- 
demia^  a  qne  pertencia,  e  dds  tratados  de  Clauaseii,  Ileusse.r, 
Hauy.  Fonrcrry,  Scheerer,  Dufrénoy,  Gelilen,  Leonliard,  Arei 
Erdmann,  Qnenstedt,  Kurr  e  outros  mestres  da  sciencin  a  que 
Andracln  dea  tanto  hrilho  e  r<'l('Vo. 

José  Bonifácio,  v^"^^'''^  ^"^  publicista  conti  mpdráneo,  «é 
mais  conhecido  geralmente    em    Portupal  e    no    Brasil    ermo  o 

Srincipal  e  mais  ardente  propuí;nador  da  inde^  edi  ni*ia  braí^ileira, 
o  qne  pela  fna  floria  de  protundo  minernlo^istit,  iiir^r^ripto  com 
memorins  indeléveis  nos  'asT*  s  da  sri^^ncia.»  Kntretiinto,  no  pan- 
theon  dns  glo'ia«  Fcientifu-ns  do  velbo  mundo,  tcni  clle  um  l()<rar 
de  honra;  as  srcíedades  BÚbins  da  Kuropn,  si  ])r.uco  conlit  cem  a 
■cçào  politica  de  Andn-da,  venentm  o  seu  none.a  ]iiir  dos  maio- 
m  Tultos  do  6m  do  século  X\'III  o  da  aurora  do  stculo  XIX, 
perirdo  cnvulsirn^do  fociulinonte,  ]i«'m  por  'vnfo  menos  ffcnndo 
em  enfrenhos  e  menos  lic-o  i*ni  talentos. 

Poucos  V  ajant»s  temi  pisado  de  tanta  fama  e  ivlfbridade, 
sobretudo  nr»  últimos  anuo»  dr  suas  perei:rin«<;õfs.  l*í>r  toda  a 
Tirte  era  consultado  sohre  diversa;^  materi;<s  :  todo*;  <  a  sábios, 
Mieja.>do  conhecf*l-o,  vinbani  vii^ital  o.  Muito;^  nionarcha:^  nio^mo, 
^erendo  retêl-o  em  >eu«  re  nos,  ti/eram-llie  immeU''»;»  » ll»Teiíi- 
BentfS,  como  p«>r  exemplo  o  piin<-i]M'  real  da  hinaniarea,  para 
iMpector  das  minas  e  (Iotef>tas  ria  Noruega  f1).  A|òs  10  annos 
éit  autieneifl,  que  tanto  dunu  a  t>ua  jornada  triunrph.M]  pela  Eu- 
rapa,  desde  a«>  opulências  dt>  Tariti  e  os  vcrdos  campos  da  [iom- 
bardia,  utó  os  írelon  da  "^candinavia,  recolbeu  se  a  roíMiíral,  em 
Setembro  de  18^0.  D.  K<"iri_iro  de  Si. usa  Coutinlio,  coiule.  dt^  Li- 
aliafet.  ministro  ami^o  das  )<>ttra<  e  admirador  do  >.nbio  brasileiro, 
determinou  que  José  BonitAcio  ncebt^so  «íratuitaiiieiite  o  capello 
demorai  na  Faculdade  de  riiilos-ophia  (2). 

O  governo  nom^-ou-o  desembargador  da  Kelacâo  do  Porto, 
ÍBiendentc-freral  das  mina:>  íU*.  motaes  do  reino  p  i>iu*arrt'p*ido  de 
dirigir  •■  administrar  as  miuaíi  e  t'undi<;ões  iie  torro  de  Ki«ru«'iró 
das  Vinhas  (3  ,  com  a  )n<poc(,'ào  i>(»bre  mattas  o  soinmrtMras  tio- 
zettftes.  Concedeu-se-lbe  a  pen&flo  vitalicia  de  t>0O'(r  O  annuacs, 
e^al  ao  subsidio  que  vencôia  durante  as  sua»  vÍH<r>M)s.  lOncar- 
regou-se-lhe  de  reger,  cí-nio  lent»*  catbedraM»  o,  a  caleira  dtí  me- 
tallurgia,  institnida  novamonte,  e  especialmente  para  i-lle,  na 
Universidade  (4);  entím,  tVti  nomeado  superit»-ndente  e  diiector 
do  encanamento  do  Mondego  e  das  obras  publicis  de  Coimbra, 
(5)  depois  de  ter  o  governo  otabelt-cido    na  casa  da  mo4>da  um 


1  Dr.  Emílio  Joaquim  da  8ilva  Maia,  Elofjto  fítiforico  em  a  Acndi^mia    Imiíerial  de 
IbdleiDâ.  IK8 

2  CarU    Réçía   do  ir>  de  Abnl  de  IHH  . 

3  CarU   Régia  da  16  de  Maio  de  l^(ll. 

4  1d. 

&    ÁTlM  Béslo  de  T  de  Jnlho  de  imi. 


—  94  — 

CTií'9ív  de  doeíiiia&ia,  (I)  uo  qufil  teve  por  ajudante  a  Manuel  Ja- 
cintljo  Nogueira  da  Gama,  futuro  marque js  de  Baependy  e  o 
lente  dí%  philosopliiaT  Jofio  António  Monteiro,  um  doa  maia  iilu«- 
trCd  mineralopistaã  da  Europa  e  esforçado  collnborador  de  Híiúy, 
Freencbendíi  estea  lo^nrcs  eom  um  tal  homem,  o  jj;:t>verno 
portu^-iicz  davíi  indicioa  evidentes  do  quíiiito  premiava  o  mé- 
rito; e  e  eite  respeito  muitos  encómios  merece  o  illustre  minis- 
tro conde  d©  LínliareSt  nomo  que  será  sempr^grat  oaos  brflsileiros 
o  ás  lettiBB  (2).  ApeBar  da  multiplicLdude  de  seua  nucar|ros 
administre  ti  V03  e  scíentificos,  omprebeudeu  uma  excm-sào  minero- 
grapIúcA  pela  província  da  Estremadura  ato  Coimbra,  apóa  a 
qual  publiciou  a  relaçílo  de  sua  viagíini,  desprovendo  os  tnineraes, 
09  torrenqg  e  o  e^tad**  da  agricultura  naquel La  reg:iâo,  Instituiu 
uma  cadeira  de  cbimica  em  Lifabôa  o  honrou  as^íiduamente  a 
tribuna  da  Academia  Keíil  daà  i^eieneias,  que  o  eícííeu  maia 
tarde  seu  secretario  perpetuo,  e  da  rtícemcroada  Soeiadade  Ma- 
rilima. 

Ill 

Interrompeu  os  trabalhos  de  José  Bonif.icio  a  itivíisao  franceza. 
A  Eurojia  estava  abalada  pelo  genio  da  guenu  o  da  con- 
quista. O  antigo  teneute  de  Toulon,  nào  satjsíVíto  com  o  bello 
throuo  que  conquistara,  liavia  com  a  sua  djplom»cia,  com  as  suas 
armas,  transposto  os  Pyrcneua^  querendo  dar  ao  se  a  irmilo  José 
o  throno  dessa  terra  vulcânica'  que  nunca  sotfieu  reeig-nada  o 
domínio  do  conquistador,  {?*)  Poriuíral,  alliado  da  Inglaterra, 
nàd  podia  coasservar  sua  iuíiepeudencra.  Desdeque  níio  sesubmettia 
à  prodigio-sa  medida  do  Bloqueíf»  Continetital,  Napoleão  devía 
mandar  atacar  o  Velho  Eemo  ;  alguns  dcísetie  melhores  peoeraes, 
ecompaniiaHj^i  de  tropas  auxiliares  beipanholas,  marcharam  eobre 
PortUííal  (4)  A  Historia  djrá  algum  dia  si  D,  Jofto  VI,  eutào 
príncipe  Reí^eute,  cedeu  sponíe  hua  á  imposiçílo  da  Ing-laterra, 
que,  açufando  Portugal  contra  o  Imperador  que  sonhava  restau- 
rar  a  iíonarchía  de  Carlos  Magno  e  restabelecer  o  Império  do 
Occidente, 

, . , ,  héroB  et  symbole, 

Pontife  et  roJ,  phare  vt  volcan, 

Faire  du  Louvre  uu  Capitííle 

Et  de  Saint-Cloud  un  Vaticau,     (5) 

coueorrrea,  Kem  o  qnorer,  para  um  dos  maiores  acontecimentos  do 
leculo  XIX. 

A  Invaslo  Franceza  em    Portugal  foi,     dest^arte»     um  facto 


1     Decreto  f«  IS  de  Novembro  dn  MQt. 

S    Dr.  R.  i.  ún,  HItil  Maio,  ob    t\t, 

ííi)     O  }tmrq»tt  dt  Vaipn^t.    bio  gr    íem  nomo  de  soclor,   íi^-fl, 

í4j    Tf.    jffiwotrf*  ^f  ia  Piuiuat  i\ítiratti  t,  {vlatik  do  Mai^ch^l  Jonot). 

(Ã)    V«  Bago,  L'£jífii9U«m, 


—  95  ~ 

proridencial  e  «parece  que  a  Providencia  Divina  tinlia  encaminhado 
a  Pedro  Alvares  Cabral,  nn  descoberta  de  um  vastíssimo  conti- 
nente, para  servir  de  refugio  mais  tarde  á  dynastia  do»  Bour- 
bon», e  de  amparo  n  dynastia  portupioza.  O  modo  como  foi  des- 
coberto eite  grande  império  do  Braxil,  revela  um  mila^^re  que 
rlaramenin  no*  demonstra  o  mysterio  de  Deus,  quanto  ao  porvir 
áâ%  nações».  (1) 

O  e»criptor  lusitano  a  qnem  temo;:,  nào  raro,  recorrido,  faz 
letaftar  esta  circumstancin :  A  invasílo  que  para  Poríuiral  ó  a 
perda  ig-oomÍDiosa,  ainda  que  past^ageira,  da  sua  Itbndaie  e  so- 
Mranxii,  A  luir-t  as  terras  portup^uozas  do  Novo  Continente  o 
alvorecer  da  própria    soberania    e  liberdade. 

— «Em  18' »8,  no  Rio  de  Janeiro,  faírindo  noinimifro  que  lison- 
jeira, tentando  o  enp^anar  ate  a  ultimi  bora,  desembarcava  um 
homem  menos  que  alto,  gorno.  semi-obeso, ...  o  falar  embaraçado. 
Era  D.  Jofto  VI  ...  Vinba  acob;»rdado.  Via  francezes  e 
naçoDs  em  todn  a  ])arte.  Carre<;av.'L  para  a  colónia  todas  os  bave- 
res  qne,  210  monienio  da  partida,  lhe  baviam  ficado  ao  alcance 
da  mio.  Pretendia  ficar  definitivamente  no  Brasil.  I^<ra  o  seu 
medo  o  espectro  do  bonapartismo  tinha,  na  Europa,  a  perennida* 
àò  daa  moléstias   incuráveis. 

Poia,  senbores:  de  7  de  Março  de  1808  a  24  de  Abril  de  1821 
...  ewe  rei  fugitivo  de  um  paiz  invadido  e  decadente,  manteve 
ia  cabeça  a  sua  coroa,  obrigando  Xapolfilo  Bonaparte  a  cxcla- 
var  em  Santa  Helena: — «Foi  o  único  que   me  en<ranou.» 

De  feito:  emip-ando  para  o  Brasil  no  pleno  uso  d»  seus 
fontm  majestáticos,  impedindo  que  a  coroa  luR'tana  fosso  parar 
i  cabe^  do  algum  dos  ambiciosos  ^eneracs  de  XapoIeAo,  o  nosso 
féUto  lei  mereceu  do  maior  guerreiro  do  século  o  reconheeimen- 
ta  do  tino  politico  que  es«a    amarga  exclamação  revelava».  (2) 


José  Bonifácio  trocou  a  beca  do  lente  pela  farda  do  vo- 
luntário. O  Invasor,  conh«cf»ndo  o  n^  -onhecendo  os  seua  méritos, 
procarou  attrahiMo  á  sua  causa,  mas  não  logrou  seduzir  o  pa- 
triota. Ouçamos  um  «íe  beu^  mais  illustres — e,  certamente,  o  mais 
carinh<^B0, — a})o1ogista : 

cTornárn-se  Portugal  um  acampamento.  Nilo  podia  o  brioso 
professor  ficarse  reroansado  estudando  os  sens  dilectos  niineraes, 
ou  pensando  em  desentranhar  do  solo  os  thesouros  que  revela  a 
natureza  á  scíencia  e  ao  tiaballio.  Apercebem-se  para  a  guerra 
os  escholnres,  que  nào  faltam  jamais  a  alinhar-se  na  ordem  de 
iMitalha,  quando  as   grandes    ideias  ou  us   sentimentos  generosos 


(1^     Mello  Moraes.     Jlialoria  da  Tratlaãação    da  Côrlê    Portitt/ima  para  o  Hratil  tm 
J907—iê08.    Obra  indlípcnsavcl  a  qaont  quer  estudar    bem    oi   prodroinos    da  ludepen- 
cU. 
(2j    Jfartlai  Fraoeiíeo,  em  GuararaptM. 


—  96  — 

intimam  á  sciencia  que,  á  similhança  da  Bellona  anti^,  vista 
as  armas  reluzentes  sobre  as  insígnias  do  saber.  José  Bonifácio 
é  major,  logo  depois  tenente-corcnel  e  commandante  do  animo&o 
e  devotado  batalbào.  A  sciencia  abre  o  seu  thesourc  a  improvi- 
sados armamentos.  Os  laborarorios  das  escholas  s&o  agora  activos 
arsenaes.  Nào  ha  estado  nem  condiçAo  que  exima  da«  refregas. 
Os  prelados  ajustam  sob  o  roquete  a  armadura,  os  sábios  lançam 
o  sago  bellicoso  sobre  o  capello  doutoral. 

Como  em  todas  as  épocbas  de  memorável  e  de  dura  prova- 
ção, desde  a  guerra  da  independ-  ncia  contra  o  dominio  caste- 
lhano, o  fogoso  batalhão  dos  académicos,  agora  em  frente  das 
hostes  imperiaes,  Hemoiihtra  mais  uma  vez  que  a  juventude,  ao 
deixíir  os  pacificos  lavores  da  intelligencia,  não  cede  o  passo  aos 
mais  intrépidos  soldfldos,  envelhecidos  na  marcha  e  na  peleja. 
São  nessa  conjunção  os  guerreiros  das  escholas,  os  que  na  pri- 
meira plena  se  distinguem  pelas  audazes  e  bem  succedidas  en- 
trepre»as  contra  a  Naz^reth  e  a  Figueira,  senhoreadMs  por  va- 
lentes inv;> sores.  Os  mais  graves  e  austeros  cathedraticos  esque- 
cem as  suas  quietas  meditações  para  acudir  enthusiastas  á  com- 
mum  defensão  dos  portuguezes. 

O  vicc-reitor  da  universidade,  ecclesiastico  e  i  rofessor  das 
leis  da  Igreja,  mais  vergado  nas  Decretas  de  Gregório  IX,  que 
na  arte  i^eiigrpa  de  Turenne  e  de  Conde,  governa  militarmente 
a  quieta  cidade  litteraria,  agora  convertida  num  estrepitoso 
acampamento.  Outro  canonista,  o  decano  da  faculdade,  Fer~ 
nando  Saraiva,  mai.da  o  corpo  militar  formado  pelos  lentes. 
O  professor  de  chimica,  .  Thomé  Rodrigues  Sobral,  toma  desde 
logo  a  diiec(;ão  de  uma  officina  pynttechnica.  A  ^ciência,  que 
opera  pr  digiísus  maravilbns  durante  a  paz  em  henra  da  civi- 
lisnçâo  e  da  riqueza,  faz  na  gueria  milagres  assombrosos  em 
prol  Ha  independência  e  liberdade.  Tà'>  verdadeiro  é  sempre,  e 
eoj  toda  a  ])arte,  que.  os  dois  potentií^simos  agentes  da  victoria 
são  a  i^ciencia  e  o  valor. 

Anda  Jogé  B»niiaci«>  briosamente  empenhado  na  n^sistencia 
aos  iuv.isoiei).  Tempera  o  animo  p»ra  a^  vaionis  empresus,  que 
o  terão  aii.da  por  illustre  paladino  no  fronteiro  bttoral  do 
oceano.  Incetide-se  no  desculpável  e  ardente  fanatismo  contra 
08  inimigas  de  Portugal. 

Km  públicos  te>temunbos  ficou  assignalada  a  galhardia  e  o 
primor  do  grande  naturalista  como  soldado  e  como  chefe*. 

Mais  tarde,  terminada  a  campanha,  elle  próprio  dirá  & 
Academia  Real  das  Scieiícias,  no  discurso  histórico  lido  na  sessão 
publica    em  24  de  Junho  de  1819: 

«Em  Ião  arriscadas  circumstancias  mostrei,  senhores,  que  o 
estudo  das  lettras  não  despr<nta  as  armas,  nem  embotou  um  mo- 
mento aquella  valentia,  que  sempre  circulara  em  nossas  veias, 
quer  nascêssemos  áquem  ou  além  do  Atlântico». 


—  97  — 

Expurgado  o  território  portugnez  da  inyasfto  francezA.  mercê 
dot  acontecimentos  qae  abalavam  o  throno  imi>erial  e  prepara- 
vam o  desfeixo  de  Leipzig  e  de  W.iterloo,  foi  o  coiiBelheir*» 
Andrada  nomeado  intendente  da  policia  do  Porto.  Cumpria 
qnietar  ot  ânimos  revoltos  e  refrear  a  violência  e  o  attcntado, 
vestidos  na  apparencia  do  zelo  patriótico.  Com  energia,  inde- 
pendência e  dignidade  exerceu  elle  tfto  arriscada  e  temcroga 
maeistratnra :  oa  ódios  irrompiam  violou  tos,  e  a  turba  apaixo- 
nada clamava  por  vindictas  e  perseguições. 

Salvon  ent&n,  com  sacrificio  de  sua  populari«^ade.  muitas 
Tidas  e  bens  dos  porfuguezes  que  pasravam  por  cairanceza- 
dos,  e  soube  conciliar  o  que  exigia  a  justiça  com  a  indul- 
gência qne  se  devia  mostrar  á  simples  seducijAo  e  nos  erios  do 
entendimento,  que  cumpre  tolerar  (1).  A  sua  attitiuii»  des 
agradon  ao  governo  proconsular,  cirso  da  minima  OApaii>uo  de 
liberdade. 

«Pungiam-n*o  os  invejosos  e  mnlédicrs.  O  seu  trato  com 
os  governadores  do  reino  n&o  era  cordial,  nem  o  convidava  a 
que  passasse  a  vida  longe  do  Brasil». 

«Si  almas  degeueracas  .  .  .  procuraram,  exclamava  Andrada 
ao  se  despedir  da  Academia  de  que  era  secretarÍD  perpetuo, 
aaiar^nrar  por  vezes  a  minha  cansada  exist<*ncia,  e  buscaram, 
■as  em  vào,  mallograr  o  meu  patriotismo  e  bons  de-ejos,  o 
ostado  da  natureza  e  dos  livros  no  seio  da  amizade,  e  a  voz  da 
naseiencia  foram  sempre  o  balsamn  salutifero  que  cicatrisiivn  estas 
ionàts  do  coraç&o.    Cumpre,    puis,  deslembrnr-me  do  ]  assado». 

Exonerado  da  intendência  da  policia,  torna  ás  suhs  r)ccu))a- 
çfiet  ordincrias.  O  sábio  recupera  todos  os  peus  direito^ :  á 
idaDeía  cedem  ligar  os  ardore.s  bellicos  e  as  ngita^òeN  da  ])0- 
lítica.  Explora  algumas  minas  portugu<zas,  ordenando  as  uK-is 
iementeiras  nos  areáes  da  costa  (2);  trata  da  agricultura,  e 
arrenda  para  este  iim  uma  quinta  no  Almegue,  perto  de  Coim- 
bra; e  nos  montes  de  Santo  Amaro,  perto  da  Figueira,  cuida 
de  um  grande  pinhal  e  planta  arroz,  trigo,  centeio,  legumes, 
hertaliças,  flores  etc.  Publica  memrrias  de  summo  interesse, 
que  enriquecem  as  collecções  da  Academia  Real ;  emiim,  ergue 
esta  douta  associação  a  uma  altura  a  que  nunca  mais  bavia  de 
attingir  após  a  sua  ausência. 

£'  desta  época  que  datam  a  Memoria  sohre-  as  viinas  de 
carvão  de  pedra  de  Portugal^  1809,  publicada  n' O  Patriota  flu- 
minense em  fins  de  1813 ;  a  memoria  sobre  a  nece8:«idade  e 
Utilidade  de  novos  bosques  em  Portufial,  onde  se  reveJa  conho- 
eedor  profundo  da  scieiícta  florestal  fl8ll') ;  outra  Memo  ia  .sobre 


(l>    Vide  José  Acúrcio  das  Neves,  Inratíio  dv»  fraucetet  tm  Portmjah  t    H.«» 
(2l    Dr.  J.  K.  da  B.  MaIa.-  Principiou  a  iilantnv^o   dne.    HicÁes    \'vM\9  du  Ciuto  de 
I.  eiOas   tcrrM  de  lavoura  c^tuvnin  em  |)eri(ro  de  «er    al.ifr.Mlay   «.•    e)<trn'^adi)u    pela 
TbifiiiÁiiça  do  mar;    esta    sementeira  entretanto  só  teve   iirinciíjio  em  '^ná.  idíib    lindou 
ÉM  ISOe.  Foi  a  primeira  aementeirii  metbodica  qne  vingou  em  l*úrtugnl,   o  hoje  r>s   fer- 
de   LaTOi  eitlo  defendidos  e  amparados. 


r 


—  98  — 

a  nova.  mina  de  ouro  ãa  outra  banda  do  Tejo^  chama  dft  Pii  ti  cipo 
Regente  (1815);  a  Memoria  minerúgrnpkica  sobre  o  dístritiio 
meialJifero  entre  os  rioa  Alve  e  Zêzere  (181(j);  outra  sobre  a« 
pesquisas  e  lavras  doi  veios  de  chumbo  na  jirovincia  de  Trás 
fts  Montes  (1813);  além  de  traballios  preciosos  tobie  a  tnetal- 
lurfçiíi,  a  ffeoírraphia  dos  antigos,  uma  iuirodnCvào  aos  Elemen- 
tos de  Meiallurgia,  um  numero  considerável  de  dia  cura  os,  dís- 
flertaçãea  e  mFimoriafs  lidos  na  Academia  Kcal  (1). 

Era  tempo  de  repousar  dfi  taataa  fadig^as  no  seio  da  Pátria. 
Fundas  saudades  do  torrilo  natal  punfriam-Ihe  o  nobre  e  amo- 
roso coríiçao.  Trasladada  a  Corte  para  o  Brassil,  entregue  For- 
tug^al  aos  dcaasos  do  governo  p  roço  a  sul  ar  irritado,  desconfiado 
e  ig^noiante,  nada  mais  prendia  José  Bonifácio  á  metrópole, 
onde,  nas  eminências  do  poder  se  acoutavam  «a  ignorância 
tímida  011  desleixada,  o  ooscurantismo  de  algumas  toupeiras, 
q^u©  temem  ou  nào  podem  supportar  a  luz»,  (2) 

Pediu  e  obteve  licença  para  voltar  ao  seio  da  Pátria »  em 
1819.  Contava  entào  5$  annos  Saliíra  do  Rio  de  Jnneiro  em 
demanda  do  Yolbo  Rei  do  em  1780.  A  sua  ausência  durara  39 
annos. 

Antes  de  deixar  para  semprd  as  plagas  luzitanas,  recebeu 
o  ultimo  e  valioso  te?  te  mundo  do  muito  rf^speito  que  lhe  tribu> 
tava  o  mundo  acieutifico:  o  Instituto  d©  França  (Académit  de* 
Sciences)  o  elegeu  seu  sócio  correspcndcnte,  a  Utula  extran- 
geiro,  para  a  7,*   secçào  (Mineralo^íia)  (3). 

Ao  mesmo  Instituto  devia,  mais  tarde,  pertencer,  pelo  mes* 
mo    titulo,    S.    M.    o    Senhor    D.  Fedro  II,  seu  augusto  pupillo. 


IV 

Chegado  ao  Rio  de   Janeiro,    trazendo  como  ualardUo  uaico 
d©  seus  serviços  o  titulo   do    Conselho  e  o  habito  da  Ordem  de 

(t)  A"  Acadomla  Soai  das  ScUncíM  He  Uhboí  Jo»á  Booifadí,  no  Discttrto  líúíorie^ 
por  Gl[e  recsudr^.  roniD'  «eerotnriot  na  «ofiiiíci  iiutiii^n  do  'À*  de  JudIio  de  lt<iH,  iiiig,  t^ 
dea  canta  úa  um  eticrlpto  ^allodo,  cm  quo  ac  proptinba  ejcpEnnitf-  jl  Hifioria  Xalurt^ 
úít  Plínio 

«F.'  iãftlmn  qtie  d'e>itD  aeu  precioso  Imror  Intellectujil  nfto  apparBcesie  pablicndõ  tim 
tá  fr&^mctito,  O»  cqidMo*  &  latbac;:f>e»  da  vida  pobticia,  tm  que  poQco  depois  tl^arou 
com  umAiibo  {írovolito  o  potiií  do  braiij,  Jbe  nAo  dãixnram  momentas  á&  lozor,  «m  qiiQ 
desse  a  haiA  derrjiJetrA  a  obra  começada. 

Enlacniido  intímamf>nto  O  Doabecímenti  dai  modeniKS  tc)eiici.i.a  nilncraloi^kas  e  k 
TA^ta  orudlç&o  nas  lettroi  closiilcaa,  o  Eabto  amerícinOt  com  ntíildade  tLlmutloEteft  Í% 
IttLeratara  m1nçrAl0E'ica  e  d  a  tvhllolosia  Utini,  deJKar-iio«'Iila  uma  vai  lufa  E:útifroncikcfio 
valrB  os  ciOnb,iclia'eut'}t  OTyctog;D08l;{coF,  rspregentados  pelo  rntnanD  compilador.  «  a  ii9> 
tado  ím  cf^eDclas  naturjK^k  no  ]^rLmetro  quartel  do  aecuio  XIX.  Beria  qaaato  los  mfnft^ 
raoi  notório»  nns  nntlgoA,  o  ã  sua  ainda  Imperfeita  metal [iir|;ia.  titn  tralialbo  ã^  maior 
coflipr«1icrniftD  qoe  o  de  Ltttrt^  quando  AJgaiii*  aonoa  dep^^ts  inlerirrctoii  e  enrjqQecea  de 
nobftfc  c  commentoa  a  Miêíoria  Xatatfíl  áa  ^cnoral  rom^iao.» 

(;í)    SiUcmrto  na  c«sift<^  anui  versaria  de   WtB  . 

i3i  Ã  ÂÉairmit  dut  Scinictt,  fandadn  prio  {rcnial  ^otboitem  tG&6,  comp^i-te  dédO 
mcmLrot,  |ii  acâdemlOús  liiret  e  S  ificlof  txtrantjtirtít .  I^[v|d«  te  eiQ  11  s^cçâfia,  a  cada 
^ma  dM  qniies  síU)  oddldofl  corretpoDdonlvf,  C^nco  bccç^ik?»  pertencem  àa  «cjenelM  ma* 
iiamitthstM,  ftcla  Ài  id«Eic3as  /?%cír».  Cada  aecçto  coi»pTQli«nd«  P  aembros  iitularm 
«xcep;&  a  4.*r  qu«  tem  D. 


—  99  — 

GhiiBto,  Joi^  Bonifácio  apreeentoa-se  ao  monarcha.  O  f;overno 
de  d.  Jo&o  VI  quii  de  proinjito  a]»roveitAr  os  seas  merecimeutoSi 
instando  com  elle  para  acceiuir  o  lo^ar  de  director  da  Univer- 
tidade  que  ent&o  6«s  projectava  crear  no  Brasil,  por  ser  natural 
«escolher  jiara  seu  creador  e  prinniiro  reitor  um  sábio  abalisado 
e  encyclopedico  como  o  consolheiro  Andrada,  o  uuico  capaz  de 
erguer  este  estabelecimento  ao  pardos  mais  perfeitos  da  Kuroi^a.» 
Tendo  de  seguir  para  Santo«,  adiou  a  sua  resposta  ;  e  os  acon- 
tecimentos que  se  succederam  vedram  a  leiíiisação  do  iiiu^^iio 
projecto.  Até  hoje  o  Brazil  não  tem  uma  Universidade.  Em 
eompensaç&o  é  a  terra  das  Faculdades  livren^  libérrimas  até. 
Em  Santos,  José  Bonifácio  foi  habitar  o  seu  sitio  dos  Ok- 
ttiriíihos.  Alli  poz  em  ordem  os  seus  preciosos  manuscrijitos 
(1),  classificou  a  sua  immen^^a  coUeci^ào  de  minerncs,  de  plautas 
e  de  medalhas  trazidas  da  Europa  e  com])oz  grande  parte  de 
suas  poesias.  Em  Março  de  1820  emprcUeudeu,  em  companhia 
de  seu  irmfto  Martin  Francisco,  uma  excursão  montanisticn  em 
pirte  da  província  de  S.  Paulo,  pani  detc^rmioar  os  terrenos  au- 
riferos.  Esse  bello  e  importante  trabalho  foi  impresso  no  Jour- 
nal deJi  Mines.  De  Ytú  remetteu  a  S.  M.  o  sr.  d.  Joào  VI  os 
seus  versos  O  Brasil  «no  faustissimo  dia  13  de  Maio  do  1820.» 
Dis  o  poeta: 

Nào  te  enganem  com  vil  hy])ocrÍ8Ía 
Astutos  cortezãos,  sombrios  bonzos, 
E  os  que  nos  mollcs  vicios  í^er  aftectuo 
«Alburquerques  terriveis,  Ca&tros  furtes, 
«Em  quem  poder,  porém,  já  tem  a  morto.» 
Mas  em  tomo  de  ti  te  adejem  brandas, 
Filhas  do  Cco !  verdade,  sà  justiça, 
Meiga  e  cândida  paz.  risonha  Flora, 
Ceres,  Pomona,  os  sylphos  bemfazejos 
Que  os  thesouroj  te  abram,  entranhados 
Nas  vastas  serras,  nas  impervias  mattas. 
lliumina  teus  povos;  d<i  soccorru, 


1  Bm  PaqnetA  o  dr.  RmlUo  Joaqalm  da  Silva  M.iía  viu  03  suiralntes  manoscriptoi 
da  MH  aibIko  Andrada:  — !.  Jornal  do  saatt  viap^fO»  ,  i'.*  Tratado  de  niiocralogia. 
3.'  Parta  dai  olirai  de  VirffíUo,  tradiizidâK  com  oumincntaHoK  :  4/  Compendio  Uu  mon- 
taalatlea.  geometria  inbterrAnea  e  dociraaKia  ractnliur;;  ca;  eistc  ora  o  seu  compendio 
4a  aoa  eadelra  da  nnlTeraidade  de  Coimbra.  A.  ^Icmoria  sobre  o  trabalho  o  manipu- 
lacio  dae  mlnaa  de  onro  em  geral.  C*  U  tP4tam»iito  motaliurgtco,  do  qual  se  iropri- 
■fran  om  LlibAa  aa  primelraa  folhai,  sendo  |irohibida  a  publicncAo  daa  outra*,  por  ellai 
Iram  de  encontro  a  almimni  opinifíca  theologicaa.  f .  *  Alguns  elc^^ios  históricos:  entro 
aatea  oeeapa  aem  dnvida  o  primeiro  iogaro  Jed.  Maria  1.  V.-  ^niitas  observiíçrics  »naa 
BOlira  diTenaa  mlnaa  da  Enropa.  lo.  Kllo  copiou  rgualmcnte,  por  própria  letira,  muitos 
aanascrfptoa  exlatentea  naa  direraas  bibliotheratt  do  LlHliôa  sobre  o  Bra.>>il,  a^  suas 
^odseçSes  e  outros  objectos,  muitos  doa  quaea  s.lo  do  grande  valor.  «Deus  purniitta 
qia  lodos  estes  preciosos  manuacriptoó  se  niío  percam,  como  tantos  outrot«  do  outros 
lllaatras  brasileiros,  e  qne  com  a  sua  publicaçilo  pn^Fani  ainda  aor  uteid». 

0  ne*mo  dr.  via  também  cm  Paquetá  a  collecçrio  d(>  medalhas,  muito  Intcredoante 
efliilto  rica,  B-»bre  moedas  portuguezM.  entre  as  qnaos  tiiiha  algemas  antigas  e  raris- 
.|    Qaa  flm  leraram  todos  esses  tbesouros  ecientiScos?! 


^  100  — 

Prompto  e  Beg'iiro,  ao  indio  to^co,  ao  negro, 

Ao  [lobre  desvalido.  — Etitâo  riqueza 

Tau«  cofres  aiicherá*     O  mar  iDcbado 

Verá»  ináiian    manso  acamar-fce,  ermo  outr^ora, 

De  novo»  argonautas  eotre  as  proas: 

Verás  o  génio  da  í^í^titil  botânica, 

A  qnem  a  bemfeitora  medicina 

Corteja  e  acompanha  a  fl^riKultnra, 

A  coroa  enramar- te  de  mil  loiros: 

A  creadora  chimica  eicoltada 

Das  artes  todas,  verás  o  ri  cu  seio 

Hevasftr  sobre  ti,  sobre  teus  ]*i>voSi 

Dos  tbesoTiros  que  o  pátrio  solo  encerra.  (1) 

Em  Santos,  nas  suas  terras  dos  Ottieirinhos^  e  no  sítio  dd 
Santo  Amaro,  perto  da  Villa,  entregue  áa  suas  cog-itaçôes  pbi^ 
loBophicas,  contemplando  o  espectáculo  da  plangente  uaturezs, — 

Gomo  esta  matta  escura  e^tá  medonha! 

Nào  é  tào  feia  a  habitação  dos  manes! 

Est«^  ribeiro  triste  como  sõa 

Por  tntre  o  pardo  ©mmaranha<Jo  bosfjue, 

E  como  corre  va^ii^-oio  e  pobre? 

O  aol,  que  já  se  esconde  no  horizonte, 

O  qtiadro  ateia  maia,  —  O  vento  surdo 

De  quando  em  quntido  só  aa  folha»  movei 

E^  í»sle  da  tnsieza  o  negro  alverguel 
Tudo  é  medonho  e  triste!  só  minh^  alma 
Nao  farta  o  triste  peito  de  tristeza  l  (2) 

meditava  sobre  o  estado  do  Brazil  e  ouvia  ao  longe  o  frag-or  da 
t€mpeidade  que  vJnha    se    aproximando. 


A  24  de  Ago«fco  de  1820  rebentou  uma  revolução  no  Porto, 

logo  depois  correspondida  em  Lisboa,  estabelecendo  pm  Pt^rtugal 
o  syslema  constitucional  repretBentativo,  D.  Jofto  VI  teve  que 
regresar^  muito  contra  a  vtmtade,  para  o  Velho  Reino,  deixando 
no  Brasil  como  regento  seu  filho,  o  príncipe  d.  Pedro  de  Al- 
can  tara-Bou  rbon 

A  13  de  Março  de  1821,  o  Capttáo-General  Joio  Carlos 
Augusto  de  Oe^nhaueen  Grevenburg  annuciava  em  bando  na 
capital  desta  província  a  prc  cl  amacio  do  systeraa  constitucional 
em  S.  Paulo^  como  antes  já  o  havia  sido  na  cidade  do  Rio  de 
Janeiro.  Os  seis  dppntados  desta  província  ás  Cflrt^s  Coniti- 
tmntes    foram    eleitos ;    a  José    Bonifácio   foi  devida  a  honrosa 


2    Id.  Apaj.  TO.  ' 


—  101  — 

eicolba  dos  di^OB  deputados  panlístas  cavantajando-se  entre 
elloB  o  irmào  do  conselheiro  Audrada,  António  Carlos,  que» 
secnndado  por  6eus  collegas.  á  excepç&o  de  um,  soube  con- 
lervar  a  dignidade  do  Brasil,  e  calçar  o  caminho  para  sua  ia- 
dependência.»  (1). 

Em  23  de  Junho  de  1821,  deu-se  em  S.  Paulo  um  movi- 
mento popular,  de  que  resultou  a  eleiç&o  e  insiallaçflo  de  um 
Governo  Provisório^ — «José  Bonifácio,  o  génio  da  liberdade  e  do 
patriotismo,  o  fantor  principal  da  InHependcncia,  o  vult«>  gran- 
dioso na  magnifica  epopéa  da  fundbçAo  do  Império,  animava  o 
movimento  e  o  dirigia,  com  aquella  cii-cums(-ecçâ.o  e  prudência 
qae  assellavam  todos  os  seus  acios.9  (2). 

Foi  acciamado  presidente  do  (jroverno  popular  o  Capit&o- 
Oeneml  Jo&o  Carlos,  que  tão  boas  prcvas  d»  capacidade  e  pa- 
tríotlsuio  dera  nos  governos  de  Matto  Grosso  n  CenrA  e  desde 
25  de  Abril  de  1819  no  de  S  Paulo  (8).  Era  ju>;to  preito 
áquelle  varão  illustre.  A  Jojió  Bonifácio  coubo  a  vice-pre»idencia. 
Os  outros  membroR  eram :  secr^tarios — do  Interior  o  Fazenda,  o 
coronel  Martin  Frnncikco  Hibeiro  de  Audrada;  da  Guerra,  o 
coronel  Lazaro  José  Gonçalves ;  da  Marinha,  o  chefe  de  e!>quadra 
Miguel  José  de  Oliveira  Pinto.  Vogaes :  pelo  ecelesiastico,  o 
arcipreste  Felisberto  Gomes  Jardim  e  o  tliosoureiro-roór  João 
Ferreira  de  Oliveira  Baeno ;  pelas  arma»,  os  coronéis  António 
Leite  Pereira  da  Gama  Lobo  e  Daniel  Pudro  MúUer;  p^^lo  com- 
mercio,  o  brigadeiro  Manuel  Rodrigues  Jordão  e  o  coronel  Fran- 
cisco Ignacio  de  Sousa  Queiroz ;  pela  in^trucção  publica,  o  padre 
Fnncisco  de  Paula  e  Oliveira  e  o  tenente-c  >ronel  André  da 
Silva  Gomes  de  Castro,  e  pela  Agricultura,  o  dr.  Nicolau  Pereira 
de  Campos  Ver*{ueiro  «^  o  tenenttí-corouel  António  Mana  Quartin. 

Em  D  ezembro,  porém,  o  cr>u8elheiro  José  Bonifácio  e  seu 
irm&o  MartJD  Francisco,  mbendo  da  noticia  do  próxima  retirada 
do  príncipe  d.  Pedro  para  Portugal,  convocaram  os  inombrost  do 
governo  para  uma  reunião  na  n^ito  de  24,  o,  nesta  rennião,  ex- 
pazeram-lhes  a  necessidade  de  uma  menba«;em  ao  principe— de- 
clarando-lhe  que  a  sua  partida  seria  o  signal  da  t-eparação  do 
Brasil.  Desta  e  de  outras  idênticas  mensagens  foram  ])ortadores  : 
por  parte  do  governo  provisório,  o  conselheiro  Joté  Bonifácio 
e  o  coronel  Gama  Lobo ;  pe  a  da  camará  municipal,  u  marechal 

1  Sibofo  hiâtorieo,  Jà  cltAdo-Ori  deputados  por  8  PatiIo  foram:  Nicolau  Ferefrm 
da  Campo*  Vergueiro,  António  Carlod  Klheiro  de  Andrada  Machado  o  Hllva.  Joaé  Ricardo 
da  CotU  Afilar    de  Andradv  Dioço    António  Koijú.  Josá    Feliciano  Fernandes  ['Jnheiro, 

't    Vanael  da    Silva   Boeno    itoraoa    assento  como    supplentei,    Antunio    Paes   de 
(idemi.  Francisco  de  Paaia  8ou»a  e  Mello  'nAo  tomou  assento). 

2  CoDMibeiro  Ole^^ario  H.  de  Aquino  h  Castro. 
9    Vide  o  Douo  estudo  sobre  Oetfnkantên,  publicado    em    Mniço   de   \902.     O    mar- 

£M  de  Aracaty    men.-ce  ser  Julgado    melhor  do  que  tom  sido  geralmente.    O  visc'<ndo 
Tannay  eonfloa-noi,   para  ler.  pouco  antca  de  mnrrer,  a  i>  parte  de  uma  hiographia 
leta  de  Otjnhausen.     K'  nm  trabalho  •  Bplr*ndi'1n,    Igooramos  si  o  concluiu.  -  bom 
A  Wida    do   Alauriin'a    f^rnrynr,    B.wAo  >\Q  Mol^ja-.-o.      c«j a  carreira  Iramortal  des- 
sa imprensa  de  Cnyabã.   eu    :u<>.'.  o  i9>'0.     Ksto  foi  uma  das    figuras   mala 
da  historia  de  Matto  Oroiso  no  seoulo   19. 


r 


—  102  — 

ÁTooche ;  pela  do  biq>n  e  clero,  o  viprario  de  M  Boy,  Alexandre 
Gomes  de  Azevedo,     E  fleoruiram    para  o  Rio  de  Janeirr^. 

Foi  no  dia  9  de  Jancim  de  1822  que  eaaas  coiimissõeSt  e 
outras  do  Rio  de  Janeiro  e  Mioas  Gerae?,  «e  dirig-iram  em  muito 
cofjçorrido  présiito  ao  príncipe  regente,  que,  depois  de  ret!ebel-Aa 
e  oavH-aã,  respondeu  que  ficaria^  na  crença  de  ser  ma  para 
BEM  DE  TDDoa  K,  em  get^uida,  no  dia  lU,  oTí^-anisoii  o  ministério^ 
cabendo  ao  conselheiro  Jo&o  Bonifácio  as  pactas  do  reino  e  doa 
negócios  exiran^eiros  (1),— E&tava  papsado  o  Rubicou, 

Desee  dia  IG  de  Jaueirn  até  12  de  Outubro  de  I82*i,  a  bÍ6- 
toTÍa  de  JoEé  Bonifácio  é  a  historia  da  revolução  da  Independência 
do  Brasil  e  da  acclaTraçao  do  seu  Primeiro  Imperador,  Ja  es- 
crevemos, si  bem  que  resumidameniR,  esta  historia,  em  outra  a 
columníiEi  (2).  Ha  quem  dif^a  qve—biurepeiitapíacçnt  Seremos 
lacónico,  afim  de  n^o  (^an^^ar  o  leitor  e  nào  alongar  demasiado 
esto  artigo,  onde  piocuramos  esboçar  aiiteb  a  figura  do  Sábio  do 
que  a  du  Politico 

For  decreto  de  3  de  Julho,  tni  nomeado  ministro  da  Fazenda 
Martin  Francisco  Kíboiío  dp  Andríida.— A  Beruarfia  de  Francisca 
Ignaciú  convuUiotiára  S,  Pnulo  e  fora  eaug-á  de  perseguições  in- 
justaa:  o  movimento  popular  de  23  de  maio  não  fôra  um  assomo 
de  reacção  lusitana  e  fim  o  frncto  de  dissençõea  locaes  e  divertren- 
cias  ]ie^soaes,  do  ciúmes  políticos,  «questão  de  pennachoi, — Fôra 
illogicn  suppôr  que  o  coronel  Francisco  Ignacio,  o  ouvidor  Costa 
Carvalho,  o  ex-capitâo  general  Oeynhausen  e  outros  patriotas 
eram  infensos  A  causa  brasileira  e  aos  interepáes  paulistas  (3J, 
O  Príncipe  Regente  dirigio-se  a  S.  Pauto:  foi  nesta  viagem 
providencial  que  S.  A.  *írgueu  o  brado  do  Ypiranga  e  consum- 
mou  a  separação ^e  a  Independência*  (A\ 

Cumpre  lembrnr  que,  dias  antes,  «acbando-ee  reunida  em  con- 
selho toda  a  administração  pela  princeza  d.  Lecipoldina,  o  sr,  Manin 
Francisco,  ministro  doa  neg:ocios  da  fazendn,  proprz  que  o  Bratil 
se  devia  declarar  independente  de  Porrugal,  visto  a  má  condncta 
das  cortes  portu^tiezas  para  com  elJe;  esta  ideia  foi  energica- 
mente defendida  pelo  sr,  José  Bonifácio,  ministro  do  império  e 
dos  negócios  extfangeirfií,  e  npoinda  pelo  resto  do  ministério, 
;fícaDdo  eucarregado  o  dito  ar,  Martin  Francisco  do  mandar  o  of 
íicio  declarando  esta  decisão  ao  priucipe,  que  então  se  achava 
em  S.  Pauío.  O  que  logo  tudo  teve  logar,  decidindo  ao  prín- 
cipe a  praticar  a  heróica  ac^ào  do  campo  do  Ypírangfl.*  (5) 

Decidida  a  Independpncia,  seguia  se  marcar  a  forma  de  go- 
verno. Escreve  António  de  Menezes  Yasconcellos  de  Drummoud; 


1    JqSd  Vendei  de  ATaitíida»  XM^t  Gtmtalúpieaí^ 

í    Álbum  Jmptriai,  u,  ;.\  dfs  i:u  de  JiiDelra  iJo   IflOfi.    Artigo  I>.   /Wro  /. 

3  V|d«  A  Ititerofianlu    p^ilonlc*   hlftáricii    eotre  o  dr.  António  Pka  c  o     birio  do 
À  litmardO'  4«  Fraifciico  IgnócWt   triCHcrÍpt&  nm    ^tritfd  do  JuiíHmío    Bigíori- 

ca  iê  S,  Pamto, 

4  ÁlbMm  Jmptrinh  Ti,  ?,  nrt^   clt, 

h    Eit>gi9    Uitt-arica  do  dr.  E^   J,   da  8ltv&  Uili,  nota  33  &  pag.  ISS. 


—  103  — 

cA  ideia  de  se  confeiír  ao  príncipe  o  titulo  de  imperador  e  não 
de  rei  DABceu  exclusivamente  de  José  Bonifácio,  e  foi  adoptada 
pelo  príncipe,  com  ezclus&o  de  outro  qualquer. 

Nos  conselhos  al^ma  opposição  houve  quem  fizesse  a  esta 
ideia,  não  por  a  jnlj^r  prejudicial,  mns  somente  pelo  temor 
de  que  viesse  oecasionar  al^nm  embaraço  para  o  reconhecimento 
das  outras  nações.  Os  que  assim  pensavam  opinavam  pelo  titulo 
de  rei,  que  nfto  acharia  os  mesmos  embaraços,  sobretudo  da 
parte  das  grandes  potencias  da  Europa.  Jos<'t  Bonifácio  refutou 
todoí  esses  argumentos,  que  lhe  pareciam  infundados. 

cO  Brnsil,  dizia  elle,  quer  viver  em  pnz  e  amizade  com 
Iodas  as  outras  nações,  ha  de  trntar  e<riialmeute  bem  todos  os 
eztrangeiros,  masjámfiis  consentirá  que  lhe  intervenham  nos 
negócios  internos  do  paiz.  Si  houver  uma  fó  nação  que  não 
queira  »ujeitar-Ee  a  esta  conHiçuo,  sentiremos  muito,  nias  nem 
por  isso  nos  havemos  de  humilbar  nem  submetter  ú  sua  von- 
tade». Estas,  e  outras  palavras  de  egual  peío  e  consideração, 
elle  as  disse,  em  minhu  ])resença,  a  M.  Chamberlan,  encarre- 
gado de  negócios  da  Inglaterra».  (1)  Era  a  liuguap^em  alti- 
Tt  de  es'.*larecido  patriotismo,  cônscio  do  sua  força. 


O  Ministério  Andraf^a  prrstou  emineTitissimos  serviços  ao 
Brasil.  Confessa-o  uma  testemunha  inf^uspeita  e  illustre,  íal- 
Imdo  dos  deus  irmãos  ministros : 

« Nenhuns  outros  entravam  na  admini*-tração  debaixo  de 
flwlhores  ans]MCÍos  de  opinião  publicn,  qno  um  o  outro  gosAvam 
6m  grau  superior  de  saber  e  patriotismo,  ]>rincipalmente  o  pri- 
moiro.  Era  seguramente  este  o  único  homem  apontado  então 
como  possuidor  das  qualidades  nece&saiins  ]>ara  diriírir  a  revo- 
lução, porque  ao  prestipo  de  hua  popularidade,  necessária  a 
tcdos  os  ministros  em  todos  os  tempos,  e  com  muita  especiali- 
dade em  crises  revolucionarias,  reunia  vasto  saber,  imaginação 
vi?a,  actividade  sem  egual  e  intrepidez  remarcavel. 

Todas  essas  qualidades  desenvolveu  durante  o  temj  o  da 
ma  administração,  com  geial  conceito  e  applauso... 

Entrou  o  sr.  José  Bonifácio  na  crise  mnis  assustadora  por 
que  esta  cidade  tem  passado.  Jorge  de  Avilez  acabava  do  in- 
snbordinar-se,  á  to-ta  da  Divisão  Auxiliadora  de  Portugal,  na 
noite  de  11  de  Janeiro,  escandalisada  da  nobre  resolução  que 
8.  M.  o  Imperador,  então  Príncipe  Kegento,  havia  tomado,  no 
dia  9  do  mesmo  mez,  de  ficar  no  Brazii. 

As  enérgicas  medidas  do  mesmo  senhor,  secundada.^  pela 
attitude  guerreira  que  a^  tropas  brasileiras  e  o  })ovo    em    massa 


1    ÁnmMã  da  Sihitotktea  .Vaeional,  rol.  XIII. 


r 


—  104  — 

desta  CEpitftl  desenvolTeram,  no  dia  12  e  seg-uiãtee,  obn^aram 
aquelltí  getieral  a  embarcar  com  os  i>eiie  âuldndúa  para  &  Praia 
Grande.  Mas  hta  uâo  bastaTa :  ora  nece^gArio  obrtj^al-os  a  fia- 
hir  para  fora  do  Brasil.  Isto  se  conseguiu  com  effeito  ;  e  nfto 
se  pôde  negar  que  eata  acção  heróica  íoi  dâvida  á  energia  e 
iDtrepidess  do  príticipe  regeu èij,  como  Ó  de  todos  bem  subido : 
mas  t-gta  aó  não  fora  bastante,  si  o  sr,  José  Bonifácio  não  esti- 
vesse á  testa  dos  neg^ocios,  e  os  nuo  dirigisse  com  ac-rto,  flem 
que  p^r  isso  q^uei ramos  iteg^ar  gloria  diâtincta  ao  miui^tro  d& 
Guerra,  o  sr.  Joaquim  de  Oliveira  Aivareã,  que  nessa  ouctisí&o 
lhe  coube,  pela  actividade  e  boa  disposição  de  suas  medidas. 
Aqoi  ternos  um  acto  grande  deste  Ministério,  qae  é  ntscesaario 
lançar  na  conf»  da*  suas  (tbras  boas. 

Seja  o  segundo  a  creaçÈlo  do  Goneelho  de  Procuradorea  Ge— 
raes  das  Províncias  do  Brasil,  por  decreto  de  16  de  Feví'rt?iro ; 
medida  politica  e  acertada,  qufl,  iançHndin  os  primeiro»  funda- 
tneutori  da  nosaa  repre^iBiitaçàn  nacional,  foi  precios-a  pedra  imaa 
que  priíicipií  11  a  Httrabir  todaí*  ua  provinciítí^  »  um  centro,  ^em. 
o  qufil  a  divisS-o  houv^^ra  sidu  inevitavtil,  a  Indcfiendencia  teria 
EÍdot  sinílo  impraticável,  pt^b^  menos  mnu  difficil  de  obt«  r  e  eu- 
luctada  de  muito  sunguo,  e  o  [tr>pciio  npp^r^cin  tardei  ou  nunca, 
como  era  mais  natural.  Graças,  portr.nto,  a^i»  governo  que  iiot 
preparou  tfto  gríinde  bem,  o  nos  poupou  a  t^intoa   ma  er;. 

Para  que  tudo  fosse  rápido  na  ciiuaa  da  lud^^peiidi^nciaf  o 
dfcreto  de  3  de  Junbu,  deliberado  no  Coneelho  dos  Procurado- 
dores  Gera  s,  e  referendais  peJn  sr.  ÁiidradH,  [treparou  o  pri- 
inteiro  p.T.s»0  para  ellp,  ou  heju  antes  n  segundo ,  porque  o  pri- 
meiro foi.  na  nosãa  opinião,  o  mage-to-o  acto  He  9  de  Janeiro» 
Convncíida  põr  este  decreto  uma  Ãssemblea  (jeral  Qf-n^-tituinie^  J 
segura  ficfjú  desde  lo^^o  ao  B^njcil  a  certeza  de  que  ia  eer  in-  ' 
defíen  tente,  e  possuir  uma  Constituiçilo  ;  aa-im  »«  veriticou  com 
effeito  e  a  quem  se  devem  estp^  dons  bens?  Sem  ne^atnioa  o 
primeiro  movei  de  jíbenome-nos  ràn  espantoso*  pela  rapi-lez  com 
que  se  obraram  á  foiça  d;i  npini&o  de  tod^*  o  povo  brnsiieiro 
que  se  pronunciou  a  uma  só  voz,  cnin  ft^rçu  soberana  e  irrcsia- 
tivel,  cumpre  que  tributemos  ao  g^fverno  o  devido  recfinbeei- 
menio  pela  s^bednria,  |iatriotismo  e  exaltado  liberali-imo  com 
que  i^oube  obedecer  a  e»su  mesma  opiniAo,  aproveitar  se  delta  e 
dirigi l*a  para  prosperidade  do  Bnisil  Me.nos  vigilância  do  go- 
verno, fii  elíe  tivesse  tído  menos  patriotismo  ou  illiberal,  o» 
espifit'»»  que  se  exaltavam  Gi»m  amor  pela  Indepf^udericLae  Goti'- 
Btituii^ão,  bouveram  tomado  outr»  vereda.  Graças,  pois,  ao  go« 
veruo.  que,  pelo  acerto  com  que  dirigiu  o  Leme  da  náu  do  Jijsia* 
do,  nos  levou  a  porto  de  salvação. 

N^o  podia  escapar  ao  génio  crendor  do  primeiro  ministro 
do  Bfastl  que,  d''clarada  a  lu  lependencía^  principal  ponto  a  que 
eaminhHvam  sttas  vi»tas,  era  necessária  â  ac^lumaçao  do  Prin" 
cipe  Regente;    este  pas^âo  cortava    toda^  aa  vistaít    de  esperança 


—  105  — 

qne  Portugal  niada  pndesse  ter  sobro  o  Brasil,  e  destruía  ao 
mesmo  tempo  quaeiqner  idcíias  desvairadas  qne  alg'uma  província 
porventura  pudesse  ter,  e  é  fora  de  davida  que  com  efiV*ito 
ãnha:  era,  por  conseqaencia,  necessário.  Gatrou.  pois,  ues^ta 
empresa,  e  fácil  lhe  foi  ieval^a  a  bom  resultado,  porquo  os 
ânimos  «-staTam  dís])08ros.  Znldsos  patriotas  uniram-ctí  a«>  Mi- 
nístrfs  dÍ9pazf*ram-se  as  cousas,  e  veríticou-se  a  ncclam^irAo  no 
sempre  memorável  dia  12  de  Outubro  de  1822.  «m  i-ei-  pro- 
TÍncias  a  uma  só  voz,  e  á  mesma  hora,  e  todas  as  outras  tizeram 
outro  tanto,  immediatamente  que  puderam. 

Na  nossa  opiuíAo,  <*iite  pas-o  prifsei  vou  o  Brazil  de  «rran-^es 
males,  firmou  a  i^sua  Independência  e  apressou  o  reconlicc.iinrnto 
desta.  E  porqun  a  «floria  de  uma  jrn.ndti  a  ção  é  stíMípni  do 
general  que  a  díri<;e,  emborn  hej-i  verdade  que  na  McrlaiitavAo 
do  Imperador  tive>^am  dístincta  parte  muiti  s  liome'  s  ]).*irriotas 
e  o  povo  todo  que  unanimemente  a  queria,  nm;xuem  on^^nrá 
nejrar  ao  Míníatro  que  a  prrt^idiu,  o  logar  distincto  que  neíla 
t^ve,  e  que  fez  um  serviço  relevante  á  aua  Pátria. 

A  ordem  natural  do  se«j:u>nienr(»  da  caura  da  Independência 
obrigou-nos  a  alterar  a  recordaçAo  de  diversos  act*  s  inip«)rtMntes, 
que  simultaneamente  í ilustraram  a  marcha  patriótica,  sábia  e 
activa  do  {governo.  Todf  s  f^abcm  a  actividade  que  se  tomou 
contra  Portu«ral  e  » cioso  seiá  nicordar  a  ^'•uerra  que  do  Kio  de 
Janeiro  se  fez  ao  >^eneral  Mad^^ira  e  li^  suas  tropas  na  Hahia.  O  ma- 
nifesto do  Pricipe  Regente  aos*  povos  desto  Império,  datado  de  1 
is  AsTOStn  de  1822,  e  nutro  aoít  governos  e  i  a(;òes  nmitras,  com 
dita  de  6  do  me^mo  mez,  hão  pf*(;a^  ({ue  muito  bom  nm  os  seus 
autores.  O  decreto  de  aninifltin  pelas  pai^sadas  opiniòeH.  de  18 
de  Setembro,  ordenando  ao  mesmo  tempo  o  disr.inctivo  —  «  Inde- 
pendência ou  mortn » — adoptado  pelo  Princip»^  Rf»«j:ente  nos 
Cimpos  do  Ypiran*^a.  e  mandando  sahir  os  di-sidentes,  acto 
foi  n&o  só  de  phtrioti«'mo,  mas  di^  íjfcnio  muito  politico,  bem- 
iozejo  e  liberal.  Outros  do  mesmo  m<'z,  que  designaram  o  tope 
nacional  brazileiro,  deram  ao  Hrazil  um  escudo  de  ai  mas  e  mu- 
daram a  côr  das  fardas  dos  cria  ios  da  ('a^^a  Ini])erial,  são  provas 
nada  equivocas  de  génio  t^o  nacional  como  cr^adir  do  ministro 
que  os  referendou.  E,  para  que  ir  mais  longe  V  O  que  tica  dito 
basta  para  formar  o  conceito  de  que  o  governo  em  1822  fea 
serviços  notáveis  ao  Brasil,  que  este  nunca  deve  esquecer.  . . 

Os  roais  membros  do  Mim -ter io  triibalharam  de  accôrdo, 
iià»»  tiveram  por  sua  posição  logar  (>pj»ortuno  de  sobre-abi- 
Mas  não  é  bom  que  deixemos  de  ta/er  bonrosa  memoria 
do  fir.  Nobreg^a,  que  se  fez  distincto  jiflo  seu  amor  dos  princípios 
eoustitucionaea,  nem  do  sr.  Tactano  Pinto  do  Mimnda  Monte- 
negro, depois  Marquez  de  Vi  lia  Real  da  Praia  Grande,  em  quem 
resplandeceu  sempre  amor  de  justiça  e  bom  fazer. 

O  sr.    Martin     Frrncisco    i Ilustrou     o    seu     Ministério,  pelos 
princípios  sem  exemplo  que  desenvolveu    da  mais    stiicta    eco- 


106  -^ 

noinía  na  despesa  do9  d inli feires  públicos,  e  esmiuçada  fiâfalian- 
çic  da  receita:  qualidades  gjlo  estas  que  nem  os  seus  inimigos 
lhe  tíím  &abr<lo  uegar,  e  ellas  fAzeiUt  ná  no^&u  opiuíào,  o  tnsis 
soberbo  eloírio  qno  o  mais  perfeito  admiuistrador  da  Fasfienda. 
páde  desejar.»  (1) 

A  28  de  Outubro  de  1822  k  lavrada  a  dt^mií^sfio  do  Mi- 
nÍBt*i^rio.  O  povf*  reclama  cm  tnmaiUo  a  sua  reintcgraçilo:  o 
Imperador  cftaa.  r  os  Andrndas  voltam  ao  podtT  doua  difis  de- 
pois, com  medidas  extrnordinarins.  Procede- se  a  umit  devassa, 
em  virtude  da  portniia  de  11  de  Novembro*  contra  «uma  fa- 
cção occulU  e  tenebrosa  de  fnmo&os  derr.íigoíros  e  anarchííita&»  ; 
e  nella  %ho  incluídos  José  Clementei  O  «^i^Dcral  Nóbrega^  Ledo^ 
cónego  Januário,  padr^  Lessu,  Doininf^oi  Alvee  Branco  e  ou- 
tros eer^idores  distinctos  do  psisi.  SesTue-se  a  dí^portaçào  ou  a 
prisAo;  Lí-do  consegue  fujíir  pnra  a  Banda  Oriental.  Jmé  Bo- 
nifácio inauj^ura  uma  politica  de  reacção,  «Seu  zelo  o  levou 
talvea  a  actos  discricionaricSt  que  o  verdadeiro  liberal  reprova, 
mas  escuta  o  rpspeita  pífios  motivos  cjne  os   prodnziríim.» 

O  reverso  da  medallia  está  na  dÍESoluçÔo  da  Constituinte,  que 
perjurara  ao  peu  mandato,  e  na  pri&ao  e  de[vortaçíio  doa  três  Au- 
dradas  e  de  mais  l'i  deputadf^s,  ar^ruidos  por  seu  turno,  pela  reac- 
ção coiiRlitucíoufll,  do  «faifo^os  demasrogos  e   Jinarchista?,»  (2) 

A  demiís&o  do  Ministério  den-se  a  17  de  julbo  de  18Í3; 
a  disyoluçíio  a  23  de  Novembi-o  :  «ct,5  necessarin,  que  livrou  o 
Brazil  da  anarehía  parlaiucntar;  acto  strictamento  constimcional, 
que  íissp^''urou  ao  Império  a  decretaçào  e  o  juraaiento  de  um 
pacto  Fundamental,  tido  até  boje  como  um  modelo  de  fãbedo- 
tia  e  liberalismo. 


nu  R*  tím^  jtopa  imporlAlfttíJ  pM»  n  nn^tn  hlPtorljt  oit<í  dofnmcíriíft.  [nUtnl:i«to-0  Mi' 
mideríQ  doí  »rt.  Àndraia*.  Cnniprirli  irvintcrgs^cT-^cj  ni  Inie^aí  mns  nOo  qacrerufli  nh»- 
aju-  ã^  ^oneroifsk  b^ijtliâlidndD  dpstia,  lllustriiiln  rrdncçfta. 

KJf^urArA  çtn  ien  1at(ílri>  teÕr  no  Tolbctí;  ciu  qno  pretcDãemoi  cnrdxnr  tiU  pcqnoni 
téríe  úa  nrtíçod 

(^)  «  EniTii  tií>  Andrndna  t^oHtícos  vigorosos,  rrn1tenfE?a,  úbçtlniifloE.  Ob  !pds  antago- 
nistns  TtM  n  diAm  ctspcrjir  riellca  toler.iTicU,  nem  qnsiitd  Tnrr-ndo  ni:or«  cúefe  dn  npita- 
•  tçjto  purlamcnL-^r»  domiTiArdo  com  >«ntf  IrinAof  a  iitiemlnlèn  cortílUuloto,  Jna^  Bonif^ela 
ps^ou  i<iii  dar&$  e  dropaiif lentos  ri.'pnígn?rnB  as  violcnt:iB  P^irrctfiif^cA  catn  que  os  »dqs 
emulou  lhe  Iiaviam  nniíirgnraíJo  n  iiiifliEenciíi  o  o  porlpr.  O4  Airlrudim  jiieamni  no  Pi*r!íi- 
niento  e  nn  liiprcnsA  uma  prntrrn  inexorável,  de  qnii  £c§^iirftm«DiC9  dAd  ealiift  avantif^jailA 
a  pop^UrLdade  Q  u  foturo  do  juvenil  JroperAtlor. 

O  TarAr\3fa  e  n  Srníínflía,  or^nnii  dos  Andraiin*  riA  fnipranan^,  nifiiA<riiiii  Sk  pxlsteneta 
MtTibQlAda  no  i^ftblpçto.  Jofé  BooiTíicfcr,  quQ  nJlú  ponstifa  doiM  DrAtorlov,  mn!  pndorU 
trftatadar  «ni  nrrujas  d»  tribanu  a  fortaíez»  r.iroiiil  do  scQ  espiritei,  «  Eadoíiilíú  fervor 
dm  fuaa  patxJ)c«.  c  n  dora  atiiniiudveriíAD  hm  euua  cuntríidktore*  Mn-^  a  pnl^ticn  aiidjii 
do*  tret  Iriíi-iiOi  tínba  p»ra  *»  lucrns  do  ParlaiBenlo  «  voa  de  Anloiiío  Carluí,  fogo*», 
«loqtieittQ,  Ap<TÍXDnid«.  A  ifiembléji  foi  ectAo  a  tcetia  d«  violenti«íifm[i9  debatç»,  «ru  i^qd 

0  po¥o.  inciniiicndo  no  próprio  recinto  pArfnniPtitnr.  t«m^n  vm  pcln*  Andri.dMi  c/tntrA  ot 
qii«  o  ««d  pAi-ttd^  v^rlicrnvfi  coidd  Infí^toi  à  Ubcrdndo  b  Jnderpendcocla  do  Brasil.  '  *ev- 
■Ao  àe  nj  do  Novcmb'»  íic  1^^3  fleou  ptira  ftnipr»  memorada  como  uiu*  da»  hijiIs  tcm- 
pstliiAAítii    Hem  ú  ^D  cxtrattbAr  qiifl  tm  seu  dífflcM  iiDVleJ;4do  a  nnc^o  nloda  !ni>xp«ria.  e 

01  im»  priuiPÍros  míndaUríni  aã  il*"fTi6$çtn  irnnivjÉr.  António  C«rlo4  iua»iroa-aA  há- 
quellA  tcrmenbofa  c^njDDCtnrn  um  tríbctno  revolDctonaTln 

Ah  ftaiNflipe  da  cooi^encio  pNti^elA  refârverom  itiAls  Indnmltntt  sob  a  nrdento  ínflulçAo 
io  »&t  dos  tropiâof,  A  críto  potJtka  Rmoav^eiva  dangnãntai  dosildlúâ  na  Brasil...  f—La- 
Uno  Voeihf,  op,  cit 


^L 


~  107  — 

  bordo  do  navio  JéUCfjnia^  seguiram  os  det^terrados  a  2 
de  NoTembro  para  a  França.  .Toeu  Bonifácio  foi  tabitar  nos 
arrabftldes  de  Bordeaux,  onde  livre  do  baiulho  das  grandes  ci- 
dades e  rodeado  da<s  pessoas  que  lhe  eram  mais  caras,  se  con- 
lolava  com  a  leitura  e  cultura  da  poesia. 

Em  princípios  de  1825  ft>z  elle  imprimir  as  Poesias  aviil- 
90$  de  America  ElyttiOt  onde  se  deparam  composições  nota- 
taveis  pela  forma  genuinamente  vernácula  e  nào  raras  pela  inspi- 
ração, qnaes  a  Ode  aos  Bahianoa,  a    Ode  aos  Gregos^  e   outras. 

A  metfífícação  é  impeccavel.  Na  Ode  intitulada  O  poeta 
deãUrradOt  o  patriota,  ulcerado  ])ela  injustiça  e  pela  ingratidão, 
expande   a  sua  indiguaçSo  contra  os  seus  adversários. 

Ora  é  a  saudade  que  o  punge  : 

Os  lábios  que  ora  movem  moUes  vci*so8, 
Já  levantar  souberam  d.i  vingança 
Grito  tremendo,  o  despertar  a  Pátria 
Do  somno  amadornado. 

Mas  de  todo  acabou  da  pátria  a  gloria ! 
Da  liberdade  o  brado,  quo  troava 
Peio  inteiro  Brasil,  hoje  emmudece, 
Entre  grilhões  e  mortes. 

Sobre  tuas  ruínas  gemem,  choram 
Longo  da  pátria  os  filhos  foragidos  : 
Accusa-os  de  traição,  porque  a  amavam, 
Servil,  infame  bando. 

Ab  !  Nflo  diga?,  6  zoilo,  mal  do  vate, 
Si  aos  lares  seus  nào  v^^lta;  acícalado, 
Buído  ferro  afogaria  o  grito 
Que  pela  Tutria  ergue&sc. 

Aos  inimigos  que  o  lançaram  a  caminho  do  exílio  c  o  rc- 
jaimm  a  praias  extrangeiras  : 

Maldição  sobre  vós,  almas  damnadas! 
A  taça  do  prazer  a  vós  vos  saiba 
Como  o  mel  venenoso  das  abelhas 
Da  cisplatina  plaga. 


Qae  um  Trasybulo  novo  so  levante 
c'am  punhado  de  heróes,  a  tyrannia 
Xo  enbangnentado  throno  já  lutante 
Cabirá  aos  pés  exaague. 


—  loe  — 

Outras  vezes,  esquecendo  qne  a  velhice  lhe  está  já  inti- 
mando a  temperança  do  coraç&o,  o  estro  de  José  Bonifácio 
voeja  em  raptos  eróticos.     Em  vez  de  cantar  como  Horácio: 

Desino  dulcíum 

Mater  soeva  Cupidinnm 

Circa  lustra  decem  flectere  mollibus 

Jnm  durnm  imperiis.     Abi 

Quo  blandse  juveuum  te  revocant  preces  :  (1) 

pede  ás    conFolações    do    amor  o   lenitivo    ás    suas    maguaa   de 
cidudfio  e  de  proscripto. 

Nas  poesias  de  Américo  Elysio,  além  de  muitas  originaet 
compusições,  deparam-se  notáveis  trasladações  d«  eminentes  poe- 
tas, antigos  e  modernos.  A  poesia  bíblica  está  alli  representi^ 
da  pela  paraphrase  de  uma  parte  do  Cântico  dos  Cânticos,  A 
mn^a  greco- romana  tem  tio  livro  a  sua  parte,  nas  versões  de 
Pindaro,  de  Hes^iodo  e  Virgílio.  Dos  poetns  inglezes  apparecem 
trasladados  alguns  trechos  de  Ossían  e  de  Young.   (2) 

VI 

Sete  longos  annos  durou  o  destf»rro. 

Ao  cnbo  deste  tempo,  voltou  o  conselheiro  Andrada  ao  Bra- 
sil ;  e  tendo  perdido  na  travessia  sua  boa  esposa,  companheira 
dos  seus  trabalhos,  aviso  que  a  Providencia  lhe  mandava  doa 
males  que  o  aguardavam  na  pátria,  beijou  coberto  de  lucto  as 
praias  de  Níctheroy.  O  nobre  velho  é  bem  recebido  do  Impe- 
rador. M/iS  de  pouco  lhe  poude  file  servir,  pois  os  caminnoi 
da  gloria  por  onde  tinha  começado  a  sua  carreira  estavam  se- 
meadoii  de  abrolhos  impossíveis  de  se  arrancar.  Por  este  tempo 
o  Corpo  Legislativo,  rt conhecendo  os  grandes  serviços  presta- 
dos á  pHtria  por  este  illustre  braf^ileiro,  satisfez  aos  desejos  do 
governo,  que  lhe  concedeu  a  pensào  anuual  de  4:0001(000. 

Ketiiado  á  ilha  de  Paquetá,  ainda  alli  o  foi  desenterrar  a 
calumnia:  forja -se  o  plano  de  republicas  ridículas,  e  se  apregoa 
como  o  sou  chefe  o  venerando  ancião,  que  não  responde  sinio 
com  o  desprezo.  E*  porém  neste  mesmo  tempo  que  uma  socie- 
dade sabifl,  a  Imperial  Academia  de  Medicina  da  Corte,  como 
para  o  indemnisar,  o  escolheu  para  sócio  honorário,  honrando-0 
assim,  e  honrando- se  egualmente.  Egual  tributo  lhe  pagou  a 
sociedade  de  Instrucção  Elementar  (3). 


(I)    Horat.  Carm.  IV,  4  -8— NoU  26  do  sr    Latino  Coelho. 

{2i  lá  ibid.--  Daranlo  aindi  a  aaa  reiidenoia  em  Portagal,  tradaiia  do  gr^go  o 
Idyllio  A'  Pritnartra  Pablicon-o  em  !HI6,  na  impressilo  régia,  cotd  as  inloiaei  J  B.  A. 
8.  Bahia  mais  tarde  trantcHpto  no  Parnaso  Broiiltiro,  caderno  IV,  pag.  61  Vtia  oa 
edIçAo  de  l**»\.  a  paga.   140    144.com  nnuk  Advertência. 

(3i    CU.   Eiboço  Hitt.  anon. 


—  109  — 

Eis  cbpgadoí  o«  ominosng  di«8  de  Abril,  de  longa  mão  pre- 
parados ]ielo8  conutitueionaeSt  liberaat  e  arruaceiros  e  pnr  uma 
•oldadcsca  capitaneada  por  alpiDR  cbeíes  tmidores.  (1)  Uma 
«lei^o  impmdente  de  ministros  é  o  pretf^xto  He  que  se  servem 
01  corypheuB  da  revolução  para  amotinar  as  inassas  inconscien- 
tes. ^  o  Imperador,  can»'ad<)  de  tanta  perfídia,  abdica  muito 
ToluDtarUmente  o  tbrouo  em  seu  Augusto  Filho.  Reconhecen- 
do em  José  Bonifácio  o  seu  verdadeiro  amigo,  lavra  o  seu  tes- 
tamento politico,  nomeaiido-o  Tutor  de  seus  t^turos  filhos.  Nesse 
dia,  na  bera  suprema  do  infortúnio,  escreve  Homem  de  Mello, 
o  Ãindador  do  imp-'rio  está  abraçado  com  José  Bonifácio :  «era  a 
reconciliação,  publica  e  f>olemne,  com  o  seu  glorioso  passado  de 
11B22.— A  geração  da  Independência  estava  rehubilitada. —Ainda 
nma  yex,  a  magnanimidade  da  índole  brasileira  trouxo-no8  este 
desenlace  consolador  nec^sa  grande  crise  do  nos<o  passado».  (2) 

Xão:  a  ureração  da  Independência  não  preci^^nva  do  rehabi- 
litaçio.  A  7  de  Setembro  D.  Pedro  I  estava  idontifícado  com 
os  Andradas,  e  estes  com  o  Brasil.  Sete  He  Abril  não  foi  a 
lesvltante  de  12  de  Novembro:  eraí  in  fatis, 

A  Camará  dos  Deputados  logo  depois  annullou  a  nomea- 
ção feita  pelo  Imperador;  mas  nomeou  tutor  ao  mesmo  conse- 
lheiro José  Bonifácio,  que  aliás  protestara,  defendendo  os  seus 
direitos,  oa  antes  os  do  pae  rie  seus  augustos  pupillos.  JoséBo- 
BÍfaein  teve  então,  e  por  muito  ]>onci)  tt-mpo,  assento  na  Cama- 
n.    Nnnca,  porém,  foi  nradf>r  par  amentar. 

Ifim  18^2  surgiu  o  partido  caraniurú,  fiel  interprete  dos 
natiinpot<>B  de  lepulsa  da  nação  cuntra  o  ensaio  de  re]>ublica, 
eooeretiiiiado  no  governo  reiren  ial.  Jo^é  Bomfauio.  accuHHdo  de 
rãiiauradort  foi  envolvido  nas  intrigas  politicas  {H)  e  d  clarado 
nupeito.  Os  renlauradores  foram  victima^  das  maiorei»  violen- 
das  naa  noites  de  2    a  5  de    Dezembro    de    1833.     O  governo 

I     Tid     Álbum  Imperial  somo  eit.  art    «obre  D    Pedro  I 

t  F.  I.  M  Homem  de  Mello  Á  Constituinte  perante  a  Fittoria  in  flne.  B'  um 
Ifn  u  tanto  Incenvo  e  cbeio  de  bôM  inteDçí^ev  em  relAçllo  á  rerolncionaria  Assemblé». 

S  Bobre  o  partido  Caramurú  e  a  accAo  do»  Andradas  na  Realauraçiio,  melbor 
»■  no  artigo  referente  a  António  Carlos.  KntretKnto,  dcade  Ja  deixaremos  consi- 
Mta  facto : 

No  catalogo  doa  manosoriptoa  e  antog^apbot  deixados  por  8  M.  o  Imperador  D. 
Feiro  II,  na  Quinta  da  Boa  Vista,  encontra-ne  o  sv^ruinto  período  : 

«Carta  antocrrapha  de  D.  Pedro  a  Antnn'o  Carlos  de  Andrade,  datada  de  Lisboa,  14 
!•  aateai^ro  de  163'.  na  qnal  se  lê  a  seguinte  dvclnraçfto : 

•Art.  J  .*  A  minha  abdicaçfto  está  valiova.  jamais  tive  tençfto  de  a  declarar  nulla». 

Ho  art.  2.*  depoia  de  longaa  explicac&es.  cnclnc  :  «Amo  muito  o  Brabil;  amo 
aiHe  a  mena  fllboi  e  a  todos  os  meus  coocidadftcti  :  eu  amo  muitíssimo  a  minha  bonra 
•  a  mlaba  repntaçfto  ;  respeito  sobremaneira  o  juramento  qnc  voluntariameiíto  pruitioi  á 
OBislitofcio  brasileira,  para  ir  emprebonder  couraM  que  nflo  sejam  legacs  c  qne  u&o 
ionfonDea  com  a  TOntadoReral  du  nnvfto  brasiloiía,  a  qno  pertenço» 

Tndo  do  próprio  puubo  do  Primeiro  Imprrhdcr. 

Commentando  este  documento  que  foi  coiligido  p^lo  dr.  José  Maria  Vaz  Pinto  Coelho, 
•KreTen  a  gaieta  republicsna  O  Ttmpu,  em  s«>t(>nihro  de  1x9:^ : 

•  B'  este  documento  da  maior  valia  para  o  conhecimento  exacto  do  um  dus  mali 
agitados  períodos  da  nossa  historia  politica 

babemos  qne.  depoii  da  abdiçilo  do  Primeiro  Imperador,  os  políticos  adhesoii  ao  sou 
goreroo  e  os  qne  por  despeito,  csidrito  de  oppo>iv*Ao  uu   des^u^to  pela  incapacidade  do 

CTcmo  regenclal,  procuravam  a  volta  de  D.  Fedro  I  e    conspiravam  contra  a  validado 
aMiçio  ita  peiioa  de  aen  filho. 


—  110  — 


chofiava  03  mottna,  eequioao  do  ar*aricar  tio  vftlli'>  patriota  a 
tutoria  dí)  D.  Pedm  It.  Conseguiu  o  seu  fitn  siuistro, — Nôsaes 
dias  fataest  qttebrnm-lhe  os  vidrflça^,  cobrem  de  baldões  o  in- 
jurias seu  nomo  respeitaveli  «  o  governo,  &em  o  menor  direito, 
suspende-  o  Eleito  daflseembliía ;  o  tutor  do  D.  Pedro  II  è  con- 
duzido A  prisào  por  nm  capitAo.  A  Camará  sanecioiíou  com 
applau&os  de  sua  míiioria  túdíis  as  medidas  tcmadaa  pelo  Minis- 
terio  da  Regen'>;ia, 

Soffreu  coacçfto  e  espionagi^em  em  Paquetá  durafite  alguns 
mezes,  E  nm  historiador  rende  fj^^ríiças  ao  governo  dictaíorial  j 
«nào  foi  de  outro  modo  perse*ruido,  nem  í;ouvo  empenho  politico 
6m  obstar  p  sna  absolvição  no  processo  que  do  necessidade  lhe 
iustaurarara, ,  ,»  (1). 

Depois  da  terrível  catas trophe,  os  rectos  de  vida  senaitiva- 
e  intelleciual  que  ainda  auimavauí  o  conselheiro  Andrada  foram- 
se  esvaecíiiido  pouco  a  pouco,  até  que  pelai  3  horas  do  dia  6  de 
Abril  de  1838j  na  mesma  data  do  anuiversario  em  que  íorfi  no- 
meado par  D.  Pedro  1  tutor  de  seus  fiihosj  no  mesmo  dia  em 
que  ee  amontoou  o  combustivel  em  que  deviam  arder  a  tranquil- 
lidade  e  a  pax  do  Brat^il  foi  ^ua  alma  pura  receber  o  galar  d  ào 
de  «cus  feitos  da  mfto  d'Aquelle  que  sonda  os  corações,  e,  in- 
dulgente ás  fraquezas  da  mísera  huinauidade^  Jeva-lhe  em  conts 
até  a  menor  pArcetla  de   virtude. 

Morreu  pobre,  como  pobre  vivera.  Recusou  todas  as  con— 
decorín,"5es  e  o  titalo  de  marquez,  offerecidoa  pelo  primeiro  Im- 
perador, Nfto  representou  S.  Paulo  nns  Cortes  Constituiu tei. 
Foi  apenas  deputado  á  Ássembléa  disrolvida  e  sed  presidente  e 
vice-prcísidente.  Nunca  foi  Senador  do  Império  o  Pátria rcha  da 
Independência,  o  Washington,  ou  si  preferirem,  o  Franklin  bra» 
sileiro»..   o  nosso  Hutuboldt! 

— José  Bonifácio— ó  um  contemporâneo  e  amigo  quem  fala 
—era  d©  estatura  menos  que  ordinária,  de  figura  regular, 
branco  e  loiro  na  sua  mocidade,  d©  olbos  pequenos  o  vivos, 
que  descobriam  a  delicadeza  de  suas  sensações  e  finura  de  seu. 
espirito.  Sua  conversaçfio  era  amena  e  jovial,  e  recheada  de 
labaredas  d©  espirito,  cheia  de  a]  1  «soes  finas  e  engraçadas.  Os 
seus  costumes    eram  doces,  sua    bondade    quasi  angélica  estava 


Mtiõi  SehãMti*nuÍn§  de  entUo  eram  ctaainitÚQi  earamttrút  e  Rt  •HM  prlsclpftâi  II- 
li:arB«  «ratii  ãim^  BoniiAi;iõ,  tnior  4a  mc^olan  impcrndorr  C  tca  Irmftó  Auloolo  CarloM  El- 
beLro  ÚB  AndruJa  Mjicbndo  d  i^ilvn,   o  j;n'Jindp  arnúnr  dr^  Coii6tltulTit^>H 

Acr(.<AÍUrft->e  qoQ  )i  <lc«trulçio  da  bodi?dBdq)  lUliiur  p?ki  poro  e  A  prl^Ko  da  Jo«é 
Bonifácio  ttiiLam  «ida  ««  cnosas  dcBtmldorivti  do  pi^rtido  earamuru.  A  CATt»  gae  vAimi 
triíaacrtvtm^í  provu  que  foi  Apeou  a  le&ldadQ  de  U.  Pcíto  i  na  acto,  espontiDeo,  da 
faa  AbdícAçAo. 

For  aqueneii  Aimdi.^  n  traprcn»&  liberal  nccfls&TA  AntotilD  Carlos  de  ter  tdo  á  Ra- 
jopB  convidíir  o  ímpermdor  a  rnííar  e  o  Sei*  de  Aiinl  tlodlcoa41i«  A  vlAirera  uniB  cele- 
bre poctJiL  Iiumoriilic^,    Os  faramurtiê  Dephmmnn^  mos  Y«moi    brije    qna  era  vcrflAdfl. 

l).  Pedro  I  nfto  foE  rçitabeleE^Ldo  no  ttifono,  por^qe  nko  quli  occiíder  m  conrtl* 
doi  cafamttrúw. 

Kuib  tleçAo  é  um  nrím,  porc^ae  hft  iiOinnteclinoiíUB  talstorícoí  lue  se  i-éproúDEcni^t 

(1}    4    M.  deMAcedú.    CU.  Mtàoço  liut  ahqh. 


f 


—  111  — 

pintada  do  sen  rosto  ;  sua  pnciencia  era  stoica,  sua  toleTaiicia 
evangrelica,  sua  caridade  verdadeiramente  cbristil.  Elle  nunca 
eonaervou  rancor,  nunca  esqueceu  beneficio,  nunca  recusou 
loccorro  a  quem  lhe  o  pedia.  Nào  procurou  inimizades  siiião 
por  bem  do  Brasil ;  si  a  difficuldade  das  circumstancias  em  que 
ae  achou  collocado  o  fez  desviar  da  senda  do  estricto  direito,  o 
•eu  coraçfto  nâo  teve  parte  no  que  a  cub(íça  prescrevia.  Kmfim 
teve  defeitos,  porque  era  homem,  porém  os  seus  defeitos  eram 
pontos  mui  imperceptiveis  no  mar  do  suas  boas  qualidades. 


A  7  da  Setembro  de  1872,  no  quinqua^esimo  auniversario 
da  indef^endencia,  foi  Inau^pirada  na  praça  de  S.  Francisco  de 
Faula,  na  cidade  do  Hio  de  Janeiro,  com  tnda  a  solcninidade, 
a  estatua  de  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva,  obra  do  esta- 
tnario  francez  Luiz  Kochet,  o  mefmo  que  também  fizera  u  do 
Fundador  do  Império. 

Ao  discur>(0  do  orador  do  Instituto  Ilistotieo,  de  onde  jtartira 
a  iniciativa    para  a  execução    da    idéa,  respondeu  o  Imperador: 

«As  nações  enf^raudeceni-se  com  as  homeuas^ens  prestadas  a 
Bens  varues  illustres.  José  Bouifucio  de  Andrada  o  Silva  é  di- 
gno da  vencraçtlo  que  lhe  tributam  os  brasileiros,  e  eu  lhe  con- 
ugro  como  grato  Pupillo.» 

O  monumento  compòe-se  de  uma  e-tatua  pedestre,  de  bronze, 
npresentando  o  grande  patriota  tr^ijando  á  corte,  tendo  na  m&o 
CM|aerda  o  manifesto  de  6  de  A^^osto  de  1822  cm  que  procla- 
naim  aos  povos  a  nossa  emancipação  politica,  e  na  direita  a 
paanA  com  que  o  escrevera ;  apoia  ei^pa  mào  em  livros  amon- 
toados numa  cadeira  de  estylo  ^rep:o.  Ornam-lhe  o  pedestal 
giiatro  figuras  alle^roricas,  symbolisaudo  a  Justiça,  a  l^oesia,  a 
ciência  e  a  Integridade,  vasadas  tombem  em  bronze  massiço. 
A  inseri pçíio  consta  do  seu  nome  e  data  da  proclamação  da  nos- 
ia  independencifl.  A  ba>e  em  que  assenta  o  monumento  é  de 
mármore  rosa  do  monte  Jura,  e  os  de<;ráus  da  escada  octogonal 
que  o  círcnmda  silo  de  gianito  do  Rio  de  Janeiro. 

A*  inaun^uraçfio  da  estatua  assistiram,  além  de  S.  ]^^.  o  Im- 
perador, S.  M.  a  Imperatriz,  SS.  AA.  a  Princeza  Imperial  e  o 
sr.  Condo  d'Eu,  grandes  do  Império,  o  Instituto  Histórico  c  Cico- 
graphico  Brasileiro  e  enorme  ctncurao  de  i>ovo. 


De  S.  Domingos,  '•m  Nictheroy,  o  seu  cadáver,  conveniente- 
mente embalsamado,  foi  depositado  na^*  catacumbas  da  Ordem 
do  Carmo  da  Còrtc,  e  mais  tarde  transferido  para  a  cidade  na- 
tal|  como  em  testamento  pedira. 

Na  cidade  Andradina  repousa  o  maior  dos  Andradas, — «ho- 
mem monument  j,  homem  três  monumentos :  um,  pela  sciencia, 
outro  pela  poesia,  outro  pela  gh-ria  de    patriarcha    da    indepen- 


—  U2  — 

dencift  da  pátria;  Jmè  Bonifácio,  rf^i  de  trts   corôJiSf  vi^en,  Bo- 

resct^u,  respl'  iideu,  b  nioíreu  sftido  o  admirável  gymbolo  da 
simplicidade  ei^tupenda^  do  di'»inteiree>tí  ine^ict^divel,  da  probida- 
dtí  brílLante,  ^em  jj^ça,  e  do   patriotip^mo  mmis  acryisoludo.» 

à  T  de  Seieií^bro  de  1B72  fai  collocada  sobre  a  f^ua  sepul- 
tura a  pedra  tumulur  oftflrecida  pelo  insifíne  artista  António  Car- 
los do  Carmo  (1),  dierno    filho    da    cidade  Prauca  do  lm^»erador. 

Retiroj  Março,  1907. 

EL  Leío  Bourboul. 

Oí  De  nouft  blograpliU  d«  António  Carla»  âo  Carmo,  pablIc&ÚA  em  aon^  Juaiáççit 
i%  Fr^QCH,  era   1^=34  : 

—  Km  ií^ttB,  ftcbuidci-ie  em  Bnntot,  BODbe  gae  miqnÊlls  dda4«,  bà  f^fr^Ji  do  Cir- 
nao  «utttVMu  f  BpnLtjUlOB  o«  rwtc»  nierta^«  do  Cooiellieiro  Jo*á  B^juIíacíò  de  Andridi.  e 
Bílf»  fie™  qQ«  Rf}  i»«n(]f  hi>iive«te  scbrE  a  e^puUara  um*  pedra  trum  AlfcitmA  1  nfi{:rlpçlto 
l^ne  Htieetaiae  &oa  vltidotiroii  qa&  nlli  repourJi^nm  o*,  reiios  mortnee  do  pAtriarclm  da 
lJiúei,-endPDCiiK  O  p^tnotisiao  dft  Auiofjiò  Carlos  dú  Csirmo  r«V{tlt«f)-eQ  cotiirA  imtf» 
6BqQ4?i;ími^Qto  6  tn^ntidflo  e  lmmcdlivtan]«'n!:D  m  and  ou  pnimritr  omii  i$.ji'iãe  com  iiiícrl];^ 
çl«  ,-  e  â  ?  de  Bttcmbro  dáqoelk  itnno  fei.  a  ccl]rc«çftú  delia,  que  ainda  hoje  pâde  i«r 
viÈi%  DO  centro  do  iltar-mór  da  Ej^rc^Ja  do  CoaroDio  logo  qoé  «e  IraDipiía  o  arcchcrD.' 
lefro 

Eis  a  iaacripç&o.: 

AQUI  JAZ 

Q  Fatdâj^ha  da   ind^pARdencfa  do  Briill 

grufido  o  deHiQt«r«»»ado 

patrlotat  dínUrcto  cidadAo, 

JQBE'  BosciFAcio  Dl,  Aif^BADá   £  BtLya 

THljoto  á  virtude 

tattora  e  mérito 

Pelo  crusta  A    C.    do  Csi-ma 

8at$'ot  7  df  Sitt7,)í,ri>  tU  ISSÍt  4?  aumâ. 


M 


A  rfl^peito  deate  pledoío  a  patTloUeo  nc^o  lÊ-«e  aa  Corrtio  Paulhiano  de  10  ãaqnel- 

le   OjCS  V  annO  : 

Twmwín  ^t  Joãé  Bottifaeio^  -  A  1  do  eorreote  f^^t  posti  uma  pedra  marwora  f4^br«  o 
tumulo  úi)  dotarf-J  -panlliiu  Jiscé  Bonifácio  de  AEidrada  e  tíllva-  ciij.t»  èJnaas  acbauí^» 
em  tiitta  dã«  lepnlttirafe  dacapeila-niúr  da  Kgreja  do  Carmo  em  Baotoa. 

Rate  acto  piedoAO  foi  Mbo  pí^la  artista  António  Carloa  do  Carmo,  filho  duta  proTln- 
cla  e  dire&Lúr  da  co/apaobla  eqaaitre  quo  trabailia  acmalmaate  em   aarttoa. 

S'  djpio  de  louvor  o  modetlo  patriotismo  ditqnellfl  artf&ta 

D«ii-Ke  o  acto  lem  a  tolnlna  0ol«tiiiildad«,  «ttatido  preunt^a  dnaa  ou  tret  peaidai 
atapleimaate  apagar  da  conitdaraçla  qae  am  paíattoM  trjbala-ao  aotra  nóa  águsll»  gram^ 
d*  vultú  da  kiãioria   pátria^ 

-Feia  lei  o  7  de  9  da  Marejo  de  1í^P6  dcoa  O  Ooi-cfoo  da  Provinda  -auctoHtado  a 
despender  até  a  quantia  da  lO  c^ntof  de  réis  com  o  layantaiDento  de  um  tamolo  po 
logar  mntfl  convenleute  dí  cldnd^  de  Ha  d  to*,  para  eoccrrar  o»  pr(H::ioi«s  reiUi»  do  tíranda 
cidndao  .lofé  BoDiracio  d?  Aadrada  «  Pilta,  fnltecido  em  ti.  de  Abril  da  lÊtii^  *  Rit^ 
prolecio  BpraaeDtado  pelo  sr,  coronel  Joaqaiai  B^inedlcto  de  4a«lro«  Tallaa  (barto  do 
jApy)  foi  ftancçionado  pula  ir.  cuiuelbciro  JojLo  Alfredo. 

-Etcrevea  o  «r.  dr.  Alfredo  Moreira  Pinto  em  l»»^4 : 

•A  cotúinlftá&o  encarregada  de  ârl^r  mn  mausoléu  a  Jos4  Bonifadot  depois  da  a& 
qDletconcU  do  cOUegQ  dr.  Rd  a  ardo  Doarte  «ia  eltvaa  T  d^  Ueaembro  de  Mti^J  reuoin-ae 
na  capei  la  m^r  da  epejn  do  coo^ento  do  Carmo  e  procedeu  a  exbamtçio  dos  oasot  do 
grande  morto.  Erpieudo-^e  a  pedra  mármore  loe  exi«tia  eobre  a  sepoitara  mandada 
ColIfH^ãr  pelo  pan'itU,  artltla  e  director  de  Qitia  cooipaobla  equMtre  Aíitúnlo  Carloa 
do  Carmo,  estavam  ■»«  oeiue  do  grande  Qnado  dentrv  d«  am  caix»a  de  aioco  lendo  por 
fára  do  ffiumo  toboa»  de  outra  calxAo 

RecDUild««  «m  ama  orn^i  Ucaram  depoiiftadofl  ua  chapei  lã -múr  atá  o  dia  12  do  mesmo 
mez  de  Dei embro,  eiti  qn&  ínr^m  cundosidia  para  o  mausoléu,  i^o  centro  do  daaitro  do 
convento,  onde  hlftda  da tc socam . 

O  mauÁuIáQ  á  de  mnKo  i^oistci  artiatieo  e  obra  de  BemardellJi, 

Ha  iobri  elle  o  corpo  d  o  Patfiarcba,  d»  mármore,  sobre  uni  caixHo  tem  tampa,  re- 
poUMiDdo  a  cabeça  sobre  um  traveaaelro  e  ooberio  com  um  mnxiXo  de  brcmsa. 

Kãti  re^^ardado  por   cm  alpendre  de  vidro  a  eereado  por  um  gradll  de  mármore. 

Aoa  péf  foi  eúUMa4ii  a  pedra  ofTereclda   por  aqaallB  artista. 


JOSÉ*  BONIFÁCIO  (O  velho) 


I 


—  115  ^ 
TESTAMENTO  (1) 

KM   KOMS    DE    T)E^JS^    AUE^l 

Eu,  José  Bonifácio  d©  Andrada©  Silva,  osta tido  em  perfeito 
Jniio  e  nfiQ  flnbendo  o  t«rmo  de  minha  existência,  fiís  esto  teata- 
mento  como  minba    ultima    vontade»  e    é  da  mnnoira   Bcguiute : 

Son  natural  da  província  de  S.  Paulo,  deste  Império  do 
BraiÊlf  nascido  e  baptisado  na  Vi  lia  de  Santos,  61b  o  legitimo 
do  coronel  Bonifácio  José  Ribeiro  de  An  d  rada  com  d.  Maria 
Barbara  da  Silva,  ambos  ao  fazer  deste  já  fallecidos. 

Fui  casado  com  d.  Narciaa  Em i lia  Oleary  de  Andradai  já 
fillecida,  de  quem  tive  duas  filbas,  a  saber: 

D.  Carlota  Emilia  de  Andrada,  cAsnda  com  Alexandre  An- 
tónio YandelU, 

E  d.  Gabriella  Fredetica  Ribetro  do  And  rada,  casada  com 
o  conselheiro  Martin  Francisco  Ribeiro   dâ  And  rada* 

DeclaTO  mais  que  tonko  outra  £lba  uaturnl,  chamada  d. 
Narcisa  Cândida  de  Andradn,  a  quem  sempre  reconheci  e  criei 
eomo  minha  verdadeira  íilba,  e  ee  acha  leg^almente    legitimada. 

Nomeio  por  meu  testamenteiro: 

Em  primeiro  logar  ao  DeBembarf^ador  Francisco  de  França 
Miranda ; 

Em  se^ndo  logar  a  m«u  irmllo  Martin  Franci&co  Hibeiro 
de  Andrada; 

Em  terceiro  logar  ao  Reverendo  hniz  da  Veiga  Cabral»  aos 
quaea  hei  por  abonados,  independentâ  de  preâta<;ào  de  finura 
alguma , 

Nomeio  para  tutor  e  curador  de  minha  filha  D*  Narcisa 
Cândida  do  Andra^fa  a  meu  presado  irmão  Martin  Francisco 
Ribeiro  de  Andrada,  a  quem  p^'ço  que  t^niquanto  esta  miuha 
61ha  nâo  tomar  estado,  a  nAo  separe  da  companhia  de  san  tia 
D,  Mar  a  Amália  Nebias»  em  at tenção  ao  amor  de  mãe  com  que 
a  tem  tratado,  serviços  que  lhe  tem  prestado,  e  confiança  que 
n^ella  fúço. 

O  meu  corpo  será,  sem  pompa,  sepultado  na  í^rreja  aonde 
altimameote  me  tiver  dado  a  rolj  e  o  respectivo  Parocho  dirá 
uma  missa  de  corpo  presente  por  minha  alma. 

Declaro  qu^  tenho,  na  proviíicia  do  3.  Paulo,  districto  de 
Pamabybfl,  uma  fazenda  de  terraa  para  criação,  a  qual  se  chama 
Monserfaíe, 

Tenho  mais  na  diia  província,  districto  da  Vida  de  tSantos, 
uma  porção  de  terras  chamadas  Oiteirmltos. 


(1)  Por  JDle*rmo«  de  Intcn^se,  tr&tiiladamai  cono  Ann^Koi  o  T«fttAiiiflntQ  dtt 
JOiè  BÒnlficto  a  a  i^irte  tor&eira  4g  um  poftfnetm  do  ^lloitra  úlplamatK  SHíacI  Murin 
Li«Mi&.  Birâi/  de  J&pari,  iniftalAdA  O  Fairi^nfehi  da  I/tdtptHãêneis.  K^to  pooraoto  x^m 
noi  RoEnancei  Hlstoricús.  pnblicAdoí  «m  V&!le  da  Be»cii|  r^o  Chile,  em  i»a«lro  de  IHt^ 
obra  boje  saaito  fvm.—  E,  L.  B. 


^  116  — 


'^ 


Tenbíí  mais  na  dita  proviíieia,  diitricto  de  Piracicalja,  uma 

5 arte  n'utn  eD^reiíbo  d©  aseucar,  com  suas  terraB  e  bemfeitoriíift, 
o  qual  meu  irrnâo  Martin  Francisco  Ribeiro  de  And  rada  é  di- 
rector e  admitiigtrador. 

Tenbo  mais  uo  distrícto  do  Rio  de  Janeiro,  em  a  ilba  d© 
Paquetái  utiia  pequena  cbacaia,  com  ca^ae  p  mnis  b^mfei tonas,  em 
cuja  ca^-a  se  acba  depositada  a  minha  numerosa  livraria  (pouco 
mab  ou  tafiioH  gpia  mil  volutnea),  afora  ob  menu  manuBcriptoB. 

Tenho  encaixotada  uma  coneideravel  collecçào  mineralogic* 
em  ca^a  do  tenetite-coronel  Joâi^  Joaquim  do&  Santos;,  aBsíatanto 
na  ma  do  Lavradio,  e  tAitto  nefila  ci  mo  em  IjvroB  empreguei 
toda  a  minha  tal  ou  qnal  fortunn. 

Te'iho  vm  gn»rdft  dft  Antouio  Luiz  Fernandes  Pinto  quatro 
apólices  do  ^n^-t^rno  que  venet-m  i'ineo  por  cento;  a  &tib<»r:  trf» 
d  e~tas  acv(5es  t^ho  de  um  cnnfo  de  réifl  cada  uma,  e  a  quarta 
«ótncnte  de  qiifttrn  cent06  mil    réía. 

Também  se  acbn  an  fazer  dest»  em  sua  guarda  uma  porção  de 
dinheiro  que  ao  presente  dt-lle  vou  gaitando;  o  que  tudi.  metbor 
con&tará  da  conta  que  elle  apresentar,  pcis  é  negociante  boura- 
do  nesta  praça  e  homem  de  bem, 

Ficnram  da  minha  fallecida  mulher  m  joiaa  sepuintes  : 

Dois  tioR  de  pérolas,  a  eaber:  um  maie  finoj  outro  mais  graúdo. 

Uma  plumii, 

Brinco-i  t?  alfinete  de  p*^jto  também  ornados  de  pérolas. 

Quatrí    m^míTias  de  otir-»    com   Hiia=*  pedras  de  p*'n(*o   valor. 

Um  eordfio  de  ouro  rie  quatro  palmos  de  comprido. 

K  duB»  caixas  de  ouro  para  uso  de  rapé,  a  sab^r ;  uma 
eamaltada  e  outra  lisa, 

Tenho  ao  fazer  de^te  alguma  fr&Ui  para  uso  da  mesa  e  lases 
que  uâo  deolaro  por  poder  desencaminhar- se  alguma  ppça  em 
minha   vida  e  será  a  qufl  sp  achar  por  meu  falle^^imeiíto. 

Declaro  que  tive  contns  em  vida  do  fallecido  António  Ro- 
drigues da  Silva,  natura  1  do  Rio  do  Janeiro,  e  a  meu  vêr  as 
julgo  saldadai^  a  meu  favor,  entrando  nellas  dustentos  mil  réU 
que  ultiinantefite  lhe  tinba  dHdo,  e  cem  mil  réis  que  dei  á  sua 
enteada  pflra  o  enterro  daquelle,  do  que  existe  recibo. 

Tau  bem  me  sfto  devedores  algumas  pesfoast  cujos  nomet  o 
créditos  se  flcham,  parte  em  meu  p  der,  e  parte  em  m&o  d© 
António  T^uiz  Fernandes  Pint/i,  já  mencionado,  que  a*'  todo- 
andará  pouco  maii*  ou  menoa  por  um  conto  e  seiscentos  mil  réi». 

Declaro  que  até-  a  data  de  bije.  por  conta  que  me  foi  remef- 
tida,  d*^vo  no  Sr.  Luiz  de  Meneze».  de  Vasconcellos  Drummond, 
a  quantia  de  quatro  contos  e  duzentos  e  dezoito  mil  e  novecento» 
réis,  de  prestações  que  me  tem  teito,  entrando  nellas  o  impcrtfl, 
de  mvnha  paisagem  de  Fr«n<;a  pBra  o  Bradl  e  todas  as  despesas 
do  funerrJ  da  minba  falbcida  mulher. 

Dechiro  que  tenho  despendido  vários  dinheiros  em  beneficio 
d«  minha  61  ha  D.   Carlota   Emília  de  Andrada  e  seu  marido^  enà 


I 


-^  117  — 

prpjuizo  dos  mais  berdeiríís,  e  para  deaeaeargo  de  minha  con-^ 
Kc.eneiâ  deverá  eolrar  em  collaçâo  coin  ab  despesas  que  ultima- 
mento  úz  com  ella  e  teu  marido    a  saber : 

Um  contf'  canto  e  setenta  mil  réis  de  saa  paBgagetn  d» 
Fortug:al  para  o  BroBil. 

Cetjto  e  oiteotA  mil  néí»  Je  »iia  passagem  para    Bantos, 

Cetito  e  ciucoentd  mil  réâ,  dmb^im  adiantado,  que  por  ella 
fecebeu  neata  occasià^  aeu  marid'^  para  a  dita  viagem. 

E  duzentas  e  ouenta  mil  ré-s  por  uma  l<^trH  de  cambio 
paB&adn  em  Li^sbóa^  á  oráfin  de  João  Ribeiro  de  Carvalho;  o 
que  tudo  somina  um  conto  Btítecentoa  e  oiti^uta  mii  réis. 

l/eiXM  Á  minha  afilhada  Cu  Ho  ta  Èmilin  Machado,  que  ao 
prôBeiiie  se  acha  em  minha  companhia,  cem  mii  réis. 

Deixo  A  meu  irmáo  Martin  Francinco  Kibeiro  de  Andrada 
U>ào^   os  rneUD    manuacriptoB    que  ee    achfirem    depene  aderna  doa. 

Declaro  que  deixo  por  univerial  herdeira  da  minha  terça 
a  minha  filha  D.  Karciaa  Cândida  de  Andrada,  em  cuja  terça  é 
minha  voutade  entrai  em  em  ccllaçào  aa  quatro  apólices  do  go- 
Yemo,  acima  mencionadas,  igualmente  uma  criança  cabrin ha  cfaa- 
m&da  Constança,  e  um  preto  de  nação  chamado  Pedro. 

Deixo  igualmente  o»  meus  serviços  (si  Sua  Majestade  Impe- 
rial os  julgar  dignos  de  alguma  remuneração)  a  José  Maximiano 
Kodrignes  Machado,  na  coodiçfto  de  se  verificar  o  casamento  com 
a  dita  miulia  filha  D.  Narclea  Cândida  de  Ãndrada,  por  e&te  m^a 
ter  pedido  para  tna  esposa  e  eu  o  julgar  muito  capaz;  porém, 
no  caso  que  por  algum  incidente  se  uào  verifique  com  elle  o 
dito  casamento,  passarào  á  pessoa  que  com  ella  casar  com  appro- 
Tação  do  tutor* 

E  por  erta  forma  dou  por  c  ncluído  este  meu  testamento, 
qtie  quero  que  »©  cumpra,  por  *er  esta  a  minha  ultima  vontade, 
e  para  este  fim  imphro  &  protecç&o  dag  leis ;  e  pedi  ao  dito 
Eeverendo  Luiz  da  Veiga  Cabral,  que  eijte  por  mira  fizesse,  o 
<|nal  vai  por  mim  a^signado. 

Bio  de  Janeiro,  na  ilha  de  Paqnetá»  9  de  Setembro  de  1834. 

José  BoHiFACfO  db  ândradâ  h  Silva.. 
Padre  Litiz  ãa  Veiga  Cobrai, 

O  auto  de  approvação  é  datado  do  mesmo  dia  e  foi  feito 
por  Francisco  Manuel  de  Mello,  tabelliào  e  escrivão  do  juík  de 
paz  do  districto  da  freguezia  do  Senhor  Bom  Jesus  oo  Monte 
da  ilha  de  Paquetá. 

Ãsftignaram  como  testemunhas:  José  Martins  Vianna  de 
Castro,  José  Narcito  de  Cerqueira,  João  Pereira  de  Carvalho  e 
Silva^  Joaquim  António  de  Almeida,  Joào  Francisco  Graça  e 
João  MarceLlino  Rodrigues. 

Foi  apresentado,  em  6  de  Abril  de  1638»  pelo  testamenteiro, 
o  Desembargador  Francisco  de  França  Miranda,  ao  escrivão  inte- 
rino da  proTêdoria  da  cidade  de  Nictheroy,    Silreitre  dos  BeÍ9 


^  U8  ^ 

None»,  e  al>erto  pelo  juiz  inuiucipal  interino,  o  cidadão  Matmel  do 
Fria»  e  VascoDcelIoe,  que  maDdou  te  ciimpriase  e  se  regístraaae. 

No  dia  3  do  mosmo  mez  fiseignou  o  DeÊetnh&rg-ador  Fran- 
cisco de  França  Miranda  o  termo  de  ftceitaçào  dos  encargos  da 
teatamentana. 

Em  17  de  Setembro  de  1840  inundava  o  promotor  interino 
doa  resíduos,  o  advogado  Alexandre  Moreira  de  Sonaa  Reqniflo, 
qne  o  testamenteiro  ptovasàe  que  o  testador  fora  lepultaao  na 
matriz  em  que  ultimamente  ae  dera  a  rói,  como  determina  uma 
de  auas  diapoaiçae^. 

«Nada  consta  doB  antoa  a  respeito,  lè-so  na  Revista  Popular^ 
XII,  1861;  Fabo-se,  porém^  qne  o  corpo  do  illustre  finado  foi 
embala:; mndo  e  transportado  de  Nictheroy  para  esta  corte  e  de^ 

gositado    naa    catacnmtaB    da   igreja   da    Senhora   do    Monte  do 
armo  e  depoía  trasladado  para  a  ViUa  de  Santos, 

«ÁB  visceras  foram  sepultadas,  creio  qne  sem  ceremonía  reli- 
giosa de  qualidade  alguiua,  na  cflpt^lla  de  Nosia  Senhora  da 
Conceição  de  Nicthfroy,  onde  o  Padre  Jeronyrao  Máximo  Ro- 
drigues disse  uma  miísa  de  coi^po  presentí^,  de  esmola  de  quatro 
mil  réijí,  por  alma  do  fallecido,  a  pedido  do  irmão  do  finado, 
Martiii  Francisco  Hibeiro  de  Andrada», 


O  PATRIARCHA   DA  INDEPENDÊNCIA 

BOMAKCfl  TERCEIRO 

O   w^^m-^^f^  (1) 

Eu  vejo  Nictliero  de  lacto  coberto. 
Eu  vejo  o  mar  quieto,  e  o  zepbiro  mudo  \ 
A  grande  cidade  parece  um  deserto, 
Nas  margens  do  lago  concenlra-se  tudo  ! 

Noa  nuiroB  altivos,  do  Frunco  íeitura, 
Era  tempo  ma*-cndo  a  bombarda  arrebenta, 
Quaea  tríatea  gemidos  com  quo  a  amargura 
Do  velbc  Nicthero  no  peito  se  ostenta  ! 

Eu  vejo  cem  barcas  com  remos  pausados, 
Cobertas  de  luctfv^  a  lagoa  aulcando, 
Qu-ea  veem-fe  na  Austrália  de  cysnes  pesados 
As  negras  fileiras  em  ordem  nadando. 


1)  Oi  que  tlvercTn  preseDcEAâ[>  o  fnnerftl  de  Joi^  BonUacía,  recontiecerlo  o  qtini 
fielnaent^  procurei  deicre'Vcr  aqnílln  funetirti  pompa.  CcidíI'  poráQ  eeso  numero  é  lioil- 
t&â4.  deve  eitplic!»r  que  o  vc^li^  ^adrailn  failât«Q  em  B.  Dcmíng^oB,  pequ^nii  púv&açAO 
froDt&lrH  á  ddndo  iId  Rio  do  J<-iD?íro  :  dnJii  í«l  trAa^port.idõ  Híi  jjaleoia  imperlAl»  com 
nnmêrcsHS  soquito  da  fali[iA3^  i4  riíitpti.  do  lM%ri  do  Paço,  ondo  deaemb»rcoii ;  paftfcDn  pelâ 
freatc  do  paç<j  Imperial ;    e  íHfiivo*8aQdo  o  inr^^,    foi   refober    aa   Iianrna  riiuebrea  nã, 


—  119  — 

Entre  ellai  avante  de  todas  vG-se  nmn 
D©  m^alos  ftccordes  aa  auras  enchendo^ 
Qae  sho  compasfladas  c^o  fervor  da  eapnma 
E  o  gemer  dns  rcmoe  com  pausa  batenda, 

Gâleota  imperial  que  após  todae  avança, 
De  negro  ve  11  tido  traz  e^a  pesada, 
E  «m  trifite  ataúdn  sobre  a  eça  descansa 
Tudo  o  que  á  terra  pertence  de  Aodrada. 

'Inda  boíit^tn  domava  mil  almas  curvadas, 
Brílbava  entre  genioa,  igualava  roí  numes  | 
E'  boje  um  moo  tão  ló  de    cinzas  geladai, 
Bastidas  com  cu- to  por  finos  perfumes  ! 

À  argêntea  madeixa  já  nada  encadêa ; 
O  baço  ílbo  axul  a  si  já  nada  attrahe  1 
No  muodíi  do  tempo  cruel  tudo  é  préa ; 
Perece  assim  tudo }  tudo  assim  de  cabe  ! 

Mfti  a  alma  sublime  que  animava  Ãndrada, 
Alma  sempre  intenta  da  pátria  na  ^loL^a, 
Terá  em  nossos  peitos  eterna  morada, 
Viverá  pr'a  sempre  na  nossa  memoria; 

Sem  que  o  tempo  possa  jamais  consumi  1-Bj 
Sem  qne  a  dura  looza  om  ecu  pe?o  a  esmague, 
Sem  que  o  frio  gelj  da  campa  tronquilla 
Doa  nossos  affectos  os  fogoa  apague. 

Nos  fortes  castello»   que  Nictbero  guarda, 

A  altiva  trincbeira  relíimpeja  e  fuma, 

E  estouram  a  um  tempo  as  vos^ea  da  bombarda, 

Que  ba  pouco  se  ouviam  só  uma  por  uma^ 

E  do  GuAnabara  nos  muros  limosos 

A  barca  funérea  por  fim  deposita 

Do  Audrada  immortal  oa  despojos  preciosos 

Em  que  um  povo  inteiro  tristes  olbos  fíta. 

E  quando  (ó  portento!)  da  barca  descia 

O  esquife  sagrado  á  apíoboada  praça, 

Á  lua  que  em  lucto  seu  roEto  cobria, 

Bompe  as  negras  nuvens  e  o  féretro  abraça!  (1) 


L 


U  Site  p^etfco  Íacrd«i3te,  filho  lem  injiAh  do  acuo,  oceotrti  Uterfi[mt£i1e  conto 
ú  iwatúrú  m  texio.  e  eu  prc^c^ncloL 

Um  di «duelo  poeU  aot^o,  a  cdJa  {^r^nfUo  deu  D  tnftlor  n preço,  ú!)£GrTO[t-m<^  tixim 
ho  TeciHi  át  arte  maior,  dflYJn  hbVDr  eeropro  cadcocln  on  le^cv^in  »y1>al»^,  ^c^m  imriQ- 
gaaz  a  reRT»,  creio  oomiado  qao  elJn  ndnilUíi  exTcp^aes  :  ns  (  pãielhimcp,  quc'  ossin 
tauiio  de&tfl  m^Lro,  is  vezes  pòam  &  {sadencia    na  primeira    cu    us    lerc^iiii    ejllaba^ 


—   120  — 

E  o  féretro  pa^Pá  unte  o  pobre  npopfiito 
D'onde  a  Aug'Hatíi  Próla  d«  reia  poderosos 
Do  aniíg:n  conteoipla  o   tri&te  gaht mento 
Com  piíítoB  sentidf  flf  com  oIIiob  chorosos. 

De  acceaos  brandões  uma  dupla  ala  traça 
Do  aequito  fúnebre  a  vereda  augrusta; 
E'  mai&  tudo  um  mar  de  cabeçaii  que  a  praça 
Inunda,  e  murtnur»,  e  ameaça  e  aBsuáta. 

Um   templo  elegante,  profuso  em  lavores, 
Recebe  em  sou  seio  o  fi^retro   sHgnido  ; 
Maâ   hoje  ae  orcultam  seus  ricos  primorea 
Noa   tiegrfs  tapiaea  que  teem-nn  euluctado. 

As  iu nobres  toebsB  que  bTilham  aoa  centos 
E  tudo  abrasar  em  ^eu  lume  parecem, 
36   deixfim  \ér  rot-toa  de  dôr  maeilentos, 
Só  olhos  que  amargas  bgrimag  aquecem. 

Dõ  baliamoa  fíaos  eão  urnas  fechadas 
Âs  almas  dos  homens  que  eg'tialam  sii^â  Numes; 
UrTias  que    fomente  depoiB  de  quebradas 
Derramara  ua  terra  seus  ricoa  perfurmes! 

Da  Virçem  do  Carmo  no  templo  sumptuoso 
Tristes  eaiacumbas  ein  um  claustro  erguidas, 
Recebem  as  cinaps  do  heróe  generoso, 
Por  finos  perfumes  com  custo  sustidas  ; 

Coa  Ánjoa  ú&  g-uardam,  solícitos,    mestos, 
Até  que,  sulcando  o  procelloso  pég^Oi 
Do  velho  Patriacha  fs  acatados  re&tos 
Em  terra  paulista  vê  o  buscar  scc€go. 

MiuuEL  Maria  Libbôa. 
(Baiào  do  Japurá). 


CíiiUno  »ÍD  tQrres,  nl  Almcans,  dJ    pneote. 
For    cnyos  j&lrnfig  &m  vei  de  tu   genitv 
KeptHe«  arrfi«tr»n  tu.  pfel  ínuirlIlB, 
iDi-mtfquett  ArfiOTún   ttu    moòm  itRoTfi 
Td«  ^co«  Chpfow  de  tvútki  y  fltrei  t  eto. 

Et,  pprUDtD,  flm  eecrerer  am  ou  outro  dejtfis  ranoi  cm  ci«da&olA  na  U^ 
■fllJibft  lia  Ineorrc^Oflo,  ccQíOi»-i&9  o  ter  por  coinpiub^ro  em  til  fiUA  &  imi  ganja  Ho 
diitlD^tO  cfiiiiio  Zairltlft. 


DIOOIONARIO  TOPOaRAPHICO 


DA 


COMARCA     DE    CASA    BRANCA 

(Estado  de  São  Paulo,  Brasil) 


POR 


LAFAVEXXE  OE  X0L.E:D0 


1899 


Coordenado   pelo  dr,    Alfredo  de  Toledo 


APVEETENCIÁ 

Já  estava  qiaABi  concluída  esta  obra  quando^ 
oeste  antio,  IVram  promu  gadaa  aa  leia  creando  o 
municipio  de  Tambahú  e  tran&fe rindo  o  districta 
de  Itobí,  de  Sao  José  do  Rio  Pardo  para  Caaa 
Branca.  Por  esta  raz&o  é  posai vel  que  Haja 
algum  encano  na  desígnaç&o  de  qualquer  loca- 
lidade, et  mo  pertencente  a  um  ou  a  outro  mu- 
Qieipio, 


Casa-Brancat  dezembro,  1898, 


L.   DB  T, 


Geogrnphia  é  a  deecripç5o  de  varias  re- 
giões e  chorographia  u  de  uma  parto  limitada 
da  terra,  como  um  estado,  uma  província,  etc. 
Quando  a  doscripçlo  ee  restringe  ninda  mais, 
como  a  ama  cidado,  uma  villa,  degigna-ae  com 
o  Bome  de  iopographii^ 

José  Poíipei\ 


leto  %^o  una  apontamentos,  qtie  iíz  paraoa 
gastos  de  casa,  e  também  para  o  publico. 

JoÁO   ÃLVASBS   S  o  ARIES. 


Diccimiano  ToiícgrspiíiCQ  la  Cmarca  de  Casa  Bracca 


Áçuorn — CorregnínLo,  no  lUio  Caclioeira,   a  ff,  do  rio  Verde, 
ÁGUA  BRAT^cA^Corrego  na    fazenda  da    Frata,    nAluGiite  do 

Agua  Compkida — Córrego.  Vide  Comprido. 

Aott  Fina — Correguinlio  ha  fuzeoda  Barreiro,  afílucnte  do 
Pederneiras. 

Agoa  Fria — Quarteirão  pertencente  a  este  diatricto  policial. 

Seu  ucme  indígena  é  IroiçÂ,  pelo  qual,  aliás,  ntio  6  coribe- 
cido.  A  denominação  provém  do  córrego  Ag-ua  Fiia,  do  raunicipio 
de  SÃO  José  do  Bio  Fardo. 

Agua  Parada— Referi odo-Be    á    noiicia    sobre  Aguj?   Pafda, 

2tie  inserimos  neste  trabalho,  escreveu  o  dr»  Aríãtidt^s  Serpa  em 
►  -R/LYJ— jornal  do  Sâcraraento  (Mina»):  •  Com  effeito  nenbum 
li>g:areja,  nem  rio,  exi&te  com  eise  nome  no  inanicipio  da  Caia 
Branca.  Hflf  porém,  é  certo,  nm  peqaeno  lacrimíil,  bituado  na 
intig^a  estrada  de  7odag'em  qae  de  Ciisa  Branca  ia  n  Hho  Josií 
do  Kio  Pardo,  e  hoje  cortado  pelo  ramal  doste  uliimo  iiomn  da 
linha  férrea  Mog-iana,  donominodo  A^rua  Parada.  Nào  aerá  a  caso 
que  to  retere  Moreira  Pinto?  »  — tl'de  facto  a  esse  la^írirnal  q\iQ 
Ee  refere  o  illustre  geograplio^    pois  outro    nfto  ba  nu    comarca* 

AauA  Paroa— More  ira  Pinto,  em  seu  importante  Diccionario 
Geograpbico  do  Brasil,  vol-  1,  pag.  01,  dá  noticia  ^e  um  lo  fa- 
rejo da  província  de  S.  Paulo,  no  mnnicipio  à^  CasA  Branca, 
sob  o  nome  de  Agns  Farda.  íla  eng-ano:  ne*te  município  uào 
ba  logarejo,  íjem  corregn  ou  rio  algum  com  ossa  denominação, 
e  sim  com  a  de  Agua  Parada. 

Agua  Santa— Vide  Agua  Virtuosa. 

Agua  Suja— Fazenda  e  bairro  no  di^tricto  de  Itobi, 

Agua  Virtuosa  ~Um  dos  quarteirões  em  que  Be  divide  o  distrí- 
cto  policial  destacidade,— Bairro  a  pequena  dietanciíi  da  povoação. 
Seu  mme  é  derivado  do  uma  nascente  de  agua  mineral,  que  já 
não  existe  e  a  qae  o  povo  attribuia  roilagrca  o  virtudes.  O  bairro 
é  também  conhecido  por  Agua  Santa,   Vide  este  norae. 

Agudo— Serra  que  atravessa  o  município  de  Santa  Cruzdaa 
Fatmeiras,  ua  direcção  de  nordeste  a  lés^te  e  estabelece  divisas 
daquella  circumscripçilo  com  a  do  Cwn  Branca.  E"  a  principiU 
elevação  do  terreno,  muÍ(o  fértil,  e  uma  contiimafjilo  da  srrritdo 
Campo  Alegre,  Ahi  foi  colocado  um  çbEervatorio  jclo  dr,  Mavti* 
nbo  Prido, 


—  124  — 

AjuRÚ — Nome  braailesro,  genérico,  do  papagaio.  Etym,  bra- 
sil eira  i  a,  gente,  -f- juní,  boca;  alliiaào  ao  falar  o  papagaio 
como  a  gente  (Macedo  Soares). — Aiuni,  ajurú*  arejú,  in  g«nera 
avia  PsÍTtíiCua  { M A rtuih)-— Moraes  diz  que  ajurú  é  papagaio;  e 
Abbeville  e&erevé  jiirnue^ 

Alam  BARI — Córrego  ne«te  mumcipio.— Sig-nifica,  em  lingua- 
gem indi^ena,  rio  de  peixe  côr  de  prata  (A.  Maequeb). — Disse-me 
o  ViarondR  de  Beaui-opaíre— Roban  que  na  província  de  S/Paulo, 
e,  portfin^QT  rfiTftiiá,  tempre  te  dizalambari,  ao  pae^o  que  em  IVIatO 
GrosfOt  Ifloibari.  Stippõe  que  ambaa  as  palavrfta  sejam  corrnptelA 
do  tupi  aramhari  í^iftrdinha)  ou  araveri,  como  traz  o  diecionario 
tupi  d^  M»rtina  fTAUNAv).  Num*!  correBportdencía  de  Agua»  do 
Lambari  (Minas),  para  o  Diário  de  NoticiaSi  do  Rio,  Iè-I0s 
«  Deíxp-me  p5r  aqui  um  pedaço  de  pedantismo  lezicograpbico. 
*  Lambari  nào  é  nome  indigenn,  tupi  ou  guirani  pelo  mc^nos; 
«  pois  a  lingua  geral  doa  bra^^is  n&o  tem  L  Ha  de  ser  Arambarí 
€  oo  Rarabarí  (r  fnico).  Assim  como  Paru  ti  é  a  cOQtrac(;âo  de 
«  parait-hy,  rio  i^o    parat  ,    Lambari  é  rin  do  peixe    rambari.   » 

Esta  deSiiiç^  é  verdadt-ira,  poiâ  rambari  éo  nome  indigena 
da  nosea  pnrdinba.— De  umas  notaà  do  ex-imperador  d.  Pndro  II 
ao  livro  Curiosidaâes  fíaturam  do  Paraná  pelo  Visconde  de  Tau- 
nay,  publicadas  no  J*maX  do  Ç'*Tnmereio^  em  1892,  extractauioi 
a  seguinte  expliciçAo  do  vocábulo  aZamÔaH:— Ará,  dia;  mbá 
cousa;  y,  agun.  Nào  será  nara  mbá,  habitante,  mirim,  peqtieitOf 
y,  rio,— pequeno  babitaute  do  rioV  » 

Al*  MB  A  RY— Vide  Alambari. 

Alambique — Capão,  na  estrada  de  Mocóea,  além  do  Mato 
Secco. 

Albtno — Córrego  a  pequena  di^^ tau  cia  da  cidade.  Tira  seu 
nome  do  de  Albino  Teixeira  da  Silva,  que  rí&idiu  longo  tempo 
numa  cbacnra  que  Ibe  fíca  próxima.  Desagua  no  Lambari. 

Albq  RI  A^  Fazenda  de  cultura  de  café,  pertenceu  ta  aoi  Her- 
deiros de  José  I^ru dente  Correia. 

Alto  -Capão,  na  chácara  Bôa  Vista. 

Alto  ALEGRK^^Faaenda  agrícola,  no  bairro  da  Vargem 
Grande,  pertencente  a  Francisco  Cândido    Alvea  da  Cunha. 

Amarquea — Primitivo  nome  oa  rua  Bar&o  de  Casa  Branca, 
desta  cidade. 

Amazonas— Avenida  no  património  da  Lagoa. 

Amebica— Avenida  do  Novo  Bairro. 

Apartador— Fazenda  neste  município  em  1826  ;  foi  dividida 
em  1854,  e  confina  com  ae  de  Cocaes  e  Piçarrào. 

Apparkcida  — Fazenda  agrícola,  no  bairro  da  Vargem  Grande 
pertencente  a  António  César  dog  Santos. 

Areia  Branca — Córrego  neste  municipio,  affluent©  áo  Cocaee. 

Areião — Carrego  no  districto  de  Tambahii.  Na  lei  estadual 
u.  79,  de  25  de  agoato  de  1892,  vem  e^eripto  Ancião^  em 
vez  de  Âreiâo,  Desagua  lo  rio  Tambabú» — Logar  próximo  i  po- 
voação do  Rio  Verde  (boje  Itobi). 


~  125  — 

ÂJiBiAB.— ÂQtigo  qaarteir&o  policial,  lioje  exdscto. 

ÃRGE:^lTtNA. — Avenida  do  Novn  Bairro, 

ÃiUiepBifDiDo. — Um  dos  quarteirões  etn  que  se  divide  o  dia- 
tríeto  poltcial  de  Casa  Brauca.— Bi  beirão,  affiueato  do  Tambiihú. 
Faze  n  aa   »  gjicola* —  Serra* 

ÂTBKBADiKBO  —  L('gurejri  a  3  kilf^metroB,  onde,  em  tempos 
vemotoe,  bfluv»  um  fei^iilar  nncleo  de  povoaç&o.  Era  am  pfmBo, 
e  abi  deecançAVJtm  ofi  tro^»eíroâ  e  cnrreíroa  que  IrMUt^itavam  na 
grande  e*tr»da  de  S.  Paulo  a  Goiás.  Em  1857  havia  íilii  uma 
casa  de  nez^o  io  e  rancho •  à  e^quaràn  ;  boji',  apeniia  &t\  vêui  ret' 
tot  de  taipas  e  de  ediíic«^õe!t.^Efltaçílo  da  linKa  fenea  Mog-ia- 
mkt  hojf'  in Imprimida. — Corrê^r»  na  estrada  desta  eidade  á  Var* 
g«m  Grande — Fazenda  af^ncoU  pertencente  a  Bíirtli  loineta  Con- 
tmi  e  outros. 

ÂTSRaâDo. — Log'arejo  prorimo  á  eidada,  tnmbeii  conhecido 
jjOT  Aterradinho,  Víáe  ette  nome.— Correio,  affluwnte  do  Su- 
eurí 

Bai  ão. — Correg-n,  na  faa.  Morri uhos. 

Bai^âo  t  B  Casa  Branca. — líua  destn  cidarle,  assim  denomi- 
nada çtn  honra  áqueOe  titular  (fenente-coronel  Vicente  Porrei- 
ra de  Stloc  Pereira).  Teve  siicceE^si vãmente  os  nomes  da  Amar- 
gura,  Direita  e  Tenente-Coronel  Silos, 

BAKBufiA. — Córrego,  íiffliienté  do  Co  nea. 

Bakha  Qrakdb  — LnfTíir,  na  fíissenda  Terra  Vermelha  de 
Cima,  onde  o  Tiimbahú  rf*eeb*  um  seu  í^fflufiUH.  ÍHsí  o  dr.  Bou- 
ta  Conlam  que  a  Barra  Grwiidi^  é  a  coulluencía  do  Arrependido 
e  Bpln^douro  e  or]p'**m  d<i  T/imhaliú. 

Barraca  — Corrf-prfi,  flffluento  dn  da  Prata 

Barhbirikuo  —  Faaenda  agric-  la,—  Correfço,  aflluente  do 
Tamb^bu . 

Bakrmro. —  Córrego  neste  mtin«  ;  faz  hrtrra  no  Lamhiiri.^- 
Corregftt  afQuente  do  i  oíaes.^  Corieg^Oj  nfflui^ute  do  ribí^rAo  da 
ResAcca.^ — Fazenda  aencoía  pertencente  a  Eugénio  Ferreira  de 
Castro  e  outroi^^  Inçada  a  5^^"  N  O  da  cidade  de  Ca^a  Branca, 
na  dÍ!-tííncia  apprfí:íiroíida  de  24  kikinj,  e  a  30°  N  E  da  et-ta<;Ao 
de  Tambhhú,  na  distancia  de  15  kiJ^^^m,  Ag'r<inomieanifnte,  di— 
vide-se  em  trea  regiões  dit^tinctas :  ns  altos  serrados  de  areia 
solta  e  profunda,  que  se  eitendem  além  de  S.  SimàOs  impr*^stft- 
▼eíft  a  qualquer  cultura,  com  vegeta^jào  infesada^  quo  mal  serve 
de  magra  pastagem,  colncadoj  a  fí  O  da  tnzenda,  notj*vei^  por 
oci:uparem  sempre  o^  [tontos  mais  elevados  da  crmtrH-f^erra :  a 
parte  central,  composta  de  lerras  fortes,  ricas  de  liumus  e  oxi' 
do  de  ft^rro,  de  subsolo  profundo,  quaai  toda  oc.cupada  com  ca- 
fé^ses,  que  aptresentam  vefíetn<;ào  pujante  e  fructiíicani  notavel- 
mente; e  a  parte  a  N  E,  occupando  approximHdamente  um  Terço 
da  área  total,  compostas  de  cara|:K)s  ras^i  s,  de  herviiig^em  tVthada» 
oSerecendo  boa^  pa^ta^Biiíi  no  tempo  das  a^uns.  A  [»arte  ceu— 
Irai  preata-se  vantajos» mente  a  todas  as  culturas:  cereaert^  eanna 
de  a»Ãuear,  tabaco    ete  ;    a  canua,  poréiOf  posto    que    tenba  uiu 


^  126  — 

deBcnvoIvimento  notável,  nào  tem  a  riqaezfi  sncctianita  equíva- 
lente,  pkciiomeno  este  devido  á  própria  força  do  fóIo,  qae  for- 
nece seívri  em  quantidade  auperior  á  convertível  pela  acção  dos 
raios  flolnrca.  Esta  regiáo  é  regada  por  muitos  corre giiínhos, 
todos  aÕlncnlOã  do  crrre^o  das  Pederneiras,  tributário  do  rio 
Fardo,  e  que  sorve  de  linha  divisória  Fnti-e  esta  fazenda  o  a  dos 
Morrinbos*  A  lavoura  dominante,  em  1896,  era  a  do  café  e 
algrnns  cereaeâ  cm  quantidade  sufficiente  apenas  porá  o  consu- 
mo local  Em  £mas  matas  e  capoeiròes  abundam  o  cedro,  o  óleo, 
n  peroba,  a  cai»ela,  e  ntís  cerrados  o  jacarandá.  Pela  medição 
feita  judicialmente  era  1896  vorificou-se  que  a  fazenda  Barreiro 
contém  1.568,29  hectares  o  foi  avaliada  em  178:695$*235, —  Em 
tupi,  secundo  Martius  birreiro  significa  goara-piranga. — Bar- 
reiro :  Asâim  fe  cbamam  os  terrenos  salitrados,  mui  procurados 
pelns  animacii,  o  sitioj  cabidos  àfte  caçadores  pára  a  espera  e 
caçada  das  antas  fSEv^aiANO  da  Fonòeca). 

Bahro  Amaiíello.— Grotfl,  na  faz.  Várzea  Grande,  próxima 
ao  rio  Verde. 

Bahro  Preto  ^  Córrego,  aíT.  do  Pederneiras.  —  Logar,  na 
faz.  Cachoe iffl. 

Barro  Vermeliio— Córrego,  na  fazenda  Paciência. 

Bas80r6ca— SebaãtiAo  Dias  designa  com  este  nome  o  mesmo 
pbenomeiío  que  tiós  aqui  conhecemos  com  o  de  sorôca.  «E'  uma 
excavnçA-o  caprichosa,— diz  ellu,  falando  da  bassoróca  próxima  á 
chácara  do  sr.  Celestino  Ribeiro  Pinto,  em  Mogi-mirím,  —  que 
occupa  talves^  três  licctares  de  área^  principiando  com  a  pro- 
fundidade de  15  metros,  e  continuando  sempre  maia  profunda 
para  os  lados  do  campo  do  Beli^m,  ató  manifestar-so  como  um 
abjsmo  medonho.  O  interior  da  basaoróca  é  um  labyriatho  com- 
posto de  caverna?,  grutas  extensaa  e  corredores  iuvios,  formados 
pela  filtração  e  queda  lenta  das  aguas,  O  solo  é  quasi  todo 
arenoso;  mas,  de  espaço  a  espaço,  apresenta  %'egetaçftD,  diversos 
detritos  de  i>lautas,  argila  de  diversas  córeF!,  amigdalijides  e  outras 
pedrai  exquiãitas.»  Neâte  municipio  as  basrorócas  maia  notáveis 
bUo  as  da  proximidade  da  povoação  e  a  da  fazenda  dos  herdeiros 
de  José  Carneiro;  e  tt>m  egualmente  as  deDomiuflções  de  ioróe*, 
bofioróca,  vosaoriica  e  botoróca. 

BEBEnoR— Vide  Bebedouro  o  Lambí^dor, 

Bkbedouro— Um  dos  quarteirões  policiaea  em  aue  é  dividido 
o  districto  d©  Casa  Branca. — Córrego  do  diotrícto  ae  Tambahú. 
— Fasiendfl. 

BuBjAo  — Importante  fazenda  de  cnltura  de  café,  pertencente 
a  d.  Veridiana  Prado  e  dr.  Eduardo  Prado  e  a  3  léguas  de  Casa 
Branca.  A  lei  provincial  n,  118,  de  22  de  abril  de  18S5,  dea- 
membrou-a  deste  municipio  o  anneiou-a  ao  de  Santa  Cruz  das 
Palmeiras . 

Bkltji  Vista— Faz.,  próxima    A  í-staçílD  de  Córrego  Fundo, 

Br^rtÉ  BUA— Córrego,  fláiu.ente  do  Quebra*  Cu  ia, 

BifxtOA — Logar  ua  í&z*  Lambaris 


k 


—  127  — 

Bico  Bn.wca— Sitio,  tiíi  faz.  ík-bedouro. 

Bico  DB  Pato— Fsíienda  agrícola^  pertencente  a  João  Fer- 
reira de  Castro. — Serra. 

Boa  Esper inça— Fazenda  de  plantnçâo  do  canna  e  café, 
que  pertencera  ao  capitão  José  de  Freitflft  GarceZi  no  distrícto 
de  Tambahã,  a  uma  e  meia  legaa  da  a^teçAo  dc^te  nome.  \  E' 
dotada  de  um  ercellente  engenho,  onde  ee  fabrica  Aguardente. — 
Faiçnda  «ii^TÍcola,  pertencente  a  d.  Maria  Rita  d(>  Prado  o  ontro». 

Boa  ilonxK — Travessa,  lig^ando  a  rua  coronel  Joié  Júlio  ao 
largo  da  Boa  Morte.— Lar;íOt  oníJe  se  aclm  edificada  utnft  pequena 
cupfla  consjigrada  a  Nossa  Senhora  da  Hun  Morte  e  que  fura 
conítrui  fl,  em  1870,  por  Nicolau  Felii  Faraiii  e  outros. 

Boa  Vista— Capio  neste  mun. —  Fazenda  íigricola  perten- 
cente a  Ernesto  Ferreira  Coelho, — Fazeuda,  pertencente  aos  her- 
Hfirot  de  José  António  Carneiro  e  Silva. — Chácara,— Vide  Serra 
Negra  das  Calda?. —Bairro  subnrbano.^Correpo  na  fdz.  S.  José 
da  Serra. — Espigio,  na  fass.  Cercadinbo.  —  Antigo  porto  no  rio 
Jaguari .^Antiga  denominação  da  rua  Lnis  Gama.— Antig-a  villa 
â  mun.  do  Estado  de  S.  Paulo.  Orapro  S^o  Sebastião  e  diocese 
de  Sào  Paulo,  A  lei  provincial  d.  15  de  5  do  abril  de  1856 
creou  nma  fieg:uez]a  com  cFse  nome,  pertencente  ao  mttn.  de 
Cato  Branca,  a  de  n.  29^  de  24  de  março  de  1871.  elevou  a  á 
categoria  de  yílle,  e  a  de  n.  20,  de  8  do  abril  de  1875  á  de 
cidade  coan  o  nome  de  Mocéca.  Gomo  parocbta  pertenceu  ao 
rauií.  de  Caco n de  por  força  do  art.  I  da  lei  prcv.  n.  55,  de  15 
de  abril  de  1868,  do  qual  foi  desmembrada  o  incorporada  ao  de 
Casa  Branca  pela  lei  prov.  n.  25,  de  17  de  março  de  1871,  So- 
bre limites  vide  lei  pt-ov.  n,  BS,  de  25  de  abril  de  1857  e  n.  39, 
de  Ç  de    abril    de  1872.     Vide    Mocóca  (Moreijia  Pikto). 

Boa  Vista  da  Estiva — Fasienda  neste  districto. 

Boa  Vista  da  Lagoiniía  — Fazenda^  no  nmn.    de  Tambabn, 

BcA  ViBTA  da  Vargem  Ghandii  —  Moreira  Pinto  dá  noticia 
de  um  bairro  do  município  de  Casa  BraDca,  na  provini^ía^de 
8,  Paulo,  com  uma  oacola  publica  de  inetrucçílo  primaria.  Víirgem 
Oriínde,  povoação  florescente,  colocaria  a  18  kilometros  desta  ci- 
dade, é  distrí::to  de  paz  jiertencente  ao  municipio  de  S.  João 
da  Boa  Vista.  O  orago  da  íreg-uessía  ó  Sant'Anna  e  a  6ua  do- 
nominaç.^0— SanfAnna  da  Vargem  Grande. 

Boa  ViflTA  PO  Rio  Verdb— Antií^a  fazenda,  boje  subdivi- 
dida em  muitas  mtras.  Actualmente  (1894)  apenas  delia  rCBtn 
um  sobrado  em  rainas,  á  margem  do  rio  Verde,  na  estrada  para 
o  Rio  Doce* 

Boà  Vista  dos  Cdcaes — Antig-a  fa:&enda,  cuja  denominação 
está  boje  mudada. 

BrK"A — Poça,  sufF.,  racba;  rachar;  rachado;  que  racha,  entra 
na  compofijçiko  de  algumai  palavraa  bra&ileiraa :  taboca,  pipóea, 
ara  poça,  Ibitipoca  etc.    (Macedo  Soarbr). 

Bqcaina — Serra  neste  rnun.— BoqueirSo,  raa^Ao  de  eerra, 
desfiladeiro.     Depressão  de  uma  lerra  ou  cord)lbeii'a,    quando  a 


—  t38  -- 

eBcarpa  doBta  parece  nbrir-ae  como  formando  nma  grande  bocs, 
qye  facilita  o  accesao  ao  plano  superior  ou  chapada  (Homem  ím 
Mbllo). — O  alto  da  serra  do  Tinguá  tem  iia  hocaina  da  estrada 
d<i  Commercio  360  braçoa,  isto  é,  792  melros,  acima  do  nivel  do 
mar,..  O  rio  de  B&n  Pedro  corru  naturalmente  mais  baixo,  e 
a  estrada  do  Coramercio  desce  para  o  atraveísar ;  assim  como, 
depois  de  atravessai- o,  tem  de  subir  para  alcançar  a  Òocaina  da 
ierra  de  Saat^Anna  (Jornal  do  Commercia.  KiO,  G— abril  — 85),^ 
Etyinolo^ía  *.  briísilcira,  bocaba,  [*articípio  He  ho^,  fenda,  racha, 
buraco  era  fdrma  de  raBgfto  ?  Antes,  aubstantivo  portuguêB  boca 
-j-  Buffixo  íiuho  =  aneo,  por  metaihe^e  A-eao  =  aino,  daudo 
líocauba-l-^*^^*^'^*  ■f'  Orthogra[ihíã:  prí^*nuncia  brasileira :  bócâi- 
II& ;  portuguesa:  bocáina  (Macedo  Soáhes),— Boca  de  um  rio 
menos  couBideravel  que  a  barra  principal  (Síjusa  Fontes),— En- 
trada de  um  caDol  ou  de  um  rio  (Jaki).-— Bocaina  e  boqueirão, 
©riginando-S'^  do  meímo  radical  baen^  têm  a  maior  parte  das  vezea 
ã.  meii)  a  aiguificação  (Bohak).— Córrego  na  fazenda  Barreiro^ 
trib.  do  rio  Faido- 

BoccAJNA  — V*ide  Bocaina*  —  Beaurepaire  Kolian  adi^pt»  a 
ortho^ra]ihia  boccaína. 

BoíADA— Kibeirâo  ua  província  de  Sâo  Paulo,  affluente  do 
rio  Pardo,  na  tíBlnida  de  Ci-ea  Brat  ca  a  Franca  (Moreiba  Piiíto). 
£m  sua-   cabeceiras  ba  uma  rrichneíra  profundíssima. 

BoLiVi ANA— Avenida  do  Kf»vo  Bairro, 

Bo«  jcoíiifooo — Chacam,  ua  faítenda  Casa  Branca  ;  hoje  ulú 
tem  e^sa  dentam  mação. 

Bom  jAai>iii -Uma  das  dennmitiaçõei  locapâ  que  tero  a  aerrA 
que  alravRiiBa  o  mun.  de  Ca&a  Branca,  no  e^taHo  de  Sào  Paulo 
(MoRKi^A  Pinto)  —Vide  Campo  Alegre. —Vide  Jardim. 

Bom  Jk8U8— Vide  Senhor  Bom  Jesus. 

Bom  Succesbo  —  Fazenda  perlencento  a  Joaquim  Ignacio 
Yi  lias  boas,  e  que,  pela  lei  provincial  n.  31,  de  23  de  março  de 
1882,   íoi  desliirada  de  três  mnnicipioa  e  annejcada  a  este, 

BoBQLíB— Rua  da  cidadej  antiga  Sào  Bmiedicto. 

BoKSOKiK^ — Vidt^   Baaaoróca, 

Bo.ToHóCA  —  Palavra  in  ligena  (tupi),  siguificando  casa  de 
bugioB  (Fh.  Mahaíshâo)— Vide   dasForóca, 

BuABA— Vjd«  Enibuava. 

Buracão — Córrego  na  fazenda  Caga  Branca,  affiuente  do 
Barreiro  — Córrego  na  fusi.     Várzea  Grande. 

Caâ — Palavra  indígena,  ^ígnilicaudo  iuati>  Entra  na  com- 
posição de  muitas  pakvras  brasileiras. 

Caá-Ubi— Vide  Caiobi. 

Caayurú  —  Palavra  indigenai  hignifi-^-ando  boca  de  mato ; 
entrada  da  mj^ta  (B-  Caetano). — Nào  sprá  esta  a  verdadeira  eri- 
gem do  nome  da  povoaçàa  Cajuni  ?  -  Vide  Cajurú, 

Cabecriuas  do  RibbirIo  Bãí>  JoÂe-^Fas&euda  agrícola,  divi- 
dida judicialmente  em  1890 - 

Caçador — Cachoeira  do  rio  Verde,    na  faz.  Várzea  Grande, 


Càchobie^ — Corret^o ;  baahft  a.  fazenda  do  meatno  nomej  dos 
lierdeiro«  de  Júié  Tbomaz  d«  Andrade*  — Pa zenda  fl/írietOa  (.ler- 
tencente  a  d*  Lm  ura  Maiin  d«  ôiqueira  e  outroi,  annexada  ao 
maii.  de  Ca*a  Piam'a  fim  virtude  da  Jei  provincial  lu  74,  de  6 
de  abril  de  1885,  que  a  detmembrofi  de  SHo  João  da  Boa  Vjgta. — 
Ribeirão,  «flluonte  da  Fartura. — Sitio,  na  ÍAzenda  Vargem  Grande. 

CaCHOJciBA  ALTA— Fa7.endn  Bgricoln  de  Manoel  de  Saut'Ã- 
ira  de  Sousa  Meirelles,  que,  pela  lei  d.  37,  de  10  de  março  de 
1BS9,  foi  desmembrada  de^t^^  município  e  ligada  ao  de  Santa 
Uiia  do  Pa Bsa- Quatro. 

CachokIra  de  PiiiAâsUNrNGA^ Antigo  quarteirão  policial,  hoje 
^xtiuct^. 

CáCHORiPA  Dr>8  ItBÈOB^Ãntiga  fazendaf  on  seamarín  cedida 
p«lo  goverao,  em  1815,  aos  colonos  vindo»  dou  Açores.  Foi  di- 
iridida  jadicialmrnte,  ba  pouco  tempo,  e  está  brje  fraccionada  em 
diversas  fazendas  e  eitioâ,  denominadf  a  Morro,  Bom  Je^u^,  Pmta, 
^ôrro  doB  llbéoftj  etc.  Estes  ilbéoB,  a  quem  se  deram  as  terras 
da  Cachoeira,  cbamav  m-#e  Fraíicieco  de  Espíndola»  Jo&o  VieÍTa 
da  CcBtAt  José  da  Ro^a  Mncbado,  José  dfs  8ou«a  FrancÍRco  de 
Soasa  Pimentel,  Jrgé  Vieirn  da  Costa,  Jrsc  dp  Pontet«  d(  b  Reif, 
Manoel  Vieira  Gonçalves,  SIanoel  Vellnso  de  SoubAj  Joào  de 
JliitOPi  Matitno  JoBé  de  Sousa. 

Cachoe iRíKH A— Córrego  e  lofrarejo  no  bairro  do  Cercadinbo. 
— Fazenda  iipricola.— Vide  Fazenda  Vellia. 

Cachoeibão- Fazenda  nesta  irmuici|io,  que  fí>i  do  coronel 
Lucio  Gomes  dos  Ratitos  Leonel,  e  por  este  legada  em  testa- 
mento A  teus  ex-escravos,  conf<irme  se  vÔ  da  verba  eefrninte: 
«Declaro  que  depois  de  miiiba  morte  ficam  gomando  de  plena 
liberdade  todf  s  os  meus  escravos»  José,  Tboméf  Simlio,  Delmiro, 
BssÍIído,  Paulo,  Rosalina,  Maiia,  Carolina,  Angelina,  Tbere^a, 
EleuteriH,»  OiTnelia  e  a  ingénua  Rosa,  acs  quaes  deixo  a»  târras 
de  cultura,  divididas,  no  Cflcboi-irílo,  rtís-tricio  desta  cidade,  com 
m*  planraçòe»  e  o  pFtto  cefcado,  da  Lage  para  dentro,  a^  cria- 
ções de  põrcoh  e  gadoí',  eom  a  condíçiio  por^tn  de  nôo  poderem 
vender,  e  fomente  usnfruirftOj  passando  aempre  aos  teus  lejçiti- 
mos  herdeiros,  ou  legalmi^nte  reçoiíliecidos,  e  no  caso  da  i?x- 
tincçào  de  toda  piúle,  ei  ditos  bentt  liL-nm  pertencendo  á  E^rreja 
Matr^  desta  cíJade,  ô  por  morte  d*^  qualquer  do»  dítoe  escra- 
vos, ftucçederí^n  uns  aoS  outros  na  herança,  seJHm  ou  uào  her- 
deirt^».>  (RegtEtro  de  testamentos,  1874). 

Cagonde — Povoaçfio  situada  ao  uorto  da  capital,  em  terri- 
tório outrora  pertencente  ao  município  de  Casa  Briincíj.  Foi 
creada  freguezia  em  1842,  vilía  em  1H64  e  cidade  em  18í?3. 
Perteuce  á  comarca  de  Csconde  e  dista  doxo  lo^ufls  desta  cidade» 

Cadeia — Pi  aça,  contigua  á  de  Misericórdia,  outíe  está    edi- 
ficado o  Paço  MuTiicipal  (vide  este  nomeJ.^-Traveas-a,  ligando    a 
Lpiaça  da  Cadeia  Velha  á  roa  Luís  Gama. 
Cadêia  Velha  — Largo,  contíguo  ao  do  RoFario,  onde  ha^ia 
A  primitiva  cadeia »  couitrui da  em  1830  e  demolida  em  18âd. 


ft 


—  130  — 

Cadflla  Pabida — Nome  de  uma  fazenda  que  pertcncen  a 
Dominp-os  Fernandes,  e  que  o  filho  deste,  Henriqne  Fernandes 
Garcia  e  sua  mulher  Antónia  Beruardina  venderam  a  João  Gual- 
berío  CoiTÈa  da  SiWa,  morador  em  Camandocaiaj  a  23  [de  abril 
de  1S3ÍÍ.  Era  situada  nesta  fregnezia  e  já  perdôu  acjuella  de- 
nominação. 

Cafezal— Fazeada  agrícola,  no  bairro  da  Lagoa,  que  per- 
tenceu a  Lazaro  e  Almeida-  Denoraiua-so  Loie  Sào  Mauucl. 

Cafuxdò  — Lo^ar,  no  quarteirão  do  Bebedouro,  districto  de 
Tambabú. — Cafúa/io^ar  ermo  e  longínquo,  do  difficíl  accesao, 
ordinariamente  entre  moutanbaa  (Meira),  A  radical  cai  ou  a 
ibema  cafii,  que  apparece  em  cafofo,  catúii^  cafúca,  cafundó^  ca- 
tar na,  talvez  Boja  a  mefima  radical  cav,  que  deu  cava,  cavar^ 
caverna,  cavoco,  cova,  covanca,  coveiro,  covil,  covo  (Macedo 
Soares), 

Caiobi— Avenida  do  Novo  Bairro,  assim  denominada  em 
homciiBgem  ao  chefe  goiana,  tão  conhecido  na  bistoria  de  São 
Paulo. — Palavra  indígena  que  significa  folha  azul  ou  verde. 
Couto  Magalhães  escreve  Caá~Uby;  e  João  Mendee^  Caha-nby, 
adoptando,  comtudo,  a  ôrtbograj.Uia  d©  Machado  de  Oliveira:'^ 
Cflyubi. 

Cajurú — Povoação  situada  á  margem  do  ribeirão  da  mesmo 
noran,  a  NNO  da  capital,  em  território  que  pertencia  ao  muni- 
cípio de  Batataes.  Foi  creada  freguezia  em  !d4G,  incorporada 
ao  municjpio  de  Casa  Branca,  e  elevada  a  villa  em  1865.  Hoje, 
é  raUf!Ícipio  e  comarca.^Mato  triste  ou  feio  (Fr.  Maranhão). — 
Mato  de  papagaio:  caá,  mato;  ajurú,  papagaio  (Martiu8).^A 
respeito  de^te  vocábulo  su3citou-«e,  em  1897,  uma  discussão  en^ 
tre  Galvào  de  Oliveira,  Adolfo  Paolielo  e  Lafayette  de  Toledo, 
pelo  Diário  d^  Campinas;  e  a  cb  and  o- a  interessa  d  te  pa^Biimoi  n 
transcrever  os  respectivos  artigos:  • 

A  palavra  Cajiirtt 
1 

Dia  tine  to  collaborador  do  Diário  de  Campinas,  o  sr.  Galvão 
de  Oliveira,  dirigiu-me,  ha  dias,  uma  carta- bilhete,  á  qaal  dou 
publicidade  por  tríplice  motivo:  —  primo^  porque  ella  nio  se  re- 
fere a  assumpto  de  caracter  particular;  secundo^  porque  reclama 
uma  reetiticação ;  Urtio^  porque  envolve  matéria  que  interessa 
A  todoa  que  se  dedicam  ao  estudo  da  língua  guarani. 

Eis  o  que  diz  aquelle  sr. : 

Ulmo.  sn  Adolpbo  Paoliello. 

Além  de  pensar,  tive  cccaslSo  de  ouvir  falar  qne  t.  exc.  foÍ 
a  pcisca  que  deu  informações,  ou  melbor,  escreveu  para  o  Ál- 
manach  do  Estado   de  3^    Paulo  f   e  leu  do -o    vi  um  tópico  que 


—  131  — 

me  acatiba  de  eidarecer-yos.  F/  quâ  v.  exc.  disse  qaa  «a  pa- 
polaçio  oâo  sabe  qual  a  orií^em  da  paluvra  Cajurú.  Ã  niím 
accnsem  do  diael-o,  mas  como  é  para  favorecer  o  conhecimento 
da  Ungua  tupica,  a  qual,  digo  Bera  pretençàc»,  nom  tampouco 
vexado,  cúnbe^o  reguíaniiente,  o  que  me  6  bastaate.  Demaía  a 
mais,  eu,  possuindo  gTammaticii^  o  diceiooarioj  da  dita  lin^ua, 
juTffQ-me,  ÚGho  competente,  polo  menoi  auctorizado  a  dar  & 
origem  da  palavra  de  que  ora  se  trata.  Me^mo  qua  ainda  não 
teulia  visitado  es^a  cidade,  nfío  posso  ál^Qr  úo  squ  nomo  exprime 
a  re-nlidade.  Pois  bem;  a  nri^em  da  palavra  Cajurú  já  ileveis 
fabel-a:  provém  do  GuJirani  ou  Tupi.  Quanto  á  significação, 
dig^o  o  quB  exprime:  — inato  que  tom  papagaios.  De  C&a, 
mato.  e  ujaTU.  papagaios.  Eu  pretendo  dar  aos  leitores  do 
Diário  de  Campinas,  do  qual  sou  collaborador,  uma  &éi'ie  de 
fiitriiifícaçves  dae  palavrai  dessa  origem,  o  que  em  tempo  oppor- 
tutio  farei.     Queira  desculpar- me   qua  bou  crd.**  ob,°* 

Galvão  db  Oliveira* 
8.  Paulo,  4—1-97. 

Agradecendo  e  pondo  de  parte  o  tratamento  v,  íxc,  com 
que,  per  excelso  de  delicade^ta»  o  mísslvista  me  distinguiu, 
lubmetto-me  com  prazer  á  obiigação  que  mo  impôa  a  verdade, 
solicitando  do  jllustre  sr.  Galvão  de  Oliveira  a  necesiaria  vénia 
paru  fazer  uma  rectifícaçilo,  quanto  ao  primeiro  periodo  exarado 
na  carta  acima  tra  na  cripta. 

Nào  fui  eu  quem  escreveu  para  o  Álmanach  do  Rniadi/  de 
S,  Paula  aa  allndidas  informaçõfs:  foi,  &eg:undo  consta-mo,  o  sr. 
ÀQtouitio  Soares  de  Bouaa,  di^^no  fnncciouario  publico  aqui  re- 
tideote. 

Á  elle,  poii,  e  não  a  mim,  pertenço  o  direito  paterno  cou- 
ce rneu  te  ao  facto. 

A  rectificaiílo  que  ora  faço  tem  por  escopo  única  e  exclu- 
sivamente o  seguinte:  evitar  que  o  Br,  Antonino  Soares,  com- 
quanto  &(^ja  um  republicaao  enragé,  use  da  conhecida  locuçlio 
elliptica  (i-^ui  d^el  rei!  —  e,  justamente,  merecidamente,  desmo- 
rone a  minha  estulta  e  pspuda  prosápia,  eitando-mej  para  minha 
vergonha,  a  phrasc  proferida  por  Virgílio  quando  lhe  oscamo- 
tearam  a  bonrosa  paternidade  de  una  versos:  —  hm  ego  versículos 
fecit  tulit  alter  honores, 

Embora  um  distincto  assfgnante^  ou  em  Hiígmgeat  sem 
ambagesp  um  distincto  monarckista  já  tenha  dito  pelas  columnas 
do  Comniercio  de  S.  Patdo  que  eõu  « um  jornalista  amiolado 
pelOB  maiores  publicistas  da  Itália»;  embora  eu  teiih!^  a  certeza 
de  que  o  estalão  de  qne  elle  ae  serve  para,  a  aeu  talante»  de- 
terminar o  mérito  inteliectual  de  outrem  o  o  mesmo,  o  mesmis- 
simo  que  applica  á  sua  pessoa,  pois  que  se  julga  sempre  superior 
ao  que  efectivamente  é;  embora  todos  que  mo  conhecem 
saibam  que  não  passa  de  uma  verdadeira  parvoíce  a  asserção  do 
famigerado  e  quasi  ton^^urado  monarebísta,    porque  j amais  ousei 


—  132  — 

ultrapABsar  a  limitada  esphem  que  circumda  a  pentimbra  em  qu» 
vivo;— devo  dizer  ao  illustre  sr.  Galv&o  dtj  Oliraia  que  & 
respeito  da  iingua  Guarani  estou  completamente  in-alhui  11&& 
sei  patavina. 

Portanto,  não  possa  fazer  commenlarioSt  quer  favoráveis, 
quer  denfavoraveia,  sobre  a  sua  opiniào  manifestada  na  carta- 
hilheie  que  obsequiosamente  me  dirigiu. 

Quanto  á  BÍ^nifica<;ào  da  palavra  Oajurú  falou-me  alguém 
uma  vez  que  ella  queria  dizer  ce^to  de  cajii^* 

Como  ja  disBe,  sou  tjma  nulUdadp  no  asBUmpto ;  efuatudo  fi- 
caria mais  Batififeito  »i  Cajuni  BigniíirHsse  me&mo  c&ftn  de  cajus, 
tauto  maie  quanto  para  papagaios  bastam  os  nossos  poli  ti  cos ,  cuja 
estirpe  vai-se  degenerando  com  a  appartção  doa  revoltosos  e 
expatriados  tucanon  do  papo  a?nardto... 

Peço  ao  ST.  Galvão  d©  Oliveira  relevar-me  a  iadiscreç&o 
que  acabo  de  commetier,  rstam[>ando  nas  columnas  do  Diário  a 
carta^bi  hete  que  m©  enviou,  sem  eu  baver  eolicitado  de  s.  a.  a 
necessária  e  prévia  auctorizaçào  para  fazel-o. 

Conto  certo  com  o  seu  beneplacitOj  porquanto  a  meta  que 
me  levou  a  saaira  proceder  ó  idêntica  áqoeila  que  se  de  prebende 
log:icemente  da  supramencionada  cariabilheU :  elucidar  a  questâo. 

E  ojialá  que  os  competente^,  como  os  srs.  João  Mendes  de 
Almeida,  Couto  de  Magalbàes,  Capistrano  de  Abreu,  Jusé  Veris- 
iioiDt  Eticragnole  Taunay  e  outros,  ee  manífebtera  a  respeito, 
iMira  que  um  dia  pnasamns  dÍK*-T  do  Guarani  o  mesmo  que  da 
língua  portuguesa  dis^e  o  iusigiie  poeta  áutonio  Ferreira  : 

Floresça,  fale,  cante,  ou^a-se  e  -ava 
A  portu^ueFa  lingua,  e  já  onde  fôr 
**  Seubora  vá  de  si  soberba  e  altiva 

•  *     Cajnrú,   26  —  1  —  97. 

Adolpho  Paoliello 

II 

Sr.  redactor  do  Diário  de  Oampinaã. 

Li,  i!om  o  Interesse  que  sempre  me  despertam  as  questões 
linguieticaa,  o  artigo  que,  a  respeito  do  vocábulo  Cajurà^  publi- 
eon  o  sr,  Adojfo  Paoliello.  E,  comquanto  iacompetentc,  sem 
ver  sido  cb  Amado  a  campo,  permitia -se-me  entrai'  na  questàe, 
emittindo  sobre  o  caso  a  minha  opiniào  fraquissima. 

Os  indigenaa  t  nbam  por  costume  deiiigoar  as  loculidadei' 
f»eloDome  corres[K>ndente  a  pbenomenos  physicos  notáveis,  ou  a 
accí dentes  dns  mesmas  localidade^.  Dii^er-^BO,  pois,  como  o  sr* 
Galvão  de  Oliveira,  repetindo  aliás  o  que  escrevera  MartluB, 
em  seu  01  assaria  linguarum  brt.  siliensium  (1863],  que  Cajuni 
aignidca  mato  de  papagaio,  é  fugir  áqueltas  regras  ímmutave» 
tíe.noisoa  aútocbtones.     Cajurú,  segundo  frei  Francisco  dos  Pra- 


—  133  — 


Maranhão^  na  Paranduba  maranhense ^  é  ama  planta  qno 
produz  atua  espécie  de  ameixa  roxa  e  inaipidaí  e  ao  Dicdonaria 
da  iingua  geral  do  Brasil ^  boca  do  mato:  —  caá,  mato;  jum, 
boea.  Desta  r  pi  mão  é  também  o  nosso  grande  indianolo^ 
Baptiita  Caetatin,  no  Vocabulário  Guarani^  quando  diz  Cajtim 
«igniScan^bocA  de  tnatOf  entrada  da  mata» 

Ax#vedo  Marque?,  nos  Aptntr  mentos  históricos  e  gepgrcL- 
Tphicos  de  S  Paulo ^  referB-ae  a  frei  Pras&eree  Mamnh&n,  citando 
que  o  vocábulo  aigiiifica  mato  triste  ou  feto.  Em  neubuina  daa 
obras  deste  frade  illoAtre,  tiem  nas  mencianadaB  atrá^,  nem  na 
-Colleeçâo  de  etipnologias  brastltcajs,  publicadas  era  1846,  encon- 
tro tal  palavra  com  aquelte  atgtiiãcado.  Na  CoUecção  ?em  Cayurú- 
giia<^n:  —  côfo  de  mato  graode. 

Baptista  Caetano,  na  obra  citada,  escreve  Caayurú,  e  não 
decompõe  a  palavra. 

N&o  conheço  a  cidade  de  Cajmú;  nâo  tei,  poie,  ai  eatá 
colocada  em  al^tim  mato  ft^io  ou  triste,  ou  á  entrada  da  matâ« 
Verificando-se  a  ultima  hypotheaej  a  palavra  originfiria  aerá 
CaáytLrú,  tranãâi^uraia  em  Cajurú  pela  corrupção  do  u^o ;  e  a 
ultima  aerá  então  Cuajurn. 

Rognndo-lbe  desculpar- me  a  ousadia  destas  linhas,  ppçolhô, 
sr.  redactor»  acceítar  os  meue  protestos  de  estima  e  considesaç^o. 

Caaa  Branca,  2  —  2-97. 

Seu  amigo  e  admirador, 

LaPAYSTTB    DB  TOLIDO. 

III 

Sr,  redactor. 

Nào  deixarei  passar  tâo  opportuuo  momento  para  fazer  con- 
«ideraçõesi  iobre  a  minha  opiniào  a  respeito  d«  palavra  Cajuni^ 
«xftr&da  em  carca  que  dirigi  ao  talentoio  jornalista  ar.  Ãdolplio 
Paolipllo,  e  que  s.  i*.  pubSicm  neaie  jornal  jantamente  com  um 
sea  artigo.  Ãioda  maia  opportun^i  i^e  me  depara  eata  occasião 
para  responder  ao  artigo  que,  aob  o  titulo  que  anteponho  a 
^eatíis  linhas,  ftii  publicado  n^^ate  jornal ^  e  pelo  ãr.  Laf^yette  de 
Toli^dy  escripto,  pois  que  elle  se  me  afigura  um  alicerise  solido 
para  estM»  considerações. 

Antes  de  tudo.  porém,  sejft-me  dado  dizer  que  a  ai^íuifica- 
çâo  que  dei  da  palavra  —  Cajurú — não  foi  ^'lagiada  do  livro  do 
«r.  Martin»,  o  celebre  botânico  que  vi.ijou  40  aunos  pelo  Brasil, 
pois  que  nem  o  couauhet* 

£n tremo»  no  assumpto, 

Li  o  artigo  do  ar.  Toledo  -  e  ^e  depreUende  delle  que  Ca' 
jurd  tem  três  aignlficaçôes,  pois  que  ^.  a.  não  deu  com  o  certo. 
SÍg>niâca,  então,  o  seguinte: — plajita  que.  pro^fnz  uma  espécie  de 
^mei^a  roxa  e  insípida^  boca  de  mato^  e,  em  fim,  jaato  triste  ou 
/Wo^sem  sabermoSi    no    entretanto,  qual    é  a  aig^nifícação  certa. 


—  134  — 

O  artigo  do  Br.  Ij.  de  Toledo  se  me  afigura  um  aUccrce  á 
etymologia  que  dei,  sinãrO  vejam  este  período  ; 

«  Baptista  Cnetano,  na  obra  citada,  escreveu  Caayarú,  en&o 
cdecompõo  a  palavra», 

Caáytirú  é  como  dcvta  ser  dito  mesmo,  e  si^íãca,  portanto, 
mato  dtí  papagaio.  Composta  dos  Bubstantlvoa  caa  (mato)  t 
ayunl  (papagaio). 

Que  caá  é  mato,  nioguem  m'o  cõatestará,  e  nem  tâo  pouco 
fal-o-?lo  a  respeito  de  ajtini,  qae  é  papagaio,  como  já  se  disse, 
Para  exemplo  i—Caaçiipaba,  Ayumoca  etc. 

Visto  isto,  creio  que  nao  foi  eem  contar  com  seguros  ele- 
mentos que  m»niftmtei  a  mínha  opinião. 

E,  terminando,  tr.  redactor,  conto  cora  a  vossa  coadjuvarão, 
publicando  estas  liubas,  uo  que  muito  obrigará  ao  vobso  amigo» 

S.  Paulo,  i  de  Fevereiro  de  1897* 

Galvão   db  Oliveira, 

IV 

(ao    Slt.    LAFAYETTE     DE    TOLEDo) 

Ao  diri  'ir-mo  ao  gr.  Lfiíayette  de  Toledo,  a  es9e  moçodle- 
tincto,  que,  devido  unicamente  ao  âeu  talento  easua  applieaçâo 
ao  estudo  festndo  feito  comaígo  mp&mo),  chegou  a  ee  impúr  á 
admiração  dos  que  apreciam  e  cultivam  as  letras,  c-me  inteira- 
mente  impossivel  esquivar- me  ao  desejo  de  proferir  um  energlcOí 
um  eatentorf.ÊO  rrão  «/3o ?Ví f /o  1— depois  de  haver  lido  o  artigo  que, 
com  epigraplie  idêntica  á  deste,  s.  s.  escreveu  e  que  bô  acba 
inserto  DK   Diário  de  Oampiúas  de  4  do  mes  actual. 

Eu  protesto  contra  o  secundo  tiecbo  do  referido  artigo,  porque 
elle  ê  a  aotithe?e  da  verdade,  tí  a  upgaçílo  evidente  do  nm  juizo 
muito  justo  formado  por  homens  competentes  e  destitnidos  de 
parcialidadea. 

Diz  o  ?r.  Lafayette; — «E,  comquanto  incompetente,  sem  ter 
«sido  chamado  acampo,  permitta-se-me  entrar  na  questão,  emit- 
«tindo  sobre  o  caso  a  minha  opinião   fraquíssima  *. 

Embora  eeja  muito  peculiar  das  festoa?  que,  como  o  sr. 
Lafayette  de  Toledo,  tém  um  nomo  merecidamente  áureo lado^ 
iitílizarem->d  sempre  dos  recursos  supremos  da  modéstia,  eu,  se- 
guindo os  dictames  da  miubn  consciência  e  obedecendo  ás  leis  da 
verdade  e  da  justiça — que  podem  mais  do  que  a  motíentia — contesto 
ín  Ojíum  a  primeira  a6serçlVo  de  b,  a,  E  para  tornar  iHconiesíavd 
a  mínha  consteátai;iio  disponho  vantajosamente  de  um  meio  ex- 
cellente  e  facílimo;  apresentar  o  próprio  artigo  do  sr*  Lafayette, 

Quem,  após  a  Ipítura  desse  artigo,  deixará  de  reconhecerno 
seu  auctor  um  escriptor  competentÍEsíma  na  mataria  V 


^  135  ^ 


Ã^ora  Rcu  fn  quem  pede  permissão  no  sr.  Lafayetto  dd 
Toledo  paro.  Ike  dizer  qae  ».  a.  foi  cíiamado  a  campo,  tan*o  quo 
QO  meu  artigo  ge  lê :  <  o  oxalá  quo  os  competeotesi  como  ob  srs, 
João  Mendes  de  Almeida,  Couto  de  Magalhães^  Capistranõ  de 
Abreu,  José  Veriasímo,  Escrag^aolo  Tautiay  ©  outros  ctc. 

Ora^  para  qu6  o  sr*  Lafayette  oâo  tivesao  sido  chamado  a 
campOf  era  nece&sario  que  eu  hou^fsee  restringido  o  nuiuero  dos 
competenteSj  náo  pospondo  á  nomenclatura  destes  o  adjectivo 
Ouiro$, 

Qne  me  perdoe  o  Br.  Lufajette  eFsaa  consideraçòop^  mas  são 
elk»  muito  justas  quando  applicadasaos  coryplieus  da  modastia, , . 

A  respeito  da  verdadeira  significação  da  palavra  Cajtuú,  eu 
*Índa  me  considero  immerso  em  trevas  mai*  densas,  pc^rque  diz 
o  sr*  Lafayette  que,  consoante  fn  Francisco  dos  Prazeres  Ma- 
mnhhOf  a  palavra  significa  uma  planta  qtie  prúdvz  uma  espécie 
</e  amêijoa  ingipida'»  segundo  o  IHcdonario  da  lirtgua  geral  da 
Broãii,  boca  de  raato— sendo  da  mesma  opinifio  *  o  graúdo  in- 
dianologo  Baptista  Caetano»;  e,  conforme  Azevedo  Marques» 
tnato  triste  ou  feto. 

O  sr.  Galvão  de  Oliveira,  porém,  ftustenta  que  a  palavrn 
quer  mesmo  discer  mato  de  papagaio,  e  corrobora  a  sua  opinião, 
já  ccnbeeida,  additando  quo  não  foi  sem  contar  com  seguros 
eleme^ntof  que  a  manifestou. 

Aíinalf  em  que   ficamos? 
#  Fiat  InxL,. 

— Peço  ao  ars,  typograpbos  que  tenbam  cuidado  com  esse 
hitinoriosinhOt  para   não  me  forçarem  a  fazer  maia  rcctificaçõos. 

E  ad  Tem : 

No  primeiro  artigo  que  publiquei  sobre  a  questão  que  ora 
se  discute,  03  amigos  typograpboa  fizeram-me  commeter  u^n  erro 
palmar. 

Nào  é  que  os  irmlvado^t  arrumaram  a  ludisctip^&o,  em  veas 
de  indiscrição,    como  está  no  oríginnl? 

laao  tjio  pasia  mesmo  de  malvadez  dfi  parte  delles^  porque 
tenho  consciência  de  que  a  minba  letra  é  muito  bóa,  Eatavfi  qunsi 
a  dizer  até  que  tenho  nma  òdla  ctilhgraphia\  mas  n&o  o  diíro,  visto 
ter  receio  de  que  algum  purista  me  passe  uma  smabanda  como 
aquella  que  o  eminente  e  nunca  assaz  pranteado  jthilologo  Júlio  Fi- 
beiro  passou  no  padre  Senna  Freitds,  por  haver  este  cicriplo  tal 
pbraíe. 

O  qtte  desejo  é  que  os  srs.  t^pograpbos  ae  arranjem  bem 
cotu  o  seu  intromettido  pção   . 

£  para  outra  vez  d&o  sejam  tão  indiscretos.  . , 

EUou  vingado  1 

Cajuru,  10-2-91. 

AdOLFBO   FÃOLtELLO. 


—  136  — 

V 

Cedendo  ás  flolicitaçõas  doa  ere.  A'!olfi}  PaoUelo  e  Gal^ào 
de  Oliveira,  direi,  sen  mais  preambuLoA,  que  o  vocábulo  Cajurú 
póJe  sigoificar: 

1)  Boca  de  mata  (caá,  mato ;  juiú,  boca).  Gaá,  segando 
Raiz  Montoyftj  Vocabulário  y  fesaro  de  la  lt'igaa  guarani^  é 
monie^  y  la  yerva  que  bemrt;  é  vocábulo  commu*ii  aos  dialectos 
à%  ling'ua  tupi,  e  ae  applica  eicrluíí vãmente  aos  pro duetos  do 
reino  vegetal  Pode,  seg-UTido  as  circumstanciaa,  significar  mato, 
hervftt  fjlha  e  raiiiag'em  (Montoya,  DiccionaHo  pfyrhígués — Òra^ 
siliano;  Seitas,  Vocabufari o  da  linguu  indigena  g^val).  Na  lingua- 
gem vulgar  só  usamos  delle  em  cúmpusição  com  outras  palavras 
subatantivas  ou  adjectivas:  Caag-afLaaú,  Oftá^Xíba,  Caápóróróca,  ou 
Mucuraraá,  Cavantcaá,  eic.  Qiuiudo  o  termo  Cftá  é  seg-uido  de  um 
adjectivo,  cofituma-se,  em  gera^  escrever  e  pronunciai  Cagiuassú, 
Capéba,  Capornropa ;  torna-se,  porém,  Báliante  o  som  dos  douà 
aa,  quando  o  termo  Caá  p  coltí^ado  no  fim  da  palavra  :  Mucu-* 
racaa,  etc.  (Beíiurepaire  Rohan,  Diecionano  ãe  vocábulos  Bra* 
ítileiroa).  Macedo  Soares,  Dircionirm  Brasileiro  da  língua  por- 
tugumaf  á\z  que  ai^iifiea  folha  de  planta,  planta  herva;  mato^ 
pau,  madt^irai  o  matte  (Saiut-IIíljiirH)  e  o  cbá  de  matte;  e  eutra 
como  tbema  na  compoaiçfto  de  innumerais  pjlavras  brasiletraâ, 
nomes  de  plantas  principalmente.  K  BaptiBt-ii  Cat^tano.  Vocabulá- 
rio Guarani  i — ^«bervfi,  íolha,  mat"  (ci  nn,  onsce?  ser  que  cresce? 
em  geral  dnve  ser  c»  (riidíc^t)  cúm  a  fsu^iCM)  com»  em  pirá, 
tobá,  ibá,  yibá,  etc);  o  eliá  nu  infusão  da  coo ^on lia  ou  berva 
matte  (Z/e.c  paraguaiensin).  Ha  ^r«Tide  numura  de  compoafcos, 
nos  qiiae^  caa  tein  9iis:nificfl<jô^R  míiis  diverai-^  que  as  de  hertía^ 
portu^aô^  •  E  Girl  voo  Martiua,  ni  yomiftfi  pianiarum  in 
Ufigui  íiipif  do  Gíossa ria  l * ng iLirum  hrf  sii íe tift i u í M  ;  ^ «  f o  1  i um, 
planta,  herva,  írute^t,  arbor,  li^num,  baculum  fio  dialecto  Gamé)^ 
j^poiíice:  KnwA  Kwi4 ;  in  Hn^ua  Caraibomm  rerrae  contiuentia 
yráca^  teate  Ovieio  VII,  c  II; — ^t^ua  aniee  rkat  éiokbén  (i)  est 
foliam  ilicÍB  parapmií^nais  Ot.  Hil..  ito  Tbea  ufitntum).— Jurú 
di^  Martins,  110  Notnina  animal inm  iniingna  tapi,  é— <?jr,  fácies  \ 
e  Bftptinta  Caetarto:  —  yiinl,  yurob:  boca  fy-u-rub,  o  que  a  co- 
mida tem,  conte  n?);  entrada;  bo^mdo:  caá-yurú,  boca,  entrada 
da  mata;  e  Montoya,  que  também  escrete  ,v«í'tíò  : — boca,  bocado, 
Com  eàta  Ri^niticaçâ  i  enconfira-ae  em  Mr>ntí}yat  que  a  define — 
entrada^  o  callejiin    de    moTite;  em    Baptista  Caetano  e  outros, 

2)  Mafo  tfifltB  ou  fei  >  (caá,  mato;  juru,  triste).  Conforme 
dissB  no  meu  primeiro  art*^,  apeni^s  Azevedo  Marques,  citando 
arrone^imente  a  Prazeres  MaranUào,  enuncia  que^itró  quer  dizer 
triste.  Hh  confusio  ^<^m  \  o  que  se  traduz  por  triste  em  tupi  é 
jururu,  termo  aUás  bem  vulgarizado. 


L.   D*  T, 


—  137  — 

3)  Mato  d«  pAraj[;aÍQ  (cúâ,  mato;  újurú^  jiapapsio).  Ajurú, 
ièmos  em  Macedo  Baare«,  é  nútne  braf^ileirú,  genérico,  do  papa^ 
^aio;  de  a,  frenteT  juniT  bí>ca;  alti^ào  ao  falar  o  pÁpíigaio  como 
m.  g^nte;  em  Bapiista  Caetant/;  ayurii— ayttrub;  boca  de  ^fote» 
bocK  hiimana;  nome  gff-nerieq  do  p»[>agaio;  em  Montoya»  papa-* 
gaioi  em  Martius;-*Áiarú,  ajuni,  Píbo  II,  R5;  ajern  aliái  — íu 
^eoere  avU  Paittacusí  derivaium  ab  ajurú  collum;  em  Moraea^ 
Dicdonario  português,  pafmíxaio.  Oom  esta  mi  ema  ei^nificaçào 
encontimniõt  juruue  em  Ciaude  d^Abbeville,  Miaxwns  ãeji  péres 
eapmmnes. 

4)  C(*ftto  dô  caJTÍ  (cajâ^  cnjúi  urú,  cest**)  Uiú,  ««"gitiido 
Joeé  Verissimo,  ê  o  nome  de  um  peqtieno  cesto  de  talas  com 
tampap  em  que  gnardam  o  tabaco,  o  cachimbn,  ob  «nxóes,  o  fa- 
queiro, o  canivete,  etc ;  um  m^Jispensavfil.  Vem  no  Dircotiario 
Confeiuf^òraneo,  de  Calda»  Aiilete.  (ftcenas  da  Vida  Ámíizonicaf 
1866).  E  Baptiata  Caetano:  va«o  continenti,  e  Beaareptiire 
fiohan :— oipei,*íe  de  cabaz^  cesto  ou  boba  com  tampn.  Fftaera- 
na  de  folbae  de  palmeira  ou  cipó  fino,  e  serve  de  mala  de  via- 
gem^ Alg^iims  sâo  ^F4iidt'8  e  podem  conter  tanto  como  um  r^umuá 
(Msira).  No  valte  do  Amazonas,  trazem-nas  como  aa  patronas  doi 
sojdjidos.  B&o  tombem  ufitiaes  no  Ueará.  E'  vocábulo  tupi  O 
Diccionario  Partngués-BrasiUano  o  traduK  em  eofo  Neaía  raea- 
ma  accepçâo,  conforme  vi  mo*  já,  a  considera  íV.  Prazeres  Ma- 
ranhão quando,  na  Oalefção  ãe  efifmfjiogioê  braAiiicas,  define — 
Cajanigaas-ú  (caá-nni-giiáçú);  cófi)  de  mato  grande ;  cachoeira 
de  Mato  Grosso.  Cai,  ne^^te  ca<(i,  e<4tá  mal  traduzido,  \>oU  u&o 
Be  concebe  que  haja  còjo  de  mato',  traduza-ee,  pois,  cná  urú  por 
wamhurá  de  madmra^  em  linguagem  correcta  e  u*íual  aqui  no 
sal  do  BrtLbiL 

Qoalquier  destat  defíniçõea,  como  ficou  largamente  demont- 
tmdo,  é  exact:i;  qtiaí,  porém,  se  dt^ve  applícar  á  cidade  de  Pa- 
jurú^  cendo-$e  em  consideração  o  costume  adoptado  pelos  índí"- 
g;ena&  na«  denominações  Incaet*^ 

A  ISO  posso  agora  resp-^-nder,  mi-lhor  informado,  declarando 
peremptoríamento  que  a  primitivn  dt^nomínaç&o  de  Ca j urú,  lo- 
gar,  é— CaÂjuru:  de  ea  (conirAcçâo  de  caa),  mato,  e  jtirúf  boca, 
eimtrada ;  e  si^n  tiica  e*'trada  da  m^iia. 

De  facto,  a  cidade  de  Cajnru  está  colocada  na  boca  do 
maêo  que  circumda  a  serra  do  CabatàA. 

LAFATinTB    DB    TOLlíDO. 

Calção  dv  Cauao— Córrego,  affiaente  do  Gocaes.  He^  a 
fasenda  da  Prata. 

CAL&A8 — Estaçào  da  E.  de  F.  Mogiana,  no  Estado  de  Silo 
Paulo,  entre  Mato  Secco  e  Casa  Branca,  ro  kiL  134.  Deno- 
mina-&e  bcje  Engenheiro  M^^iidea  (Morbira  Píitto]. 

ÇAKBAfi^HT— Vide  Tambabú, 


—  138  — 

CAJiro  ALEORB^LAgOa  de  pequena  diraensflo,  uoste  muu., 
próximo  A  torra  dd  sôu  nome.  —  Serra  colocada  a  oéítfl  e  que 
atravcFSH  parte  do  miiDicipio,  ccrtâdá  pelo  rio  Tambabii  e  pela 
antiga  estrada  que  11  ^a  a  cidade  á  cidade  de  São  Simão.  Tem 
lambem  oâ  nomes  de  Arrependido,  Bom  Jardim  ou  Jardim  e 
Quebra-Cula.  Seu  ponto  mais  ele7ado  é  no  Agudo,  a  1.020 
metros  aeima  do  nível  do  mar. — Fazenda  agrícola  pertencente 
ao  »r.  António  Joàé  Correia  (Barão  do  Rio  Pardo). 

Cawpo  Redondo — La|íôa  pequena  e  ras!i,  na  fazenda  Terra 
Vermellia  de  Cima,  formada  por  dois  ramos  do  córrego  Preto, 
ua  proximidade  de    um  espigão. 

Casna  do  Reino — Correg;o  e  Ingar  na  fazenda  Cocaes  do 
Bio  Verde. 

CahAo— Fflzenda  neste  município,  vendida  peio  sarg-ooto-mór 
José  Pedro  Galvào  d©  Moura  Lacerda  a  27  de  JuJbo  de  1792.^ 
Pequeno  mato,  isolado  no  campo, — Excellfnte  palavra  brasileiríí, 
derivada  da  lingua  g-eral :  caá-poãai  mato  redondo  (Ta una v),^ — 
Bosque  isolado  que  apparece  no  meio  do  campo  como  ilba  de 
virdurn.  Nos  logarea  humitíoa  &ào  oa  capões,  muitas  vexes  densos 
V  compõera-se  de  arvores  elevadas,  muito  próximas  umas  da»  outras, 
Âppnrecem  priucipalmente  nas  baixas  e  junto  aoa  riachos,  de 
que  fcrmam  wm  ornato  especial,  principalmente  nos  buriti^aes, 
onde  mais  se  desenvolve  a  bella  mauritia  vínifera  (Wappieus). 
Bosque  no  campo;  mato  isolado  no  meio  do  campa,  como  a 
ilha  solitária  na  vastidAo  do  mar;  ilíia  de  arvoredo:  do  guarani 
caá,  mato,  e  pan,  o  que  está  no  meio  (Macedo  Soarks).  E-te 
autor  df  sí-nvolve  proíicien temente  a  oriprem  do  vocábulo  na  lís- 
matíi  Brastleira,  tomo  III,  p,  224  (1880).— Bosque  laoludo  no 
meio  de  um  descampado.  Eíite  vocábulo,  no  sentido  brasileiro, 
it&o  tem  do  português  sinão  a  forma.  E'  apenas  a  aUe  açã^  de 
caápauD,  que,  tanto  em  tupi  como  em  guarani,  signifícn  mata 
isolada  (B.  Rohak), 

Capão  ái-to — Sitio  a^íricola,  pertencente  a  FidelJ»  Feman- 
dea  Garcia,  no  bairro  da  Estiva. 

Capão  Bonito  —  Fa^eiida  neste  municipío,  comprada  em 
1818  por  Manuel  António  Cabral  a  José  Alves  da  Silva.  Hoje 
tem  outra  denominação. 

CoPELLA  DA  lioA  ViSTA  DA  Vartiea  GaANDB— Bairro  HO  mun. 
dc  Ca^a  Branca,  do  Estado  de  S.  Paulo,  com  uma  escola  pu- 
blica mixtaj  creada  pela  lei  provincial  n.  8,  d©  15  de  fevereiro 
de  1884  (MonEiRA  Pisto).  Este  illustre  geogrnpho  também  men- 
ciona o  bairro  át\  Boa  Vista  da  Vargem  Grande^  como  aendo 
outro,  qae  níio  a  Capela.  A  [povoação  de  Vargem  Grande,  como 
já  ficou  dito,  perteoce  ao  muuítipio  do  S.  João    da   Boa    Vista. 

Capitão  Horta— Rua  de^ta  cida^lo,  assim  denominada  em 
honra  ao  capitílo  Moysés  de  Oliveira  Horta. 

Capitão  Vicente— Vide  Guarirobas  e  Palmital, 

Catíiiapatos- Sitio,  na  fazenda  de  Cocaes,  assim  conliecldo 
em  1829.  Actualmente  não  tem  essa  denominação. 


■ 


—  1B9  — 

Carros— Ántf^a  denominarão  da  rua  Luís  Gama. 
Cartalhiisho— Vide  Tenente  CarvalUinho. 
Carvão  de  Pedra— Por  decreto  n.  9603,  de  12  de  junho 
de  1886,  o  íçoYerno  ^eral  concedeu  privilegio  fio  úr*  Gabriel 
Biai  da  Silva  e  Roberto  Normanthon  para  explorarem  carvão 
de  pedra  e  outros  míneraea  ne$te  municipío.  Até  agora,  porõm, 
uào  deram  principio  a  tal  e^xploraçào.  Em  ofEcio  dirigido  'ao 
presidente  da  província,  em  30  d©  de^-embro  de  1863,  a  Oamara 
informou  nRo  haver  aqui  carvào  de  pedra. 

Casa  Branca — Cidade  m  diatrícto,  município  e  comaiva  do 
mesmo  nome>  do  estaJo  de  Bão  Pjmlo,  republica  dos  E  (aii»  Uni- 
do* do  Brasil.   Esta  povoaçà^,  antigo  sertào  da  edraífa  cíe  Goiás, 
do  bispado  de  &àn  Paolo,  diiqnem  do  rif>  Pardo,  ic^i,  por  cv  rta  i  égia  de 
25  d©  ootulro  de  1814,  erecta  em  frefruezia  com  a  iíivoca',íSo  de 
Nessa  Senhora  das  Dôrej,  como  «e  vé  do  segTiiote  alvará:  «Eu  o 
Priocipe  Kegente  de  Prrtujíal,  e  do  Mealrado,  Cava  liaria  e  O  dem 
de  No-so  Senhor    JBSYS  Cbríato :    Faço  aabçr    que    seudo-Me 
prefente  com  repieseoíação  do  Reverendo    Bispo  de    Sao  Paulo 
do  Meu  Coiicelbo,  o  rrquerimento    doi    m^rfldorea    do    ccrt&o  da 
e&trfida  de  Goíja  no  dito  Bispado,  em  que  Me  expunham  a  ^i^ande 
falta  de  Pasto,  e  Siccorroa  Eapinttiaes,  qui   ?ol'rifto  p-la  l  nj^i- 
tB.de  de  sua  Fregiiezia,  pedindo-Me,    que    sfim    do    remediar  t^o 
grandes  males  lhes  BzfSie  a  Graça  de    Err^^r    huma    no?a  frâ' 
gaeztft  naqu^lle  Gertâo.  O  quo  vipto,  e  reepoataa  doa  Procur:idorea 
Geraes  dss  Ordens,  e  da  Minha  Real  Coroa,  e  F^izend.?,  que  tudo 
smbio  a  Minha  Real  Prezençi,  em  consulta  áá    Meaa  di  Consci- 
ência, e  Ordens  :  Hey  por  bem,  que    no    ceilào    da    estrada  do 
^oiflZ,  no  Bepado  de  Sâo  Fí&nlo,  daquem  do  Hio  P^irdo  no  lugir 
denominado — dn  C^zi  Branci,  — sejt  erecti  bunia  nova  Freo^uesia 
com  a  lavocRçA')  de  Nossi  Senhora  dite  D^res,  a  qu^l  ob  mora- 
dores do  dito  Certão  edificarão  a  sui  custa  no    f^refiio  termo  de 
Suatro  annos,  e  ficará  limitada  eãta  nova  Fregae  ia  dejde  o  Rio 
uqoarl  até  o  pouzo  do  Cubafão.     Feio  qua    Mando  a    tod»s  as 
pessoas,  a  que  o  cumprimento  deste  Alvará  competir,  o  cumprâo, 
e  guardem,  como  nelle  ^e  conUím,  sendo    passa 'o  p^Ia  Uirincel- 
ioria    da  Ordem  e  registrado  noa  livros  di    Camer^i  do    Bispado 
de  BXo  Panlo,  e  nos  das  Frepueziss  que    por  este    Sou  Servido 
Maodar  Erigir  e  m*  de  que  ílU  houver  de  ser   desmembrada,  e 
Takrá  como  Carta,  pnsto  qae  seu  fffeito  baji  do  durar  mais  do 
hum  «uno,  sem  emharg^o  da  Ordenaçl^o  em  contra» rio.  Rio  de  Ja- 
neiro, 25  de  outubro  de  1814.— pRixcirE,  COM  Guarda.— Alvará 
pelo  qual  V.   A.   Real  Ha  por  bem,  qu^  na    estrada  do    Certão 
de  Goíaz  leja  erecta  liuma  nova  Fregueziaj  como  acima  sa  declara 
—Para  Voasa  Alteza  Real  ver. — JoÂo  Gaspar  da  Sílva  Lisboa. 
a  fea* — ^Por  immediata  ResoluçUo  de  S.   A.    Real  de  15  demarco 
de  1814  e  Despacho  da  Mesa  da  Consciência  e  Ordens  de  18  do 
mesmo  mess  e  anno(l\» — Em  1824  o  bispo  de  São  Paulo  dirigiu  ao 
presidente  da  província  o  seguinte  officío:   «Ulmo.   c  Etmo   Br, 
•^Accuso  a  recepção  da  Portiria  de  V,   ílxc*   de  6  do  corrente 


—  140  — 

na  qual  me  |»attici|>a  Y.  Exc     que  tendo  o  CApitfto  Mor  da  Vil!» 

de  Mogimirinj,  niarÊado  o  rio  Pardo,  pArs  íefvir  de  divisa  com 
A  yAlh  da  Fra&ca,  convinha  que  aquella  demarcação  í^erviase  do 
limiee  da  Fr^gueiia  de  Ca^a  Branca,  e  qae  eu  houveaae  de  anoair 
a  esta  peitençào,  ao  que  respondo  a  V,  Esc»  com  a  copia  do 
AlvAfá  da  creaçâo  da  mp;¥ma  Fre^ueaia»  Não  poeao  certificar  a 
y.  Esc.  se  a  este  reapeito  tem  havido  alguma  mudança,  o  que 
milhor  poderá  informar  o  Parocho  daquella  Freguesia^  quando 
V.  Ex7.  haja  por  hem  aasím  o  mandar  Hé  o  que  ae  me  o£ferece 
a  dizer  a  V,  Eí:c.  tendente  a  ea  e  o^j  cto.  Da.  Gde*  a  V. 
Esa.— Sao  P*uTo  17  de  jnnbo  de  1824,  — llltro.  e  E%mo.  Sr. 
Prfsidí*nte  Lucas  António  Mont  iro  de  Barrof»t — M^riOBSL  Joaquim 
Gonçalves  dm  Ahohade, 

Pfla  lei  provincial  n,  li>,  de  25  de  fevereiro  de  1841,  foi 
Casa  Brauca  elevada  á  cntegoria  de  vilia,  constituindo  muntci- 
pio  com  a  fregnezia  de  Caconde  e  o  curato  de  í>âo  Simlo. 
A  lei  n.  22,  de  ^7  de  março  de  1872,  elevou-a  á  cid&de,  e  a 
de  n.  46t  de  6  ^^e  abril  do  mesmo  anuo,  creou  a  comarca  de  Gaaa 
Branca,  coniprehf*n detido  oa  terraofi  de  Casa  Branca,  Caeonde  e 
Sáo  Sirn&o.  Pela  actual  organização  judiciaria  do  Estado,  Caaa 
Branca  é  béãe  da  comarca  do  mesmo  nome,  conatiCuida  peloi 
districtOB  de  Casa  Branca  e  Tambabii  (2),  Confina  esfe  mniii- 
cipiri  ao  norte  com  o  de  M<»cócii,  a  m/rdánte  cotn  o  de  São  José 
do  Rio  Pardo,  a  leste  e  sul  cora  o  de  Sào  Joí\o  da  Boa  Vi^ta,  a 
oeste  com  o  de  São  Bim^Op  O  municipio  é  composto  de  campos 
e  mat^s;  parte  dentas  acha- se  em  terrenoa  montftnhf>ao&  e  outra 
parte,  a  maior,  extende-se  por  terrenos  pliinos  e  espigõea  de 
pequenH  elevação,  A  povoação  teve  aeu  crmeço  por  um  pe- 
queno rancho  á  margem  do  Espraiado,  e  mais  tarde  por  edifica- 
çoflR  que  fizeram  José  António  de  Almeida  e  o  padre  Francisco 
Jofé  de  Godoy  (â),  que  de  Itú  para  ahi  foram  em  1810  (4)»  e 
pelo  estabelecimento  de  diveraas  famUiaa  açoriitnaa  dirÍL'tdaa 
pelo  governo  de  d.  Francisco  de  Afísís  MaBcareuhas,  conde  de 
Palmji,  em  1815.  O  nome  de  Casa  Branca  provém  de  uma 
pequena  cara  caiada,  anida  áquelle  rancho,  aitunda  no  caminho 
de  Mogi-mirim  á  Franca,  e  que  servia  de  ponsn  e  descanço 
aos  que  iam  em  demanda  da  Franca,  Minas,  Goiax  e  Mato 
GroíBo  Foi  seu  primeiro  vigário  o  aludido  padre  Francisco 
José  de  Godoy,  que  celebrou  a  primeira  misaa  no  povoado  em 
1811,  em  casa  de  Beoto  Dias.  Primitivamente  consíijtiii  a  pro- 
ducçfio  do  iogar  em  toucinho  e  queijo,  i>e)o  que  moroso  foi  O 
seu  desenvolvimento,  conservjndo-ae  ai^sim  até  1864,  época  em 
que  o  dr,  Martinho  da  Silva  Prado,  tendo  adquirido  j>or  compra 

(1)  Ci^titado  de  am  docamenlo  «xUi«Dt«  qd  Anata  tvo  PnbUoo  Aõ  SiUdo,  a  qq«  qm 
fbt  ofTerêcJdõ,  em  oãpift,  pelo  niattre  d;re«iar  desift  rapirtlçAo,  dr.  Átitaãlo  d«  To^ 
)«]o  Fim, 

t2t  ADiulmeiíU  tJhWi)  a  í^mnrc*  ootn^  le  doa  nnnlojiploi  de  Ou*  DruM  « 
TuabAbá  e  du  dietrlcto  de  itobl 

ti)    AltáflH  FrnaciHo  de  dodej  Corfbo. 

(4}    Vttrun  xaWê  d«  ifilO, 


f 


~  141  - 

imia  fazenda  (1),  iniciou  o  plantio  do  café,  proporcionfliido 
^ectl^^os  a  j^rande  nutueru  de  lavradores,  Dabi  em  deaote  rjipido 
foi  o  jirog-resso  do  lo^an  Acba-sB  a  cidade  Bitufldft  a  N  N  O  da 
eapital  da  província,  a  720  metraB  aobre  o  uivei  do  mar.  K^  o 
mtioieipio  servido  pelíi  ferro-vÍa  Mogiaua  e  pelo  Ramal  Férreo 
do  Rio  Fardo,  Conta  aiém  disgo  e&tradas  ordinárias  para 
todos  Cê  municipíofl  limitropliea  (Rêlatít  io  da  Commiumo  de 
EstaU^Uca) .  —  *0  governo  pnrlu^iea,  nos  tempos  coSoniaei, 
distÍDgtiia  muito  todos  os  aventureiro!  que,  aem  temor  da  tnOTte, 
Airiseavam-Fe  a  atravessar  vaatos  aertões  repletos  de  iudioB,  ló 
eom  o  fim  de  deBcobrir  tiuro.  Dabi  o  caracter  egoigta^  que  foi 
a  primeira  feição  dos  no&:>OB  aDtepaieadoft,  aasím  como  o  mais 
perolcioso  mal  que  ae  moculou  na  indol©  do  brasileiro.  O  primi- 
tivo nome  do  graqde  imperial  era  —  Terra  de  Santa  Cruz ;  o 
egoísmo,  e  por  conapgttinte  o  ouro,  denominou^o— BraBtl,  Diz  a 
tradição  e  com  eila  o  fraude   poeta: 

«Terra,  porém,    depoi»    chamou  a  gente 
Do  Bra^iL  nho  da  Cruz;  porque,  attraida 

Doutro  lenho  nas  tictas  excellentea, 

&e  lembra  menos  do  que  foi  na  vida. 

Amm  ama  o  mortal  o  bem  presente: 

Assim  o  nome  eaqnece  que  o  convida 

Ã0&  iiiteres-(^g  da  furura  floria, 

Aoi  bens  attentos  «6  da  trauaitoria.v 

Ot  pauliãtas,  aproveitanlo  as  boas  d'Hp  sii^õe?  do  governo 
portQg-ueB,  e  movidos  sobretudo  poi  um  gfnio  audaz  e  aventu- 
reiro, tentaram  coiumettimentoa  extraordiuarios  que  parecem  in- 
veroaimeis. 

Em  1670,  poaco  mai*  nu  menos,  B.  Bueno  da  Silva,  natural 
da  cidade  de  Bkn  Paulo,  desejando  possuir  um  grande  numero 
de  indio«,  eouvindfj  falar  que  pt-lo^  ladoa  de  (Ioííéz  bavia  uma  tr  bu 
mansa  e  pacifica,  onde  aâ  molherea  ornavam-se  com  folhas  de 
ouro,  peJa  primeira  vez  atravessou  os  sertões  pelo  lado  do  poente. 
Ke»t©  trajecto  abriu  a  grande  estrada  que,  atravessando  a  d^ 
dade  de  Casa  Branca,  comraunica  a  província  de  S.  Paulo  com 
as  de  Goiaz,  Minas  e  Mato-Grosíso.  Chegando  ao  abv,  destino, 
tentara  por  meio  de  ertificíoit  influir  de  uma  manei «ú  sobrenatural 
ao  animo  dos  indj arenas.  Para  hao  queimava  aguardente  na 
pretença    dell#*S;    que    aterrorJsadiiS,  o    chamavam    Anhangnéra^ 

Sue  tjuer  dizer  •  diabo  velho.  Seria  Bartholomeu  Buetio  da 
»ÍlvA,  quem  primeiro  passou  peloi;  terreung  de  Cas^  Branca? 
Acreditamos  qun  sim;  tanto  que  por  carta  régia  de  B  dfl  nmio 
de  1748,  foram  concedidas  por  três  vidas  ao  filíio  de  A  nhmtguéra^ 


m    Kiti  fuendi.^  denoffllflftdii  BftjâHt  perteoce  ^ojô    JU»  maiilclpfú  de  EuiU  C^ 
4mm  Ptiiaiiriii^  e  é  bm>  dai  mads  Linport4iiUa  dJkU. 


—  142  - 

qvL&  teve  o  mesmo  nome  de  bcu  pai,  as  passíigens  doa  seguintea 
rios;  Eia  Gmtide,  Corumbá,  Jagiiari-minm-  O  ultimo  rio,  cor- 
tnndo  a  CE^tmda  a  que  ficima  noa  referimoB,  pas^a  distante  de 
Cíita  Branca  quatro  léguas  (l).  O  roteiro,  que  depois  guiou  os 
&utro3  paulistas  em  suas  vinj^eos  r  Mftto  Gtoèso,  íoi  exacta- 
mente aquelle  que  Aythaitf^nèni  deixou  a  ^su  fiilio.  Por  conse- 
quência não  pude  BcíFrer  a  menor  duvida  de  que  Bartholomen 
BuoDo  da  Silva  foi  qatim  abriu  a  grande  estrada  que  procura  a 
ponto  do  Jag^uárn. 

E  hoJL»,  que  o  commercio  tem  creado  novaa  forças,  deWdo 
aos  grandes  element)8  de  progres  o,  quo  jaziam  na  maia  re- 
pugnante apathía,  que  interesses  d i verãos  iurçaca  as  provi nciaa 
íimitropbes  a  estreitarem  suaa  relações,  c  que  podemos  medir  a 
importância  do  comettiiaento  daquelJe  audaz  paulista.  A  na- 
tureza collocon  a  província  de  S.  Paulo  em  cortdições  mui 
vantagiosas,  em  relaçfio  aos  inlere&ses  de  Goiaz  e  Mato  Grosso, 

TodtB  os  nossos  rioa,  procurando  a  grande  bacia  do  Prata, 
com  exepi^ào  doã  rÍoi  do  littoral,  demonstram  á  !uz  do  dia  a 
importância  daquellas  paragens,  em  relaçào  a  estj    provincia4 

Caí^a  Bianca  tira  seu  nome  de  um  peque  rancho  [2)  que 
Layia  nqiiem  do  espraiado  que  banha  a  cidade. 

Oa  tropeiros  que  conduziam  sal  para  o  Hio  Grande  e  oa 
carreiroa  que  vinham  de  Franca,  procuravam  o  mencionado  rancho 
que,  sendo  a  única  habitação  caiada ,  denominavam— na  Casa 
Branca,  Em  I8i0,  José  António  de  Almeida,  que  nasceu  em 
Itú  no  aniio  de  1795  (3),  foi  forçado  a  retirar-se  daqnella  cidade. 
e  encoDtiando-Èe  com  o  padie  Francisco  de  Godt  y  (4),  que  prc- 


ni  DÍTido  on  hiunielrlDi  do  Cttth  Branca  e  S.  JcíVo  da.  Bân  Viu», 
i£)    O  dr.  JdAo  llendce  Ac  AloietdA  ccmbute  cstA  leodn    o  die   quo  «  origem    do 
boiae  Caàa  Brartca  é  tupl.     AdeRiiie  dimci  K  noticia^    que   nos  offerccâo,  c    qqq  é    um 

\^}    ãoié  Antobio  Ar  Almeld^  «e^ndn  doelar«ç<^a  et)».  niLpcea    ?ra  Uú,  em   IBuJ. 

Ba  pripendo  a  cr^r  qhs  eUs  eo  en^nnám  e  díi&crii  n  verdnde  ao  ir*  Lo^t^Ua, 
fiOTqnhiito  é  duvidoBO  qD«  te  âjnsiA^ii^e,  nts  nove  atii:i'-i.  coma  CAMtflndA,  lato  é,  mo« 
■ete,  porque  o  padre  Fr^nclvco  do  tJodoy  veiu  pnra  nqui  era  Jí-Oc^.  Km  i*^23,  esta  ík- 
Cflrdolo  t*ívu  umii  qucktAâ  h  resjuetio  Ú«  terreno b.  Depondo  MuTiflcM^em andei  de  Keicoda, 
na  iccIJo,  dice(^t-quâ  íea  pAJ  Jbt/  de  Almeida  Iara,  }he  dlEverft  «QUo  mtlKo  £6  catton 
acbnr  ramlrliQ  no  ri  be  Ir  Ao   chuanxàQ  Cocapb». 

Nilo  ea  tratnri  dettc  Joid  do  AimeEdn  Lafí,  que  metido  púdo  car  a  pfti  diqQcIla 
Joié  Anionto  ? 

Joié  António  d6  Almeida  foi  cuado  com  d^  AnionU  Nnmes,  Hlba^  do  Bento  Diu 
Gani  A, 

If)  Õ  pndre  FrantUco  do  (lodoy  Coelha  foi  Tigírlo  de  C*Fa  Branca  por  loogoi 
aiinoi/  FalfeceQ  cin  16^4,  deixando  por  rd  a  herdeira  &  madre-attbndi^Ma  Anna  de  Bio 
Joaquim^  recolhida  ao  convento  de  Banta  ThíreEa,  da  Capital,  e  por  testamenteiro  o  l]^U 

fadelro  Bernardo  Jofâ  Pio  to  Gi^iia  Pd  xoto,  igu  pAtonte.     Godoy    obter  o  M  lerrai  do 
otn^s  por  setiQjirliis  por  compras, 

A  fRienEJa  de  Bento  Dias,  que  elle  con^prír»  lambem,  era  comporta  de  camp0fi« 
uiitM  e  bemfeltorlat  e  comprebcndia,  de»d(g  *  iRgoa  secca  aoi  OllioB  d.A^tia,  até  o 
PiC*irrJto  Inclusive,  Indo  findar  Oocnes  nbatxo^  flcnnio  do  dcolro  c  correio  Comprido  (ou 
Apna  Comprida},  onde  fes  uma  poiíe  o  ama  eaifnliji  coberta  de  palba,  eoi  I^Oi,  o  Baado 
Joté  Fr&ocifeCD.  Na  sobredUa  queílAo  do  v*4m,  dlrie  a  ttfvteinnnlia  itaríanno  Díib  d» 
Olltelri  ;  (juo  ão*é  Triípcleco  tendo  citMdo  para  qidm  âcçio  de  forc:a  e  estiullia,  por  nm^ 
compoiJçAo  qae  nxeram  eile  iatroto  e  lea  piío  | Bento  Uiafi),  btgoa  mno  das  terras  « 
daa  bemretioHai  que  tinha  feito  )antO  ao  córrego  Comprido,  o  aaal  córrego  le  «cha  cod- 
tlgoe  ao  lítio  da  Bocflna,  apoeiado    por  Jic^nliio    Bodriguei,  e  por   «Bt«  vendida  a  JO' 


mb 

^^  Otâii 


—  ua  — 


cBrtvft  orn  logíir  denominado  Cocâes,  -ja  estrada  de  Goin^,  ajus- 
í<jii-se  Cf  mo  camarada  do  referido  padre,  A  fazenda  de  Cocaes, 
pertencente  ao  padre  Godoy,  dista  desta  cidade  apena^j  uma  légua, 
Ahi  foram  lançadas  aa  priaieiras  bases  da  íuiura  povuaçào  (l), 
Todavia,  dois  grandea  inconvenientoa  foram  logo  conhecidoe:  a 
falta  de  agua  e  o  facto  de  se  achar  o  local  encolhido  muito  fura 
da  estrada  e,  por  consequência,  do  commercio 

Além  dUfo  ua  Estiva  já  exibiriam  tree  casas  fertencentea  a 
José  de  Larfi,  Vicetite  de  Lara  e  Francisco  de  Lara  (2),  O  interpase 
que  cates  itidividuQ»  tiravam»  negociando  com  os  tropeiros  o  ear^ 
rt íros,  cbaiDou  desde  lofço  a  attençAo  dos  habitautefi  d^  Cocnet«i  que 
Ticram  e>tíibelecendo*»e  por  todo  o  leito  da  estrada.  No  omfanto,  o 
padre  Godoy  continua ra  com  affiucona  fuiídaçào  da  pequena  |>fivoa' 
ção.  A  primeira  missa  foi  dita  em  IBll,  em  casa  de  Beut^»  iTiar, 
■o^ro  de  Joeé  António  de  Almeida,  Em  breve  ohe^ou  á  cajiitãl  a 
Doticia  da  uberdade  do  idlo,  que  por  uua  circumstaticia  pattículftr 
oâerecia  aos  lavradores  daqueile  tempo  immensaa  Tnntnf^ens.  como  a 
t^o  possuir  ejccel lentes  cultura^f  todas  ellas  tendo  porto  lindos  cam- 
mui  apropriados  para  a  crint^^o  de  gado.  A  esse  facto  é  que  attri< 
tiímoii  a  grande  immigração  mineira,  que  tomou  couta  do  todo  o 
municipío.  E,  com  efíeito,  em  todo  o  valte  encre  o  rio  Mogi-uairini 
(3í  e  no  Pardo  até  o  Pontal,  logar  onde  o  uLimo  no,  i>rccipi- 
tan^oeo  no  Mogi,  tira-lbe  o  nome,  não  ha  umr  eú  familia  que 
uào  teja  mineira.  Ao  passo  que  oa  mineiros,  em  constantes 
lucta^ij  tentavam  invadir    o  território  doa  paulistaE^  estes,  leva- 


FogjmA  A  Ires  wm.  1TBA;  mm  u  tem»  do  Bêbedo  nro  dn  PrHU^  rcDâliliu  por  Mifift  da 
Ei^Éflfat  B«iito  A  tea  pM,  @  >  teimAil»  velhn  4a  hig<s:i  dú  Rocb.ji,  au^  o  córrego  dos  Tu- 
taaiH  ma  Tubtr^n^a  ?^  Utúe  o  mesmo  vfgiArlo  Oodoy  icem  «ria  do  terreno  coniprndo  e 
dM  êmtwi*  teime  de  cnUura,  cimpOB  a  cerradoa,  quâ  le  nchuvam  diivotuLíLii,  pnra  ta 
parte*  de  PlmiBOfínegii,  odiIa  tiQlia  liratlo  jipr  iPf>tnnTH  a  capitão  Joiu  d«  yi/raes  Preto, 
a  q«9  mabe  por  ter  ouvido  mulina  reieá  Ut  n  Beiniarm  dcr^adrc  G(^d  y,  DjsiieniaU  qtte, 
ab«mo  »t«  padre  um  cAiuEqbo  do  QQrtego  CQmphdo  yor  deatite,  cUevatido  ao  riljdrfto 
eam  varLie  peitou  e  ella  te«tem[inhA,  nb>  d4morArfim  daia  ãiin  a  procararecn 
por  h,Lr«r  utiliúi  brejo*  Jonto  ao  rto^  e  depui»,  achaado  modo  de  p»s«ar(^m  tá 
<qDc  aieda  hcijo  exftte»  ijum  PiruROttiiig^.  For  esto  loesnio  cnmioho  Ke^aín 
da  ^ílva  por  ordetD  do  ^rf^adeiro  GavíAo,  ã  |>rocara  da  fazijTida  do  Lageado. 
_  ilndo^Sfl  oesfd  isesmo  cAOilnbú  Aberto^  a*é  cbogar  ao  ribeírAoloi  tíarcia»,  hajA 
ilpado  RibeirAo  Pelo.  KbaiKo  d*  «ir«d>,  que  de:paU  $e  abrtti,  em  dirccçAo  ao  sitio 
to  Jo;é  Jraquiia  Bezerrv  ^í^^  ^^'í  tUiott-u;  depois  qae  coiufiroQ  a  kesoiAria  do  dita 
e  iftcolben-fi^  o  PA^Ire  com  oa  picadore»,  ci^cravo«  e  eamaMdan.  Que  i «to  foi 
a»  sano  dç  ííh'0«  nfto  exUtiodo,  por  nQnellea  Indo»  d?  rfTiit£Dnaiig&,  pessoa  al^iimn  oa 
^tíifi,  »ié  aqaelEo  tem^o,  nrm  le  AcbQii  cúrie  alj^um  d^  optiUfaHíei^  ti&m  tígnii]  do  Togo 
am  «ampoi  e  cerrndoí,  ^inJIo  ob  qiie  maníJoii  pnf  o  psdre  Uodoy»^ 

ii)  Cb^gAtam  a  fazer  um  eemitotio  c  uma  cipe^lleba.  1.0b  a  ídvoca^JIo  de  Bani' 
Aana  A  prõpotito  r^fcro  a  leodu  om  (jtcto  dl^no  di?  rncp^ilo  :  A  pavoa^^^o  de  C&sa 
BraneA  proip^ía  e  J-A  tinha  uma  capeUa  coberta  do  Hnpé,  oa  local  onle  bojii  está  a 
e^reja  dó  Roíario^ 

O  TÍfario  Uodoy  e  ootroa  qQeriara  qtio  a  Treguc^Ja  Íoíec  em  CcrtHcs ;  «  oe  do  c& 
teiniAVftni  eni  creiUa  na  eaaa  brattca  QD  flO  iiaffi-bang-cà,  Q  Torani  botCltr  a  ImajifCIIl  da 
BaafADna,  aoa  CocJiett  par*  a  col locarem  aa  cupclla.  A'  DaJt»,  01  eoi-oenãfi  Vierim 
llr*Va  e  a  leTaram  de  doto^ 

O  p4dr^  aproveitando  o  ee^ejo  para  a  «na  propn^aada,  d  tela  a  n^na  Ú&ia  qao  a 
iiiu)f«n  fugira  porqnt  tião  queríú  morút  ém  Cata  Branca. 

Eitaa  v3ndafi  e  idaa  rcpetlram-Be,  até  que  o    poro    de»cobrlHs«   A    artfiu^nba   do« 

hotueoi  4«  Cocaes.     A  ioda  boje  ba   dnju  fazendai    nc^to    tn  untei  pio   caja   dcD^minacAo 

recorda  a  malograda  povoaçfto  de  Coraoa  :  a  de  Hant  Annn  ea  do  FiçarrUodo  Cemltorlo. 

(Ij    Kio  pnde  alada  veriUcaj-  ti   eite«   Larat  tAa  páreo tea   de  Jo»«    de    Almeldi 

(3)    Lela-fe  Mogi-gnaaiú. 


—  Ili- 
das p  r  uma  indõl©  verdadeiramente  aventureiri»,  prncTiruvam  o 
■uK  Foi  exflctsraeulo  neí-ta  occasiâo  que  assuiniu  a  isupr*'Tna 
administraçàn  da  capitania  o  muito  í ilustrado  d,  Franciíico  de 
Ã^sia  Mascarenhas.  mHrquez  de  Palm»,  «Foi,  d  is  o  brigadeiro 
Maebado,  em  seu  Quadro  hifitorico  da  pr  avinda  de  S  Pau  lo  ^ 
aro  doã  aeuB  primeiros  £ctus  promover  a  colonização  na  capi- 
tania, comú  uma  dat;  su»s  oiais  instantes  necefeidades,  attenta  a 
diroinuiQào  da  popu^açà€  com  as  repetidas  levas  para  o  aul. 
Ne^se  thú  louvável  propósito,  predispoz  que  a]§:umaB  das  fami- 
liaa  açortstfls,  que  para  ea^e  fim  lhe  for^tm  cirigidas  pelo  governo, 
babttâi^cem  temporariamente  Jundinhi  e  Campinas,  como  para  se 
adaptarem  aa  clima  de  sua  uova  pátria,  e  em  seguida  mandou 
formar  em  Casa  Branca  e  naa  ferras  de  uma  sesmaria  contendo 
uma  legufl  de  frente  e  dna;  de  fundo,  pertencente  ao  coronel 
José  Vaz  de  Carvalho,  que  g^eneroaame^te  cedeu  de  sua  prO' 
príedade  um  núcleo  de  coloni^a^áo,  começando-o  com  vinte 
daquf^llas  familiar,  cujo  numero  foi  posteriormente  augmentado, 
provendo  se  a  cada  individuo  uma  diária  para  eua  manutenção, 
rtinqttauTO  para  ella  nílo  tivesse  recursos,  e  recommendando  os 
colonoa  a<>s  cuidados  das  mas  abaetadas  fumilias  d«  Mo^i-minmt. 
Em  que  anu  d^u-se  semelhante  aL-ontecímento  ?  Examinando 
as  Mefiiorias  do  Rio  de  Janeirú  de  José  de  Sousa  de  Aaevedo 
Pizarro  e  AraMJr»  na  part«  em  qne  se  refere  á  queatào.  fiffirsi  a 
elle  o  setrudite  t  «D.  Franciseo  de  Asais  Magcarenhas,  isoiide  l."*  de 
Xulma,  que,  achando^st^  no  ^overn»  iictniil  de  Mnias  G^t^raes, 
depois  de  governar  a  •  apit^nía  d*^  Goia^,  foi  nomeado  a  13  de 
maio  de  1814,  vice^rei  da  Íiidi«,  cnjn  posto  e  governo  se  lha 
traneíeriu  paia  o  de  H.  Pttiilo  p«'T  despacho  dn  13  de  maio  do 
mesmo  anno^  e  pela  honrosa  carta  régia  de  6  de  outubro  se- 
giiinte,  em  viflta  da  qual  tomou  p'  sso  a  3  de  dezembro  imme- 
d  ia  to  B.  PortantOi  fíca  demonstra  io  que  os  colonos  açorit»tas 
vieram  para  Cas^  Branca  no  anno  de  18 15.  José  António  de  Ãl* 
meida,  que  ainda  vive  (l)jaffimft  que  por  ordem  de  ura  capitão 
Baptista,  vindo  de  Mogi-mirim    (2),    íoram    intimados    os  povos 

ftara  ajudarem  aos  ilhéoe  na  edificação  de  Buas  chm^i  e  tocou- 
hes  comu  imposto,  20  dujaias  de  ripas  (3)  A  vinda  doi  íibéos 
e  conse^iatemente  de  muitos  outríi;.  indjvidue4  qno  procuravam, 
para  aa  suas  especulações,  a  estrada  que  naquelle  tempo  já  era 
muito  frequentada  pelus  carros  e  tropas,  fez  abortar  o  plano  do 
padre  Godoy,  de  fuiidar  a  povoaçío  noís  Cocaes,  obrigando-o  a 
mudar-E>e  para    o  lugar    onde    está    hoje    aiiuada    a  cidade  (4). 


(1j  Almeida  rallaDen  nsetii  cldidti,  ái  dans  haras  d&  tardo  de  dia  23  de  agoitQ 
d«  lâ?8.  Dep<i1i  de<Meríp[««  «s  nfi^a  precede ntâi^  r^HQqnâi  qiie  ell<  naicera  em  ilM^ 
0  ntc  em  In»!,  como    declarara 

{2)  O  capícílo  J(j&u  BapUsU  Parreira  era  juii  ordinário  de  Mogl-ioiriín  um  te  16, 
época  em  ^ue  der^riAin   ter->o  coniimido  as  oAta»  doi  oo Iodos 

i^i  Nq  ee  m  bmo  aono  fiSltU.  o  ^^enio  nijiiidoQ  a  Cma  firjincji  o  eDg:eDheLro 
bLlItar  ÚaàítjeI  Pedro  U&ll€r,  qae  t&o  importante  iiapel  desenip^nhdii,  mal»  lardfi^  nu 
poiHien  D  no  eteruiio,  -demaraar  a»  lotes  da  terrenoi  ún%  llli4lo«€  Indicar  o  ârra&menK 

(4V  Na  faiendã  Plçirrio  do  Cemitério,  proxlmi]  ao  AteiradLQlio,  exUt^m  Ainda 
dnas  omiei  que  recordam  o  comiUrlí^  da  pofoaç&o    de  Cotnea, 


—  145  — 

Infelizmente  Of  primitivos  habitantes  áo  mimicipin  iiAo  co- 
nbeciam  a  cultora  de  eafé^  de  maneira  quH  a»  nii^lhoreB 
mataa  foram  todas  estra^adaft  com  grande- a  rcç  s,  otido  ttiií-t^ii- 
t&va-te  ura  numero  extraordinário  de  gado.  E  dejioH  a  entrada 
de  fazeodeiros  mÍDeiros,— qae  mediam  a  riqueza  feia  nitiior  ou 
menor  qttantidaile  de  terra  que  pot^uiam, — di^morou  por  utuitos 
ãjiDOi  a  divisão  da  propriedade,  fieatjdo  de^^ta  Arte  o  inunicípio 
parafusado,  não  pesando  de  ontra  importância,  bídí^d  aquella  que 
lhe  TÍaha  da  estruda  da  Prsnca.  Felijiiiente  a  eiitTuda  de  ta- 
sendi-iroi  importantes,  jã  ^jeio  lado  da  fortun»,  jÁ  peio  lado  da 
inteliigencia,  veíu  chamar  a  ntten<;Ao  dos  lavindorea  j^ara  a  la- 
▼oiira  do  café.  E  hoje  podi  moa  ajSiinçnr  que  o  muiiicipio  de 
Casa  Branca  é  talvez  a  zona  mais  importante  da  provi iifia. 
Ba,  todavia,  um  mal  que  tt  m  resí».tido  a  todi*  o  írominHitiriionto 
de&tinado  a  eiterniinal  o,  Á  ignoraíicia  pofml-ir,  e  o  Íj  diiirn^n- 
tiBmo  em  rela^^ão  ao  adiantamento  iQi^^ileÊtUHt  — são  peiau^.  Em 
compensa  ho  os  homens  mais  anti^on  do  lopir»  mau > Testa t»do 
tempre  grande  veneração  á  moralidade,  trAUAmittiram  a  so^is 
filhoa  a  mesira  índole  e  c<  Etumee.  Det^ta  i-urte  a  ctdr.de  de 
Casa  tfranca  recommenda-***  especiolmente  pf-lo  resjieito  á  ordem 
e  acatamento  á  ant^rridade,  Ã  vinda  doB  Ar;iirii>'a  ,  vm  1B15, 
na  qualidade  de  colonos,  pouca  ou  nenbnma  ntílidade  deixou 
fto  município  pejo  lado  civilizador.  E  o  iraL  niè  hoje  ainda 
prodns  funestas  consequências.  Km  reprii  todo  o  jndividuo  em- 
pregado na  lavoura  nào  sabe  lêr*  (A.  R*  dn  Lovola).  —  Cidade 
e  muuicipío  da  província  dw  S,  P^ulo  (Brasil),  nn  comíue-H.  de 
'  Mo^ím*rJm,    em    íitio    ft^rtii  e  saudável.     Ora*;n  Ncsaa  Senhora 

(  da«  Drre-,  dii  cese  de  S.  Faulo.     Tem  6.1*24  habirautes  livrrs  e 

j  1795  escravos   fl),     Criflijãf)  de  p:fldo8.     Acha-íe  em  cous^iru^çào 

o  laoço  de  ettfada  de  IVrro  qne  a  ha  de  li^jar  com  a  rapital 
da  provincía  e  cí^m  outras  cidades  importantes.  Acha-S(*  e^uul- 
mente  ebtudtida  a  f^strnda  que  a  ha  de  li^rrir  á  Caldas,  na  jiroviucia 
de  Mlna^  Gerfles»  e  u  |»ro]on^anento  da  linha  de  B.  Paulo  are  a 
nmrgem  esquerda  do  Rio  Grande.  O  titulo  de  cidade  tuilhe  conce 
dido  no  anuo  de  1872.  E'  M'dp  de  coUopio  eledoral  (2).  Eleg-e  20 
eleitores.  E'  egunlmente  aéde  de  comarca  judiL-lal  dn  L*  en- 
trancia  (S),  O  município  de  Casa  Branca,  que  c  mprehende  trea 
paruchias,  conta  8.188  habitííiitus  livres  6  2  09H  escravos  {Díúc. 
de  Gpjjg.  ttnivemal,  l8T8), — Povoat^ào  situada  a  NNO  da  cii]iital, 
entre  as  cidadfs  de  Mtig:im>rira  e  da  Franca.  Começou  por  ura 
Oiraial,  que  dpíeI^vo^veU'^e  no  principio  do  século  actual,  O 
iabio    francês    Augusto  de  Saint-Htlaire,  em  sua  excursão  pela 


dl  êegmiAQ  o  recenseamiiito  de  1872,  Km  T800  s&  procMeu  %  nevo  refensi^Amen* 
to,  muHú  úofBitdúso.  que  díinoiííUroQ  orçír  «  poputâçAú  do  munkiifiti  ror  m  Uhi  (itmãí, 
iBAíi  OD  menoi      B'  pmliD   ddUt  qtie  de  itf^h   pura  cá  o  território    municl^nl    íc    ttriD 

í2j  A  Tçforíl*  eHtor«i  d*  <8ívt  trnaífciria  a  sedo  do  7.*  íltstricto  pira  RtbeirlUi 
Frete,    O  moDicipio  eiii  dividido  em  L  «ecçOes  com  Hil2  elettores,    segcndú  a  ra^bAo 

(t)    Afitnyiiittiitt  M  comiuxu  dt»  Bttftdo  ali)  Um  cstagoritt. 


—  146  — 

provinciíi    de    S.    Paulo,    no    anm  do  1819,   as^im  eo  exprime; 
c  Ãs    ca^as    quR  formam  a  grande  rua  de  Casa  Branc»,  em  nu- 
mero de  2J,  tinham  sido    conBtnudaa   para  famílias  de  insulare» 
âçoiiaaoSj  que  se  tinha  mandado  vir  povoar  esta  localidade.     O 
governo  pa^ou  o  preç>  do    transporte   o   den-se   a  cada  familiar 
não  somente  uma  casa^  mas  instrumentos  ara  tórios,  e  meia  légua 
de  terras  cobertas  de  matas,     Eitea  colonos  desanimaram  á  via  ti 
dfl«  íirvorí^a    enormrs    que    éra    precifio  derribar,  autea  de  poder 
plantai*  -  dezoito    famílias    fugiram    atravessando  a  província  de 
iíinas  Geraes  e  foram  lançar-se  nos  pés  do  rei,  Implorando  que 
ns  tirasâo  de  Casa  Branca  ;  dou -ae -lhes  culras  terras  para  o  lado 
d©  Santn?,  ©  a  povoação    de  Caia  Uranea  ficou  quasi  deserta.  * 
Luís   d'Alincourt,    em   seu    viagpin   ás  províncias  de  SAo  Paulo, 
Goiás  o  Mato   Grosso,   aíErma   que  o  motivo    da  fuga  de=te9  co- 
lonos   foi —ter  o  governo    fsiltado    ás  fl)  que   Ih  cia   tízéra.     Spja, 
poróm,  como  for,  a  povoarão  fui  creada   fregue7.ifl,  desmembrada 
da  parocliia   de    Mogimirim,    por    alvará  de  25  de    outubro    de 
1814,  ttob  a  invocação  da  Sennora  da*  Dòrôft,  e  elevada   á   villa 
por  lei  provincial    de    25  do    fevereiro  de  1841,  e  d  cidade  por 
lei  do  27  de  mar<;o  do  1872,     Di'ta  da  capital  44  legnas  ou  244, 
4  kiL,  fl  da»  povoações  limitropliea,  a  saber:  à^  Gncondo  12  ou 
6G,6  kil.,  de  S-  Simào  11  oti  íilj,  do  S.  Sebastião  da  Boa  Vista 
(2)  Ifj  ou  88,8  (r.),  do    Espirito  Santo  do  Pinhal  10  ou  55,5,  do 
Espirito  Banto  do    Rio  do  Peixe  i^  ou  50,  de  Moííimirim  12  ou 
6G,G,  o  de  S.  João  da  Boa   Vista  9  ou  50  (Azevedo   MAaQUES). 
— Fazenda  rural,  que  deu  nome  a  esta  cidade,  e  em  cujo  terre- 
no fai  edificada.     Suas  divisai  eram  as   Begaiotest  Principiavam 
no  capílo,  nu  alto  do  e^]iiglio,    seguiudo    pela    direita,     coufron* 
tando  com  a  fuzenda  de    Prudente    José  Corroa    (4)  até    o    ca- 
pão   da    Guariróba,    e    BejE^uindo    pelo    espigào    até    fe^-har   no 
brí*jo,    ondo    morou  Anfonío    Pinto,  confrontanlo     com  a   fazen- 
da   do    Ribeirão,     dvldindo    com    as    lío    Piçarrãn    e    Penhora, 
e    terminavam    ondo    começaram.      A    divisíio    da    fazeudi    de 
Casa  Branca,    a   única    de    que    temos    conhecimento,    começou 
na  audiência  de  22  de  juiibo  de  1846  o  foi  julgada  por  sentença 
a  31  do  abril  de  1817.     Tinha  a  fazenda  077  alqueires  de  terraa, 
teodo  401  de   campos,  que   íoram    avaliados   n    lOfOOO,  o  86  de 
matOj  que  ioram  avaliados  a  14^00,  importando  em  rs.  G:H4$000, 
Desta  quantia  deduxiu-se  a  de  341§000,  valor  do  pa^to  reconhe- 
cido como  propriedade  de   Nossa   Senhora  das  Dores,  com  quanto 
n&o  npparece?s9  titulo  de  doação;  e   também  a  de  32O$0O0,  por 
quanto  foi  avaliado  o  terreno   entre  os  doi&   córregos,  onde  eitá 
aísentadi  a  povoação,  c  desiinado  a  património  da  egreja.     Esta 
]>artõ  f<ii  doada  a   Nossa   Senhora   pelos  condóminos    da  fazenda 

fl)    HuiíTo    *ciiiT^   por   forç*,    omIjsJlo  de  cai,i  pAlavr*      Vide  oa  Apamtúmtntoi.  da 
AiereâD  MarqQn 
(i^f    ilojoMocú». 

Q\    A  úíêtMici*  daqui    k  Mocôci  i^'  áe  (^  lc>gti»ii. 
(4)    E«la  r.ixGodi    tal  de  àuXonh  Jcit  Hlbelro  g  dr.  Joeá  Rodricnei  do  Prvdo. 


—  147  -^ 

Vicente  do  Almeica  França,  Marcoa  âe  França,  Jt/ào  Almeiíia 
França^  Ignaciõ  Francisco  de  Almeida,  Aiitoaio  Barbrta  de 
Moraes,  G*.nçalo  Ftfrreira  Garcia,  Fraiieisco  de  Paula  Cardoso  e 
Fiancísco  Martins  de  Carvalho.  Também  ti  vis  mm  parte  na  fa- 
^endii :  Fructuoso  José  da  Siva,  capitão  Jo-é  Gouçalve*  d^s 
Sarílcs,  Serafim  Caldeira  Brant,  Antónia  Ma  nina  Fuiáo  de 
Foiítea  e  outros — Nova  villa  da  província  de  Sao  PauIo,  na 
ultima  comarca  de  que  a  vil  Ia  da  Franca  é  cabaça.  Era  jiri- 
mitivamente  um  arraial  cuja  população  fee  auf^mcntou  conàide- 
ravelmente  com  o  govereo  constituíionaL  Sua  egreja,  dedicada 
a  N.  8.  das  Díires,  íoi  creada  f.ogjejíía,  e  larj^o  tempo  d.^pois 
yma  lei  provincial  de  25  de  fcsvereiro  de  1841  lho  cunrtjriu  O 
titulo  de  vi! la,  desmembrando^  para  formar  o  seu,  o  diatricto  da 
villa  de  Mogímirim.  Consta,  pois,  o  aeu  diatricto  de  Beu  terri- 
tório parocliial,  dt?  de  Caeondo  e  do  de  fí,  Sim^o.  Seus  habitantesi 
avaliados  era  3.(XíO,  sâo  yala,  maior  parte  »p:ricuUorea  ti  criadoreà 
ííe  gado  (MiLLiKT  0B  Saint  AiiOLriiis).  — Marchamoá  duas  lei»:uaa 
até  a  Estiva,  mais  uma  lc;;ua  á  bonita  villa  de  Ca^a  Braoca, 
notável  pe?a  sua  egri^ja  de  bel  la  apparcocia  e  jelo  seu  cemitério* 
Vai  Qfna  légua  daqui  ao  Aterradinbo,  meia  á  Lagoa,  três  e  meia 
ao  rio  Sapucabi  (IJ,  cuja  ponte  pasíamoi  a  pt-,  porque  e^tá  om 
peior  eftndo  do  que  a  d*i  rio  Pardo. . ,  (MiíUtíSHo). ^Estação 
da  liuba  Mogjaaa,  a  277,5  ki  lo  metros  dt;  Sko  Paulo  e  a  720 
metros  de  ahara  so^ro  o  uivei  d)  mar;  íVjí  inau.í;uradfi  em  lUlS, 
A  cidade  está  cokrada  na  altitude  dn  GâO  metros.— Cidade  na 
qual  La  uma  câtaçào  da  estrada  íeino  íltof^iana.  E^ti  assentada 
no  declive  de  um  moute  baix->  ^  e,  na  niiz  de&to  monte,  ha  um 
pequeno  corref^o  cujas  aguaâ  sào  eápraiadaa.  Ahi,  o  íiutit]uÍBtvimo 
caminho,  que  era  o  trave^sio  doa  indii^enaí  e  que  depoid  foi  a 
estrada  gtiral  para  a  Franca,  formav^a  um;i  curv.i,  ladeando 
o  monte,  para  uoroeite.  Dahi  o  nomp,  corrompido  em  Casa 
Branca.  Casa  Branca  é  corruptela  dw  Ha^á^banjí^ca,  «  travefiiiio 
torcido».  De  haçáj  «passagem,  travesãio»,  bang,  «torcer,  en- 
curvar», levado  ao  supino  pelo  accrescimo  da  particnla  ca  (breve), 
para  significar  » torcido».  O  h  tem  som  appirado.  Q  facto  de 
existir  maia  adiante  a  casa  caiada  da  K^tiva  (;),  ou  Keiri*H'o 
do  despacho  dos  géneros,  foi  causa  da  corruptela.  De  um  Itins' 
rarití  (3)  de  viagem^  em  1857^  vou  transcrever  alguns  tru^^hos» 
quâ  explicam  de  certo  modo  a  denominoçtlo  tupi :  «  Sfihi  do 
Âterradiuho  ás  8  boras  da  manhíl,  e,  camiubando  meia  légua  ao 
rumo  de  ses&euta  gráuf^  cheguei  á  villa  de  Casa  Branca,  que, 
por  suas  coastrucçõeâ,  é  trato  de  seus  habitantes,  86  moatra  uma 


|2i  k  ttâa  raiaia,  A  qno  f«  roTcre  o  ant«]r  do  fíteeíottaria,  nflo  aVA  i&ltaiún  n^ 
BfitT»,  «  Bim  A  bdr*  da  cidade,  li»  raa  hoje  denontíFiadji  án  t*r,tl*. 

í3)  O  Iftftefafio.  n  qae  «e  refere  o  dr.  MenâQ«.  é  o  da  li^*fftm  frrreittt  da  ciiaiã 
ÂÊ  SaiUoÊ,  na  proriíttia  dr  Sa»  J'atilOt  a  Cuíahâ,  íapifaí  éa  proiiHeia  dê  Mato  6fQtt&, 
ftttl«a  eNE:Q]]b«lroB  oinjor  bach&rcl  Joié  de  ^dlrnnda  da  Êilrn  Rei  a  c  capU.lo  b^nch&rel 
Joâqalin  da  Gama  Lobo    ú^É^a.     ¥/  «íí  rrípto  p^la   [«rlmdra    e   bíIá  publicado    □□   umo 


'I 


—  I4S  — 


das  maífl  civil izadas  povoações  que  ein  roiuha  viagem  atravea«©L 
Condauaiido  dtiht,  ao  rumo  noroeste,  caminhai  tr'^9  quarl<  s  de 
íegua  até  o  alio  d<f  campo,  A  uma  légua  e  um  quarto  da  viJla 
passa-pe  pelo  logar  cbamado  Estiva,  ainda  do  meamo  rumo  noroêitiSf 
e  atraveftsa-Bo  a  váu  «m  pequeno  córrego. .  O  terreito  mostrou- 
Be,  neste  dia,  poueo  acddf^ntado.  »  EBtfi  aittiquia^imo  caminho 
eetá  hoje  abaiidotiado  e  qua&i  tapado;  porque,  depois  de  1857, 
foi  aberta  uma  estrad»,  denorainhas  de  rodcig^m^  m«Í8  recta  ao 
alto  do  cfliTipo.  (JoAo  Menobs  db  Almeida  (IV  Dicc,  g^og,  da 
prov,  de  Sào  Paufo^   inédito).— De    Sào   João  da    Boa  Vista  re- 

fTeipei  para  a  estação  de  Cascavel,  onde  tomei  a  linha  tronco 
a  Mot*iana  em  direeçílo  á  cidade  de  Caaa  Branca.  Paaeei  pelaa 
estações  dft  Engenheiro  Mendes,  Orindiuva,  Lagoa,  Coches  e  Casa 
Branca.  Fica  eata  cidade  a  173  ki!ometroa  de  Campinas.  74  de 
Sâo  João  da  Bôa  Vista  e  88  dfl  Mogi-gUflíjú,  na  encosta  de  uma 
cofioa,  quei  desce  suavemente  para  o  lado  de  N  E,  courornada  pelos 
doua  EspraiadoB,  que  sa  reúnem  a  outros  dou»,  formando  o  córrego 
das  Congonhas,  afflaente  do  rio  Pardo,  A*  riistancia.  nos  limites 
do  município,  ficam  a  O.  e  a  18  kilomatroa  o  rio  TambaLú,  a 
E,  6  a  B6  o  Jaguari,  ao  N.  e  a  12  o  rio  Verde  6  a  12  o  Tuba- 
rana.  Sua  po«içl^^  topographíca  nào  é  feia.  Quem  se  coloca 
na  estfiçào  da  e&trada  de  ferro  aprecia  belloe  panoramas.  E\ 
entretanto,  Ca=a  Branca  uma  cidade  profundamente  triste  e  ex- 
traordinariamente decadente,  Compoe-so  de  amas  nove  ruas  o 
do  umas  cinco  pra-^es,  A  rna  mais  importante  ó  a  que  parte  à& 
©Btaç&o  (2)  e  vai  at**  o  fim  da  cid.tde,  numa  ejítensRo  de  mais 
de  um  kilometro,  Na.o  alo  an  ruaa  cfllçadas  ©  poupasi  têm  passeios 
cimentados.  Ab  praçíis  ca'^ecem  de  nivelamento  e  de  limpeza. 
Os  prédios  s&o  qua-i  todo»  terreoB,  antigos  e  sem  go^to ;  nfto  nho 
numerados.  O  commeieio  é  insigniHcanta,  aendo  exercido  por 
italí.ino'*  e  turcos.  Os  principais  odificioB  da  oidadtí  sào:  a  Matriai, 
ainda  em  construcçàoj  a  Casa  de  Misericórdia,  a  casa  da  Camará, 
Cadeia,  e  o  prédio  f  m  quR  funcciofta  a  sociedade  italiana  Príncipe 
dl  Napoli^  o  melhor  da  cidade.  Tem  o  municipio  o  districto  do 
Eio  Verde^  h^ije  Itohi,  cortado  pela  lin^^a  férrea  Mogiana  e  os 
bairros  do  Eícnvadinho  (3)  Sào  Jono,  Lagoa  e  Engenheiro  Kdhe, 
A  p<'pulação  da  cidade  é  de  3:000  habitantes  e  a  do  município 
de  12  a  13,000,  Confina  o  município  com  Tambahú,  Santa  Cruz 
das  Palmeiras,  Sjko  João  da  Boa  Vista,  Mocóea  e  Rio  Pardo. 
Entre  ís  rioa  qne  o  banham  notamos  0  Parrio,  Verde,  Verdinho, 
&ant'Anna,  Pratfi,  Sucuri  e  Cocaes.  E^  a  cidade  illaminada  a 
luz  eler-trica  (Moíiejra  PjnTO,  Uma  magem  pda  Mogiana^  no 
JoTíml  do  Commercío  de  20  de  janeiro  de   1899.)— O    nom%  de- 


(1)    A  obia  dú  i Ilustra  Ar,  Jaio  MendM  ^i  lld<p  am   puie,  a  âlTonoi  Zii}iQ«iif  d« 
IttTH,  Ei«  diik  ^  de  Janeiro  dâ  jJjtOi. 
(S>    Bu  Oorooel  Joiâ  Jutfo. 
(8)    lit*  bktrrft  ni«  4  oonbwddo  »iiuL 


—  149  — 

C«£A  Branca  é,  segundo  a  tradição,  proveniente  de  uma  CAsa 
caiada  í{ue  havia  á  m&rgem  da  estrada  que  de  Sàe  Paulo  ia  a 
OoUbá.  Segundo  averif^aaçôes  q«e  pudenio»  colber,  teve  ella 
a  tua  origem  nnm  pequenú  ranclio  caiado  que  exi&tira  neate 
lo«:ar  e  era  o  ponto  dfl  descatiào  do*  tropeiros  que  demandavam 
Hina»  e  Gotas,  Foi  fundada  peloâ  irmlío»  Laras,  que  tnoravani 
oa  Estiva,  «  pnlo  padre  Francisco  de  Godoi,  qn©  conforme  a 
aatarimida  opin&o  do  dr  Aa^ua^o  Ribeiro  de  Loyola,  parn  aqui 
Tiera  em  1810  {Almanaque  de  Casa  Branca,  1888J.  — A  vi  11  a  dô 
Casa  Branca  acha- se  «ituada  em  uma  rampa  inave,  eapratHodo 
aa  ftuas  casa»  por  Ema  quasi  planicie  alegre  e  saudaveL  Lug-o  á 
enirada  da  povoado  nota-ae  a  pitoresca  egreia  do  Hosario,  cercada 
de  cruzes  com  o»  fjmboloB  do  anpplicio  do  Hedemptor,  ao  lado  do 
eemilerio,  que  é  a  constmcçao  mais  importante  do  logar.  Aa 
Ttiaa  ifto  tormo^ai  e  sem  nivelamento;  as  cat^a»  t/'m  appsreticia 
mediocre,  notando-te  raras  de  ípobradí*.  O  desenvolvimí^nto  tem 
•ido  eitremamente  lento :  erecta  em  freguesia  nú  anuo  de  1819 
(1)  pela  importância  que  já  adquirira  naquella  época,  ainda  hoje 
(18G6;,  n<>ta-fle  a  maioria  de  eaí^as  vplbas  e  meemo  em  ruiufis, 
atteelando  a  decadência  era  {*À)  que  ee  acha  (T^uha?).— Moreira 
Pmto  dá  noticiaf  sob  o  nome  de  Caiia  Brunca,  de  um  iiiBÍgtiiíi- 
cante  córrego  do  Esrado  de  Sào  Paulo,  que  rega  o  muutcipio 
de  »eu  nome  e  desagua  n»  E^^tiva,  tributário  da  m;4rgem  esquerda 
do  rio  Pardo.  Este  cotrego,  que  talvfls  spja  o  Espraiado,  nunca 
foi  conhecido  com  aqaelia  denDmiitaçâo. 

Casca  ES— Sob  esta  denominação  Moreira  Pinto  registra, 
em  seu  Diccioftario^  um  ribeir&o  do  Estado  de  Sáo  Paulo,  aftíaente 
do  Jaguari-mirim,  Eâte  rio  u&o  tem  atlluente  algum  com  tal 
denomina^fto;  e  sim  com  a  de  Cocaes. 

Castilhos — Rua  do  património  da  Lãgõa,  assim  denominada 
em  homenagem  ao  dr  Julío  Prates  de  Castilhos ^  ex-pret^idente 
do  Rio  Grande  do  Sul, 

Cava— Antigo  camitibo,  que  desta  cidade  ia  ás  fazendas 
Oacboeírào  e  Cocaea. — Córrego. 

CEMITÉRIO —Córrego,    affluente    do  Cocaes, 

Ckntriiího — Uma  das  denominações  do  córrego  do  Macaco, 
A  do  rio  Doce,  no  dist.  de  Itobí. 

Cbsca  Velha— Córrego    neste   manicipio  era   1835. 

CsHCATíiNno-  Qiiarteirfto  policial  do  districto  d»  Casa  Branca. 
^Faíenda  agrícola,  dividida  judicialmente  em  1846.  Tinha  os 
seguinte^  limitea:  «Principiando  na  barra  do  rio  C<>cae4,  no 
Jsguari,  «nbindo  por  este  até  a  barra  do  córrego  da  Divisa,  por 
estP  acima  até  ao  valo,  por  este  aié  ao  córrego,  peln  córrego 
acima  até  ao  alto,  por  um  valo    velho,    e    deste,    carregando    á 

VI    Aliás  «ia  iei4, 

elitffoi  m  H40niri]ii  »   bat^r^loiciciLe  «Kp^lbon  a  mm    bsDaáoA  laÚoenciB  Até  Cm» 
DnJ*  MédBi  i  tíámáe.  puii  qoe  Já  puton  dâ  rúU,  6iti  »in  gTânâe  «aifiittaH»  a 
d«  prMp«rtdbi4  cert«    iTanDAT}, 


-^  150  ^ 

esquerda,  a  procurar  a  cabeceira  do  cnrrpgo  das  Pedra?,  e  por 
63to  abaixo  até  á  b.irra  da  Cucboeiíioíiai  por  e^ía  acima  at«  um 
eapãozinlio,  para  cima  da  ])onta  do  tim  cerrndtubo,  o  deste  ao 
fllto  do  espígíio,  divisando  com  o  nlfere-  Jostí  Garcia  Leal^  r 
de?te,  a  rumo  direito,  k  baixada  do  valinbe,  por  este,  á  direita^ 
á  cabeceira  de  um  brejo^  por  estfi  abaixo  ale  á  barra  do  outro, 
e  voltando  por  esto,  á  esquerda»  até  ao  alto;  pela  cerca  Talfaa 
ate  á  ponta  da  cabeceira  do  correg-o  do  Jacintíio^  e  por  eate  abai- 
xo até  eurontrnr  oa  cttltivadoa  do  finado  João  da  CoEtá  Bezerra, 
carrcíf^andíj  á  direita,  pela  beira  da  capgeira,  a  &air  do  campo,  e 
pela  beirada  deste*  voltund  í  á  t^squerda  pela  beira  do  capão  abaixo 
ate  flo  ribpjrílo  do  Cocaeí^,  divisando  cnm  aa  terras  do  faíecido 
padre  Godoy.  e  descendo  por  este  abaixo  até  frontear  o  alio  da 
Boa  Vil. ta,  ficando  além  do  ribeirão  Cocaes  viote  alqueires  de 
cultura,  avniiados  em  200^000;  c  pelo  dito  espigão  da  Boa  Vista 
att'.  írontenr  um  cajiílozinlio,  e  por  e?te  abaixo  até  á  tapera  de 
Leopoldioo,  a  íszer  barra  iio  CocftPF,  e  por  eate  abaixo  até  á 
barra  do  Jai^-uari,  onde  tpvfl  priucipio  a  confrontaçíVõ,  divisando 
coni  o  finado  lioureníjo  da  Costa  • .  Esta  fazenda  linha  a  su- 
perfície atrrHria  df*  ÍÍ8')3  alqueires  fi>,855  hectares  c  80  aresj, 
sendo  avaliarioB  os  campos  a  4  e  6*000  o  alqueire  e  as  matas 
a  10$000. 

Cruc Ano— Antigo  quarteirão  policia Ij  hoje  supprímido.— 
Eibeirào,  aff,   do  rio  Pardo. 

Cfiícado  i>a  CACiioicinA^ — Antigo  quarteirão  policial,  boje 
extinto. 

Cerrado — Antipro  q^arteirílo  policial  desta  di^tricto,  ora 
eiii neto,  — Estação  da  linha  férrea  Mogiana,  no  município  de 
Sfto  Simíio,  próxima  deste. — Píorcíita  do  arbustos  do  3  a  4  péft 
de  altura,  mais  ou  menos,  mui  chegados  uus  aos  outros  (Taukav). 
— Bosque  isolado,  que  croFce  noa  campos  mais  altos  e  seccos  o 
noa  taboleiros  e  chapadas,  constando  apenas  de  arvores  baixas  e 
tojáes  (WappreusJ.^Lagòa.  de  que  fazem  raençào  documentos 
de  1835,— Mato  emmaranhado,  baato,  ou  muito  enredado  da 
ftilvfls  e  cipÓA  (Mflcedo  Soares), 

Chilena— Avenida  do  Novo  Bairro. 

CtDAiiB  Livres  do  líio  Pardo — Vide  Sfto  José  do  Rio  Pardo. 

Cidreira— KibeirSo  do  Eí^tado  de  Silo  Paulo,  afHuente  do  rio 
Jagiiari,  entre  Silo  João  da  Boa  Vií^ta  e  Casa  Branca  {M*  Pinto), 

Cigano — Ribeirão,  no  bairro  do  Cercadiuho^  já  assim  co- 
Tibecido  em  184S*»  aft'.    do  Cocaes. 

CiOANOH— Córrego,  afT.   do  Sucuri. 

Cl  1*6— Córrego,  na  faz.  Várzea  Grande,  aff.  do  rio  Verde» 
— Nome  commum  ás  diversas  ea^ecíes  de  plantas  sarmentosas  e 
trepadeirae,  e  particularmente  ás  que  se  empregam  á  guisa  de 
eordcl  ou  barbante  para  amarrar  entre  si  quaeaqucr  objectos. 
Cotn  ello  também  se  fazem  cestoa.  Na  construcçAo  das  choupanas, 
terve  egualmente  paia  ligar  umas  ás  outra»  aa  differentea  peças 


-^  151  - 

liè  madeírR,    donde  resulta  dizer-se  qae  o  ctpó    é    o    prego    do 
pobre.     Derivn-ae  do  tupi  yc\[\6  (Voe.   Brás), 

Clauo — Ribeirílo  deste  immtcijiio;  estabelece  os  limitei 
defite    com  os  do  Santa  Cruz  das  Palmeiras  e  PiraçunuTirta. 

CLAumxA— Córrego,  na  faz.  Vars&ea  Grande,  nft',  do  rio  Verde. 

CocAES— RibeiràOf  aflluente  do  Jafínari;  divide  fs  uiudící- 
pioi  de  Casa  Branca  e  Santa  Cruz  das  Pnlmt^iras.  Nasce  unquello 
e  re^  gruiide  parte  desie,  No  lebtnrio  da  Commisíiãtí  de  Es- 
taihiica  è  tnencienado  cmno  rio.  — E'  cmsideravel  pe!o  &eii  vo- 
lume d'agua^  mas  imprc^tiivcl  como  motor^  por  ger  o  seu  curso, 
na  mór  pavte,  em  terrenos  baiio?,  Bem  deciividad©  íCTiíivel  e 
margeado  de  largos  pântanos  im  nivel  que  llie  é  superií^r.  Re- 
cebe muitos  córregos  e  ribeirões  ,tt es  como— Lavriúlin,  Tubarauãf 
Prata  SaurAflaa,  Fortaleza,  Limoeiro^  PalinfíirnSj  Barreiniiho, 
ele»  — Fítaçào  da  liulia  Mt  giaiia,  outro  Casa  Dranca  o  Lagoa,— 
Vide  Casa  Branca* 

Cocas 8  do  Eio  Vbrde— Fazenda    neste    Município. 

Cociioh  — Sitio  e  correffo,  neste  municipio.^^PIuinl  de  côcbo, 
que  Júlio  Hibeiro  define— madeiro  cavado,  serve  de  eometlouro 
ã  animies;  lerre  também  para  ter  liquídos  por  pouco  tfmpo. 
à  forma  eóeLuBt  lembrada  por  este  iliustre  pliilólog-o,  6  ciudita 
e  nio  Ufiada  nesta  regifto. 

CocunDTO — Córrego,  na  faz,   Sèo  José  da    Serra. 

Colombiana-- Avenida  do  Novo  Baírrn, 

CoHMKRCio— Antiga  denominação  da  vus\.  Mestre  Aranjo* 

CoMrKiDo— Correíjo,  aítluente  do  Jagnari-mirim,  Tf! deu 
miA  denominat^ào. — Vide  Agua  Compridu 

CíJNCEiçio  DO  Rio  Pa  ri  do  ^  Assim  cbnmava-se  o  dencobti^Ut^  em 
que  boje  eatá  cfi  locado  o  munícipin  d  3  Ca  conde.  Era  *òQ  do 
novembro  de  1771  foram  de  lilojzimirim  os  tifficiaes  da  Camará, 
iocorpórados,  ter  mar  posse  ('o  novo  descaòerlej,  ©  diSÉO  lavraram 
aato  [Alnmuaqne  de  Mogimirhn,  1689), 
I  Congonha -ílerva-matte  verdadeira    e    de    bôn    quMlidndc. 

E*  vocábulo  de  oHgíím  tupi,  derivado  de  côgôi  (liomaguera  <J<. ireia). 
(  CoNt>osK AS— Córrego,  baiiLa  a  fazenda  do    mesmo    nomCf  a 

e  dcBngiia  no  rio  Pardo. 
i  CoK&TiTOJçio— Travessa,  que  liga  o  largo  da  Cadeia  Yelba 

.        ao  Espraiado. 

Costas— Córrego,  na  h-z.  Várzea  Grande,  aC  do  rio  Verde. 
1  CosTEKDA — Córrego,  alHuento  do  Cocaof ;   tem  Bua  uíJBceiite 

I         perto  da  serra  do  Arrependid' .— Fajcnd.n  agrícola. 
*  Coroca — Vide  Soroca. 

CoROSíRL  Correia— Ealaçào  da  linba  Mogiana,  no  kílotretro 
189,  tntre  Casa  Branca  e  Coronel  José  Egydie,  aberta  ao  Ira- 
fegti  »  25  de  relembro  de  1898. 

CouosKL  José  Egylíjo-  E^taçfio  da  línlia  Mogiana,  no  ki-' 
lotnètro  204,  entre  Coronel  Con^iia  e  TambaLú}  aberta  ao  trafego 
i  25  de  setembro  de  1398. 


—  152  — 

CnRONSL  JõSÉ  JuLio — Rua  deata  cidade,  ae^im  deu otnÍ nada 

em  honra  ao  coronel  Jo&é  Julio  de  Arftíijo  Macedo, 

GoRf>NEL  LuGio — Rua,  asâim  deaorainada  em  honra  ao  co- 
ronol  lúcio  Gomea  doa  SantOB  LeoneL 

Córrego  da  Onça — Sitio  agricolaj  pertencente  a  Joaquim 
Vilela  de  Andrade. 

GoRRPGo  FuifDO — Povoação  defite  municipio  e  diatricto  de 
Tambahií,  onde  Ka  nma  estaçfto  da  linha  férrea  Mogiana,  sacola 
primária  para  o  sexo  masculino,  cemitério  e  agencia  do  correio* 
£?tá  coltioada  a  737  tneti-os  de  altura  f>obre  o  nivel  do  mar. 

Correia^ Antiga  denominaçào  da  faz    Melgiieira- 

CoTiA — CapSOt  na  faaenda  Cocaes.  Eapecie  de  coelho  do 
pernas  alteia,  orelhas  pequenas,  cab*^ln  avermelhado  e  rijOf  rabo 
mnito  pequeno.  Come-âe,  porém,  sua  carne  é  sê^a?  a  péle  cur- 
te-8H  para  sapatos  (Fa*  MabanhAo).  -  Martins  escreve  CuiU^  e 
Rohau,  cuiia,  accrescentando  ser  corruplt^la  de  acuti,  nome  tupi 
desse  Mnimal.^ — Corre po  aítiuente  d»  Ciicaes, 

CoTtÁS  —  Loi>-arejo  na  fnzeufla  da  Prata. 

Covas — feitio,  a  pequena  disfanda  da  cidade. — Ribeirão. 

Criminoso — Córrego  nest^  mnn 

GuBAííA— Avenida   do   Novo   Bnirro. 

De.sg ALVADO —Serra;  limita  os  municípios  de  Santa  Ríta  do 
Faasa  Quatro  e  Casa  Branca,  e  fica  a  ve^iQ  daqnt41a  cidades 

DiífjcoBERTO -De-cnberta,  de^c -brimento.  8ó  newte  sentido, 
como  a  ij*^ctivo  ou  p^rticipio  p^ssíirjo,  ó  que  os  léxicos  porru- 
gnêse*  dífo  dexc^^òerto ;  no  de  di^sc-briniftnto,  e  também  de  cousas 
ou  log-ares  dfBCEfberLos,  su^^stantivo,  é  tt^rmo  genuíno  do  dialecta 
brasilt-iro,  rorrefipo:.dt*ndo  a  deseobf^rta,  que  elles  trazem,  mas  fr, 
Francisco  d\i  Sào  Luis  reprova  cnnrio  gallicismo.  Ir  ao  des- coberto 
era  invadir  o  ftortíto,  ])aia  di^arobrir  minas  de  ouro  e  do  esnií^ral- 
dafl,  OU  CR|itivar  indicia,  tal  para  uma  e  outra  cousa  ao  meamo 
tempo:  a  volta  do  descoberto  era   o  á^&c' mento  {Macedo  Soarex]^ 

DíESTEURO  —  Capela  ediíicada.  numa  dna  colinas  quft  circum- 
dam  a  cidade,  por  Jo^o  G.tnçnIveB  dos  Saut(*s  em  1889,  roa 
terreno*  de  buh  prnjjriedad*!.  Foi  ininiii^urada  a  27  de  abril  d© 
189Q,  celebrando  ahi  o  cou^^go  Mjgut*l  Martins  da  Sil^a  a  mis^a 
conventual.  E^  d*^  pequenas  dímenfiòcís,  de  conatrucçào  singela, 
e  dedicada  a  N(i6*in  Senhiira  do  Dt»aterro, 

DiRKiTA  -  Antiga  denominRç^o  da  rua  Parâo  de  Casa  Branca. 

Divisa  — Córrego  neste  mun.,  afílurute  do  Jaguari. — Córrego, 
affl.  da  Bebedouro, 

Dúcw  — Kjn  do  Efitado  de  Sào  Paulo,  affluente  do  rin  Verde, 
que  o  é  d  rio  Pardo  e  eííte  do  Paraná,  nas  divisa»  do  muni- 
cipio de  Slio  Jo'é  do  Rio  Pardo  (Moreira  Pinto).  Divide  esse 
mwnicipio  r  o  de  Gasa  Branca. —Vide  Rio  Verde  e  Rio  Doce. — 
Capào,  na  faz.  Cachopira  dos  Ilháoa. 

Dltas  Barras— Fazenda  agrícola  e  de  criar* 

Dutra  ^Córrego,  já  mencionada  em  1835. 


—  153  — 

Embaúba— Lo c^ar  deste  manicípío,  na  estrada  da  Franca. — 
Corr^^Ot  ai3.  do  Pederneiras. — Planta  medicinal  (cecropia  peita  ta)  ^ 
a  que  Luís  d'ÂlmcQurt  chama  ambaúba.— Embuíba  (ou  secundo 
outras  ortagrapliías  embaúba,  imb/dba,  ambaiba  e  ambayyaj  é  m 
conítecída  cecropiít,  ar?ore  urticacea  de  cujaa  folJiaa  se  alimenta 
a  preg-uiça  (animal,  ae  eutetide).     (YARMHAQas). 

ÉMBriiA--Qapào,  na  fax,  Cercaditibo, —  Nome  cominuni  a 
todaã  as  fíbraa  Tegjetaea  que  podem  servir  de  tiaoiei  quer  pro— 
Tenfaum  das  camadaa  cortíca^Bt  como  acúutece  a  dirersas  «'Species 
de  malvacé;ai  e  DUtrAf^,  quvr  prqiV(:^nbaTii  de  folbas  como  Hf::  de 
caragiifltá,  de  certas  palmeiras,  etc.  ||  Etym,  Do  tupi  yhyra^ 
nome  que  te  estende  a  qualcjuer  ©specit^  de  estopa  [Voe,  Eras.)* 
\\  A  mttitB»  aryoreã  do  BrafitI  qtie  offerflcem  matéria  prima 
tiara  cordas  e  estopa  se  dá  o  nr*me  de  embíra,  taea  eàrt  a  *?[»- 
twia  branca,  a  embíra  vermelha,  a  embirêté,  a  emhiriba,  o  em- 
biru»rà,  t»tc,  II  Tem- fie  eicripto  tamb^^^ra  envira^  e  assim  o  fazem 
G*b.  Soares  e  Baeaa;  porém  o  maig  geral  é  fmbira  (B.  Roiian). 

Embircçu*^ Córrego  neste  mun.— Vide  Imbiruçu. 

Ejibuava — ^Corrego,  na  fazenda  Barreiro,  aff.  do  Pederneiras, 
—Alcunha  com  que  se  desíirna  o  ntttural  de  Portitj^al,  a  qual, 
porém,  nada  tem  de  injurie sa,  e  é  o  resultado  de  tradi<;Õea 
Iiifttorica»,  desde  os  tempos  cnloniaes  (Rohak),  A  respeito  deste 
vocábulo  Mact^lo  Soajres  e  Baptista  Caetano  publicaram  inte- 
reisantes  artigcs  na  Eevinia  Brasileira  (tomo  I,  pa^.  586;  tomo 
II,-  pag^.  348;  1879)»  Couto  de  Maí:alhâes  escreve  Imbiiava; 
outros,  Emboaba  e  Imhftahã;  e  Cláudio  Manoel,  Buaha, 

EKGEh'H£]RO  Mendes — Estação  da  entrada  de  ferro  Mogiana, 
catre  Orindiuva  e  Cascavel,  no  krlometro  174.  Seu  nome  pri- 
mitivo era  Caldas. 

Engknhiíiro  RoHB^Estaç&o  da  linha  Mogiana,  no  ramal  de 
Canõaj!.  entre  Itobi  e  Vi)1a  Co  a  tina. 

Equadok — Avenida  do  Novo  Bairro. 

Escalvado  — Morro  situudo  na  estrada  que  da  cidade  de 
Caj^a  Branca  «e  dirige  á  da  Fiança  do  Impt^rador.  E'  u>. tavel 
ftio  ló  j^ela  fina  elevação  em  território  geralmente  plano  e 
aberto^  como  por  asBemeíhar-se  a  um  caatelJo  gothico  (Azevedo 
Marquesa;). 

Ehpigão  da  Lagb — Antigo  caminho,  que  desta  cidade  ia 
ás  tsjeendas  Cachreirào  e  Cocaes,  paralelo  ao  denomirado    Cava, 

Espraiado — Correiío,  na  faz  Morritih<>B,  também  conhecido 
por  Eativa, ^Córrego  que  bnnhn  a  cidade  e  vai  desaguar  do 
Uougotihau» 

Estação— Primitiva  denominação  da  rua  CoronelJosé  Júlio. 
^LaTíTó  do  Novo  Rairro. 

Esta LAOEM ^Bairro  e  raa  desta  cidade, 

Estiva — -Ribeirão,  próximo  no  antigo  pouso,  e  que  corra 
tobre  leito  argiloso  para  S.O.,  com  veloc^idade  de  tre»  patmi^s, 
tendo  de  largura    15    palmos   sobre  1/2    de  profundidade      Tôm 


—  154  — 


margens  IjaiíhSi  dcscnmj  íiIhp,  o  tlá  pasFng-em  a  v/ui  (TAirxAY), — 
Logai"  a  N.  O.  da  cifiiide,  de  qiio  dísta  uma  !egua  b  um  quarto, 
na  ímtiga  esttndii  de  Goini,  c^tide  bnvía  um  rancho,  á  ninrgpnii 
do  ccriegn,  Ainda  linjo  Im  diversas  casaa  flli.— Cõireg-o  de 
pequenas  dirrmus^es  lui  estrada  doa  ta  cidado  a  Vargein  Grande, 
— í^uarteirào  policifll — ^Bniri'0  niraí,  onde  ha  uma  capela  consa- 
grada a  Santa  Cruz.  — Córrego  na  fazenda  Olho»  d'Agtt3. — 
Córrego,  tributário  do  rio  Feio.  que  o  é  do  Jaguari-roiritu. — 
Córrego,  na  ín?senda  Morj  inlios^  tniubem  conhenido  por  Eiprpiado, 

EsriiADA  oEtiAL— A  10  dií  janeiro  de  1730  o  g^oyorno  expedia 
unta  carta  r^gta  prohihin^o  qiio  houvéese  tnais  de  um  caminho  pnra 
as  mians  de  Goímb  e  IMato  Grosso.  Este  cíitnialio  é,  sem  duvida 
a  grande  c>trada  que  Ir  vou  Dmtholoneu  Buetio  (o  Aiiliaugaéra) 
áquelle^  sertuos  e  qu*i  ]»« usava  por  Casa  P rança. 

FAVj^iinn—Esiavão  da  Mogiflnâ^  ne^te  mun.,  entre  Tambaha 
e  Corroí*'o  Fíiodn,  iin  kilom,  *JlO. 

Fa&íenda  — Herdndo  cfun  destino  a  grande  cultura,  lia  fa- 
zendas de  criaçfto  o  fuzen  Ifia  do  lavoura»  Nas  primeiraB  ao  cuida 
de  eadoB,  Rt»b  etndo  cio  bovino  e  cavaliir,  e  são  [>articíilar mente 
conhciodds  no  Kio  Grande  do  Sul  pela  deuominaçâo  de  ert^Hci^?^. 
Nas  aeganrfas  so  cultiva  café,  canna  de  assucar,  algodiio,  cere- 
aes  íúv.  A«  do  canníi  foo  ^çcral mento  chamadas  Éfí^í^CT^Arj  (RfHAK). 
Seguudo  Alentar  o  tRimo  íazcinJa,  no  sentido  de  propritidade 
agricolfl,  começou  a  cm  pregar -se  no  começo  do  século  XVII 
(Haskc^  . 

Fazgkda  Vbmi\— Uiboíráo,  na  ín^  Mtlgueira,  tambeín  de- 
nominado Cacho^iiinha;  aff.  do  JíJguíiri-  — Logar  no  distucto  de 
Tamh.ihn. 

FAZBNDÃo—Doaomiuaçào  popular  da  antiga  faíonda  Eibeíjíiõ 
de  Sâo  João. 

Fazkno  NtiA^-Sitio  na  fíiseenda  de  Cocaos  do  Rio  Verde, 

FiírA  — Lngoa,  nns  proximidades  da  Vargem  Grande, 

Fisto— Ktbeirâo  na  ant'ga  faaenda  de  Cõcaes,  tributftrio  do 
MogiííUíiSíii. 

PtOftLiSA — A  figolina  que  ene  outra- se  na  margem  do  Es- 
praiado é  mi  aturada  com  kaolin,  mineral  de  que  hoje  le  fAbrícam 
tijoloft  (Paula  «  Fjlva). 

Fmt!i£(R4 — Loj^ar,  próximo  á  fazenda  Campo  Alegre. --Ar- 
vore, dobi ornada  em  geríil  em  ahnneenga  por  amhaifb,  necessaria- 
mente dífterentc  de  embayb,  arvore  de  família  inteiramente  dif- 
ferente  (Cocropias)t  que  cvldentemento  podo  aer  explicada  por 
emba-nto-i/b  'arvore  de  oco).  Em  tupi  porem  algumas  figueira» 
afio  também  detignadas  pela  paJavra  sapf/pemba,  quo  nos  reporta 
á  hipitpenia  —  bapopcml  a  fraiE  alastrada).  O  nomo  amhai/t  úaéo 
ÁB  figueiras  até  h*  je  mo  pareceu  dlEcil  de  explicar-soi  mas  á 
vista  do  que  diy.  a  londii,  é  pf^ssivel  quo  ans  eapiriíos  ima^riua- 
tivos  agrade  a  intprpjctaçâo  de  anfipahyh  (arvore  das  almas  ex- 
tinctaf),  porqua  em    «baneeuga    nada    tem    de    eitrflordiuaría  a 


-  155  — 

íjueáft  do  ^/  e  a  transfoTma<;ilo  su^sequQnte  ãr*à  naso-labiaps  np 
em  mh  (BArríSTA  Cartaso)  -^  CorreiíOt  ua  eõtrada  de  rodagem 
de  Ca*ft  Branca  ii  Silo  Joié  do  Hio  Pardo, 

Flõheíí  — Autigft  denominação  da  rua  Capitão  Horta,  o  qno 
íliu  fui  dtidíi  ]ielo  seu  primeiro  habitante,  o  capitho  Vicente  Fer- 
peira  de  Silos  Pereira,  que  entSo  têsidia  na  cnsa  outrora  per- 
tence d  te  á  berança  d©  António    FJoriano  de  Arniijo  Cunba. 

Floreèííta— Fazenda  d©  cafó,  neste  dístiicto,  propriedade  de 
Luiz  BartaloUU 

FLotiiAKO  Peixoto— Rua  no  património  da  Lagoa, 

FoRNÂLtíA^-Corrego,  na  faz.   MíilnrneJra. 

Fortaleza— Cor  rego,  na  fazeuda  da  Prata,  atHueiã©  do  Tu- 
baraim , 

FoRTH— Keza  a  tradiíjào  que  no  bairro  da  Boa  Vi&ta,  nas 
Íminod]a«;5e9  da  chácara  que  foi  do  Vicente  Ossiua  de  Silos,  exiãtiu 
um  forte,  do  onde  os  soldadoií  resbriam  aos  ataquoj  doa  Índios, 
Á  uma  velha,  testemunlia  aTitiqui^sima  do  lunitrs  factog  deste 
Ipgar*  ouvimoá  dizer  que  ale«nçára  ainda,  naquelle  sitío,  uma 
ca^a  ^frítide^  redonda  *i  muito  aliti.  Em  documeiito  algum  encon- 
tramoâ  i*''erencia  a  et  se  forte. 

Francrlin*— Corri^g^o  na  {i\t*  da  Prata,  fíHuente  do  Cocacs* 

Francisco  Glicerio— Antiga  dpuominaçfto  da  rua  do  Mercado. 

FiíirCTEiRAs — Córrego,  na  íaz.  Logoa. 

FirsiL— Antigo  qnhrteirAo  policial,  boje  pertencente  ao  dis- 
tricto  de  Pirasãunnnga. 

Gaiça  -Logar,  na  Rutij^a  estrada  da  Fríinca,  perto  do  rio 
T&mbalid,  a  3  lc<fua9  da  cidade. 

Ga RCI AR  — Ribeirão,  na  faxonda  de  Cocaes,  assim  denominado 
em  1805,  e  Uojo  Hibeir&o  FcÍo^  A  anttj^a  denoniinaçlio  será  tirada 
do  appellido  de  Bento  Dias  Garcia,  Roque  Garda  e  outros,  que 
primeiro  povoaram  Co  cães  ? 

GotÁNi^Tiibu  indigeua. ^-Acossaram  os  Atmoréa,  pelo  rio 
Araguaia  acimu,  até  transporem  a  t^erra  divieoria  das  aguas  e 
alcançarem  o  rio  Parnabiba,— Ahí  tts  gúiá-nà  preferiraín  tícar, 
para  derrsmarem-fe  |mcifica  e  lentamente  peloa  vales  do  Mog^i- 
^asvú  6  do  Anhembi  ou  Tiett\  at«  oá  campos  de  Pirá*tininga 
0  a  serra  de  Paranapiacaba,  onde  ílartim  AHbnso  da  Sousa  os 
encontrou  em  1531:  e  os  perge^xtiidoB,  com  o  nomo  Je  carib-àca^ 
que  íignifíca  «deícendentes  de  brancos»!  em  centraste  com  oa 
tupíi,  «da  primitiva  jji^eraf^âo»,  desceram  es9e  mesmo  rio  Parna- 
bibfl,  no  ponto  em  que  ú  nomeaí^o  Paraná.., — Em  tupi  quer 
dizer — próximos  ou  parentes  dos   ffofà  (^Íesdk^    de    Alubida)« 

GouNÁs— Rua  do  Novo  Bairro* 

Goiás— Riia  no  património  da  Lagoa, — Tribu  indígena  pro- 
cedente do  arcbipelfljçro  de  Babama  oii  i^ntilbns,  e  qae  se  insta- 
lou ái  margens  do  rio  SSo  Frane cisco  e  deu  a  ettíi  região  o  seu 
nome,  Alg-una  escrevem  Guiiyazes',  O  nome  de  Goyaíi  nâo  tem 
outra  origem  (Melides  djs  Almsida). 


( 


—  156  — 

GoTAz— Vide  Goiáfi. 

Gralha— Fazenda  no  bairro  áa  Agua  Santa. 

Grammagô— Córrego,  afflaente  doTambahú;  bjinba  a  fnzenda 
Jardim  (Coulam). — Nào  será  corruptola  de  Gram—Magól  ? 

Gkandb— Vide  Rio  Grande. 

Grota  Funda— Lo gar^  próximo  á  cidade. 

GuAçú^ — Vide  Guassu. 

Ghhv ABARA —Rua  do  Novo  Bairro ,  ^  Vocábulo  brasileiro, 
corruptáU  de  guanápardf  qn*^^  aeguudo  Vambageu,  signijica  seio 
de  mar. 

GuAHAciABA^Rua  do  Novo  Bairro.— Bartout o  auuotador  da 
tradm^çào  iutrleBa  é&  obra  de  Hau^  Staden,  por  Tootat,  em  nota 
á  primeira  parte,  cap*  23,  diz  que  guaraciabay  que  significa 
cabelo  dg  sol,  era  uma  eipt^ssAo  Appiicada  aos  europeus  por 
cauaa  dn&  aeua  belL  8  ou  louros  cabelos,  Náo  sabemos  onde  Bur- 
ton  cuibeu  esta  uoticia.  O  quo  é  certo  é  qa«  ea&e  vocábulo,  mais 
corectameote  escripto,  era  empre^^^^ado  para  deaig-nar  o  ^tifíittíimftí, 
a  intfíres-Hiite  ave  que  os  portu^ueBes  denomiuaram  òeija-Jlur  e 
chupa  p^r;  e  o*  franceses  t-aífèri,  por  asai  m  aerem  ebamad-s  peloB 
indi^^-eua»  de  suas  Ãntilbas  ;  os  mexicAnoa,  huiízitziL  Assim  o 
o  guainumbi  chrimava^se  tíimb«m  entre  nonsos  indigenas^ímiamòí, 
arQÍicay  tratárakt-guaçu.  E  da  tneÈiDHr  iorto  gtiaractaba,  que  si-^ 
gntfiea  raio  do  hol,  e  gitaracigaha^  cujo  aentido  é  cabello  de  sul 
(Mahcgkav).  — Coaraciba  nu  citaraciaba  è  um  dos  notnea  com 
que  oa  indígenas  appellidam  o  beíJA-íliiFf  bignificanrio  raios  ou 
cabelos  do  6ol,  de  coaraci,  lol,  e  aba,  cabelos  (Barbosa  Hodriouiss). 

GuARAiE'0 — Vide   Guerupii, 

GuAHANi—Ávenida  do  Novo  Bairro. — Nação  de  indioa  que 
povoaram  SAo  PauL».  Guarani  nílo  quer  dizer  «guftrrfiiro»,  como 
Varnliageu  e  nutros  suppuzeiara  O  general  Couto  deMagalhàe*, 
no  seu  livro   O  Selvagem,  penaa  que  e*ta    palhvra  parece  corra— 

5 tela  de  guarini^  siguificando  guerra-  Sem  embargo  da  autori- 
ade  de  p4'f>aóa  t&o  competente,  div*^rgÍDi08  desBa  Bua  coují^ctura* 
O  eigniíicado  referido  tiào  Cfrreapnndrt  ao  povo.  Álóm  diBSO,  na 
língua  tupi  eetá  a  verdadeira  eignifiía^áo.  Goã-ra-ní ^  vu  ^lor  coq- 
tracçào,  gfjar-aniy  «não  originário  do  logar».  Com  effeito,  os 
gQMTãnia  HÃO  eram  diiquf^Ua  região,  onde  Be  estabeleceram  e  con- 
finaram, ide  livre  vontade»,  sem  o  onua  da  servidào  (Joaq 
Mendk»). 

GuAKAíiTAN—  Logar,  na  antiga  ei^trada  de  Moeóca.-*Madeirft 
de  muita  consistência  e  duração;  emprega -He  em  lascas  para 
fê^boB  :  t/ffura  antan  (iVÍARTurs).  fumilia  da»  sapindaceas, — ^Capão 
na  fazepdn  Casa  tírauca:— Vocábulo  bra-ilt*iro,  significa^-  madeirOj 
/orte,  rijii^  e  é  ei>ríuptpla  de  êbèr-âtâ.  Escrevendo  a  respeito 
de  ffíiarãy  dtK  Baptí^rtã  Caetano:  Afinal  em  tupi  muito  degtme-» 
rado  ba  guará  por  êbêrá,  em  qne  ne  deu  primeiro  a  mudamja 
frequente  em  tupi  de  ebe  em  eve^  mas  é  ditécil  aiuda  explicar  o 
resto». 


—  157  — 


GuAiiiRÓBA— Corregn,  affluente  do  rio  Virdpi. — Capào,  nai 
proximid&dtís  da  povoa^ào.  na  fwzenííft  Crba  Brancn,  tambí^m  co- 
nbecidci  pelos  nom<*9  de  Capitãn  Vicente  e  pBlinital.  ^-  Noma 
ytil^ar  de  iimíi  espécie  de  palmeira  do  género  Cot:oa  Z*  oleriicea), 
a  qual  fomecw  um  palmito  amargoso  mui  apreííiado  (Kohan). 

GuAJiL'Fú — Vide  Guerupú. 

GuAssú  -Vricabuii*  tupi,  síernificando  grande^  e  do  qtial  nos 
terriínfifl  mttitas  reze-s  para  distinguir  certos  objectos  mai ores  que 
outruB  (Rohan)  — Gija<^ú  é  melhor  orthogrí*phia. 

GpAYAZES— Vide  GoíáB. 

GtTBRÚPú— Capào,  í*0Tjht*cido  já  em  1832. — Nompi  indígena 
áe  uma  espécie  de  abelha,  —  Roma guera  Correia  escreve  í^wanipii^ 
e  de  fine -«abelha  qut^  ha  em  MisiõeSy  espt^cialmenre  na  regiAo 
de  mJita«,  e  que  iVirnece  eicellente  mel  e  muita  cAra,  Gha- 
mam-n-a  tambern  guaratpo,  nome  por  qoe  é  conhecida  no  Fb' 
tmná  a  es]:«cie  MeHipoiui  numerosa 

GuiimAS— Ribeirão^  na  faz.  Uberabinh»,  afiluente  dd  Ja- 
gnari. —  Falando  de  um  córrego  denominado  Guirra,  que  banha 
o  mun,  de  Sào  José  doa  Campos,  escreve  Mureira  Pinto,  tran- 
acrevendo  uma  informarão  local :  «O  povo  diz  Guirre  e  não 
Guirra.  Parece-me,  [»orém,  que  é  Guirra,  nome  de  um  ])as&aro 
que  repete  este  di»sylabo,  ou  Aguirre,  devido,  talvez,  ao  pri- 
meiro d^ÈCobridur  ou  pofãuídor  daquelle  l^gar.  Nada  pos^BO 
iMeverar.«     NAo  será  corruptela  do  tupi  guirã  (pássaro J  V 

Haça-bano-íía— Vidn  Caêtt  Branca. 

Hervas— Cap?io    noíitti   município. 

HnsFiTAL  líE  IsoLAMENTo  -  Foi  construido  em  18ÍÍ3,  pelo 
Governo  do  Eàtíido,  no  CAmjio  dos  Papagaios.  E'  drâtinudo  ao 
iiolamento  de  enfermos  úpf  moléstias  cantagiof^a», 

Imbiruçú^ Espécie  de  bombat^ea  ou  lecylhidea,  de  cuja  casca 
Be  extrai  embifii  (Rohan).  — Imbira,  embyra,  corruptela  de.  imtfra; 
açu,  grande  (Maetics>  Também  ie  escreve  Embiru»;ú,  ou  Im- 
bini8£Ú. 

IMBOABA—Vide  Einbuava. 

l>IBu-*VA — ^Vide  Embuava. 

Inajá — Avenida  do  Novo  Bairro  ^^ — Pítlraeira  do  gen.  Maxi- 
MILIANA  (M.  regia)*  E*  vorabulo  tupt|  idt  ntico  a  In  Haia,  bem 
que  se  appliqne  ás  v^í^b  a  pai in eiras  de  gi^neros  diveivos.  Os 
tapínarobás  daynm  também  o  nome  de  Inajá  á  fructa  da  pal- 
meira píndoba  (Eohan). 

lNDiepB;NDEN€iA^ — Fa^o^da  agrícola,  no  diatricto  de  Tambahú, 
propriedade  do  dr.  Alfi^do  Guedes,  hoje  donominadu  Santa  Ca-* 
rolina. 

Infbrno— Ribeirão ;  desagua  no  rio  Pardo,  logo  abaiio  da 
cachoeira  próxima  á  estrHda  de  Cajuiú. 

Inveknaiia — ^Fazeuda  &itUíida  neste  município  e  no  de  f^ão 
João  da  Boa  Vista,  dividida  judicialmente.  Foi  desmf;mbrada 
da  Várzea  Grande.— Nome  que    dào    a    certas  pastagens  conve- 


—  158  — 

nleo  te  mento  cercadas  de  ob:trtcclo3  naturaes  ou  nrtificiaes,  onde 
le  gtinrJfim  fluimac»  cavalares,  muares  ou  bovSuris,  pura  dea- 
Cfttiíarem  ou  rccuiierarem  a*  forçíis  perdida*  nas  viagens  ou  noa 
ieiviçoa  que  prestaram  (Roiiaíí)» 

IpiiiANGA— Nome  do  uma  rua  dena  povoaçíio.— Palavra  ín- 
dígfiun,  quo  qii<?r  dizer  vlo  de  agua  vermelha  (Martius).  A  de- 
nomina çfio  da  nií4  provém  de  uma  coiiimemoraçao  da  data  da 
iTidependencia  do  Brasil,  j)or  jmrlo  da  Gamara  Municipal,  e  não 
de  qualquer  accidento  da  localidade, 

luoiçiv' — Vide  Agua  Fria. 

Itagitaçl* — Vide   Itfl<fuaí6ii, 

Itagkassú— Fazenrlft  de  café,  de  que  ó  propríetniio  o  capi- 
tão Cojiolano  de  Lima.— yPalavia  indi^rena,  sigaificniido  pedra 
grande  :  íía,  pedra,  (juassúf  grande.  Os  accidentes  topograplii- 
cos  justiKcam  a  denominação  da  localidade. 

lTAi»EMA^Rua  do  Nuvo  Bairro.— Vocábulo  brasileiro,  gigui— 
ficando  pedra  cLata. 

1t.vi'uavaíí  do  Rio  PAUDO^Umn  dna  deuominaçõei  quo 
teve  o  descoberto,  lioje  município  de  Caconde,  Itapuavn  é, 
sem  du%*idA  alguma,  vocábulo  indigeiía;  mas,  será  corruptela  de 
itaipava, — reclfo  que,  atraveesandu  o  rio  da  marg-em  a  margem, 
o  torna  vadeavel  nesso  loí^ar  ? 

Itoíu — Vocábulo  da  língua  tui>%  cuja  signtíicaçâo  é  rio 
verde.  A  teu  reapeito  publicaram-se  no  periódico  local  O  In- 
irmisigcnis  os  seguintes  nrtig^.s: 


Scnbor  Eídactor  ; 

Qtier  pareeer-mp  que  foi  cm  voa  a  folba  que  sabiu  publi- 
cado quo,  no  Congreaso  do  Estado,  tratam  de  mudar  a  deuomi- 
nat-fio  do  povoado  do  Rio  Verde  para  a  de  Itoht/^  que  dizem 
ÈÍgniíicar  a  mesma  eipiTÊsão,  em  linguagem  indigeuB* 

E*  preciso  uotar-se  que  os  nomca  Incaes,  para  conservarem 
ení^auto  ft  trazerem  o  poético  cunho  nacíoBal,  devem  vir  de  Eua 
origem  primordial.  K*  preciso  quo  ?ejam  tra'lÍcionaeB,  tenbam 
sagração  histórica,  sejam  transmittidos  doa  primitivos  tempos, 
em  que  essas  regiões  foram  conhecidas  ou  exploradas. 

O  Rio  Verde  fogo  desta  rcizra  Nitiguem  descobriu  ainda  qual 
a  família  a  que  pertencia  a  horda  autochtone  defitis  redondezas,  a 
que  ramo  ethuographico  pertencia,  qual  o  idioma  por  ella  falado, 

Nôo  vejo  necessidade  de  crearem-se  arbitrariamente  c  pban- 
tasticamento  titwloa  indigetias  para  localidades  recentes,  edifi- 
cadas hoDtem,  £em  o  asseutimonto  da  tradiçíl^,  ou  aem  que  ee 
baseiem  em  ac^ridenrcs  pbyaícoSj  ou  de  qualquer  outra  ordem» 
qoe  os  justifiquem. 

Onde  os  congrefBistiia  do  Estado  furam  buscar  eaie  Itoby? 
tjuem  sabo  IA  si    tal  termo   expressa,  na  realidade,  a  ideia,  qa« 


—  159  — 


Qaem    àmQ    que    os    iiitnltlvfs    baf>i tnti tr^s 
ft    côr    accidcijtul  dni  a^iins  do  pequeno 


Podo  ser ;    niãi  duvido    que  esteja 


querem  dar 

desUã  ah  aras  notaram 
rio,  e  a* sim  ô  cbama-am 

Ittjhij . , ,    lio    verde  V  1 
bera  averipttAdo. 

Jtf/  pgiie  traduxir-Be  por  rerí/e  tulve-*  em  alguma  pyria 
tapuiãi  du  vallc  a^azonico  ;  poiémi  entre  o^  íenlicrcâ  do  littoral 
brasiliense,  i&to  1%  entre  os  tii[iis,  a  còr  verdo  dtisi^nava-se 
pela  palavra  jakf/re.  Entre  03  giiíiríiuia,  quo  estendiam  sen 
domiuio  desde  S.  Paulo  ás  regiOes  plíainas,  u  quo  catavam  era 
coDlacto  com  as  tribua  sulanas,  quer  me  parecer  que  vârde  era  i 
—  cícíí;  de  onde  sabiá -cica^  e  mais  qiifltro  ou  cinco  vocábulos, 
em  que  entra  cica^  daiido  a  ideia  de  verde. 

Aíoda  ó  tempo  de  emendar  a  mhi.  5rs.  couííroifiista*,  níio 
barbarizem  tão  cruamente  nossa  ^ella  lingaa  feticUIcn,  Olhem; 
em  vez  de  Itobt/  dêm  ao  liio  T  ^tde  seu  ant%''o  nome  do  liio 
Doce^  Vtlta  Fortíno  ou  enlâo  Barro  ih  Tijohjf  ou  melLor  Viiia 
dos  3íqjores,  em  bomenagcm  a  ecu  fundador,  e  a  seu  creador 
e  iropuhiooader  (1),  íiio  Verde,  a  jrarrida  e  pro^^-ressiva  filha 
dos  brejos,  Dasccu  e  vni  çiesceiído  á  snmbra  de  doia  dignos 
mijares,  e    promette    dentro    em    breve   ^er  uma  fornada  de  lies. 

Não  Écja  embaraço  à  couservaíflo  do  nctual  nomo  a  airafia- 
Ihação  poital ;  coin  a  admijiiãtraç^o  do  ^r.  Horta,  os  correios  do 
Estado  ticaram  mesmo  num  ]i6  raim :  aixentei  u  empregados  de 
todas  ss  cate^roriafl  andam  ziii;„Mdoâ  e  rí-mí^ttem  píira  o  Norte 
a  corfi:'SpOTid«^ncía  destinada  ao  Sul,  pnra  o  Nítscetite  a  degtiuada 
ao  Oeí dente  e  vice- versa. 

Rio  Verde,  28-6-U8. 

Um  conseevador, 
II 


Um  conservador^  que  me  pnreco  xndé  revolucionário  qne 
Luisa  Míebel  ou  líavachoU  vein  pelo  Itiiransjfjentc  conleaíando 
que  a  palavra  iadigena  Ilohi  possa  ser  IriuUixiJa  para  rio  ve^^de 
no  TcToaculo, 

Em  quo  pese  á  re&peltavel  autoiídado  do  illuÈtre  ctjjsír- 
r-adoTt  é  de  precisão  notar  que  djsía  vess  errou. 

Lembrado  por  um  am)*:o  do  EiJ  Vi  ide  e  também  por  outroi 
que  têm  assentu  na  Gamara  dos  Po]mLfldoâf  para  a  escolha  de 
uma  denominar;5o  doquella  kcâlidade,  indíquf  i-lheá  como  n  mais 
natural  e  de  fácil  pronuncinção  esta  de  que  iratnmoB. 

Poderia  remontar  miohas  pesquixa'*  aa  oripeiis  deí^tas  para- 
geni  e  procurar  descobrir  o  ir  orne  que  os  nosioa  aborigrcnes 
davam  ã  localidade.  Aclieí,  poním,  desuf cct^nrio  esse  trabalho, 
porque  a  deuomina^ão  Rio  Verde  é  i-laramente  portuguesa,  ô 
dos  noEsoB  diãi. 


(\)    Etítire^o  ut  raiiiúrefl  Curldi  ^^aenito   dn  BlhA  o  Dhhiaxo  RIbdfO  Ncy^tieLrn, 


—  160  — 

Por  es^a  taxAo,  resolvi  maia  acertado  tradoidr  a  palavra 
composta  Rio  Verde  em  tupi  e  formar  uma  tiraplee— /toòi.  Foi 
o  que  fíz  e  manifestei  áqUE-lles  amidos. 

Quanto  ao  vocabub  em  queátílo,  tenho  o  prazer  de  afirmar 
ao  Cúnjíei'Oad'>rf  estribadu  na  opmiâ.o  h&ahz  atictn rifada  de  Ba- 
ptista GaetaDo  e  Mont^ya,  que  eatá  correctamente  eacripto  e 
fielmente  traduzido.     Carapôo-se    de    t,  agua,  rio,  e  tobif  verde* 

Lafatbttb  d»  Tolrdo, 


iir 

A  BolicitaijdeB  de  um  certo  conservador  muito  meu  conhe- 
cido, vou  externar  mitiUa  bumilima  opinião  sobre  a  recém -crí'a- 
çâo  da  jmUvja  Itf^bif  pela  qual  vae  sêr  subs^tituidõ  o  nome  da 
po^oaçào  do  Eio   Verde. 

E'  com  toda  a  modesria  que  venho  eubirietter  á  illuHtrada 
critica  de  meu  erudito  e  abalizado  amigo,  ar,  L,  de  Toledo, 
algumaa  ponderações*,  que  muitos  julgarão  enjoadas;  maa  que  o 
amigo  terá  o  cbinchorro  de  ag-uentar  reflignadameot©  ©  até 
goBtará  de  alimentar  esta  pauteaç^o  do^preti^vicioBa,  e  digamoB, 
com  franqueza,  agradável^  pois  quebra  a  modorra  mortuária  em 
que  a  írente  vive  aqui,  na  ruça 

Itofn  é  dennmiiiaçao  de&nece&i^aria,  imprópria  o  incorrecta. 
Está  etymulogieamente  errada  e  aua  tnor^hologia  desaitende  a 
re^raa  áois  e  Íttdi>^ pensáveis  da  grammaiíca  daa  litiguas  p^lj- 
tintetiraa. 

O  tupy  — içuarany  eatá  claâãificado  como  lin^ua  agglutinan- 
te,  ii^to  é,  uma  língua  em  que  os  elemeuto»  finalyLijuâ  duma 
phrase  sílo  partes  componentes  de  uma  uniea  expressão,  E^ 
uma  língua  morta,  quero  dizer  que  permanece  inculta,  e  por 
isso  pua  ortbograpbra  é  invariável  e  deve  eer  uniforme,  de  todo 
qne  nfto  se  quadra  com  oa  syatemas  dííB  línguas  vivas,  revol- 
tandO'Se  soberanamente  <  ontra  o  methodo  phonetico.  Possne 
42  (!)  sons  vogaes,  que  Montoita  aí^aignalou  por  fieis  vogaes 
com  i  (1)  Accentoa  cada  tima. 

Acontece,  pnis,  que  a  caracÉerizaçâo  gift[>hica  está  aujeiti 
a  preceitos  invioláveis,  genào  quizerroos  estabelecer  uma  mara- 
funda  incompreensível. 

O  acceoto  príBodico,  bom  romo  O  symbolo  graphico  tem 
no  ahaiifíenga  e  neengatú  influencia  capital  e  importância  deci- 
siva. Oa  exemplos,  perfeitamentH  inúteis,  par»  nós  dois,  nftrO  o 
síio  para  os  cujos^  que  nílo  estudaram  ainda  este  assumpto* 
Vejamos  exemplos:  iúpaj  reds  de  dormir;  inpã^  raio;  £íí/>íí,  ente 
fiupremo.  Píííí,  redondo ;  /jíííT,  levantado,  erguido.  Fíii,  g^olpe 
de  agua,  salto  num  rio;  itilf  arrecife,  pedra  á  ílor  d^agua.  de- 
rivado de  iid. 


—  161  - 

Parm  exprimir  a  idéía  dn  agua,  oa  selvicolaa  emittem  um 
f0iii  raiiítr>  di^cil,  que  ^u  d&o  sei  descrever  com  a  penna,  ama 
[ir^^  IS  une  ia  mui  lo  diversa  do  í,  raaa  que  participa  desta  letra,  ao 
^mo  tempo  que  participa  do  a  e  do  u,  E^  uma  emissão  de 
TOS  ^ttiiralÍ6fii[i:a  e  que  t«m  similaridade  com  a  do  Y,  entre  os 
grrgoi.  Por  esta  razão  a  honrada  estirpe  dos  efcripÈores  au- 
úçt»,  escreveram  Y  e  Yg^  as  dms  pAlavras,  que  denotam  agua 
BJi  llDj^iia  gera). 

Muito  bem  audnm  o  competentUfimo  general  B,  Kohan 
»jmbolÍ5aDdo  T^  encimado  de  um  tri^tna  (  .],  que  indica  a  díf- 
ferenc  ft^&o  phouii^a  e  guia  o  eiítudo  lexicologico  uns  aggiuti- 
ttiçôes. 

A  menor  distracção  na  escripba  oppòe  umA  tranqueira  ina- 
tt^vivel  ao*  iucipientes,  como  eu,  em    applicaçôes    indigenistas. 

Y  compõe  termos  que  principiam  por  consoante :  Ycaiúj 
Ypiraftgn^  Ipanema^  Ytn.  Ha  casos  de  hiato;  Tapó^  Yàra, 
Y^murtíiá^    Tt/ttê       Parque    nílo  diremos    Yvhit  em  vez  à^  lioMf 

Tg  forma  a*  palavríls  que,  com<^çftni  por  vogal; — Ygttupef 
Ypi&Um^,  Ygaçaba^    Ygttaçú  ^   Porqtie  nâo  se  dirá   Ygobi  f 

O  ^  letra  ^uttural  cnnve  te-»e  em  c,  consoante  análoga^ 
gnist  equivale  ti  t  A,  parenta  muito  chegada  :  Ycupara^  Ycama- 
guon,' mas  não  pôde  traosformar-se  em  í,  consoante  denta^  * 
efj9i  «ue  feiudo  e  embirrante  t  iuterpolou-se  na  palavra  com 
ofi^asa  ao  génio  da  Hngua. 

Em  guamnji  hovy  ei£prime  ozul^  e  como  o  h  é  sempre  as- 
pirt4o  torna-i^e  injustificável  a  introducçào  do  t 

No  idioma  tupico,  v^rde  c<  nverte-Fe  em  jakire:  mns,  o 
fi^vecto  e  gloriosr>  rebuseador  das  cousas  pátrias,  o  benemérito 
kxieographn  a  me  ri  ca  uii^  ta,  dr.  Barbosa  Rqdkkiues  enaina-nos 
ipt  o6í  *i^riifiea  azul,  verde 

A^^im  sendo  foi  infelicísBima  e  errónea  a  e? coíba  do  adje- 
ctÍTO,  com  preterição  de  jakitt  e  ftcft,  pois  Ygohi,  ou  YhQvtf, 
tanto  pôde  íer  rio  verde,  como  rio  nzyí,  como  rio  furta  cór- 
axtil  e  verde 

Em  todo  caso  desvirtua  completamente  o  juizo  do  constru- 
ctor  da  palavra,  não  expressa  cora  fidelidade  a  ídéia  desejada. 
E\  portanto,  um  vocábulo  impróprio,  perde  toda  a  graça,  não 
IBIB  o  toqoe  resf  eitavel  da  ancianidade,  não  é  herdado  do  ge- 
Msu  da  historia  da  língua,  não  está  consagrado  pela  tradição, 
alo  foi  creado  de  conformidade  com  a  Hngua  americana,  não 
terve  para  titulo  de  uma  localidade. 

CertJi mente,  estes  tristes  gatafuuhos  não  serão  Itdoe  pelos 
in.  congressistas  que,  .  tnda  me^mo  que  os  lestera,  nAo  fariam 
c^o  deites,  e  por  máu  fado  do  Hio  Verde  será  seu  pittoreico  e 
adequado  uome  mudado  em  Itohi,  cuja  melhor  traducçâo  é  pe- 
ara &zul  (íÉd— pedra;  ohi  ou  hoty^ mui), 

J.  H«  DK  Silos. 


—  152  ^ 

IvAHi— -Trsvegsa  desta  cidade. 

Já.ciííTB^— Córrego,  no  bairro  do  Cef cadinho,  aíB^  do  Co-» 
cães, 

Jaguara-hy— Vide  Jaguary, 

Jaguar  (—Vide  Jaguary, 

Jaquary — Vocábulo  indígena,  que  significa  rio  doê  cães 
(jagoarà-ig)  (Fr.  Maranhão.) — ^ Martins  define  Jaguarif  Jagaary, 
Jagnara-hy  (ribeiro  de  Mato  Grosao)  por  aqtta  jdis  onçae-y  e 
Macedo  Suares, — rio  do  cão. — Antiga  fazenda  deste  município» 
— DenominaçíLo  comtnum  do  Jaguari-mirim. — Avenida  do  Novo 
Bairro. 

Jaguary  do  Campo— Rio  afiRnente  do  Jaqnari  e  que  corre 
entre  os  municípios  de  S,  João  da  Boa  Vista  e  Casa  Branca 
(A.   Masques),     Este  é  o  mesmo  Jaguari-mirim. 

Jaouary-mirim~--Río  afflueute  do  Alogi  guassn;  tem  origem 
noA  montes  occidentaes  da  eerra  da  Mantiqueira,  de  onde  paisa 
para  a  província  de  Sáo  Paulo.  Corre  na  direcção  mais  geral 
de  leste  para  oe&te,  entre  oa  municípios  de  Sào  Joào  da  Boa 
Vista  e  Casa  Branca  (A.  Marques).  Tem  por  tributários  oi 
ribeirões  Sant'Anna,  Piçarrào,  Oriçanga,  Cocaes  e  Estiva. ^Vide 
Jaguary  do  Campo. — No  Itinerário  da  viagem  do  Rio  a  CoxirUf 
em  1865j  diz  Tauoay  ;  «Com  mais  uma  l^gua  de  viagem tran^ 
Bpôe-B©  o  Jaguari-mírim  numa  ponte  de  pranchÕe»,  cobertos  de 
argila,  sobre  esteios;  ponte  em  tào  máu  estado  de  conservação, 
que  obrigou-nos  a  pon certos  em  quaaí  toda  a  sua  extensão  de 
273  palmos  sobre  15  de  largura,  para  poder-se  efifectnar  a  paa- 
gagem  da  força  e  bagagem.  E^te  rio,  apesar  de  seu  diminutivo 
indígena,  é  mais  considerável  do  que  o  que  divide  oe  municí- 
pios de  Carojunas  e  Mogi-mirim  ;  nasce  na  serra  doa  Limites, 
mais  conhecida  pelo  nome  de  serra  das  Caldas,  corre  para  O., 
com  velocidade  de  2  1/2  palmos  por  segundo,  e  vai  lançar-se 
no  Mogy-aasú.  Tem  leito  arenoso:  margena  abruptas,  bem  que 
pouco  elevadas  e  prés  ta- se  á  navegação  de  canoas  grandes  des- 
de a  villa  de  São  João  (1)  até  a  sua  foss,  no  espaço  de  5  1/2 
legnas  approveítaveis  para  o  commercio  e  commujiicaçao  nbei- 
ririha.  Os  peixes  peculiares  ás  aguas  de  rio  acham-se  nelle 
com  abundância,  sobretudo  na  estaçfto  das  chuvas,  ficando  por 
todo  o  anuo  nos  rebojos  que  as  enchentes  produzem.  Em  suas 
margens  cobertas  abuoda  também  a  caça  importaute,  como  vea- 
dos, cervos,  mateiros  (cervus  ruf  11.1)1  catingueiros  (cervu^  cim~ 
pli€i(xími^) ;  em  aves,  os  jacus  (penelope),  grandes  bandos  de 
pombas  fcorquassea,  tucanos  (ríimphHEtus),  a  bella  colhereira  (pia- 
lea  ayaya),  etc.»— A  uma  légua  de  Itupuva,  passa-se  o  rio  Ja- 
guari-mirim atravessado  por  uma  ponte  de  madeira  de  dnxentcis 
palmos  de  comprimento  e  dessoito  de  largnra,  ma)  construido  e 
com  um  dos  lances  d  es  arrumado.     Este  rio  é  piacoío    no    temjjo 


i>  ^  atD  Joio  dfc  Bo&  vjíu. 


h 


—  16a  — 

Í»ê  aga&s,  fornecendo  também    aa  matas  dô    anae    margens    ai» 
gttíDii  eaça^  dá  váa  no  tempo  da  tecea  ^Miranda  Rbib). 

Jahb£iko — Fazenda  íi^hcoU  e  de  criar,  a  nma  leg^ua  da  ei* 
^ade,  qtte  pertenceu  a  UriflB  Gonçalveâ  dos  Santos.  —  Sitio,  na 
iift.  Cocae»  do  Rio  Verde, 

Jardim — Fazenda  agricnla,  era  que  ta  um  morro,  prolon- 
famento  da  serra  do  Campo  Alegre,  as^ás  notável  pela  ma,  «k- 
laçào  e  coo figuraç&o.— Vide  Campo  Alegre. 

JmiA — Corre*:^o  na  faz.  Olkos  d^Ãg^ua,  alHuente  do  Divisa. 
JeqititibA  — Etipiúfào»  na  fazenda  Várzea  Grande. -- Árvore 
di0  construcção,  da  família  daa  myrtaceaa,  género  lecythiá.  Ga- 
briel Soares  eaereve  jiiquitibá^  e  diz  que  ^C*  uma  arvore  real, 
^çanbosa  na  groi^nra  e  coroprimento,  de  que  «e  fazem  ^an- 
prraa,  mesa»  dos  engenhos  e  outrae  obras,  e  muito  taboado.  Tem 
i  côr  braacaceota,  é  (eve  e  poueo  durável  oade  Ibe   cbovK». 

JoÂo  Bkrkabdo— Córrego  oa   faz.    Olhos   d'Agua,    affluente 
do  Âieia  Branca, 

Joio  Perkíra— Córrego,  iin  fa».  Lagoa. 
RAOLiN^Hor  decreto  de  fi  de  dezembro  de  ISÍÍOi  foi  con* 
cedido  privilegio  ao  Barào  do  Rio  Pardo  para  explorar,  neste 
njaoieipio,  aquelle  mineral,  ftilicato  de  potajiaa  e  quartzo.  Com 
reUfio  ar?  kuoliii,  egcrevem  o  Diário  Ihpular^  d»  capital:  «Damos 
Abiíxo  o  resultado  da  aQalyse  a  qne  o  sr.  Francisco  Aiíari  pro- 
cedia na  argila  branca  encontrada  tios  terrr^noa  da  fa^^eoda  do 
n.  Barão  do  Rio  Pardo,  em  Casa  Branca,  e  reputada  como  a 
aelhor  para  a  fabrica  de  louças  e  porcelanas.    Eia  o  documento, 

ri  ob^equiOia mente  uoi  foi  enviado:    «Aoalyse  de   lOOgrammaa 
argila  branca,  qtte  se  acba  nos   terrenos    do    illm.*^    Barào   do 
m^  Pario: 

Agua  hygrometriea     .      .      *      *      .  1,40 

Agtta  de  combinação 6.33 

Silica 71.25 

Carbonato  de  eal 2.10 

Àluminio      ........  11,35 

Oxido  de  ferro  (traços  imperceptíveis)  .... 

Magnésia      ...,,,•,  0^40 

Potassa  (traços  imperceptiveis)    .      .  .... 

EesidaoB  n4o  argilosos      .      ,      .      •  7.00 

Perda     , 17 

100. uo 

ia  branca,  marga  infuzivel:    A^c^/zn  (grupo  doa  silicatoi), 
na  manufactura  da  louça.    S.    Paulo,  27    de   dezembro 
Pa^íícisco  AsiARi,  6íigí»nbeiro». 
AntHHA     Fazenda  de  caie. 
iH^^Corrego,  na  faz.  Cocaes. 

\JÔA — Capão,  na  fazenda  Paciência— Es taçào  da  E.  de  F. 
â,   iLdste   municipio,    no   kílom.   ,  • . «    entre   Orindiuva  e 


—  ÍU  — 

Cocaes.— Fazenda  agncolaj  pertencente  a  Joào  Pereira  de  Castro 
e  outros,  situada  a  18  kilomg.  du  estação  de  Tambaliú  e  a  12 
da  de  Carrego  Fundo,  cúth  as  qutiea  se  commuDÍca  por  bons  ca 
rainbõa.  Tem  por  divisas  m  fazendaB  da  Várzea,  MorriíjhóB, 
Sào  José  da  Serra,  Bebedouro  e  Bom  Snccessio.  O  aspecto  g^eral, 
relativamente  ao  systema  orograjihic^s  é  ponco  montanboso,  coin- 
pondo-se  a  fazenda^  tia  Bua  total idade^  de  lerras  manchafiaSi  toda& 
consideradas  altó>',  visto  estarem  colocadas  na  serra  do?  Mor- 
ri nhos  e  alg:umaâ  na  altíttide  de  900  metn  s>  O  Bjstema  bydr^- 
grapbico  é  representado  peloa  corr*^g:os  das  Fructí-iraa,  Maca- 
bubas,  Moreira,  Lagoa  e  João  Pereira,  que  têm  por  tributarioi 
lacrimaes  e  pequenas  vertentes.  E'  coberta  de  cerrados  regulares 
e  rain«  e  de  boas  matnB«  onde  abundam  af?  madeiras  de  con 
etrucçào,  como— peroba,  óleo,  jacarandá^  araribá,  coraçfto,  piaritá 
canela  e  cedro.  Na  composição  get  lógica  ár  télo  piedooimam 
a  terra  roxa  (argila  ferruginosa  mangaoesiifera),  as  argilo-are- 
nnsas,  as  argiU -calcareas  e  as  bumiferas.  Pela  medição  judicial^ 
feita  em  1897,  verificou-se  ter  a  fazenda  a  exteníiâo  superficial  de 
1,395^  âlj*  TS,*^  —  Córrego,  que  banba  a  fazenda  do  mesmo  nr^me. 

Lagoa  dq  R- ciia— -  Logar  oa  fazenda  de  Coca  es,  —  Vide 
Rocha. 

Lagoa  Formosa— Fazenda  que,  em  virtude  da  lei  provincial 
n.  51,  de  30  de  abril  de  188*2,  foi  transferida  do  município  de 
Sào  Joào  da  B  -a  Vista  pa  a  o  de  Casa  Branca  e,  sendo  revo 
gaJa  essa  lei,  tornou  a  pertencer  áquelle   municipio. 

Lagoa  Gkakdb— Lagôíi  de  grandes  dimeniôes,  fronteira  á 
estação  dn  mesmo  nome,  na  f^z.  Olboís  d'Âgua. 

Laoôa  Skcca — Antigo  pouso,  na  giande  estrada  de  rodagem 
para  Goiáí,  a  3  léguas  desta  cidade. 

Lagoa  Vi^rd^;— Linda  e  grande  lagoa,  toda  cheia  de  veg& 
taçilo,  a  pequena  distancia  doa  Olhos  d'Agua,  em  cujas  proii- 
midades  havia  utn  pouso  dn  estrada  de  Goina.— Logar,  na  estrada 
de  rodagí-m  para  Mogimirim,  aseim  chamado  por  cauía  da  vcee^ 
taçào  que  pobre  quasi  totalmente  a  superticie  de  duas  grandes 
lagoas  mui  próximas  uma  da  ou  ta.  Óyperíiceas  e  outros  vege- 
taes  palustres  mal  deixam  perceber  de  lunge  a  exi&tencia  da 
agua»  parecendo  a  lai^õa  uma  campíua  verdejante,  onde  de^tacase 
o  branco  cândido  das  in  nu  me  ias  g^rçiis  que  para  a!i  afflui^m. 
Povoam  eguiilmente  estes  terrenoa  alagados,  legundo  ÍDfbrmaçòe& 
do  logar,  muitos  jacarés  icrocodiUus  scl€rr/ps)t  de  que  ha  grande 
receio  (Taunay). 

LAGOiNHA^Faz^nda  ne^to  di^trictn,  a  pequena  distancia  da 
cidade. — Córrego,  que  banha  a  fazenda  de  seu  oome,  —  Grota, 
na  faz.  Várzea  Grande, 

Lasibahi  — Vide  Alambary.  — Fazenda  agrícola. 

Lambsiior — Fazeiída  n^sto  municipio,  hojo  denominada  Be- 
bedor (ou  melborment©  Bebedouro).  PertOLicêra  ao  conselhfiro 
Diogo  de  Toledo   Lara  Ordonhas^   fallecido  em  182 6j    de    quem 


I 


-  166  - 


•seieva  Ãse?edo  Marqa^s :  «Em  aua  vída  bavia  feito  doação  á 
Sftota  Casa  d«  Miaerícordia  de  iua  cidade  natal  (São  Paulo)  de 
Ofua  fazenda  chamada  lambedor ^  nai  margeDB  do  Bio  Pardo, 
diatncto  da  entào  villa  de  Mog^imirim,  a  qual  foi  vendida  e  aau 
ftodacto  iippUcado  á  conatmcçáo  do  actual  hospital». 

LaaçADOR  —  Córrego  neste  mun. 

Laxcbi RO  — Córrego  na  íok.  Olhos  d'A^ua, 

L A KAXJ AL— Quartel rfto  do  districto  policial  de  Cata  Branca- 
Fazeiída  apícola  > 

L A vRiiiHa— Cónego,  afHuetite  do  Cocaes^  bauba  a  fazenda 
da  PrsCA, 

L*2AJtKTO  — Â  doii»  kiloi^etroB,  mais  ou  meDoa,  da  cidad», 
eolre  o  Cemitério  MuDÍcipal  e  o  Hoisjiita!  de  laoiamento,  no 
kcal  Papagaioií^  e$ti  ediJiL-ada  uma  cata  destinada  a  lazareto 
pa>«  YarioioflOB.  Mandada  construir  pelo  coranel  Hoaotio  de 
âil».  «m  terrenn  para  bso  cedido  yur  Joté  Antcnio  Teixiúrar 
foi  «nlregne  á  Camará  Municipal  a  12  de  junho  de  1838.  Tem 
anae»^  am  pequeno  cerni  tt^rio. 

Lm^EiEo — Córrego  na  fazenda  da    Prata,    tributário  do   Ja« 
gBan.  — Fazenda  agrícola* 

ííCJí*   Gaha— Rua,  antiga   dos  Carros,     A  nova  denominação 
f&ííht  dada  em  homenagem  ao    illuatre   abolicionista  Luia  Gon- 
[        «g«  Pjqto  da  Gama, 
I  MacÀCo — CorregOi  no  districto  de    Itobi ;    estabelece    limites 

Ido«  mnalcípiM»  de  Sfto  Jo^é  do  Rio  Pai  do  e  Casa  Braoca. 
MâCAHUBAL — Correjço  na  faz*^iida  La^jfòa, 
Map»*— Córrego,  íift\  do  Pederneiraa,  na  faz.  Barreirn. — 
P»iuo.  na  antign  eatrada  de  GoiáB,  e  de  que  escreve,  no  seu 
Itín^rarit/,  o  Vi*çaude  de  Tauníty  ;  «  A'*  nove  horas  da  manha 
deixou-ie  o  pouso  íPaeseucia)>  e,  camiti bando  para  N.,  eucon- 
tftt-se  a  3f'JÒ    baças,    maií    ou    menos,    um    pequeno    rancho  á 

I  margem  esquerda  de  um  córrego  iusignifitíiiite,  que  dirTge-ae  de 
N  para  S.  ^  á  légua  ©  meia  o  novo  rfincho  do  Mafra,  depois  do 
qxiaí,  por  teireuoá  accideiUado*  e  cobertos  de  mata,  na  qual 
aúbamos  uma  delicadiesima  orcbidea  (talvez  do  género  odonlo- 
gloi»),  com  ílorezinhaa  de  um  roxo  suave,  chegou-se  ás  margena 
dii  rio  Pardo,  a  duas  léguas  da    Paciência.  » 

Major  Leonardo — Rua  no  património  da  Lagoa,  assim  de- 
aomiuada  em  hrnra  do  major  Manuel  Theodoro  da  Silva 
L«ciiJ%rdo, 

I  Mambuca— C**rr  go.— Esfmcie  de  abelbn^  conhecida  em  Goiás 

j       [Coutai  de  MagahãÊJt)  \    e   também    em    Mina».    Sfbastiáo  Paraná 

ctaftiitica-A  no  género  mellipona  fXtieUa. 
I  Masg^bkiras  — Potreiro  oa  fazenda  Cocaes  do  Rio  Verde. 

IMARACAjt)— Fazenda  Agrícola  cjuh,  ^m  virtude  da  lei  n.  77, 
dft  17  dfj  junho  d«  1881»  foi  desmembrada  do  manicipio  de  Pi- 
I        raisaoaaga  e  annexa  ao  de  Ciísa  Br.inca ;    pr  rtence    hoje   ao  de 
San  la  Crms  das  Palme  iraa, — Vocábulo  tupi,  corruptela  de  nmra- 


^  I6è  - 

eaji^u,  si^ificAndo  rio  do  marftcajá.  MarAcajá,  Eegtindo  eeereTe 
Moreira  Pínio,  é  nome  vulg^ar  de  uma  papecie  de  gato  indígena 
e  silvestre  (fel is  pardalis,  Neuw),  tamb^^m  chamado  g&ttt  do 
mato.  Costa  Hubim  escreve  maracaiá,  origiuario  do  guarani 
mbatacaia,  p^ato  bravo. 

Maííechal  DsoDORn — Ántiga  denominaí^âo  da  rua  Coronel 
José  Juho,  dadii  em  lioiira  ao  marechal  Manuel  Deodoro  da 
Fonseca^  primeiro  presidente  da  Republica. 

Mário pous —Fazenda  agrícola. — Palavra  composta,  aig^nifi- 
caudo  logar  ou  cidade  de  Maria.  E'  combinação  do  vocábulo 
Maria  e  a  partícula  grega  polis. 

Mata  db  PiEâSSUNUNOA— Antigo  quarteirão  policial,  hoje 
eitincto . 

Mato  Grakdb— Cíirrego,  aff.   do  Sâo  Pedro. 

Mato  Skcco  — Fazenda  agricola,  pertencente  a  DomingDs 
Vilela  de  Andrade, — Corregro  neste  di^tricto. 

Matriís — Praçi,  asaim  denominada  por  se  acKar  abi  i^ifi- 
cada  a  e^reja  mntriz.  -Travessa  libando  a  praça  dei» ta  denomi- 
nação á  rua  Capítào  Horta, 

Melgue IRA— Primitiva  denominação  da  fazenda  Mariopolii. 
— Fazenda  agrícola. 

Menino  Dhus  — Pequena  capela  á  rua  21  de  Março. 

Mercado — Antiga    dí^nominaçáo    da    rua   Francispo  Glíccrío. 

Mesthe  Araújo —Rua,  as^im  denominada  em  bcme^nagem 
ao  antigo  professor  Francin-'o  José  de  Araujn, 

Mbxican A— Avenida  do  Novo  Bairro, 

Micuaelbnsk — Vido  *L.^inta  Michaelense. 

MiNBiRos — Travessa    desta  cidade. 

Mineração  — E'  corrente  que  na  cidade  e  muoicipio  de  Ca^a 
Branca  jamais  ae  tratou  do  mineração,  DUso  encontra  nos  prova 
cabal  num  livro  existente  no  cartório  da  policia,  e  que  eervin  de 
protocolo  do  juizo  municií^l.  Esae  livro,  numera  io  e  rubricado, 
tem  na  primeira  pagina  o  seguinte  termn :  «  Eate  livro  deve 
servir  para  o  t-r.  Tbomaz  Carlos  de  Sousa,  ou  quem  por  minba 
ordem  suaa  veaea  fizer»  na  qualidade  de  meo  aecret-o  Agente, 
lançar  a  quantidade  de  oirn  em  pó»  e  em  barraa  que  comprar, 
ou  guiar- me  da  villa  de  Mogi-mirim,  e  seo  extenço  Termo  :  vai 
numerado  e  rubricado  por  mim  com  a  Rubrica  de  que  uzo,  Sào 
Paulo,  3  de  juuLo  de  Í820.  Manoel  Rodhigues  Jordão,  »  O  li* 
vro  coQservou-se  em  branco  até  24  de  novembro  de  1650,  data 
em  que  foi  destinado  a  protocolo  da  audiências. 

Mirim  — Vocábulo  tu]>i  (adjectivo),  significando  pequeno,  para 
distinguir  objectos  menores  que  outros  :  Mogi-guaasú,  Mogi-mi- 
rim. 

MiSBBicoRDiA— Rua  que  liga  os  largos  da  Cadeia  e  da 
Matriz. 

MocóCA — Cidade,  edificada  em  território  outrtra  pertencente 
ao  municipio    de    Casa   Branca.    Foi  fundada  em  1846^  por  ta- 


^  167  - 

2«Qdeiro&  TÍados  do  Minas,  For  lei  de  5  de  abril  de  1856,  ele- 
TQQ-»e  a  pp\c*a^  á  categoria  de  freguezía,  com  o  uotne  de  Sào 
Sebascifto  da  Boa  Vbu ,-  pela  de  24  de  isarço  de  1871  á  de 
TiUa  e  pela  de  8  de  abril  de  1875  á  de  cidade,  com  a  denomi- 
iiaçUo  de  Mococa,  O  património  fui  lhe  doado  em  1 847,  como  se 
vè  do  aeguinte  documento,  exirabido  de  uns  autos  de  posse  judi- 
cial, ex  is  tentes  no  primeiro  cartório  de  Casii  Branca: 

lUmo.  sr.  juiz  mnnicipaL^Diz  FeliciBsimo  António  Pereira, 
nik  qualidade  de  fabriqueiro,  e  assiiu  tbe sou t eiró  e  procurador 
da  nova  capela  de  S*  Sebastião  da  Boa  ViatJi,  por  nomeação  da 
Cauiara  Municipal  da  vila  de  Casa  Branca,  de  conformidade  da 
lei,  em  r»zao  do  logar  e  terreno  em  que  se  acba  ella  erecta 
perteo cerem  boje  a  este  município,  e  como  para  que  na  o  esma 
te  coQtioue  na  licença  da  celebração  do  ^anto  sacrifício  da  Mii^sa 
»«ja  precií^o  reconbecer-»e  quai  vem  a  ser  o  seu  património,  e 
dere-se-lbe  dar  posse  judicial,  e  para  esse  fim  veiu  V.  S.  a 
ette  log-ar  á  petição  vocal  do  protector  da  mesma  pia  fundação, 
Venerando  Ribtiro  ta  Silva:  é  o  presente  requerimento  a  V.  S, 
te  firta  preceder  ao  reconhecimento,  demarcação  e  acto  de  posse, 
como  achar  de  direito,  para  o  quti  apresentarei  oa  titulas  de 
íoaçftú  em  que  consiste  o  jjatrimonío,— P,  a  V.  S,  se  sirva  de- 
ferir como  fôr  justo  e  \e^R\,—D€ítjxicko> — A.  venha  concluso. 
Sio  Sebastião  da  Boa  Vista,  4  de  dezembro  de  1847.~Caeva- 
lao  m  V^scohXBLLOs. 

Conclusos  CS  autos,  o  juiz  den  o  seguinte  despacho:— Apre- 
leate  o  impetrante  os  titulos  de  doação,  reconhecidos  por  tabel* 
li&o,  6  declare  nos  autos  os  nomes  dos  doadores,  e  de  quanto 
cada  um,  e  a  tomma  total  em  g^eneros,  e  seu  valor  cm  dinheiro 
00  presente  tempo,  e  logar,  e  de  aecòrdo  com  o  fiscal  nomeie 
dois  peritos  lavradores  para  darfm  o  conhecimento  do  espaço,  a 
confrontação  e  demarcação  do  terreno  que  faz  o  objecto  do  auto 
de  pobse,  que  se  requer.— Carvalho  e  Vasconcellos. — Apre- 
sento pa^a  ser  visto  por  este  jnizo  os  titulos  das  dcaçôes  doa 
terrenos,  declarando  que  os  doadores  t&o  os  seguintes;  os  quaea 
títulos  foram  reconhecidos  pelo  próprio  tRbelliáo  da  diligencia. 
Doador  primeiro,  Venerando  Ribeiro  da  Silva,  comprou  e  doou 
para  o  património  de  S.  Sebastião,  10  alqueires  de  terra  de  cultura, 
romprou  n  Domin^^os  e  sua  mulher,  como  consía  dos  títulot^; 
Salvador  Pedro  de  Moraes  e  sua  mulher  doaram  ao  mesmo  santo, 
para  seu  palrimonio,  dois  alqueires  de  cultura  de  matos,  como 
c  usta  dos  títulos;  Emygdio  António  de  Jesus  o  sua  mulher 
doaram  um  alqueire  de  cultura;  José  Pereira  dos  Santos  e 
soa  mtilber  doaram  ao  mesmo  fiaiUe  uma  quarta  de  cultura, 
como  conKta  da  escri|ttura;  Joaquim  Gonçalves  de  Moraes  e  sua 
laulher  doaram  ao  mesmo  flauto  três  oufirt^s  de  cultura;  José 
Gomeii  de  Lima  e  sua  mulher  doaram  dois  alqueires  de  cultura 
e  deram  mais  14  alqueire»  de  uma  troca  de  um  terreno,  como 
consta  da  escriptura;    Domingos    António  de  Castro  e    sua  mu- 


—  168  — 

Iher  doaram  3  alqueires  de  terras  d©  cultiirs,  cotno  eoo«ia  da 
escripturâ.  Vêm  a  somiuar  todos  ©ete&  terrenos  em  33  alqueires^ 
08  quafts  fora  Dl  avaliados  era  lOrOOOi  que  frtz  a  aomnua  d© 
330;0CK1,  6  tendo  de  acc  rdo  com  o  fiscal  nomeado  peritos  lavra- 
dores, para  dar  o  conhecimento  do  eapaço,  coRÍVontaçAo  o  de- 
marcação do  terreno^  em  q\i*i  %e  comiirebeu^om  aquellea  uame' 
ro^  de  alqueires  e  qne  iii:um  !»ervindo  de  patriíaonio  da  deno* 
minada  capela  d^  táho  Bubastiào  da  Boa  Viata,  em  cojo  meio 
ge  acha  edificada  a  capéla- 

Declara-Be  que  todo  ©st©  espaço  é  próprio  para  plancaçAo, 
aem  alufçadiços  ©  atraves&ado  por  um  córrego  deaoinínado  Car- 
rego do  Meio.  Quanto  a  suas  confrontações,  »kõ  as  seguintes: 
pelo  lado  do  auL  divida  com  António  José  GomcB,  de  um  lado 
6  onlro  do  córrt^go,  e  pelo  lado  do  nascente  diviza  com  José 
Cliristovam  de  Litna,  e  daqui,  em  toda  a  oircumíerenein,  divÍJ&a 
Cf>m  todos  os  doadortís,  porque  este  terreirrp  é  tirado  das  fazen- 
das doa  mesmos  doadores,  os  qnaei^  vivem  ©m  comznum.  QuadIo 
á  demarcagâo  fica  assim  feita,  só  sim  faltaudo  pôr  os  marcos^  m 
quaes  vôo  &er  postos  na  presença  dos  doadores  e  co  trontantei, 
lançando  se  m&o  de  todos  os  meios  necesTiarioP,  afim  df^  fii:£irem 
os  marcos  aos  quatro  ângulos  extremos,  c*'m  a  exactidão  poB?«i- 
veK  São  Sehaatiào  da  Boa  Vista,  4  de  dezembro  de  1847.— O 
fabriquei  PO,  Felicíssimo  Axtonío  Peki&ira, — Framci&co  Vbsak- 
cio  DíC  Bigufii RA.— Francisco  Moreira  KoUKiGUEs.'-Em  visia 
da  declaraçào  do  impetrante  fabriqui^iro,  de  accordo  com  o  fis- 
cal,  e  acharem  se  reconhecidos  os  títulos  de  doação,  qut^  ficam 
em  poder  do  mesmo  fabriqueira,  de  a^^^^im  estar  reconhecido  o 
es[iaço  e  valor  do  terreno,  e  sumb  confiontâçÕes.  em  cujo  centro, 
ou  meio,  te  acha  colocado  o  edificio  da  capela»  d©  que  f«ã  e 
fica  aeudo  patnmoaio,  proceda -se  ao  auto  de  po^se  do  mesmo 
patrimotiio,  com  as  devidas  íormiilidades,  e  da  mineira  a  mais 
publica,  que  em  nome  da  capela  será  tomada  pelo  mesmo  fa- 
briqueiro,  e  aasignfido  por  elle,  e  pelos  mais  concorrente»,  que 
a  esf©  auto  forem  presentes.  Sào  Sebastião  da  Boá  Vista,  4  de 
dezembro  de  1847.— Carvalho  k  V&scokcelz.os, 

Auto  do  pvfiÉS»e 

Anno  do  nascimento  de  Nobbo  Senhor  Jeaus  Cbristo  de  mil 
oitocentos  quarenta  e  sete^  vigésimo  sexto  da  Independência  e 
do  Império  do  Brasil^  aos  quatro  dias  do  mes  de  dessembro  do 
dito  anno,  nfleta  capela  de  Sáo  Seba&tiào,  munícipio  da  vila  de 
Casa  BrBní-a,  da  sétima  comarca  da  imperial  cidade  de  S.  Paulo, 
em  o  adro  da  dita  capela,  onde  se  achnva  ív  juiz  municii  ai  pri- 
meiro supplt^ute,  o  cidadão  António  Jotié  Teiíteira  de  Carvulbo 
e  Vasconcellos,  commigo  e>ctivào  de  seu  cargo,  ao  diante  no- 
meado, adjunto  com  o  í^fficial  de  jut^liça  Beveriano  Constantino 
Pereira,  para  o  eifeito  de  lavrar  o  pre&eute  auto  de  posse  judi- 


^-  169  - 


ciai  no  lerreDO  do  patritnonio  doado  á  djui  capela,  e  eotno  dito 
património  já  e^tívt-s&e  reconhecido  do  espaço  de  ^3  alqueir^B 
dâ  plaota  de  milbo^  e  as^tm  eile  terreno  couíroncado,  avaliado 
em  330:000  em  diiibeirn,  em  meio  de  cujo  pãtrimoDÍo  se  acba 
edificada  a  capela,  eeg^tindo  con&ta  dos  autos,  mandou  o  juiz  dar 
po»>e  do  meneioBado  património  da  eapéla,  ua  pessoa  dti  rcIuaI 
labriqueiro  e  procuradi^r  Felicíssimo  Ãotonio  Pereira,  a  este  se 
Ibe  deu  po&^e  jadicial  e  formisl,  paesando-se  o  juiz  para  a  porta 
principal  á&  capela,  mandando  apregoar  a  posee,  em  díilerente 
ponto  do  terreno,  era  repetidas  veses,  pelo  official  de  jufetiça,  era 
logar  do  porteiro,  e  achando  aera  companhia,  o  mesmo  fabri- 
qneiro  o  recebeu,  em  sif^ual  de  ler  tomado  a  dita  posse,  em  no- 
me da  capêlrt,  de  Bua  legitima  administração  e  de  teu  patrimo- 
mo,  cortou  ramos,  tomi  u  terra  e  lançou  ao  ar,  e  aspím  ioram 
deaanipeiibadaa  as  cerimonias  do  ebtylo.  E  como  eate  acto  íoi 
publico,  e  se  não  manifesta^âei  Dpm  pre&nniis^te  f  pposiç&o  algu- 
ma, houve  o  juiz  a  posse  por  conferida  e  tonada  judicialmente, 
do  que»  pãr»  constar  a  todo  tempo,  mandou  lavrar  o  presente 
auto,  que  asaigna  com  o  fabriqueirOf  assignando  também  o  fis- 
Cil,  o»  doadores  e  os  conffi  nteiríj&,  que  se  achavam  presentes, 
as^im  eomo  outra»  pFseoas  do  togar,  que  testemunbaiam  o  acto. 
Eu,  Manuel  Rufioo  de  AranleF,  <  scrivão^  quí*  o  escrevi.—  Car- 
valho E  VA9C0SCELLOa~PKLIf;[381MO  AsTONtO  PEREIRA —  FeVK- 
BlASO    CONtJTANTLNO    PeREIBA— O    fiacal^  JoAQUlM    JosÉ    FeHEIHA  — 

José  Gombs  Lima—  Vesbuan  o  Ribeiro  da  Silva—  EmyíiDio 
ANTÓNIO     D»    jEâUS —  A    rog-o  de  Domingos    António  de  Coito, 

JOAQOIM    MaNOKL    da    CeUZ — JoSfO    ?ETlElHA    Lf)B     SaNTOS. 

Eíste  auto  foi  julgado  por  B6ntença  a  15  de  de^t^nibro  de 
1847.— Situada  a  2V  25  de  lat.  sul  3"43  Irng  do  Kío  de  Ja^ 
netto,  dista  da  capital  34ã  kilom.<  de  Casa  Branca  65,  de  Mc  n  - 
te  Santo  40,  de  Sèo  José  do  Rio  Pardo  30,  de  Cajurú  fíO,  de 
Gua:xupé  44,  de  Santa  Barbara  diis  Canoas  40,  e  de  Caconde 
42  kilnm.  Km  1846  algun»  fazendeiros  do  sul  de  Minaa,  que 
aqui  vieram  caç^r,  ao  depararem  no  meto  da  mata  com  yarias 
casas  cobertas  de  sapé,  denominaram  eeta  localidade  Mocócai  da 
palavra  indígena  fcasa  pequena  e  ruim),  denominação  que  con- 
lerva  até  boje.  Foi  creada  fregueda,  com  a  denominação  de 
Sio  Sebastifto  da  Bòa  Viata,  em  5  de  abril  de  1856;  elevada  a 
rilla  em  24  de  março  de  1871  e  a  cidade,  com  a  denominação 
de  Mocdca,  f  m  abril  de  1875.  Ã  cidade  é  edificada  entre  duas 
colinas  «ua7(*B  e  de  egual  altura,  sendo  dividida  eru  duas  partes 
pelo  ribeirão  MocÓTa,  que  atravessa  toda  a  cidade  {Aljttfjjmk  da 
Eitfado  de  São  Pauío). —Vocábulo    tu(ii,   corruptela  do  mot^uoca. 

MocaócA — Voc«Hulo  tupi  ;  higdifica  ^  casa  de  moco  (mocó- 
oca).  Segundo  Josa*  Pompeu,  mocó  é  um  quadrúpede  da  ordem 
dos  roedores  (kerodon  mocó),  que  »e  encrntra  \m  Fauna  do  Cea- 
rá—Vocábulo do  dialecto  tupi  do  Amazoufis,  (Seixas),  Tem  a 
mesma  flignificação  de  mucuóca* — Vide  Alococa, 


-  170  - 

Modesto— Córrego,  aíBaente  ão  ribeirão  da  Prata,  nafassenda 

deitt!  nome* 

MoGi-0  DOme  Mogi  (rio  das  cobras),  tfto  frequente  na 
geo^rapbia  paulista,  é  amda  um  vocabalo  guarani ,  apezar  da 
aheraçAo  por  qu©  paleou.  Mogi,  em  outro  tempo  escripto  boígi, 
é  fti*tiplesmente  cuiruptela  doB  vocábulos  s^uarauis:  mboi—gí 
(Thbodoko  Sampaio). 

MoGi-ouAçú— Vide  Mtjgy-guasftú. 

MuGY-oiTAítHú  — Rio  considerável,  afflueutft  da  margem  direita 
do  Rio  Graudn  ou  Haratiá.  Naâce  no  campo  doa  Ciganos  e  é 
formado  de  varias  verteniea  no  território  de  Camandocaía,  to- 
mando o  noTie  de  Mog'y'gnassú  depois  da  ©íia  couflueucia  do 
Jaguari- mirim.  Seu  curto  é  de  90  a  100  léguas,  ou  660  kilo- 
meiros,  pouco  mais  ou  menos,  na  direcç&o  mais  geral  de  fué&te 
para  noroéitp,  recebendo  como  affln entes  os  rios  Sào  Panlo^  Mogi- 
mir»m,  Tucura»  Itaqui,  dag  Pedms,  Taquaratan,  Itupeva,  Ja^ari- 
mirim,  Pardo  e  Gambá,  os  ríbeiriítís  Engazeiro,  Canoas.  Doiairmftívi, 
(um  da  margi^m  direita,  f>utro  da  esquerda),  Botufím,  Quilombo, 
PantÉino,  Garça  Branca,  Agua- pé,  Meí,  Piaubi,  Gariroba  e 
Caasununga^  e  os  córregos  Barreiro,  Perobas  e  Tapera.  Depoii 
de  batibar  a  povoação  que  delle  deriva  o  nome,  percorre  o  Mogj- 
guai!6Ú  a  oéate  os  territórios  de  Silo  João  do  Rio  Claro,  BrotASi 
Limeira,  Piracicaba,  Pirassununga  e  Belém  do  Descalvado  e  a 
este  os  de  São  Sim  Ao,  Franca,  Batataes,  Casa  Bnmca,  (1)  e 
outros  (Machado  dk  Oliveira^ Vaz  í»k  Míllo — Azevedo  Mar- 
QuiB),— Palavra  indígena,  compo^ta  de  vingi,  mogy,  fTitigyt  F'U. 
mojâ  (corruptela  de  moxt:  —  nas  mÀa  boras)  e  guasaú,  grande, 
maior,  sif^nificando— /ocu^y  infauattm  major,  segundo  Martius, 
que  escreve  Mogi-guaçd. 

MomOBS  (JuBiMADos— Faa,  agrícola. 

MosjoLiNHo  DO  Rio  Pardo — Fazenda  neste  município  em  1829, 

MoNjòf.o  — Córrego  nn  antiga  fazenda  de  Cocaes. 

Mont^Alvehnb — Fazenda  neste  município,  pertencente  a 
Ernesto  Ferreira  Coelho. 

MoBKmA^Gf>rrego  na  fazenda  Lagoa, 

MôRRo — Fazenda  agrícola,  peitencente  a  d.  Maria  dái  Dores 
Nogueira  de  Carvalho  e  outros,  deBmembrada  do  municipio  de 
Santa  Cruz  da:i  Palmeiras  pela  lei  n.  75,  de  7  de  abril  de 
1885- — Ribeirão,  na  fa^,  deste  nome* 

MòHttO  DA  Dgm^noa -Logar  na  fazenda  Rio  Doce. 

MôRRo  do^  iLHÉos^Vide  Uacbootra  dos  Ilbéoa. 

MoUTES  -Capáo,  ne&te  dií^tricto. 

Mdsquitob — Córrego,  na  faz.  Sào  José  da  Serra. 

M  uc  uóc  A  ^  Voe  abulo  i  n  d  i  ge  n  a  ^  b  i  gni  fica  n  d  o  ^  cerca  I  ig«ira  - 
mente  construída  no»  riachos  por  meio  de  páua  fincados  a  prumo^ 


ilt    €om  K  Ctêaçla  do  mtui,  de  Sinta  Cnu  dki  Patmetrim,  dttlxam  n  4»  Cftta  Brmnea 
di  ief  bJMLÍudQ  pel9  M&gl*£aiM4. 


-  171  - 

ramo  d©  amin^ra  e  tojuco,  afitn  de  paralyaar  um  taoto  a  cor- 
rente da  agita,  e  dar  logar  á  pesca  chnmada  de  gapuia  (Babka). 
— ^Vide  Mocoócft. 

Municipal— Travessa^  Hoje  den  minada   rua  Coronel  Lúcio. 

Na»ci?issto— Com  6»t«  nomo  encootra-se,  nas  actaa  á& 
Camará   \4uiiícípa1,  a  deBÍg-nação  de  uma  rua  desta  cidade  em  1851. 

Negros— CapãOf  na  lazenda  Cocaes. 

Nossa  SaNuoRA^Potreiro,  annexo  á  cidade,  pert^jncente  á 
BgreJÁ  da  paroebia.  Foi  doado  por  L oure nçi»  Martine  Leme,  falecido 
a  2  de  janõirõ  de  133B,  que  em  Beu  testamento  fez  a  seguinte 
dectaraçio:  «Declaro  também  possuir  umíis  partes  de  terra)»  por 
compras,  ne^te  sitio  da  Cafia  Branca,  cujos  títulos  existem  em 
meu  poder,  e  delles  bâo  de  cotistar  seus  valores;  e  da  parte  que 
comprei  a  Manoel  Ig^nacio  de  Almeida,  detta,  o  que  houver  de 
campoi,  a  morade  dou-a  de  esmo  la  a  Nost-a  Senhora  das  Dorea, 
aoBsa  pndroeira». 

Nova — Nome  primitivo  da  rua  Sete  de  Setembro,  antes  de 
clbaaiar-ae  da  Palba. 

Nova  Caba  Branca— Bairro,  na  ettaçào  da  Laj^ôa,  onde  a 
Gamara  Municipal  possue  um  património  d«  quatro  alqueires  de 
terra,  por  doação  do  major  Manuel  Theodor-'  da  Silva  Leonardo, 
E'  também  denominado  Património  da  Lagoa. 

Novo  Bairro— Bairro  suburbano,  locado  acima  da  (istaçao 
da  estrada  Mogiano,  com  uma  área  dti  66,86  bectarcis  oe  27,^*1 
alquetre*,  dividido  cm  quatro  (erim^lros  c  fni  2  alainedas  (Pfltl- 
lítta  e  Urníuaia)j  1  largo  fEstHçíio),  I  praça  (Hepublira),  4  ruas 
(Guianas,  Guaraciabn,  Guanabara  e  Itaptma)  e  13  avenidati  (Ja- 
guari,  Caiobi,  Inajá,  Argentina,  Chilena,  Periiana,  Boliviana, 
Equador,  America,  Guarani»  Cubana,  Mexicana,  e  Colombiana)  e 
527  datas.  Os  terrenos  deste  bairro  íoram  adquiridos  pela  Ca- 
mará Municipal,  por  compra  a  Francisco  Nogueira  de  Carvalho 
e  fazem  parte  do  quinhão  que,  na  divisão  da  fazenda  Casa 
Branca  coube  a  Serafim  Caldeira  Brant.  Ãu^entando-fse  este, 
foram  os»  terrenas  vendidos  a  António  Joaé  Teiíeira,  em  hasta 
pnblica,  a  26  de  setembro  de  1864.  Por  morte  de  Teixeira  e 
invtsntario  feito  em  18"  1,  foram  arrematado*  por  Aureliauo  Mo- 
desto de  Casiro,  qUH  os  vendeu  a  Francisco  Nogut^ira  de  Car- 
valho, a  5  de  dezembro  de  1889,  havendo-os  a  Camará  por 
e-criptura  de  29  de  março  dfi  1896.  Em  1837  foram  demarcados 
pelo  agrimensor  Joào  Carlos  Ferraro. 

0'<jA-CAai— Nnme  que  em  tupt  ísignifica — aua  branca,  e 
pelo  qual  suppoe  o  engenheiro  Pedro  José  de  Paula  e  Silva  ter 
sido  conhecido  o  local  onde  se  «pseota  esta  cidade.  Conrado, 
em  seu  antigo  mappa,  cita  o  Fara-Q*cu-Cíirif  ou  rio  da  casa 
branca  (Ãlmanak  de  Campinas,  188G), 

Olhos —  Capôo,  na  fazenda  Paciência- — Correguinho,  na 
&2€uda  Barreiro,  afflueute  do  Pederneiras. 


-  i7â  - 

OLHOB^D^ÂauA—^Pfiqneno  ribeirão,  a  meia  lugna  dr*  Jag^uarí- 

mirim,  de  que  e  alHueate:  è  atraveeando  pela  antiga  «girada  da 
Franca,— Pazentla  ngricola  e  de  crear.— L?>gôa  Bâccaf  jA  amm 
conhecida  em  1830, 

O Nç*— Córrego  iiéBíe  districto  ;  fass  barra  no  Tambahú, — 
Fazenda  agrícola. 

O  Kl  sDiúvA^  Estação  da  Mogiana,  no  kiloro,  144,  entre  La- 
goa e  Engenheiro  Mendeg, — E»pecíe  de  madeira,  da  família  da^ 
leguminosae.  E'  de  côr  vermelha  escura,  tecido  compacto,  e 
muito  apreciada  por  sua  lijeza  e  duraçfto. 

O RTiz(<::s— Córrego  que  Hmita  oa  muuicipios  de  Santa  Cru;; 
das  Palmeiras  e  Casa  Braaca,  Deriva  sua  dmt  minaçíko  do  ap- 
pellido  OrtiZf  de  lavradores  que  moravara  á  fcua  margem,  como 
António  Ortiz  de  Camargo  ©  José  Ortia  de  Camargo.  E'  tri- 
butari'>  do  Cocaes. 

Paciência— Antigo  pougo  na  estrada  de  Goiá»,  onde  for 
muito  tempo  residiu  o  capitão  Manoel  Thomaz  de  Carvalho. 
Junto  cnrre  um  córrego  com  o  n  esmo  nome.  Das  edificações 
não  re-ta  um  vestígio  HÍquer.  — Fazeoda  agrícola  pertencente  ao» 
herieiros  do  capitào  José  Venâncio  Villasboas  e  outros. — Córrego, 
que  banha  a  fasceuda  do  mesmo  nome. — Taunay.  no  seu  Hhié- 
rariOf  diz:  «A  um  quarto  de  légua  do  Tambahú,  levaniou-se 
ha  pouco  (IB65)  um  rancho,  correndo  raaia  adiante  o  córrego  do 
Passatempo.  Cora  mais  2no  braças,  acampou-ee  no  pouso  da 
Paciência,  perto  do  ribeirào  do  mesmo  nome  a  rumo  O,  A  es- 
trada que  ahl  vai  ter  é  quasi  toda  traçada  em  campinas  sem 
arvores,  havendo  apenas  seiscentas  braças  de  matas  nas  margens 
do  Tambahú», 

Paço    MusícifAL — Edificio    pertencente    ao    município  e  em 

3U6  fuaccionam  a  Gamara,  aâ  repartições  municipaes,  o  tribunal 
o  jury  e  HB  audieociaa  dos  juizes  e  que  serve  egunlmente  de 
cadeiH  publica.      Foi  inaugurado  a  3  dB   março  de  1S8B, 

PàiPíEiRA  — CorregOj  na  faz.   Morrinhos 

PaióL "Fazenda  agrictla. -Córrego  na  faz.  da  Várzea. — 
Córrego,  utt  fazenda  Campo  Alegre  i   afliuente  do  Tubarana. 

Paisandú— Travessa , 

Palha— Antiga  denominação  da  rua  íSete  d©  Setembro,  a 
teve-B,  segundo  diz  a  tradiçílo,  pelo  seguinte  facto:  Jacintbo 
Ji  sé  de  Sousa,  conhecido  por  Jacintbo  Meirinho,  morava  na  casa 
que  hoje  pertence  á  hera  ça  de  Luis  António  da  Silva,  ttnha  por 
costume  bater  arroz  e  deixar  sempre  grandes  monte»  d©  palha 
na  rua.     O   povo,  á  falta  de  outra  denominação,  deu-lhe  aquella. 

Palmeiras  — Córrego  na  fa«t*nda  da  Prata,  tributário  do  Bio 
Feio. ^Córrego ;  corre  ao  sul  e  desagua  no  rio  Pardo.— Travessa 

Falubiras  da  TEEiRA-VERMEtJiA— Fas^enda  agrícola,  oesta 
comarca,  de  propriedade  de  Jwé  de  Vasconcelos  Biteoeourt» 
Joào  Caetano  de  Lima  e  outros,  que  pertenceu  primitivament* 
ao  conde    de    Valença   (Eatevam    Ribeiro  de  Hezende),     Tsm  a 


F 


-  m  — 

BTiperfieie   a^rftrla  dê  824,3    hects.,   e    foi  dividida  judicialmente 

em  1884-  Eitá  coHocíiíla  na  fralda  do  Èprra  do  Jflrditn,  e  ba- 
DbaTD-Ti'a  o  rio  Tarobabú  e  ob  correg'09  Preto^  ÁrtependjdOj  Sal- 
gado, Bebedoaro,  Tijuco   Preto. 

Palmsibas  do  Cerrado  — Antigo  quarteirão  policial,  hoje 
extirvcto 

Palmeiras  do  Tambahú- Fazenda  sisrricola,  boje  dividida  e 
com  diversas  denominações 

Palmital— Capào,  próximo  á  cidade,  na  cbacara  8*11  ta  Iria* 
—  Vide  Guariroba  — Correg^o,  ria  fase     Lag-ôa. 

Papagaios— Capào  e  logar,  a  jequenw  dÍ6t»ucia  desta  cidade, 
onde  estào  edificados  o  Hoi-pital  de  lEolamento,  o  La^^areto  de 
Yarioloaoã  e  o  CHmiterio  Munícipnl, 

P ABA CATÚ— Fazenda ,  no  bairro  da  Vargfem  Grande.— Vocá- 
bulo brasilfiro,  corruptela  de  piracaiú^  i-igniâfando  peixe  bom., 
(pirá  catú) 

Pahaiuba— Rua  do  patrimoniíí  da  Lfl{rí»fl-— Vocábulo  brasi- 
leiro, q|ue  significa,  segui!  d  o  frir^i  Maiiaííhão^^ — peíie  mau;  cor- 
np^lo  de  pirà-aiba;  h  Btiguudo  MiLtiKT  de  SAiNi-Am)i.rBK— 
rid  da  agua  clara,  Ei-m  ^ignificeçío  é  enívda:  a  vejdfideira  ê 
^Ho  mau  (para,  rio;  abiba,  iiiáu)i  coDfoime  cohstatarou)  Var- 
2rn«GaN  e  Macboo  Soake  . 

Pabaná— Rua  do  patrimoDÍo  da  Lagoa,  Vocábulo  tupi,  que 
lignifica  rio.  Gtimeça  a  aj^glutinar-ae  em  [  araná— parAnatri  ( J , 
YsRisa  mo).  Na  Jing-aa  tupi  a  palavrA  pará-ná  giE^nifira  «pro- 
Xiíuo  do  mar»  í  poré^n  oft  indígenas  itidicavfcm  com  eftse  nome 
toio  e  qualquer  r(0  grnnde  (JoAo  Mrndes)-  No  dialecto  dos 
CaJto^irus^  BPfTUudo  CoLfTD  DR  M  AGALHÃBÍ*,  parfloã  é  cónego. 
GocD  a  significação  dn  rio  o  dào  Costa  b  Silva  e  Oi^gah  Lb*l  ; 
e  de  rio  grande,  parente  do  mar^  Macésdo  So>^R^s, 

Paraííã— Vide  Paraná. 

Pardo— Vido  Rio  Pardo. 

Passatempo — Córrego,  na  faz.  Morriíibop,  tambetn  cíubfcidf» 
pttr  Pimenta;  banba  eg-ualmente  a  faz,  Facienr^iti. 

Património  da   Lagoa  — Vide  Nova  Casa   Branca. 

PAu^BRAKco^Corieguinbo,  n^  fazenda  do  Barreiro.— Crrrego 
na  faz.  M  rnnbaa. 

Paulistas  -Travessa;  liga  o  largo  do  Rosário  a  diversas 
mas. — Alameda  do  Novo  Bairro 

pBRDENElfiAfi  —  Corrego  ^ffluPDle  do  rio  í^ardo  —  Pequena 
«erfa  que  BUrge  ao  noite  da  terra  do  Araniquarn,  entre  os  rios 
Pardo  e  Mogi-gna&sú,  a  n*  roéj-fe  da  cidade  de  Casa  Btanra,  em 
meio  de  ura  terrirorio  deaioberto,  e  adaptado  á  industria  pastoril, 
que  tem  ali  «grande  applicação,  Corru  a  serra  de  eudoéste  para 
noroeste,  e  na  extremidade  deare  rumo  ergue-se  ura  grupo  de 
montanbaa  que  tem  o  nome  á&  morro  da^  Pederneira^,  e  ae 
identifica  com  a  lerra  (MAcuano  db  Oliveíra). 

pKDRAS—CorregOj  afli  do  Cocae», 


-  174  - 

Pedrbgulho — Cortego  neste  districto. 

pELOUEiNHo—  Poste  colôciftdoiia  praça  pubUca  para  nelle  «erem 
ainarradoB  os  criminosas  expObtos  a  ignominia-  Era  também  ár^- 
tioado,  de  prelVrencííi,  ao  &iipplÍcio  doa  escravos  que  deviam  ser 
açoiradoB.  >e -astião  Paraná  diz  que  o  pelourinho,  de  uiu  ma- 
deiro grrosBO  e  lavrado  nas  quatro  faces,  continha  quatro  argò  aa 
de  feno,  braçoa  pelos  lados  e  um  cutelo  uo  remate.  CoxaTAHCio 
dá  o  pelourinho  c<vmo  uma  columna  dfl  pedra,  n*niatada  por  pontas 
de  ferro^  onde  se  «spetav^ani  as  cube^aa  dos  de^^olndos,  e  tinba 
também  arjç^ólas  onde  se  podia  euforcar.  Em  Ca^a  Branca  existiu 
o  pelourinho,  ali  á  mar#»-eai  esquerda  do  Espraiado,  ao  terminar 
da  travessa  dn  Constituição.  Com  o  andar  dos  tempos  a  areia, 
subindo,  sotterrou  o  instrumento  infamante.  Si  se  fizesEem  es- 
cavações, poderia  ser  defcoberto,  pois,  serrundo  a  tradição,  em 
um  madeiro  bastan'»  comprido,  ã  um  officío  do  presidente  da 
província,  perguntando  si  exíi^tia  aqui  o  pelourinho,  a  Camará 
respondeu  que  nào.  Seria  curioso  si  fe  conseguisse  desenterrar 
o  famofio  padrão  e  conservai -o  como  recordação  histórica.--' Cos- 
tume era  de  nosar^s  antepa^Bado»  levantarem  lo^o  um  pelourinho, 
quando  Ee  lixavam  em  qualquer  parte,  com  intenção  dt^  fundarem 
um  arraial.  Desgraçadamente  oi  brasileiros  nào  ignoram  que 
pekmrinho  é  uma  p'Cota  que  ee  levanta  em  loo^ar  bem  pnblicc», 
com  uma  argola  de  ferro  f  reaa  no  alto,  onde  an*arraiu-s©  os 
escravos  para  serem  surrada  s  com  ba calhaus,  Também  desgra^ 
çadamente  nenhum  brasiU^irn  ignora  que  bacaJhau  é  um  açifite 
de  correia,  com  varias  v@l*>i^s  trnnçadas,  e  ás  vezes  com  ponta» 
de  pregoa  nas  extremidades  (Feli*  lo   d*  s  S^antob). 

Penhora— Fazenda  de  crear,  junto  á  povi  açào.  Fazia  pftrte 
da  sesmaria  do  Lambari, 

Pereiuão— Correg^o,   na  faz,  Melgueira. 

PEttoBEiRAa-Fazenda»  dividida  judicialmente  e  próxima  á 
povoação  de  Vargem  Grande, 

Pkru  A  NA— Avenida  do  Novo  Bairro. 

PiÁGUAçú— Sitio,  no  bairro  da  Estiva,— Vocábulo  indígena, 
cujo  significado  é — coraçào  grande   (piã-guaçà), 

PiAiJBi  Rua  do  património  da  Lagoa- — Vocábulo  brasileira; 
significa  rio  do  piau    (pian-hi), 

PíÇAiiHÃo— Este  ribpirào  corre  entre  os  munjcipioa  de  Casa 
Branca  e  Sfto  Joào  da  Boa  Vista  e  é  ura  dos  aftiueutea  do  Ja- 
guari-mirim,  —  Antiga  fazenda. 

PiÇARRÃo  DA  Lagoikka — Vide  Piçarrão. 

PiçARRÃo  Di>  Cemitério  —  Vide   Piçarrào. 

Pimenta  — Córrego,  n"a  fassenda  Paciência. 

PiQUiRA — Lfigar,  próximo  á  cidade.— Cavalo  d©  raça  anà, 
natural  de  Campos  dos  Goitacazes,  e  mui  apropriado  ao  esercí- 
cio  das  creanças. — Peixe  de  ppquena  espécie,  que  habita  as  aguas 
do  Paraguai  e  seus  affluentes  (Éouan), 

P  IRA  c  iií  UNG  A^  Vi  de  Piras  sunun  ga . 


-  175  — 

FiRASSONONGA^ Estrada  de  rúdagem^  qué  liga  a  eidade  dô 
Ca^a  Branca,  á  daqneUa  deDoniÍDaç&o,— Voc&hulo  tupi,  cnja  bí- 
gnifi cação  é — cachoeira  em  que  a  agua  cai  faztmh  ruído.  A 
pniposito  da  ^raphia  desta  palavra,  a  Cidade  de  (  ampinas^  sob 
a  epigraphe  Quentão  inter  espante  ^  inseriu  os  segiiintei  artigoa, 
qoe  para  aqui  trasladamoB  : 


•  Aos  mestree 

O  sr.  Ricardo  Azamór,  fuuccioiíaTio  do  The&furo  do  Estado 
em  cotumissfto  do  governo  ua  cidade  de  f^rassununga,  e  que 
oaa  hora»  d'ocio  eotre^a-se  a  finos  trabelbos  int^llectitaes,  como 
0^  leirores  já  terào  observado  pr-r  al^uina»  venoes  hespanho- 
lac,  publicadas  netta  íolha,  acaba  de  escrever  ao  nosso  director 
UMrário  ás  seguintes  interessantes  linhas  t^obre  dAo  menos  in- 
tetniante  assumpto  : 

«Pira.  ,  .suuuDg^af  21  de  setembro  de  1807. — Meu  distíncto 
confrade  e  amifço.— Â  permaoenria  que  tenho  tido  nesta  cida4e, 
cúmo  sabe,  tem-me  pro|iorcionado  aígumaE  hor^B  de  de»canço, 
que  dedico  a  estudos  um  tanto  proveitostia.  A  gora  ^  metti  màoH 
ã  (fbra^  como  diz  o  vulgo,  quanto  ao  verdadeiro  uiodo  de  escre- 
ver o.^,  próprio  nome  do  logar.  Parpce-me  que  nÃo  é  tal 
Píro.íífii  ..;  mas,  como  officialmente  asE^im  é  e^erlpta  a, palavra, 
náo  posso  deixnr  de  seguir  a  praie  aceita  por  ordem  euperior. 
Lembro-me,  porém,  que  ainda  nio  ba  muito  temjto  Baurã,  que 
">fficialment6  era  eaeripta  cora  A,  perdeu-o,  após  pequena,  por^m 
ntilissinia  discussão,  JVrcusuntinga,  talvez  seja  tão  feliz,., 
VêUo-enios. 

Como  sabe  o  amigo,  ha  grande  difficuldade  de  representar 
o  li  gul curai  dos  primeiros  povoadores  do  Brasil.  Mais  aepero 
ainda  que  o  u  francez,  foi  diversamente  representado  pelon  co- 
louoi  e  missionários.  Tem-se  observado  que  no  norte  (seguindo 
o  littoral)  tem  elle  o  som  do  t:  exemplo, — Ptndotiba^  Itaitindi- 
hdj  Mangaratiba, 

Ao  Bul,  o  aom  de  «,  ex,   Ubatiiba^  Caráguáiátuha^  ete.  ,  etc. 

Em  todas  essas  palavras  (pnrece-me)  ha  o  mesmo  elemento 
suffixo— fiífia  (muito).  Um  ou  outro  câso,  ao  lul  {Cori-tiba) 
parece  estabelecer  perfeita  identidade.  Temos  em  uso,  no  norte  : 
boy-cininga  (cobra  luminosa  ou  de  olhos  de  fogo,  espécie  de 
bQy-iatà  do  sul)-  Pira  (peixe)*  cininga  ou  cinunga  parece  ser: 
«peixe  que  aílumia,  como  succede  com  quasi  todos  os  escamo- 
sos em  noite  de  tuar.  O  Ucmn^  é  o  mesmo  tucum,  só  com  a 
diflerença  de  pronuncia  em  certas  zonas. 

Em  8*  Faião  ha  ainda  o  Mboini^  que  não  tem  similhante 
ao  seu  modo  ^raphico ;  t;odos  os  mais  (parece-me)  aão  represen- 
tados por  Zm&é,  leguudo  ba  tempos  ouvi  do  general  Couto  ifcs- 


-  176  ^ 

ffalhã&tf  muito  vergado  no  assumpto.  Imbetiba  (nmito  cipó)  é 
um  porto  de  Macahé  (K%tnéo  do  Rio  de  Jandro).  Ápezar  do  ci- 
vis Tomaniis  jíwm,  nã*  vou  com  o  meu  meio,  porque  tenho  que 
sttbmetter-me  á  praxe  official, 

T7m  irmão  meu,  UleQtoso  e  muíco  dado  ao  estudn  da  Ma* 
Ujria*,  já  me  iaf^^riaou  em  tempo  q'iB  possue  um  exemplar  de 
Kacine  com  o  nome  do  seu  dono  primitivo,  doré  hut  tranche: 
Visconde  df?  Piraciímnga. 

Nftq  íichfi  o  arai^o  que  é  ea^o  de  falurem  oá  meatreB,  õb 
c^mpetHnt-f  ?  Par<*cp-me  quH  t;]m»  pplo  que  daqui  lhe  ènno 
©ate  ífcrranzet  todo.     Sí^u  afFç+iç^  ad-,— Ricardo  Azamôr  » 

A  propósito  da  carta  que  abi  fica,  e  fóde  ser  ohjecto  de  co- 
gitaçòe.i  t^ruditas,  por  parte  dos  mais  versados  no  assumpto,  co- 
m''!  João  Mendes,  Macedo  Soares.  Lafayette  de  Toledo  e 
outros^  o  uosào  companheiro  evoca  esta   recordação: 

Ha  bon»4  quatorz  ^  atiuoB,  Alberto  Faria  era  ainda  uma 
c r ©an ça  ;  morava  e ti tâo  em  ò\    Carh.%  onde    f u n d á r a  a  j4 / tío rocia* 

Enire  <  s  escassos  collaboradoi-e»  desse  periódico  de  roça,  mas 
de  aauioâa  memoria  para  elle,  contava-se  o  dr.  Aureliano  db 
Sousa  e  Ol  veira. 

Ebaa  lifimpm  de  superior  iatelligencia,  espirito  verdadeira- 
mente culto,  nàn  exisFo  hoje.  Residira  ali  largo  tempo,  e  es- 
teve em  eví-iencia.  pela  attitude  que  aãsumira  antes. 

Empeiihido  no*  torneios  da  liberdade,  republicano  convicto 
e  abolu-ionisra  df^dicado,  publicara  a  Propaganda  e  a  AUiança^ 
duas  folhaâ  de  ntag-nifii^a  orií^ntaçílo,  bellamente  redi^idbg  am- 
hiL$f  6  qutí  rivalissiivam  com  os  melhores  jornacs  da  capital  da 
provinci»,   naqu  ila  t^jioca. 

Aífafttfldo  já  Haa  lutas  politicas  e  pociaea,  que  lhe  haviam 
granjeado  inimÍKjHide*,  eilieiitando-se  a  do  visconde  do  Pinhal, 
poderoso  do  logar  e  chefe  de  preatij^io,  o  dr.  Aurbliano  i>i& 
HouBA  Oliveira,  vivia  absorvido  do  estudo,  em  una  pitoresca 
chácara,  á  qunl  iam  vÍBital-o  amigos  raros,    porém  sinceros. 

Achaudo-í^e  de  uma  feit?»  na  apraaivel  vivenda,  em  conver^ 
SH  com  o  dr.  Aurkluno,  Albhrtõ  periç untou- lhe  qual  a  exacta 
graphia  do  nome  da  localidade,  que  o  sr.  Azamôr  agora  deseja 
saber. 

Aquelle  respondeu:  Pira^inunga^  e  acrescentou  em  tom 
explicativo  :  Pira,  peixe  ;  eí,  junto  ;  nunga^  fass  hulha,  Allusào 
aos  cardumei  de  peixes,  quando  voltam  da  dft&ova  ;  roíi  ando, 

Parece-no9  rsstoavel  a  liçfLo  dada  ao  redactor  da  Âlmrada, 
que  na  materlíi  nâo  ft^z  grandes  prngres?og  de  1883  para  cá,  va^ 
lha  a  verdade.    - 

Entretanto,  isso  não  impede  que  outros  se  manifesteDi  â 
respeito,  esclarecendo  o  caso. 


—   177  — 


U 


Amâ&  ft  prnpofttto  d»  graphia  eiacta  do  nome  da  cidade 
Tulgarm^nte  chamada  PirafMununga^  o  estudioso  moço  RicAeido 
AzAMoa  dírigixL  ao  dosío  companheiro  Alberto  Faria  b  Beguin- 
te  cartA  : 

*Pira,,     nUTíga,  23  de  otitubro  de  1897.— 

Meu  dilecto  hmi^o  e  confrade  — A  minha  carta  botiteni 
prttblik^ada  em  a  vosati  «çtiraada  Cidade,  appAreceo  cotn  &l^iin& 
erroB  tyi^tngrapbicos  que  serã  corivenietiie  cnmfjir.  Si  ai  rida 
liotiver  tem|.«)  para  esse  Bm^  ficar-lhe-ei  siiminaaieiíte  p<*nlioiado. 
Onde  a**  1e  íiièía  í  minto),  devem  ler  íuia  (mui  t**)?  é  Mau  ff  ar  ali  ha 
e  nfto  como   aaiu :    em    vez    dfl   ao  «id   {Cftri-tiba)^   eu    e&çirevflra 

E  a  propofiiíot  ha  aqui  um  cabra  velho  que  garante  que 
todos  o»  outros  cabrets  (le^çitimriB)  primunciam  Piracmuuga.  Len- 
do no  9eu  eommeotario  á  minha  carta  o  que  S' bre  o  asButnpto 
Ihft  dbee  ha  annoe  o  illustre  morto  dr.  Aurkliano  dr  Soítba  m 
Oliveíiía,  penso  que  nào  pôde  haver  maiB  duvida  lobre  o  ver- 
dadeiro modo  de  e^crt^verem  aquf^Ila  palavra, 

Mat#  a  mais :  no  titulo  imperial,  agraciando  o  falecido  vis- 
eonde  de  PiracinuDga,  devia  estar  escripta  a  mesma  palavra  tal 
eotoo  o  agraciado  «stampou-a  do  volume  de  Haci^e,  a  qun  jà 
me  referi.  Coroprehende-»e  que  nâo  seja  obrigatório  aos  vis- 
eondpB  o  conhecimento  da  ortograpbia,  todiivia  o  frtcto  á&^tn  (da 
FHracinun^a)  haver  poeeuido  o  vulumy  de  Kacih»  em  sua  es- 
tante, fa*  crer  que  nâo  era  nenhum  arrebenta-cahre^tííy^ 

Fe%  bem  em  chamar  para  o  facto  a  attençào  d^  s  drs.  João 
Mendes,  Macedo  Soarhí4  e  Lafayettb  dk  Tolsoo,  pois  couai- 
dero-os  compeientea  para  resolverem  a  questão  ;  as^im  como  o 
já  citado  general  Couto,  o  talenUflo  e  estudioso  dr.  António 
FxsA,  director  do  Archivo  do  Gklado,  e  outros. 

Conlesso-lbe  que  teria  verdadeira  satisfaçílo  em  lôr  esse 
Dome  officiatmente  etcrlpto  como  deve  sei -o  ;  tantd  a^sim  que 
nfco  pOftBO  insistir  em  efcrevel-o  como  desejo,  por  nAo  eoabecer 
perfeiíameTite  (proh  pitdfír  !   )  os  ditilpctr<s  brasilicos. 

Saudai^ões  do  seu  afiei  coado,  admirador  e    amij^o, — 


Ricardo  ãzamòe.* 


m 


Escre?e<-noa  o  n<  aso  collahorador,  ar,  Ricardo  Ajumor  : 

«Fira.  ,      nungii,  *I9  de  setembro  de   IB^^I. — 

Ao  Albbkto  Faria,— 

1iii<;tando  a  que&tâo  sobr«  a  e^câctn  ^raphia  do  nome  de^ta 
loealidadp,  eoní^uitei  díven>as  pe^soáff  eotripetentemonte  bibilifca- 
das  em  ioformar-me,  ent-e  ellas  o  illuBtrado  dr  Pisa,  dipuo  di- 
rector do  Arcbivo  do  Betado;  o  dr.  Vietia  de  Moraes,  chefe  po- 


—  1TB  — 

lítico  aqui  rcsidí*nto ;  o  estuJioBO  inspector  literário  de>lo  d"i- 
tricto  (28.'),  Br.  tenente  Francisco  Conceição  ;  o  comníiendailor 
Waldfk,  um  tJistiiicto,  jrestirar&o  e  Gáclarecido  octogí^iiíiúo  flqut 
IDO^a^or  Ua  muitos  ann^s;  e  o  sr.  cApltíio  Jo8«  FSdistoB,  g^raiido 
amndnr  do  caça  e  pF^Bca,  muito  relacionado  com  ds  cab  clo&. 

Ánteâ,  porem,  do  pro?egulr,  rog^o-lbo  a  fineza  do  recom* 
mendar  aos  distiuctoa  moços^  sâus  auxiliares,  que  fazem  a.  revi- 
B&o  da  Cidade^  que  tentinim  um  pouco  de  p^icíencia  ';ora  esta 
uiasnada  toda  ;  m<iã,  não  deixem  pas<sar  erroB  typograpliicos  como 
os  do  m^u  uUtmo  artigo,  onde  Bubstitulram  &  data  de  setembro 
de  1897   para  Úatubro  de   . .   7,  807  (ó  ftympatliic^B    malvados  1) 

Álii  vai  boje  a  resprsta  remettida  peo  i Ilustrado  ív.  àc.  Ax- 
TOSiD  DR  Toledo  Pisa.     As  ou  iras  irào  depois. 

Chamo  muito  jiirtícuiarmente  a  bui  attenç^'>  p^ira  a  tal 
historia  do  Piraçâ,  com  o  c  cedilhado  o  íí  circumfluxo. 

No  mais,  saudações  do  admirador  e  amigo. — 

lilCARDD   Az  AMOR    » 

S^p:ue-ee  a  informação  do  dr.  Pi&a ; 

«  ÍC^tado  de  S.  Paulo.  — Hepartiçài  de  EaLatiatica  o  ArcLivo. 
— S,  Paulo,  28  de  aetembro  de  1897. — Cidadáo  Uic^rdo  AKamõr, 
— Recebi  o  aeu  cartAo  postal  e  um  numero  do  jornal  Cidade  cie 
OanipinaSf  tratando  ambos  da  g:iaphia  d i  palavra  Piraiifjiinfiungni 
e,  Ciímo  30U  nominal  me  ate  cliamalo  a  terreiro,  aUi  vai  o  quo  sei 
a  respf*ito . 

Havia  na  lingaa  indígena  um  som  do  u  que  não  tem  equi- 
valente ein  português;  é  o  it  francês  na  phraao  J'ai  sn—eii  is- 
nha  sabido, 

A  palavra  deve  ser  oscripta  PiraçúHuitga—Pira-çátuwga — 
peixe  ronca~-pei^'e  faz  bulha;  o  como  oa  portugueeea  nSo  co- 
nheciam o  som  Tí,  alguns  entendiam  i  o  pronuneiavam  Piraci- 
nuíiffaj  emquanto  outro*  entendiam  u  o  prommciaviun  PíVíjçií- 
nuiiffa.  Ambas  as  formas  são  correctas,  desie  que  nfio  ba  em 
portui^tieE  o  som  u  dos  indígenas,  A  substituição  do  ç  (c  com 
cedilha)  por  dois  ss  è  quo  é  corrupção,  introduzida  jmlos  por- 
tugueses na  grapbía  da  palavra  Piraçãnutiga. 

Oatroi  exemp]o4:  A  cobra  cascavel  era  chamaia  pelos  in- 
dígenas Bay^cinunga  ou  Buij-qànunga^  que  equivale  a  c^hra  quê 
faz  bnfkat  cobta  que  f^ItúcaÚia, 

lia  no  rio  JiÊÍé,  município  do  me^mo  nome,  um  poço  fundo, 
de  agua  quasi  parada,  muitíssimo  abandande  de  um  pe^xc  cha- 
mado mandit  que  ronca  quando  é  tirado  da  agua  ji^lo  anzoU 
rede  ou  tarrafa;  esse  poç^i  é  ainda  hoje  chamado  manei/' çrniifn^íi 
— írtíritfií  rojica^  e  os  tietéensei  escrovem  e  pronunciam  Afaíití/,?*» - 
nunga,  qnaudo  deveriam  escrever  Mandíçnmmga  ou  Manãici^ 
nunga  para  obedecer  ao  génio  da  Hgua  pjrLugu^sj,  que  não  tein 
o  u  indígena. 


—  179  — 

Ha  ainda  atn  outro  éiemplo  d©  eornipçflo  e  áe  cfintriicçlo 
iJa  pai  A  Viu.  indígena;  ó  Ca*sHmtnga  Cana  ou  Cf í  6a  quer  dizer 
vespa  e  çHTiungíi  equivnie  a  roíi^a;  a  palavra,  portanto^  deveria 
»er  Cattaçtiriun^a^  e  fci  contrahida  pam  Caçununga  e  trnnafor- 
madji  eixi  CíísjiunHnt/a  que  quer  dix«r  ti^jpa  gtí«  /^oic  ruído  oti 
ffspa  que  zumbe 

A  sjUaba  ee  ou  çfl  nao  póde^  portanto,  ser  deâlíg-adn  do 
nungti^  porque  é  parttí  inte^iftnte  desta  ultima  e  juutas  sij^ni- 
ficaro  rançar^  fas^r  òtiiha  OU  ruido, 

O  exemplo  Píraciaiha  nào  serve  neste  ca§o,  porque  eatA 
palavm  está  rauíto  eorroujpida  A  primitiva  grnpbia  doaSa  pa- 
lavra deve  ter&ido  Fira- uceca- caba,  contrahiJa  para  Pira^ucecaÒa 
e  corrompida  para  Pira^cieaba^  sendo  Pita — ^peixe,  hcccíí— cheira, 
e  raft*:— sitio,  e  siírniticando  o  logap  até  onde  chet/a  o  peixe, 

£'  até  onde  checam  ca  meu»  conhecimentos  sobrn  a  rnaterta, 
e  o  que  ftea  dito  tra^  a  responsabilidade  do  dr  Theodnro  de 
Bimpaíot  que  é  uma  das  noB«as  autoridade!  íobro  a  g;raphia, 
origem  e  si^aiíicaçjio  doi  vocábulos  indigeDas. 

Saudações  do  am.**  obr»ó 

AnTOJÇIO    BE    TOLIDO    PjSA , 


IV 


FTem  hoje  a  jjalavra  o  diatincto  e  estudioso  sr.  Lafayette  de 
í*'jledo,  advo^í^ado  no  foro  de  Casa  Branca  e  preaident©  da  Ca- 
nt&ni  Municirnl  daquella  cidade, 

Uonfúime  veríB carão  oit  leitores  pelo  que  8 e  vai  ler,  a  iu' 
í^nDa^fto  prestada  pelo  sr*  Lafayette  amda  uAo  é  cnmpleta,  visto 
f1I«  modestamente  úvÁer  que  vai  «estudar»  a  questUo,  quando 
^Jãvia  pelo  que  expõe  demonstra  claramoute  ter  iniciado  esse 
estada. 

Depois  de  Pirmsunutigat  Firaeinungat   Piráçunungaj  appa- 
'^ce^QO»  agora,,.    PirctJfSfjnunf/a f 
1^         Interessante,  realmento  I 
^H  «Meu  caro  A/^amor, 

"  Ã  vida  nttríbulada  que  levo»  em  coutinuag  viagens,  preoccu- 
pado  sempre  com  assumpto»  relativos  a  e^ta  d  tira  jiroíi^fifto  de 
a(íç'og'adoj  nílo  me  ]>ormitte  ás  vezca  cniTOsponder  promptamí^ote 
i  gentileza  dos  amigos «  Ua  de  me  desculpar,  pois,  a  demora 
da  minlia  entrada  na  questão  do  vocábulo  Ptracinuiiiia^  Serei 
am  retardatário,  mas  dAo  faltarei. 

Á  respeito  de  Piracinunga  pude  apenas  verificar  que  assim 
escrevem  MillÍPt  de  ^AíUTAsiOJ.vnB^lDiccionafw  geograpkico  tio 
Brúsil)  e  Maktítis  {Qim»avia  lingiiarum  òraiaiNenmum).  E  esto 
de£ne  e  yQcahu]o^Specieni  prae  se  Jett  intestino)' um  pifeis;  de 
j«>íf,  peixe,  ci<;i€j  tripa.©  nungar^  parece. 


—  180  — 

AisEVÊDQ  MArQUES,  nos  Afionianienim  historicoa  e  gmgra-^ 
phicoSj  eflcreve^ — PiRABeoNUNOA  e  define-o  ;  —  p^ia^  qu€  morde. 
Parece»  em  parte,  que  tèm  tasiart,  poia,  no  dialéeto  dos  Caídãb 
encontram -a  e  o  vftrbo  qun  {marder},  oa  Bubstantivos  jwVa  (peixe) 
e  tigiè  (trípft)  e  também  o  verbo  nongar  (parecer). 

Vou  eí^tiidar  a  questão,  e  publicarei  log^o  o  mBu  artigo, 

Adeua. 

A  braça -o  o 

Amo  .   e  ad  o^ 
Lapatettb  db  TOLttDO», 


Amigo  LafsyeÈte, 

Vi  tua  carta,  publicada  na  Cidade  de  Campinas,  Di9<;ordo 
da  opiníà"  que  externaste  e,  &  despeito  de  não  ser  chamado^ 
Yenbo  metter  no  meio  a  minha  collier  de  páu. 

Sou  cabunguêiro  e  haba^ára  no  aaaumpbo ;  iito,  porém,  n&o 
impede  que  poBsa  anxiliar-te. 

Acho  que  correctamente  df^vemoa  escrever  o  vocábulo,  cuja 
etjmolo^ia  andaâ  estudando, — PiTacyntfnga^  e  dãremod  entÃo  a 
traducçao  de  pnxt  que  canta^  sibila  ou  rontu. 

Ha  eutre  ú8  peixes  doa  rioíi  paulistas  um  que^  realmente, 
produz  um  som  estridulo  e  monótono,  como  o  da  cigarra,  de 
onde  te  ori*^inou  a  sua  alcunha  vulgar  de   peixe- cigarra. 

Já  encontrei,  e  devo  ter  an notado  nâo  eei  ondti!,  aeu  nomo 
tupico,  que  no  momento  nfto  me  oecorre. 

E'  um  intereseante  vertebrado,  das  proporções  ordinBriaa  da 
piaba,  menos  grosso  e  g^orduro&o  Tem  sobre  as  brancbias  uma 
membrana  esbranquiçada,  apparelbo  onde  se  forma  seu  canto,  4| 
tem  a  forma  do  insecto  que  imita. 

Vemos  repetidas  vesiea  aa  vog:ae8  í  e  1/  (e»ta  ultima  com  pro- 
nuncia entre  i  e  «),  traneformadaR  em  u.  Sirva  de  exemplo  o 
innumeravel  fífta,  em^^Firiiuba  (juncal),  Caragvatatuòa  (multi- 
lifto  de  gtíi^oatás),  carapanàtuba  (multidão  de  moaquitos)^  /n- 
dagàiuòa,   Ubatuba^  GeTebatuba^  etc. 

Coubecwmoa  trea  vocabalosi,  mui  correntea  em  São  Paulot 
em  cuja  compoeiçáo  entra  o  verbo  cffnp  (som  intermédio  entre  i 
e  «,  como  vemon  em  sicuryt  que  se  deve  pronunciar  quasi  «- 
fmriú);  verbo  que  hontem  juntos  veríficamop  ei^ínííicar  atroar^ 
cantar,  zumbir^  etc.  E  sào:  caçunun^a  (vespa  zumbideira);  Fa- 
çttnunga^  porto  da  navega çiio  Huvial  do  Mogy-guapl,  derivado 
de  ihút  pau,  madeira,  cymj^  cantar,  roncar,  produzir  qualqueí 
Bom,  e  angái  suffixo  que  denota  o  »gent©,  o  que  f«s&  umaacçHo; 
tsa^nnnnga,  portanto,  é  pau  que  can{^,  rumoreja,  geme,  E*  bem 
conhecida  a  denominaçào  da  cascaveL  no  abaneeuf^a:  hffivininga^ 
~^mboi,  cobra ;  cininga,  que  fai  barulho,  que  chocalha  guizo,  ou 
que  aihila. 


Cotrro  DK  MaoílhIess»  tanto  no  vernáculo,  como  no  estilo 
bmíiiico^  'em  nma  orthograpbia  incoherente  e  caprichosa.  Ora, 
ômpre^^a  dois  ss;  ora,;,  Piratininga^  dix  elle,  significa  «í&í7o  oit 
nwico  de  peix6. 

No  Mogy-Gti^çú  observa-ae  o  pheuomeno  da  piracema,  quer 
i  ittbidat  quer  á  rodada  dog  pe)xei«  O  uome  da  pavoaç&o  ó 
tirado  da  cachoeira,  que,  de  remotos  annos,  é  coabecida  })or 
cachoeira  de  ;)}>açti7i>un^a .  Todos  sabemos  de  que  dUcernimento 
eram  dotados  os  nossos  selvieolas ,  Todos  sabemoB  que  ob  peixes 
ufto  logram  alcani;ar  a  altura  da  cachoeira  e  que,  portanto,  n& 
ie>^ndÉi  piracema  (que  se  me  11  &o  eugano,  se  realiza  na  primeira 
coujuni^o  da  lua,  no  mez  de  janeiro),  caalbam  as  ag-nas  do  rio 
nas  proximidades»  parecendo  pedaços  de  prata  polida.  Nesta 
hj^>othe!ie:  ^tra,  peixe;  c^n^i  cantar,  roucar;  artgaf  sufiiío  que 
iignitíca  o  que  encobre,  escurece— significará  :j3eiíce  çtíe  ca nterí^ 

Sobreleva  notar  que,  na»  épocas  de  seus  amores,  na  piracema, 
os  peixes  <icam  a  modo  que  abobados,  BÓbem  â  tona  d^agua 
«oalhando  o  rio,  e  podem  ser  colbidoa  á  mào 

Parece-mé  que  tenho  ra^lio  em  pensar  deata  maneira;  po- 
derás, caso  julgues  que  é  babus&etra,  atirar  com  estes  rabiscos 
ao   cisco. 

Casa  Branca,  14—10—97. 

Teu    amigo  e  creado, 

Joeà     HOHOKIO     DB     StLOB. 

VI 
niLáçtJinTifaÁ 


IQuisqué  &ua  arma  íncumÒeret) 

^Accedendo    ao    hotiroso    convite  do  distincfo  poeta  Ricardo 

ler,  pedindo  a  minha  opinião  sobre  a  exacta  graphia  do 
Tocahulo  Fi^^aMununqai  em  cujo  assaumpto  ainda  os  mestras  n&a 
diifterâm  a  ultima  palavra;  nào  obstante  a  mitiba  recouhcida 
imeompeteticm,  na  matéria  de  pbilologia,  o  fttço,  sem  esperança 
de  que  o  meu  trabalho  adiante  algnma  coisa. 

Antea,  porém,  eejam-me  permíttidas  algumas  considera^õea 
getftesi  que  n&o  vém  fora  do  termo. 

For  oceasiào  da  descoberta  do  continente  sul- americano, 
TeTÍ6coii-§e  ser  elli?  habitado  por  bordas,  mais  ou  menos  nu- 
me rosaa,  nómadas,  de  usos  e  costumes  diversos,  falando  dialectos 
di0*erentag>  cuja  origem  perde-se  além  doa  tempos  históricos. 

Nfto  se  |iossuÍQdo  até  o  preaente  uma  ethnographia  exacta 
■dot  aborigentís  do  jBrasilj  as  investigações  que  a  respeito  delles 
te  lêm  tentado  fa^r,  fnndam-ie  em  hypotheses,  tanto  ou  quanto 
|»OBsiveís,  em  conjecturas  mais  ou  menos  aceitáveis. 


—  182  — 

Oa  ffííg-mentos  do  lini^aageíu,  vociibtilarío  iiiÈTifEcionte  que 
lia  Eervido  áe  bn^e  á)  claâsificaçõee  dos  primitÍTOfl  povcs  fimen- 
cauog,  sem  nenliuma  relíiçào  liiatorica  t:om  ôa  homens  civilida- 
de s,  6Ó  podí»iao  Ecr  aceitod  emquanto  um  estudo  mais  aprofun- 
dada nko  provar  peks  rai-actérea  phyaicoa  do  iodigena,  a  raça 
primitiva  a  tjue  pertciiL'©, 

Dos  frftg-meiít.is  históricos  quo  doa  tempos  eoloniaes  nos 
rebtam,  concilie- se  que  a  America  era  immcusameiítB  povoada 
por  nações  distiitctas,  alguinns  bellit^osas,  outras  barbaras,  ou 
antropophaira*,— que  se  devoravam  umas  As  outras^  que  raças 
inteiras  desa[)])arGciam  couverteudo-se  em  pequenas  trtbua  sem- 
pre que  perdiam  o  seu  chefe. 

CõuTr»  D»  MacíalhÃeí,  um  doa  homens  que  maie  se  ha  de- 
dicado ao  estudo  da  historia  do  noiso  paia,  calculou  a  população 
indígena  em  um  miJhilo  de  aloínsi  dividido  em  2B0  1  ri  bus,  que, 
Tivend')  errantes,  uunea.  Eouberam  os  limite*  doa  seus  domiuioa, 

Ahorciando  ao  assumpto,  de  quo  óra  nos  preoctupa,  como 
poderemos  determinar,  com  prfcitao,  a  qufll  dessas  tribus  deve- 
moa  a  dt*uominaçao  das  diversas  localidades  do  Estado  de  Stio 
PmdOf  que  ainda  conservam  nomes  indig-enaa? 

D^AamcNY  reuuíu  o^  indioít  bra&ileíros  em  uma  tó  raça,  de- 
nomiuando-a  Bi'aíiílio~Gmíratii^  o  que  nâ-o  pdde  ser  aceito, 
pelos  traço9  iihyiioiío micos  das  hordas  isoladas,  que  se  náo  pa- 
recera como  membros  da  me&mn  família. 

Na  opiniào  de  WAiTAEUá,  a  maior  parto  dos  índios  que, 
pelo  numero  e  orgatiitíaí;ão  guerreira,  havm  adquirido  uma  certa 
supremacia  sobre  os  outros,  denítmina-se  Tupiíiamhá  (tubyba-ni- 
moya),  ic^uudo  Frei  Vicenti-:  (Apia-b-êté). 

Com  elles  aprenderam  oa  colonos  paulistas  a  lingun  tupi, 
algo  desenvolvida  depois  das  missões  dos  jc&uitasj  que,  Ee^undo 
const  j,  escreveram  uma  íçrammatica  (nós  ufio  a  conheceraoa)|  tor- 
nfindo-a,  em  snmma,  a  liui^ua  usunK 

Como  lingua  gerfll  (especialmente  em  território  paulista^  ô 
cthanhe^ntja  teve  graúdo  mtluencia  sobre  a  brasileira;  muitos 
ohjQctos  naturaes  do  paia,  como  jinimaes,  plantas,  montanhas, 
rios,  etc,  foram  deaignados  por  píilavraa  tupis. 

Cunvém  notar-ae  que  a  opinião  citada  não  modifica  a  expo- 
sição 9es'^iida,  porquanto  uma  voz  autorlsada  em  nosta  historia 
pátria,  díz  que  na  época  do  descobri  mento  do  Brasil  a  raça  tupi 
já  se  achava  fragmentada  em  tribus,  sendo  a  lingua  mais  g-eral-. 
mente  falada  a  dos  Tapuias. 

Mas,  qual  o  grau  de  ftliaçUo  histórica  entre  Tupis  e  Goita- 
cazos  diapersoa  em  território  paulista  ? 

Aos  Goiatacazes  liga-^se  uma  outra  trihu,  a  doe  Aimorés, 
também  paulista. 

A  qual  delias  devemos  as  denominações  das  localidades  que 
ainda  conservam  o  seu  primitivo  nome,  quando  temos  certeza,  como 
já  ticou   dito,    que    cada    trlbu  tinha    o  aeu  dialecto  differeute? 


—  183  — 

Qaem  nos  «ffirinarâ  que  qnftndo  os  Goitacazes  levantaram 
o  feu  ftldenmcnto^  nesta  píirte  do  Brasil^  as  localidades  d'  3Tgna- 
dâi  i^cr  palAvras  indíg'eQ«s,  não  poEsaiam  as  dano  minardes  que 
aindà lioje  conservam  ? 

Dandfi,  pfii*rm,  a  elles  (GmtacaKei,  Tapuias,  Aimorés),  como 
um  doâ  ta.mvê  da  latr.iiia  Tupi,  a  autoria  de  muitos  termos  in- 
digenflâ,  usados,  estudemos  a  natureza  do  vo<^fibulo  em   qncsUo, 

E'  opiuifto  aemta  que  pira,  siícnifiiia  pí-ixc,  mas  uo  ^rego 
pira-hif  peirâo,  a  mefina  radical  tem  aifí-uíticaçào  diversa. 

Ou  fprá  o  indígena  urna  desfi^ruravâo  do  grego  V 

O  ViBCondc  DEAunBPAiRB*RoiiAN\  no  seu  vocabulário  de 
termoa  brasileiros*  pag.  113,  da:  Pira,  moléstia  de  pélle,  conhe- 
cida 110  Norte;  Pirá  (palavra  aguda)  nome  gonorieo  de  p^ixe. 

E  ta  opinião  é  cínfiimada  por  José  Verissimo,  tambom  auto- 
ridade na  mH  teria. 

Do  que  se  conclue  que  a  radical  quo  deve  ser  aceita  é 
Fira  e  nílo  Pira  (grave<). 

Ko  dialecto  daa  tribuá  citada»,  «  é  uma  forma  diiniuutiva, 
ex. :  cipo,  urbusto,  frsgil,  fino;  e  çu  augmentPti^ro,  ex.  ;  tã- 
qttara-çu^  degenerado  em  taquanmçii,  por  facilidade  de  plio- 
uología. 

A  desinência  nnnga  significa — barulho,  baveudo  opiniões, 
aliás  competCLtes,  do  que  nunt/a  ÉÍgnifica  cacboeira,  rcneo,  ba- 
ralho. 

Ora,  sendo  o  local  propriamente  áemmhmáo  —  Piraísnnimgaj 
o  rio  ãlag/f  iio  ponto  onde  é  caçado  o  peixe  grande,  ua  embo- 
cadura da  cachoeira,  jusJamente  onde  a  agua  é  mais  agitada  ; 
canclue-sè  que  a  palavra  é  composta  ãf^—Pérá-çu-iíun(/a,  isto  ó, 
peixei  grande,  faz  barulho. 

Convém  taxcr  conhecido  que  o  local  propriamente  chumado 
Pirãf;unmijaf  (adopletuoa  desde  já  a  sua  eJcacUi  graphta)  é  E 
cacboeira  citada  e  ni^o  a  cidade  que,  segundo  os  almanncbf, 
cliama*80  Bom  Jesus  dos  Áfflécíos, 

Nào  acho  fundamento  na  duvida  que  ha  sobre  o  vnlor  do  xif 
coafuudindO'Se  com  o  u  francês  e  com  o  i  português. 

Nas  lini^uas  rudimentares  (é  facto  conhecido),  predomina 
sempre  o  som  agudo,  que  se  modifica  com  o  seu  progresso,  cor- 
te^pcndendo  ás  modalidades  phonicaa. 

Etn  todas  as  palavras  indígenas  (conhecidas),  n&o  ha  uma 
ftú  cujas  vo£;es  utto  sejam  pura^. 

O  próprio  português  no  século  XI  nos  fornece  provas  a 
respeito, 

A  accenttiação  das  vozea  já  é  uma  prova  da  períeiçilò  do 
qao  a  lii^gungtm  tem  at tingido* 

Atém  disso,  u^o  ha  hypothcsa  de,  por  mutação,  o  indígena 
proferir  lingnaa  tào  diversaa. 

O  n  da  palavra  Píráçununga  nio  devo  levar  accento 
algnm,  bera  como  o  radical  Pirá  deve  éô  comervar    iualtcravôl. 


-»  184  — 

CUe^'^adõs  a  este  ].>DntO|  continuam  o^  e£emi>]o&  citados  p«lo 
illQètre  dr«  Tulbi>o  Pj^a  a  s^rfin  aceitos  como  verdadeiros, 
convindo  notar-se  que  em  rt^laçào  aos  verbos  fouco  a«  «abe. 

PiráçunuDga,  2—10  —  97, 

FttAKClSCO    O-HCUlÇlO. 

YIL 

Oâ  indi^ensB,  como  é  gt^ralmente  sabido,  tinham  por  costu- 
me  de-ii^ninr  a»  localidades  pelos  seus  caractflrisucos  physicos. 
E  eâga  denomin^ç^ia  só  era  d efí nitidamente  aceita  e  consagrada 
depois  da  sfliií-çílo  de  uma  aasembléa  nocfurna,  coníorme  expõe 
o  padre  Ívks  WKvreutl  na  Viage-n  atj  norte  do  Braail  nus  annot 
de  1613  a  1614. 

Ãsi<im  @endo,  a  denomirtação  da  cidade  de  Pírassununga 
deve  derivar  de  al^um  accjdente  da  localidade,  E  iie^te  ponto 
estou  de  ací?ôrdo  com  o  professor  Francisco  Conceição,  que  di» 
ser  assim  chamada  a  cachoeira  do  Mogi-giiaçú,  cojo  nome  pai^ 
»ou  á  poçoaçào. 

A  jj:raphia  do  vocábulo  deve  ser,  poia, — Piráçunânffa  :  de 
pirá  (fietJt^*)  e  çunúngaf  gerúndio  do  verbo  çunà  (rumí*rejando, 
fazendo  ruído).  Neste  ca  o,  sig-ni ficará  ppíxè  mmúreJGndo,  ou 
maia  amplamente— /cij^rtr  Qnrie  o»  pei^^ôit  fasem  bulha, 

O  illHstrado  sr.  Júst  Honório  r>E  Bjlc^s,  que  é  autoridade 
na  matéria,  já  explicou,  em  artigo  anterior,  esse  phenomeno,  a 
piracema,  ijue  se  observa  na&  cachoeira»  do  Mogi^guaçú,  tanto 
em  Piráçutiúnfja,  como  em  Mogi-vnrim. 

Do  rt^ferido  verbo  çitnú^  ba  o  participio  çunúmháb^  çunúhâh 
ou  çunúngàb,  si^niíi.^ando  togar  de  rumorejar.  Parece,  portanto, 
que  será  mi^hor  decomjmr  o  vocábulo  miim  :  —  pÍTá-çunângábt 
traduzido  ontAo  em  logar  do  peixe  rtanorejar^ 

Conforme  notei  já,  Martius,  do  aeu  Ohssaria  Hnguurtim 
hrciAíUemium,  escreve  Pimcitutngaj  definindo -|?6íxe  que  parec« 
tripa  i  pira  (peixe),  ergie  Ctripa)  e  nnngar  (parece). 

AzfT.vKDo  MABQues,  noa  Apontamento»  kUUiTÍco$  «  geogra-^ 
phicos  d^.  Sâo  Paulo,  di!5  qu©  Pirassonunija  é  peixe  que  morde, 

A  ortographift  de  Martíub  foi  adoptada  por  Millirt  dí 
Sai  NT  AtiOLPiiEj  no  I>tccíonario  geogmpkiro  do  Brasil;  por 
Brak  i>a  Costa  Bubi^,  nos  Vocábulos  indígenas  e  outroit  tnirO'* 
díizidon  nn  «.■fo  vulgar,  em  que  assevera  ser  nome  de  rio  e  vir 
do  pjnaiaiíi  p^rá^  peixe,  tirii^  eecco,  «que  em  diversos  dialectos 
ae  diz  a,  ou  o  entendiam  cinnnga.* 

Eeíabeleceudo  uma  outra  ordem  de  idéâa,  veremos  que  jjírd, 
no  tupi,  nem  sempre  se  tradusa  por  peixe:  é  também  o  verbo 
abrir 

Remontando  âs  radicaes  da  palavra  Piracinungaf  poderemoi 
dêcompol-a  a4«EÍm: — pi-ra-i-çununga^  de  pi,  centro,  fundo;  ra 
{com  r  brando)   desigual,  alto  e  baixo:  *,  agua;  e  çununga,  fa- 


—  186  — 

Mndo  rnido.  Â  significação  será — fundo  ou  centro  desegual^ 
chm  de  altos  e  baixos,  onde  a  agua  cai  fazendo  ruido. 

Isto  dá  melhor  idéa  de  cachoeira,  um  dos  accidentes  pby- 
BÍeos  que  os  nossos  aborígenes  t&o  bem  aproveitavam  nas  suas 
denominações. 

Emfim,  08  eompetentesi  os  mestres  qne  falem. 

Casa  Branca,  1897. 

Lapaybttb  dk  Toledo. 


PizÉ — Logar  próximo  á  povoação  de  Tambahú.— Máu  cheiro, 
fetido,  cheiro  Dauseabuiido.  <  O  pixé  do  {^angue  humano  me 
enjoa»,  lê-se  nnma  proclamação,  de  9  de  maio  de  1835,  do  dr. 
Angelo  C.  Correia,  aos  paraenses  rebelados  (Kaiol,  Motiiui  prj^ 
Utícos^  p.  IV,  pag.  181).     De  pixé^  cheiro  dn  couro  qusimado,  o 

Se  cheira  a  cousa  queimada  (José  Vurishimo). — Enfumaçado: 
ta  comida  está  pixé.  E'  vocábulo  commum  aos  diverson  dia- 
MetM  da  lingoa  tupi,  e  era  particularmente  coi> sagrado  ao  cheiro 
^0  peixe  assado  (Roiian).  No  sentido  de  fétido,  segundo  Seixa», 
^  Qinal  no  dialecto  amazoniense. 

PoHTAii — Sitio  agrícola  no  districto   de  Tambahú. 

PoNTB  Alta — Fazenda,  próximo  de  Cocaes,  que  a  rega  em 
pme. 

PoBTÃo  Qbimado— Logar,  na  estrada  desta  cidade  ao  bairro 
^  Cercadinho . 

PoTRBiRiNHO  DO  BoRGES — Logar,  na  fazenda  de  Cocaes. 

PoTRBiRO — Pequeno  pasto,  próximo  á  habitação  e  cercado 
por  valados  (Josâ  de  Alencar).-  Campo  cercado  com  pasto  e 
J^da,  destinado  a  animaes  cavalares  e  muares.  Em  Minas 
^^nes  dão  lambem  a  isso  o  nouie  de  Piquete  (Kohan). — Km 
^  Pinlo  cbaira-se  potreiro  qualquer  campo  fechado,  de  grande 
tttensfto»  e  mangue*ro  o  de  pequena.— José  de  Alencar  escreve 
P^''^'^ero,  mais  conforme  á  etymologia  castelhana. 

Pouso — Ran«*h«ría,  multidão  de  r»nchos,  isolados  ou  em 
l^pcs,  abertos  quasi  sempre,  onde  os  viajantes  pousam  (Macedo 
DOâiig). — Logar  nas  estradas,  em  que  os  tropeiros,  carreiros  e 
^jintes  pernoitam. 

Praia — Rua,  na  proximidade  do  Espraiado. 

Peata — Fazenda  nesta  comarca,  limitada  a  cate,  sul  e  sudoeste 
J*«*  ribeirões  Sant^Anna  e  Cocaes,  e  banhadíi  pelos  coi  regos 
^  Wrinha,  Prata,  Fortaleza,  Limoeiro,  Palmeiras  e  Barreirinho 
•  'ibeirôes  Tubarana  e  Calção  de  C<  uro.  Tem  a  su])erficie 
*8^»ia  de  2045,52  alqueires  de  100  X  50  braças  (4í)50,H;  hecta- 
^)  B,  dividida  judicialmente  em  1894,  f « i  avaliada  em  236:959*650. 
^•tence  a  d.  Maria  das  Dores  Nogueira  de  Carvalho,  Prudente 
*^  Corrêa  e  outros,  e  foi  desmembrada  do  municipio  de  Santa 
j*^  das  Palmeiras  e  annexada  ao  de  Casa  Branca  em  virtude 
^  lei  provincial   n.  75,    de  7  de  abríl  de    1885.— Ribeir&o,  na 


—  18G  — 

&B6iulft  (fo  Een  ncsme,  tributário  do  Cocaes.— Caplo  e  corrc^D 
na  fflzendh  PAciencia* 

PnETO — Correíín,  flfHaeute  do  Tatnbaliú,  e  que  banlia  a  fa- 
zenda Ter;a  Verinfillia  de  Cima,  nn  direcçfto  f^-eral  de  N  14*  W 
Da  extetiíílo  de  1,150  mctrpe,  a  partir  do  seu  criizattiento  até  ao 
ponto  em  qno  é  dividido  em  dois  braços,  sendo  o  maior  o  da 
direita,  qtio  tem  a  direcção  f^eral  de  N  42**  W  e  vai  feer  ca- 
b^cpira  com  o  coTreiío  do  Arcifto,  Ao  ajuiroximar-ae  do  eÊ|»ig'ào 
divisor  óm  a^nas  do  Bebedauro  e  íIo  Freto,  ef^lo  abaisa-ãfâ  e 
divide-se  em  dois  ramos  pnra  formar  a  lagoa  dn  Camjio-Ked  ndo, 
^líibeirfio,  aff,  do  Cr  cãee. — Córrego,  ua  fdz.  Várzea- Grande, 
flfl',  do  rio  Verde, 

QuAiiTzo— Vide  KaoliJi 

QuATiíO-MiL-nBia  — Sitio,  próximo  ao  rio  Verdinlio,  a  uma 
leguíi  da  cidade, 

Qltebra-C(jia— Ribeirfto  afHiiente  do  rio  Pardo*— Vide  Campo 
Alegre, ^-Fazenda,  entre  esto  município  e  o  de  Sflo  S  mao. 

Queiroz  Telles— Au tiiça  deiiomineçiio  da  rua  Coronel  Josd 
Jiilio,  dada  em  bomenagem  ao  dr.  António  d©  Qaeiroa  TtUei 
(Conde  de  Parnnbita). 

QuiNAS^CflpSo  Pá  fazenda  Casa  Branca, 

Quinta  MicuAiíLííKiíe— Importante  cbncnra,  prri:^imo  á  ci- 
dade, junto  á  estrada  Mogiaun,  onJo  ba  cultura  do  cafeeiro,  de 
cereaea  e  fructas  diveríns.  E'  servida  por  macbiua  de  bene- 
íciar  café,  movida  a  vapor.  Pertenceu  a  Eugénio  Zarco  da 
Camará  Loureiro  e  seus  irmíio^,  que  lho  deram  aquella  deno- 
miuaçAo  em  lembrança  da  ilba  de  São  Miguel,  do  onde  sâo 
naturaes. 

Kamal  Perrro  do  Río  Pardd— â  lei  provincial  n.  87,  do 
21  de  abril  de  1880,  coaceJeu  privilfirio  no  dr.  Martiniano  d& 
Fonseca  Koys  lí  rand  Ao,  Samuel  Severiano  de  Aguiar  e  Fernan- 
do Schleicber,  ou  á  companhia  que  organizaBaero,  para  a  con- 
Btnieçrio,  UBO  e  í^oso  de  um  ramal  de  estrada  de  feno,  que  imr- 
tíndo  da  Mogiann,  na  divisa  de  Casa  Branca,  fôase  ter  ás  divi- 
sas de  Minas  Gorae»,  passando  por  São  José  do  Hio  Pardo,  A 
lei  n,  24,  de  27  de  março  de  1884,  revogou  aquella,  na  parl-« 
relativa  nos  dou»  ultimes  concessionários,  estabelecendo  mais 
que  o  privilegio  m  poderia  ser  traasmíttido  á  empresa  Ramal 
Férreo  do  Rio  Pavdft  e  que  o  privíleg^io  seria  por  GO  annos.  A 
2  de  março  de  1884  ficou  constituida  easa  emprosa,  que  come- 
çou n  funccionar  a  7  de  abril  do  mesmo  anno,  iniciaudo-ío 
logo  os  trabalhos  If-chnicoa*  Em  1886  foi  inaugurado  o  trafego 
até  São  José  do  Liio  Pardo,  e  om  1889  até  Canoas,  O  ramal 
pertence,  desde  1889,  á  Companhia  Btosííana  ;  e  tem  as  seguin- 
tea  estacões  :  —  Itobi,  Engenheiro  K^he,  Villa  Cõstína,  Èio  Joãc 
do  Rio  Pardo,  Engenheiro  Gomide,  Commendador  Guimarães, 
Mocuca  e  Canoas, 


I 


—  187  — 

Ra^çcho  Novo  — Lo^íir,  a  meia  légua,  da  cidade,  no  rumo 
X^O.f  orie,  em  1865,  lia  via  um\  cmíi  levantada  ha  pouco  e 
por  is'.^  chamada  Rancho  Noco  (Taunatt). 

RiKCHo  Velho  ^-Fazenda  tieste  munlcipiOf  tm  1833. 

RErunucA— Pratja  do  Novo  Bairro. 

ResacA— Antigo  qiiarteirílo  policial,  boje  extincto,  — Ríteí- 
ifto,  na  fazenda  Apartador,  tributário  do  Cccaes,— Lfígar  pró- 
ximo ao  rio  Jag^uari. 

Rgsaca  IO  Lambari— Vide  Spsroaria  do  LoTirt*n<;o    Martins. 

Refiro— Correio,  na  fazenda  Paciência. — ^O  moimo  que  [lôsto, 
c&^a    situada    nos    fuodos  dw  uma  fazenda  ou  estaucia  (Kt  han). 

Ribeirão  de  São  João— Fazenda  aí^ricola. 

BtRinRÃo  D»  S,  JoAo  «  Uio  Doce- Fazenda  de  café,  per- 
teocente  a  huh  José  de  Sou^a  e  outros, 

RtR^;RÃo  l*RETn^ Povoação,  fundada  era  território  que  per- 
tencia ão  raun.  do  Casa  Branca,  om  1656,  por  Jobó  Bt  r^''e8  da 
0(tA,  Manuel  Fernandes  do  Nascimento,  Joio  Alves  Pereira  e 
Bernardo  Alvos  Pereira.  Em  1870  foi  elevada  a  fioguexia  e  era 
18T1  a  villa. 

Hio  CLARO^^^Faz..  nos  limites  do  dístricto  do  Tambahii,  com 
ó  de  Santa  Rita  do  Passaquatro. 

EíO  1>AS  Pedras  — Antigo  (juarteiráo  policial,  hoje  exttncto. 

Hio  DocB — Um  dos  iiiiarteirôes  policiaes  em  que  ae  divide 
o  município. — Fazenda  de  plantação  de  café,  pertencente  a  José 
Forlino,  nos  limstea  do  municipio  com  o  do  Sflo  Joa-'^  do  Rio 
Fardo. — Fníenda  pertencente  a  José  António  tíiaiões  Dutra  e 
oTitros,^Vide  Doce. 

Rio  Oras  de  —Nasce  na  eerra  da  Jiiruócn,  comarca  de  São 
João  del-Rey,  marca  oa  limites  aeptentrionaes  da  província  de 
S&õ  Paulo  com  os  de  Minas  Oerae^  e  Goiaa.  Entra  na  província 
de  SAo  Paulo  aos  20*25'  dei  Lit  sul,  cone  a  rumo  mais  geral  de 
leste  pftra  oéate  atè  a  fox  do  rio  Inferno,  seu  a  ttíoeu  te  meridional; 
daqui  cmva-se  para  o  sul  e  retoma  a  precedente  direeçFio  ao 
recolhe?  o  Bapucahi-niirira;  daqui  a  sua  direcçilo  approiimíida- 
mente  rectilínea  é  para  noroeste  ate  a  cachoeira  de  Saoío  E?- 
tcTam,  que  desemboca  na  sua  marf^tím  esquerda.  O  Rio  Grande 
desagua  do  Paraná  e  pereorre  na  província  de  Sim  Pniilo  os 
mnnieipio»  das  cidades  de  Franca.  Ca^a  Bninca  e  Mo4Í-mirim, 
o  das  TÍllaa  de  Batataes,  S&o  Joíio  da  Boa  Vista,  Penha  e  Serra 
Negra  (AzBJTEDO  Marquesj.— O  Rio  Grande  nfto  percorre  o  mu- 
nicipio de  Casa  Branca,  como  aflirma  Azevado  Maiíques,  ba- 
leado  «m  Machado  db  Oliveira. 

Rio  Pardo — Este  rio  nasce  em  Minas  Geraes,  e  vai  lançar- 
«e  no  rí'i  Grande  pela  margem  esquerda,  depois  de  curso  tor- 
tuoso, encachoeinido  e  sempre  com  velocidade  nofavel.  Sua  di- 
recção é  para  O,,  entre  margens  pouco  altiis,  com  maia  cerrada 
que  se  estende  a  perto  de  meia  mlha  dellns  e  em  que  abunda 
ft  caça  a  mais  variada.     Naa    im mediações    da  ponte  (na  estrada 


—  188  - 

geral  que  víii  a  Cajurú),  um  volnine  d*agua  notável  atíra-se  do 
en(*ootro  a  ninfl  grairde  rncha  existente  no  centro  da  corrente, 
6  repartp-se  ero  doia  ramos  que  se  precipitara  com  í  o  ri  a  por  sobre 
os  rochedf>B  do  fando,  formando,  apt^sar  da  pouca  altura^  impo- 
nente» saltos.  Existe  «obre  o  rio  (em  1865)  nina  ponte  em  pea> 
bíido  estadn,  dividida  em  duis  lanço»  pelo  rochedo  de  que  falamos, 
tendo  o  primeiro  lanço  65  palmos  de  cnmprimento  e  21  de  lar* 
gura  e  o  seí^undn  120  palmos  de  comprimento  sebre  30  de 
larg^nra  (TALTi{AT).^Affluente  da  margem  direita  do  Mogi-gaa6sú 
líasce  na  face  oriental  da  serra  chamada  do  Rio  Grande,  formado 
por  Gonflaentes  que  regam  o  mtinicípio  de  Gaconde.  Corre  na 
direcção  maiB  geral  de  leste  para  oè^te,  até  o  mnnicipio  de  S&o 
BimàOf  curvaudo-se  depois  para  noroeste  até  o  districto  do  Ri- 
beirão Freto,  onde  retoma  a  sua  primiliva  direcção  (Ã.  Marqueis). 
Este  rio  marca  as  divisas  do  município  de  Casa  Branca  com  os 
de  Cfijurú  e  Mocóca- — Ántígo  qnart^irftn  policial,  ora  extjncto. 
Río  Veri>h— Estação  da  íiulia  férrea  fliogianaj  no  kilom. 
14  do  ramal  do  Rio  Fardo»  entre  Catia  Branca  e  Engenheiro 
Bõlie  (T).— Povtíaçào  antigamente  denominada  Rio  Doce,  fundada 
em  1889  por  .loeé  Portinoi  Carlos  Au^mto  da  Silva,  Miguel 
Clone.  Januário  Cione  6  outros*  Tem  cêica  de  BOO  casas,  escólai 
primariaB,  agencia  de  correio,  uma  capela  sob  a  invocação  de 
Kossa  Scnlii  ra  das  Dores  e  estaçào  da  estiada  Mogiana.  P^oi 
creadfl  pÃrocbia  era  1898,  sendo  nomeado  vigário,  por  portaria 
de  28  de  mft/ço,  o  padr»  Samuel  Man fredi.  Em  1894  loí  dirigida 
RO  Congresso  do  Estado  uma  repi'eBeutaçao  dos  moradores  de 
povoado,  pedindo  a  transferencia  de  lie  para  o  município  de  Casa 
Branca  e  sendo  desannexado  do  de  Sào  José  do  Hio  Fardo,  a  que 
pertence*  Essa  representação,  que  nào  foi  deferida,  é  do  teor 
seguinte;  cIJlmOE.  e  exmos.  srs.  presidente  e  membros  da  Camâra 
dos  Deputados  do  Estado  de  Sào  Paulo. — Nós  abaixo  aseignados, 
proprietários,  residentes  na  povoação  do  Rio  Doce,  comHrca  de 
Bào  Joeé  do  Kio  Pardo,  vimos  representar  a  v.  eics*  pedindo  a 
passagem  desta  localidade  para  a  comarca  de  Ci<sa  Branca,  com 
a  denomiuuçào  de  Vil  la  For  tino.  As  rabões  que  nos  levam  a 
pedir  tal  passagem  são  as  seguintes  :  Esta  povoíiçào,  já  mtúta 
adiantada  pelo  numero  sempre  crescente  de  suas  construcções  o 
pelo  fieu  commercio,  fica  encravada  na  extrema  da  comarca  de 
Dão  Jos^  do  Rio  Pardo,  distando  2*2  kilometros  da  cidade  do 
mesmo  nome,  sóde  da  comarca,  e  apenas  14  kilometros  da  ci- 
dade do  Ca^a  Branca.  Accresce  ainda  qtte,  pela  marcha  dos  trens 
da  Mogiana,  qne  vão  de  Caaa  Branca  a  São  José  do  Rio  Fardo, 
os  habitanies  desta  povoação  podem  ir  a  Casa  Branca,  onde  che-» 
gam,  por  dois  trens,  à$  8  1/2  da  manhã  e  l  1/2  da  tarde,  voltan- 
do ás  11,45  da  manhã  e  ás  4  1/2  da  tarde;  ao  passo  que  para 
Sào  José  do  Rio  Fardo  ha  só  dois    trens  de  ida^  com  impossibi- 


(])    tl«  J  de  DOTembro  de  IB98  im  dluit«  pmuoa  a  te  deDctmftiftr  Ilobi. 


Uàãde  de  Tcvltar  no  meEmo  dia:  da  sorle  que  toda  a  fncilidjide  de 
eomtnanieaçAo  é  eotn  Gasa  Brancai  com  a  qual  eaia  povoaç&o 
tem  toda»  as  luas  rela^õei.  Outro  motivo  não  menos  jwuderoao, 
que  juBtjfíca  o  nosAo  pedido,  é  o  se^^uinte :  O  cidadão  Joaé  For- 
tino,  prfipiietario  da  faxf^nHa  na  qual  efitá  edificada  eata  j^ovoa- 
çio,  ací^ba  de  doar  á  Camará  Municipal  de  Cata  Branca  oito  ai- 
nneírp»  de  tf^rras,  nesla  mesma  po^oa<^o  (1);  de  fiort^  que  ã 
Uamara  Municipal  d©  Caaa  Branca  jA  è  propriptaTia  aqtií  e  vai 
diítribnir  datai  para  novas  coufitrucçôes.  F'  dimii»,  [hjis,  &  [las- 
sa«reiyi  para  Casa  Branca  da  fiuenda  pru  indti.'in>t  denominada 
Boa  Víflta  além  do  Kin  Verde,  pertf^nceTite  a  José  Kortino  e 
OQtro9,  na  qnnl  fasenda  se  acha  a  povoaçào  do  s^io  Drtce  referi* 
da.  que  v-  excs-i  em  attençàíi  nos  atirviçoi*  prPBtaioa  a  t^^ta  loca- 
lidade pelo  meiiítmo  Jo«é  Fortino,  be  dignem  detioniiiiaUa  Villa 
Fúrtino^  como  é  a  tioasa  vontade  eipresaa  e  espontânea.  Espe- 
ramos^ pois,  que  V  exca.,  como  fieis  interpretei  ãi*.  noasou  direitos 
e  dofi  intereflfte«  geraeii  do  Estado,  attendetàn  no  mi  9^0  j  tia  to 
reclamo.     Povoação  do  Rio  Doce,   18  de  junho  de  1B94* 

José  Fortino  — Acqfmviva  Co»tabiU  ^J  »ê  (JiUio, — Car- 
iei to  Ângào, — Cojdmiro  Stvieri  -^ BnltisUlla  Giot^anni  ^ A  rogo 
de  Alessi  Joào,  VicenU  Cione  — Á  ro^ro  de  Francisco  Vanno, 
ãiigrttl  VesciUo  — Miguei  Ve^cilh^  ^^Mar^on  Giusrppfi^  —  Ravo^- 
neili  Anseio  —Jmé  Saniino .  —  Brotco  Paolo  —Âiiffmio  Hava^ 
nelli^  —  A  ro^o  de  Lní»  CestarAno,  A.  CúntaÒile  -  Sachii  António, 
^Canàíãjj  Ca»iêjfnx,  —  Jiãirt  J^Òra.—A  toso  de  (  ht^mbino  Lui- 
gi,  r.  Cinne,— Piztf)  Angelo  —  Marmn  G.  Batfiitta. — Marcon 
FitrlTo, — FiíAotini  Vírtjiiio  — A  ro^o  de  Betaram nêco  G.  Battis- 
ta,  Joxà  Marron  — ^Â  ro^io  de  António  Martin^  Daniel,  VícenU 
Vione  —FU/rentinti  SanítnK — Sariorel  OiiJfVanni, — Carla  Tíèíí— 
edf  —  Qu ' £a no  di  Santíx-  -An tnnío  Ma nuptíla  —  Juào  Mg n otl 
FímA .  — A nnibal  de  Cfuttro .—Atfo fixo  d^Ahmandro  -^ Mffgogjio 
Bkmammi.  —  Sancini  Serftfino  — Hraz  Silvestre^  — Pedro  Fortino^ 
•^Salvador  Fortino  — Rodolfo  Oadda. — António  í^ncfdt, — Pe- 
êro  Pmtftdi  — A  rogo  d**  António  Patit^arello,  Â.  Co»tahiie,—-P€~ 
ÚTO  CaMiejon, — A  rogo  de  Catharina  Santa  Lncia,  V.  Oione^ 
— Joõo  HúptiJtta  Bergarnojico ,—Iffnacio  Pereira  Dutra, — Pedro 
Caistiího,  -  Gadúi  Gi*'Vanni. —Rancan  Raffnde .  ^ Gíitsepjte  Za~ 
iidia  — Zaneiia  António,— António  Sif verto  da  Srlva  ifujíd,— 
António  Letierio  Pagano ,  ^ FrannA&i  F<dconi  tt  lrrnão$  , 

Em  189S,  nova  representaçi  >  foi  dirigida  ao  Confrre»BO, 
■dlieítando  a  creaçào  do  di^tricto  de  pax,  noa  termo»  fieg^uin-' 
tu  (2r. 

€  DÍg'noti  depurados  do  Congreaso  do  Estado  de  9.  Paulo, 
—  As  povoaçôí^s  qoe  caminham  para  o  pro^freaso,  devido  ao  e«^ 
forço  dos  seus  habitantei  e  á  bva  orientaçào  de  ti>doE  os    conci- 


11 1    ftitu  terr«f  tcmm  deimproj^ríftdM  pelA  CAairm  d»  Ato  Joié  de  Bio  P^do. 
1?)     O  Ponir,  %.   í*,  át  ti  da  oit^io  4«  itsité. 


^     â 


—  130  — 

dadfto&,  compre  mereecrflm  str  attcndidrts  n;i3  sii^s  represfníuçScs 
perante  oa  rodcros  Superiores,  íis  qiiaea  se  ba^eam  oai  necessi- 
dados  de  moTiiento,  ou  em  prevenções  para  ca^ios  futuros* 

Nof,  illusitjes  d(í(mlíiíÍO:«,  rí-aiáeotes  nesta  prospei-íi  o  já 
prande  poToaçAo  do  líío  Ver  da,  comarca  áo  S,  Ji^êé  do  liio 
Pardo,  constituinjo-nos  cm  commi^âao  para  vos  vir  pedir  que 
voa  dr^aeifi  autorisifir  para  a  «osaa  teim  a  citíujILo  de  um  dis- 
tricto  de  paz,  tnuto  maia  que  esta  povoação  acaba  de  ser  ele- 
vada a  frep^uezia,  o  que  aob  emodo  provm  de&envolvidameuto  a 
vida  qiio  prcinetto  Bcr  eE-tabil. 

à  concGSf^áo  que  voe  pedimos,  e  que  e^ptrnmoa  obter,  será 
por  demais  útil,  quanto  se  torna  precisa  o  indispftaaavel^  atten- 
dcndo  ús  iuimFroeÍ6SÍmna  vantflfrt^ns  que  hfio  do  advir  para  o 
povo  do  Rio  Verde  o  para  o  que  habita  iia=í  circutnvis&inbançíiS, 
que  onjontrará  cm  sua  localidade  aqiúllo  do  que  carece  em 
matéria  de  púbica  ndministra<^ão  e  justiça* 

A  creaç&o  de  um  districto  de  paz  ú  uma  medida  necesearia, 
que  nos  diãpen^a  de  camioLar  três  grau  dos  Ier;ua3  em  procura 
de  Eolucões  quo  podemos  achar  em  ca»a,  o  ú  um  melhoramento 
que  muito  carece  eãta  povoação  para  o  seu  bom  desenvolvi- 
monto. 

E  por  iâso,  confiadog  no  alto  juÍ7,o  e  bondoso  crilerio  do3 
dignos  representantes  do  nosso  Estadc),  que  hHo  de  ver  netta 
ling^elft  petição  a  defesa  de  uma  causa  josta, 

E^peranioâ  dos  i  Ilustres  cidadikes  deputados  ser  ai  tendidos 
110  noã^o  i:iedído. 

Rio  Verde,  20  de  maio  de  IS98.— A  commispao,  Conselbõiro 
J  o^é  D  liar  ie  Rod  rifiuen  .-^-Gvs  ia  vo  M  ibei  ro  dê  A  v  /  í  d ,  d  ele  ^ado 
do  dirpctorio  politico. — Januário  Clone,  aj^ifeute  municipal* — 
L&ipofdo  doa  San  tos  ^  subdelegado  de  polícia, — Padre  Sanuide 
Manfredif  vigário  tia  paroebía  do  Kio  Verde* — Caetano  Oroíie, 
agente  do  correio. — Salunúnú  de  Aguiar  Mnsai  negociante  — - 
João  Sartord,  negociante. —  IVceíííe  Cíoíie,  guarda- livros  ^Lum 
A  ti  g  mio  Machado.  — Dâmaso  Jiiheiro  Nogueira.— -José  C/oíie, 
profeH?or.^j'lHÍíjn;o  Cardoso^  redactor  d'0  Ihrrir*. 

A  lei  estadual  n,  5GB,  de  27  de  a^oato  de  18t*3,  elevou  o 
povoado  do  Rio  Verde  à  categoria  de  distrícto  de  paz,  cem  a 
denomiaaçao  de  Ttohl  e  as  mesmas  divíaaa  do  di&tricto  policial,  e 
o  desmembrou  do  raunicipio  de  tS\  José  do  Rio  Pardo^  anne- 
xando-o  ao  de  Caita  Branca  [JJ.  Es^as  divisas,  sogrundo  o  acto 
do  secretario  da  Justiça  de  23  de  dezembro  de  19114,  fão  ai 
seguintes:     «Começando  na  barra  do  rio  Doce  cem  o  lío  Vtrã€^ 


{\)   Eli  o  tc-úr  do8«A  ]«f : 

«ArtJp:!  1  "  Fica  flhvftdo  á  categr.H*-v  d@  <li5trkto  de  país.  O  dlstrktó  p&UcIjiI  do 
Rio  Vctdt,  *itíj  no  laiiiilL-Ipla  At  S,  Jot-'  (to  ítm  J'íirdó,  coDfervandu-fe  M  acluAea  dl- 
vltjii,  o  qaat  p'\**h    A  dcnonitnar-Fa  liabi. 

Artigo  2_«  O  tcrHioiiú  da  ro%a  dlttrlcta  fien  deacnânibrHda^  de  ò\  Jtftt  da  Rio 
riaráú  e  nuncx&da  aa  ruqofcipfO'  de  CAta  Beanr^. 

ArtlKO  i.«     R«?o^an]  ee  if  di»pã«{çOe4  «m  Contrario*. 


^  191  — 

so^iadó  pelo  rio  Dfjce  íitiroa  até  sn.i  cabeceira,  comprehcuden- 
do  IS  terras  de  Joiíqultii  Covn<^Ho.  Brccliado,  dalii,  procuríindo 
a  naíceote  íÍo  correfí'»  Cent^'hiho^  que  abaixo  se  denominii  Ma~ 
t^tu,  mi  terras  do  doutor  Co<-ia  Machado,  seguindo  |e}o  ribeiíaa 
én  Maccpo  abaixo,  até  o  rio  Verde  o  por  esl&  acima  Até  a  barra 
cotn  I?  rin  i>c!cc,  oi»de  tivcr*m  comoço  e  lôra  fim  aa  divisas» . — 
Vide  iíoííi.^Os  primeiros  ju  Kfs  de  paz  do  districfcn,  elcitoB  a 
30  de  outubro  de  1898,  furam  o  major  Datuaza  Ribeiro  No- 
pieíra,  Egydio  Brochado  do  Andrade  e  B&turnino  de  Aguiar 
Musa, 

Gomo  am  lubsidlo  para  a  historia  desta  localldadef  transcre- 
veremos os  E eg ir nl CS  artigos   publicados  no  Oeste  de  São  Paulo: 

No  dta  13  do  corrente  celebrou-so  uma  festa  na  Copt-ll» 
do  Rio  lerfií,  sendo  que.  no  moio  do  eiitbii^iasTiio  da  mesma, 
arwforftwi  um  letreiro  no  largo  da  referida  Capella  denomi- 
uando-a  Vília  do  Rio  Doce,  Ora  è  sabido  quo  o  ehfto  todo  da 
Capeila  e  círcamvizinli' s  sâo  de  minha  exclusiva  propriedade, 
e  tódoí  sabem  que  o  proprietário  [ódo  dar  nome  á  sua  pro- 
l^ridade^  Protesto  |)0Íe  contra  tal  usurpação  de  meus  direitos 
e  dcclurn    que    a    referida    povoaçAn    se    chama     Vill<i  For  tino  ^ 

Casa  Brafiea^  IC  de  maio   de  1893.^ — José  Foriino, 

Ci}[iclln  do  lUo  Verde 

O  abaixo  nssignado,  proprietário  das  terras  onde  e&tá  a 
Ctpella  do  Eio  Verde^  vem  declare r  aos  interessados  que  tomaram 
ali  dniaa  para  constracçfto,  o    seguinte; 

Tmtaiido  ae  do  bett^  de  raiz,  a  alienação  destes  não  pôde 
^ír  ieitA  sem  outorga  da  mulher  do  vendedor. 

Neâta  sentido  o  abaixo  a^^i|^tiado  e^^tá  prompto  a  dar  eãcrip- 
tttfaj  com  stia  mullier,  dai  referida*  dntas  áqtiellea  que  já  edi- 
^^raiQ  ca^as  on  que  eoine^aram  a  edificar,  ficando  sem  eâeito 
*  concesifto  de  datas  úquellí^B  que  dentro  de  um  raea,  a  contar 
d*  data  deste^  níio  derem  começo  á  re^pet^tiva  edificação ,  Para 
*^  camprir  o  que  aqui  fica  avisado,  podem  oa  intercEsados 
procurar  o  abaixo  assignado  a  qualquer  hora. 

Casa  Branca,  14  de  maio  do  i80S,--José  Fortino, 

Ao  imblico 

Oi  moradores  da  villft  do  fiio  Verde,  que  nâo  querem  ber 
colonos  do  sr»  José  Fortino,  vendo  no  Oenie  de  Sõu  Paulo  de 
17  do  corrente,  um  protesto  daquelio  senhor,  vêm  coutrapro* 
testat-o  agora:  fnzemos  scíente  ao  publico  que  o  dito  senhor 
ulo  tem  poderio  nlgam  neãte  logar,  ao  contrario   tem  procurado 


—  192  - 

«  seu  atrazo,  pob  que  tem  querido  chamar  a  si  a  %u^  proprie- 
dade, sí^ra  que  para  tanto  teu  ha  direita,  porqu-^  na«j  poasue 
tiinht  algnm,  Em  primeiro  lagar  a  capella  foi  construída  pelo 
sr.  major  ('arlr^fl  Au^ato,  que  fez  todas  as  despesa»,  ou  quaai 
todan.  Mas  meHmo  que  o  sr  Jnfié  Portíno  tenha  e^criptura  de 
parto  deBsen  terrenoa  que  ái^  eereui  sf^u«,  ntlo  é  lavAo  bastante 
para  íntitular-ae  proprietário  desse  lograr  que  fa^  parte  de  fazfiida 
pro  indiviso.  Ha  cerca  d©  4  anno!^  que  aqu<*lle  senhor  está  des- 
frnctaudo  o»  rendimentos  det-tf*  lofrar,  vendendo  datas,  tirando 
madeiras*,  incorrendo  mesmo  em  um  crime  porque  annuncia 
yendaj;  de  datn^,  para  o  que  páí^sa  tjilõest  sem  possuir  uenhamaB 
terras  neste  logar, 

E  para  o  sr.  Fortiun  ver  qTie  nio  estamos  encanados,  em^ 
prazamoB  o  mesmo  ienbor  a  apreseutar  escriptura  de  compra 
anterior  ás  veadas  que  tem  feiro  das  datas  Avisamol-o  maia 
que  nfto  acceitamoa  a  escriptnra  quo  oht«ve  ha  poucos  dias, 
por  nfto  ser  legal,  vist"  o  vendedor  nfto  ter  aiísignado  na  escri- 
ptnra,  nem  dado  proturaçfto,  bavendn  sómeDtf^  procuraçfto  da 
mulher  do  vendedor  e  duvidamos  que  o  sr.  Hyppolito  realize 
esta  venda  porque  todos  n6&  saberaas  que  quando  se  contracta 
um  negocio  que  depende  de  e&criptura  pablíra,  a  venda  não  é 
valida  Fe  a  esmptura  nfto  é  b5a,  al€m  de  a  propriedade  do  ar. 
Hyppolito  estar  hoje  com  um  f^rande  valor,  porque  somente  & 
olaria  dá  mais  de  SCX^^CXX)  por  anno  Hvrea^  e  ainda  mars  agora, 
que  vamos  ter  estaçfto  de  estrada  de  ferro. 

ApproveitamoR  a  occa^iJLo  para  declararmos  ao  publico,  qne 
no  dia  30  de  abril  a  ara.  d.  F  M^ria  Sciacca  com  seus  Bibes 
e  g^enros,  herdeiros  de  José  Antoni">  do  Almeida  Carreiro,  pas- 
saram  encriptura  de  d^ui  alqueires  de  terra»  annexna  á  capella 
em  ratificação  do  Patrimnnio  que  aquelle  fallecido  tinha  dado 
e  atém  dt^so  tem  «e  mais  escripiuras  e  dadivas  feitas,  por  outros 
socins  da  faa^^ndfl,  que  brevemente  darUo  a  escriptur&.  Por  isso 
quf^m  quizier  vir  tninar  datas  nf  ste  h^g^ar  veubu  entender-se  com 
O  procurador  da  Isrreja,  que  br*»vementB  será  nomeado,  visto  o 
Br.  Portino  nào  ter  Tnf*is  dominio  neí^te  legar,  que  nunca  deveria 
ter  tido.  por  nao  conhecermos  no  mesmo  competência  al^umat 
porque  o  seu  intuito  era  tirar  grandes  resultados,  illudindo  os 
moradores  e  os  demíii*  sócios  da  fwzenda,  afim  de  faaer  posse 
allí ;  Profeitamos,   portanto,  contra  qualquer  acto  daquelle  senhor. 

Declaramos  mais  que  havendo  no  dia  13  deste  um  festejo 
«m  louvor  a  São  Benedicto,  o  sn  PortiuOj  uns  dias  antes 
da«  festa,  viajoa  constantemente  procurando  dissuadir  o  povo  de 
comparecer  á  fett*»,  dizendo  que  ia  em  bar  par  a  feata^  que  si  nào 
pudesse,  fana  revoluçfto  ;  querendo,  por  ignorância,  que  es>a  locali- 
dade fosie  chamada  Villa  hhrtiim  e  uào  Villa  dn  Rio  Verde 
e  com  tal  arrog'aneia  que  cber^ou  a  d\7,*'v  que  os  que  moravam 
aqui  eram  imjub  colonos,  ao  que  respondemoa  que  tivemos  edu- 
carão e  «omos  independentes  de  sermos   colonos  ou  cavoucadores 


~  193  — 


if  tfiTSft,  nlo  duTÍd&Ddo    nós,    que  a    ar.  Fortino  fotee  colf^tio  % 

cayí-aeador  de  terra.  Villa  do  Rio  Verde,  19  de  maio  de  1893* 
^Mtmoel  Seinlhãíj,  —  José  Carlos  de  OHveira.  —  Igjwcio  R, 
DamawQ .  —  Jan  u  ar  to  Cio  nè,  —  Ma  riím  C.  J/o  rcíVa .  — Joná  Sa  ?i  tino* 
^Jfjèo  Fortunata  da  Palma  — Firmino  Ah  es  doã  òmitoji.^João 
J()»é  A nt uniu  — C^ar  Bra^lio  Barrog,*—  AntoiuQ  Fa>cali. — ■ 
Santint  Serafino  —  EfívaneíH  António.— TTifmoB  Alongo  —  Bat- 
(l",íe^a  Giavanni. — Rauelio  Giaeomo  —Caricio  Angelo. — AnÍQ~ 
m  Rixsi  — Ftorentino  S^ntini,—  Mmiotl  Souto  — Infiocencio 
Jooqtiim  Gtmi€**^^ António  Daniel  Martins, — Z.  Nogueira  —Ft* 
im  João  Noffueira  Cobra' — Adro  Firmiuiano  da  Silvo, — Norberto 
Pini    de  Miranda, 

Rocha  — LftgôA  de  peqat^naE  diiDensões   neatts  districto. 

RrmBio^Capào,  na  faz-uda  Cocaea  — Log-ar  uo  campo  dâ 
VIDA  e^tatieia,  onde  fazem  reunir  o  ^nán  em  diati  deterinir»ados, 
de  ordinariD  uma  vez  por  semana  (Ct  kuja).  Etn  Ebpanba  dão  a 
iiKQif  de  rodeio  ao  logar,t  nas  feiras  v\  me i  ca  dos,  onde  se  põe  o 
gada  crrcisao  reunido  para  venda  (Valdez).  Nos  campoa  de  Cima- 
da-Hirra,    serve    ainda    maia    o  rodeio    para    dar    sal  aos  gadoft 

(CKãtMBllAh 

Rosário— Fazenda  a«rricola,  de  Joaé  Alves  da  Silva  Muia, 
Foi  dfmiembrada  da  de  Sâo  Theodjro,  que  pertence  a  este  mu- 
iiei|}in  por  força  de  ama  lei  provmcial,  desligando- a  dft  fro- 
fin*stiii  de  B&o  José  do  Rio  Pardo,— Córrego,  na  faz.  Várzea 
GrMide  — Pra^a  ne-ta  cidade. 

Salgado— Correg-o,  alliueTite  do  Taoihahú.  Tem  sua  na»- 
centê  PA  serra  do  Janim  e  banha  a  fa?^nda  Palraeiraa  da  Terra 
"VenjílJia. 

Saltador— Cor» ego  ni^ste  mnn,,  na  faz.  Olboe  d'Ág^ua. 

Sast'ásha— RibeirAo,  «ffluei^t©  do  Juguari.  E'  contideravôl 
l»la  aeu  volume  de  agua,  mab  imprestável  como  motor,  por  ser 
owticaril,  em  grande  parte,  em  terrenha  baixos,  sem  declívi- 
""de  *en«ivel  e  margeado  de  largos  [pântanos  em  nível  que  lhe 
^"  sujHeriores*  Na  estrada  para  Santa  Crua  das  Palmeiras  tem 
^te  nÍM^iràc  uma  cacbfieíra,  que  é  uma  da*  curiosidades  natu- 
tm  deste  municipio,  £'  também  coiir.ecido  por  Bani^Ãnnu  da 
Swni,  por  ter  aua  nascente  na  serra  do  Campo  alegre, 

Sant*Anna  da  Serka— Fazenda  agrícola.- — Quarteirão  poli- 
^^\  do  districto  de  Casa  Branca. — Vide  Sant^Anna, 

Sant'Aníía  da  Vargem  Grandb— Vide  Bi  a  Vista  da  Var- 
IÇfla  Grande. 

8akta  Barbara- Lo gfl Tf  próximo  á  fazenda  dos  Ilbéoif 
ApOBiado  em  1813,  mais  ou  menos,  por  Miguel  Paes  Domingues. 
^Córrego,  ^ffl^ente  do  Banreirinbo. 

Santa  Caiu -ida — Fazenda,  no  districto  de  Itobí. 

Sakta  C a ROLmA=: Fazenda  agrícola,  no  diatriclo  de  Tambabu, 

Santa  CHUiSTiNA^Fazenda  agrícola,  pertencente  a  d.  An-- 
t(»nia  dos  Pastos  Silos  e  aenia  tilbos,  no  bairro  do  Laranjal.  ^ 


—  194  — 

Saxta  Cr.\iiA— Fazenda  agrícola,    sUuaáa  neste    município^ 

Santa  Cruz— Bairro  aiiburbíiíig,— FasotidA  agrícola,  do  ca- 
pitão Joaé  Caetauo  de  Lima» — Logar,  prostmo  ao  Taqiiarâfiãú, 
onde  ae  ergueu  uma  capela  &ob  a  invocação  de  sSanta  Cruz. — 
Córrego,  na  faz.     Várzea  Grande. 

Santa  Cruz  das  PALMEfRAS— Villa  ©  mnaicipío  na  comarca 
do  mesmo  nomo.  Á  povoa^flo  foi  creada  freguesia  por  lei  n.  146, 
de  10  agosto  de  1881;  vilta  pela  lei  n,  48,  de  20  dô  toarço  do 
188 D,  pertencente  á  comarca  de  Ca§a  Branca,  de  cujo  território 
foi  de&anuexada,  com  rs  divifias  estabelecidas  por  acto  de  29  de 
novembro  de  1B83,  para  sor  incorporada  ao  da  comarca  de  Pi- 
raçuuunga,  pela  lei  ii.  91,  de  12  de  setembro  de  1893*  Foi 
fundada  em  1874  por  Mauuel  Valério  do  SacramentOi  seus  ir- 
mãos e  outros,  que  colocaram  uma  tru5£  de  madeira  no  logar 
em  que  ac^tualmente  eo  acba  o  povoado,  e  levantaram  em  1S76 
uma  modesta  capela.  Ã  comarca  foi  creada  em  virtude  da  lei 
n.  306,  de  26  de  julho  de  1894.  A  povoa^ifto  era  também  co- 
nhecida pr*T  Santa  Cruz  dos  Valerios.  — O  seguiote  documento 
foi  extrabido  do  archivo  da  Caman  Municipal  daquella    cidade: 

Auto  i>e  instalação    da    Kovy   villa   de  Sakta    Cruz  das 

PALMOmâS    E    DE   JUIIAMEJÍTO     DOS      VEUEADCRES    DA    CaMARA    MU- 
NICIPAL   DA    MESMA    VILLA,    f^OMO    AB    IXD    SI?    DECLARA. 

Anuo  do  nascimento  drt  Nosso  Senhor  Jesus  Chrísto  de  1886, 
aos  três  dias  do  mêi  de  laaío  do  dito  anno,  nesta  vilía  de  Santa 
Cruz  da»  Palmeiras,  da  província  de  São  Paulo,  em  casa  da  re- 
sidência do  cidadão  Francisco  de  Araújo  G  ou  veiai  onde  veia  o 
sr.  dr.  Ricardo  Soares  Baptista^  presidente  da  Camará  Municipal 
da  cidade  dts  Casa  Brauca,  de  cujo  município  fazia  parte  o  territó- 
rio da  nova  villa,  commigo  Francisca  das  Chagas  Alvarenga, 
secretario  da  mesma  Camarn,  para  o  fím  de  instalar  esta  nova 
villa  de  Santa  Cruz  das  Palmoiras  e  dnr  juramento  aoa  verea- 
dores eleitos  e  convocados  para  esse  fím,  a  qual  villa  foí  creada 
pelo  decreto  do  teor  seguinte:  N.  48,  O  dr.  José  Luis  de  Al- 
meida Couto,  commendador  da  ordem  do  Gregório  Magno  e 
presidente  da  província  de  Silo  Paulo.  Faço  Eaber  a  todos  os 
seus  habitautes  que  a  Assembleia  Legislativa  Provinci  il  decre-» 
tou  e  eu  s:«nccio[io  a  lei  seguinte:  Ait.  L"  Fica  elevada  á  ca-^ 
tegoria  de  villa  a  freguczia  de  Santa  Cruz  das  Palmeiras,  do 
termo  de  Casa  Branca.  Art.  2*  Revogam-EO  as  dÍsposíç5eg  em 
contrario.  Mando,  portanto,  a  todas  as  autoridades  a  quem  o 
conUecimento  e  execução  da  referida  pertenccri  que  a  cumpram 
o  a  façam  cumprir  tAo  inteiramente  como  nella  se  contém.  O 
secretario  da  província  a  faça  imprimir,  publicar  e  correr.  DadA 
no  palácio  do  governo  da  proviucia  de  Sâo  Paulo,  aos  20  diai 
do  mes  de  março  de  1885, — Dr,  José  Luis  í?e  Almeida  Couta, 
—  Carta  de  lei  pela  qual  V,  Esc.  manda  executar  o  decreto  da 
Âssersbléia  Provincial,  que  bouvo  por  bem  sanccionar,  elevando 
á  categoria  de  villa  a  freguesia  de   Santa  Cruz  daã  Palmeiras, 


—  195  — 

"^ía  termo  ^e  Casa-Branca,  como  acima  se  áeclasn. — Para  V. 
Exc.  ví*r.  Áíitonio  Pedro  d©  Olivciríi  a  frsí. — Puhlíi-ada  na  &e- 
er^taria  do  ír*^vonio  da  província,  aoâ  20  dÍMQ  do  mejs  de  março 
de  1885. — D.miel  Auífmtio  Mic/iíifí^/.— Sendo  as  aiias  divisas 
coostanteii  do  acto  do  teôr  Begniutd  :^2.*  bpcçuo. — ^O  prPEÍdente 
da  proviDcia  de  Sào  Patifo,  sob  |iroposta  da  Camará  Miinicip&l 
do  Casa-Brancãi  em  oííieío  de  18  de  julbo  ultimo  r  á  víata 
áa  informação  dn  mesma  Cnmara,  de  23  de  agnsto  e  22  do  cor- 
rente, o  da  de  PiraÂSunuuga^  de  1/  dcate  me^mo  mez,  declara 
3UG  a«  divisae  da  nora  fregíiezia  de  Santa  Ctm.  dan  Palmdms^ 
o  L*  dc8  referidoft  mumeipíoa,  creflda  peía  lei  o.  146,  de  1.* 
de  agrf^íio  do  1881,  são  aa  seguintes;  Friucijiiam  na  estrada  que 
vem  da  fre^uezta  de  Santa  do  Patim  Quatro  [>ara  Cam- Branca ^ 
em  frente  á  ca&a  de  JoAo  Pinto  e  no  alto  da  íerra;  e  do  alto 
deÃta  ãté  o  espigão  que  servo  de  divisá  entre  a  fazenda  de  An- 
toQio  Carlos  do  Aínaral  Lapa  e  a  do  JHo- Claro,  e  por  este  ts- 
pigilo  abaixo  até  o  pontilliuo  da  estrada  do  ferro  em  terras  do 
mesmo  Lapa,  ©  dabi  em  rumo  ao  observatório  do  dr.  Maitínbo 
Prado,  no  alto  do  Agudo^  e  pela  serra  mais  alta  ato  o  alto  do 
cafezal  da  faxeuda  de  António  JosÓ  Correia,  em  tVente  á  cabe- 
ceira do  córrego  do  Pohlt  o  por  c-àte  abaixo  até  o  córrego  da 
Tuòarana;  por  ette  abaixo  a^é  o  córrego  de  Santo  Anti^iiiO', 
por  esto  abaixo  até  o  ribeirão  de  Cocaes;  ainda  por  esttí  abaixo 
tàié  o  córrego  dos  úrihea'^  «  por  cato  acima  até  Buas  cabeceiras, 
e  dabi  em  rumo  ao  Jat^nari^  o  por  c^te  abaixo  até  as  divieaa 
de  PiríisBHnuitga,  e  por  e-tas  divisa*  até  ondo  tiveram  principio 
aa  que  ora  tíio  enabelecidai.  Palácio  do  governo  da  província 
do  São  Faulo,  29  de  novembro  de  1683.— iíamí?  de  Guaja^ 
ra, —  Conforme,  O  secretario  interino,  Benedicto  A,  Coelho 
Neth.  Decreto  e  acto  que  ião  entregues  por  copia  para  fazer 
pãrt©  do  archivo  da  camará  municipal  desta  villa.  E  acbando-ae 
ali  rennidoB  os  vereadores  eleitos  António  Crispim  do  AbroUj 
Manuel  Rodrigues  Oiegario,  ilodcato  Alvea  de  Carvalbo,  Fran- 
cisco de  Aranjo  Gouveia,  Joté  Bír.udo  de  Almeidrt,  Francisco  de 
Arantes  Moura,  e  João  Theodoro  de  Sousa  Pinto,  depuisda  leitura 
do  referido  decreto  e  acto,  feita  por  mim  secretario,  o  sr.  pre- 
sidente Ibes  defiriu  o  juramento  do  art.  17  da  Iní  de  1/  de 
outubro  do  1828,  aos  Santos  EvangelboF,  em  um  livro  destes, 
em  que  cada  um  póz  sua  mho  direita,  dizendo:  Juro  aoi  Saatos 
Evangelhos  deaemponbar  as  funcçòe«  de  vereador  da  camará 
desta  villa  de  SatiUt  Crus  das  Palmcirafii  de  promover  quanto 
cm  mim  conber  oa  meios  de  sustentar  a  felicidade  publica.  E 
r&cebido  por  elles  o  juramento,  assim  prometteram  cumprir.  Em 
leguida  o  mesmo  ar.  pre&idente  declarou  em  alta  voz  que  estava 
iastalada  a  nova  villa  de  Santa  Cruz  das  Palmeirt^s  e  dava 
posse  aos  vereadores  eleitos  e  jurameotadoa,  os  quaea  immedia- 
tamente  paliaram  a  occupar  os  respectivos  logarea,  convidando 
o  ar.  presidente  o  vereador    António    Crispim  de  Abreu,  que  lUe 


—  196  — 

pareceu  ma  10  Telho,  para  cc  capar  in  te  riu  amento  a  cadeira  da 
preflídenciA,  ficando  por  este  modo  inetalada  a  nova  villti  de 
£anta  Crut  das  Polmeiras  e  08  vereadores  de  posse  de  aeua  carg-os. 
E  para  eoBstar,  mandou  o  Br.  preaidente  lavrar  o  presente  auto, 
que  vai  aeâí^nado  por  elle  q  pelos  juramentados.  Eu,  Francisco 
das  Chagas  Alvarenga,  secretario  da  Camará,  o  escrevi. — Dr. 
Micardo  Soares  Baptuta, —  António  Crupim  de  Âhrtu, — João 
Theodoro  de  i^usa  Pinto  — Makuel  Rodrigues  Ohgario.^^BTan-^ 
€Ísco  Arantes  dê  Moura,— Modesto  Alveit  de  Cai  valho, — Fran- 
cisco dê  Araújo  €huvtia, — Joné  Buudo  de  Almeida, 


Dos  autos  de  inventario  de  Ãntonío  Valério  do  Sacramento 

passamos  a  trasladar  os  seguiutes  documentos: 

Ulmo.  sr,  juiz  d^orphams. — Dia  António  d^Aranha  Albu- 
qnerquei  residente  no  Bairro  de  Sajita  Cruz^  deste  Município, 
que  no  inventario  a  que  V-  S.  procedeu  no  espolio  dts  António 
Valério  do  Sacramento  e  sua  mulher,  e  em  que  é  inventariante 
Manoel  Valério  do  Sacramento,  foi  descripla  como  per ten cento 
ao  acervo  uma  capeJUnha  alli  exiatetite  dtmomineda  de  Santa 
CrttZt  quando  é  certo  que  tal  capella  é  uma  obra  formada  a 
custa  de  esmolas  e  do  trabalho  do  povo  daquelles  lugari^a,  como 
evidentemf^nte  mostra  o  attestado  jurado  do  Reverendif^imo  Vi- 
gário de  Casa  Branca ^  e  mais  provfto  os  documentos  annaxoB 
que  todos  concorrem  a  justificar  a  a  diversas  doa çõea  do  património 
em  que  s^tà  hoje  edificada  aquella  capella  Em  vista,  pois,  da 
Ord.  liv.  I,  tit.  88  §  4«^,  que  só  manda  contemplar  as  cousaa 
alheias  achadas  em  poder  do  defi^nto,  a  titulo  de  empréstimo, 
penhor  13.  deposito^  pi^ra  evitar  descaminho;  e  como  a  respectiva 
capella  nào  esteve  em  penhor,  empréstimo  e  deposito^  era  poder 
dos  ÍD  venta  ri  adcSj  o  ^upplicante,  interea^adú  como  ura  dos  doa- 
dores á  capella,  requer  a  V.  S,  que  incontinenti,  á  vista  da 
prova  exhibida,  mande  e^eluir  a  capella  e  o  terreno  de  seu 
património  do  inventario,  cumprindo  assim  o  que  preceiliia  a  Ord, 
eitada,  §  4.%  e  o  que  eiisin&o  tcdos  os  praxistas,  como  o  con- 
lélfaeiro  RajialhOj  Liídiiuições  orfaryjlogica»^  §  103,  pag,  241, 
O  supplicante,  confiado  na  justiíja  e  na  lei,  pede  deferimento 
ua  forma  requerida*  E,  R.  M.  Casa  Branca,  5  de  março  do 
1878, — 'Ânianio  Aranha  ã^  jflí&iiçiicrç«<.— Despacho  :-^Em  vista 
dos  documentos  apresentados  pelo  supplicante,  mando  que  ao 
exclua  do  inventario  a  capella,  ricando  ás  partes  salvo  o  direito 
da,  em  juíko  competente,  proporem  suas  at^ções,  intimando-se  aa 
inventariante  o  despacho.  Casa  Branca,  5  de  março  de  1878, 
*—  Guilhermino, 


—  Wí  ^ 


Documento 


Ãttasto  ín  fiãt  parmhi  que  se  acha  ediâctida  uma  capella 
no  Imolar  denominado  Santa  Cruz,  neste  Muoicipio,  que  em  parte 
foi  a  esmola»  do  povo  e  dirigida  pelo  ar.  Manoel  Valério  do 
Sacrft.mento  e  ha  mab  de  dou^  annos  qtie  se  considera  como 
edifício  publico,  ©  por  s^er  verdade  e  me  ser  este  pedido,  passo 
e  firmo  á  fé  de  meu  carg^n.  Casa  Branca,  5  de  março  de  1873. 
—O  vigário,  JoáQUiM  Thbodoro  dh  ãraujo  TàVARHs» 

O  patrimODÍo  da  egreja  doropoe-âe  de  54,  h  4,33  de  terra», 
demarcada»  na  fazenda  dae  Palmeirasj  em  divisão  judicial  a  que 
ae  pn>cedeii  em  1879,  no  jui^io  de  Caaã  Branca,  «m  virtude  de 
doaçõea  feitaa  por  diversos,  confurme  ao  qimdro  abaixo: 


DOAtXiKEÔ 

Data  da  doaçfto 

o  «  a 

M  ABI  DO 

MCLHEa 

^     ^ 

JmI  dof  8*nt3«  Cairei».     . 

Maria  Br»ndíq«  de    Qodoj*  . 

20  BCht«mbra  18T1 

J«lo  a»ptitt»  <IB  Barros  Leila 

Baleoa  da  BocHa  BarroA.     . 

6  núTem^ro    * 

Jota  ia  Carralho  Barroi.     , 

Prancúta  Pair»!  de  Bamw, 

*         »          > 

BA7inn4i>  4«  Anojo  Macedo, 

»ari»  jQlIa  de  Preitai    ,     . 

£]         #           > 

e.3i 

lutou  Jo  Araaka  AlboqoArqae'. 

Maria  Brandi  na  ^^t%n%,     . 

se  feTorelfo     l&7í 

V^ABcÉwo  én  Armojo  tioaraia. 
Atraltami  Beato  de  Arai^o  . 

Uiría  Joié  i«  Aranjo.     .     . 

IT  março  1878 
»       »         » 

MiflBal  da  Coita  Cixaeln^ 

a,6o 

Iflado  GoisM  de  MoraaA     , 
iiííit  Carloa  do    Arantes.     « 

'a^p»  Qotterta  de  Anârade. 
ilarLa  Lactaaa  de  Ar^ntet    . 

jHá  CarlM  da  Araates  , 

&el«fiaFranci&cade  Arantes 

ÍO       *        * 

hud«o  J<Mé  da  Botua  Pinto , 

Maria  Brandi  oa  Bei  erra.      , 

l^anciflca  Maria   do  BiplHto 
8aiiU>  ....... 

S4        »         > 

28        .        . 

1,50 

uj* 

Santa  Celts  do  Át&rr^do^ — Pequena  capela,  a  doi^  kilo- 
tnetros  da  cidade,  á  margem  da  estrada  que  vai  a  Varj^em  Grande. 
Foi  constmida  em  1893  a  esforços  de  José  Aleixo  Caetano  de 
Carvalho,  Sauto  Meneselli  e  outros. 

Saítta  Cruk  dos  Valerios— Vide  Sauta  Cruz  das  Palmeiras. 

Santa  Emília —Fasçeu da  agrficola- 

Sasta  EuoBMtA — Fassenda agrícola,  pertencente  ao  município 
de  Santa  CrUí  das  Palmeiras  e  que,  pela  lei  n,  51,  de  íiO  de 
abril  de  1SB2,  foi  desligada  do  de  Casa  Branca  e  annexada  ao 
de  PirassunuDga. 


—  198  — 

Santa  Iria — Chácara  suburbana,  também  eonlipcida  pela 
denoraina^jílo  d©  Capitfto  Vicpnte,  porque  porlcuceu  ao  ent&o 
capitão  Viceule  Ferreira  de  Silos  Pcieira — Paaenda  agrieola,  que 
}*aasou  para  este  muDicipio  em  virtude  da  lei  provincial  n.  89, 
de  13  de  abril  dí?  1870,  seudo  deíligada  do  de  Pirasiunnnga,  Com 
a  creaçiio  da  villa  de  SSauta  Cruz  das  Palmeiras,  essa  proprie- 
dado  ficou  incorporada  ao  áeu  território. 

Sakta  Isabel— Fazenda  agrícola. 

Sakta  Mauia— Fazenda  a-^ricola,  pertemconfe  ao  raunicipio 
de  Santa  Cruz  dsia  Palmí^iras,  haj^.  A  íei  n.  8í>  de  18  do  »bril 
do  1870,  dcFanmxou-a  do  miinicipio  de  Pirass-inunga  e  pasàou  a 
para  e&tc. 

Santa  Mariana— Fíusenda  agrícola, 

Santa  Paulina  —  Fazenda   aíjncDla- 

Santa  Rita  no  Passa  QiíAtuo— PovoaçSo  fundada  em  1860 
por  Francisco  Modesto  Ouilherjnino,  Gabnel  Porfírio  Vilela, 
Ignacio  Ribeiro  do  Valle,  Carlos  Ribeiro  da  Fcmsoca  e  Francisco 
Deocletíiano  Ribeiro,  quo  erigiram  no  logamma  capi^lla  sob  a 
invócaç&o  do  Santa  llita  de  Cns«ia*  Foi  crcada  freguc^áa  ena 
1B60  a  villa  eta  1885.     Pe*teHctrra  ao  município  de  Casa  Brauea, 

Santa  Si lveiu a— Faseada  ng^ricola,  pertencente  a  Joaquim 
Dutra  do  Nascimento. 

Santisslmo  Coração  de  Jesus— Capela  de  forma  octogonfl, 
coiistiuida  no  antigo  cemitério,  próximo  ao  Paço  Municipal,  por 
FrAncisco  José  de  Queiroz,  capitfto  José  Venâncio  VítlasbôaSi 
capitito  Prudente  José  Correia  e  tenente-coronel  Jeronymo  José 
dft  Cdi  valho,  era  l8õL  Teve  primeiramente  a  invocação  do  Sâo 
Miguel. 

San*to  António — Bairro  e  rna  deslã  cidade. — Fazenda  em 
Córrego  Fundo,— Córrego,  iiffliiente  do  Ttibarana,  e  que  estabe- 
Ince  divisas  entre  es  municípios  de  Casa  Brsnea  e  Santa  Cruz 
das  Píilmeiraa, 

São  BiSEíffuicTo— Antiga  denominação  da  lua  do  Bosque. 

São  Besto —Rua,  que  lí.ira  o  largo  da  Cadeia  Velha  á  rua 
da  Praia. 

São  DoMisoí-fí— Córrego,  afí.  do  Pederneiraa. 

São  JoÂo—Corregn  ne»to  municiftio.— Bairro  urbano,  em  que 
ha  duaa  eaeolas  publicas  primariíis.  — Ribeir&o,  que  banha  a  fa- 
zenda de  seu  nome. — Travessíij  Usando  a  cidade  ao  bairro  deste 
nome. 

São  José— Rua  desta  cidade.— Fazenda  agrícola,  outr'ora 
pertencente  a  Santos  lí:  Meira. 

SÂo  José  da  Bebra  -  Fazenda  agrícola,  neste  municipic, 
perteucetttfí  a  Joaé  Vilela  de  Andrade  e  outros.  Está  locada  a 
35"*  noroeste  da  cidade  de  Cnsa  Branca,  na  distancia  approxímada 
de  2-1:  kilometro?,  e  a  58"  nordeste  da  estflçlio  de  Tambabú,  ua 
distancia  de  18  kilometros.  As  e^tradaii  que  a  ligam  a  Casa 
Brancap  atraveàsando  grandes  regiões  do  camims  ruío?,  sào  boas 


—  199  — 

mu  todo  o  commercioe  trafego  \M  feiloa  pai"a  Tambatú.  Geo- 
3i>gícajnent«j  divide  »e  em  duas  r©ifiôeB  distitictas  i  a  pnrt©  noro- 
iifte^  cabeceiras  do»  corrcg-os  Areiào^  Côclioa  e  BocaiuaT  occujiando 
A  qDArta  parle  da  área  totaU  ^  t^mpo^ta  de  terras  boíts,  isto  é, 
TÍcaa  de  oxido  de  íerro  e  humtis,  semeadad  de  pequenos  blóc-.  s  de 
escoria*  qae  atteitam  tua  origf^m  vulcaíika,  poièm^  manchadíis  de 
teírcurB  d©  aluvirio  em  qu©  fie  eneontiain  os  grnnitos  erráticos 
Ideado?,  e  cUapadões  de  areia  êolta,  imprestáveis  para  qualquer 
cullum,  Em  íeu  conjuacto  mostra  eafareg^iao  na  coiivuUfles  por 
qui^  passou  :  eompoi^ta  pnmitivnmfnte  de  morros  alçam iladoft  de 
ori^^era  Tulcanica,  tei  mais  tarde  soterrada  por  terrenoâde  íiluviao, 
e  eUe?,  nind»,  por  terrenos  Bedimentarci,  que  vieram  á  poâiçAa 
âchal  prr  sublevações  lentas,  Á  orifi^em  lacuâiie  destes  ultimot 
é  provada  pelo  subsolo  cnmpoíita  de  estraliticaçoes  de  arg^ila  com- 
posta, cm  qu©  a!" sentam  as  referi dwa  areias  soltas.  Por  Biia^Ui- 
tiidf,  eicepçÃo  doí  chafiadòes  aieiinsos,  toda  a  re^ifto  srt  presta 
i  cultura  do  cÃfé,  que  frutifica  rpgularuiente,  ua  mó  dia  8i,i  arrc- 
b»!  jiftr  mil  pia  A  rej^iae  a  tueate,  at»í  ao  cirrc^j  da  Prata, 
e  fiotoeate,  acompanhando  o  lío  Pardo,  é  compoata  de  campos 
nificn  de  boa  qualidade,  que  muito  se  prestam  á  crençâo  doíçado 
Unigíro  e  do  cavallar  ;  iiifelízmenter  poriam,  a  industria  paòtoril 
está  ahi  completamente  abandonada^  contando -se  apenas  alj2:am 
gaín  vacÊum,  de  raçaa  ordinárias.  A  f;izeudaé  re^çada  por  muitos 
corrfí^os^  &l!1uentea  do  ribeirão  Tamhabú,  triburario  do  rio  Pardo,? 
poticot  se  prestam,  comtudo,  para  motores  de  graúdo  íoiça,  por 
terem  teu  curso  em  logares  pantanosos*  Oá  eorregna  que  a  regiam 
Eâo  ijs  st^guíuteã:  Cochos,  Areifto,  Coeuruto^  Prata,  Mnsqiiitos, 
Batro  Vermelho,  Divisai  Boa  Viàta,  Bílv*  stre,  Bocaina,  Pcder- 
ueiras  e  Pimenta  e  nbeiròes,  os  do    luíeino  e  Tambabú, 

São  José  do  Bio  Pa ruô— Cidade,   no  munii-ipio  e   comarca 
de  seu  nome,  1i;^ada  a  Ca^a  Branca  pelo  rjimiil  de  Mojóea,  da  li- 
nhã  Mcp^iaaa.   A  povoação  foi  creada  freguesia  ]ior  lei  provincial 
oe  ÍG  de  abril  do  1874,  villa   em  20  de  março  de  lí^85    e    ci- 
dade, com  a  denominflçâo  de  Cidade  Livre  do    Rio    Pardo,    por 
secreto  n  ,   179,  de  29  de  maio  de  181)1,     O  decreto  n,  207,  de 
^  <íe  junbo  do  meamo  auno,  rf^stiíuiii-lhe  a  denomina^'5.o  antiga. 
^Di  vjHta  da  nova  orgauisaçfio  judiciaria  do  Eátado  o  termo    do 
^.  líoié  do  Rio  Pardo  passou  a  constituir  toniíirciif  desmembrada 
dl  drt  Casa  Branca,  a  cujo  território  pertencia. ~A  reepeito  desta 
Jocalidade,  escreveu  o  drr.   Moa  1:1  ra  Pinto,  no  Jornal  do    Cotn^ 
merdOi    do  2ÍÍ  de  janeiro  de  1899:  mFjJb  Cnaa    Branca   tomei  o 
r&niul  do  CaDÕas  em  direcção  á  cidade  do  B,  Jofé  do  Hío  Pardo, 
Patsei  pelas  eàtaçòes  do  Kio  VerJe    a    1 1    kilometros    do    Casa 
liianca,  Euf^enheiro  Riibe  a  18  e  Villa  Costina   a  22*     Di*ta  a 
cidade  de  B.  José  do  Rio  Pardo  35  kilometros  de  Cn>a    Branca 
e  30  da  Moóca*     Está  situada  em   uma    colina,    á  mnr^j^em    ea^ 
querda  do  Rio  Pardo,  contornada  a    E.  p"lo  córrego  Sao  Joetí  e 
e  ao  N-  pelo  ribeirÃo  Monte    Alegre,  aHiaent©  daquelle  rif^.     E' 


—  200  — 

cercada  pelos  morros  denominados  Lage,  Tobae&T  Monli^  Alegr^^ 
Santo  António  «  FArtuta,  Ã  cidade  está  mal  edificada*  Quem  pros- 
tra nella  pelo  lado  da  f^staçào  tenle  uma  irnprei^aâo  desug^rmaavel, 
impreiBão  que  n&o  se  desvanece  á  proporção  que  »ecarniiiha  fiara 
o  seu  interior.  E'  uma  ciJade  sem  horizont  a;  para  qualquer 
lado  qne  o  olhar  se  volte  depara  eom  montes  e  e^tes»  muito  pro* 
ximos  e  libados  na^  aos  outros.  As  mas  ^âo  reg^  til  arme  nt'*  lar- 
gas» em  ladeira,  al^um  tanto  íngremes,  sem  c^lç  «mento^  ,  oncis 
eom  passeios  cimentados  e  iilaminada  á  Inz  eléctrica.  0$  prédios, 
em  numero  de  614*  sào  quasi  tr-dos  térreos,  havendo  al^nus  so- 
brados de  gosto.  Tem  apenas  ama  praça,  a  15  de  Novrmbroj 
em  cujo  centro  ergue-se  a  Marriz  e  a  um  do»  lado»  a  *  a  a  da 
Cambra  que  também  serve  d«^  cadeia «  C^tá  em  parte  ajard incida. 
Po^BÚp  Unicamente  dons  editicioB  publicf*s,  a  Matriz  e  á  Cnsa  d& 
Gamara,  a  Maçonaria,  esti  ainda  em  coo  st  m  Sjf&o,  mas  j<r  mBtt« 
depois  de  c*'nt']uido  ser  um  iropíirtante  edificii'T  j^  [>el«B  ^uas  pro- 
porções, já  pelo  ^osto  are hite* tónico.  A  Matriz  ê  um  t*^mpIo 
grande  e  bonito.  Teto  a  torre  no  centro  e  um  relógio  íib?iixo. 
Beu  interior  é  bem  ornado  Tem  além  do  altar  mór,  mais  dou» 
altares  lateraes  de  mármore*  Ã  Oasi  da  Cambra  é  wn  (ire  fio 
térreo,  com  4  jan^-llas  de  í rente  e  n  porta  dt*  entrada.  Na  sala 
das  sesíôes  eccj^nt  aras©  oi*  retratos  rfe  Tira^entris'  e  ^io  Ma- 
recLal  Flori&no  e  um  pequeno  bu^to  do  G**aeral  DeoiJoro* 
A  cidade  pode  ter  uma  ^wpulaçào  de  4.0O*  habttfliites  O  tnu- 
otcipio  c-^nfiim  com  Cnconde,  Casa  Branca^  Mocòca,  ^kn  Joio 
da  Boa  Vii^ta,  do  Estadu  de  S,  Paulo,  e  com  Muzambiubo,  do 
Estado  de  Minas.  EV  reinado  pelos  riffS  Pardo,  Fartura,  V**rde, 
Macaíios,  Agua  Fria,  Peixej  M  ute  Aleg  e,  Santo  António  e 
AííUaB  Ciara-,  Pertencem  :ui  munieipio  os  difctricio?  do  Sapecado 
(Espirito  Santo  do  Rio  do  Peixe  e  S.  Sebasrifto  da  Gramnift, 
6  08  bnirros  Montn  Alegre,  Fartura,  La^en  Tubaca^  Agu^  Fria, 
Rio  do  Peiro,  Santo  António  Engenheiro  RObe,  Engenbftiro  Ho- 
míde  6  Vilia  Hostina,  estéã  t>^à  ultimits  com  estações  da  ei^trada 
de  íerro.  A  lavoura  do  municifdo  é  a  do  café,  haveudci  100 
fazendeiros,  que  exportam  500  mil  arrobas  de^se  pro dueto  Es* 
tive  nessa  cidade  com  o  itiiemerato  rt^puHlicano  Ananias  Bar— 
boza.  que  em  agosto  Je  1889,  fendo  proprietário  do  Hotel 
Brasil  pren  iou  o  cbefe  Jiberal  SAturnino  Biirb  *s&a,  o  sub  dele  lt^-» 
do  e  resistiu  a  uma  força  de  20  e  tantas  praças,  que  pretendiam 
assassinar  o  gf^nentl  Glicerio  e  a  elle  Ananias.  O  general  Gli- 
cerio  dirigia-se  entAo  para  a  Mocóca,  afim  de  fazer  conft^rencraa 
republicanas  S  José  do  Rio  Pardo  foi  em  seu  principio  a  fa- 
zenda da  Lage,  da  qual  era  um  dos  condóminos  O  ''enente  António 
Marçal  Nogueira  da  r^arros,  que  fez  doai^&o,  a  19  de  jnnbo  de 
1865.  de  trea  alqueires  de  terra.  Foram  outros  doadores  Cniidilo 
de  Miranda  Noronha,  que  na  me^-ma  data  deu  M^n  alqueire. 
Cândido  de  Faria  Moraes,  que  deu  três  alqueirei,  Joi>é  Ttier»dnro 
de   Nogueím   Noronba,    que    deu  quatro  alqueires,  e  João  José 


—  201  — 


de  Sousa,  que  Jen  a  €  de  fevereiro  ãe  1865  um  alquebre.  Em 
25  de  fevereiro  de  1873  linuve  A  poase  judicial  dos  terrenot 
d  nado»   para  património  da  i^r&jií.w 

São  MintTSL.— Faxtí  d^i  de  cultara  de  café,  pertenci^nte  ao 
eonsflbeiró  José  Daarte  UoJrigueá,  próxima  á  estaçàri  do  Rio 
Verdfl,  E'  «mã  das  maia  iroportíintÃ*  da  comarca,  e  illuraínada 
a  gaz  acfttybno. —  Rua  desta  cidade  e  que  lig-a  os  Iftr^oa  da 
tnatriz  e  Cíideia,  —  Vid<i  SaDtiaíiimo  CoraçÃo  de  Jeíu», 

8âo  Pedro  — Cí^rrego,  na  fa^r-nda  Morrinhos. 

Sào  Pedro  dos  Morri pthos  —Arraial,  fundado  em  território 
da  frtzen da  dos  Marrinboã,  em  iBíít,  por  Mf^y^éa  Vpnaiicio  Villai- 
boes,  Au  to  aio  Auirnsto  Corroía  d**  Canralho,  Eugi^iiío  Ferreira 
de  Cwitro  e  Francis-:;©  António  do  Prado,  quM  do.iríim  B&,72 
Imitarei  de  terra  [lara  património  da  egreja.  For  u^rta  lei  de 
1B99  foram  ali  creadas  duas  e^cobs  primariai. 

Sâo  S^VAdiilo  DA  Boa  V  STA.^ —  Antiga  denodiJDAçâo  do 
muDicipio  e  villa    de  Mocóca.     Vide  e*t6  nome  e  Boa  Vistii» 

São  BtHÃo.^ — Povrjação,  fundada  em  território  que  [iertt*ucia 
ao  wiunicipio  d©  Ca&a  Branca:  foi  creada  frefruezia  por  lei  pro- 
vincial de  10  de  março  de  18'I2  e  villa  por  outra  de  22  de  abril 
de  lSt>5.     E'  sede  da  romarca  de  B.  Simào. 

Sâo  Tr)CO[>oro. — Fazenda  aorrioola,  annexiida  á  freguesia 
de  Ca^a  Branca  e  df^smi^tn  brada  da  de  B»  J>  té  do  Hio  Fardo 
em  virtude  de  uma  lei  da  antíira  Atsembléa  Províticial. 

Sii>  VicBNTE. —  Faz<;nda  agrícola,  em  que  b«  cuhíva  o  cs- 
féftiro.     Foi  de^lig^ada  da  de  Hib^irlio  S&o  Joio. 

Barai^di.— l/0|^ar,  pF*»xiaio  á  faxf^nda  Caca«i  do  Rio  Vtírde* 
— Vocábulo  brufileiro^  eoatmcçâo  de  çararé^ih^  ii^tiíâeando,  >e- 
giiado  Baptista  C*btano«  — o«  páu&  ou  pemaa  por  sobre  aa  quaet 
ao  fas  toIat  a  madeira    tirtida. 

Hekuom  Bo»  Jeííub.  — FaiLeoda  a^eola^  pertencente  a  d. 
Àlarta  daa  Dores  Nogueira  de  Carvallto  e  ontrot;  hoje  tem  outna 
deíiomlnaçôea. 

8  KHi  ESI  A. — Legar  e  cato  po*  i^a  fa«-  Boa  Vit  ta. — N ome  vu !  gmr 
do  DiãMfphuf  ^:rtJ^tatuéf  ãve  da  tirdeoi  dos  peruai uu,  nouval 
peU  guerra  a«»idiia  qu«^  fase  a  toda  a  «orte  de  opbídiot,  Maio- 
Gaar  lho  chama  Sfjrmtnn ;  e  é  provável  que  teja  «t^  o  nome 
primitivo  d<-fta  ave  (B.  Itr^trair». 

Bkrka  Sar^aa  das  CAt^u. — £^  ama  nyutlíeaçfto  indoérte  da 
corditbfxira  ocridetital  áu  mm  éê  llaat»f|ttmi^  csjia  âfittf  ali- 
mi*iitaui  o«  AfHiieniea  do  rio  Uoftignãããà.  1^I«A  á  eaitoeiáa 
■com  o  nome  de  Boa  VUu  (Aaaraoio  MánQKSi) 

SBBaaDTaffo,— Correia  ha  antiga  teondla  da  Coeaea,  tribo* 
tario  do  Ja^uarL 

f^aaaiJíHA^^Fas^Qdn  ag«icia. 

H>BTlo  Mritnao.— Iíf«  a*atia  coahteidã  lodo  •  vale  f|«e  detli 
logar  vai  áa  mar|^«ai  do  Rio  G*a«d^  atf  ecáilai«il#  a  maafctpia 
da  FVanot,  que  é  pAaiko  e  eob«ito  do  Eada  vo^vb^Ao. 


—  202  — 

SertAosikih>,  —  Antig^o  quarteirão  |Cil|cial,  Imjií  extíncto  e 
auni^xado^  em  píirtc,  ao  dibtt-ieta  de  SAnta  Cru$s  dae  Falmeirofl^ 
— EEtnçSo  da  (/OmpauUta  Mogiana,  ne^te  irninici|iio,  já  exrlnctit. 
— SerrA  ;  linsita  ob  fnuuicipío»  de  SaTitn  Rita  do  Passa- Quatro 
o  Casa  Brauca    e  eslá  colocada  a  oeste  desta  ultimA    privoução. 

Sesmaria.— A  origem  deste  nome  parece  que  se  de?e  pro- 
curar em  sesmaf  que  era  a  0.*  parte  de  qualquer  coiôa.  Kcomo 
estas  terras  se  costumavam  dar  com  o  foro  e  peusâo  do  sexto 
ou  de  sefíi  nm,  daqui  se  disse  facilmente  sesmaria  ou  sesmeiro^ 
o  tamhfni  sesmo,  sitio,  termo  ou  limite  em  que  ae  auliam  as 
terras  a?sini  dadas  de  sesmaria  (Vjtiíkco).^ — ASeamdrias  s=ílo  pro- 
prianieato  as  dadas  (l)  de  terra,  caiaes  o  pardieiros,  que  fur.im 
ou  bSo  do  alguns  senhorios,  e  que  já  em  outro  tempo  foram 
lavradaíi  o  aproveitadas  o  ag-ora  o  nho  sko  (Ord,  íith  4,  Ut  4:i,  pr.) 
^-t^Hinl  foi  Oíigioariamente  a  exten^jio  suparíiiiaria  de  iim:i  ses- 
maria ■?  Lemos  em  Pjmbiítbl»  Arte  da  Navegação ^  que  tL  l&gita  de 
sesmaria  tem  3  000  braças.  Era  preciso  que  já  a  es-o  temjto  as 
sestn avias  fo=Bem  muito  jrrandes,  para  se  medirem  por  l''gui.  de 
um  certo  typo.  No  ^rítíííí  as  doações  feitas  na  costa  por  d.  João 
III  eram  verdadeiras  sesmiirias,  uâo  no  sentido  le^ft!  que  vemos 
firmado  uas  posteriores  rrdeuai;òus  do  Reino;  mas,  no  popular, 
em  que  aqui  sempre  so  tomaram  ftemiOliiiiites  dadas.  As  con- 
cedidas pelos  primeiros  CapitíLe»  donatários,  nos  tormos  dos  fieua 
foraes,  devinm  ç.ól*o  com  a  çlamuU  da  Ordena^ílo ;  ma»  ufto  bví 
ILes  marcou  a  extensão,  E'  de  notar  que,  em  re^^ra^  a  seamaria 
no  Brasil  se  níio  podia  rerjêr  pela  Ordenação,  como  b[*m  eou- 
Bultou  o  Desembaraço  do  Paço,  e  se  vé  em  Gabe  do,  p.  2,  dec. 
112,  0  Repert,  das  Orã.^  vb,  Sesmciro»  devem  dar  as  tervan^ 
not.  ò.  O  Ah',  de  8  de  dezembro  de  1&90  firmo i  sobre  a 
extensão  das  sesmarias  ntna  regra  prudemcial,  deixaria  ao  arbi- 
trlo  dos  g-overnadorep,  quando  míindoa  a  d.  Prancítíco  d©  Bnusa 
que  «a  todas  as  pe^^oas  qne  forem  cnm  s\ni&  mulberes  c  jfllbos 
a  qualquer  pai  te  do  Brai^il  lUeà  SHJíira  daJas  terraa  de  fie^marias^ 
para  nellas  plantarem  seus  luantimeutos  e  fazerem  roças  dô 
cannaviaes  para  sua  susteataçilo,  cmiformc  a  qtmlidadtí  e  fumiUa 
{isto  éf  numero  das  ^jcssôrí  delia)  de  cada  um  doa  ditos  camdos.v^ 

Nem  de  onlra  maneira  se  podia  le^i-^lar  para  um  paiz  nas 
condições  do  nosso  a  eSbe  tempo.  Comíudo^  nào  tardaram  os 
abusos;  o  no  fim  do  século  XVII  vÊmos  a  cornara  da  capttauia 
so  lUo  Grande  do  Norte  rcpresentaudo  «que  ali  exiâtiam  muitas 
pessoas  a  quem  ío  liavia  dado  quantidude  de  tcras  de  sesmarias 
que  nâo  podiam  cultivar,  fendo  aíifumcs  duas  e  íres  stsmarias 
de  6  €  6  léguas  em  quadro^  que  vendiam  e  arrendavam».  Em. 
resposta  ordeuon  a  Cíirta  ré^'ia  de  16  de  março  de  1692  ao 
governador  /António  do  Soufa  de  Menesif^s  que  Ibas  tirasse  o 
défise  a  quem  ai  cultivasse.  A  carta  réj^ía  de  27  de  dezembro 
de  169r)  marcou  1  légua  de  de  largo  (testada),  e  4  de  comprido 
(fundos),  a  carta  régia  de  27  de   dezembro  de  1697  já  restringiu 


—  203  — 


oi  hnéo%  a  B  legaaa  pam  1  de  testadn,  ou  11/2  légua  em 
qadro;  o  que  foi  reconimendado  peln  Frov.  tle  20  de  janeiro 
de  1699,  a  ainda  outra  vez  pela  de  19  do  março  de  1729. 
Outro  typõ  ví^mas  nú  Alv.  de  23  de  novembro  de  170í>,  «pelo 
quál  E.  m.  mandou  que  £e  dé^se  a  cada  aldeia,  teiido  i(K\  ca^aes, 
1  Ifg^ua  de  terra  em  quadro^  tirando-se,  ti  nccf Èsario  fõrFe»  de 
ijUAlqiier  OQtra  secção  vizinLa  á  nldcía,  f  xccutnijdo  tãto  ns  ouvi- 
dore;;  sumiTiarisBimameiítc,  tem  attençào  árepugaancia  dns  i^aries». 
E*fC  ,ilvará^  quí?,  al^m  de  nua  légua  jjftra  os  Indíps^  raanda 
separar  uma  porção  para  es  seuâ  párncti,  foi  diní^'ida  íio  í;over- 
nadcr  de  <9áí>  Fauíu;  assim  como  a  cada  réfj^m  do  12  do  no- 
Temliío  de  17 10^  declarando  qtto  *esfa  porçào  (jiie  fo  mauda 
separar  para  os  vigários,  tirando-a  dog  paniculaios  vizinlios, 
TiM  seja  mnis  do  que  nquella  que  haaie  para  pasto  dt  três  ou 
qmtTQ  cãcallo»  e  dt  ou  iro  s  tc.ní-íiH  vttccasf,  que  (*  o  qiio  basta 
pflrB  um  clerig^o»  ;  e  de  ambi  a  dá  noticia  JostJ  ARfiurnii  de 
Toledo  RbiíDiiNi  na  sua  instructiva  Memoria  tohre  as  aítleics 
àos  Índios  àa  protrincia  de  São  Pmilo,  estampada  na  Rev.  Trim, 
do  IfíífU  Hút.  Geogn  c  Elhu^^gr,  Brás.,  1843,  2/  ed,,  310 
(Macedo  Soareií). — Em  Mato  Groaso^  em  IS 28,  as  maiores  ses- 
nwiiag  tinham  três  léguas  de  fu.t>do  e  uma  de  tcstadt ;  e  es 
"Dtarires  meia  légua  em  quadra  (Amncourt), — Em  Minas  Geraes 
*i  fiflsmarias  iam  desdo  48  léguas  até  60  braças  quadras  (Grruer), 
^As  crnccsaõesj  que  temos  visto  aqui  no  Mar  d' líi apanha 
(fi  àiiem-ncs  serem  eguaes  em  tudo  âí  dndas  para  toda  osta 
^^t<i  âo  Uió)  regulam  meia  lei^aa  em  quadra...  (M.  Soaues). 
—^"^0  Rio  dt  Janeiro  a  sesinana  dada  aos  je&uiíaa  por  Es  tacto 
^^  ^i,  no  1.^  de  julho  de  15C5,  fui  de  duaâ  leguris  de  testada 
e  duas  de  fundos.  Já  a  da  Gamara,  dada  polo  mesmOs  em  16 
^^  áito  mez  e  anno,  foi  de  uma  e  mci^  légua  de  testada  com 
dufta  de  Inodos.  Mem  de  Bái  em  16  de  agosto  de  15G7,  cnnfir- 
*ii<JU  a  ícEinaria  da  Camará  por  lhe  faltar  o  auto  de  ]»0£6e,'^e 
smplif.u^a  com  mais  6  leguag  em  quadra  fIlADi>fiK), 

Seísharia  de  Lourenço  BIaiitins— A  respeito  da  íes^niaría 
í^onceáida  a  Lourenço  Maitiuã  Leme,  encontram -se  no  cartório 
«o  e^crirâo  de  psz  oa  seguintei  requerimentos  i 

1— DÍK  o  Alferes  ITrias  Egmidio  Nofíueira  de  Barros  e  oe 
*Daiio  ataignadíiS,  todos  deata  freguezia,  que  ellca  supp."  querem 
Enamar  a  este  juizn  todas  as  Pessoas  que  se  axUo  dentro  da 
Jiainaria  de  Lourç.'  Miz.  I^eme,  sendo  os  seg,'^  :  Francisco  Martins 
?*  Çarvallio,  Ignacio  Pires,  Jacinto  Pires  do  Prado,  Angella 
^*í"ia  de  Tal,  Ignacio  Pirts  Moaao,  Joaquim  Ferreira,  Antouio 
J^lQe,  asim  mais  todos  os  que  se  julgarem  intruzna  na  Bobre- 
y^  iisntaria  para  que  comparecido  na  iirímeira  Audiência  deste 
Jbiío  ftflin  d^e  gç  tratar  do  meio  da  ivconciliaçào  do  Estillo,  ficando 
tfldoí  citados  por    todos    oa  mais    termos  e  actos    Judicíaea    the 


IM    O  teiipo  iruDifamioii  a  vd^hIjI  dúia  vemap  ^qí 


—  204  — 

final  seotODçaf  por  tt*— ?,  a  V.  S,  seja  servido  mandAr  quft  ■» 
Q0t)6quem  por  todo  o  requerido  e  que  «e  obaervo  ú%  termos  d» 
lej. —  E.  R.  M. — Urías  Imidio  Nogueira — Ânt/mio  de  Magalhães 
Passvs — Joãa  Pereira  âô  Sotíjfa—José  de  Magalhães  FasxOít— Bal- 
duíno José  Marques— Áúgiio  a  rogo  de  Joana  Maria  de  Moraea 
^^Urias  Imidio  Nogueira^^igTiAl  e  cruz  de  Francisco  t  Pereira 
da  Silva ,  ^—Te^uo  da  RRcONCiLuçÃQ.^Ãofl  24  diae  do  mea  do 
tetembro  d©  IH32,  neeta  Fregupssia  da  Caza  Branca^  em  cazaa 
da  residência  do  Juiz  de  Paz  Suplente  Praticisco  António  Gon- 
çalves dos  Snntos  aonde  fui  vindo  Eu  Escrivào  do  seo  carg^o  ao 
diantA  ncmeado  e  sendo  ahi  compareceu  o  Alferes  Urias  Imidio 
Nogueira  de  Barros,  e  ontrns  interessados^  e  trazendo  por  urdem 
deste  Juízo  a  Fraucíaco  Martins  de  Carvallio,  Ignacio  Pires, 
Jacinto  Pires  do  Prado^  Ângela  Maria  Pernaades,  Ignacio  Pjrea 
o  moíjo,  e  outros  referido  no  requerimento,  sobre  os  factos  ale- 
gados no  requerimento  retro,  e  supra  e  o  resultado  foi  em  pri- 
meiramente correrem  oa  Rumos  com  Agulhões  para  esse  meio 
Terificar-se  si  estfto  dentro  da  dita  âiamarirt  por  ovidatemse  o 
Runio  d»  mesma  quando  depois  de  correrem  os  dittos  Rumos  da 
siimaria  e  se  axarem  alguns  coniprehendidos  dentro  da  mesma 
aabirfto  para  fora,  e  por  asaim  »©  havi*rem  convencionados,  maU'- 
dou  o  ditto  Jui^  lavrar  ette  Termo,  em  que  se  assij^na  com  a« 
partp».  Dpciaro  que  não  assi^non  Jacinto  Pire»  do  Prado  por 
nfto  coraparpccr  e  Eu  Manoí?.l  Joaquim  d©  Sousa  EecrivÃo  que  o 
EBcrevj.— Santos  — Urias  Imidio  Nogueira— Joze  de  Magalhães 
Passos — António  de  Magalhães  Passox-^João  Pereira  de  Sousa^^ 
Palduíno  José  Marques— Francisco  Martins  de  Carvalho — Atino 
a  rrpo  da  eenhon*  Joanna  Maria  de  Morais ^ — António  Gonçúlves 
da  Ã/íra^  Si  final  de  Cruz  de  FrHucisco  t  Pereira  da  Silva — S ig- 
ual de  Crua  d*^  Ignacio  -f-  Alves  Nogueira — Bignal  de  cruz  da 
Antoniú  4-  Rfque — Ignacio  Alves  NoguHra^ Alexandre  José  No 
gueirn — Signal  de  cruz  de  Joaquim  -(-  Ferreira  de  Queirifz—Si^ 
""nal  de  çrtiz  de  Manoel  -(-  Ferreira  do  Prado  — Âsmo  a  Rog^oa 
de  Anna  Maria  I^nasia — António  Gonçalven  da  iSiÍva,-^E  logo 
no  mesmo  dia,  mez  ô  anno,  depois  de  concluído  o  Termo  dd 
conciliação  Rseima  referida,  e  as  partes  assignadaa  compareceu 
Jacintbo  Pires  do  Prado  sobre  o  objecto  que  trata  na  petíijAo 
enfrente,  e  o  rezultado  foi  nào  convencionar  &ó  sim  sahii&o  dat 
ditas  terras  \^r  iinal  senten^^  quando  deac^ia  jior  cujo  motivo 
pascião  a  tratar  dos  seus   Diff^itos  no  Jutzo  com[>etente. 

2 — Dizt^m  os  abaixo  aBãigtiados,  pro^^ríf^tarios  e  interessadoa 
da  sesmaria  denominada  Resaca  do  himbari^  desta  frofrut^zia  do 
Ca^a  Branca,  termo  de  Mogi-mirirn^  comarca  de  líú,  que  ellet 
«npplicautes,  por  titulo  Ifgal,  t,ko  senhores  do  respectivo  terreno, 
letn  Cfmtradícçào,  nem  opposi^Ao  de  alguém,  como  se  mostra  dos 
documentOB  juntoià;  e  para  bem  de  serem  garantidos  pela  lei  do 
Império,  requerem  a  V.  S,  lhes  conceda  liceuça  para  limparem 
OB  rumos  já  corridos  e  de  marca  dos »    acceitando    V.  8,  ao    piloto 


I 


—  205  — 

hhQ  Maifellino  o  Francisco  Martins  de  CarvalTio  para  exami-' 
narí-iiQ  e  coneenorem  os  referidos  ventos,  na  foiii.ii  cmtcedida 
P,  P.  a  V.  S.,  ©te.— C/r  ias  Emídio  Nogueira— -Jomx  Pereira  áí 
^uio.— Termo. — Ào»  21  dias  do  mes  de  maio  de  13B0,  nesta 
ÍTfgfui^fifl  da  Casa  Branca^  em  casas  Ha  residência  do  juiat  de 
pas  Eupplente  Mannet  Luiz  da  Silra  Yillela,  onde  fui  vindo  ea, 
e^cnvio  de  sf^m  car^ro,  ao  diante  nomeado,  tendo  ahi  presi^nteSf 
compareceram  o  alferes  Urías  Ecnygdio  Nogueira,  JoUo  Ferf^ira 
de  SoQui  e  ontrofl  interessados  da  Resinaria  denominada  Resaca 
íq  Latnbvri^  para  o  eSeito  de  nomearem  louvados  para  o  alim* 
|»am«Qto  dos  rumos  da  dita  sesmaria,  oa  quaes  uom«5aram  a  Si!- 
Tftrio  Pnreira  da  Costa  e  Joaquim  Maehíido  de  Oliveira,  para 
cujo  fim  foram,  por  ordem  do  juia,  notilicados  para  prestaram  o 
juramí^tito  dos  Santc»ã  Evan^elbo^,  i^tiilmente  aos  piloros  no- 
m^adcs  Joào  MuTcí'Uinf>  e  FrHnciacn  Martins  de  Car?allio;  do 
^Q^  pura  constar  mandou  O  dito  juiz  fazer  este  em  que  declara 
qudiqQcr  dia  do  mf-z  de  junho  próximo  para  efftictuarom  a  dita 
Biediçaf)  e  limpamento  doa  rumos,  e  lavrar  este  termo  em  que 
w  *â«igna  cfm  ob  ititeresstídos.  Eu,  Mnnuel  Joaquim  de  áousa, 
«tcri vio  que  o  e s cre V i .  —  Villela — Ba Id u íno  José  Ma rq nes^  Joõ/o 
Pereira  *^€  Sousa— Júão  Lmifenço  —  Bio^imi  de  cruz  de  Ignacio 
JÍííía  Nogueira— Si \^utú  de  cruz  de  Ignacio  Martins  de  Carvalho 
"Sijçiial  de  cruz  do    Prancisco  Pereira.  -—  José    de    Magalhães 

3— Dis  Lourenço  Martins  Leme,  da  Casa  Branca,  que  o 
«npplieiíiite  requerendo  ao  f-i-juiz  das  medições  capiião  Manuel 
Um  dtt  Barros,  a  reformação  dos  marcog  de  pau  a  pedraít  da 
*ni  ««iinaría  da  Re^taca  do  Rio  Lambari  ^  ao  qun,  de  te  rindo 
iMudoii  que  se  citaf^^e  aos  heteoi»  confinantes,  o  que  a-  í'í*z:  que 
^  íup(>licante  faz  a  bem  que  o  actual  escrivào,  revendo  os  dito* 
auici,  ih**  pae^e  certidão  em  breve  relatório,  declarando  [tor  aeUB 
uoinça  snbr'  (?)  e  cogaomes  os  lií^rêoa  que  te  citaram  e  a  data 
^8  cí-nidfto,  que  a  ser  uma  só,  que  a  pasae  por  seu  teor,-  Des- 
fACBo.^Paate  na  forma  que  requer.  ViHa de  il/o^ij  20  demarco 
de  2824.^ Praí/o —Certii>áo.  — Manuel  António  dt*.  Oliveira,  ta- 
■^'lilo  publico  do  judicbil  e  nrtas  e  maÍE  aune^coa  ne^ta  villade 
^^i-mirim,  e  seu  termo,  &^Certitico  que  revpiido  os  aut<i^  de 
%^^  laz  menção  o  requerimento  retro,  uôHrs  a  fls-  19  ee  acha  o 
J*inUdo  do  teor  e  íôrma  flej^ruinte  :  O  capitào  Manuel  DiaB  de 
-^^CM,  cidadfto  juiz  dad  mediçuea  das  t4*rraa  de  sei^  toaria  da  vi  lia 
J^  'tirino  de  8ãQ  José  de  Mogi-mirim,  por  proviftào  trienal  do 
^Ittio.  Exmo  Sr.  Marquez  de  Alegrete,  g-overnadur  e  capitáo  pe- 
^^'AÍ  desta  capitania,  e  na  mesma  vil  la  e  seu  termo  procurador 
^  f^íizeíida  Keal  por  provisão  do  Serenissirao  Príncipe  lieí*ente 
"OBtó  Senhor,  que  Heos  guarde,  ete, — Mando  ao  eBctivàf^  do 
meu  car^  que  i>or  bem  deíít*^,  indo  por  mim  a&sÍg'nado,  e  em 
^'^'^Itrmiento  do  meu  despacho  interlocut^mo  de  íls  16  v.  dos 
ftutfli  da  mediç&o  da  aesmaria  que  obteve  Lourenço  Martin&  Leme 


—  206  — 

e  fez  medÍT  na  pRraií'em  da  Ilcifaca  do  rMmbarí^  gom  citAçifco 
feitíi  nos  Lercoa  confínnntes  da  niesma,  citem  uqs  mesmos,  que 
sSo  1  Joaquim  Furtado  da  Silva,  Bento  Dias  GarcÍA,  ore v.  Fran- 
cisco de  Godoy  Coelho,  António  Xavier  MacliaJo,  Joflo  Joad, 
Ignacio  Ft^rreira  Alves,  Francisco  Ferreira,  Gonçalo  Ferreira 
Garcia,  JoAo  Lwis,  Joílo  Francisco  (por  cabeça  de  sua  mullier), 
Ignacio  de  França  (}tor  cabeça  de  sua  mnlhci),  António  Manuel 
Corríia  Leme  (por  cabeça  de  aiia  mulher),  António  Fernandes 
(por  cabeça  de  ina  mulher),  José  Dias  Mftiuardo  (l)f  e  Cítes  na 
qualidade  dv  berdf^iroe  de  At;na  Garcia  e  equ  marido  João  Mar- 
tins Diaiz,  como  também  a  Amónio  Martius  e  Joflo  de  Matos  o 
seu3  irmíio?!  que  me  informam  serem  os  sobreditos  confina  ates  da 
dita  seaToaTia,  para  qne  no  dia  22  do  corrente  muz,  em  qae  hei 
fazer  audiência  na  fazenda  da  Paciência  o  Pederneiras,  compa- 
reçam jkOL'  ú  ou  por  seua  procuradorca,  na  mesma  audianí;ia,  para 
neila  àiz&r^va  o  que  lhes  âzer  a  bem,  respeito  á  mediç&o  e  de- 
marcação da  mefinia  feíuiíiria,  píira  o  íim  de  se  poder  jul^jar  por 
sentença  a  me&ma,  como  me  foi  requerido  pelo  mcemo  aesmciro 
em  ma  petição  de  fls,  IG.  Visto  que  dos  mesmos  autos  uio 
consta  serem  citados  os  ditos  confinantes,  nem  Luciano  Dias,  por 
também  o  ser,  ao  qual  egualmen te  citará  para  a  mesma  audiência, 
e  a  todos  sobreditos,  com  a  comininAç?io  do,  á  sua  revelia,  bo 
proseguirem  os  mais  termos  de  direito:  o  qiio  cumpra  e  ai  nfto 
faça.  Villa  de  Moi^i-mirim,  13  de  maiço  do  1813.  Eu,  Fran- 
cífco  de  Paula  Brito  de  Andrade,  Oicrivão  qu©  o  eacrevi*  — 
Bahuos,  — Francisco  de  Paula  Brito  do  Andrade,  tabelliáo  do 
pnblico,  jndicial  c  notas,  o  escrivUo  desta  Bcsiiiaria,  por  provisão, 
etc.  'CertiGcD  que  em  virtude  da  mandado  supra,  citei  aos  con- 
finantes declarador  no  meimo  por  todo  o  couteúdo  tupra,  o  que 
fiz  a  uns  em  suas  próprias  pessoas  e  a  outros  por  cartas  quo 
tive  a  certeza  de  sua  entrega.     O  referido  ó  verdade,  em  fó  do 

3ue  passo  o  presente  que  assigno.  Paciência  e  Pederneiras,  22 
e  março  tíe  1813,— Francisco  db  Paula  Buito  de  Andiude, — 
E  nadft  mnis  se  continha  nem  declarava  em  dito  mandado,  cte. 
E  eu,  Manoel  António  de  Olivf^ir/i,  escriví^o  que  o  subscrevi, 
conferi  e  nsai^no.    Manuel  António  db  Olivriha, 

Setz  de  SETEMBuo^Rua,  antigamente  denominada  da  Falha 
por  que  é  mais  conhecida. 

Silicato  dr  POTASFA^Vide  Kaolin. 

Silvério— Córrego,  na  faa.  Várzea  Grande,  aff.  do  rio  Verde. 

SiLVESTRE^Corrego,  na  faz-   São  José  da  Serra, 

SiTio — O  mesmo  que  chácara.  Também  dizem  situação^  Ha- 
bitação rústica  com  uma  pequena  granja  (Auletr)* — Em  Bio 
Paulo  da  £e  esta  denominação  ás    pequenas  fazendas* 

Sobrado — Córrego  na  antiga  fazenda  de  Cocaesi  tributaria 
de  ríheir!ko  deste   nomo. 


(1)    Ma!Q*rda.  Milnate  oa  Ualnarotfl  t 


-  207  — 

SoRuCà— Assim  doiíomiuain-se  a^  excavnçôoí  quo  se  yi^m  ao 
pé  áeatft  cidade.  tiiTibeui  cliaLDada^  búnsnroca^f  e  ds^b^iTaticados 
ou  eibarrofidfidoiro?,  em  Miiia^.  Quaiidoo  cíê  imperador  d,  Fedro 
U  vigilou  Casa  Branca,  em  ISH7,  dizem  qiití  ex pendura  èuíi  opi- 
nião a  respeito,  manifestando  que  o  verdadeiro  nome  era  *Sorúca. 
Ke**a  occasiào  um  doa  rcporters  qufâ  o  flcompjnbavaai  publicou 
em  jortial  áo  liío  a  gegujnto    quadra: 

<  De  Casa  Branca  a  cidadô 
alegra  a  quem   a  visita  \ 
ppía  ao  kdo  das  sórócas 
tem  muita  moça  bonita.» 

Esta  qnadra  é  attríbuida  ao  poeta  Jíucio  Teixeira,  ent&o 
Têpr^fteutante  d 'O  Paiz  (Almanaquk  de  Casa  Braxga,  188 H) 
—Coroca:  (í»:ermidÍo)  rompeu do-se  ;  sendo  rompido,  desmanchado, 
rascado  (Baf.  Caetano) 

Suei  mi— Córrego  a  fluo  ti  to  do  rio  Verde. — Nome  iiidif^ena  da 
aaaconda  brasilica.  LuceoK  faz  meoçlo^  na  li  ia  líos  reptis  da 
tueuriuba  ou  smcnh/íÍ  (b5a  anaconda),  que  diz  ser— a  i*er^  largn 
ttmUr  inale .  Raqueni  e  Lafavkttb  Gecievem  que  sucurijú  ou 
lueuriuba  è—una  specte  di  boa  dei  Bramle..  O  BahAo  Db  Mel- 
OAÇo  dá  noticia  de  trea  rioi,  um  ribeirão  6  uma  cachoeira  do  Es- 
tado de  Mato  GroBso,  cora  o  nome  de  Sucttriã,  EscnAQsOLLtt 
TAUKAYt  considerando  prrtugueza  a  palavra  nncuri^  dá-lbe  oiê- 
naga  como  a  bua  cnrrespQD dente  do  dialecto  (luaná  da  lín;2:ua 
tupi.  0m  rio  de  Goiáa  é  denominado  Sueuriít  por  Cunh^  Ma- 
tos, Azevedo  SiARQtrRS  escreve;  ^  Sucitri  rio  aíVluente  da  mar- 
gem esquerda  do  Tietó  Corre  no  sertão  desconbecido»  Milliet 
DB  Saint-Adolpíie  dcsignft  rios,  povoação,  cacboeiía  e  ribeirões 
cm  Sôo  Paulo*  Minas  e  Mafo  Grosso,  6ob  a  denominnçào  de  Su- 
curi  6  Sucuriú  ;  e  LutH  D^AuNCoiTar  um  rio  de  quart*  ordem, 
da  rofjíào  de  Mato  G^ostlO^  cujo  nome  é  Snctuíti  do  Jurttena,  a 
falando  da  êiteitri  e  da  yiboía,  diz  qut^  egtas  duas  espociea  de 
grandes  cobras  n&o  tèm  veueno,  mas  são  noi^ivas  por  cnmerem 
08  animac^  domestico»,  Cokstancio  Cícrevo  •  Sucurijit  ou  suca- 
ruíiiha:  cobni  cUamada  também  cobra  dp  veado  ^  cobra  monstruosa 
que  traga  um  veado  inteiro.  Creio  que  t';  a  mesma  que  a  anacon- 
o*  da  Ásia.  »  Nfto  mencionam  a  palavra  em  que&Uto:  Baptista 
Cãetauo,  Valle  Cabral,  VellosOj  Moraeâ  Torres,  Costa  Uubim, 
Freire  AlletíiAo,  Tocanliuâ,  Honorato,  Montoya,  Tkoniaz  Pompeu» 
Âdolj>bo  Coelho,  José  Verigsimo,  Barbosa  de  Almeida,  Jomard, 
Moutinho,  Tácbudi  e  outroSj  que  cônsul  tamoã.  E*  do  presumir, 
poit^  que  a  anaconda  brasílica  uào  tenha  o  mesmo  nomo  na?  di- 
vorcias regiões  de  nossa  Pátria,  Em  Minas  e  Sâo  Paulo  tem  a 
denominação  do  sttcuri  6,  mui  raramente  e  erradamente  a  dõ 
êucnrià.  Qual  então  deve  ler  o  aeu  verdadeiro  nome  :— tucuri, 
lucurm,  sucuruiu,  sucurljú,  sucuruíuba    ou  Eucuriuba  ?    A  noaso 


—  208  — 

Tér,  ãfi^ãe  que  se  trate  unicamente  de  designar  0  nninnnl,  deve- 
le  eBcrevPf  sucuri  (nào  i-ucury).  Ah  pariiculaa  ú,  yii,  lé,  jú,  iiba 
tèm  BÍ^niflcaçáo  própria;  e^qu^odo  pospostas  ao  vocábulo^  mudam- 
Ihe  conijUetameuta  a  EÍgnícaçáo.  Át^sím,  por  exemplo:  sucnri  é 
o  nome  d©  uma  cofcra;  desde^  porém,  que  se  lhe  addicioDe  a  de- 
iinencia^fV — (agua,  rio,)  o  vocábulo  [stu^tiri — ú)  pagsa  a  sigoi- 
ficar—río  ãa  «uturi.  Si  so  lhe  ajuntar— t^ ri —  (podre,  apfidre<?ldo>, 
a  palavra  aBâim  comj  oBta  {»ucuTÍ—yú  ou  »ucurú — ^«a)  designará 
ama  BucTiri  podre. — Sucuri  é  melhor  ortho^raphia  do  quo  a  usual 
{sucurjf).  Martins  escjeve — Çutur^UfG  defioe-a — cobra  d^agua. 
— Sucuri:  a  íie» pente  gigante  quf^  habita  nos  grandes  rios  e  en- 
gole um  boi  De  sua,  animal  e  curi  oucuràj  roncador.  Animal 
roncador,   porque  de  feito  o  ronco  da  sueuri  é    medonho      JoBâi 

DS    ALENCAR,) 

Tamanduá  ^Córrego,  aff.  do  Sucuri. — Do  gaarani  taman- 
duá.    Quadrúpede  conhecido,  de  que  ha  duas  espécies :  handÉÍ~ 

ra  e  mirim, 

Tambahi— Vids  Tambahú. 

Tambahú— Povoação  e  districto  de  paz^  creado  pela  lei  es- 
tadal  n.  79,  de  25  de  agogto  de  1892. — Rio;  nnEce  na  Barra 
Grande,  conãuencia  dos  ribeirõeã  Arrependido  e  Bebedouro  e 
corre  entre  esre  muoicipio  e  o  de  Sào  Simdo.  na  direcção  d*^  sudo- 
este pat£  nordeste.  Azicvedo  HARQt^i-m  designa  este  rio,  itffluente 
do  Pardo,  pelo  nome  de  Tambahi,  que  na  lirtgtia  tupi  quer  dizer 
a  mesma  cou-a  qun  Tf<mhahà  Os  caipiras,  ou  ti  atura  es  deitas 
para^íenâ,  dào-lhe  este  ultimo  nome. — Local  em  qtt«  O  rio  Tam- 
Dahii  atravesía  a  serra  do  Arrependido, — Vocábulo  indigena^  ou 
da  lingtia  g-Piral,  significando  rir}  dm  mexilhões:  composto  de 
tambài  mfXtlliòea  osUas,  o  Ati  (corruptela  do  Ar/),  rio,  agua.  Tam- 
há,  mexillfmej*,  etiam  quod  est^  intra  pudenda  muHeri{yíoíVT€n' a), 
Tambéf  mexilhões,  ostraí,  o  que  está  dentro  da  concha  (Baptis- 
ta Caítano).  Oa  indígenas  tinham  por  costume  derignar  as 
localidades  pelo  nome  correspondente  a  phenomenosi  phyi|Coft 
notáveis,  ou  a  accidentes  das  mesmas  localidades.  Nilo  parece, 
por  isFO,  raaoavel  a  gignificaçÃo  de  rio  dos  mexilhões  para  o 
no^so  Tambabú.  Baitista  Cartano  diz:  * — Çambabt  part.  : 
logar,  tempo,  modo  de  ser  amarrado;  Bubst. :  juntura,  uniâo^ 
attitíulaç&o».  Esta  a  raiz  m/its  provável  do  vocábulo  Çamòab-i, 
que  se  corrom[i«u  mais  tarde»  pela  queda  do  ç  brando,  em  Tam^ 
bahl  Otl  Tambaliú ;  e  quer  dizer  logar  onde  o  rio  se  junta ,  E 
é  juntamente  na  serra  dj  arrependido,  cortada  pelo  Tambahú  e 
pela  eatrada  de  S,  Simào,  que  esie  rio  faz  juoçAo  com  o  Ta- 
quaruçú.  A  denominação  extendeu-se  a  tod^  a  sona  banhada 
pelo  rio.  O  nome  Tambahú,  disse-me  o  illustre  indianólogo  e 
meti  «andoEO  amigo  ViscoNtu  de  BKAURJíPAmK-RoHAN,  náo  é 
eicluâivo  do  município  de  Coãa  Br  anta,  Ha  na  Parahiba  do 
NorUr  a  alguns  kilnmetros  da  oapital,  uma  enbcada  chamada 
Tambahú,  onde  passei  um  dia    mui    alegre    em    companhia    de 


L 


—  209  — 


ftmi^oi,  S6iid<»  eu  então  prés  ide  nt*i  da  proviaçii.  No  arti^ 
Nomina  locorum  do  seu  Glonnario^  Martius  menciona  este  Tam~ 
6a  A  li,  e  mais  e  Tambahã^entsú  e  o  lambahú-mirim^  cachoeiras 
do  rio  Tieié^  das  quae»  fala  o  aabio  dr.  La-Cerda  no  teu  Dim-^ 
rio  d£  viagem,  iem  corotudo  dar- lhes  a  otymolog^ia^    como    aliai 

0  fes  a  respeílo  de  ontra»  cachoeiraa  e  demais  ac^id^ntf^g  da^ 
qnelle  gnnée  rio.  (i)  E'  bem  claro  que  o  vocábulo  Tainha  ai- 
gama  siguilícaç&o  tem;  mas,  além  da  que  Ibe  dá  Montoya,  não 

1  tenho   podido  eueoatrar  em  vocabulário  al^um  da  liu^ua  tupi. 
Áo  mexilbào  chamavam  os  itidioB  da  costa— sururu^  nome    que, 
desconhecido  hoje  ua  parte  m^ridionaL  do  nusco  litoral,  é  ainda 
usual  na  Bahia  e  d^hi  para  o  norte,   menos  no  Pam,  onde,  se- 
gando Bahna,  o  conhecem    |>ela    denominação    portng-ueza.     Do 
mexilhlo  da  agtia  doce,  de  que  f^la  Gabkigl  SoARaet,    sem    Ibe 
mdicar  o  nome  tupt,  eu  nada  lhe    poaso    dizer.     Cumpriria    Fa- 
W  Et  neaee  rio   Tambahú,  do  ^eu  munieipio,    ha    meicilbòes    ou 
oatm  qualquer  marisco  a  que  se  poBta  a|jpliear  o  nome  guarani 
de  iambá.     Será  um  peixe '?     No  Pará  ha  O   Tambaki,  que   vive 
Du  arruas  doce«  do  Amainou.     Era  S     Paulo  hn.  no    rio     Tietê 
im  peixe  chamado  taharajta  (2)      Se^rá  ett©    nome    uma    corru- 
ptela de  tamharana^  si  unificando  neste  cãAú  — semelhante  ao  tambá  f 
Sào  me  ê  posBivel  esclarecer  estas  duvidas,    e    eu,    n^-stes  ca  aos  ^ 
Ifíffiro  antes  confeasar  a  minha  ignoranc'a  do  que  fabricar  ety- 
«ob^ias  irrisoriafl,  eomo  o  fazem  certos  gabios,  aos    qua^s    bem 
16  |íôde  appHcar  a  sentença  d©  Mcuérb:   Un  sol  ítavant  ent  itot 
jrftwça'  un  s*^it  ignoraní*.     O   pro(  rio    BAFriaxA     CABrANn,     que 
pin&va  como  g^ran-mestre  da    língua    ^eral^    teve    lamenta veii 
nâseihid&s :  por  eiemplíi,  tnmou  como  tupi  a    palavra    carapuça 
«  neiíe  tentido  a  decompoz.     Sua   argrumentaçâo    é    «pparente-* 
picate  t&o  sólida  quf^  pode   facilmente    illudir    a    qualquer    que 
ignore  a  oríg«m  daquella  palavra,  usual  em  Portugal    anfes    da 
descoberta  do  Branl,  eomo  se  pode    ver    na    celebre    cai  ta    de 
Peru  Vaz  de  Caminha,  dirigida  de  Porto  Seguro  ao  rei  d.  Ma- 
i*Oftl.    BAPrrsTA  Caftaso  nuoca  perdoou  a  si    próprio    tamanha 
leviandade,   logo  que  soube  que  a  tinha  commettidn».     Em  carta 
pOítprior,  accrescenta  o  venerando  mestre;     »Ha  dia»  o    Joriml 
ffo  Ctymmercio^  nnticiando  um  naufrágio  na    costa    da     Rirahiba 
«í  Nortej  dá  ao   TambahA  o  nome  de    Tifnbahá,  n  qup  para  mira 
€  inteiramente  n-^vo.     Nó^    temoB    uma    arvore    de    con&trueçlko 
cbatoada  Trmbahnba  e  lambem    Timbahiba.     E'  talvez    mais   um 
Aleajeoto  para  a  di^cusaào».     Nos  riot  e  córregos    deste     Estado 
hl  ptu  abundância  um  peixe  chamado  tamhiíi^  pouco  m»ior  que 
o  hmbari  e  da  megma  ef^pecie*     N4o  será  essa    nome    Tamhakú 
tuna  corrupçíLO  de  iambiú  *— As  divisai  do  districto  de    Taniba- 
iú,  legnndo  a  lei  referida,  eram  ai  seguintes,  conforme  ao  tex- 


-  210  — 

to  ãíí  meama  lei,  deste  ieôvx  «Art.  1/  Fica  creado  um  dístri- 
cto  dõ  pJiz  na  povoação  de  Tatabahú,  manicipio  de  Casa  B^a^c♦^, 
com  as  i^eiç^tiLnteã  divleasi  Ãlio  da  âerra  do  Árrcpotididn,  oude 
se  encoiiham  ob  limites  do  miinicipio  dfi  Santa  Crua  das  Pal- 
meiras, secundo  depoifi  pelas  divisai  da  fazenda  do  cidadão 
Frflni*ÍBco  Borges  de  Souaa  Dantas  a  encoiUrar  a  fir-ícnda  do 
eidadào  Joaquim  Caetano  da  Lima,  continaando  sempre  i  oUa 
divi-aft  da  faisenda  do  cidadão  Sousa  Dantas  nté  ao  correj^o  do 
Árre]íendidot  no  pnntilbào  da  psti-ada  de  íerro  Mo;;iana,  des- 
cendo tste  (!Orrpg'0  até  an  rio  Tambalni,  por  este  acima  ntc  ás 
cabeceiras  do  correio  da  Divisa,  e  destas  as  do  Ãneifto;  destoe, 
pelos  limitei  da  fazenda  Paciência,  seguindo  att;  ao  tio  1'nrdn, 
descendo  este  atê  ás  divitas  do  munícipio  de  S,  Simíio,  e  dahi 
seguindo  ate  ao  ponto  em  que  ti?eiara  principií>  as  divisai,  O 
novo  distrieto  de  paz  se  limita  enm  os  de  Caea  Branca»  Saula 
Crus:  das  Palmeiras,  S,  Simão  e  Santa  Rita  do  Pnsfa  (Juatro, 
Art.  2."  Itcvogam-se  as  diapOBifjões  em  contrario»,— A  lei  n, 
559,  do  20  do  acosto  de  1898  ele%^ou  o  diívtricto  a  rouaicipio, 
Eift  oa  termos  delia  o  oe  do  parecer  da  commissão    do    Seuado  : 

c  Ã  commLS&n,o  de  estatistlen,  teadoe  stutiaio  o  projecto  n.  58 
do  correotio  anno  da  Camará  dos  Deputados,  elevando  á  catego- 
ria de  município  o  districto  de  paz  Tauibahíi  e  considerando: 
que  pelos  documentos  que  o  fandamentaram  evidencia  se  quo 
áqnelle  dJstricto  de  paz  sobram  condições  do  deíenvolvimento  o 
prosperidade,  sem  que  fstas  faltem  também  ao  município  do 
Casa  Branca  do  qual  se  desmembra;  considerando  que  embora 
este  município  se  opponba  a  tal  elevaçíiOi  a  uvííca  aliegaçÃo  que 
prova  é  que  hibit  iates  do  actuil  distrlcto  de  paz  devem  A  au- 
nicipalidndB  por  impostos  laaçades  e  que,  por  e^fio  niòtiv^*  a 
elevaçàfi  a  município  nào  pode  ter  logar  em  face  do  que  dis]}õe 
a  letra  K  do  art-  2,"  da  lei  n,  476,  de '23  de  dezembro  de  1896; 
considerando  que  essa  disposiíjâo  da  lei  dho  se  apphca  ao  ca»o 
em  quest&o  e  uera  á  iran^ferencia  de  território  doura  paraoutí© 
município;  eoTíldei*ando  que  ainda  mesmo  se  applicasso  acama- 
ra de  Casa  Brai\ca  tem  salvo  seu  direito  d  cobrança  csecutiva 
pelo  que  legalmente  lhe  for  devido:  conslderaiido  que  além  de 
D&o  perecer  seu  direito  por  e&^e  lado,  ainda  o  novo  município 
será  responsável,  por  uma  quota  parte  das  dividas  já,  poiveulura, 
contrabldas  pelo  município  de  Casa  Branca  ex-vi  do  que  dlspòe 
o  art.  6.°  da  lei  n.  16,  de  13  de  novembro  de  1891*  c  a  com- 
missâo  de  parecer  que  o  projecto  eotre  em  discussão  e  seja  ap- 
provado  pelo    Senado 

Sala  das  commissôea,  2  de  aE:osto  do  1698.  — A,  Cândida 
Sodnffuei. — X  B.  de  MtUo  e  Olimira . 


I 


—  211  "- 
501»,  fie  lCf)a 

<Att,  1.^  Fica  elevado  á  categoria  de  município  o  distrieto 
dep.«  Tamhahá, 

An.  2,"  O  tuuíiicifio  de  Tambakà  terá  na  segui rites  divisfle; 
pTÍncipíaudo  uo  alto  da  sena  do  Arrepeniíiíh  no  |ifintô  em  q«e 
atítvessAm  os  trilhes  dn  Cnmpai^hia  Mvgitina,  ^t^xiem  ]"i?'o  alto 
do  eíjngào  uaa  divitas  do  corpoel  João  C  Leite  Feutepdo  e  An- 
tomo  C'  do  Amaral  T^flpfl,  continuando  pelo  esfigào  nas  djviBfts  de 
d.  Veddíflna  Prado  &  Filto  aié  encoiitrar  as  dívieaâ  do»  her- 
deiroi  <Íc  Jonquim  Caetano  do  Lima,  iior  eetaB  ate  encfiitrar  o 
o  líanego  THuco  Pt' tio ^  por  cblo  i baixo  nté  o  rio  Tambahâ^  pelo 
rio  ííiífjfiaAíi  abaixo  até  o  rio  Pardo,  pelo  rio  Pardo  abaixa  até 
*^>  ribeirão  Quebra  Cuia,  por  eate  acima  alé  a  fazenda  de  AntO' 
aio  Thomíiíi  de  CarTalho,  seguindo  deste  jirnto  pelas  aguas  ver- 
tenlPi  da  fazenda  Bom  S^a^censo  edividiado  com  o  mimicipao  de 
'"^t  Simão  até  encontrar  a^  divisas  do  município  do  òanta  Rita 
íííí  Púita  QnairOf  por  estas  até  os  cafesaes  de  Joflo  Franco  do 
Oliveira  o  Francisco  Ferreira  de  Carvalljo  no  alto  da  Serra  do 
^ío  Claro  e  dabi  pelo  espig-âo    at«  fecbar  o  perímetro. 

Art.  S.""  Ã  primeira  camará  do  novo  manicipio  compor-se^á 
<3e  seis  vereadores. 

Alt.  4.^  Não  poderá  realizar- £c  a  installa^íío  touiiieípal  sem 
quí!  a  A  respectiva  sede  se  verifique  a  eiisteDcia  de  prédio  tom 
'II  oeeessariaâ  accommodaçoea  para  o  fituceionamentú  dn  camará 
e  taâeifl, 

ÃrL  5."  Revogam-so  as  disposições  em  contrario.» 

A  priroeira  oleiçiLo  municipal  reíiliznu-ae  a  23  de  março  ã^i 
lB9t),  aeodo  eleitoA  vereadores  ú  eapiU&o  David  òp.  Almeida  Santos 
Q  ca|iitão  Joié  de  Vasconcelos  Bitencourt,  Jcfio  Ferreira  de 
Cifttrjj,  Damazo  de  Sousa  Pinto,  João  Baptista  Alvtírea  MacLado 
^  José  de  Magalhàus  Passos  Jani'  r,  doa  quaes  tomaram  posiíe  os 
quatro  primeiros  a  15  de  abril  seguinte,  iustíilando-se,  assini,  o 
launicipio . 

Taquaha— Corre/^o,  na  faz,  de  Cocaes,  affíuente  do  Cocaes. 
-'Da  gíiarani  ta^fuara.  PUnta  de  que  ha  varias  espécies;  hçh 
*«  gmude;  t  ou  mirim^  pequena;  pinina  ou  pintada;  paca  ou 
que  f  suu  í  RuniM), 

Tai^uaiíal -Correffo;  banba  a  fazenda  Jardim, 

TaquaRUçu — Taquara  grande,  canoa  grossa,  arundhmceais 
S*gantea)f  (  Bap,  Cabtano).— Vide  Taquarussú  —  Vccabulo  guara- 
%  wmpoito  de  taquara  (^canna  oca)  e  nçu  (grande), 

TA4UARL'Sí>i;--Hib©irào,   tributário     do  Tambabú, — Vide  Ta- 

Tesída — ^Correg-o,  aflL  do    Cocaes, 

Tbnkste  CAUvALi:ína — Ru»,  que  liga,  cm  [ej:|uena  distancia 
^^  ]ar^'o&  da  Matriz  e  Horário;  e  aâsim  deiiomiaada  em  bomena- 
K^Qi  fto  tenente  António  Joâé  Teixeira,  ajjpelUdado  o  CartJfííAmAo. 


—  212  — 

Tene^íttd  Coronbl  Silos— Antiga  denomioft^o  da  ma  Bar&o 
de  Casa  Bianca. 

Terra  Vhrmbi^ha — Fas-,  no  districfco  de  Tambabú,  jierten- 
cente  ao  capitão  José  de  Vaacoacelos  Bi  teu  court.  ^Córrego,  na 
faz.  CoDfíoubaB. 

Terra  Vermelha  de  Cima— Fazeoda,  situada  no  munícipío 
de  Cat^a  Braoca,  a  seis  kiloniétioã  da  estação  de  Tambahú,  a 
que  e«tá  libada  por  excelletite  estrada  de  rodagem.  Não  tem 
terras  de  primeira  qualidade  ;  lào  todas  baixas,  sujei  tas  á  g'^dA 
na  mor  parte  e  cobertas  de  cerrados.  E'  banbada  pelo  correio 
do  Bebedour*!,  pelo  da  Divisa,  aíHueute  deste,  e  pelo  Preto, 
affluente  do  Tambahú.  Sua  área  é  de  1.259,35/21  hectares  ou 
520,  6  alqueire»  ©  o  perímetro  de  17,251  kibmetros.  Foi  divi- 
dida judieialmeute  em  1894^  sendo  as  terras  ayaliadas  a  200SOOO' 
c  alqueire  de  50  >^  100  braçaí^,  ou  104:120$OOCJ  a  totalidade^ 
Pertencia  etitlko  ao  capitão  José  de  Vatcoocelos  Bitencomrt,. 
Moysés  Meudes  de  Oliveira,  Jesuino  Garcia  Vieira,  Manuel 
Tbeodoro  de  Moura,  Joíé  Martins  da  Silva,  Jocelyuo  Lucas 
Pereira,  Cândido  José  Moieira,  Joào  Salvador  e  a  berdeiros  de 
Manuel  Jacintbo  Garcia,  e  «eu  primitivo  proprietaiio  foi  Silvério 
Pereira  da  Cotta,  que  a  veudeu  a  Bimão  Garcia  Mulano  e  deste. 
passou  a  seus   herdeiros. 

Thbatbo  SAo    JofiÉ — Foi  con«truido,    no    largo    da    Matriz, 

5or  uma  aEsociação  fundada  a  27  de  agosto  de  1871,  a  esforços 
o  dr     Martinho  Avelino. 

Ti-AííNA-  Lopar,  no  bairro  da  Vargem  Grande,  cuja  deno- 
minação é  uma  corruptela  de    Tia^Anna, 

Tijuco— Vocábulo  brasileiro:  lama,  e  particularmeute  a 
lama  de  cor  epcura.  Também  te  diz  Uijuco,  W  de  origem  tupi 
(Rohan),  No  Dircionario  pçrUtgvês-hra»ília7io  vem  íijuca  e  no 
Vúcobulario  da  língua  brctítilica — fuíii ca,  como  ainda  se  diz  no 
dialecto  amazoDiensf,  segundo  Seixas.  Em  guarani :  iuyú  (Moh^ 
toya) 

Tijuco  Preto — Córrego,  affluente  do  TambahiL 

Tócab — Córrego ;  laai  barra  no  Tambahú. 

Tr^s  Ib^ãob — Fazenda  de  Josc  R^  drigues  Goulart  e  outros, 
ne,  pela  Ifi  n.  5,  de  B  de  março  de  1873,  foi  desligada  de 
elém  do  Desralvado  e  annexada  á  freguesia  de  Santa  Riia  do 
Passa  Quatro,  do  município  de  Casa  Branca. 

TuRARAfíA — ^Kibeir&o,  affluente  do  Sant^Ãnna,  que  separa  os 
municipir^s  de  Ca^a  Branca  e  Santa  Cruas  dati  Palmeira», 

TfBUNAB— Capào  e  córrego,  na  fazenda  de  Cocae». — Speeioi 
Apis  nigia  (Martius).  —  Tubuna  :  t^specie  de  abelha  negra;  do 
tvòt  abelha  mestra,  e  wia,  preta  (Bap  C^ErAKo).  Espécie  de 
abelha  iodigena,  mui  commum  em  Missões  e  que  fornece  mel 
agraiiavel  e  mui  procurado,  fornecendo  também  muiia  cera, 
£^  palavra  derivada    do  guarani  túbu-neê^  assobio,  «ilvo  (Eoha* 

OUJfiBA    ColtREIA)» 


—  213  — 
ggy ^ 

Uberabinha— Logar  e  poiíso  na  antiga  estrada  de  rpdagem, 
•desta  cidade  a  Mogimirim. — Fazenda. — Vocábulo  brasileiro,  signi- 
:ficando  Uberaba  pequena.  Uberaba,  em  tupi,  quer  dizer  agua 
'que  hrUha  (u-berâb). 

Uruguaia 'Avenida  do  Novo  Bairro. 

Varobh  Grande— Vide  Boa  Vista  da  Vargem  Grande  6 
Várzea  Grande. 

Varoinh A— Córrego,  trib.  do  Cocaes. 

Varzba — Ffizenda,  situada  neste  municipio  e  no  de  Sào 
Simão. 

Varzba  Grandb — Fazenda,  pertencente  a  António  Rodrigues 
do  Prado  e  outros,  e  dividida  judicialmente  em  1874.  Tinha  a 
superfície  agraria  de  3.146  hectares,  avaliados  em  23:002$  100, 
e  está  hoje  fraccionada  em  muitas  fazendas  e  sities. — Antiga 
fazenda,  de  grande  extensão,  pertencente  a  José  Garcia  Leal 
e  outros;  e  hoje  subdividida  em  muitas  fazendas  e  sitios. — 
Fazenda  de  cultnra,  de  Gabriel  de  Ávila  Ribeiro  e  outros. — 
Quarteirão  policial  desle  districto. 

Vbnoinha — Córrego,  na  faz.  Lagoa,  trib.  do  Lagoa. 

ViCTORiNO— Capão,  na  antiga  fazenda  de  Cocaes. 

ViLLA  FoRTiNO — Vide  Rio  Verde. 

ViMTB  B  SBTB  DB  Março — Rua,  que  liga  os  largos  da  Ma- 
^triz  e  Rosário,  assim  denominada  em  homenagem  á  data  da  lei 
•que  elevou  esta  povoação  á  categoria  de  cidade  (27  de  março 
de  1872). 

VoSBORÓGA— Vocábulo  indigena.~Do  guarani  iòi,  terra,  eorot, 
Tomper.  Barranco ;  e&te  termo  ó  somente  usado  em  São  Paulo 
<(RuBix).    Vide  Btssoróca  e  Soróca. 


BIBLIOGRAPHIA    (*) 


AsBÉviLLi   (P«one  ClAudiú  d'—):  | 

51  Ias  lo  Ds  ies  pferéâ  capnçtní^i, 

AoúLrno  C&CLho: 
Bicobaarto  etymologtco  portaguec.  iSflO. 

AUOUITO     RhlEIRC     BE     LúrOLA  t 

AliQJiDBk  líterArío  panlíiU,  t|t1â. 

AuLKTE  : 
DlccIúbitríD  cõo  tempo  rAB  00    da   Uo|jti»  por- 

Auar»  Ra«kq  : 

ApanUDcatcf    bliUiríco»,  ^eo^ra|>bicos,  blo-^ 
pravincla  de  fi.  Tmolo,  I6TQ. 

ApúDtameDtoi  iobr«  o  aliK)le«nf». 

NõtAi    ao  «piuctiilD   «Do    prlncJptú  e  Ari  geia 

dias  Indioa  da   Britilr,  1^ill^ 
Voei  bule  Ho  ggiriinl,  jfao. 

BàMle  D«  McLUfOj 

Dlcofonarto    cbaro^iiphíca    4ifr  proTivcli  de 
II  Ato  aroi*o,  it-e*. 

B^ifBDiA  DC   Almeida  : 

AlramAfl    pnlurraR   d«    qnii  u^au  01  lodios 
do  Maofir^  imo. 

BaHBDSJI     RâDI^IQUEB  ! 

Notbi    A  ^AnunatlçA   Q  dlcdouitlo  tD[vi  de 

BEALUtEPAtm     RúHAH  : 


BiNHAftoú   úA  CcstÁ   £  BiLv« ; 
Vin^enj  Da  aertjla  do  Ara&zooAft,  tSfiJ. 

Cif IDO  : 
Dcclalonoi,  IBOi. 

Canuts  Thouham  t 
Almtnalc  do  Eftado  âe  B.  FadIi},  l^ft;., 

CjinL  FniCDit.  Phil^   voh   Mautiu*  ' 
rUoMarIjt    ]iii^tiiiraiii    brnsilíeDvIniBt    iíÈt* 

CtwmafUí : 

Ensaia*  BObro  Dscaatumei  do  Rio  Eíninde  do 
fcJuU 

VlUa-RicH,  \ê'^9. 

DkclonRrlo  critico  e  ot>-]DOlog[co  dn  [íd^» 
portDgaeKA,  it!3^ 

ColecçJlo  do  vocAbdchS  o  pbruai  q fidos  nn 
proVinclA  de  tí«  Podro  do  fiío  O i ande 
do  ãal,  iSú». 

CotTA  Ruem : 

Vúc abular io  lirnilelro,  18*1, 
Vocábulos  iodlgeâlii  Ifí&í, 

Cdutú  PE  MAa»LNie4; 

õ  SeUúf/rm,  IHTÕ. 
Of  fiHataHnt,  180*. 
Primeira  viagem  ia  AragQiIi^  ÍâS9« 

Cunha  Mitoa: 


t>loclODirlú    de  Tocabnloi    bratlklroi,  tãf!^.  Chorogr^pbfA  da  Frovlocl*  de  0oiu. 


<  *  )  AlCm  díi*  Aitúrfi  referi  do*  lleí^ta  btlh  atjra  pWa,  íoram  Utabem  citados  ao  /ííí* 
cidttúHú  maii  os  ftegnlaicj:  AdolTo  Paolldo»  António  de  Toledo  Pisa  Jdrj'«  Arialldea  Berpft 
(dr.K  bário  do  Jari.  btrUo  Ho  nem)  de  Mello,  Coalint  iPraoeUco  d*  fl^nítat,  FruLel»ço 
CoocelçSlo,  íJrtkfto  de  OIítcIt*,  Jo*é  HooorEo  de  Sil&í,  Pedro  II  (I>J,  Riciiirdo  AiíUflOr  a 
VlMiODde  de  Bonia  Fontei, 


4 


^^^^p 

^^r                   E»iiK*«iieí.Lt  TxunAt: 

■Jc:*í   01  Atmcjn  .■ 

^H            nfflt  ■  lemu  Ao  Brsuil.  Jlt^i. 

triceran,  IPia 

^H            r«ri««i4«dri  DÁtnrNei  4o  Patiuií,  1f^90. 

0  Gaúcho,   1870. 

^V            tiTnerxríA    it«  vi  agem    feiU    4i    cidade    do 

1                          Bk>  de  J»nHro  lo  Cojiim.  lí«73  ; 

Jflií  Pouii*iu  ot   A.   CiVALCittri : 

Vocabaliti«  dAlin^o»  quiicià  on  cbaoé,  IffT^. 

Cbom^i^bla  d&  ProTlaetK  do  CearA,  1BS9, 

FçLtcia  D«t  BAHTât  : 

iloel  VtKiwiHO  : 

0  i<»«e^.  im2. 

ScâDft*  d  A  TJdA  umaioolcA,  iSBfi . 

Wm^ttottco    &e«  P*«itiii*  Mahanhjo    (  F«iM  = 

iJULlO    RjBIlNO  : 

noltcçan   df^    etyiaologlBs  bmtliciu,  l^ld  1 

Wcriomirfo  d»  tiiign*  (^eml  do  BrMll,  I^BI , 

JL  Ciine,  I^A£). 

Pvniidabii  njiriinb«aie,  i^Dl, 

LMit  oAuHcounT  ; 

FniiitE  AvLiiiiQ : 

EttAti«ilea    dl  ProYittciA    de    MaIo  OrDiio, 

QdrflócT  proitovtaj   Mbr«  hIcbiu  ToealmlM 

1877. 

dji  lingiia  ceraL 

Mao^oq   SoARca  : 

âAwtffcL  Esâatt : 

PlccionaHc  lirAftllefro  dâ  U^gnt.  português  A. 

TnUd«  detorÍptlr«  d<>  Bntlt  ant  15ST,  1^51 

Bitndr^B  loiíko^ApliIccíi    do   dialecto  briil- 

leiro,  JBWí, 

M,   GiitaiA: 

TrAUdo    Juridleo  prtUco  dA  medlçto  e  âe- 

m»reAç»>  de  lerrmi.  \^7, 

KotSeiu  if«t)srat>)>icaii    e  ■4iiiiiititnitÍTia  de 

Mlnu  aeraei.  Jdl4. 

Macm*oo  DC  OLivtiH*  : 

Haoqoc«  Lobo: 

QeogTi|>blA  da  Províncli  de8.  PaoIo,  iSíl. 

Qaadi^  Hlatorico  da  ProvlactA  de  S.  PAUlOf 

Tcmbo   dafc    i«rmf    mmiklpiiM    do    Rio  do 

ie»7. 

Auiro,   1663. 

MnitcanAv  : 

Hg«eiiAT0 : 

BIiloriA  PAtarAl  do  B.*A5ÍI« 

lliccÍDRirio   to|K)gTai>b|i:4  do     FemftHibiii», 

t>i^. 

MlLLIlT    DK    9«IMT'AoãLPHt  : 

Ivce  D^EvftBuK  ; 

DkdoDArío  georrapblCQ  d«  BriulI,  IP63, 

YI*S«M  M  AorM  do  BrUtL 

MiiTAfiDA  Rcpi: 

[tlBerArlo  da  vln^em  tfirrêAtri  dft  «idâda  de 

J.  í!.  W*i.|.*ut: 

Baoi^i  a  C^iAb»,  )ti«3. 

A  tem  e  o  bomeni,  16S4. 

Mon»t ; 

JaXo   AlVAMM   foAllE»! 

DiwloiiATto  pôftUEiiei. 

Morai*  Torheb  ■ 

VocabnUrlo    d  a  IlapoA  geral  do  Alio  Ãmâ- 

JqIo   McMDia  DE  Almii&í  ' 

lADAa,  ISi3. 

AlganiM  nRitm   ^pupaIob^ícai,  1FS0 

MúnttmA    Pmto  ; 

Dledon»m  Kco&rapbica  do  a.  Pmío,  (Iné- 

dito}. 

DIocloDArlo    geo^apblco   do    Briall,    IgfcT» 

]d99  «  JtB4. 

JaHH     LuCCOKt 

MlMlTOVA  ; 

^K              A    Criminar    ited    Toubultiy    of   tbfl  tnp 

VijcAtittlirlo  y  teiOTO    d«  la  lepgiia  gnarADl 

^^^^^^ 

Mot/TtNHO  : 

^^^^      Billetln    de    U  Bocf«té  de   Gee^niplite   de 

Noticia  lobre  A  Pi  orlada    âo  Ifato  OroiiO^. 

^M^ 

IÊ60. 

—  216  — 


0ig4ii  Lui. : 
Õ  AmmioDu,  IFM. 

PcoHO  Jomi  Dl  Paula  t  Silvj^; 
AlíAAfittlc  âfs  C*mfhkwA,  1880. 

PlMBMTfL,* 

ÁriB  de  naregu,  JSIft, 

Raiol  : 
Motim  polHIcM. 

Ra^uehi  e  UiFAVfTTi  : 

HoHAaUEMA    COÃMIU: 

YiicãbalArlo  BiLlrlo^AndAOia,  1696. 

ilm«iiBlE  de  Moffi  mirim*  IbSQ. 
SepAâTjlç  PauaihI: 

VoflabaLwlo  da  UdfB*  jndJgenA  fferftl^  16fi3. 

BCVCNIANO    DA    FúHAtOA  I 

Tlft^otn  iw  rador  do  Bruill,  tBBQ. 

Th  IODO  no  BtHP-At»  ; 

A  nt^ha  gontAiiJl  d>   c»ple»iila  dá  Bio  Vt- 
««nta,  18U7. 

Thimiu  Pompbu: 
Diodonaríd  topogrHphíoo  do  Cskré,  1801. 

TóDANTENI    : 

DIftlKlõ  àm  mtLDdarucái;  I87T. 


TúLteo  RcpiooM ; 

ItemoríR    iinbT4    »    aldelu    Am    ioúicm  d» 
FroviDcIt  de  H.  Pau  lo,  INâ. 

Tictivci : 

Versei eb D i»    Ton    Worlvn   d«r   Nttlueiiiiik 
BoLokiAflD,  l^flS. 

Valdcz  ;: 
DlcoloniTlo  QipkOol-pQrtuguéi. 

Vai,i,i  CAiifiAL ; 
Bt^molo^lu  briullku,  1877, 

Vaunhacien    (F.   ADotro— }: 
Bl4toríft  irsral    do  Bruíl#  iSTe, 

Vaz  di   Mello  : 

VcLLatã ! 
VoDAbalarlo  dot  ludJoi  oiíuíé^i 

VmitiiQ : 
BldçtdAriD,  M-m. 


*** 
AlmADAk  dft  CunpiíiAi,  1^6. 

Anoaej  da  Blbilotbe^a  NHcJofitl. 
DlcpfOQArtú  do  Qe<ogT«plif«  CulTertal,  IStf » 
Doe  uni  eu  to  9    iDterefjmDtN   par«    &  liiau^rm 

de  B&o  Paulo  iFobllo^çl*  do  Arcfalvo  Pk- 

líllto). 
Ordenações  do  Refno  úe  Fortn^át. 
Relatório    da  ComiulsiiiAo   CftQtraL    dt  Eitfr- 

tbtlu,  i8he, 
EeviíLa  Briillejni,  ISM, 
Bâviitn  âú  UQteti  P«iiUita 
Rflviíta    TrimeDial    do    Tnatltaio  BtotoriOO. 
Vocabuíario  da  linfa  A  bru;UM. 


Apontamentos  relativos  a  Aleixo  Garcia 


Este  Wmem  audaz,  quB  appareceu  coma  um  meteoro,  pa8> 
ludo  &lraYés  das  motitatihas  e  doa  rios  que  interceptavam  iu& 
Tiig«m  da  costa  do  Brasil  aos  cotiftus  do  Itnppiio  dos  Incas, 
deaappareceu  da  me^ma  forma,  d^^ixando  um  nome  que  oão  dove 
s^r  olvidado  pelot  hifitoriadotea  brasileiro». 

Aiadfi  que  alguns  hiâtoríadoroB  ponham  duvida  sobre  a 
TBTicidad©  da  viagem  d©  Aleixo  Garcia,  comtudo,  esm infanda 
o  qtie  outros  nos  revelam  a  seu  respeito,  nào  podemos  deixar 
d«  concluir  que  nua  viagem  foi  verídica  e  uma  daa  maiB  arro-» 
JÃ^fij  do  século  dezeseia 

Purtiudo  da  costa  do  Brasil  seis  europeus  e  grande  numera 
de  í&djgeuas,  para  se  internarem  bob  bo^que^  sombrioi  de  um 
uk  povoado  por  ael vagem,  era  preciso  que  o  chefe  de  aeme- 
Ibnte  expedtçáo  fosie  de  um  temperamento  aidente  e  dotado 
de  cortgem  inquebrantável. 

Fabulosas  ou  verídica s^  as  noticias  transmit tidas  dessa  via- 
gem %  dos  resultados  obtidos,  serviam  de  incentivo  a  outros 
ttCstemidos  exploradores  do  mesmo  século,  excitando  ae  ambições 
«tiles,  e  estimulaudo-os  a  penetrarem  na  vo»ta  regifi-o  deficonbe- 
^á»  do  GODtiuente  sul -americano  em  procura  das  immeusaa 
nqtiQzai  que  se  contava  exí atirem  uo  poder  do&  iudigenaa. 

Como  procurei  demonstrar  nos  Subsídios  para  a  hisUjna  ãé 
h^Qpt,  a  partida  de  Aleixo  Garcia  do  porto  de  Sào  Vicente  no 
ftQD&  do  15-24  a  mandado  de  Martim  Affonso  de  Souaa,  deve 
8«r  considerada  apocrypha,  porquanto  nâo  podia  elle  ter  sido 
nj*odado  em  exploração  pelo  dito  ilartim  Affonso  d©  Sousa»  que 
■ííntiito  no  anuo  de  1531   chegou  á  costa  do  Brasil. 

Por  tudo  quanto  diz  a  bigtoria,  devemos  inferir  que  no 
*^ao  de  1524  os  únicos  europeus  existentes  em  Sào  Vicente  ou 
'^^  arredorei    er&m    os    celebres  Joào  Bamalho  e  António  Ko- 

Kesta  época,  tias  proximidades  de  Iguape,  existia  o  bacharel 
pmaguêa  que  foi  desterrado  no  anno  de  lõOl,  (e  que  tudo  noa 
le?a  a  crer  que  se  chamava  Cosme  Fernandes)  em  companhia 
J*  Praucisco  de  Chaves  e  nmis  alguns  castelhanos,  não  podendo 
J^^idar  que  estes  castelhanos  fossem  os  homens  perdidos,  da 
^ot&  commandada  por  Juan  Diaa  de  Solis  que  navegava  nesta 
MBta  no  anno  de  1508, 


—  21g  — 

Próximo  á  ílta  de  Santa  CAthariníi,  liavm  diversos  euro- 
peus vivendo  cm  harmonia  cum  o&  iiidl^ptms,  o,  así-im,  temos 
ues  BUcleoB  europeus  uetta  eo&tíi  do  BrnsiJ,  doude  podíft  ter 
partido  a  expediçÃo  d«  Aleixo  Garcia, 

Vejamos  o  í|UO  La  a  favor  ou  eontra  a  opinião  por  nós 
emittidtt  de  ter  sido  Iguape  esíe  iiuclet>. 

Dizem  08  historiadores  que  Áloíxo  Garcia  partiu  com  cítico 
europeus  &  mn  coutlngente  untuero^o  de  indígenas  de  Sâo  Vi- 
cente, indo  através  dts  sertões  até  as  fiaUrta  dos  Áudes,  voltando 
coui  £»TandeB  riquezas  atú  a»  iiiarj^ena  do  rio  Paraguai,  donde 
irtandou  dgiUá  de  seus  coLipaulieiros,  íieompaii liados  pi>r  doze 
indígenas,  ndeante,  cóm  amostras  da  riqueza  do  paiz  e  ao  mesmo 
tempo  pedindo  Boccorro.  Dizem  mais  que  estea  conipanlieiroB 
chegaram  salvos  em  Bào  Vicente,  eraquanto  qno  Garcia  foi 
assassinado;  declarando  uns  que  essa  moite  ioi  praticada  por 
seus  companheiros  que  cobiçavam  a  riqueza  que  elle  possuía^ 
e  outios  que  o  assassinato  íoi  feito  por  indigenaSi  que  outro 
tanto  fizeram  a  Sedenho  e  sua  gente  qu*i  seguiu  o  roteiro  dt; 
Aleiso  Garcia.  Também  dizem  que  aa  noticias  dessa  viagem  6 
á  visia  da  riqueza  obtidaj  inRammíiva  a  imaginação  dos  egub 
compatriotas  e  que  a  sua  morte  era  impotente  para  deter  outros 
aventureiros  do   Sfto  Vicente, 

Parece  iraposaivel  que  eiistisso  tal  ntimero  de  europeu*  em 
3ao  Vicente,  naquella  época,  sem  que  deste  facto  fizesse  menção 
frei  Gaspar  da  Síadre  de  Deus  nas  suas  Memorias  ptira  a 
historia  de  São  Vicente. 

Nilo  devemos  duvidar  que  as  noticias  que  havia  da  via- 
gem de  Afeixo  Garcia  infiuitsem  no  animo  de  todas  as  peFsóas 
que  a  narrativa  delia  ouvissem,  e,  afsím  foi  que,  em  fins  de 
1525  ou  principio  de  15'2tí,  Dom  líodrignes  d'Acuíta,  eoniman- 
dando  o  navio  São  GahHel  e  aportando  na  ilha  d..^  Santa  Ca- 
tharina,  ahi  encontrou  alguns  dos  companheiros  de  Juan  Dias 
de  SoHs  que  deram  taes  noticias  do  paiz,  quo  indnssitt  trinta  e 
tantos  de  seus  marinheiros  a  ficarem. 

Logo  em  seguida,  Sebastião  Cabot,  por  causa  da  insuhordi- 
naçilo  do  peFsoal  de  seus  nivioSi  foi  obrigado  a  aportar  na  ilha 
de  Santa  Catharina,  onde  encontrou  dous  companheiros  de  SoHs 
e  marinheiros  de  diversas  nacionalidades <  Eecebendo  a  bordo 
de  seus  navios  alguma»  das  pessoas  encontradas,  continuou  sua 
derrota  a»  Su1|  que  foi  modificando^  em  vista  das  noticias  rece- 
bidas sobre  a  viagem  de  Aleixo  Garcia  e  entrou  no  Rio  dt 
iSoliSj  subindo^  até  a  fós  do  no  São  Salvador,  onde  levantou 
uma  fortatez^a,  e  em  cojo  logar  encontrou  com  um  outro  com- 
panheirci  de  Solís  de  nome  Francisco  dei  Paerto.  Continuando 
Buaa  exploraíríes  levantou  outra  fortaleza  na  barra  do  riíj  Ter- 
ceiro que  denominou  Espirito  Santo,  mandando  recolher  se  a 
e%t9  o  pessoal  que  tinha  deixado  na  de  Sfto  Salvadon  Subindo 
o  rio  Paraná    até    á    ilha   Apipè,  ahi  recebeu  uoticas  dos  iudí- 


I 


—  219  — 

gena»  confíi  manda  as  que  elle  tinhn  recebido  em  Santa  Catlia- 
rÍDíi,  Teferenies  á  viai»e1n  de  A  Iriso  Garcia,  e,  em  víata  da* 
Doya^  ialormaçôes,  reftoíveu  a  %í)U9r  e  subir  o  tio  Para^'-uai, 
cujo  cu  aa  explorou  alô  al(>m  do  lo^rrir  ondo  mnh  tarde  foi 
erigida  a  cidade  de  AsíUinpçílOt  recolheudo  em  sua  viagem 
detalhes    tobre  a  viagem    do  celebie  aventureiro  Alêiio  Garcia. 

Neste  mesmo  tempOj  Djog^o  Garcia  cheg^ou  com  aenà  navio» 
á  cosia  do  Braail  e  demorou  rauito  tempo  num  lognr  que  alfíuna 
autores  declaram  eer  Eao  Victute  e  outros  o  Rio  dos  Inuo- 
ceutea.  Aioda  que  haja  diver^rencii  na  deucmiiisçAo  do  porto 
onde  ello  demoroUj  comtudo,  os  bistonadorca  coiieordam  em 
dizer  que  elle  encontrou  iiest©  |>orto  um  bacharel  portuí^uês 
que  lho  fora^cf^u  mautímentoa  e  um  interprete^  genro  do  me^mo 
bacharel.  Partindo  dahí,  Diofço  Garcia  aportou  na  ilha  de  Santa 
Catbarina,  seg-uiodo  o  roteiro  de  Sebastião  Cabo t  a tt*  o  Rio  ãe  Solis^ 
donde  mandou  voltar  fcu  navio  nmior  com  pretexto  de  o  mesrno 
nào  servir  para  a  exploração  do  dito  rio;  porem,  parece  que  a 
verdadeira  razào  era  tel-o  fretado  ao  seu  amiíjo,  o  dito  bacharel, 
para  transportar  mercadoria  a  e  escravoj  á  Europa.  Subindo  o 
rio  Paruj^uoí,  Diogo  Garcia  encontrou-se  com  SebaRlido  Cabot 
e  junto»  desceram  o  mesuio  rio  até  a  fortaleza  do  Espirito 
Santo,  donde  maia  tarde  voltaram  á  Europa,  deixando  na  dita 
tortalf^ca  cento  e  setenta  home  na  aob  o  com  mau  do  de  Nuno  de 
Lara. 

Dizem  os  histoiiadoreá  que  entre  os  companheiros  que  não 
quizeram  acompanhar  Aleixo  Garcia  em  aua  tenebrosa  viagem, 
havia  dou?,  aendo  de  nome  Henrique  Montes  e  Melcbícr  Ra- 
mires,  e  que  elles  mais  tarde  vieram  a  eslabelecer-se  em  Santa 
Catharina. 

Em  referencia  á  viagem  de  Sebastião  Cabot,  ccnsta  que 
elle  levou  de  Santa  Cathariíia  dou3  companheiros  de  Bolia  e  é 
provável  que  foagi;m  os  acima  citados,  tanto  mais  que  Henrique 
Montes  se  achava  em  Poriug-al  na  occasiSo  da  organização  da 
expedi^^o  confiada  a  Martim  Affonso  de  Soufa,  voltando  Hen. 
Tique  Montes  nesta  expediçlto  ao  Brasil  no  anuo  de  15ãl,  feito 
Cavatleifo  da  casa  e  agraciado  com  o  of)icio  de  provedor  de 
pianiimentoSt  asatm  na  viagem t  como  ao  dejxnjit  em  terra f  em 
qvcUquf^r  lagar  onde  aftseniassem. 

Adorai  si  Henrique  Montes  e  Melchior  Ramires  eram  com- 
panheiros d(5  Aleixo  Garcia  e  não  quizeram  acompanhai- o  em 
aua  viagem  e  mais  tarde  foram  estabelecer- sq  em  Santa  Cntha* 
rins,  formosamente  dcavemos  cont^lutr  que  na  occasião  da  mesma 
Viagem  n5o  eiam  moradores  dahi,  como  também  quu  sua  mu- 
dança do  ponto  de  partida  da  dita  viagem  para  Santa  Gatha* 
rina  deu-9&  depoia  do  anuo  de  1524. 

E*  natural  concluir  que  nesta  época  havia  relações  entre 
oa  moradora  a  do  pequeno  núcleo  de  europeus  estabflecidua  em 
Igtiape  com  os  da  ilha  de  Santa  Catharina  e  n^o  é  de  duvidar 


—  220  — 

que  Hônrlque  Mootei  e  Melchior  EAmirea  foaftem  morador«t 
daquelle   Ducleo.  * 

No  anno  de  1531,  Martim  Afíboso  de  Souaa  na  ?Qa  viagem 
AO  Sul,  aportou  daí  proximidades  de  B&o  Vicetite,  mas  n&o 
entreteve  relações  cora  Jo&o  RairalUo  ou  Átitoíilo  Rodriguôa 
nea&a  occasiiào ;  e  ch^psindo  a  Cananéa  mandou  procurar  o  ba- 
charel português.  Estudando  o  dtario  de  Pêro  Lopes  de  Sousa, 
verifícámoB  que  Mar  li m  ÃffoDso  tinha  iuformaçõêâ  exact-as  a 
respeito  da  kcal  idade  ^  cujas  informações  naturalmeçte  foram 
fornecidas  por  Henrique  Montes  que  se  achava  Da  frota.  Em 
companhia  do  bacharel  havia  Francisco  de  Chaves  e  cinco  ou 
■eia  castelhanos,  e,  pelas  noticias  dadas  a  Martim  Âífonso, 
elle  ahi  dt^ixou  Ptro  Lobo  com  oitenta  homtns  que  fonsem  des- 
cobrir pela  terra  dentro  t  porque  o  dito  Francisco  de  Chaves  se 
obrigou  que  em  dez  mezes  torriára  ao  dito  porto  com  quatro- 
centos escravos  carregados  de  praia  e  ouro.  Depois  dõ  uma 
demora  de  quart^nta  o  quatro  dias  na  ilha  do  Abrigo,  Martim 
Aâonso  continuou  sua  viagem  ao  Sul,  perdendo  nas  proiimi- 
dades  da  ilha  de  Santa  Catharina  uma  das  suas  embarcações,  e, 
quatro  messes  depois  da  sua  partida  da  ilha  do  Abrigo^  voltando 
elle  do  Sul,  estabeleceu-se  no  porto  de  São  Vicente,  donde 
mandou  procurar  as  peâsoaa  que  naufragaram  próximo  a  Santa 
Catharina,  encontrando-aa  já  com  outra  embareaç&o  que  fizeram 
com  ajuda  de  quinze  homenft  <^4UtMaiiQS  que  ?!/>  dito  porta  havia 
muitos  tempos. 

Não  nos  devemos  admirar  de  MaTtim  Afifonso  n&o  ter  man- 
dado logo  procurar  saher  noticias  doa  ^eua  oitenta  homent 
deixados  com  Francisco  de  ChavíS,  visto  o  prazo  marcado  para 
a  volta  destas  ter  sido  do  dez  mezes,  o  até  a  data  de  seu  estabe- 
lecimento em  Sào  Vicente  tinha  decorrido  somente  a  metade  do 
dito  pras&o. 

Já  vimos    que,     partindo   Diogo     Garcia  e  Sebastião  Caboi 

Eara  a  Europa,  deixaram  cento  e  setenta  homens  com  Nnno  de 
iára  na  fortaleza  do  Espirito  Banto.  Pouco  tempo  depois,  Nuno 
foi  morto  com  parte  da  guarnição,  numa  *ortida  que  faziam  em 
procura  de  mantimentos,  ficando  dahi  em  deante  Ruiz  Garcia  de 
Moaquera  como  commandante,  soãreudo  continuo»  ataques  io« 
indígenas  e  padecendo  por<  falta  de  mantimentos,  até  que,  no 
fim  de  1532  ou  principio  da  1533  os  homens  que  restavam  da 
gnarníçâo  resolveram  abandonai' a  e  mudarem -se  para  a  costa  do 
Braail,  vindo  a  estabelecer-se  por  pouco  tempo  em  Iguape. 

Por  mais  que  frei  Gaspar  da  Madre  de  Deus  â^sse  para 
contestar  a  estada  de  Eui^  Mosquera  em  Iguape,  ou  de  sua 
ida  a  São  Viceutet  não  podem  suas  allegaçèes  destruir  o  facto 
consignado  na  escriptura  da  venda  que  fizeram  os  herde  iro  s  de 
Ruiz  Finto,  onde  dÍ2  :  tEsia  carta  est&.va  já  regiítada  coma 
ndta  se  contem^  e  por  se  perder  o  livro  do  tombo  (que  foi  lêva-^ 
do  peios  morador  et    dt    Iguape)  se     tornou  a  registar  «m  outra 


Li 


—  221  — 

livra  quê  ora  »tf^,  Efiea  nellê  rêgiíttada  húf€f  20  dias  de  agosto 
«m  8,  Vicente  dê  1537,  por  mim  Áiiímúo  do  Valh^  Taba' ião,* 
Na  anuo  de  1536,  estando  Dom  Pedro  de  Mendosa  do  rio 
da  Prata  e  faltatido-lhe  mantimentos,  mandou  Gonçalo  MendoBa 
á  cesta  do  Bmaíl  a  procural-os,  encontrando  este  na  ilha  do 
Saota  Ca  lha  rí  na  com  Haist  M  squera  e  sua  gente,  a  quem  Gon- 
çalo facilmente  per&uadiu  a  abandonarem  aa  snaa  casas  e  plan- 
ta^çeB  para  seg^uirem  com  ellé  ao  rio  da  Prata.  Em  1538  foi 
niKndftda  outm  embarcação  do  rio  Prata  á  iiba  de  SantA 
Catbíirina  á  procura  de  noticias  de  ura  navio  da  frota  de  Álonço 
Cabrera  e  para  ser  carreg'ado  de  mantimentoa,  cuja  emhareaç&o 
iiitifí«g;«u  dentro  do  rio  da  Prata,  salvando-se  fomente  seis  doa 
tnpDlanieaf  sendo  um  destes  homens  llulderico  Scbmidi*!,  biato- 
túÂor  que  acompanhou  a  expediçào  de  Dom  Pedro  de  Mendoaa. 

No  dia  29  de  março  de  1541,  Dom  Alvares  Nunes  Cabeaa 
de  Vaca  aportou  na  ilha  de  Banta  Cabarina  e  no  dia  18  de 
otitxibTO  do  mesmo  aono  partiu  por  terra  em  caminbo  a  ÃRsum- 
Pí^o,  levando  em  sua  compaTibin  duzentoi  e  cincoenta  bomena 
e  ?inte  «eis  cavallos,  ser^indo-lhes  de  guia  uns  indig'enaB  da 
iD6iina  ilba^ 

Eitudando  um  pouco  a  descripçào  daquella  viagem  veremos 
qae  a  expedição^  subindo  o  rio  ItMpucú  e  atravessando  a  Serra 
geral  ebegon  no  dia  L*  de  dezembro  ao  Ig^uaçii  e  no  dia  3  ao 
rio  Tibagt,  onde  encontrou  um  indio  brasileiro  de  nome  Miguel 
que  voltava  da  cidade  de  Assumjtçào  á  sua  terra  natal.  Com 
este  indio.  Dom  Alvares  tratou  para  servir  de  ;;;uia,  e,  continu- 
ando sua  viajarem  cbeg^f-u  no  dia  7  do  mesmo  mez  ao  rio  Ta- 
qnari  (Ivabi?)  e  no  di*  23  a  um  lof^íir  cbamndo  Tugui  bndô 
»e  aeroorou  para  festejar  o  dia  de  natal.  Diz  a  descri pçào  que 
no  dia  14  de  janeiro  a  expedição  cbegou  outra  vez  na  marg:em 
do  rio  Iguaçu  e  no  ulttmo  dia  do  dito  mez,  maia  uma  vez  al- 
cançou o  mesmo  rio  Neita  ponta,  sendo  avisado  o  Dom  Alva- 
res que  os  indígenas,  mt  radores  na^  margens  do  rio  Píqnirl  se 
achavam  di» pontoe  a  atacar  ena  comitiva  resolveu  dividil-a 
em  duas  partei,  seguindo  com  uma  em  eanôas  pelo  mesmo  rio 
abaixo  e  mandando  marcbar  a  outra  por  t^^rra  &té  as  margens  do 
rio  Paraná.  Atravensando  este  rio  em  canoas  e  balsas  forneci- 
das pelos  iudigenNs,  mandando  seus  doentes  em  canoas  pelo  rio 
Paraná  até  o  rio  Paraguai,  Dom  Alvares  conlinur^u  sua  viagem 
a  ÀsEum^M^ftOi  onde  cbegou  nu  dia  11  de  março  de  1542,  com 
ce&to  e  quarentA  e  cinco  dias  de  viagem; 

N&<o  podemos  deixar  de  notar  uma  pequeoa  incoberencia 
na  descri pçâo  desta  viagem,  não  podendo  ter  sido  o  rio  Iguaçu 
onde  a  expedição  chegou  no  dia  31  de  janeiro,  nms  sim,  o  rio 
Fiquiri,  na  foz  do  qunl  existe  a  celebre  cachoeira  denominada 
de  Sete  quedas,  próximo  ao  logar  onde  Dom  Álvares  atravessou 
fi  no  Paraná. 


—  223  — 

Ko  anno  seguinte,  cllo  resolveu  ex|fIorar  vlo  acima  do  Pa< 
raf.f-uy  ti  nessa  ttcasifio  recebeu  de  «ma  tiibu  de  Guíuvai-apos,  no- 
ticias de  baver  cBUido  ca  me&ma  icgiâo  Áleix-j  Garcia  eoin  chico 
europeus,  um  mulato  cliatnado  Pacbccd  o  grande  eatereíto  do 
indipeiias.  Diííiam  os  Guíixaiíipóâ  que  Píicbeco  foi  morto  por  um 
cacique  de  nome  Guaiiú  e  qun  Garcia  voltou  para  o  Brasil  por 
um  outro  raminlio,  ficaudo  inuitoB  do  seu  exercito  atrns.  MaU 
tarde  Dom  Alvnrea  encontrou  fo  com  duna  aldeias  de  Cbanesét, 
trazidos  do  teu  paiz  natal  pelo  reíerido  Garcia.  Diziam  este» 
licmfus  que  o  resto  doa  companheiros  de  Garcia  baliam  suceum- 
bido  m  niilos  doa  Guíii*anÍ9,  e  que  ellei,  nfio  conlieceudo  outro 
caminho  para  Bun  terra  sinao  aquello  por  ande  vieram,  uào  po- 
diam mais  voltar  a  ella.  Na  uUima  ponta,  onde  cbegaram  alguns 
liomen^  da  expcdifjilo  de  Dom  Alvarez,  abi  encontraram  itidi- 
geníis  quo  pcitenciam  ao  beteiogeneo  exercito  do  colobro  aveu- 
tureiro  Aleixo  (iarcifl. 

Em  tudo  quanto  encontramos  na  btstoria  referente  aos  feitos 
de  Dom  Alvíircs  Nunei  Gabeza  de  Vaca,  iiho  ba  nada  que  uos 
faça  Euppor  qut^  de  Santa  Catbarioa  á  Aasumpçâo  elle  seguísEC 
o  roteiro  do  Aleixo  Garcia,  o,  Éiímentís  no  anno  seguinlt;  ii  sua 
etepada  a  fs!a  cidade  é  que  ]Kirecc  ter  jirocurado  fiiher  do 
caminbo  que  Garcia  seguiu;  comtudo,  nâo  podemoa  duvidar  que 
durante  spu  estádio  em  Santa  Cathnrina,  Dom  Alvares  ouvis&e 
algumas  noticias  a   rrspeito  de    senielbnnte  viagem. 

No  anno  de  1552  Joi\o  do  Salazar  cbegou  a  ilba  de  Santa 
CatbarlDai  onde  encontrou  cnm  um  bespanbol  de  nome  Juan 
Pernnndes,  que  do  As&umpçâo  linba  sido  enviado  para  porsusdii 
na  indígenas  a  cultivarem  as  terra><,  para  assim  ter  neste  porto 
com  que  abaftecer  os  navios  que  abl  toca?SPm.  Perdendo  ne^te 
porto  seu  navio  transporte,  Salazar  demorou  abi  dous  annos, 
no  fim  dos  qnaea  resolveu  ir  por  terra  a  Asaumpçflo  morrendo 
grande  parte  da  aua  comitiva  nesía  viagem. 

Pelo  cxpoàto  ú  jírovado  que  do  anno  de  1525  em  diante, 
baviam  noticias  na  costa  do  Brasil  dos  resultados  da  viagem  de 
Aleixo  Garcia,  e,  parece  que,  eómento  no  anno  do  1511  foi  feita 
a  primí^ira  viagem  por  europeus  ao  interior  do  paia  partindo  da 
ilba  do  Santa  Catbarina. 

Si  est^  iiba  fos  e  a  ponta  donde  partiu  Aleixo  Garcia  com 
sua  celebre  Cítpediçâo,  naturalmente  outrcs  aventureiros  teriam 
procuríido  seguir  o  mesmo  roteiro  entre  os  a  unos  de  1524  n 
154.1. 

A  bistoria  consigna  o  facto  d  a  Sebastião  Cabot,  no  anno 
de  1526  demorar  alguns  me»ra  tia  ilba  de  Santa  Catbarína,  re- 
cebendo abi  ties  noticias  do  interior  do  paiz  quo  o  induziam  a 
deixar  de  seguir  sua  viagem  h  Cbína  e  Japfio  }»elo  estreito  de 
i^lagalbãee,  da  qual  foi  incumbido  polo  Hei  de  Ilespanbaf  para 
ir  explorar  o  rio  que  até  cntilo  era  conbccido  pelo  nome  de 
«  Ria  c/í  Saiu*, 


I 


j 

L 


-    223  — 


Xào  podetnoã  negar  qut^  a  ilha  de  Sautn  Cnthaiina  era  um 
àci  pc^rtos  maU  í requentados  pelos  imvc^^anteâ  daquflla  epucat 
10  níesmo  tempOi  tanUs  frctia,  ou  parto  tlti  frotas*  nbl  tocnvam 
entro  os  jiiinos  1508  n  1552,  da^  quaes  a  hi^tona  consigna  cer- 
tos fjcbrf,  que  parete  irajio&aivel  ter  escatJadn  A  uoicía  doã 
bistoriadoies,  se  fosse  csto  porto  o  logar  t^lado  AleUo  Gatei» 
orpnbou  siífi  í^ipediçtlô. 

Ainda  mai^,  temos  o  fado  de  todos  os  historiadores  hes- 
panWs  declararem  ser  Áleiso  Garcia  uni  portu^ruf^s  o  tf^r  par- 
tido sua  «xpediçào  d»  co&ta  do  Brasil,  cujo  facto  dÍIo  conduz 
com  a  idt"ia  dos  rae*moa  historiadores  que  consideravam  Santa 
Cailiariaa  fora  di  s  litnite&  do  Brasil,  ai  fosse  eete  p&rto  a  pouta 
da  purtida, 

iVtanto,  exclaido  o  porto  de  Sáo  Vieenle  e  a  ilha  de  San- 
ta Cnthariua,  fica  o  mickodo  Ip:uapn  como  porto  Ijypoiheticameute 
da  ^lartida,  e,  cm  apoio  desta  auppo^içfto,  temos  diver&os  acou- 
têdtbentos  Ligtoricop,  al^uaa  dos   quaos  já  citadoi. 

Em  relação  ao  fncto  de  ter  eido  de^íredado  um  bacharel 
p<irtiiguÍ!ã  na  co&ta  do  Brasil  nos  primeiros  ao  nos  do  século 
i^^eidst  nio  devemos  difcuttr,  vi^to  a  concordância  que  existe 
nos  escriptoi  qup  tratam  dtíste  assumpto,  a,  aiada  quo  haja  al- 
^um&  duvida  a  respeito  do  sen  nome  íu  da  epo  a  exacta  da  sna 
cber^ada  aqui,  nhú  ha  nenhuma  relativamente  a  clle  ter  sido 
posto  em  terra  na  ilha  do  Cardozo,  deíiontc  á  ilha  do  Abrigo, 
ífae  durante  muito  tempo  era  coubecida  pelo  nome  da  Ilha  de 
Cajuméa. 

Henrique  Montes,  Melchior  Ramires,  Francisco  de  Chaves, 
Francisco  dei  Paiírto  e  outras  pessoas  encontrrdfls  nesta  costa 
por  diversos  navegantes  f^ntre  os  apucs  de  1518  a  I5'2G,  i&o 
consideradas  ]»e!os  historiadores  como  sendo  companheiros  de 
Jutn  Dias  de  Solis,  e^  nesta  mesma  categoria  devemos  incluir 
o  celebro  Aleixo  (rareia,  visto  a  declaração  positiva  de  terem 
sido  09  dois  primeiros  citados  com]iaQheiros  deste. 

Anaíyaaudo  o  quo  a  historia  nos  revela  a  respeito  destes 
líciDouB,  veremos  que  os  dois  primeiros  eram  moradores  na  vi- 
»inbaB<;a  da  ilha  do  Waula  Catharina  no  anno  d©  1527,  ondo 
tinham  ido  estabelecer-Bo  depois  da  viagem  de  Aloiío  Garcia, 
alo  querendo  acompanhar  este  em  ^ua  desastrosa  viagem.  Dahi 
i^guiram  para  o  Rio  da  Prata,  c,  Henriqae  Montes,  mais  tarde, 
"Poltou  paia  Europa,  donde  veio  novameote  em  companhia  de 
iíartim  Aífonso  de  Sousa  no  anno  de  1531,  agraciado  pela  Rei 
^e  Portug-al. 

De  Melchior  KamVez  nada  mais  encnnti-amos  sioílo  de  ter 
^^<Io  companheiro  do  Ale]x:o  Garcia  e  de  Henrique  Montea^  como 
ji  referimos. 

Francisco  dei  Puerto  era  companheiro  de  Juan  Dias  de 
»-*lii  na  fiua  dcaastmaa  viflfretn  no  anno  do  lã  15,  e  passou  al- 
^tiQB  aanoâ  vivendo  com  oâ  indigeoas  nas  margens  do  rio 
Umguii. 


—  224  — 

Relativamente  a  Franctaco  <Íe  Chaves,  podemos  prosar,  por 
docunieiitoã  e^ciateatea  nos  archlvoe  desta  cidade,  algaiis  dos 
qnaes  jà poblicado⻠ que  seus  deicendentes  eram  herdeiros  de 
Ooame  PernaTidcs,  que  aqui  em  I^ape  é  tM^nsiderado  como  sen- 
do o  bacharel  português  desterrado  no  principio  do  secnlo  de%- 
«eeU.  Manuseando  eiteâ  documentos,  aomoa  convencidos  que 
Francisco  de  Chaves  era  f^enro  do  dito  bacharel,  como  foi 
aventado  pelo  erudito  biitnnfldor  Francisco  Adolfo  Vartihag^ea 
tia  sua  nota  n  3i2  que  acompanhou  o  ^ Diário  da  navegação  dé 
Martin  Affonso  de  Souxa*  ;  e,  portanto,  torna-ae  mais  provável 
&  ideia  deile  ter  sido  o  interprete  forii^cido  pelo  bacharel  des- 
terrado a  Diogo  Garcia  ua  sua  viaf^em  de  1526  a    1528. 

Fazendo  deducções  dos  dados  que  temos,  achamos  que  oa 
flete  náufragos  da  frota  da  Juan  Dias  de  SoHs,  perdidos  no  «Rio 
dos  loufícentes»,  eram :  Franei^co  de  Chaves,  Aleixo  Ga<cía, 
Henrique  Montes,  Melchior  Ramires  e  mais  três,  cujos  nomes 
por  ora  nào  alcauçamoPj  e,  que,  reunindo-se  estes  com  o  ba- 
charel, que  lia  oecasiAo  do  naufrágio  havia  uns  seii  annos  se 
achava  npsta  costa»  formaram  um  dos  primeiros  uncleos  de  euro- 
peus DO  Brasil, 

Dizem  o»  historiadores  positivamente  que  o  numero  de  ho- 
mens deixados  por  Juan  Dias  de  Solis  no  log'ar  onde  noz  ô 
nome  de  •Uin  do^  Innocentes*  era  de  sete.  Igualmente  dissem 
que  Alei  10  Garcia  em  tua  viagem  através  do  continente  levou 
cÍDCo  companheiros  europeus,  dos  quaes  mandou  dois  de  volta 
oom  noticias  da  riqueza  do  paiz  e  t^edindo  soccorros,  ficando 
assim  três  que  desappareceram  com  elle 

Serão  estes  os  tie    cujos  nomes  nos  faliam? 

O  numero  de  pessoas  que  existiam  ne&te  nueleo  de  I^uapa 
que  supúnhamos  ser  o  da  ])artida  de  Aleixo  Garcia,  concorre 
para  confirmar  esta  suppoíiçào  e  sem  que  tivesse  mais  europeus 
além  dos  que  coosta ;  porém,  neste  caso,  o  bacharel  e  Francis- 
co d  i^  Choves  acompanharam  a  expedição  e  loram  os  doii  quô 
Toltarau)  em  procura  de  soccrrro 

Esta  hypothese  é  confirmada  pelas  tradições  locaes. 

Al€m  disto,  nfto  parece  provável  que  Martim  Afínnso  de 
SoUEá  deixasse  aqui  oitenta  homeos  armados  e  municiados  para 
uma  viagem  de  dez  mezes,  quando  ainda  elEe  ia  empenhar* se 
em  viagem  de  exploração  ao  ^uL  si  uho  fosse  convencido  da  maior 
proba bilidat^e  do  bom  êxito  deste  pequeno  exercito,  que  depen- 
dia do  conhecimento  do  guia. 

Ao  mesmo  temjKif  uhr  podemos  dizer  que  nào  havia  mais 
que  oilo  europeus  neste  núcleo  no  anno  de  1524,  sendo  provável 
que  houvesse  mais,  visto  os  naurragios  havidos  nesta  costa  e  aa 
relações  que  julgamos  terem  tido  os  moradores  daqui  com  os 
âm  ilha  de  Santa  Catharina 

Igualmente  não  devemos  julgar  que  tndos  os  castelhanos 
que  acompanharam  a  bacharel  e  ^ranciíco  de  Chaves  no  dia  17 


—  *225  — 

âe  agosto  de  1531,  na  entrovista  que  tiveram  com  Maitím 
Âfibo&o  de  Sónia,  fossem  náufragos  da  frota  de  Juan  Diaa  de 
B&\i%  no  anno  de  1508;  porque,  si  Aleixo  Garcia  e  &eu8  troB 
eonipãii beires  europeus,  mottoB  na  volta  da  expedição,  fosBem  doa 
iet«  homeua  perdidos  no  •  Rio  dos  Innocântes  »i  como  é  pro- 
Tav^l,  não  podiam  eiiatir  aqui  sinfto  duas  p^ssôaB,  nào  contando 
com  Melchior  Hamiree  que  pelas  ultimai  noticias  »6giiiu  para  o 
rio  da  Prata,  ou  com  Henrique  Montes  que  se  achava  em  com- 
paohia  do  mesmo  Marti  m  A  Bona  o  de  Sousa 

Examinando  eata  quest&o  por  um  outro  lado,  isto  é,  pelo 
lado  do  conLecimento  que  os  Indígenas  podiam  ter  da  Tique7.a 
existente  na^  mioa  dos  Peiúauos,  é  de  nctar  que  o  numero  doft 
Sambaquis  existeotes  nesta  parte  do  littoral  è  j^rande,  alguns 
dos  quaes  attin^^em  a  um  tamanho  enorme,  e,  parece- nos,  que 
Q&o  na  outra  parte  da  costa  do  Brasil  que  po>-sua  em  igual 
tuperficie  de  terreno  tantos  desres  monumentos  preliiótorir:os,  et  mo 
existem  entre  o  morro  de  Jurèa,  ao  norte  da  barra  do  rio  Ri- 
beira, e  a  Ârarapirá,  ao  sul  da  barra  de  Cananéa, 

Não  Tâmos  ecrcetar  um  tratado  sobre  sambaquis,  declarando 
porém  que  não  acceítamos  a  bypotbese  de  terem  i^ido  estes  feitos 
pela  acção  do  mar,  como  alg^uns  autores  declaram^  Unto  mais, 
tendo  em  vista  os  acurados  estudos  feitos  pelo  noso  amigo 
nisjor  Ricardo  Krone,  dos  sambaquis  prineipaes  desta  zona,  cujos 
^tudos  ião  do  maior  interesse  e  derramam  tus  ãobre  o  tempo 
ptehistorico  deste  paiz 

Para  a  construcçjlo  de  tantas  e  tão  grandoí»  montes  de  cai- 
eas  de  cmstaeeofl,  era    necessária  a  eoog'lomera^ão    de    povo  em 
numero    ele  v  adi  sumo,  e  como    parece    que  em   certaé    épocas  a 
ooDâtrucção  dos  fambaquía  ficava   parada,  deixando  aisim  o  tem- 
po preciso  para  a  formarão  das  diversas  camadas  de  bumui  que 
nelles  existem  entre    camndas  de  cascas,    devemos    concluir  que 
^uelle  povo  fosse  migratório,  aí  não  de  todo  ao  menos  em  parte. 
Bi  as  migra ç5es    elfectuadas    eram    forçadas    pela  inlta  doa 
CTttstaceos,  que  podia  haver  em  certas  e  determinadas  épocas,  ou 
csai^adas  por  outra  razão  qualquer,   parece  impossível  descobri l-as 
^e;    porém,  a  existência  do  referido    bnmus  em  camadas  bem 
pronunciadas,  algumas    até  de    trinta    centímetros  de  espessura, 
prova  que  durante  muitos  annos  estes    sambaqui*  eram  fibando- 
Qidos,  ficando  expostos  á  acção  meteorológica  e  ajuntando  sobre 
«Bes  a  matéria  orgânica  necessária  á  tt>rmaçâo  do  humu*. 

Todos  os  navegantes  e  exploradores  do  tempo  im mediato  á 
ÍBWoberta,  concordam  em  mencionar  a  g^rande  numero  de  canoas 
fita  mo  pelas  diversas  tiibns,  provandn  que  este  |>ovo  conhecia 
o  valor  desse  meio  de  transporte  e  uttlisava-o  tanto  quanto  era 
poisivel. 

Estudando  a  posiç&o  geographica  desta  regiSo,  veremos  que 
*  rio  Ribeira,  antigo  Igoat  nasce  nos  planaltos  do  Paraná,  pro- 
33aH)  ài  cabeceiras  dos  rios  If^uassú  e  Tibagi,  nas    margens   dos 


—  226  — 

qtinc&  foram  estabelecidas  algamae  daa  primeiras  povoaçõe»  eu- 
ropêas  por  parte  do  governo  do  Parfl^rufii;  ao  mesmo  tempa 
alguns  dos  atHaeiítea  o;rande&  do  rio  Kibeiríi  fazem  contra  ver- 
tes com  atHuentea  dos  rios  ParanapaneiDa  6  Tietê. 

Nos  rios  Ij^uassú  6  Tibagi,  atravessando  o i  ou  navegan- 
do os  andoa  Dom  Alçares  Nuno  Cabeea  de  Vaci  em  sua  peoosA 
yiagem  de  Santa  Cathacina  a  Assumpção  no  anuo  de  1542,  en- 
coutrítndo-s©  com  <win  tal  Migutl^  indio  brasil eirOf  convertido, 
que  de  Aítfiuinpção^  onde  residira  algum  íem/jo,  voltava  ao  paim 
natal**  Tanibem  nestas  paragens  Dom  Alvares  recebeu  noticiai 
de  terem  udo  aâsaseinadosos  homens  que  compunham  uma  par- 
tida de  pcrtu^^uetes  enviada  por  Martim  AfFcnso  de  Souta. 

Eítes  factos  concorrem  para  demonstrar  que  os  rios  I^oa, 
IgUítssú  e  Tibagi  eram  vias  de  communicação  usadas  pelot 
iiidigenas  nas  suas  viagens  entre  o  rio  Paraguai  e  a  parte  do 
littoral  onde  existia  o  núcleo  dos  europeus  em  Iguape. 

Nos  estudos  de  os  fadas  encontradas  nos  iambaqulSf  tem-so 
reconhecido  typos  diferentes  de  craueos  que  a  nosso  ver  forne^ 
cem  a  confirmação  da  migraçAo  dos  indígenas  e  intercomunicaçào 
que  havia  entre  as  t  ri  bus  de  divei-sas  partes  do  continente  sul- 
americano,  cuja  íntercommunicaçào  e^tiste  até  hoje,  tau  to  que  oi 
indígenas  t^ue  vivem  na  serra  dos  Itatius  entretém  relações  com 
03  do  interior  do  pai^. 

Ora,  conhecendo  que  aluda  Ua  esta  iutercomniUQicaçào,  quau- 
do  o  numero  dos  lntJi*,'-ena»  ó  limitadissinio,  e  que  elles  encon- 
tram maiores  difficuldades  rara  continuar  suas  relações  com  tri- 
bus  afastadas,  por  causa  do  receio  que  tíT-m  de  apparecer  em 
povoações  civilliadas ;  devemos  acreditar  que  as  relações  entre- 
tidas na  época  da  descoberta  fotsem  mais  oBtreitas,  ainda  quo 
ás  vezes  as  guerras  entre  as  diversas  tribus  pud&Esem  diíHcultar 
ou  cortar  a^  relaçòes  entre  os  membros  daa  tribus  combatentes, 

Tomando  este  facto  em  consideração  e  o  auxilo  oíferecido  ao 
transporte  pelas  vias  ftuviaos  que,  com  excepção  de  um  pequeno 
trecho  de  terreno  entre  fs  cabeceiras  do  rio  ígoa  e  os  confluen- 
tes do  rio,  Paraná,  é^o  communícação  desde  o  littoral  até  os 
con6n!í  do  Peni,  é  natural  suppor  que  os  indígenas  que  recolhe- 
ram o  bacharel  desterrado  em  1501^  tivessem  conheci meoto  da 
ríqaeza  e  do  estado  adiantado  da  civilismç&o  dos  perúanoi. 

Este  conhecimento,  tranamittido  ao  bacharel  e  aos  náufragos 
que  reuniram -se  come  11  e^  devia  ter  motivado  a  viagem  de  Aleixo 
Garcia. 

Voltando  á  descri  pção  da  viagem  de  Dom  Alvares  Nunes 
Cabexa  de  Vaca  e  analytatido  os  factos  citados,  é  de  notar  a  de- 
claraçã.0  de  ser  o  tal  Miguel  um  indio  brasileiro  convertido  qu« 
voltava  ao  seu  paiz  natal,  es{>eçialmente  lembrando- se  ^ue  Dom 
Alvares,  desde  sua  sabida  de  Santa  Catharina  ia  tomando  posso 
do  paiz  que  atravessava  em  nome  do  Uai  de  Kospanba,  de- 
monstrando que  n&o  considerava  aquella  regífto  como  pertenqento 


—  227  — 

loBmiil;  e,  poftanlo,  Miguel  ia  caminhando  píirii  Ig-uape,  Sào 
Vkente  ou  Firatiníngo,  uuícos  nuclBOfi  eziit^entcs  naquella  cpocA 
nciti  pUTte  do  BrasiL 

E'  verdade  que  as  palayrt;»  *  índio  Brasileiro  convertida* 
i3âo  a  pensar  quo  sua  teria  natal  fosse  naa  proxícnidades  de 
Pimtíniníra,  centro  religioso;  porem,  podemos  entendel-as  como 
íi^iÊcandoí  fiomente,  convertido  a  vida  civklieada»  e  asflim  ello 
podia  pertencer  a  qualquer  triba  estabelecida  tia^  proxlmi dados 
áe  SJLrj  Vicente  ou  I;^uape. 

Nilo  podemos  duvidar  que  bavia  caminho  conhecido  peloa 
ÍDdi{;eiiãB  entre  a  faabitíiçlo  de  Francisco  de  Cbavea  o  as  terras 
msrginaes  d.>s  rios  Igiias^ú  e  Pjquiri,  onde  Dom  Alvares  re- 
cebeu noticias  da  mortandade  da  expedição  de  Marti m  ÁfFonao 
de  ^Qu«a.  A^ora,  se  os  homens  da  expedição  de  Martím  ÃlTon^o 
foracQ  mortos  pelos  indí^renas  que  habitavam  as  margens  do  rio 
%Gaíaú  ou  aí  do  rio  Piquiri,  como  tudo  nos  ftz  crer,  teiaoí 
provA  que  elles  iam  em  direcçôo  ao  Peiú,  c  devemos  suppor 
qtie  seguissem  o  roteiro  de  alguma  outra  expedição  anterior  e 
4  UQica  realizada  antes  do  aiiQo  de  1531,  de  que  temos  noticia, 
é  a  de  ÂEetxo  Garcia, 

E'  facio  comprovado,  por  moitos  documentos  existentes  em 
Igiapei  que  Fraocisco  de  Chaves  e  seu  bo^to  Cosme  Fernandes 
pflnuiam  terras  no  lugar  da  actual  cidade  e  outras  em  frente  a 
fcana  du  Capara,  inclusive  o  pequeno  morro  denominado  «Oí- 
i^To  do  Bacharel*, 

T^>m&ndo  qualquer  destes  pontos,  que  distam  uma  légua 
um  do  outro,  como  ponto  da  partida  da  expcdií^fio  de  Martim 
AffõDso,  o  caminho  mais  faeil  a  seguir  para  ilcan<;ar  os  plaualtoft 
de  Paraní,  fetia  naturalmente  o  rio  Igua,  hoje  denominado  rio 
Híbpíra  de  Iguape,  utilisando-ie  para  seu  transporte  as  canoas 
que  01  europeus  e  indi**^enaÊ  aqui  residentes  dcvinm  ter  possuído. 

Temos  ainda  o  facto  de  ter  fido  achado  n'uma  excnvaç&o 
idtantts  areias  do  rio  Ribeira  pelo  falfecido  dr.  Henrique  Bauer, 
lUQ  machado  de  bronze  que  os  entendidos  consideram  como  nendo 
pfinkuOf  cujíQ  machado  talvez  fosse  perdido  fetos  compnoheiroâ 
de  Aleixo  Garcia,  durante  sua  viagem  em    procura  d©  soccorro. 

Dr>cumentos  existem  nos  cartórios  desta  cidade  dos  quaei 
sfi  Terefíea  que  no  anno  de  1618  residiu  um  homem  em  Iguape 
de  nonte  Agapito  Garcia  com  mais  de  oitenta  ânuos  de  idade, 
<*ado  com  Maria  Dias  Lemes,  tendo  um  filho  de  nome  Manoel 
DÍ48  Garcia.  Foram  estabelecidos  em  terras  próximas  á  barra 
do  rio  Ribeira  e  que  diziam  ter  aido  dos  seus  antepassados,  que 
'°t&m  dos  primeiros  povoadores  de  Iguafie. 

Não  serão  estes^  defcendentes  de  Aleixo  Garcia  ? 

Por  notas  genealógicas  que  temos  organizado  podemoi 
pi^var  o  parentesco  que  ha  entre  Agapito  Garcia  e  diversas 
lÁibilias  importantes  residentes  nesta  zona  actualmente,  íaltandi) 
ionieate  saber  si  Agapito  tínba  ou  não  parentesco  com  o  celebra 
íTeii  tarei  ro. 


—  228  - 

HacoDitmfr  a  Mstoria  ã&â  prfmeiraB  tentatiyâi  de  explora<;3.o 
iiêatd  paiz  é  de^cillimo,  e  é  natural  que  eurjam  hjpotheees  áa 
Tezes  ©Troueas,  comtudo,  atír©ditanií>&  que  o  ponto  de  partida  da 
expediç&o  àò  Alei%<y  Garcia  fosae  Ignape^  donde  maU  tarde  par- 
tiu a  de  MartJm  A0onBO  de  Sousa,  cujo  roteiro,  coutta-uoa, 
existia  a  poucoB  annoa  pasaados  nesta  eídade. 

Ignape,  1905. 

EaimSTQ    GtriLHBRMB    YOUHO. 


o   VOADOR 


Dom  Joaquim  Marti nez,  cm»  coUado  da  egreja  parochml  de 

^ta  Leocadia  e  S«  Bom&Of  da  cidaJe  de  Toledo,  certíâco  quo 

Áa  folhas  115  do  livro  doa  fallÊcidos,  que   começou  no    anno  de 

1705  e  terminou  no  anuo  de  1739^  se  acha  lançado  o    ieguinte 

•«lentamento :  cAoi  dezanove  dias  do  mez  de  novembro  de  1724 

^aoB  fallecen  D.  BAtthotomeu  Lourenço  do  Quâioão,  doutor  em 

cânones  pela  Universidade  de  Coimbra,  natural  da  villa  de  Santos, 

00  Braiil,  de  edade  de  trinta  e  oito  annos^  presbytero,  residente 

fl*  cidade  de  Lisboa,  filho  de  D.    Franciaco  Lourenço,  ji  falle- 

ctdo,  e  de  D.    Maria  Álvares,  ac band o -ae  presentemente  no  Hott" 

piUl  de  Misericórdia  da  paro  eh  ia  de  S.    Romão  deeta  cidade  de 

Toledo,  tendo  m  confessado  e  recebido  por  víatico  o  Santissimo 

âãcramento  da  Kucharístia  e  o  da    Extrema    Uncçâo,    Falieceu 

sem  testamento  por  Tião  ter  o    que    legar  e    foi    sepultado  nesta 

paroehial  egreja  de  S.  Romão  com  assistência  da  Parochia  e  da 

Irmandade  do  Senhor  S,  Pedro,  vestido  com  hahitoa  sacerdotaes 

e  deu  á  parocbía  desta  egreja    sessenta  e    seis  «  reales  «    peloi 

ditQB  hábitos  e  tnnta  creales»    pela    sepultura^  a    qual    quantia 

foi  paga  pela  referida  Irmandade  doa    Sacerdotes  do  Senhor  S. 

Fedro,  e  por  ser  vt^rdade  iirmei  esta  como  cura    collado  da  dita 

«greja. — Dotn  Francisco  Gomes  Manseal.» 

Este  asaento  loi  copiado  por  Joaquim  Martinez,  na  cidade 
áe  To  todo,  em  5  de  maio  de  1B56  e  reconhecido  como  authen^ 
tico  pelos  escrivães  de  Toledo, 

Tal  certidão  de  óbito  existe  no  Ãrehivodo  Inaticnto  Histó- 
rico e  Geographico  Braaileíro,  acompanhada  de  um  certificado 
de  Francisco  Adolpho  Varnha^en  (6  de  acosto  de  1856)  então 
eticarrei^ado  dos  negócios  do  Brasil,  em  Madrid. 

O  futuro  Visconde  de  Porto  Sog-uro  enviou  e  offeretseu  ae 
IsAlituto  esse  curioso  documento  (ora  por  mim  traduzido  do  hei~ 
puihol]  pelo  qual  ae  prova  o  triite  fim  do  immortat  Paulista  a 
«  quem  cabe,  por  certo,  o  titulo  de  Fatriarcha  doa  conquiatadorea 
do  ar. 

Passa  hoje,  pois,  mais  um  anniveraario  desse  triste  aconte- 
cimento e  n&o  8&D  descabidas  algumas  linhas  dedicadas  a  esae 
verdadeiro  génio  brasileiro  que  figura  no  longo  catalogo  do» 
tnartjres  da  iciencia. 


_  2Z0  ^ 

Quarto  filho  do  cimrgilio  do  pT«»idio  de  Santos,  Bartholo- 
meu  Lonreoço  de  Gtum&o  naseeii  maii  ou  menot  pelos  jiquob  de 
1685. 

Era  10  annos  maia  ve'bo  qae  feu  il lastre  inuSo,  o  mui 
conhecido  escrivão  âa  Paridade,  Alexandre  do.  Gmmfio. 

ErAfn  05  outtoa:  frei  Símfto  Álvares,  pregaior  d©  nieríto, 
nascido  em  1632,  frei  Patrício  de  Santa  Ma^ia,  francbcrAiia,  nas- 
eido  em  1090,  o  pa:Jre  Ignacio  RoJri^eê,  jssaita,  na^^rido  em 
1701,  padre  João  Álvares  áf  Santa  Maria,  carmelita,  nAsotdo  em 
1703,  todoi  iliuitrea,  Fãmitta  privilegLida  de  príncipes  pela 
íntelligenciaf  diise  com  r&7,ao  Teixeira  de  Mello  I 

Com  01  jeanltis  e^tulou  hamin idades.  Xuoca,  poriam,  como 
se  escreveu,  fea  parte  da  Coiapanbia  de  Jeans.  Enviado  a  Por- 
tagali  matTÍcnli>u-ãe  na  Uni?eraidade  de  Coimbra,  onde  obteve 
o  grÂu  de  doutor  em  direito  cationico. 

D^  suas  babílitaçôei  ]it'*rfirias  e  scientificaã  noa  dá  largn 
noticia  £eti  contemporaTieo  o  abbnde  Diogo  Barbosa  Macbado, 
Co^becia  perfeita  mente  a  liir^ufi  latina,  iallava  com  çorrec<;âo  a 
franccza  e  italiana  e  traduzia  bem  a  «rr^íja  e  a  bebraica. 

Dotado  de  s^in guiar  modéstia,  diz  o  Visconde  de  B.  Leo|ioldo, 
d^  amnvel  siogetfz.i  6  candura  dalma»  de  tal  sorte  acanhado, 
que  não  parecia  deposito  de  tantos  the^ouros  scientificoA  Em 
meio  de  iti{initfia  virtude»    reluzia  a  do  amor  e    piedade  BliaL* 

Occupou  com  diitioíçào  a  tribuna  sajjraJa,  Entre  oi  seus 
aermôes  é  citado  o  que  proferiu  na  festa  do  Corpo  de  Deus, 
eui  S,  Nicolau,  em  Lisboa,  no  anão  de  1721. 

Vcriado  níi8  conhecimentos  da  pbjsica  e  da  nofcanica  pu- 
blicou era  1710  um  fulbeto  (depois  impresao  em  latim)  snbre 
Vários  moios  de  esgotar  sem  g*?nfe  as  nàu»  com  agua  aberta* 

Tanta  era  a  reputaçilo  da  Barthobireu  que  instituida  por 
d.  JtiSo  V,  em  8  de  dezembro  do  1720,  a  Academia  Real  de 
Historia  Portuguezfl,  o  monaiclia  escol beu  o  noeso  distincto 
compatriota  para  faz-r  parto  dos  50  primeiros  sócios  eftectivoa 
de  que  ae  compóz  aquelle  grémio. 

Pereira  da  Silva  ei plica  e8?a^  boas  graças  do  Hei  do  fe- 
guiutc  modo  ;  GusmSo  eraprehendeu  uma  viagem  á  líespanha 
e  allt  conquistou  a  Bym|>atbia  o  amizade  da  rainha  que  pôz  sob 
a  protecçào  do  joven  filho  de  d.  Pedro  II  o  ecdesiastico  que 
já  se  tornava  notável  por  seus  merecimentos, 

Mm5  o  que  torna  immortal  o  nome  de  B,  de  Gii&mílo  é  a 
gloria  de  ter  elle  sido  o  primeiro  inventor  dos  âerostatos*  (iloria 
incontestável,  cm  vista  do  muito  que  se  tem  escripto  «obre  o 
asaumptO. 

Depois  de  aturados  estudos  de  gabinete  e  pequenas  ex- 
periência* animou-s6  este  a  enviar  a  d.  Joào  V  a  seguinte 
petiçAo;  Diz  o  Licenciado  Bartbolomeu  Lourenço  de  Gus- 
mào,  que  elle  tem  descoberto  bum  instrumento  para  andar 
pelo  ar,  da  mesm^i  sorte  que  pela  torra  e  pelo  mar  com  muito 
maia  brevidade,  fazendo-so  muita?  vezea  duzentas  e  maía  légua  a 


—  2U  -^ 

de  cainiíibo  por  dia,  nos  quaos  ÍD&trumeiitoi  se  poáerfto  levar  os 
AviEos  da  mata  importância  aos  exércitos  e  terrng  mais  remotas^ 
QU&si  no  mesmo  tempo,  em  que  ?©  resolvem  i  no  que  iiiteresâm 
Yngsa  MajeiUde  muito  mais  que  a  todoã  oâ  outi*og  Priticipes, 
pela  maior  distancia  dos  Eens  domínios,  evitandofe  desta  sorte 
«)s  desgoverDDs  das  conqniíttaa,  que  provém  em  grande  parte  de 
chegar  tarde  ns  lioiiciaa  detles;  além  do  que  poderá  Vossa  Ma- 
jeUftde  mandar  vir  o  preciso  delias  muito  mais  brevemente  e 
Tnai^  ipguro:  poderão  os  bomeus  de  negócios  passar  letras  e 
caWdaeâ  a  todas  as  praças  sitiada^^  podei &o  ser  soccorridas  tan- 
to de  gonte,  como  de  vivares  e  munições  a  tcdo  o  tempo  e  ti* 
T^rem-ae  delbs  as  pessoas  que  quiserem,  sem  que  o  inimigo  o 
possa  impedir,  Descobrir-Ee-ilo  as  regiões  man  visinbas  aos 
Pôloa  do  Mundo  semirt  éa  Naçào  Portugueíia  a  gloria  deste  dea- 
cobrimenlo»  além  das  infiiiitas  conveníendasi  que  niostrará  o 
tempo,  E  porque  deate  invento  ae  podem  seguir  muitos  desor- 
dena, commettendo-èe  com  6CU  u-o  muitos  crimes  o  facilitaudo-áe 
muitos  na  confiança  de  ac  poderem  passar  a  outro  reino,  o  que 
»o  evita  estando  reduzido  o  u^o  a  hunia  só  pessoa  a  quem  se 
mandem  a  todo  o  tempo  a*»  ordens  convenientes  a  r^^speito  do 
dito  trangprrfe  e  probibindo-se  a  todos  os  mais  sob  graves  penas: 
be  bem  se  remunere  ao  suppHcante  invento  de  tant«  íroportnncia. 

Pede  a  Vos  a  Majestade  seja  servido  conceder  t»  privilegio 
e  que,  pondo  por  obra  o  dito  inveotOt  nenbuma  pessooi  de  qual- 
quer qunlidade  que  fôr,  possa  usar  delle  em  nenbnm  tempo  neste 
Reíoo  ou  tuas  couquiEtna  arm  licença  do  supplicante  ou  seus 
herdeiro?,  tob  pena  do  perdimento  de  fodcs  os  bens  e  as  mais 
que  a  V.  Majestade  parecerem.  E,  R.  SI. 

Coiisaltada  a  Mesa  do  Dcssembargo  do  Paço  foi  esta  fnvora- 
'"Vfrl  á  preienvft<5  do  requerente.  O  rei  deu  a  seguinta  resf  lucilo: 
Como  parece  á  Mesa  e  além  das  penas,  accrescente— a  de  morte 
*(s  tiansgresiiores,  E  para  com  mais  vontade  o  supplicante  se 
tâpplicar  ao  novo  instrumento,  obrando  os  efteitos  que  relata,  lhe 
faço  merco  da  primeira  dignidade  que  vadiar  em  as  miohai 
Colíegíadas  de  Barcellos,  ou  do  Santarém  o  de  Lente  de  Prima 
de  Maihpmatica  da  Minha  Univcrâidado  de  Coimbra,  com  seis- 
centos mil  réis  de  reuda,  que  crio  de  novo  em  vida  do  suppli- 
cante suraente, 

Lisboa  17  de  nbril  de  17O0. 


II 


D*  Joâ'>  V,  seja  dito  em  lionra  á  sim  memoria^  abra<;ou  com 
ènthusiásmo  os  projectos  do  padre  Bartliulomeu  de  GasmAo. 
Do  seu  bobinbo  o  monsrcba  contribuiu  com  lodos  os  gastos 

Sara  a  C' nstrucçáo  do  aorostat^  a  quo  o  seu  autor  dera  o  nome 
e  bíxrqnsUt  mi  Jífitfeíct, 


Réalizoti-Êe  a  experiência  publica  em  9  de  agoftto  de  1709, 
no  Pateo  da  Casa  da  Indía,  |»eraiite  a  corte  partugtieza,  fidal- 
guia e  imraenso  conetirao  de  povo.  O  autor  do  tjovo  inveuto 
iet-Q  Btibir  deade  o  torreão  da  precítada  Casa  da  ladia  até  o 
outro  fronteiro,  no  chamado  Terreiro  do  Passo*     Batendo  o  ap- 

Sarelho  na  ci malha  da  Sala  das  Embai xada^j  Boflreu  senti vel 
esarranjo  que  impOBsibiUtou  a  aBcenç&o» 

Que  e^se  aco  a  teci  me  ato  se  eÉFectiiou  em  tal  tempo  ha  provas 
irrefragaveis,  Provou-o  á  saciedade  o  conexo  Franciaco  Freire  de 
Carvalho,  om  uma  raooographia,  ioserta  no  tomo  1.°^  parte  l.* 
da  2/  série  das  Memorias  da  Acad .  Real  de  Sci«neiai  de  Lisboa, 
também  impresaa  oo  Volume  XII  da  Revista  do  Instituto  His- 
tórico ^Memoria  para  reivindicar  para  a  nação  portuguesa  a  gloria 
da  invên^tíf}  da/t  inackinai    aôrOAtatitias»  - 

De  uma  cópia  desse  trabalho,  p0:^8uida  por  Joaé  Bonifácio 
de  Andrada  e  Silva,  sorvin-se  o  Viacotide  de  S,  Leopoldo  parA 
tratar  do  ase  um  p  to  ^  em  um  opúsculo  que  faz  parte  de  um  volume 
Memorias  do  instituto  Hintorico  e  G-ographico  Bra^ileirOt  re- 
produz Idaâ  em  um  doa  ul  limos  livros  da  Re  vista  do  mesmo  In- 
etitutrí. 

Secundo  affirma  o  itlu»tre  biblinphilo  lonocencio  da  Silva, 
a  memoria  do  cont:<g^o  Carvalho  teve  ainda  ditU  additaoientos, 
escripto  pelo  próprio  atttor  e  outro  pel  >  padre  Frani^i^co  Re- 
creio j  conforme  couâta  daa  Actas  da  Academia  Real  de  Bciao- 
cias  de  Lisboa  —  tomo  1.",  paga-  193  a  212  e  toiro  2."  pagB* 
Và9    a    149. 

Quando  uàú  foaaem  ftaificientei  todns  as  provas  adduzid&i 
bastaria  o  testemunho  do  Francisco  LeitAo  Kerreiríí,  con  tem  porá  ueo 
d  1  Biirtholomeu  de  Gusmào  e  mais  tarde  seu  colle^a  na  Real 
Acadmuia  de  lli&tiria  PortUEruozn.  Leitio  Ferreira  com  toda  a 
paciência  registrava  día  por  dia  os  acoutecimt^n  tos  roais  notaveii 
e  importantes  do  Beu  tr^mpo. 

E^^bes  «pontamentof,  conforme  se  supuoe.  foram  impressos, 
segundo  conota  da  Biblwtheca  Luniíana,  do  abhade  Dio^o  Bar^ 
bo^a  Machado,  que  menciona  o  competenie  ti  mio.  Alem  disso 
atúda  eitist^^ni:  a  estampa  do  aerostato  feita  (1774)  nas  officinaa 
de  Bím&ii  Thadeu  Ferreira  e  uni  folheto  sabido  da  imprensa  de 
António  Rndrigues  Galhardo  e  publicado  depois,  que  aos  irirãos 
Mougiílfiera  se  começou  a  dar  a  g-loria  da  invençáo  do&  aorostatos. 

A  dt^s peito  das  pretensões  francesas,  acerca  da  prioridade, 
é  ella  conferida  com  toda  a  imparcialidade  ao  nosso  compatrio- 
ta pela  Encycinpírdia  Brttannica  menor  a  Dictionart/  o/  Arts, 
Sciericen,  etc  ,  Edinburg:,  1797— vol.  1.'— 3/ ediç&o.  Seguem 
a  moí-ma  opinifto :  a  Enc^ciupwdia  EãmenstH—hy  J&m&sMiU&r — 
Edinburg,  1818,  tomo  1."  t»  a  Encijcl  pa;dia  Âm^can — Edi- 
tor Francis  Lieber,  Philadelphia— 1830. 

Tal  é,  porém,  o  poder  da  verdade  que  um  compatriota  doa 
Mont^olfiera,  portão  lo  inftitspeito,  confessa  abertamente  serem 
devidas  as  primeiras  experiência»  doa  aeroatatos  ao  padre  Gusmlio» 


-  253  — 

Fazemoi  referencia*  á  importaato  obrs — Biographie  C/m- 
Mfjefíe  de  Michautl—túmo  19,  pablicado  em  1819.  Nt^lta  pódô 
ser  lid4,  no  artig-o  GuamAo,  um&  notícia  sobre  o  padre  Bar- 
thotomeu,  escripU  por  Bocoui  que  o  apreg^ôa  como  o  iq Tentar 
doB  ãerostatos.  Pondo  de  \mTtQ  inexactidões  «obre  minúcias 
da  rida  do  futaro  académico,  coaclue  assim  Bocoua :  «Qtioíquô 
hkn  avant  le  XVU*  aiècla,  dirers  antears  eusaent  proposé  dif- 
fér^iítM  mojens  pour  s'élever  daad  les  aire,  il  parah  certaín  qu0 
Toa  doit  aa  P.  Gu^^mào  les  prerniéres  expérieneea  d«s  hallons 
aéroBU  tiques,  renouTalées  avec  un  si  grand  succéa  soissanba 
BUÍ  aprés  sft  mort». 

Ãttim  também  pensa  o  inolvidável  Ferdinand  Denis^  amigo 
^0  Bittiil,  por  elle  imrcorrido  em  variai  direcções,  e  e&criptor 
estrangeiro  que  melhor  escreveu  sobre  o  nosso  passado. 
y-^  Larousse,  no  seu  grande  Diccionario^  não  tem  eacnipulo 
em  e»|osar  com  toda  a  imparcialidade  as  opiniões  de  Bocous, 
e  isso  é  am  ?erdadeiro  milagre,  quando  se  f^abe  quanto  aão 
deâcienteã  as  notícias  ministradas  por  essa  encjclopedia  coni 
refeiencia  ao  Brasil  e  a  PortngaL 

Com  o  fracasso  oceorriHo,  do  dia  da  ascensão,  poderá m*so 
em  campo  os  poetas  &ati ricos  do  temjx»  e  eontr:^  B.  de  Gus* 
mão  lan^Jiram  apodoe,  torjres  oatumoLâs  e  insultos.  Bfgundo 
Teíeie  Viirnbagen,  foi  até  eacripta  uma  comedia,  que  se  con- 
serva manuscripta,  lEatas  e  outra*  aatiraa  mordazes,  apegar  dô 
estopidasi  prosBgue  o  iUustre  autor  da  «Historia  do  Brasil*, 
eram,  segundo  o  costume,  a  no  ny  mas.  Os  miseráveis  que,  por 
inveja  e  baixeza  de  animo,  hostilizam  os  grandes  pensamentos 
e  o*  grandes  homensi  seus  autores,  f^rio^  de  ordinário,  cobardes. 
Nem  que  a  vok  intima  d»  consciência,  accu&ando-lLes  a  per- 
versidade da  sua  obra,  lhe*  mostre  o  pelourinho  em  que  fica- 
nami  ante  a  posteridade,  eternamente  cravadas  suas  cabeças». 
Dos  muitos  versos  citaremos  os  principaea,  por  exempio, 
as  decimas — Ao  novo  invento  de  andar  pelos  ares: 

Esta  maroma  escondida, 

Que  abala  toda  a  ctdade, 

Esta  mentira  verdade. 

Ou  esta  duvida  crida  ; 

Esta  exAlaç&o  nascida 

No  PoTtugnez  Firmamento, 

Este  nunca  visto  invento 

Do   Padre  Bartholomea, 

Assim  fora  santo  eu 

Como  eile  he  coisa  de  vento 

Esta  fera  [lassarola, 
Que  leva  por  mnis  que  brame, 
Trezentos  mil  ruts  de  arame 
Bómente  para  a  gaiola ; 


—  234  — 

Esta  urdida  ]>aviola, 
Ou  FBte  tecido  enredo; 
Eat(^  das  mulheres  medo 
E  amfim  dos  liomcoB  espanto  ^ 
ÃBaiímfõrn  eu  cedo  santo, 
Como  so  ha  do  acabar  cedo. 

Estas  decimaB  appareceram  impressaa  em  1732,  em  tima 
eoUecçPLO  cujo  autor  é  o  celebre  Tliomaz  Pinto  Brandão  (o  Ca- 
iDÕes  do  Rccio)  muito  do  peito  do  rei  d,  Jofto  V,  Tem  elía  por 
titulo  Pinto  Renascido^  Eminnuaào  e  Desempennado  Primeiro  Vóa, 

Eis  um  outro  espécime:!: 

«Com  que  eiip^enlio  te  ntre\'ea,  BrasHoiro, 
A  voar  no  arV  tíeuJo  pateiro, 
Desejando  ave  ser,  tem  eer  gaivota? 
Mellíor  te  fora,  na  regiílo  remota 
Onde  nasceste,  estar  com  ttso  inteiro  * 

Oâ  zoilcft  daquelle  tempo,  pondera  o  Visconde  do  S,  Leopoldo, 
querendo  riditíularií-nr  o  invento  concorreram  pnra  os  nosans  fins, 
deisando-noâ  teatemnnlio  da  existência  da  mscbina  e  do  seu  com- 
positor  no  Ee^uínto 

SONETO 

Ao  padre  Bartbolomeu,  inventor  da  navegaçflo  do  ar. 

Veio  na  írola  hum  doente  brasileiro 
Em  trage  clericnl,  lolaina  e  coroa, 
Pe^  crer,  r^xif*^  pelo  ar  navega  e  vôa, 
Num  burco  eem  piloto  o  nem  remeiro* 

Vae-se  ao  Marquez  de  Fontes  mui  ligeiro 
Declara-lbe  o  eegredo,  este  o  rpregôa, 
Sobe  á  consulta,  pasma-ee  Lisboa 
Em  tanto  esquece  a  íome  do  terreiro 

Bem  merece  eBle  doente  eterno  asseuto 
Na  etherea  região,  eu  jíi  lUe  approvo 
  dinbrura  do  ãubtil  invento; 

Pois  hum  milagre  fe*,  que  be  mais  que  uovo 
Em  manter  tantas  btcna  só  de  vouto 
Fazendo  hum  camaleão  de  taoto  ]UVOi 

Não  sao  concorde»  oa  antorea  ca  dcácripçào  do  primitivo 
aeroitato  do  padre  B,  de  Gusmào,  Duvidas  existem  acerca  doà 
motores  empregados  per  elle  jiara   levar   a  cabo    &t,u    audacioso 


^  235  — 

camniettimento.  Díãcutil-AS  nfto  cabe  no&tas  9Íni|>lea  nolae. 
Para  faael-o  cãr«^o  dpi  comp«tencU*  Seriam  a  electriciínde  e 
o  mai^DCtJ$rti'>,  como  muitos  querem  V  Certo  é  o  autor  tião  ]>odia 
ou  dIo  qaix  dívalgal-ot.  Em  este  o  sea  se  gr  e  do «  segredo  qne 
o  acompanhou  á  sepultura. 

Além  dos  trabalho»  citados  o  leitor  curio&o  |ioderú  encon- 
trar no  Diccionario  BiMiogrophicUf  de  Iniiocencio  da  Silva,  aa 
precifAs  indkaçòís  taes  cimo  artigos  do  jornal  Pim^frama,  /?e- 
i^iãta  Vniversat  IJubonêtine^  Heeinla.  Académica  cie  Coimhrat  Ca* 
talogo  dcs  Míinascriptos  Porta fruezea  exisl^utes  no  Museu  Bri- 
tannico,  organisado  por  F)g:anÍL^re,  etc. 

Ha  jDOiiccs  annoã  o  a  propoãitó  d&a  experiências  do  Sautos 
Dumotit  publicou  o  sr.  Horário  do  Ca  r  vai  lio  erudito  opUÊCulo 
onde  vera  consagradns  algum  tis  pagiuas  ao  mal  logrado  irmão  de 
Alexandre  de  Gusmão  < 

Convém  nào  eiqupcer,  Ealvo  erros  que  contem,  o  Dicchii<ir'o 
Popular  de  Pinheiro  Chagas,  volumo  1.*, 

Mas,  porque  Bartholomeu,  eatímado  pelo  rei,  orador  Haente 
e  apreciado,  lente  da  Universidade  de  Coimbra,  membro  da 
Aeadetnia,  onde  leumemoriaft,  encarregado  dt?  importante»  mie&òei, 
falleceu  miseraTelmente  em  Toledo? 

Ainda  nesse  ponto,  como  veremos,  reina  confusflo  entre  os 
bieloríadorcs. 

Ill 

Quando  em  1724  desappar^ceu  da  cidade  do  Lieboa  o  eabio 
Bartholomeu  Lourenço  de  Gusmão,  a  calumnia  alçou  de  novo  o  collo. 
Dessa  tarefa  inglória  encarrcgoa-se  ninda  Thomaz  Pinto  Brandào. 

Entre  oi  importantes  eodicea  manafcriptns  da  noísa  Biblio^ 
theca  NacionãL,  encontrou  o  operoso  e  mníto  erudito  Valls  Cabral 
um  que  elle  reputou  com  fundamento  ser  o  original  e  luedíto  das 
06ríij  i'arií7s  do  prdcitado  poeta  uatirico.  Desse  volume^  extiahiu 
Cabral  vários  s>nelos  e  dectmaa,  reproduzidos  com  a  mesma  or- 
to«i^rapfaia  do  original  e  dando-o^  á  estampa  no  1.^  volume  dos 
Ãnnaea  da  Bibliothecfl,  pagr.  H)0-IÍÍ8* 

Transcrevendo  taea  satirri^,  é  meu  intento  averiguar  bí  dentre 
esses  veràop,  dictados  pelo  odo  e  pi'la  inveja  posiío  descobrir  o 
verdadeiro  molívo  da  partida  do  pndro  Bartholomeu  e  ú  eissa 
caufa  de  acordo  esti  com  as  varias  opiuiõtii  do 3  hiatoriographoa. 
Oi  gryphofl  fào  meus. 

Ao  padre  Bartholamcu  Lourenço,  o  Voador  qite  fuffh,  e  se 
entende,  porque  fe  soube  tinha  fcmiliaridade  *'Jío  Demónio. 

SONETO 

Bartholameu  Lout*enço  he  hoje  o  alvo 
dos  discuraoiã  da  Corte  e  as  inferências 
rezolvem,  ter  do  D^^mo  jntelligcnctas, 
e  que  estas  o  fiaerào  por  em  salvo. 


—  236  — 

PoT6m  eat6  discurso  em  tudo  be  câlro 
qu«  assim  o  provào  erradas  coaaequencU* 
desses  inveatosp  partos  daa  Scienciaa 
com  que  atroava  o  mundo  e&te  Fapaluo* 

Monstro  era  de  memoria  grande  e   rar» 
o  Padre,  mas  de  leve  enteodimento 
se  bem,  que  de  vontade  muito  a?ara: 

E  80  poderá  achar  ao  seu  invento 
modôi,  com  que  no«  ares  naveg^ára 
Be  tivera  co^Dêmo  ^otamento, 

Ãn   mesmo  padre  Voador; 

Vários  discursos  fa^  toda  esta  terra 
sobre  a  fuga  do  Mmuiro  da  memoria  | 
mas  a  meu  vêr  a  rau2a  mais  notória 
he^  que  se  ha  retirado  à  Inglaterra, 

Demos  pjraças  a  Deoe^  já  que  da  gfiérra 
que  nos  ftz^  consegruimos  a  Victoria; 
priyando-o   tào  bem  de  tanta  gloria 
eo*o  retiro,  q^algu^  mao  feito  enserra. 

Pode  ser  fossem  dogmas  de  Luthero 
on  beretbicos  erros  de  Calvino 
que  pata  tudo  azado  o  caucidero: 

Porem  a  Molinista  eu  mais  me  inclino 

fosse,  por  $t  airahir  sendo  do  Clero 
ás  vontade  do  Sexo  Feminina, 

Â*  mesma  auiencia  do  Voador 

Que  o  Voador  voara,  ouvi  dizer 
ftegunda  vez,  do  nosso  Poitngal; 
16  mentira  nfto  he,  caao  be  fatal 
que  o  discurso  nos  deve  suâ pender 

Mas  a  causa  tomara  eu  saber, 

de  todos  ignorada  em  caso  tal, 

se  foi  para  seu  bem,  se  para  seu  mal 

que  iuda  mal,  tudo  pode  soceder 

Alguns  tenhoret  quf^rem    prezumir, 
que  fora  isto  troça  que  buscou 
para  assim  mais  voar  e  mais  subir; 


fÁo  mesmo  Voador,  aozentando-^e  desta  Cidade,  ©m    28    de 
8etembro  de  1724 : 


—  237  - 

Mm  presumo,  que  etle  se  enganoa 

5oÍB  qual  outro  Lu«bel  vejo  a  cah 
a  Soberana  Gra^  a  que  700U^ 


Depois  de  dar  bú  Pove  mil  pezaret 
Bartholam^u  Lourenço  o  Pá^saroila 
Servindo-lhe  o  Paquete  de  gayolla, 
Tandem,  tandem  voou  por  esaea  arei. 


O  medo  lhe  deo  azas,  e  talaree. 
E  qnal  Mercúrio,  oa  qual  Padre  Carúlla 
De  Voador  do  ar,  lhe  deu  na  túlla 
Eir  aer  agora  voador  doa  mares. 

Dizem,  fie  sogeit^n  hir  passar  fomêã 
Túgínáú  ao  Santo  Officto  e  logo,  logo, 
Ãntet  que  o  t&yo  âe  empregasse  nelle. 

£  assim  sendo  contrario  aos  seus  doiLB  nomes 
Sendo  Lourenço  teve  msdo  oo  íogo, 
Sendo  BartboUmeu  guardou  a  pelle. 

DECIMAS 

Credito  dará   Lisboa 

ao  que  a^ora  não  deu, 

Sois  o  ta!  Bíirtbolameu 
e  que  voou,  fama  voa. 
Já  voou  e  n&o  a  tóa 
tem  embargo,  que  as  atou, 
e  com  taea  azas  voou, 
que  apezar  de  muitas  cazas 
para  levar  boas  azas 
muita  gente  depenou  (*) 

Deu  um  voo  mui  ligeiro 
cruzando  os  ares   azado 
e  foi  vôo  tào  cruzado 
que  valeq  muito  dinheiro. 
Sâo  foi  o  VÓO    raiteirOf 
Ante»  ura  mistério  eo serra 
este  vÔo,  e  hé  ver  que  erra, 


—  238  - 

em  voar  no  seu  troplieo 
nao  dn  ierra  para  o  céo, 
sim  do  eéo  para  Inglaterra. 

Tnnto  em  Líeboa  voou 
com  li^ehe^^a  oportuna 
que  couí  as  azas  da  fortuoa 
de  Lisboa  ao  Cúo  cLogou. 
Qae  o  60l  real  divizou 
o  Luzimeuto  elevado, 
porém  por  forçíi  do  fado  ; 
e  deste  vôo  atrevido 
íb  já  foi  dtl  Rçy  valido 
já  de  o  ter  está  privado 

Dizem  prn<^aentoâ  Celectoa 
com  juízo  Baperior 
que  fogio  o  Voador 
por  juizt»  maia  secretos. 
£  apegar  dos  discretos 
Be  dAg  eitou  farto  de  viulio 
Creyo,  que  o  caso  adeviuho 
e  me  rezolvo  a  dizer 
que  só  fogio  por  uão  eer 
do  senliut  Duque  vtzinho^ 

HaiSf  ^}^^  ícaro  voou 

porque  a  melhor  sol  aobio 

e  hoje  voando  fogio 

do  sol,  fpít  o  fiuthorisou. 

Creyo  que  a  Lua:  o   aDÍmou 

para  tornar  a  voar; 

mas  não  me  devo  admirar, 

de  buecat  outro  farol: 

porque  fo^rindo  do    sol 

era  força  bir  para  o  man 

Já  confuzo  o  juízo  trago 
de  ver  que  fot  com  razão 
pafsaro  de  arribação 
este  pássaro  biaoago. 
Medo  foi,  poÍB  sempre  vago 
fora  o  EUEB  Vi  zoa  feas, 
deixando  na  trípaa  cbeas 
de  medo  das  Sautas  cazas; 
fogio  com  alheas  azaa 
voar  com  penas  tlheas 


r 


^  239  -^ 

Aqui  lium  Pinto  vcar 
qoiz,  com  voo  mui  diitincto; 
maa  quem  tem  azas  de  pinto 
iifio  ee  pode  remoat&r. 
He  me  precito  tylvar 
esta  sua  prezum|njÃo ; 
pois  nho  sofro,  e  cõm  ra%ão, 
qtie  este  arojado,  ©  daninho 
lendo  nra  pobre  pintainha 
le  nos  meta  a  taralb&o. 

Mas  tornftndo  as  de  que  falo, 

poia  deate  aquelle  he  distincto; 

quero  deixar  este  FÍdío 

a  quem  Frei  Simão  faz  galo, 

E  djga  sem  intervallo 

que  athe  o  Santo  ofleodeu 

de  quem  nome  recebeu. 

ÊBie  Voador  nocivo, 

põiB  fogio  como  captÍTO 

do  Santo  Bartholameu. 

Foi-ae  embora,  e  tomou  vento^ 

fogio  para  o  mar  voando 

e  pôde  ser  receando 

que  cá  lhe  descem  tormento, 

Déâtro  andou  no  seu  intentOj 

porque  se  &e  dC  aisenao 

dos  »eus  eri*08  ao  immenao, 

dir&o  todos  e  mais  eu, 

que  fogio  porque  temeu 

o  »er  cotno  São  Lourenço. 


Dentre  os  amigoa  e  admiradores  do  padre  Gusmilo,  tfto 
eruelmente  ultrajado,  um  apparecou  que  contra  o  Gamões  do 
Búciõ  escreveu  o  seguinte  soneto: 

Dize  Lingoa  cruel,  mormnradora, 
que  dizer  sempre  mal  tens  por  oflicio, 
Òortcu  mentiroza,  que  propicio 
estás,  para  mentir  a  toda  a  ora  ? 

Dize  como  eruel,  como  traidora? 
formas  no  ar  tão  bárbaro  ediÁcio, 

3ue  coutra  hum  tal  betóe,  por  culpa  e   vicio 
e  respeito  daa  Leya  te  laea  tão  fóraV 


^  240  — 

Dize,  com  que  rszâo  oti  ftiadaniento 
falas  maiB  largo,  que  «uccinlo, 
Bendo  do  seu  dealusire  instroineiito. 

Tal  níU)  poBM  sofrer,  uem  tal  coniíiilo, 

pois  delle  tenho  asaz  conbecinieoto, 

e  soij  que  Águia  foi  flempre  e  tu  és  PÍQto. 

  este  soDOto»  respondeu  o  poeta,  aMrma  ainda  V.  Cabral 
com  outro  que  a  decência  manda  omittir  e  que  tem  por  titulo 
De  Thomaz  Pinto  para  Fr.  Simão^  supondo  lhe  Jkera  o  soneío 
antecedente . 

Declara  atnda  Yalle  Cabral  não  gaber  ao  c^erto  quem  seria 
o  autor  do  «oneto  a  que  roBpoudeu  Pinto  Brandão  por  maneira 
pornoj^rapbica  Quanto  a  mim,  ^alvo  melhor  juizo,  compuUando 
a  Bibhotheca  Lusitana  de  B  Macbado  encontro  entre  oa  con- 
temjporaneoB  de  Gusmão  ©  de  P.  Brandão,  frei  Simão  Antouio 
de  Santa  Catharina,  religioBO  de  S.  Jeronymo,  Musico  distin- 
cto,  teve,  diz  B,  Machado,  notável  gçjiio  pcra  a  poesia  jocosa 
como  testemunJião  os  seus  versos,  peloji  quaes  se  fez  acredor  ãos 
applausos  de  ires  academias  Ânonyma^  Poriugueza  t  Escholastica* 
De  frei  Siraílo  entre  varias  obrai  publicadas  e  manuscriptai 
e^híem  — Bimas  Sotioro s  —  impr^itaB  em  1731  com  o  aff^ectado 
nome  de  Sim&o  Autuues  Freire  * 


IV 

Dentre  as  ferinas  ai  In  soes  do  Cíímões  do  Bócio,  duas  serviram 
de  base  aos  biographoi  para  explicar  a  fuga  de  Bart  bolo  meu 
de  Gusmão:  medo  das  Y>eraeguiç5eB  do  Santo  Officio  e  a  perda 
do  valimento  de  d.  João  V. 

Não  merece  cootradicía  a  opinião  doa  que,  sem  fundamento, 
sustentavam  que  Bartbolomeu  chegrm  a  ser  preso,  tando^se  es- 
capado dos  cárceres  inquisitoriae»,  graças  á  protecçfto  dos  jesui^* 
tas,  confrades  (sic)  do  preclaro  braaileiro. 

c  O  que  obrigaria,  pergunta  o  Visconde  de  S.  Leopoldo,  a 
bum  varAo  tão  sizudo  e  couiitaute  e  que  havia  até  etitão  dado 
provas  de  exacto  observante  das  condií^Òes  com  que  entrava 
para  a  sociedade  a  .arrojar-so  a  desairo-ia  fuga?  Acaso  o  funda- 
do receio  de  huma  sor  Ce  egual  d  de  Galileu  seria  a  discreta 
prudência  de  ]>revenir  huma  grande  injustiça,  efíeito  do  humor 
corrosivo  da  inveja,  que  com  ^Toprífdade  João  de  Barros  com^ 
parou  e  denominou — o  cancro  da  honra  — ?  De  certo  que  me 
f ai  ião  dados  positivoò  para  o  afirmar,  mas  tradição  não  inter- 
rompida tem  vogado  até  boje,  de  que  se  evadira  de  tremenda 
perseguição  para  paiz  estranho. » 


k 


^  241  ^ 

<  Em  vidíi,  refere  Varabagun,  o  illa&tre  Faoliata,  depois  de 
«niiunciar  o  aeu  iaTeoto,  em  vbá  de  recompeti^aa,  recebeu  uU 
iTAgea  e  p€râ€guiçÔe&  e  não  eticoutrou  maís  de^cauça  até  falle- 
eer  em  18  de  uovembro  dô  1724,  em  To  lodo,  para  onde,  com 
outro  irmão,  fugira  de  Lisboa  era  26  de  setembro  a n tenor,  afim 
ÚQ  éâcapar  ás  garras  do  SíihUj  Officio.* 

O  companheiro  de  eva^ào  de  que  fala  o  i Ilustre  autor  da 
fíijfíoría  do  Brasil  era  irei  Jnào  áa  Santa  Ma  ria  j  irmào  roais 
moço  de    Bartbolomeu  Loureui^i^, 

Quem  primeiro  se  lembrou  de  c.otnparar  o  uiièso  compatriota 
R  Galileu  f*ji  o  celebre  padrtó  Josú  Ai^OsLinh»  de  Ma  tido,  iio 
ieu  ]:ioema — Aouf>  Argonauta — impreiiso  em   Lisboa  (1809*) 

O  conselheiro  Ji^ào  Manuel  Fei'eira  da  Silva,  em  sua  obra 
Vúròéá  liluHreit  do  Brasil^  àm  va^aroentti  :  B .  Lourenço  se  eva- 
dira por  ntedo  da    Iwpiijtição , 

HasB^iva  eite  tolvex  por  feiticeiro  e  de  ter  partes  com  o 
Diabo. 

Para  o  supracitado  «seriptor  o  que  operara  no  espirito  do 
Padre  a  idéa  ra  súbita  re^otução  iõra  também  o  debicou  teu  ta- 
mealo  do  Ret  por  nào  ter  Bartboiomeu  dado  em  Ríjuia  prompta 
iolaçâo  a  ue«^ocioâ  de  que  havia  sido  enearregado. 

Mas  Pereira  da  Sitva  linhas^  abníxo  cabe  em  completa  cou- 
tradic^Ão  quando  refere  :  chegado  dt?  Roroa  foi  Bartbolomeu  em- 
pregado pelo  próprio  d.  João  V.  como  decifrador  tta  respectiva 
stíereraria  do»  despachos  diplomáticos. 

Quanto  as  taes  negocia<;ôeá,  eià  o  que  se  colhe  do  Yi&conde 
de  S.  Leopoldo;  «Com  o  caracter  de    enviadt*  á  lurte  de  Roma 
bavia  lhe  d.  Joào  V.   encarregado  da  negociações   divereas,   com 
especialidade  de  solicitar  duas  Bulias,  a  do  serviço    da  Patriar- 
ehal  e  a  das  qtiartas  partes  dos    Bispados,    progredia     vagoroso 
í^ntre  tropeços^  tidvez  por  uâo  hav^r  compr^ht^ndido    as  iu tenções 
do  rei  \  deliberou  este  que  fogsp  a^ni^tír-lhe    &eu  irmàtí  Alexan- 
dre de  Gusmfto,  que  iior  fim    o  substituiu:   parece  que  o  trans- 
cendente talento  de  Bartholomeu,  formado     para  brilbar  em  es- 
phera  apr«ipriada,  como,  com  effmto,   brilhou  ;    avesado  á  justeza 
e   eracç^o   dessa  scitíucia  fiufalímf^j  que,  de    rfemon&traçiio  em   de- 
moDStrjii^âo,  sej^ue  a  coroltartos  certos,  o    que   nilo  eíií^avíi  comas 
eombíiiaçõeâ    variáveis  da  diplomacia  :  tdia  naturnl  franqne^n  re- 
lutava à  sagâjfi  e  refinada  dissimulação,  ueees  ária    muitas    veíçee 
para  cbeg-íii'  ao  desenlace  de  eured?idKa  tit^tjoci  i^àea.  nem  o  buli- 
cio  dos    saldes  se  compadecia    com  a  bilencioí>a  rt:chibà>  em  que 
^eruu  oríginaes    projectos.» 

Tudo  isto  se  pasônu  em  1720,  e  se  bouve  descontentamento 
regío,  es]^e  durou  pfjuco^  porqumitD  Alexandre  rle  Gusmão  obti- 
VÉ*ra  df>  Pontífice  tudo  quanto  almejava  d.  Joào    V. 

Foi  eiactatnefite  nfgse  anna  (1720)  que  ao  fundar  a  Aca- 
demia Real  de  Historia  Portu^uezu^  **m  8  de  dezembro  de  1720, 
o  rei  d.  Jo4o  V    eBcolheu    para    um    dos  50    sócios    eáectivoa  o 


—  942  — 

nome  do  dr.  Bartbolomeu  Lourenço  de  Guamio.    Como  oonciliar 
eeae  facto  com  a  tho  decantada  perda  de  valuneuto? 

Deraaia  continuou  elle  a  exo  oer  o  raagbt6i*io  iia  Univer&i- 
dade  de  Coimbra,  sem  &er  incoiomadado  pelo  rei.  Eâte  o  tinha 
o(»meado  e  poderia,  si  quizeaae,  d©iuittíl-*>  ai  na  realidade  Bar- 
tholomea  tive&se  incorrido  ao  desag^rado  d  i  filho  de  d.  Pedro  II, 
Finalmente,  segandu  refere  lunocencio  da  Silva,  B,  de  Gusmào 
foi  por  alvará  regia  de  lõ  de  julho  de  1722,  nomeado  CapeLl&o 
da  Casa  Real ! 

Quando  viuka  a  Lisboa  nâo  dmxaya  de  compardcer  á^  gpssôei 
da  Academia  onde  era  recebido  com  toda  a  consideraçào.  Na 
conferettcía  á^  Vi  de  julho  dê  17 1*4  e  iiào  dts  16  de  setembro  de 
1723  (como  escreveu  o  V.  de  â.  Leopiddo)  lia  o  padre  Bartbo- 
lomeu o  Prologo  doif  Mejuoriais  dos  Bispos  do  Porto.  Ea^e  tra- 
balho merectu^  dia  a  aetn  que  tenho  á  vitta,  a  approvaçâíf  de 
ioda  a  Academia.  E^ssá  ciixumataticia  uílo  ae  daria  ai  (eil  me- 
moria t?nceiTaSáe  ou  conliveíS^e  idéas  contra  a  TeligiàfiÉ  Couio  é 
sabido,  a  Academia  se  cnnipuuba  de  leigos  e  sacerdotes,  alguns 
dna  qiiaes  tantiliareâ  do  x^Siiito  OíEcio. 

Sò  na  contVrencia  de  22  de  dezembro  d©  1724  foi  provida 
a  va^a  do  acaleraico  tíraáileiro.  O  dr.  Bartbolomeu  Lourenço 
de  Gusmào,  reza  a  acta,  tinh  se  auneatadu  desta  Curte  sem  per- 
miMfíão  da  Academia  e  ^xta^ad^j  o  i^mpu  que  mar  cão  os  EsííituífjSt 
pareceu  ao>  cettanres  que  deoia  pfrjuer^fte  u  ligar  de  Académico 
de  numero  que  elle  ocvupwa.  Na  coutereucia  de  4  de  janeiro 
de  17-5  fnl  com  effeito  eleito  Nuao  da  Silva  Tellea, 

(^ue  Bartbolomeu  vivia  em  h  -a  barmonia  com  os  seus  ci>l- 
legas  prora  ainda  a  act*  de  20  de  set -rubro  de  1724.  Nessa 
reunião  foi  elle  cnnvidado  com  f»utros  a  dar  conta  de  teuítettudos. 

Por  var  aí  vezea  oecupon  elle  a  tribuna  sagrada.  Seu» 
siírmões  fcíio  todfjs  elogiados  peln  abb;ido  Diogo  Barbo^^a  Ma- 
cbaio.  O  da  f**sla  do  Corpo  de  Deus,  t* rn  H*  Mcnlau,  em  Lis- 
boa, mereceu  de  seus  ceu-^ore^,  íVei  Manoel  Guilberme  e  frei 
Boaventura  de  S.  Giào,  giatidea  eb  gios.  Pisçeram-lbe  ju^itiça, 
diz  Varnbagen,  declarando  ■como  eram  leconhecidus  os  fi«UB 
raroà  talentos  e  os  créditos  que  gratígedra  em  Ooimbia^  onde 
se  doutorara  em  Cânone* ;  como  no  estrang^eiro^  por  onde  via^ 
jára  dep'iÍB  de  1710  Noa  ôermôes  oatentou  o  padre  Bartbolo- 
meu nfto  &ó  muita  lucidez  de  eátylo,  como  náo  poucos  rasgos 
de  eloquência». 

Si,  como  dizem,  desde  1709  a  Inquirição  dcHCopfiaya  do 
padre  B,  Lourenço,  náo  se  cotnprehende  como  só  em  1724  tra- 
tasse de  persegui l-o.  Como  é  bem  Êãbido,  n&o  faísia  elía  cere- 
mos ias  em  encerrar  em  seus  cat  ceres  aquelle^  que  lhe  cabiam 
nas  garras.  Esemplo,  entre  muitos,  o  do  poeta  António  José 
da  >]lva. 

Evadiu -se  para  fug^ir  do  Santo  Officio  de  Portugal  e  pro- 
curou a  Hespanha,  onde  a  Inquisição  era    multo    m&ia    e/6V«ra. 


—  243  — 


hio  nfto  se  comprebendé.     Tanto  é  íato  verdade    qa&    o    poeta 

Braai^àci  dá  o  Voador  evadindo-ae  para  a  Inglateira.  Ão  en- 
tr<'g?Lr  em  1"33,  á  impií^nsaj  o  stu  Pinto  empeíuiadu  t  dejsêm- 
peanadut  o  Camòes  d-i  Ruciy  devia  já  tt*r  conbecimtín ti»  do  triste 
àai  é&,  victima  de  suas  L^aliimni^a.  Nàõ  retocou^  p^r  amor  da 
rinu,  Gâ  aeus  aontsto*  e  dt-ciuma,  Estava  nn  Beu  direito.  Nào 
le  tdmilte,  porêni,  como  os  biop^rapbos  do  padre  Lourenço  de 
Gasmãíi  le  tía&í^em  na  tradição  e  repetissem  muito»  aunos  de- 
pois eru  prosa^  i  b  dislates  de  um  poet&atro,  que  eacrevia  sé 
p^a  fazer  rir  a  ff  ente, 

Xs  minha  hau  ilde  opLLiâu  o  padre  B^ribolomeu  Lourenço 
df  Gasmão  fízpatnou-se  »^m  virtude  de  pertaibaçu^g  dag  facul- 
dades mearae^.  Modesio,  dê  amável  íthtgeUza  e  ca^idura  d'alma^ 
di  torte  acanhadOt  eoaeencrou  (js  seuB  desgustos  e  eties  tiraram- 
Ibe  a  razão. 

  injustiça  dot  çotitâmporatieos,  ob  Barcas moB  de  uns ^  as 
ciitQmniAâ  de  outros  muito  coutn buíram  para  tão  triste  resultado. 
Sem  meioã  para  tentar  novas  e  custosas  experiências,    viu    elle 

3ue  no  futuro  a  aua  ide  a  da  naveíraçâo  aert-a  lhe  seria  roubada, 
lutro^  teiiain  os  louro»  da  primaíiia  e  o  seu  nome  votado  aeria 
ao  Oítracismo,  Parj*  amparai- o  no  caminho  do  exilío  voluntá- 
rio leve  felizmente  os  carinhos  do  B^njatoin  da  íamilia. 

As  irevAS    do    entendimento    dtiraraui-lhe    menoa    de    doi^ 
mezes,  e  elle  afinal  descansou,    morrendo     na    enxerga    de 
hospital. 

ÍHoje,  mais  do  que  nunca,  ao  Voado**    deve    o    Brasil 
êitatua,     Seui  restos  mortaes  deveriam    ser    recolhidos    ao 
da  Pátria^  se  podessem  ser  retirados  da  valia   couimum    do 
miterio  de  Toledo. 


um 

uma 
seio 
ce- 


Kio  de  Janeiro,  19  de  novembro  de  1905. 

Br.   Jofià ViKiRA  FAsaNOA. 


Juiz  de  Fora  em  S.  Paulo 


Em  cftrta  de  31   de  agnato   de  1724  o  ouvidor  geral  Manoel 

de  Mello  Godinho  Manso  representou,  ao  governo  da  metn-pole 
fazendo  premente  aer  necessário  um  logar  de  juiz  de  fora  e  or- 
pLíiins  eu)  S,  Haulo  e  lembrando  qne»  nf^o  teiido  bIIo  tAo  ne^ 
ce^  Bário  em  âantoa  cooio  o  era  na  CapitHl,  o  juia  dy  fora  da- 
quella  villa  j^oiia  passiar  j^ara  r^ta  cidade,  o  que  eerm  inaiá  eco- 
nómico do  que  a  crtóíiçàLi  de  uio  novo  logar,  por  dispenear  i»  oíde^ 
nado  ccjm  que  a  e&te  se  tvria  de  díít::r. 

O  governo  de  Lisboa,  dutido  de  n\ko  ao  alvitre  indicado  de 
transferir  de  SHntos  para  S.  Paulo  o  juix  de  íóra  daquella  villa^ 
mandou,  pela  Carta  Hugi/t  de  18  de  junbo  de  1725,  que  o  go- 
veiuador  Rodrigo  Cetar  de  MeiíeKPS  mfurmaí&e  *o  que  poderia 
render  o  lo^^ar  dtí  Juiz  de  Fora.  crei  ndo  se  de  doço,  e  qual  o 
ortieundo  que  g»  Ibe  devia  dar». 

O  goveniíidor.ern  cutufirinjonto  da  Carta  R**gía  toeneionada, 
escreveu  íids  11  «le  maio  du  1720  qut*  «acho  sei*  ]íreci*o  servir' se 
V.  Maj.  de  mandar  crear  o  novo  lograr  díí  Jnjsc  de  Fora,  dfi- 
xando-llie  o  de  Juiic  áuh  Orpbj^ms;  e  pelo  qiie  toca  tio  rendi- 
mento que  pt*derâ  ter  nos  emolnnientod  de  ura  e  outro,  acho 
Berein  bastantes  jiura  poder  pasmar  dando- se-lbe  o  mébmo  itrde^ 
nado  que  tem  n  Juiz  de  Fora  de  Santos». 

Apesar  da  represeritav^o  de  Godinbo  Mansn  e  do  parecer, 
favorável  do  g^ovenmdor,  a  mí^rop']©  nào  creou  entAo  o  lograr 
de  juiz  de  fora  dn  B,  Paulo,  ditndii  por  essa  maneira  ensejo  a 
que  os  officiaes  da  Canniri  de^ta  cidade,  em  carta  de  3  de  abril 
de  17S4,  pedissí-m  fosse  creado  o  referido  logar. 

Ao  Conde  de  Sarzedas,  puís  qae  á  frente  do  governo  da  ca- 
pitania não  mais  f^&tava  Hodrigo  César,  foi  pela  Carta  Hegia  de 
15  de  novembro  do  meamo  anno,  ordenado  informaâse  com  seu 
parecer,  ouvindo  n»  homens  bons  da  cidade,  a  represou taçàn  da 
Camará,  e  elle  o  fe^^  p<<r  carta  de  30  de  abril  de  1735,  na  qual 
escreveu  lhe.  parecer  que  mui*  necessidade  havia  de  juist  df  tora 
na  vill  L  de  GuarHtinguetá  com  alçada  uaã  villas  elrcuaivizinbaB 
de  Piíidamouhangaba  e  Taubaté. 

Si  a  j  riineira  rep»'es(*ntaçào,  tendo  parecer  favorável  do 
governador,  nào  fui  attendida,  á  segunda,  uào  amparada  por 
t&o  pondero^d  elemento^  coube  egual  sorte,  nào  Feudo  ainda 
deâta  íeita  cieado  o  lugar  du  juiz  dv,  ígra  de  S  Pau! o,  ao  qual 
su  quasi  oitenta  aunui  depuís  deu  es:bteucia  o  Alvará  de  13  de 
maio  de  1810, 


f^pi|jVV7^w«v«n«BgH««^ 


I 


i\ÍARQ.Li:z  Dl-  \'ale;xça 

1777— 1856 


1 

1 

1 

y-V: 

\       V 

i 

—  247  — 

Creado  o  lo^r  de  Jtiis  de  fora  do  eivei,  crime  o  orpbamB 
de  3.  PauIo  cúíh  ordenado  egniil  ao  de  Maríanua,  foi  nomeado 
fèm  clle  o  oR,  EsTEVAM  RiBBimf»  DE  RE^KNuia.  quo  o  exercKu 
deade  6  de  fevereiro  de  ISll  até  o  njKAdo  de  l8l5,  tendo  antes 
©lereido  o  de  juiz  de  fora  de   Píilmella,  em  Fortuna l 

O  dr  Rezende^  oascidri  a  20  de  jalho  de  1777,  era  fillio 
lí;ritííDO  do  corooei  Severino  Ribtííro  e  de  sua  mulher  d.  Jo- 
sefa Mfltift  de  Rexeode  **  natural  da  freg^uf^zia  de  N  S,  da 
CtiTicei^Ão  dos  Prados,  coman.'a  do  Rio  daa  Mortes,  capitania  de 
3ÍÍM&  GéTaeE  C-isou-ae  ^m  S  Paulii  ans  25  fevereiro  de 
1819  com  d,  lUidia  Mafalda  de  Sousa  Queirosi  Em  1818  de- 
Htnbargador  da  Ca^a  da  SupplicaçAo  ;  em  abril  de  1822  ac^m- 
p*Ehou  o  príncipe  d,  Pedro  a  Minas  como  secretario  de  estado 
inÈ^rino  í  t^m  18'24  foi  ministro  do  Império;  fm  19  de  abril  de 
1826  foi  niiineado  senador  por  Minas  ;  em  1827  ministro  da 
jíutiça.  Foi  agraciado  com  o  tiitilo  de  Barào  de  Valença  em 
1S25,  elevfido  a  Conde  DO  auno  seguinte  e  a  Marquez  em  1848 
^  falleceu  em  8  de  «etembro  de  1856. 

Em  8  de  junbo  de  1815  já  estava  em.  exercício  de  seu 
cftrg-o  o  aegrundo  juiz  de  fora  de  S.  Paulo,  dr.  João  Gomes  dk 
Campos,  que  em  19  de  julho  de  1817  amda  o  exercia.  Em 
14  de  dexembro  df^  1B22  tomou  í>oçs6  do  lograr  de  deaembar- 
^dor  da  Casa  da  Supp]i<^açào  do  Rio  de  Janeiro. 

DestP!  juiz  conta  o  dr.  Mnteira  de  Azevedo  em  seu  livro 
Mosaico  BrasiUiro  a  segrttinte  interesàanle  passagem: 

c  Era  o  deae  mb  armador  Jo&o  Gomes  de  Campos  um  magis- 
trado recto  6  muito  probo. 

Apresentaodo-ae  em  sua  casa  uma  titular  com  uma  carta 
de  empenho  para  elle  ser-lhe  lavoravel  em  certa  pretençáo, 
disse- lhe  o  juiz: 

— áh  1  minha  senhora,  tenha  a  bondade  de  abrir  esta  gaveta. 
A  titular  abriu  a  gaveta  que  se  achava  atopetada  de  cartas. 

—  O  que  viu,  minha  senhora?  perf^untou-lheo  desembargador* 
— Cartas.  muifaR  cartas,  ainda  lacradas  dirigidas  a  V  Ex. 
"^Poia  deite  V.   Ex,   ahi  a  sua  carta* 

^Maa,  sr.  desembargador   . , . 

—  Petdoe-rae;  tenho  feito  iseo  aos  pobres  e  nlo  posso 
ser  maia  generoso  cora  os  ricos;  kou  obrigado  a  ler  oa  autos  e 
nada  mai--;  a  lei  é  a  melhor  carta  de  empenho  que  me  podem 
apresentar;  o  mai»  é  inútil  e  me  faz  perder  o  tempo  de  que 
tanto  preciao. 

A  titular  não  insistiu,  e  o  voto  do  desembargador  foi-Ihe 
contrario  * 

De  28  de  agosto  de  1819  a  28  de  julho  de  1821  foi  Juib 
de  fora  de  S.  Paulo  o  dr,  Nicolau  dk  Siqueira  Queiroz,  que 
©m  23  de  junhn  d^st*  ultimo  anno  referido  presidiu  a  vereança 
geral  e  ejttraordinnria  da  Gamara  Municipal  de  S.  Paulo,  na 
qual  &e  procedeu  á  form^içâo  de  um  governo  provia  o  rio  da  pro-» 


viucia  e  b6  juraram  as  hnsts  da  Constituição  decretadas  pelfti 
Cortes  Geraes,  Extraordinárias  ©  Coiistituiutes  de    Lisboa, 

Em  1  de  outubro  de  1821  o  dn  Queiroz  tomou  posi^e  do 
cargo  de  ouvidor  geral  e  corrtíjL^edor  do  tÍio  de  Janeiro» 

O  DR  J03É  DA  Costa  Cakvalho  euceedeu  ao  di%  Biqueira 
d«  QueiroK  no  lograr  de  juia  de  tora  do  cível,  critne  e  f*rpl]atxis 
6  em  20  de  agosto  de  1S21  já  se  achava  em  e3t**i  cicio  desae 
cargo,  de  que  foi  o  titular  até  (3  de  março  do  anno  seguíute,  data 
era  quB  foi  nomeado  ouvidor- geral. 

Filho  Itíjíitimo  d©  Jobé  da  Costa  CarvwJbo  e  d,  l^iivx  Marj;i 
da  Piedade  Costa,  nasceu  ane  7  d«  fevereiro  de  17^6  na  fre- 
fruessia  do  N.  S.  da  Penha,  Bahia;  formou-se  em  Ooittibra,  cuja 
Universidade  lhe  confrriu  em  1819  o  grau  de  bacharel  eui  leis; 
ciísou-se  a  primeira  ^ess  em  S.  Paulo  aos  29  d«  janeiro  de 
1824  com  d.  Genebra  de  Barrot  Leite  e  a  segunda  vez  em 
Lisboa  com  d.  Maria  Isabel  de  Snusa  Álvlin;  rcpreseotou  a 
pt'0vincia  natal  im  AsB^mblca  CoiiBiitulute ;  a  d^  S  Paulu  nílio 
só  nn  piimtim  logislatuia  (182G  a  1829),  como  na  8p imunda  (1830 
a  83)  e  na  quarta  (1838  a  41],  a  de  Sergipe  no  senado,  para 
o  qual  foi  nomeado  nos-  30  de  abril  de  1839;  foi  deputado  à 
Assembleia  Provincial  de  S.  Paulo  na  primeira  legislatura;  um 
dos  três  membros  da  regência  ]íermíinetite  do  Imjierio  dtípois  da 
abdicaçAo  de  d,  Pedro  I;  director  da  AcaJetnía  de  Direito  de 
S.  Pnulo  em  1S35  o  36 ;  pn-sideutH  dn  i>rovlucia  de  S  Paulo 
em  1842;  ministro  do  Império  em  1848  ti  presideiits  do  t!nn?flh'i 
de  miuistrna,  de  8  de  furubro  de  1849  até  1852  Agríiciíido  eu%n 
o  utulo  do  B.iriio  de  Moiil^Ale^re  em  1841^  foi  ftslevitdo  a  Via- 
coudc  doÍE  aiini>s  depois  c  a  Marquez,  em   i8n4, 

Tom  nu  parte  n  a  Be  rnat^da  de  Fr  a  n  ctit  eo  Ig  tia  c  lo ,  h  O  s  ti  l  i  za  n  d  o 
os  Andiadas,  quo  unhum  adquirido  justa  |1re^tond^&rallcia  110 
Governo  Mrovi.-iurio,    e  fítlleceu  nos    18     de,  eijU^mbro     di^      I86O. 

Ti^ndo  silo  Co^ta  Carvalho  nomeaílo  ouvidorem  O  demarco 
de  1822  e  com  eása  nomeaçào  toado  fi irado  vago  o  logar  dejuií 
de  ío.a,  para  elie  fui  nomeado  em  4  da  maio  do  ineemo  atino 
o  DR*  José  Cniíit  ia  Pacheco  b  Silva,  que  er-tava  exerceodo 
desde  3  de  maio  de  1819  o  cargo  do  jai^  de  fora  de  Santos  e 
exerceu  o  novo  cargo  até   13  do  abril    de  1825. 

Natural  de  Itú,  filho  legitimo  do  alferea  Filippe  Correia 
da  Silva  e  d.  Maria  Pacheco  da  Silva,  bacharelou-se  em  leis 
na  Universidade  díí  Coimbra  ;  casou-se  em  liú  em  1829  com  »Uã 
])rima  d.  Fraucisca  E  mil  ia,  filha  do  icutínte  Elias  Autonio  Pa- 
checo da  Silva  e  d.  Antia  Fau&ta  Rodrigues  Jordão;  representou 
a  jiroviricia  de  S  Hauh>  ua  Asíombléa  Constituinte  em  que 
toroou  aãsetito  a  2G  dr*  maio  de  1823^  substituindo  o  deputado 
eftectivo  conselheiro  de  taz-íuda  Diogo  de  Toledo  Lara  Ordenhes, 
como  a  representou  aiuda  na  Asseinblê:a  Geral  na  jirimeira  legis- 
latura (18^6— 29)  c  Dá  terceira  (1834-37J  ;  íoi  membro  uào  só  do 
do  gjverno  prâviaorio  creado  pela  Carta  Hegia   de  25  de  junho 


Makquez  de  Munte-Alkgrk 
1796 — 1860 


—  251  — 

de  1822,  aecumulaudo  m  funcçôfis  de  secretario,  como  tarabem  do 
Coiii*lho  Geral  d^  Provincm  na  spganda  lepslatura. 

Fallecen  oo  correr  do  adoo  de  1836  d«-ixandr(  descendente». 

Aos  18  de  abril  1825  aasumm  o  exercício  dí»  carg"©  de  juiz 
de  fora  de  S.  Paulo  o  dr,  Ernesto  Ferreira  França,  que  nelle 
le  ctitiservou  aié   1   de  outubro  de  18"27. 

Fúi  deputado  geral  por  Pernambuco  na  seg-unda  legislatura 
e  ministro  áoA  estiatig-eiroá  dn  gabinete  d*-  2  de  fevereiro  de 
1844,  6  repreâeritnu  na  catnara  temporária  &  Bahia  em  três  la- 
^íUttirai,  voUuudo  em  1347,  depob  de  ver  duas  veze^  annul- 
kda  pela  camará  vitalícia  sua  eleição  para  senador  por  Pernam- 
baco,  á  carreira  de  magistrado  encetada  em  S.   Paulo  em  Id'25. 

Em  1838  foi  Ernesto  França  aos  Estados  Unidos  da  Ame- 
rica do  Norte  em  miss&o  diplomática,  posteriormente  negociou 
como  pleoipotenclarío  o  casamento  da  Sereníssima  Princeza  a 
ira.  d,   Jaauaria  e  em   1845  um  tratado  com  a  Inglaterra, 

Por  decreto  de  25  de  abril  de  1857  foi  nomeado  ministro 
do  Supremo  Tribunal  de  Justiça  e  falleceu  aos  14  de  março  de 
1872. 

O  dr.  Eíoesto  França  foi  caiado  com  d.  Isabel  de  Oliveira 
França,  íilha  do  iljustre  paulista  Conselheiro  António  Rndigue^ 
Vello^o  de  Oliveira,  este^  baptisado  na  Sé  de  S,  Pnulo,  aos  íl 
de  maio  de  1752,  e  aquella.  neta  paterna  de  Jnsé  Rodrigues 
Pereira  e  d,   Âaua  de  Oliveira  Montes. 

Em  principios  de  outubro  de  1827  o  dr.  França  foi  buc- 
c^dído  na  cadeira  d<^  juiz  de  fora  de  S.  Paulo  pelo  dr.  Rodrigo 
Aston  IO  Monteiro  de  Barros,  que  exerceu  o  cargo  a  tá  fins  de 
fevereiro  de  1832. 

Era  natural  de  Minas  GeraeSt  fiHio  legitimo  do  Visconde 
de  Congonhas  do  Campo  e  formado  em  leis  pelú  Univpreidade 
de  Coimbra.  Casou-se  com  d.  Maria  Marcolina  Prado,  £lha  do 
capiíàn-mór  Eleuterio  da  Silva  Prado* 

Foi  o  ultimo  ouvidor  de  S.  Paulo  e  o  seu  primeiro  juia  de 
direito  n^  ordem  chronologica,  desembargador  da  Reíaçâo  de 
PernambucOí  deputado  k  Ass^mbléa  Provincial  de  S.  Paulo  nat 
quatro  primeiras  legialaluras  e  na  sexta  e  deputado  gera)  na  se- 
funda»  quarta  e  quinta,  tende»  tomado  aB^ento  na  terceira 
como  supplente.     Falleceu  aos  29  de  fevereiro  de  1844, 

Pass-ando  Monteiro  de  Barros  no  primeiro  quartel  do  aono 
de  1832  a  occupar  o  logar  de  ouvidor  effectivo,  foi  substituído 
no  cargo  de  juiz  de  fora  pelo  dr,  Paulino  José  Soares  de 
Sousa,  que  o  exerceu  durante  pouco  tempo,  sendo,  oito  mí*sçfB  após 
íua  nomeaçào,  removido  para  o  logar  de  jniz  do  crime  do  bíiirro 
de  3.  Joié,  na  Corte,  e  depois  para  o  juízo  da  s^^gmnda  vara 
dvel  da  mesma  comarca. 

Naicido  em  1807,  filho  do  dr.  José  António  Soares  de  Sousa 
e  d,  Antónia  Magdatena  Soares  de  Sousa,  íaz  seus  estudos  su- 
periores na  Universidade  de  Coimbra  até  o  quarto  anão  6    veiu 


—  252  — 

termiuíil-os  he  Academia  de  Direito  do  S,  Paulo,  qtiô  em  1831 
lhe  coitfí^riu  o  grAu  de  hacharr.K 

Foi  dtíscujlHtjf^Addr  dfi  líiOf^Ao  do  Río  de.  Jani^iro;  d(*piitndo 
A  Ansii^iribli^a  í^oviurinl  eío  ]íí<miíi  [)njn«ii'íi  legibliitiAm;  di'piitiíin 
frenil  dcsscle  ISoli  até  1849,  bcuido  jiPtíríj  huiio  Os-cilliitifi  beii;»d*>r; 
Tiiiuistro  (111  jusr.il*,!  di*Èdii  23  do  imhjct  n  24  ét\  jitllin  do  lí^iU  u 
23  de  marido  dr*  1841  h  20  d**  jnn<"íro  do  1843  t;  iiutKittvu  dos  et- 
triíngeirífs  de  8  ãn  juiilio  dy  1843  a  2  d*i  feV-Tí-iia  do  1P44  e 
do  gabirietts  de  8  dt:  outubro  de  1849.  lOiíviadu  i  xníiordirjnrio 
e  miiiistríi  ]ilrni|íatoiiuiíirio  juiilu  a  Córlti  dt^  Vari'/.  \ii^ya  trsTar 
da  qutístão  do  Oyitunck  Em  2  du  dezembro  dw  1851  foi  íijrra* 
ciado  com  o  titulo  do  VUcuudo  dti  Uruguai  i."Oin  ^n*jindezn.  Em 
1862  publicou  n  Ensaio  ísohre  o  diretifi  adtiníiiíirativn  e  mu 
186 íí  a  [uiintíír.a  parto  dn»  K^^iudn^  pratiajH  jiubre  a  atJmíuia- 
tniçào  das provínúios  do   lintSíL     KiIltítitíU  ii  lâ  dn  jtiUio   de  18G6* 

No  miíBino  auiio  df>  l!^32,  eiii  que  ao  dr.  MiíiMt^iro  d**  Bur- 
ros sueco  dl' U  n  dr.  ,|*fiuIiuo  di^  Sous*',  li  i^sttí  5iii:L'tídtíU  (*  DH, 
Feunando  Faciíií(.:(i  Jíjruãm,  natural  do  liú,  filhíi  líijritiuio  do 
tiineutt^  líUaM  Autnnio  P/mbcco  da  Silva  ti  d.  Aoidiiia  Fíiusta 
Iindri*^iies  JordAo,  primo  dn  dr.  José  Condiu,  Tacheco  o  Silva  is 
formadti  otn  leit.  pola  Universidade  de  Cnimbra. 

t>  dr.  Jordão  rra  jui7,  de  íóm  f^m  Santas,  LjUiiTidn  ffli  nouj»*»- 
do  para  egual  OJ^l■gl^  nn  oidndii  di*  S.  Paíilo  o  t'oi,  uii  tirdojo  tbríí- 
iiolof;:ica,  o  ulliimi  juix  d»-!  iVirji  do  S.  Pinilo  tendei  r)  wrt.  B  do  Co- 
á\^n  do  Proci'B«íf>  Criíriunl  Hrusilciro,  que  na  pmviííciíi  d»^  S. 
Píiuio  entrou  ern  Viçor  ;u>f*  2^>  du  uiait»  d«  iBriB,  declarado 
extirnítOÊ,  fií-3Íi)i  tíoino  ^h  d^  ihUvidun^i^,  na  ioiríircn  dt*  jui^ra  d«  tora. 

Nomeado  juiz  do  diriiitf»  dn  couiíuts  df.  Iiu  t*m  1833  h  dt^s- 
embarpidcir  da  rpla(;í^o  d<i  Míinaibfio  i-m  1842,  fui  imu  I8íi4 
apoBOiítado, 

Deputado  á  Aasemblúa  LoL^i&lativ»  ÍVopiocial  om  teis  Ioítíê- 
latura^  e  dr-jiutado  lí^ral  í*m  duas,  quinta  o  nona,  falluciíii  no 
eátido  du  siUtíim,  r*m   15  do  dojíKinbro   di?   18i>8, 

At.FRKDO    íiK    TfíLKDO 


Padre  Bartholomeu  de  Ousmão  ^*^ 


ai 


Hoje  qu '  o  problema  da  tiave^^ção  aérea  tem  tomado  grande 
defienvíilviniHnto,  ten^ío  um  bratileiro  illuitre  Santos  Dumoiid,  »e 
ítDpstn  à  aimirai^Ao  e  appUu^ns  do  mu  ri  do  pnr  seuâ  arrcjadoa 
eriíQmeuimeotoâ  na  conquista  da  dirigibilidade  dns  balòee,  nào  é 
fora  de  i^-napo  relembrar  a  gloria  qtie  cabe  ao  Brasil  por  aer  um 
de  seus  fílhi^»  o  invBcitor  dos  Aêrostatfjs. 

O  padre  Eartholouieu  Lourenço  de  Gaj^mAo,  nasceu  ua  cidade 
dfi  SantoB,  BUI  S.  Paulo,  em  16&5t  ^en^o  g^uà  pães  Francisco 
LoureD<;o,  CirurgL&o-mâp  do  Preaidio  da  ent&o  vil  la  de  Santo»  e 
e  d.  Maria  Ãlve^. 

Convém,  desde  log-o,  rectificar  um  erro  coinmum,  o  de  ttir  o 
padre  BanboI<m  u  d&  GusmàOi  pertpncido  a  uuja  ordem  regular. 
além  de  Alexandre  de  Gusioào,  ministro  de  d.  João  V,  teve  o 
dre  Bartholomeu  mais  dez  irmAos,  DeE>tes  professaram  em 
den»  rtUigiosaa  o  padre  Simào  Alves,  jesuíta  ;  frei  Pstrii'io  de 
Santa  Maria,  francisciino  ;  padre  I;ríinv!Íí)  RotlHiiues,  jtísuita  ;  irei 
lofto  de  San'a  Muria,  cariDelita,  Paula  Maria  e  Arclianjít^la  da 
Conceição,  cUnssiaa,  Dahi,  aem  duvida,  o  julgrar-se  ter  protessado 
também  em  religtUo  o  padre  Bartbulomeu  de  GuâmÂo,  Por  ieus 
Ulentoft  oratorioí,  graod©  i  Ilustrará  o  h  serviços  á  patrín  foi  eile 
iifjm«!ado  eapedào  da  easa  real  portut^ueza,  tendft  conquii»tado  o 
grau  d*»  doutorem  direito  canónico  pela  Uiiiversidadb  de  Coioibra, 

Nâo  ternne  o  intuito  de  narrar  a  vida  deste  ilhistre  bmeileiro, 
nem  meumo  acompanbaUo  uas  ^loriai^  couqu^stada»  tm  diplomacia 
ou  nus  letraa.  HeÉtrin;j:iiQo^  o  nng^o  estudo  au  teteo  que  maior 
Cima  lhe  deu,  alcançando -llie  o  cong-níime!  de  voador. 

St  tjão  invejamos  noa  ywvos  mais^  cultos  e  mais  adiaotados 
na  dviliãsaçRo  aa  florias  conqnistadnti  pnr  sou^  filhoâ,  não  podemos 
crmientir  que  nfis  roubem  â$  que  são  bem  noisnsn,  Muiiu  embora 
pn&teridnm  ot  escriptores  francezes  dar  aoH  irmàos  Mout^ollieis, 
em  1763,  a  primasia  do  descobrimentu  doà  aerostatos,  tendo  meiimo 


^ 


i*i  TraiMcre^etiins  do  primeiro  ntiniero  /Jalh*'  úe  Í90T>  dm  re^UU  niQiisHt  fout 
d>  Filr0pe4tt  o  JatereLá^matif  »t-ti^a  do  (ilustre  JnrnAliiU  «  (politico  úr  HQi'<n,rnib  Ú9 
OUrtirm  «  «iub  «e  relacítinai  cora  o  Aainmptú  prnflcltfntumenie  tr^udo  peta  chruiJito  ^  áit- 
ItHtí»  «KftpKor  úr,  Víelr&  FKx«iidi  114  moraoiia  já  âjstuup&da  noátn  voluniQ  inh  a  eiilt^m,- 
fà9-0  foArfcr^  >'.  ílii  M. 


—  254  — 

celebrado  com    pompa  o    centenário  deâta    descoberta,  é    fora  de 

duvidAf  pelos  do  eu  me  o  toa  pubLicados  pelo  iasigritt  cónego  Fran- 
cisco Freire  de  Carvalho,  em  «ma  memoria  qn©  se  encontra  nn 
tomo  XII,  da  Reviata  do  InsiituÍQ  JJintrjrico  e  Geúgraphic**  Bi*a- 
sUéirOf  que,  70  annofi  anifís,  já  o  padre  Bartholomen  de  Gusmão, 
fa^ia  em  Lisboa  eitperienc^ias  do  seu  iu vento. 

Limitar-no9-emo8,  para  nSo  alongar  por  demais  e^te  artigo, 
a  transerever  ok  mais  poãitivog  desses  documentos  e  que  nào 
dei3cam  duvida  alguma  sobre  a  orig^in alidade  e  prioridade  do 
iuvento  pelo  padre  Barihnlomeu. 

Si  noã  tempos  an titios  a  lenda  noa  tranemittiu  a  fug:a  pelos 
ares  de  Dédalo  e  aeu  filbo  ás  iras  de  Minos  ;  si  nos  tempo?  mais 
modernos  o  jesuíta  Lana  e  o  dominicano  Galiano  conceberam 
projectos  de  uavegaçàn,  nào  existe  documento  alg'um  dando  ii 
quer  a  probabilidade  de  terem  tido  estes  prf>jecto8  inicio  de 
execuç!)o ;  e  doÍ^  sabiufl  eminentes  Hocle  e  Leibnitz  demnnstram 
âer  inei:equíve]  o    plano  do    priíneiro    e  absurdo    n  do  segundo. 

O  pnmeiro  Hocumeuto  a  que  nos  referimos  é  a  petiçàõ  do 
padre  Bartbolomeu  dirigida  a  d,  João  V  e  assim  concebida: 

■  Dii  o  licenciado  Bartbolomeu  Louren^jo  que  elle  tem  des- 
coberto um  initrumento  para  andar  pelo  ar  da  mesma  sorte  que 
pela  terra  e  pelo  mar,  iiom  muito  maia  brevidade^  fazendo-se 
muitas  ve^es  dus^eutas  e  uiaiã  li^gnias  de  caminbo  por  dia,  nos 
quaes  luâtrumentos  se  poderão  levar  os  avisos  de  maia  importância 
aos  exércitos  e  terras  mais  remotas,  quaâi  no  mesmo  tempo  em 
que  se  resolvem:  no  que  iat^re^sa  á  Vossa  Majestade  muito  muis 
que  todoa  qs  outros  principes,  pela  maior  distancia  dos  $eus 
áominioa  i  evitando-se  des-ta  sorte  os  desgoverno»'  díi  conquistas, 
que  provém  em  grande  parte  de  chcjçar  tarde  a  noticia  delle«. 
Além  do  que  poderá  Vo^sa  Majestade  mandar  vir  todo  o  preciso 
delias  muito  mais  brevemente  e  mais  teguro;  poder&o  os  bomene 
de  negocio  passar  letras  e  cabedaea  a  todas  as  praças  sitiadas : 
poderào  ser  ^occorridas  tanto  de  gente,  como  de  viveres  e 
munições  a  todo  o  tempo  ;  e  tirarem-ee  delias  as  pessoas  que 
quizerem,  sem  que  o  inimjgo  o  poisa  impedir.  Detcobrír- 
se-áo  as  reg-iões  mais  vts^inhss  aos  poios  do  mundo,  sendo  da 
naçÃo  portuguezd.  a  floria  deste  descobrimento,  ^lém  das  infi- 
nitas conveniências,  que  mostrará  o  tempo,  E  porque  deste  in- 
vento se  podem  seguir  muitas  desordens,  commettendo-se  com 
seu  uso  muitos  crimes,  e  facilitando- se  muitos  na  contiança.  de 
se  poderem  pasbar  a  outro  reino,  o  que  se  evita  estando  redutido 
o  dito  uso  a  uma  só  pessoa,  a  quem  se  mandem  a  todo  o  tempo 
as  ordens  convenientes  a  i-espeito  do  dito  transporte,  o  probi- 
bindo-se  as  mais  sobre  (1)  craves  penas;  e  ^  bem  se  remunera 
ao  Supp.*  invento  de  tanta  importAUcia , 


(1)    ^«Vt-UftliB  i«  IA  DO  impreno,  qao  flelmante  eú^tuuoi. 


I 


—  255  — 

fPede  a  V.  M,  seja  i«rTÍda  conceder  ao  Sapp'. 
o  privilep-iõ  de  qtie,  pundú  por  obra  o  dito  iuvenio, 
D^ubuma  pi*ssÔíi  de  qualquer  qualídíide  que  for,  pOSBa 
u«ar  d'ene  em  nenhtiin  tempo  uoKttf  reino  ou  iiua«  coii- 
qmiitae,  ^em  licença  do  Supp/  ou  seufl  herdeiros,  sob 
peaa  de  perdimento  de  lodoa  oa  ben»,  e  as  mais  que 
a  V.  M.  parecerem. 


Este  documento  le  uá^  provB  ter  sido  leYAda  a  efieito  a 
eipi^rie  jcia  do  aeroiíttiOi  demonstra  ter  o  seu  autor  convicção  de 
baíer  inventado  um  iustruraento  poderoso  para  viajar  pelos  ares. 
E  a  respeitabilidade  de  que  g-obava  o  distmcto  br&gileiro  em 
Lisboa,  por  »na  iJlui»tração  e  talentos,  alcançaram  nflo  fosie  posta 
em  duvida  a  sua  dectara^Â'»  dfí  inventor.  E  i&to  &e  evidencia 
do  eeguinte  dcicumentn  datadu  A^  17  d-  abril  de  1709,  documçDto  de 
lomioa  inipcrtancia,  poin  tecL  o  cunbo  official  «  traduz  {>erfei- 
lamente  o  mentir  daquelle  tempo.  NAo  foram  jnis^adaíi  bastantes 
ai  penas  pedidas  pe  o  inventor  em  sua  petição.  Para  maior  ate 
moriaar  os  que  porventuia  tentassem  apodtirar-se  do  novo  invento, 
o  rei  fez  decretar  contra  esses  taes  a  pena  de  morte» 

Cofisultou-ie  no  desembargo  do  paço  a  El- Rei  com  tudos 
Di  votoB  e  que  o  p  emio  que  pedia  era  mui  limitado,  e  que  se 
devia  ampliar. 

Sahiu  despachado  com  a  resolução  seguintes 


«Como  parece  á  mefta;  exalem  das  penas,  acrescento  a  de 
morte  aos  tranigressorei»;  e  para  com  mais  vontade  o  supplicanle 
«e  «pplicar  ao  novo  instrumento,  obrando  os  efletto»  que  rflata, 
lhe  laço  mercê  da  primeira  dignidade  que  vftgar  em  minhas  col- 
legiadas  de  Barcellos^  ou  imantarem,  e  de  len^e  de  prima  de  ma- 
tbematica  na  mi  riba  Universidade  de  Coimbra,  com  seiscentos 
mil  reis  de  renda,  que  crio  de  novo  em  vtda  do  supplicante  só* 
meate.  Lisboa. 

17  de  abril  de  1T09.      Com  a  rubrica  de    Sua   Majestade.» 

* 

O  requerimento  do  p."  Bartholomeu  e  o  deapacbo  real  trouxe 
á  publicidade  o  invento  e,  como  sóe  sempre  acontecer  tornou-se 
o  casfi  motivo  de  commen tarife  pró  e  coutra. 

Como  Bpecímen  trauscre vemos  a  poesia  que  se  encontra  na 
eolleeçâo  impresiia,  intitulada  «Pinto  renascido,  composta  pelo 
poeta  portu|íues5  Thomas  Pinto  Braudào,  o  qual  foi  cou tempo- 
laneo  do  p.*  Ikrtbolomeu  de  Guamào. 


-  256  - 

Ao  novo  invento  de  andai  pelos  ares 

DECIMAS 

1.* 

cEsta  murôma  escondida, 
Qae  abala  toda  a  cidade ; 
Esta  mentira  verdade, 
Ou  esta  duvida  crida ; 
Esta  exalação  nascida 
No  portu^ez  firmamento ; 
Este»  nuoca  visto  invento 
Do  padre  Bartholomeu, 
Assim  fora  santo  eu, 
Como  elle  é  cousa  de  vento.» 

2.» 

«Esta  fera  passarela, 
Que  leva,  por  mais  que  brame, 
Trezentos  mil  reis  de  arame 
Somente  para  a  gaiola  ; 
Esta  urdida  paviola. 
Ou  este  tecido  enredo; 
Este  das  mulheres  medo, 
E  em  fim  dos  homens  espanto. 
Assim  fôra  eu  ccfdo  santo. 
Como  se  ha  de  acabar  cedo.» 


* 


Parece-oos  seriam  bastantes  os  documentos  apresentados  para 
evidenciar-se  ter  o  p.*  Bartholomeu  de  Gusmão  descoberto  uma 
machina  pn'pria  para  viajar  peloR  ares.  Mas  para  nenhuma  duvida 
haver,  ainda  da  memoria  que  nos  está  servindo  de  guia  trans* 
crevemos  prova  decisiva. 

Aí^sim  se  exprime  o  Cone<^o  Francisco  Freire    de  Carvalho. 

«Este  documento  importantíssimo  e  fidedigno,  mais  do  que 
os  outros  todos,  é  o  alvará  expedido  a  favor  do  p.*  Bartholomeu 
Lourenço,  em  vista  do  seu  requerimento,  para  a  navegação  do 
ar,  por  elle  annunciada  e  promettida :  documento  fielmente  co» 
piado  na  Torre  do  Tombo  da  Chancellaria  d'El-rei  d.  João  V. 
— Officios  e  mercês,  liv.  31  fl.'  202— V. 


^  257  -^ 

3."  Documento  manuscripto 

«  Eu  El^Hei  ftço  saber,  que  o  P.*  Bartholameu  Lonjr^nço 
me  representou  por  sua  pi»tiçào,  qne  elle  tinhn  descoberto  um 
initruTueuto  para  &b  mandar  pelo  ar,  da  meitiia  sorte  que  pela 
t«rra  e  pelo  ma.r,  e  tom  muito  m&h  brevidade,  fa^endo^e  tnuitaB 
r&wb*  duzenla$  e  lUflÍB  légua»  de  eaminhn  por  dia  ;  no  qual  ius- 
tromento  se  prdprtam  It- trar  ob  avisos  de  mais  importAuda  rq%. 
eiercitos  e  &  terral  mui  remotas,  quast  nn  mesmo  lempo  em  que 
ae  retolvianit  no  que  interessa  eu  mais  que  todi  a  os  outrop  pria- 
capes,  pela  maior  distaticia  dos  meus  dominios,  evitando-ât^  d'c3tA 
sorte  o  desgoverno  das  conqui^tas^  que  procediam,  em  pande 
pane,  de  cbe^ar  mui  tarde  a  mim  a  noticia  delles  ;  alf^m  ile  qua 
podaria  eu  mandar  vir  tudo  o  pr^ecíso  d^ellas  muita  mnis  breve* 
tuenCe  e  mais  se^ro,  e  poderiam  os  homens  de  Tiegocio  pangar 
tetr&i  e  cabcdaes  com  a  mesma  b''evtdade,  e  todaâ,  a^  praças 
ihiãàAB  poderiam  ser  aoceorridas,  tanto  de  gente,  cr>mo  de  mu- 
miçôet  e  viveres  a  todo  o  tempo,  e  retirarem-se  d^ella^i  a»  pessoas 

3ue  quirerem,  »em  que  o  inímig'0  o  pódesíie  impedir  ;  e  qun  se 
eicobririam  as  regifies  que  ficam  mais  vÍ2:inba-^  B^^^d  prilos  do 
iDumdq,  sendo  da  naçJko  portu.e:ues£a  a  p^loria  desse  deficobiirn^^nto, 
que  tantas  vt^zes  liubam  tentado  inutilmente  as  e&traii^eiraa, 
Baber-te-bão  as  verdadeiras  longitude»  de  todo  o  inundo,  qud 
por  efitarein  erradas  nos  mappas  causavam  muitos  naufrágios; 
alem  de  infinitas  conveniências  que  mostraria  o  t*ímpo,  e  outras 
que  por  ei  eram  notórias,  que  todas  mereciam  a  minba  ri^al 
atteuç&tit  e  parque  d'este  invento  tão  útil  se  po^ieriam  srguir 
muitas  desordens,  commettendo-Be  com  o  seu  uso  muitos  crimes^ 
e  facíHtando-ie  muitos  mais  na  contiaitíja  de  se  poder  pa^f^ar  LotjfO 
aos  outros  reinos,  o  que  se  evitaria  estando  reduzido  o  dito  uso 
a  uma  sò  pessoa,  a  quem  se  mandassem  a  todo  *"*  tempn  as  ordens 
que  fossem  convenientes  a  respeito  do  dito  tranèporte,  pr^hi- 
biudosa  a  todas  as  mais  sobre  (1)  graves  penas:  ])nr  snr  justo 
que  se  remunerasse  a  elle  snpplícsnte  invento  de  iJinra  iiíi(*or- 
taneia,  me  pedia  que  lhe  fizesse  mercê  conceder  privilegia,  de 
que  pondn  por  r-bra  o  dito  iuvemo,  nenhuma  pfsaõa  de  qualidade 
que  for»  podesse  usar  d*elle  em  nenbum  tempi»  n'ep.ie  reino  © 
Buas  conquistas,  com  qualquer  pretexto,  sem  licença  dVlle  s^up- 
plicante  ou  de  seus  herdeiros,  sob  pena  e  perdimento  de  todos 
os  leus  bens*  ametade  para  elle  supjdi cante  e  a  outra  aiuetade 
para  quem  os  jsccusKssem,  e  xobre  bs  mais  penas  que  a  iivim  me 
parecessem,  aâ  quaes  todas  teriam  lugar  tanto  que  c<niMfaí-se  que 
alguém  fazia  o  sobredito  ínstiumeuLo,  ainda  que  nka  tivesse 
usado  d'elle  para  que  não  fícassem  frustadas  as  ditns  pen^a, 
ausentando-se  o  que  ae  tive^f^e  iucírridfi ;  E  visito  o  que  nl legou 
hei  por  bçm  fazer- lhe  mercê  ao    supplicante  de  lhe    conceder  o 


{1}    Eé^mot  á  1I1CA  a  aafiotcripto  di  Tturt  do  Tombo. 


^  258  — 

privileg-ío  de  qae  pondo  por  obra  o  invento  dft  que  trata,  iiêiiLoma 
peftsôa,  de  qualidade  que  tôr  pos^ji  usar  d'elle  em  nenhum  teinpo 
íiestfl  reiny  e  suas  conquistas,  corn  qualquer  pretexto,  eem  Ji- 
ceuçM  do  6up plica n te  ou  dw  seus  h^rdeiroe,  sob  pena  de  peidi- 
mento  de  todoB  os  seus  beuR,  nmetade  ]íara  elle  Bup[>licantf)  e  a 
outra  metade  para  quem  os  accu^ar:  i^  só  o  t-uppiicante  poder  d 
iisar  do  dito  invento  como  pede  na  sua  petição.  E  este  alvará 
ee  comprlrá,  inteiramente  como  u^elle  se  contem  ;  e  valeráf  po^to 
que  aeu  efteito  haja  de  durar  mais  de  um  nnno,  sem  embargo 
dfi  Ordetiaijao  do  livro  2,"^  tit.  4,^  em  contrario. 

E  pag^ou  de  novos  direita»  quiabentos  e  quareutíi  réis,  que 
se  carru iraram  ao  thesoureiro  delles  a  fl  160  do  Hv*  L*  às.  hxiã 
reeeita ;  e  se  registrou  o  conbecimeato  em  liírma  no  liv,  1."  do 
regiMro  g^eral  a  fl.  14ÍÍ.  José  da  Maia  e  Faria  o  fez  em  Lisboa 
aoe  19  de  abrtl  de  1709,  Pm|;'ou  doesta  quatrocentos  réis.  Manoel 
de  Castro  Guimaràes  o  fez  escrever— Kei — Conferido.  Patrício 
Nunui  :  e  coiiimtfço  Joseph  Corrêa  de  Mouca. 

Teria  o  padre  Barthoiomeu  levaco  a  etfeito  o  sea  projecto? 
Terift  feito  a  demonstração  publica  de  aeu  invento?  E'  o  que 
nos  ylio  provar  exuborantemí^nte  os  documentos  que  se  seguem. 
Foi  coute mporaueo  do  padre  Barthoiomeu  o  beoefiL-íiido  Frnu cisco 
Leiííio  Feneira,  piior  da  E^roja  de  Loreto  em  Lisboa^  homem 
eruditrt  e  de  grando  merecimento.  De  um  manuacriptn,  que 
esteve  em  mâo  do  patriarcha  de  Nossa  Independência  Joté  Bo- 
nifácio de  And  rada  e  Silva,  o  autor  &  quem  e>tBmoa  seguindo 
copiou  e  transcreveu  o  seguinte. 

«  19  de  abril  de  ITOà^DaLi  do  alvará  d'el-rpii  de  Portu^l 
d.  JoÁo  V  a  favor  do  p."  tJartholomeu  Lourert^^o,  clérigo  de 
ordf  na  menores,  natural  do  Rio  dci  Janeiro  (foi  engano  de  LeitAo 
Fen-piía,  por  qiLanto  o  individuo  dt^que  tratit  era  natural  da  vJlla 
de  Santos,  na  provincía  de  S.  Paulo,  como  atra/;  fica  dito,)  em 
que  lhe  concedeu  privilegio  para  que  elle  BÓmente  e  seus  her- 
deiros podessem  u*ar  do  intitrumeuto,  que  pe  oftereceu  fuzer  para 
naveear  pelo  ar;  promettendo  nrart  nova  navegação  de  grande 
utilidade  j^ara  o  dominio  portuguez.  Estamos  esperando  o  eíFeito 
e  experiências  d'eate  inaudito  invento  > 


Nota  marginal  do  mesmo  autor 


«  Fez  a  experiência  em  8  de  íi gosto  deste  anno  de  1709 
no  pateo  da  Caaa  da  índia,  diante  de  Sua  Miije-«rade  e  muita 
fidalgura  e  gente,  com  ura  globo  que  subiu  ^uavempnte  á  altura 
da  sala  das  embaixadas,  e  do  meacao  modo  desceu,  elevado  de  certo 
material  que  ardia,  e  a  que  flpplicíi  o  fogo  o  mtsmo  inventor,» 
E  continua  depois  :  «  Esta  experiência  se  fez  dentro  da  lalft 
das  audiências.» 


—  259  — 


O  mesmo  poeta  ã  que  já  ante*  nos  rcferimas,  Thotnaz  Finto 
Bi-sAdâo,  publicou  ontru  pttesÍA  dedtc.idn  ao  p/  Bartholometi. 
Be  lea  coQtexto  dcprchende-se  ter  âido  feita  api>^  a  experioucia 
do  aeroatato  ficando  confirmada^  pela  realidade  do  facto,  &  alcunha 
de  Vtjmhfi  qtt©  p*ilo  povo  lhe  Lavia  sido  dada, 

# 

Ao  padre  Bartholomeu,  lendo  na  Academia 

DECIMAS 

<  Meu  Padre  Bartholomeu, 
Eu,  iefrundo  o  meu  sentir^ 
Não  VI  outro  mais    subir 
De  quontuB  vi  voar  eu: 
O  ccrnceito  é  como  meu. 
Que  o  nHo  pude  acUar  melhor  ; 
Forem  se  como  orador 
Tanto  eabei»  levantar, 
NAo  me  deveis  estranhar, 
t|jue  ea  vtís   chame   Voador, 

«  Tanto  no  nr  vos  remontae», 
Que  com  dcljLcadnB  idf^as 
yas^eis  de  alcunhas  plebéas 
Antonomasias  reaF« : 
E  j:H>ia  vos  avesinhaes 
Mais  ao  celeste  fulgor, 
Será  tyranno  ri^ijor, 
t^^ue  eu  também  no  ar  nào  fale, 
E  quB  na  terra   se  cale, 
Que  é  uma   águia  o   Voador, 


«  Quem  mais  voe  nào  %e  vi, 
E  se  lia  quera  deste  se  ^t^abe, 
Até  agora  se  iiâo  cabe 
Que  cantil  de  pássaro  é  : 
fio  vó«  da  vifetn  e  da  íè 
8oia  quem  logra  este  primor; 
E  pois  tào  alto  louvor 
Nào  ba  outro  a  quem  se  appliqne, 
Rerá  for^a  quft  eu  publique 
Que  stj  vôà  sois   Voadot» 


—  260  — 


c  For  força  do  tosso  efltndo. 

For  irrito  do  voBfiO  6stadú 
Para  tudo  soíb  a7jido, 
Tftudo  pf  nua    para  tudo  t 
À8BÍm  de  eatylo  nâo  mudo 
No  estranlio  do  mau  louvor, 
E  entendo  do  meu  amor 
(Be  o  n&o  tomae»  por  làbèo) 
Que  até  chegardes  ao  céo 
Haveis  de  ser  Voador, 

Estes  noa  pareceram  ob  mais  importantes  documentos  reco- 
lhidos com  escrúpulo  e  sunimo  cuidado  pelo  coneg^o  Fraticiaco 
Freire  de  Carvalho,  Pode  riam  os  publicar  outros  não  menos  in- 
teressante^i  si  o  eapaço  de  que  dÍHpomoi«  nã.»  fosse  liritadOt 

Como  apeei mea  do^^  brutaes  ataquei  a^ffridos  pelo  il lastre 
brasileiro,  accu.sado  de  feiticeiro,  endemoninhado  etc,  tendo  sido 
obrigado  a  fuj^ir  para  escapar  á  sanha  de  seus  temiye is  inimigos,, 
pubiicamos  este  soneto: 

Ao  P/  Bartholomeu,  inventor  da  navegação 
do  ar 

Veio  na  Trota  um  doente  brasileiro, 

Em  trajo  clerical,  sotaina  e  cVoa^ 
Fez  crer  que  pelo  ar  navega  e  voa 
N^um  barco  sem  piloto  e  lem  romeiro. 

Vtti-se  ao  Jlarquea    de  Fontes  mui  ligeiro, 
Declara -lhe  o  íiegrredo,  este  o  apregoa: 
Sahe  a  consulta,  pasma-ae  Liahoa, 
E  em  tanto  t^squece  a  fome  no  Terreiro: 

Bem  merece  e&te  doente  eterno  assento 
Na  et h érea  região ;  eu  já  lhe  aprovo 
A  diabrura  do  subtil  invento; 

Foi»  um  milagre  fez,  que  é  Tsals  que  noTO»  . 
Em  manter  tantas  bocas  só  de  vento, 
Fazendo  um  cameleào  de  tanto  povo. 

Resta-nns  ag^ora  appellar  para  o  Instituto  Histórico  Geogr*^ 
phico  Brasjteiro,  para  n  Club  de  Eng^enharia,  instituições  que 
tantos  e  importante»  «erviçoa  têm  prestado  a  nossa  pátria,  qúe- 
não  deixem  passar  em  olvido  o  sef^ndo   centenário  do  extraor-» 


^  261  — 

flinano  invento.  Em  8  de  agoito  de  1709  foi  feita  a  pri- 
meira experiência  do  aerostaio  D'alii  para  cá  dous  Beculoa  se 
tem  passado :  a  ideia  tem  progredido  e  aos  brasileiros  cabe  grande 
soraEáa  das  gloria»  coltidaâ  pela  humanidade  em  busca  desio 
estupendo  deâiteratum.  Fui  um  brasileiro,  um  paráen&e  Julio 
Cefar  Ribeiro  de  Sousa  que  den  nova  forma  aos  balões,  da  qual 
«m  breve  se  apoderaram  engenheiros  francezea,  E'  ura  brasi- 
liiro  qae  sastenta  na  Europa  a  primazia  na  dirigibilidade  dos 
«eroitotos.  A  França,  sempre  Kelosa  de  snaa  glorias,  celebra 
com  enihusiasrao  o  centenário  dos  irm&oa  Montgolfiere.  Com 
toik  razfto,  com  mais  direito  devemos  nós  os  brasileiros  acclamar^ 
por  uma  grande  apotbéoae  ao  sábio  padre  Bariholomen  de  Gusmão, 
1  primazia  que  nos  cabe  no    invento  da  nav.gaç&o  aérea. 


HoSAKSfÂH    DE    OlITBIRíL 


OUVIDORIA  DE  PARANAGUÁ 


Azevedo  Marqueaem  sua  Ckronologia  publíeíida  em  a|>pen<lice 
aas  seus  AponiautQnios  I lia tú ricos  e  J.  J.  Ktheir o  na  Chronfdogia 
Paulista^  vol.  I,  png.  666,  dizem  tor  «Ido  creada  a  coirarca  án 
Paranaguá  em  17  de  junho  de  1733.  Esta,  iifío  é,  poróui,  a 
data  da  creação  da  referida  comarca,  utna  daa  oito  ijuc  ce  des- 
membraram da  comat-ía  de  S,  Paulo  creada  pftlas  Cartaa  Bci^^iat 
de  24  de  maio  de  1G94  e   1  de  íetembr^»  de  161*9. 

Da  Carta  Régia  de  26  de  abril  d©  1723  consta  ter  sido 
feita  a  nomeação  de  ouvidor-g^rxil  ^min  n  villa  de  Paranaguá  e 
aimilbanto  noraent^ão  iiÉlo  estaria  então  feita,  èÍ  não  já  estivesse 
crcada  a  comarca. 

A  Carta  HiViria  de  17  da  junho  del72Dnio  creou,  de  facto, 
a  comarca  de  ParaDagaá,  se  cingiu  a  ]iarticipar  que  o  loj^ar  do 
ouvidor  de  Parfln«!^u4  já  e&tava  provido  e  crí-ado,  em  virtude 
de  repreficntíiçào  do  ouvidor  de  £3.  Paulo»  Rafael  Pires  Pardi- 
nho,  quando  íbí  recebida  a  carta  dp  Rodrigo  César  de  Menezes 
datada  de  4  de  outubro  de  1722  e  em  que  eâte,  reformando  seu 
parecer  constante  da  cm  ta  de  13  do  setembro  de  1721,  escre- 
via nfto  ser  preciso  jtiiz  de  fora  em  Paraníiguá. 

Creada  em  26  de  abril  de  1723  ou  pouco  antes,  a  comarca 
de  Paranaguá  ficou  coiuprebendeodo  todas  as  povoações  e  todo 
D  território  situados  entre  um.i  linlta  geognipliíca  de  leste  a 
oeste  tirada  de  Iguapo  e  ss  divisas  sul-nacionae?,  até  que  a 
Cana  Regia  de  20  de  novembro  de  1749,  que  desmembrou  a 
comarca  eiitabelecendo  a  ciividoria  de  B,  Catharína,  a  fe7^  limi- 
tar pelo  sui coroa  nova  comarca  pelos  rios  S.  FranciscOj  Negro  e 
IguaBÉii  e  o  Alvará    d<!     12    de    fevereiro    de    1621  alterou  em 

Jjarte  as  divis/t?,  passando  a  villa  do  Lnges  para  a  comarca  da 
.lha  de  S.  Catharina,  entuo  creada  cora  a  divisão  em  duas  da 
comarca  de  S,  Pedro  do  Rio  Grande  e  S.  Catharina.  como  em 
virtude  de  Alvará  de  1812  era  denominada  a  comarca  do  S* 
CathariniL  crcj-íla  em  1749- 

Cora  as  primitivas  divisas  ou  com  as  resultantes  quer  da 
crençào  da  comarea  de  S,  Catharina,  quer  da  dí^sannexaçfto  da 
villa  de  Lages,  o  facto  è  que  a  ouviduria  de  Paranaguá,  que 
em  1812  pasÈou  a  ser  denominada  comarca  de  Paranaguá  e 
Curitiba,  nâo  deiíou  de  existir  sinílo  quando  o  Código  do  Pro- 
cesso Crirainal  Brasileiro  entrou  em  vigor,  no  anuo  de  1833,  e, 


—  263  — 

sfí  «ntreCantOt  ÃzeTcdo  Marques  escreva  quo  por  Aliará  de  19 
d«  fevereiro  do  1811  foi  creiída  a  cnmarca  de  Faratiajíuá  e  Cu- 
ritiba e  eiplicA  iimilhrintecrpflçfl.o,  dizendo  que  *A  Carta  Kégia 
dfl  n  d«  junho  díi  172j  havia  crendo  a  comarca  de  Paranníruá, 
qoe  eomprohpndia  us  |í0V0ncõe3  lÍTnifrDphe&  ãçi  S.  Catharina, 
Liffana^  S.  Fra  ti  cisco  do  Sul  ©  os  tenitorioí»  do  Rio  GratíHe  do 
Sal,  porém  com  a  separarão  deste  e  do  de  S.  Cíttharina  deiíou 
de  ext&lir  a  comarca  de  Paraníigná  e  por  isto  nesta  dará  íoí 
«iflnoTo  cffada  a  totuarca  de  rarao!í;;ijá  o  Curitiba», 

O  Í4deffS-o  liistoriadur  paulista  hiboiou,  porém,  ©m  explicável 
eqtiivDtro  ao  fazer  a  comarca  de  Paraná f^uá  e  Curitiba  creada 
per  Alvará  de  1811  e  em  erro  quando  disse  extincta  a  comarca 
de  Pflranag^aá  pela  í*reaçào  da  coEanrca  de  S.    Catbarina, 

À  comarca  de  ParAii»guá  não  foi  de  novo  creada  por  alvará 
de  1?  de  fevereiro  de  1811,  vi^to  que  em  tal  data  nào  foi  ei- 
pwíiílD  pelo  íTOveroo  fietihum  alvará  çnm  furça  de  lei,  seodn,  oo 
eotíetawto,  ctrlo  que  de  exactamente  um  aniao  de|ioÍ9  data  o 
AIrará  de  19  do  f,ívereiro  de  1812    relativo  á  comarca  de    Pa- 

Este  alvará,  porém,  com  o  qual  ae  explica  o  equivoco,  apenas 
tnudúu  o  nome  da  comarca  de  Paríma^uá  pelo  dw  Paranaguá  e 
Curitiba,  trafibferindo  bo  raeamo  tem]io  a  sede  da  comarca  e  a 
njiidentía  dos  ouvidores  da  primeira  para  a  íe^amda  da^i  villas 
nomeada»,  mas  nAo  crcou  a  comarca,  já  entAo  exiàtonte  deisde 
quâsi  noventa  aunofi. 

Na  realidade,  em  1811  ou  1812,  a  existência  da  comarca  de 
Paraiafitruá  já  vinha  aem  floluçào  de  continuidade  desd^  que  foi 
a  Duvidoria  installada  pelo  dr,  António  Alves  Lanhas  Peixoto  no 
primeiro  quartrl  do  século  XVI 11,  não  tendo  ella  deixado  de 
existir  em  virtude  da  sei>aracão  do  l<io  Grande  do  Sul  e  S. 
Catbarinfl,  porque  a  Carta  Hé^ia  de  20  de  novembro  de  1T49, 
que  fcí  tal  Bpjíiimçào,  apenas  dividiu  a  comarca  de  Paranaguá 
pelos  tíoã  B,  Francisco,  Negro  e  líçuasBÚ  para  constituir  com  os 
terrítf^TÍos  e  povoações  ao  sut  a  comarca  de  S.  Cathariua  ficando 
a  comarca  de  Paranaguá  coustituida  díts  povoações  e  tf^rri tórios 
«ituados  entro  as  divisas  da  comarca  de  S.  Paulo  e  os  rios  men- 
cionados. 

Come  Azevedo  Marque?,  tnmhem  Inborou  em  equivoco  o 
operoso  chronoloerista  J.  J.  Ribeirí»,  quando,  á  p^g,  222  do  vol* 
I.*  dd  seu  trabnlho  citado,  affirmon  que  por  Alvará  de  19  de 
fevereiro  do  1811  furam  creadus  as  comarcas  d©  Paraíioguá  e 
Curitihaj  pois  nem  eiiste  6ÍmÍ]Uante  alvará,  conforme  ticou  dito, 
Bem  fl»  villas  de  Curitiba  e  Paranaguá  foram,  no  regrn^eu  ju- 
diciário dos  tempos  coloniaefs,  eomarcaíi  dístluctas  entre  A, 

1)  Creada  a  comarca,  foi  nomeado  seu  íaividor  Aíítokio  Al- 
VBS  Laxha»  Peiiotd,  a  cujo  f^vor  foi  i^xpedida  a  respijctiva  pro- 
Tisâo  r.os  21  de  afi;;ostO  de  17'24,  ma^  cuja  íiomeação  já  antes  tinha 
lide  levada  no  couhecimeDto  do  goveinador   de    S.    Paulo    pela 


—  264  — 

Carta  Regrida  de  14  de  mnrço  e  a  quem  jA  anteriormente,  em  8 
de  janeiro,  o  governo  central  mandara  adeantar  ajuda  de  custo 
na  importância  de  6í">0*000. 

Em  12  de  novembro  de  1725  n  governador  e  capitAo-ge- 
neral  da  capitania  de  S.  P^ulo,  Rodrigo  '  esar  d»^  Menezes,  em 
instrncçOeB,  qu«  deu  «  Peixoto,  ordenou  diversas  diligencias  que 
por  este  deviam  ser  levndhs  a  efteito  logo  que  passasse  para  sua 
comarca,  donde  se  infere  que  até  entào  não  tinha  Peixoto  assu- 
mido o  logMr,  em  cujo  ex»  rcicio  fez  correição  na  sede  da  co- 
marca, í^endo  por  ordem  régia  os  provimentos,  que  entào  deu, 
considerados  nullos  nas  parte*  em  que  contrariavam  os  do  ou- 
vidor Pardinho,  como  consta  da  represpntaçfto  feita  pela  Gamara 
de  Pflranaguá  aos  23  d«  ngosto  ae   1732. 

Pouco  tempo  exerceu  elle  as  funcções  de  seu  cargo,  pois, 
si  no  caracter  d^  ouvidor  de  Paranaguá  foi  a  Laguna  e  aos  26 
de  março  de  1726,  ao  voltar  daquella  povoação  fundada  pelo 
paulista  Domingos  de  Brito  Peixoto,  erigiu  a  villa  do  Desterro, 
em  (>  de  julho  do  mesmo  anno  acompanhou  o  capitão  general 
em  sua  viagem  á  Cuiabá,  donde  não  m^ib  voltou  para  sua  comarca. 

A  Rodrigo  César  de  Menezes  foi  ordenado  pela  Carta  Régia 
de  6  de  agosto  de  1725  que  ao  seguir  para  Cuiabá  levasse  em 
sua  com])nnhia  para  auxilial-o  no  estabelecimento  do  regimen 
administrativo  das  minas  e  no  que  fosse  necessário  o  ouvidor 
Lanhas  Peixoto,  que  se  suppunna  eh ^  gado  já  da  metro j3ole  para 
assumir  o  cargo  para  que  fôra  despachado. 

O  ouvidor  de  S.  Paulo,  que  então  era  o  dr.  Francisco  da 
Cunba  Lobo,  affirmava,  purêm,  que  elle  e  não  Lanhas  Peixoto 
é  que  devia  acompanhar  o  capitão-general  a  Cuiabá  e  apresen- 
tava em  prol  de  soa  afirmativa  diversos  argumentos,  que  foram 
todrts  rejeitados  pelo  capitão  general,  que,  a  seu  turno,  affirmava 
que  a  ordem  recebida  era  para  levar  Lanhas  Peixoto. 

Não  conseguindo  ir  em  logar  deste  com  a  ajuda  de  cuato 
fornecida  para  a  viagem,  resolveu  Cunha  Lobo.  a  pretexto  de 
pertencer  Cuiabá  á  ouvidoria  de  S.  Paulo,  seguir  viagem  para 
aquella  pov(»ação  no  caracter  de  ouvidor ;  mas  a  esta  resoluç&o 
o])pô%  embai  gos  o  capitão-general,  não  permittindo  que  fosse 
levada  n  effeito. 

Chegado  a  Cuiabá,  o  capitão-general,  por  carta  de  22  de  no- 
vembrí»  de  1726  encarregou  Lanhas  Peixoto  de  exercer  os  cargos 
de  811  }>orin  tendeu  te,  ouvidor-geral  e  provedor  dos  defuntos  e 
ausentes. 

E'  de  n(  tar-se  que  a  ouvidoria  de  Cuiabá  não  tinha  sido  até 
entào  creada,  mas  o  governador,  que  não  tinha  competência  para 
cre;il-«,  delih  rou  por  sua  alta  recreação  que  durante  sua  per- 
mniK^ncia  naquelle  povoado  nelle  houvesse  ouvidor  e  encarregou 
das  funcções  desse  cargo  a  Lanhas  Peixoto. 

P^ra  cohonestar  seu  acto  o  governador  se  apegou  á  ordem 
que  tinha  para  a  elevação  de  Cuiabá  á  categoria  de  villa,  por- 


—  265  — 

<)iiiiito,  ãr^tuneotava  elLe,  si  delia,  constara  que  a  villa.  devia 
ler  ae^da  na  iárma  da  Ordeaaçào^  ellu  também  Ihn  cnnc^dia  a 
A  f^caldade  de  iaxer  tudo  o  maia  qii^  lhe  parectísae  couveniente 
M  real  si^rviço. 

Çfsrto,  f>orém,  estava  Rodrigo  Ce«ar,  apesar  da  fahu  noção 
ipe  tinha  de  sua  autoridade,  de  que  sett  M^cta  nAa  »n  dcliava 
Jiletui mente  justificado  c*  m  a  faculdade,  que  deduziu  d«  ordem 
àà  crt!açào  da  villa,  e,  por  isso,  em  L*  d*'  mart;o  e  só  em  L* 
áe  mar^r»  de  1728.  dando  couta  de<'ge  acto  aeu,  pedia  fnftse  elle 
tpprovido.  quando  já  pf^la  provit-àfí  recria  de  15  de  fevereifO 
dêtiH  mesmo  anno  tinh»  i^ído  mandAdo  revalidar  tod^^i  os  pTo> 
Céuo^  e  len tenças^  por  nàn  poder  haver  tem  nova  creaçílo  dois 
oatidorf^  na  meania  capitania. 

Incumbido  Laubasi  Peixoto  de  e^i-rt^er  oa  car^oa  iUpra  meu- 
donadoa,  »lle,  de  tacto,  o*  exerceu  ató  8  de  abril  dw  1727^ 
^aáDdo  pediu  e  obteve  ana  exonera çJLo. 

Oito  dias  depois,  em  16  dd  abril,  foi  Peixoto  reintÊ^rado, 
*  *eu  pedido,  no  i-argf»  de  ouridor-geral,  exercido  eatAo  pelo 
jnix  ordinário  liiodri^o  Bicudo  Chasaini,  e  no  d<n  provedor,  n&a 
ff  frendo  no  de  superintendente,  que  cont^utiou  confiado  ao  ca- 
pitão Gaspar  de  Godoy  Moreira,  que  antes  da  chegada  do  g^- 
Temador  <;ra  quem  o  exercia. 

Até  principio»  do  abril  de  1727  tinha  reinado  completo 
«ôrdo,  pelo  menos  apparente,  entre  Rodrigo  Ceaar  de  Meneaoi 
8  tt  ouvidor. 

O  capit&o -general»  ao  incumbir  Peixoto  dos  cargos  já  refe- 
ridos, dizia  nào  aó  que  a  experiência  lhe  tinha  mostrado  o 
quânto  acertada  foi  a  eleição  de  Peixoto  para  acompanhai -o  a 
CEJabá,  como  ainda  que  reconhecia  na  pesson  do  meísmo  ouvidor 
«tcdaft  a  que  II  as  circttmt^tancia»  dignas  de  occupar  os  maiores  em^ 
pregr-ft». 

Em  8  de  mar^  de  1727  ainda  o  mesmo  em  relação  a  Lanhai 
Peixoto  era  o  conceito  externado  peio  capitAo-generalj  que  era 
carta  desta  data  ao  sobí-rano  português  escrevia  que  elle  era 
dotado  de  capacidade,  letras  e  prudência  e,  maia,  que  era  credor 
de  «toda  a  bonra  que  Sua  Majestade  costnma  fazer  aos  que 
coxQ  tanto  zelo  o  servem». 

Em  16  de  abri^  porém,  já  entre  os  dois  enviados  da  me- 
trópole nào  reinava  a  miasma  harmonia  e  nes^e  mesmo  dia  o 
ctpitào- general  deu  a  entender  què  considerou  a  excusa  ante- 
riormente apresentada  por  Peixoto  como  acto  hostil  a  sua  pessoa 
e  o  advertiu  em  relação  as  cultas  judiciaes  cobradas  das  partea 
litt^antes. 

As  contenda»  entre  Peixoto  e  o  vi^íario  da  vara  o  governa- 
dor as  U*timott  dixe n do  qu©  o  perturbavam  e  desassocegavam 
e  que,  a  seu  vêr,  ellas,  depois  de  terem  sido  levada»  ao  conhe- 
cimento de  quem  as  podia  decidir,  só  foram  renovadas  com  o 
âm  de  o  amofinar. 


-^  266  -^ 

Tendo  Peixoto  njandaáo  sfvliar  um  ti  ogro,  que  fora  preso  por 
ser  eneonírndo  coth  Brina  proliibida^  Rodrigo  Ctssar  c^Qí^urou  seu 
proceder  o  íhe  ordenou  qu«  mauda^se  prender  novuiaentâ  o  ne- 
gro &  de-jmià  o  cnstigjfiífeR  iia  lVírm'v  d;L  lí*i. 

António  Bíirroso  ji^g^avii  fom  a  cavillaçHo  de  receber  o  que 
ganhasse  e  níVo  pairar  o  que  perdesse  e  o  governador  ordenou 
a  ♦  eixoto  que  t>  maada&SB  piendor,  no  que  este  replicou  não  lhe 
permiti  irem  aa  leis  a  priíáo  de  quem  quet  que  fusse  gem  culpa 
fOTiuíicln,  sfíu  prova  e  ?em  deepaclio  ti«  pronuncia. 

Extrauliou  Rodrigo  Ceaar  o  proceder  de  Pf-ixoto  dixendo  que 
0%  governadores  eram  lofo-teneuíei  do  Priucipe  e,  como  taea, 
superiores  a  tod^s  ns  maia  justiças  e,  íissim,  importava  em  dão 
cumprimeiUfí  do  dever  por  jiartt?  do  ouvidor  a  iugbsorvuocía  do 
que  pelo  governador  lha  ora  ordenado. 

A  iioi;fio,  que  de  &ua  autoridade  tinha  Rodrigo  Cepar  de 
MenezeSf  f*ra  f;ilíii,  porque  a  Carta  Kègia  do  13  de  março  de 
17 i 2  jí  tinha  estatuído  que  a  administração  Ha  justiça  era  in- 
dependeute  dos  ^overni\doic&,  como  depois  a  Cartai  Hégia  de  íi8 
de  mnlo  de  1732  t?t*ibelcceu  que  em  matéria  de  justiça  na  ou- 
vid'  res  nào  fêm  que  dar  conta  aos  goveroadores,  que  nenhuma 
juriadicção  lem  sobre  elles . 

Este,  poifrn,  i\M  era  o  modo  de  pensar  de  Rodrigo  César 
e,  por  isBH,  ellp,  nAo  cuntente  de  fa/er  diver-as  censurfís  ao  ou- 
vidor e  de  por  mais  de  uma  vpz  ]he  extranhar  o  procedimentOt 
fazia  magoa  questão  do  que  Pt*ixoto  lhe  remcttcsse  para  serem 
julgadas  em  junta  do  jusiiça  a  devassa  por  doTs  crimes  de  morto 
praticados  por  escravos  e  uma  outra,  a  que  Rodrigo  César  cha- 
mava «a  devasffi  do  homem  da  folheta». 

Em  relaçftn  n  esta  Begiiuda  devassa  accrc&centava  o  f^over- 
Tiador  que  ísuppo-to  íosi^e  peão,  brnnco  e  livre  o  delinquente  a 
o  ouvidor,  i  m  vista  de  seu  regimeuto,  o  pudesao  seu  teu  ciar  ató 
cinco  annos  de  degredo,  elle  governador  entendia  que  o  caso 
pedia  maior  pena  pela  qiialidside  do  criuio  e  peias  circum- 
btancias  que  o  aggravavam 

Lanhna  Peixoto  nílo  i-e  eonfoimou  com  as  exigências  de 
Rodrigo  Ceíiar  e,  depois  do  iniihi mente  ponderais  que  nâo  8<^  po* 
dia  f;is!er  a  funta  do  ju^íiça,  *»scseveu  aos  11  de  outubro  de  1727 
no  governador  lho  pisrticipando  que  a  continuaçílo  do  exercício 
dos  cargo?,  de  que  estava  investido,  iinplicava  com  sua  conscí- 
eticia  e  lhes  pettiudo  a  merco  de  acceítar  a  dcití&tencia  que  dos 
mesmos  fazia  elle  Peixoto. 

A  desistência  foi  Hcceita,  a  junta  eo  fez  e  uni  negro  homi- 
cida fi»i  levado  á  forca,  mas,  por  provisão  régia  de  29  de  julho 
de  1732  foi  achado  que  bem  obrara  Peixoto  *em  lhe  parecer 
que  a  justa  só  df*vía  ser  feita  em  S.  Paulo  o  cora  a  formalidade 
ordenada  no  regimento  doã  ouvidores*  ^ 

Deixando  o  cargo  de  ouvidor,  foi  Peixoto  nelle  substituido, 
primeiro,  pelo  mestre  do  campo  Antão  Leme  da  Silva  e,  depois, 


—  267  — 


I 


por  Diogo  íle  Lara  e  Morat^a,  que  deixou  a  jurisdicvAt»  por  ordem 
do  governador,  setido  elk  por  oiitti  aos  4  é^  abril  de  tT28  de- 
clarada éxtíticta, 

Em  5  de  junho  de  1728  partiu  de  Cuiubíi,  dnnrlo  pf>r  finda 
a  dili*^eiicia  de  qutí  eiátava  iticumbido,  o  governador  líodiigo 
Cefiir,  Tiiio  sem  tacrever  nesse  mesmo  dia  a  Lpnhas  Ppis:ntf>  uma 
carta  em  que  pela  terceira  \^7.  It^mbravn  a  este  a  obríguçàn  que 
lhe  corria  de  acnmpanbal-o,  poi^  que  nAo  Ihti  era  f'"ado  abandonar 
&  comarca  de  Paranflí^ná»  para  onde  devia  sef^nir  vbjri-^Tn  e 
onde  devia  residir,  uma  vex  terminada  a  CMUmiseâo  que  Ibe  fóia 
dada  de  acompanhar  o  g^overnador  a  Cuiabá. 

Nenhuma  importância  Uixou  Lanbaa  Peixoto  áe  cartas  de 
Rodrigo  César,  se  deixíiado  ficar  em  Cuiabá  por  quaíi  duts  ao  noa 
mais  e  só  de  lá  partindo  para  S.  Paulo  era  1730,  etn  cujo  raea 
de  maio  foi  atacado  em  caminho  ooa  pAuianaes  da  embocadura 
do  rio  Jagaari,  pelns  índios  paíaguaz,  perdeu  do  entiltj  maia  de 
sessenta  arrobas  de  ouro  dos  quintos  reaes  o  que  estavam  a  &eu 
cargo  e  perecendo  com  quasi  toda  sua  gf»ut(*,  quo  se  compunha 
de  reiDeiroft  e  cem  homens  armados,  dos  quaos  todos  npeuaa  es- 
caparam dí*RpEete, 

Conhecida  em  S.  Paulo  a  hecatomb^,  em  que  foi  victima  o 
primeiro  ouvidor  de  Paríiua!>uá,  o  capitào  g-erteral  Antouio  da 
bilva  Caldeira  Pimentel  determinou  por  um  bando  datudo  do  4 
do  setembro  de  1730  que  fossem  destniida»  e  queítmiida";  f»â  aldeias 
doB  indioG  que  infes^tavam  o  c&mitibo  de  CtJÍ»bài  permittiu  o  saque 
das  aldeias  e  a  eicravizactio  dos  mesmoa  Índios  e  nouieou  chefe 
ánk  expediçfio  o  cíjpit.aij-mór  Gabriel  Antunea  ilaciel, 

A  esta  e^ípediç&o  sefíuirara-se  outrns  sem  que  se  come- 
guisae  o  lesultíido  almejado,  sendo  a  primeira  pob  o  cammando 
geral  de  Manoel  liodrigues  de  Carvalho  e  composta  dn  três  di- 
visões sob  oâ  commandos  de  Gabriel  Antunes  Aíaciel,  seu  irmilo 
António  Autuo  es  Maciel  o  António  Pires  ò^  Campos. 

2)  A  Laubas  Peiíoto,  que  succumbiu  nas  màoa  dos  sel- 
vagens em  maio  de  1730,  succodcu  no  logar  de  ouvidor  do  Pa- 
ranaí^uã  o  dr*  António  dos  Santos  Soakks,  notceado  pela  reso- 
luçàõ  tomada  em  20  de  maio  de  1730,  quando  aiuda  não  era 
conhecida  a  morte  de  seu  antecessor. 

António  dos  Santos  Soares  foi,  anteriormente,  juií  de  fora 
do  Olivença  e  proferiu  neste  caracter  em  1  de  maio  de  1718 
utna  Henteuça,  cujo  inteiro  teor  se  pode  ler  na  pf^gina  102  dos 
Areatos  publicados  por  Feliciano  da  Cunha  Fratjç?*  como  appen* 
dice  ás  auaa  ÂilãitioneR  Aurea-que  llhistrationejí  ad  quinque  Hbros 
FrimiR  Variia  Fractiem  Lusitanm  Emmann&lis  Meíides  de  Castro ^ 
ediçào  de  t7G5,  Lisboa, 

Foi,  também  anteriormente,  jui%  de  fora  de  Santoa,  em  cujo 
eiereicio  despachou  em  25  de  junho  de  1722  uma  petiçào  do 
sar^euto-mur  Manoel  Mauso  de  Avaliar  e  aos  23  de  agoisto  do 
17 2õ  leve  oídvm  de  assumir  a    Viira   de    ouvidor  pgr  ter  o  dea* 


—  268  — 

embargador  syndicaDte  António  de  Souea  de  Abreu  Gh*ade  so 
retir/tdo  de  S.  Paulo,  deixando  a  cidade  sem  ministro. 

Em  6  de  julbo  de  1730  foi  expedida  a  favor  do  dr.  An- 
tónio dos  Santos  Soares  a  respectiva  carta  de  ouvidor  de  Para- 
rana^uá  em  vista  da  resolaçft»  referida  de  20  de  maio  do  mesmo 
anrio,  sendo  elle  em  13  de  julbo  nomeado  provedor  das  fazendas 
dos  defunt'18  e  ausentes,  capellas  e  residuos,  Ibe  sendo,  em  15 
do  mes  ultimo  reierido,  fixado  o  ordenado  de  400$000  annuaes 
com  mais  40^000  de  €  aposenta  dória  para  casas»  e  lhe  sendo 
concedida  por  provisão  de  20  de  novembro  do  mesmo  anno  de 
1730  njuda  de  custo  na  importância  de  200$000. 

Santos  Soares,  quando  foi  nomeado  ouvidor  de  Paranaguá, 
se  acbava  no  Bra^^il,  onde  tinha  acabado  de  servir  o  logar  de 
juiz  de  fora  de  Santos  e,  nào  podendo,  por  isso,  prestar  pesso- 
almente na  chancellaria  o  juramento  do  cargo,  pediu  licença  parft 
presta  1-0  por  procurador  ou  perante  o  governo  de  8.  Paulo  e 
esta  lhe  foi  concedida  por  provisão  de  17  de  agosto  de  1730 
passada  em  virtude  de  resoluçào  de  3  desse  mes. 

A  Camará  da  Paranaguá  na  representação,  que  fez  em  23 
de  agosto  de  1732  ao  governo  da  metrópole,  dizia  esperar  do 
talento  e  prudência  do  ouvidor  geral  dr.  António  dos  Santos  Soa- 
res «boa  creação  e  au^mento  do  bem  commum». 

Aos  19  dn  maio  de  1733  o  Conde  de  Sarzedas,  governador 
de  S.  Paulo,  escreveu  a  este  ouvidor  uma  carta  em  que  nào  só 
accusava  o  recebimento  da  que  Ibe  fora  escrípta  em  25  do  mes 
anterior,  como  ainda — tendo  o  ouvidor  proviao  por  três  meses  a 
um  escrivão  do  Rio  de  S.  Francisco— fazia  ver  que  os  provi- 
mentos dos  escrivães  eram  da  competência  do  governo  e  não  dos 
corregedores  de    comarca. 

Nova  carta  lhe  escreveu  o  referido  governador  em  23  de 
julbo  do  mesmo  anno,  mas,  desta  feita,  para  lhe  remetter  alei 
de  29  de  novembro  de  1732  e  Ibe  ordenar  diversas  providencias 
para  a  execução  da  mesma  lei. 

Em  julho  ce  1733  o  ouvidor  geral  augmentou  o  ordenado 
do  escrivão  da  Camará  de  Paranaguá  e  proveu  em  correição  que 
as  pessoas  que  achassem  em  abandono  catas  e  faisqueiras  velhas 
podiam  nellas  minerar  sem  obrigação  de  as  comprar.  A  carta 
Regia  de  16  de  novembro  de  1734  ordenou  que  o  governador 
de  S.  Paulo,  ouvidos  o  respectivo  guarda-mór  das  minas  e  a 
Camará  de  Paranaguá,  interpuzesse  seu  parecer  a  respeito  das 
duas  alludidas  determinações  do  ouvidor  Santos  Soares. 

O  Conde  de  Sarzedas,  escrevendo  ao  monarcha  portugnes 
em  23  de  março  de  1734,  disse :  «O  ouvidor  de  Paranaguá  An- 
tónio dos  Santos  Soares  serviu  de  Juiz  de  Fora  de  Santos  e  se 
acha  na  ^ua  comarca  doente  depois  que  foi  para  ella  e  pjr  esta 
razão  não  tem  feito  ainda  correição  9,  e  na  carta  eseripta  a  9  de 
maio  do  anno  seguinte  informou  ao  soberano  português  de  que 
«O  Ouvidor  Geral  da  Comarca  de  Paranaguá  tem  servido  a  V. 


-  269  — 

Maj.*  naquelle  logar  com  recta  intenç&o  e  limpeza  de  m&os  e  bom 
acolhimento  ás  partes,  porém  carregado  de  achaques  e  como  na 
dita  frota  lhe  vem  saccessor  He  administrará  melhor  justiça  ás 
partes,  o  que  não  podia  fazer  o  dito  Ministro  por  estar  qnasi 
lempre  enfermo».  * 

3)  O  Buccessor  de  António  dos  Santos  Soares,  ao  qual 
Sarzedas  se  referiu  em  sua  carta  de  9  de  maio  de  17r5,  foi  o 
dr.  Manuel  dos  Santos  Lobato,  nomeado  pela  resolução  de  19  de 
outubro  de  1733  e  a  cujo  favor  foi  expedida  a  respectiva  carta 
em  4  de  maio  de  1734  e  fixado  o  ordenado,  que  era  egual  a  de 
seu  anteeefisor,  por  provis&o  de  12  de  novembro  do  mesmo  anno. 

O  dr.  Manu-l  dos  Santos  Lobato,  que  tinha  sido  juiz  de 
fora  da  villa  de  Torrfto,  foi,  como  ««s  ministros  que  o  procederam  na 
comarca,  nomeado  provedor  das  fazendas  dos  defunroM  e  ausentes, 
eapellas  e  resíduos,  se  lhe  fazendo  mercê  da  serventia  do  refe- 
rido o£5cio  por  provisão  de  27  de  setembro  de  1734. 

A  este  ouvidor,  lhe  dando  diversas  instrucções  para  a  arre- 
eadação  dos  quintos  reaes  pelo  novo  systema  de  capitação,  dirigiu 
em  15  de  agosto  de  1735  uma  carta  o  governador  de  S.  Paulo, 
a  quem  pela  Carta  Regia  de  21  de  fevereiro  He  1738  foi  mandado 
informasse  com  seu  parecer  a  conta,  que  sobre  a  cata  geralmento 
conhecida  pelo    nome  de    D.  Jaime,  dera    o  ouvidor  Lobato. 

Este  ministro,  de  facto,  por  carta  de  28  de  março  de  1737 
levou  ao  conhecimento  do  governo  da  metrópole  que  do  sitio  de- 
nominado Santa  Fé,  distante  da  »éde  da  comarca  pouco  menos 
de  um  dia  de  viagem,  existia  u'a  cata  geralmente  conhecida  por 
cata  de  D  Jaime,  e  que  elle  ouvidor  não  permittiu  aos  que 
pretendiam  exploral-a  o  fizessem,  visto  se  dizer  ter  sido  ella 
aberta  á  custa  da  fazenda  reaJ. 

Estando  Lr»bato  ''O  exercicio  do  cargo  de  ouvidor  de  Para- 
oaguá,  um  decreto  de  28  de  janeiro  de  1736  creou  quatro  in- 
tendências de  mmas  na  capitania  de  S.  Paulo  e,  nomeando  para 
a  de  Goiaz  o  dr.  Sebastião  Mendes  de  Carvalho  e  para  a  de 
Cuiabá  o  dr.  Manoel  Rodrigues  Tones,  autorizou  o  respectivo 
governador  a  nomear  interinamente  para  a  de  Paiauapaiiema  a 
João  Coelho  Duarte  e  para  a  de  Paranaguá  o  ouvidor  da  comarca. 

Romano  Martins,  em  artigo  publicado  a  de  8  de  janeiro  de 
1906  n'^  Republica,  orgam  da  imprensa  diária  de  Curitiba,  es- 
creveu que  o  dr.  Manoel  dos  Santos  Lobato  «casou  com  a  distincta 
paranaguara  d.  Ânconia  da  Cruz  França  e  por  motivo  desse  acto 
perdeu  o  cargo». 

Na  verdade,  a  Carta  Regia  de  27  de  março  de  1734  prohibia 
o  casamento  dos  magistrados  nas  conquistas  sem  especial  licença 
regia,  sob  pena  de  i>erem  suspensos,  riscados  do  serviço  real  e 
remettidos  para  o  reino. 

4)  O  dr.  Ga8par  da  Rocha  Pereira,  que  em  1739  era 
juiz  de  fora  de  Santos,  foi,  segundo  o  citado  historiographo 
paranaense,  ouvidor  de  Paranaguá  depois  de  Lobato. 


—  270  — 

O  dr.  Gnspar  pm  1T5I  era  hitenefente  da  real  t^asa  dos 
quintos  de  Minas  Gerítea  na  comurca  do  Rio  das  Mortes  u  a 
morta  o  cncout-TOu  no  exercicio  desse  car^o. 

5)  O  dr.  Makokl  Tavahbs  db  Siqueira  e  Sá^  que,  tendo 
sido  fliitea  juiz  de  fi>ra  da  villa  do  Reíiondo  da  yiroviocia  de 
Alemtfíif»,  sTiccedfii  iia  ouvidoria  dti  Pamaa-ruií  o  o  dr*  koelia  Pe- 
reira, foi  o  peererario  Ha  Academia  dns  Selectoa,  que  por  inicia- 
tiva de  Feliciano  Joaquim  de  Sousa  Nunes  e  tendo  por  ]ire- 
sidente  o  padro-mestra  Francisco  de  Faria  foi  celebrada  no  Rio 
aoB  ^0  de  janeiro  de  1752  em  obsequio  a  applauão  de  Gomes 
Freire  d^  Andrada. 

Oi  trabalhos  da  Ácademin  dos  Selectos  foram  colleccionados 
Bob  o  tiLulo  —  Juhíios  da  America  na  gloriosa  ejaaltaçdrt  e  pro- 
moção fio  Ilfmo.  e  Ejrmo,  Sr,  Gowes  Freire  de  Andrada  —  e 
publicíidoâ  em  nm  vnlum©  in  4.",  deííO  — 3tí2  paginas,  na  olficina 
do  dr     Manoel  Alvores  Solnno,  Lisboa,   1754. 

Dft  vinte  e  cinco  foi  o  numero  de  menibroa  da  Academia, 
Fe  contandn  entre  t^Uea  a  poetisa  flamitieusa  d.  Ang^ela  do  Amaral 
líanm^t  uma  Híi^  be  rei  nas  das  Brá,si leiras  Celebres  do  Joaquim 
Norberto  de  Sousa  e  Silva,  que  affinna  terem  os  seus  versos 
bel  los  e  ^iinpleF,  fáceis  6  íluentea  primado  tobre  au  compo&içõei 
dos  demáTs  Academico^j  eniorpecídas  pela  calculada  aíTecta<;ào  do 
eBtylo  e  repletos  de  antitbe.-e8,  conceitos  e  IrocadilhoR, 

Para  fuzer  parte  da  Academia  Ibi  tambetn  convidado  o  dr, 
Ga&par  Gonçalves  de  Araújo,  nascido  em  Santos  ans  A  de  maio 
de  ÍGGl,  mnsi  elle  se  escusou,  alienando  seus  acbaques  e  seus 
noventa  annos  de  edade,  por  carta  a  que  o  referido  secretaiio 
deu  piiblicidtíde  nos  Jidiiloa  da  America^  ahi  cbamando  o  illus^ 
trrt  paulista  «  Ne&tor  Brasílico  ti  o  mais  celebre  Jurisconsulto 
Americano  ». 

Entre  os  trnbalbos  do  secretario  dr,  Manoel  Tavares  de 
Siqneiía  e  Só,  reunidos  no  nienciouado  livro  com  os  dos  maif 
académicos,  »^  lêem  al^jiiEiB  sonetos,  dos  quaes  ao  aca^o  se  tras- 
lada o  Eeg;ulnte : 

A  experiência  confirma  assaz  notória, 
Ser  a  vida  do  bom  em  sobro  a  terra, 
l!íii  dura,  cruel,  continua  íçuerra, 
Na  esperança  final  de  Lu*  victoria* 

A  Coroa,  a  que  appira,  e  toda  Gloria 
Nutn  certame  Icgtttmi»  se  encerra, 
Contra  os  vicios  vestindo,  se  mio  erra, 
As  Virtudes  por  Armas,  sem  vangloria» 

As  premissas  bem  pôde  confesàar-mas 
Todo  aqiielle,  que  vir  o  mnl,  que  teguo 
Na  formal  berexia  de  ue;{-,ir-inaB 


—  271  — 

E,  por  texto  a  razão,  basta  quo  alle^çue, 
Provando,  que  somente  por  taes  Armas, 
A  verdadeira  Gloria  so  consegue. 

6)  O  dr.  António  Pires  da  Silva  b  Mello  Porto  Car- 
reiro era  ouvidor  de  Paranaguá,  quando  em  1  de  junfao  de  1750 
o  dr.  Manuel  José  de  Faria  tomou  posse  do  cargo  de  ouvidor 
de  S.  Catharina  e  instaDou  a^^sim  a  nova  comarca,  creada  pela 
Carta  Régia  de  20  de  novembro  do  anuo  antecedente. 

O  dr.  António  Pires  rasou-se  rm  S.  Paulo  aos  11  de  abril 
de  1751  com  d.  Maria  Joaquina  da  Silva  Lu^tosa,  natural  da 
villa  d«  Santos  o  filha  legitima  de  sargento-mór  António  Fer- 
reira Lustosa  e  D.  Catharina  da  SíIvh  Almeida  e  neta  materna 
de  Manuel  Mendes  do  Almeida  e  d.  Maria  Gomos  de  Sá. 

7)  Em  1755  aiuda  exercia  o  dr.  António  Pires  o  cargo  de 
ouvidor,  pois  que,  conforme  o  refere  Romario  lilartins,  lia  em 
Curitiba  acto  seu  datado  daquelle  anuo,  mus  em  1757,  na  affir- 
mação  do  mesmo  historiographo,  nâo  mais-  ora  elle  o  ouvidor  da 
comarca  e   sim   o  dr.  Jeronymo  Ribeiro  de  Magalhães. 

Entre  esto  ouvidor  e  o  que  se  lhe  seguiu  mediou  longo 
espaço  de  tempo,  durante  o  qual  a  comarca  esteve  sem  ouvidor 
efiectivo,  sendo  o  cargo  exercido,  na  forma  da  lei,  pelo  vereador 
mais  velho  da  sede  da  comarca. 

O  facto  de  ter  estado  acephala  a  comarca  por  largo  tempo 
86  acha  aíUrmado  pelo  Morgado  de  Matheus,  d.  Luis  António 
de  Sousa,  governador  e  capitao-general  de  S.  Paulo,  que  em 
carta  de  2o  de  dezembro  de  1767,  levando  ao  conhecimento  do 
vice-rei  o  roubo  do  cofre  de  aui»eiites  em  Paranaguá  e  consul- 
tando como  devia  agir  para  ])recavcr  os  descaminhos  de  dinhei- 
ros públicos,  nma  vez  que  nfio  podia,  no  entender  da  Relaç&o, 
mandar  conhecer  do  occorrido  por  mioistr»  de  outra  comarca, 
escreveu:  «A  Comarca  de  Paranaguá  está  ha  muitos  annos  sem 
ouvidor  letrado,  o  que  já  fiz  presente  á  S.  MajV^tade». 

8)  O  governador  Martim  Lopis  Lobo  Saldanha  em  officio 
dirigido  em  21  de  abril  de  1778  a  Martinho  de  Mello  e  Castro 
escreveu :  «O  Bacharel  António  Barbosa  i»b  Matos  Coutinho, 
ouvidor  da  comarca  de  Paranaguá,  se  faz  digno  de  toda  a  mercê, 
que  i>ua  Majestade  for  servida  conferlr-lhe  pelo  zelo,  actividade, 
promptidâo  e  acerto  com  que  tem  executado  as  minhas  ordens, 
e  as  do  Marquez  Vice-Rei,  em  tudo  o  que  pertexce  ao  Real  ser- 
viço distinguindose  muito  nas  prompta^  providencias  que  deu 
em  toda  a  campanha  do  anuo  antecedente  com  excessivo  tra- 
balho pessoal,  e  ainda  com  do^ippsa  sun». 

Estando  em  correição  na  villa  de  Iguapo,  que  pertencia*  á 
comarca  de  Paranaguá,  ahi  deixou  este  ouvidor  em  20  de  abril 
de  1779  um  provimento  p4*lo  qual  autorifava  a  Camará  a  as- 
sistir com  o  mantimento  preciso  os  quo  fizessem  o  vallo  proje 
ctado  para  commuoicar  o  rio  da   Ribeira  com  o  mar,  provimento 


—  272  — 

esse  que,  segunán  participação  feita  por  Aotonio  Rodrignes  da 
Cunha  em  carta  de  26  de  ontubro,  foi  approvado  pelo  governador 
da  capitania. 

9)  Depoin  do  dr.  Matos  Continho  foi  ouvidor  da  comarca 
o  dr.  Francisco  Lbanobo  db  Tolkdo  Kbndon,  nomeado  em  2 
de  abril  de  1783. 

Este  ouvidor  era  natural  de  S.  Paulo,  onde  foi  baptisado  a 
29  de  março  de  1750,  e  filbo  de  Agostinho  Delgado  Ârnuche  e 
d.  Maria  Thereza  de  Araújo  e  Lara,  irmào  dos  drs.  tenente- 
<?eneral  José  Arouche  de  Toledo  Rendon  primeiro  director  do 
Curso  Jurídico  de  S.  Paulo,  e  Diogo  de  Toledo  Lara  Ordonhes, 
desembargador  do  paço,  conselheiro  de  fazenda,  sócio  correspon- 
dente da  Academia  Real  de  Sciencias  de  Lisboa  e  alcaide-mór 
da  villa  do  Paranaguá  por  despacho    de  22   de  janeiro  de  1820. 

O  dr.  Leandro  fez  em  s.  Paulo  seus  estudos  de  gramma- 
tica  latina,  pbilosophia  e  theologia  e  em  1774  partiu  para  Coim- 
bra, em  cuja  Universidade  formou-se  em  leia  no  anno  de  1779. 

Casou-se  em  S.  haulo  aos  16  de  Julho  de  1790  com  d. 
Joaquina  J(  sefa  Pinto  da  Silva,  contrahiu,  tendo-se  enviuvado, 
segundai  núpcias  com  d.  Anna  Leonisi>a  de  Abelho  Fortes  aos 
29  de  maio  de  1796.  uma  e  outra  filhas  do  dr.  António  Fortes 
de  Bustamante  e  Sá  Leme,  e  falleceu  em  1810. 

Em  Iguape  deixou  o  dr.  Leandro  em  8  de  agosto  de  1787 
na  qualidade  de  ouvidor  um  provimento  pelo  qual  mandava  se 
proee^uisse  na  canalização  da  agua  da  fonte  chamada  do  Senhor 
para  o  abastecimento  da  villa. 

Em  20  de  janeiro  de  1789  fez  o  mesmo  ouvidor,  em  obser- 
vância de  uma  portaria  dacada  de  24  drt  setembro  do  anno  an- 
terior, a  erecção  da  ireguezia  do  lapó  em  villa  com  a  denomi- 
nação de  Villa  Nova  de  Castro  em  honra  de  Martinho  de  Mello, 
e  Castro,  secretario  de  Estado  dos  Negócios  Ultramarinos. 

10)  O  dr.  Manobl  Lopbs  Branco  b  Silva,  que  succedeu 
ao  dr.  Leandro  na  ouvidoria,  foi  nomeado  a  12  de  outubro  de 
1789,  tomou  posse  em  9  de  outubro  do  anno  seguinte.  Ibe  foi 
por  provisão  de  9  de  novembro  e  resolução  de  20  de  outubro 
de  1796  concedida  licença  para  se  casar  com  d.  Gertrudes  So- 
lidonia  de  Mello,  viuva  do  dr.  António  José  de  Sousa,  e  erigiu 
em  villa  com  o  nome  de  Antonina  aos  6  de  novembro  de  1797 
a  freguezia  de  Nossa  Senhora  do  Pilar  da  Graciosa. 

Em  15  de  novembro  de  1798,  no  tempo  deste  ouvidor,  não 
hayia,  segundo  o  asseverou  o  governador  Castro  e  Mendonça  em 
carta  ao  Tribunal  do  Conselho  Ultramarino,  não  havia  em  toda 
a  comarca  de  Paranaguá  «um  só  letrado  com  carta  de  Bacharel 
e  Formatura». 

11)  O  dr  JoAo  Baptista  dos  Gdimarãbs  Pbixoto,  na  qua- 
lidade de  ouvidor  de  Paranaguá,  remetteu  a  Camará  de    Lages, 

Sara  ahi  ser  publicado,  seu  edital  de  23  de  abril  de  1800  acôrca 
o  perdAo  a  criminosos  concedido  pela  Carta    Regia    de    28    de 
agosto  de  1779. 


—  273  — 

I)«  um  oMcio  dirigido  pelo  g-overnador  AiitoDio  Marinei  de 
Mello  GtiBl^o  e  Mendonça  em  20  de  maio  de  1602  ao  V^iâconde 
d«  Ãnftdia,  consta  que  o  ouvidor  Guiinaràea  Feixot^i  foi  pujspenio 
do  carg^o  pelo  dito  jçovernador,  cuja  ordem»  ao  aepnis  expedida, 
|>tri  que  le  recolhesae  o  owvidrr  a  S,  Paub  nào  mais  o  encon- 
tpm  em  Paranaj^uá,  tendo  cUe  partido  em  uma  fiummae»  para 
Femâmboco^  doudu  erg  uatural . 

12)  O  dr.  ÂiTPONio  DH  Carvalho  Fontes  Hknrjquks  Pb- 
uiKA  tomou  posfle  do  carj^o  de  ouTÍd«iT  Ém  ^  de  ferereirn  de 
1304,  participcíW  «na  poise  á  Camará  de  Lagee  emofficio  de  7  de 
Qiirço  íe^uinte  e  aoa  19  de  ag"Oflto  tomou  parte  na  vereançA 
gíwj  a  que  se  procedeu  na  villa  de  Ij^iape  p>ara  Be  deliberar 
lobíe  o  refazimento  da  rcÊpectiva  Eg^reju  Matriz. 

Em  in formação,  que  a^s  6  de  maio  de  1805  pelo  governa- 
das Frauea  e  UortA  foi  prestada  em  obediência  ao  aviio  de  1 
de  dezembro  de  1803,  eserpve  elle  ein  relatjào  ao  dr.  Fí»tites 
Hell^qa^ft:  <0  ouvidor  dt^  Parana^á  me  tem  dado  decisívai 
proras  da  @ua  ignorância  e  insufficieocia  para  o  iinportantecarí^o 

?|tt6  eierce»,  e^  depoii  de  especificar  os  facto*  com  qu©  procura 
linffilmentar  o  conceito  ■  i:t*?nmdo,  termina:  «Finalmente  não  se 
nega  a  accritaçào  de  offertua  avoitadi^a^  e  pelos  factoiâ  que  me 
têm  »ido  presentes  a  este  r^ti peito,  devo  justamente  concluir,  o 
iftae?erar  a  V.  A.  que  è  nennum  o  seu  desinteresse  e  Limpeza 
de  Mãos*. 

13)  Na  Ytlla  de  Ig^ape  deixou  aos  26  de  agosto  de  1809 
o  dr.  António  Ribeiro  db  Carvalho,  ouvidor  e  corre^fedor  da 
eomarea,  provimento  para  limpeza  e  asseio  do  rego,  em  que  víuUa 
i  igua  para  o  abastecimento  da  localidade. 

14)  Por  decreto  dfl  6  dw  fevereiro  de  1810  foi  nomeado 
ouvidor  dn  comaica  o  dr,  JoÃo  de  Mbdisirob  Gomes,  que  a  Id 
de  março  de  1812,  dando  execuçào  ao  Alvará  de  19  do  mes  an- 
terior» tran aferiu  a  aéde  da  comarca  para  Curitiba, 

O  referido  Alvará  d«  19  de  fevt*reiro  de  1812  nikn  creon  a 
comarca  ou  as  comarcas  de  Paranaguá  n  Curitiba,  mas,  atém  da 
crea^^o  da  um  lopar  de  juis  du  íóra,  só  mudnu  a  deDomitiaçào 
da  comarca  de  Parnuaguá  para  a  de  Paranaguá  e  Curitiba,  fa> 
xendo  desta  vi  lia  cabaça  de    comarca  e  residência  dos  ouvidores. 

O  dr.  Joào  de  Mad*'íros  Gomes  fot  o  segunde»  ouvidor  da 
comarca  á&  Itá,  c>nde  a  15  de  jnlho  de  lB2i  presidiu  a  sessão 
extraordinária  da  Camará  Municipal,  em  que  foram  juradas  aa 
bajes  da  ConitituiçAo  decretadas  pelas  Cortes  Gemes  de  Lisboa, 
e,  posteriormente^  foi  ouvidor  da  comarca  de  S.  Paulo  em  1823, 
deputado  supplente  á  Assembléa  Gernl  na  primeira  legais latura — 
18:í6-29 — ,  desembargarfoi  da  Casa  de  SupplicaçAo  do  Kio  de 
Janeiro,  cavalletro  da  Ordem  Imperial  do  Cruzeiro  por  deH[mcbo 

{inHlicado  no  dia  da    sagraçào  e  coroação  de  d.  Pedro  I  e  caval- 
eiro professo  na  Ordem  de  Chrísto. 

15)  Foi  o  dr.  Medeims  substituido  na  comarca  já  entào  de 
nominadã  de  Paranaguá  e  Curitiba  polo  dr.  José  Carlos  Peebira 


-  274  — 

DE  Almeida.  Torres,  contra  o  qual  representou  o  Governo  Pro- 
visório de  S.  Paulo  ao  Príncipe  Rí^g-ente,  que  tnatidou  participar 
por  officio  de  15  de  afarii  do  1B22  aoireferido  Governo  que  devia 
tomar  este  as  medidas    de  se^i^urfinça    que  julgasse  utei^. 

Almeida  Torres,  mais  tarde  agraciado  com  o  titulo  de  Visconde 
de  MacaliB,  foi  em  1824  ouvidor  da  comarea  c^o  Hio  das  Mortes, 
que  linBa  por  Btíd©  a  vílUi  de  S,  JoSo  d'El-llei,  foi  eleito  de- 
putado pela  jirovincía  dn  3.  Paulo  á  quinta  legislatura  ^eral, 
represeijtou  a  proviucia  da  Baliia  no  »eiiíido  do  Império,  tendo 
sido  escolhido  senador  em  14  de  janeiío  de  m43,  foi  duas  vezes 
presidente  da  província  de  S.  Paulo,  a  piimeira  em  18'2d  ©  a 
segunda  de  1842  a  43^  ]>reãidente  da  província  do  Río  Grande 
do  Sul  nomeado  por  carta  imperial  de  13  de  outubro  de  1B30, 
ministro  do  impfrio  do  gabinete  de  2  de  fevereiro  de  1344,  j*re- 
sidente  do  cotiselho  de  ministrofi  do  gabinete  de  8  de  março  de 
1848,  sendo  a  segunda  pessoa  que  occupou  o  logar  de  preaidente 
do  conselho,  creado  pelo  decreto  n.  523,  de  20  de  julho  da 
1847,  e  falleceu  aos  25  de  abril  de  1850. 

Sendo  ouvidor  Almeida  Torres,  foram  alteradas  as  divisas 
da  coniarcfl,  de  que  foi  desaunexada  avilla  de  Lages  por  Alvará 
de  J2  de  fevereiro  de  1821,  a  qual  villa  e  seu  termo  já  pelo 
Alvará  de  9  de  setembro  de  1820  iinhani  sido  iocorpúrados  á 
capitania  de  â.  Catbariím. 

IG)  O  ouvidor  da  comarca  dr  JosÈ  db  Azevedo  Cabral, 
que  fora  era  1806  juiz  de  fora  da  villa  de  S.  Salvador  dos  Cam- 
pos de  Líoitacaz,  proveu  em  Iguape  aos  3  de  setembro  de  1823 
que  nenhuma  pessoa  distrahisse  p^rã  serveatia  particular,  como 
o  pretendeu  fazer  Jj^nacio  Moreno,  as  ag;uas  que  abasteciam  n 
referida  localidade. 

I7j  O  dr.  José  Verni-xjl-e  (assim  escrevia  elle  sftu  nomo, 
como  se  \è  da  carta  de  &enten<;A  por  etie  assiguada  a  favor  do 
p."  Pedro  Gomes  de  Camaríro  contra  o  altere*  Joaquim  Januário 
Pinto  Ferríiz)  o  dr.  José  Vernbque  Ribeiro  de  Aguillau  foi 
empossado  do  cargo  de  ouvidor  da  comarca  aoa  ^0  de  julho  de 
1824,  mais  tarde  des^embíirgAdor  da  Kc.laçao  da  Bahia  e,  depois, 
daCa»a  de  Supplieaçào  do  Rio  de  Janeiro,  e  casou-se  em  Cmí* 
tiba  com  d.  Ânua  de  Sá  Sotomaior,  fílha  do  coronel  Igaacto  úe 
Sá    Boto  maior. 

Foi  este  o  ultimo  ouvidor  da  comarca  de  Parana^juá  e  Curi- 
tiba, tendo  o  art.  8."  do  Código  do  Processo  Criminal  de  29  de 
novembro  de  1832  eitinguido  as  ouvidorias,  que  passaram  para 
o  doiiúnio  da  Hígtoi^ia,  que  ora  relembra  nestas  paginas  nào  só 
os  nomea  dos  que  no  largo  per  iodo  de  mais  de  um  século  foram 
os  encarre;^adoi  da  distribuição  da  justiça  em  uma  porçílo  da 
terra  brasileira,  como  algumas  data?  necessárias  para  o  estudo  da 
marcha  que  seguiu  a  mesma  terra  jiara  o  progresso  e  para  ft 
civil  isca  çào . 

Alfredo  de  Toledo* 


lipk  octts  de  ú^m  ia  Rio  Je  Jaoeíro  i  eapitaniâ  de  S,  Paulo,  no  Brasil,  un 
Teria  de  Ut3,  am  nlgniras  ocltcb  sobr^  &  cidade  da  Balií&  fl  a  ilh 
Trislio  daCDDli3j  eolreo  Gâbft  e  o  Brasil  e  qiifl  hi  ptuco  foi  occupaía-  (*) 

&E  GUSTAVO  BEYER 
Traducção  do  sueco  pelo  ãr*  Aíbêrto  Jjfffjren 


Os  |>aqueteB  á  vela,  qne  de  Falmoutb  m  dirigem  ao  Rio  de 
Jíneiro,  aportam  sempre  na  Ilha  ãa  Madeira,  onde  detnoram  dois 
ííios  para  deiícar  o  correio  d&  Europa  e  rect^ber  o  qufs  ro  destina 
>o  Brasil.  Dabi,  por  egtml  motivOi  din^''em-se  á  Baliia,  o  que 
hztm  6(>meiite  ua  ida,  de  novembro  ntê  abril,  quando  o  vento 
ili*i*{i  gopra  de  uorte  a  aul  e  o  equador  i;  transposto  entre  o» 
meridianos  22  e  26.  ao  passo  que,  de  maio  a  outubro,  quando 
o  Tpnto  sopra  em  direcção  contrana,  este  porto  é  viaitado  bq- 
ffiente  na  volta. 

A  Bíiliia,  a  se^iinda  cidade  depois  do  líio  de  Jnneiro,  na  la- 
litudíi  de  IS"*  sul,  com  80,000  habitantes,  está  «ituada  nbre  um 
promontório  a  Ho,  porto  do  mar,  e  avista-so  de  lon*^e.  O  seu 
Gonimercip  é  vasto  e  o  seu  porto  e  eitcellente  e  bem  dtífendido 
por  uma  g^iarmçAo  numerosa.  O  actual  f^overuador  da  capitania 
J*  Bahia,  Conde  dos  Árco&,  ex-vicp-nn  do  Brasil,  é  ainda  moço, 
de  qun' idades  superiores  e,  sobretudo,  de  um  penio  creador  quo 
íouitõ  tem  contribuido  para  o  aformo&eamento  de;te  grande  em- 
pfiO)  que  tfio  favoravelmente  se  apresenta  aos  navios  que  sui^ 
cam  o  atlântico  do  sul,  sombreado  como  está  por  bel  las  bana- 
íieiraí5,  mangueiras  e  coqueiros.  Domina  a  cidade  o  novo  edi- 
fício da  opera  ©  ao  entrar  no  porto  o  viajante  é  aurprebeadido 
jjor  um  belló,  extenso  e  bem  traçado  jardim  jittblico  que  de 
noite  costuma  estar  caprichosamente  illuminado.     No  meio  deste 


(*}  o  Drlgtnil  ã9  |ire«ant«  4  iPterostanta  trAballio  foi  pabLIçmlo  om  IJtúck^lmD,  nã 
trpoÇTiipWli  í©  EJiBÈa  «  (iranherir,  no  hbdo  do  IMN.  e.senJo  DOGOOlr.nJos  peio  bLl)ljútb«- 
cAri«  dv  d,  li.  Oficnr  iT.  úa  t^ueelA,  rtii  blbl[€ib«cn  pArticukr  deita  «c^tjernno  doJB  âxem- 
Tt!&rea  4o  folbeto  em  qUQ  o  rilio  orkelnnl  tol  d^ida  i  v»umpA.  fí  tt(*it\io  nianjirchii,  por 
tai«nnedio  do  meitmo  bcq  bll>1lcitbecArio,  c«âea  um  do«  exemplara»  no  roi^o  4Ut|nota 
conrchcío  dl.  A.  LOfgron»  «  esle  trocou  loco  d^  í»ier  a  vcti^d  do  lueco  p»ra  o  Ttrjiacàlo 
i  qtiftt  DIA  diuot  pobílcídAde. 

N,    DA    R. 


r 


—  276  — 

paBceio  ergne-Be,  aobre  um  pedet-tal  de  mármore  brancOf  a  esta- 
tua do  Príncipe  Regente,  encarando  ornar.  No  declive  da  rocba, 
«ntre  o  pafíeio  e  a  praia,  foi  eonetniida  uma  formidãTôl  bateria 
de  40  morteiro»,  o  que  juuto  com  m  outras  fortalezai,  eipecial- 
mente  uma  rotunda  com  100  canhões  era  3  Beries,  edificada  ha 
pouco  no  ceiítio  da  bahia,  impede  qualquer  desembarque  inimigo» 
O  estrangeiro  que  alli  aporta  comprehende  logo  o  quanto  slo 
erradas  a^  opiniões  que  ouviu  ua  Europa  sobre  eete  pais  que» 
mui  ti)  favorecido  pela  natureza,  ainda  náo  se  acha  civi  tilado, 
apezar  da  mudança  de  cotouia  para  nação  independente.  Egual- 
mente  comprehende  quanto  erraram  oa  escriptores  d©  viagens 
que,  apenas  visitando  o  Kio  de  Janeiro,  tomaram  esta  cidade 
por  padrão  para  julgar  todo  um  território  de  60,000  mílhat  geo- 
grapbicas  quadradas,  quando  elles,  si  quisessem  ter  se  informado, 
poderiam  ter  conhecido  o  plano  para  a  grande  obra  de  civili- 
zação e  povoamento  do  paiz. 

A  Bahia  pOBsúe  grandes  docas,  fabricas  de  algodão,  fumo  e 
aço,  tâo  boas  como  na  Inglaterra,  Tem  espaçosos  hospitaes  o 
quartéis  para  as  tropas»  que  no  ultimo  anno  foram  augmentadaa 
com  2  regimentos  de  infantaria  e  um  de  cavallaria,  commaDeia- 
dos  pelos  respectivos  oãiciaea  escolhidos  entre  os  excelleutes 
ofEciaes  dr»  exercito  português  na  Europa.  Uma  esquadra  li- 
geira permanece  sempre  no  porto, 

à  posiç&o  da  cidade,  do  caminho  da  Europa  para  a  índia» 
e  a  actividade  de  seus  habitantes»  crearam  ahí  uma  riqueza  que 
difficilmeiíte  pode  ser  calculada,  porém  de  que  o  fácil  faaer-se  uma 
ideia,  âabi^udo-se  que^  quando  o  Principe  Regente,  no  começo  de 
1808,  ali  pela  primeira  vez  desembarcou  noa  seus  estados  ame- 
ricanos, o  corpo  commercial  por  si  ofiereceu  á  Sna  Alteza  Real, 
caso  elle  íe  decidisse  a  fixar  sua  residência  na  Bahia,  a  quantia 
de  5  m  Ihòes  de  coroas  para  edificação  de  um  palácio,  além 
do  compromisso  de  custear  a  corte  toda  por  espaço  de  seis  meses, 
despesa  que,  com  toda  a  segurança,  pode  ser  calculada  era 
um  milhão  de  coroas,  o  que  então  não  podia  ser  acceilo,  por 
já  estfir  tudo  prepnrado  no  Rio  de  Janeiro  para  receber  a  família 
real  e  toda  a  comitiva.  E'  pena  que  eate  empório  famoso  quaaí 
tivesse  sido  destniido  por  uma  chuva  diluviai  nos  meses  de 
junho  e  julho  últimos. 

Desde  a  Bahia  não  se  perde  de  vista  a  bella  costa  brasileira^ 

3ue  apresenta  uma  cordilheira  contínua  de  montanhas  cobt^rtas 
e  vegetação.  E'  preciso  vel-a  para  bem  julgai -a.  O  Cabo  Frio 
é  dobrado  na  latitude  '2'^  54'  sul,  este  afamado  ponto  de  encontro, 
tanto  para  os  cruzadores  das  potencíag  navaes,  como  para  os 
pescadores  pacíficos  que  na  sua  simples  embarcação,  denominada 
^Ungitada*  (1),  construída  de  A  paus  apenas,  buscam  os  mais 
laboro  SOB  peixes  para  fornecer  á  populaçào  do  iitofal  e  aos  uavioft 


1    Juigiul». 


^ 


—  277  — 


qiie  piueftm>  Em  todo  o  lúgRt  que  a  vista  devassa,  enseriçam-aa 
I^eqaeQos  navios  que,  ao  tongo  da  cogta,  conduzem  os  productoft 
do  paiz  aos  g^odo^  port  e  e,  em  gerat,  qo  dia  s^^ainte  ao  de 
ter  dobrado  o  Cabo  Frio,  entra-ae  no  grandioso  porto  do  S.  Se* 
baetifto  ou  Rio  de  Janeiro*  Â  eatrida  púasa  em  grandeza  a  das 
columnas  de  Hnrculea  e  pode  ser  cotopamda  a  uma  porta  cujos 
dois  batenles  sâo  duas  immenaas  e  nuas  rochaa  de  granito,  das 
quaes  a  da  esquerda  é  denominada  Pâo  d^Ãasucare  que,  aegundo 
a  ultima  mediçAo,  tem  SOO  pés  de  altura.  Os  n^vio^  passam  tâo 
perto  da  fortaleza  de  Baota  Cruz^  colloeada  no  centro  da  entrada, 
que  com  urn  porta- voz  pode -se  responder  &i  perguntau  que  dali 
7êm,  o  que  é  obriefitorio,  para  ot  qne  intentam  paasar  em  ãitencio. 
Santa  Cruz  è  uma  ilha  perfeita  que  cruza  o  seu  fogo  com  ode 
todas  as  fortalezas  do  porto  e  dos  morroi  ao  redor  da  cidade. 
Desftet  morro»  o  da  ilba  das  Cobras  é  curioso,  porque  ao  pé  delle 
im  maiores  navios  podem  ancorar*  Na  entrada  do  porto,  que  tem 
o  comprimento  de  algumas  léguas  suecas,  a  vista  ae  dfkntacom 
uma  porçÃo  de  ilhotas  encautadoras  que  go^am  de  uma  primai- 
vera  eterna  e  das  qua*»8  emanam  m  mais  agrada vei*  aromaá. 
Entre  ellai  a  «Ponto  de  Aeajou»  (1),  oude  reside  o  almirante 
inglez  Bnr*  Diion,  é  a  mnis  aprazível  pela  sua  situação.  Os  pa- 
quetes ancoram  de  preferencia  d*^ante  do  palácio  que,  com  a 
eidade,  terá  uma  curta  descri pção. 

O  desembarque  é  feito  numa  praça  quadrada,  um  poaco 
maior  do  que  a  praça  de  Gustavo  Adolpbo  em  Stockholcno  e 
onde,  no  lado  do  mar,  pxiste  um  cAf^n  de  quadros  de  granito 
munido  de  degraus  e  de  afsentoi.  No  centro  deste  cães  ba  um 
reservatório  de  agua  ©m  forma  de  obelisco,  com  inseripvôes  e  uma 
agua  fresca  e  cry*tallioa  que  jorra  do  cabaças  de  cobras  e  de 
dragões.  A  agua  lhe  vem  de  ucna  fonte  distante  duas  leguasj 
de  onde  é  conduzida  para  todos  os  logares  públicos  da  cidade 
por  aqneductos  que  sào  verdadeiras  obras  primas  de  constmc^âo. 
Áo  redor  deste  obelisco  sempre  se  encontram  bandos  alegres, 
cantantes  e  barulhentos  de  negros  que  abi  vém  bus^car  agua 
que  eondttz*»m  na  cabeça  em  vasilhas  de  madeira  parecidas  com 
tonneis.  Do  lado  do  mar  a  agua  é  conduzida  para  os  navios 
em  calhas  e  bombas.  Por  causa  da  agglomoraçào  constante  desta 
^eute  estão  alli  postadas  sentinellas  para  manter  a  ordem. 

Os  três  lados  da  grande  praça  sfto  occupadoa  por  edificações; 
i  esquerda  o  palácio  do  Príncipe  Regente;  uo  centro  a  capei  la 
real,  de  fronte  do  reservatório  e  á  direita,  fronteira  ao  palácio, 
nm&  outra  casa  grande.  O*  edííicjoa  todos  têm  sacadas  onde 
damas,  cavalheiros  e  pagens  se  divertem  durante  as  horas  frescas 
do  dia,  respirando  os  aromas  que  se  desprendem  das  numerosas 
flores  ahi  collocadas.     A  praça  é  bem  nivelladar  calçada  de  gra« 


1    PodU  do  c^ 


~  278  — 

mto  e  coberta  de  uma  areia  quartzosa  e  brilhante.  De  noito, 
especialmente  ao  luar,  ella  è  muito  frequentada.  No&í»  praçAi 
chamada  «Largo  do  Paço',e  paríillela  á  capella  real,  tem  começa 
a  rua  principnj,  i\  cb amada  Kua  Direita,  da  onde  partem  todas  as 
outras  ruas  era  linha  recta,  um  tanto  estreitas  mas  munidas 
de  passeios  lateraes  para  os  jiedestreâ.  Atravessadas  estas  ruas 
nota-se  qne  a  cidnde  cfttámwito  bem  collocada  num  promotitorio 
quadrado  rodeado  de  agua  por  três  lados  e  teruiÍDando  uo  quarto 
lado  por  montanhas  ornadas  de  uma  rica  vegetaçào.  Apesar 
desta  posiçfto,  táo  excellente  para  o  commercio  e  a  navef^açUo, 
seu  porto  sef!;^uro,  iucompor-^vcl  e  bem  defendido,  capas  de  abrig^ar 
todas  as  armadas  do  mundo,  seu  luxo  e  sua  riqueza,  a  cidade  do 
Eio  de  JaneirOj  com  seus  130 "00  habitantes,  n&o  conatitiie,  to* 
da  via,  um  dos  mais  saudáveis  log-ares  do  grande  coo  tin  ente 
americano.  Collocada  num  vallo  au  niveau  do  mar,  na  latitude 
de  23'  Sf  perto  do  Trópico  do  Capricórnio  e  Zona  Tórrida,  ro- 
deada de  altas  montanhas,  que  ]>rodu//em  constantes  chuvas  ou 
177  dias  chuvosos  no  anno,  termo  médio,  e  cajá  agrua  por  falta  de 
cauaee  se  esta^^na  dentro  do  seu  perímetro^  ong^iua  dis&o  uma 
humidade  nociva  ao  oriranismo  e  uma  pori^âo  de  insectos  mo- 
lestos, dos  quaeft  ba  ahí  maior  abundância  do  que  em  qualquer 
outro  logar  do  Brasil.  Oa  descriptores  de  'íiaí,''ens  tcm-se,  além 
disso,  occupado  tanto  com  esta  capilal  e  suas  curiosidades,  que 
uma  descripçâo  minha  seria  apenas  uma  ^'petição  inútil  do  que 
já  SC  conhece,  além  de  t^ue  o  i^overno  ja  de!ibi^rou  sanar  os 
erros  commettidos  por  occasiao  da  primitiva  construcção  da 
cidade,  quando  se  consideraram  apenas  o  porto  e  o  seu  com- 
mercio. 

Desta  deliberação  governamental  já  existem,  aliás,  bastantes 
provas  desdo  a  vinda  da  Europa  do  Príncipe  Regente  que  deu 
uma  nova  direcção  a  tudo  nestas  ricas  regiões.  No  anno  passada 
inauguraram-se  uma  academia  militíir  e  uma  escola  botânica.  A 
bibliotheca  real  cora  800C0  volumes  e  4000  manuacriptos  foi 
posta  em  ordem,  assim  como  a  famosa  collecçâo  mineralógica  de 
Freyberç  foÍ  enriquecida  com  90  espécies  de  diamantes  pi^Io  ar. 
da  Camará,  O  Collegium  Medicum,  de  organização  complicada, 
foi  dissolvido,  recebendo  um  outro  nome  com  trea  professores 
apenas  ;  um  bel  Io  edifício  pura  opera  foi  concluido  no  Campo  da 
Cigfinha  e  fízcram-se  os  alicerces  para  o  novo  Banco  e  a  Casa 
da  Moeda.  Muitos  pslncioa  foram  concluidoB  e  outros  começados 
por  faroilias  nobres  e  ricas  vindaa  da  Europa,  evidentemente 
porque  pretendiam  ahi  fíjtiir--se.  O  novo  Jardim  Botânico,  na 
Praia  do  Freitas,  ostenta  no  seu  terreno  as  inaís  raras  plantas 
importadas  de  outros  continentes  ;  a  frncta  do  pHo,  a  arvore  da 
eampbora  o  o  arbusto  do  chá  abi  èc  desenvolvem  bem,  este 
ultimo  é  cultivado  por  uma  colónia  chineza  e  promette  uma 
Bcclimaçâo  proveitosa  desta  planta  indica  na  America  do  Sul. 
Alg^umas  fabricas  de  pólvora  s&o    construídas    pelo    tenente-ge- 


—  279  — 

nenl  dfl  Napion  (1)  pura  Bproveitnr  a  inex|»otavel  quantidade  de 
ulitre  do  paÍ2  e  o  seu  producto  tfím  oheg^ado  ao  preço  de  um 
iliilliaff  K  lihia,  de  que  resuha  v  Brn&ú  poder  eiportíir  Rsta  ma- 
tería  de  defeja  á  pátria  tnAe.  Em  L^autoa  ha  uma  fabrica  de 
foííi  e  é^  canhòes  debnixo  da  snperinteadencin  do  mesmo  g^eneral. 

Limitando  com  o  KÍ*)  de  jRueiro,  a  Capitania  de  S.  Paulo 
é  tiia  como  o  p^iraí^o  do  Brasil  por  causa  da  sua  ahitiidni  Beu 
tr  SAudavel  e  fri»Beo.  suas  rica*  minss  e  seus  habitantí^s  bnspi- 
tftleiroSt  Conhecidos  na  historia  brasileira  pwlo  nome  de  panthtíts. 
O  estrangeiro  que  viaja  nesta  pnrte  da  América  sem  i>&  visitar 
lofre  uma  perda  reait  assim  como  o  naturalista  e  o  philoâopho, 
que  ali  encontrarás  mui  favoráveis  elementos  para  a  iuvesti«í/»çao 
ti  para  a  medilaçâo»  Era  a<;ora  no  meio  do  inverno,  (o  melhor 
t^mpo  para  tal  víagRm)  parecido  eom  o  verÃo  na  Suei.- ta,  exce- 
pto serem  os  diaa  e  as  noiteH  e^iialmente  longos,  qii<^  lomei 
esta  re&oluçAo,  porque  nh»  teria  dn  expor- mo  no  cnlor  abrasador 
tias  excurçdôfi  peologíen*  nas  montanhas,  O  meu  coinpanbfiro  de 
m^em  era  o  conde  Nicola»  von  PnLU>n  de  Sào  Petersburgo^ 
tao^o,  ftnmvel  e  estudiofo,  tào  excelleote  li  tem  to  quanto  conhe- 
cedor do  mundo  i^m  virttide  de  vingffus  pelos  principneí*  paises 
earopeus*  Tudo  foi  posto  em  ordem  pma  esta  viagetn  que^  por 
ciusa  de  sua  extenaáo  e  falta  de  commodidadpSf  pt^ta  mfitor  [^arte 
no  dnrsó  de  mulas,  níio  pode  deixar  áp.  bít  dífííeulrosíi. 

Apesar  do  Brasil  dAo  »er  mais  conaidenido  colónia,  o 
•^truugeiro  encontra,  todavia,  diíSi^uldíidea  cm  viajar  sem  vaasa' 
portCH  e  recommendaçõeSj  do  que  nú^  fist:ivftm<'s  abundanff  mente 
iDonido»  e  doe  melfiores.  A  vio<2'em  dos  €doia  norupgui^zns»  píira 
o  ioterior  era  logo  o  íinstimpto  d:is  ronversa*  em  todua  fts  rodas, 
porque  poucas  pessoas  haviam  que,  dí^pojs  de  n^rem  jtf^rminiecido 
poríinnis  no  Rio  de  Jnneiro,  tiveaem  tidt  a  curiósídiídt!  dever 
ÈÍ.  Pâtilo,  tào  afamado  alíaa  ror  sua  éitua^^Fm  e  sUfis  beÍle7Ji9 
naturaes.  Em  tf>dã  a  parto  offtjreceram-nos  rGconinieiida<;n*^8  para 
>*  aiais  distinctíia  ]iPssohs  díi  cnpimnia^  entr^^  na  quat^^  lenho  a 
hfjnra  de  coatar  com  reconlíeei mento  jifirpetuo  S.  Ex.cia  o  Mar- 
ijuez  de  Alegrete  (2),  actual  governador  geraL  O  biíspo  dom 
Adiuoel  de  Sousa  (3)  e  o  ouvidor  dom  Nuno  Stiplitz  (4)  de  ori- 

1    o  teomite-genenil     Carloi  Antooin  KíiqIoti    foi    etti    ;«nfi.  com    Joiá    BoniriicÍD  s 

:;  O  Umf(}tt<^i  â«  Alein'^te»  Ldjb  TêIIch  da  tfllfn.  adínlnívtroa  a  CKpItantn  do  ^.  fiiiita 
íe  1  <le  Dovejqbríi  flfi  iwii  Ht(?  a^r  nomeado  ^"^"'-'''Mn.dor  do  Hio  GrAnaâ  do  bui,  tm  íd 
4v  ftgwto  4fl  lêtZ.  Mndô  snTiátltaldo  ha  govorno  de  S  Panid  por  inn  tHTimç-trito  com- 
IMto  do  Nfipo  d,  tiiith«Q4,  do  ouvidor  d.  Nhúõ  u  i^  Intendtutâ  de  mAnu^n  Ui^aet  <lo«o 
d»  OtUeSr»  PJnto, 

3  ti»  -H  de  maio  d*  1707  a  .'  lie  thhío  do  fNÍ-l.  dnta  do  ícq  fa!l'eciinei!t(i+  frjl  bfspo 
de  n,  PftQto  d.  M^thQiis  d?  Abreu  Pereira.  Acrúdiumos  qtiâa  A  is  refere  ao  út  Ui* 
noel  Jongoird  tíoRçnkeí  do  Andrii'ie.  imcce^ior  de  d  ^Atheu^  lindo  *Ido  *rpito  bispo  em 
li^^^í,  porque,  emborn  t^iLfl  pJlo  is  cb%ni&»e  ffon^n  e  por  «cci^ífto  dat  TJa^om  de  Bcyer 
B&o  rot«e  ntud^  bUpOi  «r]&  «l]ã  eiiUu  vii^^^irto  gefAl  d<r  bíipMdâ  e,  portaniã,  a  RfíguadA 
«Qtorldiíde  dtocenAna,  o  qan  bem  pndia  Jti{^t{v»r  o  equivoco,  eia  que  cniila  o  A,*  nlo 
Usdfl  »tD  iqiéTéi»e  maior  em,  eTÍulo. 

4  n.  Nnro  EiJ?en[«  de  Loclo  e  adlbis  foi  ouvidor  úe  S.  PauIo  de  \h\^  ■  :!i  dQ  te. 
ttvlbro  de  187 1,  qnindo  o  Oortroo  ProTtiwrio  reiolvaa    paspacdel-o  e  que    «so  lhe  dot- 


—  230  — 

gem  sueca  pela  linha  materna,  as  mais  altas  autoridades  do 
paiz.  Com  o  capitão  de  um  pequeno  navio  contratei  a  viagem 
para  Santos  por  um  dublão  ou  16  piastras  espanholas  tt^ndo  o 
cuidado  de  prover-me  dos  mantimentos  necessários,  armas  e  ar- 
reios e,  no  dia  1  de  março,  de  manhã,  embarquei  para  sahirmos 
immediatamente,  aproveitando  o  t  rral,  o  vento  da  terra.  Além 
do  conde  von  Pahien  e  de  mim,  haviam  maiít  passageiros  entre 
os  quaes  um  official  que,  por  distincção  na  guerra  em  Portugal, 
tinha  sido  promovido  para  as  tropas  no  Rio  Grande  do  Sul  para 
onde  elle  tinha  de  fazer  a  viagem  por  terra  durante  mais  de 
quatro  meses,  depois  da  chegada  em  Santos.  A  nossa  provisão 
viva  de  gallinhas  e  perus  tinha  sido  consideravelmente  augmen- 
tada  por  nossos  amigos  que,  sem  o  no^so  conhecimento,  os  man- 
daram a  bordo,  de  modo  que  não  somente  havia  abundância, 
mas  ílcava  ainda  bastante  para  obsequiar  os  outros  passageiros 
que  tinham  contratado  a  sua  comedoria  com  o  capitão. 

Em  vez  de  um  passaporte  coramum,  tinha  eu  o  que  se  chama 
uma  portaria,  assignada  \  elo  ministro  dos  negócios  estrangeiros, 
o  Conde  das  Galveas  ordenando  em  nome  do  Pfincipe  Regente 
a  todas  as  fortalezas  e  registros— logar  de  revisão  da  bagagem 
etc, — e  a  todas  as  autoridades  que  me  deixassem  passar  livre 
e  sem  embaraços.  Apegar  de  conhecer  o  valor  debte  docu- 
mento no  Brasil  não  podia  imaginar  que  também  me  desse  di- 
reito á  hospedagem,  tratamento  e  transportei  gratuitos,  e  que 
não  são  retribuidos  pela  coroa.  Em  ca>08  difficeis  tem-se  até  o 
direito  de  HSHÍgnHi  P.  R.  (Principe  Regente),  e  niguem  pode  então 
recusar  a  hospedagem.  Mas  apesar  do  nem  eu  nem  o  conde  von 
Pahien  julgarmos  próprio  de  nós  aproveitar  dn  todas  esta»  liber- 
dades, é  necessário  confessar  que  na  maior  parte  dos  logare»  no  in- 
terior de  S.  Paulo  a  hospitalidade  é  tão  grande  que  não  nos  dei- 
xaram pagar  cousa  alguma,  )>arecendo  até  que  consideram  isso 
um  tributo  devido  ao  estrangeiro  que  constantemente  recebe  as 
mais  significativas  provas  de  bondade  e  de  b  -nevolencia. 

Depois  de  já  dado  o  signal  para  a  partida,  chegou  a 
bordo  um  official  da  forcaleza  Villagalham  para  revistar  os  do- 
cumentos do  navio  e  dos  passageiros  e  notou  que  os  primeiros 
não  estavam  conforme  manda  a  lei.  Por  ter  havido  nisso  um 
desfalque  nas  rendas  da  coroa,  fez  elle  prender  o  capitão  e  le- 
vou o  para  ser  interrogado  na  policia.  Este  acontecimento  im- 
S revisto,  que  retardaria  a  sabida  por  muitos  dias  si  o  caso  tivesse 
e  ser  tratado  como  é  de  praxe,  passou,  porém,  sem  consequên- 
cias, porque  o  mesmo  official  que  o  provocara,  teve  a  gentilesa 
de  dirigir -se,  em  nome  do  conde  von  Pahien  e  meu,  ao  gover- 
nador geral  do  Rio  de  Janeiro,  Marquez   de    Vagos  que,  consi» 


leni  oito  diM  para  despejar  a  Provinda*.  36.  tinha  sido. antes  de  nomeado  para  ■.Paulo, 
ouvidor  de  Peroambnoo  e  foi  o  primeiro  presidente  da  provinoia  de  Alafoaa  (IH24>  ■•• 
nador  do  império  pela  meema  provind*,  nomeado  em  :  O  de  abril  ie  1H2S.  Fallaoea  aot 
16  de  Janeiro  de  IS48.  N.  dA  B. 


—  2S1  — 

éonndo  a  noasa  «ituaçào  a  bordo,  ordenou  a  floltura  do  capitão, 
d«  iDAdo  qme  dealro  de  duaa  boras  pademoa  estar  em  «^miaho. 
Kio  ha  muita  commodidade  a  bnrdo  destes  Da  vi  os,  mas  sfto  os 
umeo»  qun  exi&tein,  nfto  querendo  ir  em  canoas  que  nave^ana  ao 
Inngo  dn  costa  aportando  cada  noite.  Ib«o,  porém,  é  atriftc^ido 
por  cawâa  dos  roubos  pelos  caboclos  ou  pelo  perigro  de  eotontrar 
tempe-tftdes.  Sem  leito  e  sem  cabina,  dr»rme-SF^  no  tombadilho 
ou  no  fundo  da  canoa  e  uma  «st p ira  coostitue  toda  a  cama.  Não 
te  dere,  porém,  exibir  commod idades  quando  se  viaja  tia  co^ta 
brasileira,  porque  ha  compens^açâo  noa  muitos  lo^arns  mn^oiHcos 
e  belle3&a«  naturaes  que  sómi^nt^  do  lado  do  mar  íe  apresentam 
em  toda  a  sua  pleniiude.  Ã  comida  neiten  barcng  correMpondem 
á«  commodidades  e  é  impos8tve!  para  um  etiroj^u,  apfsar  de 
liaver  diariamente  c&me  e  toucinho  mas  que  perdem  o  seu  valor 
pelo  mudo  do  preparo.  Ã  carne  do  Rio  Grande  é  cortadu  rente 
aoi  OSS04  em  tiras  finns  e  longas  que,  depois  de  ^eccas,  >ko  en- 
roladas. Para  preparar  esta  carne  ^>de-se-n'a  de  molho  para 
depois  astal-a  num  espeto.  O  toucinho^  sem  carne,  é  de  g^o-^tu  e 
ebeiro  desagrada vt^ls  e  pnra  tiào  deteriorar,  é  fortemente  t^alg-ado 
e  pendurado  ao  lado  do  navio  [)Rra  seecar.  Com  isso  rect^bem 
uma  espécie  de  feijão  preto  cozinhado  com  farinha  de  tnandíoca 
&té  formar  u'a  nuisfiá  compacta  que,  depoin  de  dividida  em 
grandes  btjlas,  é  comida  com  a^  màoe,  Ã  mandinca  é  O  pjio  dos 
brafiilf^iros,  tanto  no  mar  como  em  terra^  especialmente  em  torma 
de  farinha  que  vem  em  pequenos  cêsIos.  Esta  farinha  tem  um 
^»to  t&o  Aj^rrãdavel  que  pelo  costume  se  toma  até  prefÊrivel  ao 
pãn,  m^âmo  iMira  Os  estranhe rroB,  Neate  dia  {A>samoá  Santa 
GmZf  a  grande  p^opriedad^^  do  Príncipe  Ke;L:ente,  gitunda  na 
Ilha  (frande.  Ãhi  S.  Alteza  Real  vem  passar  nns  meses  no 
sono  r^m  companhia  de  sua  familia  e  de  seas  miniatros.  A  pro- 
prc  dade  lera  100  le^uaa  quadradas  em  área  e  é,  portanto,  do 
tamanho  de  um  pequeno  ducado.  Destinam  f^sta  fazead'i  para 
ttm  campo  de  experiências  ag^ricolat  e  foi  muitHs  vexes  dirigida 
por  agricultores  in galeses.  Como  todos  os  melhores  logares  no 
Brasil  foi  esta  propriedade  ortí:anÍ!iada  pelos  jesuítas  que  eram 
ot  »eus  donos  o  que,  para  julgar  pelas  *rudera»>  df  certo 
nào  divisaram  de  tirar  Incro  das  vantagens  que  a  natureza  lhes 
âhí  ofterecia  O  palácio,  que  ánteii  era  uni  convento,  é  edi- 
fieid«j  em  quadro  coro  um  pí*t6o  aberto  e  galerias  interiores  UO 
primeiro  o  pegundo  andar.  Os  36  quartos,  deiitinadofl  aoi 
matigeAf  sfto  pequenos  mas  transformados  ©  decorado»  para  a  fa* 
mtlia  real.  Em  frente  do  fialacio,  ao  sul,  S^b.  um  beJlo  parque 
da  duas  léguas  suecas  quadradas,  cortado  por  doh  ribeirões  ua- 
vegaveis  por  pequenos  navius,  e  cujas  margens  são  ornadas  por 
arvores  indigenas  de  rara  belleza.  Todo  o  campo  é  um  prado 
grande  e  verdejante  onde  pastam  uns  7  a  8000  bovinos  e  me- 
rece o  pincel  de  um  mestre  para  sfir  reproduzido.  Os  trabalhos 
&&0  escecutados  por  2000  escravos  que  sAo  todos  instruídos  na 
dontrina    cliriâti,  possuindo    cada  um  um  pedacinho  de    terra    a 


—  282  — 

doia  dias  livrfs  pot  íetnan^  para  trnkilbarem  para  si»  sem  contar 
os  din*  santificiídos. 

O  tempo  fstava  mag^tiifico  mas  o  tento  noa  foi  cantrario 
até  o  dia  0|  quando  pa^safnoã  entra  a  terra  firme  e  a  ilha  de 
B>  SebíistiUo,  qnt  é  umíi  dai!  rcaiá  férteis  e  nnde  está  aitiiada  a 
cidade  Yilla  Nova  da  Princesa.  A  íllm  dr.s  Porcos  vem  em 
Bef^undo  logar  e  poB&ue  um  porto  reg-ular  em  qiio  os  navir»s  pro- 
curam abrirão  contra  as  tempRstades  ou  quíiudo  o  vento  é  con- 
trario. E'  ©scai&amente  povoada  ii  nào  tem  mnis  qup  60  habi- 
tantes, dns  quaf^s  32  perrencf^m  n  urna  bó  familiar  a  do  sargento 
Manoel  José  de  Mora,  qui*  em  duas  nujicias  tov^e  30  fillingj  todos 
ainda  VIVOS.  A  ilba  é  nca  em  poixo  e  a  Rua  posiçào  c  muito 
favorável  para  contrabando,  rasí^o  j^orque  ha  aqui  um  destaca- 
mento de  soldíidos  píira  vi^inr  o-*  nRvios  e  botes  quM  entram. 
Pertence  a  ilha  â  cidade  do  Obatuba  (1),  a  duas  lej^-uas  d'nli  na 
terra  firme;  cultivam  a  canna  do  íis^ucar,  a  mandioca  ©  fabricam 
agua-ardentG.  Demorai  ali  alg^uns  dtaa  na  casa  de  um  velho 
chamado  Vasco,  («riundo  do  Perto  e  que  habitava  na  ilhA 
ha  40  annofi.  Fui  convidado  para  um  cafamento  que  já 
durava  um  Bemíina  com  dança»  e  íol^uedoa.  Cada  tarde  dança- 
vam landum  e  danças  brasil eim&,  ao  som  da  citbflra  acompanha- 
da de  vo2es  fortea  e,  como  aqui  somente  ha  g'ente  abastada,  os 
homens  vinham  ás  danças  cm  botas  claras  d©  couro  de  cabrito 
e  grandes  esporas  do  pratíi,  cujo  tilintar,  junto  com  o  bater  com 
oa  saltos  no  soiilho,  acomt>anhava  a  raudca.  Entalavam  tarabam 
com  os  dedos  para  imitar  CRStaubolíia.  Fazendo  a  conta  do  que 
se  matava  aqui  dianamettle  em  b<'i,  vitcllo  e  porco  e  toda  a 
fiortti  d©  avps,  junte  cí^m  a  qnantiíínde  de  fructas,  caftí,  cachaça, 
assucar  o  arroz,  acreditar-gp-ia  fai^il mente  que  estavam  esperando 
a  hoíi]vedflfíem  de  ttm  batalhilo  inteiro.  Para  honrar  a  íesta  au- 
xiliei o  trahiilho  pata  a  (^r.ind(>  canoa  quo  era  destinada  a 
transportar  uma  deputação  da  ilha  dos  Porcos  para  o  Rio  de 
Janeiro,  alini  de  pedir  ao  Prineipe  Heg^nte  a  concepsilo  da  par- 
tilha dos  terrenoíi  da  ilha  entre  os  habitantes. 

Ao  louLTo  da  costa  de  S.  Sebaatifío  eoxergam-se  lindas  casaã 
e  todos  os  nio^^ros  mostravam  plí»nt:içrjes  de  mandioca  e  decanna 
de  assuc:ar  que  a^ora  estavam  colhendo  pata  levar  á os  en^^rt^nhos. 
Nas  praias  ha  casas  de  armni^*Ao  para  a  pesca  das  baleias  que 
d'aqui  atu  Santos  é  negocio  bastante  lucrativo  para  os  habitan-' 
te'í  e  para  a  cidade  A  coroa  arrt^nda  6ita  pesca  a  particulares, 
por  annos  determinados,  tal  como  em  Santa  Catharina.  Apanha- 
ram um  dia  um  peixe-hoi,  Tricbechus  manatus  L.,  que  os  Ín- 
dios cbamam  «Ignuragua»»  do  tflmauhn  ri©  um  boi  e  com  a 
mesma  boca  e    denteai,  de  modo  que  deve,  como  este,  alimentar- 


dt    IbAtahn,    Povonv.lo  fuodAda  petoj  :ínaúi  da  iCJO  por  Jordftú    HomAm  âh  CoiU 
SAtnr&l  dâ  II  ti  a  Tertâira. 

K.    DA   R. 


-  283  — 

se  d«  cApim,  A  cabeçn  (5  arredrtndada  e  pnreco  ade  umamullier. 
O  couro  é  duro  como  o  do  elephaiUe  e  o  animal  tinha  dois 
W&Ç09  com  09  quses  ijAiífiva  e  por  bíiiio  haviam  diLSã  tetas  para 
aliiDeQt&r  oa  alhos,  o  que  provH  ter  sido  uma  fêmea.  O  gosto 
da  carne  n&o  era  deaa;:rradavel  e  a  hanha,  {especialmente  ao 
redor  dã  cauda»  tinha  ^ostn  de  manteiga.  Os  se^ia  ossos  eào 
Vrancf'8  como  o  mniffim  e  tí*m  a  mesma  njtplicaçilo. 

Na  outra  marinem  do  canal,  na  terra  íirme  o  nn  melo  de  um 
BoQito  bosque,  divJBa-se  um  *^rande  convento  frnuci&cano,  rodeado 
de  coqueiroB,  laranjeiraB  e  bananeiras,  o  qual,  atém  de  outras 
Tantugenft  naturaes,  parece  fstar  edificado  a  propósito  para  {i^a- 
raatir  aoà  frades  excpl lente  pescaria.  Calmaria  e  coutinuo  vento 
contrario  facultava^nos  bastante  laz^r  para  visitar  toda*  as 
curiosidadeâ  de  S.  Sebastião  e  suas  vizittb ancas*»  de  modo  que 
»0(nente  no  dia  13  ancoramos  na  bahia  de  Santos.  Já  ao  raiar 
do  dia  ouvSu-se  o  c&nboneio  da  fortaleza»  rept^tido  no  muio  dia 
«m  tonra  do  anniversario  do  Príncipe  Regente,  quando  passamos 
iM)  estreito  canal,  oroado  em  ambaí  as  marp;ens  de  canipí'&  cul- 
tivadcâ  e  altas  montanhas,  Lon^e  da  cidade  vê-se  a  casa  da 
(liíiirentena  num  excellriite  logar,  quasi  todo  rodeado  de  agua  e 
tado  reunese  piara  agradavelmente  impressionar  o  estrangeiro 
reeemvíndo . 

Lo|íO  chegou  um    escaler,  isto  é,  um  bote    coberto  e  a    dez 

íBmsSg  cujo  commsndante  linha   ordens  do  governador  da  Silva^ 

I  quem  a  minha  cheirada  estava  annunciada,  para  vir  buscar-mc. 

Nesta  viaíta  o  commandante  diaa©-me  que  o  sr.  Marque/  de  Ale- 

gfrettí  Ibe  ordenara  que  me    hospedasse  no     palácio  do    governo, 

1  um  autiíTO  convento  de  jesuitas,    espaçoso  e  bem    situado,  e    me 

proporcÍ49unsse  todas  as  commodidades  necessárias  pelo  tempo  que 

pretendia    demora r-me  em  Santos.     O  conde  de  Pahlen,  de  cnja 

chegada  o  cavalheira  da  Silva   nada    sabia,  ccmpartilhava  com- 

migo  estas  tinexas  e,  depois  de  termos  entregues  as  nossas  cartas 

\  de  introducção  a  vários  fnuccionarioâ  da  coroa,  recehemoã  as  mais 

i  haonjeiras  provas  de  eatima  e  de  benevoleucia  e  é  com  a  maior 

fjraiidào  que  no*  lembramos  do     cavalheiro    d^Oliveira  Pinto  (1) 

'  mtendente  da  marinha  e  commandante  da  fiotilha,  cuja  gt-iitHeza 

I  par»  com  ta  esirangeiroa  em  geral  ó  tào  grande  i|uauto  o  sao  os 

I  seus  méritos  militares,     Sautos  é  iima  cidade  ppquena  cfim  40OO 

tftbitántes,    tem    forte  commercio  com  a    America    Espanhola  e 

exporta  para  a  Europa    pelo  Rio  de  Janeiro   grande  quantidade 

de  assucar  e  arroz  que  è  considerado  o  melhor  do  Brasil.      A  sua 

população  augmenta    annualmente,  como  em    todos  os    empórios 

commerciaes,  ao  passo  que  o  numero  dos  frades  dimtnue  em  cou- 


(!|  Mi£t]çl  ,jQsê  de  Q]Í7elrk  Pinto  tez  pnTts  do  tniinivLríi>to,  qtie  tahitltuta  tja  f^o- 
vento  dii  CMpÉl^Qin  em  ISID  ú  Hirqaez  de  Ale^reiã.  e  do  governo  provisório  constituído 
«li  eoisciliitiiicfa  do  rtiovlmcato  caçulas  da  'ló  de  Junho  du  tfdl,  Fâ.ll«cflii  do  Hlct  agi 
II  dB  jAneirú  d«  L^il* 

N,   DA  B. 


—  284  - 

sequencia  àé  maior  iustrac^ja*)  6  goveraança  aabia .  Variou  con- 
Tentos  nAo  continhini  mais  de  ^  ou  3  e  o  maior  só  abrigava  um 
frade  entre  os  seus  mtiros. 

Durante  os  dísa  14  e  15  TisitanloA  a  cidade  e  «a  auas  curío* 
■idades  ©  fizemos  uma  eicursàn  nos  arre  d  ore*  para  coUeccionar 
caramujos.  No  dia  16  embarquei  uo  mesmo  escaler  ás  8  botas 
da  maiibâ,  passando  por  um  canal  natural  de  trea  kgua^  de 
com  primei]  to  e  considerado  um  dos  maii  beiloa  no  BraBil,  oroado 
como  está  em  ambos  os  lados  p^r  palmeiras,  co<|uçiros  e  man- 
gueiraSf  ©m  cujas  copas  oníergam  se  e  ouvem  se  as  mai»  bellas 
aves  da  America.  Nas  mAr^«'ns  e  quieta»  sobre  a  areíâ,  det- 
can cavam  uma  porçÃo  de  aves  squaticas  e  tártara ^«i  e  por  tnd& 
a  parte  pulavam  peixes,  tudo  Hyre  da^  armad  e  das  red^s  doi 
homt-n^.  Neste  canal  tranquillo  quasi  se  não  cbeg-a  a  admirar 
uma  liella  vista  qnando  já  se  divisa  uma  outra  ainda  mais  bella, 
e  tildas  ellas  bem  mereciam  ser  reproduzidas.  O  desembarque 
é  ao  pé  de  uma  montanha  enorme  chamada  Serra  do  Cubatào 
que  parece  ter  sido  collítcada  pela  natureza  como  limite  extre- 
mo para  o  viajor  curioso  mas,  depois  de  ter  pago  um  imposto 
aduaneiro  inFi^nifícante  pelas  jLe^soas,  ãnimae^  e  bdg'ageDS,  re- 
cebido pela  alfanie^a  de  Cubatào,  arrendada  aumac^sa  ínglesA 
TAhj  Copipettdiíl  &  Uomp.,  sibe-se  em  mulas  esta  parte  da  cor- 
dilheira. O  caminho  em  zipue- zague.de  ângulos  curtos,  é  pro- 
tegido pnr  um  parapeito,  ladrilhado  e  cr^ntinúa  até  a  altitude 
de  7000  pés  levandíj  a  subida  cerca  de  duas  horas.  De  cima 
offerece-se  a  mais  de^tumbrante  vista  que  talvez  haja  no  mundo. 
à  montanha  toda  coberta  de  mata»  musgo  e  pluntas  pequenas, 
é  tormada  de  granito  e  um  grei  ferruginoso  %  dos  altos  preci- 
pitam-se  massas  de  agua  tormando  lindas  cascata»  pasaaado  por 
caminhos  que  a  arte  íbes  cavou  no  próprio  granito  e  em  muitos 
logareá  cruzam  a  ei^trada  antes  de  cahirem  no  abysmo  Ã  maCA 
cobre  a  maior  part^  da  aerra  e  de jenvolveu-se  de  tal  modo  por 
cima  do  caminho  que  nfto  somente  o  protege  contra  os  raios 
solares  como  até  contra  as  cbuvas  que  raras  vezes  faltam^  Como 
o  dia  era  claro  pudemos  melhor  apreciar  esta  obra  gigantegca. 
Quatro  a  cinco  caminhos  em  zigue-zague  pareciam  em  muitot 
locares  correr  acima  de  notisas cabeças  e  davam  uo voa  ensejas  de 
admiração  por  uma  obra  para  cuja  conclusão  foi  necesaarjo  vencer 
tantos  obstáculos  naturaee  e  applicnr  mílh5es  de  cruzados  qu6 
foram  gastos  para  derrubar  a  mata,  construir  tftõ  longo  cami- 
nho através  da  própria  rocha  e  finalmente,  caíçal-o  com  kgei» 
Tudo  contribuo  para  dar  uma  alta  ideia  da  energia  do  brasi- 
leiro e  Bua  inclinação  para  grandes  empreia»*  Poucos  tra- 
balhas dçst-*  natureza  na  Europa  podem  se  considerar  supe- 
riores a  eate  e,  quando  se  leva  em  c^nta  a  populaçào  tAo  eàca<«sa 
nas  pri»ximidades  e  mesmo  aqui,  ae  comprehendem  as  puormea 
despesas  que  acarretou  e  que  talvez  em  uenuhum  outro  pjiiz  ae 
tenha  luctado  com  tantas  difificuldadea  como  eataa^  Já  mencionei 


I 


—  285 


que  lo4oB  oi  kanRportei  f&o  feitoB  por  trojiAe  n  àmo  aqui  de- 
screver umA  E^ena  qae  pre^eDciei  no  Cubatâo,  Deíronte  da  caia 
do  guarda,  num  grande  ef^paço  plano,  cujos  lad^j»  »ào  occiípadoâ 
por  armazéns  e  outrâs  csiaa,  trourerâm  uma  centena  de  mulaa 
para  aerem  arreadas  e  carregadas  cont  aa  mercadnriaa  que  em 
canoas  chegaram  de  Santos.  O  socego  e  a  comprehent&o  deitei 
animnes  durante  o  arreainento  são  comparáveis  naícAniente  á 
pi^ricia  dft*  carregadoiéâ,  eíi  peei  ai  mente  pratos»  de  repartir  a 
car^a  egoalmente  noa  doía  lados.  A  carg-a  é  âxada  sobre  uma 
cangalha  feita  de  palha  e  coberta  dp  couro  crú  com  dois  cabeço» 
para  cima  e  nos  quaes  te  âxam  as  cargas,  sendo  o  maia  diffícil 
a  evitar  que  a  cangalha  pise  o  animal  pelo  attricto.  As  mulaa 
são  amarradas  umaa  áa  outras  pf^las  caudas  e  como  ellas  aasim 
canil  nham  em  linha,  sào  ne  cessa  rios  apenas  poucos  tropeiros^  a 
cuja   voz  ellai  seguem  e  obedecem. 

Serra  acima  o  terreno  é  plnno  e  muitos  logares  parece m-ee 
601D  paisagens  de  Skane  e  Uppland,  bavendo  aqui  estrada  f»ara 
vebicul'js  dó  rodas «  Tudo  é  di^errnte  do  que  já  tínhamos 
TÍ«to.  Com  um  céu  completamente  puro,  reapira-se  um  ar  sau- 
dável e  os  próprio»  habitantes  nfto  «e  parecem  com  oa  íieus  pa- 
tricios  das  capitanias  vizinhas.  Julga-se  yèr  uma  outra  raça 
maia  parecida  com  Oã  ãuíssoã,  O9  camponeses  afto  cortejes  e 
Hospitaleiros  e  em  casa  de  cada  um  deli  es  pode>se  obter  um 
grog,  ovos  e  bom  caldo  de  gallínha  com  gemman  de  ovo  e  fari'> 
nba  de  mandiora.  A  núte  pas^amoa  no  Maríauuo,  uma  casa 
insulada  numa  grande  mata  e  onde  mudamos  de  anima  es.  Fomos 
ahi  obsequiados  com  uma  boa  ceia  e  camat*,  o  que,  de[H»ifi  dn  Mm  dia 
inteiro  de  viagem  a  cwvalio.  nts  era  eitremam»*nt.e  wgríidavel, 
tantopara  o  estornado  como  para  o  corpo  todo.  No  dia  seguinte, 
de  manhã  cedo,  chegou  un^  iflicini  da  guarnição  da  ddade  de 
8âo  PaulOf  por  parle  do  governador  qu '  tinba  sido  prevenido  da 
nosaa  chegada,  para  noa  dar  as  boas  vindas  a  esta  capitania  e 
communícar  que  elle  teria  muita  aatiafaçàrt  em  nos  receber  e  noa 
liar  hoaj>edagem  no  palácio  do  governo  (outro  grande  convento 
de  je&uitasl,  ai  a.  ex.  n&o  íoubesae  que  em  virtude  de  rf^com^ 
mendaç&o  dos  nossos  amigi>fl  do  Rio  de  Janeiro,  isso  já  estava 
arranjado  na  casa  do  cónego  Juan  Ferreira.  (1)  Já  tinbamos  o 
prazer  de  conhecer  a  família  deste  senhor,  maa  nada  sabíamos  de 
ina  Incomparável  gentileza  que  passava  tudo  quanto  era  licito 
esperar- se  meamo  no  paiz  mais  hospitaleiro. 


]  o  eoflufo  Joio  Fcmin  de  QUTaira  Bdaho  era  ttfttaml  de  Bantoi  «  111  li  o  da  Joia 
Ferre It&  4e  Otlrclrn  q  d.  MAríA  Bilano,  t«r-ú«'tA  de  An&dor  Rneno  do  Rtbelr*.  o  Aeúía- 
mado.  PúrebAdú  ciB  ctnone»  pela  UnlvergtdAde  de  ColmíJpfc,  foi  oomeAdo  «n&tro  da  Bé 
PuaiopoittAnA^  )i  U  de  Jnobo  de  171^'  «  Fiir^ceD  em  ^  d«  çnftio  ah  ]h.\*\  initUalodú  Uer- 
dátro  nnlTeml  o  leu  «obrínho  deieinbarjçftriDr  Jo&o  de  eoDua  Pereir»  Bnaao.  VI eito  peio 
poTO  e  trtfp*,  fea  pMtc  do  iro^-erno  pruvlsorlo  49  H  P atilo  «m  Iít2|-Í2,  e  sscravaD  « 
aamçtú  4e  dd*  t1jh(«ib.  1^^  çlT^etnõa,  ao  Paraoi^  em  imO.  daitrçJUi  qae  WMbA  ulun- 
l^iáa  m»  tomo  t  Aa  M^v^ía  do  Itulííuto  Sútoneo  t    ÕiograptUco    Sra»tl*iro. 


—  286  — 

O  Tnpsmo  ofiãcial  TiOS  commiitiícou  quo  o  fnr.  ç(vvertiJid<^r 
tinha  darlg  ordem  para  Bos  fbrnetrer  csvíillos  píirn  toiUitiuarmot  a 
viagem-  Durauto  alguns  dias  passaTuos  por  bonitas  plwtitâ^ões  de 
canil»  de  afsucar  e  de  mandiocíi,  mas  muitos  eampoa  liavifl  Sf^m 
cultura  por  fiilta  de  habitnntes.  Atravessamos  também  alg*uns  rios 
pequenos  em  cujas  proximidadea  se  viam  cnloniaa  novas  situadas 
na  sombra  de  íaranjeiras  e  baiioneiraB.  Oâ  cavallos,  que  nos 
foi*am  mandados»  chegaram  no  dia  VJ  com  duas  ordenanças  de 
cavallarja  o  puHemoe  eníào  deixar  aa  nossas  luulaa  e  apressar  a 
viagem,  de  modo  que  ás  4  lioras  da  tarde  chegamoa  a  S.  Paulo 
onde  npeamoí*  na  cn&a  do  reíerido  sr.  cónego  Juan  Ferreii» 
que  nos  recebeu  amavelmente,  já  tendo  convidado  nlg-umaií  pessoas 
para  jantarem  era  nossa  companhia.  Entre  ellas  esíavam  o  corO' 
nel  Andrada,  (1)  grande  naturalista,  cujo  irmão  (2)  e  um  flnr, 
da  Camará  (3J  ha  alguns  annoa  vit^itaram  a  Europa  inclusivo  a 
Suécia,  De  noite  fomos  visitar  o  governador  geral,  Marquez  de 
Alegrete,  que  nos  recebeu  rodeado  da  força  e  do  brilho  próprios 
destes  altos  dignitários,  poróni  isso  n?io  nos  iraprcsBiouou  tatito 
quanto  o  modo  amável  e  cortez  coui  que  elle  sf^mpre  recebe 
todo*  oi  estrangeirf^s,  assim  como  as  muitas  instituições  novas 
que  ellc  tem  orgaDÍ'i!ado  na  ca]útauia  e  que  lhe  têm  merecido 
o  amor  o  a  estima  de  todos, 

E'  aqui  costumo  o  viajante  receber  primeiro  as  visitas,  o 
que  no  uo^eo  cuso  se  estendeu  a  toda  a  as  classes  e  corporações 
e,  sóiiieatH  depois  de  ter  pag-o  as  visitas  todaj,  foi  que  pude 
occnpar-me  em  passeios  jtela  cidade  e  examinar  as  suat  curiosi- 
dades. S.  Pfluln  está  situado  num  bonito  morro  de  cerca  de  uma 
légua  de  perímetro,  rodeado  de  campos  e  pradoF,  regados  e  cor- 
tados por  pequenos  rios  nue  durante  n  tempo  das  chuvas  o  torna 
qunsi  uma  Uha,  unÍndo-se  todos  ao  rio  Tietê  que  a  uma  légua  da 
cidade  corre  na  direcçào  sudoeste.  A  cidade  foi  printipiada  pelos 
jeauitas  e  tem  o  seu  nrime  do  primitivo  templo  cujo  padroeiro 
foi  o  Apostolo  Paulo.  Esse  templo    foi    in;iugtirado  em  8  dô  fô- 


1  o  corQDí?!  Murtlni  Francisca  Kllielro  de  Àndr^K  nRiceii  ém  SiDtQf  em  Hi^,  bft- 
cBftreton-fit]  em  mAiliemiilIcnií  na  UtiivvrvldadB  de  Coimbrn,  foi  um  do«  griudcifl  vnltoa  dii 
JDdepQndcnf-ia  Nacicintlt  membro  iÍq  t^overDO  iiravlsor^o  il«  i<.  pHuro  cirt  ;i<'í!j-.:'?,  depQtiuIoâ 
AtstMBblé*  CondtltDinte  úo  \f'2i  peto  Kto  du  JAnelro,  à  Auemblé^  Geral  U^^»]i.utm  em 
duna  leglvlatur^i».  2>  e  4«>,  tnlniíitFo  da  f&£end&  em  \^'^'i  n  *^S  e  cm  IHO.  Fci  em  IH^ã 
t»e1a  CApItUinU  do  B.  PitoN  umA  vin^cni  mineralógica,  cajo  />iarici  foi  |>CLhUcado  no  vai. 
IX  dA  íftiifía  áa  Ihíí,  JÍííí.  líra*il„  que  tambeiti  piiMlt^u  em  pen  tc^mo  iti  «etii  Jitrmatã 
éat  liafjtHf  ptla  cúpíania.   MnrtJm  FraDcUtO    fultecQU  em  :i  de  fevereiro  de  !Si4, 

2  O  IrmA^  do  coronel  Aodrjid.i,  qae  vliltua  o  velbo  mu  ido  foi  José  fionlfirla  de  AadrAdft 
e  Eilvm  que  o  correa  como  natamliflii,  e  mlneralo^iita  iarínlt  dcx  ann<ij  4d«»àe  os  ve- 
rdes campou  da  Lombardia  nté  n  (^i>}Jada  ^HpcIa  9  Narue^a,  tudo  observando  e  notando 
com  a  penplcHCJn  e  peDetriK&o  do  ua^io* .  Nasceu  elle  em  Saatoi  aot  U  d«  Junho  d^ 
I7&'á  e  ralleoeu  em  S  de  abril  de  If-S^^^  7ol  clid  pktrlota  e  um  f «iblo  o  hera  mereceu i>  U to Iq 
de  Pftlríiircha  úa  Independência  do  Bnu^l  com  qtio  q  Po!fterid;Kle  o  ^atardoou, 

3  O  A.  K4  rer^rs  ao  dr.  Manuel  KerroirA  da  Cninmm  BlttpucoDTt  e  Sá  ano  fel 
eompaobciro  de  Jõr^  BontÍAcio  cm  fiti:i  cxcbtsM  frcienHUra  pila  KuTopa.  u  dr.  C&mar» 
naiccu  no  correr  do  anno  de  HO-  no  arraial  de  UacambirussúnCapitania  de  illnaa  Gera«i 
em  JãS6  ttti  BDiseado  «enador  do  lJn|rerlo  e  íallcceu  em  j£t  de  dezembro  de  Ib3l^, 

N  daB. 


^ 


—  287  — 

Teieiro  de  1554,  por  occnsiào  do  huptíi-nio  do  pnticipe  iiidi^ena 
Tavariça  (Tibiriçá),  moço  dotndo  do  grnndes  virtiidt  s  e  excwllen- 
t**a  quííUdadeB  e  que  *2:0Terníiva  a  colnnia.  que  iiaquelle  tempo 
*«  chan.flva  na  ítn^^ua  dos  iiidirs  tPiíntininga»  o  que  quer  dizer 
p*ííe  «ecco^  por  causa  dos  muitos  peixinhos  que  fitavam  em  íçcco 
qiiMtdo,  dppois  daa  cLuvas,  o  fio  T«n^lRlldllàtt^bi,  qua  cerca  a 
cídjide.  diminuiu  »a  Buas  e^uaa  que  tiitliam  iunudado  ns  varzeat. 
Mais  tarde,  quando  os  portuírucsei  occupnrara  a  cidade,  S.  Paulo 
ííii  proclamado  capital,  em  1581,  em  vejs  de  S,  Vicente,  a  pri- 
niQira  cidade,  qut)  linha  sido  construída  por  Martiui  Ai^uua  >  de 
Scu&fl  em  1531. 

Em  todo  o  continente  americano  não  se  conbece  lograr  mais 
Baudavf'!,     A   media   do   thennometTO   está  entre  50  e  80    i^ráus 
Fah^obeit  (10-!Í7''),   nem  chuvas  extraordinárias,  nem  trovoadas 
e^cepcioDfte»  ae  produzem  e  as  noites  sào  de  modo  a  torníir  ne- 
t*wario  vettir  o  sobretudo.     E'  &ode  do  Governador  Geral,  dum 
Bispo  e  um  Ouvidnn     lia    varias    praças     publicaB    com    fontea 
•iaiína,  13    jnstituiçtiés    relij^ifíena,    das    quae»  S  ig:rejas,  3    con- 
dir tcs  de  frades  e  um  de  freiras,  a  m.'íior    parte,  como  na  cas^aa 
da  cidjide,  conatruidaa  de  Tai^ia  que  muilo    resiste  ao  tempti.  um 
hr4pítii!  eicelíente  e  boas  bíirríJcas  para  as  tropas.     A  ]inpuli;çâo 
dft  etdade  e  seus  suburhioti  é  calculada  em  mais  do  15000  petecas, 
incZuâive  o  cU-ro  e  os  militores.     Oh  primeiros  sflo  de  principiou 
liberaes    e  o  bispo,    een   chefe,    é  um    homem    de    mento»    íito- 
rflríos  qu©  fez  varias  viagens  á  EuTopa  e  multo  tem  contribuído 
para  a  tolerância  e  o  eBclareeirnento  que  se  notara  nesta  capitania. 
As  tropas  de  todaa  aa  armas   silo  em  numero  de  doi^íi  mil  horm^ns, 
divididos  em  legiões.     A  miíicia  é  nutnerofn  porque  cada  homem 
é  aiijeito  ao  Be. r viço  militar.     O  corj>o  medico   é  pequeno,    tanto 
í^m  numero  como  em  conhecimentos,  exceptuados  os  do  hospital 
ei  das  legiões»     Em  leeral  Rf^rvem    oa    ]>hnrinateutÍC!  s  do  medico 
e  dos  seus  armários  distribuem  Deus  tabe  o  que,  porque  póde-se 
comprar  delles  fffrradura^  com  a  mesma    facilidade  que  um  fer- 
reiro vende  vomitórios,  e   &ep;uc-íe  d'!iquique  ainda  não  e^í$>tem 
ftB  as^^ficiaçòes    dn    officíos.     Os  ca&os    dia    moléstia  a^ào    raros  em 
S.  Fflulo  e  nHo  ba  epidemiflii,  mas  na  vizinhança   das  mtnas    vi 
frequentemente  cabocloa  com  p^raiídes    inchaçijes    nas    glândulas 
do  peicoço,  o  que  antes  se  pode  attiibuir  no  costume  de  carrei^ar 
lado  na  cabeça,  do  que  íio  clima.     Este  costumo  é   tão    invete- 
rado que  muitas  vestes  encontram-se  |>eísoíia  quo  carregam  assim 
um  garrafa  vasia  ou   outro   objecto    pequenino.     Esta    inchação 
díffere  do  Stroma  doa  Alpes  por  per  molle  6  se  estender  ás  vezes 
de  uma  orelha  a  outra,     A  varíola  qu©    antes  fazia  grandes  es- 
tragos, como  em  outros  logíires    entre    os    trópicos,  ó  prevenida 
por  um  instituto  vaccínogeuico,  iiistallado  no  imlficio  do  go%*erno, 
debaixo  da  protecção  do  governador  geral.     A    vaccinnçào  é  ahi 
gratuita,  como  em  todos  os  outros  paizes  bem  governados  e  com 
o  mesmo  resultado  fetis. 


Apesar  de  não  haver  fabricas  nem  manuíactaras  de  impor- 
tância, além  das  metallurgicas,  ha  em  S.  Paulo  diversas  indai- 
trias,  entre  as  quaes  merece  menç&o  em  primeiro  logar  a  das 
rendas,  de  largura  e  fineza  excepcionaes  —  em  geral,  occupaç&o 
das  mulheres. — Fazem  também  cecidos  de  algod&o  de  varias 
cores  e  qualidades,  destacando-se  os  mosquiteiros  com  que  se 
cercam  as  camas  e  que  s&o  tào  finos  que  nenhum  mosquito  pôde 
atravessal-os.  Ha  também  as  redes  com  grandes  barras  feitas 
á  mã,o  e  nos  quaes  se  dorme  a  sesta  no  canto  de  algum  quarto. 
Servem  egualmente  de  cama  em  viagens,  sendo  armadas 
entre  duas  arvores  ou  dois  postes.  Obras  de  ouro  ou  de  prata 
de  toda  espécie,  principalmente  trabalhos  de  filigrana,  occupam 
muita  gente.  Nos  arrabaldes  moram  muitos  criolos  Índios  que 
fabricam  potes  de  barro  de  grande  consumo,  porque  é  uso  geral 
preparar  nelles  a  comida  e  carregar  agua.  Muitos  outros  objectos 
B&o  fabricados  de  barro  e  não  sem  gosto. 

Os  camponezes  nas  proximidades  da  cidade  têm  por  prin- 
cipal industria  a  criação  de  gal linhas  e  de  porcos  que  em  grandes 
quantidades  conduzem  para  a  cidade.  Fornecem  o  mercado  também 
de  uvas,  ananás,  pvcegos,  goiabas,  maçãs,  peras,  marmeltos  e 
a  fruta  do  pinheiro  da  terra  que  assam  e  comem  como  castanhas. 
Legumes  são  produzidos  com  abundância  durante  o  anno  todo, 
assim  como  inhame,  repolho,  couve- flor,  alcachofra,  espinafre, 
espargo,  alface,  e  muito  agrião.  Ha  batatas  europeas,  batata 
doce,  ervilhas,  melancias  e  toda  espécie  de  feijões  e  cebollas  e, 
além  difcso,  encontram- se  por  pouco  preço  gallinhas,  ganços, 
pombas,  marrecos  e  perus. 

Os  habitantes  da  capitania  de  S.  Paulo  distinguem-se  de 
todos  os  outros  americanos  por  sua  civilização  e  boa  apparencia. 
Fogosos,  bravos  e  sinceros,  tornavam-se  rempre  temidos  nas 
antigas  guerras  com  os  espanhoes  e  os  índios,  sendo  militares 
por  natareza.  Occupam  um  território  maior  do  que  a  França 
apesar  de  não  serem  mais  do  que  uns  250000.  Os  homens, 
ainda  que  tenham  empregos  civis,  são  todos  militares,  perten- 
cendo aos  regimentos  de  milicia  com  obrigação  de  servir  no 
caso  de  invasão  inimiga  e  é  esta  a  razão  porque  se  encontram 
todos  trajando  os  mais  ricos  uniformes  que,  como  é  natural,  tanto 
realça  esta  sociedade.  Os  postos  de  coronel  pertencem  em  ^ral 
aos  commerciantes  de  primeira  classe.  Os  militares  são  divididos 
em  três  categorias:  a  primeira,  ou,  a  cnntractada,  é  paga  pelo 
Estado  e  marcha  para  onde  fôr  mandada,  até  fora  dos  limites 
do  paiz  como  acontece  agora,  para  Paraguai ;  a  segunda,  ou  a 
milicia,  fica  sempre  no  paiz  e  recebe  da  coroa  as  armas,  o  uni- 
forme e  a  montaria;  em  certas  épocas  do  anno  faz  exercícios. 
A  terceira,  ou  as  ordenanças,  compõe-se  de  soldados  velhos  da 
primeira  ou  segunda  categoria  e  serve  para  policiamento  no 
paiz,  nas  aduanas,  barreiras,  registos  e  obras  publicas  para  fis- 
calizar e  tratar  com  os  escravos.     Não  ha  grande  mistura  destas 


—  289  — 

eate glorias  e  em  cada  corpo  encontra-^e  a  miaf^ma  cõr  entre  09 
barnei]?;  oa  ne^TOi  pertencem  aos  cowtractadna  e  trajam  uni- 
form*^  branco  Mas,  apesar  do  ei  piri  to  guerreiro  t^ue  reiua  ticfita 
riipitan^a,  ha  também  (.lessnas  que  amam  o  comraercio  e  outra» 
que  se  dbtingiiem  por  conhecimentí-B  scientificoB, 

As  mulheres  sâo  em  gera!  bonitsi,    bfm    feitas  e  extrema- 
mente enctntadíirfts  no  seu  modo  de   ser.     Nutica  vi  olhos  mais 
eipreisÍTOB,  dentes    mais    boniloa  e  pés    maí«    mimosos  do    que 
nella» — poder-se-ia  crer  eatar  em  Stockholmo,     Canto  e    musica 
i&o  talentos  commun»  que  elk^    revelam  com  a  mesma    graça  e 
Wilidade.     O  primeiru  consiste  principalmente    nas  conbecidas 
modinhas  e  os  instruoipntos  mais  frequentes  eUn  o  piano,  aberpa^ 
a  graitarra  e  o  íir^am^  doa  quae*  a    guitarra  é  o  mais    commum 
e  tocado  até  entre  o  povo  do    campo.     Simplea  no    trajnr,   dia- 
tia;3juem-ae,   todavia,  as  paulistas  |>or    um  gosto    exeepcioual    e, 
&pps3r  dé  vivarem  itum  paiz  onde  o  ourn  e  na,  brilhantes  nhundam, 
ut&m-nos  raras  vezes.     Cnm  nm  simples  enfeite  de  flores  natu- 
tutaes  ornam  o  «eu  comprido  e  escuro  cab©l]o,arraDJíido  e  fixado 
C!m  ncos  pentes.     A«  flores  no  cabello,  dndas  de  presente,    bÔo 
Teráadeiras  [jrovas  de  graija  e  bem    querer,  comparáveis    apenas 
a  dança  depois  do  jantar  na  Suécia,  ambaa  reservadas  por  muito 
tempo  e  ambaa  (destinadas  ao  feliz  correspondido.     Elias  são  baf- 
tente  seoa  veta  á  liaonja  e   ae    or^^ulham  de  ser    paulistaB  ;     aâo 
ineicediveiâ  nas  pequenas  intfifras  e,  como  má  foi  contado,  par- 
tilham com  flS  mulht^rea  da   Buropa  o  gosto  pelas   superficialida- 
afs,  mas  silo  menos  constantea  que  estíis.     Rura^  vpkks  oçcupam 
CArraní^em   nos  seu'^  passftioa  ao  campo   ou  viíiirens  maiores,  ]ire- 
>&rem  montar  a  cavallo,  no  qu«  térn  grande  habilidade,     Quando 
Contam,  vestem  nma  saia  comprida  que  Ihaa  esconde  os  pés,  com 
gela  vermelha  o  enfeitada  de  galões  ou  de  bordados  a  ouro.  Aos  13 
fia  14  íínnns  cosrumam  casar  o  é  rai-o  ver  uma  paulista  solteira. 
Cada  tftrra  tem  seus  costumes,  a?8Ím    também    S.    Paulo,  e 
em  poucos  logftres  a  poJidex  é  maia    exairg^erada  do  que    fiquí. 
Qaindo  um  estrangeiro  pela   primeira    vex    visita    uma   familia, 
^  fecebido  pelo  dono  da  casa  que  lhe  oiíerece  a  «  piili   amixflde, 
*éO  coraçào  ©  a  na  casa,  como  ai  ffvssQ  a  delle»,  o  qut?  de    modo 
•tenham  deve  ser  tomado  ct  mo  uma  simplea    formula.      Quando 
*  bospede  s»  retira,  o  dono  da  casa  chega  primeiro  á  porta,  não 
pMra  dizer  uma  amabilidade^  rra^i  para  mostrar  que  o  hoBpede   é 
o  ri*ino  da  caaa^  acompanha- o  ate  o  ultimo  degrau  e,  muitas  vezes, 
até  é  rua.     Isso   é    tào  comtnjim,  como  o  ó  o  costume  de  fazer 
|>r«»pnte  d*'  mu  objecto  que  a    peasoa  gaba;  p.   ex.  na    viagem 
áa  minas  eneoatríimos  um    cavntfio    Ferreira    que    montava    um 
CAvallo  bonito  e  He  excellente  andar  e  como  eu  [mr  acaso  o  digaesse, 
quiz  elle   presentear-me  com  o  animal,   do  que  com  uitiita  difi- 
culdade fMidfl  declinar.     Taes  ca^os  se  dào   frequentemente  e  no 
começo  embaraçam  muito  os  e&trangoiroa,  que,  por  iíso,  aSo  tido» 
por  menoa  bem  educados* 


k 


â 


—  290  — 

O  tempo  pae&a  depressa  num  paiz  onde  se  go^am  tantas 
fínezas  como  em  &,  Paulo.  Faesamos  uma  semana  inteira  em 
divertimentos,  entre  ci  qnaeii,  sLém  dt  bailes  «  theatros,  devo 
mencionar  um  passeio  campestre  a  caTailo,  org-anizado  pf-la  Mar- 
quesa de  Alegrete,  da  cidade  até  o  outro  Jado  do  rio  Tietá,  onde 
pasfiamtB  um  dia  inteiro  brincando,  Muitas  senhoras  casadas  e 
moças  bonitas  compunham  a  comitiva  que,  toda  unida,  partiu  da 
eidade^  acompauliada  por  um  enxaire  de  ordenança»  e  criados. 
Um  outro  dia  o  g'OverDador  i^ernl  ordeuou  manobrai  da^  tropas 
no  *Can  po  da  Santa  Lns!»»  a  que  alguns  milhares  de  pessoas 
vieram  assistir,  a  pé.  Os  uuiforoies  das  legiões  e  os  seus  mo~ 
vimeotos  mereciam  todo  o  apjtJauío»  distinguindo-se  especial- 
mente a  artilharia.  De  tropas  extra  nhãs  havia  um  regimento 
de  cavallaria  de  800  homens,  das  mitias  de  diamantes  de  Minai 
Geraes,  provavelmente  um  dos  mais  brilhanreb  ret^iuiebtt  s  do 
muado,  o  qual  estava  de  passa ^rem  era  S.  Paalo  para  se  ajuntar  ao 
exercito  brasileiro,  acampado  em  Paraguai,  perto  do  limite  com 
o  domínio  da  Ef^panha.  Todo  o  metal  nos  arreios  ora  de  prata 
massif^a  e  como  elles  pertenciam  a  fatriilíaa  mineiras  naquella 
rica  província,  eetavam  equipados  em  correspondência.  Conta- 
ram-me  que  no  regimento  nenhnm  homem  havia  que  não  tivesse 
a  EOmma  de  mil  coroas  na  algibeira.  O  seu  comportamento  tam- 
bém era  o  melhur  possivel.  Do  campo  de  ,exercicio  e,  acom- 
panhando as  tropas  com  musica  e  bandeiras  desfraldadas,  se «^ui a m 
todas  as  damas  e  cavalheiros  que^  em  numero  de  50,  tinham  sido 
convidados  para  passarem  a  tarde  no  palácio. 

No  dia  '23  cheg^ou  a  noticia  da  entrada  do  exercito  rnsEO 
em  Berlim  o  na  mesma  noite  fegiejou-se  este  acontecimento  com 
uma  repro^enta<:ao  no  tbeatro  particular  que  o  Marquez  tinba 
construído  no  palácio  e  onde  estreiaram  somente  os  seus  ajudantes 
e  algumas  poucas  damaã  No  dia  24  Feguiu-seum  ^aude  jaiitar 
com  concerto  e  brilhante  baile  de  noite. 

No  dia  25  omprohendi  a  viagem  para  as  minas  em  compa- 
nhia do  sr.  Elboque,  tonente-coronel  em  S,  Paulo,  o  ajudante- 
^eneral  sr.  Daukwardt»  capitão  da  artilharia  montada  ^  o  sr. 
Huntley,  eommerciaute  ing-les.  além  de  cinco  creados  e  uma  es- 
coita  de  dois  dragões  e  um  sar^^^^eato  que  por  ordem  superior 
tinham  de  tomar  conta  de  nossa  bagagem  e  prestar  os  servif^os 
necessários.  Todos  iam  montados,  inclusive  o  conde  v.  Pahlen 
e  eu.  O  caminbo  seguia  na  direcção  sul  atravesBando  Jaraguá, 
Ponamduba,  Itu^  Porto  Feliz.  S,  Joào  de  Ipanema,  Sorocaba» 
Cotia  e  S  Roque,  ao  longo  do  rio  Tietê  que  |iaíEumrã  em  vários 
logaree  por  pontes  compridas.  Para  níio  ficarmos  surprebendidos 
por  homens  ou  aaímaes  ferozes,  guardamos  a  seguinte  ordem  : 
1,"  dois  creados  pretos;  2.*  o  sargento ;  3.*  os  viajantes,  dois  r 
dois,  de  modo  a  podermos  converb-ar  ;  4.*  tros  ciiudos  com  a  ba- 
gagem, covinha  e  cantinas ;  5.^  dois  dragões,  todos  com  fuzis, 
Tietê  é  um  rio  especialmente  curioso,  porque  corre  do  lito* 


^ 


—  291  — 

nH  pira  o  interior,  onde  se  torça  maífr  fando  e  mais  largo,  ser 
TÍado  de  commuiiicaç&o  entra  Uio»  Santos  e  S.  Paulo  ao  norte 
•  01  díitrictoft  riÊOs  de  Cni&bá,  Mato  Gro&ao,  Paraguai,  Rio  da 
Prtíâ,  Potoú,  Cbiquiiaca  e  uma  grande  parte  do  Peru,  ao  sul. 
A<  mas  miirgend  sÀo  encantadoras,  Tietê  tem  23  caclioeiraB  que 
tsi^mím  difficil  a  víageno  porque  em  muitos  logares  é  preciso  con- 
dmir  por  terra  úè  canoas,  únicas  erabarcações  que  serrem  pnra 
«it«  fio.  Elle  une-fte  com  rs  rioi  Paraná ^  Pardo,  Sucuriú  e  âo- 
f acaba  e,  ha  poucOí  o  governo  deu  ordem  para  i*xploral-o  por 
Ubei$  officiae^  de  marinha,  doa  quaea    esperam-se    iutere^aantes 

Jar&grtá,  que   pertence    ao    ex- governador    Orta  (fíortaj,  é 
eoahecido  pela  quantidade  excepcional  de  ouro  ali  extrahido  La 
ÍOO  innoa,  quando  era  considerado  o   Peru  brasileiro.  Hoje,  po- 
rém, n&o  é  assim,  apesar  de    continuar  a    eitracçÃo-   O    terreno 
io  ledor  é  monf^anboao  e  desigual  ;  a  própria    montanha    parece 
composta  de  gneiaa  cora  hornblenda  cuja    auperficipi  e    vermelha 
e  contêm  ferro.  O  ouro  é  encontrado  em  «stratos»  de  pedregulho 
tom  oure,  chamado*  «cascalho»  que  se  retira  do  morro  com  uma 
picareta  chamada  ralmocafre».  É&te  cagçatho  é  coUocado  em  ba- 
eiat  de  madeira,  denominadas  «batéas»  onde  é  lavadn  com  roovi- 
oento  constante  e  despejado  pelos  negros  que    durante  o  traba- 
lho (icain  no  meio  do  riacho  que  é  regulado  de  modo  a  nâo  ter 
kCórreatessa  demastaja,    Ã  porçáo^  que  é  lavada  cada  vez,  pode  eer 
de  Uíins  6  a  8  libras  e  compõe-se  de    quartsto,  pyrítet   e  oxjdo 
ds  ft»rro.    O  ouro  que  contem  fica  no    fundo    pelo    propilo  peso 
Hpiídâco  e  differe  muito  em  quantidade  e  tamanho  de  «uas  par- 
tieulas  d^s  '^uaes  algamaa  silo  tào  pequenas  que  bóiam,  ao  paaao 
f[ik^  outras  chegam  ao  lamauho  de  uma  ervilha  e  Até  maiorea.  A 
^Jili^çào  do  trabalho  é  feita   por    i  spectoree  que,    para    bem 
imt&r  os  negros,  estàa  aiaentadoa  na    fombrai    num  lo^ar    alto 
perto  do  trabalho.  O  processo  mais  commum  é    seccar  o    ouro  e 
fíitregal-o  ao  ofiScial  que  o  pesa  e  tira  um  quinto  que  é  para  a 
cfirrva.  Depois  fuade-se  o  reí-to  com  Murias  llydrargyri  em  forma 
d«  barras  que  sAo  quilatadas  e  marcada»    pelo  i^eu  valor  intrin- 
ISCO,  4o  qual   dào  una  att  stado  impresso  que  sempre  acompanha 
A  barra.    Agora    não    é    mais    permittido    deixar    circular    ouro 
Btti  pó  ou  em  barra,  porque    todo    elle    deve    ser    amo^ídado    de 
ae^rdo  com  a  moeda  do  pais  que  peto  eeu  valor  exacto  é  entregue 
pelo  bfluíio.  Jaragmí  tem  grandes  terrenos,  extensas  matas  e  boa 
caça  de  veado*    uhambús,  e  outros  animaes.  A  lavoura,  que  se- 
^'-niii  á  TOioeraçào  do  ouro,  tem  feito  grande  progresso  e  o  trabalho 
é  executado  por  50  negroa  ou  escravos  qu«  aqui,  como  em  outros 
logare^^  pertencem  ao  inventarío  e  fSo  vendidos    como  o    gadOf 
vmiendo  actualmente  200  ríksdaler  banko  ( I5(.$í't**'')' 

à  mina  aurilera  de  Ponninduba  ê  menos  exploiada  do  que 
Jsraguá  por  falta  de  agua  até  agora,  mas  é  mai^^  rica.  Um  terço 
desta  min»  é  propriedade  do  sr.  Daukwardt  qtie,  por  ter  reben- 


-  292  — 

tado  e  removido  nm  grande  morro  que  até  então  impedia  a  a^a 
a  vir,  deu  a  es^a  uma  direcção  conveniente  que  prometteu  ao» 
proprietários  uma  rica  extracção.  Rebentar  morros  com  pclvora 
era  tão  pouco  conhecido  que,  antes  de  ceder  ao  sj.  Dankwardt 
a  terça  parte  pela  direcção  teclinica  dos  trabalhos,  o  dono  pri- 
mitivo de  Ponamduba  julgou  poder  destruir  a  montanha  por 
meio  de  grandes  fogos  que  aqueciam  a  superficie,  sobre  a  qual 
depois  deitava-se  agua,  mas  como  o  eíFeito  era  insignificante, 
esteve  quasi  a  abandonar  a  ex])loiação.  Todos  os  pequenos 
rios  nesta  zona  contem  ouro  n.as  tão  pouco  que  em  muitos  le- 
gares não  vale  a  pena  empregar  na  extracção  mais  do  que  um 
ou  dois  negros,  ao  ptsço  que  a  lavoura  está  completamente  aban- 
donada. E'  triste  ver  ermo  está  inculta  e  deserta  esta  parte  de 
S.  Paulo  cuja  fertilidade  roduziria  cem  por  um  e,  num  clima 
tão  saudável,  ao  passo  que  o  proprietário  com  sua  sede  de  ouro, 
vive  na  necessidade  de  tudo  e  encara  com  indifferença  a  riqueza 
que  a  natureza  lhe  collocou  aos  pés.  E*  tido  como  remunerador 
o  trabalho  que  rende  ao  dono  uma  pataca  por  negro  e  por  dia, 
porque  a  manutenção  do  negro  é  avaliada  apenas  na  terça  parte, 
o  que,  calculado  «obre  um  grande  numero,  dá  um  bom  lucro, 
razão  por  que,  tanto  no  campo  ccmo  nas  cidades  desta  capitania, 
pessoas  ha  que  empregam  os  seus  capitães  na  compra  de  escravos 
que,  trabalhando  para  outros,  constituem  o  seu  único  mas  rendoso 
meio  de  vida.  Mais  longe  e  antes  de  chegar  á  cidade  de  Itú,  o 
terreno  é  cultivado  e  todos  <  s  campos  são  ornados  com  planta- 
ções de  canna  e  ao  pé  de  cada  rio  encontram- se  engenhos  e 
alambiques,  que  são  movidos  por  agua.  Os  valles  são  cheios  de 
gado  e  satisfação  e  bem -estar  caracterizam  tudo.  Itú  tem  uma 
bonita  cathedral  na  qual  ha  bons  quadros  da  historia  da  igreja. 
Convidados  pelo  vi«;ario,  c<  m  quem  jantamos  em  casa  do  capitão 
Marcellino,  para  visitar  a  Cathedral,  mandou  elle  repicar  os  sinos 
á  nossa  chegada,  mas  não  o  fizeram,  porque  um  outro  prelado, 
que  nos  devia  receber,  l^mbrou-se  que  esta  honra  de  modo  ne- 
hum  podia  ser  ft^ita  a  dois  lierejes  do  norte,  como  éramos  eu  e 
o  Conde.  O  vigário,  acostumado  a  ser  obedecido,  mostrou  visível 
descontentamento,  mas  não  p(dia  de  forma  alguma  fazer  o  seu 
collega  concordar  nesta  fineza  para  comnosco.  Ma^  quando  elle, 
finalmente,  lembrou-lhe  um  trecho  da  ultima  noticia  que  tinha 
vindo  da  Europa,  de  qu'^  o  principe  de  Kutusof!  tinha  mandado 
conduzir  a  imagem  de  Nossa  Senhora  deante  do  exercito  russo 
quando  ia  combater  os  franceses,  os  inimigos  cruéis  de  Portugal, 
e  forneceu  assim  a  prova  mais  evidente  de  que  os  russos,  como  os 
outros  povos  do  norte,  eram  catholicos,  o  collega,  apparente- 
mente  convencido,  pediu  humildemente  desculpa  e  gritou  para  a 
torre:  «toquem,  rapazes».  A  altercaçAo  entre  os  dois  eccloi-iasticos 
era  di-stinctamente  ouvida,  mas  os  hinos  dobraram  em  Itú  e  nós 
sahimos  debaixo  de  bençams. 

Viajando  pelos  arredores  de  Itú  é  impossivel  n&o  notar  qae 


^  29H  ^ 


tod*  a  geatd  áa  clasie  baixa  ti  aba  os  dentes  íncmvoi  perdidon 
ImIo  HM  eóniUate  da  caana  de  as^ucaff  que  aem  ceisar  chupam 
6  conserram  na  boca  em  pedai;oa  de  algumas  poll,^gadas,  Quei* 
em  catt,  qaer  fura  delU.  nkn  a  Urg;atii  e  é  poã<,Jv6l  ^uq  tista 
lambeiú  st^ja  a  causa  de  bav^r  aqui  tmiia  jj^^nte  ^orda  do  que 
era  outros  lo«far©^.  Â  ctaik^e  âuperior  gosta  eg^ual mente  de  doce, 
peb  qu^  recebeu  a  nleuuba  «luel  do  tauque»  iiíto  é,  o  melbor 
mi^l^ido  produzido  tia  tabrica^ào  d)  assucar.  Oi  próprios  bois  e  oa 
barros  ijimbem  parti c i  P'Mttii  dií  inôãinft  iiJcli[iHi;.ào  e  Êocoíitratn-Ee 
«Ued,  tal  qual  stiOã  crniductoreâ,  m.'iati^ai]du  cauna.  E*  um  re- 
ffe?Hco  para  todos   duraute  o  calor 

à  elepbaadaãía  é  utaa  moléstia  bastunie  cornniain  em  Itú 
e  é  crença  jçeral  que  ella  se  cura  nitíJhor  com  exortações  ©  pelo^ 
saatcis  do  que  pela  luedícma^  Ã  cau&a  doate  mal  ainda  nào 
está  descoberta. 

Em  caminho  visitamoe  a  citiihecíila  eacb^>fira  do  Tietê  de> 
rK^mlnada  «Salto  áo  hú*  que  tem  uma  exteiis&o  de  um  quarto 
d«  legita  com  Lar^curji  c^rreiKpoiíd^iite,  parect^ndo  destinada  pela 
lUtnToea  para  grande §i  fabricas  e  sem  muito  trabalho,  Mos  ape- 
Nir  dl  40  €  apesar  de  que  ii!<  açudei,  que  no  BraaíJ  cut^tam  tan- 
ti  trabalho,  já  eii-tom  ptslo  aci*  \  não  ha  nesta  ímmenha  cachoei- 
fh  mais  do  qne  um  só  rooajolo  para  snear  milho 

Beis  leguaa  de  Itú  e  Ã  margem  do  mesmo  rio,  está  a  cida- 
de d^  Porto  Feliz  donde  partem  todas  as  expedií^Ôes  miUtarea 
quiiido  ae  diri^fem  para  o  sal,  ao  Paraná,  Mato  Groa*fi  f^  Rio 
Grande  e  que  r+^ceb^m  d\iqui  o  ferro ^  n  sal,  a  munição  e  o  ves- 
toirio  que  o  governo  anouilmente  ftrnfce  p:ira  as  tropas.  E*- 
U?am  aqui  varias  diriâôes  du  e^tnóa^  çr^ndes,  deatioíidat  a 
uma  ex[iedi<;ãi  ses^reta  mandadt  pelo  miuigierio  de  d.  liodrigo, 
C<md«  de  Liuhareá,  pre-^id^ote  do  conselho  e  míniâtro  da  fruerra, 
roíí,  por  iua  morte,  foram  as  canoas  "guardadas  em  telheiros 
propNOft.  Em  cada  canoa  cabem  80  bomnns  com  armas  e  tudo 
neceaaari  j,  menoâ  a  aj^uat  e  todas  sàn  feitas  da  precioíia  «peroba» 
de  cujfi  tamanho  pode  faz«r-8e  uma  ideía  cabendo  que  uma 
caaôíi  dest:i8  é  feita  do  nm  só  trnnco.  Ao  pé  da  cidade  ha  a 
gr««.íe  mftotanhíi  calcarea  denominada  «Ai ara  Ita^^uaba»,  nome 
esta  que  coinerva  do  t«inpo  d-s  Índios  e  qner  disser  :  «comer 
eal»  piífque,  nos  mese»  de  janeiro  e  fevereiro  chfgam  aqui 
milharffi  de  pi»pnga)o^  e  cmtros  fm^saios  rimericanos  que  comem 
c4l  HQtes  de  poreio  os  ovi.a.  Em  Fortn  Ft^liz  estávamos  bos- 
pedadoâ  em  chs.i  do  ca[titào  Ferreira,  (IJ  irtoào  do  couef^o  Fer- 
reira, de  S.  Paulo  e»  como  ellti,  cumulou-ntK  de  fineí^as*  A  uma 
légua  dti  ci  iade  fomoã  recebidos  i  elo  capitàu-mõr  ("abreviaçàu  de 
■major»  )  ou  primeira  autoridade  e  variod  officiatifi  que,  junto» 
com  o  capitào  Ferreira,  do  mesmo  modo,  nos  acompanharam  na 


El|  C^kpltlA  Mieu»l  Perrelri  de  Oliveira  Basno^ 

K,  da  R. 


-  2Ô4  — 

p&rtida.  Tivemos  aqui,  pela  primeira  vez,  a  felicidade  de  almo- 
çar e  jantar  mn  campaabia  daa  seiílioraa  da  c&ea.  Em  todos  o§ 
outros  lo  gares  estava  moã  sempre  a  sós  coui  o  dono  da  casa  e  ob 
cumprimentoi  recíprocos  eram  feitos   por   interine diários. 

Um  pouco  além  de  Porto  FelÍK  dt^ixamn^  o  Tit^té  para  uos 
dirigirmos  directamc^Qte  ao  rio  Sorocaba,  que  passamos  em  canoas. 
Os  animaes  passaram  a  nadoj  amarrados  ud&  aos  outros  pela  cauda. 
Aqui  começa  a  ver  ladeira  legiào  da  eiploraçfto  mineira  e  por 
toda  a  parte  ba  ouro  e  ferro,  porém  nào  em  tal  abundaucia  como 
em  S,  Joào  de  Ipanema  a  al^^^umas  léguas  distante  onde,  naoia 
extensão  de  10  le^uag  suecas,  se  encontra  um  minério  de  80  a 
85  7í  de  feri-Of  á  Hõr  da  terr.t  e  com  raatwH  numa  ei tendão  dupla* 
Ha  varioâ  ânuos  tuucciona  aqui  uma  iabiica.  actualniente  diri- 
gida por  um  sueco,  sr.  director  Hedberg  Na  mesma  occasião 
organizaram -se  mais  duas  fabricas  de  ferro,  uma  em  Tijuca  peio 
Barão  von  E^chwoge,  da  Âllemanha,  e  outra  em  Minas  Geraes 
pelo  afamado  mineralogista  sr.  da  Camará,  que  o  mundo  £cien- 
tifico  conhece  deéde  as  suas  viagens  pela  Rússia,  Suécia  e  Alle- 
mauha.  Mas  nem  uma  nem  outra  tem  dado  bons  resultados 
para  os  proprietários.  A  superintendência  de  Ipanema  é  exer- 
cida por  uma  «junta»,  de  que  o  director  é  membro,  ©  o  capital 
de  movimento  está  em  acções  de  que  o  governo  posaue  um  terço.. 
A  fabrica  é  situada  próxima  ao  no  B^^rocaba  que  fornece  a  agua 
necessária  e  eetá  projectada  para  trabalhar  com  dois  fcíllps  e  ò 
fornos,  doã  quat^s  um  deve  estnr  era  descanço.  O  trabalho  é 
executado  por  ct*m  nef^^roa^  além  do»  creoulos.  Oa  açude*  sào 
feitos  de  pedra  lavrada  e  toHas  as  fibraa  interna  a  aao  feita»  d&s 
mats  lindas  rna4eira&  do  Brasil,  cortadas  numa  serra  bt^ru  mon- 
tada e  por  meio  da  queda  dagua  do  próprio  rio  conduzidas  até 
A  fabrica.  O  logar  mai^  rÍC0|  poréin^  ó  a  montanha  chamada 
cGoraçoiabai,  ordinariamente  denominada  «Morro  do  ferro»,  a 
meta  le^u»  de  distancia  da  fabrica  com  a  qual  communica  por 
uma  estrada  nova  e  larga*  Em  relação  ao  fabrico  do  carvão,  jul- 
gava-se  por  muito  tempo  que  as  madeiras  brasileiras  nâo  preíttavam 
por  eauaa  da  âua  dureza,  porém  a  experieDcia  do  sr.  Gamara 
convenceu  do  contrario.  Ima^iuava-se  também  que  a  fabricaçÂo 
de  ferro  no  Brasil  prejudicaria  á  Europa  e  supplantaria  a  im- 
portação da  Suécia,  porque  o  aproveitamento  dos  recursos  pró- 
prios seria  de  grande  valor,  caso  uma  guerra  entre  a  Ing^laterra 
e  aa  potencias  do  Norte  irapediãsem  a  exportação  dos  artigos  de 
primeira  necessidade,  I«ínorancia  to]jographica  foi  a  ca ui a  desta 
opinião  errónea,  ou,  seria  i^so  um  meio  para  afTa^^tar  a  concur- 
reiícia  ?  Em  todo  o  caso  desperton-me  a  atteuçân  e  para  melhor 
conhecer  aa  condições  fui  mais  umas  20  léguas  adiante.  Ferro 
em  quantidade  somente  ba  na  capirania  de  S.  Paulo  e,  si  alguma 
vee  as  fabricas  forem  aperfeiçoadas,  havendo  alguma  aobra  pam 
vender,  será  necessário  transportaUa  até  o  porto  de  exportação 
mais  próximo  que  é  o  Rio  de   Janeiro,  ou  eutâo»  ao    longo    da 


—  295  — 

costa  que  tem  300  léguas  e,  neste  caso,  o  processo  é  o  legiúate: 
&m  [panem A  o  ferro  é  carregado  por  atiimaes,  pgr  causa  da  falta 
de  boas  estradas,  até  a  gerra  do  Cubatão  otide  desce  7000  pés 
iinrii  declive  forte,  de  modo  que  a  carga  nao  pôde  ser  grande. 
De  CubAi&o,  onde  %ú  paçam  direítoe  por  âer  a  alfandega  arren- 
dada, o  ferro  é  conduzido  al^umftã  lei?uaB  em  canoas  até  á  ci- 
dade dt;.  Sautríg,  lo^ar  em  que  é  baldeado  de  novo  pára  pequenas 
erabarcaçdi-n  coberta*  para  ser  condazido  por  30  léguas  ainda  até 
o  Rio  de  Janeiro,  oude,  finalm^ntn,  rode  ser  eiportado*  Con- 
flídernndo  agora  que  todíi  este  traballio  é  pago  em  ouro,  Tê-%e 
que  o  ferro  fica  tàn  caro  que  t>âo  pôde  dar  lucro  uenlium,  mór- 
tnetit«  quando  já  exii^te  uma  exportação  remuneradora  d@  café, 
istucar  e  couros  e  não  pode  concorrer  com  o  feiro  europeu  em 
preço  Segiuado  o  meu  m^do  úe  pensar,  o  resultado  final  dos 
nov'03  projectos,  isto  é,  n  fo  em  executados,  sei á  apenas  qije  uma 
das  maift  interessantes  provincias  do  globo,  poderá  produzir  para 
si  todo  o  ferro  de  que  prèeisa. 

Duad  léguas  daqui  está  a  cidad«  de  Sorocaba,  que  tem  o 
seu  nome  dõ  rio  que  a  atravessa.  E'  muito  empalhada,  mas  es^ 
cassamente  habitada,  sendo  noíavel  por  seu-*  cortumes  de  couros 
de  cabra,  suas  redes  de  algodão  e  a  grande  renda  que  a  coroa 
aqui  arrecada  do  segundo  imjtOÈto  sobre  todos  oa  cavallog,  bestas 
6  bois  que,  em  estado  selvagem  noã  campot,  ^ão  conduzidos  até 
aqui,  para  irem  á  S  Paulo  ou  Rio  de  Janeãro,  O  primeiro 
imposto  é  pago  em  Curitiba  na  divisa  da  capitania.  Roapeda- 
mos  nós  todos  em  casado  coronel  Franci&co  de  Aguiar,  um  homem 
abaetado  que  põz  uma  casa  inteira  a  nossa  disposição  e  nos  re- 
cebeu do  modo  o  maia  amável .  Em  Sorocaba  mudei  do  in- 
tento de  continuar  nesta  direcçáo,  onde  já  vi  o  mais  interessante 
e  deliberei,  em  vez  disso,  vistrar  as  minas  de  diamantes  em  Minas 
Geraea  na  companhia  do  Conde  de  Oyenhíiusen  que  fazia  parte 
das  tropafi  a]Ii,  o  que  necessitava  novo  equipamento  e  novos 
animaes,  porque  os  que  tinham  servido  até  agora  já  estavam 
imprestáveis.  Um  acontecimento  infeliz,  porém,  prívou-me  de 
fazpr  esta  viagem  para  uma  das  mais  rica  a  paites  partes  do 
Brasil  e  a  mais  interessante  para  o  míneralogista.  Voltamos  á 
S.  PbuIo  por  Cotia  e  S*  Roque  e  cbí^gamoa  no  dia  5  de  Junho 
de  tarde,  recebeu  donos  abí  o  noa^o  amável  hospedeiro  sr.  cónego 
Frrreiía  que  estava  completameTite  paramentado  (in  poniificúlibns) 
para  o  Santo  Officjo  na  cfithedral,  convidando* nos  para  assiíitir 
«  ouvir  bfsh  muHÍça.  Tudo  estava  em  movimento  para  no  dia 
ieguinte  feâlejar  o  Espirito  âaiito,  correspondendo  á  nossa  festa 
de  Corpus  Chrieti,  com  a  diíferença,  porem ,  de  que  em  cada  cidade 
uo  Brasil  e  também  nas  aldeiam  graud^â,  ha  um  chamado  im* 
perador,  eleito  por  sortf^in  que,  por  meio  de  subscrifujâo  mantém 
em  ;>ua  caáa  mesa  lauta  durante  os  dias  que  a  festa  durar.  O 
imperador  preside  a  esta  mesa  vestido  de  coroa  e  manto  com 
brilhantes  e  sceptro  na  mão.     Durante    estes  dias    gosa  elle  de 


—  256  — 

ioJas  as  honras;  as  tropas  Ibe  fazem  continência  e  na  igreja 
elle  entra  em  prociss&o  e  tem  o  primeiro  logar.  Numa  caminha 
de  madeira  construída  expressamente  na  praça  da  igreja  e  bri- 
Ihan temente  pintada,  recebe  elle,  as&entado  no  seu  tbrono,  as 
offerendas  que  lhe  são  dt-yidas  e  que  em  geial  c(>nsi&tem  em 
victualhas  que  depois  sào  repartidas  entre  os  pobres.  O  ofler- 
tante  apresenta  a  sua  offerta  na  cabeça  e  ajoelha  diante  do 
tbrono;  o  imperador  agradece,  fazendo  o  signa  1  da  crnz.  Tudo 
isso  é  eflfectuado  com  tal  cerimonia,  tal  ordem  e  tão  circumstan- 
ciadameiíte  e  todos  tào  tào  ricamente  vestidos  que  parece  ani»  § 
uma  festa  asiática.  A  festa  começava  crm  musica  na  cathedral 
que  estava  esf>lendidamente  illuminada  e  onde  encontramos  todos 
os  nossos  conhecido-».  Fogueiras  e  rojões  haviam  em  todas  as 
praças  e,  a  noite  passou- se  em  casa  do  imperador,  que  era  moço 
e  cujo  pai  antes  tinha  exercido  esta  dignidade  durante  muitos 
annos. 

O  dia  seguinte,  <»u  Corpus  Chri&ti,  passou-se  cm  diverti- 
mentos que  pertenciam  á  fe>ta.  O  próprio  bisj»o  disse  a  misFa 
cm  duas  igrejas  onde  a  musica  era  excellente.  Todas  as  i-enLoraa 
estavam  ricamente  vestidas  com  sedas  de  cores  e  C(m  flores  em 
vez  de  mantilhas,  como  costumam,  com  rendas  largas  e  que  ser- 
vem especialmente  paia  ir  ás  igrejas.  Os  cavalheiros  todcs  tra- 
javam uniform  s  de  gala.  O  governador  geral  tinba  logar  se- 
parado onde  estava  com  o  S3U  estado -maior  e,  de  fronte  delle, 
sobre  o  seu  tbrono,  estava  o  joven  imperador  « om  coroa  dou- 
rada e  uma  grande  corte.  Durante  toda  a  cerimonia  leligiosa, 
que  nào  acaba vi  autes  das  4  horas  da  tarde,  a  guarniçào  pelo 
lado  dn  fora,  apresentava  »s  armas  e  Hava  salvas  com  as  espin- 
garda-, e  rojões  subiam  aos  ares.  No  liiesmo  dia  os  monges 
franciscanos  davam  um  jantar  para  cem  pes>oas,  sendo  eu  e  o 
Conde  v.  Pahlen  convidados,  mas,  como  já  estávamos  convidados 
para  o  grande  jantar  que  o  imperador  dava,  ficámos  em  posição 
difficil,  tanto  mais  por  desejarmos  muito  assistir  ao  jantar 
no  convento,  o  que  talvez  nunca  mais  teríamos  occasião  de  fazer. 
Por  isso  foi  feito  o  seguinte  arranjo  :  todas  as  damas  iriam  jantar 
coai  o  imperador  e  os  cavalheiros  com  os  monges,  para  depois 
encoutrarem-se  de  tarde  na  casa  de  sua  majestade.  O  convento 
é  espaçoso,  limpo  e  bem  situado.  O  bispo  recebeu  os  seus  con- 
vidados num  grande  salào  onde  elles  com  genuflexões  beija vam-lbe 
a  mão,  o  quo  o  próprio  governador  geral  também  teve  de — ap- 
parentar  j)elo  menos.  Durante  toda  esta  festa  o  governador  dava 
o  lado  direito  ao  bispo,  apesar  das  iiices>ante8  recusas  deste. 
Aqui,  como  em  toda  a  parte,  a  conversação  tinha  por  assumpto  a 
guerra  contra  a  França  e  o  ódio  contra  Napoleão  que  nem  aqui 
é  livre  das  maldições  do  j)ulpito  e  que  nesta  parte  do  mundo 
certamente  nào  tem  um  só  partidário.  E'  necessário  lembrar  que 
isso  era  em  junho  do  anno  passado  (1813).  Finalmente  tocou 
a  campainha  do  refeitório  do  convento    e    os   convidados    foram 


-  20f  - 

conduzidos  p^r  ntn  comprido  cnrrednr  até  &  sala  de  jaatar,  oode 
toioa  fte  asseii taram  ao  longru  dtí   uma  immeusa  inesit  que    quasi 
Terg^ra  debaixo  do   peso  do  que   poita  hav<'r  de  superior  &  me< 
Ibor  nesrn  term^     Etii  todo«  os  cnntoâ  da  $aln  b»via   m^gH»  para 
oi  trinchHdoreH.    O  «erviço  era  feito  ex^luáí vãmente   por  noviços 
e  bebi&m-se  oi  melh^ire^j  vii)íin&    eur.  peus    como    ei    e^tive^sâemos 
em  quiitqai:-r  capiut  do   vplbo  coiitinentH.     Nào  poBt^o  ne^ar  que 
o  jantar  era  tào  alegre  e  livre  como  ÍDieres^arite  ppr   sua  rari- 
dade, e  tÃo  pouco  po«4o  tie^^ar  que  debaixo  de»iaa  sotftÍQaa  negras, 
que  eto  geral     se     dUting^iiam    pi^la    tristeza   e    meti^  apreso    do 
[DUodu  e  doi  boinea-;  eu    f^nc  ntrej   pct^soHâ    distinctas,    nhú    aó- 
mente  instruídas,  Ci  mo    ínteiratrente    re.^ peitáveis    na    eua    vida 
íocíaI,     àb   ^HÚiÍe4    maÍ4    notavt^ia    eram:  depois    do    briade    em 
honra  da  Real    Fauiflia  d»    Bragança,    aa  v.m  bonrn  das   nações 
que  enfrentíivuin    o    Napolt-íko   —  a  rws^a  e  a  aueca  e,  em    psra 
iDÍm    immensttmeuie    a^^r^davel     rào    lon^e    ân  fiatria.     etn    tal 
coiíipanbta  o  em  inl  logar,  ter  a  felicidaitt  du  btiber  a  í-aúde  do 
mnu    rei   e    do   grande    prineijKs    eujoã    feitcs    foram    PiialD  eidos 
aftate  novo   inundo.    O   jatuar   atíibiín    com    café    ài  1  bovaa  da 
noite,  depoit'  do  qoe,  fomua  convidados  a  uma    outra    gala    para 
&   sobremef^a,  cuja    quftiilidade  pagina    toda  a    d+^âcripção.     Nyína 
irmiiiie  mei^a   quadrada  estiavam    »i'rvida.s  todaâ  lu  frutas  e  todo!» 
<^a  viobod  da  Ãmeriea  do  !?ul,  acompanbadcig  dt<»  mai^  liuuís  vinboj 
europeus  e  cervejíi     branca  e  preta,  o  que    aquj  ê  uma    jt^raude 
raridade,    para    cuja  ctn?ervaçào    sao    necesburiíis    boaa   iideg'a,i, 
*ío  centro  da  mesa  a  tígurfi  de  umEi   mulher  rrpreaentava  a  Ame- 
rict  com   uma  cétita  dt^  fmtjis  numa  mÂo  e  noutra  uma  pequ«^ua 
gwmfa  de   viuho;  flo  redi>r  delia»    íormando    ei^cada,   bavia  ama 
P*Jf(;&o  de  doees  Bft:t;o*  t^nvoltos  em   piípt^l  de  cores,  o  que  muito 
'^  prt^atava  par»  pres#»ntetó  áà  damas,  THZho  por  que  a  pobre  Ame* 
Hca    foi    l^g-o   despojada    dog  tbesíiuruí-  doces  que    «guardava  e  s 
V^esa  levada  p^ira  a  j»ociedãde    ira|>erifil    oode    servia    noa  jogos 
oa  pieodii^^  muito  em  voj;a  em  S.  Paulo, 

E'  costume  ir  ver  os  ricoB  ornatos  do   imperador,    e^-peeial- 
íoente  e&pera-»e  isso  d(>a  ealrnugeiros,    A  coroa  é  de  ouro  mas*- 
*iço  e  muito  b^m  trabalhada;  peaa  4    marcus    (949    r^^-ammaa)  e 
peiteii«:era  ao«  jt^suit^s  que  por  oceasiãu  da  aua  ex^mUào  a  ãv.i^ 
laram  no  muru  d©  um  ronyeuto,    onde  íbi    achada    eom    outros 
Falorea.  O  sceptro  também  é  dti  ouro  mosaico  e  pesado  *^  omaiiio 
é  de  seda  branca  com   fielle*,  eiHi-tetlado  de  [H-dm*  preciosas  que 
provavelmente  nào    [>ertencem  ao    im[  terá  dor  e  píl  »    pedidas  jtor 
prnpre^timo  para  a  occa>iào,  porém   tudo  é    muito    brilbuiue.  Xo 
dia  8  houve  a  fe^-ta   do  imperador  na  víUa  de  Santa  Anif^r  (Santo 
Amaro),  três  le;íua?  de  S.   PííuIo,  e  para  a  quíil  tinha  sido  convi- 
dado o  g^overundor  cum  bua  íamilia,  assiui  eunio  todíts  aa  petisoas 
gradas,   p"*lo   vijs^ario  que  teve  a  b  «ndade  de  também  noi*  convidar* 
Os  convidados  formavam  uma  caravana  muito  g;raude  a  ca-' 
vaUo  e  de  ambos  os  sexoa  e,  apesar  de  cahir  uma    cliuva  forte, 


—  298  —  ! 


todoH  preferiam  &  moataría  ás  carruagens  que  apenas  tran&jior- 
tavam  al^um^s  sânhoras  idosas.  Ã  festa  estaya  brilhante  dm 
Santo  Amaro  que  tem  uma  bonita  igreja  e,  depaiâ  do  terem  ea 
treguea  m  offereadas  ao  imperador  e  s^aciado  os  pobres,  paE^samos 
aqui  doía  diaa  em  divertimentos  com  canto,  muaica  e  dan^  que 
sempre  acabava  com  serenatas  de  ooite  em  honra  das  damas^ 
depnis  de  estarem  já  rocolbidíis  aos  seus  aposentos.  O  vigário  de 
Saoto  Amaro  é  um  prelado  illustrado  que  na  aua  parochia  tem 
introduzido  muita  cousa  ntil  e  é  por  íbho  estimado  e  amado  por 
todos.  No^  dias  10  e  11  arranjei  todaít  as  collecções  que  liuba 
feito  em  S.  Paulo  e  dispúj  tudo  para  a  viagem  á  iMiiiae  Geraes. 
No  dia  12  toda  a  sociedade  foi  cimvidada  p^ra  um  baile  de  des- 
pedida e  ceia  que  o  Conde  de  Pahleu,  eu  e  o  sr,  Dankwardt 
ofTtíreciamua  em  recnuhecimeuto  de  tudas  as  gentítezas  qne  nos 
tinham  aido  diapenfadaa.  Por  causa  do  eapa;o,  este  baile  te^e 
logar  na  chácara  do  coronel  Wnrtzé  e  que  pelos  cuidados  do 
sr.  Dankwardt  foi  muito  bem  illuminada,  tanto  dentro  como  fora.. 
Aã  honras  da  casa,  conforme  o  coatume  da  terra,  foram  feitas 
pelas  eimau,  aenhora»  dona  Maria  de  Loureiro  e  dnna  Mariana 
Velasco  de  Portug^aU  que  tiveram  a  bondade  de  iucumbir-âe 
desta  tarefa,  contribuindo  muito  para  a  bnn  ordem  de  tudo.  Os 
convidados,  em  numero  de  150  pessoas p  pareciam  todos  satíafeitoa« 
Entre  as  danças  executíiram-se  lindos  trecbrs  do  grande  com- 
positor do  Rio  de  Janeiro,  sr.  Marcas  de  Portugal,  modinhas 
brasileiras  e  outrai*  musicaa  e  cantos  bonitos.  A*  mcía  foram 
brindados  a  Família  Real,  o  g^ovemador  f^eral  e  as  panlmtas  e  o 
bai)e  continuou  com  aerviro  ininterrupto  de  refret^coa  até  íJ  horas 
da  madrugada,  quando  o%  convidados  se  reiiraram^ 

No  dia  13  deixei  S.  Paulo,  onde  o  Conde  v.  Pablen  ainda 
ficava  e,  em  companhia  do  capirào  Dankwardt,  nm  conductor  e 
dois  creados  parri  pjtra  o  Rio  d©  Janeiro  por  Cubalio  e  Santot.  Na 
meama  noite  chegámos  á  Ponte  Alta,  perto  áti  cordilheira,  onde 
pafisf  mos  a  noite,  pretendtjndo  s  -guir  viagem  logo  cedo  quando  o 
meu  creado,  um  europeu,  teve  a  louca  lembrança  de  nos  assassinar, 
a  mim  e  o  sr.  Dankwardt,  de  noite,  quando  dormíamos.  Depois 
de  ter  fechado  as  portas  e  as  jauellas,  de  modo  a  n!lo  deixar 
ninguém  entrar  nem  sahir,  correu  elle  para  o  nosso  quarto  e 
cnra  um  sabre  começou  a  ferir  o  sr.  Dankwardt,  em  cujfi  au- 
xilio eu,  sem  urn  momento  de  hesitação,  corri  ainda  meio  dor* 
raindo.  Dua^  craves  feridaa  na  cabeça  duas  no  braço  eiquerdo 
e  uma  contusão  na  mào  direita,  de  mona  travam  que  o  aseasaino 
infelizmente  aproveitara  o  seu  tempg^  Hepuj^nando-me  esten* 
del-o  com  ura  tii*o  de  justola,  í^mqufinto  ainda  tinha  esperança 
de  impedir  o  seu  intento  pela  força  pbysica,  continuei  esta  luta 
desigual,  unicamente  com  as  minhaa  máoa  para,  si  posai vel  fosae, 
ti-ar-lhe  a  arma  e  pren del-o,  o  que  nào  couseg-ui  emquanto 
nào  quebrHÍ  o  sabre  com  golpes  furioaoa.  Meio  desfaUecido 
pela  grande  perda  de  sangue  nào  pude  evitar  a  sua  fuga,  porem, 


-^  2d9  ■- 

DO  áuL  Bd^íntô  09  doía  soldados  que  lhe  matidAmofl  ao  encalço, 
ú  jieharatn  trepado  numa  anrore  uiidc»  tinha  pnasadi>  a  noite  de 
inedf>  da^  onças  que  nestzia  parageaã  pouco  atacam  as  petsoaa 
pacificai^t  Qíiaado  deu  eutraaa  na  eadem  de  3.  Paulo  teve  um 
accesso  de  furU,  pelo  que  foi  transportado  para  o  hc  apiul.  No 
iaquerito  úcou  variticado  que  elle  pretaudía  jiriíneiro  atacar^iioa 
á  pUtola,  e  como  ©4tíii  eeuiTHDi  mu  »idas  de  fechos  de  teguraníja, 
que  elLe  oào  enteadia,  temos  motivo  de  attribuir  a  isso  a  uosaa 
uivaçÃo. 

As  extraordinárias  provafa  de  amizflde  e  de  interesfle  que 
tive,  tanta  do  governador  geral  Marquez  de  Alegrete,  como  de 
muitos  outros  panliataã,  aerào  sempre  lembradas  com  a  máxima 
gratidão.  Poui^o  a  pnuco  vetraram  ai»  forças  e  continuamos  a 
^«gem  serra  ubaixo  ond^,  na  divisa  da  capitania,  separei-me  do 
ir.  Daukwardt  que  voltou  para  S.  Faulo,  porém  devido  a  mi- 
nha moléstia,  só  che^^uei  ao  Rio  no  dia  12  de  jullio.  Já  tÍLiha 
chegado  a  noticia  do  acontecimento  em  Fonte  Alta,  com  o 
triste  augmento  que  no  caminho  eu  tinha  falleeido  das  cou&e'« 
quencias. 

Em  nenhum  paiz  do  mundo  encontram-se  tào  poucos  aleija- 
dos como  em  S.  Paulo  e  n&o  me  lembro  de  ter  vi^to  um  só 
durante  minha  viagem  ne^ta  capitania,  que  tenho  de  concluir 
ag-ora  com  as  seguintes  observações. 

Além  da  sua  poiiçào  íavoravel  e  salubre,  S.  Paulo  tem  em 
si  mesmo  em  abundância  tudo  quanm  é  iit^cessario  para  o  bern- 
es tar  e  pode-se  t*?r  a  certeza  de  que  onde  existem  ne^-essidades  è 
í^io  devido  á  Talta  de  vontade  paru  trabalhar  e  nào  de  oecasiâo 
para  ganbar  e  adquirir  toda»  as  cnminodídades  da  vida  Tudo 
ali  ha  por  preços  reduzidos,  com  excepção  de  rouj^aa  paraatnbos 
os  aexos,  por  ser  artigo  de  imjíortaçAo,  apesar  do  paiz  produzir 
1&  e  algodào  em  abundância.  Quando  São  Paulo  compre- 
hender  a  utilidade  das  fabricas  e  chegar  o  tempo  da  sua 
inatailaçâo,  eata  capitania  terá  dentro  de  si  mesma  tudo  quanto 
é  preciso  para  ser  independente  de  todas  as  mais.  Uma  casa 
na  cidade,  sufficíente  pai^  abrigar  decentemente  uma  familia, 
nfto  custa  mais  do  que  600^000  e  nenhuma  difficuldade  ha  em 
encontrar  uma  chácara  perto  da  cidade  pelo  mesmo  preço»  oode 
pode  produzir  carne  de  toda  a  qualidade,  toucinho,  peixe,  quei- 
jo, manteiga,  legumes,  toda  eepecie  de  frutas  própria»  do  ciima, 
gallinhas,  pombas,  marrecos  ganços  e  perds,  além  de  café,  «ssu- 
car,  aj^ua-ardente,  vinho,  milho,  pimenta,  arroz  e  mandioca  e 
ainda  lâ,  algodão,  etc,  O  gado,  nos  lof^^area  onde  se  pratica  a 
industria  pastoiil,  é  do  mesmo  tamanho  que  o  gado  ing^les^  porém 
na  maitría  das  fa/^^Midas  elle  é  menor.  A  carue  è  saborosa  eo 
preço  commum  de  um  boi  é  actualmente  de  2,5  a  8  mil  réis 
quando  conduzido  para  a  cidade  e  apenas  a  metade  no  campo 
As  vaccas  parem  em  geral  dois  bezerros  cada  vez  (síc)  Na 
província  do  Kio  Grande,  o  gado  é  tão  numeroso    que    um    boi 


—  300  — 

é  obtido  por  doas  patacas  e  em  muitos  logares  abate- sts  o  gado 
unicameiíte  para  aproveitar  o  couro  ao  passo  que  a  carne  é 
deixada  para  os  cachorros  bravos  que  percorrem  e^Has  paragens 
do  Brasil.  Âli,  mas  somente  naquella  província,  a  gula  tem 
intr  duzido  ura  modo  extraaho  de  preparar  o  roastbeeí.  Do 
animal,  ainda  vivo,  corta-se  da  coxa  uma  comprida  e  grossa 
tira  de  carne  com  couro  que  se  costura  e  assa  no  cbào  sobre 
um  fogo  brando  Ficando  com  todo  o  sueco  natural,  este  prato 
é  bastante  saboroso.  »  s  pellos  s&o  destruidos  pelo  fogo,  de  forma 
que  o  aspecto  é  agradável  Este  costume,  porém,  só  existe  entre 
as  familias  noraa  IhS,  viajantes,  caçadores  ou  negros,  mas,  como  a 
civilização  e  os  costumes  europeus  já  se  espalharam  ue^te  paiz,  é 
de  buppor  que  ensinem  áquelles  vagabundos  do  Rio  Grande  que 
ha  também  outros  modos  de  preparar  a  sua  «grande  francesa». 

Os  cava)lc8  s&o  excellentes  e  existem  em  grande  quantidade 
desde  7  a  8  mil  réis,    sendo  eutào  já  domados.      Sã)  apanhados 
bravos,  como  oa  bois,  por  meio    de  uma  corda    com  um    nô    na 
extremidade,  chamada  Inço.     Em  pleno    galope    jogam  este  laço 
no  pescoço  do  animal  que  elles  depois  montam  até  cançar,  ficando 
então  domado.      A  grande  quantidade  de  cavallos  produ/idos  no 
paiz  é  provavelmente  a  causa  de  todos  os  paulistas    serem  bons 
cavalleiros,  e  é  conhecido  que    como  taes  são  respeitados    pelo? 
vizinhos  e  pelos  inimigos.     As    mulas  são    apanhadas  e  domadas 
pelo  mesmo  systema  que  os  cavallos,  e  são    geralmente    empre- 
gadas   nos    carros    e     nos    transportes    entre    Rio    de    Janeiro, 
Minas  Geraes,  S.   Paulo,     Goiaz,    Cuiabá  e  Curitiba,    onde  dia- 
riamente se  encontram  grandes    tropas  de  ida  e  vinda,  em  geral 
carregadas  corn  um  peso  de  300    libias  que  transportam  na  dis- 
tancia incrivel  de  200  a  300  léguas  suecas.      Não  imaginava  que 
pudejíse  haver  uma  lucta  egual  entre  o  hora  m  e  o  animal,  como 
quando  uma  mula  chucra  tem  de  ser  domada.     Chama- se  também 
a  isso  «quebra-mula»    e  não  se  pode    deixar  de    admirar  a  des- 
treza com  que  os  cavalleiros  hábeis  se  jogam  de  uma  mula  para 
outra  ou  para  um  c.avallo  e  depois  os  obrigam  a  aceitar  o  mais 
apertado  freio.     Ella,  a  mula,   joga  sti    contra  as    paredes  e  ao 
chão,  mas  acaba  por  entregar-se,    debaixo  da    applicação  de  um 
par  de  esporas  reforçadas       São  Minas     Geraes  e  as  minas  dia- 
mantiferas,  onde  a  população  c  mais  densa,  que  exigem  a  maior 
parte  das  mer^iadorias    e  de   sal,  que  somente    det-te    modo,    por 
falta  de  commuui<-açòes  Tnais  commodas.  podem  ser  transportadas. 
O  sal  é  produzido  ein  Bayo.  perto  do  Cabo  Frio,  e  vem  também 
da  colónia  mais  próxima  das  ilhas    de  Cabo  Verde.  O  consumo  é 
muito  grande  porque  fdos  os  animaes  morreriam  se  não  o  rece- 
be>sem  diariamente,  es])ecialnieute  em  S.  Paulo  observou-se  isso 
sem  saber  bem  porque       Por  toda  a  parte  ha  criação  de  cabras, 
cujo  leite  è  preferido   ao  da    vacca,  mas  a  criação  de    carneiros 
parece  negligenciada,  apesar  de  darem-se  bem  e  produzirem  uma 
lã  muito  tina. 


—  3ni  -^ 

Fora  dua  rios  ou  das  proximidades  do  mar,  é  raro  encontrar 
peíie.  Os  mais  vulgares  síLo  i  o  dourado,  a  tainha,  qae  é  muito 
grordi  fl  boa,  e  o  timbé.  A  creaçào  de  abelhae  nilo  é  favorecida 
em  S.  Paalo,  apesar  áet  baver  t^^do  o  motivo  para  írbo  Rsistem 
tnuítas,  tanto  eetvageni  c*  mo  dome^tícíia  e  a  maior  i>í*rte  do  mel 
e  é^  cera  é  tirida  dw  arvorea  fieas  nnê  flore&tsB*  t-otitra  toda  a 
expectativa,  quiisi  toda  a  cera  consumida  no  Brasil,  è  ititnídu- 
KÍQ4  dií  colónias  atricana»  de   Píirtugal 

Ai  niíita?  abrij^ain  muitos  aniinnes    bravios  e   perigosos  dos 

qiia«i  o  ti^re  vulgar,  o  dgre  preto,  a  pantlieia  e  o    jnguBr  eào 

os  miii^  commiins,  com  uma  espécie  àf    lootta.  De  outros    qua^ 

dfi|H^deã  existem  i  o  tamanduá  que   vive  eiclusivameíTite  de  for- 

DlJgpiSi  a  nntn  ou  tapir,  dt^  cujo  cour^ ,    deprtis  á**    ncco  uo  bol, 

í*s  inJíos   fwbrieam  os  seus  escudos,    Í di penetra vtís   pelns  bíUas  e 

pelas  flecha&j  a  preguiça,  que  tem  seu  nou  e  dn  lentidfto  de  eeua 

mo  ímentoâ,  pouco  mais  rapidoft    que  os  do    rararaujií,  é    muito 

gí*rda  e  i^raiid»*,  de  cor  citjzeuta  e  vive  o    maiw  do    seu    lempo 

TIA*  arv-ores  onde  »e  alimenta  de  g-itlb^  s   tenro*,  e  folhíiSt  pririej- 

palmente  d»  embaúba.   Tem-.^e  ob-^rvado  qu^  quBiito  mfl  h  dt*&tfls 

arvore»  existem,  mai^   pre^uivas  ha     A   É^arigiien  (rapt  ia)  ria  tnija 

dos  gambás  é  o  orríínde    inimigo    das    ^':illiti|i«&  e  f^ua    pr.  ^ííriça 

revi*la*8e  por  u  n  fí^dor     iuâiipportavel  qu«  o  m'U  corpo    txbata; 

O  f*Ufiço-t*aixeiro  e  o  tatu   qu^   vivo  em  snbterrfineos  no   enn^pos. 

A  Cftbeça  e  a  caudu  parirei  na    com  as  do     lagarto    e  o    corpo  è 

coberto  de  um  coufo  dum  e  imp«netravel,  cnnm  o  çHâco  da  tar* 

tarnga,  A  sua  defesm  está  na*    Inngaa  o    afiadas    anhas.     í^endo 

uiuicfl  g  Bíofto  come-se  elle  com  praxer,  pe!o  qoe  e  muito  caçado. 

rer&eiíuido,  fu^^a  elle  o  chílo    num  momento  «  nílo  se  pej^ando  por 

um^i  perua  elle  di*sftp|'arecfl,  pr>rq»ie  he  ppgando  peU  canda    e*ia 

arrebenta  mas  o  animal  se  livra,  Exii^iHm  maia  o  veado  e  o  porco 

do  mato,  que  no    go«to  e    na    apparenuia,     fis^emelha-SB  a    um 

granrfe  leítilo  a  o  ppqueno  t-amello,   mne  que  parece  muito  rnro, 

O  viajante  com  niz^i}  admira-s(^  do  ^rindw  unmero  r.e  ma- 

eaeos  qne  apparecem   nns  mídíis  e  das     proey.^B  qiiRÚ    bumai^aa^ 

2oe  fte  contam  da  Guariba;  n  ceito  é  que  vivpm  numft  fsjecie 
e  sociedade  e  que  sftn  muito  euriosos  qui^ndo  livit^ã,  nas^  matas, 
Qoando,  dw  minhà  ci^do,  ellea  d^i^cem  [^ara  rí»ubar  ii]j.uam  roça 
drt  milho  ou  ura  |*omfli%  }iaeni  &í»mpr"  nos  altos  na  vÍKÍnb>inça 
sentinellns  qae  por  gritos  communfcnni  a  Hppioximaçào  dí^  un  ã 
pessoa.  Sendo  neífli  gentes,  siio  cas  ti  irados  rfim  varas  si  estilo 
perto  e  com  pedradas  qunndo  foL'-*'m,  Numa  ca  cada  curiftf=a,  á 
que  sssÍFti.  vi  que  as  temeis  quando  lem  de  fugir  de  pressa, 
tomara  os  filhos  nos  brj^çoa-  Encontrando  atvrree  tAo  di^t!lnt^'a 
uma'*  das  outra»  qae  ufto  alcancem  o>  galhos,  a  mfti  joga-st^  fomo 
um  raio,  pegando  os  palhos  do  outro  Indo.  e  fnro>rando  a  cauda 
onde  eftava  serve  assim  de  ponte  f>ara  o  filho.  A  simia  senicidua^ 
ou  mico  realj  ò  do  tamanho  de  um  serelepe,  muito  bonito,  porem 
nfto  vive  ao  norte  do  equador. 


—  302  — 

In&ectot  hh  muitas  e  entre  elles  o  moBquito,  rn&B  que  n&o 
uioletta  tfluto  como  no  Rio.  Fogem  todos  díi  fumaça  dos  ci- 
garros. Mais  vuljLifar,  porèm^  é  o  pequeno  insecto  que  chamam 
«bicboif  em  inglt^s  chiggtr,  que  peuetra  por  baixo  das  unlias  e 
Das  ru^as  doa  dedr>s  dog  pés  onde  fr  rma  pequt^nas  boi  las  cheias 
de  Fenueft  biancos  tom  cabeças  pretas.  Tira-se  esta  bolla  cora 
uma  agulha,  enihendo  depois  cv  buraco  com  tabaco  rm  calome- 
lauoB,  opeiaçào  esta  em  qua  os  neg:rpB  sâo  muito  destros,  E* 
necessário  dizer-sí*  que  o  pouco  aeseio  é  a  principal  causa  deste 
raal  que  não  tein  impoit.iucia  no  começo,  O  ^tande  morcego 
que  os  YÍajautes  tau  to  tôin  descri  pto,  câu^H  muito  mal  ao  gado 
era  S.  Paulo.  Tem  12  poli e*;:» das  de  comprimento  e  as  azas  tem 
de  4  a  G  polleg-adas.  A  língua  é  muito  pontuda  e  munida  da 
eipiabo».  De  noite  a-ís«nta-se  no  hombro  do&  cayaltos  ou 
muares  e^  furnndo  a  veia  do  pescoço  do  animal,  ãuga-lhe  o 
sangue  que  depois  continua  a  correr  e  o  animal  âca  coberto 
delle.  Durante  a  sucção  o  morcego  abana  cotn  as  azas  para 
aasira  diminuir  a  dôr  da  fínida.  E'  encontrado  somente  na  Ame- 
rtca  dn  8ul  n  na  índia,  atacando  também  as  pessoas  que  dormem 
cnni  aa  janellas  abertaji. 

De  cobras  e  amjthibii>s  ba  muitas  espécies.  Ã  cobra  mais 
perigosa  cbaraa-se  cjuearaca»  (jararaca)  e  habita  não  fomente 
09  campos  o  as  matas,  mas  entra,  ás  vezes,  ate  nas  ca«<as.  A 
mordedura  mata  dentro  de  ii4  hora*.  A  Çucuriyha^  de  cujo  ta- 
mnnbo  e  força  &(^  pode  fazer  uma  idfia  pela  capacidade  de  matar 
o  boi  6  a  onça,  habita  perto  dos  no*  Tietê  e  Amazonas.  K&o 
pensava  que  nas  minha-í  viagens  chegasse  a  ('Cr  este  monstro 
horrível,  que  laras  vezes  é  encontrado  na  TÍzinhança  das  es- 
tradas publicas,  mas  qua-;i  SBrnpre  no  iiitTior  das  matas  ribeiri- 
nhas, porquft  a  sua  natureza  Ibe  permitte  viver  ii^aírua  como  em 
terra,  potem,  casualcnente.  vi  um  numa  daa  volta  a  do  rio  Tietê, 
cujas  margens  tinham  u'a  mata  denr-a  e  impenetrável,  talvea 
nunca  percorrida  por  gente.  O  anima)  era  de  cor  parda  com 
pel!e  escamosa  e  brilhaiit^,  cabnça  chata  mas  redonda  e  munida 
de  dois  írraiidea  olhos  verdes  boca  hirga,  uma  fileira  de  dentei 
largos  6  ImíTira  grande,  nAo  birurcnda.  Estava  dormindo  e  sem 
força  de  moverse  em  conseqUfTicia  de  uma  refeição  demnf^iada 
de  um  boi  bravo-  Eatica^a  no  chíVo  com  a  larga  cabeça  refjou- 
sando  na  relva  á  soiabra  dr  um  arbustOj  a  cauda  estava  enrolada 
conforme  o  costutne  àn%  cobras.  O  >eu  ronco  despertou  a  atten* 
ção  doa  negros  que,  aliás,  tem  certa  facilidade  para  descobrir 
taes  cf>ma^,  corno  cobras,  passarris  e  outros  animaei.  Pararam 
iii. mediatamente  e  gritaram;  «bicbot!  o  que  dignifica  tanto  uma 
minhoca  como  uma  cobra  de  20  pés,  porém  dós  continuamos  a 
marcha  atè  ouvirmos  gritarem:  «grande  bicho»,  o  que  desper- 
t^iu  a  nossa  attcnçfta  e  curiosidade.  Que  aquelle  que  nunca  viu 
tal  monstro  julgue  da  nos^a  sensaçiio  ao  descobrirmos  este.  Ti- 
vemos muito  tempo  para  examinal-o,  porque  nem  o  barulho 
dos    nossos    cavalloi   ou    burros   conseguia    accordal-o    e    como 


{ 


♦ 


t&ifít  Dút  edtâyAtnoB  tòm  espingardai,  ch6n;ainofl  perto  e  en-» 
TUimí»i-lhe  uma  dussià  de  baía»  no  corpo,  o  que  foi  repetido. 
á  etbeçA  foi  attingida  primfirot  mas  niog-tiemi  nem  os  ne» 
grot  que  muitas  vexiss  se  defendem  com  faca  contra  aa  on- 
çit,  tiveram  coragem  de  se  approxímar.  O  corpo  torceu- ae 
«nmilfiivjuneQie,  encolbeu-Bô.  brilhando  em  varias  cores  e  o 
iiQpe  sabia  da  i-abeça.  Fionlmeute  foi  morto  4  pedrada;^. 
Oi  mgroê  receberam  ordem  para  Ibe  tirar  o  couro,  e  ioi  peua 
ftie  &  eabeça  eãtív^âie  totatm^^nle  eí^mairada  &  n&o  pude&iie 
Mf  eonservada.  O  coaro,  qoe  tiuba  30  pés  de  comprimento  e 
6,5  de  largura,  estava  faradi  em  yurios  log-areâ  e  foi  me  oâe* 
tecidio.  Perto  do  logar  desta  caçada  encnntrtimoa  depois  os  rectos 
de  nrn  boi  novo  que  a  cobra  matai  a  e  que  agora  e&tnvam  co- 
bertos de  uma  baba  escura  com  myriadpá  de  mo&cas.  Conforme 
diísemm-me,  e^ta  Boa  nuni'a  ataca  a  ^^inte  e,  qnando  está  com 
foQie,  iobe  a  uma  aryore  onde  se  eâvonde  t*ntrc  as  folbas  pAra 
eipiAT  os  animnes  que  passam  e  que  elLa  matii  do  seg^uíuto  mt^do: 
CAm  &  cauda  enroscada  jf^ga  o  corpo  8<  bre  o  stiimal  que  eíco- 
Ib«a  e  fto  redor  do  qual  iMiIeia  o  restu  do  seu  corpOj  apertando  as 
roíca*  tadi»  vez  iiií-i^  atè  moer  os  rs&fis.  Com  aã  fauces  aKtrtat 
fttíica  então  o  animal  fiinda  vÍvo,  su^ando-lhe  primfiroo  enngue 
t^do^  para  depois  erg^olir  a  êuíi  victima,  Á  lefeiçÃo  c  t-empre 
thfí  copiosa,  qiie  depois  òfeo  pode  mover-8e  e  precisa  repoU' 
Mri  escolhendo  para  isso  nm  lí^gar  perto  de  um  no,  onde  è 
facil  e-capar  e  onde  ha  frí-sca  agradável.  Este  animal  differe 
dl  Bm  consiricior  que  é  ma  or  e  ufto  tem  pseauiftíi  na  pelle 
A  bdicininga,  o  ibibiboca  ou  cobia  cf^al,  bciquatíara  e  a  boi- 
ÇfKLJiai;»  eào  cobra»  que  apparecem  ei^  fcinlmeiíte  no  tempo 
do  calor. 

O  remédio  tnais   commum    contra  nã  mordedura^i  de  cobra  é 

deitar  um  negro  chupar  o  Ingar  mi  rdído,  o  que   elle  faz  do  ae- 

e"í»t«  modo:  começa  por  mascar  bastante   teni[)n    um   pedíiço   de 

fumo  e  em    seg:nida  susrnr,    cuspindo   fòa  o  quo    tira  da  ferida; 

depois  faz -se  uma  mistura  de  fumo  e  ap^ua  qmí  se  dejta  no  In^.u" 

offeudído,    mudando    duas    veze*    pnr    dia.     Esto  remédio  que  a 

I  ^i[*rien/.'i»  provou  ser  melhor,  devia  ser  expenmentudo  em  outros 

I  p«í«eí,    fí    ali    bouvess*    facilidade    de    t^r    su «^adores  como  no 

'  Braiil     De  amphibios  encotttram-se  nos  rios  dn   o.  Pauli^  o  eai- 

I  nifln,  o  jacaré  e  a  capivara     Um   pequeno    bgarto  e    encontrado 

pfsr  toda  a   parte  na^  casas.     A p parece  especsalinunte  de  tarde  e, 

tfto  innocente  quanto  frio,  é  por    todort  protei^ido,   purque  caça    e 

mata    oa     mosquitos   molesiadores       E'  um     divertimento   em  S 

Psolo,  de  manha  cedo,  na  cnma,    observar    esta    caçada  êt.!'re   o 

OMwquiteiro    e    muitas  vezes  rigosijei-me  da    matan<ja  destes  m~ 

•ectofi  odiados. 

Por  toda  a  parte  ha  aranhas  de  tamanho  descommutml, 
Termelhas,  pardas,  varieg^adaa  e  pelludas,  entre  as  quaes  a  Sphaex 
coertdm  é  baitante  vulgar,     E^  comente  durante  as  horaa  mais 


-   304  — 

queDtPB  dos  dias  de  verão  que  uma  espécie  de  aranba  grande, 
extremaniente  fria,  apparece.  Desta  aranha  emana  um  cheiro 
fétido  que  envenei^a  as  bebidas  e  mata  com  frio  fxce^Bivo  e 
tremor.  Ha  pouco  tHm(>o,  felizmente,  achou -se  no  vinho  um 
antídoto  certo  e  ai^radavel  rontra  este  veneno.  De  escorpiôtts 
ha  um  frenero  pequeno  e  especial  chamado  «boiquiba>,  cuja 
picada  n:io  niMta,  mas  ])r()voca  uma  dôr  quo  jasí>a  tvdo  co- 
nhecido e  persist'^  durante  24  horas.  Do  género  Scolopendra 
ha  varias  espécies,  differentes  ua  fóima  e  tamanho.  Uma  deJlas. 
pr<*ta  e  com  cabeça  vermelha  e  pelluda,  é  um  eicellente  Ve- 
nerium  quando  posto  «obre  as  partes  ofenitaes,  o  que  os  índios 
p,  outra>*  classes  no  Brasil  bem  sabeoi.  Acredita-se  que,  usado 
C'  m  frequência,  causa  feridas  ulcerosas  que  chegam  a  determinar 
a  queda  das  partes,  mas  is  o,  sem  duvida,  provêm  antes  dos 
Lubs  venérea 

De  formigas  ha  tantíis  espécies  differentes  em  S.  Paulo  e 
no  Brasil,  e  a  sua  historia  é  tão  complicada  e  íntefressante  que 
aqui  nào  pôde  ser  o  logar  d^  as  descrever  e  sfto  todas  tidas 
como  uma  das  pragas  do  paiz  h  com  just^a  razào.  A  formiga 
maior  e  mais  de.vastadora  chamn-se  «içá»  e  tem  três  quaitcs 
de  pollegada.  de  côr  vermelha  e,  no  tocar-Fe,  ella  deixa  um 
cheiro  quasi  de  Imào.  Ella  mora  «  ni  subterrâneos  com  canaes 
de  um  a  dois  metros  de  comprimento  correndo  eoi  zigue-zague 
e  com  c«sas  ou  jardins  na  vizinhança,  onde  se  propaga  piodi- 
giopamente.  Nfto  se  conhece  contra  ella  outro  remédio  que  nào  o 
de  destruir  a  sua  habita^Ao  com  agua  e  cavando,  principalmente 
no  mes  de  setembro,  quando  os  filhos  est&o  para  sahir.  A  vida  e 
o  trabalho  incomprehen^iveis  deNte  pequeno  insecto  sào  admi- 
ráveis, e.-pecialmente  qti?indo  se  observa  como  se  dividem  no 
trabalho  de  corrar  p  ex.  o  anan«z  O  biaxileiro  distingue 
então  entre,  cortadora  e  carregadora,  das  quaes  a  primeira  corta 
as  plantas  e  a  segunda  as  carrega.  Encontram -se,  porém,  muitas 
vezes  no  caminho  com  umas  p»'quena8  formigas  pretas,  que  nào 
têm  a  mesma  força.  m;(S  que  cortam  as  ]>erua8  das  grandes  e 
lhes  roubam  a  carga,  naturalm^^nte  pagando  isso  com  a  vida  de 
muitas  da>4  suas,  porque  a  içá  nào  larga  sem  defender-se  até  o 
ultimo.  \  içá  tem  uma  vitalidade  extraordinária.  Mordido  de 
uma  içá  no  dedo  até  sahir  sangue,  cortei-lhe  a  cabeça  com  um 
canivete,  mas  nem  assim  ella  h^rgou  durante  11  minutfs,  ron- 
tinuando  a  mover  as  antenna^^  e  os  olhos  Fiz  a  mesma  expe- 
riência com  outras  e  o  resultado  era  sempre  o  mesn  o.  O  uuico 
meio  de  impedir  a  sua  invasuo  nos  jardins  é  com  pequenos 
canaes  cheios  de  a?ua  que  nào  ])odem  atravessar.  Em  S.  P*«iilo 
ha  ainda  uma  outra  espécie  pequena  e  com  azas,  contra  as  quaes 
este  meio  nfio  serve,  mas  síio,  felizmente,  raras. 

O  cuj)itn  é  uma  pequena  formiga  branca  que  somente  é 
encontrada  entre  papeis  e  nas  bibliotliecas,  onde  exerce  o  Ueu 
instincto  destruidor,  propagando-se  de  um  modo  incrível.  VÍ  na 


-  305  — 

Biblíotbeea  Real  do  Rio  de  Janeiro  os  fragmentos  de  ura  volume 
em  folio,  qnts  o  bibUoth'^carii>  Asseg-urou-me  ter  sido  destruído 
em  poucos  dias,  junto  com  a  maior  parte  da  capa  e  é  certo  que 
milbares  de  volumes  estavam  mais  ou  menos  estragados.  Elias 
se  destroem  a  t^i  m>^«mas  quando  se  introiuK  nos  ninhos  delias 
uma  massa  de  farinba,  ars^mico  e  assucar,  que  as  torna  loucas, 
roa'!  nfto  as  mata.  Acreditasse  ser  o  grude  do  encadernador 
que  attr.ibe  os  cupins  para  as  livrarias  e  é  por  isso  que  mistura- 
se  boje  arsénico  n^ste  grude.  Estas  formigas  só  existem  no  Brasil. 

Os  {lassaros  sà>em  numero  extraordinário  e  nào  ha  menos 
de  cem  espécies  de  papagaios  dos  quaes  as  araras  sào  as  maio- 
res e  qoasi  do  tamanbo  de  um  gallo  cap&o  com  uma  cauda  de 
raeio  covado:  a  avestruz,  a  pica  paradifiiaca.  o  irochilus  mi- 
nirnus  e  o  tbis  sào  também  muito  lindos .  De  aves  de  rapina  o 
falco  harpyia  e  o  vuliur  gryphiis  sào  os  mais  curiosos  pela 
propriedade  de  se  domesticarem  para  a  caça  de  outros  pássaros; 
a  anha  na,  cuja  tos  é  a  do  um  burro,  e  a  marreca,  uma  esiiecie 
de  palmipede  que  n&o  pode  voar  nem  andar,  somente  nadar,  sAo 
os  mais  raros. 

De  galUnaceos  ba  em  S.  Paulo,  além  de  perdizes  e  faisões, 
que  e'n  tamanbo  sào  menores  do  que  os  europeus,  a  jamperna, 
o  jaeú,  grande  como  um  peru,  o  mutum  e  o  macucn,  que  todos 
B&o  saborosos  e,  apanbados  novos,  facilmente  se  criam  e  engor- 
dam como  gallinbas.  Dois  jacus  domesticados  que  conduzi 
por  mais  de  20  legaaa  a  cavallo,  foram  victimados  por  um  gato 
a  bordo,  n-i  viagem  para  a  Europa. 

Lembro  -me  também  de  uma  espécie  de  gallo,  chamado  «gallo 
musico»,  que  tem  a  propriedade  do  prolongar  uma  das  notas 
do  seu  canto  por  1  a  2  minutos  e  que  é  muito  estimado.  De 
▼ista  parece-se  muito  com  os  nossos  gallos,  é  porem  maior  e  raras 
s&o  as  ca  «as  que  nào  tem  um  gallo  destes  no  quintal  e  dentro 
da  casa  um  par  de  p<ip'ígaio3  que  pairam  ás  vezes  até  uma  meia 
dmzia  de  palavras  principalmente  na  casa  dos  indi^enas.  E'  inte- 
rc^Siiante  notar  que  os  papagaios  têm  certa  predilecção  ])elos  ne- 
gares e  acottumam-se  melhor  com  elles  do  que  com  os  brancos ; 
os  papagaios  mai^  palradores  sào  educados  por  negros.  Na  Aírica 
seria  fácil  explicar  isso,  mas  no  Brasil,  ondo  a  maioria  dos  ha- 
bitantes sào   brancos,  é  menos    comprehensivel. 

As  matas  de  S.  Paulo  jiroduzem  grandes  o  cxcelloutes  ma- 
deiras que,  quasi  todas,  têm  conservado  os  seus  nomes  indígenas. 
Muitas  têm  uma  gomina  aromática  e  são  consideradas  as  melho- 
res. O  vinbatico  é  estimado  por  sua  belleza,  o  cedro  por  sua 
força,  a  peroba  por  seu  tamanho  c  dureza,  sorvindo  para  canoas ; 
a  jacarandá  ou  páo  rosa  de  côr  preta  e  amarella,  a  S.  Sebastião 
de  Arruia,  cabiuna,  jaracatão,  ubatão,  candurú  e  varias  espécies 
de  palmeiras,  das  quaes  a  iri  é  a  mais  notável  ])or  sua  elastici- 
dade, e  o  pAo  d'alho  que  tem  o  cheiro  effectivo  de  alho  P^ara 
oOBStraoçdot  navaes  a  natureza    nào    deu    melhores    madeiras  á 


—  306  — 

nação  nenhuma  do  mundo  e  contam-ae  maia    de  í(0,000    leguaa 
geog-raphicaB  quadradaa  cobertas  delias, 

Êtn  relaçào  ao  reino  vegetal ^  aó  po^BO  mencionar  &&  plantai 
maia  commuDS^  dag  qi]»eii  a  mandioca  occiípa  o  primeiro  Jog&r. 
Tem  uma  raÍ2  de  um  pé  de  comprimento  e  5  a  €  pfiilegadaa  d« 
grossura  e  um  caule  de  um  metro  ou  mais  acima  do  chào.  EU» 
é  venetiofa,  tHuto  nova  como  eecca^  n^eirns  para  ob  poicoe  e  é 
reduzida  á  farinha  do  se^niTite  modo  i  Depois  de  arrancnda  da 
terra  é  ella  bem  lavada,  di^^cascada  e  ralada  num  ralo  piçprio  e 
a  massa  calLicada  numa  preusa  que  Ibe  tira  todo  o  sueco,  depoit 
do  que  é  eppalLada  áobre  um  forno  ãa  cobre  de  4  a  5  pés  de 
dtanietro,  Emqua&to  estiver  no  Íqvho  é  conEtantemente  reme- 
xida até  evaporar- SC  toda  a  humidade  e,  uma  ve7i  bem  tecca, 
está  prompta  a  £yrinba  que,  si  deve  ser  mais  fina  é  ainda  pi- 
lada num  pil&o.  Guardada  da  humidade,  esta  farinba  se  con- 
serva por  muito  tempo  e  é  muito  nutritiva  por  caufa  da  tua 
propriedade  gelntinoiía.  Misturada  com  cm  Ido  de  carne  é  mui 
laboroia  ô  eicellenle  paia  longa*  viag-ens.  O  sueco,  que  sflbe 
da  mandioca  prensada,  mata  os  porcos,  apesar  de^te^  poderem 
comer  a  raiz  mm  perijro.  Eacontra-ae  lambem  uma  ee[iecie  de 
mandioca  brava  chamada  caipi»  e  que  tem  o  gosto  da  castanha. 
O  inhame  merece  o  logar  defois  da  mfindioca  c  serve  ccmo  a 
Katata ;  é  farinbeuta  e  chega  »  t^r  um  diameiro  de  5  pés,  com 
casca  parda  escura,  Conaerv/i-ae  duranle  gemanas  no  mar  e  é 
muito  estimada  pelos  europeus,  A  banana  é  a  Bobremeia  pre* 
ferida  do3  brasilpiios;  tAo  nutritiva  quanto  «saborosa,  constitue 
e!la  a  comida  principal  dos  negros,  junto  com  a  mandioca.  O 
milho,  emfiregddo  como  forríigem,  ©  o  arroz  são  ot  productí'B 
mnis  commiiuâ  e  ricos  do  paiz.  O  primeiro  dá  120  pttr  um, 
e  tem  e^piga-j  cora  mais  d©  300  grâoa,  O  ananasn — Ananás 
BromeUa  — ,  ansim  chfimado  por  Plamier  era  honra  do  untura- 
Lata  stieco  OlaVtí  Oromelim  qtie  nasceu  em  Orehro  em  163Í*, 
ufio  é  tào  gostoso  como  o  da  Buro]»a,  mas  os  ]íequeno&  limõt?s 
Eâ  laranjnfi  as  uvai,  os  cocos,  o  maracujá-  a  manga,  ©  a  incom- 
parnvel  goiaba  que  é  emprcírada  para  doce,  ex}>ortado  em  forma 
de  queijo,  sSo  verdadeiras  gulodices  de  S,  Paulo,  Ha  muitas 
espécies  de  Mimosa,  chamadas  «Joqu^ri»,  que  ornam  os  jardins^ 
A  Copaifera  officinalia  é  muito  commum  e  o  seu  bálsamo,  que 
sabe  do  tronco  ferido,  c  apanhado  em  vasillias  largas  e  empre- 
gado contra  moleBtiaa  ©itornaa.  Da  Gwrfuana  fmprcga-«c  n 
casca  para  tingir  de  amarei  lo  e  da  Irepad^^ira  cimmnda  «emby» 
fiiis-se  ]>equeuAs  Cordas.  O  mangne  cresce  nas  margens  dos  rios 
o  ribeiras  e  as  eu»í  raizos  h©  es  pai  liam  por  baixo  do  chão,  d*i 
onde  m  pontas  sabem  de  novo:  a  sua  casca  serve  para  coilumo 
por  cau&a  do  it*r  adÈtringente,  A  sajnicaia  *em  umit  liucla  cu- 
riosa. Assemolba-so  a  uma  marmita  com  liimjia  loineadn,  d^oiide 
ella  pende,  abnndo-£e  ua  maturação  deix&udo  escapará  sementes, 
que  se  parecem  com  castanhas  e  sfto  d©  agradável  aabor.    O  pro* 


-   30T  ^ 

prío  (rttctõ  è  áuTo  como  pedra  e  contem  geral misD to  mait  50  }>e- 
quenoB  fractos.  Iba  é  nroa  espccie  de  piulieiro  que  cresce  até 
mna  altura  descommnnal,  com  a  copa  sobre  um  (ronco  direito  e, 
segundo  Liiuié,  existe  aomeu  te  ua  capitau:a  d«  S.  Paulo.  Ãft 
fructaa  £ào  compridas  f  muuidas  de  casca  da  cor  da  ca^Uúba  e, 
como  ella^  nho  absadaã  no  fogo  e  comidas  em  aobremcaa.  Em 
mtátoa  centos  t*htko  ellas  unidas,  formando  utim  bolla  det  bonito 
asppcto  que  se  seeca  para  separa-  aa  caãtauba^.  O  cipó  (Viola 
Ipecacitanka) ,  a  canell  i  brntica,  a  gengtvre,  o  tameriticiro,  aja* 
lapa  c  muit&i  ^mtnts  plantas  quó  pertencem  n  pbarmítcia,  exis- 
tem por  toda  a  parte,  mas^  como  a  agricultura,  Bho  para  »erem 
aprovertadaa  {)6la«  gerações  futuras, 

AS    RENDAS    DA    COROA    fíO    BRASIL 


1-*.  Uma  quinto  parte  de  todo  o  ouro  extrobido,  o  que^ 
inchando  as  mina&  da  governo,  dá  uma  renda  con&íderavel,  que 
para  o  aiino  de  1812  foi  calculada  em  135  arrobas  a  32  Jíbraa 
a  arroba,  ou  6640  marcos  ouro  de  16   lOd  por  marco, 

2.".     15  */^  de  todas  as  mercAdorias  importadas. 

B'.     5  ■/*  <ic<  tudo    exportado, 

4,*,  IO  V.t  (ie  toda  a  producçÃo  do  paízi  o  que  perfa2  uma 
somma  con^IderavoL  Calcula- se  por  exemplo  a  renda  annual  de 
counvs  produzidos  uo  Rio  Grande  em  B3  contos  e  em  66  contos 
a  do  assuciír  e  do  al^^^odão   exp^^rtados    somenrc  da  Babia. 

5,^  Aé  indulte ticim  que  resultam  do  arrt^ndamento  a  par^ 
ticalarfi»  do  direit»  de  cobrMr    impostos 

6/.  U«'ndas  da  alfandega  de  tudo  quanto  entra  para  o  dia- 
tricto  da»?  raínss  e  que  se  paga  no  Hí^gístro  de  Mstbias  Barbosa 
oii  PjirabibuQa  á  r&zko  de   1$000  a  arroba. 

7.^.  Imposto  ?-obre  flscravoà  no,vos  qne^  per  capita,  ]íflgara 
lOIODO  e  no  meâmo  artigo  comprphende-se  um  imposto  sobre 
bois  para  o  Rto  de  Janeiro,   de  dois   terços  de  mil  réis, 

8/.  Grande  renda  das  barreiras  de  todos  os  rios  e  pontes^ 
ou  de  pagam  4$Q00  de  cada  mula  solta^  como,  por  exemplo,  em 
Boroeaba. 

9A  10  réis  cada  libra  de  carne  de  vacca  vendida  no  Rio 
de  Janeiro;  e£tâ  arrendada  por  coutracto  ao  sr.  Husiel,  vice- 
consut  da  Inglaterra, 

10.^  Grandfl  ronda  do  fumo,  do  sal  e  doi  contrftctoa  do 
pesca  da  baleia,  e  outras  pescas,  todoí  arrendados  a  particulares. 

11.*  lOIOOD  cada  pipa  de  aguardente  que  do  iuterior  vem 
ao  Hlo  para  ser  exportada 

12/     A  nova  taxa  predial  que  deve  render  muito. 

1%'  Grande  renda  bem  calculada  das  piastrai  espanholas 
que  no  Brasil  valem  750  reis,  man  que  o  banco  compra  para 
repunb^r  as  moédaa  de  3  patacas  com  as  armai  e  diviea  do  pais 
«  que  eahem  da  casa  da  moeda  com  g  valor   de  960  rèi9,  dando, 


—  308  — 

portanto,  um  lucro  do  32  •/,  ao  Estado.  Esta  transformaç&o 
monetária  faz  que  não  valha  a  pena  exportar  prata  do  Brasil, 
siuão  para  os  colleccionadores  e  a  operação  é  tanto  melhor 
quanto  o  paiz  não  possúc  este  metal.  Serve  até  de  avieo  a 
outras  nações  para  dar  maior  valor  á  sua  moeda  de  prata,  afira 
de  prevenir  uma  exportação  illicita  e   prejudicial. 

A  renda  dos  diamantes  e  pedras  precioFas  não  entra 
nestes  cálculos  porque  é  muito  incerta.  Acredita-se,  porém, 
que  seja  egua^  a  do  urucii,  marfim  c  toda  espécie  de  madeira, 
tanto  para  a  tinturaria  como  para  trabalhos  finos,  avaliada  em 
3  300  contos  por  anno.  Os  diamantes  de  proj^-iedade  do  piin- 
cipe-re<^ente  são  avaliados  em  33  mil  contos  ou  6  mil  toneis  de 
ouro.  Calculam-se  as  despesas  da  corte  no  Rio  de  Janeiro,  pcir 
800  pessoas  que  ali  recebem  m  natura  as  chamadas  «rações»,  a 
um  dobrão  ou  16  pia^tras  espanholas  por  dia,  ou,  em  dinheiro, 
em  10  contos  240  mil  réis  por  dia,  o  que,  segundo  o  cambio 
notado  em  1813,  a  78  pence  por  mil  réis  (sendo  de  67,5  pence 
ao  par),  perfaz  a  somma  de  214.000  libras  esterlinas. 

* 

As  moedas  do  Brasil  são  a  s  seguintes : 

Ouro:  O  dobrão  ou  40  patacas,  ru  12$000,  é  uma  moeda 
imaginaria,  como  em  Portuí^al.  Meio  dobrão  ou  «Joanete»,  vale 
20  patacas  ou  6$400  róis.  é  a  moeda  mais  acceita  e  tem  grande 
valor  entre  todas  as  nações  do  sul,  sem  que  tenha  melhor  ouro 
do  que  as  outras. 

moedas  de  12  1/4  patacas  ou  4^000 
»  6  1/4  »  »  2ík000 
>     3  »         »    1|000,  ou  2  pintos. 

Prata:  ^  patacas   (piastrà   espanhola)  24  vinténs  ou  960  réit* 


Cobre 


A  divisa  da  moeda  brasileira  é:  Stab.  subque.  Sign.   Nata 
(Stabile  subque  signo  Nata  scil.  Monita.).     Kepresenta  uma  es- 
phera  com  o  trópico  e  no  outro  lado  o  busto  do  principe-regent^. 

*      * 
As  taxas  dos  ])ortos  do  Brasil  são  oguncs  j)ara  todos  os  navios, 
excepto  para  os  navios  de  guerra  c  paquetes.     Os    portos  prin 
cipaes    são:    Pernambuco,    Bahia    e    Kio   de    Janeiro.     Nos    doii 
primeiros  paga-se: 


2 

1  i)ataca 

1/2      » 
1/4      » 

16 
8 
4 
2 

» 
» 
» 
» 

»    640 
»    320 
»    160 
>     80 

» 
» 
» 
> 

r  2  vinténs  ou  40  réis. 
1   vintém    >    20     » 

—  809  — 


um, 


Bem 


Âo  pratico  para  entrada  e  sahida 

Entrada  e  sahida. 

Âncomgem  p<^r  dia    . 

O  Patrico-mór  por  dia  . 

O  interprete  todo  o  tempo 

6  gnardat  a  3  patacas  cada 

manutenç&o,  por  dia 
O  g:iiarda-mór  do  tabaco 
O  goarda-mór  da  alfandega 

a  primeira  despesa  . 

Hiaria 

No  Rio  de  Janeiro  pagam-se: 

Entrada  e  sahida  com  prat 
Interprete,  diária. 
Ancoragem      «... 
2  guardas,  diária. 
Primeira  despesa  no  Rio 
Diárias 


CO 


7$000 
4$000 

1§000 

2$000 

5S760 
3s200 
1}!;280, 
17S840 
aif760 


portanto, 


2r>$600 
lAOOO 
1^000 
ISOOO 

25$600 
3S900 


*      * 


Quando  um  navio  tem  de  sahir  da  Suécia  devia-se  calcular 
bem  o  tempo  melhor  porque,  fazendo  isso,  a  casa  armadora  ganha 
pelo  menos  6  meses  na  viagem  de  ida  e  volta,  8em  contar  a 
eommodidade  para  o  navio  e  para  a  tri])oIação  com  um  bom  vento 
constante  que  permitte  gosar  as  vantagens.  E*  bom  lembrar-Be 
qae  os  ventos  alizeos  sopram  de  Norte  a  Sul  de  novembro  até 
abril,  mas  de  Sul  a  Norte  de  abril  a  novembro  e  que,  ])ortanto, 
08  navios  suecos  em  viagem,  devem  estar  na  altura  da  Ilha  ^^u- 
deira  no  começo  de  novembro  e  não,  como  até  agora  tem  feito, 
sahir  da  Suécia  neste  tempo.  Os  que  &ahem  dos  portos  do  Báltico 
devem  estar  promptos  para  navegar  no  íim  de  agosto  e  os  do  Mar 
do  Norte  em  setembro,  sendo  de  esperar  que  estes  mesmos  na- 
vios, voltando  do  Rio  de  Janeiro,  pudessem,  no  anno  í>eguinte, 
e»tar  de  volta  em  junho  com  suas  cargas.  Todos  que  navegam 
para  o  Brasil  deviam  além  disso,  receber  ordens  de  passar  pelo 
curso  norte,  nào  sómenie  para  terem  mais  agua,  mas  ]>ara  evitarem 
alguma  aportagem  no  canal  e  as  despesas  que  isso  acarreta. 


* 


O  seguinte  quadro  dá  a    latitude 
cipaes  cabos  e  lagares  do  Brasil. 


Cidade  Belém  no* Rio  Amazonas. 

Ponta  de  Tegioca 

Gidale  Caheté 

Ilha  S.  Joio  de  Evangelista . 
nha  Manmbfto 


e  a    longitude    dos    priu- 


LATITUDE 

Gr.  M.  S. 

30 
27 
36 
7 
32 


O  — 
0  —  48 
0  —  46 
0  —  44 
0  —  43 


LONGITUDE 

Gr.  M.  S. 

i8     30 

8 

50 

14 

40 


--  SIO  — 


LA7ITUDB         LOMOtTtJDB 

Gr.  M.  S.        Gr.  M.  8. 

Hio  Paraíba .  2  40  O  —  41  20  O 

Sierra            ..<..*,.  3  31  O  —  38  23  O 

Cabo  S.  Roque,      .,.,.,  5  7  O  —  36  15  D 

Rio  Grand*              ,            .      ,      ,      ,  5  17  O  —  36  5  O 

Barra  do  Parabiba  Norte    ....  tí  40  O  —  35  30  O 

Cidade  Olinda 8  2  O  —  35  15  O 

Recife 8  14  O  —  B5  15  O 

Cabo  S.  AgOBtinlio 8  26  O  —  35  15  O 

Bahia  ou  í5.  Salvador 13  O  O  —  39  25  O 

Cabo  S.  Thomas 21  61  O  —  40  49  O 

Cabo  Frio     .            ...•-.  22  54  O  —  41  35  O 

Rio  de  Jíiu-iro.            .....  22  54  O  —  42  ^9  45 

liba  Santa  Catb  iriím 27  40  O  —  47  43  O 

# 

à  ilba   Ttittão   da  Cunlia  que  durante  aeculoB  dAo  tem  sido 

habitada,  está  a  23  gráofl  latitude  Bui,  entre  o  Cabo  da  Boa 
Esperança  tia  Afriea  e  Rio  da  i^ata  Da  America  do  Sul,  com 
tnaig  du»«  Hba^^Nightiogale  e  Ittaccei^sible,  toda&  situadas  num 
clima  êxcellentç,  com  veí5'*ítac:ao  eitiberante,  rica  peíca  de  baleia 
UfLA  9uaa  cobtaâ  e  graude  tibundaDcia  de  }.)orcoB  e  de  t!abrii»  que» 
prfívavelmenie.  toram  ali  desen^  barca  do»  jiot  navio».  Todas  e^taí 
van ta^etifi,  porê  m  nào  puderam  attrahír  os  habilaiiTes  do  Brasil, 
nem  de  outra  parte  da  Ami^rica  do  Bui,  a  emigrarem  pma  esiaa 
bellas  ilhaá,  tiil?e2  porque  onde  estiiTam  já  tinham  terra  bas- 
tante pava  cultivar.  Estava  reservado  a  um  aventureiro  norte- 
americano,  chamado  Roberto,  tornar  t^e  conhecido  pela  occupaçâo 
dt  ata  ilha  e,  ha  trea  anno»,  de^>oi&  de  arranjar  a  protecção  drt 
g^overnoB  de  Londres,  Rio  de  Janeiro  e  dos  Ei^tados  Amencaoot, 
occupou-a  de    s4^-ciedade  com  um  ex-allem&o  de  nome  Sieyers. 

Parece  que  íbho  promettia  muita  uliUdade  aoi  navios  que 
ne&tas  paragens  estivessem  neceBíifadne,  raziU»  porque  as  naçftea 
deram  a  sua  protecção  á  en]preHa.  Roberto  pode  logo  aitrabir 
outros  aventureiros  á*  s  pal^çs  próximos,  alcançando  o  numero 
de  16  borne ns  e  30  mulheres,  iobre  Oâ  quae»  elle  deixru-se  pro- 
clamar rei  em  1812,  com  uorne  de  Roberto  Primeiro,  notííieaíidu 
ás  futrai  uações  que  os  navios  dellei,  com  retribuição  modiea« 
podiam  ser  providos  por  elle  com  msntimentos,  a^a  etc.  Im- 
mediatamente  iaiciou  varias  cultuims  como  a  de  batatas  e  Je- 
^umeSf  coni^trucç^o  de  um  potto  e  um  forte.  De  todos  os  navegan- 
tes recebeu  elle  provas  de  rratídão  ede  reconheclmetito ;  barricas 
d^agua^  potes,  apparelbos  de  lavoura,  carretas,  pequenos  canhões 
etc.  eram  sempre  presentes  muito  estimados  peto  novo  rei^  Até 
o  famoso  navegador  Pedro  Heywood,  almiran  te   do  oavio  inglês 


-  311  — 

cMontague»,  de  74  canhões,  estacionado  na  America,  fez  ao  Ro- 
berto uma  visita  pessoal  e  yiu-o  diyidir-se  entre  a  charrua  e 
os  cuidados  da  governança  e,  segundo  o  testemunho  do  sr.  Hey- 
wood,  a  sua  energia  era  de  tanto  maior  valor,  quanto  elle  era 
um  homem  nervoso,  dotado  de  intelligencia  perspicaz  e  inclina- 
ção para  empresas  arriscadas,  como  prova  a  sua  decisão  de  po- 
voar uma  ilha  deserta  e  t-rear  um  abrigo  aos  navegantes  naquella 
immensa  extensào  d'agua  que  separa  a  África  da  America. 

O  rei  Roberta  morreu  u  anno  pasmado  debaixo  do  peso  das 
fadigas,  exactamente  quando  o  sr.  Sievers,  que  conheci  pessoal- 
mente, no  Rio  de  Janeiro,  eslava  occupado  na  negociaç&o  de 
um  empréstimo,  afim  de  comprar  uma  escuna  armada  para  defesa 
das  costas  de  Tristão  da  Cunha.  A  p)imeira  noticia  da  morte 
do  soberano,  o  sr.  Sievers  apressou- t-e  em  voltar  e  apesar  de 
ninguém  conhecer  o  coti  tracto  que  elle  tinha  com  Roberto,  é  de 
suppor  que  elle  se  proclamasse  succesbor.  Certo  é  que  em  todas 
as  occasiões . que  o  rei  era  mencionado,  elle  o  chamava— The 
King  my  partner — o   rei  meu  associado. 

Segundo  tem  sido  garantido  no  sul,  o  código  Roberto  per- 
mittia  a  polygamia,  o  que  talvez  era  antes  uma  necessidade  po- 
litica do  que  consequência  de  principies.  £m  todo  o  caso,  de- 
certo muitos  desejariam  s.r  habitantes  da  ilha  Tristão  da  Cunha* 


Juizado  de  Fora  e  Oavidoria  de  Itú 


O  governador  e  capitão  general  Rr.drigo  César  de  Menezes, 
em  28  de  setembro  de  de  1722  dirigiu  uma  carta  ao  soberano 
português,  na  qual  escreveu  que  na  sua  opinifto  era  «mui  pre- 
ciso haver  iia  dita  Villa  de  Outú  Juiz  de  Fora  e  que  e^te  tenha 
jurisdicção  na  Villa  de  Sorocaba,  fendo  obrigado  a  repartir  o 
tempo  de  sua  assistência  em  uma  e  outra  parte»,  e  pel**  Carta 
Regia  de  17  de  junho  do  anno  seguinte  lhe  foi  respc  ndido  que, 
depois  de  estarem  bem  estabelecidas  as  minas  de  Cuiabá  e  de 
per  o  seu  rendimento  certo  e  permanente,  seria  creado  o  logar 
de  juiz  de  fora  de  Itú. 

Per  esta  mesma  Carta  Regia  se  ordenava  outrosim  ao  go- 
vernador declarasse  de  que  «moradores  se  compõe  a  dita  Villa 
e  as  íreguezias  que  tem,  e  a  terra  que  comprehende  e  se  ha  nella 
algum  convento  de  religiosos  para  que,  conforme  a  noticia,  se 
possa  tomar  a  resolução  que    fôr  conveniente  neste  particular». 

As  informações  exigidas  foram  pret^tadas  em  carta  de  18  de 
ag^osto  de  1724  pelo  governador,  que  affirmou  se  comporá  villa 
«de  oitocentos  casaes,  tendo  sete  legoas  de  districto,  não  tendo 
mais  Igreja  curada  do  que  a  Matriz,  um  Ccnvfuto  de  Religiosos 
Franciscanos,  um  hospício  de  terceiros  de  N.  S.  do  Carmo  e 
uma  Igreja  do  Senhor  Bom  Jesus,  e  como  está  situada  na  barra 
do  Rio  onde  desembarcam  os  mineiros  que  vem  das  minas  de 
Cuiabá,  e  o  concurso  daqui  por  diante  ser  muito  maior,  le  fietz 
preciso  haver  nella  Juiz  de  Fora,  não  fazendo  duvida  o  rendi- 
mento das  ditas  minas,  por  ser  certo,  do  qual  pode  sabir  o  seu 
ordenado». 

Em  vista  do  informe,  foi,  segundo  communicaç&o  feita  ao 
governador  da  capitania  pela  Carta  Regia  de  12  de  agosto  de 
1726,  mandado  crear  o  logar  de  juiz  de  fora  para  a  villa  de  Itú, 
sendo,  para  occupal-o,  nomeado  em  23  de  março  de  1727  o  dr. 
Vicente  Leite  Ripado,  que  em  1720  era  ouvidor  geral  do 
Maranhão  e  nesse  caracter  por  officio  de  13  de  junho  accnsou  o 
governador  Bernardo  Pereira  de  Berredo  de  diversos  factot 
escandalosos,  sendo  por  este,  a  seu  turno,  accusado  de  excessos 
praticados  cmtra  os  moradores. 

O  dr.  Leite  Ripado,  por  carta  de  13  de  julho  de  1729,  re- 
presentou ao  governo  da  metrópole  pedindo  a  annexaçfto  da  villa 
de  Sorocaba    ao  juizado    de  fora  de  Itú,   a  exemplo   da  reunião 


—  313  — 

da  TÍlla  de  8.  Vicente  ao  jaizado  de  Santos,  e  tobre  este  seu 
pedido  ai  Cartas  Regias  de  25  de  janeiro  e  22  de  abril  de  1730 
mandaram  qne  o  governador  Caldeira  Pimentel  interpuzobse  pa- 
recer ouvindo  os  officiaes  da  Gamara  de  Sorocaba. 

Elm  23  de  abril  de  1730  o  governador  e  capitão  general 
Caldeira  Pimentel  concedeu  provisão  de  procurador  de  causas 
do  jnizo  geral  da  vil^a  de  Itú  a  Manuel  St  ares  de  Sousa, 
«attendendo  ao  que  (este)  «llegou  e  a  informação  que  deu  de 
■na  intelligencia  e  caiiacidade  o  dr.  V^icente  Leite  Ripado,  Juiz 
de  Fora  da  dita  Villa». 

Na  iecretaria  do  governo  paulista  se  poz  em  10  de  abril 
de  1732  o  ccumpra-ae»  na  carta  de  27  de  fevereiro  do  anno 
anterior,  pela  qual  íôra  nomeado  juiz  de  fora  de  Itú  o  dk.  An- 
tónio MoNTRiRO  DE  Matos,  que  tinha  dado  bra  residência  do 
logar,  qne  antes  exercera,    de  juiz  de  fórn  de  Alenquer. 

Por  provisão  de  9  de  março  de  1731  pe  fixou  o  ordenado 
annual  de  SOOjjOOO  que  devia  elle  vencer,  tendo  assim  no  or- 
denado um  accre»cimo  de  50$000  sobre  o  que  vencia  seu  ante- 
cessor Leite  Ripado,  e  por  outra  ])rovisão  de  4  de  abril  do 
mesmo  anno  se  lhe  deram  200^000  de  ajuda  de  custo,  tendo  lhe 
sido  feito  mercê,  por  provisão  de  17  de  março,  do  officio  de 
Priivedor  das  fazendas  dos  defuntos  e  ausentes,  capellas  e  re- 
síduos da  villa  de  Itú. 

  este  juiz  de  fora  escreveu  em  29  de  dezembro  de  1732  o 
Conde  de  Sarzedas,  governador  e  capitão  general  da  Capitania, 
ordenando  fizesse  toda  a  diligencia  possivel  não  &ó  para  evitar 
a  pratica  contra  a  guerra  j  os  geniios  ja  agufiz  e  a  todos  os 
mais  bárbaros,  que  infe>tavam  o  caminho  e  minas  de  Cuiabá, 
eomo  também  pa>a  que  fossem  castigados  com  a  severidade,  que 
merecia  tão  grande  delicio,  os  que  por  elle  deviam  responder. 

Outra  carta  escreveu  Sarzedas  em  14  de  janeiro  de  1733  ao 
mesmo  juiz  de  fora,  mas  desta  feita  para  lhe  fazer  diversas  ex- 
probações  e  entre  ellas  a  de  que  havendo  na  capitania  vinte  o 
tantas  villas,  todas  se  conservavam  em  uma  paz  universal  com 
excepção  apenas  de  Itú,  onde  se  não  a  experimentava. 

Tendo  chegado  ao  conhecimento  do  soberano  que  na  capi- 
tania de  S.  Paulo  se  tinham  introduzido  cunhos  falsos  com  que 
se  marcavam  as  barras  de  ouro,  ordenou  elle  por  carta  de  15  ds 
maio  de  1733  ao  governador  que  nomeasl^e  o  ministro  de  maior 
capacidade  que  houvesse  em  seu  goveino  }>ara  tirar  logo  devassa 
de  todas  as  pessoas  que  tinham  fundido  ouro,  ou  ucado  de  cu- 
nhos falsos  para  marcar  as  barras  ou  folhetos  sfm  ^crem  quin- 
tados,  as  pronunciar,  prender  e  remetter  ]>/tra  a  cadêa  de  Lisboa, 
enviando  a  devassa  para  a  Secretaaia  dn  Estado  e  a  conservando 
em  aberto  para  se  continuar. 

Resolveu  o  mouarcha,  p(  sterioi-mente,  que  a  devassa  com- 
prehendesse  também  os  crimes  de  levantar  casa  de  moeda,  fazer 
moeda  fidsa,  cercear  ou    diminuir  a  verdadeirsi,  e  iucumbiu  de 


—  314  — 

continuar  a  dita  devasfa,  lhe  sendo  sBta  remettída  pelo  miQiBtro 
que  delia  ao  achasse  encarregando,  ao  dr.  Braz  do  Valle,  que 
vinha  ^lara  a  capitania  de  Minae  na  qualídâdi^  de  juiz  do  fiseo 
e  que,  tnaís  tarde,  foi  nomeado  por  decretn  da  28  de  janeiro 
de  173G  intendente  de  uma  dai»  cinco  intendí-nciaB  de  Mitias 
C^era^s  que  lhe  ffisse  designada  pelo  respectivo  governador j  e, 
ainda  depois,  fez  parte  da  Casa  da  Supf»licaçAo  de  Lisboa,  da 
qual  fui  nomeado  desembargador  em   1748* 

Esta  resolução  do  soberano  português  foi  commnn içada  ao 
pfovernador  Saraedas  por  carta  de  -^0  de  outubro  de  1733,  e  da 
devassa  sobre  cunho  falso,  emquanto  não  chegafise  de  Minae 
Geraea  o  dr.  Braz  do  Vatle,  a  quem  fora  con liada  ti  referida 
díliiçenciaf  foi  por  uma  portaria  de  3  de  dezembro  de  1734  in- 
cumbido o  juiz  de   fora  de  Itú  dr.  António    Monteiro  de  Matos. 

Na  jnnia,  que  ée  realizou  em  S.  Paulo  ao^  25  de  abril  de 
1735,  para  se  estudar  e  propor  o  melhor  modo  de  conservar  e 
augmentar  as  minas  de  Goiaz,  tomou  parte  este  juiz  a  cujo 
respeito  se  externou  Sarzedas  na  informaçi^O}  prestada  a  9  de 
maio  de  1735  &obre  os  milttare«,  ministros  e  mais  cfficiaes  da 
capitania,  escrevendo  que  cO  Juiz  de  Fora  da  Yilla  de  Itú  tem 
mostrado  na  sua  capacidade  e  letras  que  é  digno  do  todo  o  bom 
accreãctntamento,  e  o  bom  conceito  que  delle  faço  me  obrigou 
encarreg£<l-o  da  deva$-sa,  que  se  continua  em  aberto  nesta  Ca- 
pital sobre  a  extracçÃo  do  ouro  em  p6,  barras  falsas  e  cercea- 
mento da  moeda  verdadeira*. 

Egualmente  honroso  é  o  tópico  da  carta  de  24  de  março  de 
1734,  na  qual  Sarzcdas  aftirma,  referiudo-te  expressamente  ao 
dr.  Monteiro  de  Matos,  serem  mal  empregadas  suas  lotras  no 
logar  de  juiz  de  fora  de  Itú,  onde  o  clima  o  tratava  muito  mal, 
como  honrosos  sào  ns  termos  da  portaria  jiela  qual  foi  conimis- 
sionado  para  tirar  a  devassa  sobre  cunho  falso  e  na  qual  dizia 
Sarzedas  estar  no  conhecimento  das  leiras,  capacidade  e  zelo 
com  QUe  elle  9«  desempenhava  dos  deveres  do  cargo  do  juiz  de 
fora  de  Itú 

O  governador  Conde  de  Sarzedas  na  villa  de  Santos  aos  3 
de  junho  de  17â5  deferiu  juramento  e  deu  posse  do  cargo  de 
provedor  das  fazendas  dos  defuntos  e  ausentes  da  villn  de  Itn  ao 
dr  Joio  Nobre  Pbreira,  que  para  tal  cargo  fora  n' meado  por 
despacho  da  Mesa  de  Consciência  e  Ordens  de  4  de  junho  de  1734, 
como  pela  resolução  regia  de  6  de  março  e  carta  de  10  de  dezem- 
bro  do  mesmo  anno  fora  nomeado  jaiz  de  fora  da  vi  Ela  mencioDada. 

Teve  o  dr.  Nobre  Pereira  pela  portaria  de  IO  de  dezembro 
do  anno  de  sua  referida  nomeação  200^00  rs.  de  ajuda  de 
custo,  e  por  outras  duas  expedidas  quatro  dias  depois  se  lhe 
arbitrou  a  aposentadoria  em  60$000  rs.  em  cada  anno  e  bO  lhe 
fixou  o  ordenado  annual  em  300$000  i-s. 

Âs  relações  deste  juiz  de  fora  com  o  governador  Sarzedaa 
nào  foram  Úo  amistosas  como  as  de  seu  antecessor ;  pois  em  12 


—  âir*  — 

de  ãeztmhTo  de  1735,  tm  17  e  22  de  jaaeiro  do  anno  8eg:tiíiitd 

Santedas  lhe  dirig-iu  cArtâs  o  cfuaurando  por  ter  posto  o  «cura- 
pra-«e*  em  om  despacho  do  governador,  por  tetlavratto  um  auto 
contra  o  coronel  rftjíente  da  viDae  por  ampliar  a  sua  jtiri&dicçáo 
e  diminuir  a  doB  militares  i  partici[i^Ai]do  que  ordeoára  ao  coro- 
nel regente  á&o  lhe  desse  sjudn  militar  para  a$  dili^fucjas  de 
justiça  Bem  que  prec«desBe  pedido  e  advertindo  que,  6e  conti- 
oiiBafte  o  juiz  a  assim  proceder,  na  conta  annual  sobre  o  procedi- 
mento doâ  magistrados  elle  faria  prés  pinte  ao  soberano  querer  o 
jaiz  alterar  tudo  quanto  «e  achava  disposto  pelo  dito  Senhor, 
para  que  esre  determinasse  o  que  houvesse  j>or  bem, 

Ã'  carta  de  12  de  dezembro,  escrif^ta  por  SsrssedaSf  deu  o  dr. 
JoAo  N^obre  Pereira  prompta  resposta  mostrando,  a  correcçHo  do 
«éu  acto  quanto  ao  «cumpra^ses  increpado  ;  dizendo  qye  na  villa 
não  havia  militares  e,  por  i^so,  ePe  oão  podia  pretender  dimi^ 
niiir  a  jari»dicrçã<«  delles,  affirmaodo  que  nãn  pediria  ao  coronel 
regente  da  yilla  ou  a  qualquer  outro  official  de  ordenança  ajuda 
militar  para  a^  diUgenciaa,  porq^ie  os  officíaes  de  ordenanças  não 
B&o  militares  e  sim  aubalternos  delle  juiz,  e  accrescentando  que 
o  governador  podia  dar  a  S.  ^fajestade  a  respeito  delle  juiz  a 
eoQta  que  bem  lhe  parecesse  a  elle  governador,  pois  estava  certo 
que  si  para  ente  t*ffeito  o  governador  ae  infurma&se  de  pessoa» 
tidedígnas  nào  poderia  elle  juis  ter  maior  credito  que  a  ínfor- 
mação  do  próprio  governador, 

O  Conde  de  Sarzedas,  considerando  incívil  a  resposta,  que 
lhe  deu  o  juiz  de  fora,  instruiu  com  ella  unta  long^a  aecnsaçào 
qiie  por  carta  de  4  de  feve-eiro  de  1736  fe^  junto  ao  governo 
de  Lishoa  contra  o  dr.  Nobre  Pereira  e  na  qual  dizia  «serem  pou^ 
cas  as  esperanças  de  servir  bem  quem  chega  a  fomentar  ruínas 
dando  armas  prohjbidas  para  commetter  delictos». 

Em  vista  da  mencionada  accusaçào  foi  expedida  a  Carta 
Regia  de  26  de  outubro  de  1736  pela  qual  foi  mandado  advertir 
o  dr.  Nobre  Pereira  para  que  não  procedesse  pelo  auto  que  formou 
contra  o  coron*"],  nem  impedisse  a  execução  das  ordens  do  go- 
vernador aos  cabos  das  Ordenanças ;— se  Ibe  extranharam  os  dí- 
ver^of  factos,  de  que  foi  accusado, — ae  declarou  que  a  carta  do 
juiz  nào  era  iocivil  e  estava  muito  nos  termos  do  ne^^ccio,— e 
se  dicidíu  qne  o  jui^  de  i  ^ra  tem  jurisdicçào  sobre  ss  Ordenan- 
ças e  seus  officiaes,  nào  Ih^)  sendo,  por  issío,  neceasario  recorrer 
ao  governador  para  proceder  contra  elles. 

Com  provisão  do  governador  para  ser  intendente  e  provedor 
da  fazenda  real  chegou  em  20  de  janeiro  de  1744  á^  minaâ  do 
Mato  Grosso  o  dr.  João  Nobre  Pereira,  que  acabara  de  ser  juis 
de  fora  de  Itú, 

Em  24  de  março  de  1734  o  governador  e  capitão  general^  que 
estão  administrava  a  capitania  de  S  Pauto  affirmou  ao  governo 
da  metrópole  não  ser  de  nenhuma  utilidade  ao  serviço  real  ha- 
ver juiz  de  fora  em  Itú  e  da  Carta  Kegia  de  30    de    dezembro 


—  316  - 

de  1735  se  vê  que  pela  resolução  do  Conselho  Ultramarino  de 
22  do  referido  mês  e  anno  foi  determinado  que  se  extinguisse 
a  judicatura  de  Itú  e  se  creasse  a  de  Guaratinguetá ;  mas  esta 
resolução  não  foi  executada,  tanto  que  não  só  em  27  de  novem- 
bro de  1749  foi  decretada  a  extincçào  do  logar  de  juiz  de  fora 
de  Itú,  seguramente  porque  elle  não  fora  extincto  pela  resolução 
de  1735,  como  ainda  o  logar  de  juiz  de  fora  de  Guaratinguetá 
deveu  sua  creação  ao  Alvará  de  9  de  outubro  de  1817. 

Foi,  de  facto,  em  virtude  do  decreto  de  27  de  novembro  de 
1749  que  a  villa  de  Itú  deixou  de  tor  juiz  de  fora  e  a  pro- 
pósito Pedro  Taques,  sobre  informar  em  sua  Nóbiliarchia  Pau- 
listana que  José  do  Amaral  Gurgel  foi  o  primeiro  juiz  ordinário 
do  Itú,  depois  que  se  extinguiu  «o  caracter  de  juiz  de  fora  na 
pessoa  do  DR.  Theotonio  da  Silva  Gusmão.*,  ttsserta  em  &ua 
Historia  da  Capitania  de  8  Vieente  que  o  logar  de  juiz  de 
fora  de  Itú  se  extinguiu  no  ai.no  de  1750,  quando  o  dr.  Theo- 
tonio da  Silva  Gusmão  deixou  o  exercicio  desse  cargo. 

O  dr.  Theotonio  de  Gusmão  era  paulista,  segundo  o  affirma 
Azevedo  Marques ;  foi,  por  nomeação  feita  pelo  governador  Sar- 
zedas  e  por  este  a  elle  communicada  em  carta  de  14  de  setem- 
bro de  1735,  Fiscal  da  Intendência  das  Minas  de  Goiaz,  onde 
elle  então  se  achava  ;  embarcou  no  porto  de  Áraritaguaba  em 
companhia  do  Conde  de  Azambuja,  primeiro  governador  nomea- 
do para  a  capitania  de  Mato  Grosso,  com  destino  a  Cuiabá, 
onde  chegou  aos  11  de  janeiro  de  1751  e  para  onde  foi  na 
qualidade  de  juiz  de  fora  da  villa,  que  se  havia  de  crear  e  que, 
de  feito,  foi  erecta  aos  19  de  março  de  1752  com  o  nome  da 
villa  de  Mato  Grosso,  da  qual  foi  elle  o  primeiro  juiz  de  fora 
e  o  dr.  Manoel  Fangueiro  Fracesto  foi  o  segundo  e  ultimo 

O  dr.  Theotonio  fundou  em  1758  a  aldêa  ou  missão  de  N. 
S.  da  Boa  Viagem  do  Pará  e  «S  Majestade  lhe  fez  mercê,  na 
afirmação  de  Nogueira  Coelho,  de  que  ahi  fizesse  um  lopar  de 
desembargador  da  Relação  da  Bahia  com  o  ordenado  de  600$000  rs.» 

Deixando  a  referida  aldêa,  passou  o  dr.  Theotonio  para  o 
Estado  do  Pará 

Extincto  o  logar  de  juiz  de  fora  de  Itú.  alguns  ânuos  de- 
pois se  representou  ao  goveroo  português  pedindo  sua  restau- 
ração «para  com  esta  medida  se  evitarem  as  prepotências  de 
algumas  familias  daquella  villa»  e  o  referido  governo  em  5  de 
fevereiro  de  1780  ordenou  ao  capitão  general  Martim  Lopes 
Lobo  de  Saldanha  informasse  com  seu  parecer  declarando  se 
útil  seria  a  creação  de  um  juiz  de  fora  em  Itú,  como  já  antiga- 
mente houvera,  se  eram  reaes  as  desordens  alludidas  e  quaes 
seus  autores. 

Martim  Lopes,  cumprindo  a  ordem  constante  da  carta  que 
em  5  de  fevereiro  de  1780  lhe  foi  escripta  pelo  Secretario  de 
Estado  Martinho  de  Mello  e  Castro,  informou  em  9  de  outubro 
do  mesmo  anno  que,  a  seu  ver,  «a  criação  do    dito  Ministro  se 


—  317  — 

&s  inatil,  primeiro  porque  sendo  o  ordenado  diminato  para  este 
contineote,  aonde  quan  todos  vem  mais  com  o  ponto  de  vista 
da  hirem  ricos  do  qae  servirem  bem,  se  nugmenta  esta  despesa, 
n&o  havendo  fundo  nesta  capitania  para  pagar  asactuaes.  Se- 
gando, po^^qae,  be  S.  Msj/  pretende  evitar  8S  hbsohitns  da  Villa 
de  Itú  com  nm  Juiz  de  Fora,  será  necessário  criar  ]>n  a  cada 
ama  das  mais  villas  outros  sem  elluintes ;  e  fallando  a  V.  Ex. 
com  a  ciream8|iecç&o  que  devo,  zelo  e  fi'ielidaHe  com  que  sirvo 
a  Sua  MajA  devo  s-gurar-lhe  que  no  tempo  de  meu  governo 
não  tem  havido  mais  prepotoncihs  que  as  fc^uggeridas  polo  Estado 
Ecclesiastico,  sendo  cabeça  de  todas  o  Bi8i)0  Dioce^an( » . 

Nào  foi  entfto  nem  depois  restabelecido  o  juizado  de  fora 
de  Itú,  mas  t»m  2  de  dezembro  de  1811  foi  o-tn  villa  constituida 
cabeça  de  comarca,  a  que  deu  o  nome  e  que  c(  mpiehendia  a 
mesma  villa  e  mais  as  de  Sorocaba,  S.  Carlos,  Mogi-mirim, 
Porto  Feliz,  Itapetininga,  Itapova  e  Apiahi,  com  os  rc^pectivo& 
termos. 

Um  alvará  de  2  de  dezembro  de  1811  creou  na  ca})itania 
de  S.  Paulo  uma  nova  comarca  comprebeudendo  as  villnn,  com 
seus  respectivos  termos,  de  Itú,  que  ern  a  cabeça  da  comarca 
e  lhe  dava  o  nome,  Sorocaba,  8.  Cai  los,  Mogi-mirim,  Porto 
Feliz,  Itapetininga,  Itapeva  e  Apiahi. 

Em  17  do  ref''ridi»  mês  íoi  nomeado  ouvidor  geral  e  corre- 
gedor dessa  nova  comarca,  a  ultima  que  foi  creada  nos  tempos 
colouiaes  em  terra  paulista,  o  dr.  Mioubl  Antoni  ■  de  Azevedo 
Veiga,  que  de  abril  de  1807  a  princípios  de  1813.  quando  tomou 
posse  o  novo  ouvidor  dr.  d.  Nuno  Eugénio  de  Locio  e  Sciblz, 
exerceu  egusl  cargo  na  comarca  de  S.  Paulo,  de  que  foi  des- 
membrada a  de  Itú. 

Attendendo  a  uma  sua  representação  o  governo  geral  houve 
por  bem  lhe  conceder  licença  para  que  se  casasse  com  pessoa 
apta,  conforme  reza  o  officio  de  5  de  março  d«  1»17  do  Conde 
da  Barca,  secretario  de  Estado,  ao  Conde  de  Palma,  governador 
de  S.  Paulo. 

Obtida,  como  se  vê,  a  necessária  licença,  o  dr.  Azevedo 
Veiga  contrahiu  nu<  cias  com  d.  Escolástica  Joaquina  de  Barros, 
filha  de  António  de  Barros  Pen tecido  o  do  d.  Maria  de  Paula 
Machado. 

Ao  dr.  Veiga  i^uccedea  na  ouvido  ia  de  Itú  o  dr.  JoÃo  i>k 
Mbobiros  Gombs,  que,  tendo  sido  antes  ouvidor  e  corregedor  da 
comarca  de  Paranaguá,  o  foi,  depois,  cm  18:' 3,  da  coniarc«i  de 
S.  Paulo. 

O  terceiro  ouvidor  da  nova  circuniscripçòo  judiciaria  foi  o 
dr.  António  d»  Almeida  e  Silva  Fkicikk  da  Fonskca  e  esíe 
aos  28  de  novembro  de  1824  fez  a  erecção  da  villa  da  Franca 
do  Imperador. 


—  318  - 

Foi  o  dr.  Freire  da  Fonseca  juiz  de  fora  de  Taubaté  antes 
de  ser  nomeado  ouvidor  de  Itú  e,  qaando  juiz  de  fora,  teve  a 
iocumbeiicia  de  tirar  uma  devassa  scbre  a  Bernarda  de  23  de 
maio  de  1822. 

Com  os  drs.  Jo&o  do  Medeiros  Gomes,  Manoel  Joaquim  de 
Ornellas  «>  outros,  foi  o  dr.  Freire  nomeado  no  dia  1  de  dezem- 
bro de  1822,  por  occasiào  de  ser  d.  Prdro  I  sagrado  e  coroado 
imperador  do  Brasil,    cavalleiro  da  Ordem  Imperial  do  Cruzeiro. 

Após  o  dr.  Freire  foi  ouvidor  e  corregedor  de  Itú  o  dr. 
Francisco  Lourenço  db  Frritas,  paulista,  natural  de  S.  Se- 
bastião, nascido  em  2  de  janeiro  de  1802  e  formado  cm  leis  na 
Universidade  de  Coimbra  em  1824; 

Nomeado  em  1825  para  o  logar  de  juiz  de  fora  de  Miuas 
Novas  creado  por  alvará  de  22  de  janeiro  de  1810,  transferido 
em  1827  para  o  logar  de  juiz  de  fora  de  S.  Sebastião,  foi  no- 
meado em  1829  ouvidor  de  Itú,  e,  tempos  depois,  juiz  de  direito 
de  Santos,  mas  antes  de  entrar  em  exercicio  foi  removido  para 
a  comatca  do  Paraná  e,  não  aceitando  a  remoção,  ficou  avulso 
até  lhe  ser  de->ignada  a  comarca  de  Taubaté.  Ficou  novamente 
avuUo  de  1855,  quando  foi  removido  pai-a  Piratini,  Rio  Orande 
do  Sul,  e  não  aceitou  a  remoção,  a  8  de  julho  de  1867,  data 
esta  em  que  lhe  foi  designada  a  comarca  da  Franca,  onde  admi- 
nistrou justiça  até  ser  aposentado  em  1873. 

O  dr.  Lourenço  de  Freitas  casou-se  em  1829  em  S.  Sebastião 
com  d.  Anna  Leopoldina  de  Oliveira,  filba  de  Manuel  Gonçalves 
de  Oliveira  e  de  Anua  Eufrosina  de  Sant^Ani  a  Lcpes  e  sexies 
neta  de  d.  Simão  de  Toledo  l^iza  e  sua  muILer  d.  Maria  Pedioso 
casad^^s  em  S.  Paulo  em  1640. 

O  dr.  Francisco  Lourenço  de  Freitas  foi  deputado  á  As- 
sembleia Legislativa  Provincial  de  S.  Paulo  na  sétima  legisla- 
tura (1846-47)  e  foi  também  o  ultimo  ouvidor  de  Itú,  tendo 
exercido  o  cargo  até  a  extincção  do  mesmo  em  virtude  do  Código 
de  Processo  Criminal. 

Alfrbdo  db  Tolbdo. 


os  indígenas 


ENSAIO      A|»£LE£i£NTADO    AO    IKSTIIUTO    KH   fiUA    SKSSSÃO    UB    20 
DB    OUTUBRO    DB    1907) 

Diapenso  mf".  de  prc curar  definir  que  aig^nifica  o  vocíibuln 
*™f^«rt£ij  porque  ^abe[n(>3  quo  elfe  è  «pj^licadot  entre  uóa,  pnra 
indicfii.  oa  habitantes  bárbaros  d  i  Ament^a,  que  foiíim  irn|iro- 
P''tariiente  detimnitindos  tidfos,  por  algtina  Anti{^ciB,  pois  quando 
«o  citíscâbrja  o  Novo  Mundjs  penanvam  ler  dpsct+berto  a  índia. 
De  on^e  vietRrn  o^  in-liíreivfts  V 

Uís  uma  perg-ihita  difficil  de  SBr  rnsp  udida  Entretanto, 
Bobi-Q  eate  A-snmpto,  existam  laiUee  tmbnlhos  escriptos  que  dn- 
naru     para  'ormar  iima  grandw  biblintUecíiH 

BÍa«,  paiA  í^xplie;»!'  como  viecam  Os  indígenas  aló  a  Ami^rica, 
nàn  ^  noisn  deixar  de,  primeiramente,  remou tar-me,  embora  em 
"^^^ifa  ginttjçse,   á  orí;^riin  do  homem 

E^  sabido  que  a  esie  reapa  ito  rxistem  trrs  opiniões,  e,  por- 
**nt<->  ti 66 te  elevado  t-^rreno  scientificcv,  o>  sábios  se  dividem:  de 
"^^  lado  ilu-ítres  sei en tintas  d<' fendem  e  tusteutam  a  doutrina 
7^  t:>f>lyfíení&mrf,  que  é  o  syateraa  dos  que  nttribuem  ae  ra^jas 
uurt>,^^^g  íi  djfforentR&  tronc^^s  primitivos, 

^*  Frente  doa  p -lyg-eniataí,  eritrf;  muitos,  rc  destacam  Moríoo, 
j^^^ ,  Líttié,  Broca.  A|jasMsi.  e*  aqui  uo  Brasil,  o  general  Çfuto 
***     ^tagalhfies  e  o  dr     Silvio  Roméro, 

O  aubio  Agaasis,  emiuoute  naturalista  ^nisso.  deu  ao  homem 
^^^T^  troncOá  ;  1/  o  polyiie^íio,  2.*  o  auatraliano.  3,"  o  maliiio  ou 
^  m\'^^*  4.*  o  hotteii'^ot6,  5/  o  africano,  6/  o  europeu,  7.*  i>  troo- 
goti^p  ou  flziaticoj  8,*  u  americano,  9.*  o  árctica 

Apesar  disB*,  porém,  egse   meimo  i^abío  nào   hc^gitou  cm  ]iro- 

"^"^^tiiiar  que  *tudo  no  mundo  foi     feito   por    um     Espirito  aijte  o 

qU¥%|  Q  hofuém  nào  pode    beitào    luunilbar-Be,    para    reconhecer, 

^^^y\   uma  gratidfto  íneflavel,  aa   prerogativas  com  que  foi  dotado, 

í^^^tTi  da  promesm  de  uma  vída  íutura». 

O  geueral  Goulo  de  MagalfaAes  divide  a    humauidade  em  4 

WOiicQp^  a  saber;  o  preto,    o    amarcllo,  o    vermelho  e  o    branco' 

E  no  seu  oxcellente  livro  O    Selvagem^  dÍ2  : 

«Como  o  Iroucõ  uR^ro  é  o    que    melhor    fupporta  o    calor: 

^^^0  a  marcha  dn   planeta  que  habitamos  tem  sido  do  calor  para 

o  friO|  e  eomo  todos  ob  phenomeuos  vitaesíie  ligam  á  marchada 

temperatura,  o  tronco  negra  parece  que  foi  o  priíoeiro  croado,  e 


—  320  — 

devia  sei- o  naqnella  parte  do  globo  onde,  primeiro  do  qne  em 
outras,  a  temperatura  desceu  ao  grau  que  era  compatível  com  o 
organismo  do  homem. 

«Pela  mesma  serie  de  comparações  creio  que  o  tronco  ama- 
rello  veiu  depoi»  do  preto,  o  vermelho  depois  do  amarello,  e  fi- 
nalmente o  branco,  que  deve  8f>r  conte  nporaueo  dos  primeiros 
gelos,  foi  o  ultimo.  Julgo  também  •{ue,  ua  ordem  do  desappare- 
cimento,  a  natureza  ha  de  pro.-eder  pela  mesma  forma— o  tronco 
pr**to  ha  dn  de-ap parecer  antes  do  amarello,  e  assim  ^uccessiva- 
mente,  até  o  branco.  E^te  ha  de  talvez,  por  sua  ves,  desapparecer 
também,  no  fim  do  período  geológico  de  que  somos  contempo- 
raupo-?  para,  quem  SHbc.  dar  luçarao  apparecimento  duma  outra 
humanidade,  tanto  mais  perfeita  e  tAo  distante  da  actual,  quan- 
to esta  o  è  dos  grandes  qua  irumanos  antropomorphos  que  che- 
garam até  nossos  dias». 

D()  outro  lado  está  Lamarck,  com  a  theoría  do  transformis- 
?«o,  completada  pela  selecção  natural  de  Darwin,  que  se  funda 
no  «8trngj>le  for  life». 

E  ain-la  temos  os  pirtidarios  do  monogeiíismOt  que  è  o  pys- 
tema  antropologiiio  que  considera  t^tdos  os  homens  provenientes 
de  um  só  tronco,  ou  de  uma  só  origem.  Sfto  elles  n  sábio  antro* 
pologo  francez  Quatrefages,  o  notável  scientis ta  inglez  Pritchard, 
o  grande  Buffon,  o  po.ular  Luiz  Piguier,  no  seu  livro  muito 
conhecido  UHom-ne  primitif.  Perdinand  de  Lanoye,  e,  entre  nós, 
João  Mendes  de  Almeida  e  Américo  Brasiliense. 

De  Lanoye,  il lustre  antropologista  francez,  na  sua  obra  pos- 
thuma  o  Homem  selvagem,  diz : 

€A*  Sciencia  social,  que  estabelece  a  unidade  de  fim  para  a 
humanidade,  não  pode  admittir  para  Oi  seus  membros  uma  illo- 
gica  pluralidade  de  orignin,  cuja  conã**quencia  seria,  para  cada 
raça,  unaa  deâigualdade  de  ponto  d^  paitída,  de  méritos  a  ad- 
quirir e  de  «acrificios  a  real>zar,  na  busca  de  um  tuturo  idêntico 
para  todos». 

«Finalmente  a  hi.storÍA,  que  resume  todos  estes  dados,  não 
pode  dispensar-í>e  de  os  corroborar,  com  uma  auctoridade  cujo 
valor  é  permittido  discutir,  mas  que  se  nào  poderia  recusar  sem 
má  fé;  queremos  falar*  da^  tradicções  ainda  hoje  espalhadas  pela 
8U|terfície  da  terra.  Ou  sejam  estudadas  e  sabiamente  formuladas 
na  base  dos  syst^ímas  religioaos  ou  cosmo gouicos  das  nações 
primmro  civilizadas,  ou  se  caibam  os  mais  grosseiros  restos  nas 
reminiscências  balbuciadas  pela^  tríbus  mais  selvagens,  fica-se 
impressionado  com  a  analogia  de  t  dos  esses  velhos  échos  dos 
primeiros  dias  da  existência  do  homen:  é-se  f«  rçado  a  reconhe* 
ct^r  a  identidade  dos  seus  testemunhos  que,  se  elevando  de  todos 
08  pontos  do  globo,  e  de  todos  01  d^^gráus  da  escala  da  civili* 
sacão  concluem,  como  Buffm  do  alto  do  seu  génio,  como  a  ici- 


—  321  — 

eneia  escapando  ás  hesitações  dos  prejuízos,  como  Cbristo  mor- 
rendo pela  fraternidade  hnmana,  na  unidade  de  espécie  de  origem 
e  de  berço»  • 

Creio  ser  excnsado  dizer  que,  como  catholico,  e,  portanto, 
baseado  na  fé,  eu  já  era  monogenista  muiro  antes  que  os  meus 
estudos  sobre  esta  questão  viessem  confirmar,  de  uma  forma  abso- 
luta, as  minhas  crenças  a  respeito  da  origem  do  homem;  e  assim 
sendo,  sempre  acceitei,  como  uma  grande  verdade,  as  palavras 
do  Oenensi 

lU  creatnt  Deus  hominem  ad  imaginem  stiam  :  ad  imaginem 
Dei  creavit  illum  :  masculam  e  fosminam  creavit  eos. 

N&o  posso,  pois,  a  propósito  dessas  doutrina?,  deixar  de  sub- 
screver o  que  um  illustre  patrício  nosso,  Américo  Brasilíense, 
dbse  ntim  seu  valioso  trabalho  : 

c  Ha  ainda  a  theoria  de  Darwin,  fundada  sobre  o  principio 
da  selecçãOt  da  lucta  pela  vida.  Este  naturalista  desenvolveu 
com  mais  amplitude  e  sob  nova  face  a  doutrina  pregada  por 
Lamark. 

«  Dadas  estas  noções  geraes,  cumpre- me  dizer- vos  que  não 
tenho  estudos  pro^ndos  e  especiaes  sobre  a  matéria,  não  posso 
poT  isso  fazer  a  critica  das  diversas  opiniões  Isto  não  obsta, 
porém  a  que,  em  resultado  de  ligeiros  conhecimentos  adquiridos 
eom  a  leitura  de  alguns  trabalhos  dos  escriptores  que  tratam  do 
ABiumpto,  me  declare  pela  unidade  da  espécie  humana.  Esta 
doutrina,  apadrinhada  por  sábios  de  tão  alta  reputação  coroo 
Cu  vier,  Humboldt,  Quatrefages  e  outros,  é  a  mesma  eusinada  pelo 
Oenesis.  Diga-se  muito  embora  que  ha  raças  privilegiadas  para 
melhor  comprehenderem — uma  a  liberdade,  como  a  saxonia  ; 
outra  a  egualdade,  como  a  latina;  e  outra  a  fraternidade  como 
a  slava, -eu  n&o  me  afasto  das  crenças  que  nutro.  Sendo  as 
condições  fundamentaes  da  natureza  humana  as  mesmas  cm  todas 
BB  raçiis,  todas  têm  os  mesmos  altos  destinos .  Si  umas  caminham 
mais  depressa  e  apresentam  mais  harmonioso  desenvolvimento, 
e  goiam  de  mais  prospera  existência,  certamente  estas  phases 
differentes,  que  se  observam,  são  devidas  ao  vieio,  onde  vivem ; 
nfto  só  ás  influencias  physicas,  mas  ás  moracs  e  intellcctuae&que 
aa  cercam.  E*  esta  a  doutrina  que  professo;  e  desde  os  pri- 
meiros tempos  de  minha  mocidade  aprendi  a  crAr  que  a  intellí- 
l^encia  é  um  raio  de  luz  divina  dado  á  humanidade,  que  a  li- 
berdade é  essencial  cond  ção  de  seu  integral  desenvolvimento, 
que  todas  as  raças  tendem  á  perfectibilidade,  que  não  ha  bênçãos 
para  umas  e  maldições  para  outras  >. 

  propósito  da  origem  do  homem  fico  aqui,  porque  este 
rápido  estudo  não  comporta  digressões  maiores.  Entretanto,  não 
poidia  deixar  de,  embora  ligeiramente,  tocar  neste  importante 
aasumpto,  antes  de  referir- me  ás  hypotheses  mais  aceitas  da 
yinda  do  homem    para  a  America. 

♦    *    « 


—  322  — 

Sendo    g'eralraente    apontada  a  Ásia  cotqo  "berço  do  género 

hamatio,  é  de  suppor  que,  ao  dar-ae  a  dispersAo  doa  povos*,  dessa 
occasífto    date  a  vifidf*    dos  priraeiroa    homens    para  a  America. 

A3  principaes  hypothe^es  explicando  como  as  primeiras  cor* 
rentes  micrratorias  vibram  pp-ra  e^ta  parte  do  mundo,  bão  : 

1.*)  Que  Oi  indígenas  forara  habitantes  da  ^nti^ra  Átlan* 
tida,  grande  continente  que  hoje  está  prfvado  que  existiu,  em 
épocas  remotissicnaB,  entre  a  Europa  a  África  e  a  Ãmeriea,  e 
que  também,  no  dizer  de  alguna,  povoou  o  Egypto.  P«ili1ham 
eata  opiniào  os  illastrea  indianoÍog:o8  Brasseur  de  Bourbourg, 
Alcyde  d^Orbig-ny,  Hnmard,  Don  Henrique  de  Thoron  ;  e,  entre 
nóâ|  o  venerando  ^abio  brasileiro,  conexo  Uljssee  de  tennafort, 
auetor  de  trabalhos    monumentaoa,  entre  ellea  o  BrasU  Pri-his- 

2/)  Que  013  priraUivog  habítmites  da  America  vieram  pelo 
Estreito  de  Behrintí,  que  tem  poucas  leg-uaa  de  comprimento. 
Walttco,  citítdo  por  Cândido  Costa,  acredita  que  este  Eetreito  se 
fúfLOou  durante  a  épocia  quaternária,  e  que  já  existiu  uma  com- 
mtinicaçào,  sem  soluçào  de  continuidade,  entro  a  Ásia  e  America. 

Mearao  actualmente,  por  occasiâo  do&  rig-orosos  iuverno»  que 
costumam  reinar  naquellas  p«Triij;ens,  ca  g:eloí  que  se  formam 
dào  paisagens  a  pedestres,   de  um   continente  a  outro. 

S.*)  Que  os  Indií^euaí  vieram  da  Ásia,  fazendo  escalas  pelas 
ilhas  do  Pacifico^  ou  quiçá  impellidos  polas  tenipe&tâdes  mui 
comniuns  nesao  mar.  E  para  documenta^fto  deata  hjpoibesR, 
ãlleiíam  que  ate  hoje  nao  é  laro  appareceretu  nas  costas  da  ci- 
dade de  â.  PranciscDj  juncos  chinezes  alli  atirados  pelas  tim- 
pestades ;  e  atá  apontam  que,  de  1782  a  1S76,  quarenta  e  bov© 
embarcações  chiuesiaã  foram  arrastadas  peíao  correntes  do  Japfto 
ás  costas  norte-aniftricanas, 

4.*)  Que  i.  \\\  tempos  idos  a  America  era  unida  ao  conti* 
ueate  aaiatico  o  que  a  separação  ^e  deu  por  effeito  de  um  gr&nda 
cataclysmo. 

5.*)  Noutra  hypothese,  brilhantemente  fornjulada  e  desen- 
volvida pelo  dr.  Francisco  Flmtaz  de  Macedo,  num  erudito 
trabalho  intitulado  Furmaçtio  geohgka  das  Américas^  que  sahiu 
publicado  em  UíOO,  em  um  numero  especial  da  ejceJleotri  reví&ta 
Bnisil^Portugait  este  Ecientista  aventa  a  idéa  de  que  todo*  oa 
coutinenteã  fossem  unidos,  mas  que  iormídaveia  abalos  gec lógi- 
cos os  sepíiraram,  deixiando-os  como  estão  actnaln:ente. 

Acho  oftta  hypothese  be  n  rasnavel,  baaeíido  em  doufi  uiappai 
que  acompí^nbam  o  referido  trabalho  ;  mas  no  que  discordo  deese 
illustre  BcientLsta  é  quando  elle  dtz  que  «o  homem  deveu  itp- 
parecer  em  different©-;  pont' s  do  macísso,  em  vanos  tractos  de 
terrenos^  separados  pela*  fendas,  quer  de  norte  ©  sul,  quer  em 
ontroa  aentidoSt  dando  001  cada  ponto  do  i^eu  apparecimento  ori- 
gem is  bases  das    raças  primitivas.  ■ 


Vê-sa,  pobf  por  este  pequeno  trecbo,  que  elle  é  partidário 
do  poljgenismo,  theoria  qne  ha  pouco  acabei  de  con] bater. 

Eiitendoí  aim — e  nào  me  couita  que  esta  opinião  já  tenba 
■ido  ennunGÍada— que,  ai  por  ventura  as  partea  do  mundo  foram 
uiiidaâ,  a  i^elebre  Atlântida  de  Platão,  que  os  antigo»  affirmam 
ter  Jesappareciio,  motivado  par  um  ^raade  çatacliíiao,  «ra  a 
própria  à merina  <^u%  6m  ve»  de  %umir-ser  afuiidada  nas  a^uas 
do  oceano  iiameti^u,  deaappareceu  aitn,  portem  da?  vistas  dos 
primeiros  earopeufi  e  africanos,  sendo  arredada  yiolentameule 
centeuiis  de  leguat  da  velba  Europa  e  da  Afíica,  ficando  de 
permeio  as  aguas  piofundas  do  Oceano  Atlauu^o* 


De  que  povo    descendem  os  indif^enas  da  América? 

E'  difficil  dar-se  uma    respoata  eabal. 

Particularmente  nÃo  partilho  esta  ou  aquetta  opiniào  a  reS' 
peito  de  matéria  tâo  importante  e,  ao  mesmo  tempo,  tilo  contro- 
vertida; porém  admittQ  algumas  hypotlie&es  que  nellas  se  contém. 

Está  provado  que  os  inHi^enns  da  America  pertenciam  a 
divcir^^aa  raças,  e,  consequencialmente,  descendem  de  difterentes 
povos*  Qnatrefag:es  é  de  opiníào  *  que  o  novo  mundo  fora  po- 
voado por  trat  raças  :  amarella,  branca  e  nt^^^ra.  A  laça  branca 
habitava  principalmente  o  noroeste,  a  amarella  é  ainda  linje 
representada  prjr  d  iff«  rentes  t  ri  bus,  e  a  ncj^ra,  pouco  números  a, 
occupava  o  i^tbmo  de  Panamá  e  a  ilba  de  S.  Vicente^  na  en- 
trada da  golpho  do  México^  > 

Eutre  as  innumeráà  opiniões  que  podia  cítar  escolherei  ape- 
nas algumas. 

Poâísuo  nm  exemplar  de  uma  obra  curiosisãima  intitulada 
Ktpêranza  fie  Israel ^  eácripta  por  Menaaseh  Ben  Israel,  iheologo 
e  phtl  -ãnpho  hebrfui,  em  1651,  e  vet'tida  para  o  espanhol  por 
SantiafíO  Pete^  Junquera.  Npste  livro^  o  autor,  bflseado  em 
profundos  estudus  que  fez  dn  míitería  e  amparado  prÍncí[íAl- 
mente  em  Montesinos,  autor  da^  Memorias  antiga»  da  híMoría 
da  Peru,  affirma  qae  foi  o  povo  hobicu  qae  povoou  a  America, 
em  cujo  interior  ainda  espera  a  vinda  do  Messias,  a  redempçfto 
das  tribus  e  o  domínio  univeràal.  E  argumenta,  citando  trechos 
da  Bíblia,  cotejando  os  costume;»,  a  religião,  a  linguagem  e  os 
monumentos  em  minas  doj  indígenas,  e  conclue  affirmando  a 
origem  bebréa  das  trihus  selvagens    do  novo  mao(fo« 

O  sabto  indianolog-j  D.  Henrique  Onfroy,  visconde  de 
Thoron,  numa  memoria  monumental,  publicada  em  1876,  prova 
exuberantemente  qui^  qè  povoá  da  aattguidade  a  mais  remota 
conheciam  a  existência  da  Ameriíia  ,*  e  raf^re-se  a  Platáo,  que 
dizia  existir  atraz  da  celebre  Altanttda  um  giande  coutintínCe  ; 
cita  Diodoro  da  Sicilia,  que,  45  annos  antes  de  Cbristo,  já  em 
seus  fucriptosi  falava  claramente  da  America,  indicando  seus  rios 


—  324  — 

navegáveis,  suas  edificações  sumptuosas  e  dizia  que  os  pbenícioB 
descobriram  esse  continente ;  aponta  Aristóteles,  descrevendo  um 
paiz  fértil,  além  do  Atlântico;  cita  também  Plutarcho  que  no 
^Tratado  das  manchas  no  orbe  lunar»  conta,  abrangendo  todo  o 
occidente  além  d  s  columnas  de  Hercules,  qtie  o  continente  em 
qiie  reinava  Merope  foi  visitado  por  Hercules  numa  expedição 
que  fez  para  oestes  e  que  seus  companheiros  alli  apuraram  a 
lingua  grega^  que  começava  a  adulterar-se.  «Ora,  continua  o 
Visconde  de  Thoron,  os  nossos  estudos  de  philologia  comparada, 
nos  têm  feito  descobrir  que  a  lingua  quichua  ou  dos  Antis  da 
America  equatorial  e  meridional,  contem  centenares  de  vocábulos 
gregos.  Este  facto  confirma  a    viagem  de    Hercules  a  America.> 

Em  resumo,  este  notável  occidentnlista  procura  provar,  ar- 
gumentando cora  um  enorme  cabedal  de  conhecimentos,  que  na 
antiguidade,  até  a  queda  de  Carthago,  146  annos  antes  de  Christo, 
o  oceano  fora  quasi  sempre  frequentado  ;  que  a  America  era 
então  conhecida  dos  povos  navegantes ;  e  que  a  facilidade  de 
communicaçòes  sempre  existiu  entre  os  dous  grandes  continentes 
pelos  ventos  geraes  e  as  correntes  equatoriaes,  cujo  conhecimen- 
to possuiam  os  marinheiros  phenicios.  E  termina  affirmando  e 
documenrjindo  suas  así-erçôes,  que  as  terras  de  Ophir  de  Tnrs- 
chisch,  bem  corao  Parvaim,  logares  celebres,  de  onde,  Fegundo 
a  Biblia,  Salomão  mandava  suas  frotas  buscar  ouros  e  pedrarias, 
se  achavam  situados   perto  do    nospo    rio  Amazonas. 

D.  Félix  y  Sobron,  no  seu  interessante,  porém  deficiente 
trabalho  Loa  idiomas  de  la  America  Latina^  baseado  na  lingua- 
gem dos  iudigenas,  nas  suas  pyramides  e  nos  seus  hieroglyphos, 
entende  que  elles  descendem  dos  egypcios  e  também  dos  hebreus. 
Eis  o  que  elle  escreve  : 

«  Vários  de  los  que  ai  principio  estudiaron  los  idiomas,  no- 
taran  desde  luégo  Ia  semejanza  de  muchas  vocês  dei  quichoa  y 
otros  longuaj^es  con  otras  palabras  dei  hebreo. 

«  Al^uno  avanza  hasta  afirmar  que  con  respecto  á  la  lengua 
de  las  Antillas,  principalmente  de  Cuba,  ])odia  darse  por  sentado 
que  no  era  más  qu«  cl  hebreo  corrompido  ;  proposicion  califica- 
da  por  muchos  otros  de  muy  exagerada. 

«  Fero  despues  do  los  eruditos  trabajos  dei  sábio  baron  de 
Uumboldt,  apoyados  en  las  curiosas  investigacioncs  de  los 
P.  P.  Gaona,  Olmos,  Motolinia  y  otros  que  obtuvo  y  medito ; 
y  despues  de  otros  estúdios  más  modernos  de  etnólogo»  euro- 
peos  y  americanos,  está  completamente  demostrado  que  en  casi 
todas  ias  Icnguas  dei  nuevo  mundo  existe  la  más  perfecta  ana- 
logia de  infínidad  de  palabras  de  ellas  con  otras  de  las  lengoas 
asiáticas». 

«  Y  como  se  verá  en  su  respectivo  legar,  uno  de  los  más 
eruditos  literatos  mejicanos  no  se  limita  á  senalar  la  semejanza  de 
mujos  vocablos  con  varias  palabras  hebreas,  sino  que  apunta  la 
identidad  de  la  frase  en  su  construccion  y  rodeo  en  muchos  casos». 


—  325  — 

Cliarleã  Vímner^-L^Empire  d&t  /íjcoa  -  depoU  de  brilhante 
osiudo  a  respeito  dos  indígenas  da  America,  conclue:  *  Que  les 
habitantâ  desceudent  du-ectmeut  des  raceg  adatiques,  ludi^ane, 
Itido — CUinoiâft  et  Monguie  »  . 

O  sábio  iiaturaliBta  Alexandre  de  Hnmholãi—Tahlaux  dela 
<^?aí^i^€  —  diz  «  qae  ca  jmvos  occidoiitaeí  do  antigo  continente 
tinbíiui  tiio  rolíivôea  com  n  A«ia  mnitob  minos  miles  da  chegada 
dos  espanhoeã.  A  arialogia  do^  calendários  mexicanos,  Uiibe- 
tanoB  e  japonexes^  das  pyraioides  de  degraus,  orientados  com 
toda  a  exatídÂo,  os  mytbo»  antigoi  acerca  das  qualro  edades,  ou 
08  quatro  catacly»mos  do  mundo,  e  a  disper&ílo  da  raça  humana 
depois  do  uma  graude  iaandação,  «ão  outros  tautos  mdicios  tMn 
apoie  desta  crença. 

c  O  que  se  tem  publicado,  depoiâ  do  meu  livro,  tia  Ingla- 
terra, Prjinça  e  Estado*  Unidos,  acerca  daa  esculpturas  singulares, 
executada*  qua^í  em  estylo  indico,  eneoutrudag  tias  ruiniis  du 
Guatemala  e  Yucatan,  dá  iiiuda  maior  valor  ás  aiialo^^iaâ  que 
eu  iudleava,  Oâ  antigo^;  monumentos  da  peninsula  da  Yucataii 
assombram,  ainda  mais  qufi  oa  de  Paleoque,  pela  cíviliaaçiio  que 
revelam  >. 

O  uosso  Domingos  José  Gojiçalveá  de  Magalhães,  visconde 
dé  Araguaia,  no  seu  livro  Opúsculos  iíiiftoricos  e  LiUrarioHj 
eontradítando  Varnbagen,  que  atacara  os  índigeuas»  na  sua 
opulenta  Histotia  do  Btasilf  pondera: 

<  Infeliz rnen to,  porém,  as  Bárbaros  da  Europa  que  aixiquila- 
ratEk  o  coloaâal  impei io  dos  incaií;  qut^  deavaggaram  tantas  cida* 
d*?s  flottíscentes  do  México  e  do  Peru,  e  tantos  monumentoa  des- 
truíram, com  tão  eitupida  feioeldade  nos  roubaram  as  melhoreu 
paginas  que  noa  podiam  gaiar  na  pesquisa  da  untiguídade  ame- 
ricana. Comtudo,  á  vista  des^aa  niiaas  eloquentes  de  Cuscot 
*teaguanae  ,  Utatlam,  Tttlba,  Tenochtitlam,  Culhuacan  e  Tezxueo, 
êifta  Athena»  ameriL'ana,  onde  Summaríava,  primeiro  bispo  do 
México,  ínvejoío  di  gloria  attribuida  a  Ornar,  amontoou  em  uma 
pmví^  todoâ  OH  documentOi  da.  historia,  da  literatura  e  das  artee, 
«  to  ioa  oâ  manoàcríptos,  hieroglyphos  e  pinturas  doa  Aztequcs, 
e  ergueu  uma  pyramidn  que  entrc^gou  áa  cbammaB;  á  vista  desta 
multidão  de  cidudei,  de  canae»?,  de  jionteâ,  de  pyramides,  do  pa- 
pcjl  de  |jita,  cartai  goograpbicjts,  *s  diviíjili  do  ^nno  em  36Ô  dias, 
e  dessa  maravilhosa  estrada  de  quínhenta&  léguas  de  Cuaco  a 
{JLiito,  por  entre  moatanbas,  talhada  nas  rochas,  e  guarnecidas 
de  ar^en^e^,  fortalezas,  templo*  o  hospieios  para  os  camitibantes; 
4  vigta  dtHsaa  gigantescas  ruiiias  descri ptas  nor  Garciksso,  Hum- 
bildt,  Kuig^borough  e  ouíroa  viajantes;  oocumentos  íncoutes' 
taveii  dti  uma  civilizjiçlio  de  caracter  antigo  e  original,  quo  de- 
tmncia  geraç&«ít»  succi^saivas  e  séculos  para  ter  chegado  a  esse 
pout^i  de  graudesca  e  esplendor;  á  vista  de  todos  ei^ea  factosi 
tjto  faci!  uos  é  suppor  essa  civil izat^ão  anterior,  como  contem po- 
ranea  da  mais  antiga  civtli*/ação  da  índia  e  do  Egypto  ». 


—  326  — 

Jo&o  MeodeB  de  Almeida,  no  seu  eicel lente  livro  Notaê 
GrenmhfficaSy  a  respeito  da  orig-em  da  povoaçÃo  da  America^  diz  .• 
«Tt?mOB  por  cousa  provável  que  o  continente  da  America 
meridional  foi,  era  tempos  de  impossível  averignaç&o,  invadido 
por  habitantes  das  ilhas  da  Oceania,  mais  próximos  á  costa 
Occidental. 

€  Basta  comparar  cb  UifFS  e  os  costumes  dos  povos  dftqnella« 
ilhas  com  oa  asos  e  os  co&tiimeii  do&  índios  da  Àmeiica,  Â 
tatuagem  ou  a  npm-ai;.Ao  de  desenhar,  por  sulcos  abertos  na 
cútis,  pintura»  variegadas;  (s  enf^-ites  de  pennas;  o  fetiche  do 
jardc  verde  ;  a  superstição  lig^ada  aos  amuletos  de  ossos  huma- 
nos ;  o  uso  de  uma  massa  de  pedra,  fixada  ao  puleo  por  um 
amarrilbo,  com  o  <^ual  esmigalbnvam,  nos  combates  corpo  a  corpo 
o  inimigo  ;  a  maneira  do  fabricar,  de  um  só  madeiro  ou  de  xm 
único  troacO}  embarcações  de  mais  de  sessenta  pés  de  compri- 
mentrtj  bem  comn  o  modo  de  Qpre&tal-aa  para  a  nsvegsçâo ; 
as  danças,  sempre  alleg^oricas  á  guerra,  a  gacriiicios  a  fuuerae»  í 
a  fónna  hierarijhica  e  electiva  do  governo  ;  e  muitos  outros 
signaeà ;  tudo  ia«;o  fni  euc-ntrado  na  America,  especialmente  na 
região  entre  o  rio  Amazonas  e  o  rio  da  Pratflj  etc» 

O  &abio  Barbosa  Kodrig;ies,  depois  de  provar  pelo  mnyrakitã 
«a  única  prova  palpável  que  noa  pode  dizer  alguma  cousa»  sobre 
a  origem  asiática  dos  itidigeaas,  diz  no  seu  notável  trabalho 
O  muifrakiiã  e  os  iãolos  sifníhúlicos: 

<  Eíitudândo^ee  a  historia  mythi^logica  e  autig^a  da  Ãsia, 
meditando -se  sobre  o  Génesis,  ouvindo-so  a  tradição  e  compa- 
rando-se  tudn,  deaapaijtouarjftmente,  o  que  se  encontra  em  ruinaa 
da  Americíi,  ou  o  que  se  descobre  sepuhado  petas  terraR,  ou 
conservado  de  geração  em  geraçào  pelos  pnvos,  com  religioso 
respeito,  vê-ee  que  a  origem  dos  selvagens  da  America  é  a 
meama  daquelles  que  na  Europa  se  prezam  de  ser  de  uma  ori- 
gem differente. 

«  A  Ásia,  pondo-se  mesmo  de  parte  a  Bíblia,  foi  o  berço 
da  humanidíile-  Foi  delia  que  partiram  os  Aryanos,  mas  delk 
partiram  também  nutros  povos,  que  esgalhados  deram  ramos  que 
se  esteuderam  pelaâ  cinco  partes  do  mundo.  Bi  em  algumas 
épocas  emigraram  grupos  de  um  so  sangue,  em  outras  houve 
leva  de  cruzamentos  com  fsan^ue  que  mais  se  mesclava  pelai 
uniões  amigáveis,  ou  peks  conquistas  e  pelo  dominio.  Os  Cou- 
dras,  do  código  de  Mauon  também  emigraram. 

«  Foram  desses  grupos  cruzados  que  chegaram  á  America 
ou  nella  se  cruzaram  com  outros  anteriormente  emigrados  e  dahi 
o  mixto  de  costume»  e  de  linguas.  A  grande  distancia  e  o 
grande  espaço  para  estabelecimentOj  o  tempo  que  levavam  a  che- 
gar e  a  se  encoutrarcm  os  diíFereutes  grupos,  tudo  originava 
modifi^açòes  de  co.^tumes  e  de  línguas,  da  épochas  diversas,  na 
América,  emquauto  que  na  Europa  os  grupos  tinham  um  pequeno 
espaço  para  se  estabelecerem  e  menor  o  tempo  para  os  encontros, 


—  a27  — 


pôrquo  menores  eram  au  distaueias  a  vencer:  dabí  conservarem^ 

ee  mai9  puroB  os  coattimos,   avançarem  a  civilizado  e  a  lir^gua<^ 

O  muito  erudito  conexo  Pennatoit,  acceitando  e  «mpHando 
o»  brilhíiiites  estados  do  grande  ocd  d  entalis  ta,  gr.  Visconde  de 
Tboron,  cita  no  seu  Brasil  pre^  histórico  in  num  eros  v^^cabuloa 
tupÍA,  âanskrítoB  e  gre^osi  e,  fazendo  um  estudo  comjmrativo  doh 
m^^moit  conclúe : 

«  Para  mo&trar  o  parentesco  da  nossa  formosa  linj^ua  brâaí' 
lena  ou  tap  com  as  tre»  ímportantfa  línguas  do  mando:  o  ho* 
braico,  o  sa^iBkrito  o  o  grego»  são  aufficientes  as  etymologÍHS  que 
reproduzimos  da  longa  uomenelutnra  que  temos  já  escolhido  e 
faa  m  parte  do  nosso  Lexicon  tupi  Cf  mparadi*,  O  que  ahi  íica 
exharado  vem  corroborar  o  que  affirniíunoB  sobi-e  o  ciUEa menta  daa 
nossit  ratj^aft  bra^ileiías  com  as  outras  ravíi*^  semitiras  e  ai^anaa. 
«  Emquaiitn  aoa  Pelasgins  e  aos  HeUmma  tino  ha  duvida 
que  elíes  tinham  sciencia  de  alguma  terra  ao  oeçte  do  Oceano; 
6  segundo  a  tradivâi  parece  certo  que  f^s  greg-os  também  tive- 
ram na  Ameriía  estabelecimentos  antes  da  fnudat;ào  de  Karkédon 
ou  Karthayo,  coltmia  pbeniclann  ;  eomo  tencmunha,  dist  de  Th^^- 
Ton,  podemos  citar  liS  narrní;Õos  belleniL-as  dfi  Tbeoporapo,  lepro- 
dnxidaB  pm  latira  por  *'Klianu8  e  em  Plutarcbo;  o  primeiro  affirraa 
que  Hercules  foi  visitar  os  Gregoa  entre  os  Maropas  (Marupá^ 
em  tuf*i);  ora  eatei  babí taram  era  face  da  Lybia  (Africa)  os 
territórios  occupados  bojij  peloa  Brasilenos,  em  quanto  que  Sylla 
conduziu  este  mesmo  Hercules  até  o  mar  byperbórco  ou  satur- 
niano,  »obre  o  continente  croneo,  onde  bablravain  os  Gregoa ; 
liftvia  portanto  Gregos  ao  Sul  e  ao  Norte  da  America,  Durante 
o  bloqueio  do  estreito,  o  qual  durou  tressi^ntos  ao  nos,  os  Ilellenoe 
iãolado^  no  meio  dos  bárbaros  dega]>pareceramj  maíi  a  sua  liug^a 
ficou  mesclada  ás  línguas  americanas,  iobretudo  ao  tupi,  quo 
contem  innumeias  raives  da  língua  grega  etc<* 

Cândido  Costa,  no  aeu  íuteressaute  livro  Aa  duas  Améntas^ 
rftfore-s©  a  ujna  peJra  lavrada,  com  inacríp^-òeSt  encontrada  xio 
Estado  de  Parahiba,  a  qua)^  fcndo  submettida  ao  juísso  do  sábio 
orientaUBta  francoz  Ernesto  Renan,  foi  por  çbte  considerada  de 
origctu  pbeniciaua. 

O  mesmo  eicri(>tor  conta  que  *outras  três  inscripçôps  pu- 
nicaâ  &6  acharam  em  Boston,  cuja  noticia  se  publicou  ©m  França, 
no  auno  de  I78l;  e,  nHo  ba  muito,  na  vil  la  daa  Dores,  em  Mon- 
tividéu,  um  luzendeiro  descobriu  uma  lápida  sepulcral,  com  cara- 
cteres desconhecidos,  cobrindo  uma  sepultura  do  tijolos,  onde  se 
achavam  espadas  antigaa  e  um  capacete,  damnificados  pela  ferru- 
gem, n  uma  jarra  de  barro,  de  grande  dimensão.  Todos  estos 
objectos  foram  apreaentados  ao  douto  padre  Martins,  o  qual  obtove 
Ilt  na  láftida,  em  caracterea  ^vt\g'^f.\—Alexandrt^  filho  de  Pki- 
Hpp^t  era  rti  da  Macedímia  Tia  olympiada  63:  n^»tes  lugares 
Ptoiorrieu». .  ^  faltava    o  rosto.     Numa   das    espadas    se   acbavn 


—  â28  - 

gravada  certa  effigie  que  parecia  ser  de  Alexandre»  e  no  capa- 
cete  &e  viam  esculpidai  varias  figurgg  representando  Achílle», 
arrftBtando  o  cadáver  de  Heitor    em    roda  ão9  maroa    de  Troia». 

e  PíJde-se  Buppor  que  algum  cbefe  das  arntadas  de  Alexan- 
dre, levado  por  a];^inti  tormenta,  eurgbse  alli,  e  marcas&e  com 
tal  monumento  a  sua  estadn». 

Ee&umindo  e&eaft  abalis^daã  opiniões  qoe  citei,  torno  a  repe* 
tir  o  que  acima  difi^e,  iato  G^  qua  pertencendo  oi  iodjgcua&  a 
dl  Gerente  a  raças,  consequentemente  descendem  de  diversos  povo&, 
p,  portanto,  nào  se  pode  precisar  um  só  povu  como  seu  aucea* 
traí  remoto. 

Admittido  isto,  é  bastante  provável  as  tribua  bnincas  da 
Araerica  aerem  oriundas  talvez  dos  propiios  europeus;  a&  verme- 
Ihas  doa  egypctoa  e  judeus ;  as  amarellas  dos  ehiuezes  e  japonc' 
zefi  í  e  as  pretas  Hos  africanos  negros. 

Isto  numa  (fpocba  reniõtiâsimn,  purque  em  nossos  dÍHs  pare- 
ce-me  qtie  íó  existem  iodigenas  amarei  los  6  vermelbop,  estes  f\& 
America  do  Norte,  representados  principalmente  pelos  Pelles 
VermelJim,  e  aquelles  na  do  Sul,  peloa  T^upu  e  eeuâ  ramos. 


Os  iudigenas  brasileiros  já  começim  a  i^eruminytbo  e  breve 
desappareceríio  do  vaato  Rceuario  onde  figuraram  durnnie  longos 
seculi  a,  e^  quiçá,  afisis tiram  a  passagem  de  alguns  milennjt^â. 

Eítá,  portanto,  bem  perto  o  dia  em  qu^eileeíe  trantíoima- 
rào  em  perâonagens  lendários— e  a  lenda  é  afina)  a  mais  pretica  e 
formosa  das  immortalidados. 

Os  iõdigenas  eram  quasi  ^eralm^nte  bons,  meigos,  alegres 
e  hospitaleira.  Raça  do  briosos  e  altivos,  uiio  foram  vtncidos, 
porém  sim  esmagados  pelo  progresso.  Sua  terra  fi  i  conqui&tudA,  mas 
eliea  nào  foram  conquistados,  tanto  que^  as  etpbactladas  Iribus 
que  ainda  existem  em  nosso  pais,  vivem  na  liberdade  relativa  que 
iLes  offerece  o  seio  amigo  dos  sí^rtõoa  vetustos  do  Brabil ;  porím 
tá  meamo,  á  medida  que  a  civilizaçào  avança,  pasaando  algumas 
ve^es  por  cima  doa  seus  miaeros  cadáveres,  elles  recuam,  cedem 
terreno,  mas  nào  cedem  a  ai  proprif  s  :  é  que,  em  sua  simplici- 
dade nativa,  não  com  prebendem  o  progresso  que  se  lhes  depara 
na  ponta  reluzente  de  uma  bayoneta»  ou  na  boca  negra  de  um 
bacamiirie  ministro.  .  » 

Existiu,  contudo,  ha  bem  poucos  anno^,  em  oo^so  pai£,  um 
var^o  notabilissimo  em  tudo,  especialmente  pala  sua  alevantada 
estatura  moral— vulto  gigantesco,  que  encheu  gloriosamente  maia 
de  meio  século  da  nossa  historia,  e  cuja  estampa  cyclopiea  avulta 
mais»  cre&ce  e  crescerá  sempre,  á  medida  que  o  tempo  pa&ea, 
indexivcl,  derrubando  as  notabilid^des  do  momento  e  os  heróes 
do  dia,  reduzindo '03  ás  suas  verdadeiras  proporções  e  atirando-oa 
al£ni    até  o  iuâmo    pó    do    ebquecímeuto    perpetuo* . .     Âquelle 


-  329  — 

santo  varão,  que  merecia  figurar  ao  iado  dos  que  Plutarcho  ím- 
mortalixou,  era  filho  do  fundador  e  unificador  da  grande  Pátria 
Brasileira.  NaseeUi  abriu  os  lábios  tenros  |ara  o  primeiro  va- 
^do  ua  real  Quinta  da  Bôa  Vista,  no  meio  do  fausto  e  das  ri- 
qupsas,  e  muitos  annos  depois  (contingências  da  yida  humana!) 
exhaloQ  o  ultimo  alento  de  uma  existência  toda  dedicada  ao 
engrandecimento  do  seu  paise,  num  hotel  secundário  de  Paris, 
rodeado  apenas  por  meia  dúzia  de  amigos  dedicados— esse  prín- 
cipe illustre  chamaya-se    Pedro  II. 

Pois  bem,  esse  monarcha  generoso,  que  conhecia  perfeita- 
mente o  tupi,  sobre  o  qual  até  escrevera,  em  francez,  um  inte- 
ressante estudo,  ioi  um  grande  amigo  dos  pobres  indígenas; 
recebia-os  sempre  em  seu  palácio,  como  um  velho  pae  carinhoso 
recebe  os  seus  filhos ;  ouvia  attento  as  suas  queixas,  presenteava- 
os,  ecnfabuluva  com  elies  na  própria  língua  desses  brasílicos 
Depois  sahiam  alegres  e  satisfeitos,  cônscios  de  que  seus  direitos 
seriam  respeitados,  porque  assim  o  affirmara  aquellc  grande  velho, 
euja  figura  olympica,  para  elles,  assumia  propoiçõeg  sobre naturaes. 

Acerca  da  popularídade  do  Imperador  entre  esses  nossos 
irmãos,  conta  o  viajante  Maurício  Lamberg,  que  nos  sei  toes  da 
Bahia  encontrara  um  indígena  civilizado  que,  no  tempo  de  sua 
vida  nómada,  fora  apresentado  a  d.  Pedro  II,  no  Rio  de  Janeiro, 
com  mais  alguns  membros  de  sua  tribu.  Assim  que  viu  o  via- 
jante, com  a  mais  adorável  das  familiaridades,  pressuroso,  pergun- 
tou-lhe :     «Como  vai  o  Imperador  do  Brasil  V  > 

Sim,  a  saúde  do  venerando  monarcha  devia  interessar  muito 
os  seus  ingénuos  e  rudes  filhos. 

No  seu  viver  simples,  elles  naturalmente  pensavam  que  o 
seu  grande  amigo  não  podia  tombar  ;  si  hoje,  pois,  chamássemos 
alguns  daquello')  indígenas  que  tiveram  a  ventura  de  ccnfabular 
(Som  o  Imperador,  e  lhes  fosse  contado  que  esse  magnânimo  se- 
nhor cahiu  um  dia  do  seu  throno,  foi  exilado  e  morreu  pobre 
no  estrangeiro,  elles  ficariam  certamente  entristecidos;  mas,  si 
accrescentassemoi  que  hoje,  após  dezeseis  annos,  ainda  se  nega 
nma  modesta  sepultura,  nesta  terra  immensn,  ao  maior  dos  seus 
filhos -então  os  gentios,  selvagens  mas  generosos,  haviam  talvez 
de  ahominar  esta  civilização  brilhante,  porém  carcomida  pelos 
odics  e  pelas  paixões  mesquinhas  ! 

Bem  distincção  de  classes  e  de  partidos,  eu  não  creio  que 
haja  um  có  brasileiro  sensato  e  patriota  que  lu^o  admire  a  ele- 
vação moral  do  «neto  de  Marco  Aurélio»,  que  foi  grande  no  seu 
glorioso  reinado,  porém  ainda  foi  maior  na  tristeza  do  s'>u  iso- 
lamento, soffrendo  h  curtindo  as  agruras  cruciantes  de  um  triste 
exílio.  Assim,  não  importa  que  o  corpo  resequido  do  velho  Im- 
perador lá  esteja  repousando  em  terra  estrangeira,  pois  em  cada 
coração  da  maioría  dos  brasileiros  a  sua  memoria  tem,  não  uma 
sepultura,  mas  sim  um  verdadeiro  tabernáculo  carinhoso,  onde 
é  amada  e  respeitada  condignamente. 


-  3áo  - 

• 

o  grande  patriota,  porém,  o  grande  amigo  dos  nossos  indí- 
genas, o  pae  da  pobreza  envergonhada,  o  philosopho,  o  sábio 
acatado  e  festejado  pelas  maiores  summidadf>s  europeias  do  seu 
^empo,  hadevir  breve,  gloriosamense,  envolto  naquella  antiga 
bandeira  auriverde,  que  levou  a  fama  da  pátria  brasílica  desde 
as  margens  remotas  do  Amazonas  immenso  até  as  campinas  do 
gaúcho  heróico  !  Ha-de  vir  breve,  drscançar  para  sempre,  debaixo 
das  constellaçôes  protectoras  do  nosso  Cruzeiro  do  Bui ! 

O  grande    exilado  de  89,   porém,    não    cahiu,  n&o    morreu, 

Í)0ÍB  o  seu  traspasse  foi  uma  das  maiores  apothéoses  que  o  mundo 
atino  assistiu,  commovido  e  soluçante !  Sim,  não  morreu,  porque 
nos  versos  vibrantes  do  poeta: 

Quem  na  lucta  cahe  com  gloria 
Tomba  nos  braços  da  historia/ 


S.  Paulo,  1907 

Lbonglo  ]>o  Amaral  Guroel. 


o  PAf»RE  MANOEL  DE  MORAES 


A  figura  do  Padre  Maooel  de  Moracsj  pelo  qua&i  mysterio 
que  a  rqdeiiva  e  pelo  ronjanesco  qu©  suggeria  o  pouco  qnú  so- 
bre ella  transpirara  das  narrativas  do  tempo,  tem  tentado  va- 
rini  doâ  que  no  Brasil  se  deiicum  a  asstimptos  bi^to^lC^'g. 
Pereira  da  Silva  idedizou-a  numa  uovella  que  nâo  vale  grande 
eoÚA,  e  Eduard'^  Prado  penaava  cunâã^rar-lhe  uma  monog-raphía 
que  devia  valer  Tnuito  O  erudito  paulista^porque  ein  Eduardc 
Prado  lia  via  debaixo  da  bobemia  do  ghjhe  truiter  um  fundo  de 
p«cata  erudição,  que  elle  avivava  com  o  bsllbo  da  lua  graça— 
preteudia  fundar  o  seu  trabalho  pnucipalmenta  no  processo  áíi 
Santa  Inquisição»  a  que  reapondeu  o  curioso  peraonagem  qne  foi 
missionário  jesuíta  e  praticante  calvlniata,  andou  vestido  de 
roupeta  e  «de  grU  com  traçado,  chapéu  e  trancei ímj  como  gente 
de  guerra,  fez  voto  de  castidade  no  Brazil  c  casou  duas  vezes 
u&  Hollanda,  foi  lingua  do  gentio,  capitão  de  índios  nas  guerras 
de  Pernambuco  e  commerciante  de  páu  brazil. 

Aquelle  [processo,  cujo  conhecimento  desmancha  inuia  anger- 
çâo  errada^  de  Innocencio  da  Silva  entre  outros,  acaba  de  ser 
mandado  copiar  na  Torre  do  Tombo  de  Lisboa  peto  Instituto 
HiatoricQ  e  figurará  num  dos  futuros  volumes  da  excellente 
Mevisiat  que  ha  quasí  setenta  annos  mantém  a  benemérita  asso- 
ciação. Entretanto  interf^ssaiá  o  resumo  djis  suas  500  paginas 
HD^  que  se  nâo  contentam  com  as  poucas  informações  de  Duarie 
d©  Albuquerque  Coelho,  entre  os  antigos,  ou  de  Varnbagen  en- 
tre os  modernos  historiadores,  acerca  de  um  brazilelro  que  foi 
bastante  habil  pára  escapar  à  sanha  do  terrivel  tribunal  e 
bastante  instruído  para  figurar  com  seu  vocabulário  tupi- latim 
na  obra  clássica  d©  Piso  e  Marcgraf  sobre  a  historia  UMiural  do 
Brasil. 


A  25  de  Fevereiro  de  1646  entrava  uo  Patacío  dos  Estáos, 
onde  fuDccionava  em  Lisboa  o  Santo  Officio  (no  local  em  que 
hoje  se  levanta  o  Theatro  de  D,  Msria  II)  um  homem  por 
nome    António    Ribeiro,    que    se  disse   mestre  de  uma  caravella 


—  33á  — 

recGmclifigada  de  PerDambuco  e  a  bordo  da  qual  se  aebavam 
doía  pnaoâ,  remettid^ia  paio  ouvidor  ^eral  DominjproB  Ferraz  de 
Soti^a,  para  serem  apreientadus  ao  referido  tribunal  relig-ioao. 

Alle^^ara  o  maritiuo  que,  teudo  aua  i^mbarcaçAo  aurta  junto 
á  terra,  melhor  tora  nfto  deixar  a  bordo  os  accu^ados. 

laformado  do  oí-corrido,  maiidou  o  Bispo  inquisidor- geral 
bii3ca!-os  «  entregai 'OS  no  cárcere  da  penitencia  pelo  familiar 
Ãnconio  Franco:  como  é  sabido,  honravam-fe  de  servir  de  be- 
le<ruins  de-isas  dilig^eucias  eccLeBÍasti^^^as  pHSÊons  de  tcida  a  cod-^ 
BÍder&çilo  t  até  da  mais  alta  nobreza.  Um  dos  presos  era  e 
Padre  Manuel  de  Moraes ;  o  outro  um  judeu  couUet-idíi  por  Mi- 
gufcl  france-Ap  natural  pnréiu  do  Li&boa  e  qiie,  indo  a  Flandres, 
se  circumcidára  e  apoatatára. 

Na  mflnhà  Beg-uinte,  rtiunidos  em  conselho  os  senhores  io- 
quisidores,  liam  os  papeis  enviado»  d^^alétn  mar  e  inteiraTam-se 
do  caso,  que  nho  era  alia»  uovo.  Âtiuõa  antes,  em  1G39,  fera 
Munotsl  de  Moraes  denunciado  por  haver  abjurado  a  religião  ca- 
tholLca  e  yivtdo  escandalosamente  entre  os  schismauo  s,  julgado 
e  coãdemaa^o  á  revelia  peia  Santa  Iiiquisiçiho.  O  ouvidor  geral 
doa  povoa  da  capitania  de  Pernambuco,  que  exercia  também  aa 
funcçòes  de  auditor  geral  da  gente  de  guerra,  ao  acompanhar 
as  forçai  em  operaçílo  contra  oa  bollaude^ea  aquém  do  S.  Fran- 
cia-lo,  trouxera  ordem  do  governaJor  geral  António  Telles  da 
Silva  de  promover  a  prisào  do  antigo  religioso  da  Conipanbiaf 
que  se  achava  novamente  praticando  a  fé  romana  e  vivendo 
entre  portugueses  leacfl, 

Tellea  da  Silva  tinha  tão  feroa  a  beatice  que,  segundo 
acaba  de  informar- nos  o  sr  Capistnmo  de  Abreu,  Be  ofierecia 
pqra  montar  o  cnstear  do  seu  bolso  a  Inquiaíçáo  no  Brazih  Ã 
malovolencia  de  Martim  Soares  Moreno,  um  dos  tre*  njestres  de 
campo  debse  período  de  campanha,  eervindo  aquella  intrauai- 
geucia,  permittiu  qae  ie  pflPectuasse  a  captura  do  revel»  seguida 
da  ent-ega  ao  mest>e  da  caravtílía  por  J,  Cotímo  de  Craabeco, 
quiçá  parente  do  celebre  impressor  de    Lisboa 

Os  libertndoress  tinham  já  então  chegado  ás  proiíimidades 
do  Recife,  restabel incendo  o  arraial  d^)  Boui  Jesus,  e  dominavam 
a  menor  parte  do  littoral,  por  onde  exerciam  francas  suas  com- 
munici^ções  com  a  Bahia  e  com  o  Reino.  Manoel  de  Moraes,  a 
eíiSQ  tempo  o  licenciado,  nâo  o  padre,  nenhuma  resistência  po- 
dia oferecer,  e  aa  próprias  rua^  do  Recife,  ainda  em  poder  doa 
hollandezeit,  lhe  n&o  prn[»orcianariam  a  gnarida  da  primeira 
estada  Na  flua  defesa,  aiiájí,  aí^rmou  elle,  repelidas  vezes,  pu- 
trir  o  inteato  de  apreíentar-ae  á  mesa  do  Santo  Officio  desde  a 
sentença,  aiim  de  eximir- se  das  suas  culpas,  umas  reaes,  outraa 
imaginarias  — porquanto,  declaritva,  peccára  gravemente  contra  a 
honestidade,  maà  nunca  contra  a  fé.  Demorara  em  fazei -o 
porque  tivera  que  voltar  a  Pernambuco  por  questões  de  di- 
nheiro.  Também  o  acto    merecia   certa    hesitação    por  parte  de 


k 


—  333    - 

3 nem  nto  podia  mais  ^sar  do  favor  e  benefício  dos  apresenta- 
ofi,  havendo  sido  «relaxftdo  em  estatua  e  avertido.» 

Do  primitivo  processo  consta  quaes  as  culpas  attribuidas  a 
Manoel  de  Moraes,  denunciado  por  um  Duarte  Gutterrcs,  com- 
merciante  que  asfistira  em  certo  tempo  (in  Amstcrdam.  Algu- 
mas dat  testemunhas  de  accusaçAo  revelaram  manifesta  parciali- 
dade, sobretudo  um  clérigo  pernambucano,  }>or  nome  Manoel  de 
Carvalho.  O  licenciado  aproveitou  comtu-lo  o  intervallo  para,  no 
segando  processo,  apresentar  em  seu  abono  extenso  rol  de  teste- 
munhas, entre  ellas  o  embaixador  portuguez  junto  aos  Estados 
Geraes,  Francisco  de  Andrade  Leitào. 

Da  exactidão  das  informações  prestadas  pelas  primeiras,  logo 
dá  desvantajosa  idéa  a  crntradiccão  concernente  á  edade  qne  o 
réu  apparentava  ter.  Suppunha-lhe  (lutterr^s  34  annos  em  163^, 
30  o  christfto  novo  Joào  Fernand  s,  50  o  carmelita  Thomás 
Olagre,  50  também  o  christão  novo  Diogo  Heniiqiies,  45  o 
mestre  de  caravella  Doaiugos  Vicente.  Concordaram  todavia 
todas  em  que  era  de  poucas  carnes  o  moreno  do  cõr,  qunsi  todas 
em  que  era  de  estatura  meà,  ajuntando  t  Igumas  que  coine(,ava 
a  ler  eis:  uma  de?creve-o  *alto    preto    magro  ef«o.» 

Na  verdaie  tinha  Manoel  de  Moraes  43  annos  naquelle 
tempo,  poii  que  confessava  ^0  em  164t),  e  muito  provavelmente, 
pauliãta  de  nascimento  e  posto  que  só  accu«andí>  na  sua  ge- 
nealogia ascendência  portugii^za,  t  nha  parte  de  mameluco, 
mostrando-a  na  côr  da  pelie  e  nas  feições. 

For  outra  contradicção  jurava  o  denunciante  Gutterres  o 
jurava  também  Fernandes,  que  este  era  «professor  da  Ity  de 
Moysés  nos  Estados  da  Olanda>,  terem  cm  Amstérdam,  nos 
annos  de  1634  e  1635,  conhecido  Manrel  de  Moraes  cubado  e 
com  filhos^  quando  os  demais  depoentes  relatavnm~o  que  era  a 
verdade  — ter  elle  caido  em  poder  dcs  bollfindezís  per  oocasião 
da  conquista  da  Parahyba,  que  occorrcu  jneciramente  de  1G34 
|>ara  1635. 

Pelo  depoimento  do  Padre  Rnphael  Cardozo,  procurador  que 
foi  da  Companhia  no  Brazil,  ficanma  snb«M)do  que  Moraes  esti- 
vera, rapizola,  no  collegio  dof  jesuitas  na  Bahia,  que  paí^sára  a 
Pernambuco  corn  o  ]>rovincial  e  que,  ao  estalar  a  guerra,  em 
1630,  era  superior  de  um  i  aldeia  de  índios,  o  que  faz  ciér  que 
ali  mesmo  recebera  as  ordens.  Segundo  informação  ulterior  do 
provincial  da  Companhia  em  Portugal,  Sinifto  Alvares,  Manoel 
de  Moraes  nunca  chegou  a  prestar  v*'tos  solemnes,  apenas  os 
simplices,  acabidos  os  dois  annos  do  noviciado,  e  já  se  achava 
despedido  da  Ordem,  por  sua?  faltas,  antes  de  se  j^as-sar  jimacs 
hollandezes  e  muito  antes,  p'rtanto,  de  abandonar  seu  credo. 

De  positivo  ha  que,  homem  de  acçào  por  temperamento, 
commandou  seus  tutelados  indígenas  na  primeira  phuse  da  guerra, 
quando  no  primitivo  Arraial  Matbias  de  Albuquerque  defendia 
obstinadamente  a  campanha  contra  os  invasores  herejes:    a  cir- 


-  334  — 


cumstancia  não  é  cittitradictAda  tio  proceaso  e  exprefisanieute  & 
refere  um  cbrifitao  velho  de  Alcobaç^j  por  vinte  annoa  residente 
no  Brazil  Nào  teu  d  o  partícidu  ^ot  seus  superiores  deeent©  tal 
Cíimbioaçíio  de  míâpionario  e  g-uerrilhf^iro  por  gcatn,  foi  Mauoel 
de  Momeii  tompellido  a  deixar  a  Jacta  de  carto  ckui  desagrado. 
Hetirou-se  com  varin»  je^uitíis  mais  para  uma  aldeia  de  suas 
iniéãõi^s,  driUi  pa^(i'td<j  a  Itamarneá  e^  an  s^er  tomada  a  ilha  bid 
1633,  trãnifeiind  -&e   para  n  Kio  Grande  do  Norte. 

O  ena  cnnKecimento  da  liii^ua  geral  facilitava -lhe  habirar 
flutre  os  .sbori^Goes  e  ievou-o  «ataraímente  entào  a  fixar-se  em 
Ciinhahú,  o»de  dizia  misBa  e  exercia  as  outras  funcçôes  sacf  rdo- 
taeftj  ao  mesmo  tempo  preparando  um  coniiugente  de  300  indioí 
para  qualquer  emergeuí^iã  belUca.  Arguiti-o  seu  inimigo,  Padr« 
Manoel  de  Carvalho,  de  haver  após  a  abjuraçâ-o  determinado 
es^eg  índios  a  pelejarem  coíítra  ns  portuguessoe,  mae  o  fíicto  é 
inacreditaveí,  pífr  suspeita  a  fonte.  O  certo  é  que  da  Parahyba, 
Cinde  prrivavelmante  so  encontrava  desde  a  conquista  do  Rto 
Grande  em  IGoiJ,  foi  o  jeauita  levado  prisioneiro  para  o  Recife, 
onde  é  corrente  que  passou  a  trajar  de  secular  e  sacudiu  coma 
roupeta  aa  cronçis,  sendo  por  semelhante  motivo  e  nfto  antíríor^ 
tnente— DO  que  ^e  deduss  do  processa — eXiiuUo  da  Ordem  pelo 
provincial  Domíngosi  C  jelho,  uma  vez  avisado  ette  do  oecorrjdo, 

Ao  partir  para  a  Hollanda,  fazendo  a  embarcação  escala 
pela  Parahyba,  ja  o  padre  horrorizara  oã  cntholicoâ  pre>entea  á 
mesa  do  governador,  á  qual  se  sentavam  uns  vinte  hollandexes 
e  vários  raitrndores  principaes,  comenda  carne  em  quiota-feira 
de  Endoení^as,  quando  os  outros  portugueses  só  ge  serviam  de 
queijo  o  ajLeitonas  O»  hollandeíaes,  entre  os  quaes  era  o  zelo 
calvinií-ta  polo  menos  tà »  int  n^o  quanto  entre  os  p- rtuguezei 
o  fervor  romano,  re^osijavam-se  sobremaneira  com  uma  tal  apcstã- 
eia  singular  da  parte  de  iiir  letrado  religioso  e  apontavam-no 
ciimo  exemplo  aos  outros  captivos,  entre  elies  frei  António  Cal- 
deira, da  Ordem  de  N,  S.    da  Gr  ça,  que   relata  o  facto. 

Por  acceitavel  se  pode  ter  que,  bandeado  com  o  inimigo, 
tivesse  Manoel  de  Morae*,  pnra  crMr-  se  posjçào,  prestado,  ccimo 
oitLro  mameluco  c  lebre,  n  Calnibar^  informações  valiosas  ao&  iu- 
vasores,  íeito  mestao  ura  livro  «Jos  portos  e  « ntradaa  do  Brazil». 
Isto  explicaria  a  referencia  de  u  ita  das  tesiemunhaB  de  que,  em 
Amsterdíim,  vivia  o  ox-je*uita  é  custa  da  Companhia  das  Itidias 
Occidentaes,  por  Sc^rviços  a  ella  prestados ;  pois  que  se  6ca  sa* 
brindo,  pelas  confi-is-òes  do  réu,  nfto  poder  ser  verdadeiro  o  dlz^r 
d^  outra  tentem anha  allu^ivo  ao  Cisamento  de  Moraes  com  4l 
filha  de  um  dos  principaes  da  Holsa. 

Nâu  qne  nfto  tivesse  o  antii^o  cura  fortes  in&tinctos  commer- 
ciaes.  Ao  ser  ordeitnd^i  sua  prisco  «pelas  paixões  particulares 
de  ^[artini  Soaroa  Moreno»,  Oi^tàva  ellet  segundo  pesto&lmente 
declarou,  numa  aldeia  do  Hmíie  d©  Peruautbuco  *a  fa^ef  pám, 
isto  é,    a    e cubar ^^ar    páu-brazil.     A  priaão    não    foi    todavia  tào 


—  335  — 

ineipersââ,  nem  tão  desprevenido  andava  elle  qaCj  ao  &er  ãpte- 
lentado  á  mesa  do  Santo  Oflicio,  iiào  ti f esse  em  Eeu  babú  um 
maço  de  papeia  «que  diziam  a  bem  da  sua  cauEn*.  O  tribunal 
parecia  de  reato  de  algam  modo  prediapi  ato  em  &eu  favor,  logo 
íeí^idindo  contra  o  requerimento  do  promctor  Domingos  Eâtevea, 
que  nào  pasãaíse  o  preso  doa  cai  ceies  da  penitencia  para  oa 
lecretoa,  *vi9to  £ua  enfermidade  e  uAo  poder  aer  corado  comoda- 
mente ftin&o  onde  está*.  Ue  todo  tempo  valeram  os  empenhos  i 
i»«tam<>s  veuio  que  a^é  pesavam  na  ca?a  ainistra  dan  torturas, 
cajoft  juUes  era  de  suppor  fossem  a  elles  inaccesMveis.  A  prin- 
cipal raiâo  da  comtemplaçíio  u^ada  repide  seguramente  nas  cer- 
tidões ô  re  com  me  n  dações  dos  meatres  de  cam^o  Joilo  Fernandes 
Vieirft  6  André  Vidal  d©  Negreiros,  que  por  6*se  tempo  andavam, 
sem  auxílios  directos  da  metrópole,  recuperan<Ío  para  o  Beu  Hei 
os  domioios  américauos  em  poder  doa  boUaudesta. 

Ambos  intercediam  vivamente  pelo  accnaado  junto  ao  Santo 
Officio,  deseri*vendo-o  descalço  o  He  crucifixo  na  ruão  a  acompa- 
nhar e  exhortar  oi  combatentes  do  gen  berço  e  da  âua  primeira 
fé,  entre  os  qnaei  livremente  vivia  e  porventura  eierciã  O 
•Acetdocio,  tendo  lhe  -a^ge^urava  elle  — gido  re^titaidas  h&  ordena 
por  um  coinmisftÉirio  de  Sua  Santidade  cooj  quem,  na  Hollanda, 
&e  confesáára  e  de  quem  ak-ançara  a  absolvição,  uma  vrz  deser* 
tada  a  segunda  mulher  com  a  qutl  se  casara  no  rito  ealvininta 
—eaMmonía  que  náo  envolvia  para  elle  mais  do  que  uma  mun- 
Ci>bia  legalizada. 

II 

Na  eonfi^^sílo  espontaneamente  feita  a  23  de  Março  de  1646 
perante  o  Inquisidor  Belchior  Dia^  Preto,  ast-entiu  Muniel  de 
Moraes  em  que  eíTecti vãmente  casara  na  Hotlfinda,  nào  só  umn^ 
mas  doas  vezes:  a  primeira  na  província  de  Giieldria,  com  uma 
filha  de  Arn-jldo  Vanderhflit,  o  qual  tinha  o  contracto  do  pe^o 
na  cidade  que  no  processo  se  denomina  de  Ordrnick,  Para  ahi 
tinham  remettido  o  prisioneiro  á  chegada  do  Brazil,  ní'f?"nndíi-lbe 
pas-agem  para  a  Ht^spaoba  — recusa  attribuida  prr  Man*  el  de 
Moraes  ao  receio  que  o  seu  regresso  ao  tlitatro  da  lucia  inspi- 
rava,  por  causa  da  influenL^ia  que  eierci.i  entrtJ  o  ^^etitio,  Cf  m  o 
quiil  se  armara  para  a  defesa  ou  pn^ra  a  traiçào,  coufóane  dermos 
credito  a  sua  veisfto,  ou  á  vergão  do  marquez  de  Basto?,  dina- 
tario  de  Pemarabuco 

Mais  ou  menos  dous  annos  viveu  com  esta  e8]i08a  de  nome 
Margarida,  qu^  ao  íallecer  lhe  deixava  um  filho,  com  quem  ficou 
o  avo.  A  Companhia,  vendo  o  antigo  jesuíta  assim  publica* 
mente  renunciar  ao  celibato  ecclet-iaatico,  portanto  á  douirina 
romana,  quiz,  preteinde  elle,  confiar-Ihe  um  earf^o  de  governo 
no  Brasil.  Moraes,  porém,  o  não  acceitou,  para  nã,o  deitar  sua 
fé,  do    que    lhe  faziam    condiçào  — asaim  pelo    menos    contou  as 


—  336  - 

cousas  nos  Estáos — e  passando  a  leyde,  onde  pensava  imprimir 
nm  livro  sobre  o  Brazil  e  sua  fertilidade,  conLecrn  perto  da 
Universidade  uma  Adriana  Smetz,  com  a  qual  casou  e  da  qual 
teve  duas   íilbes 

Porventura  será  esta  a  viuva  pobre  que  frei  Thomas  Alagre 
lhe  dava  por  mulher  em  seu  depoimento.  O  que  é  menos  fácil 
de  conciliar  é  esse  snu  sacrilego  viver  matrimonial  com  a  sua 
assers:ão  de  que  não  perdia  missa,  frequentando  em  Leyde  ora- 
tórios particulares  e  em  Amsterdam  a  egreja  do  Cordtiro  Branco. 
Manoel  de  Moraes  invocava  a  tal  propósito  extensa  lista  de 
te^temunbas 

Ao  cabo  àA  outros  dou»  annos,  cançado  de  ílamf^ngas  e 
hollaudezas,  saudoso  dos  trópicos  e  dos  seus  encantos,  sensível 
mesmo  ao  parecer  ás  formosuras  excticas,  pois  que,  ao  ir  preso 
para  Portugal,  declarou  com  empenho  alforriar,  caso  morresse, 
a  mulata  Beatriz  que  lhe  servia  de  governante,  abandonou  o  lar 
legitimado  e  embarcou  para  Pernambuco,  ainda  sob  o  dominio 
da  Companhia  das  índias,  numa  das  expedições  de  Boccorro. 

Os  recursos  muito  provavelmente  faltavam -lhe.  A  Com- 
panhia uào  tomara  encargo  indefinido  de  i<ustPnta]-o.  Entre  os 
documentos  recolhidos  na  Hollanda  pelo  dr.  Joté  Hygino,  figura 
umi  reclamação  pecuniária  do  licenciado  Moraes  contra  o  conse 
lho  da  associação  mercantil.  Lá,  se  frei  Manoel  Calado,  o  auctor 
do  Valeroso  Lucideno,  catholico  e  frade,  lograra  desfructar  a 
amizade  do  Principe  Maurício  de  Nassau,  que  proventos  n&o 
poderia  auferir  entre  os  herejes  elle,  que  havia  dado  tfto  valiosas 
arrhas  da  tibieza  da  sua  moral  rcligioi-a? 

Do  inventario  a  qu<^  não  muito  depois  Manoel  de  Moraes 
procedeu  no  cárcere,  cdos  bens  adquiridos  por  sua  industria»  — 
entre  os  catholicos,  porque  ahi  lhe  correu  mais  de  feiç&o— vê-se 
que  não  pordera  seu  tempo.  As  dividas  a  receber  excediam 
bastante  as  que  tinha  a  pag.ir.  Com  cinco  casaes  novos  de  es- 
cravos da  Guin-  e  mais  três  ne^çros  solteiros  bem  dispostos,  al- 
gumas juntas  de  bois,  carros,  um  cavallo  de  sella  e  quantidade 
de  machados,  foices,  etixadas  e  outros  instrumentos,  explorava  o 
corte  do  pau  hrazil  no  logar  de  Tapacurá.  cinco  léguas  distante 
do  Arraial.  Vendia  o  aos  judeus  do  Recife  a  cruzado  o  quintal : 
num  sitio  da  Alagoa  Grande  possuia,  ao  partir,  um  de(>osito  de 
1  200  quintaes,  e  noutro  ponto  algum  mais  de  que  lhe  fizera 
mercê  João  Fernandes  Vieira. 

Isto  indirectamente  explica  a  nova  conversão  politica,  senão 
religiosa— dando  de  barato  que  nunca  abjurou  foriDalmente — do 
trefego  paulista.  As  conversões  mui  raramente  deixam  de  ter 
sua  base  interesseira.  Manoel  de  Moraes  voltou  para  Pernambuco 
em  Dezembro  de  1643. 

Rm  1644  dava-se  a  sublevação  portugueza  e  João  Fernan- 
des Vieira,  o  governador  da  liberdade  divina,  passava  edictoa 
pelos  quaes  dava  quitação  aos  que  servissem  a  dita  guerra  do 
que  deviam  aos  hollandezes. 


loteili^ente  como  era,  o  ex-jesuita  comprehendeu  de  relaaee 
tódo  o  partííio  a  tirar  da  aituaçào.  Em  primeiro  logar,  fa^ia 
jxi5  ao  seu  perdão,  no  ca^o  qae  preyia  de  veacer  a  r<íTo1uçãiO : 
tendo  viyído  em  Ãmsterdam  e  nq  liecife  e  convivido  cora  dire- 
ctores e  fiold&dofi,  uiog^u^m  nielhut  podia  aquilatar  a  coiTupçílo 
e  o  desanimo  do  lado  hcvllandez.  Em  se^^undo  lo^hr,  tivrava-se 
do  melhof  modo  do3  rommitteQtes  poii  que,  sentindo  ruaè  decla* 
rações,  recebí^ra  de  hollAndezeii  peças,  escravos  da  Guiné,  Wis  e 
ditiKeiro,  uns  2.500  cruzados,  para  re&tittijr  em  pau-biazíl.  Em 
terceiro  logar  tomava  logar  entre  os  especuladores  e  não  entre 
os  e&poliadoB,  porquanto  a  gnerm  da  liberdade  foi  nos  proceasoi 
um  formidável  roubv 

à  fé  ifnp^llia  menoa  que  o  amor  do  ^anho.  Naquellti  tempo 
iDesmo  não  fle  podia  chamar  rara  a  indiff^rença  religío-^a  :  a  lii' 
tolerância  oecultava  muita  cobiça.  Manoel  de  Moraes  fala  de 
muitoã  chriatàoã  novos  e  algunâ  velhos  qne^  pas-iando  para  tcras 
neerlandeisafl,  de  novo  se  úzer&m  hebreus  ou  abra<;at'am  o  cal  vi' 
oismo»  O  facto  6  eonhf*oirjo,  e  bem  assim  que  os  bnns  dos  hol' 
landezet  e  judeus  de  Pernambuco  foram  po^tn»  a  saqu^,  não 
tanto  poi  flerem  de  iniraig-^ia  da  santa  religiàg  quanto  porserotn 
de  inimigas  abastadas 

Joào  Fernandes  Vieira,  cuja  moral  foi  caprichouai  pilhou  i 
^ande.  Neste  ponto  tem  razào  o  sr.  Perei  a  da  Costa  no  seu 
recente  trabalho  sobre  o  Caatrioto  Luzitano  :  apenas  nào  foi  e lie 
o  único,  sendo  dos  poucos  que,  tendo  sacrificado  haveres,  pra* 
curaTam  uma  com[>ensaçào  que  nào  era  de  tndo  injusta.  Da 
processo  do  Padre  Manoel  de  Moraes  consta  quci  ellt^  se  apode^ 
rou— serve  tão  somente  do  eií^mplo — de  cincoenta  e  tantos  boi» 
de  carro  dn  jui^leu  Bakbazrvr  áti  Fim^nca  e  que  mmdou  para  a 
Bahia  em  curto  prazo  200  a  3^  escravos,  uns  de  presente  ao 
governador  Tellêé  da  Silva,  outrot  para  íerem  vendidos  par 
conta  própria. 

O  que  sobrava,  di^itribuia  pelos  amigoB,  Os  bens  6  n  Olinda 
daquelle  Fonseca  f orara  doadas  a  ura  Luiz  da  Costa,  hnmem 
sem  mer^^cimento,  diz  a  testemunha,  e  eoQstavam  de  casíis,  jar- 
dins e  ohirínsj  tu  lo  calculado  em  20-000  cruciados*  O  interea- 
sante  é  que  o  índio  Camarào  tinha  «u  is  peç:i9  africina»  e,  maii 
extraordinário  ainda,  corria  voz,  qun  Heoriqu^  Diass  capitao-raór 
dos  negros,  tomara  cmuitiàsimoa  escravos  e  oa  vPTidfira*.  Atá 
para  Portugal  iam  de  premente  de^aes  escravos  rnubados.  quiçá 
também  para  neg-ocio ;  na  caravella  em  que  seguiu  Mauíi©!  de 
Moraes,  embflrcou  um  «valente  neírnt  reraetr,ido  como  mimo  por 
Martim  Soares  Moreno  a  um  sobrinho  cleriofo. 

A  eituaçAo  era  pois  de  tentar  qualquer  avenTureiro  g-anan* 
cinaOj  e  Manoel  de  Moraf^s  n&n  pf  rdeu  tempo  no  decidir-siv  Com 
effeito  depoz  André  Vidal  de  Nesrreiro*  que  ao  i-heirar  á  jnívoa- 
çào  de  Sauto  Antnnio  d«i  Cabo  com  aljj^umaa  companhias  do  aeu 
terço  em  auxílio  dos  moradores  levantados^  já  encontrou     o    U- 


—  338  — 

cenciado  encorporfldo  aoa  soldados  de  João  PernnndflB  Vieira,  que 
seguiu  até  a  Ca&a  Forte,  animandoos  com  suas  pias  63:bórtaçÔça« 

Mauool  de  Moraes  estava,  pois,  perfeitamente  ao  facto  de 
quanto  se  passava  do  lado  doa  portuguezes,  das  glorias  como 
da&  verí^ç^nnbaB^  ft  por  ia»o  che^^a  a  pretender  que  o  proceder  do 
Marti m  Soares  Moreno  para  com  elle  obedecia  ao  receio  de  que, 
deapmbarcandn  solto  em  Portugal,  pode&se  ter  accesao  junto  ao 
Rei  e  referisse  cousas  menos  ag^radavpis  tocantes  ao  procndi- 
mento  do  me^mo  mestre  de  campo.  A  prisco  teria  até  sido  ieita 
em  deeaccõi'du  com  as  ordens  de  Tellae  dã  Silva,  quf)  eram  de 
mandar  foroecer  embarcação  ao  liceuciado  para  que  po desfie  ir 
apresentar^se  ao  Santo  OfficiOj  recommendaucio  que  fosso  seguro 
porque  escrevia  em  seu  favor  a  Sua  Maje&fsde, 

Diz  Morâfs  que  a  desconfiança  hostil  dw  Martim  Searea 
Moreno  nustíera  da  circumstancia  de,  nuraa  relação  que  aquelle 
escrevera,  calarem-se  os  serviços  JeBHe  cabo  de  guerra  ©  elo- 
gíareni-ae  os  dos  dons  outros,  Vieira  ft  Negrt^iros. 

  facilidade  com  que  o  mafnehico  mudava  de  aspecto  e  de 
opiniào  leva  a  duvidarmos,  até  Sf^íjunda  prova,  de  quanto  sffir- 
ma,  e  conduz  a  crer  que  tanto  falavam  verdade  &»  testemunhai 
que  no  Recife  o  viram  esciítaudo  as  prBrÉitiHs  e vau gt-licjis  quanto 
aa  que  na  H^ltanda  o  viram  ai^si^dndii  ao  santo  i^act-iliiíio.  Os 
intflrro«:a tórios  aoffridoa  pelo  accusado  levaram  me;ç*i«  e  muitos, 
aondo  verdadeiramente  inquiáitoriae*,  como  os  *Je  todo  p  qualquer 
processn  do  calebre  tribunal.  Aa  perguntas  iosi  tt^ntes,  repeti- 
oAs.  repicadas,  capciosas  de/iam  fatig'ar  espíiitos  Já  abalad<'S  pelo 
sofiTrimento  e  prudiíspol-os  a  connssões  meamo  exaggeradaa, 
mesmo  i«ví*roBÍínf*Ís. 

No  caso  em  questão  travaram -se  sobre  pontos  de  fé  longoi 
dialo;^'os  etiíre  o  Inquit^idor  Belcbior  Dínz  Pretto  e  o  Bx-Je^uita, 
cujo  pnngíie  frio  e  ar^-ucia  se  não  deixavam  díísmoniar  acilmeutO| 
guardaiido-se  de  a'Tjhiguidade'í  th**oloíTÍca!i,  Em  assumptos  ae- 
cundurjoi  teve  poriam  quu  ir  cedendo^  posto  resalvando  sempre 
euprgicampnte  o  esfiencijil,  a  pureza  de  í-uas  crenças  imioeculadaft 
a&ravé<i  de  todas  as  peripécias  do  «eu  viver,  até  nào  se  aca- 
nhando de  em  pie- a  Gueldria,  entn^  protestantes,  a  garrai-- se  com 
uma  irnn*rem  oa  Virgem   Maria  em  occasião    le  borrascas, 

A*4sim,  admittiu  Manoel  de  M' ira  es  ter  revelado  na  Hol landa 
estarem  mal  defendidos  os  forrey  da  Companhia  no  Brazil,  iivo- 
cando  comtado  cnmo  poderosa  attenuante  haver  salvado  a  Bahia 
de  um  ataque  de  ftine^taf^  cona'^quenc:ias.  Sui&tenttira,  ao  que 
asaeveiava,  em  concelho  doa  dirtícti^r-^Sj  serem  fartos  o*  recursos 
da  capittd  hrazileira  quando  uratt  carta  do  «governador  Diogo  Laia 
de  Oliveira,  apprehf^rtdida  peUii^  corãarioa  hoDandezed  expunha  a 
triste  condiçílo  d:i  defesa  do  eentro  do  domínio  portuguez  na 
America.     Seu  concelho  foi  nào  obstante  seguido 

Outroftim,  aconselhara  «a  autoridades  a  nâo  v*íxarem  antes 
tratarem  bem     ns     pornambucanos,     pretextando     o  interesse  da 


—  339  - 

Companhia  01  aa  de  facto  pAf-a  síilvar  eeus  patrieioa  de  ty~ 
ranniaa  Os  serviços  prestados  cior  elÍR  ao  inimigo  uho 
pastavam,  em  verdade,  de  semelhaotes  Bu^g-estões  6  atísos.. 
Também  era  exacto,  reconliecéUi  que  comera  carne  em  dia 
de  preceito  e  com  istn  dera  i^ecandalf^,  mas  por  ^6  havfi  a 
tnais  farinha  d*^  mandioca,  A  predicas  calvinista*  igualmente 
concorrera,  nn  Brexil  e  na  Europ»,  sem  todavia  entender  palavra, 
apenas  por  curiosidade,  para  apreciar  a  geatieula^ào  dos  prega- 
Àoteê. 

m 

Uma  vez  formulado  o  libe  11o  da  Jnstiça,  com  seus  longos  e 
'leveroa  provarás,  eonstítuín-se  como  proirurador  da  cansa  do 
Padre  Manoel  de  Moraes  o  licenciado  Manoel  da  Cunha— aubsti- 
tutdo  no  andamento  do  proceâf^o  pelo  licenciado  Lui^  Ferrão^ 
que  apreiíiíntou  (*m  resposta  Uns  artigda  drt  contrarit^dade  A 
Santa  Luquígiçân  não  deixava  as  âuaa  victimai^  f^^m  adv^igado  de 
defesa  :  OB  seus  pFdcesf^os  revestiam  tndaâ  as  furmae  ordinárias 
da  Justiça,  eseepto  que  corria  tudo  secreto,  jurando  as  prnpriaa 
testemnnbus  nada  rev*^íftrem  do  que  tivessem  dito  e  ouvido, 

E'  claro  que  á  infracção  do  juramento  corre«pondiam  pena- 
lidades . 

O  licenciado  Manopl  da  Cunha  tomou  a  serio  seu  encarço. 
Invocou  os  fmtoFi  de  guerra  do  seu  cliente,  praticados  contra  oa 
hollandcs&es  no  Arraial,  em  Itamaracá,  no  Rio  Grande  do  Norte 
^porque  meemo  depois  de  deixar  o  Arraial,  fora  elle  obrigado 
a  pelejar  com  Bpua  indios  em  j^juda  doa  moradores  portugLiezea, 
atai^ad«ift  no  gradual  alastramento  da  occiupaçiio  estrangnira— 
como  a  melhor,  mais  tangível  prova  da  eua  Bjuci^ridad^  e  leal- 
dade á  cauea  portugueza,  que  era  a  causa  catholica,  E'  d©  ver 
que  por  completo  rept*lliu  a  hypothese  nventada  de  uma  capi- 
tulado traidora,  era  formal  contradicta  áquella  lealdade. 

As^im  narrou  a  defesa  o  efUsodio  que  é  conhecido  na  sua 
•otttra  luz,  porque  delle  se  occufam  a»  Memorias  Diárias  ^ 
Achavn-BB  Manoel  de  Moraes  nn  engenho  de  António  de  Vwl- 
ladarPH,  na  P/irahyba,  com  o  seu  gentio  que  rt" tirara  do  Rio 
Graud»*,  quando  António  de  Alburquerque  e  Marti m  Soares  Mo- 
teno  íhe  pediram  que  fosse  buscar,  para  reunil*iis  ao^  outros^ 
o»  indin»  da  aldeia  de  Gararaoa,  O  je^uita  as&i  n  fex,  deixando 
á  guarda  dos  dois  miliMreri  os  aeus  tuTeladoK.  Atacados  entre- 
mente* palofi  hoUandezes,  teriam  oâ  cnhos  de  guerra  fugido,  sem 
se  defenderem,  ci>m  os  soldudo;*  do  seu  commando,  abmdouando 
ao  inirnígo  os  iodios,  raa^*  ass^^guraudo  a  Manoel  de  Moraes,  a 
quem  eticontramm  de  volta  da  Kua  mis^ftn,  que  estavam  esses  em 
lalvo.  Adíantando-se  desacautelndo  o  Padre,  depftro^  pelo  con- 
trario com  o  seu  rebanho  tomado  e  a  si  próprio  te  viu  cercado, 
não  lhe  reatando  mais  do  que  ent reinar ^í^t',  visto  ser  impoRsivel 
qiialq^uer  defeca»  Accuaava    elle    oa   fugitivoâ    da  origeiu  de    tal 


—  840  — 

infâmia:  para  encobrir  sua  covardia  teriam  ido  falsamente  in- 
formar Matbias  de  Albuquerque  de  que  o  missionário  desleal  se 
mettêra  de  caso  pensado  com  o  inimigo. 

A  defesa,  recebida  a  23  de  Novembro  de  1646,  apresentava 
uma  considerável  lista  de  testemunhas,  em  abono  dos  sens 
dizeres,  no  Brazil,  Portugal  e  Hollanda. 

A  inquirição  respectiva  começou  a  18  de  Março  de  1647, 
tendo-se  passado  as  commissões  necessárias  para  serem  pergun- 
tadas umas  e  vendo- se  as  demais  por  informaç&o.  Algumas  foram 
favoráveis,  outras  desfavoráveis. 

O  desembarerador  António  de  Sousa  Tavares  por  exemplo, 
Secretario  que  fora  da  embaixada  de  Tristão  de  Mendonça  Fur- 
tado, o  primeiro  enviado  portuguez  junto  aos  Estados  Geraes 
depois  do  rompimento  da  uni&o  com  Gastella,  depoz  que  o  Padre 
Manoel  de  Moraes,  seu  conhecido  da  Hollanda,  mostrara  sempre 
nas  suas  praticas  ser  verdadeiro  catholico  romano,  usando  como 
bom  religioso  dn  grande  modéstia  nas  suas  falas,  e  manifestando 
repetidos  desejos  de  mudar-s-^  para  Portugal,  afim  de  ser  de 
utilidade  aos  seus  patricios.  empenhados  na  recuperação  de  Per- 
nambuco, e  ver  seu  filho  criado  na  fé  catholica. 

Declarou  mais  o  desembnrgador  haver  então  visto  uma  cer- 
tidão em  latim  de  Artichofsky,  o  notável  polaco  ao  serviço  da 
Companhia  das  Índias  e  ^eu  mais  illustre  capitão  na  guerra  do 
Brazil,  de  como  poupara  a  vida  de  Manoel  de  Moraes  no  en- 
contro em  que  o  caprivára,  pelo  grande  valor  com  que  elle  se 
defendera,  pois  mandara  degolar  a  mór  parte  dos  soldados  ren- 
didos . 

O  padre,  aliás,  não  menciona  esta  façanha  entre  as  que  em 
geral  se  lhe  attribuem,  parecendo  antes  que  lhe  não  f5ra  dado 
offerecer  resistência. 

Um  camareiro  do  já  defunto  embaixador  Tristão,  por  nome 
Jerónimo  Esteves,  confirmou  com  a  autoridade  peculiar  á  cria* 
dagem  os  dizeres  de  S^Uí^a  Tavares,  depondo  que  o  accusado 
de  facto  almejava  por  tranHferir-se  para  Portugal  e  deiramava 
por  esse  motivo  sentidas  Inprimas  :  só  o  retinham  a  consideração 
dos  filhos  e  o  receio  do  ca8ti«;o  capital.  Concordava  entretanto 
o  fâmulo  diplomático  em  que  o  antigo  jesuita  ensinava  a  »6Íta 
que  os  hollandezes  seguiam,  não  por  certo  de  coração,  mas  para 
não  morrer  de  fome  ou  para  não  ser  por  elles  morto. 

Ao  contrario  destes,  o  Padre  Manoel  Calado  do  Salvador,, 
o  confessor  de  Calabar  na  hora  extrema  e  amigo  de  Maurício  de 
Nassau,  foi  cruel  com  o  accusado.  Affirmou  que,  com  seus  índios,, 
elle  auxiliara  os  holland^zes  contra  os  portnguezes,  chegando  a 
avançar— basta  isto  porém  para  se  lhe  descobrir  o  exaggero — 
«que  se  não  íôra  o  dito  padre,  nunca  os  Olandezes  entrarão  pella 
terra  dentro  e  fizf^rôo  o  d»mno  que  tem  feito».  O  auctor  do 
Valeroso  Lucideno  estava  certamente  pensando  no  renegado  a 
quem  assistira  no  patíbulo:    do   seu   depoimento  indicectamenta» 


¥ 


—  341  - 

ie  concilie  todavia,  bem  como  de  outros,  que  o  mameluco  orde- 
nho PÓ  re&braçou  sua  fè  quaado  pre sentiu  que  oa  portuguezot 
^anliartam  a  partida  e  que  a  bust  salvação  estaTa   em    acompa- 

Nenhuma  testemunha  te  avaotajoii  com  efeito  na  defesa  do 
réu  ao  procurador  de  Jofto  Fí^ruandes  Víwir»  em  Lisboa,  cha- 
matido  Jerónimo  de  Oliveira  Cardoso;  o  que  mais  prova  que  foi 
o  restaurador  da  liberdade  pernambucana  o  maior  protector  do 
Padre  apoatata  e  arrependido.  Contirmou-ilie  Cardoso  todas  ai 
Maa  sobre  o  remorso  qiie  €>m  certo  tempo  invadiu  sua  alma^ 
tQtheuticoa  a  bt««toria  da  cou€b-bo  ^t^ial  ^m  Amsterdam,  onde 
por  e*s#  tempo  se  acbava  a  testem uhIih,  vivendo  ct»ra  o  réu  na 
na  mesma  casa^  corroborou  finalmente,  pela^  tní-  rmaçoeã  que 
eatâo  e  no  local  colbera,  qUB  Manoel  dt-  Moruea  jámai»  escrevera 
coPtra  a  doutrina  catboiica  e  até  frequentava  asfiduamente  as 
egrejaa  romanas. 

Ãi  te*temunbaa  de  Peruam bucn^  interro|radas  em  virtude 
da  eominiiêâo  dada  ao  vigário  de  Santo  António  do  Cabo,  licen- 
ceado  Matbeue  de  Sousa  Uchoa,  íoiam  de  resto  uniforme- 
mente escellentea  para  o  accusado  *.  no  seu  numero  conta-ae 
o  famoso  Gamai ào,  cuja  edade  era  em  1647  de  46  annos,  e  que 
declarou  conhecer  o  missionário,  de  quem  fora  depois  compa- 
nheiro d'armaa  por  dois  annos,  de  quando  &eus  superiores  o 
mandaram  ensinar  o  catecismo  na  aldeia  de  Meretibi,  onde  o 
índio  reaidia.  Seja  dito  de  |>assa^em  que  dsta  declaração  parece 
decidir  completamente  a  questão  da  naturalidade  do  Camar&o 
em  favor  do  estudioso  ar.  Pereira  da  Coàta,  que  sempre  n  reputou 
pernanibucanOj  ficando  a  referida  aldeia  dentro  dos  conliua  do 
feudo  de  Duarte  Coelho. 

Recordaram  essa»  testemunhas  de  alêrn  mar  os  com  bateis  do 
Padre  contra  os  holtaudezes  á  frente  do  seu  gentio  da  aldeia  de 
Bfto  Miguel,  duas  léguas  distante  de  Iguarassú,  e  abonaram  seu 
manifeéto  arrependimento  de  quaesquer  erros  commet tidos  na 
Hollanda,  pois  que  n  viam,  apó^  o  regresso^  ir  assistir,  ainda 
mesmo  quando  aboletado  no  Recife,  aos  serviços  divinos  ua 
egreja  de  N,  S.  do  Amparo  em  Olinda,  onde  pregava  frei  Manoel 
dos  Óculos,  como  era  popularmente  cotibeeido  o  Padre    Calado, 

Para  dar  o  devido  valor  a  estes  depoimentos  e  calcular 
quant<^  elles  podiam  influir  sobre  a  sorte  do  rt^u,  é  migtt^r  ter 
preéeiite  que  Manoel  de  Moraes  ainda  desembarcou  no  Brazil 
vestido  de  «ílítmen^o»^^ — o  que  elle  todavia  explicava  pela  pro- 
Mbiçào  que  na  Hí>llanda  existia  para  t^s  religiosos  de  vestireui 
aeus  hdbítoa^ — e  que,  ao  ir  residir  na  mata,  em  Âratangi,  a  dea 
léguas  do  Recife,  «onde  tinha  casa  d»'  vivenda,  pau  brazil  e 
rossanasB,  o  antig-o  jesuíta  se  conservava  apesar  de  tudo  numa 
situaçÃo  p^ão  menos  dúbia.  Tinha^  portanto,  gua  im]iorta»cii,  e 
grande,  aaber-ae  no  Santo  Oíficio  que  nesse  poriodu  cnsturaava, 
posto  que  afastado  dos  sacramentos,  ir  um  t^ido  o  ea^o  á  misâa  a 
■duas  léguas  dali,  trazer  coutas  ao  pescoço  e  rezar  horas  inteiras. 


I 


—  a42  — 

Contoti  Jofto  Fernandes  Vieira  no  seu  depaimento,  aliai  d© 
tudo  o  ponto  eynipathico,  que  o  Padre  lhe  íoi-a  primeiro  tra- 
mdo  preso  por  nm  alferes  a  quem  mandara  «fazer  gpnte*,  e  que 
primeiro  o  condussia  ao  cabeça  João  Lourenço  frauce^,  junto  ao 
qual  intercedeu  o  recrnSado  para  ser  apresentado  áqu«lle 
mestre  de  campo.  Levado  à  sua  presença,  lançou-  »n-lke  aos 
péa  e  confessou  seus  erros  e  peiares,  respondendo -lhe  Fernandes 
Vieira  com  ar  majestático  e  ma^animo  que  facilmente  a^sumiat 
n&o  ser  seu  juiz  para  o  castig^ar. 

A  segunda  conversfto  de  Manoel  de  Moraes  não  foi  por  con- 
seguinte espontânea,  conforme  apreguavft  o  intereEisado  em  eeti 
coiitume  de  constante  duplicidade,  filbo  porventura  neasaa  con- 
dições de  não  saber  meamo,  em  ciccumatancias  taes,  o  que  mata 
vantajoso  Ibe  seria  faaer.  O  in  te rí* soante  é,  e  íala  pda  sua 
habilidade  mais  ainda  dn  que  pela  botidade  allieiSt  que  o  accu* 
sado  encontrou  também  testemtinlias  bastantes  para  confirmarem 
suas  praticas  romanas  na  Hol landa,  ncnhama  havendo  mesmo, — 
flfdra  uma  referencia  vag-a— qtie  jamais  o  tivesse  lá  ouvido  falar 
mal  da  eanta  religião. 

Manoel  de  Moraes  pretendia  provar  mais  do  que  íô&o,  que 
só  faltara  bater-se  por  sustentar  contra  judeus  e  calvinistas  a 
intang-ibiltdadfi  do  eredo  catholico  e  repelir  suas  hére*ias— o  que 
admittia  Francisco  de  Andrade  LaitÂo^  embai  atador  que  era  a 
esse  tempo  na  Haya,  apenas  com  relaçfto  aos  judeus— ponderando 
com  muuo  bom  senso  que  em  relaçUo  aos  outros  «  me  não  per- 
suado que  diria  mal  delles  em  sua  presença,  dependendo  do  ^ea 
Cavor  e  sustentando-se  do  que  lhe  davam»  Nào  passar  iam  de 
algumas  patacas  os  soccorros  que  o  aotig^o  jesuiia  recebia  cada 
mez  para  alimi^ittos,  da  Companhia  das  (udiag,  mas  o  positivo  é 
que,  ainda  ao  partir  Moraes  para  o  Brasiil,  o  representante  por- 
tuguês ouviu,  e  muito  provavelmente  assim  era,  que  ia  oUe  em 
serviço  daquella  aseociaçÃo  mercantil  «em  coadas  de  que  os  di- 
rectores o  encarregavam,  dando- lhe  por*  isso  ordenados  e  obri- 
gandose  a  sustentar  aua  mulher  em  Amsterdam». 

No  entanto  a  Francisco  de  Andrade  Leitilo  pedira  o  Padre 
que  lhe  procurasse  meio  de  ir  a  Lisboa  sem  receio  de  ser  exe- 
cutado por  virtude  da  sentença  centra  elle  passada,  e  que  obti- 
vesse do  Hei  alguma  tença  para  manutenção  dos  filhos  e  da 
mulher,  no  seu  dizer  uma  das  toais  formosas  da  Hollaada:«com 
pretexto — informava  o  embaixador  —de  que  o  iria  servir  na 
guerra  do  Brazil  onde  poderia  ser  de  grande  utilidade  para  es&e 
Reino  e  muy  prejudicial  aos  inimigos».  Assim  reza  o  depoimen* 
tos  escnpto  com  que,  a  6  de  Sfitembro  de  1646,  respondeu  An^ 
drade  Leitão  de  Munster,  onde  se  acha  como  plenipotenciário 
uomeado  para  o  Congresso  de  Westphalia^  ao  pedido  da  Inquisiç&o. 


—  343  — 

IV 

Nd  tei^  allndido  depoimento  de  Mtmater  o  emhaisBdf>r  por- 
tugneE,  poBto  que  não  eximindo  o  Padm  MftPOfl  de  Mames  daB 
&Itas  e  embu^tei  prAticado».  todftvia  o  desculpava  e  achava  dig^no 
de  mitericordia  ÓpiDava  quo  o  réu  lha  não  parecia  em  suab 
coinmunicaçuea  hereje  formal,  execrando  até  ob  erros  dos  qt6  o 
ênuDf  e  arreditava  que  elle  pó  nfto  abanHf>nava  a  tnulbtír  *  por 
luxuria,  aãeição  Datyral  e  neceE^sidade,  t^nendo  qap,  ai  o  Hstesee, 
perderia  oa  alimentoé  que  os  directores  lhe  davam  e  outra»  com- 
DaodidAdeí  neceBa^naa  para  a  7ida  mundana  >  A  familia,  isco  é, 
a  preeisfto  de  dar-^lhe  de  comer  foi^  de  re^to,  o  moúvo,  em  certo 
momento  invocado  pelo  antigo  je-uita.  para  PXfdicar  seu  re^írnsgo 
ao  Bra2il--a  ver  au  lhe  podia  gr^àugear  alg'UDs  meios  d»  i^ubsii^ 
tencia. 

à  disparidade  doa  te&temuphos  provém  em  ^ande  parte, 
pelo  que  log^o  âe  percebi»^  da»  incongruf  nc  as  da  vida  do  accu- 
iado.  O  seu  advogado,  por  via  de  eontradict^s,  apontou  mesmo, 
no  decorrer  do  processo,  yarios  Íiiimi|ífjft  do  réu,  com  ob  quae& 
tinha  elle  tido  difFerom^aK,  e  cujo  depoimento  se  fazia  [>or  íebo 
mapeito:  no  numero  contava- se  um  Frei  Ao  gelo.  monge  capu- 
cho e  filho  também  do  Brazil,  com  quem  Manoel  de  Mi^raes 
discutira  acaloradamente  o  argumento  de  um  caf^o  de  consciência, 
acabando  pf>r  dizer-lhe,  no  ardor  da  disputa,  que  mais  Bfibia  um 
co2Ínbeito  da  Companhia  de  Jes^uado  que  um  letrRdo  da  rehpão 
do  ar^iinte,  pelo  que  se  poz  o  Fiade  muito  sentido  e  lhe  ticou 
com  odin. 

O  tactn  de  fer  sido  fronteiro  na  gnerra  e  feitr,  ao  que 
apreg-oavái,  grande  damno  ao  inimij^^o  com  o  seu  gentio,  det^ per- 
lou contra  o  missiotiario  guerrilheiro  muitos  ©mubs  que  Ibe 
queriam  mal,  especialmente  Capitàes  e  officiaes  da  milícia,  qne 
ficaram  outros  Tantos  inimigos  aeufi,  encobertos,  os  da  peor  aa- 
pecie,  porque  muito  maia  difficilmente  se  conaegue   combatel-os* 

Negando  a  pés  juntos  que  se  houveBse  bnndeado  de  interease 
e  de  crenças  ci  m  os  holLandezes,  quer  na  aldeia  parabybana 
de  Itapúa,  onde  foi  preso,  quer  no  Hecife,  onde  apenas  o  guar^ 
daram  dois  mezes,  antes  de  deppachalo  pnra  Amsterdam,  o  accu- 
£iido  apontoQ  outras  testemunhas,  e  as  mesmas  antigas  em  êõ- 
gnnda  condição,  com  o  fim  de  contrariar  as  que  contra  elle  ti- 
nham depKistn,  segundo  se  vira  da  revelaçào  das  mais  provas  da 
justiça  no  seguimento  dos  tramites  do  processo.  Esta  nova  iu* 
quirição  para  probança  da  d  efe  a  fip  parecia  cr^mtudo  dtífieil  nesse 
anoD  de  1647,  pela  guerra  que  tiiais  e  mais  se  geaeralizára  no 
Brazil — lf>47  foi  o  anno  do  massacre  e  occupaçi^o  de  Itap^iríca  e 
devastação  do  Recôncavo — nfto  se  tendo  por  outro  Indo  iio  rela- 
tivo à&  Províncias  Unidas,  realizado  ainda  a  (az  com  a  Hesjiaoha, 
que  só  no  anno  immediato  occorreria  em  Jlunster.  Por  isso  fez 
D  réu  d eftía tencia  da  siia  dup plica  e  p^diu    mesmo    prompta  sen- 


—  344  — 

tença,  por  se  achar  muito  achacado  e  sofiErendo  grandes  calami- 
dades. 

A  29  de  Agosto  foi  encerrado  o  processo,  dppois  de  vistos 
os  autos,  culpas  e  confissões  do  reu,  parecendo  a  todos  os  votan- 
tes da  mesa  que,  com  o  accrescido  err.  seu  favor,  em  parte  se  di- 
minuirá a  prova  que  contra  elle  existia  no  primeiro  processo,  no 
qual  nã.o  fora  ouvido ;  mas  que  ainda  assim  rei^ultavam  graves  e 
urgentes  presumpções  de  erros  contra  a  lè  A  organização  judicial, 
mais  exigente,  nada  encontraria  quH  dizer  contra  a  equidade  de 
taes  conclusõoR.  Antes  do  de;; pacho  final  devia,  pcirtanto,  o  rôu, 
de  acordo  com  o  estylo  da  e{  oca,  commum  a  qnaesquer  tribu- 
naes  e  a  todos  os  paizes,  ser  posto  a  tiatos. 

Dos  nove  inquií^idores.  uns  opinaram  por  todo  o  tormento, 
outros  por  dois  tratt  s  espertos,  outros  ainda  por  um  esperto  e 
um  corrido:  por  esta  ultima  combinação  foi  que  em  appellação 
se  decidiu  o  conselho.  A  6  de  Setembro,  levado  para  a  casa  das 
torturas  e  instado  para  que  confessasse  tudo,  Manoel  de  Moraes 
fraquejou  deante  dos  instrumentos  e,  antes  que  o  executor  o  se- 
gurasse, revelou  afinal  que  de  facto  repudiara  sua  religião  em 
fim  de  1637,  quando  na  Gueldria  impellido  a  isso  pela  commu- 
nicaçâo  constante  com  herejes  e  tentado  da  lascívia. 

Ajuntou  que  cteve  crença  na  ceita  dos  calvinistas»  coisa  de 
quatro  annos.  Foi  comtudo  sincero  no  seu  erre,  quer  dizer  que 
imaginou  piamente  durante  e^se  tempo  que  se  não  perderia  ac- 
ceitando  a  doutrina  reformada.  Frequentou  —  era  infelizmente 
verdade  — as  egrejas  protestanes,  ouviu  as  predicas  dos  pastores, 
comeu  carne  nos  dias  de  preceito  e  deixou  de  lêr  as  sua  horas 
canónicas:  por  não  saber  hollandez,  lia,  porém,  pelo  seu  antiga 
breviário  os  psalmos  de  David  e,  sh  não  usava  assim  da  Biblia 
dos  herejes,  tão  pouco  commungava  ao  modo  delles  tque  é 
comer  pão  em  memoria  da  Ceia».  A  ninguém  todavia  podia  ac- 
cusar  de  seducção.  Elle  próprio  deixara-se  corromper  pelo  máu 
exemplo,  convencido  em  certa  época  de  que  os  sacramentos  da 
Egreja,  excepção  feita  do  baptismo,  não  'ossem  bens  necessários 
para  a  salvação  da  alma.  O  remorso  veio- lhe  quando  foi  abrir- 
se  CMTi  Tristão  de  Mendonça  Furtado:  o  caminho  da  embaixada 
foi  A  sua  estrada  de   Damasco. 

Dir-s3-ia  que  a  Inquisição  apenas  esperava  esta  franqueza 
para  mostrar- se  clemente  ao  réu.  Mercê  da  confissão  referida,  de 
haver  reconhecido  sua  apostasia  e  ter  procurado  ir  apresentar-se 
ao  Santo  Officio  para  tal  fim  recorrendo  a  caiholict»,  dando  si- 
gnaes  de  arrependimento  e  pedindo  perdão  e  misericórdia,  rece- 
beu o  tribunal  religioso,  consoante  a  supplica  formulada,  no  gré- 
mio da  união  da  Santa  Madre  Egreja  e  não  relaxou  o  braço 
lecular.  sefrundo  até  aqui  se  acreditava  na  fé  de  Innocencio  da 
Silva.  O  erudito  autor  do  Diccionario  Bibliographúo  fbrtuguez 
não  só  menciona  que  Manoel  de  Moraes  caiu  na  simplicidade  de 
a]>resentar-se  nos  Estáos,    fiado  na    caridade    christã    do    Santo 


k 


—  345  — 

Officioi  ^^omo  relata  que  foi  elle  por    muito  favor    garrotado  em 
vez  de  queímaJo. 

Na  verdade  mandou  a  mesa  que,  em  pena  e  penitencia  de 
ta&B  cutpftB,  compareceaae  o  réu  do  auto  publico  da  fé  no  modo 
coUumado,  ieto  é,  cotn  o  habito  penitencial  e  as  inâig-nías  de  fogo 
e  ali,  junco  ao  crepitar  das  fogueiras  de  st  i  nadas  a  outros,  ouybse 
toa  fipnteuçai  abjura íi d! o  aeui  heréticos  erros  em  forma.  Outrc^im 
eram-lhe  aBsignado*  cárcere  e  habito  peuitencial  perpétuos  aem 
Femiasão;  Bcaria  pára  sempre  ânspeoiO  das  suas  ordens,  via-^e 
mandado  instruir  nas  coisas  d^i  fé  necessárias  para  a  salvação  da 
ilma,  e  teria  de  cumprir  «aa  mais  penáB,  e  penitencias  eiipiri- 
tuaés*  que  lhe  íos^em  impostas.  Da  Picommunhào  maior  em  que 
incorrera  o  abeolviamt  entretanto,  oa  juizes  in  forma  ecdenícÊ,  maa 
os  bens  materíae*  ficavam -lhe  coufiicados.  O  resultado  era  mais 
duro  do  que  terrivel. 

À  aeo tença  conhrmatoria  da  mesa,  passada  pelo  conielho 
presidido  pelo  Bispo — inquisidoí  g-era!  traa  a  data  de  10  de  Se- 
tembro de  1647,  e  o  auto  da  fé  em  que  foi  ella  lida  ao  réu, 
teve  iogar  no  Terreiro  do  Paço  no  Domingo,  15  de  Dezembro 
do  mesmo  auno*  Q  outro,  em  que  o  tinham  relaxado  em  ee tatua 
occ  rrera  a  6  de  Abril  de  1642 

A  indulgência  do  Santo  OfEcio  para  cora  o  Padre  Manoel 
de  Moraes,  apóstata  e  perjuro,  nao  se  esgotou  com  irreaervar-lhe 
a  vida.  Por  cárcere  foi-lhe  dada,  a  11  de  Janeiro  de  1648»  a 
cidade  de  Lisboa,  onde  teria  de  satisíazer  suas  penas  espirjtuaes, 
lendo^lbe  sómeate  vedndo  usar  f>rata,  ouro  ou  seda  oas  sua^  veàtes 
a  andar  em  bestas  de  sella  Ã  vergonha  do  habito  peuiteucial 
foi-lhe  poupada  contra  o  voto  mesmo  dos  inquisidores  que  acom- 
panharam todo  o  processo  tendo  elle  requerido  aquella  graça 
yifto  estar  contricto  e  soffrer  de  aethma,  de  potta  e  de  outras 
enfermidades,  ao  ponto  de  não  gosar  um  dia  sequer  de  boa 
saúde . 

Concedeu-se-lhe  também  a  27  de  Janeiro  o  poder  commun- 
gar  uma  vez  [)or  mez.  Finalmente  f i  i  deferido  por  completo  o 
seu  pedido  de  poder  sair  para  fora  do  Heino  e  ir  para  qualquer 
província  catholica— em  cujo  fundamento  alíegara  estar  [leragri- 
no,  suspenso  e  i^em  meios,  não  se  podendo  pois  sustentar,  nin- 
guém o  ajudando  nem  ao  menos  lhe  acudindo  com  esmolas,  au^ 
tee,  leudo  de  todos  desprezado,  passando  com  muito  trahalho  b 
padecendo  necessidades  tão  excessivas  que  dormia  sobre  uma 
esteira,  sem  colchão  nem  enxerg&o,  coberto  com  suas  pobres 
roupas, 

A  ultima  notícia  que  temos  do  Padre  Manoel  de  Moraes,  pelo 
processo  da  Inquísiçílo  aqui  condeniado,  é  justamente  a  permls- 
iftô  do  Santo  Officio,  de  10  de  Março  de  1648^  para  que  pudesse 
itt&entar-se  para  qualquer  parte  do  Heinn  «xomo  fosse  de  catho* 
lícos»,  tendo  esta  sido  a  redacção  adoptada  pttlo  inquisidor  geral. 
A  mesa,  aliás,  anuuira  purae  simplesmente  á  formula  do  pedido 


—  346  — 

que,  considerando  mesmo  enUU>  Pernambuco  proyincia  contami- 
nada pelos  herejes,  a  cujo  dominio  nfto  conseguira  ainda  subtra- 
hila  por  completo  o  esforço  pernambucano — 1648  foi  o  anuo  dos 
Guararapes— dentro  em  poucos  annos  lhe  permittiria,  se  a  vida 
lhe  fosse  poupada  pelos  achaques,  como  o  fôra  pelos  juizes,  voltar 
uma  vez  mais  á  mata  de  Pernambuco  e  rever  ou  substituir  a  sua 
fusca  governante*  E'  provável  que  os  sustos  e  os  sofirimentos 
tivessem,  porem,  abatido  os  enthusiasmos  sensuaes  do  sacerdote 
apaixonado,  a  quem  a  Inquisição,  de  ordinário  tão  inclemente, 
fez  mercê  até  da  liberdade,  quiçá  porque  elle  muito  amou  e  os 
que  assim  amam  fazem  jus  á  misericoraia  divina,  da  qual  o  Santo 
Officio  se  proclamava  o  conselheire. 

Rio,  1907. 

M.  DE  Olivbira  Lima. 


TIRADENTES  Ê  A  EDUCAÇÃO  CÍVICA 


(gONPB:E£NCIA    RBAI.1ZADA  a    20   D2!    ABBIL    DB  1907,  PBLO  FBOFBJSSOR 

Josô  Feliciano,  no  e Grémio  NoRMALisTâ»), 

Cidadão  dr.  director  e  coeus  eoUc^aa!  Min  ha i  setiborat  e 
mQQB  senhores!     Meus  prezados  discípulos  I 

Uma  vez  mais  darei  a  estas  conferenciaâ  um  matiz  educa^ 
tivo,  Ã  e&ta  elevada  mira  tenho  subordinado  aa  modestas  co- 
gitações d©  minha  vída  cívica  e  relig^io&a.  Defectiva  como  é  e 
incompleta,  tem>me  ella  maia  fundauieat^  mostrado  que  a  a  nia- 
sellaa  egaenciaesi  de  no&sa  época  derivam  sempre  de  nosBas  falhas 
educativas.  E'  mister  que  o^  professores  e  publicistas  nào  des- 
lembrem nunca  o  proveito  educativa'  de  seua  trabalhos  quaesquer. 
De  nossas  mesmas  lllusões  e  en^^nos  emanam  grandeâ  vantagens 
para  a  propHa  ou  para  a  afh*'ia  educaçào.  E',  porém,  necessá- 
rio que  nos  não  deixemos  prender  nas  esttettesae  de  um  parti- 
cularismo  egoísta* 

Já  déiDDB  aqui  provas  de  nossa  largueza  de  vistas.  Ã  festa 
de  14  de  Julho  permittiu  nos  encarar  a  universalidade  humana, 
como  sendo  a  fonte  e  o  alvo  de  nossos  esforços  educativos,  ci- 
TÍcot  ou  pes&oaes. 

E^  um  erro  pensar  que  noa  devemos  isolar  em  com  me  mo  ra- 
ções puramente  cívicas.  E^  erro  igual  ao  das  famílias  arraiga- 
damente tradicíonaea.  que  &ó  memoram  aeus  faatoa  caseiros,  suas 
preoccupações  domesticas »  Nào  ha  f^amilia  sem  Pátria  que  a 
auatente  e  nem  Pátria  sem  a  espécie  humana  que  secularmente 
trabalha  para  as  pátrias  todas,  formando  em  conjunto  a  Huma- 
nidade , 

E'  jttato,  porém,  dar  ao  civismo,  dar  á  Pátria  o  florente  as- 
pecto que  nessa  trilogia  está  representando.  Assim  farei  no 
€ibo^o  rápido  que  se  yae  ouvir, 

*  *  3» 


—  348  — 


O  homem  naBce  para  ser  cidadão  antes  de  tudo.  Da  cívica 
educação  pende  o  destino  fundamental  do  homem,  ou  sua  acti- 
vidade efficaz.  A  educação  domestica  deve  preparal-o  para  esse 
destino:  é  viciosa,  quando  propende  a  ahsorvel-o  numa  estreita 
esphera  de  interesses  duplamente  egoístas.  A  educação  univer- 
sal completa  a  actividade  cívica :  dá-lhe  elasterio,  dá-lhe  am- 
plidão de  vistas,  para  coordenar,  para  aproveitar  na  espécie  hu- 
mana resultados  que  tendem  a  concentrar-se  em  nacionalidades. 
Também  se  toma  viciosa  quando  aspira  a  um  vago  internacio- 
nalismo inconsistente,  a  um  desaggregador  cosmopolitismo,  falho 
dos  deveres  cívicos. 

O  nó,  o  eixo  da  educação,  está,  pois,  do  civismo  bem  coor- 
denado e  bem  dirigido  pelo  centro  affectivo  da  educação  domes- 
tica. O  civismo  romano  é  uma  digna  preparação  que  devemos 
completar.  O  que  antigamente  se  coordenava  em  tomo  da 
actividade  guerreira  da  conquista^  deve-se  agora  systematizar com 
a  actividade  industrial  do  trabalho.  Ao  estado  de  guerra  per- 
manente succederá  um  permanente  estado  de  paz.  Os  homens 
antigos  guerreavam  para  incorporar  o  mundo  á  Pátria  romana. 
Os  homens  de  hoje  devem  trabalhar  por  se  incorporar  á  espécie 
humana,  como  elementos  úteis  da  grandeza  universal.  Em  cada 
Pátria  as  classes  diversas  convergem  os  esforços,  os  resultados  de 
seus  officios  differentes.  Na  Humanidade  as  differentes  republi- 
cas exercem  officios  de  utilidade  universal  e  assim  convergem 
seus  esforços  todos.  A  rivalidade  militar^  que  dividia  as  antigas 
cidades,  será  substituída  pela  convergência  industriais  que  con- 
graçaná  as  republicas  modernas.  A  sociedade  cívica  ficará  socie- 
dade universal. 

Metastasio,  em  seu  Attilio  Regulo^  pintou  em  bellos  versos 
o  civismo  romano.  Si  lhe  alargarmos  o  horizonte,  substituindo 
Pátria  por  Humanidade^  substituindo  a  guerra  pela  industria^ 
nesse  quadro  teremos  a  pintura  do  moderno  civismo.  E'  o  quô 
se  pôde  ver  nesta  formosa  traducção  de  Bocage: 


Na  pátria  pensa ; 
Vê  nella  ura  todo  de  que  somos  partes : 
Erro  é  no  cidadão  considerarse 
Da  Pátria  separado ;  os  bens,  os  males. 


_  S4â  — 

Que  deyo  conhecer,  sàa  os  proveitos, 

On  detrimentoft  delia,  a  <ftiem  de  mdo 

E*  devedor :  quando  o  suor  e  o  sangue 

Por  ella  espalha,  nada  &ea  de&pende: 

Qaanto  lhe  deve  restitae  á  pátria* 

A  pátria  deu-lbe  o  aer,  deu-lhe  a  dontrioA, 

O  alimento  ibe  deu  :  co'aB  leis,  co'a8  armas 

Doi  insulto^  domesticou  o  escuda; 

Dos  e^ttemoa  o  salva:  cila  lhe  presta 

Nome,  bonra,  grau,  seus  méritos  premea, 

Viogrft  03  Bgg-ravo»  seus;  raàe  carinhosa, 

Se  eimera  em  lhe  forjar  probperidade, 

Em  fazel-o  feliz,  quanto  é  poaeivfl 

Ão  dèatino  doe  homens  Ber  ditoso. 

E*  certo  que  eatea  dons  lá  têm  seu  pezo  t 

Quem  o  pezo  recusa,  o  júa  deponha, 

Renuncie  o  favor,  mendig-o,  inútil, 

0«  desert^^a  inhospitos  demande, 

E  em  ferinas  envolto  hirsutas  pellep. 

Contente  de  um  covil,  e  agroátes  frutos, 

Lá  viva  a  seu  sabor,  inerte  e  livre» 


Áft&im,  na  sociedade  actual  não  deverá  prevalecer  nem  o 
egniimo  de  uma  naçào,— como  o  iudustrialí&mo  an^lo  saxonico,  — 
nem  o  egoi^ttio  de  utua  classe,  como  o  socialismo  collectivi^ta  ou 
intertiacionaL  Entre  o  industrialismo  nacional  e  o  deniagfogismo 
induittr tal,  — ambos  igualmente  ohpre?ièivo^,  exclusivi^taSi^^iirt^e  o 
industrial  civismo  aitruííiia,  íiynthfdi-o  e  pacifico.  Este  vem  har- 
monizar todas  Ri  classes,  appl içando  socialmente  tc»dos  Oít  pro- 
duetos  industriaes,  uti1Í7>ando  f^y?^temntiçamente  todas  as  v^^rdadeg 
praticas  e  sinergicamente  coordenando  todos  oa    trabnlbos    uIí^íb, 

O  bem  humano  em  g-eral  è  qu^  prpvalecerá,  t^em  nenhum 
exclusivismo  nacit>nnl,  sem  a  nintua  eiptorncào  das  claaaeâ  sociaei. 
A  mira  final  do  trabalho  é  o  bem  esitar  da  Posteridade,  é  o  im- 
plemento dos  i*ontinuoB,  immensis  planos  que  o  Pa?fiRdo  «sforça- 
oamente  noi  vae  legando.  Ã  continuidade  ininterrupta  do  con- 
junto humano  ha  de  assim  preponderar  sobre  a  solidariedade 
contemporânea.  Esta  ^erá  defini  ti  vãmente  cimentada  com  uma 
base  e  um  fim,  extremes  ão  eí^oi&mo  com  que  um  movediço  pre- 
aente  a  vae  actualmente  inquinando. 

Vivemos  solidários  no  presente,  ma6  pelo  Passado  e  para  O 
Futuro,  Esse  é  o  vero  civisimo^  que  le  resolve  uo  fim  gf^ral  da 
educação,  isto  é,  no  piver  para  otUrem^  no  viver  para  a  Posteri- 
dade humana,  coniinuando,  immortaliKando  nossos  dignos avoen^oa. 

Corrigimos  aaeim  e  assim  completamos  o  civism  >  romano 
que  tão  Lindamente  o  poeta  nos  descreveu.     Ã  Pátria,   abi  exctu- 


-  350  — 

si  vãmente  enaltecida,  é  integrada  pela  espécie  humana,  pela  Ha- 
manidade,  que  pode  ser  geralmente  preponderante  sem  nenhum 
exclusivismo. 

E  não  ha  dizer  que  yae  nisto  um  idealismo  v&o,  porque  na 
economia  commnm,  —  politica,  industrial  ou  pessoal, — essa  mira 
se  acha  inteiramente  consagrada.  Ninguém  consome  todos  os 
productos  que  realiza.  Ao  contrario,  fal-os  mais  e  mais  durar 
conservando-os  muitas  vezes  para  um  remoto  futuro,  em  que 
nào  viverá.  Ninguém  ha  que  não  vise  o  futuro  quando  lahuta 
e  não  tire  do  passado  os  meios  com  que  trabalha.  O  mal  está 
em  não  se  querer  fazer  isso  mesmo  por  hem^  em  se  não  syste- 
matizar  o  trabalho  altruísta,  como  sendo  o  mais  apto  a  satisfa- 
zer os  mesmos  interesses  individuaes. 

A  crise  económica  por  que  passamos  é  disso  cabal  de* 
monstraçAo.  Si  todos  os  cidadãos  se  unissem  para  commercial- 
mentf-,  naturalmente  valorizar  nossos  productos  todos,  veriam  as 
cla^«es  activas  como  seriam  recompensadas  por  um  relativo 
augmento  de  goso  são,  de  bem  estar  verdadeiro... 


Eis  ahi  o  civismo  (|ue  devemos  cultivar,  amando  cada  vez 
mais  a  nossa  Pátria.  Nós  devemos  amar  a  Pátria  como  os  no- 
bres cavalheiros  adoram  a  dama  de  seus  pensamentos  :—realçan* 
do  suas  qualidades  e  polindo,  attenuando  seus  defeitos.  Não  ha 
mister  simular  qualidades  e  dissimular  defeitos.  E'  necessário 
corrigir  estes  e  fazer  brilhar  aquellas. 

As  qualidades  de  nossa  Pátria  são  as  que  se  acham  irre- 
vogavelmente incorjioradas  ao  passado,  que  lhe  fizemos,  e  as  que 
estão  preparadas,  antevistas  no  futuro,  que  lhe  fazemos.  Os  de- 
feitos são  nossas  próprias  imperfeições :— estão  na  tibieza  com 
que  a  servimos,  na  detracção  com  que  a  ennegrecemos,  na 
exploração  com  que  malbaratamos  seus  immensos  recursos. 

Realçar  as  qualidades  da  Pátria  é  reviver  e  glorificar  suas 
nobres,  meritórias  tradicções,  é  completar  os  esboços  do  Passado, 
é  integrar  suas  preparações,  é  rememorar  seus  heróicos  feitos, — 
é  commemorar  Tiradeotes.  Fazer  brilhar  suas  qualidades  é  labu- 
tar em  prol  de  um  luzente  porvir,  é  realizar  os  ideaes  civicoa 
que  já  preluzem  uo  horizonte  pátrio. 

Polir,  attenuar  seus  defeitos  é  ensinar  a  nossos  coevos  o 
recto  caminho  do  civismo,  e  instillar  em  nossos  alumnos,  em 
nossos  subordinados  um  enthusiastico,  altivo  sentimento  dos  altos 
destinos  de  nossa  Pátria ;  é  dar-lhes  uma  emoção  edificant*^,  no- 
breceu te  de  seus  deveres  a  cumprir  e  recompensar  seus  deveres 
cumpridos. 

Corrigir  os  defeitos  da  Pátria  é  trabalhar  na  educação  de 
nossos  coetâneos,  é  fugir  seus  deploráveis  costumes,  sua  maledi- 
cência malsã;  é  insistir  mais  e  mais  em    nosso    aperfeiçoamento 


—  861  — 

próprio,  em  noBsa  edacaçfto  pessoal.  GeoeralizemoB  essa  cultura 
ciyiea,  g^eneralizemos  a  civilidade  individual  nas  escolas,  nas  fa- 
mílias, nas  relações  pessoaes,  nos  contratos,  nos  debates  forenses 
ou  camarários,  nos  contubernios  de  amigos,  nas  festas,  nos 
desportos,  no  moderado  athletismo,  na  amável  callisthenia. 

Porque  consagrar  patrióticas  estudantadas,  batuques  fami- 
liares, espirituosos  remoques,  convicios  pilhéricos,  arteirices  de 
corretagem,  mofinas  escrituras,  escândalos  de  imprensa,  testilhas 
politicas,  renzilhas  forenses,  tertúlias  de  tavolagem,  carnava- 
lescos folguedos,  serenatas  de  noctambulos,  jo^os  brutescos, 
gymnasticas  derreadoras,  frivolos  brincos  ou  denguices  anti  esthe- 
ticas? 

  civilização  da  Fatria,  seu  nobre  polimento  aval  iam -se  pelo 
donairoso  conspecto  de  nossas  damas,  pelo  porte  varonil  de 
nossos  cavalheiros,  pela  compostura  dos  que  &e  preparam  a 
um  destino  sério.  Avaliam-se  pelos  salões  familiares,  pelas  ca- 
marás deliberativas,  pelos  tríbunaes,  pelob  escritos  de  nossa  im- 
prensa, pela  frequentaç&o  de  nossas  ruas,  de  nosso  commercio  ; 
pela  correcç&o  de  nossos  negócios,  pela  nobreza  de  nossos  pro- 
cessos em  geral  e  particularmente  por  nossa  linguagem,  pela 
distinçfto  de  nossas  maneiras... 

Eis  aqui  o  civismo  pratico,  eis  aqui  o  amor  da  Pátria  de 
que  em  Tiradeates  vamos  ver  um  sublime  exemplo. 


—  352  — 


TiPadentes  aymlwiliza  para  nó?  o  espontâneo  civisnio  repu- 
blicano, como  podia  florescer  no  tempo  «m  que  elle  viveu»  ua 
épo;a  inicial  da  moderna  concepçào  da  verdadeira  Rppnblica. 

Ontr^ora  Republica,  res-puhlica^  era  simplesmente  a  coíisa 
publica,  a  -nau  do  Estado,  qualquer  que  fosse  o  Palinuro  que 
lhe  empunhasse  o  leme  ou  Ibe  dirig-iese  an  tnanobraE.  A  consti- 
tuição das  monarcbiaB  modemaB  outorgou  ao  chefe  ào  Estado 
os  caracteristicoe  fundamentaes  da  inviolabilidade  e  da  beredita' 
riedade,  A  Republica  aó  começou  a  dettruir  easea  princípios  com 
a  decadência  do  siy»teraa  catboHco feudal-  A  primeira  e  incom- 
pleta applicaçAo  que  teve  o  principio  re(>ublicano  foi  no  gf^culo 
XVI,  na  revoluçÂo  bollandeza.  Ahi  surgiu  e  consagrou- se  o 
dfig-ma  revolucionário  da  soberannia  popular.  A  liberdade  r-reai- 
diu  então  à  mais  florente  e  á  menos  tempestuosa  das  crises  re- 
volucionar ias,  que  inaugnir*Tain  no  Occidente  a  ínatituiçào  repu- 
blicaim.  Depois,  um  lampejo  republicano  irrompeu  de  nc^vo  no 
ieculo  XVII,  e  na  aublevaçào  ing^lesta  estabeleceu  o  principio  da 
igualdade  como  do^^ma  politico. 

Na  época  de  Ti rad entes,  ao  iniciar-BO  o  ultimo  quartel  do 
século  XV III,  a  idéa  republicana  funde  seus  dogmas  e  piia  a 
emaiicipa(;&o  americana.  Mas  só  no  ultimo  deceonio  do  XVITI 
século  houve  uma  inteira,  final  convergência  dos  dogmas  revo* 
lucionarios,  para  produzir  na  Fran<,ía  a  «Grande  Criae». 

Explodiu  Hntfto  a  maior,  a  mais  dolorosa  de  todas  ai 
transformações  politicas  e  sociaes.  A  França  abusadamente 
operou  assim  o  desmoronamento  final  d»  ordem  antiga  e  aunun- 
ciou  o  alvorecer  de  uma  organização  humana,  Bociocraticai  livre 
de  peias  eobrenaturaes,.. 

No  Brazil  a  emancipação  doe  EstadoB  UnidoSt  as  idéaa  fran- 
cesas, as  idí^as  republicanas  tiveram  uma  viva  repercussão. 

Oã  estudantes  de  Mont|^iellier,  os  engenheiros^  oa  poetas,  ot 
viajantei  abi  commuoicavam  essas  agitações^  estcB  santos  alvo- 
rotos em  prol  de  uma  era  nova.  José  Joaquim  de  Maia,  de 
Montpellier,  com  o  pseudonymo  de  Vefídek,  escreve  a  Jefferson 
em  Pariz  e  lhe  communica  essas  emoções,  ©Bsai  idéas  de  inde- 
pendência republicana  que  trabalhavam  a  colónia  portuguesa. 
ToTO  com  elle  em  Nimes  uma  conferencia  e  solicitou  o  auxilio 
dft  novel  republica  americana.  Disse  lhe  que  os  braziieiros  esta- 
vam resolvidos  a  seguir  o  «admirável  exemplo*    dos  americanot 


I 


porque  sendo  ■habitantei  do  luesmo  continente»  eram  tde  al^u» 
mft  larte  corajtatnc-tas».  Declarou  lhe  que  cos  homena  de  letrai 
enun  oe  qae  maid  deBêjavam  uma  revolução»  e  que  o  \)&íz  estava 
geralmente  preparado  para  etla  ;  só  lhe  faltava  chefe  e  um  auxi- 
lio eãBcaZf  como  o  da  nação  americana.  Jeflerson^  leva»  do  em 
eonta  a  riqueza  do  pai;^,  a  irvstruc^ção  e  a  fortaleza  de  seoa  habi-» 
tante»,  reconb^ceu  a  probabilidade  de  le  fazer  do  Brazil  uma  sd 
He[>ub1ic4;  ma»  teve  o  ctiidado  de  nada  prometter  ou  de  se 
escusar  cautelosameote  (l). 


Foi  oea«e  meio  e  o^ípse  tempo  que  surgiu  a  nobre  figura 
d«  TÍr»dentes,  com  sem  profundo  e  espontâneo  civiamn. 

Baseados  lào  sámeiíte  era  uma  triste  jogralidade  de  I*rtiacio 
de  Alvarenga  Peixoto,  varioa  hiBtoriograpboB  tílsm  consugrrtdo 
em  teu»  livros  que  Tirad entes  era  «feio^  de  aspecto  repel lente». 
Já  demonstrei  alhores  [2)  que  o  beróe  mineiro  era  betii  iifirecido, 
era  svmpathico,  de  agradável  pr^aença,  aberto  de  pbyÊitJiiomía  e 
extraordinariaiDPute  expansivo.  Esta  prazenteira  pxjmniiibilidtíde 
é  que  aeuB  mals^nadore»  tacharam  de  indiscreta.  EUe  eA&  nobre^ 
generoso  e  vivia  para  o  bem,  na  esphera  em  qup  nasct^-ra^  nos 
Jimiteft  d©  suas  forças,  que  (arte  desenvolvidas.  Nào  lhe  f^ram 
precisos  os  Bubterfu^ins  ©  cautelaa  de  quem  vive  escuieiítando  a 
vida.  As  devussas  de  Minas  e  Rio,  que  tudo  inquÍBitorifilmeute 
eBcudrinharam,  nenhuma  tacha  descobriram,  que  de  leve  lhe  pou- 
desse  marear  a  vida,  como  intemerato  cidadão. 

Tinh*  08  deft*ito6  da  e»pon*aneidade  exuberante*  Míts  tinha 
civismo  tão  profundo,  tão  eitremoso  e  tão  commovednr  que  orçou 
pelas  raias  de  uma  religiosidade  eitabundante.  Em  euu  alma  de 
ciente,  esse  enthuaiaamo  era  em  verdade  a  pfjsxesHão  tJe  um  deu  ff  ^ 
como  o  etjmo  do  vocábulo  nos  epsína.  Confuudm-o  cou  r>  culto 
de  latria  que  votava  á  triplice  divindade  catholica.  Por  elle 
estava  prompte  «a  dar  seu  corpo  a  devorar»,  como  Danton,  o 
alcandorado  e^tíidiata  da  HevoluçAo  Franceza. 

Enlretaijio,  ho  civiemo  jierturbado  de  nosao  tempo,  foi  e^se 
4pex  de    enthusLaamo    que  se    lhe  antojou    o  uaxinio  defeito  de 


II     V    R«Tlftli  do  Inêiitula  ííiiíoriío  do  Rio,  tomoi  3,  47  «  ^6 

i)  Vk  meu  opilícillo.  Tiradr»f§t,  poblitiaçílo  n.  '.♦,  do  Club  Bf/tubUramo  ã«  Com- 
■ntiFt^rofâif  eitieiM,  V»m\újit,a,  iwit.     iO«  artifiros  nbt  eiifefx«di>»  i&d  du  iKbJi, 

Um*  infoi UAçao,  <)Qe  teabo  preietite.  reForçA  eiip^c^lA^mente  Oi  tebtcmunhot  qne 
D«a»et  opDfeulo»  Citei  ji  oa^j  t*,  ú  &  /^t,  Poí  tlriid*  p*lo  dr  José  Rezi^t^de  TeUcira  Gnl- 
lau-idi,  en  S.  Joté  d  Eí-Bei,  e  é  datidi  úd  23  ât  Nbrfl  â«  }Hâír  Ab\  vivia  nnu  ancíi 
d«  $h  UDM.  que  conli«cerm  o  M»rtyn     £llA    deolar*    que  Tiradmftt  tra  tin  kaitum  la- 

anlltt  Mio  leve  caiaíi  Bm  «ippcUl  dcumentÍT  e««»  cariem»  e  trttie  inverdade  doa  c]u> 
ticúa  blitAri^úrei  de  ríisb»  P»tTÍR.  «oí  tjuo  bIo  tenbo  eviudo,  (jue  tiíLu  etttiri:!  b  re- 
prodQcçfto  d«tM    falAidftda,     JUa*  qtie    Taier,    li  bA    letraAov  qoe  p&o  l«m  e    ló   ucrfl- 


nosso  herós.  Um  seu  primitivo  entbusiasta,  —  o  AUtor  da  niaifl 
traballiada,  cfiupletaj  porém  defeituosa  biitoria  da  conjurav&o 
mifieira,  *-  apparen  temeu  te  sõ  por  isso  o  quiz  apear  de  sph  plintho 
glorioso.  O  JÍ6W  patriota  lhe  sahira  um  frade^  diz  elle.  Como 
■í  aoa  fradep  fora  impas&ivel  atting-iroa  altos  píncaros  do  heroísmo 
ciyico  e  não  poudeiiem  chatuar-se  um  Savonarola  ou  um  Frei 
Caaeca  1 

Já  uoB  tempoft  da  Republica,  esse  meemo  glorinao  aspecto 
d©  DOBfto  hetóe  BuecitQU  uiu  dpsvio  mais  ^ravé.  Na  onda  anonyma 
de  certoa  deaaíumiadoa  detractores,  apparece  ao  Norte  a  ambí- 
çfto  nativíata,  que  teuj  querido  aiTebatar  a  Minas  a  gloria  de 
um  |>roto-inartyr  republicano.  O  herõe  que  se  lhe  antepõe,  o 
protn-martyr  usorpador  é  ô  pernambucano  Bernardo  Vieira  de 
Mello,  —  «o  feliss  capitão  dos  Palmarei»,  como  lhe  chama  Soutbej, 
ou.  o  ambicioso,  o  sevo,  o  infeliz  ccapitã')  do  matio»,  como  lhe 
chum^riamoB  nofi  omiooeos  tempos  do  escrava^nâmo. 

Vejam  como  surpu  «He,  a  pen^eguir  mocambos  e  quilombo»^ 
livres;  Vf*jam  como  viveu,  a  Tyraiiniz»r  cruelmente  a  famtlia, 
idear  violências  que  na  vida  civica  lhe  dpaaem  post»'*  prej^on- 
derant-s  (3),  VeJMm,  por  outro  lado,  a  vida  símpl*-»,  u^eneroí 
do  dealista»  do  medico  e&poQtarmo.  a  curar  ^«atuitamf^nt^  s^^qí-^ 
concidadãos.  Vejam  saas  occapaçòt:»,  Rua  g-í^nerosa  viva  idade, 
»eus  ptaíiuB  induâtriaes  tão  pacificob,  Uo  uteta  civicafiieute.  Viajam 
tau  tíaal  enthu&iasmo  patrinttco  e  sf^u  crueitto  pa  rifício  íinal. 
E  di^am  depois  ú  ha  cotejo  possível  entre  o  pretenso  beroe  de 
1710,  o  !i*liz  capitão  diimioador  «  a  boatia  Bíif;i'ada  que  em  I79â 
te  immniou  a  Patriít  querida,  sendo  simpleá  alít^res  de  um  obseuro 
regimeuto  de  cavallaríu... 


De  í  stirpe  humilde,  Tiradente^  nasceu  era  1748,  na  fazenda 
do  P^^mbal,  á  margem  do  rio  das  Nfortes,  nn  tf^mio  da  víUa  do 
B.  João  d'B[-Rey  (?)  (e  nAo  S,  José  que  hoje  se  honra  com  o 
nome  do  proto-martyr  ?.     V.     nota    in    fine).     Teve     instrucçào 


63  ú%  H*9i»ta  do  Iheí  líint,  BraniHrcK  B,  V  de  MQlIn  tnorren  em  leu  léllo,  Hú  LI 
moetro  iLíiíidai,  iolíboaún  era  n  ite  tn^emosâ  peb»  emanaçêet  de  tt»  foffíireirc  i^ttl 
deiitárA  Acceio^  em  seu  iaiirt"<,  O  ant^ir  Ún  Karraç&o  cbhinn  *  iito  ocí^bar  mal,  em 
i]«*Heo  da  Aév%  tyrj)iinl4  que  oh  fitnllta  eitereeQ,  p  't  DecuãiAo  do  «Dppoato  iuÍDlt«rfo  de 
nmft  £ua  nom  Oapatt  de  IoiadcJU»  ferez&n.  rl«po38  4^  Tonenoa  »dinlnlatr&do»  por  todu 
M  rt»«.  depnli  de  inm  niij^«lurn<  fui  &  mStera»  iQiTúCHd»  por  mAús  ú.*  m^n  e  do  oa* 
rfdo.     Eli  como    ú    pirfteftado    <^utO'r  detcrvve    aa  *marte«    daft^raçiidiiii*    dMteii  «ftetUM 

■A  Búgr*.  .  (Borrflti:  »Dirúcad&,  e  âfEeni  qne  Uerrando  p«r  cAa«)b  ob  do  vJ^ta» 
«BaDJneaclft.  ou  intuiiiiiiçftõ  dn  bofe  oq  Aatlitn»^.  O  marido.  Aodré  Vieira  a  fleu  pie  Ber- 
ii*rda  ^^lelrji.  morreram  tto  Lloitfeiro  de  liídboa  ,  eaie  ucliiario.M»,  pet»  mjin^hD.  merto 
na  cama,  li»veiidí»-íe  deitado  netl»  »%a,  eam  am  fogareírti  açc««o,  qoe  tinh»  ni«ttidio  n» 
frlisúiTa,  em  rui  Ho  da  Trio  de  lote  mo,  qae  entAo  ara;  atinei  to,  «Undajogaiiil»  as  tAbolJur 
TalcDtc,  calti  paJ^n  trti  4í«f'igDta ;  e  anlio«  foraat  «em  coaQuAo,  secando  aa  notieiái  qiiB 
rJeran  de  liltboa.  daa  a-obredlta»  mortos*. 

O  dr  A^rnedo  de  T9iie4p,  num  arnuoado  ccrradamimbe  jaridioo.  Já  Uquldou  et  Ur 
AtitiHdicãfão  improctdêMíê . 


—  355  — 

regiLUr,  sabendo  o  francez  e  mesmo  o  latím.  Redigia  benj  o 
com  uma  ealli^raphia  melhor  qu^  a  de  muitoe  ktrados  de  seu 
tempo.  Noisos  prec^iticeitog  Ijtemrios  non  levam  a  suppor  que 
iô  o  alphfibetiamo  dá  iiiÊtrucçào,  O  Tiradentes  podia  sc^r  anal- 
phabeto,  e  entretanto  poA^mr  uma  inarrucçào  mais  completa  que 
A  dos  letradofl  íg-norantes-  Basta va-lhe  o  proceaso  da  tradiçAo 
oral,  que  a  qosbob  maiorea  pennittia  adquirir  um  intenso,  um 
alar|>'ado  saber. 

Tiradentes  inaugurou  sua  vida  ciíica  no  commercio  ambu- 
lante. Foi  depois  soldado  e  chegou  ao  posto  de  alíeres*  Sempre 
Acreditado,  »empre  exacto  no  serviço,  no  cumprimento  doi 
deTeres,  era  chamado  para  as  mais  arriscadas  diligencjas  e  para 
eoisiniifÕei  de  confiança.  Tentou  sem  resultado  a  rameraçào  e 
tm  eot^ndido  em  explorações  mineralógicas    (4), 

Ideou  empresas  industriais  no  Rio  de  Janeiro  e  em  todas 
TÍ8a?a  spmpre  ao  bem  estar  do  seus  concidadãos.  Projectou 
trapÍL'heb  nas  praias  e  carreiras  de  barcas  entre  o  Rio  6  a  Praia- 
Grande.  Planejou  angtoentar  as  ae-uaa  da  Carioca,  fazendo  a 
canal iicaçilo  do»  rios  Andarahy  e  MaracaaJl.  Estes  planos,  am 
que  o  desattenderam  ent&o,  foram  todos  realizados  mais  tarde, 
como  obras  utilisíiimns  ao  trafego  da  vid^i  cívica. 

Foi  nassas  constantes  vtag:ens  de  Mioas  ao  Rio  que  Tira- 
deates  começou  a  manifestar  t^uas  ídééê  revolucíoufirías,  seus  in- 
tentos de  emancipar  o  paiz  do  jugo  portuguez  e  do  governo 
realengo. 

Onde  banriu  eãsas  idéas?  Na  maçonaria,  cuja  triangulo  lhe 
sjm bolinava  ao  me^mo  tempo  sua  devo^'ãie  á  Trindade  catholica? 
dm  os  estudantes  que  regressavam  a  aeus  lares,  abeberados 
•das  idéa^  do  século,  impreg-aadoB  de  espirito  novo,  dos  fortes 
ideaps  revolucionários?  Com  os  poetos  sonUaJoreí,  a  idear  bypo- 
thpticâ«  repuHlícas '?  Com  aacírdotes  il lustrados,  como  o  couego 
Luiz  Vieira,  cuja  s^rande,  selecta  bibliorheca  abraQ^çia  todas  as 
novidades  do  aeculqV 

Tenho  por  escusado  fazer  esta  indagaç&o,  A  idéa  da  in de- 
pendência ei^tava  no  ar  e  era  por  todo§  aspirada,  pertencia  a 
todos  os  cidadãos  activos.  Os  intentos  de  libertação  estavam  ge- 
ralmeate  nesse  povo  indusfcrio*o,  mas  opprímido  e  vexado.  Maia 
dizia;  «a  respeito  da  revoliiçàn  nào  ha  mais  que  um  pensamento 
em  tildo  o  paiz».  E  o  paií  estava  sufficien  temeu  te  preparado  para 
^sar  da  liberdade.  No  diaer  de  JeArtreon^  «o  Brazil,  compjirado 
com  a  Metropele*  era  mais  popnlos",  mais  rico,  mais  frte  e  era  tào 
instruído  como  ella».  Só  lhe  estava  faltsmdu  a  viril  iniciativa, 
que  em  1789  foi  abafada,  como  em  largos  traços  vamos  apreciar. 


4}  BuMlo  4i  Mfti^lbKi».  em  nxnA  coaferèâali  feltt  em  Campinos,  em  1004,  dii 
qQe  L^  êà.  Cunha  Mifnezes.  «em  oRílHo  de  2i  de  abril  de  ílM.  nomeou  tiradenter,  pa^^ 
MompftDliar  (iMvAo  úxt  6.  M&rtlalio  nama  «xoloraçto  mi  i«rtfiei  orleat*»  di  Dapitaol» 
por  tsr  MllTi   XaTJer  «intelLigencia  miji«ral«^icip. 


—  356  — 


III 


Já  foi  dito  que  «Bem  Tiradentes»  a  IncotiÊdeticla  dimiuuirm 
em  dois  terçoB  de  %pu  esplendor»  (5)«  E  esaa  é  a  verdade  [tara 
qaem  çot&iiTa  os  numero-os  doeumootoa  dessa  mallograda  con- 
spira(;S.o.  Todos  os  companheiros  de  Tiradentes,  meamo  aquelles 
que  o  lieróe  «achara  com  mais  calor»,  á  uai  a,  procuraram  oxi- 
mir-se  da  responsabilidiide  que  tinham  no  projccíado  levante. 
BeBafo^^ram-se  em  expansúeií  covardes,  descerarn  &  ri-crirainaçõe» 
vis,  rebaixaram-se  em  delações  v^rg-onhosas .  E  terminavam  seuB 
indignos  depoimentos  com  implorações  á  piedade  da  clemente 
rainha  de  PortníjaL 

Tiradeoteô  fji  UKtco  a  tiâo  culpar  DÍnguem,  foi  ukico  a 
aguarentar  a  respon^ahilidtide  doB  m  ia,  mesmo  de  »eus  inimi^oa, 
como  o  íiiibelle  Gonxfljifa,  que  em  suas  «lyra^»  indignamente  a^ — 
mesquinha  o  g^eneroir*  alferes,  A  si  tao  somente  inculpou,  cha- 
tnando-Be  á  autoria  de  quanto  fez  e  tudo  confeasatido  com  accento 
áú  verdade. 

Não  ha  féria  objecçllo  oontra  o  primado  do  intf^merato  al- 
feres na  conspiração  mineira.  E' era  verdade  de  uma  Con,spiraç/ío 
àe  Timdenieit  t^u^  se  trata  aqui:  os  mesmos  antigos  historiadores 
palacianos  andam  nccordos  no  epigraphar  aasim  o  planejado  mo- 
TÍmeuto.  Podemcts,  pois,  concentrar  no  magnânimo  heroe  ioda  a 
trama  revolucionaria  e  ver  assim  mais  uma  vez  toda  a  grandezi 
civica  desta  alma  de  eleição. 


O  imposto  do  quinto  de  ourOj  era  1731  e  1750,  fora  com- 
mntado  na  obrigação  de  darem  os  povos  das  Minas  cera  arrobas 
annuaes  de  ouro.  O  atrazo  em  1778  era  de  f>38  arrob  8,  actual' 
mente  un»  18  mil  contos,  e  o  governador  Barbaceaa,  em  17BSv 
viníia  encarregado  de  lançar  a  derramat  a  finta  geral  pai-a  & 
cobrança  de» ta  quantia.  O  terror  que  tal  processo  de  cobrança 
inspirava  aos  minguados  AOQ  mil  habitantes  das  Míiias,  era  nia 
real,  um  solido  motivo  para  obter  sua  adbei&o  ás  idéas  revolu.— 
cionaria^  de  Tiradentes» 


()    vide  »  putllcaçllo— lil  Ú6  Abril».  Oorú  Preto  18M, 


É 


—  357  — 

Eis  o  que  especialmente,  eco nomicatD ente  explica  a  recni— 
«ieicencía  de^saâ  idéas  etm  1788. 

Hft,  porém f  teâtemunho  de  que  Tirad entes  começou  a  mani:- 
featAr  *eu8  prineipio^  no  governo  de  Luík  da  Cnnhi  Menesíes,  o 
fanfarrõjj  Minuto  das  celebradas  Carím  Chilenas.  Seria  entàa 
por  1786  que  Tiradentee  se  mau í testou  Tevducionano.  Maa  té 
no  anuo  da  projectada  tlerrama  Tiradentes  proseguiu  com  vigor 
em  *<?U8  patrióticos  intentos.  N^s  e  anuo,  era  acosto  de  1788, 
encouir&-Be  no  Hío  cora  o  dr.  José  Alvares  Macirl,  que  a£abATa 
de  cbei^Ar  da  Inglatorrn 

Aa  noticias  que  Maciel  lhe  deu  sobre  a  emãucipaç&o  ameri* 
capa  fiz^ram-ao  chorar  de  enthuííiasnio.  DaLí  em  deaute  o  fo^o 
Bggrado  o  devorou  inteiramente^  sem  remts&ãn.  Buaca  estudar  a 
revolução  americana  e  pede  aoa  amigos  que  lhe  traduzam  obras 
inglessas  que  tratam  do  assumpto. 


Tiradentes  volta  a  Miuns,  induz  seu  commaDdante  a  entrar 
ma  cotispiniçào  e  o  consegue,  auxiliado  por  Maciel  Sujígers  a 
eonvBuiencia  de  uma  reuniUo  para  cfmbjnar-ae  o  plano  da  re- 
volta^  para  eleger-se  o  chefe  e  defitiitjvamentts  determitiar-ae  os 
encargo»,  os  papeii  dos  cr^nspíradore^  A  todos  fala  com  eluquen- 
cia  calorosa  e  é  a  elle  que  o  comm/indante  remette  quantos 
qaerem  saber  d;i  formalidade  com  que  tinha  deter mitiado  esíabe- 
hcer  a  nova  republica  de  Minas^  em  consequência  da  do  Rio  de 
Janeiro, 

Ãoâ  mes  mo  B  letradofi,  como  Alvarenga,  convidava  n  que 
viessem  ouvir  em  sua  casa  a  cx}Xj»i^o  do  alferes  Joaquim  Jose^ 

Nasceu  dahi  a  reuní&o  em  que  se  combinou  o  Levaute  e  em 
que  o  Tiradentes  teve  sempre  o  primeiro  papel-  Oa  coavitea  do 
commandante,  coronel  Frnncigco  de  Paula,  eram  leitos  com  o 
fim  de  áftí  encontrarem  com  n  alferen^  para  que  vi  asem  quanta 
f(Úa^a  inJlaTnmado  nobre  o  levante^  que  atê  th^gava  a  chofrar. 

Nessa  reuníào  foram  as  idéas  e  planos  de  Tiradentes  que 
geralmente,  prevalecemm .  Assim  foi  adoptada  a  idêa  de  se  come- 
çar o  levante  por  Minas  e  nâo  pelo  Rio.  Era  o  corajoso  alferes 
que  sairia  á  rua  por  occaiifto  da  derrama  e  com  alguns  compa- 
nheiros iniciaria  a  revoIuçAo  com  o  grito — Liberdade^  Delle  foi 
a  idéft  da  bandeira  revolucionaria,  com  o  mysterioao  triangulo 
da  Trindade,  E  chamou  a  si  a  mais  arriscada  miBs&o,  —  a  do 
prender  o  governador  oit  eliminal-o,  si  preciso  fcase. 


Eis  o  heróe  em  sua  acçjio  deciaiva,  NAo  é  agora  que  devo 
alongar-me  numa  historia  que  ha  três  lustrais  me  attrahe,  me 
seduz,  sem  que  haja  lazer  paracompol-a  deíiui  ti  vãmente.  A  penaa 


—  358  — 

accrescentareí  maia  algumas  linhas  para  melhor  caTacterizAr 
o  fínal  civi&mo  de  Tltadeiites^  Terminarei  depois  deAcrevendo 
o  cm©  nto  BAcriíicin 

A  conjuração  itii  denunciada  ao  governador  a  15  de  março 
de  I7B9,  quando  o  Tiradentes  estava  camiaho  da  Rio,  com  um 
mez  de  Ikeoça.  Encoutrou-se  com  o  refece  deEator  e  ainda  Lhe 
disse  uma  phraee  caracteriâtica  de  seu  altruiamo :  *—  «Oá  ¥ou 
trabalhar  para  m  outros,  para  vocêl»  E  o  Judaa  SiWí^rio  ia 
trabalhar  para  aí,  la  pagar  com  a  denuacia  a  enorme  dívida  que 
o  prendia  á  fazenda  real... 

Em  caminho  continuava  intemeratamente  na  propaganda 
reTolaciouaria  ;  ^tmda  o  pegava*.  Quando  um  seu  amig^o,  o 
cónego  CoBta,  lhe  fazia  j>ondaraçÔf5S|  respondia  sempre  com  ar 
leguro:— ^âcí  ha  dé  aer  nada;  De^iS  e^fá  comiWHc^i! 

Delle  dizia  o  iUustrado  cónego  Luiz  Vieira  que  a  hatítr 
muiÍQH  ds  seu  quilate^  far^se-ia  no  Brazil  uma  RepubUm  flo- 
rescente. E  peu  companheiro  padre  Holim  testemunhava  que 
elle  era  um  heróef  que  *e  lhe  não  dava  morrer  na  acção ^  com» 
Utnio  que  dia  se  jheèse* 

Assim,  animada  pela  confiança  de  seus  companheiros  e  iio« 
bretudo  encalmado  pelo  ardor  de  bue  flamma  interna,  ia  o  Ti^ 
radentes  para  o  seu  Calvário,  ainda  cora  a  esperança  de  formar 
umn  Republica  e  converter  o  pais  e^it  unia  segunda  Europa,  Í3 
quando  lhe  talavam  que  era  crime  levantar^ge  o  vassalo  contra 
«eu  rei,  respondia  indi^tiado;  —  I.-*to  não  é  levantar:  é  restaurar 
a  7Wtm  terra/ 


Foi  com  taea  estos  dts  enthusiasmo  que  chegou  ao  Ria 
c  afouto  e  destemido,  com  o  aferro  de  um  quakerj^^  segundo 
testemunhou  o  frade  Raymundo  Pennaforte,  que  lhe  assistiu  aos 
últimos  momentos.  «Era  um  daquelles  indivíduos  da  especio 
humana,  ^^  áhi&  o  frade,  -^  que  poe  em  espanto  a  mesma  natu- 
reza». 

Ahi  o  alcançou  a  denuncia,  sendo  preso  em  um  e«conderiJQ| 
na  antiga  rua  dos   Latoeiros  (Gonçalves   Dias).     Fora  ainda  sei 
terno  civismo  que  lhe  gran geara  esse  final  auxilio.     Obtivera- 
por  intermédio  de  uma    viuva  a    quem  beneficiara,    cu  rand  o- lhe 
a  filha. 

Náo  cabe  aqui  narrar  as  peripécias  de  um  monatruoao  pro- 
cesso, que  durou  três  annoa.  Ã  sentença  foi  lida  aos  presos  n& 
madrugada  de  19  de  abril  de  1792,  provocando  em  todos  os 
com  panb  eitos  de  Ti  radentes  oa  maia  trietes  desabafos.  5d  este 
aoâreu  quietamente  a  sinistra  leitura. 

No  dia  aegainto,  depois  de  embargos  n&o  recebidos,  veiu  a 
sentença  final,  em  que    a  todos    os  réus,    ezcopto  Tiradentes,  se 


É 


—  359  — 

ecmiD!itav&  a  pena  de  morte  em  de^rrede  perpettio.  Foi  então 
que  &  lacra  vietimn  se  elfí%*ou  ao  apic?  de  sen  generf  so  civis-mo, 
de  &iia  maptiariimidade  hercica.  Em  meio  da  ruidogfi  ale«:rÍHi  de 
seus  caroi>anheirí>íi,  que  entoavam  a  Salve  Rainha  e  cainavurn  o 
terço  de  Nosia  Seu  hora,  o  Tiradentes,  todo  acorrentado,  com 
êlles  ae  alegroti  e  deu^lhes  o%  parabenB  Ão  confe^fior^  que  o 
aBstatía  etn  tAo  doloroso  transe,  dUae  «He  sorrindo- ae  tTÍatemeiíte: 
—  <âg'Oni,  bíid,  morro  cheio  <fe  prazer,  poi^  não  levarei  após 
mim  tanto»  iníeiizes  a  qUf^m  contaminei  :-^ie lo  mesmo  eu  intentei 
n&B  malti  pi  içada»  vezes  que  fui  á  presença  doe  miniairos,  poU 
cempre  lhes  pedi  que  fiaeaBem  de  mim  fó  a  victíma  da  lei  ». 


Seguiu-se  no  dia  21  de  abril  a  pavorosa  execuçAo  e  o 
eequãrtejamento  deibumaoo. 

Em  1892,  por  oceaaiào  do  centenário  de  Tiradentes,  compus 
uma  narração  rimada  da  tremenda  «cena  6aaL  Essa  é  a  que 
em  seguida  ^  vae  ouvir. 

Fecharei  com  ella  eate  imperfeito  esboço  da  grandeza  cívica 
de  nosao  heróe. 


E  agora  a  todos  nóa,  mestres  e  alumnoB,  cidadãos  autpe  de 
tudo,  reata-nofi  pautar  fystematícamente  nossa  vida  pelos  exem- 
plofi  de  um  ctvÍ6mo  espontâneo,  que  em  Tiradentes  attingiu  aa 
alterosas  cimas  do  eentimento  reli-^^-ioso. 

EncbafTos  o  coração  dos  haustos  afectuosos  que  estes  seu» 
timentos  nos  despertam.  Aasiin,  predispostos  ao  bem,  tratetnos 
de  o  praticar  maia  e  mais  em  noHsa  Pátria^  tilo  «larecida  de  todos 
Oi  bens  para  afugentar  todos  oi  males  de  um  organismo  noveU 

O  mal  cívico  está  sobretudo  em  se  não  praticar  o  civico 
bem,  em  se  negarem  as  fojmna  melhor  adjectivadas  a  seu  im- 
plemento completo,  E'  o  negativismo  do  bem  que  constituo  o 
maU  E'  o  negativismo  em  geral  que  derranca  nosuos  perturbados 
tempos. 

Vou  concluir.    (Vide  o  âppendicib). 


~  360  — 


APPENDICE 

(a'     COKFE!t£.SCU     DH    20    D»    ABRIL    I>B    1907) 


I 

A  EXECUÇÃO  DE  TIRÁDENTES 

1.) 

Descrição  eitrahida  do  folheto  n.  2  do  Cluh  Republicano 
de  Commemornções  Civicaíí^  Campinas,  1904  (conata  de  artigoi 
escrílos    Gm  1892) : 

O  dia  21  de  Abril  foi  um  Bahtiado. 

O  sol  banlmva  os  borissontea  de  esplendida  luz,  clareara  as 
serras,  os  aUng  pincang  circnmínceote»  e  era  já  bem  cálido  á« 
oito  lioras.  Esse  dia  fora  decretado  de  festejo  publico,  e  para 
maifr  «.oletiiiidncle  sustou-fie  a  partida  dos  navios  ancorados  na 
bíibia.  A  trf  jia  toda  trajada  de  nnifoiTne  rico,  oruado  cem  festoes 
de  flore».  O  coni mandante  Pedro  Alvares  de  Andrade,  o  ajudante 
de  ordens  do  vice- rei,  que  era  seu  fillio  Luia  Benedicto  d« 
Castro,  e  ns  demais  antondades,  motitavam  briosos  cavai  los  rica 
e  cnrioinment*!  ajaezados. 

Gualdrapas  franjadas  de  ouio,  nrreios  com  ferragem  de 
prat^t,  Ht^triboã  do  mefmo  metal,  ornamentos  de  velludo  escarlate, 
mnitafi  fitas  entrei açando-se  nas  crinas  e  nas  caudai^,  tudo  iato 
faseia  o  apuro  e  realce  das  galas  grandes  com  que  se  festejava 
■uu>a  exfciiçÃo  pavorosa 

O  lu^ar  do  supphcío,  segundo  as  deânitivat  indagações  do 
er.  Mi^^-tiel  Lemos,  é  o  occu|>ado  actualmente  pelas  cocbetras  da 
EmfreKji  Funerária,  á  rua  Visconde  do  Hío  Branco  n>  36.  Esse 
terreno  em  179"2  fasíia  parte  do  extenso  Campo  de  S.  Domingot. 

Neãse  campo,  a  confinar  qtiasi  com  o  largo  da  Lampadoso, 
estava  levantada  tima  forca  deãcommunal,  de  tíko  grande  altura  que 
paia  nella  aubir  tpi  preciso  uma  uacada  com  mais  de  20  degraus. 

Ficava  110  centro  de  um  vasto  triangulo  iormado  por  quatro 
regimento*  da  tropa  regular,  engalanadoB  com  uaíformeB  maiores, 
e  providos  com  munições  de  12  balas. 


Os  soldadofl  tialiam  &&  cobíhs  voltadas  para  a  inacbina  sí« 
lustra. 

Os  instniDienios  bellicoB  coavam  por  toda  a  parte ;  os  ^itie- 
tas  trotavam  garbosos  ou  galopavam  from^ntea,  casando  seu 
duro  estrupido  com  ra  sons  do6  clarins  e  os  riifofi  dos   tambores. 

Às  janf^llas  estavam  vttido  abaixo  de  tanto  inulherio,  àit 
Frei  Roytnundo,  e  cmda  uma  apostava  com  otttra  o  melhor  atseio 
e  lu^imento  de  s<»u  tr»jar, 

A  multidão  a|nnbava-ge  &  roda  do  instrumento  fatal,  sendo 
precído  f>A tralha»  para  lhe  &<inter  a  ctirioaidadp. 

Lo^ò  cfedo  o  carraâco,  qu«  era  o  negro  Capita  ti  ia,  foi  á  ca- 
deia implorar  ao  Réu  o  perdAo  da  morte  que  involuntariítinente 
lhe  ia  dar.  Tiradeotef,  plaeidOj  em  sublime  humildade,  que  o 
exaltou  extraordiDariamente^  respi  ndeu  ao  algo^: 

—  O'    MHU    AMIGO,    DE!X£]-MF<:    BKlJAE-LHB     A8     MAo8    E    08    PÉS ! 

E  tendo-0  feito,  provocou  admiração  e  lagrima  do  próprio 
empedernido  executar  (1) 

Ao  despir -<ie  para  enfiar  ã  alva  e  reeeber  o  baraço i  tirou 
t&mbeiD  a  camisa,  dizendo: 

—  Meu  Redemptor  tambbm  por  mim  MORREt;  Núl 

Cerca  de  U  horas  da  manha  partiu  o  cortejo  do  edifício  da 
cadeia  publica,  em  qne  hoje  fte  teune  a  Gamara  dos  deputados 
e  onde  naquelle  tempo  fuiiccíonava  o  Triburial  da  RelaçÃo-  O 
oratório  ou  Capella  de  Je&ua,  onde  Tiradentejs  ouviu  a  sentença,  e 
oode  permaneceu  até  ir  para  n  cadafalso,  era  a  í:ala  que  depois  foi 
oceupada  pêlo  archjvo  da  Camará.  A  porta  por  onde  t^ahiu,  abria-se 
então  para  o  lado  da  igreja  de  S.  Joáá,  em  um  pequeno  lai'«ro  que 
ainda  existe  e  uelle  havia  ent&o  um  peb^urinho,  Dahi  seguiu  o 
préstito  pela  rua  da  Cadêa  fbqje  AMembléa)  passando  pelo  largo 
da  CaHfjca,  pela  rua  do  Piolho  (Carioca)  até  o  Campo  de  São 
Domingos  ou  largo  da  Lampadosa.  Esse  grande  quadrilátero  era 
despo^^oado,  retalhava^&e  em  muitos  charcos  ou  pântanos  e  seus 
lados  se  formavam  com  aa  actuaep  ruas  do  Visconde  do  Río  Branco 
(antiga  do  Cande  da  Cunha),  da  CotLstfi itição  (&nti^H  dos  Ciganox)^ 
a  face  do  Campo  de  Haut'Anna^  entr»  etiSfts  duas  ruas,  e  a  face 
Çpposta  da  aetusl  Praça  de  TiradEníen  (antigo  Largo  do  Rácio), 
comprehendida  entre  as  rua^  da  Carioca  e  Stk  de  SÉÍembrOf  outr' 
ora  ma  do  Cano  (2). 

Compunham  u  séquito : 


I 


\\  o  fr^  HoTberto,  aiirsndi}  e«t9  episodio^  d!i  que  Tlrftdentei  ieiceu  àt  tra  p*' 
ittUi  iê  fkiria  e  alhnrea  accreicenlft  qu^  fluin  pbrA«{3  de  c^xcolâfc  hamildiido,  como  em 
g^raT  rt  rptfçloío  com  portam  cato  do  H?njO  neíle  dorido  pasão,  3hç  mostr^rnín  que  tmham 
fi^ir  ~  Uí  t  txtctítada  um  frtidt    V.ò  ama  alm».  Idch^kz  de  lenUr  ús  éttimtilot 

^1  '  g'âita  tp«la  Jiaiirclit«  Ao  lecoW,    poderá    deâcúnliêcer  m  aaoiiDa  vaUji 

<l*j  -'ios««  que  torna  o  homem  eminentemente  è^mpathlcQ,  qOf!  O  Taz  accoI' 

iWel  A  Í4>tl4*  ii  búu  idéaa,  íí  apto  &  pratíeur  lodaa  aa  tio»!*  acçfiM.  E*  preciso,  alèm 
4Jitw,  Igroorar  que  âeue  a«Dtlr  é  a  li  u  ml  Ida  de  ú  principal  aikerQç,  pais,  como  dli 
Att^ulo  Cõnnt«!, 

1   f|?Stfl»»Â«  fi   k   It4SB  DO  AFKBrSIÇOÀM&HTO. 

1)    JitotfKi*  LEUoy,  op.  ctt. 


-  362  — 


t.*)  Um    éfquadrao  de    ca  vali  ária»    seguido    pelo    clero  e  í 
mãndade  da  Mi^encordia  com  bue  coUegiada,   levando  ca  frente 
a  respectiva  bandeira. 

2.**)  9  relipoiíOB  e  meirinhos  (3),  escoltando  o  padecente,  que 
ia  no  meio,  de  cri]cifíx:o  oas  màoB,  e  no  collo  o  baraço  fatal  que 
o  carrasco  segurava. 

3.*')  Desembargador  ca  do  crime  e  escrivão  da  al<^ada,  oi 
ministros  desta,  o  ouvidor  e  o  jniz  de  fora, 

  fúnebre  carreta,  destinada  a  trazer  os  doipojos  da  Victitna, 
vinbn  no  couce»  a  rodar  pesadamente,  puxada  pur  12  galo». 

Oâ  relig^josog  psalmcidiavsm  a  prnposíto  i  de  vess  em  vez 
parava  o  cortejo  todo»  oa  tambores  rufavam  fortemente  e  lia-se 
o  prei^ào  infamante. 

Revestido  da  alva^  indumento  sagrado j  de  que  a  Posteridade 
ias  aeu  maior  titulo  de  gloria,  maniatado  com  o  erucifíico,  ia  o 
Martyr  de  olhos  fitoa  em  seu  Cbristo  amado,  symbolo  de  &ua  fé 
Ardenttí  e  m  por  duas  ve^es  os  aftiâtou    para    contemplar  o  c.áu. 

Diz  deite  Frei  Ray mundo: 

«Cauâou  admiração  sua  constância  e  muito  mais  a  viva  de- 
voção que  tinhtt  aos  grandes  mysterio&  da  Trindade  e  d«  en^ 
carnação,  de  sorte  que,  falando-so-lhe  nesses  mysterios,  se  lhe 
divisavam  as  faces  abrasadas,  e  ns  sua&  expressões  eram  cheias 
de  uncçAo,  o  que  fez  que  o  seu  director  não  the  díscêsse  nada 
mais  sinílo  repetir  cnm  elle  o  symbolo  d»  &.   Aihanaeio»  (4). 

O  valor,  a  intiepidez  e  a  pressa  com  que  caminhava,  os  so- 
lilóquios que  fazia  com  o  cruciliJto  que  levava  nas  mãos,  en- 
cheram de  extrema  consolação  m  que  lhe  assistiam», 

A's  11  boras  chegou  á  praça  o  cortejo.  O  sol  fulgia  quaai 
a  pino  e  a  calma  era  grande. 

Todos  os  testemunhos  do  tempo  sfto  accordes  em  pintar  a 
coragem,  a  resiguaçàfi  e  grandeza  dahna  com  que  Tirad entes 
encarou  o  f^upplicío  e  sofreu  gua  barbara^  aua  ostentoua  execução. 

Devoto  fervente  do  gozoso  mysterio  da  TrindadOf  quando 
chegou  á  forca  pediu  ao  confessor  que  só  desta  lhe  falasse. 

Subiu  testo  a  comprida  escada  do  patíbulo.  Com  os  olhos 
fixos  ua  imagem,  eem  estremecimento  algum,  deu  o  peseo<^ 
para  o  fatal  apresto  e  ao  carrasco  ppdin  três  vezes  que  abre- 
viasse a  execução. 

Nâo  Ih 'o  consentiu  o  guardião  do  convento  de  Santo  An- 
tónio, Frei  José  de  Jesus  Maria  do  Desterro,  que^  inftammafido^m 
desmarcadamente  em  caridade  e  em  ju atiça  (diz  Frei  liay mundo), 
Bubiu  alguns  degraus  da  escada  e  improvisou  uma  fala  ao  povo, 
exhortando-o  a  se  não  possuir  tão  somente  da  curiosidade   ante 


^j  Bei^undo  q  capltftú  DIkí  Barbosa^  mnrcIíaTjv  ãepol«  do  pnâecente  nmn  eKo1tJL,qDe 
elle,  como  Wbotitõ  ou  tilfer^s,  tiomm&Ddiiva,  e  o  êiittuco  ib  úo  Om  ^M.Aicetedd,  VurtO'^ 
aidftitt,  BO}, 

4f  Ahl  pel*.  ve?  prímetrft  ae  4A  ao  Eipirito  Pâoto  o  oome  de  Bmt,  compleUddo  o 
^rufri»  dâ  tn»  qut  CóDitUueiD  o  myttfirJo  da  TripdAde.  B««  ij^mbolo  uíq  foi  ooia- 
p«it«  par  3.  AUiaDMlo, 


^  363  — 

o  f&woTúBO  eap^etaculOj  ante  a  constância  do  réu,  que  «ainda  asaim 
fora  objecto  da  clemeucia  real  e  da  illuminada  justiça  de  9eiis 
miiúetroa,  quê  lhe  não  aggravaram  a  petm*  (1), 

Depiois  rezou  o  meemo  frade  o  gymbolo  dos  Apoatolos  :  no 
sepulcral  silencio  de  todos  os  assistentes,  aó  se  «rguia  a  voz  do 
Tiradentes  repetindo  as  palavras  da  oração.  O  frade  descia  os 
de^aus^  á  medida  que  terminava  o  credo;     |>o^  ^°^^>  sumíram-se 

Segundo  o  eapitllo  Barbosa»  Tíradentes  intentou  falar  ao 
povo  e  é  tradição  que  chagou  a  dizer: 

— O'  Pátria  l  rscb&b  meu  saobificíoí 


Mas  o  executor  Capitania  ímpelliu  a  Victima,  que  girou  em 
cotiyulsòed  no  espa^^o  e  foi  cavalgada  pelo  al^oz. 

Retambaram  unisonos  os  rufos  doa  tambores,  abafando  o  grito 
de  horror  que  semelhante  scena  provocara.  Frei  Raymundo  Pen- 
naforte,  encarregado  do  discurso  pare n ético  allusivo  ao  acto, 
fel-o  em  se^ida,  fundando-fie  inteiramente  naa  palavras  do 
SeelesiajÊÍeíi: 

«Nem  por  pensamento  detraiaa  de  teu  rei,  porque  as  meamaa 
aves  levar&o  tua  voz  e  inanifestaríko  teu  juizo». 

Acabada  a  fíila,  desiez-se  a  figura  triangularmos  regimentos 
metteram-ã6  em  uma  tò  colutnna  e  deante  delles  foi  lido  um 
diteorso  do  brigadeiro  Pedro  Alvares  sobre  a  fidelidade  devida 
ao»  «oberanos.  Deram  depois  três  vivaa  á  rainba  e  entraram 
para  os  quartéis. 

Em  1842,  um  ancifto,  morador  no  Rto  e  testemunba  occular 
da  tremenda  e:£ecuç&Ot  assim  a  narrava  com  as  lagrimas  nos 
olhos  6  apontando  pava  o  lugar  do  fiuppUeio,  até  boje  âem 
edificação  (5): 

«Meus  meninos,  abi  nunca  ae  construíram  casaè,  porque  ei ta 
terreno  é  amaldiçoado:  bebeu  o  snngTae  de  um  justo,  ou  antes 
de  um  santo;  foi  aqoi  esquartejado  o  Tiradentea,  pelo  crime  de 
nos  querer  faier  livres  Éu  tinha  entào  meus  19  annos,  e  me 
lembro  perfeitamenle  que  neste  lugar  eu  o  vi  dar  a  alma  a  Deus, 
naorrendo  como  um  carneiro.  Desde  ent&o  todos  os  donos  deste 
terreno  morreram  de  morte  súbita,  antes  que  pudessem  fasser 
qualquer  construcçào,  porque  Deus  Nosso  Senhor  nAo  quer  qae 
neste  terreno  maldito  se  faça    casa    para    morada  de    ehrístão». 


I 


Ahi  está  o  herde,  o  martyr,  o  justo,  o  santo  consagrado  pela 
historia  veridiea  e  pela  tradiçílo  popular  1  A  vida  e  a  morte 
desse  homem  extraordinário  concretizam  o  vivek    fará    oittrhm 


i}     04auf«  dê  H^oUda  IS  ét  Diíieabro  de   IBS  O  a  úpiiieula<   4o  ir.  Lenics^  piff.  *i4 


em  auas  feições  mala  comoioveates,  Eva    um    desprendido    de  ãi 
mesmo,  era  uma  aatures^a  altruísta  do    modo  o    majs    completo. 

Seu  martyrio  foi  celebrado  com  festas.  Além  das  galauicea 
do  áia,  alím  doa  díacursofi  louvaroinlieiroai  Louve  um  aolenna 
l^Deum^  depois  de  três  dia»  de  lumÍDarías,  ordeiiadss  por  fieveroi 
editaes  do  Senado  da  Camará. 

O  decahido  tbeologi&mo  prestou- se  a  todos  esses  manejoi  de 
sorvíHsoio , 

Ka  solennidade  religioí*a  de  25,  o  afatnado  orador  Frei  Fer- 
nando Pinto  prégfiu  um  sermào  totalmente  moldado  sobro  aa, 
bases  que  na  véspera  lhe  formulara  o  cbanceller  jutz  da  alçai 

Eram  três  essas  bflBés ; 

1.*)  Dar  graças  a  Deuâ  pelo  descobri meato  da  conjuração,, 
a  taiupo  de  se  poder  dissipai- a  ; 

2.*)  Dar  graças  por  ticar  o  Elo  isento  do  contagio  da  dita^ 
nefanda  conjuração ; 

3.")     Persuadir  oi  povos  a  eerem  Heis  a    sua   Soberanai 
pia  e  clemente. 

Esee  mesmo  theolngiemo  benzeu  em  Minas  a  pedra  funda-- 
mental  do  mo  aumento  a  Tira  dentes,  tem  benzido  as  bandeiraa 
da  Repnblica,  tem  promulgado  constituições  republicanas,  depois 
de  baver  patrocinada  intimameute  a  do  extincto  império,  e  ain- 
da h&  pouco  promovia  exéquias  á   defunta    mo n are h ia. 

Emqiiaiito  o  clero  catliolico  festejava  o  cruento  sacrificio  da 
hóstia  safara  d  a,  preludiando  os  bymnos  cultuaes  que  lhe  havia 
de  entoar  a  Posteridade ^  emquanto  a  realeza  folgava  em  tripú- 
dios vis»  eram  espalhadas  a$  santas  reliquias  do  Martyr. 

Beuiâ  quartos  foram  distribuídos  pelos  lugares  mencionados 
na  sentença 

Sna  cabeça,  içada  em  um  alto  poste,  foi  collocada  no  lu^ar 
mais  publico  de  Vil  la  Rica. 

O  sr,  ^lello  Moraes  (G)  diz  que  em  começo  de  setembro  de 
1821,  numa  eminência  ao  norte  de  Ouro  Preto,  ainda  se  via  nm 
poste  alto  e  pt^nteajL^udo,  onde  estava  o  craneo  do    Blartyr, 

O  padrão  de  infâmia,  erguido  era  Villa  Riea  no  cbào  sal- 
gado de  Bua  casa,  á  rua  S<  José,  foi    arrazado  em  1822. 


S)    Ckrt^nicií  9 trai  dú  Broiii  II.  p««.  iOl. 


365  — 


2) 

HA&EAÇiO   BIMADA,   SSCEIPTA   EM    1892,    POB   OCCASlilo   DO 

Um  aabbado  íúi.     Nuvens  de  ouro  o  dia 
Esplpndeiite,  flamivomo  rompia; 

Era  eesa  a  mesma  luz 
Que  outr'ora  dirig-iu  a  errante  frota 
Para  a?  plag-as  gentis  da  terra  ignota, 

A  t«rra  Vera  Cruz  (I). 

A  ciéade  se  mostra  tcjda  em  festa; 
O  povo  grado  e  o  poviíóu  se  apreata 

A'  solenne  funcçào: 
Ha  loldados  em  torno  da  cadeia; 
E  á  machina  sinistra  já  rodeia 

Cerrada  rauUídàu, 

Ok  persODftgf^ne  fodoe  de  alto  porte 

E  outroa,  em  quem  pavor  não  move  a  morte, 

Montam  ricos  corcéis: 
Hiiare  iôa  a  taba  rumorosa; 
E  a  anlica  chusma  corre  cuidadosa 

Doa  direitos  dos  reis. 


De  alva  e  baraço,  o  negro  algoz  penetra 
Na  cadeia,  e  perdão  ao  Réu  impetra 

Da  morte  que  vae  dar   ^ , 
Mas  Elte,  humilde  e  plácido,  Ihç  disse 
Que  somente     ,   somente  permittisse 

Os  pés  e  as  mãos  beijar  l 

O*  peregrina,  ó  grande  natureza  t 

Que  vivo  exemplo  á  gente  que  despreza 

Os  outroB  96  por  st ! 
Aos  outros  sotopõr-íioB  tal  exemplo 
Nos  impetle,  e  és  maior  quando  contemplo 

Essa  humildada  em  ti. 


0}  A  81  d»  Abril  «  trilM  de  Ckbr*]  rrrãta  nit  ngau  i\ué  dâviíirn  cbatuBr-Aâ 
br«itle1ru,  N«Me  dia  virtioi  úé  portDgm^r««  09  primei  roa  al^iet  de  terra  jAlgcnsu 
àtTfnã  fQtuprtdat)  que  «Dç^nitDliAniQ  a  frót*  çarfl.  notiiui  plhgiu.  Creio  qae  foi  NOA- 
■KBTO  {ptf.  II LJ  o  prlmedro  1  fiour  «ita  eolficideDcla, 


n^^^^^^^^^^^^^^^^^^ 

—  3d6  —                                    ^ 

Como  Jbiús,  —  Chtistf»  Jeftús  kndáríOi 

Morrer  intentíi,  e  tnarcba  a  seu  Calvário 

Com  baraço  e  pregào  1 . , . 

0  cortejo  se  more  da  cadeia 

Para  o  largt>  EÍoistro,  onde  enxameia 

à  sapeBiia  multidão. 

Do  povo  e  clero,  da  nobresia  toda 

Quem  senti&ae  não  houve  a  negra  no  d  a 

De  criíp©  tâo  cerva!  1 

Alegres,  ou  oa  paalmos  entoando, 

Do  padecente  á  roda  vào  marchando 

1 

1 
t 

à'  peanha  fatal. 

Da  Tinudade  decoto  fervoroso, 
Era  Ibe  esse  my^terio  t&o  gOíOBO 

Que  a  via  iacra  andou 
Numa  visão  gratíssima  engoliado; 
E  em  solilóquios  com  sen  Chrtato  amado 

Ão  lar^o  em6m  chegou. 

Quaãí  a  pino  o  aol  fui  guindo  estava 
No  amplo  triaugulo,  que  ahi  formava 

A  tropa  reR-ular. 
A  viiitima»  de  frades  escoltada, 
A'  praça  chí*ga  e  sobe  lesto  a  eieada 

Do  patibulo-altar, 

0  collo  dá  para  o  fatal  apretto, 

E  do  algox  há  requer  seja  elle  presto 

Em  sua  atra  mist^âo ; 
Nâo  Ih 'o  consente  frei  Jíbiíb  Maria, 
E  préfra  e  clama  que  a  rainha  ê  pia, 

Que  é  hve  a  punição 

Só  depoia  destas  vozes  iraprudentetj 
Foude  por  tím  rezar  o  Tiradentea 

0  symbolo  da  Fé. 
Tudo  silenciou..*  &ó  era  ouvida 
A  voz  do  Heróe,  que  eslava,  a  fronte  erguida, 

No  cadafalso,  em  pé.«.. 

Ura  impulso ...   e  no  espaço  se  despenha 
0  corpo.  .  .    Só  enlào  a  voz  roufenha 

Da  multidão  ecoou 

0  rufo  doa  tnmbore»  retumbantes 
Ãi  garrai  do  remorso  penetrantes 

1' 

1 

Nesse  povo  abafou! 

^^^.r'i 

~  367  — 

Frei  Pcnnaforte  té  íneuinbia  iJo  resto: 
Do  crime  a  ne.^idhú  põe  manífeito 

Em   declamante  voz*. 
Mas,  da  ctlU  uo  plácido  recanto, 
Bem  cnnfeáiofi  que  nosso  Heróe  espanto 

Ã'  uatareza  poz. 

Foi  g^rande  até  ao  lúfrubre  momento; 
Porém  doa  odlos  o  fatal  fermento 

Abi  u&f^  cessará. , . 
Seu  corpo  fiea  ein  postas  retalhado,,, 
E,  }w1a  estrada  eiiihiii  sendo  espalhado^ 

D«  c&es  pasto  será. 

Sua  cabeça,  por  ten tença  inica, 
Levada  ioi  á  antig^a  Villa  Rica, 

Onde  exposta  ficou. 
Mão  piedosa,  porém ^ — diz-nos  a  lenda, — 
A  ca-beça  tirando  á  trave  borrendap 

Em  «ecreEo  a  enterrou. 

De  vinte  e  dois  o  chefe  grAndioao 
Juntar-«6  vem  ao  Martyr  g^loríoao, 

Vem  a  Pátria  formar: 
Do  Hôróe  mineiro  o  vulto  venerando,^ 
Delido  o  traço  de  um  labéo  nefando,— 

Emfim  se  poude  alçar. 

Outro  cbôfíí  depois,  dô  honrada  fama, — 
Hóstia  também  do  Amor  que  maii  ioHammA 

Um   peito  varonil,— 
A*  frente  os  sócio»  destemido  impelle 
E  08  destroço*  reaes  do  throno  eipelle 

B^m  longo  do  Brazil. 


Os  feitoR  immortaes  d^  Tiradentoe 
Di^vom  liv^ras  honrar  os  deflcendeutes 

Do  excelso  Precursor: 
— E'  na  floria  ás  altezas  do  Pasaado 
Que  roaíft  se  apura  o  eâttmulo  sagrado 

Do  reverente  Amorl 


1892;  e  revialo  de  1907). 


José  Falioiano. 


tr 


NOTAS  E  ESCLARECIMENTOS 


A    BFFIOIE    DO    IIBROB 

A  qiiefttão  da  «figura  aanpathica^  feia,  repellente,  eipantai]a*í 

do  TiradentcB  merece  uma  nota  especial,  para  bem  caractemar 
a  leveza  cnrteaâ  dos  inasimoi  historiadores  desta  conjuraçfto^ 

1 ,  **)  No  H  ij  K  HTo  di  SI ,  ao  ret  r  atar  ma  l  ign  a  me  D  t  e  o  H  e  r  ó©  ( 0<m~ 
juT.  min.^  p     74) ; 

tA  Bua  phyBionomfa  nada  tinha  de  Bytnpattica  e  atitei  m 
tomdvã  notável  (?)  pelo  quer  qti©  iossa  de  repellente,  devido  f?) 
em  prande  parto  ao  aeu  olhar     espantado», 

E  em   15  o  ta    assim  domtmentni 

«Era  «m  homem  feio  e  parecia  (?)  tempre  espantndo». 
Aisim  o  retrata  o  coronel  Ãlvarenpi.  2.*^  /iit.,  1^  Jan* 
90,  Áp,  4,  Dev.  do  R  de  J.  Parece  (?)  que  a  physionomJa  do 
Tiradentes  o  impressionara  bastante.  Ao  principio  disse  que  era 
uma  cata  que  Qão  conhecia.   Idem»* 

Só  transcrevo  esta  parte  da  paij^ina,  embora  possa  refutar 
igWilmente  toda  a  malignidade  restante. 

2,")  Varnhaqejn  diz,  sem  citar  doe  ,  mas  pondo  entre  aupaa 
oa  dous  malévolos  adjectivos  de  Alvarenga    {Historia^  p.    1034): 

«CumprB  (?)  accresceotar  que  para  alguns  dos  mallogros  do 
mesmo  alíeres  em  ijua»  pretençòes,  além  da  circamstapcia  (?)  de 
ler  liradtjitest  devia  (?)  também  contribuir  o  seu  i^hysico-  — Era 
bastante  alto  e  muito  eepadaúdo  (? ,  de  figura  antipatbica,  e  «feio 
e  et pau ta do V  . 

As  maligrn idades  que  Varnha^n  accrescenta  são  tiradas  de 
Norberto  e  affirmadas  sem    documento»,  como  vamos  vêr 

Consultei  no  origina]  todos  oa  documentos  da  conjuração, 
que  em  1893  estavam  no  Ãrchivo  Publico  do  Rio  e  na  Biblio- 
theca  Naciooal. 

Li  o  dep-  de  Alvarenga»  o  de  14  de  janeiro  de  1790.  E* 
aquelle  em  que  o  appellidado  vate  da  bajulação  «se  resolvera  a 
narrar  tudo  com  pureza*^  para  ae  defender  e  acru&ar  os  compa- 
nheiros, A  altiva  paulista,  sua  exemplar  es^posa,  nào  estava  mais 
ahi  para  lhe  impedir  os  «vôcs*  de  fidelidade  malainadora  e  de« 
latoriA*  Faz  por  isso  um  diacurso  de  (^ausidico  arteiro,  adubando 


1 


—  3Í>9  — 

com  iromas,  com  desdéns  «inmladoa  6  rastejando-sa  numa  delaç&a 
fofoial,  tninaciosA,  mexenqueirameate  ÍQdÍg'oa.  E'  penosa  a  ieitura 
de  tanta  debilidade  mrvtal,  própria  ào  taful,  do  jo^^ador  im- 
penitente que  80  vinha  jantar  à  cása  «por  haver  peixe  freacOf 
raro  em  Villa  Rica»,  e  habitualmente  de  recolhia  a  deahoras, 
pelas  três  da  madrug-^da. 

Nesse  indiano  depoimento-delatorio;  bó  e  só  nease  trtgte 
docameoto — no  mais  estirado  doa  mais  longos  inteiTogatorÍnB(ll  flp.) 
— ^é  que  se  encontram  a^  su^potiticiai  bases  para  otnaligoo  retrato 
de  Tiradentes.  Ahi,  entre  fingidos  deadene,  entre  infwceniadoras 
dis«lmulaçõ6^,  de[mr&inos  o  seguinte: 

1/J  Refere  Alvarenga  que  nâo  dera  importância  no  convite,  que 
Ihd  fizera  o  t^nente-coronef  Freire  de  Andrade,  para  ouvir  o  Tira- 
dentes,  «que  oem  uonhecia»,  sobre  a  matéria  do  levante,  ipor- 
qne  nâo  navia  de  fatar  em  semelhantes  matérias  com  ninguém, 
e  eípccial mente  com   uma  cara  que  nõjct  a  nheciaè  ^ 

2.')  Refere  mats  (fl.  7)  que  o  tenente-coronel  lhe  dis^e  que 
«havia  de  mandar»  o  alferes,  porque  «fa^ia  g-os to  que  o  ouvi^iOi  so 
por  ver  quacto  falava  inflam mado  na  matéria  que  até  cheg^ava 
A  chorar»;  mas  elle  «rôspondente  lhe  instou  até  sahir  que  o  nâo 
mandasse». 

3*)  No  dia  seguinte,  caetaudo  o  respondente  no  eseriptorio 
dd  Jofto  Rodrigues  de  Macedo  (1)  {ornde  ficava  jogando^  àjt  vez^ 
até  às  três  da  madr'igada]  lub  ai*parecbi;  um  official  feio 
n  E3PAKTAD0  (fl.  8)  6  Ihs  disse  quc  lhe  queria  uma  palavra  em  par- 
ticular; sabm  o  respondente,  perguntou-!he  quem  era,  e  elle  lhe 
di^se  qu')  era  o  alferes  Joaquim  José,  que  o  ten  nte>coronel  o 
mandava  ali  curúfirar  a  elle  respondente  que  a  noticia  do  Rio 
de  Janeiro  era  verdadeira,  e  que  elle  atmha  ouvido  g^eralmente 
aos  tiegocsantes,  ainda  qoe  em  muito  segredo,  e  que  na  verdade 
era  pena  que  nns  paisses  tâo  ricos,  crimo  eates,  eativeasem  redu- 
ítidos  á  maior  mÍ8»*ria,  bó  porque  a  Europa,  como  esponja,  lho 
estivesse  chupando  toda  a  eustancia,  e  os  excetlentissimos  ^e- 
neraes  de  três  em  três  anno»  trariam  uma  quadrilha,  a  que  cha* 
niavam  criados,  que  depois  de  comerem  a  honta,  a  faxenda^  os 
officios,  que  devtam  ser  doa  habitantes,  se  iam  rindo  dellea  para 
Portugal;  mas  que  o  Rio  de  Janeiro  já  estava  com  os  olhoi 
abertos,  e  que  as  Minns  pouco  a  pouco  oa  haviam  de  irahríndo: 
ao  que  o  respondente  Lhe  disse  que  não  andasse  falando  naquetlas 
cousaH,  porque  lhe  podia  ãuceeder  muito  mal,  e  que  diíEesae  ao 
seu  tenente-cofonel  que  aquillo  nâo  era  o  que  elle  respondente 
Ibe  tinha  recommendado^  e  que  estava    occupado  {?),  e    que  por 


«mlo»  di  1774 «t^S^  KttnvA  «liiançido  em  m:iU  de  um  miihílo  e  itrcio  de  ernzidoi.  Per- 
laaoi»  «o  nnniQrn  do»  protegi  drta  vvU  Juitía  dt  AdminUtra^o  ê  Arrêcaaaçâe^  cvil  1D«ÍD- 
rta  ttfft  «tVB  era  maçua  /Hirt  Th.  títtSZà.OA.\.  teim^^va  eiD  dur  em  ArremjitaçAD  a  ciobrin* 
çs  ám  Air^lUfi.  ^m  voz  il«  o  t^^t  ella  proprlt,  como  opinava  *i  depoudo  «  ncrífÍQ  dã 
jQdU  Ctrlo*  JoM  d»  dílVA,  Etto  é  Dm  ponto  gae  mofto  ídHoa  um  aprocfaçJlo  do  papt] 
QdliQ  <^aci  uBátê  m^vlta&%io  dofeapaoboa  QooK&^a  (V.  E»v,  ik  InU,,  tomo  C  e  44). 


—  370  — 

iáso  o  não  ouvia  maiB.  Foi -8©  embora  ©  «íle  reejKjndente  ficott 
nes^a  noite  jo^aado  com  Joáo  Rodrigues  de  Macedo  tiié  áft  tre« 
horaa  da  madrugada ;  quando  chegou  á  ca&a  achou  todos  dormindo, 
como  quasi  íí€mpi*e  siiccedia^  * .  ■ 


Ríb  ahi  o  ÚNICO  doe.  hiitorico  (1)    ^m  que  se    bageiani    tioi«ot 

hÍBloriadoree  jiara  rimdimentar  &uas  malígnidadcs  contra  a /jf^ífoc 
do  Tiiadentes,  E*  precÍBo  ler  todo  o  depoinseiito,  em  que  Al- 
varenga desci  roa  de^denhoBaniente  «  cninpartJcipaçàf*^  os  com^ 
promi*309  de  seus  amrffos.  K*  preciso  ver  como  se  Tâé  innocen 
tando  com  ironÍAS,  com  remoque»  á  fatuidade  do  tenente-corocel 
Andrade,  com  bujulaçòeB  «ao  governo  sctívigRÍuioe  de  fcg-o,  qual  o 
do  lUm.  6  Exm,  Vice-rei  actual  Luiíç  de  Vaeconcelloa  e  Souza, 
cujo  caractct  é  paj-cere  vubjeetis  et  ãtíbeílare  snperbos  :^ .  .   (1) 

Norberto  nem  ao  raf^noe  é  fiel  em  sua  nota,  quftudoattribne 
a  Alvarenga  a  [►hras*^ : 

*Era  um  homem  feio  e  parecia  »empre  espantado»^  Alva- 
renga íó  HÍ9se  desdenWftTnenie  rhocorreiíaiDeute,  a  deslujir  os 
companheiro,  para  melhor  se  innocentar  ante  ob  terrivei»  juizes : 
um  dia  •lhe  appareceu  um  i  flficisl  feio  e  esjiaotad*  »..     (2). 

Onde,  poi-,  a  base  para  a  «figura  autipatbica»  para  a 
«phyfiiotirmia  nftsvel  pelo  quí^r  que  foíse  de  ropellente,  devido  (?) 
em  grande  parte  (?)  a  ayu  ri!hf*r  (?)  espantado  »  ?  Nao  temos  ahi 
um  triet  exemplo  deet.i  rraligiudade  literária  qne  dilúft  phragea^ 
que  ae  achata,  que  as  íii6tpiif'6  como  olfaginosa  gota  de  ca- 
luTonia  ? 

Varnbafjreri  tamhem  unetuosamente  ©xtetide  os  dou»  epithe- 
tos  e  Cf^m  ellp3  derrnnca  o  phyBico  inteiro  de  Tiradonte»^  ttrando 
illaçòes  moriícs,  deBumitido  ioferencias  históricas.  Norberto,  em 
sua  tianíidurfl,  começara  dizendí?  qup  n  Ilerób  «era  de  estatura 
alta,  de  espnduas  bem  desenvnlvidaB,  como  os  nMuraês  ãã, 
Capitania  de  3fÍnos  Geraeft  (?)•  Varnhaííen,  que,  jA  fizera  ,sua 
dí»&envf?Iu<;ilo,  rc^um^  o  ãoeumejit/j,  rt»sum©  M€U  autor  e  faa  o 
Tiradentefi  ^hiwtiiiitt  (?)  nitíj  e  muito  (?)  espmhiúdo*,  Hesume  o 
reforça  coro  advérbios  de  sua  invenção... 

j*  *  ♦ 

Eit  a  amostra  que  eu  desejava    P»  rnecer,    para    caracterizar 

certo*  processos  históricos.  Infi-lisímenie  nfto  é  uniea  e  eu  cou- 
sagrarei  duas  notas  mai*  a  respigar  nesses  autores  os  errou  sa- 
lientes, em  que  tá')  n-^fastos  processos  tiví-ram  uma  pe»oal| 
vaidosa  applicaçiho  literária. 


\)    Vide  /Vfo*  íiw/í/ffoí»™»  nni  'Jliraj  pottiem  de  I    J    âe  A<viirBiif  a  Ptilx«]i«,  Mio  d» 
jAn^lro.  Ihr^fi  rKDt>;lc&<i1ns  por  À    Morbe^btop,    Archito  io  iHãtririo  Fedíeraí.    iflH,  ti    II 
ArcbiTo  Pcblien  do  Kia  lura  V,  opp    n.  i. 

aíF     EiQ  ns  sto  de  lUli.  í-iH  mineirtí,  (Or.  C     Ottonlj  Mpre^&tindo  Jiê  Jtvfoema  o  ]lnv 
im  NprtHsrto,  chitiift  i»  l<j(o  *irad«€gáo  d*»  poueú  iisret^ 


—  571  — 

Terminarei  com  tree  citações  que  de  todo  annullãm  a  ma- 
ligBA  preten&fto  de  aiitipathicami^Dte  caricaturar  um  victima  ea- 
grada,  uma  alma  religiosa,  duplamente  veneranda  peto  marty- 
rio  e  pelo  amorayel  civismo. 

t.*)  Sí^ja  a  primeira  a  da  desinteresseira  ancÍ&»  que  já  re- 
feri em  nota  á  eoafereacía.  Era  D,  I^aacia  Simplicia  de  Souaar 
natural  dn  Santa  Híta  de  Kio  Abaixo,  com  85  anu  os,  moradora 
em  S.  Joíé  d'EUUoí.  era  1862,  Conhecera  Tiradente*  e  seu 
irmão  cap.  José  da  Silva  Saatos,  entào  já  fallecido  (vivia  ainda 
em  1305^  como  se  sabe  pelo  testamento  de  outro  irmàd,  Padie 
Aotociio  dm  Silva  Santos,  dous  anno&  mais  Telho  que  o  Tira- 
dentoi).  D,  t^oacta  disia  «que  Tiradeutes  era  um  bomem  boni- 
to* (e  utQ  em  msio  de  outras  informações  que  deu  ao  dr<  José 
Rezende  Tt^ixeLra  Guimiràes,  em  23   de   abril  de  1862). 

2,*)  A  secunda  é  di  re*fi8Ítavel  e  iliustrado  mineiro^  co- 
n^^^o  Jaaqni^n  Cíimillo  de  Brito,  que  morreu  octogenário  em 
abril  de  1892.  na  cidadã  de  Sapucaia,  Na  Gazeta  ãe  Noticias 
^raarço  1880).  díss  eilci  de  Tiradtjotes:  iNão  (ra  dh  FtotitiA  Atí- 
THiPÁTicAj  CO  no  íiíeram  crer  ao  nosso  hi&toriador  {Varnhaí^en). 
O  cónego  Rr>di'iga*is  da  Coata  (conjurado,  que  regressou  á  Pá- 
tria, fíii  da  Constituinte  e  morreu  em  1844)^  que  o  conhecia 
presencialmí^ote,  e  em  cuja  vivenda  se  hospedava  elle  em  suaa 
Viagens  ao  Rio  de  Jaaeiro,  reit eiradas  vezes  me  disse  que  o 
K^^vier  (as4Ím  o  tratava  elle)  era  um  rapaz  svMPATHicOf  e,  posto 
que  nAo  hoive»be  afinidade  entre  a  farda  e  a  sotaina,  era~lhe 
setnpre  agridacet  Siia  presêtiça* . 

S.*)  Fnialmwnte,  em  noticia  de  29  de  maio  de  1860,  no 
0(/rrei*j  M^rcinttl,  dii  n  centenário  capitão  António  Dias  Bar- 
bosa Ferreira  (que,  corno  teaent©  de  milícias,  assistira  ao  sup- 
plicio  de  Tiradentes)  : 

«Formara  mtiita  tropa,  cm  grande  concurso  de  povo;  ao 
meio  dia  cheíçou  o  padecente,  que  elle  pessoalmente  conhecia, 
e  em  cujo  rosto  se  via  a  resignação  e   a    coragem  t  era    de   mb- 

DtíHA    BSTATUH^,    í    ãe    C:lbeIlOi    loUTOit    €    B8M    PARECIDO.» 

Eis  ahi  a  vera  eíftgie  ãn  llerúe.  Não  fosse  o  maligno  pro' 
poalti  com  que  a  de-ínaturaram,  para  melbor  apoucar  o  inteme- 
rato alferes,  e  não  seria  preciso  al-i'gar>nie  tanto,  Demaia  é 
«  ta  o  tj^pico  eremplo  de  um  mau  proces&o  histórico,  ainda  com- 
mum  em  nosinh  cbrouistas  ou  historiadores.  Era  preciso  bem 
caracterisal- ^  para  o  coniemnar  do  todo  em  todo  e  evitar  ás 
novas  gerações  a  reincidência  em  tâo  feios  de.^lisses»  A  hiíitoria 
nft.'>  ha  de  liervir  á  aaiisfiiçAo  de  mina  pajjtôe!*  partidaristas.  Delia 
havemts  de  inferir  ensinamentos  e  preparaçôee  ao  continuo 
»rogrtfaflo  da   Humanidade, 

A  nota  »eguinto  pretende  esclarecer  uma  dessas  preparaçôe» 
e  afastar  a  tuju*tifiíadt  reivindicnçáo  de  Pernambuco,  Nào  tra- 
tarei de  Ufoa  directa  refutaçào,  porque  o  trabalho  do  dr,  Al- 
fredo de    Toledo  é  a  esse    respeito    ueciaivo. 


—  372  — 


K  BEITINDICAÇÃO    PERNAMBUCANA 

A  intima  aprecíaçào  doe  mug-natas  sociaeí,  o  julgamento 
moral  de  noBsoâ  heió'B  é  ponto  mui  delicado  da  histona,  Eobre* 
tudo  uoi  tempos  anormaes,  nas  épocas  perturbadas.  A  ^oc/afeí- 
lidaãe,  o  civismo  geral  domÍDa  muitas  ye^ea  em  orgatiizaçòes, 
cuja  sã  moralidadet  cuja  pureza  pessoal  apresenta  falhas  sensi- 
veis.  E^  entfto  que  o  plieuomeno  social  deve  ^er  cr  D^iderado  com 
ab»traçllo  do  plienomeno  mora),  como  no  estudo  BOciologico  se 
apreciam  as  leis  gociaes  do  orgatii^mo  collectivo,  antes  de  ar- 
gentar as  l^tg  tnorae»  da  organização  individual. 

Mas  um  caso  deftaes  pTeci^a  uitidam-^ute  caracterizar-se  como 
social.  O  scto  civieo,  a  sodabil idade  meritória  ha  de  ser  impo- 
nente/hade  preponderar  no  campo  da  apreciação  histórica.  Houve 
claramente  uma  for^^a  collecttva,  accial,  que  se  personalizou  na 
individualidade  mais  enérgica,  mais  accfntuada  que  o  meio  cívico 
apresentava.  O  cidadão  enérgico  surgiu  dominante  sobre  o  pe- 
destal da  liomem  fali  ido,  e  o  r<^f)ahi1itou  para  os  negócios,  para 
o  traí e  1^0  da  vida  civica 

Está  nesse  caso  Bernardo  Vieira  de  Mello,  o  destemido  com- 
panheiro de  Domiugrs  Jorge,,  na  lamentosa  destruição  dos  fíil^ 
mares  (l)  ?  Na  chamada  Guerra  dm  Mascaien  foi  elle  a  viril 
personificação  dos  e&tirauloa  cívicos  e  toraou  se  o  magnara  pre- 
ponderante, o  eponyrao   de  seu  tempo? 

Examinemos  o  caso  rapidamente,  já  quanto  ao  meio  civicõ» 
já  em  relação  ao  pretendido  heróe,  o  proto-martyr  usurpador. 

São  vários  os  testemunhosi  são  múltiplas  as  chronicas  que 
nos  pintam  o  meio  pernambucano  em  1710.  O  facto  que  civi- 
camente  o  dominava  eotão  era  a  rivalidade  entre  recifen&e»  o 
olindense»,  entre  os  ricos  negocíaates,  appellidados  mascates^  m 
os  nobreu  fienhores  dê  engenho,  moradores  de  Olinda. 

Informada  a  Metrópole  dejsas  «desuni 5eE»,  sabiataente  m- 
tentou  em  se|:iarar  a  jm'Í<^dtcção  dm  vil  las  rivaes»  dando  a  Re« 
cife  independência  urbana.  No  erigir  o  symholico,  o  discipli* 
nadtjt  pelourinho  e  «na  distribuição  do  termo>,  não  Recordaram 
as  autoridades  máximas,  —  o  Governador  Sebastião  de  Castro 
Caldas  e  o  Ouvidor  geral  Jo«ó  Iguacio  de  Arouche.    Este  pendia 


l;  B<K?aA.  PITT4.  ffiit.  da  AwKÊTíeã  porím^ãa ,  2.*  ítf,   (88P,  pip.  asfl-si42. 


b 


—  â73  - 


t  eitreítur  oí  lindes  nrbaDos  e  aqaelle  os  dilatara,  a  deagofttd 
dos  oaturaes  peraambucanoa 

Natural  mente  dons  partidoa  ae  formaram  a  dlgladiar-ae  vi- 
ramente,  primeiro  em  convicio»  «  depoia  a  màos  violentaa, 

Che§rardm  as  cou-aa  a  termos  que,  em  17  de  outubro  de 
1710,  feias  4  horas  da  tarde,  o  governador  e  os  seus  foram 
alvejados  por  um  bacamarte  que  lhe»  dea^ojou  5  ou  fi  tbalae 
bervadaa* .  Àpezar  de  «fazerem  seu  emprego»,  diz  um  parcial 
dos  olindenaen,    «as    balaa    nâo  foram  mortíleraa^    por  não  ser^^m 

SenetraDtfft,  porque,  parece,    Êaya  maii  o  eacopeteiro  da  aetívi- 
ade  e  viriutfe    do  veneno    com  que    aa  hervárai    poupando  por 
itao  a  pólvora»^..   (1). 

S©guíram-se  peraeguiçÔefl,  que  atearam  no»  olindensea  um 
geral  movimento  revoltoso.  O  governador,  veado -ec  em  apuros 
ante  «o  furor  do  povo  levantado»,  embarcou-se  jiara  a  Bahia 
em  uma  sumaca,  ou,  como  dh  um  seu  partidário,  «determinou 
pdr  terra  sm  meio»  (na  madrugada  de  a ex ta- feira,  7  de  novem- 
bro de  1710)   (2). 

O  biapo  D.  Manuel  Alvares  da  Costa,  pouco  aifecto  ao  go- 
vernador, auccedeu-tbe  no  govf*mo,  com  tal  ou  qual  apparencia 
de  leeralidade* 

M&A  Cã  recifeiisea  n&o  ae  conformaram    com  taes  desordena. 
à percebem -»e  com  armai,  com  petrechos  beilícos,  abaatecem- 
ae  de  viveres  e  compram  capiíàea  de  terços  mílitarea,,  . 

cA  18  de  junho  (1711),  em  uma  quiota-feíra,  ae  repreaen- 
tou  de  publico  a  tragedia  do  levante  do  Recife»,  diz  o  jà  ci- 
tado chroniata  olindetiae.  Aíortalezam-se,  entrincheiram-Be,  *iio- 
meiam  os  capitãea  que  vão  presidiar  aa  torta lezaa»  e  cmaodam 
assestar  a  artilharia  doa  fortes  para  a  parte  da  terra», „ 

Os  olindenaes  congregados  os  aasedibm  e  lerem  escaramuças, 
Daht  as  ^uerrilhaa,  d  a  hl  a  guerra  ã&n  mascates,  tào  pomposa- 
mente celebrada. 

Durou  eate  cêrco^  d  araram  estaa  refregas  até  á  chegada  do 
novo  Governador,  Félix  J.  5f achado  de  Mendonça.  Desembarcou 
este  a  8  de  outubro,  depoia  que  oa  revolucionários,  por  inter- 
médio do  biapo -governador,  lhe  fizeram  entrega  legal  daa  forta- 
lezas e  deram  iim  ou  tréguas  a  seus    desatinados  mo  tina 

Eis  o  meio,  eia  oa  alvorotos  villàos,  âs  competíçòesi  de  cam- 
panário, em  quR  nem  uma  vez  te  falou  na  independência 
brasileira,  numa  republica  nacional,  para  fazer  de  todo  o  paiz 
«uma  Nova  Europa»,  TodoK  oa  partidos  lutaram  por  demonstrar 
vivamente  sua  extrema  fidelidade  á  Metrópole.  «De  noasa  parte 
é  que  está  El-rel,  poii),  em  nenhuma  parte  do  mundo  tem  o 
dito  senhor  mais  Leaes  valsai  los  que  os  Pernambucanoa*.     Âasím 


11  *.^^  pari  qm  flcMfletzi  deotro  no  corpo,  oaán  Bzes^e  a  Iterpa  aeo  «ffHto«..i 
ACcfHCoaU  o  cbronUtA,  maf  icnhor  d»  tatepcí>«4  dJ»  axibrodit»  bilu  (Em,  âo  Imí, 
Miàí.  do  Rio,  tomo  XVli 

t    £#».  dú  Inãt,  Eiãi.  do  aio,  lomii  LOt,  3.»  puta. 


—  374  — 

declaron  o  senado  de  Olinda  ao  capitão -mor  da  Farabyba, 
João  de  Motta  da  Gama,  que  por  aeu  lado  defeoflia  a  lealdade 
doa  recifensee  e  8e  apresentava  como  medianeiro  ^íre  /jaríidcís 
tão  fiein  a  «ieu  rei*,  (Eév.  cíL  tomo  XVI).  Si  o  opulento  Recife 
estiyôege  qaietiimente  sujeito  a  Olinda^  nenhuisa  revolta  bavería, 
e  estavamoK  livres  deitas  apaixonadaB  reíertaB  bistoricas. 


Mas,  d)r-me-S,o,  o  hêroe^  como  beróe  que  era,  esteve  acinift 
de  seu  meio  e  foi  um  revoltado  republicano,  que  se  offereceu 
martyr  de  uma  idéa  nova,  de  um  iuãtituto  novo. 

Antes  de  tudo,  como  referi  na  conft-iencia  e  como  refere  o 
dr«  Alfredo  Toledo  em  gea  folheto,  só  depois  da  independência 
amertcaiift  começou  a  ter  voga  a  idéa  do  moderno  governo  re- 
publicano. Bem  o  provam  qa  levolucifuiirios  mineiros,  bem  o 
prova  Tiradentea,  que  pedia  aos  amigos  Ibe  t^aíiu^iB^e^J  obraa 
que  explicavam    o  governo    republicano    da  «America  Inglesa* . 

Vejamos,  poicm,  o  homem»  o  heróe,  segando  o  testemunho 
de  seua  parciaes  iRemsta  ciL,  tomo  XVI,  pHgs.  18,  20,  25,  28* 
2y,  101,  110  e  120;  Kocha  Pitta,  op,  cíí  239,  240-242.  e 
281-282;  Varnhagbn,  Hist.,  2.'  ed.,  825  e  826  seguindo  suas 
preoccupações  pessoRes).  Nns  datas,  nas  origens  e  episódios 
substauciaea,  essesi  testemunhos  se  aecordam  com  as  chronie&s 
dos  recifenses  (Mev.,  tomo  LIII^  2/  ]iarte,  pags.  65^  t)8j  75,  76, 
83,  90,  254,  268,  277,  291  e  295;  Southby  (ou  P.  L.  Cokkexa), 
trad     brazíL,  tomo  V,  pa^^s,    122-127). 

Em  1695,  Bernardo  Vieira  de  Mello,  diz  Rocha  Pitta,  *era 
homem  nobre  e  valoroso,  experimentado  uix  guerra  dqs  negros,  ha- 
vendo logrado  algum  tempo  antes  o  feliz  succe^so  de  umthoque, 
em  que  degolou  e  cativou  um  grande  troço  delles»  .  ,  . 

Foi  eniào  offerecer-se  ao  governador  Caetano  de  Mello  d« 
Castro  para  servir  ua  «campanha  e  conquista»  dos  Palmares,  de 
que  estava  encarregado  o  paulista  Domingos  Jorge.  Concorreu 
destemida  e  interesseiramente  para  a  destruição  dessa  «rústica» 
Republica,  dos  negros.  Como  se  vêj  o  heróe  republicano  inau- 
gurou sua  grandes^  civica  destruindo  uma  republica  (reapubliçaj 
estado  organizado),,.  Tal  inicio  nào  lhe  poderia  aer  mui  pro- 
piciatório 

Em  1711,  talvess  chamado  pelo  Governador,  acudiu  ao 
Becife  com  o  terço  dos  Palmares,  para  servir  o  governo.  Seus 
pareiaes  proclamam  sua  innoceucia  quanto  aoa  motins  deste 
anno  e  exãlçam-lbe  a  fidelidade  realenga.  Dizem  que  elle  se 
ni&ntinha  no  Hecife  com  sua  gente,  para  livrar  o  fílbo  dos  har- 
haros  assassinatos  que  cervalmeute  commettèra :  essa  é  a  maior 
defeza  que  lhe  fa^em. 

O  Senado,  na  resposta  a  que  já  me  referi,  declara  textual- 
mente :  c , , .  os  uaturaes   de    Pernambuco . . .  uo  sangue    de    setia 


-  3t5  — 

fiaes  e  avos  herdaram  a  maíi  constante  fidelidade  para  com  seti 
rei.  E  fii  Bernardo  Vieira  assistia  por  ora  no  Redfe,  era  por 
catisa  dê  lhe  culparem  um  fiih»  por  uma  morte  e  dematidarem 
Qtítro  par  um  casamento  * .  Nóí  tratamos  de  pa»  e  Vm.  de 
g-uerra*  Oh!  como  se  ba  àe  Vm.  arrepender  do  que  obra» 
qoando  Sua  ^ta^esíade  for  sabedor  de  todo» . . ,  Â  e)-ret  «ba- 
vemofl  de  dar  conta  de  tudo,  pn>g  de  tudo  é  Vm.  cauia.  (Olinda, 
©m  Camará,  26  de  Jttnho  de  1711»  (1).  Esta  é  uma  acta  ver- 
dadeiramente âuthentíca,  na  qiml  estftõ  exai^^doa  oa  uqícob  ke- 
yTmsmos  de  Bernarlo  Vieira  em  1710 

à  Ití  de  Junho  de  1711^  ou  por  questões  de  prepotência 
contra  os  soldados  de  Reelfei  ou  pelo  Puror  dos  amotinados  mas- 
caten^  Bernnrdo  Vieira,  surpi-ehendido  e  «confuso  da  novidade», 
na  janellã  de  sua  casa  reeebe  dom  tiros  que  o  matariam...  «ai 
o  acertaram*  (liz  o  cbronieta  teu  parcial) - 

A'  viatâ  do  p^vo  exaltado,  que  vociferava  contra  elle,  seua 
amigai  o  prenderam  e,  p.ra  aquietar  as  turbas,  o  metleram 
otima  enxovia.  Seus  contrários  o  transferiram  depois  para  o 
forte  das  Cinco  Poata*  (2).  Ahi  ficou  durante  todo  o  cerco»  du- 
rante o  tempo  mais  propicio  a  seu*  e&tos  de  heròe  republicano. 
Ahi  e-teve  sem  agir,  sem  dar   que  falar  de  6Í  nem  uma  vez. 

Só  pelos  ecos  tomou  parte  naa  escaramu^^as  da  Í:amo^a 
«guerra»,  etn  que,  ua  pneril  descrição  de  Varuhageu,  «rompeu 
fogo  durante  vinte  horas  ;  acom[.ianbado  de  quando  em  quando 
de  ehuva»  (pag*  830) 

O  filho  André  Vieira  e  o  irmão  Manuel  de  Mello  lograram 
escapar,  este  para  morrer  desastrosamente  âa  mfto*  do  íatidico 
fobrruboj  que  tomou  parte  em  guerrilhas  e  ahi  cevou  bbus  ins- 
Untos  dei  trai  dores  i 

Do  pretento  beròe  n&o  mais  falaram  seus  parciaes,  até  á 
chegada  festiva  do  novo  Governador  metropolitano,  Félix  José 
Mncbado  de  Mendonça  No  dia  que  este  desembarcou,  a  8  de 
outubro,  talvez  prir  ordem  do  Bispo,  foi  solto  o  heróe  frustraneo, 
fi**m  horoi^mo  authentico,  sem  nenhum  supplício,  sem  marLyrio 
b^m  verificado.  O  utiico  martírio  que  seus  contrários  lhe  infli- 
giram é  o  que  narra  o  chroniflta  mcifí-nâí^,  por  occasiao  dasfee- 
tae  fstrondoâa^  que  fizeram  ao  heroe    D,  Hebastí&o  Finheiro  Ca- 


1}  Otn  nnoQyraa,  i  4  de  outiiltro  d«  tTH,  BscrcTen  Aot  reclfénicii  ptrA  defaadar  oi 
âe  Otind*  contT*  «í^  príHf**^e(ft  cátomniíMi  que  «qnelles  bn^jam  de  ipreaenur  aa  Qúvornft- 
dor,  |>r'«W«  A  ch^ifAr.  Alil  t&  diz  -  «U  primeiro  raadAmpiito  Úa*  soDlind».»  g:lDdu  dotin. 
m»*e*tJ^*.  ^firn  crecitlo  iIb  eeu  eDcaQ4ci4<i  z^ía,  ou  pre^ipjcio^  Atí  9UAS  raatJiíCtijaít  prés  ti  eq 
pçli4l,  ftii  1  cal II maia  que  ^□iíerain  ImpÒr  de  tacondd«ate9  aos  PemAmbuc^no*,  macn- 
Litdf*  O  t1nbr<9  idoVbQrr  d«  iha  nobr^A  coid  tio  infAnâ  vilipendio  ,  aeado  estes  oi  qQo 
«nlr4  IfidOf  01  Portugnezei  t^  podem  Jactur  ite  jQtpilAdoft  na  fi>  9  ie  si  ilude.  ^nt%  c«ib 
S0II  rei— «oiao  d«  «ea^  p«M  «  avós.  cliJa«  acc^Oft  cqi&  ú  saugae  beriaram,  a  publica  a 
fAni  t Argumente  ;  paia  pelo  ^alor  d«lle,  nem  àjnda  nem  ilg^fp^sa  da  f»al  faaenda  vend^- 
rft>tt  a«  vi^Aâ  eoa.  r9AEaQri'Ç^Ao  fie  Perna  eu  bu  ^,  q,iia  aA  metm^  rei    geoeruEo»    tribatãrun  . 

imv  XVI.  loo. 

2)  âefUQdo  D  Gtironiita  rocifente,  é  de  vqt  o  modc  tlmOfAlo,  eoatriçto,  de  somenot 
aefnlimo  eoiD  n^^  te  portou  ne«te  pMftõ,  Oi  meíiuoe  tlroi  4  Janalta  aerlim  Ja  coDtra  9 
fvsiâ  qae  fugia  \Ii*v.i  Ull,  90/. 


á 


—  â76  - 

marâo.  E  foi  o  reguinte  :  Quando  o  GcrerDador  na  janella, 
em  publico,  Acariobava  o  b^róe,  —  Bernardo  Vieira  e  o  isãg^no 
chefe  revolucionário  André  Dias  íicaiATu  defronte,  em  yé,  a 
estnoer-  se  de  raiva.  Como  ge  vê,  tiào  ó  uni  raartyrio  digno  do« 
exaggeradog  louros  que  lhe  quer  dar  uma  pOEter idade,  em  ex- 
tremo dadivOBH, . . 

E^  verdade  que  depoiB,  por  eOEpeita  de  novas  tentativas 
lieroícae  ou  revaludonariag,  oum  domingo  de  Ramos,  a  27  de 
março  de  1712,  Bernardo  Vieira  chegou  preso  ao  Heeiie*  O 
novo  Governador  o  mandou  para  o  forte  de  Brum»  «niio  ficaudo 
privilegiado  dos  ferroe  ru  algetnaa^» 

Na  frota  de  28  de  julho  de  1713,  —a  mesma  que  troiúera 
o  Governador  e  a^ora  ia  de  regr&BSo,  —  Bernardo  Vieira  e  teu 
funesto  filho  partirarn  para  Lisboa,  « onde  chegaram  a  salva- 
metito  e  foram  agasalhados  no  Limoeir'?  » .  Áhi  morreram  pa« 
cificamente,  o  primeiro  agazalhado  num  quarto  hem  aquecida, 
mas  com  o  ar  viciado  pelas  emanações  de  utti  fogareiro  acceí^o, 
O  outro  morreu  de  repente»  estando  prazenteiro  a  jogar  as  ta- 
bolas  (gam^  ou  damas?). 

Onde  o  beroismo  dettafi  mcrteSf  onde  o  martjrío  de&t^i  AerdcA, 
onde  o  cívico  mérito  extraordinário  que  sirva  de  alcandorar  Ber- 
nardo de  Mello  acima  do  herde  mineiro? 


Neaia  mesma  *  guerra  i>os  mabcatsí  »  ha  htrót»  muito  mai« 
interessantes,  que  podiam  commover  melhor  seuA  compatriotas 
pernambucanos  (1).  O  coronel  Leonardo  Bezerra  Cavnlcante,  de 
«galhardo  génio  para  persuadir»,  inimigo  dos  reinóeSf  é  um 
personagem  muito  mais  vivo,  mais  digno  e  interessante.  Sua 
vida  mais  activa  apresenta  finalmente  um  asfiecto  lastimofO,^ 
com  degredo  e  |ieregrinaçâo  martyrizante,  de  Lisboa  para  a  índia, 
da  índia  para  o  BraziJ,  para  Pernambuco,  a  suspirar  pelo  «ninha 
seu  paterno».  Conhecido  ao  saltar  na  Bahia»  de  novo  o  prendem, 
impedindo- o  de  tornar  a  Pernambuco.  Na  Bahia,  tendo  perdido 
de  todo  a  vista,  morre  afinal,  sem  duvida  ralado  petas  saudadei». 

Mas  a  gloriosa  e  polida  Pernambuco  nào  tem  precisào  destai 
rivalidades.  Sua  messe  de  louros  é  demasiado  aoundante  para 
que  ande  a  respigar  estas  migalhas.  Basta-lhe  a  gloria  daa 
luctas  hollandezas,  além  de  suas  gloriosas  tradicçòes  veramente 
republicanas. 

Já  o  disse  muito  bem  o  chronista  dos  olindenses  em  1711. 
E'  elle  ainda  que,  na  precitada  resposta  do  SenadOí  assim  jus^ 
tameute  se  exprime : 


11  Entre  «llet  se  eoDti  o  ciipftlo  André  Diu,  4e  iinem  o  cbroDÍilâ  re«ífeOie  àpofitA 
amu  lotrigu,  duu  InuoctiUi  llli«rdRâe«  repuhUe&ina*  i?)  \pYi.  TOK  Do  taeinci  s«iier^  deirea 
ler  M  TevofociDDirlu  traoiftB    úo   c;liropí»tA  de  âMUTuív,   qae   por  Ino  grfttultuBonta 


l_ 


-  377  - 


c  Em  nenhama  parle  do  munlo  libertaram  pragas  oe  vasaallos 
da  coroa  de  Portusal,  como  o»  Pernambucanos,  pois  lem  despeza 
da  fazenda  real  e  sem  ordem  do  eeu  rei,  que  jatgava  a  r<<âtRii- 
raçào  ímp^^ssiveli  se  It^vántaram  contra  o  inimigo,  e  com  perdaa 
conui^eraveis  de  suas  fazeaías  e  copLOsas  eôusõea  de  sangue,  dee- 
caIços,  sem  abrigo  ao  rigor  do  tempo,  e  mortoi  a  fome,  restau- 
rsram  a  «eu  rei  efita&  capitaniaii.  E  foram  tào  leae*,  que  em 
feu  serviço  desprezaram  todas  aí  coTiveaiencias  e  enchente»  de 
cabedal,  que  Ihea  ofiereeia  toda  a  HoUanda»  (Rev,  XY[,  24]. 


—  378  — 


3.*) 

A     QUKRKA     DOS     MÂIGATSB 

(Respigas  êm   Vamhagen) 

Parec6-me  que  devemos  restringir  a  tendência  para  desprea- 
tigiar  uosaoa  pre&oaagens  eminentes.  Somos  ainda  tâo  pobrsd  de 
gente  preatigtada  e  com  tal  en  lafniçamenta  vae  a  politica  Jea- 
traindo  dosbos  mellioreâ  DO[nea,^qne  uàn  é  demais  pruparraos  08 
que  ainda  galbardamente  sobrenadam  em  aoiso  revolto  meio 
iconoclasta. 

K  mister,  porém,  qae  efie  respeito  seja  eaclarecido  e  não 
acarrete  o  desprestigio  de  outros  peraonagena,  nào  degrade 
institntoB  mais  venerandos  qne  aí  personalidades  respeitadas. 

De  noisoB  liomens  illaacrea  é  Varnhagen  o  que  mais  ?esefi 
noa  deixa  entali»cadofl  entre  esaas  dnai  dirHculdadeeí.  Gomo  elJe, 
ninguém  mais  largamente  revolveu  o  a  secretos  eacanioboa  de 
noasa  historia  o  eipalhou  maior  numero  de  julgamento»  peftaoaci, 
de  observações  refortnadoraa,  de  vivHaee  correcçoea. 

A  cada  mnmetito  suas  inves^tigaçoes  impoiilivas,  suas  cor- 
recç&ea  miauciosaa,  friaa;  suas  ojerizas  pbilo&opbícas,  civicaa  ou 
literaríaa,  seu  or^Eilh  >  de  achador  noa  obrigam  a  decidir,  a  ler 
preferencia    a  câliir  ás  vesea  em  lamentável    partidi^mu  pessoal. 

A  nova  edição  da  Historia  Geral,  a  a  no  tida  peto  erudito, 
distinto  eacriptor  sr.  Captstrano  de  Abrt^u,  dá- nos  esperanças  de 
yèr  clareadas  essas  maculas  de  Varobagen. 

A  parte  já  publica  la  faz- me,  poréras    recear    que    se    estej&l 
considerando  Varubageo  como  o    «syncretÍKadori  auctorizado  de 
nossa  historia  e  nio  como  «um  ardente    investigador,  um    iufa- 
tigavel  re^u^citadm-  de  cbronicas»,  na  phrase  de   Oliveira  Lima. 

Àpezar  de  sua  meritnria  indulgência  para  com  i^u  illustre 
patrono,  o  distinto  escritor  e  diplomata  dr.  Oliveira  Lima  — 
raioavelmf^ote  desconliece  em  Vninh^gen  o  dom  precioso  do  ver- 
dadeiro historiador  (Jornal  do  Commercio.  19  de  julbn  de  l^S) 

Meu  caro  e  illustre  amigo,  o  Barão  Homem  de  Mello^  em' 
verdes  annos  (L858),  numa  cntica  notável,  dizia  que,  tinvesti- 
gador  laborioso  e  incansável,  o  autor  da  lUstotia  QeraL  ,  u&o 
é  historiador ;  (^  un  medíocre  cbronista»*  Nota  suas  frequentes 
«reílexoe»,  deapidaa  de  interesse  e  selladas  com  o  cunho  da 
mediocridade».  Ainda  em  1905,  o  meu  erudito  amigo,  lemprede 


I 


-  S79  ^ 

jttTeuii  etpiríto,  repetia-me  em  Paris  algumas  destas  tristes  re* 
flezôet   (Vide    á.  H.    Lbal.    Fantheon    Maranh,^    IV,    nota    C). 

Náo  é  possível  canoni^l-o  como  prócer  nacional  ou  colen- 
dífisiiiio  hiatoriador  de  nossa  Pátria,  O  mal  que  uma  exag cerada 
«cAnoai^çàd*  pode  cautar  a  noe@a  lilstoria,  é  por  domais  «vi* 
dente  para  me  justiâcar  nesta»  respigas.  Desde  que  escrevi 
iD^ii  opúsculo  sobre  o  Descobrimento  do  Brazil^  comecei  a 
(aser  moderadameate  estas  respigas  ou  reservas.  Sótão,  leado 
a  Chronica  rfo  Deacobrímento  (Panorairm^  l^^^O),  desejai  que  Var- 
nha^D  se  dÂo  Itbert&a^e  tão  depressa  do  áno  meio  literário  que 
tiefi^e  tempo  frequentava.  Era  io  com  pi  ©ta  a  preparação  com  que 
desde  logo  se  considerou  um  acabado^  um  nobre  cavalheiro  das 
letras  bistoricas,  E  essa  orgalboaa  âdalg^ia  literária  em  má  hora 
se  juntou  á  altaueria  pessoal,  agaareotando  os  méritos  do  futuro 
historiador, . , 

Ã^  vista  destas  breves  ras&Ôes,  relevem-m^  as  respigas  ou 
retalvafi  que  lhe  preciso  fazer,  quatUo  á  narrativa  da  j^uerra  dos 
mascates  e  da  conspiração  miu^ira  (em  a  nota  seguiu  te) 

1.) 

Logo  no  começo  {pag,  823)  ha  um  erro  do  facto:  o  ouvidor 
que  contrastava  Sebasuà)  Caldas  n&o  era  Lui«  de  Valenzuela 
Urtiz  e  sim  José  Igaacio  de  Aroucbe  Só  df^pois  que  este  de* 
iifttiu  do  cargo  ou  foi  nomeado  tombador,  veiu  subatituil-o  o 
Juiz  de  Fora  Valen;Buela  Ortiz  {V.  Rea.  do  ImL,  XVI,  10  ;  LIÍI, 
%*  pari,  26;  LX!V,  L*  part.,  254;  Southrv,  V,  llOj.  Este  erro 
é  repetido  por  todos  os  compiladores  de  Varnbageu.  AeompA- 
nha-o  uma  das  retlexòes  «despidas  de  interesae*.  Diz  elle  \ 
«Katural  era  que  estas  demonstragões  de  applauso  pelo  chefe  fa- 
vorável se  convertessem  em  vitupério  contra  o  opposto>« 

2.) 

A*  mesma  pagioa  occorre  novo  erro,  que  se  corrige  pelo 
me«mo  doe.  que  Varnha^^eu  cita  vítriai  veaes  foo  tf>iiio  XVI  da 
Rm>  do  ln$t) :  O  Ouvidor  (irouche)  não  ãeix-m  o  Bíapo,  indo 
refugiar 'êe  na  vhhtha  Parahyha  Partiu  em  companhia  do  Bispo 
e  este  no  caminho  oppoz-se  á  prisào  do  ouvidor  (Rev,  XVI,  10; 
LIII,  37)*  Ainda  aqui,  pag-.  824,  se  reflecte  que— «A  capitania 
ficou  acépbala  e  toda  se  deu  por  sublevada.  Tratou  pois  de  ter 
nm  chefe.»  E  na  pagina  i^eguinte  diz  que  vários  reçoitciú9  da 
Madre  de  Dexis  se  prestaram  a  ser  chefes  principaes  da  íiísuT' 
reição  dos  Jkascates  («expressão  com  que  na  Ásia  se  iiomeavam 
os  Tí^ndilhôet,  e  que  na  língua  portuguezs  viiu  a  produzir  o  verbo 
nmscateart  applicado  aos  que  mercadf^jan]  ^  retalho*).  Não  é 
preciso  nenhuma  severidaoe  para  ver  que,  no  corpo  de  uma 
Huioria  Geralt  t&m    reílexòes  orçam    pelas    raias    do    pueril. ., 


I 


—  390  - 


também  de  notar 
ia  oLindenies»  n&n 


à  pg*  828  cít»  as  procisaSea  doa  «oi 
sr  uma  idéa  doBv^ntimentos  piedoso»  qi 
os  snimaTam»,  e  na  pag*.  ee^utute  congidera ;  mN'em  que  a 
Providencia  eavie  ao»  povoB  a  g^uerra  ^itr&nha  para  caati^nr  soa 
falta  de  uniào».  lato  nÍo  o  impedirá  de  tomar  partido  pelos  oUn* 
denses»  á  pag.  830^  com  uma  de  suaa  habituaes  reâezôes  :  «Â  perda 
daac^o.-»  deu  novos  b rio ^  aos  bravos  oVmàens^s^  como  suceed^ 
»efnpre  que  oá  causas  que  se  defendem  são  verãadeiramenU  pa- 
trióticas i  do  que  n^ts  Seííe  servir  dê  confirmação  o  ardor  com 
gu«  defendiam  a  êua  causa* ^ 

E  acaba  deacre vendo  o  «traje  doi  notso»  fxmlem^*  :  <ea)* 
çõea  e  meiaa  com  ^pato  e  fivella...  sobrecasacas  agaloada»  de 
mangaa  lar«^aí,  e  oa  chapeua  de  três  bicoa,  dos  qucíés  um  ficava 
para  deante*  (!).  Gomo  se  vê,  nào  foi  para  encurtar  parla  ndas 
que  se  commetteram  aa  omlasôes  anteriores. 

3.) 

Depois  descreve  a  batalha  altima:  «Rompeu  o  fogo  ás 
oito  da  manhan  e  seguia  peta  noite  adeante,  durante  vinte  bo- 
raa ;  acompanhado  de  quandfj  em  quando  de  chuva,  O  fuzilar  das 
armas  ae  confuodia  ád  veaie*  com  o  relato  paguear  doa  coriscos,  e 
do  mesmo  modo  o  rnido  doô  tiio©  como  ecb  o  dos  trovões,  reper- 
cutido pelos  valles,  Pelejou-se  de  pait©  a  parte  cotn  decisão*^ 
E  ainda  srcbitecta  este  medonho,  confuso  cataclismoi  que  nos 
dá  a  medida  de  certos  processos  históricos,  quaodo  o  patidaris- 
mo  pessoal  nelles  funestameate  domina  t  «Os  Camarões  e  Tnnda- 
cambes  aproveitaram  destas  persieguições  para  exercerem  suas  viu- 
gançaa,  asquaes,  unidas  ao  arbítrio  dos  delegados  da  justiça,  chega* 
ram  a  criar  um  partido  ainceramente  revolucionário,  que  ae  tives9€ 
forças  houvera  levado  avante  sabe  Detís  que  planos  de  desesperação ^ 
e  em  tal  extremo  (?),  bem  que  afinal  teriam  que  ceder  extenuadoã 
e  debilitados  t  poder  a  (!)  a  capitania  chegar  fiada  menoã  que  a 
haver  nadado  {f)  em  um  mar  de  sanguew  (!). 

Com  taes  coDfusÕes  e  tal  estylo,  não  ha  factos  que  não  sejam 
Btibstituidos  por  aereaa,  escurai  supposições  pessoave.  No  caso 
pregente,  a  parciaUdade  do  chrouísta  leva- o  a  esta  catastrophe 
imprópria  da  aceua  trágica  e  muito  maia  da  scena  histórica  : 

«Cumpre  (VI)  accresceutar  que  a  recente  ''illa  do  Recife 
nào  se  estreou  (?)  com  muita  felicidade.  Âo  deiíarem^te  foguetes 
em  certa  festividade,  entrou  um  em  uma  casa,  e  foi  abrasar  um 
barril  de  polvoraj  fazendo- a  saltar  ao*  ares^  com  morte  de  qua^ 
torze  peasoas,  o  que  levou  o  governo  a,  por  uma  provisào,  dis- 
por acerca  da  armazenagem  da  pólvora  destinada  para  negocio»» 

Ora,  tal  facto  nào  foi  a  estréa  de  Recife .  Deu-se  já  no  g^ 
veruo  de  D*  Lourenço  d©  Almeida,  succesaor  de  Félix  Machado, 
e  em  dia  de  Banta  Catherina^  a  24  de  novembro  de  1715.  Ãeon- 


Vld,  «  qve  tramcu^ri  &  paf .  38ã. 


-^  381  - 

teeen  o  des&etre  ao  queímar-ae  um  casUHo^  qne  Unçou  quan- 
tidade de  foguetes ;  e  a  caaa  não  saltou  para  os  ares,  natn  cfae- 
g^ram  a  morrer  quatorze  pessoas  {Rev.   do  Insi  ,  LIII,  2  *  parte 

298-299} 

O  que  ahi  eatá  deve  bastar  para  que,  em  a  nota  eegumte, 
me  não  accmem  de  examinar  um  aspecto  aó  dos  defeitos  de 
Varnbageu  Para  este  exame,  poderíamos  escolher  uma  outra  le- 
cçào  da  Historia  Gérol^  e  abi  bem  frequepte»  seriam  as  falbas 
como  as  que  a&abamos  de  earacterisar* 


1 


—  362  - 


4.* 


(Rtítpigcui  em   Varnhagen  e  Norberto) 

Varnliagen  tem  alg-um  teiró  com  Norberto  (1);  embora  o 
giga  muitaB  ve^es,  n&o  o  cita  e  atira-lbo  algumas  notas  amargat. 

1.") 

A'  "pag.  1019  corrige  uma  data  de  J.  Norbeito^  a  quem  se 
reporta  sob  o  disfarce  Jr  *alíuns»,  e  á  pag  1032  emenda-lhe 
a  interprataçà »  à&  um  verso  de  Alvarengai  chamando-o  vufg-ar- 
rneot*^,  ioíflotilrn^nte  •uiiv  escriptor  que  pefo  nome  não  ptrca*^ 
Oà  trecbos  dé  Norberto^  abi  refugado»,  estào  a  paga,  174  e 
121  da  Conjuração  mineira. 

A  propósito  de  GonsagUi  ^ua  »b  rra  literária»  o  leva  acon* 
traríar  Norberto,  pretendendo  haver  feito  um  leaiudo  profundo 
de  toda  a  devasi^av  {2), 

Sotretaoto  u&o  a  cita  nem  utna  vez  :  serve-se  tão  sómentâ 
da^  incompletas  pubHcaçÕ<*s  do  Brasil  FUmtfynco  de  M.  Morae», 
e  spgue  Norbeno,  ás  vezes   nas    mesmas   reflexões    peisoaBs.    E' 


1^  Pirere  ter<st  cni|;|[iido  ecn  lB■^l^  »«  d^seutlrte  o  Hiihir  dt»  Dialogo»  on  Di^kí^ã 
dat  Grandêsoi  dú  Broiíi  4ër.  XI Lt,  211  «  4<>2-4<  i^}.  B'  o  mf>m&  BeoUi  T«;K«Im,  mior 
dA  Pra»optip'-a  c  Hãtacãtt  nnaex»?  Vi,rntiiig^t>  ne^KV».  pof  iftâo  «ãíar  átipoêtú  a  dar  iim- 
ívirú  çrtditú*  no  AbliAile  8*rbo-a  ,  Norhert*  tocou  iw  ílvtn  tn  «ea  frdco,  «tibliDútode  « 
liimsDi«nd{»  euFfi  axtrKalio  modo  de  rejeitar  te«teiauttlio,  tnm  «atro  <lcM:ameDta  tíém  do 
SUA  mtihor  difjjoaifflfl  pur*  com  am  ootro  autíar  r^jíriBi^s  BAHni«l.  A  vive»»  pQ«i«4l 
com  qti>^  lhe  respondo  VirnhJig-on  é  CAractcrlatlca.  cíiofriindo  a  pôr  vni  eqUAtiO,  «Qi  6411  • 
tratte  bdk  iducl^  praprfn  [cina  .^1  Knnpij  P.  ra&ii  ty^ica  íq  tortim  »  questlDDcalm  p«l» 
repercnuAo  qas  cere.  até  f¥7^^. 

UdH*  triíU  WúLF  f/.4>  Jtrrátl  hiírrtíir*.  pag  1'<l  b  friza  como  Viroliajj^ea  oa  l.*  éAi* 
ça#de  tfihfíittoria  {U.  ftJ),  em  i^-:^  «aje  mJ^oie  qm  Temdr*  soit  l'*QifUf  de  la  JfV-Mi>po- 
pr^tt  e  de  li^  ftttafão*  Ora.  a  1"  de  ^u!bo  ds  l^li'.  Varnlitigen  d«»col)re  aa  Hifft.  fitbt 
de  Liflbna  am  ettecnplar  da  Pramp^pitt.  wjtçfto  der  1(WH,  «  rfu  BkStú  TeixeiBA-,  í^e- 
gnlUn^fi  IO|^E>  a  d«£CúbeTta  de  guIto  exemplar  no  Mtht  Sac.  ilo  Klo  ipelo  dr,  Bania 
UalT^;  vidfinaeúlt^lU'.  quasl  fac  íimUe.  díi  Propofiop^a,  em  IMa;  Dppoi*  deite  cjmíí- 
ÇO,  Vfirjani  o  a  i  *  edMo  da  Fttíoriís  rpa^  t!ii<Oi,  a  rerereno^a  confD»a  qoe  fn»  a  BaotA 
Teixeira  r  n^n^a-lhe  a  aatorla  da  Hetaçap  «ni  am  periodo  que  envoLve  tftmbeDi  a  JVotu- 
paprá  em  uma  davfdufa    amrmuçfto 

Como  •btrra  lUerarU  ,  4  c^^rncterktka 

t  &'  pair.  tina  e  ea  metma  pag.  Hj2a  Varnb^reo  r^  CdO^i-adli,  poi«.  Afflrma  qa»  4 
•tmlillMiçfto  [Qlprpola'^»  c  menoK  coirecU  do  teor  do  procoí*Oi  é  ^ae  Ibe  perniiuto  «^fer 
MJtHalBeúta  a  ««ta  RtíCçAo  um  puaco  ir  ai*  de  de«euvcilv'.íaf>Qto,P  _  Ha  çminnU)  di«  I^o 
adeante  qae  re«  «ea^titin  prafuad»  de  tada  a  devavia»,  e  fei  'acarei^Ao  de  todoE  os  depol- 
meTitfís*  (pwp  lií-^i. .  K  entra  a  apro¥eitar-ie  4tí  Norberto,  t-v^mt*  «e  pí)4a  ver  no  iTe*h« 
que  cltet  i  pag^.  ^^i,  :i  «  O  nrií^tiial  iraz:  -m  hiam  r^udn  pnra  Portugal p.  Norberto  AM 
C/^raf  de  ALVA,hKNcijt .  png  'A\,  LraD&crevei  saAtda  (^ftibliiiBi  »  Ora,  é  e*U  a  licio  q«« 
lej^ue  Vantbai^en  i  pag,  H';J!,,  Ivto  para  Cidr  nó  am  (reclio,  nifora  no  atcaece  doi  ]tà' 
Ini^a.  oomo  Já  O  Qí  a  pagn  ;d6é  0  37ó,  o  ode  Varalaf  eo  vJ«ivel£di>Dt«  eepU  Harberto,  «n 
illacOea  penoae«,  hiRÍf^Diácante*,  iam  base»,  Aluda  á  pag.  \02i.,  oota,  queretido  eoTTÍg;lr 
^  apme  tft»  leneate-oaroaeJ  Jndroáí  pira.  Àndri^da^    fas    eatA   caoBesAa   «EXenti»  pançê 


I 


e^ceiuplo  o  qixe  dh  de  Joeé  JoAttuiin  da  Mn  ia  (pg.  1016),  qae  aspi- 
rava a  «exorbitar  da  espbera  em  que  tiasc«íra*,  «BpguDda  siia 
propriii  oarrativa»,  —o  que  Dào  é  v-rdade^  porque  a  «narrativa* 
é  de  Norberto,  pag.    31- 41. 

Foi  NorbertT  quem  identificou  em  Josó  Joaquim  da  Maia  o 
famoao  estudante,  que  em  Nlme»  conipreociáia  com  JefíVison 
Para  is-^o  teve  os  elementos  Da  Dev.  do  Rio  e  no  *Â7ito  de 
pergutitojt  feitast  d  cerea  de  uma  Carta  escripta  ao  ministro  dos 
Mlgtadff*  UmdQ.^,  por  um  estudante  do  Brazil  que  se  achava  em 
Montpúlitr»  E*  o  ApptriHfi  2  &7S|  que  hoJB  se  acha  no  Archivo 
Pablic »  do  Rio  {Livro  II   Devaftm  em  Mitiús  Oeraes) .     Alii  de- 

£ôem  oApeeiahneute  o  corriDel  Fianci^co  António  e  ^eu  primo  dr. 
►ominpts  Vidal  Burbo^a,  qua  conhecera  J.  J  da  Maia  e  um 
<;ompaubeirr>  commum  ebamado  Jom  Mariano  Leal.  Est«  «co- 
nhecia o  eatitdante  e  gua  emprega»  e  com  D.  Vidal  icommen- 
tara  a  originaliãade  do  Maia*.  E*  asajm  que  Vidal  Baibo^a  se 
eipnme  em  novo  de^ioimento,  feito  no  Kio  a  21  de  junho  de 
1790  (Âppenuo  n  11^  Dev  do  k-o,  Lh)ro  VI  áo  Archivo  Publjco), 
Varuha^ren,  tratando  dfl-te  ojieodin  @  affecíando  particular 
conhecimento  da  ca>o,  dpcUra  *-m  nota  fpg.  1016J  t  «TodoB  pRtea 
facU)&  confetam  do  auto  suinmario  feito  aos  pretos  (?)  em  7  de 
Julho  Je  1789»^  (Vidal,  principalmente  intfrrogadO]  não  etta?a 
preso). 

Pala     data.  que  deve  ser  8|  e  pelo  v»go  da  citação  v6-«e  que 
Varahagen  nào  iinba     presente    e^&e  auio    da    Dêt\  de    Mina,» 
No  ÈfU  tempo  cgfles  documentos  uâo  eram  accegíiveis,  e  por  muito» 
auuo^f  com  a  Dev,  do  EiOf  estiveram    em  màoi^^de  Norberto,  stu 
feliz  descobridor  (?)  (1). 

A'  I  ag*  lOlB  ha  um  «segando  ee  disse»,  em  que  o  teste^ 
fsunho  de  N^orberto  é  de  novo  aproveitado .  O  restante  destas 
rt^spiç^AS  e  ai  que  fizt^rmos  em  Norberto,  iiinria  maif  pfítenteftiSo 
estn  d**pluriivel  fraqu^^za  de    Varnbangen  ;~  nào  conhecia  toda  a 


|f]  qve  ellQ  próprio  ftulçnava  correcto.  Veja-se  o  B  {rfttif}  B,  [ttíririFf)\  1,  p.  h^*.  Qfltfn 
eiMlh«e«Síe  a  (teraata  todm  \ÁrchitB  áo  Pixirúto  Fedtral;  «bri1,  Jl;^Q4]  r«riii  qne  lá  n  CQrontil 
aâvlgna  ^udrad^  ,  ^^  bre^ei,  cdid  o  «  carActertiucov  Maí  que  ImporiAorU  lem  litot 
JT  vtráBdff  que  06110  cmd  tiilTex  cnmpfiMtt  CDntnr,  tomo  o  faz  em  Dota,  que  d  teoeDte- 
Mroo«l  9ra  fliha  D4tafa1  do  2/^  Coude  de  Bobaúâlla,  Úotà  Aubanlo  Krelre  ^0  Aadráúa 

^  Sm  QfiM  Éi  Oiirm»  4e  Oojtkaqa.  tomo  1,  ll^â;^  pAg.  BS,  àit  Norharto  que  *eiiet 
sapaicriptoi  roluraoioi  e  t&o  predoiot  tixiitiram  ^r  jdojIu  t^mpo  oò  Areblvo  4a  Gecre- 
tartii  de  Kil«do  íi>«  Negocio»  do  império,  dtacoMhnídot  e  t^oradot,  poli  ((ckovam-u 
tmid*M  fMhn  ta£€ú  d*  eoHro  .  Abl  os  deauabrln  i?:  Norberto,  dabi  ob  retlroa  p«ra  iua  caia^ 
«ftSjS  M  oofmrroi  li^f^ot  anooi,  aproveitaELlú-o»  em  leuA  trabi  Itioi  mDlt|[vlM  e  flofilniénro 
tm  ftib  CanjHraçiU)  jnínéira.  composta  e  noaU  pATta  latelnincute  irabitda  deade  líÀ^ 
V.   /f»     pu|},,  tomo   X^  abril  de  l^t^l,  oode  le  pnbii^son  u  'I   o  CMpJtalo^ 

Varnh*K«ri  Ejoderi»  doscobrtf  em  PortugAl  ts  coptw  incompleta*  b  parccIlãdM  qtie 
dá^Bl  fVirani.  N4o  cooata  que  o  ftiene  e  bó  orgtil boa i monte  pubtlca  m  IrirormAçilo  de 
BwbJioeaa  ft  edrto  portagu^ia  (U  da  JDifaa  de  17H9  v  pag  Kh^  e  Ji^.  do  /mi.,  tomo 
iO^  Ò«  ÃN/e«  íri>ií#  tl«  aentoQça,  defaift  e  embAreo«  flnii«>4  tó  incomplf^ta  e  ÍDci>rrectB<^ 
■MM'  llw  foram  c«iihe«idi]« ,  Ob  od;^nae«  untavam  irrtfínlormfttít  em  mloi  particulares 
01  «obtOMiU  e  fló  tilKiL»  tardt  a  iJi&  AacionaJ  dh  adquiriu  por  botii  preço  Lá  OE  coDBOi- 
lígl  eiB  têm,  oom  isroraiJiçOei  do  enidlto,  laudono  e  hcm  dr.   Toixelra  de  Mello 

Na  iQCompleta  e  o^infaia  £iòlí0^ra|ihta  do  Jornal  do  ComnurciOf  de  31  d«  febril  Of# 
pMitA  gmtt  oõpii  dú  Auto  tuniniflrio,    perteDOAale  a  VfeniJia^eii, 


A 


—  384  — 

devassot  iodos  es  depoimentos^  n&o  os  estadára  proíandamente, 
paasadamAQte  e  ^ervia-se  do  Brazil  Histórico^  servia-se  de  Nor- 
berto, ás  vezes  em  suas  mesmas  inferências  pessoaes. 

2-) 

Temos,  pois  que  as  fontes  de  Varnhagen  são  M.  Moraes, 
confessadamente,  e  J.  Norberto,  em  allusões  não  confessáveis. 
Da  auctoridade  e  fé  que  meiece  o  primeiro,  «o  pr  liíico  investi- 
gadcr>,  como  lhe  chama  o  erudito  dr.  J.  C.  Rodrigues  (Bib, 
Braz.i  I  part.,  414),    dirá   melbor   a  historia    aue    vae  era  nota, 

Êira  completar  a  anterior,  a  respeito  do  achado  de  J.  Norberto  (1). 
leste,  investigador  menos  prolífico  e  mais  prestante,  na  presente 
respiga  diremos  alguma  cousa,  de  conserva  com  Varnhagen.  E  será 
quanto  á  historia  do  e>tudante  José  José  Joaquim  de  Maia,  cuja 
identificação  com  Vendek  vae  sor  objecto  de  um  esclarecimento 
especial.  Ahi  citaremos  os  documentos  e  melhor  exporemos  os 
factos  que  hão  de  finalmente  comprovar  quanto  aqui  affirmamos. 
Baseando-se  em  depoimentos,  que  elle  mesmo  tem  como  ar- 
tifícios da  defeza  (pag.  47,  nota),  Norberto  romantiza  o  caso  de 
Maia.  Do  mísero  filho  de  um  «artesano»  («pedreiro»,  diz  o  de- 
poimt  nto)  imagina  elle  sahir  o  planeador  da  independência  pátria, 
ambicioso  de  «subtrahir-se»  á  «obscuridade  de  sua  ascendência, 
de  seu  nascimento»  (pag.  40).  Como  si  em    1786   fosse    possível 


n  o  dr.  M.  Moraes,  no  Brazil  HiMtoHco.  2.»  série,  tomo  III.  186S  p«g.  179  e 
DoU,  narra  qoe.  no  dia  teguinit  a  ddi  que  não  deítrmina,  foi  procnrar  na  Secretaria  do 
Impei  io  os  docament  s  da  ConjaraçAo  Mineira  0  «r.  Jofto  Xlmenes  de  AraiUo  Pitada 
ahi  vira  co  processo  original.  .  dentro  de  um  taco  terdf.  B  como  era  Ministro  do 
Tmpcrio  o  Conselheiro  Pedreira  [Lais  Pedreira  do  Conto  Perras,  mais  tarde  V.  de  Bom 
Retiro],  o  facto  devia  ter-se  dado  entre  \fthS  e  1HA7,  dnraç&o  do  Ministério  Paraná, 
á«  qae  fatia  parte  o  mesmo  Conselheiro  [V  as  bellas  paginas  de  Nabnco.  em  sea  Utto 
Um  ettadittn  do  Imp..  I,  1  GA- 16 7].  M.  Moraes  aohoa  efTecti vãmente  o  processo  cnjo 
exame  lhe  foi  facaltado.  Mandou  r:oplal-o  e  o  publicoa  «integralmente  no  B.  B.,  á 
excepç&o  de  alí/umai  peça»  de  ponca  importância  i?).  e  do  tequettro  dm  bem  dot  pruof 
raqni  estfto  peças  maito  iroportantesj.  O  qoe  foi  essa  publicação,  feita  cm  1^65,  em  nm 
Jornal,  disse-o  jA  o  mesmo  Varnhagen  :  «interpolada  e  menos  correcta» .  O  flm  mercan- 
til do  uma  publicaçfto  ao4  pedacinhos,  imperfeita  e  incompleta,  dcsnataron  os  meritoa 
de  am  trabalho  que  podia  ser  um  grande  serviço  histórico  e  cívico.  N&o  é,  pois,  ahi 
qne  está  toda  a  drra»aa,  qae  ost&o  iodo$  oi  documtntot  para  e  estndo  profundo  e  d«* 
clsivo  de  am  Jadlcioso  historiador. 

Ha  porém,  neste  caso.  am  aspecto  qae  mais  afeia  essa  publicaçfto.  Noa  Áuto$  do 
procuio.  qoe  a  Bib.  Nacional  comprou  de  am  particular,  existo  am  termo  de  entrega  daa 
duas  devassas  e  appensos  com  uma  lista  destes.  Ve-se  ahf  qne  o  n.  ?6  é  um  livro 
impresso  de  J70  paginas.  Nn  Archivo  Publico  (Livro  III)  falta  esse  appenso,  qne  pelo 
depoimento  do  Porta-estandarte  Krancisco  Xavier  Machado  [Livro  I.  n  13.  fls.  8I-A'i] 
e  por  uma  certidfto  do  Livro  f.  fls.  KSO.  sabemos  ser  o  livro  Recueil  de»  loix  conêHtu- 
iicea  de»  F.tat»  Uni»  de  fAmrriquê.  In  H.o.  capa  de  papel  pintado.  Bsse  livro  e  oatroa 
ingíezcs  eram  de  Tiradentes.  que  os  levava  aos  amigos  para  que  lhes  traduzissem  pas- 
sagens que  ello  do  antemfto  escolhera  (sabe-ie  que  elle  tinha  estudado  o  francês). 

Ora.  dcpoi«  disto  leiam  esta  nota  de  Mello  Moraes  [Op.  cit.,  pag.  i19],  «Appenso 
ao  procesifo  oriicinal  encontrei  um  exemplar  da^  constituições  dos  Kstados  Unidos  da 
America  do  Norte,  traduzidas  em  Francês...  Quando  tive  noticia  que  a  Capital  de 
Hants  Catharina  diligenciava  livros  parra  formar  Hua  bibliutheca.lhe  mandei  de  presente 
n  exemplar  das  Constilaiç'^es.  appenso  ao  proccitsu  ••riglnal  de  Tiradentes,  pondo-ihe  nma 
declaraçfto.  na  qual  me  a«8ignel  (!).  Rste  livro  deve  estar  na  bibliotheca  de  Santa  Ca- 
tharina». Norberto  já  encontrou  a  faiu  da  Sentença  e  do  alguns  appensos  [notei  espe- 
cialmente a  ausência  do  interrogatório  de  Cláudio  M.  da  Cesta],  e  denuncia  este  cato 
[pags.  XV  e  37,  notas]... 

Bis  ahi  oomo  se  ten*  feito  noaift  blftoria  em  geral  e  a  de  Tiradentes  em  «apocial. 


—  385  — 


a  um  mísero  sahir  de  sua  «choupana»  (?)  da  Lapa  (Bio  de  Ja- 
Bein>)  e  estudar  em  MontpetUer,  perambular  em  Nimes,  acu-» 
dindo  a  uma  conferencia  que  «lhe  pedira»  Jefierson,  após  sua 
im  |>or ta  u  te  co  mm  u  d  ica  çào  1 

Além  desse  histfirico  romantismo,  Norberto,  mesmo  citando 
o  tomu  III,  pag«  209  da  R^mxta^  erra  dizendo  que  Maia,  a  2  de 
outubro  de  1786,  dirig-ira  a  Jeíferáoii  a  precita  d  a  commutiicaçfto. 
Provaremos  que  eata  é  de  21  de  Novembro  de  178G  e  que  Jef- 
ferion,  em  sua  resposta  de  26  de  dezembro,  kj  pede  a  Maia  *um 
rendez-votia  nu  à  Montpellier  ou  eu  sa  («ir)  voisinage».  Só  de- 
poij  d©  Dova  carta  de  Maia  (datada  de  5  d©  janeiro  do  1787)  ó 
que  se  realizou  em  Nimeis  a  famosa  entrevista,  em  que  Jefieraon 
ãiptomaticameníe  muito  animou  seu  patriótico  interlocutor.,  . 

Ora,  depois  diato,  é  deplorável  que  V&rnbag:en,  a  paffs^  1016 
6  1017,  venha  exactamente  com  as  mesmas  falhas  de  Norberto, 
aecrescentadas  de  novos  enxertos  de  viataít  novas,  e  repetições 
phantasioaas.  Refere  que  q  ■  filho  de  um  pedreiro  da  rua  da  Ajuda 
(Lapa?)..,  movido  de  ambiçio,,,  aspirando  a  exorbitar  da  es- 
fera em  que  nascera,  decidiu-se , ,  ,  a  eficrever,  em  outubro  de 
1786  ao  celebre  Jefisrson,  diiendo  Ibe  como  elle  e  outro  patrício 
ãeu  (V)  er<im  vindos  do  Braztl  para  tratarem  da  independência», , 
Declara  Varnhagfto  que  Jeíferson  irospoadeu  mui  pontualmente» 
e  «disse  (V)  que  aponas  os  Brasileiros  por  bÍ  propritjs  couquís' 
tassem  &  independência,  itã'j  ieí*m  a  sua  nagão  duvida  em  ue- 
g«>ciar  o  pro?el-oss  ^^^^' 

Como  diplomatai  Vambagen  sabía  que,  mesmo  «ír-uar^ 
dando  as  formas  que  a  sua  posição  official  lhe  recommendava», 
JefiersQn  não  podia  astím  responder  de  pronto  e  que  também 
Maia  lifto  lhe  haveria  de  chofre  aproseTtado  uma  commuuicaçAo 
que  exig^issa  tal  respo^^ta,  O  que  consta,  dos  mesmos  documentos 
citados  por  YArnhagen  {Rec^  III,  209)»  é  que  Maia  lhe  pediu 
indicasse  um  meiV/  seguro  para  commttnkar  o  negado  e  qu6 
JefTerPon  lhe  re^pondi^u  «satisfazendo  ao  pedido», 

Só  na  sexuada  carta  (21  de  novembro)  Maia  lhe  communica 
o  negocio  em  seu  nome  inãividnal^  sem  falar  em  nenhum  *  outro 
patrício  seu*.  Finalmente,  só  na  entrevista^  realizada  em  Ntmes 
era  começo  do  1787,  é  que  JefTerson  se  manifestou  em  ter  moa 
Verdadeiramente  diplomatÍL;Ds.  Declarou  sua  incompetência  para 
falar  ^m  twms  de  sua  nação  e  aicresdentou  que,  falando  como 
individuo,  «poderia  communicar-lbe  que--,  uma  revoluçàõ  feliz 
nú  Brazil  nâo  pode  deixar  de  excitar  interesso  nos  Estados 
Unidos»,  Bte.  , , 

Entretanto  Varnhag^en  af firma  que  Jeíferaon  na  entrevista 
** tornou  a  dizer-lhe  qu©  a  revoluçflo  deveria  em  todo  o  caso  eer 
primeiro  effectuada  pelos  próprios  Braziteíros,  e  que  depois,  uns 
por  desejo  de  g-anho,  outros  por  &mhn;hOfjiào  deiocaram  de  passar 
a  lévar-lhes  bacalhau  {l),  etc.,  e  a  ajudaV-oi». 


I 


é 


—  386  - 

Eate  pedacinho  textual  e  iocrivel  exige  uma  explícai^S^. 
Varnhagen  quiz  variar  a  narrativa  de    Nofberto    e   recorreu   ao 

depoimento  do  coronel  Oliveira  Lopes.  Abí  já  encontrara  elle 
a  historia  de  «dous  enviados  C|U6  eatavatn  em  Montpellier»,  e, 
portanto^  ãf^viam  estaf  também  na  l^  carta  de  Maía.  Agora  viu 
no  mesmo  depoíajeiito  {pag.  48t  nota,  de  Norberto)  que  Jefíersoa 
dieseía  aos  auppoatos  dous  enviados  que  «siia  uaçào  estava  prom- 
pta  a  soccorrel-ós  com  naus  e  gente,  pagando- se-lhes  oe  Boldoi 
obrigando  se  a  t/jmar-lhes  o  bacalhau  e  o  tri^o» . . . 

Ora,  si  Varnha^en    conLecease    «boda    dr    devassa,    todos 
depoimentos»,  saberia  que  este    coronel    Lopes    era   um    patran- 
nheiro,  que  mentia^  metitia    «sem    ra^ão    nenhuma,    UDÍcameol 
por  querer  mentir*  e  depois  sentenciava  desoaradamente ;  *Qu€i 
não  mêitte  não  ê  de    boa     gente*     {Livra   F,  app.  9;    inL   de  íí 
julho  1791).  O  Porta-Estandarte  Machado,  contando  suas  faaaoBai,1 
diz  que  sua  alcnnba  era  — O  conie  ofi  milhos. 

Esti  es^íura  amostra  de  uma  nobresa  invertida  bem  podéra 
servir  de  fechar  esta  respigfi.  Varnhagen,  porém,  deu-lhe  outro 
fecho  menos  tristemeufe  geniilicinSt  mas  igualmente  vulg-ar  e 
de  mau  gosto,  Tírou-o  de  um  depoimento  do  dr.  Domin^^os  Vidal, 
primo  do  triste    coronel    in verídico 

[Trist»  além  do  mais.  A  testemunha  Victoriano  Velloio  de- 
clara que  ao  te^npo  das  priBÔea,  indo  pedir  emprestado  um  ca- 
vai lo  ao  coroupl  Lope*,  ene  o n irou -o  chorando  como  uma  criançct^ 
dizendo  que    estaua  perdido,] 

Nos  artifícios  de  sua  deft^za,  Vidal  trata  o  colleg^a  Maia  de 
«pr)bre  miserável»,  *mHl  trajado  que  nem  uma  considerarão  infundia, 
por  cujo  motivo  foi  desprezado  [lelo  dito  ministro,  se^^undo  contou 
a  elle  testemunha  o  mesmo  José  Joaquim  de  Maia,  vendo  assim 
frustradas  suas  iieas»  (Norberto,  pa^.  47,  nota  e  Arcbivo  Pu- 
blico do  Rio,  Livro  \,  peça  n,  13  e  especialmente  Livro  II, 
appenso  2  bis  e  Livro  VI,  app*  17). 

Viajam  ag^ora  o  fechú,  aperfeiçoado  por  Varnbagen,  e  dis- 
pensem-me  o  comment^rio;  «Maia  não  saiu  muito  satisfeito  deata 
conlereucia;  e  ju1g'ou  que  o  illustre  enviado  tivera  em    ]>ouco  q 

Çlano  delíe  improvisado  negociador,  ao  trataUo,^^ao  presenciar- 
be  a  cíLsca,  segundo  a  sua  expressão»  (V) ., . 


8.) 


Preciso  apressar  estas  respíjE^as,  embora  muito  haja  ainda 
qu*  reatolhar*  Logo  em  seguida  se  encontra  o  debatido  assumpto 
dft  autaria  das  Cartas  Chihnaa,  que  Varnbagen  «sem  duvida^, 
seguado  seus  deíiaitivos  oxamBS^»  attribue  a  Cláudio  Manuel  da 
Costa.  Prescindindo  mesmo  da  affirmaçjlo  de  Teixeira  de  Mello 
(Ânnaes  da  B.  N<,  I,  377),  que  o  faz  secretario  do  fanfarrão  Mi 
nmiOj  será  di^icll  coropreheuder  que    em    tua    decadência    fc 


—  ã87  — 

Ctaadio  capaz  de  eacrever  oa  veriloreB  de  eatylo  e  as  vivaci- 
dadea  das  Cario*  Chilenas.  Pela  Imir^uççàú  de  Martinho  de 
MhUo  ao  Visconde  de  Barbacena,  %abe-&e  que  Gonz«^  o  seu 
mni^o- poeta,  o  procurador  da  fazenda  Francisco  Bandi^ira,  pro- 
te^^íam  na  arrematação  dos  conlratos  das  eiUiadas  ( 1 785 •  1787) 
o  concorrento  cap."  António  Ferreira  da  Silva,  E  isto  contra 
o  Gorernador  Luiz  da  Cunha  e  Menezes,  que  também  aberta^ 
mente  protegia  José  Pereira  Marques  (o  Marquezio  daa  Cartas)^ 
Tendo  vencido  o  Governador,  é  natural  que  os  poetas  se  vin- 
gassem literariamentfi  de  seu  poderoso  competidor  e  escrevessem 
o  satyrico  poema.  Neste,  uo  canto  VIII,  se  descreve  o  caso  da 
arrematação,  com  os  mesmos  argumentos  que  na  Junta  desen- 
volveram Gonzaga  e  Bandeira  (V.  Rev.  do  IrtMf Xomo  VI  e  LXIV), 
Não  ligo  maior  importância  ao  caso;  mas,  de  fiaasagem,  nuo  me 
dedigno  de  apontar  esta  eolução  razoável  aos  apaixonados  na 
matéria.  Bandeira  podia  escrever  a  Dúroihmt  (Gonzaga),  de 
«ruças  b«ca8«,  e  com  elle  combinar  a  melhor  correcção  do  poema, 
pois,  eram  Íntimos,  de  se  frequentar  diariameute  (Nou&krto, 
pag.  14ã  B  depoimentos  vários,  em  que  naturalmente  se  apoiou). 

Depois  deste  apuramento,  Varnkagen,  á  maneira  de  Norberto, 
fá%  Tiradentea  apparecer  em  ãçena  como  principal  vulto,  pelo  seu 
grande  euthu&iasmo,  pela  aua  muita  expansão  e  indiscreçilo  e, 
afinal,  até  (?)  pelo  seu  martyrio»...  Vfi-sequeda  1.*  á  segunda 
edição  nào  foi  só  o  titulo  da  secçào  que  baixou  de  —  Primeira 
eoTispiraçào  em  favor  da  Indepsndencia  do  Brazil,  &  —  Tdéas  e 
conluios  em  favor  da  Independência    em  àfittaa. 

Alem  de  outros  muitoá  depoimentos  (de  todos  os  indu- 
zidos por  sua  influencia),  ba^ta  tet  o  6,°  interrogatório  de 
Tiradentes,  para  ver  quanto  elle  era  hábil  e  mesmo  discreto  em 
eua  propaganda.  Com  esie  mesmo  interrogatório  e  cora  o  de 
Salvador  Gurgel  (Livro  I,  Vò^  H*  9á)  se  desfaz  uma  nota  amarga 
lançada  contra  Norberto  (pag  1026).   Este  é  arguido  de  inexacto 

Sõr  «e2i>er-&B»  que  Gurgel  não  escreveu  «duas  linhas  recommen- 
ando  o  Tiradenies*^ 

Gurgel  nlko  deu  a  Tiradentes  nenhuma  recommendação,  e  o 
procurou  especial  mente  para  comprar  d  elle  um  diccíonario  fran- 
cez  (donde  se  induz  uma  prova  para  o  que  já  tenho  affirmado 
com  oatros  does.,  a  respeito  da  instrucçáo  do  nosso  beròe),  O 
testemunho  de  seu  amigo  bacharel  Castro  é  que  Amaral  Gurgel, 
ao  saber  da  prisão  de  Tiradentes,  lhe  dissera  :  —  Veja  lá  em 
dUe  estado  agora  me  punha,  si  lhe  dou  a  carta  que  me  pedia! 
{Lítto  I,  13;     Arúhivo  do  Disi .   Fed.,  1894^  n.  7). 

Consultei  o  n.  65  do  B.  IL,  II,  citado  por  Varnhagen  (pag* 
1026),  e  mai*  uma  vez  ficou  provado  que  Varnhagen  nao  conhe- 
cia o  procesar)  todo,  nem  mesmo  estudara  «pausadamente»  as  pe- 
ças publicadas.  Nestas  veria,  alem  do  que  já  citei  :  l."*}  Que  uo  6»^ 
interrogatório  Tiradentes  declara:  «Suppoato  que  o  dito  Salva- 
dor lhe  respondeu  qu£  lhe  daria  as   ditaâ  eartodf    comiudo   kiiaç 


i 


—  388  — 

€ti  ãeUy  NEM  €lle  respúndenU  IJias  pediu^  nbm  tornou  a  vel~09, 
2,*)  Qae  a  sentença  <Íiz :  í consta  pela  cokfisbIo  dkbtb  reu 
(Gitrgel)  e  do  reu  Tiradente^  que  lhe  nIo  dera  as  tíiiají  car- 
ía*»,..  (V.  Reu.f  tomo  Vlll  e  tomo  LXIV,  na  completa  e 
cuidadosa  edição  de  mpu  i^rudito  amigo  H«  de  Mello).  3  ^)  Quo 
no  B.  H>  (1867,  pa^;,  8)  da»  rasgões  do  advogado  consta  ar^- 
meutadameote  que  Gurgel  não  deu  ae  referidag  cartas. 

Depois  desta  ÍDBtruc(;ào  e  depois  de  saber  que  a  publi<!áçâo 
do  B,  HistúTtco  é  «menos  c^rrecta*^  Varnbagen  estaria  babili> 
tado  a  corrigir  em  o  n.  G5,  no  dep  de  tlurgpl,  o  treclio  que 
o  induziu  em  erro*  em  peccado  de  accUEsçào,  e  que  é  o  se- 
gaiote :  «iostou  o  dito  alferea  que  só  queria  algumas  cartas  para 
o  Hio ;  ao  que  lhe  respondeu  elle  testemunha  qne  alli  não  tinha 
conhecimento  o  só  com  um  tenente  de  reg^imento    de  artilharia, 

Í^or  nome  Francisco  Manoel  da  Silva  e  Mello ;  mas  que  então 
be  u&o  escrevia;  a  qne  acudiu  o  alferes^  dizendo:  que  era 
bastante  lhe  fizet^ae  uma  carta  do  teor  seguinte  : — que  o  porta- 
dor daquella  ia  á  cidade  do  Hio,  a  tratar  de  certa  dependência 
3U0  o  mesmo  lhe  commnnícaria ;  e  que  sopplicava  o  quisesse 
irigir  para  o  seu  bom  êxito  ;  cuja  carta^  bem  ainda  aít^dm  lhe 
deu  ellt  U^íemunha^  e  se  despediu^  nõo  o  tornando  mai^  a  vtr 
até  ao  presente  *„  » 

à  facílima  correcção  (para  quem  soubesse  os  factos)  é  ler 
NÊM  onde  eetá  bem... 

Eia  ahi  o  desserviço  que  a  Yarnha«];^en  pessoalmente  prestou 
M.  Moraee  e  que  ambos  estão  civicamente  prestando  a  nos 
todos, 

A'  pagina  1025,  prosegue  Varahagen  na  faína  de  contrariar 
Norberto,  que  realmente  raaneiára  os  documentoi  originaes,  embora 
suas  opiniões  cortezáSp  9uaa  preoccupaçõea  pesseaes  o  leva&aem 
a  torcel-oB  trabalhosamente,  àffirma  Varnhageu  que  —  «uào 
é  para  nós  bem  averiguado.  •  .se  a  verdadeira  legenda  de  Al- 
varenga, por  todos  preferi íi a,  foi  a  Libertas  qum  aera  Éamew,  oti 
a  de  —  Libertai  auí  jiihUt  que  se  attribuiu  depoi»  a  Cláudio», 
Ora,  neâte  ponto,  como  em  quantos  e&tá  desinteressado,  é  Nor- 
berto que  t  m  raz&o,  quando  affirma  ser  de  Alvarenga  a  legenda 
preferida  {Litêrtas  qum  será  iatnen)  e  quando  aíír ih ut  &C\auáio 
a  Libertas  aut  nifiil^  além  de  outra  fpagâ,   101,  102,   116.   181). 

Provaremos  com  oa  does.  eUe  caao,  para  deixar  exuberau- 
temeute  demonstrado  que  Varnhagem  uào  consultou  o&  autos 
do  procBsao  o  manejou  mal  oa  mesmos  já  pablicsdos  depoimen- 
toB,  em  qupi  «advertiu  certa  contradiçAo».  Esta,  que  resuha 
apenas  do  depoimento  do  padre  Carlos  de  Toledo,  é  inteiramente 
dissipada  pelo     conjunto  do  processo. 

Aisim,  no  4."  interrogatório,  declara  Tiradenteg  : 
O  coronel  Ignacio  de  Alvarenga  disse   «que  as  armaa    para 
as  bandeiras  da  nova  Republica  deviam  ser  um  índio  desatando 
as  correutei  com  uma  letra  latina,  da  qual  elle  respondente    âe 


nâo  lembra»  (Livro  V,  í.^dm  Appansos  dh  Det?*   âo  Eiô)j  app. 
n,  l  ;  e  ,4rç^.   do  Diêt     Fed.,  1894,  n.  5). 

Cláudio  *  foi  * »  perguntado  «i  os  confederados  tinham  já 
tr&tttdo  di>  levaoUir  arma»  o  a  bandâíra.  Hespondeu  que  não  bttvia 
duvida  dizer  o  coroael  Alvarenga^  em  certa  occasifto,  que  ae 
poria  ama  lettra  que  dissease — Libertas  quw  neta  íam^nw,  {Me-* 
m^ta  do  InutiÍHto,  LIII,  1.*  parte,  pag.  161)  [l]. 

Âtyarenga,  no  Já  citado  interros^atorio  (14  de  jau,  do  1790), 
declaroa  que  ioi  elle  queio  lembrou  a  Cláudio  e  aos  mais,  como 
letra  da  bandeira,  -o  versinho  de  Virgílio  -^  Libtrtus  quce  xera 
iamen*  —  E  acçresceotâ  envaidecido  tque  eHe  achau  e  todos  os 
qu€  eniavam  pr^enteê  (acharam)  muiio  bonita* —{Livro  V,  app. 
n.  4;  Ârch^  do  DisL  Fed,,   1894,  n.  11)  [2]. 

A  Sentença  finalmente,  apoiando-ãe  nos  dififerentes  documen- 
toa,  declara  que  foi  Alvarenga  quem  propoz  a  letra — Libertas  qum 
Seta  tamen,  s^gaudo  «confeaaa  o  reu  a  tVL  11,  Ap»  n.*  4,  distendo 
qua  elle  (Cláudio)  e  todoa  que  ali  estavam  preBentea  achavam  a 
letra  bonita»  (Rev.  LX1\',  1,*  parte,  pag.  118). 

Deate  caso,  além  da  correcção  a  Vambagen,  podemos  tirar 
uma  liçÀo  contra  noEea  triate  vaidade  literária  ou  aliteratada, 
Alvarenga  não  teve  estimuloa  civlcoa  para  vencer  os  medoa  da 
tjranDLca  juatiça  temporal;  nào  foi  cldudão  vero  para  evitar  as 
delações  bajula  to  ri  as.  51aB  íol  autor,  foi  tneio-^iutor  de  vaidade 
Hâtisfeita  e  capaz  eutào  de  afrontar  triatemente  seua  imp  laca  veia 
julsea , . . 

Daqui  podemofi  facilmente  pasaar  ao  termo  deataa  regai va a 
e  reí^pígaí,  quanto  a  Vamhagen.  Dôaejo  mostrar  iioe ao  accordo 
relativamente  ao  papel  dô  Gonzaga,  que  «não  chegou  jamais  a 
ai90ciar-ge»  á  conspiração  mineira.  Êata  é  minha  convícçHo,  á 
Viata  da  leitura  de  todaa  aa  peças  originaea  deate  monatruoso 
processo.  Sinto  apenai  que  não  me  p^  s^a  apoiar  ínteirameute 
oa  autoridade  de  Vambagen  e  precise  demoustrar  mioba  tbeae. 


[1]  Os  auio»  de  proguntas  de  Cláudio  Maooel  da  Costa 
©atavam  no  App.  n.  4  do  Livro  11  {no  Archivo  Publico  do  Rio)^ 
como  86  vê  pttla  cortidào  a  fla.  IfíO  do  Livro  I  e  pelo  termo  d© 
entrega  nos  Attt/jif  crimes  (na  Bibliotbeca  NacioDál),  Este  termo 
declara  que  oa  autoH  tinham  oitu  S^.  e  duas  o  appendice  (AtJÍo 
de  corpj  de  delicio).  Desap pareceu  esse  appeoBO  ;  8Ó  restam  aa 
edíçõe»  de  ÊaquiROS  (Alfri*do  Moreira  Finfo),  á  pag.  79  do  Pro- 
ceêSij^  etCf  que  publicou  em  1872,  e  a  do  Instituto  Histórico  , 
em  que  ha  um  confere  do  official  do  ArL-hivo.  Já  teria  appare- 
eido  o  AppenjitOf  corai  apparecôra  a  Seniença^  em  máos  anti- 
liberaea?  O  B.  HintoricOj  2.'  série,!,  publicou  eates  autoa  e  é 
dabi  que  oa  reproduziram  as  ediçòen  posteriores. 

[$\    O  verdinho  é  tirado  da  I  EglogUt  vera.  28. 


4 


—  390  — 

Clandio,  qne  aereamente,  aiuedrontadaniefite  falou  ôm  Goií- 
sags,  nâo  merece  fé.  Seu  triste  depoiíueoto  foi  uma  aote-scena 
do  suicídio,  que  efíPecti vãmente  ie  Ike  seg^uiu,  D&hi  só  iudicios 
A  completar  paderíam  &er  tirados  :  como  prova  inteira,  é  sem 
Talor^  pois  argiie  uma  exnitaçilOi  uma  debilidade  e  temor  de 
pessoa  imbelíe^  caduca  ou  dementada. 

O  padre  Carlos  Toledo,  que  muito  falou  ua  cumplicidade 
iut«Íra  de  Gonzaga,  declarou  dypoís  que  o  ie*  como  artiâeio  de 
propagauda^  para  íudti^tr  os  pequeuos  com  o  uome  de  um  grau  de. 
Didso  amargameute  se  arrependeu  e  ee  retratou  em  forma.  N&o 
teve  &ó  «escrúpulos  disâo*,  como  diz  Yanihagêu  (pag.  1021).  Moa- 
tra-se  arrependido  uo  2,°  interrogatório  (fls.  70  do  app.  5,  Livro  V); 
e  no  3.*  accreaceuta  que  pede  a  Govzaga  e  a  D^us  que  o  perdoe 
por  ense  inai.  Seu  ir  mio,  o  sargento- mor  Luiz  Vaz  (App^  11, 
Livra  V),  que  repetira  o  artificio,  declarou  que  o  padre  Carlos 
lli6  diaaera  depois  que  lhe  pescava  «ter  dito  que  o  Beseuibargador 
Gonzaga  entrara  no  levante,  mettendo-o  nisso,  sem  que  o  dito 
desembargador  entrasse  na»  ideias  da  sublevação  e  motim*. 

Âlvar&n^A  em  seu  indigno  depoimento,  alargando  desmedi- 
damente, iuutilmtíute  a  d^laç&o,  nomeia  Gonzaga  na  reuni&o  da 
casa  do  tenente-ctironel  Andrade.  E  drpoís  eutre  duvidai,  sobre 
ser  na  de  Gonaiaga  ou  na    de  Cláudio,    declara  que  na  ca*a  da- 

f^uelle  é  que  se  realijíou  a  conferwuoia  sobre  as  bandeirante 
O  padre  Carlos  dis  que  foi  ua  de  Cláudio,  e  dahi  o  confundir  o  lem- 
ma,  a  letra  deste  com  a  de  Alvarenga  (Ârch.  do  Dist.  .Fhd.  Í894« 
pag.4í)8]. 

O  teneute-corooolÃridrade declara  repetidamente  que  Gouza* 
ga  nSo  aasjfltira  áâ  reauiôei,  que  nâo  entrara  na  sublevaç&o,  «nem 
elle  lhe  mandou  falar  nada»,  como  fizent  crer  Alvarenga  em  seu 
depoiraento.  Acareado  coro  Alvarenga,  este  entrou  em  duvidíi 
sobre  sua  a^rmação  a  respeito,  cnÃo  estando  certo  si  era  de  Gon- 
zaga que  falou  o  acareado  Francisco  de  Paula»  (Livro  V,  app.  6). 
O  padre  Rolim,  aquolle  que  o  Heróe  achara  com  maÍA  rator^ 
depõe  que,  pai^sando  por  casa  de  Francisco  de  Panla,  viu  luz  e 
*eutrou  a  tempo  que  achou  o  dito  tenente-corouel  Francisco 
de  Paula,  o  Vigário  de  S,  José  Carlos  Corrêa  de  Toledo,  o  Al- 
feres Joaquim  José  da  Silva  Xavier  e  depois  entrou  José  Alvares 
Maciel  e  a  poucos  passos  Be  entrou  a  falar  na  derrama  e  &e 
mau  dou  cbamar  o  Corouel  Ignacio  José  de  Alvarenga,  o  qual  veiu 
e  entre  todos  se  entrou  a  falar  na  matéria  da  sublevação  ©  mo- 
tlm*  (1).     «Assevera»  qae  Gonzaga  nào    assistiu   á  reunião  e  que 


(1)  Foi  chamado  por  um  biVbete  do  padre  Carlos,  O  celebre 
bilhete  foi  acha  ^Jo  entre  oa  papeis  de  Alvarenga  e  foi  junto  aos  autos. 
Está  nõ  ZfíVroI.n.  11  (Auto  de  exame  e  separação  de  papeis)  on  grupo 
11,  conforme  pareceu>me  e  assim  o  classiliquei  uo  recenseio  que  ú% 
em  1892.  Este  bilhete,  oscrito  em  um  quarto  de  paj^l  de  liubo, 
é  concebido  nestes  termos;     «Alvarenga.   Estamos  juntos  e  venha 


-  391  — 

liuví^ava  que  ell©  entra&se  na  conjuraçào;  embora  disBO  lhe  fa- 
I  as  se  Ti  rad  e  n  té  b  (LimoV  I ,  a  p  p  f*n  « ,   n .    lò). 

8ó  noft  resta,  pois,  este  suppoHto  dito  de  Tiradeutes.  Ou- 
troe  d) los  quaesquer  ae  dorivam  directa  ou  indirectameate  dos 
depuitneotos  reter  idos,  qa^,  ou  confutados  ou  accordadoB, 
A»setiiim  ^ue  Goti^nga  nem  aadetíu  a  reunião  alguma,  neta  par- 
ticipou do  levaiile.  Díttíipada  e^ta  duvida^  t«rei  autamanameute 
feito  A  major,  a  mata  eg^encial  resalva  a  Norberto,  que  btilda- 
damente  «e  esforçou  por  alcandorar  Gotizaf:a  em  supremo  chefe 
da  Coujurwçào,  Uom  eUo  ^ecundaritímeute  ficam  resalvadoB  quan^ 
toi  f^ri^^em  Gno^íigra  pm  corypbeu  da  nos&a  nacionalidade,  em 
gmi&o  do    civismo    brazileiro.     Gonzaga    tem    seu    posto    lyrico 


Vm  "^  já,  ©te,  Am.'  Toledo»,  Norberto  {110-111)  nÃo  só  erra, 
lendo  «em  meia  fnlha  de  i^apel  almaço»  um  «voci^>,  em  vez  de 
«Vm*=*»,  mas  ainda  torce  aqui  lionivelmente  os  doesn  Já  o  Al- 
varenga dieaera  que  o  bilhete  rezava  que  chega  ase  lá  ai  queria 
rir  um  pouco*  .  Comparem  eataa  affirmaçôea  com  o  que  acima 
efitá  provado:  1.*)  «O  tenente  coronel,  .  mandtiu  aviaar  pelo 
Cfroni*!  Alvarenga  o  Vig'ario.,.  e  o  Desembargador  Gonzagn», 
2,*)  «£r  de  crer  que  outros,  como  Cláudio  . .  receberam  o  mesmo 
convite;  mâs  não  compareceram*.  3/)  Gonesga  «ou  nào  assistiu 
ou  fel-o  muito  taráe,  talvez  (?)  pelo  desgosto  (!)  que  lhe  causava 
a  jlgura  pouco  si/mpatfiica  do  Tiradeutee,  e  que  era  além  diaao 
iea  inimigo»  (Eia  porqufl  a  figura  do  Tirad*7iteê  devia  ser  r€~ 
pélUnie).  4  *)  Como  o  Vigário  Toledo  declara  «que  a  única  ve!E 
que  vira  Gonzaga  em  ca*a  dn  F.  de  Paula,  elle.  anhia  e  Qfjnzaga 
descia  1»^ — logo  á  pag",  120  Norberto  phautasia  uma  reuui&o  patrió- 
tica em  que— •acabava  Gonzaga  de  entiar,  subindo  a  escadaj 
quando  ainda  o  Vigário  de  S  José  denteia  (l)»,  Nessa  reunido 
bypothetica  era  natural  que  em  seu  bypoibetico  estro  cívico 
encoutraf^sB  «Alvarenga  o  modo  de  tocar  as  cordas  do  pRtriotiamo 
doa  corftçôea  daquf*Ilea  que  ali  concorriHm*,  como  afiirma  Norberto. 
£  continua  ne»se  teor  a  invenção  com  mauileata^^ões  patrióticas, 
para  colorir  a  bypotheae  lie  uma  republica,  nascida  no  Capit.  111, 
era  casa  de  Gonzaga.  Tenho  nm  e^templar  du  Conjuraçãú,  ad- 
<^nirido  no  Rio,  e  que  devia  ter  pertencido  ao  mesmo  Norberto 
Traa  esta  nota:  «Este  não  o  dou  a  ninguém,  e  está  emendado 
para  nova  edição.  J  Norberto  de  S.  S*  As  emitidas  são  de 
pouca  monta:  são  antes  li  maduras  nos  pontos  em  que  Gonzaga 
devia  esrur  em  sceua,  á  cuí^ta  de  estylo  e  com  detrimento  da  ver- 
dade Ui"tnrÍL*a.  Vem  appenaa  uma  intereseaiitiseima  carta  de  Arau> 
jo  Porto  Alegre.  Dala-ei  de()OÍs,  junto  com  novas  nolaa  e  uovoi 
doea.^  que  n&o  posso  agora  coordenar,  no  meio  do  múltiplas  oc- 
ciipaçôf>a  escolares  (lObr."  do  1907)  Devo  advertir  que  nas 
Obra^  de  Alvarenga,  pag,  38,  o  «Vm*=**  está  *Vm.>,  o  que 
pode  caracterizar  a  progressão  com  que  Norberto  ia  alterando 
Oi  does,  para  chegar  a  seus  hus. 


I 


—  3^2  — 


de  msTioflò  põ«ta  ô  tâm  tudo  a  gaoliar  Qm  &«  n&o  enTotvér  qaí 
contendaâ  eivic&s^  para  ns  quoes  não  foi  adaptada*  Boa^enverga- 
dura.  Gamemos  ênaA  tyricaSt  eliminando  os  trietea  desmatos 
com  qae  adulou  fteu^  algozes,  çom  qae  efipezinkon  o  Heróe  ;  e 
delxemol-o  a  purifíc«r-ge  no  doloroso  mattyrjo  de  um  casameoto 
desigual,  em  que  muiro  soffrea  E'  o  que  diss  o  Conâel beiro  liezeti- 
de,  uni  dos  envolvidos  na  conspiração    {Eev.  do  InsLf  tomo  VIIL) 

EÍ&  aqni  o  testemunho  do  Heráe,  numa  das  elevações  de 
seu  coraçàG  magnânimo : 

«  E  qua^ato  ao  Desembargador  Tbomâz  António  Gon^agft, 
lobre  o  qual  Ibe  têm  sido  feitas  tantoA  instancias^  declara  que 
absolat&meute  nào  gabe  que  elle  fosse  entrado,  e  nunca  elle  rea- 
pondente  Ibe  falou  em  tal,  pelo  temer;  e  Ibe  parece  que  elle 
nÃo  era  entrado  em  razão  de  ver,  como  já  disse  (1)^  que 
quando  elle  entrou  em  cafia  do  tenente-coronel  Francisco^de 
Pauta  Freire  de  Andrade,  na  occasiào  em  que  se  tinlia  estado 
a  falar  nesta  matéria,  todos  se  calaram,  e  a  elle  nJlo  se  contou 
cousa  alguma  (Quando  ÂlYarenga  chegou^  acudindo  ao  ebamado 
do  padre  Carlos^  cfoi-lhe  recontada  toda  a  conversação»,  dis&e 
Tiradentes  na  2.*  parte  deste  interrogatório);  e  que  ellejfres- 
pondente  não  tem  razão  nenhuma  de  o  favorecer,  porque  sabe 
que  o  dilo  Desembargador  era  seu  inimigo,  por  uma  queixa  que 
o  respondente  íes  delle  ao  Ulmo.  e  Èxmo»  General  Luiz  da 
Cunha;  não  ob»taate  o  que,  eNe  respondente  confeesa  que  todo  a 
o  acclamavam  por  bom  Ministro,  e  elle  mesmo  respondente  aátim 
o  dÍ£  e  assim  o  disse  varia?  yeses,  até  ao  seu  successtir* 
{Livro  V,  ap.  1  (Livro  1  da  Div.  de  Minas) ;  EsQttiEos,  Processo 
1872,  pag.  33-34;  Ârck,  do  DisU  Feà.,  1894,  n.  5,  pag.  235), 

Veremos  logo  as  causas  que  iuílniram  na  injusta  cou- 
demna^ão  de  Gonzaga.  Assim  acabaremos  de  vez  com  esta 
intromissão  perturbadora  das  preferencia?  literárias,  pessoaeá  nos 
apuramentos    hi&toricos. 

De  todos  os  interrogatórios  veridicos  s6  consta  o  seguiu  te » 
no  Ápp.  D,  8,  Livro  V; 


(1)  No  Jim  da  reuuiáo  notável,  em  que  Alvarenga  foi  chamado 
pelo  bilhete  do  padre  Carlos.  Tiradentes  refere- se  a  t^se  bilhete 
em  termo!»  exactos.  Foi  dessa  reunião  que  o  padre  Carlos  sahiu 
maia  cedo,  por  ter  entrado  o  capitão  Maximiltano  de  Oliveira 
Leite  e  ter-se  parado  a  conversa.  Então  é  que  se  encontrou 
na  escada  com  Tboma^  Goozagaf  que  entrava.  Eite  ahi  foi  a 
«conversar  em  humanidades»*  a  ouvJr  ao  coronel  Alvarenga  «umas 
oitavas  feitas  ao  baptizado  de  um  filho  do  exmo.  sr,  d.Hodri^»^ 
A  «examinar  alguns  livros  do  tenente -cronel  Andrade,  entre  os 
quaes  ta  achava  um  que  contava  ao  sapateiro  Bandarra  eatre 
os  primeiros  poetas  portugueses».  Veremos  adeante  a  ím^Tor- 
tancia  desta  reunião.  (Archivo  do  DinL  Fed^^  1894,  4&7-49â; 
Obras  de  Gokzaga,  I,  142,  143  e  144) 


—  393  — 

  noTBA  e  Apertadas  instancian  dos  juizes  sobre  Gonzag^s, 
confirtiia  o  coneg'0  Vieira  que,  per^í untando  a  Alvarenga  (e  por- 
que dAo  a  Gotiz^igfti  si  esie  era  conjurado  '?)  sobre  um  mteutado 
lefante,  Gonzaga  ouvindo,  disae: 

— Â  occanão  para  ixso  perdeu-se. 

Na  aUima  parte  desta  respig^a,  Teremos  que  esta  é  a  só  culpa 
de  que  Qonzag^a,  por  fim,  não  quiz  mais  defender-se.  E  isto 
áepoifl  de  haver  dito  que  sua  phrase  era  pfiliiicamenie  ex^Ucavelt 
ãabendo-se  que  a  oççasl&o  de  uma  derrama  é  a  mais  propicia 
para  um  levsute. 

Eis  a  culpa  unic»»  o  aó  facto  subsistente,  que  erige  Qen- 
aagft  em  €heft  da  Conjtpira0o  mineiral 

Ácshemm^  poiã^  com  esie  mytho;  não  ha  para  o  levantar  uma 
só  prova  resistente.  E  para  assentar  o  primado  de  nosao  Ileróep 
ha  todas  as  provas,  todas,— desde  as  mais  simples  cou versas  ex- 
plosivas, atè  ao  final  martyrio,  até  à  canouiitaçào  que  a  mesma 
tradiç&o  popular  tem  consagrado. 

S.) 

Deixando  á  pag.    1035  as    refifíXÕes    fin&es  de    Yamhagen, 

com  suas  inferência*  e  pareneses  duvidoías,  voltemo-nos  espe^ 
cialmeute  para  Norberto,  afim  de  terminar  estas  respigas, 

O  caso  de  Norberto  é  o  de  um  peccado  consciente,  em  que 
não  entra  ^birra  liter»riíi«  ou  «melindre  profissional*.  Depois  de 
tet  fiido  um  «enthuaiaata  do  Tiradentesí^,  desgost^u-se  de  sua 
religiosidade,  de  seu  «my^ticismo*,  que  o  fez  morter  com  o  «credo 
santo  nos  lábios»,  em  vez  de  .soltar  *o  brada  da  mallogradc  re- 
volta*.  Qiieria-o  ccomo  «>9ses  martyres  peruambucanos  de  1817 
e  1824  »  (Remsta  XLIV,  I  parte,  pat^.  131  e  132).  Num 
monarchista  e  num  < historiador»  ê  incomprehenaivel  esaa  queda 
pelos  heroea  republicanos,  pelos  heroes  feitos  de  encommenda,  á  nos- 
sa vontade.  O  hítitoriador  ha  de  coordenar  os  lactoa,  ha  de  cxpôl-os 
systematicamente  como  sâo  e  nao  como  os  quer,  como  os  con* 
jectara.  E'  em  relaçAo  ao  tempo  e  ao  theatro  dos  acontecimentos 
que  deve    construir  o  quadro^  a  historia  característica. 

< Poeta  e  romancÍi4ta»f  Norberto  seguiu  auas  impressões,  sons 
gostos:  eotha3Íasraou-ae  por  Gonzaga,  tratou  de  escarnar  os  de- 
feitos de  Ttradenteft  e  buscou  descobrir  virtudes  em  seus  con- 
trários. 

Sem  duvida  foi  Gonzaga  o  mais  talentoi^o,  o  mais  argumen- 
tador  de  tndos  os  letrados  envolvidos  no  projectado  levante.  Os 
quatro  interrogatórios  de  Gonzag^a  sáo  um  apontoado  inteiriço 
de  fortes,  juridicos  argumentos,  era  que  os  juisses  não  levam  a  me- 
lhor: nem  uma  sú  vez  deisou  sem  resposta  suas  apertadas 
instancias*  Num  ultimo  e  desanimado  esforço^  os  juizes,  no  fim 
do  4.*  interrogatório»  a  4  de  agosto  de  1791,  em  acareação  cruel, 
arremessaram  contra  o  réu  o  frio  delator  Alvarenga  e  o  meio 
ríspido,     illustrado    cónego    Vieira,     Escancarou-se    a    casa    de 


—  394  — 


Cláudio  e  expoz-se  Gonzaga  numa  esteira,  a  contorcer-se  do 
cólica  bilioaa  e,  segundo  os  juizesj  obrigado  a  ouvir  gediciosai 
praticas.  Foi  ontào  qu©  o  poeta,  declanmdo  ao  Alvarenga  não 
se  lembrar  de  semelhantes  praticas,  ouviu  a  iDeiatencía  que  este 
Ibe  oppoz  com  nm  luxo  de  triites  minúcias*  K  foi  também  entào 
que  ae  calou  finalmente,  engulhado  ante  scena  tão  miseranda. 
(Obras  I,  158-159). 

  argumentaçào  de  Gonzaga,  refor<jada  em  suas  Jiazões  de 
embargos^  naturalmente  provocou  certa  emubção  nos  juizej^,  des- 
embargadores como  elle  e  que  não  Ibe  queriam  ficar  eomenoa  (Noe- 
BaETO,  333)-  Na  cultura,  na  educação  literário -jurídica  as  f»  cul- 
dade»  maraes,  não  tendo  am  forte  lastro  de  bondaae,  perdem  tacil- 
mente  o  equilíbrio,  cedendo  a  presidência  a  uma  perniciosa  vaidad&t 
que  não  respeita  amigos,  nem  interesses  nobres.  E'  o  balão  ái 
que  fala  Voltaire  :  um  alÊuete  o  punja  e  togo  sopra  os  fumos,  osj 
ventos  que  tudo  eunegrecem,  que  menoscabam  tudo.^. 

Dani  as  aperturas  hostis  em  que  os  juizes  puzeram  o  talentoso 
desembargador;  dabí  o  amontoamento  de  vagos  indicíos,  de  pro- 
vas dialécticas,  ontológicas,  presamptivas,  com  que  injustamente 
o  condemuãram,  B' o  que  di^  a  í^eíííertçar  «supposto  que  todpa  os 
mais  réus  sunUntem  com  jír  íuízíi  que  nus  ca  este  réu  aamtiVa  H«ni 
entrara  em  algum  dos  ditos  abomináveis  convenUcuiaSi  comtudo 
não  pôde  o  réu  cousiderar-^se  livre  da  culpa  pelos  fortes  mdicros 
que  contra  elle  resultam»  . . ,  E  o  relator  argum  enta :  como  «algumas 
vezes  poderia  falar  ou  ter  ouvido  faiar  bypotbetica mente  sobre 
o  levante*  ;  como  «o  animo  com  que  se  proferem  as  palavr&s  é 
QCeuUo  aos  bomens* ;  como  «é  inaveriffiiaveh  saber  si  o  réu 
falava  hypotheticamente. . .  —  concluem  os  juijaea  averiguando 
os  indícios  em  desfavor  de  Gonaaga  econdemnando-o  a  degredo 
perpetuo,  reduzido,  pela  clemência  r^al,  a  dez  anuoÊ  de  dei- 
terro  piara  a  praça  de  Moçambique  (Retí.  LXIV,   !.■  p-)^ 

Mas  os  argumentos  de  Gonzaga  nào  eram  generí«oa  como 
os  dfl  Tiradentes,  que  ao  10.*  interrogatório,  para  salvar  c  capi- 
tão Maxirailiauo,  argumenta  que  hõUve  equi vocação  com  elle 
próprio.  Tiradentea  declarou  que  fora  elle  quem  entrara,  quando^ 
suppondoae  que  era  o  capitão  e  parando-se  a  conversa,  o  tenente- 
coronel  Andrade  interveiu,  assegurando  que  «aquelte  era  dos 
no  sãos»  (Dej),  do  padre  Cario*»,  Areh,  do  Dist.  Federal,  1894, 
497),  Um  miitiforio,  com  que  em  21  de  abril  de  1399  se  en- 
ganou a  boa  fè  do  J,  do  Í7í?mmercí0,— ainda  repete  este  facto 
como  verdadeiro,  como  prova  contra  o  Tiradentes,  de  quem  des 
confiavain  os  coitspiradores  authenticos  (l)-  Felizmente  e&sa  vai- 
dosa tentativa  de  re^urgir  Norberto  pas&ou  despercebida  e  carece 
de  importância  para  merecer   refutação. 

A  generosidade  de  Tiradentea  neste  pasto  é  muito  clara.  Como 
sabemos  pelo  interrogatório  de  Gonzaga  e  do  padre  Carlos,  era 
exacto  que  o  capitão  Maximiliano  entrara  nas  circumstanciai 
narradas  e  que  a  conversa  continuara  sadiciobamente,  após  a  tahi- 


-  S95  — 

da  do  padre  Garlôi,  que  d&  escada  se  e  oco  d  troa  com  Th,  Gon^g-a. 

E  foi  AO  entrareite  que  o  conciaJíabulo  realmente  ce^&oa,  porque 
o  novo  personao^em  nfto  era  iniciado  (V.  Archívo  ão  DUt.  FeJ., 
1894,  pags  235,  497-498  \  Obras,  de  Gokzaoa.  1,  pags.  142, 143, 144, 
147,  149,  150,  155  e  1Ô6). 

Gonzaga  era  como  os  demais  poetas  de  seu  on  tetro,  —  era 
um  amortecido  cívicamente.  Insultava  t<  lleròi?  g-eDeroso,  que 
o  defendia,  noa  meamoâ  cori^ectoa  versos  com  que  adulava 
Barbacena,  Argumentava  para  si  com  ai  mesmas  razões  que 
feriam  »euâ  companheiros,  a  quem  juridicameot©  ia  prefigu- 
rando como  réus  qu^  disfarçavam  em  sua  presejiça,  Dommava-o 
essa  mortecor  doa  literatos  abeorvidoa  na  cultura  da  forma,  áa 
veses  incorrecta,  insigoificante^  pouca  esthetica,  e  fora  do  mundo 
;ea1,  que  iHie  eorrendo  para  gáudio,  para  alimento  de  âuas  per- 
uana lidade«. 

O  cónego  Vieira,  mesmo  com  ao  ph  is  mas  defenaivofi,  foi  o 
unico  dos  letrados  que  se  manifestou  á  altura  do  século,  dai 
preoccupaçòes  poltticaa,  bistoncas  6  literárias  de  seu  tempo. 
Visivelmeute  o  attestam  sua  escolhida  bibliotheca,  aeua  de  poimen- 
tos  ea  Qotoriedade  de  seus  sermões  (1). 

Ob  mais  viviam  nes^a  «apagada  e  vil  trietessa»  dos  canta- 
dores de  ânniversarioa,  de  paatoraa  variaa, — Dalianas,  Nis^es  ou 
EariliaB^-*,  dos  contadores  de 

Pedrinhas  no  fundo   do  ribeiro, 

á  gmsa  dos  «  versejadorea  nacíonaesv,  de  q  ue  nos  fala  José  Bonifácio 
(Poesias,  Bordéo»,  1825),  Dahi  só  um  e&timulu  de  autoridade,  de 
orgulho  ou  de  interesse  contrariado  é  que  os  fazia  aahir  com 
mordac idades  jaculatórias,  as  menos  elevadas  e  nem  sempre  me- 
ritórias manifestações  do  génio  poético.  Cláudio,  impregnado  do 
arcadismo  romano,  talvez  podendo  brilbar  em  primeira  plana, 
era  um  combalido,  um  decadente.  Alvarenga  entreiacbava  bellas 
oitavas  em  um  estirado  cauto..,  genetbliaco;  limava  sonetos, 
odea  a  magnatas  e  jogova,  empenhando  suas  baixel la&.  Os  in- 
terrogatórios d©  Alvarenga,  de  Cláudio  ©  mesmo  os  de  Gonzaga, 
com  sua  agada  viveza  de  juriscDnsuUo  inuocente,  não  argúem 
cultura  geral,  grande  literatura  e  muito  menos  dem  tam  ideaes 
humano  St  preoccupa^fòes  sociaes,  a  competir  com  o  i  Ilustrado  có- 
nego Vieira.     Alvarenga  lia  pelos  livros  do  teueute-coronel  An* 


(I)  Não  é  exacto  que  a  livraria  de  Cláudio,  com  SS8  vo- 
liimea,  fosae  «a  maior  daa  particulares  que  se  conheciam  no  vice- 
reino»,  como  úiz  Norberto  (pag.  62),  Era  maior  a  do  cónego  Vieira, 
com  580  volumes  variadissimoã,  em  diversas  Hnguaa,  e  sobre  scien- 
cias,  artes,  literatura,  desde  os  clássicos  latinos  até  ás  obras  de  Vol- 
taire ;  desde  &  historia  clássica  até  ás  obras  sobre  a  revoluç&o 
doB  Eatados  Unidos  do  Norte*  [V.   Eev.  LXIY,  1/  partej, 


^  596 


dmde,  preoccnpando-se  com  mo í estas  humanidades^  com  Vir- 
gílio, com  o  posto  do  sapateiro  Bandarra  entre  oa  f^imeirox 
poetas  poHn ff uezes.  (Problema  Uierario  tào  insignítícante  mereceu 
a  Gtíizaga  uma  especial  meaç&o  tio  iiiter rogatório  seg^undo. 
NhQ  deiría  aer  muito  abundante  a  mesae  do  seu^  campos  lite- 
rários.».) Claudia^  habituado  á  morna  confabulação  dos  outei- 
riãías,  com  a  iuuocente  «coiumunicaçíLo  de  &eua  versos»  ou  daa 
DO  vi  dados  occorrentes,  foi  la^tim^so  o  descaíidade  seria  insúur 
em  seu  deplorável  interrogatório.,.. 

Entretanto  é  com  a  cheSa, ,.  literária  de  Gonzsga,  é  com  a 
delatoria  collaboraçào  de  Alvareoga^  é  com  o  viciado  interrogatório 
de  Cláudio  [como  os  Juizes  explicitamente  o  reconhecem  (Rei>^ 
ciL,  pag.  125)]  ;  é  Cf>m  estes  indieios  que  Norberto  vae  arcbitec- 
tando  a  phantaiiosa,  bypotbetica  republica  dos  conspira  do  res-poe* 
tas  Para  isso,  longos  aunos  teve  os  d^icumentoB  em  màos,  E-^írsc- 
toa-08,  re&umiu-OB,  encartou-os,  eitendeu-os,  polindo  o*  e  esckre- 
cendo-Ds  em  pontos  vários  coih  a  meia  luz  de  ura  paUido,  iucoberente 
romantíamo  histórico.  Poudera  ser  o  magno  ereador,  o  Thucjdídet 
Vftro  da  bistoria  de&te  movimento  e  foi  apenas  seu  deturpador  ro- 
mântico, seu  interesBelro  julgador,  com  o  precoDuebido  escopo  ^de 
erigir  GoniÈaga  em  supremo  cbete  da  conspiração,  Nutaute, 
contraditório,  nem  esse  fim  de    encommenda  logrou  attingi**,  .  , 

NfLo  o  posso  acompanhar,  a  corrigir  todos  os  erros,  todas  as 
invenções  com  que  delineia  sua  conjuraçíio  em  torno  de  Gon- 
zaga e  de  Clítudio,  como  «primeiros  chefes  da  conspiruçào». 
Por  mais  esforços  que  envidas3«j  ninguém  viu,  ninguém  pode 
ver  em  suas  deliqueacentea  paginafl  a  mais  ténue  demon&traçÃo 
de  sua  the^e.  A  cada  passo  Norberto  é  obrigado  a  forjar  tniysie* 
riost,  a  referir-8Q  a  una  «conjurados»  em  geral;  a  estatuir;— *ó 
de  crer»,  «correu»^  «propalou-ae»,  *8abe'3e9.  *  E  por  fim.  exgot- 
tado  com  tam  falsídicos  esforços,  declara  (pag^  t>5):  «Ha  idéafi 
que  nào  têm  autores...    í^ào  muitas  cabeças  em  um  só  corpo».., 

Ã^sim,  nessa  «mysterlosa  incubaç&o»,  já  «existia  o  levaute»f 
quando  Tiradentes  o  veíu  transtornar  com  sua  «jactância»,  in- 
discreçâo  e  «loucos  projectos» «  Era  «um  homem  do  povo»,  âem 
importância  e  responsabilidade,  que  se  iniciava,  por  intermédio 
de  Maciei  (!),  mos  myítenoB  de  uma  conjuração,  que  desde 
muito  tempo  se  tramava  em  Villa  Rica  (?)  (pa^r  88).,  E  as  sita 
Norberto  amontoa^  dispOe,  enfileira  seus  títeres  para  fa^r  umft 
conjura^'âo  de  encommenda. 

An  contradicçÕes  pullulam  a  cada  passn,  e  a  cada  pasto  os 
ea:xertõs  narrativos  sào  forjados  com  pb rases,  episódios,  intricas, 
ás  ve^es  negadas  fiualmeute  pelos  próprios  autores... 

Seria  peíKbissirao  respigar  e  reáalvar  mais  do  que  já  fiz  em 
meus  escritor  de  1892^  mais  do  que  acabei  de  fazer.  Basta 
mostrar  rapidamente  a  importância  pessoal  de  nosso  Heróe, 

Tiradentes,  minerador  experimentado,  pratico  nas  canaliza- 
çdes  e  captações  de  aguas,    necessárias  a  6uas    lavrasi    íoi  natu* 


—  397  — 

ralm^nte  levado  a  s@  faier  graiide  itidiistrial  e  a  emprebeuder 
no  Rio  trabaJhoB  ídeotic*»»,  em  raais  alargada  eerala,  A  bydrflulica 
da  seu  tempo,  B^m  inúteis,  BuppositiciQS  calculoB»  pr&ticamente  nko 
Ibe  podíà  Ecr  extranhii. 

Babe-ae  demaÍB,  pelo  sequestro  de  seuB  bens^  de  buas  alfaias 

ãue  eatAva  longe  de   Ber  um  bomem    de    frequentaç&o  ordinária, 
e  costnmefi  gr  oe  se  iro  a, 

Afhíui  como  bfje,  com  ob  prog^ressos  de  noiso  temjio,  have- 
ria de  bfimbrear  com  os  bydraulicrs  reputados,  também  fieu 
porte  e  seu  vestuário  o  fariam  lectbido  em  d  ossos  mais  elegan- 
tes tAlSes.  Darei  ainda  a  lis  la  de  suai^  ifirpi^llfie  espí^tíUhadaSi 
de  sua»  vestfs  guarnecidaít,  recamadas;  e  dir-me-Ão  depoiâ  oa 
leitores  si  niuitoB  Abaetados  de  b<'je,  muitos  elegantes  notÈOH 
éfltarfto  mutaUs  mutandi»  á  altura  do  intemerato  e  1  u/ido  alfe- 
res  de  1788, 

Tem-se  julgado  Tíradentes  á  fé  de  nonos  precfnceitoi, 
d%  noásaa  preoceupaçõí*»  anii-enciaest  Nào  t©  imí^gina  que 
naquèlle  tempo  era  muito  um  álf<*re3  e  alferes  queixoso  de  já 
não  ser  capitlio,  a  que  tinba  inconteBíaveia  direitos.  Além  di^so, 
como  demonstrarei  com  does.,  era  elle  encarregado  dos  forneci* 
mentos  á  tropa  e  muitas  vezes  com  o  rif^co  de  alig^^irarseu  bt^l^ 
sínho,  em  proveito  dei  Fazenda  Real,  f\u  de  L-omprometter  suas 
roçaif,  »na«  se^marian  (que  ag  pOF&uia,  tiouA  tme  se  \l'  dos  x^quentros), 
Nào  se  cura  de  saber  que  eiitflo  o  trnjíir  era  nifli»  dí^tíucti?o 
pesBoal  do  que  o  é  boje,  no  democratismo  iiiconsí&leute  dos  que 
Be  afieitam  com  o  £trt  de  apparentar  o  que  n&o  podem  ser  Â 
Metrópole  ainda  prescrevia  ieifi  t^tímptuoriaSt  qne  regulavam  atá 
o  trajo  das  differentet  clas&es  sociaei,  E'  ecmhecida  a  lei  pra~ 
gmaiira  de  24  dn  Maio  de  1749  ^  composta  de  31  capitulos,  em  que 
fie  dispõe  quanto  «inviolável mente  deverá  uratifar-se  »  a  re& peito 
do  vestuário,  das  alfaias  *e  outras  despesas  e  ufos  que  convém 
moderar  ou  reíormar»  (Vide  Ârchivo  do  Dintr.  Ftd.^  1894,  n.  5 
e  B.  6.) 

*    *    * 

Joflquim  Norberto  teve  em  mílos  todos  os  documentos  que 
Ibe  permittiriam  exalçar  diguametite  o  stu  Heróe,  E  digo  ntii 
porque  em  J8b3,  oove  aono*  a]iós  a  edição  de  seu  livro,  ainda 
concorreu  para  a  Commemarução  annual  do  Club  Tiradentes, 
enviendo-lbe  seu  canto  épico— ji  Cabeça  do  Mtirtyr.  Está  cbeio 
de  remini&ceocias  clas&ícas  e  românticas,  de  expreÊEÔea  albolai, 
ma?  é  um  çcínío  bem  entoado  e  feitrt  &egnndo  um  certo  ar  gar^ 
reitian/i^  ses^uodo  o  tom  do  Et^atigflha  itaít  itelvafi .  Pena  é  que 
certa  írieza  literária  Iba  perpasse  |ielu  todo  em  longos,  romauti- 
coi  monólogos  e  vá  de&cabir  na  nialieia  tinaK  » . 

W  a  mesma  pena  que  sinto  por  nfto  poder  conçngrarlbe  uma 
gratidão  mai»  inteira,  pelo  bem  que  nos  fez,  conservando  no 
Archivo  Nacional  os  documeutos  que  iam  sendo  dilapidados... 
Graças  a  Norberto,  a  despeito  de  todaâ  as  reâervas,  pude  guiar- 


—  398  — 

me  com  mala  segurança  na  pesquisa  dos  documentos  oríginaes, 
Saaa  oumeroâaa  eítaçõeã,  mesmo  desviadas  da  verdadeira  miro, 
foram  caminho  trilhado  pani  chegar  depresaa  a  meu  objectivo... 
Sinto  que  o  não  pos^a  melhor  associar  ao  bom  e  iOustre  conee* 
Iheiro  Joaquim  PorteHa,  quo  no  Archivo  Publico  espontanfamentp 
me  franqueou  ôs  sete  preciosos  volumes  (o  7."  em  formação)^  que 
constituem  e,  fonte  da  ^randc^a  de  Tiradentes, ,  . 

Mesmo  com  todas  as  resalvaa^  é  mister  que  façamos  justiça 
aos  laboriceoBf  aos  :'.rdentes  investig^a dores  como  Vamhagen  q 
Norberto.  Aproveitemos  seue  mater iaes  6  evitemos  seus  proces- 
sos de  coordenação. 


—  399  — 


5.' 

TBNDHS   Ú   JOSÉ    JQAQUIU   DA   UAI  A 

{Prodromos  da  Conspiração  mineira) 

r      FoKTEs:     l.)—Rem'itta    do    Insfiítttú   Histórico,    do  Bio,  JII, 

im  ;  VIU  (íí.'  ed  ).  309  ;  XLVII.  I  parte,  1Í3  ;    LVI,  lí  larte,  llíJ. 

2.)^Rem»ta  Popular,  X,   abril  de  1861,  pag.  65-74. 

3-)^J.  NoHBERTD,  Ct/njvraçila  mineira^  1873,  pair-  39-50  e  343, 

4.)— J.  C.  Rí>DRifíuBS ,  Tifbl,  Jirazílieitiiey  yag.  59  e  6L 

5*)*— ÁRcaivo    PtrBLico    Nacional    (Hio),   Lirro    I,   Dmh    de 

Minas,  n.  IS  jlnquíriçAo  d©  63  testemunhas):   Livre*  U^    {Áppennt$ 

â  Ihv,   de  MííiQ*),  app.    n.    2  bis;    Livro  IV .  n,  7  {Dev,   do  J^io 

continuada  em  Minaa)  e  n.   13  (Declaração   dos  presos  ©xisteatest 

etc,) ;    Livro    VI  (2,*  doa  Appensos  á  Dtv.  do  Rio)t    app.  n,   17* 

Era  artigo  do  Jornal  do  CommertiOi  traoBcrito  eta  1S84, 
no  tomo  47  da  Re^  do  hist.  Ilist.  do  Rio,  publ  içaram -se  cartas 
de  um  Vendekf  brazileiro  qao  em  1786-1787  escrevia  de  Montpel- 
lier  a  Jeãer^on,  que  então  se  ach  ava  em  Paris  (1),  Ktsng  cartas 
existem  na  BihlíothecH  da  Secretaria  dos  Xeg-ociofl  Extrang:eíroa 
em  Washington.  O  dr.  Filippe  Lopes  Netto  delias  tirou  cópias 
authenticaâ  e  as  photoçraphou ;  as  ptotographías  e^tâo  aetual- 
meot©  no  Ârchivo  do  hmiUuio  Hiniorico  do  Rio.  São  escrito» 
em  francea  incorrecto  e  eatáo  acompanhadas  de  uma  carta  de 
JéÕerBon,  em  francez  ij^aalroente  defeituoso  (Rev.  tomo  56),  O 
erudito  dr,  Joãé  C,  Rodrigues,  em  seu  precioso  Caiahjgo  (Bihlio- 
theca  Braziliense),  [mg.  59,  publica  o  orij^inal  dessa  carta, 
datada  de  26  de  setpmbro  de  178 6,  em  que  jeflbraon  annuncía 
a  Vendek  soa  prostima  viagem  a  Montpellier,  ou  a  «  sua  yi^i- 
obança». 

Em  nenbama  dessas  repetidas  publicações  apparece  o  nome 
de  José  Joaquim  da  Maia,  e  nem  por  suspeita  a  elle  vag-amente 
»e  aUude,  Ao  contrario,  na  FÍp.v.j  tomo  47,  pag.  124  da  1  parte, 
»e  dw,  qtie  «o  conselheiro  Lopes  Neto  esereveu  para  JfontpeSlier 
eom  o  fim  de  averiguar  si  em  1786  e  1787  havia  na  eecííla  do 
medicina  algum  estudante  de  nome  Vendek».   «Ãlli  nada  consta» ^ 


(t]<    iKrwEBíSo:s,   deu  doi  ^asdei  íftatores  da   R«pu1iUcA    N^rtc-AmuricaD*  e  do- 
poit  1411  t«n!«lr«  f  ruideotfl,  er*  eoiSg  da  Fruçu  o  nprwtstulo  de  lec  ^Uw, 


-  400  - 

accrescímto  o  redactor  ào  artigo,  «e  o  que  ma  parece  provável  ê 
que  Yendek  fosse  nome  &uppostrí,  pois  que  o  autor  dae  carta»  re« 
commeudava  a  Jefí^rson  que  mandasso  resposta  ao  gr,  Vigarons». 

Este  Mr.  Yigarons  era  «Conaeilíer  du  Koy  et  profesaeur  en 
méáicioe  A  rUmveríite  de  Mootpellier*,  ciufortne  diz  Vendek 
em  sua  primeira  carta.  Díive  ser  Vioarous,  reputado  medico  âe 
Moiitptíllier, — eoi]F4:>rme  demonstraremos  no  fím  ãçMii  nota. 

â  nào  mt  uma  confusa  ap^roximaçâo,  que  em  abril  de  1899 
fez  no  J.  do  Crmtmercio  o  autor  da  um  laborioso  mixtiforio  abi 
publicado, — 6âte  pequeno  problema  bistorico  tom  apparecido  como 
irreãoluto  até  mesmo  uo  receutimimo  e  erudito  eataiog^o  do  dr. 
J,  C.  Rodritíues.  Entretanto,  a  identifieaçân  de  Joaquim  Nor- 
berto, publicada  em  1861  iia  Reu.  Fop.^  dá-noe  a  eoluçào  in- 
teira do  preten&o  problema.  A  elle  é  que,  no  fundo,  cabe  o 
mérito  deste  achamento. 

Ba:» ta  para  isso  uotar  que  a  identiâcaçilo  de  Joaquim  Nor* 
berto  Btí  refere  a  um  estudante  de  MontpeUier^  que  ahi  estava 
por  1786  e  que  Vendek,  visivelmente,  ee  dá  como  tal,  poh,  está 
em  confiança  intima  com  um  notável  medico  ou  cirurgião,  «pro* 
feasor  da  Univeni/iade  de  Montpellier». 

£^  o  que  mais  claramenÈe  veremos  nesta  nova  e  especial 
idpntificBçèo,  em  que  esporemos  :  1.')  tudo  quanto  Be  relcre  ao 
Vendek  de  Jefíerson ;  2/)  tudo  quanto  se  apurou  naa  Devassaê 
da  ínconfiãencia  míiíeira^  relativamente  ao  estudítuie  de  Montpel- 
lier,  Jtí&é  Joaquim  da  Maia.  A  citai^âo  das  fnutea  na  epigrapbe 
desta  nota  tiJ>8  dispentia  de  interromper  a  expoiiçào  com  multi* 
plieadas  referencias  aos  documentos  comprobatórios. 


A  2  de  outubro  de  1786,  Vendek  escreve  de  MonrpeiUer  a 
Jefferson,  dízendo-lhe  qUB  «tem  um  assumpto  da  maior  impor- 
tância para  comrauuicar-lbei,  Nào  podendo  ir  a  Paria,  por  mo- 
tivo de  doença,  pede  «que  lhe  diíça  ei  com  segurança  podo 
communical-o  por  carta»,  e  que  «dirija  a  resposta  h  Mr,  Viga^ 
Tons  {Vigaroua),  CmiHêiller  âu  Roy  ei  Profejuscur  en  medicine  à 
VUniversité  de  Monipellitr^^ 

Conformo  se  vf*  de  sua  carta  a  Jobn  Jay  (Marselba,  4  de 
maio  de  1787)»  Jeffersoo  respoudeu-lhe  indicando  *o  meio  do 
levar  avante  seu  intento  com  segurança». 

A  21  de  novembro  de  178*3,  escreve-lbe  Vendek  a  impor- 
tante carta,  que  em  Sua  correspondência  Jeífersoo  traDs&revd 
ipHÍH  t^erhía,  omittíndo  a  s^sigu atura  de  seu  correspoudânta» 
Desía  carta  de  Vendek  se  v6  que  JeíTerson  lhe  respondera  a  16 
de  outubro,  mas  só  com  atrazo  foi  &ua  carta  recebida.  E'  ent&o 
que  Vendek  se  declara  brazileiro  e  enviado  á  França,  h  fim  de 
CO  n  seguir  do  representa  a  te  da  America  lug^leza  o  auxilio  d&  que 


—  401  — 

necessitrtva  o  Brazil  para  sua  independâii&ía«  Declarasse  «habi- 
litado g  Ibe  d^r  todas  as  informaçõei»  que  i>tte  julgiir  necessárias, 
no  caso  de  querer  coQãultar  sua  nação».  Trata-t^e,  como  &e  vê, 
de  um  só  eDTÍadfi  e  a  carta  é  muito  cxplieita  a  egse  reBpeito, 
Na  primeira  nenhuma  íiift>rmaçào  deu  e  nesta  limilou-se  a  cara- 
cterizar o  fim  de  sua  mistião.  Tndo  ifito  corrige  a&  í^rroneaa 
affinuaçâes  de  VarnLa^en,  conforme  o  que  ticou  dito  em  o  n.  4," 

JefTerson  nào  ILe  d^^u  nenhuma  res])0^ta  círcumstauctada  e 
indiscreta,  como  expire  Vnrnhíigem.  Á  26  de  dest-embro  de  1786, 
em  uma  cartinha,  escreve  que  «retardara  a  resposta  a  sua  carta 
da  21  dp  novembro,  j>orque  a  todo  momento  esperava  faaer  uma 
viagem  ás  províncias  meridionaeB  da  França»,  Apezar  de  nào 
haver  ainda  decÍdi'^o  n  momento  da  Tjafpem, — ái%  Jefferton  tex- 
tualmente^—«j^aurais  Hnremtint  l'lionneur  de  vou»  eii  íaire  purt, 
et  de  demander  un  rÊmhz-Douíi  au  à  MoniptíllUr  ou  en  m  (inc) 
poisinagey. 

JeiíerBon,  com  efieito,  então  ou  log-o  depois  escreveu  final- 
mente A  Vendek,  dlzando-lhe  que  iria  á  Aix  e  que,  sob  pretexto 
de  ver  as  aDtiguidadea  de  Nime^,  se  desviaria  de  seu  caminho 
«té  esta  cidade  e  propunha  que  Vendek  abi  vie*eo  encoiitruÍ-o. 

A  5  de  janeiro  de  1787,  eserPvea^lUe  Vendek,  accui^ando 
A  recepçAo  dessa  noticia:  per^uuta-lbe  pelo  dia  de  sua 
ehegada  a  Nlmes  e  Ing-ar  de  seu  alojamento,  Prnntifíca-se  a 
b  vel-o  a  Nlmes  ou  a  qualquer  outro  hi^ar  qii«  Ibe  anja  nmis 
commodo, 

Jefferson,  em  eaa  correspondência  (Marselha,  4  de  maio  de 
1787),  declara  que  Vendek  veiu  e  resume  as  in  for  mamães  que 
deu,  conforme  se  pode  ler  naa  iíeu^.  citadas  (tomo  III,  pn^,  210; 
tomo  XLVII,  I  parte,  pag-.  127),  Nesfio  reaumo  disi  Jeffe-rson 
que  seu  interlocutor  é  tnatural  do  Rio  dé  Janeiro,  a  pre-enie 
metrópole  f/nde  elle  mora 9 .  JcifFert^on  declara  também  especial- 
mente :  «A  todo  o  tempo  os  Brasiileiros  hi^o  de  precisar  que  lhes 
forneçamos  embarcações,  tri^o  e  peixe  salji^ado.  Este  j>pixe  ó 
um  grande  arti^-o,  que  recebem  actualmente  dfl  Porii^^tli.  Cosno 
em  BUA  carta  de  21  de  novembro  Vendek  se  mostrava  receoso 
da  intervenção  da  Hespanha,  «que  uho  deixaria  de  se  uinr  a 
Portufral»,— Jefferson  na  entrevista  fez  ver  que  «uma  tentativa 
ou  emprei^i  da  Hespanba  não  era  para  recear-se  ou  nH.da  leria 
de  íormidav^I»  (tomo  ÍII,  212  e  XLVII,  129),  Estes  pontos 
devem  ser  particularmente  assifirnaliidos,  cf^mo  importantes  para 
E  identificação  de  Vendek  com  Joié  Joaquim  da  Maia 

Já  disae  que  JeATerson  nada  piom^-tteu  a  seu  informante. 
Convém  ainda  assigtialar,  para  a  identificação  reterida,  que  J**f- 
lerson,  apessar  de  todas  a»  cautela*  diplomáticas,  declarou  «que  a 
svoluçfto  bem  f>uccfldida  no  Brwzil  nà-»  podia  deixar  de  ititejessar 
IfVOB  Estados  Unidos  e  attrahir  um  carto  numero  de  indiviuios 
«m  seu  auxilio,  ofliííiaes  nossos,  em  cuj  »  numero  nào  faltavam 
excellentes  militares» ,     Mas  entÂo  os  Estados  Unidos  «desejavam 


—  402  — 

cultivar  a  amizade  de  Portugal,  com  quem  entretinham  um 
commercio  vantajoso». 

A  rí'speito  do  «assumpto  de  maior  importância»,  a  que  se 
referiu  Vendek  em  sua  carta  de  2  de  Outubro  de  1786,  esta  foi  a 
unira  rcspostfk,  e  verbal,  que  Jefferson  lhe  deu.  Entretanto, 
lendo-so  Varnhagen,  acha-se  tudo  isto  confundido,  accrescentado 
e  duilicndo  (V.   paçs.   1016  e  1017). 

Jpffersoa  não  se  despreoccupou  do  Brazil  e  vemos  que  se 
tinha  f?ívcravelmentc  impressionado  com  a  entrevista,  cora  as 
informnrõps  de  Vendek.  Em  12  de  março  de  1789,  em  11  de 
abril  dM  1791,  em  14  de  maio  de  1817  e  4  de  agfosto  de  1820 
se  most^^a  mui  benevolamente  preoccupado  com  «seus  irmãos  do 
sul»  e  especialmente  com  o  Brazil,  que  elle  considera,  em  1817, 
«mais  populoso,  mais  rióo,  mais  forte  e  tão  instruido  como  a  mãe 
pátria». 

Vejíimos  agora  quem  era  Vendek, 


Quando,  em  1841,  no  tomo  III  da  Revista  se  publicaram  og 
extrn<'tos  da  correspondência  de  Jefferson,  o  Instituto  Histórico 
já  tinha  em  seus  archivos  os  documentos  para  saber  quem  era 
o  informante  do  illustre  estadista.  Infelinsmente  a  descoorde- 
naçílo  lamentável  que  reina  em  nossos  documentos  históricos  e 
em  sua  publicação,  faz  de  nossa  historiographia  uma  congérie 
immane,  que  aturde,  que  desconcerta  os  mais  hábeis  de  seus 
cultores. 

Em  1839,  dous  conjurados  sobreviventes,  o  conselheiro  José 
de  Rezende  Costa  e  o  cónego  Manoel  Rodrigues  da  Costa,  mem- 
bros honorários  do  Itistituto^  enviaram  a  este  uma  exposição  e 
informflções  a  respeito  da  conspiração  mineira.  Só  em  1846,  no 
tomo  VIU,  foram  insertas  as  notas  do  conselheiro  Rezende  e 
até  hoje  não  foram  publicadas  as  informações  do  cónego  Costa, 
de  quem  já  tenho  falado  pelas  noticias  que  forneceu  ao  cónego 
Brito,  de  Sapucaia.  No  tomo  LXIV,  parte  I,  104  e  105,  meu 
eruditi  amigo,  o  Barão  Homem  de  Mello,  fez  especiaes  refe- 
renca^;  a  esse  doe.  e  lastima  que  tivesse  havido  ca  infeliz  idéa» 
de  snpprimir  sua  publicação. 

No  tomo  VIII  (2.*  edição),  pag.  309,  o  conselheiro  Rezende 
informa  (16  de  novembro  de  1839): 

«O  dr.  Domingos  Vidal  formou-se  em  França  na  faculdade 
de  medicina  (de  Bordéus  V)  e  igualmente  José  Joaquim  da  Afaia, 
natural  do  Rio  de  Janeiro^  que  alli  (?)  falleceu,  antes  do  re- 
gresso  a  seu  paizi  e  como  este  asseverava  ter  sido  encarregado 
nesta  cidade  e  tratava  (de  tratar  f)  com  o  ministro  dos  Estados 
Unidos  da  America  em  Paris,  para  a  cooperação  da  independên- 
cia premeditada,  e  obtivera  uma  resposta  favorável^  Vidal  foi 
muito  inquiiido  a   este   respeito». 


—  403  — 

Vidal  foi  deportado  pnra  a  ilha  Sanfíago  de  Cabo  Vefíle, 
onde  chegou  em  janeiríi  d«  1703,  ©  alií  morreu  oito  mezes  de- 
pois, no  Convento  3,  Francisco  da  Ribeira  Grande.  Sej^undo  o 
conselheiro  Hezende,  que  fura  desterrado  para  a  mesma  ilha,  até 
aos  últimos  momentos  esperava  de  Lisboa  o  habito  da  ordem  de 
Chtiâto  e  a  tença  d^  200$UOO,  «ttalvez  o  premio  com  que  o  alli- 
ciavam  para  colher  esclarecimentos  sobre  a  revolu^Ao»,  De  ãua 
fraqueja  de  an-mo  veremoa  outras  provas  logo  em  se^íaida»  As- 
sim poderemos  cou armar  o  testemunho  do  conselheiro  Rezende, 
que,  «em  sua  avançada  idade  de  Tl  annos  e  ai  gana  mezes»,  se 
lembrava  dos  fraco»  de  Vidal  e  facilmente  esquecia  as  fraquezas 
Ao  mancebo  que  em  1789  sa  rebaixara  com  seu  pae  em  uma  de- 
nuncia deplorável.  Ã  nós,  em  vista  de  seu  exemjdar  comporta- 
mento de  filho  amoravet,  cabe  excasar  taes  debilidíide^,  &em 
a%  esquecer  para  pr^-venir  os  vindouros  contra  as  sug^estões  vis 
do  egoísmo  ir  refreado,  Xfto  vou  ate  á  facilidade  com  que  Nor- 
berto accu^a  Rezende  Costa  de  ódio  a  Vidal,  só  porque  lhe 
de^f^obre  es^as  fraquezas  mui  ajustadas  a  geu  caracter.  O  sr, 
Norberto,  com  suas  bem  pro]iria&  rabões,  admitte  muito  que  se 
deinaturem  episódios  |or  mà  vontade  pessoaí- 

Na  Deva.^iiiii  de  Mtjía^  (Li oro  T,  ii.  13  de  meu  recenseio)  a 
tía.  97  V-  vem  o  deiioimenco  de  Domingos  Vidal.  Ahi  narra  (V) 
0  caso  do  estudante  de  Nfontpellier  e  o  plano  da  conspiração, 
con*'ormfl  o  :|ue  soube  de  seu  primo,  o  coronel  Francisco  An- 
tónio- O  Tirad entes  mataria  o  Governador  e,  trazendo  a  cabeça, 
dina:  — Este  era  o  que  nos  governava;  de  hoje  em  deante— Kíwa 
a  Republica  /  Depois  faria  uma  oraçào,  A  souba  era — Ud  dia 
é  o  bapUzaãn, ...  A'  vistat  porém  de  seu  tartamudear,  pro- 
poz-se  a  escrever  carta-denuncia,  Vt-m  essa  carta  no  Livro 
nu  app,  24*  E'  datada  de  9  de  julho  de  1780,  e  assim  começa 
(textualmente):  «Além  do  que  coramuniquei  aos  Meoistros,  que 
ontem  me  la^uiriram  a  res^^eito  do  Bucesso  que  relatey  aconte- 
cido em  Moutpellier,*  ...  E  pa^íia  a  dar  mais  assentadamente 
o  plano  do  levante.  Termina  declarando  que  nâo  denunciou  isto 
ha  maia  tempa  <por  iiào  dar  importância  af^s  sujeitos  e  ao  facto 
e  por  não  saber  a  lej  que  a  ísao  o  obrigava  (vifto  ser  medico)». 
Na  Det-asaa  do  Rio  (Lívro  IV,  toL  68)  dia  que  «por  esta  de- 
nuncia e  a  mais  franqueza  dos  depoimento^,  espera  o  Perd»o  de 
S,  M/,  pela  ignorância  da  lei».  Vemos  que  Vidal  queria  ter  o 
vezo  de  nào  dar  importância  aos  mais;  doode  resultava  uào  se 
dar  também  suficiente  e  digna  imporcancia. 

Um  reíerimento  de  seu  primo  ftíx  que  o  iriterroga^^sem  na  Dei', 
do  llÍQ  e  em  um  aumuario,  ordenado  a  30  de  junho  de  1781*,  por 
uma  portaria  especial,  em  que  o  Visconde  de  Barbauena  assim 
declara:  íPor  ser  digno  de  maior  e  mais  particular  averiguaçÃo 
o  facto  em  que  tocou  o  coronel  Francisco  António  de  Oliveira 
Lopes  nas  suas  ultimas  respostas,  referiudo-se  ao  dr.  Domingos 
Vidal  Barbosa,  acerca  de  tuna  carta  escrita  ao    itiimutro  dos  Es- 


-  404  — 

ta^os  Unidos  da  America  Septentrimml  por  um  estnâanU  ào 
Bra?Al  que  se  achava  em  Mnntpellier :  oneno  a  Ym,^**  que  se 
informe  suTnmariflmente  dellea  inquirindo  novamente  o  corciiíel, 
o  dito  DomÍDgOB  Vidal  e  m  mais  pessoas  que  se  referirem  dob 
seus  depoimentos  (Norberto,  49»  nota ;  lÂvro  II,  Appertjtos  k 
IJev     em  Minas,  Ápp.  d,  2  bis) 

NesBe  nnvn  dppoimentOt  mais  seubor  de  Bt,  «lembre -se  d© 
■ama  extravagância  que  havia  succeHido  em  Montpellier,  qunndD 
elle  testemuuba  abi  estudava,  a  um  seu  condiscípulo  por  nome 
Jo»é  Joaquim  da  Maia,  o  qual  te  Ibe  metteu  na  eabeça  que 
bavia  de  ser  libertador  de  sua  terra,  sendo  natural  do  Rio  de 
Janeiro  e^  ingindo-fe  enviado  de  ena  naçíio,  se  atrevpu  a  falar 
ao  ^tinistro  da  America  In^^lfzai.  Só  tenho  alpn^maa  notas  dos 
depoimentos  de  Vidal  em  Minas  e  do  RÍo.  8irvo-m©  nestes  ex- 
tractos dfl8  traní^criçôes  de  Norberto  e  da  íl completa  que  encon- 
trei em  uma  nota  do  Jornal  do  Covmitrcio  de  21  de  abril  del899. 
Noibetto  iifto  discrimina  hem  estos  depoimenloa,  poiti,  ao  psere- 
ver  em  1660  este  capitulo  fõ  êxtiaetou  da  devaMa  do  Kio,  eon- 
tinnada  em  Minas.  No  emtanto,  ao  publicar  ieu  livro  em  187â, 
juntou  n  esiies  extractos  referenciaíi  á  verdadeira  Dev,  de  Minas. 
NSo  faz  concorde»  ou  conformes  referencias  ao  app**iiB0  n.  17  do 
Livro  VI,  em  que  Vidal  foi  interrogado  pela  alçada  e  aiuda  fesc 
declarações  sobre  o  intrincado  epiacdio  de  José  Joaqmim  da 
Maia.  Desse  depoimento,  feito  a  21  de  junto  í1«  1790,  dou 
adeante  extiactos  mc^us,  e  um  de  Norberto  (pag^  327). 

No  depoimeuto  da  chattiada  Devassa  do  A^ío,  declara  Vidal 
que  «em  França  vira  um  sujeito  cbamado  José  Jo»quira  da 
Maiftt  filbo  de  um  pedreiro,  que  ?e  queria  (a^er  outro  Mr.  Fran* 
klin  relaiivflmente  á  America  Poriugueza,  dizendo  que  a  querÍA 
pôr  indepenHente  da  Europa..,,  o  com  effeito  chegara  a  escre- 
ver ao  ministro  da  Aviença  Ingleza,  que  ífl  achava  em  Paris, 
dizendo  qite  era  enviado  doa  Amerícaftos  Portugyezes,  que  ^íí«- 
ria  tratar  do  negocio  de  stua  independência,  para  o  que  pedia  o 
auxilio  de  sua  republica ;  ao  que  lhe  foi  reBj>ondido  que  depois 
que  cá  íivejisem  na  Amerira  cansegindo  a  independência  os  fa~ 
fx^receria  crm  bb  manufacturas  e  o  maiB  que  carecessem  |.>Rra  & 
conservar,  porém  que  ojttdar  o  rompimento  nâo^  por  ser  tom  uma 
na0o  em  cujos  portos  achavam  benigno  acolhimento ;  mas  depoit 
succedendft  vir  o  dito  ministro  á  provinda  de  Langaedoc  (l), 
indo-lh^  ahi  falar  o  dito  Joité  Joaquim  da  Maia,  foi  conbecidW 
a  pouca  verdade  com  que  elle  se  tinha  intitulado  enviado»,  etc* 


(i)  Uma  parte  do  Síiía^íf  Z*íi f/17 u^rfoc  ou  Laugnedoc,  oriental, 
formou  o  actual  departamento  do  Gard,  que  tem  como  capital 
Nfmes,  Em  1902  ahi  estive  do  [laswag^em  :  trouxe  ao  uos^o 
Instituto  uma  vista  e  oro  fragmento  da«  >lré?te.s\  como  lembrança 
da  famosa  entrevista  de  José  Joaquim  da  Maia. 


—  d05  — 

Aqui  Yídal  aduba  seu  depoimento  C4>m  phr  ses  desdenhosas, 
para  mostrar  qoo  Maia  fora  «desprezado  pelo  dito  miuiBtro*,  que 
lai  episodio  uko  tinha  icnport  ncia  e  não  lhe  advinha  responsa- 
bilidade alguma  por  estar  ii«:lle  envoWido.  Võ-se  que  a  priafto 
6  aa  inEtaacias  dos  juizes  delataram  a  liuirua  ao  tartamudo  do 
primeiro  depoimento.  E  ÍBto  em  mal,  porque  estei  como  outros 
fingidt^B  desdéns  de  t;ada  serviram  para  o  innocentar. 

3eu  primo,  coronel  Lopes,  que  lhe  f  uvira  a  historia,  a  reconta 
c«m  mais  desinteressa,  embora  cnm  o  accrescimo  de  um  «u  maia 
doâ  e<^itumario4  pontoa  Diz  elle,  reportaiirlo-se  a  Vidal,  eomo 
teâtemiinha  referente:  <  Estando  em  Mtintpellieri  andaram  lá  dous 
enriadoa,  que  não  sabe  o  nome,  netn  a  dita  testemunha  lhe  diaae ; 
que  um  era  da  Lapa  do  Rio  de  Janeirn,  mandado  pdojí  Cfjm- 
muJtarim  d^ta  cidade  para  tratarem  (tratar  ?)  ema  o  minUtro 
da  America  Ingleza,  e  que  a  effte  respeito  tiveram  os  ditos  en- 
viados algumas  .conferencias  com  o  dito  ministro,  a  uma  das 
qoaae  assistira  a  testemunha  referente  (Vidal)  e  qua  o  dito 
ministro  disaera  que  tinha  dado  aviso  a  &ua  uaçâo  e  que  esta 
estava  pronta  a  soccorrd-us  cnm  náuH  e  gente,  pagando- se-lhei 
os  grddos  e  obrigando -se  a  tomar  Ik^s  o  bacalhau  e  o  triga  \ 
que  depois  de  fazerem  cá  o  rompimento^  avisassem  I^qq  para  vir 
o  sotcr^rtQ^  e  que  falaria  também  a  el-rei  de  França,  para  se 
iticlinar  a  soccorrel-os ;  que  \tm  doa  enviados  dissera  que  a  7iu- 
çào  de  que  se  femiajn  era  a  H^spanhota,  por  str  confiiuinte  ;  ao 
que  o  dito  ministro  lhe  re^p',nd^ra  que  não  temeftsem,  porqttô 
«ra  um  nação  lerda,  e  que  o  Rio  de  Janeira  eia  uma  praça  que 
se  defendia  bem,  e  que  si  fosse  neceRsario  usasbem  de  bdlaã  ar- 
dentes» nem  66  embaraçarem  com  as  leia  do  Papa  i  (V.  Norbbrto, 
p&g,  47—48,   noia). 

Af^ezar  do  sabor  de  semi-rusticidade  que  llie  deu  o  a^saloiada 
coronel  Êerrano^  o  episodio  está  em  tudo  essencialmente  conforme 
coro  a  narração  de  Jefffrson.  E'  notável  que  o  coronel,  falando 
era.  doua  enviados,  bó  faz  etlecti vãmente  aeir  a  um  dellea. 
Em  seu  depoimento  de  3T  de  novembro  de  1789,  o  padre  Carlos 
de  Toledo  refere  que  o  coronel  Lopes  «  títiha  ouvido  dizer  que 
os  negociantes  do  Rio  de  Janeiro  tinham  mandado  um  enviado 
ou  um  estudante  para  França^  para  tratar  da  sublevação  e  li- 
berdade que  prete^tdiam  ;  poré  m  nem  Lhe  diâse  O  nome  dos  ne* 
goeiantâb,  nem  o  do  enviado  *  {Archiva  da  Districto  Federal^ 
1894,  pag.  500). 

  21  de  junho  de  1790,  Domingos  Vidal  soffreu  ainda  da 
Alçada  um  ultimo  interrogatório  (Livro  VI,  app,  17),  Ahi  de- 
clara ser  filho  do  capitão  António  Vidal  de  Barbosa  e  d,  The- 
resa  Maria  de  Jesus,  natural  de  Minas  (freg^uezia  de  N.  B.  da 
Conceição  do  Caminho  do  Matto)  e  que  era  doutor  em  medicina 
pela  Universidade  de  Bordéus,  Instado  para  dizer  mais  sobre  o 
caso  do    efitudante    José    Joaquim    da    Maia,  declara  nada  maia 


—  406  — 

saber  e  que  seu  compaiiboiro  José  Mariano  Leal,  que  devia  vir 
com  o  Conde  de  Hesçende  (1),  conhecia  o  estudante  e  sua  etn- 
preaa  6  com  elle  commentára  a  originaUdade  do  Maia.  Já  o  Mma 
nào  era  tâo  deaprezivel  e  passava  a  ípt  um  original, 

Acarendo  com  o  coronel,  aeti  primo,  que  dissera  serem  dous 
os  enviados,  por  assim  o  ouvir  da  próprio  Vidalj  per^^ifitiram 
ambog  em  seus  depoimentóB,  por  mais  ínstanciaâ  e  medos  quo 
Ibee  puzeusem  o^  juizes,  muito  empenbadoi  em  apurar  este  ponto. 

E'  curiosa  a  nota  do  escrivão,  que,  á  pag.  S27,  Norberto 
textual  monte  transcreve  deste  auto  de  perguntas  e  cojifrontação : 

«  E  pOT  mais  arg^u mentos  e  persuasões  que  Ibe  foram  feitos, 
náo  foi  poBsivel  conhecer-se,  nem  presumit^-se^  amdu  exterior- 
'inente(f}f  qual  delles  ou  se  engana  ou  falta  á  verdade  potili— 
yamentej  do  que  tudo  dou  miuba  ¥é  judicial,  e  das  grandes  ins- 
tauciãg  que  por  elle  juiz  deaembar^ador  lhes  foram  feitas i. 

E  assim  deu  o  juiz  por  concluído  este  ijiterrog^atorio,  com 
que  fechamos  também  nossa  conclndeute  demonstraç&o.  Vendek 
é  Q  mesmo  José  Joaquim  da  Maia :  a  este  respeito  nenhuma 
dnvida  séria  pode  mais  existir. 

Para  completar  o  episodio,  fora  conveniente  ináa<^ar  em 
Montpellier  a  matricula  de  José  Joaquim  da  Mata.  E'  o  que 
espero  ainda  realizar,  quando  os  lazeres  de  um  retiroi  duramente 
conquistado,  me  permit tirem  consa^ar  á  Pátria  maia  serenos  dias 
e  cogitações  maia  a&seutadas,  em  contendas  menos  renhidas « 

Quanto  a  Mr,  Vigarous  (e  n&o  Vigarons),  creio  poder 
apresentar  a  eeu  respeito  uma  satisfatória  informação. 

Na  Biographie  universelle  (Micbaud),  tomo  48,  1S27,  pag. 
454,  vem  noticia  de  dous  irmãos  Vi^arous,  ambos  uotavei»  pi'C>- 
fessores  de  medicina  em  Montpellier. 

L")  Barthoíomeu  Vioarous  (1725—1790).  Exercendo  a  ci- 
rurgia desde  1745.  douto rou-se  em  1751  e  depois  que  ee  tor- 
nou, em  1708f  cirurg^ííto-môr  do  hospital  militar,  foi  nomeado 
professor  real,  cathedratico  de  cirurgia.  Pratico  dos  mais  re- 
putados em  Montpellier,  de  nma  feliz  audãciaf  deixou  Obras  de 
Cirurgia^  que  seu  filho  publicou  em  1812, 

2.")  FranHsco  Vigarous,  irmào  mais  moço  do  1,",  desti- 
nara-se  a  principio  ao  sacerdócio;  depois,  mudnndo  vocação,  estu- 
dou medicina,  d  ou  tou  rou-se  e  constituiu  família,  E'  provável  que 
nesta  se  achasse  de  peneão  José  J,  da  Maia,  em  1736<  Viga-» 
roíiB  falava  com  elegância  e  facilidade  a  língua  latina.  Brilhou 
assim  com  vantagem  nos  concursos  e  em  1776  foi  provido  em 
uma  cadeira,  que  honrosamente  preencheu,  morrendo  em    1792. 


(1)  O  vice-iei  Conde  de  Rezende— o  taciturno  José  Luiz 
de  Castro — tomou  posse  de  seu  cargo  a  4  de  junho  de  1790 
{T.  Mello,  Epkemerides), 


—  407  — 

Larousse,  á  noticia  do  1.**,  accrescenta  a  de  um  seu  filho, 
José  Vigarous  (1759—1829),  que  se  doutorou  em  1780  e  foi  pro- 
fessor em  1786,  exercendo  o  cargo  sem  grande  relevo. 

Assim,  José  J.  da  Maia  provavelmente  se  hospedava  na 
casa  de  um  dos  irmRos  Vigarous,  pois,  em  occasião  tão  delicada 
usou  do  endereço  de  um  delles,  o  «coaseiller  du  Roy» .  Maia, 
portanto,  nào  devia  ser  o  desprezivel  personagem  que  Vidal 
intentou  caricaturar.  Em  1786,  não  era  um  qualquer  insignificante 
qne  podia  ir  estudar  á  Europa  e  tratar  familiarmente  um  repu* 
tado  professor  de  medicina,  um  conselheiro  do  Rei. 

Segundo  os  depoimentos  de  Vidal,  J.  J.  da  Maia  morreu 
em  Lisboa,  quando  se  dispunha  a  partir  para  o  Brazil.  No  Livro 
Y,  n.  13  constam  estas  declarações  finaes  sobre  nosso  mallogrado 
compatriota : 

Indagando  o  juiz  porque  c  se  não  segurou  e  per(2:untou  a 
José  Joaquim  de  Maia»...,  o  escrivão  declara  que  «nâo  se  per- 
guntou a  José  Joaquim  da  Maia  por  estar  atutente  e  constar 
ser  faUecido  e  que  seu  pae  também  era  fallecido  e  que  por  isso 
não  se  perguntou  tambem>  (Norberto,  pag.  49)... 


—  408  — 


6.» 

POMBAL    B    Skn    JOSÉ    D£9    TIRÂOBNTES 

Priubal  ^sík  aitnaHf>  á  mar^ein  do  Rio  díia  Mnrtea  e  antíg^a- 
raente  S.  José  (l*El-Ret,  lioj^  *>e  Tiradentes,  «ra  S*  ,losé  dtí  íiio 
dat^  Mnrtes,  A^*tnalmente  <f*fitá  na  divisa  dos  municipioa  de  S. 
iTcsé  e  da  3.  Joãn  d'Ei-Kei«  Bsta  cidude  dista  12  ka  daqneJIa. 
Ti- es  Pílo  aa  informaçdeB  que  nofi  dá  o  DiVc  de  Morbira  PmTO, 
qufí  abi  esteve  em  1897. 

Pombal  era  entào  utna  tapera  e  S.  Jo^ó  mui  decadente. 
Aitida  exi&tia  nesta  o  vasto  prtidjo    do  padre  CarlíiB  de   Toledo. 

No  centro  da  Praça  da  Uberdade^  ttu  da  Inc^jnfiâen* ia^  em 
1892,  commemoníndo  o  centenário  de  Tiradentes,  ífrigiU-F6  uma 
colamaa  em  aua  honra,  kítipuado  a  deFcrii^áo  de  SL  Pio  to,  é  de 
ordem  compósita,  ai^eenta  sobre  pBiíestal  de  pedra  plástica  6  ebte 
Bobre  de^iráus  eimenladriB,  E'  encimada  por  uma  urua  funerária. 
Ladeiam  o  [edestal  quatro  pilaii^tnubji^,  unidas  f^or  meio  de  cor- 
rentes e  em  uma  rfa^  faces  está  a  seguinte  inacríçào  latina,  com» 
posta  pelo  dr.  Castro  Lopes: 

JOACEINO   JOSEPHO   A    SlLVA    XaVIEH 

BrASII^       LiBERTATIS      PbOTOMARTVRÍ      ILL11;S      CIVITAT18      INCOLiS 

HOO    lIOJÍLIMÊNTLfM  SUMPTU  Pl/BLICO  EalOBKDUM    OURAVflRaNT 

Dis  viGBãiuo  PHiMO  Aprilm 
A.  D.  MDCCCXCII 

Fl08    LiBERTATIS    TANDEM    DE    SaííQUINE    OEMMAT 

No^  autos  de  iaventarío  e  no  testamento  da  Mãe  de  Tirã^ 
dentes  (1),  tjonsia  cjue  em  1756  Pombal  tinha  uma  Capella  de 
N.  S.  da  Ajuda  e  pertencia  a  S,  José  d'El-Eei.  Era  então  (1756) 


(1)  Rewfta  do  Instituto  HistoricOt  tomo  66,  1  *  parte.  O 
manuscrito  foi  oÉFerecido  pelo  sr.  Julif*  Guimarães,  de  Catapraa^ 
zes,  IV)  illus trado  biblíotheeario  do  InatitntOj  dr.  Vieira  Fazenda, 

S[«e  delle  fez  preseure  ao  mesmo  Instituto.  A  publicação  foi 
éita  ein  1904  pelo  BarAo  Homem  de  Mello,  cuja  erudiçÃo  corre 
parelhas  com  uma  actividade  quasi  juveuil. 


—  400  — 

umn  cFszenda...  com  snaa  capoeiras,  mftttãB  FÍrgenfl,  borta,  ar- 
vores de  espinho,  Ca^-eEEa,  diversa b  casas  de  viveudíi,  seirzallaa 
e  paioU»^  valeodo  três  contna  e  duzeotoB  (em  reduzida  avaliação 
judicial  e  na  moeda  daquelle  tettipo). 

Ainda  havia  oa  me^ma  Fasseuda  do  Pombal  umae  terras  mi- 
neraes  com  Berviçoi  de  ap:uaf  em  amba«  as  margeni  do  rio,  além 
de  €iDaifl  quinze  praia»  na  lavra  do  Sar^ento-raór  Jnflo  Goní;Al- 
vea  Chaves  e  vanoa  regos  em  divereae  parages»„.  tudo  avaliado 
em  um  conto  e  duzentos 

Juutando-se  lhe  triuta  e  icis  encravos  e  ob  beni  moveis  di- 
versos, o  Acervo  elevou-se  a  mais  de  dez  contos,  abatendo- se  aa 
dividas  clasAiãcadas  e  aB  custa?  do  inventario.  Vê-ae  por  ahi 
que  Tiradentes  era  filho  de  pães  abastados,  cuja  herança  liquuia 
importaria  boje  em  mais  de  cem  coutos.  Quantos  abastados  de 
hojo  poderiam  chegar  a  tanto  ? .. 

O  testamento,  feito  a  22  de  Jalho  de  1751 ,  reza  que  os 
Paes  de  Tírad entes  eram  vioradoren  ?io  Rio  Ahaixo  em  seu  sitio 
chamado  o  Ihmbaly  hreguezia  e  termo  de  S,  José.  No  inventa- 
rio se  diz  tertualmente:  *nP6ta  parage  chamada  o  sitio  do  Pom- 
bal no  Rio  Abaixo,  termo  da  Villã  de    S.    José»  (1). 

Entretanto,  na  ai^s^ntãda  do  primeiro  interroi^atorio  de  Ti- 
râdentes  (a  22  de  maio  de  1789J,  fe  diz  que  elle  era  i  natural 
da  Pombal,  termo  de  t^.  João  d'El-Hei».  E  aisim  o  affirmam  al- 
guns escritores  de  Minas,  k  tpsta  dos  quaea  êo  acba  o  illusrre 
Presidente  do  Estado,  dr,  Jofto  Pinheiro,  que  twnto  e  tâo  cari- 
nhosamente tem  estudndo  a  conspiraçfto  minfúr». 

Conjecturo  que  nesta  duvida  vfle  aj^enas  a  mui  conhecida 
quest&o  de  campanarioi  em  que  doos  municipios,  com  iguaes  di- 
reitCB,  rec  amam  um  termo,  uma  paragem  situada  na  vizinhança 
ou  na  linha  de  âuag  divit^as. 

A  nós  bafite  eaber  que  em  1743,  por  rccaBÍão  do  nascimento 
de  Tiradeote»,  Ponibfll  fra  freguezia  do  tcrmn  de  S,  José  d'El- 
Rei,  na  comarca  Ho  Kio  daa  Mortea,  a  cuja  circumscri<íAo  tam- 
bém [terteucia  o  ternio  de  S.  Jíiâo.  E^  o  que  dizem  claramente  o 
testamento  e  autos  de  in ventar io,  de  1751  a  1757. 


(1)  Nos  autos  de  inventario  consta  que  o  testamento  foi 
aberto  em  S,  Joào,  a  «primeiro»  de  dezembro  de  1755 ;  o  que  deve 
Ker  engano,  porque  também  ahi  ^^  diz  que  a  Màn  de  Tiradentei 
íalleceu  a  6  do  mesmo  mez  e  anuo  (V.  Rev.,  tomo  66,  1/  parte, 
pag«,  288  e  294),  Seria  conveniente  uma  revisa©  deaaa  cópia^ 
onde  ha  erros  graves. 


—  410  — 


ADVERTEXCJA     1'ISAL 

Eitiis  Notas  e  esclarexi mentos  deverão  continuar- se  no  tomo 
se«riuote  deata  Eeuista,  Ent&o,  com  maia  assento,  lerào  coorde- 
nador os  documentOB  da  conspiração  mineira,  de  que  publicarei 
alg^uns  ioeditos,  Nfio  sabendo  qnando  as  vicissitudea  da  vida  me 
consentírSo  calma  e  repouio  para  escrever  a  HUtaria  dt  Tira" 
dentes,— nç&t&  Reviata  iroi  registrando  os  documentos  que  «irvam 
B  outros  escritores  mJ^is  preparados,  mais  felizea.  O»  livros  e 
documentos  nâo  se  devem  possuir  pelo  goso  de  o^  ter,  sinão 
pela  utilidade  que  aos  mais  advenha  de  8ua  posse  e  de  seu  uso 
eS'ectivo,  em  trabalbos  coordenados, 

E'  mui  pernicioso  o  prurido,  o  gostn  ê  mania  de  achar ^  de 
possuir  documento»,  para  discutir  prioridades  ou  puerilidades  e 
para  os  subir  ahir  à  circulai:;â,o,  para  o  a  esquecer  em  pui  ve  rui  eu*» 
toa  archivoB.  Neite  particular,  aconteceu  com  Varnhag^en  um 
caso  mui  característico,  Âcliou  um  manuscrito  ^^Memoria  sabre 
Q  e3dio  í/we  teve  a  Conjuração  de  Mi  nau  ^  ©te,  e  o  ofterecéii 
ao  Instituto  Ilísiorico,  Norberto  por  sua  vez,  com  auxilio  de 
Araújo  Porto  Alegre^  teve  notícia  e  obteve  cópia  de  outro  ma- 
nuscrito sobre  os  —  Últimos  jnomentos  dos  incoiiãdentes,  cujo 
precioso  orij^inal  actualmente  deve  estar  em  Minas,  Norberto 
éTtractou  o  manuãcrito  e  delle  publicou  quanto  era  preciso  om 
seu  conhecido  livro*  Fck  maíâ:  aervtu-âe  especialmente  do  cquaai 
esquecido»  manuscrito  de  Varnhagen.  Eate,  ao  publicar  a  2.* 
edição  de  éue  Historia,  cita  subrepticiamente  o  documento  d© 
Norberto  e  cita  o  seu  autor  (frei  Ray mundo  Penuaforte),  Ma» 
nfto  se  refere  a  Norberto,  nâo  cita  seu  próprio  esquecido  manu- 
scrito, onde  teria  uma  indieaçào  para  saber  que  os  —  Últimos 
Tiiomenios  —  deviam  ser  escritos  por  Frei  Hajmundo...  (V.  Noa- 
BERTo,  pap,  XVI;  Varnhagek,  pags.  1033  a  1035;  Memsia 
do  Instituto,  tomo  44,  1.'  parte,  136,  156  e  183). 

Ha  em  Aíinaa  diversos  archivos  particulares  que  possuem, 
documentos  sobre  a  conspiração  mineira.  Sei  que  o  illuatre  presi- 
dente de  Alinas  tem  publicado  em  jornaes  alguns  doa  muitoa 
documentos  que  guarda  em  seu  arcbivo,  E*  para  lamentar  qne 
Bua  vida  atarefada,  e  civicamente  tão  activa,  lhe  não  haja  Per* 
mittido  fazer  um  livro  em  que  os  colleccione  todos,  sob  o  título 
feliz— j4  terra  imtalj  que  aaoptou  para  09  poucos  já  publicados. 


í 


"  411  — 

Ha  muito  que  espero  esae  o  outros  Bubsidios  para  uma  his- 
toria que  tão  cara  nos  devo  ser,  £'  mais  que  tempo  de  con- 
vergir esforço»  para  dia  si  par  fane^to»  erros,  para  reconstituir 
liiatoncameute  o»  melhores  aapectOB  de  nossa .  querida  Pátria, 
Como  o  poeta,  saibamos  coutentar*coa  com  a  rohorante,  e&timu- 
ladora  gloria  de  amar  a  nossa  terra  e  a  nosisa    humana    gente, 

lõ  dé  dezembro  1907, 

JosÊ  Felicíano, 

S.  Faulo 

Endereço  :  Caixa  Postal,  21G. 


o   PAPEL  DE  JOSÉ   BONIFÁCIO 

NO 

Movimento  da  Independência 


(CONÍBUBSIÍCIA    RBALIZADA    NO    9ALÍlo    STBINWAY,    «S.      PÃCLO»     BM      2S 
DB    OUTUBRO    DE    1907). 


Meus  BeDhoreg  : 

O  iiiBtincto  popular  rAramente  ou  nunca  se  engana,  Ã.B 
guaa  fíympãthias  e  atitipatbiafi  dbtribuem^se  com  equidade.  Não 
«e  íez  jirecbo  que  oa  estudiosos  do  passado ,  acobertando  se  com 
a  indulgeueia  da  distancia  no  tempo,  procIamar>uem  Dom  Joào 
VI  um  rei  benemiíríto,  O  povo  já  como  tal  o  consagra ra^  re- 
cusando aesociar-se  ás  chufas  que  durante  um  século  lhe  tém 
sido  dirigidas  pelos  políticos  d'aquern  e  d^alem  mar,  apõiadoa 
em  hiítoriadores  novelHâtas.  No  exíif^^g-ei^o  das  caricaturas  gro- 
tescas o  bom  aeneOi  devia  talvez  dizer  o  bom  goito  popular, 
fioube  descobnr  oã  traços  geiíuinoB  da  sagacidade  e  da  bondade. 

O  tacto  é  que  a  memoria  de  Dom  Joào  VI  vivia  cercada 
de  estima  quando  pretendeu  rebabilital-a  num  assomo  de  justiça 
a  critica  histórica,  que  mais  n^o  fez  do  que  corroborar  uma  feliz 
intuiçào  nacional,  da  mptama  forma  que  a  critica  pbilologíca  no- 
bilita as  fiidízes  <'1l pressões  plebéas,  concedendo-lhes  foros  lite- 
rários. Todos,  no  BraE^il,  tiveram  a  saudade  do  rei  excellente, 
antes  niesTi^o  que  elle,  consfrang-ido,  nos  deixasse,  &,  quasi  um 
anno  depois,  o  encarrejs^ado  de  negócios  da  França,  de  quem  o 
govenio  da  regência  nutria  queixas  por  desafFtiCto  á  nova  ordem 
dn  cnisRií  quft  sp  ])reparava,  fazia  notar  na  soa  correspondência 
officinl  que  os  líbelloi  mais  de&cabellados  e  mais  licenciosos  sa- 
hidos  dos  tristes  prelos  da  Capital,  — os  qualiticativos  são  delle — 
poupavam  sempre  o  monarcha  portuguez,  a  quem  nunca  deixa* 
vam  de  referi r-se  com  amizade  e  veneração» 

Ontro  tanto  acontece  com  Joié  Bonifácio.  Acclamado  por 
uns,  denegrido  por  outros,  era  vid»  a  depois  de  morto,  o  senti-.- 
mento  publico,  quero  dizer  a  voz  popular,  attribuiu-lhe  a  autoria 
da  Independência,  cognominando- o  de  seu  patriarcha.  Se  al- 
guns ainda  lhe  contestam,  movidos  por  um  impulso,  que  à»  vezeft 


—  413  — 

degenera  em  mania,  de  dêfitrnír  leg-f^ndas  e  reformnr  tradições^ 
com  a  primazia  do  esforço  a  lef»;  tLmidnde  do  titulo,  nin^em 
ousaria  deali^ar  seu  nome  da  direcção  do  movimento,  felizmente 
iniciado  e  felizmente  condoído,  da  nossa  autonomia  politica, 
Seria  faltar  á  verdade  essencial  dos  factos. 

Ontros  podem  compartilhar  da  gloria,  mas  os  »eus  nomes 
não  r&o  como  o  delle  representativos  do  acontecimento.  Calar 
o  de  JoBé  Bonifiicio  quando  se  trate  da  nossa  emflncipaçào  poli- 
tica, seria  o  mesmo  que  falar  da  Heforitia  ?era  mt-ncionar  Lu- 
th^TO  on  recordar  o  Re  í  urgi  mento  escondendo  Cavour* 

à  thcoria  dcis  homens  providenciaes  pode  ter  í>Ído  supplan- 
tada  por  uma  dnutrina  mais  conforme  com  os  principioB  de  uma 
■ociolctgia  inspirada  na  harmonia  biológica,  e,  sobretudo,  mais 
adequada  ás  justas  reiv indica <,òeB  dan  multidões  causadas  do 
anonymato.  O*  grandes  homens  subeistirâo  na  historia  e  con- 
tinuarão a  appaiecer  no  mundo,  sen  Ao  como  factores  únicos  de 
acontecimentos  decisivos,  pelo  menog  como  representantes  su- 
premos daa  a&pira<;õeB  collectivas,  em  todo  o  caso,  como  entes 
excepcionaes. 

Nes'e  mentido  contínua  José  Boniíacio  a  ser  um  grande 
tomem,  visto  quf^  o  príncipe  Dom  Pedro  apparcce  nas  í-uas  niftos 
como  o  instmiTipnto  preeioso^um  instrumento  magico  que  fosse 
dotado  de  consciência  e  vibrassB  com  intelligeucia  própria— por 
meio  do  qual  se  realizaram  aa  aspiraçõeB  pnljtícas  e  se  pre^er- 
Tou  a  integridade  territorial  e  moral  de  uma  nação,  cujn  log:ar 
é  amplo  na  geographia  e  cujo  papel  deverá  ser  notável  na  his- 
toria universal. 

Sabeis  todos  quem  foi  José  Bonifácio.  O  vosío  intenso  e 
legitimo  orgulho  paulihta  delle  se  desvanf-ce,  como  se  desvanece 
doB  aventureiros  sem  temor  que  rasgaram  íargos  horizontes  cnn- 
tinentaes  á  populaçào  do  litorn]  e  transformaram  em  fa?,endas 
do  interior  esses  arraine^  da  costa,  embebidos  nu  contemplação 
do  vmtQ  oceano  que  lhes  traxia  frescas  nas  sua»  bri&H^,  as  re- 
cordações das  aldêfis  brancas,  das  tcasinhas  da  serra»  que  o 
poeta  mais  tarde  cantaria  «co'a  lua  da  sua  terra t. 

Ha  que  respeitar- vos  o  sentimento  e  partilhai -o.  Os  ban- 
deirauteB  paulistas  foram  os  «conquistadoreji»  brasileiros,  os  crea- 
dores  desta  pátria  que  o  ministro  de  1822  consf  guiu— elle  mais 
do  que  ninguém— manter  ainda  sob  o  aceptro  imperial  de  um 
soberano  imaginoso,  já  qua^i  um  romântico,  cheio  de  vida.  com 
todas  as  illusões  e  esperanças  dfsta,  e  prestigioBO  tanto  porque 
nascera  príncipe,  cnmo  porque  tinha  por  si  a  mocidade,  o  garbo, 
a  força  e  a  exuberanc  a. 

O  santista  era  um  sábio,  tim  mjreralogista  de  mereci  mento, 
A  politica  foi  buMcal-o  no  tneio  dos  setis  quartsoa  e  dos  sens 
calcareos^  Latino  Coelho,  incumbido  do  geu  elogio  académico 
em  Portugal,  paiz  ao  qual  j^itence  Joiié  Bonifácio  pelos  estudos 
da  sua  mocidade  «  pelas  prot  ccupaçòes    intellectuaes  da  sua  vi- 


—  414  " 

rilidade,  nol-o  descreveu,  em  seu  soberbo  estylo  escuIpLural,  per* 
correndo  a  Europa  culta,  centro  por  centro,  ouvindo  profeEsores 
eminentes  das  Universidades  ffaucezna,  aUemans  e  suecas,  visi- 
tando laboratoríojs,  collecçòes  b  mirtaa. 

à  scíencia,  yiorém.  lhe  nHo  consumiu  outros  ardores.  Foi 
soldado  do  batalbâo  académico  f]ue  se  formou  ao  tempo  das  Íq- 
vasôes  francezns;  a  politica  empolg-ou-o  num  instante  critico  da 
nossa  exií>tencia  iiacionni,  e  até  o  poeta  que  versejara  á  margem 
do  Mondego  e  na  Bertioíía,  reappareceu  uo  e:5ÍIio. 

Em  Bordêos,  com  etieito,  no  anno  de  1825,  foi  que  Américo 
Elyíio — ainda  duravam  oa  appellidoa  bucólicos  doa  árcades  do 
eeculo  pastoril,  num  prolonírametito  patriot  co  mytbfilo^ãco— au- 
tlienticou  seus  arroubos,  col leccionando  suas  compoaiijèes  de  uma 
inspiração  emperrada  mas  de  um  estro  senâual: 

Sô  t©  vejo,  as  entranhas  se  me  embebera 

Db  insólito  alvoroço  ; 
O  eangrii^  ferve  mn  borboto ens  nas  veias  l 
Snu  todo  lume,  fico  todo  amores  1 

Ao  mesmo  tempo  que  publicava  esaas  suas  cantatas  e  odes, 
deixava  elle  correr  o  fel  dos  seus  despeitos  nas  car  tas  que  hoje 
são  em  parte  do  domínio  de  toda  a  gente,  e  nas  qiiaes  se  mostra 
esquecido  de  quando  metrificava  em  Coimbra,  dirigindo-se  ao 
amigo  Armindo : 

Ignorados  da  *  turba»  viveremoa 
Da  singella  virtude  acompanhados, 
Em  quanto  com  Chimeras  viz,  ridículas 
Frenéticos  mortaes  a  vida  estragão 
No  seio  de  mil  male^  e  mil  crimes. 

José  Bonifácio  foi  um  homem  de  sentimentos  muito  vivoa: 
os  seus  entbusiahmo^  eram  fortes  como  os  seaa  ódios.  Ãiuda 
nào  cbegára  ao  Hio,  chamado  pelo  Reg'ente  para  aconselhai -o 
sobro  a  orgauixBçfto  do  governo,  que  de  portuguez  ia  passar  a 
brasileiro,  e  ajudal-o  a  pòr  cobro  a  uma  desordem  que  tocava 
em  anarchia,  e  já  o  encarregado  de  negócios  da  Frauçat  ias- 
truido  da  sua  reputação^  o  descrevia  para  Fariz  como  um  homem 
«fougueux  et  trcs  ardent».  E-^te  íoi  o  peu  principal  defeito,  se 
defeito  se  piíde  chamar  a  maniíestaçáo  irreprimível  de  um  tem- 
peramento apaixonado. 

O  referido  agente  diplomático,  coronel  Maler,  que  também 
peccava  por  arrebatado.*,  nos  escriptos  por  nâo  poder  sel-o  no& 
actos,  ao  tranamittir  a  noticia  da  nomeação  de  José  Bonifácio 
(o  qual  vinha  ostensivamente  dh  qualidade  de  deputado  da  junta 
de  È>.  Paulo  perante  o  FrÍDci|»6  RegCíite)para  ministro  do  inte- 
rior €  dos  negócios   estrangeiros,   ao   mesmo    tempo    que   íofor'- 


—  415  — 

Diara  a  corte  das  Tui  lie  ri  as  do  bom  conceito  geral  que  mereciam 
oa  conhecimentos  do  politico,  liontem  bomein  de  estudo,  t-levado 
AO  poder,  iri t «tirava- a  da  ilama  certa  de  impetuosa  e  exaltado  de 
que  o  ag^racíado  goaava  aem  ínjíiãtií;a. 

Do  f|ue  neoíiuma  duvida  nutria  o  correspondente  di]iloma- 
tico  em  questÀo  era  de  que  *MiHjpit?ur  d'Andrada»  tomaria  as- 
cendente sobre  o  espirito  de  Dom  Pedro,  que  parecia  firmemente 
disposto  a  abraçar  os  interesses  nacionaes  e  se  tornaria  o  dire- 
ctor influente  dos  seus  uolIepríiB  de  gabinetp.  Eram  estes  colle^as: 
Caetano  Pinto  de  ^Miranda  Montene|^ro,  o  antif^o  capitão  general 
de  Mato  OrosEo  e  do  Pernambuco,  que  tivera  o  animo  de  trau- 
AÍtar  por  terru  de  um  dos  teus  dois  governos  para  outro,  numa 
dura,  poeto  que  instructiva  perfgrinaçíio  pelo  immen^o  sertilo, 
mas  nào  tivera  animo  e'^u^\  pnra  abafar  a  conspiríi<;^lo  donde 
surdiu  a  revolução  de  1817,  íi^^ora,  não  obstsutej  alvw  da  con- 
fiança do  Regente  e  encarregado  das  difiicilimas  finanças  de  um 
paiz  de  thesouro  exhausto;  o  marechal  de  campo  Josquim  de 
Oliveira  Alvares,  portugu(*z  do  velho  Reino,  ca*ado  e  estabele- 
cido no  novo,  onde  combatera  na  fronteira  do  Rio  Grande  contra 
a  malta  de  Artiga?,  e  ecabava  de  commandar  aa  tropas  bra&i- 
leiraB  reunidas  ivo  campo  de  Satit'Anna,  a  12  de  janeiro  de  1822, 
para  fascerem  frente  á  divisão  ]íortu^''ueza  de  Jorge  de  Avillez, 
e  Manoel  António  Farinba,  que,  tendo  sido  o  único  do  autií^o 
^abíoeie  sí  prestar-se  a  continuar  a  assi^nar  o  expediente,  per* 
manecia  como  ministro  da  marinha. 

Os  acontecimentos  i{Ue  originaram  a  Eubstituiçao  do  gabi- 
nete «ão  geralmente  coníiecidos.  Achavn-se  o  Principe  uo  theatro 
na  noite  de  12  de  janeiro,  quando  o  foram  prevenir  da  attitude 
abertamente  insubordinada  da  guarnição  portuguesta  que,  amea- 
çada em  seg^redo  de  dCfiarmÃinento,  entendia  protestar  contra  a 
humilhação  e  jurava  carregar  com  Dom  Pedro  para  Lisbon,  asfim 
degtiieutindo  praticamente  o  famoso  «fico*  pronunciado  três  dias 
anttfs* 

As  Cortes,  no  intuito  de  hem  de fag'g regarem  o  Reino  ultra- 
marino e  privarem  03  sentimento»  politicoB  brasileiros  do  seu 
centro  natural  de  convcrírencia,  tinham  decretndo  o  estabeleci- 
mento do  juntas  provisórias,  uma  em  cada  província,  correspon- 
dendo-se  «directamente»  com  a  sobí^raua  asscmbh-a  dns  Xucea- 
cidades,  e  decidido  o  regresso  á  Europa  do  herdeiro  da  coroa,  afinj 
d©  seguir,  nos  paizea  ne&te  leutido  niai-s  adcantados,  um  curso 
pratico  de  sin*releza  democrática  e  de  nuUidade  constitucional. 
iPreci sãmente  contra  eemelhantes  resoluções  se  rebellára  a  junta 
de  S.  Paulo,  que,  movida  por  José  Bonifácio,  a  24  de  dezembro 
de  1H21,  convidava  a  junta  de  Minas  a  reunir-se  a  ella  e  taz-erem 
causa  commum,  constituindo  um  núcleo  de  resistência.  Desta 
resistência,  por  essa  deliberação,  de  súbito  o  Paulista  se  tornava 
a  alma. 


—  416  — 

Ao  projtíilar-se  o  boato  de  um  motim— in compara velmen te 
maU  ^rav6  do  que  qnalquer  outro  —  e  tinham  úáo  írequBntee 
desde  um  anuo — presenciado  pe*ú  Rio  de  Janeiro,  a  aala  dn  ea* 
peetaculofl  do  Rocio  ficou  deserta.  O  motim,  porâm,  gorou.  Oi 
DraBÍl(5Íroâ  acudiram  t3o  pressui ocamente  ao»  geus  postos  que, 
ao  alvorecer,  mais  de  4.000  homens,  em  grande  parte  gente  de 
milícia  trazida  do  interior,  se  tinham  congregado  em  armas.  Força 
foi  aoa  regímen  toa  de  Âvillez,  em  menor  effectivo,  capitularem 
e  annuirera  á  intimarão  de  retirada  para  a  Praia  Grande,  dou  de 
rompeu  uid  manifesto,  mas  nenhuma  hostilidade  materiaL  Og 
D  o  58  os  movimentos  poli  ticos  sempre  começam  incruentos,  como 
que  assim  &e  denunciando  a  nossa  instinctiva  repugoancia  m 
sangrentas  discoriiias  civis. 

Se  estava  vencida  na  Corte  a  resistência  européa — prenunciai 
de  uma  facil  emancipaçfto  da  capital — restava  o  proh-ema  mais 
custoso,  que  era  o  de  assimilar  o  centro  o  espirito  províocial,  e 
expeli  ir  os  focos  de  occupaçâo  portugueza  que  mantinham  um 
desequilíbrio  nacioital,  symptomatico  dea^e  periodo  de  transiçfto 
politica.  A  crystalíizaçiio  náo  podia  apparecer  perfeita  emquauto 
a  embaraçassem  matérias  extranlia»  e  a  primeira  coisa  a  lazer 
devia  Eer  eliminal-as— pareceu  ao  Daturalií-ta,  numa  felii  npjilj- 
c&^ho  ao  mundo  moral  das  reçras  eleraeu tares  do  mundo  phjfiico. 

José  Bonifácio  entrava  nit  politica  mais  activa  que  nm  paíz 
pode  comportar,  no  outomno  da  existência  humana,  com  um 
nome  feito  no  mundo  scientifico  da  época  durante  quadra  mais 
repousada,  e  uma  farta  expfrieneia  da  vida  cora  que  suatrutar 
a  agita<;ão  que  avocara.  Tinha  58  annos  em  1821,  asaistira  du- 
rante mais  de  10  na  Europa  d 'além  Py  riu  eus,  collaborára  d  is* 
tinctámente  em  puhlicaçàes  especiaes,  privara  com  tbeoricoí  e 
industriaes  de  muitos  peixes,  e  em  Portugal  exercera  cargos  no 
professorado,  na  magistratura  e  na  ádmiiiistraçfto.  Observara  aa- 
pectr  s  vários  da  natureza  e  a^p^ctos  varií^s  da  sociedade,  adqui* 
rira  traquejo  e  nas  idéas  alcance,  consolidara  a  feição  pratica  do 
aeu  espirito  eomo  Ih^a  emprestara  a  tiatuie^a  dos  seus  pnncipaei 
estudos,  e  tinpra  de  liberalismo,  senào  politico,  pelo  menos  eco- 
uomico^  o  seu  cabedal  de  planos  de  utilidtide  publica. 

Talvfz  fofse,  era  mesmo  um  delineador  maia  do  que  ura 
executor.  Porventura  lhe  faltava  em    malleabilidade  de  ac<^ão  o 

aue  lhe  abundava  em  sagacidade  de  peosar.  O  repre^ntanto 
iplomatico  am^  ri  ca  no  -^  e  aos  americanos  não  falta  a  perspi- 
cácia—teve  esta  impressão  do  mínií^tro  de  Dom  Pedro  e  exa^ 
roQ-a  na  sua  correspondência  para  Wa»hing;ton,  onde  a  encon- 
trei. Para  a  crise  da  independcDcia  José  Bonifácio  foi  todavia 
o  homem  indicado,  o  homem  adequado. 

Teve  habilidade  para  jo^ar  com  aa  circurnstancias  favorá- 
veis e  teve  decisão  para  arcar  contra  aa  circurastmeias  adversa», 
cabendo  naquella  pbase  o  ser  brusco  em  algumas  occa&iôes  e  o 
ler  enérgico  em  todas.  Depois,  quando  o  apparelbo  constitucional 


entrou  em  moTÍoiento  com    suai    molas   ainda   perras,  ê  qii6    «e 
lasia  preciso  mâo  miàh    delicada    para    dii-i^nr-lhe    ^    nmmhn    b 
ageitnr-lhe  o  audâmeolo;  nho  ao  uma  vista  aíeita  aos  tribalho^ 
do  micro&copío  para  examinar  noB  leusí  menores  dttâlbes  a  com 
pòú^o  da  coin{dtcado  maeBinÍBTno. 

O  repreii entali  te  da  Fi-ança,  da  França  dos  Bonrbon»,  o  qual 
nào  suptiortava  cora  pacieni?ia  quanto  tresaudasso  a  liberal,  ne- 
gava até  ao  miniíítro  da  independência  imidureKa  nas  iddíiSt  ordem 
methodtca  nos  projectost  o  que  elle  chamava  um  deBonvulvimento 
Ãystematico  nr»  seu  conjunto  e  applicaçàf,  cfirao  se  ii«qu*^Ile» 
momeiítoa  dífficeis  e  mesmo  auguetioios,  fyaae  coiso  itmíto  puíiâivol 
a  serena  reali^açào  de  um  prog^ramoia  fixo  de  planos. 

Á  essíiS  criticíiB,  porém,  responde  meJbnr  do  que  qualquer 
defesa  Hfci^rarja  o  exitf>  da  politica  aervida  pt^lo  vci^so  c-nterraueo, 
eflse  a  -^uem  o  coronel  Maler  descrevia  los  sena  officioí  pnra 
ParÍ2  coroo  «uma  cabeça  vulcaoica  apegar  díis  cao»,  coiríinid^ndo 
tudo  no  falar  e  no  administrar,  ora  divag^audO}  ora  perdendo  o 
rumo,  levado  pelo  impulso  de  seu  patriotismo  exaltado  o  pelo 
Beu  ódio  ás  Cortes».  Maler  sobretudo  se  espantava  — reputaria  na 
aoâ  pbruse  um  phenomeuo — de  que  um  borne m  de  Baúde  tào 
priCÀTÍa  como  era  José  Bonifácio,  podeg^e  benarbavia  eutáudess 
m«xe8  (este  officío  é  de  outubro  de  18 ^^2)  sem  estar  de  todn  Bé~ 
fftlíado. 

O  reverio  da  medalha  gravada  pelo  fiauee^  é  tão  liaonjeiro 
que  merece  e  deve  ser  eotihecidri,  para  honra  do  diplomiita  e 
para  floria  do  politico.  E'  como  ae  de  um  laio  o  perfil  niaiA 
ouro  do  piíTfOuaííem  accusafiae  um  queixo  redondo  e  volnnturioso 
e  um  nariz  aquilino  e  dominador,  e  do  outi-o  o  roata  de  frtíiite 
deixflBte  ver  uuh  olLos  de  expresfiÂo  bondosa  e  uma  lar^a  testa 
intellig^etite  O  artista- que  o  era  Maler,  em  estylo  officiaf  pelo 
menoa — |iôe  com  efieito  mais  de  uma  vez  em  i elevo  aa  sans  opi* 
iiiúp»  do  patriota»  o  seu  coraç&o  excellente,  o  seu  iuexcedivel 
deBÍnleriíSse,  a  aua  detestaç&o  dos  priucipioa  antímouf^rcbioí!,  que 
combatia  com  furor  Ahi  estava  aliás  um  pouto  de  coucordaticia^ 
portanto,  de  pympatbla  eutre  os  dois. 

Não  estou  fase» do  mais  do  que  reprodus^ir  textualmente  oa 
dizeres  do  coronel  ^Maler^  que  das  &uax  convertas  com  José  Bo- 
míaciOf  e  eram  írequentLM,  se  julg  u  autorizado  a  concluir  a  har* 
taonia  d  as  preferencias  monarchíco-coustitucionaes  do  primeiro 
fuiuistro  brasileiro  cornai  ba^es  da  Carta  francesa  da  Re^tiuraçáo* 

E'  facto  que,  coroo  governante,  José  Bonifácio  zelou  sempre 
Dt  fóios  do  extjcutivo  e  teye  a  mâo  pesada  quando  se  tratava 
de  repress&o,  e  pode  bera  ser  exacto  o  que  referia  o  encarreirado 
de  negócios,  de  nutrir  o  patriarcha  uma  verdadeira  ternura  dy- 
uastica,  eJle  próprio  affirmando  nào  podar  ver  sem  viva  commo- 
çAo  as  creanças  re^es,  os  pequeninos  rebentos  uac^ionae»  da  caaft 
de  Bragança,  Já  tinhamos  entào  o  Império,  pois  que  esteoiltro 
o&io  é  de  novembro  de  1822. 


—  418  — 

O  «Eloí^io*  de  dona  Msría  I,  pronunciado  em  Li&t>oa^  em 
apnradft  linfíufií^era,  no  anno  de  1817  e  no  seio  da  Âcadeiuia 
Real  dflfl  Sclenciai  pelo  seu  illngtre  sócio  pauHataj  <í  um  te^te- 
raunho  cnnsiderfivel  ern  favor  dnquelltí  ardor  monnrcliico,  do  que 
em  in^lcz  8*5  cliamaria  com  mab  stmplesa  e  inaÍB  preci^ào  o 
«loyalisin*  de  José  Bonifácio,  «Louvar  hum  soberatio  virtuoso  lie 
accender  farol  em  torvo  ai  ti  s&i  ma,  para  atinaremos  outros  a  car- 
reiras—fui nas  suas  palavrasi  a  regra  a  que  obedeceu  a  elabo- 
ração desse  panegyrico  de  encommenda,  de  uma  jn tensa  devoção 
dynastica,  deve  antes  dister-se  de  uraa  marcada  deferência  cortezaa 
no  seu  estylo  en^alaoado,  nos  eeus  atavios  pagàos,  nas  suas  ré< 
miui^cencms  clássicas,  uas  suas  citAifõcs  frequentes  de  pbilosopbos 
gregos  í4  romanos^  na  sua  sensibilidade  que  era  com  tudo  em  de- 
masia s£í vetada  para  nào  ser  exaggerada. 

Era,  poí(i,  Jcsé  Bonifácio  um  adversário  declarado  das  ten- 
dências republicanas,  pelas  diq>ogiç6es  do  seu  temperamento  tanto 
quanto  pelos  conselhos  da  íu&  intellígencta:  o  ideal  consistia 
enta.0  nas  democracias  tilo  li  bera  es  que  cliejE^assem  a  ser  in  go- 
vernáveis Não  bastava  no  entanto  à  eua  visio  de  estadista  evi- 
tar a  republica.  Ponhamos  ao  seu  credito  que  mais  urgente  e 
mais  necessário  Ibe  appareceu  manter  a  própria  nacionalidado 
brasileira  ameaçada  de  dissolução. 

O  regimen  nâo  passava  afinal  de  coisa  secundaria  deante 
desse  magno  problema,  que,  de  resto,  nma  vez  resolvido  pelo 
prestigio  do  representante  da  dynastia  e  pela  convicção  j^eral 
do  interesse  patriótico,  nsâegumva  a  um  tempo  a  união  nacional 
e  a  estabilidade  monarchica. 

Antes  mesmo  de  ser  ministro  de  Bom  Fedro  e  de  se  tran- 
sportar para  o  que  devia  ler  o  centro  da  naciou alidade  em  for- 
maçào,  já  José  Bonifaciíi  comprchendera  admiravelmente  a  si- 
tuação, abraçando  cora  olliftr  agudo  toda  a  perspectiva  Ao  ser- 
viço do  seu  ideal,  e  nenhum  maiA  nobre  se  poderia  dar  do  que 
evitar  o  naufrágio  de  uma  aggremiação  moral  e  solidaria  que 
custara  tanto  sangue  e  representava  tantos  esforços,  pudera  ella 
aquella  combatividade  que  o  levara,  professor,  a  pegar  em  armas 
com  seus  discipulot  para  enxotar  de  Portugal  os  aggres&ores 
trancezes- 

E'  mister  ter  bem  presente  que  o  Brasil  offârecia  á  tenta- 
tiva  de  recolonisação  das  Cortes  unta  seara  opima  de  realidades, 
nào  só  um  terreno  fértil  em  esperanças.  Onde  quer  que  se  de- 
nunciava o  maior  vigor  do  elemento  portuguez,  tanto  quanto  onde 
se  revelava  o  maior  fermento  do  espirito  local «  na  Bahia  e  na 
Maranhíio  como  em  Pernambuco  e  no  Ceará,  em  todo  o  Norte 
emíim,  a  idía  de  rompimento  com  a  capital  de  origem  colonial 
e  de  ligaçào  directa  com  a  sede  das  Cortes  e  è&  realeza,  das 
autoridades  supremas  da  nação  em  sua  nova  classificação  hier&r- 
chica^ — as  Cortes  primando  a  realeza — recebera  am  acolhiuitiito 
o  mais  Eympathlco, 


i 


—  419  — 

iiom  ellfi  pen^avft  lucrar  oa  que  meditavam  a  recoloaizaçAo 
conntitucional— mtíito  parecida  nos  aeua  projectarios  processos  com 
&  coioDÍsaçào  absoluiUta  — e  tião  rneno»  os  que  napiríivam  á  in- 
dependência democrática,  mais  acceg&ivf^l  ou  pelo  menos  maia 
compatível  com  o  fncto  de  uma  libertação  do  que  a  emaucipaçÃo 
eom  uma  mo n are h ia. 

O  Sul.  não  obstante»  preoccupaçilo  JOf^ioTial  sor  níii  também 
viva  6  muito  imperfeita  a  solidariedade  moral,  então  impediu  a 
frag^mentaçfto  do  Brasil;  ©  no  Sul  íoi  o  vos^^o  conterrâneo  quemi 
decidindo  a  junta  de  Sào  Paulo  a  prestar  obediência  no  Rio  de 
Janeiro  e  reconhecer  a  supremacia  do  príncipe  regente  «com 
autoridade  própria»,  arraf<tou  aa  demaiâ  dlvlâõea  administratiraâ 
para  a  eiphera  de  intíucncia  paulista,  constituindo  esse  troço  um 
primeiro  esboço  do  uniào* 

A  provi nc ia  de  Minas  Geraes,  apesar  da  sua  superior  popu- 
lação, dependia  pela  aua  localigaçUo  central  das  do  Rio  e  S&o 
Paulo,  sem  ctijo  acordo  ficiria  até  privada  daa  suas  melhores 
eommunicaçòe»  com  o  estterior.  Paraná  uão  (>]tistia  ainda :  Santa 
Catliarina  pouqui&simo  valia  iaoladamente,  e  tíão  Pedro  do  Sul 
era  por  demms  despovoado  e  exposto  ás  correrias  dos  «guerrilheiros 
nrientaea  para  que  podesse  desprezar  o  interesse  de  uma  uniào. 
O  influxo  de  Sio  Paulo  e«tendeu-se  atú  a  Cie;datinar  onde  a  19 
de  julho  de  1S21,  (icára  admittida,  sob  oa  auspicíoa  do  conqui- 
stador Lecor;,  a  suzRrania  tlurninense  na  pessoa  do  priacipo  re» 
gente  e  depois  Defensor  Perpetuo  do  Brasili  mas  onde  era  in- 
itavel  o  equilibrio  pelo  valor  do  factor  militar  portu|;uez. 

José  Bonifácio  entrou  para  os  conselhos  de  Dom  Pedro  certo 
de  qae  a  unifícavàQ  nacionul  se  elfectuaria  ae  a  coroa  ^  e  a 
a  coroa  eatava  mais  lobre  a  cabeça  do  filho  que  sobre  a  do  pae, 
coacto  pelas  Cortes — quiz&sae  desempenhar  o  seu  pape]  tradicio- 
nal de  ]irotectorA  das  regalias  populares  contra  uma  oU^archia 
de  adventícios,  como  outrora  as  defendera  contra  o  feudalismo  ; 
carto  também  de  que  no  momento  que  atra Vf asava in  a  Europa 
culta  e  íuas  desceudenciaB,  nâo  mak  ae  podia  dizerdependeacian 
ultramarinas,  o  espírito  liberal,  um  certo  eapirito  liberal  bem 
entendido,  deveria  caracterizar  a  acçAo  da  autoridade. 

à  força  era  indispensável,  maa  já  se  n&o  supportaria  a  ty- 
ranuia. 

Acreditava  assim  José  Bonifácio  na  elficacía  de  uma  legii- 
taçio  esclarecida,  producto  aadio  da  aciencía  do  governo  que, 
nas  suas  palavras  elevadas  e  orientação  pratica,  devia  coosiâtir 
*em  indí*g"ar  o  que  pode  ser  hum  Estado  para  corresponder  aos 
teuã  maia  altos  tins;  em  conhecer  todos  09  seus  recursos  presen- 
tes e  futuros,  e  todas  as  suas  faltas  actuaes».  Nisto,  como  no 
gosto  extremo  pelas  sciencias  naturaes,  era  elle  um  digno  filho 
do  século  XVIII,  o  século  da  regeneração  intellectual  e  do  pa- 
ternalismo administrativo. 


—  420  — 

No  «Elogio*  da  cOptima  Maria»»  conforme  appellidava  o 
académico  a  excelsa  Boberana  defunta ^  depnra-Be-noB  uma  phrase 
que  trae  a  vibração  da  alma  do  qua  apenas  era  então  um  homem 
de  estudo,  ainda  cão  um  homem  de  ^overno^  quando  tocada  relo 
afan  das  conquistas  marae^.  Referindo-pe  aos  decretos  teduzindo 
os  segredos  dos  accusados,  regulando  a  jurisdicçâo  illimitada  à& 
polida,  declarando  e  restringindo  a  jurisdicçHo  dos  donativos,  o 
orador  accrescentava  como  commeotario ;  <Foi  e«ta  huma  prova 
mais  do  quanto  a  nossa  Rainha  desejava  condescender  com  as 
novas  luzes,  espalhadas  pela  Europa,  começando  asptm  gradual- 
meu  te  a  limpar  o  ediâcio  aocial  da  ferrugem  de  tempos  barbaroa 
6  egcurnBa. 

Kho  deve  «urprehender^-vos  que,  quem  assim  pensava,  fosse, 
caso  raro  entre  os  noasos  homena  públicos  da  época,  infenso  ã 
instituição  servil,  que  por  elle  se  haveria  extinguido  quasí  si^ 
multaueamente  com  o  resto  de  dependência  eoiontal  que  ficara 
apda  o  reinado  ametioano  de  Dom  João  VI  e  a  orj^^anização  do 
reino  do  Brasil,  Nflo  era  opportunísta  em  tal  matéria,  e  se  não 
obteve  ganho  de  cau^a  o  Ulustre  paulista  em  seu  adeantado 
modo  de  vêr  neste  ponto,  foi  porque  o»  aconteeímentoft  decidi- 
ram diver&amenle,  n&o  porque  lhe  falta«»em  coragem  e  von- 
tade. 

O  predomínio  mesmo  de  José  Bonifácio  no  governo  duroxi 
pouco :  cessou  com  a  ccEsaçfto  da  crise  cuja  terminação  íoi  prio- 
cipalmente  obra  sua.  Os  And  radas  foram  derrubados  e  votadoa 
ao  ostraciamo  quando,  por  uni  ladot  o  Príncipe,  naturalmente 
arvorado  era  emblema  da  união^  mostrou  ter  íiugado  no  berço  o 
leite  do  deapotiamo,  e  pnr  outro  lado  ob  elementoa  radicaes,  con- 
tidos ou  contendose  durante  a  luta  pela  integrictade  nacional ^ 
se  não  quiseram  submetter  por  mais  tempo,  cederam  ás  sua» 
paixões  e  levantaram  suas  re  a  iate  u  cias.  Co  I  locado  entre  as  duas 
correntes  oppostas,  no  ponto  peor  do  embate,  o  estadista  da 
Independência  perdeu  o  pramo  e  desgarrou :  também  e«tava  cum- 

Srída  a  tna  alta  missão,  que  fora  a  de  salvar  o  Brasil  por  meio 
o  Império  constitucionaL 

A  historia  das  relações  intimas  entre  Dom  Fedro  e  José 
Bonifácio,  entre  Telemaco  e  Mentor,  é  uma  historia  ainda  por 
fazer  e  para  a  qual  faltam  infelizmente  as  contribuições  de  ca- 
racter pessoal  que  mais  interessante  a  tomariam.  Os  Ândradas, 
transformados  em  «corcundas»,  depois  da  abdicação,  partidários 
quasi  únicos  no  Brasil  da  restaura («ão  imperial  do  duque  de 
Bragança,  cujas  tendências  autoritárias  reconheceram  afinal 
quanto  se  casavam  com  a  concepção  que  elles  tinham  da  auto- 
ridade, calaram  seus  resentímentos  de  l8i'3  e  não  deixaram  Fe*^ 
velaçoes  b»fitantes  ou  interessantes  bastante. 

Um  momento  houve,  que  a  ninguém  escapa,  no  qual  o  mi- 
nistro se  impÔK  ao  Principe  como  se  impõz  á  sitxmção.  Dom 
]Pedro  procurava  com  a  maior   aasiduídade  e  a  qualquer    hora  a 


—  421  — 

seu  CO  aiel  beiro  d  a  looiie&ta  ca&a  por  elle  occupãda.  Maler  conta 
qae,  piesando  pelo  Rocio  a  cavai  to  na  occasiào  d«  uma  doisas 
viftitag,  ouvira  q\in  um  popular,  com  aquella  zombaria  tào  pecu- 
liar á  papulação  fiumínen&a  e  as  mais  dae  vezes  apropriada  e 
concpituosa,  alcunhava  o  Regente  de  «ajudante  ae  campo  de 
José  Bonifácio». 

Não  fatiada  quero  6zesse  checar  a  S&o  Chriatovam  ditos 
temelliantes.  Muitos  seriam  o»  que,  uns  por  pura  maldade,  ontroa 
por  inveja  rancoroaa,  tentariam  envenenar  relações  que  eram 
mais  a  coujugaç&o  de  dnaa  eDero;ia8  do  que  o  encontro  de  duas 
lynipathias. 

Só  os  homens  verdadeiramente  superiores  a p parecem  deajii' 
doi  de  pequenas  Ínv«^jas,  a  gão  rariasimos.  Poucos  silo  tambeiu  oa 
reis  que,  dotados  de  LmapuaçÃo  e  actividade,  supportam  a  col- 
laboração  de  grandes  ministros.  Ora,  José  Bonifácio  chegara  a 
crescer  tíiuto  em  popularidade,  em  poder  e  em  iniciativa^  que 
oSoflcava  o  throao.  Aliás,  sua  influencia  se  derivava  em  boa 
parte  da  aura  que  eeit^va  o  Príncipe  Regente  depois  ànn  guas 
manifestaQoeH  brasileira» ;  assim  como  o  prestig^io  de  Dom 
Pedro  pi  o  viera  muito  do  acerto  das  resoluções  promovidas  pelo 
seu  conselheiro. 

à  intellig^enciA  entre  e^taã  duas  forças  repousava  sobre  uma 
base  concreta,  pojs  que  era  reciproca  a  vantag^em ;  ma^  ao  se 
separarem,  Dom  Pedro  teve  o  arranco  de  qu*ím  lacudia  uma 
canga  e  José  Booifacio  a  melancbolia  de  quem  lidara  com  um 
ingrato,  occorrendo  que  a  ambos  lunístia  a  razão.  Um  e  outro 
posíiuiam  a  índole  ?iolenta  p  o  ji^eato  prompto.  Ã  coutinuaçík) 
da  asancisçào  requeria  abnegação,  que  tendia,  porém,  a  relaxar- 
se  uma  vez  passada  a  criae,  e  exigia  delicadeza,  que  oão  ora  o 
predicado  caracteriatico  de  nenhum  doa  dois  persoDageus* 

Quando  digo  delicadeza,  quero  referir-me,  è  claro,  á  polidez 
superficial  da»  maueiras,  não  A  delicadeza  intima  dos  sentimen- 
tos. José  Bonifácio  tinha  o  dnef^to  fácil  e  grosseiro.  A?  viag^ens 
pelos  paizes  mais  cultos  niio  tinham  enveruixado  completamente 
esse  portoguez— que  o  or»t  de  pátria  até  1822,  d©  educação  e 
de  feitio  toda  a  vida— forre  na  sua  delgadeza,  colérico,  de  poucas 
contf*Tnpln4;oei  eâtudadas  e  de  bastante  jactância*  À  sua  alma, 
porém,  tinha  vibrações  que  desciam  até  as  senzalas  :  alma  fi- 
dalga num  envolucro  comparativamente  rústico,  o  que  vale  mais 
do  que  o  contraste  opposto. 

Também  Dom  Pedro  tinha  uns  arrancos  brutaes  que  eram 
antes  manifestações  da  falta  de  educação  familiar  de  que  se  re- 
sentira  a  sua  infância,  e  da  incoherencia,  não  quero  liizer  do 
desbra^do  do  meio  em  que  desabrochara  a  sua  mocidade ;  mas 
nAo  fa  tava,  não  podia  faltar  uma  spntim^ntâltdadc  rica  a  quem 
le  despojou  attivarnente  de  nma  coroa  para  ir  defender  em  in- 
certíssima contenda  os  direitos  de  uma  creança  e  se  prestava  a 
acabar  como  regente  em  nome  da  tilha,    tendo    começado  a  vida 


—  422  — 

imliliea  como  rí^j^^ente  om  nome  do  pae  e  sido,  no  intervallo 
imperador  e  rei  e  o  outor^^íidor  ^oneroso  e  sincero — porque  tanto 
eia  sincero  no  bem  cotno  no  toai— de  dua?  cartas  cf>r.stitttcio- 
naes,  con^ns^rando  em  fiumma  por  parte  do  direito  diviao 
túda^  afi  conquifitaa  politica?,  isto  é,  todan  as  liberdades  da  He- 
voliiçAo- 

E'  pena  quo  a  boa  intelUgencia  do  começo  nâo  houvesse e 
podido  mnnter-BC  de  lado  n  lado,  entre  soberano  e  minÍBtro,  de 
forma  a  organiic^r  se  a  vida  autónoma  do  paiz  sobro  os  auspícios 
dessa  duplti  individualidade  exercendo  se  associada  numa  mesma 
orientação  e  sob  uma  única  inspinição,  de  facto  constituindo  uma 
BÓ  acçfto, 

Joté  Bonifácio  dissera  ao  pronunciar  o  elogio  da  rainha 
dona  Maria  I— e  cito  luais  de  uma  vez  esta  oração  académica 
porque  foi  escripta  na  virilidade,  mas  quando  ainda  nâo  peca- 
vam Bobre  seus  hombrosp  nem  coisa  alguma  indicava  que.  dentro 
em  pouco  pD^ariain,  hb  responsabilidades  do  poder — estnr  «capa- 
citado de  que  09  graudee  projectos  devem  ser  concebidos  e  exe- 
cutados por  um  .só  bomein,  e  examinados  por  muitos:  de  outro 
modo  desvajrào  íia  opiniões,  nascem  disputai  e  rivalidades,  e 
vem  a  faltar  aquello  centro  commura  de  força  e  de  unidade,  que 
tào  neceignrio  he  em  tudo,  e  mormente  em  objectos  de  summa 
importância». 

Um  só  homem  para  conceber  o  executar,  ôntendia  elle,  Maa 
não  conhecera  a  mytholog^ia  j^reco-romana  um  deus  de  dnas 
caras  dissemelhantesj  e  nào  encerrava  o  pontheon  huddhista  uma 
deusa  de  cem  braços  independentes  V  Porque  se  nâo  verificaria 
politicamente  uma  anormalidade  anatómica  que  nâo  íofse  um 
embaraço  á  existência  pbysiolog-iea  V  Porque  se  nâo  combinariam 
na  personalidade  directriz  o  cérebro  amadurecido  do  homem  de 
estudo  e  o  braço  juvenil  do  homem  de  impulsos  e  de  enthuMas- 
mos  V  A  fusilo  seria  perfeita— nada  a  contrariava — de  um  pen- 
samento reHexivo  e  de  uma  vontade  espontânea.  Ã  unidade 
moral  até  se  accomodava  com  a  dualidade  phyaica, 

O  encarregado  de  negócios  da  França,  um  observador  arguto» 
mau  grado  oa  seua  preconceitos  reaccionários,  julgava  o  estadista 
maia  de  molde  a  concordar  com  o  Príncipe  do  que  a  guial-o 
com  circumspeeçfto;  maa  n  verdade  é  quo  se  Dom  Pedro  so 
esqueceu  inteiramente  de  que  era  herdeiro  de  um  Reino  TJnido» 
foi  porque  a  seu  lado  bavia  quem  lhe  moaCiassc  a  cada  passo 
as  vantagens  de  ser  imperador* 

E'  facto  que  se  Dom  Pedro  foi  por  vezea  imprudente, 
melhor  dito  impaciente,  numa  occasiâo  aliás  em  que  as  delong-as 
eram  contra-iodicadas,  por  seu  lado  José  Bonifácio  nHo  peccava 
peloa  hábitos  de  procraí^tinaçâo.  A  ambos  ae  pôde  attribujr  a 
origem  de  vários  instantes  sediciosos  dessa  serie  agitada  de  dias 
qu©  precedeu  e  seguiu  de  perto  a  Independência. 


—  423  — 

à  reâexào  é  vt^lha  e  qnasi  baiml — mtis  aa  banaliciades  nfto 
silo  mais  do  que  verdades  repetidas — de  quo  nas  cvhe^  nacioDROã, 
e  em  quaefiquer  momentoa  de  apuro,  aoa  ^ovotuíintfs  nahe  ái- 
rig:trem  o  movimento,  sob  pena  de  ^erem  levados  na  enxurrada 
doâ  aconlecimentc»s.  Fa^-ae,  comUido>  mister  que  a  direi-f^ão  se 
nÃO  deacubra  muito,  para  nilo  provocar  os  ciumea  ou  ofteiider 
as  vclleldadea  de  rebeldia  doa  que  dísran^adaTueute  i^e  pretende 
tutelar  ou  pelo  metioa  eneaminllar, 

Dí*m  Pedro  e  Jostí  Bonifácio  applicarflm  a  máxima  com  a 
reatricção,  e  deram-ae  bem  com  ambas.  Uma  vez  rej:iHzada  a 
separa  <;iio,  a  saber,  p  rociam  ri  doa  roto  a  os  laço  a  de  de|>endeQCÍa 
entre  aa  Cortes  de  Liabí>a  e  aa  províncias  do  Brasil,  fieava  por 
fazer  alguma  coi§a  de  essencial  que  era  np-itar  no  novo  molde 
ease  immenso  corpo  amcrpbo  e  de  uma  plaaiicidafle  doaegual, 
que  tanto  podia  vir  a  ser  uma  moníircbia  centraliza  ia  como  uma 
republica  federativa — uma  cou  federação  neste  CbSO  de  ©acasaa 
duraçíio, 

O  governo  constituído  nâo  abriu  mao  do  lem«,  para  nlio 
naufragar  em  alírttm  eacolbo,  mas  apparentou  deixar  o  navio 
fluctuar  á  m«rcê  das  ondaa.  Foram  o*  repablicano*,  oa  adeptos 
das  doutrini?  democráticas  pelo  meims,  que  invent*iriim  de  facto 
o  Império.  Foi  Ledo  quem  redií^lu,  fe^  imprimia  e  hffixou  a 
proclamação  de  21  de  setembro,  au^^^erindo  a  acdamaçà >».  Poi 
Joaé  Clemente  Pereira  quem  expediu,  em  nome  da  Bua  ^^amara, 
emissários  ás  outras  muuicipalidadea  para  adberirem  a  idci  que, 
adoptada  na  penumbra  de  umn.  loja  maçónica  à  qual  jicftencia 
Dom  Pedro,  trazia  em  si  uma  satiaíacçfto  vibrante  do  aiiior  pró- 
prio uacioii'il  e  a  promessa  de  demonstra çÒL^a  positivas  da  mu- 
Difíceucia  imperial. 

O  príncipe  relutou,  para  saívar  aa  apparencias.  José  Bo- 
nifácio fingiu  desioteressar-ÊPi  da  forma  e  sú  íaxer  quetitíio  do 
fundo,  mer>j^ulhando  na  passividade  para  pf^nnittir  a  actividade 
aos  agitadores  profisBiouaea  i  estPB  murc!baram  para  a  frente  e  a 
pro ci ssâo  AC om pau  bo u-o s , 

Todos,  aliáa,  acbaram  no  cortejo  o  aeu  íogar:  só  o  corpo 
diplomático  eatranj^eiro,  de  que  tinham  permasincido  una  restos 
na  debandada  da  corte  de  Dom  Joai»  ^1,  com  attributf;ÕH4  Antea 
conanlarea,  ficou  desnorteado,  ?í'm  Vn^m  saber  que  atiitnde  Ibe 
cumpria,  ou  melhor,  aem  ousar  definir  precisamente  suíi  attitude. 
Naturalmente  refutriaram-Be,  aqnelieí;  dente  o  corpo  que  re- 
vestiam caracter  diplomático^  no  nbaten(;jfto,  que  ú  um  recurso 
sempre  aberto  aot*  agentes  iuteruRcionaes. 

O  e  n  carrega  d  ►  de  negócios  da  Áustria,  um  baríío  MareacLal, 
que  era  muito  intelligeute  e  ciija  situaçílo  maia  delicada  sh  fazia 
e  mais  perplexo  o  tornava  pelo  fncto  de  awr  a  nova  imperatriz 
uma  arcbidoqueza  da  HnhafLcm  doa  Hnbsburgoa,  inventnu  uma 
deaaas  doeoçaa  que  ào  denominam  díjilomaticaa— antonouia  ia  de 
fingidas^para    desculpar-ae    de    nào  ir    ao    Pago    no    dia  12  de 


—  4*24  — 

©■Qtubro— anniveraflrío  da  Dom  Pedro  e  no  mesmo  tempo  datA 
CEcnlbida  jiflra  a  acclamaçâo  imperial  —  e  rogar  ao  rcti  coUwga 
de  Frauça,  d«,  na  sua  qualidade  de  «pnmud  inter  pares*,  apre- 
leáCur  por  elle  aa  desculpas  e  as  cotigratulaçdes. 

O  de  França,  cjtte  nào  (>e ceava  por  tolo,  rf  spondeu-lhe  muito 
francameute  que  iilui  comparece  na  na  corte  âuiDiuetifie,  por  mo- 
tivo dflS  alterações  ahi  sobrevindas,  sem  novaa  infitrucçõf»  do 
sen  governo,  e  que,  portanto,  reduzido  a  zero  em  vez  de  um, 
não  lhe  era  licito  \iÒT  deante  dos  olbo^  <de  Suas  Altf*zas>  o 
«trtstt^*  boletim  do  saúde  do  amigo*  Os  cônsules  de  Inglaterra 
e  da  Rússia -que  aiuda  eram  Chamberlain  e  Langsdorflf— despi* 
dos  como  auduviini  de  caracter  diplomático,  ni^o  tinham  egual 
motivo  para  duvidas  e  subterfúgio?,  e  nào  pensaram  sequer  em 
auaentar-ge. 

Uma  prova,  entretanto,  iodiscutivel  de  que  José  Bouifaeío 
nào  abandonara  de  facto  o  timfto  ati»  represeittantesi  munícipae» 
on  populares,  está  em  que  po?^  embargas  a  unm  maaitestíiçfto 
poli  rica  qutí  se  projectava  simultânea  com  o  oârtrecirnetito  dã 
coroa,  e  que  consistia  em  obter  do  soberano  — impor-lbe  aeria 
maiA  t.iXHCtan] 'nte  o  termo — a  sua  prévia  f-ancçào  da  ConHtitniçào 
que  veiise  a  ser  elaborada  pi? la  aa&emblt^ã  iegiblativa  adrede 
convocada. 

T«lle«  da  Silva,  o  futuro  marqu^z  de  Rezende,  foi  quetQ 
deu  parte  a  Maler  do  deaignio,  que  era  o  dw  J^isé  Clemeiite  ô 
seus  amiiros,  e  do  furor  de  Jobc  B  nifacio  au  ouvir  faUr  «-m  tal, 
O  plauo,  coiiitiidOf  ii&o  vingoa  na  reunião  publica  do  Senado  da 
Camará  a  10  de  outubro,  da  qual  a  acta  publicada  í<krnece  uma 
noção  iuipprftíita,  t?  por  isso  ae  tran&mudou  em  jubilo  a  cólera 
do  miiiietro^  que  o  agente  francês  nesí^a  occa&iào  dt^screvia  i^reso 
de  lima  grande  exaltação  parnotica  que  buscava  vasào  numa 
extrema    volubilidade  de  lii^gua. 

Nào  obatou  em  todo  casi*  o  recuo  da  Municipalidade  que  no 
tbeatri',  onde  o  espectáculo  do  palcu  era  nmnoft  latereisante  e 
menog  dramático  que  o  da  sala,  e  no  largo  dif  Rocio,  scena  dos 
motitiii  e  ítlgflzarras,  o  povo,  desafiando  a  chuvíi  torrencial  qne 
caia,  mihturaBge  com  ^eus  brados  festivoB  e  siDceroe  pm  honra 
do  joven  imperante,  frequentes  e  enthusia&ticos  vivas  á  Consti« 
taiçAo  liberftl  do  Brasil. 

Na  verdade,  se  todos  num  momeoto  dado  acciamavam  e 
appiaudiiui  o  Império,  eada  qual  pretendia  que  o  imperador  fo98« 
a  seu  g-^ito.  A  lua  de  mel  foi  por  isso  curta  entre  conserva- 
dores e  demíigògoi,  se  é  que  estas  deiiignaçõos  correspondem 
fielmente,  uma  feos  qoe  professavam  peta  «utorídade  um  respeita 
maÍK  decididoj  e  outra  aos  que  antepunham  áa  regalias  soberana» 
o  fervnr  pekí?  franquias  populares,  uas*  suas  illmòes  appellidando 
O  Imtterador  o  primeiro  democrata  do  Império  e  a^ontaodoHii 
mui  til  erra  d**  mente  de  certo »  como  prest*»»  a  converter-ae.  se  tal 
fos&e  a  vontade  gera),  num  simples  c  ida  d  An  da  Republica  Brasileira. 


—  425  ™ 


^^P  Mercê  dessa  ironia  t^o  coidtdqui  na  historia^  as  cireumatan-^ 

^^  eias  levaram  o  minUtro  conservador  de  18á2  a  affectar  em  1833 
modos  de  demagogo,  sendo  envolto  nos  snccesaos  que  assig^na* 
taram  a  dissolução  violenta  da  Constttninte — elle  qile  pessoalmente 
tinha  o  orgnlho  nào  sé  das  tradições  intelJectuaes  de  aftcendentei 
proxjoins,  ma^  também  da  fidalguia  da  sna  linhagem,  qud  «a- 
irODcava  em  casae  noWes  do  Reino;  e  cnja«  JtLclinaç5ei  iam  pa» 
vma  Constituiçào  pautada  pela  Carta  francesa,  ua  qual  se  alen- 
tasse o  podt^r  ^em  se  sacrificarem  as  liberdades. 

No  seu  espirito  met^mo  travavam  luta,  para  se  ajastarem 
notna  fórmula  escereotjpada  a  Bi^njamin  Constante  a  jnriapru^ 
dência  severa  do  antigo  desembargador  da  Relaçô^  do  Porto, 
educado  na  tradic&o  coimbran,  e  o  philosophifi^mo  do  discípulo 
dia  reformas  de  Koui^sberg,  o  estudioso  do  criti cismo  raciona- 
lilta  de  Kant^  do  idealismo  transcendental  de  Fichte  e  do  me-* 
tapbysifitno  ag^udo  de  Sehellin^. 

Aquella  aspiração  de  conciliação^  politica  continuou  do  pé 
depois  ri  elle,  e  não  é  eeu  menor  título  á  nossa  consideraçA,o  o 
baver  no  momento  necessário  refreado  a  desordem  nas  ruas,  assim 
como  opportunaraenttí  contivera  a  desordem  nfls  espiritosj  quando 
etta  ultima  podia  ter  acarretado,  e  acarretaria  fatalmente  a  de- 
composição desta  nossa  nacionalidade  que  não  lograriftf  fragmen- 
tada,  cumprir  o  destino  que  lhe  anda  certamente  reservado,  d© 
que  José  Bonifácio  expressou  a  confiança  em  versos  que  se  acham 
recordados  em  bronze  no  pedestal  do  monumento  no  Rio  do 
descobridor  do  Brasil,  e  a  que  o  nos<o  eminente  representante 
aa  Conferencia  da  Haya,  o  «r.  Ruy  Barbosa,  começou  a  emprestar 
realidade  perante  todo  o  mundo  civilizado  nas  suas  admiráveis 
orações  e  propostas  vasadas  nas  formas  de  bronze  do  Direito  e 
da  Jnsiiça. 

M.  DiE  Olevhira  Lima. 


Os  machados  de  pedm  dos  Índios  do  Brasil  c  o  seu 
emprego  nas  derrubadas  de  mato 


PELO  PROF.  DR,   HERMANN  VON  IHERING 

ih  mnchadoa  de  jiedrA  empregados  pelos  dobsos  aborígenes, 
de  conformidad<^  eom  o  uso  tx  q^ue  se  dct^tinavain  e  também  con- 
forme o  material  d«  que  sào  fntoa  ft  a  tribu  a  que  pêrtencenim, 
variam  Tnuito  em  stias  dimensões,  it^irmn  e  petio  e  ainda  em  eeu 
encabamcnto.  Sein  nos  oceiji|iíirm09  dflquelleii  typos  de  macbados 
qne  se  destinam^  a  fins  diverE^oa  do  que  boje  temoa  em  vista 
estudar,  como  spjam  oa  eciprejiradoa  era  occa^ities  cerimoniaea  ou. 
aquellfs  que,  por  dtMnaisi  pequenof,  evidentemente  substituem  em 
»eu  em)írefí-o  o*  no&aos  uten^rilins  de  lamina  pequena,  como  ou 
cauiveies,  taquinbas,  etc,  só  querftmoB  verificar  aqui  o  empreg-ô 
e  matiejo  daqu^Ues  mschadoB  de  pedra  de  que  b6  utili^aviim  or 
Índios  para  eortar  madeira  crosta,  devrwbar  troucoa  de  arvores 
possantes  o,  em  capetial,  os  com  que  preparavam  m  8«a&  roçan 
partuo  plantio  de  ve<^etaes  que  Ibea  forneciam  bõa  parle  de  ââa 
alimento. 

Para  o  e&tudo  do  em]n'eiro  que  os  índios  faziam  desses  &eui 
utenailioã  primitivos  jiodemos  basoar-1103  em  variada  documentação, 
como  sejam  em  parte  a  evidencia  resultante  da  exame  critico 
dos  próprios  raacbadoa,  as  informações  que  encontramos  na  lite- 
ratura aiiti|^a  e  moderna  e,  emfím,  o  que  ainda  hoje  Be  pode 
observar,  o  manejo  que  ainda  em  noa&ns  dias  ellea  têm  entre  as 
tribus  de  selvicolná,  entre  os  quaes  ainda  o  uiacbado  de  aço  nâo 
substituiu  por  completo  o  qne  outrora  era  empregado  eicluaiva- 
mentií  jjor  todos  oa  nosscs  indios. 

Ne»te  ultimo  csho  estavam  ainda  0^  Bacaíría  das  mnr£;-eQS 
do  rio  Xin-iTÚ,  (I)  quando  os  visitou  o  Dr.  Karl  von  deu  Sfeinen 
em  1884  e  que  em  sua  memoria  diz  (p.  IGO)  que  aú  com  seus 
macLadoi  de  pedra  encravados  era  caboá  de  madeira,  conaeg^uem 
derrubar  arvorei  e  {^reparar  postes  ,'  alem  disto  só  ossos,  dentei 
de  flnimaes  e  condias  Ibtsa    servem  de    matrnmentos    auxiliares* 


{'2)    Dr,  Zt ferino  Cândido,  Quarto  Centenitrio  úo  DeMcobrímeotâ  dõ  BrulU  !D^I900. 


—  427  — 

Para  citannos  alguns  dos  trecLos  mais  ínlere^Baiites  da  lite- 
ratura antipa,  referente  a  esu  qneatfto,  traTis€rev**mos  o  trecho 
da  carta  de  Pêro  Vaz  Citramha  (2)  em  que  et  Ir  narra  a  curiosidade 
dos  sei  vi  colas  em  verem  oa  cnrjiinleírDS  prepnrarem  os  madeiro» 
com  que  deviam  levantar  a  criiss :  «porque  ellei  nâo  têm  consa, 
«  que  de  ferro  ftefa.  e  corta  ai  sua  madeira  e  paus  com  pedras 
«  feitas  como  cunhas,  metttdas  em  um  pau,  entre  duas  talas  mai 
a  bem  AtadaSf  e  por  tal  maneira  que  atidam  fortes..-» 

TamHem  ilans  Staden  (3)  cm  vários  pontos  de  bua  interes- 
sai! tissima  narração  refere-íÇ  a  esees  machados  que  descreve  como: 

<  uma  espécie  de  {ledm  preta  azulada^  que  elles  preparam  como 
«  nma  cunha- «-  das  quaes  algumas  ^uo  maiores, outras  menores. 
«  Tomam  depois  um  páa  lino  que  dobram  ao  redor  da  pfdra  e 
«  amarram  com  fibras  de  embira...»  (p,  129)  «Nos  lupirca  onde  ellea 
«  querem  plantar,  coitam  primeiro  aa  ar vort^s  e  deixam-nes  seccar 
c  durante  um  a  três  me^es.  Depois  deitam -lhes  fo^^o...»  (p.  130), 

Egual mente  snggegtivo  ê  o  treclio  qtie  transcrevemos  do  artigo 
infelizmente  anonymo  da  Jíemaia  do  Instituto  Ilisiariúo  do  Kio 
de  Janeiro,  masque,  Cf»mo  se  o  vi^  á  pg'.  306  do  mesmo  eacrijitOj 
data  do  anoo  de  1584:  abi  di^s  o  pequeTio  capitulo  que  trata 
«dáS  ferramentas  de  que  usavam»,  ^  lt>  Antes  de  ttirem  co- 
nhecimento dos  Portuguezss  UFavam  de  ferramentas  de  pedra, 
osso,  pau,  cannap,  df^nte*  do  animaes  etc,  e  com  estas  derrubavam 
g^randes  matos  com  cunhas  de  pedra,  ajudando-se  do  fní^o^  e 
assim  metmo  cascavam  a  terra  com  uns  paus  ap^udoa  e  faziam 
suas  metaras,  contai  de  bu/io-i,  arcos  o  flechas  tâo  bem  feitos 
como  agora  í assem,  tendo  instrumentos  de  ferro,  porém  p-íistavam 
muito  tempo  em  fazer  qualquer  cousa;  pelo  que  estimam  muitn  o 
ferro  pela  facilidíido  quo  sentem  em  fazer  sua  a  cou^a^  cora  ©llSi 
e  esta  é  a  razào  porque  folg"am  com  a  comniunicarrwj  dos  brancos. 

Queremoa  ainda  dar  aqui,  pela  sua  curiosidade,  otrecho  em  que 
ao  nosso  assumpto  se  refere  o  padre  J.  Gumilln  (4)  que  trata 
largamente  do$  costumes  dos  Índios  do  Orinoco.    Dr/*  ©He  (p,  2tU) ; 

<  A  primeira  vrz  que  estive  com  es  gentios,  pensei  que  pela  sua 
«  rudeifi,  seria  forte  ar;íumento,  para  agí^regal-os  a  melhor  sitio, 

<  ponderar-lbes  que  allí  não  tinham  ferramentas  com  que  roçar, 
«limpar  íi  terra  e  derrubar  as  arvores;  mas  nào  se  deu  tal, 
«  porque^  tomando  de  seus  machados  de  pedra  de  dois  gumes  e 
€  empatando-os  no  meio  em  garroie^  proporcionados,  rewjionde" 
«  ram-me  que  com  as  macdncut  (que  ^M  suas  espadas  de  madeira 

<  rija)  quebravam  os  pequenos  arbustos»  e  com  aquelie^  machados 
«  cortavam  os  troncos  verdes,  e  as    mulheres  iam  queimando  os 

<  paus  seccos,  Perí*:untei  i^uanto  tempo  i^astavam  em  cortar  uma 
€  daquellas  arvores?     E  respondera m-niei  que  duas  luas;  ieto  é, 


i^\  Jlant  SíadMn.  Sunn  TÍjig9itt  •  (supitTelro  cntrfl  Dl  ielTA|;?iii  do  BnuU.  Edl^iú 
CõUnitriiiorjilJirA  do  U'  Cenieoiirta  4 A  LAefl^ePi  BAo  F»ulo.  1000.  p.  1^0  e  l.ío  etc, 

^^'^  P*(Lre  Jo§tuk  Gurníila,  Kl  OrLpQcp  ntiisl3'iidcib  Historia  DMorâl»  civil  «te,  4q 
eite  irfAiQ  Rio.  Jindild,  174^,  Tomo  ][. 


—  498  — 

*  dris  mezes,  (cousa  que  com  um  machado  commum  b6  Í»%  em 
c  uma  kora).  Par  teto  eu  diesora  que  nâo  podia  comprehender 
«  como  seu  trabalho  tfto  !ento  lhe  a  podia  dar  fructo  suflicieiite  pam 

<  satisfazer  sua  singular  voracidade.  Perguntei  aiuda :  Gamo 
€  OU  com  que  preparam  leus  machados  de  pedra  tào  dura  ?  E 
«  respoudei-am-me  que  eom  outras  pedras  quebravam  a  estas  ;  e 

<  depotSf  á  for<;A  de  amola) -as  em  pedras  maia  brandas,  e  com  á 
«  ajuda  de  a«:ua,  lhes  davam  a  forma  e  davam  o  fio  aos  ^umaa . 
«  JámAÍâ  vi  Hsta  manobra;  creio,  porém,  que  só  a  custo  de  moito 
c  tempo  o  conseguem:  occupa^ao   própria    fiara  crente    ociosa». 

Qtia^i  t<ido3  os  nossos  indio&  faziam  roças,  Í8to  é,  derrubavam 
o  mato  em  lug^ar  apropriado^  para  net^tafi  clareiras  plantarem 
milhn,  fi*ijâo,  mandioca,  algodão  etc. ;  al^nns  auctores  antigos 
mRi^iíio,  tae?  como  Ulrich  Sch*niedel,  tios  dizem  que  essas  roças 
eram  ])or  vezes  extensas  e  fartas.  Setuprej  porém,  estas  infor— 
maçòps  hko  lacónicas  e  nflo  se  expandem  sobre  o  modo  porqud 
se  utilis^Avam  os  indins  dos  seus  machados,  o  emprego  que  davam 
aos  de  tamanho  diverso  d  de  differeote  encastoamento. 

Em  gftral  Hmítam-se  a  dizer  que  delles  se  utilizavam  coeoo 
nós  dos  nossos  machados  de  aço. 

Entretanto  bem  podemos  imaginar  que  e»ses  machados  de 
psdra,  se*nindo  as  suaa  dímensoei,  íhes  eerviam  tanto  para  derru- 
bar arvores,  como  para  o  p  eparo  de  aeua  arcos,  flt*cha8  e  mais 
utensilioB  e  mesmo  quo  os  de  dimensões  maiores  lhes  serviam  de 
enxadas  para  cavocarem  a  terra. 

Ainda  ha  pouco  o  ar.  dr.  R,  A,  Goeldi  se  externou  a  este 
respeito  em  Ufoa  conferencia  (5)  que  fea  perante  o  XIV  Gou^ 
gresso  dns  ámerícaaistas,  Umentando  esia  carência  de  informa-» 
çõas;  conclue.  porôm,  o  raeamti  scieniista  que,  segundo  O  que 
ouviu  dizer  do»  Índios  do  Alto  Amazonas,  estes  to  ^ú  utilizam 
dos  setifi  machados  de  pedra  como  instrumento  com  que  amaçana 
r>B  troncos  das  arvores,  depois  de  tel-os  carbonizado  e  que.  depois 
de  ter  eliminado  com  o  machado  a  porçào  carbonizada,  de  novo 
che^ram-lb^  o  fo^o  Debite  modo,  taes  machados  n&o  funcctouariam 
como  instrumentos  cortantes,  mas  sd  com  o  emprego  alteroativo 
do  machado  e  do  fogo  conseguiriam  derrubar  os  troncos  de  ar-- 
yores  de  que  se  quiiseasem  utilizar  ou  que  pretendessem  eliminar. 

Não  me  pareceu  plausivel  {generalizar  tal  emprego  do  ma- 
chado para  t^^das  as  eventualídadeii}  mesmo  porque  assim  só  em 
easos  relativamente  diminutos  o  machado  de  pedra  prestaria  boas 
serviços  e  sempre  seria  mutto  penoso  qualquer  serviço,  mormente 
em  se  tratando  de  cortar  arvores  ainda  verdes  Além  disto,  ba- 
ieavam-«re  taes  affirm«çòes,  relativas  a  suppoatos  costumes  de 
Índios  do  Alto  Amazonas,  em  informações  va^as  e  talvez  iticertaa. 

Mas  lembrt^^i-me  Io;í;o,  o  melhor  melo  de  sesabirdo  terreno 
das  conjecturas,  suppo^^çôes  e  carência  de  provas,  seria  o  de  jxjr 

(tb  Dr^  E  Â.  Ootidi  Vihw  doD  QebrHoeb  dei  fitanUot  be>l  )«Ut  1«b«a4átt  Indl»' 
oerD  Badiimeiiciu.  apecIsU    Aitiuoiiieiíi^  XiV    ÃineiikAoliteii^Kaiif^rMi  13^^,  p.  I4l-i4l, 


-  429  — 

A  cjueelAo  a  limpo  pela  experícDcia,  que  afiliai  no&  viria  a  euBi- 
nat-  o  quanto  se  |,óde  conge^uir  eom  o  rude  maL-hado  de  pedra, 
matiUi^atido-se*o  como  o  teriam  oã  seus  fâbricadoreâ,  Propuz-me 
eotâo  fumr  uma  i^i:;>ada  com  o  auxilio  único  dâ  machadoe  de 
pedra  e  para  tal  fim  eecolhL  entre  03  diversi^s  typos  rejíreBea-i- 
tadõs  nas  collecções  do  Museu  Paulista  síjí»  d©  tamanho  e  forma 
diverso»,  que  me  pareciam  maiB  apropriado»  Serviram- me  de 
modelo  para  o  encastoamento  doi  machados  dous  eiemplarea  en- 
çabadps,  da  antiga  collecçào  do  Museu,  de  proveDÍeueia  incerta 
e  um  outro  que  ha  pouco  obtive  do  Paraguai,  proveniente  dof 
índios  6uaiaquÍH<  Observo,  entretanto,  qne  já  actualmente  taea 
machados  dos  Gnaiaquís,  quer  do  Mato  Grosso,  quer  do  Para- 
guai, sfto  bastante  rarotj  visto  como  o  incansável  colleccíonador 
italiano^  sr,  Bog^iani  em  suas  repetidas  viagens  procmou  obter 
tudo  que  eocontrassp,  de  u>odo  que  só  com  custo  pudemos  adriairir 
ainda  um  exemplar  para  o  nosso  Mu^eu,  Mandei  poig  pn^parar-me 
alguns  machados,  eocastoando-os  secundo  aquelle  typo  e  obtendo 
assim  os  exemplares  figurados  (Bgè.  I,  2  e  3). 

Dirip-me  pois  a  um  sitio  apropriado,  para  ahi  crear  a  minha 
«roça  prehistofiea»  Ãcompanhavam-me  dons  auxiliares,  c  sn 
Emí-st*  Garbej  na  tu  ralis  ta- viajante  do  Musnu  Paulista  e  o  sr, 
Mathias  Wacket,  colleccionador  do  Alto  da  Serra,  que  com  toda 
dedicarão  me  auxiliaram  nc^te  ensaio  e  a  cuja  perseverança  devo 
em  bõa  parte  o  completo  êxito  alcançado. 

Basta  diíier  que  nào  houve  meios  para  convencer  trabalha- 
dores, ienhadores  de  profiasão,  a  que  se  sujeitassem  a  psísb  tra- 
balho, que  consideravam  por  demais  maf^sante  e,  talvpyt,  ind+gno 
de  sua  profisitâo  O  Itt^ar  escolhido  lok  uma  mata  próxima  á 
Caixa  d'Agua  da  Estação  do  Alto  da  Serra,  onde  eEí]iesha  floresta 
de  bfillaB  arvores  cobr^  o  espi^íâo  daquellaa  pittorescas  serranias, 

Dnrante  o  trabalho  foi  que  se  verificou  que  n&o  pao  os 
machados  de  dimensões  maiores— de  ca.  30  cent.  de  comprimento 
■^que  sorvem  para  tal  fim,  visto  como  são  muito  pesadois  e  de 
manejo  dífficil»  principalmente  em  sentido  horizontal ;  também  os 
machados  [>equenos,  de  ca.  8X^  cent.  (peso  de  240  gr.)  não  sâo 
apropriados,  pois  que  íbu  trabalho  n&o  rende. 

Os  melhores  typos  são  os  de  10  X  ^  cent,  ou  pouco  mais 
e  de  uma  grossura  de  B,5  cent,  e  peso  de  ca.  500  grs. 

Também  a  força  a  empregar  foi  preciso  ir  tenteando;  vi- 
brando-se  o  golpe  com  muita  for^a  o  effeito  ó  ne^íativo,  visto 
ccmo  assim  íacilmente  se  quebra  o  cabo  ou  %  própria  pedra. 
Com  pequenos  golpps  vae-ae  dando  talho  por  talho,  que  sempre 
fãz  o  gume  eneravai'-se  na  madeii^  e,  uma  vez  obtida  a  neces* 
saria  pratica,  mesmo  os  cavaeos  saltam  lon^^e,  abrindo* sn  cada 
vez  maior  brecha  na  madeira.  Naturalmente  o  corte  n^o  pode 
ser  de  talho  tAo  Hso,  como  o  obtém  o  machado  de  aço  e  também  a 
cinta  qne  se  deve  talhar  em  redor  do  tronco  precisa  ser  de  ang^ulo 
maii  aberto  do  que  em  trabalho  análogo  com  o  machado  de  aço. 


r 


^  4âO  — 

Mas— bem  o  demonstram  as  nossas  experiencixia- — o  trabnlbo 
íi^ú  é  thú  árduo  que  ge  dev&  dizer  que  o  índio  não  o  executasse 
e  quanto  d  quentão  do  tempo,  eate  uão  lho  é  t&o  precioso  como 
nós  o  teoioa  em  contJi.  Tratu-sei  além  disso,  de  serviço  a 
elles  impreacindiveis,  como  o  preparo  de  suas  roças  e  pouco  ee 
]he&  dará  ^rastarem  nisto  a]|^um  ttímpo  &  mais. 

Em  noÈsa  experiência,  realizada  no  Alto  da  Serra,  o  resul- 
tado cbtido  joi  o  seguinte,  0^  meu<dous  auxiliares  em pregfiritm 
somente  três  dias  de  trabalho  para  fazer  uma  clareira  de  15x7 
metroã,  isto  é  105  '"'  quadrados  c.m  meio  He  uma  mata  cerrada, 
onde  abtitidavam  os  troncos  de  arvori»»  pnr  ve^ies  de  30  ceot.  de 
diâmetro  e  de  inadeirda  resistentes,  de  lei»  Umas  de^^sas  arvores 
da  quAÍtdade  chamada  Tiuna  n^uito  dura,  também  dita  de  lei, 
media  25  '"'  de  attura  e  o  tronco  tinha  30  cent.  de  diâmetro  na 
altura  em  que  íoi  cortado,  a  5U  cent.  acima  do  chào.  Pois  easa 
peça  (^*^,  i)  comprobatória  do  valor  do  macbadu  dos  nossos  Índios 
n&o  reiiãtia  aiaào  4  honu  ao  paciente  trabalho  do  sr.  Uarbe. 
Para  confrontar  eate  resultado  com  o  que  obtém  o  lenhador  cora 
o  seu  machado  de  aço,  fizemos  urn  caipira  cortar  o  mesmo  tronco 
um  pouco  acima  e  sempre  foi  preciBO  o  esforço  de  meia  hora,  para 
que  e^ual  serviço  fosse  executado;  mandando  ainda  tima  vez 
torar  o  tronco,  desta  ve»  cora  serra  puchada  por  dons  traba- 
lhadores, elles  í^^astarnra  9  minutos  para  conseguil-o. 

Eu  me&mo  projma-nie  cortar  uma  CantUa  de  12™.  de  altu- 
ra, cují»  tronco  media  12  cent,  da  diâmetro.  A  madeira  era  dura» 
mas  o  machadinho  tirava-lliR  labcas  que  uma  após  outra  cediam 
aos  golpes  e  ao  fim  de  *23  minutos  tombava,  tendo  eu  cortado 
mais  de  dons  terços  do  tronco.  Como  porem  a  arvore  cabisse 
sobre  outra,  vÍ7Jnha,  a  parte  central  do  cerne  uão  ponde  quebrar 
toda,  nera  a  arvore  cabir  ao  chão.  Estava,  porem,  veucida  a  sua 
resistência.  Achei,  entretanto,  interessante  conservar  a  peça 
neste  estado  (6^^.  (i),  no  momento  em  que  ja  nâo  ofterece  reaig- 
tencía  ao  próprio  pes-o  da  cópn^ 

Tinhamoç,  pois,  eoncluido  o  serviço  neceisario  para  ter  uma 
roça  preparada  para  o  plantio;  pelo  menos  no  que  diz  respeito 
ao  trabalho  a  executar-se  com  o  machado,  pois  de  resto  bastava 
deixar  seccar  o  mato  derrubado  e  queimal-o  em  época  oppor- 
tuna,  para  já  se  poder  plantar  algum  pouquinho  de  milho  ou 
mandioca^ 

i^uanto  ao  machadínho  (fi^>  3),  com  que  se  fezqims!  todo 
este  serviço,  não  era  elle  dos  mais  l>em  afiados  da  cotlecçfto, 
mas  de  um  dinrito  escuro  snmmamento  resistente,  tanto  que  nAo 
apresenta  nenhum  signal  de  quebradura  ou  deute^ salvo  os  doui 
que  já  anteriormente  tinha. 

Experimentou-se  depois  cortar  madeira  secca  com  os  mesmos 
machados ;  mas  tal  nfto  tbi  possível.  O  machado  quasi  que  nào 
conseji^-uo  encravar-se  na  lenha,  que  apenas  se  comprimia  cad& 
vez  maii,  em  consequência  dos  golpes   que   rebatiam.     Durante 


—  431  — 

a  roçada  foi  preclâo  derrubar  também  uma  aivore  quafii  Bccca 
de  poucA  p^rosiura  e  ue&sa  peça  ^astou-*e  o  dufJr»  ou  quasi  o 
triplo  do  tempo  que.  se  teria  em] "reinado  para  derrubar  egiml 
trofico  ainda  verde.  E'  que  falta  a  Beiva  ao  tronto  e  pois  o  tra- 
balho Be  torna  muitipsimo  maia  penoso. 

Jul^''o  poÍ9  conclusiva»  ç^tan  minhds  observações  e  pspeciíil- 
mente  a  eiperíencin  (6)  jmsta  em  pratica^  Nunca  o  indjo  que 
quíseBBe  trabalhar  dej^resga  terá  eiti [trepado  alternativamente  o 
o  fuço  e  o  machado  para  derrubar  nrn  tronco  no  mato,  pois  o 
fogo  ío^o  acabaria  e,  receando  a  madeira,  só  tornaria  maifi  árduo 
o  lervlço.  Bera  o  mostram  as  peças  que  apresento  como  docu- 
mento e  o  tempo  que  indiquei  que  fora  í^asto  para  derrubar 
a&Bas  arvores,  que  nèo  é  tAo  exceasiv^ameute  loni^^^o  o  trabalho 
que  Be  tem  para  cortai- a  cíijn  o  machado    de  pedra. 

Álím  diito  é  preciso  levar  em  confiidera<^So  que  o  indso,  que 
qaizeBBe  ahrír  uma  roça  no  mato,  escolheria  cuidadosamente  o 
lug'ar  que  melhor  te  prestaíse  e  entre  bb  eondiçOes  primeiras 
certamente  íignrava  a  de  que  não  deveria  haver  nease  mato 
muit^B  troncos  grossos  a  derrubar.  Si,  entretanto,  não  pudesse 
evitar  que  ahi  houveFse  uma  ou  outra  arvore  do  respeitável 
í^rossura,  a  qual  para  derrubar  lho  custaria  muitos  diaa  de  tra- 
balho, elle  naturnlmente  lançava  máo  do  mesmo  recurso  que 
ainda  hoje  empregam  nossos  roceiros,  isto  e,  descascai- a-ia  a 
certa  altura,  queimando-a  ainda  um  tanto  para  matar  a  arvore 
qne  já  uào  daria  multa    sombra  prejudicial  á  plnntaç&o. 

Como  já  observei  ha  pouco,  ha  variados  typos  de  machados 
de  pedra,  que  nem  todoa  se  prestam  para  derrubar  arvores, 
Taes  tho  os  muito  pesados,  com  os  ijune  ^o  se  pude  dar  golpes 
verticaes;  outros  tão  muito  pequenos  e  «eriam  destinados  a  Berviçofi 
menos  rudes. 

x\a  snns  canoas  certamente  todos  as  fjiziam,  como  também  oa 
pilòea,  com  auxilio  do  fogo  (7)  ou,  antd?,  d%  br^í^a,  que  ans  poucos 
iria  carcomendo  o  lenho, — systema  este  também  ainda  hoje  bas- 
tante em  voga  entre  ob  nossos    moradores  do    interior  do    paii. 


(fl)  Pêlo  qiíe  iHo  no  liífo  de  M.  Hocroés,  Del  Unfepchlchle  áea  iian^ch^n —hf\çz\ç 
}rQ2,  p.  247"Cem'«ei  feito  cxperífjiciap  itcite  tentEdo  tní  Earrtpa.  porém  tinm  mn,iÍL'lriis  a 
tt«cbMdoi  do  tnat*riAl  d  í  Terno*  "Hche#tefl  o  a  Diu*  to  arca  tratmlhoo  factlmcDiQ  a  ra»^alra 
vom  «DxlUo  de  inHiiaiaentaii  ii$  pe^(3.«meir»,  iterrntiniidíj'  em  tir«vtí  tempo  tr<ínk:os  de  pU 
■lielitii,  etc.  Contej^ufu.  iiie»ino.  fnzer  ctn  itritip^  ralíitivaaiÊ^nta  cimú  todo  ú  aervl^o 
4«  c*rpinteÍTO  nEçci^aTío  P^rn  nçubae  ttpm  ppqgínn  cn^nhn  on  r»iicli'j",  Neíue  «m», 
porÊm.  n  niAdeEn^  crji  do  qu.-ilidiid^  muito  m&ié  mi^Uâ  do  que  em  geril  o  kAo  At  ddmm 
e  tombem  t*  jmfiterlAl  de  que  ern  feito  ú  hibchido  é  multo  »apcr!or  iMr>  nov^ni. 

("j  A  Cite  inr-íTnO  respeUú  podemos  nimí»  cltflr  um  trecho  do  p"  4.  (Jumflla  {El 
Orinoco  illDitrnúo  etc.  loc.  cft  p.  lirii^  -Flntre  ^&  nac^ef.  úlz  elle,  ouúâ  jii  ha  miátlD' 
nnHo»  ou  niLt  qnú  Aio  Qcim  ctuito  disuntes^  aitm  húje  rerrAmenUia  apropMndHii  pkrao 
tervlço;  poreoi  em  (odú  «•  iifeç4^«s  em  ger»l.  antc«  qne  chef^uiem  oé  BeapHDhúe»  e  fsntre 
u  BDita«  ODde  Até  af^or»  nAo  cbegHr»m,  oi  Índios  fubrlcbisi  snit  íintiaâ,  auiiii  tambom 
i:  iQA»  emljArcactei  ti^mcnto  oom  o  igitillo  do  Jogo,  «  Hn  ngoa-  h  custji  Aty  mnilo  tempo 
i  de  ama  pn^lixldiule  Incrlvei,  Cam  o  fogo  ftopmiido  lu  braiit^  exi:;a%'am  Ji«  madelru^ 
{^Atuindo  o  QQO  á  DccefliArlot  a  com  a  a^u«,  que  «êm^ra  aatái  mito,  apat"'^^  °  ^^^^  ^^^^ 
qoa  oâo  «6  tfA$te  mali  do  que  é  mi^i^r.  NAo  hi^  lofTrE mento  n^m  piicleocin  que  bniKtem 
ne«mo  para  t«1  oi  trabo^lbar  tAo  radcmente  g  qoiul  o  a  eu  trabalho  creíce  com  o  pmko 
liDKeliÉlve]  com  (jae  crescem  aa  borras  do  cimpO;^  v«£»r  todo  proporclúDiído  i  inoata  prç- 
ral^a  do*  iadioa.v 


—  432  — 


Explicação  das  figuras 


Fig.  1,  2  e  3— Machados  de  pedra,  encastoados  segundo 
modelo  original  dos  indios  Goaiaquis;  com  o  machado  fig.  3 
foi  feito  a  maior  parte  da  derrubada  do  mato. 

Fig.  4,  5  e  6— Troncos  de  arvores  cortados  unicamente 
com  auxilio  dos  machados  de  pedra  aqui  figurados.  O  tronco 
fig.  4  («tiúna»  de  30  cent.  de  diâmetro)  foi  derrubado  pelo 
sr.  E.  Garbe  em  4  horas;  o  outro,  fig.  5  (ccanella»  de  12 
cent.  de  diâmetro)  foi  cortado  pelo  dr.  H.  von  Ihering  em  23 
minutos . 

Fig  7— Vista  da  mata,  no  Alto  da  Serra,  com  a  roça 
preparada  com  machados  de  pedra;  á  direita  vê-se  o  sr.  dr. 
H .  von  Ihering  com  os  seus  auxiliares,  juntos  a  um  tronco  que 
derrubaram . 


PlG,  4 


V 


,u   r  * 


,4  i 


íC^. 


1 


"QUERO-JA" 


(22  DE  JULHO  DE  1840) 

Guarda  a  tradição  a  notícia  de  pbraseí  on  palavras  pro- 
nunciada» por  individnos  de  valor  em  importantes  e  solemnes 
occ&siõefl. 

De  algumas  a  critica  histórica  tem  rejeitado  a  aatlientici- 
dade,  deportando-aa  para  09  dominios  da  lenda. 

Sobe,  pf>rèm,  de  ponto  o  interessa  quaudo  o  individuo,  a 
quem  sILo  attri  buídas  tae^  palavras  nega  târmio  ante  mente  bayel-aa 
pronunciado  durante  a  vida. 

Neste  seguado  caso,  me  lembro  do  muito  conbecido^ 
fQuero-já» — que  aos  nossoâ  historiadorea  tem  servido  de  syn- 
these  aos  acontecimentos  precedentea  á  declara^jão  da  maioridade 
do  imperador   d.   Pedro  II, 

Como  bem  sabido  é,  graçaa  a  uma  revolução  meio  parla- 
mentar, meio  popular,  e  auxiliada  pelaa  claaaeíi  armada»,  o  joven 
imperante,  contra  a  letra  expresaa  da  Guuâtítuição^  tomou,  aoa 
14  annos  de  edade,  o  leme  do  governo  e  preetoa  o  competente 
juramento,  no  Paço  do  Senado^  no  dia  23  de  Julho  de  1840,  na 
presença  de  33  ietiadorea  e  84  deputadoB  alli  reunidas  em  A$eem- 
tléa  Geral. 

Sobre  a  maioridade,  além  dos  jomaea  do  tempo  e  de  um. 
folheto  impres&o  na  typojn^aphia  do  DeJipêrtadur^  já  escreveram 
proácien  te  mente  Pereira  da  iSilvat  Moreira  de  Azevedo^  Theophilo 
Ottoni  e  o  venerando  &r.  conselheiro  Triãtào  de  Alencar  Ãraripe 
e  o  meu  antig-o  condi»cipulo  o  illu^tre  Joaquim  Nabnco. 

Para  o  que  vou  estudar  basta  o  seguinte:  o  partido  liberal 
moderado  occupou  o  poder  de  1831  a  ISST*  Em  35  foi  eleito 
Kegente  o  padre  Diogo  António  Feijó,  em  virtude  do  Acto 
AddicionaL  Em  19  de  letembro  de  37  Frijó  re&igna  o  poder,  E* 
chamado  para  eubstituíl-o  o  ministro  do  império  Pfidro  de  Araújo 
Lima,  que  exerci  interinamente  a  Kegencia  até  ser  eleito  para 
o  precitado  carg-o,  cuja  effeetivídade  devia  terminar  em  maio 
de  I842f  sendo  provável  fosse  reeleito  até  a  maioridade  de  d, 
Pedro,  a  qual  só  se  devia  realizar  em  2  de    dezembro  de  1843. 

Os  liberaes  íóra  do  poder  não  se  contentaram  com  a  sua 
•orte  de  verdadeiro  ostraciamo.  Haviam  falhado  varieis  planos 
para  derrubar  os  adversários.  Assentaram  no  ^-rojecto  de  pro-» 
clamar  o  menino  imperador  que  entraria  no  exercicio  do  poder 
eom  Bupprixnento  de  e-dade. 


—  438  — 

Era  promotor  dessa  ídéa  o  fenridor  Joié  Mártmíano  de 
A1eDcai%  ú  imperteiTito  lihernl  do  todos  os  tempos.  Foi  fundado  o 
Club  Marionâtfí,  cujos  estatutos  formuíados  por  Alencar  tiveram 
Uk  approvaçâo  d^  vários  ami^^os  politicou,  tíiefa  como  os  deputados 
Autooio  Cario?,  Martitn  Francisco,  Peiínto  de  Alencar  e  oa  sena- 
dores Coata  Ferreira,  llollatida  Cavaícaoti  o  Paula  CavaicaiUu 

As  reunities  da  socitídade  realijíaram-so  em  t*asa  do  &eiiador 
Alencar,  á  rua  do  Conde,  no  prcdio  em  que  mais  tarde  residiu 
o  Vipcoiide  do  Uio  Branco. 

Trea  coisaa  ])rocuraram  obter  os  maioristas,  cujo  numero  foi 
progressivamente  crescendo:  acq^uiescencia  de  dom  Pedro,  voiaçaa 
das  camarás,  e,  principal ment**,  apoio  popular. 

O  primeiro  iutento  foi  facilmente  satisfeito.  Deu-se  prin- 
cipio á  conf|UÍsta  d©  votos  no  parhnieuto,  e  foi  creada  a  g-azetn 
MaioriNíat  que,  do  par  com  o  D&ipertador,  defendiam  e  advo- 
ga vani  a  causa  da  maioridada . 

Depois  de  varias  peripécias,  o  Club  i-eBolve  apresentar  o 
projecto  m  dia  13  de  maio,  sendo  uo  Senado  eaeftrregado  desta 
mifisSo  Hol lauda  Cavalcanti.  Os  amij^os  do  Keg:entfl  buscam, 
por  todos  os  modos,  contrariar  as  intenções  doã  maioristas. 

Para  retardar  a  medií^a  proposta  por  e&teá,  apresentam  na 
Camará  um  projecto  de  refiirma  constitucional,  que  £Ó  poderia 
ser  efTectuada  com  demnsiada  demora. 

Cabe  no  Seuado  o  projecto  dos  maioristasi,  por  18  votoi 
contra  16, 

Alencar  e  seus  amigos  nâo  desanimam  e  abraçam  novo  plano 
do  reali:£ar  seuf^  desejos.  Escolhem  para  arena  de  combata  a 
Camará  dos  Deputados,  sendo  apresentante  de  uru  novo  projecto 
o  deputado  Alvares  Machado. 

Já  pír  esse  tempo  eram  eloquentes  as  manifesta^ções  popu- 
lares em  prol  da  maioridade^  e  os  maioristas  haviam  conquisUidc» 
o  apoio  de  amí*:-os  do  g-overoo,  entre  elles  José  Clemente  Pereira, 

Depois  de  varias  peri])eciaB  politicas,  em  21  de  julho  An- 
tónio Carlos  apresentou  n»  Camará  um  projecto  declarando  o 
imperador  maior  de&de  já,  cuja  discUBaão  foi  approvada. 

Era  quasi  certa  a  victoria  dos  maiorjãtas.  Os  amti^os  do 
governo  deliberam  o  adiriTiiriito  do  corpo  leg-islativo.  E'  cha- 
mado para  ministro  do  império  Bernardo  Pereira  de  Vasco wce lios, 
que  immediatamente  lavra  o  denreto  de  adiamento^  que  é  lido 
no  dia  seguinte  no  meio  de  graúdo  confuBáo  e  tumulto. 

Levanta- se  António  Carlos  ©  grita — qui.m  for  brasileiro  siga 
commt<;^o  para  o  Senado,  O  illustre  parlamentar  é  acompanhado 
por  todos  oi  seus  amigos  políticos  e  por  uma  multidáo  de  maia 
de  3.000  pesBÚaSj  que  invadem  o  recinto  das  aessôes. 

No  trajecto  fão  os  maiorísta^^  saudados  pelos  moradores  daa 
casas,  que  afHuiam  ás  janellas  dandoj  os  homens  enthusíasticoâ 
vivaB  á  maioridade,  e  as  senhoras  aditando  os  lenços  em  sigaal 
de  appiauacs  e  approvaçâo. 


—  4S0  — 

Na  Camíira  Yííalicia,  senadores  e  deputados  deliberam  em 
coratnum.  Declaram-se  em  sesaíio  permanente  e  resolvem  enviar 
uma  eoromiÉSfto  ao  ^^alaeia  da  Bô&  Vista. 

Os  da  commismo  voltam  com  a  noticia  de  que  o  Imperador 
— quf^ria  /tí^acceilar  o  governo^  tendo  ordenado  ao  rep^ente  que 
Ttragamt  o  decreto  do  adiamento  da  Ãtsembléa  Geral  e  a  convo- 
casBu  para  o  dia  seguinte.  António  Carlos  lè  a  representação  que 
dirigira  ao  joven  mí>narclia  o  Liatoría  os  factos  passados  em  Pa- 
lácio. Oiuitto  diverfas  circurnstanciaii,  bastando  dizer  que  no  dia 
BCgniutí*,  pcif  entre  um  concurso  de  mais  de  8.0O0  pessoas,  d. 
Fedro  n  comparecia  no  Senado  e  ahi  jireatava  o  juramento  no 
m^io  do  maior  enthusiasmo  por  parte  do  povo,  que  com  vivas 
D  acclamava. 

Entretãiíto,  d.  Pedro  II,  por  mais  de  uma  vex,  negou  a  con- 
nivencia  cem  os  membros  do  Club  Maioria  ta,  e  a  que  é  mais, 
asseverou  nunca  ter  proferido  o  qutro  jtl 

Quem  eitte  ultimo  fa^to  narra  é  o  dr.  Moreira  de  Azeve- 
do, em  uma  nota  de  eena  trabalhoa  históricos,  dizendí  que  ouviu 
a  negativa  com  outras  testemunhas  na  so^são  do  InÊtituto  Histó- 
rico de  3  de  jullio  de  ISGii.  De  factOf  recorrendo  m  actas 
respectiva*,  võ-se  que  ueese  dia  o  dr.  Felizardo  Pinheiro  de 
Campos  lera  naquelja  associação  um  trabalho — Bonqucjo  da 
actual  reinado  desde  a  decJaraçõo  da  Maioridadt* 

Em  1667,  Tito  Franco  de  Almeida  publicou  a  Biographia 
de  Francisco  José  Furtado,  iltustre  maranhense  e  illnstre  chefe 
do  partido  liberal.  A  pag.  13,  tratando  da  maioridado,  escreveu 
Franco  de  Almeida  o  sef^uinte :  «a  maioridade  perante  o  direito 
foi  um  crime  constitueional  do  qual  o  Imperador  participou  e  ao 
qual  a  naçAo  annuiu*  No  arTebatamento  de  suas  boas  intençoefl, 
nào  coniprehen deram  teus  íiíUtorcs  toda  a  ^^rande^a  do  perigo  á 
custa  de  profunda  ferida  na  Arca  Banta  da  soberania,  indepen- 
dência e  Uberdade  nacional».  Em  um  exemplar  da  referida 
bitij^rapbia,  pertencente  ao  Imperador,  escreveu  elle  a  lupis  a 
seguinte  nota:  *Eu  n&o  tive  arrebatamento.  Si  nào  foste  acon- 
selhado por  diversa*  pessoas  que  me  cercavam,  eu  teria  dito  que 
iLã.0  queria  1. 

A  letra  da  nota  a  lápis  foi  reconhecida  como  authezitica 
pelos  firs,  Marquez  de  Paranaírun,  Visconde  d©  Ouro  Preto,  Ba- 
rão Homem  de  Mello  e  conselheiros  Olegário  e  Corrêa.  O  livro 
pertence  hoje  á  Bibliotheca  do  Instituto  lliãtorico  e  pode  ser 
visto  com  facilidade. 

Quando  no  seio  do  Instituto  o  conselheiro  Araripo  lia  a  sua 
importante  memoria  sobre  a  niíiioiidade  e  asseverava:  •Cora 
efíeito,  pessoa  familiar  do  Imperador  revelou-lhe  a  exiiitt^ncia  do 
planta  e  provocou  uma  declaraçlio  de  sua  parte.  A  pe^sia  acima 
commÍÉSÍonadft  nào  »©  demorou  em  animuciar  que  o  Iirperador 
BS.O  hesitava  em  manifestar  <que  queria  a  maioridade,  e  desejava 
que  ella  fosse  realizada^    estijxsando    niuito    quo    a    id(5a  partisse 


—  410  — 

á&f  ÃTidríirJaà  (*  íenf  atnÍ|ros»,  o  Itnperadíir  observf-Ti  não  íer 
exactA  a  cii\íUni-taDcia  Ahi  referida,  e,  fíudA  a  leitura,  iií$9e  qme 
Be  nâo  recf>rdava  de  ter  eido  jamais  jirovocado  por  peaaoa  algu- 
ma do  Paço  jiara  eimnci^ir-^e  acerca  da  projectada  declaração  da 
maionrJAde. 

O  »r.  coTiiFlhBirn  Ãraripe,  rom  a  independencta  que  lhe  é 
própria,  refl  ^tionou  que  fluasi  asserçdes  aram  fundadas  nas  e  ctas 
áo  Club  àiaiortsia,  Kate  incidente  deu  log-ar  a  uma  extensa  nota 
que  «e  lô  á  pâpf  209  do  totno  44  da  Hevbta  do  Itistituto  Hii- 
torico— Harre  IT— 1882  Ainda  por  e^ta  nota  se  vê  quo  o  Im- 
perador indi-ectaTneiito  rppp.Uw  a  coT\h^CÍáo  —  quero  jâ , 

O  qu«  o  coQselheiro  Araripe  eicreveu  e«íá  de  perfeito 
acordo  nào  ró  com  a-i  actas  do  Club  Maiorisla,  como  tombem 
com  f'  que  escreveu  Ottoni  e  fora  aute*  ro[ietido  por  Andrada» 
e  até  }k4o  )troprio  Bernardo  Pereira  de  Vrt30oiicol'op  na  sua  ex- 
posição de  *28  de  jullio.  AUudiadu  aqu**lle  poliiico  ao  facto  do 
Regente  ter  ido  a  S.  Chrhtovàii  declarar  ao  raotiarch»  que 
adiara  as  Camarás  para  melhor  »er  proclamada  a  maioridade 
no  dia  2  de  dezembro,  disse;  «Sua  ilajratade  se  di^nc u  dí-cla- 
rar  que  qu^-ria  tomar  já  as  redfas  do  governo,  e  que  a  Assem- 
bléa  Geral  fosao  convocada  para  o  dia  fe^niinte.» 

O  quero  jã  conquistou  íóroa  df  cidade  e  foi  repetido  de 
boca  em  b.ica  não  só  pelo^  liberaes,  como  aié  }Telo4  proprioi 
amigos  do  governo  e  do  regente. 

Como  recusar  a  nãd  connivencia  com  os  pro^^^aa distas  da 
maioridade^  V  O  que  poderiam  e^t^s  tazer  si  nào  tivessem  a 
apprnvaçào  do  joven  Imperador?    Seria  Ciiminhar  í em  rumo. 

Theophilo  Ortoni  em  sua  mui  cot»hf*cida  cireular  (1860) 
allude  até  á  uiissão  confiada  av  geotil- h^mem  Bento  António 
Vabia  e  depois  <a  uin  mfmorial  que  noft  fui  dççfjlvido  cúTnum  — 
Sim — escipto  pelo  próprio  punho  do  Imperador*  .  «A  maior'* 
idade  accr^Bcenta,  estava  decretada  esctusivameTite  p^-lo  partido 
liberal  coin  a  sancção  imperial  antecipadamente  concedida  .  , 
Niiiguíím,  Bijiào  os  vrmjufudott  e  O  Imperador ^  tabia  da»  molas 
secretas  que  ^overna\'am  O  jofço  da  scena  U 

Crpuio  tioiíciliar  tantas  testemunhas  com  a  neg^ativa  de  d. 
Pedra? 

Dííve  o  Quero  jã  pasmar  para  o  rol  das  coisas  anecdoticaj 
ou  fí^u^^ar  como  indicando  a  terminação  de  lutas  politicai  qua 
prectíd-r«m  o  inicio  do  F-ep-undo  reinado  V 

DeBtrincom  o  ca^o  es  historiadores  de  masao  e  monai  nm 
phrase  de  i'amill-*  Gastello  Branco,  e  prestarfto  um  bom  serviço, 

l>o  dia  do  Fico  existem  duas  versões.  Que  da  Maioridade 
fiqu^  iim»'-uíjica  e  verdadeira.  A  incerteza  nesse  assumpto 
nfto  pôde  nem  deve  perdurar. 

22  de  julho  de  1907. 

De,  Jos*  ymsMÂ  Fazkniu» 


REVOLUÇÃO  DE  1842 


MEMORIA 
Ãeompnnlnt!»  de  fiocumentos  e  autographos 

(UDA    KO   OIITITUTO    HISTOEtCO    H    GhCKlRAPUlCO    D£   S.   PAULO,  PXLO 

Dfl.  João  Baptííjta  ds  Mohabb) 


Tendo  rfunido  alguns  documentos  relativo*  á  rovoluçAo  d© 
1842,  deflpertou-te-me  o  natural  desejo  de  conhecer  &b  caiiBaa  que 
determinaram  ftqtielle  movimento* 

Apesar  doa  esforços  empregados,  nfto  consegui  natisfasier  a 
jaeta  cunoBidade. 

A*  mtJtiogT&pliiRâ  que  encontrai  sobrfl  a&8UDijito  tão  interes- 
sante de  uoe6&  litfitoriA  politica  altíni  de  incompletas,  limitAvara- 
«e  a  descrever  matfrialmpute  os  f^ctoa,  sem  aprofundar  a  origem. 

Tive  entàõ  de  recurrer  hb  unicrts  fontes  que  se  achavam  a 
meu  alcance — diecutBÔes  politicas,  iaformaçòca  de  contemjioraDeoi 
e  artigo»  e»parBo&  do«  jornaee  da  epocha  que  me  foi  dado  en- 
contrar. 

Com  eí6Bi  elementos,  aproveitando  velhoj  auto^ra]»hoft,  e*- 
creyi  deipretencifVBO  estudo,  sem  intenção  de  dfll-oá  publicidade. 

Alguns  col legas  ^abem  que  daqui^lla  intençfto  fui  demovido 
a  instandas  do  no^so  chorado  coubjcío  dr.  Miranda  de  ÁKev**do. 

SDjeitafldí^-o  lioje  á  bf^nevol^^nda  de  meus  con^ocioB,  rumpro 
Oê  desejos  do  amigo  qae  deaapparecea,  e  [^reftto  homeaagem  a 
tua  memoría. 

Âí  paginas,  que  passo  a  ler,  não  podem  satisfazer  a  cario- 
sidade  dos  competent^^s.  Servirá,  jioi-èm,  de  ponto  de  partida  para 
aquelles  qn&  quiserem  aprofundar  e  conhecer  da  modo  completo, 
acontecimento  tào  importatiti,  e  sobre  o  qual  tem-so  guardado 
tào  condemnavel  silâncio. 

Tendo  de  referir  e  analysar  factos  ligados  á  vida  dos  par- 
tidos históricos  da  monarquia,  em  um  dos  quaeè  militamos,  n&o 
DOS  sentimoa  preaos  pelas  ligaçôe*  do  passado. 


—  U2  — 

Os  G5  flnnos  ÍRCorridos  após  os  aconU^ciTneotoâ  ão  qiií>  nos 
vamos  occupí»-rf  o  mais  do  i^iie  elle§,  a  niiidaii(;a  ríidícal  da  forrait 
de  s^ovorno  que  se  operoTi  uo  paix,  e  que  extinguiu  as  anlií^as 
agg^reniiiiqòei?  politicíia,  dAa*no8  a  imparcialidcdís  e  n  ralma  pam 
avaliar  ft  julp-ar  de  acontecimentos  que  já  i>ertencpm  á  Historia. 

Feio  estudo  iv, flectido  dos  documentos  que  compulaRiuos,  © 
informarOes  de.  contemporadeosi  que  ]>roeuraiiiOfl  obter,  formou- 
se-nos  a  convicção  de  que  o  movimento  do  184S  não  será  jus- 
tifica ^í  o  pelos  vindouros. 

Em  [íriucipio,  níio  Bomos  cotitrarios  aos  movimeutos  rovo- 
]ucioTiaTÍOí!,  CúníidernmoB  BS^iado  o  direito  da  itistirreiçâí, 
quando  ofl  povoís  impei  lidos  pf>r  um  é6  pensamento,  àho  ÊÍj^Tinea 
evidentes  de  qne  eo  aclmm  dispostas  a  todos  os  sacrificloa  para 
combater  abusoa  do  poder,  conquiiTar  nova^  libertiades  ou  re- 
adquirir as  perdidas. 

Quando,  porf-m,  uno  existem  abu?ns  a  combater,  e  a  opiuifio 
nncional  nada  reclama,  a  Hiatona  verbera  os  ambiciosos  que 
provncnm  as  guerras  civis,  que,  causando  o  anniquil lamento  de 
prandtí  numero  de  vidas,  pFiralysam  m  forç.as  vivas  de  ura  povo, 
derramando  o  rancor  e  o  ódio  na  sociedade  irman. 

Se  em  1B42,  al^^una  bem  poucos  se  envolveram  na  luta  im- 
pulsionadoít  pelo  ardor  dos  verdes  annos,  ou  seduzidos  pelos 
idealiiimos  da  liberdade,  a  máxima  parto  foi  constrangida  a  in- 
tervir, por  meios  abusivos  e  íuconfesaveia  uaquellfi  explosAo 
determinada  pelo  or^síulho  b  desmedida  flmbííjíio  do  poder  de 
al<;una  chefes  decahidos. 

Os  promotores  dn  movimento  proctiraram  justifical-o  pela 
coa^çào  em  que  ae  adiava  o  Imper.idor,  e  necessidade  de  im- 
pedir a  execuçfio  da  lei  de  ;j  do  dfzembro  de  1841,  até  que 
fosãso  revoltada  pela  Assembléa  NacionaU 

Áquella  lei,  proelamavam  os  revolucionários— era  inconsti- 
tucional—attcntava  contra  a  independência  do  poder  judiciário — 
collocava  o  paiíG  na  dependência  da  policia  e  coarctava  aa  fran- 
quezas proviocíaes . 

Fácil  nos  serA  hoje  demonítrar  de  que  nSo  foi  eincerõ  o 
pretexto  de  que  se  soccorreram  os  promotores  do  movimento — 
que  a  lei  de  3  de  dezembro  do  1841  nílo  attentou  contra  as  li- 
berdades publicflg,  ou  individuaes  do  cidadào,  ao  contrario,  re- 
clamaram-n 'a  os  espirites  mais  liberaes  da  epocha,  foi  amparada 
na  Camará  com  o  voto  de  futuros  revoltoso»,  o  a  sua  gombra  o 
cidadão  encontrou  todas  ns  garantias  compativeis  coin  a  ordem. 

Para  que  resaltem  estas  verdades,  necessitamoa  fazer  um  retro 
specto  politico  e  remontar  nos  períodos  poBteriorea  ao    1  de  abril. 

Para  esse  fim  dividiremos    noí^so  trabalho  em    quatro  partes. 

Na  primeira  estudaremos  os  eííeltoá  da  revolução  de  7  de 
nbril,  na  segunda,  a  discriminação  dos  partidos,  na  terceira  a 
Maioridade,  fiuíilmente  na  tjuaría.  a  Revolu^ilo  de  1342, 


—  443  — 
EFFEITOS  DA  REVOLUÇÃO  DE  7  DE  ABRIL 

  rô^olnç&o  dn  ÍB31,  trouxe  como  eoceequeucm  a  |>Tr>miil- 
garjlo  de  leia  d(>£centrnli%adovns,  arrancadns  sos  tegÍBladores 
pelas  exjgenciss  populares. 

Debalde  voíí*&  autnrlsíadas  e  Tire  videntes  nríriíerain-^e  para 
protestar  contra  a  imprevldeticia  das  cnmíiras  e  tVacjueza  do  go- 
verno reg^eticiaU 

Eises  protestoB  foram  desatteudidos,  e  a  camnni,  coagida 
pelos  reclamos  de  uma  população  irríquieta,  qual  era  a  do  Eíio 
de  Janeiro  naquelle  tempo,  contiuuou  a  votar  leia  e  a  discutir 
projectof  excessivamente  lib(*raes,  sem  fltt**nder  que  es^as  leis 
não  produziriam  os  ref<ultadoa  deEejadoa^  porque  iam  &er  appli» 
cada^  em  um  paiz  intellectnahneitte  atraiíado.  com  pojmlin^íio  di- 
minuta, diâseminada  em  e^teiisisaimo  terrltorin^  quatii  sr^rn  meios 
de  coramunicaçào,  e  quft  por  esaea  motivos  nâo  se  acbnvã  pre- 
parada para  roí^ar  de  tilo  i^x  tontas  11  herdade  a. 

As  conáéqucncias  produzidas  por  eiisa  legislarão  ufiõ  so  fisçe* 
ram  íísperar»  o,  decorri  do  pouco  tompo,  quaâi  toda»  as  províncias 
do  Império  f»  achavam  anarquizada^j  içtn  qite  os  g^overnos  im- 
pottmtna  encontrassem  Daa  leis  os  meios  necessários  para  restabe- 
lecer a  ordem. 

As  difficuldadcB  da  situaijao  ag-j^-ravaram-se  con&ideravelmeate 
depoxB  dai  alterat^dcâ  constitucionaee^  de  1834. 

Theofilo  Ottoni,  que  foi  um  do^  mais  sinceros  adfí[)tOB  da 
reforma,  como  a  queria  o  primitivo  projecto,  ao  diriíjfireni  1800, 
a  celebre  «circiiíar»  aos  mineiroSf  conta,  que  as  ai teraíjõeg  foram 
votadas  pelo  medo  que  os  estíidistas  que  dominavam  a  situação 
tinham  d»  volta  de  Pedro  1.^^  Começavam  a  ser  eie-cutadas 
aquellas  leis,  quando  d,  Pedro  falleceu  em  24  de  dezerahro  de 
1834,  S©  esse  acontecimento  se  ti ç-esse  dado  quatro  niezes  antes, 
affirma  Ottoni  que  a  reforma  nílo  teria  sido  votada. 

Esta  valiosa  opiniílo,  dí^mnustra  quáo  critica  era  a  posiçSo 
do  legislador  brasileiro,  obrigado  a  votar  loi^,  iimíis,  impostas 
pelas  exigências  dos  exaltados^  outras,  pela  ambição  de  poli  tico  a 
qne  para  se  conservarem  no  poder,  transigiam  com  suas  opiuiòe?, 
acceitando  idéas  que  sabiam  inefficazes  e  perigosas  naquella 
epocha  de  limitada  instrucçSlo. 

Desde  1835  em  diante,  homens  de  reconhecido  patriotismo 
e  diga-ae  a  verdade,  de  excessiva  coragem  civica,  porque  ne- 
cessitavam contrariar  aspirações  populares,  começaram  a  recla- 
mar por  medidas  enérgicas,  capazes  de  soffrear  a  anarquia  quô 
avassalava  o  Império  de  norte  a  suL 

Ás  vozes  isoladas,  ao  princípio  sem  echo,  foram-se  amiu- 
dando, e,  em  pouco  tempo,  a  opinião  nacional  proclamava  a  ne 
cessidade  urgente  da  decretação  de  leia  apropriadas  para  rea- 
tabelêcer  a  integridade  da  pátria  e  o  império  da  lei- 


-^  44Í  — 

Com  o  intuito  de  utiiScar  a  adtninLetrAç&o,  e  T«r  8ê  por  eita 
forma  se  fortalecia  o  governo  regencialf  a  Câmara  r6<)iizira  a 
ref^tjQCÍa  a  um  só  mômbro,  nomeado  ])elos  eleitores  daa  proTÍn- 
cias,  por  4  niinos. 

O  jiDdâf  logiBlatiyo,  porém,  [Mira  manter  a  ana  Bapremacia, 
iníitimbiii-â6  de  inutiliaar  a  medida  salvadora^  cereeanio  divereai 
attribui<;r>es  da  reg^encia,  entre  es^as  a  de  dis&nlver  as   Gamarai. 

Driis  candidatos  se  apresentaram  em  campo,  para  pleitear  o 
cargo  de  rej^etite^-Hollanda,  sustentado  pelo  Norte  do  Império, 
Feijó,  indicadj  p«lo  notável  braAilelro  Evaristo  dp  Veiga. 

O  cb^-fe  do  partido  líbf^ra  moderado  conhecia  o«  defeitos 
de  Feijó,  e  a  ftua  incapacidade  para  chefe  de  governo  represen- 
tativo em  período  de  <'rg'aQÍzBção,  mas  a  amizade  que  o  prendia 
ao  campnnheirri  de  lãBli  e  a  certeza  de  qne  seus  conselhos  pre- 
valecer iam  DO  espirito  do  irascivel  ministro  ò.^  Justiça  de  32, 
levaram-u'o  a  levantar  na  sempre  peâtigio^a  «Aurora»  aqnella 
candid-4tnr<,  q^e  facilmente  conseguia  fazer  triumphar. 

Evaristo,  porem,  contou  dw  mais  com  o  prestigio  dt?  sua 
amizade,  e  cedo  verificou  que  Feijó  nada  esquecera,  nada  per- 
doara. 

-GuHrdados  no  seio  daa  remiuíacencias  que  evocava  a  mmdo 
estavam  o^  despeitos  que  soffiera,  aa  offeneas  do  amor  próprio 
que  íupportara,  as  injurias  que  recebera,  as  inimizade*  qufl  pro- 
duzira o  procedimento  de  um  ou  outro  companheiro  naa  Gama- 
ras, no  g^abinete,  nas  lutas  e  nos  perigos»  (IJ. 

Assumindo  a  regência  em  VI  de  outubro  de  1B35,  dominado 
pnr  aqnella^  remiaiacencias,  começou  pondo  a  margem  os  chefea 
mais  prestigiosos  e  notáveis  do  parlamento,  cercando-se,  com 
rari^simns  exce]>çõear  de  homens  de  reconhecida  incapacidade 
administrativa,  como  eram  Tristão  Pio,  Saturnino  Uosta  e 
outros. 

Dedicados  amigos  que  o  haviam  auxiliado  na  luta,  peni- 
tenciavam-se  por  teUo  preferido  a  Kollanda.  Se  este  se  distin* 
g-uia  timbem  pela  ori^inali^lade  de  proceder,  n&o  lhe  faltavam 
qualidades  de  governo. 

Todoa  os  contemporâneos  confirmam,  que  naquelle  período 
era  elte  neutro  e  imparcial,  e  embora  mais  tarde  ae  tivesse  li- 
gado ao  partido  Hberal,  &alÍenton-pe  sempre  pela  firme?.»  de  suai 
convicfjòes  e  ftroftindn  espirito  d©  justiça. 

As  censura?  parlamentares  exasperavam  a  Feíjó  por  tal  modo, 
que  fa^ía  alarde  em  arredar  do  governo  os  mais  no  ta  veia  mem- 
bros da  maioria  das  Camarás»  contrariando  a&sim  os  principios 
do  Bjstema  repreat^ntaiivo,  aos  quaes  nAo  queda  so  sujeitar.  O 
cónego  Josi^  A  Marinho,  um  dos  chefes  do  movimento  revolu- 
cionário em  Minas  Geraes,  amigo  pessoal  do  regente,  quaudo  em 
1844    escreveu  a  historia  da  revolução  mineira,  asdm  descreveu 


\    P«E»ini  d»  BflT«-D«  l@3l  »  JS4[>. 


» 


—  445  — 

OB  factos  fltiece'iidos  nt>  período  dn  qae  noB  occupamús,  e  que 
trau&creyeraosi  para  demonstrar  que  acompanhatuoB  os  acotiteci- 
meiíioí  com  a  inai»  completa  imparcialídaae» 

«Nào  era»  porém,  Feijó  o  hotnpm  apropriado  para  por-stí  em 
tal  tempo  á  testa  dos  ueg^ocif  8  publicou. 

«Eutre  ae  qualidades  constitutivas  de  teo  caracter,  soWe- 
sabia  a  tenacidade  no  pro&egTii mento  daquíUo  que  entendia  àsr 
o  roolbori  num&  eapecie  de  desprezo  por  tudo  quanto  tendesse 
a  condeficendencias  e  manejo e,  para  obter  apoio  ;  estiu  quíilidaddea 
o  torníivam  impróprio^  pnra  fçovernar  em  am  tempo  em  qu«  ta 
partidos  ectavam  desasBombrado»  do  intcriorj  e  cadn  um  deUes 
tratava  de  Bubír  ao  poder,  preciso  lhe  era  entílo  couaultar,  ouvir 
condescender,  porém  sua  indifft' reuça  para  com  o  corpo  leg:i»latívo, 
«  maneira  rude  com  que  trata vti  a  eamara  temporária,  o  arre- 
damento que  mratrava  de  homens  que  com  ello  haviam  crmpera- 
do  depois  do  7  de  abril  para  a  Bustentaçào  da  ordem  ^lublica, 
lhe  gjangearam  oppo^itoreB  víolentoB.  A  obatinaçilo  do  rep-nte, 
fõrçando-o  a  eao^lher  alguns  miuistroB,  que  eram  uma  Batira  viva 
da  illustraçlo  do  paÍ2,  ac!!bou  áe  perdel-ona  opinião  de  n^uitoB,  a 
eleiçàn  de  alguns  senadoreB  com  preterição  do  maior  mérito,  alie- 
nou Jbe  o  animo  dos  que  br  julgaram  com  injustiça  preteridos,  a 
maneira  emíim  pi>r  qae  se  exprimira  perante  o  corpo  leppisUtivo, 
sobre  a  Santa  Sê,  preveniu  contra  o  refrente  a  opini&o  da  muitos, 

€Á  guerra  an  -eu  governo  tornou-go  violenta  e  fortemeute 
lustentada  na  tribuna  da  cama  a  temporária, 

«O  partido  da  marombay  ligf  u-ee  fraucauienre  cem  a  op po- 
sição gpnoinw,  e  emquaDto  oa  prelea  da  Côrt**  g-emiam  Cf^li^  publi- 
cações in*idíf)*as  contra  a  politira  do  governo,  e^m  insinuações 
malevo^aa,  com  fiatiras  picantes  e  indecentes  contra  a  pcBsoa  do 
regente,  reca^ava-se  e^te  teimosamente  não  acceitar  as  conse- 
quências do  ijstema  representativo. 

«Irritada  pela  obstiLaçAo  do  regente,  que  parecia  querer 
deixar  a  banda  as  capacidades  naturaea  do  paiz,  para  nomear 
miniatrOB  a  homens  que,  a  exct^p(;ão  de  poucos»  não  tinham  habi- 
litações para  bem  servirem,  a  opposição  tranfcedeu  t^idoa  os  limi- 
tes daa  conveniências  publicas.  O  grnpo  da  opposiçào  crescia 
diariamente,  quando  um  inimig^n  poderoso  apr^ientou-Fe  dirigindo 
Ofl  diflereotes  grupo*,  e  a  todos  apresentou  um  ponto  de  reunião, 
nma  b^Kjideiraf  ujna  nrjva  doutrina  cujo    dogma  era    o    regresi^o, 

«Esse    adversário  foi  o  senador  Vapconcellas». 

Era,  de  facto,  Bernardo  Pereira  de  Vasconcelos  um  inimigo 
poderofo.  Desde  epocha  anterior  a  IfiSl,  figurava  na  politica  do 
paiz  Eleito  deputado  em  18^6,  era  tido  como  o  maia  notável 
etos  rradores  da  camará.  cCada  dia  mais  forte,  mais  rico  de  acieu- 
cia,  mais  seguro  de  teus  recursos,  nenhum  O  excedeu  na  va- 
lentia da  dialéctica,  no  ardimento  do  ataque,  na  energia  da  defesa 
Q  nenhum  o  igtiaiou  no  jogo  do  sarcasmo  e  do  ridiculo»  (I). 

1   Ji)A4iiiiK  M«  da  ICicedo— A,niio  Plosr^pbfeD, 


—  446  — 

Se  cmel  enfermidade  parniiaioií-llie  pBiLo  do  movimento  do 
forpOj  iiíio  coiiÊCg-uiu  abater*] be  a  desmetlidft  coragem,  nem  of- 
fender  sl-a  f^uas  grandes  qualidades  mcutaeã. 

Estadista  «em  lival,  politico  evidente,  jornalista  emérito» 
deve-lbe  a  patiia  os  mais  notáveis  monumentos  da  nosisa  lei^ialacâc. 

Poi  esse  bom  em  excepcional,  a  mítis  poderosa  mentahdade  que 
tem  fulgurado  ua  nossa  vida  oacional,  que  tomou  a  si  levantar 
a  bíindeira  do  regreifsít,  para  o  fim  fie  aupplantar  a  anurquin  © 
restabf^leeer  o  império  da  lei,  no  puisj  convulsionado  dê-ide  1831. 

Oriraniíçaudo  o  partido  que  %ura  na  biítoria  pátria  com  o 
nome  de  consa'vadw%  a  nova  aj^gremiaçao  politica  apre^eu- 
tou-so  desde  logo  podoroBiasima,  qui^r  pelo  numero,  quer  pelas 
illustfflçòes  qtie  se  reuniram  ao    redor  da  nova    bandeira. 

No  partido  do  rer^ressu  se  alistaram  os  antigos  restauradores, 
fi8  grupos  que  guerreavam  a  regência  e  cono.  elles  os  mais  nota- 
taveiã  biasttoiros  que  aureolaram  a  noã&a  vida  nnciouaL  e  dentre 
os  quaes  d estac faremos  oa  Miguel  Caltnon,  Maciel  Monteiro,  Ro- 
dri^rup»  Torres,  Paulino,  Honório,  J*i&*j.  Clemente,  Costa  Carvalho, 
Manoel  Felisardo,  Euz^^bio,  Àraujo  Lima  e  tantos  outros. 

Fe.ijõ,  Embora  retonbece&ae  o  ti vo?ise  mesmo  reclamado  muitas 
vexe*  pfla  necessidade  da  promutí^açAo  de  leid  apropriadas  j>ara 
fazer  CL^^sar  as  calamidades  publicas,  deiíando-^e  dominar  pelo 
seu  fíetii«i  irascivel  0  de6])Otico,  nfto  solicitava  as  medidas  par- 
lamentares e  procurava  g-overnar  rodeando  &e  de  homens  que,  11a 
opinião  de  Marinho,  —  nào  tijiham  habilitações  para  bem  servi* 
rem  oit  cargas  tle.  ininistrox. 

Pcrft  tornar  conhecido  o  estado  do  p&ii  no  periodo  poste- 
rior a  1831  faremos  raj-^ida  deacrípçio,  recorrendo  tão  somente  a 
documentos  o£Ecjae8,  para  que  nAo  possam  ser  eontestados. 

E.í^e  estudo  justificará  a  uecesBidade  de  medidas  enérgicas 
reclamadas  para  faster  cessara  roarc  lia  desceu  trai  ixadora  que  anar- 
quizíiva   fí  Império 

Em  1831,  Feijó,  Minietro  da  Justiça,  transmittindo  à  Ca^ 
mara  do»  Deputíidos  dirersíis  informações,  dixia : 

■  Aproveito  a  occasifto  para  declarar  que  a  inaufficiencia  das 
leis  críminaes,  e  a  falta  deltas  para  muitos  casos,  é  a&  causas  dos 
males  que  swffre  a  capital  e  todo  o  Império.» 

«O  apoio  que  os  perversos  encontram  em  pesRoas  que  mait 
os  deviam  censurar,  vao  introduzindo  a  immoralidade,  a  ponto 
tal  quo  as  leis  são  inteiramente  despreciadas  e  as  autoridades  vi« 
lependiadas  e  vendo^se  a  mas^a  dos  cidadilos  probos  como  abnu^ 
donada  a  seus  próprios  recursos,  uho  es  encontrando  upm  na 
legislação,  uem  nas  autoridades,  não  deve  admirar  que  u  deses- 
pero os  conduza  a  excessos  que  já  vão  spparecendOf  e  que 
ameaçam  a  total  dissolução  do  corpo  social». 

Em  183'i,  ainda  era  Feíjo  que  vinha  denunciar . 

<Be  a  Naçào  cujo  governo  ò  fraco,  está  exposta  aos  emba- 
tes da»  paixões,  e  aos  assaltos  do  crime,  o  que  aerá  de  um  estado 


—  447  — 

como  o  Brasilt  onde  nmn  adminiscraçào  frouxa  p^  ím previdente, 
por  loniros  annoa  delir  u  os  Uouieu*  pe  familiarií-arem  coníi  o 
crime  :  ciDda  a  í[i]piniida;de  t?m  sido  conitanto  e  oa  laçoa  sociaes 
qttaai  ínteirAniente  &e  diãsoLvcrnm  V 

<S&  o  f;ovéruo  do  Brasil  nenhum  mal  podo  prevenir,  elle 
11  Jo  pode  uem  punir  nem  iet;oii;pens.nr,  e  quando  mais  nâo  fottae, 
ii«0  bflstava  para  provar  í^xía  ulmiíl  fraque j&a. 

«Tem*  poÍF,  ainda  existido  o  govtru^^  dn  Brasil,  porque  « 
naciotml,  porque  têm  marchudo  é  vontade  do  niítior  nmnero, 
porque  a  cUs-ee  interessada  na  ordem,  convencida  da  purexa  de 
SOAS  intenções,  ãn  justiça  de  atia*  deliboraçíVes,  da  invHriabihdíide 
de  sieu  caracter,  tem  feito  ehforçcss  extraordinários,  tem  eaciificado 
OB  scuB  commodna  e  até  Pua  própria  existência  píiraau^ tentai  o». 

Concluindo  a»  euas  observações,  escrevia  t>ijó  o  seguinte 
tópico  crm  a  iua  habitual  franqueza  : 

«Tal  é,  Snrs  ,  o  governo  do  Brasil,  taea  s^o  as  tristes  cir^ 
cumsitaucias  em  que  noâ  licbamns  —um  abyamo  horro&OBo  e^tá  a 
um  só  pasto  diaute  de  mU.  K(imedÍQâ  fortea  e  promptis^imos 
podem  níuda  íalvjir  a    Pátria, 

Um  só  momento  de  demora  talvez  faça  a  defgraca,  inevitá- 
vel; ou  lançae  mão  delles  com  prestezi,  ou  decidi- vos  pela 
negativa» 

Em  1833,  aiuda  era  o  Ministro  da  Justiça  que  vinha  de- 
nunciar—«que  o  código  do  Processo,  no  que  toca  a  policia,  nào 
protfg-ía  a  vida  dos  cidadãos  honradna,  ntm  lhe»  garantia  os 
meio»  de  bavereni  sua  propri»*dítde  roubada». 

Auieliano  Coutinho  em  1834,  então  Ministro  da  Justiça,  níln 
te  apartava  de  seus  antecetisorest  soliciíava  das  Camarás  medidas 
legislativa',  tendnotcs  á  mauiUeução  da  seguroni^a  interna,  da 
propriedade  e  vida  dos  cidadaoí,  táo  expostos  aos  ataques  doe 
mal  feitores. 

Não  melhorava  a  situação  angustiosa  do  paiz,  o  qu*^  levava 
Alves  Branco  a  ee  pronunciiir,  em  1835,  nos    âeg;uínte»  termos: 

«CoDcluirei  repfitindo-vos  o  que  uma  ve»  já  vos  inculquei) 
e  éf  que  Rfjora  mais  do  que  nunca  aparece  a  urg-eote  necessi- 
dade de  um  poder  iDacces^ivel  ás  intrifí^aa  locaes,  imparcial  e 
forte,  contra  n  qual  nada  possam  on  chefes  irregulíireà  de  maio- 
rias turbulentas». 

E,  depois  de  d**scrp?er  o  caracter  ám  revoluções*  sem  idéas, 
icnpelhdas  por  paixões  ferozes,  vicios  infame?,  bruta  estupjdeís,  e 
barbara  in&olenciai  dizia  á  Gamara  dos  deputados  : 

«Decidi,  pois,  se  a  pretexto  de  de?pr>tÍ3mofi  do  governo, 
dever&o  nossos  concidadãos  coutinuar  a  softVer  eff activos  despo- 
tismos de  turbulentos,  cegos  e  ferozes». 

Em  I83G  e  1837,  ns  reclamações  [fassaram  dos  relatórios  Aoa 
ministro^  para  as  Fala*  do  Trono. 

Eis  o  qne  di^la  o  regente,  em  1SS6, 


-  UB  - 

cA*  falta  de  res^ei^o  e  obediência  áa  autoridades,  a  im^uni' 
dade  excita  univí^rsal  clamor  em  todo  o  Império,  é  a  gaogrreim 
que  Bctualmetito  ataca  o  coreto  sociaU. 

<No£;sa.^  infltituic&es  Tacillam,  o  cidadão  vive  receoso  e  aeeiU' 
tad0|  f*  goyfrno  cotieomo  o  tempo  em    vang  TecommeudaçÕes. 

*0  vuTcâo  da  anarquia  ameaça  devorar  o  ImperiOf  applieae 
a  tempn  o  r*^ médio» 

No  ariíio  peg:uint6,  1837.  a  fala  do  trono  denunciai?»  que 
A  tranqiiillidade  publica  uão  pcderia  coTitiuuar,  em  quanto  oào 
Be  firmaa»^?  iia#  bases  de  uma  le^i  si  tição  aj^íTOpriada.  RemedioB 
fracoh  e  tardios  f^oueo  ou  uada  aproveitam  na  pieBepçada  malei 
gravea  e  inveterados. 


Como  yetnoB,  o    governo    todofl    os    antiga    denunciava   com 

carreií^adaR  cores  oa  malea  que  dilâceravcim  o  paiz,  sem  entreranto 
propor  medidas  p^ra  removt^l-OB,  Umitsndoae,  como  ââirmava  o 
próprio   Re*;^eiite,  a  vans  recommêndaçõfi. 

Foi  easa  criminosa  imprevidencTa  do  p-ovf»rno,  que  levou 
Viiftcoocellofi  a  cong-regar  att  forças,  eí^parêas  e  desHardar  a  ban* 
deira  do  regn-ítuOf  pbtã  aufitar  a  decretação  de  leis  descentrali- 
«adoras  e  prouiutc^ar  outras^  que  fortalecendo  a  autoridade^  eâta- 
beUceÈflem  perfeiu  haimonia  euíre  a  Uberdade  e  a  ordem. 

Com  a  irascibil idade  de  Feijó,  augraentava-Fe  a  oppof^u-âo 
parlamentar,  dma^tarocendo  diariamente  a  míuoria  qUH  o  apoiava, 
receosa  da  lubi  travada  eutre  o  Regente  e  a  Gamara  doi  De- 
pntad'  I. 

Quando  em  1836,  em  3  de  novembro»  encetTon-sa  a  «esi^âo 
legislativa,  dirigiu  sp  Pt?ij6  a  aquella  corporaçào  noi  sí^íruiutes 
termos,  que  demrnsiram  o  intendo  d^^sfieito  que  o  dominitVH. 

*S©ia  mezeB  ^e  seasJU)  nâo  baataram  paia  deacobijr  rem^^dioB 
adequadoFi  aos  males  pubfieoF.  Elles  infelizmente  foram  em  pro- 
gresso. Oxalá  quo  na  futura  sessão  o  patriotismo  e  a  sa^eaoriíà 
da  assem  bica  geral  poisam  aatisfazer  as  urgentiasimas  neces- 
aidades  do  Ektado,» 

No  conteço  da  «esafto  legislativa  de  1837,  a  commifsão  da 
resposta  á  tala  do  trono,  repelíiu  as  accueações  do  regente  — 
aífirmando  que  nunca  recusara  medida  al^umci  reclamatia  —  que 
nfto  era  mits&o  da  Camará  iniciar  medidas  admini^tiativaa,  sem 
que  o  governo  requisitasse  ou  indicasse  quaea  as  necesfarias,  e, 
ao  concluir  a  resposta,  estabeleceu  a  questào  de  confiança  noa 
seguinte  a  termas. 

iSe  a  epocha  da  reuaiAo  do  corpo  legíelativo,  é  aempre  es* 
perauçosa  para  a  naçftOi  é  porque  ei^tn  reeonbere  que  bó  da 
mutua  e  leal  cooperaçào  dos  poderes  politicos  pôde  provir  o  rts- 
médio  e£ãcaz  dos  males  que  a  afiligem,» 


—  449  — 

«Mas  ©Bta  cí>rjw)raç3lo,  Senhor^  a  Cnmara  do*  Deputadoív^  fal- 
taria a  seuB  maU  sagrados  deveree,  se  a  prestas&e  a  urna  admi- 
ulãtraçào  qne  nào  gasa  da  confiãiii7a  Tiacional». 

«Eso  nosso  apctil»  e  com  as  iuatituiçôeB  que  possuimos,  o 
primeiro  dever  dos  roinistroa  é  governar  cfinforme  o^  i'st«re@9ea 
e  necessidades  do  paiz,  e  aquelloB  que  o  df^scouhecem  im  meíiog 
prezam  uào  podem   dirigir  o  a  negócios  publicos». 

Iniciada  a  diiiícnssAr»,  apenas  nrna  voz,  iinpellida  mais  pela 
amizade  pessoal,  do  que  pela  eonvíeçãc,  levantou-^e  para  re- 
tpai]dr'r  a  cenenra. 

Limpo  de  Âbren,  procuron  suBteniar  qne  nào  era  eómente  a 
CaitiAra  a  interpetre  da  con6ança  nacional  porque  o  Smiado  re- 
presentava titnbem  a  nação,  Qae  a  nomea'^fto  de  mitiiâfro&  era 
da  livre  escaliia  da  coroa,  e  que,  ae  fosae  Vfuctfdftra  »  doutrina, 
contida  na  reapogta  i  fala  do  truno,  a  corôi  fícari^t  uulliHcaia, 
e  tão  jKideroâa  £eria  a  Camará  que  os  minittroa  nào  ]t  lisariam 
de  seus  pupill-fs. 

Fa-^il  foi  a  Vaaconcellos,  Rodrigues  Torre»,  Honório  e  outros 
«tis tentarem  os  priticipios  da  influeocía  parlamentar  no^  grjvettioB 
representativos 

Afinal,  depois  de  violenta  discussfto,  na  qual  fui  Fetjó  acre- 
mente  censurado— pela  má  direcção  dada  á  guerra  du  Sul,  pelo 
atteotado  contra  a  liberdade  da  imprensa,  e  animat^âo  que  dava 
ás  pretençôeâ  das  Ãssembléas  Pruviaciaes,  para  alarfiarL^m  í^ua^ 
attri  bui  cora,  foi  a  resposta  a  fala  do  trono  a[iprDvada  pur  maioria 
de  15  voto* 

Quaiído  a  commiasão  da  Camará  doa  Deputados  s^oguindo  a 
prax«,  foi  aprpsentíir  ao  re^eute  a  reapoata  do  voto  de  gra^jaa, 
Feijó,  com  t  da  a  iraBcibílidHde  asdm  reapondeu  t 

«Como  mfv  ÍTJiertíi-6o  niuito  pela  prosperidade  ão  Brasil,  e 
peia  observância  da  Cor^stituiçAo,  nho  posao  estar  de  acordo 
com  o  prioci^io  emittido  no  7."  período  da  resposta,  e  sem  me 
importar  com  os  elementoa  de  qup^  ae  compõe  a  Gamara  dos  De- 
putados, preetart^i  a  mais  franca  e  leal  coadjuvaçào,  esperando 
que  ao  menos  desta  vez,  cumpra  aa  promt^í-Baa  tantas  VBzm  re- 
petidas em  tomar  em  consideração  as  propostas  do   governo.» 

Era  da  pragmática  declarar  o  Presidente  que  a  camará  re- 
cebia com  especial  agrado  a  resposta  da  Coroa. 

Como,  porém,  seguir  a  pragmática,  diante  do  acto  irreflectido 
do  regente  ? 

Pedro  r,  autoritário,  cheio  do*  precouceitos  da  realeza, 
embalado  pelo  orgulho,  animado  pelo  ardor  da  mot-idnde,  nào 
teve  a  coragem  que  sobrou  a  Feijó,  quando  quiz  dar  á  Ha m ara 
dos  Deputados  um  signal  do  sííu  despeito,  pois,  compirí»ceiido  á 
sessão  de  encerramento,  limitou-s©  ao  celebre  e  bistorito  —  «Illua- 
tres  e  di  guisai  mos  snrs,  represeutantea  da  Nação,  está  eocorrada 
a  preveni e  aesaâo-» 


-^  450  — 

A  resposta  de  Feijó  provocou  curiota  tii&cussâo.  Diverso» 
alvitres  fovnm  lembrados,  mag  atinai  n!to  &»  cliegAndo  a  um 
acordo,  a  Caraara  limitou- stv  a  upprovar  a  acta,  oa  qual,  a  seu 
turuOf  nào  se  fazia  referencia  alguma  ás  palavras  do  rej^ente. 

O  ministério,  diante  do  resultado  da  votarão,  solicitou  a 
demiasíiOj  qu6  foi  a  princípio  recusada,  e  to  concedida  afinal,  após 
graúdo  repugnância  do  Feijó* 

Organissa^&e  uovo  g^abinetr,  teodo  aido  cLamado  Alves  Branco, 
tirados  OB  demai»  ministros  da  minoria  e  elementos  exLranhoi  á 
Camará. 

Nfio  cont«flte  com  es&o  Bcto,  Feijó,  acreditando  intimidar  a 
Camará  com  um  golpe  do  ostado,  ia%  publicar  no  •CorTéio  Of- 
ficial»  um  artigo  por  oll©  escripto,  declarando  que  se  a  Cangara 
pretendeB*6  peraeverar  nas  suas  velleidades  de  influir  no  g-o- 
vernoj  o  regente  ae  reaolvona  a  exercitar  todas  as  funcções  do 
poder  moderador^  embora  a  lei  da  regcuiiia  09  houvesse  limitado, 
pois  quo  o  poder  executivo  nào  podia  deixar  de  ser  indopcn- 
dente  do  leLTitlativo,  b  não  sujeitar'*Ee  as  maiorias  das  camarás, 
yariaíi  e  capriobosas. 

A  auarquia  já  uno  dominava  &ómeute  nas  diver^ns  elaâse« 
da  sociedade.  A  própria  regência  já  se  achava  avaEsallada  pelo 
mal  quo  cnrroia  a  uação  inteira. 

Das  discuâsÕeã  que  se  seguiram  ubs  camarás,  accentuoo-sa  á 
divisão  das  eseolaB  politicas. 

O  partido  adeantado,  que  ficou  doãíguado  com  a  designação 
de — liberal— eus  tentava,  que  a  reforma  da  constitui  çào  de  1634 
nfto  necf^sfiitava  de  retoques- 

O  partido  do  reffrex.srj,  palavra  que  Vascoocellos  definia,  re- 
cuí'Su  wntra  desatinos,  entt^ndia  que  era  de  necoBsidade  in- 
adiável uma  lei  de  int©rpetracàt>  de  vários  artig-oB  do  acto  addí- 
cíoual,  e,  nfísse.  sentido,  em  10  de  julho  apre&eutou  projecto, 

Sobrevieram  discussões  doutrinariíie,  intereísantissinias,  que 
figuram  nos  «annaes»,  demonstrando  a  iilustraçíio  dos  legisladores 
daquelle  período. 

Feijóf  porém,  (copiemus  ainda  o  insuspeito  conexo  Mn— 
ritilio)  «decidido  a  nilo  transigir  com  06  que  lhe  queriam  impcr 
uma  politica,  no  seu  entender  contraria  aos  interesses  do  pau, 
determinado  a  n&o  procurar,  pelos  meios  que  o  Governo  tinha  a 
sua  disposiç&o,  o  apoio  que  lho  faltava  nas  camarás,  batido  tor- 
pemente por  uraa  iraprensa  deaconiedida  ouvindo  ao  longe  o 
ronco  do  trovào  que  a  7  de  setembro  ribombara  ua  cidade  da 
iJabia,  nho  tendo  procurado  corromper  em  1836  as  urnas  elei* 
toraes,  tendo  visto  lepararem-se  delle  alguns  amigos  prestantes, 
desgostosos  de  alguma  organização  miuiaterialj  quando  aliás  ob 
que  para  íeso  tinham  habilitações  recusavam' se  ao  encargo  de 
Ministro  ;  fatigado  de  lutar  contra  tJLo  pertínazcSr  quauto  injustos 
e  fortes  adversários,  dotado  de  proverbial  desinteresse,  o  sena- 
dor Feijó,  nomeia  lenador  por  Pernambuco    a    Pedro  do  áraujo 


"  451  — 

Lima,  membro  da  oppo^iç&o,  fal^o  miaistrn  do  Império,  e  en- 
trega-lhe  o  |tod*^r,  para  qu*^  f*  novo  partido  fosse  realizar  o  sya- 
tema  de  s^ovfrtio  que,  nu  trihuna  e  peía  imprensa^  proclamava 
como  melkor  pnra  oa  intereaged  do  palz>. 


O  eonégo  Marinho,  rccultou  factos  ím porta ntipíimoa,  que 
cancorrerftra  para  a  inesperada  renuncia  de  Feijó,  factos  que 
n&o  Ibe  podiam  ser  df^sconbecidos,  attenta  a  amizade  que  o  li- 
^va  a  Feijó. 

A  vit:tnria  do  Fanfa,  no  Rio  Grande  do  Sul,  brilhante  feito 
devido  á  alta  cífpaciáadfs  militar  e  arrojo  de  Bento  Manoel, 
trouxera,  entre  ontnm  enorinoa  re&ultndo&,  o  aprisionamento  d© 
Bento  Gonçalves,  Onofre,  Zambicari,  Côríe  Keal  e  outros  im- 
portantes clieíca  revolocionari^  p. 

Esaa  acontecimento  fioliKMivã  de  morte  a  revolução. 

Os  prisioneíroô  foram  remettidos  [)ara  o  Rio,  transportadoB 
na  e»cuna  Venué. 

Á  pes&ima  e  irresoluta  política  central,  relativa  mente  á  re- 
Toluçâr»  do  Rio  Grande,  concorreu  poderi^&a mente  para  impedir 
a  sua  terminação. 

Coarctando  a  acç5o  do  general  em  cliefe,  que  queria  appro- 
veiíar-se  da  derrota  inflingida  aos  revoltosos,  pretendeu  o  g^overno 
entrar  com  ellea  em  acorde»,  para  o  quii  delegaram  poderes  a  ai- 
guús  doa  fírifiioiíetroa  do  combate  do  Fanfti,  dAtido-lliea  liberdade. 

Conservaram  pre^Oíi,  Onofre  e  Corte  Keal  na  fortalaza  de 
Santa  Cruz  e  Bento  Gon^j^lves  na  de  Villegai^nou, 

Os  eniisfarica  encarregados  de  aplainar  o  terreno,  ainda  n&o 
haviam  f-begado  a  seu  destino^  e  já  iiaviam  se  evadido  os  dois 
pri§ioneiros  de  Santa  Cruz* 

Para  evitar  a  fug-a  de  Bento  GonçalveB,  declarou  o  governo 
qne  o  hia  transferir  para  ponto  mais  segurn,  para  o  que  fel- o 
recolher  ao  Forte  do  Mar,  na  proviíicia  áii  Bahia, 

Noa  primeiros  dias  de  setembro  de  18117,  che^a  ao  Rio  a 
noticia  de  ([ue  Bento  Gonçalves,  o  preaidente  eleito  da  repu- 
blica do  Ptratinim,  fugira,  mal  che^ar^  a  Bahia,  e  que  ae 
encAminbava  para  o  tbeatro  da  gtierra. 

Foi  enorrae  o  clamor  que  m  levantou  no  Rio  de  Janeiro 
contra  Feijó,  que  já  f*ra  ha  Tnuito  acciísado  de  benevolência  e 
sympathia  para  com  oa  revoltosos  do  Sul. 

A  manifestaijilo  poblica  foi  tâo  violenta  que,  pela  primeira 
ve^t  se  abateu  o  eãpirito  do  velho  lutador. 

Ainda  aisíni  quiz  ^ircar  com  as  diflieuldades  do  momento, 
mas  comprcbendeu  que  a  situação  era  difficil  e  qtie  fbu  governo 
aó  poderia  ser  possivel  com  ministros  tirados  da  maioria  parla- 
mentar, tnait  teiraOBo,  como  elle  próprio  se  inculcava,  preteriu 
antej  renunciar  â  regência,  do  que  âubmettcr-ae. 


—  452  — 
Calou  também    o    cónego  Marinho    circamBtaucíaa    hoje  co- 

Faijó  não  pretendeu,  desde  logo  resignar  o  pod^r  *^m  íati^p 
de  Beus  adveriarioe.  Aú  contrario,  eiforçou-Be  para  cjii?iírvaI-03 
á  frente  dos  negócios  pnbticos. 

Foi  só  depois  das  recusas  de  Limpo  de  Abreu  e  Alves 
Branco,  que  inopinadamente,  a  conselho  de  Pnnla  e  Sousa^ 
BBColheu  a  Âr^ujo  Lima,  (nm  doB  chefes  do  novo  partido)  se  na* 
dor  por  Pernambuco,  nomeou-o  Ministro  do  Império  ©  traa%mit- 
tiu-loe  a  Regf^ncia. 

Transcrevemos  da  «Memoria  sobre  a  guerra  do  SuU^  trabalho 
do  eminente  conselheiro  Tristào  de  Alencar  Ararípe,  uma  nota, 
a  fls.  77,  que  confirma  o  que  acabamos  de  narrar.  E'  tima  jn« 
forroaçào  preeiosissima,  referida  a  aqnelle  i Ilustre  escriptor,  pelo 
senador  Alencar,  que  foi  a  maia  irríquieta  e  violenta  personali^ 
dade  polilica  do  seu  tempo, 

cNoB  uUimos  dias  do  governo  d©  Diogo  Feijó,  convocou 
este  seus  amigos  íntimos^  e  mais  inAuentea  uo  partido  dominanle. 
Paula  e  Sousa  era  um  dalles. 

«Diogo  Feijó,  consulta  com  olles,  a  quem  devia  entregar  o 
cargo  de  Regente. 

«Diacu tiram  os  amigos  na  primeira  conferencia,  e  nada  de^ 
cidiram:  discutiram  na  legunda,  e  a  mebma  cousa  succedeu:  na 
terceira  também  nada  ficou  assentado, 

€  Depois  desta  terceira  conferencia,  Diogo  Feijó,  sem  mais 
audiência  de  ninguém,  chama  Pedro  de  Araújo  Lima,  e  entre- 
ga-lhe  o  governo. 

c Arguido  entÂo  por  haver  dado  o  poder  ao  partido  advento, 
respondia  o  Regente  demissionário:  zfimei  oi amigos  pedíndo-lhns, 
conselho;  e  como  n&o  consultava  s*;  devia  abdicar,  porque  isto 
estava  por  mim  resolvido,  mas  sim  a  quem  devia  entregar  o 
governo,  e  Paula  Sousa  dice  na  nltima  conferencia  que  o  Pedro 
de  Araújo  podia  ser  um  bom  Reí  Constitucional,  a  elle  entreguei 
a  Regência». 

N&o  ba  um  só  contemporâneo  que  nâo  reconheça  que  o 
eminente  paulista  não  era  o  homem  apropriado  paia  exercer  o 
cargo  de  chefe  supremo»  em  paivs  de  governo  representativo,  â  em 
período  de  organização. 

A  Beu  rei» peito  assim  se  manifestava  António  Carlos,  na 
lessào  de  10  de  jnnho  de  1888  : 

cFoi  eleito  para  o  supremo  poder,  o  prestante  cidadAo  meu 
patrício  o  sr,  Feijó,  cidadào  que  realmente  tinha  prestado  ser- 
viços quando  Ministro  de  Justiça,  cidadão  cajá  cabeça  eu  julgo 
as«ás  illuatrada,  mas  teimoso,  B  que  não  esíaixi  na  altura  da 
missão  a  que  o  elevaram ^  teimoso  e  emptiTado^  como  todos  <mp 
paidistm  somoSt  díe  não  pnude  conkeí-er,  não  ponde  se  comp«^ 
netrar  da  neceandade  de  ffuiar^ítút  pela  opinião  pttòUca^  que  hé 
p  grande  raiiiha. 


—  453  — 

Se  tal  era  o  celebre  paulista,  alciiiib»do  o  «Cavaignac  ríe 
Sotaina V,  como  poderia  em  184 '2»  esquecer-ae  qae  a  politica  do 
paiz  era  diríg^ida  por  Vaaconcelloa,  o  poderoso  athleta,  que  o 
derribara  da  Regência? 

Na  ultima  part€  deste  trabalbo,  demonstrar emoB  que  o  mo- 
vimento revolucionário,  nào  teve  consequências  desastrosas,  por 
ter  irrompido  antes  de  tempo,  devido  ás  imprudências  de  Peijó 
que  deixando-se  domiuar  pelo  ódio,  nào  soube  guardar  as  re- 
servai de  conspirador, 

Naquelle  fseriodo,  abatido  por  dolorosa  enfermidade,  aínda 
era  tâo  iuteuso  o  seu  rancor  politico  contra  o  j^^overuOj  que  a]iá« 
realizava  o  seu  programraa,  que  fi-z-ae  conduzir  a  Sorocaba  para 
animar  e  dirigir  o  movimento,  que  feliampnte,  em  S.  Paulo,  teve 
a  ephemera  duração  daa  Rosas  de  MãLherba, 


Nâõ  perpassava  pelo  espirito  dos  que  conbeciam  a  teimosia 
e  o  emperramento  de  Feijó,  de  que  elle  seria  levado  a  resignar 
a  regência  abandonando  a  luta  que  baria  provocado  com  a 
Gamara  dos  Deputados 

Áquella  resolução,  por  inesperada,  occasionou  profundo 
abalo. 

Já  ia  em  meio  a  leitura  do  expediente  da  aessilo  da  Camará 
dos  Deputados,  em  19  de  setembro  de  1837,  quando  foram  eo' 
tregues  á  mesa  e  immediatnmeute  lidas  as  seguintes  commu- 
mcaç5es. 

De  Pedro  de  Áraujo  Lima,  dando  conhecimento  de  ter  sido 
nomeado  Minietro  e  Secretario  de  Estado  dos  Negócios  do  Im- 
pério, pelo  Regente,  em  nomn  do  Imperador. 

Foi  por  esea  communicaçào  que  a  Caraíira  surprebendida 
«oube  achar-se  mudada  a  situação  do  paisc,  e  que  o  regente  se 
resolvera  emíim  adoptar  as  formulas  dos  governos  representa- 
tivos caminhando  de  acordo  com  a  mainria  parlamentar. 

Essa  surpresa,  porém,  foi  dominada  por  outra  mais  importante, 
ao  ser  lido  o  segundo  officio  do  novo  Ministro  do  Império  Araújo 
Lima,  dando  conhecimento  da  renuncia  de  Feijó,  e  communi- 
candn  que  em  virtude  dessa  deliberação  e  de  acordo  com  a 
art*  30  da  lei  de  12  de  agosto  de  1834,  da  reforma  da  Consti- 
tttiçã^o,  passava  a  tomar  crmta  da  regência  interina  do  império. 

Eis  a  intrega  da  renuncia  e  do  manifesto  que  a  acompa- 
nliava. 

lU.-^*  El,**  Sr, 

«Estando  convencido  de  que  minha  continuação  na  regência 
nào  pode  remover  os  males  públicos,  que  cada  dia  se  aggravam 
por  falta  de  leia  apropriadas,  e  uÈo  querendo  de  maneira  alguma 
■servir  de  estorvo  a  que  algum  cidaaAo    maifi  felis  seja  encarre- 


-  iSÍ  — 

gado  pola  naçiio  àe  reger  seus  destino?,  polo  presente  me  declnro 
dôuiettido  do  Ingar  de  regente  do  Império  para  qve  v.  ex.,  en- 
carregando-se  interinamente  do  meemo  laí^ar,  como  determina 
a  constitui çfio  politicn.  Íh^iú,  proceder  n  elei^íio  do  uovo  regente, 
na  fórmft  ]>ir  elle  indicada» 

Exmo.  ir.  dr.  Pedro  de  Ar&ujo  Linifl. 

Diogo  António  Feijó», 

O  iT^cnte  nunca  aesiírnava  um  ofBelo,  sem  reclamar  contra 
a  redacç&o,  que  n  queria  sempre  de  íiccôrdo  cem  o  &ea  systema 
ori^^inal  e  com  miimdencia»  deaueceâsariaâ. 

Depoiâ  de  ter  assignado  f  renuuc  a,  não  so  pôde  conter, 
e  lançou  no  officio  um  enorme — P*  S*— com  a  seg-uinte  declaraí^^^o 
«Áccresce    achar-me  actuaUní-nte  gravemente  eu f ermo. ^ — Feijó»  ^ 

Em  seguida  fni  lido  o  manifesto. 

«Bmall.eiros,  Por  vós  subi  a  primeira  magistratura  do  Im- 
pério, por  VÓ8  desço  hoj©  desse  eminente  po^to. 

Ha  mniío  conheço  os  bomeus  e  -^n  consaf. 

Eu  estava  convencido  dji  impossibilidade  de  obterem-se 
medidaa  legislativas  adequadas  ás  nosf^as  circunistanciaii;,  mas 
forçoso  era  pagar  tributo  a  gratidão,  e  fazer-vos  conhecer  pela 
experiência,  que  nfto  estava  em  meu  poder  acudir  ns  necessidades 
publicas,  nem  remediar  os  malea  que  tanto  voa  nfH»gem. 

Nilo  devo  por  mais  tempo  conservar- me  na  regência:  cum- 
pre que  lanceis  m^o  de  um  outro  cidadão,  que  mais  babil  cju 
mais  feliz  mereça  as  &}'mpathia3  dos  outros  poderes  políticos. 

Eu  poderia  narrar- vos  as  invencíveis  d ifficu Idades  que  previ 
e  experimentei:  mas  p/ira  que?  Tenho  justificado  o  acto  da 
minha  espontânea  demissão,  declarando  ingenuamente  que  eu 
não  posso  satista^or  o  que  de  mini  desejaes. 

Entre;;-ando-vos  o  poder  que  g'euerosa mente  me  confiastes, 
nSo  querendo  por  mais  tempo  consorvar-vos  na  expectaçfto  de 
bens  de  qne  tendes  necessidade,  mna  que  nfto  posso  fazer- vos; 
confessando  o  meu  reconhecitnento  e  gratidão  a  confiança  que 
TOS  mereci,  tenho  feito  tudo  quanto  et  tá  de  mínba  parte, 

Qnalquer  porôni  que  fúr  a  florte  que  a  providencia  me  de- 
pare, eu  sou  cidadão  brasileiro,  pre&tarei  o  que  devo  a  pátria. 
Rio  de  Janeiro  l'<  de  setembra  do  1837. 

Diogo  Ânionio  Feijó*. 

Tanto  no  acto  da  renuncia,  como  no  manifesto,  Feijó  con- 
fe»sa  que  não  pudera  remover  os  males  públicos,  que  cada  dia 
se  af^gravavnm  por  falta  de  leis  apropriadas,  que  elle  estava 
convencido  da  imposfibilidade  de  obtel-as,  desde  antes  do  uâ^u- 
mir  a  regência. 

Quaes  eram    eesae  leis  que  nAo    pudera  obter  das  camarat? 

Nós  aa  conheceremos  no  correr  destes  apontamentos. 


—  455  — 

No  njanifefito  existe  um  tópico,  que  combmado  cora  outro, 
Ante»  etcripto  por  Álvares  Maclisdo,  demonstra  que  as  difScEldn- 
des  do  governo  eram  prRvistas,  tanto  assim  que  houvo  momento 
em  que  Feijó  esteve  resolvido  a  aAo  aeceitar  o  cargo  de  Re- 
bente, pam  o  qual  acabava  de  $er  eleito. 

Em  um  artigo,  iuiitulado— RomitiUceneias — publicado  no 
jornal  — 5fif3  Paulo— a  benevolamente  tranacríptu  no  voL  H,  da 
Rêviâtit  do  Iiistiiíitoj  pag,  93,  jmbUquei  um  auto^Tapho,  até  en- 
tsw  inédito,  diripdu  por  Alvares  Machada,  que  se  acLnva  no 
Rio,  ao  rpi^ente  Cosia  Carvalho^  em  Piracicaba,  onde  ae  encon- 
trava o  seguinte  tópico— «  Ora  vamos  ao  estado  do  Paiz :  Fize- 
tãO'Ee  as  eteiaõeã  para  Reí^enít^  tó  no  Fará,  Fpíjo  obteve 
maitiria;  já  estii  íora  d  duvida  Feijó  sae  eleito  Regente,  e  por 
coofieqnencia  temos  oova  elei^io  para  Regente,  por  q  Feijo  nílo 
aseita::  nfto  aseita,  por  q  ja  ãi$e  q  não  aeeitava,  e  por  q  está 
convensido  q  ele  nâo  pede  obter  meios  d  «governar,  o  q  outro 
qlq^  poderia  obter»* 

E*  fl!ibído  qne  Feijó  foi  demovido  daquelle  intento,  pelo 
esforço  de  Evaristo. 


Como  consequência  desses  meraoiaveís  acontecimentos  Ber* 
nardo  Pereira  de  Vaeconcelloft,  o  creador  do  novo  partido,  orga- 
niza o  gabinete  de  19  de  Etítembro  do  1837,  com  elernentoa  da 
maioria  das  Camarás— Miguel  Cfllmon,  Maciel  Mouteiro^  Kodri- 
gues  Torres  e  Sebft&tiíio  do  Reg*^  Barros, 

Quando  em  ISCO^  Theofilo  Ottoni,  dirigiu  ao»  pleitorea  do 
Mioat,  a  celebre  fCirciiíar»,  um  dos  maia  notáveis  documentos 
da  nns^a  historia  politica,  assim  se  referia  aos  acontecimentos 
de  1837; 

«  O  minifcterio  de  19  de  setembro,  apresentou -se  diante  das 
Gamaras  brilhante  de  talentos,  eom  a  aureola  do  que  se  nâo  lhe 
podia  contestar  áe  haver  conquistado  parlamentarmento  as 
pastast  refflrçftdo  pela  Fanc<;flo  do  corpo  eleitoral  que  ambavn  de 
elevar  á  regência  o  ministro  do  Impi^río,  rico  de  prestigio  pelo 
facto  de  haver  ahíifíido  na  Bahia  uma  revolta  perigosa,  aliíU  in- 
suHada  por  amigos  do  ministério,  antes  da  conquista  do  poder, 
armado  com  a  força  que  lho  dava  a  escola  da  autoridade,  que 
arredada  oito  annos  da  vida  politica^    nella    entrava   remoçado*. 

Com  qnanto  não  seja  ^loeso  intuito  reproduzir  nm  longo  pe- 
ríodo da  historia  da  nossa  vida  politica,  comtudo,  nào  podemos 
deixar  de  descrever,  embora  succítitamente,  qual  era  o  estado  do 
paiz  no  momento  da  renuncia,  e  apontar  a«  causas  que  se  fo- 
ram acumulando,  até  explodiram  em  IP  12,  eui  Sào  Paulo. 

Ao  ser  declarada  a  rtjvoluç^o  no  Rio  Grande,  em  setembro 
de  1835,  achava-se  na  Presidência  Fernandes  Braga-  Substitue-o 
Ãraujo  Ribeiro, 


—  456  — 

Espirito  conciliador,  reflectido,  com  ext^iiisas  relAço^a  no 
ceBtro  d  04  acoti  toei  mentos,  a  sua  escolha  mereceu  ^era«s  applausos. 

Chegando  A  provincia  conflagrada,  foi  b©li  primeiro  cuidado 
entender-se  com  os  chefes  do  movimento,  aSãrmando-Thes  que 
ia  inauofurar  um  governo  de  paz  e  esqueci  me  ato,  aronselhan- 
do-os  á  que  reconhecessem  seu  goyeroo,  para  impedir  medidas 
que  elle  nào  queria  deade  log^o  pôr  em  pratica. 

Bfttto  Manoel,  parente  e  amig^o  de  Araújo  Ribí^iro»  é  o  pri- 
meiro a  abandonar  a  rftvolu^o,  reconhecendo  a  autoridade  do 
delegado  imperial. 

Era  vaiioaií-sima  pma  adhfafto,  por  quanto  Bento  Manoel» 
ousado  e  val^^roso,  figurava  em  todas  a  a  lendas  ga  errei  ras,  como 
herótí  Ínví*nciv«L 

Procedeudo  com  calma  e  prudência  Araújo  Ribeiro  conae- 
gum  que  f*9  cbofea  do  movimento  revolucionário  reconhece* aem 
a  sua  autoridade. 

Nào  fora  a  traição  de  Onofre,  atacando  inopinadamente  a 
Bento  Manoel  quando  este  ae  dirigia  pa^a  Porto  Alegra,  á 
frente  do*  teus  valí^ntea  gaúchos  e  morta  estaria  a  revolução. 
E*  V03S  *íHral,  repetida  pelod  chrouiatas,  que  Oaotre  e  outros 
chefes  se  o p punham  á  pas-ificeçao,  por  quanto  a  revoluçàn  fncul- 
tava-lb*^íi  pHrcrrrer  aa  campanhas  a  se  enriquecerem  com  toda 
lorte  de  t»^ bulbo». 

Pordifías  todas  m  esperanças  di  restabelecimento  da  autori- 
dade do  iroverno  em  toda  provi ncin,  Araújo  Ribeiro  reáne  ele- 
mentoiiit  df^  resistência  em  divírans  pontos  e  entra  em  nci,ào, 

S'úvi\  Tavares  retoma  Pelota?,  e  a  cidade  de  Porto  Alegre, 
oTganisiando  a  contra  revoluçáo,  repelle  oa  tevcilucionarioB  e  en- 
tra do  novo  para  a  legalidade 

O  tf-overno  central,  que  desejava  a  paciíieaçlln  sem  Ber  pelo 
meio  ún^  nrmas,  desaiitorando  o  Presidente  da  Provinci»  entra 
directamente  em  acordo  com  os  chefes  revoltosos,  que  iítipnze- 
rara  fOfiK»  condição  inicial  de  qualquer  acordo  a  retirada  de 
Arauio  RihíMro  da  presidência* 

Sujeita 'se  o  governo  a  essa  imposiçào,  e  como  couf^equeu- 
cÍAf  é  iiLeriperadamente  demittido  Araújo  Ribeiro,  e  nomeado 
para  subHtÍtuil-o,  o  í^eneral  Antero. 

Ao  ^er  conhecido  o  acto  do  governo  geral  levanta-se  pro- 
testo vehemente,  por  parte  da  camará,  do  commercio  e  dos  prln- 
eipaee  at^^Lilíarea  do  governo  no  Rio  Grande  do  5nL 

Solicitim  de  Amujo  Ribeiro,  que  nílo  dÓBse  posse  ao  Prenident© 
nomeado,  até  qne  voltasse  do  Rio  o  Vice  Presidente  Vieira  da 
Cunha  enviado  C(>mo  emissário,  para  obter  que  o  governo  desfizesse 
um  acto  que  era  considerado  como  sendo  uma  calamidade  publica^ 

Recusou- se  Araújo  Ribeiro,  mas  prometteu  permanecer  na 
proTincia  até  que  voltasse  o  emissHrio. 

Cheira  ne^te  tempo  o  Presidente  nomeado,  e  assume  a  admi' 
uistraçào  da  provincta, 


-  457  - 

Poucos  dias  depois  vulta  a  Porto  Aleite  Vieira  da  Cunha, 
fraseado  do  Rio  novas  cartas  presídenciaes — vím%  tif^itieando 
novamante  Araújo  Eib^iro,  outra  transferindo  Antero  para  Santa 
Caiharioa. 

Embora  latififeita  a  opiniào  publica,  o  procedimento  incor- 
fecto  do  goTeruo  contribuiu  poderOBamente  para  fortalecer  a  re- 

Foi  necessário  novo  impulio  para  recuperar  o  tempo  e  a 
força  mf)ral  abaUdn  por  aquellea  faetos, 

Depoia  de  ter  o  g-overuo  cnnseg-uido  infling-ir  diversos  re- 
veases  aos  revolucionários.  Bpnto  Manoel  os  esmaga  no  t*^rrivel 
combate  do  Fanta,  no  qual  íbrain  aprisionadoâ  Bento  Gítuçalves 
e  0%  prÍDC]pae«  cabaças  do  mnvimento. 

Ainda  SB  feetejava  a  yictoria  do  Fanfa,  e  «'ra  extraordiná- 
rio o  |*restigio  e  a  popularidade  de  Amujo  Ribmro,  q unindo  é 
novamente  demittido,  checando  Antero  para  substitui  lo  ao 
mesmo  tempo. 

Atsumindo  a  administrnção,  o  novo  Presidente  intima  a 
Araújo  Hl  beiro  para  q»e  ahaudoyasse  a  província,  por  nÃo  ser 
conveniente  a  soa  permanência  nella,  quando  se  ia  tratar  da 
pacificando, 

Antero,  poderia  ser  ura  bom  soldado,  mas  desde  logo  de- 
monstrou que  era  péssimo  diplomata,  e  que  desconhecia  coniple^ 
tamente  o  meio  em  quf^   ia  ag-ir. 

Quf^rendo  desmorali /,ar  a  administração  pasmada  e  dar  arrhas 
de  sua  sjmpatbia  aos  r«'Volto»DS,  inicia  uma  politica  de  exclusão, 
diape atando  dos  commandns  amigos  de  Bento  M anotai»  que  por 
ir^fiui^ncia  deste  bavjam  abandonado  as  iileiras  revolucionarias  e 
de  a  muito  estavam  prestando  serviços  relevantes  ao  governo 
legaL 

Ao  ter  noticia  de&sfs  factos,  nAo  occultoa  Bento  Manoel  o 
wn  d ei*  peito. 

Im mediatamente  escreive  a  Antero,  para  que  o  substitua  no 
eommando  da  fronteira,  ['edido  que  foi  immediatamente  atten- 
dido,  rpi: irando  se  o  terrivei  p^u^rrilbeiro  para  Alegrete,  depois 
de  dii^i^ertar  seus  valentes  j^aiiclios. 

Nesse  tempn^  Netto,  Cref*cencio  e  Jofto  António,  sabedores 
das  diverg^encias  que  haviam  «urgido  entre  Antero  e  Bento  Ma- 
noel, emf  regam  ceforcoa  fl  conseguem  que  pst©  se  conserve 
inerte  em  Alegre  te«  Obtida  a  promessa,  pouco  a  pouco  dirigi - 
ram-se  para  Caugusfiú,  i  amnqnan  e  3,  Gabriel, 

An  tens  a  pretexto  de  examinar  os  principaea  aquarteOa- 
mentos,  acompanhado  de  brilhante  estado-maior,  deixa  a  Capi- 
ta], e  depois  de  permanecer  no  Hio  Pardo  alguns  dias,  passando 
por  Caxoeira  &  outros  pontos,   dinge-se  para  Alpprf*te, 

Ceíca  de  20  legoas  antes  de  chegar  áqnella  cidade,  ao 
atravessar  o  Ibicuhi,  é  inopinadamente  enfrentado  por  Bento 
Manoel,  que,    [>or    um    ousado  golpe    úb  mão,  o  faz  prisioneiro, 


—  45B  — 

tendo  conai^guida  apoderar  se  de  quasi  toda  brilbaote  escolta  quQ 
o  fícoTupanhava. 

A  Tioticin  da  deffecçâo  do  indomável  fjn errei ro,  para  n  qual 
os  Pamp.as  uAq  tinUam  se^^redos,  o  aprisirmamento  ão  Presidente 
Antero  e  loí^o  apus  o  terrivíi!  desastre  da  rendíçílo  de  Joáo 
Cliriaostorao*  «ntreíí-itido  aos  rebeldes  Caçapíivn,  o  maior  empó- 
rio bel  li  CO  que  o  governo  ])ossni,i  na  provincía,  abateram  com- 
pie  tumente  a  corflgem  das  forças  legalista?* 

O  íijoi-prnn  central  ficou  ahalado  coin  nss^s  tremendõfi  e-ol- 
pes,  e  mais  ainda  ptslo  clamor  f;eraL  Caminliando,  poiéWy  do  erro 
em  erro,  em  wa  de  collneíir  à  frente  do  ^oçerno  e  daa  tropas 
desmoralizadas  um  homem  de  valor,  nomein  Presidente  a  Feli- 
ciano Pirt*a,  nome  desconliecído,  mas  que  se  prestava  a  servir  d© 
intermodiario  pnra  o  t^o  stuiliíido  e  sempre  adiado  apa^ip-uíimeufo, 

NAo  poupou  o  govfrno  mpios  para  faciliífir  a  misfiâo  do  seu 
deíft^adíi,  e  para  o  auxiliar,  deu  liberdade  a  diversos  prisionei- 
ros ào  Fanfj,  conservando  ajienaa  Bento  Gonçalves,  Onofre  e 
Corte  Real. 

Iniciaram  SC  as  transações— Feliciano  e  Netto  trocam  pri- 
BÍoneiros— cabendo  a  Netto  um  dos  seus  mais  terriveia  auxi- 
liares—Amaral do  líio  Pardo, 

Greenft^l  e  Silva  Tavares  por  parte  do  proverno  e  Crescen- 
cio  pelos  revoltosos,  sào  designados  para  discuii;*  o  assentar  fi& 
bases  da  pncificaçílo,  em  um  ponto  vissiiibo  á  cidade  de  Pelotas. 
Rennídos,  assipi-nam  o  convénio  da  suspensão  de  armas  o  marcam 
as  lÍTilias  divisórias  dentro  das  r]naes  deviam  permanecer  as  for- 
ças de  cada  uma  das  partes,  até  que  o  governo  e  revoltosos 
assi^rnassem  a  pacificação. 

Esta  convenção  havia  íidd  repelUdn  pelo  Vice  Presidenta 
Cabral  de  iLelIo,  antes  de  Feliciano  assumir  a  administração. 

Dessa  tre^oa,  Netto,  afetuto  e  precavido  se  aproveitou,  para 
melhorar  suas  pnsiçnes  e  oceupar  nov*  s  pontoa  eatrate^ipos.  No 
Hio  (rrandB  do  Sul,  e&tavam  as  cousas  neste  ponto,  qtiatido  deu  ae 
a  renuncia  de  Feijó.,. 

A  província  do  Pará,  conílapfrada,  antes,  por  Pinto  Madetrai 
e  depois  de  IBBIJ,  pelo  conet:õ  Campos,  em  aeg^iiida  pelo  aerin- 
pueiro  Pedro  Vina*;;^re  e  finalmente  por  Ao^relim,  sanj^uinolento 
faccinora,  havia  pas&ado  por  dolorosos  períodos  que  perduravam 
ainda. 

Embora  o  general  Audreas  tiveise  retomado  Belém  em  XS36j 
em  seguida  a  ilha  de  I\larajó,  Oeiras,  SantaretUf  Vi^ta  etc.,  das 
hordas  esmagadas  íormaram-sa  magotes  de  salteadores,  nos  ex- 
tremos limitf^s  da  provincia,  ciija  presença  impedia  a  retirada 
das  forças  existentes. 

Na  Bahia,  de  ba  muito,  os  espíritos  sa    achavam  exaltados. 

Alii  eram  freneticamente  applaudidas  as  victorias  dos  revo- 
lucionários do  Sul,  e  a  imprensa  pregava  abertamente  a  idéa 
da  separação  da  provint!Ía. 


á 


-  459  - 

A  regência,  descuidada,  na©  fe  preocupava  com  a  FÍtuaçflo, 
apparentavA  me^ma  ter  graTide  (r^ufíaiiija  no  governo  dn  Bíihia^ 
tanto  que  paríi  alU  etrvicu  Bento  Gonçalves,  a  pretexto  de  lho 
tornar  mai»  diffitil  a  fa^a. 

Ao  dar&e  a  resigna çSo  de  Feijó,  achava-se  preparada  a  re- 
volnçAo  o  AO  lado  def^a  grande  parte  da  fori^a  de  linha  exiateixte 
na  Cí^ííitaL 

Rompendo  o  riíovimento,  Sousa  Paraíso,  que  havia  demons- 
trado ser  incapaz  e  imprevidente,  abandona  o  Palácio  do  Go- 
verno aos  revoltosos,  e  foge  para  um  dos  vasoa  de  gnerra  esta- 
cionados no  porto. 

Em  um  momento  a  revolução  domina  e  a  Babii  declira-Fe 
independente  do  Kio  e  do  Brasil  atá  a  maioridade  de  d,  Pedro  11, 
deven<Ío  até  lá  re^er-se  por  prineípioa  repuMicn,iios* 

Duras  calamidades  pesaram  naqaella  parte  do  Império,  e  foi 
só  era  Tnarçc»  de  1838,  qufi  as  torças  do  g^overno  conserruiraài  se 
apoderar  da  Capital  e  apoLíar  o  incêndio  que  em  desespero  08 
revoltoo*  haviam  ateado  níi  cidadu  baij:a. 

Como  Be  vè,  a  herança  era  oDerosissima»  não  podia  «er  nem 
mais  dijticiU  nem  mais  desolador  o  estado  do  paiz  ao  se  inau- 
^rar  a  politica  do  regi^eííso. 

Vem  a  propósito  transcrever  o  curioso  nutopTrafo,  dirigido 
pelo  re isente  Feijó  ao  geu  ainda  amigo  Coata  Carvalho»  entào  em 
S^  Pnulo,  exercen»!o  o  car^o  de  Director  da  Faculdade  de  Direito. 
Esse  documento,  no  mesmo  tempo  que  deixa  transfiarecer 
a  fraqupxa  de  jroverno,  evitando  irapor  sua  vontade  ao  Presi- 
dente do  Kio  Grande  e  conservando  o  do  Pará  cuja  iiiaptjd.^o 
proclamava,  quando  entretanto  continufimente  desautorava  a  irm 
de  lies,  entrando  directamente  em  transacçuos  com  os  advers^arios, 
de&crevè  o  estado  da  revoluç&o  naquella-s  pro\dncias»  o  deixa  pa* 
tente  que  Araújo  Ribeiro  nfto  cn  ri  traria  va  a  politica  occulta 
do  g-overno,  pois  era  ecu  intuito  PFtabclecer  a  autoridade  k!í:al 
aaquella  províncin,  por  outros  meios  que  não  pelas  armas  — tanto 
assim  que  apenas  pedia  pequenos  transportes  maritimos  (escuna») 
e  D&o  forças. 

Snr.  Cos  ta - 

«Tenho  presente  a  sua  ultima  a  q/'  respondo ;  que  talvez 
impoftsivel  seja  obter  da  aasembléa  a  autorisiaçfio  para  reformar 
um  Estabelecimento  cientifico,  sendo  cada  Deputado  um  D."^  imi- 
nente, porem  V  Ex.'  enviando  ao  Governo  oa  seos  Estatutos»  s 
m.""  lembransaSf  ou  representasílo  aobre  os  pontos  de  reforma 
que  jul^ft  convfnient^Sj  o  Governo  o  levRrá  a  Ass.  «  eniâo  es- 
cudado na  autoridade  do  Diretor  facilitar-se-á  o  consegui r-se 
fio  menos  em  p.^""  a  reforma  :  pois  bem  sabe  que  da  noE^a  Asa.* 
nada  lae  que  nào  seja  imperfeitíssimo. 

«Sobre  a  autorixasílo  p.*  nomear  q.*'"  o  substitua  inferinam**" 
axo  mui  conven.'*  e  verei  se  os  Estatutos  nilo  assignâo  Suplente, 
Iliô  ír&  &  Comisão. 


—  460   - 

•  Sobre  negocio  de  Fran.*^  Alves :  té  hoje  nenbam  requer*, 
tem  BÍdo  apreBeotado  como  ele  proinpteiime  faser,  e  por  íbo  uiuda 
nada  ee  tem  feito. 

«Conftebemfle  esperanpas  do  Pará.  Cametá  tem  reieatido  &lguiia 
ataquef^  doa  rebeldes^  e  so  d^umn  vez  llifs  matou  maU  de  100, 
Eduardo  eatava  quaei  abraaos  cpm  o  preto  Viriaimo  dentro  da 
cid,'  que  vae  se  tornando  bou  rival:  as  b^xigaa  tem  morto  am/"^* 
deHea;  e  a  11  de  Dezb.^  ja  f^i  encontrada  a  eispedÍBào  de  Per- 
nambuco juiilo  a  Salinas:  ^o  este  retorgo  e  m.^^  mantim^^nto  q^ue 
daqui  ao  t^m  remf  tido  desde  Sbr.**  reanimará  aquellea  de@g:rasadoB 
abfindoujidoí*  a  todo  género  de  deagrasaa  pela  iitcuHa  e  ineis-^ 
pUmml  iuapiiãiio  de  if/'  Jorgfi,  que  aem  sabir  da  Fragata  quer 
que  a  Provincia  no  entuaíaeme  emqu  **  ^le  deixa  morrer  nos 
Barcos  pnsíoueiroa  1*25— e  talvez  200  de  Mar  e  Tropa  e  isto 
de  forne,  bexigas  e  outraa  moléstias. 

*Jofié  de  Ar.''  Ribr,^  querendo  tratar  o  B.  G*  {h  dept^mta- 
ticamente  yae  levando  o  negocio  a  inevitável  guerra  civil,  um 
pouco  maia  de  presa,  um  pouco  meuos  de  temor  teria  de  uma 
vez  acabado  com  a  Bcdisào  :  ma^  elle  toma  puBse  contra  atei  no 
Rio  grande  q.**  é  initafo  pelo  Vice  P.  da  âb.  P.  para  o  faaer 
na  Capital  a  vista  da  certeza  da  Amnistia,  ©  apesar  d©  B. 
Gon -alves  Uib  pedir  com  q.**  forsta  pode  para  que  iià<»  toraaas© 
pose  no  R.  O.  não  quer  que  se  lhe  mande  tropa  e  htm  Vasos  : 
lá  vai  nesta  Semana  mais  3  Escunas . 

A.  D.*  Sr.  CoBta.  Deaejolhe  todo  o  bem.  Rio  21  de  Feva- 
reiro  1886. 

l>e  seu  Am.*'  e  obr.*  S," 

Feijó. 

Éui  18^7,  Araújo  Ribeiro  defendendo  nas  camarás  a  Bua 
adiai nistraçào  demousirou,  que  no  chegar  ao  Rio  Grande  do  Sul, 
apeiias  encontrara  duas  povoações  em  poder  dos  legalistas,  nâo 
existindo  mais  de  400  praças  de  linha  mal  municiadaB,  ao  passo 
qu©  ns  revoltosos  já  dispunham  de  mais  de  trea  mil  hnmeaB. 

Mais  precavido  e  prudente  do  que  posteriormente  se  mostrou 
o  Presidente  Antero,  Aranjo  Ribeiro  assumiu  a  administração  na 
cidade  ão  Rio  Grande,  e  recusou  o  convite  para  o  fazer  em 
Porto  Alegre,  que  se  achava  em  poder  dos  revoltosos. 

Que  garantia  podia-] he  merecer  o  convite  da  Assembléa 
Provincial  toia  deáicada  a  Bento  Gonçalves? 

Bento  Manoel,  que  juútameute  com  o  chefe  revolucionário 
6  outros  «cíibavara  de  rçconh^cer  o  governo  de  Araújo  HibeirOf 
não  era  inojjinadámíinte  atacado  por  Onofre,  quando  se  dirigia 
para  Porto  Alegre  ? 

Reatemos  os  acontecimentos  políticos. 


l    Besto  Qâiiç&1f«fl  nebifta  do  m«rlBae(o  rerolaelãiiftiio: 


—  461  — 


No  dia  22  de  fevereiro,  n  Chamara  pimocioaâda  esperava  na 
hortí  repmental  a  presença  de  VascoucelSnB. 

Em  Ben  lucrar  apreseota-se  Jdié  Calmon»  que  declara  não 
poder  comparecer  o  aett  eídlega,  por  ter  sido  chamado  ao  Se- 
nado para  dÍBcutir  o  orçamento.  Por  elle  encarregado  apre&pnta 
«  jxis  titica  as  três   «egnintes  propcstas, 

1/    Ãutori^çào    para    o    Governo  destacar  4   mil 

piardas  naciona*;B  de  todo  o  Império,  e  por  um  anno, 
para  a  defesa  d»&  praçap^  fronteiras  e  coBtas  da  pro- 
vincia  a  qne  pertencessem. 

Declara  que  o  governo  já  havia  deliberado^  *em  «f^uardar 
o  tardio  resultado  do  recrutamento,  fazer  marchar  do  Kio  e  de 
ontraã  praças  toda  quanta  tropa  de  linha  julgasse  conveniente, 
para  a  provi nci»  dn  Rio  Grande* 

Es^a  resolaçâo  justifíca  n  necessidade  da  medida  solicitada, 
~  substituição  daqueilas  forças. 

*2,'  Prorogação  por  mais  um  anno  no  Pará  e  no 
Rio  Grande  da  suspensão  do  i^^rantias,  decretadas  p^laa 
leis  de  22  de  setembro  de  1835  e  11  de  outubro  de    1836. 

Coroo  complemento  det^sa  antorizaçàc  ^oliiútaTa  a 
de  poder  conceder  amnistia  ^eral  ou  particular,  ás 
pessoas  envolvidas  nos  crimes  de  sedição  ou  rebelliào 
contmettidas  nas  mesmas  províncias,  caso  a  humHnidade 
e  a  conveniência  do  Estado  assim  acconselbaiise. 

O  governo  queria  ficar  armado  com  esta  autorização,  por 
que  nào  desejando  persegTiir  a  quem  quer  que  fosse,  aeu  fito 
era  chumar  á  ordem  os  cidadã  s  illudidos. 

3/  Abertura  de  um  credito  de  2,4M  contos,  para 
supprir  os  defíciu  verifícadoí. 

Eram,  como  se  vê,  treM  votos  de  confiança  que  o  novo 
governo  vinha  solicitar  dos  Camarás, 

Âpreaentadaft  aquellas  medidas,  o  Ministro  da  Fazendti  deu 
AS  explicações  politicas p  que  eram  ancioBamente  esperadas,  e 
que  foram  recebida»  no  meio  de  geraes  applausos. 

Dessas  declarações  destacaremos  apenas  as  seguintes. 

Affirmou  José  Calmon,  que  a  nova  administraçAo  estava 
resignada  a  acceitar  todas  as  eoudiçõei  do  governo  representa- 
tivo— queria  governar  cara  as  Camarás;  manter  a  harm^inia  doa 
poderes  públicos — exigia  portanto  o  apoio  dos  representantes  da 
uaç&o  —te  esse  faltasse,  se  retiraria  do  governo. 


—  462  — 

O  fito  do  goTerno  em  manter  a  CoiiStituíçào,  o  acto  addi- 
cional  e  as  kds,  e  que  por  esse  motivo  iria  revogando  e  liavia 
de  revojjau  todob  o»  Decretos  n  ordena,  que  eram  oppoatos  á 
meama  ConatitiiiçAo,    no  neto  addicinuHl  o  as  leis  (1). 

Declarou  que  o  progrímima  da  uova  adminiatraçâo  estava 
consubstanciado  no  aviso  expedido  no  dÍ4  20  por  Bernardo  Pe- 
reira do  Víiàconcellos,  ministro  do  justiça  «interino  do  Imiteão: 
tíccresoent^u  que,  desde  que  eatíVHf^so  de  novo  estabelecido  o 
íttiptTÍo  da  \^i  é  a  integridade  da  pátria»  o  governo  [m'o moveria 
todas  as  rtjfórttjaB  neccsfarias  ao  deeí*nvolvimeii»o  do  paiss,  depoia 
de  tnadurainent©  estudadas,  desde  qntí  uiio  cou traria ^fcO ta  a  Con- 
stituição e  houve&Eo  reclamo  da  opiníào  publica. 

O  aviiio  expedido  por  Vasco ncollow,  que  delineou  o  pro- 
írramma  do  partido  que  subia  ao  poder,  é  documentiJ  histórico 
de  íjraude  valor.  Foi  publicado  ua  irnitroaaa  da  ep  cba  o  teria 
depapareaido,  se  uAo  fignraaso  na  CoUeqão  de  Leis,  edição  de 
Ouro  Freto. 

Stmdo  larirsima  essa  edição  e  nSo  fií^urando  o  avÍ8o  nem 
mesmo  nos  annaes  lei^iiilativoSj  transcrevo  aqueUe  programma, 
hoje  conhecido  de  numero  limitado  de  curiosoâ. 

Eia  a  Circular, 

«Comniunico  a  v.  e,  que  o  eimo,  sr,  Diofí;o  António  Feijd, 
acaba  de  renunciar  espontânea  o  li vj emente  o  carg-o  de  Regente 
do  Imjierio,  em  nome  do  Imperador  sr,  d.  Pedro  il  e,  na  íonna 
do  acto  addíccional  á  Constituirão  assumiu  s.  liejçencia  o  sr, 
Pedro  de  Àraujo  Lima,  cotno  mlnigtro  e  secretario  do  Eetado 
doa  Nej^ocioa  do  Império,    o  que  v-  «.  verá  das    inclusas  cópias. 

0  primeiro  acto  do  Retí-ente  interino  íui  a  nomeaçfto  de  um 
novo  ministério,  para  o  qual  1\ii  chamado  b  oncarreg^ado  da  pasta 
da  Justiça,  e  interinamente  da  do  Im^terio,  c  rr*levando  que  v.  s. 
fiqi3e  inteirado  da  marcha  que  pretendo  fte|^uir  a  nova  admi- 
nistraçiln,  n[trpsBo-me  em  eiiunciat-a  em  íjeral,  reservando  o  sea 
desenvulvímeuto   para  outros  avisos. 

Guardar  o  fazer  guardar  a  Constituição,  o  acto  addicional 
e  a^  lei^f  sendo  condição  devida  de  qualquer  administração  bra* 
sileiraj  ocioso  se  torna  dizer  que    será   do  actual  governo. 

Todavia,  para  que  nossas  instituições  liheraes  produssam  os 
esperados  fructos,  para  que  de  eua  leat  e  plena  execuçào  resulte 
A  líberdixde  e  a  ordem,  é  de  mistúr  qué  o  governo  teaha  a  ne- 
c^mria  força,  porque  ó  60  assim  que  elle  pode  fazer  o  bem  o 
prevenir  o  mal. 

Esta  força,  pensa  o  i^cverno  encontrai -a  na  sua  própria 
organização  sujeitando  m  seus  membros  a  uma  reciproca  responíia- 
bilidftde  por  seus  actos  goveruativoe,  desvelando -se  em  manter 
perfeita  harmonia  entre  si^  de  maneira  que  a  expressão  da  von- 
tade de  um  seja  a  expres^ião  da  vontade  de  todos. 

1  Vm  do«  primelroi  bcíok  4o  tnínUtcrlo  de  Ifjr  do  sctcnbrp  Tol  decUr^r  lem 
«ITejio  os  úecriiKM  expedLúqt  pelo  fabhiote  aoturlor,  a mard nítido  &  )iapr»íiiJL 


—  463  — 

Mfti  embalde  serUa    os   esforços    do  governo ^  se  a  hnrmoaia 

Sue  elle  prt tende  manter  se  n^o  verificar  i^unlo^ento  em  seus 
c;le  gados. 

Força  C*  portanto  que  o  t;;ovcrtio  aí*lia  tie^te^  a  necessária 
obediência,  a  míLÍa  activa  cotjperaçâo  e  a  mais  leal  execução  de 
aeus  deveres. 

N^nda  desautoriza,  nada  debilita  tíinto  nm  ^overnoi  eomo 
deparar  com  obstinação,  contrariedade  e  indiferença  naqnelleâ  a 
qn»m  deu  eua  confiança  e  do  quem  deviíi  esperar  auxilio,  ?,elo 
©  conformidade. 

Um  tal  procedimento  fátnaià  terá  o  assenso  do  .Eroverno. 

Tmjiorta  que  se  traiiqaillKcm  os  empre^raJou  publico?,  o  go» 
TorDO  não  indagará  o  partido  que  beguiriíni,  e  quaes  as  opiniõoa 
que  ptofepiavam, 

Elle  âcceita  íis  Iíç<j»!h  do  pastado,  ma«  sujei i ta  as  suíis  sng;- 
gestões  na  admisííào  ou  destituição  doa  empregos,  para  as  qutjea 
eó  coíigultará  a  spíiáào,  serviçoj?,  probidade,  Ktlo,  actividade  a 
energ-ia, 

Nâo  intení»  o  governo  dominar  as  opiniries,  nina  nSo  as 
verá  com  indifferença,  quando  liottis  aos  prlucipioa  vitaca  da 
admiiti&traçâo  se  produzirem  era  factos. 

O  governo  saberá  regjTeitar  todas  aa  idcfií,  (odoa  os  etínti- 
meotos,  todos  os  partidos— mas  tíiobí^m  cê  snberá  combater  com 
energia,  e  punir  com  toda  severidade  das  leis,  ae  ourarem  re- 
cori'er  a  meios  reprovados. 

Nâo  ignora  v.  fi.  que  uma  facçHo  armada,  na  província  do 
Rio  Grande  do  Sul  atTOpellou  as  lei*,  de!*truiu  o  socí*go.  depoz 
A  legitima  autorídadei  menoscabou  todítK  ãn  ordcus  do  Governo 
Imperial,  o  por  fim  arrojou-se  a  prc clamar  um  governo  repu- 
blicaDo. 

A  ninguém  te  esconde  quo  debelfar  e  escarmf  ntar  a  rebel- 
lito  é  um  direito  de  todoft  os  brasileiros,  é  o  interesse  vital  da 
verdadeira  liberdade,  esiencialmente  ligada  á  união  e  integri- 
dade do  Brasil. 

O  g-overno  níío  perderá  instantes,  uho  poupará  esforços  para 
restaurar  alli  o  Império  da  liei. 

Possam  as  calamidades  que  o  crimô  despejou  nnquella  ]iro- 
vÍDcia  fazer  calnr  a  %'eada  aa^  fd  na  ticos  de  idéaa  avessas  ao 
nosso   regimen. 

Conhecido  o  prftgratnma  do  novo  partido,  reorganisia-se  o 
que  figurou  na  bistoria  politica  da  monarquia  com  o  nome  de 
Itberal,  e  proclama  a  necessidade  do  ampliar- se  o  programma 
de  1831,  e  inscrevem  em  sua  bandeira; — Monarquia  Federativa ; 
Eleiçio  biennal  da  Assemb!éa  Geral  Legislativa;  Senado  electivo 
e  temporário;  Suppre&aâo  do  Conaelho  do  Estado;  Assembléa» 
Provinciaea  com  duas  Camarás,  etc.  Estabelpcidas  as  eEcolaa 
oppostaE,  data  de  1837  a  diacrimi nação  dos  partidos. 


—  464  -^ 

Depok  áe  esmugada  a  revolta   da  Bahta,  o  governo  voltou 

a  sua  attenção  para  o  Uio  Graade  do  Sul. 

Havia  aido  nomeado  preaideut©  daqualla  provinda  o  ma- 
rechal Eli&iario,  o  qual,  tiog  5  meze»  decorrídoSi  orgunizara  a 
administraçào,  distribuindo  íorça**  «  í^ntregando  ob  pon^'B  estra- 
togicoB  a  Sitvft  Tavares,  corouel  Loureiro  e  Joào  de  Deu»  Mudíz 
Bant^to^  cahendq  a  este  a  rai&Bào  de  guardar  Rio  Pardo  e  pontoa 
circuTii  vizinhos, 

Neí^se  t^^mpo,  maio  de  1838  abrem- le  as  Camaraa  e  na  fala 
do  trono,  chauia-se  a  attenijào  delias  para  as  gravHS  divergenciai 
que  estava  &uBcit»ndo  a  intelligeucia  da  lei  de  12  de  agosto 
de  18S4. 

Ein  8  de  tikaio,  foi  lida  a  resposta  á  fala  do  trouo,  BitHseri- 
pia  por  António  Carloatf  José  Clemeate  e  Carneiro  de  Campoi. 
Dellâ  deijtâcaremoâ  oa  seguintea  tópicos,  dogmas  fuudaiuentaei 
do  novo  partido: 

«A  cama^^a  nôo  poden  *o  deixar  de  reconhecer  que  tendo  a 
primeira  uecfâsidade  do  paiz  o  prompto  reatabeLeci mento  da  ordem, 
D  governo  de»  V.  M.  bem  mereceu  do  Branil,  pela  e^cacia  doa 
meioa  com  que  apressou  e  levou  a  eSetto  a  restauração  da  ordem 
legal  na  província  dfi  Bahia. 

*A  camará  dos  deputados  está  iirmemente  decidida  a  ^uíiíeu* 
tar  a  \^i  constitucional  de  12  de  airosto  de  18S4,  que  reformou 
alguns  artigos  da  Conitituiçào  do  Iruperio,  como  consequeiicía 
npccssana  do  pnucipio  da  justiça,  que  exi^e  se  dê  k^  pri»vinci&b 
todo*  os  ipçioa  ái"  recurso»  príJvmciHes,  que  ní*o  pódfm  deixar 
de  existir  dentro  delias:  recunbtíf^endo  tiídavia  que  a  me»ma  lei 
tem  ^U1icitado  duvidas  g-ravtis  e  cerado  coufUctoâ  perigosos  á  pa^ 
de  ItnpiiriD,  pelos  termos  vag-os,  obí^curos  e  inexactos  com  que 
foram  redígridas  algumas  de  suan  diãpusições— trabalhará  por 
esclarecer  o  que  ha  de  obsi:uio,  precisar  o  que  existe  de  va^o, 
e  por  fazer  desaparecer,  pelas  reg^ras  de  uma  san  hermenêutica, 
qualquer  íotelligODcia  que  pareça  estar  em  eontradição  com  n 
ri^or  de  n<)&B0s  princípios  constitucionae<-,  afím  de  que  um  acto 
de  vital  esperança  para  o  Bra&tl,  po9sa  produzir  os  salutares 
benefícios  que  leve  em  vista  a  sabedoria  que  o  dictou*. 

c  Ã  camará  dos  deputados^  Senhor,  promette  franca  e  posi- 
tivamente ao  governo  de  V.  M.  I.  sua  efficas  e  leal  coopeit^ào 
para  oa  fins  sobreditos  », 

No  dia  IO  de  maio  entrou  em  dl^cusslo  a  resposta  a  fala 
do  throno.  Havia  <rrattde  intereste  no  publico  para  conhecer 
qual  a  força  da  oppoiição  e  a  do  governo. 

Rompe  o  debate  Alvares  Machado,  requerendo  que  aeja  adiada  a 
discussão  até  que  peloe  ministros  fnijsem  apresentados  os  relatórios.. 
Eesa  proposta  foi  rejeitada  por  53  voto»,  teu  do  obtido  d  a  favor, 

Scgue-se  Ottoui,  propondo  para  que  aeja  a  di^rcaasão  da  re- 
sposta á  fala  do  trono  por  periodoK  e  uào  englobadamente. 


—  465  — 

SoVr©  este  ponto,  em  pequenos  diacursoa,  opposiçfto  e  ami- 
gos do  governo  terçam  aa  armas.  No  começo,  reinou  perfeita 
calmfi,  smdo  a  discussH^  amenizfida  com  jogo  de  espirito. 

Ottom,  que  falara  por  Tatiââ  ye^es,  chiima  Va^^concellos  de 
1/  mmiftCrOi  e  a  H  norio^  de  chefe  da  maioria.  Este  que  ae 
achava  jiregente  protesta,  deelarandf) — que  nào  é  chefe^ — que  está 
coaeto  com  o  epitheto;  nkn  qaet*  mo  oocupar  com  epithetoa  porque 
entào  poderia  chamar  a  Ottoni  — ^c  la  rim —  guarda  avançada  da 
minoria  (l). 

António  Carloa  ufto  se  oppoe  a  discussão  por  poriodoa — n&o 
quer  privar  o^  seu*  adv^ersnríos  de  diicus.sãõ  i  ero  ^^ntitessa  nie 
bao  de  Dun-a  canhar  a  víctoria^ae  oa  «nra.  têm  armaa  afiadas 
para  entrar  em  rf^nhido  cambate^ — também  os  membroa  da  com- 
mis»ào  eçítào  promptoa  para  elle». 

Um  terceiro,  vinha  protestar^  declarandn  que  n&o  ae  tratava 
de  gentilezas,  mat  de  g-anhar  tempo  para  diacufia&o  de  projecto  a 
importantes, 

Rodrigues  Torres,  ministro  da  marinha,  corta  a  questão,  decla- 
rando qU'^  o  governo  oâo  fora  mivido  a  respeito,  mas  aeceitava 
a  discussào  artig-o  por  artigo, 

Ottooi  offerece  emenda,  e  neasa  discuss^io  tomam  parte — 
Alencar,  Limpo  de  Abreu,  Alvar*»»  Machado^  pela  opposiçào^  Nu- 
ne4  MachaHo,  António  Carloa,  Paula  Cândido,  d.  Franciaco  e 
Honnrio  pel  1  governo. 

Em  uma  das  vezea  que  Vasconcelloa  occupou  a  tribuna  se 
aproveitou  para  referir -se  a  palavra— re^rr^sso—e  que  serviu  de 
base  par^i.  a  organização  do  purtido  conservador. 

Dieae  alie — «Exphco  o  sentido  em  que  eu  me  teuho  deava- 
necído  de  pertem-er  ao  regrosso, 

«  Houve  tempo  ^m  que  eu  julgava  que  o  liberalismo  con- 
sistia em  derrubar  tudo  quanta  nos  If^garào  nossos  antepassados, 
Fisjeram-âft  muitas  e  importantes  reformas  e  pretendia- áe  pro- 
gredir da  mesma  maneira. 

*  Eli  entendi  pntáo  que  devia  interpor  recurso  contra  esaa 
maneira  de  proceder,  contra  esí^e  prurido  de  innovar,  e  empre- 
gaei  a  palavra  de  ref^reítao,  como  synanimo  de  recur^o^  aomenoa 
é  epta  a    intelliíiencia  quo  lhe    dàn  os    ciassicoa    portUfruezea» , 

■  Alguns  entendera  qu*^  as  palavrafi  significam  nio  o  que 
a^^u  autor  quer  com  ellas,  mas  sim  o  que  ellea  querem  que  ella» 
signiliquem. 

<  O  ayatõma  do  regre&sn  ensina  a  avaliar  aa  medidas  que 
le  pretendem  adaptar  parabém  do  paiz,  submettel-as  á  discussUo, 
náo  do  partido  r^^publicano,  ou  deste  ou  do  qualquer  outro,  por- 
que dlseusíão  eiure  partidos  gíVo  Ínfriictu(>8aa^  mas  eiin  em  iii- 
Bcltar  a  digcuisfto  entre  m  diver^aâ  o^iínir^t^à,  os  diversos  interes^ 
iBSj  para  atinar  com  a  verdadeira  opintílo  do  paiz. 


pttonl  bÍd  ^cwlom  da  epitbeto  «  d^ir*  s  jleaDQ  c4vaoo  ^li&ada  g  repe  Uvi|f 


-  466  — 

c  Se  o  synonímo  &%úxa  entendido  é  prejudicial  ao  pai^,  então 
nós  não  podemos  «erviUo>. 

O  gabmete  de  19  de  «etembro  teve  di^cil  missAo,  qual  & 
de  restabelecer  a  orde.n  nas  províncias— umas  conflagradas  pela 
guerra  civil^  outras  anarqui^adas  pela  interpretação  que  davam 
a  diversas  diâ posições  do  acto  addicíonal 

Com  rapidez  foi  concluído  o  resuibeleciiiieiíto  da  ordem  no 
Pai'á;  em  tnarço  de  1838,  voltava  a  Bahia  para  a  communhào 
naeioDal,  p  novas  providencias  vinbatn  completar  aa  anteriormente 
dadas  para  a  paci6caçào  do  Kio  Gi-ande. 

Ão  meamu  tempo,  Vascoucelios  encaminhava  a  reforma  da 
leíjialaçfto  criminal,  a  do  processo  peraute  o  jury,  retirava  do* 
jnÍKes  de  paz  as  attribuiçòea  policiaes,  acabava  com  a  escolha  de 
promotores,  juizes  lounicijiaes  e  de  orphams  de  listas  organiza- 
das pelas  camarás  municipaes,  centralizava  emfim  a  acçào  politica. 

A  resposta  ao  voto  de  graças  foi  approvado  em  12  de  ju- 
nho de  1838.  Caminhava  o  ministério  rodeado  de  apoio  ger«l, 
quando  dois  factos  vit^am  abalar- lhe  o  prestigio  e  enfraquecei  o 
perante  a  opiniào  publica,  a  derrota  de  Barreto,  no  Rio  Pardo, 
e  a  divergência  que  surgiu  entr^  o  re^^eute  e  o  ministério,  re- 
lativa á  eJeiçào  senatorial  do  liio. 


Quando  o  presidente  do  Rio  Grande  distribuiu  as  forças  pelos 
diversos  pontos  eí^trate^ricos,  entreg:ou  a  Baiteto  a  defesa  do  Rio 
Pardo  o  das  localidades  circum vizinhas,  recommeudaudo-lhe^  es- 
pecialmente, que  conservasse  sentinellas  no  Rincão  d'Elrei,  onde 
se  achava  reunida  a  cavalhada,  para  evitar  surpresas, 

Peficuidou-ise  Barreto  e  mais  ainda  o  official  encarregado  de 
faxer  as  rondas  indispensáveis  para  conhecer  a  aproxiitiacào  <*o 
inimigo . 

Deise  descuido  se  aproveitaram  os  rebeldes— trabalhando  a 
noute,  abriram  picadas,  e  inesperadamente  invadiram  o  Rinc&o, 
apossaram-se  da  cavalhada  e  aprisionaram  as  forças  alli  instado- 
nadas. 

Barreto,  certo  de  que  ia  ee  haver  com  pequeno  numero  de 
inimigos,  em  vez  de  permanecer  no  Rio  Fardo,  ou  recolher-se 
á  povoação  do  Triumpho,  para  se  apoiar  na  esquadrilha,  como  the 
havia  sido  ordenado,  procura  i>s  ínimigoi,  e  encontra  na  sua  fren* 
te,  Bento  Manoel,  Netto,  Crescencio»  Corte  Keal  e  Onofre. 

No  dia  L9  de  maio  entrava  Bento  Manoel  na  cidade  de  Rio 
Parda,  e  apossava-se  de  todo  e  armamento,  munições  e  de  cerca 
de  1200  prisioneiros. 

Barreto,  desesperado,  foge,  recolhe -se  á  esquadrilha.  ci>nse- 
guindo  apenas  salvar  2O0  h<  mens. 

à  responsabilidade  deste  desastre  é  consequência  da  poli- 
tica dúbia  do  governo  central,  que  para  ser   agradável    aos  re- 


i 


L 


-  467  - 

lieldôi,  f Toce  lia  de  modo  a  des^oaUr  Bento  Manoel,  o  mais  te^ 
rinivel  dos  guerrilhe  iro*,  e  qtt©  foliitnente  íiiais  tarde  voltou  át 
Uniras  Ímp«rÍRí*s,  acootecimt^iito  que  inltuiu  ipara  reerí^aer  o 
kttimo  publico  do  abatimento  a  qua  tiuha  cbegado^  tt^ndo  sido 
«oleajQÍzada  aquella  Yolta  em  Pe lutas.  Rio  Grandoí  Porto  Alegre 
«  S.  José,  porque  Bento  Manoel  j  iro  vara  &er  o  mais  notável 
cabo  de  g-uerra  que  tiiíiitavA  no  campo  dos  rebeldeB,  e^  sem  a  Bua 
cooperação,  eètea  não  ]:K)der]am  deixar  de  intibiar*flo  na  luta»  (1)^ 

De  facto,  pouco  depois  mudava* »«  a  sorte  da  g^uerra»  e  Bento 
Manoel,  aenft<^anJo  os  rebeldes^  não  lhes  dava  trcj^oafi — A  elle 
deveu  Caxias  a  victoria  de  Ponche  Verde,  em  13  de  maio  de 
1643. 

à  opinião?  publica  no  Rio  de  Janeiro  clamou  contra  Eliaia^ 
rio,  considerando- o  responsável  pelo  deaaste  do  Rio  Pardo,  e 
mi&  a  iniprenaa  eiigia  a  sun  demissão,  O  ministério,  coneervan- 
do-o  no  governo  da  proviacia,  concorreu  poderosamente  para  se 
eiifr«qu*»cer.  A  opposiçào,  tanto  na  cambra  como  no  aeuaJo,  bô 
aproveitou  com  vantagem,  duquelle  desastre  para  arredar  do  go- 
verno as  ^ympathias  p<t pulares, 

O  que.  píirem,  abalou  fortemente  o  ministério  foi  a  discórdia 
que  surgiu  entre  elle  e  o  regente  por  causa  da  eleição  Benato- 
rial  do  Kio  de  Janeiro. 

EateridÍ4  o  rebente  que  a  Bucces^tão  de  Lúcio  Soares  devia 
tocar  a  ^ea  particular  amii^o  Lopea  G^ma.  Yasconcelloi  e  seus 
coUej^a»  sustentavam  Jusé  Calmotij  porque,  além  de  ser  chefe 
pre9tig;ioso  He  uma  das  mais  importantes  províncias,  fazia  parte 
do  miaistario  e  a  sua  exclasão  afectaria  a  íor^ja  mfjral  do  gabinete 
perante  a  Nação, 

Rômetlida  a  lista  tríplice  ao  regente,  este,  em  16  de  abril 
de  1839,  escolhe  aanador  a  Lopes  Gama. 

Como  era  natural,  uíio  s«fíeitou-se  VaecoucelloB    á  vontade  , 
impolltica  e  caprichosa  do  Rebente,     e     recusou-se     assig-aar    a 
carta  senatorial — cirao  consequência,  demitte-se  o  gabinete,  apo* 
sar  de  contar  enorme  maioria  nas  Camarás. 

Organiza -se  o  ministério  d^  1  *"  de  setembro  de  1839,  que 
precedeu  ao  de  ÍS  de  maio  de  1810,  qne  caiu  pela  revolução 
parliraentar  da  maioridade,  e  do  qual  lez  parte  Vasconcelloi, 
durante  O  h^iras  que  elle  com  orgulho  consiJerava  aB  rnais  glo- 
riosas de  sua  vida  politica. 

Dmxindo  o  f^overno,  Vascime^llos  e^nsnirvou-se  arredado  do 
movimento  politico,  o  que  ai  tida  mais  concorreu  para  enfraquecer 
o  governo  reçencial. 

O  prranda  politico  que  era  annoe  anteriores  havia  levantado 
a  tdéa  da  maioridade  de  d.  Januaria,  para  j^sseumir  a  regenciai 
idéíi  que  não  excedeu  oa  limites  de  um  pensHraento,  tanto  que  ao 
apresentava  patrocinada  por  Holhiuda    Cavalcanti ,  revivia  entre 


I    Forelr»  4*  Sllr»    -  Dç  msi  x  lãlU. 


r 


—  468  — 

go»  aquello  pensamentOf  com  o  intuito  de  contrariar  o  rt!  geri  té, 
alleifiindo  que,  tendo  entA,o  d.  Jatiuana  attíiiE?ido  os  18  anncis, 
cabia-lbe  asâurtijr  a  re^eucia,  sendo  o  goverao  de  Ãraujo  Lima 
poresÊe  motivo  incon&titucioQaL 

Reproduzirei  em  seguida  o  iu tereÈ santo  i*eriodo  hiatorieo  da 
revoluçáiO  parlamentar  da  mai^riJade,  que  momPutaueaiiieDtQ 
arredou  3o  poder  o  parl.'do  conservador,  cuja  volta  ao  pcder 
produziu  a  revoiaçSn  de  1B12, 

Oa  meus  consoeioa  t^rão  norado  as  divagações  históricas  e 
politicai  que  parecem  nào  ter  ligaçào  alguma  com  o  ptnto  que 
me  fropuz  estudar,  maií,  doa  attríctos  que  elles  provocaram^  dos 
odiofi  que  aurgiram,  nasceram  as  cau^aa  que  determinaram  a 
revolta  —  ciúmes  e  ambi^iio  de  poder, 

âté  o  momento  da  revolução,  e  nas  facto»  Bubsequént<?&, 
tenho  de  referir-  me  muitas  vezes  a  Vasccnct^llos,  e.  para  que  a 
nova  geração  possa  bem  avalmT^  compreheuder  e  admirai  a  ca- 
pacidade  do  grão  de  homem  de  Estado^  que  durante  24  ânuos 
fulgurou  na  nosea  historia  politica,  reconcentraudo  em  sua  in- 
dividualidade a  attençjlo  do  paiz  e  a  admirsção  de  amigoa  e 
adverr^arioR,  tornasse  índíspeuaavel  conhecer  o  seu  retrato^  em 
todos  03  totis.  Recorrerei  paia  esse  fim  a  deficrípçilo  feita,  por  um 
braRileiro  que  se  octiultou  s-^b  o  pseudónimo  de  John  Armítage» 
que  esmere veu  a  Historia  do  Brasil  de  180B  a  1B31,  obra  que, 
como  cabemos,  contem  o  mais  completo,  verídico  e  imparcial  re- 
positório dos  factos  daquetle  período* 

Diz  aquelle  e^cripior;  *A  lei  para  o  niveltamento  doa  di- 
reitos de  importação  sobre  as  fazendas  de  todas  m  nações  foi 
ap^e^entada  pelo  patriota  Vasconcello»— o  seu  diecurso  a  e^to 
respeito  foi  uma  peç^  de  raciocínio  solido,  de  pespicácia,  e  de 
sEos  princípios  de  economia  politica». 

«Ã  maneira  por  que  a  adopç&o  do  systema  representativo 
desenvolveu  as  faculdades  inteilt*ctuaes  de  Vasconcellos — o  Mirabeau 
do  Brasil,  cau^a  seguramente  o  maior  espanto.  Educado  em  Coimbra, 
nunca  alli  se  distíiigum  pelu  seu  talento  ou  |ela  suaapplicação. 
Restituido  á  sua  pátria,  tifto  tratou  de  aprovei tar-^e  das  pequenait 
vantagens  que  a  sua  educaç&o  lhe  tinba  asset^uradQ ;  e  foi  fó 
depois  de  haver  sido  nomeado  deputado,  quando  já  contava  mais 
de  30  annoa,  {32)  que  priucipioii  a  dar  provas  dessa  applicaç&o 
intensa^  e  dcasff  talento  trauscendenle,  que  lhe  grangearam  a 
admtraç&o,  mesmo  dos  eeus  mais  encarniç^dofi  inimigos,  Ã  datar 
deste  periodo  (  .  .)  parece  que  um  novo  principio  come<;ou  a  ani- 
mar sua  existencial  ^  noíte  e  dia  foram  por  elle  coíiesgradoB  ao 
ertudo  da  sciencia  administrativa  i  Seus  primeiros  ensaios  como 
orador  nada  tiveram  de  brilbaottís.  As  palavras  eram  mal  collo- 
cadas,  a  elocu<^'rio  diíbeil  (era  gago  nessa  epocha)  e  a  ac(;^o  sem 
donaire.  A  castas  desvantag'ens,,  accrescia  ainda  o  ser  desconsi- 
derado entre  os  liberaea,  em  consequência  de  sua  desordenada 
ambição .     Demais^  Bua  moral  passava  por  corrupta ;  e  uma  serie 


^  469  — 

de  enfermitlAileB,  attnbntda  pelos  seus  iaimigoi  a  uma  yída  dÍB- 

solutv  e  pelos  teus  amí^oB  p^^los  effeitos  dâ  um  veaeno  Bubtil, 
iinham-lh^  dado  a  apparencía  e  o  parte  de  um  Bexag-enArio.  A 
peUfí  mtirchoti-se-lbe  ;  os  olbos  afuu iaram-be ;  q  câheWo  come- 
çou a  alvejar;  a  marcha  tarnou-se  tremula,  a  respiração  d ifficiL ; 
e  a  molescia  espinhal,  de  qui)  ent&o  pr  neipíoii  a  padecer  foi 
l^ara  elle  fonte  inexaurivel  de  cruelisnimia  tormentos. 

Emquanto,  porem,  passava  O  pbyaico  por  este  prematuro  nali< 
íragtOi  píirecia  que  oiaterno  princípio  vivificante  camiahava  num 
progresso  correspoudeate  para  o  eatado  de  i>erfeita  madureza. 

O  orador  d iffiiBO  e  stim  neio  de  18*i6,  tinhí-s©  tornado  doia 
ftiinos  depois  tào  «loqiiente  o  tfto  sarcástico,  que  nenhum  ortro 
membro  da  cata  lhe  podia  ser  comparado;  (completara B3  annos] 
e  quando,  levado  pelo  enthuiiaijmo,  ou  incitado  pt-la  paixàOs 
dava  largas  a  i-uab  emoções,  a  »ua  fig-ura  decrépita  e  curvada 
etevava-se  qual  a  de  um  génio  protector,  á  bua  maior  altura ; 
0%  olboft  animavam-se  de  doto  con^  todo  o  seu  pristino  lustre,  e 
tia»  fei;õ$d  de  aeu  arrugado  e  cadavérico  gemblante  brilhavam 
por  momentos  a  mueidade  renovada  e  a  inteJligencia.t 


Esse  velho,  que  em  1832  contava  M  annos  de  edade,  de 
âgura  decrépita  e  tremulo  cammhar,  continuou  até  oa  55  annos 
a  assombrar  oa  contemporaueoa  aconselhando,  inspirando  ou  ini* 
ciando  os  monumentos  da  nae&a  leg-ialaçâo- 

Em  1.°  de  maio  de  1850,  diz-no»  Joaquim  Manoel  de  Ma- 
cedo, no  seu  Anuo  BÍQgraphico— toda  a  eidade  do  liio  d©  Ja- 
neiro, ao  anuimcio  da  morte  de  Va&concellos,  COmmo?ia-ae,  como 
ao  ruído  de  ura  monamento  qua  houvesse  desabado, 

Foi  uma  dat  primeiras  victimaB  da  terrivel  epidemia  da 
febre  amarella,  que  naqueile  anuo  aterrorizou  a  cidade  do  Kiõ 
de  Janeiro. 

Nào  passarei  adiante,  si^m  referir  um  dos  actoa  mais  im- 
portantes da  adrainisÈraçào  de  Vasconcellos  em  1838,  e  que 
tanto  o  recommenda  á  g^ratidào  nacional,  e  que  não  pode  deixar 
de  Ber  rememorado  em  uma  asâociaçào  literária  e  investigadora^ 
oomo  é  o  UQ3S0  Instituto  Histórico. 


De  ha  muito  a  instrucção  publica  e  o  desenvolvimento  in- 
toUectual  se  achavam  paralizados,  devido  <U  circumstauciaa  es* 
peciaefl  do  paiz. 

Ko  período  auterior  a  1S22,  o  espírito  nacional  acbava-^se 
entregue  á  luta  pela  Indepeudencia.  De  1822  a  18B1,  a  oova 
nacionalidade,  irapulaionada  pelas  idéas  da  epocha,  procurava 
iutervir  na  ftua  reorganij&a^ào,  almejando  Dovas    liberdadeSi     De 


—  47Ô  — 

18S1  È.  l8S7p  a  frãqae^A  do  goT^mo    ragencial    e    a    leg^islaçâò 
exisiente  hâviam  anarquizado  completa m^nte  o  pek,  que  «stava 

|yre»tt;s  a  se  desmembrar. 

Apegar  dds  gratidías  difficuldadea  que  ImpedUm  a  tnarclka 
rcg^ulai*  do  g^ovemo,  Vasí^oactillos,  cpm  aduiimvel  íiitividadei  pro- 
curava orgauiztir  t  jdo^  oá  raraOB  do  íerviço  publicíi,  regularizau— 
do-oa,  pela  energia  que  ©mpreg:av»  na  opplicaçfto  da»  medidas 
adoptãdfts. 

LegUludí^r  emérito^  espirito  ciilto,  elle  tabia  que  as  nacio- 
nalidades nào  progridefi),  nem  alcnnçam  perfeiti»  grau  de  eivili- 
zaçAo,  sem  o  impulso  que  soem  produ'i£Ír  bb  lutas  da  inteligência. 

Não  podia,  portanto,  deixar  de  prender- lhe,  a  attenqâo,  o 
estado  decadente  do  ensino,  e  a  paralisação  do  deBenvolvimeulo 
intellectua]    rm  muitas  das  ^uas  manifesiaçoes. 

Voltando  sua&  vistfia  para  a  in«ittucçâo,  Vn&eonceno  refonua 
a  legUlaçãM,  au^m^nta  o  numero  das  egcifífis  prim^rifie  no  Hio, 
organiza  o  euhíno  BRcundario,  escollie  o  mestre,  premeia  o  alumno, 
e  chama  a  atteuçào  das  Aísemblóftâ  ProvÍRciaes  paia  o  momen- 
toso a&sumpto. 

Com  notável  regulamentOj  jubtificaiido  magistra Imante  a  di- 
TÍsão  do  ensino,  érea  o  CoUfgia  de  Pedro  II,  que  dem  vida  a 
uma  geração  de  brasileiros  uotaveis. 

Em  segui dn,  reformou  a  Academia  de  Bellas  Artes,  promo- 
veu o  desenvolvimento  dn  sociedade  de  medicina,  a  amante  da 
iuKtmc^ào  e  auxilindora  da  industria  nacional  e  f^idlirava  ao 
padre  Januário  da  Cunka  Barbosa  e  ac^  Visconde  de  S&o  Leo peido 
a  creaçào  do  Instituto  Histórico  e  Geogra}'liico  dít  Rio  de  Ja- 
neiro, benemeritfi  inâtituiçào,  que  tem  prestado  a^BignalHdo^  ser- 
viços á  Pátria,  reuniudo  r^ligio^íamente  as  tradições  do  pasmado 
pelos  esforços  do  preseute,  para  que  nos  vindouros  século»  o 
historiador  conheça  os  nossos  erros,  aa  nossas  rrloriaa  e  oa  iiiol 
vidáveis  aerviços  de  tantos  brasileiroa,  que,  com  iueicedivel  pa- 
triotismo, trabíilbaram  para  o  engrandecimento  da  pátria. 

Devido  a  esse  impulso  patriótico  u%  espiritoB  cultos  se  con- 
gregaram, e,  em  penodo  limitado,  o  Brasil,  nação  pequena  « 
nova,  e  que  ainda  não  se  achava  completamente  organizada, 
conseguia  reunir  um  núcleo  intaUectual  que  causaria  orgulho  ás 
velhas  nações  civilizadbs. 

Foi  nesse  período  que  deu-^e  o  renascimento  dai  scienciait 
artes,  literatura,  poesia  Hrica,  pintura  e  musica,  e  que  fulgu- 
raram 06  Domingos  Jotó  Gonçiilves  M^galhâes^  ToiTes  Homem, 
Porto  Alegre,  José  Maria  do  Amaral»  Justiniano  José  da  Rocha, 
Firmino  Rodrigues  Silva,  Odorieo  Mendes,  o  cunego  Jitnuario, 
o  Visconde  de  S.  Leopoldo,  Francisco  Ma  noel  da  SUva  e  tantot 
ontroa. 

Nessa  epocha  de  memorável  desenvolvimento  iutellectualf 
na  arte  scenica  surgia  Joaquim  Augusto  e  depois  Este  lia  dos 
Santos  até  hoje  não  ezct^dida  por  nenhuma  outra  ar  tis  ta  ni 


nacional.  I 

j 


—  471  — 

João  CaetAHQt  depois  de  ter  pago  á  pátria  seu  tributo  de 
sangue,  na  guerra  da  Ci  a  platina,  inieiara-so  na  soa  arte  per- 
correndo a  província  do  Kio,  fí^uriiodo  nos  papeis  de  dama  e 
de  galan.  Mais  tarde  fundava  a  e»cola  romauticai  para  se  iiu^ 
mortal  izar  no  drama  e  na  tragedia,  e,  «em  nunca  ter  lido  mes- 
tres, assombrava  oa  teus  contemporâneos  no  Kean^  Cabo  Simão j 
Gargalhada,  adivinhando  e  realizando  em  &cena,  como  noB  diz 
um  de  »eus  bio^rafoa,  oa  fiitaroB  Eoasis  e  Sal  vinis. 

Que  eata^t  lembranças  m  perpetuem  naa  asaociaçÕea  cultas 
eomo  é  o  nosso  Instituto  Histórico. 


MAIORIDADE 

Oí  partidos  políticos  n&o  poderiam  cumprir  aua  missão  nem 
refllizar  seu»  programmAfi,  se  quando  apeadoi»  das  posições  ofâciaea, 
n&o  empregassem  esforços   para  a  conquista  do  poder > 

à  liistoria  no?  demonstra  que  abatençòes  muitaa  vezes  oc- 
casionaram  o  suicídio   doa  partidos. 

No  noBBo  paÍ3&,  durafvte  o  Império,  a  conquiata  do  poder 
estava  ao  alcance  da  oppnsição — pela  victoria  das  íirnas— pelo 
voto  do  parlamento,  ou  pela  dissolução  das  CamarAí^,  medida  de 
que  usava  o  Imperador,  para  acalmar  o  movimento  irritado  de 
um  partido,  deaute  da  looga  permanência  de  seus  adversários 
no  poder- 

Em  1840,  o  partido  liberal  estava  impossibilitado  de  subir 
ao  podf?r  por  t^ualquer  daquelles  meioa. 

O  voto  do  parlamento  lhe  era  contrario,  visto  ser  a  ma- 
ioria dedicada  ao  governo  e  ao  ministério.  Ã  victoria  pelas  uruas 
só  podaria  aer  obtida  quando  a  camará  completasse  o  sou  man- 
dato coostitucíonat.  Ãté  lá  aquella  corporai^âo  era  omnipotente^ 
por  ter  sido  retirada  da  regência  a  atttibuição  de  dissolver  ca- 
marás 

Via^se»  portanto,  aquelle  partido  na  dura  contingência  de 
permanecer  no  o^traciíímo  á  espera  da  maioridade,  que  ainda 
vinha  looge.  3ó  em  2  de  dezembro  de  1843,  se  daria  aquell* 
acontecimento. 

Alguns  políticos  irriquietoSj  nao  querendo  esperar  occaelão 
opportuoa  para  galgar  o  poder,  o  que  é  uma  grande  ficieueia 
poli  ti  a,  resolveram  conquiataUo  fior  um  golpu  de  estado. 

Para  esee  fira  levantaram  a  idéa  de  ser  o  Imperador  de- 
clarado maior,  três  annos  antes  da  epocha  conãtitncional,  mar 
cada  aos  18  annos  no  art.  121  da  Constituição  do  Império, 

Não  era  nova  a  idéa  da  maioridade. 

Durante  o  periodo  regencial,  por  mais  de  uma  vez  aquelle 
pensamento  se  manifestou  quer  oa  camará  doã  deputados,  quer 
nas  aggremiaçôei  politicas,  nào  com  intuito  de  £&cilitar  a  marcha 


—  fí2  .- 

re^lar  âo%  oe^ociofi  públicos,  mas  como  arma  d«  guerra  para 
difficultar  a  acçào  do  governo  ou  tervir  d«9  tascada  aos  »sal- 
tantee  do  poder^ 

A  priíseira   762  foi  levantada  do  parUmento,  em  1835,  pelo 

deputado  Lui»  Cavalcanti,  O  projecto  por  elle  apresentado  para 
ser  o  Imperador  declarado  maior  nos  14  annos,  tièo  foi  julgad^^ 
objecto  de  deliberação, 

A  sexuada  vesj,  ou  por  te  acbar  imprest-ionado  pelos  males 
cauBados  pela  fiAqu^^za  do»  govemoe  reg-^nciaes,  ou,  o  qi  e  é 
inaÍB  certo,  movido  ]>elo  deaejn  de  contríirrar  a  leg^encia,  Va«- 
Cóncelloa,  tna[iifei»tou  a  alg-uns  amigos  a  eonvenieiída  de  ser  o 
governo  eiercido  por  d.  Januaria,    depoii*    de    declarada    maior. 

EsHe  defif^jo,  como  elle  próprio  declarou,  no  mamíebio  de  28 
de  julho  de  iy40,  nunca  excedeu  os  Itmiies  de  ura  pensBUieuro. 

Edtretaiito^  o  Sete.  de  Abril^  jornal  ins^pirado  por  Va  cou- 
ce Ho»,  jus  tiíicou  a  conveniência  da  mt^dida,  tendo  sido  f^^^reD^pnle 
combatida  por  Evaristo,  na  AurorUj  nào  só  pela  «ua  iti consti- 
tucional idade,  como  ainda  porque  no  Brasi-l  ningnem  Acreditaria 
que  a  Regência  s&ria  entregue  de  facto  á  Priucega. 

O  penttamenUt  de  Vaacoucello»  foi  repeli  ido  pelo  partido 
moderado,  tornando^se  o  grande  politico  mineiro  alvo  de  ter- 
riveis  ataques. 

Na  asaembléa  provincial  de  Minas,  na  fessào  de  26  de 
marçd  de  1836,  Manoel  Igri^do  de  Mello  e  Sousm,  um  dos  toeíi 
preátígioaos  cbefeti  dii  partido  liberal ,  bradava :  *  Pereça  aqut^lle 
que  ae  atrever  a  profajiar  a  Constituivíio.  Pereça  o  coffiijnrador^ 
quem  quer  quo  elie  seja  1  » 

A  terceira  tentativa  deu-íe  em  1837.  quandij  Vieii*»  Soii!4> 
apresentou  ua  camará  projecto  para  que  fosse  o  Imperador  de- 
clarado maior,  quando  aiuda  uào  havia  ultrapassado  os  12  auuo^ 
de  idade* 

Além  dessas  tentativas >  uma  outra  foi  planejada,  como  consta 
de  um  precioso  autografo  de  politico  evidente  laquelle  período. 

Lo^o  apúã  a  eleição  de  Ee^eute  do  Acto  Addiciouâl,  o  g-mpo 
chefiado  ptílos  doia  Holtaudas^  e  que  acabava  de  ter  derrotado, 
procurou  se  apoderar  do  jioder*  por  um  golpe  de  estado  parla- 
mentar, promovendo  a  maioridade  de  d.  Januaria^  e  creando 
um  Conselho  Tríum virai,  que  de  facto  governaria  o  paíz, 

A  este  golpe  de  estado  uào  se  referem  as  chronicas  e  as 
memorias  que  compulsei,  e  talvez  na  historia  não  viesse  égurar 
aquelle  tentameo,  «em  o  conhecimento  do  notável  documento,  do 
qual  vou  lâr  o  tópico  referente  ao  así?umpto. 

Eaae  autografo  foi  escri(>to  no  Rio  de  Jnneiro,  em  julho 
dft  1835,  por  Alvares  Mnchado,  e  dirigido,  a  Cl  sia  Carvalho,  que 
abandonando  o  st;u  lugar  na  regí-ncia  trina  se  recolhera  a  Pi- 
racicaba,  na  sua  prnpriedade  ftgricola  Monte  Alegre. 

O  precioso  autografo  representa  uma  pagina  cnriosa  da 
historia  politica   daquellea    agitados    periodos»  e,    perco rrendo-o 


—  Í73  — 

72  annoB  depois  dos  facto'5  que  narra,  parece-noa  estar 
lo  o  desenrolar  doa  licoixttídmaiitoft,  t&o  viva  e  Eninu^io 
sãmente  sfto  olles  descri ptos. 

E^  um  documetito  lon^o,  que  noft  descreva  o  caracter  â  a 
competência  de  homenB  notaveiB  da  epocha,  bem  como  oa  factoe 
e  as  intriga»  quti  no  momeiíto  ee  movimentavam. 

Ei&  o  tópico: 

c  O  partido  Glandes  tenda  perdido  a  "batalha  da  Urna 
Eleitoral  aptíla  para  a  intriíra  ■  elle  e&tá  era  maioria  na,  Camará 
doB  Deputado&j  e  quer  servi r->©  desta  maioria  para  dar  um  golpe 
de  esiadó,  para  fazer  uma  espécie  de  30  de  juibo:  querem  faswr 
paaar  uma  inedida  legislativa  que  julgue  maior  &  Princesa  d. 
Januaria,  ^  lhe  conJira  a  Regência  do  estado  durante  a  miao' 
rida  de  do  Imuerador:  ^auhttdn  que  seja  esta  batalha  faífto  pasar 
imediatamente  uma  outra  medida  Le^islutiva  pela  qual  se  coufie 
a  tutoria  do^  au^^usto^^  pupilos  a  d.  Amélia  na  couformidade  da 
verba  t^stameutaria  com  que  talegt^u  o  Imperador.  A  nova  râ^ 
gente  governará  com  um  conselho  de  trea  membros;  e  et»perãm 
08  olandezes  f^overnar  a  Naçào  por  meio  das  íntrit^as  de  lalacio, 
uma  vez  que  o  oào  puderam  fazer  pelo  vt  lo  Nacional, 

«  A  Camará  dos  Deputados  conta  em  seu  ceio  97  deputados; 
destes,  63  fazem  a  maioria  olandeza,  44  tào  o  núcleo  da  an- 
tiga moderação ;  e  no  entanto  es- es  44  eajieríim  fazer  recuar  a 
maioria  diante  da  discussAo,  que  será  vehementn,  calorosa,  e  do 
ultimo  interessp :  estes  44  unidos  em  falauf^-e  berrada ^  fortes  pela 
superioridade  intelectual,  eaeudadoâ  pela  LonsTÍ!ui<jâo  oo  pstado 
esperam  derrotar  aos  fai-ciosq»,  e  veuí-pr,  ou  [>ara  milbor  dizer 
dezagl  merar  uma  maioria  vacilaut*",  íraca,  desunida,  por  pro- 
tensãònes  pí^rticulaies,  a  com  ponta  do  aoarquiBtaSf  de  republicanos 
e  abíiolutist^B.  Não  &a berne e»  o  dia  que  ep  apresentará  na  causara 
aquele  projecto,  ele  tem  sidn  demorado  porque  os  Franías  ezi- 
tam  em  aderir  mas  logo  que  ellea  a  si  nem  aparecerá:  o  projecto 
aparecerá  astnado  por  toda  a  facsão  e  isto  é  mais  um  meio 
insidioso  que  os  olandezeíi  axarào  parft  i laquear  gente  flntuante, 
tímida  e  mal  unida.  O  Ramiro  da  Bahia  levantará  a  lebre. 
Ob  hollandesMíB  tem  emprí^trado  todf  s  os  ardis  para  xamarem  ao 
Lima  as  suaa  vistas,  querem -no  conaoJar  com  a  âeirurança  de 
que  ele  fará  parte  do  conselho  trinnviral  da  Rebente,  mas  o 
Lima  nào  se  deixou  illndir,  antes  deu  j^rande  cavaco:  mas  0 
Lima  está  rodeado  de  Ministros  traidores^  o  único  omem  de 
confiança  é  o  Castro  e  S,"  pftrque  Alves  Branco  além  de  ser 
doutado  de  um  caracter  tiw  ido,  âutu^nte,  é  concunhado  ão  Ra- 
miro parente  de  iniutos  o1ande?^es,  e  mesmo  nunca  teve  uma 
fi.'Ímomia  pfliiica  bem  pronunciada  Tem-se  querido  muito 
airitftr  a  popnlaçào  da  cidade  ©  faseia  esp£i2f*r  as  prenten^^õens 
do»  olandtíze^,  mas  a  populagfto  da  cidade  ainda  eata  enjoada 
das  rus&iías,  a  mostra- se  dezeijoza  de  soceg^o  e  pas:  disseram  aoa 
eizaltados  que  o  ensejo  era  próprio,  e  o  meio  vautajoão  para  ifem 


—  474  — 

a  Republica  :  disseram  aoi  caramnrós  que  o  meio  era  óptimo  paxm 
restaurar  os  princípios,  e  o  reitto  do  pessoal  derriliadii  em  7  de 
Abril  :  porém,  nem  eixaltados,  nem  caramnrns  le  qn^rem 
meter  em  nova  carayana,  á  me»ma  fome  de  ordem:  a  tado  isto 
acrese  que  a  Guarda  Nacional  ainda  se  axa  ccm  óptimos  xefes: 
Manoel  da  Fonseca  Lima  comanda  a  iorsa  de  primeira  linha, 
Luís  Alv**8  de  Lima  está  a  te;ta  do  corpo  de  permanentes,  e 
por  este  lado  estamos  seguros,  apezar  de  contar-se  com  a  trais&o 
dos  Ministros  da  Marinha  e  Guerra:  o  Ministro  do  Impeno  é 
um  ente  nulo. 

Alguns  dizem  que  é  mister  mudar  ao  menos  os  Ministros  de 
Marinha  e  Guerra.  E-te  é  o  estado  em  que  as  cousas  se  axam; 
e,  para  nada  ocultar-lhe,  devo  dizer  que  o  Vasconcellos  está  unido 
aos  olandezes,  e  poriso  muito  desacreditado :  a  maioria  do 
Senado  é  contra  o  projecto  dos  olandezes,  e  para  isto  muito 
contribuio  o  saberem  que  anda  nisto  o  dedo  do  Vasconcellos; 
se  bem  que  ainda  ontem  o  Vasconcellos  negou  que  ele  andase : 
declarará  (aseg^ram-me)  contra  o  projecto  de  Lei. 

Vensida  que  seja  afaiftn  olandeza  pode  a  actual  regência 
seguir  em  suas  funsões,  e  provera  aos  Ceos  que    ela  mantivesse 

té quem  sabe?  tudo  pr»de  ser:   mas  a  Regência  nào  pode 

permanecer  com  um  só  membro  :  Se  V .  Ex*.  n&o  vem  fica  só  o 
Lima,  e  dará  azo  a  dizer-se  que  se^ou  a  Regência  porque  ese 
corpo  colectivo  nào  tem  mais  sua  maioria,  e  podem  tentar  com 
sombra  de  razão  dar  ao  Lima  sua  despedida  e  deixar  o  governo 
ao  Ministro  do  Império». 

Desta  vez,  os  maioristas  n&o  conseguiram  levar  por  diante 
seus  desejos  O  Ramiro  n&o  levantou  a  lebre  e  Feijó  ponde  as- 
sumir a  regência  em  outubro  de  1835. 

Reproduzindo  factos  históricos  e  que  figuram  nas  ehronicas, 
nos  annaed  do  parlamento  e  documentos  insuspeitos,  o  nosso 
intuito  é  tornar  patente  que  a  idéa  da  maioridade  servira 
aos  interesses  politicos  de  ambos  os  partidos— apoiada  uma  vez 
na  imprensa  por  Vas(*.oncellos  foi  repellida  por  Alvares  Machado  e 
Mello  e  Sous4,  que  imprecou  a  morte  daquelle  estadista,  só  porque 
lhe  viera  ao  pen.^amen^o  a  idéa  de  profanar  a  Constituiç&o, 
desejando  a  maioridade  de  d.  Januaria:  mas  em  1840  ambos  foram 
03  mais  ardentes  paladinos  da  idéa. 

*    «     * 

No  começo  do  anuo  de  1838,  os  chefes  politicos  decahidos, 
contando  com  as  dificuldades  do  governo  na  pacificaçAo  do  Rio 
Grande,  pretenderam  recuperar  o  poder  por  meios  revolucionários. 

Para  esse  fim,  organizaram  um  club  secreto,  denominado 
Scciedflde  dos  Patriarchas  Inviáveis,  com  sede  no  Rio  de  Janeiro 
e  ramificações  nas  provindas  que  pretendiam  conflagrar. 

Ou  por  terem  encontrado  repulsa,  ou  porque  os  encarre- 
gados de  propagar  as  idéas   da    Sociedade   nas  provincias,   nào 


-  4Í5  - 

tiFemni  competência  para  impot-a«,  o  certo  é  que  em  São  Paoloj 
a[>euAs  se  ur^anisaraEu  clubi  t^m  aJg^amas  localidHdeB  do  Norte, 
parte  da  (iroviucia  de  3.  HauIo  que,  como  é  âabidit,  acliHva-se 
lig'ada  pelas  relagòefi  commerciaet,  mais  com  a  Corte  do  que 
eom  a  Capital, 

Em  Qccagiào  opportutva,  daremos  a  conhecer  os  eatatxttos 
daquella  soeiedade  sf^cretít,  e  a  intíneoctn  que  alguns  desses 
clube  tiveram  no  movimento  materijil  de  1842, 

Não  encontrando  ai^oio  g^r^ral  para  um  movimento  armadOí 
o  senador  Alencar,  crendor  da  Sociedade  dos  Patriarchas  Invi- 
siveiSj  promoveu  a  idéa  da  maioridade  do  tmperadoFf  como 
único  meio  de  galg-ar  o  poder  e  governar  com  seus  amigos  ú 
paia  t^or  meio  de  um  conafilbo  de  dez  membros. 

Dia*  antei  de  serem  abertas  as  Camará-,  Alencar  reuniu  em 
sua  casa  António  (/arlos^  Martim  Francieco,  os  dois  Hollandas^  e 
o  dr.  Alencar,  sen  sobrinho,  e  f>ropo^  a  creação  de  um  ctub, 
qiif«  trabalhasse  i^ecretamente  para  a  proclamaçfto  da  Maioridade 
do  Imperador  Ácceita  a  tdáa,  organizou-se  o  club  nu  dia  15 
de    abril  de  1840,   f^endo  neeâu    data    approvadoâ  h^m  r»tatutoâ. 

Drt  acra  dessa  primeira  teuoiôo  consta  te?  Hollauda  apre- 
Bentado  dmii  propo&ta$. 

!.•     Para  que    cada    locio    procuraste    conbeeer   a 
idéa  do  Imperador, 

2*     Para  que  cada  kocío  allícías&e  depatadoa  e  eena- 
dores  para  votarem  a  maioridade. 

Para  conhecer  a  idéa  do  Imperador,  foram  nomeados  Au- 
tonío  CarluB  e  IloUanda. 

A  regundíL  reuniào  doa  conjurados  realizou-ae  no  dia  22 
de  abriU 

Foram  propostos  Otloni  e  Marinlio,  que,  sendo  acceitOB  e 
estando  preseiitps,  tomaram  parte  nas  deliberações. 

Em  seguida  António  Carlos  declarou,  que  já  bavtam  dado 
al^QS  pa^BOB  para  conhecer-se  o  pensamento  do  Imperador,  e 
comquanto  nada  tivessem  colhido  acreditavam  qtie  o  monarcha 
desejava  aquella  medida. 

Em  seguida,  Alencar  declarou  que  havia  íillioiado  Vicente 
de  Castro j  Manoel  do  Nascimento,  Lima  Sucupira,  Ferreira  da 
Costa  e  Lima  e  Silva. 

Em  29  de  abril  realiza-ae  a  terceira  reuniào  dos  conjurados 
— são  admittidoB  Ji  sé   Bento  e  Pinto  Coelho. 

António  Carlos  informa*  (palavras  textuaes  da  acta)  que  en- 
ÍendE'a-se  ç'*m  pmsôa  do  Pat;»,  e  qiíé  fJita  falando  com  o  Im^ 
p&raãor,  este  dissera  qite  queria,  que  desejava^  que  Jos^e  logo^  e 
muiio  estinuiva^  que  partiitse  itíTO  doií  Jirv^  Andradas  a  seu  par~ 
tida:  aecreac^niaiião  serem  essas  as  pakíi^as  do  Imperador. 


—  476  -h- 

Cootinúa  a  acta.  Era  vista  disto  é  Fiato  Coelho,  eocarre* 
gado  de  enteoder-ee  eom  o  Tutor  para  que  este  cOD^ersasiõ  a 
rei  peito  com  o  Imperador, 

Pi  Oto  Coeího  era  flobriobo^  creio  eu,  do  Marquez  de  Ita- 
nbaen,  então  tut  «r  do  joven  tnonarcha. 

No  dia  7  de  mnloj  reutiem-ne  os  conjurados,  pela  4/  vez, 
ô  Pinto  Coelha  dá  parte,  que  3.  M.  queria  que  se  adiantasse  a 
medida  da  maioridado. 

Nesta  reunia  o  foram  propostos  —Vergueiro,  Limpo  de  Abreu 
e  Montezuma. 

Na  6  *  reunião,  realizada  em  9  de  maio,  José  Bento  decla- 
rou que  Verg^ueiro  nào  comparecia  por  nào  8e  achíir  ioteira- 
meatti  disposto  a  acompaobal-oa.  Limpo  nào  faz  declarações,  mas 
nao  compareceu» 

Dectd^-ge  a  apresentação  do  projecto  no  Senado  e  Alencar 
oHerece  uia  por  elie  feito.  Nào  aendo  approvado.  é  substituido 
pelo  seguia  t*?; 

Anilho  L*  O  sr,  d.  Pedro  2.*,  Imperador  e  defensor  per- 
petuo do  Brasil,  é  declarado  maior  desde  já. 

Artigo  2.'*  Logo  que  o  sr.  d.  Pedro  2."  entrar  no  esercicio  de 
seus  direitos,  escolherá  urn  con-elho  ie  dez  membros,  que  lerão  os 
mesmos  ordenados,  que  tinham  os  antigos  coneelheiros  de  Estado. 

Em  12  de  maio  reali^a-ge  a  7/  e  ultima  sessão  secreta  do 
elnh  da  maioridnde,  e  ur^Ha  resolvem ; 

Que  o  projecto  devia  ner  apresentado  no  dia  seguinte  por 
enífa  dala  a  do  £Lfi7iÍij0rsaríu  de  d,  João  í?.^,  o  que  seria  agra^ 
duvel  ao  ueío. 

^DepoiA  de  debate,  decidiu-ge^  cmttra  o  vencido  na  outra 
satHÕOf  que  os  projectos  f ousem  dojs,  um  propondo  a  maioridade^ 
outro  o  Cfjuitelho  do  Estado 

*Res  Iveu-se  que  fto  dia  seguinte  Olanda  offereceria  o  pro~ 
jecto  1W  Senado,  lú  Mello  e  Sout^a  o  assignaria^  sem  ser  do  club* 

Nessa  ultma  reunião  foi  organizada  uma  Hata  demonstrativa, 
pela  qual  se  verificava  que  o  projecto  poderia  contar  com  16  votos 
a  favor  e  18  contra,  não  le  cabeado  o  modo  de  fiensar  de  tret 
sen  adores.  Â  ajrreaentaçào  do  projecto  era  ind  ia  pensa  vel  nc^smo 
sara  contiir  com  maioria.     Não    podia    ficar  eternamenta  secreto. 

Completemos  as  i n to r mações  que  são  ignorada*  pelo  laco- 
nismo das  actas. 

Dias  antes  da  reunião  das  Camarás,  o  senador  Alencar,  de- 
pois de  ter  ouvido  os  duis  Hollandas,  communicou  aèu  pensa- 
mento a  António  Carlos  e  a  Martim  Francisco,  que  o  approvaram. 

N(f  dia  15  de  abril  de  1840,  realí^a-fe  etn  casa  de  Alencar 
a  primeira  reunião  dos  coui^píradores.  Comparaceram  apenas 
aquell^^s  5  conjurados,  namero  que  foi  se  elevando  até  II. 

Pertenciam  á  camará  vitalícia  José  Martin íano  de  Alencar, 
ofl  dois  HolUndas,  (António  e  Francisco)  o  cónego  José  Bento 
Ferreira  de  Mello  e  António  Pedro  da  Costa  Ferreira. 


-  477  - 

F&^íam  parte  da  camará  temporária  Martim  Franeiaco,  Ãn^ 
tonio  Carlos,  Ottoai,  Marinho,  Montesnina,  e  o  dr.  Alencar. 

Âcceita  a  idéa,  referem  aa  cbroaicas  que  ok  confidentes 
como  preliminar  trataram  de  tornal-a  conhecida  do  Imperador, 
e  saberem  qual  seria  o  bèti  peneaniento  a  respeito, 

Deisa  incumbência  foi  encarregado  António  Carlos,  qoe  gc- 
8«va  de  g-eraes  BympathiaB,  entretinha  no  Paço  telaçõeií  intimaB 
com  algans  dos  veadore*    qa©     rod#*ayam    o    joveii    Imperador. 

E*  facto  gabido  que  Antrnío  Carlos  eDcarrejj;c>ii  ar»  veador 
Bento  António  Bahia,  de  fazer  chegar  ao  Imperador  uma  mi&si- 
Ts,  cujng  termoB  haviam  eido  appi ovados  do  club,  e  era  múm 
concebida: 

cOs  Andradas  e  seus  amig-oa  desejam  fazer  decretar  pelo 
corpo  legislativo  a  maioridade  de  V.  M.  L;  mas  nada  ioiciarâo 
sem  o  consentimento  de  Y,  M*  L  fl]*. 

Ottoni,  um  do9  confidentes,  eícreTendo  20  aniios  depois  destes 
aconteciícentos  a  celebre — cCirculan— diz*nos; 

«Precisavamts  d©  ae^urança  prévia,  de  que  o  poder  viria 
parar  Das  nci^as  míios;  aliás  trabalha  ri  amos  estupidamente  para 
reforçar  a  pTppcnderancia  doa  retrogadoe». 

«Só  a  sancçâo  da  vietoria,  a  po^se  do  poder,  podiam  justi- 
ficar nossa  participação  em   tal  empre&a* . 

«  Seria  loucura  iniistir  na  sua  reali^^ação,  seiílD  esúve^semos 
bem  seguros  das  disposiçò^s  de  animo  do  mancebo  im (serial,  se 
nfto  conlast-Lemos  com  o  aeu  beneplácito,  e,  para  ludo  di^er,  com 
iuaa  boas  graças. 

Essa  segurança,  o»  coo âdentes  acreditavam  ter  com  resposta 
que  dias  depois  lhes  apresentara  António  Carlos: 

«Quero  e  estimo  muito  que  es&e  negocio  seja  realizado  pelos 
Andradas  e  seus  amigos». 

Cora  esta  inform>4çà",  fez-«e  acreditar  aos  apsocíado»,  e  de- 
poia  a  scius  amigos  politicou,  que  o  joven  mr-narclia  se  achava 
de  accrdi  com  oâ  coii-ipirArio^e*  que  se  haviam  reunido  com  o 
fito  de  rasgar  a  Constituição  dfi  Império. 

Entretanto,  bastaria  uma  leimra  rn*  ditada  daquella  rceposfa 
para  que  «urgissem  í*u8peitas  quanto    á  hua  veracidade. 

Bento  Bahia  foi  incouteKtavelmente  um  honiem  astuto  e 
detde  logo  compreheudeu  que  jamais  rcca&iào  tào  propicia  ^e  lhe 
offereceria  para  servir  lhe  a  umbiçfiOj  e  dcllase  aproveitou  com  arrojo. 

Foi  essa  ambiçàOi  que  deu  origem  á  retpoetat  que  serviu 
para  mistificar  bouens  de  grande  merecimento  e  de  boa  fé— o 
que  nAo  teria  acoalecido  ae  nào  estivessem  com  o  ej^  piri  to  obae- 
cado  por  uma  idéa  fixa  -  a  conquista  do  poder. 

Os  termos  da  reftpQsta,  transmit tidos  pelo  veador  Bento  Ba- 
hia a  António  Carlos  nâo  podiam  ter  partido  do  joven  monarcba. 


l    Ottomi-Circiitar  aos  ElètKipwi  de  MtnM  . 


r 


-  478     - 


Embora  de  pouca  idade,  era  elle  Bammamente  ret rábido, 
diatmgiiindo  se  por  admtríivel  critério  e  profunda  circuraspeçÃo, 
qualidades  m^iíi  que  todo-  os  coiitemporaneot^  lhe  reconheceram. 

Qurtndo  UoDanda,  em  13  de  maio  de  1840,  apresentou  ao 
Senado  o  projecto  d*  maioridadet  declarou  que  o  Imperador  se 
Achava  cnm  todas  Auat  faculdades  degenvolvidaa- 

O  Marquez  de  Paranaguá,  na  teasáo  de  20  daquelle  mèi  e 
fttiao,  affirmava  que  ao  joven  imperante  sobrava  inteUigencia 
para  tomar  a^  rfdeas;  do  governr^,  e  presidir  com  sua  auguí^ta 
presença  e  influencia  im mediata  as  deliberações  do  governo  na 
direcçào  dos  nefrocios  públicos» 

Na  camará  dos  deputados,  Alvarez  Machado,  Limpo  de 
Abreu  e  Ãutunío  Garlot  cjntirmavam  aa  palavras  doa  veneraudos 
seoadoreK, 

Netihuma  desf^asopiníòi?»  deve  yesifír  mais  que  a  que  pat fiamos 
a  transcrt^VtT  Theofilo  Ottoni,  um  dos  confidentea,  em  1860» 
exactamente  no  período  em  que  tanto  contrariava  a  Corôs  at- 
tribuindo-lhe  o  poder  p^^oal  referiado-se  aos  acontecimentos  da 
maioridade  assitn  se  manifestava.  «Fazia •se  em  geral  o  mais 
vantajoso  coaeettOj  nào  aó  dos  dotes  moriiei  do  Imperador,  como 
do  seu  desenvolvimento  intellectual,  «  rnaiB  que  tudo  do  pro- 
fundo critério,  e  discreta  reserva  em  que  ae  mostrava  eminente^» 

Se  na  epocha  da  maioridade*  os  maia  nataveis  braaileiroi 
reconheciam  no  jó^^en  monarcba,  profundo  critério,  discreta  re- 
serva, elevação  moral  e  inteílfctual.  CL>mo  acreditar  que  elle  i© 
tivesse  manifestido  tào  levianamente,  qualificando  d©  negocio 
um  acto  inconstitucional? 

As  grandes  qualidadofl  do  Imperador  que  o»  contemporâneos 
reconheceram  e  que  a  Historia  conârma,  nào  teriam  ficado  empa- 
nadas Fo  ti  Vieste  elle  sido  tão  ingénuo  a  ponto  de  entregar  nag 
mftíis  de  politicoa  que  tinham  sede  de  poder,  o  Sim,  lançado 
cnm  sua  letra  no  celt^bre  mem^^ríaU  escripto  por  uma  das  nossãe 
illustraçôes»  como  refere  Ottoni,  documento  que  demonstraria  á 
posteridade  seu  apoio  a  consjiiradores  que  tramavam  urna  me- 
dida, que  por  incoustitueional  poderia  confla^^rar  o   ;iaÍ2  ? 

Be  os  princípios  da  botira  e  do  dever  foram  seus  apanágios 
desde  os  dias  feliítea  da  mocidade,  até  que  velho  ©  doente,  cho- 
rando a  pátria  amada^  expirou  no  exilio,  porque  não  protestar  para 
que  cesse  essa  lenda,  que  ge  foi^e  verdadeira  denotaria  no  Im- 
perador uma  índole  astuta,  pervei'sa  mesmo,  qual  a  de  occyltar 
do  Regente,  do  ministério,  do  governo  em6m,  seus  pensamentos 
intimas  e  as  propostas  que  lhe  haviam  sido  feitas  pelos  que  tra- 
mavam n^n  attH-ntado  centra  a  Constituirão? 

Nilo  1  Quem  n>>  seu  século  e  iia  sua  pátria^  desde  moço  se 
avantajou  dns  contemporaneoi,  por  ashiçoítlados  dotes,  cultivada 
intelligencifl,  circurnspecçàii  e  patriotismo,  náo  podia  r**fi*rir-se 
naquelle»  termos,  e  muito  menos  deixar  nas  mAos  dos  coulidetites 
a  prova  eicripta,  que  lhe  faria  baixar  os  olhns  e  carmiuar-lbe 
o  rosto,  toda«  as  ve^es  que  tivesse  de   enoarar   seus   associadofi. 


^ 


—  479  - 

Felizment^e  para  grande  uumerú  de  cóDteiDporanooB,  qnf^  se 
deixavaia  ^niinr  por  calma  e  reflectida  observação,  desde  logo 
a«  firmou  &  idéa,  de  aa  palavras  attnbuidas  ao  Imperador,  e  o 
Sim   nâo  foram  maifi  do  que  titsji  arma  de  guerra  politica. 

Para  ouiroB,  a  mesnía  convicção  veiu»  quando  j»assado6  ape- 
nas  7  meses,  o  Imperador  dernittia  o  mini&terio  ao  qual  encar- 
regara de  tratar  do  negocio  da  9tà&  maioridade. 

Para  o^  incrédulos  finalmente,  quando  mujlc  s  atinos  após,  o 
Itnperadort  assistindo  no  Instituto  Histórico  do  Bi'a€U  a  leitura 
da  Memoria  t^obre  a  Maioddiide,  tTabalho  do  notável  mag;ÍBtra(io 
e  illustre  tomem  de  letras,  Tristão  de  Alencar  Árari|iei  ao  ter- 
minar a  iei&àoj  declarou  a  aquelle  bra&ileiro,  e  autorizou-lbe  a 
dar  publicidade,  de  que  nào  era  exaci,o  o  que  se  lhe  atiributa, 
e  que  nào  se  recordava  do  ter  sido  jamais  provocado  por  peB^oa 
alg^uma  do  Paço^  e,  que,  quando  nquellea  acnutecimeítt^^is  te  de- 
ram, só  occnpavA-se  com  ^eut  estudos,  nãa  i-e  preocupando  com 
a  politica  militante. 

Ãquelle  recado  imaginário,  e  o  Sim,  que  uem  me«mo  pode 
le  dizer  apocríplio,  porque  ninguém  o  viu»  !»Eó  lendas  que  devem 
desaparecer  das  velbas  cLronicaa,  por  nào  toiem  mrWs  ras&ào 
de  ser* 

Naquelle  momento^  foÍ  de  grande  vantagem.  Aos  confidontes, 
para  arregimentarem  forças  e  iniciarem  o  movimento,  a  Beuto 
Babia,  para  receber  nas  íestai  da  Coroaçào  o  titulo  de  Visconde 
de  Sarapuhi. 

Anti-s  de  contiimar  devo  referir  uma  anecdota,  para  ameni- 
zar tã«  longa  ejcposiçAo.  Quando  os  eonspiradoreâ  tratavam  de 
(aliciar  votos  favoí^aveis  ao  projecto^  procuravam  convei^cer  de 
que  o  fim  do  Club  era  — sustentar  a  monarquia  amcaçorfa— como 
constava  de  seus  estatutos. 

Quando  se  e^iforçavam  de  convencer  ao  senador  Manoel  de 
Carvalho,  este,  afinal.se  manifestou  nos  seguintes  terraf»«; 

c  Muitas  revoluções  contra  os  reis  o  povo  tem  feito,  mas 
a  favor  do  rei,  só  vocês  a  querem  fazer — tddnvía  os  acompá' 
nbarei  » . 


Em  7  de  maio  de  18 iO,  ao  ser  apresnntado  na  Camará  Jot 
DeputadoA  o  projecto  de  resposta  Á  fala  do  tronOj  foi  nolle  in- 
cluído o  seguinte  to|ãco— e  vendo  com  prazer  aproximar- se  a 
maioridade  de  V.    M,  f.,  ansegura  etc 

Iniciando-»e  a  diícussâo  do  voto  de  graças,  Honório  Her- 
meto,  na  sessão  de  12  de  março,  apresputou   a  Kegutnte  emenda  t 

«  Supprimam-se  as  palavra* — sobre  a  qual  tem  V,  M.  1 
grande  interesse  pela  natureza  e  pela  Lei,  e  vendo  com  prazer 
aproximar-»e  a  maioridade  de  V.  M.  L  *. 


—  480  — 

No  d  ta  &€guiiit6  ao  da  apregentaç&o  à^st^  emenda  na  Ca- 
mara,  Hollanda,  de  acordo  com  o  que  bavta  sido  resolvido  nas 
reuniões  secretas    do    Clab    MaíorUta,    justificou    oo   Senado   oa 

dous  seguintes  projectos 

l.**     Â  Asfembléa  Geral  Legislativa  decreta: 

Artigo  único,  O  «r.  d.  Pedro  II,  Imperador  eoniti- 
tucionsl  6  defensor  perpetuo  do  Brasil,  é  decíareido  maior 
de^de  já, 

PíAço  do  Senado,  13  de  maio  de  1840. 

Antijfnkj  Fríincisco  de  Paula  CaixãcunU  dê  Albuquerque, 
José  Marti niatiú  dt  Aténcar,  FraneinCfí  de  Paula  Cavalcanti  de 
Albuquerque,  José  BenUy  Leite  Ferreira  áe  Mello^  António  Pedro 
dUi  CoAía  ferreira,  Matir^d  fgjíacio  de  Méíiú  e  Souêa, 

2*    A  Aasembléa  Legislativa  decreta; 

Artigo  uuico.  Logo  que  o  ar.  d  Pedro  II  for  declarado 
maior  Domeará  um  conselho  que  «e  denominará  Conselbo  Pri- 
vado da  Coroa,  composto  de  dez  membroã  que  terão  os  meemos 
ordenados  que  tinbam  oâ  antig:os  conselheiros  de  Estado. 

Paço  do  Senil  do,    13  de  maio  de  1840. 

Ântonifj  F^ranciseo  de  Paula  Cavaicanti  de  Albuquerque^ 
Joné  Martíníano  de  Alencar,  Franciftco  de  Paula  Cavalcanti  de 
Albuquerque,  Jofé  Bentt?  Leite  Ferreira  de  Mello,  Ântõnm  Pedro 
da  Coêia  Ferreira,  Manoel  Ignacio  de  Mello  e  Sattsa. 

Justificando  o  primeiro  desses  projectos,  declarou  Hollanda, 
que  retardara  aquelta  apresentação  por  doig  motivofi :  1.^  pelo 
respeito  qaa  votava  n  todos  os  artíg^os  da  Coiistituiçào,  ainda 
mesmo  Hm  que  por  sua  natureza  uào  eram  reputados  coubtitu- 
cionftes ;  3,°   pela  oportunidade. 

Áffirmava  que  q  Imperador  se  achava  com  tada»  as  faculda- 
des desenvnlvidrts,  pelo  que,  tendo  em  consideração  a  convenien-» 
cia  do  momento,  uro  hesitava  em  declarar  que  era  de  uece^êi- 
dade  dispt^nsur-Ãft  um  artigo  que  nA.o  era  consiituciMiaL 

Quanto  ai>  seg^undo  projecto,  declarou  que  seu  desí^jo  era 
trazer  aã  cousas  ao  e^tad"  normal,  sem  o  que  nào  haveria  a 
estabilidade  nmbicionada,  peto  que  julg^&va  coTiveoiente  acompa* 
nbar  o  primeiro  projecto  de  outro  que  lhe  era  análogo. 

Devo  noí«r  duna  circunstancias  que  demonstram  que  o  in- 
teresKO  politico  era  antpprsto  á  coHerencia  e  aos  princípios. 
HoUanda,  no  annr>  anterior  em  dt^sacordo  com  o  g-  Ipe  de  estado 
que  premeditou  em  lâS5,  combatera  o  projecto  que  declaraT* 
maior  a  princesa  d.  Jauuaria,  para  em  40  coltocar-se  a  frente 
de  um  movimento  maioria  ta,  que,  como  os  outros,  a  t  tentava  con- 
tra disposições  conitituoionaes. 


—  48t  — 

K«llo  e  Sonfta,  nm  doe  aig^nfitanâg  do  proj^to,  tAm1:>em 
em  18ã8,  q&  aasembléa  proYinciaí  de  Minas  6eráe«^  eoni^iderava 
conípiradorv  o6  que  pretendiam  profanar  a  Conatitaição»  E'  certo 
t^tiB  naquella  occasiAo  a  idéa  n&o  podia  aproyeitar  a  aeu 
partido. 

à  ftup  prés  silo  do  Conselho  de  E«tadO|  fora  um  do^  mais  pre- 
ciosos lerniras  da  eacola  liberal,  qtie  aquelle  partido  fez  vingar 
tto  Acto  Ãddicional.  Os  conspiradores  de  1840,  porém,  nào  tre- 
pidaram romper  com  os  principios  cnrdeae*  da  sua  escola,  resta- 
belecendo o  meimo  Conselho  do  Estado,  com  o  uom*í  de^Con- 
selho  Privado  da  Coroa, — Tribnnal  doa  Dez  de  Veneza,  como  foi 
na  época  desig^nado. 

Á  opinião  publica,  sempre  cnrioia,  procurou  devaesar  qual  o 
motivo  que  determinara  a  apresentação  em  separado  dos  dois 
projecroa— o  da  maioridade  e  o  do  Conselho  Privado. 

Os  conjurados  guardaram  a  respeito  a  mais  absoluta  reserva, 
e  como  vimoB^  nem  mesmo  das  actas  coaatam  as  razoes  que  de- 
terminaram a  separação ;  só  depois  de  decorridos  muitoa  annos 
foi  desvendado  o  motivo. 

Alg'an?  dos  confidentes  do  ramo  temporário,  colie rentes  com 
08  principios  que  haviam  suptentado  no  parlamento  e  na  im- 
prensa, consideravam  victoria  impintante  da  escola  liberal,  a 
disp(tsi^'âo  coíitiía  no  artigo  32  do  Acto  Ãddicionali  que  auppri- 
mira  o  Cotiselbo  dn  Estado. 

Ãcred  iravam  que,  com  aqnetla  mt^dida,  ficava  anual  lado  o 
poder  moderador,  crest-endo  de  preàtiiTio  o  elem**nto  popular,  re- 
preaenrado  pela  Camará,  o  que  ftioilitaria  a  adopi^ào  das  refor- 
mas que  fossem  reclamadas  pflla  opiniãíi  publií*a. 

Seja  ditQ  que  a  dÍHfiíiaiçào  do  artí^ço  *ó2  nào  havia  sido 
applaudida  tão  somente  peli*s  membro*  da  escoU  libend. 

Carneiro  Leílo,  apoiado  por  prestantes  correi' pio narios  com- 
pirava  aqueiía  in^fiiii  à«i  mo  Con  elho  Hos  D*'Z  de  Vene^ia.  e 
ct*litírute  <Min  -<m  antigi  M|tiu  ao,  quilifiiíou  dn  mftnHÍrQ  n  pm- 
jVcto  de  HtlUnda  cr^-md-i  o  Cni-eMio  Pnvado,  ílfcl:*i>indn  qUH 
m**lhor  Qorae  i»*ría.  se  o  den -ininH^Aem  Con^ejbo  d«  luqiiisi- 
fiores , 

O*  unfidB  íte-*.  I  «  que*'!  !in  .'Uii-lo'  i"i)ht^r<^i!cííi  tom  í>s  prío- 
rifvioí*  quH  Jã  h  Viam  -u^t*nit  do  »^m  lBi4  na  reunido  m  re'a  da 
12  de  main,  r<-cusapH«n  &e.  a  aci-eitar  <»  pr»Jt-cto  qu^  h'ivi/i  sido 
1  [trovado  na  Hes*illo  anterior,  restabelecendo  o  Con  sei  ho  de  Estado 
ambora  masi^arado  com  outro  nome, 

Ottoni  e  Marinho  declararara-se  intransig-í^utes  neste  ponto, 
pulo  que  tornou-se  n6't*8sarÍo  ceder,  sem  o  que  o  projecto  da 
maioridade  morreria  autes  de  na^  *er. 

Para  jioierem  contar  coru  o  afmio  d»q<ií*ll**8  dou<*  de|iutí*doB, 
OB  já  tinhitu  clieutiVlu  importHote,  tianti«;iram  os  proecrts  do 
en&dOf  e  para  esse  Hm  dividiram  o  projecto  i    o  da  maioridade 


—  482  -^ 

serift  questão  fechada,  para  es  coo  €  dentes^  o  do  Con&ellio  Pri- 
vado, questão  aberta,  como  hoje  se  de&ig-ua  n&  gíria  parlamentar. 

Transcrevemos  o  projecto  primitivo  organizado  por  Alencar. 
A  aua  simplefi  leitura  deixa  bem  claro  que  outro  era  o  âto  se- 
creto doa  conjurados. 

Artigo  1,''  Fica  concedido  um  «upprimento  de  idade  a  S. 
M.  o  Imperador  o  sr,  d,  Pedro  II.  actual  Imperador  e  defensor 
perpetuo  do  Brasil»  para  que  coiaece  a  governar  desde  já- 

Ártifço  2."  Durante  o  tempo  que  decorrer,  até  B.  M.  eom- 
pletar  21  annos,  e  mesmo  depois»  se  elle  o  julgar  conveniente, 
a  verá  um  conselho  de  Eatado,  composto  de  um  individuo,  por 
cada  Provincia  do  Império,  nomeado  pelo  Imperador,  dentre  oa 
cidadãos  brasileiros,  que  tenham  as  qualidades  exigidas  para  &e* 
nador,  ou  que  tenham  natcido^  residido,  ou  occupado  emprego 
de  consideração  na  respectiva  provincia. 

Artigo  S."  Oa  memhroa  deste  Conselho  terSo  as  mesmas 
attribuíções  e  ordenados  que  tinham  os  antigos  ConaelheiroB  de 
Estado,  e  serão  sujeitos  á  mesma  responsabilidade  pelos  conse- 
lhos quando  oppostoã  ás  leis,  ou  manifestamente  contrários  aos 
inter  lassas  da  Nação. 

Artig-o  4.'  A  dotação  de  S.  M.  o  Imperador,  fica  fixada  em 
600  contos,  a  contar  do  dia  em  que  tomar  as  rédeas  dn  go%*emo. 

Ãrtig-o  b^  Ficam  rovog^adas  todas  a&  leis  e  di&potiçÕe«  em 
contrario. 

Corao  se  vê,  Alencar  era  um  politico  intemerato. 

O  supprimento  de  idade,  que  elle  queria  dar  ao  Imperador^ 
tinha  apenas  por  fím  impedir  que  a  minoridade  se  terminasse 
no  prazo  constitucional^  isto  é^  em  1B43,  mas  ex:tendel-a  até 
I8I65  porque  s6  entáo  ficaria  o  Imperador  livre  da  tutela,  do 
Conselho  de  Estade,  que  lhe  tra  imposta  até  completar  21  annos. 

Se  Honório  qualificou  de  momtro  o  projecto  apresentado  ao 
Senado  por  Hollanda,  qual  a  qualificação  que  daria,  se  }H>r  ven 
tura  fossem  adoptadas  as  ídéas  de  Alencar  ? 

»    »     * 

Ou  para  embaraçar  o  projecto  apresentado  no  Senado,  ou 
para  impedir  que  se  attentasse  contra  a  Constituição  do  Impe- 
rio,  Ilonono  Ilermetto,  em  18  de  maio  de  1B40,  apreif^nta  na 
Camará  o  seíruinte  projecto ; 

A  assembléa  geral  leg^islativa  decreta  ; 

Artigo  único.  Os  eleitores  pBra  deputados  na  segninte  le- 
g  islã  tura  lhes  conferirás  nas  procurações  especial  faculdade  para 
reformar  o  artigo  121  da  Cotiatituiçào,  para  que  S.  M  o  Imperador 
actual,  o  sr.  d.  Pedro  II,  possa  ser  declarado  maior  antes  da 
idade  de  18  annos  completos. 

Paço  da  Camará  dos  Deputados,  18  de  maio  de  1840. 

Honório  Mermtiio  Carneiro  Leão, 


—  483  -^ 

Em  sua  sustentação,  declara  que  o  apraMnta  para  que  I6 
aprPBse  a  mainr  dadf^,  vi^to  e.iit^^ndtT  qa^  o  a  ti^r»  12 L  d.*  Conati' 
taição  é  eiíãstitaci -ml,  nàa  podendo,  porturitti,  ser  rt-v- g  ào 
Bt^nÈ^i  p^|i»s  tr^mueg  iet^iias  f-sTAbt^lf^uid^^H  nB,  ('ontttituiç&o. 

R*foniiif  o  Hft  g-n  pí>r  Ifti  ordinária  seria  í'0'íio  miH  um  r«- 
curso  á  fiirça,  un  i^>d(iií  d^  BStad  ,  uinH  rev-^iuçâ  «ep-^rtiése  do 
povo. 

Poderia  ter  juanficaio  si  o  g'»veriii*  "at^veaífl  acéfalo,  ma», 
existindo  governo,  só  aervirííi  para  fazer  resuBcitar  o»  gabinetes 
secreiot  e  aa  antigas  camarilhas. 

CoDcluiado  a  justificação  do  projecto,  declarou  Honório,  que 
contava  para  elle  om  n  voto  de  maitoa  adver^aríofl  que,  em  1836, 
consideraram  conspiradores  oa  que  quiseram  dispensar  a  idade 
da  princesa  d.  Januaria. 

Tendo  «ido  apoiado  o  projecto,  declarou  o  Preaidentej  que 
£caria  sobre  a  meaa,  para  seguir  a  marcha  seguida  pela  Coueti- 
tutçâo. 

Oppoe-se  a  essa  deliberação  Montezuma,  um  dos  conjura- 
dos ^  sustentando  que,  como  era  de  praxe,  o  projecto  deveria  ser 
«aviado  ás  commissões  respectivas^  e  não  fícar  sobre  a  mesa. 

O  Presidente  mantém  sua  decisivo,  declarando  que  os  pro- 
jectos, propottdo  reforma  de  um  artigo  constitucional,  tem  de  se- 
guir a  marcha  eatabelecitia  na  própria  Constituiçào— ficaria  sobre 
a  mesa,  para  ser  lido  por  tre*  vezee,  com  o  intervallo  de  6  diae, 
de  uma  a  outra  leitura, 


No  dia  20  de  maio,  entra  em  1.^  díieusdão  no  Senado  o 
projecto  do  Club,  para  o  fim  de  declarar  maior  o  Imperadori 
desde  já* 

Estabelecesse  no  recinto  profundo  silencio, 

O  Marquez  de  Paranaguá,  que  se  recusara  a  assignar  o 
projecto,  mas  que  promettera  apoial-o,  espera  longo  tempo,  e 
veodo  que  nenbam  seu-idor  queria  falar — exclama:  «se  nSo  há 
quem  queira  a  palavra  para  falar  sobre  o  projecto,  falarei  eu», 
e,  abandonando  a  cadeira  presidencial,  vem  declarar  que  o  Im- 
perador estava  a  completar  15  annos,  e  que,  Bobrando-lbe  intel- 
ligencia,  tratava-se  de  supprir  por  lei  a  falta  dos  troa  annos 
para  completar  a  idade  ordinária  declarada  em  um  artigo  da 
Oonstituiçào.  Qtie  ní^o  julgava  constitucional  o  artigo,  e  como 
lhe  parecia  que  a  naçáo  reclamava  aquella  medida,  vinha 
dar  o  seu  voto  para  que  o  projecto  fosse  ã2.*  discussão,  porque, 
«eu do  sua  matéria  importante,  necessitava  que  fosse  discutido 
com  a  caimn  necessária. 

O  rçciamo  da  Nação^  a  qtie  alludia  o  velho  Froeideute  dp 
penado,  ai  a  da  não  existia. 


—  484  — 

O  Club  conspirador  rouníu-se  peU  1.*  ve?  em  15  d©    abril 

— o  projecto  só  tornou-Be  conhecido  em  13  de  maio,  ao  ser 
apreientado  á  camará  vitalícia 

Entrando  em  discus&ão  no  dia  20  de  maio,  era  completa- 
mente ignorado  nas  provinciíis. 

O  diecurso  do  Paranaguá  foi  ou7Ído,  eer  ter  recebido  uma 
tinica  manifestação  favorável  ou  deafavoravel— e,  pairando -se  á 
votaç&o,  foi  este  o  reBultado  : 

A  favor:— Para  na  goi  A,  8.  Jofto  da  Palma,  La^s,  Verp^ueiro, 
Hollanda,  Paulw  Albuquerque,  Almeida  Albuquerque,  Pauía  Ca- 
valcanti, Cogta  Ferreira,  Alencar,  José  BentOj  Mello  e  SouFa, 
Jardim,  Saturnino,  Paes  de  Andrade  e  Lima  e  Silva, 

Contra  :— Lopes  Gama,  Aranjo  Vianna,  Maricá,  Pedra  Bran- 
ca, Coug-onbas,  AWefl  Branco,  Velaaques,  Cunha  Vasconcellfi», 
Oliveira^  Paraíso.  Mello  Matos,  Joào  Evangelista,  Nabuco,  An- 
tónio Âuçu&to,  Patrício,  Rodrig-ues  de  Andrade,  Marcof  António  e 
Carneiro  de  Campos. 

Foi  rejeitado  por  18  votos,  nfto  tendo  cotado  Vasccncellos 
e  d.   Nuno,  que  eram  contrários. 

Paranaguá  empreg-ou  todos  os  esforços  para  que  o&o  eahisse 
o  projecto  na  1.*  di&cu^silo,  incluâive  não  voltando  a  occupar  a 
cadeira  presidenciali  para  aproveitar  seu  voto  e  inutilizar  o  do 
Víee  Presidente,  Conde  de  Valença,  que  era  c^intrario» 

Noi-se  mesmo  dia,  em  que  o  Senstdo,  sem  discudr  repellia  o 
projecto  da  maioridadn,  Sonsa  Franco,  requeria  na  Gamara  o 
encerramento  da  discussfio  do  voto  de  graçnsi,  sendo  em  seguida 
acceita  por  43  vttos  contra  37,  a  emenda  de  Honório  suppri- 
mindo  o  periodo — e  vendo  com  prater  aproximar -se  a  maior- 
idade (U  F.  M.  L: 

Estava  morta  a  maioridade — sem  que  tivei-se  se  dado  a  me- 
nor manifeátaçào  popular,  íavoravel  ou  desfavorável  ao  projecto, 

A  repulsa  do  Senado,  porénr,,  nào  deixou  de  arraiKAr  um 
protestri  veb emente  de  Feijó. 

De  Cain pilhas,  onde  se  achava,  em  8  de  junho  escrevia  ellô 
o  precioso  autografo  que  passo  a  ler^  cuja  minuciosa  direcç&o 
era  a  seguinte: 

Rd."*"  Sr.  Cónego 
Vigário,  Senador  e  Padre  José  Bento  Leite  Ferreira   de    Mello, 

A  D.- 

Corte, 
José  Bento. 

Álêra  de  outras,  já  vos  escrevi  desta  partecipando  vrb  de 
m.*  mudansa  e  pediudo-voa  ate  Tbro.  me  aprciitaíe^  1  conto  e 
700,  e  tantos  mil  reis  p  *  uUimíir  o  pa£:aniento  do  sitio  que 
comprei  por  B  contos,  e  800  milr'  a  vi&ta.  Ora  esta  quantia  é  o 
premio,  e  mais  6Q0|  do  vosso  credito,  âcando   devendo  somente 


-  485  - 

6  contos  e  eu  vos  oferecia  por  este  favor  o  ficarem  os  p/*'  4 
coiitoá  a  10  r/  c  lacrftndo  assim  vós  aonualmentA  80^^  %  como 
íiào  tive  aiiioA  rei^poata  e  isto  importa  a  cu  ficar  mal,  por  iao 
tomo  a  pedírvos  este  favor,  e  que  me  respondais  &o  poso  coutar 
com  esa  quantia  te  7 faro  p.*  asim  a&tígurar  a  q.""  me  empreitou 
igual   para  o  dito  pagamento  do  Bitio. 

Emfim  o  Seoad»  íttim  contrariar  matou  o  projecto  da  maio- 
ridade. Nada  á  tào  miserável  como  ese  Senado^  vil  escravo  d» 
quem  quer  que  poveme,  o  o  quiser  aliciari  D*  me  livre  delie, 
ainda  que  uao  ãim  9  mil  crufladoa,  q  p*  o  ano  os  vou  ganhar. 
A  D,'  Saud'  a  João  Diaii  e  dise  a  Alencar  e  Oianda  que  lhes 
escrevi  em  Abril,  e  nâo  sei  se  receberàOj  que  vos  digào  ao  menos. 
3.  Carlos  3  de  Junho  de  1Ô40. 

DevOBo  am."  o  br"  S/ 
Feijó, 

Quando  Plutarchn^  o  grande  historiador  grego,  escreveu  as 
Vidas  Comparadas,  esse  precioso  livro  que  tem  inspirado  a  tantoi 
geuios,  esmera va-âe  em  descrever  uão  eo  o»  acto»  grandiosos  dos 
leiu  persouagenB,  crímo  taTribem  referir  anecdotas  e  factos  Ín- 
timos para  que  o  historiador  tiçess©  no  futuro  elemeutosj  para 
conhfcer  a  fundo  o  caracter  grandioso  de  César,  taulo  Emilio, 
Fabioi  Tibério  e  Caio  Gracho,  a  par  da  avareza  dos  Crasaus  e 
da  tjramnia  sanguinária  dos  Neros,  dos  Syllas  e  doa  Galba. 

O  precioso  autografo  que  se  acabo  de  ler  —  documento  in- 
tima, é  de  grande  yalor  hl&torico  porque  conârma  o  juízo  que 
os  contemporâneos  traçaram  de   Feijó. 

Quando  aqnelle  homem  superior  se  deixava  dominar  pelo 
ódio  pessoal  ou  politico,  deBappa''eciain  muitas  de  suas  grandes 
qualidades,  para  se  tornar  i rasei vel^  injusto  e  violento,  como  o 
era  apostrufaiido  o  Seoado  de  vil  escravo  de  qualquer  governo 
que  o  quizesse  ali i ciar,  só  por  que  aquella  corporação  votara 
ooutra  o  projecto  politico  da  Maioridade,  patrocinado  por  seus 
amigos  peasoaes. 

Esquecia  se  que  a  que  lie  mesmo  Senado  repeli  ira  com  so  - 
hrauceria  as  imposições  dos  Regentes  e  do  gabinete,  não  rati- 
ficando a  demiss&o  de  José  Bouifacio,  o  Tutor,  projecto,  que 
Feijó,  ministro  de  justiça,  havia  feito  vingar,  impondo-o  á  Ca- 
mará temporária. 

For  outro  lado,  aquelle  precioBo  autografo  vem  ainda  con* 
firmar  a  justiça  da  tradição. 

Nem  o  ódio,  nem  a  irat^cibilidade  conseguiram  uma  só  vez 
desviai  o  do   seu  culto  á  probidade. 

Moço,  occupara  as  mais  elevadas  posições  politicaa  no  velho 
e  no  novo  mundo;  já  velho,  governava  um  novo  Império  em 
novo  continente,  e  ao  deitar  o  governo,  doente  e  alquebrado, 
para  Tião  ficar  'tnalt  u&o  se  envergonhando  da  sua  honrada  po> 
bieza,  ia  pedir  por  empréstimo,  ridicula  quantia,  para  poder  com- 


^  4á6  — 

fílet&r  o  pagamento  dA  moáestA   propriedade   agrícola   qua   ete^^ 
hera  para  descançar  da  a  fadigas   de  tontos  annoe    de   e  enriça   á 
cauea  publica. 

No  meio  daa  latas,  muitãB  vezea  por  elle  próprio  provocadas, 
das  ofieasas  e  das  injuBttçag,  seus  adyersaríiB  políticos  e  seu  a 
inimigos  peesoaea  curvaram  se  sempre  diante  da  ri g ida  probidade 
do  paulista  notável ,  que,  ao  abandonar  as  altas  posições  tranepoz 
em  honrada  pobreza,  os  umbraes  da  Im mortalidade. 


Na  noite  de  20  de  maio  de  1840  realizar am-Be  no  Rio  duas 
reuniões  politicaSi  nas  quaes  foram  aventados  e  previstos  acon- 
tecimentoa  que  vieram  a  ie  realizar. 

Os  maiorifitas,  reunidos  na  casa  do  senador  padre  José 
Bento  Leite  Ferreira  de  Mello,  achavam -se  completamente  det^ani* 
mados  ^om  as  votações  do  Senado  e  da  Gamara  doe  Deputados ; 
aquella  rejeitando  u  projecto  da  maioridade  na  1.*  discussão  e 
em  silencio — esta,  supprimlndo  do  projecto  de  resposta  á  tala 
do  trono  as  palavras  «e  vendo  com  prazer  aproscimar-se  a  maio- 
ridade d&  7*  M.  X* 

Nessa  reuoi&o,  diversos  alvitres  foram  lembrados,  e  logo 
afastados  pela^  dificuldades  de  execução. 

Montezumãf  calladot  ouvira  todos  os  pareceres,  até  que  afinal 
rompendo  o  silencio,  começou  a  emittir  seti  pensamento,  de  modo 
que  ao  começo  não  foi  tomado  a  serio  pelos  maio  ris  tas  prei- entes. 

Foram  estas  as  suas  primeiras  palavras :  «Está  vencedora  a 
idéa  da  maioridade. .... 

Em  segalda,  deu  as  razoes  de  seu  modo  de  pensar,  que  a 
tradição  não  noB  tranamittiu. 

Na  mesma  hora  talvez,  g-ratide  numero  de  amii^os  do  go- 
verno e  alguns  tuinistros,  se  achavam  em  casa  de  Vasconcellot» 
no  MacucD. 

O  quadro  era  o  pendant  do  que  se  passava  na  reunião  do 
senador  José  Bento,  enthusiasmo,  alegra  pela  rejeição  do  pro^ 
jecto  no  Senado  ©  adopção  na  Camará  da  emenda  suppressiva 
de  Honório. 

Vasconcellos  ouvia  a  descripção  doa  acontecimentos,  sem 
sobre  ellee  se  manifeàtar,  até  que,  instado  por  Paulino  Soares 
de  Sousa,  limítou-se  a  dar  um  conselho  ao  governo. 

Julgava  extemporâneo  o  contentnxnpnto  de  seus  amigost  por 
que  a  batalha  se  achava  apenas  inii-iada,  e  que  a  derri.tH  appa- 
rHute  qae  os  m^ioristaa  haviam  soãVido  nao  importava  no  ani- 
quilamt^nto  da  ideia  Acreditava  que  a  matéria  seria  novamente 
levada  á  Gamara,  já  então    amparada  por  uma   opinião  populaTi 

3ue  os  interessados  procurariam  organizar,  para  agir  no  theatro 
os  acontecimentos. 


—  4Ô7  — 

Vidente  a  prespicas,  ftconaelliou  a  «em  amigoi  quâ  te  apro- 
TeiUflsem  do  momento  de  de  a  Animo  doB  ndverfiarios,  e  adi  a»  Bem 
imioed latamente  as  camaraa.  Ã  sen  ver  era  esia  a  única  medida 
decisiva  para  impedir  que  o  partido  adverso  tentasse  renovar 
por  qualquer  forma  o  golpe  de  estado,  que  acabava  de  ser 
friis trado»  6  que  ueceasaríameute  o  levaria  ao  poder  ie  victorioso. 

Adiadas  as  camaraSi  podia  o  governo  tranquillamente  pro- 
videnciar para  que  o  Imperador  fosse  accl amado  em  2  de  de- 
zembro, como  já  havia  reaolvidú  o  ministério,  e  continuar  no 
poder  a  situai^  dominante. 

Ou  por  não  terem  se  convencido  da  opinião  de  VaacoDcellos, 
ou  porque  sen  tia- se  o  ministério  fraco  pelos  ataques  peasoaea 
que  havia  soffrido,  receioao  talvez  de  não  encontrar  no  Regente 
o  apoio  e  a  força  moral,  tão  necessária  para  impor  sua  vontade 
ao  pais,  não  foi  seguido  o  eouaelUo  do  preclaro  estadista. 

A  cftlroa  que  succedeu  ao  movimento  parlamentar,  parecia 
demonstrar  que  havia  sido  abandonada  a  idéa  da  maioridade, 
o  socego,  poreis,  era  apparentBi  porqnanto  em  reuniões  secretas 
successiva^,  estuda  va-se  o  melo  de  reviver  a  questào  na  assem - 
biéa,  tal  como  previra  Vasconcellos. 

£Im  3  de  julho,  14  dias  depois  dos  acontecimentos  descriptos 
Alvares  Machado  reviveu  a  questão  na  Camará  encarando-a  por 
uma  outra  face. 

Disse  aquelle  conhecido  paulista: 

*Nào  podemoa  nos  retirar  para  uossaa  províncias,  deisando 
no  poder  um  govbríco  illegal.  Se  tem  de  aer  sccintemente 
demorado  o  governo  do  sr.  d.  Pedro  II,  entregue-&e  a  suprema 
administração,  a  quem  compete  pela  Conãtítuiçào. 

c  Constituição  no  art.  126,  diz;  Se  o  Imperador,  por  causa 
ph^síea  ou  moral,  evidentemente  reconhecida  por  cada  uma  das 
Camarás  da  Assem bléa,  è>e  impossibilitar  para  governar,  em  seu 
logâr,  governará  como  Regente,  o  Príncipe  Imperial,  se  fôr 
maíoT  de  18  annos  Â  sra.  d.  Jauuaria  é  a  Princesa  Imperial, 
a  herdeira  presumptiva  da  Coroa,  já  a  reconhecemos,  já  rece- 
bemos o  sen  juramento^  já  é  maior  de  18  annos^  e  por  isso, 
desde  o  dia  em  que  completou  essa  idade,  lhe  devíão  ser  en- 
treguei a&  rédeas  do  poder». 

Como  se  vê,  embora  a  disposição  constitucional  fosse  mui 
diversa,  com  ella  se  argumentava,  para  pôr  de  lado  a  maioridade 
do  Imperador. 

As  disposições  dos  arts.  122  e  126  da  Constituição  não 
podiam  ser  invocadas  para  dar  substituto  ao  Imperador.  A  Consti- 
tuição falada  em  impossiòiluimU  pvsica  ou  moral,  uão  se  podia 
portanto  applicar  aquellaa  hjpotheaes  á  minoridadej  porque  esta 
nào  importava  em  impossibilidade)  de  governar. 


-  m  - 

o  ataque,  porém,  á  regência  acoimando-a  de  governo  ilUgcd 
prodaziu  offeito,   tomando -a   múm  mai&  fraca    e  desmorfllizada^ 

Apressou-se  Hcmoiio  a  rfqtuírf-r  para  que  trese  díidtí  para  a 
ordem  do  dia  o  prujecto  que  apiesetiinra^Hia reformar  ouit.  TJl 
da  Lori^ituiç^o. 

D*ju-&e  a  respeito  discu^afto  impoTtflnti»PÍmflj  na  qual  to- 
maram parte,  austeutaiido  o  projecte  e  retítmhecendo  a  consti- 
tucionalidade do  art.  14  os  deputados  Anj^elo  Custodio,  Carneiro 
da  tunlia,  Nanes  Machado,  H(  rionti,  Ferreira  Penna  e  Soma 
Franco,  sf^ndo  até  hoj©  couaiderados  ineãpoiídiveis  y  elos  me&treu 
de  direito  con**titucií>nal  os  diacursOB  doe  dois  uliiinoR, 

Alvares  Machado,  Limpo,  AntoDío  Carlos,  Montez  um  a,  Martim 
e  outros  miiEutt>Btar»n]-»e  sust^utiindo,  nào  @er  necessária  a  re- 
forma  do  art.  121,  por  uào  ser  couítitucíoijal  Continuavam 
calma»,  iiitcrei-iatttes  e  doutrinarias  as  discustôea,  quando  coube 
a  Ottoiíi  faiar  sobre  a  matéria. 

Com  grande  hombridade  declarou  que  nâo  procurava  Kitb- 
terfu^j^ios— reconhecia  que  o  artifro  era  cotsstitucional,  mas  vo- 
tava contra  o  projecto  de  Honório,  porque  entendia  que  ci- 
tando agitada  a  opiniílo  publica,  o  representante  da  naç&o  devia 
attRoder  á  necessidade  do  mom-^nto,  e  depois  explicar  seu  pro- 
cedimento ao  corpo  eleitoral  e  pedir  lhe  um  biU  de   indemnidnde. 

Accrest-eutou  mai^  que  a  lei  seria  desnecessária,  porquanto 
tendo  naquelb-  momento  o  Senado  votado  contra  o  prujecio  que 
espaçava  as  eleições,  nfio  haveria  mais  tempo  de  chr^gar  o  eeu 
conhecimento  aoa  lunginquos  limites  do  paia,  antefi  da  epoea 
legal  das  eleições. 

Em  oufubro  de  1839,  Carneiro  da  Cunha  havia  apreten- 
tado  um  projecto  adiando  as  eleiçòes  para  184  L 

Eâie  projeeto  foi  discutido  cm  maio  de  1841^,  6  nesBa  occa^ 
bISo  foi  requerido  o  adiamento  da  discussão,  tendo  Hínorio  se 
opposto  a  essa  requerimento,  deroouBtrando  que  dessa  medida 
dependia  o  seu  prrjec to  da  reforma  constitucional  da  maioridade. 

Tendo  sido  repetlido  o  requerimento  de  adiamento,  foi  o 
projecto  votado,  e  remettido  ao  Senado,  que  o  rejeitou  no  dia 
11  de  julho^  justamente  quando  orava  Ottoni. 

Tendo  alguém  lhe  dado  a  notícia,  a  provei  tou-ee  elle  caino 
argumento  para  demonstrar  que  o  projecto  de  Honório,  nào  tinha 
mais  razão  de  ser. 

Respondendo  ao  diacurao  de  Ottoni,  Honório  Èustentou  que 
o  art  121  era  constitucional,  e  porque  era  o  primeiro  a  reco- 
nhecer que  os  governos  regenciaes  eram  fracos  e  turbulento», 
foi  que  recorreu  a  um  meio,  que  sem  ofíender  a  ConstituiçÃo, 
conciliasse  amb&s  as  cousas^  para  nào  provocar  commoçòea  po- 
pulares. 

Affirmou  que  era  doutrinário,  mas  não  a  tal  ponto  que  o 
levaaae  a  deseonhecer  que  existem  circumstoncias  que  a  lei  não 
pode  prever. 


í 


Âpplaudíu  a  Ottoni,  porque,  é&  todos,  era  o  uníco  advenario 
que  *6  moÊtravft  forte  — rompfiido  com  aft  im|>09Íçôes  partiduriíis, 
su*teiitando  qtií*  a  Camará  uko  tinh*  autoridade  parn  reCormar 
o  srtitro  121  tna»  que  vctarrí-  p^to  projecta  da  maioridade,  ftor 
que  julgava  peti^o^»  a  liitUJtçÃo  do  puiZ, 

[ncrepQU  em  seguida  a  Ai  vaies  Machado,  pelo  regresso  de 
anãs  opiniões,  vindo  a^ora  declarHr  que  uào  queria  âer  ^over^ 
nado  com  reiítinh'tií  pãun  de  laranJÉira.  Pez- lhe  ver  que 
se  o3  ministros  da  regência  podiam  í^er  fidos  como  paus  de  la 
ratijeira,  coino  taes  seriam  os  do  moiiarchitfporque  no  jiãiz  d&o 
haviam  cliisâês  privilegiadas.  Ao  concluir,  declara- se  mf/ecí^ti, 
qUAf  retirar  o  projecto. 

Estfl  declaraçào  precipita  or  acontecimentoff.  Ém  um  mo- 
mento abandona -se  a  idêa    de  dar- se    o  poder  a  d,  Januaria. 

Alvares  Macbndo,  applaudiudo  a  Honório,  suitienta.  que,  tendo 
sido  retirado  o  prfjecio,  tornava-âo  neces»«rio  declarar-s©  a  maior- 
idade do  Iinp*?rador  im-niediaU.mirnie. 

N<i  muio  daíii  opiniões  as  Tiiais  deseDCon trados,  levaiita-se 
José  Clemente  para  faait^r  notar  que  a  Caraara  uào  decidira  8e 
o  projecto  era  contei  tu  cional  ou  não,  o  que  teria  tido  muito 
conveniente* 

EuTendia,  porém,  que  uo  estado  actual,  já  nào  era  mais  pos- 
iiví*I  ©'periir-Bt^  pf*lo  tempo  conatitucioufll  para  proclamnr-ae  a 
míiioridade,  fiorque  a  opinião  a  essK  respeito  estava  f^ea**raUBa' 
da,  e  tc^ruava^se  nect^ssaría  a  exaltai çAo  de  S.  M.  o  Imperador  br.  d. 
Pedro  n  quatito  ante»,  acto  a  que  nf^o  di^ve  embaruçnr  a  dispo- 
iiç&õ  constiÈUMonal,  visto  como  tndo^  os  publicÍBtas  reconhecem 
08  frolpea  de  estado,  como  necessários  em  certas  circumstanciaa 
— e  o  eata^o  actual  o  justificava. 

Ob  mnioriatas  que  na  prirtieira  fase  se  descuidaram  de  ageitar 
%  opinião j  publica^  trataram  de  attender  âquella  necessidade  na 
segunda  tai^e. 

Os  intereítuadoi  já  se  haviam  entendido  cora  o  ardente  po« 
lemJsta,  conhecido  pelo  nome  de  Brasileiro  Resi^oluto,  e  este,  dois 
diai  antes  doa  acontecimentos  que  narramos,  fora  esperar  a  sabida 
do  Imperador  que  ba  achava  na  Capella  Imperial,  e  ao  avi^tal-o 
rompeu  em  yivae  á  maioridade,  que  foram  corres pondidoã  pelo  povo. 

Nít  mesmo  momonto.  espalhava -se  entre  os  presentes  e 
dÍ8tribuía-fte  pelaa  casas  da  rua  éo  Ouvidor  a  seguinte  quadrí- 
nha  im]iressa,  que  a  tradiçáo  conseivou,  attribuindo-a  a  Auto- 
nio  Carlos : 

Queremos  Pedro  Segundo 
Embora  nAo  tenha  idade^ 
A  NaçÃo  dispensa  a  lei 
E  viva  a  Maioridiide, 


♦    «    * 


—  490  — 

O  discurso  de  Honório,  d^clarando-Be  indedsOi  e  ae  pala- 
vras de  Jové  Clemente  deram  face  diversa    aoB    acúntecimeatõs. 

No  melo  de  idéas  a^  mais  desencontradas,  Limpo  de  Abreu 
se  compromette  a  apre^^entar  tia  se  as  Ho  d^  20  índicaçJVo  que 
satiâfaçxL  aa  vistas  da  Camará. 

Como  era  de  prever^  hh  seg-unda-feira,  20  de  julho,  a  Ga- 
mara apreseatava  um  aspecto  imponente.  Todoe  oi  deputados 
ocíupavam  suas  cadeiras,  e  os  espectadores  b©  agglomeravam  n&9 
galerias,  uas  tribunas  e  nos  corredores  do  edificio. 

Limpo  de  Abreu,  espirito  esclarecido,  porém  escessivamente 
timoratOf  receoso  do  movimento  revolucioaariot  procurou  dar  uma 
feição  constitucional  á  declaração  da  maioridade. 

Subindo  á  tribuaa,  declarou  que  poderia  apresentar  deftde 
logo  um  projecto  declarando  o  Imperador  maior,  mas  que  preferia 
adoptar  a  medida  que  em  iden tinias  cÍTCUrnstancías  vencera  nas 
Gamaras  Portuguesas,  quando  se  tratou  da  maioridade  de  d. 
Maria  II,  pelo  que  apredeutava  a  seguia  te  iadicaçAo: 

Indico  que  ee  uomee  uma  commiasão  especial,  com* 
poBta  de  trea  mtjmbroa,  para  se  offerecer  á  Gamara,  com 
urg-encía,  a  medida  que  lhe  parecer  mais  conveniente, 
lobre  a  maioridade  de  S,  M,  o  Imperador,  o  ir.  d, 
Pedro  IL 

O  deputado,  A,  P«  Limpo  de  Abreu » 


Bompeu  o  debate  o  deputado  Galv&o,  oppondo-se  &  indica-- 
çâo  por  inútil  e  prejudicial.  Inútil,  porque  a  discussão  havida 
era  mais  que  mifficíente  para  que  cada  um  tivesse  juizo  forma- 
do—preju  a  ieial,  porqae  roçonhece  que  da  demora  da  soluçáo  re- 
sultaria grandti  mal  ao  paiz,  Affirmou  que  se  o  tivessem  eonsnU 
tado  qnando  a  três  meses  passados  levantaram  a  idéa,  teria  se 
oppoí^to,  porque  reconhecia  que  o  artigo,  que  fiia  o  tempo  da 
maioridade,  é  constitucional,  mas  que,  diante  da  crise  qi:e  se 
manifesta,  devia-se  correr  um  véu  sobre  o  artigo  da  Constitui- 
çAo,  porque  a  salvação  do  Estado  é  superior  a  todas  as  leis. 
Estava  dtíente,  deixou  o  leito,  veiu  á  Gamara  para  votar  contra 
a  indlcaçáo  e  ofierec»r  um  requerimento. 

Não  o  deixam  continuar  Um  deputado  pede  ao  Presiden- 
te, que  mande  abrir  a  sala  dan  sessões  aos  espectadores — apesar 
da  repulsa  desse  pedido,  o  recinto  é  invadido   pela  multidão, 

António  Carlos,  aproveitasse  da  coacç&o  em  que  haviam 
ficado  ca  espirites  titubiantea»  affit mando  que  nào  se  devia  con- 
ter ou  ferir  a  vontade  popular,  oferece  em  aditamento  á  indi- 
cação de  Limpo  de  Abreu  a  seguinte  resoluçào : 


J 


-4Í1- 

A  Atsembléa  Geral  Lfigíslatíva  do  Brasil  resolire ; 
Artigo  1/     O  fir-  á.    Pedro  II  é  declarado  maior  dcade  já. 
Artigo  2,'     Fkam  derogadas  todas  a&  leis  e  diaposiçôes  em 
contrario 

Paço  da  Gamara,  20  julho  ISiO.— Ribeiro  de  Ândrada. 

E  como  complemento,  apreseota  eeta  indicação: 

&  Indico  que  a  Commigaão  de  CoustituiçÂo  seja  eocarrpg^ada 
de  snbmetter  á  approvfição  da  Gamara  o  officio  que  se  deve  dl- 
x-ig-ir  ao  Senado,  pedindo  a  reuniào  de  ambas,  para  juntas  deli- 
lierarem  aobre  o  modo  maia  expedito  de  collocar  S.  M.  o  Imperador 
o  ar.  d.  Fedro  II  sobre  o  Treno,  e  de*ta  arte,  como  verdadeiros 
repreaentantea  da  opíui&o  publica,  porem  termo  á  crisé  actual,  e 
eatiafazerem  o  entnusia&mo  e  vontade  pronunciada  do  povo, — 
Mibtiro  de  Ândrada  ». 

Galvão,  que  se  achava  com  a  palavra,  que  lhe  fora  arreba- 
t^ada  por  António  Carlos,  quando  evA  a  sala  das  sessões  invadida 
peloB  espectadores,  consegue  enviar  á  mesa  um  requerimento 
mo»  Beguintep  termos; 

«Requeiro  que  por  acclamôçào  se  decrete  d**ide  já  a  niaioTi- 
dade  de  tí.  M.  o  sr.  d,  Pedro  2*",  imperador  constitucional  do 
B  ras  il , — Galvã  o. » 

Protesta  o  deputado  Resende  com  o  que  íie  estava  proce- 
dendo — não  quer  a  revolução  feita  pela  Camará,  e  como  quer  o 
Imperador  com  a  Constituiçào  vota  contra  tudo. 

Continua  violento  o  debate ♦  Falava  Alvarea  Macbado  quando 
o  presidente  declara  adiada  a  discuflsào  por  se  achar  na  casa  o 
xniniãtro  da  gnerrd,  que  viera  asaiâtir  á  ã.^  discussão  da  fixação 
<Ías  forç^a  de  terra. 

Ouvindo  a  declaraçlLo  do  Pregi dente,  o  deputado  Navarro,  que 
^té  então  flciimpa abava  o  grupo  contrarii»  á  maioridade,  em 
jg^ritOA  dcscompassadoB,  declara  que  o  governo  maudaríi  o  mi- 
iCiiecro  da  guerra  as^iitir  a  sesião  para  aterrorizar  os  defmtadua 
«  paralysar  o  audíimento  da  medida  salvadora  da  maiorídíide.  Á 
preaença  do  ministro  si  unificava  o  ultimo  arranco  dessa  cama- 
i-ilha  prostituída,  desse  governo  infame.,,  (perderain-se  ast  pa- 
lavras, conservada,  porém,  ficou  o  ultimo  período)  «o  paiz  nào  pode 
:KBais  ser  governado  por  semelhante  regente,  per  essa  camanlba 
«le  ladrões* . . « 

Todo  o  discurso  de  Navarro  foi  interrompido  com  apartes 
"Veliemf^Dtee  e  chamados  a  ordem. 

Avançam  «Iguiis  deputíidoa  para  Navarro,  que  arma-se  com 
Xtm  punhaL  Vae  agarral-o  o  def^utado  G.  Martins,  que  é  re- 
pellido.  Ne*Be  momento  Potin^ts  Viaíjueit o  segura- o  pelas  costas. 
Preso  por  esta  forma,  continua  Navarro  nas  suas  invectivas,  que 
^easaya  para  dar  vivas  a  d.  Pedro  2.",  á  maioridade.  Só  de- 
pois de  moito  tempo  foi  que  se  conseguiu  uma  calma    relativa. 


-  m  - 

António  Carlofl  pede  que  se  vote  a  indicação  de  Lítnpo 
d«  Abreu  como  uniijo  meio  de  cessar  o  eatado  de  perturbação 
dos  aoimos. 

Nuoea  Machado  vae  a  tribuna  para  advertir  a  N'a varro  qn© 
nem  os  gritos  oem  os  tuuuttos  farno  ctim  qui\  eUe  vole,  dirsde 
que  fle  persuada  qtie  a  Camará  quer  faaer  uma  revolução,  e  uella 
laQçar  o  lais.  Nào  reconhece  camariLbas  -  ba  governo  no  Paízt 
que  deve  «er  respeitado,  porque  nào  é  prostituído  e  t*^  compâe 
de  pegaoaa  tÂo  hoaradafi  como  elle  orador  e  qualquer  dos  deputados. 

Segae-lbe  na  rribuna  Oarneiro  Leão— censura  ob  actos  pra- 
ticado» por  Navfirro,  esperando  que  esse  deputado  ^e  cohiba  de 
taee  excesBOs  chamado  ao  pudor*  .  ^  ,  . 

Ao  que  Navarro  responde :  t Vocês  é  que  não  têm  pudor, 
depniadoa  de  meias  caras» ,    . 

Continuando,  diz  Honório  que  aqaelle  deputado  n&o  está 
em  f*Btado  de  deliberar,  e  que  dt»via  ser  examinado,  para  se  saber 
se  devia  ati  continuar,  que  aquelte  deputado  chegou  ao  excesso  de 
ameaçal-o  com  nm  punhal,  ma^  que  elle,  mercê  de  Dens,  nunca 
teve  mator  tranquilidade^  do  que  no  momento  áo  perigo — ^|X)Uco 
lucro  haveria  em  tirar  a  vida  a  um  corpo  doente    • 

O  deputa^Jo  B.  Pedrosa  tnda^a  se  o  Presidente  não  tem  no 
regimento  outros  meios  juira  manter  &  ordem^  visto  Navarro  ter 
Unçado  m&o  impuriemente  de  um  pnnhal,  e  posto  ag  màoa  em 
Gonçalves  Martins 

Dou  minucioso  detalhe  dt^sta  sessào,  porque  os  joruaes 
maiorista«  negaram  ter-j^e  Navarrij  armado  de  um  punhal — fal^im 
em  um  leaço — mas  dep^i^  das  palavras  de  Honório  e  Pedrosa, 
nenhuma  duvida  pode  perdurar.  íjó  c^m  g'rande3  difficuldades 
90  consegue  realizar  a  eleição  da  CoramiasàQ  proposta  por  Limpo 
de  Abreu,  Bendn  eleitos  Hamiro,  Gonçalves  Martins  e  Nunes 
Machada,  derrotada  a  chafja  maiorisita  que  ©ra  composta  de  Limpo 
de    Abreu,  Âureliano  e  António  Carlos. 

E  com  essa  votaçào  encerrou-se  a  sesífio^ 

Apegar  de  se  ter  formado  uma  optnifto  no  Rio  de  Janeiro 
apesa^  da  predsilo  exercida,  fazendo-se  invadir  a  Camará  por 
magotes  de  espectadores,  a  maioria  conservava -se  lirm^.  reconhe- 
ceudo  a  necessidade  de  se  reformar  o  art.  121  da  ConstitniçàOf 
para  depoii  declara t-bm  a  maioridade. 

Na  ee^são  de  21,  António  Carlos  envia  á  mesa  o  se^^nte : 

A  Assembláa  Geral  Leg-islatíva  resolve  ; 
Artig^o  naíco.     S.  M.  o  Imperador  sr.  d.  Pedro  2.*  desde  já 
é  declarado  maior. 

Ândrada  Machado. 

Falam  a  favor  :— -Alvares  Machado,  António  Carlos,  Monta- 

zuma,  Ottoni;  contra,  Dantas,  Carneiro  da  Cnnba,  Rezende,  N^une^ 
Machado,  C.  Leão,  Gonçafvos  Martins  e  aânal  RamirOi  que  apr&* 
senta  o  segõiute  requerimento  ; 


> 


—  493  - 

«A  CommUsâo  especial,  eocarreg-ada  de  offerecer  á  Camará  e 
com  urgeocia  o  qne  lhe  parecesse  conveniente  aotre  a  oiftioridade 
de  S,  M.  o  Br.  d.  Pedro  2  *,  entende  quôj  sendo  a  matéria 
de  que  tem  de  occnpar^se  flobre  todas  grave  e  ponderosa,  con- 
viria aem  duvida  aer  coadjuvada  por  uma  CommlBeão  da  Ca- 
mará vitalícia  como  em  alj^umaa  círcurnstaricias  tem  ai  do  obaer- 
T&do ;  e,  em  consequência  é  a  CoamisÉao  de  parecer  que  com  u»*- 
gpeuci^  seja  o  3eti»ao  convidado  a  nomear  de  â«u  seto  uma  CommiB- 
B&o  eapecial,  que  tenba  è*^  occupar-ae  com  a  desta  Camura  de 
um  objecto  de  máxima  importância, 

Paço  da  Camará  doa  Deputadoa,  21  de  Julho  de  1840— J?a- 
miro  Gonçalve»  Martins. — Nunes  Machado*. 

Esae  requerimento  foi  tido  como  protellatorio,  mas  é  de 
crer  que  a  com  missão  de^^ejava,  em  negocio  de  iant&  monta,  di- 
vidir a  responsabilidade  com  o  Senado. 

Além  diáBO,  pela  má  dirt^cçào^  fraqueza  do  governo,  que  m 
Acbáva  complecamente  de$moralÍ7,ado,  não  se  chegava  nem  ao 
menos  a  conhecer-ae  a  for^a  dog  trea  grupos  que  dividia  a  Camará. 
De  facto,  grande  numero  de  deputado»  votavam  pela  ma- 
ioridade, porque  entendiíiTR  que  o  art.  121  nâo  era  constitu- 
cional: outros,  como  Oitoni,  reconheciam  que  o  artigo  era 
constitticionnl,  wiaa  votavam  pela  maioridade,  por  entenderem  qae 
esfe^a  medida  era  indisfien^avel  nas  circuinstancins  em  que  te 
achava  o  paiz,  tinalniente  o  terceiro  giupo  entendia  ser  dfsue* 
çeaftftria  **  iiiconveniente  a  medida.  Sendo  tào  notável  a  diver- 
gência, bavia  conveniência  em  baruionisar-se  aE>  oi^iniôe»  para 
quei  partindo  da  Camará  aquella  medida,  repre^entaBse  a  venta- 
ae  do  paiss. 

Nào  ae  chegaado  a  acordo,  Ottoni  vem  declarar,  que  oa 
facto»  psrficem  deixar  claro  que  o  fjfovrtruti,  a^airado  ás  pastas, 
m&o  pleiteia  a  maioridade,  rnas  contenta-se  em  espaçar  aq'  ella 
itied'da,  até  que  ka  façam  as  eleigôtia.  E  como  enienrfif*  que  a 
questão  da  Tcaíoridade  se  devia  reparar  de  qualquer  outra, 
requeria  qu«  ficaií-ae  adiado  o  requer ínienTo  da  Coo  miSíào» 
para  ser  tomado  em  consideração  dtpois  de  decidida  a  questão 
da  maioridade. 

Este  requerimento  suficitA  debate  demorado  e  violento  pela 
int<*rvençào  de  Navarro,  que  aconselhava  ao  governo  a  que  «re- 
li^ a  hb«  o  poder  e  tivesse  brio*.  Falam  contra,  Toísta,  Nunes 
Machado,  Souia  Franco,  e  a  favor  Alvares  Machado, 

  iotervenç&o  das  galerias  se  manifesta  com  veliemenciai 
Ofi  gritoe  repercutem  no  salão,  torna-se  iuiposaivel  ao  Presidente 
manter  a  ordem.  Protestam  algnne  dpjmmdoe,  declarando  que  a 
revolução  deve  aer  feita  niío  na  Camarn,  mm  no  Campo  de  Santa 
Ánna,  ^rita  Atvares  Macliado  que  é  deteiisoi-  da  liberdade  e  da 
monarchia,  e  que  nunca  rppre^entará  o  paií  I,  na  jíraça  publica,  de 
OraL^ho  improvisado— afinal  vota-ae  t^  é  approvado  o  requerimento 
de  Ottoni,  sendo  o  resultado  recebido  com   vivas    á    maioridade. 


-  494  - 

Tetnos  neista  lovgh  &xpoaiçfio  noB  guiado  peloa  annat^fl  e 
jornaea  da  época.  Um  facto  deve  ter  sido  noudo^a  flusencia 
do  ministério  uo  íí^u  poi^to,  e  a  fraqueja  com  que  procedia^ 
desmi^rali^ado  peUi  ubatjdnno  de  seas  ãuii^^oB. 

Na  sua  Circular  diz-noii  Theofilo  Ottoni,  que  mte  aban- 
dono era  um  actii  proposital  de  Vascauct^llos,  que  qyerta  aftgim 
Bô  vmi^Ar  do  líe^çeiite,  qoe  promoven»  a  qu^-da  do  ^a^tiuete  de 
19  d»5  setembro,  fazeodo  a  p^c*4ha  de  Lop»?a  Gama  para 
«enâdor,  quando  elle  Va^concellos  e  o  laiui^teno  em  peso  era 
contrario  a  aqueUa  eacolha,  cuja  carta  imperial  recusaram 
ausig-nar* 

0&  factos,  entretanto,  demoustram  o  contrario,  porquanto 
não  recusou  Vascoucelloe  eeu  concurao  ao  governo  no  momento 
de  maior  perigo* 

Já  vi  moa,  que  logro  apóe  haver  cabido  no  Senado  o  projecto 
da  maioridade  e  repflllido  ua  Camará  o  tópico  da  fala  do  tmao, 
Vaficoncello£  acouselbára  ao  ministério  que  adiasse  as  Camar&s, 
conselho  que  foi  despregado, 

No  momento  extremo  voltou  o  governo  suas  vistas  para  o 
notável  poli  tico,  que  novamente  aconselhou  o  adiamento  dai 
Camará»  vhíQ  como  nó  alli  se  t^tatia  aditando  a  questão^  n{^o  se 
notando  em  todo  o  pai^  o  menor  interesse  para  que  fos»e  vo- 
tada a  maioridade  ou  não, 

Fraco  e  desmoraliando  corao  m  ftcbsiva  o  goveroo,  nfto  sen- 
tia-bb  com  foríjji  moral  para  tal  acto,  Paulino  e  Rodrigues  Torret^ 
moços  de  grande  i Ilustração  e  merecimento,  primavam  pela  capa* 
cidade  administratívai  trato  ameno  e  espirito  tolerante.  Eram 
Apto  a  para  realizar  um  progammn  administrativo,  mas  incapases 
de  combater,  naquella  epoea  de  governo  fraco,  movimentos  re- 
volucionários promovidos  no  parlamento,  maxímé  não  podendo 
contar  com  a  Armeza  do  Regente,  quti  se  anunllara. 

Lemhroa~sc  o  Regeote  de  r^ccorrer  a  Vatconcelloaí  para  qtie 
e&te  aceitasse  a  aomeaçào  de  Ministro  do  Império,  e  pudesse 
em  pratica  o  conselho  d  uns  vezes  emittido, 

E'  facto  verídico  que  VasconceUojt  ee  achava  estreme- 
cido com  o  Regt-nte,  e  ape-^a»^  disso,  aceitou  o  encargo. 

Ottoni,  escrevendo  20  annos  depoí?  deates  aconteeimente«, 
diz-nofl  que  Vasco» cel loa,  com  o  tino  politico  que  lhe  era  co- 
nhecido, esabia  quH  a  maínri  lade  triunfaria,  mas  qne  aos  IjÒ«- 
ra-^jt  jaiiavam  condições  de  permanência  no  podtr^  pelo  que  caí- 
culadamente  se  ligou  ao  Regente  para  dictar  leis  na  nora  da 
victoria»  qne  elle    previa. 

Enviou-lhe  o  Rsgente  o  miiit&tro  Rodrigues  Torre»,  e  Vss- 
concellos,  aceitando  o  encargo,  apre^^aou-ae  a  asiurair  a  respon- 
sabilidade da  medida  que  h  ivia  aconsalbado  e  qUH  si  fosse  ado* 
ptada  em  terapo  opportuno,  teria  produzido  sem  duvida  alguma 
o  resultado  dtssejado 

Esta  providencia  foi  tão  rápida»  que  conservoa-se  ignorada 
até  o  momeato  em  i^ue,  como  uma  bombi^  foi  explodir  na  Gamara, 


—  495  — 

A  votarão  favorável  que  obtivera  o  reqnerimento  de  Ottoni, 
deixara  evidente  que,  na  sessão  de  22,  de  uuia  ou  de  outra  forma 
seria  proclniDada  a   maioridade. 

Essa  crença  era  ^eral,  e  depatades  naioristas,  e  grande 
numero  de  espectadores  {pequeno  relativamente  ao  grandt^  acon- 
tecimentOf  3  a  3  mil,  calculo  das  gazetaa  maioristas,  como  o 
Despertador)  anciosrs  esperavam  o  deseiiroUar  doa  acontecimentos. 

Aberta  a  s  et  são,  são  lidos  pelo  1/  Secretario  os  dois  seguia - 
tes  e  inesperados  decretos: 

«  O  Regente,  em  nome  do  Imperador  o  ar  Õ.  Pedro  2.% 
tomando  em  eonsjderaçãn  a  esposiçfto  qne  pelos  Ministros  e  Se- 
cretários de  Estado  das  diÉferentes  refartiçôfs  lhe  foi  feita, 
acerca  do  estado  de  perturbação,  em  que  actualmente  se  acba  a 
Gamara  dos  Deputados,  e  attendendo  a  que  a  questão  da  maio- 
ridade de  S,  M.  o  Imperador,  que  nella  se  agita,  pela  pua  gravi- 
dadi^f  e  pela  altíi  posi<:âo  e  importância  da  ^ugn^ta  pest^oa  a  qne  é 
relativa,  somonle  pode  e  deve  «er  tratada  com  madura  rertexão 
e  tranquilidade:  ba  por  bem,  usando  da  attribuiçào  que  lhe 
c«infere  o  art.  101  §  5.*^  da  Const>  do  Imp.,  sdiar  a  Absembléa 
Geral  para  o  dia  20  de    novembro  do  corrente  anno, 

Bernardo  Pereira  de  Vasconcellos,  aenarior  do  Império,  mi- 
nistro e  Secretario  de  Estado  dos  negócios  do  Império,  o  tenha 
assim  entendido  e  faça  executar. 

Palácio  do  Rio  de  Janeiro,  22  de  julho  de  1840,  decimo 
nono  da   Independência  e  do    Império,     Pedro  de  Âraujo    Lima. 

Bernardo  Pereira  de  Vasconcellos .  — Está  conformo,  Joào 
Cam/  de  Campos . 

Este  decreto  foi  lido  sem  que  se  desse  manifestação  violenta, 
a  qual  somente  Rebentou  ao  serem  conhecidos  os  motivos,  apre- 
sentados ao  regente  pelo  ministério  para   justificar  o  adiamento 

Eis  seuí)  termos : 

Senhor — Tratando-se  na  Camará  dos  Deputados  da  tão  melin- 
drosa quanto  importante  questão  da  maioridade  de  V,  M.  Imperial,  e 
havendo  as  discussões  em  logar  do  caracter  sisado,  reflectido  e 
prudente  que  lhes  convinha,  em  attençào  á  f^ravidade  da  maté- 
ria, tomado  outro  muito  diverso,  chegando  não  só  a  pertubar-ae 
a  ordem  dentro  da  mesma  Camará,  mas  também  a  promover-se 
a  agitação  do  povo  desta  Capital ',  julgamos  do  nosso  rigoroso  dever 
tubmetter  á  consideração  de  V.  M.  I.  a  necessidade  de  uma  medida 

^ne,  restabelecendo  novamente  a  tranquilidade,  ponha  naquella 
'amara  os  eapiritos  em  estado  d©  poderem,  com  a  necessária  cir- 
coraspecQÍlo  e  madureza,  deliberar  e  decidir  anbie  tão  ímpcrtant© 
matéria.  Esta  medida.  Senhor,  nâo  pode  ser  outra  si  não  o 
adiamento  da  Assembléa  Geral  Legislativa,  por  aquelle  ^ernpo  que 
se  julgar  estrictamente  indispetisavel,  para  *e  conseguir  aquelle 
£m:  nós  pois  o  propomos  á  alta  consideração  da  V.  M.  Imperial, 
afim  de  que  se  aigne  resolver  a  obre  este  assumpto,  como  em  sua 
sabedoria  julgar  conveniente. 


-  4%  - 

Rio  de  Janeiro,  em  22  de  julho  de  1840. — Bernardo  Pe- 
reiro d€  Yasúoncêlhs.^ Paulino  José  Soares  de  Soma>— Caetano 
Maria* 

Lopee  Gamn»  Joeè  Ãotonio  da  Silva  Maia,  Salvador  José  Macieij 
Joaquim  Joaé  fiodrigueg  Torres. 

*  *     « 

Levautam-Be  exclamaçâes  energicEB.  Todos  pedem  a  pa- 
lavra e  querem  falar  ao  meamo  tempo.  Os  contrários  á  maio- 
riddde    retiram-aei    permaiifceDtlo    apenas  os    favoráveis  á    idéa. 

Pronuncia  algumas  frasca  Alvares  Macbfldo,  que  uào  podem 
ser  ouvidan  pelos  gritrig  das  tribunas.  Se^ne-se  Ãotonio  Carlos, 
que  declara  quo  o  Heg-enti*  é  um  usurpador,  um  traidor  o 
actual  miniaterió,  afinal  fala  Martim  Fraacieco,  declarando  que 
dIlo  reconhece  fiemelbante  decreto 

Com  dificuldade  faz-se  ouvir  Limpo  de  Abreu,  prudente, 
cireum^pecto  que  ja  reunia  todas  as  qualidades  de  grande  esta- 
dista, e  que  merecia corisideraçào  g^eral  ^  Pede  calma.  Declara 
que  o  pretexto  invocado  pelo  g-overno  para  adiar  as  camarás, 
parecerá  verdadeiro  perante  o  paiz,  si  naquelle  momeoto  nfto 
procederem  com  to^a  n  calma — eissa  calma  e  circumApecçâo  ger- 
virào  de  prnteeto  ao  acto  do  g-overno»  que  deve  ser  respeitado. 
A  Camará  uíio  pode  nppor  um  acto  d:^  força  a  outro  acto  dd 
força  do  í^overnn  Obedecendo,  divs  elle,  demonstraremos  que  os 
fundamento?  da  mudida  — 8âo   menos  VPr:]adeÍros, 

Embora  apoiada»  pelos  deputados  que  o  rodeavam,  as  pala- 
vras do  Lim[>o  de  Abreij  perdefn-ae  no  enorme  turtialttí  que 
dominava  no  recinto  comfílptameníe  invadido  pelo  espectadores. 

Retiram-F6  os  deputados  contrários  á  maioridade-  O  Presi- 
dente e  OB  peeretarins  abandonam  a  mesa, 

N'>  mnio  do  etiorme  tn multo,  consegue, António  Carlos  snMr 
em  nm  banoo 

Como  uma  aureola  de  arminho»  t  ndetim-lbe  os  longos  ca- 
btilbtB  brancfiR,  fulífurava-lhe  o  olhar,  e  o  «sol  de  67  anruis»  dd 
facto,  brilhava  no  oceano  com   toios  os  esplendores  do  meio  dia  »• 

Consegíie  dominar  o  'umulto,  e  entáo  com  voa  ardente  ô 
juvenil  enthusiasino,  proount^ia  a  fra»e  q«ie  sf*  tornou  lit>toricA* 
«  Quem  é  patiriota  e  brasileiro,  sí^a  commigo  para  o  Senado. 
Abandimf*míij  esia  Camará   prostituída», 

E  arra^itando  apózi  ú  o&  deputados  maioriãtaSt  entra  como 
revolucionário  naquella  casa,  onde  BÓcinsoannos  depois  voltava 
para  declarar— que  vinha  doa  ardores  do  lados tào  para  os  gelos 
da  Sibéria. 

*  «i     * 

No  Senado  deu-se  rápida  conferencia  entre  senadores  © 
deputado»  maiorist^*,  titiando  resolvi  ío  que  fo»se  enviada  nma 
deputação  aii  Imperador,  para  pedir- Ihtí  que  a^iumísiie  o  governo 
do  paiz,  em  vista  do  perigo  que  corria  a  ordem  pjblL&a. 


—  401  - 

Etae  reeeío  era  perfeitamente  justificado,  visto  dea ta  vez  ter 

sido  bem  dirigido  o  laovimííoto. 

Frimtsirft,  f-z-^e  »  apiniAo  tto  parlamento,  facilitaiido-Ãe  a 
inva^Ao  dal  salas  da-  B©si-&e&  pelos  e^pectadorea  do  Brasileiro 
Rt*doluio.  Era  o  raeio  de  aterrorizar  os  expiritoa  fracoa  e  pUâil- 
lanimes  e  arrsQCf*?  deites  voto  fa^^ora^wL 

Píisreritirm*  nte  recorreram  aos  quartéis,  e  alg^uns  tíAmman- 
dantes  nào  tiveram  cofag^em  de  recusar  auxilio  matprial  a  um 
movimento  a  cuja  frente  acreditavam  eitar  o  Imperador. 

Naquelle  tempo,  como  hoje,  como  Bempre,  em  todos  os  paizes 
Atrasados,  u  poder  era  «  o  carfo  de  Apolto,  atraz  do  qital  se 
precipitavam  as  TmtltidõesM, 

fffl  massa  popular,  faaia-se  eapalhar^que  o  reg^ente  tramava 
Bequí*Btrar  o  j^vem  monarcha,  e  removei- o  para  fora  do  RÍo  — 
qu6  o  Imperador  aaciava  pela  maioridade,  tanto,  que  encarregava 
aos  Andradas  de  prnmovel-a 

Para  faser  pirts  da  Commissào,  encarregada  de  transmittir 
ao  Imperador  o  dest^jo  dos  representantea  da  na<jào  foram  deai- 
nados  08  seguintes  senadores  e  dflputadog— Conde  de  Lairei,  Ver- 
^oiro,  álencar,  os  dous  Hollaudas,  António  Carlos,  Martim  Fran- 
f^iaco  e  Monte'<«uma. 

Antes  de  seguir  a  Oommissfto,  o  dr.  Joaquim  Cândido  BoarêB 
de  Meirellea  foi  enviado  ao  Paço  para  conseguir  do  imperador 
que  a  retiebesse. 

Chegados  ao  Paço,  tatroduzidoã  á  presença  do  Imperador* 
leu  António  Carloa  a  seguinte  representaçào : 

t  Nós  abaixo  aftaignadoe,  Senadores  e  Deputados  do  Impe<^ 
rio  do  Brasil,  crendo  que  o  adiamento  das  Camarás,  no  momento 
em  que  se  tratava  de  declarar  a  maioridade  de  V.  M.  I.,  é  um 
insulto  feito  á  âagrada  pes*oa  de  V,  M.  I,,  é  uma  traiçAo  ao 
paÍ2  commettida  por  um  regente,  que,  em  uoàsa  opiotão  n^  o 
é  de  direito,  desde  o  dia  11  de  março  do  corrente  anuo,  e  re- 
ccnheeeiído  o»  graves  males  que  de  ^imilhante  adiamento  ee 
podem  seguir,  já  á  tranquilidade  da  capital,  já  á  daa  provín- 
cia!^, onde  os  iuimigoa  da  pa?  e  da  tranquilidade  puBlicA  ae 
podem  acarretar  com  este  acontecimento,  para  com  elle  dilace- 
rarem Bs  entranhas  da  mãe  pátria,  vêm  reverentes  aos  pés  de 
y,  M.  I.,  a  rogar  que  V.  M.  I.  para  salvar- nos  e  ao  trono, 
tome  desde  já  o  exercício  de  suas  altas  attribuiçòes.  — Rio, 
22  de  julho  de  1840», 

Recebendo  a  representaçUOi  declarou  o  Imperador  que  ia 
deliberai^  retirando-ae  a  Cummiãsâo  para  uma  daa  «alas  para 
esperar  a  resposta  imperial- 

Nesse  dia  o  Rebente  havia  cedo  comparecido  ao  Paço,  para 
communicar  ao  Imperador  a  rascáo  que  determinara  ao  governo 
adiar  a^  camarás— que  outra  não  era  si  não  a  de  fazer  proclamar 
9  maioridade  no  dia    2  de   dezembro— n&O     pelo    eSeito    de    um 


-  498  — 


golpe  dç  «Btado,  mas  com  a  calnia,  pmdeneta  e  reflexão  que  de- 
YÍam  cercar  acto  nacional  de  tanta  magnitude. 

O  Imperador  ouviu  atteotameote  as  razoes  apretentadas  pelo 
Bege  n  te,  dis  pena  ou- lhe  a  coBtumada  attençâo,  e  a  p  provou  a  re- 
aolíiçào  do  g-overno. 

PúucoB  momentos  depois  de  ter  o  Imperador  recebido  a  re- 
presentaçàõ,  chegava  novamente  ao  Paço  o  Regente,  acompa- 
nhado da  Rodrignea  Torres,  ob  quaes  foram  immediatamente  in^ 
troduBidoa  junto  ao  monarcha. 

Chamada  ponco  depois  a  deputação  á  pre&ença  do  Impera- 
dor, para  receber  delle  a  resposta,  esta  lhes  foi  transmittida  jjeio 
Megeníe  nos  seguintes  termos  : 

«  Qne  naqaeUe  dia  dera  parte  ao  Imperador,  que  ia  adiar 
at  Gamaram,  para  c|Tie  pudesse  se  dar  a  acclamaçdo,  no  dia  2  de 
dezembro  com  toda  a  solemnidade.  Maa,  sabendo  que  alguns 
deputados  e  senadores  se  achayam  reunidofi  no  Senado,  e  havendo 
alguma  agitação  no  povo^  viera  saber.,  ú  Sna  Majestade  queria 
ser  acclamaJo  no  dia  2,  ou  JÀt. 

E  como  S.  M.  respondecse  que  queria  já^  convocaria  a 
assembléa  domingo,  para  B6r  acclamado. 

Ãutonio  CarloSf  nesse  momento,  pedindo  permisg&o,  fess  no- 
tar  que  era  de  grande  conveniência  que  a  acclamação  se  reali- 
zasse no  dia  Begaíntef  porquanto,  existindo  agitação  no  povo,  o 
imico  meio  de  fa^er  cesBal  a,  era  apressar  uqueLla  solemnidade, 
para  a  qual  nâo  mais  se  oppuoha  o  governo. 

Quando  o  orador  concluiu  suas  observaçõeí,  o  Itnperador 
voltando-Be  para  o  Regente,  disse-lbe :  «Convoque  para  amanha». 


Expostos  os  factos  cem  o  noB  sào  trazidos  pelas  chronlcas, 
elucidemos  nm  ponto  histórico. 

Como  é  sabido,  reretidat  censuras  foram  feitas  ao  Impera- 
dor, por  ter  demnnstradn  precipitação  e  arrebatamento  pronon- 
ciando  o  Quero  Já. 

Pelo  conhecimento  de  factos  posteriores,  podemos  hoje  a  Afir- 
mar que  o  Imperador,  nem  mostrou  arrebatamento  nem  pro* 
nunciuu  aqnellas  palavras  que  lhe  foram  attribuidas  no  momento* 

Prudente,  criterioso,  roiiervado,  qualidade  esta  em  que  era 
eminente,  como  reconheciam -lhe  geralmente,  o  Imperador  naquelle 
momento  nào  fez  mais  do  que  acceitar    ob  factos  consumados. 

Já  deixamos  patente  que  a  cbronica  não  era  verdadeira, 
quan^ío  attribuia-lho  apoio  «oa  conjuradoB,  Fácil  nca  será  tam- 
bém desfazer  a  lenda  do  — Qwí™  Jã, 

A  primeira  vez  que  encontramos  aquellas  palavras,  foi 
quando  António  Carlos  leu  no  Paço,  a  Representação  doa  De- 
patados  e  Senadores —çwe  foi  por  elle  redigida.  A»  ultima»  pa- 
lavras daqufílie  docameuto  sào  as  aegutntes :  €vêm  reverentes 
(a  cQmmÍBsào)  aoi  pés  de  V.  M,  I.,  a  rogar  qae    V.  M.  L,  para 


-  409  - 
lalT&r-noa  e  ao  trono,  tome  desde  ãÀ  o  exercioio  de  suai  attrí- 

À  aei^unda  ves,  figiira  do  Relatório  da  DepatiiçAo,  fiírmu* 
lado  por  Aníoniú  Carhm*  Ela  como  deicreve  elle  oi  íactOB : 

<  Ci&eo  minuto»  depoiá,  reía  ee  cbamar  a  depnt&c&o,  omtrft 
ve»  i  presença  d©  8,  M.  I.,  e,  estando  ahi  o  Keg-ente,  dieae, 
que  elle  havm  hnj^  dado  parte  a  3.  M.  L,  que  h&via  adiado 
aa  Gamaras  somente  com  o  fim  de  preparar  toda  a  aol em n idade 
para  S.  &i.  I,  aer  acclamado  no  dia  2  de  dezembro^  aontrerta- 
rio  do  meamo  Senhor;  mas  qtie  tendo  alguns  Benhorea  deputados 
e  senadores  ae  reunido  na  casa  do  Senado,  e  havendo  alguma 
ftgita<^ào  no  povo^  elle  Teio  saber  ú  S,  M.  queda  Aer  acdamado 
no  dia  2  oQ  jtL  S,  M.  respondeu  que  (jubria  jA,  e  que  em  tal 
caso  convocaria  a  aaiembléa  domingo,  para  ser  a c clamado— um* 
hiêldfidQ  os  membros  (la  depuíaçãQ^  pjra  que  foJíse  amanhan^  em 
consequência  do  estado  de  agitaç&o  em  qae  e&taya  o  povo,  3.  M. 
diasô  ao  Reg^nlQ — Convoqu»  para  amanhan*. 


Vejarooft,  porómj  si  é  possível  reconatituir-se  o  momenU) 
histórico. 

Quando  o  movimento  em  favor  da  maioridade  predomina va 
na  populaçÃo,  o  governo  compreheaden  qne  já  nào  era  possível 
crear^lhe  embaraços* 

Querendo,  porém,  dirigira  revolução,  no  inter  e»iie  partidária^ 
collocou-ae  a  frente  delia,   para  evitar  as  consequências. 

Mas,  sob  pretexto  de  se  preparar  as  soleran idades  para  t&o 
grande  acontecimento,  e  para  que  n&o  parecesse  aquelle  acto 
Arrancado  por  meios  revolucionários,  resolveu  adiar  as  Camarás, 
para  que  a  acciamaçào  se  realisosae  no  dia  2  de  dezembro, 
«DDiversario  natalício  do  Imperador. 

No  dia  22  de  julho,  o  Regente  cedo,  dirigi u-se  ao  Paço,  d 
deu  conhecimento  ao  Imperador  da  resolução  do  governo  e  da 
tnedida  do  adiamento. 

Em  vista,  porém,  das  occurrencias  provocadai  na  Gamara  doi 
Deputados  pelo  decreto  de  adiamento,  da  subsequente  reunião 
no  Senado,  da  agitação  que  lavrava  no  povo,  a  certeza  de  que 
cliefea  militãr<?a  acbavam-se  no  Senado  ao  lado  dos  promotores 
do  movimento,  determinaram  a  que  o  Regente,  acompanhado  do 
ministro  Rodrigues  Torres,  se  dirigisse  novamente  ao  Paço,  para 
cocnmunicar  oa  acontecimentos. 

O  Regente  e  o  Ministro,  chegando  ao  Faço,  (copiemos  aa 
palavras  de  Rodrigues  Torres  proferidas  na  Camará,  na  aeas&o 
de  â  de  junho  de  1841)  f  fomos  introduzidos  na  sala  em  que 
estava  3,  M.  que  se  dignou  receber^noBj  com  a  benignidade  do 
cofitume>« 


r 


—  500  — 

<  O  Br.    Aniujo  Lima  expoK  a    S.    M.   q^e,   &    vieta   do 
havia  oecomdo,  desefava    que  S.  M.    lhe    declarasse    ú  ^ra  *Ti& 
Tontade    tnruar    desde  lo^o  as  ri^deae    do  governo,  porque  ii«i?6 
easo  elle  Regente  faria  íiovamente  convocar  a  Assembléa». 

€  S,  M  ,  df^pois  de  pecaar  alguna  momentos,  dignou-se 
responder,  que  ju]g'ava  couvâniente  tomar  desde  togo  as  rédeas 
do  governo». 

*  O  sr.  Pedro  Lima  agradeceu  a  S.  M.  a  sua  deliberação,  e 
asseverou  que  ia  convocar  a-t  Gamaras   para  domingo  imtnediato». 

«  S-  M.  di^nou-se  entào  manifestar  ao  Regente  o  degpjo  d© 
que  elle  mesmo  annundasBe  esta  deliberarão  á  Deputação  que 
se  achava  em  uma  das  ^alas  immediatas*. 

Introduzida  novamente  a  Oommi^^âo  perante  o  Imperador,  n 
Regente  deu-lhes  a  seguinte  resposta ; 

^  Que  elle  Regente,  naqnelle  dia,  coramnuicara  ao  Impera- 
dor que  o  governo  havia  resolvido  adi«r  as  Camarás,  para  que 
ae  preparaeaem  m  solemnídades^  para  ser  o  Imperador  acel amado 
no  dia  2  de  dezembro — seu  anitiversario  natalicio. 

<  Que  mnh  tarde,  agarra vando-^e  a  aituaçào,  voltara  ao  Paço 
para  Baber  ú  S.  M,  queria  ser  acdamado  antes  do  diA  anterior- 
mente combinado,  e  como  entenft'i8&B  o  Imperador  que  devia  icr 
antes  —convocaria  a  Assembléa   para  domingo.* 

Tendo,  porém,  António  Carlos,  relator  da  CnmmíseSnj  tssis- 
TiDO  para  que  a  acclamação  se  realizasse  na  dia  seguinte,  em 
eonaeqnencia  da  af^itaçào  qiie  reinava  no  povo,  o  Jmjíerador, 
voltaodo-SH  para  o  Regente,    diese-lhe — Crmmque  para  amanhã. 

Poram  estas  aa  unicaa  palavras  que  o  Imperador  pronunciou 
em  publicn,  O  que  se  passou  na  conferencia  enue  elle,  o  Re- 
gente e  o  Ministro  m  foi  conhecido  muitos  annoa  apóa. 

O  — Qíiero  Já  —  palavras  de  que  uaou  António  Carlos,  é 
um  complemento  do  —  Recado  —  e  do  — Sim.  Devem  desappa- 
reeer  das  chrODicau* 

Temos  descripto  os  aeort  tecimentos,  com  pulsando  documentos 
que  não  podem  ser  conte&tadoB  —  e  entre  esses,  palavras  do  pró- 
prio Imperador 

Na  se&sílo  do  Instituto  Histórico  do  Brasil,  de  3  de  jtillMi 
de  lô6ã,  falando  sobre  o  assumpto,  diâse    o  Imperador  t 

«Quando  ítú  cousukado  em  1840,  eu  não  disse 
—  Quero  já—  ». 

Mata  tarde,  ainda  no  Instituto,  ao  Conselheiro  TrÍEtào  de 
Alencar  Ãraripe,  affirmou-lhe  o  Imperador  e  autorizou^lhe  a 
toruar  publico  : 

«  Que  só  se  pronunciara  sobre  a  maioridade,  do  dia 
22  de  julho,  quando  a  Commi&são  do  Senado  e  o  Re- 
gente foram  ao  Paço,  na  Quinta  da  Boa  Viatat , 


^  501  — 

*  OtiTÍ  a  Commissâo  ©  o  Regente.  Cúngultei  par- 
ticularmente o  TutDr  e  o  meu  Âio,  e  foi,  a  conselho  de 
ambos,  que  declarei  acceitar  o  governo». 

*  Ef  porque,  aa  dker  o  Regente  á  CommiaBào, 
que  ia  convocar  a  Assemblóa  Geral  para  domingo,  dia 
inshtu$€  sobre  a  neceaaidale  de  prompta  convocação— 
difl&e  ao  Regente  —  Convoque  para  aman?iã. 

Onde  se  encontra  o  Quero  Jáj  como  signa  1  de  precipitação 
õu  arrebatamento  ? 

A  bem  poucos  annoa,  quando  Tito  Franco  publicou  a  Bio- 
grafia do  Conselheiro  Furtada,  o  Imperador,  annotou  o  exemplar, 
que  pertence  hoje  ao  Instituto  Hiato  rico  do  Brasil,  com  a  se- 
guinte declaração  : 

«Eu  não  tive  arrebatamento,  se  d&o  fosae  aconse- 
lhado por  di vergas  pessoas  que  me  cercavam,  teria  dito 
que  não  queria». 

Brasileiros  illustres  que  preaencearam  os  acontecimentofi,  o 
outros  que  mais  tarde  Be  tornaram  amigos  pesíoaes  do  monar- 
eha,  entre  estes  o  historiador  Fernandes  Pinheiro,  conlirmam 
que  o  Imperador,  em  quanto  menor,  nunca  mostrara  desejos  de 
governar* 

E^  certo  que,  naquelle  momento  agitado,  houve  quem  tivesse 
precipitação^  arrebatamento^  d^nejo  immcderado  de  poder ^  Os 
chefes  do  movi  mento  maiorií^ta,  Queria  o  Já  o  poder  em  suas 
mãos,  para  goíar  dos  resultados  da  victoria* 


Em  virtuda  da  determinaçlio  do  Imperador,    foi  expedido  o 
seguinte  decreto : 

«Tendo  sobrevindo  ao  decreto  que  adiou  a  Assem- 
b!éa  Geral  para  o  dia  20  de  novembro,  circumetancias 
extraoriliQariae,  que  tornam  indispensável  t^ue  se  reúna 
quanio  antes  a  mesma  Asst;nibU'a  Geral:  Ha  por  bera 
o  Regente,  em  nome  do  Imperador  o  sr.  d,  Pedro  2,'', 
convocai- a  para  o  difl  23  do  corrente* . 

*  Bernardo  Pereira  de  Vasconcellos,  Senador  do 
Império,  ministro  e  Spcretario  de  Estado  dos  negócios 
do  Império,  a^sim  o  tenha  entendido  e  o  faça  executar. 
Palácio  do  Rio  de  Janeiro  22  de  julho  de  1840,  deci- 
mo nono  da  Indenendeucia  e  do  Império. — Pedro  âe 
áraujo  Uma, ^-Bernardo  Pereira  de   Vasconcellos-** 

Quando  a  Ccmmissão  voltou  ao  Senado,    e    António  Carlos 
deu  conta  áa  mi&s&o  recebida    com    geraes    appl&uaos,    Navarro, 


—  602  — 

propoz  que  d^  te  diasolvesse  a  reuni  lo,  «  para  evitar  estm- 
tagema?  de  que  é  capaz  a  intelligencia  infernal  de  certo  per- 
aQDagem».     «Fiquemos  em  nossos    posto»»,    bradava    elle,    «nem 

morreremos  dê  fome  por  não  comermos  até  amanftâ» . 

N&o  foi  por  diante  a  proposta  de  Navarro,  porque  Antó- 
nio Carlos,  entre  applanaos,  affirmou; 

«Tenho  a  palavra  de  um  Bragança,  de  utn  Im- 
perador. » 

«  Eu  ouvi  de  sua  própria  boca,  eu  me  fio  em  iua 
palavra .  * 

Lido  o  decreto  da  convocaç3.o,  dissolveu -se  a  reunlãt). 

No  dia  seguinte,  2S  de  jullio,  reunidos  senadores  e  depu- 
tadoi,  no  Senado,  foi  aberta  a  sessão^  tendo  comparecido  g^raude 
numero  de  senadores  e  deputados,  e  o  presidente  Marquez  de 
Paranaguá^  proferiu  as  seg^uintea  palavras  : 

«Eu,  como  or^am  da  representação  nacional,  em  ësembléa 
Geral,  declaro  desde  já  maior  a  S.  M.  Lo  sr,  d*  Pedro  2.%  e  no 
pleno  exercício  de  seuâ  direitos  constitucionaes.  Viva  a  Maiori* 
dade  de  3.  M.  o  senhor  d,  Pedro  2.**!  Viva  o  senhor  d.  Pedro 
2.*",  Imperador  Constitucional  e  Defensor  Perpetuo  do  Brasil  1 
Viva  o  sr.   d.  Pedro  2.*». 

Em  seguida  foram  nomeadas  4  commissões,  a  primeira  para 
redigir  a  proclamaç&o  da  áãsembléa  Geral  á  Naç&o  Brasileira, 
dessa  fizeram  parte  António  Carlos  e  Limpo  de  Abreu ;  a  â.*  com- 

Eosla  dos  Senadores  Mello  Mato»,  Paraisn,  Baependi,  Vergueiro, 
lima  e  Silva,  Carneiro  de  Campos,  Valença,  Saturniuo»  José 
Bento,  Ho  1  landa,  Almeida  Albuquerque,  Paula  Cavalcante,  Sousa 
e  Mello,  Lages,  e  mais  28  deputados  para  irem  ao  Paço,  saber 
de  S,  M,  o  dia  e  hora  em  que  deveria  prestar  o  juramento, 
marcado  no  art.  103  da  Constituição.  A  terceira  para  receber 
o  Imperador,  e  a  quarta,  para  receber  as  princesas. 

A  commiss&o  encarregada  de  formular  a  proclamação^  su- 
jeitou á  approvaçao,  a  seguinte: 

Brasileiros  1 

A  Assemblea  Geral  Legislativa  do  Brasil,  reconhecendo  o 
feliz  desenvolvimento  intellectual  de  8.  M.  o  sr.  d.  Pedro  2,%  com 
que  a  Divina  Providencia  favoreceu  o  Império  de  Santa  Crua: 
reconhecendo  igualmente  oa  males  inherentes  a  governos  pxcepcio* 
naes,  e  presenceando  o  desejo  unanime  do  povo  desta  Capital; 
convencida  de  que  este  desejo  está  de  acordo  com  o  de  ti*do  o 
império,  para  conterir^se  ao  mesmo  Augusto  Senhor,  o  exercicio  | 
dos  poderes  que  pela  Constituição  lhe  competem;  houve  por  bem,  i 
por  tão  poderosos  motivos,  declaral^o  em  maioridade,  para  o  | 
eâeito  de  entrar  immediatamente  no  pleno  exercicio|  desses  po 
deres,   como    imperador    constitucLon&í   e    defensor 


perpetuo   do     1 


—  5(»  — 

Brasil.  O  Angosto  Monarelia  acaba  de  prestar  o  juramento 
solemne  determinado  no  art.  tl»8  da  Const.  do  Império. 

«Brasileiros !  Estào  convertidas  em  realidades  as  esperanças 
da  Naç&o;  uma  nova  era  apontoa;  seja  ella  de  anião  e  de 
prosperidade.    Sejamos  nós   dignos  de  t&o  grandioso  beneficio». 

Depois  de  duas  boras  da  tarde,  voltou  a  deputaç&o  que 
bavia  sido  encarregada  de  ir  ao  Paço  saber  a  bora  em  que  o 
Imperador  queria  prestar  o  juramento,  e  deu  conbecimento  de 
Que  cumprira  a  sua  misBão,  recitando  ao  Imperador  a  seguinte 
&la: 

«Senbor. 

A  Assemblea  Geral  Legislativa,  único  e  legitimo  org&o  dos 
sentimentos  da  Naçào,  convencida  de  que  nenhum  outro  remédio 
mais  conviria  aos  males  que  a  opprimem,  nas  circumstancias 
actuaes,  que  a  immediata  acclamaç&o  da  maioridade  de  V.  M.  I., 
e  a  sua  exaltaç&o  ao  trono  do  Brasil,  e  em  consequência  a  en- 
trega do  deposito  sagrado  das  rédeas  do  governo  uas  augustas 
mAos  de  V.  M.  I.,  nos  envia  em  deputação  a  annunciar  a  V. 
M  L,  a  maneira  solemne  porque  V.  M.  I.,  acaba  de  ser  por 
ella  declarado  maior  no  meio  do  geral  regozijo;  e  a  rogar  a  V. 
M.  I.,  que  dignando-se  acolher  com  benignidade  aquella  express&o 
dos  sentimentos  nacionaes,  haja  por  bem  completar  seus  actc;s, 
prestando-se  ao  juramento  solemne,  exigido  pelo  art.  103  da 
Constituiç&o  do  Império,  no  paço  do  Senado,  onde  a  Assemblea 
Greral  reunida  aguarda  a  aogusta  presença  de  Y.  M.  I. 

Assim  Deus  ajude  a  V.  M.  I.,  acolhendo  os  fervorosos 
votos  que  os  fieis  súbditos  de  V.  M.  1.  n&o  cessam  de  dirigir-lbe 
pela  prosperidade  e  diuturnidade  do  reinado  de  V.  M.  I.  > 

As*  três  horas  e  meia  da  tarde,  chegava  o  Imperador  ao 
Senado,  recebido  pela  deputação,  prestando  em  seguida  o  jura- 
mento, como  consta  do  Auto  que  transcrevemos. 

AUTO  DE  JURAMENTO 

Saibam  quantos  este  publico  instrumento  virem  que,  no 
anuo  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo  de  1840, 
decimo  nono  da  Independência  e  do  Império  do  Brasil,  aos  23 
dias  do  mez  de  julho,  nesta  muito  leal  e  heróica  cidade  do  Kio 
de  Janeiro,  no  paço  do  Senado,  onde  se  reuniram  as  duas  Ga- 
maras Legislativas,  estanio  presentes  33  senaiore<  e  84  deputados, 
sob  a  presidência  do  Ex  ""  Marquez  de  Paranaguá,  para  o  fim 
de  dar  execução  ao  art.  103  da  Constituição,  estando  presente 
S.  M.  I.,  o  sr.  d.  Pedro  de  Alcântara  João  Carlos  Leopoldo 
Salvador  Bibiano  Francisco  Xavier  de  Paula  Leocadio  Miguel 
Gabriel  Rafael  Gonzaga,  segundo  imperador  e  defensor  perpetuo 
do  Brasil,  filho  legitimo  e  primeiro  varão  existente  do  fallecido 
sr.  d.. Pedro  1.**,    Imperador  Constitucioual  e  Defensor  Perpetuo 


r 


~  504  - 

do  BrãBtl,  e  ds  fatlecida  renhora  d.  Maria  Leopoldina  Josefa 
Carolina,  impera tm  buí^  mulher,  ãrchíduquei^a  d^AustHa,  lhe  foi 
apreeantado  pelo  Ex.""'  Presidente  o  miãsal  em  que  o  me^mo 
augusto  senhor  io%  n  sua  mão  direita;  e  sendo  por  mim  lida  a 
formula  determinada  no  mencionado  art..  103  da  Coni^tituíçAo, 
pronancidu  S.  M.   Imperial  em  alta  voz  o    seguinte    furamento  : 

«Juro  manter  a  Teli^ilL>  catholica  apostólica  romana, 
a  integridade  e  indivisibilidade  do  Império»  e  prover  ao 
bem  geral  do  Brasil,  qnanto  em  mim  couber». 

E  para  perpetua  memoria,  se  lavrou  este  auto  etn  duplicata. 

aU0  vae  aasignado  pelo  mesmo  augusto  Bíjubor,  pelo  Presidente  e 
oii  primeiroa  Secretários  de  uma  e  de  outra  Camará.  E  eu, 
Luia  Jo«é  de  Oliveira,  primeiro  Secretario  do  Senado,  o  escrevi* 
— D*  Pedro  â." — Marquez  de  Paraftagità,  preEidflnte— Liiíái  José 
de  Oliueiraf  primeiro  Secretario  do  Senado — António  Joaquim 
Alves  do  Amaral f  primeiro  Secretario  da  Camará  doa  Deputados». 

ÃasLffnado  o  auto  de  juramento,  foram  erguidos  vivaji  á 
Maioridade,  correspondidos  euthusiasticamente. 

Um  facto  não  pode  passear  despercebido  —  O  Senado  e  a 
Camará  em  sua  qtiHãl  unanimidade  compareceram  á  Bes^ão  do  23 
de  julho,  e  maioriatas  a  seus  adversários  da  véspera  fíg^uratam 
nas  deputações  designadas  para  os  act^a  da  Bolemnidade. 

No  dift  28  de  julho^  a  imprenaa  publiGava  a  expoeiçào  d© 
VascouceU-  B  sobre  ob  memoráveis  aconifscimeutOB  que  acabamos 
de  deBcrever.  E^  documento  de  alta  valia  para  completar  a  his- 
toria do  movimento. 

Ei-la : 

«Bernardo  Pereira  de  Vasconcellos  julga  dever  explicar  ao 
publico  o  seu  procedimento  no  curto  periodo  de  d  horas  do  dia 
22  do  corrente  mez,  em  que  foi  ministro  e  secretario  de  estado 
doe  negócios  do  império. 

Sào  hoje  sabidas  dos  biibitantes  desta  Capital,  e  sê*1o-&o 
em  breve  dns  de  todo  o  império,  as  melão colíi-aa  occurrencias  dos 
dia^  anterioreB  ao  referido  *22  dti  juiho,  por  otcaaiáo  de  se  occu- 

5 ar  a  Gamara  dos  Deputados  da  questão  do  supprimento  de  idade 
e  S.  M,  o  Imperador,  afim  de  que  o  mesmo  au^íusto  Senhor  eu  traste 
im  me  dih  tara  ente  do  exercicio  de  sua    autoridade    eouBtitucional. 
E^    incontroverso    que  a  medida    de    anteeipar  a    maiondade    de 
B,  M.  I.  não  tinha  maioria    de    votos  nem   na  camará  do^  fieua- 
dores,  nem  na  dos  deputados,    posto  que  áqueltes  mesmos  que  Ai 
impugnavam  náo  faltassem    ardentes  e  sincpros  desejo  *  dfl  ?ê-li 
realizada  sem  oflunsa  dos  princípios  constitucionaes :  est<^  facto  não 
era  desconhecido  dos  que  conceberam  t-ste  anuo  a  idéa  de  investir 
o  jovftn  imperador  da  sua  autoridade.     No    senado   fora    um    tal, 
projecto  rejeitado,  bem  q^ue  muguem  o  impugnas le  na  dlgci 


í 


-èoè- 

e  honrnss^  quem  ú  BUâtentiiPBP.  Ksta  deeUÂo  da  camam  vital  ida 
nenhama  impr«^PaAo  produziu  no  espirito  jjublieo,  »endo  mauifeato 
que  nem  oa  habitaote*  da  còrtOi  nem  oi  de  qualquer  ouin*  pro- 
víncia se  baviam  Hté  etitâo  pronunciado  a  favor  da  medida < 
Todavia,  n&o  dasaeorof;oaram  hIj^uiijí  deputados  do  triumpbo  da 
Bua  idéa  ;  contiouarani  a  iosiatir  para  que  o  imperador  fo  se  decla- 
rado maior  por  uma  lei  ordiuaria;  e  dado  qae  hhú  poucoa  se 
dispoíesfteto  a  votar  a  íavor  delia,  uma  ve»  que  íoa&e  acom- 
panhada de  garantia!  para  a  tiHçào  e  para  o  Iro  no,  crcflcia  este 
empenho,  á  medida  que  te  obaervava  mais  tendência  para  a  *uft 
realização. 

No  meio  do  debate  desita  transcendente  matéria,  debate  que 
devera  »er  tiotavel  p«lâ  prudência^  sisudeKa  e  gravidade  que 
o  devia  pre&idir,  apparêceram  Bymptonvas  de  coacção  na  Camará 
doe  Deputado ■«,  Os  que  admíttiam  a  idéa  com  tnodifícações  viam- 
»e  expoe^tos  a  insultos  e  perigos,  ie^  ufto  guaid^egem  silencio. 
Para  prova  de»te  facto,  offereço  u  Jornal  do  Commercía^    de  u. 

tas  a  te3. 

Invoco,  além  diftao^  o  teetemiinbo  doa  deputados  e  expecta- 
dorei  iraparciaes;  deponham  elleii  8e,  além  do  que  tem  chegado 
ao  conhecimento  do  publico,  nào  tiveram  alguns  diijnoB  repre- 
«eotanteâ  do  paiz  e  principalmente  rs  mini>troíi  da  coroa,  de 
loffter  vergonliOBOS  insultos  e  ameaças.  Fe^^oas  do  povo,  reunidas 
em  grande  namero  invadiam  *>  paço  da  Camarn,  rodeavam  oa 
deputado»  dentro  da  prnpria  sala  das  sesBÕei»,  ioma\'am  parte  nna 
debatas,  applandindo  eatrondo^mente  os  oradores  de  um  lado, 
e  euffocanot^  a  voz  de  nuttoâ  com  gritos  aterradores,  em  uma 
palavra,  quas^i  que  bavia  de  todo  desapparecido  a  díítinção 
entre  aa  galeria»  e  os  legialadorea,  a  população  pacifica  e  indus 
trioaa,  que  ao  principio  esperava  tranquilla  a  soIuçÂo  que  os 
poderei  supremt^is  do  estHdo  houvessem  de  dar  á  qnestào  da 
maioridade,  começava  a  afflig^ir-se  á  vista  de  Bceriaa  tào  des- 
agradáveis,  representadas  naquelle  mesmo  recinto  donde  t^omente 
deveram  partir  exemplog  dt?  ordem  e  de  obediência  án  leijj ;  e  o 
governo  via -se  na  impí  ssibilidado  de  fazer  cessar,  pekrs  meios 
a  seu  alcance,  Bcmelbante  ei^tado  de  couaas,  não  desf  jaudo  que 
ainda  levemente  ae  lhe  attrihuiâse  o  intento  de  coagir  os  legis* 
Uáores. 

Nunca  fui  considerado  iníenao  ao  governo  de  S.  M.  I,  o 
senhor  d.  Pedro  II,  lendo  até  em  outra  época  desejado  a  regcn- 
cia  da  au£^U'ta  princt^sa  imperial  a  senhora  d  Januaria,  desejo 
esle  qae  nuDcn  excedeu  os  limites  de  um  pen^ameuto.  e  que 
mt^  custou  as  mais  acirbHS  injurias  e  calumnias,  havendo  nieíimo 
quem.  nas  di$cuet>r>es  da  A^aembléa  provincial  de  Minas  Geraes, 
me  indigitastse  como  conspirador  contra  o  regente  do  Acto  Ãddi- 
clonal,  imprecando  a  minha  morte, 

Confeaso  ingenuamente  que  laeu  afferro  á  monarchia  e  o 
exemplo  da  dispensa  de  idade  da    aenhora    d.    Maria  11,    rainha 


—  506  — 


de  Fortagal,  foram  ob  unicoa  elementos  de  minlia  eoDTicçâOf  em 
que  se  p  «diâm  oppâr  a  uma  tal  medida,  Âioda  boje  d&o  heaita- 
T6Í  em  dar  o  meu  voto  para  o  luppri mento  de  idade  de  um 
príncipe»  debairo  de  razoaveii  coudiçôe»  de  segurança;  ainda 
noje  votaria  pela  maioridade  ào  senbor  d.  Pedro  II,  mas  com 
limitaçdea  e  com  suffi cientes  garantias  para  o  troao  e  para  o 
paiZt  poii  que  o^  acoutecimentos  mesmo  do  reinado  da  senhora 
d.  Mana  II  tem  feito  em  mim  a  mais  profunda  im  prés  ião. 

Deixara  o  senhor  d.  Pedro,  duque  de  Bragança,  organizado 
o  paiz,  e  nos  primeiros  empregos  do  estado  os  Portuguezes  maie 
esclarecidos,  mais  traquejados  no  meneio  doa  negócios  públicos, 
carregador  de  preatautea  serviços  á  pátria^  e  os  bravos  generaes 
que  tanto  haviam  contribuído  para  a  queda  da  usurpação  e  re- 
conquista da  perdida  liberdade/Este  governo  que  pr orne ttia  larga 
duraç&o,  tau  to  pela  sua  solidez  como  pela^  immortaea  remínià- 
cenciaa  que  despertava,  durou  apenas  dons  annos,  uào  era  passado 
este  prazo,  quando  rompeu  uma  revolta,  que  rasgou  a  carta 
constitucional  e  violentou  a  joven  rainha  a  assignar  com  o  seu 
próprio  punho  a  condemnaçào  do  maia  importante  titulo  de  gloria 
de  seu  augasto  pai;  a  lá  está  Portugal  remoinhando  entre  a 
anarchia  e  as  tentativas  de  nm  governo  regular! 

Diversas  são,  e  para  peior,  &&  circumátancias  do  Brasil : 
uoaifta  instituições  nào  estào  completas,  faltam- nos  muitaa  leit 
iraportautes,  algumas  das  eiistentfs  exigem  consideráveis  refor- 
masj  e  muito  ha  que  vivemos  sob  o  governo  fraco  de  regências. 

Falta-nos  um  conselho  de  estado,  nào  temos  emiueocias 
sociaea,  ou  por  pi>breza  nossa,  ou  porque  a  luveja  e  as  l^acçõea 
tenham  caprichado  em  nivellar  tuda.  Neste  estado  de  coui^as  nfto 
acclamára  eu  par  meu  voto  o  senbor  d.  Pedro  II  maior  desde 
já,  sem  que  o  arma  saem  os  de  todos  os  meios  necessários  para 
ser  feliz  o  seu  reinado,  bem  que  hoje  me  considere  na  mais  ex- 
plicita obrigação  de  envidar  todas  as  minhas  forças,  afim  de  que 
OA  resultados  não  justiâquem  um  dia  as  minhas  tristes  appre^ 
hensôes  e  as  de  meus  illustres  collegaa  pertencentes  a  essa  pa* 
triotica  maioria  de  19  de  setembro. 

Chamado  pelo  Regente,  no  citado  dia  22  do  corrente  mes, 
para  me  encarregar  da  repartiçào  dos  negócios  do  império^  u&o 
hesitei  um  só  momeoto  á  vista  do  perigo,  tendo  por  eollegai 
cidadãos  tfto  honrados,  alguns  doa  quães  pertenciam  a  es&a  maio- 
ria:  não  desconheci  a  crise  em  que  eatava  o  Brasil ;  aíEigiam-me 
iobre  tudo  os  perigas  que  ameaçavÃo  o  trooo,  produzidos  pela 
precipitação  e  insiolita  maneira  de  discutir,  tolerada  na  Camará 
dos  Deputados.  Meus  ci^Uegas  e  eu,  unaoiíues  em  sentimeotos, 
propuzemos  ao  Regente,  em  nome  do  Imperadori  o  adiamento 
da  Âssembléa  Geral,  para  o  qutl  estávamos  exprusaamente  autc^ 
rizados  pela  Constituição  da  Monarcbia,  e  nunca  me  pareceu  o 
Eegeute  maia  Brasileiro  e  mais  digo  o  do  aeu  alto  po*to  do  qme 
iubscrevendo  o  seguinte  decreto: 


í 


—  507  — 

<  O  Regente,  em  nome  do  Imperador  o  ar,  d.  Pedro  11, 
amando  em  congideraçAo  &  exposição  qu.e,  pelos  mÍDÍ»tro8  e  se* 
^Petarios  de  estado  das  differente»  repartições,  lhe  ioi  feita  acerca 
do  estado  de  perturbação  em  que  actualmente  se  acha  a  Camará 
dos  Deputadi  B,  e  atteadendo  a  que  a  questào  da  maioridade  de 
S  ,  M.  I.,  que  nella  Be  agita,  pela  sua  gravidade  e  pela  alta 
posição  e  importaaeia  da  augUBta  pesaoa  a  que  é  relativa,  so- 
mente pode  e  deve  eer  tratada  com  madura  reflexão  e  tranquili- 
dade :  ba  por  bem^  usando  d»  at^ribuição  que  lhe  confere  o  art, 
lOl^  §  5,*  da  Constituição  do  Império,  adiar  a  Âssembléa  Geral 
pAra  o  dia  20  de  hovembro  do  corrente  anno. 

c  Bernardo  Vieira  de  Vasconcellos^  senador  do  império,  mi- 
nistro e  secretario  de  eslado  dos  negócios  do  império,  o  tenha 
Aseini  entendido  e  faça  executar. 

«  Palácio  do  Rio  de  Janeiro,  em  22  de  julho  de  1940,  deci- 
cno  nono  da  ludependencia  e  do  império — Pedro  de  Araújo  Lima 
— ^ Bernardo  Pereira  de  Vaaconcelloi.» 

No  situado  não  96  confentiu  que  fosse  lido  este  decreto,  e 
"|>©rniitta  Deus  que  seu  nobre  presidente,  o  sr,  Marquez  de  Para* 
XkR^uáf  ainda  um  dia    não    tenha  de    arrepender-se    da    maneira 

Ècr  que  se  houve  neate  transcendente  neg^ocioí  Na  Camará  dos 
leputados  appareceram  grÍto«,  ameaças  e  provocações,  que  nem 
a«  compadeciam  com  a  Onn^tituiçào,  nem  com  o  regim<^nto  da 
CAsa.  Aceu^aram-me  de  calumuiadoff  de  traidor  e  de  inimigo  do 
&r>  d.  Pedro  II.  Protestaram  contra  este  acto  como  emanado  de 
TUn  goveruo  illegal^  intruso  e  usurpador;  mas  em  Am^  obedecendo - 
l^e,  pouparam  ao  g-overno  o  dissabor  de  recorrer  a  providencias 
adaptadas  para  a  lua  execução. 

— Calumuiei  a  Camará,  dí^em  os  meus  adversários,  porque 
^lii  reinftya  a  niaÍB  perfeita  tranquillidade,  e  não  havia  alteraçÃo 
^Ig^uma  na  Capital. 

^Peço  aos  leitores  que  confrontem  o  decreto  de  adiamento 
^om  esta  increpaçào,    e    conveDcer-se-ão    de    que    uelle    se    não 
^aseverava  que  o  povo  da  Capital   estava  ajeitado  e  menos  amo- 
trinado.     Limitou^se  a   exprimir    a    desordem    das    discussões  ua 
Oamara  dos  Deputados,    desordem  que    parecia  appropriada  para 
tornar  odiosa   a    sauta   causa  que  ahí  se    pleiteava,     Digam-nos 
oa  espectadores  imparciaes,  djga-o  o  Jornal  do  CommerciQ  de  *23 
do  corrente   me^^     loeicplicavel    eontradic^ão ;  Ao  mesmo    tempo 
que  se  me  accusava  de  calumntar  a  Catnara,  de  conspirar  contra 
o  Brasil  6  o  trono,  estroti davam  na  casa  os  brados  borriveift  dos 
tribunos  da  plebe,  e  a  illuntrada  maioria,  reprovando  com  mudo 
silencio  tanto  desarinu,  só  fazia    votos  para   que  a    Divina  Pro- 
videncia salvasse  o  joven  principe,  para  que  não  fosse  t^lle  mais 
uma  yictima  innoceute  offerecida  nos  altares  da  demagogia. 

Era  eu  o  traidor  e  o  conspirador,  observando  religií  sãmente 
a  lei»  e  meus  desvairados  accusadores  eram  fíeis  á  Coiistituição  do 
estado,  almejavam  a  tranqui  Ilida  de  publica,    quando  discutiam  e 


-  soe  » 

atacavam  o  acto  do  poder  moderador  que  adiava  as  Camarás? 
quando  proclamavam  illega),  intrinco  o  a^urj^^adorr  um  governo 
que  tinham  até  eatào  recouhecido,  dado  que  um  ou  cutro,  nesteit 
uLtlmos  diasi  alguma  vez  fali  as  ^e  por  incidente  aobre  a  sua  le- 
galidade ?  \ 

Conspirava  eu  adiando  as  Camar&a  qnando  aconselhava  a 
crise  em  que  nos  viamoâ,  como  permíttia  a  Constituição  do  estado, 
e  eram  fieis  ao  seu  dever  aqnelte»  representantes  da  naçAo  que, 
tendo  obedecido  ao  decreto  do  âdiameuto,  foram  uo  paço  do  senado 
fazer  parte  de  huma  reunião  popular  onde  deliberações  se  to- 
mai'am  sobre  a  própria  existência  do  j^oyerno,  foTcejando  para  dar 
o  caracter  de  revoíaçâo  a  esse  acto  do  adiameoio»  que,  apesar 
de  tudn»  e  e  sempre  fni  çomiderado  ordinário? 

Conspiraria  eu  cumprindo  fielmente  as  leis  na  qualidade  de 
ministro  da  coroa,  e  meus  inimigos  ifto*írreprehensiveiSf  bem  que 
as  infringissem  por  um  modo  tAo  extraordinário,  como  eUes 
mesmos  n&o  poderão  negar  V 

Depois  de  expedido  o  decreto  de  adiamento,  partiu  o  Ho- 
^ente  para  3.  Çliriâtovão,  aíim  de  participar  a  B.  M.  o  Impera- 
dor o  paí^so  que  dera,  e  declarnr-lhe  qual  a  intenção  do  governo^ 
que  nl^o  foi  ontra  senlki  preparar  devidamente  a«  cousas  para 
quOp  ainda  no  corretite  annu.  fosse  proclamada  a  maioridade  de 
8.  M.|  não  como  uma  medida  arrancada  pelo  dcBeDcadeaoaentO 
dai  paixões,  e  dicrada  revolucÍDuariíi mente  por  um  'partido  em 
minoria  desde  1836  até  hoje,  maa  com  aqueHa  sclemnidade,  pru- 
dência e  siaudeza,  que  devum  scompavhar  um  táo  grande  acto 
hacional.  O  Regente  voltou,  tendo  t»ido  benignamente  acolbido 
por  8*  M.  o  Imperador  e  merecido  o  seu  asãentimento. 

Ão  meio  dia,  constou  ao  ministério,  reunido  em  casa  do  Re- 
gente, que  o  commandante  das  armas,  Francisco  de  Paula  Víis- 
concelloB,  estava  de  acordo  com  a  reunião  no  senado;  que  o 
commandante  dos  estudantes  da  academia  militar  havia  marchado 
com  elles  armados  jiara  aquelle  ponio,  e  que  uma  deputaçào, 
composta  de  senadores  e  deputados,  te  dirigia  a  S.  Christov&o 
para  obter  de  S.  M.  o  Imperador  a  gua  acquiescencia  á  procla* 
mação  de  sua  maioridade.  Era  indispensável  ao  governo  procurar 
também  saber  qual  a  definitiva  resnluçào  do  meerao  augusto  senhor, 
á  vista  da  face  que  as  cousns  acabavam  de  tomar,  e  para  isso 
voltou  o  regente  ao  paço  imperiaL  S*  M,  se  dignou  declarar  que 
queria  tomar  já  as  rédeas^  do  governo,  e  que  a  Assembléa  Geral 
tosf^e  convocada  para  o  dia  seguinte.  Conhecida  assim  a  von- 
tade de  S.  M,,  entendeu  o  governo  que  era  do  seu  dever  con* 
formar-se  com  ella,  o  oa  command antes  dd4  forças  de  que  podia 
dispor  receberam  ordem  para  se  limitarem  unicamente  áquellas 
medidas  indispensáveis  afím  de  fazer  com  que  a  segurança  in- 
dividual  foãse  respeitada. 

Ápe&ar  dos  escrúpulos  que  tenham  os  membros  do  governo 
sobre  tal  medida^  de  ordem  do  Regente,  em  nome  do  Imperadori 


-  509  — 

convoquei  de  novo  a  Aseeinbléa  Gerais  no  mesmo  dia  22,  para  o 
eeg-uiote»  à  vista  da  declarAçào  de  S.  M-,  e  porque  era  eate  o 
ultimo  acto  do  Regente.  K  para  que  o  pretexto  de  achar-me  «e 
no  poder  nàn  contribuiftBíí  psra  &6  constiminar  um»  revoluçào  e 
emati^uenta-Ia.  coiiBegiti  do  Regente  a  njinba  demistâo^  durante 
eito  tneu  ultimo  minieterio  de  9  borae  somente^  9  hora*  que  eu 
reputo  ãB  maí^  honroiae  de  toda  a  minha  vidi;  publica, 

Nâo  me  é  dado  Baber  quaJ  lerá  a  minha  Borte  por  estfi 
acontecimento, 

O  senhor  António  CaHoa  Ribeiro  de  Audrada  Machado  e 
Silva  (hajt?  ministro  do  império)  arrojou-se  a  ameaçar>me  em 
particular,  e  aoB  meus  outroa  collegae  em  ^eial,  na  augusta  pre- 
Bença  do  Imperador,  no  momento  tne^nio  ^m  que  S.  M.  acabava 
de  aceitar  a  difBcil  e  espichosH  tarefa  de  dirigir  õ»  negocias 
públicos.  Que  licãa!  l^ue  aentimentoa  ea  pretendem  ÍDâpirar  ao 
CoraçJio  do  inncce^nte  monarcha !  Que  prnva  de  aratamento  e 
lespeilo  à  sua  ^a^rada  peg^fia !  À'  espera  dos  ei^eitos  da  cólera 
e  vingança  do  senhor  ministro  do  imppno,  tenho  até  agora  de- 
morado estíi  minha  breve  exposiçâOn  mas,  já  que  tardíim  tnnto, 
força  é  procurar  por  esse  meio  jus  ti  ficar- me  perante  os  Braailí  i- 
roB  verdadeiramente  amigofl  da  mnnarehia  coustitucionaL 

Venham  sobre  mim  todos  oa  males;  aiuda  e&ton  impenitente, 
Xionge  de  arrepender-me,  ufano-me  do  meu  pioeedimenio,  su- 
jeítando-me  ao  jnízo  ímparetaí  dos  Brasileiros.  Iguaes  tenti> 
TOcntr»  (pOBRO  com  segurança  assevera-lo)  compartem  os  meus 
lionradr^B  collegas,  que  nunca  hesitaram,  nunca  abandonaram  o  seu 
^oato  no  momento  do  perigo,  Nào  posso  terminar  sem  agrad«- 
cer-lhes^  e  especialmente  ao  exm.  sr.  P^^dro  de  Araújo  Lima, 
«s  distintas  provai  de  confiança  que  me  derm  em  uma  occasiào 
lào  solemne. 

Eio  de  Janeiro,  28  de  julho  de  1840. 

Bernardo  Pereira  de  Vasconcello»*, 


EatSo  decorridos  67  annoa  após  aquelles  acontecimentos,  e 
e&tndandO'Ofi  boje,  somos  obrigados  a  reconhecer  que  foi  patrió- 
tica a  resolução  do  Imperador  aceitando  o  governo  antes  da 
época  constitucional. 

Achava -Be  elle  dianfce  de  um  movimento  revolucionário  em 
favor  da  maioridade. 

Si  alguns  membros  do  partido  liberal^  si  collocaram  á  frente 
da  revolução,  depois  de  terem  pf^rdido  as  esperanças  de  conse' 
guirem  a  maioridade  por  uma  medida  p&rlamtntar,  çbetea  poH- 
ticos  que  apoiavam  o  governo,  e  dos  mais  noUveii,  outra  solução 
nâo  aconselha vam. 


^ 


—  510  — 

Não  se  declarái-a  Honoríco  indeciso^  querendo  retirar  ãm 
diBCíi&sàp  o  projecto  propondo  a  reforma  do  art  121  da  Consti^ 
tuiçfto.  para  que  o  Iin]>erador  fo&se  declarado  maior  antes  doa  18 
annofl? 

Não  afiãrmára  perante  a  Camará  que  reconhecia  circum- 
Btanciaâ  qne  justificavam  o$  golpe»  de  estado? 

Jo&é  Clemente,  com  aua  palavra  auctorizgda  e  itifluapmtA, 
nao  acabava  de  sustentar  na  triímaa— que  era  iudiBpeoBavel  a 
exaltação  do  Imperador  ao  irtao,  qvanto  anUs,  acto  que  nào 
podia  maii  ser  embaraçado  pela  dispodç&o  coustitticional,  em. 
vista  da  agjtaç&o  que  reinava? 

Nào  aceitara  o  governo  a  idéa,  adiando  as  camarast  para 
ae  preparar  a  aolemaidade,  a&m  de  ser  o  Imperador  acelatnado 
no  dia  2  de  dezembro  ? 

Nào  voltara  ao  Paço  o  Regente,  acompanhado  de  um  mem-- 
bro  do  gabinete,  para  dar  conhecimento  ao  Imperador  de  que  a 
revolução  se  achava  triumphante,  e  eaher  êí  queria  a&aumir  o 
poder  antes  da  é}>oca,  que  na  manhã  deãse  me&mo  dia  havia 
sido  entre  amboa  combinada? 

Como  se  vê,  ninguém  mais  tratava  de  crear  embaraços  A 
declaração  da  maioridade— era  questão  resolvida,  imposta  ao  go- 
verno peln&  corporações  politicas,  por  uma  parte  das  clasaes 
armadfls  e  pelo    povo. 

Era  essa  a  situação,  quando  o  Imperador  patriotícamente 
aconselhado,  resolveu  aceitar  o  poder,  movido  também  pelo  nobre 
ÍDtuito  de  impedir  a  continuação  do  movimento  e  as  desafitrosaa 
coaBequBQciad  que  se  danam,  se  naquelte  momento  se  preteadesae 
contrariar  a  idéa. 

Ainda  asEim,  muitas  violências  foram  praticadas.  Membros 
do  goverao  e  deputados  contrários  á  maioridade  foram  desres- 
peitados. Àntnuio  Carlos,  na  pre&ença  do  Imperador^  maltratou 
e  ameaçou  a  VaBconcellos,  A  casa  deste  foi  apedrejada,  e  contra 
8ua  pesnoa  formularam  pasquina  iudecenteS}  que  foram  espalhados 
pela   cidade. 

Uma  quad rinha  tornou-se  popular  e  por  toda  a  parte  ers 
repetida^     Eil-a  : 

De    bronca   loquacidade 
E'  Berohrdo,  flem  questàO) 
Dizedor  de  bernardices 
Impando  de  sabichão. 

Apesar  de  victoriosos,  os  maioristas  achavam-se  ex:altadoi,  e 
não  só  foi  António  Carlos  qae  se  eicedeo  diante  do  Imperadori 
quando  o  joven  monarcha.  determinou  que  $e  físesse  a  convo- 
cação para  o  dia  ftf  fíuinte,  Marti m  Francisco  :  disse  ao  Imperador, 

*  •-'ermitta  agora  V.  M.  que  eu  dê  um  abraço  no  ar.  Ãraiijo 
Lima.  Quanto  aos  «eus  ministros,  hei  de  perseguil~o$  €  perse^uil-os 
até  a  ultima  extremidade,  como  traidores  a  V.  M,  e  ao  Brasil». 


~  511  ^ 

QuÀiido  Rodrig^ueg  Torree,  da  aesa&o  de  11  de  jucfaú  de 
184li  deu  conhecimeato  deste  facto  á  Camará,  António  Carlos 
negoa  ler  partido  delle  o  abraço^  como  affirmára  Bodrigue»  Torres, 
mas,  Marti ra  FranciacOj  immediatamente,  declarou  que  fora  elle 
o  aulor  do  aòraçii^ 


Nfto  conclniremoB  a  longa  exposição,  sem  aqtii  deixar  con- 
signada Qma  tradição* 

Quando  os  de  im  ta  dos  loaiorístas  se  dingfíram  ao  senado, 
consta  que  Pedro  de  Araújo  Lima,  por  um  momento  pretendeu 
resignar  o  cargo  d©  Regente,  para  que  o  substituisse  Vascon- 
cellos* 

Consultado  este,  declarou  que  estava  prompto,  e  que  faria 
executar  o  ducreto  do  adiamento  das  camarás^  e  subjugaria 
a  revolução  com  as  forças  de  que  podia  dispor  o  governo. 

No  momento,  porém,  de  resignar  o  cargo,  Araújo  Lima  de- 
sistiu de  D  fazer,  a  instancias  de  pessoa  de  sua  íamllia  que  fez- 
lhe  ver  que,  embora  esmagada  a  revoluçào,  de  todo  o  sangue 
que  fosse  derramado,  Ibe  caberia  a  responiabi) idade,  seria  uma 
Dodoa  indelével  para  etle  e  para  seus  descendentes. 

Estas  raeõea  poderosas  influirara  de  tal  forma  no  espirito  do 
Regente  — bom  imperador  consHiucional^  que  a  idòa  nfto  teve 
seguimeutp.  Patriota  e  de  âBpirito  elevado,  elte,  apetar  de  me- 
lindrado pelos  fitaques  pcssoaes  de  qne  fora  victima,  quiz  paa&ar 
á  posteridade  rodeado  aa  estima  que  de^e  merecer  a  memoria 
de  quem  como  o  Marquez  de  Oliada  encaneceu  no  serviço  da 
pátria,  fallecendo  aos  83  auuos  de  idade  em  1870,  depois  de 
ter  durante  meio  beculo  occupado  as  mais  elevadas    posições  no 

GABINETE  DE  24  DE  JULHO  DE  1840 

Yictoriosa  a  revolução,  sobe  ai>  poder  o  grupo  <Ío  partido 
liberal  que  promovera  o  movimento,  e  organiza-se  o  gabinete 
do  24  de  juíbo  de  1840,  o  da  Maioriãads^  como  ficou  sendo 
conhecido  na  biatorja  politita  do  ]mz. 

Sua  organização  foi  a  seguinte:  António  Carlos,  Império  ; 
Martim,  Fazenda  ;  Aureliano  ;  Estrangeiros  ;  Limpo  de  Abreu, 
Justiça:  Cavalcanti  de  Albuquerque,  Marínba;  Francisco  Ca- 
valcanti, Gtiprra 

Quem  bóie  medita  sobre  os  acontecimentos  daquella  época, 
verifica  que  a  organização  do  gabinete  de  24  de  julho,  era  ex- 
tremamente fraca  para  inicinr  nova  aituaçlLo  política,  embora 
figurassem  na  sua  composiçâ,o  homens  iUnstrca  que  já  se  ha- 
viam notabilisado  por  serviços  á  causa  publica. 

O  gabiuQte  era  fraco  porque  não  soubera  organitsar  nem  o 
interesse  politico  nem  a  esperança  dos  ambiciosos.  A  presenç-a 
de  dois  Andradasj  dois  ilollandaSj  toruavam-no  antes,    um    tni* 


r 


~  519  ™ 

QÍsterio  dtt  família,  um  ministério  de    facção ^  do   que  represen- 
tante de  um  principio. 

Açores ce  que  nern  subira  ao  poder  con&titucioDatinrntet 
ií©m  pr©8tÍ*^iado  pela  viclorm  de  qualquer  do»  priociploi^  que 
em  1Ô39  itiscrovcra  em  sua  bandeira,  ao  ampliar  o  programa 
de  I8;n. 

De  factOj  a  maioridade  n^o  eia    penBamento  de  um  partid*^. 

Em  1835^  o-í  Hidiandas  o  qui^prâo  promover,  píira  inijjtidir 
que  Feijó  assumisse  a  Regência  para  cujo  cargo  acabava  de  »er 
eleito. 

EsfA  iJéfl  foi  repellida  por  membroí^  notaveia  da  epoca.^ 
Álvares  Machado  no  autografa  já  transcriptn,  censurava  ot 
seus  promotoria,  porque  a  idea  iifto  fora  aventada  no  interesse 
pubUco,  m»ã  como  mtíio  de  >e  aposf^arem  seus  promotores  do 
poder,  para  governarem  o  paix  atras  de  um  conselho  de  três 
m**mbrop- 

Posteriormente,  Yaíconcellos  desejou  a  maioridade  de  d . 
Januaria,  para  «SBumir  a  regência,  deaejn  que,  como  elle  de- 
clarou uo  manifesto  de  28  de  julho  de  1840,  nunca  excedera 
os  limires  de  um  pénsaijjento.  E\  porém,  i^abi do,  que  o  desejo  de 
Vascnivcelh^s    <íra  determinado   para  contrariar  o  Kep-ente, 

Reliam  brando  eeto»  íaetos  históricos,  queremos  demonstrar 
qUf^  a  lãéa.  da  maioridade  pertencera  a  ambofi  os  [ia.rtidoe,  e  que 
ambos  a  pretenderam,  movidos  por  interesses  particulaies  ou  par- 
tidário». 

Em  1810,  a  luta  não  seria  iniciada,  se  os  promotores  do 
movimento  «uAo  tivessem  certeza  que  o  poder  lhes  iria  parar 
nas  mâoa,  i©  a  idéa  triumfassi*»,  (1) 

Ainda  assim,  a  certeza  do  poderá  nho  conspgiiira  reunir  todo 
o  fiartido  liberal,  ao  redor  da  bandeira  desfraldada, 

António  Carloe,  Martim,  Alvares  Machadf^^  Montezuma  e 
outros  entendiam  que  a  maioridade  podia  ser  decretada  pela 
Camará  sem  a  reforma  do  art  121  da  Con&tituíçào,  Considera- 
vam que  aquelle  Artigo  não  era  constitucional,  porque  refena-&e 
a  uma  cooífiçilo  de  tfimjin,  e  nSo  tinha  rela<:;ào  com  a  divxafto  e 
limites  dos  poderes  politicoa  do  cidadfto, 

SõUíia  Franco,  cuja  competência,  sinceridade  e  prestigio,  já 
n&o  se  lhe  podia  contestar  naquelle  tempo,  pensava  de  modo 
diametralmente  oppoato. 

Entendia  que  sem  a  reforma  do  art.  121,  constitucional- 
mente feita,  nào  podia  ser  decretada  a  maioridade,  porque  tal 
declaração  importaria  em  exteDs&o  e  aug mento  de  &ttribuiç5es 
de  poderôTí  politicoa, 

A  maioridade,  sustentaTa  Sousa  Franco,  importaria  em  pleno 
gozo  de  todos  o*  direitos  politicos  e  individuAe»  do  cldad&o,  e 
«endo  constitucional  o  que  diz  respeito    a    estes,  &ó  coostitucio- 


(»í    Theíífilo  Otwol-Ciroulir, 


L 


^  513  ^ 

D  ai  tn  ente  se  |>odena  fasÃr  tal  alteração  ou  dispensa^  fi  porque 
Asaim  peo&ava,  dera  mu  apoio  ao  projecto  que  Carneiro  Leào 
Apresentará,  na  «6B8Ão  de   18  de  maio  de  1840. 

Ottoejí  e  «eus  a^uigoa  reconheciam  a  constitucionalidade  do 
art,  121,  mae  entendiam  que  a  salus  popidi  exigia  a  medida 
iacõnBtitucional,  salvo  ao  deputado,  expliear  pObteriormente  as 
ra25e@  de  aeu  yoto  ao  eleitorado  e  pedir-lbes  um  hil  de  inãtm-- 
nidade. 

Como  se  vô,  além  de  não  ser  principio  do  programma  libe^ 
ral,  nã'^  houve  completa  uniformidade  de  TÍstas  sobre  ponto  tão 
importante. 

Nào  era  esaa  divergência  a  uuíca  a  enfraquecer  o  gabinete 
de  24  de  julho 

Graves  djs&en'iões  pessoae»,  profundos  antagouismoB  de  prin^ 
cipiís,  mutua*  desconfianças  dividiam  os  membros  do  novo  go- 
verno, o  que  impossibilitava  a  unidiide  de  vistas,  indispeosavel 
para  imprimir  a  força  precisa  ás  deliberações  col lectivas. 

Rapidamente  exporemos  quaes  eram  as  desconfianças  e  os 
Antagonismo}»  eotre  oá  membro»  do  gabtaete. 

António  Carlos,  naquella  época  não  infundia  confiança  aos 
liberaes  ortbodnx^oa. 

Desde  1831  ale  morrer,  o  que  le  deu  em  1845,  tornira-s© 
Tim  politico  arrebatado  e  quasi  sempre  indisciplinado,  defeitos 
os^ps  que  os  seus  contemporâneos  explicavam  como  sondo  pro- 
Tocadoft  pelo  despeito  de  ter  cheirado  aos  tí7  annofij  som  ttjr  sido 
chamido  a  fnzer  parte  de  organizações  minÍ3teriaea. 

Em  1832,  o  ódio,  que  elío  e  seus  irmãos  votavam  a  Feijó, 
o  levou  a  se  alistar  entre  os  reaccionários,  combatendo  Evaristo 
^2om  extrema  violenda  na  imprensa.  Dahi  a  restaurador,  e 
<»<^nte  desse  partido,  era  um  passo— e  eã»e  deu-o  António  Carlos^ 
Sobre  mte  pôato  histórico  reina  completa  divergência  entre 
^4  chroniea?— umas  negam  Bua  ligação  aus  reata  ura  d  ores,  outraa 
^  confirmam. 

Em  um  doe  ultimas  estudos  sobre  a  sjmpatbica  índividuali- 
«dade  de  Âutonio  Carloa,  lemos  o  set^uinte  i 

m  k  imprensa  do  governo  e  do  partido  liberal  moderado  o 
■atacou  como  um  doa  chefes  do  partido  restaurador,  e  partindo 
António  Carlos  em  viagem  á  Europa,  geralmente  ae  acreditou, 
^ue  o  levara  além  do  Mlaiitico  o  empenho  de  ccovencer  o 
«x-Imperador  d.  Pedro  da  tieces&idade  do  sua  volta,  e  de 
^razel-o  para  o  Brasil.  Sobre  e^te  ponto  podem  havér  duvidas  ; 
cj  verdade  hiutérita  não  se  conhece  a  i/^da  luz :  mas  nSo  pareoe 
aleivosa  a  noticia  espalhada  por  aquella  impreasa»»   (1) 

Acredito  trazer  documeoto  iudi^cutivel,  diante  do  qual 
neuhcimit  dtivida  mais  pôde  ser  permittida  • 


\ii    J>  M.  d«  !d«c«4o.  Aoao  3io|rftllDO, 


-  5U  ^ 

António  Carlos,  foi  emiftearlo  do  partido  restaurador  junto 
a  d.  Fedro,  e  trabalhou  para  que  aquelle  príncipe  regressasse 
ao  Brasil^  Eis  a  prova. 

Nos  anuaea  da  Camará  dos  Deputados,  na  sessão    de  30  de 

março  de  1839»  António  Carlos  declarou  o  seguinte  : 

(Quando  resolvi  deixar  o  paiz,  um  partido  rogou- 
me  que  indo  eu  para  a  Europa,    me    encatregas^e     de 
fa^er  sentir  a  um  personagem  o  interesse  que  viria  de 
ser  tutrr  de  seu  filho  e  até  regente — Disso  me  incumbi 
eu,  mas  como  aft  condições  eram  a  simples   vinda  dessa 
pessoa  na  qualidade  de  tutor,  para    ser    declarado    re- 
gf-nte,  caso  a  A^^embléa  (juizessãe,    n£Lo    era    por    isso 
restaurador,  oào  tinha  tençào  de  restaurar,  tinha  tençào 
de  melhorar  o  paiz,  que,  nesse  tempo,  rolava  a    borda 
'\a  precipicio . » 
Á  volta  de  d.  Pedro  como  tutor    e    regente    importava    na 
desaparecimento  de  todas  as  liberdades    conquistadas    em    1831^ 
Queixas  mais  recentes  guardava  o  partido  liberal  de  Antó- 
nio Carlos. 

Em  1837  e  38,  apoiara  o  partido  conservador.  Neste  ul- 
timo anno  foi  relatfT  da  commi&s&o,  essencialmente  politica,  da 
resposta  á  fala  lio  trono» 

Naqnelie  posto  applaurliu  toda^  as  medidas  governaniRoia6& 
da  politica  conservadora,  e  proclamou  a  necessidade  da  lei  da 
inter pretraçãOf  o  mais  impertante  dogma  da  esetpla  c-onser^^^adora. 
Ottoni,  e  com  elle  mustos  membros  do  partido  liberal,  não 
podia  cem  prebendar,  que  os  dois  Andradas,  se  associassem  no 
governo  com  o  ministro  que  havia  desterrado  para  a  ilha  de 
Faqixetát  ©  feito  processar  —  o  Andrada  primogénito,  José  Bo- 
nifaciOi  o  Washington  Braàileiro, 

Que  harmonia  de  vibtas  poderfa  existir  entre  Limpo  de 
Abreu  o  o  ministro  de  justiça  de  1333,  que  se  viu  desautorado 
pelo  nao  cumprimento  do  decreto  de  amnistia  dos  revoltosos  d© 
Minas  ? 

A  mesma  de^harmonia  reinava  até  então  entre  o  governo 
e  aljíuns  de  tieus  novos  delegados. 

Martim  Francisco  escolheu  para  seu  collaborador  na  pro- 
viucia  do  Geará  ao  senador  álencari  o  mesmo,  que  na  sessão 
de  12  de  maio  de  1837  tÃo  cruelmente  verberara. 

CeuBurando  o  g-ahiaete  do  qual  fazia  parte  seu  novo 
colle^  Limpo  de  Àbreu,  pela  conservaçAo  de  certos  presidentes^ 
referiudo'fce  ao  do  Ceará,  a^ilm  se  maoiíe^tava : 

«Se  eu  pudesse  rasgar  o  véu  que  occuUa  o  mis- 
tério de  semelhante  atteutado,  i$e  eu  pudesse  revellar 
a  esta  Camará  o  uomn  da  pe^ssoa,  que  essn  Presidente 
(Alencar)  encarregou  de  asgas.Muar  a  Pinto  Madeira, 
todo  o  mistério  estava  patente,  toda  a  discussão  tiuba 
acabado,  nms  a  religião  do  segredo  m'o  veda.» 


--  515  — 

Oa  amidos  do  Alencar,  entre  elles  um  Bobrtabo,  retrucaram 

4  Itartini  com  igtial  violeoda,  e,  em  artigoi  na  ímpreasaj  re- 
viveram a  tTAgica  execução  de  Cbaguinha»,  e  a  híatoria  do  — 
laço  do  Curral  do  Oomelho  -^  que  Marti m,  como  membro  da 
JuQta  do  Governo  Provincial  de  3.  Paulo,  mandara  procurar 
pita  Èabsíituir  a  corda  que  arrebeotara  crm  o  peso  do  corpo  do 
infeliz  para  ge  pro^nder  de  novo  aí>  supplicio  oaquelle  paulista, 
filbo  de  Gauanéai  sar^euto  de  miliciast  e  cuja  memoria  é  hoje 
completamente  ig'uoriida.  te.udo  ^ido  victima,  se^uodo  uas^  por 
fdctos  amoroioft,  seguodo  outros,  para  apagar  doutriuas  de  li- 
beriade  e  de  indepeudeacia  da  pátria,  da»  quaes  era  ardente 
apostolo. 

Poderia  com  taea  elemeutoB  dí&solveuteAi  existir  a  barmonia 
de  vi'tai  tã,o  nece^s%ria  em  um^  nova  situação'? 

Eia  porque^  Ottoui  foi  levado  a  a^sim  ae  mauiresitar  ^ — ^  cMal 
trinafava  a  maioridade,  e  já  aobravam  razoe  &  ao  partido  liberal 
para  le  arrepender  de  havel-a  iaiciado.  Podia  cobrir  a  cabeça 
metmo  no  dia  do  triuufo.»     (1) 


Como  era  de  prevê r^  «do  t&o  anómala  ori^antzaçãn  de  Ga- 
binfíte»,  (2)  duvide  logo,  at^ria^  divergências  eurgíram  entre  aeos 
membros,  as  quaei^,  trampirandoí  vieram  ainda  maiB  enfraquecer 
a  nova  sítuaç&a  perante  a  opmíão  publica. 

Martim  Fmucisco,  violento,  autoritário,  entendeu  que  o 
governo  da  via  intervir  no  pleito  ol*-itora],  empregando  meios 
Tt^acoifinario^  para  que  a  nova  situação  pude^ge  conseguir  maioria 
pnrlamentar  que  lhe  gearão tisg»  a  permauent^ia  no  poder. 

Aureliano,  divergiu  dessa  politica.  Entendia  aquetle  preclaro 
brasileiro,  creador  do  mnrat^pio  dos  servidoras  do  Estado,  que  as 
inatituiçoea  não  »e  acbavam  alada  bem  citnentadas,  pelo  que  o 
governo  d^via  nílo  conflagrar  o  puiz,  creando  odioa  que  iraim  se 
reBi^ctir  ua  pessoa  do  joven  moaarcha^  mas  proceder  com  mo- 
deração e  tolerância^  anlco  meio  de  li^ar  todos  oa  braaileiroa  ao 
redor  do  trono 

Queria  o  futuro  Visco ndí3  de  Sepetiba,  que  o  primeiro  gabi- 
nete da  maioridade  deixaíse  correr  o  pleito  livremente,  para  que 
a  opinião  de^íignaase  qual  o  partido  que  deveria  governar.  Se 
assim  procedeaae,  elle  se  dig'uiflcaria  perante  a  hiatoria. 

Fácil  foi  a  Martim  impor  sua  vontade  ao3  coUegaa,  tendo 
ficado  Aureliano  em  unidade. 

Por  ter  apresentado  aquellas  idéas  geuerosaa,  Aureliano  cabiu 
mo  deaagraio  de  algaus  [loliticos  iutransiçeuteõ  —  e  nunca  foi 
perdoado. 


^i\    OtlpDi  -  «Ckciil»r« 


—  51S  — 

JÃ  «stavATD  decorridos  maia  de  20  RunoB,  quando  Tito  Franco 
e^craveo  a  cBiogralifL»  e  Ottoni  a  eelebre  tCírcutari'.  «Âtnda  soa- 
vam oa  hymnoB  da  f*^gta,  dizia  Ottotâ,  e  já  o  governo  peasoal  ae 
inaugurava  com  a  aomFaQá.n  do  chefe  da  facção  aulica,  o  ar. 
Áureliaoo  de  Sousa,    psra    ministro  doa    negócios    eâirangeiro»» , 

Entendia  Ottoni  que  Aureliano  náo  deveria  ter  feito  parte 
do  gabinete  maiori^ta,  porque  Be  havia  conservado  em  estudada 
neutra lldude,  e  seutt  antecedentes  em  relaçAo  aos  coUe^as  o  eól- 
io cavam  em  p»3rf6Íío  antajroni&mo  para  com  cada  um  delles. 

Havia  grave  injui^tíça  neata  apreciaçào. 

O  antagonismo,  que  exi&tia  entre  Aureliano  e  db  collegaa, 
era,  pode-se  disser,  nenhutn,  comparado  com  o  que  até  ent&o 
havia  Be|tarado  oa  diversos  membroa  do  gabinete  de  24  de  julho. 

Dizer-ee  que  durante  a  luta  pfirlamentar  da  maioridade 
á^ureliano  se  conservara  em  eatudada  neutralidade,  é  querer 
contrariar  a  historia  doa  acoatecimentr^B. 

A  escolha  daqueUe  notável  parlamentar  estava  naturalmente 
indicada. 

Se  os  membros  do  novo  gabinete  deviam  aer  tirados  dentre 
os  promotores  do  movimento  revolucionário,  a  prioridade  cabia 
a  Aureliano. 

Nao  foi  elle  o  relator  do  projecto  da  commissào  da  resposta 
á  fala  do  trono,  no  qual  so  achava  inscrito  o  celebre  período 
com  que  foi  iniciado  q   movimento  *? 

Quando  o  Imperador  annoton  o  exemplar  da  «Biografia»,  a 
que  já  nos  lefen moa,  justificou  a  inclusào  de  Aureliano  na  organi- 
zação ministerial,  negando  ao  mfsmo  tempo  ter  impoBto  o  aea 
nome— o  que  fez  noâ  seguintes  termos  : 

c  Dava-me  com  Aureliano :  estimava-o  pelas  snaa 
qualidades,  porém  u&a  o  impuz  como  ministro,  nem, 
começando  entáo  a  governar  com  menoa  de  15  annos, 
tazia  queãtào  do  miuií-tros.  Sahiratn  dentre  oa  que  me 
fizeram  maior  ■. 

Esta  declaração  do  Imperador,  deaíaz  a  significação  que 
alguns  membroti  do  partido  liberal  pro curavam  dar  á  entrada  de 
Aurehano  no  gabinete  da  maioridade. 


Oa  maioristas  esperavm  que  a  primeira  medida  politica  do 
gabinete  seria  a  dissolução  da  Gamara  dos  Deputados,  que  haría 
sustentado  principiou  e  situacõet  divergentes. 

Em  ve2  á&^m  decreto,  foi  publicado  o  que  uomeava  oi 
ministros,  Gamaria  tas  de  S,  M,  Imperador,  o  que  fea  O  t  toai 
imittir  a  seguinte  apreciação: 

•  No  dia  eeguinte  ao  da  organização  do  ministério,  o  pontífice 
da  seita  palaciana  (Ãureliaeo)  veT<tia  com  a  libré  de  camaristas 
03  seus  cinco  collegaa,  e  os  Ãndradas  tiveram  de  enfileirar-ae  nat 
cerimonias  da  corte,  com  a  criadagem  imperial» « 


I 


—  517  — 

Porque  attribnir  a  Aurfillaao  um  acto  da  p&ita  da  qual  era 
titalar  AntODio  Carlos? 

Navarro,  o  irarei vel  maiorvBta,  o  horoem  do  punhal»  tor- 
nou-se  ura  dos  mais  ardentes  adverfarios  do  g^abinete  da  maior 
idade.  Um  dos  diversos  motivos,  que  o  levsram  a  ieparar-Bô 
doa  amigos  da  véspera,  ioi  ter  o  gabioete  ■  cer^^ado  a  Coroa  de 
minUtro^  camarista*  para  o  fim  de  cortar  a  communicação  ontre  a 
Dflçào  e  a  coroa  «O  ministro,  diaia  Navarro,  queria  occoltar 
do  mouareha  aa  qaeí^caa  publkaa  para  permanecer  no  poder. 

Quando  se  reabriram  as  ftesBòes  da  Camará,  em  um  $á  pouto 
adiavam-se  unidos  os  deputados.     Ouçamos  aitida  Ottoui. 

«Porfiavam  os  oradores  t-m  mostTar-fie  cada  qual  mais  rea- 
lista do  que  o  seu  vizinho.  A  diacOB^àn  do  projecto^  que  decretava 
a  dotftc^o  do  Imperador,  é  uma  [)ag'ÍDa  dij^na  de  estudo.  Liberaes, 
conservadores,  opp^siouíatas  e  miniBttTiaes  disputavam  entre  si 
quem  do  pão  do  compadre  havia  de  dar  mais  larga  fatia  ao  au- 
^sto  afilhado 

■  O  8r-  Ãntouio  Carlos  cobriu  o  lauço  do»  outros  licitautea, 
propondo  800  (m:}qè' s,  que  foram  votados  de  enthuaiasmo*. 


Era  do  Rio  Grande  do  Sul,  que  soprava  o  v^nto  da  des- 
graça para  os  g-abioetes  e  situações- 

Qnaudo  se  organizou  o  uiinisterio  da  maioridadef  achava -se 
na  administração  da  proviucia  contlagrãda  o  heróico  geueral 
Ãndréaâ,  que  cora  extremo  víg-or  havia  domíuado  no  Pará  os 
horroreg  da  *Cabanada». 

Homem  de  indomável  energia,  sabia,  entretanto,  como  chefe, 
ier  prudente  e  acautelado.  Tendo  encontrado  o  exercito  sem 
soldados  e  as  forças  sem  cãualhada  officiou  ao  governo,  decla- 
ra tido   «que  se  achava  de  braços   quebrados  ■ —Pedia  forças. 

Nào  perdia  o  tempo  esperando  que  Thas  remettesse  o  go- 
verno ceniral.  Com  verdadeira  diplomacia,  conseguiu  chamar 
novamente  para  a?  fileiras  da  legalidade  a  Bento  Manoel,  que 
pelos  erros  e  imprevidência  do  governo  havm  se  unido  aos  re- 
voltosos . 

Foi  esse  um  grande  serviço,  porquanto  os  próprios  revoltosos 
diziam  que  a  Mua  defecção  «valia  para  a  legalidade  seis  mil 
homensi,  palavras  que  Ãureiiano    repetiu  na  tribuna  da  Camará. 

Era  crença  popular  no  Rio  Grande,  arr^iigadfi  em  amigos  e 
adveráarioi,  que  a  vi  c  to  na  acompanhava  sempre  o  Ui  roico  guer- 
reiro. 

No  começo  da  campanha  se  achava  alistado  entre  os  re- 
voltosos ©  com  outros  obrigou  a  que  o  Presidente  Fernandes 
Braga  abandonaese    Porto  Alegre. 

Passando-se  pouco  depoii  para  a  legalidade,  inâingiu  aos 
revoltoso»  a  terrível  derrota  do  Fanfa. 


r 


—  6i8  — 

à  desastrada  politica  aepfuidâ  no  Rio,  de  pretender  aempra 
Batiefaser  a^  requidçôea  doa  revoltosos,  leváram-no  de  noyo  pam 
Di  campos  adversos— causando  ás  forças  legaes  terríveis  golpes, 
entre  ot  quaas  o  aprisioiíameato  do  Presidente  Antero,  os  ftuc> 
cessofl  do  Kiuc&o  d^Elri^i,  e  a  quoda  da  cidade  do  Rio  Pardo. 

Voltando  fiaaltntinte  para  as  íorçae  legaes,  fítaçes  á  diplo- 
macia de  iinJréaa,  coube-lbe  a  gloria  de  «er  o  primeiro  guer- 
reiro que  conseguiu  surprehender  a  Canavarro,  derrotando-o 
completamente  em  Ponxe  Verde,  reduzindo  o  esiercito  revoltoso  a 
peqneuaa  partidas,  que  Francisco  Fedro  com  iniomavel  ardor 
batia  e  destroçava  em  Dom  Fedrito,  Santa  Maria  Xna^  Cangussú, 
Candiota,  Arroio   Grande,  e,  fitialmente,  em  Porongo:». 


*     *     * 

O  govêmo,  em  vez  de  enviar  a  Ãndréas  as  forças  que  re- 
clamava aquelle  general,  ordenava- lhe  que  promove^Be  a  pacifi- 
cação segundo  as  in-iitrucções  que    enviara. 

Em  um  celebre  officio,  o  irascivel  general  claitòificon  de 
indec&ntes  as  propor ta^  do  governo.  Amnistia,  dizta  elle,  só 
propòtj  quem  pode  dUpor  de  forças  — maâ  aquf^lla  medida,  tjuando 
^e  acibava  no  goveruo  em  pé  de  inferioridade,  w  teria  como 
resultado  levar  aoa  adversários  a  convicçào  de  que  eram  consi- 
derados pelo  governo  fortPS   e  iuvencivei*, 

Recuaando-se  Andréas  a  ^e  prestar  a  esses  manejos,  o  go-- 
votuo  re«olve  enviar  Álvares  Machado  ao  Sul,  embaixador  pe- 
rante os  revoltos 08. 

Chegando  ao  Rio  Grande,  dirigiu-se  Alvares  Machado  ao 
acampamento  dos  rebeldes,  e  inaugura-se  a  política  que  ficou 
alli  denooiinada   —do  vinho   e  mamidlaãa^, 

Depoifl  de  grandea  festas,  os  revoltoaos  apresentam  sua  pro- 
pOBta  de  conciliação,  cuja  base  era  —  Reconhecimento  da  Repu- 
blica Rio   Graodense  ! 

Emqnauto  se  diBcutia  a  conciliação,  os  revoltosos,  como  já 
haviam  praticado  em  1387,  procuravrm  collocar^e  em  espleit- 
dídas  posições    estratégicas. 

Conseguido  esse  ãenideratum^  declaram  a  Álvares  Machado 
^ue  suspendiam  o  estudo  da  a  propoatas,  porque.  nAo  tendo  elle 
liYre  acção,  estavA-se  perdendo  tempo  Desff^e-lbe  o  governo  a 
responsabilidade  officiat,  e  de  novo  seriam  encetadas  as  negociações. 

O  governo  centra),  nào  comprehendendo  que  os  revolucio- 
nários se  achavam  empenhados  em  arredar  Andréas,  cuja  energia 
era  um  eleme:.to  de  victoria,  apressou-se  a  demittil-o  d»  Presi* 
dente  e  Çommandaute  das  Armas.  Substitue-o  Alvares  Machado 
na  Presidência. 

As  lutaâ  e  as  divergências  dos  passados  períodos,  tinham 
demonstrado  ao  governo  a  conveuieucia  de  reunir  os  doua  cargos 


à 


—  519  — 

em  nmA  «ó  pd«8oa  para  qoê  a  admioiâtraçâo  tívesâe  iuaíb  cohes&o 
e  força 

Com  a  demisB^o  de  Ãndreas,  separam  nuvameiítt^  ob  cargo», 
fiendo  nomeado  o  general  Joào  Paalo  Goramandante  daa  Arma?. 

Foi  um  erro,  que  produziu  graves  consequências, 

Nào  podemoa  deixtir  de  consignar  um  facto  latnpíitavel,  Oa 
couttunoft  erroft  do  go/enio  central,  cducorrerara  para  que  a 
gaerra  civíí  aasolasa»  por  tfto  long^n  tempo  oa  férteis  Pampas, 

Nuve  longos  «'luo-i  durou  a  luta  frairícida,  Daraote  os  do^s 
altimot  annoa  daqaelle  período,  esteve  á  frente  do  exercito  Is- 
g^al,  Caxias,  o  grande  pacificador  nacional.  Nos  sete  ah  noa  ante- 
riores, a  Proviocia  foi  govíirnada  por  12  preeidentes  e  vice-pre- 
ai  dentes. 

Cada  vez  que  se  assentava  um  ptano,  ao  se  iniciar  a  cam- 
panha, oa  quandn  já  se  achava  iniciada^  aqnellas  mudanças 
alteravam  as  medidas  adoptadas,  facto  que  retardava  as  operações 
e  contribuía  para  fortalecer  oa  revoUoBoa. 

Às  mais  longas  administrações  foram  as  de  Araújo  Rj beiro  e 
Caxias.  Aquéile  inAinoria  a  derrotai  do  Faoia,  e»te  terminou  a 
^erra  com  a  derrota  de  Ponxe  Verde,  Nào  tivessem  tempo  f^uffi- 
cieut€f  nào  poderiam  encerrar  ou  surprebender  o  inimigo  que 
corria  a  campa uba,  surgindo  hoje  aqui,  amanha,  20  ou  30  le- 
foas  além  Í 


Assumindo  a  admíniatração,  recebe  Al  vates  Machado  convi- 
te dos  revoltosos  para  continuareni  com  o  estudo  das  propostas 
de  paciticação. 

Neíte  tempo,  vem  á  mfto  da  Presidente  prova  documental, 
de  que  B^nto  Gonçalves  eonvida  a  chefes  leg'aligtas  para  ser- 
virem á  Republica, 

Foi  só  entào  que  comprebendeu  ter  sido  ludibriado  pelos 
revoltosos. 

Lembrado  do  que  succeiera  a  Antero,  rf-cusa  o  convite,  e, 
de  acordo  com  João  Paulo  encetam  as  ope  rações  militares. 

Foi  e£sa  campanha  que  occasionou  a  queda  do  ministério 
maiorista.  Entendeu  João  Paulo  que  devia  correr  atta^  dos  re- 
voltosos, perfeitamente  montados,  quando  o  exercito  nào  tinha 
eavallaria  para  com  elles  competir. 

Ne-sa  corrida  phantaBtica,  desesperada,  JoSo  Paulo  chega  á 
fronteira  sem  nada  «ncuutrar.  Atrás  de  si  deita  indefesa  a  Pro- 
vincta  inteira- 

Oa  entendidos  eensurào  a  direcçam  dejoào  Paulo,  e  o  Pre- 
sidente pouco  depois  reconhece  a  prucedencia  das  accuiações. 

Como  consequência  surge  a  desharmouia  entre  o  Presidente 
%  o  Commandante  das  Armas,  oceasiouando  esse  facto  a  retirada 
de  muitos  chefes  legalistas,  que  nào  queriam  se  envolver  na  luta 
que  surgira  entre  o  Presidente  e  o  Commandante  das  forças. 


—  520  -^ 

Conhecidas  no  Rio  as  desaatroflas  consequências  deatea  factoSf 
ó  governo,  sempre  indecÍBo,  procurou  contempori^r. 

Foi  nesse  monietito  que  Anreliaiio,  vendo  perigar  a  integri- 
dade do  império  pelo  deimetnbramento  do  Hio  Grande,  propõe, 
6m  Condelbo  de  Ministros,  a  retirada  de  João  l^aulo.  Os  col legas 
repelUram  esse  alvitre, 

à  arei  lano,  nào  querendo  carregar  com  ss  cooFeqnencias  que 
occasionaria  a  conservação  de  João  Paulo  no  commando,  vae  ao 
Imperador,  expõe- lhe  circum&tanciadameDte  os  erros  da  campa- 
nha e  CS  caprichos  do  governo^  e  solicita  sua  demissão  do  cargo 
de  ministro. 

O  Imperador^  adoptando  o  voto  singular  de  Aureliano,  re- 
cusa-) he  a  demissão  e  demiiíe  o  miniateTiOt  encarregando  Ãranjo 
Vianna  de  organizar  a  nova  sítuaçik>  conservadora. 

Eb  os  termos  da  declaração  da  retirada  do  ministério,  feita 
na  Camará  por  António  CarloB  : 

«Nestas  eircurnstancias,  os  5  ministros  que  eram  de 
outra  opinião,  (qae  fos^e  conservado  João  Panio)  FoaÃo 
OBRIGADOS  a  retirarem  se  a  serem  vencidos.  Nfto  foi 
S.  M.  quem  decidiu,  porque  o  Imperador  reina  e  oâo 
governa,  m&s  tem  o  direito  que  lhe  dá  a  CouBtituição 
de  demittir  oa  minisiroSf  e  elle  demittiu  o«  ministros 
que  pensavam  cumo  eu*. 

A  mudança  politica,  como  era  natural,  exacerbou  os  ânimos 
doa  exaltados  do  partido  decahtdo. 

Repetidas  censuraa  foram  dirigidas  ao  Iinf»erador — uns»  viam 
UR  demissão  do  ministério  a  continusção  do  poder  p€SS(*clt  que 
«e  iniciara  com  a  entrada  de  Aureliano  no  gabiDete  de  24  de 
julho  :  outros,  como  Ottonii  attribuiram  aquelle  acontecimento  a 
mero  capricho  de  imperialiftitio. 

O  Imperador,  couteetíioda  as  observações  feitas  por  Tito 
Franco^  na  Já  citada,  «Biogrags»,  escreveu  a  seguinte  nota: 

«Be  o  imperialismo  não  é  o  Imperador,  mas  o  par- 
tido que  se  serviu  da  inexperiência  delle,  concordareif 
embora  cumpra  rebordar  os  erros  commeíiidos  pelo  Mi- 
nistério da  maioridade,  ou  antes,  por  alguns  de  seus 
membros,  e  as  diecustsòea  que  houve  antes  de  ser  dissol- 
Tida  a  primeira  camará  da  maioridade»» 


Qtiando  se  abriu  o  parlamento,  que  poucos  dias  depois  foi 
dissolvido,  já  se  achava  no  poder  o  gaoiuete  conservador  de 
28  de  março  de  1841,  continuando,  entretanto,  desumido  o  par- 
tido liberal. 


[ 


^  5ái  ^ 

Membros  dos  m&ú  consid^nidos  deãse  partido  denuQci&rant 
na  tribuna  o  falaea mento  da  eleiçào  pela  desmedida  intervenção 
do  governo. 

Urbano,  em  maio  de  1841,  dixia  na  Câmara. 

c  E'  espantoso  o  modo  por  qu6  ee  procedeu  á  eleíçào ,  Sua- 
péttdett-se,  demittiu-se,  recmtou-se,  persíguiuBp.  Hoje  deve  a 
camará  defender  as  verdadeiras  garantias  do  povo  :  quando  o 
governo  quer  influir  nas  eleiçõei',  rjuattdo  qui-r  aniquillar  todas 
aa  garantias  de  ordem  e  sufocar  absolutamente  a  oxprePtào  da 
Yontftde  nacional,  n&o  sei  que  haja  outro  recurso  que  não  esta 
Gamara . » 

No  mesmo  sentido,  e  com  maior  violência  se  manifestavam 
Nunes  Maebado,  Franciaro  Ramiro,  e  tantos  outros  liberaeb 
í  Ilustrei . 

O  governo  ufiu  se  defendia,  nem  era  sinceramente  defen- 
dido, apenas  António  Cartoe,  o  revoIncioDario  de  Pernambuco,  o 
liberal  de  1831,  o  defensor  da  politica  coníervadora  era  37  e  38, 
o  republicano  de  coração  e  monarcb^sta  de  cabeça,  o  restaurador 
em fím,  demonstrou  coragem,  vindo  justificar  na  tribuna  a  politica 
do  gabinete  do  qual  fija*-ra  parte,  tuatentudí»  a  theae  De  que 
o  governo,  expressão  dt*  nm  partido,  tem  o  direito  de  intervir 
no  pleito  eleitoral  >  , 

  Camará  doft  Deputados,  que  havia  sido  eleita  com  tão 
grande  violência,  foi  dissolvida  no  dia  l.**  de  maio  de  1842. 

O  telatorio,  apresentado  ao  Imperador  pelo  mini^tftrioK  pedindo 
a  dissoluçíto,  juatiíi^^a  a  medida  excepcional,  demonstrando  que  a 
Camará  não  representava  a  opinião  do  paiz  eleita  como  fora 
com  extrema  violência  já  denunciada  na  tribuna  pelas  vozes 
inBUBpeitaa  de  Urbano,  Ramiro,  Noneâ  Machadot  Sinimbu,  e 
confirmadas  pelo  ex-ministro  de  eãtrangeirns  Aureliano  Qoutiubo. 

Tranacrevemoi  esse  documento  histórico, 

Senhor.  Os  ministros  de  V.  M.  L  incorreriam  em  grave 
responsabilidade  f'ara  com  o  Paiz,  trali iriam  as  smia  consciências, 
seriara  indignos  da  confiança  que  V.  M.  L  tem  nelles  depositada, 
se  Dão  viessem  pedir,  com  o  mais  profundo  respeito^  a  V .  M ,  I . , 
uma  medida  que  ds  circum^^tancías  re^^lamam  impe  insamente  para 
manter  contra  os  embates  das  facções  o  systeraa  Monarchico 
ConBtít!icional  Representativo,  único  que  pode  a^segutar  a  sal- 
vação do  Eãtado. 

E\  sem  duvida,  melhor  prevenir  a  tempo  as  consequências, 
que  a  marcha  incalculável  das  facções  costuma  acarretar  cornsi- 
go,  do  que  lutar  com  ellas  depois  de  haverem  produzido  irre- 
paráveis estragos. 

À  actual  Camará  do»  Deputados,  Senhor,  n Ho  tem  a  força 
moral  indispensável  para  acreditar  seus  actoâ,  e  fortalecer  entre 
nós  o  Bysteraa  Reprt^sentativo.  Nào  pôde  representar  a  opinião 
do  País,  porque  a  expressão  da  vontade  Nacional,  e  das  neces- 


-^  522  — 

sidadea  publicas,  f}6inent«  a  pode  prodazir  a  liberdade  do  Toto« 
A  existência  desaa  Câmara  não  é  compatível  com  a  idéa  de  am 
Governo  regular;  porque  nella  predominam  homens,  que,  pút]do  4^ 
parte  o&  metoá  i;otiiit.ituciouaeB,  não  recuam  diante  de  outros  que 
iubvrertem  tod»ia  aâ  iáèíiA  de  organizaçllo  aocial^  invad^^^mt  usur- 
pam o  tendem  a  constranger  uo  exercicio  de  suaa  atíribuições  os 
outros  Poderes  do   Estado, 

Ainda  nâo  se  apagaram  da  memoria  doa  Braaileiroa  as  re- 
cordações das  tramaa  e  vioIenciaSt  que  na  eleição  da  actual  Ca- 
mará doa  De[iutadoa  foratti  commettídas  em  qua^i  todos  os  pontos 
do  Império  O  triumplio  olt^itoral,  calcadas  embora  as  lei»  do 
pudor,  foi  o  objecto  em  que  puzerara  todo  o  aeu  desvelo  as  in- 
fluencias, que  a  despeito  da  vontade  Nacional  entào  predotni- 
navam,  e  o  resultado  coroou  âeua  deploráveis  eaforços,  porqnâ 
contam  na  Gamara  dos  Deputhdog  decidida  maioria. 

O  Brasil  inteiro,  Senhor,  t-e  levantará  para  attestar  que 
em  1840  não  tiouve  eleições  regulares.  São  irregularmente  aus^ 
pensas  (até  mesran  era  masía)  autoridad'*p,  cuja  ddhe&âo  é  au*- 
peita  ou  duvidoia ;  ordena  com  preve^íjào  lavradas  síwj  con- 
£iad:is  aos  agentes^  que  pre-^idem  á  empreita  eleitoral  para  re- 
mover obsiaculosi  p  impedir  que  pri^dominfl  a  vontade  publicji ; 
etnprt^gados  públicos  são  colloeadoâ  na  dura  çollifiào  de  optar 
eutre  o  BacriÂcio  da  sua  con^cieucia,  e  o  pão  de  aeus  tilhoa: 
operários  de  repartiçõed  publicas,  soldados,  marinheiros  de  em^ 
barcações  de  guerra,  s&o  coQstr.\ngÍdos  a  levar  á  carga  cerradAi 
em  liataa  que  lhes  sâo  impostas,  um  voto,  de  que  11B.0  tem  con 
acieucia;  agentea  subalternos  da  menor  moralidade  e  autoriza* 
dos  para  proceder  como  Ihea  aprouver,  arrejíimenUra,  e  armão 
individues,  cttjoa  direit>a  sào  mais  que  conteítaveia,  cuja  nacio- 
nalidade meáina  é  duvidoâíi,  e  muitos  dos  quaes,  nâo  pertencendo 
ds  ParocbiaSf  uáo  ièm  oella*  voto  ;  estes  regimentos  iuvadvm  oa 
TempSnSt  arrancara  dm  Mesas  com  violência,  e  rasgando -Ibea  a» 
vestes,  cidadãos  que  para  as  compor  haviam  sido  cbamadoa,  e  oa 
i^ubâtituem  por  outros  á  for(;a  ;  ex peitem  d-  s  mesmoft  Temploa 
com  in^iultos,  e  ameaças  cidad&os  pacifícng,  que  ahi  concorrt-m 
pard  exercer  um  dos  maia  preciosoa  direitos  do  cidadão  livre, 
qual  o  de  elegi^r  os  seus  Hepresentaiitea.  E  ae  ea^es  regimentos 
nào  bastam,  &e  o  cidadão  não  se  acobarda,  a  um  aceno  daquelle» 
ageutes,  obedecidos  pela  força  armada,  são  acommettidoa  os  Tem^ 
pios,  profanados  por  bíiio netas,  e  corre   o  sangue  Brasileiro  1 

Quando  todos  esses  meios  lalbam,  é  empregado  outro  re- 
curso, empenhamse  em  perturbar  por  todos  oa  medos  m  0|>eraçÕei 
eleitora  es . 

Se  a  maioria  dos  cidadãos  indignada  se  retira  sem  enkre« 
gar  as  suts  listas,  ap parecem,  não  obstante,  pejadas  as  urna» 
de  um  numero  dei  loa  excedente  ao  dos  cidadãos  activos  da  Pa^ 
rochia. 


—  523  — 

Daa  mãos  doB  que  ai  proclfiTTiaram  recebem  aa  Meaas  fti 
listas  aoa  maços,  ao»  centos,  e  «em  conta,  ^uer  veuhatn,  ou  nJLo 

a&âí<;Dadaâ^  qu^r  os  nomeia,  que  par  baix:o  delias  se  lêm,  se^am  ou 
DÃO,  de  cídadào»  activos»  dtí  ineninns.  de  escravos^  e  ainda  mesmo 
imagiiiariof*  E  como  se  tanto  uào  bastara,  é  a  apntaçào  feita 
por  essas  Mesa»  uma  amarga  e  criminosa  divisàa  do  direito  de 
yolarl  Contam  oa  votos  como  lhes  apraz;  lâm  <*i  uomes  dos  yú' 
tsdos  como  lhes  parece  ;  apuram  liàUs  em  masaa,  E.4ta  Capital 
foi  com  indigoaçÃo  testemunha  desaas  SaturnaeSi  as  quaes  dis- 
seram «er  eleições  de  um  povo  livre. 

A  e^&es  atteotados  outros  aceres  cem  :  roubam- se  ae  urnas ; 
subititaem-se  uellus  aa  lit^tag  verdadeira-i,  ou  pelo  menos  publi  < 
cameute  recebidas  por  outras  falsas;  e  atá  uào  se  bt^sita  diante 
da  escandalosa,  e  tào  publica  taUificaçàa  daa  actas,  quando  o 
resultado  que  apresentam  nào  está  em  tudo  ao  sabor  dos  iuteres- 
sadoB. 

Em  alguns  lugares  é  o  numero  dos  Eleitores  a p par en te- 
mente aagmnatado  por  uma  maneira  incrível  e  espantosa. 

Colleg^ios  bouve  que,  nho  podeudo  t^equer  dar  cem  eleitores, 
apreientaram,  todavia^  mais  de  mil. 

NAo  hii  qiiasi  parte  alguma  do  Império,  Senhor,  onde  al- 
guns dcâSfíB  atteritados  coutm  a  liberdade  do  voto  n»o  iussem  per- 
petrados em  as  eleições  da  actual  Oamaru  do4  Deputados 

Uma  Camará  Legi^ilativa  eivada  em  sua  ori;;;em  por  tantos 
vicio»  e  crimes,  dt^sconceituada  na  opiniAo  g-eml  di>a  Brasileiros 
que  os  tebtamu libaram,  jamais  poderá  conciliar  a  eatima^  vene- 
ração  e  prestigio  que  produzem  a  força  moral,  tfto  necessária  a 
taes  Corpos  politicos,  e  á  manutenção  do  regim**!!  representa- 
tivo. Oa  seus  acto*  uio  pód«ra  encontrar  aqiiella  obediência  fácil 
e  voluntária,  quo  é  tilha  da  couvicçáo  que  têm  oa  governa  doa, 
de  que  para  eties  concorreram  por  meio  de  uma  eleiçào  livre. 
Nem  ella  conseguirá,  quaesquer  que  sejam  seus  esforços,  dominar 
a  razào  social. 

Euttei^ue  necessariamente  à  publicidade  tudo  quanto  se 
passa  em  uma  Camará  Legislativa,  chama  parn  o  campo  das 
dí^cusBoee  a  íutelligeucia,  as  paixões,  os  interessas  de  todos  os 
íiierabros  da  Associaçào,  é  quatidiauamt^nte  julgada,  condemnada 
OU.  approvada.  De  quauta  força  morHl  deve  ella  gozar,  de  quanta 
confianQa  deve  ser  revestida,  para  qua  nào  soflra  quebra  a  sua 
auCondaie  por  e^sas  quoúdittnas  sentenças  ?  Uma  Camará  Legis- 
lativa  degcDuceituada  é  a  maior  calamidade  que  pode  aflligir 
uma  NaçAo. 

Contra  a  Camará  dos  Deputados  que  acaba  de  conaiituir-se, 
ergue-Stí  de  cada  potito  do  Império  uma  queixa  expr^bando  á 
lua  origem  uma  violação  de  Lei;  logo  no  mesmo  dia  da  sua 
eleição  ouviu-se  em  cada  ponto  do  Impe  io  um  protesto  contra 
ellaj  a  razio  publica  a  foi  condemnaado.  fot  decretando  a  sua 
dissolução,  e  cada  facto  que  ia  depois  apparecendo,  mais  a  con- 


—  524  — 

firmava  em  toa  senteaça.  AceitAf,  oa  tolerar  tal  Camará,  é 
concorrer  para  que  seja  falseado  o  Systema  Reprefleniativo^  e 
jmpellir  a  Nação  para  que  Beja  abjãmada  na  auarchia,  e  no 
despotismo.  - 

Recouhecem  oa  Ministros  de  V.  M.  I.  que  ob  principiei  de 
ordem  nào  f o  rata  de  todo  repelLídoB  da  compouçâo  da  actual 
Camará  doa  Deputados;  o  recotihecero-uo  com  tanto  maior  prazer, 
quâuto  isso  prova  a  força,  da  Opiuiào  Naciíiuat,  que,  ape»ar  de 
comprimida,  conse;í«Ía  collocar  na  mesma  Gamara  homens  notá- 
veis por  &ua9  lu'^eã,  talentos  e  virtudee;  tnai  o  que  poder&o  seus 
esforços,  sua  habilidade  e  eeu  patriotismo,  diante  dos  obiitacnlos 
qtie  têm  de  encontrar  V 

A  SalvaçãrO  do  Estado,  tal  qual  se  acha  constituído  pela 
Constituição  o  Beu  Acto  Addicional,  exige,  p^irtanto,  que  a 
actoal  Gamara  dos  Disputados  seja  bub^tituida  por  outra,  a  quem 
a  liberdade  do  voto  dê  o  curaeter  de  Representante  da  Opiaiào 
Nacií^nil,  e  a  força  moral  iiidiapQntáayel  pnra  firmar  entre  nós  o 
Syâtema  Monarchico  Constitucional  Representativo, 

E  por  iaao  os  Ministros  de  V.  M.  í«  n&o  besítaram  um  mo* 
mento  em  pedir  a  V.  M.  I.  a  providencia  compre hendida  no 
Decreto,  que  tara  a  bonra  de  depositar  nas  Atiguaias  Màos  de 
de  V,    M.  I     que  resolverá  como  houver  por  bem. 

Palácio  do  Kío  de  Janeiri»,  em  1,*  de  maio  de  1942.  Do 
V.  M.  I  Súbditas  âets  e  muito  reverentes— Marquez  de  Para- 
naguá, Candtdo  jQèé  dn  Araújo  Vianiia,  Paulino  José  Soares  de 
Sousa,  Visconde  de  Abrantes,  Aureliauo  de  Sousa  e  Oliveira 
Coiitinbo,  José  Clemente  Pereira. 

DSCRETO    DISS0LV£N£X>    À    CA U ARA    BOS   DEPUTADOS 

Tomando  em  consideraçilo  o  que  me  es  puseram  os  Meus  Mi- 
nistro» e  Secretários  d'Elstado  no  Relatório  d^sta  data,  e  tendo 
ouvido  o  Meu  Conselho  d*Bstado»  Hei  por  bem,  usando  das  at- 
tribuiçòes  que  ms  confere  a  Consiituiç&o  no  artig-o  cento  e  um, 
paragrapho  quinto,  di8=toIver  a  Camará  dos  Deputados;  e  convo- 
car deiide  já  outra  que  ao  reunirá  no  dia  primeiro  de  uoTemhro 
do  corrente  anno. 

Cttudido  José  de  Araújo  Vianna,  do  Meu  Censelbo,  Ministro 
e  Secretario  d'E»tado  dos  Negócios  do  Império  o  tenha  aa>im 
entendido  e  faça  executar  com  oa  deii^pachos  necessários.  Palácio 
do  Rio  dn  Janeiro,  em  o  primeiro  do  maii>  de  mil  oitocentos  e 
quarenta  e  dois,  vigésimo  primeiro  da  Independência  e  do  Império, 
^-Com  a  Rubrica  de  Sua  Majestade  o  Imperador. — Cândido 
José  de  Araújo  Vianna* 

As  apaixonadas  censuraa,  e  na  tribuna  da  Camará^  affirmou 
qae  Aureliano  nJU)  queria  permanecer^  mas  que  o  Ministério 
ináiatiu  para  que  ficasse,  a£m  de    firmar  o  principio  que  o*  mi* 


[ 


—  525  — 

ni»tr06,  que  Yencem  &9  qnestòes  de  gabinete,  devem  permanecer, 
p&ra  que  qualquer  miuistro  tenha  a  força  para  fazer  vingar  eu&s 
opim&es,  quando  gravea  motivos    e  o  intpreafe  do  Brasil  o  exijam. 

Este  jirincipio  foi  sempre  posteriormente  seguido. 

Os  factos  quti  acabamos  de  rememorar,  foram  confirmados  pelo 
próprio  ÁurolUno,  quando  teve  de  rí^eponder  a  Ottoni  e  a  outros 
que  entendiam  aer-lhe  imjwssivel  eiplicar  sua  permanência  no 
poder. 

tA  miaba  presença,  disse  Âurelíano,  é  sempre  excellente : 
emquanto  liver  a  honra  de  conservar  a  coufiança  da  Coroa  e  da 
maioria  dos  representantes  da  NaçÃo,  pouco  me  importa  Que  alguém 
a  ache    falsa,  vesga  ou  difficil». 

Nesse  discurso,  eonfírmoti  que,  quando  fora  convidado  para 
h%er  parte  do  ministério  anterior,  se  oppusera  ás  medidas  vio- 
lentas. 

€Eu  disse  eotAo  que,  atteudcndo  ài  circumstAncias  do  paiz^ 
ao  enthusiasmo  'da  Naçào  pelo  &pu  joveii  tnonarcha,  entendia 
que  o  primeiro  MitiiBterio  de  d.  Pedro  2,*  devia  ee^ir  uma 
politica  conciliadora,  afastada  do  eapirito  de  parti do^  utna  p<  li- 
tigia, emfitn,  tendente  à  reuni íko  em  tomo  do  Tbrono  de  todoi  os 
brasileiros,  si  possível  fosse,  e  que  fizesse  esquecer  os  males  pas- 
sados . « 

<Eu  tive  a  honra  de  ouvir  a  ConVa  dizer,  que  era  esBA  a 
politica  que  desejava  se  segui Sí<e,  e  o  prazer  de  ouvir  a  m^us 
nobres  coUegas  que  a  ella  adheriam  i  mae,  sou  bnstante  franco 
para  o  dizer  (e  com  ma^ua  o  digo)  que  comecei  a  observar  que 
na  pratica  o  gabinete  tendia  a  aâastar-se  dessa  politica,  que  eu 
julgava  que  se  devia  seguir*. 


O  gabinete  de  28  de  março  de  1841  teve  a  missão  de  exe- 
cutar  o  programma  do  partido  que  subira  ao  poder  pela  primeira 
yez  em  19  de  setembro  de  183T, 

Paulino  Jo«é  Soare»  de  Sousa  foi  a  aluía  desse  gabinete,  e 
idoptaudo  o  pensamento  politico  de  Vasconcellos.  fez  votar  as 
leis  de  23  de  novembro  e  ^  de  dezembro  de  1841,  que  recons- 
tituiram  a  base  da  autoridade  no  paiz,  (1) 

  historia  parlamentar  daquelle  ]L>enodo  é  de  grande  ensi- 
namento, e  nos  convence  que  nenbnm  ministério  fez  mais  pelo 
pais  do  que  o  de  23  de  marido. 

Esmagou  a  anarcMa  qu()  dilacerava  o  paiz  deede  1831,  res^ 
tabeleceu  a  ordem,  fazendo  executar  as  teie  da  reforma  do  Co« 
digo  do  Processo- 

Coní4o]idoa  as  instituições^  e  salvou  a  integridade  dn  Império, 
Àureliano,  que  occaaionára  a  queda  do  gabitieie  da  maioridade, 
continuou  como  ministro  na  nova  situação,  oceupando  a  pasta 
dos  estrangeiros. 


(1)    yibaoo— Ua  BsUdísu  no  impArig, 


—  526  ^ 

Soa  presença  unqneUe  ministério  exasperou  os  que  baviam 
promovido  a  maioriiade  ;  uiifl  acoutaram- no  de  ter  procedido,  como 
o  fez  relativamente  ao  Rio  Grande,  porque  desejava  que  para 
alli  voTtaasH  eeu  irmUo,  outros,  attríbaiam  a  sua  acção  aos  effeiíoá 
do  ImpeTialismo, 

Com  esta  palavra  queria-se  aignificar  que  o  Imperador  pro- 
curava coUr»car  um  elemento  diverj^ente  nos  ministérios  para 
crear  desconfiançag  entre  seus  membros. 

José  Clemente  veio  immed latamente  protestar  contra. 

Nesse  mesmo  discurso  Aureliauo  con firmou  que,  desaprovando 
as  violências  eleitoraea,  desejou  desde  lo^o  retir&r-se  do  gabinete* 
Esperou  occaeiâo  aaada,  e  essa  apreaentou-se  quando  por  ele- 
vados principies  de  patriotismo  propoa  que  fnsie  retirado  de  JoIU» 
Paulo  o  cominando  do  exercito  Ipgal  no  Rio  Grande  do  Sul^  em 
Yi^^ta  das  divergências,  que  existiam  entre  elle  e  o  Presideote, 
d  i  ver  (^e  ti  cias  que  eram  conhecidas  do  governo  e  que  redundavam 
em  prejuizo  de  causa  legal. 


Eis- nos  cbef^^ados  a  1842. 

Os  que  flcompanlianim  tào  longa  exposíi^o,  verificaríini  qoe 
depois  do  7  de  Abril  a  anartjLia  começou  a  se  espalhar  na  vasta 
eiteuâão  do  paiz.  Os  fracos  governos  rí^genciaes,  expostos  aos 
embflt*^9  das  ambi^Ò^s,  tinham  concorrido  para  o  desaparecimento 
da  autoridade,  Hegontes  e  ministros,  como  vimos^  denuuciftvâm  ts 
males  mas  nio  applicavam  o  remédio.  As  Gamaras  eram  domina- 
das, como  dizia  Alves  Branco,  pelos  chefes  irregulares  da»  maiorias 
turbulentas 

Quando  o  pirtido  crinservadnr  subiu  pela  ftpgtinda  vea  ao 
poder,  foram  vofadas  as  lei£  reclamadas  desde  I8ií3,  leis  qno 
vieram  trazer  força  e  prestigio  á  auioridadi^,  restabeleceram  a  ordem, 
consolidaram  as  instituif;ôes  e  salvaram  a  integ-ridade  da  Pátria. 

Bobreestflr  a  ex*^cuçAi  das  lei^  da  reforma,  por  ineonstitu- 
cionaes,  foi  o  motivo  juâtificativo  da  revolução. 

Á  historia,  porém,  na  tu&  imparcialidade,  ha— de —demon- 
strar que  nào  foi  sincero  o  pretexto  invocado. 

As  verdadeiras  caui-as  serão  enconr radas  noB  doeamentoa  0 
autógrafos  que  vamos  dar  á  publicidade. 

As  leis  de  novembro  e  dezembro  de  1841,  deoomioadas  na 
epocba  — /efjf  do  caòrestfi—snrgir&m  com  o  segundo  reinado,  foram 
modificadas  em  1871,  pelo  patriótico  gabinete  Rio  Branco  e  06 
deaappareceram  com  a  queda  do  Império. 


—  527  — . 


GABINETE  DE  23  DE  MARÇO  DE  1841 

EBVOLUÇÃO 

Quando  em  1840  se  organizou  o  mÍDisteno  da  maioridade, 
foi  nomeado  Presidente  de  S.  Paulo  o  corcnel  Hafuel  Tobias 
de  Agmar  e  Castro, 

Esea  nomeação,  cumo  era  natural,  foi  mfil  recebida  pelo  par- 
tido adverso  e  acremente  censurada. 

€  Querido  no  seu  partido,  é  elle  Bdalgamente  abor- 
recido de  seua  adversários  Sua  admiuistraçâo  hade  ser 
reaccionária,  é  chefe  de  partido,  Inimifro  dos  filhos  de 
outras  provincia^^ — dos  CTribaãoSf  como  se  elles  nàc  fos- 
sem brasileiros.* 

Afteim  na  Gamara  dos  Deputados  te  manifestava  Pacbeeo, 
naquelle  periodf*,  um  dos  cbefea  do  partido  ccnservador  na  pro- 
vincÍA. 

E*  Bíbido  que  Tobias  não  con&entia  que  filhos  de  outras  pro- 
víncias se  envolvessem  na  politic»  militante  Iccal,  A  sua  ir'á 
vontade  contra  os  arribados  naficera  do  íacto  dw  figurar  «?ntre 
01  maia  pr©staví*is  cbefes  do  partido  conservador,  e  portanto 
entre  oa  seus  adversários  politicou,  Pacheco  e  outros  que  nHo 
eram  paulistas  e  que  já  o  haviam  combatido  no  ieu  anterior  go- 
verno. 

Aehava-se  Tobiai  na  admini&trai^ão  da  Província  de  S.  Paulo, 
quando  pQls^  deini^ftão  do  g-abinete  majoritta  foi  chanado  ao  po- 
der a  situação  con&ervadcra* 

Org'anizado  o  frabinete  de  23  de  março  de  1841,  como  era 
natural,  divertos  Pre.-identfís  solicitaram  suas  demistôes,  e  alguns 
foraoi  demittidos.  mesmo  antes    de  solicitarem. 

Commetteu  Tobias  frrande  erro  politico,  que  elle  íid  obri- 
gado maia  tarde  a  reconhecer,  nào  acompanhando  o  ministério 
maiorista  na  sua  retirada. 

Cedeu,  porém,  a  imposição  de  seus  amigos  politicodr  que  pro- 
cura vam  obter  que  Tobias  fosse  conservado  no  governo  da  pro« 
vlucía,  recorrendo  para  esse  âm  á  pessoa  residente  no  BiOj  e 
que  gosava  de  relações  na  nova  situação, 


^  5-28  — 

Quando  nmia  tarde  iol  o  illuatra   paulista    velie  meu  temente 

censurado  pela  sua  permanência  ne  ^  ver  no  da  Província  pro- 
curou justificar-se  da  dúbia  posição  que  assumira,  une  seguinlea 
termos  ; 

«Fiel  a  minhas  cret^ça»  monárquica^,  não  acompanhei,  conto 
talvez  devesse^  o  ntiini-terio  de  julho  na  sua  retirada. 

Amigns  tneua,  íusínuadoB  pelo  gabinete  de  março  m*o  esere- 
Teram,  pedindo -me  essa  condncta,  esperando  que  não  servisse 
a  mtDÍãttog,  quaesquer  que  elles  fossem,  mas  somente  o  Im- 
perador,  assegura  ti  do-me  apoio  do  Uffvo  ministério  > 

Cedi  ao  que  me  parecia  razoável  e  fiquei  na  PreaideDcia 
até  para  satisfazer  aos  desejos  da  Província  quasí  inteira  que 
com  ardor  me  pedia  que  nào  largasse  um  posto,  no  qual,  elles 
didâo,  tantn  bem  íioha  feito  e  podia  ainda  íazer.» 

Convém  deixar  consignado  a  »pguinte:  Ú  gabinete  de  23 
de  viarço  não  insimtoit  a  amigos  de  Tobia*  a  qne  o  aconse- 
Iha^âem  a  permanecer  na  presidência,  e  muito  menos  lhe  íoi 
garantido  o  apoio  do  ministério, 

A  verdade  histórica  é  a  seguinte,  até  hoje  não    ctm testada . 

Pessoa  influente,  ríiideute  no  Río  de  Janeiro»  e  que  en- 
tretinha relações  com  um  dos  membros  do  gabioete,  instado 
por  políticos  paulistas,  procurou  entender-ae  com  o  ministro 
ami^o,  e  saber  &ã  o  governo  tratava  de  substituir  ou  demittir 
o  Preaidente  de  S,   Paulo, 

Na  maior  intimidade,  af firmaram  ao  ami^o,  que  até  aquelle 
momento,  o  gabinete  disso  ainda  nâo  havia  cogitado. 

Âquella  pessoa  procurou  ainda  saber  se  seria  possivel  a 
conaervaçào  de  TobiaSn  f>u  se,  em  caso  contrario,  devia  elle  pedir 
demisiàOi  pois  não  desejava  ser  demittido. 

Teve  como  resposta  que  ufto  baviâ  inconveniência  na  cou- 

tiauação  àfi  Tobias  na  pr&í^idencia,  nem  motivos  para  pedir  a 
demis^&o,  mas  que  se  isso  fo:íse  resolvido,  daria  conhecimento 
ao  amigo,  para  que  e?te  communica&se  ai  interessado. 

Ci^mo  se  vê,  tratava-ae  da  opinião  individual  de  tim  mi- 
nistro, em  conversa  intima  coín  pesioa  de  amixade. 

Esta  confidencia  foi  trausmittida  para  S.  Paulo,  e  em  vista 
dePa,  resolveu  K.  Tobias  permanecer  na  presidência^  apoiando* 
se  nos  maia  ferrenhos  aiverriaríoá  da  nova  situftção,  taes  eram 
Feijó,  Martim,  António  Carlos  e  outros. 

A  demora  da  suh^tiluiçào  de  R*  Tobias  troaxe  como  con- 
sequência violentas  rec^lamaçõej  do  partido  conservador  não  só 
de  3,   Paulo,  como  também  dfj  outras  províncias. 

Nào  podia  o  governo  desattendel-as,  e  foi  então  resolvida 
a  dernissi>  de  R,  Tobiâ,^^  e  adsado  o  amigo  residente  no  Rio 
para  que  o  prevê nisss  aítm  de  soUcitar  a  de  miss&o.  E.  Tobias 
nào  quLz  auuuir,  Eis  como  narra  elle  o  facto  * 


—  529  — 

ctfaa  oedo  des&pparecea  o  bnrlftdo  em|>enbo,  que 
mostrava  fazer  pela  mitiha  coti^erva^Ão  o  gabinete  de 
marçOj  e  novas  cartas  eii giram  de  mim  que  pedme 
miuba  demi$í>ào,  ao  que  nfto  pude  anDuir  por  ter  a 
mioba  palavia  empenhada  para  com  a  Província'  e  de- 
clarei categroricamente  que  obedeceria  á  demiaeâo, 
quando  ae  me  débse^  mas  não  a  pederia  em  obediência 
a  insinuaçõeB  de  bomens  que  profundaments  dospre- 
&ava  por  aeua  precedenteâ  e  yíb  manejos»  (1) 

Deve^fe  notar  que  R«  Tobias  permaneceu  na  presidência 
lervindo  como  delegado  doa  c homens  que  profundamente  de»- 
pregava*  durante  o  long:o  período  de  três  mezes  e  22  diaB. 

Ao  ser  recebida  a  noticia  da  demiasão^  oa  emigoa  po  ti  ticos 
do  presidente,  que  já  o  baliam  feito  commetter  dois  erros,  do- 
minadoa  por  ei tremo  orgulho  e  desmedida  ambição,  aconeelharam- 
Do  a  que  não  entre (?asae  o  governo  a  seu  substituto  Miguel  de 
Pousa  Mello  e  Alvim, 

cCerrei  os  ouvidos,  diz  R.  Tobias,  ás  Tozes  de 
amigoa  meus^  que  embora  fieis  súbditos  de  S,  M.  L,  e 
amantes  do  paiz,  me  aconselhavam  deaobedeceflae  ao 
rainiaterios  escutando  o  bem  da  Provincia  e  do  serviço 
n&o  entregasse  a  presidência,  sem  que  S.  M.  L^  melhor 
informado^  dõ  novo  ordenasse». 

Desta  vez  ofto  quiz  E,  Tobiaa  aceitar  o  conselho  mas,  não 
passou  a  adminiatração  a  sen  substituto,  e  elie  próprio  deu  posse 
ao  novo  presidente  em  15  de  julbo  de  1841, 

Antes  de  proaeg^uir^  convém  deixar  consignado  que  o  rainia- 
irO]  a  quem  se  falou  no  Rio  eobre  a  couservaçfm  de  E.  Tobiaa 
na  presidência,  foi  Joré  Clemente  Pereira, 

Mftia  tarde  este  ministro,  explicando  os  factos  na  tribuna  da 
Camará  dos  Deputados,  affiimou  que  sua  opinifto  fora  individual, 
emittida  na  intimidade,  seni  consultar  a  seus  collegai,  que  só 
conheceram  daquellas  circurastnncias  mais  tarde,  quando  para 
cumprir  a  promessa  feita  avisou  ao  intermediário  que  estava 
repolvida  a  demiaaâo  do  presidente  de  S.  Paulo,  e  que  era  che^ 
^(0  O  momento  de  solícital-a. 

O  presidente  Miguel  de  Snupa,  de  acordo  com  aa  instruc- 
ç5cB  do  governo,  foi  immon&amente  tolerante,  o  que  R.  Tobias 
confirmou  no  seu  manifegto —  «entreguei  a  preaid.  ncia,  ao  bt, 
Miguel  de  Sou*a  Mello  e  Alvim,  de  cuja  nobre  conducta  para 
commigo  n^qnelle  In^ar  não  tenho  ^enão  bem  a  dizer». 

Miguel  de  Souía  permaneceu  na  presidência  até  13  de 
janeiro  de  1842,  quando  já  se  achavam  votadas  aa  leis  da  reforma, 


(1)     HMirttlO  4*  lUfMl    TDblM. 


^  530  - 

pRBsaTido  a  administração  ao  vice-fresidente  padre  dr.  Ylceote 
Pires  da  Mota,  que  a  exerceu  até  o  dia  20  de  janeiro,  quando 
deu  poBse  ao  Barào  de  Monte  Alegre. 

Á.  eaeollia  á&  Monte  Alegre  foi  determinada  por  motiTOB 
especiaea. 

Queria  o  governo  que  as  leis  da  reforma  fossem  executadai 
eom  calmaj  prudência  e  tolerância,  e  ninguém  podia  melhor 
satififay^er  o^  intuitos  do  governo  em  &âo  Paulo  do  que  o  pret^t- 
deote  escolhido. 

Ligado  à  Provincia  por  grandes  interesses  de  fortuna,  alliado 
por  seu  casamento  com  as  mais  illustres  tamilías  liheraea»  calmo, 
de  educaçáo  fina  e  esmerada,  o  ex- regente  do  Império  já  hhvia 
dado    Bohejaa    provas  de  alta    capacidade  e  e:iceBsiva  tolerância. 

Logo  que  assumiu  a  adoainistra^jão  da  provincia,  o  vice 
prefiidente,  p»dre  Vicente,  que  era  efu  amigo  particular,  «  que 
entretinha  rela<;ôe9  com  R»  TchiaB,  foi  com  e&le  ge  fntender  para 
que  facilitasse  a  novaadminietraçAo,  impedindo  com  ^eu  prestigio 
ataques  intempestivos  pftra  evitar  possiveis  attriíos» 

Esta  intervcnçào  nAo  pode  na  ter  sido  iniciada  sem  a  ac- 
quíescencía  de  Monte  Alegre,  o  que  demonstra  os  intuitos  tole- 
rantes da  nova  administração. 

Iniciada  por  eisa  forma  a  politica  conservadora,  foi  Monte 
Alegre,  apenas  9  dias  depois  de  se  achar  no  governo,  sorprebendi- 
do  com  a  publieat^ão  do  violento  manifesto  dirigido  pela  Ãt^emhl^a 
Proviut*ial  ao  Imperador,  pedlndo-lhe  que  sobr«  eèíasfi©  a  execu- 
ção das  dnaa  denominadas  leis  dat  leíbimas  do  O  dígí^,  e  ere- 
ação  de  um  conselho  de  Esiado,  até  que  «e  reunisse  a  Ãssemhléa, 
para  que  esta  pndesâe    rever  eqnellns  leis  e  revogal-as. 

TransprevemoM  o  documento  alludido,  publicado^  quando  ainda 
nenhum  acto  havi^  sido  praticado  pelo  presidente  demonstrando 
intolerância  partidária. 

Desde  aquelle  momento  não  era  mais  permittido  a  Monte 
Alegre  prescindir  dos  amigos  politicos  do  governo,  o  que  fez, 
col locando- os  nas  posiçíies  administrativas  policiaea  e  da  Guarda 
Nacional . 

Eis  o  mauift^sto,  que  trauicr^vomos,  para  que  se  possa  ava- 
liar do  sua  violência. 

Senhor  ! 

A  Aseembléa  Provincial  de  3.  Paulo  em  cumprimento  de 
seus  deveres  os  mais  sagradost  vem  ante  o  Trono  de  V*  M,  L 
e  C.  pedir  que  Se  digne  sobreestar  uh  execuçAo  das  suas  deno- 
minadas Leis  òtu  reformas  do  Código,  e  crisçao  de  nm  Conselho 
de  Eatado,  até  o  t^^mpo  em  que  a  nossa  Assembléa  as  possa  rever, 
6  revogar,  como  ode  eíiperar,  attenta  a  sua  inconstitucionalidade; 
e  d«  envolta  implorar  de  V.  M.  L  e  C.  a  demissèo  do  actual 
ministério,  cuja  continuaç&o  no  poder  p6e  em  risco  a  pajs  do 
ImperiOj  a  ordem  da  Provincia  e  até  a  segurança  do  Tronp, 


-  5S1  -^ 

à  ÂMémbléã  ProvÍDcial  de  S.  Paulo  dismeDteriá  a  flua  ori- 
g&iíiy  e  a  tiaturalidade  de  eeus  membroSi  e  faria  subir  Á%  fac^a 
de  leus  conetiUiintes  o  rubor  da  ver^ouha  de  mistura  com  a 
roeTíiííCoria  ainarnllidâo  da  colvra  se  contem jjlaaae  silenciosa  o 
desmoronamento  gradual  da  Coti»tituJvão,  a  cuja  ãumbra  tem  o 
Povo  Paulistano  prr  mais  de  2t3  annns  iaboreado  as  doçuras  da 
pax,  e  oa  fnitos  de  uma  oreacente  prosperidade  material,  6  de 
um  açodado  mt^lhc^rainento  intt>Ueetual  e  moral;  e  »6  deixasaei 
qoe  Elchea  do  liberaliémOi  e  Apóstolos  do  arbítrio  mançraâsem 
o  fruto  tào  l>em  começaflo  da  liberdade  publica. 

Nfto,  Senbor,  a  Aíisembléa  Proviucial,  se  não  olvida,  que  o 
novo  Povo,  que  ella  representa,  se  g-oza  de  bem  merecida  repu- 
tação por  sua  fidelidade;  nunca  dtísmenida,  nao  menor  nomeada 
tem  conseguido  por  aeu  enthusiastico  amor  á  liberdade,  e  seu 
reli^iogo  respeito,  e  inabalável  afinco  á  Constituição,  que  a  for- 
mulou, ©  ao  Acto  Âddicional,  que  a  dosin volveu. 

A  Aspembléa  Provincial  lecorda-se  com  prazer  ©  orgulho^ 
e  cora  satisfação  corveja  sobre  o*  peitos  do  Povo  Paulistano  que 
a  historia  memorará  aoã  vindouros:  ella  n^o  se  esquece  que  a 
um  Paulista  sem  par,  Amador  Bueoo  de  Uibcnra,  de  quem  muitos 
de  aeuí  Membroi  lêm  a  linnra  de  descender,  deveu  a  Coroa  de 
Poitugal  A  consf^rvfiçào  dVbta  bella  Província,  qimudo  pela  res- 
tauração subiu  ao  Trono  Poriuguez  a  Dynaatiã  de  Bragança, 
â'  eita  leal  Província  recorra? a  o  Augusto  Pae  de  V,  M,  I*  e  C, 
qUAudo  roJeado  das  hostes  lusitanas ;  a  seu  reclamo  acudiu  ella 
pretturosâ,  enviando  centenares  de  filboB  seus  a  defender  o  Prín- 
cipe querido  contra  a  insule'  cia  e  firotervia  da  tropa  lusitana. 
A  Assembléa  Provincial  jubila  ao  lembrar- se  que  no  Congresso 
Portu;;;:ue2  foi  d^entre  os  Deputados  Paulistap,  bonra  Ibe»  seja 
feita,  que  partiu  pela  primeira  vez  o  trovào  da  enérgica  indig- 
nação contra  os  vilipendies,  o  prtrtiUii  leonina  de  liberdade,  que 
ao  Brasil  queria  im^ior  esise  injusto  e  indi&creto  Congresso.  Exulta 
ainda  hoje  a  A&sembléa  Provincial,  quando  aponta  para  o  Ipi- 
ranga,  aonde  se  proclamou  a  Independência  do  Brasil  era  alHauça 
com  a  liberdade. 

Poderá,  Senhor,  recuar  a  As^erabléa  Provincial  aute  o  pe- 
rigo, que  por  ventura  lhe  possa  vir  de  dizer  com  energia  a 
verdade  ao  Trono;  e  n&o  receará  antoa  ennep-recer  por  timida 
prudência  e  aordidos  rpspí^itos  de  peraonalidades  o  ouro  de 
gloria  que  recebeu  brunido  ?  Nfto  se  pejará  de  íaltar  á  fideli- 
dade, que  deve  a  V.  M  L  e  G.  occultando  que  eises  detestáveis, 
e  deteátadoa  míni*troB  arrojaram -se  a  envolver  no  96u  perjúrio  a 
Sagrada  Pesâoa  de  V.  M.  I.  e  C.  ac 'niolhando-ó  para  sinccio- 
uar  acíos,  que  clara  e  flagrantemente  violam  a  ConstiluiçAo  do 
Estado,  ten  lendo  d^est'  arte  a  comprometter  na  opinião  do  paiz 
a  Alta  Probidade  de  V.  M,  T.  e  C.  ?  A  observância  das  fórmaa, 
porque  subiram  á  presença  de  V.  M.  I<  e  C^  estas  denominadas 
Leii  nâo  excusa  a  protervia  do  ministorio.    Etle  nao  ignora  que 


-    532  ^ 

o  noiDe  de  Lei  não  pode  ca^ier  a  actos  de  pura  for^  bnit&I  e 
dUeoluto  arbítrio, 

Estes  actos,  Senbor,  não  tào  leU  por  peecarem  aa  matéria 
e  na  fdrma.  Peccam  na  matéria  pot  Ihee  faltar  o  que  conBtitue 
a  idéa  da  Lei.  N »  Sjãtema  Constitucional  a  Lei  é  a  expretsão 
da  contado  Nacional^  declarada  por  seus  legitimes  represeiitatite^i 
6  aellada  com  o  cunho  do  Imperante ;  mns  a  vontade  Nacional 
não  é,  e  nem  pode  ser  blq&o  o  resultado  da  opinião  reinante: 
ora  a  opiaão  reinante  reprova  a  prcscrípção  desses  actos,  até 
por  lerem  decretados  por  interpretes  infiéis,  rejeitado  a,  a  maior 
parte,  pelo  Povo  Soberano.  Peccam  na  forma  pelo  modo,  }>or' 
que  foram  introduzidos  :  ellea  alteram  claramente  a  Constituição, 
o  que  é  indisputável;  e  aenio  asaim  era  de  mister  que  nào  fossem 
taes  alterações  creaturas  de  uma  legíalacAo  ordinária^  como  for&m. 
Demais ;  não  ba  leí  sem  imparcial  e  conscienciosa  discussão, 
sobretudo  quando  se  trata  do  que  é  puramente  constituei<  nal ;  a 
fortaleza  da  Constituiçíto  se  não  deve  levar  de  assalto,  preciso  é 
rodeai- a  de  regular  asçedío,  e  apoderar- se  pouco  a  pouco  dos 
postos,  que  a  defendem,  para  que  convencida  pela  necessidade 
capita' e  a  guarnição  salvando  sempre  o  que  é  estenctaL  Nfto 
foi  assim  que  procedeu  a  corrompida  ou  illndida  maioria  da 
^ssembléa  passada ;  cega  e  tumultuaria  para  levar  avante  os 
nefario»  projectos  do  ^vertio,  calcou  todas  as  regras  não  ed  da 
justiça,  como  até  a  da  maia  commum  deceneia- 

Senhor,  a  Assem bléa  Provincial  de  8.  Paulo,  pondo  de  parte 
o  tópico  de  justiça,  e  direito,  por  onde  «e  raosirou,  que  se  não 
deve  obediência  aos  acto»,  contra  os  quaes  reclama,  passa  agora 
aos  motivos  de  conveniência  e  prudência  politica,  que  aconselham 
o  sevi  sobre  es  ta  me  a  to  na  execução.  E*  principio  incoutt^stavel 
em  politica,  que  o  poder  é  o  apanag^io  da  intolligencia,  e  da 
riqueza  social;  a  vista  d'olhos  aindri  a  mais  superficial  stbre  a 
historia  da  organização  das  sociedades  humana<^  o  prova,  O 
Povo,  pois,  queangmenta  em  Íllustraç.%'>  e  prosperidade,  de  neces- 
sidade exige  maior  porçAo  de  liberdade,  maior  ingerent^ia  nos 
negócios  públicos ;  é,  pois,  nm  contra^enso,  que  se  tire  ao  illus- 
trado  o  que  se  concedeu  ao  ignorante,  que  se  oegue  ao  rico  o 
que  se  tinba  outorgado  ao  pobre. 

Isto,  porém,  ó  o  que  faaem  as cerebrinas  reformas  do  código, 
á.  Constituição  concedera  ao  Brasil  infante  e  pouco  i Ilustrado, 
ao  Brasil  que  marcbava  cim  passos  ainda  tardios  na  carreira 
industrial,  e  no  caminho  da  rique^^a,  uma  porção  de  liberdade,  que  o 
estômago  fraco  da  iufancia,  quiçá  não  podesse  bem  digerir,  ©  assimi- 
lar;  maus  humores,  pode  ser,  que  se  gf  rajsem  entfto  de&ta  improvi- 
dencia ;  mas  o  u^c  fortificou  o  orgam ;  e  ora  quo  vão  desappa- 
recendo  os  inconveniente s  de  que  nos  queixávamos,  a  tyrania  e  a 
cegueira  nos  pretendem  reduzir  a  um  regímen  ainda  inferior 
aos  dos  tempos  coiontaes,  fazendo  resurgír  debaixo  de  novos  no- 
mes os  velboA    capitães -mores,    empoeirados  pela   fluctuaçAo    da 


—  iâ3  — 

amOYtbilidade,  e  com  o  inaudito  accrescentÁmanto  da  pod«F  ja- 
dícLarío,  Igual  vi>)1encia,  e  ainda  maior  escarneo  è  a  monstmoea 
Lei  do  Con&elbo  de  Estado;  manietar  a  Coroa  para  nào  poder 
de«cartar-Be  de  am  mÍDÍâterio  imbecil,  e  atroz;  confundir  a  afta 
politica  e  |}ura  admíaigtraçào  è  nimio  desprego  de  notisa  razào  i 
é  eoQtarem  muibo  com  ignorância  em  um  tempo,  em  qne  o 
regimen  liberal  continuado  tem  aclarado,  e  abrilbantado  a  luz 
qiie  com  elle  despontara. 

O  Povo,  SenlioF}  tem  crescido  em  intelligencia,  em  reso- 
lução, e  mutua  confiaiiça;  tem  a  precisa  penetração  para  des- 
cobrir oa  abusos,  de  que  sofre;  tem  confiança  na  força  dos  meios, 
a  que  pode  recorrer  para  buscar  a  sua  reforma;  e  contra  esia  força 
pensar  em  introduair  uma  nova  falauge  de  abusos  em  alargar  o  cir- 
cula já  de  sobejo  amplo  da  corrupçfto^  é  mais  extravagante,  que  o 
díUrio  do  frenético,  míiis  despresivel,  que  a  estupidez  do  sandeu, 
E  qual  será  o  êxito  da  luta,   que  se  vai   assim  criar  V 

  Assemblóa  Provincial  de  S,  Paulo  estremece  ao  dizel-o; 
mas  crê  que  elle  não  será  duvidoso,  nem  longo  o  conflicto  :  a 
victoria  será  sim  deplorável,  como  é  toda  a  vicloría  conseguida 
contra  a  ordem,  e  ainda  mesmo  contra  o  crime^  mas  a  respon- 
sabilidade refará  sobre  aqui^lles,  cujas  injustiças,  atrocidades  e 
desatinos  provocaram  o  que  pôde  vir  a  ser  uma  sanguinária  e 
iujustifícavel   vingança. 

Senbor,  as  convulsões  politicas,  como  funestos  cometas,  tra- 
■am  em  sua  cauda  os  estragjs,  as  misérias,  o  derramamento  de 
ían^e  mesmo  iunocenta,  e  o  abulo  dos  governos  estabelecidos, 
6  ULvez  aua  inteira  mina. 

Como  não  d ep roçará  pois  a  Ãssembléa  Provincial  de  B,  Paulo  o 
éxercicio  do  poder  tutelar  do  Monarcha  para  arredar  de  si  tào 
medonho  porvir?  Já  se  nos  antolha  obrigar  na  lava  revo- 
lucionaria os  taliamans  quebrados  da  Jerarchia.  e  da  autoridade ; 
e  só  da  piedade  de  V,  M-  I.  e  U.  esperamos  o  aocego  de  nossa 
inquietaç&o.  Senhor,  o  conbecLmeuto  é  indeatructivel  ;  a  líber* 
dade  é  in separa ví-l  do  conbecí mento  ;  ob  interesses  que  apoiam  a 
causa  da  tyrtinnia  usam-ae  ;  oa  que  escudam  a  liberdade  devem 
necessariamente^  augmentar  com  o  progresso  da  civilização, 

O  governo,  que  cerra  os  olhos  a  esta  verdade,  promove  a 
sua  ruína,  e  com  ella  a  anarebia  social ;  ninguém  a  teme 
mais  do  que  a  Ãssembléa  Provincial  de  S.  Pâul^,  embora  tenha 
convicção  de  que  seus  fins  sâ.o  d^  curta  vida,  quando  os  do  des- 
potismo silo  permanentes.  E'  para  fugir  ao  empestado  bafo  do 
poder  abàoluto,  que  a  Ãssembléa  Provincial  de  S,  Paulo  se  es- 
força para  obter  de  ¥*  M*  I.  e  C.  o  Bobreestaraento  na  execuçào 
de  reformas,  que  necessariamente  o  introduzirão  entre  nós.  Elias 
uma  vez  executadas,  não  nos  deixam  a  escolha  senão  entre  o 
despotismo  popular :  são  tão  repugnantes  ás  convicções  e  crenças 
do  Povo,  são  [âo  hostis  á  illustraçAo  actual,  que  só  um  longo 
systema  de  coerção  e  terror  as  pôde  sustentar;  mas  o  habito  de 
servilidade,  que  deve  gerar  e  enraivar  semelhante  sjstema,  por 


^  tu  — 

for^  converterá  a  MoDart^hia  ConstitucioDal  «m  absoluta.  For 
ontro  lado  o  terror  perde  a  lorça  à  proporção  de  sua  duraçAo, 
e  acaba  por  tim  pela  itiâiirreiçâo  dos  0|iprimtdoa,  Oia  a  hbtoria 
e  a  experiência  nos  ensinam  que  as  revoluções  efectuadas  pela 
violência  tendem  a  lançar  o  poder  tias  m&oi  áoi  cheies  qae  aB 
capitanearam»  e  estes  poderea  com  quanto  disfarçados  sejam,  b&o 
por  força  il limitados^  dictatoriaes.. 

SenhoFi  ijào  creia  V.  M.  U  e  G.  que  a  Ataembléa  Provincial 
inventa  tautaaticos  perigos,  eonha  mates  não  existentes.  N&o, 
Senhor,  a  Província  inteira  se  levanta  como  utn  tó  homem 
contra  as  denominadas  leis ;  algumas  dag  Gamaras  já  se  têm 
energ^icamente  pronunciado  contra  ellas  ;  rcceia-se  que  as  res- 
tantes BÍ^am  o  exemplo,  e  qne  as  acompanhem  os  Eleitores  e 
mala  autoridades. 

Talvess  ob  de&leaes  Conselheiro? ^  que  abusam  da  bondade  de 
V,  M.  L  e  C.  lhe  gritem  aos  ouvidos  que  a  firmeza  é  uma 
grande  virtude  no  munejo  dos  negócios  publicoi,  que  as  çohb* 
pirsçõea  e  insurreições  sao  melhor  reprimidas  pelo  vigor  e  deci- 
são, e  que  recuar  ante  eílaa  é  fa^eKas  formidáveis;  mas ^  Senhor, 
a  firmeza  tem  sua  et^phera  própria  além  da  qual  é  vicio;  j^e- 
quenos  motins,  e  assoadas  com  primem- se  com  o  vigor,  mas 
repugnancias  fundadas  em  principio s,  que  constituem  &  vida  dos 
Povos,  aó  o  compromisso,  e  compromisso  gracioio,  6  a  tempo 
pode  curar. 

Um  governo  assisado  nào  traia  de  arraigados  deseontenta- 
mentoa  de  uma  Província  inteira  como  trataria  a  típlosAo  de 
um  motim  commurn  ;  um  governo  sábio  uuo  confunde  a  infla- 
mação, qne  invade  até  o  âmago  do  Systejua  da  NaçAq  cora  a 
ligeira  irritaçAo  focal.  Verdades  tào  comeainbas  n&o  podem  ea- 
cipar  ao  atilamento  de  V,  M,  L  e  G, ;  a  A^sembléa  Provincial 
está  tào  convencida  da  força  de  espirito  de  V.  M.  í.  e  C, ;  tem 
tal  confiança  na  bonda tle  d©  Seu  Imperial  Coraçfto  que  sem  he- 
BÍtaç5o  alguma  contaria  com  o  deferimento  de  sua  Justa  petiçÀo, 
se  V.  M.  L  e  C,  s6  o  escutasse,  se  só  Be  guiat^se  por  Suai 
Lnzes,  e  não  pelas  emprestadas  a  Seu  ominoso  ministério,  para 
quem  a  historia  tem  registado  em  v^o  a  longa  aerie  dos  crime«, 
e  loucuras  humanas.  Este  medonho  qtiadro,  em  que  os  minis- 
tros se  v<im  retratados,  talves£  que  ainda  maia  os  iriíte,  e  em 
despeito  se  obstíiiem  na  precípítosa  carreira,  que  vae  sem  dtt- 
Tida  abyâmar  a  Pátria;  embora  de  roldAo  com  ella  se  precipitem 
também  elles  Benbor,  nem  um  benelicio,  que  V.  M<  L  e  G, 
possa  fazer  a  nossa  Pátria,  poderá  penhorar  tanto  a  gratidão  do 
Povo,  como  a  demis^ilo  de  tào  int^pto,  quanto  atroa  ministério. 
Nunca  abutres  tâo  esfaiumdos  prearam  as  entranhas  do  Brasil  t 
nunca  tào  immmid«&  haipiflíi  enxovalharam  o  s- Ic»  puro    do    Im- 

fierio  de  Santa  Cruz.     A  Jmtiçn  eterna  conculcada  i  a  immora- 
idade  no  seu  apogeu;  a  lordidn  doutrina  do  interesse  substituída 
a  dos  principioe ;  o  regímen  do  E»tado  entregue  ao  oapricho  com 


m 


—  535  — 

axau torado  da  raz&o,  o  afu^eti lamento  da  honra  e  capacidade 
de  todos  09  emprpfío*  para  dar  logar  a  docil,  e  venal  clientela; 
a  denegação  ao  cidadào  da  maia  sagrada  i^aran tia,  qaal  o  direito 
de  petiçÃo,  como  no  caau  das  Camarás  á*s  Minas  Geraes ;  a  pa- 
cificação do  Rlq  Graode,  talvez  vital  para  o  Império,  retardada, 
e  e&totvada,  senào  de  todo  imix^aeibtlttada  pela  má  escolha,  e 
teimosa  contiu nação  da  nm  plano  degaesi^ado,  e  sua  peesêma 
execução,  entregando -se  tudo  a  Presidenton  e  Genoraes  ineptos, 
para  favorecer  se  rd  ida  cobiça;  e  melhor,  e  talvez  a  única  moeda 
do  Estado,  as  honra»,  esperdiçada,  desapreciada,  e  quasi  annul- 
Lada  por  sua  imprudente  e  até  indolente  distribaição,  com  poucas 
honrotae  excepções,  dando  consideração  á  inaignifícancia^  ex- 
cluiodo  o  mérito  reconhecido,  assalariando  a  corrupção,  e  premiando 
o  vicio  e  o  crime  das  pesi^oas  de  trahidires  e  aâsasBÍnoB;a  cruel- 
dade marchando  de  cabeça  levaotada,  rodeada  de  rios  de  fangue, 
de  gemidos,  e  aís  de  Bofirimento»  e  desesperação  nas  desditosas 
Proviuciaa  do  Ceará  e  Parahiba,  além  de  tudo  quanto  a  barba- 
ridade Turca  aguilhoada  pelo  fanatismo  religioso  [terpetruu  de 
horrore»  na  Grécia  insurgida,  e  de  quanto  o  fho  dHsiií.tiamo  do 
Ãutocrata  do  Norte  deapcijou  de  maltas  a^  bre  a  malfadada  Poló- 
nia; a  fazenda  publica,  emfím,  aiiocada  e  deliberadamente  dissi- 
pada para  fina  ainbtros^  eis,  Seikhor,  alguns  doa  Hneamemos, 
nem  que  não  todos,  da  medonha  vida  publica  do  ministério,  que 
deshonra  o  Bradl,  e  atraiçoa  a  V,  M.  I.  e  C»  illaqueando  a 
Sua  Boa  Fé,  e  fazeudo-O  parecer  não  como  Pae»  que  é,  maa 
como  o  Tyrano,  que  não  é,  doa  Seus  Povoa. 

Benhor^  ainda  é  tempo,  acuda  V  M.  I.  e  G,  ao  BraBÍl, 
acuda  a  si,  arredando  de  Bens  Conselhos  semelhante  Ministério, 
A  Asáembléa  Provincial  de  S,  Paulo,  cumprindo  o  seu  dever, 
sabe  que  a  verdade  nem  sempre  é  agradável  aoa  Principea,  e 
decerto  nunca  aoe  sangãos  que  o  rodeiam,  e  abusam  de  Sua  inex- 
periência, mas  a  voz  do  dever,  na  opinião  da  Ãsaembléa  Provin- 
cial, deve  fazer  calar  a  prudência  humana.  Á  Asaembléa 
Provincial  apellã  para  o  tempo,  a  marcha  d*elle  talvez  desgra- 
çadamente verifique  suas  pn^vÍBòes ;  e  euião  conveuper^ee-ha 
V,  M,  L  e  C*,  que  nunca  teve  maia  fiei*  súbditos,  e  mais  ver- 
dadeiroã  amigos  do  que  aquelles  que  ntlo  heai taram  em  incorrer 
tulvíz  no  8en  deaai^rado,  hxpondo-lhe  verdades  dolorosas  com  o 
uujeo  fim  de  salvar  a  Dignidade  do  Throno,  e  firmar  a  segu- 
rança do  Povo. 

Paço  da  Ãs&embléa  Legislativa  Provincial  de  S.  Paulo,  29 
de  janeiro  de  1842. — Martim  Francisco  Ríbtiro  de  Andradat 
Presidente.— Dr,  Manoel  Joaquim  do  Amaral  Gurgel^  1."  ^^-^ 
crtítario.^CiyTH(ííirtíí«í?  de  Almeida  Fariam  2.*  Secretario- 

Qual  o  motivo  que  determinou  o  apparecimento  de  tão 
violento  manifesto,  quando  parecia  reinar,  senão  harmonia,  ao 
menos  toleraocifl  entro  os  adversários  politicoiV 

E*  fácil  a  explicação* 


—  636  — 

Ofl  deeabido»  em  ?3  de  março  de  1841  nào  se  deL£ar»m 
deade  logo  donaiuar  por  exceadva  intolerância,  porqoe  e&tavatn 
convencidos  de  que  brevemente  voltariam  ao  poder,  quando  em 
abril  de  1342  be  abrissem  a^  CamaraDi  visto  contarem  com  a 
enorme  maioria  obtida  pelos  meioa  denunciados  por  Urbano^ 
Ramiro,  Nunes  Machado,  Ãureliano  Coutiubo  e  tantos  outros 
liberaea  de  mérito. 

Deide,  porém,  que  ob  cbefea  políticoa  no  Rio  tiveram  a  cer- 
teza de  que  aquellã  Camará  serm  dissolvidai  prtitenderam  cre&r 
uma  athmoafera  revolucionaria,  como  meio  de  impedir  a  diBBO- 
luçâo.  Para  es^e  fim  tranamittiram  a  palavra  de  ordem  para  aa 
provincius^  aconeelhando-afi  a  que  rompessem  tiom  violência, 
como  meio  de  ímpreB&íonar  o  governo. 

Foi  eaaa  a  razào  do  apparf cimento  do  Manifeato  de  2d  de 
janeiro  de  184'2,  quando  apenas  havia  Monte  Alegre  Iniciado 
sua  admíniitraçèo- 

Os  motivos  allegados  contra  as  Iei$  de  dezembro,  lorprehen- 
deram  aos  homens  pnliticoe  do  paiK. 

Já  ficou  descripto  que  a  reforma  judiciaria  bavia  aJdo 
instautemento  reclamada  por  tndos  os  governos  que  se  succede- 
ram  depob  de  7  de  abril  de  1831,  como  meio  indiapeo^avel  de 
reprimir  a  licença,  o  de Brea peito  á  autoridade  e  a  anarquiaj  que 
se  alastrara  do  Rio  a  todo  o  Império. 

Essa  necessidade  fora  proclamada  por  Feijó,  Vergueiro, 
Alves  Branco  e  pjr  toJoa  oa  gabinetes  que  se  organizaram  Da"- 
quallea  agttadoa  periodoa. 

ÃureÍLano,  Limpo  de  Abreu,  eate,  míníatro  de  Juatiça  em 
3  doa  15  miuiaterioã  que  «e  organizaram  naquelle  período,  n&o 
ceaeavam  de  clamar  que  a  tranquilidade  publica  n&o  poderia 
exiatir  em  quanto  não  se  ârmasae  nas  basea  de  uma  legislaçAo 
apropriada— trumedica  fracos  e  tardios,  di^ia  Feijó  em  ^7  na 
fala  do  trono,  pouco  ou  nada  aproveitam  na  presença  de  males 
grave*  e  inveterados». 

Foi  para  combater  a  inércia  de&ses  governos  que  ae  ancce- 
diam,  denunciando  o»  males  publico»,  sem  propor  medidaa  para 
reprimiloSf  que  Vasconcelloe  organisou  o  partido  do — regreiuio — 
que  em  41  exí^cutava  seu  programroa  no  poder. 

Iniciada  esaa  politica  em  1837,  mereceu  ella  o  apoio  de 
António  Carloa  até  1838.  Ãs  leia  da  reforma  toram  votadas 
guando  se  achava  no  governo  Ãureliano  CoulinbOt  coherente 
em  1841  com  oa  princípios  que  aue tentara  em  1834,  como  mi- 
niatro  da  Justiça. 

O  padre  Joac  Bento,  oa  senadores  Vergueiro  e  Paula  e 
Sonsa  ako  concorrf^ram  com  aeua  votos  para  que  fossem  appro« 
vadas  aqueltaa  leia  V  (1) 

Como  renegar  em  41  o%  principies  tantaa  vezea  mani* 
festados  ? 


Ct>    Mellâ  HttkM.-BBcljiu  dl  HlitúrlA  CúDjdtbdcifiAl, 


^ 


—  537  — 

Âp provado  o  Maniff^^sto,  foi  nr» meada  uma  commiaHào  para  ir 
ao  Rio  entregado  ao  Imperador.  EsBa  cominiasAo>  como  era  na- 
turali  nào  foi  reci^bidaf  attonto  aos  termOi  violentos  com  que 
fora  redigido  o  matiireato,  facto  esse  que  produziu  profunda 
imlaçÃo  entre  oa  orgalhosog  chefes  politicou  de  S.  Paulo. 

No  grande  numero  de  documentos  e  autógrafos  que  com- 
pulsamos, principalmente  eorrespondencía  particular,  não  eni;on- 
tramos  indicio  de  que  se  crgitava  ainda  ía^er  vingar  aqnellaft 
reclamações  pela  revoluçèo. 

Em  meados  de  março,  alguns  deputadoâ  puulifitae  seguiram 
para  o  Rio,  e  foi  lá,  depob  que  se  convenceram  que  o  governo 
DÃO  ae  arreceava  da  diB^oluçáo,  que  Alencar  levantou  a  idéa  de 
se  reprodutir  o  movimento  que  lhes  havia  elevado  ao  poder 
em  1840. 

Outros  eram,  porém,  oa  temfios,  e  a  autoridade  já  ae  achava 
revigorada  pela  nova  legialaçào  e  pelo  de^apareei mento  dos  fra- 
C4>B  governos  regenciaea. 

Depois  de  se  £er  ouvido  a  E.  Tobias,  os  deputados  paulistas 
procuraram  entrar  em  acordo  cnm  seus  coUegas  de  Minas  Ge- 
raei»,  garantindo-lht-a  que  a  Província  de  S.  Paulo  se  levanta- 
ria como  um  ^6  homem  a  voz  de  eeoa  chefe?. 

Oa  deputados  de  Minas,  ao  principio  recusaram' se  a  tomar 
parte  em  q^ualquer  movimento  revolucionário,  ^  apenas  se  com- 
prtmefcteram  a  f  restar  auxiUo  indirecto,  dificultando  que  as  levas 
do^  guardas  nacionaes  de  Minas  se  dirigissem  para  S,  Paulo 
aEm  de  combater  a  revolução  que  se  planejava. 

Esta  noticia,  transmittida  para  S.  Paulo,  causou  grande 
eontrariedade  a  R.  Tobias,  porqnanto  era  crença  sua  e  de  seus 
amigos  qne  a  revolução  só  poderia  ser  victorio^a  &e  o  movi- 
mento rompesse  ao  mesmo  tempo  em  Minas. 

Por  alguns  dia^  fícaram  ^uspeusos  os  conchavos,  diante  da 
attitude  dos  poli  tico  a  mneiro^. 

Pouco  depois,  alguns  commerciante«  abnsladoâ  de  Minas, 
achavam-se  no  Rio  para  promover  transacções  commerciaes.  Go- 
savam  elles  de  consideração  e  prestigio  politico.  Egses  mineiros, 
Lessa  e  Jo&o  Gmalberto,  incitaram  aos  deputados  para  que  fa- 
vorecessem o  plano  doa  panliatas,  aflirmandci4hes  que  o  movi- 
mento encontraria  apoio  em   Minaa. 

A  deputação  mineira,  ainda  as^im,  não  quiz  proceder  preci- 
pitadamente 8  procurou  ouvir  a  opinião  do  coronel  José  Feli- 
ciano ^  para  o  que  chamaram  no  ao  Rio. 

Prudente,  circuraspecto,  gosando  em  Minas  de  real  prestigio 
e  geral  estima,  como  os  factos  posteriores  demonstraram  aqnelle 
cidadão,  bó  a  muito  custo  p  mediante  condições  impostas  resol- 
veu  coUocar-se  á  frente  do  movimento  em  Minas,  convencido 
ptla»  affirmativas  dos  deputados  de  S,  Paulo,  de  que  nenta  prO' 
vincia  o  movimento  seria  tào  violento  e  poderoso^  que  se  torna- 
ria impossível  ao  governo  geral  dividir  at  poucaa  forçaa  de  ^ue 


—  53g  — 

podia  dispor,  desfalcado  como  se  aeliayA  pek    reme8«a  de  tropai 

para  o  sul. 

Ficou  ent&o  asseaudo  que  o  movimeuto  romperia  oai  ca- 
pitães de  S,  Paulo  e  Miriaa,  nesta,  logo  que  aIJi  ebegasge  á 
noticia  de  t«r-Fe  S.  Paulo  rebetlado. 

Trauimittidas  eitas  resoluções  a  H*  TobiaSf  aceitou  eUe  a 
combínaçào  lia  vida,  e!LÍgÍado,  porém,  que  o  senador  padre  Joaé 
fiento,  que  se  achava  uo  Rio,  partiase  imniediatameute  para 
Minas,  atina  de  auxiliar  o  movimento  na  parte  da  piovincla  em 
que  ^oaaya  de  popularidade. 

O  primeiro  de^goato  que  teve  B.  Tobias^  foi,  ao  saber  mais 
tarde  que  aquelle  aenador  nào  se  retirara  da  Côrtp,  Não  Bendo 
rapidaa  aa  comniuíiicuçõe^  eutro  S.  Paulo  e  Rio,  ficou  convicto 
o  chefe  pHuliãta  de  que  Mina»  só  lhe  prestaria  auxilio  negativo. 

Abertas  as  Camará s,  a  verificação  de  poderes  começou  a  ser 
feita  com  eitreraa  lentidão— ai  coramissõea  recusavam  aos  adver- 
sário* os  documentos  relativos  ás  eleições  em  &uas  proTinciafl,  e 
nesse  tempo  realiza vam-i>e  os  concbavos  para  as  depurações  deaue> 
cessarias  e  hypothecaã   de  votos. 

Referindo^ae  a  esj^as  transacções,  diaia  Cansanção  de  Sinimbu : 

«Se  para  ter  parecei*  favoraTel    for  necessário  em- 

penliar  nossos  votos,  desejamos  perder,  vale  mai^  perder 
com  orgulho  do  que  vencer  com  baixeza». 

Em  l.**  de  maio  foi  dissolvida  a  Gamara  e  convocada  ontra 
para  reunir-se  era  1.**  de  tiovembro  de  1842.  Im  mediata  mente 
ficou  reãDlvido  o  movimetito   revolucionário. 

Recebendo  aviso,  R.  Tubias  enviou  seus  emissários  para 
todos  os  pontos,  afim  de  prevenir  os  chefes  políticos  com  os 
quaes  já  se  havia  en  endido,  não  sú  do  dia  determinado  para 
rebentar  a  revolução  na  CíipiÈal,  como  também  da  reuni&o  e  re- 
messa de  forças  para  os  pontos  do^^ígnados. 

Eram  dedicados  auxiliares  de  R.  Tobias,  em  Sorocaba,  o  co- 
ronel José  Joaquim  de  Lacerda^  em  Itu,  Tristíko  de  Abieu 
Rangel,  em  Porto  Feliss,  o  dr,  Yiegas,  em  Capivari,  José 
Fodrtgues  Lei  te ,  que  também  iufluia  em  Porto  Feli^,  em  Pira- 
cicaba o  padr^  Manoel  José  de  França,  capitào  amaro,  em  Una» 
Paulino  Aires  de  Aguirra  em  Itapotininga,  major  Francisco  de 
Ca»tro,  na  freg-uesia  do  0\  ponto  de  onde  deviam  partir  as  forças 
para  se  apodenu-em  do  Quartel  da  Ca  pi  tal ,  major  Cintra,  em 
Atibaia,  e  muitos  outros,  cujos  nomes  iremos  indicando. 

Como  Acontece  nestas  occa^iões,  em  algumas  localidades  os 
conspiradores  iiAo  souberam  guardar  a  devida  reserva,  e  bem  cedo 
estava  Monte  Alegre  conhecedor  de  toda  a  trama  preparada. 

Nào  se  descurou  um  só  motpeato,  e,  calmamente,  sem  es- 
trépito^ reunia  na  Capitíil  as  poncaa  forças  de  que  podia  dis^ior, 
e  tanto  bastou  para  que  o  major  Francisco  de  Castro  não  pudeaae 


—  539  — 

tir  fise&ltar  o  Quartel,  no  dia  11  de  maio  e  tomar  a  cidade,  é 
qme  ae  deprebende  de  diver?í>s  depoiroentos  exiatentes  DOa  in- 
cruento s  que  tivemos  necet^aidade  de  compulsar. 

A  palavra  de  ordem  para  o  interior »  remettída  aos  chefe»  e 
á«  camarás  municipae»,  coueistia  em —impedir  a  poese  dai  tiovaa 
autoridades  nomeadaB  em  virtude  da  Lei  de  ò  de  dezembro 
de  1841. 

Da  acontecimentoa  fte  precipitaram,  por  quanto,  de^de  que 
foi  resolvido  o  rompimento,  toruou-se  necesiíario  levar  o  facto 
ao  conhecimento  de  Keiju,  entÃo  em  C^am pinas. 

Ofe  que  conbeelam  o  eipirito  autoritário  do  velho  paulista, 
receoíoa  que  de  «ua  intervenção  no  movimento  surgisse  aJg^uma 
imprudência,  foram  coutrarios  a  aquella  idéa.  Entendiam,  que 
nâo  if^ndo  Feijó  um  cheíe  popular,  a  sua  intervenção  seria  maia 
pernicio&a  que   beneâca. 

Outros,  porém,  embora  conheceasem  que  eiam  ponderosas  aa 
r&zoea  dos  que  «e  oppunbam  a  chamada  do  Feijó,  ainda  assim  a 
julgavam  iudiâpensavel,  por  entenderem  que  seria  de  grande 
eãeito  fora  da  Província  o  facto  de  eer  elle  um  dos  directores 
do  movimento. 

De^de»  porém^  que  Feijó  teve  em  Campinas  conhecimento 
das  cf^mbioações  atiat^ntadas,  sentiu  reviver  o  ódio  que  votava  ao 
{xartido  e  aos  homen»  que  o  haviam  obrigado  a  abandonar  a  re- 
gência, e  deapresando  as  conveniências,  eem  se  iin portar  de  paher 
quaes  oa  elementos  e  os  recursos  dos  conjurados,  impoz  deiàde 
lo^o  aaa  vontade,  para  que  se  ini''^iae^Ee  o  movimento. 

O  íracaaao  ridículo,  que  t«ve  a  revo!u<;ílo,  foi  attnbuido  por 
alguns  á  intervençào  de  Feijó,  quando  as  ultimas  deliberações 
ainda  nào  haviam  sido  resolvidas. 

Estes  factos,  ainda  os  ouvi  ultimam?  ute,  a  um  doa  ale  vau- 
tados  espíritos  da  actualidade,  filho  dilecto  de  quera  fora  um 
dos  mais  ardentes  e  dedicados  auxiliares  de  R.  Tubiaa. 


4i     #    * 

Foi  devido  a  essas  indiãcreçõea,  que  o  g-overno  provincial 
teve  conhecimento  do  que  se  tramava,  e  sonhe  impedir  que  a 
revolução  rompesse  na  Capitíil  da  Frovincin,  como  se  baviam 
compromettido  os  deputados  paulistas. 

Por  este  tempo,  verdadeira  ou  falsa,  começou  a  se  propalar 
a  noticia  de  que  o  |;overno  «íeral  designara  officiíil  de  «ua  cou- 
fiança  para  deter  a  R.  Tgbia*,  pelo  que  viu -se  elln  obrigado  a 
deixar  a  Capital,  por  e*5e  motivo^  e  pelo  fracasso  da  tomada  do 
Quartel,  commisaào  de  que  se  encarregara  o  major  Francisco  de 
Castrn. 

R-  Tobias  retirando-se  de  S,  Paulo,    dírigiu-se   a  Sorofaba, 

3ue  era  o  foco  revolucionário,  graças  aos  elementos    de  que  alli 
ispunha   o    coronel   Joaé    Joaquim  de    Lacerda,    e    as   exteneae 


~  è4Ô  - 

amjsodes  qne  o   chefe   paulista  mftntiahà  n&quella  zoua,    e  onde 
se  achaTam  renaidcs  oa   principais  elementos  da  revolta. 

Não  podendo  aer  adiado  o  m>vimento,  tornou -se  necessário 
apreasal-o,  ficando  resolíido  proclamar-ae  R-  Tobias  presidente 
interina  da  Pravincia. 


No  dia  17  de  maio  de  1842,  oa  sinos  das  igrejas  de  Soro- 
caba tocavam  a  rebate^  e  pouco  depois  reuuia-eo  a  Gamara  Mu- 
nicipal em  aessíko  extraorJiaaria,  sobre  a  presidência  do  tenente- 
coronel  José  Joaquim  de  Lacerda,  presentes  os  vereadorei^dr. 
Vicente  Eufrasio  da  Silva  Abreu,  RoíLualdo  José  Paes,  Franciseo 
MâQoel  Campolim,  £le«bào  Àutouio  da  Costa  e  Silva  e  António 
Mascarenhas  Camello»  convocados  para  tomar  conhecimento  daa 
occurrencias  e  adoptar  as  graves  deliberações  constantes  da  acta, 
que  adiante  transciovemos,  e  que  foi  redíg'ida  por  Gabri«L  José 
Rodiigues  dos  Santos,  qtie  poucos  momentos  depois  era  nomeado 
secretario  do  presidente  interino  da  Provincia  de  S.    Paulo. 

Transcrevemos  essa  peça  inlegral mente  por  ser  um  docu- 
mento histórico  emportante: 

Acta  da  reunião  da  Gamara  Municipal  á  requisição  do  Povo 
e  Tropa  reunidos  hoje  nesta  cidade 

Anno  do  Nascimento  d©  Nosso  Senhor  Jesus  ChTÍ& to  de  1845Í, 
22  da  Independência  e  do  Império  do  Brasllj  nos  Paços  da  Ca- 
mará Municipal  de^ta  cidade  de  Sorocaba,  onde  te  renniram  em 
consequência  do  rebate  que  o  Povo,  e  Guardas  Nacionaea,  iiscram 
tocar,  todas  as  autoridades  civis  e  Militares,  o  Batalhão  das  ditas 
Guardas  Nacionaee  e  mnis  cidadãos  deste  Município»  os  quaea 
todos  atten  lendo  »o  estado  de  coacçÂo  em  qne  se  acha  S,  M.  o 
sr.  d.  Pedro  2,*,  Imperador  Constitucional  do  Brasil,  dominado 
pela  facção  que,  curando  unicamente  de  seus  interesses,  tem  le- 
vado este  Império  á»  bordas  do  abysmo,  em  qne  vae  ser  sub- 
mergido e  enn  Frovinuia  reduzida  ao  misero  estado  da  do  Ceará 
e  Parahiba,  com  a  adminiátraçâo  tyrannica  do  Procônsul  que 
como  delegado  dessa  faci^ão  a  tem  govf^rnado  e  opprimido,  e  c#- 
nbecendo  que  convém  quanto  antes  balvar  o  trono  do  fr  d. 
Pedro  2J*  e  a  Constituição  que  temos  jurado,  propuzeram  como 
medida  de  salvação  a  nomeai^^o  de  um  ProBideute  interino  desta 
Provincia,  e  unanime  e  expontaneamente  proclamaram  o  sr.  co- 
ronel Rafael  Tubias  de  Aguiar,  para  o  dito  cargo,  a  quem  au- 
torizaram para  adminiâtrar  em  nome  de  Sua  Majestade  o  sr.  é^ 
Pedro  2.'',  Imperador  Constitucional  até  que  o  mesmo  Augusto 
Senhor  livre-se  da  coacção  em  quM  ae  acha  e  nomeie  um  Minis^ 
terio  de  confiança  nacional,  e  outroaim  que  a  Assembléa  Geral 
Legislativa  tenha  derogado  as  Leis  que  têm  sido  feitas  contra  & 
Constituição  do  Império.  Igualmente  autorizaram  ao  dito  Exmo. 
Presidente  nomeado  para  qne  totne  todas  as  medidj^s  que  julgar 
convenientes  para  salvar  a  Província  doa    horrorts  da    anarquiit 


—  54t  — 

M  qaB  ySo  eondaeil^a  a»  ditas  Leia,  suspendendo  a  soa  execnçÂo; 
no  mesmo  acto  e  por  uma  deputação  de  3  de  seus  membros  man- 
daram OB  ditos  vereadores  convidar  ao  mesmo  Exrao*  Sr,  Coronel 
Rafael  Tobias  de  À^^ntar  para  o  indicado  fim,  e  compH recendo 
elle,  e  sendo -lhe  declaradas  as  condiçõ^i  de  sua  nomeação,  pre- 
stando o  jarameotOj  que  Ibe  foi  deferido  pelo  Pres-idente  da  Ca- 
mará, de  defender  o  Imperador  e  a  Constituição  até  a  ultima 
extremidade,  ae  deu  este  acto  por  fíndo.  E  para  constar  se  lavnu 
a  presente  Acta  que  a^^aignaram  os  ditos  vereadores  com  o  Exmo 
Presidente  nomeado  :  Autoridades  e  mais  cidadãos  que  se  acha- 
T&m  presentes  e  que  tiveram  parte  no  dito  acto.  Eu  Elias  de 
Oliveira  Gesar  Leme,  Secretario  da  Camará,  a  escrevi.— José 
Joaquim  de  Lacerda — Rafael  Tobisg  de  Ag-uiar — Vicente  Ewfr- 
asio  da  Silva  Abrea,  Bomtialdo  José  P»p&,  Francisco  Manoel 
Campolim,  Etesbão  António  da  CoEta  e  Silva,  Maneei  Lopes  de 
Oliveira,  Manoel  Ribeiro  de  Arruda  e  Síl^a,  António  de  Masca- 
fenbas  Camello — Juiz  de  Paz  Joíé  Custcdío  Barbosa.  Seguem* 
se  cerfa  de  30O  a&stgnaturaa. 

Empossado  do  eargo^  entrou  em  movimento  a  maquina  go- 
vernameatal. 

O  primeiro  acto  do  novo  Presidente  íoí  a  tiomeaçào  do  dr. 
Gabriel  Ji  só  Rodrig:ues  doa  San  tus,  para  Secretario  d.^  Preéi- 
dencia,  e  em  seguida  foi  distribuída  ao  Povo  a  Proclamação  que 
já  se  acbava  imprass-a,  qne  também  transcreven  os  como  peça 
indispensável. 

Paulislasl  0«  iidelissimos  Sorocabanos  vfndo  o  estado  de 
eoAcção  a  que  se  acha  reduzido  o  no^^o  Angutto  Imperador  o 
ir,  d.  Pedro  2.*  por  esta  Olif^archja  sedenta  de  mando  e  rique- 
aaj  acabam  de  levantar  a  vok,  ele^endo-me  presidente  interino 
da  Provincia  para  c^ebellar  esFa  hydra  de  trinta  câbeçEs,  que  por 
mais  de  uma  vrz  tem  levado  o  Brasil  á  borda  do  abysmo,  e  libertar 
a  Provincia  desse  Procônsul,  que  postergando  es  decretos  maia 
sagrados  veio  commissionado  para  reduzil-a  ao  estado  do  mísero 
Geará   e   Parahyba* 

Fiel  aos  principies  qoe  bei  adoptado  constantemente  na 
carreira  publica,  nílo  ^oude  hesitar  em  dedicar  mais  uma  vez 
minhas  dobeis  forças  na    sustentação    do  Treno    Constitucional. 

Paulistas  !l  O  voseo  patriotismo  Já  dfu  o  primeiro  papso 
precedendo,  e  seg-nindo  os  vossos  representantes,  quando  fieis 
interpretes  de  vossos  snntimentos,  clamaram  crntra  e^sas  leis  qoo 
cerceando  as  pror^gatívas  da  Coroa,  e  as  libf  rdades  publicas  deita- 
ram  por  terra  a  Comtituíçfto;  o  voíso  valor  e  firmeza  farfio  o  resto. 

Mostremos  ao  mundo  inteiro  qoe  as  palmas  ctflhidí^  nas 
campinas  do  Rio  da  Prata  nfto  podem  definhar  na  do    Ipiran^a. 

Os  dafcondentes  do  illmtre  Amador  Buero  sabem  dofondor 
DB  seus  direitos  a  par  da  fidelidade  que  devem  ao  Trono. 

União  e  a  Pátria  será  salva.  Viva  a  No^sa  Santa  Religiio* 
VÍT4  S.  M,  o  Imperador  Viva  a  Constituição. 

Eafad  T<^i£is  de  Aguiar, 


—  642  — 

O  ^Governhta*  publicado  na  Capital,  tratiacreTeiidõ  a  pro- 
clamação supra,  analydfl-a  em  todtis  o»  pontoa — e  conclue : 

«Bera  diz  o  rebeldp,  qu^  é  fiel  aos  príncipioi  qué  ha  aão^ 
ptaão.  Nós  o  crijEnos:  Núi  o  coubi-ceroc^a  o  se  estamos  certos  da 
qu6  a  sede  ão  manio  o  faria  servir  debaixo  de  um  govcrfw  qual- 
quer^ que  lhe  deiTasRÈ  dominar  perpêtuãinenie  iima  das  mata 
impfrrtajíUa  prociítcias  do  fírasíl^  nabemi/s  também  de  quanto  é 
elle  capaz  quando  in^o  lhe  4  negado. 

Na  meama  data,  17  de  toaio  de  1842,  foi  expedida  Portaria 

ordenando  a  ^usppin&fko  da  Lei  das    Heforma»^  aanullaudo    tudo 

quanto  se  havia  feito  em  virtude  da    meama  lei,    e    mandando 
continuar  eui  vigor  as  aiUerioreB, 

Ãl^uni  ói&i  antes  José  Joaquim  de  Laeerdai  de  Borocaba, 
Tristào  de  Abreu  Rangel,  de  Itú,  Joàó  Bodrií;'ue8  Leite,  de 
Porto  FelÍ35,  liaviam  percorrido  diversaa  localidades,  dentre  ou traa, 
Tatuhi,  Capivari»  Pirapora  de  Curuçiij  Campinas,  prevenindo 
ao%  aii]ig'os  P^'''^  4^^  estivessem  preparados  e  fizessetn  as  Câma- 
ras Miinicij>aee'reccuhecer  a  H.  Tobias  coroo  Preiidente  interino  da 
Proviucia  quando  ^o  déaso  a  proclamação  em  Sorocaba,  e,  caso 
estas  nfto  se  reniiissem  que  o  réconbeceasêiu  na  frente  da  força 
de  Guardas  Nacionaes  e  povo* 

Reatiznda  a  proclãtnaçào  em  Sorocaba,  partiram  os  próprios 
para  as  pnvoaçÔRs  circumvizinhas,  e  no  dia  19  aa  Caraarae  d© 
Itú  8  Pofto  Feliifi  reconheciam  o  governo  revoltoso  —  a  JeCa- 
pivari  a  19  e  a  de  Gon^tituiçAo  om  20  de  maio 

Nos  dias  17  e  18  tanto  em  Faxina  cotpo  em  Itapetininga 
era  H,  Tobias  acclam^ado,  sondo  que  de  Itapetintnga  veio  imine' 
diatameate  collocar-se  a  seu  Lado  com  a  força  que  poudo  reunir, 
Paulino  Airea  de  Ãg^iiirra,  aeu  cunhado* 

Em  hú  o  enthu&iaBmo  dominava  parte  da  população,  tendo 
a  frente  do  movimento  pessoas  consideradas  que  se  apresBaram 
também  a  proclamar  aos  habitantes  da  histórica  Cidade  noa  se- 
guintes termos  t 

ItuanoB ! 

A  necesâidade  de  sustentar  a  Constitui ç^    e    o    Imperador 

noa  obrií^ou  a  tornar  as  armas, 

Ituanoâ  !  Cidadàos,  que  empunham  as  Armas  para  defendera 
liberdade,  devem  ser  sujeitos  áa    autoridade?,  respeitar    direitos 

albeioB,  portanto  eap^ramoâ  que,  finis  aos  sentimentos  generosos 

?|ue  sempre  distinguiram  os  Paulistas,    nào      empregaieis    vossa 
orça  e  corag^em  seníko  por  ordem  superior    e  em  caso  urgente é 

Infelizmente  teuios  enire  nós  alguns  dissidentes,  sede  aiten* 
ciosos  com  elles  emquanto  nào  voâ  agredirem  e  insultarem. 
Eespeítae  suas  pessoas,  suas  famílias  e  aaas  propriedadeSr  com  a 


-^  543  — 

mesma  círcamBpecçJtó,  e  rig^ar  com  qae  o«  repellireí»»  soldados 
da  liberdade  dão  mancbaio  no  crime  mãoB,  qa.Q  tècu  a  nobre 
missão  de  BU^tetLtar  ob  direitos  do  homem,  e  yingar  a  pátria» 
Gonôae  em  vosaoe  chefes,  do  goveruo  iaterino  da  Província  e 
na  Providenda  quo  vela  sobre  noasoa  deatinofl. 

Viva  a  Heligiâo  ! 

Vivik  a  Naçào  1 

Viva  a  Conçitituiçào  I 

Viva  o  Monarcha  ! 

Viva  o  Governo  Interino  da  Província  ! 

Vivam  os  Panlíetas  I 

António  Paês  de  Barros,  PrcBÍ  dente 

Joíté  Sfverino  de  Almeida 

João  Leite  de  Sampaio  Ferraz 

Francisco  José  Pinto 

Pedro  Alexandrino  Rangel. 

Tomando  a  seno  a  sua  posiçãOi  o  novo  governo,  por  por- 
taria de  19  de  maio  nomeava  coramandantes  militaro*  para  di- 
vereai  localidades  do  interior  e  lhe*  reraettia  ínfiiracçõea  im- 
pressas, 

Naquella  tnesma  data  o  Presídeote  intíírino  ordenava  a  sn»- 
pcn^ilo  da  lei  das  Reformai,  e  mandava  annullar  tudo  quanto 
havia  siJo  feito  em  virtude  das  mesma'). 

Conforme  havia  iíiilo  determinado,  de  iodas  as  cidades  cir- 
cnm vidinhas  os  encarregados  do  movimento  diri^j-tam-ge  para 
Sorocaba  com  as  forçai  que  tinham  pr>dido  conse<;uir  pelos  meios 
qne  maia  adiante  tornaremos  conhecido. 

O  maior  numero  pertencia  a  Sorocaba,  cuja  população  havia 
em  grande  numero  se  alistado  nas  fileiras  revolucionarias,  uns 
por  dedicaçào,  outros  obrigadoi  pelos  jiii^ea  de  paz  e  pelos  offi- 
ciaei  da  Guarda  Nacional. 

Começou  o  novo  governo  a  dar  as  providencias  para  poder 
cercar,  atacar  e  tomar  a  Capital,  que  a  todos  parecia  de  ur-^^^en te 
necessidade. 

Como  espécimen,  transcrevemos  o  autografo  de  uma  das  por- 
tarias para  aquelle  fím  expedidas,  g^uardaudo  nesse  e  em  todos 
01  autógrafos  que  pablicarmca,  a  sua  orfoi^rafia  própria. 

*0  Preaidente  interino  da  Provincia,  tendo  em  conaideraçfio 
omerecimento  e  mais  parte»  que  concorrem  na  pessoa  do  Sr, 
José  Ftodrigaes  Leite  o  nomea  Sargento  Mor  Commandante  do 
EsquadrÃo  de  Cavallaria  da  ViMa  de  Port  ^  Feliz,  devendo 
prestar  juramento  perante  a  Camará,  e  entrar  im mediatamente 
em  eiercicio.  Palácio  do  Governo  intr.**  na  Cidade  de  Soro- 
caba, IT  de  maio  de  1842, 

Eafael  Tobim  de  Aguiar, 


™  M4  ^ 

Ão  mfttmo  tempo,  providenciava  H.  Toblan  a  renulào  dai 
forças  de  Itú,  de  Sorocaba  e  outras,  no  ponto  designado  para  a 
conceotraçâo  geral. 

Para  esse  fim  eram  expedidas  porta  ri  as  para  Porto  Feli», 
Capívarí,  Tatuhi,  Coastituiç&o,  Una,  b.  Roque,  Àttbaia  e  ontroa 
pontos. 

Ainda  como  curíoiidade  traoBcrevemoB  um  autografo  desBAB 
portar jaSi  expedida  logo  apóa  a  proclamação  de  Sorocabu. 

«  Devendo^po  tomarem  todas  as  medidas  que  conser^ 
vem  a  segurança  publica  e  a  causa  proclamada  hoje  neita 
cidade  para  suatrntar  e  defeniJer  o  Trono  de  B«  M.  o  Impe- 
rador o  Prés."*  interino  da  Provincia  ordena  ao  Sr.  Sarg,"*' 
Corad/  do  Egquadrào  de  Cavallaria  da  V**  de  Porto 
Feliz,  que  leuoa  o  maior  numero  de  praças  do  d."  B.", 
e  faça  nrarcbar  p»ra  a  cidade  de  Itú  enteDdeado>Bfi 
com  o  Cidadáo  TristÈo  d'Abreu  Rangel  para  apromptar 
Quartel  esperando  ali  as  ultimas  ordens  deete  Governo. 

Palácio  do  Governo  intr.°  em  Sorocaba  17  de  maio 
de  1842. 

Rafael   Tobias  âe  Aguiar. 

P.  S, 

Rfmftterá  o  ofEcio  junto  dirigido  a  Gamara  M.^^  da 
Capivari. 

Transcrevemos  ainda  o  seguinte  autografo  túhi^  as  provi- 
denciai tomfldns  para  a  organização  das  forças  necessárias  para 
aBí;ed'ar  S,  Psulo.  E'  iníereíiante  esse  documento,  por  aer  escripto 
por  Gabriel  José  Rodrigues  dcf  Santos,  já  então  Secretario  do 
Presidente  interino, 

—  €  O  Presidente  Jn,*"  da  Província  recebeu  com 
prazer  u  officio  que  em  18  do  corrente  Ibe  dirigiu  o 
Sr,  í^arg."""""  José  Rodrigues  Leite  Commatídautõ  do  Esqua- 
drão  de  Cavall  •  da  Gd.'  N  »i  da  V,*  de  Porto  Feliz,  e 
inteirado  do  eeu  conteúdo  congratula-se  com  o  Sr. 
Sarg/"'''  pelos   suceespoa  que  refere. 

Dependendo  em  p^rande  parfe  o  felia  excito  da  Santa 
Causa  em  que  nos  acbamos  empenhados  do  livramento 
da  ca  piai  da  propinei  a,  o  Preá/  interino  quer  fasser 
marcbar  para  ali,  com  a  maior  celeridade  poasivel  trda 
a  fírça  qnc  puder;  o  confiado  no  valrr  e  pi^triotifino 
dos  habifanles  dessa  V**,  exige  que  o  Sr,  Sarg.""""  apenas 
receber  esta  faça  Fcguir  para  a  cidade  de  Itú,  toda  a 
força  do  Esquadrão  de  seu  commando  que  estiver  re- 
unida ou  que  puder  reunír-se  uo  momento  e  bem  assim 
todos  os  patriotas  qne  quizerem  fa^er  este  importántd 
serviço , 


—  545  — 

O  Preaid."  Int.*'  desôja  m.**  que  o  Sr.  Sar^  "*'  mar^ 
che  igualmente  porque  está  certo  de  que  o  »eu  exemplo 
m^^  animará  ob  i^atriotaN,  e  no  caso  de  quando  che°;'uem 
a  Itd  já  t^riha  marchado  a  força  que  daU  ae^e^  deve 
a  dessa  V»*  ir  ©ncorpor»r-ae  com  ella,  na  intelligencia 
de  que  í>»  coniing-tjntea  dos  MunicipioB  de  Iiú  6  Porto 
Feliz  devem  e^tar  impreterivelmente  no  Piraju^aata,  de 
segunda  a  terça-feira  da  próxima  semaua,  para  ahi 
fazer  juncçào  com  a  íorça  que  daqui  marcha  ás  ordeus 
do  Sarg."*''  Francisco  Galv&o  de  França.  Nesta  data 
va«  oràmn  a  eoHáctoria^  para  Eupprir  com  aa  despesas 
neces&anaa  da  marcha,  e  qd.*^  não  haja  dinheiro  suffi- 
ciente  o  Sr.  Sarg/"*'  pedirá  o  que  for  necesBario  a 
algu m  patriota  terti fican do-o  p r ompto  embo Uo .  Co n fiad o 
no  aelo  e  activid,^  do  Sr.  Sarj^,™%  o  Governo  conta  com 
o  pontual  comprimento  de  tudo  quanto  ora  lhe  de- 
termina. Palácio  ào  Gov."  d©  S.  Paulo,  na  cid,*  de 
Sorocaba,  20  de  maio  de  1842. 

Rafael  Ibbias  de  Aguiar* 
P.  S. 

O  Gov."  conta  q.*  o  Major  Galvão  esteja  em  Pira- 
juGsara  na  2^  feira  até  m  2  boras  da  tarde,  e  elte 
avisará  de  S.  Roque  p/  Itd«  Deve  iicar  nessa  uma 
guarnição  sufficiente,  ainda  q.'  de  Tatuhi  nada  se  deve 
temer,  porq.*  o  Gov."  ja  suspendeu  o  Juis  de  Paz  e  já 
den  outras  providencias  p.*  impedir  ali  reuniões  inimi-- 
gas,  O  Major  Qalvào  acha- se  nomeado  Com/  Superior ^ 
e  com  mandará  toda  a  expedição. 

Na  mesma  occasião  os  agentes  no  interior  cumpriam  a  pa- 
lavra de  ordem,  e  espalhavam  noticias  animadoras,  dando  como 
realizados  factos  que  nunca  fíguraram  senão  em  cartas. 

Eis  um  dessea  curiosos  documentos: 

Hd."**  Sr,  Padre  França, 

Capivari,  17  de  maio  de  1342. 

Neftte  momento  chego  dn  Porto  Feliz,  traieudo  a  esta  Villa 
0^  planoâ  de  rompimento  qun  o%  nossos  amigos  politicoí^  enviaram 
para  o  dia  de  amanha.  O  Tobias  está  em  Sorocaba  vae  ali  ser 
aclamado  petoá  400  homens,  que  estão  em  arma«.  Aclamado 
ProBÍ/  deíites  400  aáe  150,  cora  líJOO  de  Itapetininga,  que 
command^dos  |^lo  major  Galvão  vdo  coadjuvar  o  rompimento 
na  Capital  que  h©  infalível  e  seguro  o  Governo  ali  conta  200 
homens  no  quartel,  quasi  todofl  êstão  comprados  pelo  França 
para  coadjavãr. 


—  546  - 

O  Bento  de  Barres  pasaou  uma  orãem  franca  ao  Franç*,  o 
CKico  de  Caatro  eétá  do  O'  com  força  .  prompta  para  marchar 
para  S.  Paulo ;  em  S.  Bernardo^  Bonillia  conta  outra  força,  que 
log'0  toma  conta  da  Serra  de  Saoto^,  Bahi  200  bomem  psra 
tomar  conta  da  fortaleza  ob  qnaes  devem  ser  coadjuvados  pelos 
doii  barcos  que  ali  surtem  e  que  já  estão  comprados  pelo  com- 
me  rei  o  de  Sauto^i  da  Á  ti  baia  marja  força  para  S.  Paulo,  bem 
como  das  Vil  las  do  Ni^rte  para  commatidal-as  o  tenente-corooel 
Bento  José  de  Moraes,  o  qual  cauiíuhou  para  Taubaté,  de  ma- 
neiras que  o  grito  é  eeguro-  O  Tobias  acíamado  em  Sorocaba 
officia  as  Camarás  afim  de  restabelecer  o&  juizes  de  paz  em  tuas 
antigas  attríbuiçòes,  bem  como  o  juis^  municipal,  e  faser  com 
que  as  autoridades  demittidas  assumào  novamente  antiga  ju- 
risdicção — deve-se  em  1."  lograr  faser  recoubecer  o  Prei.'* 
aclamado  pela  Camará  e  dep  k  cumprir-ae  suas  ordens,  o  quando 
a  Camará  não  seja  favorável  pode  o  Juiz  de  Paz  aclamar  em 
freute  da  força  e  do  povo,  e  sendo  mesmo  a  Gamara  disposta  hé 
precisD  estiir  escudada  em  força  para  fazer  o  rompimento,  V> 
Kd."*  é  uoãia  esperança  nessa,  e  por  hso  uão  nos  deixará  mal, 
eu  mau  do  um  próprio  a  Sorocaba  afim  de  tra&er  oã  o£cio»  e 
remetterei  amanha  de  Porto  Felia. 

Sou  seo  Am*°  O  br.' 
Viega», 
(dr.  João  Viegas  Muniz). 

Para  animar  aos  correti^^ionarioa,  dar  como  certa  a  tomada 
da  Capital  escrevia  R.  Tobias  nos  novos  comman dantes  dos 
fantásticos  Esquadrões  cartas  de  seu  próprio  punbo-  Eis  o  au- 
tografo dirigido  de  José  Rodrigues  Leite: 

Ulmo.  Sr.  José  Eôis  Leite. 

Sorocaba,  20  de  maio  de  1843. 

Tive  o  praeer  de  receber  sua  estimadissíma  de  18  do  cot- 
rente  em  que  m^  narra  os  acontecimentos  dessa:  eu  nào  espe- 
rava meuoâ  dos  patriotas  dessa,  bem  conhecidos  pelo  seu  amor 
a  liberdade,  e  firmesa.  O  primeiro  passo  foi  dado,  e  com  bas« 
tante  enthu&jasmo,  pois  que  foi  abraçado  por  Porto  Feli*,  Itú  e 
Gapivarjj  porém  de  pouco  nos  valeria  se  não  continuaBsemos  com 
a  maior  prestesa,  e  deiíasaemos  a  Capital  entregue  oas  màoi 
do  sanhudo  Procônsul  por  mais  oito  dias.  Nestas  circunstanciai 
cumpre  que  todos  os  nossos  amigos  e  V.  S.  em  particular  facão 
todos  esforços  para  que  dessa  e  Cnpivary  sigâo-o  maior  numero 
de  forças  hoje  mesmo  se  for  posaivel  para  se  eucorporar  com  as 
de  Itú,  pois  que  as  de  Itapetininga  devem  chegar  hoje,  e  deaejo 
que  nào  se  demorem  nem  um  dia  nesta. 


—  547  — 

Sei  que  a  mocidade  briosa  âesBH  não  prôctBs  Ber  exeitada  e 
que  correrá  alegre  ao  reclamo  da  pátria  e  por  iaao  faria  injuria 

66  nàa  contas&e  com  expoutatiea  c^adjuvaç^  da  mesma.  V&o 
aã  cartas  e  ofHcio»  em  que  me  íalla  que  enfiará  a  seu  destino 
com  a  maior  bri^vidade. 

N&o  tooh^t  tfinipo  para  maia,  senào  reiterar  03  protestos  de 
estima  e  amisade  com  que  «ou 

De  V.  S/ 
Am,*  Mf  Afl.*  e  Obn* 

Rafael  Tobiai  de  Aguiar , 

^  *  ^ 

Alga  mas  obserraçòes  são  necessárias  para  estpHcar  os  acon- 
tecimeTitofl  e  oa  esforços  ímproficuoSf  que  o  chefe  paulista  teve 
de  empregtir  para  reunir  forças  em  numero  que  lhe  pareceu 
aufficieute  para  cercar  o  tomar  a  Capital. 

Coniquanto  já  estivft6.se  resolvido  o  recurso  ás  armaa,  essa 
decisÃo  era  apenas  conhecida  doa  chefes  locaes. 

Com  excepção  das  forças  que  se  acbavani  reunidas  em  Soro- 
caba no  momento  da  proclamação,  as  demais  aiuda  eâtayam 
dispersas.  Foi  só  depois  da  elei/açâo  de  R.  Tobias  a  Presidência 
que  de  Capivarí^  Piracicaba,  Porto  Feliz,  Itú,  a  outro*  pontoa 
si  arreg'im6ntavaiii  as  forças  revoltosag.  Este  facto  de  prebende 
B6  doB  autof^rafos  que  transcrevemos,  e  demonstra  que  foram 
circumstaDoias  inesperadas  que  a]ue6aaram  o  rompimento. 

Uma  das  causas,  talvez  a  mais  importaute,  foi  o  insuccesso 
da  tomada  do  quartel  de  S.  Paulo,  iucurabeucia  confiada  ao 
major  Francisco  de  Castro,  o  popular  Chico  de  Castro,  que  ainda 
conhecemos,    incumbência    que  elle  nem  tentou  realizar. 

Esse  g^olpe  estava  aíãentado  para  o  dia  II  de  maio.  Aquelle 
major  residia  perto  da  fregui^zia  do  0'^Na  noite  de  10,  o  te- 
nente Joaquim  Leite  Pentnado  e  Joaquim  R.  Goulart,  acompa- 
nhados dos  br^raens  que  fori^ad^mente  consefíuirain  reunir  dirigi- 
ram-se  a  casa  de  FranciBco  de  Castro,  que  jA  se  achava  preparado 
com  força  que  pudera  obter* 

O  pkno  era  o  se^^inte  :  ua  manhã  de  11  seria  invadida  a 
cidade  e  tomado  o  Quartel,  Para  eâse  resultado  Chico  de  Castro 
contava  náo  só  cora  a  força  que  dispunha  como  de  grande  nu- 
mero de  amigos  que  se  achavam  na  Capital  e  que  o  auxiliavam 
com  esforço,  e  certeza  de  se  achar  compradíi  parte  da  força. 

O  successo  era  inevitável,  fr,ico  como  se  a:5lia?a  o  Presidente 
da  Proviucia,  o  que  se  propnlflva    para    animar  o  eutbusiaamo, 

No  dia  10  o  major  Francisco  de  Castro  enviou  a  S.  Paulo 
Leite  Penteado  -  cfj/Ko  &fiWur  — dis-eram  mata  tarde  as  testemu- 
nhas que  depiríerara  no  processo  a  que  respoudBram  os  revoVjOsos. 

A  missào  do  batedor  era  verificar  quaes  as  torças  existentes, 
e  m  era  possível    reali^ar-se  a  tomada  do  Quartel, 

A'  tarde   desse    dia    voltava  Penteado,  levando  a  noticia  ie 


—  548  — 

que  O  Presidente  ee  achava  prevenido,  pois  fisaera  recolher  o» 
pequenos  destacamentoe  exigtentpfi  nas  localidades  próximas,  os 
quaes  réunidoe  á  força  6x:igteate  na  capital,  tora&va  impoteível 
o  golpe  de  m&o.  Que  essaa  forças  se  elevavam  &  maÍB  de  2O0 
bometifl^  que  le  achavam  aquartelados,  e  que  uào  haviam  sido 
compradas.  Tranamittíu  mais  uma  desalentadora  noticia,  qual  a 
de  já  bavet  ordem  jíara  a  prizào  de  Tobias. 

Estet  factcB  ficaram  demonstrados  no  prece i se  por  grande 
numero  de  testemunhas— n&o  só  de  pessoas  que  se  achavam 
reunidas  a  Chico  de  CaatrOi  como  ainda  do  depoimento  a  que 
ae  procedeu  em  Átibaia.  Desta  localidade  v<-iu  a  S.  Paulo  Ma- 
noel Jorg«  Ferraz,  para  assistir  commissionado  a  tomada  da 
Capital  no  dia  11  de  junho « 

Aquellas  noticias  desalentadoras  determinaram  Chíco  de  Casrto 
a  diaâolver  nessa  mesma  noite  as  forças  reunidas  em  sua  easa 
— fojTtos  largados  até  2.*  ordem — disseram  alg-uns  dos  que  ali  se 
achavam,  quando  depuzeram  no  processo  jnstauradoí  finda  a  revo- 
lução, contra  os    cabeças. 

O  insuccesso  determinou  a  que  Rafael  Tobias  abandonasse 
oc^uUamenie  a  Capital.  Elle  o  confirma  no  sen  manifesto: 
«  B  eu  caminhei  depois  de  íer-me  occulUtdo  por  alguns  diasy 
para  a  min  lia  fazenda  do  Paranapt  tanga,  e  chegando  a  Sorocaba 
já  ahi  nchei  uma  i^TJinde  força  armada  e  aquaitellada  sob  o 
commfindo  da  T,*  C.^'  Jerouymo  Isidoro  de  Abreu:  a  governança 
da  cidade,  e  todos  os  habitantes  delia  exigiam  a  minha  coad|u- 
vaçào  e  iinalmente  a  Gamara  e  povo  nomearam-me  presidente 
interluo  da  provi  neta  ». 

Descoberta  a  conspiraçiio,  era  imprescindivel  o  rompimento 
por  que  qualquer  demora  inútil ísaria  o  trabalho  feito^  ao  que  os 
ambiciosos  nào  quísseram  se  sujeitar. 

Dando-SG  orompimeato  eitemporaneamente,  tomou-Ee  neces* 
sario  o  ©xf(.»rço  que  transpira  da  leitura  dos  autógrafos  tranucriptos, 
para  reunir  fnrças  para  se  tomar  a  Capital,  antes  que  do  Rio  viessem 
CB  recursos,  que  já  era  notório  terem  sido  reclamados  pelo  Pre- 
sidente . 

Transcrevemos  mais  um  doâ  autógrafos  que  possui  mos,  di- 
rigido de  hú  por  TrisítÃo  de  Abreu  Eangel  ao  commandante 
dos  revolucionários  em  Porto  Feliz,  que  nos  dá  conhecimento 
da  organização  e  procedência  das  forças,  e  do  logar  convencio* 
nado  para  reunião  de) las «  O  ponto  encolhido  foi  em  PirajosBara, 
situado  uma  légua  além  da  ponte  dos  Pinheiros. 

«  Da  p&rticipaçào  junta  do  Ex,™'  Presidente  da  Província, 
verá  que  a  gente  vinda  de  Itapetininga,  deve  chegar  hoje  e  ae- 
guir  amanha  21  do  corrente  para  a  Capitai,  com  tropa  da  cidade 
de  Sorocaba^  e  desta  cidade  (Itú)  e  dessa  villa  (Porto  Feliz)  p«>- 
rem  como  reçebt  aviso  dali  que  a  geata  ^6  poderia  ettar  aqui  a 
22,  vou  pela  presente  deprecar  a  celeridade  da  mana,  para  que 
amanha  21  infalllvelmente  sai&o  dahi  para  a  22  seguirem  daqui 


-  543  - 

com  a  que  deve  marxar  também,    pois  neste    leDtído    officío    ao 
Ex."*  Presidente. 

<  O  ]og'ar  desiguAdo  para  a  juDcção  das  forçaa  é  Pírajuisara. 
Bem  vê  V.  S.  que  a  celeridade  da  marxa  é  de  summa  necessi- 
dade, porque  operações  ta  es  devem  ser  uniformes. 

«  Dahi  devem  vir  municiadas  tbé  aquelle  ponto. 

Itú  20  de  maio  de  1842. 

Truião  〠 Abreu  Rangd^ 


No  dia  em  que  a  Coturana  Libertadora  deixou  Sorocaba, 
cbegõu  a  aquella  cidade  Feijó,  qne  apressou-se  a  dirigir  stia 
ProcIamaç&Q  aos  povos       EtUa. 

*  Apeuas  sube  eu  em  Campioas  ás  10  boras  da  noite,  que 
nesta  cidade  se  liavia  acclamado  um  Presidente  Paulista,  e  que 
este  era  o  sr.  TobtaSt  cobrou  a  minha  alma  algum  alentn,  e 
persuadi'  me  qne  a  Proviocia  ia  recobrar  t^eo  antigo  renomef 
que  brevemente  oa  Mandoea,  conhecendo  que  cdm  Paulista  nfto 
se  brinca  ae  retiraríào  do  Conselho  de  S  M  I.  e  darião  lugar 
a  que  elle  Uvrempnte  escolhesai;  ura  Ministério  amiço  da  Con- 
fitUuiçáo  0  que  soubesse  como  se  governa    homens  livres 

Dei  providencias;  e  de  manha  nAo  obstante  o  meu  abitual 
estado  de  enfermidade,  pusraeVa  caminho  e  xeguei  a  esta  Cidade 
de  Sorocaba  com  trcs  dias  de  viagem. 

A  minha  gratidão  será  eterna  a  todos  os  Sorocabauos ;  e 
jamais  deixarei  de  lembrar- me  que  ac^ui  foi  onde  se  deo  o  pri- 
meiro grito  de  convite  a  Província,  para  despertar  de  tanto  tor- 
por e  de  tratar-mos  de  segurar  nossas  liberdades ;  enxime  de 
entoziasmo  observando  o  valor,  a  coragem  e  o  desejo  que  todos 
mostravfto  em  díspor-se  aos  perigos  todos  para  libertara  Capital 
do  Juí?o  desse  Pre^ideate  Baiano  qtie  tanto  nos  tem  oprimido  e 
sem  ras&o ;  deliberei  ajudar  táo  onroãa  tarefa  quanto  em  mim 
eítivesae  í  e  como  nada  posao  a^nfio  expiimindo  meos  sentimRntOB 
em  quaoto  puder  diàer  a  meus  patrícios  tudo  q^ianto  julgar  que 
lhes  coQvem  para  perpetuar  a  gloria  da  t"rovincia.  Falves 
pouco  me  reste  de  vila,  maa  esse  pouco  voluntariamente  aacri- 
âcarei  pela  pátria  a  quem  tudo  devo, 

Sorocaba  22  de  maio  de  1842. 

A  Columna  Libertadora  partiu  de  Sorocaba  no  dia  21  de  maio. 

O  ponto  de  concentração  designado  era  Pirajussara, 

O  T,  C."'  José  Joaquim  de  Lacerda  se  dirigiria  áqueJle 
ponto  pasmado  por  Sâo  Roque,  acompanhado  de  200  homens. 

Paulino  Aires  de  Aguirra,  a  frente  de  300  homens,  chega- 
ria a  Pirajussara  pela  estrada  de  Uaa. 


-  saa  — 

o  major  Francí&co  de  Castro  procurada  de  Araçari^uama  H 
ponto  de  eoDcentração,  cotn  a  força  que  co  ti  seguisse   reunir. 

Comraaudaria  eme  liefe  Francisco  GalvÃo  de  França,  as  forças, 
que  poderami  se  Wevar  a  pouco  maia  de  800  bomens. 

Era  crença  geral  de  que  fácil  ?©ria  a  Columna  Libertadora 
se  apoderar  da  Capital,  df*9  proveu  ida,  como  faziõo  constar  achar  íte. 

O  fracasso  da  tomada  da  Capital  e  da  retirada  de  R,  Tobias 
lia  via  ajdo  conservado  em  fçraodo  aigillo. 

Se  aquelta  notícia  nkfy  foi  divui;^ada,  outra  mais  importante 
veitt  trazer  grande  d^í^animo  á  Columna. 

S3.0  Paub  nAo  poderia  ser  tomado,  pois  soubera  em  curto 
espaço  preparar-se  para  a  defesa  e  m^smo  para  o  ataque, 

Quando  o  governo  teve  noticia  de  que  alguma  cousa  se  pre- 
parava, começou  a  recolher  sem  estrépito  as  íorçaa  eaparsãs  no» 
pontos  maia  proiimos.  O  vice  presidente,  padre  Vicente  Pires 
da  Mota,  expi^din  próprios  para  Jacarehi,  Jundiabi  e  Ifcapec^- 
rica  chamando  á  Capital  os  coronéis  Paula  Ma<  hado,  (Queiroz 
Telles  e  cap.""  Manoel  José  de  Moraes  Com  elles  combinou 
quaes  os  auxílios  que  deveriam  prestar  ao  {governo. 

QueiroK  Telles  permaneceria  em  Jundiabi,  com  a  força  que 
conseg-uisse  reunir^  prompto  para  marchar  jmra  a  Capital,  Itu, 
Campinas  ou  Sorocaba.  O  corouel  Paula  Machado  e  o  cap," 
Moraes  voltariam  á  Capital  cora  o  reforço  que    pudetseni  obter. 

Partindo  para  sua^  localidades,  estes  cidadãos  achavam -se  de 
volla  a  S.  Paulo,  no  mesma  dia  em' que  a  Columna  deixava  So- 
rocaba, acompanhados  de  cerca  de  500  homens  que  foram  se 
aquartellar  em  Sào  Francisco  e  S.   Bento. 

Essa  força  e  a  que  jâ  se  achava  reunida  eram  int. is  que 
sufficientes  para  defender  a  Capital. 

Na  mesma  occasiào  espalhava- se  a  noticia  de  que  em  Santoi 
ie  desembarcaram  batalhões  de  Caçadores  e  Fuzileiros, 

Como  conseguiu  Monte   Alegre  prevenir-se  tào  a  tempo? 

Avisado  do  que  se  tramava  em  varias  localidades  do  interior, 
^aças  á  imprudência  dos  conjurados,  apressou  >se  a  levar  o  facto 
ao  conhecimeato  do  governo  ^eral,  pedindo  forças. 

Posteriormente  recebendo  a  communicação  de  não  ter  sido 
poBsivet  dar  pos^e  ás  auti  ir  idades  nomeadas  para  í5orocaba,  sabendo 
que  o  mesmo  aconteceria  em  muitas  localidades  onde  dominavam 
oamaras  eleitas  com  a  violência  que  occasiouou  a  queda  do  ga- 
binete maionnta — fez  partir  para  o  Rio  peBsoa  de  confiança  com 
correspondência  retiervada.  O  emissário  do  Presidente  por  uma 
felicidade  occasional,  chega  a  Santos  duai  horas  antes  da  partida 
do  «Ipiraug-a»»  o  único  vapor  que  entào  navegava  regulartnenie 
entre  Santot  e  Rio. 

No  dia  seg  ""  o  governo  geral  estava  conhecedor  do  que  ae 
premeditava,  e,  providenciando  com  rapidez,  remetteu  trop&aque 
de<embarcaram  em  Bautos  no  dia  16. 


-  661  - 

A  notícia  correu  com  rapidez,  e  o  f&cto  era  coQhecíilo  em 
Itú  DO  dia  18  de  maio^  como  ee  verifica  do  autografo  que  ae- 
gU6-Be,  dirigido  por  Tri&tio  ao  dn  Vieg&â,  em  Porto  Feliz. 

Br*  Dr.  Viegas 

BrilboQ  V.  3.*  ahi  como  em  Gapiyary^  6  no  qne  recommen* 

doa  para  Piracicaba. 

Ee  tou  informar  o  governo  do  qne  me  dús. 

Do  que  aqui  houve,  já  deverão  saber,  e  atem  do  que  e&^ 
crevo  ao  Zuza  tenho  a  acere scentar  que  pelo  Xiq,*  Mesquita 
chegad^í  com  doía  dias  e  meio  de  SautoSi  aahe-se  que  chegou 
a  Santo»  um  barco  que  «e  esperava  com  tropa,  e  feito  o  desem- 
barque sahirào  quarenta  alman  do  outro  muTidUf  as  quaes  estav^o 
batendo  o  queixo  no  Rio  Pequeno. 

£m  Sào  Paulo  havia  muita  coragem  6  eiperanç^  de  rom- 
pimenlo. 

O  enthudasmo  aqui  continua:  os  governistas  retirarS,o-se 
para  Jundiaby,  e  eatamoi  também  promptoa  para  a  marxa  que 
o  Governo  mandar. 

Dê  sua»  ordem  ao  eeu  amigo  obr.^ 

Tristão 

Itu,  18  de  Maio  de  1842. 

Cora  se  vê,  esta  carta  era  etcripta  no  dia  seguinte  ao  da 
proclamação  de  Tobias  em  Sorocaba,  e  apesar  de  todoí  os  esforços 
empregados  a  noticia  da  chegada  das  quarenta  alrnoÁ  do  outro 
mundo  em  Santos,  transpirou,  produzindo  terror  em  todas  as 
localidades  que  haviam  adherido  ao  governo  Tevolucíonario,  Desde 
esse  momento^  como  demouãtraremos  cora  preciosos  autógrafos, 
o  entliusiasmo  arrefeceu,  e  cada  um  foi  procurando  meio  de 
desaparecer  da  acena,  antes  mesmo  de  representar  o  papel,  que 
lhe  fora  designado. 

A  Colnmna  Libertadora  teve  noticia  do  facto  ao  chegar  a 
Pt rajuí  sara— estancou  ai  li  de  uma  vez,  para  só  se  debandar t 
quando  dias  depois  ouviram  o  tremendo  grito — tOs  Periquitos»— 

O  cbefe  revolucionário  desde  Ofse  momento  compreheudeu 
que  eatava  perdida  a  partida,  mas  ainda  assim  tentou  nm  eaí or- 
ço, para  ver  sa  crnseguia  occultar  a  chegada  de  Caxias,  que  e He 
aabia  já  em  caminho  da  Capittíl,    galgando  a  aerra  de  Santos- 

Para  esse  fim  resolveu  expedir  mais  uma  Portaria  em  data 
de  22  de  maio. 

«Constando  ao  Presidente  interino  da  Província  que  oe 
perturbadores  da  ordem  publica  na  cidade  de  Campinua  esperào 
ali  ao  capitfio  Babo  para  os  auxiliar  e  comandar,  o  me^mo  Pre- 
sidente ordena  ao  Sr.  Sargento -mor  Com  mandante  da  Guarda 
Nacional  de  3ay  alia  ria  de  Porto  Fe  lis,  que  faça  prender  ao 
dito  Sabo  tendo -o  ©m  devida  guarda,  devendo  requisitar  a    sim 


—  562  — 

pnêâo  quando  estâja  nVlgum  lugar  em  que  a  antond&de  de«t6 
QoTeruo  j  esteja  reconhecida^  tomando  ueate  negocio  interesse 
qne  se  deve  empregar  para  se  preveoir  que  um  tal  individuo 
Be  Ta  reunir  cem  oatroa  do  mesmo  jaez. 

O  mesmo  Sr.  Pres^idente  previne  ao  Sr.  Sargento -mor  que 
o  Barfto  de  Monte  Alegro,  iêni  procurado  entreter  ãúi^  setut  Ci/m 
a  noticia  de  subida  de  iropa,  que  he  visível tn^nie  fai^^,  tanto 
pela  falta  que  ha  dellaíi  no  Rio  dt  Janeiro^  como  pela  noticia 
que  ainda  a  dois  dias  se  lhe  deo  de  8,  Faulú^  devtndo  por  tanto 
esiar-se  prevenido  contra  tão  falsas  insinuações,  bem  que  o 
mesTDO  Presidente  esteja  mui  certo  que  a  subida  detropa  de  fora 
será  m&h  um  e-timulo  para  reunir  todos  os  Paulrâtas,  O  mesmo 
Preaideute  tem  o  praser  de  communicar  ao  Sr.  Sargento  mor 
para  fazer  congtar  aos  amidos  da  sagrada  causa  qne  defendemoa, 
a  che^^ada  do  Sr,  Senador  Feijó  a  eata  ;  pois  que  muito  conta 
com  os  conselboB  deste  distincto  patriota- 

Palácio  do  Governo  de  S.  PaulOf  em  Sorocaba,  22  de  Maio 
de  1842. 

Rafael  TaÒias  de  Aguiar^ 

Por  maior  que  fosae  a  reserva  recommendada,  a  terrível  nO' 
ticia  como  um  rastilho  de  pólvora  percorria  com  extraordinária 
rapidez  o  interior  da  provineía  levando  o    desanimo  e  o  terror. 

Em  Campinas,  Jundiahi,  Tatuhi  formaram-s©  tortes  centros 
de  reeistencia.  Â  força  enviada  de  Sorocaba  para  bater  os 
absolutistas  de  Ta  tubi,  era  toda  apresionada. 

B.  Tobias,  em  vi^ta  da  gravidade  da  situação,  pensava  em 
se  collocar  a  frente  das  forças  que  deviam  seguir  para  Campinas» 
Emquauto  n&o  ú  fazia,  tomava  as  seguintes  providencias  cou- 
stantes  do  seguinte  autografo; 

O  Presidente  Interino  da  Província  sendo  informado  de  que 
09  absolutistas  da  cidade  de  Campinas  estão  reunindo  gente  ar- 
mada para  opporem-Be  á  voutítde  da  Provincia,  e  ajudarem  a 
escravisar  a  Naçào,  e  a  mantt^r  a  S.  M.  o  Imperador  debaixo 
do  jugo  da  coacção]  em  que  O  cnnservão  mioistroa  e  conselbeiros 
pérfidos  e  trabidores;  e  convindo  providenciar  energicamente 
para  ^ue  não  avultem  eesaa  reuniões  e  não  coosigão  os  facciosos 
per tub arem  o  íocego  publico  e  fazerem  violências  aos  Cíinstitu^ 
cionaest  resolveo  determinar  ao  Sn  António  Manoel  Teixeira^ 
Commandante  militar  da  referida  cidade  qne  promova  com  todo 
o  esforço  a  reunião  de  cidadãos  Guardai  Nacionaea  do  serviço 
activo  e  da  reserva,  e  Guardas  PoUciaea  e  os  coUoque  em  um 
pouto  seguro  6  defensável  fora  da  cidade  onde  posaa  coní^er- 
var-se  uma  força  de  observação  que  será  eroprepada  em  prender 
a  todos  que  pertencerem  aos  facciosos  e  a  defender  os  babi- 
tantes  do  campo  das  aggressoes  que  elles  tentem  fazer,  procu- 
rando por  todoa  os  meios  a  seo  alcance  faser  com  que  se  deft* 
persem  eaaaa  reuniões* 


—  553  — 

OatrOBim  terá  particular  cuidado  em  obser^ftr  le  os  abso- 
lutista» tentào  mover-ae  sobre  a  Capital  ou  para  algum  outro 
potitOt  e  neage  caso  dará  immodíatamente  aviso  do  ponto  amea* 
ç&do  e  igualmente  a  e»te  Governo  e  q^  pers tinirá  í^otu  as  torças 
que  tiver  rputildo  pela  retHijuarda.  O  Governo  ordena  que  da 
cidade  de  Itú,  parta  uma  força  âuffícieate  para  servir  de  ceotro 
ft  reunião  que  o  Sr.  Commandante  militar  deve  íazer^  e  o  of- 
fieial  que  a  commandar  acará  sujeito  as  suas  ordens  para  que 
opere  debaixo  de  âiias  vistas, 

O  Sr.  Cõminandauto  Militar  declarará  ao  Sr.  Capitão  Pran» 
cisco  Teixeira,  ao  Capitão  Luciano  ao  Tenente  António  Eoiz, 
encarregados  de  reunir  genta^  para  marcharem  para  a  Capital, 
^ue  devem  por  á  sua  despo&içào  a  que  tiverem  reunido,  ou 
Houverem  de  reunir — Palácio  do  Governo  de  3.  Paulo  em  So- 
rociika  ao  de  Maio  de  1942. 

Rafati  Tijhias  ãe  Aguiar ^ 

Em  fins  d©  maio,  R.  Tobias  procurava  ainda  occultar  a 
chegada  d©  Caxias  a  S.  Paulo,  Já  declarava,  entretanto,  que — 
bavia  chegado  a  Capital  alguma  tropa  ãe  fora — ma»,  pedia  que 
se  CD fnmun içasse  aos  amigos,  porém  para  cdh  a  necessária 
DiscRKçÃa,  n^m  referia  quem  era  o  commandante  cujo  nome  já 
repreaentava  a  victoria. 

Eia  os  termos  do  autografo  de  Feijó  a  José  Rodrigues  Leite. 

II Im.  Sr,  José  Roia  Leite, 

Sorocaba  25  de  Maio  de  1342. 

Ontem  chegou  a  esta  o  Tenente  Coronel  Bento  José  de 
Moraes,  dando  a  noticia  de  que  em  S.  Paulo  se  prí^paravam 
para  a  defesa,  tendo  chegado  alguma  tropa  ãe  fórai  esta  noticia 
pofito  que  de  sahbado,  é  talvez  exagerada^  com  tudo  pode  t&r  al- 
gum gráo  de  veracidade,  e  na  guerra  nada  se  deve  deepresar,  e 
nestas  circurnstancúas,  que  todoíi  os  amigos  e  defeusortis  da  nossa 
cau^a  tomem  a  peito  rennir  o  maior  numero  de  gente  que  pu- 
derem, fazendo  partir  oa  iofluentfía  para  os  bairro-i,  e  tudo  o  mais 
que  julgarem  conveniente,  pois  que  será  preciso  por  ai  tio  a  ci- 
dade e  entreter  com  reíorço  de  gente,  e  qualquer  falta  pude  ser 
fatal,  tanto  a  causa  que  abraçamoa  como  a  tantos  Paulistas  be^ 
nemeritos. 

Energia  e  mais  energia  e  o  que  pode  aterrar  nossos  inimigos . 

Náo  accrescento  mais  nada,  porque  estou  certo  que  fará 
tudo^  tudo,  commnuicando  isto  ao  nosso  amigo  de  Capivary, 
porém  com  a  necesmTia  ãiscripçào.  Não  tenbo  tempo  para  mais. 

Seu  amigo  muito  afiTectuoso  obrigado 
Rafati  Tobias  ãe  Aguiar, 


—  554  — 

Se  R.  Tobias  aabia  guardar  uma  reserva  cnteriosa,  nlU^  mos^ 
traodo  desanimo — outros  procuravam  com  noticias  fahas  levan^ 
tar  o  espirito  abatido  dos  (jue  estavam  envolvidos  no  moTÍmentí». 
Como  espécime  a,  é  de  grande  curiosidade  o  seguinte  auto- 
grafo, eacripto  pelo  padre  França,  dirigi d*^  ao  capitão  Antó- 
nio José  da  Silva,  que  naquella  data  se  achava  em  Limeira,  e 
que  era  conhecido  naquella  zona  cout  o  appellido  —  Gordo. 

Const.  29  de  Maio  1842, 

A.  pouco  chegou  o  Affonso  trazendo  officioB  do  Preflidenta 
6  noticias  das  operações  militares  da  Columna,  que  íoi  atacar  a 
Capital. 

à  cidade  de  S«  Paulo  tstá  sitiada  por  i400  homens  doft 
nosflOB  bravos  Paulistas  de  Sorocaba,  de  Itú  e  da  Atjbaia :  o 
Co!$*4i  Carvalho  conuta  que  se  retirou  e  nãD  se  sabe  para  onde  : 
a  Berra  está  guarnecida  pela  gente  do  Bonilha  ide  i^&o  Bernardo) 
e  por  duzentos  lanceiros  hábeis  enviados  de  Curitiba  ou  Faxina 
os  quaes  es  caparão -8  e  por  um  lado  da  cidade  e  forào  Be  ligar 
ao  Bonilha,  (1) 

i  colamua  encontrou  uma  gujrda  avançada  nos  Pinheiro», 
ao  principio  pretendeo  vadiar  o  rio,  visto  ser  pequeno-^maa  ao 
depois  cortou-a  6  está  Senhora  dos  Pinheiros , 

Noftsa  gente  está  desesperada  por  avançar  e  atacar  a  resi- 
dência do  Procônsul,  mas  o  Commandânte  em  chefe  julga  que 
não  CO  a  vem  pelo  derramamento  de  sangue  esperando  conseguir 
tudo  sem  esse   mal. 

Vão  esses  officios,  faça  delles  pr  ompta  e  segura  remessa. 

Participe  as  occurreocias  :  e  quanta  noticia  tiver  d *esse  lado, 
principalmente  os  pasaos  dos  inimigos  para  dar-se  aa  providen^ 
cias  precisas. 

Seo  amigo  vttlbo 

O  P/  França. 

N.  B.     Em  Tatui  nossos  inimigos     reunirão    uma  pequena 

força,  o  Vigário  de  lá  não  de  o  informações  precisas  e  exactas. 
Tohiag  mandou  20  homeas,  os  quaes  forào  presos  e  desarmados 
pelos  inimigos.  Que  temeridade!  Tatui  querer  erguer-ae  á 
frente  da  Província !  > 

Na  mesma  occaaiâo  em  que  o  padre  Reis  e  outros  toma- 
vam a  si  a  miesào  de  e&palbar  noticias  optimistas  sobre  a  posi* 
çào  da  Golumna,  o  pânico  invadia  Sorocaba,  onde  se  achava 
Tobias. 

Constava  ai  li  que  os  absolutistas  de  Tatui  não  contentes 
de  terem  aprisioDado  a  escoUa  que  fora  enviada  pata  batel-os 
resolveram  atacar  Sorocaba,  que  elles  sabiam  despida  de  força. 

Nem  mesmo  R*  Tobias  se  eximiu  desse  receio,  como  vemos 
pelo  segtãnte  autografo  : 


-  555  - 
lU,'"  Br.  Jofté  Róis  Leite.  (Porto  Felíi). 

Ontem  á  noite  quando  lhe  dirigi  uma  portaria  para  fa*er 
m&Tcliar  &  força  qae  pudeiiê  pam  separar  os  perturbadores  de 
T&tuhy,  que  por  imprudência  do  vigário  Norberto  havião  pren^ 
dido  hama  peqaena  escolta  que  daqui  mandei  (de  IB  homeni^), 
eaqneoi-me  diser  que  também  ordenei  que  de  Itapetiuioga^  mar< 
cbassem  forças  sobre  aquelLa  f requesta,  o  que  Ibe  previno  afim 
dn  que  determine  que  se  poste  n'algum  lugar  seguro  a  força 
qae  daqui  mariarf  para  principiar  qualquer  operação  de  com- 
mum  aceordo, 

VS,  bem  sabe  quão  prejudicial  seria  a  causa  que  defende- 
mos £e  deiza^semoâ  urn  paubado  de  desordeiros  as^im  menosca- 
barem os  nossos  princípios  e  pretenderem  ?ir  p^iurbar  a  or- 
dem n€ítta  cidade^  e  por  isso  espero  qua  dará  toda  a  actividadif 
I  ik*eBta  diligencia,  indo  em  pessoa,  ou  confiando   em    quem  tonba 

Luteira  coafiaoça. 

Não  teobo  tempo  para  mais, 

Am/  m,**  afectuoso  e  obr/ 
Rafad  Tobia*  de  Aguiar* 

De  todos  os  pontos  recebia  H.  Tobias  noticia  desauíma- 
doraa. 

O  autografo  que  adíaute  trenicreyemoíí,  vem  demonstrar 
que  bem  abatido  devia  est-ir  o  orgulbo  dos  que  pretenderam  con- 
vulsionar a  provincia  para  se  aLPOS^arem  do  puder. 

Tatuhi  era  o  terror  não  só  de  R,  Tobias,  como  de  todo  o 
interior.  Basta  discir-se  que  até  de  Itapetioinga  se  recusava  a  re- 
'  messa  de  for^jaa  para  a  columua,  a  pretexto   do    que    nho    podia 

se  desfalcar  a  cidade^  exposta  aos  ataques  dos  de  Tatuhi* 

111,"''  Sr.  José  Roia  Leite. 

Sorocaba^  "ÁS  de  maio  de  1842. 

(Autografo  escripto  por  Ga- 
briel 3oié  Rodrig-nea  dos  San^ 
tos*    ÁBíiigaado  por  Tobias). 

'  Recebi  a  sua  carta  de  bontem  ás  10  boras  da  mi*nlill,  epor 

l  ella  e  pelan  quft  o  ac(/mpan/uirão    de  Capivary    vejo  que    hã  um 

I  terror  pânico  que  é  iteceiisarw  dtsHipar  —  \&\ví*z    de  propoaho  le- 

1  vantado  por  nossos    inimigas    para    embara<;ar    nossas    operações 

|i  poií  nHo  á  dw  gupor  que  a  sabida  de  pouco  mais  de  100  homens 

í  desse  municipio  e  de  Copivaryt    ambos    tão  populosos    os    tenba 

[  desfalcíldo,  coroo  me  dia  que  algtios  querem  diser,  e  os  exponha 

I  a  riacoi  que  ou  não  vejo  que  poíssãu  causar  tanto  medot  Nossos 


^  556  ^ 

inimigos  de  outroi  municipioB  não  podem  sahir  para  fora,  porque 
«ntão  os  nossos  fieão  senhor  m  do  terreno^  e  en  persuado -me  que 
elles  maÍB  »e  exforçào  por  defender-se  do  que  para  agredirem. 
Os  escravos  Qão  sào  ternveii  havendo  vigilância  da  parte  dot 
aeuhores.  Portanto  muda  que  nfto  devamos  deapreaar  m  perigoi 
eu  penso  que  esses  municípios  ainda  podem  dar  maia  g-entâi  e  é 
contando  com  auxílios  maiores  que  ní9  Búettemoa  nesta  gloriosa 
empresa.  O  meo  amigo  sabe  que  em  principio  devemos  apresen- 
tar tudo  quanto  pudermos  para  dar  uma  prova  de  nossa  força, 
para  podermos  vencer  ae  primeiras  di£cnldades  e  que  do  êxito 
doa  primeiros  passos  depende  em  grande  parte  a  nossa  sorte, 
pois  que  ao  denois  será  mtitto  mais  didicil  reparar  uma  perda  que 
qualquer  facÍH<Íade  pode  o  ocasionar. 

Eí^pero  ])nÍB  que  não  poupem  exforços  e  que  redrobem 
mesmo  os  aacrificiOB  para  ir  maia  gente  de  Capivary  para  a  Co- 
lumQa  e  dessa  para  Tatuhy  •,  porquanto  é  conveniente  que  a 
Columa  fique  tào  forte,  que  uada  possa  parar  diante  delia,  para 
que  0  0  cat^o  de  citio  possa  não  só  veriãcal-o  com  rigor,  como 
ter  ainda  gente  disponível  para  algumas  sortidas  e  empresas  que 
ferem  necessárias. 

Peio  que  respeita  a  Tatuhy  meo  amigo  sabe  que  é  indis- 
pensável dísper^^ar  essa  canalha  para  uáo  servir  de  centro  a  ini- 
migos e  descontfiutes  e  para  não  no»  esíar  alarmando  todos  os  diasi 
e  como  essa  é  uma  deligeucia  que  n&o  pode  levar  muito  tempo 
será  fácil  apromptar  gente. 

Eu  daqui  uÃo  pomo  dispensar  mais  gente  porque  apenas 
tenho  com  excasses  para  guarnecer  esta  praça  que  é  a  mira  dos 
nossos  inimigos  e  que  está  exposta  aos  de  Una,  São  Roque  que 
apesar  de  dispersos  podem  de  repente  reunir-se  e  atacar-uos. 

Emfím  meu  amigo  o  tempo  é  de  sacrifícios  e  é  só  a  custa 
delles  que  podemos  vencer:  e  é  contando  com  elles  que  enceta- 
mos esta  carreira.  Nada  mais  lhe  digo  seoâo  que  vae  o  Major 
Bant'Âana  para  comaudar  a  ei^pidiçjio  de  Taiuhy,  e  que  fico 
certo  de  que  elle  levará  força  suffi ciente. 

Diga  a  todos  os  nossos  amigos  qne  quem  teme  muito  nestes 
tempos  está  meio  vencido  e  que  a  coragem  é  o  mais  poderoso 
auxiliai   dos  que  entraò  em  uma  revolução* 

À  Ds.  mande  as  »uas  ordens  a  que  é 

De  V,  S.' 

Am."*  mt.*  att,'  e  obr." 

Rafael  Tobias  de  Aguiar^ 

Este  autografo  demonstra  que  com  excepçào  de  Sorocaba, 
Itu  faqui  no»  primeiros  dias)  a  revolnçào  nfto  encontrara  ele- 
mento nem  mesmo  no»  mais  pequenos  e  pobres  centros,  como 
Qíam  naquellô  tempo  Una,  S*  Ho  que  etc. 


^  557  — 

Continua Y&m  péssimas  as  noticias  de  Tatuhy  e  bavia  geral 
receio  que  forças  legaes  alli  reunidas  víeiBem  atacar    Sorocaba. 

Sem  meios  para  repellir  qualquer  ataque  porque  a  Columtia 
Libertadora  já  ge  achava  marcbatidõ  para  B>  Paulo,  limita 7a- se 
o  g-ovemo  de  Sorocaba  a  dar  providencias  em  Portarias  aos 
com  mandante  3  das  localidades  vizinhas  para  fazer  marchar  for- 
ças, que  uào  eiiítiam*  Eis  um  desses  curio&os  documentos,  es- 
criptoi  pelo  secretario  dr.  Gabriel  José  Eodrignes  dos  Baatos  e 
assignado  pelo  Presidente  sedicioso. 

«Constando  que  em  Tatuhy  se  fas  tmia  reunião  dô  gente 
armada  e  que  ameaçâo  vir  atacar  eata  cidade,  o  Presid^ante  In- 
terino da  Província  ordena  ao  Sr,  Sargento  Mor,  Commandante 
do  Esquadrão  de  Cavalleria  de  Porto  Felís,  que  immediatameDte 

Sue  esta  receber  faça  marchar    uma  fcrça  suSiciente  para  ir  ali 
ispersar   e^sa  reuniàOi  e  prender  os  cabeças    entre  os     quaes  se 

I  distingue  mais  um  Xavier  que  foi  demittído  do  posto  de  capitão ; 

i  determinará  ao  Cnm mandante  da  Força,  que  marchar  que  no 
caao  que  no  caminho  saiba  cjue  os  de  Tatuhy  marcharào  para 
esta  os  siga  e  veuba  cortar  a  ret^taguarda. 

O  Sr.  Sargento  Mor,  conhece  quanto  á    neceMario    dissipar 

>  os  receias  que  cuusão    essas  reuniões  em    Tatuhy,    e  ao    meamo 

tempo  impedir  que  nossos  inimigos    tenham  nlli    um    ponto    de 

!  apoio:  por  isfto  o  Presideotd  lutermo  recommeuda-lhe,  que  faça 

pátrtir  a  força  amaohã  mesmo,  o  mais  cedo  que  for  pos^ivel,  e 
que  participe  com  brevidade  a  hora  em  que  ella  tiver  de  sabir, 
para  este  Governo  poder  tomar  aqui  outi-as  providencias.  Pa- 
lácio do  Governo  de  Sao  Paulo  na  cidadã  do  Sorocaba,  26  de 
Maio  de  1842,  &a  U  horas  da  noite. 

Rafad  Tobias  de,  Aguiar 

Esta  é  eg^ualmente  dirigida  ao  Sr.  tenente  coronel  comman- 
dante do  Batalhào,  a  quem  o  governo    não  ee    dirige    especiaJ- 
meiítet  por  talta  de  teinpo. 
'  E  não  era  somente    em  Tatuy  que  a  legalidade    encontrava 

I  apoio 

Em  Jundiaby  achava- se  reunido  g^rande  numero  de  volun- 
tários para  seguir  ou  para  S.  Paulo,  ou  qualquer  outro  iionto 
em  que  se  tfjraaase  necessário. 

Em  Campinas  dominavam    com  pletamente    os  Corcundan. 
Tobias  em  BO  de  maio, no  m«íía  commandante  militar  do  Mu- 
nicípio da  cidfide  dn  Campinas  a  António  Mauot^l  Teiíeirai  e  no 
I.  meamo  dia  expede  a  seguinte  portaria. 

«O  Presidente  Interino  da  Província  sendo  informado  de  quo 
08  abstAuíistiis  de  Oampuias  estào  reunindo  geDto  armada  jjara 
opporem-se  á  vontade  da  Província,  e  ajudarem  a  escravísar  a 
Naç&o  e  a  manter  a  3.  M.  o.  1.  debaixo  do  jugo  da  coacç&o 
em  que  O  coniervào  ministros  6  conselheiros  perádos  e  tvahidores  ; 


-^  558  — 

e  convindo  providenciar  ene rgicam ente  para  que  nâo  avultem 
eafiiiB  reuniões,  e  nào  cousigão  os  facciosos  perturbarem  o  socego 
publico  e  faserera  yiolencias  aos  constitucionaes,  resolveo  deter- 
minar ao  Br.  ÂnTonío  Manoel  Teixeira,  comniandante  militar 
da  referida  cidade,  que  promova  com  codo  o  exforço  a  reuui&o 
de  cidadà^s  G,  N.  do  serviço  activo  e  da  refierva  e  Guardas 
Foliciaes  e  os  cnllcique  em  um  ponto  sej^uro  e  detensavel/órada 
cidade  onde  pode  conservar-se  uma  força  de  observação  que  será 
empregada  em  prender  a  todos  os  que  pertencerem  aos  facciosos 
e  a  defender  03  babitantes  do  campo  das  a^çg^ressões  que  elles 
tentem  faser,  procurando  por  todos  os  meios  ao  seo  alcance  faser 
com  que   se  dispersem  essas  reuniões 

Outro  sim  t«rá  particular  cuidado  em  observar  se  os  ahm~ 
lutistas  tentÃo  mo  ver- se  flobre  a  Capital,  ou  para  algum  outro 
ponto  e  nesse  caso  dará  immediatamente  aviso  ao  ponto  ameaçado 
e  i^^ual mente  a  este  Governo,  e  os  perseguirá  com  a  forca  que 
tiver  reunidíí  pela  recta ííuarda.  O  governo  negta  data  ordena 
que  da  cidade  de  Itú  parta  huma  força  auíBciente  para  servir 
de  centro  u  reuniào  que  o  Sr,  com  mandante  militar  deve  faser 
e  o  official  que  o  com  mandar  ficará  au|^eito  as  suas  ordens  para 
que  opere  debaixo  de  suas  vistas,  e  como  ]he  parecer  mais  con^ 
venionte. 

O  Sr.  Com  d.*''  militar  declarara  ao  Cap,"  Pranc.'*  Teixeira, 
ao  Cap.""  Luciano  e  ao  T."  António  Rodrigues,  encarregados  de 
reunir  gente  p**  marcharem  pars  a  Capital,  que  devem  por  a 
sua  diafKJSiçào  a  q.*  tivemra  reunido,  ou  houverem  de  reunir* 

FaJacio  do  Gov.**  de  S.  Paulo,  na  Cidade  de  Sorocaba  30 
de  Maio  de  1842. 

Rafa  d  Tobias  de  Aguiar. 

De  facto  o  Presidente  Tuterino,  deu  ordf^m  para  Itú,  afim 
de  que  dulli  seguisf^em  100  homem  para  auxiliar  ob  corniítucio^ 
nezes  de  Campinas  a  combaterem  os  ahsoluthiaít . 

Encontramos  um  autografo  de  Tristào  de  Abreu  Rangel, 
que  em  data  de  31  responde  ao  Prés/  de  Sorocaba,  affirmando 
nftú  pnder  reunir  o  numero  de  homene  determinado ",  só  existiam 
ai  li  velhos  e  doentes. 


lUr^  ©  Ei.™°  Sr.  Coronel  Rafael  Tobias  de  Aguiar. 

Itú  31  de  Maio  de  1S42. 

Hontem  recebi  a  de  V*  Ex/  que  veio  pelo  portador  a  qual 
respondo  : 

M/ '  ãgi*adeço  ter  tomad»  em  consideração  minhas  lembran- 
ças enviada?  pelo  Dr.  Emydio,  ellas  &ho  filhas  do  desejo  de  q/ 
prospere  nossa  iate nç4o~ salvar  a  Prov,*  ©  a  Liberdade, 


—  559  -^ 

Bespeito  a  mana  d©  100  homens  devo  dizer  a  Y,  Er.*  que 
é  absoluta  mente  impossiTel  pois  comquanto  talvbz  tenhamos  cerca 
de  300  mcluídos  iodiTÍduoB  velhos  e  doentes  que  ló  acodem  ao 
rebate,  a  gente  é  ordinária  e  por  t^nto  vou  meter  o  peito,  ex- 
^otar  tudo  a  ver  se  consigo  50  q.'  é  o  máximo  poesivel :  o  Bna- 
Yt^ntura  os  levará  porem  elle  deve  voltar  porque  é  o  Único  Off.*' 
que  temos  d©  conâança  :  nos  rebates  falsos  q.'  tem  havido  elle  e 
eu  somos  o#  que  seguimos  ao  togar  de  perigo  V.  Ei.*  pode  bí^m 
ver  que  daqui  já  seguirão  130  e  indo  estes^  âO  monta  tudo  a  ISO. 

Pretendo  com  a  gente  que  seguir  mandar  2  a  3  mil  cartu- 
xos de  differentea  adarmes.  Hontem  paginarão  por  aqui  indo 
para  a  Mtrça  30  Beatajs  com  munição  da  vil  la  d©  Porto  FeliK 
e  eu  vou  mandar  20  Besta»  com  milho  e  farinha. 

Hontem  ainda  escrevi  p/  Áraraquara  aos  am.**  Carlos  e 
M.*i  Joaquim  suas  coadjuvações.  MJ^  estmtei  as  propoaiçõeji 
amigáveis  da  parte  do  inimigo  p''.  q,'  denotáo  fraquesa,  mas  nada 
d©  fiarmoa  ali  cio  za  e  pérfida. 

Vou  escrever  n  P.  felis  p.*  que  ee  ex  for  cem  moãtraiidQ-lhes 
que  pouco  tem  feito,  a  viâta  do  que  aqui  Jasemoe^ 

De  suas  ordens  a 

Seo  am,*  m/'  obr.*  Cr.' 

Tristão  de  Abreu  Rangel. 

A  posição  dos  eedicioaoB  tornava- se  difficil.  Em  Tatuhi  oi 
absolutistas  organizavam  resistência  e  prendiam  um  destacamento 
de  20  homens  que  contra  ellea  enviara  H.  Tobias,  Em  Jundiahi 
existiam  reutiidos  grande  numero  de  cidadãos  promptos  para  se- 
guirem para  Itú  ou  para  onde  íosse  ordenado.  Em  Campinas 
dominavam  os  Corcuudaa,  diariamente  fortalecidos  com  gente 
enthusia&mada  tendo  vindo  só  de  Franca  mais  de  SOO  homens, 
emfim,    Porto  Felis  pouco  fazia. 

Estas  noticias  corriam  veloses,  e  por  toda  parte  notava-se 
grande  retrahi mento,  e,  aquelleíerrtír  pânico^  de  que  falava  To- 
bias, s©  apoderava  dos  sediciosos. 

Transcrevemos  alguns  authografos  que  demonstram  o  retra- 
bimeuto . 

Joào  de  Arruda    Leite    agente,  dos   sediciosos   em   Pirapora 

S Tietê),  escrevia  piara  Porto  Feliz  a  José  Rodrigues  Leite,  um  dos 
ledicadoB  chefes  do  movimento  a  seguinte  carta. 

c  Empregando  todos  os  exforcos  a  meo  alcance  para 
fazer  effectiva  a  ordem  de  V.  S.*  remettendo  q/*  antes 
a  força  de  18  praças,  e  infelizmente  nào  compareceu 
senão  António  Ftz,  da  Cruz  qtie  deix^  stfjs  pne.»  no  luto 
da  enf ermida.*  e  q.'  kmiadas  por  esta  tmprtsião  mM  mais 
^emi  sofrer  cm  êua  íawdc.   (!) 


—  560  — 

Na  relação  junto  copia  da  qoe  V.  S,*  me  remetteo 
estão  notados  com  cansa  e  sem  ella  os  qne  faltarão* 
Acerca  dos  que  não  tem  desculpa  razoável  dou  as  pro- 
YÍdeaciaa  de  correcçãu  e  Hobre  outroeí  V,  S.*  te  dígnari 
ou  (apagado) 

I^jr  e^íí  T  úccasião  imploro  a  V^  5.*  a  dtinimâo  da 
pOBio  em  que  rne  a^ho  ©  tendo  logar  efipero  que  ©eja 
ateadido,  coTMÍderaçdU)  a  distancia  de  minha  residência 
a  esta  Frcgtitsia, 

Firapura  28  de  Maio  de  1842  (Tietê) 

João  de  Arruda  Leite 

Em  data  posterior  escrevia  Francisco  Teixeira  da  3Uva, 
também  de  Firapora^  o  seguinte. 

lUmo  Sr.  Major  José  Roís  Leite 

Tendo  recebido  o  o^cío  com  data  de  22  juntamente  o  di- 
ploma o  que  paço  a  dar  as  ordem  competente  conforme  V.  S, 
me  recomenda,  erestame  que  V,  S.  me  es  clareça  sedevo  ma- 
dar  notificar  oa  i^uardae  privilegiados  ou  não.  Tão  bem  achãose 
qitasi  todoa  ãoenim  e  se  devo  aseitar  as  pariet,  e  aíguTts  éêcon- 
derão,   (/) 

Dsg,  a  V.  S. 

Francisco  Teixeira  da  Silva 

De  Capivari  recebia  o  chefe  de  Porto  Fe  lis  noticias  de»- 
aai maduras  : 

Sr.   José  Boíe. 

Hecebi  a  sua  de  4  em  que  me  dís  iuflua  quanto  puder  sobre 
a  marcha  para  Tatub}^  ;  meo  amigo  Vmce  ^abe  que  não  tenho 
influencia  ueuhtíma  priucipaltneóte  depois  que  o  Comandante 
Militar  ficou  encarregado  da  Policia,  por  meo  parecer  tem  sido 
que  deve  marchar  tudo  daqui,  maí  vejo  poço  getto  :  boje  fasem 
a  apartação  os  comandantes  daqui  inclusive  Policia,  Qes,  Nes,  e 
MiljtHr  todos  !íão  de  muitas  contemplações  e  creio  que  ja  me  não 
^oitão  por  causa  de  minhas  insTancias,  se  eu  podese  marchar 
enifto  mostraria,  mas  esUm  tom  minha  mão  hem  arruinada^  daquelte 
calo  antigo  para  nada  presto. 

Eu  e  minha  mulher  muito  recommen damos  as  Vmce  K.' 
mana  e  família  e  disponha  de  quem  be 

De  Vmce, 


Mano  Cop,'  am.*'  Obrigado 
José  Ignacio  de  Camarpo 


J 


—  561  — 

NB  Minha  molher  paaa  boa  por  que  ja  se  desvanoteo  os 
motivos  dc)  que  fie  queixava.  Desejo  n&o  mostre  a  ninguém  por 
que  Be  os  Surá,  Comandantes  daqui  ftoubi^rem  ficarão  m&l  com 
mígOj  B  com  isto  nada  se  faz  a  bem  da  Patrta. 

As  doenças,  os  cailoft  no  dedo^  as  coiiUmpl^içõés  na  aparta'^ 
cresciào  diariameute,  quaudo  nÃo  sn  falava  com  toda  a  franqueza 
como  na  seguinte  carta  dirigida  a  Hafael  Tobias, 

Olmo  Exmo  Sr« 

Mogy-mirim  29  Maio  1842, 

H(^e«bt  a  carta  de  V.  Ex  datada  de  (apagado)  na  qual  me 
ordena  tomar  conta  da  Leg^iíLo  e  reunir  a  força  qae  julí^ar  ne- 
cessária para  conter  m  absoIutistaB  nesta  yilla,  b  comn  J,  Thôo- 
doro  Xavier  tenha  ali  reunido  um  n.  do  300  a  400  'iraens  entre 
Guarda  Nacional  e  Policia  nada  poBso  obrar  sem  que  V*  Ex, 
delibere  ©  mesmo  devo  eomronniear  a  V.  Ex  que  eu  me  acbo 
demetido  pelo  Bar&o  de  monte  alegre  ae^im  como  outros  oBidaea 
e  entre  ©ite»  o  Major  Domiciano  J,  de  Sousa  Comatidante  da 
Guarda  Kacional  de  Casa  Branca  e  tbé  o  coUctor  José  Pinto 
Miz  portanto  nada  posso  obrar  e  por  iaso  V,  Exa  delibere 
eomo  julgar  conveniente. 

Deoa  gaarde  a  V.   Ex. 

Joaquim  Btorimo  de  Âraujo 

Dia  A  dia  eompHcava-se  a  8Ítu»<;Ao  e  ja  ufto  era  ró  deTa- 
ttthy  que  o  Governo  de  Sorocaba  receava  o  ataqnw.  Em  Cainpi- 
mas  era  grande  o  flnthusiasrao  pela  catiaa  legal,  e  consideráveis 
as  fori^B  de  Guardai  Nacionfles  e  voím^tarios  aUi  rt^unidas. 

Rafael  Tobias  só  então  resolveu  dirigir  pej>soalmíínte!  as  npe< 
rações  contra  Campin^e  e  nn  dia  4,  para  essH  fim  sf^s^uiu  para 
Itu — ^Tomou  esta  resoluç&o  depois  de  ter  enviado  Exortarias  aoi 
pontos  circum  vi  zinhos  para  que  tossem  atacar  e  tomar  Campinas» 
Eseaa  ordenft  reiteradas  nl^o  produziram  efieito  algrum. 

Retirando-se  de  Sorocuba  nomeou  a  Feíjo  Vice  Presidente, 
©  este  apressou-Be  a  expedir  a  JTatriflrchal  Portaria  aos  fidellusi- 
mos  de  Borocaba  como  eram  designados  j^elo  «Maiorista». 

PROCLÁMAÇlO 

Diogo  Ântonio  Feijó,  do  Conselho  de  Sua  Majestade^  Grão 
Gnaz  da  Imperial  Urd*^m  do  Cruzeiro,  Senador  do  Império,  e  por 
tfereêde  Deoii  Pauliata. 

O  Exmo.  Presidentíi,  Rendo  obrigado  a  ausentar -se  para 
fora  desta  cidade  a  tratar  negócios  tendentes  a  causa  que  de~ 
fendemos,  mas  tendo  de  voltar    brevemente,    comtudo    para  n^o 


-  562  — 

parar  o  expediente  da  Presidência  nomeoc-me  seo  Delegado,  para 
com  o  nome  de  vicepresidente  dar  todas  as  providencias  con- 
venientes ao  estado  actual  da  Provincia. 

Meus  Patrícios,  confiae  em  mim,  nada  pouparei  para  coa- 
dejuvar-vos.  Sede  obediente  as  ordens  de  vossos  superiores,  ten- 
de patriotiomo  e  coragem,  e  breve  sereis  coberto  de  gloria. 

D,  A.  Feijó. 

Deixando  Sorocaba  R.  Tobias  dirigiu- se  a  Itú,  para  de  lá 
seguir  para  Campinas.  De  uma  carta  do  padre  Reis  dirigida 
a — Gordo — consta  o  seguinte  tópico.  «O  sr.  Tobias  passou  por 
Itú  e  foi  a  Campinas  com  piquete  só  de  40  homens». 

Em  Itú  o  chefe  revolucionário  tomou  algumas  providencias 
para  atacar  Campina?  e  procurou  levantar  o  espirito  dos  amigos 
residentes  em  Constituição,  dirigindo-lhes  de  Itú  a  seguinte 
Portaria  ou  Manifesto. 

«O  Presidente  Interino  da  Provincia  sabendo  com  praser 
que  dessa  Villa  da  Constituiçjlo  tem  marchado  para  reforçar  a 
Golumna  Libertadora  o  numero  que  se  prestou  voluntariamente; 
mas  tendo  noticia  que  podem  marchar  alguns  guardas-policiaes 
sem  desftilque  da  guarnição  da  mesma  Villa.  e  sendo  de  grande 
interesse  a  sagrada  cansa  que  abraçamos  e  defendemos  dispersar 
quanto  antes  os  famosos  absolutistas  que  tem  debaixo  do  jugo 
a  cidade  de  Campinas,  ordena  ao  sr.  Commaodante-Militar  da 
Villa  da  Constituição  que  quanto  antes  faça  marchar  o  numero 
dos  ditos  guardas  que  se  puder  dispensar  da  guarnição  da  mesma 
Villa  a  reunir-se  com  a  força  que  marchou  desta  swb  as  ordens 
do  commandante-militar  de  Campinas  António  Manoel  Teixeira 
esperando  da  parte  do  sr.  commandante-militar  todo  o  zf^lo  e 
actividade  pois  que  da  actividade  desta  medida  concorrerá  em 
grande  parte  para  libertar-se  a  dita  cidade  de  Campinas.  Por 
ultimo  previne  ao  sr.  commandante-militar  que  o  sargento-mór 
Reginaldo  António  de  Moraes  Salles  vae  incumbido  de  dirigir 
os  guardas  que  forem  destinados  para  esta  deligencia.  O  que 
tudo  lhe  commuoicn  para  sua  intelli^encia  e  execução.  Palácio 
do  Governo  de  S.  Paulo  em  Itú  4  de  Maio  de  IS 42, 

Rafael  l^obias  de  Aguiar», 

Seguindo  immediatamente  para  Campinas,  é  de  crer  que 
Tobias  caminhasse  com  cautela,  tanto  mais  acompanhado  como 
se  achava  por  pequena  força,  e  ignorando  factos  importantes  de 
que  só  teve  conhecimento  pela  carta  autografa  que  de  Itú  lhe 
dirigiu  Tristão. 


—  663  — 

«111.'"'  e  Ex.—  Sr.  Coronel  R.  T.  de  Aguiar. 

Itú,  6  de  Junho  1842. 

Hoje  segaiu  a  peça  com  a  escolta  que  V.  Ex.*  determinou 
e  en  dei  os  bois  precisos  e  arranhei  o  que  faltava. 

Aqui  xegar&o  os  de  Piracicaba  em  u.  de  48  e  gente  bôa, 
e  eu  os  faço  demorar  the  que  V.  Ex/  dô  suas  ordens  que  e«pero 
thé  amanhã  as  9  horas  do  dia  para  cujo  fim  sae  esta  as  9  horas 
com  toda  a  violência. 

Por  um  irmão  do  dr.  Mello  soube  que  o  Governo  tem  entre 
os  de  linha,  Guarda  Nacicnal  e  gente  forçada  no  Quartel  1700; 
que  a  força  dos  Pinheiros  he  de  800  a  900  estando  200  em 
Pinheiros  e  o  resto  para  traz;  que  ello  os  vio;  pois  esteve  na 
xacra  do  Souza  Barros,  que  desmanxarão  os  Curros,  e  entren- 
xerarão-se  dentro  da  Ct  pitai,  que  para  Campinas  marxarão  130 
praças  de  linba  30  bestas  carregadas  com  armamento,  e  uma 
peça,  e  por  elle  o  capitão  Amaral  senhor  do  bairro  do  Macedo 
ou  do  Flóreo  me  mandou  di^er  que  o  plano  do  governo  barão 
he  estacionar  forças  em  Campinas  e  bater  no  mesmo  dia  nosi^a 
Coluroua  na  Cotia,  e  aqui  em  Itú  e  ir  sobre  essa  cidade,  e 
pessoa  que  veio  com  rs  que  marxarão  para  Campinas  confírmão 
isto.  O  caminho  de  Santos  está  franco  e  disem  ainda  que  com 
50  homens  do  Governo  em  um  ponto  que  elle  ignora:  que  o 
Governo  mandou  cavalhada  para  condu^ir  um  resto  de  tropa  que 
ficou  estropeada  pelo  caminho  de  terra  para  o  Rio  e  que  gente 
noisa  atropelou  aos  condutores  da  cavalhada  e  não  consentio  que 
ela  passasse,  e  de  feito  regressou.  Que  nossas  gentes  pelas 
Villas  do  Norte  ORtá  reunida  o  em  hum  ponto  que  elle  ignora 
300  a  400  sem  saber  quem  é.  o  commandante. 

Que  em  Pouso  Alegre,  S.  João  de  El -Rei  e  Barbacena  houve 
rompimento,  porém,  que  se  i^norSo  as  particularidades.  Que  dentro 
da  Capital  e  o  mesmo  Barão  de  Caxias  avaliou  a  nossa  força 
em  perto  de  2$ 

Não  me  lembro  se  já  crmmuniquei  a  V.  Ex.*  que  da  Li- 
meira forão  para  Campinas  50  e  poucas  praças,  tendo  sabido  de 
Piracicaba  70,  e  forão  de  muito  má  vontade  preferindo  ir  para 
Columna  para  isso  foi  preciso  ir  com  elles  o  António  José  da 
Silva,  conhecido  por  Antjnio  Gordo,  e  o  Reginaldo  depois  de 
xegar  a  venda  Grande  ponto  de  parada  pretendia  seguir  para 
Constituição,  Limeira  e  Rib.™  Claro. 

Eu  avalio  pelo  que  seguiu  daqui  as  forças  nossas  em  Cam- 
pinas em  160  a  200,  não  contando  com  oe  que  se  devião  reunir 
a  elles,  que  julgo  não  serem  muitos :  o  mais  que  podem  ter 
será  300  muito  mal  armados. 

Sexta  feira  p.  p.  entrou  reforço  aos  absolutistas,  da  Franca 
ou  desse  lado,  que  avalião  em  500:  porém  não  ha  tal  e  nem  é 
possível,  mas  he  provável  que  sejão  mais  de  100,  e  não  me  ade- 
mirarei  que  elles  com  o  reforço  vindo  da  Capital  tenhão  hoje  800 
a  1$000. 


r 


—  664  — 

Em  nesta  data  aviso  aos  nossos  de  Oampinas  do  reforço  qne 
tíverâo  de  S.  Paulo  ©  digo -lhes,  que  avisando  a  V.  Er.'  espero 
ordens,  que  lhes  trausmittirm,  A  vista  de  tudo  isto  delibero 
V*  Ex.'  se  a  Força  vinda  da  Constituição  mana  para  a  Colum- 
na,  fiara  aqui  ou  vai  para  Campinas:  elles  querem  ir  para  deante, 
h©  gente  boa,  a  qn«  faz  o  melhor. 

Por  oras  pouco»  sabem  deMas  TioiiciaSf  e  a  publicarem- se  vai 
apparecer  aqui  um  desalento  terrivel,  mas  que  eu  julgo  s«m 
fundameuto  porque  por  eites  dias  em  quanto  o»  nossos  estiverem 
perto  de  Campinas  oào  ha  perigo. 

Emfim  eu  Íico  a  espera  da  resposta  de  V.  Ex/  tbé  as  9 
horas,  pois  sd  o  comiuandante  de  Peracicaba  sabe  que  a  Força 
q  dali  veio  não  se^ue  sem  sua  ordem. 

Para  o  que  qnizer    estou  prompto  como  seu 

Am/   m.**  obr*" 

Irisião  d^  Abreu  Rangei 

P,    8, 
O  Cnmuid/*  Militar   da  Conetitoiçâo  delegou  os  poderes  no 

Vigário 

Nessa  carta,  TristAo,  qne  era  cora  o  padre  Reis  os  dois 
unicos  6ntbiitia<itas  do  movimento,  como  se  de  prebende  de  sem 
antografoR,  mudava  de  linguap^f^m.  ©  já  achava  possível  ser  &«- 
tida  a  ColuTiuia^  reconhecia  que  as  forças  lesraea  em  Campinas 
já  se  elevavam  a  iOOO  homerig^  e  que  a  noticia  de  acbar-se  re- 
forçada com  força  de  linha  6  artilharia,  iria  causar  um  desa^ 
jeíiío  terrivel, 

Coni^em  amenicar  o  histórico  reproduzindo  algumas  anedotas. 
TJiaa  delias  se  refere  d  peça—àç^  qu©  trata  a  carta  de  Tristão.  Essa 
peça  foi  uma  itivençào    dos   revoltosos  de  Porto  Feliz. 

Aquella  villaera  antigamente  o  pcutn  de  partida  dae  monçõesi 
e  lugar  onde  se  reuniam  apetrechoâ  mtlitareã  deiide  os  tempoa 
eoloniaes,  para  serem  remeuidos  á  proviucia  de  Goiaa, 

Desde  aqnelles  tempos  acbava-se  allí  abandonada  uma  pfiça, 
que,  embora  de  pequeno  cahbre,  era  de  difficil  tranfiporte.  Ou 
essa  peça  foi  abandonada  por  inútil,  ou  tantos  foram  os  misterea 
em  que  foi  etla  empregada  no  decuiso  de  tantos  annos  que  aênal 
tornou- se  imprestável. 

Quando  rebentou  a  revolta^  os  revolucionariot  a  encontraram 
no  deposito,  sendo  a  noticia  transmittida  immediatamente  pam 
ItU,  Sorocaba,  p/  a  Columna,  para  toda  parte  emfím^  por  próprios. 

Recebendo  a  noticia,  Feijó  ordenou  que  se  transportasse 
aquelle  precioso  instrumento  de  guerra  para  a  Columna  Liber- 
tadora, e  apresiou-«e  a  dar  tão  importante  noticia  no^ — O  Paw^ 
lista — orgam  do  governo  revolucionário,  por  dlo  redigido» 


—  566  — 

«Oje  foi  remettido  para  a  mesma  (Coliamna  Libertadora)  ama 
pe^  de  campanha^  com  graade  surtimetito  de  balaa  e  m^lralhaB^ 
e  quantidade  de  carttixame  e  armacnento» 

Cbegando  a  tal  peça  em  ItUt  quando  alll  ee  achava  R. 
Tobias,  eate  verificou  a  Bua  impreâtMbilidAde. 

Entendeu  que  seria  ridículo  remeltol^a  para  a  Colamaai  e  dea 
ordem  a  Tristão  para  que  ee  ã2<^s?e  a  remeBãa  u&o  p»ra  a  Co- 
lamna,  mas  para  os  revoLtosoa  de  Campinas,  remesea  que  foi 
feita  por  Tri&t&o,  pelo  modri  conatante  de  um  &eu  autografo,  que 
ji  trauscre vemos. 

Man  como  a  ordem  para  a  remessa  da pff^  p.*  à  Columoa  fora 
dada  por  Feijó:  viu-se  R*  Tobias  obrigado  a  escrever  o  se- 
guinte autografo^  para  prevenir  aus cep tib  11  idade  do  í o goso  ituan o. 

Amigo  Dr, 

Apresenta  essa  carta  ao  Sr.  Feijó,  e  a  vista  da  noticia  seria 
talvez  previdente  n  ao  mandara  pecinha  para  o  acampamento  por 
que  nâo  servindo  de  nada  ali,  aqui  para  o  que  ae  pretHud»  po- 
derá ser  de  muita  utilidade,  mas  deixo  ao  arbitrio  do  dito  Snr., 
devendo  no  caao  de  náo  eoviar  mandar  cedo  ao  CopA  Eleibão, 
para  ver  como  v&o  as  armas  que  s&o  lá  de  noceflsidade. 

Seo  am.''  dâectuoso, 
Tobias  de  Aguiar, 

Esta  carta  era  dirigida  ao  dr.  Gabriel  Joté  Rodrigues  dos 
Santos  que  ficara  em  Sorocaba  junto  ao  vice  presidente. 

Não  se  tratava  pois  da  artilharia  g-rossa  que  se  achava  na 
Fabrica  do  Ipanema,  (?)  como  consta  deeU  outra  noticia  do  O 
Aulista,  o  or^áo  official  do  Governo  de  Sorocaba. 

«Maudou-fté  vir  da  Fabrica  do  Ipanema  a  artilberia  grósaa, 
«  munições,  que  lá  haviào ;  e  ordenôu-ae  a  fundição  de  um  par' 
^ue  de  artilheriu  de  brojizR^  para  o  que  já  se  enviarão  muita» 
arrobas  de  cobre  e  estanho*. 

Esta  ordem  foi  de  31  de  maio.  Felizmente  10  dias  depois 
estavam  debandados  os  revoltosos  e  não  puderam  se  aproveitar 
ãaquelle  parque. 

A  pecinha  teve  a  sua  historia— foi  remettida  para  os  revol- 
tosos de  Campinas,  que  se  achavam  cerca  do  uma  legoa  aquém 
da  que  11  a  cidade  e  ainda  descançava  no  carro,  que  tora  puchado  pelos 
bois  de  Tristão,  quando  os  caçadores  de  Caxias  a  encontraram 
tia  Venda  Grande, 

R.  Tobias,  recebendo  aa  ter  ri  veia  noticias  contidas  na  carta 
de  Tristão  quando  já  se  achava  a  caminho  para  Campinas, 
Gompreheudendo  que  nada  mais  poderia  tentarem  favor  daquella 
cidade,  volta  a  Itú  e  dali  dirige  a  Feijó  o  autografo  que 
passamos  a  transcrever. 


—  566  — 

Senhor  Feijó. 
Itú  7  de  Junho  de  1842. 

Cheguei  a  esta  Bem  incommodo. 

VÍHto  constar  que  as  forças  inimigas  em  Campinas  forão 
reforçadas  com  cento  e  tantas  praças,  huma  peça  de  artilheria,  e 
alguns  caixões  de  armamento,  resolvi  que  a  pequena  força  da 
Constituição,  que  aqui  achei,  marchasse  para  a  Columna,  pois 
que  ali  estão  com  os  olhos  para  o  caminho  a  espera  de  reforço, 
e  mesmo  com  pouco  se  pôde  alentar,  e  António  Manuel  com  200 
e  poucos  homens  pouco  ou  nada  pôde  fazer,  e  ordenei-lhe  em 
consequência  que  tivesse  grande  cautela,  parecendo-me  mais 
conveniente  por-se  na  defensiva  de  que  deverá  sahir  somente 
no  caso  de  tentarem  alguma  coisa  sohre  esta  cidade,  ou  outro 
ponto. 

Aqui  encontrei  com  um  moço,  vindo  de  Tauhaté  com  7  dias 
de  viagem  e  que  diz  vem  consultar  commigo,  e  que  ali  não  se 
tem  feito  nada  a  espera  de  ordens  ou  communicação  nossas  de  que 
estão  inteiramente  privados;  uias  que  tudo  estava  disposto  a 
primeira  voz. 

Por  elle  verei  se  envio  as  cartas  e  mais  papeia  para  as 
villas  do  Norte,  se  bem  que  com  as  pe^quizas  é  difficil  salvar 
uma  carta. 

Elle  diz  que  no  momento  de  sahir  corria  que  o  Brevea 
tinha  atacado  as  forças  que  vinham  por  terra  do  Rio,  e  espe- 
rava-se  muito  de  Barbacena  e  de  outros  lugares  de   Minas. 

Veremos  se  não  são  bons  desejos. 

Inclusa  vae  a  carta  que  tive  da  nossa  columna.  O  dr.  Ga- 
briel, que  me  mande  dizer  amanhã  pelos  que  voltão  as  forças 
qualquer  noticia  que  tiver  de  Tatuhy  ou  de  Porto  Feliz,  em 
relação  a  aquella  Freguezia,  pois  poderá  influir  na  deliberação 
que  terei  de  tomar  sobre  a  gente  de  Itapetininga.  Não  tenho 
tempo  para  mais  que  desejar-lhe  todas  as  melhoras  para  dar  ao 
menos  dois  murros  no  homem  que  teme  encontrar  com  a  alma 
de  Cervantes. 

Sou  com  particular  estima  de  V.  Eza. 

amigo  muito  afiectuoso  cr.^ 

Rafael  Tobias  de  Aguiar, 

Leia-se  com  toda  calma  e  imparcialidade  a  correspondência 
e  as  portarias  expedidas  pelo  Presidente  revoltoso— os  actos  do 
seu  governo— as  suas  indecisões,  os  seus  planos,  e  facilmente 
nascerá  a  convicção,  que  R.  Tobias,  chefe  prestigioso  de  ]>artido, 
gosando  do  respeito  de  seus  correligionários,  probo  na  sua    vida 

Sublica  o  particular,  não  possuia  nem    o  prestigio   popular    in- 
ispensavel,  nem  qualidades  militares  para  dirigir  um  movimento 
revolucionário. 


—  567  — 

Partindo  de  Sorocaba  no  dia  21  de  maio,  a  força  foi- se 
endossando  com  os  contingentes  de  Itú  e  localidades,  circum- 
vizinhas.  Essa  jancç&o  deu-^e  no  bairro  do  Jaguarahy,  vizinhança 
da  villa  da  Cotin. 

Álli,  nova  divisão  foi  dada  á  Columna  e  confíon-se  o  com- 
inando parcial  aos  Tenentes  Coronéis  Lacerda  e  Agairra  e  ao 
capitAo  Ortiz — Continuou  a  commandar  em  chefe  o  Sargento  Mor 
Francisco  Galvão  de  Barros  França. 

Existe  completa  divergência  sobre  o  numero  exacto  dos 
combatentes  da  Columna  Libertadora,  mas  parece  que  não  ex- 
cedia de  1200  homens. 

A  marcha  havia  sido  demorada  no  começo,  e  demoradissima 
se  tomou  depois  que  foi  impossivel  occultar-se  que  os  «Peri- 
quitos*  caminhavam  ao  encontro  da  Columna,  estando  por  elles 
já  guarnecida  a  ponte  dos  Pinheiros. 

A  Columna  caminhava  em  curtas  etapas,  com  grandes  dif- 
ficuldades,  sem  ordem,  sem  organização  alguma  militar.  Antes 
de  se  iniciar  a  marcha,  perdia-se  enorme  tempo  em  pegar  e 
arrear  os  animnes,  que  conduziam  os  mantimentos,  e  formavam  a 
vanguarda.  Innumeros  cargueiros  conduziam  aves  e  até  perú(^, 
como  afirmavam  testemunhas. 

Nem  uma  só  vez  se  iniciou  a  marcha,  sem  antes  ser  resado 
o  terço  com  immeosa  devoção. 

Tudo  isto  tomava  tempo,  e  já  ia  bem  alto  o  sol,  quando 
86  organizava  a  marcha. 

Parecia  que  todos  procuravam  não   chegar  ao  seu    destino. 

As  péssimas  noticias  eram  cuidadosamente  occultadas  até  aos 
próprios  amigos. 

Afinal  chegaram  os  revolucionários  ao  ponto  indicado,  o  ce- 
lebre —  Pirajussara — e  alli  permaneceram  inactivos,  esperando 
occasião  de  avançar para  seus  peuHtes. 

Mal  })ensava  R.  Tobias,  escrevendo  a  carta  atrás  transcripta, 
que  estava  prestes  a  receber  a  terrivel  noticia  da  debandada 
DO  Major  Galvão. 

Si  a— Debandada — tivesse  sido  produzida  por  combate  en- 
carniçado, si  o  sangue  de  nossos  irmãos  ge  tivesse  misturado  as 
negras  aguas  do  caudaloso  Pinheiros,  seguramente  nos  limita- 
riamos  a  narrar  os  acontecimentos,  sem  transcrever  as  chronicas. 

Sendo,  porém,  como  foi,  uma  scena,  não  trágica,  mas  cómica, 
referiremos  as  anedotas  correntes,  guardando  apenas  completo 
respeito  á  tradição,  (com  reserva  de  nossa  opinião  que  daremos 
no  correr  desta  memoria). 

Até  este  momento  só  havia  para  se  lamentar,  a  morte  do 
cavallo  de  um  vedeta, — e  soldados  empalhados — remettidos  para 
S,   Paulo,  na  pitoresca  descripção  do  vereador  Campolim. 

E'  tempo  de  dar  noticias  da  Columna  Libertadora. 

Quando  a  Columna  Libertadora  chegou  a  Pirajussara,  mui- 
tos ch*ifes  transmittiram  para  o  interior  a  importante  nova. 


—  568  — 

Em  vpK,  porém,  de  narrarem  o  desanimo  qae  dominava,  es- 
creviari»  cartas  como  a  que  se  segue.  Campolim  era  um  do<«  ve- 
readores na  Gamara  Monicipal  de  Sr>rocaba,  um  dos  próceres 
do  movimento. 

Amigo  Zoxa  (José  Ruis  Leite) 

Sorocaba  31  de  Maio  de  1842. 

As  n<<8eaa  forças  estão  a  vista  do  inimigo  qne  está  em  belU 
posiçAo  e  não  se  animõt)  a  sahir  dali  ainda  que  sej&o  provoca* 
dos.  EUes  tem  tido  alguns  tiroteios  e  ninda  nóo  ferirão  dos 
nossas,  disem  que  elles  tem  (»erdid<»s  alguns  que  mandfto  em- 
brulhados para  S  Paulo,  dizendo  serem  dos  nossos,  sào  péssimos 
aiiradores  derào  mais  de  20  tiros  em  hum  vedeta  nosso  e  só 
matarão  o  cavalo.  Nadei  se  pode  njuisar  do  que  se  paãsa  no 
campo  aquém  la  está  he  que  toca  dirigir. 

Se  a  cousa  nào  ficar  boa  tenciouo  ir  para  as  força».  Consta- 
me  que  em  Porto  Feliz  existem  duos  pessas  mandai -me  contar 
de  que  calibre  são  se  de  ferro  f  u  metal  e  talvez  uoh  armazéns 
em  que  se  gnardão  trens  do  Cuyabá  haja  armamento  mandai 
passar  revista  a  caixões  se  os  houverem.  Agora  meo  bom  Amigo, 
vencer  ou  morrer  he  o  que  devemos  fazer  alias  ignominias  afron- 
tas martírios  he  nosso  futuro.  Portanto  meo  bom  Amigo  eu  vos 
conjuro  em  nome  da  Pátria  Aflita  pela  perca  de  sua  liberdade 
que  empregueis  todos  os  esforços  para  dibcubrir  hombnb  arma- 
mentos etc.  Coadjuvemos  o  nosso  Presidente  espero  qae  seremos 
salvo. 

Do  acampamento  tem  vindo  alguns  desta  cidade  como  Dr. 
Vicente,  Xico  Lopes,  José  Bernardino  e  outros  poucos  porem 
sexta  feira  tudo  marxa  outra  vez  pam  seos  pofetos. 

O  portador  está  a  espera  e  por  isso  não  sou  mais  eztenço, 
respondei-me  logo  sobre  as  pessas  armamento  etc.  do  trem  que 
la  houver  raandaime  contar.  Tenho-me  visto  louco  para  aprontar 
armas  Nào  se  descuidem  de  mandar  municiamento  de  fogo  e 
de  boca  para  os  seus 

Vosso  Am.^ 

Campolim, 
(VerMdor  i»  Gamar»  de  Borooaba) 

Descobrir  homens/  Nem  sombras,  como  veremos. 

Feijó  foi  um  dos  que  conservaram  esperanças  em  quanto 
não  se  deu  a  debandada 

Teimoso,  dominado  pelo  intenso  ódio  que  votava  á  nova 
situação  politica,  ainda  assim,  estamos  convencidos,  não  procu- 
raria alterar  a  verdade  sobre  os  acontecimentos,  occultando  factos, 
ou  narrando-os  de  forma  diversa  para  conseguir  descobrir  homens. 

Se  elle  publicava  as  noticias  que  abaixo  traQicre?emo8,  no 


^  569  — 

ultimo  nnniero  do  «O  PanliaU,  (o  4.")  exactamenttí  no  dia  em 
quo  %^  dava  a  debandada,  ê  porque  «e  haviam  cuidadosa  meu  te 
delle  occult&do  os  factos,  os  receios  e  o  desauimo  qu«  geralmente 
dotoinava.  Não  fosse  iâso,  nào  redigiria  elle  noticias,  como  aa 
seg^aJQte» : 

«Ordenou-ge  a  mana  de  maU  600  homens  contra  a  Ca- 
pital, qtte  dmdào  partir  de  Limeira,  Mogymirim^  Amparo  e  Bra- 
gança^ e  que  o  mais  tardar  devem  chegar  a  mu  debUQo  hoje  oa 
amanha,» 

Grííamos  as  palavras  da  ooticiat  para  fazer  notar  que 
agueMes  600  bomeníi,  que  demào  marchar,  nunca  o  físerão,  uem 
jámaiã  chegara yi  á  Columtia  Libertadora 

<De  Porto  Fe1i%  e  Itu  têm  ido  tropiu  carregadaB  de  mauti- 
mentoa  para  a  Columna  Liht^rtadara*, 

«Oje  íoi  remettida  para  a  me&raa  uma  jjcfa  de  campanha, 
tom  grande  sortimento  de  balas  e  metralhas,  e  graode  quanti- 
dade de  armamento.* 

Já  cabemos  a  historia  da  peça,  que  Tobias  reduziu  á  pe- 
cinha impreataveL 

Nesse  mesme  n;"  do  «O  Paulista»  de  8  de  junho,  ainda 
dá  Feijó  as  seguintes  noticias. 

«Da  Constimiçào,  pedindo -se  instantemente  partilhar  a 
gloria  de  ter  parte  na  libertaç&o  da  Capital,  estando  reunido 
mais  de  400  cidadãos  armados,  ordenou- se  que  [nanassem  200 
eu  mais  se  quisessem.*  (!) 

Se  é  a  estes  que  se  refere  a  carta  de  Tristáo  a  R.  Tohi&s, 
Timos  que  ao  apareceram  em  Itu  éS* 

Nesse  mesmo  O  Ilidis  ta  encontramos  outra»  curiosas  iioti- 
etas  redigidas  por  Feijó. 

«  Voluntariamente  marxão  para  o  mesmo  fim  alguns  cenie" 
nares  do  Amj  aro,  Limeira,  Ãraraquara  e  ainda  merniio  de  Mogy^ 
mirim  ». 

EsseSj  como  outios,  nunca  chegaram  a  seu  destino,  mas 
O  Paulijtta  uâo  cf^aaavit  de  dar  noticias  semelhantes,  verdadeira- 
mente inverosímeis, 

«  Partio  uma  escolta  de  cavallsria  de  Itú,  a  rennír-se  aos 
nossos  em  Campinas,  aíim  de  prender  os  cii becas  da  força  con- 
traria^ òaiela  e  desbaratai  a^  e  aos  de  Mogj»  . 

Ora  nesta  data  já  R,  Tobias  tinha  em  leã  poder  aviso  de 
Mógi mirim  declarando  que  aquella  localidade  se  achaya  domi- 
nada por  J  Theodoro  Xavier  e  que,  portanto,  nada  podia  fazer- 
ie  alli. 

Como  poderiam  ser  presos  os  cabeças  de  Campinas,  batidas 
e  desbaratadas  as  forças  legaes,  ho  estas  se  elevavam  a  mais  de 
mil  h^<menSr  e  em  Venda  Grande  n&o  chegaram  a  se  reunir  mais 
de  2C>0  revoltosos  ? 

Não  dera  Tristào  este  aviso  a  R,  Tobias  ?  Não  foi  essa  no- 
tícia qu^  Q  deifwveu  de  cmiiinuar  nua  marcha  para   aquella  ci- 


—  570  — 

dade,  e  íicar  em  Itú  indeciso,  ^em  Síiber  para  onde  seguir? 
Como  eiplicar-B©  a  seriedade  ási%  notícias  do  O  Fáulísia  f 

Uma  bó  explicação  «xúte — é  que  se  occultav*  a  verdadis  a 
Feijõ. 

Em  8  de  jalho  ainda  escrevia  elle : 

if  O  eutlinaiasmo  nR  Columoa,  ainda  não  eafrion.  Apesar  d« 
alguns  pequenos  tirctGios  de  parte  a  parte^  da  nossa  aioda  nhú 
liouve  fendo  e  constava  que  7  ou  8  cnntraríoa  "haviao  perecido». 

«  E'  provável  que  por  estes  15  díns  tenhamoH  um  parque 
de  artilharia  de  hrmíze^  completo,  com  a  munição  necessária» 
além  das  b  peças  do  ferro,  que  já  temos  em  ei^ercicio». 

Cliegfamoa  ao  momento  decisivo, 

Gaxiai,  depois  do  ter  tomado  as  precisas  providencia",  qtie» 
rondo  evitar  a  luta,  aconselhou  aos  revoltosos  que  ie  retirassem 
para  suas  casai,  abandonando  as  fileiras  rebeldeã,  garanlindo- 
ihes  que  nuo  seriam  peraefruidr». 

Kft  mesma  occaai&o  dirigiu -te  ao  chefe  revoltoso,  major 
Galvào,  aconsolbando-o  a  nAo  i^ervir  de  iostrumento  de  ambi- 
CJ0SC9  que  queriam  reduzir  S,  Paulo  á  condii;ílo  do  Hio  Grande. 

EU  como  Feijó  dá  conta  desse  facto,  no  O  Pntãisia^  n.  4: 

«  O  Barão  de  Caixías  comandante  das  forças  contrarias, 
comanda  hoje  um  Batalhí^o  de  Caçadores  que  trouxe  da  Corte, 
recrutas  das  Províncias  do  Norte :  todos  constrangidos,  e  que 
entranhando  o  frio  de  S.  Paulo,  estfto  em  grande  numero  po* 
voando  os  os]útaes.  Terá  debaixo  de  suas  ordena  ao  mais  1500 
pessoas  entrando  os  guardas  nacíonaesT  que  de  má  vontade  de- 
fendem a  caufa  do  ex -presidente  Baiano. 

<  Lopo  que  o  Barílo  de  Caxias  observou  o  noso  acampa- 
mento, dírigio  um  oflicio  ao  noso  comandante,  o  Senhor  Fran- 
cisco Galvão  de  França,  em  que  lhe  dizia  que  ele  defendia  um 
governo  leg-itimo,  e  que  espirrava  que  o  noso  Comandante,  nâo 
qnisesEe  reduzir  esta  Província  á  aorCe  da  do  Hio  Grande.  Se 
lhe  respondeo,  que  nós  é  que  defendíamos  o  Imperador  para  li-» 
Traio  da  coaeaão  em  que  o  tinha  uma  olig-arquia  detestável;  e 
que  como  estavase  certo  da  onra  e  boas  qualidades  dele  Barão, 
esperavase,  qae  quando  nAo  quizése  coadjuvarnos  pelo  menos 
louvaria  nosos  esforsos* 

*  Nisto  ficou-se. 

«  Sem  duvida  em  noso  contetlo^  o  Sr.  Brigadeiro  LitU 
Alves  de  Lima  é  o  primeiro  Oficial  do  nofto  eizerctío,  e  auc 
onra  a  probidade  então  provadas;  é  amigo  da  liberdade  e  da 
Canstituimo^  inrapaz  de  trair  o  governo  que  nde  confiou  ; 
porem  também  estamos  certos  de  que  apenas  se  de  que  se  fai 
a  ele  instrumento  de  tirania  para  violarse  a  ealvo  a  Consti* 
tuisão,  imediatamente  se  voltará  contra  os  que  pretenderem 
eicravlsar  o  seo  paiis.  Também  est&mos  certos,    de  que  sem  fal- 


I 


—  571  — 

tar  a  seu  dever,  nfto  cometerá  atrocidades  contra  os  Paulistas, 
que  oje  defendem  sua  oora,  seus  direitos,  e  a  liberdade  de  seo 
Imperador. 

•O  sr.  Bar&o  de  Caxias  asseverou  estar  munido  de  ampla 
autoridade  para  aplanar  todas  as  dificuldades.  Portanto  esperemos 
que  ele  aconselhe  ao  ex- presidente  Baiano  para  que  se  retire 
afim  de  que  S.  M.  o  Imperador  nomeando  outro  Ministério,  nos 
dê  um  Presidente  que  nâo  seja  sócio,  ou  discípulo  do  monstro 
Vasconcellos:  e  que  a  Assem bléa  Geral  revogue  as  leis,  que  tem 
feito  abertamente  contrarias  a  Constituis&o.  Feito  isto,  estamos 
todos  em  pás:  aliás  a  defesa  será  profíada,  e  o  futuro  pode  traser 
consequências  fataes  ao  governo,  a  nós  e  ao  Bradil  todo,  que 
nfto  pode  deixar  de  simpatisar  com  a  nossa  causa,  que  de  táo 
perto  Ibe  toca». 

Cumpridos  os  deveres  de  bumanidade,  recebida  a  re&posta 
do  commandante  da  Columna  Libertadora,  ordenou  Caxias  que 
as  forças  legaes  atravessassem  a  ponte  dos  Pinheiros.  Sabia 
elle  que  o  campo  adverso  estava  exposto  de  todos  os  lados,  sem 
precauções  estratégicas,  sem  defesa,  emfím.  Uma  circumstancia 
imprevista  permittiu-lbe  cumprir  seus  deveres  de  cbefe,  pou- 
pando sangue  de  seus  soldados,  de  seos  irmãos,  o  que  sempre 
procurava  evitar,  o  grande  pacificador  nacional. 


Na  madrugada  de  8  de  jimbo  os  vedetas  da  Columna  che- 
garam a  um  ponto  próximo  ao  rio  dos  Pinheiros,  onde  até  eatão 
não  se  haviam  aventurado. 

Dias  antes  bavia  sido  queimada  uma  roçada  nas  proximidades. 

Quando  os  batedores,  ao  romper  do  dia  avistaram  por  entre 
o  nevoeiro  da  manhã  os  páos  ennegrecidos  da  queimada,  os — 
tocos — como  os  denominava  um  contemporâneo  dos  acontecimentos, 
nas  narrativas  muitas  vezes  repetidas  a  quem  escreve  estas  linhas, 
convictos  de  que  tinham  diante  de  si  os  terríveis  caçadores  de 
Caxias,  voltaram  rédeas,  e  em  galope  desesperado,  alcançam  e 
atravessam  o  campo  onde  se  achava  a  Columna  Libertadora  aos 
gritos — Os  Periquitos!  Os  Periquitos  f  —  Como  Ee  sabe,  os  amigos 
dos  revoltosos  designavam  com  aquelle  nome  os  caçadores  de 
Caxias,  por  usarem  de  uniforme  verde. 

Foi  tal  o  pânico  e  o  terror  que  se  apoderou  da  Columna, 
que  toda  ella  debandou  na  mais  vertiginosa  carreira. 

Apesar  dos  esforços  do  commandante,  só  dahi  a  duas  legoas 
no  Barueri,  conseguiu  elle  deter  parte  diminuta  da  infauturia, 
já  desfalcada  pelas  deserções. 

A  cavallaria,  porc^m,  só  estacou  nas  localidades  de  sua  pro- 
cedência Itú,  Porto  Feliz  e  Sorocaba.  Foi  tal  o  terror,  que  aquellas 
localidades  ficaram  completamente  abandonadas. 


—  572  ^ 

À  cliroDÍca,  qa6  tt03  vem  trazendo  estes  factof,  Bégurámente 
au^tnButou  a  sua  importância,  inas  a  sua  veracidade  uão  pode 
ter  contestada. 

Podemos  confirinaT  O  facto  com  documentos  irrecusaveÍB, 
entre  alln^  cnm  o  precioso  autografo  que  vamos  transcrever  de 
Gabriel  J,  Rodrigues  dos  Santoa,  o  aecretario  do  governo  de  So- 
rocaba. 

Illmn  Sr.  José  RoÍb  Leite. 

SHo  seis  horas  da  manh&  e  estando  S.  Ex/  dormindo  eu 
não  quis:  acordal^o  para  roostrar^llie  sua  carta  para  que  etle  não 
lecebease  de  improviso  o  choque  doloroso  nue  «u  ex|wriment6Í 
com  a  noticia  da  eentidiesima  morte  do  meo  particular  amigo 
António  Rodrigues:  creia  ¥.  S.*  que  eu  o  choro  como  se  deve 
chorar  a  perda  de  nm  amigo  e  paulista  por  todoí  os  títulos  digno 
deste  nomo»  mas  como  tive  a  fortuna  de  conhecer  as  suas  vir- 
tude? reeta-me  ao  menos  o  consolo  de  esperar  que  alie  recehârá 
DO  céo  a  recompensa  delias. 

Como  éihtko  aqui  dois  próprios  dessa  íaço  partir  já  um  para 
informar- ibe  dos  motivos  da  retirada  da  columna,  e  d^Jazer  a 
impreifiiãtj  que  causarão  as  noticias  mal  fundadas  que  deo  o  Amaral. 
Tetie-ae  arnâo  na  acampaiiientQ  de  que  de  S.  Paulo  sahira  uma 
força  por  Santo  Âma^Q  e  que  dali  se  dirigia  por  Una  para  vir 
suprpbendf^r-noB  iitsia  cidade  i  e  Cfnno  ainda  qiis  isbq  kãO  âá 
RRALtãAHiE  a  simples  presença  de  forças  inimigas  para  cá  punha 
a  nossa  Co) amua  em  risco  de  ser  cercada,  o  com  mandante  des- 
tacou dois  Esquadrões  de  Cavallaria  para  virem  dar- nos  aoceorr o, 
e  vtio  recuando  com  o  resto  da  gente  para  tomar  uma  poiiç&o 
vantajisa  [.>ara  combater  o  inimíg;o  qualquer  que  fosse  aua  di- 
facção.  Os  Esquadrões  chegarão  antehoniem  e  a  columua  vem  etn 
marcha,  devendo  ter  pousado  hontem  no&  Olhos  d'Agua  e  vir 
acampar  não  long^e  desta  cidade  em  logar  onde  possa  esperar 
o  inimig:o,  ou  soccorrer  Itú  caso  elle  para  lá  se  dirija.  Eis  o  que 
hi  d  exacto:  nâo  há  e  nem  h<íuve  dehandada:  e  nào  se  tendo  po* 
dido  tornar  eiíectivo  o  eitio  por  motivos  que  V.  S.*^  não  ignora 
eu  julgo  que  foi  bom  que  o  inimigo  sabisse  fora  das  trincheiras, 
porque  f^m  campi^  não  é  eile  temível  e  podemos  talvez  fazer  al- 
guma caifia.  Acho  por  tanto  que  ainda  não  ha  tnoUvo  para  det- 
experar^  t  nem  o  Sr,  Tobías  nem  o  Sr.  Fmjé  achão  a  cuusa 
perdida. 

Emquanto  temos  um  exercito  composto  de  homena  tôo  vahnUâ 
e  nho  perdermos  uma  acçào  decisiva  ainda  devemos  ter  esperan- 
ças priuctpalmeutn  quando  ba  toda  probabilidade  de  que  todo  o 
Norte  da  Prfvíucia  ja  esteja  em  armas  á  nosso  favor,  e  até  con- 
tâo  os  uiiimoH  desertores  do  Coxíímí  que  ja  constava  que  tima  força 
de  200  a  300  homens  que  vinha  do  Rio  por  terra  fora  toda 
aprisionada  entre  Pindamonhangaba  e  Taubaté, 


-  575  — 

S,  Ex.*  cRta  muito  anciado  por  ver  reunida  na  Fabrica 
toda  a  ex^iediçào  de  Tatnhy,  por  is§o  julgro  que  V ,  3  *  deve 
íaaer  marchar  os  cantingentes  de  Pira  porá  e  Capivary,  ik>ís  o 
Bkem  que  têm  de  Commasdar  esta  expediçAo  também  está  ali- 
ciado pf*T  ver  todo  reunido  e  or^^Tinisãdo  para  marcbur.* 

E*te  botneni  deeidio-se  aCaal  a  puiar  a  espada  por  nós  e 
creio  que  nos  fará  bons  serviçr-s.  Rogo-lhe  poi«  qxfrt  faça  todo 
o  empei* bo  para  que  boje  mesmo  se  reúna  Da  Fabrica  toda  a 
ForçA  aiíida  que  cbef^^m  de  noite. 

De  Corytiba  as  noticias  que  ba  não  sfto  positivap:  o  que 
eonita  com  mab  al^m  fundamento  é  que  là  pretf^ndiào  apro^ 
▼eítar  occasi&o  para  sepiararem-ee,  formando  nova  Provincía,  mas 
eo  ainda  n&o  temo  que  os   Corytibanos  nos  bo^tilJsem, 

Mande  V.  B*  suas  ordens  a  quem  é 

D,  V.  S.  Am.*  e  Patricio  Obrg "« 

OabHd 

Queira  expHcar  os  motivei  da  retirada  ao«  nossos  Âm.*^* 
deeia  e  outr&d  Vi  lias. 

Escre  rendo  tão  loujÈraraente,  Gabriel  J.  RodrigUM  dos  Santos 
procurava  ju&tificar  a  dãòandad^,  e  dar  noticias  snimadoraa. 

Entri^tanto  mn  período  de«sa  carta  denionstrA,  q«C  n  retirada 
deu- se  por  um  facto  q**€  não  Jíe  havia  realizadoj  isto  é  a  par- 
tida de  tropas  de  S.  Paulo  para  Santo  Amaro  para  le^ir  dali 
por  Una  afim  de  ir  atacar  Soriicaba  t 

Bi  já  nos  primeiros  dias  reinava  terror  pânico  eó  com  a 
noticia  de  que  forças  baviam  desembarcado  em  Santos,  deve -se 
calcular  qual  oão  eeria  o  terror  que  dominava  na  mor  jmrte  dos 
sediciosos  guardas  nacionaeif  que  ignoravam  cr mjitet.^í mente  a 
caasa  qun  determinara  a  que  seus  ecmman dantes  os  arrastassem 
a  uma    luta  fratricida. 

Pelo  documento  autogrrato,  que  acabamos  de  ler,  vê-se  ainda 
que  até  aquelle  momento  não  se  bavia  dado  tirot**io  algum, 
nem  baviam  sido  remettidon  para  S.  Paulo  soldados  impalhadoSf 
e  é  bem  possível  que  não  tivesse  sido  morto  aquellR  cavallo  único, 
que  os  caçadores  de  Caxias  eon&nguiram  matar,  trágicos  aconte- 
cimentos descri p tos  por  Campolim. 

Debandada  a  Columoa,  pensou  H.  Tobias  em  reunir  »eua 
destroços  na  Fabrica  do  Ipanema.  Nada  coniegue,  como  se  vê 
do  seguinte  autografo  : 

in.^*  e  El."'  Snr. 

Tendo  hontem  chagado  a  esta  iui  logo  vititar  a  força  vinda 
de  Porto  Félix- 


—  571  - 

PíetenâÍB  geguir  a  matiba  para  Porto  FelU  a  reunir  a  Ca* 
vallaria  do  meu  comando,  iríis  a  pouco  tive  cartas  dabi  e  pessoa 
tidedigna  veio  pessoalmente  informar-me  que  oa  iuílaentes  ainda 
andTio  refugiadoi  (com  a  notícia  da  debandada)  e  dSo  é  po«6Í- 
yel  reuinr-Be  força  nenhuma  alli  prpBeii temente  e  nem  em  Pi- 
rapora  onde  o  comandante  dispersou  toda  tua  g;ento  e  deiíou  a 
FrcfçuGzia  entregue  ao  i^aque  e  tudo  quanto  quiseram  a  canalha. 
O  Comando  Militar  acba-Be  delegado  em  Jo&o  Dias  Teixeira  de 
Toledo,  patriota  distiucto,  ma». ,.  .sravR mente  doente,  por  onde 
conheço  que  o  nomeado  por  V.  Ex,"  tão  bem  fni  afTectado  da 
me6ma  enfermidoá©  dos  outros   como  Y.  Ex.*  verá  da  junta. 

A  vi^ta  do  exposto  só  se  poderá  eEToctnar  a  deligencia  vindo 
força  dshi,  as  quaes  quanto  mais  depressa  vierem  melhor  será, 
poí&  aqui  esperamos  por  es^e  único  recurso. 

Com  mais  demora  talvez  se  poffla  reunir  forças  nequellea 
pontoa  hoje  completamente  abandr>nadus  com  a  maior  vileza  pos* 
liveL  A  vista  ao  exposto  contiono  a  oneervar-me  neste  ponto 
té  V.  Ek^^  determinar-me  o  contrario, 

Qnartel  da  Fabrica  do  Ipanema  Junho  de  1842. 

IlL*'  Ex.**  Siir.  C.^^  Rafiiel  TMas  de  Aguiar,  Prfaidente 
interino  desta  Provinda. 

José  Jtodnjfues  Z>€ite 

Major  do  Esquadrão  de  Porto  Felis 

Como  rennir  a^  forças  debandadas,  f>e  o«  injfàentes  jÁ  se 
ftchmVAm  refugiados,  dispersados  por  ellea  os  soldados;  entregues 
0S  localidades  ao  saque  com  a  maior  vileza^  e  quando  o  com  man- 
dante militar  era  um  distincto,».  patriotai  raajt  dcente,  dã  mo- 
léstia que  afft-ctava  a  todos? 

Até  a  (hhandafki^  a  revolução  fora  uma  comedia.  Demissões 
de  officiaeâ  da  Guarda  Nacional  que  nào  ficavam  demittidos;  no- 
meações de  commaudanies  militaies,  que  nào  conseguiam  tomar 
posse  ou  anão  aceitavam;  proclamaçòea,  que  nfto  eram  attendidai, 
ataques  imaginários  :  doenças,  callos  arruinados^  emtim  toda  uma 
lequercia  de  actos  fautftstieoi^  e  de  promessas  nâo  cumprld&t. 
O  máu  huneaao  da  revoluçfto  foi  devido  a  essas  cau?as,  e  sobre- 
tudo á  falta  de  motivo  capaz  de  levantar  uma  população  ordeirft 
e  laboriosa. 

«  As  caudas  do  máu  succesfo  do  movintento  de  Sorocaba, 
(diz-no9  Kafúel  Tobias  no  seu  manifesto  publicado  em  1*^44,)  nfto 
vem  aqui  appello  mencionar ;  todavia  o  nimio  amor  da  humani- 
dade, o  horror  do  derramamento  do  fatigue  parente,  e  a  novidade 
de  um  similhnnte  acontecimento  nuioa  província  acostumada  a 
lojtga  paz  c  dada  a  ffrande  maioria  a  ogrtcullura^  commercio  * 
arits  da  »ua  vida  privada,  pode  bem  explicar ^  nem  rtcorrerimi^  m 
faltas  peêsôaeã  que  não  ê  prudênU  esmerilhar  muito  miudamente* 


—  575  — 

Esse  manifesto,  escripto  tanto  tempo  após  os  acontecimentos 
é  o  documento  a  nosso  vôr  o  mais  completo  jara  demonstrar  que 
a  Eediçào  significou  apenas  —  o  geàto  de  despeito  de  políticos 
ambiciosos  qae  se  viram  privados  do  poder  8  mezes  depois  de 
terem  a  elle  sabido  por  meio  de  uma  revoluç&o,  qual  a  da 
Maioridade.  , 

Mas,  continuemos  a  observar  quaes  os  eífeitos  da  debandada 
de  Pira  Jussara,  e  sna  repercussão  nas  localidadet)  nas  quaes  chefes 
políticos  despeitados  haviam  arrancado  de  suas  occupações  a 
]>opulação  ordeira  e  laboriosa,  para  preudel-a  ao  carro  dcs  seus 
despeitos. 

Chega  a  noticia  da  debandada  a  Porto  Feliz,  e  o  que  lá  se 
produzia  diz-nos  o  autografo  dirigido  a  H.  Tobias,  que  vao 
ser  lido  com  a  curio&idade  que  merece. 

Ill  ...o  Ex.'"'  Snr. 

A  completa  acephalia  em  que  nos  achamos  hoje  por  motivo 
de  uma  falsa  noticia  de  que  nossas  tropas  se  havião  retirado 
em  debandada^  que  Itú  estava  inteiramente  deserta,  e  que  Pi- 
racicaba fora  atacada  por  forças  de  Campinas,  que  fez  com  que 
o  Commcndante  militar  interino  e  mais  offidaes  da  Guarda  Na- 
cional e  Camaristas  se  retirassem  contando  com  a  causa  perdida, 
fez  com  que  reunindo-nos  deliberássemos  nomear  para  Comman- 
dante  Interino  o  sr .  Luís  António  da  Fonseca,  athé  que  V.  Ex.* 
dê  providencias  a  respeito  participando  ao  mesmo  tempo  a  V.  Ex** 
que  apenas  se  acha  um  Capitão  de  Cavallaria  e  que  existe  ncs 
quartéis  78  pragas. 

Joaquim  Ponce  de  Almeida. 

Francisco  Pereira  de  Araújo. 

O  padre  Lourenço  Correia   Leite  de  Moraes. 

João  Dias  Teixeira  de  Toledo- 

Manoel  Pacheco  Gatto. 

José  de  Pádua  Castanho. 

Francisco  das   Neves  Gomes. 

(ássignaturas    autografas) 

Como  se  vô,  eram  os  chefes—  coinmandantes  officiaes  e  ca-; 
maristiis^  os  que  seguião  a  debandada — os  pobres  guardas,  esses 
continuavam  a  permanecer  nos  quartéis  para  onde  tinham  sido 
conduzidos,  esperando  com  calma  o  desfecho  dos  acontecimen- 
tos. Homens  rudes,  ignorantes,  comprehendiam,  entretanto,  que 
tendo  sido  illudidos,  não  lhes  conviuba  fugir. 

Em  Capivari,  o  mesmo  terror  :  «Como  poderia  eu  prever 
o  alarme,  quando  aqui  chegaram  primeiro  esses  srs.  que  no  meio 
do  pateo  em  vozes  alta  falavam  do  que  sucedeo  ? 

cNa  mesma  noite  em  que  aqui  aparecerão  os  homens  de 
tarde,  avisei  es  Piracicabanos  para  se  previnireni. 


—  576  — 

«Sua  eafla  entá  feito  eatalagf  m  dõs  que  tinli&o  aparecido  deata 
lado  pelnfl  mnúti  ;  o  qtio  rae  doe  é  qu©  do  corto  o  Cap,"  Xico  e 
o  Boa  Ventura  e  rsutroe   da  peça  ou  forào  mortos  ou,.,.» 

Esta  carta  era  dirigida  a— Primo  José  Leite,  pelo  *U  Cor- 
rêa», parecendo  que  ret<íre-*íe  u&o  á  debandada  grotesca  de  Pi- 
injusearai  tnaa  á  da  Venda  Grande^  na  qualj  infeiismente,  correu 
Bangue,  como  adiunte   voremos. 

Achava-se  R,  Tobias  em  Itú,  desanimado  pelo  insuccegBO 
de  ena  viagéin^  por  nào  ter  pi^dido  fleguir  para  CampinaBi  quando 
foi  sorprebendido  com  a  noticia  da  debandada, 

Fasíiada  a  primeira  imprest^ão,  dinge*se  a  Baruerlt  onde 
Gilyàfi  tinlia  conseguido  deter  parte  da  infantaria. 

Ãlli  chegando,  verificou,  pelo  desanimo  dos  pr«sentea,  pelo 
redusido  numero  de  combateu tee,  que  estava  tudo  perdido,  pelo 
que    resolveu  retirar  se  para  Sorocaba,  o  que  fez. 

Antes  de  partir,  segundo  golpe  &  tremendo  vem  abnter  o 
chefe  revolucionário,  cora  a  noticia  do  deeaitre  da  Venda  Gran- 
de, da  fuga  dos  amigos  ai  li  reunidos,  do  desbarato  doa  poucos 
que  reaistiram  ©  consequente  mrrte  do  capitão  Boaventura  do 
Amara],  que  embora  conhecendo  a  inutilidade  da  defesa,  pr-  fe- 
ria Buecumbir  para  nào  ilcar  mareada  sua  honra  de  soldado. 
BoaTentum  pertencera  ao  exercito « 


Os  revolucionados  de  Campinas,  nào  podendo  permanecer 
na  eidadej  onde  dominavam  os  ^Corcundan* ^  de  acordo  com  ai 
ordena  recebidfta  haviam  escoUhdo  para  ponto  de  reunião  uma 
fasenda  pouco  distante  da  cidade 

Dalií  pretendiam  desalojar  os  le^-alistas  em  Campinas  de- 
pois que  tivesiem  reunido  forças  suflScientes  que  lhes  foram  pro- 
tneCtidas 

O  ponto  escolhido  era  conhecido  pelo  nome  de  Venda 
Grande,  no  sitio  do  linado  Theodoro* 

De  Sorocaba  seguiu  para  aqueUe  ponto  um  pequeno  con- 
tingente com  mandado  pelo  capitão  Boaventura  do  Amaral,  pura 
servir  de  centro 

António  Manoel  Teixeira,  que  havia  sido  nomeado  Cotnmau' 
dante  militar,  Luciano  Nogueira  e  ou  eros  acompanhados  de  gente 
por  elles  municiada  foram  bo  reunir  a  Boaventura. 

Se  a  Qolumna  Libertadora,  que  estava  encarregada  de  atft^ 
car  S.  Paulo,  caroiíibava  sem  as  devidas  precauções  quando  se 
achava  em  frent»  de  um  inimigo  tnrrivel,  deve  se  caleutar  qual 
seria  o  dpscuido  dos  que  permaneciam  reunidos  na  Vt^tida 
Grande,  apegar  de  saberem  que  os  cheies  legalistas  de  Campi- 
nas coronéis  Franco  e  Quirino  dos  Santos  eram  homens  activos, 
intrépidos  e  que  já  haviam  resolvido  d  is  penar  a  reunião  da 
Venda  Grande. 


—  577  — 

Hecf^bendo  os  de  Campluafl  «vi^o  de  que  hn&%  fon^as  km  eer 
reforçadafi  com  oitenta  ca^adoreã  de  Caxias»,  re&úLvt^rHin  oi^eupar 
Algumas  poèiçòeã  para  cercar  Ve^da  Grande 

No  dia  1  da  jucho  achavam-ae  06  revoltosos  rentiidoi 
naquelle  punto,  completamente  deBcmdados,  ignorando  ainda  a 
presençn  de   lorça  de  Unha  no  município 

Como  em  Firajug^^ara,  a  far^a  não  tomara  pre^auçl^o  al- 
guma, e  os  leuB  homeufi  se  achavam  entregues  a  diversoe  entre- 
tunantes 

Muitos  hATÍam  se  embrenhado  n&s  matas  procurando  sor- 
Brehendei  a  caçat  oufrog  peseavam  e  at|fUDs  auxiliavam  qa  tra- 
Dálhadores  do  engeuho  na  moagem. 

Guiados  por  vaqu^^anos,  os  caçador ea  de  Caiias  se  aproxi- 
maram do  ponto  de  reuoià^  âem  qnn  fossem  presentidi^s . 

à  alta  rnaceL^a  que  alí  exisiia  fâçil.tiiva  o  movimento  dos 
ea^dorea,  De  rojo  e-itendí^ram-ee  em  linha,  e  inesperaJamente 
recebem  rs  revoltosos  a  primeira  descarga^  seguida  de  outras. 

Á  debaadada  foi  geial,  somente  o  peqneno  numero  que  se 
achava  junto  i  habitação  para  ali  se  dirigiu,  e  nfto  te  ria  tu  feito 
lesistencia  alguma,  sí  nl^o  lora  a  coragem  e  decisão  dn  Boaven< 
tora^  que  terminantemente  declarou  que  havia  de  morrer  re- 
sistindo, 

Expondo-«e  ao  ataqae,  foi  um  dos  primeiros  a  cahir  morto, 
e,  como  consequência,  deu-se  o  aprisionamento  dos  que  ali  se 
achavam^  sem  maior  resistência, 

A  noti  ia  espalhou-se  rapidamente,  e  na  maabà  seguinte,  8 
de  junho,  recebe-a  B,.  Tobias  quando  desanimado  obaervava  em 
Barueri  os  destri>ç^'S  da    Coiumna  Libertadora. 

Dísem  as  chronicas,  <^ue  só  um  acto  de  barbaridad»  foi 
commettido  em  Venda  Grunde^não  i»el4s  iorças,  mas  por  um 
voluntário. 

Depois  de  findo  o  ataque,  certo  legalista  desft^chou  certeiro 
tiro  sobre  um  infeliz  rebelde^  que  se  achava  ferido  e  se  occul- 
tara  em  um  coxo. 

O  facto  mereceu  repulsa  geral,  tândo  o  AUtOf  vivido  isolado 
durante  muitas  anncs. 

Retirando -se  H.  Tobias  de  Barueri,  continuou  a  deban^ 
dada. 

No  dia  IS  pn trava  em  Snrocaba  parte  dis  homens  perten- 
centes a  aquelle  município.  No  dia  14,  a  gente  d©  Itapptininga, 
como,  de  que  lórma,  em  que  estado  de  corpo,  e  dÍ8poãÍ4;ào  de 
animo  será  dito  pelo  cónego  Marinho,  cuja  palavra  insuspeita 
n&o  poderá  ser  posra  em  duvida. 

Ante,*,  porém,  coutinuaromos  a  acompanhar  o»  pasao^í  de  B. 
Tobias,  para  em  seguida  reaiarmoâ  a  narrativa  doa  acunteoi' 
loeutos. 

*     «     « 


-  578  — 

Cbegaodo  a  tíorocaliA,  vUt-se  R.  Tobins  nbaiidonadú  das 
forças,  que  haviam  des^paiocido  como  poi*  eucanlo.  Deu-se  em 
Sorocaba  o  mesmo  qoe  acotitecera  em  Itú,  Ca]iivarí,  Porto  Fe- 
liz. Itítpetininga,  Ao  pasao  qu*^  deaapar<^ciaiii  ou  revolucíoiiarioB, 
vinham  eh  e  ff  árido  gs  itifluenie.s  do  partido  IfgaJufa  què  jííj  acha* 
vam  até  então  foragidos  Pr6teBdeu-&e  Ainda  reunir  oa  disperso», 
na  Fubrica  de  Ferro, 

Aproiimava-Ee  Caxtafli  e  n&i  tevo  R.  Tobias  outro  rccur*o 
bíuíIo  a  fuj^a,  quando  soube  que  fiquei  lo  Goneral  destacara  força 
para  eííectuar  a  sua  pr  eAo.  Ãlguas  dias  permaneceu  nas  vizi- 
nbatiçaa  do  Sorocaba  e  depois  em  marcbas  forçada?  resolveu 
procurar  a  província  do  Rio  Grande  do  Sul.  A  maiclia  não  po* 
dia,  porém,  ser  cttno  elle  desejava,  porqunoto  era  de  perto  se- 
guido pela  escolta  enviada  para  preudelo,  guiada  for  pesâoa» 
cDnbecodorns  da  zona,  e  que  como  sóe  acontecer  em  taea  oca* 
sioes,  íe  apresentaram  para  auxiliar  a  escolta. 

Cem  gratid^s  d ifHcu Idades  couseguiu  cbegar  a  ItapetiniugAi 
onde  demorou-ie  julgando  estar  livre  da  força   que    o  perseguia. 

Avisado  de  que  sua  presença  ali  &e  bavia  divulgado  deixru 
a  localidade  o  fui  pernoitar  na  fuzonda  de  Bom  Retiro,  pertca- 
cente  a  Joaquim  Josó  de  Oliveira. 

Aquelle  cavalbeiro  acbava  ío  ausente.  A  aua  esposa^  porénii 
recebeu  o  illustro  foragido  dispensando  lhe  fidalga  hospitalidade. 

Ali  fe  acbava  R>  TobiaBi  quando,  alia  noute,  os  escravog 
vieram  prevenir  á  esposa  de  Oliveira  de  que  estava  a  fazenda 
cercada  por  soldados. 

IiLm^^diatamente  a  distinta  paulista    fez    vir  á  sua   preaeíiça 

0  pardo  Agostinbo,  seu  escravo,  caftataz   do    serviço,  e  encarre- 
gou*© de  impedir  a  pri«ào  de  K.   Tobias,  por  todos  os  motos. 

Ã^oEtiiilio,  depois  de  veriâcar  que  de  facto  se  achavam  cer< 
caJoí  os  pastos  ao  redor  da  faz-^nda,  por  feliz  inspiração,  diri  * 
giu  se  ao  engenho  de  canna,  e  foi  collocar-se  com  R,  Tobias 
debaixo  da  enorme  bica  que  alimentava  a  moenda. 

Nesse  ponto  haviam  crescido  plantas  aqyatiea^i,  que  presas 
aoB  lados  do  condnctor,  cabiam  em  festoes  <  mtDaTanbado&,  tÂo 
densos,    que  serviram    para    uccultsr    Agostinho   e    K.   Tobias, 

Diversas  vezes  oi  soldados  pasmaram  junto  á  bica*  Esquadri- 
nbarnm  o  engenho,  subiram  aos  telhados,    aos    forros    e  só  lelt* 

1  aram  ao  depois  de  muitas  lioras  de  in frutuosa  pesquisa. 

Um  facto  deve  aqui  ser  consignado*  Joaquim  José  de  Oli- 
veira, um  dos  ricos  proprietários  daquella  zona,  pjtsuia  a  seu 
serviço  mais  de  200  escravos.  Estes  tabjam  que  ali  se  ac  ava 
oceuiti  um  homem,  entretanto  não  dennnclaram  a  sua  presença 
e  confirmaram  mesmo  que  a  muitos  dias  ninguém  pernoitara  na 
fazenda* 

Quando  Joaquim  José  de  Oliveira  voltou  o  teva  conbeçi^ 
mento  do  que  sua  esposa  praticara,  api>lnudiu  o  seu  procedi- 
mento. 


—  579  — 

Eatretanto,  era  clle  ndvcrsarío  do  chefe  foragido.  Eio  um 
traço  do  caracter  paulista. 

R-ítirando-se  a  escolta,  foi  R.  Tobias  conduzido  per  va- 
queanct  da  fazenda  para  pontos  seguros,  ató  que  depoii  do 
muitos  dia^  e  de  miitas  difficuldade  ,  seguiu  marchi,  procuran- 
do as  frouteiras  do  Sal,  devendo  atravessar  as  extensões  que 
formam  hoje  o  território  do  Paraná,  antiga  comarca  do  Cu- 
ritiba. 

Foi  ahi  que  se  encontrou  com  Francisco  das  Chagas  do 
Amaral  Fontoura,  pae  do  dr.  Ubaldino  do  Amaral,  que  o  acom- 
panhou até  o  Rio  Grande  do  Sul.  A.  R.  Tobi&s  tinba-se  ligado 
Felieio  Finto  de  Castro,  seu  enteado. 

Vencidos  numerosos  trabalhes,  muito  tempo  depois,  R.  To- 
bias atravessava  os  campos  da  Vacaria,  quando  foi  aprisionado 
por  uma  escolta  que  fora  enviada  por  Caxia>,  que  depois  de  ter 

Íiaci ficado  S.  Paulo  e  Minas,    seguira  para  commandar  as  forças 
egaes  que  combatiam  os  revolucionários  do  Rio  Grande  do  Sul, 
o  tivera  denuncia  de  que  R.    T<  bias  ia  ligar  se  aos   revoltosos, 
Remettid)  para  o  Rio  do  Janeiro,  foi  processado    e    consor- 
vou-^e  preso  até  que  veiu  beneíiciaUo  a  amni&tia. 


Doent»,  alquebrado,  caminhanlo  com  extrema  difficuldade 
via-30  Feijó  ab.indonado  em  Sorocaba. 

Era  o  único  representante  do  movimento,  e  deve  se  calcu- 
lar qual  seria  a  impreâsdo  dolorosa  que  o  animava,  quando  di- 
rigiu ao  Barío  d«  Caxias  a  peguiate  cartíi  que  já  é  conhecida 
de  muitos.  Via  Ftiijó  o  isolamento  ao  redor  de  sua  pessoa.  Da 
Columna  Libertadora  ió  existia  a  tradição — mas  ainda  assim, 
propunha  accomodaçítOf  para  não  dizer  imposição. 

Eis  cópia  da  carta : 

111.""  e  Ex.'"'  Sr.  BarAo  de  Caxias. 

Sorocaba,  14  de  junho  de  1842. 

Quem  diria  que  em  qualquer  tempo  o  Sr.  Luis  Alves  de 
Lima,  seria  obrigado  a  combater  o  Padre  Feijó  V 

Taes  são  as  coisas  deste  mundo  ! 

Em  verdade  o  vilipendio  que  tem  o  governo  feito  aos  Pau- 
listas, e  as  leis  anticonstitucionaes  da  nessa  assembléa  me 
obrigarão  a  parecer  (edicio60.  Eu  estaria  em  campo  cem  minha 
espingarda  se  não  estivesse  moribundo;  mas  faço  o  que  posso. 
Porém  alguns  choques  tem  já  produzido  o  espirito  do  vingança 
e  eu  temo  que  o  desespero  traga  terríveis  consequência» ;  e  como 
persuado- me  que  Sua  Majestade  Imperial  hade  procurar  obstar 
as  cau  as  que  derão  motivo  a  tudo    isto,   lembra-me  procurar  a 


—  580  — 

Y,  lEktJ^  por  fiBÍe  meio,  e  rogar-lhe  a  seguinte  acomodaçfto  qu» 
be  honrosa  a  Bua  Majestade  Imperial  e  a  Província;  e  \em  a 
ser;  Primeiro— Ce  a  a  em  aa  hostilidades:— Re  tire-ae  da  Provi  ncia 
o  Barfio  de  Monte-Ale^-e,  e  seu  Vice  -PreÈÍdente,  até  que  Sua 
Majestade  uomeie  quem  lhe  parecer:  e  a  Proviucia  pede  a  V. 
Eíc.*  que  interceda  perante  o  mesmo  Senhor,  para  que  não  nomeie 
hoeío,  amigo,  ou  alliado  de  Vasconcelloa ;  Segundo  — que  a  lei 
da&  Reformas  fique  auãpensa  até  que  a  As^embléa  receba  a  repre- 
sentando que  a  Asaembléa  Provincial  dirigiu  a  mesma  sobre  eatê 
objecto  :  Terceiro— Que  haja  amnistia  çeral,  sobre  todos  oi  acon- 
tecimentos que  tiverào  lugar  e  ieni  excepção  ;  embora  seja  ea 
ftd  o  exceptnado  e  se  descarregue  sobre  mira  todo  o  castigo. 

íJx.'""  Sr.  Yosm  Excelkneia  he  huTnaiio^  ju&to^  c  gén^roão^ 
esp&ro  não  dimdará  cooperar  para  O  bem  dista  mtnha  pátria. 

Eu  Ibe  assevero  que  exigirei  a  execui^o    dpste  tratado  por 

Sarte  do  Governo  actual  da  Província,  e  com  o  Corauiandantô 
e  nossas  forçai  pode  concluir  d  cifini  ti  vãmente  esta  capitulaçào» 
Deos  felicite  a  V.  Ex/  como  deseja  quem  hé  De  V.  Ex.^  Amantd 
e  obrigado  servidor. 

Diogo  António  Fmjé. 

O  portador  lhe  entregará  uns  exemplares  de  um  periódica 
que  eu  redijo. 

Caxias,  recebendo  a  carta  de  Feijó,  respondeu-a,  e,  com 
quaoto  nâo  se  conheça  seus  termos,  contemporâneos  affirmata 
que  o  General  do  Exercito  Pacificador,  declarou  u&o  aceitar 
propoataSf  mas  aconselhava  a  Feijó  que  se  entregaase  b  qpe 
igual  conselho  desse  aos  chefes  sediciosos — Que  confiasse  na  cle- 
mência do  Imperador. 

Nesse  momento  os  chefes  sedicioBOs  não  se  achavam  mai» 
em  Sorocaba  —  todos  haviam  desaparecido  com  a  debandada. 
Ortis,  Manoel  Martins  de  Mello,  José  Joaquim  de  Lacerda,  José 
Vergueiro,  Bento  José  de  Moraes»  Francisco  de  Castro,  Daniel 
Gomes,  capitão  Amaro,  P«uUno  Ayres  abandonaram  Feijó  a  »ea 
destino, 

Ainda  assim,  o  velho  paulista  queria  maia  do  que  haviam 
exigido  os  revolucionários  ! 

Não  era  somente  a  retirada  de  Monte  Alegre  que  elle  im-» 
punha  —  exigia  também  a  demissão  do  vice-presidente  padre 
Vicente  Peros  da  Mota^atè  então  seu  amigo,  como  o  fora  Monte 
Alegre. 

Quanto  á  substituição  daquellas  autor  idades »  a  exigência 
ainda  era  mais  excessiva— Dominado  pelo  velho  odío  que  votava 
ao  chefe  do  partido  do  Tegrmm — queria  que  para  aquelleà  cargoa 
não  fi  Bse  nomeado  Socio^  amigo  ou  alliado  de  Vanconcello»* 

Depois  de  pedir  o  que  era  do  interesse  particular  de  seu 
partido — queria  a   suspensão  da  Reforma,    ató   que  a  Asseoibléa 


i 


—  581  — 

CemI  reeeòesse  a  rç^refleritAçâo  qne  a  Ãssembléa  de  SHo  Paulo 
dlrig-ira  á  meama  aobre  este  objecto. 

Neste  ponto,  encontrava- ee  a  unica  conceesAo — já  se  con- 
tentava Feijó  que  a  Âssembtéa  recebesae  a  repreBeiit»<;&o. 

Com  a  respiiBta  de  Caxias  n^  perdeu  o  vetho  paulista  aa 
esperançAB»  e  tentou  obter  uma  conferencia  com  o  general  paci^ 
ficador^  nfto  sendo  attendido  pela  força  dos  acontecimentos. 

Eis  o  precioso  documento,  no  qual  já  não  ee  impunham 
condições,  maa  pedta-ae  ao  vencedor  que  lembra^sp,  qae  propu- 
sesse um  meio  decente  para  se  evitar  derramamento  de  cangue* 


El."*  Sr,  Barilo  da  Caiiaa. 

De  eua  resposta  collijo,  que  nAo  dá  esperançai  de  acco- 
modaçâo  itlg^uma,  e  que  reduz  os  Panlistas  ou  entre^arem-se  a 
discripçâo,  ou  a  tentarem  a  sorte  do  desespero. 

Confesso  a  V.  Ex."  que  nuaca  contei  com  similbante  reso- 
lução sua. 

Talvez  de  viva  voz  eu  pudesse  convencer- Ibe  da  justiça  da 
causa  que  defendemúsí  mas  o  meo  estado  de  enfermidade  em- 
baraça-me  táo  «grande  jornada;  cnmtudo  se  V.  Ei.'  quizer 
aproximando -se  mais  em  hora  e  lugar  certo  eu  me  o  x  forçarei 
por  comparecer* 

Entretanto  se  V,  Ex.*  qnizer  poupar  sangue  e  lhe  lembra 
al^m  meio  decente,  proponha,  que  eu  trabalharei  por  obter  a 
Aprovação,  alias  lavo  as  mãos   aconteça  o  que  acontecer. 

D,"  Gd.*  a  V,  Ex.'  m,»"  annoi. 

^rocaba^  18  de  junlio  de  1842. 

De  V,  Ex/  amante  e  Vnr.*^  Obr**  servo, 

Diogo  António  Feijó » 


^&o  obteve  Feijó  resposta  destn  sua  segunda  mitsiva- 
E  como  o  exercito  pacificador  se  aproximava,  desapareceram 
d©  Sorocaba  os  poucos  que  ali  haviam  permanecido,  e  cnm  elles 
Rafael  Tobias  que  dtrigiu-so  para  Itapetininga,  único  caminhe 
que  lhe  ficava  livre.  Sua  retirada  dcu-i^o  no  dia  18  á  neitet 
quando  Caxias  deixou  de  dar  resposta  á  carta  de  Fcijo,  como 
já  descrevemos. 

No  dia  20  estavam  perto  de  Sorocaba  aa  forçai  le^aes,  e  no 
dia  21  entrava  Caxias  na  cidade,  30  dias  depois  que  dali  partira 
a  Columna  Libertadora  e  publicava  a  seguinte  ProclamacÃo  : 


—  582  — 

O  Barào  de  Caxias,  Veador  de  Suas  Altezas  Impe- 
ríaes,  Fidalgo  Cavalleiro  da  Casa  de  S.  M.  o  Imperador, 
Commendador  da  Ordem  do  S.  Bento  D'Âviz.  Cavalleiro 
das  do  Cl  useiro  e  Kozn,  Condecorado  com  a  Medalha 
da  Guerra  da  Independência,  e  General  em  Chefe  do 
Exercito  Pacificador  da  Provincia  de  S.  Paulo. 

Faço  saber  a  todís  os  individues,  excepto  os  chefes,  que 
por  ventura  tenham  tomado  parte  na  revolta  d'es{a  Provincia 
por  suggestõ-B  desses  ambiciosos  de  maodo,  que  abusaram  da  bôa 
fé  desEOS  habitantes  pacificos,  desta  cidade  e  seus  contornos,  que 
se  ro  espaço  de  dez  dias,  contados  da  publicação  deste,  se  me 
apresentarem,  trazendo  as  armas  que  lhe  foram  dadas  pelos  refe- 
ridos chefea  da  revolta,  poderão  voltar  a  suas  habitações  e 
continuar  na  sua  vida  domestica ;  porém  es  que  assim  nilo  obra- 
rem, sendo  presos  serão  remettidos  para  a  Capital  da  Provincia, 
onde  entrando  em  processo  serão  punidos  com  toio  o  rigor  das 
leis. 

Quartel  General  do  Exercito  Pacificador  na  Cidade  de  So- 
rocaba, 21  de  junho  de  1842. 

Bjrão  de  Caxias, 

Foi  curta  a  Presidência  Interina  de  Rafael  Tobias. 

Proclamado  no  dia  17  de  ma'o,  no  dia  18  de  junho  aban- 
donava Sorocaba,  fugindo  para  as  fiont^iras  do  Sul.  Já  o 
seguimos  nessa  retirada  dolorosíssima,  devemos  concluir  com  a 
narração  dos  factos  que  se  deram  em  Sorocaba. 


Estabeleceu  Caxias  o  Quartel  General  na  rua  do  Hospital, 
esquina  da  do  Bom  Jesus. 

Pouco  depois,  o  General,  acompanhado  apenas  doseuofficial 
de  ordem,  dirigiu-se  á  Rua  das  Flores,  na  casa  de  residência  do 
alferes  João  Nepomuceno  de  Sousa  Freire,  onde  se  achava  Feijó. 

Contemporâneo  do  facto,  filho  de  Sorocaba,  assim  narrou-me 
o  episodio  da  prisão  de  Feijó. 

Fazendo- se  aununciar,  disse   a  pessoa   que  o  veiu   receber. 

«Quero  falar  com  o  sr.  senador  Feijó». 

Recolhido  á  sala,  conservou-se  de  pé,  examinando  grosseiros 
e  velhos  quadros.  Poucos  momentos  depois  entrava  Feijó  na 
sala,  caminhando  cem  bastante  difficuldade,  por  se  ter  ag- 
gravado  a  paralysia  em  uma  das  pernas. 

Caxias,  dirigiu>se  ao  velho  lutador,  e  cnmprimentando-lhe 
diese-lhe  com  acatamento: 

«Só  o  dever  de  soldado  me  impõe  o  doloroso  dever  de  vir 
prender  ao  sr.  senador  Feijó  um  dos  chefes  do  movimento  re- 
voltoso.    Ccnvido-o  a  accmpanhar-me». 

«Estou  ás  suas  ordens»,  foi  a  resposta  de  Feijó. 


—  583  — 

«Qaer  V.  Ez/  dar  algumas  providencias,  ou  levar  alguns 
objectos  para  o  Quartel  General  onde  tudofalta9? 

«De  Dada  preciso,  apenas  de  uma  esteira.» 

Trocadas  estas  frades,  Feijó  convidou  Caxias  a  sentar-se 
offerecendo-lbe  uma  cadeira,  e  conversou  sobre  o  passado.  Entre 
outras  ccusasi  perguntou  a  Caxias  se  lembrava-se  dos  aconteci- 
mentos de  31,  e  do  Ministro  de  Ju&tiça  que  o  nomeáia  major  do 
Corpo  de  Permanentes  e  concluindo  disse-Ibe. 

•  O  sr.  è  moço,  aprenda  no  que  está  vendo  o  que  são  as 
vicissitudes  do  mundo.  Naquelle  t^mpo  eu  dava  accésso  ao  sr. 
Lima  e  Silva,  boje  vem  elle  prender  ao  velbo  Feijó,  já  mo- 
ribundo» ! 

Depois  de  rccolbido  ao  Quartel  General,  conservo u-se  Feijó 
reconcen  trado. 

A'  noite,  porém,  verificou  faltar-lbe  um  objecto  indispensável, 
e  escreveu  a  JoAo  Neporouceno  um  bilhete,  pedindo-lbe  para 
enviar- lhe  um  travesseiro. 

O  autografa  foi-me  me  st  ado  pelo  finado  dr.  Américo  Bra- 
(iliense,  que  o  conservava  com  extremo  cuidado 

Aqui  ainda  existem  muitas  pessoas  que  leram  o  curioso  do- 
cumento. 

Recolhido  a  S.  Paulo,  bem  cedo  viu  o  governo  quo  não 
devia  Feijó  ahi  permanecer.  A  Provincia,  embora  [acificada, 
achava- se  commovida  ainda  por  um  facto  que  a  tinha  impres- 
sionado. Tratava  o  governo  de  punir  os  cabeças,  muitos  dos 
qu&es  haviam  sido  presos  e  teiiam  de  reí^ponder  ao  juiy.  Feijó, 
sempre  irascíve),  clamava  contra  'todos  os  actos  do  presidente, 
alimentando  ódios  que  precisavam  Ecr  extintos. 

Monte  Alegre  desde  logo  havia  combinado  com  Caxias,  depois 
de  ter  ouvido  o  Governo  Geral,  sobre  a  conveniência  de  amnistia 
geral . 

Era  sabido  que  tanto  em  JunHabi,  como  em  Itapecerica 
protegidos  por  hospitalidade  generosa  de  Queiroz  Telles  o  Ma- 
noel Joeè  de  Moraes,  existiam  muitos  dos  implicados  nt  s  acon- 
tecimentos, e  que  nem  foram  processados.  Orn,  Lão  convinha 
ao  interesse  de  todos  quo  continuasse  o  irrequieto  vice-presidente 
de  Sorocaba,  a  manter  ódios  e  a  censurar  a  administrarão. 

Foi,  poi?,  n-.edida  de  ordem  n  que  tomru  o  govci no  deter- 
minando a  Feijó  que  seguisse  para  a  Corte.  Não  attondendo  a 
essa  exigência  feita  primeiramente  por  amigos  fi>i-lbe  trans- 
mitlida  ordem  cfficial,  que  teve  a  seguinte  resposta: 

111."*  Ex.—  Sr.  Presidente  da  Provircia. 

Em  rrsposta  ao  cilicio  de  V.  Ex.'  darado  de  hontom:  digo 
—  que  não  duvido  que  o  Publico  se  persuada,  que  não  fui  alheio 
não  a  Rebellião,  mas  a  Sedição  que  teve  Irgar  em  Sorocaba. 

Ahi  estão  os  meus  escriptoa  impressos  que  provam  a  minha 
adherencia  a  esse  acto;  mas  que  elle  se  oesgote  por  ver-me 
em  liberdade  emquanto  lavra  a  perseguição  das    autoridades  por 


_  584  — 

tants  Isente,  é  impunemente^  Á  sappol-o  inimigo  da  Constituição 

f[iie  me  protege,  e  que  o  tneumo  Publico  diia  tanto  respeitar, 
gmal mente  entendo  que  V.  Ez.*  quer  que  eu  me  retire  para  o 
Bio  de  Jeneiro  para  com  o  meu  encommodo  poupar  o  íaiquo 
det^osto  doB  que  me  desejão  ver  perseguido  contra  a  lei. 

Es  "**  Sr.  Eu  ftou  habitual  e  gravemente  enfermo,  be  pro- 
Tivel  que  o  Senado  me  faça  chamar  para  responder  a  accu^açào 

2ue  por  parte  do  governo  ee  promover  contra  mim,  e  ent&o, 
avendo  de  demorar- me  na  Corte  o  tempo  preciso  para  minha 
defesa  seria  ia  útil  augmentar  o  meu  soSTri  mento  desde  agora  até 
Novembro  em  que  o  Senado  deve  reunir-se. 

Se  os  Paulistas  vão  tomando  a  naturesa  de  cães,  que  gestão 
de  augmentar  a  aflição  ao  a  flicto,  e  para  evitar  o  exceeso  das 
paiz&es  que  temos  governo  armado  de  força  que  deve  proteger 
o  cidadão  inerme,  e  confiado  na  publica  autoridade  nada  temo. 
Com  tudo  se  a  V.  Ei/  parecer  prudente  eu  brevemente  mo 
retirarei  para  o  meu  fiitio  evita  ti  do  assim  de  excitar  cum  minha 
presença  o  ódio  dessas  feras :  e  hirei  esperar  pelo  tempo  em  que  a 
Lei  me  chamar  a  responder  pelos  meos  feitos. 

Deus  Guarde  a  V.  Ei."  m.*"  asiios^ 

Cidade  de  3.  Pauto,  5  de  Julbo  de  1842. 

Ex.""*^  Sr.  Bar&o  de  Monte  Alegre. 

Diogo  António  Feijó, 

Nfio  qaiz  o  gov<*rrto  aceitar  a  proposta  de  Feijó  de  retirar- 
»e  para  Campina»,  Seria  de  grande  Í5coov6ni*"iicia  que  eile  ali 
permanpces^e,  porque  naquelle  rauuioipio  a  rebelljào  fora  repellida 
materialmente,  facto  que  determinou  ódios  que  se  conservaraca 
vivos  por  muitos  anuoa. 

Era  |>or  tanto  c&uteloBO  o  governo  exigindo  que  Feijó  H 
retirassR  da  Província* 

Vendo  que  o  governo  não  podia  at tender  a  fens  desejoi 
Feijó  reHolvpU  rfitirar-se  nào  sem  ter  lavrado  o  protesto  que  em 
seguida  transcre vemos. 

lli.^"  Ex -*  Sor. 

Acabo  de  receber  a  ordem  positiva  de  V,  Ex.*  para  dentro 
de  três  diaa  retirar-me  para  Santos,  e  dali  no  primeiro  vapor 
para  a  Corte,  e  que  do  contrario  fará  V.  Ei.*  respeitar  com  a 
força  a  BUa  dignidade, 

Ex  *°*  Snr.,  deixando  de  entrar  em  polemica  com  V.  Ei,* 
sobre  oi  muitos  objectos  contidoe  no  dito  offieio,  uÍLo  só  por  intitil 
como  porque  em  juízo  compptente  terei  occasiào  de  o  faier ;  e 
sem  entrar  em  discues&o  da  nullid^jde  da  actual  suspensão  dd 
garautiaSf  juigo  com  tudo  do  meu  dever  declarar: 


1 


—  585  — 

1*,  Qae  o  §  L*  do  aH,  179  da  Constítuiçlio  é  o  direito  pela 
mesma  reconhecido^  e  que  forma  a  eB»f>ncia  do  goveruo  livre,  e 
que  portanto  nào  poa^-o  eer  obrigado  ao  que  a  Lei  Etâo  me  obriga, 
mande  quem  mandar  o  contrario^  e  que  por  i»ao  soffro  a  maior 
violência  em  eer  oon  st  rangido  a  deportar- me  para  a  Corto  e  eem 
laber  para  qne  nem  té  quando, 

2.",  Qae  Importando  a  deportaçào  pena  maior  q^e  a  de 
priíào  dâclaro  reconhecer  violado  abertamente  o  art.  27  da  meema 
Gonatitniçào. 

3 A  Qne  o  men  publico  estado  de  enfermidade,  e  a  brevi- 
dade do  praso  para  minha  deportação  prtvando-me  do  necessário, 
ag-^rava  mtiito  maia  a  violeni;ia  qae  cotnmip^o  se  pradca  e  contra 
aqúal  emquanto  houver  Cornstituição  no  Braeil  constantemente 
elamarei^ 

4.^.  Que  em£m  procurarei  rf" tirar- me  no  prazo  marcado, 
n&o  por  obediência  k  ordem  ille^al  e  anteconstitucional  de  V. 
Ex/  mas  para  evitar  somente  maiores  violências  a  vista  da 
ameaça  que  me  faz  V,  Ex.*  do  emprego  da  força. 

D/  Gd/  a  V.  El/  muitos  anãos. 

Cidude  5  de  Julho  de  1842. 

Ex."*  8nr.  Barão  de  Monte  Alegre» 
Di(^o  Antónia  Feijó 

Processado  dom  os  demais  caboçat,  den-se  a  pronuni^ia  pelo 
Chefe  de  Policia,  dr,  José  Augusto  Gomea  de  Meneaes,  perante 
o  qual  correra  o  p^-ocesso.  Eis  os  termos  dease  docum**iito  : 

•  Vistos  estei  autos  de  Summano  ex-f>fficio  em  virtude  dã 
Portaria  de  f.  4,  constantes  dos  dfc**°*  qne  decorrem  de  f.  6  á 
f.  193  í  dRs  inquirições  das  oito  tt."  d^elle  de  f,  206  k  f.  235, 
de.  f.  362  á  f  364,  e  de  f.  375  á  f.  378,  e  das  especiaea  a  res- 
peito dos  diversos  compromettidos,  como  se  vê  de  toda  a  se- 
gunda parte  do6  autos;  e  dos  diversos  outros  dccuíBentoa  «nneios 
na  mesma  legunda  parte  d'elles  e  na  3,' ;  tudo  sobre  a  rebellilio 
na  Provincift  ;  obrig-o  á  prisÃo  e  livramento,  cotno  cabet^as  d'ella, 
o  Senador  Dicgo  António  Feijói  Coronel  Haíael  Tobias  d' A  guiar, 
dr,  Gabriel  José  Rodrigues  dos  Saotos,  José  Joaquim  de  La- 
cerda.  e  Josí  Vergueiro,  como  de  vè  do  m.*  sentença  f,  não 
com  pretendendo  aqui  o  Tenente  Coronel  Jerónimo  Isidoro  d^  Abreu, 
e  o  Major  José  Joaquim  de  í^anct^Anna  -[tor  ae  acharem  já  pro- 
nunciados em  processo  separado,  ut  doe.  f^   202  p. 

ObrigTj  mais,  como  cabeças  4  prisão  e  livraiueoto,  José  Bon.  ? 
Leitftj  dr.  Jrào  Viegas  Jorte  Muniz,  Luiz  António  da  Fonseca 
e  K.***^  José  d'Almeida  Campos,  ut  minha  sentença  f  i  e  Tristão 
d' Abreu  Rangel,  Manoel  Martins  de  Mello,  Cap  "  Joào  Floriano 


-  586  — 

Ortis,  o  Cândido  Josú  dn  Mota,  ut  de  in.*  sentença  f. ;  não  men- 
cionando o  Mfljor  Francisco  Galvão  de  Barros  França,  por  achar- 
se  processado  em  apartado  como  do  doe.  f.  202. 

SJIo  mais  obrigados  á  prisco  e  livramento,  comu  cabeças,  o 
CapitJo  José  Corroa  Leite,  o  Vigário  Manoel  Josô  de  França,  o 
Senador  Nicolau  Feteira  do  Campos  Vergueiro,  o  Cap.'"  Joaquim 
Floriano  de  Araújo,  o  Cap."*  Francisco  José  da  Silva,  Antó- 
nio Manopl  Teixeira,  e  Re>.in&ldo  António  de  Moraes  Salles, 
ut  de  m."'  Eentençns  f.,  e  f  ;  rSo  mencionando  aqui  o 
Alferes  Francisco  Teixeira  Nogueira,  por  achar-se  pronunciado 
em  processo  separado  o  em  conselho  de  guerra.  Sáo  ainda  mais 
pronunciados,  comocabeçRS  da  rebelliAo,  Paulino  Ayres  d'Aguirra, 
o  Maneei  Paulino  Ayres,  o  Cop."*  Francisco  Pereira  d*Asds,  o 
Tenente  Coronel  Bento  José  de  Moraes,  o  Major  Francisco  de 
Castro  do  Canto  o  Mello,  o  Tenente  Daniel  Gomes  de  Freitas.  O 
EscrivFín  lance  ^eus  nomes  no  rol  dos  culpados,  e  passem-se  as 
ordens  necessárias  jara  a  captura  dcs  que  se  nílo  acham  presos, 
ficando  somente  suspenso  todo  o  ulterior  procedimento  quanto  aos 
dois  Senadores,  Diogo  António  Feijó  e  Nicolau  Pereira  de  Campos 
Vcrgueiío,  á  vista  do  privilegio  de  que  gozam. 

Não  são  pronunciados  os  compromettidos  aqui  nAo  mencio- 
nado?, de  que  tratão  os  doc.*<>'  f.,  e  f.  doa  autos,  ficando  só 
considerados  cabeças  e  como  taes  obr'gados  á  prisão  e  livram- 
ento somente  os  de  que  tonbo  feito  especial  menção.  Passo-se 
alvará  de  soltura  para  os  que  se  achau  presos,  e  aqui  não  tenbo 
pronunciado,  exceptuados  os  do  doc.*^  f.  5IG  a  respeito  dos 
quaes  tenho  ainJa  de  proceder  a  indagações.  Dê-se  contra 
mandado  p.^  não  ser  preso,  a  quem  aqui  se  não  achar  pronuo- 
ciado.  Extraiam-se  quanto  antes  os  processos  dos  dois  Senadores, 
para  serem  remettidos  ao  Senado :  o  os  dos  Militares,  para  seiem 
levados  ao  Conselho  de  guerra,  o  remettão-se  estea  autos  ao 
Dr.  Delegado  do  Termo  para  os  apresentar  no  Ju»-y,  ficando  co- 
pia pa^a  á  ella  unirem -se  as  diligencias,  que  devem  continuar. 
Recommendem-so  nas  prisões  os  pronunciados  que  se  achom  pre- 
sos. Cidade  de  S.  Paulo  25  de  9.«>ro  1842. 

G.  de  Menezes, 

Em  tempo. 

IntimecD-se  as  pronuncias  aos  p  enunciados  que  se  acbam 
presos  e  faça  o  Escrivão  f>ublicação  cm  seu  cartório  das  minhas 
sentenças  F.,  f.  e  f.  4  e  quando  o  juiz  d'esta.  S.  Paulo. 


Seguindo  para  o  Rio,  não  permittiu  o  governo  que  ali  des- 
embarcasse, recebendo  ordem  para  esperar  na  província  do  Es- 
pirito Santo  a  reunião  do  Senado,  ao  qual  cabia  conhecer  e  re- 
solver das  accusações  levantadas  contra  oUe,  como  cabeça  da 
movimento  revolucionário. 


—  687  — 

Apresentando  a  resposta  a  que  era  obrigado.  Feijó  pronun- 
ciou no  Senado,  o  pequeno  discurso  que  legue-se  e  que  ser?o 
para  encerrar  a  historia  da  revolução  quanto  a  sua  pessoa. 

Sr.  Presidenie,  tendo-se  aggravado  ainda  m&is  a  minha 
moléstia,  sfto  me  foi  pcsèivel  a(c  hoje  apresentar  a  re»posta  que 
mo  foi  msndada  dar  sobre  o  procosso  que  contra  mim  te  intentou; 
e  ainda  agora  mesmo  me  foi  preciso  servir-me  de  redacçHo  alheia 
para  apresentai -a.  Portanto  remettia  á  mesa  para  dar- se- lhe  o 
o  conveniente  destino. 

Eu  desejava,  antes  de  morrer,  cumprir  ao  menos  uma  pro- 
moEFa  que  tinha  feito  na  cccasião  em  que  fui  mandado  sahir  da 
minha  província,  ninda  o  mundo  n^o  snbc  da  minha  boca  a  bis- 
t)r'a  da  minha  prisào,  deportaç&o  c  degredo. 

£n  tive  desejos  ao  principio  de  a  communicar  ao  Senado ; 
mas  algumas  razões  obstaram  a  isso,  principalmente  porque  o 
Senado  par.  cia  ter  aprovado  o  procedimento  baibaro  que  houve 
comigo. 

Ha  tempos,  rcqucicndo  cu  que  ec  nomeasse  uma  ccmmissão 
para  examinar  os  actos  do  governo,  e  mauife&tando  desejos  de 
que  o  Senado  considerasse  o  procedimento  que  o  mesmo  governo 
teve  contra  mim,  e  per  conseguinte  contra  o  Senado  e  contra  a 
Constituição,  nào  o  pude  conseguir;  portanto  julguei  que  era 
melhor  calar-mo.  Mas  resta-me  sempre  esse  pezar  de  nada 
dizer;  por  isso  sempre  direi  duas  palavras  para  referir  o  que 
sofFri. 

Entretanto  (aiba-se  que  não  s(íFri  tudo  quanto  qniz  o  go- 
verno que  (U  Ecffresse,  pois  que  pela  benignidade  dos  Bi asileiros 
não  tive  falta  de  cousa  alguma,  em  toda  parte  tive  sempre  re- 
cursos, em  toda  a  parte  recebi  os  maiores  beneficies  e  obséquios. 

Âchava-me  em  S.  Paulo,  já  mandado  sahir  para  esta  Corte 
deportado  qu.-índo  fui  convidado  para  vir  á  Corte.  Não  aceitei 
o  convite,  e  como  me  pareceu  não  dever  submisso  loffrer  um 
acto  illegal  e  anti-constitucioDal,  recalcitrei  ou  dei  cm  contra- 
rio algumas  razões;  mas  respondeu-se-me  que  o  que  a  Consti- 
tuição prohibia  era  a  prisão  dos  senadores,  e  não  qualquer  outro 
acto  que  o  governo  julgasse  conveniente  praticar  com  senadores. 
Temi  algumas  outras  consequências;  temi  ser  levado  á  cadua 
para  levar  nas  grades  alguma  correcção  de  açoutes,  visto  que 
isso  não  era  prifão,  e  por  conseguinte,  na  opinião  do  governo, 
podia  praticar-se:  o  que  c  pois  que  eu  havia  do  fazer,  eu  que, 
com  nm  sopro  podia  cahir  em  terra  V ! . .  *  Bem  me  lembrava  dos 
meies  do  resistência  a  ordens  illegaes,  sem  o  que  será  sempre 
nominal  nossa  liberdade,  e  nós  escravos  dcs  atrevidos.  Nada 
porém  podendo  contra  a  violência,  retirei-me. 

E'  verdade  que  nessa  occasião  eu  estava  bastante  euíermr 
e  desprovido  de  meios,  pois  tinha  apenas  20$  na  algibeira.  Re- 
queri que  se  me  mandasse  pagar  o  trimestre   vencido  da  minha 


—  588  ^ 

pensão,  qu6  era   l;000|i;  pois  era  preciso  ter  çom  qoe  Bubnítir; 

mas  retfpondeu^iB^tne  que  não  havia  dinheiro  «  que  mesmo  de~ 
mu  ficar  wso  corno  penhor  para  as  indemnisia^es  a  que  eu  eji~ 
iiveífAe  sujeito^  Sahi  poíã  como  me  aclmva ;  vtm  á  Corte,  não  me 
ãeiíta-aH]  desembarcar,  de  mo  rei -mu  alg-umas  horas,  e  iaki  sem 
saber  para  oade  1  E'  verdade,  como  já  diise,  que  recebi  bene* 
ficiofl  em  toda  a  parte. 

Nas  poucas  hora 8  qtie  aqtai  eitive,  foram  a  bordo  differeutea 
pessoa»  f)fferfcer-inB  diu beiro,  e  uma  até  me  obrigou  a  receber 
alguns  ceotos  de  mil  réia  que  levava.  MpBmo  ne^ae  pai«  onde 
estive  degradado  encontrei  mEitos  homeiís  beuevoloB  que  me  of- 
fertaríim  dinheiro  e  tudo  o  maia.  Por  eute  lado  poia  nada  eo^i; 
mas  muito  da  parte  do  governo^  que  de  tado  me  privoa»  até  do 
que  era  meu. 

Fr  r tanto.  Benhor^s,  soffri  tudo  istol  pHfia^,  deportaçAo  & 
■eis  mezes  de  degredo,  quasi  4i0O0^  dô  multa,  e  de  que  eatoti 
privado  até  hoje«  Mae  o  governo  n&o  miá  satisfeito  ainda; 
mftndifu  por  isso  formar  esse  pracesso,  e  não  ficará  satisfeito  se- 
não com  o  meu  extermínio l  Estou  pois  entregue  no  Senado; 
faça  elle  de  mim  o  qae  qnizer ;  a  vida  em  mim  será  pouca., « 
aoffta  se  tudo. 

Tenho  dito  em  gf^ral  cnmo  posso  o  que  era  preciso  que  ao 
Boubestei  demais,  o  publico  jii  o  sabe,  e  fará  a  devida  justiça  m 

quem  merecer. 

♦     *     • 

O  senador  Nicolau  Vergueiro  foi  também  recolhido  a  S- 
Paulo  e  com  Feijó  seguiu  para  o  Elio.  Recebendo  aquella  ordem, 
transmittíu  a  Monte  Alegre  a  resposta  que  segue-se  e  que  n&a 
podemos  deixar  de  transcrever,  attentaa  personalidade  oe  Ver— 
gueiro> 

TU  -*  e  Ex.*  Sur. 

Tive  a  h nora  de  receber  o  officio  de  V.  Ex/  em  que  mo 
indica  a  conveniência  de  redrar-me  p."  a  Corte  do  Rio  de  Janr.* 

Se  eâta  indicação  n^o  fosse  motivada  em  um  facto  que  está 
de  encontro  a  m.*  conducta,  nenhuma  reâexào  faria  sobre  ellA, 
mofltrando  que  vae  «acrificar  as  m.''  opiniões  e  os  meos  cómodos 
á  direc(,-^fio  do  Gov."  fora  do  lu^ar  onde  tenho  o  dever  de  sua- 
tentar  aquella»;  porem  diz  V.  Ei.'  que  estando  o  povo  na  crença 
que  eu  n&o  fora  alheio  aos  actos  criminosos  q.  tiverão  lugar  nesti 
ProviíKjia  hé  natural  ae  desgoste  vendo  muitos  cidadà^a  perae* 
guidos  pela  Justiça  em  quanto  eu  goso  ampla  liberdade  pelo 
privilegio  do  art.*  21  da  Conatítuiçào. 

Permirta  V.  Ei,*  que  eu  faça  algumas  obaervaç&ea  a  fea<- 
peito.  Tíil  crença  popular  só  pode  çaher  a  pesaoíis  illudldaa  p/ 
meos  iDÍmígcg  oe  q.  uào  conheçào  a  diffnrença  que  bá  eutre  a 
maniíeetaç&o  irreaponsavel  das  opiniõôâ  do  Senador  e  do  Depu* 


—  Ô89  -^ 

tado  e  a  reaistQQcia  mat6rÍAl|  porq/^  sabe  Y.  Ex."  e  sabem  todoB 
q.  poueoa  dias  depois  de  ^ncerfada  a  Ats.*  P,*'  em  7  de  Março 
me  recolhi  a  m.*  tasetida  diâtaote  28  legoaa  de&ta  cid  '  e  26  de 
Sorocaba  d'otide  não  sahi,  iiein  h&dtí  coustar  q,  ti v esta  cnnimii- 
nicaçaeg  com  os  q.  puz^rão  em  pratica  a  gedição  d&  17  Maio,  e 
lá  me  conservei  ignorando  tudo  q.^**  se  pa^bou  dop.^  desta  fatal 
explosão  q.  havia  repellido  com  antecipação,  dizendo  p/  vezes 
nesta  cid.*  e  na  do  Rio  de  J,',  que  me  militava  a  reelamações 
q.  entendeAÊe  legaes,  m.'  q.  ninguém  contasse  commigo  p.*  vias 
de  facto. 

Firme  neste  propósito  fui  gorprebendido  com  a  notícia  do 
rompim.*^  em  Sorocaba^  rápida m.^''  (propagado  a  cid.*  da  Consti- 
tniçào  q.  dista  da  m/  faeenda  6  ley^oas  e  meia» 

Na  ignorância  em  que  eu  estava  dos  precedentes  e  da  ez- 
tenção  do  fatal  movim.^",  e  sem  meios  p/  obstal-o,  Umitei-mea 
ordenar  a  mecs  colonos  e  m."  pessoas  livres  da  Fazenda  qne 
Dtn^uem  fosse  a  Freguesia  em  quanto  durasse  o  bsrulho  e  at^im 
o  cumprirão. 

Não  era  possivel  que  no  meio  da  eâervecencia  popular  dei- 
xasse eu  de  praticar  alg^um  acto  de  condescendência,  condindo- 
me  observar  o  movimento  tumultuoeo  e  desejando  que  não  fosse 
acompanhado  de  insultoa;  porem  logo  que  oS  mais  entusiastas 
partirão  a  unir-se  ao  ^rosio  das  forças  sediciosas,  vendo  a  frente 
dos  restantes  um  homem  prudent^^  falei-lhe  neàtea  tormos^*V. 
M.(^  eátá  aqui  como  hitatos  no  credo,  manda  esia  gente  p/  suas 
ca&eSf  deixando  só  alguma  patrulba  p.ira  evitar  alg-um  roubo  ou 
desacato,  que  em  taes  circumètimcias    âão  para  temer. 

Elle  agradeceo  o  meo  contelho,  dizendo  era  conforme  aos 
seos  desejos,  e  o  pos£  eot  execução» 

Depois  disto,  sabendo  que  o  Sr.  Paula  Sousa  era  opposto 
á  sedição  e  estava  retirado  em  casa  de  ua  amigo  dos  meamos 
sentimentoi  fui  ter  com  elles  p/  desabafar  e  ver  se  me  orien- 
tava sobre  um  acontecimento  qne  não  podia  comprebender  bem^ 
tendo  só  noticias  vulgures  %  m/*'    conhecidani/*  fabulosas» 

Pas<tando  pelo  desgosto  de  ver  morrer  ines  pêra  dam.**  o  dono 
da  casa  retirei-me  mais  consternado  a  minha  fai^enda,  Em  todo 
este  tempo  o  meo  desejo  era  recolher-me  a  esta  cidade  e  por 
vezes  escrevi  pedindo  passaportes  p-''q>  aâ  estradas  esiavão  im- 
pedidas ^  mas  nem  as  cartas  puderão  passar  e  vim,  logo  que  se 
aesempedirão,  sem  que  em  tempo  alg-nm  tivesse  correspoudencia 
ou  jDtelligencta  com  o  Governo   sedicioso. 

Eis  aqui  o  que  sei  de  mim,  o  que  os  outros  dizem  uão 
iei  eu;  mas  pelo  testemunho  de  minha  consciência  não  necessito 
do  privilegio  do  art*  27  da  Constituição  para  evitar  a  perae- 
guiçào  legal,  sendo  mal  fundada  a  crença  do  povo  em  contrario 
a  qual  receberá  maior  força  publicando-se  a  conaideraçáo  que 
Y.  Ex.^  lhe  da  no  seo  o£&cio<  Hé  sobre  este  ponto  de  vista  q, 
ouso  chamar  a  attenção  de  Y^  Ex.*  pA  q-  se  digne  remover  este 


«   590  — 

inconveiiiente  nocivo  a  m/  roputaçío,  e   eípero  q.  V*  Es.'  jul- 
go© dig^no  de  altençâo  o  quo  tenho  exposto* 

Dcos  G.^«  a  V.  Et* 
F.  Paul.,  5  de  Julho  df^  1842. 

El'*"'  Sn  BaiTio  de  MonfAlegro 

Nicolau  Pereira  di  Campos  Vtrgueiro, 

A  coe  participarão  de  Vergueiro  no  movimento  revoluciouario 
—era  pntciito. 

Fora  a^rrelieiidida  toda  a  coricspoadencia  que  entreíiTera 
com  Re^rÍLinldo  A.  de  Mornes  Sallí^s  ©  Jonquim  Autotiic  da  Silva 
(o  Gordo)  com  O  vigr^^io  Prnnçfi  da  Cod&tituiçíto.  Alem  disso  ea- 
tivera  na  Columna  Libertador»,  a  frente  d^  um  batnlhfto  de  lau- 
ceiros,  Desde  porem  rjuo  fuicas^c ti  a  levoluçfio  Vergueiro  tornott- 
se  ejtraordiuariaméDto  inquieto. 

Embora  fosse  um  cidadfto  do  real  mereciuieato,  quer  pertoal 
quer  intollectnal,  seu  espirito  era  bastn  ti  to  fraco,  e  ti  mido.  Estava 
excessivamente  impreesionado  quando  so    recolheu  a  SíLo  Paulo. 

Em  Santos,  quando  ja  a  bordo  do  vapor  quo  conjuntaoieate 
com  Feijó  o  conduzia  ao  Rio,  esse  desanimo  tomou  maiores  pro- 
po  çíiea. 

Ou  i  muitas  vczea  uma   cnedcra  referente  a  eeie  desaoimo. 

Depois  de  embarcadoí  Vergueiro  não  deiíava  Feijr»  um  íó 
momento,  cada  vez  mais  queixo&o,  m;Í4  abatido,  pela  incerteza 
do  futuro. 

Crn^tanlemente  dirisia  a  Feijó  â  feg^nínte  pergunta—»  O 
que  vae  ser  de  nó*,  Feijó? 

O  velho  jwulista  na  !a  respondia,  mas,  lAo  grande  numero 
de  Vfzps  fez-lbo  Vergueiro  a  perg^unta  quo  em  uma  delia»  FegÓ 
disse  «Nilo  sei.  Mas  se  eu  fosàe  goveríio,  o  menoa  que  ikria  era 
cortar  a  cabe<;a  nos  chefci  da  sedição* . 

Detde  então  cessaram  Ai  intfrrofições  de  Vergueiro- 


MoriuhOf  narrnndo  os  factos  acontecidos  em  3,  Paulo,  assim 
aprecia  a  marcha  da  Columua  : 

O  mHJor  Galvão,  eni  vez  de  marchar  rapidamente  sobre  a 
Capital,  como  muito  te  lhe  recommendára,  gastou  quatro  dias 
para  checar  no  ribeirão  do  PirajusFára,  onÍe  reforçou  ainda  maia 
A  Cohimua  com  a  for^a  do  Ilú,  que  abi  encoutrára,  não  sendo 
de  Sorocaba  á  cidade  do  S,  Paulo  mais  que  18  tegoas,  e  tendo 
o  commaodnulo  à  sua  dispoEiçllo  uma  hella  e  considerável  ca- 
vallaria.  Em  Pirajus^ára  cnconlrou-^e  o  major  Galvão  com  uma 
guarda  avançada  da  pequena  fotía,  com  que  o  general  barão  de 
Caxias  havia  guarnecido  a  ponte  doi  PinhciroSi  e  t^o  estropeada 
estava  toda  &  força,  pela  marcha  forçada,  que  de  Santoa  trassia, 


—  591  — 

tão  desanimada  pelo  terror,  quo  infundia  a  persuazâo  c^e  quo 
a  província  de  S.  Paulo  bavia-se  erguido,  unida  como  um  sò 
homem,  e  forte  como  um  gigante,  que  as  forças  do  general 
Caxias  julgavam-se  infallivelmente  esmagadas;  o  o  teriam  sido, 
se  o  commandante  dos  insurgentrs  quizesse  arriscar  n  menor 
tentativa  sobre  estes  homens  fatigados,  e  tanto  desmoralizados; 
mas  o  major  Galv&o,  longe  de  avançar,  retirou- se  para  o  Ja- 
quarabi. 

Á  deliberação  do  commandante,  dos  insurgentes,  Mm  de 
mostrar  desanimo,  e  irresoluçào  que  é  sempre  para  os  revolu- 
cionários um  infallivel  prognostico  de  derrota,  propoicionou  ao 
geneial  da  legalidade  occasião  de  que  elle  se  aproveitou  im- 
mediatamente  para  desenvolver  seis  planos.  Foi  o  primeiro 
cuidado  do  general  dirigir  um  ofEcio  ao  mnjor  Galvfto,  em  que 
lhe  fazia  ver  oa  perigos,  que  corria  clle  ao  qual  pedia  o  ge- 
neral se  não  compromettesse  por  alheios  caprichos,  e  assegura - 
va-Ibe  que  levava  poderes  amplos  para  a plauar  todas  as  difficiildade?, 
dando  a  entendt'r  que  sei  iam  satisfeitos  os  desejos  dos  PaulistaF, 
se  alem  n2lo  fos  em  elles  do  que  parecia. 

O  maji-T  Galvào  respondeu  com  firmeza  e  dignidade  a  este 
officio;  mas  em  vez  de  autorisar  sua  resposta  com  a  ameaça  do 
nm  prompto  assalto  a  capital,  tirou  lhe  todo  o  préstimo  e  valor 
retirando-se  paia  Barueri.  E*  inexplicável  a  maneira  por  que 
este  official,  aliás  bravo  e  honrado,  comprometteu  a  causa,  que 
abraçara;  pois  que,  nho  podendo  elle  ignorar  que  o  êxito  do 
movimento  dependia  absolutamente  do  um  assalto  á  Capita),  onde 
encontraria  poderoso  apoio,  deixou  de  acommetter  as  forças  do 
baiào  de  Caxias,  ou  não  podendo  entrar  pelos  Pinheiros,  u&o 
procurou  algum  passo  vadeavel  no  rio,  quo  muitos  acharia,  es- 
tando guarnecidas  por  forças  muito  insignifícanlcs  as  pontes  do 
Anastácio  e  de  Santa  Anna,  e  as  de  Santo  Amaro  o  pasio  do 
O':  80  algumas  tinham,  constavam  dias  do  paisanos.  O  que  é 
porém  ainda  mais  inconcebivel  é  o  abandono,  em  que  deixara 
Galvão  as  estradas  de  Sorocaba  e  Cam])inas,  por  onde  iam  e 
e  vinham,  sem  que  o  moi  or  estorvo  os  embaraçasse,  os  agentes 
do  presideute  de  Mont' Alegre;  o  tal  era  o  desleixo,  que  um  ge- 
neral cem  habilidade  e  génio  podeiia  ter  introduzido  força  em 
Sorocaba  sem    ser   pre*entido,   e    teria   também    prendido  a  Ra- 

Shael  Tobia?.     Foi  tal  a  inércia  e  o  desleixo    do    commandante 
os  insurgentes,  que  pela  estrada    de    Campinas    passaram,  sem 
que  sofFresgem  a  menor    inquietação,    200    praças    e   armamento, 

âue  foram  ai  depois  oocasionar  a  fatalissima  derrota  da  Venda 
brande.  Teve  o  commandante  certeza  de  que  partira  de  Jun- 
diahi  para  S.  Paulo  uma  cavalhada  de  que  o  barão  de  Caxias 
tinha  urgente  necessidade,  o  bem  que  passasse  ella  a  quatro 
legoas  distante  do  seu  acampamento,  não  teve  a  deliberação  de 
a  mandar  tomar  Tanta  inacção  e  negligencia  pudera  desmo- 
ralizar o  mais  aguerrido  exercito.  Que  effeitos  produziriam  então 
em  paisanos,  reunidos  pelo  enthusiasmo,  pela  dedicação  patriótica, 


—  692  — 

com  a  eotivicção  porém  de  que  pelejavatu  contra  o  governo,  o 
que  necfigáitavam  de  6©r  RUstfiíiíadofi  neste  empenho  por  einpre- 
BBs  pi-op''ia£  a  in^piraretn  coiifiímçaV  O  susto  priticlpíos  a  pre* 
ocupar  03  espíritos,  ©  o  desanimo  tornou-ae  ^eral.  O  coronel 
Tobias  tomfU  entào  a  delibflraçíio  que  ao  principio  devera  ter 
tido,  pois  que  ern  vez  de  bo  deixar  íicar  em  Sorocalm,  eon vinha 
que  tivfltse  me  rc liado  com  as  forças  e  entào  teria  evitado  o 
que  n^orn  nâo  era  pofaivel  r^Binediar ;  appíirecen  poie  no  dia  8 
de  juTiho  oo  acnmpameuio  do  Btirueri.  e  tiVo  mal  coUocado  o 
achou,  que,  fe  f  generiil  da  legalidade  fosse  emprehendt^dor, 
podt^ia  tvT  introduddo  no  acampamenio  uma  força  a  qualquer 
hora  da  noite:  fez  mudar  o  acam[>ainento  e  procurou  por  tndoi 
08  meíoi  refinimur  o%  eapiritúB.  Já  Mhn  era  tempo,  porém,  passada 
estava  a  oceasiào,  e  para  cumulo  de  fatalidades  foi  ahi  labida  a 
ttírrivel  derrnta  da  Venda  Grftnde»  rccat-ioiíada  pelo  desleixo  de 
Gslvà-',  e  pela  imprudente  e  intf»mpe^tiva  coragem  de  um  com- 
ina ndan  te  dos  inaurgeutes.  Então  principiaram  a  apparecer  al- 
<^uma3  pequenas  partidas  das  forças  da  legalidade  pelo  lado  da 
Cotia T  em  consequência  di^to,  resolveu  Galvào  retirar- se  com  o 
intuito  de  ge  ir  collocar  entre  8.  Roque  e  Sorocaba,  o  t\u*^  em 
verdade  era  obrar  militarmente;  poi?  que  occupando  essas  posi* 
çôes,  nào  so  obstaria  ao  asisalto  do  Sorocaba,  maa  poderia  cortar 
a  marcha  do  inimigo  n^s  muitas  matai  que  bordam  aqu^U»  en-* 
tradn 

O  m^jor  Galvào,  porém j  nào  fez  alto  em  parte  alguma,  e  noa 
dias  13  e  14,  divididas  pm  duas  columnas,  obegarara  a  Soro- 
caba as  forças  insurge iitt^Sj  e  cora  tal  pr«cipitaçào,  que  nkn  só 
ufio  deixaram  alguma  força  que  Ihea  proiegesae  a  ret*' guarda, 
mna  tient  aínda  vedetDs  que  tbes  de^^em  aviso,  ae  o  inimigo  m 
approiimas&e.  Nestes  mt  mentos  de  BUífto  e  de  anciedade  chega 
também  a  noticia  de  que  Haphael  Tobias  havia  sida  atraiç<iado 
em  Coritiba,  o  quB  esea  importante  cc  maica,  longe  de  adherir  ao 
movimento,  estava  oecupada  por  forças  vindas  de  Santa  Cathariaa, 
as  quaes  deviam  marchar  a  occU|>arem  Itararé.  Tudoi  se  jul- 
gavam cercados  ^  e  para  augmentar-lbes  a  angustia  e  o  desanimo, 
nem  uma  notiria  havia  do  que  nas  villas  do  norte  se  passava, 
muito  meno»  ainda  do  que  ia  pela  proviacia  de  Minas  que  KaphaeL 
Tobias  acreditava,  fundado  naa  primeiras  opiniões  doa  deputados 
mineireg,  nào  se  haver  movido.  Entretanto  deliberaram  susten- 
tar com  todo  o  esforço  O  ponto  d«  Sorocaba;  e  Rapbael  Tobíai 
retirou-ae  na  uoitu  de  18  do  junho  para  Itapetiiiioga,  afim  do 
observar  dali  o  que  convinha  fas^er-Ee,  deixando  entretanto  a 
direL^çào  doa  negócios  ao  vice-presidente  senador  Feijó»  que,  no 
ultimo  e  de^sespt^rado  momento,  tomou  Fobre  si  todas  as  cou^e- 
quencifis  do  movimento^  e  com  tanta  generosidade  se  sacriti.oti, 
bem  que  não  deacauhecesee  elle  em  cujaa  garras  se  mettia.  A 
approximaçâo  das  forçai  da  legalidade  foi  o  signal  de  dispersão 
geral,  foi  um  verdadeiro  salve' se  quem  puder*     Assim  no  dia  20 


-  593  - 

èe  jnnTio  fetava  o  general  da  legalidade  nu  catA^  presidência 
intenoa,  e  o  honrado  e  dedicado  ^e a  r dor  Feijó,  mettldo  em  uma 
caleça,  caminhava,  guardado  pf>r  numerosa  escoltai  par»  a  cidade 
de  S.  Paulo  levando  sobre  o  semblante  os  traço»  de  uma  alma 
tm passível  na  de^^raça  e  os  siiroaes  de  uma  consciência  tran- 
quilla»  pt^la  convicção  de  haver  tiel mente  preenchido  o  seu  dever, 
Kapbael  Tc  bíaa  caminhava  ainda  para  Itapetímn^a,  quando 
teve  noticia  do  Decorrido  em  Sorocaba^  e  conhecendo  a  extensão 
dos  peripoB  qne  o  ameaçavam,  tratou  de  reftigiar-se,  nào  po-» 
dendo  todavia  escapar  à  policia  da  traiçÃo,  de  que  se  ell*?  queixa 
em  Eeu  manifesto.  Assim  estava  vencido,  e  com  t&o  pouco  « Uito 
pela  parte  da  legalidade  aquelle  movimento,  filho  do  ent-haáiasmo, 
mas  táo  iuídlizmoute  dirigído. 

«     «     * 

O  grande  numero  de  autógrafos  que  transcrevemos  demoostram 
que  a  exposição  de  Marinho,  além  de  incom^deta,  é  omissa  sobre 
muitos  pontoa. 

Longe  dos  ac  ntecimentos,  elle  escreveu  sob  informações 
interessadas  em  occultar  a  verdade,  e  foi  devido  ao  vicio  de 
origem  dessas  informações  que  aquflle  escnptor  commett^ u  gra- 
ves injuíktiças . 

Ãttribue  Marinho  o  fracaeeo  da  revolução  á  inércia  do 
major  Gaiv&o,  commandante  da  Co lumna  Libertadora       Diz  elle: 

«  Se  tives&e  marchado  com  rapidez  para  a  Capital,  se  não 
tivesse  ejfiaeado  em  FirajuiGara,  dmntt  dê  uma  guarda  avançada 
da  pequena  força  coth  gue  Caseias  havia  guarnecido  a  pfttite  dos 
Pinheiro»,  se  tivejíse  arrtãcado  a  jnenor  íentaUva,  oJt  parcas  des~ 
moralizadas  do  Bardo  de  Caxias,   tiriain  nido  eumagadan  * 

E'  tpmpo  de  se  faser  justiça  ao  major  Galv&o,  e  demonstrar 
que  outro  nào  podia  ter  sido  seu  procedimento. 

Galvão  desde  logo  viu  que  as  forças»  que  lhe  haviam  sido 
confiadas,  ignoravam  completamente  os  maif  rudim^ntarts  ezer- 
cicioa  militares,  e  se  achavam  pe«s>mamente  armadas  ^  municia- 
das, e  dimir^ntisBimap 

Além  dis^o,  não  ignorava  qne  mais  dft  dois  terços  dos  spua 
commandadns  se  achavam  naa  fileirís  por  mmos  vii  lentos,  que 
esses  qSo  occultavam  os  votos  quM  faziam  pelo  de^ba^ato  da 
Columna»  única  esp** rança  de  conseguirem  a  liberdaf^e  que  lhes 
havia  sido  sequeistrada. 

Os  documentos  que  adiante  vêo  ser  lidos,  bem  como  o  extracto 
de  depoimentos  tirados  dos  diversos  iiiqnerifos  a  que  se  proce- 
ram  em  algumas  localidades  depois  da  jmcificaçào,  df^isiãm  evi- 
dentes—quaea  os  meios  que  os  chffee  do  movimento  empregaram 
para  engrossar  suas  forças. 

Eis  como  procedera  em  Sorocaba,  o  tenente-coronel  Lacerda, 
um  dos  mais  dedicados  amigns  de  H.   Tobjas« 


—  594  — 
PORTARIA 

TtíTido-ío  de  reunir  depois  de  araanlj^  o  Batalbão  de  meo 
Commando  pelas  10  horaB  do  dia  ordeno  a  V.  M,*^*,  qu6  façfto 
leunir  todas  as  |ivaíns  do  dito  B%iJ"  que  nao  se  achào  empre- 
gados em  ser  visão,  empregando  p.*  iiso  toda  iuergia  q.  for 
possível,  e  nessa  occasíão  me  darão  parto  circunstaocíada  de 
todoB  nqaelleu  que  deiíarrio  de  coraparccer,  se  forSo  ou  iiào 
ayisadoFr  o  por  quera^  as?ím  como  as  dtliij^âucías  quõ  fiaerão  para 
a  reunião  do  tuaíor  nJ*  qae  ffr  po^sirel  dos  ditos  guardas. 

Eípero  que  para  o  cumprimen/*  desta  ordem  iiâo  me  seja 
precifo  enipicgar  oa  meiís  que  a  lei  me  fcrmitte*  Quartel  em 
tíorocabíi,  Juiibo  1842, 


111.™'  Snrs.  Commandantes  das  Companhias  do  BataíLSoda 
Guarda  N.*'  deâta  Cidade*  José  Joaquim  de  Lacerda,  T.  Co- 
ronel. 

Mal  fiabiara  aquelles  infelizes  guardas  nacjnnaea,  urraneadoa 
A.  £UB  vida  laboriosa,  atirados  com  extrema  violência  nas  fileiras 
da  Columna  Libertadora,  que  um  dia,  aquelle  neto  do  prepotên- 
cia contra  el  eí  exercida  os  faria  passar  á  poaieridade  como 
defensores  da  liberdade  1 

€j4  população  corria  cheia  de  enihusíasmo  às  arvias  porque 
em  todos  existia  a  convicção  de  que  a  liberdade  t^tava  compro* 
mtitida  pdos  excesso f  d^  ministério  de  23  de  ítiarço  {\} 

E'  aasirn  a  Historia  ! 

à  autoridade  naquelles  tempos  residia  na  mào  dos  Jttizct 
de  Paz. 

Eoi  Itapetininira,  siqutuítrava  tfe  o  juiz  de  jisk  etTíctivo,  e 
Q  Bupplentc,  assumindo  a  vara,  expedia  as  seguintoâ  portarias* 

Logo  q.  Y,  S.*  receber  cate  faça  aviso  a  todos 
03  Gidftdòi»  deseu  Distrito  para  se  ncharem  uôita 
Vjlla  no  dia  12  do  corrente  pelai  (.use  horas  do  dia, 
para  «e  fazer  publico  a  traição  em  quo  está  o  uotso 
Augusto  Impeirador  o  Senhor  D.  Pedro  Seguodo,  e  assim 
noss:i  ConstituiçàOt  vindo  todos  armado'?,  DeosG.  aV,â.* 
Snr.  Cap.™  da  Policia  da  Q/*  Comp.*  Vicente  Autinio 
Vieira . 

Itapeteninga  10  de  Maio  da  1842. 

Patúiíio  ÁirtB  de  Aguirra. 
J.  de  P.  &. 
Ainda  de  Aguirra,  encontramos  o  seguinte  autografo. 


—  595  — 

III"'"  Siir.  Vicente  António  Vieira. 

Logo  q.  V.  S.*  receber  este  faça  reanir  todos  os 
Cidadòis  dô  seo  Comd>*  e  mesmo  aqJp^  q,  o  ^ao  ^ko 
e  seáerija  a  <ígta  Vil  la  p.*  sustectar  nossa  Confetltuiçilo 
e  Senhfr  D.  Pedro  S<?gttndo  e  flífiím  gustentnmos  a 
noB&a  liberdade,  eervindo  esto  ao*  officiaea  de  Pulia&ia, 
liiBpectoreá  e  ouUms  quaee  quer  Autoridades,  D\  G.^^ 
Uapeleoinga  11  de  Maio  do  18i2, 

IlL*^'  Snra,  Cap,*"  e  T;  de  Folisiía  da  Pesearia  o  Areâo. 

Paiãino  Áirt»  ãt  Aguirra. 
J.  de  P.  S, 

Álg-flna  guardas  nacionais,  mais  espertos,  ou  talvez  pre- 
venidos prr  algum  superior  humano  ti  conícieiícirsot  conseguiram 
escapar^  como^  e  porque  forma,  o  dizem  os  cutiofios  fiutografoa 
seguintefí : 

IIL'"^  Sr.  João  Mor.'  Rocba. 

Constando  que  os  iruarJae  ti^ião  occuIíoh  &  na  o  gue- 
rem  comparecei*  p,"  o  sen-ko  dp  Q.  íií^ui  lhe  rogo  o 
favor  de  fazer  com  elles  q.'  aj^aresilo  que  veubão  j/res- 
iar  servirei,  &  otrcs  qJ  q  ^  G.  que  Vm.<=*^  ver  fará,  mesmo 
para  disniintir  a  yaz  q.'  Buda  q/  Vin.c*?  (>  o  quo  acoa- 
çelba  para  que  ellts  não  ajiparecerem,  o  que  espero  em 
seu  patriotismo  c  zetlo.  Deua  Guarde  a  Vm.^^  IJe  quem 
há  ieu  Vu/' 

Itapct/  Maio  1842. 

Ffmtcisco  de  Albuquerque  Eolim 

Em  31  de  maio    o    mesmo    Tenente    Coronel    Francisco   de 

Albuinerque  Rolim  de  Moura  declarava  que    nao  podia  mivudar 

os  gnaíJiiS — *p  ia  a  gettie  i-c  tern  at-ariça/^o  ao  mcito   CQin  viedo». 

Ainda  um  autografo,  cuiioao,  porquft  demonstra  o  meio  uaado 

pATa  engrossar  as  fílftiras  revolucionarias. 

Liâta  dos  que  o  sr.  António  Joaquim  da  Costa 
ade  avjzar  Com  as  armas  que  ti  vierem 

José  Nunes  da  Silvfi,  Jotó  Leandro  Leito,  António 
Pires,  Paulino,  camarada  do  Francisco  Jok;  da  Silva, 
António  Joaquim,  camarada  do  mesmo.  Bento  Manoel 
de  Freíta-í,  Francisco  José  da  Silvo,  Mariano  Nunes, 
Ignaeio  Rodrigues  de  Moraes,  Dois  Filhoâ  do  fileimo^ 
João  Baptista. 


—  696  — 

P,*  ViD.""  ceaxar  com  eles  na  mtuba  casa  amanhain 
as  àe\i  oras  do  áiê.     Jaqueri,  10  de  maio  de  1842. 

2.**  Com.**  de  Pilicio, 

Recorrendo  aoi  inqtieritos  qae  consegaiiDOB  cotnpuleár,  eneou— 
tramoB  o  s(*g:uinte; 

Em  Ita  elinioga  —  O  padre  JoSo  Raimnndo  de  Abréu^ 
tenente  Francisco  Jo&é  Coelhoi  sargento  mor  Manoel  Ããonao 
Pereira  Chave»,  e  capít&o  Jobé  Leonel  Ferreira  declararam — 
que  os  guardm  recebiam  úrdens  do  Capitão  de  Pblicm  e  dos 
Inspectores  de  Qtiartêirão,  para  comparecerem  armadoít,  no  dia 
desigtmdOf  sem  Iheu  declarar  para  que  fim  ^Os  que  compareciam 
ficavam  dHidon^  e  contra  a  vontade  eram  obrigados  a  seguir  para 
Sorocaba 

Em  Âtibaia  —  Leonardo  Jogé  Pedroso,  Joaquim  da  Silva 
Porto ^  capitão  JacintLo  Alves  do  Amaral,  Eu^^enin  de  Biqueira, 
FrutuoBO  de  Lima,  José  António  de  Camargo  Felisberm  Pirea, 
depuzeram  que  (alguns  delles)  haviam  sido  avÍFiados  pelo  Com- 
mandnnte  da  Companhia  para  comparecerem  nos  i*itioa  de  Jr  sã 
Joaquim  de  Árhujn  Cintra,  e  capitS.0  mdr  Lucas  para  uma  de- 
ligeficin,  Outroh  foram  conduaidos  a  força  p*  r  Joié  Viceiíift 
(Inbó  do  Pequiri)  capitào  Luií  Gonzaga  e  peloe  netos  do  ca- 
pitão mór  LuL-as, 

AlgumAB  dessas  testemunhas  declararam,  que  José  Jnaqnim 
de  Árhujo  Cintra  IhfS  disse» a  que  reunia  força  para  atarar  a 
Yilla  e  tornarem  oê  ponif}»  que  hariam  perdido  os  de  Sua  família^ 
e  seguirem  depois  para  S.  Paulo.  Este  ctino  se  vê  uào  escoodis 
o  mtitivo  real  do  movimento. 

António  Mhnoel  de  Oliveira  e  Roque  Pinto  Moreira,  perante 
o  Cheffl  de  Poliivia  de  S.  T  aulo  dr.  Rodrigo  Á,  Monteiro  de  Bfirroi, 
decliíraram  «que  a  gente  de  Frhnciirco  Pereira  de  As- is,  pro- 
curava atliciflr  forças  —  e  quando  nào  o  conseguiam,  por  não 
achar  quem  Iheu  obedecesse j  v^íltavam  covi  a  escolta  e  os  iet^vam 
presos— As  ientemunhas  foram  asaim  conduzidas. 

António  Joaquim,  Delfino  de  Campos,  Pedro  Correia,  perante 
a  meema  autoridade  declararam  que  hamam  sido  agarrados  p(.r 
Joaquim  aa  Silveira  e  ameaçados  de  morte  se  pão  o  aci^tpa* 
nhasse- 

Ignaeio  Rodrigues  de  Moraes,  Marciano  Nunes,  Antooio  Cân- 
dido, Joaquim  José  de  Biqueira  e  outroi^,  da  freguesia  de  Notsa 
Senhora  do  0%  deciBraram  que  foram  avisadrs  para  na  noite  dtt 
10  ee  acharem  na  porta  do  tenente  Leite  Penteado,  armadôê 
para  irem  em  dehgencia  capturar  três  criminosos, 

Uv  a  desusas  testemunhas  declarou  que  recebera  ordem  «i?» 
levar    com  sigo    todo  o  artigo    do   género  masculino   que    pudesse 


—  697  - 

pegar'  em  armas.     Todo»    affirmaram    que  05  ariaos    eram  termi'' 
nautea— jfeTn^m  recrutados  nt  não  aprmenia&sêm. 

Ãlgtina  décidiâo-  c^jaseguiam  encapar,  como  o  fez  Bekrtniiio 
de  Oliveira  e  CasirOi  de  Capivari, 

IlL'''  Sr. 

Participo  a  V.  S.*  qne  por  requisição  do  Sr.  Juiz  de  Paz, 
mandei  notificar  íb  G.*'  N,**  de  meo  Coraaodo  para  uma  roviita 
e  ahi  eerem  aqaartelladoa  a  bem  da  Begaraoça  publica  iadiyi- 
daaL 

N(}  acto  da  revíita  diaee  o  G<  N.  Belarmioo  de  Otiveira  e 
Castro  que  oào  se  reenlhia  ao  qua-t»!  pur  n&o  reconliecer  o  Jiii£ 
de  Paz  cora  autoridade  para  fazer  aeme  hant^  requisição,  e  q.* 
p/  laao  nào  obedecia  e  nem  m."^*  ao  Cap."'  e  aim  só  aendo  por 
Portaria  do  Gov/  da  Provincia,  uo  m.'"'*  acto  lo^adei  q.'  o  Sar- 
gento Joào  Conêa  Licite  o  recolhesae  a  pri-âo  a  ordera  dô  V,  3.', 
«a:  qdj^  m  dirigif^  p."  o  lado  da  cadm  acompanhado  do  dtio  sar* 
gento  t  logo  que  paSitou  a  ultima  filia  íí^ttíh*  pem^as  ao  cavalla 
dúendo  que  todos  ç.'**  o  qituesaem  conhecer  chegassem  a  sua 
tas^^  no  m.*^  momento  pnz  a  Comp.*^  em  seft  segutmento  a  íiw 
dê  o  prender  a  todo  o  custo,  o  que  não  se  pouds  effectuar  pf  qJ 
logo  que  o  Quurda  entrou  p,**  sua  casa,  apresentou- se  com,  um 
TRABUCO  O  que  MOS  OBEiooiJ  íi  por  em  armas^  e  neste  tempo  «i?a- 
diu  pJ*  o  quintal f  o  q,'  jã  fis  preaenle  ao  Juiz  de  Paz, 

Oa  guardas  pretentoa  ee  aehài  oa  mi u ha  casa,  é  o  q/  tenho 
a  levar  ao  conhecim.^  de  V,  S.'  Quartel  era  Capivari,  15  de 
maio  de  1842.  III.'""  9r.  Sargento  Mor  do  Esquadrão,  Joaé  fto- 
dríguea  Leite.    José  Ferraz  de  Amida,  Cap.*"  da  2*  Companhia. 


Como  queria  Mãriubo  que  o  bourado  paulista  major  Galvão 
foaae  arrútcar  «m  ataque  á  ponte  dos  Pinheiros,  com  taea  10 U 
dadoa? 

A  a  fr-rçaa  de  Caxiaa,  que  aquolle  escriptor  descreve  como 
estropiadas^  que  se  julgaram  esmagadas  pela  Columnat  eram  a  flor 
do  exercito  brasileiro,  aguerridas  pelas  lutas  titaoicas  do  Norte 
do  Império,  e  que  haviam  sido  escolhidas  como  aa  melhores  para 
permanecer  no  Rio,  despido  de  forças  por  causa  da  guerra  do  Sul, 

O  que  podia  fazer  Galvão,  com  pequeno  numero  de  recru- 
tas, dispostos  a  dehandar,  por  ndo  quererem  por  forma  al^'^uma 
derramar  o  aang-ue  irmào  ?  E  seria  hum&no  atirar  aquelles  in- 
felizes contra  uma  columna  de  800  homens»  capas  de  destroçar 
numero  quádruplo  de  forças  irregulares,  mal  armadas  e  coua tran- 
sidas? 

Foi  por  esse  motivo  que  a  Çolumna  Libertadora,  estacou  eo^ 
Fírajuasaraf  uma  legoa  além  da  ponte  dos  Pinheiros. 


—  598  — 

Em  quanto  mo  m  dnva,  nqueKci  soldados  do  Caxias,  qu6 
Marinho  descrê v^-uob  aterrorííiaaoBj  e^tro piados,  calma  e  tran- 
quillfloiente  já  se  achavam  em  Cam|unas,  deatrõçando  ob  eedi- 
cioBos  abíiudoDftdoB  un  Venda  Graúdo. 

Como  poderia  Galvílíí  deiínr  a  posição  em  quo  se  achava 
para  vadear  o  rio  em  outros  pontos,  quando  ello  sabia  que  a 
força  legal  domiuaría  facilmente  a  esten&ào  que  vai  dos  Pi' 
ulieiroa  ao  Anastácio,  jA  guarnecidas  pelas  forçai  do  Jacirebi  ô 
Itapeccrica  auxiliadas  por  deãtacameutos  de  linlia? 

Além  de  ficar  entre  doid  fogoa,  deixaria  fácil  o  caminho  para 
Soro  ca  ha. 

Em  es^a  a  posição  em  qae  se  achavA  GalvàOi  quando  as 
forças  B6  aproveitaram  do  momento  propicio  para  se  recolbercm 
a  seus  lares,  debandando. 

For  documentos  que  tivemos  era  luào,  correspondências  par- 
ticulares, artigoB  da  impreiísa,  narrutivas  que  ouvi  a  muitos 
contemporâneos,  verifica-Bs  que  R.  Ttibias  foi  acremeute  censu- 
rado«  AccuAnrnm-no  de  ter  causado  o  fracHEso  da  revoluçÃOi 
deixando-se  ticar  em  Sorocabflj  quaudo  o  seu  posto  Cintava  nata* 
ralínente  indícado^em  Firajussara  ou  Veuda  Grande  a  fiente 
daã  forças  revolucionarias. 

Em  1844  era  ainda  tão  vivo  o  protesto  dot  contemporâneos 
contra  1^,  Tobias,  que  Marinho,  seu  amigo  intimo,  revolucioná- 
rio como  t'llo,  não  o  exime  daqiiella  responsabilidade. 

€  O  Coronel  Tuhlan  tomou  entúo  (depois  da  dehandada  de 
Firajussara)  a  deliberação  gue  ao  principio  devera  íer  tido,  pois 
que  em  vez  de  se  ter  deixado  ficar  em  Sorocaba,  coKvriíHA  QUa 
TivESsa  MARCHADO  cjiii  as  JorçaSf  e  eníAo  faia  eiitado  o  que 
agora  era  iTiipossiúel  remediar  *.  (1) 

DeveiriOB  calcular  quantas  am.irguras  nào  soffreu  em  feu 
pundonor  o  major  Galvão,  quando  em  1841,  lendo  a  Historia, 
de  Marinho,  \ia  que  aquelle  escriptor  tornava^o  responsável,  a 
elle  só,  pelo  íracatiso  da  Colnmna  Libertadora — e  ao  seu  déãleíXQ 
attribuia  a  derrota  da  Venda  Grande. 

Devia,  porétn,  servi r-Ibe  de  consolo,  a  ingratidão  com  que 
foi  tratada  a  meraoriri  de  Boaventura.  Também  a  derrota  da 
Venda  Graude  foi  attribuida — ^a  imprudente  e  iniempeativa  cora- 
gem de  itm  conimandante  dos  in» urgentes.  Entretanto,  aquelle 
heróico  soldado,  cujo  nom^  nem  ò  declinado,  vendo-so  sacrifica- 
do pela  inércia  de  sens  chefes,  preferiu  cahír  cora  honra  no  posto 
que  ILe  haviam  designado. 

AcredltatBOs  ter  foroecido  elementos  para  que  no  futuro  & 
historiador,  estudando  os  acontecimentoa  de  1842,  respeito,  como 
nÓ3,  a  memoria  e  as  intençõeà  de  t.ialvaoi  confirmando,  que 
o  velho    e    hotirado    Ituano    lentiu-se    fraquear,    nàg    diante    do 


MârliUio-V,  2-*  p»ff,  tb. 


—  599  -> 

ÍQÍoi]g-D,  mas    do  quadro  hoiTondo  qnô  sua  eonsckncin   previa^- 
a  Cftrnifíema  inútil  úq  ficui  h-mãcs. 


Á  debandada  d?  Pirajunsora  não  póáe  contiunar  a  figurar 
uai  cbronica^    corno  um  ai^to  de  cobardia  dos  Paulistas. 

Árrancadoj  violentamente  a  uma  Tida  laboriosa,  queriam 
ellta  v<j]tar  a  teus  desertes  lares. 

Nunca  b6  preocuparam  com  a  execução  das  leis  da  Reforma 
6  Conselho  de  Estado  cuJH,  euateucia  Ibea  era  dcsconbeeida^ 

Âté  1842,  ellcs,  OE  descendentea  do&  aBandeirautesv,  nãe 
ignoravam  que  ob  heus  ante  pasmado  si,  depoiã  de  teriam  descorti- 
nado 03  iovios  fiortõesj  escreveram  paginat  gloriosas  de  nosi» 
biatoiia. 

Corajosos,  como  foram  aens  paei,  os  debandados  de  Pirajus^ 
sara  não  teriam  recuado  na  luta^  ú  tivessem  sido  a  elia  arrasta- 
dos por  nobres  fins. 

Mas,  apesnr  de  rudes,  eram  probos  e  virtuosos,  e  por  et  se 
motivo  nâo  quizeram  em  1842  derramar  o  san|^uo  irmàc,  espo- 
sando ódios  que  nào  seuiiam.  E'  sobie  este  ponto  que  deve  ser 
apreciado  flqtielle  acontecinienlo*  Nílo  eram  cobardes  ou  dege- 
nerados— nem  Beus  descendentes  o  foram* 

Quando  a  bera  poucos  aonos  o  Brasil  teve  necessidade  de 
recorrer  a  seus  filbos,  para  mais  uma  ves  levar  a  liberdade  aoa 
povos  do  Prata,  nfto  foi  preciso  sc  lanhar  mSo  doa  meioa  usados 
pelos  revolucionflrios  cm  1842, 

De  todos  os  pontos  da  antiga  Provincia  de  S-  Paulo,  cor- 
reram CS  voluntários  da  Pátria  • 

E  que  pagiuas  gloriosas  não  escreveram  elles  com  o  gene^ 
TO  10  sangue  ? 

Nas  a<íua3  revoltas  do  g'rande  rio,  foi  um  Paulista  que 
rompendo  Bâ  cadeas  de  Ilumaitá,  era  ac:;lamado  pela  Nação  o — 
Barão  da  Frenle. 

I^a  «Ilha  de  Cabrita*,  como  boja  a  designa  a  Historia  para 
commemorar  actoa  grandioaoB  dn  patriotismo  qutj  ali  aa  dosen- 
rollaram,  e  que  densa  noite  nílo  conseguiu  occultar,  foi  o  san- 
gue dos  lieroicQs  voluntários  de  S.  Paulo  que  se  raiaturaram  nas 
ftgnis  revoltas  do  caudaloso  rio,  depois  de  ter  regado  tetra  ini- 
miga. 

Que  opopéa  memorável  I 

Um  pjtercito  inteiro,  ouvindo  o  fragor  do  combate,  aem  po- 
der levar  au?íílio  a  seus  irmãos  . 

Que  longas  Lnras  de  ancicdide,  de  incertozaj  de  desespero! 

Afinal  cessa  a  íusiíaria,  e  daquelle  ponto  negro  ccculto 
ainda  à  claridade  da  manbã  rompe  o  clangor  da  trombeta— 6  o 
toque  da  victoria  ! 


—  600  — 

R«spondftm*lhe  t»s  hnrrab*  de  20  mil  hTmen6  apinhado»  á 
beira  do  rio  saudando  os  huroes  da  pátria,  et.tre  os  qnaei  um 
dfft  bfltalhôfts  pnulistAN  1 

Fni  }â  qup  í-e  desenrolou  um  hcto  de  patriotismo  sem 
precedente  nâ  biâtnria 

O  paulista  Jt-sus— o  negro —  vigtlaiite,  é  o  primeiro  a  dai 
o  Big^oal  da  AppraxuTiH^átt  do   inioiigo. 

Vendn  cahir  a  ^eu  lado  a  sentinfillaj  deix*i  a  corneta,  em- 
punha a  f^spinfrarda  do  morto.  «*  mm  heroicidade  defende  a  trin* 
chwira  até  qu*^  checam  rf*f'rirçoB.  Knrido  n*^  braço  direito,  cae-lbe 
o  fuzil,  cuja  baioní*ta  eflUva  tinta  de  sangue  inimigo.  Com  ft 
esquerda  letoma  a  trombt*ta,  Nova  bala  parte -Ib©  o  braço  que 
a  empunh-tva  então,  o  decepado,  df^  rjo  aobre  o  sangre u to  cb&o, 
mordendo  h  corneta,  toca  *o  avançar»  com  vrhemencia,  o  ao 
vêr  tremular  a  bandeira  victorLOsa,  aqnelle  syiobolo  ^anto  da 
partia,  ]iek  qual  morria,  encontrnu  forças  para  atirar  aos  ares 
antes  de  expirar,  o  toque  da  yictoria 

Foi  assim  que  morreu  — o  Trombeta  da  Morte —  (*)  o  pau- 
lista Je&us.  o  preto. 

Muitos  dos  que  bo  illuitraram  na  liba  de  Cabrita  eram 
descendentes  dos  d^bandadom  de  Firajuêsara^  heróes,  recusando 
derramar  o  saague  irmão,  como  heróes  ioram  seud  filh'  s,  defen- 
dendo a  boura  da  pátria  e  por  ella  morrendo. 

RestaKelecida  a  verdade  sobre  a  talsa  chronica,  continua- 
remos a  narraLiva  de  factos  que  conítrangem  nossos  ^eutimeutos. 

♦     *     * 

O  Norte  da  Província  soâreu  também  duros  golpe»  com  a 
revoluç&o. 

Naquelle  fempo,  o  Norte  destacava- se  de  outros  pontos  da 
Província  uíio  aó  pela  riqueaa,  como  ainda  por  um  p^aBoal  íllufl- 
trado.  pelít  sma  convivência  cora  a  Corte  do  Império, 

Os  bnmeiía  de  fortuna,  comraerciantes,  lavradoreSj  residentes 
de  Tauhaté  em  diante,  n&o  frequentavam  a  Capital  da  Província. 
Suas  irfinsavçQt^s  commerciaes  eram  todas  retilizadas  na  praça  do 
Rio,  e  pnr  esse  motivo  as  relaçõt-s  particulares  cimenta vam-re 
ali  coni  unis    fncitidade, 

U  espirito,  nfto  direi  hheral,  mas  partidário,  era  mais  de- 
senvolvido nsquella  ^ona,  maii  vivo  e  irrequÍPto  o  tnovimento 
do  qut^  íif>B  outrofl   f  oiito«   da  Provincia, 

Qimtiílo  o  eenador  Alottcar  organizou  no  Ceará  a  Sociedade 
Becreia  dod  Ffitriarcbas  Invisivei»,  que  teve  postcri^rmeote  soa 
aédw  central  na  Corte,  sob  a  dírí*cçko  do  mesmo  Alencar,  có- 
nego José  Bento,  Limpo  dn  Abreu  e  outros»  aquella  sociedade 
encontrou  fácil  meio  para  ae  desenvolver  n&o  só  na  provi nçia  do 
Rio,  como  tnmbem  nas  cidades  paulistas  limitrofes  daquelta  pro* 
Tiucia« 


I 


-  601  -- 

Como  eQríoftidade  histórica  tratiacreveiDoi  um  exemplar  dos 
«itatiitoi  daquella  sociedade  que  conspg-uiEnos  obter. 

Os  c  ire  a  los,  que  &e  organizaram  tunto  na  pro^ineia  do  Rio 
de  JaneirOí  como  no  norte  de  S.  Paulo^  impuiaioníiram  jjodero- 
ftftmente  o  movimento  revutuciouario  e  graças  á  riqueza  do  seu 
pess'^<al  fácil  lhes  foÍ  crear  adeptoa  e  elementos    de.   resisteneia. 

Eis  o  ciirioao  docam^nto. 

Estatutos  do  Conselho  da   Sociedade  dos 
Patriarchas  Invisíveis 

CAPITULO  1 

Ârt,  1/**  Â  Sociedade  doa  Patriarchas  Invisiveis  he  a  re- 
união dos  amigoB  da  Independéncii  Liberd.  GooBtituebvnal  feita 
na  foTina  deata^ 

Art  2.^  Os  fins  da  Socied.  eS^  sustentar  e  defender  a  In- 
dependência do  Brasil  e  a  Constituição  p4>r  ella  jurada,  pelos 
seguintes  m^tot. 

Art.  3»"  §  1."  DeíendeuQO  todas  aa  doutrinas  a  isso  con- 
docentes, 

§  2,*  Ajudando  ao  corpo  Legislativo  em  todos  ess«B  tra- 
balhos por  palavras  ©scriptaB. 

§  3.'  Censurando  pela  m*"'  maneira  os  actoa  inconstitu- 
cionaea,  e  arbitrários  do  Governo^  e  seus  Empregados  o p pondo* lhes 
resistência. 

§  4."  Promovendo  a  unifto  entre  todoa  os  Brasileiros»  expla- 
nando q.**^  for  potsivel  os  obstáculos  occorr.'**. 

CAPITULO  II 

Art,  4,'  Em  cada  huma  das  Provindas  do  Brasil  em  logar  q, 
melhor  convier  faz-sé-ha  congregar  bum  numero  de  Cidadãos 
Brasileiroi,  q.  nS-o  seja  menos  de  5  nem  mais  de  10  com  as 
tonalidades  marcadas  no  Capitulo  3.*^  o  todos  os  Membros  desta 
éocied/  p.*"  isso  q,  tem  de  ser  propagadoras  d  huma  afiliação 
nnmeroza,  tomarão  o  nome  de  Patriarchas  easeua  reunião  de  Con- 
selho Patriarchal. 

Art.  5  *  Cada  hum  destes  Conselbos  príicurarà  fundar  em 
todas  as  Cidades  e  Vi  lias  d  sua  respecíva  Provi  ncia,  onde  for 
nesseçario  e  postivel,  huma  ou  m.*  reuuiões  q.  sechamar&o  Cír- 
culos Patriãrcbaes. 

Art.  6.'  Cada  hum  destes  Circules  terá  designado  p'  buma 
letra  maiúscula  do  Alpbabeto  o  os  seos  membros  p"^  hum  n," 
acompanhado  d  buma  letra    maiúscula  q  indicará   oseu    Circulo. 


(1)  AbiJiq  deDomiiiAdo  por  Joi^  fiontfacla.  qín  am   Tersoi    Fabllmei,   íiDinartftlíioa  o 


J 


—  605  — 

Art.  7,"  Nenhum  membro  do  Con,"*  devsrã  ser  t^tonhteião 
como  tal  fora  do  Con.o  ou  Circulo,  q  fuadar  ou  q  for  encarre- 
gada de  dirigir, 

Art.  8.**  Oa  CÍFcnlm  sÕo  usfjlados  edeíconhecidoa  buns  doi 
outroâ  o  tem  cutro  neso  entro  &i,  t|  nÈo  seja  o  Con.*^*  Patriar- 
cbal,  q  ding-o  íitodoa  iuvUlvelm."  p,'^  meio  iudir,'"  d^aeos  Pa- 
iriarclin». 

Art.  9.*  O  Coií.^"  Pntnarcbal  do  IiÍo  do  Janeiro  terá  o  tt.* 
dç  Con,':*'  Patriaiebal  central,  i^orq.  dei  lo  partirá  adirecçlo  pria* 
cijial  p.*  os  outrosf  ep**  elló  couvirgiriio  oa  trabalhos  detodcs 
como  para  hum  centro  unteo, 

CAPITULO  iir 

Art.  10,  Das  qualid."  requeridas  p.*  entrar  no  Cod,*«>  e  do« 
direi  tofl  e  deveres  doa  Socíoa. 

A  cauza  do  firaEÍl  he  detodoa  *.  te  do  o  homem  \f'  tanto  será 
admÍBií?el  tendo  asseg.*'"  qualidadea— '  Moralid/;  lateligencia; 
Força  d'Altna,  Direc(,'âo ;  Siacero  afTiícto  as  iustítuíçõos  livres  do 
Brnãil,  ea  ^ua  Independência,  e  eapacid/  desacrificar  se  pJ*  Cauza 
publica. 

Art.  11.  Seoa  direitos  coiioernem  na  prote<;ão  q.  Ihei  pnddr 
prestar  a  Socíed."  morm/'  em  apertos  políticos,  elleiçõea  e  des- 
mandas. 

Alt.  12.  Seoa  deveres  bM  —  guardar  escnipulo^am/*  tus 
promeesá,  vellando  attentamente  na  conducta  do  Governo  ©  na 
de  seoa  empregados,  avizar  detudo  aosen  Concelho,  on  Circulo, 
prestar  a  Socied/  o  auxilio  ou  serviseo  q-  ella  exigir  e  q.  eativer 
a  Cfsseu  alcance»  cumprir  fem  hefiíar  o  q.  p/  ellft  lhe  for  orde- 
nado,   efioalra/*  conservar   o    Simbolo    namaior   guarda  e  sigilo. 

Art,  lo.  Se  acontesEcr  que  ftilleça,  ou  seja  ejçchiido  dal^m 
circulo  alguns  dos  nella  aiiliaaop,  isto  será  notabilid.'*  fará  haver 
oaseu  Símbolo,  entregando-o  a  Con.=^  Patriarchal  não  podendo 
porem  obte-  lo  sem  notahilid/^  não  íarâ  cazo  delle,  í^o  partici- 
pará ao  Concelho  o  numero  tal  falleceu, 

Alt.  14.  QaRndo  qualq."^  n;embro  do  Circulo  ouver  dfioaa* 
zentar  p."''  lon^o  tempo  do  seu  domicilio  abitunl  o  fará  saber  a 
o  respectivo  Circulo  declarando-lho  p.*  onde. 

Art-  15.  Logo  q,  so  achar  instai  lado  em  buã  Prov,"  o 
Ccn  ■="  Patriarchal,  otsie  encarregará  a  cada  hum  do  seos  mem-- 
bros  aformaçíVo  de  um  dos  Girculos  dcq.  trata  o  art  4.^  do  Gap/* 
2.^  e  delegará  poderea  p.*  o  m^'  fim  (q.*'  as  Cid.*'  o  Víllas 
remotas)  as  pusBoaa  de  lua  contLm^a  e  que  reuuão  aa  qualíd.** 
do  Cap/-^  3,*. 

Art,  IG.  Quando  o  Pafriarcha  fundador  tiver  encontrado 
augeitos  idonios  p.*  aíormaçâo  do  Circulo,  os  participará  sem  oa 
privinir  ao  Con,^  Patriarchal  danío  aeate  per  eacripto  o  nome 
naturalidade  e  domicilio. 


—  603  — 

AtL  17.  O  Con."^^  Píitriarchal  depois  de  informado  c&xoa- 
pulozaineute  das  qualidades  doa  propoâto?,  seoã  empregos,  03  fará 
saber  ao  Patriarcha  fundndor  q,  oi  pode  admittír  uo  cazo  en- 
contrario  respoBderá  simpJearaeiíte   quti  não  sIlo  admiciveis. 

Art.  18-  Depois  def*^riiiBdo  omedio  dljum  Circulo  cada 
lium  doa  nelle  asiociadoâ  UrÀ  o  direito  depromoçtr  novos 
adeptoi,  iníiii  a  flpprovnçáõ  q*  delkB  fiz+ir  o  Circulo  fic-a  depeu- 
deudo  da  confirmação  do  Coa.'^''  Patriurchal  acitjo  cooUecimento 
será  ^ proposta    levada  pelo  moio  indicado    noprecedente  artigo. 

Ai't»  19.     Quando  o    1'atriarcha   for   EoUcitar   aíg-iiin  adepÈo 

Íí.*  eotrar  na  Sociad.*  «zará  da  nomçDclatara  Patriarchal,  eióm/ 
hedirá  offitn  da  Socied/  q,  ella  é  a^saa  nomeroza,  em  todo  o 
Brasil  eorganízada  do  m/'  modo  p.*  assegurar  a?Bua  existência 
sem  compromitimonío  do»  seos    mombroa. 

Art,  20.  Obtido  o  ccncititím.**  do  adepto  o  Patriarcha 
fandador,  ou  director  opaiticipará  ao  Coq.'^'^  Patriarchal,  e  este 
lhe  enviará  o  iSimbolo  contendo  o  seu  ncme  o  o  dlstÍDctivõ  do 
Circulo  nq,   pprtence. 

Art.  21.  Recebido  o  Símbolo  o  proposto  será  recebido  no 
Circulo  depois  de  prestar  o  juram.*'  seg.'*  •juro  eprometto  D.* 
etodoi  os  Patriarchfta  luvíeiTeig,  Busteatar  edetender  dfbfiixo 
defete  novo  la^^o  Soctal  a  ludepeodencia  do  Bragil,  e  a  Consti- 
tuiçAo  q.  ellft  tem  jurado,  equer,  cumprindo  as  obriííai,'ò'S  q, 
p.*  esBe  fim  me  íào  imposias  o  q.  deade  já  livreiutute  atreito»? 
*E  outro  sim,  prometto  g^uardar  da  mesnia  BOrte,  com  invísivel 
eeírredo  tanto  aiisteticia  desta  Sociedade  couio  quanto  prop^* 
delia  mefor  commoiiicado  assim  D/  me  ajude*  V 

O  Prezidcnte  lhe  entregai á  o  Bimbolo  dÍKendo-lbpi. 

«Huma  m&o  oculta  e  Invisível  &o  iuteres^íirá  p/  vos  em- 
*  todos    03    vossos    trabalhos    inea^ecidiidesj    q.  foram   dignas  da 

<  atteução  da  Sociedade;  Sediíi  fíil,  fii  teroei;  p/  i^&o  que  he 
«  Invisivel  esta  mesma  mSo  q^  vos  q/  proteger  e  f;iZ'?r  bem: 
«  esta  Sociedade  cobre  todti  o  Brasil,  ©tendo   p/    IrniDos    atodos 

<  03  Cidadãos  honr&dos>^Depoia  diíito  commuuicará  o  PreÉideuto 
veíbalm.'  aa  inatmcçòes  q.  o   devem  guiar  em  sua  conducta* 

CAPITULO  V 

Art.  22.  Haverá  no  Con.t^o  Patriarcbal,  bum  Presiid.;  bum 
Vice-Prezid/',  ebum  Secretario  eleitca  amaioria  devotos  e  seu 
exercício  durará  bum  anno,  O  Fre&idente  será  o  relator  de  tudo 
oq.  houver  desetratar  eendo  todavia  livres  aos  outros  Parti- 
srcbaa  recordar  ou  indicar  cqua  lhes  parecer  justo, 

Art,  2B,  Nos  Circuloi  Patriarebais  o  Freaid.*  eerá  o  Pa- 
triarcha  fundador  ou  aquelle  que  o  Couíjfclbo  didgnar. 

Art»  24.  Aa  deliberações  terão  logar  a  maneira  de  votos 
simbólicos.  Simbólicos  comprcheudcudo  o  Prezidenle,  sem  q* 
ajão  actus  das   Be^uea,   maia    somente    apontamentoa    avulsos  q. 


-  604  — 

ane^íicid,*  dictar,  oa  qaais  aerào  tomados  pelo  Secrtr»"  «  constt- 
niidoK  logo  que  anes&icidade  cessar. 

Ârt-  25.  Havéfá  Seção  ordinarí»  huà  vez  cada  Semana 
ceudo  pifcízo  eposBivel  no  dia  elngar  marc&do  peLo  Presid.*  na 
Se^'ílo  ant<  nor  e  hav6  á  extraordiatiria  sempre  q.  três  membros 
o  requererem, 

Ãrt.  26.  Haverá  p/  as  dis pesas  liu&  coutribaiçào  fixa  q, 
cada  Ci>a.^  ou  Circulo  marcará,  secundo  as  circunstancias  de 
seofi  membros:  ioocazo  de  ur^eucia  ^xlraordinaria  recorrer-se-ha 
aliberalidade  dos  membros  do  Coucelho  ou  Circulo. 

Art,  27.  Os  Circulrs  fundados  p  '^  deliberaçJU)  do  Com,^  Pa^ 
trjarebal  nas  Cid.'"  e  Villas  distantes  dolog^ar  emq^  eUe  em 
assento  são  dispensados  dobservar  as  formalidades  exig-idas  nos 
art/  15,  l6,  17  e  19,  a  respeito  da  admisíào  dos  Sócios:  e  cada 
Circulo  ahi  constituído  tii^a  autorísado  a  subdivirlir-Be  e nomear 
novos  sncioft  iem  dependência  do  respectivo  Concelho  Pat-iar^ 
ehal ;  sendo  porem  as  demis&oes  approvadas  p/  voto  unanime: 
ip,*  isso  o  Con."*  Patrtarchal  lhes  inviará  os  SimboloSp  q,  julgar 
bastante  com  os  números  eletras  equando  lhe  for  pedicfos  es£e« 
Círculos  enviarão  ao  Con.<^  registros  das  fluas  afiliações  conforme 
o  disposto  no  art.°  6  do  reg-i^tro  geral  em  cada  Circulo^ 

Art.  2â.  Efu  cada  bum  dos  Concelhos  Pamarchais  averA 
hum  legistro  geral  dos  afiliados  de  to  dos  oi  Circuloa  de  sua  de- 
pendenciai  contando  os  s^os  nomeS|  pela  ordem  da  admtssâ>o  na 
Sociedade  pmpreg^os  e  domissilios, 

Ãrt  22,  O  A  Concelhos  í^atriarcbais  deverão  eompriender-^M 
tanto  com  o  central  como  entre  ai,  serviu  do  ise  de  aifras  ou 
letnis  simpaticaii  q.  a  Scciedada  adoptar* 


à  palavra  de  ordem,  como  no  Sal,  foi  a  mesma — impedir  por 
todos  os  meios,  que  tomassem  pof^se  de  seus  car^ros  as  noras 
autoridades  nomeadas  em  execnçAo  da  Lei  de  B  de  dezembro 
de  1841. 

Do  directório  revolucionário  de  Lorena  foi  chefe  o  Padie 
Manoel  Theotonio  de  Castro,  politico  violento  e  intransigente. 

Drsde  logo  fez  í*lle  coni-tar  em  toda»  as  localidades  que  se- 
riam mortos  09  que  se  apresentasspm  para  se  em  postar  dos  cargos. 

Para  a  Vi  lia  de  Silveiras  foi  nomeado  suh-delepado  o  ca- 
pitão Manoel  Joaquim  da  ^ilvf^ira,  chefe  da  famitia  importante, 
que  deu  aquelle  nome  á  localidade. 

NAq  86  aterrou  o  capitão  Silveira  com  a  ameaça  de  Manoel 
Theotíínio.  e,  reunindo  st-us  supplentes  e  grande  numero  dd 
amigos,  dirigiram-BP  a  Lorena,  e  se  empof^saram  dos  cargos. 

Nesse  tempo  nào  se  achava  ainda  Manoel  The<  tonio  pre*- 
parado  com  força  para  impedir  a  [.Kíssef  mas  sentiu -se  ferido  no 
seu  orgulho  pelo  arrojo  do  capitão  Silveira,  que  ficou  desde 
então  execrado  de  seus  adversários. 


—  605  - 

De  Lorena  foram  im  mediata  mente  dadas  proyideneias  para 
ver  depaKto  o  ^ub- delegado  de  Silveiras >  e  encarregado  dessa 
expedíçáo  o  tenente  Anacleto  Teixeira  Pinto,  fazendeiro  tam- 
beiD  em  Silveiras. 

O  capitào  Silveira,  depois  d«^  ter  tomado  posse  do  cargo, 
diiíÊolTeu  o  grU|^<o  que  o  acom]>anbára  a  Lorena.  Dias  depois 
áotonio  Bicudo  veiuavical-o  que  re  pievenisge,  porque  na  fa- 
eenda  de  Anacleto  ee  reuniam  forças  para  atacar  Silveira».  Im- 
mediâ  ta  mente  reuniu  os   ami^r&  e  já  t-e  acLava  eom  60  homeus,  | 

quanda    no    dia  2  de    junho^    ás  11  borfls    da  manbã,  Anacleto,  ^ 

acompanhado  de  seu*  filhoa  e  g-enro,  Cesário  Veutura  de  Abreu,  íi 

Sftdre  Manoel    Félix  de  01  ir  eira,  FrancÍBCo  Félix  da  Castm,  José  J 

[ária  da  Cunba,   Tbomaz    Barata,  Custodio  Joaé  Pereira  e  Ao-  1 

tonio,  vulgo  Hilarioi  Vf^iu  a  frente  d©  400  jietsaa»  atacar  a  vil!a. 

Com  o  numero  ri^du^ido  de  auxiliares  de  que  di$punhH,recolbeu- 
le  o  capitào  Manoel  da  Silveira  á  casa  de  sua  refidencia,  um 
pequeno   tobrado,  ê  ali  le    fortificou.     Atacado   defeudeu-ee  du-  ' 

nu  te  todo   o  dia. 

Na  manhã  se^inte  foÍ-lhe  procurar  o  padre  António  Jo«é 
da  Mota  Carvalho,  acompanhado  do  padre  Manoel  Félix  de  Oli- 
veira, e  propuseram -lhe  uma  accfjfttod  çâo  com  Ãoáf^tacio,  que 
garantia  a  vida    livre  a  todos,    desdp  que  sabissem  desarmados. 

O  capitào  Manoel  da  Silveira  achava -se  com  aa  munições 
esgotadas,  sem  e&perauças  de  soccorro,  e.  nào  querendo  expor  a 
vida  de  seus  amidos,  aceitou  a  accomodação. 

Pouco  dopoja  de  meio  dia,  abnu-s^  a  porta  do  aobradinho 
«m  que  sé  achava  entrincheirado  o  capitào  t^ilveira,  e  eeu^  ho- 
mens começaram  a  sabir  desarmados,  como  havia  sido  con- 
vencionado, 

Foielleoultimo,  a  sahir.  Ao  chpgflr  a  porta,  toi  Silveira  alve- 
jado por  Ante n  10  Bueno  da  Cunha  qur  desfecbou-lhe  um  tiro-  em 
seguida,  o  mesmii  fizeram^  Manoel  Alves  Senne  e  Vicente  Mo- 
reira da  Costa,  sendo  que  o  tiro  p>r  este  desfechâd**,  e.van(fníhou- 
lhe    a    cabeça—  como  depuzeram  muitn^  testemunhas  pre^encií^ea. 

£m  seguida  o  morto  foi  atirado  para  o  meíu  da  rua.  Um 
dos  atacantes  abriu  lhe  o  ventre,  e  depoia  de  arra^tado^  tiraram* 
lhe  a  japona^  mandarum  atirar  o  corj  o  e^pt^daçadu  ao  campo  da 
Fazenda,    tendo    sido    enterrado  por  seu  filho  Francisco  Guedes,  ' 

que   verificou— que  raro    era  o  otso  que  nâo  (^stava  partidr». 

£>te  acto  bárbaro  e  demais  factos  referidoB  neaia  memoria 
foram  extrahídos  dos  depoimentos  de  Vicente  Ferreira  Finto  Pa- 
checo, Manoel  Got<çalve»  Gama,  José  Baptista  Nog^ueira,  Fran* 
cisco  Barbosa  Ortiz,  Tbomaz  de  Aquino  Leme,  Agostinho  Corrêa 
Leme,  Manoel  Gomes,  Faustinu  Xbvier  de  Moraes,  Augugtu  M> 
Bueno  de  Castro,  Bento  José  da  Silva  BarKoza,  Manoel  José 
Marques,  João  Galvão  Franco,  João  Justiniano  de  Bittencourt, 
testemunhas  no  inquérito  a  que  tt;  piocedeu  ferante  o  dr.  Ignacio 
Manoel  Alvares    de    Azevedo,    chefe  de  Policia  da  Proviticia  do 


—  coe  — 

Rio  de  Janeiro,  cuja  jiin-sdicçáo  o  governo  ejE tendeu  ás  loca- 
Hdndes  jaulJitas  limílrofes  díi  província  do  liiOi  que  tíimbem 
cstevo  piosles  a  fer   conflagrada. 

Em  a! gamas  localidadoà  do  Norte,  ós  ânimos  exaltara m-^e 
ejEtTnordinariamíitUe,  netiliuma  consideração  detinha  o  odií*»  nem 
mtrsmo  0^  maíâ  cerrados  laços  de  familra. 

Em  Lorenti,  o  i^aditj  Manoel  Theotonio  do  Castro  ordenava 
qao  tronxeaflem  vim  ou  moriú  seu  cuubado  coronel  José  Vi- 
cGole  dft  Âzovcdo,  o  quíilf  prevenido  a  tempo,  conieguiu,  ao 
escuivcer,  abandonar  a  residência,  momentos  ante»  de  ser  cer- 
cadaj  segniudo  conjuntamente  com  o  dr.  Ãn tonto  FauGtino  Cezar, 
também  como  elle  condemnadr*,  para  Guamtrntruetá,  recolhendo» 
io  á  cm  a  do  coronel  BIcllo,  prestigioso  cidadão^  que  soube  por 
sua  decisAo  o  energia  impedir  que  a  revolução  ea  manifestasse 
naquela  importante  locatidado. 

O  A  guardas  do  padre  Manoel  TUeotmio  cheiraram  a  ca-a 
do  corcuel  José  Vicente  já  noite,  e  a  cercaram  certos  de  que 
elld  ali  se  achava.  Antes,  poirni,  do  amanhecer,  compareceu  o 
capitão  mór  Manoel  Pereira  do  Castro,  f>ae  do  padre  Manoel 
Theotonio  c  da  esposa  do  coronel  Jtsd  Vicente,  e  Cjudussiu-a 
parr,  tua  fazenda. 

Oa  levoUosos  conservaram- se  por  muitos  diaa  em  Bilveirag, 
e  só  retirariím-se  depoiâ  do  dia  28  de  junho. 

Pretendiam  os  rebeldes  bater  em  Arcas  o  batalhão  d<5  Fu- 
sileiroSf  mna  entre  Silveiras  e  Ari-as,  no  lugar  conhecido  por  S. 
Domingo?,  nas  immedifíçôes  da  fazenda  do  coronel  Joào  Ferreira 
foram  hatidoB,  sendo  aprisionados  muitos  dos  seus  chefes. 

Em  24  de  julho  o  majoi*  Pedro  Paulo  atacou  a  fazenda  de 
Joilo  Moreira  da  Silva,  onda  ^e  achavam  reunidas  as  forças  se* 
dicioãr^s,  commandadas  pelo  tenente  coronel  Joào  Moreira,  padre 
Francisco,  padre  Manoel  Theotoaio,  que  conseguiu  fugir,  levando 
ainda  um  amigo  na  g^sirupa. 

Alguns  chefes  upriaionados — André  Corsino  e  o  padre  Ger- 
mano Folis  do  Oliveira  — no  depoimento  prestado,  nllo  sú  cnn- 
feBBaram  a  parte  que  tomaram  nos  actnteclmeatos,  como  ainda 
deiiuncisiram  actoa  praticado»  por  cutroã  ebefei,  e  o  lugar  onde 
se  achavam  homiâiadqa,  declarando  que  as&im  procediaoi,  arre- 
pendidos do  pasâo  que  haviauí  dado. 


Os  actcs  bárbaros  de  Silveiras,  as  violências  soffridaa  até 
por  otficiees  da  Guarda  Npcional  quo  nnmrradoít^  eram  condu- 
zidos para  aa  iorçag  revolucionar  las  alimentaram  ódios  tão  intensos 
entre  algumas  povoações  e  iamilias  que  ató  a  bem  pouco  ainda 
perduravam. 

Pela  denuncia  apresentada  centra  oa  cbefes  do  movimento, 
03  que  arompanliaram  esta  narrativa  ticarfto  coabecondo  ai  prin 
cípaea  pessoas  que  nelle  se  envolveram. 


a 


—  607  — 

  excitação  âos  íitúmos  era  tão  iiiteDçn,  que  avâasalou  ao 
procrio  major  coniinandntite  da  força,  detentunfttido  de  sua  paite 
violenta  represfílo. 

Eíse  official  achavfl-&e  irritado  por  terem  m  roveltoaos  len- 
ttido  a^saasinal-o  por  duas  veses. 

  primeira  tentativa  foi  rç&olvida  em  reunião  real^iada  na 
fazenda  de  J.  Breves,  tecda  apenas  votado  conUa  af|uelle  acto 
Jo&o  Ferreira. 

Pedro  Paulo  foi  siilvo  por  uma  círcurnstaocia  foituita— a 
presença  de  doii  oíEcíaes  iio  momeuto  em  que  o  a&sassino  bq 
prej^arava  a  aBeahal-o. 

A  segunda  foi  quando,  fiínia  a  pedido  do  J.  Brev6F,  o  padre 
Francisco  Ribeiro  se  comprometteu  a  íazel-o  a^pasBioav  em  Arcas, 
modi^inte  dez  contos  dti  rtns. 

Todos  ot  fados  referidos  foram  estrahidos  escropuloíáraBiite 
do3  iuquerit»^»  qua  five  em  mho. 

A  revoluçfti  no  Norte  di3j)cz  de  poierosos  cleuioutoi.  As 
asseeis ções  secretas,  a  niporuancia  do  peisf^al  que  uella  sp  en- 
voÍTeu,  os  recu^OB  pecuniários  d-í  tjUií  dispunha,  tornarnui-Da 
immenBamente  perigosa. 

J.  BrfivAB  6  António  José  Nojeira  (do  Bananal)  fnrmaraai 
elles  doÍ3  uma  caixa  d6  80  contos,  pnra  alliciarem  oâ  oâiciaea  e 
soldadra  ão  batalhão  de  fuzileiros.  Não  fgrâm  fettzes,  mas  con- 
seguiram a  deâerçâo  do  1  cabo  e  14  praça^i. 

Ali  comi  no  Sul  da  Provincia^íeuteoarea  dá  f;uarda^  na- 
cionaes  e  pirticiilarea,  violontainentc  arrAucados  a  seus  labores, 
foram  engrosf&r  &s  fileiras  revolucionarias  itob  a  ameaça  doj  em 
em  caso  de  recusa — lhes  ser  sacrnâa  a  cabeça, 

Oj  segui nt€£  autorafgg  demonstram  parte  do  que  acabamos 
dô  aíHrmar. 

Ill'*''  Sr-  Inspector  Jcse  Vaz  doa  He  ia, 

Matto  Dentro, 
Logo  Logo  e  Logo. 

Ordeno-lbe  que  Ioíto  quo  rrceber  e^te  passe  a  nctificar  toda^ 
aa  pessoas  de  seo  í-L^uant^irào  que  pospfto  pegar  em  armas  e  se 
apresente  boje  mpumicom  elles,  nesta  vilU  no  Pateo  d»  Cadea, 
fazendo  prender  toda  a  qualquer  pessoa  quo  íe  queira  opor  a 
esta  minba  ordem  quer  sejt  por  aniiassas  ou  palavras  devendo 
todos  que  tiverem  Armas  trazpllas  isto  com  tnda  brevidade  pois 
as«im  o  exige  a  salvação  da  Liberdade. 

Dooi  Guarde  a  VmS^     Lorena  1  de  Junbo  de  1842. 

O  Pv  Manoel  Tbeotonio  de  Castro. 

Juiz  ée  Paz. 


-  608  - 

Ainda  nease  mesmo  dia  dirigia  a  Joaquim  Manoel  de  Oli- 
Teira»  do  Fáu  Crrande,  a  seguinte: 

«Ordeno  a  Vm*  que  logo  que  eate  receber  notifique  a  tcdai 

as  pessoas  ão  aeo  Quarteirão  que  poísào  pegar  em  armas  que 
tiverem  se  apresente  nesta  vilK  a  minha  ordem,  tudo  6©m  perda 
de  t^mpo,  6  debaixo  de  sua  reipon habilidade. 

O  Padre  Manoel  Tbeotonio  de  Oa»tro 

Juí«  de  Jb«, 

Ainda  eDContramofl  entre  noisoe  aatografoi  o  s«guinto; 

Áo  Sr.  Inspector  António  Ferras  da  Silva. 

Além  de  algnne  guardas  q.  Vm.^^»  tenlia  mandado  p,*  & 
TÍlla  conforme  o  meo  officio  escolberÀ  mais  10  dts  melhorei  q* 
tiver  no  seu  Qaarteir&o,  e  os  fará  seguir  armados  de  espingardai, 
6  na  feita  deitas»  zagaias,  chuços,  tudo  serve,  pois  te  mn  pede 
gente  com  m.*'  insmncia  instanciai  cujos  guardas  devem  ir  en- 
carregados a  um  cabo,  e  pste  os  apresentará  ao  R.™*  Sr.  Manoel 
Theotonio  de  Castro»  de  maneira  que  esta  gente  se  hade  apre- 
sentar amanhan  o  m.^  tardar  the  meio  dia  o  q.  Y.  S.^  cumpra. 

Embau  1  de  Jnnho  de  18S2. 

Ji&o  Joaq."  Flamlng. 

Juz  ãe  Paz 

Pela  denuncia,  que  transcrevemos  em  seguida,  sprâo  ct^nhe- 
cidoB  OS  que  do  Norte  ae  envolvei  a  m  na  revolta. 

111."''  Sn.'  DelFgado 

Diz  o  acCuat  Pnmotor  da    Com.<^  António    Faustino    Ce^ar 

Sue,  perante  V.  S/,  em  conformid.*  com  o  disposto  no  artigo  93 
a  Lei  de  3  de  Dezembro  de  1^41^  e  no  artigo  2AZ  do  Regula- 
mento de  ^1  do  Jaor."  de  1842,  v^m  denunciar  os  Autores»  a 
cúmplices  na  Rebellíâo  estourada  nVeta  Prov.*  e  em  parte  con- 
sumada na  VilUi  e  termo  de  Lor.*  Porquanto,  havendo  a  Camarm 
Munieip»!  da  Villa  supra  dita  negado  a  piise  dos  Empregados 
creados,  Eeg.^*'  a  nova  organizaç&n  Judiciaria  determinada  pela  men- 
cionada Lei  de  3  de  Dezembro  de  1B41,  com  grande  diffi cuidada 
forào  elías  empossadas  de  setu  Empregos  pt^lo  />r.  Juiz  de  Di- 
reito da  Com  »  a  em  o/m  tudo  puderem  exercitar  suas  attribuiçõea 
livrem  ',  p/  cauza  das  grundes  ameaças  de  eerem  mortos  todos 
OB  dignos  Cidadòes»  que  p/  estes  Empregos  lembrados  forfto:  « 
pontos  tais  chegou,  que  os  Empregados  da  ViUa  anexa  dos  SiU 


Tein»  tierdo  a  Lorema  iomuvr  potwe  atompank^táot  t^f  rr  mtã  a 
quartmia  peuoa$  armadas,  p.'  com  elhifdefenJcrf^  ^^  <í,:  r*  •'■hsí 
rtsisiencia  qii«*  \ht%  p^epsiarmo  noi  SilTeinií  o«  Re^iúej^:  Vjia<«l 
Febx  de  OlÍTein.  leii  Pmy  Fimo.»  FeUi  de  OIÍTeirâ  e  Ju.»  ie 
Pax  Anacleto  Ferr.'  Pinto,  o  Snpplente  Fr*n.»  Fel.x  àe  Caí-jo^ 
Manoel  AItc*  Sene,  Joté  Maria  da  Cunha.  Manoel  Alves  Car» 
dozo,  Manoel  Joaé  Ferr.',  Clementino  Jo»e  Ferr.*.  Ci.*t<>áio  Jote 
Per.*.  António  Joae  da  Silveim,  qn*»  p  •  «»s*<»  fim  tinhAo  -^.jw  ti> 
irinia  pesmjQM  arwtadas.  e  por  taes  factos  já  i«roc>  -sad.ts  torào 
peiante  o  Sni^nlente  do  Sobdelezriido  deq-iella  ViIIa,  FI>T%tt'ad« 
por^m  a  Rebt^lLào  da  Prov  '  em  SomcaKa  peli>  iotruzo  Pre^i^^nre 
Rafael  Tobia»  d*A^ar.  entrara  em  estreitas  Ci>minuuicAC^vis  o 
Rebelde  Manoel  Theotonw  de  Castro,  que  exerc<>u  <  $  Cxrcx»  àe 
Juiz  de  Pm  e  Presidente  da  Cama  a  Municif^il  de  Loren.^  com 
08  Rebelde*  Anacleto  Ferr.*  Pinto  e  Manoel  Frlix  ae  i^i.tura. 
aquelle  em  Lorena  mandou  p/  todo  de&tricto  de  Lot^..«  c>M)vt^ar 
o  povo  a  sua  ordem  para  se  apresentar  em  Lon^na,  as>iin  como 
o  do  Curato  do  Embaú  pôr  ordem  de  Ant  »uio  Pinto  H  «rb  aa,  e 
no  dia  29  de  Maio  reuniu  na  E  trada  da  Cachoeira  )>ertv>  d*»  U^ 
pessoas  as  quaes  ficaráo  avisadas  thé  segunda  ordt^m  sendo  o 
destribuidor  d^ellas  Angelo  Bento  Pereira  e  Autoniit  de  Mello 
conhecido  por  António  da  venda. 

Anacleto  Ferr/  Pinto,  e  Manoel  Félix  de  Oliveira  |^r«m 
reunirfto  pessoas  pelo  bairro  da  Bccainade  Cunha  («p)s  a  LOOO 
diários,  e  apromptou  perto  de  quat:o  centos  homens » m  >ua  caaa. 
No  dia  primeiro  de  Junho  próximo  f>a8>ado  peias  cinco  horas 
maié  ou  menos  da  tnrdn  na  Villa  de  Lor.*  a  ordem  de  Manoel 
Theot  nio  de  Castro  queima- se  hum  foguete  do  ar  em  »inai  de 
reuniiko  dos  rebeldes  já  avisados,  e  pelas  seis  a  st- te  horas  da 
noite  rennio-se  em  sua  caza  hum  grupo  de  mais  de  q&arenta 
pessoa»;  as  quaes  capitaneadas  p/  António  de  Mello,  vulgo,  An- 
tónio da  Venda,  e  p/  Vicente  Jozé  de  Lima  dirigio-st^  a  caaa 
do  Ten.*  Ignacio  Mont4'iro  de  Noronha,  e,  arrombadas  as  i>firedes, 
sacarão  todo  o  armamento  reiuno  da  Guarda  Nacional,  e  com 
ellas  voltarão  a  caxa  de  Manoel  Theotonio  de  Castro,  donde 
seguirão  capitaneados  por  e.>te  e  pS  Ângelo  BenOi  Pigreira  ao  largo 
da  Cadea  e  fhi  com  muitos  repiques  de  sino  e  foguetes  do  ar 
romperão  es  Vivas  ao  Presidente  intruzo,  Rafael  Tobias  d'Aguiar 
protestarão  a  não  adopção  das  Leis  das  Reformas,  injuriarão  e 
procurarão  os  novos  Empregados,  p  *  os  assassinarem:  nestas  cir- 
cunstancias conservou  se  o  rompimento  the  amanhecer  o  dia  2 
cercadas  todas  as  entradas  da  Villa.  Neste  dia  ao  |>as80  que  a 
Camará  Municipal  de  Lor.*  composta  dos  Vereadores  intrusos, 
Manoel  Theotonio  de  Castro,  Jozè  Luiz  Tiburcio,  Jozé  SimÒes 
da  Cunha,  Joaauim  Guedes  de  Castilho  (p.*  §e  acham  suspensos 
p/  responsabilidade)  e  António  Luiz  Domingues  Bastos  procedem 
a  nomeação  das  intruzas  Authoridades,  Juiz  d'Orphão9  e  Muni- 
cipal, cahindo  taes  nomeações    nas    pessoas    do    Cap."'""  Maeoel 


—  610  — 

Pcreirn  de  Castro  e  Foítunato  Jozó  doKeg;o  que  tomsrflfi  pos?©, 
e  prestarão  juramento  dt>  taes  Emprrgos;  Auacleto  Ferreira  Pinto 
MíiiKel  FeliK  de  OUví^ra,  Fraii.^**  Felix  do  Costro,  Jozo  Maria 
da  Cunhai  Cap*'  Maníiel  Alves  Seno,  Custodio  Joee,  Per.*  Anlo- 
nio  Joso  da  Silveira,  Jlanoel  Âlvea  Cardoso^  Vi:eutG  Jforeira  da 
Costa,  03  filhos  de  Auflcli^to  Fet.*  Pinto,  Cap.'"  Jozo  Ventura, 
6euâ  íilhoâ  e  escravos  inarcharãti  p.*  a  Vil  la  dos  Silveiras,  com 
quatro  centoa  inisuigentpf,  e  batf?rao  a  força  Ít?^al  do  Suppleote 
do  Subdelegado,  Cap/"  Manoel  Jozií  da  Bilveirnt  que  p/  falta 
de  munição  de  guerra  foi  morto  barbarnmeute  as  niãoe  doâ  dítos 
inaurg-enteij  pJ^ue  deiioia  de  morto  p/  liuma  dia  arfi^a  de  tiro?, 
qae  lhe  derfto  retalharão  o  seu  cadivor  com  facas,  disparando -lhe 
hum  tiro  de  pistola  Vicente  Mortiira  da  Costa,  ficando  desta  arte 
os  rebéldei  de  posse  daquella  Villa  onde  Be  contervão  lhe  o 
presente  com  grandtí  forí^a  ao  mando  do  m."''*  Cap."*  Anacliilo 
Ferr."  Pioto  (assim  intitulado)  6  doa  mais  iuifirgeuTes  eupra  men- 
cionados. No  dia  trez  reunida  a  Supra  dita  Camará  intruja  na 
Villa  de  Lor."  a  frente  de  perto  de  trezotitas  peísoas  q.  fizeiSo 
relinir  huns  a  força  e  ou  troa  voluntários  dt  mi  ti  rio  todos  a> 
agentes  do  correio;  deniboraiílo  offieiara  todos  oa  Juiaea  de  Fa^ 
do  terreno  que  entrasECm  em  todas  na  funcçôes  do  Código  do 
Processo  reformado,  para  cujo  fim  procederSo  a  nomeaçilo  de  hutna 
Junta  Provizoria,  cuja^  pessoas  nomeadas  íorílo  o  Cap,"*"'  Manoel 
Pereira  do  Castro,  Bacharel  Cláudio  Teixeira  Guimaràea  e  Âna-» 
cleto  Ferr.*  Pinto;  tomarão  poF»e  os  dons  primeiros  e  prestarào 
juram.'*.  Continuando  os  insurgeutes  nas  prisões  de  todas  as  pes- 
soas do  partido  legal  e  Imperial,  qu-3  ali  aparíciào,  o  dos  que 
passavÃo  na  estrada  e  m**"*  em  grandes  pesquizas  das  novas 
Awthoridades,  organisarSo  a  sua  furça  rebelde  ni  Comp**'  mili- 
tares, Btíiido  nomeado  pricieiro  Comman'Jauto  Vicente  Jozé  de 
Liuií,  Sef^<ííí  António  Mariano  e  hum  Gerisano  de  tftl  p**  Cap."* 
do  hna  Comp.'  João  Il^íiriques  d^Aze^-edo  foi  nomeado,  fissim 
como  foi  p.'  Ten.^  Jo7.é  Luiz  Tiburcia  e  p.*  Aliares  bum  filh^ 
de  Fortunato  Jozé  do  Kego:  cuja  força  foi  enÉtcntada  p.**  Cap/"'' 
Manoel  Pereira  de  Castro,  seu  f."*  Jlaucel  Theotonio  d*  Castro  o 
Joaquim  Moreira  Lima  com  António  Dias  Telles  de  Castro  que 
remettem  m.'-^  cargueiros  de  mantim.'*.  Neste  estado  de  cousaa 
fie  conservarílo  os  tnes  rebeldes  lhe  o  dia  quiuz3  do  ra.*°*  mes5 
em  que  na  Camará  Mnuicipal  tntrusía  lerão  hum  offieio  do  Pre^ 
sidente  intruzo  Rafael  Tobias  d'Aguiar,  era  que  ordenou  esto 
illegalm.^  a  m.*"'  Camará  p/  que  suspcndesíe  a  execnçAo  da» 
Leis  da  liefonna  do  Código  do  Processo  Crimiuah  o  q*  fy>í  ob* 
eervado  fazendo  n  Camará  intruza  publicar  p/  editae».  No  dia 
vinte  e  trea  p,*  vinte  c  quatro  fizerào  um  club  entre  os  Verea- 
dores da  Camará  intruza,  comos  Commandaules  intruzos  de  força 
rebelde:  onde  entrou  Joaquim  Miguel  Simões,  Jozé  Rom5.o  Leito 
Prestes  Secret,*^  da  intitulada  Junta  Províssoria,  e  delliberarão 
marchar  e  dar  ataque  a  Tropa  de  Linha,  qne  etíste  estaeiojada 


—  611  — 

em  Arèas,  o  qu«  na  verdade  realízarAo  marchando  ti  do3  p.*  a- 
qnellft  pQiitrt  e  bf*m  flssim  hum  intitulado  Alfeíca  Jozíí  Luiz  da 
Coí^ta  Barcelos,  iícuiiidos  todos  rio  coza  da  João  Mondim  c'a  S.' 
moia  l^goa  p/ci  de  Aréis  a^i  fiseiAo  fogo  a  huui  gu-iida  avan- 
çada da  mencioTiflda  tropa  ondo  |trec(?rAo  Lom  Alferes  e  maia 
pra^^s,  s6gn<]do  as  natkirta  q,  Afaiecem, 

Estes  facto  1  aíio  eriniiuoaof,  e  constituem  cãmes  d 'a!  ta  im- 
l^ortancií,  e  p/  ellei  tha  responsíiveia  nHo  ló  íb  lieoa  6Upra 
menciona- Jo8 ;  maia  os  K^ng,  IV-dío  d'AIm,*'**  Palma,  António 
Gomes  Pereira,  Jí^nacití  Pinto  Barbosta,  Aatonio  Manoel  dti  S,* 
Gurgel,  Manoel  Pedro  de  Olivera  MnrSflgao,  Joio  JoEé  de  Ma- 
cedo, vn!go  João  Maniina  p/  illudirem  a  prando  parte  do  povo 
qne  reunirão  a  ordem  doj  Jjkea  do  Paz  iutrnscB,  o  m."^'  por 
pBffatem  em  annr;B  na  revelação* 

A  vista  do  que  disfoem  o  Reí^ulamento  de  31  de  Jirneiro  de 
1812  na*  Disposições  Criminnes,  Capítulo  7."  reqiie*iro  a  V,  B,*  so 
dígiie  proceder  na  formaçilo  da  culpa  dos  Reo?,  iadependente  da 
notificaçflo  p.*  verem  jurar  teàtemualias  por  ser  ini possível 
©bservar-se  prementemente  eise  aitigodo  Lei;  sendo  porem  cita- 
t&g  fis  te?iteinuubaí  constantes  do  rol  janto,  e  provado  quan:o 
baste  sejâtí  os  mesmos  pronunciados. 

PoTtiinio,  P,  a  V.  b.'  £6  diírne  deferir  o  requerido,  juntando 
ao  processo  os  documetitoa  incluios.  E.  E.  J. 

Afíimo  o  èspendido  na  presente  deanccia  de  baixo  do  jara- 
niento  da  meu  cargo. 

António  FausUíio  César ^ 

Promotor  da  Comarca. 

Sejtti  citadas  aa  testemunhai  que  neste  termo  eiistirem  para 
deporem  no  dia  d^  amaiíliam,  It  do  corrente,  a=i  9  bores  do  dia 
e  quanto  aa  dos  termts  de  Lorena  contra  tejíio  citado»  por  carta, 
precatória  para  o  dia  14  do  corrente:  a  todas  sob  as  perjaa  da  lei 
Guarotsnguetá  9  de  Jnlbo  de  184*2* 


Qatndo  encetíimOB  esta  memoria,  tivemos  occasií-o  de  aflSr- 
t&Ãr  que  o  pretexto,  invccado  pcíos  revelucionariiis  para  ju-liílcar 
o  BTovimento^  não  era  sincero,  nem  a  opinião  publica  reclamava 
«que! la  medida  radical. 

Por  documentos  indiscutiveia  demonstrámos  quo  ob  cliefes  da 
G.**  N.a\  ca  comraandantes  de  PtJiciaj  e  oa  Jaizes  de  Paz,  eatei 
pTÍn?ipalm.*»,  abulando  da  autorilade  que  Ibes  dava  o  cargo, 
impidíram  que  em  algumas  localidades  se  eiecutassa  a  lei  de  S  de 
dezembro  de  1841,  porque  es-a  lei  vinba  despil-os  da  for*;»  e  irepo- 
tencifli  de  que  tanto  bavi&o  abulado. 


—  612  — 

Não  fot  pelo  mbuso  do  poder  que  llies  davam  aquelles  car^s^ 
que  OH  chefes  p  liticoB  conseguiram  sequoBtrar  centenarea  de  in- 
dividuo», para  lançal-oa  naa  fileiraa  revoluciona  nau  ? 

Sinceros,  foram  Feijó  e  outros  chefe^i  explicando  a^  cauati* 
da  Tèvolurçõo, 

O  major  J.  X  de  Ãrau;*^  Cintra^  quando  r^crufâDâ  os  infelízei 
gxmrdas,  e  oi  levava  amarrados  para  a  fazenda  do  cap."  mor 
Luca?..  .  «não  guardava  tBAervaà  e  francami^nte  declarava  ás 
victimai  de  aua  prepotência  qiie  a  ft^rça  reunida  era  para 
tomarem  oa  postos  que  hauiam  perdido  os  dê  sua  família  e  de- 
poie  seguirem  para  São  Paulo». 

Nâo  menos  sincero  era  Feijó — Leiam-se  os  4  números  do 
O  Paulisiat  o  jornal  official  do  governo  de  Sorocaba,  e  veremos 
que  as  causai  da  revolução  foram  determinadas  pelos  seguintes 
motivos^ 

€  Oq  Paulistas  tendo  a  frente  do  Governo  da  Provinda  um 
patrício  seu  o  Excellentisâimo  Sr.  Tobias,  ameaçados  de  perde-lo 
com  a  mudaça  do  Ministério  Ãndrada  pelo  ergam  das  camarás 
municipaes  e  eleitores  pediram  a  S.  M/  a  sua  constírvaçào  :  o 
governo  recusou^se  i  e  sem  que  este  empregado  desse  o  menor 
motivo  foi  Bubátituido.» 

c  A.  Província  juntamente  ressentida  . .  notou  com  mmgua 
o  dea preso  do  Governo  na  partilha  das  graças^  por  occatiào  da 
Coroação  em  que  até  VA^coKOfiLLOã  foi  contemplado  com  a 
Di^nataria  do  Cruzeiro,  e  onde  só  foram  comtemplctdos  alguns 
inimigos  de  Tobias.» 

<0  seu  agente  o  Bar&o  de  Mout'Ãlegi'e  persuadiu-se  que 
impuoemeate  podia  pisar  nos  F&nlhtsisdemeUindu-os  de  Officiaes 
da  Oiiarda  Nacional  e  substituí  d  do -os  por  pessoas  iudignaâ  até 
de  serem  por  elles  commandados.» 

c  O  ET.  Barão,  temendo  o  resultado,  capitulou  com  alguna 
in duendes  ;  mas  perdoe- nos  que  foi  perfíio^  tendo  promettido  não 
demtttír  officiaes  da  Guarda  Nacional  sem  causa  justa,  começou 
logo  a  mudalos  stm  causa  jiíSía  nomeando  nossos  inimigoã.^ 

ft  De  Campinas,  somos  testemunhas  que  sem  causa  dissolveu 
um  esquadrão  de  cavallana  de  Campinas,  deixando,  porém,  a  2,* 
companhia  ouie  o»  offici.es  eram  do  mau  partido:  ficando  demo- 
lido o  Estado-Maior  6tc>  nomeou  um  outro  sem  capacidade  para 
comaxandante  de  infantaria  e  logo  o  fez  cht^fe  de  Legião.  Em 
vista  deste  proceder,  qu^m  mais  poderá  conâar  na  probidade  e 
ainda  menos  nas  promessas  do  preiidente  Baiano*, 

Fm  vista  das  explicitas  declarações  de  Feijó,  se  o  governo 
se  resolvesse  a  úonsertjar  R.  Tobias  na  presidência  de  S,  Panlo, 
80  não  tivesse  agraciado  Vasco  ncellos  por  occasiàn  da  Coroação, 
m  wmtemplwtse  alguns  amigos  de  Tobias  uaqiiellafi  graç€is~9& 
Monte  Alegre  nãa  tiveasé  demittido  officiaes  da  Quarda  Nacio^ 
nal,  nem  dissolvido  o  esquadrão  de  cavallana  de  Campinas,  dei* 


„  613  — 

xftndo  ap«iiAs  a  2*  companhia,  onda  ob  officiííês  eram  do  mau 
parUão,  nAo  teria  se  conflagrado  a  Província,  e  todoí  confiariam 
na  probidade  e  naa  promeasaa  do  Presidfiníe  Bahiano, 

Se  Ff<ijó,  na  f  lha  official,  ae  referia  ás  leU  da  reforma  e  á 
«oacçâo  em  que  ee  achava  o  Imperador,  o  fazia  inciientemeute, 
para  diaer: 

c  Aa  folha»  publicas  e  cartas  de  peni^oas  fidedignas  asaeg:u- 
f&m  que  quando  o  Ministério  emprehende  a  gum  desatino  e  teme 
que  3.  M  recuse  a  asaigna-lo,  procuram  aterrar  sua  imaginação, 
com  a  perspectiva  da  males  borriveie,  tte  tal  medida  nãr>  tiver 
lugar:  para  isso  affectam  muito  coubeci mento  do  estado  do  Bra- 
atlr  all^gem  a  experiência  do»  negócios,  ameaçam  retira r-se  do 
Ministério  e  que  S,  M.  não  encontrará  quem  o  queira  eervir 
mais.  Ora  3.  M.  cuja  alma  inocente  ainda  nào  acostumada  a 
ouvir  estas  impo&turaa,  depois  de  derramar  lagrimas,  ai  signa  os 
disparates  do  Ministério.* 

Aquellas  lagrimas  nfto  consepfuíram  levantar  o  espirito  pu- 
blico, 1%  poucos  dias  após.  eram  outros  na  aentimetUoa  doa  revo- 
loaionaríort  d^^  3,  Paulo,  qnando  tivt^ram  conhecimento  de  que  o 
innocente  chorão  declarara  ao  Marquês  do  Paranaguá,  *que  a 
Míniijt»'rio  merecia  âua  confiança,  e  conjuntamente  com  ella 
cahiria*. 

Os  homens  práticos,  que  não  se  achavam  envolvidoa  na  luta, 
comprehenderam  desde  logo — quaea  os  motivos  reaes  da  revolução. 

Pretendiam  oa  antigos  Maioristas  aubir  em  1842,  como  o 
baviem  conseguido  am  1840. 

Alguns  idealistas,  porâm,  em  1814  quando  subiu  ao  poder 
o  gabinete  de  2  de  maio,  esperaram  que  a  lei  de  â  de  de- 
sembro  seria  im mediatamente  revogada. 

Debalde   es|.tetaram. 

Em  1846|  Paula  Sousa,  descrente  de  aeus  correi igionarin a, 
Tinha  pedir  a  creaçâo  de  um  terceini  partido  moderado.  O  Mi- 
nistro de  Justiça  subia  á  tribuna  para  censurar  acrementa  ao 
grande  tribuno  Odorico  Mendes,  PauU  Barbr  zã  e  outros,  que 
tiveram  o  arrojo  de  apresentar  projecto  revogando  a  lei  de  3  de 
dezembro  de  1841. 

Era  Limpo  de  Abreu  um  dos  que  requereram  que  o  pro- 
jecro  fosse  remettido  ás  commissões,  declarando  que  elle  n&o 
o  apresentara  para— tííVj  crear  ajnfii*-to»^  o  que  fez  Marinho  ex- 
clamar: <A  Gamara,  humilhada,  desistiu  de  setii  assomos  dâ  in- 
d^ependencia». 

À  situação  liberal  já  ao  achava  esfacelada  e  aquelles  que 
«ram  sinceroa  invocavam  o  patriotismo  de  Paula  Sousa  para  qua 
Tiease,  com  o  pTeatigio  que  o  rodeava,  organimr  gabinete. 

Foi  âó  depois  de  muita<^  instancias  que  elle  se  n^otvea  & 
aceitar  a  incumbência,  impondo,  porém,  á  Camará  tib^^ral,  como 
«ondiçfto^as  reformas  da  lei  de  ^  de  dezembro  de  1841,  a  da 
Ouarda  Nacional,  e  a  das  incompatibilidades. 


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—  615  — 

pNft  aessâo  de  9  de  jtitiha  de  1S65,  dizia  Martinho   Camtíoa : 

«Por  terem  tepuílíado  oa  principio.^,  ma  vejo  na  posição   de 

»r  parecer  servo  da  gleba*. 

Secnadava-o  Tavarea  Ba -toa — «Ea  nio  posso  esquecer  por 
lor  de  nomeSi  noã.^os  compromissos  adiadoEi», 

Em  S  do  abril  da  18â6,  Barros  Pimentel  exclamava, 
«FsçaicoB  al^uioa  coaea :  olbemoa  para  a  vida  vegc^t^itiva, 
iíi*t'ú  e  miserável  do  partido  Hberal  cm  44  e  ai^not  seguintes i. 
(Apaitea), 

«Deixera-mg  falnr;  por  amor  das  iciúaa  fez  ae  naia  revo- 
Inção,  pegou-ítí  em  arnias,  foi-^e  deriOtado, 

■Umrt  amiiiâtia  e  um  ri  êloi<;flo  troxeram-TioB  a  eàta  cflsa.  En- 
tão impuzeram-iica  silçndo,  eri^çiu-se  a  inércia  em  sy^tcma,  o 
cendemnfU  se-jios  à  immcbilidadeí, 

Na3  vésperas  de  de£ap[*flrecor  a  fitu^çao  liberal,  Cesário  Al* 
vim    levantava  teu  protesto  noa  Fejjuintes  termos  ; 

«A  lei  de  B  de  dezembro  fez-nog  jog^ar  a  bala  do  rt^belde 
un  campo  íratiiciíla,  o  não  temos  nas  paginas  da  nossa  legís- 
laçào  o  fantasma  des&a  lei,  que  parece  dizer  aos  sncrificados  de 
Santa  Luítia  que  o  seu  saíiiiuo  dinTi^mísdo  iiiuiil mente  já  fccou 
Bobre  a  Urcn  e  que  ^ous  cadáveres    rediiziríim-se  a  pó  V 

E  pela  2,*  vfz  depois  de  1^12,  deixa  o  partido  liberal  o 
poder,  &em  nada  fazer  quanto  a  lei  de  13  do  dezembro    de  18 4 L 

Na  BiluaçSo  conservadora  que  sep-ne-se,  organízaram-se  os 
gabineleB  de  IG  de  julho  de  lSi!Bj  2U  de  setembro  de  1^70  e 
7  de  mar<;o  de  1871,  que  eâcreveu  gloriosas  paginas  para  nossa 
historia— Libei ta(,ão  dr>  ventre  escravo— a  Refonim  Judicifliia— 
CreaçÃo  de  Hela(;õea-  AmiiliaçAo  do  líabeas-Corpu?, 

Foi  ÈO  então  que  fifi  reformou  a  lei  do  3  de  dezembro  de 
18-tl,  para  reUabelecer  o  equilíbrio  entre  a  ordem  e  a  libeidade. 


Quando  no  decorrer  dos  nnncs  o  historiador  Ee  occujar  doa 
acontecimentoa  qn©  ao  dcEenrolaram  na  Província  de  S.  Paulo, 
em  1842,  ha  de,  na  sua  imparcialídíide,  íiffiruiar  que  a  revolução 
foi  deteimínaHa,  nâo  ftOa  eco  quis  ta  de  liberdade,  mas  pelo 
despeito,  or^julho  e  ambiçrm  de  joder  de  filg-uns  chefes  polilicoí 
decahidoi^ 

Nio  completaremoa  a  longa  eiposiçÈo  dos  acontecímentoa, 
iem  referir  qual  o  procedimento  do  governo  e  dos  teus  auxi- 
liares  para  com  os  vencidos,  depois  de  realizada  a  pftcificaçíio. 

Oí  cabeças^  qae  Be  sentiam  com  maior  somnia  de  resptnfa- 
bilidades,  foragirara-Be  o  assim  se  conservaram,  até  que  veiu  a 
amnistia.  Em  S.  Paulo  furam  poucos  os  que  delia  ae  a[)ro- 
vei  taram, 

A  maior  parte  dos  compromettidos  foram  ee  occuliar  em 
■nrApriedadea  de  chefes  cociervadores     Em  Jundiahi,  muitos  fc- 


—  616  — 

T&m  recebidos  pfloa  membroa  da  benemérita  familta  Queirós 
Tellee — em  TtapecerícA,  o  capitão  Mftnoe)  Ji  lé  de  Morada  aco- 
lhia eiD  seu  filtio  todoB  quantos  se  aprese  atavam  recomtnê&dadot 

pelo  padre  Vicente  Pims  da  Mota. 

Por  combinação  havida,  e  com  arquieacencía  do  governo, 
ficou  resolvido  qae  em  todas  as  loe&lidadei»  conflagrud/tA  te  da* 
ria  nfoa  aó  pronuncia,  e  que  essa  rec«ihirla  na  pessoft  designada 
pelos  ami^Oí*  ou  pela  tamilia^  salvo  quantos  aos  principaeí 
cbefí^fl. 

Recnlbidoa  á  prisão,  muitos  foram  deíeodidos  por  Clemente 
Falcão  de  Sousa,  um  dos  poderosos  auxiliares  do  governo  leg^al, 
e  qufl  fora  o  aísesfior  em  atinas  inquéritos. 

Nos  conselhos  de  jurados,  os  couaervadorei  figuravam  sem- 
pre em  maioria,  e,  entretaoto,  todas  as  absolvições  foram  unÁ* 
nimfs. 

He  at<^UDa  julgaroentos  conseguimos  precisar  algun»  factoa 
que  demoQ^tram  a  prudeneia  e  a  tolerância  com  que  procede- 
ram 08  le^rnlista?. 

No  dia  12  de  abril  de  1843,  d»*u-se  nesta  Capital  q 
julgamento  de  Hegmaldo  António  de  Moraes  Sallés,  uni  do^i  maia 
acúvos  revolucionarias,  membro  de  família  importnote.  e  talves 
o  nnico  que  dispunha  de  inHuencia  pessoal  o  que  lhe  tornou 
desDPc>*ssíirto  usar  doM  meios  empregados  p-^los  Juizes  de  Paz  e 
commandantps  de  Policia — iufl^iencia  que  el  e  poz  em  contri- 
buição em  Campina B,   Limeira  e  Rto  rlaro» 

D«  coupf^lho  de  jurados  que  o  julg-ou— *foi  presidentfl  o  dr. 
Falcão  de  Sousa — secretario  o  dr.  Hy  poli  to  José  Soares  de 
Sou~a,  e  entre  os  membros  do  concelho  se  achava  Jo^é  Manoel 
da  Silva,  o  futuro  B^rào  do  Tietê,  já  então  iucuntestado  chefe 
do  pHrtido  conservador,  Á  absolvição  unáaíme  de  Regioaldo 
demonstra  a  toEt^ianda  que  domiunva  entre  os  amigos  do  governo 
e  chpfes    políticos. 

Unânimes  furam  as  absi  Ivições  de  Joaquim  José  de  Lact^rda, 
Joi^é  Kodri^ues  Leite  e  àa  codoi  que  se  apresentaram,  e  que 
não  quiseram  esperar  a  amuiatia. 


*     ♦ 


In  feliz  meu  te,  alguns  revolucionários,  dominados,  não  peloi 
principies  de  liberdade,  mas  por  ódio  pessoal  ou  ambição  politica, 
coniervarum-se  impenitentes. 

Não  procedeu  por  esf^a  fúrm  t  o  notável  tribuno  Ottoni,  chefo, 
talvez  o  mais  pr6âti^i<iS0,  da  Revolução  Mineira,  uome  cercado 
de  po  pula  ri  da  dei  combateu  te  em  muitos  encontroa  e  prisioneiro 
em  Sant^    Luscia. 

Derrotado,  não  doiíou  avassalar  sua  consciência  por  oái<»  o 
despeitos. 


4 


—  617  — 

Em  IBGOj  ao  escrevera  «Hircular  aos  Mineiros*,  referindo -ae 

aoB  factos  que  se  de  ae  ti  rolaram  nas  ai  an  tila  d  as  serras  de  sua 
província  Datais  em  1842,  fâcrevU  o  teg'Uint6  tópico,  cbave  de 
OTiro,  com  qae  encerro  e&ta  narrativa. 

cCreio  âincerametit^  que  mais  teda  g'ftQha  o  Systema  Consti- 
tucioDãl  se,  apegar  de  rebellndo  O  governo  contra  a  CoQstitniçãOf 
16,  apet^ar  da  pronitil^i;fto  das  leis  inconstitu^^ionaes  de  1841| 
apesar  da  dissolução  prévia  da  Gamara  dos  Deputados,  apesat 
de  tudo,  a  c^pposição  roinf^ira,  em  vess  do  recurso  dafi  armas ,  de 
preferencia,  empregasse  contra  o  governo  os  meioa  pacíficos  que 
Ainda  lhe  restavam^. 


Reproduzitido  om  facto    histórico    da    nossa    vida    politicai 
procuramos  guardar  na  ^ua  e^posiçfto  escrupulosa  imparcialidade, 
La  Fontaine»  disse- nos  : 

Tont  narratenr 
Y  raet  dn  sien  selon  les  occurrencôs. 

Para  escapar  de&s«  conceito,  não  emittimoa  opinião^  nem 
descrê  vemos  factos,  sem  aiuparal-os  na  tradição,  noa  documen- 
tos officiaes,  nos  annaes  do  parlamento,  e  em  grande  numero  de 
anto^rãphofl  inéditos,  escripto»  no  momento  em  que  se  desen- 
rolaram os  acontecimentos,  e  firmados  por  personagens  que  u  cl  les 
le  eo volveram. 

Si  procuramos  fielmente  narrar  o  notável  ncontecimeuto, 
lomos  entretanto  os  primeiros  a  reconhecer  que  devido  á  iu- 
capacidade  do  escriptor,  a  modesta,  narrativa  não  satisfará  a 
euriosidade  dos  competentes. 

(^ue  esta  confiisào  desperte  a  benevolência  do  critico. 


«FOFITE    MAÇADA 


(^JDhcurSo  profendo  no  Instiíuto 
Bistovieoj  a  25  dã  Outubt^o  ãe  1905^ 


A  a  palavras  quo  servem  de  ep^g-raplie  a  este  peqiienn  tra- 
balho liUtoricOt  *l'uHé  tnaçadaf*^  foram  pronuDciadas  por  D.João  I, 
o  Mesti-e  dtí  Aviz,  fm  AJjiibarrotíi. 

Ao  dlrigír-me  de  novo  a  esta  illustre  assetobléiat  ifiaia  uma 
vez  ma  milito  tomado  íie  viva  emoção  por  ter  de  vir  contestar 
afíirmaçôes  precij^i^^^adaineiue  feitas,  escriptas  e  publicadas  por 
um  doa  nossos  maia  illastréâ  consocics,  o  dr.  Atjtonio  de  Toledo 
Piza,  ao  julg-ar  es  ligaras  H©  ha  muito  de&apparecidas  detitrt5  os 
y]Vi%  ti%  vuítia  históricos  do  Coronel  Dauiel  Pedro  Muller  e  do 
Major  Fiancisco   de   Paula  Macedo,  ^ — amboa    inem  a=ceiideutêfi* 

Nilo  èt  porém,  o  fac^o  eg-oistico  des&a  aficeiídeucia  que  me 
trax  exclusivamente  á  tribaua,  facto  de  ser  o  ptimciro  meu  tio- 
avô  e  ú  Begundo  meu  avô-patenio,  como  primtis  e  cunhadca  que 
foram  entre  &i.  Um  sentimento  mais  elevado  aqui  me  traz  com 
maior  impuUo  do  qus  o  que  podeiia  determinar  o  sim]dee  sen- 
timento dn  parentesco.  Jnitiça,  eenhoreã;  antes  de  tudo  é  A 
justiça  quú  me  impelle  a  esta  defesa. 

O  IftboiioBO  auctor  dae  tBernardag»,  o  nosso  honrado  consócio 
sr  Toledo  Piza  ha  longos  a  unos  que  esposou  a  tareia  du  demo- 
lidor, o,  entrpgue  a  tâo  iiiçratii  f]«?BÍgnÍ0j  tem  feito  passar  por 
baixo  do  suas  forcas  caudiuas  veneráveis  nomes  de  nos^a  Lis- 
toria  paulieta  —  nomes  a  que  todos  nós  estávamos  habituados  a 
tributar  m^iie  ou  menos  culto.  E'  as  im  que  lhe  nào  escaparam 
à  deprimente!  analyâe  figuras  históricas  corao  os  Aracatys,  os  Monte 
Alegre?,  es  Alvina,  os  Oliveiras  Nettos,  ra  Souzas  Qaeiroaes,  c» 
Taquea,  os  Pintos  iiomenst  os  genera*-»  Leme,  Miilier,  Qaartim 
e  maia  outr.  s,  muitos  outros,  È,  eufrontando  cora  a  «bernarda» 
de  Frcmchco  IgnaciOf  a  sua  penua  apaixflnadi  e  solta  tentou 
cortar  fundo  na  importância  que  de  si  deixaram  o  coronel  D,  P, 
MiUler  e  o  Major  F.  de  Fau^a  Macedo,  figuras  eotào  obrigadai 
daqu^lte  movimento. 


I 


-  619  ™ 

R^leáe,  senhores,  attenta  e  ímp^Trciaírafnte  es  Bens  escriptojí, 
6  irereis  qtte,  pí^lo  menos  neste  poístp,  ffto  inacceitsveia,  por  fra- 
gilÍ95Ímos,  os  niítivos  fjiio  o  leTívram  a  tão  duio  e  htjusto  jul- 
gamento. Coiro  Eervir  d©  b«se  á  similhante  juizo  uma  thvmsa 
qne,  Mm  de  ter  sido  projiojitalnafnte  detenDÍnaia  paia  o  fim 
que  tíJihcm  em  vistam  não  foi  encontrada  completa  noa  nossoB 
arcUivOft  e  que  em  sua  partei  roítante  s©  achava  mais  quo  re- 
picíiJa  pelas  traças,  emendada  em  Tnrio?  ponto»,  e  muito  aUe^ 
rada  noutros V  Como  sLTvir  de  baso  e^to  documento  assim  falLio, 
incompleto  ©  interpclrdo,  essa  devassa  que  dSo  clipgou  a  seu 
termo  V 

Penso  que  oa  juízos  definitivís  da  Hiatoría  exigem  dccu- 
mentaçíio  completa,  perfeita,  inconíestaveL 

Mn*,  a!ím  dcÉsa  base,  vereis  (^i  Ibo  relerdes  os  extensos  e 
pjieJenteB  trabalboa)  qno  outro  t^lemento  te  inÉiíiufu  no  animo 
jacobino  do  illustre  historiographo  —  pois  elle  inJi-i;retamente 
Bê  refere  ao  facto  de  terem  sido  txíranytirúíí  e^sea  boinímâ  !  ^%r 
tmii^irir^^— por  til  gnezen  /—quando  o  Brazil  ainda  era  a  projeci^a© 
coknial  do  vellio  Reino  Lusitano  \ 

Maa  deixemos  de  parto  e^ass  incoliprencias,  o  v<*jamofi  cm 
breves  palavras  si  os  dou§  mílitíires  alvejrtios  pela  penna  ico- 
noclasta do  no^so  illustie,  labori'  so  e  lionrado  consócio,  estilo  ou 
uào  acima  da  i;iande  injustiça  com  que  íoram  jiilgadcB. 

TenninenKB^  porOni,  este  intróito  cem  as  palavras  de  Prtulo 
do  Valle  relativa»  ao  nipsmo  motim  prpubr  &í^  Maio  c  Junho 
de  1822  : 

— «Nada  ttouvE  (diz  elte)    que    dksho^íbasse  o  kome  PAtT- 

LliTA  :    !ÍE«    USIA    INJURIA, 


A  «bernarda))  de  Francisco  Ignacio 

A    DEPOSIÇÃO    E   aUAS    CAUSAS 

Nidla   fiães    re  ni    socih^   omnisque 
pot&ttas.  Imfatlem  consortis  erii, 
—  Jamais    haveá  sincero   oc cardo  na 
partilha    do    poder,  —  Â    aucífjrtdadô 
não  quer  companheiro* 
L  uc  ANO. — Pkar  sal  ia 

Em  23  de  Junho  d©  1821  o  povo  de  S*  Paulo,  em  conie- 
qnencia  do  estado  rtivolucionario  de  toda  a  Amerícftj  e  meaico 
em  repercQ^i&o  ar>  que  se  paa  avfi  em  Portugal,  reuniu- se  e  a5- 
clamou  um  poveroo  de  14  ciíiadâofi,  conduEftndo  porém  o  Cm- 
pí*ãn  General  *  enhâuzem  a  fazer  parte  delle. 

Era  bem  de  v^r-ae  cjue,  no  Governo,  utd  p^BBoal  tâo  nu* 
meroflo  e  heterogpnoo  havia  de  deaharnionixar-ae  l^go*  tanto 
maia  que  faaiam  parte  delle  ambicíosoB  e  políticos  irrequietos. 
Âfifectiivam  aer  devotados  aos  Paulistas,  dando  porém  semprõ 
montras  da  contra  rio,  pois  os  mandavam  enforcar  e  ee  diriam 
ami^QB  da  liberdade,  consentindo  a  pega  de  iudioa  livres,  para 
lerem  escravizados,  vendidos,  e  dados  de  premente  aos  aeui»  amigos; 
eram  democratas,  mas,  acastelladri  no  poder,  fizeram  log^o  queatàn 
do  tratamento  de  «  pucellencia  »  para  bL 

Extremadas,  poi?*,  ob  rivalidades  o  a  membros  deste  governo 
scind^ram-sn  em  dous  grupos,  guerreando-Be  surdamente,  atá 
quH,  chamados  ao  Rio  Oenhduzem  e  Co^ta  Carvalho,  pelos  ma- 
uefos  de  adversarif  s,  ob  amigos  daquelleB,  aproveitando^se  do 
enforcamento  do  CbairuinhaB  e  das  tristes  scenas  que  então  ee 
deram,  reuniram-Be  a  2B  de  Maio  do  anuo  se^ainte,  como  povo 
e  militaras,  e  depuíieram  a  Marti  m  Fraucisco  do  poder,  o  briga  u- 
do-o  a  seguir  pi^ra  o  Ri<^  por  lhe  attrihairem  as  perseguições 
que  se  desencadearam  contra   muitos  df^Iles. 

à  causa  real.  portanto,  em  o  ciúme  do  poder,  como  reaa  & 
epigraphe  do  poeta  latino  i  — Assim,  pois,  nilo  é  licito  procurar 
em  geitot-as  devassas  as  causas  da  anarchia  :  il  ne  fauí  pm  cher- 
eher  midi  â  quatorze  haures. 

Nesse  levante  haviam  de  f^  rçosamente  fígurar  todos  os  ho- 
mens que  se  inter^EBavam  pf*la&  cousas  publicas;  e,  na  pag.  64 
dos  Apontamentos  Geographicos  de  Azevedo  Marque»,  vemoi,  cora 
legitimo  orgulhOf  entre  outros,    declinados  os  nomes  do    coronel 


I 


—  621  — 

DameL  Pedro  Miiller  e  Maji  r  Francisco  de  PauU  Macedo  como 
o  á^  homens — de  preítig^io  — que  sobreiafaíram  nesse  succesao, 
coroada  án  melhor  t^iito,  por  í^er  certo  que  como  varões  Íl lustres 
b6  podiam  tomar  parte  em  acções  nobres  e  g:loriosoSi  e  cujas 
eaueas  aliá^  explicaram  pm  documentos  e  requerimentos  diri- 
f*ido3  ao  Princip©  Regente, 

EsBes  di>is  yarões  íllufitrea  eram,  unidos  entre  si,  a  alma  do 
goveraoí  eram  parentep  próximos  um  do  outro,  primos  &  cunha- 
dos; Macedo,  meu  avô  directo,  paterno;    MúUer,  meu  tio- avô. 

Co u vem  que  vos  digu  quem  eram  esses  dois  amigos  tão  mal 
julgados  pelo  illustre  sr.  Pisa. 


Marechal  Dr,  Daniel  Pedro  Muller 

Quem  era  Daniel  Pedro  Muller  para  m*?r6cer  figurar  neise 
livro  de  ouro  dos  paulistas  (1)  como  bnmem  illustre,  sendo  hoje 
tão  meuoaeabado    pelos    apaixonados    ©scriptores  de    Bernardas  ? 

Serei  breve» 

— O  pae  do  dr.  Daniel  Pedro  Muller  uasct^ra  na  Allemanhai 
mat  fora  servir  a  Portug^al;  era  um  sábio  distincto,  e  vendo  que 
leu  filbo  era  dotado  de  rara  iotelligencía,  destinou-o  desde  a 
infância  á  vida  militar  scieniifica,  e  por  isfo  o  fez  assentar  praça 
de  cadete  de  artilharia  e  seguir  o  curso  das  mathematicas  no 
Eeal  Collegio  doá  Nobres  t  ^m  Lisboa,  Teu  do  eoncluido  seus  es- 
tudos já  no  posto  de  Capitão,  qiie  seus  merecimentos  Ibe  haviam 
grangeado,  aeiíuiu  para  o  Brszil  e  veiu  servir  em  S.  P^ulo,  onde 
foi  logo  escolhido  para  desempecihar  o  logar  de  Ajuílante  de 
Ordenai,  Sendo  promovido  a  Major,  e  incumbido  de  «erviços  de 
engenharia,  effectnou  muitas  cons trucides  notáveis,  entre  outras 
a  agulha  tu  pyramide  do  Fiques  e  as  duas  bellas  pontes  do  Cai-mo 
e  Piques,  que  se  conpei  vam  at^  hoje  intactas  e  perfeita*;  galar- 
doado com  o  po&to  de  Tenente-Coroatl,  foi  incumbido  de  faxer 
o  magnifíco  aterrado,  de  mais  de  duas  léguas  de  cxter^sào,  sobre 
o  alagadiço  maugue  que  vai  de  Santos  ao  Cuba tào,  obra  porten- 
tosa e,  naquelltfs  tempos,  julgada  qua»>i  impossivel,  mas  neces- 
sária, por  ser  Santos  o  nosso  empório  commercial  e  principal 
escoadouro. 

Esta  gigaDt«sca  obra  até  hoje  não  foi  retocada.  Bem  sabeis 
que,  antes  de  haver  a  estrada  de  Ferro  Inglesa,  era  {lor  ai  li 
que  entravam  todos  os  i^eneros  de  importação  para  surtir  3. 
Paulo,  Mmas  Qeraes,  Gojaz  e  Matto  Grosso;  era  também  como 
que  a  uníca  válvula  por  onde  s«  escoavam  nossos  pro duetos  para 
o  exterior. 


11}    Àponíamtttíot  Miíoric»   r  gêoffra^kícòtt  ú£  k,   ^axqjLm 


—  022  — 

Aiâim,  poie,  bêoevolcs  cousocins,  laio  fcnim  lenimento  bas- 
tatito  iiJijtçrtacteB  us  fervíçoa  preatados  &o  Bnizil,  á  Proviíícia  e 
h  ciilado  do  S.  Paulo,  polo  sábio  ir.  MuUer'r* 

Eutão  já  nilio  perduram  na  tuaã  chvas  monumenlaês  e  ui 
escrítítnfí  que  nos  lesmou  V 

Cí*nio  cbamal-o  eitmngeiro,  quíindo  ello  servia  tfto  !ealm?iit© 
a  tua  Patrí^t  a  Fatria  de  tc-u^  úUiub  V 

Sejá  invejff,  ingraiidítOj  tu,.,  que  seráV 

Pí>r  sua  reconhecida  eoLD|iottMicin,  por  fuas  luxei,  por  seus 
eerviçbs,  por  seu  presti^nn  e,  £oV*retudo,  pela  excessiva  bondade 
de  É1ÍU  cAracteiv  fui  cscolbido  pura  fazer  parte  do  ^roverDo  pro- 
visório do  S,  Paulo,  onde  60  pateutecu  elevada?  qualidades,  sei>do 
o  ms:ii,  6fibreí".rirrega4o  da  trabalUns,  mas  mtsreceodo  temprô  elfi^ioa 
do  ^^0  verão  (^yide  Actas  do  Gomrno  Pfoiiòorio).  Salvou  a  captai 
da  ^^3^^rí■bia  em  todo  o  tempo  de  s^u  gíoveriio;  livrou  a  do  ter 
atacada  a  catibno,  apeí-ai'  do  íer  cidade  aberta  (C  ide  do  aberta  é 
a  qu^j  úl\o  é  defeadida  por  muralha:^  e  fortilica^õts  permauentei 
í",  iieãto  case,  é  atá  crime  atacar  uma  população  inerme  a  tiro 
de  canbâo). 

De  mT\{i9  dadas  cem  o  seu  smigo,  cuobado  e  principal  auxi- 
liar M&jor  Froncisco  de  Paula  Maoedo,  livrou  a  cidade  do  8, 
Paulo  de  ter  levada  a  ferro  e  fogo  e  de  ser  E^qu«ada  com  o 
comentiincuto  de  dois  ministros  paulistas  que  Ee  achavam  iio  HÍo. 

Por  pss€s  serviços,  o  {^ovenso  d©  Pedro  I,  livre  da  tutela 
official  e  cQieioEa  daquelles  que  D,  Jt^ao  VI  chamava  aventurei- 
roB,  promoveu  a  Coronel  o  dr,  M  III  ler.  Em  18  i5  fêl-o  seg-air 
para  o  8ul  ccmo  Aj.  G.^^  da  Praça  de  Montívidéu,  no  posto  ã& 
Brigadeiro,  passando  a  comraandal-a  logo  depois* 

Feifit  a  paz,  veiu  para  o  Bra;£Íl,  e  foi  nomeado  Comman- 
daute  da  Fortaleza  de  SíiUta  Cruz,  pedindo  pouco  depois  lua 
reforma,  coia  mais  de  34  aanca  de  bons  Rer viços  presta doi  ao 
Brazil,  especialmeute  a  S.Paulo,  ouie  se  casvju,  ^  união  do  que 
teve  numerosa  e  illu&tre  desceu deuda,  entre  os  quaes  se  conta* 
vam  o  (1)  Jlareclial  BefturepaiJtj  Hohan,  dr.  Miillor  de  Campotj 
o  Conf-ellieiío  Francisco  Manoel  das  ChngAs,  Baiâo  de  Itaypú, 
Gene-nil  lluiiorario  e  Director  da  Secrclaria  da  Guerra;  dr.  Mulli*r, 
Coronel  de  Eu ge abeires,  e  muitos  outros. 

Ape^a^  de  enlre£'ue  a  tfio  importanles  trabalhos,  cultivou 
sempre;  as  iciencias,  as  lettras  e  as  artes.  Nã.o  se  applicava  a  um 
Êt>  ramo  do  conhecimentos  humanoí'^  deu-se  a  todos,  e  em  todos 
foi  dii:tinetc;  o  a  prova  está  ncs  a  admirável  Encyclopedía  ou 
collecçSo  dfl  catecismos  que  empreheodeu  o  concluiu,  e  muitos 
dos  quae:»  virsm  a  luz  naquelles  tt'mpoB.  NelíeSf  o  Marechal 
Miillerj  em  cujo  posio  se  reformara,  dava  noções  geraea  sobro 
tudo  que  pode  ser  cbjecto  de  e&tudoi  e  cBsas  noçoe»  crum  tâo 
preciosas  e  exactas,  que  bem  deixaram  ver  o  quanto  foi  profundo 


(I)    Umi  aihft  do  Utrefi^ti]  M&Uét  «uron-ie  con  o  Uireebal  B*  BoluiB. 


—  623  — 

em  todfis  aa  iratería^-  As  iDplhorta  estatUticas  e  mappaa  de  SSo 
Paulo  dftvem-so  a  ell**.  Era  iuii^^ne  pintor,  dô  modo  que  ko  isto 
o  ttjriiara  di^iitvcto,  quando  por  tantts  tiluTos  o  imo  fosíí?,  sendo 
sobre tuJo  grande  na  parte  que  diz  lesf  oito  á  perspectiva. 

Em  meio  do  peua  numerosos  affii^eres  oiniía  ecbava  temfo 
para  leccionar  differentca  niaterine,  e  entro  écus  beneméritos 
discípulos  contava-ie  o  {xrandp  Pnulifetít,  o  iíhiÊÈríido  Conselheiro 
dr.  Mfliu»p1  Jonquim  do  Arníiral  Gurgel ! 

Tiías  baseta  1  E  é  a  um  li(  nicin  deites  que  aqui  ge  ?ein  esti- 
gmatizar, T]dicnlflri:íar ! 

E'  bem  %*erdade  que  o  pa]ie!  accf^ita  tudo.H.  E  a  di^cjjdína 
partidária  mítnda  applaudireertoá  coiiçeitos,  Laudans,  .scdviOíren.t,,, 

Fci  bom  pae,  amigo  cooãtaijte  e  leal  tanto  na  advci:sidade 
como  na  jirnsperidade. 

Quando  o  Marecbal  Jliiller  moneii,  o  Inui/íuto  fíaícrko  e 
Geographico  Briízíhiro  preteriu  aa  gí^p^uiutea  palavras  que,  vos 
peço,  repitais  comTOigo,  para  du^^tig-gravo  de  sua  honrada  me- 
mo ri  a  : 

^  «  O  Braz^l  perdeu  um  bom  cidadão,  e  o  Lijfiilulo  Histo^ 
rico  um  sablo»  ! 


O    M4J0R,    DEPOIS    J!III(7ADEÍR0,     FílANClSCO    DE    PaULA 

^ÍACKDO 

Ninguém  ígDora  as  lactas  Becularca  que  os  Portuguezes  sus- 
tentaram coíilra  03  [iBipaubóa  sempre  vcncidoB.  Em  uma  daâ 
maia  cplebres  batalbaB,  nta  Campoa  de  Aljubíirrota,  a  14  de  Agosto 
de  1385,  o  ]>equeno  fxereito  portufriiéii,  aperos  de  9.000  bomens, 
comniandad&B  pur  d.  Nuno  Alvaroi  Pereira  e  jelo  próprio  Rei, 
d,  Jf;io  I,  o  iie&tro  de  Aviz,  cm  pes?da,  bateu-ae  contra  o  po- 
deroso rei  d,  Jofío  0  i^eu  exeicilo  heepanbol,  forte  de  trinta  mil 
homens,  os  quaes  íoram  completamente-  derrotados.  Digo  cele- 
bre batalha,  porque  fui  ahí  que  pela  primeira  vez  appareeeram 
peças  de  ar  ti  ibéria  manejadas  pelos  ÍIcBpauhóea,  ob  quaes  níkj 
«entiram  tantj  perder  a  batalha,  «íiiuão  o  terem  sido  vencidos 
por  tio  pequeno  numero  de  Poritiguezeâi. 

E  é  celebre,  no  dizer  dos  escríptores  luKitaucs,  porque  ca- 
quella  gigante  pugna  ee  íacharauí  jsrcíenles  todos  os  homens 
de  valor*,  entro  outrcB  Mem  liodriguoí,  Kui  Mendes,  Arcebispo 
de  Braga  d.  Lourenço,  Gonçaío  Mendes  o  muitos  notáveis  que 
nesee  dia  memorável  conquistaram  a  independência  de  &ua  Pátria, 
gloria    para  elb,  e  aferroaram  no  ihrono  o  ecu    rei  d,    Joft:)    1, 

Eísa  batalha  e  tuas  peripécias  têm  para  os  Macedos  um  en- 
canto, uma  alta,  indizível  e  tradicional  significação,  motivada 
pelo  seguinte  episodio  : 


-    624  - 

— No    maiB    ardeu  te  e  renhido  da  peleja    viu-íe  o  T&1oro»Q 

Mestre  de  Áviz,  d.  Jtào  I.,  cercado  por  um  grupo  df?  g-uerreiro» 
hespAtthóes  que,  o  acoEsa\?am  át^  todos  os  Jadue.  Uns,  cam  «itiAl 
compridas  lariçfis,  ameaçavam  lhe.  os  fia  ticos.  Ou  troa,  com  Beng 
arcof,  de  Ionize  adiavam  velosíes  setta^  gobre  a  cotta  d«  malhai 
que  Ibe  ^uatoecla  o  peito.  Qaum,  desferia  talhos  sobre  o  elmo 
com  cortante  <»8pada,  e  quem,  afinal,  procurava  subjugRr  o  core*»! 
para  aprisionar  d  JoJlo  Bateudu-te  contra  muito»,  e  já  fatí- 
gudo  em  extremo,  eUrri,  vendo- ae  em  grande  cuita  e  i^eiígo, 
invocou  a  protecção  infíefectivel  da  Santi^eima  Virgem,  e  fez  unj 
voto  no  momenio  em  que,  mala  percebi  do  de  um  ]ado.  por  achar-Kd 
atacad'»  do  outro,  delle  ^e  ap próxima va  um  poei^aaie  iuimiço,  o  qual, 
levantando  afiado  alfange,  ia  corta>llie  O  £o  da  jireciofta  vida, 
quando,  do  lado  do  rei,  surge  um  cavai leiro  anadél  t</a  ala  dos  na- 
morados* Íl)i  e  de-f«chaiido  com  Bua  terrível  maça  tremeodo  golpe 
DO  betspaohól,  o  atirou  mort  >,  livrando  aiiií^im  o  rei,  o  qual^  voltaudo- 
BB,  eutã.o     pn feriu    sorrindo  &i    £cguinieã     palavjas     bibtorícaai 

—  *  Forte  maçada  1  »,  isto  é,  ttremendo  golpe  de  maça  foÍ 
«Bfle  * ! 

Gania  a  batalha,  e  livre  o  rei,  cumpriu  este  o  seu  vòto, 
erigiudo  sumptuosa  Egreja  no  logar  da  lide,  e  que  é  o  monumeato 
de  mníor  gloria  e  fama  em  Portugal, 

El-rei^  agradecido,  deu-lhe  a  tença  de  Avíz  (2)^  e  o  escudo 
d'aru>a^  (3),  e  determinou  que  na  C^pelIa  em  que  fosse  fe paliado, 
tambfHi  teria  um  tumulo  o  íeu  leal  salvador  —  o  anadél  uaçada^ 
que,  com  o  tem)to  e  por  eorrupçàOt  passou  a  $er  —  Magsdo,  E*  este 
o  tronco  g^otioBo,  a  origem  dos  «Macedt^», 

Lá  em  l^^ortugal,  no  Mi  ateiro  Real  de  Santa  Maria  da 
Victoria,  vulgarmente  «da  Batalha»,  em  o»  campoâ  de  Aljubarrota, 
na  portrt  da  expelia  Real,  eatá  uma  campa  de  pedra,  com  uma 
inecripçào  já  apagada,  maa  yjí»ivel,  e  a  maça  d^atmas  esculpida; 
eíiã  é  a  sepultura  do  valoroso  soldado  da  Ala  dos  namorad^Mt^ 
inseparável  d^El-rei,  na  joruada  de  Aljubarrota,  e  que  o  defeu^ 
deu  de  seus  inimigos.  E*  isso  o  que  rt- ferem  aa  chrociica»  por- 
ta guezas,  Bendo  para  notar  que  com  o  nome  de  Macedo  ba  cineo 
villas  e  povoações  para  celebrar  tào  importante  feito  e  nome: 
—Macedo  de  Cavalíeiros,  freguezia  em  Trass  os  Montes;-  Macedo 
do  Matto,  idem;  — Macedo  de  Pezo,  idem: — ^Macedo»  villa  em 
Beira  Alta,—  e  Macedo,    era  o  diatricto  de  Aveiro 

Era  algumaa  casa»  antigas  e  nos  portaes  de  alvenaria  dâ 
algumas  quiutas  vêem-í-e  em  relevo  eficudoB  com  uma  «implea 
maça  d 'armas,  symbolo  heráldico  e  histórico  dos  MaeedoB. 


(1)  Que  «'^rrr^ipoDde  i  Imp^l»!  Ordem  úi  EofA,  dA  «jutl  «frmM  C«viU«tro  potfw 
T{çgi  dft  ânem. 

Çii    BobiD»  UmbeiB  C«TaíleirD   de  AyIi,  rãcampenta  âos  Benfinedtoi. 

^3)  O»  Hacedioí  %í^m  por  amiat ;  Bm  campei  aial  cinco  wtraltu  de  oare  de  teíi 
poDUa,  pottar  em  mptor;  timbre,  am  brAÇu  v^^tEda  da  «x si  com  nmamiçm  de  ouro^n»- 
TGíJjtdá  de  pD&U*  de  r^rro,  como  &  cIbta  de  Hercalea,  em  acçi«  de  de»cuTeg»r  a  pAncpAi^ 


~  625  — 

Em  b«11a  luaiihan  de  um  ãm  e  mez  quftfqupr  ãos  primeiroB 
ADnoe  Ao  seculn  pAatado  dpBembarcou  uo  Rio  de  Janeiro  um 
jõyea  portiigtipz,  de  regular  e««tAtura«  de  rosto  clara  e  formoso, 
com  bello»  olhos  a^ues  escuroa  »  cabelloã  iang-oa,  aoneltados,  cõr 
de  ouTO*  Vf^Btia  o  serio  e  efeirante  Tinif^rme  de  Tenpnttr  de  la- 
f&Dtaria  de  Caçadores  R**ae8,  B>  de  Portugal,  opde  fora  convi- 
dado por  labiot  au^ostoí*  para  yir  para  o  BraziL  Accetaado 
o  conTite,  deu  as  suas  terras,  vinculoí,  morg^ado  e  roaía  haveres 
a  «uafi  irmaus  e,  reservando  para  hi  apenas  a  própria  empada,  em- 
barcou para  a  Amerii?». 

Foueos  dias  demorou-se  na  Corte,  como  eutÂo  èg  chamava 
i  Copital^  hoje  Federal,  tendo  de  lá  se^^uido  para  S  Paulo, 
onde  foi  aproveitado  como  iustnictor  dos  Corpos  de  MíHcia,  e 
em  outras  com  missões  militares.  Este  officiat  era  um  nobre 
descendente  dos  Macedos,  e  chamava -sh  Francisco  de  Paula 
Macedo. 

Nfto  era  um  (fficral  rcientifico;  era,  pnjêu]  latiuiíiba,  e  conhecia 
ã  hií^eoria,  a  lógica,  a  táctica,  a  estrateg-ia,  a  h  gi^tica ;  <^ra  um 
ezceJlente  ofBcial   pratico,  de  fileirn,  e  de  admini»tra(,-àci  interna. 

De  g'í'nio  «"xtrematnente  bondoso,  «d^avel ;  e,  comi>  tinha 
esmerada  educa<^o,  toraon-se  em  breve  Tnuito  ef»timada  de  seus 
companheiros  de  armas,  briizileircs  e  portu(>^ac!ses. 

Casou -se  lo^jfo  com  uma  bella  o  virtuosa  p.*ulisti^  descen- 
dente da  fidalga  família  do»  Araujoâ  e  A>^ati]hujap,  e  d<^  eeu  f^liz 
consorcio  cum  a  Ex."*  Sr.*  d.  Francisca  Amália  de  Araújo  A;sam- 
buja,  ao  depois  Macedo,  teve  vinte  tílhos.  Ora,  si  é  certo  que, 
desde  os  tempos  bíblicos,  um  ma  t  rimo  mo  tão  fecando  fui  sempre 
acatado  e  venerado  como  symbolo  das  benç»m!i  ct^le^tei^,  da  força, 
figôr  e  saúde,  como  é  que  se  procnra  ridiculftríznr  t^  d*^primir 
a  tronco  de  iamilia  tão  numerosa  e  notável,  quando  já  aliás  o 
era  por  outros   títulos  ? 

Abramos  o  grande  livro  da  Historia  ;  compulsemos;  Ibródoto, 
o  Príncipe  das  Historiadores,  em  ama  de  snaa  ht^llas  pH^inas, 
traduzidas  por  Larcher,  ultima  ediçào  d*^  L.  Humbert,  phgiuai 
83,  acib  a  invoeaçfto  de  Clio,  e  ahi  veremos  que  «na  mmi  r  mota 
antiguidade  eram  venerados  m  pães  de  numerosa  família;  e,  meãmo, 
que  entre  o»  Periga?,  depois  das  virtudes  guerreiriís,  ellvs  consi- 
deravam como  lim  grande  mérito  o  ter  muitos  filhu",  e  que  o 
rei  daqnelle^  paise!i  mandava  nnnuatmente  valiosos  presentes 
áquellea  que  os  tinham   miiia». 

Vejamos  &i  foi  e  é  i Ilustre  a  progénie  do  Sargeoto*Mdr 
Maeedo,  tãro  barat^^ado  pelo  ar.  Piza  que  se  etquee<^  d^  que 
aquelle  benemeritn  e  fallecido  miliiar,  adoptanHo  o  Brjtzil  por 
Pátria,  constituindo  família  e  radicando  «se  Bm  B,  Pauh^  ao  qual 
deíendeu,  chegou  aos  maia  elevadns  poscos  da  milícia,  ao  ^ene- 
ralatOi  derramando  flores  no  caminho  da  vid»,  prattcaniu  a  virtude 
e  legando  aos  seu«  descendentes  um  glo  iof<o  nome  hisr.r^rico  e  ama 
pobreza  honrada.     Casado  com  a  íormo^a  e  digniesima  d.  Fran- 


—  G56  — 

ciaca,  minhii  búmfeítora  o  querida  e  saudosiastma  aro,  cuj«a  beu- 
çama  injaterlosas  e  ealutarea  gempre  deprcco,  teve  as  ae^uiatei 
filbas  i 

1  D.  Maria  Ãdelatde,  tasada  com  o  Gon&ellieíro 
dr.  Jdeó  Butiifftcia  Naâcentçs  de  Azambuja,  com  defcen- 
deueia  nnmeroba ; 

2  D,  Anna,  casada  com  o  dezombar^ador  Mathlei 
da  Fouseca  Morato,  com  descendência  \ 

3  D.  Amélia^  cabaia  com  o  couselbeiro  Jo:é  Ignacio 
Gomefi  GulmarâeRf  com  d«'cendencia  Buruerosa; 

4  D,  Genebra,  casada  com  o  coronel  Carlos  Maria 
de  Oliva,  com  numerosa  dosceodencia ; 

5  D.  MarJa  Atoalla,  ca^adn  com  o  dr.  Aiitanio 
Maria  Goulart»  com  numerosa  descendência ; 

6  D.  Joaephina,  casada  cora  o  dr,  J.  Mana  Car- 
valho, com  descendência; 

7  D-  Constança,  cacada  Cõm  o  Commendador  Ber- 
nardo de  Oliveira  Mello,  pem  desceu dcnt«^s  ; 

8  D.  Francisca,  casada  com  O  msjt^t'  Frauc  ico 
Geraldo  de  Aodrado  Vasconcelloa,  sem  detcend entoa. 

FrLHOB 

9  Major  Francisco  de  Assis  dô  Amnjo  Macfdo, 
cnm  descenda  ncia  ; 

10  Commendatlor  Joáo  Evang^íflista  de  Araújo  Ma- 
cedo, com  descendência  \ 

XI  Teneoto  António  C.  d©  Araújo  Macedo,  cora 
descendência ; 

12  Dr  Francisco  de  P.  de  Araújo  Macedo,  com 
descendência  ; 

13  Carlos  A,  de  Aranjo  Macedo,  solteito; 

14  Érico  de  Araújo  Macedo,  — e  miia  ^eis  que  fat- 
Teceram  na  infância. 


Sena  netos,  bisnetos  e  tatarauetos  ^ir,  po-  assim  dizer,  Ínnu~ 
meraveis,  e  estào  espalhados  por  todo  o  BrassiL  Alfruns  brilham 
como  e&tiellaa  de  primeira  graurleza;  outros,  como  en,  de^apparecem 
nas  nebulosas  da  vida* 

Viveiiio  entregue  ao  sérvio  militar  de  guarniçào,  e  todo 
devotada  aos  cuidados  de  &ua  numerosa  prole,  inimigo  do  bulictd, 
foi  bem  a  coutra-gosto  que  teve  de  te  envolver  em  IStl  e  182^ 
noa  succeseoa  que  ae  desenrolaram  ne^ta  Ca  pi  ta  L  só  para  acom- 
panhar a  classe  e  os  parentes  e  amigos;  e,  como  homem  principal 
que  o  era,  mas  longe  de  s<^r  um  eleniento  de  des  rdt^m,  (oi,  fielo 
contrario,  o  então  major  Macedo  um   conciliador  e,   nesta  quali- 


—  627  — 

dadc,  alii  fij^iiroa  em  1.^  plano.  Fçi  escolhido  puta  ir  a  Itiii  em 
commhílio  de  serviço  trÂlitar,  para  trauquilllafar  a  cida<ie  e  toovi- 
niet.tar  as  mi  11  ciai  rebeldes.  ÁUi  (IJ  fci,  ccmo  a1i;íã  era  dd 
esperar,  apedrejado  pelas  virámos,  garotos  e  getite  baixa,  açulada 
peloB  políticos  e  rábulas  de  Aldeia,  que  metUarD  no  tronco  cidadáoi 
liyree  e  oâ  torturavam  com  inslramenioa  aviltantes  ! 

Nem  por  isao  a  gna  conducta  foi  menos  di^^na,  pois  deeem- 
penliou  cabalmfiuie  a  &na  mia«àot 

à  camará  de  Itú,  em  gÍIIcío  ro  Governo,  excusou-se  do 
cccorndo,  iBEtimíiiido  o  facto,  diaendo  que  o  nío  era  o  insulto 
dirigido  no  ctdadflo  mnjcr  M&cpdo  e  sim  â  sua  dignidade  (Vj ; 
mas  qae  deplorava  o  factoi*     Verdadeira  gatisfa^âo  ! 

Aproveiton<se  o  tibcHista  de^ie  incidente  i^em  valor  paru 
perèegair  (veja- se  esta  palavra  no  diccionario  latíoo),  para  dif- 
famar  e  encher  de  ridieiilo  o  bríofo  militar.  Não  centro  em 
pormenor e?,  pnra  nílo  alouííAr  esta  ím pugna çíto  ;  apenas  direi  quo^ 
oxalá  poEsa  o  injusto  analjsador  densas  du&s  figuras  Ligtoricaâ 
defender  os  sfus  com  a  líjura,  a  facilidade  e  a  justiç.i  com  qua 
acaho  de  defender  os  meua. 

Tempjs  depois  (Triste  ironia  da  boi  te  !),  Macedo,  o  correcto 
oÊScial,  fui  de  novo  mandadi^  a  Itú ;  ent^o  h\  o  prccuraram,  deante 
deli»  6e  humilharam,  pcdíram-Ih'3  favor íís  e  beijaram- lho  aa  mãos. 

Era  outra  occasiào  ícrci  maia  extenso  aobie  oa  servi ç«^s  do 
Brigi.de iro  FrancÍs:o  de  Paula  Macedo,  cidadão  pr^jbo,  nifvdeatOi 
exemplar  pao  d*?  família,  e  tãc  di^^uo  tronco^  cidadão  egrégio, 
quPf  alo^iins  annos  depcis,  jâ  co  citvado  posto  de  Brigadeiro,  os 
povoí  de  beira-mar  e  da  importante  comarca  de  Ubatuba»  oaqueUea 
tempf  s  mui  florescente^  em  aííradecLmrjito  aos  seus  víiIíoeos  aer- 
viçoa  lhe  oíTertaram  esta  brilhaute,  fulgurante  espada  de  ouro 
(o  orador  mostra  a  rt^fariãa  empada  ao  auditório)  com  a  com- 
peteiito  legenda  gravada  na  folha,  —  legenda  essa  qtio,  mais 
eloquente  que  qualquer  discurso,  mala  duradoura  que  qualquer 
monumento,  vem  desmanchar  as  calumoiiia  com  que  porventura  se 
ti^nte  diff.imal-0,  —  espada  de  honra  qun  está  a  protestar  contra 
■imilhanle  e  falso  julgamento,  e  que  proclama  bem  alto  os  méritos, 
a  honra,  a  lealdade  desse  illustre  varfio  prcatante,  que  deixou 
t^o  honri  60  documento  militar  a  seus  netos  vindouros,  como  sym^ 
IkíIo  doá  notáveis  servidos  por  ello  prestados  á  sua  pátria  adoptiva, 
o  Brazil,  o  principalmente  a  S,  Paulo,  nosso  CÈtrcmecido  berço, 

E'  pela  religião,  pelo  sola  sagrado  e  pelas  inEtitulçÒes  legadas 
ao  Brazit,  que  te  têm  batido  os  dcicendentcs  do  marechal  Daniel 
Pedro  MiiUer  e  do  Brigadeiro  Francisco  de  Paula  Macedo,— e  o 
têíQ  feito  derramando  o  próprio  sangue  e  honra ndo-lhes  assim  o 
ieu  nome  e  as  suas  venerandas  cinzas. 

Henrique  Affosso  de  Araújo  Macedo. 


{\)    Foi  deucaUdu  sIiDplesioentc  por^u^  nfto  levi^u  e»coUa;  uAdn  maU. 


Excursão  ao  Ruwenzori 


CoHFBtEBNOlA   FBITA   PBLO    DcQUB     DE   AbRUZZÕS     BH     LoNORB^ 
TBADU^IDA   PliLO   DK ,     EoUABDO    LoSCHI 


Er  ■•  Sr-  Preaidente, 


TlluBtres  consoem». 


Nào  é  neceBBario  dizer- vos  quem  é  o  Dnque  doi  Abnízzoa; 
Elle  pertence  ao  nosso  lostitnto,  como  sócio  honorário,  a  são 
muito  voDhecidafi  sua»  excur#5ea  geograf>liÍcafl  áe  culminancíafl. 
dog  Alpes  dá  Itália  e  é  «erra  da  AlãBkai  na  America  do  Norte. 
Todo  o  nitindo  í-onbe  e  flcorapanhou  com  int^resfe  sna  arro- 
jada víogrerji  ao  Polo  Norte  c  com  ceit»  sa  tereis  também  (envido 
falar  dn  sua  ultima  e  importante    viagem  ao   centro    da  Afiica. 

Julgando  que  o  nosso  Instituto  tcTÍa  certo  intere&sf*  em  co-» 
nbecer  o  itinerário  deflpa  íxcursílo  e  oe  pnoto*  reconliecidos  pelo, 
illui^tre  Duque  dos  AbrUKZos,  tomei  a  liberdade  de  traduzir  na 
liugua  do  paiz,  que  nie  bospeda,  a  coníereneia  feita  por  eílô 
mes  imo,  na  presença  do  Rei  da  Inglaterra,  em  Londres^  em  o  diiw 
12  de  janeiro  prorimo  paleado. 


S.  Paulo,  1  de  juobo  de  1907. 


Eduardo  Lfãchi. 


«Aqui  me  acbo,  correspondendo  ao  gentil  convite  da  Real) 
Sociedade  de  GfOfírHjihiíi,  para  descrever  a  minba  receoíe  ex- 
ploração áa  culmiuaDciíiS  nevonaSi  conhecidas  pelo  nome  dâ^ 
«Ruwenzrri»  e  que  es^tâo  Bitu^dae  no  centro  da  África  Eqaato- 
rialt  precisamente  entre  08  dois  lagos  Albert  e  Albert  Edward, 
nascentes  di»  rto  Nilo. 

Provavelmente  eeta  serra  foi  primeiro  avistada  pelo  sn  S. 
Baker^  quando  em  1864  visitou  aquella  região,  e  depois,  em  1876| 
pelo  er.  Gessi,  que  a  descreve  nas  suaa  cartas  como  lertranhAt 
appançàu  de  immenaa»  e  cândidas  montaubns  cobertas  de  neTe* 
ao  passo  que  B»ker  deu  o  nome  dt^  montaolias  azuea  á  serra  que^ 
ae  lhe  apresentável  ao  sul  do  lago  Albert. 

Nem  unij  nem  outr^,  pnrpm,  tirba  ligado  grande  iniportau^ 
eia  áquella  serra,  e,  pois,  coub^  ao  sr.  Henrique  Stanley  o  real; 
merecimento  da  descoberta.     Elle  não  se  satialesL  com  ttí^tk  viito. 


*• 

i 


—  629  ^ 

AO  Btil  do  lago  Ãlbett»  em  1388:  tio  anno  sej^itite  afra^efliQu 
^  fr&Has  oçeidentaes  e  o  sen  companheiro^  o  alferaa  Stairi,  Bubia 
pelo  Udo  nord*  o«ate,  até  á  altura  de  2354  metros. 

Stanley  procurou  indagar  qaal  n  Dorrif)  que  os  habitantes 
davam  áqu^llas  al?aa  moatanha«p  e,  obtendo  varias  respostas,  es- 
colheu o  de  «Ruwenzori»  que  na  Ungoa  dos  Mtaoras,  quer  dizer 
«factor  de  chuva»,  denominação  esta  muito  apropriada,  devido 
ás  nuvens  que  continuadamente  envolvem  as  suas  costas,  tor- 
nando invíiiveis  por  mexes  e  me^eã  bí  auaa  culminaacíai.  Ãpeufts 
durante  o  p«nodo  da  paisagem  da  est^tçào  das  chuvas  para  a 
da  Becca,  ellaa    sJLo  visíveis  pela  madrugada, 

Etnquauto  perdura  esta  tiUima  estaçàOi  escondem- o -as  os 
vapore*  do  terreno. 

Stanley  pena  nu  que  essas  eram  ai  montanhas  que  To  lo  me j 
denominou  «Montanhas  da  Lua». 

Os  ^ograpbos,  {>orém,  nfto  estiveram  de  acordo,  tanto  que 
alguns  ftiram  procural-as  no  Kenia  e  no  Killimangiaro,  ontros 
nos  motites  que  coroam  as  alturas  da  Ãbiai^inía  e  outros  ainda 
nas  montanhas  vulcânicas  do  M'umbiro,  situadas  na  reglhú  qoâ 
os  iudi^^^enas  chamavam  «Faiz  da  Lua*  ao  sul  do  lago  Ãlbert 
Sdward,  próximo  ás  nascentes  do  Kagera,  que  é  um  alEuoiite 
úo  lago  Víctoria  e  a  mais  remota  nascente  do  Nilo  OrientaL 

O  illuBtre  geoRTapho  italiano  dr  Hugnts,  a  pedido  meu, 
occupou-se  gentilmente  dessa  importante  questào.  Baneado  naa 
coordenadas  geographicas  dos  lagos  do  eut,  lagos  que  affirma 
serem  os  mesmos  conhecidos  petos  nomes  da  Victoria,  Ãlbert  e 
Ãlhert  Edward,  o  dr  Hu^iieii  opinou  peta  versão  de  Stanley. 
^E*  incontestável  que  o  «Ruivenaori»  é  a  uníca  serra  nevosa 
da  hat^ia  do  Nilo  e,  portanto,  somente  etla  pode  estar  de  acordo 
corn  a  affi^rmaçào  de  Totomey,  de  que  O  Nilo  é  alimentado  por 
monranhas  de  neve. 

Foram  successoreB  de  Stanley,  na  visita  é  regiào  do  Ru- 
wenaori,  o  dr,  Sttiblmann,  em  1891,  e  Scott  ElUót  em  181*5  O 
primeiro,  pela  bacia  do  Butágw,  subiu  ao  oeste  da  serra,  até 
4.450  metros,  tirantJo  importantes  photographias  dos  «eus  picoi 
e  gelei. os, — Scott  Elliót  fess  depois  cinco  excursões  em  direcção 
ao  cume  central,  approximandú-se  dt^lle  p^lo  lado  orientul,  per- 
correndo os  valles  de  Yeria,  Wimi,  Moboca  e  Nyamwamba,  e, 
pelo  lado  Occidental,  o  valle  de  Butá^u,  onde  alcançou  a  altitude 
de  3.972  metros;  nos  valles  do  Yeria  e  Wimi  chegou  ao  divi- 
sor, porém  náo  a  táo  grande  altitude.  Si  bera  que  nenhum  doi 
dois  tenha  alcançado  a  scona  das  neves,  entretanto  ambos  filaram 
numerosa»  observações  scientíficas  e  organistaram  collecçôss, 

O  dr.  Stublmanu  teve  a  pnmaaia  era  reconhecer  quenaquelle 
massiço  havia  quatro  grupos  distiutos,  que,  peta  ordt*m  de  norte 
a  sul,  denominou :  Kraepíiu,  Moehius  ott  Kayangungwe,  Semper 
^  Weissmaiin,  declarando  que  o  segundo  era  o  mais  baixo, 

Ifooro  toi  o  primeiro  que  chegou  á  zona  das  neves,  lublodo 


L 


—  G30  — 

o  Semper,  em  1900,  até  a  altitud©  i&  4.540  metros,  pelo  hão 
leste  da  culraiuaticiíi,  que  enonea monte  julgou  fazer  parte  do 
dtviaOT  daa  aguas. 

No  mesmo  anuo,  o  si*.  H.  Jobns!:on  ttlcançou  «gual  altitude, 
na  meãma  mou Lanha,  A  qual  chamou  Kiyanja»  o  d^u  o  nome  de 
Duwoui  a  (iXLtvo  pico  viâivel  no  v&]l&  infenor  do  Mobúku,  «om, 
êntretíinto,  aaâ igualar  se  era  um  dos  montes  rcferidoí  por 
Stuhlmann. 

Depois  de  1900^  muitaa  outr^is  tentativas  de  ascensões  fgram  fei- 
tas em  ambasas  vertentes  da  montanha:  do  íaJo  do  lesto,  foi  sem- 
pre escolhida  a  bacia  do  Mobúku^  fiem  quf,  entretantOi  ninguém 
consef^uisse  chegar  á  altitude  alcançada  por  Mcore ;  do  Jade 
oeste,  o  dr.  David  julgou  terenhido  á  altitude  de  5.600  metirre, 
nos  geleiros  do  Monte  Moehiuâ.  E&sa  suppoaiçàOj  poriam ^  parece 
ser  errónea,  porquanto  elle  próprio  admitttí  que  se  affigurara  estar 
4T0  metros  abaixo  dos  picop.  Ditas  agccnsõee,  porôoi,  foram  feitas 
por  exploradores  que  nSo  eram  itlptni^ta^^ 

No  inverno  de  1905  e  na  primavera  de  1906  íoram  feitas 
maia  duas  tentativos  por  alguns  ftlpinistas: 

A  1.*  comitiva,  composta  doa  âurp.  Douglas  Freshfield,  Muna 
e  do  gnía  Zermatt,  venceu  em  novembro  de  1905,  a  altitude 
de  4.4 19  metros  nos  geleiros  onde  começa  o  valle  de  Mobiíku, 
mas,  devido  às  chuvas  torrenciae?,  níto  pode  conseguir  o  íim 
almejado.  Elles  enganaram-se  jia  época  das  chuvas,  por  terem, 
o  sr.  Jobnston  e  ouiios,  deiíado  de  menciooar  em  os  teus  rela- 
tórios, que  a  estação  das  chuvas  na  região  do  lago  Victoria  nào 
coincide  com  a  do  lUuvenzori* 

A  2,'  comitiva,  composta  do  alpinista  austríaco  &r.  Grauer 
e  do8  missionários  Maddox  e  Te^^art,  chegou  ao  ponto  uiais 
baixo  do  espigão  alcançado  por  Hooro,  altitude  por  ellea  esti- 
mada cm  4,572  metros,— Grauer,  como  o  seu  predecesaor  Meore^ 
pensou  ter  alcançado  o  divisor  das  aguas, 

Eli  quanto  constava  relativamente  a  essa  região,  quando, 
em  fevereiro  do  190G,  me  dispunha  a  completar  os  preparativo» 
©  fixar  a  data  da  minha  partida  da  Itália.  Tinha  conhecimento, 
porém,  de  que  as  autoridades  do  Biiti&h  Museum  haviam  enviado 
uma  expediçáo  para  lá,  com  o  fim  de  organizar  uma  collecçào  de 
historia  natural,  e  que  ella  se  adiava  nas  fraldas  do  Euwensori, 
de^de  dezcrmbro  de  19C5|  conta udo  entre  o  numero  dos  que  a 
compuoham  o  dr.  Wollaston,  socto  do  Club  Alpino.  Com**,  po- 
rém, até  o  fim  de  fevereiro,  nào  me  tivesse  chegado  nenhuma 
noticia  de  ascençâo,  julguei  que,  devido  ás  chuvas  torreneiaea 
de  março,  abril  e  maio,  o  dr.  WoUastou  náo  se  teria  aventu- 
rado tào  cedo  á  arriscada  asceução,  e  que,  portanto,  mo  daria 
tempo  para  lá  chegar  e  com  elle  me  juntar  na  subida  aos  picos 
mais  culmioautes. 

Das  noticias  publicadas  pelos  meus  predecessores,  com  eape* 
cialidade  as  ultimas  do    dr.   Freshãeld  e  Daví  J»    conclui    que  & 


—  631  — 

s«!fra  do  RaweoKori  se  coinpunba  ãe  4  grupos  do  montanhas  na 
dirfcç&a  íiord-estô  ^  sud^oeste,  nào  tendo  certeza,  porèn^  &í  elJae 
es  Uva  m  em  geg^uida  uma  á  outra  ou  ú  eram  separadas  por 
grandes  valles. 

Uma  destas  montanha?,  a  Semper  (ru  Nfçcmwímbi  segando 
Slufalmann  e  Moore)  ou  Kiyanja  (spf^undo  Johnstonf  Freiíhfield 
fl  Graner)  era  fricilm^ipte  acceisivel  pelo  lado  do  valle  do  Mo- 
bukn.  O  pico  maia  alto,  o  Duwoni,  segundo  Johnstnn,  o  talvez 
o  me&mo  que  o  Slulilraann  cbaniou  MoebiuF,  provavelmente 
seria  accesEivel  pelas  culminancias  alcançadas  por  Grauer. 

Havia  um  ponto,  poTÔaa,  sobre  o  qual  todoa  oa  excursio- 
DÍatas  eram  contestes,  ni\o  obatanto  as  tentativas  terem  sido 
feitas  em  diversa*  f  poças  do  anuo  :  na  descri pçílo  do  máu  tem- 
po Dkqtiellafl  regiõeif  daa  chuvaa  torrenciaea,  intercaladas  de 
ÊspCE&áa  neblinas  e  cliuvj faqueiros  e  da  a  rara  a  madrugadas  em 
que  apenas  havia  moreno. 

Das  noríeiaá  fornecidas  pclo«  misaionario^  d©  Toro  o  publi- 
cadas por  Freshíield  e  as  dadas  por  William  Gartiu,  tinha 
apprehendído  tjue  oâ  mezes  menos  desfavoráveis  á*  ascençt>ea 
eram  ob  de  junho  ©  juJbo  e  também  os  de  janeiro  e  feve- 
reiro, porqufintOf  íippsar  das  Cerrações,  Lavia,  entretanto,  certa 
soInçAo  de  continuidade  nas  cbuvjis.  Decidi  então  ^flectuar  a 
mínba  ascençâo  nos  mezes  de  jauhf)  e  julho. 

CGosiderando  que  a  posição  daijueUa  montanha  não  estava 
bem  precisada,  a5sim  como  a  saa  akitude,  que  fora  estimada 
entre  5  900  a  6,500  ms, ;  con^-idorandoque  o  máu  tempo  e  as 
nuvens  difficuUaríam  a  marcha  além  da  zona  àm  neves,  pare- 
eeame  conveniente  provisionar  me  do  material  necPBsatio  para 
que  fosse  possível  acampar  na  Kona  dos  i^elo^,  Ã  maueira  do 
que  tinha  feito  na  ascençâo  do  mnnte  Banlo  Elia* 

Havia,  poÍF,  necessidade  de  serm  s  acompan liados  de  c&rre- 
g-ad*  rfs  euvoj^eiís,  para  o  transporte  do  material,  porisso  que  os 
indígenas  da  vertente  oriental  do  Bakoajo  não  BUpportflriam  os 
TÍgorBB  da  zina  do  gelo. 

No3  jn-eparativos  das  proviííòes  cíílculei  que  40  dias  foasem 
■ufficient'8  para  o  reconhecimento  da  zona  luperior,  mesmo 
sendo  contrariado  pelas    mais    importunas    condições    atmosphé- 

ricaa. 

*     *    * 

Ko  dia  IB  do  abril  deixámos  Nápoles  com  destino  a  Mom^ 
basa.  Eram  meus  companheiros:  o  capitão  Cagni,  da  marinha 
italiana,  que  tinha  a  seu  cargo  as  observações  j^eraes,  especi at- 
raente as  magnóticaa ;  o  alfere»  ^Vin6peare^  também  da  marinha 
italiana,  encarregado  das  observaçops  geraes  e  especialmente  das 
meteorológica  8  e  topographicaB ;  o  medico  major  Cavai  li— Muli- 
nelli.  incumbido  das  coUecçòes  zoológicas  e  botânicas  ;  o  geólo- 
go D.  B'^:ceatÍ,  eacarregado  também    das   coUecções    botânicas  o 


—  632  ^ 

dftft  i^fiologicaB ;  o  »t  Pella,  que  áB  devia  occupar  daa  plioto*^ 
grAphiiis ;  o  ar,  tCrintnio  B.jr.t^^,  ajudante  pbotograplio ;  doia 
gaias  alpiíi&tsa,  .In^M^  Petíg^s  e  Cessíir  Oliier;  dei»  carregado- 
les,  Jopé  Brtíchsrel  e  Lnurtíiiço  Petigax,  e  o  coainhtííro  Igino 
Gmi. 

Ãs  provisões  completas  (barraca**,  cAmaB;  calchòeg,  cadeiras, 
mcFBB,  bauhi^iràtt^  eatuf  isi,  r  jupas,  uiatenaeB  para  photograpbia  e 
para  hb  <:nllecçõ&fl  bo^anicaH,  mioeralo^icas  e  d^  anologia,  ÍDUru- 
mBQto:!  div«riscís,  e8piiJííí<r<na  e  inutitçÕHa  He  caça)  foram  dividi- 
das em  U4  caixas,  pesitido  cerca  de  25  k^.  eada  nmâ^  a» 
qiiaeiã  foram  nttméradnB  tí  Rcondicíonadat  de  sorte  a  ínaia  fãcil* 
mâate  gert^m  carregaija^  tia  cabeça  Aa  prrivÍBú<^s  de  bocn  foram 
divididas  em  8>  caixHS  pegHtido  também  25  k^;.  e  contando  cada 
uma  a  c<^mida  í^ytGciBtittJ  para  um  dia  e  para  doze  iiesHoas.  A% 
caixas  ^ram  de  fr>lha  snldada  a  protegidas  por  <iutra  cai^a  de 
madeira*  Quarenta  (40)  eram  destinadas  para  a  mamba  do  Eo' 
t«bbe  a  Fort- Portal  e  ti.^o  CQiUiubatn  carne  secca,  pnr  ia^o  que 
durante  a  marcha  ba  podia  eocontrar  car  i6  freíit;».  A  a  outraa  40 
caixas,  destinedafl  á  mucba  na  montati^ia^  cotitinbam  cArne  em 
con&ervA.  No  transporte  das  cnjxaa  de  Eutebbe  até  o  RuweB- 
zori  foram  empregadoB  194  carrí'gadoreB. 

Na  manhã  de  3  de  maio^  dtJpoÍB  dti  uma  viagem  de  17  diaa, 
interrompida  apetiaã  p^^la  breve  parada  feita  em  Frrto-Saíd  Aden 
e  Gibiatif  eBtavamoa  àa  vi^taa  duB  brancas  (^aaaa  de  Mombaea,  e 
pQueo  depoiã^  ancoramoB  no  porto  de  Kiiindini,  onde  bavia  aa** 
coradoR  muitoi  navioE  ingleses,  franceBei^»  auitriacri»  a  allemAe». 
Nào  estando  ainda  ultimada  a  ponte  de  embarqn^,  junta  á 
estraria  de  ferro  da  Uganda,  aa  mercadurjag  são  transportadas 
para  a  alíaude^faj  pelo  pí^queno  eaual  que  liga  oí  portos  d.e 
Mombaça  ao  de  Kiliudlni,  ao  occídente. 

Todo  o  dia  H  foi  empregai!©  no  deBembarque  e  transporte 
das  ba^gens  pjira  o  trem  e  foi  graças  á  gentil  cooperação  doa 
empreg-doíi  ingleses,  os  quaet  noB  fizeram  conceâí-õea  e^peciaefl, 
e  ao  auxilio  dos  n06«og  eonacionaes,  qne  pudemos  partir  na 
manha  s''guiute.  Foi  aseim  satisfeito  o  meu  dtjsejn  de  deixar  o 
quanto  aiiiea  MombasEi  devido  a  pertencer  ent^  ponto  á  ^una  da 
malária  e  ao  receio  que  eu  tinha  de  que  algum  da  e^pediçào 
fosí^e  HTacado  da  íebre. 

O  máu  estado  de  sítii-ie  do  companheiro  Wiospeare  obri- 
gou «nog  a  qne  o  deixássemos  em  Mombasa,  tendo  dado  entrada 
no  bospitul,  [>ara  voltar  á  pátria,  com  o  eouíentiraento  do  dr, 
C'ãvallij  logo  que  o  i^eu  eatado  de  anúde  Ib^o  permittif^ae . 

Na  madru^^^ada  de  4  de  meio,  tomámos  o  trem  »emanal  coiB 
d'*»tino  a  Port-Plípreoce.  Esta  e£trada  de  ferro  tem  o  compri- 
meato  de  1  135  km.  :  foi  iniciada  em  1396  e  completada  em 
1902.  Do  mar,  eleva-se  até  2,228  to.,  para  descer  depois  lobre 
o  lago  Victoria,  a  1.117  m.  Tdm  a  velocidade  média  de  39  km. 
por  hora  e  permttte  aos  passageiro»    admirarem  oa  variados  pa- 


—  633  — 

noratnai.  Da  paíaag«m  tropical  de  flores  tas  de  bananas  e  pal- 
ma», nm  ví^inhaaçai  de  Moinbasa,  ele^a-ge  gradualmente  aos 
imEoeniOs  planaltos  de  Athír  vivei m  de  zebras,  gazetlas,  rmoce- 
root45J  e  \eòm.  Além  de  Nairobi,  nova  c^apital  do  Protectorado 
da  África  Oriental,  a  estrada  sòhe  novamente  para  »i  alturas 
que  limítaoi  a  grande  vailada  do  Rift,  deste  collosnl  gnlfo,  qne 
«e  êx tende  ao  sal|  até  o  laj^o  Njansa,  e  ao  norte,  até  oi  lagoa 
RudoH  e  Mar^herita. 

Dando  vfilta  a  uma  vf^i^etaçâo  luxuriante,  contornanJo  os 
e9pi<;õ«s  dos  ingremeâ  montes,  ora  penetrando  noâ  rect^saos  de 
estreita  ^arganta^  chegámos  a  Simuri, 

Nosta  estaçÃo  comnça  a  longa  descida  do  Hift,  dt^pi  is  de 
um  giro  semicircalar,  em  que  atravessam  alg-ung  vtadn^tns  âobre 
pFí  fundas  ruinâs,  o  trem  [ms»^a  nas  fraHaa  do  exiiiitú  vtílcào  de 
Longone,  nas  praias  do  bgii  Naiva^íka  e  sobe  pnra  Njoro,  o 
pont4}  mais  alto  da  linha,  no  confim  at^cidental  do  Kift. 

Ao  loDgo  da  estrada  e  naa  ei-taçòes  vêem ^ se  in  ligenas 
seroi-nús,  cobertos  de  pelle  e  com  os  cabe  lios  e  o  rosto  tiuirídos 
de  cdr  vermelho -amarellada.  Os  homens  tinham  o  aspecto  so- 
berbo, estando  muitos  delfee  arujados  com  flechas  e  escudos.  Ãs 
mulheres  levavam  aa  crianças    nas    costas  6  tinham    aâ  pernas  e 

09  braços  oníados  em  fspiral  com  metal  arasrellot  que  ]\im  im- 
pedia de  andar  livremente;  o  ro^to  era  de&Hgurado  por  grandes 
brincos  em  Forma  de  tambor. 

Ãlêm  de  Njoro,  a  Unha  férrea  desce  o  Mau,  atravessando 
enormes  extensÕen  de  terreno  coberto  de  herva  elephiole,  atá  o 
Kisumu  ou  fort-FJorence,  ponto  tf^rniiual  da  linh^i  sobre  o  lago 
Victoria  e  de  onde  parte  o  vapor  para  Entebbe. 

Chf^gamoã  a  Kiaumu  át  11>  âOr  du  diii  6,  tendo  feito,  em 
48  horas,  os  caminhos  que  até  bem  ^ouco  tempo  pre^ciísavam  S 
mesdB  para  serem  percorridos. 

Em  quanto  embarcavam  as  provisòePi  fui  visitar  o  grande 
mprcado  do  Kisumu,  onde  centenas  e  centenas  de  homens  e 
mulheres,  em  costume  natural,  se  r»-UTnam  para  o  tr^fico*^ Me- 
rece observação  que  nesta  parte  da  Afxica  se  encontram  alter- 
nadamente  raças  que  «e  apresentam  i  umas  comptctamenie  núaa 
e  outras  completamente  vpstidíi^,  aem  que,  entretanto,  a  moralidade 
tenha  mais  a  ganhar  com  a  vestimenta  de  umas  do  que  com  a 
nudez  de  outra^i. 

A  moeda  corrente  em  Uganda  é  a  rupia  indiana;  as  conchas 
sâo  ainda  usadas,  mas  para  pequenas  importâncias. 

No  meemo  dia  partimos  de  Kisumu;    e  como  naquelle  lago, 

10  se  navega  durante  o  dia,  ás  6  horas  da  noite  ancorámos  perto 
da  ilha  Eui<ÍDga.  As  ondas  quebravam-se  na  praia^  produzindo 
leve  murmúrio,  em  quanto  algumas  canoas  compridas  e  estreitas, 
tripuladas  por  vinte  ou  mais  remadores,  iam  e  voltavam  alter- 
nadamente da  ilha  ao  nosso  va}>or  Winifréo,  Durante  a  cal- 
maria, vlam-ae   entre    as  canuas    alguns    h^ppopotamos,    que  de 


—  (534  — 

yez  em  quão  do  leTantavam  a  immetisa  cabeça,  enaquanto  qu» 
OA  pássaros,  em  proatr^  d^  pausou,  voavíim  para  aa  i-ccbas  e  ao 
longf  da  praia,  Naquella  noito  o  íoI  desceu  como  num  &eml- 
circulo  de  uuveua  e  lançava  seuB  den-iadeircs  raios  de  ouro  &obre 
uma  parte  da  terra,  que  a^í^ora  pe  v«o  abrir  A  civiU^aíno- 

O  céu,  de]>oia  de  rapidame^ntc  p,.srnr  da  um  vermelho-en- 
carnado  para  roio-escuro,  deaappareceu  nas  trevas  da  noite, 
que  repentinamente  cobriram  todo  o  la  iro. 

Vieram-me  uaquclle  instante  ao  pantamento  os  conUts  da 
escraviíiào,  úo  canníbalismo,  dos  reis  crueiB,  da^  FnQgreutaa  ba- 
talhas e  dos  paizea  dizimados  p&\o  beri-beri,  moIeBt'a  que  de 
ha  pouco  iuvadira  aqufHa  rcgiuo.  E  na  calma  da  noite  a  mltiba 
mente  s©  transportava  d©  um  triste  passado  e  de  um  pregenta 
nào  muito  prospero  para  a  lisonjeira  viello  do  um  futuro  bem- 
aventurado,  em  o  qual,  devido  aoa  esforços,  á  paciência  e  ao 
heroísmo  dos  scientistas,  a  pra^a  que  ainda  boje  assola  aqueLlas 
terras,  dizimando  íiquflla  popuíaçào,  se-á  vencida  e^  nos  praiai 
do  lai^Of  ora  devastadas  pela  epidenim,  surgii&o  v tilas  e  cidadei, 
6  colónias  agricolas-européiíis  irào  babitar  e  cultivar  os  seu» 
immeusos  planaltos. 

Na  tarde  de  7  de  JuaiOj  cbegámrs  á  Entebbe  (Port-Alice), 
iéde  do  g-overuo  do  Protectorado  de  Uganda,  A  cidade  é  divi- 
dida em  doía  depanameEitos  ©  occnpíi,  sobre  um  elevado  pro- 
montório, uma  maguifica  posição  eutre  duas  protundas  balnas  do 
lago.  As  casas  do?  europeus  obedecem  a  constracções  contmuus 
uca  paizei  troptcaes:  grandes  varandas  civcnmdadas  de  jardins. 
UFam  sobre  os  telhados,  nas  janelfa?,  em  volta  das  varandas, 
col locar  cortinas  com  o  fim  de  se  defenderem  dos  mosquitos  o 
especialmente  da  fritnl  mosca  do  somiio.  Os  indígenas  habitam 
rancbna  circulareii. 

Em  Entebbe  tive  iim  recebimento  quasi  oflicial.  Eu  6  o 
capitão  Cngoi  fomos,  com  njuita  6neza,  hospedados  pelo  commia- 
sario  mr.  Hesketh  Bell,  o  os  outros  companheirca  também  tive- 
ram gentil  hLtspitalidade,  por  part©  dos  srs,  Eunis  Wejudham, 
Cárter  e  Martin.  Fomos  ai  voa  de  todas  aa  cortesias  e,  pois,  po- 
demos passar  uma  semana  de  descanço  e  de  gOTio. 

Níio  sendo  aquel!e  tempo  próprio  para  nos  entregarmos  a 
prazeres,  porqu-itiío  urgia  partir,  tratei  de  dar  as  necesiarias 
providencias  para  <rg  preparativos  da  no^sa  empresa,  tendo  sido 
augmentado  o  meu  trabalho,  devido  á  falta  da  valiosa  coo  pêra  çlo 
do  capit&o  Cagni,  adoecido  pouco  depois  da  no&ia  chegada  a 
Entebbe. 

A  fobre,  branda  a  principio,  egg^ravon^se  depois,  no  ponto 
de  ser  necessário  transpor tal-o  para  o  Hospital,  perdendo  eu 
assim  a  esperança  de   tào  bôa   compaubia  na  minha    expediçÃo. 

Nào  era  conveniente  esperar  cm  Ent^bbe  o  seu  restabele- 
cimento, porquanto  impossível  eva  prevÍT  a  duroçào  da  sua  en- 
iermidade,    e    também    porque    nÈo    convinha    perder    o    tempo 


I 


—  635  — 

favorável  dcs  m^zes  d^^  junho  e  julbo^  além  àei  qu6  a  nosiA 
petniauencia  do  kcal  scanetava  o  pprj^o  de  a^retn  atacados  de 
febre  cutros  membroi  da  espediçAo, 

Eis  porque  re&olvi  munt^r  a  ded&ilo  tomada  ninJa  ha 
Itália,  de  atraveãn^r  rapidamente  a  7.i  na  ám  febres  iiíaláneas, 
meímrv  sendíí  obri-^ado  a  privnr-me  do  vaHíBO  concurso  do  com- 
panheiro aff''fi(;oad[v,  iutelligente  e  ficl^  que  me  acompanháia  nas 
precedentes  í^ipediçÕes. 

A  madmg^nda  de  14  de  maio,  marcada  para  a  no^sa  pari  ida 
de  Entebbp,  e,  portanto,  em  que  deviamoa  trocar  os  cwtifortoi 
da  Vida  civili/.ada  pela  aventureira  do  acampameuto,  fui  por 
noa  festejada  com  enthudasmo. 

Depois  de  ternamente  nos  termos  despedidos  daquelles  que 
tão  amavelmente  nos  accolhôram  e  do  capitão  Cn|?ni,  que  nmu- 
tinha  febre  alta,  ieunÍmo-ncs,  ás  8  horas  da  n^anhan,  t^m  í rente 
ao  «hotel  equatoriaUí  como  estava  convenciotiado.  Áhi  junta- 
ram-E0  á  expediíjâo  mais  220  carregadores,  qnasi  todos  Bosjcmdas, 
e  os  qiiaesj  tríitados  pelo  ar.  Bullif  empreg-ado  da  Sociedade 
Colonial  Ifaliana,  a  pedido  do  commissario  de  Ugtinda  fo  dí^^pu 
nham  a  carregar  na  cabe<;a  o  peso  de  50  libras»  na  distancia  de 
740  km.f  mediante  o  pug-amento,  a  cbda  um,  de  4  rupuns  por 
mes. 

Faziam  parto  da  caravana  27  carregadores  áa  ordens  do  ar. 
Martin,  qtie  por  desejo  do  comniiaarzo  nos  acrmpachou  até  na 
divisas  da  Uganda,  e  mais  mna  cicolta  de  2G  soldfldo»  indígenas, 
além  doB  moços  que  nos  serviam,  dos  carregadores  do  ch^fe  da 
caravana^  do-i  a^  Idades  e  cocheiro*  levados  para  o  serviço  dos 
uotísos  cavallos  e  btiTrcs;  formando  ao  todo  mais  do  dOO  persôas. 

Quando  oá  primeiros  da  caravana  já  se  tinham  perdido  do 
vista,  na  estradai  de  Ilfimpala,  foi  que  nó^,  qiui  estávamos  no  fim, 
nos  puzemoa  em  marcha, 

Á  distancia,  que  separa  Fort-Portal  de  Entebbe,  é  de  290 
km.-  A  differcnça  de  altitude  é  de  cerca  de  íi90  m,,  vencida 
por  quatro  degrau?,  que  separam  trea  bncius,  A  piimtira  receba 
ss  aguas  que  ao  sul  dei  cem  para  o  rio  Katonga  e  em  seguida 
vio  ao  lago  Victoria;  á  seg^inda  bacia  o  á  terceira  alHút-m  as 
aguas  do  rio  Misíai,  o  qual  corre  para  o  norte  e  alimenta  o 
lago  Âlbert.  O  ultimo  doa  quatro  degríus  é  o  divisor  entro  as 
«giias  que  descem  ao  lago  Albert  e  as  que  descem  ao  lago 
Ãibert  Edward. 

Todo  o  planalto,  entre  os  bgos,  é  accidentado  em  collinos, 
que  correm  em  todas  as  direcções,  sendo  as  da  vertente  oriental 
próximas  e  entrelaçadas  e  as  da  vertente  occidental  maiorea  ô 
mais  Ee|>aradas. 

A  vegetação  através  de  toda  esta  região  é  ani forme m  n to 
distribuida  Ecgundo  a  natureza  do  terreno;  sobre  as  collinas  a 
herça  cresce  alta  o  de  permeio  eueoiUram-í©  capões  isola doSj  e 
nas  baiiadflSj  cnde  cçrrem  as  agna  ,  vôem-ee  fragmentos  de  lio- 


—  6S6   - 

restas  tropícaes  e  nas  varzeaa  existem  aguas  eataguadaSf  cobertai 
dfi  g-iliofl  palustres. 

A  eatrada  de  Entebb©  a  Fort-Portal,  é  em  alguns  logarea, 
verdadf^ira  eàtradu  e,  em  outros,  um  simples  trilho  que  áa  vezea 
be^nvi  R  nrla  doâ  modtes,  atravt^ssando  altas  hervas,  e  outras 
ve^eií  desce  ans  valks,  cortando  as  florestas,  onde  formam  ver- 
dadeira fiinuosidade. 

Atí^m  do  Ingo  Isolda  a  ondulação  é  menos  accentuada  e  h& 
terr^TioB  qtiasi  horizontaca.  que  constituem  um  descanço  para  oa 
pobres  ca  reg'adores.  Ãa  aguas  estagnadas  e  as  fioreâtas  tAo  di- 
minuindo à medida  que  nos  approximamoB  de  Fort  Portal,  onde 
a  campanha  se  oflerece  ?ob  um  aspecto  mais  salubre. 

Esta  20 na  é  habitada  e  ao  longo  de  toda  a  estrada  se  en- 
contram casas  aqui  e  at^olá^  sendo,  porêm^  pouco  visíveis,  pois 
que  AS  altas  hi^rvas  e  as  bauíineiraâ  escondem-n^aa  dai  vistas 
nos  vifijanteSp  O  a  terrenos  sào  cultivados  sóóieote  nns  vizinhanças 
das  choupanas,  como  acontece  em  quasi  todoft  oa  paiz«a  tropi-^ 
caf^s,  onde  a  indolência  dos  habitantes  limita  a  auã  lavoura  ao 
estrie tam4:'nte  necessário  para  sua  míínutenç&o.  Âhi  se  caUivam 
bannnf^iras,  batatas,  inhames ,  feijão,  algodão,  trigo  e  canna  de 
ssBOcnr.  í^endo  empregada  a  mulher  nestes  trabalhos. — A  viagem 
de  Eutebbe  a  Fort  Portal  durou  15  dias,  de  uma  marcha  de  B 
a  6   boraii  por  dia. 

As  nossa»  partidns  eram  sempre  a  cerca  de  5  e  meia  da 
madrugada  e  nos  a  ampavamos  o  mais  tardar  ás  II  e  meiaf  em 
logar  afrtttado  das  villas  e  previamente  preparado. 

As  tendas  eram  constituidas  em  v^ilta  de  um  rancho  cen- 
tral, destinado  ás  nossas  refeif^Ões.  O  rancho  e  as  tendas  eram 
circumdadog  de  uma  cerca  bastante  alta,  a  qual  servia  não 
só  de  defesa  contra  os  animaes  fero?tes,  como  também  de  divi»a 
entre  o  nosso  acam|mmenLo  e  o  dra  carrega  dores,  formado  de 
ranchos  que  ellea  me^moá  em  poucos  instantes  construíam  e  co- 
briam de  herva;  cada  pm  c<[fntiaba  dua^  ou  trea   pessoas. 

Em  frente  d^fises  ranchos  os  carregadores  Bogondas  occiL- 
pavam-ão  até  tarde  da  noite  em  cozinhar  batatas  doces  e  banarmi, 
ãs  quaes  formavam  ae  suas  refeições  ordinárias.  Si  bem  que  a 
marcha  fosse  tim  tanto  fatigante^  devido  ao  terreno  accidentade 
e  ao  peso  que  traziam  na  cabeça,  entretanto,  os  carregadores 
pareciam  sempre  contentes  e  satisfeitos  com  a  untc^  e  tiugal 
reíeiçâo  ves[.ertina  e  estavam  sempre  alegres  e  promptos  para 
o  trabalho  e  os  E^ofiTrimeotos, 

A  necessidade  de  attender  pessoalmente  a  um  numero  In- 
finito de  cousRSf  impediu-me,  durante  os  primeiros  diai  de  gozar 
plenamente  do  aspecto  pittoresco  e  venturoso  daquella  vida  no^ 
mada ;  mas  a  pouco  e  pouco  a  caravana  tomou  a  organixaçi^ 
disciplinada,  o  que  deu  ensejo  a  que  minha  vida  fosse  mais  so- 
eegada. 


—  637  — 

O  noíflo  acampamento,  enj  que  ioàtig  pareciam  íne pirados 
dofl  tetitimeDtoB  de  humatiidAdfii  alegrado  pelo«  jo^os  e  danças 
dos  itidíareoas  Á'a  vezes  um  ch^fe  de  tnbu  da  vissinba  vilLa  yi- 
Dbancw  trazer  presentes,  e  outraft  v esses  uma  procib^âo  de  mu- 
Ihercfi  nof  visitava,  trazendo  comestíveis  pnra  a  Do&sa  caravana. 

O  tempo  pasB&va  veloz  e  a  nosBa  mente  difãcilmente  podia 
rpgiãtiar  as  ti  ovas  e  in  numeras  impres^^ôes  que  se  dos  apre  se  q« 
tavam,  e  que  serviam  de  incita  me  a  to  para  tornar  mais  breve  a 
viagFtQ,  sern  uma  parada  desnesBaria. 

A  temperatura  variava  muito:  agradável  pela  mflnban  ©  á 
tarde;  fria  durante  a  noite  e  quente  ao  meio  dia.  Depois  da 
ceia,  renniamo-n  s  em  volta  de  uma  g^rande  fogueira  p  a  coesa  no 
C«iitTo  do  campo,  que,  ílém  de  server  parH  nos  aqufcer,  em  uma 
precauçAo  contra  os  mosquitas  qu*'  transmittem  a  ff  br©  malar  ica. 

Creio  opportuno  fazer  uma  digressão  sobre  o  uso  do  quinino 
como  meio  prophilactico 

Alguns  que  residiram  por  longo  tempo  na  Africa  têm  ma 
nifestBdi>  a  sua  duvida  &obre  o  mérito  preventivo  do  quinino, 
pelo  facto  de  muitos,  que  n&o  uaTaro  dessa  droiía,  nào  tr-rem 
sido  atacadoEt  peUs  febres :  eu  prefii-j  attríbnir  efisa  iiumun idade 
a  nfto  terem  predipposiçào  para  a  infecçào  maláriea  Podo  se 
tambf^m  admittir  qi>e  para  as  pr^ssoas  (fbri«fftdas  a  viver  perma- 
neittemeutfí  no  lo^ar  infeccionado  lela  mnlaria,  o  remédio  seja 
peior  que  o  mal;  poréro,  p^ra  aquellen  que  af^euas  trarisitítm, 
creio  ser  prudente  seguir  a  regra  escabfdeeida  e  tomar  quotidia* 
namente  nrna  dó>»e  moderada  de  quinino. 

Nâo  obsTant©  abundaram  nesta  rRgiào  os  elepbantes,  o  fre- 
quentemente se  encontrarem  leòea  ©  principalrneute  aebras  © 
antilopf^s.  julgamos  conveniente  nà«  persegnil-os.  A  ca^jJi  era 
ahi  tào  abuodautn,  que  era  tulfident©  um  pequeno  giro  ©ru  volta 
do  acampamento  para  nos  apro visionarmos  do  bagíante  para  ae 
refeições. 

Assim  procedendo,  sem  fadigas  e  demoras,  alcançamos  a  di- 
▼ba  da  Ug'flnda,  entre  os  campos  de  Lenattmukosa  a  Kiccbi«  ni. 

Neste  ponto  despedimo-nos  do  lympatico  e  jovial  senbor 
Martin  e  proseguiffins  a  nosFa  marcha  em  ci»mpanbiada  sr.  Kno- 
wles»    regente  e  commissaiio  das  proviucias  oecideiitaeá. 

A'  medida  que  d(  s  avizinhávamos  dos  lagta  occidenlaea,  au- 
gmentava  a  nossa  esperança  de  fioder  avistar  a  serra  do  Rn wfn- 
Eori.  Por  duas  vez  s  suppu^^ieinrfi  lel-a  avistadci,  confutidindo-a  com 
nuvens  brancas  quo  se  accuujulavam  com  a  apparencia  de  uma 
imn^ensa  montanha  de  neve« —  Finalmente^  dois  dias  anteg  de 
cbegarmos  a  Fort-Portal  e  á  breve  distancia  do  campo  de  Kaibo, 
appareceu,  qnasi  subitamente  no  occidente,  o  Ruwenzori^-omer- 
giti#o  das  nuvens  que  vagavam  em  turno  de  iuait  frhldas.  Do 
ponto  em  que  nos  achãvamop,  fr4-n<'S  dddo  recimhecer  algum 
imiuenHOB  geleiros,  cuja  parte  iufenor  es^tava  coberta  de  cuhnl^ 
nancjasi  que  appareciam    diroiídai  de    três    imineusos  pãcos,  dos 


—  6:^8  — 

quoei  o  mnis  ao  sul  erra  separado  doa  outfoa  poi*  uma  tnimenea 
de^fresfeâo  do  tei-reuo.  Esta  era  a  culminaíicia  reconliecída  por 
Frtísljfield  como  fieiído  amais  alta,  pOTêm,  erroneamente  porellô 
confundttlíi  t!  m  O  Duwoni  de  JobnBtou,  quando  era  o  Moebius  d© 
Stuhinaiiti, 

No  dia  iopaintc,  de  Butete,  ptidemoâ  de  tiovo  avistar  03 
picos  iievoBOF,  si  bem  que,  por  estarmos  mnis  proximoit,  as  poutas 
itiferiorei  nos  escoiideasem  a  mainr  parte  dclles.  De  Fort-Portal, 
nenhuma  díístas  poutas  era  visível,  não  ob.tíiute  se  poder  dU- 
tine^uir,  aeima  das  partea  inferiores^  os  cumes  dos  picos  m&ie 
elevados, 

Ko  dia  29  de  maio  alcançnmoa  Firt-Portalj  ultima  estsçAo 
militar  fio  occidonte  da  U^rnida»  O  ar*  KuowIps,  com  iii  lei  li  gente 
prtícis^ílOt  tiolia  finteriormento  pedido  ao  dr,  Wollastotii  da  comi- 
tiva do  Britiãh  jruseum,  para  chepar  a  Forfc-Portal,  afim  de  me 
dar  Tiuticia^  ncerca  daa  suas  tentativas  de  a^^ceuçÃo  ao  Kiyauja 
o  ao  DuwoiíK  feitas  nn  mcx  precednntn, 

O  dr.  Wi  llaiton  informou -me,  dá  i-ua  asceuçáo  a  um  ponto, 
uâo  o  mais  nlln,  no  espigHr>  do  Kiyanja,  e  ao  pico,  que  pensou 
ser  o  Duwoni  do  Jobnstrin,  cuja  culminância  era  froutcira  ao 
escoador  dos  «releiros  do  Mobnku.  Disse-me  mui»  que  esto  pico 
era  do  urna  aUitude  inferior  ao  do  Kiyanja  e  que  a  nord-oeste 
havia  doiá  picoa  maia  altos  que  o  mesmo. 

EUe  lírio  me  pôde  dizer  si  eàtes  evãm  ligados  ao  Kiyanjá^ 
Hmifando-ie  a  expender  a  sui  opiniáo— que  so  verific*ju  6Êr 
eronea— de  estarem  situados  ao  occidente  do  disfduuio ;— E*tít 
infotmaqUio  estava  cm  contradiçlio  coiu  o  que  anteriormente  soube 
de  Freí^bfiidd  e  me  deixou  na  incerteza  acerca  do  caminho  a  seguir 
para  alcançar  o  pico  mais   alto. 

O  problema  que  se  nos  apresentava  era:  Devemcs  tomar  o 
valle  do  Mobuku  cu  o  do  Buto^n  nn  costa  do  Semljki,  a  qualfoia 
preferida  por  Stuhlmaan? 

Do  íacto,  íl  o  pic*o  mnts  alto  é  separado  do  Kiyânja  por 
um  profunda  garc^anti,  e  si  o  caminho  que  de  Mobuku  vae  ao 
mesmo  Kiyn^ja  v,  i n transi  ta vel^  como  poderemos  atravessar  a 
série  de  montes?  Nesta  incertezn,  o  melbor  caminho  parecia  o 
do  valle  do  Buto^ju,  porem  este  60  podia  ser  alcançado^  depois 
de  um  circuito  em  torno  dâs  íValdas  meridíonaes  da  serra  e  atra- 
vessando uma  parte  do  v^Uh  do  SemliUt^  onde  nào  era  certo 
enconttarmiLg  as  provi^ues  necessárias  á  no^^sa  caravana  o  acolhi- 
mento amifTflvel  da  parte  de  feui  habitantes.  Das  duas  alter- 
nativas escolhemos  a  que  implicava  uma  viag-em  mais  curta  e 
re6olveu-8o  Eubir  o  ^[obtiku^  para  abi  se  decidir  si  convinha  ou 
nâo  o  trajecto  mais  curto  do  Semliki. 

Fort-Portil  eitá  situado  a  1,700  metros  em  uma  localidade 
salubre,  formando  um  vítsto  nmphithcatrOi  fechado  ao  occidente 
pelo  RuwensEOri  e  ao  orienta  pelos  mentes  que  formam  o  despluvio, 
entre  69  lagoa  Álbert  e  Albert  Edwaid. 


™  639  - 

N&o  ba  ahi  tiiaU  de  15  europeus,  incluindo  ns  EotiboraSi  o 
Cfnímisânrio,  o  eoUector,  o  camniaudante  das  tropas  e  os  ihIèbÍo- 
t.aríoa  dae  e^rejaB  catbolica  e  protestante.  O  terreno  é  bem 
cuhivado  o  UQ  perienceute  á  tiiiss^io  cRlholica  f  ucontiam-Èti  ílo- 
líscentei  todíiâ  as  espccifs  de  verdura  europea. 

Farámoâ  çtn  Fcrt-Povtal  iics  dioB  30  e  31  de  maio,  com 
agrfldo  de  todos  ;  lizenjos  uma  breve  vi^^ita  ao  puíacio  do  alegro 
ri?i  Kniagama  c  ao  seu  luais  jovial  primeiro  ministro  j  depois 
fomes  saudar  os  exccllentes  padres  da  uiis^âo  calholica  na  *Nôtra 
Dame  da  Naio^o*  o  em  seguida  recomeçámos  n  noisa  toarcba 
para  Mobúkwt  acompaiibadoa  do  collector  rar.  Haldone,  de  mr. 
Knowles  e  dr,  Wolía^toti, 

Nes&a  tardo  o  dr.  Wolínstoii  noa  deixou,  para  juntar-se  a 
ezpeHiçào  do  Brilisb  Mu^eum,  no  valle  do  Nyamwamba» 

Em  treít  marcba§,  parando  era  Dtiwona  e  Kfsaongo,  cbegá-* 
mos  a  Ibauda  no  vfiUe  do  ^^C1búk1l. 

Oh  terreiKSf  si  bem  que  fértei?,  aào  pouco  cultivados*  Du- 
lante  o  percurto  encontrámna  diversas  torreuteSf  daa  quaes  duaa, 
as  de  Wítdí  e  Mobúkii,  &âo  de  tal  importância,  que  impedem  a 
p&fsflgem  de  uma  caravana,  cm  lenip^  df^  eucbente. 

Devido  á  s^c^cca  uã,r>  tiToiaos  difficuldades  em  íitravcssar  o 
Wimi,  roas  na  t  a\  «.'ssia  do  Mobúku  fomos  obrisrados  a  usar  de 
uma  cordat  tob  o  qual  so  coHncaram  alguns  indig-ena?,  afim  de 
salvar  bomeisp  ou  rccuj>erar  algum  earregamenlo  que  por  ventura 
fo«se  levado  j»el:i  correnteza. 

Si  bem  i^ue  o  tempo  foste  sereno  e  a  víata  clara,  os  picoa 
uevogos  não  eram  maia  vieiveis,  estando  cobertos  j^elas  pnntas 
inferiores;  mas  apenas  deixamos  Kasou^o,  om  uma  madrugada 
gloriosa  ap pareceram  deanto  de  noesa  vista»  dois  picos  roeboBOS, 
aoâ  quacB  denominamos  Ildena  e  Savoja^  lendo  em  baixo  grande 
geleiro. 

Continuamos  nessa  marcba  para  o  sul  e  descemog  ao  valia 
de  llima,  donde  os  dois  picos  uao  mais  eram  vísiveia,  porém  de 
onde  se  viam  bera  oft  dois  cumes  avistados  de  Kaibo  e  Buiiti  e 
reconbecidos  por  Fresbiield  o  por  nói  como  aeado  as  duas  pou- 
tas  roais  altas. 

Em  meio  da  descida  do  valle  de  Ilima;  lurgíu  á  nossa  vista 
uma  nova  pnnta  roebom  e  nevosa  tendo  um  grande  geleiro  ao 
norte,  a  qual  facil mente  rcconbecemos  sor  o  Duwoni  de  Jobns- 
ton*  Fomos,  portanto,  mais  felizes  que  os  noEsoa  predecessores, 
pois  que  noa  foi  dado  vPr  a  serra  á  distancia,  e  depois  de  novo, 
Mites  de  entramos  iio  valle  do  Mobúku,  pelo  que  podemos  che- 
car á  coavicijÃo  dê  que  a  ponta,  julgada  por  Fresbfield  e  por 
nus  como  sendo  a  ponta  mais  alta,  era  uma  cousa  perfeitamente 
distincta  do  Duwooi  de  Jobnstcn^ 

A  residência  do  chefe  de  Ibaitda  acha* se  em  uma  parte  do 
valle,  a  qual  parece  ter  a  íórma  de  uma  bacia.  No  começo  do 
valle,  eleva-se  uma  ponta  rochosa  o  alta  sobre  a  qual  domiua 
o  grupo  nevoso  do  Duwoni. 


—  640  -- 

Áo  tempo  sereno  da  oecaaiâo,  em  que  entranirfi  em  Ibanda, 
seguiu- Be  uma  noite  ainda  mais  clara.  ArtB  noisot  pé  a  murmu* 
ravíim  as  ag:uas  do  Mobúku  e  na  parte  i-upertor  do  nosso  acam- 
pamento foram  accesae  centenas  de  Inzea,  as  qunee  appareciam 
Q  desap pareciam  á  noasa  vista,  á  medida  que  os  nossos  carrega- 
dores,  em  ^rupo,  giravam  em  volta  das  mesmas. 

Ob  coTjâns  do  valle  appareciam  distintos  á  claridade  da 
noite  e^trellada,  mas  meus  olhos  eu  os  tmba  irresistível  mento 
Yo1tdcÍQã  para  os  picos  nevo^OÊ  do  Duwoni,  com  o  mesmo  olhar 
de  esperança  com  que  o  marinheiro,  em  uma  noite  tempestuosa 
e  ne^rra,   procura  o  pharol  de  um   porto  onde  abrigar-ae, 

Nrj  dia  4  de  junho  deixámos  I banda  e  os  noasoa  carrega- 
dores puzieram-se  em  marcha^  encoraja  d  os  pela  belleza  do  tempo  ; 
ellflii  começaram  num  passo  rápido^  que  mantiveram  emquanto  o 
valle  ar^  em  nivel  e  até  que  encontraram  uma  subida  tâo  iegreme, 
qu©  quasi  tolhia  a  respiração,  mesmo  aos  que  nào  levavam  carga 
algurati.  Á  nossa  caravana,  t&o  alegre  no  momento  da  partida, 
tornou- tte  taciturna  e,  depois  de  duas  horas  e  meia  de  caminho, 
ebegamos  a  Bibunga,  mas  somente  com  uma  pequena  parte  da 
Boasa  comitiva. 

Bibun^a  acha-ee  a  600  metros  sobre  o  nivel  de  Ibanda  e 
a  2.200  metros  acima  do  nivel  do  mar,  Aqui  se  encontram  ai 
ultimas  chonpnnsÉ  dos  Bakt^njoa^  montanheses  de  maneiras  gentil 
6  hábitos  paciKcoa^  os  quaes,  apesar  dos  rigores  do  climat  con- 
tinuara a  andar  habitualmente  nii». 

A  expedição  do  Britísh  Museum  eitevô  algun»  meies  naquella 
localidade  e  a  stia  estadia  íicou  a&gígnalada  por  nma  bellissiraa 
cabnnn,  da  qual  nos  servimos  para  depositar  uma  parte  do  noeeo 
carregamento. 

Às  nossas  tendas  foram  levantadas  com  difficuldade,  devido 
á  carência  de  terrenos  planos. 

Do  nosso  acampamento,  gosava-se  uma  belltasima  vista  sobre 
a  parte  inferior  do  valle,  sem,  porêiii,  podermos  avistar  &<*  aguai 
do  lago  Kuízamba.  Volvpndo  o  olhar  para  a  parte  superior  a 
vista  era  limitada  por  uma  proeminência  em  forma  de  unha.  Ko 
dia  seguinte,  favorecidas  por  um  tempo  egualmeote  beJlo,  ae* 
guimoB  para  o  novo  acam)>ameDtn. 

O  caminho,  apenas  deiií*do  Bibunga,  sobe.  á  proeminência 
já  mencionada  para  depois  descer  ra}idflmpnte  ao  valle  do  Chowa 
ou  Mahoraat  alravesaaudo  uma  *  splendida  floresta  de  «Podoearpi» 
te  lei  e  louros,  fechada  entre  íaliencia»,  também  cobertas  de  la- 
luriante  vegetação. 

O  caminho  neste  ponto  continua  a  subir  á  proeminenclai 
que  divide  ns  torrentes  Mahoma  e  Mobúku,  seguindo  o  espígio 
até  Nakitawa 

A  descida  do  valle  de  Mahoma,  em  terreno  escorregadio, 
tinha  já  atrazndo  a  marcha  dos  nossos  carregadores,  a  qual 
mais  te  retardou,  devido  á  rápida  subida  do  Nakitawa.^! 


1 


I 


a.  ^Levámos  J 


—  641  — 

quatro  horas  para  cheg-ar  a  eite  logar  e  muitos  dos  noBSOf  car- 
regadores empregrtrain   tempo  aio  da  maior, 

O  refug-io  de  Nakitawa,  40}  tretros  acima  de  Bihuog-a  e 
2.600  metroâ  f^obre  rv  oivel  do  raar,  está  abngado  por  urn  bluco 
(?)  erratJcOf  ©  eBeavado  em  umanti^n  accumiilatnetito  de  rochas, 
o  qual  actualmente  divide  o    valle  de    Mobúku    do  de    Míihoraa. 

à  algumas  centenas  de  metros,  abaixo  do  no»go  acampa- 
mento» exUtia  uma  ruina  profunda,  que  ríUtr'ora  foi  a  base  de 
um  celeiro  e  é  a^ora  o  leito  de  uma  torrente,  qiit^  a  corróe 
eoutiriuamentr',  e  em  frente  dominam  majestogaTni'nte  as  faces 
do  pico  Portal,  no  meio  do  quftl  se  abre  uma  valia,  que  (larece 
conduzir  ao  Duwoni,  como  haviamo»  visto  de  Ibanda.  Até 
então  pensávamos  que  o  Mobiiku  nai^cesse  na  raoiitaubn,  maa 
depois  m  B  inclinamos  a  ciêr  que  as  a^fuas  da  liqiiefação  do  gelo 
chegavam  ao  seu  leito  pouco  abaixo  do  ni  bso  ^^campíuneotn. 

Algnns  exploradores  precerfentes  aconselbuvam  a  e<)trada 
de  Mobuku,  como  sendo  a  mais  iunicada  para  ^e  alcjnçfirem  as 
posiçooa  superiores;  e,  na  falta  de  outras  razõe^^  resolvemos 
seguir  6*36  conselho,  si  bem  qije  desde  a  nosaa  chegada  a  I  bati  da, 
tinbam-me  sQr^ido  ac  espirito  duvidas  sobre  ai  o  caminho  que 
Íamos  tomar  era  o  maia  couveuieute  para  checar  ás  neves,  que  já 
de  longe  tiuhamos  aviltado. 

A  mim  pariícia  que  cst©  caminho  devia  ser  procurado  na 
valia  que  se  abre  em  frente  a  NakitQwa,  a  qual  conduz  ao 
Dnwoni  de  Johnslon,  ao  passo  qte  seg-nindo  a  estrada  de  Mol>uku 
nAo  só  uns  afdstavatnirs  do  Uuwoni,  roa»  lambem  viamos  que 
outra  9etm  se  inierpanha  entre   nós  e  aquelle  pico. 

Em  Nakitawa  deixamos  mais  de  metade  dos  nofsos  carre- 
gadores BagnnHas;  e  com  o«  resmntos,  cercado  90,  teeni:etamos 
a  uosia  marcha  na  manh^n  do  dia  G,  nào  maia  favoreci di^s  pelo 
betlo  tempo,  maa  com  chuva  e  cerrarão.  Até  Nakitawa  jit^r- 
corremos  um  caminho,  que  tinha  o  &eu  fim  naquelia  localidade, 
Dahí  iniciamos  a  nosaa  marcha  por  nm  caminbo  rochoso  e  em 
seguida  abrindo  picadas  para  atravei^ftar  espessos^  bambúaea. 
Depois  atravessamos  uma  várzea,  atolando  até  aos  joelbos,  6 
passamos  para  a  margrem  esquerda  do  Mobuku^  defioia  do  quoj 
sempre  caminhando  em  um  profundo  lodo.  chegnmtis  dentro  de 
4  horas  ao  refugio  de  Kichuchu,  em  condições  deploráveis  e 
©lauBioa  pelo  esforço  em[«regHdo  para  atravessar  a  vaizea  © 
completamente  ensopados  pela  chuvji  e  p6la  humidade  das  bervaâ 
e  daa  arvorei. 

O  refugio  de  Kicbucbu  está  a  295  péa^90  metros  acima 
do  Nakitawa  e  a  2690  de  altitude í  é  formado  por  salieucia?  de 
rochas,  em  espaço  tào  €M?treíto  que  quasi  nào  abriga  das  intem- 
péries e  o  solo  é  Bem])re  humedecido  pelae  Rji^uati  que  descem 
das  fondaa  das  rochas.-  Nesse  refugiOf  entretanto,  pudemos  le- 
v&ntar  três  dai  nossas  tendas. 


—  6J2  — 

Devido  ao  tempo  perverso,  no  liorrivel  cammLo  e  stibretudo 

á  appreheíiÉào  de  que  segui ssemoa  uma  dirí^cçílo  errada,  perde otíOb 
neste  ponto  o&  últimos  carregadores  de  Uganda  que  qús  reata- 
vam. Nfio  noi  foi  poá?Lvel  coustraugel-os  a  qae  uos  beguLfieeca 
porque  nao  lhes  podíamos  n^segurar  o  alimento  quctidiaoc*  Pôi 
então  necessário  abandotiaruio»  parte  do  nos^o  carregamento»  6 
proBegiiírmoa  eómento  com  os  carregadores  de  Bakouju.  Dei- 
xado este  acampamento,  subitn<s  mnía  de  300  metros  por  uma 
«atreita  garganta  natural,  abeHa  na  rocha,  a  qti8l  noé  conduzia 
a  um  plano  e  depois  a  uma  grande  capoeira,  onde  a  nossa  marcha 
foi  djfficultada,  nho  só  peles  gaihoa  e  troncos  das  suns  plantaSi 
mas  também  por  uma  grande  quantidade  de  tocos  o  galhos  dâ 
uma  Hore&ta  mais  antiga,  sepultados  uo  musgo  e  cahidos,  queM 
sabe  ha  quantos  annoa. 

0&  Bakúujóa,  d  bem  que  levassem  na  cabeça  um  peão  d^ 
cerca  de  20  kg.,  c&mlahavam  ligeiroSj  ora  abai%ando-se  para 
passar  Fob  os  galhos,  ora  pulando  de  toco  em  toco,  com  lauta 
agiUdade  que  nóá  os  seguíamos  com  grande  dificuldade. 

Passamos  novamente  para  a  margem  direita  do  Mobúkn  e 
ahi  nos  encoutramoã  deaate  de  uma  subida  do  valle,  com  cerca 
de  210  metros  de  altura^  vencida  a  qual  se  nos  apresentou  uma 
vista  inesperada:  uma  longa  garganta  horizontal^  fechada  entre 
duas  paredes  quagl  verticaes,  ao  fundo  da  qual  se  avifttava  outra 
subida,  em  cujo  fim  ee  encontrava  o  refugio  maia  elevado,  o  át 
Bujongolo.  O  iundo  e  a»  faces  da  garganta,  ató  onde  a  vi^ta 
podia  distinguir,  appareciara  c hartas  dB  uma  vegeta^íka  pbau- 
tastica.  Toceiras  de  hÉlf/chrisujn  com  ett^rnas  flores  brancas  ta- 
petavam o  terreno  e  sobre  elfaa  erguíam-^e  o^  grandes  e  fúne- 
bres caules  dã&  Lubelías  e  uma  enorme  collec^ào  de  Semecim* 
Apesar  de  toda  eita  exuberância  de  vegetação,  havia  uma 
au-jencia  completa  de  vida.  O  nnico  lom  famil  ar  para  nó»  era 
o  murmúrio  de  uma  cachoeira  próxima   ao    refugio  de  Buamba. 

Depnis  de  cerca  4  hora  a  de  caminho,  chegamca  ao  refugio 
de  BnjongolOj  mas  muitos  carregadores  que  detectavam  a  mon- 
tanha, ficaram  em  Buamba  ;  e  como  consequência  tivemos  que 
passar  a  primeira    noite  som  tenda  e  alguns  de  nós  sem  eaiLa. 

Assim,  depois  de  54  dias  de  viagem  e  do  um  percurso  de 
6  «000  milhas,  tiubamas  finalmente  chegado  á  ha  se  da  monta- 
nha, que  era  objecto  da  nossa  exploração. 

O  refugio  de  Bujongolo,  como  o  de  Kichuchu,  é  formado 
de  rochas  su?ponBaa  como  platibandap,  poi cm,  menos  conveaiento 
do  que  o  primeiro,  pí^rque  muitos  blocos  cabidos  tinham  tor- 
nado o  solo  desigual,  de  modo  que  não  foi  poasivel  levantar 
neta  uma  tenda.  Foi  enlào  resolvido  faiísr-se  uma  plataforEua, 
com  arvores  que  se  derrubaram  para  sobre  cila  se  conairuirem 
seÍ8  das  nossas  tendas,  aa  quaes  foram  dispostas  em  grupes  de 
dui»,  em  dÍS'ereiites  planos,  separados  por  blocos  de  pedra* 


I 


I 


-    l>43  ~ 

Paríi  pn&sar  de  ixm  a  outro  g^rupo  era  mos  obrigados  a  um 
bflnlio  d»  ducha,    porque    da    exttetnidnde    das  rochas,    que    nos 

rcrviam  d©  tecto,  a  aírua  phi^nva  coaiínuatueute,  mesoio  quando 
havia  bom  íempo,  e,  si  bg  queria  CTitar  psfa  ducha,  tornava-ae 
necci^sano  fnzer  exercicioB  acrobaiícop,  saltando  dos  Hocoa  á 
jiarcde  da  locba* 

U  Iilobiiku.  corria  aos  qoeeos  péa  em  uma  profunda  ruitiat  a 
qual  S9  tibria  EÓmento  na  parte  occidetitat  dotnodo  apenas  a  noa 
deixar  \ôr  as  vertentes  mcridiofiaca  do  Kiy.inja. 

Km  O  de  jnulio,  botive  no  iicafo  acampamento  um  movi- 
mento tmpreTiato:  Mr,  Knowlos  noa  deixou  para  voltar  a  Fort 
Portal  e  <  s  carregadores  Bakonjíis  regressaram  a  bu*car  as  pro- 
7is5es  deixadas  em  Nikatawa  e  Kicbncbu,  ao  paaao  que  eu,  os 
meus  gutas  alpinos  e  5  BAkortjos  mafcbamos  para  o  espigão. 

Segttiuioa  ao  longo  do  Mobúku,  pelas  pegadas  dos  prece- 
dentes cxploradore?!  até  o  ultimo  acampamento  construído  por 
(^rfiupr,  próximo  ao  geleiro,  Xe^to  ponto  oá  guía^  tomaram  a 
dl  ecçílo  ©  feg;uÍndo  por  algum  tempo  o  cr.niiiiho  de  Grauer,  q 
dobrando  á  direita,  c nuostando^noa  áe  rncha^,  quo  áào  accesso 
ao  geleiro,  alcançamos  a  cachoeira. 

Por  aiífum  tempo  pudemos  couveucer  os  Bnkonjos  a  que 
noa  BeguÍFsemi  maa  estando  ellet  descal<;os,  eacorrcgavsm  mais 
facilmente  nas  lagea  e  cortavum  os  pés  noa  ângulos  das  pedras. 
A  4,200  metrcg,  altura  nunca  por  eiles  alcaiti^ada,  íomoa  obti- 
gsdos  a  deixaUoa. 

As  nuvens  e^tavam-se  agrupando  e  foi  necessário  fa^er  o 
acampamento. 

Na  manhan  do  dia  seguinte^  com  tempo  bello,  alcançamos  o 
cume  em  45  minutos*^  E-to  breve  tempo,  cnminhando  nnma  vertente 
nervosa  e  cbeia  de  fvndfls,  pareceu -nos  uip  longo  século,  e,  esti* 
Tuufando  oa  guUs,  de  uma  «6  caminhada  veloi  chegamos  em 
cima,  qttasi  ?em  respiração. 

Áehamo-nof,  eniAo,  em  frente  a  uma  reeutraueia  iníerior, 
da  fena  que  liga  o  Kiyanja  c<m  o  pico,  por  cuja  paríe  oriental 
Wollatton  tinha  feito  suaatcençào.  â  serenidade  do  céu  permit- 
tiu-nos  avistar  todos  os  picos  nevoscs  que  formam  a  parte  mais 
alta  daquella  ferra.  O  lado  septcntr^oual  do  cume,  em  que  nos 
achavamofi    terminava  em  um  precipicio. 

Deante  de  nóSf  na  me^ma  direc^^íio  apparf^ciam  4  diEtinctas 
montachaa,  com  picos  ne?oscs  muito  mais  altoa  do  que  o  ponto 
em  que  non  achavamoa.  As  daaa  mcntnnbas  centraes  appare-» 
eiam  quaai  em  Imba;  a  do  cccidente,  mais  próxima  de  nós,  era 
coroada  de  4  picoF,  diapostos  em  dois  gmpoa  de  dois,  tendo  o 
grupo  septentrional  separado  por  uma  baixada,  o  qual  é©  nos 
fifigurnva  o  mais  aho*  Eram  os  pontes  avistadoa  por  Wollaston 
e  reconhecidos  por  noa  quiindo  em  Butite  e  Ibanda,  onde 
&e  noa  apreaentavom  coroo  os  dois  pontoa  mais  altos  do  e6pigi\o. 
Todaa  as  duvides,  que  por  ventura  tivcasemoa  a  rea peito  d©  Bua 


—  644  — 

import Anciã,  deviam  ser  abandonadas^  vUto  como  tinhanios  che— 
gado  á  convicção  de  qne  esi^as  dnas  pontas  estavam  maia  a  oc^ 
cidentâ  e  mais  distantes.  Os  dois  pequenos  vallee  que  reparam 
Ofi  dois  ji^^rupoB  ex.temofl  doa  dois  grupf^s  centrae»,  eí^tavHin  aoa 
BOBBOS  \)ést  num  valte  que  corria  parallelo  ao  ciime  em  que 
noB  achávamos. 

Não  tínhamos  ainda  podido  acertar  o  curEo  laferior  deste 
Talle,  mae  o  tínhamos  observa  d  o  suffi  ciente  mente  para  jtodf^rmoft 
concluir  que  o  eBcoameoto  se  fazia  pela  parte  oriemal. — N'uiaa 
explorarão  subsequente  pudemoB  v^ríticar  que  de  facto  se  acbava 
no  valk  do  Butuca. — Percebemos  que  o  pico  a  leste  do  geleiro 
da  Mobuku,  galgado  por  WoRaston^  u  qual  resultou  de  airitude 
inferior  a  do  Kiyanja,  nào  podia  Avr  o  Duwonl  de  Johnston, 
mas  um  pico  secundarÍQ,  que  tião  pertencia  ao  divisor  da«  aguas. 

Eram  apenas  6  horas  e   1/2  dn  manhan    e  fazia  bom  tempo. 

Tínhamos,  portanto,  todo  um  dia  para  andar  e  re&otvemoa 
Buhir  &o  Kiyanja  a  fim  de  determinar  o  caminho  a  «egntr-se 
para    alcançar  a  haíxada,    que    separa  os    doía  picos  mai^   altos  ! 

Descemos  o  celeiro  pelo  lado  Sul  e  depois,  contornando-o, 
subimos  de  novo  até  o  seu  cume.  Por  e^se  tempo  as  nuvc^ns 
estavam  ^e  agrupando  e  num  pequeno  intervallo  de  céu  sereno 
avistamos  uma  profunda  depressão  entre  o  Kiyaoja  e  uma  mon" 
tau  ha  nevosa  tituada  ao  buI,  a  qual  formava  uma  abertura  que 
de  um  lado  conduzia  ao  Bujongolo  e  de  outro  ao  Semlikj.^ — 
Não  parecia  haver  d ifScii Idades  para  Be  atra?eBsar  eate  trecho 
e  alcançar  o  valle  existente  entre  o  Kiyanja  e  qb  dois  picos  maia 
altoâ, 

Pa7Ía  calor  (4S  Far.)  e  por  4  Itoras  iicamoa  na  roeha^  á  es- 
pera que  o  céu  cJareasBe,  mas  em  vão^  e  á  1  hora  da  tardei 
deixámos  o  cume. — YoltAndii  pelo  mesmo  caminho^  chegámos  á&. 
S  e  meia  ao  ponto  de  onde  tínhamos  partido.  Aqui  encontramos 
o  companheiro  Bella,  que  tinha  ficado  s6m  de  tirar  uma  photo- 
graphia  do  panoiama.  Na  manhã  seguinte  retomamos  a  Bujon^ 
golo  e  por  ties  dias,  1*2,  13  e  14  de  junho^  a  chuva  dos  pren- 
deu naquelle  logan  Eia  inútil  qualquer  tentativa,  em  vista  da 
grande  cerração  e  da  chuva  que  cabia  torre acialmenteí  e  mesmo 
que  quizessemoB  partir,  os  carregadores  BokonjoB  nào  qdb  tenum 
se^ido.  por  três  dias  ficí^mos  pre&OB  em  o  nosso  refugio,  sepul^ 
tados  numa  negra  cerração.  O  unicc»  incidente  foi  a  visita  nào 
desejada  de  um  b^iâpede  perigosoj  cujo  rasto  tínhamos  já  obser- 
vado; Um  leopardo  que  numa  noite  devorou  dois  carneiros  e 
n^ outra  checou  a  poucos  passos  de  mim,  quando  me  achava  sen- 
tado dinnte  da  minba  tenda,  áo  levantar-me,  elle  fugiu;  mm  a 
ana  presença,  quaai  dentro  dê  nosso  acampamento^  deixou- me 
algum  tanto  inquieto  por  cansa  dos  carregadores  que  dortuiant 
sem  nenhum  abrigo  e  por  cau^a  daquellos  que  iam  buscar  agua, 
A  vizinhança  dease  animal,  portanto,  oâerecia  um  serio  perigo^ 
Na  noite  de  14  para  15  um  forte    vento    oriental  destruiu   pftr-^ 


—  Ô45  ^ 

^aliD^nte  as  miTf^ni  e  pela  manlift,  com  om  cen  claro,  deixamos 
Btijon^olo  com  notsoa  ^uias  e  earre^adore»  â1pinoee9  bnkonjos, 
TQODindo  assim  Ioda  a  força  de  qae  dispnobanios.  No  ati^'^uto  que 
^  valle  do  Mobuku  forma,  tomnndo  a  direcçíio  septentriotial  uót 
dobramoft  á  dirt^ita  e  fizf^mofi  um  circuito  abaixo  da  vertente 
iseridiodal  do  Kijanja.  Deviflo  tkos  trt^B  dias  de  chaya,  o  ter^' 
reno  estava  muito  escorregai; íq.  Dt4f>oi«  de  uma  hora  de  marcha, 
'«•tavamot  todoí  eniopados  de  Kçna,  cobeitoã  de  lodn  e  irrita- 
doi  por  ter  de  B«^gair  em  várzeas,  atolando  »té  aos  joelhos  ou 
em  penedias,  onde  ee  fazia  nm  paei^o  adiante  e  dnie  atrás.  Ã 
tomar  o  caminho  mais  difícil,  surgiu  espessa  cerração  que  no» 
circumtlou.  A  descida  na  cofta  do  ^emliki  foi  ainda  peíor«  Os 
guias  em  grupo,  abriam  a  machado  um  carreador  na  capiieira  Oa 
^eontrafortea  meboaoB  ob  ri  iraram -das  a  fazer  longas  voltas,  «  os 
"nossos  carregadores  indigf^na^^  cançadoB  e  pouco  «tisftosios  a  not 
-tegnirem  no  t*-rritorío  do  Coiíg-o,  paravam  de  momento  a  mo- 
^entis  preciBando  de  eomlano  auxilio. 

Ã's  4  horas  eheg^amos  á  marg-em  de  dois  lagos,  cujaà  aguas 
apenas  se  incre^pavam  ao  sopro  da  bri»a  e  aos  movimentos  das 
vnarrecas  «plvatr**ns,  e  reflectiam  na  ma  superfície  os  cândido^  picos 
das  montauhl^s  marginaes.  A  t^rde  era  b^lla  e  nos  restituiu  o 
%om  humor.  O  lol  desceu  atrás  áf^  um  ^rupo  d^  nuvens»  num 
grande  valle  que  se  abria  ao  occidente,  para  de  novo  reappsre-'' 
■cer  abaixo  das  mesmas  nuvens,  antf*s  de  descambar  afinnl,  além 
das  grfmdea  florestas  do  Coniro.  Nào  bó  o  horizonte,  como  também 
toda  a  athmosphera,  estava  impregnada  de  uma  cõr  ro&eáf  do 
rmodo  que  o  valle  e  a  ^Tbnáf\  floreíta  parpciaru  envolvidas  por 
chnmmíis  No  dia  sf^í^uinte  tivemos  grandes  diflUculdadefl  parft 
consef^^uir  que  os  dh^sos  carregadores  contÍuu»&8em,  Cheios  do 
ilesconfíançae  ignorando  os  logar^s  para  etnde  queríamos  con d uzil-os, 
procurn%*am  todos  os  nieíoA  de  se  esquivarem.  Nila  tendo  nói 
'nm  interprete,  não  podíamos  com  prebendar  suas  objecções 
nem  lhes  expor  os  nosaos  plnnos,  A  minha  paciência  e  doa  metts 
guias  foi  n(*ase  momento  submRttida  dura  prfj?a- 

No  dia  immediato  [i<^i demos  muito  tt^mpo  em  abrir  ama 
.picada  numa  espesi^a  capoeira  á  bf^ira  dos  la^as.  Depoí?*  íeifui- 
mos  o  valte,  lenio  acima  o  cume  do  Kiyanja*  Em  dois  dias  pu- 
demos tran-pi  rtar  o  nofu^o  acampamento  para  o  g**leiro,  qu« 
desce  do  grupi  que  desejávamos  alcançar  sobre  o  valln  qua 
«sta vamos  atravessando.  Uma  garcan^a  Íngreme  divide  e^to 
este  vnlle  dn  valle  que  avi&tamoií  abaixo  da  p/ta-^agem  do  Grauer* 
A  faee  neptentrional  do  Kiynnja  caUia  quasi  perprtnduíularmentô 
sobre  o  valle  que  iamos  o  travessando.  A  montanha  qun  ha  vía- 
mos observado  ao  oeste  da  passagem  de  Grauer,  tinha  am 
extenso  g^lftiro  nas  sua?  fratdas  occidentae^.  Entre  esta  montanha 
e  aqiieUa  em  cuja  verti;ntH  nós  nos  achávamos,  estavnm  o  valld 
profundo  e  o  lago  que  linhamos  aviíàtado  da  passagem  de  Gra- 
mer*   Á-fl  aguas  deste  lago  escoavam  em  um  valle»  que  no  começa 


—  646  — 

tfm  um  curso  parnlleno  ao  monte  que  une  e&ta  pni^sagem  no 
Kíyatija  e  depois  seajue  para  o  eul,  abãiro  de  diversos  picos  a 
lé&te  do  que  foi  galgado  por  Wollastoií.  A  moiitatilia,  que  ti- 
nha um  citenfo  geleiro  a  nord-èsle  do  ncsto  acíimpamenta, 
ern  o  Duwúni  do  Johnstou,  e  o  valle,  quH  ficn  a  léift&t  era  o 
início  do  vflHo  írcnttiro  a  Nakitawa,  a  travei  do  qual  pudemos 
aTiatar,  de  Ibaudft,  a  montauli^  DuwonL 

Era  Gvideiitei  portnalo,  que  a  pa^ra^em  de  Grauer  líão  fe 
acbavn  no  divisor  das  aguas. 

Todas  aa  torrentes  que  formsm  o  VJille  ao  occidonte  da  pas- 
sagem de  Grauer  sào  a f fluentes  do  Mobuku.  Deitamo-noa  aqucUa 
n(jitd  num  estado  de  nervosa  anciedade.  N.^n  pndcmcs  dormir, 
nào  tanto  pela  dureza  dna  pedras,  sobre  as  quaes  noa  tinhamrs 
dett^do,  como  pela  duvida  que  niormentava  o  nosso  espirito, 
cora  receio  de  que  o  tempo  máu,  que  já  havia  começado,  con- 
tinuasse de  modo  n  que  fossemos  ohrjgadod  a  permanecer  acam- 
pados, quem  íahe  por  quantos  dia»,  e  precjsftíneute  ao»  péá  dos 
picos  almejados- 

Na  madruf^adfl,  o  lempo  era  pouco  promÚEor,  ma?,  não  ob- 
stante, partimos. 

Peti^ax  ia  na  frente,  Ollier  em  ff^nndo  logar,  eu  era  ter- 
ceiro e  Brocharei  fechava  a  comitiva.  Dentro  de  uma  hora,  por 
uma  facil  penedia,  ak-ançamos  um  geleiro  horizontal  com  al- 
gumas fendas,  Os  dois  picoa  gémeos,  separados  pela  baíiada  ca- 
racteri&tica,  em  foima  de  eella,  estavam  deantee  proiimoa  de  nós. 
Eram  6  horaa  e  meia,  O  sol  biílbou  poucos  initautea  e  logo 
escondeu -66  atrás  das  nuveoa  que  èo  agrupavam  no  oriente. 
Imraedifttamcnte  sentimos  o  Éopio  do  vento  sud-éate,  o  qnal 
auginentava  rO])idamente  de  íor<;a  e  no  meio  do  «plateau»  fomos 
envolvidos  por  uma  especa  cerração.  Petigax  continufiu  a  sua 
marcha  ató  ao  contra  for  te  qiio  deace  do  pico  meridional,  que  é 
a  menor  de  a   doia. 

A  neve  estava  em  bont  condições  do  acce^so  e  depois  de 
ter  cxcavado  algunsi  degiáuâ  alcançamos  o  cume  ás  7  horaa  e 
meia. 

Devido  A  grande  cerração  nSo  pudemos  vèr  uem  o  pico  mais 
alto,  que  estava  a  poucas  centenas  de  metros  de  nój.  Os  guias  ti« 
nbam  já  observado  no  dia  antericr  que  haveria  certa  difíicul- 
dade  cm  le  alcan^^nr  o  pico,  pela  fella,  por  causa  de  uma  es- 
pécie de  cQtnijn  Rcima  existente.  A  neblina  impediu-nos  de  re- 
conhecer  a  dr^Fcida  do  pico  cm  cuja  sella  nos  achávamos  e  muito 
mais  de  estudar  o  maíli^  r  meio  de  vencer  a  cornija.  Que  fazer? 
Adiar  a  subida  para  um  outro  dia,  descer  do  logar  que  já  ha- 
TÍamoB  alcançado,  ]>afsar  abaixo  da  Eella  e  galgar  o  pico  pelo 
lado  onde  nào  havia  cornija,  ou  tentar  uma  passagem  directa 
pelo  caminho  da  sella  ? 

Os  guias  calaram -SB ;  ellea  agiam  em  siloaclo  ©  seria  iuu- 
til  fluggerír-lhea  uma  retirada. 


—  641  — 

Tomamoa,  per  Uso,  o  camínlio  da  solia,  para  depois  pro- 
ceder em  circmro  do  caso  em  que  a  marcha  directa  fosse  impra- 
ticável Segotmof,  pois,  a  vertento  nevosa  e  iogieme  &iã  a.  cor- 
nija, evitando  es  continuot  fragmentos  de  g^lo  qae  delia  se  de9< 
tacavam  em  grande  immero,  afira  ds  podermos  alcHiiçar  aua 
orla.  Â  penedia  era  tão  Íngreme  qne  minha  cnbeça  qnasi  to- 
cava 03  péa  do  giiia  que  caminhava  na  frente.  Petif,^ax  fazendo 
CS  dejíráua  no  j^eleiro,  atirava  sobre  noi,  que  estávamos  abaiio, 
01  pedaços  de  g-elo  eicavados,  ao  mesmo  tempo  que  eu  antegosavft 
o  momento  em  que  nosía  coinJtls'a  tomaria  Fua  poíiiçAo  nor- 
mal, marchanáo  ao  Udo  um  do  outro,  ao  emvez  de  ura  acima  do 
outro.  De  repente  eucontramo-aos  deaute  do  um  bloco  de  gelo 
da  altura  de  2  metrns, 

Petiga%  p^ra  galg^al-o  foi  obrigado  a  pôr  oi  seus  tapatos 
ferrados  de  pontas  na  cabeça  o  nos  bombros  do  infeliz  Ollier, 
que  serviu  de  C3crda.  A  orla  tinba  sido  vencida,  estava  alcan- 
çado o  eípigiio. 

Eram  11  horas  e  meia  Uma  fresca  brisa  eoprava  de  eud- 
è;te ;  as  nuvens  passavam  velos&os  a  poucos  mo  troa  abaixo  de 
nd^t  deixando  apenas  visíveis  os  doi*  picos  que  acabávamos  de 
abandonar  e  a  ponta  sobre  a  qual  nos  achávamos.  A  ostãs  dois 
picoi,  os  únicos  que  ent&o  se  avistavam  e  que  coroavam  meus 
esforços,  dei  o  nome  de  Margarida  e  Alexandra,  para  que  «ob 
(.s  ausjicios  dessas  duas  reaes  çenbóras,  a  memoria  das  duas 
nações  fosae  levada  á  po&teridade :  A  Itália,  cujo  nome  pela 
primeira  ve»  echoava  naquella*  noves  ao  nogso  grito  de  victoria 
e  a  Inglat  rra  qne  cora  a  sua  maravilboya  expans*^o  colonial 
levava  a  civilizaçíio  até  as  vertentes  daquellas  remotas  monta- 
nhas. Desfraldei  ao  vt^nto  a  bandeira  que  ao  tabir  de  Ho  ma  me 
foi  dada  por  S,  M.  a  Rainha  Margarida  o  a  colloquei  em  uma 
haato  no  ponto  mais  alto  do  cume  nevoso  ao  tríplice  g^rilo  de: 
W.  Margarida,  W,  Alexandra  e  \S\  Itália  1 

O  vento  agitava  a  tricolor  bandeira  sobre  as  neves  que 
até  eniào  só  tinham  coubec^do  o  sopra  àà  tempestade^  e  as  pe- 
quenas letras  da  pbtafo  que  a  augusta  Eenbora  tinha  bordado 
BA  bandeira,  tArdisci  e  spera»  (0.jsa  e  espera)  desdobra- 
vam-se  á  Dossa  frente*  Aquelles  pequenas  letras,  batidas  pelo 
vento,  poderào  de?appai:ecer,  mas  a  palavra  períi^anecerá  iodis- 
íoluvelraente  ligada  ao  nome  dado  a  e^se  pico,  como  eo  tivesse 
lido  gravada  nas  rochas  era  caracterea  indeléveis,  e  servírUo, 
eomo  serviram  a  nós,  de  escorajãmeoto  e  apoio  a  todos  os  ejc- 
ploradorca,  que,  no  meio  de«Ees  sertões  deeconbecidoa  e  selva- 
gens da  Aírica,  se  atirarem  contra  ns  durezas  e  os  perigos  para 
o  incremento  e  o  progresso  da  civiliza^Ao. 


—  648  — 

Ããrnra»  al^amAâ  palavras  a  respeito  do  mappa  em  qne  são 
iudicHdoâ  (ig  g-rupoi  nevosos  que  constituem  a  serra  do  Haweii- 
ZQÚ,  â»8Ím  como  giias  pasangeas  e  seiu  vallev. 

Eãte  mapa  foi  bnseado  em  observações  feitaa  muitas  vezei 
em  condiçôtJB  a tmosph eriças  desfavoráveis  e  com  iiisirumentoB 
que  ptira  serem  íací Imante  transportáveis  ufi-o  eram  de  grande 
exaeúdào,  m»«  tendo  em  conta  as  numerosas  ubervações  feitas, 
julgro  qnô  »erá  aproximadamente  correcto  > 

ÃLííiiniafl  das  montaobas    tinham    sido    vistas   do    oecideote 

por  Stub  Imana  e  do  o  riem  te  poi'  Jobnstou  e  Mooi-e, 

Stublmaan  e  Jobnston  deram^Ilies  simnltaneamente  nomes 
iudi^^^eiiRS  e  europeiiâ,  criando  uma  certa  confa>ào.  Uma  mon* 
tanba  tinba  três  nomes  divprsofi:  o  tedesco  de  Sem  per  ©  os  in* 
digenas  de  KiyaDÍa  e  N^^mwimbi,  De  volta  da  Africa  tive  o 
prazer  de  conferir  e  discutir  com  o»  snrs.  H,  Jobnston  o  dr, 
otnhlrnani;  sobre  a  intrincadn  questão  de  nomenclatura.  Era  ella 
um  tanto  delicada,  porém  fni  íacilmeuts  resolvida,  cbegaudo 
todos  tiós  u  um  perfeito  acordo, 

O  nso  do»  nomes  indigeTifis  nào  parecia  conveniente,  porque 
os  nativos  do  log^iir  davaru  nomes  somente  aos  valle^  e  nàn  aot 
picos.  Adoptando  nomes  europeus,  acbainos  mais  ju^to  dar  a 
cada  g^rupo  o  uome  do  explorador  que  mais  se  tinha  iotere!»sado 
pela  re^iào.  O  dr.  Stuhltuann,  porém,  pediu  se  conservassem 
os  nomeia  por  elle  dadtis  a  certas  oalminancias  e  eu  com 
praaer  cedi  a  esse  geu  de^ejo. 

Proptmbíi,  postanto,  cbamar-se: 

Mtmtfí  Stanleif  a  montanha  cíimposta  de  cinco  picos  :  MqT'* 
ghêritiif  5125  m  "/m,  Alexandra,  5105  m.  7™-  E^lena^  499u  m< 
*/m.  Savoia^  4975  m.  '/m  e  Moeòius.  4940  m.  7*^- 

Speke  ko  secundo  g^rupo  em  ordem  de  altitude  (Diiwoui  de 
Jobnston],  em  memoriti  do  descobridor  c^a  Rpon  Salls,  origem 
do  Nilf>, 

Vtci  ria  Emanud  ao  pico  mais  alto  de»t<í  massii^o  e  de 
Johnsfon  &f*    pico  inferior  e  mais  ao  sul. 

Monte  Baker  ao  te  me  iro  grupo  (Sem  per,  Kiyanja  o  Ngom- 
wimbijj  em  memoria  do  explorador  que  descobriu  o  lago  Albert 
e  foi  o  primeiro  a  a  visitar  ussa  mon  tanba;  e  ao  teu  pico  maia 
alto,  o  nome  de  Rei  Eãttarão. 

Monte  EmTm^a.ú  quarto  ^rupo,  name  do  explorador  que  sue- 
eedeu  a  Stanley,  nessa  rei^ííln;  aos  seus  dois  picos  mais  altos,  oa 
nomes  de   [Jmhertfj  e  Kraephn. 

Monte  Qêssi,  ao  quinto  grupo,  devido  ao  explorador  i  la  lia  ao 
que  primeiro  círeumnave^ou  o  lago  Albert;  aos  seus  dois  picoa 
mãiâ  alto»^  os  ni>mes  de  lolanda  e  Boitego, 

Thoninon,  ao  sexto  grujio  em  bonra  ao  exploradnr  a  quem 
esta  regifto  deve  o  progresso  da  civiliza^jàoi  ao»  seus  3  picos >  oa 
nomes  de    Wai$mann,  Sdla  e  Stella. 


—  649  — 

Wolla&ton^  ao  cume  poretle  alcançado  na  sappostç&o  de  que 
fóBBe  o  Duwoni. 

Mofjre^  RO  cume  fieptentrional  • 

Cagní,  á  motitaQhá  fronteira  ao  Bujongolo. 

ÃOB  vallesi  torrentei  e  lagos  que  tinham  um  ^ó  nome,  dado 
peloa  indígenas  do  Baknnjo,  con^arvei-lhea  tal  nome :  porém, 
otide  constatei  nomes  dlfFnrenteB  para  os  lag^os,  valles  e  torrentes 
oa  região  do  Semliki,  não  dei  nome  algum^  pois  que  âão  pouco 
ci^nbectdos  pdos  próprios  Baknnjofi, 

Ã^a  passagens,  por  noa  transpostas,  demos  os  nomes  de 
Prêshfield.  Scoti-Elliot,  Stuklvmnn^  Oavalli  e  BoecaUi    dttixando, 

forem,  sem  nome    a    passagem  entre    o  pico    lolanda  e  o  pieo- 
ortat,  por  não  ter  podido  exacCametite  determinar  a  gua  posição. 
A  altitude  desfla  passagem  é  de,  mais  ou  menos,  4500  tn,  e 
o  de  Stublmann  é  panco  mais  baixo. 

O  divisor  das  aguas  corre  do  pico  Waismann  para  a  paa- 
eagem  FresbEeld,  alcançar  o  pico  Rpí  Eduardo  e  depois  pelas 
enlmin anciãs  segue  para  o  oriente,  até  a  paisagem  Scoít  Elli~ 
0%  alcançada  assim  a  culminância  do  Monte  Stanley,  pela  pas- 
tagem de  Stuhlmann.  prosegne  para  o  ptco  Victoiio  Emanuel 
e  continua  peia  passagem  de  Cavalli  ai»  pico  Umberto  e  pela 
pa&sagem  de  Roccati  vae  ás  alturas  do  Bottego  e  iolanda.  De- 
pois segue  a  vertente  que  desce  ao  eud — ébte  de  lolaoda,  u ne- 
le ao  pico  Parsal  e  em  seguida  toma  novamente  a  direcçAo 
Bord-este. 

Ãs  aguas  do  Bojúku  sílo  alimentadas  pelos  principaes  ge- 
leiros dos  grupos  Stanley — Bpeke>  e  Geesí  e  sHo  mais  importantes 
do  que  as  dn  Mobuku,  que  recebem  somente  as  dos  geleiros  de 
Baker,— O  Mobuku  deve,  portanto,  ser  considerado  como  tributá- 
rio do  Bojúku,  e  o  valle  inferior  devt^na  ser  conhecido  pelo 
nome  de  Bojukn;  a  ^^assagem  nas  suas  cabeceiras  é  mais  baira 
do  que  a  passagem  nas  cabeceiras  do  Mobuku. 

Mesmo  com  tpmpo  bello  a  vista  d«  s  picos  maiores  era  sem- 
pre mais  on  menos  ofíuecada,  sendo,  portanto,  dífíícil  determinar 
a  direcção  do  valle  que  desce  para  o  rtemliky;  todavia,  pode-se 
observar  que  os  quatro  vnlle^i  que  condu%f^m  ás  paB^agens  de 
Fresbfíeid,  âcott  Ellioti  Btublmann  e  CavaUi  se  unem  para  for^ 
mar  o  Butitku, 

Eite  rt:.cebe  suas  aguas  dos  geleiros  do  roonte  Stanley  (me- 
nos do  geleiro  Margherita),  doi  do  monte  Baker,  dos  geleiros 
Tomson  e  uma  boa  parte  dos  de  S[>eke  e  Emim  6  por  isso  é  & 
torrente  rnsiis  importante  da  vertente  occidental, 

O  Kimi  nfto  é  alimentado  pelos  geleiros,  porpm,  o  Nyam- 
wamba,  o  RuE^siubi  e  Kucbma  podem  ^ilir  alimentados  pelos  ge- 
leiros doB  montes  Tomson,  Emim  e  Gessi. 


^  650  — 
n  *  * 

Ágcm  continuarei  a  narração  do  dia  18  de  junlio  emdíaata 
no  qoal  f^nl^amoi  os  dois  pícoí  mais  aUos. 

No  dia  20  subímoa  novamente  o  pico  Alexandra  e  também 
úB  picoa  Elená  e  Savola^  voltando  ao  nosao  acampamenlo  por  um 
grande  trilho  abaixo  do  Bavoia.  Na  mesma  tarde  os  compaiibei« 
roB  Cagni,  Sella  CayalU  e  Roccati  vieram  ao  noãaoaccamp^tneQtOi 
Cagni  tinha  bom  aspecto  e  eentla-se  feliz  por  se  achar  nova^tnente 
comnosco,  Elle  não  eó  se  resta belecen  rapidamente  dâ&  febres 
maa  ponde  até  fazer  a  viagem  do  Eutebbe  o  Bujongolo  em  12 
dias.  Este  e  o  día  &ç|fulnte  foram  de  festa  no  noíso  acatopa* 
mentru. 

No  dia  22  separamo*noa  novamente.  Sella  o  Roscati  perma- 
neceram no  campo  afim  de  fazerem  uma  subida  ao  mOQte  Baker. 
Eu,  acompanhado  de  S  gulaSi  fiz  uma  asceni^ilo  ás  culminância^ 
Bevosaa  Victorio  Emanuel,  Umberto  e  Rei  Eduardo,  Sbella, 
Wollaston  e  Moore,  Estas  ascençõea  furam  feitas  entre  22  d*? 
junho  e  10  de  julbo,  havendo  bom  tempo,  porém,  Eomento  da- 
raote  os  últimos  dias.  Por  duas  vezes  tubimoa  aos  pieo»  Speke 
e  Kei  Eduardo  e  durante  8  horas  estivemos  sobre  o  pico  Um- 
berto» sem  poder  vâr  çou^a  alguma;  mas  os  nossos  neirros,  por 
falta  de  provisões,  foram  obriíjrAdoâ  a  voltar  ao  sétimo  carapo 
{liujongolo)  ÍQífiendo  uma    marcha    de  3  dias    debaixo  de    chuva 

Do  jãco  ^tella  gofamt}^  uma  esplendida  vista  doa  de  Hei 
Eduardo,  Wollaston  o  Moore. 

Estas  a^cençfms  foram  todas  foceis,  tendo  nÒA  encontrado  a 
rocha  accessivel  o  a  neve  em  bòaa  condições.  Na  subida  do 
pico  Maygherita  encontramos  algumas  difficuldades»,  que  poderiam 
ter  sido  evitndas  ti  eo  tomasse  a  vertente  oriental. 

Ao  voltarmos  ao  Bujong-olo  cêntimo -noa  satisfeitos  por  ha- 
vermos completamente  explorado  aquelfa  parte  da  serra;  03  pico* 
tnaía  altos  e  11  doã  menores»  nunca  tinham  sido  alcançado  e 
nem  aa  tuas  altitudes  haviam  sido  dí^ terminadas,  Cagni^  uosso 
meio-tempOj  proseguiu  e  completou  as  giias  observações  magtn-- 
ticasj  medidas  na  base  do  Bujonf^olo  e  ligadas  aos  picos  liei 
Eduardo  ©  Cagni.  Elle  subiu  também  a  este  tiltimo  pico  e  o 
ligou  ao  por  mim  alcançadfj  no  Ruwenzori,  o  que  foi  noceBsario 
fazer,  devido  a  nfio  ter  eu  podido  determinal-o.  porque  quando 
nas  primeiras  horas  da  manhan  o  tem|io  estava  limpo,  a  luz  era 
ainda  deBciento,  ao  passo  que  quando  esta  atigmentava,  as 
nuvens  encobriam  os  picoB*  Para  demonstrar  esta  diãieuldade, 
baeta  observar  que,  para  obter  o  panorama  do  pico  Rei  Eduardo, 
alio  teve  de  fixar  a  posii^^o  geographica  de  uma  das  extremi- 
dades da  bnic. 

Sella  com  uma  perseverança  admirável  conseguiu  obter 
vistas  e  panoramas  dos  picos  Kei  Eduardo  o  Sella  o  áo  grupo 
Grauer. 


—  651  — 

Xfio  era  cousa  faci!  obter  bô»«  jtb r. to g rapina*  doa  picos; 
&f>lla  foi  obrígndo  a  permatucer  acampado  duranto  7  dias,  na 
paseagem  de  Fre^bfiold  e  a  subir  diveraas  yçzes  úí  [dcos,  afím 
oe  apr07âltar  o  mf^noento  propicio. 

Á  descidn  de  Bujougol^  pnra  Ibíioda  foi  ftaita  por  dota  ca* 
minhos  diversos:  Cagui  e  Roccati  peJo  dõ  Mobúkiif  fiella  e  eu^ 
pelo  do  Bojuku,  Teado  auave&sado  a  pnsEagem  Scott  Eiliot 
em  duas  caminbad;ip,  d<ísceíi)OB  a  nosso  uovo  acampamento,  si- 
tuado no  ponto  em  quo  o  Bojuku  recebe  os  teus  tiltíufíutes  Mt- 
josj  e  Korung-o.  Do  dii  4  do  julho  cm  deaute  tivemos  bom 
tempo,  OB  caminhos  estavam  ^eccoa  e  nossas  marebaa  torna" 
ram-sa  menos  fíitig-antes. 

Do  nosso  acampamento  avistamos,  atravóâ  do  valle  do 
Mijo&i,  os  picoa  do  monte  Gessi  ©  fomos  tentados  a  cfto  abandonar 
aquella  regiaOj  sem  primeiro  galgar  arj^uellei  picos.  Com  um 
dia  de  marcha  cbegamos  ao  pico  lolanda  e  no  d:a  spguialo  su- 
bimos ao  mesmo  e  ao  pico  Bottego.  O  tíímpo  bellissimo  pcr- 
niitt"u-noB  determinar  o  diviíor  das  af»nfis  no  seu  curso  nord-Cbte, 
do  pico  Portul,  cm  uma  serra  que  Ibe  fica  maia  abaixo  e  sem 
neve  permaneule,  A  nord^esle  de  nós,  obscrramos  o  celeiro 
Victorio  Emanuel,  o  mais  vasto  daquelle  grupo  e  da  lúàtp,  oa 
montes  Emim  o  Gessi  sem  geleira  algum, 

Ot  picos  Margherita  o  Alexandra  apparectam  acima  do3  do 
monte  Speke,  e  os  de  Savoia  e  Elena  sobre  a^  fraldas  doa 
montea  Emim  e  Baker,  As  culmtnancias  nevo&as  de  uma  serra, 
qae  ha  vinte  annos  era  aponas  indicada  nos  mappas  dos  geo- 
grapboa  antigos,  levantavam-se  deauto  de  nó^.  Ficamos  íihi, 
por  algum  tempo,  contemplando  os  esplendidos  geleiros  do  Nilo, 
03  quaes,  através  dos  seculcs,  lâm  alimentado  aquelle  rio  ma- 
jestoso, ligado  à  historia  por  tantas  recordações  e  í'oÍ,  com  pe^ar 
que  dissemos  o  nosío  adeus  áquellas  culmiuancias  virgem,  que 
fomos  DÓS  oa  primeiros  a  pizan 

£m  duafi  marchas  descemos  do  nono  campo  para  Ibnnda, 
Pela  ultima  vez  admiramos  aquelle  como  que  jardim  eternamente 
coberto  de  flores  brancas,  os  írondofos  «seaecios»  e  a  delicada 
«lobelia»*  Maia  abaixo  encontramoa  enormes  florestas  do  bamlniíi 
«podacarpi»  e  louro.  Eu  Ibauda  deapedimo-ncã  dos  nossos 
bravos  e  Beis  Bakonjos,  que  por  40  dias  tinham  ^ido  nossos 
companheiros  da  aventuras,  O  valle  do  Bojuku  é  mais  longo 
e  mais  fatigantes  do  que  o  do  Mobúku,  porém,  como  elle  corre 
na  base  dos  principaes  cumes  nevo^os,  é  mais  recometidavel 
aos  montanheses  que  desejam  alcançar  aquellas  cnlminanciaa. 

No  dia  21  de  julho  voltámos  a  Fort-PortaL  O  tempo  ee 
mantinha  bello^  porém,  a  mata  escondia  á  ncsaa  vista  os  altos 
picos  da  serra  por  nós  exploradaj  e  nKo  maia  os  vimos. 

Em  Fort-Portal  permanecemos  deií  diaa,  empregando  este 
lempo  em  fa^er  coUecçõea,  caçando  elcphantes  na  Jlereí^ta  de 
Kebali  e  vi^ítanJo   ca  la^o?,    nas  vizinhanças    daqueHa  estação, 


—  652  — 

ÃtravcsBaddo  em  catiòas  o  eEtrfitiBgimo  canal  do  lago  Victnría, 
Toltfíinos  no  dia  14  para  Entebbe.  Depoi»  de  uma  breve  [larada 
em  Jinga,  para  visitar  a  cachcx^ira  de  Ripou,  voltamos  para  a 
Europa  tomando  o  mesmo  camíobo  d»  ida  e  tio  dia  13  de  se- 
tembro de  1&06,  desembarcámos  em  Marselha, 


Agora  algumas  observações  aobre  a  estriit^tura  geológica  do 
Ruw(;'ii£ori.  Pode^se  absolutamente  excluir  a  tbeíria  de  oríí^em 
vulcânica.  Em  toda  a  regijlo  pnr  nÒA  visitada,  HÓmente  num 
ponto  (oa  V!aÍTjhan<j.a  de  Kícbuchu)  se  encontrara  ti  aços,  e  eitefl 
puramente  locaes,  da  veias  basâUit^aa  dob  goei^s  das  rocbaa,  O 
aprõíundfl mento  da  camada,  talvez  muito  torte,  com  declive  até 
de  60",  tem  em  legra  uma  direcção  éiite— ou  sud-éate,  na  parte 
oriftntAl  do  grupo  central  e  nti  parte  occidental  tem  uma  ten- 
dência para  snd-oeste,  de  modo  n  formar  um  artloramentti  semi- 
circular. As  oTÍgena  do  grupo  montanboso  do  Ruweuzori  e  de^ 
mais  altr  b  picos  do  seu  grupo  central,  podem  ser  attribuídaa  a  causas 
geo*wchnicas,  stntigrapliicas  e  liihologieasi  como  segue: 

1."  Uma  elevação  em  njfi&na  de  uma  parte  do  sub-sólô 
arcbeano  da  Africa  central,  produzindo  um  aprofundamento 
geral  do  orcidente  para  o  oriente*  com  relação  á  grande  fra- 
etura  occidt^ntal — fcora  destotamento  vertical  correspondente) — o 
qual  aprofundamento  produziu  o  valle  do  Semliky,  e  assim 
aconteceu  t-om  ns  outras  fracturas  obàervadaa  na  parte  oriental 
do  gTU[50,  as  quae©  são  marcadas  por  uma  série  de  receutôa 
vulcões,  cftmo  síLo  exemplo  ff»  s^ituados  na  provincia  de  Toro; 

2/  A  uma  elipsoidal  elevação,  muito  accentuada,  com  ca- 
madas mais  ou  luenoa  forfemetite  inclinadas  no  grupo  do 
Ruweozori,  elipsóide  cuja  direcção  geral  é  de  norte  a  suU 

3.*  A  prei^ença,  no  eoraçào  do  grupo,  de  uma  série  de  ro- 
chas admiravelmente  adaptadas  a  resistirem  á  denudaçfto  pro- 
duzida peloB  agentes  physicos  ou  cbimicos,  na  superfície,  (c -mo 
aufiboliteB,  diorítes,  diabases  e  anfibolites  de  gueii»s),  aoe  quae» 
o  gneiBS  e  o  micbachisto  da  estructura  ex:t;erna  offerecem  menor 
resistência 

A  estas  causas  se  podo  juntar  a  probabilidade  da  <^íi»t<*n- 
cia  de  fendas  internas  atra v espantes  o  masstço,  geralmente  na 
direcção  de  norte  a  sul,  o  que  produziria  a  separação  dos  di< 
yer^OB  grupos  de  culminancias. 

Como  phenomeno  geológico  importante  da  serra  do  Ruwen^ 
sori  nota-se  o  enorme  desenvoWioiento  dos  seus  geleiros 
durante  a  época  glacial  •  Disso  encontrou  se  evidentes  traçoa 
antes  da  chegada  a  Bihunga  e  muito  maia   a  Nakitawa 

Nas  epocbas  passadas,  os  valles  de  Makoma,  Mobaku  e  Bu- 
juko  íoram  preenchidos  com  os  geleiros  do  1,**  grau,  os  qtiaea 
se  uniam  abaixo  de  Nakitawa,  descendo  até    além    de   Bikunga. 


—  653  — 

DepoÍB,  os  geleiros  Sabóia,  Eleua  e  Semper  dí*?em  ter  preen- 
chido, na  costa  cccidental,  a  depressão  eiiBtentft  entre  ob  gru- 
pos Stanley,  B^ker  e  Thomaou  e  provavelmente  estayam  uni- 
dúi  com  o  geleiro  Eduardo. 

Não  me  foi  possível  precisar  até  que  ponto  elles  alcançam 
*en  cnrso  na  vertente  occidental.  devido  a  nfto  ter  podido  explo- 
rar aqnella  parte  da  serra.  Actua! roíiote  os  geleiros  aào  de  pe- 
quena exten^^  e  tendem  a  diminuir.  A  prova  di^to  es^tá  na 
existência,  em  alguns  geleiros^  de  recentes  «morainesi  situados 
a  nma  centena  de  mntroe  ?m  frente  ao  geleiro  hodierno,  e  nas 
novas  corrosões  dos  terrenos  vizinhos  de  quasi  todos  os  ge- 
leiros Nos  valle»  priucipaea  nào  exiãtem  ge  eiros  impnrl antes, 
soas  somente  geleiros  secundários  nas  vertentes  superiores 
e  nas  maiores  minas.  Est-es  não  sâo  do  typo  dos  campos 
de  tieyej  porem  verdadeiroB  geleiros.  DiSerentemente  dos  nossos 
Alpes,  não  ha  ahi  extenstòeí»  cobertas  continuamente  de  neve, 
mas  ha  uma  lérie  d^  camadas  de  gelo  que  se  extendem  em  di- 
versas direcções. 

Nos  grupos  superiores  do  Ruwenzori  existem  di  verses 
aspectos  gla- iaes,  que  lembram  os  tjpos  da  Scaudinavia,  oa 
quaes  tem  sido  maita&  vesses  descriptos  como  ^Aleiras  tropicaes. 

Os  dois  geleiros  que  descem  para  menor  altitude  sâo  os  de 
Mobuku  6  Setnpen 

Os  maiores  geleiros  sâo  formados  nos  montps  Htaníey, 
Speke  e  Baker  e  na  vertente  occidental  do  Gessi.  Nos  montes 
Etaitn  e  Thomson  os  geleiros  hho  de  menor  exreo&ào,  a  menos 
que  exista  algum  importante  ao  tjorte  ou  ao  sul  dps^R  motite, 
ladoâ  por  nòé  ufto  explorad  s.  A  periphf*ria  do  terreno,  perma- 
nentemente coberto  dn»  neve,  ffcha  um  circulo  de  dez  nsilhaíi  de 
diâmetro.  No  alto  díis  vertentt^e,  alúra  dns  enormes  cornijas,  no- 
támos uma  cout^a  nova  nas  immensias  ^talactites  do  geleirOj  as 
quaes  parecem  supportar  a  cornija.  A  cansa  daquellea  pilares 
de  gelo  é  evidente  si  se  considera  a  rigorosa  temperatura  da- 
quella     re^tâo  (42*  a  44°  Farbs]  e  suas  rapidíssimas  mudanças, 

A  maia  alta  temperatura  experimentada  no  pico  Rei  Eduardo 
foi  de  4^°  Farh  e  a  mais  baixa  no  pico  Alexandra   foi    de  2^", 

Era  BujoDgolo  o  thermometro  variou  entre  50*  e  32°  Farh, 
Os  nossos  predecesGores  encontraram  a  zona  das  neves  a  4.175 
ms.  s/m.,  ao  passo  que  David  e  eu  a  encontrámos  200  ms, 
mais  alto.  Este  limite  cerretiponde  áquelle,  de  onde  descem  os 
geleiros  sobre  as  fraldas  do  monte. 

Ordinariamente  a  chuva  tíauafortna-se  em  uere  a  4.210 
ms.  Em  alguns  lugares  do  vnIJe  ob^^ervámoâ  pequenos  planos  Có^ 
bertos  somente  de  berva  e  plunos  de  alluviões  lacustres,  forma- 
dos pelas  coudiçôes  atatig  rap  bicas  e  pela  barreira  de  rochas 
mais  compactas  de  que  as  outras,  a  qual  antigamente  fechava 
aqui  e  acolá  este  valle,  produzindo  acima  das  obstrucções  um 
accumulamento  de  agtia  e  matérias    lacusties,    que  com  o  andar 


r 


—  654  ~ 


do  tempo  m  Ira  tis  formaram  eni  pknoa  rnaÍB  ou  m^nos  akj^ndi- 
ços,  O  ingo  de  Bujuku  6  mu  bem  exemplo  do  uma  destas  anti- 
ga» re^^iÕí^s  Iflçuatrfs. 

Nf  a  valks  do  ^[obukn  e  do  Bnjuku,  a  cerca  de  3.030  iji^., 
a  htiinidãde  c  lUgtarito  o  o  clima  quetite  produ^tiiit,  cm  alguns 
terrenoa  eapetiiaea,  musgos  hepáticos  e  tUeliciifi»,  03  quacs  cio- 
brem  o 3  bordos  da  fractura  do  eóIo  o  encobrem  innumeros  tron- 
cos, tanto  de  plantas  vivas  como  de  plaotas  cahíd&B  por  vplliiee, 

Ncíte  nivel,  os  valles  sflo  cobertos  do  veíjetaçAo  luxurmnto 
e  de  p!antas  Eombrciras.  do  louros,  orchidoos  o  fclcea,  a  cuja 
sombra  cresce m  violefa»,  r/iínuiicuíoí,  geraneos  e  cardos. 

Algumas  das  plantas  da  7.ona  inferioi  nHo  existem  n  3.485 
ma  T  e  as  arvorei  ahi  fe  HmitAm  a  rovetos,  lobellías  e  &eneck«t, 
HO  pnsso  qu(i  as  felces^  o  mus;^0|  os  hp.padeos  e  os  licbeni  to* 
tnam  oa  priacipaeâ  logares.  Estes  ultimou  alcançam  o  máximo 
desenvolvimento  a  B.640  ms.  M:^Js  ateima  euconti^am  se  somento 
senecios,  lobellías  e  licbens,  o  á  superfície ,  musgos,  ephatieoi  e 
lichens- 

Aqui,  os  hdich}'ttsumus,  quo  já  creacetu  na  altura  do  3.485 
metrOÉ,  formam  grandes  toceiías  e  ne&im  continuam  até  a  al- 
tura doa  geleiros,  onde,  com  o?  seiíecios,  elLo  ai  plantas  mais 
altas.  Sobre  os  ptL^os^  encontramos  musgo^/liclietiB,  alguma  ram 
fferjuinacea  e  tnmbem  alguma  miuu&cula  jdanta  fanerogaina^  as 
quaes  lembram  uma  caracteritt  ca  vegotaçuo  dos  noesoa  Alpes, 

E'  com  prazer  que  an núncio  que  a  nossa  collccçáo  botánicn 
cont^^m  nAo  poucas  novidades.  — Quanto  á  fâuiia,  níko  era  nossa 
iutençSo  organizar  uma  collecçílo  minuciosa  e  completa»  Todavia, 
o  quanto  a  rapidez  da  marcha  e  a  uatureza  do  solo  nos  per- 
miLtiiívm,  filemos  umíi  regular  collec^jâo  de  aniraaea,  no  que 
fomos  nuxilíados  pelos  missioiíavios  catUolicos, 

A'  medida  que  te  sobe  n  ftíobúku,  a  fáuua  se  apresenta  cada 
vez  mnís  pobre  o,  acíma  do  Bujongolo^  só  so  encontram  leo- 
pardos, toupeiras  e  insectivoroi,  |ouquiwimoB  paBsaros,  córvoi  e 
gAviõea,  além  de  insectos  e  vermeii.  Nos  picíJB  eocoutiamot 
vermes,  hí^motoides  e  diptero^. 

A  collecçao  feita  ]H'oractte  constituir  um  bom  conjunto  ii&o 
só  à^  espécies  interessantes  Bobre  vários  aspf^ctoSr  ^^^  tambeni 
de  espécies  novas  à  Êcieucia,  especialmente  catre  pasfaros^ 
molluBCOs,  insectos  e  cruítnceoa. 

Antes  de  concluir,  devo  aj^radecer  aos  meui  companheiros  o 
auxilio  incessante  que  prestaram  para  o  successo  de  minha eipe- 
diçAo,  fdzeado  que  cila  se  tornasse  modesta  contribuição  para  A 
sciencia. 

Devo  também  agradecer  ao  governo  iugles  e  ás  autoiida'» 
des  locaes  da  Africa  oriental  o  de  Uganda,  na  inatiucvõea 
dadas  a  meu  favor  e  as  facilidades  que  me  concederam, 
as  quses  contribuíram  grandemente  para  o  successo  do  oaiiilui 
empresap 


II 


~  655  .- 

Devido,  pois,  ás  esplendidas  {.liotograpbias  de  SeUCf  os  picos 
da  serra  do  KuWenzori  perderam    seu  caracter  mysterioso. 

Estes  picos  não  são  os  mais  altos  da  Africa,  ccmo  antes  eram 
considerados,  sSo,  entretanto,  os  pontos  culminantes  de  uma  serra 
da  mnior  importância  para  o  estudo  da  geologia  e  dos  pbeno- 
menos  glaciaes  do  continente  africano. 


José  Lourenço  da  Costa  Aguiar    (Dom)  if  Bispo 

do  Amazonas 


Filho  do  negocidntfí  Boaventura  da  Cofitâ  Aguiar  e  de  d, 
Joatina  Virgínia  de  Paula  Aguiar,  nasceu  em  Sobral  a  9  de 
agosto  de  1847. 

Discipnlo  dr>  padre  Manoel  António  da  Silva  Fialho  e  de 
Viceijte  Ferreira  de  Airud»,  deitou  ns  cursos  deBtes  eeus  mee- 
tres  e  amigna  parm  yir  á  Capital  da  Proyincía,  afim  de  matri» 
cularee  nn  Stíminario  UioceBaoo  (I866)j  onde  recebeu  as  ordens 
de  preabytero  a  30  de  noverabro  do  1870. 

Cantou  a  L*  missa  na  terra  do  berço,  a  8  de  dezembro. 

Por  provÍBíto  do  bispo  d.  Luiz  António  dos  Sautos,  do  9 
de  novembro  do  1872,  foi  nomeado  cura  da  Fortaleza,  carg"© 
que  occupou  até  1876  e  deixou  para  mudar-se  pura  o  Pará,  a 
convite  do  ie*]i<íCtivo  Díoceí-ano,  o  imntortal  Macedo  Coata,  qu© 
o  fez  cbnego  de  6ua  catbedral,  vjgario-geral  do  Amazonas,  cura 
da  Bé  de  BiOem  e  sf  cie  ta  rio  do  bispado.  Foi  ainda  vigário 
geral  interino  do  bií-píido  do  Pará  e  por  vezes  Beu  gov^ruador 
na  ausência  de  d.  António. 

Eleito  em  vários  biennioa  deputado  á  AigemVéa  pelo  1.' 
districto  do  Belém»  José  Lourenço  foi  também  provedor  da  Santa 
Cam  de  Mji-erjcordja  de  Belém,  do  Asylo  de  Alienados,  do  Hoi 
picio  áoú  Lázaros  de  Tucunduba. 

Homem  de  imprensa,  foi  proprietário  e  redactor- eh  efe  da 
Tríbu7ui  CaíAtííí r a,  de  Fortaleza,  e  redactor  da  Bâa  Nova^  Gcmsti' 
tuição  G  Diário  <io  Gram  Pará, 

DesgoBtofio  da  politica,  dissolvida  a  Camará  doâ  Deputadot 
Geraea  de  que  fazia  parte  como  representante  do  Pará  por  motivo 
da  proclamação  da  Kepublicaj  o  eone^^o  José  Lourenço  partia 
para  Homa  e  ahi  entregou- se  aos  estudos  no  Collegio  dos  Nobre», 
para  obtí^nçfto  do  gráo  dn  doutor  em  direito  civil  e  canónico,  com 
qu"  fci  laureado  pela  Universidade  de  Santo  Apolinário. 

Ao  mesmo  ttrrapo  o  ííumrao  Pontífice  galardoa va-o  com.  a 
dignidade  de  monsenhor  eamareiro  secreto. 

Tendo  regressado  ao  Brasil,  foi,  era  junho  de  189S,  nomeado 
bispo  do  Amazonas-  Sua  sagraçào  efT^íjtuou-ae  a  11  de  março 
do  anno  seguinte,  na  Eirreja  do  Sagrado  Goraçào  de  Jesus  de 
Petrópolis,  sendo  sagrante,  d.  Frei  Jeronymo  Maria  Gotti,  o 
Internuncio  Apostólico  de  eutào,  e  assistentes  o  bispo     de     Ni» 


-  657  - 

ctheroyt  ã.  Francisco  do  Rego  Maia  e  o  bispo  de  Argos  d,  Joa- 
quim Área  V^Hei  actual  arcebinpo  do  Kia  de  Janeiro,  a 
quem  o  Summo  PonttBce  Pio  X  acaba  de  elevar  ao  cardíaalatO] 
a&&í^nalADdi>  devaa  aorte  a  pret^miaeticia  do  Brasil  na  hierarebia 
cathclicA  dn  AraericA  Meridional. 

Tomou  posse  do  b>spftlo  e  inaugurou  a  díoceBe  a  18  de 
junho  de   1894. 

Era  emblema  d©  suas  armis  de  L*  biapn  do  Amazonas  mon- 
tanha de  alto  porte  batida  no  sopé  pelas  agua^i  de  no  caudaloso 
e  no  alto  um  condor  a  voar. 

Fatleceu  em  Lisboa  a  5  do  juobo  de  19  5  victimado  por 
conií&sitÃo  cerebral,  em  co» sequencia  de  diabetes.  Era  hospede 
da  Condéfi  a  de  He  linba,  de  cuja  casa  fià  transferido  para  o  hos- 
pital de  3.  Joré  Aí^si^tiramlbe  os  uTtimos  momentoa  o  arce- 
bispo de  Mytelene  e  o  Cardeal  Patnarcha  de  Lisboa,  que  lhe 
miuiatrou  os  sacramentos. 

Fazia  parte  do  [n»tituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro 
e  do  Instituto  Histórico  e  Geograpbico  de  S.  Paulr> 

Do  bispo  d.  José  Lourenço  conheço: 
—Disettrítoít  p^oaunciados    nas    sessões    de   11    de   acosto    e    9 
de  setembro  de    1887  da  Camará  dos  Deputados,    folheto    de  60 
pp.,  impresso  na  Imprensa  Nacional,    Rio  de  Janeiro,  1^87. 

— CAnífíí*  Muhejiçaua  Çnrimftan  uara  arama  Nbihingatu 
Tupi- Doutrina  Cbristà  deitmada  aos  naturaes  do  Amaaonau  em 
Nbihingatu.  Petrópolis,  Pap.  e  Typ,  Pacheco,  Silva  &  Comp, 
1898,  iu    8/  de  87 -pp, 

—  Discurso  proferido  nas  eiequias  celebradas  na  Cathedral 
do  Amazona^,  por  alma  do  im mortal  Pontífíco  Leão  XUL 

(Do  Diccionario  Bio-Bibliograpbico  Ceáreiíce,  pelo  Barão  de 
Siudart). 


BIBLIOGRAPHIA 


A  Bibliotheca   Brasiliense  do  sr.  dr,  José  Carlos 
Rodrigues  (i) 

O  Brasil  cottta  aãnal  um  g^rande  amador  de  Ityros.  Oa 
pequeaoi  amadoras  já  nSo  eram  raros,  mas  fa!ta-lhes  o  recurso 
principal  para  os  grandes  commettimentob^.  A  alguns  faltará  por- 
ventura também  a  iniciativa — pcrque  o  dinheiro  nào  battA^^para 
tornar-te  um  bibliophilo  da  raça  doe  Lennnxi  dos  Filden  e  doi 
Cárter  BrowD^  quo  nos  Estados  Unidoa  orf^anizaram  ae  magni^ 
ficas  collec<;Ões  conhecidas  tio  mundo  intt^íro  pelos  seus  noaiei  e 
que,  conservadas  iategralm^nte,  sãn  rtvaes  victoriosaa  das  livrariam 
publicas  melhor    apparelhadas  daaut^lle  paíss. 

S©  o  facto  é,  como  jienâo,  deraonatrativo  de  cultura,  nKo 
deve  elle  pa^^sar  despercebido  dos  que  oão  lidam  propriameoto 
com  raridades  biblio^raphiuaa  e,  prsto  quB  postem  de  livro?,  eAo 
extranbos  a  eesn  bibliomania  tfto  huuioristicamí^nte  deicripta  pelo 
ioglez  Dibdin  uuma  obra  famosa  t^m  sua  terra. 

Pára  regalo  doa  outroR  amadores  e  inettucçílo  dos  leigo»  na 
matéria,  acaba  o  bt.  dr.  José  Cario»  Hodiigueu  à^  fa^er  o  in- 
ventario dft  aiia  Brfuíliana,  acfumulada  na^  estantes  d  >  andar 
térreo  da  bella  casa  em  que  habita  na  rua  Conde  de  Baependy, 
e  qu6  é  toda  ella  um  museu  de  arte*  O  *  Catalã  go»  methodiro 
6  commentado  em  que  reveía  suas  preciosidades  bibliographicss, 
numa  edi^o  limitada  a  2CX)  eiemplarea  ■  destinada,  portaníOf  & 
alguns  amadores  e  a  um  certo  numero  de  bibliothecaa— é  um 
formOfO  espécimen  typogrftf-hico  que  auperiorinento  abona  as 
offitiiiias  do  «Jfrn&l  do  Dom  me  rei  o»,  mas  é  sobretudo  um  tra- 
balha de  primeira  ordem  na  sua  es^^ecialídade,  pelo  que  se  torna 
uira  obra  de  consulta  d'óra  avsnto  indispensável  aoe  quo  ceifam 
na  mesma  &eara  ou  sj    interessam  por  assumptos  nacionaes. 


{!}  Foi  pelo  A..  i>DiflO  di^tÍQCtú  con^íxilo,  níTereeilú  ao  [fiiticutt»  um  exi^nplir  â« 
Itnportihntfi  trabeillio.  lotira  C11J9  vator  dticorn!  neeta  nrUgo  4  lllaatrftdD  homem  de  Içiru 
9  AleaQ  dlploMAtA  Qútiso  contoolo  ãr.  U.  de  OUrel»  Um*, 

N.  da  R 


—  659  — 

O  referido  cCs talado»  tem  nftda  menos  de  680  paginai  em 
8***  grande  e  abraig-e  2,646  numeruB^  cada  nm  correipondente  a 
um  livro  ou  periódico,  por  maior  que  seja  a  quantidade  dos  vo* 
lumes  d©  que  te  compõe  a  ohm  ou  coltecçâo.  Ncte-Be  que  a 
\ht&  apenae  attinge  o  ai»iio  de  lS'i'2:  o  BrBsil  independente  será 
na  iua  producçfto  literária  objecto  de  um  f»roxirao  catalago  ainda 
mais  de^euvolvÍd>i,  pois  que  o  colleccioujidor  já  para  elle  poisue 
mais  de  6  000   numero»  inscripros. 

Nào  foi  para  mim  uma  suprema  o  iuventArio  dessa  riquíssima 
bibUotbeca^  feito  com  lanto  g^ttoeafan  quaiilo  fni  reunida  cnm 
iDiellígencia  ©  paixílo  a  collecçfio  em  8Í,  O  »r.  dr.  Jobó  Carlos 
Rodrigue»  faz-me  a  bonra  de  trazer- rao  mais  ou  meuoa  ao  cor- 
rente da?  sua»  acqui*íç5es,  e  tetilio  tido  frequente  eusejo  de  exa- 
minar e  admirar— ullfi  direi,  offit:ial  do  me^mo  oflicíoi  que  sem 
um  grâofiinbo  de  inveja  benévola — oa  frntoa  oplinos  das  suas  cam-» 
panbàs  Porque  campanbns,  com  todas  as  emoções  de  uma  guer- 
ra, Be  podem  bem  chamar  essaâ  expi* d içõea  através  de  cenrenaã  de 
catálogos  á  cara  do  volume  raro  i>u  do  folbeio  rarií-aimo  ;  e^ge  ma- 
nmear  constante  dcis  díccionaríos  e  repertórios;  esaa  vasta coire- 
Bpondenciacom  livreiros  e  bibliotbecario*  [ara  contratar  o  preço 
de  um  exemplar  conhecido  ou  deseoKiir  o  pnnideíro  de  um  exem- 
plar perHdo;  essa  febiil  peiíegaíçAo  de  caia  dia,  de  cada  instante, 
em  armazéns  e  em  leiloes,  atraía  à»&  publtcfições  eseasias  e,  de 
quando  em  vez,  qua^^i  unicaa;  e>se  orgulhoso  eathesourar  de  ri- 
queza» que  poucos  têm  e  que  muitos  cobigam. 

O  «Catfllogo  Rodiiguea*,  se  ptur  ura  lado  pode  despertar 
ciúmes — iíitiffensivoaj  Deus  seja  louvado — entro  a  classe  dos  bi- 
bliopbilnsj  por  outro  lado  presta,  como  disso,  um  relevante  aervíco 
aos  jtrofíâsionaes  da  bibliogrãphia  nacioUr^L  F/  mais  completo  do 
que  o  catalogo  Garraux,  de  livros  francezes  e  latinos  sobro  O 
Braeil,  se  bem  que  no  tocante  a  livros  nllemfteí^  do  mesmo  gé- 
nero nào  alcance  o  rorertorio  de  Canatfitt;  é  mais  verídico 
do  que  o  diccionario  de  Blake  ou  mesmo  o  de  Innoeencio,  no  que 
no»  diz  respeito,  porque  fià  feito  sempre  sobre  oa  documentos  e 
nfto  sobre  inforn  a(;ões ;  finalmente  é  maia  restricto  e  por  isto 
mesmo  mars  detalhado,  além  de  mais  copioáo  na  csfeL'ialidade, 
do  que  o  catei  logo  Leclere  ou  a  relo<;fto  TrumeL 

Equivale  qua^i  á  «VerutttÍHeima*  de  Harrírsei  trazida  no  to- 
cante ao  Brasil  nté  á  [tidep^ndencíat  pois  que  compreheade  a 
mór  parte  doa  folbeíoa  hoilandc^zea  deãcriptos  e  alfruna  não  des- 
criptos  por  Asher»  concp.roenttià  á  Cemjranhia  das  índias  Occi- 
deutaes  e  á  guerra  do  Pernambuco  ;  vnria^  das  rola^'òes  (iri^Mnaea 
reproduzidas  pt^r  Tf^rníinx- Com  pana,  como  os  «CommentnrioÈ*  do 
adelantado  Cabeza  de  Vaca  |  VAllad'>1td^  1555),  que  ^âo  n  obra 
mflis  antiga  sobre  o  Rio  da  Prata  e  a  Florida;  as  primeiras 
edtçõed  dos  grandes  annalistás  hespanhoes  das  índias  Occídentaes, 
do  género  de  Herrera  ou  de  Oomara  ;  os  rari^&imos  livros  dos 
viajantes,  do  eeculo  XVI  — Léry,  Thevft,  Stade— com  suaa  toscas 
xjlographiaa;  a  mór  parte    doa   viajantes  frauceze»  o  íaglezes  ç 


—  660  — 

bastantes  doa  alt6m&«B  da  primeira  metade  do  eeculo  XIX,  com 
setia  magoifícog  desenhoa  e  esplendidas  lithographiaa,  muitas  delias 
eolondas;  as  relações  de  cercos  e  tomada»  de  c  dades,  de  batalhas 
e  de  naufrágios  dos  séculos  XVI 1  e  XV III;  ns  publicações  dos 
jesnitat— Âeuâa,  Acosta,  outros  mais— ptínneiroB  exploradores  © 
naturalistaB  do  uoi^o  contiDeote,  ainda  que  sem  o  critério  scien- 
tifico  de  Piso  OH  Markgrttf,  uas  rariasinias  edições  orig^iuaes  e  naa 
traducções  coevas,  etc  Seria  um  DUnca  acabar  enumerar  mesmo 
pela  rama  tudo  quanto  contem  de  valioso  e  notável  semelbante 
collecção,  organizada  no  decurso  de  poucos  annosi  o  ^ue  fornece 
o  melhor  testemunho  que  se  poderia  imaginar  da  actividade  a  da 
vontade  de  seu  possuidor. 

O  i  Gata  logo  Rodrigues»,  mesmo  que  uAo  estives  r  6  valori- 
zado pela«  cuídfldas  notas  biographicaa  e  biblinf^rapliícas  que 
acompanham  a  trauscHpçâo  do  titulo  e  descripçãode  quast  cada 
Tim  dos  numeros,  teria  para  oa  estudiosos  o  mérito  de  uma  re- 
lação, no  seu  conjunctoa  mais  importante  que  ha  visto  a  luz,  de 
bibliographta  nacional^  e  a  consequente  vantagem  de  offeiecer 
novos  gubaidios  e  elementos  a  monograpbias  ou  listas  já  conhe- 
cidas. Assim  acontece  n&o  8Ó  com  o  citado  ensaio  de  Ãsber, 
mas  com  o  propilo  euFaio  de  Valle  Cabral  *obre  oa  livros  sardos 
da  Impressão  Ré^ia  áò  1808  a  18Í2.  O  Br,  dr.  José  Carlos  Ro- 
drigues teve  a  fortuna  de  achar  o  que  ac cresceu tar  a  um  e  a 
outro. 

E^  com  efiaito  tão  considerável  no  seu  género  quAnto  a  já 
mencionada  coHecção  de  brochuras  bollandezas,  que  cada  dia  ga- 
nham em  B^-timaçfto  por  perderem  a  vulgaridade,  a  reunião  dof 
productofl  da  primeira  typographia  regular  do  Bradi,  a  nossa  pri- 
meira literatura  aqui  impressa,  contemporânea  do  reinado  de  d«. 
Joào  VI  com  seu  prolongamento  pelo  chamado  primeiro  reinado^ 
abrangendo  desde  oa  progrflmma&  económicos  e  m  roteiros  de 
costa  e  sertSLo  de  1808  até  os  pamphletoâ  políticos  e  os  pasquins 
virulentos  de  1821,  e  portanto  passando  pelas  elegias  e  nenias 
de  1816—0  anno  do  fallefimento  da  Rainha— bem  como  pelos 
dithyramb:}s  e  odes  herói  as  de  1818  o  ao  no  da  accUmaçào  do 
novo  Rei.  ■ 

De  José  da  Silva  Lisboa  (Cayni)  e  do  padre  Luiz  Gonçal-  I 
ves  dos  Santos  eho  respeitáveis,  senão  completas  suas  collecçõei, 
e  também  se  acha  na  sua  livraria  condignamente  representada  a 
producção  da  Typographia  Cbalcoginphica,  Typoplag^tica  e  Lite- 
rária do  Arco  do  Cego  de  Lisboa^  a  qnal  sob  a  direcçÃo  de  frei 
José  Mariaoo  da  '^onceição  Velloso,  nos  primeiros  anno^  do  i^eculo 
XTX,  editou  Interessantes  contribuições  para  o  conhecimento  da 
nossa  flora,  em  espacial  medica  e  industrial.  Tanto  mais  escassas 
se  têm  tornado  as  |mblicaçr>es  da  Typographia  Nacional,  no  çeu 
primeiro  período,  quanto  se  dispersaram  em  uma  época  em  que 
o  goBto  bibUogra|.hico  era  apanágio  de  raros  amadores,  como  o 
Conde  da  Barca»     Ãccresce  que  a  natureza  do  papel  empregado i 


"1 


—  661  — 

de  inferior  qiulidaâer  JQEto  com  a  acção  Íq  clima  qaeote  e  hc- 
mído  e  a  propugaçào  de  namerosoa  ÍDJrai^os  animae^  doa  liTroB, 
agtram  ao  sentido  de  restriDgtr  con^iderAvelmeate  e  deteriorar 
o  pequeoo  excedeote  deisa  producçào  pitoresca  no  sea  ardor  pa- 
trí<»tico  6  no  aeu  curtbo  grui-Beiro. 

Á  ÍTistTQ€tÍTa  rel^içAo  organizada  pelo  autor  do  «Catalago» 
e  proprietário  da  maior  das  bibliothecaa  braailienaes  em  mãos  de 
particul&resr  soeria  poii»  vaUoga  quando  mesmo  lhe  não  dobrasse 
o  préstimo  a  copioita  e  caidada  aunotaç&o  com  a  qual  todoa  os 
ettuiiosoa  têm  que  lucrar,  apreudeado,  e  que  tran«h>rma  este 
inventario  num  repositório  excellerite  de  dados  e  informaçõen, 
de  uso  continuo  para  oa  devotos  da  bibliographia  brasileira  ou 
mesmo  americaiia.  O  e&cinpulo  e  paciência  do  ir.  dr.  José 
Ce  ri  03  Rodrigues  chegam  ao  ponto  dn  inserir  «in  eitensn»  o 
Bummario  de  cada  um  dos  volumes  das  Revistas  dos  diãerentes 
Institutos  lliatoricos  do  paiz  e  de  outras  publicações  periódicas, 
assim  facilitando  a  procnra  de  artij^os  stjbre  qualquer  matéria 
nacional,  quando  n&o  subatituitido  por  completo  Índices  que 
poucos  tõm  a  applicaçÂo,  direi  mesmo  o  altruismo  de  levarem  a 
cabo 

Toda  a  collecçrio  desta  importaocia  poa&ue  naturalmente  suas 
pérolas,  e  da  collecção  Rodriguee  pode  dixer-se  que  possue  um 
respeitável  fio  dellab.  No  tocante  a  livros  nacionaes  ae  eitrema 
raridade,  bastará  lembrar  que  se  ainda  Ibe  falta  um  Gandavo 
(«Historia  da  Província  de  Santa  ítuz*,  Lieboa,  1576),  o  Cata- 
lago  insere  um  dos  pouquif^Eimos  exemplares — 4  apenas  conheci- 
dos—da  primeira  edição  da  *  Cultura  e  opulência  do  Brasil*  de 
Ãntonil  (Andreoíií),  uma  dai  obrai  mais  interessantes  sobre  a 
colónia  portut^ue^a  e  indispensável  pura  o  conhecimento  da  sua 
situaç&o  económica  uo  século  XVllit  tào  verdadeira  e  detalhada 
porém,  que  o  governo  àa  metrópole  a  supprimiu;  e  o  exemplar, 
nio  menos  raro  — também  @d  4  conliecidoà — da  *Arte  da  gramma- 
tica  da  língua  do  Brasil*  de  Anchieta,  que  Platzman  reproduziu 
em  1ST4. 

Du  «Catecismo  Braatleiro»  do  padre  Ã.  de  Ãranjo  e  da 
«Arte  da  Grammatica*  do  padre  Luiz  Figueira  os  exemplares 
sào  da  segunda  ediçào  (L6B6  e  1687  respectivamente]^  egual* 
me:: te  muíto  rara.  Veai  a  propósito  referir,  tratando-ee  de 
línguas  iudigf^nas  da  America,  que  a  coUecção  Rodrigues  inciúe 
as  três  seguintes  preciosidades  a&i  primeiras  typogruphias  ame- 
ricanat»:  o  vocabulário  da  língua  Ãymará  de  Bertonío  [Chuquito, 
1612):  o  VíJC^ibulario  da  Ungua  Guicbua  de  Holgnin  (Lima,  16f^8X 
e  Q  vocabularin  mexicano-ea^telbano  de  Molina  (Meiíco,  1571), 
sem  filiar  na  Arte  da  língua  do  Chile  de  í^ebrea  (Lima,  1763J, 
por  menos  valinsa  uo   mercado. 

Em  matéria  de  livros  primitivos,  sobre  a  A  maricá,  a  coHecçáo 
Rodrigues  ostenta  jóias  de  crescido  preço  e  do  mais  alto  inte- 
resse, já    parcialmente    reveladas  ao    publico  em    artigos  biblio- 


-  062  -^ 

graphicofl  do  Jornal  âo  Commercio.  Ka  que  menciotiar,  entre 
outraSf  o  f  Mundas  Novu<»  de  Veepucio  (Roma,  LSOS),  que  é  úma 
das  priíneiras  impressora  da  eart4  do  famoso  navegador  a  Píer 
dei  Mediei  sobre  aiiaEi  via^eti.4j  já  rt^alizadns  á  Ãmt^rícst  e«  jan- 
ta meute  com  a  carta  a  Soderini,  íarnbem  dn  1503,  uwa  dfti 
provas  da  veracidade  daa  eua^  qaatro  viai^ení*,  tão  preconizadas 
pelo  nfsso  Vambagen;  *CoBmographia»  laiu*  de  Ilacoaiilo  ou 
WaldseemúlltT  dn  1507 ,  com  m  4  cartas  appeusas  de  Veapueio 
sobre  sua»  oive^çações,  que  é  a  prirapira  iii.f^re-^sâo  de  8t.  Diè 
e  o  livro  tirt  qu«l  ^e  proptiz  quo  ao  novo  mundo  dc6t*obfrto  ao 
cbamasae  America,  do  nome  do  «*^i;i  verdadeiro  deãcóbridor  na 
parte  pe'o  m^niíS  meridional  do  continente,  traçada  m»  map|íS 
que  acompaohHVft  o  tratado  de^criptivo  e  que  o  jesuíta  Fisber 
muito  recentemente  encontrou  (1901);  a  «Copia  der  Neweu 
Zeytunp  auà  Presill^  Landt»,  folba  volante  rte  qu»  ^ó  &Ao  co- 
nhecido» três  exemplai  es  mais,  quo  é  o  iinprpBao  maia  antigo 
sobre  o  Rio  da  Prata  e  prova,  lembra  be  n  o  sr.  dr^  Joi-é  Carloi 
Rodriguea,  terem  sido  os  portuga^zi^a  e  não  oa  bespanhóe^  tog 
primeiros  que  navegaram  no  golfo  daquelle  cstuano  e  forhm  até 
mais  ao  aul;  cia  «Paetsi  nnovamente  ritrovatiji,  a  comfilaçào  na 
edição  oripíuial  de  1507-  o  que  a  ia?,  exemplar  único,  na  Ãmeriea 
do  Sul — de  Fracftnzio  de  Montai b  dd  »,  na  qual  pela  primeira 
vez  ¥&  incúe  a  narr;ição  án  viagem  de  C-ibral  ao  Brasil,  com' 
posta  em  Liãboa  sob  slí  ví&tuâ  do  diplomata  ven^jsiano  Cretico  e 
remettida  porá  Hua  cidade  ao  almirante  MalipierOt  que  desfilava 
conhecer  e  utilizar  a  noticia  desse  novo  descobrimento  portugnez- 

As  esclarecidas  annotaçôesi,  que  aroTnpanham  epses  e  outro» 
numerofi  e  occupam  paginas  do  catai ago  com  inforraaçõe*  hi&tO" 
ricaB  e  bibliograpbicas  da^t  míiÍB  enringag  sobre  os  tcmpoft  imniie 
diatoA  á  descoberta  da  Americ;i,  dão  sem  grande  ÍAV^i^ao  tr,  dr. 
José  Cíirlofl  Rodrigues  um  logar  depois  do  erudito  HHrri&se  entre 
08  contribuidores  para  o  estudo  completo  des^e  periodo, 

O  leitor  do  volumoso  e  exceli  nt©  cCatalogo»,  que  nílo  co- 
nhecer directamente  a  bibliútheca  onde  seu  possuidor  acolhe  gos< 
tosamente  os  que  apreciam  e  entendem  do  livrost  terá  ao  per- 
correl-o  a  cada  pa^so  uma  snrpreza.  Aqui  deparará  com  a  «Geo- 
grapbia»  de  Ensiao  (a  edjçRo  de  Servilba  de  15  9)  que  é  a 
melhor  summa  do  t«^inpo  sobre  a  sciencía  da  terra  e  o  primeiro 
livro  impresBO  em  H^Sfianha  em  que  o  descreves  America;  acolá, 
o  «Regimento  de  pibjtos  e  Roteiro  dss  navegações  da  índia  Orien- 
tal» do  coãinograplio -mor  dn  reino  Mariz  Carneiro,  mais  completo 
que  o  e:íemplar  do  Museu  Bri^anníco;  além,  uma  serie  deeiiçdct 
do  século  XVI  da  «Get  graphia»  de  Ptolomeu,  a  começar  pela 
de  1508,  que  já  menciona  a  terra  de  Santa  Crua  e  inclue  o 
mapf>a  de  Ruyscb,  e  indo  até  a  de  1574,  exhibindo  portanto 
grapbieamente  a  progressão  do  conheci  entanto  daa  terras  ameri^ 
canas  e  em  especial  da  brasileira. 


I 


—  G63  — 

Blfficilmente  me  resolvo  a  abreviar  uma  ennmeração  cara  ao 
mea  espinto  de  amador  de  livros  e  de  eâtudaQtâ  de  coisas  his- 
lorleas.  Se  me  escutas^ef  iria  descrevendo  por  niiciha  vez  o  que 
o  er.  dr,  Jo?é  Carlos  Rodrigues  já  muilo  melhor  descreveu  no 
f«u  «CataloD^o»,  obra  pelo  que  se  vê  maia  succul^nta  do  que 
podia  Bug^gerír  simplesmente  o  seu  titulo,  e  exigindo  para  sua 
confeiçAo  uma  grande  som  ma  de  esforços  e  uma  vasta  accumu- 
Izição  de  noiicías.  Dis&e-me  o  auUir  representar  osse  v  lume  o 
trabalho  dos  ^eus  domingos,  e  posso  por  mim  ajuittar  que  nâo 
de  um  Qumero  muito  crt^^cido  deites,  porque  a  bibliomaaia  nAo 
ha  muitos  annos  qrie  se  desenvolveu  —  nào  digo  a  bjbliopbilia, 
que  é  própria  de  todo  o  homem  superiormente  cultivado — no 
proprietário  da  opulenta   livraria  de  hoje. 

Quer  iéto  dizer  que  o  ar.  dr.  José  Carlos  Rodriguea  jioz  ao 
strviço  de^sa  nobre  paixào,  a  qual  nâo  fa^  muito  tempo  que 
andava  conãnada  a  grandes  senhores  e  a  raros  letrados,  e  bojo 
maia  se  generalizou  porque  io^trucçíio  e  riqueza  se  vulgarizaram 
maií,  a  mesma  notavi^l  activiiade  que  tem  empregado  na  proíiã^ào 
jorDaliãtica,  de^dt»  o  «Novt*  Maud»*  de  Nova  Y^ik,  que  tão 
popular  pra  entre  uai  ha  triuta  ânuos,  até  o  «Jornal  do  Com~ 
mercio*  do  Rio  de  Jarneiro,  poderosa  empreía  cuja  respougabi- 
lidade  o  não  intimidou. 

A  pOBiçáo  maia  que  nunca  sulieut©  do  velho  orgam  da  im- 
prensa flumiueuae  dá  a  medida  do  tiuo  administrativo  do  seu 
ledactor  chefe  e  principal  proprietário,  da  mesma  fórina  que  o 
pdlpavfl  reÈuUiido  da  sus  dili^^^eute  e  iatelligente  applicaçào  á 
bibhographia  indica  a  facilidade  extrema  de  sua  adaptação  men- 
tal. Chegar  a  tt^r  tal  autoridade  como  jornalista  e  tat  compe- 
tência como  bibliographo,  teria  mais  do  que  suffieiente  para  pre- 
encher dignamente  uma  vida  que  ainda  encerra  para  distioguil-a 
um  fella  se  mo  pratico,  do  que  a  uosí-a  raça  uho  offerece  exem- 
plares em  demasia»  e  o  ejtercieio  desaffeítado  de  uma  philanthro- 
pia  inapiràda  pela  doutrina  chrií»tan, 

Eio,  seiembro  de   1907- 

M,  DE  Ol  IV  BISA  Lima. 


II 

Súdamerikãnische     FelsKcich  nungen 

(PlOra-aBAYUBAS    BUL-AMBRICANAS) 

DR.  THEODOR  KOCH— GRUNBERG 

Beríim  1907,  E.   Wasmui  A.  G,  ediL 

A*  geotileza  do  autor  %  doa  ars.  editores   devemos  &  ofierta 
de    um    exemplar    dessa    obra    luxuosa  de    92    pagiu&â  de  texto 


_  C64  — 

ornada  com  B6  fig^uras  e  «companbada  dâ  29  et-tatnpaa.  Â.  tm» 
duc^o  lireral  do  título  é:  «Desenhos  lapidares  na  America  do 
Sul»  G  batotam  i^to  e  a  inspecção  das  figuras  para  «e  couhecer  o 
assumpto  ao  qual  o  livro  é  dedicado ;  é  maie  uira  prova  da 
paciência  que  entre  nós  dissemos  «de  sábio  Mllemão»  e  da  qaal 
D  nieimo  dr.  Koch  já  nofi  dera  prova  em  sua  i  bra  anterior  «Au- 
fâcigo  der  Kunst  im  Urwaide»    (Os  inicios  da  ai  te  ua  floresta). 

ambas  as  publicações  citadas  fiào  resultados  das  viageDB  do 
autor  no  alto  Rio  Ne^ro  e  Yapurá  n^»B  anurs  de  I9v  3  a  1905 
6  poÍ9  foram  em  especial  os  Índios  da  Amazónia  que  Ibe  for^ 
neeeram  a  base  para  seus  estudos ;  pela  grande  lista  biblio- 
grapbica,  porèmi  vemo^  que  elle  auppriti  pela  leitura  o  que  n&o 
poude  veiifícar  pessoalmente. 

à  primeira  parte  do  trabalho  consiste  na  reoapíiulriçAo  dos 
estudos  ate  sgon  feitne  nesse  seutído.  Muito  acertadamente  o 
auctor  separa  as  pictogravuraa  da  região  andina  das  das  outrfls  re- 
giões sul-americanas^  pois  aquelhs  todas  mtistram  a  inSuetieia  de 
cultura  mais  elevada  de  que  os  indius  da  Cordilheira  deixai am  a 
tradição . 

Segue -se  depois  a  enumeração  do  material  coibido  pessoal- 
mente pelo  dr  Koeh  ;  s&o  os  apctitarr.enlos  de  «eu  diário  6  a 
reprodíicçào  das  copiíis  que  tirou  tn  situy  a  lapia  ou  pt*la  pboto- 
grapbia 

Gommeiítando  os  degenb  a  e  dando -lhe  a  interpretação,  vemos 
quanto  a  quantidade  immpnj>a  de  desenhos  estudados  auxilíon 
esse  trabalho  As  difiâculdnies  não  eram  poucas.  Nàn  té  o 
tempo  como  a  acçilo  dí^htiuidom  da  atmoaphera,  como  o  próprio 
iadio  da»  aciuaes  gerações  detarparam  os  desenhos  \  as  intem- 
péries dcetruiudo  e  os  indio*  alterand  »  ou  renovatido  erradamente. 

Centenas  de  figuras  ello  nos  apresenta  em  copia ;  em  geral 
representam  em  pouquíssimos  traços  um  corpo  Itumauo  ou  um 
peixe,  kagadOj  cobra,  tatu  ou  qualquer  *  utra  creatura  mal  cara- 
cterizada;  outras  sâa  simples  combinação  de  linhas  eonceutricat^ 
espiraes  ou  com  alguma  symetria.  Tudo^  porém,  tosco  6  sem 
grande  capricho. 

Nas  consid  rações  com  que  o  autor  finaliza,  elle  sustenta 
a  opinião^  coi^ traria  a  outras  que  ligam  cTta  importância  a  esses 
documentos  das  antigos  aborígenes^  De  facto  essas  figuras  n&o 
parecem  eymbolizar  acções  ou  acontecimentos  memoráveis,  poíi 
nenhuma  montra  attitude  ou  combinação  que  admitta  interpre- 
tação nesse  sentido.  Nada  miis  parecem  ser  senão  o  producto 
de  um  pasi^atempo  do  índio  que  assim,  grav^tudo  linhas  em  qual- 
quer pedra,  quer  em  lugares  dos  mais  evidente»,  como  nos  bar- 
rancos dos  rios  ou  nas  cachoeiras,  quer  em  qualquer  reranto  da 
mata,  fazia  passar  mais  deprí^8?a  m  horas  do  o.  io  — que,  aliá^i 
não  lhe  eram  poucas,  E),  ponderamos  mais,  a  arte  de  desenho 
certamente  teria  alcançado  melhor  deseavtJvimento  entre  oa 
Índios  si  de  facto  doase  modo    quizedsem   deixar    gravados    para 


^ 


—  665  — 

sempre  algum  epUodio  ou,  comr>   [>f.los  «bíerogl^ptioi»;    traduzir 
alg^uma  idéa. 

Nio  podemo*  deiíar  de  transfnittir  ao  esforçado  autor  as 
nos^^fl^  feiljciUiÇõe»  peli>  bello  trabalho,  útil  e  itileressante  contri- 
buiçílD  á  literatura  sobre  os  nns^cs  indígenas,  e  uko  quercmoa 
também  deixar  de  salientar  a  fina  arte  grapbica  que  prt*eidiu  á 
impreã^ào  da  obra. 


1(1 

Gustavo    Beyer  (*) 

1) 
VIAJANTE    SUECO 

(1813) 

Por  occaaião  de  sua  curta  eatadja  nrata  capita),  em  ngoato 
ultimo,  trav^ei  relaçõta  com  o  sr,  dr  Alfredo  de  Toledo.  Conbe 
cia-o  atites  pt*loB  seun  importantes  trabalhos  iiupresBOB  na  RÉvisia 
do  IníttítuÍQ  HUtorim  de  S,  Paulo, 

Em  nosaia  palestra'^,  me  refrriu  o  emiaente  homem  de  letras 
que  a  Metdítta  ia  imprimir  no  volume  XII  umas  curiosas  uotas 
de  viagem  eseriprns  por  Guátavo  Beyer,  de  nação  aueca  e  in- 
teiramente deBconhocidaB.  Accroacentou  que  antes  de  viBÍtar  S* 
Paulo,  Beyer  estivera  no  Rio  de  Janeiro,  do  quiL  dava  auccinta 
descri  pçAo , 

Fot  o  bastante  para  ag^uçar  a  minha  rnriosidade. 

Pedi  ao  dr.  Toledo  me  enviasse,  quando  de  regresso  a  8. 
Paulo^  a  parte  relativa  ao  Rio,  Com  a  gentileza  que  lhe  é 
própria,  o  autor  da  Reivindicação  Improcedente  prometteu  fazei*©, 
Pa^aara  ri-se  mezes  e  o  nome  de  Beyer  n&o  se  me  apagou  da 
memoria  Recorri  aos  diccionarios  de  Historia  e  aos  sabedores 
desta  materÍFi.  N'ada  obtive.  Consultei  a  It^ta  de  estrangeiros 
illustres  (orf^ani^ada  por  Taunay).  os  quaes  vieram  ao  Brasil 
(Tomo  58  da  Rev,  do  Instituto  Histórico  Brasileiro).  Delia 
nào  Ci^tistava  o  nome  dea^e  viajante. 

Ànte-hoDtem,  porém,  fai  agradavelmente  eurprebeudido  com 


{''}  Em  retn^i^O  4  ««tã  flA]kRtQr  OQj&«  Ligeiras  Sotas  ât  Xiagma  tB  MCllira  pnblICAdLI 
jl««t«  Tolt^ine,  traduxldai  pikt\  a  vernucaío  pelo  dr.  A.  Lí^ígren.  ««creveraín  dí  qocsos 
iUiUtrH  coD«OQ(OB  41*1.  Vieira  PiieQdt  «  Oliveira  Ijim4  os  mrtlí^oft,  i^mi  orft,  oom  &  de* 
TÍd»  Ténlft,  tr«n8crflT«mí>i  como  nn  eradtto  e  «lucldiiivo  compl«niento  ii  brflT«t  e  n- 
ptAiu  AEmotAci^eB  lti\*,%  i  rarerid*  n&rra^io  de  vlAgem. 

N.  dfc  R, 


—  666  — 

al^ntnaa  folbas  impressas  (provas  naturalmente  da  rd  vis  ta)  nas 
quaes  vi  o  que  tanto  almejava. 

«Li^eira^  Qotas  de  vingotn  do  Rto  de  Janeiro  á  capitania 
de  3  PauLi,  no  Br»Bil,  no  verào  dâ  1813,  com  algumas  noticiai 
Bobre  a  cidade  da  Ba  Lia  e  a  ilba  TrÍsT&o  da  Cunba,  f^ntre  o 
Cabo  6  í>  Brasil  e  que  ha  piuco  foi  occnpíida— ta!  é  <  titulo 
do  trabalho  d©  Gustavo  Bej?er  — Foi  trwdnzido  do  soeco  pek  dr« 
Albijrto  Lofgren,  um  de»  bell  s  ornameuto»  do  In&tituto  de  S. 
Paulo. 

«O  original  do  presente  e  interesâante  trabalho^  (dís  a  nota 
da  CDmmi»E&o  de  Hedacçâo),  íoi  publicndo  em  Stockolmo,  ua 
tjpngrapbia  d^  Elmea  e  Grauberg,  no  anno  de  1814,  e,  sendo 
encontrados  ptílo  bibliothecario  de  3.  M.  Oscar  II,  da  Suécia, 
na  bibliotheca  particular  deste  soberano  doía  exemplares  do 
folheto  em  que  o  dito  orig  uil  foi  dado  á  estampa,  o  referido 
tnotiarcha,  por  intermédio  do  mesmo  eeu  bibliothe cario,  ci  deu  um 
doa  exemplareã  ao  no<^ao  distincto  consócio  dr,  Á.  Lofgren  e 
este  tratou  logo  de  fazi^r  a  versão  do  sueco  pfira  o  vernáculo,  á 
qual  ora  damoi  publicidade. 

Apesar  de  diversoi  enganos  commettidos  por  Gustavo,  sâo 
com  prazer  lidas  as  precitadas  notas  de  viagem.  O  autor,  longe 
de  ridicularizar  os  nosao^  hibitos  e  coí^tumes  coloniaes^  os  aceeíta 
como  fructoã  da  nossa  situaçAt  sempre    dependente  da  metrópole. 

Quo  o  progresio  do  Brasil  já  era  manifesto  em  1813,  elle 
Beyer  o  accentna.  Granja*  á  influencia  do  Príncipe  Heg-ente 
tudo  ae  mo di ficava  para  melhor.  Referindo*se  á  Bahia,  eEcrfveu 
que  muito  cerraram  os  egcriptoreâ  de  viagens  que,  apenas  vin- 
tando  o  Rio  de  Janeiro,  tomaram  esta  cidade  por  padrfto  para 
julgar  todo  um  território  de  60.000  mil  nas  geogiaphicas  quadra- 
das, quando  ell-^s,  si  quizesãem  ter  at^  informado,  poderiam  ter 
conhecido  o  plano  para  a  graude  obra  de  civiliíaçào  e  povoamento 
do  paÍ2*. 

Seu  entbusiasmo  sóbr»  de  ponto  quando  fala  dos  Paulistas, 
em  cujo  Boio  encontrou  ho^pt^dagem  prinçijieeça  e  cavalbeiroea 
acolhida»  Verdade  é  que  elle  e  i-eu  companheiro  o  Conde  von 
PaUleo,  de  Sào  Peíersburgo,  viajavam  com  cartas  de  recommeo* 
daçfto  armadas  pelçÊ  ministros  do  Principe    Regente, 

Eíã  abi  um  progresso  digno  de  neta.  Iam  longe  os 
tempos  em  que  o  governo  vía  em  qualquer  viajante  estrangeiro, 
por  mais  ilJustre,  uai  sím^fles  espião  Vem-me  agora  á  lem- 
braiiça  o  occorrido  com  o  ftabio  Rumboldt, 

antes  de  proseguiri  salvo  erro,  creio  que  esse  conde  Pablen 
é  o  ministro  e  euviad4^  ext  aordinarío  do  Imperador  da  Rússia, 
cbegadrt  ao  Hio  d**  Janeiro  em  24  de  julho  de  1812,  como  re- 
fâre  o  padre  Luí»  Gonçalves  do^  Santos. 

Teria  B<^ydr  couheeido  na  Suécia  os  nossos  illustres  patri- 
cioi    Jo&é    Bonifácio    e    Bitteucoart  e   Sá,    quando    e»tes  por  lâq 


^  667  - 

andaram  em  mÍBftão  6cientifica  ?  E'  de  crer    Teria  sido  por  eitet 
a^ireseutado  ao  tenente- general  Nap^en? 

Qual  o  resultado  obtido  para  a  Ecitiucia  da  yiagem  de 
Beyer  ?  Não  me  compete  dizp|-o,  por  manifesta  careDcia  de  ba- 
les. Aguardemos  a  oiiínià*^  de  Branner,  de  Orville  Derby,  de 
Alfredo  de  Carvalho  e  de  Oliveira  Lima,  que  a  fundo  tem 
estudado  o  período  cine  vae  de  1808  a  1821. 

Viajaria  Beyer  por  própria  conta  ou  fora  commigsiotiado 
pelo  spu  govt*Tno'?  Nada  poso  avançar,  aem  conhecer  o  re^to  da« 
NtjiaSt  prestes  a  vir  á  imprensa. 

Terá  es-*©  sympatli^co  sueco  alguma  relação  com  a  fabrica 
de  ferro  de  Ipanema,  da  qu»l  se  occiípou  Vantliagett? 

Deirando  esses  pont  s  para  serem  elucidados  por  quem  de 
direito,  vejam  succin  ta  mente  tó  o  que  ?e  refere  á  Bahia  e  Rio 
de  Janeiro.  Quanto  á  primeirR,  o  antor  dia  ter  o  commercio 
vasto  e  o  perto  eicelletite  e  bem  defendido.  Faz  juí-tíça  á  admi- 
nistração do  Conde  dus  Árccs,  tmoço  de  qu/ílidadfs  superiores^  de 
génio  creador  que  muito  £^m  contribuído  p^ira  o  aformoseamento 
deste  grande  empório».  Descore ve  a  tjaços  largos  a  eidsde  e  fala 
de  uma  eatatut  do  Princípe  Regente  (aic)  aobrt^  \xm  pedestal  de 
mármore  branco,  encarando  o  mar 

Um  tanto  i  xag^erado  quanto  aos  recursos  de  que  dispunha 
a  antiga  capital  do  Brasil,  aDiide  ao  facto  histórico  de  quere- 
rem os  habitantes —desse  o  príncipe  d  Jt-So  pri^ferencíá  á  ci^ 
dade  fundada  por  Thomé  de  Sousa  para  nova  téde  da  mo- 
narchía. 

Trata  das  chuvas  e  desmonorampntoa  occorrídos  em  juuho 
e  julbo  de  18 LB  fiict  s  comprovados  pela^  correspondências 
existentes  no  Archívo   Publico* 

Penetrando  no  grandiom  porto  de  S.  Sebastião  (Rio  de  Ja- 
neiro), eícr*jveu  o  Reguinte:  «a  entrada  passa  em  grandeza  a 
da*  columna»  de  Hercules  e  pode  ser  comparada  a  uma  porta 
CttjoB  dois  bateutes  eâo  duíis  e  niias  rochas  de  granito  das  quaes 
a  do  e-iquerda  é  denominada  Páo  de  Assucsr  e  que,  seguíido  a 
nltima  medição,  tem  800  pés  de  altura.  O*  navios  passam  tào 
porto  da  fortaleza  do  Santa  Cruz  oollocada  no  centro  (aic)  da 
entrada  que  com  um  porta- voz  pode- se  responder  ás  perguntas 
que  d'alli  vêm,  o  que  é  obrigíitorio  para  r^s  que  intentam  passar 
era  silencio,  imanta  Cruz  é  uma  ilha  perfeita  [sic)  que  cruza  o 
seu  fog^o  com  o  de  tolas  as  firtalejwts  do  porto  e  dos  morros  ao 
redor  da  cidade.  Dessi^s  morros  o  da  Ilha  das  Cabras  õ  curioso, 
porque  ao  pé  delle  oí  maiores  navios  podem  ancorai,  Ka  entra- 
da do  p  rto  que  irm  o  comprimento  de  algum' s  léguas  suecaBj 
a  vista  s«  deleita  com  uma  ]>orçâo  de  ilhotas  encantadoras  que 
gosam  de  uma  primívera  eterna  e  dasí  quaeH  ©manam  o*  mais 
agradáveis  aromas.  Etitr^i  ©lias  {híc)  a  Fotita  de  Acajou,  onde 
reside  o  almirante  sr.  Dixon,  é  a  mais  apra^ivel  pela  situação. 
Os  paquetes  ancoram   de   preferencia   deante   do  palácio,    etcv. 


—  e68  — 

E,  coita  curio&a,  todos  os  vi&jantes  que  franquearum  o  nono 
porto  falam  das  (ixígencias  da  fortaleza  de  Santa  Cruz  e  de  «eu 
porta -voz.  Hhú  elltas  fructo  do  Hegimeoto  dado  ao  eapif&o  Ma- 
D06L  da  Coata  Cabra)  pelo  guveraador  d.  Ãlvaro  da  Silveira  e 
Albuquerque,  em  24  de  janeiro  de  1703 

IJeâcrevendo  O  aotig»  largo  do  Paço  e  ob  edíficios  em  tomo 
fala  do  i-hiifaria  em  forma  d^  obelisco  com  iiiBcripçôes  (felizmente 
ainda  lá  existem)  e  Uffta  agua  fresca  e  crpsUUtfia  que  jorra  de 
cabeças  de  roòras  e  de  dragões,  (Ifito  agora  é  pura  taotaeia). 

ÃIU  attr^bia-lbe  a  aitençào  u  barulho  dos  negroa  e  a  per- 
manência de  sentioellaB  junto  da  foote  publica.  Aconteça  isto 
coando,  por  occasi&o  de  séccas,  faltava  agua  Davam-fio  brigaa 
^ntre  os  conductorea  do  precioso  liquido,  os  quaes  queriam  ler 
preferencia  por  morarem  longe  Era  a  cbamada  tamina.  Em 
caso  de  conflii^to  íuterviobam  m  guardas,  que  reitabeleciam  a 
ordem  com  algumas  pauladas,  ou  vergastadas  com  os  conhecidos 
camaròeíí 

(Oa  edifícios  todos  tâm  saccadas,  onde  damas,  cavalheiros  e 
pagens  se  divertem  durante  aa  horaa  fregcas  do  dia,  respirando 
os  a  romani  que  te  desprendem  das  numeroFas  flórea  allj  colloca- 
das).  Esse  habito  ainda  hoje  infelizmente  se  conserva,  ape^r 
das  avenidas,  passeios  e  divertimentos»  Conheço  algnmaa  donas 
de  ca^a  que  aó  eáem  á  rua  três  vezes  por  auno:  no  Carnaval  i  na 
quinta- feira  ?auta  e  no  dia  da  Gloria! 

Dá  para  população  do  Rio  130.000  habitantes-  A  cidade 
(apesar  de  ^eu  porto  seguro,  incomparável  e  bem  defendido,  ca- 
pas de  abrigar  todas  as  armadas  do  mundr>)  nào  eonstitue  um  dos 
mais  saudáveis  logares  do  grande  c  ntínente  americauo.  Fala 
Gm  seguida  da  situação  do  Rio  cere  ido  de  montanhas,  de  177 
diaa  de  cbuva  durante  o  aono,  da  estagnação  das  aguas  a  qual 
origina  dentro  do  seu  perimeiro  uma  humidade  nociva  ao  orga- 
nis^no  e  uma  porção  de  iniectoj  molestos  dos  quaes  ha  ahi  maior 
abundância  do  que  em  outro  qualquer  logar  do  Brasil, 

Si  lhe  losie  dado  ainda  viver  o  autor  das  notas  viria  que 
para  dar  cabo  dessa  mosquitada  existe  aqui  hoje  verdadeiro  ba- 
talhão. 

Em  boa  hora  reconhece  Beyer  qu©  o  governo  começava  a 
sanar  os  erros  commettidos  por  occasião  da  primitiva  constituí ç&o 
da  cidade. 

De  facto,  Paulo  Fernandes  tratava  de  executar  melborameu- 
tos  materiaes  segundo  o  exemf)lo  do  Marquez  de  Lavrartio,  de 
Luís  Vas^oaceUns  e  do  Conde  de  Rezende 

Occupase,  ânalmente,  muito  por  alto,  com  a  bibliotheca  regia, 
o  theatro  do  S,  Joào,  bavla  pouco  inaugurado^  com  os  alicerces  da 
nova  casa  da  moeda  (no  Campo  da  Foíé,  boje  rua  do  Sacramen- 
to) e  com  o  Jardi^n   Butanico,  na  praia  do  Freitas  (sic). 

Do  exposto  ás  pressas,  resulta  que  o  viajante  sueco  não  foi 
muJto  exacto  com  relação  ao  nosso  iíio  de  Janeira,    Basta  dimer 


1 


—  669  — 

que  collc^con  a  antiga  fazenda  doi  je»uitfta  (E^anta  Crus)  no  meio 

d»  Hha  Grandt!) ! 

Parece  que  ijuardou  elle  toda  a  sua  at tenção  para  a  antiga 
capitania  de  S.  Vicente,  Ain  'a  assim,  a  parte  que  me  foi  dado 
lêr  constituo  precioso  documento  biblii  g^raphico  até  ba  pouco 
desconhecido. 

Quando  o  restante  for  publicado  ra  Revista^  acompanhado 
de  erudit;r>s  commentarios,  «e  poderá  avaliar  m  tfdum  do  mereci- 
mento  das  reieridas  notas 

Dando  parabéns  ao£  illuE^tradoa  drs.  Âlfrfdo  de  Toledo  e  Al- 
berto Lfífjíren   pela  novidade  que  uob  vào    offerecer,    ag-uaido  o  | 
Toiame  XII  da  «Revista  do  Instituto  Hiatoúcoí   de  S.  Paulo.                                 ) 

Peço-lhes  desculpa  por  meiter-me  em  frota  sem  baTiáéim* 
Ninguém  melhor  do  que  elle&  íabe:— nAo  &e  pode  exigir  moilo 
de  quem  uAo  é  artista  e  cnula  por  devoção. 

Rio,  10  de  novembro  de  1907. 

(D'  Á  Noíicia  anuo  XIV,  n.  277,  de  20-21  de  novembro  de 
1907,  Rio  de  Janeiro)* 

2) 

As  notas  de  viagem  no  Brasil,  em  1813,  de  Gustavo 

Beyer 

o  erudito  bibliothecario  do  lastituto  Histórico  do  Rio  de 
Jaaeiro«  ar,  dr.    Vieira  Fazenda,  cuja   personalidade  é  familiar  a 

3uautoa  servem  o  culto  do  nosso  passado,  do  qual  é  um  eslu- 
ioso  apaixonado  e  orig:Íual,  appellou,  tntre  outras,  para  minba 
opiui&o  quanto  ao  objecto  e  cauea  da  viagem  an  Brasil  de  Gus- 
tavo Boynr,  sueco  que  e&teve  na  Bahia,  Rio  de  Janeiro  e  São 
Faulo  no  decorrer  de  1813  e  cujaa  impressões,  de  todos  nós 
desconhecida»,  se  achavam  consig^nadas  desde  1814  num  pequeno 
volume  imprenso  em    Stockolmo  -     i 

Deste  volume,  exist^^nte  em  duplicata  na  hibliotheca  jarti-  1 

cubr  do  rei  0*car  da  Sufcía,  tevo  o    Instituto  Histórico  de  Pfio 
Paulo    conhecimento  e  pôde    obter  o  ^lacioso     oflfrecim^^nto     de  | 

um  dos    exemi^larea,    encfirre^ando-ae  o  Rr,    Alberto  Ldfg-n^n   da  | 

sua  traducçAo,  que   figurará    no  próximo  tomo,  o  XII^  da  revista  1 

da  mesma  associaçâ^o. 

Nào  tem  o  publico  otUm  critério,  nem  poderia  encontrar 
melhor,  para  aferir  a  operosidade  o  importância  de  taes  Bocie- 
úãÀ^    senão  o  que    lhe  offerece  o  apparecimento   annual  desses  1 


-  670  - 

Tolumea,  nos  quaes  se  concentra  o  trabalho  dos  retis  membros 
mais  niugttea  ou  mais  preatimo^cs .  Ã  aa^fciaçào  vale  pelo  quo 
est^i  membros  TaleM  o  pelas  tradigÒFg  que  representa,  iisto  é, 
pdo  valor  dos  que  fse  fi'T&Tii.  Ora  a  Revista  do  lDstitut«>  Hii- 
lítuÈo  de  S,  Panlo  é  deveras  interessante  em  ai,  nenhuD  a  ontm 
se  lhe  avauttgarido  pre^entemetHef  ponquíssímafi  mesmo  a  egi]&« 
lando, 

  variedade  nas  «-nas  contribuições,  a  frequência  dos  geus 
en^aicft  oríginaes  e  a  abundância  da  sua  documeutaçâo,  cujo 
campo  abrange  mah  que  o  Estado  aobre  que  ae  diz  exercer  a 
actividade  da  aisodação,  tornam-na  attrabente  para  o  entendida 
como  f  ara  o  leig^o  em  assumpto»  bistortcoã  brfigiteiros,  e  abonam 
a  orientação  que  desde  o  sen  inido  recebeu  aqtiella  publicaçào, 
hoje  príncipe Imente  affecta  á  direoçào  intelU gente  e  lUidadoi-a 
d-)  tr.  dr  Alfredo  de  Toledo,  verâadi^simo  na  matéria  e,  coma 
todo  p.'iiil^:itfi,  j altamente  cíoão  d^is  ^loria^  da  ^rej  a  que  perteDcOí 

bl'  muito  díffi^i),  senAiQ  impossível,  á  falta  de  íntoimaçõfs 
fllheía*  ao  próprio  livro,  satisfazer  a  perg^nnta  do  ar.  dr.  Viri-a 
Fasfenda  &  dizer  por  que  motivo  veiu  Beyt^r  ao  Braul  Oa  via- 
joreá  drt^Fft  época  obedeciam  todos  no  geral  a  mcveii  ccmmeíciatí*, 
como  Mawe  e  Lneco^-k,  ou  a  moveis  fcientifico?,  como  Spix  e 
ACíirtius.  Seria  fácil  num  e  noutro  c«9o  conbieel-os,  quando 
mesino  no^  fiis^em  alheias  suhs  biograpbias,  Of  piimeiros  tihaii- 
dam  em  dad^  b  económicos  e  financeiros,  os  segundos  tm  dfldo* 
botanic"  St  m  nt^ialngicos  ou  zoolfgicoR,  Nuns  pievaltce  a  ter* 
mínolnr^ia  bi^acaria,  dos  outros  a  technología  particular  á  btstoriã 
natural. 

O  volume  anteror  da  «Revista  do  Ini^tituto  Kístorfco  dâ  S. 
Paulo*,  inseriu  a  tra':!ucçAo  da  viM^em  a  Minas  Gera«&,  noj  annoa 
de  1814  e  1815,  do  allptnáo  G.  W,  Freyreiss,  que  em  1S16  o 
príncipe  Maitmiliano  de  Wírd-Neuwíed  encontrava  explorando  o 
Espirito  Sfinto,  e  poucos  annoa  depois  morria  no  aul  da  8ahíE. 
Quando  fu^&e  anon^^ma  eut  rebçÂ^,  apparoceria  sem  contestiiçfio 
possível  orno  o  trab  lho  de  um  naturalista  Entretanto,  i>pomara 
na  obra  observações  aociaeã  dig-nas  de  nota,  e  lobretud^,  o  trata- 
mento dos  indioa  o  o«  borrr  res  do  traâco  mefeceram  do  antor 
descrip<;5e3  minucio&aa  e  verdadeiras,  em  capitules  que  se  lèm 
com  aproveitameofo 

Com  Gu-tíiivo  Beyer  a  coisa  é  differente.  O  que  te  pdda 
deprehi*nder,  o  que  píir-^ce  pelo  menos  deprebender-se,  é  qne  t>fto 
era  de  nroãí^sào  natur.  li^-ta  e  que  tampouco  era  homem  de  ne- 
gocio beu?  conhoeimeniOB  de  historia  natural  serão  taxind^a  de 
vulgan  g;  suna  preocvupaçdes  mercantil  apparecem  DUllaa  Di- 
ccionario  «I|runi  de  hiogiaphia  ou  eni^yclop*  dia  que  cotJiultei  di 
fé  dt4le,  W  li  terá  ri  ^mf  ti  ta  um  esqu  eido,  scíentiâcamente  um 
dçaconhccido  Ft^rque  não  fazeUo  entrar  noutra  categoria,  mO' 
deritamente  tào  deseuvolvícta,  dos  viajantes  por  simplea  diatra- 
cçâop  dos  «toQíistest  por  de  fastio,  dos  c^lobe-trotters»  por  ciuriu* 
lidade? 


—  671  — 

O  Brasil,  recem-nbeito  aos  etrangeiros,  vagamente  conliecído 
como  a  terra  maravilhosa  du  ouro  e  dcs  dtamantfa,  agorn  iha- 
mando  fortemente  a  attençfto  pelo  facto  de  para  sDa  capital  se 
ba?er  transferido  uma  da»  velb;i9  cõries  euroféa»,  deBaâa?a  uma 
viíita  que  os  faqnetes  inglezea  de  Falmcuth  tomavam  prssivel, 
regular  e  até  commoda  p»ra  o  tempo^  ainda  que  lSo  de  todo 
Be^ura  pela  pncrra  que  no  mar  fizeram  juí-tametite  em  1812  e 
181S  os  americano»  aos  ínglezes,  e  pela  a  depredoíjôes  dre  pira- 
que  do3  portOB  doa  Estados  Unidos  saiam  ctm  bandeira  iucur- 
gente,  sobretudo  de  Artiga?,  No  tempo  da  navegaçíio  á  vela  6 
do  corso  as  viagens  maritimaa  eram  pelo  menos  aleatórias. 

O  calor  das  recorameiídaijões  que  levou  para  São  Paulo  e 
que  puzeram  em  movimento  o  próprio  rapitUo  general  Marquez 
de  Alegrete;  a  companhia  em  viegem,  num  pé  de  intimidade, 
do  condo  Nicolau  von  Pablen,  qu*^  df^ria  ser  parer*tp,  taUez 
filbo  ou  irmílo  do  ministro  ru^ao  que  em  1812  cht^gfU  an  HÍo^ 
traugferidn  de  Washington  ;  a  attetçâo  prestada  naa  iuas  obser- 
vações á  feiçfto  mundana  da  vida  brfsiíeíra.  sSo  circumptancias 
fod»9  qne  denunciam  pm  Bfy**r  um  hcirpm  de  bôa  pociedade 
Nem  é  de  surprebender  ou  de  natureza  a  ítmtrariar  e*Ba  im- 
presí-fto  o  faoto  de,  Beguodn  se  deduz  do  livro,  eer  o  auN^r  dado, 
ou  amador,  maia  pela  certa,,  de  pt^íqiijzaa  gí^ologiras .  A  historia 
natural  invadira  no  século  XVIÍI  com  estrépito  a  educação 
cmidada,  e  entre  a  mel bor  cUsse  tornara- se  aíé  mania  ahEorvente. 
BufFon,  o  clíj&fiico  Buff*  n,  era  um  gí^ntilhomf  m,  pfita  tó  citar 
essí*,  e  do^  que  nos  viaitnram  e  no  napso  píiií^  viaiaram  extensa 
e  pn  veiiosaTrente,  o  príncife  Maiimiliaro,  de  Wied-Neuwied, 
dedicava  se  com  fer'i?or  á  etbBographia  afoia  a  zotlogia  e  a 
botânica, 

NAo  pensOj  como  avpnta  a  hypotbese  o  sr.  dr,  Vieita  Fa- 
zenda, que  tivesse  Beyer  talvez  liava  do  conhecimento  na  Suécia 
com  Jo-é  Bonifácio  e  Ft*rreíra  da  Camará,  ou  que  ?ua  vinda  ao 
Braail  se  relacionaíisFi  com  a  fabrica  d**  ferro  di>  lianema  Nf da 
coiiatrt  do  livro  ern  sbímo  de  uma  ou  de  outra  t^upfn^içSn,  que 
haveria  sido  confirmada  ao  falar* se  do  citado  eítíibelecimfnlo 
metallurgico  ou  ao  referir  o  autor  seu  eiscontro  com  Jlaitim 
FraucísrQ  era  ca?a  do  cónego  Oliveira  Bueno,  que  na  Paulit^a 
o  hospedara  Admittido  que  fi  se  P*yer  um  homem  de  alta 
roda,  é  mister  ter  pn^sente  que  o  mnio  social  em  que  na  Eu- 
ropa do  norte  ee  moveram  o  paulista  e  o  mineiro  foi  o  meio 
especial  d"S  uitív^rsíiarioi  e  dos  sábios  onde  lucravam  iutelle- 
ctual mente,  nào  o  que  se  cbiima  por  um  gallicismo  o  mundo. 
Os  scientistas  lecebiam  a  [^rotecçílo  doa  ptincipes,  quando  eítes 
eram  egclarfc^doF,  maa  nílo  fõrmNVíim  [>ro[>riatrsente  a  gua  corte, 
O  oaao  de  Weimar,  da  seu  grá  i  duque  Mt-ceoa*  e  do  fiympico 
Goethe,  n?\o  era  a  regra.  Da  ordinjirio,  o  circulo  intelleerual  ô 
o  cortezílo  moviam-ae  em  redor  do  llirrun  sem  le  confundirem, 

A  gympathia  de  Beyer  pela  nosta  terra  e  pela  nossa  gentei 
a  benevolência  daa  suas  observações,  a  ausência  de  notaa    ridi- 


—  67â  -^ 

cnlas  on  malignas  são  de  liom  tom,  traem    o  cavallieiro.     Tnm- 

bom  ptjdiam  trair  o  aabio,  commmnmente  optimiata:  nenhum 
viftjjinte  í  i  maU  condeteendenre  do  qui  foram  ^yix  e  Manias. 
Vò-ae,  porênii  que  ai^raiou  a  B  lyer  encontrar  no  Brasil  ttra 
pouco  dtí  eon  vi  vencia,  aqui  lio  a  que  undnva  habituado  na  Eu- 
ropa e  que  tinta  falta  aqnr  Ihta   teria  f^ito. 

A  novidade  de  sua  curta  obra  está  unicamente,  «m  minlia 
opinião,  em  que  de&crf  ve  ntn  aspecto  paulista  do  tem^^o  que  es- 
capou a  ôtitrob  vi  ja  t  a  coevos  ou  de  que  nâo  (íssernm  suAicIenie 
menção,  e  vem  a  eer  a  frtinque^a  «^  larguessH  do  seu  irU«rcur»o 
social.  Bf^yer  e  vou  Pa h leu  eram  hoi-iiedea  de  dis^titjçào,  e  aasim 
foram  tratadfs  cora  primorofas  attençôei,  que  t*ào  iiltraja&saram 
comtu^o  OB  limites  discrt^tos  da  fina  educação.  Da  eua  estada 
em  S,  Paulo  guardavam,  pelo  que  b6  nota,  uma  liaoujeira  e  du- 
radoura r**cordaçilo, 

Náo  tento  |>ara  aqui  transplantar  rf^sumidas  e  de«|>ida&  do 
aain^t©  original  ae  obíiervaçô^^s  e  Benaaçò^^B  pHulistaa  do  viajante 
»neco.  Na  traducção  do  gr.  Lõfgren,  v&o  ellaa  fíear  ao  alcance 
de  qualquer,  O  que  somente  pretendi  foi  corresponder,  embora 
negativamente,  ao  amável  appi^llu  do  sr.  dr.  Vieira  Fazenda,  en< 
carecer  maia  este  serviço  histórico  dn  Infitit  to  Paulista  e  a  boa 
critica  que  se  revela  na  composição  da  sua  Revista,  e  mostrar 
ligeiramente  o  intere&ae  da  relação  agora  revelada  aos  que  entre 
nóâ|  e  vho  felizmente  avultando  em  numero»  estimam  esse  ge^ 
nero  de  leituras. 


Rio,  novembro  de   1907, 


M.  dt  Olwmra  Lima, 


(Do  O  Estado  de    S«   Paulo,  n,  1059B,  de   9  de  dezembro 
de  1907), 


* 
«  « 


3) 
Quem  era  Gustavo  Beyer 

o  TÍajante  sueco  Gustavo  Beyer  está  identificado^  e  é  perfeita- 
mente crnhecido  o  motivo  de  sua  viaj^em  ao  Brasil  em  1813 
Efíectivamente,  como  me  quiz  parecer  pe]a  leitura  de  tua  re- 
lação nas  provas  da  Revista  do  Instituto  Histórico  Paulista,  que 
me  foram  amavelmente  com mun içadas  pelo  sr.  dr.  Alfredo  de 
Toledo,  nàii  se  trata  nem  de  um  bomem  de  sciencia  nem  de  um 
homem  de  commercio,  sim  de  um  homem  de  posiçfto  sociaK  Apenas 
este  homem  tinha  um  negocio  a  tratar  e  tua  viagem  nfto  foi  ri- 
gorosamente de  prazer,  posto  que  deva  encerrar  incomparável 
prazer  a  cobrança  efiectiva  de  uma  dividai 


—  673  — 

Gustavo  Beyer  veiíi  da  Suécia  a  S.  Paalo  exprettamente  paim 
receber,  ao  que  se  dis,  do  director  da  fobrica  de  ferro  de  Ipa- 
nema dez  mil  cmsados  que  este  seu  compatriota  lhe  devia.  Como 
a  qnantia  n&o  era  tão  avnltada  que  por  gi  valesse  tão  longinqu 
viagem,  se  fosse  um  sacrifício,  não  é  fora  da  propósito  julgar  que 
a  curiosidade  da  terra  entrava  por  alguma  coisa  na  sua  deter* 
minação. 

Quando,  pela  Carta  Regia  de  4  de  desembro  de  1810,  se 
creou  o  c estabelecimento  mnntanistico  de  extracção  do  ferro  daa 
minas  de  Sorocaba»  por  meio  de  uma  companhia  de  que  o  go- 
verno tomava  metade  das  acções,  o  ministro  e  o  cônsul  de 
Portugal  na  Suécia  foram  eo  carregados  de  contratar  operários 
competentes  e  um  mestre  de  forjas  experimentado.  O  ministro 
era  Joaquim  Lobo  da  Silveira,  mais  tarde  plenipotencinrio  em 
Vienna  e  conde  de  Oriola;  o  cônsul,  certamenta  honorário, 
Gustavo  Beyer  ou  Bayer.  B*  bem  provável  que  este  fos»e  o 
traductor  da  obra  de  Lobo  da  Silveira— «Skisae  von  Brasilien», 
publicada  em  Stoekolmo  em  1809,  e  natnralmente  preparada 
no  intuito  de  dar  a  conhecer  o  paiz  para  onde  se  mudara  a  côzta 
portuguesa. 

Aproveitou -se  Beyer  da  oceasião  única  que  se  cfiereeia 
para  coUocar  como  director  da  fabrica  brasileira  nm  tal  Hedberg, 
dono  de  forjas  ou  arrendatário  de  minas  que  follira  e  de  quem 
era  credor.  Fel-o  na  esperança,  que  o  futuro  não  desmentiu^ 
de  que  uma  vez  em  posição  vantajosa,  viesse  aquelln  a  pagar-lhe 
o  debito.  leto  foi  o  que.  na  expres«ão  de  Yamhagen,  houve 
de  vergonhngo  no  contracto  elaborado  e  firmado  pela  nossa  au- 
toridade consular.  O  ministro  entrou  ahi.  como  muitas  vezes 
acontece  em  casos  análogos,  da  mesma  forma  que  Pilatos  no 
credo. 

O  nosso  grande  historiador  nutria  pela  fiibrtca  de  Ipanema 
um  interesse  muito  vivo  e  muito  justificado  pelo  facto  de  ter 
seu  pae  vindo  de  Portugal,  onde  geria  um  esrabelecimento  da 
mesma  indcJe,  com  o  fim  de  examinar  as  condições  das  minaa 
de  Sorocaba  e  formular  o  plano  da  fundação  que,  logo  depois 
de  Hedberg,  entr  u  a  dirigir.  Melhor  se  poderia  dizer  a  corngir* 
porquanto  a  piioieira  administração  deixou  muitist-irao  a  desejar. 
Vamhagen  accusa  Hedberg  de  haver  desde  o  principio  abusado 
das  óptimas  intenções  do  Conde  de  Linhares. 

O  penador  Vergueiro  conta  as  coisas  com  todas  as  minn- 
dencias  desejáveis  na  i>ua  memoria  histórica  sobre  a  fundação 
da  fabrica  de  São  João  de  Ipanema,  impressa  em  Lisboa  em 
1822  e  reimpressa  alli  em  1858,  juntamente  com  a  correspon- 
dência do  tenente-coronel  Vamhagen  e  outros  documentos  sobee 
o  at-sumpto.  Segundo  o  autor  Hedberg  andava  no  Brasil  fisca- 
lisado  de  perto  por  dois  extrangeiros  ne  distinção,  »eus  credores 
por  sommas  largns,  que  recebiam  o  que  elle  ia  adquirindo  com 
sen  salário  e  suas  espertesas.    Beyer,  que  chagou  bastante  depois 


—  674  -^ 

e  nEo  tomava  parte  naqiiella  emgnlar  exploração,  tâo  aatisftíito 
ficou,  porôcD,  com  o  resultado  pratico  da  sua  viagem  que,  an 
reg^rf^ftser  para  a  Europa,  publitíou  no  «lovestigador  Portugnei» 
de  Londres  (d.  29)  uma  «pomposa  «  inexacta  c*rta»,  affirraandíi 
com  relâçã.0  á  fabrica  coisas  «fíibulosas»,  entro  outras  que  %^ 
êBtaya  trabalhando  com  toda  a  actividade  no  forno  alto,  quando 
tal  nâo  succedia  absolutamente. 

Nesta  caria,  iirmada  &ó  com  a  inicial  do  seu  appellido,  declara 
Beyer  corresponder  com  Bua  laformaçilo  de  twatemunba  ncular 
ao  desejo  manifestado  pelo  redactor  do  citado  periódico,  o  qual 
era  Bubvencionado  pela  legação  portug^ueza  em  Londres  na  íntifa- 
çâo  de  rebfttísr  os  constantes  ataques  do  «Correio  Brasil ieufio»  e 
depois  do  «Portuguez»,  em  cujaa  paginas  er&m  defendida»  Aê 
doutrinas  Hberaes  ou  constitucionaes. 

Rcceiava  somente  o  viajaute  sueco  que  o  seu  «limitado  sabar» 
de  obras  da  natureza  da  fabrica  por  elle  chamada,  C(im  um  sabor 
de  etymologia  gretra,  de  Hyppanem»,  em  vea  de  seguir  a  pre- 
tensa grapbia  tupi  de  Ypanema,  tornasse  muito  imperfeita  aquelU 
aua  expoãição.  Via-se»  por  is^o,  obrigado  a  ser  muito  siicciuba 
para  errar  menos.  E  foi  com  efleitn  muito  lacónico,  sem  com- 
tudo  (íeiíEar  de  indicnr  oa  muitoít  trabrilhos  r«*alizadog  nos  ttei 
annoâ  decorridos  de  1810  a  1813,  accrescentando  nSo  existir 
estabelecimento  e^uaL  no  «inteiro,  e  infinito  coutiuentt^  ameri- 
cano», e  concluindo  por  proclamar  que  tal  fuudação  provinha  dft 
sabia  vontade  do  príncipe  regente  e  era  fructo  do  patriotismo  e 
luzes  de  um  grande  ministro 

Foi  em  1810  que,  incumbido  de  tanto,  apresentou  Y&rnhagHii 
seu  plano  de  montagem  da  fabrica,  cujos  antecedentes  já  eram 
seculareí.  Achou-o  estreito  Linhares,  sempre  grandioso  nos  pro- 
jectos, nio  lhe  dando  também  andamento  por  estar  para  chegar 
a  colónia  profiãsional  entremenie^  coutractada  na  Suécia. 

Com  íledberg,  cujo  vencimento  estipulado  era  de  um  cento 
e  seiscentos  mil  réis  aunuaes,  vieraro>  além  dos  operários,  o  capiifto 
dô  marinha  Danckvart,  de  quem  fala  Beytír  mais  de  uma  v«>% 
na  sua  relaçáo  de  viagem,  Printzencbold,  filho  de  um  ávm  cre- 
dores do  faUido,  syndico  de  facto,  iin  nome  secretario,  e  o  barão 
de  Fleming,  outro  creior  que,  na  pbra^e  de  VerírUBiro,  veio  v«r 
o  BrasiL  Não  sei  se  seria  e»te  o  me^mo  Fleming  que  por  occa- 
iiào  da  acclamaçào  de  dí»m  Jciào  Vf  exercia  aa  funcçôe»  de 
ministro  da  Prússia  no  Rio  de  Janeiro.  O  velho  Vernhagea 
tambnm  acompanhou  para  Ipanema  a  colónia  escandinava  oft 
qualidade  de  procurador  dos   accionistas. 

Apesar  desta  tiécalizaçiko,  que  a  outra  partieular  contrariava, 
a  administraçíLo  de  Hedbcrg  foi  infeliz,  assevera  Vergueiro 
que  dolosa.  Quando  o  despediram,  apresentou  o  director  cnntAi 
de  grào  capitão  e,  antes,  pretendera  invariavelmente  te^ar,  urgido 
pelos  credores,  os  interof^ses  que  em  má  hora  lhe  tinham  «ido 
confiados.     No  volume  II  do  »eu  excellente  trabalho — ^«ãs  Uinai 


"1 


^  675  — 

do  Brasil  e  eua  Legialaçao— faz  o  sr.  Pandiá  Calo^jeraF,  sí^giindo 
Vergoeiío  e  tíiniWm  EscLwege,  a  tritto  e  detalhada  historia 
desse  monumental  conto  do  vigário. 

A  ser  verdade  quanto  se  contíii  os  operatioB  contractados 
pof  itreços  altos  para  o  goTciiio  que  es  pej^-ava  pelíi  míSo  de 
Hedberg,  o  qual  cn|^aíiaTa  a  uns  e  a  outrof»  erí^m  officiaeô  de 
outro»  misteres  guindados  a  eua  posição  de  mlneÍFOs,  gcrradcres 
e  serrallieiroE,  rótulo»  cnm  que  foram  eijiortados.  llaveiá  nisto 
quiçá  exa^gero,  tanto  de  Varnliflgeui  ijue  desejava  eucaminhat- 
a  fabrica  a  sen  modo,  que  foi  de  ceito  muitu  superior,  como  de 
Vergueiro,  amigo  do  primeiro.  Não  teria  tido  difficil,  nem  mais 
dispendioso  trazer  da  Suécia,  opeTarios  destros  para  o  trabalko 
a  que  te  destinavam.  Cora  quaçtíquer  era  posivel  fazer  trapínja 
nas  contas. 

Com  relação  ©ípeeialmente  a  Beyer,  sua  via^^em  ao  Brasil 
pareceu  no  moinen*o  ihú  eatrauba  aos  quft  dcscoíiliecirim  seu 
objectivo  real  e  a  nilo  suppuuliam  desintcreseada,  que  Kapiou, 
encarreg-ado  em  181*2  de  iaspeccionar  ns  obras,  maniíestava  que 
a  vinda  do  íueco  dava  que  pensar  não  tómenle  a  ell©  como  a 
muita»  peesoas.  Ima^^inava-se  que,  natural  de  utn  paia  fabri- 
cante e  exportador  de  ferro  em  larga  escala^  ]>osto  que  n gente 
coDsular  do  Portugal,  Feu  intuito  secretu  eia  fajier  mal  por 
qualquer  modo  á  íabric»  de    Sorocaba. 

JA  vimfís  que  o  tlto  de  Beyer  era  menos  uacional  e  raais 
pessoal.  Hedberg  devia-lbe  beio  coino  a  Fleuiinjí'  e  ao  jiae 
Priotzeucbnld,  e  os  três  credores  no  sen  íntereâ&e  particular 
pretenderam  melhorar  a  sorte  do  devedor  commum  insolvente. 
Dub,  mais  &u*])ÍcaaeB  ou  mais  soffi-í-g^os,  acompanbaram-no  para 
maior  sefçurança:  o  terceiro  veiu  mais  tíirde,  na  bôa  occasiílo, 
liquidar  o  debito  que  para   com  elle  exííitia. 

«Suum  cíiique. . ,  »  E'  mister  ainda  referir  como  se  procedeu 
ft  eita  identificação.  Ao  lÊr  o  artigo  âo  gr.  dr.  Vieira  Fa^cnda^ 
o  illuatrado  sr.  dr*  Piza  ft  Almeida,  presidente  do  Supremo  Tri- 
bunal Federal,  escreveu-llie  lembrando  qile  a  cHittoria  Geral» 
menciona  na  primeira  ediçào  um  sueco  de  nume  «Bayer».  Achando 
discordância  na  orthographia  do  nome  e  já  tendo  feito  appello 
&  terceiros  ito  seu  folhetim,  o  dr.  Fazenda  não  fe<:utu  a  pista 
em  Verfçueiro,  aiiáa  citado  por  Vamba^íen.  Fel -o  com  seu  faro 
habitual  e  com  o  succeSbO  indicado  o  sr.  dr.  Alfredo  di^  Car- 
valho, que  me  communicou  o  primeiro  resultado  da  sua  inves- 
íigaçilo.  Ao  mesmo  tem})0,  o  sr.  Orville  Derby  procurava  e 
encontrava  no  «Pluto  BraBilieusis»,  de  Eschweg^e,  a  coofirniaçào 
do  que  escreveram  Vergueiro  e  Varnhagen.  Dahi  era  natural 
passar  á  obra  do  ar.  Calogeras. 

E'  curioso  que,  na  relaqâo  agora  traduzida,  Beyer  uâo  fa^ 
á  fabrica  dtj  ferro  de  Ipanema  sonilo  referencias  liiíeiraa  o  im- 
pefiâoaes,  nào  lhe  coní;edendo  mcBmo  i^xteosrio  maior  nas  euas 
notas  do  que  a  outras    cousas   que  descreve.     O  motivo  da  sua 


—  676  — 

TÍagem  ao  Novo  Mundo,  é  natural  que  elle  o  occultasse  sob  as 
observações  de  homem  fino  e  culto  interessado  em  quanto  exa- 
mina e  em  quanto  admira.  O  optimismo  característico  dessas 
observações  nca  agora  plenamente  explicado.  Nada  ha  como 
uma  divida  cobrada  para  fazer  vêr  tudo  eôr  de  rosa. 

Rio,  dezembro  de  1907. 

M,  de  Oliveira  Lima 


(Do  Estado  db  São  Paulo,  n.  10.594,  de  10  de  dezembro 
de  1907 ) 


ACTAS  DAS  SESSÕES 


Primeipa   se^s^o   ortlinfiri»!,   em  5  de  fevereiro 
de  1!I07 

PBBfllDHNCIA    PO    SB.    &R.    MaNOBL    PRBaiRA    GoiMàBÃBS 

Àoa  5  de  fevereiro  ãe  1907  nesta  capital,  de  &.  Fanlo,  Âs 
7  1/2  horaa  da  noa  te,  no  prédio  em  que  funcciona  o  Inatituto 
Histórico  e  Geograpbico,  á  roa  General  Carneiro  n.  1-A,  sob  a 
prftí-idencia  do  sr,  dr,  Msnfiel  Pereira  Guimarães,  servindo  de 
tecretario^  m  srs.  Árthur  Goulart  e  dr-  Eug-enio  Franco,  cele- 
brou o  Instituto  a  su«  primeira  eeaa&o  ordinária,  em  vista  de  ter 
havido  numero  l^^gal  de  sócios.  Lida  a  acta  da  sesBâo  passada  e 
o  expediente,  que  constou  da  offtrta  de  varia?  obras  e  publi- 
cações cofitumeiramente  recebidas,  o  ar.  presidente  deu  por  em- 
possada a  directoria  eleita  a  25  de  outubro  de  1906  e  que  ficou 
assim  constituída :  presidente,  sr.  conselheiro  Manoel  António 
Duarte  de  Azevedo ;  vice-presidente,  ar.  dr.  Augusto  Gesar  de 
Miranda  Azevedo ;  primeiro  secretario,  sr.  dr.  Âlanoel  Pereira 
Guimarães ;  segundo  secretario,  sr.  Dtonysio  Caio  da  Fonseca ; 
orador,  sr.  dr.  Theodoro  Sampaio,  e  tbefioureiro,  sr.  dr,  Arthur 
V&utier,  Estando  na  ante-iala  o  sócio  ultimamente  reconhecido 
ir«  dr.  Joaquim  José  de  Carvalho,  foram  nomeados  os  ers.  drí. 
Cario»  Reis  e  Alfredo  de  Toledo  para  o  introduzirem  no  recin- 
to. O  illuatre  consócio  prestou  então  compromisso,  tomando 
assento.  Foi  lido  em  seguida  um  ofiScío  do  sr.  Díonysio  Caio  da 
Fonseca,  renunciando  o  togar  de  segundo  secretario,  em  vista  de 
ler  mudado  sua  residência  para  Santos.  O  sr  prés  i  d  eu  te,  lamen- 
tando a  retirada  do  activo  segundo  secretario,  convida  os  srs.  ao- 
cios  para  se  munirem  de  cédulas,  afim  de  eleger  o  se- 
gundo secretario  em  subetituiçâo  do  sr.  Dionysio  Caio  da 
Fonseca,  que  se  exonerou  daquelle  cargo.  Pede  a  palavra  o  só- 
cio sr.  dr.  AUredo  de  Toledo  e  propõe  que  seja  acciamado  se-» 
gnndo  secretario  efiectivo  o  sr.  Arthur  Goulart,  que  occupava  o 
cargo  de  primeiro  Bupplente  dos  secreta  nos»  Â  casa  approvou 
UAanimemente  a  proposta  do  sr.  dr.  Alfredo  de  Toledo,  sendo, 
poiii  acciamado  segundo  secretarig  efectiva  do  Instituto  o  ir, 
Arthur  Goulart, 


^ 


--  678  — 

Pnrii  o  log/ir  d©  l.**  eupplonte  dos  Beci-etarins  foi  acclftmado. 
o  te^íUndo,  dr,  DinamftncD    líaugcl,  e  parA  o  logar  deste  a 
nomeou  o  $r,  dr.  Eufjenio  Âlbotto  Franco* 

Em  aegiiida  foi  lido  pelo  sr.  1."  secretario  o  rolâtorlo  apre- 
aen tildo  pelo  ar,  dr.  Manoel  Pereira  G uíef a ràe a  — primeiro  secre- 
tario eftectivo,  relatório  dos  facto»  priticipaep,  occorridos  iia  so- 
ciedade durante  o  anuo  findo  da  1906,  Também  foi  lido  o 
balancete  apreswrítado  pelo  tbe?oareiro  sr.  dr.  Artbur  Vautier,  no 
período  de  L°  de  abril  a  íil  de  dezembro  de  l^OG.  Por  e^s*a 
documentos,  i  bmeradamente  elaborados,  verifica-se  o  aug^m^^nto 
extraordinário  que  tiverAni  no  anão  findo  as  coUecçÔes  do  Insti- 
tuto» e  o  e&tado  prospero  das  suas  finanças.  O  relatório  fa^s  en- 
eomiís  justos,  taintjeni,  ao«  trabalnos  lidos  peloB  dig-ncts  conao- 
cíoB^  durante  o  anno  que  íe  findou* 

Fasaando-se  à  "2.^  parte  da  ordeni  do  dia  foram  lidas  ad  pro- 
postas para  sncioii  dcis  sra.  Victorino  Cõcllio  dt»  GaTvallio,  r*?fií- 
dente  em  Taubatê  (correspondeutfi),  drs.  António  do  Albuquflr- 
que  Pinheiro  e  Arietidea  de  Albuquerque  (eflectivo?),  ambos 
desta  capital.  Também  foi  prcpOBto  para  bocío  effectivo  o  sr.  dr. 
José  Carlos  de  Macedo  Soares,  residente  na  capital  ]muli&ta.  As 
propostas  foram  á  commiãsão  de  admissão  de  sócios,  para  foroiu- 
lar  parecer. 

Edi  aeguiáa,  o  tr.  presidentCj  na  forma  dos  Kitatutos,  no- 
meou 03  sefíuintes  asaociadcs  para  comporem  as  commiBBÒes  per- 
manentes do  Instituto^  que  têm  de  servir,  com  a  directoria,  no 
tríenuio  de  1907  a  1910. 

líegulammitos  e  Estaiuíos',  drs.  Adolpbo  Áug-oeto  Pinto, 
MaQoel  de  Aquino  e  Castro  ©  Ernesto  Goulart  Penteado ;  Admt»- 
acto  de  sociosi  drs.  Luis  do  Toledo  Piza  e  Almeida,  José  Torres 
de  Oliveiía  e  José  Maria  do  Valle;  Redacção  da  Revistai  d  ri. 
Augusto  Cetar  de  Miranda  Azevedo,  Alfredo  de  Toledo  e  Horá- 
cio de  Carvalho;  Ilíntaria  de  São  Paulo  i  dra.  José  Valo  is  de 
Castro»  Frantisco  Natividade  e  Luta  Gonzag^a  da  Silva  Leme; 
Ilhioria  Gerai  do  Brasil:  dra.  Aug^nsto  Gesar  de  Miranda  Aze*- 
vedo,  João  Baptista  de  Moraes  e  Washington  Luis  Pereira  e 
Sousa;  Gcographia  de  Sào  Paulo:  ars.  drs.  Ednardo  Losclii,  Ashí 
Moura  e  José  da  Silveira  Cintra;  Geographia  Geral  do  Brasili 
sra,  drs.  José  Vicente  de  Azevedo,  Edmundo  K.iug  6  Tiburtina 
Mondim  Pestana;  Literatura  e  Majutscritosi  srs.  tr,  Pfdro 
Augusto  Gomes  Cardim,  Francisco  Gaspar  e  dr,  Dinamerico 
Eaug'el;  Sciencias^  Nuvtismaiica  e  Arckeoloffia:  srs.  Alberto 
Lijfgren,  Eufjeaio  HoUetider  e  dr.  Herraann  von  Ihering;  ArUs 
e  Industrias:  sr».  drs.  Francisco  Ferreira  Kamo^,  Rpmos  de  Azd-^ 
vedo  e  Igoacio  "V  Vai  lace  da  Gama  Cockrane;  Contas-,  ara.  dr». 
Eugénio  Alberto  Franco,  Carlos  Eeia  e  Carlos  Yillalva. 

Em  Êeg:u.ida  pede  a  palavra  o  consócio  ar.  Assis  Moara  e 
iagcrevo'i-e  pura,  rta  próxima  sessão,  lèr  um  documento  sobre  a 
fundarão  da  cidarfe  de  Mo^l  das  Cruzes  e  abertura  da  ptimeira 
estrada  Jis:ando  S.  Paulo  ao  Rio  de  Janeiro. 


I 


—  679  — 

Antes  de  encerrar  a  sessão,  o  er.  preaidente  co»p:rattiIa*8e 
eam  a  presença  alli  do  sr  dr.  Joaquim  Joaé  de  Carvallao, 
íllustre  homem  de  letrna  e  historiador,  que,  entrando  para  o 
iDsiituto  Da  qualidade  de  sócio,  poderá  prestar  á  mefeina  asso^ 
daçào  as  luzes  de  seu  cultivado  e  brilhante  espirito,  O  sr.  d>. 
Carvalho  pede  a  pafayra  #»,  agradecendo  as  palavraa  justas  do 
ir-  presidente,    promette    trabalhar    para  o  Instituto   com  todo  o 

SFAzer.  A  propOBiío  de  varias  coni-idorações  sobre  uma  verdadeira 
Ustoria  do  Brasil,  o  novo  consócio  faz  ver  que  o  compendio  do 
«-  Hocba  Pombo  é  o  único  que  procura  Fe  aproiimar  da  ver- 
dade. Ataca  o  orador  a  anomalia  de  se  modificar  tudo,  rebati- 
sar  e  chriamar  vario»  uomes  históricos,  tirar  nome§  tradéctoaaes 
de  mas  para  dar-lhes  outros  de  indivíduos  qae  nada  represen- 
tam na  Historia,  falseando  asBÍm  o  espirito  da  Justiça,  qae  deve 
traduzir  uma  liçào.  pela  qual  os  nosaus  filhos  píisanm  aprender 
o  verdadeiro  significado  de  uma  época,  áo  terminar  ns  Mtas  ju- 
diciosas palavrat,  o  orador  foi  saudado  peloa  consócios  p rei. entes, 
A'»  10  horas  da  nouto  foi  encerrada  a  sesífto,  marcando  o  ar, 
preaidfnte  o  dia  20  de  fevereiro  para  a  2  '  seteâo  ordinária  do 
corrente  anno*     Eu,  Arthur  Goulart^  segundo  secretario,  escrevi. 


Scfpundn  nernsna  ordín»rí:i,  €»m  iO  de  feveri^Sra 
de   iOOl 

PfifiâlDEKClA.    DD    SR.    CONSBLHEIítQ    DuARTH    DE    A^BVEDO 

Aos  20  dias  do  mes  de  fevereiro  de  1007,  nesta  capital  de 
8*  Paulo,  no  edificío  da  sede  social,  á  rua  General  Carneiro 
n.  1*A,  6ob  a  presidência  do  sr.  conselheiro  Manoel  António 
Duarte  de  Azevedo,  eervinda  do  secretários  os  srs*  dr.  Manoel 
Pereira  GEimaràes  e  Arthur  Goulart  o,  havendo  niimi^io  legar 
ie  consócio?,  fui  aberta  a  sesâ&o  ás  sete  e  meia  boroa  da  noute. 
Ante^  da  ordem  do  dia,  o  sr.  presidente  pede  desculpas  á  casa, 
da  sua  ausência  nas  nltimAs  sessões  do  Instituto,  D\'a  achar-se 
adoentado  desde  ha  muitos  dias,  raz5o  da  sua  falta  de  compa- 
recimento aos  trabalhos.  Faz  votos  para  que  o  Instituto,  asso- 
ciação que  honra  sobremaneira  o  Ei^tndo  de  S.  Paulo,  progrida 
durante  este  anno,  tanto  ou  maiii^  que  nos  outros  já  ]>assados. 
Agradece  mais  uma  vea  a  hoora  de  ter  sido  reeleito  para  o 
cargo  de  presidente,  cargo  que  procurará  elevar  nas  medidas  de 
■oaa  forças.  Espera  que  se  façam  novoô  trabalhos,  apfsar  de  a 
Bcvista  tor  sido  publicada  até  então  em  dez  lonfroâ  volumes  de 
um  importante  repositório  da  Historia  e  Geojçraphia  do  prospero 
e  grande  Estado  de  S.  Paulo. 

Em  seguida  o  bf.  dr.  1.'  secTetario  lê  a  lista  das  offcrtas 
ao  Instituto,  quo  são  as  HPg^uiutes  :— Ali^uns  mappas  ^eo*^raphi- 
cos  confeccionados  em  1783.  Sao  intereseantisaimos  essc^  mappas, 
offerecidoâ  ao    Instituto    pelo    nobre    consócio    dr.    Pamphilo   de 


—  680  — 


Asminpí^ilo ;  O  Pautvtia  OJicial,  ti u mero  de  19  de  dezembro  de 
1836,  1  £F*}rtA  do  cnoiíítcio  8r,  Ariliiir  Gniilart;  Priftiiciaji,  vt^rsoa, 
e  Eoi^rt^  fie  Liabôa^  offerecidon  pelo  &eu  autor,  o  Kt*  Joaqaím 
Gil  Pinheiro;  A  N*  va  Cruz,  lU.  8-9,  O  Alhum  Imperial.  Me- 
PÚiUl  Militar,  BrÁetim  du  ÂgticuUnra  e  La  Bcitnct  Súdal-,  re- 
vistas UterariaB  e  Bei«=«iititicjif^.  Ah  ofierta^  hati  rec^bidus  COm 
íincero   prus^t^r. 

E'  lido,  tumbein,  o  pareef^r  da  crimmbaào  de  admissão  de 
Bociofi^  npinaado  }y&T&  qun  $iej«ta  couaidAradoB  mt^mbroê  effesctivoft 
do  Imtituto  os  HTs.  átA,  Aiitc>DÍo  de  Ãlbucjiit^Tque  Pinheiro,  Jo^é 
CarloB  de  NUcedo  Snart^ti  h  Aristides  de  Aíbnquerque,  homens 
de  letrHi,  e  correãpondfDte  o  ^r  Vicconao  CoeJbu  de  Carvalho, 
fifiçriptOF  rBsideale  em  TriíibaTé.  Bão  pro[K>^to»  jiAra  soçioft  o» 
arB.  [jiiis  da  Kocha  MirHiida,  barà<*  do  Bananal»  engenheiro,  e 
Heitor  Machado,  invenU>r  e  distincto  chimico.  Ambas  as  pro- 
postas ^ —  para  bocíob  ei!ectiyoB~Yào  á  comcnisgàe  les^pççtiva  pata 
formular  p»recer*  PasBaudo-ae  á  neg-tinda  parte  da  ardem 
do  dia,  o  ar.  dr.  Heniinnn  yon  Iherin^,  qu^^  com  os  sra^  drs. 
Carina  Reift  e  Alfredo  d«?  Toledo,  fax  part^  da  conjmjísào  enc&r* 
f^^ada  de  angariar  donati^ço»  para  a  coiistrucçào  do  prédio  E^ocial, 
occupa  a  at tenção  da  casa  por  l?^pllçn  de  uma  hnra,  Itindo  o  bem 
elaboTadn  purecer  Bobre  Of,  trabalhos  feitos  pe<la  çommissâo  e 
fazendo  { adiei osas  conãiderações  a  respeito.  Este  part^cer,  que 
conBtitue  urna  peça  que  honra  a  crínimtBf>âiO,  conclue  propondo 
as  BogninteB  medidas :  a)  que  a  directoria  firme  contracto  com 
o  BT-  dr.  Edpardo  Lo^cbi*  cuja  planta  foi  já  apprr-vada»  e  come- 
ce os  trabalhos  log-o  que  as  circurnstancias  o  permittireoi ;  — 
b)  que  a  directoria  nomeie  a  coromiaBào  especial  para  roTÍBào 
dos  BocioB,  devendo  muitos  correspoudeoteB  pasBnr  a  f)©*ctivoi  e 
que  sejam  coiiBideradoa  lemidoa  50  associados,  que  coiimbuirem 
durante  este  aono  com  du^eatos  mil  rêia  cada  um;  —  c)  que  o 
Institutií  se  abp tenha  de  fazer  despesas  que  niko  Bejani  ioadiaveii, 
AtLeudendo-se  á  prorapta  conatiucçào  do  edifício  e  á  fonnaçâo 
do  capital  nece^Bario  para  tal  íim  ;  —  d)  na  pricr>eira  ses^ào  de 
cada  11143^  a  directoria  deverá  apresentar  in fornia çõeB  sobre  o  An- 
damento  da  cnnBtrucçâo  do  edifício  e  da  questão  financfira;  — 
e]  a  directoria  deve  adquirir  um  rico  livro  de  ouro  pelo  qual 
fícará  constando  a  historia  da  construcção  da  casa  e  no  qual  ae 
re^iíttrem  oa  donativos^  favores  e  aerviçoB  que  furem  preâtados, 
devendo  o  mesmo  livro  mais  tarde  servir  para  uma  utiica  af«i- 
gnatura  de  cada  S' cio  do  iBtituto.  Â  commitisão  suggere  tam- 
bém no  seu  parecer  a  conveniência  de  se  dirig;irem  circulares 
aos  Bocjos,  pedindo  auxilioa  e  BoLicitar  lambem  o  apoio  dos  au- 
gustos CongreBBOB  Federal  e  Estadual,  municipalidades  da  capital 
e  do  interior,  dirigindo- se  também  ao  governo  do  Estado,  aoli- 
ciundo  a  imprea^ào  daa  circulares  no  Diário  Offidaí  e  t^a  Pre- 
feitura para  que  isente  o  Instituto  do  pagamento  dos  impostot 
e    emolumeuioi    devidos    á    eoustrucçào    do    edifício,     O  sn  di. 


-^  681  — 

Ihering,  qae  prestou,  em  companhia  dos  8ea8  confradei  da  com- 
miB^fto  os  mais  asBÍgrnalados  serviços  ao  lostituto,  mostrou  á  casa 
a  seguinte  subscripç&o,  fructo  dos  trabalhoR  de  uma  semana 
apenas :  Conde  Álvares  Penteado,  1:00Q|000 ;  The  S.  Paulo 
Light  à  Power  Comp.,  1:000$000;  Theodoro  Wille,  l:OnO$000; 
Júlio  Conceição,  1:000$000;  Freitas,  Lima  Nogaeira  &  Comp., 
1:00011000;  Salles.  Toledo  &  Comp.,  1:000$000;  F.  Mattarazzo 
à  Comp.,  1K)009000:  Conde  de  Prates,  1:000|001;  Barào  de 
Tatuhi,  500$000;  Rodolpho  Miranda,  õOO$000;  Sou«a  Queiroz, 
Amaral  &  Comp.,  500$000;  Zerrenner  &  Búlow,  500$0''0;  Bra- 
siliatiische  Bank,  500$000;  hrado,  Chaves  &  Comp.,  500^(000; 
Companhia  Mechanica  e  Importadora  de  S  Paulo,  200$000; 
Jorge  Fuchs,  lOOílOOO;  Érico  &  Comp.,  100i$000;  Kichmano, 
100^000;  Ha>denreich  &  Irmftos,  lOOÍíOOO;  British  Bank  of 
South  America.  100$000;  Nathan  &  Comp.,  200S0'0;  Augusto 
Rodrigues,  100$000;  Conde  Asdrúbal  do  Nascimento,  200$000; 
London  and  Kiver  Plate  Bank,  lOOi^OOO;  Bar&o  Raymundo  Du- 
prat,  lOOgOOO;  Londnn  &  Brasilian  Bank,  100^000.  Total:  — 
12:500$000  Ao  acabar  a  sua  exposição  sobre  os  trabalhos  da 
eommiss&o,  foi  o  benemérito  sr.  dr.  Ihering  saudado  com  uma 
vibrante  salva  de  palmas. 

O  sr.  dr.  Ihering,  pedindo  a  palavra,  ainda  propõe  para 
que  seja  considerado  sócio  remido  do  Instituto  o  sr.  Júlio  Con- 
ceiç&o,  residente  na  cidade  de  Santos,  e  pede  a  nomeação  de 
mais  os  srs.  drs.  Eugénio  Alberto  Franco  e  Kodolpho  von  Ihe- 
ring para  augmentar  a  commissào  de  donativos,  sócios  esses, 
2ue  têm  prestado  áquella  comminsão  rea^-s  serviços.  Sujeitos  á 
iscuS'>fto  o  notável  parecer  e  as  propostas  do  sr.  dr.  Ihering, 
falaram  suggerindo  varias  medidas  os  srs.  conselheiro  Duarte  de 
Azevedo,  dr.  Manoel  Pereira  Guimarães,  drs.  Eduardo  Loschi, 
Edmundo  Krug,  Domingos  Jaguaribe,  Carlos  Reis  e  Pamphilo 
de  Assumpção.  O  sr.  presidente  é  de  parecer  que  se  deve  es- 
tabelect-r  a  concurrencia  publica  para  a  construcção  do  prédio. 
O  sr.  dr.  Carlos  Reis  diz  que  se  deve  tomar  por  base  na  con- 
currencia o  plano  do  sr.  dr.  Loschi,  já  approvado.  O  sr.  dr. 
Pamphilo  de  Assumpção  propõe  para  que  se  organize  ura  orça- 
mento sobre  o  qual  possa  ser  calculada  a  concurrencia.  Encer- 
rada a  discussão,  são  approvados  unanimemente  o  parecer  da 
commissão  e  as  emendas  dos  srs.  drs.  Pamphilo  de  Assumpção 
e  Carlos  Reis.  O  sr.  presidente  nomeou  então  para  a  eommis- 
s&o de  revisão  de  sócios  os  srs.  drs.  Pereira  Guimarães,  Arthur 
Yautier  e  Gomes  Ribeiro,  e  para  completar  a  commissão  anga- 
riadora  de  donativos  os  srs.  ara.  Eugénio  Alberto  Franco  e  Ro- 
dolpho von  Ihering.  O  Instituto  votou  para  que  o  prédio  se 
fizesse  por  concurrencia.  A's  dez  horas  da  noute  o  sr.  presiden- 
te encerrou  a  sessão,  marcando  o  dia  5  de  março  próximo  para 
a  3.*  sessão  ordinária  deste  anuo.  Eu,  Arthur  Goulart^  segun- 
do secretario,  escrevi. 


—  682  -^ 

Tepccim  scssÃo  orf1i»j«rÍn,  cm  5  ilc  intir^>o 
de   1!H)7 

FIieStDENClA    DO    SU,  CO.^&LttÍC[R'>  M.   ë    Du  AIIT£9  DE  ÁJS6VBD0 

Aos  5  di/»a  do  mê*  de  março  de  Í007,  nesta  Cnpital,  á  rna 
Generfil  Carceiro»  n.  1-A,  no  edifício  oníie funcdona  o  Instituto 
Hiítorico  e  Genw-rflpliico  de  S.  Fauto,  fíhtftDdo  presealea  os  ers. 
C0I16CJCÍ09  conselheirn  Mfjíioel  Aiítouio  Duarte  de  -i'>zev©do,  dr. 
Mnnof*l  Pereira  Guimaráes,  Artbur  Gnulart,  cónego  Ezechifis 
Gaívào  díi  Fontoura,  dr.  Alfredo  de  Toledo,  dr*,  Carlos  Reia^ 
Eduardo  Loschí,  Torrcá  de  Oliveira,  Hermann  voa  Ihertnri  Joa- 
quim José  de  Carvalho,  Pamphilo  de  Assumpção,  J.  Coelho 
(xomei  Ribeiro,  Arthur  Yautier,  Couto  de  Magalhães,  RodoLpho 
von  Iheriopr,  Silveira  Cintra  ©  desembargador  José  Maria  do 
Valle,  foi  aberta  a  se^sllo  ás  &ete  e  meia  horas  da  noute,  ser- 
vindo do  preaidente  o  &r.  conselheiro  Maooel  António  Duarte 
de  Azevedo  e  de  i^ecretarios  os  srs,  dr.  Manoel  Pereira  Gui- 
marAea  e  Arthur  Goulart,  Lida  e  approvada  a  acta  da  ae^são 
anterior,  com  uma  emenda  do  &r.  presidente,  passou- Be  Á  leitura 
do  expediente.  São  lidos  pelo  sr»  i.""  Fecret'ario  oa  nomes  das 
offertas  de  jorna©*  e  revistan  do  costume,  ofíertas  íisr-a»  recebidas 
com  especial  agrado,  E'  lido  um  oflScio  do  28. ""  Congréií  Natío^ 
nal  des  SociHés  Frane^ainen  de  Geogrophie,  em  Bordeaux,  con- 
vidando o  Instituto  a  fdzer-ae  representar  ne^^e  con^^resso,  que 
iniciará  os  seus  trabalhos  em  2B  de  julho  proxirao,  O  »r*  pre- 
gideutfí  nomeua  representante  do  luãtitiuo  ue^^n  conferencia  o 
illustre  con&ocio  &r.  dr,  Ilermnnn  von  Iheríng,  que  pretende  por 
e»&a  fícca&iào  athar-so  em  Bordeatis. 

Em  seg-íiidí»  o  sr.  presidente  participou  á  CÀta  hayer  uo- 
meado  o  sócio  sr.  Barão  Homftm  de  Mello,  para  representar  o 
In&tituto  nas  festas  em  honienoííem  ao  eminente  estadista  ar- 
gentino general  Julío  Roca,  no  Rio  de  Janeiro. 

Primeira  parte  da  ordem  do  dia ;  é  ajiprovado  o  parecer  da 
comniÍBs?lo  de  contas  ultimamente  apresentadas  pelo  sr.  theson- 
leiro.  Sàa  approvndos  os  pareceres  da  cotnmiasào  de  admUsAo 
de  BoçioBi  reconhecendo  como  membros  eflectivo»  do  Instituto  oa 
srs,  drs.  Joaé  Carlos  de  Macedo  Soares,  António  Pinheiro  de 
Albuquerque  ©  Aristides  de  Albuquerque  e  correspoudeuto  o  sr. 
Victorino  Coelho  de  Carvalho  Ficam  sobre  a  mesa  os  parece- 
res reconhecendo  sócio  corre^^pondente  o  sr,  Luia  da  Rocha  Mi- 
randa, barão  do  Ban^tnal,  e  eífectivo  o  sr.  dr.  Heitor  Machado. 
P7  lidíi  a  proposta  para  que  seja  ncceito  sócio  correspondente  o 
Er,   dr.  Jofto  Teixeira  Alvares^  residente  em  Uberabãi  Minas. 

Segunda  parto  da  ordem  do  diat  o  ar,  dr  Hermann  voa 
Iherin<ir  pede  a  pilavra  e  dá  conta  no  Instituto  dos  trabalhei 
da  commissáo,  de  quo  fnsí  parte,  para  angariar  donativos  na* 
cesçarios  á  coustrucçao  do  edifício  do  Instituto.     O  illustie  coe- 


—  G83  — 

sócio  di^  que  do  dia  24  d^  fevereú»  Mé  4  de  março  havia 
aairariado  maÍB  sete  contos  cento  &  ciiTCOfinU  mil  réis  (7:1 50$OOO)« 
tendo  &  respectiva  Bubscripçíií>  atiitiçido  o  donativo  importHnt© 
de  dezeseia  codIos  de  ròi&.  Cruntn Quica  á  casa  que  um  consócio 
prestou  rf*levante  forvtço  ao  Iti?.tÍluto^  dnndo  á  commibBÃo  o  vã- 
iioso  auxilio  de  um  conto  de  rei».  Ess^  consócio  é  o  digno 
thesoureiro  sr.  dr.  Árthur  Vautier.  O  &r.  presidente  mais  uma 
vez  agradece  pm  Dome  ào  Instituto  os  trnbalbos  altameute 
significativo»  da  illnstre  commissão  jiara  angariar  donativos,  cota- 
pcsta  dí»a  srB,  drs.  Hermann  vnn  Ihenng^,  Alfredo  de  Toledo, 
Carlos  fíeis  Eugénio  Alberto  PVanco  e  Rodolpho  von  Ibering. 

O  Br.  dr.  Carlos  Reis  pede  a  pafavra  e  diz  que,  nílo  com- 
parecendo o  aocio  inseri j)to  para  ler  um  trabalho,  ar,  Afèís  Moura, 
poderi  em  loj^ar  deste  occupar  »  attençAo  dos  coaiocioa  o  sr. 
dr,  Eduardo  Loscbi,  que  tem  uru  interessante  estudo  para  ae 
fazer  ouvir.  Obtendo  h  palavra,  o  ir.  dr.  IjOscLí  lè  um  tra- 
balho que  orj^anizou  couíO  membro  dã  comraissAo  de  geograpbia 
do  Instituto,  apreciando  oa  importantes  serviços  da  eiploraçâo 
do  eertao  do  Estado,  orf^ftnizado*  pela  Comniifisào  Geç)graphica 
e  Geológica  do  Estado.  Ao  terminar  a  leitura  do  apieeiado 
trabalho,  que  mcrt^ceu  os  applauaos  dos  consoctoa  presentes,  o  sr* 
dr*  Loacbi  leu  o  seguinte:  «Ejtm.  sr.  presidente.  II lustres 
consócios, ^Se  depois  á**  ter  demonstrado  o  bora  êxito  que  al- 
cançou a  expedição  i^cientiíica  doâ  rio^  Faio  e  Ag'uapebí,  me 
calasse,  peuFo  que  vós  mesmos  me  julgarieis  um  ingrato  :  por- 
tanto, convencido  de  interpretar  vobbo  penf-araento  e  do  tributar 
BÓmente  uma  pequena  parte  de  merecimento  que  ti^m  nesta  im- 
portante eiplcração  08  exrao».  srs,  dr.  Jorije  Tiblriçá,  d, d,  pre- 
sidente do  Esítado,  dr.  Carlos  Botelbo,  d. d.  secretario  da  Agri- 
cultura, e  dr,  João  P.  Cardoso,  d. d.  cLefe  da  Commis^ao  Geo- 
graphtca  e  Geológica  do  S.  Paulo,  venho  vos  propor  de  ofliciar 
a  ss.  excí,,  felicitando -os  pelo  grrand©  fervi  ço  que  tèm  prestado 
ao  Estado  de  S,  Paulo.  Conclde,  fazendo  voto»  para  que  num 
futuro  muito  próximo,  aproveitando  os  trilhos  traçados  e  abertos 
pelos  peòea  da  civilização  dos  sertões  paulista^,  ^igam  outras 
expedições  acientificaa  para  tornarem  conhecidas  em  todos  os 
pormenores  as  bellezas,  a  ubt^rdade  e  a  riqu^ssa  daquellas  regiuea 
e  consignar  a  geographia  a  po^içào  exíicta  do  systoma  bydro^ 
grAphicD  dos  rios  Feio  e  Aguapehi,  assim  comn  as  aldeias  aban- 
donadas tomarem  ae  centros  de  novas  povoaç?>es  (uturaa,  Sâo 
Paulo,  15  de  fevereiro  de  1907.— Eí>UAar>c  LtiscHi». 

O  consócio  sr.  dr.  Joaquim  Jobô  de  Carvalhoj  que  preten- 
dia lêr  um  trabalho,  pede  eicusa  de  náo  poder  faaer  a  leitura 
do  mesmo,  por  motivo  de  força  maior,  promei tendo,  entretanto, 
fazel-D  na  aesFâo  de  2U  do  corrente.  Aproveitando  a  occapifto 
o  iilustre  consócio  propue  que  o  Instituto  orgauine  uma  9e.^sào 
extraordinária  em  bomeniigeni  do  Brxto  Congresi^o  do  Medicina, 
devendo  por  essa  occasíâo  quatro  ou  mais  socira,  que  podem  ser 


r 


—  684  — 

nomeados  pela  meaa^  apresentar  breves  memorias.  Compromette-- 
se  a  úfíerecer  ao  Instituto  a  publicaçào  em  iolhetoa  de  di^aa 
deesaâ  memorias.  Fojtta  em  diBcueeão  a  proposta,  falam  os  ers. 
cnneg-r>  Ez^ekias  Galvão  da  Fnntnura,  que  entende  não  dispor  o 
Instituto  de  s^la  n[»ro(>TÍada  para  a  sessão  ma>^Da  proposta;  o 
Br«  dr.  IberiDg  que  o^ftírece  para  esse  fim  a  sala  nobre  do  Ma^ 
seu  do  Ipirnníía  e  o  ar.  dr.  Torres  de  Oliveira  que  propõe  o 
adiauifiito  da  discu-^sào,  em  ¥Ísta  de  ser  melindroso  o  assumpto 
para  a  eeaiiào  seguinte. 

Em  tempo  :  submettida  á  discussão  e  votação  a  proposta  do 
br*  dr,  Eduardo  Loscbi  para  que  o  Instituto  felicite  os  pt».  Pre- 
sidente do  Estado,  Secretario  da  Agricultura  e  chefe  da  Coni- 
missão  Geograpliica  e  Geológica  do  Ei*tado,  é  approvada  utiani- 
memente  a  indicação  para  que  vá  a  prapcfta  á  respectiva  com- 
misfão 

Nada  mais  havendo  a  tratar,  o  sr.  presidente  encerra  a 
sessão  ás  nove  horas  da  noute,  convidando  os  tre*  sócios  pro^ 
sentes  para  outra  que  se  realizará  uo  dia  20  de  março  corrente» 
Eu,  Arthur  Goulart^  segundo  secretario,  escrevi. 


Quarta  »-e!<($i^o  ordinária^  etn  I20  de    tniirv*^  de  1007 

Pbksxdsncia  dq  SR,  BR.   M.  Pbrhira.  OuiuarÍies 

Ãos  20  dias  do  mêa  de  março  de  1907,  ás  8  horas  da  noite, 
nesta  capital  de  S^  Paulo,  no  satão  nobre  do  la^tituto  Histórico 
e  Geograpbico  de  S.  Pauto^  presentes  os  srs.  soctot  dr.  Manoel 
Pereira  Guimarãen,  presidente,  dr.  Alfredo  de  Toledo  e  Arthor 
Goulart,  secretários,  Francisco  Gaspar,  dr.  Hermann  von  Iheríng, 
dr,  Rodolpho  von  Ihering,  dr.  Eduardo  Loacbi,  dr.  Edmundo 
Krug  e  Assis  Moura,  foi  aberta  a  ges&ão. 

Lida  e  unanimemente  approvada  a  acta  da  sessão  anterior, 
pede  a  palavra  o  ar.  dr.  Pereira  Guimarães  e  communica  aot 
flocios  presentiJB  a  desuladora  noticia  do  passamento  do  illustre 
paulista  sn  dr.  Augusto  César  de  Miranda  Azevedo,  inolvidável 
vice-presidente  do  Instituto  e  seu  sócio  fundador.  O  orador  faz, 
em  eloquente  e  sentido  discurso,  o  elogio  do  saudoso  eJttínto 
como  politicoí  jornalista,  orador,  medico  e  hÍBCoriador,  estudaodo-0 
nestas  múltiplas  pha&es  da  actividade  humana.  Faz  vêr  o  quanto 
perdeu  o  Instituto  cora  o  sen  desapparecimento,  pois  que  o  dr, 
Miranda  Azevedo  íoi  um  benemérito  que  prestou  á  aasocia^ão 
assígnalados  serviço»  quer  nas  se«BÔeg,  quer  oa  Rmhta,  de  que 
era  digno  redactor,  A  perda  do  illustre  homem  de  letras,  con- 
tínua o  orador,  é  para  o  lustitEto  uma  verdadeira  catastrophd 
social.  Julgando  interpretar  os  seutímentos  doa  consócios,  o 
orador  propõe  que  se  levante  &  presente  sessão,  como  justa  e 
6  sincera  homenagem  á  memoria   daqaelle  que  sabia    conquistar 


_  685  — 

amizades  e  admiradores  p«lo  sen  talento  luperior  alliado  a  um 
hello  caracter;  O  tr.  dr.  Alfredo  de  Toledo  pede  a  palavra  e^ 
apoiando  a  indicação  do  Br,  presidente,  propõe  que  a  seasao  seja 
impensa,  indepacdenteraente  da  votação  da  propoata  apresentada, 
^rto,  como  eitá,  de  que  ella  tmdnz  perfeitamente  os  sentimeu- 
to»  de  todof  o#  sócios,  O  dr,  Alfredo  de  Toledo  tece  tamb#^m  â 
peasoa  do  distinto  morto  os  mais  justoB  conceitos  e,  viBiTelmentô 
comnnOYido,  termina  a  »ua  oraç&o  dizendo  que — Miranda  Azevedo 
foi,  «ein  duvida,  um  dos  filhos  maia  illustres  do  grandioso  Estado 
de  B.  Paulo, 

O  Br«  dr.  presidente  levanta  a  seta^o  em  tiomenagetu  á  me- 
moria do  fallecido  vice-presidente  do  Inatituto  e  convida  os  arg, 
iocioa  presentes  para  comparecerem  á  próxima,  marcada  (tara  o 
dia  5  de  abril  próximo.  Eu,  Artkur  Goulart,  seg-und o  seci  etário, 
«icrevL 


QuEnt*  seiii^^ila    ordiíiari»,    em  5  de    abril    di^     1 007 

Prssideiícia  do  br.  i>r,  M,  PsEEmA  GuiMaRÂBa 

Aofl  5  dias  do  mêi  de  abril  de  I9Q7,  ás  sete  e  meia  hora» 
da  noite,  no  edifício  da  rua  General  Carneiro,  n.  I— A,  onde 
funceiona,  ne»ta  capital,  o  Institui»  Histórico  e  Geograpbicn  de 
3.  Paulr>,  havendo  numero  lejs;-al  de  bocíos  e  estando  aumente  o 
«r.  c&n  sei  heír  o  Duarte  de  Aze^fdo,  preãídpnie,  e  ví»gro  o  cargo  de 
vice- presidente,  aasutoe  a  presidência  o  dr,  Manoel  Pereira  Oui- 
insr&es,   n»  qualidade  de   l.**  secretario  e  na  forma  dos  Estatutos. 

O  sr.  presidente  declara  aberta  a  sest-ào  e,  estando  ausente, 
por  motivo  juatifícado,  o  2.^  Beeretaiio  ar.  Arthur  Goulart,  convtda 
para  substituil-o  nes^a  cadeira  o  dr.  Couto  de  Magalbôes  e  para 
1/  secretario  o  dr.  Eugénio    Franco i  os  quaes  tomam  assento  à 


Lida  a  acta  da  ultima  sees&o,  é  ella  approvada  onanímemeQ' 
te,  sem  debate, 

procede  o  ir.  1.^  secretario  k  leitura  do  expediente,  que  crin«ta 
do  oSerecJmento  de  diversas  revii^tas  e  outras  publicações^  que  o 
lustitufo  recebe  com  especial  a^ado. 

O  sr.  presidente  communica  á  casa  que,  tendo  a  Sociedade 
de  Geograpbia  de  Bordeaux  convidado  novamente  o  Instituto 
para  le  ínzer  representar  uo  próximo  congresso  promovido  por 
aquella  asBociaçÃo  scient  fica,  nomeou  o  dr.  Hermaon  vou  Ih«ring, 
que  parfe  brevemente  com  destino  á  Europa,  para  «e  desempe» 
ubar  dessa  incumbência  em  nr-me  do  lostitato. 

Na  primeira  parte  da  ordem  éo  dia»  sfto  lidos  e  approvadoi 
Oi  pareceres  da  respectiva  cf^mmisi-iki  reconhecendo  sócios  os  srs. 
Luís  da  Rfcha  Miranda  (Barão  do  Bananal),  na  qualidtide  de 
eorrespon  dente  e  dr.  Heitor  Machado,  na  de  eãt^cti^o. 


—  686  — 

Silo  proposto»  para  eocíob  os  dr?.  Gentil  d^  Meara  e  José 
Feliciano  de  Oliveira,  sendo  aa  propOÈias  enviadas  á  comraiesâo 
respectiva  para  dfr  parecer. 

Lida  a  proposto  da  transferencia  do  dr.  Joaquim  Jogé  de 
Carvniho  da  clas^o  de  sotíio  erres [looden te  para  íi  de  e flecti vo,  o 
dr.  Domingcs  Jaguaribe  j^ede  a  palavra  e  requer  dispensa  de 
inferáticio^  o  que  a  caaa  concede  sem  debate,  sendo  votoda  una- 
nimemente a  transfi^rencía. 

O  snr.  Morioel  Pio  Corfea  t^ons-ulta  A  mega,  por  officiOj  se 
está  ainda  no  goeo  da^  regalias  í^ociaeSp  pars,  na  affirmativá, 
faíier  jicompaiiliar  een  nome  da  qualidade  de  nipiabro  do  Insti- 
tuto Histórico  num  livro  que  tem  no  prelo,  O  sr*  presidente, 
depoíí  de  fazer  a  respeito  da  cnnsiulta  algumas  con  ai  do  rações, 
refiolve  enviar  o  nfficio  ao  tr.   thaBoureiro,  para  informar. 

Passando-so  á  segunda  pano  da  ordem  do  dia,  o  dr.  Do- 
mingos Jairuaribe  pede  a  palavra  e  diz  que  recebisu  do  Ceará 
uma  carra  do  ar.  Barl^odc  Sludart,  em  que  egte  erudito  escriptor 
e  incBUFavel  investigador  de  nns^a  historia  rectifica  diversos  to- 
picí  s  da  biogiaplíia  do  faudcgo  consócio  d.  Joié  Lourenço  da 
Coíta  Aguiar,  bispo  do  Amazonas,  publicada  na  J^evinta  do  In- 
stituto. Manda  á  mcFa  a  dita  carta,  que  vai  á  commiasào  de 
iedac(;ào,  para  ser  reproduzida  (l)  do  próximo  lomo  da  Revista, 

O  dr,  Artbur   Vnuiier,    thesoureiru,    aprefeuta  o    balancete        _ 
social  da  receita  e  deg]>esap  c<  rreFpondente  no  trimestre  decorrido       ■ 
de  1  de  janeiro  a  31  de  n^arço  próximo  fíiido,  o  qual,  accusando        ' 
um  ealdo  superior  a  trinta  e  dons    contos  de  reis,  bem    demon- 
stra o  etado  prospero  das  finanças  do  Instituto,  o  que  é  devido 
em  grande  parte  á  beuetneriía  commisiflo    angArjadora   do  dona- 
tivos, que  tem  sido  de  uma  dedicação  a  toda    prova   no  desem- 
penho de  sua  difQcii  missão.  Propõe  por  ísbo  que  seja  lançado  na 
acta  um  voto  de  knvor  áquella    commissao,  o  que  é    approvado 
unauiuiemeutc     O  balancete  fica  acbrc  a   mesa,  á  disposição  dos 
er*.  Bochf,  ~ 

O  dr,  Hermann  voa  Iberíng  agradece,  em  nome  da  eonimis- 
Bio,  o  voto  drt  louvor  e  prevalece-se  do  ensejo  para  communicar 
que  tem  ainda  em  seu  pcdi^r,  para  entregar  ao  luatitutOf  dou% 
conto?  e  tantOj  eípprando  receber  proximameote  outras  quantias, 
que  elevarão  o  saldo  a  trinta  e  cinco  coutos,  A  commiinicâçào 
do  illustre  cotisocio  é  recebida  cora  particular  prazer. 

Em  seguida  o  gr.  Aasís  Moura  participa  a  próxima  chegada^ 
a  esta  capital,  do  ex,™*  sr,  d.  Duartfl  Leopoldo,  nrjvo  bispo  dio- 
cesano, e  propõe  qtie  o  lostituto  se  fa^ a  representar  na  recepção 
de  sua  excetli-ncia  o  por  occasiao  da  posse  do  eminenttí  prelado. 

A p provada  a  proposta,  o  iir,  presidente  nomeia  para  etta  com* 
mitísfio  o  projionente  e  mais  o  *r.  dr,  Luia  Gonioga  de  Silva 
Leme, 


ri)    A  ueodorsAA  Cftna.  vil  palb Iluda  A  pig.  ^'4, 


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O  ír.  presidente  cmimapica  que,  com  o  falleciniento  do  dr. 
Miranda  Azevedo,  ficrq  vaga  a  více-pregidencjn  do  ínf^tituto, 
acbaodo-Be  actualmente  a  Directoria  reduzida,  podes  áhev-n^,  & 
dou*  membroH  apenas;  n  1,"  tpcretario  6  f>  tbcsoureiro,  e  i*to 
porque,  dfl  uai  lado,  está  niuentR  lia  rotiiio  tempo  do  Ejáiado  o 
dr.  Tbeodoro  Bampairv*  orador,  e  por  outro  lado,  enfeiinfift  e,  em 
consequência,  ití5poíBÍbÍlitadoa  de  comparecer,  oi^  ara.  conselheiro 
Dtaarte  de  Azevedo,  presíd«ate,  e  Aitbur  Goulart,  2."  secretario» 
Lembra  por  isso  »  sr*  presidente  a  couví-nieocia  de  fer  prehen- 
ebido  por  elei^fto  o  cargo  do  vice-preaidente,  para  íãcilitar  aa 
»ubatituiçÕH*  noB  diversos  canroa  díi  directoria, 

O  rv,""'  arcipreste  Eíccbiai  Galvílo  du  Fontoura  pede  a 
palavra  e,  depois  de  diversas  coueid^raçíio-»  n  reipeito  doa  arts. 
õ*3  ©  55  dos  Estatutos,  propõo  que  seja  ítcclamado  vice-presidenta 
o  dr.  Maooel  Pereira  Gnimaràfs,  o  qun  a  nisa  vota  inijoutineut» 
e  unanimement'^  e  com  prazer.  O  dr,  ft[anoel  Pereira  GuitnarAea 
agradecendo  e*t^  prova  de  apreço  o  couridernçâo  dos  teus  con- 
sócios, proniette  trabalhar  caum  ató  bf>je,  com  a  mesma  dedlca- 
^iLo,  pefa  proi^perídade  do  Instituto,  e  pede  qae  tia  acta  fique 
conatanda  expre^sument©  qtie  sua  excollpucia  eg  absteve  de  votar. 

Com  PP  ia  acclatnnçAo  fira  v^igo  o  lop;ar  de  1.**  secreturio, 
pelo  au©  o  dr.  Joaquim  José  de  CaiTalho.  prevalecendo-se  do 
precedente  propõe  que  8**ja  acclamado  para  aqaeUe  cttrp-o  odr. 
Coiilo  de  Ma^aíbíles.  A  cíisa  apprqva,  iraa  egte,  decíaraiido  nho 
jMider  acceital-o  por  motivos  diveráo»,  pede  seja  dispensado  do 
mesinn,  ao  que  não  accede  o   Inâtítuto. 

Empossados  o  vicepreBidont©  eo  1,"  secretario,  o  ar.  pre- 
sidente dá  a  palavra  so  orador  inscríptu,  sr,  Ai&»is  Moura, 
que,  porém,  pede  ndí amento,  pelo  que  j>ede  a  palavra  o  orador 
ímniediato  inscripto,  dr.  Joaquim  José  de  Car^nllio,  que  sobe  á 
Iribuna  para  ler  o  sen  trabalho  subre  as  tjrutas  do  Biaai!,  O 
illostre  consócio  prende  a  attônçn.o  do  audttnrío  jielo  espaço 
approximado  de  quarenta  minutos,  ^^  ao  terminar,  i^  calorosa- 
mente fipplaudido  e  eumprimeutado  pc  r  tndaa  m  pcsi^oa^  presentes* 

O  rv"'°.  arcipreste  Ezequíaft  GalvAo  da  Fontoura,  a  propósito 
de  um  tópico  dn  estudo  Ho  orador,  diz  quo  um  particular  tid  quiri  a 
ft  basílica  e  a  gruta  de  Nogsa  Senhora  de  Lourdes,  que  continuam 
franqueadas  a  todo  o  muudo  catholico ;  o  dr.  Carvalho  repHca 
para  aMrmar  míiis  uma  vez  os  seus  sentimentos  de  catbolíco. 

O  sr.  presidente  tece  elogios  ao  iiluí-tr©  orador,  pe!o  seu 
trabalho,  e  pede-lhe  qun  continue  a  cooperar  para  a  graodesa 
do  Instituto;  termina  envÍHndo  ob  ori^inaes  do  estudo  sobre  &i 
gruta»  do  Brasil  á  comini^EAo  do  rcdaci;uo  da  lictnittam 

Nessa  occa^iâo,  dá  entrada  no  recinto  o  dr,  Alfredo  d©  To- 
ledo, que  justifica  sua  ausência  no  começo  da  sessão,  por  moti- 
vos de  furça  mninr,  tendo  anteriormente  o  dr,  Lui»  Gonza^-a  da 
Silva  Leme  justificado  o  seu  uíio  comparecimento  ás  ultimas 
tesfiões  por  motivo  de  moléstia. 


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O  dr.  Alfredo  de  Toledo,  continnatido  com  a  palavra,  faz 
entieg^a  ao  Inatítuto  de  varioB  e  TalioBoa  matiuscríloe,  «ntrp  oi 
quaes  í^b  da  liBta  de  adhesào  e  do  manifesto  do  Club  H^^iabU- 
cann  fundado  em  1S70,  maDuacritoB  legados  pelo  taudoso  eon- 
BOcio  dr.  Mirauda  de  Azevedo;  declara  qu^  o  mesmo  pratiteado 
conaock>  deixou  ainda  ao  Instituto  diverBoa  quadros,  qae  o  orA- 
dor  entregará  opportiiDBmeiíte  Ofítrcee  também,  em  DOme  dci 
autor,  ura  fxt^mplar  án.  gjrammatjca  ultimament»^  publicada  pelo 
dr.  Edrta^do  Carloa  Pereira.  O  dr.  Alfiedo  de  Toledo  aproveita 
a  occagiào  para  faser  o  elogio  do  distincto  homem  de  letras  e 
pranteado  consócio  sr.  Lnfayette  de  Toledo,  ultimamente  fa) te- 
cido em  Ca«a  Brancfl,  e  requer  seja  por  esse  motivo  lançado  na 
acta  urn  voto  de  pezar. — proposta  que  éunaoimemeateapprovada. 

Pede  dfv  novo  a  palavra  o  mei^mo  consócio,  que  couimunica 
estar  incumbido  pelo  dr.  João  de  Moraes  de  in«crevef-o  para  na 
proxitna  ses&ào  l&r  um  trahatLo  sobre  a  revolução  de  1642. 
Tendo  ne#sa  occaaião  o  sr.  Assis  Moura  declarado  adiar  ^'n^ ifiâ 
a  leitura  do  trabulfao  para  a  qual  se  achava  inscripto,  o  sr  pre- 
■idente  declara,  á  vista  dieao,  que  o  dr.  João  de  Moraei  tíca 
ingeri p to  em  primeiro  lograr. 

Km  Fegaida  o  dr,  Eduardo  Loschi  apresenta  as  bases  para 
a  construcç&o  do  edifício  do  iDí-titnto,  e  o  sr,  presidente^  em 
nome  da  directoria,  nomeia  para  dar  parecer  sobre  as  mesmas 
uma  commisf&o  de  peritos,  composta  dos  drs  Eugénio  Franco, 
Eldmundo  Krug  e  Luíb  Gonzaga  da  Silva  Leme. 

Obtém  depois  a  palavra  o  dr.  Hermann  voo  Ihering,  que 
relatou  es  resultados  daa  experiências  que  fez,  nesta  capital, 
com  diversi  s  machados  de  pedra,  dos  usados  pelos  noa^oft  in- 
diob»  para  verifícar  o  modo  por  que  empregavam  es» es  instru- 
mentos e  os  resultadoB  obtidos  com  os  meamoa.  Para  isso,  diz  o 
orador  que  se  propor  preparar  uma  rrça,  derrubando  todas  aa 
arvores  unicamente  com  o«  ditos  machados  de  pedra.  Mostra  em 
seguida  trnDCOB  de  arvore  que  foram  uor>adoa  por  etse  meio. 
Diz  qtie  para  derrubar  uma  arvore  de  trinta  centímetros  de 
diâmetro  gattou  o  trabalhador  cèrt^  de  quatro  horaa,  ao  passo 
que  o  mesmo  serviço  é  feito  com  o  machado  de  aço  uo  espaço 
de  meia  hora  e  com  a  serra  apenas  em  nove  minutos.  Chega 
assim  o  i Ilustre  oradnr  á  concluf<&o  de  que  é  falsa  a  iupposiçij} 
de  náo  puder  o  indio  derrubar  arvores  grandes  com  os  Béus  pe^ 
quenoB  machados  de  pedra.  O  dr.  von  Ihering  faz  em  seguida 
circular,  entre  os  consócios,  as  peças  demonstrativa  a  de«sa  sua 
interessante  eipeiiencia,  sendo  muito  cumprimentado  ao  termi- 
nar sna  cipoai^. 

Nadíi  inais  havendo  a  tratar,  o  sr.  presidente  encerra  a  ses- 
■io  áa  dez  borae  da    noite,  convidando   os    sn.    sócios  presentes 

gira  A  próxima  reunido,    no    dia  20  do    corrente    môs  ae  abril, 
u.  Couto  de  Magalhães^  segundo    «ecrt^tarto    intaiino,    lavrei    a 
presente  acta« 


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8ex«a    sef^sÀo  ordtiiarii«,    em    20  de    alirvl    di'    IflOT 

PmB&lDENClA    OO    Sft.   M.    PBRHlBà    GuiMAHÃlSí» 

Ãoi  20  dí&e  da  mês  de  abril  de  1^7,  i*  1  '/i  horas  da 
Doite,  Da  Béde  sociaL,  à  rua  Gf-neral  Carneiro  n.  l-A.  presentes 
Ofi  Brs.  tocins  drs.  Manoel  Pereira  Gaimavàea.  Jobú  Torrea  de 
Oliveira,  Eu^retiio  Alberto  Franco,  Edmundo  Krutr,  állVedo  de 
Toledo,  Heraiann  von  IberiDg,  José  Joaquim  d»  Carv^iltio,  Do- 
miugoa  Ja^uaríbe,  Joãí)  Baptista  de  Moriieâ,  Silveim  Cintra, 
í^orouel  Ludg-erú  de  Castro  e  Aàúê  Moura,  na  au<tí»cÍ8  do  ar. 
presidente  e  dos  ir*.  1.*  e  2**  secretarioR,  aAâuoif^  a  pr^j^ideucia, 
DO  trarauter  de  vícm- presidente,  o  dr.  Maunel  Pereira  Guimttraeai 
que  declara  aberta  a  âesaâo  e  convina  para  Si-rvirem  dti  grcre- 
cretarioB  iuteriuf>B  o*  drs.  Eug4:<Dio  Alberto  Franco  e  Jt^sé  T<-rr«B 
de  Oliveira  Estet  aceitem  a  nomeação  e  lomam  na  meún  aeua 
reipectivoB  locares* 

Em  BegTiida  procede  o  sr.  2."  secretario  á  leitura  da  acta 
da  seiiàn  antecedente,  a  qual  é  unaLiimem^nte  approTada. 

Ãnunnciada  a  primeira  parte  da  ord^^m  do  dm^  é,  em  pri- 
meiro logar,  lido  um  officio  em  que  o  sr.  dr*  Couto  dti  Míipilbae», 
com  mn  nica  n  d  o  p^r' eisar  ansentar-se  de  3.  Paulo,  dei^lara  r^^nan- 
ciar  o  cargo  de  l.*  secretario.  PoBta  em  discusFào  a  ioiiuncía, 
discutem -na  •  o  sr,  presideutp,  que  entHude  que  o  caro  é  de 
licença  e  nâo  de  renuucis  ;  o  dr.  Ihí^rm^;,  que  opma  par/i  que 
■e  procer^a  ao  preeachimentu  delioitu'o  d<i  lo^ar*,  o  dn  Aifredo 
de  Tolt*dOi  que  p«D!>a  qnç  &e  nflo  deve  acceiíar  a  riínuneiãT  offi- 
cíando  o  InKtitato  ao  renuDciante,  para  lam^^ntar  a  feua  dt^hbiíraçáo; 
e  o  dr*  Domin^r^m  Jaguaribe,  que  opina  pelo  adíanif^ut o  du  qual- 
quer deliberação  até  que  o  autor  do  officio  eficlarei;a  o  Instituto 
Bobre  oa  motivos  que  o  levarAm  a  fazer  a  meama  renuncia, 
Âfiual,  por  proposta  do  dr,  Alfredo  de  Toledo  é  unanimemente 
recusada  a  renuncia,  mandan^io  n  sr,  preii dente  communiear  por 
officio  esta  deliberação  do  Instituto  ao  dr.  Conto  de  MA^^alhàes. 

O  sr.  1,"  secretario  precede  á  leitura  do  exp^^dimite  que 
coBBta  da  iffi-rta  ao  Instituto  de  varioe  folhetoai,  brochuias, 
revistas  etc,  que  ião  recebidoã  cútn  e&pecia!  agrado  e  vão  des- 
crttoB  no  fim   da  preàente. 

Toma  a  palavra  o  consócio    Br.    âpbíb  Moura    e    eonimunica 

Íne  a  commi^Báo  nomeíida  para  cumprimentar  o  ex"''  sr,  d.  Duarte 
«eopoldo  e  Silva,  que  acabnv»  de  assumir  o  governo  epií^oopal 
da  dioc^Be  paulopolitana,  bavta  dcaempenbadn  a  ^ua  tdÍi-sãOj 
tendo  o  i!Iuatre  príncipe  da  Igr»ja  Catbolica  se  mostrado  muito 
Bensivel  a  âBta  prova  de  alto  apreço  que  acabava  de  Ibe  render 
o  Instituto. 

O  dr,  Edmundo  Krug  declara  que  para  dar  parecer  sobre 
fti  baseB,  que  foram  apresentadas  para  a  coos tracção  do  edifício 
do    lu&titutOp    preciB»  a  commis^ão,    de  que    faz    parte,    que  lhe 


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sejam  fomecldftg  as  planta»,  meniorincj  descritivos  e  mais  papeit 
reipcictivos.  O  tr-  presidente  declara  que  Vfli  providenciar  no 
gentidn  <le  ter  BAti&feita  a  requii>tçAo  do  i ilustre  consócio» 

Em  sepuida  O  dr.  Domiug^os  Jftguartbo  prop&e  um  voto  de 
pexDr  p^lo  fallâçimeuto  dcs  illustrea  brasileiros,  eoQselbeiro  Bouia 
Ferreira,  a  dr*  Teixeira  de  Meilo.  O  sr,  preâideote.  apoiando 
essa  proposta,  pede  que  também  íe  pveat©  essa  justa  hnmeuíi^eni 
ao  DOtavel  brasileiro  dr.  Carloa  Affitifio  dn  Ãs«ia  Figueiredo^ 
Amb/is  aâ  propo&taa  são  unanimemente  approvadas, 

O  dr,  Hí^rraann  von  Jheriíig  declara  que,  tendo  de  retirar-se 
dentro  de  f moucos  diai  para  a  Europa,  pede  d^mis^ao  de  membro 
da  commiâBllo  encarri^gada  de  aogariar  donativos  p»ra  o  «'diíicio 
dt>  Instituto,  para  que  se  lhe  nomeie  um  fiab:>tituto,  Lô  um 
recibo  de  13:500^'X)0 — que  Ibe  foi  passado  peio  ih^aoureiro,  e 
que  representa  a  importfincia  das  quantias  até  ag^ora  arreuadadaB, 
e  apre9<:mta  uma  lista  das  pes^soad  que  protnetteram  contribuir 
para  o  mesmo  ílm,  para  qua  em  tempo  se  proceda  ao  respectivo 
recebimento,  aB  quaes  sào  a*  seguintes:  P,  MattHrazzi— liO0O$O00; 
Conde  d©  Prates— 1:CX)0|Í>30;  Barào  de  Tatubi  õOOSOOO ;  lio- 
dolpbo  Miranda— SOOêOOD;  António  de  Camillis— 200$000  ^  Ni- 
colau Fflicoíie— 50^000.     Total— 3:05OS0OO. 

O  sr.  presidente,  lamentando  não  podar  recusar  ao  dr« 
Ihering'  a  dispensa  pedida,  em  viBta  do  motivo  allej^ado,  mais 
uma  ve^  agradece  a  sua  exc.  a  bôa  somma  de  vnliosos  tervíçoi 
que  nessa  coramisaao  prestou  ho  lustituto,  e  nomeia  para  sub- 
%títuil-o  o  dr.  Jaguarlbe,  sendo  essa  nomeaçào  unauimemeate 
approvadft. 

Em  Beg^uida  o  dr,  Alfredo  de  Toledo  apreBenta  nma  indi- 
cação ai^sígnada  por  dez  soclob  do  luBtituto,  para  o  úm  de  ?erem 
creados  três  lugares  de  vice-preBidente.  Tendo  o  t-r  presidente 
remettido  esta  proposta  á  com  missão  de  EãtatutoB  para  dar  pare- 
cer, pede  A  palavra^  pela  ordem,  o  dr.  Toledo  e  impugna  esia 
deliberação  do  sr.  presidente,  por  Ibe  parecer  que,  em  facu  do 
art^.  65  dos  mesmos  estatuto»,  esta  proposta  deveria  ser  imuie- 
diatamente  votada  e,  ii  fosse  approvada  por  Vs  ^ós  socío»  pre^ 
sentes,  eitaria  a  reforma  regularmente  feita,  A  proposilo  trava-£e 
uma  dtBciiseão  entre  o  sr.  presidente  e  o  apreteutaute  da  proposta, 
dr.  Domingos  Jaguíiribe,  Jofié  Joaquim  de  Carvalho  e  Torre»  de 
Oliveira,  terminando  o  dr,  Toledo  por  fazer  retirada  de  «na  pro- 
posta, o  que  é  approvBdo  per  maioria  de  votos* 

O  dr*  José  Joaquim  de  Carvalho  pede  que  seja  aberta  dis- 
cussão sobre  uma  proposta  que  apra^ientou  na  seisâo  de  5  de 
março  próximo  passado,  a  qual  tinha  ficado  adiada.  Essa  pro- 
posta referia-ae  ã  celebração  de  uma  sesailo  solemue  em  bomeniigm 
aos  membroB  do  Sexto  Congresso  Medico  a  reunir- se  nesta  capital 
proximamente»  O  dr.  Torres  de  Oliveira,  a  cujo  pedido  tinha 
sido  ieito  o  adiamento  da  discussão,  pede  a  palavra  e  fa^  algu- 
mas considerações  no  intaito  de  demonstrar  que  a  idéa  do  tllustre 


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autor  da  proposta,  embora  fosse  muito  feliz  e  digna  dos  mais 
calorosos  applausop,  nào  era  opportuna  e,  por  isso,  nAo  devia  ser 
posta  em  pratica. principalmente  nos  termos  em  que  foi  apresen- 
tada. Apresentou,  entoo,  e^te  consócio  um  substitutivo,  para 
que  o  Instituto  bo  íizefse  representar  perante  os  membros  do 
Conarresso  por  uma  commissào,  da  qual  fizesse  parte  o  nobre 
proponente,  a  qual  desempenharia  »  sua  missão  pelo  modo  que 
á  sua  sabedoria  parecesse  mais  conveniente.  O  dr.  Carvalho 
impuj;nou  as  considerações  feitas  pelo  dr  Torres  de  Oliveira  e 
pediu  a  retirada  de  sua  proposia,  o  que  foi  concedido. 

Em  seguida  o  dr.  Edmundu  Krug  o  o  dr.  presidente  pedem 
para  ficar  inscriptos  afim  de  lerem  os  trabalhos:  o  primeiro,  sobre 
a  t  otamog rapina  da  Ribeira  de  Iguape,  e  o  segundo  sobre  a 
Situação  e  imjjoriancia  da  villa  de  Santo  André  da  Borda  do 
Campo. 

Passando-se  á  ge^^unda  rarte  da  ordem  do  dia,  íóbe  á  tri- 
buna o  sócio  inscripto  dr.  Joilo  Baptista  de  Moraes  e  inicia  a 
leitura  de  um  importante  trabalho  de  sua  lavra  sobie  a  Recolu-' 
f^ào  de  là(42.  Para  methodizar,  declarou  sua  exc.  que  dividira 
o  seu  trabalho  em  três  partes  :  na  1.*,  descreve  e  estado  do  paiz 
no  }>eriodo  de  1831  a  1837,  e  historia  a  organização  e  discri- 
minação dos  partidos ;  na  2.*,  occupa-se  da  Maioridade ;  e,  na 
3.%  da  revolução  de   1842. 

Ao  terminar  o  illustre  consócio  a  leitura  da  primeira  parte 
do  seu  interessante  e  vasto  trabalho,  foi  ii.uito  applaudido  e 
cumprimentado,  continuando  inscripto  para  proseguir  na  leitura 
na  }>roxima  ses^ào 

Toma  em  seguida  a  palavra  o  dr.  Hermann  vcn  Ihering,  e 
prende  durante  algum  tempo  a  attenção  dos  assistentes,  fazendo 
curiosas  e  profundas  observações  sobre  a  homogeneidade  do  con- 
tinente e  da  fauna  da  America  do  Sul,  e  estabelecendo  compara- 
ções entre  a  fauna  deste  e  de  outros  continentes,  para  concluir 
pela  hypothese  que  lhe  parece  mais  aceitável — a  de  terem  estado 
antigamente  ligados  os  continentes  sul-americano  e  africano.  Ao 
terminar,  sua  exa.  despede-se,  em  phrases  repassadas  de  tocante 
sinceridade,  de  seus  companheiros  de  Instituto,  por  ter  de  seguir 
para  a  Europa,  e  faz  votos  pela  incessante  prosperidade  da  no:sa 
associação. 

A  casa  applaudiu  com  enthusiasmo  a  eloquente  cissertaç&o 
do  illustro  consócio,  c,  por  proposta  do  dr.  José  Joaquim  de  Car- 
valho, approvou  que  mais  nira  vez  ficasse  consignado  o  eleva- 
díssimo apreço  em  que  tem  o  talento  e  o  saber  do  notável 
Bcientista,  que  acabava  de  falar  e  que  que  nào  é  somente  um 
ornamento  do  nosEo  meio  icientifíco  mas  uma  gloria  da  sciencia 
universal. 

O  dr.  Alfredo  de  Toledo  communica  que  já  entregou  ao 
Instituto  os  quadros  ofierecidos  pelo  saudoso  consócio  dr.  Miranda 
Azevedo. 


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Nada  mais  havendo  a  tratarj  eacerm-se  a  seseao  ás  10  hora» 
da  noitCj  convidando  o  bf.  presidente  oe  consocioa  para  a  pro* 
lima  seaa&o  a  realizar- se  no  dia  4  de  maio  projctmo  faturo. 

Do  que  para  constar,  eu  Jo$é  Torreã  de  Oliveira,  segando 
aecretario  interino,  lavrei  a  presente  acta. 


íntima  sessno  ordinária,  era  4  de  maio  de  Í0O7 

FBSãlDBNClA    DO   &R.    CONSELSf^mO     DcARTB    DE    &ZETEDO 

AoB  4  dia«  do  mH  de  niaío  de  1907,  às  7  V»  horas  da  noitâ, 
à  rua  General  Carneiro  n.  1  Áp  ondt^  tem  sua  Béde  o  Instituto 
Histórico  e  Geograpliico  de  8.  Paulo,  presenteB  os  sócio»  sn 
coDBeíhfíiro  Duarte  de  Azeredo,  drs.  Eugénio  Alberto  Franco, 
Manoel  Pereira  Guimaràes,  Artbur  Vautíer,  Alfredo  de  ToledO| 
Francisco  Natividade,  Edmundo  Krug.  João  Coelho  Gomes  Ri* 
beiro,  José  Torres  de  Oliveira,  coronel  Henriqua  Affon&o  de 
Araújo  Macedo  e  Francisco  Gaspar  da  Siveira  Martins,  sob  a  pre^ 
sidencia  do  primeiro  nomeadoí  é  declarada  aberta  a  «ea»ão, 

Nâ.0  tendo  comparecido  os  &rs.  primeiro  e  segundo  secretários, 
aBsumem  interinameate  e^ses  logareg^  a  convite  do  sr.  presidente, 
OB  ars.  drs.  Eugénio  Alberto  Franco,  como  primeiro  secretario 
aupplente  e  José  Torres  de  Oliveira,  como  segundo  secretario. 

Lida  6  postH  em  ditcnsi^ão  a  acta  da  Sbssâo  antecedente,  é 
a  mesma  unanimemente  a p provada,  sem  debate. 

O  sr  presidente  commuuíea  que  estando  restabelecido  dot 
encom  modos  que  durante  algum  tempo  o  o  br  i  gearam  a  conservar' 
se  aflTástndi^  doa  seus  trabalhos,  vottava  a  assumir  o  seu  posto 
e  promettia  a  costumada  assiduidade.  Esta  deelat*aç&o  foi  ouvida 
pela  C'  sa  com  especial  ag-rado. 

Em  seguida  o  sr.  presidente  nomêa  uma  commissão  com- 
posta dos  ars.  Francisco  Gaspar  e  Torres  de  Oliveira  para  in- 
troduzir no  recinto,  afim  de  tomarem  posse,  oa  sócios  novamente 
acclamadofi  e  que  »e  acbavam  na  ante-fiaja,  srs.  dr.  António  Pi- 
nheiro de  Albuquerque,  Aristides  de  Albuquerque  e  Francisco  de 
Paula  Teixeira.  Assig-uado  n  respectivo  livro,  os  novos  consócios 
tomam  assento  e  são  saudados  pelo  sr.  presidente,  que  os  con- 
cita a  coutribuirem  com  seus  trabalhos  para  a  prosperidade  do 
Instituto, 

Pa^sa-se  Ã  leitura  do  expediente^,  sendo  dado  conhecimento 
á  casa,  em  primeiro  lufjar,  de  um  officio  em  que  o  sr.  dr.  Couto 
de  Maj>-alhàes,  primeiro  secretario  e^uetivo,  solicita  três  mèsea 
de  licença  para  tratar  de  sua  saúde*  Snbmettido  á  discussjio  e 
votaçio,  é,  sem  debate,  concedida  a  licença 

O  sr.  1/  secretario  accuaa  o  recebimento  de  vários  folheto», 
revistas,  opúsculos  e  livros,  aalientando-se  entre  estes  últimos,  pela 
sua  importância  e  raridade,  o  Repertório  da  L^hlaçõo  Militar 
do  Império  ào   Brasil,    de     Raymuudo   José   da    Cuoha   Matoa^ 


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—  693  — 

obm  em  três  volumes,  publicada  em  18^4,  ofTerta  do  consócio 
€oronel  Ãrftujo  Macedo.  São  também  presentes  al^ima  iastru- 
montoa  e  objectoâ  índice  nas,  deixados  ao  luãutnto  pelo  «eu  aem- 
pre  saudoao  e  taro  vice  pfeaideare  dr.  Miranda  Azevedo. 

O  ar.  preaidf^nte,  em  uome  du  Instituto,  agradece  todas  as 
Querias,  que  vão  descri ptaa  yor  extenao  no  fínal  da  p regente. 

Ãnnunciada  a  primeira  parte  da  ordem  do  dia,  fiede  a  pa- 
lavra o  dr,  Alfredo  de  Toledo  e  justifica  a  ausência  do  dr.  Do- 
iningoa  Jao^uaribe  que,  a  aerviço  profisstoaal,  havia  sflgnido  para 
SantoB.  O  tr«  preaidente  manda  consignar  na  &ct&  eAsaeommti*^ 
nicação. 

Em  aeguida  é  lida  uma  propot»ta  apreaentando  o  nome  do 
w.  José  Pereira  Re^ro  Pilbo  para  bocío  correapondente,  a  qual 
▼ai  á  commisBâo  respectiva  para  dar  parecer* 

E'  lido  o  parecer  favorável  á  adfnissào  do  en^nh^iro  Gen- 
til de  Mouri  como  ^ocio  eff6^'tiv<>*  Âpprovado  sem  debate  e  poi* 
unanimidade  de  vetos  o  mesmo  parecer,  é  pelo  sr.  presidenta 
proclamado  uocio  do  Instituto  o  dr.   Gentil  de  Moura. 

Em  seg-uida  é  lida  ama  proposta  piíra  admisiào  de  aocioi, 
€omo  effectiyo,  o  sr,  profesior  José  Feliciano  de  Oliveira,  o, 
como  correspondente,  o  dr.  Joílo  Teixeira  Alvares.  Concedida  a 
dispensa  de  interstício,  por  proposta  do  dr.  Alfredo  de  To- 
ledo, são  09  mesmos  approvadoa  e  proclamados  consócios  do 
Instituto. 

Passa-se  á  2.*  parte  da  ordem  diii.  Nào  tendo  comparecido 
c  dr.  Joio  Moraes,  que  deveria  proseguir  na  leitura  de  seu  tra- 
balho sobre  a  Revoluciono  de  1842,  por  ordem  da  inscripção  é 
dada  a  palavra  ao  dr  Edmundo  Krui^í  que  lè  a  primeira  parto 
d.e  uma  obra  «obre  a  Ribeira  de  Iguape^  occnpando-ae  da  aua 
Fotamngraphia.  Ao  encetar  a  leitura,  o  iUuatre  consócio  declara 
que  o  seu  trabalho  ó  feito  cora  a  coUaboraíjào  do  noaso  operoso 
consócio  dr.  Ernesto  Guilherme  Yomn^,  e  que,  comquanto  fosse 
de  audição  algum  tanto  monótona,  não  podia  deixar  de  deBj>er- 
tar  interfaae,  ptT  se  occupar  de  uma  das  mais  ricas  o  admira- 
▼eifl  regiões  do  território  paulista. 

No  di^senvol cimento  do  aeu  trabalho,  o  dr.  Kru^,  com  da- 
rdos minuciosos  e  completos,  além  de  aasi^nalar  as  na^ícentes, 
«xteoBào,  percurso,  volume  de  aguas  e  fozes  doa  numerosos 
^iHuentes  da  famosa  ribeira,  descreve  ainda  todos  os  ficcidentea 
naturais  observador,  como  cachoeiras,  grutas  calcareaa,  etc.,  conse- 
^indo  impressionar  a  atteação  do-^  ouviatea  cora  o  tom  forte  6 
ierío  de  8UHS  narrativas.  Ao  terminar,  toi  o  distinto  con- 
flocio  muito  applaudido  e  felicitado  pelo  seu  interessaute  e  pa- 
ciente trabalho, 

Ff^áé  em  seguida  a  palavra  o  dr.  Mannel  Pereira  Guim&rãõa 
«  apresenta  um  pedido  de  in^^cripção,  p<^r  partd  do  consócio  dr. 
Eduardo  Loschi,  para,  na  próxima  aesaão,  íazer  a  leitura  de  uma 
traducçào  da  conferencia  realizada  p«lo  Duque   de  Abruzzos.  um 


—  694  — 

Real  Academia  de  Sciencias  de  Londres,  sobre  a  sua  ascençJio 
ao  Monte  Rowençory,  na  Ásia  Central;  tendo  promettido  compa- 
recer a  eREa  ^csç-ão  o  sr.  Ccnsul  Italiano. 

Pelo  gr.  presidente  foi  dito  que  devendo  a  inseri pçào  obe- 
decer á  ordem  chrcnologica  dos  pedidos  e  bavendo  sócios  ante- 
riormente inscriptos,  consultava  a  casa  si  concedia  urgência  para 
na  ])rimeirA  sessão  ser  foita  a  leitura  pedida  pelo  dr.  Losclii. 
Nào  havendo  quem  pedisse  a  palavra,  é  posta  em  votaçào  e 
unanimemente  approvada  a  urgência,  sendo  feita  a  inscrip^fto  na 
ord(?m  solicitada. 

Ao  annunciar  o  Fr.  |  residente  o  encerramento  da  sessão, 
pede  a  pnlavra,  pela  ordem,  o  dr.  Pereira  Guimarães  e  diz  que 
nâo  queria  deixar  encerrar -se  a  sessão  tem  lembrar  que,  deven- 
do no  próximo  anno,  isto  é,  daqui  ba  uns  10  meses,  secundo 
rezam  os  jornaes,  ser  o  Brasil,  e  provavelmente  a  cidade  de  São 
Paulo,  honrados  com  a  visita  do  rei  d.  Carlos,  de  Portugal,  que 
além  de  ser  o  chefe  illustre  da  velba  e  gloriosa  nação  amiga,  é 
um  googra])ho  e  oceanograpbo  dos  mais  notáveis  do  mundo, 
convinha  que  o  Instituto,  desde  já,  começasse  a  pensar  n<"»  me- 
lhor meio  de  prestar  condigna  homenagem  ao  egrégio  viajante, 
indicando  para  tal  íim  a  nomeação  de  uma  commissão.  Appro- 
vada  unanimemente,  e  com  visiveis  signaes  de  prazer,  a  indica- 
ção apresentada,  declarou  o  sr.  presidente  que  opportunamente 
nomearia  a  respectiva  Cí)mmis8ào. 

Nada  miis  havendo  a  tratar,  o  sr.  presidente  encerra  a 
sessão  ás  9  horas  e  1/2  da  noite,  convidando  os  srs.  sócios  para 
a  primeira  sessão,  que  deverá  realizar  se  no  dia  20  do  corrente, 
e  conjurando  a  proseguir  nos  seus  até  agora  tão  bem  succedi- 
dos  esforços  a  digna  commissão  encarregada  de  angariar  dona- 
tivos para  a  construcçào  do  edifício  social. 

Do  que  para  constar,  eu,  Joné  Torres  de  Oliveira^  segundo 
secretario  interino,  lavrei  a  presente  acta. 


Oitava  scssío    ordinária,   em    5   d©  junho   tio  1 007 

PilRSIDENCIA   DO    SR.    CONSELHEIRO    DuARTB   DE   AzEVEDO 

Aos  5  dias  do  mes  de  junho  de  1907,  ás  7  1/2  horas  da 
noite,  á  rua  General  Carneiro,  1  A,  onde  tem  sua  sede  o  Insti- 
tuto Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo,  presentes  os  sócios 
srs.  conselheiro  Duarte  de  Azevedo,  dr.  Manoel  Pereira  Gui- 
marães, José  Torres  de  Oliveira,  Dionysio  Caio  da  Fonseca,  co- 
ronel Henrique  Aôonso  Araújo  de  Macedo,  dr.  Eduardo  Lo?chi, 
Rodolpho  von  Iherine,  Edmundo  Krug,  Alfredo  de  Toledo  e 
desembargador  José  Maria  do  Valle,  sob  a  presidência  do  pri- 
meiro nomeado,  é  declarada  aberta  a  sessão. 


—  695  — 

Não  tendo  comparecido  ob  sr?.  primeiro  e  segundo  secretá- 
rios, assamem,  interinamente,  e£  ses  lugares,  a  convite  do  sr.  pre- 
sidente, 08  srs.  Rodolpho  von  Ihering  e  José  Torres  de  Ôli- 
yeira. 

Achando-se  na  ante  sala  os  srs.  cav.  Pietro  Baroli,  cônsul 
da  Itália  e  cav.  Magnocavallo,  o  »r.  presidente  convida  os  srs. 
Torres  de  Oliveira  e  Rodolpho  von  Ihering  a  introduzir  os  ditos 
senhores  no  recinto,  feito  o  que,  o  sr.  presidente  saúda-os,  dan- 
do-lhes  as  boas  vindas.  Dirigi  ndo-se  em  especial  ao  sr.  cônsul  da 
Itália,  exprime-lbe  a  sati^facç&o  que  tem  o  Instituto  em  tel-o 
presente  á  sua  seps&o,  visto  como  é  o  cav.  Baroli  o  represen- 
tante de  uma  naçfio  amiga,  cujos  súbditos  tanto  têm  contribuido, 
especialmente  em  S.  Paulo,  pura  o  nosso  progresso  e  enriqueci- 
mento; a  estas  palavras  responde,  penhorado,  o  sr.  cônsul  Ba- 
roli, que  se  diz  reconhecido  pelas  amáveis  referencias  á  sua  nação. 

Antes  de  passar  aos  trabalhos  da  sessão  o  sr.  presidente  de- 
clara que,  cm  vista  da  falta  que  se  faz  notar  na  ausência  dos 
srs.  secretários  effectivos,  resolve  nomear  outros  consócios  para 
taes  cargos,  pnra  o  que  os  estatutos  o  autorizam;  assim  confia 
ao  er.  dr  José  Torres  de  Oliveira  o  cargo  de  primeiro  secreta- 
rio e  ao  sr.  capitão  Eugénio  Alberto  Franco  o  de  segundo  se- 
cretario, etfectivos,  passando  os  bts.  dr.  Couto  de  Magalhães  e 
Arthur  Goulart  a  occupar  os  cargos  de  primeiro  e  segando  se- 
cretários supplentes*  Em  vista  dessa  nomeaçfto  o  sr.  dr  Torres 
de  Oliveira  é  logo  empossado  de  seu  novo  cargo,  passando  o  sr. 
Kodolpho  von  Ihering  a  occupar  interinamente  o  de  tegundo 
secretario. 

E  lida  a  acta  da  sessão  anterior,  que,  posta  em  discução,  é 
unanimemente  approvada,  ácm  debate. 

Passando-se  á  leitura  do  expediente,  é  lido  o  pedido  que, 
como  *J.°  secretario,  faz  o  sr.  Arthur  Goulart,  para  que  lhe  sejam 
concedidos  6  meses  de  licença,  paia  tratamento  de  sua  saúde, 
pedido  este  que  o  sr.  presidente  declara  attendido  pelos  medi- 
das já  tomadas  quanto  a  est^e  cargo.  Em  vista  do  parecer  da 
commissão  de  admissão  de  sócios  é  acclamado  sócio  correspon- 
dente do  Instituto  o  sr.  dr.  José  Pereira  Rego  Filho,  do  Rio  de 
Janeiro,  depois  de  ser.  por  proposta  do  dr.  Pereira  Guimarães, 
concedida  dispensa  de  inierstico.  Também  a  proposta  para  sócio 
de  igual  categoria,  que  se  acha  sobre  a  mesa,  relativa  ao  sr. 
Ricardo  Krone  em  Iguape  recebe  eíjual  dispensa  do  interíiticio, 
requerida  pelo  sr.  dr.  Alfredo  de  Toledo,  em  vista  do  sr.  Krone 
já  ter  mesmo  contribuido  com  artigos  para  a  Revista  deste  Ins- 
tituto. Assim  é  o  mesmo  rr.  R.  Krone  acclamado  sócio  corres- 
pondente do  Instituto,  depois  de  votação  unanime. 

Em  vista  dos  convites  que  o  Instituto  recebera  para  se  fazer 
representar,  tanto  na  festa  realizada  a  25  de  maio  na  Sociedade 
Scientiíica  de  S.  Paulo  em  homenagem  a  Carlos  de  Linoeu,  com- 
memorando  o  bicentenário  do    nascimento    desse    naturalista  de 


—  696  — 

gmide«  m  recímentot  e  ímmtL  itniTenaL  como  tambeoi  nm  festa 
da  Ef^fTf^lA  4o  Commereío  Alvares  Penteado,  desta  capital,  qve 
a  SI  áf  mn\*f  Unçaya  a  pedra  fundamental  de  teu  sovo  edificio 
o  tr.  dr.  Torres  de  Oliveira  declsra  qne,  como  orador  official 
interino  do  ln«titato,  a  e#te  r^pre-entaia  nes%as  festiyidaiiesi  em 
ambau  es  occa^iões  o  orador  dirigira  aos  promotores  das  ditas 
eelebraf^^ies  palavras  demonstrativas  do  interetse  qoe  o  Instituto 
nellas  tomava.  O  sr.  presidente  agradece  ao  dr.  Torres  de  Oli- 
veira o  cu  mpr* mento  dessas  attenções  e  lonya-lke  o  selo  com 
que  á<;»HT[í]**ii\hã  o  cargo  que  lhe  fora  confiado. 

Ainda  o  sr.  l.*  secretario  lembra  á  casa  o  passamento  dot 
sr.  RfíZf  nde  Apryg^o  e  Raymando  do  Sacramento  Blak,  da  Bahia, 
e  a  con«f  .u^^nte  perda  que  soflfre  o  Instituto  com  o  desappare- 
cimerito  dc-ren  seus  illustres  sócios  correspondeu tes  Pede,  pois, 
que  o  Inf^titnto  a  esse  pro(K>sito  mande  lançar,  em  suas  actas, 
nm  vr'to  de  jH'zar  O  sr.  presidente,  relembrando  a  memoria 
de^sen  ditrnot  consócios  fallttcidos,  põe  em  di^cus8ào  a  proposta 
apresou taH;i,  a  qual,  sem  debate,  é  unanimemente  approyada.  SAo 
finalmente  recusados  pelo  »r.  1.*  sesretario  numerosos  livros, 
folhetos  e  revistas,  dos  quaes  diz  o  sr.  presidente  que  sào  ti  dos 
aceitof-   fielo  instituto  com  grande  satisfacçào. 

Nada  m/iis  havendo  a  tratar  nesta  parte  da  crdem  do  dia  o 
sr.  j>reftidpnie  declara  saber  que  o  operoso  consócio  inecnpto 
para  ler  a  continuaç&o  de  seu  trabalho  sobre  a  Revolução  de 
1842,  o  dr.  Jcíào  Moraes,  se  wcha  impedido  de  comparecer  e  qne, 
com  a  Approvaç&o  de  um  pedido  de  urgência,  daria  a  palavra 
ao  Hr.  (\r.  Kduardo  Loschi  F^sse  pedido  de  urgência  é  por  todos 
concedido  e  as^im  o  »r  presidente  dá  a  palavra  ao  illustre  con- 
sócio, qu('  pHHsa  a  ler  a  tradução  que  fez  de  conferencia  ha 
jiouco  realÍK/ida  pelo  aÍHmado  explorador  geogi-aphico  Duque  dos 
Abbruz/oH  perante  a  Ueal  Academia  de  Sciencias  em  Londres. 
Reíore-He  enaa  conferencia  á  nPcençAopor  elle  realizada  em  mea- 
dos do  nnno  passado  ao  legendário  rn"nte-Knweiizori  situado  na 
Africa  (/(Mitral,  próximo  ao-í  lago*  Hodolpho  e  Victoria.  Depin- 
tando  em  vivas  cores  as  impressões  recebidas,  bem  como  as  diffi- 
culdade8  da  jornada,  o  viajante  relata  ao  mesmo  tempo  os  resul- 
tados hcieiítificos  obtidos.  Depois  de  ter  feito  a  leitura  de  cerca 
da  metade  desHa  sua  tradução,  o  sr.  dr  Loschi  interrompe-se 
lembrando,  em  vista  Ja  hora  adiantada,  ser  talvez  conveniente 
terminar  essa  leitura  em  outra  ítes^fto.  Annuindo  a  casa,  o  sr. 
presidente  convida  aos  srs.  sócios  presentes  bem  como  ao^  srs. 
Cav/'  Gont^ul  Baroli  e  Magnocavallo  a  ouvirem  na  próxima 
sessão  H  c(Mitinuação  da  interessante  leitura. 

Ainda  o  sr.  president"*  toma  a  palavra,  dirígindo-se  em  es- 
peoial  Ah  C'  mraiêsões  nomeadas  para  tomarem  providencias  rela- 
tivas A  cofi»-trucç&o  do  edifício  próprio,  incitando- as  a  coneluirem 
sua  mÍHHão,  quer  no  que  diz  respeito  ao  angariamento  do  capital, 
quer  quanto  ao  exame  das  propostas  relativas  á  eonstracçfto. 


—  697  — 

EDcerra  o  sr.  presidente  a  sesíão,  ás  9  horas  e  meia  da 
noite,  e  convida  os  ars.  sócios  para  a  próxima  sessão  qae  se 
realizará  no  dia  20  do  corrente  méi. 

Em  tempo:  os  srs.  dr.  J«  Torres  de  Oliveira  e  capitfto 
E.  Alberto  Franco  foram  nomeados  l*e2.*  secretários  interinos. 
O  consócio  fallecido,  dr.  Rezende  Aprygio  era  sócio  honorário 
deste  Instituto. 

|iH*rr  Do  que,  para  constar,  eu,   R^tdolpho   von   Ihering^    segundo 
secretario  ad  hoc^  lancei  a  presente  acta. 


Nona   foesHsfto  ordinnria,  em   20  de    junho  do    1 007 

Presidência  do  sr.  dr.  M.    Pfrbika  Guimarães 

Aos  20  dias  do  môs  de  junho  de  1907,  ás  7  li2  horas  da 
noite,  á  rua  General  Carneiro,  1  A,  onde  tem  sua  sede  o  Insti- 
tuto Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo,  presentes  os  sócios 
srs.  drs.  M.  Pereira  Guimarães.  J.  Torres  de  Oliveira,  Eduardo 
Loschi,  Rodolpho  von  Ihering,  corcnel  Henrique  A.  de  Macedo, 
coronel  Ludgero  de  Castro,  Ahsís  Moura  e  Paulo  Pinto  A.  Ran- 
gel, sobre  a  presidência  do  primeiro  nomeado,  é  declarada  aberta 
a  seí^Bão  Desempenham  os  cargos  de  1.**  secretario  o  dr.  J. 
Torres  de  Oliveira,  1.*  secretario  interino,  e  de  2.*  secretario 
o  sr     Rodolpho  von  Ihering  a  tal  fim  convidado  pelo  sr.  presidente. 

Achando  se  iia  ante  sala  o  novo  consócio  dr.  Gentil  d <»  Assis 
Moura,  o  sr.  presidente  convida  os  srs.  consócios  coronel  Henrique 
de  Mscedo  e  Ludgero  de  Castro  a  introduzirem -no  no  recinto,  sendo 
logo  o  distinto  consócio  recebido  com  as  formalidades  de  estylo. 
Dep  >Í8  de  feita  a  leitura  da  acta  da  sessão  anterior  é  a  mesma 
approvada  com  a  emenda  de  dois  tópicos  referentes  ás  nomeações 
dos  srs.  secretários  interinos  e  ao  sócio  honorário  fallecido,  sr. 
dr.   Rezende  Aprygio. 

O  expediente  lido  pelo  sr.  l.® secretario  consta  de  uma  pro- 
posta, para  sócio  effectivo,  do  sr  J.  F  Meira  de  Vasconsellos, 
digno  lente  da  E^^cola  de  Pharmacia  desta  Capital,  a  mesma 
proposta  é  dispensada  de  intersticio,  ficando  sobre  a  mesa  para 
ser  vo«ada  na  sessão  seguinte;  um  telegramraa  de  Bello  Horizonte, 
communicando  ao  Instituto  a  fundação  do  Instituto  Histórico  e 
Geographico  de  Minan  Geraes,  naquella  cidade;  são  bccusadas 
ainda  numerosas  publicações,  revistas,  folhetos,  jornaes  do  cos- 
tume e  dois  livros — Findamonhangaha^  Ih80^í906,  pelo  consócio 
dr.  Athayde  Marcondes  e  Poema  do  Tédio,  do  sr.  Quintino  de 
Macedo,  digno  filho  do  consócio  coronel  Henrique  A.  de  Macedo, 
que  todas  o  sr.  presidente  agradece,  requerendo  accuso  especial 
para  og  dois  últimos  ctados. 

Ordem  do  dia:  Pede  a  palavra  o  sr.  dr.  Gentil  de  Moura 
para  offerecer  ao  Instituto   um    manuscrito.   Apontamentos  reUt^ 


—  698  — 

tivos  a  Aleixo  Garcia^  elaborado  pelo  Br.  E.  Guilherme  Young; 
pede  o  Br.  presidente  ao  «gradpcer  a  oâerta  ao  dr.  Gentil  de 
Moura  que  leia  o  mesrao  trabalho  em  uma  das  próximas  sessões. 
O  sr.  Rodolpbo  von  Ihering  pede  a  palavra  pnra  ler  a  tradução 
do  programma  de  estudo»  anthropolo^icos  elaborado  em  inglez 
por  Bcientistas  norte-ainericanos  a  pedido  do  Camegie  In&titutíon 
e  que  salienta  os  pontos  mais  importantes  a  serem  investigados 
nas  futuras  pesquizas  ethnographicas  e  anthropolog  cas  na  Ame- 
rica, a  que  será  consagrado  o  novo  Department  of  Anthropology 
daquelle  Instituto.  E' o  mesmo  de  grande  interesse  para  o  Brasil 
por  tratar  do  estudo  8cientific>de  varias  tribus  indígenas  do  nosto 
paiz.  O  sr.  presidente  agradece  a  communicaçâo,  julgando-a 
digna  de  ser  incluida  no  próximo  numero  da  Revista  do  In>tituto. 

Em  seguida  lembra  o  sr.  presidente  que  com  o  fallecimento 
do  pranteado  vice-presidente  do  Instituto,  dr.  Miranda  Azevedo, 
o  Instituto  perdeu  também  um  dos  esforçados  redactores  de  sua 
Revista,  convindo  preencher  esse  cargo.  Indicando  o  nomo  do 
dr.  J.  Gomes  Ribeiro,  o  sr  presidente  salienta  as  qualidades 
desse  illustre  consócio  e  suas  aptidões  para  o  posto  em  quest&o ; 
todavia  sujeita  ecsa  sua  proposta  á  votação  da  casa  Como  esta 
a  approva  por  unanimidade  de  votos,  sem  discussão,  é  o  sr.  dr. 
J.  Coelho  Gomes  Ribeiro  nomeado  a  fazer  parte  da  commissào 
da  redacção  da  Revista  do  Instituto,  juntamente  com  os  srs.  drs, 
Alfredo  de  Toledo  e  Horácio  de  Carvalha. 

Segunda  p»rte  da  ordem  do  dia.  Tem  a  palavra  o  dr. 
Eduardo  Loschi,  que  vai  concluir  a  leitura,  iniciada  na  sessão 
anterior,  de  sua  tradução  do  interessante  trabalho  do  Duque 
dos  Abbruzzos,  relativo  á  ascençfio  por  este  realizada  ao  monte 
Ruwenzori,  na  Africa  Central.  Era  seguida  á  parte  descriptiva 
da  viagem  vem  relatados  os  resultados  scientifíco->,  especialmente 
geographicos  e  geológicos,  cbtidts  pelas  constantes  investigações 
feitas  durante  a  jornada. 

Ao  terminar,  o  dr.  Loschi  é  calorosamente  applaudido  e  o 
sr.  presidente  dirige-lhe  em  especial  os  agradecimentos  do  Ins- 
tituto pelo  trabalho  ouvido;  snúda  ainda  o  sr.  presidente  aos 
srs.  Coronel  Baroli  e  cavalheiro  Magnocavallo,  agradecendo  a 
sua  visita  e  convidando -es  a  futuro  comparecimento.  Dirigin- 
do-se  ao  dr.  Gentil  de  Moura  o  sr.  presidente  exprime-lhe  a 
satisfacção  que  tem  o  Instituto  em  podei- o  contar  entre  os  de 
seu  grémio,  pois  que  s.  s.  é  portador  de  um  nome  feito,  pelos 
muitos  serviços  que  tem  prestado  na  exploração  scientifíca  do  paiz. 
A  isto  o  illustre  consócio  responde  penhorado,  testemunhando  o 
seu  amor  e  dedicação  pelo  Instituto. 

Nada  mais  havendo  a  tratar,  o  sr.  presidente  encerra  apre- 
sente se^são,  convidando  os  srs.  sócios  para  a  próxima,  aprazada 
para  o  dia  5  de  julho  próximo  futuro. 

Do  que,  para  constar,  eu,  Rodolpho  von  Ihering^  em  funcção 
de  segundo  secretario,  lavrei  a  presente  acta. 


—  699  — 
Dcirinia  scss.^3  ordinária,  cm    20  de  julho  de    1007 

PjiESIDBMCIA    do    SR.    CONSfiLHBIltO    DuARTE   DE   AzEVEDO 

Sob  a  presidência  do  sr.  dr.  M.  A.  Duarte  de  Azevedo, 
servindo  de  secriitarios  os  srs  drs.  José  Torres  de  Oliveira  e 
DiDamerico  Kaiigel,  realizou-se  hoje  mais  uma  sessão  ordinária 
desta  associação. 

Approvada  a  acta  anterior,  e  nccusado  no  expediente  o  re- 
cebimento de  livros  e  dus  publicações  do  costume,  sendo  tudo 
recebido  com  especial  agrado. 

Silo  lidas  as  propostas  para  sócios,  dos  srs.  Guilherme  Fer- 
rero  e  dr.  Estevam  Leào  Bourronl,  honorários;  António  Carlos 
Madeira,  correspondente,  e  Joào  L«llis  Vieira  e  JoAo  Augusto 
César,  effectivo».  O  consócio  sr.  dr.  Alfredo  de  Toledo,  funda- 
mentando as  suns  propostas,  requer,  e  a  casa  approva,  dispensa 
de  parecer  ás  propostas  e  do  interstício  regimental  para  serem 
os  novos  sócios  immediatamente  reconhecidos  como  o  foram.  E' 
approvado  o  parecer  reconhecendo  sócio  eft*ectivo  o  sr.  João  F. 
Meira  Vasconcellos. 

O  sr.  dr.  presidente  dirige  um  appello  á  respectiva  com- 
missAo  no  sentido  de  continuar  na  tarefa  de  obtençào  de  auxilio 
para  a  construcçào  do  edifício  do  Instituto. 

O  Bf.  dr.  Alfredo  de  Toledo,  um  dos  membros  da  benemé- 
rita commiseào,  diz  que  tem  havido  demora  nesse  serviço,  devido 
á  ausência  do  digno  companheiro  sr.  dr.  Jaguaribe,  que  se  acha 
no  Rio  de  Janeiro,  devendo  regressar  em  breve,  podendo  logo 
depois  a  commi^s&o  reencetar  o  seu  trabalho. 

E'  lido  e  fica  sobre  a  mesa,  para  o  devido  estudo  dos  con- 
sócios, o  balancete  do  negundo  trimestre,  apresentado  pelo  digno 
thesoureiro  sr.  dr.  Arthur  Vautier.  Por  esse  documento  ve- 
rifica-se  um  saldo  de  38:231  $000,  depositado  no  Banco  Com- 
mercio  e  Industria. 

O  sr.  dr.  Alfredo  de  Toledo  propõe  votos  de  pezar  pelo 
fallecimento  do  dr.  César  Birrenbach  e  António  Manoel  Fer- 
nandes, literatos  paulistas,  e  idêntica  proposta  c  feita  pelo  sr. 
Torres  de  Oliveira  com  respeito  aos  saudosos  drs.  Joào  Thomas 
de  Mello  Alves  e    Alfredo   Silveira  da    Mota,    illustres  juristas. 

As  propostas  sAo  unanimemente  aprovadas  pela  casa. 

E*  iido  um  officio  do  sr.  Athayde  Marcondes  pedindo  a  no- 
meação de  uma  commissão  para  dar  parecer  sobre  o  seu  livro 
— Pindamonhangaba .  O  sr.  dr.  presidente  nomêa  para  essa 
commissão  os  consócios  srs.  drs.  Luis  G.  da  Silva  Leme,  João 
Moraes  e  Leôncio  do  Amaral  Gurgel. 

O  sr.  dr.  Torres  de  Oliveira  propõe  que  o  Instituto  no- 
meie uma  commissão  para  dar  as  boas  vindas  a  Guilherme  Fer- 
rero,  o  notável  escriptor  e  sábio  italiano,  caso  se  confirme  a  sua 


—  700  — 

viudft  a  S.  Paulo.  Sâo  nomeados  pflra  o  d efiempenlio  deisacom- 
miBi^ão  o  proponente  e  o  dr.   Dinamerico  Rangel. 

O  er.  coronel  Araújo  Macedo  faz  um  appello  ao  »r.  dr. 
pr«gidenttí  para  que  interceda  junto  ao  Congresso  Nacional  no 
sentido  de  ser  dado  rápido  andamButo  ao  tão  debatido  projecto 
de  auxilias  aos  i^oluntarioe  da  Pátria. 

O  &r.  dr,  presidente  prometre  fazer  a  euie  respeito  o  qafi 
estiver  a  seu  alcance- 

Fassando-se  á  segunda  parte  da  ordem  do  dia,  tem  a  pa^ 
lavra  o  bocÍo  st.  dn  Joào  B.  de  Morada,  que  coDlinúa  a  leitura 
do  BfU  mtereBsante  trabalho  sobre  a  Revíução  de  1842,  Inter- 
romp*íiTidn  a  leitura  do  util  e  hello  trabalho  ás  nove  e  meia 
hor^is  d  ri  noit»,  Fri  õ  orador  muito  feli(^itado  pelos  consócios. 

Estando  a  hora  adiantada,  o  sr.  dr.  presidente  encf^rrou  a 
sess&o,  mareando  outra  para  o  dia  5  de  agosto  próximo. 

Do  quôj  para  constar,  em,  Alfredo  de  Toledo,  mandei  lavrar 
esta  acta,  em  £uncçào  de  segundo  secretario. 


Det!Íiiii«  firtincirii    ««ef^^ilo    ordinária^    em  5  dê  agosto 

do  imi7 

Phbsidskcia  do  su,  dk.  M.  à.  Duartb  db  Asevbdo 

Aos  5  de  agosto  de  1907,  ás  sete  e  meia  horas  da  noite,  a 
ma  Genernl  Gameiro  n.  1-A — aéde  do  Instituto  Histórico  e 
Geopjraphico  de  S,  Paulo,  presente  numero  legnl  de  sócios^  é 
declarada  aberta  a  ges^a^o,  presidida  pelo  sr.  dr.  M.  A.  Duarte 
de  Azevedo,  servindo  de  secretários  os  ars.  drs,  José  Torres  d© 
Oliveira  e  Alfredo  de  Toledo,  Nào  foi  lida  a  acta  da  leaifto 
anterior,  por  não  ter  sido  a  me^ma  ainda  lavrada. 

Pelo  sr,  dr.  presidente  foi  oomeado,  para  representar  o 
Instituto  junto  ao  Se^to  Congresso  Medico  a  realizar^ se »  nesta 
Capital,  no  mês  próximo,  uma  commiss&o  compotita  dos  dignos 
consócios  drs.  Silveira  Cintra,  Domingos  Jaguanbe  e  Carlos  de 
Vasconcellos. 

O  expediente  constou  do  recebimento  de  livros,  offieioii 
revistas  e  jm-niies  que  costumeiramente  nos  visitajj,  O  novo 
sócio  sr.  Alfredo  Ferreira  Rodriírues  mandou  um  ofiScio  eoa  que 
agradece  ao  Instituto  a  sua  admiisào  neste  grémio  inielleetuaL 

Na  segunda  parte  da  ordem  do  dia  foi  dada  a  palavra  ao 
digno  consócio  ir.  dr  Edmundo  Krug,  qne  se  achava  inserípto. 
Cedeu-a,  porém,  o  dr,  Krug  ao  sr.  dr.  Gentil  de  Mnura,  que 
durante  uma  hora  prendeu  a  attençfto  da  casa  lendo  curJo*o  e 
interessante  estudo  sobre  Aleixo  Garcia,  Ao  terminar  &  leitarat 
foi  o  dr.  Gentil  de  Moura  muito  felicitado. 


h 


—  701 


Nada  maif  havendo  a  tratar-se,  o  sr.  dr.  preddente  «ncerrou 
a  pre&eote  eesiâo,  convocaiido  outra  para  o  próximo  dia  20  desto 
mèn  de  agosto. 

Do  que,  par*  constar,  eu,  Alfredo  de  Toitdo^  serirmdq  de 
•eg^uado  aecret&riOj  lavro  a  presente  acta. 


Decima  segunda  fse^R^o  «rflinnria*  em  20  de  agoi^to 

de  1ÍK*7 

PRBBIBEirCtA    DO   SR.    C0^9ELHBIH0    DUART»    DH    AZBVíSDO 

Àos  20  dias  do  mèi  da  acoito  de  1907,  ás  7  1/2  horas  da 
noite,  á  rua  General  Gameiro,  1-A,  onde  tem  sua  sede  o  Insti- 
tuto Historicn  ê  Geographiro  de  3.  Paulo,  preseDies  os  ars. 
conselheiro  Duarte  de  Azevedo,  drâ.  Manoel  Pereira  Guimarães» 
J.  Silveira  Cintra,  Jofto  Moraps,  Eugénio  A,  Franco^  Ai  aia 
Moura^  Domingos  Jaguaribe,  de-embargador  José  Maria  do 
Vftlle,  coronel  Henrique  Araújo  da  Rfíacedo,  dr.  Sérgio  Meiraj 
Francisco  Campos  Andrade,  Edmundo  Krug  e  Hodol[ího  vou 
Ibering,  tob  presidência  do  primeiro  nomt?ado,  é  deelaradn  aberta 
a  sesaSto,  Desempenham  os  cargos  de  L*  e  2.**  secríitarios  os 
irs.  Eugénio  A.   Franco  e  RodoLpho   von  Ihering. 

Usando  da  palavra  o  2.'  secretario,  passa  a  lêr  a»  actas  das 
sessões  anteriore»  que  sem  debate  foram  unanimemente  appro- 
vadas. 

O  expediente  íido  pelo  ar.  dr.  1.*  secretario  constou  do 
recebimento  de  variadas  revi^^iaB,  jornaes  e  mais  publiiiiições. 
O  sr>  presidente  exprime  em  uouje  do  Instituto  os  a  gradeei  meu  tos 
por  essas  oferta s« 

Na  primeird  parte  da  ordem  do  dia  pede  a  palavra  o  itlustre 
consócio  dr.  Assis  Moura,  o  q^al,  lembrando  á  casa  que  uo  pró- 
ximo dia  21  de  agosto  o  Marquez  ãf\  Paranaguá  celbbrava  o 
seu  86,"  anniversario  nataUcio,  propunha  qu©  esse  i Ilustre  homem 
de  letras  e  grande  patriota  fosse  eleito  sócio  honorário  do  lusti- 
tuto  Histórico  e  GeogTaphico  de  S.  Paulo.  O  sr*  presidente, 
ao  receber  a  propôs  ta.  a^signa^a  por  todos  o»  consócios  presentes, 
di^  que  era  com  eumma  satisfacçào  que  via  o  Instituto  de  S. 
Paulo  render  assim  uma  significativa  homenagem  ao  eucanecído 
presidente  da  Sociedade  de  Geographia  do  liio  de  Janeiro,  a 
este  vuUo  admirável  da  nossa  historia  pátria  pelo  qual  í^emprô 
teve  a  m^tior  admiração.  Beta  debate  e  por  unaoimidade  de 
votos,  a  proposta  apresentada  ])assa  pelas  formalidades  reííu la- 
mentares, sendo  logo  acclamado  ecclo  honorário  do  Instituto  o 
BF.  Marquez  dp  Paranaguá.  Em  vista  di&so  o  sr.  preaidente 
resolve  enviar-lhe  um  telegramma  congratula  tório,  que  foi  redi^ 

fido  nos  seguintes  t^^rmos:  cO  Instituto  Histórico  e  Geographico 
e  S.  Paulo,    em    sess&o    de    hontem,    elegeu    V.   Ex.*    membro 


-  702  — 

honorflriíi  do  InstíLufeo  e  incumbiu-me  de  saudar  V»  Eí.*  uesta 
datil*  i>elo3  seus  loujços  ©  relevímies  aerviçoB  ao  paiz-  DiiRrtt) 
de  A?.tivedo,  prt^sideute». 

Fassundo-so  a  tntar  dns  quostòea  da  seguada  parte  da  oriem 
do  dia,  o  fir.  pvísideiato  dá  a  palavra  ao  con^iiciy  iíiscripto,  ar.  dr. 
J.  Moraes,  o  qual  coqUíiÚíi  íí  prender  a  atten(;ào  do  aniii tório  eom 
a  leitura  da  nova  parte  de  seu  estudo  gobre  a  lieualnção  th  l^i/2y 
Hm  que  te  occupa  da  r«solugrio  parlamentar  da  Maioridade  de 
d.  Pedro,  Interrompendo  o  orador  ái  9  1/2  h^ra*!  a  sua  diíser- 
taçào,  foi  o  mesmo  vivamente  appltiudido  e  felicitado  pelo  au- 
ditório e  a  ar.  preeidente  decltiroií-o,  conforme  seu  pedido, 
iuaciipto  para  contínuair  a  leitura  ca  próxima  aoatào. 

EtD  Epçuida,  o  sr.  vÍiie-preFÍdeute  do  Instituto,  dr,  Manoel 
Pereira  Gtíiinaiâea  p«de  a  palavra  ©,  lembríiiido  a  j^rande  ne- 
cesEiidadt;  que  ba  em  »e  ititciar  a  confitru(;rLo  do  editicio  própria 
do  lostituto,  apresenta  uma  proposta  pela  qual  a  directoãa  ficaria 
autorizada  não  só  a  utilizar' se  de  qualquer  príjecto  o  pUiita 
para  esm  eonstrucç&o,  como  também  a  couiractar  desde  to^o  as 
obras.  Posta  em  discusBâo  a  profo^ta,  é  a  meãma  approvadâ 
]»or  unanimidade. 

Em  seguida  o  ar,  presidente  encerra  a  fiessão  6  convida  os 
irâ>  fiocioB  para  a  próxima,  que  terá  legar  no  dia  5  do  mèi  de 
setembro. 

Do  que,  para  cnustar,  eu,  Roãolpho  von  Iherinfjt  em  funcf^ão 
de  Sfgundo  «ecietario,  layrei  a  presente  acta. 


Uct.-iiiiu  terceira  siessAo  ortUiinría^-ent  5  de  setemliv*o 

(!e  1U07 

PRESIDÊNCIA    DO    SR.    DR«    TorESjí    t>K    Oli^EIRA 

Aõâ  5  dias  do  mèé  de  setembro  de  1007,  ás  7  1/2  borai  d& 
noite,  à  rua  General  Carneiro  1  A,  onde  tem  sua  sede  o  Ins- 
tituto Histórico  ©  Gaoersphico  de  B.  Paulo,  sob  a  presidência 
do  ar.  dr  Torres  tíe  Oliveira,  secretariado  pelos  sri.  drs.  Al- 
fredo de  Toledo  e  Rodolpho  von  Ibering,  foi  aberta    a    sesião. 

Lida  e  approvada  a  acta  da  sessão  aoterioft  passa-ae  ao 
expediente,  K^  lido  um  teleg-ramma  do  Marques;  de  Paranaguá, 
no  qunl  agradece  Eua  eleição  para  aoeto  boaorario.  São  recebi- 
dos como  valiosas  ofíertas  vario»  Hvtoa,  dentre  o»  qtiaes  he  des- 
tacam pela  »ua  raridade  o  que  c  ofFerecido  pelo  sr.  dr.  Torres 
de  Oliveira^ — Academia  Singular  e  Univ^raat,  encyclopedía  ar- 
tUtica,  Bcientifica,  literária  e  reiígioia— imprea&a  em  1T37,  oi 
volume»  de  1831  a  1S64  da  Revista  dos  Doú  Mundos,  pejo  sr. 
Barào  d©  R<  zende;  o  Catalogo  dos  livros  sobre  o  Brasil  escriptoi 
desde  1492  e  1822,  do  «n  dr  José  Carina  Rodriguea. 


—  703  — 

Sáo  propostos  para  pocios  correspondentes  os  írs  dr.  Joeó 
Carlos  Rodrigues,  director  do  Jonial  do  CommtrciOt  e  José 
Francisco  da  Rocha  Pombo,  autor  do  Historia  do  Brasil.  Dis- 
pensados dos  pareceres  e  intersticios  regimen taes,  são  reconhe- 
cidos e  proclamados  os  sócios  propostos. 

Para  corresponder  ao  convite  da  rrociedade  Bcientiíica  de 
S.  Paulo  o  sr.  presidente  desiizna  rs  srs.  dr.  Alfredo  de  Toledo 
e  Leôncio  Gnrgel  para  representaram  o  Int^tituto  na  sessílo  que 
aquella  sociedade  realizará  no  dia  10  de  setembro  em  home- 
nagem ao  Sexto  Congresso  Medico. 

Pasando-se  á  segunda  parte  da  ordf^m  do  dia,  são  apre- 
sentadas as  excusas  dos  srs.  oradores  inecriptos  que  deixaram 
de  comparecer  á  sessão. 

Não  havendo  quem  pediiis«)  a  palavra,  o  sr.  presidente  en- 
cerra a  sessão,  pedindo  o  comparecimento  dos  srs.  sócios  para 
a  próxima  sessão  que  se  realizará  no  dia  20  do  corrente. 

Do  que,  para  constar,  eu,  Rodolpho  von  Iherimjy  em  funcção 
do  2.*  secretario,  lavrei  a  presente  acta. 


Decima  quarta  scssno  orcliiinria,  cm  ^O  de  setembro 

de    1007 

PRESIDÊNCIA    DO    SR.    CONSELHEIRO    DuARTE    DB    AzEVHDO 

Aos  20  dias  do  mês  de  setembro  de  1907,  ás  7  1/2  horas 
do  noite,  á  rua  General  Carneiro,  1  Â,  onde  tem  sua  sede  o 
Instituto  Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo,  sob  presidên- 
cia do  sr.  conselheiro  Duarte  de  Azevedo,  secretariado  pelos 
srá.  dr.  Torres  do  Oliveira  e  Rrdolpho  von  Ihering,  presentes, 
além  dos  nomeados,  os  srs.  sócios  coronel  Henrique  Âraujo  de 
Macedo,  dr?.  Pereira  Guimarães.  Edmundo  Krug,  Assis  Moura  e 
Carlos  de  Vasconcellns,  foi  aberta  a  sei^são. 

Lida  a  acta  da  sessão  anterior,  foi  a  mesma  approvada 
unanimen-ente  e  passon-se  ao  expediente  que  constou  do  accuso 
de  numerosas  publicações  «fterecidas;  o  sr.  dr.  Carlos  de  Vas- 
concelloB  communica  á  casa  que,  em  cumprimento  do  encargo 
de  representar  o  Instituto  nos  festejos  e  reuniões  que  nesta 
Capital  se  realizariam  por  occasiâo  do  VI  Congresso  Medico,  a 
commissão  deu  desempenho  a  essa  missão;  o  sr.  presidente  agra- 
dece. 

Sendo  lida  a  proposta  assiírnada  por  todos  os  sr;*.  sócios 
presentes  propondo  o  sr.  dr.  Alfredo  de  Brito  sócio  honorário 
do  Instituto,  o  sr.  dr.  Carlos  de  Vasconcellos  pede  que  seja 
concedida  dispensa  de  intersticio  e  que  a  proposta  soja  votada 
incontinenti,  pois  o  iliustre  director  da  Academia  de  Medicina 
da  Bahia  tinha  um  nome  feito  pelos  seus  lavores  scientifícos. 
O  81.  presidente,  corraborando  a  opinião  do  consócio,  depois  da 


—  704  — 

concessão  da  casa,  põe  a  proposta  a  votos  e  é  approvada  una- 
nimemente e,  pois,  o  sr.  dr.  Alfredo  de  Brito  aclamado  sócio 
honorário  do  Instituto.  Foi  lida  ainda  uma  proposta  para  sócio 
correspondente  da  pessoa  do  sr.  dr.  Hosannah  de  Oliveira,  digno 
deputado  federal  pelo  Pará. 

O  sr.  presidente  communica  que  a  mesa  estudou  detidamente 
os  planos  para  a  construcç&o  do  edifício  próprio  do  Instituto ; 
ficou  resolvido  aproveitar  no  que  tinham  de  melhor  os  planos 
dos  srs.  drs.  Eduardo  Loschi  e  Ramos  de  Azevedo.  Adian- 
tando ainda  mais  seus  trabalhos  para  que  quanto  antes  possam 
ser  iniciadas  as  obras,  a  mesa  pedira  propostas  de  construcçòes 
a  pessoas  competentes,  quo  deverão  apreseutar  os  orçamentos. 
Foi  com  grande  satisfacç&o  que  os  srs.  consócios  acolheram 
estas  informações  acerca  da  próxima  realização  de  idéa  tão 
querida. 

Pede  em  seguidh  a  palavra  o  sr.  coronel  Henrique  Araújo 
Macedo  que  pedt)  vénia  ao  sr.  presidente  para  lhe  agradecer 
bem  como  a  casa  em  geral  o  valioso  auxilio  que  com  seu 
appello  ao  Congresso  Federal  dispensara  o  Instituto  aos  vete- 
ranos da  Campanha  do  Paraguai ;  pois  acabava  de  ver  conce- 
dido a  estes  beuemeritos  defensores  da  Pátria  o  quantum  a  que 
direito  tinham  pelos  heróicos  serviços  prestados.  E'  também  em 
nome  dos  seus  companheiros  que  agradece  esse  auxilio  moral. 
A  pedido  do  orador,  o  sr.  presidente  manda  que  esse  agradeci- 
mento seja  consignado  na  acta. 

Dos  srs.  coiisocif  8  in^criptOB  para  apresentarem  trabalhos  na 
sessão  diversos  não  comparect^ram,  excusando-se  outros,  pelo  que 
deixa  de  serem  feitas  leituras  de  trabalhos  originaes. 

O  sr.  presidente  lembra  que  em  breve  honrará  com  sua  vi- 
sita a  nosfa  Capital  o  eminente  compatriota  sr.  Barão  do  Bio 
Branco,  que,  além  do  alto  conceito  em  que  é  tido  S.  Ex.  por 
todos  os  brasileiros,  é  digno  de  uma  especial  consideração  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo,  pois  que  é  seu 
presidente  honorário.  Referindo-se  com  enthusiasmo  ao  valor 
politico  do  eminente  estadista,  o  sr.  presidente  cita  em  especial 
a  attitude  saliente  que  o  Brasil  occupa  na  Conferencia  de  Haja 
e  isto  devemos  ás  preclaras  intelligencias  de  Kio  Branco  e  Ruy 
Barbosa.  Para  patentear  ao  illustre  hospede  a  alta  estima  que 
lhe  consagra  o  Instituto  o  sr.  conselheiro  Duarte  de  Azevedo 
convida  os  seus  companheiros  de  directoria  para  receberem- no 
e  apiesentar-lhe  as  boos  vindas. 

Estando  também  annunciada  a  próxima  visita  do  sr.  Gu- 
glielmo  Ferrero,  ficam  os  srs.  dr.  Torres  de  Oliveira  e  Rodolpho 
von  Ihering  encarregados  de  o  receberem  á  sua  vinda. 

Em  tempo :  Também  a  proposta  referente  ao  dr.  Hosannah 
de  Oliveira  foi  dispensada  egualmente  de  interstício  e  parecer, 
sendo  por  isso  logo  acclamado  o  novo  sócio. 

Do  que,  para  constar,  eu,  Rodolpho  von  Ihering^  em  íunc- 
ção  de  2.**  secretario,  lavrei  a  presente  acta. 


—  706  — 

Decima  quinta  scssilo  ordinária,  cm  IO  de  Outubro 

de  1007 

Pbbsidbncia  do  8r«  dr.  M.  Pbrbiba  Guimahâbs 

Aos  19  dias  do  mês  de  outubro  de  1907,  ás  7  1/2  boras  da 
noite,  á  rua  G>  neral  Carneiro,  1-Â,  onde  tem  sua  sede  o  Insti- 
tuto Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo,  sob  presidência  do 
sr.  dr.  Manoel  Pereira  Guimar&es,  secretariado  pelos  srs.  dr.  José 
Torres  d«  Oliveira  e  Rodolpho  von  Ibering,  presentes  ainda, 
além  dos  acima  nomeados,  os  srs.  sócios  J.  O.  Gomes  Ribeiro, 
G:  Yonng,  Âsf»is  Moura,  Leôncio  Gurgel,  Ernesto  Goulart,  é 
declarada  aberta  a  sessão. 

Tendo  sido  lida  a  acta  da  sessão  anterior  e  posta  em  dis- 
cassfto,  é  a  mesma  approvada  sem  debate,  por  unanimidade. 

O  expediente  que  em  seguidi  é  relatado  pelo  sr.  1.**  secre- 
tario consta  de  variadas  publicações,  periódicos  e  jornaes,  agra- 
decendo o  sr.  presidente  taes  oflertas. 

Passando-ue  á  ordem  do  dia  o  sr.  dr.  Pereira  Guimarães 
offerece  ao  Instituto,  em  nome  do  sr.  Augusto  Siqueira  Cardoso, 
um  manascripto  da  lavra  deste  sr.,  versando  sobre  a  genealogia 
de  sua  familia — Nogueira  Cardoso ;  a  oíFerta,  cujo  valor  é  bem 
comprehendido,  o  Instituto  a  recebe  com  especial  agrado. 

O  sr.  presidente  apresenta  ainda  três  orçamentos  de  preços 
para  a  construcç&o  do  edifício  próprio  qun  acabavam  de  ser  rece- 
DÍdos  e  que  são  os  dos  srs.  dr.  M.  Hebl,  na  importância  de 
87:372$213,  Pugliesi,  68:138$000,  e  Kleinscbmidt,  73:500$000. 
Como  a  directoria  deverá  resolver  sobre  o  assumpto,  o  sr.  pre- 
sidente convocA  a  sua  reunião  para  o  próximo  dia  22,  ás  2  horas 
da  tarde,  lembrando  ao  meumo  tfmpo  que  a  25  de  outubro  de- 
verá ter  logar  a  sessão  extraordinária  de  encerramento  dos 
trabalhos  deste  anno. 

Pelo  sr.  dr.  Arthur  Vautier  foi  apresentado  ao  Instituto  o 
balancete  de  receita  e  despesa  correspondente  aos  meses  de  julho 
a  setembro ;  fíca  o  mesmo  sobre  a  mesa  para  ser  estudado  pelos 
sn.  consócios. 

E'  lido  ainda  um  officio  do  nosso  illustre  compatriota  dr. 
Manoel  de  Oliveira  Lima,  em  que  este  agradece  a  sua  eleição 
para  sócio  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo, 
externando  ao  mesmo  tempo  seus  pensamentos  altamente  lison- 
jeiros   sobre  esta  associação 

Tem  a  palavra  o  sr.    dr.    Torres  de  Oliveira,  que    participa 

âue,  por  occasião  da  recente  visita  do  sr.  Barão  do  Rio  Branco, 
^e  apresentou,  em  nome  do  Instituto,  as  homenagens,  como  fora 
encarregado  ao  se  saber  que  viria  a  S.  Paulo  o  nof:so  Ministro 
dos  Estrangeiros,  que  o  Instituto  se  vangloria  de  ter  como  presi- 
dente honorário.     O  sr.  Rodolpho    von  Ihering  (az  igual  decla- 


^  706  — 

ração  com  relação  ao  eminente  historiador  Guilherme  Ferrero 
que  tarahem  visitam  eata  capital.  Á  amboa  o  sr,  presidente 
agradece  seus  honá  officÍo&. 

Como  tivesâe  conbecimento  do  fallecimento  dos  i1  lustres 
consocioA  ar.  Fernando  de  Albuquerque  e  dr,  Julíus  Meili,  o 
afaiziado  autor  doâ  prei^toso^  livros  sobre  nuiaismatica  brasileira, 
o  ar.  prendente  pede  que  a  casa  externe  o  seu  pe^ar  mandando 
lançar  um  voto  neste  sentido  em  suaa  acta*,  proposta  que  é  una- 
nimemente approvada, 

Lembia  ainda  o  sr,  presidente  que  o  Infltituta  n&o  conta  com 
um  orador  oflficíal  que  pronuncie  o  discurso  que  na  sessão  nifiq^oa 
de  X.°  de  novt^mbro  dev^erá  ser  [n'oferido,  pelo  qne  fíede  que  se 
proceda  á  eleição  do  mesmo.  Como  nào  é  apresentada  nenhuma 
indicação,  o  sr,  presidente  lembra  o  nome  do  diurno  consócio  si\ 
Jo&é  Hy  poli  to  da  Silva  Dutra  e,  posta  a  votos  essa  propoBtaj  é 
a  mesma  unanimemente  approvada, 

O  Br*  Leôncio  GurtrcI  RxcasoE-se  por  não  poder  continuar 
na  leitura  de  seu  trabalho  hii^torico,  ctlerece,  porém,  o  roanus- 
cripto  para  ser  impresso  na  Eevhta  do  IníiiUutOf  do  que  o  *r, 
presidente  pede  a  commissão  de  rodacçào  ae  encarregue, 

O  ST.  dr.  Pereira  Guiraaràes  declara  que,  querendo  ainda 
modificar  parte  do  seu  et- tudo  sobr©  a  vi  Ha  de  S.  André  da  Borda 
do  Cam]io,  n?iO  pôde  fai&í-r  a  leitura  do  mesmo* 

Nada  inais  havendo  a  tratar,  ó  encerrada  a  sessão,  pedindo 
o  81*.  presidente  o  comparecimento  doa  era,  consócios  á  sessfto 
próxima,  extraordinária,  de  encerramento  dos  trabalhoâ  deate 
annOr  a  25  de  outubro. 


Decima  $«extn    seS^So    ordinária,  4^in  í±5    de    outubro 

de    It»07 

FllBSlDEÍtCIA   DO   EXM,    BR*    CONSELHEIRO   DtTAUTB   I>B  AZEVEDO 

Aoa  25  dia»  do  mês  de  outubro  de  1907,  áe  7  '/*  horas  da 
noitt^,  no  edifício  da  rua  General  Carneiro  n,  1-A,  onde  funccioua 
õ  Instituto  Histórico,  achando-se  preeenfes  os  sócios  ars,  con&e- 
IhêiTO  Manoel  António  Duarte  de  Az^^vedo,  dra.  Manoel  Pereira 
Guimarães,  Edmundo  Krufr,  Arthur  Vautier,  Torres  de  Oliveira, 
commii^o  secretario  interino,  lavrando  a  presente,  foi  aberta  & 
sesE&o , 

O  sr.  presidente  com  mu  nica  que,  se  achando  na  sala  ímme~ 
díata  o  novo  sócio  ar.  Lellis  Vieira,  nomeia  os  ars.  dra.  Pereira 
Guimarfies  e  Árthur  Vautíer,  para  ÍatroduzÍl-o  no  recinto.  E* 
inÈroduzido  o  novo  confrade. 

Em  seg:uida  o  sr.  secretario  faz  a  leitura  da  acta  da  geasfto 
paaaadaf  que  é  approvada* 


^ 


—  707  — 

O  sr.  president©  faz  vartai  considerações  f  elucidaudo  as  pro- 
posta!^ apresentadas  por  diversos  engenheiros  para  a  couf tracção 
do  edifício  social,  e  diz  que  a  directoria  continna  a  estudal-os, 
devendo  durante  as  próximas  férias  do  Instituto  resolv^er  sobre 
as  propostas,  assi^nar  a  escriptura  e  começar  as  obras. 

E'  aceito  o  oferecimento  do  sócio  sr,  dr*  Edmundo  Krug 
para  fiscalizar  as  obras,  tendo  o  sr.  presidente  agradecido  essa 
gentileza . 

Fede  a  palavra  o  sr.  dr.  Kru^  e  declara  ficar  penhorado  pela 
prova  de  confiança  que  o  Instituto  lhe  deu,  aceitando  o  leu 
oferecimento,  accrescentando  que  envidará  todos  os  «eua  esforços 
para  estar  na  altura  de  bem  corresponder  a  es&a  confiança. 

O  sr.  presidente  lembra  que  existem  ainda  diversas  quantias, 
destinadas  á  cotistrucç^o  do  edifício  social^  para  serem  arreca- 
dadas. O  ST.  dr.  Vautier  pede  a  palavra  e  communica  que  o  sr. 
dr.  Alfredo  de  Toledo,  membro  da  commissão  encarregada  de 
angariar  donativos  para  aquelle  fím,  lho  sctentifícára  que  ainda 
existe  mais  de  três  contos  de  rõia  (1)  para  serem  teeebidofl,  O 
sr.  tliesonreiro  foi  encarregado  de  ultimar  o  recebimento  dessas 
quantias. 

Silo  recebidas  diversas  obras,  folhetos  ©  revistas,  O  ar. 
presidente  faz  oíTerta  ao  Instituto  do  aeu  recente  trabalho  Con- 
trovérsias JuridicaSf  e  de  um  interessante  documento  que  è  a 
acta  autbentica  da  ses^ílo  de  22  de  dezembro  de  1829,  do  Con- 
selho Geral,  aasignada  por  Diogo  António  Feijó  e  Manoel  Joa- 
quim Orne  lias. 

As  offertas  sao  recebidas  com  especial  agrado, 
O  8T.  secretario  1ê  um  parecer,  asaigoado  pelos  srs.  drs, 
Luís  Gonzaga  da  Silva  Leme,  João  Moraes  e  Leôncio  Gnrgel 
íobre  a  obra — Pindamanhangaba  (Apontamentos  históricos,  geo- 
frraphicoft  etc),  da  lavra  do  sócio  correspondente  sr.  Athajde 
Marcondes.  O  sr.  presidente  diz  que  o  parecer  será  publicado  na 
Revistai  visto  ser  este  uma  liomonagem  aos  mentos  da  obra 
daquelle  confrade. 

Não  havendo  mais  nada  a  tratar,  o  sr.  presidente  convida 
os  ara*  socics  presentea  para  a  próxima  seâsiio  solemne,  que  se 
realizará  no  dia  1  /  de    novembro   próximo,  e  encerra  a  sese&Oi 


II)  Ns  «em^d  de  ?0  4«  ntiril,  cdido  canitft  dâ  THpectlTH  icta,  &  comisiAo  píir 
tut^rmedío  de  Dm  de  sfiUA  memhroi  k^xlilhia  um  r«!^ibo  do  S^ívilK^SiKX)  pii«aAdQ  pelú  %v^ 
dr.  tliPioiirolto  e  que  reprçsfTítA  4  Ipnport.iiidiv  da*  quaDtln»  nté  entfto  nrrÈoiitBdta  © 
Kpregt^ntoD  nni^-v  lliu  doa  subi^crlptorei^  doa  quaes  AludA  alo  ilnhmm  «Ido  r^cebldju  aa 
tootribalçCíje  iutrgnndn,$  n%  ImporUncli  total  de  ^i^&QSTimr,  pjirA  %iie  em  temii^o  no  pro* 
ctdesse  ao  respectivo  rc^ccbrmcnto. 


—  708  — 
Aeta  d«  «íet$is5o  magna    »    1 ."  d«  novemhro  de  1  90T 

PREâlDHNCÍÀ    DO    SR.    00£9SBLHBlRO     D  U ARTE    DO    ã&7»D0 

A  1.*  de  novembro  de  1&07,  á  ma  General  Carneiro,  1-A,. 
onde  tem  Bua  eéde  o  Instituto  Histórico  e  Geo^apbico  de  São 
Paulo,  com  presença  de  nnmero&ofl  gocíob,  exmas  sraa,,  ajudan- 
te de  ordens  do  sr.  secretario  da  Justiça^  cônsules,  commisBÔes 
de  sociedades  e  maia  convidados^  no  salão  nobre,  engalanado^ 
lealiza-ee  a  sessão  magna  commemorativa  do  decimo  terceiro 
anniversario  áo  Instituto,  ás  8-  horas  da  noite. 

O  sr.  presidente  conselheiro  Duarte  de  Azevedo^  tendo  con- 
vidado a  secretaríal-o  os  srs,  dr  José  Torres  de  Oliveira  e  Ro^ 
dolpho  TOn  Iberíngf  dedara  aberta  a  sessão  e  logo  d^nig^na  os 
ars.  sócios  dr«.  Alfredo  de  Toledo  e  Couto  de  Magalbàed  a  In- 
troduzirem no  recinto  o  illuatre  iionsocio  dr.  Oliveira  Lima,  mi- 
nistro plenipotenciário  do  Brasil  em  Caracas  e  distinto  bomem< 
de  letras,  presente  na  ante-sala.  Ao  entrar,  com  sua  exma, 
eonâorte,  no  salAo,  a  asiiâtencia  prorompe  em  ralorosos  applau- 
sos  e  o  sr.  dr.  Oliveira  Lima  toma  asãento  em  logar  distinto 
na  mesa  da  directoria. 

Em  eloquente  cillocuçào  o  sr.  presidente  commemora  os  tra* 
balhos  e  a  toarcba  do  Instituto  no  anuo,  cujos  trabalhott  acabam 
de  ser  encerrados  e  congratula- se  com  os  i Ilustres  membros^ 
dessa  elevada  corporação  scientica.  Saudando  o  i Ilustre  hospede 
6  consócio  dr.  Oliveira  Lima,  o  sr.  presidente  põe  em  relevo  a 
honra  e  a  Batisfação  que  ao  Instituto  ad vinham  com  a  presença 
de  tâo  illustre  homem  de  letras  á  seg&âo  com  memora  ti  va  do- 
13,"  anniversario  do  Insfiiinlo. 

Em  seguida  pede  e  obtém  a  palavra  o  dr«  Couto  de  Ma- 
galhães qu(5  em  breve  discurso  salienta  os  mentos  do  extn.  sr, 
dr.  Oliveira  Lima  quer  como  diplomata  quer  como  escriptor  e 
conferencista,  que  tem  reivindicado  perante  a  historia  a  juate 
apreciação  de  d.  Joáo  VI  e  José  Bonifácio. 

A^radecendc^  as  referencias  á  sua  pessoa,  o  dr.  Oliveira  Li^ 
ma  affirma  o  atto  conceito  em  que  tem  o  Instituto  Historieo  ô- 
Geographico  de  S.  Paulo  e  a  con»ideraçÃo  que  tributa  á  soa 
Mevinta^  gue  elle  considera  a  mais  brilhante  entre  as  sua  cooge^ 
neres  do  pais. 

Dada  a  palavra  ao  orador  official,  sr^  J.  Hypolito  da  Silva,, 
este  desenvolve  em  beltissima  oração  o  panegyrico  dos  coneocios 
fallecidos  durante  o  anno  de  1907  ;  em  palavras  repasaadas  da 
mais  emcera  saudade  e  de  justa  homenagem,  o  eloquente  ora- 
dor relembra  od  trabalhos  e  as  individualidades  dos  iltustres  so^^ 
cio»  ora  mortos;  dr.  Augusto  César  de  Miranda. Azevedo,  activo, 
e  dedicado  vice-presidente  do  Ibstituto,  Paulo  Egydio  de  Oli- 
veira Carvalho,  Lafayette  de  Toledo,  conselheiro  Rosendfr  Apri* 
^io    Araújo    Guiznaràes,    Haymundo^  Penna forte  do    Baoramanto* 


—  709  ~ 

TBlack,  Fernando  Albuquerque,  Julius  Meili  e  César  Bierren- 
bach.  Âo  terminar,  o  orador  recebe  vivos  applausos  e  as  con- 
rgratulações  pelo  bello  trabalho  de  toda  a  assistência. 

Em  -seguida,  o  sr.  presidente  dirige  ainda  uma  saudação 
final  aos  companheiros  de  trabalhos  no  Instituto  e  em  especial 
agradece  a  exma.  esposa  do  sr.  dr.  Oliveira  Lima  a  honra  de 
-seu  comparecimento  á  sess&o  do  Instituto. 

Encerrando  a  presente  sess&o,  o  sr.  presidente  previne  que 
a  próxima  reuni&o  deverá  ter  logar  aos  25  de  janeiro  de  1908, 
«para  inicio  dos  trabalhos  do  Instituto  no  anno  vindouro  de 
.1908. 

Do  que  para  constar,  eu,  Rodolpho  von  Ihering,  em  funcção 
•de  2.**  secretario,  lavrei  a  presente  acta. 


DISCURSO 

Proferido  pelo  orador  oílicial  sr.  Híppolyío  da  Silva,  na  £eSí!o  magaa 
realizada  a  1."  de  Dovembro  de  1907 


Senhor  Fre^identer  minhas  senhoras  e  meãs  senlioreB  : 

Nao  fôrft  a  obrigaçílo  imperiosa  de  obedecer  ás  vossas  deter- 
tninaçuea  e  dar  ao  meu  espirito  atribulíido  pelas  contingeneias  dn 
Tiver  quotidiano  a  tranqiiiilidade  Èuav©  e  doce  da  coQsciencia 
após  a  satisfaçào  do  dever  cumprido,  e  eu  certamente  me  nâo 
abalançaria  á  temeridade  de  appareeer  nefita  tribuna  para,  como 
interprete  de  vossos  sentimentos,  traduzir  o  jubilo  de  todoâ  noa 
na  commemoraçáo  d©  raaia  um  auni versado  do  Instituto  Histórico 
e  Geographico  de  S,  Paulo,  evocando  ao  mesmo  tempo  as  çoin- 
bras  venerandaft  de  noasos  consócios  falleejdoí  deade  o  en^:er- 
ramonto  de  noesoa  trahalhia  do  anno  passado.  Voasa  extrema 
benevolência,  porém,  perdoar-me-á  bí  a  palairra  descolorida  © 
obscura,  passando  pelos  meus  labioa,  vos  parecer  sem  bntho  e 
Bem  calor,  habituados  como  estaes  á  magia  da  expiessílo  de  tanto» 
oradores  illuatres  que,  com  proficiência,  tem  deaempenhado  eata 
dolorosa  missão  de  íallar-voa  daqiielles  que  se  foram  para  o  paiz 
desconhecida  de  onde  nenhum  viajor  t^olíou  ainda^  (1)  mns  que, 
entretanto,  fecundaram  a  terra  com  o  trabalho  infellectual,  fa- 
zendo brotar  nella  o  gérmen  do  amor  pelo  estudo  das  investi- 
g'açÔes  hístoricaa  e  scientíiicas  com  que  os  homens  se  vão  da  lei 
da  morie  libertando.     (2) 

à  morte  !> ,  Simples  transformação  chimica  operada  no  la- 
boratório da  natureza,  nfto  pude  a  morte  attingir  o  espirito,  a 
almAj  a  accntelha  divina  com  que  o  Creador  illuminou  por  dentro 
as  euas  creaturas,  toruando-as  transparentes  através  a  opaci- 
dade da  matefia.  Kssa  ecentelha,  emanada  directamente  do 
creador  dos  mundos,  nào  pôde  deixar  de  aer  immortal  como  o 
supremo  foco  de  que  dimana,  porque  o  contrario  seria  admit- 
tirmoa  que  a  poeira  dos  cemitérios  tenha  o  poder  de  auiquillar 
a  ficintillaç&o  das  almas,  quando  nem  a  poeira  luminosa  da  Via 
Láctea  conseg-ue   interceptar  as  fulgurações  dos  ostros. 

Conta-nos  o  enyagelho  de  S.  Lucas  que  um  discípulo  de 
Jeius,  antes  de  o  seguir,    pediu -lhe    licença  para  voltar  a  uasA 


I 


M^    Bb&lcaspCftra,  IJamht.  act.  Til,  icea.  L 
(2J    C» raiei,  LuMíadaa,  Cjujt.  I,  est.  11. 


^ 


—  TU  — 


aêtn  de  enterrar  seu  páe  que  faltecéra.  Jesua,  vendo  neste 
pedido,  Dão  &  deter minaiijão  d^i  piedade  illial,  m&s  uma  hesitação 
e  um  pretexto  para  recuar,  reflpondeti-lhe :  cDeixae  os  mortos 
enterrar  os  mortos^  mas  íde  e  annutictae  o  reino  de  Deus>>  (1) 
Estas  pa]avrag  de  Jeeua  costumam  ser  commumente  appHcadas 
paru  signifícar  que  é  preciso  cuidar  doa  vivos,  sem  nos  demorar- 
mos com  o  que  jâ  nâo  erisu%  Seria  tHo  reatrictíi  o  pensamento 
do  Divino  Mestre?,.,  ou  qui/  elle  indicar  que  BO  deixasse  á 
matéria  transitorm  a  pregervação  de  fi  própria,  mas  que  noi 
preocciupassemos  com  o  reino  do  espirito,  o  reino  ã^&  alma&j  o 
reino  da  immortalidade,  o  reino  de  Deus? 

Por    isso  é  que    Victor    Hug^o,    nos   arrebatamentos    de  seu  i 

génio,  nos  voos  prodisriosos  de  sua  imapnaç%o;  pantlieista  pela  . 

forma  admirável  porque  cantava  a  Naturexa,  fazendo  derivar 
delia  a  harmonia  do  Universo  e  toda  a  seiva  fecunda  da  terra ; 
ehríit&o  pela  alma,  cheio  de  crença  6  de  amor  pelas  virtudes  de 
Jetus,    cuja    doutrina  seguia,    pregando  a  Paz»   a    Ctomeneia,  a  i 

BondaJe,  o  PerdAo,  todas  ae  virtudes  que  elevam  as  atmas  para  r    ' 

Deus  í  Victor  lln^-o,  dizia  eu,  conheiíedor  daa  velhas  theogoniaa 
das  quaea  se  aprnvt^itou  bastas  vezes  para  enriquecer  a  Arte 
nas  iul^uraçoes  diamantinas  de  seus  versos,  revoltava-se  eoijtra 
o  materialismo  que  nos  aprt^sentava  a  desconto! adora  eaperau^a 
do  Nai>a  apÓ3  a  morte ;  e  elle,  que  combatia  no  cathoUcismo  o 
facto  da  peraonifiuaçí^o  do  Espirito  do  Mal  na  figura  do  Diabo, 
exclamou  assombrado  em  ura  de  seus  popmaa  de  combate  i  «  Toma 
este  Nada,  Ahysmo,  e  dá-nos  Satíma^s !»     (0) 

Era  a  affirmnçíío  de  seu  espiritualismo,  a  crença  na  vida 
futuni,  a  convicção  da  imraortalidade  da  alma! 

Em  Gueraesey,  na  pitloresca  vivenda  de  llauteville-house, 
liavia,  na  sala  d©  j^iutar  do  pofita,  á  cabeceira  da  mesa,  uma 
vasta  poltrona  onde  ninguém  se  poderia  sentar,  porque  era  ve- 
dada por  uma  cadeia  do  ferro. 

Por  cima  da  poltrona  lia-se  a  seguinte  inscripção:  *Les 
àbn^ntit  Font  hU,  (3)  Victor  Hugo  via  alli  a  sombra  dos  ante- 
passados presidindo  as  refeições  d«  familia, 

Senhores,  a  mim  se  me  afigura  que  também  no  pórtico 
desta  cam  se  poderia  mandar  inscrever  o  lemma;  Les  abáenii 
mni  ici,  porque  a  siia  memoria  não  uos  abandona,  e  cada  um  de 
nós  recebe  neste  cenáculo  o  sopro  vivificante  que   os   animou,  e  I 

sentimos  sobre  a  cabeça,  como  apóstolos  continuadores  de  ana 
obra,  as  scentelhaa  fulgurantes  de  suas  almas.  1 

Um  coraç&o  sereno  i 

Nunca  tem  medo  á  morte. » .  * . 


ftf    B.  Luea»»  Etangtlho,  Cap-  LX.  ver.  5&-B0, 

{i£)    Victor  Bu^o,  tietigionê  it  r*HqiQ*,  paff 

i^aj    Cftfi  Mctfir  MuçOt  par  un  pattftntf  )íiM,  ^^Q*  i^^- 


—  712  — 

Quando  uma  lousa  cáe  sobre  um  cadáver  mudo, 
Dizem  «tudo  acabou...»  B  priucipia  tudo. 
De  uada  vale  o  brouze  e  a  lapide  marmórea; 
Alguém  a  vae  partir;  o  alguém  chama-se  a  Historia.  (1) 

* 

4e  * 

Mal  tínhamos  encerrado  os  nossos  trabalhos  de  1906,  quando 
nos  chegou  noticia  do  fallecímento  do  nosso  sócio  correspon- 
dente, dr  Autoiíio  da  Cunha  Barbosa,  occorrido  no  Rio  ae  Ja- 
neiro, a  25  de  Outubro  daqueiln  anno.  Bacharel  em  letras  pelo 
coilegio  Pedro  II,  e  medico  formado  pela  Faculdade  de  Medi- 
cina do  Rio  de  Janeiro,  o  dr.  Cunha  Barbosa,  após  haver  exer- 
cido a  profissão  com  muito  devotamente,  teve  necessidade),  devido 
a  seu  precário  estado  de  s&ude,  de  abandonar  o  exercicio  da 
carreira  medica.  Dedicou- 8«  exclusivamente  a  estudos  litterarios 
que  sempre  cultivara,  legando  ás  lettras  algumas  narrativas  de 
viagens  e  memorias  historiccS,  trabalhos  apreciáveis  que  revelam 
muita  observação  e  conhecimentos  valiosos,  notadamente  as  que 
se  referem  aos  tempos  coloniaes  e  que  publicou  sob  os  titules 
A  arte  brasileira  colonial  e  A  litteratura  brasileira  colonial. 

O  dr.  Cunha  Barbosa,  amigo  íeivoroso  da  instrucçào,  pres- 
tou ao  Brasil  assign alados  serviços  na  creação  de  museus  e  bi- 
bliothecas,  fazendo  jús  a  merecidos  encómios  de  nacionaes  e 
estrangeiros  pelo  seu  constante  labor,  honestidade,  esforço,  pro- 
bidade e  elevadas  aspirações. 

Descendiíi  de  abaetada  familia,  e  apezar  de  haver  merecido 
distincções  honoríficas  pelos  serviços  que  prestou  a  seu  paiz,  e 
de  tanto  haver  trabalhado  pelas  lettras,  foi-lhe  a  sorte  madrasta, 
íallecendo  aos  50  annos  de  edade,  muito  infeliz  e  muito  pobre, 
Quando  occupava  modestíssimo  emprego  subalterno  na  repartiç&o 
do  Archivo  Nacional. 

E&te  nosso  illustre  consócio  era  egualmente  membro  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro,  da  Sociedade  de 
Geographía  do  Rio  de  Janeiro,  da  Academia  Cearense,  do  Ins- 
tituto Geographico  Argentino  e  de  outras  associações  scientificas 
da  America. 

Não  se  escoara  ainda  na  ampulheta  do  tempo  o  anno  de 
1906,  quando,  poucos  dias  após  o  encerramento  de  nossos  traba- 
lhos daquelle  anno,  passamos  pelo  amargurado  transe  de  ver 
desapparecer  para  sempre  o  vulto  de  nos60  sócio  effectivo  dr. 
Paulo  Egydio  de  Oliveira  Carvalho,  que  trocara  o  convívio 
humano  pela  paz  serena  do  tumulo,  no  dia  8  de  dezembro. 


(1)    Querra  Junqueiro,  A  morti  dê  D.  João,  pag.  44. 


—  713  — 

Ck>ntava  63  annos  de  edade,  pois  nascera  a  2  de  setembro 
de  1843,  na  cidade  do  Bananal,  tendo  por  progenitores  Manoel 
Francisco  de  Carvalho  e  d.  Maria  Senhorinha  de  Oliveira.  Com 
o  auxilio  de  monsenhor  Paiva  Rios  e  de  algumas  famílias  im- 
portantes, conseguiu  fazer  os  necessários  preparatórios  e  matri- 
cular- se  na  Faculdade  de  Direito,  recebendo  o  grau  de  bacharel 
em  Bciencias  sociaes  e  jurídicas  em  1865. 

Durante  seu  tirocinio  académico,  o  moço  Paulo  Egydio  fize- 
ra jús  á  estima  e  consideração  de  seus  coUegas  pela  sua  intelli- 
gencia  e  applicaçào  aost  estudos,  sendo  eleito  orador  do  Institu- 
to sdentifico  dos  Estudantes  conservadores ^  e  collaborador  effecti- 
vo  da  Imprensa  académica^  fundada  em  1864. 

Depois  de  formado  dcdicou-se  loro  ao  desempf^nho  dos 
misteres  de  sua  profissão:  foi  para  a  Limeira,  onde  exerceu  a 
advocacia. 

Em  1870,  mudou- se  d  ifini  ti  vãmente  para  esta  capital  onde 
contrahiu  núpcias  com  d.  Elisa  Ribas  de  Carvalho,  sobrinha  do 
saudoso  paulista  dr.  Peixoto  Gomide. 

Fazendo  parte  da  redacção  do  Diário  de  8.  PaulOy  folha 
politica  de  grande  ponderação  e  nomeada,  de  propriedade  do 
coronel  Paulo  Delfino  da  Fonseca,  e  que  era  brilhantemente 
dirigida  pelos  drs.  António  Prado  e  Rodrigo  Silva,  revelou- se 
logo  conservador  por  tradição  e  por  idéas,  mas  conservador 
muito  liberal.  Tomou  parte  activa  na  politica  paulista  e  foi 
eleito  deputado  á  Assembléa  Provincial  em  consecutivas  legisla- 
turas de  1870  a  1879. 

Na  Assembléa  Provincial,  o  dr.  Paulo  Egydio  assignalou-se 
brilhantemente,  conquif>tando  os  louros  de  orador  eloquente  e 
instruido,  e  enriquecendo  os  annaes  da  Assembléa  com  muitas  e 
apreciáveis  orações. 

«  O  merecimento  de  suas  producções,  diz  um  seu  biogfapho, 
caminhou  sempre  em  grau  ascendente ;  porque  jamais  deixou 
de  cultivar    o  espirito  por   estudos  scientificos  e  lite  rarios. 

Entregara- se  ha  muito  com  paixão  a  estudos  sociológicos, 
publicara  excellentes  trabalhos  sobre  Direito  e  Sociologia  e, 
abrindo  cursos,  fazendo  conferencias,  ia  cultivando  o  seu  talento, 
a  ponto  de  por  mais  de  uma  vez  ter  sido  citado  com  elogio  o 
seu  nome  na  Reuue  Internacionale  de  Sociólogie^  de  René 
Worms,  com  quem  elle  seguidairente  se  correspondia  ». 

Devemos  estar  lembrados  de  que  o  anno  de  1888  foi  o  de 
maior  perturbação  politica  e  económica,  já  pela  abolição  do  ele- 
mento servil  a  13  de  maio,  já  pela  propaganda  republicana  que 
rompera  todos  os  diques  e  avassallara  todo  o  paiz.  Paulo  Egydio 
calmo,  reflectido,  aguardava  os  acontecimentos,  prevendo  o  des- 
moronamento da  monarcbia  e  escrevendo,  mesmo  no  Correio 
Paulistano^  diversos  artigos  mostrando  que  o  advento  republicano 
se  tornava  uma  necessidade  em  face  dos  graves  acontecimentos 
que  então  se  desdobravam  na  gestão  dos  negócios  públicos  do  paiz. 


—  714  ^ 

O  ãr,  Paulo  E^^ydio  de  Oliveira  Carvalho  era  um  esjjintQ 
Cdttno  ê  desapaixonado,  extrenianiente  boadoao,  e  no  desempenho 
do  mandato  de  Senador  do  Estado,  para  que  fora  eleito  em  1894 
©  reeleito  em  190D,  pode- se  dizer  que  morreu  uo  seu  poato,  pola 
ainda  na  véspera  de  sua  morte  apresentava  ao  Senado  uni  pro- 
jecto de  lei,  como  membro  da  Commissào  de  llyg^iene  daquella 
casa  do  Cong^re^fio, 

Cbego  a  um  doa  pontos  toais  dolorosos  desta  necrologia, 
lembrando- vo 3  a  data  luctuosa  de  13  de  marejo  de  1907,  cm  que 
a  cidade  de  S.  Paulo  foi  abalada  com  o  passamento  do  dr.  Au- 
gufeto  Cesar  de  Miranda  Azevedo,  mm  doa  fundadores  deste  Ins- 
tituto, de  que  era  sócio  beoemerito  peloa  in apreciaríeis  serviços 
que  Ibe  prestou,  o  que  como  seu  vice-presidente  assina  ai  ou  a 
SUB.  paBsag"em  por  esta  casa  pelo  amor,  pela  dedicação,  pelo 
trabalbo  assiduo,  infatig'avel,  fecundo,  de  sua  intelligencia  eisclft- 
recida,  de  seus  profundos  conlicciínentos  s^ientitieos,  da  admirá- 
vel Incidez  c  íigudessa  de  seu  espirito. 

Quem  vos  tala,  senhores,  teve  a  ventura  de  conhecer  inti<- 
mamento  Miranda  Azevedo  nos  últimos  vinte  annos,  de  ser  seu 
companheiro  de  luetíis  na  aboHçfto  e  na  propagandarepablicana  ; 
de  abraça l-o  com  lagrimas  de  jubilo  noa  dias  do  triumpho  ;  de 
sentir  e  chorar  com  elle  as  dores  da  Pátria  naquelles  horriveia  e 
tenebrosos  diaa  em  ípie  a  Dictaduni,  em  nome  da  salvpçfio  do 
Estado,  premiava  a  dedica<;ao  e  o  amor  á  Liberdade  mandando 
os  republicanos  aprender  a  amar  a  Republica  em  regiões  inhos- 
pitas,  «cm  parag^ens  onde  as  senleuças  de  morte  nào  encontras* 
sem  testemunhas».  (1)  Pc<sso  afiirmar-vos  que  a  grande^ta  de  sua 
alma  e  a  bondade  de  seu  coração,  nAo  acharam  neiradores,  mesmo 
entre  es  que  tinham  a  impiedade  do  somente  exaltar-lLe  os  mé- 
ritos para  posarem  a  cannibalesca  satisfacçHo  de  morde  l-o  nos 
afTectos , 

De  sua  dedicação  como  ami^:»^  como  medico  e  homem  de 
aciencia,  fâllem  aquellea  que  as  divergências  da  politica  âzeram 
leus  ínimig^os,  e  que,  apezat  dissi>,  confiavam  de  seu  saber 
a  salvação  de  entes  queridos  que  se  debatiam  nas  vascas  da 
morte.,,  para  recompen*ar-]he  mais  tarde  oa  cuidadas,  com  faseel-o 
odientamente  caminhar  como  um  bandido,  em  horas  tardas  da 
noite,  entre  alas  de  soldados  de  armaa  embaladas,  levando  sua 
maleta  ao  hombro,  desde  os  cárceres  da  Detenção  até  a  Estação 
do  Norte,  caminho  do  Tribunal  Militar. 

Nâo  tenho,  senhores,  o  direito  de  reviver  em  vossa  memo- 
ria, desprezíveis  lembranças  de  ura  passado  qne,  por  honra  da 
Pátria,  devem  ficar  extinctas  e  apngadas  em  nossa  historia  poli^ 


(tj    Kuy  BArbúia<-o  Eâíado  de  Stííat  pAg»  £08  'n  jf^iti. 


1 


—  715  — 


ticA.  Darci,  pof  kso,  tré;;^uas  ao  seniímento  que  me  levarin,  para 
ÍAllar-iTóâ  de  Mlrnnda    Azevedo,  á    eloquência    óí\&    le^rrimas.  *. 

O  dr.  Miranda  Azevedo,  que  contava  cincoenta  e  sein  anoos, 
era  natural  de  Sorocabítj  onde  nasceu  a  10  de  Outubro  de  I8i)l, 
sendo  seus  paea  o  iUustre  ma^ktrado  dr«  António  Au£;:u&tr>  César 
de  Azevedo  e  d-  Anna  Eufr^uíiia  de  Miranda  Azevedo.  Oíícupa» 
na  historia  dopartído  republienno  um  lo<;ar  eminente,  poiâ  foi  um 
doE  principaeâ  auxiliares  na  reuiuào  doa  mais  impoi-Cantefi  ele- 
mentos radícaes  para  a  fundação  do  partido,  com  Limpo  de  Abreu, 
Kan^jel  Peâtatia,  Pamploua,  João  de  Almeida  e  tantos  outros, 
vivendo  contiiiuaniente  ligado  á  propaganda.  Delle  se  pode 
dizer  que  ma  ki^toria  é  a  liUtoria   da  Kepublíca,  antes  da  pro-  i 

clamaçÃo,  ' 

Quando  voltou  da  Europa  o  st.  d.  Pedro  de  Alcântara, 
quando  os  amioos  do  HEaiMicN*  fe^stejayah    o    ri<:que^ro  do  mo-  j 

NARCUA,  Miranda  Aisevedo  tez  tiotaval    conferencia^    tio    Theatro  1 

Miaerva^  hoje  SaiUAnna,  Bobre  tua    raoleatiaj    mostrando    que  o  ; 

estado  mental  do  imperante    impossibilitava- o    de    estar  á    testa  ^ 

dos  negócios  públicos;  e,  no  penúltimo  Congresso  Republicano, 
1887,  apresentou  uma  viação  qua  determinava  a  attitnde  activa 
que  devia  tomar  o  partido,  ]>repftraiido'se  para  combater  contra 
a  probabilidade  do  3.°  reinado. 

Foi  nm  dos  fundadoroa  da  Sociedade  Promotora  de  Irami- 
graçÃo  e  da  Sociedade  de  Medicina  de  S,  Paulo. 

Eiíi  15  de  Novembro  de  1869^  fez  parte  da  coroniis*&o  que 
foi  a  palácio  convidar  o  governador  Couto  de  Magiilliães  a  en- 
tregar o  governo  ao  coronel  Mursa. 

Organiison  a  Secretaria  da  Camará  dos  Deputados  e  lançou 
os  primeiros  fundamentos  da  sua  bibliotbeca. 

Envolvido  commigo  e  outros  republicanos,  em  março  de 
1892,  em  uma  conspiração  tramada  por  ura  bnndido,  destes  que 
yiyem  a  explorar  a  inépcia  dos  <^overno&  dominados  pelas  paixões 
em  épocas  revolucionarias;  (conspiraçfio  sobre  a  qual  estou  reu-^ 
niudo  elementos  para  apresentar  ao  Instituto  memoria  que  ser- 
virá de  licçào  a  fu turoJí  ^'-overuos,)  emquanto  eu  e  o  dr^  Joté 
Luiz  Flaquer»  meu  collef^a  da  Constituinte  republicana,  intcrníiva- 
xnonos  pelas  maltas  de  S.  Bernardo  em  busca  da  serrado  Cubatão, 
abandonando  iutereBfies,  amigos  e  família,  escorraçados  e  tiinidoB 
como  doía  malfeitorefi,  dormindo  em  barracas  armadas  á  pre^ssa, 
no  seio  da  matta  virg-em,  em  leito  de  folhas  de  palmeiras,  sob 
a  inclemência  da  cbuva,  do  ventD  e  dos  insectos,  Miranda  Aze- 
vedo íoi  preso  quando  tranquillamente,  pela  matibâ,  visitava  seus 
doentes,  e  recolnido  á  detenção,  com  outroi  presos,  até  que  foi 
removida  para  o  Rio  de  Janeiro,  para  impetrar  uma  ordem  de 
haheíiif-rorpuaí,  ©  de  onde  sò  voltou  livre  pela  amnistia  de  20  de 
Abril  do  me^mo  anuo,  que  nos  restituiu  a  liberdade  i 

De  regresso  aos  lares,  graças  á  magnanimidade  da  dictadura,  ' 

que  teve  a  lucidea  precisa  para  conhecer   onde  terminava  o  di- 


—  716  — 

reito  e  onde  começava  a  perseguição  pelo  ódio  politico,  asBU- 
mimofl  immediatamente  posição  aggressiva  na  FedercL^o^  jornal 
opposicionista,  que  acabou  pela  intervenção  patriótica  do  povo 
indignado . 

Não  sei  si  08  meus  collegas  desta  casa,  ou  algum  investi- 
gador curioso,  descobriu  já  as  origens  desse  corpo  amorpbo,  reco- 
nhecendo a  efficacia  de  sua  intervenção  na  vida  politica  dos 
povos . 

Pela  minha  parte,  devo  confessar  que,  em  50  annos  de  vida, 
apenas  curvei-me  á  evidencia  de  sua  apparição  no  planeta,  quando 
reconheci  que  effecti vãmente,  após  a  Republica,  elle  existia  em 
todas  as  cidades  e  villas  do  interior,  pelos  telegrammas  e  noti- 
cias qne  nos  chegavam  das  tropelias,  deposições,  arruaças,  em- 
pastellamentos  e  outras  barbaridades,  sempre  commettidas  pelo 
povo  indignado.  A  policia  deixou-o  penetrar  nesta  Capital,  não 
sei  si  por  malicia  ou  perversidade  astuciosa :  o  facto  é  que  a 
única  válvula  por  onde  se  podia  expandir  a  opposição  foi  des- 
truida^  e  os  seus  frangalhos  atirados  á  rua. 

Foi  então  que  fundei  o  Autonomista,  apoiado  no  braço  forte, 
e  na  penna  adamantina,  de  Martim  Francisco,  um  implacável 
revolucionário  contra  tudo  que  não  fosse  Honestidade,  Liberdade 
e  Justiça. 

Miranda  Azevedo  não  podia  sopitar  os  Ímpetos  de  suas 
aspirações  pelo  bem  da  Republica:  veio  comnosco,  e,  assiduamente, 
collaborou  no  Autonomista,  e  mais  tarde  na  Opinião  Nacional^ 
não  tomando,  como  dizia,  parte  activa  na  vida  desta  folha,  porque 
não  queria  maguar  seu  chefe  e  amigo  dr.  Américo  Braziliense 
sobre  a  questão  da  opportunidade  da  bandeira  do  parlamentarismo. 

Em  julho  de  1893  foi  agradavelmente  sorprehendido  com  o 
officio  do  ministro  do  Interior  que  o  nomeava  para  representar 
o  Brazil  no  8.**  Congresso  Internacional  de  Hygiene  e  Demo- 
graphia  de  fiudapesth. 

Miranda  Azevedo  desempenhou  essa  commissfto  de  maneira 
brilhantíssima,  merecendo  calorosos  louvores  não  só  da  imprensa 
brasileira,  como  dod  principaes  jomaes  europeus. 

Seguindo  depois  para  Yienna,  ahi  fez  parte  do  Congresso 
de  médicos  e  naturalistas  allemães,  e  depois  foi  nomeado  pelo 
governo  Federal  para  representar  o  Brasil  no  3.**  Congresso  dos 
Accidents  du  Travail  que  funccionou  em  outubro  na  cidade  de 
Milão,  sendo  ahi  eleito  vice-presidente  de  uma  dai  sessões,  e 
trabalhando  efifectivamente. 

Desejoso  ainda  de  estudar,  percorreu  quasi  toda  a  Itália  e 
França,  visitando  Universidades,  laboratórios,  hospitaes  etc.,  re- 
lacionando-se  com  as  maiores  summidades  medicas  e  ouvindo  soas 
licções,  sendo,  em  janeiro  de  1895,  encarregado  pelo  governo 
do  Estado  de  S.  Paulo  de  estudar  a  questão  do  Serum  anU» 
diphterico  e  o  methodo  Roux  para  a  cura  da  diphteria. 


—  717  — 

No  sen  regresso  a  S.  Paulo  foi  eleito  deputado  estadual,  e, 
terminado  o  mandato,  viu  seu  nome  suffragado  para  representar 
8.  Paulo  no  Congresso  Federal. 

Deixou  a  actividade  politica  no  fim  do  governo  do  sr.  dr. 
Campos  Salles,  regressando  a  esta  Capital,  onde  se  dedicou  de 
novo  á  clinica. 

Miranda  Azevedo  era  lente  de  uma  das  cadeiras  da  nossa 
Faculdade  de  Direito;  e,  como  um  dos  sócios  fundadores  desta 
casa,  seu  nome  está  para  sempre  perpetuado  nas  paginas  de 
nossa  Revista,  por  onde  se  pode  aquilatar  quanto  carinho,  quanta 
dedicação  lhe  merecia  o  Instituto  Histórico  e  Geographico  de 
8.  Paulo. 

Por  occasiào  da  visita  com  que  nos  distinguiu  recentemente 
o  illustre  diplomata  dr.  Joaquim  Nabuco,  Miranda  Azevedo, 
que  se  achava  gravemente  enfermo,  fez  um  esforço  inaudito  e, 
abandonando  o  leito,  foi  saudar  o  eminente  brazileiro  no  sal&o 
da  Faculdade. 

Finalmente,  Miranda  Azevedo  teve  uma  vida  utilissima  na 
•ciência,  na  politica,  no  jornalismo  e  na  tribuna,  e  a  «ua  morte 
representa  uma  verdadeira  perda,  porque  muito  havia  ainda  a 
esperar  da  actividade  do  seu  espirito. 

Seu  maior  elogio  está  nas  palavras  com  que  o  Diário  Po- 
pular noticiou  a  sua  morte:  «foi  uma  existência  bem  trabalhada, 
mais  para   beneficio    dos  outros  do  que  para  interesse  próprio*» 

Morreu  pobre...  mas  legou-nos  um  thesouro:  a  sua  me- 
moria imperecivel,  até  que  a  Republica  se  lembre  de  pagar-lhe 
no  bronze  de  um  monumento  o  muito  que  lhe  deve,  de  origem 
e  de  existência. 

Desessete  dias  após  a  morte  de  Miranda  Azevedo,  novo  lucto 
vinha  pezar  sobre  nós  :  outro  sócio  fundador  acompanhava  na 
morte  aquelle  que  lhe  dedicava  tanto  afiecto,  a  quem  todos  nós 
votávamos  ddmiraçào  e  estima,  e  que  fora  também  meu  corre- 
ligionário e  companheiro  na  abolição  e  na  republica. 

Refiro-me  a  Lafayette  de  Toledo,  fallecido  a  29  de  Marco, 
em  Casa  Branca,  onde  era  solicitador  provecto  e  conceituada 
influencia  politica.  Nascera  na  cidade  de  Araxá,  em  Minas  Ge- 
raes,  aos  12  de  Novembro  de  1865,  contando  por  conseguinte  42 
annos  de  edade. 

Aos  14  annos,  quando  já  cursava  as  aulas  de  latim  e  írancez, 
morreu-lhe  o  pae,  capitão  António  Augusto  de  Toledo,  ficando 
sua  familia  em  extrema  pobreza.  Laffayette  de  Toledo  fez-se 
auxiliar  de  guarda- livros,  trabalhando  em  casas  commerciaes, 
mas  estudando  sempre.  Só  em  1890  abandonou  a  carreira  com- 
mercial :  fez-se  solicitador  no  foro,  exerceu  cargos  públicos  de 
confiança  politica,  e  viveu  sempre  vida  de  imprensa,  na  qual  foi 
um  luctador  valente,  coUaborando  em  vários  jornaes. 


^  718  — 

A  D08?a  Revista  (l)  publicou  utua  interPissantissírtia  J/^mom 
Jilttorica  da  Imprensa  Paulista  desdô  1827  ató  18%,  devida  á 
sua  penca,  fíizendo  a  ii  o  me  n  cintura  de  todos  os  jornííes.  rovistaa  e 
periódicos  publicados  até  então,  traballio  digno  do  encómios  pelg 
seu  f^ratide  valor  híitonco  ©  pelas  muitas  noms  elucidativas  que 
o  11  lustram. 

« 

Outro  acontecimeuto  loctuoso  que  nos  encheu  de  profanáo 
pe?ar  fci  o  passamonto  de  noaso  socio  Lonorano,  conselbeiro  Ro- 
Hcudo  Aprií^io  Pereira  Guimarães,  occorrído  a  li  1  de  Maio,  na 
cidade  da  Babía,  de  cuja  Faculdade  de  Medicina  era  lente  apo^ 
Èsntado , 

Filbo  do  coronel  João  Baptista  Pereira  GuimíirUee  e  de  d, 
Auna  Jíar^^arida  Correia  de  Araújo  Gnimíiràof,  nascera  o  con- 
aelliciro  Kostíudo  a  2  de  Jantjiro  de  182G  na  entíio  villa  de 
Maragofíipci,  Matriculou-se  eia  1844  tia  Faculdade  de  Medicina 
da  Babiíi,  e  era  1849,  concluia  seus  estudoii,  entrando,  três  annos 
mais  tíirde,  para  o  corpo  de  saúde  do  Exercito,  sendo  reformado 
em  1SG5,  no  posto  de  primeiro  cirurgião- capitão. 

Como  attt^^tiidos  brilhantes  de  seu  talento  e  conheclmentas 
Bcientiíicos,  deixou,  entre  outras  obras  qwe  escreveu,  um  eicel- 
lente  Tratado  de  chhnica. 

O  comei heiro  Rosendo  Guimarãea  nâo  era  simplesmeute  um 
medico  iliustre  e  um  mestre  proficiente  versado  em  lodos  os 
ramoB  da  littenitura  scientifica :  foi  também  um  patriota  exem- 
plar quo  bem  mereceu  do  Brazil. 

Esteve  nomo  medico,  na  guerra  de  Paraguay,  de  onde  bó 
regreasou  em  1870,  depois  de  baver  cooperado  para  que  os  tro- 
pheus  da  victnria  engalanassem  as  arma»  biasileiras.  Era  agra- 
ciado com  o  titulo  de  cnnfelbeiro  e  cavalheiro  de  Aviz,  tendo 
falkcldo  o  velho  e  benemeiibo  luctador  aos  81  anãos  de  edade. 

*  * 

Que  vos  direi,  senbores,  de  Kay mundo  Pennatorte  do  Sacra- 
mento Blat^k,  nOfBo  socio  eftectivo,  íalleddo  em  Jundiahy  a  *i9 
de  Maio,  que  nllo  vol-o  hajam  dito  o»  seus  trabalhos,  nomeada- 
mente aqnelles  com  que  hrnrou  a  nos^sa  Hevͣta  y  [*!)  Occupando 
elevada  posição  duraute  o  Império,  defsempeohou  importantes  com- 
misiões,  tendo  feito  parte  da  directoria  da  E,  F.  Central  do 
Brasil,  como  engenheiro    distinctis^imo    que    era.     Muito  atlavel 


(1)    RtUêiu  io  Instituía  Híêíorica  t  0§ographkA  de  S.  r\suio,  1fí98,  Tfll,  lU,  paf. 

t?y       Jteitiia  do  Instituto  fíiftoricQ  i  QtosTQpkicti  d*  S.   Pattlo^  VoL   II.    PJIÇ,    3â   fl 
«1 .     (L8&e-lbV7) 


—  710  — 

no  tracto,  caracter  bondoso,  o  nosso  illustre  consócio  era  ultima- 
mente fazendeiro  em  Jundiaby,  causando  seu  passamento  o  mais 
YÍvo  pesar  a  todos  os  que  conhecíamos  seu  talento,  illustração 
e  virtudes. 

* 

Antes  de  chegar  ao  termo  desta  dolorosa  jornada  através 
do  Campo  Santo,  devo  dizer-vos  algumas  palavras  sobre  as 
individualidades  de  Fernando  41burquerque,  nosso  sócio  efiectivo, 
e  Júlio  Meille  correspondente. 

De  Fernando  Âlburquerque.  fallecido  a  24  do  Setembro,  sei 
que  alliava  á  bondade  de  coração  um  caracter  de  elevado  quilate. 

Nascido  na  cidade  de  Santos,  e  filho  de  uma  distincta  famí- 
lia, o  dr.  Fernando  de  Âlburquerque  foi  um  dos  primeiros  brasi- 
leiros que  foram  estudar  nos  Estudos  Unidos,  onde  se  formou  na 
Universidade  de  Easton,  na  P^^nsylvania. 

Conheci-o  em  1887,  em  casa  do  dr.  António  Bento,  no  pe- 
ríodo mais  agudo  do  abolicionismo,  de  que  era  uni  devotado 
caiplíás. 

De  temperamento  modesto,  o  dr.  Fernando  de  Albuquerque 
era,  entretanto,  um  homem  activo,  tendo  publicado  desde  os  tempos 
de  estudante  ])aniphlet08  de  propaganda  do  Brasil  no  estrangeiro. 

Amigo  do  povo  e  da  instrucção,  r^o  foi  indifferente  ao  mo- 
vimento opeiado  no  ensino  do  nosso  E>tado  pelo  governo  repu- 
blicano, concretisando  a  sua  dedicaç&o  á  nobre  causa  que  se 
iniciava  na  doaç&o  de  um  pre^lio  para  tunccionaniento  da  Es- 
cola Maria  José,  desta  capital.  Foi  mordomo  da  Santa  Casa  de 
Misericórdia,  onde  deu  provas  do  seu  espirito  caridoso  e  cheio 
de  iniciativa,  estendendo  a  sua  acção  generosa  ao  Hospital  Sa- 
maritano, que  muito  deve  aos  seus  esforços. 

JuIío  Meille,  fallecido  em  Zurich  a  27  do  mesmo  mez,  foi 
um  dedicado  cultor  das  artes  e  um  numiemata  abalizado. 

Este  nosso  consócio  nascera  em  llettingem,  cantão  de  Zurich 
na  Suissa,  em  1839,  o  viera  para  o  Brasil  em  1870,  dedicando- 
se  ao  commercio  e  exercendo  as  funcções  de  Cônsul  da  Suissa 
durante  alguns  annoF,  regressando  á  »ua  pátria  em  1893. 

Em  1902  retirou-se  da  vida  commercial,  consagrando  toda 
a  sua  actividade  á  numismática,  tendo  publicado  um  interessante 
livro  acerca  de  moedas  e  notas  do  Brasil,  o  mais  completo  que 
até  hoje  tem  apparecido.  Ultimamente  tinha  um  proficiente  es- 
tudo sobre  medalhas  brasileiras,  e  estava  tratando  de  ultimar 
esse  trabalho,  quando  foi  colhido  pela  morte. 

A  Universidade  de  Zurich,  pelos  excellentes  trabalhos  por 
elle  apresentados  sobre  estudos  numismáticos,  conferiu-lhe  o  grau 
de  doutor,  em  maio  doste  anno, 

O  velho  numismata  desappareceu  dentre  os  vivos  aos  68 
annos  de  idade. 


—  720  — 

Intencionalmente,  senhores,  alterei  a  clironologia  desta  re- 
senha luctuosa,  reservando  para  ultima  figura  desta  galeria  de 
mortos  illustres,  o  volto  de  Jo&o  César  Bueno  Bierrembach,  nosso 
Bocio  correspondente,  fallecido  no  Rio  de  Janeiro  '\  2  de  Jnlho. 
A'quelle  moço  illnstre  ligavam-me  laços  da  mais  profunda  admi- 
ração e  sympatbia,  e  em  verdade  vos  digo  que  sen  nome,  sea 
talento,  seu  amor  pela  Pátria,  pela  Familia  e  pela  LiberHade, 
honram  não  fó  a  cidade  de  Campinas,  seu  berço,  como  a  nacio- 
nalidade brasileira. 

Níisceu  a  7  de  abril  de  1872  sendo  seus  progenitores  o  ca- 
pitão João  António  Bierrembach,  notável  riograndense,  e  d.  Ma- 
ria Clementina  Bueno  Bierrembach,  natural  de  Piracicaba,  oriunda 
de  antiga  estirpe  que  se  prende  a    Amador  Bueno  da    Ribeira. 

Fez  o  curso  de  preparatórios  no  Culto  a  ScienciOf  em  Cam. 
pinas,  concluindo-OB  depois  no  CoUegio  de  5.  Luiz,  em  Itú, 
matriculando-se  em  seguida  na  Faculdade  de  Direito  de  S.  Paulo. 

Generoso  e  enthusiasta  pelo  estado  e  pelas  glorias  do  Bra- 
sil, algum  tempo  depois  de  formado,  vinjou  por  quasi  toda  a 
Europa,  não  lhe  esquecendo  ir  vêr  o  seu  genial  conterrâneo 
Carlos  Gomes,  na  Itália:  e  durante  nove  annos  a  idèa  dominante 
de  César  Bierrembach  era  con-^agrar  a  homenagem  de  Campinas 
áquelle  que  se  illustron,  que  illustrou  o  seu  paiz  e  até  a  America 
toda,  no  mundo  da  Arte.  Nove  annos  de  luctas  tenazes,  intimas 
e  publicas,  mas  sem  jamais  se  afínstar  um  ponto  ddsse  ideal. 

E  o  amor  de  César  Bierrembach  pelas  glorias  de  seu  berço 
natal  ficou  assignalado  desde  o  dia  em  que  elle  promoveu  a 
collocação  de  uma  placa  na  frente  do  prédio  n.  51  da  rua  Re- 
gente Feijó,  em  Campinas,  local  onde  outr'óra  existia  a  casa  em 
que  nasceu  Carlos  Gomes. 

Por  occasião  de  sua  morte,  o  dr.  António  Baptista  Pereira,  se- 
gundo secretario  da  Legação  do  Brazil  e  que  ultimamente  serviu 
na  conferencia  da  Paz  em  Haya,  escrevia  a  um  amigo  commum  : 

«Eu  o  conheci  bem .  Era  um  bom,  um  irreprehensivel,  um 
puro.  Tinha  todas  as  delicadezas  femininas  aquelle  rapaz  alto, 
magro,  canhestro  e  anguloso...  Sua  velha  mãe,  alquebrada  e 
cega,  tinha  nelle  a  mais  carinhosa  das  filhas  e  Antigone  nunca 
teve  com  o  velho  pae,  a  quem  faltava  também  a  luz  dos  olhos, 
mais  carinho,  e  solicitude,  e  dedicação,  do  que  o  César  com  a 
sua  mãe.» 

E  explicando  sua  morte  : 

«A  hyper-sensibilidade,  tão  fecunda  naquelles  que  a  domi- 
nam, e  que  é  mesmo  sjmpathica  no  excesso  de  visão  moral,  na 
macropsia  dos  poetas  e  dos  sonhadores,  essa  hyper-sensibilidade 
foi  talvez  que  o  matou.  Seu  systema  nervoso  deficiente  não 
lhe  permitiu  resistir.  E  um  dia  o  seu  cérebro  estalou  á  vi- 
bração continua  e  percuciente  da  idéa,  abysmandose  na  sombra 
caliginosa  da  insânia. 


—  721  — 

c  Esses,  porém f  que  qnizerem  accusar  o  erystal  do  nfto  ter 
podido  resistir  a  uma  cbamma  excessiva,  nfto  poderão  levar  a 
melhor  na  formaç&o  do  juizo  sobre  a  sna  memoria.  As  amisades 
de  Carlos  Gomes,  Eduardo  Prado  e  Rio  Branco  são  o  melhor 
doB  depoimentos  em  seu  favor.» 

Em  1900  foi  nomeado  lente  da  cadeira  de  historia  universal 
do  Gymnasio  de  Campinas,  e,  quando  morreu,  havia  precisamente 
dois  Hnnos  que  César  Bierrembach  vira  realisado  um  dos  maiores 
ideaes  de  sua  existência— a  inauguração  da  estatua  de  Carlos 
Gomes. 

Senhores,  o  elogio  histórico  de  César  Bierrembach  não  será 
feito  pelo  seu  conterrâneo  e  amigo. 

Peço>vo8  permissão  para  u^ar  das  palavras  de  um  artista, 
burilador  da  phrase,  ousando  esperar  que  <  oelh  >  Netto,  com  a 
sua  opulenta  e  fecunda  imaginação,  consinta  que  cu  engaste 
neste  discurso  as  jóias  de  fíuihsimo  lavor  e  elevado  quilate  con- 
tidas na  pagina  que  escreveu  por  occasião  da  morte  de  Bier- 
rembach.    Ouvi : 

€  Esse  miiço  que  rolou  na  sombra  onde,  tacteando  incerta- 
mente, só  achou  uma  porta  para  a  claridade— a  do  sepulcro — 
mettendo-se  por  ella  com  a  anciã  do  que  se  evade,  viveu  sempre 
pelo  cérebro.  Dia  e  noute  o  tinha  illuminado  imaginava. 
Corria-lhe  a  vida  num  sonho— o  mundo  exterior  era-lhe  indiffe- 
rente,  tinha  um  universo  no  cérebro  eàmaltado  das  mais  lindas 
flores. 

Amava ;  a  familia  era  o  seu  afíVcto ;  a  sua  religião  era  a 
Pátria ;  o  seu  ideial  a  grandeza  da  gente  latina,  dos  descendentei 
da  loba  do  Aventiuo. 

Quanta  vez,  encontrando-o  no  caminho  do  Gymnasio,  levado 
no  andar  ligeiro  de  quem  tinha  grande  pressa,  interrompi  os 
sonhos  do  seu  espirito.  Uma  aivore  em  flor,  o  sol  de  um  dia 
azul,  o  canto  de  um  pássaro  na  ramagem,  o  vôo  de  uma  bor- 
boleta, um  caipira  á  frente  dos  bois  carreiros,  a  languida  can- 
tiga de  uma  lavadeira  á  borda  dagua,  qualquer  motivo  da  natu- 
reza ou  da  vida  impellia-o,  de  repellão.  para  o  devaneio. 

Accendiam- se-lhe  os  olhos  azues,  despedindo  ascuas  como 
ferros  de  lança  ao  sol  e  a  palavra  viuha-lhe  fácil,  aos  bor- 
botões, cantando  a  terra — a  gloria  e  a  belleza  da  Pátria,  a 
sua  força,  a  sua  fecundidade,  a  sua  meiguice,  a  sua  bravura.  E, 
com  mão  firme,  em  gesto  decidido,  rasgava  o  veu  do  Futuro 
para  mostrai -a  deslumbrante,  agasalhando  nos  seus  campos,  far- 
tamente semeados,  gentes  de  todas  as  procedências,  com  as  suas 
varias  culturas  viçosas,  com  o  seu  gado  mugindo  e  balando  na 
exuberância  das  pasturas,  sob  o  clima  benigno  da  primavera 
perenne  que   nos  ameiga 

E  mostrava  as  cidades  eriçadas,  de  chaminés  desenrolando  o 
fumo  numa  faina  de  industrialismo;  e  os  portos,  apinhados  de 
navios,  e  o  sertão,  varejado  pelos  comboios;  e  além,  no  fundo  da 


—  72-2  — 

BcT^i'^.  SLTir.^r,  íU»  niAc^n:iaír*,  ainda  o  JeqTiçrlbi  'riiiL:-.>.  a^icdA 
a  aroeira.  AÍada  o  cedro  «scrra-ío.  ainda  o  \^z.\o  parpoieo  que 
legoa  ao  iiriAil  o  nome  narnme;ariíe. 

A  Pa'.-ia  e  a  Faoiilia.  '^rindrs,  msçníficoi  asi*-reO 

Xao  dormia.  O  somao  tiircara-o  ao  5*5nho.  As  hras  qa:etas 
da  TiCit-í  r*^«erva7A— »5  reíírioríinieale  para  a  coatempLição  doi 
astro*  do  c*;a  qaerido,  oa  r^^ra  a  leitura  e  a  e^oripta. 

í:*ír»tado  á  m.eãa  de  irab^Ibo,  era  cahr.s  c*  cnde  elle  tarara 
falgiir?.';'V"i,  ouvia  o  lento  baíer  das  noras  no  silencio,  e  o  sol 
encontra  vá -o  a  rever  nota-,  a  escrever  cartas,  a  redizir  procla- 
mações, a  coaãultar  mar-pa?.  Pobre  cei-ebro ! 

< iM^J.f^if-f  noticia  que  lhe  cbe^asse  com  relação  á  Pátria,  logo 
o  ajrirav?..  L'm  címmentario  dr»  im:-rensa  ex:ran.íreira  ?»>bre  o 
Brasil  j;rinha-o  frenético  ♦?  q:i.indo.  por  uma  oaesião  de  l.mites, 
CS  ânimos,  por  vezes,  eiaharam-se,  Bierremfcacli  tudo  esqueceu 
]>ela  Pátria. 

CUra  minhan.  beijando  respeitosamente  a  mSo  tremula  da 
velhinha  c-íra,  beijando  as  irmans,  partiu,  trazendo  no  coração  a 
cerfíza  de  que  nunca  mais  tornaria  áquelle  lar  amoroso,  porque, 
desde  o  jrim*íiro  momento,  votara  ?e  ao  each^cio  supremo  de 
morrer  pelo  Brasil. 

K'  oue  vira  a  guerra  accesa.  Fará  elle  a  neprociação.  habil- 
mente encaminhada  nelo  jrenio  dn  Kio  Branco,  nào  bastava.  A 
guerra  I  A  ;:uerral  Bandeiras  ao  vento,  lanças  em  riste,  carabinas 
apontadas,  r^anliòes  em  baterias,  p€Õ?s  e  cavalleiros,  milhares  de 
liomení  partindo  por  terra  e  mar.  através  das  ondas,  pelas  neves 
andinas  e  invadindo  o  território  da  nação  affrontosa,  para  tomar 
o  de.HÍorro  lieroico  que  exifria  o  melindre  brasileiro.     A  guerra I 

Concitaria  os  moços,  alistaria  toda  a  juventude  e,  á  frente 
delia,  al^^^TC,  desafiando  a  morte,  lá  iria  disputar  a  gloria  de  ser 
o  primeiro  a  cair  na  refrega,  si  nào  podesse  ser  o  primeiro  a 
proclamar  a  victoria. 

Ij  viveu  dentro  desse  delírio,  mezes.  Aqui  andou  pregando 
a  guerra.  Falou  eloquentemente,  escreveu  com  ardor  e,  em  toda 
a  j)arie  o  seu  vulto  esguio  apj»arecia  e  a  sua  palavra  troava. 

E  esse  devotamento  estendia-se  aos  homens  da  sua  terra. 

Quando  Carlos  Gomes  expirou  no  Pará,  Bierrerabach,  que 
adorava  o  grande  musico,  pensou  logo  em  transportar- lhe  o  corpo 
para  o  agasalhar  na  mesma  terra  de  Campinas,  que  lhe  fora 
berço.  Desde  que  formou  tal  projecto  até  o  dia  em  que  a  ci- 
dade, revestida  do  traias  funéreas,  recebeu,  por  entre  ala»  infantis, 
o  despojo  do  seu  filho  illustre,  Bierrembach  não  descançou.  Foi 
ao  presidente  da  Republica,  moveu  a  imprensa,  nppellou  para  a 
mocidade,  afervorou  o  povo;  abriu  subscripções ;  e,  depois  de  ver 
o  esquife  no  campo  sagrado,  pensou  em  trazel-o  para  a  praça, 
collocal-o  no  coraçAo  da  cidade,  como  um  sanctuario,  e  a  idéa 
do  monumento  apoderou-se-lho  do  espirito.  Pareceu,  a  princi- 
pio, uma  utopia;  entretanto,  lá  está,  erecta,  a  graude    prova  da 


—  723  — 

dedicação  do  amoroso  propagandista;  lá  está,  de  pedra  e  de 
brouze— o  altar  civico  sobre  o  qual  avulta  a  figura  viril  do  genial 
evocador  das  melodias  selvagens. 

E  o  Centro  de  Sciencias,  Lettras  e  Artes,  quo  é  boje  uma 
das  airgremiações  iiitelloctuaeB  mais  em  evidencia  no  Brasil,  quem 
o  ima«;inou  V  quem  o  fundou,  apezar  da  satjTa  e  do  apodo  V  o 
sonbador. 

Snntos  Dumont  mal  tocou  em  terra  brasileira,  logo  encontrou 
o  appello  de  Bierrembach  cbamando-o  a  Campinas.    Foi. 

Quando  o  aeronauta  saltou  na  estação,  o  moço  ardente,  co- 
brindo-o  de  flores,  mostrou-o  ao  povo,  saudando-o  como  «o  glo- 
rioso almirante  da  esquadra  aérea,  o  condor  d'America,  dominador 
do  espaço>.  E,  na  intimidado  do  meu  gabinete,  possuido  pela 
idéa  do  engrandecimento  do  Brasil  e  da  sua  begemonia  na  Ame- 
rica,  falou -me  dos  dias  futuros.  Travou«-nie  do  braço,  levou*me 
á  janella. 

A  noite  era  linda,  estrellada,  com  o  crescente  era  hemicyclo 
como  um  barco  cingalez  de  duas  proas  recurvas ;  elle  disse,  so- 
lemne,  mostrando-rae  os  astros; 

«Assim  andarão  lá  em  cima  as  nossas  naves,  ás  centenas, 
fortes  e  re>plandecentes,  rondando  o  mundo.  A  capitanea  na- 
vegará á  frente,  com  elle :  as  outras  seguirão  no  rumo  que  ella 
traçar...     E  a  Via  Láctea...?     Quem  sabe II» 

Eu  cncarei-o:  Estava  transfigurado,  falava  com  a  convicção 
de  ura  vidente,  o  braço  duramente  estendido,  o  dedo  hirto,  va- 
rando a  noite,  a  mostrar-me  os  astros,  este,  aquclle,  até  deter-se 
na  constellaçfto  tutelar  do  cruzeiro,  nosso  Brnzão  sydereo.  Via, 
via  dentro  da  noite  o  lindo  sonho  do  seu  patriotismo  exaltado.  Era 
assim. 

Pa^sou  pela  vida  sem  sentir  a  materialidade,  porque  só 
viveu  j)elo  espirito.  Tanto  exgottou  o  cérebro  para  illuminaros 
sonhos  que,  um  dia,  subitamente,  acbou-se  envolvido  em  trevas. 

Tinha  ainda  lúcidos  instantes  —  o  rescaldo  fagulhava  por 
vezes  e  foi  uma  centelha  que  lhe  mostrou  o  roteiro  trágico  a 
seguir  para  não  ficar  captivo  na  escuridão.  —  Não  hesitou  — 
arrojou-se  na  morte.  Houve  quem  tentasse  arredai  o  dessa 
eterna  miragem,  buscando  encaminhai  o  ])ara  a  realidade  —  elle 
reagiu,  debateuse  e  lá  se  refugiou  no  extaíe.  E  o  cérebro  a 
trabalhar,  a  crear  o  alimento  para  a  sua  alma,  dia  e  noite,  sem 
descontinuar  um  segundo. 

E'  assim  a  alma  dos  génios  ;  essa,  poiêm,  pousa  na  obra 
d'arte,  descança  compondo,  integrando,  e,  emquanto  trabalha,  dá 
tréguas  ao  devaneio.  A  alma  de  Bierrembach  voava  sempre  e 
tão  alto  subiu  que,  ao  sentir  a  fadiga,  procurando  apoio,  só  en- 
controu o  espaço,  o  vácuo,  «i  despenhou-se. 

AppoUo,  porque  has  de  confiar  teu  carro  a  Phaetonte?  o 
ideal  abraza  e  a  imaginação  é  coao  a  quadriga  fogosa  do 
plaustro  fulgurante — si  a  guiam  mãos  destras,  corre,  esplendida* 


—  724  — 

mente,  em  torno  do  zodíaco,  alumiando  o  mundo;  si  a  deixam 
tomar  o  freio  arroja-se  e  ai !  de  quem  vae  pelas  alturas. . .  Mi- 
sero  sonhador,  matou-o  o  sonho  1» 

* 
*  * 

Meus  senhores  e  minhas  senhoras,  perdoae-me  se  vos  fati- 
guei a  attençào,  dando  a  esta  apologia  proporções  demasiado 
longas. 

E'  que  ha  homens  de  quem  se  pode  dizer  como  Henrique 
ni  deante  do  cadáver  do  duque  de  Guize:  mortos,  parecem 
ainda  maiores  que  vivos;  e  eu,  sempre  que  vejo  naufragar  no 
oceano  da  vida  a  existência  de  um  homem  que  foi  útil  á  Pá- 
tria, á  sociedade  e  á  Familia,  oiço  nos  ares  a  harmonia  suave 
e  doce  da  canç&o  de  Ariel,  o  génio  da  tempestade :  ca  cinco 
hraças  de  fundo  jaz  seu  corpo :  seus  ossos  tomaram-se  coráes, 
pérolas  seus  olhos.  Delle  nada  se  perdeu  em  seu  tumulo ;  tudo 
nelle  experimentou  a  força  creadora  do  mar,  que  o  revôstiu  de 
uma  substancia  preciosa  e  nova...  De  hora  em  hora  dobram 
por  elle  as  nayades  ! »     (1) 


Que  descancem  na  paz  serena  do  tumulo  os  nossos  queri- 
dos mortos,  mas  que  seu  espirito  nos  illumine  e  guie  na  lenda 
do  Bem,  afim  de  que  sejamos  sempre  dignos  de  honrai -os  ve- 
nerando-lhes  a  memoria  ! 


(1)    Shakespeare,  La  Têmpête^  aoto  l.«,  Bcena  5.». 


RELATÓRIO 

•dos  trabalhos  e  occurrencias  do  Instituto  Histórico  e  Oeographico  de 

S.  Paulo  Qo  anno  de  1907,  apresentado 

pela  Dinctoria  na  sessão  de  25  de  janeiro  de  1908. 


Sn.  membros  do  Instituto  Histórico  e  Geographico  de  S. 
Taalo. 

Cumprindo  a  obrigaç&o  que  lhe  é  imposta  pelo  art.  16  8  5.* 
dos  Estatutos,  a  Directoria  do  Instituto  vem  apresentar-yos  hoje 
•o  relatório  dos  trabalhos  e  occurrencias  do  anno  social  de  1907, 

Administração 

A  directoria  que  reelegestes  na  sess&o  de  25  de  outubro  de 
1906,  funccionou  durante  o  anno  findo,  com  as  seguintes  modi- 
^caçòes : 

O  lugar  de  2.**  secretario  vago  com  a  renuncia  do  sr.  Dio-> 
njsio  Caio  da  Fonseca,  que  havia  mudado  de  domicilio,  ficou 
(preenchido  com  a  eleiç&o  do  sr.  Arthur  Goulart,  então  1.*  sup- 
plente  dos  secretários.  Para  o  lu^ar  deste  foi  eleito  o  sr. 
Dinamerico  Rangel,  2.^  supplente  e  para  esta  vaga  foi  eleito  o 
sr.  Eugénio  Alberto  Franco.  Estas  eleições  realizaram-se  na 
-sessão  de  5  de  fevereiro,  que  foi  a  primeira   ordinária  do  anno. 

Tendo- se  dado  a  vaga  da  vice-presidencia  com  o  fallecimento 
<lo  sr.  dr.  Miranda  Azevedo,  foi  eleito  para  este  lugar  o  sr.  Ma- 
noel Pereira  Guimarães,  então  1.^  secretario,  e  o  lugar  deste  foi 
preenchido  com  a  eleição  do  sr.  Couto  de  Magalhães.  Estas 
•eleições  tiveram  lugar  na  sessão  ordinária  de  5  de  abril. 

Tendo  sido  licenciados  por  longo  tempo,  a  pedido,  os  srs.  1.* 
e  2.°  secretários,  e  não  tenao  podido  comparecer  em  sessões  con- 
secutivas 08  respectivos  supplentes,  o  sr.  presidente,  na  sessão  de 
^  de  junho,  nomeou  respectivamente  1.'  e  2.**  secretários  interi- 
nos os  srs.  Torres  de  Oliveira  e  Rodolpho  von  Ihering,  que  des- 
empenharam esses  cargos  até  o  fim  do  anno  social. 

Também  o  lugar  de  orador  official  do  Instituto  foi  exercido 
interinamente  durante  o  anno  findo  pelo  sr.  Torres  de  Oliveira, 
por  estar  ausente  na  Bahia  o  respectivo  funccionario  sr.  Theodoro 
oampaio.  Na  sessão  magna  d«  I  de  novembro  funccionou,  por 
nomeação  do  sr.  presidente,  e  fez  o  elogio  histórico  dos  sócios 
(fiilleoidos  o  sr.  &^ppelite  da  Silva. 


—  72G  — 
Com  missões 


Na  seE9&o  de  5  de  fevereiro  foram  tiomeatlas  as  commis- 
eòes  permoneotea  que  tôni  de  lervir  darante  o  corrente  trienuío. 

Contiivuoa  a  funccionar,  com  o  fim  especial  para  que  foi 
creada,  a  conimisHàf>  encarregada  de  angariar  donati^^^os  para  a 
confitrucção  do  edifício  Boclal. 

Scsiiacs  e  tra bailios; 

Durante  o  anuo  realizaram- se  regularmente  IG  Eêssues  or- 
dinarifis  e  a  magna  de  1  de  novembro. 

No  correr  deltas  forom  apresentadog  ob  sepniintes  trabalhos; 

Na  d©  5  de  tnarço:  ApreciaçõÊtt  HúhrR  os  trabalhos  da  Com^ 
7nis8ão  Geoijraphica  e  Geúloffica  do  Estado  para  a  exploração  do 
sertão,  pelo  &r,  Eduardo  Loacbí. 

Na  de  5  de  abril  :  Urutus  do  Bra^ãt  pelo  Br.  Joaquim 
JoEc  de  Carvalho, 

Na  de  20  de  abril:  Homogeneidade  do  coniineíite  e  da  fauna 
da  Âw trica  do  Sul  e  estudo  cofãjxiraiívo  da  fiuna  ifularnericana 
com  a  dos  outras  continentes^  pelo  ar.  Hermaun  von  Iheriog". 

Na  mesma  o  dbs  seasões  de  20  de  Julho  e  20  do  agosto:  A 
Revolução  de  1842  pelo  sr.  João  B.  de  Moraes. 

Na  de  4  de  maio;  Â  Ribeira  dn  Iguap^fSuapotamographia^ 
]ielo  gr.  Edmundo  Knig,  eom  a  collaboraçao  do  ar.  Erneato  Gui- 
íheime  Yaung. 

NflB  de  &  e  20  de  junho :  Traducção  da  conferencia  feita 
peranie  a  Academia  das  Sciencias  de  Londres  peio  Duqu^  de 
Ahhruzzos  sobre  sua  ascençúo  ao  Monte  Ravenzzorij  pelo  ar, 
Eduardo  Loachi. 

Na  de  5  deafrostoi  Apontamentos  relatiuos  a  Âlêixo  Gartia^ 
pelo  tr.  Ernesto  G.  Young-. 

Na  de  11*  de  outubro;  Indígenas  da  America^  pelo  Br.  Leon- 
cio  do  Amaral  Gurgel. 

Picaram  inseri ptos  outroa  sócios  para  lerem  trabalhos,  que 
deverão  ser  apresentados  este  ano  o. 


DiTjUolltooa  e  aiH3liivD 

Como  nos  annoa  anteriores,  continuaram  a  afllaír  para  o 
Institttto  generosas  offVruia  de  livros,  fojhetoa,  jornaes,  revistas, 
medalhas,  ©tc^,  etc,  ealientando-sei  pelo  bcu  numero  e  valor,  as 
feitas  pelo  saudoso  dr.  Mirand*T  Azevedo  e  peio  Barào  de  Hezeude* 

Com  prazer  a  Directoria^  em  nome  do  Instituto,  dei^ia  aqui 
consignado  sou  reconhecimento  a  todos  os  que  por  est»  forma 
têm  contribuido  para  o  enriquecimento  de  suas  colieci^ues. 


—  727  — 

Revista 

Foi  distribuído  o  XI  volunoft  da  Revista^  achando-ge  já 
adiantada  a  impressão  do  XII,  que  deverá  ser  dístribuido  no 
corrente  auno. 

Sócios 

Durante  o  anno  foram  acceitos  14  sócios  effcctivos  e  18 
correspondentes.  De  acordo  com  a  deliberação  que  tomastes, 
foi  transferido  da  cathegoria  de  sócio  correspondente  para  a  de 
effectivo  o  dr.  Joaquim  José  de  Carvalho. 

Além  da  perda  irreparável  de  seu  vice-presidente  e  sócio 
fundador  benemérito  dr.  Miranda  Azevedo,  soífreu  mais  o  Insti- 
tuto, no  anno  findo,  a  de  seus  illustres  e  prezados  confrades : 
César  Bierrenbach,  Rozendo  Aprig;io  Pereira  Guimarães,  Paulo 
Egydio  de  Oliveira  Carvalho,  Raymundo  Peunaforte  Blacke, 
Lafayette  de  Toledo,  Fernando  de  Albuquerque  e    Júlio  Meili. 


Fiiianv»s 

No  orçamento  da  receita  e  despesa  do  Estado  continua  con- 
signada  a  verba  de  3;G0OÍ0OO,  como  auxilio  ao  Instituto,  assim 
como  continua  em  vigor  a  lei  municipal  que  concedeu-nos  o 
auxilio  de  2;0O0$OOO  aunuaes. 

Aos  dignos  e  illustrí^s  meníbro«  de  ambas  as  casas  do  Con- 
gresso E-itadual  e  da  Camará  Municipal,  que  por  esta  ftSrma 
manifestam  o  interesse  que  lhos  morece  a  nossa  útil  associação, 
testemunha  o  Instituto,  pela  sua  Directoria,  o  seu  vivo  reconhe- 
cimento e  a  sua  gratidão. 

Uma  deliberação  do  illustre  sr.  Síjcretario  do  Interior,  ex- 
tinguindo a  secção  do  obras  da  Kepartição  do  Diário  Official^ 
parece  que  vedará  ao  Instituto  a  publicação  de  sua  Revista  nas 
officinas  da  líiesma  Repartição,  como  acontecia  até  aqui.  Si  tal 
facto  se  verificar,  o  Instituto  opportunamente  tomará  a  delibe- 
ração, que  lhe  parecer  mais  acertada,  para    sup]>rir    essa    falta. 

Do  balan<;o  apresc^ntado  pelo  tbesoureiro  e  dos  documentos 
que  o  acompanham,  verificareis  o  extraordinário  grau  de  pros- 
peridade que  attingiram  as  finanças  do  Instituto. 

A  leceita  foi  de  27:637S700  e  a  despesa  de  8:244.'Í700,  ha- 
vendo, pois,  um  saldo  de  10:39H$OOO,  queunido  ao  de  23:186$90O, 
de  1Í1G6,  eleva-se  ao  total  de  42:570$900,  sendo  em  conta  cor- 
rente no  Banco  do  Commercio  e  industria  42:3243900  *,  em  mão 
do  tbesoureiro  do  Instituto  255$000. 

Ao  vosso  exame  a  Directoria  sujeita  o  balanço  e  as  contas 
do  anno  findo,  aguardando  a  vossa  deliberação  a  respeito. 


—  728  — 
EdiAcio  social 

Uma  Berie  de  medidas  de  previdência  e  economia,  que  de 
ha  tempoa  têm  sido  postas  em  pratica  pela  Directoria  do  Insti- 
tuto, coUocaram  a  nossa  associação  no  estado  de  grande  prospe- 
ridade financeira,  que  lhe  permittiu  pôr  em  execuç&o,  actual- 
mente, o  seu  antigo,  ardente  e  legitimo  desejo  de  construir  um 
edifício  próprio  para  realização  de  seus  trabalhos  e  sessões. 

E'  assim  que  a  actual  Directoria  tem  o  prazer  de  vos  com* 
municar  que  está  em  construcção,  no  terreno  para  esse  fim 
adquirido,  á  rua  Benjamin  Constant,  o  edificio  social  do  Instituto. 

De  acordo  com  a  auctorização  que  houvestes  por  bem 
conceder-lhe,  esta  Directoria  solicitou  de  vários  architectos  e 
conatructores,  plantas  e  orçamentos ;  estudou-os  com  o  maior 
empenho  e  escrúpulo,  em  diversas  reuniõt*s,  pi  estando  attenção 
não  PÓ  ao  lado  architec tónico  de  construcção,  como  ao  seu  lado 
financeiro,  e  acabou  por  firmar,  a  24  de  dezembro  próximo 
findo,  por  escriptura  publica,  o  contracto  que  ora  submette  a 
vossa  apreciação  e  julgamento.  Como  pnrte  deste  Relatório,  a 
Directoria  apresenta- vos  uma  certidão  aa  escriptura  do  contra- 
cto. O  empreiteiro  contructante  é  profisí^ional  de  reconhecida 
competência  e  probidade,  e  e^tá  devidamente  affiançado.  Os 
motivos  principaes  da  preferencia  dada  á  sua  proposta  foram  a 
commodidade  do  preço  da  construcção  e  a  sua  conformidade  com 
o  plano  do  edificio  projectado.  Como  vereis  do  balanço  apre- 
sentado pelo  sr  thesoureiro,  o  Instituto  não  está  actualmente 
habilitado  para  satisfazer  toda  a  importância  da  coustrucção. 
Como,  porém,  esta  levará  aproximadamente  um  anno  a  ultimar- 
se,  tem  o  Instituto  tempo  sufficiente  para  liabilitar-se  para 
efiectuar  as  ultimas  preí" tacões  ao  empreiteiro,  lançando  mão  das 
medidas  que  entender  mais  convenientes  para  esse  fim.  Assim, 
parece  que  ainda  não  pode  ser  dispensada  a  cooperação,  até  aqui 
tão  dedicada  e  eficazmente  prestada  pela  benemérita  coramissão 
angariadora  de  donativos.  Do  Congresso  Estadual  e  mesmo  do 
Federal  parece  também  ser  licito  esperar  qualquer  auxilio, 
attenta  a  relevante  operosidade  do  Instituto  em  suas  investiga- 
ções geographicas,  hi>toricas  e  ethnographicas  do  Estado  e  do 
Paiz. 

ConcIus.So 

Ta  es  são.  srs.  membros  do  Instituto  Histórico  e  Geographico 
de  S  Paulo,  os  factos  e  occurrencias  do  anno  findo,  os  quaes 
a  Directoria  entendeu  levar  ao  vosso  conhecimento,  estando 
prompta  a  prestar  quaesquer  outros  esclarecimentos  que  forem 
exigidos. 

S.  Paulo,  25  de  janeiro  de  1908. 

M    Â.  DuARTB  DB  AzBVBDO.  Presidente. 
Josâ  ToRRBS  DB  Olivbira,  1.*  Secretarío. 


—  729  — 

QUADRO    SOCIAL 

DO 

Instituto  Histórico  e  Geographico  de  S.  Paulo 
em  dezembro  de  1907 

I 

DIRECTORIA 

PresidenCo 

Conselheiro  dr.  Manoel  António  Doarte  de  Azevedo. 

Viço-  pre*í  i  dento 
Dr.  Manoel  Pereira  Gaimarfles. 

1  .•  Secretario 
Dr.  José  Vieira  Couto  de  Magalhães. 

2.^'  ScKsrctarie 
Professor  Arthur  Goulart. 

Orador 

Dr.  Theodoro  Sampaio. 

Thesoureiro 

Dr.  Arthur  Vautier. 

II 

PRESIDENTE    HONORÁRIO 

Barão  do  Rio  Branco. 

III 

so::ios  beneméritos 

Dr.  Carlos  Reis. 
»    Domingos  Josó  Nogueira  Jaguaribe. 
^    Orville  A.  Derby. 
»    Pedro  Augusto  Gomes  Cardim. 


—  730  — 
IV 

S0310S  HQNORAFIOS 

1  Dr.  Alberto  dos  Santos  Dumonl 

2  »    Alfredo  de  Brito 

3  >    Alexandre  J.  de  Mello  Moraes  Filho 

4  August  Heirrich  AVieman 

5  Conselheiro  Augusto  Carlos  Teixeira   de  Aragão 

6  Dr.  Aufrusto  Freire  da  Silva 

7  Barão  Homem  de  Mello 

8  >       de  Paranapiacaba 

9  »        »    Stndart 

10  Bellarmino  Carneiro 

11  Dr.  Benjamim  Franklin  Ramiz  GalvAo 

12  »    Bernardo  de  Azevedo  da  Silva  Ramos 

13  »    Clóvis  Beviláqua 

14  Conde  de  AíTonso  Celso 

15  Dr.  Duarte  Leopoldo 

16  Duque  dos  Abbruzzos 

17  Dr.  Emilio  A.  Goeldi 

18  »    Ernesto  Guilherme  Young 

19  >    Estevam  Leílo  Bourroul 

20  »    Felishello  Freire 

21  General  Francisco  Maria  da  Cunha 

22  D.  Fiederic  Kerner  Marilaum 

23  »    Frederico  Augusto  Lisboa 

24  Gabriel  do  Monte  Pereira 

25  Guilherme  Ferrero 

26  D.  Hevia  Riquielme 

27  Dr.  .1.  Barbosa  Rodrigues 

28  »    Jo&o  Capistrano  de  Abreu 

29  »       »      Ribfiro 

30  João  Vieira  da  Silva 

31  Dr.  Joaquim  A.  Nabuco  do  Araújo 

32  »  »  F.  de  Assis  Brasil 

33  »    John  C.  Branner 

34  »    José  Alves  de  Cerqueira  César 

35  »       »      Calmou  N.  Valle  da  Gama 

36  »    Manoel  Álvaro  de  Rou?a  Sá  Vianna 

37  Mrs.  Marie  Robinson  AVright 

38  Marquez  de  Paranaguá 

39  D.  Mathias  Alonso  Creado 

40  Dr.  Olintho  de  Magalhães 

41  General  Quintino  Bocayuva 

42  Padre  Raphael  M.   Galanti 

43  Dr.  Richard  Westtstein 

44  »    Silvio  Romero 


k 


46 

37 
48 
49 
50 
51 


—  731  — 

»    SáBviala  Guarch 

»    Thomáa  Garcez  Paraulioa  Montenegro 
Conselboiro  Tristão  de  Alencar  Araripe 
Dr.  Trísíào  de  AJeucar  Áraripe  Júnior 
D.   Veridiana  Prado 
Dr.  Vicente  Liberal iiio  de  Albuquerque 

1    Vicior  Schiffiíer 

V 


Soci<^  ci>rreii»|ion dentei    floinfc; ilidida»   fura  do  ICs^tudo 
«lo  S.   I*aulii  (*) 


S 
4 
5 
6 
7 
8 
9 

lo 
11 
12 
13 
14 
15 
16 
17 
18 
19 
20 
21 

n 

23 

25 
26 
27 

28 


NOMES 


D.  Abelardo  Yàrella. 
Á.  Ljifone  Quevedo  * 


Alberto  Ferreira  Uodri^aei- 
Dr.  Albino  Alvcs^  Fillio.      .      * 

»     Alfredo  de  Carvalho     » 
Alfredo  Ferreira  Rodrigues  • 
Dr.  Alfiedo  Varella ,     .     ,     . 
D.  Atidrés  Lupr-na    ,      ,     •     . 
António  AleiaiidrB  Borges  doB  Reis 
Dr,  António  Aaguato  de  Limai 
António  Carlos  Madeimi      •      • 
Dr.' António  Olinto  dos  Santos  Pirtis 
A r th nr  Ferreira  Machado  Guimarâea 
Beliaario  Pernambuco     ... 
Cândido  Costa      •      .      •     .      • 
Dr*   Carlos  M.  de  Góes  * 
»  »        Porto  Carreiro  . 

I  Damasceno  Vieira     *      .      ,      . 

I  Dr.  Daniel  Garcia  de  Acevedo- 

I  Elpidío  Leite 

!  Dr.  Ernesto  Qtiesada      .      • 
Coronel  Ernesto  Senua  ,      » 
Dr,  Eatevani  de  Mendonça  • 
FeU:£  Pacheco      •     •     •     •     • 
Dr-  Fernando  Caldeira  de  Andrada 
FiHnto  de  Almeida  *     «     #     # 
Dr.  Florentino  Ameghino    *      # 
Francisco  Gomes  de  Araújo  Gdes 


DATA    DB   AD.>ÍI^l0 


25 
20 

20 
5 
20 
20  I 

V 

20 

19 
20 

5 
20 

5 

4 

20 

I  25 

i  20 

5 
25 

5 

5 
20 
25 
20 
20 

5 

5 


ontnbro 

agosto 
outubro 
julho  - 
junho 
outubro 

» 
jalbo  * 

» 
abril  . 
julho « 

»     • 
setembro 

» 
abril  • 
outubro 

» 
fevereiro 
agosto 
outubro 
setembro 
maio  • 
setembro 
otitubro 

* 
setembro 
outubro 
março  • 


1901 

1902 
I90(i 

1904 
1906 
1906 
1901 
1905 
1903 
1902 
1907 
1901 
1902 
1901 
1901 
1906 
1901 
1904 
1905 
1904 
1904 
1903 
1905 
1901 
1902 
1902 
1903 
1902 


I*)  A  relaçfto  àot  ■úcIdi  elttíctiTDh  «  a  Aús  comtpondântu  coq  retidíoem  ao 
B«Udo  tk%&  tko  ar*  puttUcKdiit  por  depeaderem  úa  revisia  reMiWldft  oro  ícm^íú  de  t!'J  úb 
rsTerelrD  de  i307. 


—  732  — 


NOMES 


DATA   DB  ADMISSlO 


29  Dr.  Francisco    Gomes    de    Araújo 

Góes  Filho 

30  Coronel  Gregório  Thaumatnrgo  de 

Azevedo  

31  Dr.  Henrique  R.  Leang*    •     •     • 

32  Tenente  Henrique  Silva.    •     •     • 

33  Horácio  Nunes 

34  Dr.  Hosannah  de  Oliveira»     •     • 

35  »     Jaime  Darcy*     •     •     •     •     • 

36  »     João  Pandiá  Calogeras.     •     • 

37  »        »      Teixeira  Alvares.     •     • 

38  >     José  Américo  dos  Santos  •     • 

39  »        »      Arthur  Boiteux    •     •      • 

40  »        >      Carlos  Rodrigues.     •     • 

41  Major  José  C.  Sotto 

42  José  Francisco    da    Rocha  Pombo* 

43  Dr.  José  Pereira   do   Rego  Filho. 

44  9        >      Vieira  Fazenda    .     .     . 

45  D.  Juan  Ambrotetti.     •     .     •     • 

46  D.  Júlia  Lopes  de  Almeida.   •     . 

47  D.  Júlio  Vicuiia  Cifuentes.     .     . 

48  Dr.  Luís  da    Rocha   Miranda  (Ba- 

r&o  do  Bananal) 

49  »     Manotl  de  Mello  Cardoso  Ba- 

rata     

50  »     Manoel  de  Oliveira  Lima .     . 

51  Max  Fleiufts 

52  Dr.   Odwaldo  Pacheco  e  Silva  .     • 

53  Olympio  faranhos 

54  Dr.   Pablo  Bananchea    .... 

55  P.*        »      Hemandes    .     .      •     . 

56  Dr.   Rodrigo  Octávio  L.  de  Menezes 

57  Romario   Martins 

58  Dr.   Vicente     Ferreira    de    Barros 

W.   de  Araújo   •     •     .     •     . 

59  »     Vicente  Q.   Quesada    .     .     . 

60  »     Virgilio  de  Lemos  .... 

61  j  Viscondessa  de  Cavalcanti  .     .     • 


5 
5 
5 
5 

20 
5 

20 
4 

20 

25 
5 

20 
5 
5 

20 
5 

20 

25 


20 

5 

5 

5 

19 

20 

5 

20 

20 

5 

5 

25 

5 


março«     • 

setembro* 
outubro   • 

fevereiro* 
setembro* 
agosto.  . 
abril  .  . 
maio  .  * 
março.  • 
janeiro.  • 
setembro, 
março.  • 
setembro, 
junho.  • 
m:*rço.  • 
outubro  • 
setembro, 
outubro   . 

abril  .     4 

julho .  . 

abril  .  • 

março.  . 

abril  •  . 

outubro  • 

março .  • 

outubro  • 

» 

abril  .  * 

outubro  . 
setembro, 
outubro  . 
Agosto.   . 


1902 

1902 
1904 
1903 
1904 
1907 
1904 
1904 
1907 
]902 
1903 
1907 
1905 
1907 
1907 
1902 
1903 
1902 
1901 

1907 

1901 
1901 
J902 
1902 
1901 
19C5 
1904 
1903 
1906 

1904 
1904 
1904 
1905 


—  733  ~ 

VI 

Quudro  dos  sócios  acceitos  em  1906 


»5 

N0ME8 

CATEGORIAS 

DATA  DA 
ADMISSÃO 

1 

Dr.  Gustavo    de   Oliveira 

Godoy      

Effectivo      .     . 

5 

março 

2 

Dr.  João  de  Cerqueira  Men- 

des     .••.•• 

Correspondente. 

5 

» 

3 

General     Quintino    Boca- 

yuva 

Honorário     •     • 

20 

abril 

4 

Romario  Martins    •     • 

Correspondente  • 

20 

» 

5 

Dr.  Lamartine  D.  Nogueira 

da  Gama 

»      •     • 

20 

» 

6 

Otto  Weissflog.      .     .     • 

Effectivo       •     • 

5 

junho 

7 

Dr.  Alfredo  de  Carvalho  . 

Correspondente  • 

20 

» 

8 

Dr.  Carlos  M.  de  Góes    . 

»      •     • 

20 

outubro 

9 

Alfredo  Ferreira  Rodrigues 

»      •     • 

20 

» 

10 

Alberto  Ferreira  Rodrigues 

»       •     • 

20 

» 

11 

Dr.  Galdino  de  Siqueira    . 

»       •     • 

20 

» 

12 

Dr.  Rodolpho  vou  Ihering 

Efiectivo       .     . 

20 

» 

13 

Dr.  João  'Baptista  Reimão 

»              .     . 

20 

» 

14 

Coronel  António  Ludgero 

Sousa  Castro*     .     • 

»              •     • 

20 

9 

15 

Dr.   José  de  Freitas  Gui- 

marães    •     •     •     •     • 

»             •     • 

20 

» 

16 

Cónego  Joãx)  N.  Manfredo 

1    Leite 

»              •     ■ 

20 

» 

17  iDr.  Alberto  Seabra     .     . 

»             .     . 

25 

» 

18  Pr.  Augusto  César  de  Mi- 

i    randa  Azevedo  (*)  .     . 

Benemérito  • 

25 

» 

(*)  O  dr.  Angnito  Cecar  de  Miranda  Asevedo  foi,  em  26  de  Outubro  de  i905  transfe- 
rido da  clacfce  de  tooio  fundador  effectlTO  para  a  de  fundador  honorário  e,  um  anno 
depoia,  para  a  de  fumdador  benemérito. 


—  734  — 
VII 


Quadro  cios  sócios  neeoiios  em    1  0O7 


c 
Cã 

NOMES 

CATEGORIAS 

1 

DATA  DA 
ADMISSÃO 

■ 
1 

1 

! 

Dr.  José  C.  de  M.  Soares 

Effectivo 

5 

março 

l|  Dr.  António    de    Albu- 

1 

2  j       querque  Pinheiro. 

3  ||  Aristides  de  Albuquerque 
■i  Victorino  Coelho  de  Car- 

1 

i 

í 

5 
5 

4 

valho 

Luís  da  Rocha  Miranda 

■  Correspondente 

1 

5 

» 

õ 

(Barào  do  Bananal)   . 
!  Dr.  Heitor    Machado     • 

! 

j       Efifectivo 

5 
5 

abril 

» 

Dr.    Joaquim    Jobc    de 
7   1       Carvalho  (*)..• 

1       . 

5 

» 

8   i  Dr.  Gentil    de  aloura   • 

4 

maio 

■\  Prof.  José  Feliciano  de 

1 

9  1       Oliveira     .... 

i              * 

4 

> 

Dr.  Joào    Teixeira    Al- 

1 

10          vares    

1  Dr.  José    Pereira    Rego 

Correspondente 

1 

4 

» 

11          Filho 

» 

õ 

junho 

12   j  Major  Ricardo  Ivrone    . 

» 

5 

» 

13  1  Dr.  José  Aufi^usto  César 

14  Ij  Guilherme  Ferrero  . 

Effectivo 
Honorário 

20 
20 

julho 

Dr.  Estevam  Letlo  Bour- 

15   j       roul 

» 

20 

> 

16  '  António  Carlos  Madeira 

17  i|  Joào  Lellis  Vieira   . 

Correspondente 
Effectivo 

20 
20 

» 

;l  Joào  F.    Meira  de  Vas- 

18   j       concellos    .... 

1 

> 

20 

» 

19   ■  Marquez  de  Paranaguá. 

i       Honorário 

20 

agosto 

Dr.  José    Carlos    Rodri- 

20  i       guos 

i{  José  Francisco  da  Rocha 

Correspondente 

5 

setembro 

21 

Pombo 

» 

5 

» 

22 

Dr.  Alfredo  de    Brito  • 

Honorário 

20 

» 

,   Dr.   Uosannah    de    Oli- 

23  ;       veira 

1 

Correspondente 

20 

> 

{*)  o  dr.  Joaquim  José  de  Carvalho,  admittido  em  20  de 
março  de  1903,  na  qualidade  de  «socio  correspondente,  foi  trant* 
ferido  desta  classe  para  a   de  effectivo. 


—  735  — 

VIII 

ItelncÀo  fios  soeíos  fiillocitMloK  até  •(!   do 
dczemhrf»  ilo   lt>07 


NOMES 


3     Dr 


o 

G 

7 

8 

9 

10 

II 

12 

13 

14 

15 

16 
17 
18 
19 
20 

21 
22 

23 
24 
25 

26 
27 
28 

29 
30 
31 
32 


Dr. 
D. 
Dr. 


Dr.   SevorÍDO  de  Freitas  Preste*  • 
Desemb.  Aureliaiio  de  Sousa  e  Oli- 
veira Coutiulio 

Martinlio  de  Freitas  Vieira  de 

Mello  •      •     • 

Cesário  Mo  ti  Júnior     •      • 
J.  J.  dí5  Menezí^s  Vieira      • 
Carios  Daiii(*l  Katb 
José  Ferraz  do  Almeida  Jnnior     . 
Dr.  Adolpho  B.  Ucbôa  Cavalcanti  • 
António  Auprusto  da  Fonstca 
Dr.  João  Francisco  Mata  Júnior    . 
Dr.  Eduardo  da  Silva  Prado     , 
i  José  André  do  Sacramento  Macnco. 
j  Dr.  Jofto  Dioíro  Esteves  da  Silva  . 

I  Dr.  Jaime  Se  va 

Dr.  Atifonío  Ca  los  Kibeiro  do  An- 

drada  Mncbado  e  Silva 
Dr.  Joaquim  Floriano  de  Godoy  . 
Dr.  Prudente  Jogé  de  Moraes  Barros 
Dr.  Maneei  de  Moraes  Barros  •  • 
Dr.  João  KibíMro  de  Moura  E^cobar. 
Dr.  Manoel  Duarte  Moreira  de  Aze- 
vedo     

Dr.  Jorge  Ritt 

Dr.  Joaquim    Mariano  de    Almeida 

Moraes 

Dr.  Luis  de  An  baia  Mello  • 

Dr.  Branlio  Gomes 

José  Couto  de  Map:albãeR     • 
Dr.  Aristides  Auíjusto  Milton    . 
Jo8é  Gomes  dos  Santos    Guimarães 
General    Francisco     li.     de     Mello 

liepro 

Dr.  Alfredo  Guedes  •      •      •     •      . 
Dr.  Joào  Pereira  Monteiro  • 
Dr.  Aupusto  César  de  Barros  Cruz 
Dr.  llyppolito  de  Camargo  ,     • 


CATIÍGORIA 


Fundador  • 


Honorário  • 
Fundador  • 
Honorário  • 
Fundador  • 

EílVctivo  . 
Fundador  • 
Correspondente 
E  Afectivo  . 
Fundador  • 
Eir.*i*tivo  • 
Fundador  • 


Prés .  -Honor. 
Fund. -Honor 
Fundador  • 

Ilonoiario  • 


Correspondente 
Fundador  • 
»  • 
EíTectivo  • 
Honorário  • 
Ertectivo    • 


Correspondente 
Eífectivo    • 
Fundador  . 


1896 

1897 

1807 
1807 
1897 
1898 
1899 
1000 
1000 
1001 
1001 
1001 
19ni 
1902 

1902 
1902 
1902 
1902 
1903 

lOOl) 
1903 

1903 
1903 
1903 
1003 
1904 
1004 

1004 
1904 
1004 
1005 
1905 


—  736  — 


NOMES 


OATBaORiA 


o  tf  s 


S3     Dr.  António    Joaquim    de    Macedo 
Soares      #••*•■• 

34  D.   Martim  Garcia  Merou    •      ■ 

35  D#   Jofié  Loureaço  da  Costa  Aguiar 
ã6     ÃnatoUo  Lni»  Garra ux  .      .      .      , 

37  Coronel     Agostinho    José    Moreira 

Rollo  ..»■•*•• 

38  Dr,  António  de  Toledo  Piza     «     . 

39  CouBelheiro  Olegário  Herculano  de 

Aquino  e  Castro      .      .      ,      • 

40  Henrique  HafTard 

41  Dr.  Francisco  da  Atui  Peixoto  Go- 

mide  •«,*•.•- 

42  Dn  Msrliuba  da    Silva  Prado  Jii- 

nior    *•«,•«** 

43  Martin  JuIpb  Victor  André.      *      • 

44  Dr,  Nina  Rodrij^n^s  ,      ,      .      •      , 

45  Dr.  lí^nacio  Pereir»  da  Rocha  . 

46  Dr.  Carloa  Ribeiro  de    í  Io  ura    Eb- 

cobar  ,*.«.... 
4t     Dr.  António  da  Cunha   Parboea     . 

48  Dr.  Pãub  Epdio  de  Oliveira  Car- 

valho ..,..,., 

49  Dr.  Aug^UBto  César  de  Miranda  Aze- 

vedo ,,*.., 

50  Lafayette  d©  Toledo.      .  ,      . 

51  Conselheiro  Rozendo  A.  Pereira  Gui^ 

marâea      ,,,«.«, 

52  Dl.  Jofto  Ceaar  Bueno  Bierrenbach. 

53  Julina  MeilUi  •      .      «      ^      .      ,      . 

54  Dr.  Fernando  de  Albuquerque, 


Honorário  , 


Correspondente 
Fundador  . 

Honorário  * 


EflecÈtTO    . 

Fundador  , 
Honorário  . 
Correspondente 

Effoctivo    , 


Oorreapondente 

Efíectivo    . 

Fcndador-Ben 

Fundador  . 

Honorário  . 
Corres  pon  d  en  te 
Honorário  . 
Efectivo    » 


Í905 
1905 
1905 

1905 

1905 
1905 


1906 

Í90t5 

i9oe 

1906 

1906 

1906 
19D6 

1906 

1907 

i9m 

1907 
1907 
1907 


IJMIVERÍSJTV  Of  MICH^GAM