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Full text of "Revista internacional do espiritismo"

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https://archive.org/details/revistainternaci1115unse 


ANNO  I 


BRASIL  -  E.  de  S.  Paulo  —  Mattão,  15  de  Fevereiro  de  1925 


N.°  I 


Ijgp 


Revista  Internacional 

io  Cspiritismo 


PUBLICAÇÃO  MENSAL  DE  ESTUDOS 
ANÍMICOS  E  ESPIRITAS 


Rary  of  princeton 


Direcior:  CAI  RB  AR  SC  EI UT EL 


INARY 


Collaboradores :  DIVERSOS 


SUMMARIO 

O  nosso  titulo  e  intuitos 

Um  Grande  Espirita 

O  «Pró  e  o  Contra»  na  Questão  da 
Sobrevivência 

Os  presentimentos  de  Catulle  Mendes 

Os  «Camp.  Meetings»  Espiritas 

Casos  apparentes  de  reminiscências  de 
vidas  anteriores 

Photographia  Fluido-Magnetica  e  Ra- 
dio-Actividade  Humana 

O  Progresso  Humano  e  os  Phenome- 
nos  Psychicos 

Um  retrato  do  Dr.  Gustave  Geley 

Chronica  Extrangeira 

Ecos  e  Noticias 


Uictor  F)ugo  —  9  granòe  poeta  espirita 


ANNO  i 


Brasil  -  -  E.  de  Sáo  Paulo 


Mattão,  15  de  Fevereiro  de  1925 


Revista 


-  N.  1 


Internacional 
do  Espiritismo 


PUBLICAÇÃO  MENSAL  DE  ESTUDOS  ANÍMICOS  E  ESPIRITAS 


Diredor:  CAIRKAIt  SCHUTEI. 


Collaboradores :  DIVERSOS 


0  NOSSO  TITULO  E  INTUITOS 

0  ©  G  © 


O  titulo  e  subtítulo  que  adoptamos  para  esta 
publicação  comprehende  uma  vasta  area  de  traba¬ 
lhos  e  conhecimentos  que  marcam  na  hora  actual 
um  movimento  de  accentuado  progresso  na  marcha 
da  humanidade. 

O  incremento  que  os  estudos  psychicos  teem 
tomado  em  todos  os  paizes  do  mundo,  quer  com 
o  auxilio  das  vozes  avulsas  e  desautorisadas,  pro¬ 
pagando  as  consoladoras  e  edificantes  verdades  da 
Revelação  Nova,  quer  com  o  valioso  testemunho 
dos  representantes  da  sciencia,  affirmando  a  reali¬ 
dade  dos  seus  factos  inconcussos,  demonstra  per¬ 
feitamente  que  o  Espiritismo,  embora  batido  e  ex¬ 
plorado  em  todos  os  meandros,  é  uma  Doutrina 
vencedora,  que  já  abriga  em  seu  augusto  templo 
muitos  milhões  de  almas. 

E  é  para  notar  que  a  somma  de  provas,  o 
avultado  numero  de  testemunhos  e  o  valor  intellec- 
tual  dos  observadores,  constituem  uma  verdadeira 
revolução  no  despotico  dominio  do  esteril  pre¬ 
conceito  ou  da  jatancia  cathedratica,  que  vê  deser¬ 
tarem  do  seu  velho  Syllabus  os  seus  melhores  or¬ 
namentos,  hereticos  contra  o  dogmatismo  scientifico, 
mas  representantes  da  numerosa  pleiade  de  sábios 
de  valor,  a  quem  se  deve  o  moderno  incremento 
dos  estudos  experimentaes. 

As  phalanges  dos  estudiosos,  inicialmente 
quasi  desertas,  foram  se  successivamente  engrossan¬ 
do,  e  não  ha  mais  quem  possa  negar  que  o  Espi¬ 
ritismo  avassalou  o  mundo. 

E  nem  podia  se  prever  outro  resultado,  pois 
o  Espiritismo  abrangendo  o  campo  latíssimo  de 
acquisições  scientificas  nos  domínios  da  chimica,  da 
pbysica,  da  biologia,  da  astronomia  e  até  da  medi¬ 


cina,  tem  como  principio,  a  existência  e  sobrevi¬ 
vência  da  alma  após  a  morte  do  corpo,  sem  o  que 
nenhuma  sciencia  pode  prevalecer. 

Submettendo-se  aos  processos  do  methodo 
positivo,  iniciado  por  Bacon  e  erigido  por  Comte, 
Littré  e  outros,  só  elle  garante  a  pesquiza  da  Ver¬ 
dade. 

Todos  os  emprehendimentos  realizados  e  que 
se  forem  realisando  no  terreno  do  animismo  expe¬ 
rimental,  bem  como  os  que  se  acharem  na  area  do 
espiritismo  propriamente,  ou  vulgarmente  dito,  serão 
lembrados  por  esta  revista. 

O  escopo  principal  do  nosso  programma  é 
demonstrar  e  propagar,  que  no  homem  existe  um 
dualismo,  composto  de  corpo  e  espirito,  e  esta  de¬ 
monstração  não  deve  ser  feita  por  méras  especula¬ 
ções  philosophicas,  mas  por  meio  de  verificação 
experimental. 

Estes  estudos,  indispensáveis  á  elevação  hu¬ 
mana  e  á  vida  social,  constituem  o  maior  legado 
ás  gerações  vindouras. 

Por  toda  a  parte  do  mundo  congregam-se 
esforços  para  a  divulgação  da  Idéa  Espirita.  Asso¬ 
ciações,  federações  de  associações,  congressos  na- 
cionaes  e  internacionaes,  dão  conta  dos  progressos 
que  o  Espiritismo  vae  realisando. 

,  Entrando  como  parcella,  embora  insignificante, 
nesse  concurso  universal,  nós  julgamos  impulsionar 
a  cultura  de  um  estudo,  a  tantos  titulos  salutar, 
atacando  as  fronteiras  do  desconhecido  e  pondo  a 
descoberto  uma  faixa  riquíssima  de  noções  indis. 
pensáveis  á  evolução  da  humanidade. 

Que  Deus  nos  ajude  e  permitta  aos  Gênios 
Tutelares  serem  comnosco  nesta  obra  de  espiritua- 
lisação  humana. 


<3-  2 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


UM  GRANDE  ESPIRITA 


As  Experiências  de  Victor  Hugo 


As  mezas  que  se  movem 


0  poeta  conversava  com  os  seres  do  Além-Tiimulo  ^  ^  ^  ^ 

— - - 0  testamento  espirita  do  exilado  de  Jersey 


VlCTOR  HUGO,  o  grande  poeta  francez, 
f  foi  sempre,  corno  ninguém  ignora,  per¬ 
seguido  pela  preocupação  constante  do  de¬ 
pois  da  morte . 

Foi  em  Jersey,  no  deserto  que  Victor 
Fiugo  fez  as  suas  primeiras  sessões  de  Es¬ 
piritismo.  Nessa  terra  do  seu  exilio,  na  sua 
deliciosa  casinha  de  Marine  Terrace,  Hugo 
passava  muitos  dias  e  muitas  noites  a  con¬ 
versar  com  os  Espíritos. 

Cuidadosamente  asactasde  suas  sessões 
eram  escriptas  em  um  livro  especial  e  esse 
curioso  documento  foi  encontrado  por 
Paul  Maurice,  piedoso  amigo  de  Victor 
Hugo  e  executor  testamenteiro  da  bagagem 
litteraria  do  grande 
escriptor. 

O  livro  de  actas 
é  quasi  que  do  prin¬ 
cipio  ao  fim,  uma  sé¬ 
rie  de  diálogos  entre 
Victor  Hugo  e  seus 
invisíveis  interlocuto¬ 
res,  que  não  raro  se 
diziam  espiritos  d  e 
grandes  mortos.  Estes, 
se  ás  vezes  respon¬ 
diam  por  banalidades, 
frequentemente  tam¬ 
bém  respondiam  por 
notáveis  poemas  e  por 
sublimes  paginas  de 
philosophia. 

Sully  Prudhom- 
me  o  celebre  poeta 
francez,  membro  da 
Academia,  morto  não 
ha  muito,  teve  occa- 
sião  de  percorrer  esse 
livro  precioso  de  diᬠ
logos  mediumnicos. 

A  sua  opinião  a 
respeito  é  das  mais  interessantes  para  a  nos¬ 
sa  causa.  Prudhomme  diz  de  facto,  que  as 
paginas  espiritas  de  Jersey  são,  muitas, ve¬ 
zes,  iguaes,  ás  mais  bellas  de  Victor  Hugo, 
e  ás  vezes  mesmo  superiores . 

As  actas  de  Jersey  eram  escriptas  pe¬ 
lo  proprio  punho  de  Hugo  ou  pelo  de 
Augusto  Vacquerie,  amigo  do  poeta  e  seu 
iniciador  no  Espiritismo. 

Toda  a  família  de  Hugo  se  achava 


presente  quando  chegava  a  hora  da  con¬ 
versa  com  o  Além-Tumulo.  Muitas  noites 
foram  passadas  assim,  as  mãos  estendidas 
sobre  uma  mesinha  que  indicava  como  de 
costume,  por  meio  de  pancadas,  as  lettras 
do  alphabeto  destinadas  a  formar  palavras 
e  depois  phrases. 

Varias  celebridades  da  época  frequen¬ 
tavam  as  sessões  espiritas  de  Victor  Hugo. 
Os  mais  assíduos  eram  entre  outros,  Vac¬ 
querie,  o  libertário  húngaro  Teleki,  o  ge¬ 
neral  Le  Fló,  Jules  Alexis  e  muitos  outros. 

Mme.  Girardin  essa,  chegou  a  Jersey 
a  6  de  setembro  de  1853.  Eoi  eda  quem 
venceu  as  ultimas  resistências  do  poeta  ás 

suggestões  de  Vacque¬ 
rie,  que  pedia  a  Hu¬ 
go  tentasse  ao  menos 
corresponder  com  as 
almas  dos  desappare- 
cidos. 

Victor  Hugo,  po¬ 
rém,  recusava  de  ma¬ 
neira  peremptória,  por¬ 
que  via  na  interroga¬ 
ção  dos  mortos  uma 
pratica  que  elle  qua¬ 
lificava  de  —  «sacrí¬ 
lega».  —  Entretanto  o 
grande  escriptor  acre¬ 
ditava  na  possibilida¬ 
de  de  uma  conversa¬ 
ção  entre  as  «duas 
bordas  do  tumulo», 
para  nos  servirem  da 
felicíssima  expressão 
de  William  Stead,  e, 
com  o  correr  do  tem¬ 
po,  o  Espiritismo  nun¬ 
ca  teve  adepto  mais 
fervoroso  que  Victor 
Hugo. 

E  as  sessões  de  Jersey  tornaram-se  fa¬ 
mosas. 

Por  varias  vezes  Vacquerie  teve  dis¬ 
cussões  acres  com  os  Espiritos  que  se 
manifestavam.  E  quando  mais  tarde  se  lhe 
dizia  que  podia  ser  perfeitamente  que  Vic¬ 
tor  Hugo  fosse  o  communicante  inconsciente 
das  respostas  do  invisível,  Vacquerie  res¬ 
pondia  :  «Certo  os  espiritos  de  Jersey  eram 
excepcionaes,  extranhos,  caprichosos.  Que 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3-  3 


importa  !  Eu  accredito  nelles,  como  acredi¬ 
to  nos  onagros. 

Era  impossível  que  Victor  Hugo  fos¬ 
se  o  autor  das  respostas  do  invisível,  por¬ 
que  só  muito  raramente  elle  tomava  lugar 
na  mesa,  contentando-se  com  o  assistir  a 
sessão  como  simples  espectador,  ou  como 
secretario  encarregado  de  escrever  as  lettras 
á  medida  que  a  mesa  as  dictava. 

Depois  da  chegada  á  Jersey  de  Mme. 
Girardin,  as  sessões  tomaram  uma  nova 
feição,  entretanto  nas  primeiras  tentativas 
lançou-se  mão  de  uma  mesinha  quadrada, 
sendo  que  o  insuccesso  foi  completo;  jul¬ 
garam  que  a  forma  do  movei  «contrariava  o 
fluido».  Victor  Hugo  queria  fazer  cessar  as 
experiencias  porém,  Mme.  Girardin  respon- 
deu-lhe  :  «Os  espíritos  não  são  cavallos  de 
praça  á  espera  da  bôa  vontade  do  freguez; 
são  livres  e  vêm  a  nós  quando  entendem 
chegado  o  momento  opportuno».  E,  firme 
no  seu  intento,  comprou  num  bazar  uma 
mesinha  redonda  que,  como  a  precedente, 
se  conservou  immovel. 

Um  dia,  emfim,  a  mesinha  teve  um 
movimento.  Essa  sessão  foi  commovedora. 
Vacquerie  pediu  a  entidade  presente  désse 
um  significado  da  palavra  em  que  elle  pen¬ 
sava.  «  Traduz »  —  pediu  Vacquerie  —  a  pa¬ 
lavra  que  tenho  no  pensamento».  E  a  mesa 
respondeu :  «Soffrimento».  Vacquerie  pen¬ 
sava  :  «Amor». 

A  essa  interpretação  intellectual  do 
pensamento  de  um  dos  assistentes  digno 
de  toda  a  confiança  o  interesse  dos  expe¬ 
rimentadores  augmentou.  «Quem  és  tú  ?  » 
—  perguntou-se  ao  espirito.  E  a  mesa  res¬ 
pondeu:  «Leopoldina».  Esse  nome  produ¬ 
ziu  uma  viva  commoção.  Era  o  da  filha 
que  Hugo  acabava  de  perder.  Mme.  Hugo 
chorava,  Charles  Hugo  —  outro  filho  do 
poeta,  —  interrogava  a  sua  irmã. 

Toda  a  noite  se  passou  numa  con¬ 
versação  angustiosa,  mas  consoladora,  com 
a  desapparecida. 

A  partir  desse  dia,  as  communica- 
ções  realizaram-se  com  regularidade.  Mui¬ 
tas  vezes  mesmo  em  pleno  dia  consulta¬ 
vam-se  os  espíritos.  Esses  marcavam,  ás  ve¬ 
zes,  a  hora  da  sessão  seguinte  e  ninguém 
faltava  ao  Rende z-Vous. 

Era  raríssimo  que  Victor  Hugo  tomas¬ 
se  logar  em  torno  da  meza.  O  médium  era, 
ora  Mme.  Hugo,  ora  seu  filho  Charles,  que 
parece  ter  possuído  uma  certa  força  me- 
diumnica. 

Victor  Hugo  formulava  as  perguntas  e  re¬ 
gistrava  as  respostas,  que  as  vezes  desaprovava, 
recebendo  mesmo,  outras  vezes ,  rudes  licçõcs 
dadas  pela  Entidade  com mmu cante  Isso  não 
o  impedia,  todavia,  de  tratar  com  o  maior 
respeito  os  seus  correspondentes  occultos, 


que  se  exprimiam  em  verso  ou  em  prosa, 
e  para  os  quaes  Hugo  se  dava  ao  trabalho 
de  improvisar  estrophes  ou  tiradas  philoso- 
phicas. 

Como  dissemos  a  alta  sociedadade  de 
Jersey  frequentava  a  casa  do  poeta.  Um  jo¬ 
vem  inglez  tornara-se  particularmente  nota¬ 
do  pela  sua  assiduidade.  Um  dia,  o  joven 
inglez  em  questão  chamou  á  meza  Lord 
Byron,  o  grande  poeta  inglez.  Charles,  que 
não  sabia  inglez ,  e  que  servia  de  mediium 
observou  que  ser-lhe-ia  muito  difficil  acom¬ 
panhar  as  lettras  da  communicação  se  essa 
fosse  dada  em  inglez. 

Byron  não  respondeu  ao  convite  de 
seu  compatriota  ;  porém,  decorridos  alguns 
momentos,  foi  Walter  Scott  quem  se  mani¬ 
festou  em  seu  lugar,  dictando  os  dois  ver¬ 
sos  seguintes : 

Vcx  not  the  bard ,  his  lyre  is  broken, 

His  last  song  sung ,  his  lasc  wotd  spoken 

Como  muitas  das  pessoas  presentes 
ignorassem  o  inglez,  a  mesma  pessoa  que 
procurara  attrahir  á  reunião  o  Espirito  de 
Lord  Byron  traduziu  nestes  termos  a  com¬ 
municação  assignada  por  Walter  Scott  : 

Não  atormentae  o  bardo ,  a  sua  lyra  está 

/  quebi  ada 

O  seu  ultimo  poema  cantado ,  a  sua  ultima 

/  palavra  dita 

O  Espirito  communicara-se  numa  lín¬ 
gua  desconhecida  do  médium. 

*  *  * 

Victor  Hugo- regressou  espirita  do  exí¬ 
lio,  convicto  da  immortalidade,  e  até  o  seu 
ultimo  dia  não  cessou  de  corresponder  com 
os  seres  de  Além-tumulo.  Muitas  vezes  o 
grande  poeta,  nas  suas  obras  posteriores 
aos  longos  dias  do  exilio,  fez  allusão  ás 
grandezas  do  invisível. 

O  seu  fim  foi  o  de  um  verdadeiro  es¬ 
pirita.  Ninguém  ignora,  do  facto,  que  o  itn- 
mortal  poeta  confessou  a  sua  crença  em  Deus, 
porém  recusou  as  orações  da  Egreja,  pre¬ 
ferindo  ser  chorado  pelos  pobres,  aos  quaes 
deixou  uma  grande  somma  de  dinheiro. 

O  genial  escriptor  morreu  com  a  cer¬ 
teza  de  que  uma  nova  vida  ia  abrir-se  pa¬ 
ra  elle  e  que  ia  penetrar  nesse  Além-tumu¬ 
lo,  no  qual  o  haviam  precedido  tantos  ami¬ 
gos  e  seres  queridos  que,  emquanto  o  es¬ 
peravam,  lhe  tinham,  nas  suas  conversações 
mediumnicas,  frequentemente  manifestado  a 
sua  constante  affeição. 

Eis,  finalmente,  uma  das  esplendidas 
tiradas,  deixada  nas  suas  «Obras  Eosthu- 
mas»,  excellente  dadiva  dos  grandes  pensa¬ 
mentos,  que  constituem  o  testamento  philo- 
sophico  do  autor  dos  Miseráveis : 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


—  «O  que  é  que  faz  o  homem  livre? 

A  alma.  Que  diz  livre,  diz  respon¬ 
sável. 

Responsável  nesta  vida  ? 

Effectivamente  não,  porquanto  nada  ha 
mais  demonstrado  do  que  a  prosperidade 
possivel  e  frequente  dos  máus  e  o  infortú¬ 
nio  immerecido  dos  bons  durante  a  sua  pas¬ 
sagem  sobre  a  terra. 

Quantos  homens  justos  não  tiveram  só 
angustias  e  misérias  até  o  seu  derradeiro 
dia  ?  Quantos  homens  criminosos  viveram 
até  a  mais  extrema  velhice,  no  gozo  pacifi¬ 
co  e  sereno  de  todos  os  bens  deste  mundo, 
nelles  incluindo  a  consideração  e  o  respei¬ 
to  de  todos!  É  o  homem,  então,  responsᬠ
vel  depois  da  vida  ?  Evidentemente  sim, 
pois  que  não  o  é  durante  ella.  Alguma  cou¬ 
sa,  pois,  delle  sobrevive,  para  se  submetter  a 
essa  responsabilidade  —  a  alma. 

A  liberdade  da  alma  explica  a  sua  im- 
mortalidade.  A  morte  não  é,  portanto,  o  fim 
de  tudo.  Ella  não  é  senão  o  fim  de  uma  cou¬ 
sa  e  começo  de  outra.  Na  morte  o  homem 
acaba,  e  a  alma  começa.  Tome-se  por  tes¬ 
temunho  o  que  considerar  o  rosto  de  um 
ente  amado  com  essa  anciedade  extranha, 
feita  de  esperança  e  de  desesperança.  Digam 
esses  que  atravessaram  essa  hora  fúnebre,  a 
ultima  da  alegria,  a  primeira  do  luto,  digam 
si  não  é  verdade  que  bem  se  sente  que 
ainda  ha  a/li  algue,n,  que  tudo  não  acabou  r 

Sente-se  em  roda  dessa  cabeça  como 
o  frémito  de  azas  que  acabam  de  ex¬ 
pandir-se  :  uma  palpitação  confusa  e  inau¬ 
dita  fluctua  no  ar  ao  redor  desse  coração 
que  não  bate  mais.  Essa  bocca  aberta  pa¬ 
rece  chamar  o  que  acaba  de  partir  e  dir- 
se-ia  que  deixa  cahir  palavras  obscuras  no 
Mundo  Invisível. 

Eu  sou  uma  alma. 

Bem  sinto  que  o  que  darei  ao  tumulo 
não  é  o  meu  Eu,  o  meu  Ser.  O  que  cons- 
titue  o  meu  eu,  irá  além. 

Terra,  tú  não  és  o  meu  abysmo. 

O  homem  outra  cousa  não  é  senão 
um  captivo. 

O  prisioneiro  escala  penosamente  os 
muros  da  sua  masmorra,  trepa  de  saliência 
em  saliência,  colloca  o  pé  em  todos  os  in¬ 
terstícios  e  sóbe  até  ao  respiradouro.  Ahi, 
olha,  distingue  ao  longe  a  Campina,  aspi¬ 
ra  o  ar  livre,  vê  a  luz. 

Assim  é  o  homem. 

O  prisioneiro  não  duvida  que  encon¬ 
trará  a  claridade  do  dia,  a  liberdade;  como 
pode  o  homem  duvidar  si  vae  encontrar  a 
Eternidade  á  sua  sahida  ?  Porque  não  pos¬ 
suirá  elle  um  corpo  subtil,  ethereo,  de  que 
o  nosso  corpo  humano  não  póde  ser  senão 
um  esboço  grosseiro  ? 

A  alma  tem  sêde  de  absoluto  e  o 


r 

absoluto  não  é  deste  mundo.  E  por  de¬ 
mais  pesado  para  esta  terra.  Ha  duas  leis 
a  lei  dos  globos  e  a  lei  do  Espaço.  A  lei 
dos  globos  é  a  morte.  O  limite  exige  a 
destruição.  A  lei  do  Espaço  é  a  Eternidade. 
O  Infinito  permitte  a  expansão. 

Entre  os  dois  mundos,  entre  as  duas 
leis,  ha  uma  ponte  :  a  transformação.  A  am¬ 
bição  do  vivo  dos  globos  deve  ser,  pois, 
tornar-se  um  vivo  do  Espaço. 

O  mundo  luminoso  é  o  Mundo  Invi¬ 
sível.  O  Mundo  Luminoso  é  o  que  não  ve¬ 
mos.  Os  nossos  olhos  carnaes  só  veem  á 
noite.  Ah  !  do  que  vive  com  os  olhos  aber¬ 
tos  sobre  o  mundo  material  e  com  as  cos¬ 
tas  voltadas  para  o  mundo  desconhecido ! 

A  morte  é  uma  mudança  de  vestimenta. 

Alma,  tu  estavas/  vestida  de  sombra,  vaes 
ser  vestida  de  luz.  E  no  tumulo  que  o  ho¬ 
mem  faz  o  ultimo  progresso. 

Na  morte,  o  homem  fica  sendo  side¬ 
ral.  A  morte  é  a  vindicta  da  alma.  A  vida, 
é  o  poder  que  tem  o  corpo  de  manter  a 
alma  sobre  a  terra,  pelo  peso  que  faz  nella. 
A  morte  é  o  poder  que  tem  a  alma  de 
arrebatar  o  corpo  fóra  da  terra  pela  assimi¬ 
lação. 

Na  vida  terrestre,  a  alma  perde  o  que 
irradia ;  na  vida  extra-terrestre,  o  corpo  per¬ 
de  o  que  pesa. 

A  morte  é  uma  continuação.  O  meu 
olhar  penetra  o  mais  que  é  possivel  nessa 
sombra,  onde  vejo,  a  uma  profundidade 
que  seria  amedrontadora,  se  não  fosse  su¬ 
blime,  dealbar-se  o  immenso  arrebol  da 
eternidade. 

As  almas  passam  de  uma  esphera  a 
outra,  tornam-se  cada  vez  mais  luz,  apro¬ 
ximam-se  cada  vez  mais  e  mais  de  Deus. 

O  ponto  de  juncção  é  no  infinito. 

O  que  dorme  e  desperta,  desperta  e  vê 
que  é  homem.  O  vivo  que  morre,  desper¬ 
ta  e  vê  que  é  espirito». 


O  Espiritismo  e  a  Fé 


Por  mais  influencia  que  venha  o  Es¬ 
piritismo  exercer  sobre  o  futuro  das  socie¬ 
dades,  não  se  julgue  que  substitua  elle  sua 
autocracia  a  outra  ou  que  imponha  leis  — 
isso  não  fará,  porque,  proclamando  o  di¬ 
reito  absoluto  da  liberdade  de  consciência 
e  do  li vre-arbi trio  em  matéria  de  fé,  elle 
quer  que  a  sua  crença  seja  livremente  ac- 
ceita,  ou  acceita  por  convicção  e  não  por 
fé  —  imposta. 

Por  sua  natureza,  elle  não  póde  nem 
deve  exercer  pressão  alguma  —  pois  pros¬ 
creve  a  fé-céga  e  quer  ser  comprehendido. 

Allan-Kardec 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


0>  5 


&==  0  pró  e  o  Contra  na 

Questão  da  SobreviYeqcia 

♦  ♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦ 

j/K  possibilidade  da  sobrevivência  sob  o  ponto  de  vista  scientifico. 


Meu  bom  e  eminente  amigo,  o  Pro¬ 
fessor  Richet,  apresentou  uma  exposição 
admiravel,  um  resumo  synoptico  dos  phe~ 
nomenos  estudados  pela  Pesquiza  psychica, 
sob  o  ponto  de  vista  d'um  materialista  eru¬ 
dito,  e  os  grupou  em  sua  importante  obra 
«Trai  té  de  Metapsychique».  Seu  trabalho 
não  seria  acceito  pela  grande  maioria  de 
seus  collegas  que,  não  estando  ao  par  dos 
factos,  são,  por  isto  mes¬ 
mo,  relativamente  igno¬ 
rantes;  mas  é  interessan¬ 
te  notar  que,  si  bem 
elle  esteja  ao  corrente 
dos  factos,  cujos  verda¬ 
deiros  aspectos  estão  em 
conflicto  com  o  materia¬ 
lismo,  M.  Richet  conti¬ 
nua  ainda  assim  mate¬ 
rialista. 

Nenhuma  censura 
se  subentende  aqui :  tra¬ 
ta-se  de  uma  posição 
definida  e  philosophica. 

E'  bom  ver  esta  posição 
sustentada  com  compe¬ 
tência,  tanto  para  os  phe- 
nomenos  interessados  na 
questão,  quanto  para  o 
que  toca  a  nossa  acceita- 
ção  ou  á  nossa  rejeição 
da  possibilidade  ou  da 
plausibilidade  da  sobre¬ 
vivência  humana. 

Si  a  fortaleza  do 
Prof.  Richet  póde  ser 
tomada  de  assalto,  é  pouco  provável  que 
um  successor  qualquer  possa  se  fixar  n'u 
ma  fortaleza  de  solidez  igual. 

Richet  dá  provas  de  um  espirito  nota¬ 
velmente  franco,  porque  diz:  «Eu  nada 
nego» 1 

Por  outro  lado,  elle  se  mostra  um 
agnostico  perfeito,  quando  diz  que  nós  es¬ 
tamos  immersos  na  profunda  obscuridade 
e  que  nenhuma  chave  possuímos  destes 
mysterios. 

Mas  eis  aqui,  justamente,  onde  me 
acho  cm  desaccordo  com  elle.  Eu  tenho  o 


espirito  menos  aberto  que  elle,  porque  nego 
muito;  sou  menos  agnostico,  porque  tenho 
uma  hypothese  de  trabalho  que  desejo,  ou 
verificar  ou  destruir. 

Presentemente,  bem  que  o  Prof.  Ri¬ 
chet  esteja  ao  par  dos  factos,  dir-lhe-ei  que 
não  está  ao  par  da  minha  versão,  do  pon¬ 
to  de  vista  «espirita»,  Eu  podel-a-ia  cha¬ 
mar  «nossa  theoria»,  salvo  não  me  assistir 

o  direito  de  alistar  ou¬ 
trem  n’  uma  posição  dis¬ 
putada  e  pouco  ortho- 
doxa.  Porque  estaria  elle 
sciente  do  meu  ponto  de 
vista?  Mesmo  quando 
tenho  formulado  minhas 
opiniões  theoricas,  as 
tenho  feito  sempre  de 
maneira  vaga  e  apologé¬ 
tica,  porque  as  quero 
confrontar  com  os  factos 
e  porque  quero  me  fun¬ 
damentar  sobre  os  mes¬ 
mos  factos,  de  preferen¬ 
cia  a  uma  qualquer  opi¬ 
nião  ou  theoria  precon¬ 
cebida  extranha  aos  fac¬ 
tos. 

Mas  com  o  meu 
amigo  Prof.  Richet  é 
preciso  seguir  outra  orien¬ 
tação.  Inútil  é  impor¬ 
tunar  insistindo  sobre  os 
factos,  si  bem  que  de 
alguns  dentre  elles,  de 
ordem  subjectiva,  eu  te¬ 
nha  uma  opinião  mais  consentânea  que  a 

sua,  assim  como  na  ordem  objectiva  elle 

tem  tido  vantagens  que  eu  não  tenho  tido. 
O  que  o  perturba  inteiramente  é  a  falta  de 
theoria.  Elle  afronta  corajosamente  o  vacúo; 
não  procura  tecer  hypotheses  antagonistas; 
contenta-se  em  dizer  que  os  factos  são 
mysteriosos,  inexplicáveis  e  um  tanto  «in¬ 
sanos»  quando  interpretados  conforme  a 
sciencia  orthodoxa  os  ousa  interpretar.  E  é 
bem  assim  que  parece,  com  o  limite  a  que 
a  sciencia  orthodoxa  se  inipôz. 

Ainda  mais  loucas  devem  parecer  nos- 


<3>  6 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


sas  theorias  a  seu  respeito.  Mas  os  factos 
novos  pedem  uma  nova  theoria  para  sua 
interpretação.  Ha  cousas  no  universo,  as 
quaes  a  sciencia  biologica  não  tomou  ain¬ 
da  em  consideração.  Se  algum  dia  ella  che¬ 
gar  a  tomar  em  consideração  um  outro  factor 
da  vida  physica,  então  verificará  que  as  diffi- 
culdades  desapparecerão  gradualmente.  E  o 
mesmo  Richet  sentirá,  cedo  ou  tarde,  que 
pode  achar  uma  chave  para  esses  factos,  uma 
linha  na  qual  os  poderá  enfileirar,  um  ponto 
de  vista  que  lhe  permitte  de  os  interpretar 
de  uma  maneira  mais  agasalhadora  e  me¬ 
nos  perturbada. 

Não  é  preciso  admirar  que,  do  seu 
ponto  de  vista  actual,  estes  factos  parecem 
extranhos,  perturbadores,  mysteriosos  e  incrí¬ 
veis.  O  admiravel  é,  que  a  sua  lealdade, 
ao  par  dos  factos  e  da  verdade,  lhe  per¬ 
mitte  de  os  acceitar  como  fazendo  parte 
das  realidades  do  Universo.  Elles  fazem, 
com  effeito,  parte  mas  ha  outras  cousas  que 
são  também  a  realidade.  E  quando  nós  ti¬ 
vermos  acceito  o  Ether  e  o  incorporarmos 
ao  nosso  systema,  —  esta  cousa  que  actual- 
mente  a  sciencia  biologica  ignora  comple¬ 
tamente,  como,  de  resto,  todas  as  sciencias, 
exceptuando  uma  metade  da  Physica,  —  en¬ 
tão  o  horisonte  começará  a  se  esclarecer,  o 
nevoeiro  desapparecerá,  e  uma  estrella,  ou 
mesmo  um  sói,  virá  illuminar  a  nossa  obs¬ 
curidade.  Eu  disse  que  tenho  mais  a  negar 
que  a  affirmar.  O  Prof.  Richet  se  abstém  de 
negar,  mas  algumas  de  suas  asserções  são 
temerárias.  Elle  nega  com  hesitação  ;  affirma 
com  vigor.  Procedimento,  de  todo,  admira¬ 
vel  ;  mas  nessa  conjunctura,  terei  a  teme¬ 
ridade  de  seguir  um  caminho  opposto.  Vou 
negar  com  vigor  e  affirmar  com  hesitação. 
Somente  num  alvo  de  claridade  e  de  pre- 
sição,  creio  preferível  de  exprimir  minhas 
affirmações  sob  uma  forma  positiva  e  dog¬ 
mática  que,  sem  esta  explicação  preliminar 
não  estaria  de  accordo  com  a  natureza  do 
objecto.  E  devo  esperar  que  os  meus  crí¬ 
ticos  comprehendem  bem  que,  quando  aban¬ 
dono  as  negações  pelas  asserções,  não  for¬ 
mulo  do  mesmo  modo  senão  uma  hypothe- 
se  de  trabalho,  fazendo  unicamente  um  es¬ 
forço  para  construir  uma  concepção  racio¬ 
nal  das  leis  e  princípios  da  sobrevivência 
humana. 

A  evidencia  para  a  sobrevivência,  de¬ 
ve  se  basear  no  seu  proprio  valor,  tanto 
quanto  a  hypothese,  sem  ser  entravada  pe¬ 
las  superstições  triviaes. 

Tenho  a  negar  e  a  repudiar  algumas 
destas  superstições,  d’uma  maneira  solem- 
ne  e,  neste  terreno,  eu  sei  que  estou  de 
accordo  com  os  espíritos  mais  rasoaveis. 

O  Prof.  Richet,  e  talvez,  outras  pes¬ 
soas  no  campo  physiologista  —  parecem 


desejosos  de  transformarem  estas  supersti¬ 
ções  dos  séculos  das  trevas»  á  éra  scienti- 
fica,  mas  não  se  pode  acceitar  esse  modd 
de  proceder.  O  assumpto  é  bastante  difficil 
em  si,  com  estas  complicações  impossíveis 
e  inúteis. 

A  minha  primeira  negação  é  então  di¬ 
rigida  contra  a  «resurreição  de  um  corpo». 

Durante  séculos  a  humanidade  se  acos¬ 
tumou  a  pensar  nos  mortos,  como  se  elles 
estivessem  enterrados  num  sepulchro  espe¬ 
rando  qualquer  acontecimento  futuro,  e  os 
que  acceitavam  esta  particularidade  eram, 
naturalmente,  pouco  propensos,  e  alliar  a  fé 
nas  apparições  dos  defuntos,  a  menos  que 
não  fosse  possivel  encontrar  seus  tumulos 
vasios. 

Hoje  julgamos  absurda  a  idéa  de  um 
corpo  resuscitado  e  errante  ;  portanto,  a  his¬ 
toria  das  crenças  populares  nos  mostra  que 
tal  opinião  era  corrente;  algumas  vezes  con- 
cebia-se  o  corpo  de  um  suicida,  para  ga¬ 
rantir  o  seu  repouso  difinitivo.  A  razão  des¬ 
ta  pratica  absurda  é  sem  duvida,  analoga 
á  idéa  do  Prof.  Richet,  a  saber — que  a 
personalidade  estava  ligada  tão  intimamente 
ao  corpo  material,  que  toda  a  apparição 
posthuma,  visivel  ou  tangível,  não  se  po¬ 
dia  explicar,  senão  pela  utilisação  do  refe^ 
rido  corpo.  Durante  a  Idade  Media  mesmo, 
certos  padres  da  Egreja  não  podiam  sepa¬ 
rar  a  idéa  de  uma  resurreição  final,  da  no¬ 
ção  de  um  tumulo  abandonado,  d'uma  col- 
leção  de  partículas  originaes  do  corpo,  du¬ 
ma  reconstitução  dessas  partículas  em  or- 
gãos,  em  seguida  d'uma  revivificação. 

Mas,  os  factos  nenhuma  justificação 
permittem  de  semelhante  idéa,  e  os  que 
sustentam  o  ponto  de  vista  «espirita»  de¬ 
sejam  como  o  physiologista,  que  não  se 
admitta  sem  reserva  tudo  o  que  concerne 
a  desintegração  posthuma,  a  decomposição, 
a  incineração,  etc.  As  concepções  materia¬ 
listas  que  sobrevivem  ainda  das  crenças  po¬ 
pulares  devem  ser  inteiramente  abandona¬ 
das.  Si  se  acha  que  uma  apparição  ou  um 
phantasma  possúe  traços  e  marcas  physicas 
do  instrumento  material  abandonado,  então 
é  preciso  acceitar  o  facto  e,  como  é  neces¬ 
sário,  procurar  algures  uma  explicação.  Ne¬ 
nhuma  explicação  baseada  sobre  a  revivifi¬ 
cação  de  um  cadaver  pode  ser,  um  só  ins¬ 
tante,  acceita. 

Isto  parece,  na  verdade,  a  explicação 
nova  e  clara,  mas  á  luz  dos  modernos  co¬ 
nhecimentos,  deve  ser  posta  de  lado  e  con¬ 
siderada  caduca. 

Quando  nós  affirmainos  que  os  factos 
sustentam  a  doutrina  da  sobrevivência ,  não  é 
por  IS  TO  que  entendemos. 

As  praticas  egypcias  antigas  e  suas 
idéas  sobre  a  morte,  deviam  ter  s;do  desa- 


Revista  Internacional  do  Espiritis m o 


<3-  7 


gradaveis  e  dolorosas.  A  noção  de  que  a 
alma  sobrevivente  ou  Ká  tinha  necessidade 
de  alimentação,  de  utencilios  e  apparelhos, 
que  se  depositava  no  tumulo  nesta  intenção 
e  para  sua  commodidade,  eis  uma  idéa  bem 
infantil  da  humanidade,  que  tem  causado 
muita  pena  aos  sobreviventes,  especialmen¬ 
te  aos  sobreviventes  pobres,  quando  medi¬ 
tavam  se  não  seriam  obrigados  a  qualquer 
cousa  essencial,  ou  se  não  teriam  negligen¬ 
ciado  o  indispensável  para  tornar  agradavel 
a  existência  futura  do  sêr  caro  desappareci- 
do. 

As  crenças  ecclesiasticas  da  Idade  Me¬ 
dia  eram,  de  certo  modo,  superiores  a  isto, 
Podia  ser  penoso  enterrar  a  pessoa  amada 
no  frio  e  no  escuro  para  os  séculos  sem 
fim  ;  mas,  em  todo  o  caso,  existia  a  crença 
que  o  elemento  material  ficaria  em  paz 
até  o  seu  despertar,  e  da  sua  reconstituição 
pelo  Poder  Divino.  Era-se  muitas  vezes 
atormentado  e  perturbado  sobre  a  sorte  da 
alma  que  podia,  dizia-se,  ficar  em  sofrimen¬ 
to  sem  auxilio  sobrenatural  da  evocação  do 
padre.  Esta  tem  dado  motivo  a  tantas  do¬ 
res,  porque  no  fundo  ellas  não  eram  supe¬ 
riores  ás  crenças  egypcias  da  antiguidade. 
Sabe-se,  apezar  d’isso,  que  a  phrase  «resur- 
reição  dos  corpos»  é  susceptível  de  uma 
interpretação  rasoavel  para  os  crentes,  co¬ 
mo,  por  exemplo,  aquella  que  eu  expliquei 
no  meu  livro  :  « OHOMhM  E  O  UNI l  EK- 
SO »  e  na  terceira  parte  do  « RAYMOND ». 
Mas.  a  sciencia  nada  tem  com  as  praticas 
ecclesiasticas.  O  seu  dever  é  examinar  os 
factos  sob  um  ponto  de  vista  inteiramente 
novo  e  differente.  Nós  devemos  pretender, 
e  pretendemos  que  o  corpo  physico,  logo 
que  concluiu  a  sua  obra,  fica  completamen¬ 
te  abandonado  e  acaba,  que  seus  átomos 
podem  servir  ainda  para  outras  formas  da 
vida  e  que  nenhuma  especie  de  personali¬ 
dade  ou  de  identidade  lhe  fica  associada. 

Quanto  ao  saber  no  que  se  torna  a 
personalidade,  e  o  que,  depois  da  morte, 
lhe  serve,  para  o  futuro,  de  instrumento,  é 
uma  cousa  que  é  preciso  investigar,  e  que 
é  preciso  adiar. 

Nenhuma  preoccupação  cultual  se  de¬ 
ve  misturar  a  este  estudo  ;  é,  francamente, 
uma  pesquiza  scientifica  a  fazer.  Pode  ser 
que  nós  ignoraremos  o  que  virá  a  ser  a  per¬ 
sonalidade,  mas  é  possível,  apezar  de  tudo, 
imaginar  em  uma  hypothese  de  trabalhos. 

Uma  hypothese  deste  genero  se  forma 
no  meu  pensamento  :  sua  genese  se  encon¬ 
tra  nos  escriptos  de  São  Paulo,  de  (demen¬ 
te  de  Alexandria,  de  Origenes  e  de  ou¬ 
tros  padres  da  Egreja.  E’  bem  provável  que 
suas  idéas  n’  aquelle  tempo,  fossem  coir 
demnadas  como  hereticas,  mas  isso  não 
prova  que  ellas  eram  falsas. 


Para  evitar  os  malentendidos  eu  de¬ 
sejo  fazer  observar  que  todas  as  minhas 
advertências  se  referem  aos  corpos  com- 
muns  e  ás  pessoas  vulgares.  Se  existe  um 
caso  de  um  «corpo»  excepcional,  pedindo 
um  estudo  especial,  e  si,  verdadeiramente, 
um  sepulchro  estava  vasio,  é  um  caso  que 
eu  não  abordarei  aqui  ;  pode  ser  que  eu 
possa  dizer  mais,  em  tempo  e  em  lugar 
mais  propicio.  Por  óra  eu  trato  da  ques¬ 
tão  das  apparições  e  da  sorte  dos  homens 
vulgares.  Os  factos  nos  fazem  suppôr,  que, 
por  vezes,  elles  apparecem  depois  da  sua 
morte,  mas  o  que  é  certo,  é  que  o  corpo 
physico  fica  no  sepulchro  ou  em  qualquer 
logar  onde  os  sobreviventes  collocaram-n'o. 
Si  se  admitte  franca  e  inteiramente  este 
ponto,  põe-se  fóra  de  discussão  uma  expli 
cação  materialista  e  grosseira  e  o  terreno 
fica  então  desembaraçado.  Depois  a  pesqui¬ 
za  pode  seguir  livre  desses  impecilios  de 
crenças  antiquadas.  Nunhuma  sobrevivência 
do  corpo  physico  existe.  Entretanto  nós  que 
julgamos  nos  acharmos,  ás  vezes,  em  com- 
municação  com  personalidades  sobreviven¬ 
tes,  temos  sido  informados  por  estas,  que 
ellas  possúem  «corpos»  tão  reaes  e  substan- 
ciaes  como  outr'  ora  ;  que  se  acham  idênti¬ 
cas  a  um  gráu  semelhante  que  mantém  a 
mesma  apparencia,  o  que  lhes  permitte  co¬ 
nhecerem-se  e  que  é  por  meio  desses  cor¬ 
pos  ou  instrumentos  de  manifestação  que 
elles  veem  uns  aos  outros-  e  é  assim  que 
elles,  com  o  auxilio  desses  corpos  se  acham, 
algumas  vezes,  em  condição  de  se  coinrnu- 
nicar  comnosco. 

Como  conciliar  estas  asserções  com  a 
que  precede?  É  ah i  justamente  que  inter¬ 
vém  a  minha  hypothese  de  trabalho,  hypo¬ 
these  que  não  é  acceita  só  por  mim,  mas 
por  muitos  outros  que  caminham  ás  apal¬ 
padelas  na  mesma  direcção;  hypothese  que 
nós  podemos  lêr  em  muitas  palavras  de  São 
Paulo,  o  que  nos  faz  pensar  que  este  genio 
inspirado  a  tinha  entrevisto,  embora  não  pu¬ 
desse  exprimir  nos  termos  que  nos  convi¬ 
riam. 

Si  eu  sou  tentado  a  chamar  «minha 
hypothese»  é  porque  (condições  psychicas  á 
parte)  eu  fiz  um  estudo  do  Ether,  do  Espa¬ 
ço,  de  toda  a  Vida.  Ella  me  parece,  assim, 
uma  entidade  mais  familiar,  substancial  e 
pratica,  que  para  muita  gente  que  não  es¬ 
tuda  não  o  é,  e  também  para  quem  ella 
apresenta  «um  não  sei  que»  de  indefinido, 
vago  e  imaginário. 

Entre  os  homens  de  sciencia  o  Ether 
não  tem  sido  estudado  senão  pelos  physi- 
cos,  e  mesmo  para  estes  ha  excepções.  Elle 
tem  sido  negligenciado  pelos  chimicos,  e 
não  tem,  provavelmente  attrahido  a  atten- 
ção  dos  biologistas  e  physiologistas  de  ne- 


<2>  8  ^ 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


nhuma  escola.  Apesar  disso  si  o  Ether  é 
uma  realidade  do  Universo,  pode  ser  que 
seja  dotado  de  funcções  chimicas  e  biológi¬ 
cas,  assim  como  das  funcções  physicas  co¬ 
nhecidas  da  sciencia. 

Nós  o  conhecemos  familiarmente  nos 
phenomenos  da  Luz,  da  Electricidade,  e  do 
Magnetismo.  Começamos  a  associal-o  tam¬ 
bém  definitivamente  á  Elasticidade,  á  Cohe- 
são,  á  Gravitação  e,  gradualmente,  aprende¬ 
mos  que  a  maior  parte  da  Energia  do  Uni¬ 
verso  e,  certamente,  toda  a  energia  poten¬ 
cial  lhe  pertence  e  não  á  Matéria. 

A  matéria  atômica  é  uma  cousa,  mas 
o  Ether  é  outra  cousa  ;  estes  dois  elementos 
estão,  talvez,  em  acção ;  de  facto,  estão.  O 
vinculo  entre  elles  é  a  Electricidade.  Mas  se 
nunca  houvesse  possibilidade  de  os  unificar 
admirando-os  como  manifestação  distincta 
de  um  unico  Principio,  não  ha  duvida  so¬ 
bre  o  qual  seja  o  mais  importante.  O  Ether 
é  o  elemento  fundamental;  a  Matéria  é  um 
elemento,  provavelmente  composto  das  mo¬ 
dificações  do  Ether.  No  fundo,  tudo  isto  é 
da  physica  orthodoxa,  salvo  na  prova  que 
não  está  igualmente  feita  para  que  todos  os 
physicos  sejam  forçados  a  admittir. 

Pode  existir  divergências  legitimas  de 
opinião,  mas  isto  é  um  ponto  de  vista  scien- 
tifico  bem  reconhecido  e  racional.  Está  bem 
fundado  na  deducção  dos  factos  e  inteira- 
mente  independente  de  considerações  psy- 
ehicas. 

Supponhamcs,  então  para  a  discus¬ 
são,  que  admittimos  o  Ether  e  o  Univer¬ 
so  physico  dotado  destas  funcções  que  a 
maior  parte  dos  physicos  lhe  attribuem, 
nesse  caso  se  apresenta  uma  questão  preci¬ 
sa  ;  não  se  deve  levar  em  conta  as  discus¬ 
sões  philosophicas  e  em  ultima  analyse,  a 
mesma  theoria  biologica  ? 

Para  explicar  tudo  isso  que  eu  disse 
seria  preciso  um  volume.  Nesta  discussão 
preciso  ser  breve  e  manifestar-me  mais  hy- 
pothetico  do  que  sou  em  realidade.  Mas 
quando  abordamos  a  Biologia,  somos  for¬ 
çados  a  ser  hypotheticos,  e  a  hypothese  do 
trabalho  que  eu  exponho,  deve  scr  acceita 
sem  resistência  até  que  se  encontre  os  fac¬ 
tos,  que  estudados  por  longo  tempo  e  com 
cuidado,  são  capazes  de  estabelecer  e  de 
servirem  de  chave  racional  dos  phenome¬ 
nos  que  muito  reaes,  nos  parecem  appa- 
rentemente  inexplicáveis. 

Para  o  Prof.  Richet  os  factos  parecem 
completamente  inexplicáveis.  Elle  tem  im¬ 
pressão  de  que  trabalha  na  obscuridade  e 
que  «a  unica  affirmação  prudente  consiste 
em  dizer  que  verdadeiramente  nada  sabe¬ 
mos,  absolutamente  nada  do  Universo». 

Sob  este  ponto  de  vista,  meu  agnos- 
ticismo  é  menos  profundo  do  que  o  seu. 


Eu  sinto  que  temos  uma  idéa  e  não  ha  quem 
saiba  si  ella  é  ou  não  digna  da  nossa  con¬ 
fiança  senão  seguindo-a.  Não  importa  que 
a  chave  tenha  mais  valor  que  tudo.  Eactos 
isolados  sem  serem  ligados  por  uma  theo¬ 
ria,  são,  para  assim  dizer,  seres  indóceis  e 
desconcertantes.  Não  se  pode  consideral-os 
como  pertencentes  á  sciencia,  que  é  um 
systema  de  conhecimentos  organisados. 

E  a  razão  que  os  Biologistas  são  em 
geral  tão  hostis  é  que,  faltando-lhes  a  chave, 
sua  consciência  repugna  mesmo  os  factos. 

Toda  a  honra  do  Prof  Richet  é  que, 
apezar  da  sua  repugnância,  elle  esteja  prom- 
pto  a  acceitar  os  factos;  mas  me  parece  que 
os  envolve  de  difficuldades  inúteis,  insistin¬ 
do  só  sobre  a  matéria  ;  nunca  cs  compre- 
henderá  por  concepções  sómente  materiaes. 
Rigorosamente  falando  nada  podemos  com- 
prehender  se  nos  limitamos  unicamente  ás 
concepções  materiaes.  Concentrando-nos  só 
sobre  a  matéria,  eliminamos  dos  nossos  pen¬ 
samentos  a  maior  parte  do  Universo.  Este 
contém  outras  cousas  além  da  matéria,  co¬ 
mo  sejam  o  magnestimo,  a  electricidade,  a 
luz,  o  ether;  contém  também  a  vida,  o  pen¬ 
samento,  o  espirito,  a  consciência,  a  memó¬ 
ria,  a  personalidade,  o  caracter.  Nenhuma 
destas  cousas  é  material ;  entretanto,  cousa 
assaz  bizarra,  algumas  delias  entraram  em 
associação  com  a  matéria  pelo  curioso  pro¬ 
cesso  da  Incarnação. 

E’  verdade  que,  durante  um  certo  tem¬ 
po,  Intelligencias  habitam  corpos  materiaes 
que  por  meios  apenas  conhecidos,  ellas  tem 
inconscientemente  construído.  E  evidente 
que  existe  um  Principio  Formador,  capaz 
de  operar  com  os  átomos  da  matéria,  ou 
antes  com  as  moléculas  mais  complexas  nas 
quaes  se  acham  já  grupados  os  átomos.  As¬ 
sim,  graças  à  Energia  que  estas  moléculas 
recebem  do  sol,  entidades  não  materiaes 
são  capazes  de  se  manifestar  normalmente, 
em  associação  com  a  matéria. 

A  ligação  é  tão  intima  que  nós  temos 
aprendido  a  indentif ical-as  aos  modos  mate¬ 
riaes  da  manifestação  e  somos  levados  a 
suppôr  que  ellas  não  podem  existir  por  si. 

Ignoramos  porque  ellas  tem  necessi¬ 
dade  de  uma  habitação  ou  de  um  instru¬ 
mento  pertencente  ao  universo  physico,  mas 
podemos  suppor  que  isto  não  lhes  falta  por 
uma  razão  desconhecida.  Sabemos  que  ellas 
se  servem  da  matéria,  si  bem  que  não  sai¬ 
bamos  porque,  nem  como.  Mais  os  factos 
demostram  actualmente  que  a  associação 
com  a  matéria  não  é  essencial,  um  sine 
qw.mon  para  a  sua  existência. 

Podemos  suppôr  que  ellas  podem  se 
servir  de  outra  cousa,  se  os  factos  nos  dão 
esta  indicação. 

(a  seguir)  OLIVER  LODGE 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3>  9 


OS  PRESENTI  MENTOS  DE 


CATULLE  MENDES 


hm  1904  morria,  em  Paris,  victimado  por 
uma  tuberculose  pulmonar,  o  grande 
poeta  Albert  Samain. 

Dia  seguinte  ao  das  suas  exequias,  a 
que  todo  o  Paris  intellectual  acorrera,  Ca- 
tulle  Mendès,  o  illustre  poeta  da  origem  por- 
tugueza,  cuja  obra  é  mundialmente  conhe¬ 
cida,  jantava  em  casa  de  amigos  seus,  na 
rua  S.  Petersburgo,  em  Paris. 

A  conversação  cahiu,  naturalmente,  so¬ 
bre  a  desapparição  de  Albert  Samain. 

Foi  uma  morte  analoga  à  de  Al- 
fred  de  Mussef  e  digna  de  um  romântico ! 
disse  alguém. 

—  É  facto  —  respondeu  Catulle 
Mendès  —  cuja  philosophia  de  bom  humor 
era  legendária.  Porém,  não  era  assim  que  eu 
desejaria  morrer. 

—  Como  era,  então,  mestre  ? 

—  Á  mesa  !  —  replicou  alegremente 
Mendès.  De  resto  eu  já  exprimi  em  versos 
esse  desejo  ! 

-  E  com  vóz  sonora,  o  poeta  decla¬ 
mou  os  versos  seguintes  de  sua  composição: 

Bonjour,  mort  !  Quelle  haridelle  ! 

Tu  n’es  pas  belle,  nom  de  nom  ! 

Bah  !  J’arrose  ton  asphodèle 
D’  um  dernier  verre  de  Chinon  ! 

Encore  un  rondei  pour  Manon, 

Encore,  sans  fúnebre  tirade, 

Um  baiser  dans  l’or  d’un  chignon  ! 

Quand  tu  voudras,  ma  camarade  ! 

(Bom  dia ,  morte  !  Que  munia  ! 

Com  franqueza ,  tu  não  és  bei  la 
Não  importa  !  Rego  o  teu  asphodelo 
Com  um  ultimo  copo  de  Chinon  ! 

Ainda  uma  rolondilha  em  honra  de  Manon , 
Ainda,  sem  fúnebre  tirada. 

Um  beijo,  numa  nuca  dourada  ! 

Ao  teu  dispor ,  minha  camarada  !) 

E,  tendo  esvasiado  o  copo,  o  poeta 
com  o  olhar  perdido  no  vago,  accrescentou : 

-  Ah !  mas  não  será  assim  que  eu 
morrerei ! 

Quando  penso  na  minha  morte,  tenho 


os  olhos  como  uma  visão  de  horror!  Pare¬ 
ce-me  que  morrerei  numa  catastrophe,  num 
incêndio  de  theatro,  num  desastre  de  cami¬ 
nho  de  ferro  ! 

;Jí 

*  H* 

Algum  tempo  depois  do  episodio  que 
acabamos  de  narrar,  alguém  lembrava  ao 
poeta  outros  versos  em  que  Mendès,  no 
seu  poema  La  Grivedes  Vignes,  cantava  o 
seu  pouco  temor  da  morte,  por  causa  das 
lembranças  da  sua  primeira  canção  de 
amor. 

—  Podesse  eu  morrer  como  cantei, 
suspirou  Mendès  .  .  . 

Mas  não  terei  essa  felicidade  ! 
Desgraçado  de  mim.  Tenho  amado  a  belle- 
sa  das  flores,  o  encanto  da  luz,  as  mulhe¬ 
res  e  o  vinho,  morrerei  de  uma  morte  hor¬ 
rível,  sozinho,  mergulhado  nas  trevas  da 
noite  !  .  .  . 

* 

*  * 

No  dia  8  de  fevereiro  de  1908,  ás 
quatro  horas  da  manhã,  sob  o  tunnel  de 
Saint-Germain,  o  cadaver  de  Catulle  Men¬ 
dès  era  encontrado  pelos  guardas  da  linha. 
A  caixa  craneana  fôra  quebrada  como  uma 
noz  e  a  matéria  cerebral  tinha  espirrado 
por  todas  as  fendas.  O  poeta  tivera,  alem 
disso,  uma  clavícula  e  uma  perna  cortadas 
pelas  rodas  do  comboio. 

O  infeliz  estava  vestido  de  casaca  e  a 
sua  bengala  e  a  sua  cartola  achavam-se  ao 
lado  do  cadaver. 

Mendès  voltara  de  uma  recepção  mun¬ 
dana.  Na  Vespera  tornára  o  trem  de  meia 
noite,  para  voltar  para  Saint-Germain,  onde 
morava.  Tendo  adormecido,  acordou  muito 
provavelmente  quando  o  comboio  se  apro¬ 
ximava  da  estação  dessa  cidade,  e  como 
sob  o  tunnel  o  trem  diminue  sensivelmen¬ 
te  a  marcha,  Catulle  Mendès,  acreditando 
se  perto  do  cáes  do  desembarque,  prepara¬ 
va-se  para  descer,  illudido,  talvez,  pelas  lu¬ 
zes  que  elle  tomou  pelas  da  estação.  E  foi, 
segundo  toda  a  probabilidade,  dessa  manei¬ 
ra  que  se  enganou  e  cahiu,  morrendo  de 
uma  morte  atroz,  sozinho,  mergulhado  nas 
trevas  da  noite,  como  elle  proprio  o  anun¬ 
ciara. 


<3>  10 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


ü  €spiritismo  ao  ar  livre 

Os  “Camp-jMedings”  Espiritas 


fVlinguem  ignora  os  progressos  que  o 
*  ^  Espiritismo  tem  feito  em  todo  o  mundo. 
Pode-se  dizer  que  não  existe  um  lugar  do 
pianeta  em  que  os  Espíritos  não  tenham 
t\ito  prevalecer  a  sua  benefiea  influencia, 
attrahindo  as  almas  para  a  vida  na  Immor- 
talidade.  Mas  onde  o  Espiritismo  conta 
maior  numero  de  adeptos  e  admiradores  é 
nos  Estados  Unidos  da  America  do  Norte. 

E  é  muito  razoavel  que  assim  seja, 
porque,  como  sabem  os  cultores  do  EspD 
ritismo,  foi  na  America  do  Norte,  na  humil¬ 
de  aldeia  de  Hysdeville,  aldeia  esta  situada 
no  condado  de  Wayne,  circumscripção  de 
Arcadia  que,  por  intermédio  das  irmãs  Fox, 
os  Espíritos  deram  as  primeiras  manifesta¬ 
ções  na  linguagem  typtologica,  ou  seja  por 
meio  de  pancadas,  prendendo  a  attenção 
dos  homens  para  uma  nova  ordem  de  phe- 
nomenos  que  vinham  iniciar  a  humanidade 
na  trilha  do  dever  que  conduz  á  Perfeição. 

A  partir  dessa  época  uma  grande  par¬ 
te  do  povo  da  União  Americana  tomou 
verdadeiro  interesse  pelos  phenomenos  me- 
dmmnicos,  chegando  a  forçar  os  sábios 
americanos  ás  pesquizas,  e  d’ahi  á  funda¬ 
ção  de  associações  de  Estudos  Psychicos, 
taes  como  existem  muitas  na  America  do 
Norte. 


Aquelles  que  conhecem  o  genio  ame¬ 
ricano  sabem  que  o  que  caracterisa  esse 
povo,  é  a  idéa  de  grandeza,  elles  sentem 


uma  necessidade  irresistível  de  fazer  tudo 
em  ponto  giande  e  ainda  mais,  de  crearem 
emprezas  fora  do  commum,  exquisitas  mes¬ 
mo,  vamos  dizer,  que  não  apresentam  ca¬ 
racter  de  similaridade. 

E’  assim  que  deliberaram  a  creação 
dos  «camp-meeíings»  espiritas,  onde  mani¬ 
festam  as  suas  convicções  em  reuniões-co¬ 
losso  que  se  realisam  em  épocas  determi¬ 
nadas 

Attrahidos  pelas  manifestações  da  Na¬ 
tureza,  elles  acham  que  o  lugar  propicio  ás 
grandes  manifestações  do  pensamento  é  o 
da  Natureza,  e  varias  pessoas  deram  inicio 
á  fundação  dos  «camp-meetings»,  sendo 
que  o  primeiro,  fundado  á  margem  do  pi¬ 
toresco  Lago  Pleasant,  no  Estado  de  Mas- 
sachusset,  a  cem  milhas  de  Boston  foi 
inaugurado  em  187d.  De  facto,  é  um  sitio 
encantador  e,  desde  então,  centenas  de  mo¬ 
radas  foram  construídas  na  encosta  das 
collinas  que  cercam  o  Lago.  Quando  o  es¬ 
tio  chega,  essas  habitações  são  invadidas 
pelos  nossos  confrades  americanos  e  um 
verdadeiro  acampamento  espirita,  ou  mais 
ainda,  um  minusculo  Paiz-Espirita  se  im¬ 
provisa  em  torno  do  poético  e  tranquillo 
Lago. 

Depois  de  1873,  a  moda  dos  «camp- 
meetings»  espalhou-se  e,  em  quasi 
todos  os  Estados,  foram  organisa- 
das  reuniões  idênticas. 

A  partir  de  Maio  até  Outubro, 
esses  lugares  de  reuniões  espiritas 
campestres  são  frequentadissimos. 
Em  troco  de  uma  somina  módica, 
os  viajantes  podem  \iver  nos  ho¬ 
téis  e  cotíazes  que  formam  os  « canip - 
meeüngs »  transformados,  com  o 
andai  dos  tempos,  em  verdadeiras 
emprezas  sabiamente  organisadas. 

Todas  as  mediumnid^des  oos- 
siveis  e  imagináveis  se  encontram 
reunidas  em  um  camp-meeting.  Um 
serviço  de  informações  dos  mais 
completos  é  orgamsado  e  o  viajan¬ 
te,  que  acaba  de  chegar,  sabe  im- 
mediatamente  em  que  ponto  do 
«Paiz-Espirita»  pode  eucontiar  um 
médium  de  incorporação,  typtologia, 
escripta  automatica,  escripta  sobre 
ardósia,  «trompette,»  transporte,  ef- 
feitos  photographicos,  etc.,  etc. 

Quotidianamente  conferencistas  de 
nomeada  fazem  ouvir  a  sua  palavra  a  mi- 


U  Lago  Colby,  onòe  5e  acha  o  «Uamp»  (Perto 
òo  Lago  Helem,  Floriòa) 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


o>  II 


lhares  de  auditores, 
que  bebem  os  seus 
ensinamentos  a  largos 
tragos,  e  que  pelo 
pensamento  se  elevam 
ás  mais  altas  esphe- 
ras. 

Os  Camp-me- 
etings  nos  Estados 
Unidos  contam-se  ac- 
tuaimente  por  cente¬ 
nas.  As  conferencias 
sáo  methodicamente 
traçadas  e  seguem  um 
programma  ascenden¬ 
te,  do  qual  cada  as¬ 
sumpto  é  tratado  a 
seu  dia. 

Na  grande  cal¬ 
ma  da  natureza,  ao 
abrigo  das  arvores 


Alguns  eôif icioõ  òe  um  «camp»  perto  òo  Lago  Helem 


0  «Camp  meeting»  espirita  òe  Unset  bay 


seculares  esses  espíritos  esquecem-se  por 
um  instante  a  agitação  das  cidades.  Expe¬ 
rimentam  uma  grande  quietitude,  e  natura- 
lisados  cidadãos  d’  um  «Paiz»  nascido 
quasi  por  milagre  vivem  à  moda  ca  terra; 
fraternalmeníe,  igualmente,  de  accordo  com 
a  applicação  exacta  das  idéas  de  simplici¬ 
dade  e  igualdade,  lembradas  pelo  Chi  isto. 

Os  carn  p-meetings ,  não  lia  duvida, 
exercem  uma  influencia  salutar  sobre  os 


que  querem  com  since¬ 
ridade  penetrar  os  mys- 
terios  do  homem  e  da 
Natureza.  Além  disso  a 
conformidade  das  cren¬ 
ças  faz  com  que  cada 
um  dos  participantes 
dessas  colossaes  reu¬ 
niões  tire  uma  força 
maior  de  pensamento  do 
exemplo  dos  seus  visi- 
nhos, 

A  variedade  de  me- 
diumnidades  reunidas 
nos  comp-nieetings  d  á 
também  de  seu  lado  in¬ 
teressantíssimos  resulta¬ 
dos,  pois  que  os  mé¬ 
diuns,  enconirando-se  em 
meios  tão  favoráveis,  as 
suas  faculdades  tomam 
um  incremento  prodigioso. 

No  nosso  paiz  é  bem  diffic.il  que  a 
idèa  dos  camp-meeímgs  seja  levada  a  effei- 
to,  mas  chegará  o  dia  dessas  estações  bal¬ 
nearias,  completamente  transformadas,  ser¬ 
virem  de  meios  de  instrucção,  de  retiro  es¬ 
piritual,  onde  os  «banhistas»  e  os  «vera¬ 
nistas,»  encontrarão  o  descanço  para  o  cor¬ 
po  e  o  recreio  para  o  espirito,  além  do  com¬ 
pleto  restabelecimento  da  saude. 


A  PERFEIÇÃO 


O  amor  géra  a  perfeição  de  todas  as 
cousas,  pois  elle  mesmo  é  a  perfeição. 

O  espirito  é  votado  á  conquista  des¬ 


sa  perfeição,  que  é  a  sua  essencia  e  o  seu 
destino,  Elle  deve,  por  seu  trabalho,  appro- 
ximar-se  da  intelligencia  soberana  e  da  in¬ 
finita  bondade;  deve,  portanto,  revestir  pro¬ 
gressivamente  a  forma  mais  perfeita  que 
caracterisa  os  seres  perfeitos. 

Pamphilo. 


<3>  12  -e> 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


-o 


ni 


de 


o: 


<T~ 


"S 


\  REVISTA  hindú  Kalpaka ,  nos  dá  a  noticia  recente  do  resultado  de  uma  «enque 
^  te,»  sobre  o  caso  de  reminiscências  das  vidas  passadas,  phenomenos  observa¬ 
dos  em  quatro  meninos,  pelo  Dr.  Rao  Bahadur  Syam  Sunderlal. 

A  «enquête»  foi  ordenada  por  S.  A.  o  Mahajarah  de  Bhartpur,  tendo  sido  feita 
com  perfeito  conhecimento  scientifico. 

❖  *  ÍJÍ 


1.0  C  ASO  DO  JIBMNO  "PRABBU” 

()  caso  deste  menino  me  foi  indicado  por  S.  A.  o  Maharajah  de  Bhartpur  no 
mez  de  agosto  de  1Q22. 

Elle  tem  o  nome  de  Prabbu  (brahamane),  é  filho  de  Khairati  (brahamane).  de  Sa_ 
limpur  (Estado  de  BHARATPUR)  e  no  momento  da  «enquête»  tinha  4  annos-7  mezes 
e  18  dias  de  idade. 

Depois  que  começou  a  falar,  Prabbu  contou  a  seu  pae  as  lembranças  que  pre¬ 
tendia  ter  de  uma  existência  anterior.  A  «enquête»  a  esse  respeito  comporta  duas  pha- 
ses:  na  primeira,  o  menino  foi  interrogado  mesmo  na  casa  de  seu  pae,  no  mez  de 
março  de  1923,  pelo  naib  Thesildar.  Na  segunda,  o  menino,  a  meu  pedido,  foi  condu¬ 
zido  á  Hatyori,  cidade  onde  pretende  ter  vivido  em  sua  ultima  existência.  O  Thesil¬ 
dar  de  Weir,  levou-o  em  sua  companhia  e  chamou  immediatamente  quatro  das  princi- 
paes  notabilidades  da  cidade:  Dharam  Singh  Foujdar,  com  60  annos;  Foujdar  Azmat 
Singh,  com  50  annos;  Foujdar  Sam  Singh,  73  annos  e  Harknath  Brahmane,  com  40 
annos.  O  menino  e  o  Thesildar  chegaram  á  noite  e  as  notabilidades  da  cidade  foram 
levadas  á  presença  do  menino  dia  seguinte  a  1  hora.  O  menino  foi  interrogado  na 
presença  delles. 

Eis  aqui,  palavra  por  palavra,  as  declarações  do  menino,  feitas,  seja  em  casa  de 
seu  pae,  seja  em  presença  dos  notáveis  de  Hatyori  e  a  resenha  controlada  dessas  de¬ 
clarações  : 


DECFARAÇÕES  DO  MENINO  CONTROLE  DAS  DECLARAÇÕES 

A)  em  casa  de  seu  pai. 


1. °  —  Eu  era,  em  minha  vida  precedente 

Harbuxy  brahmane,  da  cidade  de 
Hatyori,  no  Bhartpur. 

2. °  —  Eu  tinha  dois  filhos,  Ghure  e  Shyan 

Lai  e  duas  filhas  KoJiila  e  -Bholi; 
uma  casou  com  Ramhet ,  de  Kho>/i, 
outra  Gokal  de  Navar. 

Eu  recebi  dinheiro  pelo  casamento 
da  primeira,  mas  consenti  o  matri¬ 
monio  da  segunda  sem  indemnisa- 
ção  pecuniária  alguma. 

3. °  —  Eu  tinha  uma  casa  em  Hatyori. 

4. °  —  A  casa  de  Swarupa  Jal  era  contí¬ 

gua  á  minha. 

5  o  _  Swarupa  Jat  tinha  um  filho  e  uma 
filha. 

6.°  —  Havia  uma  vereda  elevada  calçada 
de  pedras. 

Havia  um  açude,  no  meio  do  qual 
existia  uma  casa  e  acima  do  açude 
um  Chhatri  (cenotaphio  com  cupola.) 


E’  exacto  que  um  indivíduo  chamado 
Harbux,  filho  de  Muhde,  havia  morado  em 
Hatyori  e  morreu  ha  cinco  annos,  mais  ou 
menos. 

Todos  esses  detalhes  são  completa¬ 
mente  exactos. 


Exacto. 

Exacto. 

Exacto. 

Exacto. 

Exacto  em  todos  os  detalhes. 


7.o 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


o»  13 


8.°  —  Haviam  duas  casas  ahi,  uma  sobre 
outra  no  açude. 

Q.o  —  Hatyori  tinha  poços  de  agua  po¬ 
tável  : 

a)  Panhariwala ,  sombreado  por  du¬ 
as  figueiras  sagradas; 

b)  Kankarwula.  sombreado  por  a- 
meixeiras ; 

c)  Mooliwala,  sombreado  por  man¬ 
gueiras. 


lo.  o  Eu  tinha  uni  Gujar  da  aldeia  ue 

Bliore  como  Jaynian. 

ll.o  -  Ha  uma  inscripção  numa  fortaleza 
onde  existe  uma  serpente. 


12.0  -  No  anuo  da  fôme  (Sambat  934) 
eu  estava  em  Hatyori  e  tinha  uma 
junta  de  búfalos  com  a  qual  culti¬ 
vava  meus  campos. 

13.o  —  Eu  morri  na  vivenda  de  meu  pai, 
em  um  buugalow  fora  da  aldeia. 

14.o  —  Eu  vivi  depois  da  minha  morte  no 
mundo  espiritual  (o  mundo  de 
Deus). 

15.0  —  Fantasia  infantil  sobre  a  divindade. 

16.0  —  Deus  me  disse  que  fosse  á  Salirn- 
pur  (actual  lugar  do  meu  nascimen¬ 
to). 

1 7.0  ---  O  nome  de  minha  mulher  era 
Ganjo  (que  significa  calvo) 

18.0  —  Meu  pai  chamava-se  Mudhe. 

19.0  —  Meu  tio  materno  vivia  em  Bugaon . 

20.0  —  Meu  sogro  morava  em  Burhwari. 

2i.o  —  Moola  Jat  cahiu  em  meu  poço,  e 
eu  pude  tiral-o  são  e  salvo. 


Exacto. 

Exacto. 

O  poço  Panhariwala  é  com  efíeito, 
sombreado  por  figueira.-  sagradas. 

O  poço  Kankarwala  é  secco  e  ja  esta¬ 
va  secco  no  tempo  de  Harbux 

As  ameixeiras  que  sombreavam  de- 
sappareceiam  ;  não  resta  senão  uma  figuei¬ 
ra. 

O  poço  Mooliwala  é  desconhecido. 

Existe  u  m  poço  Jhasroya wala,  som¬ 
breado  por  uma  mangueira  e  uma  figuei¬ 
ra. 

Esta  aliegação  não  poude  ser  contro¬ 
lada. 

Na  fortaleza  não  existe,  nem  inscrip¬ 
ção,  nem  serpente,  mas  ha  'à  uma  legenda 
na  aldeia. 

Harbux  devia  nella  crer  como  os  seus 
]  compatriotas. 

Exacto. 


Errado.  Harbux  morreu  em  sua  casa 
da  aldeia,  depois  da  morte  de  seu  pae. 


Sua  mulher  se  chamava  Gauron,  mas 
davam-lhe  o  apellido  de  Ganjo,  porque 
ella  era  um  pouco  calva. 

Exacto. 

Exacto. 

Exacto. 

Não  se  poude  controlar  o  feito 
Ninguém  na  cidade  delle  se  lembrava. 


O  Tehsildar  nota  que  o  menino  emquanto  se  o 
falar  como  um  bébé. 


interrogava. 


punha  se  a  sorrir  e  a 


B)  DECLARAÇÕES  FEITAS  EM  HATYO¬ 
RI  NA  PRESENÇA  DOS  NOTÁVEIS: 

O  menino  confirma  iodas  as  declara¬ 
ções  precedentes  e  accrescenta  cou¬ 
sas  inéditas  taes  como  estas: 

Elle  tinha  ties  irmãos:  l.o  Gilla, 
que  lhe  sobreviveu ; 

2.o  —  Ghunni ,  cuja  morte  precedeu  à  sua ; 

3.o  O  nome  de  3.0  irmão  elle  uao  se 
recordava  mais 

Elle  encontiou  um  dia  uma  ser¬ 
pente  na  capoe'ra,  hypnotisara-a, 
depois  batera-a  contra  uma  arvore 
mat  mdo-a. 


Harbux  não  linha  senão  um  irmão, 
Sheobux ,  mas  Ghunni  e  Gilla  eram  seus 
primos  irmãos  (filhos  de  seu  t«o  B/tola) 

Ghunni  morreu  bem  antes  de  Harbux. 
Não  se  poude  encontrar  uma  confir¬ 
mação  deste  feito. 


o>  14  <==> 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Elle  era  Purohit  da  aldeia  de  Rh....  Exacto.  O  filho  de  Harbux  é  ainda 

padre  da  tgreja  desta  aldeia. 

Elle  declarou  não  se  lembrar  de 
outros  nomes  dos  membros  de 
sua  familia,  senão  os  que  desig¬ 
nara  . 

Ao  que  toca  sua  existência  no 
além-tumulo,  elle  disse  que  não  se 
lembrava. 

Quando  o  controle  terminou,  pediu-se  ao  menino  que  encontrasse  a  sua  antiga 
habitação.  Elle  se  pôz  a  caminho,  deu  alguns  passos,  depois  parou,  exitando.  O  Tehsil- 
dar  tomou-o  oela  mão,  e  o  menino  recomeçou  a  andar  depois  de  um  momento.  De¬ 
pois  de  alguma  exitação  elle  foi ,  por  si  mesmo,  até  á  sua  antiga  casa  e  tomou  « seu  filho » 
Ghure  pelo  dedo.  O  caminho  para  ahi  chegar  era  longo  cheio  de  tortuosidades ,  mas  o  meni¬ 
no  nem  por  isso  deixou  de  chegai  ao  fim.  As  casas  estavam  em  ruinas,  chegando  ao  lo- 
gar  onde  estava  o  portico  da  sua,  deteve-se,  incerto,  e  não  poude  situar  exactamente  a 
sua  habitação  no  meio  das  ruinas  accumuladas.  ahi  O  menino  não  reconheceu  pessoa 
alguma  de  Hatyori,  reencontradas  como  sendo  suas  conhecidas  na  sua  vida  anterior  e 
não  poude  se  lembrar  o  nome  de  outras,  salvo  as  designadas. 

O  Naib  Tehsildar  accrescentou,  para  concluir,  que  o  menino,  não  foi  instruído  por 
pessoa  alguma  sobre  estas  cousas  e  que  o  seu  caso  é  um  caso  authentico  de  lembran¬ 
ça  de  sua  vida  precedente. 

Em  consequência,  seguindo  o  conselho  do  honrado  C.  C.  Watson,  agente  acre¬ 
ditado  do  Governador  Geral  de  Rajpoutana,  procurou-se  completar  os  testemunhos  e 
assegurar  que  elle  não  tinha  tido  instrucção  previa.  Tomou-se  então  precauções  para  in¬ 
terrogar  nitidamente  o  pae  do  pequeno,  saber  como  elle  se  lembrava  de  sua  vida  ante¬ 
rior  e  si  alguém  da  aldeia  de  Salipur  tinha  alguma  familiaridade  com  Hatyori. 

Eis  aqui  o  testemunho  de  Khairati,  pae  do  menino,  tal  como  foi  obtido  pelo  Teh¬ 
sildar  de  Weir  (Rajpoutana)  graças  aos  esforços  de  S.  A.  o  Maharajah  de  Bharatpur  : 

Testemunho  de  Khairati ,  pae  do  menino  « Prabbu »  de  Salempur,  Paragnah  Weir  Es¬ 
tado  de  Pharapur,  levantada  por  Ram  Singeh,  Naib  Tehsildar. 

«  l.o  —  Horoscopo  de  Prabbu  foi  tirado  ao  seu  nascimento,  eu  o  encerrei  num  vaso 
«  logo  que  voltei  para  minha  casa. 

«  2.0  —  Foi  a  mim  que  Prabbu  falou  primeiro  de  sua  ultima  incarnação.  Elle  exclamou 
«  um  dia  de  repente,  que  seus  caros  filhos  estavam  em  má  situação  e  que  elle 

«  queria  auxilial-os.  Repetiu  isto  varias  vezes,  e  quando  eu  lhe  perguntei  quem 

eram  seus  filhos  ou  onde  estavam  e  porque  dizia  asneiras,  elle  calou-se. 

«  Mais  tarde,  sentado  ao  lado  de  sua  mãe,  que  batia  manteiga,  elle  disse  que 

ella  era  avarenta  de  manteiga,  emquanto  que  sua  precedente  mãe  fazia-o  sen- 
tar-se  ao  lado  da  mantegueira  e  lhe  dava  grandes  bocados.  Ella  perguntou-lhe 
onde  estava  sua  precedente  mãe.  Elle  replicou  que  estava  em  Hatyori,  que  seu 
«  verdadeiro  nome  era  Harbux,  e  que  deviam  chamal-o  assim  e  não  Prabbu. 

«  Outra  occasião,  dormindo  ao  lado  de  sua  mãe,  estremeceu  e  exclamou:  «Oh 

meu  Deus  !  meus  filhos  estão  em  triste  situação».  Disse-se,  então,'  que  contas¬ 
se  sur  precedente  incarnação,  o  que  fez  narrando  factos  já  repetidos  por  Nâib 
l<  Tehsildar,  e  a  noticia  repercutiu  por  toda  a  aldeia. 

Eu  nunca  estive  em  Hatyori  e  nenhuma  relação  tenho  ahi  com  pessoa  alguma , 
*  nem  tenho  parentes ,  nem  negocios  commerciaes. 

«  3.o  —  Eu  sou  o  pae  de  Pralibu.  A  historia  da  sua  incarnação  passada  foi  feita  pri¬ 
meiramente  pelo  menino  a  mim  e  a  minha  mulher. 

Outros  ouviram-iTa  em  seguida.  O  horoscopo  poude  ser  estabelecido  e  mos¬ 
tra  que  meu  filho  nasceu  na  noite  de  Mah  Sudi  2.0  Sambat  1973  e  que  está 
«  com  4  annos,  7  mezes  e  18  dias.» 

Os  casos  seguintes  foram  também  por  mim  completamente  observados.  Elles 
apresentam,  pelo  menos/  detalhes  interessantes  : 


2.0  (  ASO  (IIIIIDA. 

Um  Rajpoute,  filho  natural,  chamado  Chhida,  da  aldeia  de  Mhowa,  situada  sobre  o 
Chambal,  rio  do  Estado  de  Gwalior,  tinha  tido  uma  questão  com  a  filha  viuva  dum 
brahmane  desta  mesma  aldeia. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


15  •€> 


O  brahmane  dispôe-se  a  accusar  o  Rapjout  pelo  roubo  de  mais  postaes  e  um 
mandato  de  prisão  foi  expedido  contra  Ch h ida.  Este  tendo  sido  informado,  embrenhou- 
se  nos  barrancos  proximos  do  rio.  Eile  lhe  deu  cinco  rupias  (moeda  dos  indios),  afim 
de  procurar  um  sino  e  de  offerecer,  em  seu  nome,  ao  templo  de  Shiva,  em  Mhowe 
Pouco  depois,  Chhida  foi  morto  por  um  agente,  quando  repousava  sob  uma  arvore. 

Então,  cinico  annos  mais  tarde,  em  uma  de  suas  Uournées»,  eile  vae  a  casa  de  uma 
famiiia  brahmane,  na  aldeia,  para  vender  mercadorias.  De  repente,  um  menino  da  casa 
de  4  annos,  approximou-se,  apoderou-se  de  alguns  objectos  e  retirou-se  com  elles. 

O  mercador  perseguiu-o.  Quando  approximou-se  do  menino,  este  lhe  disse  que 
apoderando-se  dos  objectos,  não  fazia  senão  entrar  na  posse  de  seus  bens.  Eile  se  lem¬ 
brava,  dizia,  de  ter,  em  sua  precedente  existência,  dado  dinheiro  ao  mercador  para  com¬ 
prar  um  sino,  dinheiro  de  que  o  mercador  se  tinha  indem damente  apropriado! 

Este  incidente  fez  grande  ruido.  Uma  velha  senhora,  mãe  de  Chhida,  veiu  ver  o 
menino.  El  la  levou-o  para  sua  aldeia  e  o  menino  soube  reencontrar,  em  Mhowa,  a  casa 
que  eile  dizia  ter  habitado  quando  fôra  Chhida! 

*  *  * 

3.o  CASO  DE  KASIII  RAM 

Kashi  Ram,  o  joven  Paiwari ,  foi  morto  em  1908  por  Chhotey  Lai,  filho  de  Bliag- 
want  Sing,  zemindar  (proprietário)  da  aldeia  de  Nonenhta,  Bhind,  òwalior.  O  crime  foi 
commettido  no  decurso  de  uma  viagem  em  que  ambos  iam  á  côrte  de  Suba,  para  um 
processo  que  interessava  o  zemindar  e  onde  o  Patwari  se  preparava  para  dar  testemu¬ 
nho  contra  eile. 

Depois  de  haver  atravessado  á  pé  enxuto  o  rio  Kami,  e  cheio  de  raiva,  procurou 
o  Patwari,  com  o  intuito  de  ganhar  a  causa.  Não  obtendo  o  que  desejava,  matou-o ,  cor¬ 
tou-lhe  os  dedos  da  mão  direita,  pondo  um  na  escrivaninha  portátil  do  morto ,  a  qual  collocou 
sobre  o  seu  peito  e  evadm-se  -para  o  território  bntannico  adjacente .  A  policia  fez  uma  pes- 
quiza  e  foi  expedido  o  mandato  de  prisão  contra  o  assassino,  mas  em  vão.  Eu  vi  o 
processo  da  policia. 

Logo  depois,  na  visinha  aldeia  de  Risalpur,  nasceu  um  menino,  cujo. corpo  trazia  todas 
as  marcas  de  violência i  constatadas  eni.  -Pai-wari  no  momenfo  em  que  eile  foi  morto.  Este 
menino  chama-se  Sukh  Lai,  filho  de  Mihi  Lai.  Nasceu  sem  os  dedos  da  mão  diieita,  as 
costellas  como  que  quebradas  e  grudadas;  eile  disse  ter  conservado  a  lembrança  da  sua 
vida  precedente  a  do  drama  que  a  terminou.  Eu  vi  o  rapaz  e  conservei- o  em  minha 
casa,  mais  ou  menos  por  oito  dias.  Eile  lembrava-se,  dizia,  de  todos  os  principaes  aconte¬ 
cimentos  de  sua  passada  existência ,  si  bem  que  os  detalhes  se  apagassem  cada  dia  da  sua 
memória.  Seu  pae  e  seu  irmão  mais  velho,  confirmaram  estes  factos,  emboia  tivessem 
elles  repugnância  em  divulgal-os,  por  motivo  de  um  possível  escandalo. 

*  *  ~ 

4.o  CASO  I»E  ZEMIBiDAlt  K1JPOUTE 


Um  zemindar  rajpoute  foi  morto  por  seu  tio,  em  seguida  a  uma  discussão  moti¬ 
vada  por  um  campo.  O  tio  desappareceu  e  a  policia  não  conseguiu  api  isional-o .  não 
havia  prova  absoluta.  Isto  se  passou  em  1877,  no  anuo  da  fome.  O  assassino  voltou 
pouco  depois  para  sua  casa.  Nesse  meio  de  tempo  nasceu  na  aldeia  um  menino.  Com 
a  idade  de  4  ou  5  annos,  brincando  com  os  camaradas,  eile  ouviu  os  tiros  habituaes 
aos  dias  de  festa,  e  repentinamente  cahe  sem  sentidos.  Voltando  a  si,  exclamou  que 
acabava  de  ver  um  assassino,  o  qual  eile  dizia  ter  sido  seu  tio  n.a  existência  passada. 

Este  facto  foi  o  inicio  de  um  grande  numero  de  recordações.  O  menino  reconheceu 
«seu  irmão  mais  velho  da  existência  anterior».  Familiarisou-se  depressa  com  este  irmão 
reencontrado  e  lhe  revelou  cousas,  de  que  nenhum  outro  poderia  ter  conhecimento.  Eile 
perguntava-lhe  sempre  o  que  era  feito  de  sua  espingarda  predilecta,  sua  pistola,  sua 
bengala  seus  instrumentos  de  musica,  etc.  Estes  objectos  eile  os  usava  por  vezes  e 
estão  em  poder  de  seu  irmão.  Este  convencido  do  parentesco  anterior  que  os  uma  tez 
a  descri pção  do  crime  ao  Suba,  Major  Omrt  (europeu)  Mas  este  recusou-se  a  proseguir 
num  trabalho  baseado  em  taes  testemunhos.  Os  dois  irmãos,  então  fizeram  seu  depoi¬ 
mento  diante  do  primeiro  Ministro  Gampat  Rao  Khake.  S.  Alteza,  o  Maharajah  Jiaji  Rao 

Soindia  ordenou  uma  «eequête»  que  pareceu  concludente. 

O  menino  reconheceu  alguns  dos  seus  parentes  de  sua  sua  existência _antei ioi  . 
Convicto  da  verdade  da  historia,  o  Maharajah  fez  expedir  um  mandato  de  prisão  contra 

(Continha  na  pagina  21  ) 


<3>  16  «e> 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


OS  RAIOS  V,  DO  COMMANDANTE  DARGET 


O  Commandante  Darget,  distincto  of- 
ficial  francez,  reformado,  é  o  verdadeiro  ini¬ 
ciado,  da  photographia  fluido  magnética, 

Foi  elle  o  primeiro  que  conseguiu 
crear  formas  mentaes  pho- 
tographicas,  fixando  energi¬ 
camente  uma  chapa  sensível, 
isto  é,  impressionando  clichés 
com  a  imagem  dos  objectos 
em  que  pensava. 

As  suas  photographias, 
chamadas  photographias  do 
pensamento,  são  muito  co¬ 
nhecidas  no  mundo  scienti- 
fico,  e  qualquer  poderá  pro- 
duzil-as,  desde  que  tenha  a 
força  exteriorisadora  precisa 
para  crear  objectos  que  a 
placa  impressiona. 

O  Dr.  Baraduc,  referin¬ 
do-se  ao  commandante  Dar¬ 
get,  escreveu  : 

«As  suas  experiencias, 
que,  sem  o  emprego  da 
electricidade,  são  as  primei¬ 
ras  no  genero,  permittiram-me  verificar,  pe¬ 
la  primeira  vez,  a  existência  das  emana¬ 
ções  fluidicas . . .» 

O  nosso  distincto  confrade,  Dr.  Ga¬ 
briel  Delanne,  director  da  Revue  S cientifique 
et  Morale  du  Spiritismo ,  escreveu  no  seu  li¬ 
vro  «A  Alma  é  Immortal»  :  «O  commandante 
Darget  conseguiu,  por  duas  vezes  differentes, 
exteroriisar  a  imagem  pensada  de  uma  gar¬ 
rafa  e  reproduzir  essa  imagem  sobre  uma 
placa  photographica,  sem  auxilio  de  appa- 
relho.» 

O  distincto  escriptor  sr.  Chaineau  tra¬ 
tando  das  photographias  do  commandante 
Darget,  diz  o  seguinte  :  na  Humanité  Inté- 
grale :  «E'  preciso  fazer  eloquente  justiça  a 
quem  abriu  o  caminho ;  é  necessário,  so¬ 
bretudo,  pôr  em  relevo  o  que  distingue  os 
documentos  do  commandante  Darget  e  fa¬ 
zer  sobresahir  o  caracter  de  variedade  e  de 
potência  pelo  qual  se  reconhecem  as 
notáveis  experiencias  desse  official  superior.» 

Os  grandes  jornaes  parisienses  consa¬ 
graram  importantes  artigos  á  nova  desco¬ 
berta  do  commandante  Darget  sobre  a  ra- 
dio-actividade  humana.  A  elle  referindo-se, 
a  revista  scientifica  La  N ature  publica  o 
seguinte  : 


O  Commanòante  Darqet 


;Q  sr.  d'Arsonval  apresentou  á  Acade¬ 
mia  de  Sciencias  uma  nota  do  commandante 
Darget  relativa  a  photographias  obtidas  coE 
locando  sobre  a  fronte  um  pedaço  de  papel 
impresso  applicado  contra 
uma  placa,  cio  lado  do  vi¬ 
dro,  e  encerrado,  o  todo, 
dentro  de  um  triplo  enve- 
loppe.  Os  raios  chamados 
vitaes  pelo  autor,  ou  ainda 
raios  V  parecem  ter  agido 
como  os  raios  X.  A  expe- 
riencia  foi,  com  successo, 
repetida  por  varias  pessoas. 
Porém,  facto  não  menos  cu¬ 
rioso  :  algumas  das  photo¬ 
graphias  obtidas  são  em  po¬ 
sitivo  e  outras  em  negativo. 
Parece,  portanto,  ser  neces¬ 
sário  admittir  que  existam, 
pelo  menos,  duas  especies 
de  raios  V  essencialmente 
differentes.» 

Os  clichés  fluidicos,  diz 
o  sr.  Darget,  obtem-se  ou 
a  secco,  ou  collocando-se  a  placa  n’um 
banho  revelador.  Podem  se  empregar,  indif- 
ferentemente,  placas  ordinárias  de  qualquer 
marca;  quanto  ao  revelador,  emprego  ha¬ 
bitualmente,  o  revelador  de  hydroquinone ; 
porém,  pode-se  lançar  mão  de  qualquer 
revelador  photographico. 

Quando  a  placa  torna-se  preta  —  e  é 
preciso  deixal-a  enegrecer  bastante  —  lan¬ 
ça-se-a  no  fixador,  isto  é,  no  banho  de  hy- 
posulfito  de  soda ;  observa-se,  então,  a  ima¬ 
gem  e,  quando  a  placa  está  desiodada,  la¬ 
va-se-a  durante  3  4  de  hora. 

A  placa  a  secco  pode  ser  collocada 
sobre  a  fronte  ou  sobre  a  nunca,  mantida 
por  um  lenço  ou  por  um  tecido  qualquer; 
pode-se  também  collocal-a  sobre  o  coração, 
sobre  o  epigastro,  ou  sobre  uma  parte  qual¬ 
quer  doente  ou  febril  do  corpo.  Deixa-se-a 
assim  durante  muito  tempo,  uma  hora,  em- 
quanto  nos  occupamos  de  outra  coisa.  Pre¬ 
viamente  prepara-se-a  no  gabinete  escuro, 
embrulhando-a  em  duas  dobras  de  papel 
preto.  Essa  manipulação  deve  ser  feita  á 
luz  da  lanterna  vermelha,  como  para  a  pho¬ 
tographia  ordinaria.  Colloca-se,  então,  a  pla¬ 
ca  sobre  o  corpo,  o  lado  da  gelatina  do 
lado  da  pelle  de  preferencia.  Pode-se,  igual- 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


17  <s> 


mente,  no  gabinete  escuro,  pegar  a  placa 
entre  os  dedos  e  mantel-a,  durante  dez  ou 
quinze  minutos,  a  um  centímetro  da  fronte. 

Foi  assim  que  eu  obtive  as  minhas 
melhores  photographias :  a  Cólera,  a  Aguia 
e  tantas  outras. 


A  CÓLERA  —  Photographia  obtida  pelo 
comniandante  Darget,  collocando  a  uma 
polegada  acima  da  própria  fronte,  uma  pla¬ 
ca  sensível,  certo  dia  em  que  acaba  de  ter 
um  forte  accesso  de  cólera. 


A  ACjJUIA  —  Photographia  obtida  pelo 
commandante  Darget,  coilocando  uma  pla¬ 
ca  sensive)  a  uma  meia  pollegada  acima 
de  mme.  Darget  adormecida  do  soinno 
mediumnico. 

Um  outro  processo,  consiste  em  mag- 
netisar,  no  gabinete  escuro,  a  placa,  durante 
dez  a  quinze  minutos,  mantendo  as  mãos 
a  uma  curta  distancia  d’ella. 

A  obtenção  das  photographias  é  irre¬ 
gular,  caprichosa,  sem  que  se  possa  for¬ 
mular  uma  lei  qualquer,  tomando  como 
base  os  resultados  já  obtidos. 

Teem-se  ás  vezes,  sinprezas  inauditas, 


como  quando  o  raio  retira  a  camisa  de  um 
homem,  sem  ferii-o,  deixando-lhe  as  outras 
vestimentas. 

Si  se  trata  de  uma  photographia  es¬ 
pirita,  em  gera!,  quando  se  quer  apenas 
um  pouco  de  fluido,  conseguem-se  figuras 
muito  características. 

Photographia,  no  banho  revelador  —  Si 
se  mergulha  uma  placa  no  banho  revelador 
e  si  se  collocam  em  contacto  com  eila  dois 
ou  tres  dedos  de  cada  mão,  sobre  a  gela¬ 
tina,  durante  dez  ou  quinze  minutos,  obtem- 
se  geralmente  effluvios  coloiidos  a  uma  ou 
mais  çôres.  Si  se  collocam  os  dedos  do 
lado  do  vidro,  obtem-se  effluvios  de  formas 
differentes  e  um  fluido  como  que  irisado. 
Eu  pude,  entretanto,  por  esse  processo, 
obter  figuras. 

Si  se  dispõem  diversas  moedas  sobre 
a  gelatina,  e  si  se  collocam  um  ou  dois 
dedos  sobre  cada  moeda,  estas  se  impri¬ 
mem  geralmente,  e  communicam  a  sua  effi- 
gie  á  placa,  como  si  tivessem  sido  photo- 
graphadas,  pelos  processos  ordinários,  isto 
é,  com  um  apparelho  munido  de  objectiva, 
15  minutos  de  pose,  ou  pouco  mais,  são 
sufficientes.  Algumas  vezes  a  imagem  das 
moedas  é  colorida. 

Photographias  fluidas  com  apparelho  — 
Muitas  vezes,  sob  pretexto  de  que  o  re¬ 
trato  tem  manchas,  os  photographos  inuti- 
lisam  as  placas  e  fazem  o  cliente  pousar 
de  novo.  Ora,  essas  manchas  não  são  outra 
coisa  sinão  effluvios  do  fluido  vital.  A  sra. 
Agullana,  poderoso  médium  de  Bordeaux, 
produz  taes  manchas  a  vontade,  prevenin¬ 
do  antecipadamente  os  photographos,  cuja 
eskipefacção,  diante  desse  facto,  e  sem  li¬ 
mites.  Eu  observei,  de  resto,  que,  como  os 
magnetisadoies,  os  médiuns  produzem  ef¬ 
fluvios  muito  facilmente. 

O  sr.  Arsoure,  de  Liége,  enviou-me 
duas  poses ,  da  mesma  pessoa,  photogra- 
phadas  por  elle,  no  mesmo  lugar,  a  cinco 
minutos  de  intervallo  uma  da  outra.  A  se¬ 
gunda  é  notável  pelas  numerosas  manchas 
fluidicas  características  que  a  cercam.  Nessas 
tachas,  sente-se  que  existem  figuras  inaca¬ 
badas,  manchas  proprietaes.  Si  ern  face  do 
nosso  leito,  na  mais  completa  obscuridade, 
dispomos  um  apparelho  photographico,  com 
a  objectiva  descoberta  e,  em  seguida,  nos 
deitamos  durante  um  certo  tempo,  uma  ho¬ 
ra,  poi  exemplo,  conseguimos,  muitas  vezes, 
imagens  dos  seres  ou  das  radiações  do  es¬ 
paço  de  que  nos  fala  Emmanuel  Vauchez. 

Os  processos  que  resumidamente  in¬ 
diquei,  são  forçosamente  imcompletos,  po¬ 
rém  a  pratica  conduzirá  os  experimentado¬ 
res  a  resultados  cada  vez  mais  animadores, 
porque  estamos  no  começo  de  uma  vastis 
sima  e  nova  scieucia. 


<3-  18 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


*  *  * 

Algumas  vezes  o  commandante  Dar- 
get  obtem  phsdographias  de  um  genero  um 
tanto  diverso  mesmo  quando  piocede  as 
suas  investigações  fluido-magneticas.  Haja 
vista,  por  exemplo,  a  photographia  abaixo, 
mostrando  duas  meninas  e,  ao  lado  d’ei!as, 
segundo  o  sr.  Darget,  os  seus  duplos ,  pe- 
rispi ritos,  corpos  espirituaes ,  na  phrase  de  S. 
Paulo. 


Rs  òuas  filhas  òo  sr.  pinarò 
magnetisaòas  por  seu  pae 


Esta  photographia  pertence  propria¬ 
mente  ao  genero  chamado  espirita.  Eis  em 
que  condições  especiaes  o  commandante 
Darget  obteve  a. 

Querendo  verificar  si  os  fluidos  que 
um  magnetisador  transmitte  ao  sujet  são 
photographaveis,  o  commandante  Darget 
pediu  ao  conhecido  médium  curador  sr. 
Pinard  que  magnetisasse  as  suas  duas  filhas. 
Começada  a  operação,  o  distincto  investi¬ 
gador  tentou  a  prova  photographica  bus¬ 
cada  ;  o  resultado  foi  o  que  se  pode  obser¬ 
var  no  nosso  clichê;  a  esquerda  das  duas 
meninas  veem-se  os  seus  duplos  ou  corpos 
espirituaes. 

Examinando-se  bem  essa  photogra" 
phia,  vê-se  que  no  retrato  do  corpo  mmelie- 
Pinard  tem  na  mão  um  bouquet ,  ao  passo 
que  na  do  seu  fantasma,  não  só  esse  bou¬ 
quet  não  existe,  como  mesmo  o  braço  está 
estendido  e  não  dobrado  á  altura  do  coto- 
vello. 

Outra  photographia  interessante  é  a 
do  padre  que,  não  foi  obtida  directamente 
pelo  commandante  Darget,  mas  sim  por  um 


seu  amigo  e  correspondente  que,  amigo  de 
um  sacerdote  romano  deliberaram  ambos 
fazer  uma  experiencia  psychica,  servindo  o 
padre  de  modelo,  e  que  deu  o  resultado 
que  se  vê 


Photographia  com  o  duplo  òe  um 
saceròote 


Abaixo  do  pescoço  do  padie,  ao  peito, 
lado  direito  o  leitor  verificará  o  perispirito 
do  mesmo  padre. 

*  *  * 

O  commandante  Darget  teve  uma  en¬ 
trevista  com  um  jornalista  europeu  que 
pediu-lhe  a  exposição  da  historia  das  suas 
investigações. 

Eis  o  communicado  do  lllustre  pes¬ 
quisador  : 

—  «As  minhas  investigações,  sobre 
os  fluidos  emittidos  pelos  seres  vivos  re¬ 
montam  a  uns  trinta  annos.  Todavia,  só 
em  1894  foi  que  consegui,  com  espanto, 
de  resto,  das  raras  pessoas  que  se  occu- 
pavam  da  questão,  impressionar  placas  pho- 
tographicas  por  meio  do  fluido  vital. 

Farei  observar  que  essas  impressões 
eram  nitidas  no  gabinete  escuro  sobre  pla¬ 
cas  não  cobertas  collocadas  no  banho  re¬ 
velador  e  submettidas  á  acção  dos  dedos, 
seja  a  contacto,  seja  a  distancia. 

As  impressões  assim  conseguidas  eram 
muito  nitidas,  formando  uma  serie  de  irra¬ 
diação  a  partir  da  extremidade  dos  dedos. 
Essas  photographias  seriam  semelhardes  ás 
obtidas  á  luz  do  dia,  si  as  placas  não  fos¬ 
sem  coloridas,  ora  de  vermelho,  ora  de 
verde,  ora  de  amarello,  segundo  as  pessoas 
e  segundo  os  estados  doentes  ou  sãos  de 
taes  pessoas. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3- 19 


Notar-se-á  que  o  fluido  vital  parecia 
agir  até  então  como  uma  luz  um  tanto  es¬ 
pecial.  Porém  vários  indícios,  me  fizerem 
suppôr  mais  tarde  que  essa  irradiação  po¬ 
dia  muito  bem  ser  diversa  da  luz  e  analoga 
á  da  ampola  de  Crookes,  á  dos  raios  X, 
ou  á  do  radium.  Si  assim  fosse,  o  fluido 
vital,  a  que  dei  provisoriamente  o  nome  de 
raios  V ,  não  devia  attravessar  os  corpos 
opacos,  como  o  triplo  enveloppe  de  papel 
preto,  vermelho  e  branco  que  proteje  as 
placas  sensíveis. 

Colloquei,  portanto,  ha  alguns  mezes» 
uma  dessas  placas  sobre  a  fronte,  durante 
uma  meia  hora,  e  tive  a  alegria  de  verificar 
que,  de  facto,  a  placa  sob  o  tríplice  erivel- 
loppe  estava  impressionada. 

Para  completar  essa  demonstração,  in¬ 
troduzi,  sob  os  trez  enveloppes  um  papel 
impresso  com  a  palavra  «DOYEN»,  etc.,  (o  la¬ 
do  não  impresso  do  papel  tocando  a  placa 
sensivel)  e  obtive,  muito  nitida,  a  photo- 
graphia  junta. 


A  varias  pessoas  de  minhas  relações, 
confiei  placas  semelhantes  em  enveloopes 
fechados  e  sellados.  Essas  pessoas  obtive¬ 
ram,  mais  ou  menos  distinctamente  os 
mesmos  resultados. 


phadas  em  negativo,  como  é  facil  verificar 
pela  photographia  junta  da  palavra  «AT- 

TRACTION*. 

Outras  pessoas  fornecem  placas,  parte 
em  positivo,  parte  em  negativo. 

Devemos  crêr  que  esses  resultados 
são  devidos  ao  phenomeno  conhecido  pelo 
nome  de  «sobrexposição»,  ou  a  existência 
no  homem  de  dois  fluidos  de  sentido  con¬ 
trario?  Muitos  indícios  permittem  que  me 
inclinem  para  esta  ultima  hypothese. 

Ha,  ao  mesmo  tempo,  razões  para 
crêr  que  as  diversas  partes  do  corpo,  emi¬ 
tem  raios  V  com  uma  intensidade  de  gráos 
diversos.  As  primeiras  experiencias  que  fiz 
em  tal  sentido  —  experiencias  que  conti¬ 
nuo  —  já  me  permittem  essa  affirmação. 

E,  para  concluir,  ao  menos  proviso¬ 
riamente,  é  preciso  dizer  que  nos  achamos 
em  presença  de  uma  irradiação  absoluta¬ 
mente  especial,  que  é  como  que  inherente 
aos  corpos  vivos.  Esses  novos  raios  variam 
com  os  indivíduos,  isto  é,  sem  duvida,  com 
os  seus  temperamentos  e  os  seus  esta¬ 
dos  moraes  —  cólera,  calma,  alegria,  etc. 
—  bem  como  com  os  seus  estados  de 
saúde. 

Aqui  nos  achamos  como  na  origem 
da  vida.  Não  parece,  portanto,  presump- 
çoso  esperar  que  o  conhecimento  per¬ 
feito  desses  novos  raios,  forneça  regras 
preciosas  para  a  sciencia  e  para  a  conducta 
futuras  da  existência. 

Ççmmanòante  DARG-ET 


A  idéa  Espirita 


Uma  idéa  que  rala  á  alma, 
ao  coração,  á  razão  e  ao  senti¬ 
mento,  e  que  ao  mesmo  tempo 
presta  factos  em  todos  os  recan¬ 
tos  do  mundo,  que  podem  subor- 
dinar-se  á  analvse  e  ao  exame 


Entretanto  algumas  delias,  como  o  sr.  sivel 
Shettle,  forneceram  as  palavras  photogra- 


mais  rigorosamente  scientifi- 
co,  e  á  experiencia  e  á  veri¬ 
ficação  do  mais  rude  e  sim¬ 
ples  investigador,  é  urna  idéa 
que  ha  de  triumphar  apezar 
de  tudo;  que  hade  impôr-se 
e  dominar. 

A.  Herculano 


o  nirosMVKL 

Aquelle  que.  fóra  das  puras  mathe- 
maticas  pronuncia  a  palavra  —  irnpos- 
—  falta  com  a  prudência 

Arago 


<3»  20 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


O  PROGRESSO  HUMANO  E  OS 
PHENOMENOS  PSYCHICOS 


r\  progresso  é  lento,  na  huma- 
^  nidade  terrestre. 

O  systema  de  Copernico  era 
ensinado  por  Aristarco,  de  Sa- 
mos,  no  anno  280  antes  de  Jesus 
Christo.  Os  sábios  dessa  epoca 
não  queriam  aceital-o  de  manei¬ 
ra  nenhuma  e,  quatrocentos  an- 
nos  depois,  Ptolomeu,  continuan¬ 
do  a  tradição  classica,  tratava 
essa  hypothese  de  «perfeitamen¬ 
te  ridícula» . 

Da  mesma  maneira  pensa¬ 
vam  ainda,  no  século  XVII  da 
nossa  era,  os  juizes  de  Galileu. 
Hoje,  todo  o  mundo  acabou  por 
admittir  e  por  comprehender  que 
a  Terra  não  está  no  centro  do 
Universo  e  que  gravita  em  torno 
do  Sol,  em  companhia  de  outros 
planetas,  seus  irmãos,  arrastada 
atravez  dos  abysmos  insondáveis 
da  immensidade  infinita. 

A  Astronomia  não  é  a  unica 
sciencia  que  pode  ser  chamada 
em  testemunho  da  lentidão  do 
progresso. 

Os  problemas  phychicos  nos 
offerecem  um  exemplo  analogo. 
E’  justo,  porém,  accrescentar  que 
ha  menos  tempo  que  elles  são 
formulados  á  analyse  scientiíica 
positiva  e  que  estão  longe  ainda 
de  ser  resolvidos.  Todavia,  si, 
nesse  grande  assumpto,  ha  um 
capitulo  que,  ha  muito  está  defi¬ 
nitivamente  escripto,  é  o  da  sus¬ 
pensão  das  mesas,  em  contrarie¬ 
dade  com  a  lei  da  gravidade  dos 
corpos,  suspensão  que  se  produz 
pela  acção  de  uma  força  desco¬ 
nhecida.  Esse  phenomeno  é  ac- 
tualmente  objecto  de  discussões 
numerosas  e  pitorescas. 


Ha  mais  de  meio  século,  em 
1853.  o  conde  de  Gasparin,  tendo 
em  sua  companhia  uma  duzia  de 
experimentadores  sevéres,  poz  o 
facto  em  tal  evidencia  que  as 
suas  experiencias  poderiam  ter 
bastado  para  assentar  definitiva- 
mente  a  questão. 

Vê-se,  nessas  sessões  de  es¬ 
tudos,  uma  grande  mesa  de  sala 
de  jantar,  sobre  a  qual  se  haviam 
collocado  75  kilos  de  pedra,  sus¬ 
pender-se  e  partir-se,  sob  esse 
peso,  balançada  pelos  seus  mo¬ 
vimentos.  Veem-se  rotações  se 
operar,  sem  contacto  algum,  pois 
que,  tendo-se,  por  meio  de  um 
folie,  espalhado  sobre  a  mesa 
uma  tenue  camada  de  farinha  de 
trigo,  nella  não  se  encontrou  ves¬ 
tígio  algum  de  dedo. 

A  isto  accresce  que  todas  as 
experiencias  eram  feitas  por  um 
grupo  de  amigos,  sem  auxilio  de 
nenhum  médium  extrangeiro  ou 
retribuído. 

No  anno  seguinte  esses  fac¬ 
tos  eram  igualmente  postos  fora 
de  duvida,  por  Marc  Thury  pro¬ 
fessor  de  physiea  e  astronomia 
na  academia  de  Genebra;  elles 
são,  outrosim,  medidos  por  meio 
de  uma  mesa  em  equilíbrio,  e  de 
balanças. 

Como  no  caso  das  experien¬ 
cias  do  conde  Gasparin,  as  de 
Genebra  são  feitas  entre  collegas 
da  Universidade  e  sem  médium 
assalariado.  Durante  essas  expe¬ 
riencias,  nós  vemos  um  piano, 
de  um  peso  de  300  kilos,  resoar 
e  elevar-se,  quando  junto  a  elle 
não  havia  sinão  uma  criança  de 
onze  annos,  que  estudava  a  sua 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3-  21 


lição  e  que  era  um  mediu rn  sem 
o  saber. 

Muito  tempo  depois  de  taes 
experiencias.  em  1869,  os  sábios 
da  Sociedade  Dialectica,  de  Lon¬ 
dres,  eliminando  egualmente  o 
emprego  de  mediums  profissic- 
naes  fizeram,  em  numero  de  do¬ 
ze,  pouco  mais  ou  menos,  nos 
seus  proprios  aposentos,  com  os 
seus  proprios  moveis,  examina¬ 
dos  a  cada  instante,  uma  série 
de  observações,  estabelecendo  os 
movimentos  dos  objectos  sem 
contacto,  a  alteração  dos  pesos, 
as  pancadas  rythmadas ;  tudo  is¬ 
so  sem  causa  apparente. 

O  relatorio  que  estabelece  es¬ 
ses  phenomenos  é  assignado  pelo 
engenheiro  electric ista  Cromwelí 
Varley  (que  lançou  em  1860.  o 
primeiro  cabo  transatlântico  en¬ 
tre  a  Europa  e  a  America)  e  por 
vários  membros  da  Sociedade 
Real,  de  Londres. 

Alguns  annos  depois,  o  Pro¬ 
fessor  Crookes,  cuja  competên¬ 
cia  na  experimentação  physica 
não  pode  ser  posta  em  duvida 
por  ninguém,  fez,  por  seu  turno, 
as  experiencias,  que  todo  o  mun¬ 
do  conhece,  constatando,  com 
apparelhos  registradores,  a  alte¬ 
ração  do  peso  dos  corpos  e  pro¬ 
vando  a  veracidade  dos  pheno¬ 
menos  de  deslocamento  de  objec¬ 
tos  sem  contacto,  de  percussão 
a  distancia,  etc.,  etc.  .  .  . 

Esses  factos  são  conhecidos, 
archiconhecidos.  Foram  observa¬ 


dos  por  centenas  de  experimen¬ 
tadores,  verificados  mil  vezes,  fis¬ 
cal  isados.photographados.  Podem 
se  ver  no  meu  livro  Forces  na- 
turelles  inconnues ,  photographias 
directas  e  sem  retoques,  a  respei¬ 
to  dos  quaes  eu  também  estou 
perfeitamente  disposto  a  dar  um 
prémio  de  500  francos  a  quem 
nellas  encontrar  uma  fraude  qual¬ 
quer.  Varias  dessas  photogra¬ 
phias  foram  feitas  na  minha  ca¬ 
sa,  e,  ha  nada  menos  de  quarenta 
annos  que  eu  sigo  esses  pheno¬ 
menos  de  muito  perto. 

Parece-me  que  os  homens 
que  se  deram  ao  trabalho  de  ob¬ 
servar  pacientemente  o  assumpto 
em  litigio  não  podem  deixar  de 
ter  a  convicção  da  levitação  das 
mesas  e  de  outros  objectos  pesa¬ 
dos,  da  variação  do  peso  dos  cor¬ 
pos,  dos  deslocamentos  sem  con¬ 
tacto,  das  pancadas  sem  choque 
apparente  e  respondendo  as  per¬ 
guntas.  etc. 

Falta-me  espaço  para  entrar 
em  outros  detalhes,  porém,  uma 
vez  que  me  deram  a  honra  de  me 
pedir  a  minha  opinião,  baseada 
n’uma  longa  experiencia,  o  meu 
dever  é  responder  que  o  ser  hu¬ 
mano,  ainda  não  é  conhecido  de 
pessoa  alguma,  nem  dos  physio- 
logistas  nem  dos  psychologos  e 
é  dotado  de  faculdades  physicas 
e  psychicas  ainda  quasi  comple¬ 
tamente  ignoradas,  mas  cuja  in¬ 
vestigação  será  a  gloria  da  scien- 
cia  futura.  Camille  Flammarion 


( Continuação  da  pagina  ij) 

o  assassino.  Mas  este  ultimo  fugiu,  perseguido,  aqui  e  ali,  pela  policia  até  Gaya,  onde 
morreu.  Elle  pediu  então  á  S.  Alteza  ordenar  o  eancellamento  do  processo  visto  o  cul¬ 
pado  não  mais  existir. 

Eu  examinei  os  documentos  e  os  tenho  commigo.  Fiz  vir  em  1912  o  moço,  que 
tinha  naquella  occasião  34  annos,  com  seu  velho  pae,  o  qual  confirmou  este  relato.  Elle 
accrescentou  que  logo  após  á  identificação  do  menino,  lhe  apparecera  o  assassino,  a 
quem  o  menino  censurou  asperamente  por  tel-o  assassinado  traiçoeiramente  e  de  uma 
maneira  indigna  de  um  Rajpoute.  O  moço,  em  1912,  tinha  se  esquecido  de  todas  estas 
cousas,  ellas  não  lhe  eram  conhecidas  senão  porque  ouviu.-  dizer. 

A  historia  foi  corroborada  a i n da  pelo  coronel  Surajpal  Singh  e  o  filho  do  assassi¬ 
no,  ambos  officiaes  em  Gwalior.  Suas  photographias  foram  tiradas  pelos  srs.  Desai  frè- 
res,  de  Lashkar,  Gwalior.  Dp.  Rau  Bahaòup  5yam  õunòerlal 


o>  22 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


UM  RETRATO  DO 


DR.  QUSTAVE  GELEY 


\  lamentável  noticia  do  desastre  occor- 
rido  em  15  de  Julho  (1Q24)  que  nos 
roubou  um  amigo  muito  querido  e  fez  a 
metapsychica  perder  um  dos  seus  mais  ar¬ 
dentes  trabalhadores,  chegou-me  a  17  de 
julho  por  telegramma.  Eu  estava  convicto 
que  o  Dr.  Geley  viria  á  Inglaterra  precisa¬ 
mente  para  fazer  experiencias  de  photogra- 
phia  supranormal  no  «College»,  Holland 
Park,  59,  Londres. 

Ehe  me  havia  concedido  a  honra  de 
associar-me  a  estas  experiencias,  que  rea- 
lisar-se-iam  a  21,  22,  24  de  julho  e„dias 
subsequentes. 

Depois  da  funesta  noticia  todas  as  dis¬ 
posições  ficaram  sem  effeito. 


conversação  tornou-se,  outra  vez  de  um 
modo  inteiramente  normal.  Por  fim  ella  mu¬ 
dou  de  feição,  e  falando  em  nome  de  seu 
Guia  disse  :  «Eu  vi  o  Dr.  Geley,  ehe  não 
pode  crêr  na  sua  transicção,  mas  tem  ami¬ 
gos  que  o  auxiliarão.  Creio  que  si  delibe¬ 
rardes  resolutamente  a  experimentardes  a 
photographia  na  semana  próxima,  ehe  po¬ 
derá  impressionar  a  chapa,  porque  era  mui¬ 
to  interessado  nessas  experiencias». 

Tomei  im  mediatamente  nota  dessas 
palavras,  fiz  assignar  o  documento  e  passar 
pelo  correio,  com  o  fim  de  ter  a  prova  da 
data  do  timbre  postal. 

Os  arranjos  com  o  «College»  foram 
renovados  por  obséquio  de  Mme.  Mc.  Ken- 


Dr.  Gfustave  Geley 

em.  seu  g-a-Toiiuete  cie  trstToallx© 


Eu  estava,  então,  de  folga  em  Exmouth 
(Devonshire)  com  minha  mulher.  Ahi  en¬ 
contramos  de  improviso  uma  enfermeira 
que,  de  tempos  em  tempos  fala  tnedium- 
nicamente,  em  transe,  e  se  interessa  pelos 
factos  psychicos.  Natural  mente  falou-se  da 
perda  que  tinhamos  acabado  de  soffrer, 
mas  ella  não  conhecia  o  Dr.  Geley,  e  a 


zie,  que  dirige  as  sessões.  Voltamos  para 
Weybridge  dia  19. 

Em  nossa  casa  existe  uma  pessoa  que 
possúe  a  faculdade  da  escripta-automatica, 
com  a  qual  eu  faço  constantes  experien¬ 
cias.  Ella  de  nada  sabia,  salvo  a  noticia  do 
desastre  e  a  annulação  dos  preparativos. 
Pedi-lhe  : 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3-  23 


«Tornai  o  vosso  lapis». 

D.  —  Podeis  dizer-me  alguma  cousa? 

R.  —  O  nosso  pobre  amigo  não  po¬ 
de  comparecer  aqui,  elle  está  desolado  pe¬ 
la  agonia  que  lia  em  sua  casa  e  por  todos 
os  motivos. 

D.  —  Dae-me  o  vosso  parecer.  Mine. 
Mc.  Kenzie  me  offereceu  uma  sessão  com 
Hope,  amanhã  ás  11  horas  da  manhã.  Em 
vista  da  vossa  resposta,  me  parece  pouco 
provável  que  obtenhamos  um  successo.  De¬ 
vo  utilisar-me  do  meu  proprio  apparelho  (o 
que  poderia  melindrar  a  Hope)  ou  me  ser¬ 
vir  do  seu  ? 

R.  —  Nada  de  novo  deveis  introdu¬ 
zir  amanhã  na  sessão.  Podeis  lá  ir  contan¬ 
do  commigo,  que  faremos  tudo  o  que  as 
condições  nos  permittirem.  Talvez  o  Dr. 
Geley  já  esteja  certo  de  que  aqui  chegou. 
Lembrae-vos  que  a  sua  chegada  foi  im¬ 
prevista  e  elle  estava  de  bôa  saude.  Não  in¬ 
sisto  sobre  estes  detalhes  que,  segundo  pen- 


Presentes  :  Mme.  Mc.  Kenzie,  Mlle.  F. 
S.  Scatcherd  (pratica  em  matéria  de  photo- 
graphia),  eu,  M.  Hope  e  Mme.  Buxton, 
(mediu ms).  Mme.  Mc.  Kenzie  tomou  um 
pacote  de  chapas  embrulhadas  e  selladas 
pela  casa  fabricante  das  mesmas,  justamen¬ 
te  para  experiencias  deste  genero,  de  cujas 
chapas  conserva  uma  trintena  fechada  a 
chave.  O  cliché  dá  o  «fac-símile»  desse  pa¬ 
cote.  (Nota  da  Red. :  Deixamos  de  dar  o 
cliché  da  caixa  de  chapas,  por  julgarmos 
sem  importância  para  a  transcripção).  As 
chapas  são  todas  marcadas  nus  ca  mus  pela 
Companhia ,  para  se  tomar  impossnul  uma 
substituição  qualquer ,  embrulhadas  como  de 
costume,  depois  o  pacote  amarrado  com  fi¬ 
ta  de  algodão,  e  sellado  com  o  sello  gran¬ 
de  da  Companhia  fabricante  (1  he  Imperial 
Dry  Plate  Company,  bricklewood,  London). 
As  duas  pontas  do  amarrilho  estão  presas 
sobre  o  lacre  A.,  sobrepostas  ao  logar  on¬ 
de  o  papel  envoltorio  é  collado  em  baixo 


so,  em  semelhante  caso  é  um  dever  scien- 
tifico  dizer-se  o  que  se  deve  sem  accusa- 
ções  supersticiosas  ou  de  mysticismos». 

Dizem-me  que  tudo  isso  provem  do 
subconsciente  do  médium  escrevente,  nada 
discuto.  Seja  qual  for  a  proveniência  des¬ 
ses  escriptos,  subconciencia  ou  outra  ;  sao 
igualmente  factos  auxiliares. 

Em  24  eu  fui  ao  «College».  Mm.  Mc. 
Kenzie  pediu-me  que  me  encarregasse  da 
experiencia. 


da  entiqueta  a,  a,  a.  Mme.  Mc.  Kenzie  af fir¬ 
ma  que  ninguém,  salvo  cila  tocou  nesses 
pacotes,  e  eu,  por  minha  vez  affirmo  que 
a  caixa  de  chapas  estava,  absolutamente  in¬ 
tacta,  como  foi  vendida  pela  Comp.,  con¬ 
servando  também  os  sellos  intactos.  Esse 
pacote  ficou  em  minha  mão. 

O  atelier  photographico  do  «C.ollege» 
tem  uma  uniea  porta  de  entrada,  e  uma 
que  dá  para  a  camara  escura,  illuminada 
por  uma  janella  coberta  de  um  tecido  ver- 


<3-  24 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


inelho.  O  quarto  escuro  nenhuma  porta 
tem.  Referidos  experimentadores  permace- 
ram  no  atelier  com  Hope  e  Mine.  Buxton. 
Eu  colloquei  o  pacote  de  chapas  no  meio 
da  mesa  e  os  assistentes  deram-se  as  mãos 
formando  uma  cadeia  em  torno,  de  accor- 
do  com  o  costume  de  Hope,  que  exige 
canto  e  invocação  e  a  permanência  do  pa¬ 
cote  entre  as  mãos  dos  assistentes.  (É  pre¬ 
ciso  se  accomodar,  com  este  processo  para 
não  descontentar  o  médium,  embora  eu  já 
tivesse  observado  o  phenomeno,  sem  ne¬ 
nhuma  destas  exigências). 

Terminado  isto,  tomei  o  pacote  de 
placa,  cortei  os  amarrilhos  tendo  tido  o 


ton  se  collocaram  ao  lado  do  apparelho, 
mas  sem  o  tocar,  limitando-se  Hope  a  abrir 
os  «Chassis-»  para  expôr  as  chapas,  o  que 
durou  quinze  segundos,  depois  fechou. 

Eu  mesmo  fiquei  com  o  apparelho  e 
revelei  as  duas  chapas  num  só  banho.  Cer¬ 
tifico  que  Hope  não  tocou  as  chapas,  do 
começo  ao  fim. 

Uma  dessas  placas  estava  normal  ;  a 
outra  mostrava  o  extra  (Eig,  2). 

Os  traços  que  nella  se  encontra  não 
são  defeitos  de  manipulação,  elles  estão 
mesmo  na  gelatida.  A  3.a  e  a  4.a  placas  fi¬ 
caram  na  caixa  e  no  seu  papel  envoltorkç 


Figura  3 


cuidado  de  não  destruir  os  sellos.  Entrei  no 
quarto  escuro  com  Hope,  onde  revelei  as 
placas  sem  permittir  que  outro  as  tocasse. 
Examinei  minuciosamente  o  chassis  queelle 
me  apontou  e  puz  duas  placas,  assignalan- 
do-as  com  a  minha  assignatura  no  momen¬ 
to  de  tirar  do  pacote.  Eu  puz,  então,  minha 
firma  na  chapa  e  fiquei  com  o  chassis  em 
meu  poder.  Reuni,  novamente  os  outros 
experimentadores  no  atelier  com  Hope,  exa¬ 
minei  com  cuidado  o  apparelho  e  a  lente 
já  focalisada  sobre  as  cadeiras  onde  os  as¬ 
sistentes  se  deveriam  sentar.  O  apparelho 
photographico  é  dos  mais  simples  sem  es¬ 
pecialidade  alguma.  A  lente  é  absolutamen¬ 
te  própria  e  transparente.  O  fundo  é  de  pati¬ 
no  espesso,  escuro,  negro.  A  machina  está 
sempre  em  plena  vista.  Hope  e  Mme.  Bux- 


no  outro  local  do  quarto  escuro  sobre  uma 
mesa  do  gabinete. 

Hope  não  se  approximou  delias.  Ne¬ 
nhuma  pessoa  entrou  no  quarto  escurò.  Eu 
tomei  a  caixa  desembrulhei  as  placas  3  e  4 
e  as  puz  no  mesmo  «chassis»  depois  de 
tel-as  assignalado  como  as  outras.  O  proces¬ 
so  destas  foi  idêntico  ao  da  primeira,  sal¬ 
vo  haver  Hope  derramado  o  revelador  so¬ 
bre  as  duas  placas,  na  banheira  que  se 
achava  commigo.  A  3.a  placa  contém  o 
retrato  do  nosso  querido  Dr.  (Eig.  3). 

E  preciso  salientar  que  a  posição  é  a 
mesma,  somente  a  imagem  está  um  pouco 
inclinada  e  o  retrato  é  muito  mais  nitido. 

Nenhuma  fraude  pode  ser  evocada.  As 
pessoas  que  conheceram  o  nosso  caro  e 
venerado  director  verão,  em  seguinda,  que 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3-25^ 


não  lia  duvida  sobre  a  sua  exacta  feição. 
Os  que  não  tiveram  a  grande  felicidade  de 
conhecel-o,  poderão  comparar  esse  retrato 
com  o  que  a  REVUE  SPIRITE  publicou 
em  agosto  (e  nós  reproduzimos  neste  nu¬ 
mero). 

Já  se  tem  dicto,  na  Inglaterra,  que  um 
íruc  poderia  ter  sido  explorado  para  esse 
fim.  Observaranrme :  «vós  deverieis  ter  le¬ 
vado  vossas  chapas».  Propor  este  argumen¬ 
to  é  suppor  que  alguém  tivesse  podido, 
após  ao  accidente  e  em  poucos  dias,  pre¬ 
parar  fraudulentamente  as  placas,  envial-as 
á  Companhia,  fazel-as  ah i  marcar,  etnbru- 
lhal-as  depois  sellal-as  e  envial-as  com  o 
«B.  C.  of  P.  S.». .  e  fazer  de  sorte  que 
Mine.  Mc.  Kenzie  encontrasse  entre  trinta 
pacotes,  o  pacote  preparado. 

Eu  não  penso  que  o  nosso  querido 
amigo  estivesse  presente  a  esta  experiencia; 
quero  antes  admittir  a  theoria  da  ideoplas- 
tia,  preconisada  pelos  nossos  amigos  os 
metapsychistas,  mas  em  face  de  taes  pheno- 
menos  prefiro  crer  que  a  ideoplastia  pode 
perfeitamante  ser  exercida  mesmo  pelos  in¬ 
visíveis.  Desde  que  se  concede  a  existência 
de  forças  invisíveis,  não  se  lhes  pode  recu¬ 
sar  o  direito  de  disporem  os  meios  artísti¬ 
cos  que  lhes  permittem  fazer  retratos  tão 
bem  como  outros  meios  que  lhes  facilitam 
a  possibilidade  de  realizarem  experiencias 
de  outra  natureza. 


Para  o  que  concerne  á  obtenção  do 
retrato  do  Dr.  Gustave  Geley  certifico  que 
nós  subscrevemos  as  sete  condições  que  ga¬ 
rantem  a  authenticidade  do  phenomeno  : 

E°  —  Certeza  absoluta  que  o  pacote 
de  chapas  estava  intacto ; 

2.0  —  Abertura  do  pacote  pelo  mes¬ 
mo  experimentador  e  assignatura  das  cha¬ 
pas,  uma  a  uma,  no  momento  em  que  eram 
desembrulhadas ; 

3.o  —  Segurança  do  processo  por  um 
photographo  experimentado  ; 

4.o  —  Certeza  de  que  o  fundo  ne¬ 
nhuma  preparação  continha ; 

5.0  —  Certeza  de  que  o  « atelier »  foi 
bem  examinado  e  nenhuma  fraude  poderia 
prevalecer  ; 

6  0  —  Certeza  da  normalidade  do  ap- 
parelho  e  da  lente ; 

7.o  —  Certeza  que  os  mediums  não 
podiam  intervir  nas  operações. 

É  bem  lamentável  que  o  nosso  dis- 
tinsto  confrade  não  tivesse  podido  levar 
mais  longe  suas  experiencia  entre  nós,  em 
matéria  de  photographia  supranormal. 

Suas  aptidões  altamente  scientificas 
lhe  teriam  certamente  permittido  de  tirar 
delias,  conclusões  da  mais  alta  importância. 

STANLEY  DE  BRATH, 
Engenheiro. 


<3-  26  <s> 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


(t/iromca 


Ao  iniciar  a  nossa  Chronica,  temos  o 
prazer  de  apresentar  aos  collegas  da  im¬ 
prensa,  aos  collegas  do  collaboração  e  aos 
espiritas  em  geral  as  nossas  melhores  feli¬ 
citações  de  paz. 

A  tarefa  que  foi  delegada  ao  encarre¬ 
gado  desta  secção,  não  deixa  de  ser  difficil 
e  superior  ás  suas  forças,  mas  como  para 
o  desempenho  do  cumprimento  dos  nossos 
deveres  não  faltam  auxiliares  que  suppram 
a  nossa  deficiência,  havemos  de  nos  esfor¬ 
çar,  tanto  quanto  possível,  para  levar  aos 
leitores  desta  Revista  as  notas  e  resumos  de 
relatos  dos  principaes  factos  que  se  forem 
verificando  em  todo  o  mundo,  oriundos  da 
eterna  fonte  da  Revelação,  em  suas  múlti¬ 
plas  variedades  de  manifestações. 

Commuiiicação  Kiiiuillitnca  cuSit 

a  e  Irlanda 

A  Light ,  revista  ingieza,  publicou  a 
a  noticia  interessante  de  uma  communicação 
dada  simultaneamente  entre  a  Inglaterra,  a 
Rússia  e  a  Irlanda. 

-  «Uma  pessoa  obteve,  na  Inglaterra 
com  um  médium,  uma  sessão  de  «Voz  di¬ 
recta».  No  mesmo  momento,  ultra-sensivel 
ás  impressões  psychicas,  uma  senhora  per¬ 
cebe  manifestações  extranhas  em  sua  casa 
em  Dublin.  Emfitn,  uma  terceira  pessoa 
um  homem  —  está  em  Moscow  com  um 
indivíduo  do  paiz  que  é  médium  auditivo. 

Estas  sessões,  no  momento  em  que 
realisavam-se,  foram  synchronisadas  mesmo 
pelos  Espiritos,  emquanto  que  esta  operação, 
feita  no  plano  espiritual,  era  ignorada  dos 
tres  mediums. 

A  «trompette»,  utilisada  na  Inglaterra 
para  as  «vozes»,  pôz  a  falar  e  disse:  «Não 
posso  comprehender  uma  palavra  do  que 
me  contam».  Então  uma  voz  intervém,  que 
se  exprime  rapidamente  em  uma  linguagem 
inteiramente  impenetrável  para  o  auditor, 
que  repete:  «Nada  comprehendo».  Uma  se¬ 
gunda  voz  se  eleva,  mais  grave  que  a  pri¬ 
meira,  e  as  duas  vozes  são  ouvidas  dialo¬ 
gando  em  um  idioma  desconhecido  como 
se  questionassem.  Emfirn,  em  máo  inglez,  a 
segunda  voz,  diz:  «In-ter-prete».  Eu  sou 
russo.  Ha  um  espirito  russo.  O  barulho  que 
vos  ouvis  é  a  linguagem  do  alphabeto  Mor¬ 


se.  Vou  vos  offerecer  a  traducção.  O  amigo 
Espirito,  em  Moscow  vos  fala.  Ouvi,  eu 
traduzo. 

O  ruido  do  codigo  Morse  recomeça, 
com  pausas  frequentes,  afim  de  permittir  ao 
Espirito  dar,  phrase  por  phrase,  uma  im¬ 
portante  mensagem,  traduzida  do  russo.  Esta 
mensagem  precisa  uma  questão,  que  é  assim 
também  transmittida  ao  Espirito  de  Moscow, 
e  a  resposta  volta  a  alguns  minutos.  Mas, 
o  mais  extraordinário  que  pode  haver  em 
tudo  isso,  é  que  a  senhora  de  Dublin,  que 
nada  sabe  do  que  se  sabe  na  Inglaterra,  ou 
em  Moscow,  recebe,  no  mesmo  momento, 
a  mensagem,  palavra  por  palavra,  emquan- 
o  codigo  Morse  é  traduzido  por  um  mé¬ 
dium  inglez.  A  conformidade  das  duas  men¬ 
sagens  —  Inglaterra  e  Dublin  —  foi,  de¬ 
pois  estabelecida,  emquanto  que  os  dois 
textos  foram  comparados.  Para  melhor  com¬ 
prehender  um  tal  e  tão  magnifico  pheno- 
rneno,  é  preciso  lembrar  que,  quando  as 
condições  são  favoráveis,  o  espaço  para  os 
Espiritos,  não  existe,  e  que  elles  podem 
transmittir  suas  vozes  a  qualquer  distancia 
e  de  uma  vez.» 

Iníluencia  «los  m<‘<3iiaiis 

so!>r<‘  Blonu-ais  i 3  Ê  ib*í 

Grande  é  a  influencia  que  os  mé¬ 
diuns  tem  exercido  e  exercem  até  hoje  so¬ 
bre  os.  homens  illustres.  Basta  se  passar 
uma  vista  d'olhos  na  Biblia  para  se  ficar 
inteirado  de  que  os  antigos  reis,  nenhuma 
resolução  importante  tomavam,  sem  previa¬ 
mente  haverem  consultado  os  mediums.  O 
rei  Saul,  vae  ao  Endor,  e  pela  pythoniza 
consulta  ao  Espirito  de  Samuel  á  respeito 
da  guerra  dos  Israelitas  contra  os  Philis- 
teus.  E  assim  que  o  Sr.  S.  Desmonds  no 
«Pearsons  Magazine»  sobre  a  missão  que  o 
médium  tem  representado,  mesmo  entre  os 
incréos,  diz :  «Si  podesse  ser  estabelecida 
uma  lista  dos  homens  illustres  dos  gover¬ 
nos,  militares,  financeiros,  doutores,  homens 
da  lei  e  mesmo  homens  de  sciencia  que, 
seja  frequentemente,  seja  com  intervallos 
vão  consultar  o  moderno  magico,  ou  o  psy- 
chometra,  o  clarividente,  com  o  fim  de  me¬ 
lhor  dirigir  os  negocios  públicos  ou  os  seus 
proprios  negocios  pessoaes,  ver-se-ia  que 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


o-  27 


essa  lista  havia  de  conter  os  nomes  mais 
conhecidos  na  Europa  e  na  America.  Nella 
se  encontraria  dúzias  de  cabeças  coroadas 
ou  de  herdeiros  do  throno». 

-  cfj  xpf 

Malorialização  «lo  amia  meclia  «lo  cabollos 

A  Vie  d'0utre-  Tombe  constata  um 
caso  interessante  da  materialização  de  uma 
mécha  de  cabellos,  em  uma  sessão  do  anno 
transacto,  do  grupo  «L’ESPERANCE»  de 
Spa.  A  noticia  foi  transmittida  pela  directo- 
ria  do  grupo,  tal  como  se  vae  ler: 

«No  deccorrer  da  sessão,  á  conse¬ 
lho  do  Guia,  diminuímos  a  luz  e  foi-nos 
dito  que  iamos  obter  a  materialisação  de 
cabellos.  O  médium  adormeceu  e  alguns 
minutos  depois,  vimos  ao  lado  direito  a 
sua  cabelleira  se  agitar  e  augmentar  de  vo¬ 
lume.  Um  dos  assistentes  levantou  se  e  exa¬ 
minando  os  cabellos,  percebeu  que  elles 
cresciam  e  formavam  uma  mécha  de  30 
centímetros,  mais  ou  menos,  de  compri¬ 
mento.  O  Guia  nos  disse  que  podíamos 
cortar  esses  cabellos  e  os  conservar,  em 
lembrança  da  sessão,  o  que  immediatamente 
foi  feito. 

O  médium  tendo  despertado,  refez-se 
a  luz  completamente  e  puzemo-os  a  consta¬ 
tar :  l.o  que  nenhum  signal  de  corte  en¬ 
contramos  sobre  a  cabeça;  2. o  que  os  ca¬ 
bellos  não  eram,  nem  da  mesma  côr,  nem 
da  forma  que  os  do  médium.  Fizemos  a 
separação  dos  cabellos  entre  os  membros 
presentes  e  então  produziu-se  ainda  o  se¬ 
gundo  phenomeno.  Um  dos  membros,  um 
tanto  sceptico,  havia  collocado  sobre  um 
papel  a  sua  parte  da  mecha  dos  cabellos  e 
examinava-o  de  perto,  fazendo-os  rolar  en¬ 
tre  os  dedos  :  de  repente,  com  grande  admi¬ 
ração  sua,  os  cabellos  desappareceram,  sem 
que  nos  fosse  possível  encontrar  traços  d'el- 
les,  apesar  da  mais  meticulosa  pesquiza. 
Assignado :  pres.  j.  Brodure;  médium,  L. 
Brodure ;  secr.  J.  Antoine  ;  —  Seguem  treze 
assignaturas  dos  membros  do  grupo  que 
assistiram  a  sessão. 

S.\n  O  PO II  H!  SOMIO 

Os  jornaes  de  Johannesburg  (Trans- 
waal),  diz  a  «Revue  Spirite»,  nos  trazem  a 
noticia,  essencialmente  espirita,  de  um  acci- 
dente  occorrido  na  mina  de  ouro  «Village- 
Deep»,  u  na  das  mais  profundas  do  Wit- 
watersrand  (3.000  metros),  accidente  onde 
desgraçadamente  pereceram  oito  homens, 
mas  ao  qual  poude  escapar  o  mineiro  I  lerr 
drik-Joannes  Olivier,  graças  a  um  sonho 


premonitorio  que  teve,  na  noite  precedente. 
Eis  aqui  em  que  termos  o  mineiro  salvo 
conta  o  facto  : 

«Antes  de  descer,  eu  contei  o  meu 
sonho  a  um  dos  meus  chefes.  Elle  riu-se 
de  mini.  Chegado  ao  nivel  29,  resolvi  de 
repente  remontar  ao  nivel  28.  A  força  desta 
resolução  era  superior  a  mim.  Mas  apenas 
eu  começara  a  subir,  as  rochas  se  des¬ 
tacavam  de  todos  os  lados.  Quando  eu 
voltei  a  mim  era  noite.  Eu  tinha  sido 
ferido  na  cabeça  e  ficara  sem  sentidos.  Senti 
então,  pedras  em  torno  de  mim.  Restava-me 
um  phosphoro.  Hesitei  por  certo  tempo  ris- 
cal-o,  afinal  decidi-me.  Por  uma  sorte  pro¬ 
videncial  havia  sobre  uma  saliência  da  ro¬ 
cha  um  velho  bico  de  vela.  Apercebi-me 
que  uma  pequena  trave  tinha  impedido  a 
rocha  cahir  sobre  mim.  Nossos  homens  - 
sete  indígenas  —  jaziam  debaixo  de  gran¬ 
des  pedras  e  agonisavam.  Ai!  impossível 
de  os  soccorrer!  Lembrei-me  do  meu  so¬ 
nho,  retomei  coragem  e  sem  hesitar,  arran¬ 
quei  as  pedras,  uma  por  uma.  Trabalhei 
muito  tempo.  Comecei  a  sentir-me  suffoca- 
do,  quando  percebi  uma  corrente  de  ar  e 
vi  ao  longe  uma  claridade.  Pude  escapar. 
Enviou-se  soccorros  para  salval-os,  mas  os 
meus  homens  estavam  mortos. 

Foi  bem  o  meu  sonho  que  me  salnou .» 

Com  ef feito,  Hendrik-Johannes  Olivier 
tinha  tido,  durante  o  somno,  a  visão  muito 
característica  da  catastrophe.  Elle  recebeu  o 
aviso  para  precaver-se  e  chegando  ao  local 
da  mina  reconstruiu  o  sonho,  narrando-o  a 
um  contra-mestre  incrédulo. 

E,  de  facto,  este,  um  phenomeno  es¬ 
pirita  caracterisado,  cujo  phenomeno  é  co¬ 
nhecido  pelo  nome  de  sonho  premonitorio. 

UUI  DONATIVO  l)K  I.IO  tUI.IIOEK 

O  multimilionário  J.  M.  Morgan  deu, 
á  cidade  de  Washington,  uma  bibliotheca 
que,  em  dollars,  representa  o  valor  de  150 
milhões  de  francos.  Esta  doação  foi  feita 
em  lembrança  do  defunto  seu  pae  J.  M . 
Morgan,  e  o  doador  declarou  que  assim 
procedia  para  cumprir  piedosamente,  ordens 
por  elle  recebidas,  em  uma  mensagem  pos- 
thuma. 

CF3  'FF, 

ni  CASO  I  VriCICKKK  AXTK 

O  diário  espirita  Cubano  « 1 1 0 Y » ,  pu¬ 
blicou  o  seguinte  caso  narrado  pelo  sr. 
Rodolpho  Eelice,  de  San  Fernando  de  Apu¬ 
re  (Venezuela),  facto  que  diz  o  narrador  ter 
se  dado  comsigo  proprio : 

«Sahindo  do  Cinema  com  dois 
amigos,  de  volta  do  hotel,  caminhava  pe- 


<3>  <S> 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


las  ruas  solitárias.  Os  tres  depararam,  de 
repente,  á  sua  frente,  uma  mulher  elegante, 
a  quem  resolveram  seguir. 

Iam  a  passos  largos,  e  um  delles  de¬ 
liberou  não  acompanhar  mais,  em  seguida 
o  outro  o  mesmo  resolveu.  O  sr.  Felice 
obstinou,  entretanto,  á  pista  da  desconhe¬ 
cida,  que  cada  vez  mais  tomava  uma  marcha 
apressada.  Assim  sahidos  dos  quarteirões 
centraes,  enveredaram  para  os  suburbios. 
O  sr.  Felice  dirigia  palavras  á  mulher,  que 
não  respondia  nem  mesmo  lhe  voltava  o 
rosto.  Si  elle  a  tivesse  alcançado,  tocar-lhe- 
ia  na  mão  ou  no  manto.  Subitamente,  em 
plena  luz  de  uma  lampada  elecirica  que 
illuminawa  a  rua,  elle  ficou  aterrorisado  ao 
ver  a  imagem  feminina  desvanecer-se  aos 
seus  olhos. 

Olhou,  e  viu-se  no  portão  do  cemité¬ 
rio  da  cidade,  e  como  um  louco,  correu 
até  o  hotel,  onde  os  seus  amigos  o  espe¬ 
ravam.* 

O  VELHO  E  O  SOVO  ESPIRITISMO 

O  Espiritismo  é  tão  velho  como  o 
mundo.  Em  todas  os  tempos  o  Espiritismo 
tem  prendido  a  attenção  dos  homens  pa¬ 
ra  a  Im mortalidade. 

O  velho  Espiritismo  é  um  conjuncto 
de  factos  tão  authenticos,  como  aquelles 
que  teem  sido  constatados  ultimamente 
pelos  maiores  sábios  do  mundo.  Verdade 
seja  que  todos  esses  factos  tinham  tomado 
um  caracter  miraculoso,  sobrenatural,  que 
as  religiões  e  os  religiosos  lhe  quizeram 
emprestar  mas  que  admiravelmente  syste- 
matisados  pelo  grande  Missionário  Allan 
Kardec,  se  tornaram  uma  vereda  aberta  a 
novas  pesquizas  em  que  o  homem  de  bôa 
vontade  encontra  o  caminho  da  bôa  orien¬ 
tação  espiritual. 

Catalogados  os  novos  phenomenos 
pelos  ensinos  que  sabiamente  deram  á 
Allan  Kardec  os  Espíritos  prepostos  para 
tão  relevante  Missão,  e  coodificados  rnara- 
vilhosameníe  esses  ensinos,  como  se  de¬ 
para  nas  magistraes  obras  do  Instituitor  do 
Espiritismo,  desappareceram  o  milagre  e  o 
mysterio,  que  tanto  ensombravam  os  ho¬ 
mens  na  pesquiza  da  verdade. 

Este  exordio  nos  foi  suggerido  ao 
deparar  na  Rovne  Spirite  uma  memória  de 
M.  Cassiopée,  illustrado  chronista  desse 
jornal,  sobre  um  phenomeno  digno  de 
menção,  occorrido  no  anno  de  1678. 

Diz  o  distincto  jornalista: 

Não  é  de  hoje  que  o  nosso  velho 
occidente  constata  apparições  e  as  guarda 
em  memória.  Eutre  todas  as  testemunhas 


classificadas  se  ajunta  agora,  mais  uma; 
uma  carta  recentemente  descoberta,  ende¬ 
reçada  a  11  de  maio  de  1678,  por  um  certo 
Reverendo  Mr.  Fowler  a  um  Dr.  Fienri 
Moore  : 

—  «Esta  semana,  disse  elle  Mr.  Pear- 
son,  que  é  um  eminente  ministro  do  cul¬ 
to,  na  cidade  de  Londres,  disse-me  que  o 
avô  de  sua  mulher,  um  homem  de  muita 
piedade,  e  medico  do  nosso  rei  —  seu  no¬ 
me  é  Ferrar,  e  eu  o  julgo  irmão  do  famoso 
Mr.  Ferrar  de  Littie  Giddon  —  tinha  feito 
outFora  um  contracto  com  sua  filha  (a  mãe 
de  Mme.  Pearson,  uma  alma  verdadeira¬ 
mente  piedosa).  Nos  termos  deste  contrac¬ 
to,  ficou  resolvido  que  o  primeiro  dos  dois 
que  morresse  deveria,  depois  da  morte, 
apparecer,  ao  sobrevivente,  si  possível  fos¬ 
se;  a  filha,  com  alguma  difficuldade,  termi¬ 
nou  em  consentir  essa  resolução.  Pouco 
depois,  a  filha,  que  vivia  em  Gillingham 
Lodge,  ha  tres  milhas  de  Salisburg,  cahiu 
doente  e  em  seguinte  a  administração  de 
uma  poção  contendo  veneno,  morreu  re¬ 
pentinamente.  Seu  pae  vivia  em  Londres, 
e  na  noite  em  que  ella  falleceu  elle  viu  o 
cortinado  do  seu  leito  aberto  pela  sua  fi¬ 
lha.  Ella  encarou-o.  Não  havia  noticias  que 
ella  estivesse  doente.  Depois  desta  appari- 
ção,  elle  disse  confidencialmente  á  sua 
criada,  que  sua  filha  de  Gillingham  Lodge 
devia  estar  morta. 

Dois  dias  depois,  elle  recebeu  a  noti¬ 
cia.  E’  isto  que  elle  contou,  depois,  á  Mme. 
Pearson,  sua  avó,  a  um  tio  e  á  criada.  E 
eu  sei  que  Mme,  Pearson  é  muito  digna 
senhora.» 

l Ui  Mctlliiiii  do  logo  o 

de  etleiios  pliysicos 

«THE  HARB1NGER  OF  L1GHT»,  de 
Melbourne,  deu  conta  de  interessante*  phe¬ 
nomenos,  de  que  a  imprensa  húngara  se 
occupou,  cujas  narrativas  foram  reproduzi¬ 
das  por  diversos  jornaes  americanos  do 
norte  e  australianos.  Trata-se  de  um  meni¬ 
no  de  14  annos,  Jojann  Farkas,  conhecido 
pelo  nome  =  o  menino  diabolico  —  de¬ 
vido  á  mediumnidade  que  possúe.  Julgam- 
n'o  um  personagem  sobrenatural.  Onde 
elle  se  acha  produzem-se  incêndios  myste- 
riosos,  e  diversos  sábios,  dentre  estes, 
geologos  vindos  de  longe,  teem  sido  tes¬ 
temunhos  de  maravilhosos  phenomenos. 
Elles  têm  se  esforçado  para  descobrir  ema¬ 
nações  de  gazes  das  casas  onde  está  o 
menino,  mas  nenhum  phenomeno  se  pro¬ 
duz  na  ausência  do  rapaz.  Quando  as  ma¬ 
nifestações  se  verificam  o  rapaz  é  victima 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


29 


de  uma  terrível  dor  de  cabeça.  Posto  sob 
a  vigilância  do  controle,  deu  provas  cabaes 
de  suas  aptidões». 

Um  dia  soffria  o  menino  terrivelmente, 
chegando  a  tomar  uma  cadeira  para  não 
cahir ;  e  de  repente,  chammas  incendiaram 
o  cortinado  da  cama  e  as  cortinas  da  ja- 
nella.  Guardanapos  saltavam  da  messa  no 
soio,  e  garrafas  cahiam  do  buffet  quebran¬ 
do-se. 

Em  outras  occasiões,  janellas  e  portas 
foram  arrancadas  quando  Fatkas  delias  se 
approximava. 

UM  MEDIITM  CLARIVIDENTE 

O  «City  News»,  de  Londres,  com  a 
rubrica  de  Sir  Basil  Thomson,  noticia  as¬ 
sim  a  mediumuidade  de  um  moço  austríaco: 

—  «Quando  eu  era  governador  da 
Mormwood  Scrubbs  Prison,  havia  um  pri¬ 
sioneiro  que  lia  admiravelmente  os  pensa¬ 
mentos.  Para  fazer  uma  experiencia,  prepa¬ 
rei  quatro  pedaços  de  papel  onde  eu  havia 
escripto  antes  de  collocar  em  enveloppes 
separados,  textos  em  francez,  em  inglez. 


em  italiano  e  em  lingua  «fidjiana»  de  que 
me  orgulho  conhecer. 

O  capellão  da  prisão  e  eu  fomos  ao 
cubículo  do  tal  homem,  que  foi  convidado 
a  lêr  o  conteúdo  dos  enveloppes. 

Elle  os  tomou  e  os  pôs  um  a  um 
sobre  sua  fronte  Eu  não  podia  distinguir 
os  conteúdos.  Eile  leu  o  francez  e  o  inglez 
com  facilidade,  como  si  as  palavras  esti¬ 
vessem  escriptas  na  parede  ás  suas  vistas. 
Ao  ler  o  italiano  deteve  se.  Quanto  ao 
«fidjiano»,  declarou:  «Não  distingo  clara¬ 
mente  as  palavras,  mais  isto  quer,  mas  ou 
menos  dizer  assim».  Então  soletrou  o  texto 
da  lingua  antiga,  fidmente,  só  com  um 
erro,  a  substituição  dum  n  nor  um  u.  Para 
dizer  a  veidade,  a  minha  escripta  motivou 
a  confusão  destas  duas  letras. 

Acolhemos  nesta  secção  as  noticias 
dos  phenomenos  que  chegarem  ao  nosso 
conhecimento,  sendo,  porém,  necessário  que 
elles  venham  documentados,  ou  nos  sejam 
os  seus  relatos  enviados  por  pessoas  de 
inteira  confiança. 


o-  30 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


Após  tantos  embaraços  e  difficulds- 
des,  apparece,  afinal,  a  nossa  Revista  que, 
obdecendo  ás  injimcções  do  Alto,  nem  cha¬ 
mar  a  attenção  dos  cultores  do  Espiritis¬ 
mo  para  uma  série  de  phenomenos  e  de 
estudos  indispensáveis  á  bôa  orientação 
que  todos  devem  tomar  para  o  descorti- 
nio  da  Immortalidade. 

Ao  encarregado  desta  secção  compe¬ 
te  constatar  o  movimento  espirita  que  che¬ 
gar  ao  seu  conhecimento  e  muito  grato  fi¬ 
cará  aos  confrades  do  Brasil  e  do  Extran- 
geiro  que  lhe  transmittirem  noticias  de  or- 
ganisações  e  fundações  de  sociedades  e  de 
outros  factos  que  formem  o  conjuncto  des¬ 
ta  collaboração . 


Congresso  Internado* 

na  I  «lo  Espiritismo 

Na  reunião  convocada  pelo  Comité 
Executivo  e  Comité  Geral  da  «Federação 
Spirite  International»,  com  séde  em  Paris, 
grande  numero  de  nações  foram  represen¬ 
tadas,  dentre  as  quaes  a  Allemanha,  a  In¬ 
glaterra,  a  Bélgica,  a  Suissa,  a  França,  a 
Hespanha,  a  Hollanda,  a  Republica  Argen¬ 
tina,  as  Republicas  da  Guatemala.  Cuba, 
Porto  Rico,  etc.  Importantes  decisões  fo¬ 
ram  tomadas,  havendo-se  determinado  o  dia 
õ  de  Setembro  do  corrente  anuo,  par?  a 
abertura  do  Congresso  Internacional. 


C«»ntribiiiç»es  «te  iutensiíieaçao  Espirita 

Na  Hespanha,  tres  immoveis  foram 
postos  á  disposição  dos  espiritas  Um  em 
Alicante,  offerecido  pelo  sr.  Primitivo  Fa¬ 
jardo  ;  outro  em  Sabadeli,  ao  Centro  dos 
estudos  PsychoDgicos  ;  o  terceiro  em  Bar¬ 
celona,  Instituto  Balbé,  aos  cuidados  de 
Mme.  Maria  Sabaté. 


O  Espirif ism<»  na  Italia 

O  movimento  espirita  na  Italia  se  pro¬ 
paga  com  animação.  Ao  lado  dos  trabalha¬ 
dores  de  Génova,  de  Nápoles,  fundam-se 
outros  centros  de  estudos,  assim  como 
jornaes  e  revistas,  tal  como  «Sinai»,  cujos 
esrriptorios  se  acham  ioealisados  em  Tries- 


te.  «Luce  e  Ombra»,  de  Roma,  promette 
augmentai  o  numero  de  suas  paginas  e  fa¬ 
zei  sahir  a  sua  re vista  mensalmente  com 
48  paginas. 


O  Es|,  iriíismo  na 
DINAMARCA  E  NA  SUÉCIA 

A  imprensa  inteira  da  Suécia  e  da  Di¬ 
namarca  trata  com  particular  interesse  as 
questões  metapsychicas,  consideiadas  sob 
o  ponto  de  vista  scientifico  e  religioso.  Em 
Odense  (Dinamarca)  existe  uma  bôa  socie¬ 
dade  que  funcciona  num  grande  prédio 
proprio.  Na  cidade  de  Aarling,  como  a  de 
Esberg  existem  muitos  centros  em  activi- 
dade. 


O  Espirií ism«>  nas  Imitiu* 

Ao  contrario  do  que  se  affirma  que  a 
luz  vem  das  índias,  agora  é  que  ella  come¬ 
çou  a  fazer  lá  os  seus  proselytos,  devido  ao 
zelo  propagandista  do  illustrado  espirita  sr. 
Rishi.  Este  distincto  confrade  recruta  dia¬ 
riamente  adherentes  para  Revelação  nova, 
fazendo  conferencias  populares,  nas  quaes 
annuncia  as  consoladoras  esperanças  da 
Doutrina  Kardecista. 

-  Uma  nova  revista  psychica  acaba 
de  apparecer  em  idioma  Indostanico,  sendo 
editado  em  Natalm. 

—  Uma  associação  fundada  nesta  ul¬ 
tima  cidade,  mantém  activos  corresponden¬ 
tes  em  Calcutá,  Bombay,  Mandelay,  Ran- 
goon,  etc. 

—  Em  Armam  annuncia-se  o  appare- 
cimento  de  uma  revista  -  «  Viet  Nam  Thanh 
Nien  Tap  Chi »  (ElanoT.) 


A  Divulgação  Espirita  «-ui  Cuba 

—  Em  Cuba  o  Espiritismo  triumphante 
jà  venceu  todos  os  obstáculos.  Entre  ou¬ 
tras  publicações  de  valor  se  salienta  o  dia- 
rio  espirita  Hoy ,  —  cuja  acção  comba¬ 
tiva  lhe  permitte  obter  victoria  sobre  vicío- 
ria. 

Existe  na  ilha  mais  de  mil  socie¬ 
dades  espiritas,  perfazendo  um  total  de 
70.000  membros. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


<3>  31 


-  Uma  das  mais  recentes  revistis, 
das  que  se  publicam  em  Cuba,  lembramo- 
nos  da  que  tem  por  titulo  —  Labor emns  - 
(Trabalhemos) . 

—  Segundo  refere  « Hoy »,  nenhuma 
pessoa  lá  se  envergonha  em  declarar- se  es¬ 
pirita 


A  AtheiiiiK  «los  IMiilosoftlio* 

Em  Athenas  foi  fundada  a  Sociedade 
HHIenica  de  Pesquizas  Psychicas,  cipos  pri¬ 
meiros  trabalhos  versaram  sobre  a  «Premo¬ 
nição  e  os  Sonhos  Premonitorios». 


Movíiikiiío  E.*>|ilrila  na  <àraii-ltretanlia 

—  O  movimento  espirita  na  Gran- 
Bretanha  é  admiravel. 

—  Grandes  sociedades  perseveram  in¬ 
fatigavelmente  nos  mais  variados  trabalhos 
psyciiicos,  e  no  estudo  de  todas  as  cate¬ 
gorias  de  phenomenos  :  a  photographia  es¬ 
pirita  fornece  constantemente  provas  irre- 
fragaveis  da  immortalidade,  tendo  por  au¬ 
xiliares  os  mediums  Hope,  Buxton,  Dea- 
ne  e  outros.  O  phenomeno  de  «Vozes  Di¬ 
rectas»  é  demonstrado,  não  sómente  a 
uma  aggremiação  privada,  mas  deante  de 
'2Õ0  pessoas  reunidas  num  «hall  londonien». 
A  litteratura  se  enriquece  com  obras  novas, 
como  a  traducção  de  «Joanna  D’Arc»,  de 
Léon  Dénis,  por  Sir  Conan  Doyle,  etc  Ho- 
race  Leaf  publicou  as  Relações  de  viagem 
dos  mediums  inglezes.  No  Hyde  Park,  de 
Londres,  os  espiritas  effectuam  sessões  de 
vidência. 


Eis|iiri(i.«>iiio  na  America  do  Xorle 

Na  chronica  espirita  mundial  de  julho 
ultimo,  assignala  a  adhesão  da  «National 
Independent  Spiritualist  Association »,  que 
()ossúe  na  America  um  grande  numero  de 
templos,  lyceus,  escolas,  prédios,  círculos  de 
estudos,  de  demonstração  experimental,  bi- 
bliothecas,  etc.,  e  constitúe  actualmente  a 
liga  dos  jovens  espiritas,  cujo  numero  vae 
crescendo  todos  os  dias.  No  ultimo  Con¬ 
gresso,  a  «National  Association»  resolveu 
filiar-se  á  «Federation  Spiiite  Internationa!», 
com  séde  em  Paris,  para  cerrai  fileiras  com 
os  seus  irmãos  do  mundo  inteiro,  no  Con¬ 
gresso  Internacional,  em  preparativos. 

—  A  direcção  do  jornal  « Scientific 
American»  está  fazendo  sessões  com  uma 
pessoa  de  Boston,  de  quem  a  imprensa 
americana  faz  óptimas  referencias  de  mé¬ 
dium  nidade  prodigiosa. 


—  Foi  fundado  em  New  York  o 
«Spiritual  Science  I n s ti t u te». 


.Movimento  E^jiirila  France* 

Tanto  quanto  nos  outros  paizes  do 
mundo,  o  portentoso  sol  do  Espiritismo  se 
ergue  illuminando  os  horizontes  amplos 
que.  sem  a  sua  bemfaseja  claridade,  a  hu¬ 
manidade  não  poderia  conhecer. 

—  «Federation  Spirite  International» 
trabalha  activameníe,  mantendo  correspon¬ 
dência  continua  com  as  associações  fede¬ 
radas. 

— A  «Union  Spirite  Française»  sys- 
tematisou  os  seus  trabalhos,  de  modo  a 
obter  pleno  successo,  publicando  o  «Bul- 
letin»  mensal  sob  a  direcção  do  Snr.  Jéan 
Meyer. 

-  Em  Toulouse,  Douai,  Nunes,  Dun- 
kerque,  Bordeaux,  Saint-Etienne,  Mans,  Al- 
ger,  Rochefort,  Lion,  Roubaix,  como  em 
Paris,  augmenta  consideravelmente  o  mo¬ 
vimento  de  propaganda,  são  creados  novos 
centros  e  apparecem  novos  jornaes.  A  im¬ 
prensa  franceza  aborda,  com  interesse,  as 
questões  espiritas,  tornando  assim,  os  seus 
leitores  scientes  dos  factos  que  se  apre¬ 
sentam,  como  testemunhos  vivos  da  Vida 
Eterna. 


KsiiiritiNino  na  Argentina 

A  « Cosiancia »,  excellente  socieda¬ 
de,  sob  a  direcção  da  Dr.  Cosme  Marino, 
e  que  já  conta  67  annos  de  existência,  pro- 
segue  com  as  suas  conferencias  elucidati¬ 
vas  e  doutrinarias.  A  revista  semanal  do 
mesmo  nome  publica  interessantes  artigos 
de  fonte  espirita. 

Sessões  experimentaes  são  realizadas 
mensalmente. 


KM|)iriti.*«iiio  ii4»  Itrasil 

Estamos  certo  que  o  Espiritismo  fará 
renascer  no  nosso  paiz,  uma  nova  éra  de 
paz  e  de  progresso  espirita,  iniciando-se 
esta  nova  phase,  para  o  povo  brasileiro,  no 
corrente  anuo. 

Por  toda  a  parte  se  intensifica  o  mo¬ 
vimento  de  propaganda,  erguem-se  novas 
aggremiações  e  a  imprensa  vae  tomando 
uma  feição  liberal,  tal  é  a  maneira  suasiva 
porque  o  Espiritismo  se  vae  impondo. 

Aggremiações  como  a  Federação  Es¬ 
pirita  Brasileira,  a  União  Espirita  Suburba¬ 
na,  do  Rio,  trabalham  incessantemente  pela 
divulgação  do  Ideal.  Jornaes  e  revistas,  co- 


32 


Revista  internacional  do  Espiritismo 


mo  o  Reformador,  a  Aurora,  o  Jornal  Es¬ 
pirita,  a  Seara,  o  Clarim  e  outros  tantos, 
levam  por  toda  a  parte  a  semente  produc- 
tora  da  Religião  Cluistã  que,  em  seu  ad¬ 
mirável  complemento  exalta  a  Caridade  que 
aperfeiçoa  e  a  Fé  que  salva. 

A  seu  turno,  uma  pleiade  de  denoda¬ 
dos  propagandistas  se  encarregam  da  pa- 
vra  oral,  salientando  a  excelsa  philosophia, 
cujos  dictados  coordenados  por  Allan  Kar- 
dec,  nada  deixam  a  desejar  aos  que  têm 
fome  e  sêde  de  justiça,  e  querem  conhe¬ 
cer  o  porque  da  vida  e  a  bússola  que  de¬ 
verá  orientai-os  para  a  posse  dos  seus  des¬ 
tinos  immortaes. 


Pensar  e  Sentir 


E'  mais  difficil  fazer  os  homens  pen¬ 
sar  do  que  sentir;  quando  não  puderdes 
attrail-os  pelo  raciocínio,  tocai  seus  cora¬ 
ções  pelo  sentimento. 


0  Juízo  Preconcebido 

Nós  estamos  tão  longe  de  conhecer 
os  agentes  da  natureza  e  seus  diversos  me¬ 
dos  de  acção,  que  seria  pouco  philosophi- 
co  negar  a  existência  dos  phenomenos,  uni¬ 
camente  porque  elles  são  inexplicáveis  no 
estado  actual  dos  nossos  conhecimentos. 

Laplance 


AS  ALMAS  virtuosas 


A  alma  virtuosa  que  tem  a  paixão  do 
Bem  e  do  Bello,  do  Grande  —  e  que  tem 
a  summa  posse  da  harmonia,  produzirá 
obras  primas,  capazes  de  impressionarem 
as  mais  remissas  e  commovel-as. 

^.ossirki 


Condemnação  Insciente 


Condemnar  resolutamente  uma  cousa 
por  falsa  e  impossível  é  se  arrogar  com  a 
gloria  de  estar  de  posse  das  fronteiras  e 
limites  da  vontade  de  Deus  e  do  poder  da 
nossa  mãe  natureza;  e  não  ha  signal  de 
mais  notável  loucura  no  mundo  do  que  os 
encarar  na  medida  da  nossa  capacidade  e 
sufficiencia. 

MONTAIGNE 


Os  homens  mais  felizes 


Felizes  aquelles  cujo  preparo  foi  bem 
começado  aqui  em  baixo,  porque  assim 
como  elles  têm  sido  auxiliados  neste  mundo 
por  forças  do  outro  lado,  do  mesmo  modo 
serão  mais  promptamente  ajudados,  quando 
passarem  a  grande  fronteira ;  tornar-se-ão 
tão  ageis  como  os  «anjos»,  os  mensageiros 
de  Deus,  no  Mundo  Espiritual,  e  deslisarão 
em  radiosos  caminhos. 

Rev.  A.  F.  Webling 

O  Espiritismo  e  a  Sciencia 

O  Espiritismo  é  a  sciencia  das  scien- 
cias,  cujo  estudo  fornece  conhecimentos, 
não  só  sobre  o  homem  espiritual,  mas  tam¬ 
bém  sobre  o  homem  corporeo ;  e  ensina¬ 
mentos  de  ordem  moral  e  de  ordem  in- 
tellectual. 

Dr.  Pinheiro  Giudes 


U/A  BELLO  PENSAMENTO 

O  amor  a  Deus,  o  culto  do  bem  e  o 
habito  do  trabalho,  faz  a  pessoa  honesta  e 
santa,  compassiva  e  resignada,  bôa  e  hu¬ 
milde;  emquanto  que  a  riqueza  argentaria 
deixa  muitas  vezes,  quasi  sempre,  fundos 
rastos  sangrentcs  de  perversão  e  maldade 
nos  seus  favoritos. 

Eça  de  Queii  os 


Os  Verdadeiros  Amigos 


Os  verdadeiros  amigos  estão  presentes 
mesmo  quando  não  os  temos  ao  pé  de 
nós;  mesmo  quando  pobres,  são  ricos; 
mesmo  quando  fracos,  gozam  saúde;  e  o 
que  é  mais  difficil  de  affirmar,  mesmos 
mortos  continham  a  viver. 

CÍCERO 


Um  conselho  do  Além 


Viajor  em  marcha  pela  Estrada  do 
Infinito,  que  as  tuas  vistas  se  voltem  sem¬ 
pre  para  frente  e  celere  sejam  os  teus  pas¬ 
sos  para  galgardes  o  cume  da  montanha, 
donde  tudo  te  apparecerá  sob  um  outro 
prisma,  bem  differente  do  que  agora  vês! 

Procura  a  Estrada  da  Vida  e  não  te 
detenhas  paralysado  com  os  accidentes  da 
jornada;  caminha  sempre  com  passo  firme, 
estudando  as  sinuosidades  do  terreno  e  com 
o  espirito  prompto  para  afrontar  todos  os 
revezes  da  viagem. 


, 


Revista  Internacional 

do  Espiritismo 

Publicação  Mensal  de  Estados  Anímicos  e  Espiritas 


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A  Revista  Internacional  do  Espiritismo  está  em  corn- 
municação  com  as  principaes  revistas  européas,  em  vista 
do  que,  além  dos  artigos  de  íundo  dos  seus  collaborado¬ 
res,  publica  os  relatos,  dos  jornaes  de  além  mar,  dá  conta 
das  conferencias,  dos  congressos,  e  na  sua  Chronica  Ex- 
trangeira  e  E’cos  e  Noticias,  deixa  os  leitores  ao  par  de 
todos  os  factos  e  novidades  Anímicas  e  Espiritas  occor- 
ridas  no  mundo  inteiro.  A  revista  apparece  regularmente 
a  15  de  cada  rnez,  com  32  a  40  paginas  de  accordo  com 
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