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ANNO I
BRASIL - E. de S. Paulo — Mattão, 15 de Fevereiro de 1925
N.° I
Ijgp
Revista Internacional
io Cspiritismo
PUBLICAÇÃO MENSAL DE ESTUDOS
ANÍMICOS E ESPIRITAS
Rary of princeton
Direcior: CAI RB AR SC EI UT EL
INARY
Collaboradores : DIVERSOS
SUMMARIO
O nosso titulo e intuitos
Um Grande Espirita
O «Pró e o Contra» na Questão da
Sobrevivência
Os presentimentos de Catulle Mendes
Os «Camp. Meetings» Espiritas
Casos apparentes de reminiscências de
vidas anteriores
Photographia Fluido-Magnetica e Ra-
dio-Actividade Humana
O Progresso Humano e os Phenome-
nos Psychicos
Um retrato do Dr. Gustave Geley
Chronica Extrangeira
Ecos e Noticias
Uictor F)ugo — 9 granòe poeta espirita
ANNO i
Brasil - - E. de Sáo Paulo
Mattão, 15 de Fevereiro de 1925
Revista
- N. 1
Internacional
do Espiritismo
PUBLICAÇÃO MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPIRITAS
Diredor: CAIRKAIt SCHUTEI.
Collaboradores : DIVERSOS
0 NOSSO TITULO E INTUITOS
0 © G ©
O titulo e subtítulo que adoptamos para esta
publicação comprehende uma vasta area de traba¬
lhos e conhecimentos que marcam na hora actual
um movimento de accentuado progresso na marcha
da humanidade.
O incremento que os estudos psychicos teem
tomado em todos os paizes do mundo, quer com
o auxilio das vozes avulsas e desautorisadas, pro¬
pagando as consoladoras e edificantes verdades da
Revelação Nova, quer com o valioso testemunho
dos representantes da sciencia, affirmando a reali¬
dade dos seus factos inconcussos, demonstra per¬
feitamente que o Espiritismo, embora batido e ex¬
plorado em todos os meandros, é uma Doutrina
vencedora, que já abriga em seu augusto templo
muitos milhões de almas.
E é para notar que a somma de provas, o
avultado numero de testemunhos e o valor intellec-
tual dos observadores, constituem uma verdadeira
revolução no despotico dominio do esteril pre¬
conceito ou da jatancia cathedratica, que vê deser¬
tarem do seu velho Syllabus os seus melhores or¬
namentos, hereticos contra o dogmatismo scientifico,
mas representantes da numerosa pleiade de sábios
de valor, a quem se deve o moderno incremento
dos estudos experimentaes.
As phalanges dos estudiosos, inicialmente
quasi desertas, foram se successivamente engrossan¬
do, e não ha mais quem possa negar que o Espi¬
ritismo avassalou o mundo.
E nem podia se prever outro resultado, pois
o Espiritismo abrangendo o campo latíssimo de
acquisições scientificas nos domínios da chimica, da
pbysica, da biologia, da astronomia e até da medi¬
cina, tem como principio, a existência e sobrevi¬
vência da alma após a morte do corpo, sem o que
nenhuma sciencia pode prevalecer.
Submettendo-se aos processos do methodo
positivo, iniciado por Bacon e erigido por Comte,
Littré e outros, só elle garante a pesquiza da Ver¬
dade.
Todos os emprehendimentos realizados e que
se forem realisando no terreno do animismo expe¬
rimental, bem como os que se acharem na area do
espiritismo propriamente, ou vulgarmente dito, serão
lembrados por esta revista.
O escopo principal do nosso programma é
demonstrar e propagar, que no homem existe um
dualismo, composto de corpo e espirito, e esta de¬
monstração não deve ser feita por méras especula¬
ções philosophicas, mas por meio de verificação
experimental.
Estes estudos, indispensáveis á elevação hu¬
mana e á vida social, constituem o maior legado
ás gerações vindouras.
Por toda a parte do mundo congregam-se
esforços para a divulgação da Idéa Espirita. Asso¬
ciações, federações de associações, congressos na-
cionaes e internacionaes, dão conta dos progressos
que o Espiritismo vae realisando.
, Entrando como parcella, embora insignificante,
nesse concurso universal, nós julgamos impulsionar
a cultura de um estudo, a tantos titulos salutar,
atacando as fronteiras do desconhecido e pondo a
descoberto uma faixa riquíssima de noções indis.
pensáveis á evolução da humanidade.
Que Deus nos ajude e permitta aos Gênios
Tutelares serem comnosco nesta obra de espiritua-
lisação humana.
<3- 2
Revista internacional do Espiritismo
UM GRANDE ESPIRITA
As Experiências de Victor Hugo
As mezas que se movem
0 poeta conversava com os seres do Além-Tiimulo ^ ^ ^ ^
— - - 0 testamento espirita do exilado de Jersey
VlCTOR HUGO, o grande poeta francez,
f foi sempre, corno ninguém ignora, per¬
seguido pela preocupação constante do de¬
pois da morte .
Foi em Jersey, no deserto que Victor
Fiugo fez as suas primeiras sessões de Es¬
piritismo. Nessa terra do seu exilio, na sua
deliciosa casinha de Marine Terrace, Hugo
passava muitos dias e muitas noites a con¬
versar com os Espíritos.
Cuidadosamente asactasde suas sessões
eram escriptas em um livro especial e esse
curioso documento foi encontrado por
Paul Maurice, piedoso amigo de Victor
Hugo e executor testamenteiro da bagagem
litteraria do grande
escriptor.
O livro de actas
é quasi que do prin¬
cipio ao fim, uma sé¬
rie de diálogos entre
Victor Hugo e seus
invisíveis interlocuto¬
res, que não raro se
diziam espiritos d e
grandes mortos. Estes,
se ás vezes respon¬
diam por banalidades,
frequentemente tam¬
bém respondiam por
notáveis poemas e por
sublimes paginas de
philosophia.
Sully Prudhom-
me o celebre poeta
francez, membro da
Academia, morto não
ha muito, teve occa-
sião de percorrer esse
livro precioso de diá¬
logos mediumnicos.
A sua opinião a
respeito é das mais interessantes para a nos¬
sa causa. Prudhomme diz de facto, que as
paginas espiritas de Jersey são, muitas, ve¬
zes, iguaes, ás mais bellas de Victor Hugo,
e ás vezes mesmo superiores .
As actas de Jersey eram escriptas pe¬
lo proprio punho de Hugo ou pelo de
Augusto Vacquerie, amigo do poeta e seu
iniciador no Espiritismo.
Toda a família de Hugo se achava
presente quando chegava a hora da con¬
versa com o Além-Tumulo. Muitas noites
foram passadas assim, as mãos estendidas
sobre uma mesinha que indicava como de
costume, por meio de pancadas, as lettras
do alphabeto destinadas a formar palavras
e depois phrases.
Varias celebridades da época frequen¬
tavam as sessões espiritas de Victor Hugo.
Os mais assíduos eram entre outros, Vac¬
querie, o libertário húngaro Teleki, o ge¬
neral Le Fló, Jules Alexis e muitos outros.
Mme. Girardin essa, chegou a Jersey
a 6 de setembro de 1853. Eoi eda quem
venceu as ultimas resistências do poeta ás
suggestões de Vacque¬
rie, que pedia a Hu¬
go tentasse ao menos
corresponder com as
almas dos desappare-
cidos.
Victor Hugo, po¬
rém, recusava de ma¬
neira peremptória, por¬
que via na interroga¬
ção dos mortos uma
pratica que elle qua¬
lificava de — «sacrí¬
lega». — Entretanto o
grande escriptor acre¬
ditava na possibilida¬
de de uma conversa¬
ção entre as «duas
bordas do tumulo»,
para nos servirem da
felicíssima expressão
de William Stead, e,
com o correr do tem¬
po, o Espiritismo nun¬
ca teve adepto mais
fervoroso que Victor
Hugo.
E as sessões de Jersey tornaram-se fa¬
mosas.
Por varias vezes Vacquerie teve dis¬
cussões acres com os Espiritos que se
manifestavam. E quando mais tarde se lhe
dizia que podia ser perfeitamente que Vic¬
tor Hugo fosse o communicante inconsciente
das respostas do invisível, Vacquerie res¬
pondia : «Certo os espiritos de Jersey eram
excepcionaes, extranhos, caprichosos. Que
Revista Internacional do Espiritismo
<3- 3
importa ! Eu accredito nelles, como acredi¬
to nos onagros.
Era impossível que Victor Hugo fos¬
se o autor das respostas do invisível, por¬
que só muito raramente elle tomava lugar
na mesa, contentando-se com o assistir a
sessão como simples espectador, ou como
secretario encarregado de escrever as lettras
á medida que a mesa as dictava.
Depois da chegada á Jersey de Mme.
Girardin, as sessões tomaram uma nova
feição, entretanto nas primeiras tentativas
lançou-se mão de uma mesinha quadrada,
sendo que o insuccesso foi completo; jul¬
garam que a forma do movei «contrariava o
fluido». Victor Hugo queria fazer cessar as
experiencias porém, Mme. Girardin respon-
deu-lhe : «Os espíritos não são cavallos de
praça á espera da bôa vontade do freguez;
são livres e vêm a nós quando entendem
chegado o momento opportuno». E, firme
no seu intento, comprou num bazar uma
mesinha redonda que, como a precedente,
se conservou immovel.
Um dia, emfim, a mesinha teve um
movimento. Essa sessão foi commovedora.
Vacquerie pediu a entidade presente désse
um significado da palavra em que elle pen¬
sava. « Traduz » — pediu Vacquerie — a pa¬
lavra que tenho no pensamento». E a mesa
respondeu : «Soffrimento». Vacquerie pen¬
sava : «Amor».
A essa interpretação intellectual do
pensamento de um dos assistentes digno
de toda a confiança o interesse dos expe¬
rimentadores augmentou. «Quem és tú ? »
— perguntou-se ao espirito. E a mesa res¬
pondeu: «Leopoldina». Esse nome produ¬
ziu uma viva commoção. Era o da filha
que Hugo acabava de perder. Mme. Hugo
chorava, Charles Hugo — outro filho do
poeta, — interrogava a sua irmã.
Toda a noite se passou numa con¬
versação angustiosa, mas consoladora, com
a desapparecida.
A partir desse dia, as communica-
ções realizaram-se com regularidade. Mui¬
tas vezes mesmo em pleno dia consulta¬
vam-se os espíritos. Esses marcavam, ás ve¬
zes, a hora da sessão seguinte e ninguém
faltava ao Rende z-Vous.
Era raríssimo que Victor Hugo tomas¬
se logar em torno da meza. O médium era,
ora Mme. Hugo, ora seu filho Charles, que
parece ter possuído uma certa força me-
diumnica.
Victor Hugo formulava as perguntas e re¬
gistrava as respostas, que as vezes desaprovava,
recebendo mesmo, outras vezes , rudes licçõcs
dadas pela Entidade com mmu cante Isso não
o impedia, todavia, de tratar com o maior
respeito os seus correspondentes occultos,
que se exprimiam em verso ou em prosa,
e para os quaes Hugo se dava ao trabalho
de improvisar estrophes ou tiradas philoso-
phicas.
Como dissemos a alta sociedadade de
Jersey frequentava a casa do poeta. Um jo¬
vem inglez tornara-se particularmente nota¬
do pela sua assiduidade. Um dia, o joven
inglez em questão chamou á meza Lord
Byron, o grande poeta inglez. Charles, que
não sabia inglez , e que servia de mediium
observou que ser-lhe-ia muito difficil acom¬
panhar as lettras da communicação se essa
fosse dada em inglez.
Byron não respondeu ao convite de
seu compatriota ; porém, decorridos alguns
momentos, foi Walter Scott quem se mani¬
festou em seu lugar, dictando os dois ver¬
sos seguintes :
Vcx not the bard , his lyre is broken,
His last song sung , his lasc wotd spoken
Como muitas das pessoas presentes
ignorassem o inglez, a mesma pessoa que
procurara attrahir á reunião o Espirito de
Lord Byron traduziu nestes termos a com¬
municação assignada por Walter Scott :
Não atormentae o bardo , a sua lyra está
/ quebi ada
O seu ultimo poema cantado , a sua ultima
/ palavra dita
O Espirito communicara-se numa lín¬
gua desconhecida do médium.
* * *
Victor Hugo- regressou espirita do exí¬
lio, convicto da immortalidade, e até o seu
ultimo dia não cessou de corresponder com
os seres de Além-tumulo. Muitas vezes o
grande poeta, nas suas obras posteriores
aos longos dias do exilio, fez allusão ás
grandezas do invisível.
O seu fim foi o de um verdadeiro es¬
pirita. Ninguém ignora, do facto, que o itn-
mortal poeta confessou a sua crença em Deus,
porém recusou as orações da Egreja, pre¬
ferindo ser chorado pelos pobres, aos quaes
deixou uma grande somma de dinheiro.
O genial escriptor morreu com a cer¬
teza de que uma nova vida ia abrir-se pa¬
ra elle e que ia penetrar nesse Além-tumu¬
lo, no qual o haviam precedido tantos ami¬
gos e seres queridos que, emquanto o es¬
peravam, lhe tinham, nas suas conversações
mediumnicas, frequentemente manifestado a
sua constante affeição.
Eis, finalmente, uma das esplendidas
tiradas, deixada nas suas «Obras Eosthu-
mas», excellente dadiva dos grandes pensa¬
mentos, que constituem o testamento philo-
sophico do autor dos Miseráveis :
Revista internacional do Espiritismo
— «O que é que faz o homem livre?
A alma. Que diz livre, diz respon¬
sável.
Responsável nesta vida ?
Effectivamente não, porquanto nada ha
mais demonstrado do que a prosperidade
possivel e frequente dos máus e o infortú¬
nio immerecido dos bons durante a sua pas¬
sagem sobre a terra.
Quantos homens justos não tiveram só
angustias e misérias até o seu derradeiro
dia ? Quantos homens criminosos viveram
até a mais extrema velhice, no gozo pacifi¬
co e sereno de todos os bens deste mundo,
nelles incluindo a consideração e o respei¬
to de todos! É o homem, então, responsá¬
vel depois da vida ? Evidentemente sim,
pois que não o é durante ella. Alguma cou¬
sa, pois, delle sobrevive, para se submetter a
essa responsabilidade — a alma.
A liberdade da alma explica a sua im-
mortalidade. A morte não é, portanto, o fim
de tudo. Ella não é senão o fim de uma cou¬
sa e começo de outra. Na morte o homem
acaba, e a alma começa. Tome-se por tes¬
temunho o que considerar o rosto de um
ente amado com essa anciedade extranha,
feita de esperança e de desesperança. Digam
esses que atravessaram essa hora fúnebre, a
ultima da alegria, a primeira do luto, digam
si não é verdade que bem se sente que
ainda ha a/li algue,n, que tudo não acabou r
Sente-se em roda dessa cabeça como
o frémito de azas que acabam de ex¬
pandir-se : uma palpitação confusa e inau¬
dita fluctua no ar ao redor desse coração
que não bate mais. Essa bocca aberta pa¬
rece chamar o que acaba de partir e dir-
se-ia que deixa cahir palavras obscuras no
Mundo Invisível.
Eu sou uma alma.
Bem sinto que o que darei ao tumulo
não é o meu Eu, o meu Ser. O que cons-
titue o meu eu, irá além.
Terra, tú não és o meu abysmo.
O homem outra cousa não é senão
um captivo.
O prisioneiro escala penosamente os
muros da sua masmorra, trepa de saliência
em saliência, colloca o pé em todos os in¬
terstícios e sóbe até ao respiradouro. Ahi,
olha, distingue ao longe a Campina, aspi¬
ra o ar livre, vê a luz.
Assim é o homem.
O prisioneiro não duvida que encon¬
trará a claridade do dia, a liberdade; como
pode o homem duvidar si vae encontrar a
Eternidade á sua sahida ? Porque não pos¬
suirá elle um corpo subtil, ethereo, de que
o nosso corpo humano não póde ser senão
um esboço grosseiro ?
A alma tem sêde de absoluto e o
r
absoluto não é deste mundo. E por de¬
mais pesado para esta terra. Ha duas leis
a lei dos globos e a lei do Espaço. A lei
dos globos é a morte. O limite exige a
destruição. A lei do Espaço é a Eternidade.
O Infinito permitte a expansão.
Entre os dois mundos, entre as duas
leis, ha uma ponte : a transformação. A am¬
bição do vivo dos globos deve ser, pois,
tornar-se um vivo do Espaço.
O mundo luminoso é o Mundo Invi¬
sível. O Mundo Luminoso é o que não ve¬
mos. Os nossos olhos carnaes só veem á
noite. Ah ! do que vive com os olhos aber¬
tos sobre o mundo material e com as cos¬
tas voltadas para o mundo desconhecido !
A morte é uma mudança de vestimenta.
Alma, tu estavas/ vestida de sombra, vaes
ser vestida de luz. E no tumulo que o ho¬
mem faz o ultimo progresso.
Na morte, o homem fica sendo side¬
ral. A morte é a vindicta da alma. A vida,
é o poder que tem o corpo de manter a
alma sobre a terra, pelo peso que faz nella.
A morte é o poder que tem a alma de
arrebatar o corpo fóra da terra pela assimi¬
lação.
Na vida terrestre, a alma perde o que
irradia ; na vida extra-terrestre, o corpo per¬
de o que pesa.
A morte é uma continuação. O meu
olhar penetra o mais que é possivel nessa
sombra, onde vejo, a uma profundidade
que seria amedrontadora, se não fosse su¬
blime, dealbar-se o immenso arrebol da
eternidade.
As almas passam de uma esphera a
outra, tornam-se cada vez mais luz, apro¬
ximam-se cada vez mais e mais de Deus.
O ponto de juncção é no infinito.
O que dorme e desperta, desperta e vê
que é homem. O vivo que morre, desper¬
ta e vê que é espirito».
O Espiritismo e a Fé
Por mais influencia que venha o Es¬
piritismo exercer sobre o futuro das socie¬
dades, não se julgue que substitua elle sua
autocracia a outra ou que imponha leis —
isso não fará, porque, proclamando o di¬
reito absoluto da liberdade de consciência
e do li vre-arbi trio em matéria de fé, elle
quer que a sua crença seja livremente ac-
ceita, ou acceita por convicção e não por
fé — imposta.
Por sua natureza, elle não póde nem
deve exercer pressão alguma — pois pros¬
creve a fé-céga e quer ser comprehendido.
Allan-Kardec
Revista Internacional do Espiritismo
0> 5
&== 0 pró e o Contra na
Questão da SobreviYeqcia
♦ ♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦
j/K possibilidade da sobrevivência sob o ponto de vista scientifico.
Meu bom e eminente amigo, o Pro¬
fessor Richet, apresentou uma exposição
admiravel, um resumo synoptico dos phe~
nomenos estudados pela Pesquiza psychica,
sob o ponto de vista d'um materialista eru¬
dito, e os grupou em sua importante obra
«Trai té de Metapsychique». Seu trabalho
não seria acceito pela grande maioria de
seus collegas que, não estando ao par dos
factos, são, por isto mes¬
mo, relativamente igno¬
rantes; mas é interessan¬
te notar que, si bem
elle esteja ao corrente
dos factos, cujos verda¬
deiros aspectos estão em
conflicto com o materia¬
lismo, M. Richet conti¬
nua ainda assim mate¬
rialista.
Nenhuma censura
se subentende aqui : tra¬
ta-se de uma posição
definida e philosophica.
E' bom ver esta posição
sustentada com compe¬
tência, tanto para os phe-
nomenos interessados na
questão, quanto para o
que toca a nossa acceita-
ção ou á nossa rejeição
da possibilidade ou da
plausibilidade da sobre¬
vivência humana.
Si a fortaleza do
Prof. Richet póde ser
tomada de assalto, é pouco provável que
um successor qualquer possa se fixar n'u
ma fortaleza de solidez igual.
Richet dá provas de um espirito nota¬
velmente franco, porque diz: «Eu nada
nego» 1
Por outro lado, elle se mostra um
agnostico perfeito, quando diz que nós es¬
tamos immersos na profunda obscuridade
e que nenhuma chave possuímos destes
mysterios.
Mas eis aqui, justamente, onde me
acho cm desaccordo com elle. Eu tenho o
espirito menos aberto que elle, porque nego
muito; sou menos agnostico, porque tenho
uma hypothese de trabalho que desejo, ou
verificar ou destruir.
Presentemente, bem que o Prof. Ri¬
chet esteja ao par dos factos, dir-lhe-ei que
não está ao par da minha versão, do pon¬
to de vista «espirita», Eu podel-a-ia cha¬
mar «nossa theoria», salvo não me assistir
o direito de alistar ou¬
trem n’ uma posição dis¬
putada e pouco ortho-
doxa. Porque estaria elle
sciente do meu ponto de
vista? Mesmo quando
tenho formulado minhas
opiniões theoricas, as
tenho feito sempre de
maneira vaga e apologé¬
tica, porque as quero
confrontar com os factos
e porque quero me fun¬
damentar sobre os mes¬
mos factos, de preferen¬
cia a uma qualquer opi¬
nião ou theoria precon¬
cebida extranha aos fac¬
tos.
Mas com o meu
amigo Prof. Richet é
preciso seguir outra orien¬
tação. Inútil é impor¬
tunar insistindo sobre os
factos, si bem que de
alguns dentre elles, de
ordem subjectiva, eu te¬
nha uma opinião mais consentânea que a
sua, assim como na ordem objectiva elle
tem tido vantagens que eu não tenho tido.
O que o perturba inteiramente é a falta de
theoria. Elle afronta corajosamente o vacúo;
não procura tecer hypotheses antagonistas;
contenta-se em dizer que os factos são
mysteriosos, inexplicáveis e um tanto «in¬
sanos» quando interpretados conforme a
sciencia orthodoxa os ousa interpretar. E é
bem assim que parece, com o limite a que
a sciencia orthodoxa se inipôz.
Ainda mais loucas devem parecer nos-
<3> 6
Revista Internacional do Espiritismo
sas theorias a seu respeito. Mas os factos
novos pedem uma nova theoria para sua
interpretação. Ha cousas no universo, as
quaes a sciencia biologica não tomou ain¬
da em consideração. Se algum dia ella che¬
gar a tomar em consideração um outro factor
da vida physica, então verificará que as diffi-
culdades desapparecerão gradualmente. E o
mesmo Richet sentirá, cedo ou tarde, que
pode achar uma chave para esses factos, uma
linha na qual os poderá enfileirar, um ponto
de vista que lhe permitte de os interpretar
de uma maneira mais agasalhadora e me¬
nos perturbada.
Não é preciso admirar que, do seu
ponto de vista actual, estes factos parecem
extranhos, perturbadores, mysteriosos e incrí¬
veis. O admiravel é, que a sua lealdade,
ao par dos factos e da verdade, lhe per¬
mitte de os acceitar como fazendo parte
das realidades do Universo. Elles fazem,
com effeito, parte mas ha outras cousas que
são também a realidade. E quando nós ti¬
vermos acceito o Ether e o incorporarmos
ao nosso systema, — esta cousa que actual-
mente a sciencia biologica ignora comple¬
tamente, como, de resto, todas as sciencias,
exceptuando uma metade da Physica, — en¬
tão o horisonte começará a se esclarecer, o
nevoeiro desapparecerá, e uma estrella, ou
mesmo um sói, virá illuminar a nossa obs¬
curidade. Eu disse que tenho mais a negar
que a affirmar. O Prof. Richet se abstém de
negar, mas algumas de suas asserções são
temerárias. Elle nega com hesitação ; affirma
com vigor. Procedimento, de todo, admira¬
vel ; mas nessa conjunctura, terei a teme¬
ridade de seguir um caminho opposto. Vou
negar com vigor e affirmar com hesitação.
Somente num alvo de claridade e de pre-
sição, creio preferível de exprimir minhas
affirmações sob uma forma positiva e dog¬
mática que, sem esta explicação preliminar
não estaria de accordo com a natureza do
objecto. E devo esperar que os meus crí¬
ticos comprehendem bem que, quando aban¬
dono as negações pelas asserções, não for¬
mulo do mesmo modo senão uma hypothe-
se de trabalho, fazendo unicamente um es¬
forço para construir uma concepção racio¬
nal das leis e princípios da sobrevivência
humana.
A evidencia para a sobrevivência, de¬
ve se basear no seu proprio valor, tanto
quanto a hypothese, sem ser entravada pe¬
las superstições triviaes.
Tenho a negar e a repudiar algumas
destas superstições, d’uma maneira solem-
ne e, neste terreno, eu sei que estou de
accordo com os espíritos mais rasoaveis.
O Prof. Richet, e talvez, outras pes¬
soas no campo physiologista — parecem
desejosos de transformarem estas supersti¬
ções dos séculos das trevas» á éra scienti-
fica, mas não se pode acceitar esse modd
de proceder. O assumpto é bastante difficil
em si, com estas complicações impossíveis
e inúteis.
A minha primeira negação é então di¬
rigida contra a «resurreição de um corpo».
Durante séculos a humanidade se acos¬
tumou a pensar nos mortos, como se elles
estivessem enterrados num sepulchro espe¬
rando qualquer acontecimento futuro, e os
que acceitavam esta particularidade eram,
naturalmente, pouco propensos, e alliar a fé
nas apparições dos defuntos, a menos que
não fosse possivel encontrar seus tumulos
vasios.
Hoje julgamos absurda a idéa de um
corpo resuscitado e errante ; portanto, a his¬
toria das crenças populares nos mostra que
tal opinião era corrente; algumas vezes con-
cebia-se o corpo de um suicida, para ga¬
rantir o seu repouso difinitivo. A razão des¬
ta pratica absurda é sem duvida, analoga
á idéa do Prof. Richet, a saber — que a
personalidade estava ligada tão intimamente
ao corpo material, que toda a apparição
posthuma, visivel ou tangível, não se po¬
dia explicar, senão pela utilisação do refe^
rido corpo. Durante a Idade Media mesmo,
certos padres da Egreja não podiam sepa¬
rar a idéa de uma resurreição final, da no¬
ção de um tumulo abandonado, d'uma col-
leção de partículas originaes do corpo, du¬
ma reconstitução dessas partículas em or-
gãos, em seguida d'uma revivificação.
Mas, os factos nenhuma justificação
permittem de semelhante idéa, e os que
sustentam o ponto de vista «espirita» de¬
sejam como o physiologista, que não se
admitta sem reserva tudo o que concerne
a desintegração posthuma, a decomposição,
a incineração, etc. As concepções materia¬
listas que sobrevivem ainda das crenças po¬
pulares devem ser inteiramente abandona¬
das. Si se acha que uma apparição ou um
phantasma possúe traços e marcas physicas
do instrumento material abandonado, então
é preciso acceitar o facto e, como é neces¬
sário, procurar algures uma explicação. Ne¬
nhuma explicação baseada sobre a revivifi¬
cação de um cadaver pode ser, um só ins¬
tante, acceita.
Isto parece, na verdade, a explicação
nova e clara, mas á luz dos modernos co¬
nhecimentos, deve ser posta de lado e con¬
siderada caduca.
Quando nós affirmainos que os factos
sustentam a doutrina da sobrevivência , não é
por IS TO que entendemos.
As praticas egypcias antigas e suas
idéas sobre a morte, deviam ter s;do desa-
Revista Internacional do Espiritis m o
<3- 7
gradaveis e dolorosas. A noção de que a
alma sobrevivente ou Ká tinha necessidade
de alimentação, de utencilios e apparelhos,
que se depositava no tumulo nesta intenção
e para sua commodidade, eis uma idéa bem
infantil da humanidade, que tem causado
muita pena aos sobreviventes, especialmen¬
te aos sobreviventes pobres, quando medi¬
tavam se não seriam obrigados a qualquer
cousa essencial, ou se não teriam negligen¬
ciado o indispensável para tornar agradavel
a existência futura do sêr caro desappareci-
do.
As crenças ecclesiasticas da Idade Me¬
dia eram, de certo modo, superiores a isto,
Podia ser penoso enterrar a pessoa amada
no frio e no escuro para os séculos sem
fim ; mas, em todo o caso, existia a crença
que o elemento material ficaria em paz
até o seu despertar, e da sua reconstituição
pelo Poder Divino. Era-se muitas vezes
atormentado e perturbado sobre a sorte da
alma que podia, dizia-se, ficar em sofrimen¬
to sem auxilio sobrenatural da evocação do
padre. Esta tem dado motivo a tantas do¬
res, porque no fundo ellas não eram supe¬
riores ás crenças egypcias da antiguidade.
Sabe-se, apezar d’isso, que a phrase «resur-
reição dos corpos» é susceptível de uma
interpretação rasoavel para os crentes, co¬
mo, por exemplo, aquella que eu expliquei
no meu livro : « OHOMhM E O UNI l EK-
SO » e na terceira parte do « RAYMOND ».
Mas. a sciencia nada tem com as praticas
ecclesiasticas. O seu dever é examinar os
factos sob um ponto de vista inteiramente
novo e differente. Nós devemos pretender,
e pretendemos que o corpo physico, logo
que concluiu a sua obra, fica completamen¬
te abandonado e acaba, que seus átomos
podem servir ainda para outras formas da
vida e que nenhuma especie de personali¬
dade ou de identidade lhe fica associada.
Quanto ao saber no que se torna a
personalidade, e o que, depois da morte,
lhe serve, para o futuro, de instrumento, é
uma cousa que é preciso investigar, e que
é preciso adiar.
Nenhuma preoccupação cultual se de¬
ve misturar a este estudo ; é, francamente,
uma pesquiza scientifica a fazer. Pode ser
que nós ignoraremos o que virá a ser a per¬
sonalidade, mas é possível, apezar de tudo,
imaginar em uma hypothese de trabalhos.
Uma hypothese deste genero se forma
no meu pensamento : sua genese se encon¬
tra nos escriptos de São Paulo, de (demen¬
te de Alexandria, de Origenes e de ou¬
tros padres da Egreja. E’ bem provável que
suas idéas n’ aquelle tempo, fossem coir
demnadas como hereticas, mas isso não
prova que ellas eram falsas.
Para evitar os malentendidos eu de¬
sejo fazer observar que todas as minhas
advertências se referem aos corpos com-
muns e ás pessoas vulgares. Se existe um
caso de um «corpo» excepcional, pedindo
um estudo especial, e si, verdadeiramente,
um sepulchro estava vasio, é um caso que
eu não abordarei aqui ; pode ser que eu
possa dizer mais, em tempo e em lugar
mais propicio. Por óra eu trato da ques¬
tão das apparições e da sorte dos homens
vulgares. Os factos nos fazem suppôr, que,
por vezes, elles apparecem depois da sua
morte, mas o que é certo, é que o corpo
physico fica no sepulchro ou em qualquer
logar onde os sobreviventes collocaram-n'o.
Si se admitte franca e inteiramente este
ponto, põe-se fóra de discussão uma expli
cação materialista e grosseira e o terreno
fica então desembaraçado. Depois a pesqui¬
za pode seguir livre desses impecilios de
crenças antiquadas. Nunhuma sobrevivência
do corpo physico existe. Entretanto nós que
julgamos nos acharmos, ás vezes, em com-
municação com personalidades sobreviven¬
tes, temos sido informados por estas, que
ellas possúem «corpos» tão reaes e substan-
ciaes como outr' ora ; que se acham idênti¬
cas a um gráu semelhante que mantém a
mesma apparencia, o que lhes permitte co¬
nhecerem-se e que é por meio desses cor¬
pos ou instrumentos de manifestação que
elles veem uns aos outros- e é assim que
elles, com o auxilio desses corpos se acham,
algumas vezes, em condição de se coinrnu-
nicar comnosco.
Como conciliar estas asserções com a
que precede? É ah i justamente que inter¬
vém a minha hypothese de trabalho, hypo¬
these que não é acceita só por mim, mas
por muitos outros que caminham ás apal¬
padelas na mesma direcção; hypothese que
nós podemos lêr em muitas palavras de São
Paulo, o que nos faz pensar que este genio
inspirado a tinha entrevisto, embora não pu¬
desse exprimir nos termos que nos convi¬
riam.
Si eu sou tentado a chamar «minha
hypothese» é porque (condições psychicas á
parte) eu fiz um estudo do Ether, do Espa¬
ço, de toda a Vida. Ella me parece, assim,
uma entidade mais familiar, substancial e
pratica, que para muita gente que não es¬
tuda não o é, e também para quem ella
apresenta «um não sei que» de indefinido,
vago e imaginário.
Entre os homens de sciencia o Ether
não tem sido estudado senão pelos physi-
cos, e mesmo para estes ha excepções. Elle
tem sido negligenciado pelos chimicos, e
não tem, provavelmente attrahido a atten-
ção dos biologistas e physiologistas de ne-
<2> 8 ^
Revista Internacional do Espiritismo
nhuma escola. Apesar disso si o Ether é
uma realidade do Universo, pode ser que
seja dotado de funcções chimicas e biológi¬
cas, assim como das funcções physicas co¬
nhecidas da sciencia.
Nós o conhecemos familiarmente nos
phenomenos da Luz, da Electricidade, e do
Magnetismo. Começamos a associal-o tam¬
bém definitivamente á Elasticidade, á Cohe-
são, á Gravitação e, gradualmente, aprende¬
mos que a maior parte da Energia do Uni¬
verso e, certamente, toda a energia poten¬
cial lhe pertence e não á Matéria.
A matéria atômica é uma cousa, mas
o Ether é outra cousa ; estes dois elementos
estão, talvez, em acção ; de facto, estão. O
vinculo entre elles é a Electricidade. Mas se
nunca houvesse possibilidade de os unificar
admirando-os como manifestação distincta
de um unico Principio, não ha duvida so¬
bre o qual seja o mais importante. O Ether
é o elemento fundamental; a Matéria é um
elemento, provavelmente composto das mo¬
dificações do Ether. No fundo, tudo isto é
da physica orthodoxa, salvo na prova que
não está igualmente feita para que todos os
physicos sejam forçados a admittir.
Pode existir divergências legitimas de
opinião, mas isto é um ponto de vista scien-
tifico bem reconhecido e racional. Está bem
fundado na deducção dos factos e inteira-
mente independente de considerações psy-
ehicas.
Supponhamcs, então para a discus¬
são, que admittimos o Ether e o Univer¬
so physico dotado destas funcções que a
maior parte dos physicos lhe attribuem,
nesse caso se apresenta uma questão preci¬
sa ; não se deve levar em conta as discus¬
sões philosophicas e em ultima analyse, a
mesma theoria biologica ?
Para explicar tudo isso que eu disse
seria preciso um volume. Nesta discussão
preciso ser breve e manifestar-me mais hy-
pothetico do que sou em realidade. Mas
quando abordamos a Biologia, somos for¬
çados a ser hypotheticos, e a hypothese do
trabalho que eu exponho, deve scr acceita
sem resistência até que se encontre os fac¬
tos, que estudados por longo tempo e com
cuidado, são capazes de estabelecer e de
servirem de chave racional dos phenome¬
nos que muito reaes, nos parecem appa-
rentemente inexplicáveis.
Para o Prof. Richet os factos parecem
completamente inexplicáveis. Elle tem im¬
pressão de que trabalha na obscuridade e
que «a unica affirmação prudente consiste
em dizer que verdadeiramente nada sabe¬
mos, absolutamente nada do Universo».
Sob este ponto de vista, meu agnos-
ticismo é menos profundo do que o seu.
Eu sinto que temos uma idéa e não ha quem
saiba si ella é ou não digna da nossa con¬
fiança senão seguindo-a. Não importa que
a chave tenha mais valor que tudo. Eactos
isolados sem serem ligados por uma theo¬
ria, são, para assim dizer, seres indóceis e
desconcertantes. Não se pode consideral-os
como pertencentes á sciencia, que é um
systema de conhecimentos organisados.
E a razão que os Biologistas são em
geral tão hostis é que, faltando-lhes a chave,
sua consciência repugna mesmo os factos.
Toda a honra do Prof Richet é que,
apezar da sua repugnância, elle esteja prom-
pto a acceitar os factos; mas me parece que
os envolve de difficuldades inúteis, insistin¬
do só sobre a matéria ; nunca cs compre-
henderá por concepções sómente materiaes.
Rigorosamente falando nada podemos com-
prehender se nos limitamos unicamente ás
concepções materiaes. Concentrando-nos só
sobre a matéria, eliminamos dos nossos pen¬
samentos a maior parte do Universo. Este
contém outras cousas além da matéria, co¬
mo sejam o magnestimo, a electricidade, a
luz, o ether; contém também a vida, o pen¬
samento, o espirito, a consciência, a memó¬
ria, a personalidade, o caracter. Nenhuma
destas cousas é material ; entretanto, cousa
assaz bizarra, algumas delias entraram em
associação com a matéria pelo curioso pro¬
cesso da Incarnação.
E’ verdade que, durante um certo tem¬
po, Intelligencias habitam corpos materiaes
que por meios apenas conhecidos, ellas tem
inconscientemente construído. E evidente
que existe um Principio Formador, capaz
de operar com os átomos da matéria, ou
antes com as moléculas mais complexas nas
quaes se acham já grupados os átomos. As¬
sim, graças à Energia que estas moléculas
recebem do sol, entidades não materiaes
são capazes de se manifestar normalmente,
em associação com a matéria.
A ligação é tão intima que nós temos
aprendido a indentif ical-as aos modos mate¬
riaes da manifestação e somos levados a
suppôr que ellas não podem existir por si.
Ignoramos porque ellas tem necessi¬
dade de uma habitação ou de um instru¬
mento pertencente ao universo physico, mas
podemos suppor que isto não lhes falta por
uma razão desconhecida. Sabemos que ellas
se servem da matéria, si bem que não sai¬
bamos porque, nem como. Mais os factos
demostram actualmente que a associação
com a matéria não é essencial, um sine
qw.mon para a sua existência.
Podemos suppôr que ellas podem se
servir de outra cousa, se os factos nos dão
esta indicação.
(a seguir) OLIVER LODGE
Revista Internacional do Espiritismo
<3> 9
OS PRESENTI MENTOS DE
CATULLE MENDES
hm 1904 morria, em Paris, victimado por
uma tuberculose pulmonar, o grande
poeta Albert Samain.
Dia seguinte ao das suas exequias, a
que todo o Paris intellectual acorrera, Ca-
tulle Mendès, o illustre poeta da origem por-
tugueza, cuja obra é mundialmente conhe¬
cida, jantava em casa de amigos seus, na
rua S. Petersburgo, em Paris.
A conversação cahiu, naturalmente, so¬
bre a desapparição de Albert Samain.
Foi uma morte analoga à de Al-
fred de Mussef e digna de um romântico !
disse alguém.
— É facto — respondeu Catulle
Mendès — cuja philosophia de bom humor
era legendária. Porém, não era assim que eu
desejaria morrer.
— Como era, então, mestre ?
— Á mesa ! — replicou alegremente
Mendès. De resto eu já exprimi em versos
esse desejo !
- E com vóz sonora, o poeta decla¬
mou os versos seguintes de sua composição:
Bonjour, mort ! Quelle haridelle !
Tu n’es pas belle, nom de nom !
Bah ! J’arrose ton asphodèle
D’ um dernier verre de Chinon !
Encore un rondei pour Manon,
Encore, sans fúnebre tirade,
Um baiser dans l’or d’un chignon !
Quand tu voudras, ma camarade !
(Bom dia , morte ! Que munia !
Com franqueza , tu não és bei la
Não importa ! Rego o teu asphodelo
Com um ultimo copo de Chinon !
Ainda uma rolondilha em honra de Manon ,
Ainda, sem fúnebre tirada.
Um beijo, numa nuca dourada !
Ao teu dispor , minha camarada !)
E, tendo esvasiado o copo, o poeta
com o olhar perdido no vago, accrescentou :
- Ah ! mas não será assim que eu
morrerei !
Quando penso na minha morte, tenho
os olhos como uma visão de horror! Pare¬
ce-me que morrerei numa catastrophe, num
incêndio de theatro, num desastre de cami¬
nho de ferro !
;Jí
* H*
Algum tempo depois do episodio que
acabamos de narrar, alguém lembrava ao
poeta outros versos em que Mendès, no
seu poema La Grivedes Vignes, cantava o
seu pouco temor da morte, por causa das
lembranças da sua primeira canção de
amor.
— Podesse eu morrer como cantei,
suspirou Mendès . . .
Mas não terei essa felicidade !
Desgraçado de mim. Tenho amado a belle-
sa das flores, o encanto da luz, as mulhe¬
res e o vinho, morrerei de uma morte hor¬
rível, sozinho, mergulhado nas trevas da
noite ! . . .
*
* *
No dia 8 de fevereiro de 1908, ás
quatro horas da manhã, sob o tunnel de
Saint-Germain, o cadaver de Catulle Men¬
dès era encontrado pelos guardas da linha.
A caixa craneana fôra quebrada como uma
noz e a matéria cerebral tinha espirrado
por todas as fendas. O poeta tivera, alem
disso, uma clavícula e uma perna cortadas
pelas rodas do comboio.
O infeliz estava vestido de casaca e a
sua bengala e a sua cartola achavam-se ao
lado do cadaver.
Mendès voltara de uma recepção mun¬
dana. Na Vespera tornára o trem de meia
noite, para voltar para Saint-Germain, onde
morava. Tendo adormecido, acordou muito
provavelmente quando o comboio se apro¬
ximava da estação dessa cidade, e como
sob o tunnel o trem diminue sensivelmen¬
te a marcha, Catulle Mendès, acreditando
se perto do cáes do desembarque, prepara¬
va-se para descer, illudido, talvez, pelas lu¬
zes que elle tomou pelas da estação. E foi,
segundo toda a probabilidade, dessa manei¬
ra que se enganou e cahiu, morrendo de
uma morte atroz, sozinho, mergulhado nas
trevas da noite, como elle proprio o anun¬
ciara.
<3> 10
Revista Internacional do Espiritismo
ü €spiritismo ao ar livre
Os “Camp-jMedings” Espiritas
fVlinguem ignora os progressos que o
* ^ Espiritismo tem feito em todo o mundo.
Pode-se dizer que não existe um lugar do
pianeta em que os Espíritos não tenham
t\ito prevalecer a sua benefiea influencia,
attrahindo as almas para a vida na Immor-
talidade. Mas onde o Espiritismo conta
maior numero de adeptos e admiradores é
nos Estados Unidos da America do Norte.
E é muito razoavel que assim seja,
porque, como sabem os cultores do EspD
ritismo, foi na America do Norte, na humil¬
de aldeia de Hysdeville, aldeia esta situada
no condado de Wayne, circumscripção de
Arcadia que, por intermédio das irmãs Fox,
os Espíritos deram as primeiras manifesta¬
ções na linguagem typtologica, ou seja por
meio de pancadas, prendendo a attenção
dos homens para uma nova ordem de phe-
nomenos que vinham iniciar a humanidade
na trilha do dever que conduz á Perfeição.
A partir dessa época uma grande par¬
te do povo da União Americana tomou
verdadeiro interesse pelos phenomenos me-
dmmnicos, chegando a forçar os sábios
americanos ás pesquizas, e d’ahi á funda¬
ção de associações de Estudos Psychicos,
taes como existem muitas na America do
Norte.
Aquelles que conhecem o genio ame¬
ricano sabem que o que caracterisa esse
povo, é a idéa de grandeza, elles sentem
uma necessidade irresistível de fazer tudo
em ponto giande e ainda mais, de crearem
emprezas fora do commum, exquisitas mes¬
mo, vamos dizer, que não apresentam ca¬
racter de similaridade.
E’ assim que deliberaram a creação
dos «camp-meeíings» espiritas, onde mani¬
festam as suas convicções em reuniões-co¬
losso que se realisam em épocas determi¬
nadas
Attrahidos pelas manifestações da Na¬
tureza, elles acham que o lugar propicio ás
grandes manifestações do pensamento é o
da Natureza, e varias pessoas deram inicio
á fundação dos «camp-meetings», sendo
que o primeiro, fundado á margem do pi¬
toresco Lago Pleasant, no Estado de Mas-
sachusset, a cem milhas de Boston foi
inaugurado em 187d. De facto, é um sitio
encantador e, desde então, centenas de mo¬
radas foram construídas na encosta das
collinas que cercam o Lago. Quando o es¬
tio chega, essas habitações são invadidas
pelos nossos confrades americanos e um
verdadeiro acampamento espirita, ou mais
ainda, um minusculo Paiz-Espirita se im¬
provisa em torno do poético e tranquillo
Lago.
Depois de 1873, a moda dos «camp-
meetings» espalhou-se e, em quasi
todos os Estados, foram organisa-
das reuniões idênticas.
A partir de Maio até Outubro,
esses lugares de reuniões espiritas
campestres são frequentadissimos.
Em troco de uma somina módica,
os viajantes podem \iver nos ho¬
téis e cotíazes que formam os « canip -
meeüngs » transformados, com o
andai dos tempos, em verdadeiras
emprezas sabiamente organisadas.
Todas as mediumnid^des oos-
siveis e imagináveis se encontram
reunidas em um camp-meeting. Um
serviço de informações dos mais
completos é orgamsado e o viajan¬
te, que acaba de chegar, sabe im-
mediatamente em que ponto do
«Paiz-Espirita» pode eucontiar um
médium de incorporação, typtologia,
escripta automatica, escripta sobre
ardósia, «trompette,» transporte, ef-
feitos photographicos, etc., etc.
Quotidianamente conferencistas de
nomeada fazem ouvir a sua palavra a mi-
U Lago Colby, onòe 5e acha o «Uamp» (Perto
òo Lago Helem, Floriòa)
Revista Internacional do Espiritismo
o> II
lhares de auditores,
que bebem os seus
ensinamentos a largos
tragos, e que pelo
pensamento se elevam
ás mais altas esphe-
ras.
Os Camp-me-
etings nos Estados
Unidos contam-se ac-
tuaimente por cente¬
nas. As conferencias
sáo methodicamente
traçadas e seguem um
programma ascenden¬
te, do qual cada as¬
sumpto é tratado a
seu dia.
Na grande cal¬
ma da natureza, ao
abrigo das arvores
Alguns eôif icioõ òe um «camp» perto òo Lago Helem
0 «Camp meeting» espirita òe Unset bay
seculares esses espíritos esquecem-se por
um instante a agitação das cidades. Expe¬
rimentam uma grande quietitude, e natura-
lisados cidadãos d’ um «Paiz» nascido
quasi por milagre vivem à moda ca terra;
fraternalmeníe, igualmente, de accordo com
a applicação exacta das idéas de simplici¬
dade e igualdade, lembradas pelo Chi isto.
Os carn p-meetings , não lia duvida,
exercem uma influencia salutar sobre os
que querem com since¬
ridade penetrar os mys-
terios do homem e da
Natureza. Além disso a
conformidade das cren¬
ças faz com que cada
um dos participantes
dessas colossaes reu¬
niões tire uma força
maior de pensamento do
exemplo dos seus visi-
nhos,
A variedade de me-
diumnidades reunidas
nos comp-nieetings d á
também de seu lado in¬
teressantíssimos resulta¬
dos, pois que os mé¬
diuns, enconirando-se em
meios tão favoráveis, as
suas faculdades tomam
um incremento prodigioso.
No nosso paiz é bem diffic.il que a
idèa dos camp-meeímgs seja levada a effei-
to, mas chegará o dia dessas estações bal¬
nearias, completamente transformadas, ser¬
virem de meios de instrucção, de retiro es¬
piritual, onde os «banhistas» e os «vera¬
nistas,» encontrarão o descanço para o cor¬
po e o recreio para o espirito, além do com¬
pleto restabelecimento da saude.
A PERFEIÇÃO
O amor géra a perfeição de todas as
cousas, pois elle mesmo é a perfeição.
O espirito é votado á conquista des¬
sa perfeição, que é a sua essencia e o seu
destino, Elle deve, por seu trabalho, appro-
ximar-se da intelligencia soberana e da in¬
finita bondade; deve, portanto, revestir pro¬
gressivamente a forma mais perfeita que
caracterisa os seres perfeitos.
Pamphilo.
<3> 12 -e>
Revista internacional do Espiritismo
-o
ni
de
o:
<T~
"S
\ REVISTA hindú Kalpaka , nos dá a noticia recente do resultado de uma «enque
^ te,» sobre o caso de reminiscências das vidas passadas, phenomenos observa¬
dos em quatro meninos, pelo Dr. Rao Bahadur Syam Sunderlal.
A «enquête» foi ordenada por S. A. o Mahajarah de Bhartpur, tendo sido feita
com perfeito conhecimento scientifico.
❖ * ÍJÍ
1.0 C ASO DO JIBMNO "PRABBU”
() caso deste menino me foi indicado por S. A. o Maharajah de Bhartpur no
mez de agosto de 1Q22.
Elle tem o nome de Prabbu (brahamane), é filho de Khairati (brahamane). de Sa_
limpur (Estado de BHARATPUR) e no momento da «enquête» tinha 4 annos-7 mezes
e 18 dias de idade.
Depois que começou a falar, Prabbu contou a seu pae as lembranças que pre¬
tendia ter de uma existência anterior. A «enquête» a esse respeito comporta duas pha-
ses: na primeira, o menino foi interrogado mesmo na casa de seu pae, no mez de
março de 1923, pelo naib Thesildar. Na segunda, o menino, a meu pedido, foi condu¬
zido á Hatyori, cidade onde pretende ter vivido em sua ultima existência. O Thesil¬
dar de Weir, levou-o em sua companhia e chamou immediatamente quatro das princi-
paes notabilidades da cidade: Dharam Singh Foujdar, com 60 annos; Foujdar Azmat
Singh, com 50 annos; Foujdar Sam Singh, 73 annos e Harknath Brahmane, com 40
annos. O menino e o Thesildar chegaram á noite e as notabilidades da cidade foram
levadas á presença do menino dia seguinte a 1 hora. O menino foi interrogado na
presença delles.
Eis aqui, palavra por palavra, as declarações do menino, feitas, seja em casa de
seu pae, seja em presença dos notáveis de Hatyori e a resenha controlada dessas de¬
clarações :
DECFARAÇÕES DO MENINO CONTROLE DAS DECLARAÇÕES
A) em casa de seu pai.
1. ° — Eu era, em minha vida precedente
Harbuxy brahmane, da cidade de
Hatyori, no Bhartpur.
2. ° — Eu tinha dois filhos, Ghure e Shyan
Lai e duas filhas KoJiila e -Bholi;
uma casou com Ramhet , de Kho>/i,
outra Gokal de Navar.
Eu recebi dinheiro pelo casamento
da primeira, mas consenti o matri¬
monio da segunda sem indemnisa-
ção pecuniária alguma.
3. ° — Eu tinha uma casa em Hatyori.
4. ° — A casa de Swarupa Jal era contí¬
gua á minha.
5 o _ Swarupa Jat tinha um filho e uma
filha.
6.° — Havia uma vereda elevada calçada
de pedras.
Havia um açude, no meio do qual
existia uma casa e acima do açude
um Chhatri (cenotaphio com cupola.)
E’ exacto que um indivíduo chamado
Harbux, filho de Muhde, havia morado em
Hatyori e morreu ha cinco annos, mais ou
menos.
Todos esses detalhes são completa¬
mente exactos.
Exacto.
Exacto.
Exacto.
Exacto.
Exacto em todos os detalhes.
7.o
Revista Internacional do Espiritismo
o» 13
8.° — Haviam duas casas ahi, uma sobre
outra no açude.
Q.o — Hatyori tinha poços de agua po¬
tável :
a) Panhariwala , sombreado por du¬
as figueiras sagradas;
b) Kankarwula. sombreado por a-
meixeiras ;
c) Mooliwala, sombreado por man¬
gueiras.
lo. o Eu tinha uni Gujar da aldeia ue
Bliore como Jaynian.
ll.o - Ha uma inscripção numa fortaleza
onde existe uma serpente.
12.0 - No anuo da fôme (Sambat 934)
eu estava em Hatyori e tinha uma
junta de búfalos com a qual culti¬
vava meus campos.
13.o — Eu morri na vivenda de meu pai,
em um buugalow fora da aldeia.
14.o — Eu vivi depois da minha morte no
mundo espiritual (o mundo de
Deus).
15.0 — Fantasia infantil sobre a divindade.
16.0 — Deus me disse que fosse á Salirn-
pur (actual lugar do meu nascimen¬
to).
1 7.0 --- O nome de minha mulher era
Ganjo (que significa calvo)
18.0 — Meu pai chamava-se Mudhe.
19.0 — Meu tio materno vivia em Bugaon .
20.0 — Meu sogro morava em Burhwari.
2i.o — Moola Jat cahiu em meu poço, e
eu pude tiral-o são e salvo.
Exacto.
Exacto.
O poço Panhariwala é com efíeito,
sombreado por figueira.- sagradas.
O poço Kankarwala é secco e ja esta¬
va secco no tempo de Harbux
As ameixeiras que sombreavam de-
sappareceiam ; não resta senão uma figuei¬
ra.
O poço Mooliwala é desconhecido.
Existe u m poço Jhasroya wala, som¬
breado por uma mangueira e uma figuei¬
ra.
Esta aliegação não poude ser contro¬
lada.
Na fortaleza não existe, nem inscrip¬
ção, nem serpente, mas ha 'à uma legenda
na aldeia.
Harbux devia nella crer como os seus
] compatriotas.
Exacto.
Errado. Harbux morreu em sua casa
da aldeia, depois da morte de seu pae.
Sua mulher se chamava Gauron, mas
davam-lhe o apellido de Ganjo, porque
ella era um pouco calva.
Exacto.
Exacto.
Exacto.
Não se poude controlar o feito
Ninguém na cidade delle se lembrava.
O Tehsildar nota que o menino emquanto se o
falar como um bébé.
interrogava.
punha se a sorrir e a
B) DECLARAÇÕES FEITAS EM HATYO¬
RI NA PRESENÇA DOS NOTÁVEIS:
O menino confirma iodas as declara¬
ções precedentes e accrescenta cou¬
sas inéditas taes como estas:
Elle tinha ties irmãos: l.o Gilla,
que lhe sobreviveu ;
2.o — Ghunni , cuja morte precedeu à sua ;
3.o O nome de 3.0 irmão elle uao se
recordava mais
Elle encontiou um dia uma ser¬
pente na capoe'ra, hypnotisara-a,
depois batera-a contra uma arvore
mat mdo-a.
Harbux não linha senão um irmão,
Sheobux , mas Ghunni e Gilla eram seus
primos irmãos (filhos de seu t«o B/tola)
Ghunni morreu bem antes de Harbux.
Não se poude encontrar uma confir¬
mação deste feito.
o> 14 <==>
Revista Internacional do Espiritismo
Elle era Purohit da aldeia de Rh.... Exacto. O filho de Harbux é ainda
padre da tgreja desta aldeia.
Elle declarou não se lembrar de
outros nomes dos membros de
sua familia, senão os que desig¬
nara .
Ao que toca sua existência no
além-tumulo, elle disse que não se
lembrava.
Quando o controle terminou, pediu-se ao menino que encontrasse a sua antiga
habitação. Elle se pôz a caminho, deu alguns passos, depois parou, exitando. O Tehsil-
dar tomou-o oela mão, e o menino recomeçou a andar depois de um momento. De¬
pois de alguma exitação elle foi , por si mesmo, até á sua antiga casa e tomou « seu filho »
Ghure pelo dedo. O caminho para ahi chegar era longo cheio de tortuosidades , mas o meni¬
no nem por isso deixou de chegai ao fim. As casas estavam em ruinas, chegando ao lo-
gar onde estava o portico da sua, deteve-se, incerto, e não poude situar exactamente a
sua habitação no meio das ruinas accumuladas. ahi O menino não reconheceu pessoa
alguma de Hatyori, reencontradas como sendo suas conhecidas na sua vida anterior e
não poude se lembrar o nome de outras, salvo as designadas.
O Naib Tehsildar accrescentou, para concluir, que o menino, não foi instruído por
pessoa alguma sobre estas cousas e que o seu caso é um caso authentico de lembran¬
ça de sua vida precedente.
Em consequência, seguindo o conselho do honrado C. C. Watson, agente acre¬
ditado do Governador Geral de Rajpoutana, procurou-se completar os testemunhos e
assegurar que elle não tinha tido instrucção previa. Tomou-se então precauções para in¬
terrogar nitidamente o pae do pequeno, saber como elle se lembrava de sua vida ante¬
rior e si alguém da aldeia de Salipur tinha alguma familiaridade com Hatyori.
Eis aqui o testemunho de Khairati, pae do menino, tal como foi obtido pelo Teh¬
sildar de Weir (Rajpoutana) graças aos esforços de S. A. o Maharajah de Bharatpur :
Testemunho de Khairati , pae do menino « Prabbu » de Salempur, Paragnah Weir Es¬
tado de Pharapur, levantada por Ram Singeh, Naib Tehsildar.
« l.o — Horoscopo de Prabbu foi tirado ao seu nascimento, eu o encerrei num vaso
« logo que voltei para minha casa.
« 2.0 — Foi a mim que Prabbu falou primeiro de sua ultima incarnação. Elle exclamou
« um dia de repente, que seus caros filhos estavam em má situação e que elle
« queria auxilial-os. Repetiu isto varias vezes, e quando eu lhe perguntei quem
eram seus filhos ou onde estavam e porque dizia asneiras, elle calou-se.
« Mais tarde, sentado ao lado de sua mãe, que batia manteiga, elle disse que
ella era avarenta de manteiga, emquanto que sua precedente mãe fazia-o sen-
tar-se ao lado da mantegueira e lhe dava grandes bocados. Ella perguntou-lhe
onde estava sua precedente mãe. Elle replicou que estava em Hatyori, que seu
« verdadeiro nome era Harbux, e que deviam chamal-o assim e não Prabbu.
« Outra occasião, dormindo ao lado de sua mãe, estremeceu e exclamou: «Oh
meu Deus ! meus filhos estão em triste situação». Disse-se, então,' que contas¬
se sur precedente incarnação, o que fez narrando factos já repetidos por Nâib
l< Tehsildar, e a noticia repercutiu por toda a aldeia.
Eu nunca estive em Hatyori e nenhuma relação tenho ahi com pessoa alguma ,
* nem tenho parentes , nem negocios commerciaes.
« 3.o — Eu sou o pae de Pralibu. A historia da sua incarnação passada foi feita pri¬
meiramente pelo menino a mim e a minha mulher.
Outros ouviram-iTa em seguida. O horoscopo poude ser estabelecido e mos¬
tra que meu filho nasceu na noite de Mah Sudi 2.0 Sambat 1973 e que está
« com 4 annos, 7 mezes e 18 dias.»
Os casos seguintes foram também por mim completamente observados. Elles
apresentam, pelo menos/ detalhes interessantes :
2.0 ( ASO (IIIIIDA.
Um Rajpoute, filho natural, chamado Chhida, da aldeia de Mhowa, situada sobre o
Chambal, rio do Estado de Gwalior, tinha tido uma questão com a filha viuva dum
brahmane desta mesma aldeia.
Revista Internacional do Espiritismo
15 •€>
O brahmane dispôe-se a accusar o Rapjout pelo roubo de mais postaes e um
mandato de prisão foi expedido contra Ch h ida. Este tendo sido informado, embrenhou-
se nos barrancos proximos do rio. Eile lhe deu cinco rupias (moeda dos indios), afim
de procurar um sino e de offerecer, em seu nome, ao templo de Shiva, em Mhowe
Pouco depois, Chhida foi morto por um agente, quando repousava sob uma arvore.
Então, cinico annos mais tarde, em uma de suas Uournées», eile vae a casa de uma
famiiia brahmane, na aldeia, para vender mercadorias. De repente, um menino da casa
de 4 annos, approximou-se, apoderou-se de alguns objectos e retirou-se com elles.
O mercador perseguiu-o. Quando approximou-se do menino, este lhe disse que
apoderando-se dos objectos, não fazia senão entrar na posse de seus bens. Eile se lem¬
brava, dizia, de ter, em sua precedente existência, dado dinheiro ao mercador para com¬
prar um sino, dinheiro de que o mercador se tinha indem damente apropriado!
Este incidente fez grande ruido. Uma velha senhora, mãe de Chhida, veiu ver o
menino. El la levou-o para sua aldeia e o menino soube reencontrar, em Mhowa, a casa
que eile dizia ter habitado quando fôra Chhida!
* * *
3.o CASO DE KASIII RAM
Kashi Ram, o joven Paiwari , foi morto em 1908 por Chhotey Lai, filho de Bliag-
want Sing, zemindar (proprietário) da aldeia de Nonenhta, Bhind, òwalior. O crime foi
commettido no decurso de uma viagem em que ambos iam á côrte de Suba, para um
processo que interessava o zemindar e onde o Patwari se preparava para dar testemu¬
nho contra eile.
Depois de haver atravessado á pé enxuto o rio Kami, e cheio de raiva, procurou
o Patwari, com o intuito de ganhar a causa. Não obtendo o que desejava, matou-o , cor¬
tou-lhe os dedos da mão direita, pondo um na escrivaninha portátil do morto , a qual collocou
sobre o seu peito e evadm-se -para o território bntannico adjacente . A policia fez uma pes-
quiza e foi expedido o mandato de prisão contra o assassino, mas em vão. Eu vi o
processo da policia.
Logo depois, na visinha aldeia de Risalpur, nasceu um menino, cujo. corpo trazia todas
as marcas de violência i constatadas eni. -Pai-wari no momenfo em que eile foi morto. Este
menino chama-se Sukh Lai, filho de Mihi Lai. Nasceu sem os dedos da mão diieita, as
costellas como que quebradas e grudadas; eile disse ter conservado a lembrança da sua
vida precedente a do drama que a terminou. Eu vi o rapaz e conservei- o em minha
casa, mais ou menos por oito dias. Eile lembrava-se, dizia, de todos os principaes aconte¬
cimentos de sua passada existência , si bem que os detalhes se apagassem cada dia da sua
memória. Seu pae e seu irmão mais velho, confirmaram estes factos, emboia tivessem
elles repugnância em divulgal-os, por motivo de um possível escandalo.
* * ~
4.o CASO I»E ZEMIBiDAlt K1JPOUTE
Um zemindar rajpoute foi morto por seu tio, em seguida a uma discussão moti¬
vada por um campo. O tio desappareceu e a policia não conseguiu api isional-o . não
havia prova absoluta. Isto se passou em 1877, no anuo da fome. O assassino voltou
pouco depois para sua casa. Nesse meio de tempo nasceu na aldeia um menino. Com
a idade de 4 ou 5 annos, brincando com os camaradas, eile ouviu os tiros habituaes
aos dias de festa, e repentinamente cahe sem sentidos. Voltando a si, exclamou que
acabava de ver um assassino, o qual eile dizia ter sido seu tio n.a existência passada.
Este facto foi o inicio de um grande numero de recordações. O menino reconheceu
«seu irmão mais velho da existência anterior». Familiarisou-se depressa com este irmão
reencontrado e lhe revelou cousas, de que nenhum outro poderia ter conhecimento. Eile
perguntava-lhe sempre o que era feito de sua espingarda predilecta, sua pistola, sua
bengala seus instrumentos de musica, etc. Estes objectos eile os usava por vezes e
estão em poder de seu irmão. Este convencido do parentesco anterior que os uma tez
a descri pção do crime ao Suba, Major Omrt (europeu) Mas este recusou-se a proseguir
num trabalho baseado em taes testemunhos. Os dois irmãos, então fizeram seu depoi¬
mento diante do primeiro Ministro Gampat Rao Khake. S. Alteza, o Maharajah Jiaji Rao
Soindia ordenou uma «eequête» que pareceu concludente.
O menino reconheceu alguns dos seus parentes de sua sua existência _antei ioi .
Convicto da verdade da historia, o Maharajah fez expedir um mandato de prisão contra
(Continha na pagina 21 )
<3> 16 «e>
Revista internacional do Espiritismo
OS RAIOS V, DO COMMANDANTE DARGET
O Commandante Darget, distincto of-
ficial francez, reformado, é o verdadeiro ini¬
ciado, da photographia fluido magnética,
Foi elle o primeiro que conseguiu
crear formas mentaes pho-
tographicas, fixando energi¬
camente uma chapa sensível,
isto é, impressionando clichés
com a imagem dos objectos
em que pensava.
As suas photographias,
chamadas photographias do
pensamento, são muito co¬
nhecidas no mundo scienti-
fico, e qualquer poderá pro-
duzil-as, desde que tenha a
força exteriorisadora precisa
para crear objectos que a
placa impressiona.
O Dr. Baraduc, referin¬
do-se ao commandante Dar¬
get, escreveu :
«As suas experiencias,
que, sem o emprego da
electricidade, são as primei¬
ras no genero, permittiram-me verificar, pe¬
la primeira vez, a existência das emana¬
ções fluidicas . . .»
O nosso distincto confrade, Dr. Ga¬
briel Delanne, director da Revue S cientifique
et Morale du Spiritismo , escreveu no seu li¬
vro «A Alma é Immortal» : «O commandante
Darget conseguiu, por duas vezes differentes,
exteroriisar a imagem pensada de uma gar¬
rafa e reproduzir essa imagem sobre uma
placa photographica, sem auxilio de appa-
relho.»
O distincto escriptor sr. Chaineau tra¬
tando das photographias do commandante
Darget, diz o seguinte : na Humanité Inté-
grale : «E' preciso fazer eloquente justiça a
quem abriu o caminho ; é necessário, so¬
bretudo, pôr em relevo o que distingue os
documentos do commandante Darget e fa¬
zer sobresahir o caracter de variedade e de
potência pelo qual se reconhecem as
notáveis experiencias desse official superior.»
Os grandes jornaes parisienses consa¬
graram importantes artigos á nova desco¬
berta do commandante Darget sobre a ra-
dio-actividade humana. A elle referindo-se,
a revista scientifica La N ature publica o
seguinte :
O Commanòante Darqet
;Q sr. d'Arsonval apresentou á Acade¬
mia de Sciencias uma nota do commandante
Darget relativa a photographias obtidas coE
locando sobre a fronte um pedaço de papel
impresso applicado contra
uma placa, cio lado do vi¬
dro, e encerrado, o todo,
dentro de um triplo enve-
loppe. Os raios chamados
vitaes pelo autor, ou ainda
raios V parecem ter agido
como os raios X. A expe-
riencia foi, com successo,
repetida por varias pessoas.
Porém, facto não menos cu¬
rioso : algumas das photo¬
graphias obtidas são em po¬
sitivo e outras em negativo.
Parece, portanto, ser neces¬
sário admittir que existam,
pelo menos, duas especies
de raios V essencialmente
differentes.»
Os clichés fluidicos, diz
o sr. Darget, obtem-se ou
a secco, ou collocando-se a placa n’um
banho revelador. Podem se empregar, indif-
ferentemente, placas ordinárias de qualquer
marca; quanto ao revelador, emprego ha¬
bitualmente, o revelador de hydroquinone ;
porém, pode-se lançar mão de qualquer
revelador photographico.
Quando a placa torna-se preta — e é
preciso deixal-a enegrecer bastante — lan¬
ça-se-a no fixador, isto é, no banho de hy-
posulfito de soda ; observa-se, então, a ima¬
gem e, quando a placa está desiodada, la¬
va-se-a durante 3 4 de hora.
A placa a secco pode ser collocada
sobre a fronte ou sobre a nunca, mantida
por um lenço ou por um tecido qualquer;
pode-se também collocal-a sobre o coração,
sobre o epigastro, ou sobre uma parte qual¬
quer doente ou febril do corpo. Deixa-se-a
assim durante muito tempo, uma hora, em-
quanto nos occupamos de outra coisa. Pre¬
viamente prepara-se-a no gabinete escuro,
embrulhando-a em duas dobras de papel
preto. Essa manipulação deve ser feita á
luz da lanterna vermelha, como para a pho¬
tographia ordinaria. Colloca-se, então, a pla¬
ca sobre o corpo, o lado da gelatina do
lado da pelle de preferencia. Pode-se, igual-
Revista Internacional do Espiritismo
17 <s>
mente, no gabinete escuro, pegar a placa
entre os dedos e mantel-a, durante dez ou
quinze minutos, a um centímetro da fronte.
Foi assim que eu obtive as minhas
melhores photographias : a Cólera, a Aguia
e tantas outras.
A CÓLERA — Photographia obtida pelo
comniandante Darget, collocando a uma
polegada acima da própria fronte, uma pla¬
ca sensível, certo dia em que acaba de ter
um forte accesso de cólera.
A ACjJUIA — Photographia obtida pelo
commandante Darget, coilocando uma pla¬
ca sensive) a uma meia pollegada acima
de mme. Darget adormecida do soinno
mediumnico.
Um outro processo, consiste em mag-
netisar, no gabinete escuro, a placa, durante
dez a quinze minutos, mantendo as mãos
a uma curta distancia d’ella.
A obtenção das photographias é irre¬
gular, caprichosa, sem que se possa for¬
mular uma lei qualquer, tomando como
base os resultados já obtidos.
Teem-se ás vezes, sinprezas inauditas,
como quando o raio retira a camisa de um
homem, sem ferii-o, deixando-lhe as outras
vestimentas.
Si se trata de uma photographia es¬
pirita, em gera!, quando se quer apenas
um pouco de fluido, conseguem-se figuras
muito características.
Photographia, no banho revelador — Si
se mergulha uma placa no banho revelador
e si se collocam em contacto com eila dois
ou tres dedos de cada mão, sobre a gela¬
tina, durante dez ou quinze minutos, obtem-
se geralmente effluvios coloiidos a uma ou
mais çôres. Si se collocam os dedos do
lado do vidro, obtem-se effluvios de formas
differentes e um fluido como que irisado.
Eu pude, entretanto, por esse processo,
obter figuras.
Si se dispõem diversas moedas sobre
a gelatina, e si se collocam um ou dois
dedos sobre cada moeda, estas se impri¬
mem geralmente, e communicam a sua effi-
gie á placa, como si tivessem sido photo-
graphadas, pelos processos ordinários, isto
é, com um apparelho munido de objectiva,
15 minutos de pose, ou pouco mais, são
sufficientes. Algumas vezes a imagem das
moedas é colorida.
Photographias fluidas com apparelho —
Muitas vezes, sob pretexto de que o re¬
trato tem manchas, os photographos inuti-
lisam as placas e fazem o cliente pousar
de novo. Ora, essas manchas não são outra
coisa sinão effluvios do fluido vital. A sra.
Agullana, poderoso médium de Bordeaux,
produz taes manchas a vontade, prevenin¬
do antecipadamente os photographos, cuja
eskipefacção, diante desse facto, e sem li¬
mites. Eu observei, de resto, que, como os
magnetisadoies, os médiuns produzem ef¬
fluvios muito facilmente.
O sr. Arsoure, de Liége, enviou-me
duas poses , da mesma pessoa, photogra-
phadas por elle, no mesmo lugar, a cinco
minutos de intervallo uma da outra. A se¬
gunda é notável pelas numerosas manchas
fluidicas características que a cercam. Nessas
tachas, sente-se que existem figuras inaca¬
badas, manchas proprietaes. Si ern face do
nosso leito, na mais completa obscuridade,
dispomos um apparelho photographico, com
a objectiva descoberta e, em seguida, nos
deitamos durante um certo tempo, uma ho¬
ra, poi exemplo, conseguimos, muitas vezes,
imagens dos seres ou das radiações do es¬
paço de que nos fala Emmanuel Vauchez.
Os processos que resumidamente in¬
diquei, são forçosamente imcompletos, po¬
rém a pratica conduzirá os experimentado¬
res a resultados cada vez mais animadores,
porque estamos no começo de uma vastis
sima e nova scieucia.
<3- 18
Revista internacional do Espiritismo
* * *
Algumas vezes o commandante Dar-
get obtem phsdographias de um genero um
tanto diverso mesmo quando piocede as
suas investigações fluido-magneticas. Haja
vista, por exemplo, a photographia abaixo,
mostrando duas meninas e, ao lado d’ei!as,
segundo o sr. Darget, os seus duplos , pe-
rispi ritos, corpos espirituaes , na phrase de S.
Paulo.
Rs òuas filhas òo sr. pinarò
magnetisaòas por seu pae
Esta photographia pertence propria¬
mente ao genero chamado espirita. Eis em
que condições especiaes o commandante
Darget obteve a.
Querendo verificar si os fluidos que
um magnetisador transmitte ao sujet são
photographaveis, o commandante Darget
pediu ao conhecido médium curador sr.
Pinard que magnetisasse as suas duas filhas.
Começada a operação, o distincto investi¬
gador tentou a prova photographica bus¬
cada ; o resultado foi o que se pode obser¬
var no nosso clichê; a esquerda das duas
meninas veem-se os seus duplos ou corpos
espirituaes.
Examinando-se bem essa photogra"
phia, vê-se que no retrato do corpo mmelie-
Pinard tem na mão um bouquet , ao passo
que na do seu fantasma, não só esse bou¬
quet não existe, como mesmo o braço está
estendido e não dobrado á altura do coto-
vello.
Outra photographia interessante é a
do padre que, não foi obtida directamente
pelo commandante Darget, mas sim por um
seu amigo e correspondente que, amigo de
um sacerdote romano deliberaram ambos
fazer uma experiencia psychica, servindo o
padre de modelo, e que deu o resultado
que se vê
Photographia com o duplo òe um
saceròote
Abaixo do pescoço do padie, ao peito,
lado direito o leitor verificará o perispirito
do mesmo padre.
* * *
O commandante Darget teve uma en¬
trevista com um jornalista europeu que
pediu-lhe a exposição da historia das suas
investigações.
Eis o communicado do lllustre pes¬
quisador :
— «As minhas investigações, sobre
os fluidos emittidos pelos seres vivos re¬
montam a uns trinta annos. Todavia, só
em 1894 foi que consegui, com espanto,
de resto, das raras pessoas que se occu-
pavam da questão, impressionar placas pho-
tographicas por meio do fluido vital.
Farei observar que essas impressões
eram nitidas no gabinete escuro sobre pla¬
cas não cobertas collocadas no banho re¬
velador e submettidas á acção dos dedos,
seja a contacto, seja a distancia.
As impressões assim conseguidas eram
muito nitidas, formando uma serie de irra¬
diação a partir da extremidade dos dedos.
Essas photographias seriam semelhardes ás
obtidas á luz do dia, si as placas não fos¬
sem coloridas, ora de vermelho, ora de
verde, ora de amarello, segundo as pessoas
e segundo os estados doentes ou sãos de
taes pessoas.
Revista Internacional do Espiritismo
<3- 19
Notar-se-á que o fluido vital parecia
agir até então como uma luz um tanto es¬
pecial. Porém vários indícios, me fizerem
suppôr mais tarde que essa irradiação po¬
dia muito bem ser diversa da luz e analoga
á da ampola de Crookes, á dos raios X,
ou á do radium. Si assim fosse, o fluido
vital, a que dei provisoriamente o nome de
raios V , não devia attravessar os corpos
opacos, como o triplo enveloppe de papel
preto, vermelho e branco que proteje as
placas sensíveis.
Colloquei, portanto, ha alguns mezes»
uma dessas placas sobre a fronte, durante
uma meia hora, e tive a alegria de verificar
que, de facto, a placa sob o tríplice erivel-
loppe estava impressionada.
Para completar essa demonstração, in¬
troduzi, sob os trez enveloppes um papel
impresso com a palavra «DOYEN», etc., (o la¬
do não impresso do papel tocando a placa
sensivel) e obtive, muito nitida, a photo-
graphia junta.
A varias pessoas de minhas relações,
confiei placas semelhantes em enveloopes
fechados e sellados. Essas pessoas obtive¬
ram, mais ou menos distinctamente os
mesmos resultados.
phadas em negativo, como é facil verificar
pela photographia junta da palavra «AT-
TRACTION*.
Outras pessoas fornecem placas, parte
em positivo, parte em negativo.
Devemos crêr que esses resultados
são devidos ao phenomeno conhecido pelo
nome de «sobrexposição», ou a existência
no homem de dois fluidos de sentido con¬
trario? Muitos indícios permittem que me
inclinem para esta ultima hypothese.
Ha, ao mesmo tempo, razões para
crêr que as diversas partes do corpo, emi¬
tem raios V com uma intensidade de gráos
diversos. As primeiras experiencias que fiz
em tal sentido — experiencias que conti¬
nuo — já me permittem essa affirmação.
E, para concluir, ao menos proviso¬
riamente, é preciso dizer que nos achamos
em presença de uma irradiação absoluta¬
mente especial, que é como que inherente
aos corpos vivos. Esses novos raios variam
com os indivíduos, isto é, sem duvida, com
os seus temperamentos e os seus esta¬
dos moraes — cólera, calma, alegria, etc.
— bem como com os seus estados de
saúde.
Aqui nos achamos como na origem
da vida. Não parece, portanto, presump-
çoso esperar que o conhecimento per¬
feito desses novos raios, forneça regras
preciosas para a sciencia e para a conducta
futuras da existência.
Ççmmanòante DARG-ET
A idéa Espirita
Uma idéa que rala á alma,
ao coração, á razão e ao senti¬
mento, e que ao mesmo tempo
presta factos em todos os recan¬
tos do mundo, que podem subor-
dinar-se á analvse e ao exame
Entretanto algumas delias, como o sr. sivel
Shettle, forneceram as palavras photogra-
mais rigorosamente scientifi-
co, e á experiencia e á veri¬
ficação do mais rude e sim¬
ples investigador, é urna idéa
que ha de triumphar apezar
de tudo; que hade impôr-se
e dominar.
A. Herculano
o nirosMVKL
Aquelle que. fóra das puras mathe-
maticas pronuncia a palavra — irnpos-
— falta com a prudência
Arago
<3» 20
Revista internacional do Espiritismo
O PROGRESSO HUMANO E OS
PHENOMENOS PSYCHICOS
r\ progresso é lento, na huma-
^ nidade terrestre.
O systema de Copernico era
ensinado por Aristarco, de Sa-
mos, no anno 280 antes de Jesus
Christo. Os sábios dessa epoca
não queriam aceital-o de manei¬
ra nenhuma e, quatrocentos an-
nos depois, Ptolomeu, continuan¬
do a tradição classica, tratava
essa hypothese de «perfeitamen¬
te ridícula» .
Da mesma maneira pensa¬
vam ainda, no século XVII da
nossa era, os juizes de Galileu.
Hoje, todo o mundo acabou por
admittir e por comprehender que
a Terra não está no centro do
Universo e que gravita em torno
do Sol, em companhia de outros
planetas, seus irmãos, arrastada
atravez dos abysmos insondáveis
da immensidade infinita.
A Astronomia não é a unica
sciencia que pode ser chamada
em testemunho da lentidão do
progresso.
Os problemas phychicos nos
offerecem um exemplo analogo.
E’ justo, porém, accrescentar que
ha menos tempo que elles são
formulados á analyse scientiíica
positiva e que estão longe ainda
de ser resolvidos. Todavia, si,
nesse grande assumpto, ha um
capitulo que, ha muito está defi¬
nitivamente escripto, é o da sus¬
pensão das mesas, em contrarie¬
dade com a lei da gravidade dos
corpos, suspensão que se produz
pela acção de uma força desco¬
nhecida. Esse phenomeno é ac-
tualmente objecto de discussões
numerosas e pitorescas.
Ha mais de meio século, em
1853. o conde de Gasparin, tendo
em sua companhia uma duzia de
experimentadores sevéres, poz o
facto em tal evidencia que as
suas experiencias poderiam ter
bastado para assentar definitiva-
mente a questão.
Vê-se, nessas sessões de es¬
tudos, uma grande mesa de sala
de jantar, sobre a qual se haviam
collocado 75 kilos de pedra, sus¬
pender-se e partir-se, sob esse
peso, balançada pelos seus mo¬
vimentos. Veem-se rotações se
operar, sem contacto algum, pois
que, tendo-se, por meio de um
folie, espalhado sobre a mesa
uma tenue camada de farinha de
trigo, nella não se encontrou ves¬
tígio algum de dedo.
A isto accresce que todas as
experiencias eram feitas por um
grupo de amigos, sem auxilio de
nenhum médium extrangeiro ou
retribuído.
No anno seguinte esses fac¬
tos eram igualmente postos fora
de duvida, por Marc Thury pro¬
fessor de physiea e astronomia
na academia de Genebra; elles
são, outrosim, medidos por meio
de uma mesa em equilíbrio, e de
balanças.
Como no caso das experien¬
cias do conde Gasparin, as de
Genebra são feitas entre collegas
da Universidade e sem médium
assalariado. Durante essas expe¬
riencias, nós vemos um piano,
de um peso de 300 kilos, resoar
e elevar-se, quando junto a elle
não havia sinão uma criança de
onze annos, que estudava a sua
Revista Internacional do Espiritismo
<3- 21
lição e que era um mediu rn sem
o saber.
Muito tempo depois de taes
experiencias. em 1869, os sábios
da Sociedade Dialectica, de Lon¬
dres, eliminando egualmente o
emprego de mediums profissic-
naes fizeram, em numero de do¬
ze, pouco mais ou menos, nos
seus proprios aposentos, com os
seus proprios moveis, examina¬
dos a cada instante, uma série
de observações, estabelecendo os
movimentos dos objectos sem
contacto, a alteração dos pesos,
as pancadas rythmadas ; tudo is¬
so sem causa apparente.
O relatorio que estabelece es¬
ses phenomenos é assignado pelo
engenheiro electric ista Cromwelí
Varley (que lançou em 1860. o
primeiro cabo transatlântico en¬
tre a Europa e a America) e por
vários membros da Sociedade
Real, de Londres.
Alguns annos depois, o Pro¬
fessor Crookes, cuja competên¬
cia na experimentação physica
não pode ser posta em duvida
por ninguém, fez, por seu turno,
as experiencias, que todo o mun¬
do conhece, constatando, com
apparelhos registradores, a alte¬
ração do peso dos corpos e pro¬
vando a veracidade dos pheno¬
menos de deslocamento de objec¬
tos sem contacto, de percussão
a distancia, etc., etc. . . .
Esses factos são conhecidos,
archiconhecidos. Foram observa¬
dos por centenas de experimen¬
tadores, verificados mil vezes, fis¬
cal isados.photographados. Podem
se ver no meu livro Forces na-
turelles inconnues , photographias
directas e sem retoques, a respei¬
to dos quaes eu também estou
perfeitamente disposto a dar um
prémio de 500 francos a quem
nellas encontrar uma fraude qual¬
quer. Varias dessas photogra¬
phias foram feitas na minha ca¬
sa, e, ha nada menos de quarenta
annos que eu sigo esses pheno¬
menos de muito perto.
Parece-me que os homens
que se deram ao trabalho de ob¬
servar pacientemente o assumpto
em litigio não podem deixar de
ter a convicção da levitação das
mesas e de outros objectos pesa¬
dos, da variação do peso dos cor¬
pos, dos deslocamentos sem con¬
tacto, das pancadas sem choque
apparente e respondendo as per¬
guntas. etc.
Falta-me espaço para entrar
em outros detalhes, porém, uma
vez que me deram a honra de me
pedir a minha opinião, baseada
n’uma longa experiencia, o meu
dever é responder que o ser hu¬
mano, ainda não é conhecido de
pessoa alguma, nem dos physio-
logistas nem dos psychologos e
é dotado de faculdades physicas
e psychicas ainda quasi comple¬
tamente ignoradas, mas cuja in¬
vestigação será a gloria da scien-
cia futura. Camille Flammarion
( Continuação da pagina ij)
o assassino. Mas este ultimo fugiu, perseguido, aqui e ali, pela policia até Gaya, onde
morreu. Elle pediu então á S. Alteza ordenar o eancellamento do processo visto o cul¬
pado não mais existir.
Eu examinei os documentos e os tenho commigo. Fiz vir em 1912 o moço, que
tinha naquella occasião 34 annos, com seu velho pae, o qual confirmou este relato. Elle
accrescentou que logo após á identificação do menino, lhe apparecera o assassino, a
quem o menino censurou asperamente por tel-o assassinado traiçoeiramente e de uma
maneira indigna de um Rajpoute. O moço, em 1912, tinha se esquecido de todas estas
cousas, ellas não lhe eram conhecidas senão porque ouviu.- dizer.
A historia foi corroborada a i n da pelo coronel Surajpal Singh e o filho do assassi¬
no, ambos officiaes em Gwalior. Suas photographias foram tiradas pelos srs. Desai frè-
res, de Lashkar, Gwalior. Dp. Rau Bahaòup 5yam õunòerlal
o> 22
Revista Internacional do Espiritismo
UM RETRATO DO
DR. QUSTAVE GELEY
\ lamentável noticia do desastre occor-
rido em 15 de Julho (1Q24) que nos
roubou um amigo muito querido e fez a
metapsychica perder um dos seus mais ar¬
dentes trabalhadores, chegou-me a 17 de
julho por telegramma. Eu estava convicto
que o Dr. Geley viria á Inglaterra precisa¬
mente para fazer experiencias de photogra-
phia supranormal no «College», Holland
Park, 59, Londres.
Ehe me havia concedido a honra de
associar-me a estas experiencias, que rea-
lisar-se-iam a 21, 22, 24 de julho e„dias
subsequentes.
Depois da funesta noticia todas as dis¬
posições ficaram sem effeito.
conversação tornou-se, outra vez de um
modo inteiramente normal. Por fim ella mu¬
dou de feição, e falando em nome de seu
Guia disse : «Eu vi o Dr. Geley, ehe não
pode crêr na sua transicção, mas tem ami¬
gos que o auxiliarão. Creio que si delibe¬
rardes resolutamente a experimentardes a
photographia na semana próxima, ehe po¬
derá impressionar a chapa, porque era mui¬
to interessado nessas experiencias».
Tomei im mediatamente nota dessas
palavras, fiz assignar o documento e passar
pelo correio, com o fim de ter a prova da
data do timbre postal.
Os arranjos com o «College» foram
renovados por obséquio de Mme. Mc. Ken-
Dr. Gfustave Geley
em. seu g-a-Toiiuete cie trstToallx©
Eu estava, então, de folga em Exmouth
(Devonshire) com minha mulher. Ahi en¬
contramos de improviso uma enfermeira
que, de tempos em tempos fala tnedium-
nicamente, em transe, e se interessa pelos
factos psychicos. Natural mente falou-se da
perda que tinhamos acabado de soffrer,
mas ella não conhecia o Dr. Geley, e a
zie, que dirige as sessões. Voltamos para
Weybridge dia 19.
Em nossa casa existe uma pessoa que
possúe a faculdade da escripta-automatica,
com a qual eu faço constantes experien¬
cias. Ella de nada sabia, salvo a noticia do
desastre e a annulação dos preparativos.
Pedi-lhe :
Revista Internacional do Espiritismo
<3- 23
«Tornai o vosso lapis».
D. — Podeis dizer-me alguma cousa?
R. — O nosso pobre amigo não po¬
de comparecer aqui, elle está desolado pe¬
la agonia que lia em sua casa e por todos
os motivos.
D. — Dae-me o vosso parecer. Mine.
Mc. Kenzie me offereceu uma sessão com
Hope, amanhã ás 11 horas da manhã. Em
vista da vossa resposta, me parece pouco
provável que obtenhamos um successo. De¬
vo utilisar-me do meu proprio apparelho (o
que poderia melindrar a Hope) ou me ser¬
vir do seu ?
R. — Nada de novo deveis introdu¬
zir amanhã na sessão. Podeis lá ir contan¬
do commigo, que faremos tudo o que as
condições nos permittirem. Talvez o Dr.
Geley já esteja certo de que aqui chegou.
Lembrae-vos que a sua chegada foi im¬
prevista e elle estava de bôa saude. Não in¬
sisto sobre estes detalhes que, segundo pen-
Presentes : Mme. Mc. Kenzie, Mlle. F.
S. Scatcherd (pratica em matéria de photo-
graphia), eu, M. Hope e Mme. Buxton,
(mediu ms). Mme. Mc. Kenzie tomou um
pacote de chapas embrulhadas e selladas
pela casa fabricante das mesmas, justamen¬
te para experiencias deste genero, de cujas
chapas conserva uma trintena fechada a
chave. O cliché dá o «fac-símile» desse pa¬
cote. (Nota da Red. : Deixamos de dar o
cliché da caixa de chapas, por julgarmos
sem importância para a transcripção). As
chapas são todas marcadas nus ca mus pela
Companhia , para se tomar impossnul uma
substituição qualquer , embrulhadas como de
costume, depois o pacote amarrado com fi¬
ta de algodão, e sellado com o sello gran¬
de da Companhia fabricante (1 he Imperial
Dry Plate Company, bricklewood, London).
As duas pontas do amarrilho estão presas
sobre o lacre A., sobrepostas ao logar on¬
de o papel envoltorio é collado em baixo
so, em semelhante caso é um dever scien-
tifico dizer-se o que se deve sem accusa-
ções supersticiosas ou de mysticismos».
Dizem-me que tudo isso provem do
subconsciente do médium escrevente, nada
discuto. Seja qual for a proveniência des¬
ses escriptos, subconciencia ou outra ; sao
igualmente factos auxiliares.
Em 24 eu fui ao «College». Mm. Mc.
Kenzie pediu-me que me encarregasse da
experiencia.
da entiqueta a, a, a. Mme. Mc. Kenzie af fir¬
ma que ninguém, salvo cila tocou nesses
pacotes, e eu, por minha vez affirmo que
a caixa de chapas estava, absolutamente in¬
tacta, como foi vendida pela Comp., con¬
servando também os sellos intactos. Esse
pacote ficou em minha mão.
O atelier photographico do «C.ollege»
tem uma uniea porta de entrada, e uma
que dá para a camara escura, illuminada
por uma janella coberta de um tecido ver-
<3- 24
Revista Internacional do Espiritismo
inelho. O quarto escuro nenhuma porta
tem. Referidos experimentadores permace-
ram no atelier com Hope e Mine. Buxton.
Eu colloquei o pacote de chapas no meio
da mesa e os assistentes deram-se as mãos
formando uma cadeia em torno, de accor-
do com o costume de Hope, que exige
canto e invocação e a permanência do pa¬
cote entre as mãos dos assistentes. (É pre¬
ciso se accomodar, com este processo para
não descontentar o médium, embora eu já
tivesse observado o phenomeno, sem ne¬
nhuma destas exigências).
Terminado isto, tomei o pacote de
placa, cortei os amarrilhos tendo tido o
ton se collocaram ao lado do apparelho,
mas sem o tocar, limitando-se Hope a abrir
os «Chassis-» para expôr as chapas, o que
durou quinze segundos, depois fechou.
Eu mesmo fiquei com o apparelho e
revelei as duas chapas num só banho. Cer¬
tifico que Hope não tocou as chapas, do
começo ao fim.
Uma dessas placas estava normal ; a
outra mostrava o extra (Eig, 2).
Os traços que nella se encontra não
são defeitos de manipulação, elles estão
mesmo na gelatida. A 3.a e a 4.a placas fi¬
caram na caixa e no seu papel envoltorkç
Figura 3
cuidado de não destruir os sellos. Entrei no
quarto escuro com Hope, onde revelei as
placas sem permittir que outro as tocasse.
Examinei minuciosamente o chassis queelle
me apontou e puz duas placas, assignalan-
do-as com a minha assignatura no momen¬
to de tirar do pacote. Eu puz, então, minha
firma na chapa e fiquei com o chassis em
meu poder. Reuni, novamente os outros
experimentadores no atelier com Hope, exa¬
minei com cuidado o apparelho e a lente
já focalisada sobre as cadeiras onde os as¬
sistentes se deveriam sentar. O apparelho
photographico é dos mais simples sem es¬
pecialidade alguma. A lente é absolutamen¬
te própria e transparente. O fundo é de pati¬
no espesso, escuro, negro. A machina está
sempre em plena vista. Hope e Mme. Bux-
no outro local do quarto escuro sobre uma
mesa do gabinete.
Hope não se approximou delias. Ne¬
nhuma pessoa entrou no quarto escurò. Eu
tomei a caixa desembrulhei as placas 3 e 4
e as puz no mesmo «chassis» depois de
tel-as assignalado como as outras. O proces¬
so destas foi idêntico ao da primeira, sal¬
vo haver Hope derramado o revelador so¬
bre as duas placas, na banheira que se
achava commigo. A 3.a placa contém o
retrato do nosso querido Dr. (Eig. 3).
E preciso salientar que a posição é a
mesma, somente a imagem está um pouco
inclinada e o retrato é muito mais nitido.
Nenhuma fraude pode ser evocada. As
pessoas que conheceram o nosso caro e
venerado director verão, em seguinda, que
Revista Internacional do Espiritismo
<3-25^
não lia duvida sobre a sua exacta feição.
Os que não tiveram a grande felicidade de
conhecel-o, poderão comparar esse retrato
com o que a REVUE SPIRITE publicou
em agosto (e nós reproduzimos neste nu¬
mero).
Já se tem dicto, na Inglaterra, que um
íruc poderia ter sido explorado para esse
fim. Observaranrme : «vós deverieis ter le¬
vado vossas chapas». Propor este argumen¬
to é suppor que alguém tivesse podido,
após ao accidente e em poucos dias, pre¬
parar fraudulentamente as placas, envial-as
á Companhia, fazel-as ah i marcar, etnbru-
lhal-as depois sellal-as e envial-as com o
«B. C. of P. S.». . e fazer de sorte que
Mine. Mc. Kenzie encontrasse entre trinta
pacotes, o pacote preparado.
Eu não penso que o nosso querido
amigo estivesse presente a esta experiencia;
quero antes admittir a theoria da ideoplas-
tia, preconisada pelos nossos amigos os
metapsychistas, mas em face de taes pheno-
menos prefiro crer que a ideoplastia pode
perfeitamante ser exercida mesmo pelos in¬
visíveis. Desde que se concede a existência
de forças invisíveis, não se lhes pode recu¬
sar o direito de disporem os meios artísti¬
cos que lhes permittem fazer retratos tão
bem como outros meios que lhes facilitam
a possibilidade de realizarem experiencias
de outra natureza.
Para o que concerne á obtenção do
retrato do Dr. Gustave Geley certifico que
nós subscrevemos as sete condições que ga¬
rantem a authenticidade do phenomeno :
E° — Certeza absoluta que o pacote
de chapas estava intacto ;
2.0 — Abertura do pacote pelo mes¬
mo experimentador e assignatura das cha¬
pas, uma a uma, no momento em que eram
desembrulhadas ;
3.o — Segurança do processo por um
photographo experimentado ;
4.o — Certeza de que o fundo ne¬
nhuma preparação continha ;
5.0 — Certeza de que o « atelier » foi
bem examinado e nenhuma fraude poderia
prevalecer ;
6 0 — Certeza da normalidade do ap-
parelho e da lente ;
7.o — Certeza que os mediums não
podiam intervir nas operações.
É bem lamentável que o nosso dis-
tinsto confrade não tivesse podido levar
mais longe suas experiencia entre nós, em
matéria de photographia supranormal.
Suas aptidões altamente scientificas
lhe teriam certamente permittido de tirar
delias, conclusões da mais alta importância.
STANLEY DE BRATH,
Engenheiro.
<3- 26 <s>
Revista internacional do Espiritismo
(t/iromca
Ao iniciar a nossa Chronica, temos o
prazer de apresentar aos collegas da im¬
prensa, aos collegas do collaboração e aos
espiritas em geral as nossas melhores feli¬
citações de paz.
A tarefa que foi delegada ao encarre¬
gado desta secção, não deixa de ser difficil
e superior ás suas forças, mas como para
o desempenho do cumprimento dos nossos
deveres não faltam auxiliares que suppram
a nossa deficiência, havemos de nos esfor¬
çar, tanto quanto possível, para levar aos
leitores desta Revista as notas e resumos de
relatos dos principaes factos que se forem
verificando em todo o mundo, oriundos da
eterna fonte da Revelação, em suas múlti¬
plas variedades de manifestações.
Commuiiicação Kiiiuillitnca cuSit
a e Irlanda
A Light , revista ingieza, publicou a
a noticia interessante de uma communicação
dada simultaneamente entre a Inglaterra, a
Rússia e a Irlanda.
- «Uma pessoa obteve, na Inglaterra
com um médium, uma sessão de «Voz di¬
recta». No mesmo momento, ultra-sensivel
ás impressões psychicas, uma senhora per¬
cebe manifestações extranhas em sua casa
em Dublin. Emfitn, uma terceira pessoa
um homem — está em Moscow com um
indivíduo do paiz que é médium auditivo.
Estas sessões, no momento em que
realisavam-se, foram synchronisadas mesmo
pelos Espiritos, emquanto que esta operação,
feita no plano espiritual, era ignorada dos
tres mediums.
A «trompette», utilisada na Inglaterra
para as «vozes», pôz a falar e disse: «Não
posso comprehender uma palavra do que
me contam». Então uma voz intervém, que
se exprime rapidamente em uma linguagem
inteiramente impenetrável para o auditor,
que repete: «Nada comprehendo». Uma se¬
gunda voz se eleva, mais grave que a pri¬
meira, e as duas vozes são ouvidas dialo¬
gando em um idioma desconhecido como
se questionassem. Emfirn, em máo inglez, a
segunda voz, diz: «In-ter-prete». Eu sou
russo. Ha um espirito russo. O barulho que
vos ouvis é a linguagem do alphabeto Mor¬
se. Vou vos offerecer a traducção. O amigo
Espirito, em Moscow vos fala. Ouvi, eu
traduzo.
O ruido do codigo Morse recomeça,
com pausas frequentes, afim de permittir ao
Espirito dar, phrase por phrase, uma im¬
portante mensagem, traduzida do russo. Esta
mensagem precisa uma questão, que é assim
também transmittida ao Espirito de Moscow,
e a resposta volta a alguns minutos. Mas,
o mais extraordinário que pode haver em
tudo isso, é que a senhora de Dublin, que
nada sabe do que se sabe na Inglaterra, ou
em Moscow, recebe, no mesmo momento,
a mensagem, palavra por palavra, emquan-
o codigo Morse é traduzido por um mé¬
dium inglez. A conformidade das duas men¬
sagens — Inglaterra e Dublin — foi, de¬
pois estabelecida, emquanto que os dois
textos foram comparados. Para melhor com¬
prehender um tal e tão magnifico pheno-
rneno, é preciso lembrar que, quando as
condições são favoráveis, o espaço para os
Espiritos, não existe, e que elles podem
transmittir suas vozes a qualquer distancia
e de uma vez.»
Iníluencia «los m<‘<3iiaiis
so!>r<‘ Blonu-ais i 3 Ê ib*í
Grande é a influencia que os mé¬
diuns tem exercido e exercem até hoje so¬
bre os. homens illustres. Basta se passar
uma vista d'olhos na Biblia para se ficar
inteirado de que os antigos reis, nenhuma
resolução importante tomavam, sem previa¬
mente haverem consultado os mediums. O
rei Saul, vae ao Endor, e pela pythoniza
consulta ao Espirito de Samuel á respeito
da guerra dos Israelitas contra os Philis-
teus. E assim que o Sr. S. Desmonds no
«Pearsons Magazine» sobre a missão que o
médium tem representado, mesmo entre os
incréos, diz : «Si podesse ser estabelecida
uma lista dos homens illustres dos gover¬
nos, militares, financeiros, doutores, homens
da lei e mesmo homens de sciencia que,
seja frequentemente, seja com intervallos
vão consultar o moderno magico, ou o psy-
chometra, o clarividente, com o fim de me¬
lhor dirigir os negocios públicos ou os seus
proprios negocios pessoaes, ver-se-ia que
Revista Internacional do Espiritismo
o- 27
essa lista havia de conter os nomes mais
conhecidos na Europa e na America. Nella
se encontraria dúzias de cabeças coroadas
ou de herdeiros do throno».
- cfj xpf
Malorialização «lo amia meclia «lo cabollos
A Vie d'0utre- Tombe constata um
caso interessante da materialização de uma
mécha de cabellos, em uma sessão do anno
transacto, do grupo «L’ESPERANCE» de
Spa. A noticia foi transmittida pela directo-
ria do grupo, tal como se vae ler:
«No deccorrer da sessão, á conse¬
lho do Guia, diminuímos a luz e foi-nos
dito que iamos obter a materialisação de
cabellos. O médium adormeceu e alguns
minutos depois, vimos ao lado direito a
sua cabelleira se agitar e augmentar de vo¬
lume. Um dos assistentes levantou se e exa¬
minando os cabellos, percebeu que elles
cresciam e formavam uma mécha de 30
centímetros, mais ou menos, de compri¬
mento. O Guia nos disse que podíamos
cortar esses cabellos e os conservar, em
lembrança da sessão, o que immediatamente
foi feito.
O médium tendo despertado, refez-se
a luz completamente e puzemo-os a consta¬
tar : l.o que nenhum signal de corte en¬
contramos sobre a cabeça; 2. o que os ca¬
bellos não eram, nem da mesma côr, nem
da forma que os do médium. Fizemos a
separação dos cabellos entre os membros
presentes e então produziu-se ainda o se¬
gundo phenomeno. Um dos membros, um
tanto sceptico, havia collocado sobre um
papel a sua parte da mecha dos cabellos e
examinava-o de perto, fazendo-os rolar en¬
tre os dedos : de repente, com grande admi¬
ração sua, os cabellos desappareceram, sem
que nos fosse possível encontrar traços d'el-
les, apesar da mais meticulosa pesquiza.
Assignado : pres. j. Brodure; médium, L.
Brodure ; secr. J. Antoine ; — Seguem treze
assignaturas dos membros do grupo que
assistiram a sessão.
S.\n O PO II H! SOMIO
Os jornaes de Johannesburg (Trans-
waal), diz a «Revue Spirite», nos trazem a
noticia, essencialmente espirita, de um acci-
dente occorrido na mina de ouro «Village-
Deep», u na das mais profundas do Wit-
watersrand (3.000 metros), accidente onde
desgraçadamente pereceram oito homens,
mas ao qual poude escapar o mineiro I lerr
drik-Joannes Olivier, graças a um sonho
premonitorio que teve, na noite precedente.
Eis aqui em que termos o mineiro salvo
conta o facto :
«Antes de descer, eu contei o meu
sonho a um dos meus chefes. Elle riu-se
de mini. Chegado ao nivel 29, resolvi de
repente remontar ao nivel 28. A força desta
resolução era superior a mim. Mas apenas
eu começara a subir, as rochas se des¬
tacavam de todos os lados. Quando eu
voltei a mim era noite. Eu tinha sido
ferido na cabeça e ficara sem sentidos. Senti
então, pedras em torno de mim. Restava-me
um phosphoro. Hesitei por certo tempo ris-
cal-o, afinal decidi-me. Por uma sorte pro¬
videncial havia sobre uma saliência da ro¬
cha um velho bico de vela. Apercebi-me
que uma pequena trave tinha impedido a
rocha cahir sobre mim. Nossos homens -
sete indígenas — jaziam debaixo de gran¬
des pedras e agonisavam. Ai! impossível
de os soccorrer! Lembrei-me do meu so¬
nho, retomei coragem e sem hesitar, arran¬
quei as pedras, uma por uma. Trabalhei
muito tempo. Comecei a sentir-me suffoca-
do, quando percebi uma corrente de ar e
vi ao longe uma claridade. Pude escapar.
Enviou-se soccorros para salval-os, mas os
meus homens estavam mortos.
Foi bem o meu sonho que me salnou .»
Com ef feito, Hendrik-Johannes Olivier
tinha tido, durante o somno, a visão muito
característica da catastrophe. Elle recebeu o
aviso para precaver-se e chegando ao local
da mina reconstruiu o sonho, narrando-o a
um contra-mestre incrédulo.
E, de facto, este, um phenomeno es¬
pirita caracterisado, cujo phenomeno é co¬
nhecido pelo nome de sonho premonitorio.
UUI DONATIVO l)K I.IO tUI.IIOEK
O multimilionário J. M. Morgan deu,
á cidade de Washington, uma bibliotheca
que, em dollars, representa o valor de 150
milhões de francos. Esta doação foi feita
em lembrança do defunto seu pae J. M .
Morgan, e o doador declarou que assim
procedia para cumprir piedosamente, ordens
por elle recebidas, em uma mensagem pos-
thuma.
CF3 'FF,
ni CASO I VriCICKKK AXTK
O diário espirita Cubano « 1 1 0 Y » , pu¬
blicou o seguinte caso narrado pelo sr.
Rodolpho Eelice, de San Fernando de Apu¬
re (Venezuela), facto que diz o narrador ter
se dado comsigo proprio :
«Sahindo do Cinema com dois
amigos, de volta do hotel, caminhava pe-
<3> <S>
Revista Internacional do Espiritismo
las ruas solitárias. Os tres depararam, de
repente, á sua frente, uma mulher elegante,
a quem resolveram seguir.
Iam a passos largos, e um delles de¬
liberou não acompanhar mais, em seguida
o outro o mesmo resolveu. O sr. Felice
obstinou, entretanto, á pista da desconhe¬
cida, que cada vez mais tomava uma marcha
apressada. Assim sahidos dos quarteirões
centraes, enveredaram para os suburbios.
O sr. Felice dirigia palavras á mulher, que
não respondia nem mesmo lhe voltava o
rosto. Si elle a tivesse alcançado, tocar-lhe-
ia na mão ou no manto. Subitamente, em
plena luz de uma lampada elecirica que
illuminawa a rua, elle ficou aterrorisado ao
ver a imagem feminina desvanecer-se aos
seus olhos.
Olhou, e viu-se no portão do cemité¬
rio da cidade, e como um louco, correu
até o hotel, onde os seus amigos o espe¬
ravam.*
O VELHO E O SOVO ESPIRITISMO
O Espiritismo é tão velho como o
mundo. Em todas os tempos o Espiritismo
tem prendido a attenção dos homens pa¬
ra a Im mortalidade.
O velho Espiritismo é um conjuncto
de factos tão authenticos, como aquelles
que teem sido constatados ultimamente
pelos maiores sábios do mundo. Verdade
seja que todos esses factos tinham tomado
um caracter miraculoso, sobrenatural, que
as religiões e os religiosos lhe quizeram
emprestar mas que admiravelmente syste-
matisados pelo grande Missionário Allan
Kardec, se tornaram uma vereda aberta a
novas pesquizas em que o homem de bôa
vontade encontra o caminho da bôa orien¬
tação espiritual.
Catalogados os novos phenomenos
pelos ensinos que sabiamente deram á
Allan Kardec os Espíritos prepostos para
tão relevante Missão, e coodificados rnara-
vilhosameníe esses ensinos, como se de¬
para nas magistraes obras do Instituitor do
Espiritismo, desappareceram o milagre e o
mysterio, que tanto ensombravam os ho¬
mens na pesquiza da verdade.
Este exordio nos foi suggerido ao
deparar na Rovne Spirite uma memória de
M. Cassiopée, illustrado chronista desse
jornal, sobre um phenomeno digno de
menção, occorrido no anno de 1678.
Diz o distincto jornalista:
Não é de hoje que o nosso velho
occidente constata apparições e as guarda
em memória. Eutre todas as testemunhas
classificadas se ajunta agora, mais uma;
uma carta recentemente descoberta, ende¬
reçada a 11 de maio de 1678, por um certo
Reverendo Mr. Fowler a um Dr. Fienri
Moore :
— «Esta semana, disse elle Mr. Pear-
son, que é um eminente ministro do cul¬
to, na cidade de Londres, disse-me que o
avô de sua mulher, um homem de muita
piedade, e medico do nosso rei — seu no¬
me é Ferrar, e eu o julgo irmão do famoso
Mr. Ferrar de Littie Giddon — tinha feito
outFora um contracto com sua filha (a mãe
de Mme. Pearson, uma alma verdadeira¬
mente piedosa). Nos termos deste contrac¬
to, ficou resolvido que o primeiro dos dois
que morresse deveria, depois da morte,
apparecer, ao sobrevivente, si possível fos¬
se; a filha, com alguma difficuldade, termi¬
nou em consentir essa resolução. Pouco
depois, a filha, que vivia em Gillingham
Lodge, ha tres milhas de Salisburg, cahiu
doente e em seguinte a administração de
uma poção contendo veneno, morreu re¬
pentinamente. Seu pae vivia em Londres,
e na noite em que ella falleceu elle viu o
cortinado do seu leito aberto pela sua fi¬
lha. Ella encarou-o. Não havia noticias que
ella estivesse doente. Depois desta appari-
ção, elle disse confidencialmente á sua
criada, que sua filha de Gillingham Lodge
devia estar morta.
Dois dias depois, elle recebeu a noti¬
cia. E’ isto que elle contou, depois, á Mme.
Pearson, sua avó, a um tio e á criada. E
eu sei que Mme, Pearson é muito digna
senhora.»
l Ui Mctlliiiii do logo o
de etleiios pliysicos
«THE HARB1NGER OF L1GHT», de
Melbourne, deu conta de interessante* phe¬
nomenos, de que a imprensa húngara se
occupou, cujas narrativas foram reproduzi¬
das por diversos jornaes americanos do
norte e australianos. Trata-se de um meni¬
no de 14 annos, Jojann Farkas, conhecido
pelo nome = o menino diabolico — de¬
vido á mediumnidade que possúe. Julgam-
n'o um personagem sobrenatural. Onde
elle se acha produzem-se incêndios myste-
riosos, e diversos sábios, dentre estes,
geologos vindos de longe, teem sido tes¬
temunhos de maravilhosos phenomenos.
Elles têm se esforçado para descobrir ema¬
nações de gazes das casas onde está o
menino, mas nenhum phenomeno se pro¬
duz na ausência do rapaz. Quando as ma¬
nifestações se verificam o rapaz é victima
Revista Internacional do Espiritismo
29
de uma terrível dor de cabeça. Posto sob
a vigilância do controle, deu provas cabaes
de suas aptidões».
Um dia soffria o menino terrivelmente,
chegando a tomar uma cadeira para não
cahir ; e de repente, chammas incendiaram
o cortinado da cama e as cortinas da ja-
nella. Guardanapos saltavam da messa no
soio, e garrafas cahiam do buffet quebran¬
do-se.
Em outras occasiões, janellas e portas
foram arrancadas quando Fatkas delias se
approximava.
UM MEDIITM CLARIVIDENTE
O «City News», de Londres, com a
rubrica de Sir Basil Thomson, noticia as¬
sim a mediumuidade de um moço austríaco:
— «Quando eu era governador da
Mormwood Scrubbs Prison, havia um pri¬
sioneiro que lia admiravelmente os pensa¬
mentos. Para fazer uma experiencia, prepa¬
rei quatro pedaços de papel onde eu havia
escripto antes de collocar em enveloppes
separados, textos em francez, em inglez.
em italiano e em lingua «fidjiana» de que
me orgulho conhecer.
O capellão da prisão e eu fomos ao
cubículo do tal homem, que foi convidado
a lêr o conteúdo dos enveloppes.
Elle os tomou e os pôs um a um
sobre sua fronte Eu não podia distinguir
os conteúdos. Eile leu o francez e o inglez
com facilidade, como si as palavras esti¬
vessem escriptas na parede ás suas vistas.
Ao ler o italiano deteve se. Quanto ao
«fidjiano», declarou: «Não distingo clara¬
mente as palavras, mais isto quer, mas ou
menos dizer assim». Então soletrou o texto
da lingua antiga, fidmente, só com um
erro, a substituição dum n nor um u. Para
dizer a veidade, a minha escripta motivou
a confusão destas duas letras.
Acolhemos nesta secção as noticias
dos phenomenos que chegarem ao nosso
conhecimento, sendo, porém, necessário que
elles venham documentados, ou nos sejam
os seus relatos enviados por pessoas de
inteira confiança.
o- 30
Revista internacional do Espiritismo
Após tantos embaraços e difficulds-
des, apparece, afinal, a nossa Revista que,
obdecendo ás injimcções do Alto, nem cha¬
mar a attenção dos cultores do Espiritis¬
mo para uma série de phenomenos e de
estudos indispensáveis á bôa orientação
que todos devem tomar para o descorti-
nio da Immortalidade.
Ao encarregado desta secção compe¬
te constatar o movimento espirita que che¬
gar ao seu conhecimento e muito grato fi¬
cará aos confrades do Brasil e do Extran-
geiro que lhe transmittirem noticias de or-
ganisações e fundações de sociedades e de
outros factos que formem o conjuncto des¬
ta collaboração .
Congresso Internado*
na I «lo Espiritismo
Na reunião convocada pelo Comité
Executivo e Comité Geral da «Federação
Spirite International», com séde em Paris,
grande numero de nações foram represen¬
tadas, dentre as quaes a Allemanha, a In¬
glaterra, a Bélgica, a Suissa, a França, a
Hespanha, a Hollanda, a Republica Argen¬
tina, as Republicas da Guatemala. Cuba,
Porto Rico, etc. Importantes decisões fo¬
ram tomadas, havendo-se determinado o dia
õ de Setembro do corrente anuo, par? a
abertura do Congresso Internacional.
C«»ntribiiiç»es «te iutensiíieaçao Espirita
Na Hespanha, tres immoveis foram
postos á disposição dos espiritas Um em
Alicante, offerecido pelo sr. Primitivo Fa¬
jardo ; outro em Sabadeli, ao Centro dos
estudos PsychoDgicos ; o terceiro em Bar¬
celona, Instituto Balbé, aos cuidados de
Mme. Maria Sabaté.
O Espirif ism<» na Italia
O movimento espirita na Italia se pro¬
paga com animação. Ao lado dos trabalha¬
dores de Génova, de Nápoles, fundam-se
outros centros de estudos, assim como
jornaes e revistas, tal como «Sinai», cujos
esrriptorios se acham ioealisados em Tries-
te. «Luce e Ombra», de Roma, promette
augmentai o numero de suas paginas e fa¬
zei sahir a sua re vista mensalmente com
48 paginas.
O Es|, iriíismo na
DINAMARCA E NA SUÉCIA
A imprensa inteira da Suécia e da Di¬
namarca trata com particular interesse as
questões metapsychicas, consideiadas sob
o ponto de vista scientifico e religioso. Em
Odense (Dinamarca) existe uma bôa socie¬
dade que funcciona num grande prédio
proprio. Na cidade de Aarling, como a de
Esberg existem muitos centros em activi-
dade.
O Espirií ism«> nas Imitiu*
Ao contrario do que se affirma que a
luz vem das índias, agora é que ella come¬
çou a fazer lá os seus proselytos, devido ao
zelo propagandista do illustrado espirita sr.
Rishi. Este distincto confrade recruta dia¬
riamente adherentes para Revelação nova,
fazendo conferencias populares, nas quaes
annuncia as consoladoras esperanças da
Doutrina Kardecista.
- Uma nova revista psychica acaba
de apparecer em idioma Indostanico, sendo
editado em Natalm.
— Uma associação fundada nesta ul¬
tima cidade, mantém activos corresponden¬
tes em Calcutá, Bombay, Mandelay, Ran-
goon, etc.
— Em Armam annuncia-se o appare-
cimento de uma revista - « Viet Nam Thanh
Nien Tap Chi » (ElanoT.)
A Divulgação Espirita «-ui Cuba
— Em Cuba o Espiritismo triumphante
jà venceu todos os obstáculos. Entre ou¬
tras publicações de valor se salienta o dia-
rio espirita Hoy , — cuja acção comba¬
tiva lhe permitte obter victoria sobre vicío-
ria.
Existe na ilha mais de mil socie¬
dades espiritas, perfazendo um total de
70.000 membros.
Revista Internacional do Espiritismo
<3> 31
- Uma das mais recentes revistis,
das que se publicam em Cuba, lembramo-
nos da que tem por titulo — Labor emns -
(Trabalhemos) .
— Segundo refere « Hoy », nenhuma
pessoa lá se envergonha em declarar- se es¬
pirita
A AtheiiiiK «los IMiilosoftlio*
Em Athenas foi fundada a Sociedade
HHIenica de Pesquizas Psychicas, cipos pri¬
meiros trabalhos versaram sobre a «Premo¬
nição e os Sonhos Premonitorios».
Movíiikiiío E.*>|ilrila na <àraii-ltretanlia
— O movimento espirita na Gran-
Bretanha é admiravel.
— Grandes sociedades perseveram in¬
fatigavelmente nos mais variados trabalhos
psyciiicos, e no estudo de todas as cate¬
gorias de phenomenos : a photographia es¬
pirita fornece constantemente provas irre-
fragaveis da immortalidade, tendo por au¬
xiliares os mediums Hope, Buxton, Dea-
ne e outros. O phenomeno de «Vozes Di¬
rectas» é demonstrado, não sómente a
uma aggremiação privada, mas deante de
'2Õ0 pessoas reunidas num «hall londonien».
A litteratura se enriquece com obras novas,
como a traducção de «Joanna D’Arc», de
Léon Dénis, por Sir Conan Doyle, etc Ho-
race Leaf publicou as Relações de viagem
dos mediums inglezes. No Hyde Park, de
Londres, os espiritas effectuam sessões de
vidência.
Eis|iiri(i.«>iiio na America do Xorle
Na chronica espirita mundial de julho
ultimo, assignala a adhesão da «National
Independent Spiritualist Association », que
()ossúe na America um grande numero de
templos, lyceus, escolas, prédios, círculos de
estudos, de demonstração experimental, bi-
bliothecas, etc., e constitúe actualmente a
liga dos jovens espiritas, cujo numero vae
crescendo todos os dias. No ultimo Con¬
gresso, a «National Association» resolveu
filiar-se á «Federation Spiiite Internationa!»,
com séde em Paris, para cerrai fileiras com
os seus irmãos do mundo inteiro, no Con¬
gresso Internacional, em preparativos.
— A direcção do jornal « Scientific
American» está fazendo sessões com uma
pessoa de Boston, de quem a imprensa
americana faz óptimas referencias de mé¬
dium nidade prodigiosa.
— Foi fundado em New York o
«Spiritual Science I n s ti t u te».
.Movimento E^jiirila France*
Tanto quanto nos outros paizes do
mundo, o portentoso sol do Espiritismo se
ergue illuminando os horizontes amplos
que. sem a sua bemfaseja claridade, a hu¬
manidade não poderia conhecer.
— «Federation Spirite International»
trabalha activameníe, mantendo correspon¬
dência continua com as associações fede¬
radas.
— A «Union Spirite Française» sys-
tematisou os seus trabalhos, de modo a
obter pleno successo, publicando o «Bul-
letin» mensal sob a direcção do Snr. Jéan
Meyer.
- Em Toulouse, Douai, Nunes, Dun-
kerque, Bordeaux, Saint-Etienne, Mans, Al-
ger, Rochefort, Lion, Roubaix, como em
Paris, augmenta consideravelmente o mo¬
vimento de propaganda, são creados novos
centros e apparecem novos jornaes. A im¬
prensa franceza aborda, com interesse, as
questões espiritas, tornando assim, os seus
leitores scientes dos factos que se apre¬
sentam, como testemunhos vivos da Vida
Eterna.
KsiiiritiNino na Argentina
A « Cosiancia », excellente socieda¬
de, sob a direcção da Dr. Cosme Marino,
e que já conta 67 annos de existência, pro-
segue com as suas conferencias elucidati¬
vas e doutrinarias. A revista semanal do
mesmo nome publica interessantes artigos
de fonte espirita.
Sessões experimentaes são realizadas
mensalmente.
KM|)iriti.*«iiio ii4» Itrasil
Estamos certo que o Espiritismo fará
renascer no nosso paiz, uma nova éra de
paz e de progresso espirita, iniciando-se
esta nova phase, para o povo brasileiro, no
corrente anuo.
Por toda a parte se intensifica o mo¬
vimento de propaganda, erguem-se novas
aggremiações e a imprensa vae tomando
uma feição liberal, tal é a maneira suasiva
porque o Espiritismo se vae impondo.
Aggremiações como a Federação Es¬
pirita Brasileira, a União Espirita Suburba¬
na, do Rio, trabalham incessantemente pela
divulgação do Ideal. Jornaes e revistas, co-
32
Revista internacional do Espiritismo
mo o Reformador, a Aurora, o Jornal Es¬
pirita, a Seara, o Clarim e outros tantos,
levam por toda a parte a semente produc-
tora da Religião Cluistã que, em seu ad¬
mirável complemento exalta a Caridade que
aperfeiçoa e a Fé que salva.
A seu turno, uma pleiade de denoda¬
dos propagandistas se encarregam da pa-
vra oral, salientando a excelsa philosophia,
cujos dictados coordenados por Allan Kar-
dec, nada deixam a desejar aos que têm
fome e sêde de justiça, e querem conhe¬
cer o porque da vida e a bússola que de¬
verá orientai-os para a posse dos seus des¬
tinos immortaes.
Pensar e Sentir
E' mais difficil fazer os homens pen¬
sar do que sentir; quando não puderdes
attrail-os pelo raciocínio, tocai seus cora¬
ções pelo sentimento.
0 Juízo Preconcebido
Nós estamos tão longe de conhecer
os agentes da natureza e seus diversos me¬
dos de acção, que seria pouco philosophi-
co negar a existência dos phenomenos, uni¬
camente porque elles são inexplicáveis no
estado actual dos nossos conhecimentos.
Laplance
AS ALMAS virtuosas
A alma virtuosa que tem a paixão do
Bem e do Bello, do Grande — e que tem
a summa posse da harmonia, produzirá
obras primas, capazes de impressionarem
as mais remissas e commovel-as.
^.ossirki
Condemnação Insciente
Condemnar resolutamente uma cousa
por falsa e impossível é se arrogar com a
gloria de estar de posse das fronteiras e
limites da vontade de Deus e do poder da
nossa mãe natureza; e não ha signal de
mais notável loucura no mundo do que os
encarar na medida da nossa capacidade e
sufficiencia.
MONTAIGNE
Os homens mais felizes
Felizes aquelles cujo preparo foi bem
começado aqui em baixo, porque assim
como elles têm sido auxiliados neste mundo
por forças do outro lado, do mesmo modo
serão mais promptamente ajudados, quando
passarem a grande fronteira ; tornar-se-ão
tão ageis como os «anjos», os mensageiros
de Deus, no Mundo Espiritual, e deslisarão
em radiosos caminhos.
Rev. A. F. Webling
O Espiritismo e a Sciencia
O Espiritismo é a sciencia das scien-
cias, cujo estudo fornece conhecimentos,
não só sobre o homem espiritual, mas tam¬
bém sobre o homem corporeo ; e ensina¬
mentos de ordem moral e de ordem in-
tellectual.
Dr. Pinheiro Giudes
U/A BELLO PENSAMENTO
O amor a Deus, o culto do bem e o
habito do trabalho, faz a pessoa honesta e
santa, compassiva e resignada, bôa e hu¬
milde; emquanto que a riqueza argentaria
deixa muitas vezes, quasi sempre, fundos
rastos sangrentcs de perversão e maldade
nos seus favoritos.
Eça de Queii os
Os Verdadeiros Amigos
Os verdadeiros amigos estão presentes
mesmo quando não os temos ao pé de
nós; mesmo quando pobres, são ricos;
mesmo quando fracos, gozam saúde; e o
que é mais difficil de affirmar, mesmos
mortos continham a viver.
CÍCERO
Um conselho do Além
Viajor em marcha pela Estrada do
Infinito, que as tuas vistas se voltem sem¬
pre para frente e celere sejam os teus pas¬
sos para galgardes o cume da montanha,
donde tudo te apparecerá sob um outro
prisma, bem differente do que agora vês!
Procura a Estrada da Vida e não te
detenhas paralysado com os accidentes da
jornada; caminha sempre com passo firme,
estudando as sinuosidades do terreno e com
o espirito prompto para afrontar todos os
revezes da viagem.
,
Revista Internacional
do Espiritismo
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municação com as principaes revistas européas, em vista
do que, além dos artigos de íundo dos seus collaborado¬
res, publica os relatos, dos jornaes de além mar, dá conta
das conferencias, dos congressos, e na sua Chronica Ex-
trangeira e E’cos e Noticias, deixa os leitores ao par de
todos os factos e novidades Anímicas e Espiritas occor-
ridas no mundo inteiro. A revista apparece regularmente
a 15 de cada rnez, com 32 a 40 paginas de accordo com
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