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Full text of "Gênero: uma categoria útil de análise histórica"

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SCOTT, Joan Wallach. "Genero: 
uma categoria util de analise 
historica". Educagdo & Realidade. 
Porto Alegre, vol. 20, n° 
jul./dez. 1995, pp. 71-99. 

Revisao de Tomaz Tadeu da Silva a partir do 
original ingles (SCOTT, J. W.. Gender and the 
Politics of History. New York: Columbia 
University Press, 1988. PP. 28-50.), de artigo 
originalmente publicado em: Educagdo & 
Realidade, vol. 15, n° 2, jul./dez. 1990. Tradufao 
da versao francesa {Les Cahiers du Grif, n° 37/38. 
Paris: Editions Tierce, 1988.) por Guacira Lopes 



Louro. 



Primeira versao americana: 



SCOTT, J. W.. "Gender: A Useful Category 
of Historical Analysis". The American 
Historical Review, vol. 91, n° 5. (Dec, 
1986), pp. 1053-1075. 

Original ingles disponivel em JSTOR: 

< http://www.jstor. orgl stable II 86437 6 > 

Versao portuguesa disponivel em: 

httpillwww. archive, orgl details I scott gender 



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GENERO 



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UMA CATEGORIA UTIL DE 



F 





Joan Scott 






"Genero (gender), s. t apenas urn ternxo gramaticai Seu uso parafalar de 
pessoas ou criaturas do genero masculino oufeminino, com o significado de 
sexo masculino ou feminino, constitui uma brincadeira (permissivet ou nao, 
dependendo do contexto) ou urn equivoco" (Fowler, Dictionnary of Modern 
English Usage, Oxford 1940). 



Aquelas pessoas que se propoem a codificar os sentidos das palavras lutam 



por uma causa perdida, porque as palavras, como as ideias e as coisas que elas 
pretendem significar, tern uma historia. Nem os professores de Oxford nem a 
Academia francesa tern sido plenamente capazes de represar, de aprisionar e 
o significado, de uma forma que seja independente do jogo da inven£ao e 
da imagina?ao humanas. Mary Wortley Montagu juntou mordacidade a sua 
irfinica denuncia do "belo sexo" ("meu unico consolo de pertencer a este gfinero 




presente artigo constitui uma versio consideravelmente revisada (com consulta ao 
original em ingles) daquele publicado em Educagao & Realidade, v. 15, n.2, julidez. 
1990, traduzido da versao em frances. 



tern sido a certeza de nunca ter sido casada com uma delas"), ao fazer urn uso 
deliberadamente erroneo da referenda gramatical. 1 Atraves dos seculos, as 
pessoas utilizaram de modo figurado os termos gramaticais para evocar os tracos 
de carater ou os tracos sexuais. Por exemplo, a utilizagao proposta pelo Dicti- 
on nai re de la langue frangaise de 1876, e: "On ne sait de quel genre il est, s'il 
est male ou femelle, se dit d'un homme tres cache, dont on ne connait pas les 
sentiments." (Nao se sabe de que genero ele e, se ele e macho ou femea, diz-se 
de um homem muito dissimulado, do qual nao se conhecem os sentimentos) 2 E 
Gladstone fazia esta distincao em 1878: "Atenas nao tinha nada do sexo alem 
do genero, nada da mulfaer alem da forma". 3 Mais recentemente — demasiado 
recente para que pudesse entrar nos dicionarios ou na Encyclopedia of Social 
Sciences — as feministas comecaram a utilizar a palavra "genero" mais seria- 
mente, num sentido mais literal, como uma maneira de se referir a organizacao 
social da relacao entre os sexos. A referenda a gramatica e ao mesmo tempo 
explfcita e plena de possibilidades nao-examinadas. 

Explfcita, porque o uso gramatical envolve regras formais que resultam da 
atribuicao do masculino ou do feminino; plena de possibilidades nao-examinadas, 






porque em muitas linguas indo-europeias ha uma terceira categoria — o sem 
sexo ou o neutro. Na gramatica, o genero e compreendido como uma forma J ~ 




classificar fenomenos, um sistema socialmente consensual de distingdes e nao 



uma descricao objeti va de tracos inerentes. Alem disso, as classificacoes sugerem 



uma relacao entre categorias que torna possfveis distincoes ou agrupamentos 
separados. 

Na sua utilizacjlo mais recente, o termo "genero" parece ter feito sua apari9ao 
inicial entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o carter 
fundamentalmente social das distincoes baseadas no sexo. A palavra indicava 
uma rejeigao do determinismo biologico implfcito no uso de termos como "sexo 
ou "diferenca sexual". O termo "genero" enfatizava igualmente o aspecto rela 
cional das definicoes normati vas da feminilidade. Aquelas que estavam pre 



f$ 



•:•! 



padas pelo fato de que a produ^ao de estudos sobre mulheres se centrava nas 






mulheres de maneira demasiado estreita e separada utilizaram o termo "genero" 
para introduzir uma nocao relacional em nosso vocabulario analftico. Segundo 
esta visao, as mulheres e os homens eram definidos em termos recfprocos e nao 
se poderia compreender qualqur um dos sexos por meio de um estudo inteira- 
mente separado. Assim, Natalie Davis afirmava, em 1975: "Penso que deverfa- 
mos nos interessar pela historia tanto dos homens como das mulheres, e que nao 
deverfamos tratar somente do sexo sujeitado, assim como um historiador de 
classe nao pode fixar seu olhar apenas sobre os camponeses. Nosso objetivo &. 



compreender a importancia dos sexos, isto e, dos grupos de genero no passado 







Nosso objetivo e descobrir o leque de papeis e de simbolismos sexuais 
nas diferentes sociedades e perfodos, e encontrar qual era o seu sentido e como 
eles funcionavam para manter a ordem social ou para muda-la". 4 



72 



urn 



sustentavam 



fimdamentalmente os paradigmas disciplines. As pesquisadoras feministas assi- 
nalaram desde o inicio amp n *ctnHr» Hoc m.,!^™,, ~* * s * 




reexame 



estamos 



creviam 



lica necessariamente a redefmi^ao e o alargamento 
aquilo que e historicamente importante, para incluir ta 
subjetiva quanto as atividades nublicas e nnUt\r»* 



uma 




i,i. F i.^a »au aunicnic uma nova mstona de mulheres mas tambem uma nova 
historia". 5 A maneira pela qual esta nova historia iria, por sua vez, incluir a 
expenencia das mulheres e dela dar conta dependia da medida na qual o genero 
podia ser desenvolvido como uma categoria de analise. Aqui as analogias com 
a classe e com a raga eram explfcitas; de fato as pesquisadoras 

tinham uma visao politica mais global, invocavam regularmente a _ 

como cruciais para a escrita de uma nova historia. 6 O interesse pelas categories 
de classe, de raga e de genero assinalava, em primeiro lugar, o envolvimento do/ 
a pesquisador/a com uma historia que incluia as narrativas dos/as oprimidos/as 
e uma analise do sentido e da natureza de sua opressao e, em segundo lugar, 
uma compreensao de que as desigualdades de poder estao organizadas ao longo 
de, no minimo, tres eixos. 



A litania "classe, raga e genero" sugere uma paridade entre os tr6s termos 
mas, na verdade, eles nao tern urn estatuto equivalents Enquanto a categoria 
"classe" tem seu fundamento na elaborada teoria de Marx (e seus desenvolvi- 
mentos ulteriores) sobre a determinagao economica e a mudanga histdrica, "raga" 



carregam associagoes semelhantes. E verdade que nao existe 
lidade entre aqueles/as que utilizam o conceito de class*. Aloimc/ 



utilizam 




trabalhamos 



mvocamos 



marxismo, implicam uma ideia de causalidade economica e uma visao do cami- 
nho ao longo do qual a historia avangou dialeticamente. Nao existe nenhuma 
clareza ou coerSncia desse tino nara a r.ntt>onna h^ n^ rt ,. «* M o a* „*-™~ xt„ 




quanto de simples referencias descritivas as relagoes entre os sexos. 

Os/as historiadores/as feministas que, como a maioria dos/as historiadores/ 
as sao treinados/as para estarem mais a vontade com a descrigao do que com a 
teoria, tern, entretanto, procurado, cada vez mais, encontrar formulag5es tedricas 
utihzaveis. Eles/elas t§m feito isto ao menos por duas razoes. Em primeiro lugar, 
Porque a proliferacao de estudos de caso, na historia das mulheres, parece exigir 



uma perspectiva sintetica que possa explicar as continuidades e descontinuidades 
e dar conta das persistentes desigualdades, assim como de experiences sociais 
radicalmente diferentes, Em segundo lugar, porque a discrepancia entre a alia 
qualidade dos trabaihos recentes de histdria das mulheres e seu status marginal 
em relagao ao conjunto da disciplina (que pode ser avaliado pelos manuais, 



programas universitarios e monografias) mosiram os limites de abordagens 

que nao questionam os conceitos disciplinares dominantes ou, ao 




menos, que nao problematizam esses conceitos de mode a abalar seu poder e, 
talvez, a transforma-los. Para os/as historiadores/as das mulheres, nao tern sido 
suficiente provar que as mulheres tiveram uma hist6ria, ou que as mulheres 
participaram das principals revoltaS polfticas da civilizacao ocidental. A reacao 
da maioria dos/as historiadores/as nao feministas foi o reconhecimento da historia 



das mulheres e, em seguida, seu confmamento ou relega<jao a um domfnio sepa- 
rado ("as mulheres tiveram uma historia scparada da dos homens, em conse- 
qiiencia deixemos as feministas fazer a historia das mulheres que nao nos diz 
respeito"; ou "a historia das mulheres diz respeito ao sexo e a famflia e deve ser 
feita separadamente da histdria politica e economica '). No que se refere a par- 
ticipa§ao das mulheres na historia, a rea?ao foi, na melhor das hip6teses, um 
interesse mfnimo ("minha compreensao da Revolucao Francesa nao muda por 
saber que as mulheres dela participaram"). O desaflo colocado por essas rea^oes 
e, em ultima analise, um desafio teorico. Isso exige uma analise nao apenas da 
rela^ao entre a experiencia masculina e a experiencia feminina no passado, mas 
tambem da conexao entre a historia passada e a pratica historica presentes. Como 
o genero funciona nas rela^oes sociais humanas? Como o genero da sentido a 



organiza^ao e a percep^ao do conhecimento historico? As respostas a essas 
questoes dependem de uma discussao do genero como categoria analitica. 

i 












Na sua maioria, as tentativas dos/as historiadores/as para leorizar o genero 
permaneceram presas aos quadros de referenda tradicionais das ciencias sociais, 
utilizando formuIa95es ha muito estabelecidas e baseadas em explica^oes causais 
universais. Estas teorias tiveram, no melhor dos casos, um carater limitado, 
porque elas tern tendencia a incluir generalizacoes redutivas ou demasiadamente 
simples, que se opoem nao apenas a compreensao que a historia como disciplina 
tern sobre a complexidade do processo de causa?ao social, mas tambem aos 



• 



compromissos feministas com analises que levem a mudan9a. Um exame critico 

destas teorias expora seus limites e permitira propor uma abordagem alternati va. 

As abordagens utilizadas pela maioria dos/as historiadores/as se dividem 

em duas categorias distintas. A primeira e essencialmente descritiva; quer dizer, 



ela se refere a existencia de fendmenos ou de realidades, sem interpretar, explicar 



74 



ou atribuir uma causalidade. O segundo uso € de ordem causal e teoriza sobre a 
natureza dos fenomenos e das realidades, buscando compreender como e porque 
eles tomam as formas que tern. 



recente 



tinham como tema a historia das 



substi uiram, nos ultimos anos, nos seus tftulos o termo "mulheres" por "genero" 

bm aleunS Casrw mpcmn mt« ^«„ ..*ji: ~ «. ° 



Em alguns casos, mesmo que essa utilizacao se refira vagamente a certos 
conce.tos analft.cos, cla visa, de fato, obter o reconhecimento polftico deste 
campo de pesquisas. Nessas circunstancias, o uso do termo "genero" visa sueerir 
a erud.cao e a seriedade de urn trabalho , pois "genero" tern uma conotacao 
ma.s objehva e neutra do que "mulheres" "Genero" parece se ajustar a termi- 
nology cientifica das ciencias socials, dissociando-se, assim, da polftica (su- 



pos tamente ru.dosa) do feminismo. Nessa utilizacao, o termo "genero" nao 
.mphca necessanamente uma tomada de posicao sobre a desiguaJdade ou o 
poder, nem tampouco designa a parte lesada (e ate" hoie invU.'v.n c ,„.„ ~ 



ermo h.stona das mulheres" proclama sua posicao polftica ao afirmar 
(contranamente as praticas habituais) que as mulheres sao sujeitos historicos 
vahdos, o termo genero" inclui as mulheres, sem Ihes nomear, e parece, assim 
nao constituir uma forte ameaca. Esse uso do termo "genero" constitui urn dos 
aspectos daquilo que se poderia chamar de busca de legitimidade academica 
para os estudos feministas, nos anos 80. 



e e apenas um aspe< 
mulheres, 6 tambem 



sobre as mulheres 6 necessariamente informacao sobre os homens, que um 
-mphca o estudo do outro. Essa utilizacao enfatiza o fato de que o mundo das 
mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele e criado nesse e por esse 
mundo masculine. Esse uso rejeita a validade interpretativa da id^ia de esferas 



perpetua 



mito de que uma esfera, a experiencia de um sexo, tenha muito pouco ou nada a 
ver com o outro sexo. Alem disso, o termo "gSnero" tambem e utilizado para 



i . ' o— *■*-« " luiiiuvui v uim/,(iLiu para 

Z*™£ SSl ^! ^ ° S — SCU US0 <*«* exphcuamente 



encontram 



para d.vessas ; formas de subordinate feminina, nos fatos de que as mulheres 

unrrinTn T ^ * * ' * qUe ° S h ° menS tem uma for ?* macular 



superor. Em vez d.sso, o termo "genero" torna-se uma forma de indicar 



constnjeoes culturais" - a criacao inteiramente social de idelas sobre os papeis 
adequados aos homens e as mulheres. Trata-se de uma forma de se refcriris 



usivamente 



neres. Genero e segundo esta definicao, uma categoria social imposta sobre ' 
um corpo sexuado.' Com a proliferacao dos estudos sobre sexo e sexualidade 

genero tomou-se uma palavra particularmente util, pois oferece um meio de 
aistinguir a pratica sexual dos papeis sexuais atribufdos as mulheres e aos homens 



75 



Ainda que os/as pesquisadores/as reconhecam a conexao entre sexo e aquilo 
que os/as sociologos/as da familia chamaram de "papeis sexuais", esses/as 
pesquisadores/as nao postulam um vinculo simples ou direto entre os dois. O 

um sistema de relacoes que pode incluir o sexo, 





uso de "genero 

mas nao e diretamente determinado pelo sexo, nem 



_ 



• 





a 




• 



Esses usos descritivos do termo "genero" foram empregados pelos/as his- 
toriadores/as, na maioria dos casos, para delimitar um novo terreno. A medida 

os de 



que os/as historiadores/as sociais se voltavam para novos oDjetos ae estuao, o 
genero tornava relevante temas tais como mulheres, criancas, famflias e 
ideologias de genero. Em outras palavras, esse uso de "genero" refere-se apenas 
aquelas areas, tanto estruturais quanto ideologicas, que envolvem as relacoes 
entre os sexos. Uma vez que, aparentemente, a guerra, a 




omacia e 





itica nao tern a ver e 





com essas 




coes, o genero parece nao 
se aplicar a estes objetos, continuando, assim, a ser irrelevante para o pensamento 
dos/as historiadores/as preocupados/as com questoes de politica e poder. Isto 
tern como efeito a adesao a uma certa visao funcionalista, fundamentada, em 





, na 




ia e na 




as na 



essas relacoes sao construidas como sao, nao diz como 





escrita da historia (sexualidade ou politica, familia ou nacao, mulheres ou ho- 
mens), Ainda que, nessa utilizacao, o termo "genero" sublinhe o fato de que as 
relacoes entre os sexos sao sociais, ele nada diz sobre as razoes pelas quais 

ou como 

elas mudam. No seu uso descritivo, o termo "genero" e, entao, um conceito 
associado ao estudo de coisas relativas as mulheres. "Genero" e um novo tema, 
um novo dominio da pesquisa historica, mas nao tern poder analftico suficiente 
para questionar (e rnudar) os paradigmas historicos existentes. 

Alguns/mas historiadores/as estavam, certamente, conscientes deste pro- 
blema; dai os esforcos para empregar teorias que pudessem explicar o conceito 

■ 

de genero e dar conta da mudanca historica. De fato, o desafio consistia em 
reconciliar a teoria, que estava concebida em termos universais e gerais, com a 




historia, que estava comprometida com o estudo da es 
da mudanca fundamental. O resultado foi muito ecletico: emprestimos parciais 
que enfraquecem o poder analftico de uma teoria particular ou, pior, que empre- 
gam seus preceitos sem ter consciencia de suas implicacoes; ou tentativas para 
dar conta da mudanca que, por terem como inspiracao teorias universais, apenas 
ilustram temas invariantes; ou, ainda, estudos extremamente imaginativos, nos 
quais a teoria esta, entretanto, tao escondida que esses estudos nao podem servir 
de modelos para outras pesquisas. Uma vez que, com freqiiencia, nao se tern 
xplicitado todas as implicacoes das teorias nas quais os/as historiadores/as 



£* 



tem-se inspirado, vale a pena dedicar-lhes aqui um pouco de tempo. Somente 
atraves deste exercicio, pode-se avaliar a utilidade dessas teorias e, talvez, 
comecar a formular uma abordagem teorica mais potente. 



76 






Os/as historiadores/as feministas tern empregado uma variedade de aboif 



dagens na anSlise do genero, mas essas podem 

teoricas. A primeira, uma tentativa inteiramente feminista, empenha-se em 

explicar as origens do patriarcado 

marxista e busca um compromiss 



mentalmente dividida entre o pos-estruturalismo francos e as teorias anglo- 
americanas de reIa?ao do objeto (object-relation theories), se inspira nessas 
diferentes escolas de psicanalise para explicar a produsao e a reprodu^ao da 
identidade de genero do sujeito. 

As teoricas do patriarcado tSm dirigido sua aten^ao h subordina?ao das 
mulheres e encontrado aexplica^ao dessa subordina^o na "necessidade" mas- 
culina de dominar as mulheres. Na engenhosa adapta$ao que Mary O'Brien fez 
de Hegel, ela definiu a domina^ao masculina como o efeito do desejo dos homens 
de transcender sua aliena^So dos meios de reprodu^ao da especie. O princfpio 
da continuidade geracional restaura a primazia da paternidade e obscurece o 
trabalho real e a realidade social do esforijo das mulheres no ato de dar a luz. A 
fonte da liberta^ao das mulheres reside numa "compreensao adequada do pro- 
cesso de reprod^ao", numa avaliasao das contradi9oes entre a natureza do 
trabalho reprodutivo das mulheres e a mistifica^ao ideologica (masculina) deste. 9 
Para Sulamith Firestone, a reprodu^ao tambem era uma "amarga armadilha" 
para as mulheres. No entanto, na sua analise mais materialista, a liberta9ao viria 
das transforma96es na tecnologia da reprodu9§o que poderiam, num futuro nao 
demasiadamente longinquo, eliminar a necessidade dos corpos femininos como 
agentes da reprodu9ao da especie. 10 

Se a reprodu9§o era a chave do patriarcado para algumas, para outras a 
resposta se encontrava na propria sexualidade. As fortes formula9des de Cathe- 
rine MacKinnon sao-lhe nao apenas caracteristicamente proprias, mas tambem 
representativas de uma certa abordagem: "A sexualidade esta para o feminismo 
assim como o trabalho esta para o marxismo: e aquilo que mais nos pertence e 
o que todavia nos e mais subtraido". "A objetifica9ao sexual € o processo primario 
de sujei9ao das mulheres. Ela liga o ato com a palavra, a constru9ao com a 
expressao, a percep^ao com a efetiva9ao, o mito com a realidade. O hbmem 
fode a mulher; sujeito verbo objeto". " Continuando sua analogia com Marx, 
MacKinnon propoe como m&odo de analise feminista nao o materialismo 

parti lhada 

de objetifica9ao, sustentava ela, as mulheres sao levadas a compreender sua 
identidade comum e sao conduzidas k aqao politica. Na analise de MacKinnon, 
ainda que as redoes sexuais sejam definidas como sociais, nao hd nada — 
salvo a desigualdade inerente k rela9ao em si mesma — que possa explicar 
porque o sistema de poder funciona assim. A fonte das rela95es desiguais entre 



os sexos esta, no fim das contas, nas redoes desiguais entre os sexos. Apesar 
de afirmar que a desigualdade, tendo suas origens na sexualidade, est£ corporis 



77 



ficada em "todo um sistema de redoes sociais", ela nao explica como este 

sistema funciona. 12 

As teoricas do palriarcado questionaram a desigualdade entre os homens e 



* , 4 # ■ 



as mulheres de importantes maneiras mas, para os/as histonadores/as, suas teonas 
apresentam problemas. Em primeiro lugar, embora proponham uma andlise 
interna ao proprio sistema de genero, elas tambem afirmam a primazia deste 
sistema na organizagao social considerada em seu conjunto. Mas as teorias do 
patriarcado nao mostram o que a desigualdade de genero tern a ver com as 



outras desigualdades. Em segundo lugar, a analise continua baseada na diferenga 
fisica, quer a dominagao tome a forma da apropriagao do trabalho reprodutivo 
da mulher pelo homem quer tome a forma da objetificagao sexual das mulheres 
pelos homens. Qualquer diferenga fisica assume um carater universal e imutavel, 
mesmo quando as tedricas do patriarcado levam em consideragao a existencia 



de mutacoes nas formas e nos sistemas de desigualdades de genero. 13 Uma teoria 
que se baseia na variavel unica da diferenca fisica e problematica para os/as 
historiadores/as: ela pressupoe um significado permanente ou inerente para o 
corpo humano — fora de uma construgao social ou cultural — e, em conse- 
qiiencia, a a-historicidade do proprio genero. Num certo sentido, a historia torna- 



se um epifenomeno, fornecendo varia9oes intermindveis para o mesmo tema 
imutavel de uma desigualdade de genero vista como fixa. 

As/os feministas marxistas tern uma abordagem mais historica, ja que elas/ 
eles sao guiadas/os por uma teoria da historia. Mas, sejam quais forem as 
variagoes e adaptagoes, a exigencia auto-imposta de que haja uma explicagao 



**— *^*— —1^1** 




• * 




para o genero tern hmitado ou, ao menos, retardado o 
de novas linhas de analise. Tanto no caso em que se propoe uma solugao baseada 
no conceito de sistemas duais (que afirma a existencia dos dominios separados, 
mas em interagao, do capitalismo e do patriarcado), quanto no caso de uma 
ise baseada mais firmemente em discussoes marxistas ortodoxas sobre os 




modos de produgao, a explicagao das origens e das transformagoes dos sistemas 
de genero encontra-se fora da divisao sexual do trabalho. Famflias, lares e 
sexualidades sao t no fim das contas, todos, produtos de modos cambiantes de 
produgao. E assim que Engels conclufa suas exploragoes sobre A Origem da 
Familial e ai que repousam, em ultima inst§ncia, as analises da economista 
Heidi Hartmann. Hartmann enfatiza a necessidade de considerar o patriarcado e 
o capitalismo como dois sistemas separados, mas em interagao. Mas a medida 
em que ela desenvolve sua argumentagao, a causalidade economica torna-se 




pnontana e o patnarcado esta sempre se desenvolvendo e mudando em 
das relagoes de produgao. 15 

Os primeiros debates entre as/os feministas marxistas giraram em torno dos 
mesmos problemas: a rejeigao do essencialismo daquelas/es que sustentavam 
que "as exigencias da reprodugao biologica" determinam a divisao sexual do 

sob o capitalismo; a futilidade de se inserir "modos de reprodugao" nas 




78 



discussdes sobre os modos de produgao (a reprodu^ao permanece uma categoria 
de oposi?ao e nao tern urn status equivalente ao do modo de producao); o reco- 



determinam 



as redoes de genero e que, de fato, a subordina?ao das mulheres 6 anterior ao 
capitalismo e continua sob o socialismo; a busca, apesar de tudo, de uma expli- 
ea?ao materialista que exclua as diferensas ffsicas naturais. 16 Uma tentativa 
importante de sairdeste cfrculo de problemas veio de Joan Kelly, em seu ensaio 



Theory 



sociais e 




;iam para 



iciiijuin uus uois era causal, mas que os aois operam 
simultaneamente para reproduzir as estruturas socio-economicas e as estruturas 

de uma ordem social particular". A ideia de Kelly de 
e os sistemas de genero teriam uma existencia independente constituiu uma 





permanecer 



quadro marxista levou-a a enfatizar o papel causal dos fatores economicos 

determina^o do sistema de genero: "a rela?ao entre os sexos 



opera de acordo com (e atraves das ) estruturas socio-economicas e tambem de 
acordo com as estruturas de sexo-genero". n Kelly introduziu a ideia de uma 
"realidade social sexualmente baseada" mas ela tendia a enfatizar o career so- 
cial mais do que sexual desta realidade e, frequentemente, o "social", em sua 
utiliza9ao, era concebido em termos de relates economicas de producao. 

A andlise da sexualidade que foi mais longe, entre as feministas marxistas 
americanas, encontra-se em Powers of Desire, urn volume de ensaios publicado 
em 1983. 18 Influenciadas pela crescente atengao dada k sexualidade entre ativistas 
polfticos/as e pesquisadores/as, pela insistencia do filosofo frances Michel Fou- 
cault de que a sexualidade e produzida em contextos historicos, pela convicsao 
de que a "revolugao sexual" contempcranea exigia uma analise seria, as autoras 
centraram suas interroga?oes na "polftica sexual". Assim fazendo, elas colocaram 
a questao da causalidade e propuseram uma serie de solu ? oes; de fato, o mais 
instigante neste volume e a falta de unanimidade analftica, seu sentido de tensao 
analftica. Se as autoras individuals tendiam a sublinhar a causalidade dos 
contextos sociais (que, com frequfencia, quer dizer "economicos"), elas, nao 
obstante, inclufam susestoes sobre a imoort&ncia de se estnHar a "^mihirarAn 






umas 




tambem um 

reconhecimento crucial da necessidade de compreender "o vinculo" complexo 
"entre a sociedade e uma estrutura psfquica persistente". 19 De um lado, as orga- 
nizadoras desta coletanea endossam o argumento de Jessica Benjamim de que a 
polftica deve conceder aten?ao "aos componentes erdticos e fantasmSticos da 
humana", mas, por outro lado, nenhum outro ensaio, salvo este de Beniamim 




aborda completa ou seriamente as questoes tedricas que ela levanta. 20 H£, em 

^ . m * 



um pressuposto tacito que percorre o volume 



79 



mo pode ser ampliado para incluir discussoes sobre ideologia, cultura e psicolo- 
gia, e que esta ampliacao sera efetuada atraves do mesmo tipo de exame concrete 
dos dados efetuados na maioria dos artigos. A vantagem de uma tal abordagem 
€ que ela evita divergencias agudas de posif ao; sua des vantagem e que ela deixa 
intacta uma teoria ja plenamente articulada, que remete as relates entre os 
sexos as relacoes de produ^ao. 

Uma compara^ao entre as tentativas exploratorias e relativamente amplas 



das/os feministas marxistas americanas/os e as de suas/seus homolog 




inglesas/es, mais estreitamente ligadas/os a polftica de uma tradi<jao marxista 
forte e viavel, revela que as/os inglesas/es ti veram maior dificuldade em contestar 
os fatores limitantes das explicates estri tamente deterministas. Essa dificuldade 
pode ser vista de maneira mais espetacular nos debates recentes, surgidos na 
New Left Review, entre Michele Barret e seus/suas crftieos/as, os/as quais a 
acusavam de abandonar uma analise materialista da divisao sexual do trabalho 
sob o capitalismo. 21 Ela pode ser vista tambem no fato de que os/as pesquisadores/ 
as que tinham inicialmente empreendido uma tentati va feminista de reconciliagao 
entre a psicanalise e o marxismo, e que tinham insistido na possibilidade de 
uma certa fusao entre os dois, escolheram hoje uma ou outra dessas posigoes 

22 A dificuldade tanto para as/os feministas inglesas/es quanto para as/ 
os americanas/os que trabalham dentro do quadro do marxismo e evidente nos 
trabalhos que mencionei aqui. O problema que elas/eles enfrentam e o inverso 
daquele coiocado pela teoria do patriarcado, pois, no interior do marxismo, o 
conceito de genero foi, por muito tempo, tratado como um sub-produto de 




estruturas economicas cambiantes; o genero nao tinha af um status analftico 




entee 





Um exame da teoria psicanalftica exige uma distincao entre escolas, ja" que 
se teve a tendencia de classificar as diferentes abordagens segundo as origens 
nacionais de seus fundadores ou da maioria daqueles/as que as aplicam. Ha a 
Escola Anglo-americana, que trabalha nos termos das teorias de relafao de objeto 

iect-relation theories). Nos Estados Unidos, Nancy Chodorow e o nome 
mais prontamente associado com esta abordagem. Alem disso, o trabalho de 
Carol Gilligan teve um impacto muito vasto sobre a produgao cientffica 
americana, incluindo a historia. O trabalho de Gilligan se inspira no de Chodorow, 
embora ela esteja menos preocupada com a constru^ao do sujeito do que com o 
desenvolvimento moral e o comportamento. Em contraste com a escola anglo- 
americana, a escola francesa esta baseada em leituras estruturalistas e pos- 
estruturalistas de Freud no contexto das teorias da linguagem (para as feministas 
a figura central e Jacques Lacan). 

Ambas as escolas estao preocupadas com os processos pelos quais a 
identidade do sujeito e criada, ambas se centram nas primeiras etapas do 

da crianca a fim de encontrar pistas sobre a formagao 
identidade de genero. As teoricas das relates de objeto enfatizam a influencia 





80 



da experiencia concreta (a crianca ve, ouve, tern relacoes com aqueles que se 
ocupam dela, em particular, obviamente, com seus pais), enquanto os/as pos- 



estruturalistas enfatizam o papel central da linguagem na comunicacao, na 
interpretacao e na representacao do genero, (Para os/as pos-estruturalistas, "lin- 
guagem" nao designa palavras, mas sislemas de significasao — ordens simbolicas 
— que precedem o domfnio real da fala, da leitura e da escrita). Uma outra 



diferenca entre essas duas escolas de pensamento refere-se ao inconsciente, que 
para Chodorow e, em ultima instancia, suscetivel de compreensao consciente, 
enquanto que, para Lacan, nao o e. Para os/as lacanianos/as, o inconsciente e 
um fator decisivo na construcao do sujeito; ademais, e o lugar da divisao sexual 



«»„_ __:r- i_i» 



e, por esta razao, um lugar de instabilidade constante para o sujeito "generificado 

(gendered). 






Nos ultimos anos, as/os historiadoras/es feministas foram atraidas/os por 
essas teorias, seja porque elas servem para endossar dados especificos com base 
em observacoes gerais, seja porque elas parecem oferecer uma formulacao te6rica 
importante no que concerne ao genero. Cada vez mais, os/as historiadores/as 
que trabalham com o conceito de "cultura feminina" citam os trabalhos de 
Chodorow e Gilligan tanto como prova quanto como explica?ao de suas 
interpretacoes; aquelas/es que tern problemas com a teoria feminista se voltam 
para Lacan. Ao final das contas, nenhuma destas teorias me parece inteiramente 
utilizavel pelos/as historiadores/as; um olhar mais atento sobre cada uma pode 
ajudar a explicar por que. 

Minha reserva para com a teoria de relagoes de objeto concentra-se em seu 
literalismo, no fato de basear a produ9§o de identidade de genero e a genese da 
transforma^ao em estruturas de interagao relativamente pequenas.Tanto a divisao 






de trabalho na famflia quanto a atribui?ao real de tarefas a cada um dos pais 
desempenham um papel crucial na teoria de Chodorow. O resultado dos sistemas 
ocidentais dominantes e uma divisao clara entre masculino e feminino: **0 sentido 
feminino do eu e fundamentalmente ligado ao mundo, o sentido masculino do 
eu e fundamentalmente separado". 23 Segundo Chodorow, se os pais (homens) 
estivessem mais envolvidos no cuidado com os/as filhos/as e mais presentes nas 
situagoes domesticas, as consequencias do drama edipiano seriam provavelmente 

diferentes. 24 

Esta interpreta?ao limita o conceito de genero a esfera da famflia e a expe- 
riencia domestica e, para o historiador, ela nao deixa meios para ligar esse con- 
ceito (nem o indivfduo) a outros sistemas sociais, economicos, polfticos ou de 
poder. Sem duvidaesta implfcito que os arranjos sociais que exigem que os pais 
trabalhem e as maes executem a maioria das tarefas de cria^ao das crian5as 



estruturam a organ iza^ao da famflia. Mas nao estao claras a origem nem as 
razoes pelas quais eles estao articulados em termos de uma divisao sexual do 
trabalho. Tampouco se discute a questao da desigualdade, por oposigao a da 
assimetria. Como podemos explicar, no interior desta teoria, a persistente asso- 



81 




ciacao entre masculinidade e poder, o fato de que se valoriza mais a 
do que a feminilidade? Como podemos explicar a forma peia qual as cnancas 
parecem aprender essas associates e avaliacoes mesmo quando elas vivem 
fora de lares nucleares, ou no interior de lares onde o marido e a mulher dividem 
as tarefas familiares? Penso que nao podemos fazer isso sem conceder uma 
certa atencao aos sistemas de significado, quer dizer, aos modos pelos quais as 

represenlam o gSnero, servem-se dele para articular as regras de 



relacoes sociais ou para construir o significado da experiencia. Sem significado, 
nao ha experiencia; sem processo de significacao, nao ha significado. 

A Iinguagem e o centro da teoria lacaniana; e a chave de acesso da crianca 
a ordem simb61ica. Atraves da Iinguagem e construida a identidade generificada 
(gendered). Segundo Lacan, o falo e o significante central da diferenca sexual. 
\/f oc. n einnifirnAn Hn fain de.ve ser lido de maneira metaforica. O drama edipiano, 



termos da interacao cultural, ja que a ameaca 



de castracao representa o poder, as regras da lei (do Pai). A relacao da crianca 
com a lei depende da diferenca sexual, de sua identificacao imaginativa (ou 
fantasmatica) com a masculinidade ou a feminilidade. Em outras palavras, a 
imDOsicao de reeras de interacao social e* inerente e especificamente generificada, 



iami 



Mas a identificacao de genero, mesmo que pareca sempre coerente e fixa, e, de 
fato, extremamente instavel. Como sistemas de significado, as identidades 
subjetivas sao processos de diferenciacao e de distingao, que exigem a supressao 
de ambiguidades e de elementos de oposifao, a fun de assegurar (criar a ilusao 
de) uma coerencia e (de) uma compreensao comum. A ideia de masculinidade 
repousa na repressao necessaria de aspectos femininos — do potencial do sujeito 
para a bissexualidade — e introduz o conflito na oposi^ao entre o masculino e o 
feminino. Os desejos reprimidos estao presentes no inconsciente e constituem 
uma ameafa permanente para a estabilidade da identificacao de genero, negando 
sua unidade, subvertendo sua necessidade de seguran?a. Alem disso, as ideias 
conscientes sobre o masculino ou o feminino nao sao fixas, uma vez que elas 
variam de acordo com as utilizacoes contextuais. Sempre existe urn conflito, 
pois, entre a necessidade que tern o sujeito de uma aparencia de totalidade e a 
imprecisao da terminologia, seu significado relativo, sua dependencia da re- 
pressao. 25 Este tipo de interpretacao torna problematicas as categorias de 
u homem ,, e "mulher", ao sugerir que o masculino e o feminino nao sao caracte- 
risticas inerentes, mas constructos subjetivos (ou ficcionais). Essa interpreta?ao 
implica tambem que o sujeito se acha em urn processo constante de construct 
e oferece um meio sistematico de interpretar o desejo consciente e inconsciente, 
ao destacar a Iinguagem como um objeto apropriado de analise. Enquanto tal eu 



a 





* i 



Entretanto, sinto-me incomodada pela fixacao exclusiva em questoes 
relativas ao sujeito individual e pela tendencia a reificar, como a dimensao cen- 



82 



tral do genero, o antagonismo subjetivamente produzido entre homens e mulheres. 
Alem do mais, mesmo que a maneira pela qual "o sujeito" e construido permanesa 
aberta, a teoria tende a universalisar as categorias e as rela§6es entre masculino 
e feminino. A consequencia para os/as historiadores/as e uma leitura redutiva 
dos dados do passado. Mesmo que essa teoria tome em considera^ao as redoes 
sociais, ao ligar a castragao a proibi9ao e a lei, ela nao permite introduzir uma 
nogao de especificidade e de variabilidade histdrica. O falo e o unico significant^ 
o processo de constru^ao do sujeito generificado e, em ultima instancia, previsivel 



j a que e sempre o mesmo. Se, como sugere a teorica do cinema Teresa de Lauretis, 




temos necessidade de pensar a constru^ao da su 
sociais e historicos, nao ha nenhum meio de precisar estes contextos nos termos 
que propoe Lacan. De fato, mesmo na tentativa de Lauretis, a realidade social 
(quer dizer, as rela^oes "materials, economicas e interpessoais que sao, de fato, 
sociais e, numa perspectiva mais ampla, historicas") parece se situar fora do 
sujeito. 26 O que esta faltando e uma forma de conceber a "realidade social" em 
termos de genero. 

O problema do antagonismo sexual nessa teoria tern dois aspectos. Em 
primeiro lugar, ele projeta urn certo carater intemporal, mesmo quando est£ 
bem historicizado, como no caso de Sally Alexander. Sua leitura de Lacan a 



conduziu a conclusao de que u o antagonismo entre os sexos e urn aspecto inevi 



tavel da aquisi^ao da identidade sexual...Se o antagonismo esta sempre latente, 
e possfvel que a historia nao possa oferecer nenhuma solu^ao final, mas apenas 
a remoldagem e reorganizagao permanente da simboliza^ao da diferenQa e da 
divisao sexual do trabalho". 27 E talvez meu incorrigfvel utopianismo que faz 
com que eu duvide dessa formulagao, ou entao o fato de que eu nao soube ainda 
me desfazer da episteme do que Foucault chamava de Idade Classica. Seja o 
que for, a formulagao de Alexander contribui para fixar a oposigao binaria entre 
masculino-feminino como a unica rela§ao possfvel e como um aspecto perma- 
nente da condi^ao humana. Ela perpetua, mais do que poe em questao, aquilo 
que Denise Riley designa como o "terrivel ar de constSncia da polaridade sexual". 
Ela escreve: "o carater historicamente construido da oposigao (entre masculino 
e feminino) produz como um de seus efeitos precisamente este ar de uma oposi^ao 
invariante e monotona entre homens/mulheres". 28 

E precisamente esta oposi9ao, em todo o seu tedio e monotonia, que (para 
vol tar ao lado anglo-saxao) € posta em evidencia no trabalho de Carol Gilligan. 
Gilligan explica as trajetorias divergentes de desenvolvimento moral seguidas 
por meninos e meninas, em termos de diferen^as de "experiencia" (de realidade 



vivida). Nao e surpreendente que os/as histonadores/as das mulheres 





recuperado suas id£ias e as tenham utilizado para explicar as "vozes 

que os trabalhos desses/as historiadores/as lhes haviam possibilitado ouvir. Os 

problemas com esses emprestimos sao multiplos e eles estao logicamente 



conectados. 29 O primeiro problema e um deslizamento que frequentemente ocorre 



* 



83 



na atribuigao da causalidade: a argumentagao comega por uma afirmagao do 
tipo "a experiencia das mulheres leva-as a fazer escolhas morais que dependem 
de contextos e de relates" para se transformar em "as mulheres pensam e 
escolhem este caminho porque elas sao mulheres". Esta implfcita nessa linha de 
raciocinio uma ideia a-hist6rica, senao essencialista, de mulher. Gilligan e outros/ 
as extrapolaram sua describe baseada numa pequena amostra de alunas 



americanas do fim do sSculo XX, a todas 
evidente, principalmente, mas nao exclusivamente, nas discussoes de alguns/ 
mas historiadores/as da "cultura feminina" que reunem dados desde as santas 
da Idade Media as militantes sindicalistas modernas e os reduzem para provar a 
hipotese de Gilligan sobre a suposta preferSncia feminina universal por 



estabelecer e cultivar rela^oes pessoais. 30 Esse uso das ideias de Gilligan se 





r t ._ icep? 

da "cultura feminina" que podem ser encontradas no simposio de Feminist Studies 
de 1980. 31 De fato, uma comparagao desta serie de artigos com as teorias de 
Gilligan revela a que ponto sua nogao e a-historica, definindo a categoria homem/ 
mulher como uma oposigao binaria universal que se auto-reproduz — fixada 
sempre da mesma maneira. Ao insistir sempre nas diferen§as fixadas (no caso 
de Gilligan, ao simplificar os dados atraves da utiliza?ao das mais heterogeneas 
informagoes sobre o sexo e o raciocinio moral, para sublinhar a diferen^a sexual), 



ministas reforcam o tipo de pensamento 




insistam 



elas nao examinam a oposigao binaria em si. 



que 






uma 



termos 




Devemos nos tornar mais auto-conscientes da distingao entre 

nosso vocabulario analftico e o material que queremos analisar Devemos 
encontrar formas (mesmo que imperfeitas) de submeter sem cessar nossas cate- 
gorias a critica e nossas analises h auto-critica. Se utilizamos a defmi^ao de 
desconstrugao de Jacques Derrida, essa critica significa analisar , levando em 
conta o contexto, a forma pela qual opera qualquer oposigao binaria, revertendo 
e deslocando sua constru^ao hierarquica, em vez de aceita-la como real ou auto- 
evidente ou como fazendo parte da natureza das coisas. 32 E evidente que, num 
certo sentido, as/os feministas vem fazendo isso por muitos anos. A historia do 



pensamento feminista € uma hist6na da recusa oa consiru^ao ruerdu 
relacao entre masculino e feminine, em seus contextos especfficos, e uma 



para reverter ou deslocar suas opera?oes. Os/as historiadores/as feministas estao 



teonzar 



como uma categoria analftica. 












84 






II 






A preocupagao teorica com o genero como uma categoria analftica so e- 
mergiu no fim do seculo XX. Ela est£ ausente das principals abordagens de 
teoria social formuladas desde o seculo XVIII ate o comedo do seculo XX. De 
fato, algumas destas teorias construiram sua 16gica a partir das analogias com a 



opo-si^ao entre masculino/feminino, outras reconheceram uma "questao 
femiiuna", outras ainda se preocuparam com a formulasao da identidade sexual 
subjetiva, mas o genero, como uma forma de falar sobre sistemas de rela§5es 
sociais ou sexuais nao tinha aparecido. Esta falta poderia explicar em parte a 
dificuldade que tiveram as feministas contemporaneas de incorporar o termo 
"gSnero" ks abordagens te6ricas existentes e de convencer os adeptos de uma 
ou outra escola te6rica de que o genero fazia parte de seu vocabulario. O termo 
"gfinero" faz parte da tentativa empreendida pelas feministas contemporaneas 
para reinvindicar urn certo terreno de definicao, para subhnhar a incapacidade 
das teorias existentes para explicar as persistentes desigualdades entre as mulheres 
e os homens. E, na minha opiniao, significativo que o uso da palavra "genero" 
tenha emergido num momento de grande efervescencia epistemologica que toma 
a forma, em certos casos, da mudan§a de um paradigma cientffico para um 
paradigma literario, entre os/as cientistas sociais (da enfase posta na causa para 
a Snfase posta no significado, confiindindo os generos da in vestigagao, segundo 



a formula9ao do antrop61ogo Clifford Geertz). 33 Em outros casos, esta mudansa 
toma a forma de debates teoricos entre aqueles/as que afirmam a transparencia 
dos fatos e aqueles/as que enfatizam a ideia de que toda realidade e interpretada 
ou construida, entre os/as que defendem e os/as que poem em questao a ideia de 
que o homem e o dono racional de seu proprio destino. 

No espa§o aberto por este debate, posicionadas ao lado da crftica da ciencia 
desenvolvida pelas humanidades e da crftica do empirismo e do humanismo 
desenvolvido pelos/as pos-estruturalistas, as feministas nao somente comegaram 
a encontrar uma voz teorica propria; elas tambem encontraram aliados/as 
academicos/as e polfticos/as. E dentro desse espa9o que n6s devemos articular 
o genero como uma categoria analftica. 

O que poderiam fazer os/as historiadores/as que, depois de tudo, viram sua 
disciplina rejeitada, por alguns/mas teoricos/as recentes, como uma relfquia do 

» 

pensamento humanista? Nao penso que devemos deixar os arqui vos ou 
o estudo do passado, mas acredito, isto sim, que devemos mudar alguns de 
nossos habitos de trabalho, algumas questoes que temos colocado. Devemos 
examinar atentamente nossos metodos de analise, clarificar nossas hipoteses de 
trabalho, e explicar como a mudan^a ocorre. Em vez da busca de origens unicas, 
temos que pensar nos processos como estando tao interconectados que nao podem 
ser separados . E evidente que isolamos certos problemas para serem estudados 
e que estes problemas constituem pontos de partida ou de entrada para processos 




■ 



85 



devemos 






passaram 



por que elas se passaram; segundo a fonnula^ao de Michelle Rosaldo, devemos 
buscar nao uma causalidade geral e universal, mas uma explicayao baseada no 



lumana 



forma 



que suas atividades adquirem atraves da interasao social concreta". 34 Para buscar 
o significado, precisamos lidar com o sujeito individual, bem corao com a 
onranizacao social, e articular a natureza de suas interrelacoes, pois ambos sao 




cruciais para compreender como funciona o genero, como ocorre a 
Finalmente, 6 preciso substituir a no?ao de que o poder social e unificado, 
coerente e centralizado por algo como o conceito de poder de Michel Foucault, 
entendido como constela^oes dispersas de relates desiguais, discursivamente 
constituidas em "campos de for9a" sociais. 35 No interior desses processos e 



estruturas 



construir uma 



vida, um conjunto de redoes, uma sociedade estabelecida dentro de certos 
limites e dotada de uma linguagem — uma linguagem conceitual que estabele^a 
fronteiras e contenha, ao mesmo tempo, a possibilidade da nega?ao, da resisten- 
cia, da reinterpreta?ao e permita o jogo da inven^ao metaforica e da imagina?ao. 
Minha definigao de genero tern duas partes e diversas subconjuntos, que 
estao interrelacionados, mas devem ser analiticamente diferenciados. O niicleo 
da defini9ao repousa numa conexao integral entre duas proposi^oes : ( 1 ) o genero 
e um elemento constitutive de relates sociais baseadas nas diferengas percebidas 
entre os sexos e (2) o genero e uma forma primaria de dar significado as rela^oes 
de poder. As mudan^as na organiza^ao das rela^des sociais correspondem sempre 
a mudan^as nas representasoes do poder, mas a mudan^a nao e unidirecional, 
Como um elemento constitutive das redoes sociais baseadas nas diferen^as 
percebidas,o genero implica quatro elementos interrelacionados: em primeiro 
lugar, os simbolos culturalmente disponiveis que evocam representa§6es 
bolicas (e com frequfincia contraditorias) — Eva e Maria como simbolos da 
mulher, por exemplo, na tradigao crista ocidental — mas tambem mitos de luz e 
escuridao, purifica^ao e polui^ao, inocencia e corrup^ao. Para os/as historiadores/ 
as, a questao importante e: que representagoes simbolicas sao invocadas, como, 
e em quais contextos? Em segundo lugar, conceitos normativos que expressam 
interpretagoes dos significados dos simbolos, que tentam limitar e conter suas 
possibilidades metaforicas. Esses conceitos estao expressos nas doutrinas 
religiosas, educativas, cientfficas, politicas ou juridicas e tomam a forma tfpica 
de uma oposi^ao binaria fixa, que afirma de maneira categorica e inequfvoca o 
significado do homem e da mulher, do masculino e do feminino. De fato, essas 



irmi 




rtamente 



86 



™ 



quais circunstancias" 6 a questao que deveria preocupar os/as historiadores/as). 
A posigao que emerge como posi^ao dominante e, contudo, declarada a unica 
possfvel. A historia posterior 6 escrita como se essas posi95es normativas fossem 
o produto do consenso social e nao do conflito. Um exemplo desse tipo de 
historia e dado por aqueles que tratam a ideologia vitoriana da dpmesticidade 
como se ela tivesse sido criada em bloco, e tivesse sido contestada apenas depois 
disso, inv£s de ser o objeto constante de grandes diferen^as de opiniao. Um 
outro exemplo vem dos grupos religiosos fundamentalistas atuais, que querem 
ligar necessariamente suas praticas a restaura^ao do papel "traditional" das 

, supostamente mais autentico, embora, na realidade, haja poucos 

antecedentes historicos que testemunhem a existencia inconteste de um tal papel. 

O desafio da nova pesquisa historica consiste em fazer explodir essa no9ao 

de fixidez, em descobrir a natureza do debate ou da repressao que leva a aparencia 





uma permanencia intemporal na representagao binaria do genero. Esse tipo 
de analise deve incluir uma concep9ao de politica bem como uma referenda as 



■ — — ^^^- 

institui^des e a organiza^ao social — este e o terceiro aspecto das relates de 



genero. 






Certos/as pesquisadores/as, principalmente os/as antropologos/as, t8m 
restringido o uso do genero ao sistema de parentesco (centrando-se no lar e na 
familia como a base da organiza^ao social). Temos necessidade de uma visao 
mais ampla que inclua nao somente o parentesco mas tambem (especialmente 



para as complexas sociedades modernas) o mercado de trabalho ( um mercado 
de trabalho sexualmente segregado faz parte do processo de construgao de 
genero), a educa^ao ( as institutes de educa^ao somente masculinas, nao mistas, 
ou de co-educa^ao fazem parte do mesmo processo), o sistema politico (o sufragio 
universal masculino faz parte do processo de constru9ao do genero). Nao tern 
muito sentido reconduzir a for9a estas institui9oes a sua utilidade funcional para 
o sistema de parentesco, ou sustentar que as redoes contemporaneas entre os 
homens e as mulheres sao artefatos de sistemas anteriores de parentesco baseados 
na troca de mulheres. 36 O genero 6 construido atraves do parentesco, mas nao 
exclusivamente; ele e construfdo igualmente na economia e na organiza9ao 




ica, que, pelo menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira 
amplamente independente do parentesco. 

O quarto aspecto do genero e a identidade subjetiva. Concordo com a ideia 
da antropologa Gayle Rubin de que a psicanalise fornece uma teoria importante 
sobre a reprodu9ao do genero, uma descri9ao da "transforma9ao da sexualidade 





Sgica dos indivfduos enquanto passam por um processo de encultura9ao". 37 
a pretensao universal da psicanalise constitui, para mim, um problema. 




a teoria lacaniana possa ser util para a reflexao sobre a constru9ao da 
identidade generificada, os/as historiadores/as precisam trabalhar de uma forma 
mais hist6rica. Se a identidade de genero esta baseada unica e universalmente 
no medo da castra$ao, nega-se a relevancia da investiga^ao historica. Alem 



87 



disso os homens e as mulheres reais nao cumprem sempre, nem cumprem 



literalmente, os termos das prescribes de sua sociedade ou de nossas categorias 



analiticas. Os/as histori adores/as precisam, em vez disso, examinar as formas 



pelas quais as identidades generificadas sao substantivamente construfdas e 
relacionar seus achados com toda uma s£rie de atividades, de organiza9oes e 



representa^oes sociais historicamente especfficas. Nao 6 de se estranhar que as 
melhores tentativas neste domfnio tenham sido, ate o presente, as biografias: a 
interpreta^ao de Lou Andreas-Salome por Biddy Martin, o retrato de Catharine 
• Beecher por Kathryn Sklar, a vida de Jessie Daniel Ames por Jacqueline Hall e 
a reflexao de Mary Hill sobre Charlotte Perkins Gilman. 38 Mas os tratamentos 
coietivos sao igualmente possfveis, como o mostram Mrinalini Sinha e Lou 
Ratte, em seus respectivos estudos, sobre a constru?ao de uma identidade de 
genero entre os administradores coloniais britanicos na India, e para os hindus 
educados na cultura britanica que se tornaram dirigentes nacionalistas anti- 

39 



inipenaiistas. 

A primeira parte da minha definite de genero, entao, 6 composta desses 
quatro elementos e nenhum dentre eles pode operar sem os outros. No entanto 
eles nao operam simultaneamente, como se um fosse urn simples reflexo do 
outro. De fato, e uma questao para a pesquisa historica saber quais sao as relac, des 
entre esses quatro aspectos. O esbogo que eu propus do processo de construclo 
das relacoes de genero poderia ser utilizado para examinar a classe, a raja, a 
etnicidade ou qualquer processo social. Meu proposito foi clarificar e especificar 
como se deve pensar o efeito do genero nas relacoes sociais e institucionais, 
porque essa reflexao nem sempre tem sido feita de maneira sistematica e precisa. 
A teorizacao do genero, entretanto, e desenvolvida em minha segunda proposicao: 
o genero e uma forma primaria de dar signiflcado as relacoes de poder. Seria 
melhor dizer: o genero e um campo primario no interior do qual, ou por meio do 

_ 

qual, o poder e articulado. O genero nao e o unico campo, mas ele parece ter 
sido uma forma persistente e recorrente de possibilitar a significa ? ao do poder 
no ocidente, nas tradigoes judaico-cristas e islamicas. Como tal, esta parte da 
definisao poderia aparentemente pertencer a se§ao normativa de meu argumento, 
isso nao ocorre, pois os conceitos de poder, embora se baseiem no genero, 



nem sempre se referem literalmente ao genero em si mesmo. O sociologo frances 
Pierre Bourdieu tem escrito sobre como a "di-visao do mundo", baseada em 
referencias as "diferen?as biologicas, e, notadamente, aquelas que se referem a 
divisao do trabalho de procria$ao e de reprodugao", operam como "a mais 
fundada das ilusoes coletivas". Estabelecidos como um conjunto objetivo de 

, os conceitos de genero estTuturam a percepclo e a organizacao 




concreta e simbolica de toda a vida social. 40 Na medida em que essas referencias 
estabelecem distribui^oes de poder (um controle ou um acesso diferencial aos 
recursos materials e simbolicos), o genero torna-se implicado na concep?ao e 
na constni9ao do proprio poder. O antropologo francos Maurice Godelier assim 



88 



o formulou: "(•*■) nao e a sexualidade que assombra a sociedade, mas antes a 
sociedade que assombra a sexualidade do corpo. As diferengas entre os corpos, 
relacionadas ao sexo, sao constantemente solicitadas a testemunhar as redoes 
sociais e as realidades que nao tem nada a ver com a sexualidade. Nao somente 
testemunhar, mas testemunhar para, ou seja, legitimar". 41 

A fungao de legitimagao do genero age de varias maneiras. Bourdieu, por 






exemplo, mostrou como, em certas culturas, a exploragao agrfcola era org; 
segundo coneeitos de tempo e de estagao que se baseavam em definigoes 
especfficas da oposigao entre masculino e feminino. Gayatri Spivak fez uma 
analise perspicaz dos usos do genero e do colonialism© em certos textos de 
escritoras britanicas e americanas. 42 Natalie Davis mostrou como os coneeitos 
de masculino e feminino estavam relacionados a aceitagao e ao questionamento 
das regras da ordem social no primeiro perfodo da Franca moderna. 43 A 
historiadora Caroline Bynum deu nova luz a espiritualidade medieval pela 
importancia atribufda as relagoes entre os coneeitos do masculino e do feminino 
e o comportamento religioso. Seu trabalho nos permite melhor compreender as 
formas pelas quais esses coneeitos orientaram a polftica das instituigoes 
monasticas e as crengas individuais. 44 Os/as historiadores/as da arte abriram um 
novo territorio ao extrair implicagoes sociais das representagoes literais dos 

e das mulheres. 45 Essas interpretagoes estao baseadas na ideia de que as 
guagens conceituais empregam a diferenciagao para estabelecer o significado 
e que a diferenga sexual e uma forma primaria de dar significado a diferenciagao. 46 
O genero, entao, fornece um meio de decodificar o significado e de compreender 
as complexas conexoes entre varias formas de interagao humana. Quando os/as 

buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de genero 
legitima e constroi as relagoes sociais, eles/elas comegam a compreender a 
natureza reciproca do genero e da sociedade e as formas particulares e 
contextualmente especfficas pelas quais a polftica constroi o genero e o genero 
constroi a polftica. 

A polftica e apenas uma das areas na qual o genero pode ser utilizado para 
analise historica. Escolhi os exemplos seguintes, ligados a polftica e ao poder, 
no sentido mais tradicional, quer dizer, naquilo que enfatizam o governo e o 
Estado-nagao, por duas raz5es. Em primeiro lugar, porque se trata de um territ6rio 
praticamente inexplorado, ja que o genero tem sido percebido como uma cate- 
goria antitetica as tarefas serias da verdadeira polftica. Em segundo lugar, porque 
a historia polftica — ainda o modo dominante de pesquisa historica — tem sido 




o bastiao de resistencia a inclusao de materiais ou questoes sobre as mulheres e 
o genero. 

O genero tem sido utilizado literal ou analogicamente na teoria polftica 
para justificar ou criticar reinado de monarcas e para expressar as relagoes entre 
governantes e governados. Obviamente era de se esperar que os debates dos 
contemporaneos sobre os reinados de Elizabeth I da Inglaterra e de Catarina de 



89 



Medici na Franca ti vessem tratado da questao da capacidade das mulheres para 
a direcao polftica; mas em um perfodo onde parentesco e realeza estavam intrin- 



secamente ligados, as discussoes sobre os reis homens tambem estavam 



preocupadas com a masculinidade e a feminilidade. 47 As analogias com a relacao 
marital dao uma estrutura para os argumentos de Jean Bodin, Robert Filmer e 
John Locke. O ataque de Edmund Burke contra a Revolucao Francesa se desen- 
volve ao redor de um contraste entre as harpias feias e assassinas dos sans- 
culottes (as megeras do inferno, sob a forma desnaturada da mais vil das mulhe- 
res) e a doce feminilidade de Maria Antonieta, que escapa a multidao "para 
procurar refugio aos p6s de um rei e de um marido" e cuja beleza tinha ja inspirado 
o orgulho nacional. (E em referenda ao papel apropriado ao feminine dentro da 



ordem polftica que Burke escreveu: "para que possamos amar nossa patna, nossa 
patria deve ser amdvel"). 48 Mas a analogia nao concerne sempre ao casamento 
nem mesmo a heterossexualidade. Na teoria polftica da Idade Media islamica, 
os sfmbolos do poder politico fizeram mais frequentemente alusao as relacoes 
sexuais entre um homem e um rapaz, sugerindo nao somente a existencia aceitavel 



de formas de sexualidade comparaveis as que descreve Foucault em seu ultimo 
livro a respeito da Grecia classica, mas tambem a irrelevancia das mulheres 
para qualquer nocao de polftica e de vida publica. 49 



Para que este ultimo coment&io nao seja interpretado como uma afirmacao 
de que a teoria polftica reflete simplesmente a organizacao social, parece irn- 
portante observar que as mudancas nas relacoes de genero podem se produzir a 
partir de consideracoes sobre as necessidades de Estado. Um exemplo surpre- 



endente e fornecido pela argumentacao de Louis de Bonald, em 1816, sobre as 
razoes pelas quais a legislacao da Revolu9ao francesa sobre o divorcio tinha 
que ser rejeitada: 

"Do mesmo modo que a democracia polftica permite ao povo, parte fraca da 
sociedade politica, se voltar contra o poder estabelecido, tambem o divorcio, 
verdadeira democracia domes tica, permite a esposa, parte fraca, rebelar-se 
contra a au tor idade marital... A fim de manter o Estado fora das maos do 
povo, e necessdrio manter afamiliafora das maos das esposas e dosfilhos. ' t5 ° 

Bonald comeca com uma analogia para estabelecer, em seguida, uma cor- 



respondencia direta entre o div6rcio e a democracia. Retomando argumentos 
bem mais antigos, a prop6sito da boa ordem familiar como fundamento da boa 
ordem de Estado, a legislacao que implementou esta visao redefiniu os limites 
da relacao marital. Da mesma maneira, em nossa epoca, as ideologias polfticas 
conservadoras desejariam fazer passar toda uma serie de leis sobre a organiza?ao 
e o comportamento da famflia, que mudariam as praticas atuais. A conexao 
entre os regimes autoritarios e o controle das mulheres tern sido observada, mas 
nao tern sido estudada a fundo. No momento crftico para a hegemonia jacobina, 
durante a Revolucao francesa, no momento em que Stalin se apoderou do controle 



90 



da autoridade, na implementa^ao da politica nazista na Alemanha ou no triunfo 
do Ayatol£ Komehini no Ira, em todas essas circunstancias, os governantes 
emergentes legitimaram a domina9ao, a forga, a autoridade central e o poder 
dominante como masculinos (os inimigos, os forasteiros, os subversivos e a 




ueza como remininos) e literalmente traduziram esse c6digo em leis que 
puseram as mulheres no seu lugar (interditando-lhes a participa^o na vida 
politica, declarando o aborto i legal, impedindo o trabalho assalariado das maes, 
impondo codigos de trajar para as mulheres). S! Essas a96es e o momentode sua 
ocorrencia fazem pouco sentido em si mesmas; na maior parte dos casos, o 
Estado nao tinha nada de imediato ou de material a ganhar com o controle das 
mulheres. Essas a^oes nao fazem sentido a menos que sejam integradas numa 
analise da construgao e consolida^ao do poder. Uma afirma^o de controle ou 
de for?a corporificou-se numa politica sobre as mulheres. Nesses exemplos, a 
diferen^a sexual foi concebida em termos da domina^ao e do controle das 
mulheres. Esses exemplos podem nos dar alguma id6ia sobre os tipos de redoes 
de poder que se constroem na historia moderna, mas esse tipo particular de 



rela^ao nao constitui um tema politico universal. Por exemplo, sob diferentes 
aspectos, os regimes democraticos do s^culo XX tambSm tern construido suas 
ideologias polfticas a partirde conceitos generificados, traduzindo-os em polfticas 
concretas: o estado de bem-estar, por exemplo, demonstrou seu paternalismo 
protetor atraves de leis dirigidas ks mulheres e crian9as. 52 Historicamente, alguns 
movimentos socialistas ou anarquistas recusaram inteiramente as metdforas de 
domina^ao, apresentando de maneira imaginativa suas crfticas de regimes ou de 
organiza9des sociais particulares, em termos de transforma^oes de identidades 
de genero. Os socialistas ut6picos na Fran?a e na Inglaterra, nos anos 1 830 e 
1 840, conceberam seus sonhos de um futuro harmonioso em termos das naturezas 
complementares dos indivfduos, ilustradas pela uniao do homem e da mulher, o 
"individuo social". 53 Os anarquistas europeus eram conhecidos por sua recusa 
das convenijoes do casamento burgues mas tambem por suas visoes de um mundo 
no qual a diferen?a sexual nao implicava hierarquia. 

Trata-se de exemplos de conexoes explicitas entre genero e poder, mas eles 
nao sao mais que uma parte da minha definigao de genero como uma forma 



primaria de dar significado as relagoes de poder. Com freqiiencia, a aten^ao 







a ao genero nao e explicita, mas constitui, nao obstante, uma parte crucial da 
organiza9ao da igualdade e da desigualdade. As estruturas hierarquicas dependem 
de compreensoes generalizadas das assim chamadas redoes naturais entre 
homem e mulher. No seeulo XIX, o conceito de classe dependia do genero para 
sua articula9ao. Quando, por exemplo, na Fran9a, os reformadores burgueses 
screviam os trabalhadores em termos codificados como femininos 




(subordinados, fracos, sexualmente explorados, como as prostitutas), os Ifderes 
trabalhadores e socialistas respondiam insistindo na posi9ao masculina da classe 

ora (produtores, fortes, protetores de suas mulheres e criancas). Os 




91 



- 



termos desse discurso nao se retenam explicitamente ao genero, mas eram 
reforcados por referencias a ele. A "codificacao" generificada de certos termos 
estabelecia e "naturalizava" seus significados. Nesse processo, definicoes nor- 
mativas de genero, historicamente especfficas (e tomadas como dadas) eram 
reproduzidas e incorporadas na cultura da classe trabalhadora francesa. 54 

O tema da guerra, da diplomacia e da aha politica surge com frequencia 
quando os/as historiadores/as da historia politica tradicional poem em questao a 
utilidade do genero para seu trabalho. Mas, tambem aqui, devemos olhar para 
alem dos atores e do valor literal de suas palavras. As relacoes de poder entre 
nagoes e a posicao dos sujeitos coloniais tern sido compreendidas (e entao 
legitimadas) em termos das relacoes entre homem e mulher. A legitimacao da 

sacrificar vidas de j ovens para proteger o Estado — tomou formas 






ificadas, desde o apelo explicito a virilidade (a necessidade de de 

mulheres e criancas que de outro modo seriam vulneraveis), ate a crenca no 

dever que teriam os filhos de servir a seus dirigentes ou ao rei (seu pai), e ainda 




as associates entre a masculinidade e o poderio nacional. 55 A alta politica e, 
propria, um conceito generificado, pois estabelece sua importancia crucial e 
seu poder publico, suas razdes de ser e a realidade de existencia de sua autoridade 
superior, precisamente as custas da exclusao das mulheres do seu funcionamento. 
O genero e uma das referencias recorrentes pelas quais o poder politico tern 
sido concebido, legitimado e criticado. Ele nao apenas faz referenda ao signifi- 



cado da oposicao homem/mulher; ele tambem o estabelece. Para proteger o 
poder politico, a referenda deve parecer certa e fixa, fora de toda construcao 
humana, parte da ordem natural ou divina. Desta maneira, a oposicao binaria e 



o processo social das relacoes de genero tornam-se parte do proprio signiflcado 

er; por em questao ou alterar qualquer de seus aspectos amea^a o sistema 




inteiro. 



Se as significacoes de genero e de poder se constroem reciprocamente, como 
as coisas mudam? De um ponto de vista geral, a resposta e que a mudanca pode 



• . 



ser iniciada em muitos lugares. As revoltas polfticas de massa que lancam velhas 



ordens no caos e fazem surgir novas podem revisar os termos (e por isso a 
organizacao) do gSnero na sua buscade novas formas de legitimacao. Mas elas 
podem nao o fazer; nocoes antigas de genero tem tambem servido para validar 
novos regimes. 56 Crises demograficas, causadas pela fome, pestes ou guerras, 
podem ter colocado em questao visoes normativas de casamento heterossexual 
(como foi o caso em certos meios e certos paises no correr dos anos 1920); mas 
elas igualmente provocaram polfticas pro-natalistas que insistiam na importancia 
exclusiva das fungoes maternais e reprodutoras das mulheres. 57 Padroes 
cambiantes de emprego podem levar a novas estrategias matrimoniais e a dife- 
rentes possibilidades de construcao de subjetividades, mas eles tambem podem 
ser vividos como novas arenas de atividade para filhas e esposas obedientes. 58 
A emergencia de novos tipos de simbolos culturais pode tornar possfvel a re- 



92 



interpretacao ou, mesmo, a reescrita da narrativa edipiana, mas ela pode tambem 
servir para reatualizar esse ternvel drama em termos ainda mais eloqiientes. 
Sao os processos polfticos que vao determinar qual resultado prevalecera — 
politico no sentido de que atores diferentes e significados diferentes lutam entre 
si para assegurar o controle. A natureza desse processo, dos atores e de suas 
a ? 6es, so pode ser deterrmnada de forma especffica, no contexto do tempo e do 
espaco. Nos so podemos escrever a historia desse processo se reconhecermos 
que "homem" e "mulher" sao, ao mesmo tempo, categorias vazias e transbordan- 
tes. Vazias, porque nao tern nenhum significado ultimo, transcendente. Trans- 
bordantes, porque mesmo quanto parecem estar fixadas, ainda contem dentro 
delas definicoes alternativas, negadas ou suprimidas. 

Num certo sentido, a historia polftica tern sido jogada no terreno do genero. 
Trata-se de um terreno que parece fixo, mas cujo significado e contestadb e esta 



em fluxo. Se tratamos a oposicao entre homem e mulher como problemitica e 
nao como conhecida, como algo que e contextualmente definido, repetidamente 
construfdo, entao devemos constantemente perguntar nao apenas o que esta em 
jogo em proclamacoes ou debates que invocam o genero para explicar ou 




suas posicoes, mas tambem como compreensoes implicitas de genero 
estao sendo invocadas ou reinscritas. Qual e a relacao entre as leis sobre as 
mulheres e o poder de Estado? Por que (e desde quando) as mulheres sao invi- 
siveis como sujeitos historicos, ainda que saibamos que elas participaram de 
grandes e pequenos eventos da historia humana? O genero legitimou a emergencia 
de carreiras profissionais? 59 Para citar o tftulo de um artigo recente da feminista 
francesa Luce Irigaray, o sujeito da ciencia e sexuado?^ Qual e a relaijao entre 
a polftica estatal e a descoberta do crime de homosexual idade? 61 Como as insti- 
tuigoes sociais incorporaram o genero nos seus pressupostos e nas suas organi- 
za?6es? Houve, em algum momento, conceitos de genero verdadeiramente i- 
gualitarios sobre os quais fossem projetados ou mesmo fundados sistemas 
polfticos? 

A exploragao dessas questoes fara emergir uma historia que oferecera no- 



vas perspectivas sobre velhas questoes (como, por exemplo, 6 imposto o poder 




ico, qual e o impacto da guerra sobre a sociedade), redefinira velhas questoes 



em novos termos (introduzindo, por exemplo, consideracoes sobre a famflia e a 
sexualidade no estudo da economia e da guerra), tornara as mulheres visfveis 
como participantes ativas e criara uma distancia analftica entre a linguagem 
aparentemente fixa do passado e nossa pr6pria terminologia. Alem disso, esta 
nova historia abrira possibilidades para a reflexao sobre atuais estrategias 



politicas feministas e o futuro (ut6pico), pois ela sugere que o gSnero deve ser 



redefinido e reestruturado em conjungao com uma visao de igualdade polftica e 
social que inclua nao somente o sexo, mas tambem a classe e a raca. 



93 



Notes 












1. Oxford English Dictionary (Oxford University Press, 1961) 4. 

2. E. LittnS, Dictionnaire de la iangue francaise (Paris, 1876). 

3. Raymond Williams, Keywords (Nova York: Oxford University Press, 1983), p.285. 

4. Natalie Zemon Davis, "Women's History in Transition: The European Case", Femi- 
nist Studies (1975-76) 3:90. 

5. Ann D. Gordon, Mari Jo Buhle e Nancy Shrom Dye, "The problem of Women's 
History", in Berenice Carrol, ed.. Liberating Women's History (Urbana: University of 
Illinois Press), p. 89. 

6. O melhor e mais sutil exemplo e o de Joan Kelly, 'The Doubled Vision of Feminist 
Theory", em seu Women, History and Theory (Chicago: University of Chicago Press, 
1984), pp.5 1-64, especialmente p.6L 

7. Para um argumento contra o uso de "genero" para enfatizar o aspecto social da diferenca 
sexual, veja Moira Gates, " A Critique of the Sex/Gender Distinction", in J. Allen e P. 
Patton,eds., Beyond Marxism! (Leichardt, N.S.W.: Intervention Publications, 1985) 
pp. 143-60. Concordo com seu argumento de que a distincao sexo/genero atribui uma 
determinacao autonoma ou transparente ao corpo, ignorando o fato de que aquilo que 
sabemos sobre o corpo constitui conhecimento cultural mente produzido. ' 

8.Para uma diferente caracterizacao da analise feminista, veja Linda J. Nicholson, Gen- 
der and history: The limits of Social Theory in the Age of the Family (Nova York: 
Columbia University Press, 1 986). 

9. Mary O'Brien, The Politics of Reproduction (Londres: Routledge and Kegan Paul, 
1981), pp.8.15, 46. 

10. Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex ( Nova York: Bantam Books, 1970). A 

"amarga amardilha" 6 de O'Brien, Politics of Reproduction, p. 8. 




. » * 



11. Catherine McKinnon, "Femininism, Marxism, Method, and State: An Ag 
Theory", Signs (1982) 7:515, 541. 

12. Ibid., pp.541, 543. 








1 3. Para uma interessante discussao dos pontos fortes e dos limites do termo "patriarca- 
do'\veja o debate entre as historiadoras Sheila Rowbotham, Sally Alexander e Barbara 
Taylor in Raphael Samuel, ed., Peoples History and Socialist Theory (Londres: 
Routledge and Keagan Paul, 1981), pp. 363-73. 







t 



14. Friedrich Engels, The Origins of the Family, Private Property, 
reimp.. Nova York: International Publishers, 1972). 

1 5. Heidi Hartmann, "Capitalism, Patriarchy and Job Segregation by Sex", Sings ( 1 976) 
1:168. 'The Unhappy Marriage of marxismo and Feminism: Towards a more Pro- 
gressive Union", Capital and Class (1979) 8:1-33; "The Family as the Locus of 
Gender, Class, and Political Struggle: The Example of Housework", Sings (1981) 
6:366-94. 




16. Discussoes sobre o feminismo marxista incluem: Zillah Eisenstein, 

archy and the Case for Socialist Feminism (Nova ork: Longman, 1981); A. Kuhn, 
"Structures of Patriarchy and Capital in the Family", in A. Wolpe, eds., Feminism 
and Materialism: Women and Modes of Production (Londres: Routledge and Kegan 



94 



Paul, 1978); Rosalind Coward, Patriardwl Precedents (Londres: Routledge and 
Kegan Paul, 1983); Hilda Scott, Does Socialism Liberate Women ? Experiences from 
Eastern Europe (Boston: Beacon Press, 1974); Jane Humphries, rr Working Class 
Family, Women's Liberation and Class Struggle: The Case of Nineteenth- Century 
British History" Review of Radical Political Economics (1977) 9:25-41; Jane 
Humphries, "Class Struggle and the Persistence of the Working Class Family", Cam- 
bridge Journal of Economics (1971) 1:241-58; e veja o debate sobre o trabalho de 
Humphries em Rewiew of Radical Political Economics (1980) 12:76-94. 

17. Kelly, "Doubled Vision of Feminist Theory", p.6L 



18. Ann Snitow, Christine Stansell e Sharon Thompson, eds., Powers of Desire: The 
Politics of Sexuality (Nova York: Monthly Review Press, 1983). 

19. Ellen Ross e Rayna Rapp, "Sex and Society: A Research Note from Social History 
and Anthropology", in Powers of Desire.p. 53. 

20. "Introduction", Powers of Desire, p. 1 2; e Jessica Benjamin, "Master and Slave: The 
Fantasy of Erotic Domination", Powers of Desire, p. 297. 

21 . Johanna Brenner e Maria Ramas, "Rethinking Women's Oppression", New Left Re- 
view (1984) 144:33-71; Michele Barrett, '^Rethinking Women's Oppression: A Re- 
ply to Brenner and Ramas", New left Review (1984) 146:123-28; Angela Weir e 
Elizabeth Wilson, "The British Women's Movement", New Left Review (1984) 
148:74-103; Michele Barrett, "A Reponse to Weir and Wilson", New Left Review 
(1985) 150: 143-47; Jane Lewis, "The Debateon Sex and Class", New Left Review 
(1985) 149:108-20. See also Hugh Armstrong e Pat Armstrong, "Beyond Sexless 
Class and Classless Sex: Towards Feminist Marxism", Studies in Political Economy 
(1983) 10:7-44; Hugh Armstrong e Pat Armstrong, "Comments: More on Marxist 
Feminism", Studies in Political Economy (1 984) 1 5: 1 79-84; e Jane Jenson, "Gender 
and Reproduction: Or, Babies and the State", trabalho inedito, junho 1985, pp. 1-7. 

22. Para formulacoes tedricas iniciais, veja Papers on Patriarchy: Conference, London 
76 (Londres: sem editora, 1976). Sou grata a Jane Caplan por me contar sobre a 
experiencia dessa publicacao e por sua disposicao a me emprestar seu exemplar e 
por partilhar suas ideias sobre isso comigo. Para a posicao psicanalitica, veja Sally 
Alexander, "Women, Class and Sexual Difference", History Workshop ( 1 984) 17: 1 25- 
35. Em seminanos na Universidade de Princeton, no comeco de 1 986, Juliet Mitchell 
pareceu retornar a uma enfase na prioridade das analises materialistas do genero. 
Para uma tentativa de ir al6m do impasse teorico do feminismo marxista, veja Cow- 
ard, Patriarchal Precedents. Veja tambe'm o brilhante esforco americano nessa direcao 
feito pela antropdloga Gayle Rubin, "The Traffic in Women: Notes on the Political 
Economy of Sex", in Rayna R. Reiter, ed., Towards an Anthropology of Women 
(Nova York: Monthly Review Press, 1975), pp. 167-68. 




23. Nancy Chodorow, The Reproduction of Mothering: Psychoanalysis and the . 
of Gender (Berkeley: University of California Press,1978), p. 169. 

24. "Minna descricao sugere que essas questoes relacionados ao genero podem ser 
influenciadas durante o periodo do complexo de Edipo, mas elas nao sao seu tinico 
foco ou efeito. A negociacao dessas questoes ocorre no contexto de processos mais 
amplos de relacao com o objeto e com o ego. Esses processos mais amplos tern igual 
influencia sobre a formacao da estrutura psfquica e sobre a vida psfquica e os modos 
relacionais de homens e mulheres. Eles explicam os diferentes modos de identificacao 



95 



e orientacao em relacao aos objetos heterossexuais, para as questoes edipianas mais 
assimetricas que a psicanalise descreve. Esses efeitos tal como os efeitos edipianos 
mais tradicionais, sureem da organizacao assimetrica da maternidade/paternidade, 



com o papel da mae como a figura primana e o distanciamento tipicamente maior do 
pai e seu investimento na socializacao, especialmente nas areas que dizem respeito a 
tipificacao de genero". Nancy Chodorow, The Reproduction of Mothering, p. 166. 
Denise Riley, War in the Nursery (Londres: Virago, 1984). E importante observar 
que existem diferencas de interpretacao e de abordagem entre Chodorow e os/as 
teorieos/as britanicos/as da relacao do objeto que seguem o trabalho de D. W. Winicott 
e de Melanie Klein. A abordagem de Chodorow pode ser caracterizada, de uma 
forma mais apropriada, como uma teoria mais socio!6gica ou sociologizada, mas 6 a 
Lente dominante atraves da qual a teoria da relacao do objeto tern sido vista pelas 



mini 



Riley, 



Virago, 1984). 



25. Juliet Mitchell e Jacqueline Rose, eds., Jacques Lacan and the Ecole Freudienne 
ova York: Norton, 1983); Alexander, "Women, Class and Sexual Difference". 




26. Teresa de Laurentis, Alice Doesn't: Feminism, Semiotics, Cinema (Bloomington: 
Indiana University Press, 1984), p. 159. 

27. Alexander, "Women, Class and Sexual Difference", p. 135 

28. E.M. Denise Riley, "Summary of Preamble to Interwar Feminist History Work", 
trabalho inedito, apresentado no Pembroke Center Seminar, maio 1985, p. 11. O 
argumento € mais plenamente desenvolvido no brilhante livro de Riley, "Am / That 
Name?: Feminism and the Category of "Women " in History (Londres: Macmillan, 
1988). 

29. Carol Gilligan, In a Different Voice: Psyctwhgical Theory and Women s Develop- 
ment (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1982). 

30. Cnticas uteis do livro de Gilligan podem ser encontradas em: J.Auerbach et aL, 
"Commentary on Gilligan's In a different Voice", Feminist Studiews (1985) 11 : 149- 
62, e "Women and Morality", um numero especial de Social Research (1983) 50. 
Meus comentarios sobre a tendencia dos/as hi stori adores/as a citarem Gilligan devem- 
se a minha leitura de manuscritos ineditos e de propostas de pesquisa. Por isso, nao 
me parece justo citi-los aqui. Venho registrando essas referencias ha mais de cinco 
anos, e el as sao muitas e continuam crescendo. 

3 1 . Feminist Studies (1980) 6:26-64. 

32. Para um discussao sucinta e acessfvel de Derrida, veja Jonathan Culler, On 
Deconstruction: Theory and Criticism after structuralism (Ithaca, N.Y.: 
University Press, 1982), especialmente pp. 156-79. Veja tambem Jacques Derrida, 
Of Grammatology, traduzido por Gayatri Chakravotry Spivak (Baltimore: Johns 
Hopkins University Press, 1974); Jacques Derrida, Spurs ( Chicago; University of 
Chicago Press, 1979); e a transcricao do Seminano do Pembroke, 1983 in Subjects/ 
objects (outono 1984). 

33. Clifford Geertz, "Blurred Genres", American Scholar (1980) 49:165-79. 

34. Michelle Zimbalist Rosaldo, 'The Uses and Abuses of Anthropology: Reflections 
on Feminism and Cross-Cultural Understanding", Signs(\9S0) 5:400. 




96 



35. Michel Foucault, The History of Sexuality, vol. 1 , Introduction (Nova York: Vintage, 
1980); Michel Foucault, Power/ Knowledge Selected Interviews and Other Writings, 
1972-1977 (Nova York: Pantheon, 1 980). 





esse argumento, veja Rubin, 'The Traffic in Women", P. 199. 

37. Ibid., p. 189. 

38. Biddy Martin, "Feminism, Criticism and Foucault", New German Critique (1982) 
27:3-30; Kathryn Kish Sklar, Catharine Beecher: A Study in American Domesticity 
(New Haven: Yale University Press,1973); Mary A. Hill, Charlotte Perkins 
Gilman.The Making of a Radical Feminist, 1860-1896 (Philadelphia: Temple Uni- 
versity Press, 1980); Jacqueline Dowd Hall, Revolt Against Chivalry: Jesse Daniel 

Women s Campaign Against Lynching (Nova York: Columbia Univer- 
sity Press, 1974.). 




39. Lou Ratte\ "Gender Ambivalence in the Indian Nationalist Movement", trabalho 
inedito, Pembroke Center Seminar, primavera 1983; e Mrinalina Sinha, "Manli- 
ness: A Victorian Ideal and the British Imperial Elite in India", trabalho inedito, 
Department of History, State University of Nova York, S^ony Brook, 1 984, e Sinha, 
"The Age of Consent Act: The Ideal of Masculinity and Colonial Ideology in Late 
19th Century Bengal", Proceedings, Eight International Symposium on Asian stud- 
ies, !986, pp. 11 99- 121 4. 






40. Pierre Bourdieu, Le Sens Pratique (Paris: Les Editions de Minuit, 1980), pp.246-47, 
333-461, especialmente p. 336. 

41. Maurice Godelier, "The Origins of Male Domination", New Left Review (1981) 
127:17. 

■ 

42. Gayatri Chakravorty Spivack, "Three Women's Texts and a Critique of Imperial- 
ism", Critical Inquiry (1985) 12:243-46. Veja tambem Kate Millett, Sexual Politics 
(Nova York: Avon, 1969). Um exame de como as referencias femininas sao tratadas 
em textos importantes da fllosofia ocidental pode ser encontrado em Luce Irigaray. 

peculum of the Other Woman, traduzido por Gillian C. Gill (Ithaca, N.Y.: Cornell 
University Press, 1985). 

43. Natalie Zemon Davis, "Women on Top", em seu Society and Culture in Early Mo- 
dern France (Stanford: Stanford University Press, 1975), pp. 124-51. 

44. Caroline Walker Bynum, Jesus as Mother. Studies in the Spirituality of the High Middle 
Ages (Berkeley: University of California Press, 1982); Caroline Walker Bynum. t4 Fast, 
Feast, and Flesh: The Religious Significance of Food to Medieval Women' 4 Represen- 
tations (1985) 11:1-25; Caroline Walker Bynum, "Introduction", Religion and Gen- 
der: Essays on theComplexity of Symbols (Boston: Beacon Press, 1987). * 

Veja, por exemplo, T. J. Clark, The Painting of Modern Life (Nova York: Knopf, 
J985). 

46. A diferen^a entre os/as teoricos/as estruturalistas e os/as p6s-estruturalistas, em relacao 
a essa questao, estd no grau de abertura ou fechamento das categorias de diferenca. 
Na medida em que os/as p6s-estruturalistas nao fixam um significado universal para 
as categorias ou para a relacao entre elas, sua abordagem parece levar com mais 
facilidade ao tipo de an&lise historica que estou defendendo. 

47. Rachel Weil, *The Crown Has Fallen to the Distaff: gender and Politics in the Age of 
Catherine de Medici", Critical Matrix (Priceton Working Papers in Women's Stud- 




97 



ies) (1985) 1. Veja tambem Louis Montrose, "Shaping Fantasies: Figurations, of 

.vies). UVW'A i.-*«J a ____ . # ^ t „ M# „w««. rlQQ^^ 1 -6 -94: e Lvnn 



and 



(ma: 



(1983) 1:95-117, nm ,y/ n i ff «% W ; '*• 



1* — . , { 

■ 



Edmund 




■ 



reorint ed Nova York: Barnes and Noble, 1967); Robert fumer, ramarcma una 
Stolkcal Works (Oxford: B. Blackwell,1949); e John Locke, Two Tenses of 
Government (1690; reimp:, Cambridge University Press, 1970):Veja tambemEl.za- 
£ FTGenovese "Property andPatriarchy in Classical Bourgeois F*ba"*»* 
Radical History Rmew(1977) 4:36-59; e Mary Lyndon Shan ey Marriage Con- 
m and Sociaicontract in Seventeenth Century English Pohtical Though. , West- 
" ---• "utterly (1979) 3:79-91. 

nard Lewis pela referenda ao M Michel ftbbifc *stoiredela 
-tusage desPlaisirs (Paris: Gallimard,1984). Sobre as mulheres 
: ■ i.J: »*^i. m /kwiinr "•! ihf-rated Woman*: The Classical Era, 



mi Po/irica/ giiater/y ( 1979 > 3:79-91. 

. i -A _. .. L 

1 -it a 

49. Sou grata a Bern 
Sexualite,Vol 2 






m Kenaie bridenthal e Claudia Kooriz, eds., Becoming Visible: Women m ^ 
History (Boston: Houghton Miffin, 1977), pp.75-78. 



50 Citado em Roderick Phillips, "Women and Family Breakdown in Eighteenth Cen- 
tury France: Rouen 1780-1800", Social History (1976) ,2:217. , q < 

S^Sobre a Revo,u e 2o Francesa; veja Darlene Gay Levy, Hamet Applewhite, e Mary 
Durham Johnson, eds., Women in Revolutionary, 1789-1795 (rbana. I 
BlinoiS Press, 1979), pp.209-20; sobre a legisla?ao sovietica, veja os 




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/toory Worfe^ (1976) 1:74-113, eTim Mason "Womer .« Germany, 1925-40. 
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1890S-1913", French Historical Sn^** (1913) 13:79-105, ,. : m^W KmOJ 
53 . Sobre os utopicos ingleses, veja Barbara Taylor, Sv« and Ne» *nMW>* York: 



Pantheon, 1983) 



54. Louis Devance, "Femmei famille, travail et Moralesexuelle dans 1 hMoUj jde 
io,DH :- u^fc- -, ~»rj^fetorai & fa femiiitf aw */** wi*fc (Pans: Champion, 



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1848", 

1977); Jacques Ranciere e Pierre Vauday, "En allant a 

les machines", Us Revokes Logiques (1975) 1:5-22, 

Gayatri Chakravorty Spivak, -Draupadi' by Mahasveta Devi", Critical «W< ' "< ' 

8-381-401; Homi Bhabha, 'Of Mimicry and Man: The Ambivalence of Colonial 

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tions to the Widowsof World War 1", ui Margaret r. nigo.uid n «-, ■~™T 
L«ne5: Gc^r W two World Wars (New Haven: Yale University Press 1987), pp. 



,,1 26-40. Ken Inglis, "The Representadon of Gender on Australian War Memorials", 
^Daedalus (1987) 116:35-59. nl- " 'riibsM a '« 



98: 



56. Sobre a Revolucao Francesa, veja Levy et al., Women in Revolutionary Paris. Sobrea 

"m i 

Revolucao Americana, veja Mary Beth NoTton,Liberty's Daughters; The Revolu- 
tionary Experience of American Women (Boston: Little, Brown, 1980); Linda Kerber, 
Women of the Republic (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1980); 
Joan Hoff- Wilson, 'The Illusion of Change: Women and the American Revolution", 
in Alfred Young, ed., The American Revolution: Explorations in the History of Ameri- 
can Radicalism (Dekalb: Northern Illinois University Press, 1976), pp. 383-446. 
Sobre a Terceira Republica Francesa, veja Steven Hause, Women s Suffrage and 
Social Politics in the French Third Republic (Princeton: Princeton University Press, 
1984). Urn tratamento extremamente interessante de um caso recente pode ser 
encontrado em Maxine Molyneux, "Mobilization Without Emancipation? Women's 
Interests, the State and Revolution in Nicaragua", Feminist Studies (1985) 11:227- 
54. 

57. Sobre a questao do pro-natalismo, veja Riley, War in the nursery, e Jenson, "Gender 
and Reproduction". Sobre os anos 20, veja os ensaios contidos em Strategies des 
Femmes (Paris: Editions Tierce, 1984). 

58. Para interpretagoes variadas do impacto do novo trabalho sobre as mulheres, veja 
Louise A. Tilly e Joan W. Scott, Women, Work and Family (Nova York: Holt, Rinehart 
and Winston, 1978: Methuen, 1987); Thomas Dublin, Women at Work: The Trans- 
formation of Work and Community in Lowell, Massachusetts, 1826-1860 (Nova 
York: Columbia University Press, 1 979); e Edward Shorter, The Making of the Modern 
Family (Nova York: Basic Book, 1975).' 









59. Veja, por exemplo, Margaret Rossi ter, Women Scientists in America: Struggles and 




ategies to 






more: 




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60. Luce Irigary, "Is the Subject of Science Sexed?" Cultural Critique (1985) 1:73-88. 




61 . Louis Crompton, Byron and Greek Love: Homophobia in 

gland (Berkeley: University of California Press, 1985). Essa questao e* tratada em 
Jeffrey Weeks, Sex, Politics and Society: The Regulation of Sexuality Since 1800 
(Londres: Ley man, 1981). 



Publi cacao em ingles: 

SCOTT, Joan. Gender on the Politics of History. New York: Columbia University Press, 
1988 (p.28-50). 

Publicaclo em frances: 

Us Cahiers du Grif n.37/38. Paris: Editions Tierce, 1988 

* - . 

Traducao de Guacira Lopes Louro, versao em frances. Revisao de Tomaz 
Tadeu da Silva, de acordo com o original em ingles. 



Joan Scott e professora do Institute for Advanced Study in Princeton 















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