WÈÊÊÊtk*
Wá
NA- MAGNIFICA, E SUMPTUOSA FESTIVIDADE,
que a eftc Myílerio confagráraõ os
da Cathedral da Bahia
Na Dominga infra Oâfavam do Corpo í Deof,
em 31. de May o de iy$o.
SENDO JUIZ DESTA IRMANDADE
O MUITO REVERENDO SENHOR DOUTOR
%,jiy
í
PEREIRA,
Arcediago da Saneia Sé Metropolitana da Bahia, Protonotario Apofiolico de Sua Sancii-
dade , Defembargador Theologo da Relação Eçclejiajlica , Examinador de Conjefjb-
res , Pregadores , e Ordinandos , Vigai lo cal lado , que foi da Freguesia de N. Se-
nhora do Rojarlo da Cidade , Vijitador geral Jeis vezes da mcjma Cidade , e
yí'». Recôncavo, Juiz Commiífario das Oijpen/açoés, Juiz Confcrvador dos
Monges da Ordem de S . Bento , e Juiz Commlffario Apojlolico da
Buiía da Saneia Cruzada em todo o Arecbijpadoy^fc,
P O
A quem íe dedica
R SEU AUCT
O R
ANTÓNIO DE OLIVEIRA,
Sacerdote do Habito de 5. Pedro , Meftre cm Aries , e Theoi.rgo dos Ejludos geraes da
Companhia de Jefus da mcfma Cidade da Bahia , e nelles Examinador multas ve-
zes de Philojophia , Milionária Apojlolico por Sua Sanctidade , c de pré/ente
Vijiiador da Cidade de Sergipe d'El-Rey , e do Certaô debaixo, Vc,
II
li
I
Uí ;
* 1
M^jLft^,
*\ *
A
DEDICATÓRIA
AO reverendíssimo senhor doutor
ANTÓNIO GONÇALVES
PEREIRA,
Arcediago da Saneia Sé Metropolitana da Bahia, Protonotario ApoRolico
de Sua San&idade , Delembargador Theologo da P,elaçaõ Eccleílaflica,
Examinador de Pre'gadores , Confcílbres , e Ordinandos , Juiz Com-
miíTario das Difpeníàçoes , V igano collado , que foi da Matriz de N. Se-
nhora do Roíario delia Cidade , Vifitador geral feis vezes da mefma
Cidade , e feu Recôncavo , e Commiflario da Bulia da Sandia Cruzada
em todo eíte Arcebifpado.
R E V!° SENHOR.
R
,íi"
E N D O em alguns Sermões
meus , que correm imprefjos ,
bufe a do a protecção de V. M.,
dedicando-lbos , feria em mim de f cuido culpável
deixar de procurar o mefmo Mecenas para efle ,
* ii que
r H '
que preguei na Cathedral da Sé cia Bahia em a
Fe fia grande do Sanelifftmo Sacramento , de cuia
Irmandade era F. M> dignifjitno Juiz \ e como já
tenho experiência da efpcacia da fua protecção ,
com razoo mayor nefie Sermão , que tanto lhe com-
pete , por fer encommendado por V. M. , he juftoy
e devido o dedique d fua preclariffima Peffoa , em
cujo obfequio defejdra erigir eternos ohelifcos , e
incontr afiáveis monumentos , que noticia ff em d po-
fter idade as inextimaveis virtudes de hum Varão
í ao famigerado,
He com razão o nome de V. M. applaudido
nao fd nefie Brazil , mas também em Portugal ;
porque os muitos Sermões , e livros , que fe im-
primem em Lijboa debaixo da fua protecção , tem
dado a conhecer as fuás relevantes prendas na ma-
gnificência das fuás acções , acompanhadas com o
zelo do fervi ço de Deos. Diga- o a Irmandade de
S. Pedro dos Clérigos , em cuja Igreja fervipdo
V. M. três amos fucceffivos de Provedor ff em tan- -
tas obras com difpendio confideravel da fua fazen-
da , que^ a pós na fua ultima, perfeição , reparando
os rendimentos quafi attewuados , augmevtando o
património , e deixando arbítrios , com que fe pu*
defje a Irmandade confervar , de [empenhada e
opulenta. Diga-o a Irmandade dos Saneias Paffos,
da qual fendo V. M. também Provedor , a regeo
com tao acertadas direcções , e proveo de taÕgrof
fos donativos , que inda hojefufpira pelo feu pru-
dente governo. Digc-o a Irmandade da Saneia Mi-
fericordia .. que elegendo a V. M. por Provedor,
fem fer Irmiô , adminijlrou com tanta caridade,
e de finter efffe os encargos da fua oceupaçao , que
vivtr d perdurável a memoria do feu zelo.
Diga-o a Irmandade do Sanãiffimo Sacra-
mento
mento defia Cat,bedral , em que nos empregos de
Mordomo da RefiurreiçaÔ , e agora de Juiz , fem-
pre Iuzíg afua magnificência , com pios e Uberaes
dispêndios em beneficio do Divino Culto , tendo a
gloria de fe dourar em ofeu tempo o retábulo da
Capella do S anato Chrijío , a pefar de muitas con-
troversas \ porque como a experiência tem mo fira-
do -, fò para a fua generofidade e direcção fe re-
ferv ao as grandezas, Diga-o a Freguezia de no ffa
Senhora do Rofario das portas do Carmo , hoje
do Sacramento , que com toda a prudência paro-
chiou V. M. dezafeir annos , fiem a menor queixa ,
ou nota do feu procedimento •, acudindo vigilante
as neceffidades de jeus freguezes , n ao fio com o
pafto efpiritual , mas também com repetidas e [mo-
las , di [pendendo a própria fazenda , e bens here-
ditários para o ornato dafiua Igreja , defiituida
então ( por [er novamente ereâía em Freguezia )
de muitos aprefios tiecefiarios para a decência do
Culto Divino. Ne lia inflituío a Irmandade do
Sattâtijpmo Sacramento , de que foi o primeiro
Juiz , difipendendo liberalmente para mover com
0 feu exemplo aos no§fos freguezes a concorrerem
para o augmento , e grandeza , em que hoje fie vê.
Deftes Parochos , como V. M. , quer Chri-
fto Senhor nojfio nas fiuas Igrejas \ e por i[jo , como
empenhado nas fiuas felicidades , lhe dá vida ,
honras , e cabedaes , que V. M. fiabe género [aman-
te difipender em acções magnificas , como pode te-
flemunhar efiia Corte Americana , naõ fio no ef-
plendor das funções louváveis e pias i que faz,
mas também no luzimento do trato de fua Pefjoa,
e Cafia das mais bem ornadas que ha vefiia Cida-
de. NaÕ menos devem fer pregoeiras dejuas lou-
váveis acções \ três funções Funeracs , efumptuo-
[as
!.■;■<
fas Exéquias , que V. M. celebrou nefta Cidade em
diverfas occafioes a expenfas próprias com todo o
luzimento. A primeira na Igreja de noffd Senhora
do Rofario dcfta Cidade pela alma da llluflriffi-
ma Senhora D. Marianna de Aleneaftre , May do
Illufirifjimo Senhor Conde de Sabugo fa , então
Vice-Rey defte Eftado , fendo V. M. dignijfimo
Parocho da dita Igreja : a fegunda na Igreja de
S» Pedro dos Clérigos , pela alma do Excellentiffi-
mo e Rever endifflmo Senhor Arcebifpo D. Luiz
Alvares de Figueiredo , fendo Emeritiffimo Pro-
vedor da Reverenda Irmandade \ e a terceira na
igreja da Mifer teor dia , pela alma do Rever endif-
fimo Senhor Abbade o Doutor Manoel de Mattos
Botelho , Irmão do Excellentifjimo e Rever endif-
Jimo Senhor Arcebifpo D. Jofeph Botelho de Mat-
tos , que Deos guarde , fendo V.M. digniffimo Pro-
vedor da Saneia Cafa, celebradas todas com tanta
fumptuofidade , que bajla dizer- fe , que for ao offi-
ciadas pelas direcções da fua magnificência.
Aqui n ao deixarei em Jllencio huma famofa
acção , que em Cabbido obrou a fua género fida de
em occafiao , que havia chegado a noticia dofalle-
cimento do Excellentifjimo e Rever endiffimo Se-
nhor Arcebifpo , Bifpo da Guarda D. Jofeph Fia-
lho. Propôs V. M. , que fuppofto morre/f e o dito
Excellentifjimo Senhor em Li/boa , e fora defte
Arcebifpado , em tempo que fe achava já digni (fi-
ntam ente oc capada efta Cadeira Ar chiepi [copal ,
debaixo do f nave e pruâenti ffim o governo do Ex-
cellentifjimo e Rever endiffimo Senhor Arcebifpo
D. Jofeph Botelho de Mattos , com tudo era ju-
Jlo , que a hum Arcebifpo , a quem fe deviao f ati-
do fas memorias , fe fizeffem aquellas honras Fu-
neraes , como fe coftumao fazer aos mais Prela-
dos^
dos , falhados nejia Diocefe ; e quando nao ', pedia
licença para fó ', £ #'/## r#/?# as fazer celebrar
com aquellas demonfiraçoes , #z/£ merecia Prela-
do de tanta veneração. Louvarão todos es Reve-
rendi ffimos Capitulares a generofa refoluçao de
V. M.\ porém igualmente ambiciofos da gloria ,
que V. M. J o queria alcançar , uniformemente con-
correrão para a celebração do Funeral , que fe fez
com todo o luzimento , e fumptuofidade.
Digaõ nao menos féis vi fitas , em queV. M.
como Vifitador geral das Igrejas da Cidade , e feu
recôncavo moflrou tal limpeza , e defintereffe ,
que nunca quiz receber os oitenta mil reis , que
Sua Magejlade manda dar aos Reverendos Vifita-
dor es para ajuda do cujlo. Diga-o também a oc-
cupaçao de juiz das difpenfaçoes , da qual achan-
do aV. M. digno o Exceli entijfimo e Rever endif-
fimo Senhor D. Jofeph Fialho , e formando cabal
conceito da fua reâlidao , e verdade , quando fe
aufentou para Portugal , lhe deu faculdade para
difiribuir a feu arbítrio o dinheiro das multas ap-
plicadas para obras pias ; e juntamente o dinhei-
ro das efmolas , que configna Sua Mageflade to-
dos os atinos aos Excellentifiímos Senhores Arce-
bifpos : o que tudo fatis fez V. AL com todo o acer-
to na aufencia do dito Excelhntiffimo Prelado ,
em cujo nome havia tomado pojfe defie Ar cebif pa-
do na Sanâla Sê Cathedral , onde com jubilo uni-
verfal de alegria , aquelle innumeravel concurfo
do melhor defta Cidade vio a V. M. afientado na
Cadeira Are hiepif copal ', e debaixo de hum docel
fufientar a Mitra , e empunhar o Bago , que to-
dos lhe prognoflicavao foffe algum dia de pro-
priedade.
Diga o o emprego de Commijfario da Bulia
da
da S anafa Cruzada, em que concorrendo per ten-
dentes confpicuos para o mefmo emprego ,foi V.M.
ef colhi do para tao importante occupaçao \ e em me-
nos de hum anno foi tal o conceito , que teve o Re-
ver endiffimo e III uflriffimoCommi (farto geral da
capacidade , e inteireza de V. M. , que confiando
fia fua verdade , lhe mandou fegunda ProvifaÕ ,
dandc-lhe todos os feus poderes , e faculdades con-
cedidas pela Sé Apoflolica , para poder compor , e
fazer afeu arbítrio, todas e quaefquer compofi-
foes , que fe offerecejfèm , havendo tudo por vali*
do, e ratificado , como je por e lie mefmo f o ff em ce-
lebradas ', faculdade ejia tao ampla , efingular,
que inda fe nao coneedeo a Commijjario algum ne~
jle Arcebifpado.
Diga-o também o conceito , e honra , com que
a Religião Benediâiina, e feus Religiofiffimos,Dou-
iifjlmos , e Exemplar i (fim os Monges defla Provín-
cia do Brazil elegerão a V.M. para [eu Juiz Con-
f erva dor , efpermdo da fua Peffoa os recíifftmos
diõíames, da fua prudência. D igao finalmente ou-
tras muitas , e diverfas occupaçoes , que V. M.
aâminifirou fempre com zelo do fervi ço de Deos^
e bem das almas , havendo- fe em todas com gran-
de capacidade , fummo acerto , e geral aceitação,
condecorando tao altos merecimentos a vafta Htte-
r atura, que adorna a Peffoa de V. M. ; porque nas
claffes da Latinidade foi ac cl amado pelo melhor
Grammatico , e Poeta latino daquelle tempo , fem-
pre reputado por grande humamfta , ver fado na li-
ção de varias erudições , e applicado ao efluda
dos livros mais feleÓlos , de que fe compõem a fua
grande , e bem acenda livraria. Por tffb na infii-
tuiçao da Academia Bahienfi foi V. Aí.' defigna-
do para hum dos feus Académicos , e logo no-
meado
~* j.
tnèado Pr ep dente de huma das primeiras confe-
rencias.
Na Philofopbia , fahindo V. M. hum dos^
melhores Eftudantes , e da primeira graduação
dofeu Curfo , mereceo nos Exames de Bacharel , e
Meftreem Artes afuprema approvaçaõ de Máxi-
ma ab omnibus : defendeo as terceiras Conclufoês
de Lógica ; foi Capitão da primeira Meza , e ul-
tima Pedra de Metaphyfica , Arguente público
nas Conclufoês de Philojophia , e Theologia j e
no anno de 1724. eleito com honra Examinador do
Curfo Philofophico em Clauftro pleno de todos os
Meftres , e Padres graves do Collegio de j£E$US.
Nas Theologias alcançou V. M. nome taÔ famo-
fo , que na Especulativa , e Efcolaftica condecorou
as Aulas ; na Pofttiva , e Afcetica illufirou os
Púlpitos ■, e na Pratica , ou Moral confeguio
taes applaufos , que em três concurfos , que fez
para as Igrejas defta Cidade , fempre levou as
primeiras , e melhores approvaçces ; e no con-
curfo para a Igreja de twffa Senhora do Rofa-
rio , em que foi provido , o primeiro voto ab om-
nibus.
Acer efe e a tudo iflo huma modeftia gr a-
ve , ou gravidade modefta , que em V. M. res-
plandece com hum procedimento admirável , e gé-
nio taÔ dócil , que a todos fe faz grato , e ge-
ralmente bem quifto. Perdoe V. M. eftas di-
grefjoês do meu affeâlo , que como verdadeiras ,
e conhecidas nejla Cidade , nao pofjo deixar de as
tnamfejlar nejla Dedicatória , para d ef ofego de
quanto reconheço feus fuperiores méritos ; por-
que d fombra de tao benéfica Pereira , e nos auf-
picios de tanto Numen, nao temerei a mordacida-
de dos Arijiarcos , e zombarei da maledicência
** s dos
I' I
dos- Zoilos , fiaõ obflante a improporçaõ da offer-
ta pela humildade da forma , para a grande*
za da nobiliffima Peffba de V. M. , que Deos
guarde , &c*
MO
REV. SENHOR.
DeV.M.
Servo muito obfequiofo, e perpetuo venerador
António de Oliveira.
L I-
SERMA
D O
SS. SACRAMENTO.
Homo (juidam fecit Cctnam
magnatn. S. Lucas no c. 14. n. 16.
U I T O dá quem chega a dar
tudo quanto tem ; mas muito
mais dá quem , depois de dar
tudo quanto tem , chega tam-
bém a dar tudo , quanto he.
( Senhor. ) Muito dá quem
chega a dar tudo quanto tem ;
mas muito mais dá quem , de-
pois de dar tudo quanto tem ,
chega também a dar tudo,quan-
to he. Quem chega a dar tudo quanto tem , faz
prova manifefta de liberal grandeza ; mas quem
A chega
I :i
2 Sermai
chega a dar tudo quanto he , faz evidente demon-
ftraçaó de fumma liberalidade. Dar tudo quanto
tem , fe vê na liberal grandeza de hum Alexandre
i.Macha- dividindo o feu Império pelos feus Magnates : Vo-
beor. 1.7. c a vi t pueros fuos nobiies . . . & divijit Mis re-
gnumfuum: Mas dar tudo quanto he , depois de
dar tudo quanto tem , fó fe admira na fumma libe-
ralidade de Chriílo Senhor noíTo no Sacramento,
D.Aug. ín dando-fe a íi próprio a quem communga . Cum fe
Joann.6. jpfafn dar et , plus dare non habuit. O certo he
que dar tudo quanto tem , fe vê na grandeza de
Príncipes , como fe vio em Jonathas para com Da-
vid ; em Pharaó para comjofeph; e em Alfuero
para com Mardocheo : mas dar tudo quanto he,
fó fe adora na máxima liberalidade de Deos , como
D.Thom. fe vê na Meza do Rey Sacramentado : In hac menfa
y^f^novi Regis ', e na foberana Meza da Sancliflima
panei. Trindade : Menfa Ma Tririttatis fuos panes habet
abfconditos.
No Myfterio da San&iílima Trindade gera o
Pay ao Filho; e como o Pay he Deos, de tal forte lhe
dá tudo quanto he ( menos a Paternidade ) que dá o
feu mefmo Ser de Deos ao Filho : e o Filho com o
Pay produzindo oEfpirito San&o , de tal forte lhe
dá tudo quanto he , em quanto Deos , que he igual-
in symb. mente Deos oEfpirito San&o : Deus Pater, Deus
s. Athaa piiiuj , OeusSpiritus Saneias. Eíla he a máxima
liberalidade de Deos na foberana Meza da Sanclif-
fima Trindnde , onde ficaõ todas as três Divinas
Peífoas o mefmo Deos : Menfa Ma Trinitatis ; e
efla he , com a devida proporção , a liberalidade
também máxima de Chriílo Senhor noíTo na Real
Meza do Sacramento , em que fica também Deos
por participação quem o communga : In hac menfa
novi
ão 8$. Sacramento. 5 *
noviRegis. Na San cTriífi ma Trindade o Pay , que
heDeos, dá tudo quanto he, em quanto Deos,
ao Filho ; e o Pay com o Filho , que he Deos , dá
tudo quanto he , em quanto Deos , ao Efpirito
Saneio : e no SanctiíRmo Sacramento Chrifto Se-
nhor noflb , que he Deos , dá tudo quanto he a
quem dignamente o recebe facramentado , fican-
do quem o communga o mefmo Deos por par-
ticipação com Chriílo : Vere comedens Deus gflf\p:'Çhryr,
CítUr. injoan.^.
Com tudo Deos Pay fó dá o Ser de Deos ao
Filho ; e o Pay com o Filho fó daó o Ser de Deos
ao Efpirito Sancto : porém nem daó , nem podem
dar o mefmo Ser de Deos a mais pefToas. Mas oh
bemdita feja a fumma liberalidade de Chriílo Se-
nhor noíFo no Sacramento ! que o que naõ fe faz ,
nem pôde fazer na Trindade, veneramos fazer-fe no
Euchariítico Myfterio : porque eftá nelle taó libe-
ral eíre novo Rey , que nelle nos dá o Ser de Deos,
e faz Deofes por participação , naô a huma , nem fó
a três pefToas , mas fim a todas que dignamente o
recebem : Sumit unus , fumunt mille , tantum tfli, D.Thom.
quantum tile. Ut bomines Deos faceret. E de que
modo oftenta Chriílo Senhor noífo efta máxima li-
beralidade ? he dando-nos aquella auguftiííima Cea
na Meza do Sacramento : Homo qutdam fecit Cce*
nam magnam. He efte homem Chrifto Senhor nojr
fo inftituindo o Sanfriílimo' Sacramento na noite
da Cea : Homo eft Chriftus Dominus : e como a Hug. ír»
Cea he a do Sacramento : Per Ccenam accipe Eu-Luc- *4'
chariftiam ; dando-fe o Senhor nefta Cea em comi- D- Cyrfli»
da : Caro me a vere eft cihus ,, quem verdadeira- joann. 6.
mente o come , fica o mefmo Chrifto : quem digna-
mente recebe o Sanctiffimo Sacramento , já naõ he
A ii fómen»
I
Euthim.
in Luc.
cap. 14.
Plill
°4 Sermaó
fomente homem , he também Deos : Vete come'
dens Deus efficitur.
Euthimio dando a razaó da grandeza da Cea
do Sacramento diz > que toda a fua foberania con-
fifte , em que nefta Meza gozamos de forte os Di-
vinos conforcios da participação da Divindade , e
fubimos a tanta gloria , que nada nos fica mais que
defejar : EJl magna tila Ccena ; quia in tila Deo
fruimur , qui nos adeo glorificai , ut nibil am-
plias optar e , vel defiderare poffimus. Logo, infi-
ro eu aflim , fe nós defejarmos fer Deo fes , Deofes
ficaremos na Meza do Sacramento ? aflim he ; por-
que eíta he a fumma liberalidade deChrifto Senhor
noíTo nefte Sacratiflimo Myfterio , em que nos dá
tudo quanto he : e como he Deos nefte Myfterio,
Deos fica cada hum de nós , que dignamente o re-
cebe. Grande prodígio na verdade temos nefta íb-
berana Cea ; porque aflentando-nos á Meza do Sa-
cramento homens , fomos nella elevados a fer Deo-
fes : Vete comedens Deus efficitur. E por iíTo he
taõ grande efta Cea , que tem por titulo a Cea
grande : Homo quidamfecit Ccenam magnam. Ho-
mo eft Cbrijlus Dominus. Per Ccenam accipe Eu-
charifliam. E que gloriofa femelhança a da Meza
do Sacramento : In hac Menfa novi Regis com a
Meza da Sanctiífima Trindade : Menfa tila Trini-
tatis ! porque fe na Meza da Sanctiflima Trinda-
de , quem vê o Filho , e o Efpirito San&o , vê ao
Pay , em quanto ao mefmo Ser , que todos tem de
Deos j porque o Pay dá o fer Deos ás outras Pef-
foas ; na Meza do Sacramento , quem vê aos ho-
mens , que dignamente o recebem , vê em todos
hum homem Deos; porque Deos feito homem dá
aos homens o Ser de Deos por participação : Vere
come-
do SS. Sacramento. y
comedens Deus efficitur. E toda efta maravilha fe
obra pela comida deita grande Cea. No principio
do mundo enganou a ferpente a nofíbs primeiros
Pays , dizendc-lhes , que comendo do pomo feriaó
Deofes : In quocumque die comederitis . . . erMs Gencf. 3.
Jicut Dii: mas nefta Meza com toda a realidades-
fomos Deofes por participação com a fagrada co-
mida deita grande Cea : Homo quidam Jecit Coe-
nam magnam. Será pois hoje o meu aflumpto mo-
ítrar em hum fó difcurfo na Meza do Saruftiflimo
Sacramento nu ma nova officina de Divindade ; e
que a comida de taó foberana Cea faz Deofes aos
homens , que chegando a ella homens , ficaô Deo-
fes ; e com tanta foberanía , que fe pudera haver
exceífo á Meza da Sandliílima Trindade , fó pare-
ce que o haveria na Meza do Sacramento ; por-
que fendo as três Divinas PeíToas hum fó Deos,
Deofes ficaô todas as peíToas, que dignamente rece-
bem o Sanclriflimo Sacramento. E para chegarmos á
foberanía de taó alta Meza , e vermos os prodígios
de tantaJDivindade , viftamo-nos primeiro do orna-
mento nupcial da Divina graça.
JÍVE MARIA.
f;.V
Homo quidam fecit Ccenam magnam.
S. Lucas no lugar citado.
DIVINO incêndio por certo he o que fe
levanta no Altar do Sacramento : Ignisu\\t.6.
in Altari femper ardebit ! pois he nelle Deut
Chriíto Bem noíTo taô activo fogo : Deus igtiis 24.
cotyu-
Oth. Vcn
Embl. A
mat. foi.
22S.
Hve
6 Sermaí
confumens eft ; quiquem chega ás fragoas do íeu
amor nefta Meza , fica falamandra abrazada , que
concebendo em íi divinas chammas , fe converte em
vivas lavaredas do mefmo fogo , como da falaman-
dra diz o Poeta :
t*ftPT7- Me a vita per ignes
Crefcit , &> in mediis ignibns ejje juvat.
S. Dionyfiodiz, que aílim como o fogo converte
em fogo quanto nelle fe abraza 5 aflim quem fe ali-
menta dò fogo do Sacramento , nelle fe converte
de forte , que fica com a própria Imagem , e Forma
D Dionyf. do mefmo Deos : Ignis fenjibilis ea , quibus infe-
d. Coeieíi. derit , infuum traducit officium , omnibusque qno-
modolibet fibi appropinquantibus fui confortium
tradit : haud aliter Dominus nofter , $* Deus ,
qui ignis conjumens eft , nos per Cibum hnnc Sa-
cratifjimum in Jui traducit effigiem , Deiformes-
que reddit : e por eíla Divina fragoa , com que o
fogo do Sacramento converte em vivas chammas*
a quem dignamente o recebe , me atrevo a dizer,
que o Sacramento he huma nova officina de Divin-
dade , que faz aos homens Deofes : Vere comedens
Damafc Deus efficiíur : e o mefmo Sacramento he fogo,
lib. 4. de que diviniza a quem o recebe: Euchariftiaejl ignis
Fid. c.14. Deificam.
Naquella facratifíima Meza pôs Chrifto Se-
nhor noifo a fens Difcipulos a grande Cea doPaó
facramentado : Homo qui dam fecit Ccenam ma-
gnam : e como aquelle Divino Paõ he o mefmo
Corpo de Chriíto , Deos e homem : Hoc eft Cor-
pus me um ; ficáraõ os doze Sagrados Apoftolos fi-
gurados em doze paês ; para que multiplicando o
Senhor em cada hum delles a fua Real Prefença,
pudede de cada hum dizer pela Sagrada Commu-
nhaô
do SS. Sacramenta: y
nhaó as mefmas palavras : Hoc eft Corpus meum\
e defta forte ficafle cada Difcipulo á Meza hum ho-
mem Deos : Vere comedens Deus efficitur. E já
que temos o thema de huma Cea : Ccenam magnam^
e a Fefta de huma Meza : In hac Menfanovi Regis;
bem he que façamos fobre huma Meza a evidente
prova daquella Cea , para manifefta demonftraçaó
defta verdade. Falia Deos com Moyfés no Leviti-
co, e lhe diz: Accipies quoque fimilam , & ro-Levit. 24,
quês ex ea duodecim panes . . . fuper Menjam pu- 5r
rijftmam coram Domino ftatues.
Toma , Moyfés , a flor da farinha de trigo , e
faze doze paês , e os aprefenta diante do Senhor
fobre huma meza puriíllma. E dizem os Expoíl-
tores , que efte Texto fe entende dos pães da pro-
porção , cuja formação pertencia aos Sacerdotes :
Htc agitur de propofitione panum , quorum mate- ifhay.
ria erat farina triticea puriffima , & ad officium hlc-
Sacerdotum pertinebat ijios panes formare. Eíta
Meza fem controveríia alguma he a mais expreífa
figura da Meza auguftiílíma do Sacramento : £z/-Aref. in
cbariftia eft panis propofitionis ante faciem Do- ^
mini. Mas no que reparo he , que fendo o Paô do ç,2J.
Sacramento hum f ó , e íingular : Htc eft Panis ;jeann.$,
diga o Texto que erao doze os paês da propofiçaó,
figurando todos o Paó do Sacramento : Duodecim
Panes fuper Menfam} qual fera logo o Myfterio,
porque fendo hum fó o Paó do Sacramento , fe ha
de figurar expreíTamente naquella meza de doze
paês? Mas oh que admiravelmente refponde a eíla
mefma dúvida S. Cyrillo Alexandrino.
Sabeis porque , fendo hum fó o Paó do Sacra-
mento , mandou Deos pôr naquella Meza doze
paês ? foi para correfponder a figura ao figurado.
O figu-
$ Sermão
O figurado havia de fer a Meza da Cenáculo na
noite da Cea , com a inírituiçaõ do Paó do Sacra-
mento , em que haviaó os doze Apoítolos com-
mungar aquelle Divino Paó , que Chriíto Senhor
noflb a primeira vez converteo em fua própria fub-
fíancia : e como os doze Apoítolos commungando
fe haviaó converter no mefmo Chriílo , que fe lhes
dava nas efpecies de paõ , e por iílb ficarem como
doze Paes do Sacramento : efta he a razaó , porque
D. Cyriii.3 figura foi de huma meza com doze paês : Duode~
Alexand. cim panes fuper menfam. Vaó as palavras do San^
c"to Doutor : Ad imitationem ipfius Chrifti panes
appellati funt beati Difcipuli confortes faâíi pa-
rtis nutrientis nos in vitam aternam. Chriílo que
he Deos , e homem eftá realmente no Sacramento
nas efpecies de paô ? pois nas efpecies de paõ fe
haô de também vêr aquelles , que chegaó a com-
mungar na Meza do Sacramento , pelo qual ficaô
homens Deofes : e como eraô doze os Difcipulos,
que commungáraô na noite da Cea o Paô do Ceo;
doze eraó os paés , que apparecêraô naquella meza,
figura deita : Duodecim panes fuper menfam. Pa-
nes appellati funt beati Difcipuli.
Hum he o Paô do Sacramento ; mas fendo
muitos os que commungaô eíle Paô , muitos faó
os Paês, que apparecem naquella Meza. Daquelle
Paó do Sacramento , diz Chriílo Senhor noíTo , que
he o feu Corpo : Hoc efi Corpus meum : e no mef-
mo Corpo de Chriílo fe converte quem fe torna
em Paô facramentado , quando recebe o Paõ do
D.Aug. in Sacramento : Corpus Chrifti f um us , qui Corpus
Joan.6. Chrifli accipimus. A virtude do fermento he fer-
mentar toda a maça ; a virtude do Divino Paó do
Sactamento he divinizar naquella Meza os que a
ella
do SS. Sacramento. 9
ella chegaô , e torna-los em Paes facramentados.
No Paó do Sacramento eftá realmente Corpo , San-
gue, Alma, e Divindade ; e também nos que com-
mungaó aquelle Paó , tornando-fe em Paes facrr-
mentados , Te une a Divindade , a Alma , o Sangue,
e o Corpo de Chriílo : logo lie a Meza do Sancíif-
íimo Sacramento huma nova officina de Divindade,
que como Chriíto Senhor noíío nas efpecies de
raó fe nos dá , como Deos e homem 5 todo o que
dignamente o communga naquella Meza , fica tam-
bém coníHtuido homem Deos : porque fica também
na forma de paô , imitando o Paó do Sacramento :
Duodecim panes fuper menfam purifftmam coram
Domino ftat ues. A d imit at tonem ipfius Chrifli pa-
nes appellãti funt beali Difcipuli , confortes faâíi
panis nutrieníts nos in vitam Mernanu Hic efi
panis , qui de Cos lo defcendit.
Agora entendo eu a razaó , porque mandan-
do Deos já no Êxodo ao mefmo Moyfés expor na
Meza os paés da propofíçaó : Pones fuper menfam Exod- a$.
panes propofitionis \ fe lê no Texto Hebreo (dizJ0-
Pagnino ) que Deos mandara expor na meza os
paês das faces : Pones fuper menfam panes fade- P^gnin,
rum \ e continua dizendo , que eraó pães das fa- hic*
ces , ou dos rodos de Chriílo : Panes facier um
Chrifli', porque poíto que era hum fó o rollo de
Chnito , que fe adora no PaÔ do Sacramento ; com
tudo, como femultiplicaó na Meza os Paes facra-
mentados , quaes faó os que commungaó o Divi-
no Paó ; em todo? ©íTes Paês multiplica Chriíio Se-
nhor noííb a fua Real Prefença ; e apparecem todos
feitos o mefmo Chriíto, ou apparece Chriílo Senhor
rvoflb nas faces de todos: Pones fuper mevf«m panes
propofitionis. Panes facier um , facier um Cbriflh
B De
IO
Amar. in
Magn.
Matth.46.
4«.
D. Chryf.
Sermatí
De tal forte o Paô do Sacramento converte
em Paes aos que o commungaô ; de tal forte o mef-
mo Chriíto , que elU naqueile Pa6 multiplica a fua
Real Prefença neítes Paes j e de tal forte Deos , e
homem, que eOá no Sacramento, fe communica
ao homem , que pafla a fer Deos , quando commun-
ga ; e tanto apparece nas faces dos que commun*
gaô o rofto do mefmo Chriíto , que neceíTaria men-
te vê a ChriOo Senhor noílb quem pufer os olhos
com a devida attençaó em quem communga ; e
olhando para quem communga , vê nelle aChrifto
Senhor noifo. AíTim o diz huma douta penna : lia
Eucharifl't£ efficacitate Deus inbomine manet , ut
qui hominem Eucbarijiia refeâtum viderit , vide»
rit in eo Qhriftum opus (it.
Oh que nova officina de Divindade adora-
mos nefta facratiffima Meza ! pois vemos, que pela
comida do Paó do Sacramento ficáraô os Sagrados
Apoftolos ta6 parecidos a Chriíto , que indo os
Pharifeos a prender o Divino Meftre , e conhecen-
do-o muito bem , foi necefTarip que Judas o diftin-
guiíTe dos Difcipulos pela applicaçaô do ofcuío :
Querncumque ofculatus fuero , ipfe eft , tenete
eum: porque diz S. Joaõ Chryfoítomo , que fem
muito particular reflexão, fe naô podiaô os Difci-
pulos diítinguir do Meftre pelas faces ; pois as fa-
ces dos Difcipulos por virtude do Sacramento
que receberão , moftravao em cada hum a própria
face do mefmo Medre : Cbriftiferas fácies babe-
bant. Masque muito que os Pharifeos nao diftin-
guiíTem , qual foíTe o Meftre , e quaes os Difcipu-
los ( porque Difcipulos , e Meftre todos fe pare-
ciaó entre íi por virtude do Sacramento), quando o
mefmo Chriíto Senhor noíTo ? que Divinamente fa-
bia
■ ' ■-.:
do SS. Sacramento. 1 i
bia conhecer todas as coufas, reconheceo a amoro-
fa transformação dos que commungaô taõ idênti-
ca comíigo mefmo , que avaliava a cada hum dos
Difcipulos por fi próprio.
Sempre reparei qual podia fer a razaó , por-
que Chriílo Senhor noflb eítando na Cruz dilie a
fua May Sancliífima .( tratando-a fó como mulher )
que o Difcipulo Amado S. João era fen Filho: Mu-**™- l*
//>r, ecce Filhis tutts. De íbrte que eu bem enten-
do que perdendo Chriílo Senhor nolíb a vida , que
dava por nós , faltava o termo para a relação da
Maternidade da Senhora , e por iflb como acabava
o Filho , tratava a May fó por mulher : Mulier ;
mas o que fempre me caufou reparo foi ver, que
fendo aquella a mais precifa occaíiaô de confolar
a fua May SancliíTima , lhe faça em lugar da fua
própria Peífoa entrega da peflba dejoaô por filho;
Ecce filhis tuus ; porque fe Chriílo Senhor noíTo,
que morria , era hum homem Deos , e da fua Divi-
na Filiação refultava á Senhora o mayor credito
da fua Maternidade ; como para continuação deíTa
Maternidade lhe dá a filiação de hum Difcipulo,
que era fomente homem : Mulier , ecce filhis
tuus ?
Porém fui achar muito a noíTo intento a fa-
tisfaçaó delia dúvida em Origenes : e vede o myíle-
rio com que Chriílo Senhor no fio chamou a S. joaô
filho da Senhora. Na noite da Cea , antecedente ao
dia da morte de Chriílo , recebeo S Joaô a Chriílo
facramentado : e como o Sacramento he nova oífi-
ema de Divindade, que transforma em Deos ro ho-
mem que o recebe, por iíTb clava Joaõ taõ divi-
nizada, queelleera o mefmo Jesus homem Deos,
por transformação do Sacramento , como fe a mef-
B ii ma
Origfn.
tom. r.
foi, 161.
Joan. 19.
35- }4-
Orig. hic
1 2 Sermão
ma Senhora o gerara em feu nuriíTímo ventre. Ori-
gines o difte : Dixit JESUS : Ecce filius tttus . /?£
fi diceret y Ecce hic eft JESUS , quem çenmfiik
Sublitua logo Joaó o lugar de ChriOo , poi«?.e<iá
transformado em o me fino Chrifto- por virrude do
Sacramento : e fe naô he já fr mente homem , mas
fim pelo Sacramento também Deos , feja em lu-
gar de JesUS Chriflo Deos , e homem , acclamado
por Filho da May de Deos : Ecce Filius ruus.
Oh que foberana maravilha ! fica»" o homem,
que communga , taô transformado em Deos , que
Deos , e homem na Cruz tem a Joa6 por homem
Deos , porterjoaõ recebido a Chriíto iacramenta-
do. Mas oh que prodigiofo Mvfterio o que agora
ouço ao mefmo Origines em confirmação deíla ver-
dade ! Sabeis quem he o que lançou Sangue do
peito no Myfterio do Calvário ? direis que foi
Chrifto Senhor noííb ? Eu o digo também , e he de
fé : e aílirn o atteíla como teflemunha de vifra , e de
irrefragavel verdade o mefmo Difcipulo Amado
S Joaõ , que o prefenciou : JJnus milham lancea la-
tus ejur ápwuit *, & continuo exivrt fanguis , &*
aqua. Pois fabei , e adm t.ií o prodígio : fabei que
efle Sangue naó fihio do lado de Chrifto morto;
• fahio ílm do peito de Joaõ vivo: Non Chriflus mor-
tuus ; fedjoamwç vivtís fanguinem emifit Oh va-
lha-me o mefmo Deos , e Senhor facramentado ! Se
o Euangeliíra diz, que foi Chrifto, que lançara
Sangue do peito : tyrts milhiim Imcea lótus ejtts
operuit \ como publica Origines em huma Propo-
íiçaó recebida pela Igreja , que foi S. Joaó o que o
lançara : Non Cbriflus . (ed Jonnnes ?
Mas oh que fe o Euangelifta fallou como te-
ítemunha devifta, Origines Fallou como contem-
plativo
iô SS. Sacramento. 1 5
plativo dos myíícrios. Contemplou Origines pro-
fundamente , que o mefmo Chriflo moitrára o pró-
prio Ser da fua Peflba na peflba de João , quando o
deu á -Senhora pnr Filho : Ecce Tilitts tnus \ con-
templou , quejoaó na noite antecedente recebera
o Sancliffímo Sacramento ; e contemplou mais que
por iflb Joaó era digno filho da Senhora , porque a
virtude do mefmo Sacramento o transformará em
n mefmo Chriflo : e fuppoflo via que o Sangue fa-
híra do Lado de Chriflo morto , com tudo pura ex-
preíTar a força da transformação de Chriflo em
João, arrumou que foi Joaó vivo, e naõ Chriflo
morto , o que lançara Sangue do peito : N.ofi CM-
Jius mortuus , fed Joatmes vivtts Sangiànem emi-
Jit. He verdade que foi Chriilo o que lançou o San-
gue : Latus ejus aperuit : exivit S&vgoú ' mas
hetaó certa e evidente a transformação de Chriflo,
em quem dignamente o recebe , que bem fe pede
afflrmar , de quem o recebe , o mefmo que fe hou-
ver de dizer do mefmo Chriilo.
JoaÓ naó era Chriflo antes de receber o Sa-
cramento ; mas depois que o recebeo , f cou de for-
te transformado no mefmo Chriflo , que pelo mef-
mo cafo que foi Chriflo o que lançou o Sangre.
Exivit 8 migttis * por iflb mefmo fe pcóe dizer fem
temeridade , que foi Joaó : Nov Ckrifflus , fed
yoannes. Eefla he a efrlcaz virtude da Meza do
Sacramento , que como nova oflicina de Divinda-
de , faz Deofes aos que a elb dignamente fc nflen-
taó : Vere comedens Deus cfHchift\ Sentxm-fe em-
bora á Meza do Sacramento homens . que certa-
mente fe baó de levantar Deofes. Tudo íjo effei-
tos do foberano manjar daqnella giande Cea : e
Cea taó grande , que naó tem com ella compara-
ção
f4 Sermai
çâô a mayor cea de todo o mundo. A mayor cea,
que contaô as hiftorias , foi a que deu o Imperador
Júlio Gefar em Roma fobre duas mil mezas , para
aífento de innumeraveis convidados , em que apre-
fentou fette mil pratos , e hum paõ de ouro a cada
hum. Mas que tem que vêr efta cea com a Cea do
Sacramento por anthonomafia a Grande : Homo
qnidamfecit Cosnam magnam ? porque fe a cea de
Cefar coube em Roma lòbre duas mil mezas , as
Mezas do Sacramento naó tem numero, e fe ex-
põem a todos naó fó em Roma , mas em o mun-
do todo.
Se a cea de Cefar durou huma fó noite , a
Cea do Sacramento durará muitos feculos , em
quanto durar o mundo : na cea de Cefar eraó fette
mil os pratos , e hum fó paô de ouro para cada hum
dos convidados ; os convidados da Cea do Sacra-
mento tem nelle hum Paó , que he thefouro de to-
das as riquezas da gloria ; e os fabores deite man-
jar íaó infinitos , e fem numero , porque contêm
todos os fabores : Panem de Cmlo pr£fiitifli eis ,
omne deleâíamentum in fe habentem. Naquella cea
deu Cefar do que poífuia aos feus convidados; e
nefta Ceada Chriíto Senhor noííb aos feus convida-
dos tudo quanto tem , e tudo quanto he. Os convi-
dados da cea de Cefar , fentaraõ-fe á meza homens,
e homens fe levantarão da meza ; e os convidados
da Cea de Chriíto Senhor noííb , fentaõ-fe homens,
e levantaô-fe Deofès. Os que fe aífentáraó final-
mente á meza de Cefar receberão a honra d,: ferem
feus convidados , mas naó ficarão com a regalia de
ferem Imperadores como elle ; e os que fe 'aíTenraó
Meza do Sacramento fobem a tanta dignidade,
que transformaado-fe no mefmo Chriílo" Senhor
noífo,
âo SS. Sacramenta. i y
noíTo , c pondo fe á Meza deite novo Rey como
homens : In hac Menja uovi Regis , fe levantaó
delia como R eys Divinos : Accedunt homines , &
difcedunt Reges.
Naquella Cea, que Girce deu aos Compa-
nheiros de Ulyfles , fentaraõ-fe á meza homens , e
levantárar-fe Leões por força de feus encantos :
mas ficara Ó fó Leoês na apparencia:
Carminibus Circe focios mutavit XJlyffeu
Htnç exaudiri gemitus , traque Leonum.
E na grande Cea de Chriíto Senhor nofíb , por for-
ça da communicaçaõ da fua Divindade, fentaõ-fe
homens, e por força de hum a verdadeira transfor-
mação Sacramental levantaó-fe Deofes. Deos no
Sacramento eítá como Leaô Divino , que fe con-
verte em doces favos de mel para nofla fuav idade,
e doçura : Cbrijlus in Eucbariflia ejl Leo , qui
morte appropinqu atite dum Sacramevtum infiu
tuit , in melleos favos longe fuavi [ffinws fe ipjutn
convertit ; e como na forma de Leaõ fe explica o
Ser de Deos no Sacramento , diz Saneio Ambrofío,
que também nós fentando-nos á Meza do Sacra-
mento homens , nos levantamos Deofes em a for-
ma de fagrados Leões : lamquatn Leonês ab Ma
Menfa recedamns. Também do Imperador JuOi-
niano referem as hiítorias , que para oftentaçaÓ da
fua riqueza fizera hum gabinete todo de ouro , fen-
do de ouro o teclo , de ouro as paredes , e de ouro
o pavimento : e para receber os feus convidados ,
de ouro mandou também fazer as mezas , e os af-
fentos : eraó também de ouro os pratos , e os
manjares.
E naft faltou quem diflefle que até os convi-
dados, fentando-fe á meza, ficavaô também de ouro;
por-
D. Chryf.
Hom, 4j.
in Job.
Virg. Ma.
Picinel.
UnT«. I.
lib. $.
cap. 22.'
n. 4>6.
D. Ambr,
Suid.
Fidel.
Theor. 6.
*.4,n.i3.
Lauret.
verb.Aur
Alphab.
Euci:.
O for,
tom. t,
Corv, 2.
de £uch.
16 Sermdo
porque ficavaô naó ío ricos com o ouro,que dos pra-
tos levavaó , mas também pareciaõ todos de ouro
pelos reflexos da cor do metal rico, quenelles por
todas as partes fe imprimíaó. Mas que tem que ver
aquelles convidados com os da Mexa do Sacramen-
to ? porque fe aquelles convidados ficavaô de ouro
fó na reprefentaçaó , os convidados de Chriíto Se-
nhor noíTb para áquella grande Cea na Meza do
Sacramento , ficaõ todos de ouro na realidade : por-
que fendo o Sacramento ouro mais refpíandecente:
Euchariftia eft aurum fulgentiftimum , de tal for-
te imprime o feu próprio Ser em quem o recebe ,
que fica cada hum fendo do mefmo ouro. E a ra-
zão he \ porque fe no ouro fe fymboliza a Divin-
dade : Aurum eft Divinitas , de forte communica
Chriílo no Sacramento a fua Divindade a quem
dignamente o recebe , que fica transformado em
Deos : Fere comme.lens Deus efftcitur. Deos no
Sacramento intitula-fe com varias formas : já com
a de fogo : Deus ignis confumens eft ; já com a de
Leaó : Chriftus in Euchariftia eft Leo, ejá com
a de ouro : Eucbariftia eft aurum, e todas eftas
formas communica aquém dignamente o recebe;
porque orno neilas formas oceulta o Ser de Deos,
o Ser de Deos communica a quem o recebe digna-
mente.
Até em forma de ramo de Oliveira , que em
nós fe enxerta pela Communhaó , contemplou Ofo-
rio a Chruto no Sacramento: Eucharijiia eft oliva
fruóiifera , que innibis inferitur : e fe bem re-
pararmos n\ virtude d^> enxerto , acharemos , que
fe o ramo enxertado dá o feu mefmo Ter á arvore,
em q ie fe enxerta ; fétido enxertado em nós pelo
Sacramento aquelie Divino Ramo de Oliveira , to-
dos
do 8$. Sacramento. 1 7
dos ficamos Oliveiras naquella Meza. AÍIim o
contemplou David , pondo neíla fagrada Meza
propheticamente os olhos : Ft lutai Jicut novell favM. 117.
Olivarum in circuitu Menfa tua. Os voíibs filhos, ?•
Senhor ,aquel!e$, a quem como bom Pay fuítentais
á voífa Meza com a vofla mefma Carne , e Sangue,
faô novos ramos de Oliveiras \ porque como vós
fois Oliveira nefta Meza : Euchariftia eft Oliva , idem
e nella dais o voíTo Ser aos filhos , que alimentais, Alph'
também elles ficaô em novas Oliveiras transforma-
dos : Sicut novell a Olivarum. E fena forma déíTa
arvore fe occulta o Ser de Deos, que adoramos real-
mente nefle Myfterio, he de tal forte officina de
Divindade , que a todos faz Divinos , e ficaó Deo-
fes : XJt homines Deos faceret faâius homo.
Com as Aves houve também já quem com-
paraíle a Chrifto no Sacramento ; porque huns lhe
chamaÔ Águia : Euchariftia eft Aquila awantiffi-^mc]c g
ma ; outros o intitulaô Phenix : Chriftus in Eu- n i 3\. *
chariftia Phanix\ e naó falta quem o acclame Pe- Efcob.
licano Divino : In Euchariftia Chriftus eft Peli-l^ã2'l0
canus ; e fendo efias as principaes Aves , que vcaó n. 26.
pelo meyo do Ceo , em forma de Aves , diz o Eu-
angeliíla Águia, que chamava hum Anjo fobfe o
Sol aos que chegavaô á Meza do mefmo Sacramen-
to^ Vidi Angelum ft atitem in Sole , &» clamavit Apocai.
vote magna dicens ownibus avibus , qua volcmt l9-1^-
per médium Cceli : Venite , & congregamini a cl
Ccenam magnam Dei. Oh como eftas palavras do
Apocalvpfe : Ad Ccenam magnam Dei , fazem con-
fonancia com as palavras do prefeníe Euangelho :
Homo quidam fecit Ccenam magnam ! A Cea gran-
de do prefente Euangelho he a Meza do Sacramen-
to , e a Cea grande do Apocalypfe he do Sancliffi-
C mo
i v
I*
Sermcã
Efcob. in
Joan. 6.
Ezech, I.
26.
Apis Lib.
hic,
Mund.
Symb1.
Luc. 3. S
Ovi d. Me-
tam,
mo Sacramento a própria Meza. Por iíTo faó Aves
os homens convidados para as delicias deíla grande
Cea : Dicens omnibus avibus \ porque neíla Cea fe
nos cominunica Chriíio em forma de Ave , como
dizEfcobar : Chriftus in Euchariftia ejl Avis Cos-
leftis.
Nem falta quem entre as pedras preciofas tam-
bém defcubriííe naquella Saphira do carro trium-
phante , que vio Ezechiel , hum fymbolo do Sacra-
mento : Et fuper firmamentum quafi afpeõlus la-
pidis Saphiri. Hic lápis optime Eucbariftiam ad-
timbrai. E quem naô vê huma admirável circum-
ftancia da Saphira no Sacramento ? o Sacramento
converte em Deos a quem com elle fe une ; e a Sa-
phira coíluma também tornar da fua mefma cor
azul a toda apedra, que de outra côr fe chega a
elía. Pintou Picinelo hum monte de pedras tofcas
de diverfas cores , e pondo lhe fobre ellas huma
Saphira azul , de forte lhe participava a fua pró-
pria côr, que todas ncavaô azues Saphiras ; e ani-
mou o Emblema com efta letra : Ou<e tangit c£-
ruía reddit. Pouco importa pois que fejaô os ho-
mens tofcas pedras , e muito diftantes da Divinda-
de de Chriíio , antes de comnuingarem ; que tanto
que chegarem a tocar a Soberana Saphira do Sa-
cramento , logo Chriíio Senhor noíío moílra tan-
to poder neíle Myílerio , que , como Saphira azul
celeíle , os converte em Saphiras celeíliaes : Po-
tens efi Deus de lapidibus iflis [ufcitare filios.
Ou£ tangit carula reddit.
Para os falfos Deofes da antiguidade moílra-
rem o feu grande ( mas falfo) poder nos homens,
os convertiao em arvores , em flores , em aves , em
fontes , e em pedras. Mas o noíío Deos , e Senhor
Sacra-
do SS. Sacramento, 19
Sacramentado tem tanto poder nefte Myflerio, que
em todas as formas , que o conííderarmos nelle ,
em todas transforma os homens em Deofes. Con-
templemos embora ao noíib bom Deos no Sacra-
mento , na forma que o imaginar a no (Ta devoção;
que em todas eflas formas ha de também ler viílo
o homem , que dignamente o recebe ; para que fe
veja , que em toda a forma fica o homem fendo o
mefmo Deos : Fere comedens Deus efficitur. Da-
quellesdous irmãos Caítor , e Polux foi tal o amor,
que fingem os Poetas fe converterão em eírrel-
las , para que Polux divino participaíTe metade da
fua divindade com Caítor humano : Si fratrem Po-
lux alterna morte redemit ; porém Chriíto Senhor
no (To fendo Divina Eítrella no Sacramento : Eu-
chariftia eft Stella luce fulgem ; naô nos parti-
cipa fó metade da fua Divindade , mas íim fe nos
participa todo inteiro : Integer accipitur. Mas pa-
ra que he bufcarmos as innumeraveis , e diverfas
formas , que os Auctores fagrados contemplaõ pa-
ra explicarem os admiráveis prodígios do Sacra-
mento , fe para o melhor defempenho do meu af-
fumpto temos o Myfterio da Encarnação do Divi-
no Verbo. A união Sacramental he femelhante
( dizem os Theologos ) á uniaô Hvpoílhatica , com
que o Divino Verbo na Encarnação unío a íi a na-
tureza humana : Unto Sacram entalis , é» Hypo-
fthatica funt fimiles ; na Encarnação Deos fe fez
homem , e unío a fi hypofthaticamente ao homem,
para o homem fer Deos , como diz Saneio A go {li-
nho : Deus homo f a Bus efl , ut homofieret Deus:
logo no Sacramento , para os homens ferem Deo-
fes , Deos une a íi Sacramental mente os homens.
Logo fe na Encarnação ( como he certo ) fe fez
C ii o ho-
íd<
D.Thom.
Ápijd
Mend.
D. Au ET.
*«■
-ér-*
Ámar.in
Magnif.
^8. H.éo
Idem ibi
n. 24.
Idem ibi
20 Sermaí
o homem Deos , Deofes iicaô também os homens
no Sacramento.
He o Sacramento ( como dizem os mefmos
Theologos ) huma extenfaó da Encarnação do Di-
vino Verbo : Eucbariftia eft extenfio Incarnatio-
nis\ e diz huma douta penna da íempre doutiííi-
ma Companhia de Jesus , que fe nos caufa grande
admiração o encarnar Deos , para fe nos dar em
comida no Sacramento, que nos admiremos mui-
to mais de vêr , que fe nos dá no Sacramento para
renovar , e estender a mefma Encarnação : Si mi-
raris Deum incarnai um , ut carnem fuam tibi da-
ret in efcam , mirare magis Deum fe tibi identi-
dem comedendum apponere , ut Incarnai ionis pro-
digium in Eucbariftia innovaret , five etiam ex~
tenderei. Logo no Sacramento renova-fe a maravi-
lha da Encarnação •, e como na Encarnação fe vio
a maravilha de fubir o homem a fer Deos; a fer
Deofes fe vê , por maravilha , fubirem os homens
no Sacramento.
Oh que rico thefouro de Divindade he o Sa-
cramento ! de donde fahe tanta riqueza da mefma
Divindade , que todos que enriquecem defte the-
fouro , faõ Deofes : Hic totum Divinitatis ara-
rium exbauflum eft. O prodígio da Encarnação
confifte, em que Deos rica homem, e o homem
Deos ; e a maravilhado Sacramento também eftá ,
em que Deos fe une Sacramentalmente aos homens,
e os homens fícaò Deofes \ e a mayor admiração do
Sacramento confifte , em que , a quantos o rece-
bem , fe communica aquella mefma Divindade , que
na Encarnação fe communicou a hum fó. Difle-o
a mefma penna de ouro : Deitas , qu<e in My flerto
Incaniationis uni tantum humanitati addióíafuit,
in Eu-
âo $$. Sacramento: 21
in Euchariftt£ Myfterio omnibus communicantibus
Jefe tnfunáit. Na Encarnação hum fó. homem he
Deos ; no Sacramento faó Deofes todos os homens,
que o recebem : Vere comedem Deus efficitur.
Mas que digo eu ? todos os que commungaó
faó Deofes ? naó he de fé , que Deos he hum fó , e
naó pode haver outro Deos ? he certo ; e o mefmo
Deos o difle : Vtdete , quòd ego fim folus , & non D**- ?2-
fit altus Deus prster me : logo como me atrevo 3P"
eu a tomar por aíTumpto moftrar , que o Sacramen-
to he huma nova officina de Divindade , e faz Deo-
fes a todos , que dignamente o recebem ? Ora direi :
He verdade , que ha hum fó Deos por eíUncia ; e
aííirn nem ha , nem pôde haver outro Deos : Credo
in nnum Detim ; mas por força de uniaó , e parti-
cipação Sacramental , fica fendo Deos todo aquel-
le homem , que Deos une a íl no Sacramento. Na
Encarnação temos hum fó homem Deos 5 porque
neíle Myfterio fó hum unío a fi hypofthaticamente;
e como a uniaó Sacramental he femelhante á Hypo-
ithatica , unindo a fiSacramentalmente infinitos ho-
mens Deos no Sacramento , todos por virtude , e
participação do Sacramento íicaô Deofes. Admirá-
vel Texto nos oííerece David 110 Pfalmo 81.
Ego dixi: Dii efiis , & filii excelfi omnes. PfaUi.tfj
Eu difle , que todos os que éreis filhos de Deos ,
éreis Deofes. Pois como diz o Texto fagrado , que
faó muitos os Deos: /J/V, fe Deos he hum f ó :
E^o fim folus} Mas oh que fallava o Texto fem
duvida dos que gozaõ as felicidades de filhos de
«Chrifto , fentando-fe á Meza do Sacramento ; por-
que o Sacramento he de tal forte foberana officina
de Divindade , que fuppofto Deos feja hum fó por
eflencia, com tudo por participação doiíefmo Sa-
cra-
Amar, in
Magn,
*.S, n.<f.
Idem ihi.
Joan. 6.
22 Sermão
cramento , faô Deofes todos os homens , que di-
gnamente o commungaô. AíHm o diz o Auclor
do Cântico Marianno ', excitando a dúvida , e dan-
do-lhe a reporta : At quomodo Dii , fi imus tan-
tum efi Deus ? Plane re ipfa mus eji Deus ; fed
communicatione fit muhiplex ; quia nimirum dum
fe hominibus pr^Jlat in cibum , homines quodam-
7710 do De os facit.
E a razaô de ferem todos Deofes , ainda que
Deos he hum fó , vem a fer ; que como Chriílo no
Sacramento fe transforma nos que o commungaô ,
e os que o commungaô fetransformaô igualmente
eniChrlflo, fendo Chriílo no Sacramento Deos ,
e homem , os homens , ainda que fejaô muitos , pe-
lo Sacramento ficaô todos Deofes , como concilie o
mefmo Au dor : Omnes Deum in Euchariftia co-
medentes dicuntur Dii \ &* tamen unus tontum efl
Deus , qui omnes comedentes infe convertit , S"
fe omnibus victffim immifcet. E fe bem reparar-
mos agora em fermos filhos de Chriílo Senhor nof-
fo no Sacramento : Eftis fi li i Excel (i omnes , acha-
remos que por iíío mefmo fomos Deofes por taõ
grande Myíterio : Ego dixi: Dii eftis. E a razaô he;
porque o mefmo Chriílo compara a vida , que nos
dá no Sacramento , como a filhos , com a vida , que
corno Filho recebe de feu Eterno Pay na Trindade:
Sicut núfit me vi vens Pater , & ego vivo propter
Patrem \ &> qui manducai me , &* ipfe vivet pro-
pter me.
O Filho no Myíterio da Trindade recebe do
Pay hu ma vida Divina , e o fer Deos : logo nós co*
mo filhos de Chriílo no Sacramento recebemos del-
lecomo de Pay vida também divina, e o fermos
Deofes por participação. A Divindade, que o Pay
com-
do SS. Sacramento. 2$
communica ao Filho he comparada com a luz : Lu-
cem inbabitat inaccej]ibilem\ e fe a mefma luz,
que o Pay communica ao Filho , he a que pela car-
ne do Filho fe communica a nós no Sacramento;
bem fe fegue que Chriíio no Sacramento nos com-
munica neíFa Divina lux a mefma Divindade. Ouvi
o que diz SancTro Ireneo fobre o Texto de S. Joaõ :
Stcut mifit me vivens Pater , diz o Sancto Doutor:
In carne Cbrifti occurrit Paterna lux \ & à carne D- lTen-
ejus rutila venit in nos : logo fe o Pay gerou l ,4Cí7,
Deos ao Filho , communicando-lhe por eífencia a
luz da fua Divindade •, Chriíio Senhor noílb no Sa-
cramento, communicando-nos a mefma l»z da Di-
vindade por participação, nos eleva á fuperior gran-
deza de fermos Deofes.
Entendo que affim o quiz também afíirmar o
Propheta Ifaías , dizendo-nos a refpeito do Myíte-
rio do Sacramento , que nelle havia Chrifto en-
cher de refplendores a noíTa alma : Implebitfplen- ifaías $t:
doribus animam tuam , por vêr que o Eterno Pay 2-
diz na Trindade , que gera feu Unigénito Filho
em foberanos refplendores : In Çphndoribus fan-Phl i#*.
olor um . . . genui te. Que fe o Eterno Pay nos ref- 3-
plendores da Trindade dá o fer Deos ao Filho ; nos
refplendores do Sacramento nos coirsmunica o Fi-
lho o fermos Deofes. Oh refplendores ineffaveis
os da SancTiffima Trindade , em que o Eterno Pay
dá o fer Deos a feu Unigénito Filho ! Mas oh ad-
miráveis refplendores os do Sancliílimo Sacramen-
to , em que Chriíio Senhor noífo communica aos
homens o ferem Deofes ! Mas oh que labyrintho
de refplendores ! o fio da mefma fé me guie , para-
naó perigar em tantos abyfmos de inacceífiveis lu-
zes. Que fe nas maravilhas da Sancliffima Trinda-
de 3
,H»
II-
Ill
24 Sermati
de , fendo três âs PeíToas , que commungaô o Paó
da Divindade : Suos Panes habet ab [conditos , fó
huín Deos adoramos por eíTencia \ nos prodígios
do PaÔ do Sacramento veneramos tantos Deofes
por participação , quantas faõ as PeíToas, que di-
gnamente o commungaô.
Por iílb eu digo no meu aíTumpto , que he
tal a foberanía do Ruchariílico Myfterio , que fe
pudera haver excedo á Meza da Sancliffima Trin-
dade , fó parece que o haveria na Meza do Sanclif-
íimo Sacramento ; porque parece Deos mais liberal
no Sacramento ( naô na fubftancia , mas em quan-
to ao modo ) , do que no Myfterio Auguftiífimo da
Sancliffima Trindade. No Myíterio da Sancliffima
Trindade he Deos Pay taô liberal , que dá o feu
mefmo Ser de Deos ao Filho ; e o Filho com o Pay
dao o feu mefmo Ser de Deos ao Efpirito Saneio :
e com fer tanta efla fumma liberalidade , naô.ha nas
três Peííbas da Sancliffima Trindade mais que hum
fó Deos ; porem no Sancliffimo Sacramento , pare-
ce que fóbe a tanto efla máxima liberalidade , que
a quantas peíTòas fem numero fe communfca , to-
das fícàô Deofes. Pois, Senhor, he poffivel que
neíTe Sacramento , por nova officina de Divindade,
pareceis mais liberal , e pródigo ^do Ser de Deos,
do que na Trindade Sancliffima ? na Sancliffima
Trindade naô fazeis , nem podeis fazer outro Deos;
e no Sacramento fazeis tantos Deofes , quantos faó
os que dignamente vos commungaô ?
O certo he , que eíTa Meza parece ter exceífos
á Meza da Sancliffima Trindade \ porque a Trin-
dade de PeíToas fe adora com a unidade de hum
fó Deos. Mas vós, Senhor, fendo hum fó neílè
Sacramento, veneramos nas maravilhas deíle My-
fterio
dô SS. Sacramento. 2jr
flerio tantos Deofes , quantos faó os que vos com-
mungaó dignamente. Grande exceíTo parece na
verdade ! fem dúvida que he neceífaria muita fé
para eíte Myílerio : e talvez feja eira a razaó , por-
que fendo muitos os Myílerios da noífa Saneia Fé
Catholica \ o que fe intitula particular e expref-
famente Myílerio de Fé he o Sacramento : Myfte-
rium Fidei. Ambos eftes Myflerios , o do Sacra-
mento , eoda Trindade , faó igualmente Myíte-
rios de Fé ; mas alfombra de forte os entendimen-
tos humanos o crer , que quem dignamente com-
munga fica Deos : Vere comedens Deus efficitur ,
que fendo alem da capacidade humana o Myílerio
da San&iífíma Trindade , facilmente o crêraõ os
Difcipulos de Chriíto , depois que elle lho decla-
rou. E para o Myílerio do Sacramento , ainda de-
pois que o mefmo Chriíloo manifeílou a feus Dif-
cipulos , eftes lhe acháraó tal elevação de alTom-
bro , que lhes cuílou muito a captivar os entendi-
mentos em obfequio de Fé.
Declara Chrifto Senhor noíTo o Myílerio da
Sanftiílima Trindade a feus fagrados Difcipulos ; e
logo elles com fé promptiífima crêraô taó alto My-
fterio : Baptizam es eos in nomine Patris,& FUii^Mmh.zS.
& Spiritús Satióii \ porque fuppoílo he Myílerio Ij?'
muito alem da capacidade humana ; com tudo como
naò implica, nem deroga a unidade de hum fó Deos,
5ue he naturalmente demonílravel , e na Trindade
de PeíToas fe exclúe a folidaó , para terem commu-
nicaçaó perfeita as PeíToas Divinas , facilmente fe
capacitou a razaó , e fe deu inteira fé a Myílerio
taó alto. Propõem o mefmo Chriílo o Myílerio
do Sacramento aos mefmos Difcipulos , e lhes de-
clara as fuás amorofas transformações: Qui fnan-Jo*n.6.s7.
D " ducat
2 6 Sermão
ducat meam Carnem , & blbit meum Sanguinem,
in me manet , & ego in illo ; e foi tanto o peio
de dificuldades , que nelle reconhecerão , e tal o
excedo de aífbmbrofos prodigios que nelle ad-
mirarão , que conio fe lhes cuítára muito a crer,
diííeraó que fe fazia impercetivel ao entendimento
humano ; e como a fé entrava pelos ouvidos , era
ibin. 6i. árduo de ouvir taô pafmofo aííbmbro : Multi er-
go audientes ex Difcipulis ejus dixerunt : DtiruS
ejl hic fer mo , & quis poteft eum audire.
Pois os Difcipulos , que com taó prompta
fé crêraô logo o Myílerio da Sancliífima Trinda-
de , encontrão tanta repugnância em crer as ma-
ravilhas do Sacramento ? logo he neceííaria mui-
ta fé para crer do Sacramento as maravilhas ; ou
he o Sacramento por anthonomafia o Myílerio de
Fé : Myflertum Ficlet. E iíTo porque ? he porque
vem , que fe pudera haver excedo á Mezá da
Sancliffima Trindade , fó parece que o haveria na
Meza do SancTiffimo Sacramento. Pois na Me-
za do Sacramento faó Deofes todas as peflbas ,
que dignamente o recebem • e na Meza da Sanclif-
íirna Trindade , fendo três as PeíToas , que com-
mungaô o Paõ da Divina EíTencia , he fó hum
Deos. Eíte parece fer o motivo para a-mayor fu-f-
penfao : Durus eft htc fermo. Que fendo Deos
na Trindade eírencialmente hum ; no Sacramen-
to fejaó Deofes por participação todos os que
o recebem ! E que faça Deos , depois de fer ho-
mem , no Sacramento , aquillo que naô fez fen-
do Deos na Trindade ! Mas como naô ha de fer af-
íim , fe até no modo facramental , com que Deos
eftá no Sacramento , fe vê taõ prodigiofa maravi-
lha. Se dividirmos huma fó Hoília confagrada ,
em
do SS. Sacramento. 27
em quantos fragmentos a fizermos, em tantos mul-
tiplica Chriílo Senhor noílo a fua Real Prefença;
e quantos forem os milhares de fragmentos da Ho
jfria , tantos feraó os milhares das Prefenças Reaes
do mefmo Chriílo.
Na Trindade fendo três as Divinas PeíToas,
naô fe multiplica nellas Deos , e em todas as três
he Deos hum fó. Mas no Sacramento multiplica
Deos de forte as prefenças , que em todas as pre-
fenças eftá Realmente Chriílo. Affim fendo mui-
tos os que recebem a Chriílo no Sacramento , mui-
tos faõ os que ficaô fendo Deofes por participação
deíle Myílerio : Vere comedens Deus efficitur. Eu
bem fev que todas as maravilhas do Sacramento
faô maravilhas de Deos Uno, e Trino ; e que o
mefmo Deos , que eftá na Meza da SancTiífíma
Trindade, he o que eftá na Meza do Sacramento ,
porque alli eftá o Filho Realmente, e o Pay, e o
Efpirito Saneio por circumincepçaô ; mas com tu-
do no Sacramento , como nelle fe uníraô todas as
maravilhas de Deos , vemos refultar os prodígios,
que naó refultaó da Trindade \ porque na Trinda-
de he hum fó Deos , ainda que por eííencia ; e no
Sacramento, fuppoíloquefó por participação, faô
Deofes todos os que o commungaõ dignamente.
Com razaõ chama S. Vicente Ferrer ao Sacramen-
to Efpelho , onde brilha o próprio refplendor da
Luz Eterna , e a Mageftade do mefmo Deos : Ho-pcnlcc"n'
ftta ejl fpeculum . . . ideo de ifta Hojiia confecrd- Fcíi. Cor-
tapote/t dici , candor Lucis /Eterna , <tT fpeculum p^ís
Jine macula Dei Majejlatis. Serm! i.
He o efpelho aduílorio aquelle maravilhofo
invento , que , recebendo do Sol a virtude , abraza,
e queima os objectos pela uniaô dos rayos do mef-
Dii mo
2? Sermdo
mo Sol , que em íi contêm , como fe vio no efpe-
lho , com que Archimedes abrazou a Armada Ro-
mana ; e fendo a virtude do Sol , a maravilha foi
do efpelho. Aflim também he toda a virtude do
Sacramento daquelle mefmo Deos , que na Trin-
dade Sancliííi ma obra aquelle altiíTimo Myfterio,
e todos os mais; mas no Sacramento, como fe em
efpelho unira Chrifto os foberanos rayos das ma-
ravilhas de Deos, faz tantos prodígios, como faó os
de fe communicar a todos que o recebem , e ferem
Deofes. Antes fe contemplarmos nas operações de
Deos ad extra , ena creaçaó do homem , faz Deos
no Sacramento o que a Trindade naõ fez na mef-
ma creaçaó. Na Trindade diíTe Deos , que nos que-
i. ria formar á fua Imagem , e Semelhança : Faciã'
mus hominem ad imaginem , & Jimilitudinem no-
jiram.
Grande felicidade por certo he a noíía em
fermos creados pelo mefmo Deos Uno , e Trino á
fua Imagem , e Semelhança. E pergunto ; pois fi-
camos por ventura feitos Deofes ? naô por certo :
e fó ficamos fim com huma alma racional , e immor-
tal , com três potencias. E o que naô refultou em
nós da creaçaó pela San&iífima Trindade , em que
Deos nos fez á fua Imagem , e Semelhança , refulta
da Communhaô do Sacramento , em que Deos Sa-
cramentalmente nos afiemelha tanto comíigo , que
cada hum de nós pela Sagrada Cosnmunhaó fica o
mefmo Deos : Vere comedens Deus efficitur, E he
de reparar que a Saníliííima Trindade nos fez d fua
Imagem , e Semelhança , creando-nos como Deos
vivo ; e noSancTriílimo Sacramento nos faz Deofes,
eftando nelle Chrifto Senhor noíTo também vivo
na realidade, mas com reprefentaçoês de morto. E
deita
.* ;
Gencf.
2&.
do $S. Sacramento. 29
defla forte como naó direi eu á vifta de tantas ma-
ravilhas , que também por fer melhor a Imagem ,
que temos de Deos pelo Sacramento , do que a
que nos deu a Sandhííima Trindade na creaçaó ,
parece devemos cantar em applaufos do Sanei if-
íimo Sacramento os mais elevados e foberanos
elogios.
No feu Apocalypfe vio S. Joaó a Magefta-
de de Deos vivo : Viventi in faculafaculoruur,*?0^-*.
e diz, que os Muficos do Ceo lhe cantarão efta9,
letra pelo beneficio da creaçaõ : Sois digno , ó So-
berano Deos , e Senhor noíTo, de receber toda a
gloria , toda a honra , e toda a virtude ; porque
vós nos creaftes á voíía Imagem , e Semelhança :
Dignus eft , Domine Deus nofter , accipere g/o- ibin.u.
riam , é? honor em , & virtutem ; quia tu crea-
Jli nos. Continua o mefmo Euangeliíla Propheti-
co as fuás celeftiaes vifoés , e diz : Que vira de-
pois o Divino Cordeiro Sacramentado com rea-
lidades de vivo fim , mas com reprefentaçoês de
morto: Vidi Agnum flantem tamquam occifum^P0^^
e que foraõ taô luperiores os júbilos , e elogios dos '
melhores Cantores défla Gloria , que em milhares,
e milhares de Coros , lhe diziaõ affim : Eíle So-
berano e Sacratiffimo Cordeiro, que fenos com-
munica com reprefentaçoês de morto , para nos
augmentar a vida da graça , e nos fazer também
Deofes pelo Sacramento , he digno de receber to-
da a Virtude , toda a Divindade , toda a Sabe-
doria , toda a Fortaleza , toda a Honra , toda a
Gloria , e todo o Louvor : Dignus eft Agv.us , qui íbi n- t2*
occifus ejl , accipere Virtutem , & Divinitatem^
&* Sapientiam , & FortituJinem , #* Honor em ,
é* Gloriam , à* Benediõtionem*
Pois
|!iN,
Ni
$!
I
Ifaias
14,
30 Sermtío
Pois no Capitulo quarto fó três títulos dé
Elogios para a gloria de Deos vivo , e no Capitu-
lo quinto naó menos de fettetitulos para a gloria
do Cordeiro com reprefentaçoes de morto, ouvio o
Euangelifta Propheta ? Mas quem naõ vê ferem
mais elevados , e fuperiores os Elogios ao Cor-
deiro Sacramentado , do que ao mefmo Deos por
Creador ! E qual poderá fer a razàô deita mayoría , e
exceífo de applaufos, e de louvores ? parece que po-
derá fer , porque Deos vivo na Trindade nos creou,
dando-nos fomente a fua Imagem , e Semelhança ,
mas fem nos fazer Deofes*, e o Cordeiro Sacramen-
tado , ainda que com reprefentaçoes de morto , de
forte nos dá a fua mefma imagem , e Semelhança,
que fendo Deos , e homem , nos faz também ho-
mens Deofes pela Sagrada Communhaó de feu Sa-
cratiíTimo Corpo : Vere comedcns Deus efficitur.
Lá no Apocalypfe para os applaufos dos mais ele-
vados Elogios , fe ouvirão as mais fuaves, e cano-
ras citharas ; e também das citharas fe refere , que
temperadas duas no mefmo ponto , e poftas em
igual proporção de confonancia , tocada huma ,
foaô ambas com igualdade, porque huma commu-
rdca o feu fom á outra.
He a palavra Euchariflia em puro anagram-
ma Cithara de Jesus : Euchariflia , id eft , C/-
thara JESU ; cheguemos pois áquella Sagrada
Cithara , e temperemos as cordas de noflbs co-
rações com proporcionada igualdade ao feu Di-
vino fom i para que refultando em nós fua Divi-
na fuavidade , façamos ceíeílial confonancia a taó
elevada doçura. Cantemos a noíía grande felicida-
j de , que fe Lúcifer teve para motivo da fua perdi-
4< çaô ó defeio de fer femelhante a Deos ; Similis ero
J Altif»
do SS, Sacramento: 3 1
Altifjlmo ; nós , pelo mayor lucro de toda a nof-
fa felicidade , temos a fortuna de ficarmos naô fó
femelhantes, mas fim transformados em o mefmo
Deos pelos foberanos conforcios daquella Meza.
Aprovettemo-nos de taô Soberana Cea , que Chri-
ílo Senhor noíTo nos prepara , como diz o prefen-
te Euangelho : Homo quidam fectt Cosnam ma-
gnam ; vidamos logo com diligencia a veftidura
nupcial da Divina graça *, para chegarmos á Bem-
aventurança de fermos Deofes naquella Meza , que
nos da toda a Gloria : Ad quam nos perducat Do-
minus Omnipotens Pater , <®« Filius , &* Spiritus
Sanclus. Amen.
FIM.
Di-\n<\
—
SERMÃO
DA SERÁFICA MATRIARCA,
E MYSTICA DOUTORA
s.
TA
TE
DE JESUS,
EXPOSTO O SANTÍSSIMO SACRAMENTO,
Na íua Igreja do Convento da Bahia,
DEDICADO
AO PRECLAR1SS1MO SENHOR DOUTOR
MANOEL ANTÓNIO
DA CUNHA DE SOTO-MAIOR,
Fidalgo da Cafa de S. Magejlade , Cavalleiro profejfo na Ordem
de Ghrifto , Chanceller da Relação da Bahia, Provedor Mor
da Fazenda Real , &*c.
POR SEU AUTHOR O R. PADRE
TOSE' DE OLIVEIRA SERPA,
•* Presbytero fecular Bahienfe ,
Que o pregou em 15. de Outubro de 1751.
LI S B
Na Officina de MIGUEL MANESCAL DA COSTA,
Impreífor do Santo Officio.
Anuo M. DCC. LIII
Com todas as licenças necejfarias.
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