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HVPL RESEARCH UBRAWES
3 3433 07437436 8
CH EAT RO CÓMICO
íORTUGUEZ,
o u
i COLLECÇÃO
I>\S OPERAS
?ORTUGUE.ZAS,
Que fe reprefentárão na Gafa do Theacro {Ai*
blico do Bairro AIco de Lisboa,
O F F E R E C I D Á S
A' MUITO NOBRE SENHORA
PECUNIA ARGENTINA
Por ***
Quarta ImprefsSo.
TOMO SEGUNDO
r Labyrintho de Creta.
n^^^A^ J Guerras do Alecrim , c Mangerona»*
Comem -J Variedades de Protheo.
V Precipício de Faeconte.
l/L I S B o A:
Ua OfKc. de Simão Tmaddeo Ferreira. T788«
Com LiCffiça da "Reaí Me^fl ãa Co mm t/são Geral foirc
o Exame f $ dnfara dos Livros*
y^ífdc-fi M^ mefmâ Offiçwat
r 48fjf>48
'^ ^ iifòí taxado éftè t;|wo*:im papel a rrezc
tos c feãchca reis. ÍStcza^JF^c Abril de 179
' /ií r: ^ V ^ :: j Com íTfí ruh(cA
V-
L A B YR IN.tru Q ;
C R E T^^,
ue Je reprelentou no Tpeatro ^oBaitrò Altor
de Lisboa , no rac? áé Noveiiil>to' déiryií. -^
• ■;^ ■ ' ■■. ■■: ^^.^■\. :^..
--! *■■ .. ■- . ú -
ARGÚMÉ^NtÒ:
1 ^'^ -:•.»: w '. .....
^ Uccedendo matarem os A^imienfeí em
itn tprneio a Anàrogêo , \ filho de ^Mi^-
^s j Rei de Creta ,. ^Jkfuray vingar
morte do filho y depois d& reduzir a>
'thenas d /na obediência ^>íêinV vânce*-
7r lhe impõ^ hum figoroja .fribtito y^
? que lhe pagaria todos ^ '4smHosfetâ
lancebos , que ferião forê^ado^ f por^
%o haver eoccepçHò fia qudSdadè das
^Jfoas y dç cujo feudo fe, alimentava o,
Unotauro ^ que exifiia n& Labyrintho
hr içado por Dédalo. Çâhí(f aquelle itn"
• a farte fúbre Tczeo , Principe ' de
^henas y que fefido para effe effeito
idnzido a Creta y o intmdrao com
A;u > in- '
I
indujlrias libertar Fedra , e Aríadna ^
lhas 'do hkpHo Minos. Até 'k Jahida
Creta logrou Ariadná^ as pritneiras Cj
mações em:;TezeOj ainda que ao dep
perferiJJe^.a^Fedra^ deixando aAriaa
émhmnk^Jhrta líba ; porém como fó tf
tamos neJlaObra dos fuccejfos de Teze^ <
Creta , por ejjarazaofe manifejia a Tez
mais amante de Ariadna , que de Fedt
\:. 0^'màtpvo^ que Jè toma para ot
treâhoda prefejite Obra, he o confie
rar-fi ait^zeo jd devorado pelo Mif
taum j e fendo reput{ido por mor ti
manter-fe efte. engmo ,até o fim , triu
fanio do furor, doMitiotauro , do enk
do Labyrintbo y o das iras de Minos.
-Mt-í
INTERLOCUTORES.
Titio 9 Príncipe de Âthenas , amante de Ar
dna.
J^it^Sf , Rei de Creta.
JjiJoro 9 ' Prinfcipe de Epiro i amante de Ariad.
Tehandro , Príncipe de Chypre « amante de Fed
Dedah > Barbas,
laicas , Embaixador de Athenat.
. jmella f Criada Je Ariaina.
ÍQa^aixuga j Vftkà , èriúda^^dç Pedra ^ ,
Esfuiiote 9 Gracíofo » criado de Tcsr^*
Sêldaios^
A Sceiiá fe figura em Crttz.
SCEI5JAS DA I. PARTE.
L Bofque , t Marinha» - .'
II. Temptam de Vénus , c Cupido.
III. Comera.
IV. Gabinete;
ir. Sala Regia.
SCENAS DA líí PARTE.
L Comera»
II. Labyriatíiê.
III. ^tf/fl.
IV. Gabinete eem efpelhom
V. 5tf/tf <f< columnata.
VI. Labyrintho.
VII. Bofque-9 f Mariaké^
PARi
P AJR T É I.
^V
S C E N A L.
BofijUe , e Mmnhd , e hdverâ no lado do Thea^
tro huma gruta , e depois de fe ver no mar
buma armada rfifsãtáOfidocom umpèlUde , Ja^
biráo por jumo da marinha , Tezeo , e Èsjêê*
ziote , tropeçando ^ e cabindo em terra fim
ver bum ao outro.
T<?zea. "T X Ãtha-n^ €> dcô ! Cabe.
Esjuz. \/ Valha-me a terra ! Cabe.
Tezeo. T Haverá , como c)i , homem mais
infeliz ? *-
Bsfuz. Haverá infeli;i: ipais. hpinem do qué
eu ? ...
Tezeo. Pois parece que conjurados os Deofcs,
os fados, e os elemifincos contra mim, neni
nos Deoíes acho piedade , nem nos fados.
fortuna , nem nos elementos abrigo.
JEsfuz, Pois a pezar dos ventos , das ondas , e
Tubarões me vejo são , c falvo nefta praia.
Tezeo. Mas ai , infelices companheiros meus ,
fe naufragantes neíle golfo tiveftes urna cryfi.
tallina , mais liquido monumento nas minhas ^
lagrimas crijo a voíTas memorias^ , para que'
lèa a poíteridade nos Ccftotafios de meus luf-
piros a voffa lembrança:^ e o meu agradeci-
mento. .. '.
Esfuz* Ora boni^ he contar da tormenta 9 que
melhor he ftfízti pingando nefia ribeira (eito
chabriz da praia , do que fer fonte da pipa
em vafa barris*
Tezeo. A efta defena praia mé conduzirão às
minhas infelicidades , adonde até para o ali-
vio me falta a communicação dos viventes.
Mas que vejo i Tu não és Esfuzio te i /
Esfuz. E vós. Senhor^ não fois Tezeo !
Tezeo. Tal eflou. que não fei quem fou ; mas
dize-me , como indo a pique o noflo navio
te pudefie falvar!
Esjuz. Porque femprc fiz boas obras^
Tezeo. }á te julgava morto entre as ondas.
£sffiz. Senhor , a minha fortuna cÚieve em.
achar huma ancora a que me agarrei , e fo-
bre ella vim boiando, até dar comigo nefta
praia, onde tenho a fortuna de te ver, pois
rambon entendi efiarias a etí^ horas cubana
de limos. , e caramujos»
Tezeo. Para qiie , foberanas Deidades , defen-
dcíles a vida de hum infcli? ? Para que pro-
pícias melivraftes deílFc Jalóbre marinho monf-
iw das aguas , fê quando me redemis da mor-
te , he ío para p«rder a Vida !
Esfíiz. £is-aqui o que eu não aturo : de| forte ,
Senhor , que quando te vias na tempciftade ,
luJo êrão votos , lagrimas ^ e promeUas., e
agora ingipto contra d Ceo' , depois que te.
và em ierra firme ^ acçufas a piedade dos
- i f Deo-
. • • •
íl Labyrffftho
Dcofcs , que te livrarão ? Ora , Senhor
zeo y ponhamp-nos djc joelhos , e com a
ca na arèa efdevamos ç0ní iiipgaz loi
rcs a Bacho;j /qae hõs lívtob de bebcn
agua falgada.
Tezeo. Deixa-mc , Esfuziçce , precípítar.me
era vez nèíTás ondas, para que com efte
rojo emmende o erro dos' fadbsr-
Eífíéz.'l(lo hc fallar;^-' '
Tezeo. Pois tu ignoras o' meu valor ? Não
bes que foii Tezcò.
EsftiZm Eu b?ra' fei que hc ô valcrofo Tez
Príncipe de Aihenas , cujas façanhudas ol
fizeráo , com que a fama deixaííe o clarí
para ficar com a bo.ca aberra : item , fei ,
hô aqueile Tezço companheiro de Hercul
que terh mono mais gente , do que eu |
lhos , po»^ém fâlvA pâce j ainda me náo cc
ta qíie algum dia fizefTes a heróica acção
te lançares ào mar , e morrer afFogado.
7*ezeo. Pois^ãra^que o vejas , c contes ao M
do , que. Te^o^ pomo valente, c Eftoi
antes que jghomínioramcnte perca a vida , |:
' cura fe^li9r-fè tieíTe monumento de cryí
Faz <me fi íança ao mar.
£sfuz. Tenha mão , Senhor ; veja que aqu
não he cryftal , são; agua^ vivas , que ma
a gente : ora pcrfuádo-mé , que na tormc
fizéfle algum :voto de morrer affogádo.
Tezeo. Deixa-me j JKsíuziotc, tt^HeTlofo •
vez comigo. ' ^ . t'^' '
ÈsJ/iz. He £òa X)bfa' pia querer matàr-fe afin
' tóòl Tezei
Te%eo. Paia ^aé qucró cu viver ? w.
Esfuz. Pará viver ; e hecáo pouco í Pois eni
quanto ò páo vai , e vem 3 folgão a& coftas.
Tezco. Ai mífero de lÃim ! - • .1
Z)cni. Dedal. Ai, infeliz!- '
Ttzeo. Nio ouvifte , Eiifuziote , huma funeíla
voz i
Esfuz. Eu bèm^não quizera ter ouvido j nevi
ouvidos neflf hora : ai Senhor , que fera
ifto> '
Dem. Ao bofqtie, á felva.
Dent. jíridd. Adotidc te efconderás , cerdofo
bruto ,• do acelerado furor das minhas fettas i
7ezeo. Vènatorits vozes sAo slú que agora ouvi !
EsftÊZ. Aqui' valerá mais a caça grofla do que
a fina. • h.
Tezeo. Em que Paiz eftaremos ?
Esjíiz. Poi» fempre cuidei qae eftavamos em
alguma deferta praia , enfi que fomente reina
o birbigSo com a ajuda das ameijoadas.
Cantd'fe dentro o feguinte Coro.
Chegai', moradores de Creta , chegai ,
Offerecei , <lôdicaí.
A viâima pur^ d( hunia alma rendida .
Ao Templo divino de Venús , e Amor,
Tezeo. Efpera , não ouves ao longe fonoras vo»
zes de feftivos hymnos ?
£$/«z. Já que fupóes que eu fou furdo , que-
ro rambeaoL imaginar que és cego : não vèa^
defcer pdC^liquelle monte huma formofa {(O^
pa de balhadeicas i
i
10 i^bpiitíhò
Tezeo. Que vaçip^^q -de affeélos r.s^' mefi
. tcmpe admiro nefta que julguej .ÍK^rbarav^
cofca níoncanha! QW i:e.parcce: ifto^
£5//!^z. Se o noíTo navio aportade em Cr^et
para donde levava direita 0;rpiti.Q > diffei
Senhor ,: qu^ efti^vg]9K>s .em oXa&y^nmho
Creta.
ITezeo. Ohi, nao me.i&Hes en^J^r^tti^^ iquer
/^i pequena . fojrcuna O; não fornos nell
mas aíHrmo-ce que não poíTo penetrar o n
tivo de tâo difrcrencfs , e. d*W>:<Íe8 vqzc
■ pois^ quando, da-cavernof^. boca dfiq^dle roei
do ouvi o funefto cop^ quediizía.^;, ..* •
Dentr. Dedal. Ai mifero de naím ! Al infeli
Te:UOi £ ao niefmo lempo efcu€ar o vago
trepito de venacorias vozes , proferindo c(
(uzas. • . . . '!•:•:)
DfWír. Ao monte, á felva, tó, ib^l.
Tezeo. E ifto acompanhado de fon<xra melo.
de acordei accembs larticulando alegres.
Cama o Gorç^
Chegai » moradores ck Ccecá , cbegal
Ao Templo divino de Venos , c Amor,
JEí/tfz. Senhor , façamos aqui pbhtç^ doL^àdrrti
çío , que as Ninfas já ' fe vem apròpinl]uí
"' da.'- .-*,.'-. ^
Tezeo. Pois occultcnio-nos nefta gruta j. fó {
ver iftò no quc^xíra, ,.:
JSsfíáz.yi feito ', mas a meu veir^^iílío não |
xa aqui. ; **'Ã<f
JSfemiení'fi. va boca da gruta. ^ eja^iráõ
nas\Ninfas dançando ao/m do Coro ^eja"
t Síngmxuga , ^aramella\ e Fedra^ e céfu-
o Coro. ■',' ^
■ ■ 1.
Chegai, moradores de Creta*, chegai 'C
4o Templo divino de Vénus , e Amor^ ">
lg. Aada rapariga , não te trefmalhes , e t6
>èrcas por çffcs montes.
ram. Ai tia , que já vou niui canfada ! .
%z. Se quizer d^fcançar , «e; fazer penitepcii^
omí^o nefta cova , nlo feçá céremonia , 'en-
te ca para deíitro. • ' -,-
ram. Ai minha tia^ que mé.iaUárão dac]uéN
a cova ! Vavfi.
lg. Foge , TaramcUa , que fera algym Sa^y-
o falvage. P^ahfe.
'íiz. Senhor , nao fabe que txavéflbs olhos
láo os daquellâ boginíca ! ',
leo.. Atiende , e não' fallcs. . . (
Sabe Fedrã.
Ira. Nio;ceffem, Ninfas, os reverentes cul- ^
os, que em harmoníofos hymnos dexiica; o v
loflo affeílo ás Deidades de Vénus / e Ctç;
)ído , por ver íe com a nofla melodia fe ap-
Jaca o feu furor.
leo. Viftc mais peregrina formofura ? • r
uz. Aitenda , e não f alie. ,
ra. Profegui o acorde faaificio de noffas
ozes 5 dizendo : -,-
Sahe Tebandro.
Md. Galharda Eedra j^ para^qu^ te fatigai^
cm
r
j
IS Ijtiyríntbo j
•:etnf fubir a cffe elevado Tcmiío de Vcnus^ ;
'•■cAmor, fe aqui nefte lugar acharás as Dei ^ í
"^^ílidès que procuras ? n [
JFedrãí Prjncipe , náo vos emendo. t
Tehand. Náo buícas a Vénus , c Anaoc ? . !=
JFedrs.ESe he o meu reverente intento. í
"^ebani. Pois fe bufcas a Vénus , outra mais
^ bèlla fe admira em tua^ formofura *, e fe que-*
re^ amor , procurado em meu peito , que nel«
le o acharas.
tedrã. Náo he eflc o amor, a quem eu facri- ^•;
fico. • •; Hji
J^eband. Talvez que foffc bem empregada a vi- J
ílima^ deíTe àffeéto nas aras defte amor , quo ^
fem a impropriedade de céço , tem mais ^
olhos do que Argos , para adniirar-te , e mais ;
• chammas , que o Vefuvio para abrazar^-mc ; i
admiite pois. .... '
Fedra. Baíta Tebandro, bafta Príncipe de Chi- ';
pre; fe me julgais Deidade , náo queirais fa*- -
crilego ultrajar d meu decoro com táo impró-
prios íactifícioi , que mais offendem do que
applacáo.
Tezeo. Hirei impedir-lhe náo pade a mais o feu
atrevimento i pois antes de ter ánior, jà fin-
to zelos.
Ésffáz. Ui Senhor ^ voffa mercê he o guarda da-
mas ? Deixe à gente fazer o feu amor ? Q/iod
tibi nón vis ^ àlteri non factos.
Teband. Senhora , fe atrevido o meu rendimen-
to che8;ou. . . . . ' ^
tedra. Náor mais , - Priticipè , nSo mais : maé ',
■ . ai.; 1
de Creu. l:^
ai de mim , que já as NinEsis do Cora vão mui
diftantcs ! Vou-me cm fcq fiH;úimemo. Vaufe.
Teband, Ai de mim ,. que. FeJra auel con-
j ira o meu amor accclcrada fc aufcntou ! Po-
TCfD fe te apana& , tyranna , por não ouvíc
as minhas vozes , o mefmo venio , que te
dco azas pr» a foga , te levará os ecos dot
meus fufpiros.
Cama Tebandro ^ feguinte
Se foges , tyranna ,
De oeyir.meus íufpjrps, '
Sufpende os retiros;
Porque de meus é cos c
Não podes* fugir.
CMi quanto te etiganas.
No mal , . çom que abrazas }
Se amor , que tem azas
Te íabe feguir? \ VaUfi;
Sabem Tezeo ^ e Esfuzioie da gruta. .^
TeziO. Oh quanto me arrepen^lo ,• Esfuziòtc,
de não haver fahido da grqt4 ^ para adui^ar
de mais perto aquella foberana belleza ^^^^i^^k
tigar a temeridade daqueUe açr^vifjo {«'aptov^e 9
qne imenteu dominara^ luzes de. tanto S9I.I
Fsfifz. Tudo quanto os Deozes fazem ^hepoc
melhor.
Denif^ A' felva , ao bofqiie.
Dentr. Jriad. Deofes^ valei-mc.j quemimefoc'-
corre ? - ' ; r"
Tezeo. Daquelle vizinho bofque njo jouviftc f»j
udas^ e affliélas vozos^dc; ham^ inulKeui^ j' "
hk lÀfyrintbo
fe/ite Senhor , cu não fcí que nas vozes ha*
•• í^rtiacHõ^; e fèrtiea*
Dàitn^jári^d. Dcofcs , valei-me !
Tezeo. De fnulhcr hc a v6z , náo ha duvida >
]' 'èrh que me detenho , qaç náo vou a foc-
"■ • corrdla í Qit^r ir-fe.
íy^tnDedali' Ai mifero de mim !
Ikd^l. e Ariad.Ai infeliz !
Tezeo. De humá- mefma caufa pafece nafccm
tão differentes vozes: a qual das duas acodí-
rei primeiro ? "' . • '
£5ff4z. Eu 5 Sefíhdr., aqui tiáo «fthò voz aíli-
va , nem paffiva; '■ • /
Dentr. Ariad. Náo ha qúém 'm'6 ftícdorra ?
Tezeo, Sim ha. ' - ' Fai-fe.
Esfiiz. Ah Senhor , éfpère , hão fiíe deixe aqui
fó em poder' déft^òútra' vdzj'^e «fou capaz
^de $car fem falia, •''"« -
"'^'-Sahe Tezeo com Ariadna "defmaiàda.
Tezeó. Que cftranho fucceffo ! Que venturofo
* "idsdb ! Poiá a nâo fer eu , feria efta infer
^.:- lfeTOireza'defp6jo da ferocidade de huma fera !
Éifíií.^ He^^ ftra defgraça ! He fera beileia !
: 0e^ fêrò deímaio!
JTezfo.^Bélliffima Deidade , ceíTe o violetuo ccly-
• pféyrf teus raios , que os Aftròs dependen-
tes das tuas luzes náo podem brilhar , quan-
do desfalleceis,
jíríiiírMonftro' feroz ^ c irfdomiror ihas ai de
ipim, que vejo!.
-^?è^Âr^'átoregai , Senhora , que civ náo fou ã
^áià que rosr quis offendec.
Ssfuz. Nem çuí/tãb poacDip j*. ^ . •
Tizeo. Qttó eiaaíis vos fDfpencie 08 alentos \
Ainda nãtí crçdes que ribo^quem vos defen*
* ^e , e nâp quem voi^oflciidc l
jiriad. CoQKi ignoro o modo «de agradecer tão
generofaacçãòv que mento i me faltem as või
. zes, je me íobrèm as admirações!
T^ezeo. Huma bafuaHdade náo he digna de agra«
: dcc!mento>5 'más já qiãe/o deftino me concK
liou a forninajidçXec.cQ' o ^ditofo inftramento
.'da voíla vida , quizera vos compadecereis da
iminhai,:'qiie^íim pacocirmbs^ já quafifallec^e ás
^.niíáos d&.nama dace -violchcia. .'*
Ariãd^ Ett vos {iiiom^tto defendes a voíía^^ida ^
já í(jue^taatOf;;n3e encareccífca 0'4eu perigo V c '
aíHm dizei-me , qual he o deliéh) xpic ^^%
-obriga 'a -viv» focagidcí entre êflfas bretibárli
•Que gèmil prefewpiíi . ií: j '' * d fane.
Tezeo. Senhorz ^ fendo vós a culpada^ 'eniifae
«qu^rfoucóíijddftnquence* .'; ç r" •' .v^^r.^l:
Artad. NáoentetidoeOè;novo(iÉio4ò decrim^imr«
Trzeo. Ctafetac licença quç^n» explique. ^- VX-^
jíriad. DizeL. i '■ ■• . , •- "■'' .■■-^^ "
£iftiz. Eilo ahí meu amo inamorado ! Eíbmoâ
.. bem aviados ! ::■:'• . .'. .* â fomi
Tezeo. EíTa animada .esfim u|e-|KlIezR -j que >em
artraâivos íocetidios ,: ícndó luminbfo imáia de
meu peito 9^ foi luzída^^remofiade .aieu aivist
drio , quejperdendo efttt-a natureza de^livic ^^
íe cottfidera prezo , para augmtncar os defpo*.
joa tio carrèr do amor. : - 1 1 - • • t • .:> . 4'":.
tó Lídyrkéõ
5|ue o igtiQffacès quem eu fou: ^ e o acha
e obrigada a ininha vida ao volTo braçc
M fiz com que reprima o caftigo deiía temer
dade. Oh dura lei do decoro ; pois me 1»
kOde.oSender do mefmo que me agrada! â j
EífWé Toma lá e(Ie píáo na unha : ainda bem
quanto folgo l- . í - 4 pon
J>»«?» ' Notável he ovoíTo rigor! f . .
jíriad. Maior he o voílo atrevimento. Oh qu
< eípirito tiigno de animar o peito de hum Prir
cipe ! , . . . . i par
Tezeo», ]á que a voda tyrannia faeiigual á* vo
fa belleza, permitti áo menos, que vos-ann
, d dentro em meu peito ,> para que os fúm<
. d^ viâima não efcureçáo as luzes- :da Vò(i
í^Divittdade. , . . :. ■ ■
JÍpiadi-Vãta, iflb nio he neceflaria licença m
,'Rh^ ^ que não podo impe(tfr< ios .feitos d
jjralvedflo* ; : *• • ' . - ■' ■
Tezeo. Vido líTo , poderei , amando comigo
«;efperar fcr ditofeiAlgum dia í ^r^ •; ' i .
jíriad. Bem podeis nefperar;^ porém /em erperai
ça. Valha-me amor, ou não me valha ^^po
y^mõquen precipitar ! 0-. h[ . " • ã pat
Tezeo^ Defcnganai-me , Senhora j para que c
.•r com a efperatiça (e .alente o meur. amor , c
'. acaibe a minha vida na defeípecaçiOà
AriaÀ. Náo feí,.o.que vos diga^ Vóu-me, ai
jtesque alingoa obedeça: ao^ }mj>Ql/bs. do o
• xãçio. dpárt.'. :•' , ; rrjQí^r ir-/
Tcíeo. Sem dar-ipe repofta , náoliQ J»zic
^ :qf»liQ% vâdd> ^já/que abacefitts o&i.Voòs ji
5í,^' mci
A CrHâi Í7
b aihof , deixai aò meoò^ voíir a minhíi
crança,\
^ Senhor , úíhâ que re deitai a perder no'
t pedes ; pois fe qneTés qtò vòc a tua .ef^
rança , ftcarás ícm çlla. ■ •.
9. Dcixa^me, louco. Di2«f-R!e i Sehhofa y
íí fclÍ2 ? . / •
1. Eu vo Io digo.
Canta Jnridnd 4 fèjpmte
; Ari Ài"'.'
Ócosf fitiòisàffêéíos ' ■ •
Ncfta alma confcrvô :' ' ■ • '
Hbm délles refervo. *
Se he amor ^ òu piedade y
Dizello n5o fci.
Poréirf fe no extremo^
Porfias confiante j '
Aífeílb' de'- rfmamcf ' 'í
Que feja', farei; '\ f?/ f^aife^
1. Efpefá', efqufva D^iíadèl fé queres cor-"
mais ligeiras ,- deixa ò alvedrio; <^ue me' le-
, e Icw ás penai (^uc- meideixaflè^'
u E-rttenJò qó'ií''fé a|;or'á vier'a çutra fiitvi
ier<ícifa" VC2' te namoravas ? '
K Ai i Esfu2íioie'i que ínc firtto abrazar cm
bfogõ. . . ^
r Pois Tiíftça-fe açora ao^'mar , que lie boa=
ifião. Mas dize-me , Senhor , quando vifte a
ia , 'rtãô querias mâiar'' ao Príncipe dè.
pre coi» «refo*; delia- ?• Pbié como láo de-
fa te queres matar a d pelo amor <hfta^
•íofa cdçíactec* í ^ ^' .
I
i8 fAbyrín^p
Tfzeo. ;Náo ínjaría 90 Sol quem antes àç o
ver adorou huma ^ Edrdia , porém depois de
; :V&fta o fei^ '(^pland^r , feria aggravo de fu^
;Iuze^ não preferíllas a todps os aiiros*
Èsfíêz. Vês , Senhor ? Se eu cc deixara lançar
, iEM> mar j^ ^c^r^. querias ;, ^ não tiveras vilto
agora tanta formofura j não te arrcbat^as ^
não te namoraras^ não te . abrasaras ^ e»*^.
Ttz€0. E não te^macára também^ pois íc me
não inpediras laqçarrme a eíTas aguas , não
fentíra agora efta viokfwa. cha.nima de amor;
t pois tu és a; caufa deífta violência , fentí*
rás parte do eftrago , que me arruina^ Da-lhe.
Msjfáz. fíi Senhor vp^ra que me dá agora cíTe
csfuziote ? beixí por ora eíles namoricamen-
ros , lembre*(è.qqe o efpcca a devorante goella
de hum Minotauro. t
Tezeo. Ainda por ilTo duplicar mais á tua culpa ,
.pois 'com o precipício do mar efcufára fentir
z% , fúrias deftes moníftros de amor , e Míno^^
..taurp. Ai tyranno Esfuziote, que meprivafte
do maior bem , que era o morrer !,
£$f4z. Ui , Senhor ^ não fej^ efla a duvida , fe
ío por huma caufa te querias matar , agora
:"quc tens ilu.i$ 9 toma duas mortes.
Jkntr. Dedal, Acabem-fc jk por huma vez tan-
í còs pezarcs y rebente: a mina, única idéa do,
í. njeu • defaío^Orf , : .: .v •
Esjiiz. Ai Senhor y que alli ha mina ? VamoHios
a dia ; ai ! Minai temos i Grande fortuna me
■» c/f era. \ .. ; • •
ylo irje chegando £$/fi?.íw ç^tíi dentro d4
/áe Cretáé t^
HUM 9 rekntâ ejla com eftrondo j e íaBaredd ^
' ficárí Esfaziafe íubrmrgida dtbaixo das rui*
ias , Aas ^aes fdhifà Dedalú.
Esfuz. Ai quem mê acede , c)qe dei á cofta tat
mina!
Tezea. Qaé horreiKÍo' eftampídb f Parecfr que ai
rerra p^efagx Jaf minha ririna env eftragos pu'-'
blica a minfr» deígraça.
Sdtf IXidalffr
DtdaK Valha-ifte o Çeo f
^TiZio, Qvitffoi rfta,Ésfa2iore ? Levanttfre^ fXté
que novo efpcéi^fctflo fe ofFèrecc í minha ad-
miração í''Qucm é»^ etjpamofv s^borco dedb-
penha >
JkâáL Sotr biMTf míkw ínfeff? f e rão defgrt^
çado I que a rerra , fenda mâi coinmua pa^
ra Hxky) , a miiM de fi me arroja , como' ma«
Idrafta^'
Etfm. SenFror Tezeo , fefafcffe-me defta efpe»
lança 9 adomte eftou enterrado^
7i2fo* Efperar y não vos vadc» em quanto vo«
acodir ^ e(te pober criado »q«e jaz opprimw
do debaixcí da rnina daquelTa gruta,
£f^. Ande ideprefTa , Senhor^ ^ que eftas pedras^
me não edificão maíco.
lizeú. ErgBe^tç* j anda -, he bem feiro para caí*
'tt|;o da tua ambição: quem ce mandou ir ver
1 mina i
hjtn. Parque , tão frací bcr a minha amlrição ^
que civctie pavor de chegar a e(Ta mina > Maa
aí de mitti , qçe eftoa tnkiada de dores , ^
• tomara algiirg» cctiiraiiiina ^ crae^ D^ faraíTe o*
^fl j^ ii Jfh
7'xzeO: Homem ; <]ucm quer. qye .és y cor
V.nica-me a caufa das cuas.pecia^. > pois fe
. ào o arrojo, que itnenufte , parece na
^ de algum extraordinário motivo»
JDedãL Se fuppóes extraordinária :i caufa <
excedo, como polTo; fiar- ide ti a narraçá
.nícus fucceíips fern faber. com quem fa
pois no fílcncio confervo a mifihavida
aflim fabendo p»mejra quj^ tu es , entã<
bcrás quem cu fou.' r^ :
E$)Uz. Efte lém duvida .fce aquçllc Senho
-. voz groda , que nos mCítia medo.
STí^eo.Pata que vejas que. a minha curioi
de he fmcéra , quero dizer-te quem fou ,
• ra que d^ minha pefloa poflks inferir,
-jfop capaz. dt? fer inllrnmenro, da tua feíic
.. d.c. iDeppisi quç os AtHcniçnfcs barbara
aleivofamcnte em hum torneio matarão ao P
1 . çipe i Aí^dríjgeo , ílho de Minos ,^ Rei
Creta , eíle.H^ítam^nte, indignado contra
í! Aihenier^íe^j wzendo huma.ligaoffenfivax
.,os Príncipes dç ,ArchipeIago j, fe lançarão
bre Athenas, para refuícitat còm o eftrq
•« ^s armas o ma^rcial^efpitíto: de Andrpg
Trcs annos cílcve Athenas cercada , e re
. zida á ultiiíla j)M/eria ) ate ique ^ra falvar
:.prí)0fados fra^rpentos d^ tantas vidas , \
inermes perecião á violência da fome, c
counpçáojf.levant.aníjo-fç o povo- tumultua
^Weíiie ,' capiçdáióo çom ElReí .Minos , o.
; rpccnda-fe á •fvií.iidifcriçào, :
^(//^ iT.^do^ jqiUlí» m& .contâya . minha . A
it Cretil »ft
TfzeO O bárbaro Rei vendo qiic òt buma Vir
náo podia beber o íangue dos Athenienfes ,
impóz o ri^^orofo-iributo , de que iodos os
annos pagaíte Acbenas fece mancebos para ali*
menco de hum iponftro , Que chamáò Mínõ^^
taciro , que dizem habita denno em hum L%-
■ byrímho;
Ikiâl. Ai de mim !
Tcaeo. Que ? Sufpjras ?
J>tiát. Profegui , que os meus fufpiros nlo são
fem (undameÁco.
Tiaío. Era poisa forma defte tributo fem esr-
cepção depeíToa alguma, por mais foberana ^
quê foíTe j para o que todos em buma urna
hoçavSo os Teus nomes ^ epòr force fetíra-
' ^io kit mancebos , qde fe enviavão pára;
Creu a ferem combuflívo feudo do Minotauro. .
£tf«E. Se ifto riâo eftivera eití letra redonda'^
iiavião de dizer oue era mentira.
TiLCO. Efteanno (-ai infeliz !) entre ós fere
do tributo fui eu hum delles ; que nem o náf«
lier filho' delRei^le Athenas , e fer o valò-
rofo Tezeo , bem conhecido . no Mundo pêlo
incu valor , foi baíbnce para ifentar-mc defto^
tributo ; para o que preparada huma armada ,
vínhamos para Creta , em cuja viagem os veti*
kos , não feí fe propícios , oú indignados ,
depois de fer ludibrio das ondas , defpeda-
Catido onoflo baixel , fem duvida perecera ,
ie huma taboa delle não fora p dèlSm de
liifhha vida , que piedofo' me conduzio a eC-
Us praias , fem faber aonde efti^u. E {>ois
ji
jiá te.ttnho fati$feko^ |ia agora de mim lap
feps Xucceflos , pa.i;a quç ;tçhcs em minha;
£eneu:ofi4ade o {avor i^u^ iis .t^as mU^iísj
. eftão cpaçiJiiaQdo..
jg^^z.. Veja^nos 9^or4 çí^ta qw íe dbfcarti
. efte Jbarhulo^
Í>fi4* Quando eu ase coiiíid^raya o mais iclrf-
gc^çado de todos 0$ homens , acho que fel
jOocirps 90^ nafcèrao jpom mais infeliz j^
. .«elfelt .. ■
Trzifa. Explícft^e , n&o me çetibas (ufpenio^
jjEi^^ Vamos , Senhor » díga> ia%um^ (Gafa ,i
aiiida qu^ fej^ huma f^uU.
pedal. Eu fou generoib Principe ,. ò in&Us
Dédalo , .aquelle « ,que por fpas eycraordinjttíu
.< . máqujnas ^^e fublimes inyençpes Te lem fei(dt
., conhecido por todo Mundo^ -
jrjflZCi9, 39^ que (bis aquelie célebre JDqdato;^
cujas arcifícjpfas Máa%.cj04n oierecido os elogios
r-do Orbe? Náp fabeis qaanito me alegra ^ííí
. . bum homem ijio grande,
^ifuz, Q^fta que vofla merdè he o Senhor De<
^ dato 9 pi^drè meílrc dâs minas a pezar doiíseu
corpo I Ai I efpere ^ voflTa fncrçè nao hcc c
pai do Senhor ícaro í
Í}edalf Tu çonheccfie a ícaro , meu filho ?;
fisfuz* Eu náo Senhor , mas lembra-nie de c
ver pintado com ht^mas azas , que cahindo ea
huni rio , fj^ foi como hum paflarínho»
Tezeo, CaU-te nefcio ^ profcguí Dédalo»
pe4al. Prpílgo ; Vivendo eu na Corre delRe
. Minos de Crei^ 9 çoi^ jx çftímaç ^ que me«
Í€ Creu. is
rêciSoiM minhas raras idéaH ^ rúceedeò qàa
Vcrtuí' indignada contfa pSol^qãe cm cerca
occa(iáo't>atemetoiU asfuaá totpezas, n3a -^o--
dendo vingar-fe em fuás* luzes, pedia «Teu
filho CijpStoiii, '<|ue»^«ctíwtó*»a *aihha Pazife
fulminaííe o feu rigor , fazendp Cupido *a mf-
I tancíaá de Vetitís y ^e Pazífe ' fe naiparáflS
de hum Touro.
fí/itei. De hum^Tpuro? Teve muito bom «jgòft
' ro a Senhora Patife.
Ikdal. Pazife èókribacida de tão toõ>e , ene&n*
do amor ^ pedio^me que lhe oèlTe remédio
: a; tio louco incêndio Vem que fe abrazàVa ,
' fiizendocom (àlg^tiniá íÂáquína minha , còm
-qde cila pibdeííe lograr» o feu intiento ^ árítes
5|ue a fua cegueira produzifíe Olhos , qujC Vif-
èm publicamente efta hnnca vifta temeridade
de Cupido : eu em 6m por ercufar maior tU
- candatò , meVefoIvi- á fabricar huma Vaca \
eom tanto artificio, que apenas fe diftingui^
' dasi oúrras ViVètites ; pois n6 movitnento ^ t
afp^o, parece quiz efta vez coihpéiír aar«
te óom a nãturfea. ^
Esfuz. E eíla Vaca havia de fer -.deleite para
Pazife, *
Dedal. Fabricada aílim a Vaca , por huma cf-
cxjtilha , que nclla fiz , fe tnrroduzío Pazife ,
em cufa figura artificioramence transformada
foi facil enganar ao Touro, a quem amava;
o demais calta-o o filencio , porque fe nao
offenda a modeftia.
Ss/ttz. Sim, bem entendo $ íifn , Senhor*/ o
Touro, c a Vaca, &c. Z?c*
t4 Laibyriíubo
peddL Dâftft o^fatido anior tufceo jiunn monfir
irp de duâs efpecie^ , poij. era míio Ho?-
merp , e meio. Touro , por^uja çauí^ o cha-
marão Minotauro* ^
^/«fss. Deíles , inoçkftros J|)^ inuica3 ao Mon-
■ do. í
•JTfs^^o. Ai pedalo < que ca fofkt a occaftãodir
minha defgraça !
peM^ E t^I^eoi ^a minha >* /pra Acrende ; Vetije
do Minos naquelle mon(^iro a fua perpccua
^ jnfamia, cae ordenou qqe.pígra morada dek
|e fabricaffe hqm eliupeddi^ » • e graode Palá-
cio 9 com tão equívocas entradas , ci fabidas ,
' ,que queni nelle íç ^íacroduziÀfe ^ não pudede
' atinar com a poeta para f^hlr , ficando prozo
na fua oierma liberdade -, que por -eíle eorc*
dado artificio fc chaçoqii o Labyciacho de Oe-
ta,^, .:,
^ezeii. Secunda vez te confidero anifíce de ipi?
nhãs infíelicidades.
'JBsJuz. Que direj cu ^ que tenho p .corpo ef-
parramado )
pedal. Éih fim, como não ha coufa que fe
não faiba , quíz a miaha djefvemura que
chegalTe á noticia dclRei Minos , que eu .ti-
nha coppciaiQ para o nafcimenco do Mino?
xauro , ppr cuja caufa me mandou encerrar
X\0 aicfii^o Labyrintho , que eu fabriquei , na
parte mais inferior delle , adonde a minha
induftria , c defcfperaçáo , fez com que mi.
nando com ardenccs materiacs as entranhai
/da cerra ^ íahiile d;:íla gruca j como vifte.
4e Creuk ** ,
TeziO. Vífto lílp eftambsL w>! Creta ,. é 4t
portas do U^ibyaniho ^
^JHz, EM porsas da morte; Ou o cerca he #,
Senhor, que donJe.has de if"» a4o has de
mentif ^ por- iíTo ^ tanto qge eu puz o$ narK»
z# em scena , logo. me chei;oa a LAyúti^
tho. .■„ ■ .i .
TVzri). Ning«iem pôde íjTeuttr-feid? violência dos
. &des. •!•':. ■ -.
Jkdal. Príncipe , já; que neâe bofque da mit"
ggem fòQiCB viAoyi.ercond^í^yo^ nefta mofoni
mina , ate qtp tínhai^ opcaíiáo.de fugir da
morte 4 que vos cfpera,. ; .jii ^ ..'ir
7fz<(2. Que quer dizer jiigi^ ^: He acção .flue
nunca e\erci(ej, Que (jirli O/^Mundo . fe fe
difltr que Tezeo higio da morre , e que\^
acovardou hun> monfltrp , qqando tancQs te-
jjho vencido J ' ;
£sftiz, Nãp jem que fe can&r. >;:q«c eftc JSe:
, nhor ãnda^ moito por fe (natar*. ..^ t vi
^di/. Como vos não quereis eii^ondcc , e .çer«
tamente haveis de ir paxar ao l^abyríncbo •
eu por acompanha^vos nelle merefolvo ft:6^'
outra vez habitador da fua confusão , p^ra
que ao n)enos com a minha iaduftria ppH4Ís
vencer ede monftro , e vingarmo^no^. deiTe
cyraqno Rei qge á vpfla Facri^ , e f n^m
wnto offende.
Tezeo. O' Dédalo , eu te promctto que fe
<mro em Athenas iriunfame., fçrás em minba
Corte prcmjado, corno merece ião generpf^
ícfão. ..... .. . . "\ ■' .
^S Lnh^rinAo
JDedaL Pois adeot , Príncipe , que lá te éfpc
Torna ã ir-Jè peUgru
Xsfiêz. Adeos , ^Senhor Dédalo , veda mercê
ça inuiro boa jornada.
Tézeo. Adverte , Esfu2iote » que- Te revelares
' que ouvjfte , feras caftigado por EIRci n
|)ai , pois o braço de hum Rei chega, a
'■ ^a a parte ; e fe fores fiel , e eu tiver a f
turía de vencer eftc monftro , cè pome
'hum- premio igual i tua lealdade.
£$Jhz. Senhor , nem todos os criados hSo
J^íer ianríbareíros ; peça a Deos que me
tiha mão na língua , que eu da minha d
' le farei o àuè puder , ainda oue me cufti
- ^ Sabe Liças Embaixador. >
jtitas. Ai Tezeo, que infeliz ventura foi ai
nha ! Pois quando te julguei nàufragante n
fas ondas pela tormenta , em que tatuos b
'■ icei» da nona armada perecerão , aqui te '
nho a encontrar , depois de procurar-te |
'^jcoda cfla marinha , para feres alimento
. "Minotauro r Oh que defgraça !
7n0O, Liças amigo , muico me alegro de v
' «e ; « pois que ern Creta tiVes cóm o ca
^ der ^e Embaixador de Arhenas , para fa:
res afttoefta entrega dos íete infçlices tril
-taíi6s do Minotauro, vem a aprcíentarmc
efle tyranno Rei , para que íacíe em no
• Tangue a fede de fuá impiedade.
XJc^s. Oh quem não tivera tal incumbcnci
JB$fuz. Ah Senhor Embaixador , faiba Vo
Senhoria , que eu n&o morri na tormenta.
'" '■ Li
lieãs. £fii«QO a tua fortuna » EsFuzíôtc ; vamos
Tczco,
TtziO^ Dize^Hiif primeiro quem era huma Níh*
ianque fegoícb de outras , em hum feftivo
. coio por aqui, paílou chamada Fedra ?
Ucds» He íiama Infama , filha mai6 velha dei*
Rei 9 que com a bella cotpixiyt híi<^ para o
Tcmfte <le Venua s ^ Cupido , a qnem íw^
„ alicio todos os annos, parA que fe aplaqi«p
' o fcu riçor, fazendo com que ceíte a iiifa-
me injuria j^ Minotaurçat» .
Truo. £ não era mais fácil matar o Minotaii*
. . ro , ^afa q^e ceffc a .fua affronra i > ^ í
TJci^p N3io» quecfte mon^ro, como confagra*
do a Vénus ) i^ Cupido^ corre por conca dcf*
us Deidades a fua conferyaçio.
Bifuz. E diga-me , Senhor - Embaixador , quem
era huma (eminrínfa 9 chamada TarameUa ,
quç {Ai9Í)çm. hia, ncHa turba multa r^p^igã;
c por (inal que quando andava levantava os
< pés ido çMo ? . >_
7ruo. N.ao te cailarás ?
^i^, .'Ui Senhor 9 cadaqud pergunta pelo que
lhe pertence^ * t :^
7ese(). E quem era omra Ninfa , que no cxier«
cicio da caça a livrei da ferocidade, de 1bu«
ma fera?
UcéU. Seria r^m devida a Infanta Ariadna^ £•
lha também delRei Minos , que mais adora
a Diana nos bofquey , do que a Vénus nos
. templos»
TiZiO, Ai Ucas 9 9110 .eíla Ariadna. . « • .
i8 JLd^iffiha
Xicãt. Senhor , vamos i nâo cuides pòtoraniíTci»
^Tezeo» Foi a homicida. . . . '
Esfnz. Senhor, leriibre-fe dá fuá álnu, c dct
* xé Ariadna.
"J^ezeo. Da minha vida primeiro j que o Mino»
laúro- . ;. . ' ' . *
X/f^. Vamos , Senhor, f^^íi-Je.
Tezeo. Vamos , Liças : ai Ariadna i Fái-fe»
JStJíêZ^ Ai Minotauro J ■ Fai-fc,
S C E N A n. ^
templo com 4s tfiatuas de Venui , e Oípiio s
€ buma pyra ardendo. Sabe Lidoro , €
cama-Je o feguinte
Coro...
« Chegai , moradores de Creta , chegai
'Alo Templo divino de Vcnus , e Amor.
Zidóro. /^ Uiz anticip^r-me nèftc Templd
V^ de Vénus , e Cupido , por ver
fe nelle .encontro a beHa Ariadna ^
ê moftralhe a fem razão de fua tyrannia ^
c o jufto motivo de meu incendia ; pois
fem que me valha o fer Príncipe de Epyro ,
t ter deixado a rninha Corte , por vir a cf-
i* de Creta , f6 a pertender o feu ditofo
Himenêo , com tudo o feu ríçor fempre im-
jMacaveí fe moftrá alminhas fiheiatf. O' Dei-
dades fobôranas de Vénus, c Amor , érti cu- .
jâs araci acde a viâima dê meu coraj;ão , fa^.
2e^ quff Jiejjl ditçf^ 9 <{uem fabe fér comnW
te.
^úi:(. Quct violenta vinha algum dia a eftâ
Templo de Vénus , è Amor ! Porém , dcjpois qu9
, -noboíqueViaqueUe, . . Mas quem cfta aqui ?'
lidor. Qaei^ ha: de fer, fenão huma fombra
infeparayel do voílo -Sol , que por inãuxo
deíTe (neímo Aftro fe cõiiíàdera Clicie de voC*
. fo rcíplcndor ? .
Ãriad^ Bem podereis 5 Lidofo , deixar efl&í lau-
: cur^ de voflo. amor : não tem baftáda tancoa
defenganos^ para defpprfuadír-vos , que mais
, fácil fera que o Sol não allumie , que. t ef-
curidade reiplendeça , e que o fogo esfrie , que
no mcú peito :poffa haver amor , cora que.
. correíponder^yos ^ . ^
Lidor. Em fim , Senhora , ,eííc he o ultimo de»
fengano da yQÍTa tyrannia ^ ^ .
jíríaaí AJmiro-me que tenhais efte defengana
pelo ultimo , quando podereis fazex efTe COtH
ceito do .primeiro.
LiAoT, Afliin premiais as minhas finezas > ,
uíriad. Para que «as pbrafies fen^ minha licençfty
fabendo que niílò me offendieis?
JLídor» Pois para.;que náo vos oíFenda quemTa
vos dcfeja agradar , eu me retiro dos volTos
olhos , que fó por dar-vos eííes prazerr^ fereí
aud para comigo. . Qfser. ir-fc*
. fabem o Rei ^ Fedra , é Tebandro. ^
JRei. Lidoro , que he ííTo } Quando todos vimos
a ftfte annual facrifício, que em oMaçio te«
r^jreme coníajgu o noíTo rcndimcmo uas ait^i*
•dcfiaí rteidadcs de Vcnus , é Artlof , tttt-^
tirajT i
jUifon Senhor, a procurar-te faia^ yendo qM
■ tadavos^
jíW. Fedra , Aríadiia , não çeítem as vedas
rogativas , para cjue eitas deidades ntcfdos it^
dignadas nos livrem da pcrpécaa infemia defle
Minotauro 9 ^omo labéo aiFroncofo da nòflTa
regia eftirpe< Ai Paziíe frágil , feja a tuft
menníoria abomirtaVcl tios fcculos fdttiros ! -
Ttbãnd. Senhor , temo i|ue cíTa melancolia -te
r acabe a vida: lembra-te que és ElRci Mi-
nos , para que com a tua conftanria tòléret
os golpes do ptzar*
Fedra. Senhor , Vorta Mageflade deve btifcar
algum meio cfficaz , para que ccíTc a fqa
■ mkgoa , e a noffa affronta. ' -
jAdor. Indo poderá ler remédio ^ excepto o
meu tormento^ *• â páHe*-
jfriad. Senhor , fc eílamos nefte Tcmpío de
Vénus , e Amor , porque náo cònfuhas o
feu Oráculo , para que nos declare ^ quandb'
<cerá fim a vida do Minotauro!'
iíeí.» Ariadna , cflTe confclho hc filha do teu
'fubfll engenho ; pois actenção , que neftaffer--
iftia confulto o feu Oráculo. Vénus fóberaná ^
' ^tòmpadecida a noflbs gemidos , e grata z
•iibtlbs voios , declara-nos , quarído teta fimi a
vida dó Minotauro ^ cuja exiftenda- aviva a
'tioffi Ignorância* '
•v':?- CRXb
it Oitá. %fL
Cântâ o OfÃCfêh o feguinie* ^
Quando defle bifocme monftro horrendo '
Vires fer alimento combuftivo
Ham yívo mono , e hum morto vivo.
Âeu Enigmática , e prodígiofa he a rcpofla ;
. pois diz , que terá fim ávida do MioQtauro^
quando lhe fervir de alimento hum vivo mor»
to , e hum morto vivo. Quem vio maioF
confusão ! ' ^ _• '
lidor. He eflilo dos Oráculos refpotklerem fot;
enigmas.
Fedr44 Que prodígio ! / t :^
U^or. Ainda em maior duvidaificamos; . pois
como poderá fervir de^ alimemo huín moK
to vivo , c hum vivo morto ^
Todos. Quem fcrà eftc morto »ivo ?
Dentr. Liças. Tczeo , entra.
jRfi. Tczeo difícrão alli } parece royíterio , n
Qoe Teria ca fualidade. :^
Tebãnd. Cafualidade he $ pojs quem poderá
fer morce, e-vivo ao mefmo tempoi? . . /
Sabem Tczeo ^ Liças ^ e Esjuziote^ ;^
Tezeo. Eu ^ eu £ou , ó Rei Miaos , o Prínci-
pe Tezeo , hum dos feie infcli.ces qucAch^r
nas envia para o feudo do Minotauro-
Ucas. Tczeo , Príncipe de Athenas , foi< folire
quem eftc anno cahio a infeliz forte : do tri-j
buto } tio rigoroso he o efautinio , que ncad
a foa regia peíToa fe pódc izentar* ;v
Rei. Tudo o que vejo ^ão prodígios ! VmW»
Tczeo ^ z meus brados. . ;: . :.
^ Ldbyrintha j
Tizeo. Senhor ,. a çcus pés fe offcrecc quértl. f
já nem f^e fenhor da lua vida para- dediqar> jE
ta •; porém eftcs brcvrs inftantcs ; qué o|
alento fc me dilata , defejára dimingillosií
para* qúc ftiaís dèprellá fe fatisfaça a toá vo^- ^
frade. ajoelbÉi
Jttii Levahtai-voâ 5 efclàíeddo Jc2eo , qué fupj
' podo vos conduzíííe a fortuna a tÍo infdíz > ^
^•fcftado , fereis entrtí tanto rcfpeitado como
Príncipe , e nao como rco.
JSsJuz. He mti.Ro boa coftfolaçâo ! Aquillo he è
mtímo c]úc cngcrdar para matar.
jíriad. Ai de mim j qne Tezeo foi quem mtf ^
livrou daquííllá íéra no bofque! â p,-'
Fèdfú. Oh quem pudera livrar a Tezeo de do ^
funcfta morte , pois a fua j>r€fença conciliou -
em meu pelm j iiáo fei fc amor , ou cont-^'
paixão ! i p^
T^ZiCF.' Príncipe , finto com a minha vidi ntó^
poder remediar a vofla ; porém OVoíTp valot
Mrw o lenitivo delia 'infeíicid'atíc?i
Lidor, Tc?eo , os que hafcemos Piiflclpes iíen-t
tos da jutifdícção humana , nâo~ nos podemó^
éftiniir da violência dos aftros , que inriuèm^ .
"íigòrôfos V t- aflim hão hc ncctflari6-lertibrair-
vos de quem (ois , para infundir alentos ao,
:voffo eípirito. . i
Ti^eo. O meu agradecimctíto , e as voflas pie^i
í:âade« nefta occafiio são inòteis. '
Bsfíêz. Que íftcja meu amo recebendo em fna^ .
4irída''os pezaflKs da fua morte ! Hr boa ^k^\
<rtiorra ! *■ J '■"** - '• ^ ^
9 %a Tc-
Teteo. Esfuzíote ^ aqnella não he a Ninfa
jque eu tive em meus braçx)s dcfmaiada d
Èijwz. Sim 9 Senbor » cila he t mefma , e ve-
.;'iào o que cem crefcido! Ah Senhor ^ e tam-
• bem a outra he aquellouira.
Jitu Dizci-me ^ Embaixador : e todos os fctc
mancebos do cribuco : vem com o Príncipe
Tczco>
Ucã$. Coitio houve , 'Senhor , huma grande
cempeftade , em que o baixel naufragou ^
moita parce.da gente pereceo , e dos tribu-
tários fó íe achao féis com o Príncipe.
Sfi* Eu não hei de receber menos numero
. oue o de íece í pois nem ainda todo cíTe
íaneue he baílante para illidir as manchas de
voflías aleiyofías. .
Bijtiz. Eftc Rei fera amigo de farapatel \ áp.
Tezeo» Senhor , fendo eu Príncipe , parece
que valho por dous.
JJças. E quando nio , aqui eAà efte criado ,
que compJerarà o numero dos fete.
£sfít7,. Irra ; Ah Senhor Embaixador , faça-me
mercê de fc não meter com as vidas alheas :
he boa graça i v
UcâS. Não vfes : que ElRcí çftá teimofo em
que fejão fete, enão ha fenão féis ; e co-
mo tu eftár; aqut ^ pec força has de fer hum
dellcs?
Esfuz. Senhor Minotauro , requeiro a VoíTa
Mageftadc.^...:
JTezeò. Adverte que EÍRei. chama-fc Minos,
. e nio JSSinggiuro*
Tom. IL ^* C 3Ef.
H4- Lãtyrintbo
JEsfiáz. De Minos a Minotauro pouco vaf. -
LícdS. Senhor ^ Vofín iVIageftade faiba que ef»
te homem he hum. conto. " ^
£sfuz* Sim , Senhor , íòu cáo tonto , que •def-
fe monftro nâo quero fer comido por conco-
mitância^ e logo requeiro a V^oíía MageíhKh
que o Minotauro me náo pôde comer.
JRei. Por que? '. .
£sfíáz- Porque he meu inimigo capital.
£ei. Por ilTo mefmo te comerá.
£ífuz. Não , Senhor ,; que quem tne querin^A
me não pode tragar. ' '
Lidor. O homem he divertido , quero apuíál»
lo : homem , o Minotauro hão fabe fá2eir
dífFerença de amigos , e inimi^gòs. *
Esfaz. Ainda eíTa he peior I Pois j Se^^^O' í'^^*
defengano ,' qoc fc o Minotauro me come*,
bem lhe pode abrir a cova , que íriorrc íem falra^
Lidcr. Por que ? •';•;.
JSsfaz. Poqut fou hum víiftetiò.*'' ■'^
Lidor. Também o Minotauro hè venenofo j c
hum veneno «â(í rtnáta outro veneno.
JEsjuz. Pai-a que^ fe cansão ; -Senhores ? Saí-
• bão que eu para alimento foii líiuUo 'indigefto,
RiU Seja' como for*, cUcs ^hão^dè fer fcte níaiir»
cebos os dotíibuto. ■ ' .-
Jisfuz. A que nfe VèíTa Magèífede , Senhor,
por força hão de fcr fcte jpanccbo5.
Rei. Aflim foi â capitulação. ■ •' ' ^"
Esfuz. Pois eu nâo poflo fervlf pára Jflb/ '
iidor. Porque 'rtâtfj - '»'":' '" ; ' C
Esjuz. Porque não j porqfac" eo nâp foíiíctc
•■ •"•'■fa'a-
4^ Oet/U %$
nuiticebos, fou hum fó ; t ainda eíTe fabe
Deos o que vai por cã.
Lidor. Ô Minoratiio náo hâ de engolir os fe-
ce mancebos juntos por huma vez , fcnão
Viam a hum.
Esjffz. Ui , 5 Senhor , que tem o Minotauro
3ue fe amancebar com a minha vida ?
or. Senhor 3 o aíado convém confervallo ,
Que he galante.
Mct. Andar , cuidaremos niíT© : o Embaíjcador
hofpéde a Tezeo ^ Lidoro , vem comigo.
Vdor. Ainda fem eíTe preceito iria , fò por não
ver a huma ingrata , que tanto tyranniza os
tneus extremos. Fai-fe.
Fedra. Toda a minha alma occupa a peíloa de
Tezeo : verei fe acho alguni meio de redi-
mir a lua vida. â p. e vai-fe.
Ithand. Vamos , coração , a experimentar no-
vas tyrannias em Fedr^. a p. e vãUJe^
Lteãs. Tezeo , vem. Fai-fe*
Tezeo. Vai , que eu te figo.
Esfuz. Và-fc c'os diabos Embaixador de humâ
figa , que eu lhe pregarei.
Tezeo. Beliffima Ariadna., que venturofa feria
a minha morte , fe eu levara a certeza de
que ao menos na tua memoria vivia confer-
vado cfte extremo de pnreu amor ! Lembra-
te , bella homicida , não de me ifcntarcs da
morte , que me eípcra , mas fim deflc amo-
rofo rormento , que me attlige.
jlrUd, Tezeo quat^do no bofqúe vos confiderçí
^ C ii fo-
?8 Lahyrhithõ . . ^ ^
JESfjíéz. Qiiero fingir que fou Vénus, ' Oi
CantA Esjiêziote o feguinte cm faífete. . *
Taramclla, fe queres marido
Aqui roefmo no Templo , no Templo o dareu
Tdram» Ai que Vénus me refpondeo favoraV^ {
i minha petição ! O^ minha Deofa, dizef ' *
me outra, vez quem {era o meu ditofo marido || ^ ,
Canta Esfiáziote ojeghne Rechada emfalfeti^
Teu marido fera eín teu conforto
Hum morto viro,' e hum vivo morto, ■
TT^ram^ Quô galante rcpofta !' Entendo qba
nunca cafarei ; pois como pócle ícr meq m^'^
rijo hum vivo níortô ?
Sabe Esfiiziote,
Esfhzi Agora eu: SapièntilHmâ Taraniella , hum ,
naufrangante peregrino , cónibatído das on-
das , mareado dos mares, açoitado dos ven-*
tos , e enjoado das marefias , vem hoje aòf^
ferecer o traquete do feu amor aos joanetes
de teos pés , para que dependurado no tem-
plo de tlia formofura , fe oftente croféo âá tua
galhardia'.
Taram. Que galante coufa ! Explique-fe •, que -
eu ainda não fei oque.voíTa mercê medifle.
Esjt^z. São effcitos do crepitante incêndio, cjuo
o bolcáo de meu peito tranfpira pelos metos
do idioma.
Taram. Senhor Eftrangeiro j cu não entendo
palavra. . .
de Cretav ;9
I Bfifz. TJL ^uè não entendes de «flylos crefpos ,
It suarei cm fr«:Bís cftiradat. Eu •, Senhora
Tittivntílã , fou iium Spldado éa iomina ^ que
.a. venho bufcar mais dicofa no conjugio de
• vofla merciè. . • . '
"fáfÂm. Tire-fo para lá não venha zombar da
geme;, ande , va-ÍJe ,.deixehme acabar de var-
.Kt(^ para que entre o lixo' do Templo en*
coacre o marido , que a.Deofa me pomettc.
Esfitz. Sufpende , galharda Ninfa , efla vofloira
dofi íentidos., jeíTa efcova das almas, edebaf*
culho do coração , eííe efpanador das poren-
c;as , e eíle esfuHnhador dos afieé>os ; pois
. já por ti me coníidero Mouco varrido.
Tarmn. Ai Senhor , nãb me falle níflb , que
eu fou muico (izudinha , e huma moça don-
zella 9 que eftoú iaquí para honra , e caía-*
mento*
Esfuz. Se eftás aqui para honra , c cafamenio ,
Qido achafté em mim.: '
Târéun. E de que force?
Esfitz. Eu te diço : fc eflás para cafamenrô ,
aqui tens marido , c fe para honra , honra
'/Serás fe cafarçs comigo; eiião digo omaits ,
pois (em faber fe me queres ^ não te direi
quem íbo, • '
Tarm. Pois fó faberei querer , quando fouber
quem voffa mercê he.
Esfuz. Pois Taramclla , promettes pôr o teu
nome na boca ?
Taram. Sou tão callada que não como por não
abrir a boca.
40 LábytíntBo
£$ffêz. ]á que és tio (cctetz j ftheás^ mim
fou o Pcindpe Tezeo fòbre qucm^càhity i
fórce , ( ou o azar , para melhor -dizer) id(
fer alimento do Minotauro: eu para efcapai
deíla comichão , me ajuftei por hunia gnMd
fomma de dinheiro com hum criado meu
. chamado Esfuziote 3 para que -diflcflc qu^tr;
. tu y c déíTe a vida por . mim } e como o cria
. do me queria bem , não foi diificil a morre
por mim*. - ^V-
7'aram. E ha homens que fe matáo por di
nheiro.
£sfiáz. Filha, todos morrem por dinheiro. En
iim trepámos os veftidos ^ e os nomes; poí
elle morre com o nome de Tezeo , e cu vi
. vo com o de Esfuziore,
Tdranu Ai Senhor , Voffa Alteza , fendo quen
he , quer cafar com huma rafcoa, .podend(
, emin-egar-f^ em huma Pi^inceza^ jljoitbà
Esjf*z* Levantai-vos : promctti a Vénus em hu
ma tempeftade , que tive , cafar com a pri
^ meira mulher ^ue vilTe em terra , que fofi
. tu , fe acafo te lembra hum bilifcão » qu
te dei : boje , vindo tu dançando por eflc
bofques.
Taram. Ai , he verdade i bafta que foi V
Alteza J
Esjiíz. Fui eu que te quiz inarcar com a unha
para a todo o tempo tt conhecer^ pois qu
dizes > Eílá juílo o teu amor , ou ainda pe<
ca em alguma dcfconfiança ^
laianu Senhor « tudo eíiá muito bem 3 m^
Vc-
dfe CfHê. 41'
'Vénus mft difle , que havia fcf meu marido-
hum vivo mono , e VofTa Akeza nio he
morto vivo*
t,%fwL. Mo hc o que te parece; queres veréo-
. mo eu fou eíle y que te difle a Deofa \ Ora
aaeode»
S O NET O.
Ea fou j '6 Taram ella , o vivi morto , . . . ;.\
Sae por ti me imagino morto , c vivo ;-
as não cuides , que vivo » porqae vivo ,
Pois ainda que vivo ^ vivo. morto :.
: Na cova de huo) defcém me enterras, morto t
No aceno de hum favor me alentas vivo y
Se me affagaSy.defperto como vivo,
Se te ágaflas ^ esfrio como morto :,
Nefla baulha , pois , de morto >e vivo , , ^ .
Na vida de num favor me* alentas morto »
Na morte de humdeídem me matas vivo.
Soa em fim morto vivo , e. vivo ^ mortp ,
Se qual Fénix nas cinzas, quando vivQ^^ .
Maripofa nas chammas , quando morto.
Tárm. li fel que VoíTa Alteza he o vivo ,
e morto que me difle a D^ofa ; mas como
cafa por voto 3*0 não por amor, fera o feu
matrimonio mais por força oue por vontade.
£ffuz^ Taramella, no amor toda a vontade hò
forçada pois quem por feu gofto ha de ap-
perecer os fopapos de Cupido , e os pontapé»
de Vénus , que para adorno do feu rigor fa-
zem galla da tyrannia ^ e gallacé do mar«
ryrio?
4^ LâbyfintBo
%^m^ Para. que focc^ue a minha dercon&
>Ç*i c acredite o fcu amor, meça Voíla á
teza a mio naquelle fogo de Amor , no qv
ie . experimenta dos amantes a conflrancia ;
, j| chamma o , nio abrazar , reconhecerei qi
me quer bem , e quando não , he cer
que qu?m fe queima alho$.come , que el
nc a virtude 'efpeçial daqúelle foeo.
Zí/tfz. E -qUé o "tem amor com oí alhos í
Tar4m. Náor vê que b alhò dèftroe a virco
dof- ImaH ^ que^he o fymbolo ck) amor^ ,
Esjíáz. líTò he coufa de Poetas ; imas fcqnete
^lè jHèlameiíamoflmeta-a máo neíftfogò ,
Q fe^ei , qúê* fetíle' ftlò abraza a quem ant
feguro tftou dt offfthder-me-ó feu itíccndio
Tarkm. Oíra vàv «^ ftáo tremii.
Cantão Esfuízicte ; e Tardmelli' /r Jeguiuie
ÁRIA A D U O.
Ta^Mm. Meta a-rtSo na chamma ardente,
< \ ' E vcíd o- fca arftor;
EsjtêoSk' Tm vòrás como valente' •
' Níò me abnza o feu airdoí' ;
Mas af , que jfie ábrazo I Aíetc d m
,. . . Mas at^ 4"^ ^^^ queima! ^ '
Tdram. Adopta, .,
i^W, .Eju. alTopro^ : ■' ■
tirm.. Vá-fe idahi ^ r r. ?^-^'l?',/'
.. ... Já fei me tóo atna. -, ^ ^^ ^^^^
B^iiLk Se vès» qufí^ me mflainmo';i para o
-" •; . Por iflo. tc-amo. , j^ííí»-, ^
AnihosK : E Ce icafo ainda o duvidas jr^*^* T^'^
Eftc/o^o to^dirà. ^^'"''-^
\
\ ie Creta. 4)
iirmn. Já tenlio entendido , ^5f palavra
£,/«. ]á t«thô alcançado . • Z,„':^;Z
lárnm. Que o cego Cupido , ^ p^,-^^ ^g £/;
fí B/ai. Que o monftro vendado, fu^. e efte pa-
Ambos, Jbi náo cftá. ^« « py^-
4Í4Íbe Sãíí^iêlxttgã.,
Siíir. Tambcfh leftc murro tó dirá , défavcrgo-
nhada , louca , furada do miòUo ; .tu aqui
untando fó hum Duo. com hum machacází
Ai mofinos feflenta e trcs annos ! ' .
Taram. Minha tia , náo íe agafte , que mal fa-
• bc-o que vai.
Sâhg. Que vái , nem que vem ? Que fazias
ahi dando á raramella com eíTe ma^àhO ?
Tgrâm. Ai que blasfémia ! Não diga tal \<p^^
inãl fabe quem alíi èftá.
JEi/urz. Sempre hei de encontrar com velhas !
He bom fidario !
Sang^ Pois dize-inè , que honícm hè eíle ?
Târgm. He huni homem grande ; nói fallare-
mos ináis it vagar.
Sang, . Homen) grande he befta de páo ,' e .tu
és befta em carne, que te deixas engariàirdc
femelhantes velhacos.
Bf$$z. Que hé iílo , Taramella i
Taram. Senhor , he minha tia, que fe Vem
por aos pés dê voflía Alteza. Tia , faça o
que lhe digo , que náo fabe a fortuna , que
nos efpera. á p.
S4í9g. Senhor , Vofía alteza dè-mc os fcus pés,
£sfuz. Se vos der o$ meus pés , ficareis com
Quatro.
44 Zd^yrint^Q
^Attg. Senhor , Vofla Alteza releve a mini)
delatenção , que eu o não conhecia,
Esfttz* Nád vos cuípo o não cpnhccer-me , qa
nós 0$ Príncipes não temos fobrefcripto ,
àjnda que o tivera , comp não fabeis ler
não podíeis foletrar -no alfabeto de minha pej
foa os caraãeres de minha nobreza : levantai
vos.: como vos chamais^
'Sd^g* Sanguixoga ^ mqu Senhor.
£sjuz. Sanguixaga ? Não vospeze , que cm cei
ta parte valereis muito,
Sang. Iffo são favores que Vofla Alteza me feí
£sjífz. Pois ficai, vos embora , e dizei a vofl
íobrinha , que vos partícipe o bem que Jk
efpera : guardai fegredo , que a vós tambei
vos caiarei com o meu Embaixador , para qi
; <a|..yí>pra defcendencia faia á luz.
'Sang. Ai Senhor , cu já fou quínquagenaria
^nãp fei fe pdderei caiar. .
Esfitz. A'jgora j, ainda eftais capaz de romp<
numas fohs ; e no cafo que vos Teja nece
, fafia menos idade , eu vos mandarei paíl
huma ; provisão , para que tenhais fómcn
quinie annos. f^ai-f
Sdng. Rapariga ^ que diabo . he iílo i Çonta-mc
....<jue cftou confufà.
tíar^m. Serthora ^ aqui não he lugar diflb ; v
. ,mos para caía , que lá fabqrá.coufas nun
villas, Fão-j
SGG
?,
' ■ :'\ . • . .
S C E N A III.
Cámera. Sabe ^ Fedra.
Teirâ. r\Epois que no templo ▼! ^o Prín-
U cicipc Tczeo , nio lei que doce at-
traâivo fe occulta em fua peíTóa ^ que por
mais que o dcfvie do penfamcnto , me pc-
ncira d coração ! Oh , ninguém eftranhe os
precipícios ide amor , que do mais ifemo peita
fabe triunfar ! E pois me coníidero âmance ,
bem he que defenda a fua vida
Sabe Lidoro.
Udor. ]à que as incríveis finezas de meu ex-
. tremo lamencão os defprezos de Ariadha -y re-
correrei ao ultimo artificio de amor , que he
abrandar o feu defdém com outro deídém ;
para o que me quero declarar amante de Fe-
dra. Mas ella aqui eítá.
RdrOi. Lídoro , que profunda trifteza vos pena-
liza ? . Por ventura minha^ irmã não merece
júbilos em voflb coração i
IJdor^ Bera he verdade , Senhora , que quan-
do cheguei a efiá Corte de Creta a preten-
der efpofa tia Regia eftírpe de Mínos , vodo
Sai por achar ao Principe de Chipre preten-
endo a voffa belleza , foi precifo por não
defgoftar ao Príncipe no feu empenho , ícrvir
cu a Ariadna ; porém como cftc rendjmefito
era mais hypocriíia da politica ^ que rendimen*
io de hum verdadeiro culte ^ lempre atdco
íbv-
r^ Ldbyrhfbo
impuro a viclima , e violento o facrafici
■ porque o mcfmo fufpifo 5 que o incendi;
era parocífmo , que o anniquilava : e aíBr
galharda Fedra , fc até aqui vivco opprími
, a minha inclinação a violências de hum r
peito , agora que impaciente a rbinha dor , rot
pe o reverente filcncio , defejâra , não q
me premiaíleis a minha fineza , mas íini q
recebeíleis o tributo de minhas adoraçócs-
Fedra. Cuido , Lidoro , qae o voíTo amor c
generou em loucura.
Sabe AriadfíA ao baftidor,
jtrUd. Verei fe encontro a Tczco. Ma» tq
eftâ Fedra còm Lidoro : cfperáreí que fé vá
ZÀdor. Só a vós , galharda Fedra, confagro •
finos ardores de meu peito.
Fedra. Ainda que me fora licito acreditar e
fineza j como toda a Corte íabe , que p
.. blicamente fervis a Afiadna , fecia ind^cèr
defatençáo correfponder eu a hum amante
■vmi4iha irmã .
Ariai' . Q'je ouço ! Lidoro pertende a Fedrj
Se eu lhe tivéca amor , . motivo havia pa
. rcr -zelos.
. íidor, O moftrar-me algum dia amante de Ari
dna j^póde fe etncndar com algum pretexto
razão de eftado , que nos Príncipes he liei
o variar de intentos j pois jfempiè fc dpa
a. defaiençáo com o interefíe da Monarqai
^s cuido que ahi .veio Arladna : cu r
, lexiro. Senhora 9 para que ycjais que fó 1
. ..vofla vifta inc elevo^
BJ
tu
e
/
de Creta. 4j
EJMidife Lidoro junto ão baftídor\ e fabe
. Ariadna.
Jfidd. Agora verá Lidoro fâ fei vingar os
meus dcfprczos.
Sabe Tebandro ao bajiidér. »^
Tffovirf. Vou receber de Fèdra o uUiitio dcfeti-
gano. Moa com Ari^dna eftà ; eu me retiro.
Anâd. Como na monarquia do amor o interef-
fe fabc dourar defatençóes , pòr cffc motivo
me animo a.dizei«te , que como lei defdenhas
ao Príncipe Tebandro , e eu tombem por na-
tural amiparia aborreço a Lidoro , que tro-
quemos os amantes , para que na ' mudança
dos fu jeitos mude também o coração de af-
feâos.
Uior. Ah tyranná inimiga , -não fem caufá erao
os teus dcfvios.
Tebami. Ariada me Êivorece , tlião fera defacer-
10 vingar-me de Fedra.
Ariàd. Só deíTa forte fera dicpfo o n oflb himl^
nèo. Fedra , que dizes ? •
Rdra. Eo não troco aquém adoro pôr nenhum
outco amance ; pois vi^o tão faci^feita com
o meu amor , que náo acho outro equívalen-
. te qoc .o poíla recompenfar. Ai Tczco^ fó
a ti fc dirigem os mudos fufpíros de meu
. pcítQ. . : 4p.
Ttbãftd. Alma-, refpíremos.
lÂior. Quem vira o feu amor tâo premiado !
Jhiãi. Sc :fci defprezas á Tebandro , para que
affe^s cffe carinho ^ fó para que náo fcnha
a fonuna de ve-roe cjuerida dclle ? Olha,
qnc cm Lido f o achãiw melhores finezas.
^ íabyrindfOf
I^edra. Porque i]efprezas á qnem \t XJàtmàdk
jiriad. Porque não fei amar a quem aborrep
{ÀdQft ]ã me falta o foíTrimento ^ vou-mè at
ces que me acabe a deíefpcraçáo. ydhf
Fedrã. Se \\i tiâp- podes amar a quem aboreces
.f ta nàopoflò aborrecer a quem amo« *^
Cmta Fedra ajeguinu -
..Ária.
Siueren Jo a quem amo ,
áo bufco mais gloria ,
Não quero outro amor.
. No bem , que me in6ammo ' ■
^.r; Confceue a memoria
Triunfo mayor. Qifer ir-fi
Sabe Tebandro.
TVí^itri. .Crpera conftante Fedra ; deixa qo
rendido ao bello fimulacro de tua Deidade'
.. cpnfagrç edorações quem fe acha favorecidc
dos teus agrados.
Fedra. Não fei que coufa vos motiva t «d
rendiíAsnto ?
T^eband. O ver correfpondída a niinht fineza*
Fedra. Que quer dizer correfpondída a voila fi
neza ? Se cu entendera que o meu coraf ã<
era capaz deíle fentimemo , o arrancara á
meu peito. " ^ ,
Teband. Parece impróprio eíTc defdem á vai
da confifsão que agora fizcftes.
Fcdra. Quando as vozes íe encontrão com' lo
affeâos, melhor heçrec a cites ^ do que àqaél
las. raufi.
de Oetãi 49
Sabe Lidoro ao bajiidor.
Uà. Impacicnre em nenhuma parte foce^o. Mas
que vejo ! Tebandro com Ariadna ? Óbíerva'-.
rei o fttii intento.
Tehand. Qoem vio , Ariadna , o feu amor em
maior confuzâo ! ]k náo quero amar a hu«
ma ítigrara , que me offende ; e pois feí que
para o -ceu agrado prefere à minha fortuna
t de Lidoro , quero feguir as luzes de teu ef-
plendor , já que propícios allumião a esfera
de meu peito , e aíRm. ...
Ariad* Muito me offcndeís neílê vil conceito
que de mim formais; pois a fer poflivel que.
t chamma do amor ardeiTe em meu peito ,
' nio ferieis vós a caufa deíTe incêndio ; pois
naquelle , que me idolatra , fobrão motivos
para o meu rendimento. Ai Tezeo , fó atua.
nneza fera premiada. á p,
Ud. Coração , torna a reviver.
Tiband. Pois vós mefma náo diíTeíles a Fedra »
qoe na mudança dos íu jeitos mudatía o co«
ração de affeâos ?
Ariad. Se vedes agora contrários c^ts affc6los ^
crede aos olhos , e náo aos ouvidos.
Tebmd. Já fei , que dcfenganado , fó amnrei a
minha morte. Oh louco amor , que nefcio
be quem fe fia das tuas inconftancias ! Fai-fe.
Sabe Lidoro.
Udor. li (ei , Ariadna, I que não fon tão infe-
liz como imaginava ; e fuppofto me confi-
dere fem mentos , para alcançar teus fobeta-
nos bíWiesj a rua piedade j comi^àtcUa. Ò5)
5© Labyrinto
meu tormento ^ já me coroa uitinfante c
teus repuidos.
^riad. Lidoro ^ como enfermais de amante, íi
duvida eíla idca fera delírio da fancaíia.
Lidor* Parece incpmpaiivel eíTe defvio., e aqu
la exprefsão ; pois aíHrmaftes que naqu(
;|Uí vos adorava, ( que jà vè , aue fouci
obravão motivos para o voíTo rendimento.
jiriad. Não ha duvida que o meu amor. a
feíTi rendimentos , e por i(To como rendi
vive prcfionciro.de hutn defdém , qui he
que (o triunfa na batalha da voíTa porfia.
Li dor. Ah tyranna , cruel , inimiga , não
melhor deixar , que a contingência da forn
mudafle o teu rigor , c náo com o defen
no fepultar a viva conftancía da minha fé
Ariad. Náo , que a voíTa porfia fõ fe defva
ce com hum total defengano.
Lidor. já que dcfenganado morro ás violem
,defle nunca vift> rigor-, náo eítranheis
delirios da minha magoa nos últimos pci
do6 da minha vida.
Canu Lidoro ã figuinte
Ária.
Já que eu morro j ó fera Hircana ,
.Sem remédio a teus rigores,
I mpacicnte , louco , Oimantô ,
' Delirante,
Com gemidos , e clamores.
De ti aos Ceos me hei de queixar.
Amlnha alma, vaga^ errante^
N
IJr Creta. S4
NSo te âiTt^fteS) quando a vir^s ,
Que por mais que te retires ,
Te ba de Tempre acompanhar. Vai-fe*
Jrfá<{. Ninguém pretenda violentar a vontade ,
quando vivo ligada ás violências de outro amor«.
Ai Tezeo , que as noílas vidas ambas íe con«
íitferao tributarias , fc a tua. ao Minotauro »
a 'minha ao amor !
Sàt Esfuziote com bum papel na mSo ^ e ajoi^
Iba.
ísfitz* Deos vá comigo : Senhora , hum reque^
lente da fua vida vem hoje a prentçnder no
Tribunal de voíTa piedade a renovação demais
vidas em hum prazo ibreiro á mone , que
o querem julgar por devoluto ao Minotauro^
3n% intenta ler o direito Senhorio defta vi*
a; c fe Vofla Alteza j Senhora , me alcan-
ça a fúpervivencia , eu lhe pagarei o foro
da cotifciencia com o laudemío de mil lou*
vores.
Ãriad. Levantai-vos y que he o que quereis i
hfiêz. Efte murmurial o dirá.
Ariai. Lede-o vós mefmo. ^.
Mhz. Pois já que eu fou o pio leitor ^ fejá
Yoflia Alteza a piedofa ouvinte.
DECIMA.
Diz hum pobfê Esfuziote
Condemnado a não ter vida
Çhkt certa ifll|f^, atrevida
l^e quer pregaivKàm calote :
JDií Qvit
si Ldhyrihtbo
Que pois nâo he D. -Quixote '
Para acções defta relê ,"
Pede humildemente que ,
^ Antes que morra em taes damnos ^
Lhe dem de vida cem án|ios 9 -
■, E receberá mercê. . i v
'jiriad. .Supponho que fois a quem o Embaí»
xador de Atheaas oiferéceo aElRei mea.pai
Eara completares o numero dos fete do^^tjÇ^
mo..
JSsfuz. Sim,, Senhora , eu íou o próprio , a queo;
impropriamente o Emibaixador ,' que o díabc
o leve, me malfínou a Sua Mageftadè j ^<
Deos guarde.
jírtad. Ó Embaixador hSo andou bem.
£sjuz. Como havia de andar bem , fc elle h
zambro i pois náo fendo eu nenhum dosfc
te , fobre queni câhio á forte , como que
deftà forte trocar a minha force, pois iítbl
tiáo deve fazer de nenhuma forte ?
'jiriad. E vós a que. vieftes a Creta ? ^ .
Esft$z: Vim acompanhando ao Príncipe Téza
jíriad. Sois feu criado? . ' . ,
£sfuz. Algo mas , fou fèil gentil-hòmem >^è* i
Vezes em caio de neceflídade íirvo dè c
mareiro. . . • '
jlriad. Na verdade que finto muito a defgraj
de Tezeo.
£f/«z. Mais, a fente clle ; porém parece qi
elle não fente tanto a morte , como outra co<
fa 3 que di2 tem atravétTada na garganta c
mo efpinha de caç$o*
Jriaà.
ie Oeta. s\
Ati^. 4Qae confa {lóde. haver, que finu mais ,
que o morrer ?
Sj^i^. Segundo o que lhe ouvi dizer hum dia,
, p^ece que hum menino cego , e nu , pef-
pegpu.Ihe com Kuma fetta no çoraçáo , que
o panio de meio a meio ; e cíle golpe 9 por
Uie xct chegado ao vivo , o tem quafi morto.
Aiád. IMo que dires , Tezeo, pfidece ornai de
amor.
BsfiÊS^ Nâo Senhora ; eu cuido que he mal
de Áriadna , pois fempre o ouvi queixar : ai
' Ariadna • que me matafte ; ai Ariadna , que
me fizeue , e acontecefte ; com que Ariadná
he p Teu mal , . e não o amor.
Ariad. Pois dizei a Tezeo , que efla Ariadna. . •
Fai andando.
Bsjffz. O que hei de dizer, Senhora^
jtiaJ., Mas não , hao lhe digais nada.
Esfuz. Sim , Senhora , eu lhe direi iflb ; po*
rém , Senhora , terá defpacho o meu me«
morial i
Ariad. Baila feres criado de Tczeo para vos
apadrinhar.
Esfiiz. Ora não fe efqueça de fer minha ma*
drinha nefte negocio.
Ariad: Ouves tu , dize a Tezeo que não he elle
fó o que. .^^ mas tião , não digas nada. Lou-
co amor , não me prôcipitcs, 4. p. Fai-fe.
Esfuz. Que cafta de recado he efte : Dize a
Tezeo , não digas nada a Tezeo ; a mim
me melem íe o nada defta Infanta não he ai-
guou coufá , e fenão quem viver verá.
Sa^
y4 LabyrinAo
Sabem TàramelU , e SinguiiU^i; '
^arâm. Senhor Tczeo.
£sfuz. Tá^tà, Taramella, não me diaitt
Xezeo Canto ás claras y que no Paço àtêl \
paredes tem ouvidos ; rraca-me por Esfuziou
em ordem a maior disfarce. ^
Sang. Meu Senhor , efta rapariga teni o mio
lo muico leve, por iflfo não peza o que diz
e Vofla Alteza ( perdoe«me ) fez muicò ma
em communícar-lhe fe^edo de canta &ppo(içã(í
Esfiêz. Olhe tia.
Sang. Aí Senhor , eu tia de Vofla Alteza!
Quem fou eu para tanta dignidade ?
Esjuz. Náo poflo tírar-lhe o gcáo ^ que por af<
finidade lhe pertence. "
Sang. Serei o que Voflía Alteza for fervido. .
Esjíêz. Mas j tia , cortio hia dizendo , não pu*
de deijtar de communícar a Taramella t /ni*
nha regia profapia , que quem ama deveras ,
não fâbe mentir. - '
Taram. Pois Senhor , he poílivel que eu de
criada hei de paflar a Princeza ?
Esjííz, E não he peior naffar de Princcna a cria'
da? Pois fabe que delTas monftrofidades fe
achão nas hiftoriás ; mas com tua licença ha<
vemos mudar efte nome de Taramella , qUc
não he decente para huma Princeza de Athe*
nas , pois taramella he coufa que anda poi
portas , c não por thronos.
Sang. Tudo fe fará: mas diga-me , Senhor,
1'i VolTa Alteza diite ao Embaixador , que eu
uvía de cafar com élleí
de Creta. SS
lsf$ê%. Sim ,.Cm^ já lho infinuci ; e o Embai-
xador , vendo que era gofto meu efte fati-
guixugal matrimonio , dilfe gue eftava promp-
lo ^ com que em o vendo , Falle-lhe na ma«
teria. ,
Saig* Ui Senhor, pois eu fendo mulher hei
de fàllar primeiro a hum homem cm xafar l
Appello eu por mrm !
hjuz. Não fe lhe dè diíío , que o tal Embai-
xador he mefmo acanhado de íi , curto- dos
nós , e ^vergonhofo. Ao menos tiáo fe* livra-
rá o Embaixador do Minotauro defta Velha. âp.
TãTéOn* Tornando ao noíTo intento ,' digo , Se*
nhor , que já me tomara ver neíiâs Jimpezas ,
para ver fe Fedra , e Ariadna sáo melhores
do que eu.
Èsftn. ^ ralvez que çmáo tu as náo queiías
por tuas criadas.
Taram.' Efíz mefm^ grandeza me faz defc^fi-
fiar da fua palavra.
Sang. Vi^tolla , tu chegas a dizer, que def-
.ronfias da palavra de hum Príncipe i Senhor,
releve , que são raparigas , que cuidáo que o
iMfmO' são ^Ihos quç bugalhos.
Esjm Já hc coftume nas fcnhoras mulhewsr
cuidarem que os homens fen^pre as enga-
não : pois para quç vejas que mais dcprefla
faltará agiia lio mar-, do que amor tm meu
peito 5 quero praguôjar-me , que hc o vcída«
. deiío "juramemo dos amames.
Can-
56 lâl^itttbo
Canta jEsJUzrote afegmníc
Ária.
Se cuidas menina ,
Qqc eu feja prejuro ,
Pois olha , eti te juro ,
Hum taio me pana.
Me abraze bum corifco »
O diabo me leve i
JSe eu falfo te for.
Mas ai 9 Taramella ,
.: Se és linda , fe és bellâ .9
Terás em meu. peito
. Seguro o amor. f^Oi-Ji
Sabe Liças Embaixador.
Liças. Vifte a Tezeo por aqui í .
Sang. Ainda agora daqui fe vai. • • . Nio h
defpeciendo o meu futuro . noivo ! â f
Liças. Vou a fallar-lhe , que importa.
Taram. Efperc , Senhor , que rainha tia ten
que lhe dizer coufa dé importância : falle » tu
.Sang. Ai rapariga , deixa-me tomar o fôlego
que eftou embaçada.
LicAS. Diga depreiTa , que não tenho muito vagai
Sang. De forte , Senhor, que eu bem fei qu
• .Aio fou capaz de fer fua criade.
Llcas. Que mais ?
Sang. Que mais hei de dizer ? Voffa Senhori
náo me entende já p que quero dizer ?
Taram. Ora Senhor , não feja acanhado , qú*
ííTo he não fer homem.
Liças^ Que dizem ^ que as não entendo ?
•vr» S4th.
^tfi(g. Kão fc^ça.,:(gora moqucnço^, jà fabemot
quche COTO 4ps43Ós.. . '. . : *
Tjur^tir. ]^áo,4^fcérO negodo; não feja vêf^^
S»hpfp.
LfC4f • Efiá galante Uíloria ! Que lie p ^ue quci
rem de tíáv^Í '
Sái^. O ,nwaimbnio* . .
Ucis. Que matrimonio? Que hc íílo ?
Sâíig, Faça-fe agora de novas.
Ucas. Defxeni^me, doidas , quê diabo querem}
Sing. Tiíir/?m»^ Q. matrimonio. ;
Uus. E&fLs mulheres eftão loucas; vão-fe ]zi^
náo me pcrfigão./ ., . Vai-ft.
[ ^^i\ T^ranL O inatrimomó. Senhor Embaí*
I xador , matrioionío.. Fâó^fe*
S Cí Ê N A IV.
Gabinete. Sabe Tezeo^
Tezeo. A Gora acabo de conhecer , que he
. -/x o amor mais valente , do que a
. norte , pois quando por inftanres me ícpara
a faria do Minotauro , vence na minha me*
n|oría mais a tyrannia do amor ,.. que o ima-
. einado. eftrago da Tua crueldade. Mas ai , fo*
Dcrana Ariadna , quanto finto , que a cruel
Parca corte o vital alente da rninha vida ,
pois qiiizera eternizar a minha fineza a pezác
da mefma morte í
Sàbç Tear A.
hira. Inviílo , c fempre efclarccido Tczeo ;
eu-
\
'^ LâhyriHÀê
' CQJo vilor , " dèf)ois de fcr úéonào ''hBo-ii
Orbe, pafloQ a dominacr ái ftrías áo Cod-
"to; commovida' a mmha' piedade 'áe-^òètiS:
^^ generofo alento feja infeliz defpojo doía fc*
'* ra , intenta falvar a voflà vida.
Tizeo. Galharda Fcdra , fe tu nas infelicidades
fou tio . venturofo , dcvò cfiimar á ixiinh
defliraça.
Sabe Ariâdnâ ao ba^idor.
Ariai. Aqui Fedra , e Tezeo i Ai dô mim ,
* aue )á o coração começa a temer!
Feâra. Para tríunfíirdcs pois dc(fe invencível
monfiro ^ dar-vos^-heí numa ceitá conféiçSc
compofta^de tão adívo veneno, que ao mi*
nimo contaâo do Minotauro fique proílrada s
fua furía^ fem que vos pofla oíFcnder o feu
furor.
Ariad. AquéUa fineza he mais que piedade : z^
. los , náo vos declareis , que ainda ipe não con-
vem moftrar-me amante. '
Ttzio. Que recompenfa poderei acha rem mim j
quepoíla fcr igual a voíTa generofidade ? Ef-
ca vida. Senhora, de cujos alerttos ft)is tu-
telar divindade, vereis que como milagre de
agradecimento a dedicarei nas aras da voflà
bellôza.
,:A^tAd. Ah falfo amante , não te quiz^ra agra-
decido. '
fedra. Não quero outra recomipenfâ mais que
vos lembreis de não fer ingrato a quem, cx«
põem a fua vida por rcdetóir a vofla. F^J^i
Ti-:
fieeo» Qiiem viu cfte amcúrem Âcfâdnft^*, OQ
' t fiU belleza em FcdcaJ. ...:,<.
Sabe Ariadnà.
Ariâi. Príncipe , coriío para a izençio d^ ràúÊ^
te iiio baíta íp vencer o Minotauro >, pois
fempre ficareis prezo no enleio do Labyrín«
tho, e para que com a. foga completeis e(«
ÚL ferina , qnero prevtnír o remédio da vot'
fâ liberdade.
Tfzeo. Atiadna fem duvida (abe ú intento jSt
Fedra. á part. Senhora , fe Fedra compaíUva
da minha defgraça. .. •
Ariai. Para que me contais o que eu fei ^
Tezeo. Foi preaTo , que agtecido....
Ariâd. Já fei que agradecido vos moftraftes i
fua fineza.
Tizeo. Porém 9 Senhora, nunca o meu amor. • «
Ariad» Náo tendes que facisfazer-me : não fa-
beis quanto me agr^adà faber que fois agra-
decido , nem em vofTa peflba cabiao defat-
tenções ; e para que também eu o feja na
vida , que me deftes j quero dar-vos a liber-
dade ; para o, que arareis na porta do Laby-
rintho hiim fio , que fendo farol naouelle pe<t
lago de confuzões-, vos conduzirá -a liberda*!
de , e cofh elia podereis totnar para Athenas
vofTa Pátria.
Tfzeo. Se cuidas que com a liberdade hei de
Erdervos dos meus olhos, nunca (ah irei do
by rincho , que ao menos cm Creta náo
vivó dcftcrrado da vofla vifta.
Ariad. Pois eq acafo habito no Labyrintho
Vwa que ncUc me poffais ver í T^-
c
6o IjibyrifuBo
Vewh i^Se Vos . nio encontrar: no Liaibyxi
de Creta 9 fempre vos. acharei noiah^ri
do amor. ' ;. . ^ . .
^Atiáâ. ' Muito' tendes adiantado o voí& p
mento:;; nao cuideis que como amante
. i proponha a iiiduftda do fio para a voíi
í berdade; pois^fó o. faço obrigada ao jura
4 tor, qur dei de falvar a vofla vida , ag
cida ã que me deftes.
Ifosfo. Póís, Afradua , fe o intento de red
me be fó como agradecida , e não como a
te , procedo ás iupremas Deidades deíTe
rano Empirèo » que já não quero mei<
falvar a vida » e a liberdade ; pois íem a
teza da vofla eorrefpondencia , nem libere
nerti vida quero.
Cmu Tezeô a fegmnte
A R 1 A«
Na magoa que ílnto ,
No mal , que padeço ,
A vida aborreço ;
Que affliâo ^ e confufo y
Maior laby rincho *.
Encontro no amor.
Não temo çffe monftro »
Que horrivel me éfpera;
So temo eda fera
Cruel tyrannia
De tanto rigor. ^
Jriad. Efpera , Tezco » que fe o meu ri
precipitai a minhj^ fineza te livrara. P
Ze Cntâ. ét
• S'CE NA V- ' ■
SâU jR^id. Sabe El Rei. ■ ^
Sei A; Gora fim, rcfpire dlegre^ o nicir- coU
-/jL ração , pois qoc hum Príncipe de
Athenas ne hoje o tributo, do ' Minotauro :
finta Atfaenas a pena de Talião, que fe aleU
voíamente confpírou contra a vida de roeu
-filho * Androgeo , bem he que Creta íe. anne
vingativa contra Tezeo*
Dentro. Peguem nelle , peçuem nelle.' . \
Esfuz. Senhor , Voffa Mageftade me valha.
Rei. Que tens? que te fuccedeo í c de quem
fages ? : ■' ' ' [
EsfUT. Fujo de Voffa Mageftade.
Rei. Se foges de mim, como vens para mim 2*
Esjuz. Porque fujo de Voíla Mageftade 'jnfti-
ceira y para Vofla . Mageftade^ commiferame 9
iujo da juiftiça para regiarme na mifeficordi^*
Rei. Que te fuccedeo ^ ,
Esfaz. Qae ha de fcr? DerSo em dizer qup
eu era hum dos fete peccados monae^^.que
vinha para o inferno do Labyrintho a fec
comido do bíabo do Minotauro 9 e fem que
me valeíTe o fagrado de palácio , quizerão
levarme â força , ô- invito domino , quan-
. do fci que VoíTa Mageftade náo quer que íe
force ninguém.
M. Ainda .que fegunda .0 p^ãeado ^qj[n Athe-
nas. j
Lab)lfinAo
nas , não devera receber menos numero que
o de íecc mancebos y com xudo efta vez que-
ro dirpenfar na lei para comcígo a tnftan-
cias de rainha filha Ariadna y z" quem hoje
deves a vida.
'JEsfriz.:liío fabe quanto folgo com.effa non« .
' cia ^ não por mim 5 que não temo a morte , •
por não eftar muito conrente da minha vida; ^
lenão por quebrar a caftanha na boca a mui«
ta gente.
Rei. Porem entendão 09 Achcníenfes, que pa- .'
ra o anno hão de fer oito os do tributo.
JEsfuz. Sim 3 Senhor, e fará VoíTa Mageftade
muito bem ; porém Vofla Magedade lem ef-
perar para o anno que vem , póde.agori
' mefmo completar o numero dos fete.
Jtei De que lórte ?
£sf(êz. Mandando VoíTa Mageftade que o Em-
baixador fuppra efta faiu , que como tem
grande cabe^^a , e muita carne no cachaço >
rerá o monftro que roer.
J?W. Os Embiixadores pelo direita das gentes
gozão de inviolável immunidade. '
Esffit: Pois ,* Senhor , em minha confciencit
acho que fó o Embaixador era capa2 de
dèfcfnpínhar aquelle lu^ar , que peio feu bom
modo até com a rtiorte havia de ter bons
termos.
£ei. E tu fenâo quizeres ir para- Athenas , po-
derás ficar em Creta íervirido-me em palácio.
£sfuz. Aceito o favor de VoíTa Magcftade ; e
já que cm palácio fico'i tomara ter algum cnv
ptc*
4i Creia. íj-^ ,
f^SPi 90c ^ fc me cafaíTe com p g^Rio^
que quando a occupação be forçada , a(é 9
palácio ha galé.
iri. Elege ta a occupação que queres, igaa|
à tua esfera. ' ^.
EsJHz. Gomo /oo refpondão, quízera fer rcpof«
tcifo.
TocSo caixas dejiemperaãas.
Rei Mas aue trifte , e coníufo fom rompe a
vaga raridade dos ventos í
Esfiíz. He hum moço que eílá aprendendo .'a
umbor.
,^ Sabem JÀdoro , e Tebandro.
j;W.JLidoro9 e Tebrandfo , que he ífto?
Lidor. He chegada a occafiãb de fer o FrincN
p6 Tezeo conduzido ao Labyrintho.
Ttband. È certamente que o Príncipe não hê
merecedor -de femelhante infortúnio^
fyL Não vps compadeçais de Tezeo , que ai
fim hc Athcnieníc.
Esjíiz. Ai pobre Tezeo j tomaras tu fer Es&i^
ziote nefta hora. ^
Sabe Fedra.,^
tedra. Como a Tezeo jà entreguei o- remediot
da fua vida ., não quero pcrckr os ínftantes
de vello» d paru
Sabe Ariadna,
Ariad. Como Tezeo jà tem o fio , com p qual
fc ha de livrar do Labyrintho , venho lénl
fttfto notar a afílícção do feu fentímcnto..
-P<-
S4 £ãbyrintbo
2 Sabe Licás , e dâ porta diz ^ qaefe fegíte.
Xicàs. Entre fó Tezeo , e fiqutrt os mais cípa
; rando aré a ultima rcfolução dclRci.
ÁeL Eftâo promptos eíTes ínfelFces , pára fercw
conduzidos ao Labyrintho ? . •
Xicas. Sim ," Senhor , que nunca fbí itmiflk i
noffa obediência. . -•
Sabe Tezeo.'
ífzeo. Sinto , ó inclyio Rei Minos de GrcaiJ
que efta acçáo , que parece precifa leP. da
tributo 3 náo feja voluntatio feudo do mrt
affeâo., para que mais do que a morte na
vida 9 tenha império ' a vioncàde ha obediência.
Esfuz. Aquillo he fazeír da neceflidadê vini^»
J^ei. Sempre os Athenienfes forJte maisloqõa-
zes que fieis. Tezeo, o rângTÍ& de.Andibgcò
I cm purpúreas linguas efta pedindo vingança
' contra as vodas aleivofías , é aflim não cfpe*
. reis remédio na vofTa defgraça.
Xidor. Senhor , VoíTa Magçftade fe compâdfri
ça de Tezeo , que ai fim ò alenta o regío
cfplendor de Príncipe.
7'eband. Adverte , Senhor , que he iftdipia da
* /Mageftade a tyrannia ; e affim perdoa a Tezeo.
Jtei. Aqui não obro como Rei , fenáo como
Juiz. ,
Esfuz. Ea bem fei que fe pcdiíTe a ElRcf
' jpor Tezeo , que o havia de perdoar , mais liáo
3íiero dar-lhe'effa confiança. â pàrt.
ra. Ainda fendo fingida aqueUa 4iumildade
em Te^eo , he em mim verdadeiro o pczar. ip;
Ari-
í ie Creia. ' 6$
I AfXàà. Parece realidade o Teu fingimento, à p.
Uus. Rei y e Senhor , fe o motivo de(Te im-
placável rigor be o eíparfido fangue de An-
drogeò , vede que o não refurcicaíjs com a
morte, de Tezeo ; e mais quando a demen-^
cia nos Prjndpcs he attribuio infeparavel dji
faa grandeza : perdoa , Senhor , a Tezeo , qu6
ttmbem o perdão he ham generofo modo de
caftfgar,
Jfoj. Inútil he o voíTo requerimento.
^ Tezeo. He definitiva e(Ia fentença?
iú* £nio ha mais para onde appellar. O' lá;
leTat a Tezeo » e a efles míferos com|xmbei«
)é ros ao Labyrincho. , para ferem defpojoa da
yi Minotauro.
u Zífái/ Pois fabe, tyranno Rei, que Athenas
cornara cruel vingança da tua crueldade , re-
duzindo a Creta á ultima ruina. Vai-fe.
tou A mim com amea^ ! Se não (oras Embai-
xador , pagarias cob a vida.ede a(çevimenro«
EsJ»z. Era l^em feito ^ que ElReí o mandaíTe
• efquartcjar. ^ . â parte.
Udou O Embaixador fallou com infolencia.
Tiband. Sinto ^ Senhor , ver ultrajado o teu
refpeito.
Jfeí. Por iffo mefmo fera Tezeo conduzido ao
Labyríntho , para o Minotauro o devorar.
^€Z€0* Não cuides , tyranno Monarca , que has
de, ultrajar o meu decoro , por me confide*
teres reduzido a efta miferia , pois em qual«
quer ^ftado fempre fou Tezeo, que fabecei
vingar 2 mia/m, íajarisí.
€6 Lãbyrintbà
Rei. Nâò fabes <jijc és meu priííonciro? Po
como me tratas com rança foberba , fabend
que te poffo caftigar ?
Tezeo. E não fabes , que no meu braço con
íifte a cuá raitia^ e a minha felicidade?
£sJui!íi'Máo y mÁo , ifto me vai cheirando
carolo : queira }upícer que Tezeo náo feç
* das fuás ! ^ ápátí
Ariad. Temo , que Tezeo padrça maior Snfefí
tunio. ' • -.' . ' á pM
Fedra. Ai de híim, que Tezeo quer defvanece
. o remédio de fua yidá ! apan
iMor. Se até aqui - mé compadeci de vós , agon
' ' cremino a VõSa íobcrba. *
Teband. A náo eftares tão perco 'da morte , eí
def|5icarii;> a . Jéíôírtcnçáo da Mag<>íèade. \
'JRti. Bafta que ''^'Minotauro me vingue , levaí-a
■•■•;ií'- '■■ Fai'fe,
Esfuz. Eu iã<^ 1>e-m me" vou , antes que rne Ia
* vem pòr erro. Fsi-fe.
U^ezeo. A\ Ariàdria , qu« por ti reprimo o to
' • íor de meu peito ! á pdrti
Oxv*
'ifc Creta. YJ7
CantA Tezio: ofogmme Recitado , e depvis can-
tão as duas Damas ^e os dous Principcs
jcom /Ttzeo -ã Ária».
'" R É C I T A;DO,
Bárbaro Rei , eu vou ao Labyíintho ,
Mas fabc que . não íinlo
Effa t3iaanna «norte , que me cfpeft ;
Que a fer poffivcj , dcfcerei á esfera
Deffe fulfureo', c^ wpido Gocka . ' ^ . ,
E do trifaucc tnonftro a fúria, incito.
Porque vejão V'iftic;nada me imitóída
Pecder a cárx vida.
be curro monftco?» (^ai anxH: ! ) fó temo aicaL^
Que cyranno coni^^fa
Hum veneno, tão forte y
Que ainda por faror coucede a niorte ;
Pois com. doce influencia - .- ;
Faz feja fympaihia b que he violcrcia^ . . '
Efte monftro de amor , efta chimera
Me horroriza , me aííufta , e defcrpera.
A R 1 A A 5*
TcTJCO. Não me acovarda á mone ,
Porque he vida
Efte modo de morrer.
JLidor, Como intentas deíla forte.
Sem refpéito
Hum decoro aflíim perdei \
11
TtJL-
yo Ldhyrimbo
com o Embaixador , porque fendo eu Embti* *j
xacriz , direi ao mar que ronque , e aor rip'.
que murmure. ' ' ' ii
j
Sabem âo bajiidor cada buma péla fua parUf ^
Ariadna^ e Fedra , e cadabfma com bth "■
ma banda na mSê.
jiriad. Amor me defcubra meios para o meu
incenco. Mas alli efiào Taramella , e. Sangue
XQga \ tomara que me não videm , por me ^
tiáo obíer varem os paffos. ^ . ".>.A 3
Tcira. Que impoauno encontro [ Sanguíaoiga, i
e Taramella fe me vem com a batida ^ que ■:
levo , poderão penetrar o meu defigiúo; ef«.
perarei que fc vão.
Sang. E que dizes tu , cuidarem todos ent Pa-
lácio , que o Príncipe Tezeo he morto ^ ^o
o fendo \ E na verdade que quando ás vezes
ouço fallar na morte de Tezeo , não poflb fufler
o rizo. V
Tâfam. A induftria todavia não foi má.
jíriad. Aí de mim , que já fe fabe que Te*
. MO he vivo !
Hdra. Ai infeliz , que fabendo-fe jà que Te-
i zêo não he morto , algum .damno experi*
. mentarei !
IrM^am. Porém não nos dilatemos mais , que
as Infantas podem procurar por nós.
«SVfwy. I^3is , rapariga , não ledefcuidcs de bateira
o mato ^ tu l^em me entendes.
FaHc
^ de CnU. ép
PARTE II.
S C P N A I.
OtmerM. Sabem SanguixugA , eTaramelld^
5mg. f\\ Aramella , vai-te enfaiando para
.1 Princeza , toma bem a i lição /
■*". aprende de Ariadna a fcverídade »
c de Fedra. o carinho ; que temperar a aípe-
reiza com afiâgos he 'z verdadeira maxinu
do reinar.
J^ion. Bofe 9 tia , que me não canfarei ootn
iíTo ; porqoe fendo Princeza , quer feja aze»
da ) quer doce » aíllm me hão de tragar ; po-
rém fe tal for , que djráõ de mim os mur-
murado res ^ OUiem a ranhofa , ha deus dias
roixella, e hoje Senhora de mão beijada !
Sáng. E logo te hão de defcozcr a geração;
e ao fom do villão também eú hei de m à
baílha , pois não faltará quem diga: que ' feja
poflivel , que a fobrinha de huma criftalietra
' nos falle já por vidraças ! Hontem em. chi*"
chellos , e hoje em berlinda ! '
T^Mám. Olhe, ria, por amor deites raios nãck.
quero thronos.
Sang. Ai filha , não fc te dê diffo , c^ue tam-
bém os Reis tem co&sis \ tomaia t>vx caiAX
7% Labyrindfo
Taram. Ah tyrannos zelos , qoe me deixais eoof
a alma a huma banda ! ^ â fárU.
jirUd. E como cu , pela continuação que tem
em hir ao Labyrintho comigo ,' já íabes m ,
caminhos , vaí*ce ao ccncro delle , e leva t
banda a Tczco , para que venha ao faráo et
ta noite , c Oibcrei agradccer-te como merece
a tua lealdade. Fãi-fíé
Taram. Haverá no mundo mulher mais àt^
graçadaM Quando eu cuidei que fó fabii
que Tezeo era vivo , também Ariadna o nki
ignora ; e demais a mais namorada delle ! Aí
como remo , que me tire a íortuna ! E fobre
tudo (azer-me alcovite ira do meu mermoamatt-
te ! Que farei nefte cafo ? Se não levo o re-
cado , e a banda , encontro as iras de Aria«
dna s e fc a levo , atiço mais o feu amor ;
não fei de que banda me vire. Eu bem 4x1-
dcra com a raiva dos zelos romper a banda
em fanicos : Mas não quero fenão cara a ca-
ra dar-lhe com a Tua ialfidade nos narizes.
Sabem Fedra com b/ma banda branca na nu$j
e Sanguixuga.
Sang. Vai re daqui , Taramclla , que ao depois
temos muito que fallar.
Taram. Também cu : vou huma víbora.
âpan.evai-ft.
Fédra. Como tenho dito , libertei a Tezeo da
morte i c para que venha ao faráo cfta noite»
Icva-Ihc cfta banda branca, Qdá-lbe a banda)
para>que (aiba , que he o alvo de minhas
• finczjã^ e por eíla dívífa o pofla conhecer.
Bem
Jk Oitd. 7;
Bem vis 9 que te ^nfticao feaetaría de mea.
peito j efpero que náo defmereças o con-
ceito 9 que faço da tua prudência. ]à que o
fabe y ao menos tenha preceito para o não
dizer. á pârt. e vái-fe.
Sdng, E para dízer«nne huma coufa , que eu já
fiDÍa 9 efteve fazendo mil efcarcéos , coman*
do-me duzentos juramentos. Porém que farei
- fut 9SDCa defta banda , pois fe a levo a Te-
izco^idou armas contra minha fobrinha Ta-
mnella ? Ai , não permitta Deos que eu íe«
ja traidor ao m^u fangue , que primeiro cftão
parentes dq qpp dentes.
Sabf Tebandro.
TihmJ. Sanguixuga , não me dirás , porque
motivo defpreza Fedra tão tepetidos extremos
do meu amor ^ Por ventura não fei amat
não fó as perfeições, mas ainda os feus ri*
gores i Defengana-me já fe aquelle defdem
invenu a fua. tyrannia , pí;ira apurar a minh^
fineza ^ ou para defenganar a minha conf*
uiicia.
S0ig. Senhor Tebandro , não fabe que huma
futura noiva fempre aíFefla rrpudios , defde-
nba carinhos, inculca ^crueldades , e atropcl-
la finezas , e no cabo eílá dcfejando , que
já chegue a hora de fe ver nos braços de feu
efpofo ?
Tebâtid. Aqoelíe defdem riáo pode fer appa-
lente ; e (e me não dás outra certeza de feu
amor 9 hirrí fentir os feus defvios em Chi-
pre; para que lá fó finta a memoria ^ e não
tqui U)das as potencias. Sang.
74r Láfyrimbo
SMg. Qoc me 'àaí Voíh Alresu fd Iheler
- homa cerceza do feo amor ^ -Mas cu não. ](bQ
- jncereffeira ; agora matarei com hum cajado
' dons coelhos. . . âparu
Ttbând. Não .faças ludíbrio de hum defgraçado.
SáOí^,., He fáo verdadefro- o amor de Fedra y
qoc te envia efta batida , para que entre oi
mafcaras te poda conhecer á noite no faráo,
Tfband. Que dizes i Eu mereço 09'a^adoa:^'de ^
Fcdra? . -- ■.■-•"%. ■;
Sang. SabcDed» o qdc me term cuftado polia |
cm termos de dar a conhecer ^ fua Indtóa- ■
cão : mas VoUa Alteza tudo merece. |
Twdnã. Acceítá por õraefta joía , como prin- \
dpio do níicu a^radedmèhtò. ' '
Smh^. Dadivas de Príncipe não fe rejeítSo ; ora
já tenho prertda que dar áò Embaixador,
quando caiarmos ; porém Pedra enganada j
t o Príncipe deÍTánecído túdò lie hum.
'á part. e vai-/e.
^tbãnã. Ainda nãopoíTo acreditar a minha ven-
tura , pofs quando ' á* tea ardente do Hyme-
fi&o jàqoafi fe extinguia aòs afTopros de hum
defcngano , vejo qnc torna a incendcr^fe com
os alentos de bum futpird. Oh ditofo éu ,
que depois dos pezares alcanço** prazeres.
Ctnu Tehandro a feg/í^nte
A K 1 A, .
O tuvegante ,
Que combatido ^
^ .... , :.:■ pc
de Creta. ys^:
De bama tormenta
Logo expcrimenca '
Quieto o vento
Tranquillo o., mar* .
-Coma. eu , nem tanto
Sd alegra ,: vendo ,
Sue vai crefcendo
inba ventura ,
£ ^ai ceiTando
De niéu gemido .
O fufpiíar.
, S C E N A 11.
Lahytimbo. . SaBeTel^Q.
#
Ttuo. T^ Sta. he a ultima efiancia' defte in-
XZi trincado Labyrintho , aonde Dédalo
fixoD a meta a feus artifícios^ Atarei o fio
de Ariadna a efta columna , para que meCr-
>a Áe Norte em o pélago de tanto enleia.
Qpc admirável edifício ! Que variedade de
arqujceéhíras ! Que pórticos ! Que mármores !
Que colomnas T A<]ui toda a confusão ale-
gra , c toda a alegria fe confunde ; pois ,
equivoco o horror , e a bclleza , horrorifa . o
bello , e deleita o horror , que neíle quadro
■de luzes , e fombras. , -bríiháo af^ fombras ,
e aíTombrão as luz^. .Porém Dédalo , que
ficou de efperar por n>jm ttefte lugar , fem*
■jduvida arrependido da palavra ,. jfe quiz apro*,
ireicar àã awa que ^brio^,
Seir
^ Lâhyrhiío
Sibt Dtàãlo da efcotilba , que eJUrá nd boa
do Tbeatro.
i Dedal. Tezeo ^ Dédalo nSo falra ao que pnhi
mette , pois efcondido ce efperava na. boeu
defla mina , aue vai ás ribeiras do mar , de
donde me viáe fahir , quando te encofiticL:
Tezeo. Vem a meus braços , fiel amigo , e re-
leva-me o errado conceito, que de et rormcí:
mas quizera faber como eftando eu no cencfO
do Labyrintho , não encontro |io Minotauro !
Dedal. Ainda o náo folcariao talvez , porque
o tal monftro vive encerrado em hum íuncC*
to cárcere , c quando ha viflimf humana de
fua tyrannia , o foltio , para que enfurecido
venha por dirigido conduélo a efte lugar j
que he o campo da batalha do feu fíiror.
Tezio. Defejo , que já effe monftro feroz ve»
nha a accometter-me , que a pezar da fíia vo-
racidade , me verás triunfador.
Dedal. Eu eflou prompto para ajndartc nefta
«mpreza , c vè fc queres que difcorramos
cm alguma induAriofa máqaina para o veii*
ceres, fcm que perigue a tua vida.
Tezeo. Se eu o quizera vencer -a meu falvo,
remrdfo trago comigo , admíniftrado por hu<-
ma Deidade , com o qual feguramente poflFo
triunfar ddle monftro ; mas não intento valera
me de extraordinários remédios , quando no
^ mfiu braço lenho a defcza da minha vida.
Dedal. Aí , quanto temo que efta cemeridaJê
feia a caufa de tua ruína !
Te-
i€ Cretê. 77
Tezeo. N&o temas , que fetnpre a fonniia foi
companheira da temeridade.
. Esfítzioie dentro diz o Jegutnu.
Esfuz. Em boa efiou mettido ! Ai <\vtt não
atino CQm a poru ! Vamos por aqui : peior !
Vamos por alli : repcíor ! Ai mifero Esfu-
. ziore 9 que eflás quando nada mettido nai^
. pofundas do Labyrintho , e a cada paíTo me
parece que encontro o Minotauro.
Tmo., Alli cuido que diíTcião Minotauro»
Dtdãl. E paflíos também ouvi : fcm duvida já o
ídnriâo. Tezeo , outra vez te requeiro te
nio exponhas a tão evidente perigo ; e fe pa-
(i| ra o vencer tens o favor defla Deidade, (já
que te não queres valer do meu ) não pere-
ças como tepierario 9 guarda o teu valor pa*
ra mais heróica façanha.
'e| Tfíio. Msíi$ vai morrer , valente , que. viver co-
barde : retíra-te tu que eu com fubito furor
: fem mais armas que os meus braços 3 vcn-
cârei eílk fera.
Sabe Esfíiziote.
JEsfuz. Vamos por aqu^ , faia o que fahir.
EJconde-fe Dédalo : toem-fe Tezeo a traz do
bafiidorj por ande fabirâ Esfuziotecom ava-
ra para o povOj e ao fabir^ Tezeo o invéjlt
repentinamente y e Ima eom elle.
Tezeo* Morrerás , ó monftro , defpedaçado em ,
meus brados.
£sfMz. Ai de mini , que cahr nas gui^ dio^^iK&e»
,£ÊiKaurQ ! Quem rOíe açode ! Tc^
78 Lalyrintho
ÍTVssft). Eflic he Esfuzioce : orâ- maí eíHcn h
huma fancafía ! ápãfi
Esfuz. Ai dcfníiíij que m^mtoco a garra çn
cheio pelo vazío-y-rn me íinco'á\othado\ adi
fei . fe ne fanguò y' fuor ou outra coofa iMaísn
fcrior.
%ATgaTezeê 4 Esfuziote ^ eeftcefiarãcom'ã
tHaos no rolio.^
Tezeo. Esfuziote , não te affuftcs.
Esfiáz. Ai que o Minotauro já me fabe o
' nome !
Tezeo. Não me refpondes ? Olha- para mim.
Esftáz. De burro ^iit eu tal dlHe, qúatido rttan
• pintado o quero ver.
Tezeo. Que tens , <]ue'*ficafté ímmovcl !
Esfíáz. Eu bem fel o que tenho. S6 a voz^
elle tem me faz aitiédremar. ' ' áfárU
Tezeo, Deixa lottcuras : dize-me , quem te itod-
Xe a<fXabyriniho ?•
Esfifz. Os meus"'p«:cados vchiaes , que ago»
são mortaes. ' '* •
Tezeo. Falia , fcnão te dcfpedaço aqui.
Esfítz* Senhor , voíTa monftrofidade não me, fi-
ca per?jUntas , que eftau com a língua pega-
da ao ceo da boca ; deixcme hir embora em
corro^ia , antes que o.mçdo dsftemperc eni
alguma defcorrczi.a ; pois n^p ^e razão quí
depois de comer hum Prit^cipc., queira en^ha
o feu bandulho com a carne dura , e m»
^rá pelhancra de hum lacaio.
Tezeo, Quem cuidas tu que fou cu ?
£'s//i^z. Eu bem o fc\;
rrzro. Poiaf^bp. ^e não fou qui^m ca cuidas»
Eff«íz. Pois quwn hç > Quj^m rbiS:?
Ts%€Q. OUú , e , ycràs. . V.. *,
Eijfii^* Senhor, medo ^ ; Gi>m lí.cença , deíxe-mô
. abii.r pUc^noe^tç os olhos, Ah que d^ElRet
qoe he xali^ia. de Tezco..! Ai q«c eftou fei- ,
ID iiom trcmedario! Tiraaniãodosolbos.
Te%eo. Nefcio: qoe. alaridos, $á9 efles ? -.
Esjuz* Faiiu£ba', chiméra ., íomhia , illuzão ,
coco , c.papãa,- tjue hç 'o quQ- otc qutics?
Tezeo. Olha que 4ba Tezeo, . ,
Esfmz. Tanto Jortms^ *f não le cheguei a. mira,
alma vadia , errante 3 e vagabunda.
TezeOé Vem - xá vj»o .fujas.
JVífcf Dedâlo. •:
2M^/* Esfttzipte :,^ etí aqui ' eftou também 9^ náp
cuides que Tezeo morrco.
Tixeo. Graçaà aòs Deofes íçjojfit.aindi cftou vivo*
Esfitz. Eu bem fei que as almas nunca morrem.
Tizeo. BaAa que cuidaíle que eu eia nooito.^
Ccriamenfcyqueo ceu medo te allucinou.-.
Esfaz. Eu , Senhor , vendo que te chegavas
'para mim" ,: qôc havia íuppor j 'fenáo que cia?
coufa mà; porque, coufá boa nunca para mim
fe checou ? . .- ■ . ' " r • .
Tezeo. Coihío te atrevefle a penetrar até oceturo
do Labyrintho ? Não cuidei que tinha 'vaior
para tanto.^' • . r -:;
^jfiiz. Se eu. fora lironjeíro , bem te podia di-
zer , que quiz vir. acompanfaar-te nas tuas pe-
nas , para ajucda^ce a matar o .Minotauro : po-
ràn ^ Senhor y a minha fraqueza \^c xA >
8o Lâbyrínéo
qae me não pode deixar mentir ; e fiH\\
cafo : Depois que rc rróuxerio para -o '
byrincho , como o boi folco lamoe-fe to
nâo me pezou o pé huma onça , e como',
de hum pullo entrei por huma porta , ii
pela outra , anJei , defandci , corri , defcor^j
ri para dencro , para fora , diqui para alli ,
tté que dei comtigo neftc lu^ar , nefte Labf
rintho , nefte diabo , que bem efcufado era.1
que o Senhor Dcdalo tabricafTe eftes enredos i^
. mas por donde cada hum pecca , porihi pgàr-
Dedal. }á'por meu mal me não podo eximkS
dcíTa ccnfura.
Tezeo. Ainda te não fei encarecer a árUficiofi!!
máquina dcfte portento ! •
Esjfíz. Também o filho da puu ^ que tal fet^
merecia as mios cortadas.
Tezeo. E que novas me dàs de At iadna ? Se»
te muito a minha aufencia i
EsfHZ. Muito , e com tanto extremo , que efli
noite fazem hum faráo por exéquias da tua
morte.
Tezeo. Cruel he a Tua condição ! Pois não te
fallou em mim J
£sfí4z. Nem fallar niíTo he bom , e mais ago-
ra que anda hum rum rum em Palácio , que
Lidoro caía com Ariadna.
Tezeo. Ai infeliz , que fe eu hei de ter vida
para ver a Ariadna em poder de Lidoro , uto
reíiftirei ao Minotauro -, aue antes quero qoe
a fua fúria me; devore ^ do que o$ zeloa^ me
defpedacem l
Et.
i€ Oeu: ti
'Ssfitz* Pois ainda o Minotauro cflá ví^o i
Tezeo. Ainda ; e do feu furor me ngo hei de
eximir.
r EsJHz. Btm aviados eftamos ! O Minotauro vi-
vo, e eu aqui ! Pois com licença , que eu
^me náo quero minotaurear agora , nem ef*
perar pela morte aqui a pé quedo ; pois eu
cuidava , que eftavas vivg , por teres morto
I * ao Minotauro.
I Tneo. Aonde has de hir , que o podes encon-
i< ' irar i Não te acobardes eftando comigo.
f Esffiz. Por ventura Voíía Alteza he alguma
i' coura danta , ou faia de malha , que me fa-
\ ' ça impenetrável aos dentes minotaurinos ! E
quando allim feja , fe quizermos furrar-lhe a
i volta j t fugir , como nos havemos efcafeder
daqui fora , fe em cada paffò encontramos
' mil barafundas , e circumloquios ?
Dedal. Mais hcil fera matar ao Minotauro , que
atinar com os^ caminhos intrincados do Laby-
rintho.
Te%eo. De hum , c outro me verás viíloriofo.
Esfiiz. A mim também não me cheira.
Tczeo. Para que o faibas > attende.
Omu Tezeo a feguinte Arid\ e
RECITADO.
Nunca piedofo o Ceb á hum dcfgraçado
Negou favores de hum. dicofo aufpicio^
Pois com antícipadas influencias ,
Antídotos prevenio a meus pezarcs ,
Dando-me Fedra a indúftria peregrina
7é;m. /Á E tio
94 JUhyrinM
, i^ttera valer-ttae decí panít (Hitm emprc
ior , que a do Minocauro.;. ' . ;
Esjuz. Senhor, fc cu não pude com. a:
como hei de/^poder com a maior ^
Tyzeo, Píi^ comniunjcar-me com Aríadi
reco que amor te candt^zio a efte L
lho. ,
J)eilal. Pízadas ouço , parece que vem
Esfuz. Senhor, não fera licico que te
pois todos te julgâo morto. r,
TVz^o.: Dizes bem:. Dçdalo , aonde nos
deremo5 ? : • »
DedaL^ No concavo defta diáfana colur
hum pequeno , c limitado gabinete ,
muito apenas cabem; duas peíloas , n
nos poderemos efconder.
Te%eo, Pois vamos deprcíTa. , que o ru
vem perto.
Xsfíáz. Efcondão-fe cobardes , que eu fc
clcei aos Minotauros.
Efcondem-fe Dédalo , e Tezeo atr/tz
Imna , que ba no meio do Labyrmtho ,
"faramella com buma banda azul na mii
Taram. Quero obedecer a Ariadna , í
invrftigar os meus zelos : mas entre
enleio aonde acharei a; Teico ?
Esfuz. Ay que he Taramclla em carne
me vem bufcar em oflTp de çprrcr !
duvida que a induí^ria de fazer-me Pi
a tem feico andar numa dobadoura.
Tjíranu Mas clle ahi cfld : ah fementido
Y cipc ^ já vejo. que hc c^tu ^vvia fal
<fc Crtta. ^ 89
Isfmí. TarameU^ , já feí què o lâbyríntho
da caa faudade te trouxe por teu pé a efte ,
aonde por ri duas vezes áiè confidero per-
dido.
ráfâm. Para que he llfongeiro ! Logo me pa-
receo , que o feu amor era fingido, $e adora
a A^íadna , para que me engana ? E. fe ella
o buíca , para que me perfegue ?
Tezeo. Que he o que ouço ? á p.
Esfaz. Menina ^ iífo são tramóias de tua tia ^
por ver fe nellas efcorrega o arlequim de
•meu amor.
Tiram. Ainda, (e atreve a negar , que adora a
Aríadna ?
Eif«3f« Eu a Aríadna? Apello ^u! He mulher
que nunca me cahio em graça.
Tirsm^ Sim, que Ariadna havia dç fazer ex*
Gdlbs por quem a nao rèqucftafle primeiro
muito bem.
Esfifz. Se ella para querer-me achou motivoí-
na minha gentilomeza , que* culpa tenho eu ?
Tezeo. Que enigma fera efte de Esfuziote com
efta moça. Á partm
Tâfâm. Bem fei que ella he huma Princeza,
e eu huma criada ^ mas tenho a confol.içao ,
que cu o nao roguei- para que mequizeíle. .
Isjuz. TaramelU , não venhas a arengar : tan-
to fc me dá a mim dâ Ariadnas , corno da
lama da rua* Tu cuidas que eu faço cafo
de Princézas ? he engano; pois mais me re-
gala huma fregcina defenxovalhada , que os
mclíodres/e fil^r4rla» de huma Ptlticez^.
Ta*
S6 Ldhyrintbo
T^rant' Nada dífío me entra cá ^ pois êu coiihc
, -ÇP ^ génio ide Ariadna , e íci , que fcm. i
[nfequeftar lhe t)ãò havia, mandar eila bãn4a.
para com cila hir ao íario , que fe faz em Pa*
lacio efta nõíce. . Dáabandá,
Tezeo. Tomara jà faber <]ue banda feiá çifa
de Ariadna! ijMft.
Esfuz. Pois Ariadna manda-me efta banda} Dar*
^.feha cafò que me namore, fcm cu o faberi
^Arm^ Não fc faça de novas ; e para que spt
. ja , que a mim me não engana > vá , và ao
faráo , oafe com Afiadna , que cu me vjn-
; gareí em pedir juftiça ao Ceo. contra hum
falfo enganador, Juftiça! juftiça! VdUfu
Xsftêz. Efpcrt 9 TarameUa, não fechei ^.0/9,
à minha innocencia, ''[i^..r
■ ' *fí
Sabem Tezeo , e Dédalo. "' V'
Tezeo. Larga cfTa banda, infolente.
Eiffiz. J?QX todas as bandas me vejo combatido i
ahí eftá a banda. Dâ d bãniá*
TíZf 0.. Que dizia, de Ariadna eíía mulher?
Èsjiiz., Foi galante caio! Supponho que cm
tendeo que eu era Tezco peio circunfpeão
, da minha perfonagem , e da parte da Senhora
Ariadna dco-mc efta banda, para que colfl
cija foíTe ao faráo , que íc faz efta noicfl
: em Palácio^
Tezeo. Ailim fera ; porém fe cuidava que ia
eras Tezeo , como te dava ciúmes , c indi-
gnada comra ti foi pedindo juftiça.
<£f/^/^. Ião mcfmo çÍUnii tvi ^»^ vs^çiccgania
tfe Creta* 87
agora. Dar-fç-ha cafo , Senhpc , que Vofla
Alceza aigum dia bichancreafTc eíla criada?
Tezeo, ÈRis louco? Mas cu para que lhe davas
• fatisfações í
Esfuzi Porque entendendo , que Vofla Alteza
tinha tinha de amor cora efla rabujenca. cria-
da » não quiz deixafle de comer por mal co-
zinhado ; e aíEni lhe fui refpondcndo a tro-.
xc moxe.
Tezeo. Não te quero apurar mt\s pQr ora ; e
pois eftiv he a pfimçira fortuna ,. que amor
* me facilita , vamos , Dédalo, a procurar
ipafcara , que quero hir ao faráo , que com-
cila de ninguém fcrei conhecido , e fó de'
%fiÂÍzàn3í ^pàsi divifa defta banda.
j^|ir2» Giribanda me parece ifto : oh queira Ju-
-píer ) qôe^ neíTa dança não haja algum con«
'trtitèmpo da "fortuna.
Tíieo. Vamos , ^^So nos dilatemos.
Dedal. Sempre fkerei temendo não fe te que-^
bre ò fio, e te percas no Labyrimhò.
Tezeo f Quem eom favores me alenta , ta^nbcm
com cautelas me defende déíTe cuidado. Fai-fe^^
■ .* /
^C^-
88 LAhyrintbê
S C E N A III.
Sdld , f huma cadeira. Sahetn Tebaniro tem •
mafiara cabida , e Lidoro fem cila , e depois I
põem Tebandro a mafcara ^ e no fim fe cQf' \
rerá a corrediça do meio , e apparecerá toià
. a Sala , em atéc haverá buma meza compof"
ta em Jdrma de banquete.
Tehand. t IJoro , vós fem mafcâra , quan-
jLá do codos já vimos caminhando a
efte lugftr do farào !
Lidor. Deixa*mc , Tebandro , voar nas azasda^
minhas penas aos incultos defcrtos da Lybif^j^^
aonde não ha)ão ipemorías defte infeliz. ''•':!í^i
Teband. Não derprezeis efta occafiáo em qM.
as Infantas cambem danção , para que no coti»,^
taélo de tanta neve podais mitigar os incto*'
dios do voíTo ardor.
Lidor. Náo quero merecer ao rebuço da maf-
.cara^ o que fem ella não alcanço.
Teband. Também eu vivia na mefma defefpc-
raçáo; porém Fedra compadecida dos golpes ,
que a fetta de amor fulminou em meu co*
ração , para ligar as feridas ' me enviou efta
banda.
Lidor. Goza tu , ó Tebandro , effa fortuna y
pois fofte mais feliz.no teu amor i que eii
defenganado , por não morrer muitas vezes ,
hirei morrer huma fó. F/U-fe.
ie Creta. 8p
f^ fahitiAf Jriadna , Fedra , Sanguixugd , e
Taramdíâ com mafiarilhasy põem Tehafidro
d fuã i fahc ElRei fem ella^ que fe ^ffeti-
' tara ; é em quanto vão fabindo , cantar-^fe-
ba o feguinu.
CO RO.
Numa- alma ínflammada
De amor abrazada
Crael labyrimho
^ ? . F^ibriça o An)or.
P^rcin <jwern efpôra
O bem de huma fera;.
Acertos de hum cego , .
De bum monttro favor ? í
lefi. He tal o prazer , que tenho de ver viti«
piéz a morte de Androgeo com a de Tezeo,
. qoe não cabendo cm meu coração , o inten*
to publicar nefta exterior alegria.
Feira. ]á alli divifo a Tezeo pela fenha da ban*
. da branca ; defejára me tíraíle* a dançar, a fm
Afiad: Ainda não vejo a Tezeo aqui ; fení du-
vida fe quebraria o fio no Labyrintho. Oh
quantos íuftos padece quem ama ! á partm'
Sáng. Quem pudera conhecer ao Embaixador ,
que ò havia de facar a «paííeio;. â part.
Taram. Se Tezeo me feffe amante leal , para
bem não havia de vfr ao faráo. ÁpíMé^
Sabe Tezeo com mafcara. '
Tezeo. A bom tempo chego : quem pudera co*
nhecer a Ariadna ! ^part»,,
Ariad. AUi vejo Tezeo ; jà defcan^rá o: meu*
CQía<^ío« ;n,*- > . íiJ^tw^
90 Labyrinãío
Taram. Aquellc da banda azul he Itezea , tfàí
ÍG.ai ella o não conhecera , « fXMs tão g^
- Ihardimentc fc foube disfarçar , cenot^ãoQl^
, mem males, " ápdnl:
Sabe Esfuziote commâfiara nudto horrenda.
Esfíáz. Só agora <]uc tapo o rofto» he que te-
nho cara de apparecer. Queira Dros me não
perca nas voltas de Andreza.
Smg. Ai que galante mafcara entrou agora !
£ei. Dè principio ao faráo a cahofa armonia
dos inftrumentos.
Teband. Seja eu o primeiro ^ que na ordem do
amor devo preferir a todos. Aquella fem da*
vida he Fedlra ; dançarei com ella.
iipáf^; Fortuna foi oconheceZ-me Tezeo. 4fc
J'ebétnd. Galharda Ninfíi, apcrmltcida faculdade
.. dcfta occafiãofeja o indulto defte atrevimento.
fèdra. Se a òccaíião o permitte , hão pôde a
-/vontade deixar de obedecer.
•'. fim^ão , e cantão os doas o fegninte
V ' MINUETE.
Xtband. Inda não creio.
O bem que gozo:
Serei ditofo •
r . .No meu amar?
FMr4*ys Eftss as voltas
São -.da- fortuna :
...- Sorte opportuna...
.*», . . Amor te dá. ' *
%tkAni. Serás-jámante í
FfiAféê.. Serás confiante í •■ \ ••-
-4^. „■ Atfí"
4f Creta. ^t
Ambos. Efta conftancia
Firme fcrá. . • ';
Fedra. ' A' manhã á nohe re' èfpero na falados
cn^nos do Labyrintho. .- á part. para Teb.
Tibãtíd. Amor , tanta fortuna junta , temo me
- mate t>^gtífto rde pofluillas, â partia
J?//. Qoeirt dâtiço.u com Fedra 'J fem duvida foi
V Tebandr^ ; e o fez galhardamente. ã' part»
Fa^ Atladna acenos para/Tezeo..
Tezeo. Aguèlla por acenos mecliz atire a dan-
çar ; iem dúvida he Ariadna , que me co-
nheceo peU banda. OK que, yagaroibs são os
BlTos de hum^ acelerado dçfejo ! . Formofa
infa , para que me não perca no labyrií^tjio
da datrça , permitti que o norte de ,vo(Tas
luzes' ícja o índice de, meus acertos.
a wart, para Ariãd.
Jriaá. Bem he que aprendais acertos, iiefte
Labyrintho, para que.no de amor não. vos
percais. â part. para Tezeo.
Dan^ão , e cantão os dons ofegairtte
MINUETE.
Tczeo. Na pura neve
De teus candores - • '-
^ Os meus ardores . »
Se ateão mais. \ . ,
Ariad. Se eíTa ventura
Feliz alcanças , ,
Neffas mudanças
Temo o meu mal» „
^t LabyrinAo
Tezeo. Serás amante l ' ■ \ ^
jíridd. Serás conftamc } - ,
AmbQS. Efta cónftancia
Firme fcrL
Ariãã. Na Sala dos enganos erpert^me á mi-
nha a cftas boras. â fsn. psrd Tezetu
Tizeo. Ao mea defcjo , e ao cea preceito obe-
decerei.
Réi. O que dançou agora com Ariadna , feria
Lídoro. Quem me dera ver já concluídas cf-
tas ditofas núpcias ápâr$.
Esfuz. Aquella das ancas roliças he Taramella ^
- e ainda 'que o não fcja , como imaginauo
facit caufam , fupponho que he ella ; e já
que hs menina do açafate , dançarei*com el-
,1a huma gi^a. Senhora mafcarada, aqui to-
] .dos fomos huns , erga o rabete , e vamos
■ dançando.
Taram. Bsm condizem as palavras com o gef»
•4o ; tenho entendido , que em tudo he ridiculo.
£sjr4z.^ Elh he fem duvida , que agora a co-
nheço melhor pelo faHb metal da voz : ora
cmiriccmo-nos em forma dançatriz.
A R I A A D U..Q
Em forma de MitiítetCi '
Esjuz. Tnda que ^afte
Duzentas folas , '
Mil cabriolas /
Por ti farei.
Tí^m. Ai que bichakcro ! ' - - ^
Qoediòrrétida ctra!
Qaem lhe cafcàra .
Ham cambapc. Faz Es}, que trope^aé
ÈsfíÊZ. Dá4iic effamão.
Para me trgact.
Taram. Vá-fc dahi ,
Quem hc voflc í
Esfãtz» SoD qoem por ti
JVIQ cabriolas.
Juncas farei -,
Qú6te$?m verj
Ora lá vai, 9
; Huma» duas , e três , e quatro , e crtW
cx>, e feís. Em pulos.
Ambos. Mui buliçofo
Tens eíle pé !
.RtU 3afb «.dêmos por acabado o* faráo. Olá ;^
preptrem-fe as mezás , pois quero banqueceac.
cfta noite aos Prmcipes*
Taram. Vámo*nos , tia « que os Príncipes que-
rem caar. Ah ialfo Tezeo , txx me vingarei
de li. âfart. tvai-Jç.
JW»;. E qqfc fc pãflâíTe a noite fem haver .himi*
Enibajyador 9 que comigo dançaíTe , para mof-
uar, as minhas habilidades ! Paciência , vamos
tt codcar. . âpart. evai-fe.:
Coru-ft, a corrediça do meio , appereee buma.
meza^ e tirão todos as mafcaras ^excepto
• r Tezeo , e Tebandro.
Rei. Prjncípeá , tirai as mafcaras , que não há«
veis de comer com ellas.
Ttuo. UReu pcsáido,, & ElRei ttxTWi^ «tw
f6 La^mha
eu ainda «gora entro- , fem que em ' ncfthiid
tempo foflc inobediente a ceu preceito í
Tird a mêjcsrái
Jírí. 'He boa dcfculpa efta , Lidoro \ querá
. contradizer hnma occular evidencia.
Lidor. Hum Príncipe de Epyro não fabe mcn*
cir j e para que me acredites , pergunu-o a
elTes Soldados , que comigo vierão.
Sold. I. Aflim he, Senhor, que oPríneipeLi*
doro comnofco entrou. • '.
Esjw- Jíío eilá muito bem y mas o caldd eda*
rà de neve. âpãrU
jfiriêd. Eftímo que foíTe Lídoro o culpado, â p.
Rei. Lidero , eu creio o que ' me di?eis ; po^
. rém deixai que creia também aos meus olbos j
. que virão hum mafcara dançar cora Âriadna
a quem mandei fe dcfcobriíTe , cuja dcfobedi-
encia foi tal , que para íéu caftigo me obri-
gou a chamar a cfies Soldados de mínhi
. guarda.
Xfdor. Pois, Senhor, eu não dancei com Aria«
dna , que a minha fortuna fcmpre- advcría
. me privou deflfc bem, por náo querer confe-
r guir favores no disfarce Je quem ha realida-
. de me defprcza ; e affim pcço-te , me dès K-
• cença para rctirar^me : á minha Corte , que
como Ha em Palácio quem dance com Aria<'
dna , e ha nelKt rqjudios , xjue -me defcn-
ganão , baftante motivo parece qUe abona
o meu ;eriro. • ',- Qfierir-fe.
Rei. Náo vos aufenceis ,. Lidoro ,• levando hum
efcrupulo cão indecente ao meu decoro. Eu
vos ptomieita Averiguar quem £>i o que djn-
çou com Ariadna » para o <}ue empenho, a
mrnhâ Real .palavia^ ^ ^ . . ,
^sjuz. lílo aflim íeíá -^ pqrcm â fopa esfriata eft.
jiriad* Lidoro , Te pelos meus defvios vos au-
famais , digo .qDô tendes fa^áo ; porém fcm\
prç apda,ftes . defcomcdído em dizer , que ha
cm Palácio <)uem dance comido ; quando r>áo
pode haver tao atrevido peníamento , que ^n-
rentaifre com o dilíihiulo do disfarce aprovci-
■ tac-fe do contado* da min}ia mão \ pois fó
com a pcrmitcjda faculdade d'ElReí . ^omm^t*
terias , com efle indulto , ,eííe delicio. ,; ^
tidor. De táo.^i^fo criçie defejàra fer; o cul«
pado. ..-■,»... ■ -.•.■!
Esfifz. . Sienhprcs , guardem iffo pata fobrc me-
., za , pois . naquelia . ba'by]onla dê paios não faN
tio lingqas para, deslindar eííe novo càfo da
confcicndia. . . ^
Mei. Eu confc0o, qi^e eftou perplexo, e ainda
não poíTb crer que não dançaftea çpm Ariadna.
ÍÍ4or^ ^cm ao menos .^^elo veíf:ido pudefteâ
. diftino;nír .fe me paricia eu com efle m afeara,,;
<juc dançou ? i
i^ff • . Cpnio já os anrios me vão privando da
Crfpicacia tio mell>or fcntido^ não fiz apre-*
nfão,.. no veí^ido ^ diga-p Ariadna, e Te?
handro. ,
Tthand. Não ha duvida , 4\\xt o vcflido era díf-^
■fcremcra efte de Lidoro. ^;
Ariúd. Pois a meo-. ver nenhuma difFercnça u-
nha iy c para que JLidçro f o çio ílVi^n^ raw
p8 Labyrintbú
minha presença a proferir tão mau3f tá? offén-
ías , Voffá MígeftaJc me pcrmitta licença,
pois que nâo potTo caftij^ar o feu arrevimen-
CO , ao menos me retire de ouvir tão loucas
palavras. f^ahfe.^
£sfíiz* Ora ifto já fenão pode aturar; eu não
iiei de fer Tanralo , ainJa que cfteja no In-
ferno ; vaihão^mé as minhas ràpames habili-
dades, que com a dífputafínha em nada rè«
paráo a eftas horas, •
Sfcende-fe Esfuziote debaixo da: meza , é^i
ijtiândè em quando deita a mÍo em b»m pratto^
JUfi. O cafo cftá duvidofo.
Esjtiz. Por iíTo vou commerirando. Deitt a mão.
Hei, Liíjoro , defcançai , que vos promçtto ave-
" ftguar quem foi , o que dançou com Ariâ*
dna; pois a não fcreá vós, como dizeis', c
não vermos retirar-fe o ouiro , que fe ftip-
póem , náo fei quem pofla fer j falvo /e fof
o vivo morto , que' o Oráculo prediíTe paW'
total extinção do Minotauro. Vai-fe.^
Esftíz. Iffo dizem todos á boca cheia. Comendo*
Teband. Vou confufo , fem faber , porque cau-
,fa me diria Fedra , que me não dércobrifTe.
; á parte evai^fev
Lidor. Quem vio maior confusão ! '*
Esfaz. Pergunte-mo a mim' , que eo porei ifto
çm pratos limpos, j^ á partm
Ltdor. ^Que enleio lerá efte ? Tudo em Creta
são labyrinthos , e enigmas I Pois aíRrmaf EI-
* Rei , que eu dancei com Ariadna ', quando
yínha para cfle cffeico , c o que mais he ,
tá»
éeCreÍâ.\ pp
bSo àppafecer , ocmifaber-fe quem com eila
dançou > não (ei o que prâfumo !
EsjHZh O fupino de prefumovhe o frefunto , e
eftc que não hc mád! aparte»
Lidor. Frefurnir cm Ariadna , que admitte ou-
tro amante , hc defacorto , por nâo hav<fr em
^Ocff fiquem ji mereça : .cu , vacilante no
' Oceano tempc{{uoTo de tanta confusão , náo
fel dífcernir o* "que feri ifto.'
Bsfifí&. He chouriço , que fabe como gaitas, ápí
ÂMáon Oh nunca caprichara em nâo vir ao bai-
le ;- que fe a tempo chegaílc, nunca haveria
quem tanta fortuna confeguíra ! Oh que tor«
.mcnro me. penetra o intimo do coração , pois
em tanra duvida não polTa defcífrar a caufa
lét minhas penas!
EsfiÊZ. Na verdade , que ifto he hum bocado ,
' que fe não pôde tragar : valha o diabo ao
cofinhciro ^ que deixou o gallo com efporões.
í.'f:'í . . , ' ■ . ■ y
JSepiU Lidoro o feguinte
SONETO. p :
'.•■•.■•■■
Se 4fte mal y que padeço , hei de moftrallo^
JPerifrazis não acho a definillo,.
•Arír. quando dentro d'alma fei fencHIo ,
B^ribociente be'ó gemido a decfarallo:
Por mais que intento em vozes dcfcrifrallo i
Me (uffbca o pezar aa pròierillo ,
.Fois contém efte mal hum tal {Ig^vWo ^
j Qat parece hc deliéh - o publicilio ;
G ii %í^
456648
:í
100 iMbyrinth
Sa o tormentor,"^ que ii^alma fe reftmse i ^ c-^-i-
Refidc inexplicável cá no^umcmo •:• -í
' Do pcito^ donde finto huni vivo lume : ^
Somente caberá feu mal eterno, '--i
Ou na língua do fogo. do ciúme , ' .' »«.
. Ou na boca voraz da mefmo inf cxno. i>
Esfiêz. Já q deu ò xnote , cá vai a gfoTa.
Jí4be Tdramella.
7irr/fw.. Já que o falfo Tezeo cçrrefpondc*a.AiJá*.
. dna , pois com a banda ,. quer. lhe dei en[i<~£d.
^..nome , veio ao- faráo , e com elia donçèa
. com notório defprezo de minha polToa', que
.efpero , que me não vingo, eftorvando 09 in*
tento? do feu amor? • ^.) ' r.tj
£sftiz. Là vem Tarameíia , ft me não engano:
, e como vem còmifinha ! . ' l
Taram. Senhor Lidoro tão fó por aqui a eflts
. horas ? ]á me não perguma por Ariadna i j
Lidor. Já fe acabou eíTe cuidado , que como
Ariadna tem quem dance còrn cila ,\nâo he mui-
to que encontre mudanças na minha fonuna*
Taram. Tem muita razão VòíTa.Aheza , c mui-
to mais dançando com quem dançou.
Esjíiz. Temos ò caldo entornado r que aitncfr^í
ça he capaz , como eu aqui faço , de -dhc
com a lingua nos dentes. : ápâlu
Lidor. Pois , Tararaella , tu fabes quem daiúçàa
com Ariadna ? "..;.■ •.?. : ■ '
Taram. Se guardas frgredo , cu ro direi. ZelMj
he rcmpo de dcrramir já tanto veneno, ápm
JEsJuz. Fcjáo lá, fcaftvti com^ xn^iR-vx ^telir
sÍ2L'^mb Lãby4rÍQth^3 íe z déSê á Vtzco^ qutf
tal Teria ? .>.. ., -i •. : ! "
Lidor, Di>c-tno', ; T^icaibcllari: xr para que vçjaf
/o meu a^raJecímcnto , ahí rcn.s neíU jom o
. ahtlapadò -rptómio :.yo itièia affiífto. D2 a joiâí
Tiáram. Ai Senhot, ^para, mim nà6 ha mais jóia ,
que o fcu bom modo , ecorteziji; íjue o mo-
-'do, com .iqut /e .dá , aogmenca/ o valox dà
dadiva.
£f/í»25- Porcm^ /cmpr© lambeíido. . . áparí.
jjdor. Dklc ,, não tenhas pejo.
Èttfuz. 'Eu cuido , que^ eil^ ef^i^pejada « póls
a vejo efn ternríçs . de vomiiir. ^ ^ã parte.
Taram. Vic;ie náo tenha Ariàda ^ .qne fe nriç
* ácHa 'fallando com Vdíli Alieza fó por fó -,
me nutarà certamente ; pois diz , que hèm
CGafa fua quer qde com Vorfa Alreza falle:
Lidor, Podes dizer , que ella náo vem agora,..
Taram. Pois , Senhor , faberá , que quem dati*
çoa com Áríadtia. ... ai Senhor , veja pof
lua vida não venha cila.
Lidor. Dize quç.nâo vem j pois quem foi ?
TarajiL Foi Tezeo.
Lidor. Tezeo? Que dizcíí > Como póJe fer, fe
clle morreo no Labyrintho í Vai-ce , c dcixa-
mc com cflT.is quimeras. ". ,
Êsfaz. A mulher hc capaz de idefchterrar mor-
tos.
Taram. Senhor Lidoro , Tezeo hao morreo :
Ariadna fe correfponde com élle , e veio ao
baile , e por íinal. ... • -
Udor. Eíperã. que a/iívcní Athà^ ?í^x ^o>\^V
ã ídla. • Ta-
vè ! Efconda-mc em, algures. : c^. :i .' ?
£|/ivz, ficttt haja ^ia4|v«<}Tquc 'veio'; notltea t
!^ ^pc.-dífã; ■• ; ^ xuk .*.<:;.,;.■":;;.■; ' j ^
Xírfcr» Em qiianibr, efliphpaflíãi^^ef^
,:xo da''qiidhf.'meÍ8i;£Tme«<^'ráa^
latmtu- Pi)is.vai*é(|t:icéondo\ e«y!fe4De 4<^
do íc vai, . . • ■- r.f.
Ss^s^z. Anda panii» ,'' que eojreiJergiintyrcI,;:::^^^^
£jçonde-fe Taramell^ debâlw W^mézái ^ dà9Í
.-,1 • •' ■■*!.<.*• '* ' .' rt"t
Tfirm. Ain^a cftot^YIJímpin^a 4c fe^
íí/iz. ' A^wi jfe ,ç«êió cilas,, velhaca , embõl
" fieira. '."' ■■"';^-, ".
X^ram. Aí , quê nao fri quem aqui efti !
^j/i^^. Cala-íc ,.inarâfona. '
Taram. Ahv que *d'ElReí , acuda-me Senhor Ía
Hofo ; acudarine Vofla Alteia. Cabe d mezá
Bsftêz. Antes que té vejáò , Esfuztoce , vai-i
, esfgziandQ, , ". . P^ai-fi
J^idcr. Quem vai ahi í Qnem he , Tarainêlta
Taram. Elle afii vai , veja fe eu fallo verda<i|^
Udor. tíci -cmieju fíguimcnto^ Qyer i/vjp
Sabe yltiadna. \., •
jlti^d* Emfeguímcnto dô.qucm ^ Que foí iflo
.Tarainêlla.? Que, difturbio hc eftc?
Taram. Vindo levantar a mcza , eftava htii
cio ãQpihh bum offo V (qv dlt ^ (\qe n
ie Creta. lo;
. qoeria levar a carne da perna por amor do
oíTo , que para ambos foi de correr ^ cu para'
lugir, e o cáo pára morder-me ; c com o me-
^do tropecei na meza , e vejo ,cudo ao chão,
JLfdor. Que náo pudeíTe diftinguir quem era
o fluç fugio ! Mas quem havia de fcr fcnáo
quem diíc TarameIJa ; que talvez por cílc
refpeito vicílc Ariadtia a eftc lugar ^ cftorvan-
Jo-me o.fcguillo? â part.
Ariad. Vai chamar quem levante a meza. Ou-
ves , dirás a Tezeo , que fe por acafo me
não. ouvio nobaiíe,,que o crpeio n^ fala dos
enganos á manhã k noite. .^ ã p/trt.
Taram. Eu vou , Senhora. -Olhe o negro cáo
o fufto que me metteo ! . . %
JJior. Cuido , Senhora , que já vindes carde ;
mas quem he vivo fcmpre; apparecc.
jfriad Não entendo elTa nova fraze de fallar-me.
JJdoí'. Náo fem caufa eráo os teus defvios ,
ingrata ; pois defprezando a: viva confcanc»a ,
com que te adoro, idolatras a hum morto
na apparencia , que vive em teu coraçSiQ na
realidade.
Àriad. Ai befgrada ] Que he o que ouço ? ã p.
lÀdor. Agora morrerei com mais fuavidade , co-
nhecendo a cauía de teus defvios ; mas náo dc-
ferpeiado na incerteza da çaufa de teu dcfdefp.
Ariad» Como defactento a meu decoro fabri-
cais em voíTo penfamento eíTes tejíncrarios con-
ceitos iníligiQ? de minha fobcrania ?
Lidor. Qje offenfa faço em dizer , c^ue atn^^
a , Tczea, c qae foi quem comovo íl^tx^ovi
.I04 tãhyritmo
dísFarça^So ? E fc hum Príncipe como Ttóco
hc o rcu emprego , cm qu? fe póJc oflfcn-
dcr o ICO decoro ' *
jíri/ul. Que tnâís claro o ha de dizer ? Louco
Princípfe , bem íc vè qqe codas- as mácràt»
nas , que fabricas , são fundadas cní' aer^eat
dcfconfianças ;' pois* ainda que Xe^eo 'podeile
- Tefufcitar a^Ofa , nem v6$ , htrm^c|lé , nem nSn-
' fiuem }'odia contraftar a mirtha ifençâò; ide-voç,
ide-vos « bárbaro ,c6merarío , que eflías fingidas
idéas náo [ õdcm efcurecer as purezas do Sol*
ZiHor. Advirti , que c Sol com fcr puro, não
deixou de amar a Daphne.
./riad. Idc-vos , tenho dito.
Lidor. Eu me vou ; porém não fci , fe me tOr»
narás a verj cjuc os zelos , em que me abra-
zo , náo cabendo dentro do coração , ralycz
facão maior eftrago , do que imaginas. Val-ft.
jíriad. Ai demim^, que Lidoro zclofo , faben-
' do que Tezeo hc vivo , o hirá communicar a
• ElRei I Que farei ? Amor, infloe accrios a meus
• inícntos , pàrá que Tezeo náo fique oppri-
mido a violências ilc hum ccir^o ciúme.
/ Canta Ariadna a fegninu
A K I A. . . ,.
Confufa , e perdida ,
. ' ' Sem almn , e íe.m viJa ,
Alivio -em mciH males
Aonrtê nch?.rei ?
Se a infi-1 ryranMÍa
De hum céi^^o mú f^uía ,
E^n tantos cnleioá
•''-' Qíjc acenos uici í Fa\-f<. S^C»^-
-dè CyetJL íóf
SC E N A. f IV.
Gabinete , e ejpelho no fim delle. Sabem TV*
%eo^ e Dédalo.
IkAéã* "^TOtavel foi atraca., com que; te
i^ fahifle do faráo ! . E pois 'enrâo
lografte eíía forturta , nâo he ■ jiíftó cncen Jas ,
<jac fcmpre terás os -fados propícios.
ffzeo. Nunca nic-vi em láp evidente perigo;
porém por maior que feja , nunca- deixarei de
ver a Ariadna *, que hum efpirito armado de
amt^r , nãò teílie as iras de Marre; ^
Didãl. > Eílas palavras sáo eíFeitos de hum Juit
ven!l ardor j algum dia roputarás ignoriamcia
o mdfmo , qiie agora julgas dircrição : di-
ga-o eu , quando fabriquei efte Labyrimho ,
cípecialmenie efte gabinete , no qual empe-
nhei com parricularidaJc a minha fciencia ;
porém o que naqUelle tempo foi vangloriada
idéa , hoje vejo que foi erro da fanrafia.
Tezeo, Em todloô os quartos do Labytintho ad-
miro tanto artificio , que náo . fei difcernic
qual he o melhor ^ efte nâp ha duvida que
admira , mas náo excede.
Dedal. Se tu , Senhor, íouberás a virtude quô
tem aquelle efpelho , verias o quanto efte ga«
biaete hc di^^no de eftimação. . • -
Tezeo. Náo me dilates o «ofto -de. fabello. ..
Dedal. Aquílle efpelho j que alij vez , fica fron-
iciro à]uclla j^nella>.da qual ,: ainda-^jue muF^
to diftante , tt vem os jardins de
e fcm cmbaíTgo da fua diftaflcia ,
artificio com que fabriquei eíTe efpe
.Cíquelte: ^bjeílo remoto o avifínlia i
olhos, que nçíte fediftingue a mir
daquelle jardim: repara , e vê#
TfztO'^ Não ha duvida. Que ameno pef
: que muito', íe Ariadna oftentando
, d&ile jardim, vefte de pqrpuras as
de candores as aíTucenaS/ !
Ded/íl. Conheces quem he aquelle , que
TíCZeo. }à vejo , que he Lidero , e t
ílíimente ,r como fe eftiveíT? aqui c<
Por detuz do tfpelho Appéorect Lu
Li4o^* Aitida me não polTo capacitar ,
zco, hç vivo, fó pelo leve infor-me
ramella j hfi ncceffario maior averi^u
n qíie com mais certeza o communÍ4
- Rei em vingança dos meus zçlos :
que as conjcíGuras são elficazes ; pc
ver qviem com Ariadna dançaffe , fei
viíTc quem foi , c logo fahir hum hó
. baixo . da mézã com arrebatada fu§
trgue huma' quafi- verofimilidade , de
zeo . he vivo ; porém para conden
Ijaftáo indícios.
Dedal. Mui trifie , e penfativo eílá Lie
Tezeo. J^m duvida os dcfvios de Ariat
a caufa de feus pezarcs.
VeJaL Lá vem Ariadna ; vè que mais
Âpptrece Âriítdna por detraz do ef
T^zea. K como v^m ^ív\Wi4ík V . ôiv
, mc^ coaÇdiçM) oac^ellis efpelhQ. ai propricda-
;. 4c& de. IJftçrio j pois na esfera de (e u^; ra^os
-liid ^hrazõ Salamanclrai ^ d« - (u^s iuzes , íe^ já
.jnáo 'hft. Telescópio 9 cm 'que divifo a hçlU
^r^ndeza. dasjueile aftro,
jíriãd. A^ui çí^ Lidpro : xfuanio temo,- que
do^ feus zelos a iuria fínta Tezeo ! . Quero
. de(Vaiv?cd)Q8 r. moftrando-me amame ; quc-tiiaç
guerras de amor ^ vencer com enganes heonie*
Ihor fyftema.^w.< ápart.
Udor, Vcffa Alteza , Senhora., táo fó por eilo
jardim , , podendo efta^ ..acompanhada no j[pa<-
oyriniho ? . . ^ r
Ariad^ Lidoro ., ainda fç. vos não defvaneçeo
efla fantafia ? Pois fabci , que a fer • poffiycl
viver Tczfto, 5,^, c eu çapí^z de amar , nunc^
por Tezeo 'defprczára, . .
Ttzeo. Quen) nn^dera poder ouvir o que fallio
Ariadna , e Lidoro ! ^
Vedais A tanto não pôde chegar a fcicnçia
Opcica.
TV.z^o. PoJ8 para que me facilitafie o ver , fe
me haveis negar o ouvir ! *■
Lidor. Se aié jqiii , cruel j me matavas comdç
■ fenganos , agora com enganos me queres ty-
rannizar ? Nâa me; defvaneças com poffiveiSiCa-
rinhos aifenção-dp teu peito., que bem in»
formado eftou , que adoras áTczeo vjvo , ou
ao menos as memorias de Tezco morto j poift
de toda a focre fei que o amas.
Jriad^ Pàtz defvanecer eíTr errado pro\c£\o dci
teu cjpmc^ quero , vipieauado ^ tck\u\a tvac^
Ç68 Bí^fffmh
fcílos- Perdoa , Tc^ep , líflfáar ilngfi
-'-de^líá fâltifè»a,'qáétoda5^èâò'kAri«tiií-^'
^'?bW' libcvdatle; Í-- - ' ^ •> ^ ^^^ ^Wpm
-' éòVn taHra cfficSfcíaí -''•^^- ^^-^íi.f- >'' wí^í;;
ÍJfif©^• Bfilliflirrla Arla|dna, agora- clbnfiflt^o^ itt
• '^rão indífcíaSs^^s itííA >>'SS^^ con^-feiiifa
favores ^ premeias os meus delíâos**.^<le)xjl' ip
'^ -prfilífadò \ noVahi'ènté-'á mkihá^iitórdtaè li
'*>fi[CTÍfiqu?.'' •■■ •'^' ■ '■ '*"-•■' * «'■'
mm'^/eí iírftro iife JfO€ftor,> iPAriáiáú ò /^Mií
Tezeo. Que hç o que vejè * Al tíd-^m , Odiab
^'líjâe ftnpbrtaeftir aqui 'odofó ò-oavidã) í
os Qlhos COTIO teí]temuriha<? die >ifta 'me hi'
'formão dbsimèus*Í2e!a3.?-'NáoVifte a Lií(ÍoA
rendido aos pés de Ariadtia ; e ella cora <'«lc
gier*6iHnFioís rccçbendo a' viâiifii de fuasadO'
rações ? ....":..-; / ,
ikXAL Poíè fer , que' não fejà de amor o hiò
"'livd.dcílc rendimento , "malonneme qutiidi
-nãonódís ouvir o qúe^ dlzèrrt/ ■ / '
TèTieb. Huhi irftpacierire amante y comn Lido
^' Vo /'(jAc^ànPum^ofpdia ter parar as' Tua*! vo
^ 2CS., fenft) c??prersÍ5í5 de feú amor ? Ai' ih
íeiiz », que çóiid báfilifco <fcw zelofs a mín
JTiefmo me-tnico ^ ciuandô os vejo^no^ -dii
fãào ' (ían uelfC' cfptlVio \ ^ *- •'- .
it CreU^\ top
Lidor. Porém yk que, o fuave cfpíriro de. tiu
fineza conimuníca 'novos alentos k minha tC-
perança , peroftute-mc algum 'íinal externo de
tua confiancia. . . •
Afiad. Crefça o cpgano , atigraemeríc a in/duQ
uia. Suppoíto quç O' abono de minha pala*
Tfa para me acreditares baftava , com tudo
eftc retrato mcii féiá ofiador^I para que creias
mais á copia ,5 qucr ao origitiãl. , . " ' ' \
; i .:■•.:- ! r Dá-lbe «o mrajUk^,
Udor. Com o favor deftc retrato aèentas ao
meu coração, de viyas cojrea.; • s, - ?
Tezeo. jQjie: dizí» , Dcdarlo > Pode as:<>ra cnga-
nar-fe a Miftjl*:.^ ^&o vifle dar Ariadna hum
retrato feu^, ,qu« no peitoj tr azia , a LidotóJ.
Qtie mais .data. evidencia da fua falfidadc'i
Ah ine;rata/.Ah falfa Ariadna í Edas erãa aí
tuas iíençóes ? Porém fe ósjmulber , que rtiitfi:
to fejas miid»^el ! ., . -. . -. . .,
Dedal, Oh quem ni^nça frflQxera a TesCeo a eílc
lugar! ;,-•; .' «. Mr:r> ^ :.. .- ' ' .'..:', Iv
Udor. Para que me jl>offa váligl«*!at de ditofo »
fó fjilta quB.hiím favoe mij.jcpiiceda». .•yr- ..V
AfUd. Dize, : . " .' í
ilíJer. Attende. , . : . '. .V \
CâHtãó Lj(doro y. Ariadna i r' Tezecí' a fegatútç
- . .. .r\U AR I..A.
itdor. Se . oflemas no pintado . »
Coi)(lante o teu. agra do ^
•:» - Oh peço-tc não feja ; .1
Mf,. ' Piaj»d9:9tcuJ%Yfi^^ . ,. . .,
'•^. VAtV.
IM> UUyrhm
J/iria^* Se' o^vario deílaí"ícpres z^"'
• ' ; • Aáons por íavores ,' ■' '".:v
•// '-::.- Nas fotnbra$ da pirftuKi
Mitiga o teii ardor. ■ --
Tezeá. . Falfav c^íJ^I , avara , '
- ; Na duvida^tepàra , •
' : Verás n^flíe rctraro ; •: ':
ií> ;Yj Copiada 1* mmha dôr, o;.
Lid6f. Dizc , feras 1 00 nftanc^?e - \^
jí^âã. A miriiMiáo mo pergameil ;
O tempd tt>'idiríí; .í o
Tezeo. Tyranna ,- ca^ defcfpero ,'
• Eli me abrazo, éii enldiWtíe
í»^ Quem vio tormento íj^at!
Zidor^^ i\ copia \)uft me artitfite , .
jlriad, A $;loria qoe^me alenta ,
ifezeo. A dor que me atòrmeiíta ',
Tmlos. Se intenta i^ícernizâr.
Zidor. Mas ai , que eíTa Foftattt
'^'A. -íNío poíTo a<:r<5ditar ! ! ' •
jíriad. Mas ai , qnc a tua idca
' Se pô*ô';4lltfcinar !
TVzeo. Mafs ai''^»quc- o meu ciúme ■<
Me quer precipitar !
Ltd. Ar. Pois que ouço , -^ "*
TeZfi^y Poisv^q^ vcJQ « . . > ^ ^^ '
Todosí Que nada no Orbe conftante
Vio-fe Lidoro , e
Dedal, Príncipe , rtid te entregues lod
timento , deijfa loucuras de amor;
Tezeo. Nada me dif^asi deixa-me fe^
iaa iaicnig^ , que nt Ii^^^tvuí^' 4a
ie Creta. iii
dim 'fcoftenra- Vénus dâfqoelfo* AJonís ; poM
rém o meu mavórcio furor crn fanguinolentât
c toetamorfòfe efcreverà nas folhas das branca»
rofas as rubricas de minha vingança.
Quebra o efpelha^
Beáal. Que he o qoc intentas ? . . ;'
Tfzeo. Arrancar aquclla traidora dos braços de
feu amente. •
Dsdál. Que culpa teve o cryftal , para cxperi-.
rocniar o teu rigor , qnaíido nelle (& pòr te^
flexo vífte a cauft de luatf penas í
7t2i0. Ainda que errei o tiro, femjpric acertei
o golpe j porque efpdhõ ^ qúe foi theatra
dos meus zelos , he bem qile em atomos^ deJF-*
fallcça , para <que ao eftragò de feus cryftâes
fe rjsprefente melhor a tragedia de meu ambr ;.
já que o ftiror . , <]ue me abraza , não fabe
liquidar no efpethcr de meus olhos d cryftaí
de meu pranto.
LedaL Em bum inftaitte deíVáneccíle o rrabk-
lho déramos annos. ' ' ' í
Taea.. Dedala , gula*t1ie á fãlá dos engano^^
aonde me diíTe Ariadna á cíperaíle eíta nõi^
te ; pois já o Delio Planeta em ipal diftin^
âas luzes qúaír toca a diáfana meta doul''
timo horizonte. ' - ■
Dedal. Para oue procuras a Ariadna , fe t vi£-^
te feguir a Lidoro. *
Tfzeo. Por iíTo mefino para que na fala dos
enganos encontre 6 ultimo defengano.. Ar De*
dalo , que ha no rout)do mais làbyrinthos do
sue cuidas!
112 Lãbirimbo
Xkd^^Umo Teí^ que até aqui jhaj» oOrro )'ffS
; ra dcfte. '; - : v , . r ji
^i^eo. Pois fabe, que deacro deAc :LabyritWK
exifte outro kbyrincho. ■ : .. i . ■ oi j
Jkíiai. Não emendo.
T€Z€0. Para que me entendas ,.auènde , ey^rjl
SONETO.
-.. .■'•■:• ■ .. ^ •, ^ •.. . .\:\.(i
La^yrincho maior.,, mais intrincado-^ .' ,
Tem amor em, meu peito conftruido , ;..
De quem fç qfjçjita, aos golpes do gemido ^.^
; -Sjnzel a magoa , arciíice o cuidado^
Na' memoria fe vè.jJelineado j , -^ j
j.;P tormento de hum go^o amortecido ^
■ .Na confusão da dor p bem. perdido
-.íNuçca. fe encontra, ainda quando achacjo.-..
jjL'. máquina mental dcfta eftrvidlura • i
Adornáo , era funeftos parallelos , : .,
Lamina o? fgfto , fombras a pintura : ' «
Cdunmas são os mi feros dcfvélos - . ;
ILftatua o defcngano fe aíHgura ^
Fio a efperança hc , monftros os zelos. Kll-/f.
DtdaL Quem: duvida, que amos he o maioi
labyrinihoJ Vi^H^*
SG&
{ ie Otta. irt
S C E N A V.
Sala áf eolumnas j que afea temfo cabiráS ^ €
fcarâ tudo em outra vifta , e no fim da
fala haverá buma Faca.
Sabe Esfuziote.
Esfuz. \ Gdra que a boca da noite vai en*
-r\. golindo o manjar branco do dia :
não digo bôm ; agora que a lingua do Sol
fe vai encolhendo na boca da noite, aquém
o cadeado do íilencio lhe fura os beiços da
efcuridade , venho fegunda vez ao Labyrincho ;
que fe a primeira vim , porque nelle me
perdi , agora venho porque fóra delle me
querem deitar a perder. Fiai-vos lá em
mulheres , que em tendo zelos são peiores
que cies damnados ! Tomara perguntar a Ta-
ramella , para que foi dizer a Lídoro pá pé ,
todo quanto lhe di(íe , e por hum iriz , que
me nio apanha com o rabo na ratoeira : não
lhe pecdo*o o mào cozimento , que me cau<
fou com os fuftos ; porém para me livrar det-
ks , e delia , hirei bufcar a Tezeo ; que an«
tes quero viver no Labyrimho , que morrer
ca Palácio ; que pode fer , que fe lhes met-
ia em cabeça , que eu fou Tezeo de verda-
de , e me torção o peftoço aflim como quem
dSo quer a coufa; poisçafio daqui íóra. Oh ,
cfta (em duvida he a Vaca , que di(Te D^d;x*
lo fzhfícirjí pãíã Pazifel Cá cftá íiclcox\\V^^
-^íw Z/í jj, ig^^
^
114 Labyrínth
por onde a tal Rainha vío os touroi
lanqne ! Mas ea , . fc ine náo cngan
vem gente ; fcja quem for , cfcotilha
jufto pccca i eu mc^cfcondo dentro
qqinha feito Rainho", aèé que pai
quer que h^.- ^
Bfconde-fe Esfuziote na f^aca, efabe Ta
Taram. Oucro recado temos de Ariad
Tezeo; He para ver fe fc hamoráo
/cha callada ! Bem fiz cu em dizello
ro* Efta he a fala dos pnganos pa
hei de dizer a Tezeo , que" venha : ;
h& quafi noite , para hh: ao centro d
, rintho , e temo que me . anoiteça a
nho ; o melhor fera hirme. embora ^
íim como aflim já náo tenho mais qi
que certos são os touros.
Esfíêz. Mais certa he a vaca : efta h
mella ; náo fci fe lhe falle , pois q
fua falíidade me eíconde ^ a fua bel
èfcancarea ?
Taram. Ai ! Ainda aqui eftá efta ncgr;
Não feí como fe confenté efte trafte
ís/wz.Bom trafte és tu..
Taram. Só de a ver me irc/nem as ca
Esfuz., A rapariga tem tremendas camaj
Taram. Oh maldito fcja Dédalo , que
para occaíiio de tanta ruína !
Esfuz. Oh malditas ícjas tu , que tão L
ra és !
Taram. Ella fem duvida parece roufa
£sffiz. 0£à viva quem fc cKç^^*
de Oretd. 115
Taram. Para que mais , até a pclle xtm cabellos.
Bijaz. A occafíão pelos cabellos. Efpcra , ca-
beiluda Deidade , que hoje o pente de miru
carinho te tirara as Icndeas de tua defconfi*
anca. Sahe da Vacn.
Tãtâm. Ai ! Quem me acode , que a Vaca fa-
be Miar >
EsJ»z. HsL coufa mais eloquente em hum ban-
quete 9 que huma ikigua de vaca ? Mas t
tua com. tua licença mrrecia fal , epimema.
fimm. Ui ! VoíTa Alteza cá edá na fala dos
enganos ? Nio quiz deixar de obedecer a feus
amores i Fez muito bem^ que ella tudo me-
rece,
Éífftz. Quem he eíTa ella , Taram ella ? *
Tiram. Ja lhe efqucce l He aquclla , com quem
dançou o noite paflada.
hjíÊZ» A noite paíTada dancei comtigo.
Tãrâm. Não me queira defcfperar ; cu não o
vi dançar com Ariadna com a mefma banda
azul , que lhe levei ao Labyriniho , e por íi'.
nal que dançou melhor que ninguém ?
Bfuz. A'gora , já cftou mui pczado j iílo he
chão , que já foi vinha.
Taram. Logo não iiega 3 que dançou com Aria-
dna i
Esf/tz. Nio , filha , que eu não podia dançar
bem , fenão comtígo.
Taram. E a banda azul.
Esfítz. Azul he ciúmes ; quem 05 tem , anda
cego ; quem anda cego , não vê ; e quem
nio vèj náo pode julgar de cores.
Hii Td-
ii6 Làhyrintbo
Taram. Ora , Senhor , tenho entendido , <q
VoíTa Alteza faz zombaria de mim.
Esftiz. Jà te diflc , qus me não altezces , q
o amor 5 e a Mageíhde , fcmpre fe aíToi
ráo em iguacs tripeças.
Taram. Senhor, com que eftamos ? Voíla 'k
teza pôde negar ^ que eu lhe trouxe hui
banda azul ao Labyríntho em nome de Aríadn
JBsftíz. Aílim foi*, que a verdade manda DcQ
qu3 fe dij^a.
Taram, Pódc. negar , que agora o acho ac;
nefta fala dos enganos , na qual me díííe An
dna a cfperaíTe Voíl^v^ Alteza , ' por fc aca
não tivcíTc ouvido bem , o que cila lhe difl
He ifto verdade ?
Esftéz. Verdade hc , que eu cftou aqui.
Taram. Logo digo eu bem , que namora
Ariadna ?
Èsfuz. IlTij he mentira.
Taram. Como pode fer verdade , e menriíai
mefmo lempo.
Eijaz. Porque ncfte tempo tudo são ntentirai
c verdades.
Taram. Se iíTo he conceito nSo o entendo.
EsJiíZ Pois eu era ião dcfconez , .que difld
conceitos na tua prefcnça ?
Taram. E para mais prova, diga, quefaírad
baixo da nieza efcondido , fendo hum Principc
Esfiéz. Eftava para fazer certa prova.
Taram. Prova ? 'De que ?
£sjuz. Da tua falfidade , pois fofte tão línp
itiz , que diílcflte aLvàat^a^ c^% t.^cfttviti
dt( Creta. 117
Dize , cyranna , aflim defempcnhas a . ca-
. do teu nome ? Sc és iTaramella , ^or-
:e não fechas? Mas fe és Taramella de-
, por i(To te abrifte 5 defenterrando mor*
ptra enterrar vivos : que dizes agora ?
. Digo , que fiz moico be'm ; pois jà qud
náo hei de lograr , não quero que me
também ; já que eu choro o íeu def-
I. finta Ariadna o que eu padeço ; mas
me: por ventura quando íc metteo de-
3 da meza , jà fabia o que eu havia de
a Lidoro ?
Caltc , cola , mecantca , hão fabés que
3S Príncipes temos o dom de adevinhar }
ra que o vejas , efla jóia j que trazes no
, le deu Lidoro ;, não hc verdade í
. He verdade , pois que temos ?
Temos embargos a iílo : dize-mc , itafo-
, leviana , frágil , pois tu aceitas {oiat
/idoro , eftando para cazar com huiii Prin-
de Atheuas ?
EHe não ma deu por mal.
Pois eu por .mal a to- CTird a jóia. y
Jarga effa joià , indigna futura Princeza ,
náo hc decente á minha honra , que
le teu péiro falfo, diamanfes finos. He
graça ! feftou aidendo í E quando nada
íi a jóia por bom modo. áp/in*
. Com que VofTa Alteza me lèva a jóia ,
i cm cima de me fer desleal ?
Olha , fiiha , aqui ningucm nos ouve -^
em fei qud Lidoro te não àcu çot ttvA
líÔ Liliyrmió
efTa )oia ; mas liáo He brio mea que tu
gas diches dcfTe feivandijii.
Tarm. Senhor, eftava muito bem, fe \
Alceza não amafle a Ariadna.
Esfíiz. Olha , pcrmitta Daos , que fe cu
com Ariadna , que berrando vá a rninh
ma parar aos quintos infernos a fazer 1
zes cohi Plutão.
Taram. Qtianro mais jura, mais méiue.
Êsfaz. Que por amor de meu amo pere
e(Ta tòlã ! Ora vem cá , minha Taram<
faÇamo^ as pazes , cem laftíma defte aa
coração, que por ti chora pelas barbas abai»
mó numa criança. Não te compadecem os
' ços de hum Ptincipe , que aíToando o i
CO da magoa no lenço da ingratidão, i
Ia o nariz da fíneza o cftitícído do {
mento ? Digo alguma coufa ?
Taranu Ai , deíxe-mé , não feja imponuno j
tes que lhe perca o refpeito.
Bsjuz, Perdc-o muito embora , que tiiffo
ço fe perde.
^aram. Pois já que me dá licença , ouça
b devido refpeito.
Canu Taramdla a fegíêinte
A R I A.
Que tremulo marres ,
Que cílatico morras ,
Que eftitico mirres ,
Que morras , que marres , que mii
E a mim qu^ í^ ta^ ^^^-
de.Cretd. irp
Por mais que em teus males
Em anciãs te cftales
E em prantos te eíliles ,
De balde fera.:.
Quer irfe i e Jklfe Sánguixugã.
Sang. e Esfuz. Efpera , aò^de vás , Taramella !
Taram. Deixe me que vou defefperada.
£f/Ms. Oh quanto fplgo , que viefle tua tia !
Séttign He poiíivél , rapariga , aue me faças vic
tropeçando por efTcs^ Labyrincnos y vendo que
neiie entraíte a eflías horas i Que loucura
í' ioi eíla I
Taranu He vir fegunda vez verificar os meus
zelós , para que com duas teftemunhas de
vifta fentencce a efte falfo Principc a perpé-
tuo defterro de meus carinhos.
Esfiêz. Bem folgo eu 5 Senhora tia , que víeP*
fe vofla SanguixupuiíTe , fó para ver a info-
Icncia , com que íua fobrinha trau ao feguti-
do filho primo^enico d^ElRci de Athenas ,
. fó porque a Infanta fe aíFeiçoou de miiii -, d
veja , lia , que culpa tenho eu de fer querido ?
Sang, Senhor , fe minha fobrinha lhe não tt-
vcíTe amor , não teria zelos. Que fará fe ella
foubcfle que Fcdra também o namora ? ã p.
Esjtiz. E foi tão ínfolente , que em vilipendio
da minha pcíToa accçícou humájoia da Piin-
cipe Lidoro. '
Sang. Ai ,' Senhor , não feja ciumento , que cm
Palácio he cftilo darem os Príncipes* jóias :u
Criadas ào Paço. Olhe , efta que ac\\iv ^"^ ^
«u dea ò Príncipe de Chypre. E^-
I20 Láiythiéo
Esjwz. Inda mais eflfa temos ? Venha » tia, cfla
)oia muito depreflfa.
Smg. Ai ! A mitiha joía ? Para que >
Esjiêz. Para que fím^ fenio ÀJortiori lha voa
tirando. Arre lá , a tia vindoura de hum Prio-
cipe de Athenas ha de trazer jóias do Prin*
: cípe de CliiFre ! Ido não ; nio Senhora , em
quanto eu tiver o olho aberto. Já temos doas
' ]o\zs. ã farte.
Sang. Dè-me a minha jóia , Senhor.
Esftéz. Nada , nada , n^o tem que fe cançar.
Que dirá o Embaixador , que he zelofo co*
mo os diabos » fe lhe vir e(Ta jóia ! Nio
queira pelo pouco perder muito.
Smg^ Eu entendo que iffo do Embaixador
' he palhada, pois ha muito que o náo.rejo.
Esffiz, Como rccufava o teu matrimonio , man*
dei- o degredado para a Aia Pátria , mas lo-
go vira deiíar-fe a rcus pés.
Tiir.Tia, náo gaftemos tempo ; vamos que he urde.
fs/tfz. Diga-lhe primeiro « que faça as pazes co-
migo ; e para que náo cuide , que amo a Ária*
^ dna , aqui mefmos neíle lugar quero cazar
• com fua' fobrinha ^ ande , leve o diabo quem
f não quer.
Sang* Ai menina , aproveiía-tc da occâfiio.
Taram. Ah falfario , não cuides que.- me has
de lograr, â part. Pois Senhor Tezeo » meita»
fe ontra vez na Vaca , e eípere por mim f
que eu vou bufcar luzes , para celebrarmos
o marrimonio com luminárias. Tn verás conoe
me vingpé í \axu e vãi-fc.
ie Oetã. \ ilt.
SMg. He polEvel que hei dê ver com efles
olhos esbugalhados a minha fobrinha Prinoe*
zai Senhor, faiba VoíTa Alteza, que poref-
ta obra pia de amparar huma órfã fem vcãk 9
h&o de os Deofes fazello viâoriofo de feus
inimigos. f^^i'fi*
Esfuz. Eu fou o noivo , e levo o dore em joiasf:
com efta cafta de gente fou eu gente. Apare»
Iha-te , Esfuziote , que hoje has de fenhoreac
a melhor Deidade , que calçou cothurno. Aí »
que já eftou pulando ! Ora fem duvida , que
â tazer-me Príncipe muico me grangea ná con*
feiraria do amor : vamo*ncs efconder na Vâ«
Cl ; comece a obedecer *, quem principia a ,
triunfar,
jMmJí Esfaziote na Faca. Sabem Tezeo^ e
Dedal.
Dedal. Efta he a fala dos enganos : n^slla.não
' temas perigos, que no maior , em que efti-
veres» ce defenderei com hum certo artificio »
qoe fó para mim refervei.
Tezeo. Pois não te apartes nunca de mim , em
Quanto efpero OtIoI de Aríadna , para clarir
içar a opaca fombra deft?*cáos^ c quando não
o Cometa de meus zelos fera luzido farol ,
que me allumie.
Eswz, Frito feja eu , fe aquclla voz parda não
he de Tezeo azul no feu ciomc : alguma can*
caborrada temos!-
Sabe Tebandro.
Tebani. Mui valente he o amor , pois deíçtc-
zandp honores ^ c confusões * me c<^xví^vv7i ^
itr Labyrifith
' cRe confufo abyfmo de enirios , hcúnando^
- me o caminho a efla fala dos enganos ham
*i prático defte Labyrincho.
Sm^e» Ariadtia pela parte de Tebandro , e Fedra
^'"'l pila- de Tezeo.
Aríad. Não diíTe bem , quem aíHmíou , que o
- amor carecia de olhos , que a íer cego , n&o
\ me guiaria a efta faia dos enganos , lo a bi^*
^ car o bem que adoro. ^
Rdra. Verdade folloa , quem diíTe , que o amor
■ era lincí , ( Sahey que a^nãô fer , mal me
* 'conduziria a efte pélago de horrores , a pro-
* cfurar ^ caufa de meu tormento
Tezeo. Paflbs ouço; (em duvida he Ariadtiaé
Teband. Gente vem ; mas quem ha de fer fe-
" náo Fedra ?
Tezeo. Vem , brilhante cftrella de Vénus , ft
* influir. . . mas que digo ? Tu náo es a lyraa*
na , que me pfFcndeftc ?
£sfuz. Eftrella de Vcnus he eftrella Boeira ,
aqui deve de haver algum touro , que vem
-namorara eftaVaca.
' Teband. Feliz mil vezes eu , que em anricípa-
' das luzes vejo confundir os raios da. Aurora
com os refplendores da Lua.
Esfuz. Se a Lua tem cornos , clarp eftá que
falia com a Vaca metaforicamente.
, Tedra. Es ru actfo aquelle ingrato , que nao
faba correfponder á minha fineza. ? para Tezeo.
Tezeo. E tu , fem fcr.acafo , não es aquella
mudável, que grata, e carinhofa te oftenrai^
ic coín LidoiQ êfta urde nQ\3iiàvtckl \íixa Feã.
ie Ctetâ. rt^
Kirâ. Vft que te cneanas.
ArUd. Oh qaanto eítimàras mais neftâ occar
íião j que'€u não foíTe ea ^ fenão minha ir*
fnã , a quem como agradecido faberás f ec .
amante. para TebanAr§^
Ttbàià. Tu não íabes , galharda Fedra , que
nonca Arudna memerecco hum cuidado l
para Ariadna^
Ariad.' Tezeo cuida que fou Fedra : ah cruel ,
que mal pagas hum confiante amor! áparu
EsJHZ. Que diabo de fuíTurro ouço aqui i Sem
duvida ifto he algum viveiro de cochichos!
fidra. ^Não feí , que motivos tenhas , para fik^
bricar eíTe penfamento contra a lealdade com
que te adoro i
Tt%€0. Se tu fouberas o como te vi com M*
doto , talvez que o não negaíTes ; porém ma!
poderio as mas vozes contradizer aos àieiis
olhos?
Fedra. Já fci que iflb he hiaxima , que inven-
ta a tua falíidade , para que me falte o tem-
po de dizerte , que fó eftimas os favòíes de
minha irmã > más fe o teu amor não fora ce-
go , talvez que fouberas avaliar as finezas,
que me deves.
Tezeo. Tu bem fabes *, Aríadna, que, femprc
foftc primogénita de meu amor , fem que lo-
grafle Fedra já mais as prerogativas de que-
rida.
JFedra. Ai de mim, que Tezeo cuida , que fou
Aríadna ! .Oh ingrato Príncipe j qucaiv\VLV\c^\A
coahccèn! Àípcin.
i;^ ^ Lalyríntbo
Es faz. Mmo tarda Taramella : eú confdh
*. aue ià não polFo eftar embezcrrado.
Tibând. Já não fei y formofa Fcdra ^ quando
?;^c:v/írcí completamente feliz.
jíriâd. Dêixa-mc , ingrato, traidor, quejime
faha a paciência para ouvir as tuas faliidadet.
Teband. Júpiter com feus raios me abraze , fe
.' algum dia quiz a Ariadna , pois fó a ci for*
. mofa Fcdra. ...
Afiãd. Cala-te : ai de mim , que cada vez me
offendes mais !
ff dm. Baila que nunca ídolitrafte a Fedra {
^ezeoi Sò tu , ingrata Ariadna , a pezar dai
ruas falfidadcs foubcfte ufurpar toda a líberda*
de de meu alvedrio.
fedra. Calia-te , defagradecido , que já te nlo
' poffo efcutar.
TV^fO* Eu nunca amei a Fcdra ; tu a Liàoro
fim ; dcíxa-me , ingrata , não te compadeças
. da minha vida.
Haido dentro.
Dedal. Tezeo , retira-tc , ahi cuido que eftá
alguém,
Fedra. Reiira-re por hum pouco, ingrato ^ que
Teme não eng;ano, alli vem gente.
Tezeo. Será illusão ; mas com tudo por amor
de ti me retiro.
Esfuz. Ainda náo vem efta maUrta TãraracUa 5
pois o verde de minha efperança fc vai VfíUr
dando no amarcllo da defefperação.
n-
de Oetá. 125
Efionde-fe Teúo , c Dédalo. Sabe Lidoro com
e/pada na mão , e Taramella.
Tiram. Senhor Lidoro , efta he a faia dos en-t
g^nos , bufque-o na Vaca , que elle lá eíU
efperando pela Senhora Aríadna.
I^mti Ah folfa crad , hoje me vingarei de ti ,
edeílc tyrannO) que me oâ^nde. Mas^ quem
eAá aqui i ArUdna he fem duvida.
Eneomra-fe com Fedra.
Rikâ. Quem ha de fer? Jà me desconheces'^
He a rua Ariadna,
Udor. Não m^ enganou Taramella. apan.
Tèbánd. Querida Fedra , cuido que gente veio.
Ariad. Não fou Fedra , falfo traidor amante. \'
Tebãad. Ai de mim ! Quem feri >
Lidar. Dize , ingrata Ariadna , ainda não achaf-
te nefia efcurãade a luz de teu.<: olhos ?
para Fedro»
Dedah Efpera , Tezeo , aonde vãs com effa
efpada ?
TVzfO. A vingar injurias de meu amor } mònra
o traidor que me offende.
Sohe Tezeo com efpada , briga com Lidorox^-je
com a conjusão fetrocão as Damas, ^can^
do Fedra ^40 lado de Tebandro ^ e AriadâA
ao de Lidoro.
lÁdor. Morra o aleivofo , que me opprime.
Fedra. Que defgraça ! Ampara-me Príncipe*.
jíriad. Que infelicidade ! Sempre a teu lado
morrerei confiante.
Dedal. Que confusão!
Teband. Fedra ^ primeiro cfià a tua vida: vem
comigo. "Ev-
u6 Lifbyrtntho
£sfuz. Nefta arrenegada da confusão fahio p
trunfo de efpdas: ainda bem , que cftando o
tneu Sol em Tauro , eftou metido i:m hum íinQ.
Sr<r4m. Ai mofina de mim , que eu tive a cul-
pa dífto ! Hirei chamar quem acuda. Acndão
. todos 9 acudáo a eftorvar a tnaior defgçtip,,
que já mais fe vio : acudáo ^.acudáo. Fai*fi*
Tezeo. Debalde refifl^ ao. Vi^oroío impqlfo de
meu braço.
Lidor. Por ííTo fera maior o meu triunfo: ▼»•
lente fois!
Tezeo. Tenho amor, e tenho zelos.
Esjtíz» He hum regalo ver tobtos de .palatK||ift
Tebâni. Fedra , fegue-me.
Fedr4n Como , fe eftou quafi mortal ?
'Ariad. Senhor , ampara a minha vida.
Dentro ElRei.
Rei. Cercai todos o Labyrimho , para que. fe
inveftigue a caufa defle albororo.
Dedal. Rctiremo*nos , que vem ElRei.
'TeTiteOi Dédalo , agora he tempo para que a toa
/ induftrta me vaíhi.
Dedal. Anda comigo , que defta forte nos p&o
poderio feguir. Hetirão ff.
Sabe ElRei , e hftm criado com luz ; e dejois
que ElRei diz : Sufpendei a& armas , Váo-Jt
T^ezeo , e Dedth , o qr^al dará buma grá»;
de pancada , e cabem as columnas ^ e ficã €m
vifia de pateo.
Rei. Sufpendei as armas. Mas ai de mim , qoc
a fala toda vem vindo fobra nòs ! Eftraiiho
fucccffo !
de Creta. tvj
Liior. Ifto hc terremoto fem duvida ! .
7(^dos. Deofés demcncia !
Ei^uz. Senhores , que diabo fera ifto ^ Tanta
• bulha , e algazarra ao redor da Vaca ? Sem
duvida ifto ne algum aíTougue !
!«• Perplexo, e conhjfo, náo íei o que pronuncie.
ánad. Lídoro aqui , e Tebandro ? Tezeo fem
duvida fe retirou , antes que o viíTem. Oh quan-
to eftimo que o não encontraíTem ! Á paru
Mra. Aonde cftarà Tezeo í Talvez fe aufen-
cou , vendo .que vinha gente. á pari.
Ttbán4* Com quem brigaria Lidoro , náo ef-
tat!^ aqui mais do que eu , e elle > Á paru
t Uder. Tebandro foi fem duvida o com quem
I brigoei. . âparí.
< Jtei. Ainda não eftou em mín^ , confufo entre
unto aflbmbro. Lidoro , Tebandro ; que foi
i&o nefta fala i
Liáor. Sé bem reparo , Senhor , ifto não foi
terremoto , feria algum artificio de Dédalo ,
que occuko: eftaria aqui ; pois outro novo edi-
ficio fe deixa ver , a pezar daartificiofa rui*
na das colun^nas.:
Reu Iflb he fem duvida ; porém como. Dédalo
ainda vive encerrado no Labyrmtho , delle
mefmo me poderei informar ; mas por ora
não me importa faber iflb tanto, comaacau*
fa de voíTos infultos , 'inquietando o filencio
da noite,, e o.fagrado defte Labyrimho com
defafios ; e o que mais he , ver eu aqui as
Infantas iièfte íitio , e a efias horas » e vàâ!
Lidoro ^.xom cflía efpada na mão«
128 Labyrintbo
Arlad. Eu , e Fcdra , Senhor , víndo»no8 a dt-
vercír , e admirar , como femprc , efte Laby*
. rincho , faccedeo anoitecer nos ; e perdendo
o tino na coaFusio da noite , e do lugar ,
começámos a chatear quem nos acudíílcy e
os Príncipes , talvez informados das nolTas- vo-
zes , e clamores , fe animarão a vir libercac-
nos defte enteio* Efta he a caufa , Senhor ,
de nos achares aqui , e VoíTa Magaftadd me
premitta licença , que a fadiga do fuílo me
obriga a que me recolha. Féli-ftm
Fedra. Bem fingio Ariadna. âpãru
Esjuz. Também quem quer que he » memc que
trezanda.
Teband. Como Vofla Mageftade já efta infor-
mado da verdade , não tendo inais que faber ,
não tenho eu mais que efperar; mas fim a
Fedra. Ai louco amor , quando teráo fim os
meus males ^ ípàn. e VÃt-Je.
Lidor. Por cuja caufa , Senhor , não bavia vir
defarmado , vindo a efte lugar. Disfarcemos
ainda a falfidade de Ariadna. á pãrt.
Rei. Já tenho dito , que quando quizerem vir
ao Labyrintbo , nãc venhio deiacompanha^
das 7 e )á que fc fez inútil o meu preceito s
ago^a inviolavelmente ordeno fobpena de mi-
nhas iras , que nem vós , nem Ariadna , ve-
nhio. maii3 ao Labyrintbo.
Fcdvã. Senhor , . Vo(Ta iMageftade. ... cu fe. . .
£sfíêz, Aqueila finge, que eftá turbada.
Jlei. Eu evitarei eílcs fuftos : e vos , Lidoro «
jà tendes vífto) c^uc uio \MicmGicca^ quem
de Oeta. ttç
pudcíTç. ^nçar com Ariadna ; e allím fatisfci-
to,o voffo cfcrupulo , podeis eleger^ ou o
hírvos para Epyro , como queríeis , ou ca-
£v com Ariadna , como pcrcendo , por náo
hzcr infruflifera a voíTa vinda.
ÍÀàou Como já fei <]ucm foi o cjue dançou
coin Ariadna 3 fera juílo que eleja o hirme
.para Epyro. 1^
Sn. Pois que efpcrais , que o náo dizeis í
ftirá. Que fera ifto ^
EifiÊSL. Li vai Tezeo com os diabos deíla vez;
Rtu Vedc^.Licloro^ não fcja i(ío delirio de vof*-
fos zelos.
lÀioTr Não são dclirios , são realidades , pòís
me .acrcvo a mollrallo ncílc mefmo lugar.
Esjuiz. Agora ido tomara cu ver pelo buraca
defta efcotilba.
Rtu Nefte mefmo lugar ? Aonde , fe aqui não
cftà ninguém \
Uior. Dentro daquella Vaca acharás quem com
Ariana dançou.
Esjuz. Ai que eiics comigo ! Por aqui anda
Taramella.
Fidra. Tomara já ver quem dançou com Aria-
dna. â parte.
£ei. Olá , inveftigai e(Ta Vaca , que fcgunda vez
fe conferva para a minha afronta , já que
o meu <jefcuido a náo rcduzio em cinzas ,
para que na minha lembrança íò fe confer-
vaíTe efta memoria.
Cbegd bum Soldado a tirar Esfuziote i^J^aca.
Ltàor. /\goca me vingarei de Ariadna. â vart.
Tom. //. I * • SqV-
1 ?o Lahyrimbo
Sold/td. Qiicm ahi eftá faia para fofra.
Esffiz. Vaca não tem faia.
Soldad. Vá fc fahindo dihi.
Esjaz. A Vaca He de páo , e náo pódc andar.
Jtei. Quebrem eíTa Vaca. Dão néíVács.
Esffêz. Querem carne de chacina? Efperem' ,
qoe cu me patenteio antes que me merSo os
tampos dentro. Pois ^uc he iftò cà í Sábi.
Lidor. Que hc o qae vejo ! Eftc he Tezeo ,
^ue me diffe Taram ella ? í péOi.
Ret. Que hciíTo, Lidoro ? Efte criado he ortae
dançou com Ariadna ? Vès qoe tudo foi
delírio do teu ,ciumc ?
Lidor. Náo fel o que refpond^. Senhor, já fci
que o meu ciúme me pode allucitiar , mas não
foi fem fundamento. Eftou corrido \ áp.e vai-J^
Esjtiz, E eu parado. Senhor , fírvo aqui deí-
guma coufa , fenão quero bufcar minha^ vidf í
Rei. E ca EsFuziotc , que fazias dentro defla
Vaca ; Dize.
Esjuz. Hc que tu femprc fui muito amigo de vaca.
Jfe/. Refpondo a propofiro.
£sff4z. Senhor , como fou Filofofo natural , me*
*ri-mc dentro di Vaca , por ver fe fc dava vaca
ip rerttm natura,
Rei. Se náovfallas a verdade, martdo-te lançar
ao Minotauro.
Esfrtz. O Minotauro já me não mete medo ,
para dizer a^ verdade : faberà V. Real Magef-
rajc , gue fui criado át Trzeò ,' 'mié o efçu-
ro^Cocito haja ; qutfnJo de mím le apartoiki,'
n:c pedio de joelhos com lagrimas dcqaatra
de Creta. ni
em quatro,, que fizcíTe cu muito por lhe
apanhar alguns rOÍTos fcus , que fobejaíTem ao
Minotauro^ e que os çnviaíle para Athcnas pa-
ra coníolaçáo de fcu Pai ; pois náo queria ,
que quem Jhc comco a carne , lhe roeffe os
oíTos. Eu por lhe cumprir a fua ultima von-
tade , entrei ncíle Líibyrintho , c cuidando ,
que a vaca era tarneiro , entrei nella, para
ver fc achava algum oíío , a tempo qde fe ar-
mou buma briga , e veio Voíla Mageftade , e
acabou-fe efta biitoria.
Ãei. Por feres fiel a teu amo ^ te perdoo eílc
exceílo ; porém le ordeno , que náo venhas
mais ao Laby rincho , alíáz te matarei.
Esjuz. Sim , Senhor , vâ VolTa MagcftaJe def^
cançado.
£ei, JFoIgo que ficafle defvanecida a prefump-
çáo de Lidoro : vem , Fedra. Fai-fi.
Tedra. Eu te obedeço. Faufe*
EsfíáZ. Ifto já anda muito bólido com enganos,
c chifmes de Taramella ; hirci avifar a Te-
zeo , que fe çafe daqui para íóra , pois fe EI-
Rci me aperta mais , eu fem eftar bêbado ,
me esborracho , e lá hia quanto Ariadna
fiou. Fai-fe.
Lidor. Todos fe forâo , fó comigo ficou o rop^
cuidado j pois ainda que o que citava e^^*
dido ria Vaca não era Tezeo , ccmo.y^ "*"^
Tarfiinella, com tudo pódé íttA^^ \^^^^
vcqçao variaíle o íacccffo , p^s nem Tara-
mella me. havia de enganar , nem podia dcU
conhecer o fujeito ^ que denuo n^ N^c«>\^
I ii ^^'
i?t Labyríntbo
efconieo. Oh funefto labyrintho de amoi
aonck até os defenganos são confusões !
Cama Lidoro a fegunte Ária , €
RECITADO.
Quem Terá , juftos Deofes ,
Effe Feliz amante , que efcondido ^
De Ariadna no idolo elevado
Viélimas facrifica? ^ :
Quem fera ( ai de mim ! ) eílé gigante
Que a tanto ceo de amor Aibir pertendêí
' Que fuppofto não veja eíTe incentivo
Que meus zelos fabrica ,
Com tudo o coração fempre preíago
Não fei que vaticina;
Pois tímido , cobarde , e penfativo ,
Cada objcflo que vejo , he hum ciame ^
E are do que não vejo zelos formo.
Que muito fe eu de mim , em tacs dcfvelof
Por amor de Arladna tenho zelos !
A K I /•
Qual Leoa embravecida 9
Que fe vê deftituida
Do filhinho tenro , c caro ,
Q lè com fúrias , e bramidos 9
Rompe a terra , c fere o ar :
Aííirn eu em meus gemidos
Bramo , peno , finto , e choro ,
Vendo ( oh Deos ! ) o que cu
Noutros braços dcfcançar.
f
de Crcta^ ij?
S C E N A VL
Labyrintbo. Sabe Tezeo.
Ttzeo. /^^ Randc confusão caufaria a fubitt
V-T ruína das columnas , entre cujo hot'
jror pudemos íabir , fem Termos notados de nin«
gqem; porém que írnporca , que de hum fuí^
. to me redima , fe de hum cuidado me hão fe-
paro ? Quem feria ( oh duras penas ! ^ aquel*
le 9 que appeliídandp de ingrau a Ariadna ,
quiz çpm inftrumento de Marte vingar oífen-
las deaiâor } Afãs quem havia fer , ícnáo
Lidoro 9 tyranno ufurpador de minha fortuna ?
Sabe Ariadna.
Jriad. Tezeo y o amor , e o medo , ambos vne
derão azas para bufcarte»
Taeo. Olha que vens enganada , pois emendo
que bufcas a Isidoro.
áriad. Deixa por ora cíías loucuras^ y e &Ue«
mos no que mais importa.
Tezeo. Haverá cpufa, que mais.mporce ^ que
08 meus zelos, í .
Ariad. Quc.zelos í Que Lidoro? Que delírio
hc cffe > . : , , .
Tfzeo. Pergúnra-õ ásflore$ do, jardim , que tef-
temunhario- os recíprocos carinhos , com oae
. atttahífte a LiJoro , que ao d.epois na falados
enganos , chamando-te iogràjia , jme inten*
-: lou matar.
ArUd. Quanto ao jardim , logo Vetas cyuc tívílV^
• le àçísiido^ do que te oííendo, -, e c^uatvvol
I )4 Labyrintbê
faU dos enganos , ha n\\h que apurar na tua
inconftancía / que na míaha firmeza ; pois cuí-
danJo cu que cu era Pedra , por quem cal-
vez cfperavas , me diíTcftc que nunca Ária- ;
dna cc mereceo hum fó cuidado. Vè agwi* .^
fe achas dcHbulpa a cftc deliílo ?
Tezeo. Ariadivi , a língua não cem mais vdto
que as que lhe dií^a o coração , aonde fèiMn-
lerva ctrrno o original de tua hclleza ^ fite*
ihor qu: a lua copia no peito de* Lido^ ;• e
alKm não intentes recompenrar huma fmgMa j
oifenfa com hum as;£;ravo vcrJaJeiro. i
jíriad. Para que não formes cíTe conceito -çAn- '
tra a minha lealdade , fabcrás que como- a i'^
Li J 3ro aborreço a pezar de feus extremos , me J
dilTe hum dia , que a caufa de meus deftid» j
era , porque eu te adorava , pois fabia , que
tlnh;is triunfado do Minotauro. Confídefa <a
que fuftos eftis para hum coração amencei' E
para que zclofo o não communicalTe á El-
Rei , fui mantendo a fua efperança com fin-
gidos carinhos , até que te vieílc »vifar ; -piri
que com a fuga nos iíenralTcmi^ deftlç imi-
nente perigo, que nos cfpera. Vè agora' )b
pôde íer desleal , quem ião finamente fãbc
íer amante ? Mis como veíf> que fó Fedít
te merece cuididos , j:í não he licito , q»ie eu
te acompanhe, mas fin avifane do perigo,
por não faltar ao jura tienco que dei de dc-
fenjer a tua vida , em remuneração da que
me dcftc no bofque. Qíier irjeé
Tezeo. Efpera, Ariadna , que nãohcjufto que
ao
de Creta., i^j:
'ao m^fmpi^i tempo que me deixas agradecido ,
te aufemcg qucixõfa. ]á fei p çxtrenao do teu
amor nío te perfuadas que Fedra , fendo
capaz para a minha veneração j o po(Ta fer
para^ a minha fineza ; tufo, beliílima Aria«
dna y occupas dicoíamente todo o meu coxa*
çap y de forte que nellc não ha lugar que
poíTa acçommodar outro objefio.
j4rÍ4d* Mal te pofío acreditar , guando efta noi-
te te ouvi differentes exprefsocs. Deixa- me,
f ingrato , que efles affeflos fó são para Fedra.
Trz^eo. Farás com que defefpere na incredulida»
de de meus extremos.
CéOttio Tezeo , e ArUdna a feguinte.
_ . AR I A A D U O.
Ttzeo. Tanto te adoro , tanto ,
5 .' Qu^ cm ondas d© meu pranto
j, Fluftua o naeu amor.
Méii* Tu. dizes que me adoras.
Que gemes, e que choras,
. ./. . . Eu não tç creio , não.
Tfíio. Pois , cruel j para que me creas ,
. •• . Rompe o peito , abre efta alma ,
,yerâ^ fiçllc o meu ardor.
Ariâà. Na tua alma , e no teu peito 5
Que de ^ngajnos acharei?
Teijeo. Somente &mezas ,
Aúidm Nenhumas finezas
^«ifoí. Neíle peito .encontrará^.
Tszeo. Oh quem moíirar pudera !
Ariid, Oh quern le conhecera !
Ambos. Ingrai-^ y mas talvez
1 \6 Labyrimbo
Que* as chammas, .que diéfprczas
Em cinzas acharás, Quek jrfi Ariad.
Tezeo. Ariadna , não augmentes a minha def-
graça com a tua fcmrazão.
Ariãi. Ai que lá vem Fedra ! Confídera , h*
grato , fe ha motivos para a minha quel5e<.
Tezeo.' Se Fcdra vem, não fera ^ pois cuj. 4*
jíriai. Não he agora tempo de ouvir def culpas ,
íó tomara efcondcr-me , para que me rtãoWtflé.
Tczeo. No concavo deíla columna há huhi li-
mitado ga!íin-te , em que apenas çabbm duas
pcíToa!? , efconde-tc , já que aflim o qnitres.'
jíriad. Obfcrvirei as tuas falíiJadrsi' Efcond^fe.
Tczeo. Qual fera o intento de Fedra^ Queira
amor náo fe encontre com o de Ariadtia.
Sahe Fedra. *' ^
Fedra. Tezeo , parece que quereni os fados fe-
ja eu femprs tutelar de tuas infelicidades ^ a
pezar de ruas ingratidões ; c porque humâ^^iW»
empenhada a defender a tua vida não era juf*
to defiíliíTe defte nobre intento ; fabe auc
já em Palácio ha claros indícios de que •»&
vivo ; e aífim , antes que ElRei o cheguei
faber , trata de aufentarte com - a brevidade
poílivel. . .M '1.
Tezeo. Será forçofo feguír o teu confelho,
Ariad. Náo fei que intenta Fcdra còm rãntcis
extremos I ■■. ■" *
Fedra. E pois não ignoras que eu fui o ihf-
tríjmciuo dl tni viád na mone do Mmorau-
ro, para que fc náo venha a faber , que ca
dei armas conrra cfle monílrq j e linta a in*
de Cretai 157
dignaçSo jd^EIRei , fera forçofo que me . Ic*
'ves comtigo. paca Aihenasiíe acaio o dar*cd,
duas vâzcs a vida te pode fazer menos ingrato.
Teno* jNotavel .empenho l Que rcfpondcrci a.
Fedra 9 cnivindotme Aridna^ . . âpart.
jíriâd. E quc:.yje(íe Fedtâi^por o ultimo : fim à
minha defgrap ! ã pari.
Ftdrd. ■ Não ' iné^ rèfpondes ? Porem nada me tlt»
gas 5 qáe fe.tU tivera osmcçicos de Ariadna^
tatvcz fe(re:''venmrofa a.minha fupplica. . ■
TVzrò^Nio: crimineis i Ariadna» pois nelU na ca
encontrei huma fô piedade:, nem crtia que
hpma lembrança \ pois he. fem duvida qu^
imaginará, que eftou morto;-.
Artãúk "^tm ícH^Tezeo cm neg^Uo- .
J%<ír4*. . Como .fóde fer que Ariadna ignore
que tU'jés.ivivoi9.fe ria fala; dos enganos efta
' -noitc^' adndeiXó diíTe , me èfperafles , dftando
-w comigo^r.;..
TeziOi- Eípéra;ífne èílás enganada , pois nao ítix
*' <Sto «u á^^fata^' dos enganos., mal te podia, fal-
lar, Oh-'qtie incentivo , para os zelos de Aria-
-' Jnal • ^ ápirt;
Ariâd'. Por iflb o traidor me chamava Fcdra ,
cuidanjo ' que fallava com cjla .
Fidra. Se huma evidencia imencas CQntradizer,
já ^não- tenho mais que te. arguir^^ . c affim i
• Tfzeok .■...! /^ '
^ Sdbe JEspizicte,
JEsJiiz.^ Senhor , efconda^me por vida fua ^ que
ahi vem Elftei , c fe me vè , ccrtametnc me
cnlabyf/iidba pâíã fcmpcCé: AL à^í^tít^^. ^M
Juziocel 1^*
10 Lâhyrintbo
Tezeo. Que dizteí ElRei vem ahi?
JSsJísz. Sim Senhor.,. ElRei em peffoA : ercoo-
damo-nos depreda.: .
Fcdrd. Ai dr miftv fe ElRei me vè ; poisic^
nho inviolável jpceòsico para níot virão Laby-
rincho ! Tezeo , efconde^nol antes que perU
gue a minha vida.
Ariad.Qúc nocavelxlefgraça fe ElRei vir a Tezeo l
Tezeo. Efte fim^yxpc he. verdadeito laby rincho
em que ipe vejo^ poia nâo ha aonde efcondec a
*Fedra , íenão aonde eftá Aríadna ! Quedbfád
' fc fc encontrão ? . * ! • »
Tear a* Tezeo , efcohdc-me , ?c.tu:vtambem pára
que ElRei nâo* nos. i veja. : ^ .
EsJHL. Senhor, efconda-me ániím fe quer;
T^zto\ Senhora , o lugar Que')ha capa£.' para cf*
• fe minifterio , apenas he-fuÇicience. pam oocul-
târ buma peífoa ; e aíHm hunnt.rdenpa' hà.de
ficar cxpofto ao perigo de .ElRei nos vcf,
Esf/4z. Senhor , veja que Dédalo tk : outra vez
ÁIÍÍQ , que alli cabíão duas ' pefloas: ; e affim
cu' , e a Senhora Fedra bem cabemos nelle.
Rdra. PoisTczco, perigue a minha vida., an-
< tes que a tua y que melhor he eotMv^t''9,
hun morto , que livrar da morte a hum vivo.
A^riàà. Oh quanto invejo aqucHa fineza de Fedra !
Tezeo. Não he razão. Senhora., que eu por
/alvar a minha vida, exponha, a vp (Ta ao.pe-
rigo ; cccultai-vos , que o tropel já vem per-
to. Perdoe Aríadna , qu^. cfta acção he filha
■ do meu brio, e não do meu amor. . Ápart.
Fedra. £ fe fores vifto d'£lRci ^ que fera de ti ^
. 7^-
4e Cret4,\ 1551
Jiíuo. Omdkqt^ pode f^z^c^nçinatar-mc; 4n«
ijr/%z..- E tícty Senhor , aonde í he boa graça !
^rf AÍ. . Pm mo h^i ^. íçíf jíflifn ; , que Jçz,to
nâo .ha de fiwtjexpc^P :?!9:rigor d'ElRei. Tc-
2eo , f e tu por falvar a Fedra, ^xpões a tua
. vida ; Mi pôr » r/^demir-l^ ^lua offereço a_?ni«
nha : ^nda^^^ ^fKiPOnderte ao^dc eu tilava , quê
. ífto he /al^;CQnfei;vajr fi. >tua; vida.
Tezeo. AriadtVkyílIOfe <xc^o,iraafceriJe aos Ji-
mítis da ^pFl^^:^finte?a^^. çoirna^ eíconderte ,
ícoSq pp*i JdpiBsr foberano tei ^o , que amr
bos aqBÍ> fic^rtnvw.
JEá/m* Mfi)hQt.fyjfii que nttít. lu^ac: ,1x1^ ^^Ç^"
•-.dio-a^mj^is ;"ã : . ■ ; ^.■- .J
Ariâi. Primeiro cftà â tvia vida.. -
!rrtf0...lâ^ tuacrfí^ prinieiro. *♦ ,, , -r
Hdf^.. Âquella he Ariadna y quen^ viqnt^ipr pgn-
^ ^fusio^f.. Ah .if^Qf.Tezeo ! ., ,:, , ; ' ■ 1^ -^
Tipzro, Occgltacíip í,: /\riadTia , qv^e eju. bufçarei
jnduftrias' quft-oiíí defendáo-, . . .^
Esfíêz. Senhor, que dia,bo' he i|Íp ?; Não ouvení
. a- eftropeadá ■. já neda. cafa. vifmha \
Ariad. Comoic^Aâo queres occuhar , quero con-
fervap a niiçAa. vida , para. defender a lua.
Efcpndcrjk. Aríadha^ Sahe JEI^^i fm olbar pa^
•'-> , r^^ra Tezèo.
Esfuz» E agòtà., Senhor Tczeo ? .
STczeo. Põcmrieiatraz de mim ,. e íegue os meus
movimentos.) .r
Jlei. Já parece que he tempo 4e, perdoar aDe-
iia-
140 ItêiyrintBo
• àúq o delido de fabricar a Vâcá Dart Ptzf* '
fe 9 pois baftame caftigo he a dilataaa , e hor«
ipíroía prizãò , ciá que eftá , ecotn omotívô
' de fua liberdade poder-me-ha declarar toàoi
os arciliciòs deftc Labyrimho , qae mahio jgii<K
ro , como ^ de cahirem as còlumniis na fala
• dos enganos, • r . .
Tezea. Em grande perigo eftou! Valha-me todo
o meu valor , e loJa a minha índuftría*
Esfuz. Eu eftou aqui cio agarrado como pio-
~ lho ladro em fovaco de afmocfeve.
Vai-fc El Rei i^oltdnda pârá Tezeo.
Xei. Eu me refolvo ; eu vóu a líbernar a Déda-
lo. Mas ai de mim ! Que he o que vejo i
'Parece^ que fe itie Bgura náquella errada foin-
bra a imagem de Tczeo ! Ai infeliz , que os
cabellos fe me eriçio ! .::.'..
Ttzeo. El Rei fe aíTuftou de verme ; pois o feu'
engano me valha. â pãrt.
Esfíáz. Ah Senhor , já que me leva ao reboque ,
não haja por ora vento cm popa.
Rei. Pálida fombra , vago horror da f ancafía ,
que pretendes de mim í
Tezeo. Bárbaro Rei , efta que vês em corpó-
rea forma he a alma de Tezeo que erran-
te por efte Labyrincho vem a nociciarre da par-
te de Plutão , fupremo ]uiz do Cocyco , a
tua malevolencía , e injuftiça , com que ty-
rannamente me ufurpaííc a vida , para que
vivas na certeza , que hão de os Decfes vin-
gar a minha morte com o eterno fupplicio
que te efpera.
Es-
de Ontd. . 141
iffãz. Ningaém faz papel de defunto como mea
aroo l Andar , je não fomos duas almas tm
' hum coxpo 9 ao menos fomos doas corpos
em buma alma.
iíet. Não^me horrorizes mais, funcflo eíjpe£b*
cílio ; já feji^ que fui cruel para comtígo.
JEsfuz. Ái que nos vamos fubmergindo! Não
lerá a primeira vez que. os ames levem com«
.: i^o OS; criados ao inferno.
STezeo ecm p4fjos v/ígarofos fe metterã na mina
com Esfuziou j 4e Jorte qí$e 4 efte o não
veja ElRei.
jlriad.^ Com bella indufiria fe livrou Tezeo !
fedra. Notável idéa por certo!
JteL Quafi que não tenho alentos para refpírar.
Olá da minha guarda , acudão todos.
Sabe Tebandro ) e Soldados.
Ttband. Senhor , que te fuccedeo ? Que tens ^
oue tão pàllido o teu femblante nos infomaia
oe algum extraordinário fucceflb ?
Rei. Não.fei fe poderei dizer o que vi , que o
fufto me, privou doufo de todos os fentidos^
Tebátid. Conta*me 5 Senhor ^ a caufa de tamè
excelTo.
ifeí. Tcbandor , eu vi diftinftamcnrc nefte lugar
huma agigantada , disforme , c horrorofa vi-
záo , que caminhando para mim com paflbs
lentos , e vagarofos , mediííe com voz irada 9
c rouca , fer o cfpirito de Tezeo , que da
parte de Plutão me vinha notificar , que pela
jnjufta morte , que lhe dei ^ fe me efperava
hum eterno tormento , e com ífto y abrindo-
142 Ijiíjrtnáo
fe a rr^^ cryn 'rfpiTtofo bfamria , o fepoiíóo
cm foií cnirarhx?.
^rí^. S^nyrz o meio repr*ícnca maior oi
^ebâni. Hff cafo verda jtíraramce notável f VeiUi
Senhor , a ff^^tnir algum remédio a ciTe foflo.
Jfrf. Vamos , T-ffbanáro : c vós oncros cerrai tt
poms defte Lab^Tíniho com traveflTas , além
das ^/Jardas , para ()ue fique inhabiuvetrpara
feinpr-j cfte cadafilfo , aonJe ouvi a fiãiiteâ-
ça (i*i minhi condcmnaçáo.
Teband. Senhor , e Dédalo , e o Minotauro ?
/Tc/. Morra Dédalo , pereça o Minotauro ; pois
hum , e outro foriu ínítrumentos de meu pre-
cipício. Vio-Jc.
Sahem dâ columti/t Ariadn/t , e Fedra.
Âriad. ICIKei ( ai dcr^raçada ! ) nrwnda fechar
o L.ihyrinrho ; como íahircmos daqui ?
fedrA. \ que fim , Ariadna , vicílcao Labyiíntho ?
jírLid, A rt^pofta que tu me havias de dar ,
íc cu o mefmo te perguntara , fervirá , para
a ma pcrp^ntua ; mas agora náo hc tempo de
averiguar zelos , quando maior caufa nos afflige.
Fedrít. Nunca me enganei ,que Tezeo amava
a Aiiaiinn. ápart.
ylriad, Qu.^ dizes, Fedra, da noffa dcfgraca ?
Fiuliéi, Dcixa-me , que o coração dividido a len-
lir rantos goliX's , não fabe diftinguir os fca«
timenios.
ylri^d. Aonde elhr:í Tezeo ? Tezeo ?
Sdbem dd m.w.i Jezeo , e Esjuzhte.
'Jirir.rí>. A} en.is iaio Jvt hum ^^eii^o , guando Io-
^v me vejo cm ouuo navot\ E^^
de Creia. 14;
Esfuz. Não 'ha coufa como fervír a Príncipes ^
cjuc ainda depois de mortos ampar&o os criados.
jíriad. Não cuides , Tezeo , qae qacro argairte
de tuas falfidades , vendo aqui » Fedra ; fõ
quero dizerte , que EIRei mandou fechar o
. L^byrintho : vê como havemos^ daqui íáhic,
com tal brevidade) que EIRei nos não ache
: 'menos em Palácio ; e quando por mini o não
faças , faze-9 por Fedra , que tanto te merece*
ÉÍf0Z0 Ainda mais eíía temos i Ém boa me víiti
' eo meter i
tedra. Não te- perturbes , Tezeo , nem o meu
refpeito te obrigue a fer menos extremofo pa-
ra com Aríadna , de cu]a vida compadecido ,
irê -como has de livralla , que pelo mefmo
camitiho , que a libertares , me (alvarei á fuft
fòmbra y fó por te não nrerecer algum favoc
efpecíal.
Tezeo. Que farei em tão precipitado empenho ?
isfut. Senhores , VoíTas Altas Potencias, deixem
por ora coufas , que não . vão , nem vem ;
cuidemos em material de vir , e hir daqut
para fora, não tanto pelas Senhoras Infantas »
quanto por mim , que tenho occupaçâo no
Paço , e não fera razão que falte ás obriga-
ções d^EIRci" meu amo.
^riad. -e Fedra. Que dizes , Tezeo ?
-£s/«z. Senhor , diga alguma coufa pois já fe
. náo pode livrar das bailas defta Infantaria.
'^hwo. Senhoras V ^ão vos afflijais que tudo
terá rcmedip, Dédalo , Dédalo , pódcs fabir
" fetnftiftO, :
^44 \L4byrhiibo
■ Sdbe- Dédalo às mins. -
ZkdãL Que me ordenas i Mas que vejo ! Aq
Vo(Ia« Altezas ? í , -
jiriad. Dédalo 5 fabe que também viemos a:
» companháiras na tua defgraça*
fèãr^a. Quem te dííTera , que; para noflo eftra
fabricavas efte Labyrintbo !
JDedaL São altas diipofições dos Deofea » q
fe não podem evitar,
Tezeo, Dédalo , por fucceíTos de amor ^ e fi
tuna , fe achão aqui hoje as Infantas ; o L
byrintho por ordem d^EiReí eílá Inchado 5'
por onde havemos de fahir ?
. J)edaL Por aquella mina , que vai ter' ás rib(
ras do mar, como fabes , pois não ha qot
caminho.
*Tezeo. Bem advercifte.
Dedal. Oh quanto me peza haver fabricado e
te Lahyrintho !
Esfuz. O certo he que cfte labyrinthp , ç
que eflamos , não o fabricou o Senhor Dedal
jirUd. Pois quem foi ?
Esfuz. Foi o amor , que hc maior archíte^
que quantos Dédalos ha no mundo ; e íe
querem faber , dem-me airençãò a cfte.
SONETO.
Ser labyrintho amor , ninguém duvida , .
Que cfte rapaz cruel, cego frecheiro,
Frabricou , como quiz , meftre pedreiro ^
Dentro de huma alma hum beco fem.(ahU
O maeano tomou bem a medida ;
Va/na-re o diabo simot ^ c^m^ i^ mitcalheir
Vi
i€ Oitâ. 145
Pois por dar cos narizes nnm (celeiro
' No alfuje cie hum rigor lança hama vida !
Anda nefte Palácio , o mais diilufo »
O trifte coração num corropio ,
Porque rodo o querer he parafufo :
E por mais que da idéa arda o pavio ,
Em rrocicolos mil fe vê confufo ,
Pois fcmpre no melhor íe quebra O fiow ^
jlrtêá. Na tua rofca fra2e diíTefte verdades puras;
^HZ. Que me faça bom proveito.
Tezco» E pois eftá determinado o fugirmos pe«
la mina. para nos trafporrarmos para Atne*
nas 9 fera precifo quê vá Êsfuziote lôgo' cont
jóias a fretar huma náo , e que junto á mina
tenha efcateres promptos para o embarque ,
fcm que declare as pelíoás , que hão de hic
' nella , e te efperemps na boca da mefma mi.
na , ao dares fcnha , <jue fcrá efta : Fenhão ,
Senhores : e já que acé o preíente tcnâ fida
£el y efpero que com efia acção coroes a
ma fidelidade.
Esfiiz. Eííi muito bem 9 mas falhamos por on«»
de hei de hir cu i
Tezeo. Por aquella mina , que vai dar ao mar:
Bsjfiz. Qual mina > Aquella onde cahio femtvivo
o Senhor Minotauro ! De burro que eu tal vã.
Tezeo. Tu bem vifte que o Minotauro cahío
morto , c jâ não podes ter medo , pois De.
dalo 9 eu , e tu eftívemos a^ora nefta mina <
Esfiêz» Eu com. o medo não fei aonde me meti '
t era cu capaz «aquella hora de mrvttt-t«v
,7m* l^* K ^tV^
14^ LabyrinUfO
pelo fundo de huma agulha , que tio peque*
no me rcduzío o pavor : com que , Senhor ,
eu não vou pela mina y que o mcrmo íerá
lembrar-me no caminho o Minotauro , que fi-
car tolhido fcm poder dar hum pado.
Dedal. O^ Esfuziote , parece mal dizer hum ho-
mem que rem medo.
Esfuz. Pois os homens são os que tem medo ,
que quanto aos animaes , eíTcs ínveftem como
brutos.
Fedra. Pois como ha de fer , que cada vez fe
difHculta mais a noflà liberdade ?
Dedal. Eu darei o remédio : como . Esfbzídce
rccufa hír pela mina , hirá pelo ar com hu«
mas azas , que lhe hei de pôr , e com ellai
voara tio feguro , como qualquer ave.
Tezeo. Agora tião tens defculpa ; que dizes 3 Ep
fuziotc i
}:sfrn, IiTo rem que cuidar : vamos , que enten-
'fiij que para ifto de voar nio ferei defaza-
do r venha , Senhor Dédalo. Vái^fe.
Dedal. Tu verás o meu anificio. Vai-fe.
Fedra. Tezeo , cípero de ti que em Achenas
faibas agradecer as finezas que me deves.
Á parte e vai-fi.
Tezeo. Tu veras a minha conftancia. ãp. pard Fei*
jjriad. Em fim me levas a mim , e a Fcdra í
Já fei que vou experimentar , ingrato ,^ as
tuas inconftancias. ^^^"J^*
Tezeo, Náo temas variedades no meu amor. Oh,
Deofes foberanos, fe for ingrato a Fedra', não"
. me cremincis j pois náo podendo fcr cfpofo de
am«
de Creta* 147
.mba$ , e a amb^s devendo iguae& finezas , ra«
lo fera que fique ifenta a vomadc para pre-
ctU SL Ariadtia. Fái-fe.
S C E N A VIL
fq»e j e marinha, , como no principio ^ e a mef^
nu grau > mas desfeita y e dizem dentro
o feguime.
L 13 Urquemos todos as Infantas 5 nio fique
JD penha , ou tronco , ppr mais. inculto ,
|ae ,ç> noflo cuidado nâo inveftigue» DenfrOk
foK 'Ariadnà , aonde te eícondem osteusdef*
rios? . ., , M y Dentro,
hand. Querida Fedra j quem te aparta dos
nfius olhos? Dentro^
iorl.fiufquemos as Infantas, que não appa-
:eccm. Dentro^
Slabem Sang(áix»ga , e Taramella.
^•'Aí defgraçada , que Fedra amolou aspa*
aqganas.!
ram. Q«c fera de V. m. minha tia ?
2^. Que fera de ti , minha fobrinha ?
45. Que ícrà de nós ?
í'4m. ^ o peior hç qqe o Senhor Tezco cn«
tendo fugiria coni Ariadna , e hirá cazar com el**
la.\ Ah cruel Tezeo , que me deixafte burlada !
ng. Antes cuido que hirà cafar çom Fedra ,
que por mim em cerca occafiáo lhe mandoa
noma banda*.
tom. Ou café com húma %, ou com outra ,
cu fiquei chuchando no dedo.
K ii Sxxíi^.
148 lÁbyrtnihò
Sang. E eu fem Embaixador, por meus pecçadbs !
Taram. E fobre nio cafar comigo , levar-me a
jóia , que me deo Lidoro , que ncUã cinha o
roeu doic !
SéOfig. £ a mim a jóia que me dcó Tebandro !
Taram. 0\\ Príncipe de huma baila, os diabos
tê levem.
Sang. Óh Príncipe de huna figa, má raios cd
partão.
Taram» Eu fem Ariadna , e fem jóia !
Sang. Eu fem joía , e fem Fcdra !
Anwás. Que fera de mim l
Fâi-fo SanguixugA , t âppârece Esfiniett rôm
ã$ éoas vúânàií.
JBsfaz. Nenhum alcoviteiro fc vío até o ptefen-
te cm maiores alturas! Ifto he que iie fu-
bir de hum puUo ! Agora nada me dá cuida-
do com ter tantas penas , pois nunca me vi tio
dcfempenado como agora , que me vejo com
azas: eu em minha confciencia, fe quizer,
daqui podo mijar no mundo.
Taram. Cada vez que cuidp naquelle infoltu-
le , não fei como nío defefpero.
Esfuz.Orà olhemos agora c'a para baixo. Mui-
to grande he o mundo ! Ai que lá eftà Ti«
ramella feita mulher do mundo ! Pois^ cu que-
ro debicar hum pouco com ella : nás. Gbr*
g4ndo-fe ao ouvido de Taramellá.
Tarm* Ai ! Que bizouro me anda pelos ouvidos \
f.sjuz. Trás tris.
Taram. Xó daqui maldito bizouro.
Esfuz. Adeos^ Taramella, itás.
.ie Oitd: 149
Tiíié. Quem me falia ao ouvido , fe aqui não
cflà nmguem ?
Esfaz. Taramellà , Tczco quertc muito , mas
ne aqui para traz»
TãTãm. Quem he que me falia ? Ifto he encanto.
Bsjin. Âmor^ que tem azas, he e^^que falia.
TdrOfn. Aonde èílás i
JEsJítz. Aqui atraz,
TéWéun. Que he o que vejo ? Não és tu , fingi-
do ingrato Tczeo , a quem fem duvida os Deo-
fes , por caftigo da tua falfídadô , em ave td
converterão? Anda capara baixo^ que eu te
abaterei os voos*
£sfm. A quem nSo attrahiráõ tquelles doces re»
ciamos 2 Vefce. Ai Taramella » que já preza
a minha liberdade no vifgo dos teus olhos ,
deixo por elles o ceo de Vénus, em que mé vi ^
pelâ esfera de tua belleza , em que me ^razo.
TTarâm. Agora que cahio no laço , não me ef«
capara. â part,
Ssfttz. Vês 9 tyranna, que as tuas faUidades me
• Êizem aéreo i
Taram. Quem deo eftas azas a Vofla Alteza?
£sjiiz. Das penas que medas, nafcèrão as azas
que me vê$.
Tardm, Bem fei que penas lhe caufo , e fô
Ariadna lhe dà glorias.
JEsfíiz. Não queiras , traidora , com èfle fingi*
mento encobrir o engano de me mandares met-
ter na Vaca , paratomar degoladouros na ef-
pada de Lidoro , a quem duas vezes míxiriquei*
xa mcentafteeatregar-mci vai te ^ que já com-
i
I^o Láhyrimbo
tigo não quero nada , pois pzn fugir. 4^d[;
já lenhò azas. ' \
Taram. Quem me dera que viefle alguém, «ta-
ra o agarrar , e cntregallo a EfRei ; • porerii
eu o deterei com carinhos, á part. Meu Senlioci
meu eípofo , meu bem , meu , meu • . • •
£sjfiz. Calce , calce , Taramella , que eftás can*
mellando í
Taram. Eu . . . porque foi o meu amor. . • . por-
' que os zelos . . . mas eu promecto ... |
£sfttz. Nada y nada , não admito lograções ; ]í fou i
pnlTaro çafaro , que não caio com eíTa facilidade.
Taram. Olhe , verá que nunca mais , nunca maiSi
Cànu Esjuziote a> feguinte Ária , c
RECITADO.
Deíxa-me , fucinhuda Taramella ,
Que eu não quero cahir nc(Ta efparrella
Tu falfa , tu cruel , tu aleivofa ,
Com fucinho de gata langanhofa ,
Querias cm tacs penas
Que firaffe fem filho EIRci dc.Athenas?
í*ois hum chuço amolado que te paíTe ,
Huma faca flamcrlgâ que te efpiche ,
E huma bomba de fofi;o que-te efguiche.
A R I A.
Não ha coufa como ver
Huma deftas prcíumida ,
jMui lambida , c dcstambida ,
Com mil chularias ,
Com carr.s de monos ,
Com unhas de arpias^
de Oeta. -i^^
Lidor. Ah cruel Âriadna , que paca ver a t^a
fàífidadç fuftentaftC/de enganos* a minha 'cf-
Ecrança I Logra tu eflc Hymenièo , que cu
erei feniír a minha forte infeliz.
TTeband. Senhor , licíla òccafião he juftoqueós
favores de Fedra premeeih asj minhas firmezas.
Jtei. Fedra , rieconhcce a Tcbandro por teu efpofo,
JFedra. Não podo refiftir ao teu irnpcriò. pi>c-
deçamos aos fados. ápart.
Liças. Oh quanto eftimo eftji concórdia !
Tezeo. E tu , Dédalo , vem comigo para Atbc-
nas a receber o premio de tua lealdade.
Dedal. Não quero mais p(cmio que a tua fe«
licidade.
Sang. E que fícaíTe eu lograda , fem jóias 5 e
fcm Embaixador!
Taram. Bafta , Esfuzioté , que me enganaftc , di-
zendo-me que eras Tezeo , para que tantas ve-
zes enganaíle a Lidorò J
£$Juz. Não fé perdeo mais que o feitio ; po-
rem podo affirmar-te , que te não enganei^
pois quem duvida que quando eu era meni-
no , era infante ? porcnà fe fó he Príncipe ,
quem faz acções generofas , eu quero fazer
huma eftupenda que he cafar comtigo j porque'
em fua cafa cada hum he Rei , e fenhor de feus
narizes ; venha a mão , Taramella , com li-
cença dos Senhores.
Taram. Do maí o menos , vá feiro.
,Ilei. Repitão todos os vivas deíla foberana gloria.
Tezep. Efperai que primeiro Lidoro me ha de
dar hum retrato de Ariadna 3 que fingidamente
lhe dou. , • Lidar^
ifS 'Z4hyiitHBò ãe Oetd:
'XJdoK Râ2!o tendes ; tomtÍK> que náo he bêiA
!|ue conferve a verdadeira copia de ham fal-
o original. Dd o rHroio.
TiTXO. Agora fxm , publiquem todos o maior tri«
unfo de Cupidp , confeíTando que fó o amor
lie o verdadeiro labyrintho.
^^sftsiz. Vá de fefta , e folia , ceIebrando*fe efie
defpoforio com harmoniofas vozes.
CORO.
Numa alma inflaimnada
De amor abrazada
Cruel labyríatho
Fabrica o amor.
Porém quem efpera
O bem de huma fera ,
Acertos de hum cego ,
De hum monftro nvor?
F I M.
\
GtJER-
G U E RR A S
ALE C°R I M;
mangeVona,
OPERA JOCOSERIA,
Que {é reprefentou no Theatra do Bairro Alto
de Lisboa , no Calnaval de 17^7.
INTERLOCUTORES.
D. Gilvaz,
D. Fua$. -^
,D. Tiburcio. , , ''.■ ■--
D. Lanferoce, ^Wto;
d! mt } -^^*""*^^ ^-o- -t^/^^*
Sevadílha , Gracioja ^ Criadd,
Fagundes , Felba , Criada^
Simicupio , Graciofo , Otádo de D. Gilvaz^
SCENAS DA L PARTE.
f • Prado y tom çajaria no fim.
IL Comera.
III. Praça.
IV. Gabinete.
SCENAS DA n. PARTB.
I. Praça. V. Comera.
II. «fi</^. VI. 3P4rá/m.
lU. Comera. yiL d*4/4.
IV. ÍV4Í4. PAR.
15^ Ciurrâs, do Alecrim i .
PARTE 1.
S C E NA I.
Praão , com cafaría no âm. Sabem D. Cloris >
JD. Nhe , e Sevadiíba com os rojlos ctíbff*
tbs i e JD. Fuás , D. Gilvaz , e Simicftpiò ,
fegf4Ínio-as.
D. G. Tr\ I^na. deftcs^ bofqaes , . ceílem os
I W acelerados dcfvios deííe tigor , pois
-**^ quando remora me fufpendcis , fois
iman , que me attrahis. oard D. Oár*
2>. F. Flora deftcs prados , furpendéí a farigada
porfia de voflo defdem , que eflíà difcordc fu-
ga com que mç defenganaís , he armoniofa
attracçáo de meus carinhos ; pois nos pàflbs deP
fcs retiros forma * cònipaíTos o meu amor.
para D. Nize.
Simic. E tu y que vens atraz , feras a fíringa
dcftas brenhas ; e para o feres com mits pro».
priedadc , deixaste ficar mais acraz , pois a'
pczar dos cfguichos de teu rigor , Hei de {pt
çonglutinado raboleva das tuas coftas.
paraSevadUbd.
D. Clor. Cavalheiro , fe he que o fois ^ peço-
vos , me não íigaís , que mal fábeís o peri«
go , a que me expõe a voffa porfia, pârã D. G.
J). G. Galhardo impoflivel ^ em cujas nubladas
[ tMagerona. 190
esferas ardem occulcos dous foes ; e fe abra«
za patente hum coração ; pcrmícti que efta
vez feja finíèza ' a defobediencia ; porque feria
; aggravo dé voíTos reflexos ncgar-lhe o inteiro
' culto na vifuaíidáde deíTe efplendor ; porque
[ ' alfim j formofâ Ninfia , ou hei de ver-vos , ou
[ feguir-vos.9 porque conheça, já que nio o
l foFdeffe oriente , ao menos o. oriente deíle foi.
[ 2). Clor. Que ícrâ de mim , fe efte homem mè
feguir ? ã part.
. 2)r Mz. Jà parece teima e(Ta porfia : vede , Se«
nhor , que íe me feguis , que impoílibilitaís
o meio para vcr-me outra vez.
- 2). F* Para que são , belliilimo ' encanto , ttíes
avaros melindres do repudio ? Se já comecei
a qocrer-voy , como poflb deixar de feguir^vos i
. Pois até não faber , ou queni fois , ou aon-
de habitais , ferei eterno gyrafol de voíTas luzes.
Sevad. Ora baila ja de porfia , fenão vou revi-
rando, para Simictípio.
Stmic. Tem mão , Sargeta encantadora, quà
com embiocádas denguices feita papão das al-
mas , encobres olho e meio , para matares
Sente de meio ólho : efcufádos são efles efcon-
erclos , pois pela unha deíTe melindre conheço
o leão defla cara.
2>. Cl(»r* Ido já parece teima.
D. G. Ifto he querer-vos.
J>. Ni%. líTo he porfia*
D. F; He adorar-vos
Sevâd. Iflb he empurração.
Simic. Angora ^ ifto he bichancrear , pouc«
aãíãj 00 meãos. D. G%
^6o Guerras io Alecrim i
2>« G. Senhoras, para que nos catifamot ? Aíh-
dá que pareça groíTeria não obedecer; enten-
dei c^ue a nofla curiofidade , e amor n&o per-
nitcira que vos aufemeis , fem ao menos oôm
â certeza de vos tomarmos a ver , dando^
nos também o feguro de onde morais ^ para que
poíTa o noíTo amor multiplicar os votos na pere«
grinação dedes animados templos da (brmofiinu
jy, F. Eis-alli , Senhora , o que queremos.
Sevad. Em termos fem tirar , nem por.
JD.Qor. Pois , Senhor, fe (õ por ifio efperais.,
baftará que e(Te criado nos figa ; porque .de
outra forte defiruis o mefmo que. edificais.
D. G. E admittireis a minha fineza ?
D.Oor. Sendo verdadeira ,v porque nio }
J). K Admitireis os repetidos facrificíos demco
amor ?
D. Niz. Sim , fe for amor conftante»
D. G. e D. F. Quem eíla dita me abona ?
J). Niz. Efte ramo de Mangerona. pârâ D. Pm
J). F. Na minha alma o dcfporei, para que fempre
em virentes pompas fe oftente croféo d& Prima-
vera.
D. G. Mereça eu igual favor para fegurança da
vofla palavra.
D.Clor. Efle ramo de Alecrim ,que temas raízes
no meu coração , fcja o fiador que me abone.
D. G. Por único na minha eftimação fera eftc
Alecrim o Fénix das plantas , que abrazando-
fe nos incêndios de meu peito 9 fe eternizar-
rà no ícu mefmo ardor.
Simic. lílo he bom, fegurar o barco } mas a.
lad-.
i Mdngerottá. ríi,
tácita hypotheca nio me cheira muito digio
\, o que quizerern os Jardineiros.
* D.dor. Cada huma de nós eftima tanto q^al-
[t* quer deíTas plantas , que mm fácil fera perder
\\-- a vida , do que ellas percão o credito de ver-
> dade^ras.
•- Simic. Ai ! Baila s bafta, já aqui não efláquem
^r :' falfa^ji : voíTas mercês perdoem , que eu não
. . fabia-que erão do rancho do Alecrim , e Man-
. gctona : refta-me também , que tu cofinhei-
laíinha vivas arranchada^^om alguma ervinha ,
qae me dès por prenda , pois também me que-
ro f^^urar.
Si¥âd. Eis-ahi tem efle malmequer ^ que eftehe
o meu rancho; eftimeo bem , não o deixe
•murchar.
Simic. Ditofo feria eu , fe o teu malmequer fe
murchaffe.
2). dor. Pois , Senhor , como eftaís fatisfèito ,
'dcfejarei eftimafleís eíTe ramo , não tanto co-
mo prenda minha , mas por fer de Alecrim.
D.NizX) mefmo vos recommendo da Mangerona.
2>. Gor. Advertindo , que aquelle , que maiéfcx-
cremos fizer a noíTo refpeito , coroará de tri-
unfos a Mangerona , ou Alecrim , para que
fe veja qual deftas duas plantas tem mais po-
dcrofos influxos para vencer impoíliveis.
Z). Niz. Defejàra , que uriuntaffe a Mangero-
na. Faife.
2). Oor. E eu o Alecrim. Fai-fe.
Sevad. Cuidado no malmequer. Faifc.
Simic. Cuidado no bem^mequer.
i6z Giãtrras do Alectim ,
^>2). G. O' Simícupío , vai fegíndo-as , pirá faber i
mos aonde moráo ; anda, não as percas Je vifla s
«r/miV. Elias já Ti vSo a per(}cr de vifta filiai i
cu pelo faro as encontrarei , que fou Uiidi
perdigueiro para eftas caçadas. - ^^^'fi
D. F. Quem feráo , ainigo D. Gilvai cl&s tàk
mulheres ? ."ti"'
D. G- Etia perg;nnta não tem repofta , pois befll
• viftes o cuidado ,.com <jue vendarão ;òròfiD|,
Í>art ferir os corações como Cupido ; msispe^'^
o bom cratamen^ , e aceio , - índicão fer gcft»: -:
te abadada, ... -. ..i -
jD. F. Oxalà quéiiíltm fora , porque àm tá
cafo , admictindó .t)s -meus carinNos ,/i{Kxterei
coçn afortuna de efpofo fer, meeiro oóicabedil.
D. G. Ai, amigo D. Fuás , que direi ça.^f que
ando pingando, pois já uáo morro de- fonte»
por não ter fobre que cahir morip ^
JP. F. Elias forão atordidás com palânfrciriaú
Z).G. }á que do mais fomos fammtos» ao me*
nos íejamos fartos de palavras,
Sahé Simicupio*
Símic. }à fica aiiinaUda na carta de tnarear co-
da a Cofta de Lefte a Ocile , com rens ca-
chopos , e baixos,
D. G. Aonle morão ?
Simic, São as npfías vífíihas , fobrínbas de D,
• : Lanfcroie , asjQ^ÍIe mii'teiro velho , que ?eio
das minas o aiino palfáJo,
. 1)../^. Ba III que sâp elTas if Por iílo ellas cobri-
rão o rofto. .
Simic. líTo tem ellas , que não são dcfcaradat ;
SimU. Válha««c o diabo , que' me dcitafts agut
nâ fervura!. Eu não tenho mais remédio que
aquictar-tne 5 . fenáo virá como remcdio â^m
páo (anto^ fobrè mim. ..ápârt.
• J!^« Seoho^rcsy elíe éílá mais íoce^ado depois
.da.aeua;.venbãò jantar que ameza eftàpofta.
2). L. vai bufcar o meu capote y c cobrço-o ,
que. eftá çreiAendo o mifcralvavel.^ -1,
. Simic. He macavilba que bum mifei^vel >cli|>ra
... outro« . âpatt.
: 2)* T. Aquillo sSo convulsões , mas bom he co-
•^;. (brUlo pt>!f amor do ar. , i.
4RiAe Fagundes com hum capote.^.-
: f^^ Eisnabi o capote; feelleo babar ,babadb:íio£{rã;
Simic* Anda , tolla , que nio me babo. ^ thpart*
J). L. To i Sevadilha , tem fentido neftc hòmèhi ,
em quanto jantamos: vínde^obrinhe.' «f^ínfe.
Z). T; .Vamos » que tenho huma fdme horrenda.
/. ITdif^.
X>.Niz*Jit sfálante figura o tal meu primo. Véá^fi»
D. Ci!0r.' Fi^uodes , agazalha efle alecrim^ 1
Fag. Tantome importa .;. fe fcra Mangerona ,
ainda ,/aindafc ftãirfe.
^ Seyad. Soiíík». .me faltava ). ficar ç.a guardando
. a efte drfunio ! . . -, hiíí"
íf/wíV. Vejamois quem he efta Sevadilbíl ,rt|ue £♦ ia
cou por .minhíi enfermeiraw Ai quc/ fu^ponho
.. que hera mçjiina. do maloiequ^ ^ ;<\viçik.tXflz
hurti no cabçllo ! Vamo-no» erguendo ,; por
ver ra:,Do$-*c[ucr bem', • ;. •• ITaf-fc erguendo.
.Sevad* Dpite^fe í dpire-fe*-* Ai que -o homeai
tem frepfiftí ! AcudiQ^cít -.;/ ...
176 Gumâs lio jilicrim , '
' Simic. Ctltc , Sevtdilha , nio fferti^ibés efta pri-
< meira occaíiáo de ineaamòr.
: Sú^ãã. Deixe^fe cftar cabertò.r ^ ■
^*Sknic. Bem fei que o calafrio' dtf n!iea'amor
. he tio grande ^ que fe pôde <sc4>fif *'cliam6 d^El'*
.r Réi'^ mas confeífo-ce que ja nio- polTo ^acurar
• ' :ogravamen defte capote; "^ i *
Seva. Ai que ofaòmem eftà .touco jiciíiriofo!
Simit. A fúria com t|i|e teaufencaSy tHe £12 eu-
V louqúecer : não fujas, Sevadilha, qoe tufou
; aquffile fujeito do malmequer^ #>^o- fajttca
aos teus impérios > que foa -himi criádò de
vofla mercê. ^ > . '- >■ • •
.^Sevad* Eu te arrenego, majdito homem t Tu
• ^C8o dcfta manhã tv.
, Simc* Cuidavas qae não ^avia faber buicar
/^ modo para ver-te >
rSivdd. Queres que và chamar a D. Qolísy
.,A;ou D. Nize?
Stvad. Logo irás chamar a D. Ch>rís> nias pri-
meiro actende àchamma de meu amor , que
fe o fogo lem Imguas , e as paredes tem oo*
vidos, bem pôde a dura parede de teu rigor
efcucár a levareda em que me abrafo: mtríta
coufínha te poderia eu dizer ^ porém a occafiáo
' f*^ nâo^ he para iflb. "
Sevad. Nem eu eftou para eíToutro»
Simic. Eu (f diflera , que o teu malmequer nao
hc para* menos*
SèVãd* Nem ã tua pefloa he para mais.
Simic. Pois iíTo hc de veras ? Olha qõe defconfk).
Sevad. Bem aviada cftou- cu! Bom amante te-
nho!
.lÍK»! Boniicr.cras m mu aturai vime aiínoí
4e defprezòs^; como na muitos qqe aturáo »
levando com. as janeUas nos narizes y. dor-
' ntirtdo feias cfcadas i áturandjO calmas ^ fof«
^ - freodo geadas , apàrando-re. em Romances ,
dando defçances , feitos cÃaclias de amor iioi
lempfo d^.yenus j e ^òm todo eftão âiof
conietite^ ái íua vida \ e .^^L&n para ofxt me
bnfcas í ,
Shnxc, f arsf qbtf ihe deleng?ines , w me quéí-
rcs, otf náo.
Se^áA, Peiígunta-o ao malmequer^» que efle to dirá:*
Smic. Se eu o tivera aqui , £íi;eia efla expck
rícn^ia. ^^' ,
Sâvad. E/ aoMe eíta o qtié ei| te dei? .
^rmiV» La o t^nho empapelado ^ ^ue cui4o^ qjoe
o ar mo íev^
Sevaâ* Affini fc. lete ò diabo^ . .
Jimic. LeWâ que he muito capaz díffo^^ Pots em'
que ikamos? éem me queres^ou mal me quere$ i
Jevad. Apanha aquelle malmequer , que efiá jun-
to áqueUa pona ,• e pergúntalho , que eilc to dlrà.
Sintíc. Pois acafo na^ iloíhas. do malmequer eftáo
cfcríios os teus amores ^ Oit es teus defdcçs.}
Sev^ãy Da mefma forte que a buena dícha na
palma da mão.
Simh. Eu voi> apanhar o dito malmequer. . Vâirjé:
Styad. Qiíem me deia q»ie ficaflc cm malmc^
quet., para o fazer andar i prática!
Sabe Simicupio com hum malmequer.
'Sijmic* £i$-aqui o malmequer:, ora vamos aiflb;
. que fe M jSorCf ^uc são d<f(e^^júÍ9 da yít
xyB Cuihds ■ do AUctim ;
da , cfta o fcrà do «mor.- Sevadilhâ , 'Mtoa
fcntído , vè fefica no bem ' me quer.
Seyaá. Irto hc como humà forte:
J^ím/V. Queira Deo$ não fe converta o md me
' inuer em azar. Tem fentído , Sevadilha : tfttor,
;' íc fahe a coufa como eu quero^ eu teprotiiec-
to hum arco de pipa , e hama vtfndi boi
Komolares cm que ganhes muito diiiheiftk
Canta Simicupié a Jeguinte
■ ' '■'^■'■Á RIA. j:'". ■
Oráculo de amor
Propicio rrtérefpondé
Nas Eneias <}éftc ardor
Bem me queres , mal me querft *
Çem me cjtícres , mal m6 queres ^
Mal me queres , diíTe a flOir.
Al de mim ».que me quer mal
Teu ingrato mal me quer í
" Acabòú-fe o meu cuidado 'i
Que mais tenho que efperar >
Vou-me -agora a regalar j
Levar boa vida, comer, t beber*
Sabe D. Ooris.
4^3 2). Clor. Oh quanto folgo , que jà eftejas bom !
'Simic. E tão bom , que 'parece que nunca ;ive nadaC
Z>. Clor. Com que farafte í
Sintie* Com o mefmo mal ; porque também ht
- males que vem. por bem.
2). Clor. Que dizes , que te náo entendo í Ef«
\á$ louco ?
Simic. M^u ^^^ ^'*^^^ ^ ^^^ ^^^^ ^^ ^ ™ ^
' iteídc ^w tt vift fdDwk. por maior ,. «» f»^
* ^JlhS ; % ' ífHth,' pata íignífiç^ritc a treménfiffiiiík
/ leSficíiclá dçjfcu amor j acjui'^ me manda ^;i.çcus
''''pés";Í*'mÍ'n^p/ao'? reu ácçnios , para que cóm
<6s' âisfirctf5*áo''AÍccrím poffa merecer os teus
..agradoSf.. ' .
jb, Õbr. ScvaÃlha ^^ pôcrn-tç a efprcitar haò ve*
nha^,^&u.Cfn* . '. ...... r .,v
Sfevaã.' Sim ,*Sçp1ióra. Arçelá com o ardil dd
homçn?'!',; J. ;. . ;; . t^Ái-ptl
l).Úàr\^['i3fizm he ^ffc leu amo, que tàhtà
me adorá'r ' ," . .
Simic. tíc Q Senhor d. dtilvaz cavalheiro de tSo
lindas prendas , cdino w<r|^f graua. Londres ^
e Paris. "
D.CIor. Que famcio ; rcni V
«RmiV. Ha de cer hutn de detuhcos' quando morrer*
jD. Clor. E cin quanto vivp , cm que feoccupa?
Simic. Em môcjCAr por volla i^érçi^. '
wp. dor. Falia á propofito.
«Sím/V. Senhora , meii[ aipo nao nccèíEta de o(R«
cios jpara mamer os feu^/iblífa^ps , porque ceai
yârias prj[ipjucdadcs,çojmfigp^ tnuitÒ boasi aléfa
âiflo iàin hujiía quinta nâ"fcm2ina , que, fiei
j/intre a, qui^rta., e a fcfta ,.;tâo grande ,jquc
'hetiecelíariò vinte e quatro horai para íe^cór}
jef toda,' ' . j .
jÒ.'àoK Quanto fará joda jàffcni^ ?
éSimiç^ Náo, fc pódc íaber ao certo ; feí >qi|t
' íçm yarW rendas cm Fhndes^ J^ oufc^s em Be-
. fiíché , ■ ç eftas bem gtoffaí ; itam^pm cem. hiun
•foro dÊ édalgo, e humirjurq^ dç.ftobrc2a# .. :
D.,.C/íJr. Bafta que h-è fâalg^^ .^ *"
Mii »•
'** •'!
^ipt, Gíênrâi , de^ AUcrijn »
Sevái. Como mo ka díê cirar.dp corpo
o náo .tenbo^ ':'" ' "' ^ ' \ . ■
D.L. Dcfta forte. ';«'>'
Oin/io 2). Lanferote , r SévdíUbét d fetuiiu'^
. ÁRIA A Dií O.; : ,r
2). £,• Moça tonta, dcfcuiJada, \ /
Sfv^d.^ Ha mulher Aiais áéígraçáída ' .
" * ' Ncftc^ "Ç^^^^Pr i Não ,'"náp. ,hat ' . -V. ^
2). Z. ' Sc nao das o mea capote*, '. "..' ^
Tua capa hei de ràfgar. , . * • ,í
Sevaã. Não me rafgue a minha ;.'cãpa. ']*
D. Z. Dá-me , mojrag^ p níeu''capõce\ ^ . '^
*V4<Í*.. Minha ,c?Pá.J*":;;\ • •' ' '.''.: ' /• \[)
JD.l." Meu capòrt.-'"'' ..' ,.,::/'■'" ;■
jímbos. Trata logo de o. i>agaL.r., , . ^ .;j,
J).Z. Meu capote aflim furtado.;. ,V: . :
«Tev^í» M^:u. adoçijp. ^(Hm ^raígado,? ^ ^ i .
Jmífdu Que' dcfgraça' ! ' ; ^ j.' J^ . .;
Meu capote* dc^yí^rf^f-^. ■- r^-Jf^
. 1ipanháríó'na eiVípreíi. jvl/ií^je^jjfij. iqupW
Simic. Lá efltà biim vulco , .ei]p£|uçado no mciò
do caminho rj. queira pççisQâ^ inc cheguem,
20 vulto ; náofei fe/tbrnê 'para traz ^ mas
peior hemoftrar cobardia i. ep. faço das. ccipas
coração ,^ vou chçgmdo , m^ fcrppre dç Jooge.
X>f G* ÉUc .íç vem chçgâa3o,^i '^ , èu cçfiícílo
1^ quç não eftou. iodo tfi^. • ; ^. ,.-;
^fimic. Efte hoR^em não e(u.^í,paTa.Vom fíttt ;
eu finjo-me v^enie : aía^*£e; la.^ déixç-mc
paliar, ai ias o^paflareiu, .^. :•
D. G. Vofli mc^cà pode JpaiTa^ . .\i\\^
Simic. Ai, que. bc D..,(jilJ JRois a|;orf;fc^rel
com que mçjtenha ppi v^ioxofo. .Qy^^çfii
. ;ihi; Falle» qúaodp. f^S^Q^jic^fiç^r(^^áçCá'.yi'-
..da, quCyp iMndo j jurava puçra^.. \^ .^
í). G. Primeiro pícfderáa,Írua,^.à?cra me intçn-
^^ta^reçQn)>ecer.'^.; ■ /"Xj.u.. .^r ; .-V-.í
Simte. Tenha mão. Senhor @. Gilva?;;;i^què
fou SimiçupiOf.. , . V ■" fr :..: ..: í .'.. S:.
X). G. Sc não/ íaÚa;5 , talyjb;^ q$ii^ .ag^açÂie. f^^^
,..hiílc çarí|^^f.,> . -^ ,.\-.,. ^ ' . .! .. :../ ,1
Sintic. Igual voflTa mercê, -qyiq ie..Okpão:;^CQi>he*
ço pela voz, fem duvida , Senhor D. GiíváJt^
ik<^P^k^,9í>^ 9 f« noinq >n?ij,^*i • [..^^,^
D. G. Deixemos iíTo , dànsnc; jp5^as«deJXC)o*
risj dize,podeftc dar'-ÍW;o r«í^4p'í»5 .-^\.^
Simic. Náo.Xabcvqwft í^iífso.gc^ir-.dos àfcovitci-
.:/íosí Çuiij,. ^^, e vfiVifÀj ,b kc-.v :::.^ .v-AT,
J^.C Dá-me hum abraça, meu SimicHpipirjff
^imic. N^í>?flVW^>brai8ps,ifi^l^a.^s»^^
.-fcnâo.^ea«Bjí^esi. çefflar.QçíiçiíOí.;,,, ;5^ --.,..
'i84 GueArâi fy Aeeffm »
2). G. Em cafa tas dácei : cotiu^me ptiAÍeirQ ^
qoe fazia D. Gloris ?
Simic. Iflp são cbntos largos » cftávâ toda rodea-
* da de brazeiros de Aiecrim , coni huni gran-
de molho delie no peito , cheirando a Rainha
de Hungria , mafcando Alecrim , como quem
inafca tabaco de fumo ; e como acabava jè *
jantar , vinha palitando com hum palito dê AleK«fi
çrim , e finalnicff^tê , Senhor , com a Aleerfaé.
anda roda tão* verde , como fe tivera tiricia*
jD. G. £ do mais ()ue pa^afte i
ilfimic. Iflb hc para ípais de vagpr , bafta qoè
: faiba por ora , que apenas lancei o tnzol no
mar da íimplicid^dè de D. Ciorts , picando lo-
§o na minhoca do* engano y ficou engafgalha-
a com o engodo- de mH patranhas , qúe Uie
encaixei à mio- téiite.
J)* G. Inçrjvcís. sio as tuas habilidades i e que
capote he cfTb ? ^
SimiC' feftc hc o dclpojo do meu triunfo \ jo*
' guei cont o velho os centos, eganhei-lhe cf*
te capoto ; e íc voíTa mercê íouberji a . virtude
qué'cHe tem , rãlmaria. • ' '-■ '
P. G. Que virtude tem?
Simiciit hum grande, remédio para Tarar lecH
''dentes de' gota coraf. *•"
J?.C Çontà«mé fíTo. "\<
Sabe D.FHâs embfi^àiò.'
^imie. Fallerpos de. ihanfo ,- que ahí vem hãm
homem, j • . • 7 '1
S). E Eíla ht a-jatiêna' dacofíhha dè Ò. Nize ^
jsuc^ã pe2ai^'4ã ofcuridide da^Whb/a eoVihe-
c^
' eé o tneir iloftinâo pelos efiluvidf odoríferos ^
que exhala a Paticava chqóella Fenix; -
2). (7* Simicúpío ^ hum homem ao pé^ da janelki
de D. CbrÍ8^. íAo niome cheira bem.
J*/m/V« Gomo- lhe h» de cheirar bem , fc ifto
aqui- he hum monruro ?
AppàHtt FMgunãts ájandhu
Fâg. Cé, |ie voflTa mercê 'meímo ?
2>. /% Sou eu mefmo y e nSó outro que ímp|«
• cfence efpero novas de meu bem.
Z);(?. Não ouvrfle aqi^llo , Stmicupio? -.
Sinác^ Aquiilo he que inib chetta bem, %^
nhor D. Gilvaz* / ^ .
Fãg. Nâo bafta que voflTa mércè diga qínfc lie
• meímo ; he nectíTario a ftn^ 3 e a contrafeàhaK
J>. F., Pois atendi*
CfifM XL Tuâ% oljigkinté : '
MINUETE..
' ]à ^e a fòrttóiâ"' ■ ' ^*
Hoje me abona |^
AMangerona- *' - ;* ">-
íDufro exaltar.
-f^Nõ feu trítihfo' ■ ^^
Que a fama eàeoti; • • ^V
■ ■ Patma ,; e coiPoi' .* ''"■■* " ' '' ' "- •'• •■-
Ha de levar.
Hu àè por c^Oa. '■■' ' V^'
■ -.Oufe-^fua^raraè'^^*^^ " '''- ..
• Ni- vez dafeha'-'" - •■ - •' -'^ '■
■■ SS?nfipré-andâ*4i • ^- ■■■• • -- ■
fkS8 Gftéifás ãp AUéflm ^
SAf JS. Nizé. ; ' .
J>.Niz. Que ruído hc efte , FagiimlfS ,^. ' ^^
D. /% Sinto, Senhora Dona Nize 1 que tprF-
meira vez que mé facilicais cfta iorcum » m^
Iloípedtís cóm 4Eélos, /
D.Ntz. NSo fei.quQ moei vo|ia)a para o8 haver:».
JD. /*• £fte Senhor mbuçado , que aqui me yeiBB
i feguirido ^\ c àiz que procurar o mefroo qií&
eu bufca
Ti.Níz. Sabe elle por ventura o que vó^pi^opiraíf |[
D. F: EUe qiie diz que fim , cerco he qiie o isiikm
Jp.Niz. Senhor'^ vâ$ acafo vindes aqui & me»
refpéito> " * fâUD.Gít
'A ^v, Nada hei de refponder. . V. ^ V0f^*
JP'.. i^' Quem catla' çonfente: ' nSò. ^yçrigaõBõf
' ' Tnafi , Senliprá Dona Nfze , fó finto qúe á foa
Klangeroná .tdttictã'. enxértof dè outra .planais,
^'iNh, í^e he o pago due me dais, db'i3«
mitiir a voíTa correlpondcncfa 9 de oí>rac^êae
* çxceflp a Vóíío refpeitò , ç dçme expor tA
« te píírfgó põí Voflà caúfa'> ' • J . ' ■
jí:jP^M%\hoT fprà ^efcngWr-me y que.eflaéi?
^" a mçlhbr fineza; '^ue yc^-^poídía 'm^^
3>J7VÍ2- PoÍ5 çu digò-vbs , que cí^' Innòcèn-*
* 'it\ que rvíò cíinhíço, cttc nbfftcftt^ àlnÍB|^*
. íçcc que baíh dÍ2eÍlo i^ara '*roé';acr
7?. 7^. fi bciftava yércu 6 çofterjírjÃ^^
" àcredKár cíTij tícfcalpás- ' ' * '" "
NÍ%. Pais víftoViíTo, fidíi'tiiÍioí^c0Íã^ datttcs;
-tv <,
C«a-
Supp6n1ia , Senhor , ' ^
Qu^ ndnca me yío, . *
£ que be o íéii ámof
Aifim como a jBor ^
Que apeiiss iiafceo,
£ loçp murchou/ ' ^
Poi$ tanto me àk
De feu penctider^ " ,
Que fimne fupponhd
^ !{cria algum fonho»
Que pòiico durou. rdhjpf;
J>. t. Ni2e auel , iflo ainda ke maior tyniti^
nia \ efcuta-me. Vãift^
tág. Vá ládar-lhe ratUfaçõet , que ellá hébo«
fiita para edás graças. Evoflfa mercê , Senhos
rebuçado ^ a que nm quiz profanai o(a^a4b
^efta cafa?
J). G. A vct ú bem que adoro.
Af . Vofla fhefcè eftá zombando i Aqui nfo
ha qi]em'i>p(ra fer anuih^dé voflâ hiéit^.j^
pois bem ,y^. d. recato , e honra .defta caía. '
2>. G. Eu beíii vqo o recato:, t honra defta cja* ^
(a* Que ? Aqúillò de Aibir huin homeiti'jáit
huma )ánç11a,).èhic-fc para(ícnilbatra2 dehp^
má mulher , liáó he tuda i
fdg. Aqueileliòniem he primo carhal da Se«
nhora D.íííze. ^
to (ia Sen^íáírí t). CIdfl8Í\)W*ftjra-inc o fii-
vor de a hir chacnar. .
F4g. Que diz ? A ,§çnhc|ra D. Çlorijí Olha tu
la D. Cloris nSd 'íc enganes ; fim. ,a oam,
que anda cubertaf cie cilícios ,i jejuànao a pio,
e agua; tire daíiJ ò^fentido , meu penhor.
D. G. Sc anão fofesqhamar,^ a hiréi 'iu buf^^ ,
Fag. Ai Senhor, voíia taerc^ tcni átganu Ifr '
giáo de. diabos np corpo' i È que jremedio t^
nho fenão chamatla , antes' que p homem \
faça alguma afneicà. que elte itin cara de a^
remeter. , ■ .; . ,^ „ • . . -> ^^'-/í-
JÇiiÇ#^ Venha logo '/que cu^ titó poflb erperat
'''mdlto tempo. A vêtha quéfíã^oorrraje : oafta
que lha dê J), Fuás. . ,. ^
Sdhe D. Oeris, / ; . ''
3). Ooh Senhor , vpíTa mercê cjuc penindô
,^ com tantos excefros? A quem pfocurá? ;^
Z)t G. JEu , Senhora D. Cloris j foiiO. Qilvâi ,
''"Sii^uélle Impaciente amante 'qu^'iftfopél)anflo
impoílivcis vem , qual faUm^drá de .andor ^i-
. a . abrazar-fe nas chammas do/feii Alecrlõa^t
\ comq viélimV da mefma cKarhfna.
2). jC/or. Senhor D. Gilvaz , conip entendo o
' íeu amor fô féiencamihha ao Jidío jiGm. dc.fej^
^ méu eiporo , por líTo lhe facilito os nie^ir
^agrados , mas não iSo francqmçTiiic , que pri-
, Dneiro hão haja dè e>k]perimétiéar no çllfotda
.Gon(]lancia^os raios do fcu amO|r;/ '
jD.CMuT' póucò conceito fázets ãâ voíla hU*
Jezji.i P9's (ip^ fintes de admirar e(Ta fòrmoGiia^.
cín''õccu^^^^^^ foubtíftífíiflWiirnô-*
'^ As»
rar o ináHiPpãnctitd déferfcrçio* ^ 'pòdl^a
haver em^ff^iiiçi^oiicr^rcuidado mais qu? o
de adorar- vos com tão immovel conílancia ,
que primeiro fe {tioveráa as^ eftrçUas fixas »
que f6)S<) eà^ncesas mífiKàs *adoríiç3es i
D. dor. líIo-Kfè deveras^ Schifeí D. Gil í
D. G. Se 6u«bttfrrD dê verás, como hei ãc&I^
lar zombandól* • ' •>
SO N %3C Ov .^
Tanto c - quero i' a Glori- , fánto', 'tatiá^' ;
E tenho nefte' tinto tanfò tcttcoj v''í
Que em cuidar qiie te per^ /.me efpaVènto ;
E em cuidar quf me dcixis , me ataranto.
Se náo fabès ( ai Cloril ) ov^anió o (fUaato'"^
Te idolatra rendido d penfamtfnto , v • ^^ ' •
Digão-to os hieus iufpírt)! êeiko acenar;: ^
Soletra-o nos meiss òlh(« pranto a pranto^ k
Ohr qoem poderá- tóbra'cíiicartfcertc * ^''*
Os exqQÍfiro mocfos de ^adéi^rte
Que ânior.fôcito • inventar para qi^rêr^e -h • ^^^
Ouve, Gorí; mas não^ <qúe heide aduftárte ||í
Porque bicai ò meu incêndio , que aodiaEemí^
rFicáfás Qir'^t^ de abtazarte;
D. Oor. SenKiÀ^rÔ^ Cil« «rTiá^
encarecidas.^-pètden} %■ efl^o^çiftr 4^^, verdaciei*'
tas; que quem ^cèm a Ip^^ tio folta para
os encarecimentos , terá" pré2a a vontade pa*
ra os extrem«*r- -'
X>^ CL Coma ha de haver- cSêMrienoiaf íia mi*
1^ óun^K JúAlwufif
UiV» cenftancia^ fefSo e$ fttcccíTg^ 4e^ intuiu»
énwnB fl/i chroniftat de mçu amp^
<»nta t). Gil ãfeguimc *
Viftc» O dw, aÃ^.gigame^
Que procura firme , aroame , ■ \ '
;. rSe^uir fcmpre a luz.do^Splt \ ]
t)efla fone, fem deúnaios*, i
Sol '^ue gyra são teus niíot-^
E meu peko JGryrafol.
Mas ai y Glorí , ^nt a luz punt
De teus raios mais £e apara.
^ Uc nieii .peiro no aifol.
íDk Úí>f.' Ceda , meu bem , de encarecer-me 9
teu amor ; )á fel são verdacjeíras as luas ex*
prçfsões. Oh fa ^u tivera a fortuna que ef«
fasrvozftS as não levaíTe -o v«nto , para aug-
menc^rr com ell^s a força de fua Incondancia !
Sèibt Seyadilba.
Stvâd. He bem feiro ! Ht bem empregado Í
d&. Cltít. O que , Sevadilha > , ^
Sevâd. Ó Senhor , aue ^fiá acordado.
JD.Clor. Não podejcr a eflas hoiai ; n^ te
creio , que és huma medrofa.
Jtvad. Fallo verdade, e não; mmc«* a
€kmf Sévâdilbá lá {iguinH
. . A K 1 A.
Senhora , qUe o velho; ,
5e quer. kvanur !
/'êMangireiuk tp;
. Mofina de mim ,
Que ouvi efcarrar $ .
Fallar-, c toffir !
Senhor, váfc embora, para D. G»
Vá já para fora.
Senão o papão
Nos ha de engotif*
Fdg. Ui , Senhores , ifto hc cotifade brmco ? O
Senhor feu tio eftá com tamanho olho aber-
ro , que parece huni leão , que efíá dormin-
do ; deite fora eílc homem , e vcnha-fe ag;a-
. zathar, que iá vem amanhecendo.
.2). Clor. Pois deitem fora a D. Gil : meu bem ,
eftimarei qujS as fuás obras correff oadáo ás
fuás palavras. ^aife.
Sabem D. Nhe , e />• Fuás. .
IX Niz. Fagundes , encaniinha aD> Fuás., que
meu tio eftá acordado*
D. F^ Ainda o ^mbpçado aqui eftí i He para
ver^!; Ah <:rucl I 4 farL
D. Niz. Anda , Fagundes.
jFag. Senhora , que não ha efcada para defcerem.^
D. Niz. £ aquella por onJe fubu) aonde efla ?
Fdg. Empurrei-a com fatia) homem j ^ue. tam*
•bem queria fubir ,, h^^
D.G. Óevia fcr Simicopío» ^ fdrt.
p. F. Pois como ba de fet^ .\
^ev4Í.Não ha mais remédio que faltaf pela janella.
JPãg. Mas vcjão náo caiáo no alfuje.
2>. G. Em boa cftou meijdo \ & pa-U
D. F. Aonde eftá a chave da porra ?
Sfvad. A chave tem guardas, c eftá aeazalha.
.Tom. IL N à^
da no travefleíro do' Vèlhò i ptír'hto dormir
n^uma porta. c .1- !v! ; >
^•,Z^ Fagundes^ venha- àbrír eíla jàftcila que
*'• já Vem amárihectmdò. ■ ^ Dentro*
Fãg. £ís-aqut voflâs mer^ o que qiifzerão !
D. L. Fagqndes , que fa2 qité'nio vem ^ Dentro.
lãg. Eftou/cn[xotandò"d''gato dà vffmlia : cape
gaio. Senhores efcondío-fê aondcf' biJ -f
j). Niz, Aí que def graça !
• I>. X. SévadítKa , quê hé jílo I& í : í Den^o.
Sevad. Hèò gaco da vifinha, çape gato. Dentro.
Simic. ÀbrSo a porta qut' fe qbeimá a éáfa \ fo*
í|o,fogo-^- I * tkrttro.
Isg»^ Aí que ha fogo ná -cafa! SSo Már^l. .
D iVíz. Eu cftou mortal ' ; í »
D. ClTor. Ai que fé queima a Icafa 3 que deferaça !
D. F. Peior he cfta ! {^Subt.
jb.G. Ha horas minguadas!
Simie. A brio a porta , que 4)á fògo 3 fògò. Òentiro.
Sevàd. Mofina de mim , que ia vão os- meus
tarecos ! .- ./ ...
Simie. Não ouvem -? Pois Ia vai a porta pela
porta fora. ■ Dentro.
Sabe Simicupio eom bumã quarta â$ éofidt , t
ao me/mo tempo fabe D. ÍMferoti Wí fral-
da de camiza , e D. Ttburcio embriilhaSo
em btém leriçol , eom bmna eandeia de garéh
vaio na mao.
Simic. Fogo , fogo.
Fag. Adonde he, meu Senhor,
D. T. Que he ifto cá ?
D.L. Fogo aonde-, íe cu não vtjo forno?
SimiCm
, ê MMgifMM: 'fp5
ilFmfV; Como ha de ver ò fiimo » fe o fumo
faz não ver ?
D. T. Aqui me cheira a Alecrim queimado.
2). L. Dizes bem : Clorisj accendcfte algum
Alecrim >
D. dor. Eu , Senhor , nSo « • « foi • • « porque
rem(>re*«...
2>« ^ Caílate 3 . <fOé eu porei o Alecrim com
dono) ha mais mofino homem ! Lá vai o fuor
de tantos annos.
Shtfic: Com elle podia voflfi mercê apagar efte fogo.
D.Gi Eftoa admirado de ver a traça de Sinoi*
cupio ! á pátt^
D. T. Senhores, acudamos a ifio,t)iic fe acaba
• a torcida.
D. Im Vede, fobrínho, ainda alfin) nSo feen*
tome o azeite.
D. Niz. Ai os meus craveiros de Mangerona !
2). CFor. Ai os meus olhos de Alecrim !
Fag. At a minha canaftra !
Scvdd. Ai o^ meus tarequinhos !
Z>. £. Aí a minha burra !
D. T. Ai o meu alforje !
Sim̀. Af com tanto ai ! Senhores aonde he o fogo,
Z). X. • Vejão voflas mercês bem por eflas cafas
aonde fera.
Simlc. Entremos y Senhores , antes que fe atec
o incêndio.
D. G. e D. F. Vamos.
Entrão Simicupio , D. Fu4s , e D. (?/7 ,
e /cjjo forwíb /f fahir.
D. Z. Vereis vw irampofinba , c^ua fim leva o
Alecrim. N ii I^-^^?* A
iptf, Guerras do Aíej^im ;
J).Clor.O Alecrim nio cem fim,que nmicâ murchi;
Sabem os três.
J>. G. Não fe aííuftem , que não he nada«
JD. F. ]i fe apagou , Deos louvado.
D. £. Aonde foi ?
Simic. Foi. no almofariz , que eftava ao pé da ifca*
Sevad. Pois eu não fui a que pecifqueí.
Fag. Pois cu nem no ferrolho.
Simic. Pois eu ainda eílou cm jejum.
J). L. Ora , meus Senhores , vofias mercês Éie
vivão muitos annos petat honra , one me fizerão;
D. G* Sempre bufcarcí occafiões de fcrvir a cila
cafa. Vãufe.
jD. F. E eu não menos. Fai-Jc^
Simic. Agradeça-nos a boa vonrade. não mais.
Fág. Se não hoovcíTcm l>oa$ almas , )à o jauib*.
do eílava acabado.
D. Cor. Eú eftou pafmada dofucccffo! ip4rt'k
D. Niz. E eu náo cftou em mim! ápárt.
D. T. Ord com licença » meus Senhores, qu^
me vou pôr em frcfco. Fai-fe.
D. L. Eu todavia ainda não eftou foccgado
Vio volTa mercê bem na chaminé ?
Simià Para que voffa mercê defcanfô^ de todo 9.
vazarei efta quarta nos narizes daqúelta velha f
que são duas chaminés.
Fafr^ Ai que me enfopou ! Senhor que mal ihc fiz í
Simic. H<^ dar-Ihe a moIKadura de cerra obra.
Di' L. Que fez vofTa mercê ^ ^
Smͣ. Deixe , Senhor > ifto he para que fe lem-
bre, e tenha cuidado no fogo que falcilmen*
tt fc rode atear por hum accidence.
jt MÃTigeronâ. ' 197
Fdg. Vou mudar de camifa. Vaife.
D. Niz. Tomara aproveiur os cacos para a mi-
nha Mangcron.u
D. L. Efta advertência merece efta moça , que
he huma defcuidada , que por feus deímazellos
me deixou furtar hum capote.
Cantão D. Lanjerote ^ Scvadilba^ Stmmpio ^
D. Cloris , e D. Nize a. feguinte
A R 1 A A 5*
2>. L. Tu moça , tu^toma
Sentido no fogo ,
Senão tu verás.
Sevãã. Debalde he o íeu rogo »
Que fogo fem funio
Nâo he bom final.
Simtc. Que linda piíhage
Num fogo (alvage
Oue lambe voraz !
r. Náo
D. Úor. Náo fente quem ama.
D. Niz. Não temo cffa cha/nma.
Jambas. Que he fogo de amor.
Z>. Z. Cuidado no fogo.
Sevad. Debalde he o feu rogo.
D. L. e Sev. Que fogo fem fumo
Não he bom final.
2>. L* Sentido , cuidado.
Simic> Quò fogo falvage.
Todos excepto D. L, Que hjs fogo de amor.
Todos^ Cuidado , poísi , cuidado ,
Que algum furor vendado
1*^1 mina tanto ardor.
ip8 CuenéU do Aktrim ,
PARTE II.
S C E N A I.
Prá^â. Sabem D. Gilj e Simie/fph.
Z>< G. Á Inda não, fei cabalmente apptiiH
/\^ dir a tua Indaftria < 6 infigtie Si-
^ ^ micupio*
Simícé Nem applaudír 3 nem agradecer , Senhof
a Gilvaz.
D. G. As tuas ídéas são tão impofliveis de afv
plaudír , como de agradecer ^ pois todo o pr^
mio he diminuto , e todo o louvor limitado.
4r/míV. Vifto íílo eu mefmo tenho a culpa de
não fer premiado ', porc|ue fe eu não fervira
tão bem , eAaria mais bem fervido. Senhor
meu , eu nunca fui amigo de palanfrorios ;
mais obras, e menos palavras^ eu quero que
me ajude a minha coma.
J). G. Pnra que ?
Simic. Para pôr-me no olho da rua y que ferêi
mais bem vifto.
D. G. Simicupio , nem fempre o diabo ha de
eftar arras da porta.
Simic. Sim ,. porquê entrará para dentro decafa»
Z). G. Calte , que fe configo a D. Cloris com
Teu doce , e arras 3 eu te promctto , que aa-
e Mangeronã. , - ippi
Simsc. Senhor , nâo me ande com , a cabeça á
roda -com eílas pròmeíTas ; era melhor que
os prémios andefltm a rodo. . . ..
Sabe Fagundes. '
Fag. Là deixo a D. Fuás metido n^uma caixa ^.
para o introduzir com D. Nize em cafa fem'
íuíios 9 como da outra vez ; tomara acKar
hum homem , que ma carregaíTèV
2). 6*. La vem a^ velha , criada de Dona Cloris*
Simic, Retircfç voíla m^ercè ^ e deixc-me com cila,
JXG. Pois eu 4qui te efpero. J^dife.,
Pag. O"^ Slhó i por vida vofla quereis levaMue
huma caixa ? ^ . . '
Simic. Com que achou-me vofla mercê . com
hombros de máriol^ > ' \ '
Fág. Pois pcrdoc-nic , qiic cuidei que era ho-
. mem ds ganhar. .
Simic. Todos nefta vida fomos homens de ga-
nhar j porém o modo he que defauthoriza.
Fàg. líío não era mais que levar huma caixa
ás coftas.
Simic. Pois fe nâo he maíf? d9 qi^e iiTo , emen-
do que náo eftc-jrâ. mal. á .rriinha pcíl<^á.
Pag. Qual mal í Antes lhe éílàra níuitò bem,
Simic, Mas advirta que ifto em n\im ruò, ,hc
ofRcio, hc huma mera curiofidade.. .
pag. Ora Deos lhe dê faude ; olhe , elfa' peza
pouco , c vem aqui para cafa de D. Lanícroie.
Simic. E de qupm he a caixa. ? ' .
Fag. He mítiha , que à qiie eu tinha , .coda fc
desfaz em caruncho. . .
Simic* Pois cfta àão (• liy^ar^ da. V^^S^9^,9^
200 Gfêerrás do Alecrim ,
intento ufar com cila. 4 parte. Vimos, Se-
nhora. Fm^ft.
Fdg. Ande , meu filho. * Féttfi.
Sãhe D.Gil.
29. G. Aonde hirá Simicupio com a velha } O
maldito nio perde occafião : com íemelhanie
jardineiro náo murchará o Alecrim de Dona Q^
ris^ porém elle lá vem com huma caixa ás coftas.
Sabe Simicupio com buma caixa ás cofia ^ elo*
go a põem no chão.
Simic. Derencomrei-me da velha » qoe ándari
tonta por mim. — - .
D. G. Que hc ifto , Shnfcupio ?
Simic. Náo lhe importe , i^á-fc enrolando , que
fe ha de mctter aqui derltro , e hei de levar
cflc corpinho a cafa de Dona Clorís.
D. G. líTo hc quimera ; como poíTo eu caber ahl í
Simic.^ líTo nio me importa a mim; abata ai
prefumpçõcs, que logo caberá em toda a parte,
D.G. E como havemos abrilla , que eflá fechada í
Simic. NI» fabe , que a irmá gazúa fcmpre me
acompanha ? Eu a abro. abre.
D. G. Efta tramóia hç mui arrifcada: que tem
dentro ?
Simic. Eu vejo huns trnpos eftcndidos : Ande ,
ande , qac nos importa a nós.
D. (y. Ora vamos a ilío : aí Cloris , quahto me
culhs !
Alcteje D. Gil na caixa ^ e a fecha Simicfspio^
e togo a pSem ás enfias . e dentro também
virá D. Fii.lS.
SiiHic: Nãfc/ ha iit fer má cita cncaixaçSo. Arr«
ó'(]ac pczà i criança \ D^ F*
e Mangermâ^ 201
D.P. Ai que me cfmagão os narizes!
D. (/. Quem eftá aqui \ Efpera , vejamos o qut be;
Stmic. O que for là fe achará.
2>. Í7. Efpera , que iflo he traição.
D. F. Homem dos diabos nio me esborraches»
D. (/. Aque d^ElRei , nSo ha quem me acuda i
Simic. Calle-fc , tamanhão ^ que para boa cafa
vai. - FSuhfi.
S C E N A IL
Sala. Sabem D. Tiburcio , e Sevadilba.
2>. T. C Evadilha , agora que eftamos f6t
O quero-te pedir hum confelho.
Sevad* Sevodt mercê acha que lhos podo dar ,
proponha, que eu rcfolverei.
2). T. Tu bem fabes que eu vim para cazar
corn hdma dcfta^ duas primas minhas : am*
bassão bdlas, ao que entendo i Í6 me reftt
faber as manhas de cada huma , pra que ef^
colha do mal o menos,
Sevad. Senhor , ambas são mui baftantes mb*
Ças, a Senhora Dona Qorishemui perfeita,
íabe fazer os ovos moles muito ^bem ; a Se^
nhora Dona Nine tem melhor juizo i muito
aííento , quando não eftá de levante ; grande
rapacidade , e tanto , que fendo tão rapariga ,
já lhe nafcco o dente do íizo ; porem na cóii»
dição he huma víbora aílanhada.
*D. T. Não fei , Sevadilha , o que faça neftc caio»
Sevad, Não cafar com nenhuma.
JD- T. Pois eu vim éft por bcfta de páo ?
Sevad. Eu dfgo o que emendo cm Inmha cont
«ncítncia, • • D*T%
y» Cuerrií do AUcrim^ \
D. T. Oh fe pudera eu cazar comtigo ^ Sevi^, Í
^ Uia , porque fó tu me cahífte em graça ! j^ i
JVW. Ai que graça ! Diga-me iflfo outra ?»• \
D.T. Não zombo , qus náo eftou fora deb* ^
, zer.cu huma parvoiffe.
Jfey^. Não fera a primeira»
J).T. Creres tu que fujamos ? Olha , que et
^ cou com minhas tentações de te fazer jdona
da milha caía»
Sevad. Díga-me deiTas , que gofto dííTo.
J), T* Sevadiiha , não percas efta fortuna.
^vad. Quem he a fortuna i
i). T. Sou eu , que te quero.
S$vâd, Sç he fortuna, fcrà inçonftanre. .
d). T. Ai que a moça me falia por equívocos!
^ Es difcrcta.
Seved, Ora va-fe com a fortuna.
Sahe Simictipio com a caixa ás^cofi^s^
Simic, Quem toma conta deftc arcaz i
D.T. Quem a manda ?
Simic. Huma mulher já de dias grandes 9 por»
que era baftantcmenre velha.
ij. T. A mim me melem fc ifto não he,)á al-
' guma preparação para o cafamcnto.
Simic, Voffi mercê parece que advinha , pois pa-
ra cafamcnto he , fegundo ouvi dizer a hum
. terceiro.
2). T. Sabes o que virá ahi dentro' ?
Simicn Cuido que he hum veÔido,
X). T. E que tal ? , ^
Simic. Bcllo na verdade , bordado coni huns vi-
^ vos brancos , e de cores cio vivas ^ que eftão
fâkãnào. D-T.'
2X T. He de mulher , ou de homem i
Simic. Tudo o que aqui vem he para muQiér.
D.T. Cuidei que era pára mim.
SfVâd. Aquelie he Simicupío ; elle que carrega
a caixa , não he fem caufa. a Pdrt.
Sináe. Sevadilha lá níeeftà deitando huns olhos ^
que fe vão os meus traz delle$. âf^rt.
2). T. Já te pagarão i
Slmiç, Não Senhor ; mas eu efperarei pela velha.
Z). T. Pois , Savadilha j em que ficamos l Ajuf*
temos o negocio ?
Stvad. He boa efia, ouvindo-me Simicupío!
^ á farte.
2). T. Olha ,' Sevadilha , eu te quero tanto , que
fecharei os olhos a tudo , fó por cafar comtigo.
SímÍ€. Tome íe lá , o que eftavão ajuftando os
dous! Eu lho eftorvarei. Ápãtt.
2). T. Que dizes , rapajriga í
Simic. Ah Senhor , pague*me o carreto da caixa.
D. T, Efpera , que logo vem a velha.
Simic^ Sim, pois a moça logo vai. âp/tri.^
/>• T* Tu ainda es menina , não fabes o que
te convém»
StváA* Eu não neccffito de tutores.
2>. T. Olha , que eu fou Morgado na minha
cerra , c terás tantos , e quantos.
Simic. Senhor , pague-me o carreto da caixa ^
que não podo efperar,
2>. T. LA>go, efpera: ora^^Scvadilha iíTo ha de fcr ^
dá-me hum abraço.
Simie. Venha ò carreto da caixa , he boa efla !
Svfêi. He boâ cdmal .
M4 Otêenât do Alecrim i
X>. T. Pois dá-me ao menos eíTe malme(}aer pofe '\
, prenda tua.
Simie. Ora venha já eíTe carreto , fen&o tsA
- vai cos diabos. *
D. T'. Efpcra homem , ouve , mulher.
Sevâd. Va-fe dahi , mal creado , aleivofo naiK
' gao j he o que me faltava !
Cofíta Sevadilba a feguinte
A R I A*
Que hum tonto jarreta ,
' Que hum nefcio pateta,
Mâ falle em amor ,
Ou he para rir ,
Ou para chorar.
Náo cuide, cm amores «
Que neíTes ardores ,
Se pôde frcgir ,
Se pôde abrazar. Féúfe.
Sintic. Rcgalou-me cfta Ária ; vou dizer a Se-
vadilha , dí^a a Dona Cloris que alli eftâ
meu amo , e finjo que me vou. Senhor , adeos :
eu virei n'outra occaíião. f^^i-fi'^
Sabe D. Linferote comhum ujli^al ^ eveUãce^
za ^ e a porá em cima às caixA , donde
ao depois fe ã[fentãrãõ.
D. Z. Sobrinho , vós bem fabeis que hum hof-
. píde « palTados os três dias logo fede , como
cavallò mbrto; ifto nao he dizer que fedeis ,
mas vos áffirmo , que me não cheira bem cf-
fa vo^x irrefolufáo » vendo que indecífo ain-
da não elegtftes qual voflas primas hi de (ti
voíla confone.
D.T. Senhor» as perfeições de cada huma sSo
cão peregrinas » que vacilla a vontade na elei-
çio dos fuieitos i pois quando me vejo entre
Qotis > t Nize , me parece que efiou encre
Scylla , c Caribdis.
í). L. Pois, Sobrinho , refolver , refolve Iogo,e ia.
D. T. Pois Senhor ^ fe a hum enforcado- fe dio
ures dia» , eu que no cazar noto a mefma
propriedade ,. pois bem fe enforca quem mal
fe cafa , peço três dias também para me lefolver.
D. L. Três dias peremptórios concedo ^ e para
que não hajáo duvidas no dote , adentai-vos^^
€ fabettis ^qúe havds de levar, jífféntãò^
D. T. IiTo hc fanto e bom , para que nãó líj*^
a noiva de contado , e o dote de promenidó*
D. L. Eu, meu fobrinho , fuppoflo tenha. corri-
do muiro mundo , com tudo^me acho alcançadÍ9>'.
D.T. Iffo he bonito! ^ A 'l
D» L* Primeírainentc cada huma de mihhak (d^
brinha.tçm muito boa limpeza. ' -
JD. T. Sim Senhor ,' são muito afleádas 9 níflb
não ha duvida. ■'
2X L. Além S\fío : eftai attento , meu fobrliihó^,
tiáo deis. ffulabancos com a caixa , que ittò^ik
manha de beftas» Bole A caixa.
Z).T1 Eu eftou com os cinco fenttdos bem quietòsi
D* L. G)mo digo , fabereis , que todo o meu
cabedal anda fobre as ondas domar. Não^f*
urêis quieto ? BoU 4 caixâ*
Z). T* Não ibu eú por vida minha.
jotf Gu€nâ$ dú Alecrim ;
J>. L. NSo vedes a caixa t faltar? '
2). T. He verdade ; fera <le contente.
Cabe 4 caixd com $s dom.
D^L. Ifto agora he mais comprido.
IX T. E ifto he mais eftirado.
D.L. Ai , quem me acode com homa hiz!
Séd)cm Dona Cloris , Dond Nize , Fagimdts , e
Sevâdilba com luz.
Todoí. Que fuccedco ?
jD.T. o maior cafo que virão as idades.
2>. Z. Eu , que na maior idade vi o maior cafo.
J). Niz. Pois oue foi >
IX Clor. Que luceedeo , Senhores >
JíPVA/. Que he ifto?
Hfg, Que foi i Que fuccedco í Que he iftoi
2), T* Efta caixa.
J). L. Efta arca.
JD* T. Que em torcicolos.
J). L. Que em bamboleios.
D. T. Com pulos.
27» L. Com faltos.
jSlT. Deirou-me no chSo.
2>. Z., No chio me eftendeo.
2). Aíz. He raro cafò !
D^Vor. He cafo raro!
Sitvãd. He , nâo ha duvida : ai que eDa coma
. a bolir ! Fujamos , Senhores.
Fág. Valha-te o diabo ^ D. Fuás , que tão itv-
quiero éy? aparte.
2). Z. Efta caixa tem algonx encanto , abramo-la.
D. 7*. Diz bem ; abra-fe a caixa.
2>» Niz. Ai de mim ^ que íerá de D. Fuás ! if f •
iXfáfigertmâ. «7
dMor. Qaè fera de D. úW 1 ' â faru
RT. Vá o tampo dentro.
Sévad. Tenliáo mio ^ que pode vir á^niTô^ al-
gum ^díaiDantc, que nos mate aquilatados*
f^^' APfanto breve da marca ! v
D. Niz. Senhor ,fc fe abre a caixa 9 deftfiaia*
mos todos aqui. - - - ^ ^ ^
2). i. y amo-nos , que a prudência fcc mdhoc
que o vilor. Jf^M-ft^
D.T. Pois Í6 náo quciõ fer valente» x ^
Faifei t Uva aúuz.
Stvâã, Ai, NSo feiquépcsme hârf de Ibváàl
Ande , Senhora. ■ í .i»íy;
D.Clor. Fazes bem em disfarçai até isíò^d^ís..
Fâg. A caixa parece que tocou a recoBrèt/
D, iVíz. E não foi ò peior o fièarmos ás eí^
curas , que aílim teráõ todos medo de vir áq^
ora abre a caixa , c dize a D. Fuás quefaia»
Fâg. Ai , a caixa eflâ aberta ! Seria com AbÍSí-
hbancos: faia, meu Senhor, e perdoe ^;def-
commodo. ^ ■
jíhe â caixã , e fabe D. Gil* . "^ ,.
D. G. O' tu noâuma deidade , que no 'calfj^
nofo bofque deftas fombras brilhas carbuttcu-
lo da formofura , aqui tens fegunda vciz^ no
ciheatro de tua bcUeza rép^^ífemante a'''mliiKt
conftancia na Tragicomedía de meu arner:
Fâg* Senhora, quem ásefcuras hé tão dífcréro^^
que fera ás claras ? • ;'; *-
D. Niz. Já vou acreditando 9 \mga ber^ as tuas
finezas -, porem . . . •
&4-
'9oB Gm^iíxào-Àlittm 9
V. - , Sabe Z). fl$as da cmu* r v " j
D. /•' Porém o teu engaru> ,. falfa jtiitnig».^'
i fisgunda vez k repete^ para roea diríengano y
.?,::*. tua aflTroiua* .
2>* iVifz. Que he ifto 9 Faguades!? • C^e^ ^t-
. ç: rAioias sio eftas 2-:.
. JFé^^ Eu eftou befta , pois fó a D. Èuas meu
:.>;íti^tca^a j -.'..■..
jD*'>iyiÍ2. Potscomo ha aqui outro tõi^. D. Fúas!
jig. Eu. não feiy em minha .cotifcifHKia -, que
.> Oão -he ma.
;i>v/^ Senhora D. Nize , para que s$o effes fin-
. gimentos l Peleije agora com Fagpnde3 » para
::irlç'moftrar ionoccme.
^JDiij* Efta he Òona Nize; eu me. recolho to
\efi11ariO9 até, que vcn|u^ Dona Gloria. .
M^t^Je D. Gil na caixa. ^
Jkf,Niz. ]á dilTe , Senhor D. Fuás ^ que a mí-
^r nha ionílancia vive iíenca deitas òalumnias.
JE>. J% A que d^EIRei , Senhora , quereis que
.,.4^k com a cabeça por efías paredes i He .pof-
fivel que ainda intentais ne^ar o que ! tão
repetidas, vezes tenho expcrímci^c^afjlç ?
2). Niz*, Senhor^ he pouca fortuna «ie minha
.firmeza , encQncr<ir íempre com accidentes de
.:, fall^adç.
i5íf^. Senhor p.:Fuas, não cuide voflTa mcrcè
quç^:fomo? cí nenhumas mulheres dte caçara-
,çá-j mas all|. vem gente.
^ 2). Niz. Recolha-fc ourra vez , que eu em tanto
í.jaqui me retirp. Anda , Fagundes. Fai^e*
Pag. Senhor l nós ]à comamos. Fairfc.
D. F.
,. e AÍ4ngtroná; 109
i^/v Mais a,thiiv/ia confcryaçSo ^ qiiô ao teu
^ . rcfpeíto , òbècjíCÇOi
iffwde-fe t>. i^s hà caixa y t fahè Z). Óoris.
p. fcfpr. Que fc cxpczeílô D. Gil ao P«rigo
de' viir ém huma caika á tneu reípcico ! Oca
. o carto hé qiie náò ha ft\à\9 cxtretnofo amatt*
le j J>orcm os fumos de Alecrim ictn a mef-*
ma vittude, <]ue o incetifó nos pombos, que
oft faz tornar ao pombal. Mas àdpnde eftâri
aqui a cai^a i Efta rúpponho qíiehe. Jàmeii
bem podes fahir fem fufto.
SaJje I>. í^uas da caixá.
D.P. $iTú , tyranna , pois já ihe nao afluâáa
as tnas falíidades.
J).Oor. Que Faffidadcs ? Qiae dizes ? Ehlòtíquc*
drfle^ ou ignoras com quem falias?
2>« F. Oomlígo failo , que coin outro amante dua<
vezes infiel te. encontrou a minha infilícídadc
D* Oaf. Cuido qiie hão são tantos os ehcon<*
troe que tèmoà tido;
D. Ú. Aquelta vòz he de D. dlóris efiou aN
dendo co,^ zelos!. íMrtm
Dé F. )à eftou defertgãtiado. da ttia falfídade.
]ã íei oueeA'oútro amante, que vive encer*
rado nefla caixa , he o que fõ merece os tous
agrados.
D. C. E como que ò mèrécè , pois fó elle hc
digno deíTe favor; e áqúem o impedir ^ lhe
meterei eftã efpada até às guarnições.
D. F. y& , ingrata , fc he certa a minha ftifpefta ?
C>. dor. Eo efiou confufa , c oãç Ui a qu((m
fatisfaça !
SIO Ctfenés do jfíecrím ^
2). G. Ainda conrinua , infolenre ? Nio (i
que efia Duna hc coofa minha ?
D. F. ]á agoca por capricho , a pezar das ft
aleifofiaf hd de dar a vida por mi ^n
2X Oflf. Stah oi t s , ()nc deígraça !
X>. G. & aio cflircra ás elcuras , to feria]
a^lO ie cajcibis iias.
iX /l ^M it oio fora a cfcorídade , co te
ZSBX T9 o CKo brio ; mas arnda affim ,
iQir ài^H^ « òè ioaie der.
^ Oar^ Sa à iO it » ^ «km de oianfo y tíío os
ca »n xiow
«. ^».
3i if.
j:.
^^
rDofU Cfofíí^
?•
5& tão fera per não fei qac ,
Te maniri mefmo acjoi.
Sr itio foia o velho alli 9
T^ £isra hom não fci qoc.
I>e oomnho , pocca bolha ^
Cftkt CTaiKa « cake gralha ,
Pei^par o Telho ha "ds acordar^
Pw a<;ci i&ei manfimenie
jybrcm eAe bfoknre.
CQ peit caQaia
1 K»ha efjp«da.
De ^^a» »o im de riio i
^fl^çgc ^ v>eSbo ba de acordar^
riaâcva cm uma luu
t>.
t Mmgeronâ. 211
^ 21/1 />.'£7. Se não grito nefte cafo 9
Sou c^paz de rebentar.
D. dor. ■: Mais c]ue eílalcm , c ancbcmem ;
Não íe ha de aqui ^llar,
Joior. Não fe pôde ifto aturar ! Fio-ft.
Sabe Simlcupto ftU mio de Sevâdilbd.
Jímic» Donde me levas , Scvadilha }
'fiiVãd. Ande ^ não me faça perguntas.
Sbmc» Não ha hnma candeia hefta caiaque ícmt
meta n^ mão , que eftou morrendo por ce Tcr i
Avéíd. Melhor fineza he amar por fe«
Simie, Como , fe eu não dou fc de ti i
Stvâd. Ande , que o amor fe pinta cego.
Shmic* Muíco vai do vivo ao pintado»
fkvãd. Affim eftamos niais á noíTa vontadt.
Simic. Andar , fupponho que tenho o meu uêêoí
na. Noròega : mas- ainda affim ifto òtebarm
cícoras » não he grande coufa pua faon ho»
mem dizer à fua Dama quatro hipcAtolcf^
•pois íê não ve}o , como poderei diz£s«^
^oe CS eftatua de alabaftro fobre pltmos áeyA»
Sy neve vivente , e racional forvrte ^ «ag
carapinhada , pois negra ce confide» «cfia
Erhiopiaroh ncgregada occafiiQ, tm^fatfoi
faka de hunu candeia não (afae á la a lot
fe/mofura !
Sevàd. Pois o fi>go de ren siBor sâs ht&jL m»
ra allumiar efta cafa l *^
(fm/r. Se a loz exceffiva hz enm. tMi^ci a
minha chamnoa por rTrrffintfii aTi^xi ; n^
dom luda \&o nío nc% tmtmm ca iUxsr>
2 to Cuerrds dó Jtectím 9
J). G. Ainda continiui , infolémè ? Náo m»
que eíU Dama he coufa minHa i
J). F. Já agora por capricho , a pezár dà fbtt
aleivoíias hei de dar a TÍda por mi ámiu *
D. Oon Senhores , qtie defgraça !
. D. G. Se nio cffivcra às eicuras , ra fâriàt o
alvo de minhas iras.
2). F. Pois fe náo fora a efcorídade , cii lef fr
zera ver o meu brio ^ mas ainda affim , ta
vou dando , dè donde der.
J>. Clor. Senhores 9 dem de manfo, ASooiiMi'
Ç9L meu cio.
Cdntão D. Fms » 27. Gil^ e Dom Úwhn,
feguinti
A A t A A )•
2). (7. STe não fora por nSo fei qtft ,
Te matara mefmo aqui*
2>. R Se nio fora o velho alíi ,
Te fizfcra hum nâo fei que.
JE>» 0or» De manfinho ^ pouca bulha f
Calte gralha , calce grulha ,
Porque o veího hl de acordkf^
j). (j. Pois aqui mui manfamence
Macerei efte infolcnre.
J). F» Também eu pela callada
Meterei a minha efpada.
D. 0on De vagar não dem de rijo j
^. . Porque o velho ha Jc acordar^
ítóios. Quem pudera em tanta luta
p Soa doK dcfabtfit l ■
' f Máfígeronâ.' ' 2 ri
D,F. DIG. Se náo grito nefte cafo »
Sou c^pAZ de rebentar.
2>. ÚOT. •: iAú% c]ue eílalcm ^ c arrebentem ;;
Nâo íe ha de aqui ^liar.
Todos. Nâo fc pôde ifto aturar ! Vio-p.
Sabe Simícupio peta ntão de SevadilbA.
Simic. Donde me levas , Sevadilha ^
^evad. Ande ^ não me faça perguntas.
SimiCé Não ha homa candeia hefta cafa que fcmé
meta t\% mão , que eftou morrendo i3or te ver l
Sevad. Melhor fineza he amar por fe«
Simic. Como , fe eu não dou fc de ti ? '
Sevâd. Ande , que o amor fe pinta cego,
Simie. Muito vai do vivo ao pintado»
fievãd. AiHm eftamos mais á nofla vontade.
Simic. Andar ^ fupponho que tenho ó meu amoe
na: Noròega : mas- ainda affim ifto de eftar àj^
cfcuras y não he grande cobfa para hum ho»
mem dizer â fua Dama quatro hipérboles^
* pois fe não ve}o , como poderei dizcr«te ^
que és eftatua de alabaftro fobre plintos dtf jaf»
pe , neve vivente , e racional forvete , más
fó carapinhacia ^ pois negra te confidero nefiâ
Ethiopia :* oh negrègada oceaítão i em que poc
falta de huma candeia não fahe >á luz a iu«
fo/mofura ! • . >
Jevif^. Pois o fogo de teu amor itão Ufta pa^i
ra allumiar efta cafa ^
ifimic. Se a luz exceflmi hz cê^ar\ também *
minha chamma por ezceffivâ nio allimiía f .nMl
cpm ludp ifto não nos meiaiws no ^€£m«> }
O ii S^
2Tt Guerras do Àletrim ,
faltemos claro : como cftamos nÕ9 dâqniOc i
que chamamos amor ?
Sevad. E como eftamos nós do malmequer,
que cíTc hc o ponto i
Simic. Cada vez eftà maisviçofo confi acopíoi»- i
ia inundação de meu pranto. j
StvAd. E teu amo com o Alècrjm > ^
Simic. Ido são contos largos , o homem, mik .
doido ; tudo quanto vê lhe parece qile'he
Alcaim ; eft'outro dia eftava teimofo ^ em qot
havia de cear fellada de Alecrim , mair qot .
o levaíTe o diabo. Olha , para contar-te il
loucuras que faz, aflentemo-nos , que ifio fe
nâo pode levar de pé.
'jíjfenta-fe Simicupio na caixa , éjue efiarâ iem
o tampo levantado j e cabe dentro da em'
xa ^ qtêe fe fechará com a dita queda.
Simic. Mas ai Sevadilha, que cahi n'um poço
fem fundo !
Sevad. Aonde efiás , Simicupio ?
Simic. Não fei aonde eiJou \ fó fei que eftoo aqui.
Sevad. Aonde hc aqui?
Simic. He aqui.
Sevad. Aqui aonde?
Simic. He boa pergunta * Eu fei cá donde iao
os aquis na cafa. alheia ? Sei que efiou aqui
n'um fole como criança que iiafce Implica*
' da ^ mas fem ventura.
Sevad. Pois fahe dahi , e anda para aqui.
Sinnc. Iffo he fc eu foubera faír daqui para ahi;
i£emd»' Quem 't« impede?
Jím, £fipu entupido.
-•■Cl .§^S
Sln^ad.Di doQS efpirros. ■■■•,'
Simc. Falta-me a Sevadílha , que á nSo acho ,
por mais qa» ando to cheiro delia. Ora^fiiha ,
-lira-mc daqui» tu nao ouves!
Stvâd. Eu bem ouço ; porém não vejo aonde eftáf^
^mc. 6ufca-me fora de mirti ^porque naoef*^
. cou dentro em' mim metido nefta fcpultura ,
idonde íó campa por infeliz aminha deívenrõfa.
Sevâà. Ctltc Simicupío , que ahí vem gente
pom luzes ; adeos até logo. Fâi-fe.
Shnicm Efiou no mais apertado lance 3 que niti^
guem fe vio !
. Sábm D. LOttferote com hmnâ tuz^ e D.
Tibíárcio.
J>. ' £. Apuremos efte encanto. Sobrinho , nós
havemos ver o que fe encerra nefta caixa »
; ainda que o cabcllo fe arripie.
Z). 7*. Sc for coufa defta vída , ficará fcm ella ,
e fe for da outra, a mandarei para o outro
^Wtundo. ' ^
2>. L. Pois fobrinho , abri pOí caixa com intré-
pido valor.
Z). T. Abra voffa mcrcè , que he mais veího ,
"C em tudo tetn o primeiro lugar.
D. L. Deixai cutnprimcntos , que aoccafíáonSo
• be para ceremonías.
JD. T. Por nenhum modo: nío tem que fe can-
çar , que lhe não quero tirar a gloria dcfta
' empreza. \.
P. £. O magano contraloçrou-mc ; pois eu con-
feflb que cftoa tremendo de medo. a párt*
114 Gucrréis do jfíccf^m I
D. T. Queria amimtr-me o gigante 'i He bem '
erpcrta. i fmu.
D.L' Ora pois » hei de ir eu , ou haveis de ir vòi }
D. T. Vá , hão haja comprimencot» 91^ eo (m
. de cafa.
J). L. Não ha mais remédio que ir Ç!ii 9^.
corpor e alma , a ver efta âlma fem corpo | ^
ou ede corpo fem alma. Deos vi comijp^ikj
>\njo da minha guarda , e codo o Floi S»,
Aorum me deFeoda.
Jp.T. Ande tío/não tenha medo que eu eitou^Kful..
2)« £• Pois fe não fora i0b » já eú deítava.a.correr;
Simie. Ai! que'fcni duvida eftou tia caiap» êm
que trouxe a D. Gil, e f.^gundo o que aqui
ouço dizer , me intenção reconhecer : tu lhes
. tocnr^i a caixa.
CbegA'fe D. tanferote ã eaixa , e tanto fisc 4
abre 5 deita Simiciépio á cabeia de jota , .
e da bum affopro na vélâ*
D. L. O' m quem quer que és , * que eí^ás nef-
-ta caixa .. » mas aí , que me apagarão a véU
com hnm affopro !
jD.T. Affopro!
Simie. Mui fraca era aqqella luz , pois de bum
affopro a derribei.
D. L* Sobrinho , y6s eftaís ahi ?
J). T. Como fe não eftivt ra.
J3. £. Qjcm feria o craci , qut tão aleívofa*
mente matou huma innocence luz a afloproi
frios ? '
Deos lho perdoe 9 que er^ huma luz á
10*
\9 Aídngeront,, 1x9
todas as fazes boa ; mas ea quero çafar-mé
da:]ai , e cema marrar de narizes com algoem ;
mas que remédio >
.D. £«. Agora vos chegais para mim', cobarJâ
íptffiiiho } Hide , que por vofla culpa não ac:^*
,jbei de defencaticar efte eacanro.
' HfX* Veja voiTa mercê como chama cobarde ?
^Pf Lm C:|Iai">vo8 9 abóbora j que degenerais de
^oem foís«
J^. 7*. A mim abóbora >
Jâiiír.' Agora he boa occafiao de hirme ; porque
.ainda que encontre com algum, cuidarão qoe^
s^o murros: lá vai o primeiro. * DâJ
ÚÍL. O' mal enfinado^ pondes mãos violentas
^.voSo tio \
Smc. Eu abrirei caminho defta fone» dando a'
troxe moxe. Dá.
2}.. 7!. He boa e(& ^ Senhor tio , alEm fe dá
n^um barbado i
H.JL* Calai-ros , maganão , que não haveis de
^ca&r : mas aí , que me déftes hnma bofeta-»
'da com a mio abcna ! A que d^ElReí Tobre
Içftc magano de meu fobrinho ! f^di-fe»
DlT. a qued^IRei fobre efte caduco de meu
cio í f^aiTe.
ijmk. A que d^ElRci que yz me deíxiuo ! Fai-Je.
SC&
i!$ êi^errà do AUcrfm i
S C E N A iir,
€mers. Sabem D. Gil , f A Nizi^^
p. G. C Enhora Dona Nize '^ fe acafo éití itrot
O fa piedade pódé achar ^mparp Irbt^,
"^ defgraçado, pcço*vos que me oculceii; poii
ji a rubicunda Aurora em rifonhas vpzeir noi **
avifa da chegada do Sol ^ aflim ^ voíEaKíííiH-
gerona fe veja. coroada de Jouro. feK;^ Çàptl.^
tolío.do anior. *'
JD. iV/z. Já o Àíccrim pôde fa votes á Mangctolu;}
í). G. Sc Dona Çlòris náo appaV eco ^ ijuç q^e?
reis que faça ? t . .
Jp. Nizs Pois cfcondei-vo.5 neíla alcova , çm ^QÂiH.
to a vou chamar. ' . ij*
J^fconde-fe D. Gil , f fabe D. Ftíâi.
1). f . Aonde vàs , tyranna ? Prqcuras acafo O tec^
amante? Oh murcha feja acua Mangerooa.,.
que como planta vençnofa me tem morco.
D. Niz. Homem do demónio ou quem quer
*que CS , que em negra hora xt vi , eaihe;r',
que defconfianças são cflas l Que amante he
eíTe , com quem me andas aqui apurando a^
paciência , e fem que , nenrx para que , dei*
compondo^ minha Man^rona ?
J). F, Pois quem era aquelle , ,'que fahio da cai»
xa a dizer-te mil colloquios^
D. Niz. Qu^ fei eu quem era ; falvo fgíle, • .,
Mp<? rctira-ic quô ahi vem jG;ente.
J). f, Efcondcrinc-hci aonde for.
Sfé^r ejdcr-fi onde efid D, Gil.
• "e Áfangmná. ' tíf
J}.Nii. N5ò Ws eícondas ahi. Aí Se mim, que
íc D. Frfaà vè a^ b. Gil, fará o fcuciuhiLC
verdadeiro! .' 4}sri^
J). F. NSo queres , que jitc efcotida ahi > Ago^
ra por*H!oinefmo, '* '
X), Niz. Tem mão ,.ádvéríe . ; , . .
Í).JF. Quárl 'adverte? T^ns ahi acafo cícondrâò
p teu' amarite ? - '• ' '.
J). Mi. Nío j D.Fih»', porqtie fó tu..;
J).F. Ç^e he iíío? Múdâs dè cor ? ' \ - -
X). J^Hz./Sé^ á;còr he accidcnté , eftou para dèf«
jDailir, Vendo a fémrazão com que me crimiita9.
Sabe D. Ctaris.
P* Ctvn Nlzfc 'j que alarido hc eflfe ? Queres
que vcnba d lío , c ache aqui cfte eftafcrrho.í
2>. iWz. São loucuras dehumzelofo fem*èauri«
J), F* $ão zelos de hurna caufa f em loucura.
•E fciifo diga-õne', Senhora D, Cloris ,'■ por vi-
da jdo penhor feu Alecrim , não he para tet
2e!os ver Vepètidas vezes a burn íu jeito prò-
qirar ^ D. Ni?e.com tão repetidos extremos
qpe hunia eoufa he vellò , e outra dizello , b
'fo{>ponho o tem agora efcondído naquella ai-*
cova de donde me dcfvia para efconder-mrí
D. Cíbr. Iflo verei eu , que também me impor^
ra eíTa averiguação.
25. iVfz. Cloris não te cancrs , qi^e rjò h?s^ 'de
ver quem.ahiôftá. E fiou perdida ! áf/jrf.
D. F. Hé para-' que ve]â. Senhor , a razão qús
renhp. Ah tyranna !
JE>. Clor. Jâ agora por. caprithò hei' de vrrcrrm
abi cftá.. Voflamcrcè he, Scthor D. Gilvaz}
r QacJic iíTo í Quer enxertar o (iicttAkcfim
, coin a Mangerona. dt Dona Nij^e. ,
JXGl ÍFía cafo fciiienianic í ' *
p. P. Falfo , rr^Mqr amigo , com# Tabenj^
que cu pretendo a D, Nizcy.te^cxpçcft «env»
baraçar o meu emprego >
p.i.G; P.^CJIpris f D,. Fuás, para qpe «io eftei
extremos ^ quando a Senhora D. Níze nem a.
vós vos o£&nde , nem. amímime^eorrefpondeí
jD. jF; "Kfingucm fc efconde fcm ddiílo,>
jP.\ Çfor. Ninguém fe oçcula feni mptíyo.
^ Niz. Ora agora nio quero, dar, ia;íj^açdes ,
nemí a huma Iquca» nem a;.hum temerário:
^ hç inuica verdade ^ efcondt a D.Gi{^ P<>>^ud
}\\ç quero bem j pois que temos í •
p., J^. C^tiíko iqStx a minha paciência! Ah
* itigratal
Z). õor. Qud ifto tolerem os meus zelos \ Ah
..f^lfo amcntc ! ..
jp.Cr^ A Senhora D. Níze eíU zombamb, e
. aquiUo nella he ga Jantaria*.
Z>. Niz. Não he ícnão realidade , e tet>ho dito^
JD- X Nío ft vio mais defcarado rigor ! Efpera
crueU e verás com os teus olhos os ultrajes ,
que faço à tua Mangerona. P^ãife^
ip. Ciar. Senhoi- D. Gil , venha <}cprcffa o meia
Alecrim.
'jDl G. Oteu Alecrim he infeparavel demeu peito.
Jp. Oor. Deixemos graças , que cu não zombo».
i). G. Pois emendei que D. Nizc falia dô,
Z)» Cíor, C^f.t/alUffc de vçw i quer nSo.^ v^
^nhá , venha o meu. Alcçjfiin.
jpt. G. Qe^guc ^jfojte qucrçs.que ic fatUfaja^
I^tu)ràs,|^carp ^f firmezas, ^e m^ «^napir i ;
> Ciifl4 2). Gil > ftgmntc
• ■ A 'r I .A.; ' '•
l^orbôlqa namorada ,
(^úe nas luzes abr;|zada ,
Quando cfpira nosL incêndios •
Solicita o n^eimp jirdqç.
Tal , ó CIocj 3| me jtn^gíooy ...• ^
Pois parece . que o ácftipa
Quer ^ por mais qíic ta nie matçs»
Que. ajp^etjeça o itx^ jigor, :,
SábmSimlmpiOj é S&adUbd.
Jtltm^ Senhor. P« Gilvaz, çunca Siipjcupía Xd
vio em calças, mais pardas. . ' /
JO.G. Porque? : .
Sevai. Porque o v^lho )à ahi vem camiòhahdoí
conio hnrn^ .cçntopeÍa,\
D. Clor. Axsis^yt)^ Gil , pár^ dentro até que
haja occafiSçí pára fah^icçs* ^
jp. G. Vàs ainda com çfçropulos na minha con>*
jftancia ? . .!
jp.Clor. Cí dejntro apurare ir c$ çíTas finezas. F/fi* /I
J). G. O' Slmicupío , vè cciro hav^^n^cs (ahít
daqui , quei.bemTabes , qu|5 tenho dc.ffcrc.vc^
hoje para o corrçio. ^^''j<».
Simic. Tomara gue o iizefícjn im fcflas.^ e qi
ievaíTc harzabu ás vinte.
iío Gaerrãs io Ateerhn ; ^
*Sevad. E Te lhes não dizemos c]i]c vinht'iv6^
. lho , ainda fc nSo hiâó. ' ;*
Sfmic. E hía-fe a hifloría . ÍE^tn Vi6s iEazeimòl
noíTop^ípcl de Alfazemas por cadla âo Alecrita.
Sevad. Nio me dirás, Símícapio-,>em qaèht
de parar toda cík barafunda ?
Simic. Em algum cafamenco , . ido u fe fabe;
tomará eu tanibem que i^é diflefles, em quã
havemos nós parar.
Seviã. Em correr, que fe parámos aqui , talvez
que nos envidem O refto. 7
Slmic. Não embaralhes o fehtido* èni que te fal*
lo. Ai Sévádiiha , que não fõ me cbegafte
ao coração , mas também aos nãrhies ! Eaf-
íim não ponhas por eftanque ôs teus favores ;
antes aíFavel dá^me alguma amofirínha de tua
. inclinação.
"Sevadt Quem te mcrtco eíTcs Wmo$ na cabeça !
Simie, O dó que tenho de te ver ião matadora.
Seyád, Vai-te dahi , que tenho nojo de chc*
çjar-mc a ti.
Simic. Eu rião te mereço que mè defcompo^
nhãs o carinho ,' com que te- trato. Ai Seva*
^ dilha , que íinio aíTar-me nos iefpctos quentes de
*'* ieus olhos , aonde os repetidos efpicros de
ntóu incêndio. ...
Sev/td. Se me difícras iíTo em dous dedos de pa-
pel , ainda te crera.
Simic. Não fó em dous dedos, mas em toda a
mão da folfa , donde verás de teu Simicu-
4>iO as finas claufulas de fuás fímicopadas.
'CMUh%SimiflÊftOy efpirrando tio fim àt cãdi
verfo^ a feguimc
A R 1 A. '
N40 poflfo , ò ySevadi • . ; • i
Dizerce j^: o que pa4^ « ^ • <
Que o. meu amor trave « • • •
Oíiegando^ine aos hari,. •••
lN'uin moto continuo me faz òTpirrar.
Mas fé he cafuUaría
Efte vício dç <fuçrcr-ic ,
Toda inteira hei de forver-iô.
Por mais que me veja morrer , e eftatlar;
Siváâ. Ora Oeos o ajude com tanto efpirrac.
Sabem 2). Lanjerou , ej). Tibarcio.
D* jL Bafta fobrinho que não foftes vós 9 o que
me derreares ?
2>. T. Pois acha voíTa mcrcfc que havia põe
as máòs violentas nas reverendas barbas de voír
fa mercê ? Igual eu tne podia com maia ra-
zão queixar de voíTa mercê ^ que me fez em
eftilhas.
JP«X. ]£u 9 fobrinho ? líTo he engano; eu b^via
erguer a mao para vos , quando fó as devo
levantar, ao Ccd para dar-lhc graças , por da«-
me pârahuma de minhas íbbrinhashum noivo
táo i^cntil-homem ?
2). T. Náo, vai a dar quebranto.
Sevád. £ elle y que he mui bello. á parti
JP* T. Pois fe nenhum de nós reclprocameoca
deu hum no outro » quem feria?
he, <}iie a cafjcA^^p^íra.nós: foi de gffr^a.
Sevãd. E para o noivo | de tartaruga do Além-
teto. N^ â pa/f.
!>•*£• Sevadtlha -y ;áhda cà 9 fiSò ò'nCgàes : quem
^ andará nefi^ caJfá ^ hi ihbm px^ de noitces qiie
fmcd j^randerébiilt^} ' ■ ' " *
«TfViá. Senhor, -eU^tra jpiáta itilõi /fàé éítã
càfií !ás; efcdrás htí á(ÍÍombrada* • "
2). £i Tens vifto âlgtímá coufa ? / V
Sevãã. Ai Senhor f» ténh^i' .viftò ÚÁaà á^iifas ^
oiie nSo ttàc^áitífêp á dtzellãéV' ** ' '*
"2KXVDizèé^«írr*^ri^: ...■.•../.....
jlMiá: Só em cuidar liò qiie vi ^ eftdã pata me
'definaíar. ' '''''' -."->
p. i, Era còlifá^ óôrfò fràndòí
2rèi^iii« Qual do omrà mundo , f e etí avinefteè
JD. JL Èra fántafma í
«Tevi/f. P quê' he fáfitáfmá?
D. t* tíehaJna còúk branca qtie poiíh õs òlhot
crh alvo.
JWirf. Scnhoí j ' èi! tilo Mó que íiè ; fei ío-
. mente que vi fahir ' de htímá^ caÍ3i:a htima
' còufa cómò furacão de vetitò 9 qtíe mé dcii
""muita pancada;
X>. L Vedes , fobrínho i He otiíermò que noa
fuccedjí cm carne.
J).T. Na carne aíiàsi
J). L. Aqui não ha obtrò rchied»o' mais qnb
Çafares logo , e já , c levares vofla mulher couh
vtifco , qdc cu jHinho cfcritos nai cafas , e
mudo-mc á$ carreiras. '
D.T. tffo he ò VirtdftleiíW * ■- :''' -
Í>. Z^-Sevadílha, vai cbaitiar as fiçztigzi y, <{úê
vcrihio cá acpfelfa. ^ •- >
JVviií. Gcoro., e fògro nSp ós vi mais l)6fta$ i
-'- 'ipâtu iVài^fh
j). T. Par^ fpkt ihahda yoíTá tncrcè chàttur i
minhas primas táo deprcfla ; -'
D. £• Logo vereis.
Sãbeni t>, Cícrís y e í)i lííie.
Ambds. Otie nos ordenas. Senhor? ^
D. JL. Scírinhd 3 ellas ahi eftâo» efcolheihuiÉl
das duas paà volbi eípofa. ,
D: dar. Eá fté voco de fer fieitai ^ sílim iiSo
poífo ca2af<
D.L Pois csité D, Ni*.
JD. IJiz. Èo menos, qoc iqàtfd fer dónzetfií:
Í7. X. iíb )á nSò pôde fer , qtie dei a líirfiKa
palavra , otíe vaí má^ <]i]e túdo^
2>* !fi Eti ja mie réfolvéra a àttírar à rifpídá con*
díçSo de £^ona Kize ^ sias ftm ineceMr o da-
te , nSo ftte recéboi ' '
t>.L. Andai ^ qúe ípis hum impolitico : atfgoio»
homem que tem brio fàlla tm dote í
D. T. £ at^úm hpoKem qòe qoer àoit ^ átcia-
ta em bno ?
Sábm 2). iOtfii » D. Oil , t rS^mtnpk 'VffiiêMí
de nuflber com mântóf.
Simc* Senhor ^.eftainduftría nos valha , qwf fMfV
li fahír feropre foi boa bania ftta. i
2>. C. Qógn ferve a Cupido » ' aio bc thom
qoc fci albunc. H¥l^
S24 Guerm dQ Âleerjm;
2>. F. Aié nífto moí^i o amer, qi|e he coba^
de. i firt,
2>. L. Que mulfierês sáo citas ^ que (aliem da
nolTa alcova ? . .
p. Çlor. Eíbu tremendo não fe defcubra a crir
ijiQja.^ áfâH»
Sintic. SnhoT D. /fiburclo, as mulheres hooi^
das , como eu , fe nÍo trarão deftá forret
D, T. Senhora , yoffa mercê vem enganada.
D. L. Qtíe he ido , fobrinho ?
2). T. Eu o não fei em minha confciencia«
jD. £• Senhoras ^ como .entraftes nefta cafa!
Siptiç^ Efte Senhor fobrinlio de vpíía mercê me*
. recia que lhe deitem duas facadas , pois fem
alma , nem confcieticia f depois de o intro»
duzir na minha cafa , para cazar com huma
de minhas filhas ^ que voita mercê aqõi v&^
teve tacs ardis, que enganou a ambas, e de
ambas triunfou ; e para mais pena^ feotitt
eíla madrugada nós mandou VieiTemos ,a efia
caia , que diite era fua , e no cabo fei que
não he , e eflá para cazar com huma fobrinba
de vofía mercê. Ah, traidor, ladrão , não fei co*
mo te não efgadanho , e te arranco cílai goellas»
JD. L. He notável cafo í Sobrinho defalmado f
ene he o que fizeftes ?
2). T. Senhor , eu eftou tolo de vir memir ef-
ta mulher !
í?. G. Ah falfo D. Tiburcro, o Cco me vin-
gue de ruas falfidades.
p. F. Ainda negi o roas^ano l Tal eftou que
^ lhe arrancara cilas barbas. 9
úfímic. DciKííi i; afilhas ^ ,dc|xaf;, , q(ic aMa.^ap
Ceo ha raios, et)o inferno a calqeira de ?ero
Botelho para^ftigo de vcth^os*. Vamos , me-
ninas. . yão-ft.
D. Oor. Já e(hmos livres dcílc fufto. á part.
D. Nh. O criado vai hum milhão. á foru
J). L. Senhoc i^obrinho ^ voíti mercê a tem fei-
ro como P8;.íeas narizes ; bafta que voíTa
mercê he ufeira ^ c viféirp a enganar moças?
D. T. Senhor, *; eu não conheçp «es mulheres.
D.L* Se não iendes outra 4cfçijlpa ^ eíTa não
me fatisfaz » e agora yejo^ quiB pòr ido di*
laláveis oiazar com MoQa^. primai fingindo ir-
refoluçóes ,. C itegaceandoçè d^. . .
2>. T. Senhor , permitta Deos /que fc eu ... .
•D.Z. Nào ju«ja falfo ; di?ci mQ,-e liycftQS.aççf-
vimenco de meteres mulheres em cafa ^ iem
aitenção ao decoro de voifas primas^
Z). T. Primas do meu coração^ eu eftou para
enlouquecer^ pois eftou cão innocente. • . «
D.ClaK ealíc-fe*, tenha juiza; bafta ^ iquccom
^ .eíTc feitio nos ^eria lograr ? \ . . si
D» Niz. He, o Senhor, fízqdo .que não appro^
vava os ranchos de Alecrim , e Mange.reiía !
iD* T. Ora bafta quê diga eu que náo coiifa<">
ço racs mulheres.
2). Clor. Calle-fe , tonto. ^
D. iViíz. Çalle-fe ^ fimplez.
J>. Clor. Basbaque.
2?. Niz, Infoleote.
jimhAS. Que i Agoí\ cazac } Aqpí para traz.
,J«Uf. //, P B.T.
I
ií6 XSH&m do Atecrim ,
^D.T. Senbar.tb, dcnttc accenç&o , fènSo^de-
fcfpertrci. ' - '■ > -
^ CiUítÉ^^^È.LínferottlpgklHU
Efs aqui : eu eílou perdiJo^
Gallo tcíio , noiva p rompia , .>k
Porra ibi:rta , e csfa tonçí* i t
Ah fobnnho I Mas que digo? '^t
Empreítar-mc a voll.i ffpadi^ *Cl
Qi3^ me ^]ucro dci^olíar. ■ '^ ' '- *A -Cl
Oh prodenci:! deit^raçHidl, ^
Poi» náo faço huma taíLida" J. ,
Por ninguém me ouvir ;;ritar. ' ^i
D, 7". Qu^ iílo a mim me fucceda ? Náo ha
homtm mais infeliz !
S C E N A IV. ^
Pra^âSabm Í>. 6// , V Simicuph.
D, C T T Uma , e muitas vezes te confidero ,
XX Simicupio , prodigfofò artífice de
meu amor , «poli; com as mas maquinas vás
erigindo ò rctóTcido thalam« , que na de fef
throno do mais ditofo Hymenèo..
£imic. Já diffc a voflía mercê , qiie mais obras,
e menos palavras : Simicupio , Senhor , já fe
acha mui canfado , tomara que me apofcn-
laíTc com meio foldo , que eftc officio de al-
cofa hc mui pcrigofo , que fuppofto tenha aza»
para fugir^ lambcoí as azas cem penas para fentir.
mos de deitar efta náo ao líiár, qàe énilLç^
Shnk. E no. cabo' de tantas enèfíences tudo nfda.
D. G> Anda , não defmaies , qqe hoje have(íiò^.
moftrar ao Mundo os triunfos do Alecrim; "' -
Simic. E a Matigcrona todavia nío raenois '^?r^'
çofâ com osfeò^fos de Fagu^diíí. • '"^
D.G» Mas a galiimaria he , c(nè^ todas, as iÍGra$
-♦^dcas redundfó' cm noffo jwVí^loV ' '' '^
Shnic. Ahi he que eílá a. ^ag^tia do, jogo. .,
'^TáÀradèi áícfticá^ c nósi^%lhtr, -"^^'
:Lf r-^ Sébtv.St^Mlbé somjfiamilbâ.^ . i^, Wt
D. G. Aquella que lá vem , nao be Sevadilhá ?
-Wm/r.' Pdo chdtó affim nad járccí. :-i»v.\
BÍ&í Que novidade he cffa , Sevadííha? Tà\í8^
AvÂfv''Quc bi^ fcr? A «laíor- def^ráçííW
mundo. %•* • "' ' *^
DíGi Que > Mòrreo o velhd > ^^ ^^''^
JVvjrfi-Jrto eníáô féria fortuna- ' - V^
D. G. Pois que tot ? '.7.
^evad.' Fo» ^e O. Ttburdio com a pena dè^
fe ver accoiufcaeccido de três mulheres , conto
vioffa mercê ífábe; á vífta das noivas , « dc?>
fogro tomou tal paixão, que lhe deu éfta hlDÍf|e
huma coHca , e cftá quaíi indo-fe por mim
fio ; e adim cu por huma parte 9 Fagunáiès ,
'^, o- Galego por ambas ^ vanios á chamar &-'
Médieo. Adcos, que me nio poflb deterá
JíéG* Efpejra.
PU S^vttd.
ziB G/imas da Ahtrtfn ,
Sevad. Nío poílo, que D- Tiburcio èftà tnor*
renda por inflames.
Simic. Náo íe canícs , que já o achas morto ;
ande cá , tenha tcíçio , c fiça palcftrâ. coju^
os amigos, ^ /, 1^ A
2), G- Que faz [>ona Cloris í ,», ,^f
-íTffV;!^, »áí> me detenha , sdeos. í,i.c|;
J*ífWÍr, Dizí-me primeiro, que wl te pareci,,^
tra^^es de mulher ? / ^^
Jeváá, Nãn eilou para ilTo , dcixe-mc hír^^que
cftou dcprcíía, ^ 7
Shnh^ Ha tal preíla 1 Como {p eftivere alguém
para mofrer !
Seydd. Náo vès^que vou 'àidofdjc^a éAá grande
c çeceíIiJade»: ;^ * .[ 2; '\
^mic. Vai te , filha; vai*rd, não te foí!raf.
éS!ev4d» Bem puderas tu poupar-me eíTas pafl^-í
das , e hir chamar hum Medico ás carrçiras.
Sffniq. Vai defcanç^a , que ep chamarei o Medico,
JD. (7. Sim , com muito j^ofto, #
Sevdd, Ora faça- me efle favor ,eadeos. Fauft.
D. G. -Anda deprefTa , vai chamar ó Medico.
Simic. Que Medico i Cuide nVutra coufa.
Í>iG. lííò he zombaria? Náo permitca Deos ,
que o homem morra por nofla, omifsio.
Jlimic. Vamoá , que eu , c vofla mercê have-
. mos fei os Médicos na enfermidade de D.
Tiburcio.
D. Q. Eftás louco i Pois nós (abemos Medicina .*
Sift^ic. A(Gm como ha Filofofia natural, porque
não haverá natural Medicina ?
D. G* £ íe o doente ^grier por falta, de rcmetjio ?
Si-
Sttò^WsâilSèptiSi morrerá por Htuitos remédios.
D. (7. E aqç lhe havemos apph*car i
Simic. Tudo ^ò*t|tté nao íor venetio \ porque a
' que*' nicí-ífcaf a V engorda.
D. G. Mo he temeridade.
Simié. Vamos ^ Seiihor , e Deòs fobre tudo.
Sebe B.Fuds.
2>. /. Efpera , traidor D. Gil.
Simie. Ai , qut ido he alguma efpera !
D. G. Que me quereis , D. Fuás ?
2>. J% Que metais a mão a eSa efpada.
D. G. Para que ?
Simic. He boa pergunta ! Para que fera ? He
para fazer 'alfeloa magana.
D»F. Vereis que fabe o meu valor caÃígar
ofiênfas de' hum dmigo desleal : pois faboi*
dò v6s^ qtie fíona Ni2e era o idolo da mi-
nha vetieràçãoj^ chegaftes a profanar o mça
culto com òs^ facrilegos votos de voflbs À-
crifidòs , a quem fuaviíarão os odoríferos há-
litos da Mangerona.
jftrffic^ Ahi cos diabos !
D. F. E aflim metei a mio a eíTa efpada , pi-
ra que fe conferve Dona Nize, ou reguràna
templo de imeíi peito / ou nb de voílb coí-ação,
Simic. Scnhclf , aaui -náo he Itijgar de defnii^s ,
vamos para Vai de eavallinhos a ibgar os coutes. .
D. G. D. Fuás, eftaiíi louco ? Vede que ícm
caufa he a vofTa queixai
2>. F. Náo quero fatisFaçõcs , vamos puxando*
4£rfii^. Eftc homem vem puxado.
D.G.
I). G. Pois para qne vejais ({qc fj f^isf^zer^vos
náo he lerper-vos.,. •,«• . ;
Saffe^/íg^descomj^amílbar,
FAg, Cé, ah Senhor D. Foas ^ j^uma- palavri^
nha dcprefla , que imporUf >:
D. F. AqueUa he Fagundes 5 que me quererá ?
Eíperai, D. Gil , em quanro iFallo a cfta mulher.
Simic. Senhor , não codiinto , òu fallar, ou hrii^ar.
D. C?. Deixai mulheres, c brigai , que eílou
prompco a faiisíazer-vos por elle modo.
Fag. Senhor , venha já depreíTa.
Simic. Jà vai, <jue quer^qui primeiro meter .a
efpada pelo olno a hum amigo.
JRjyj, Ande ícnã0.vowm<?.
Jb. F. Efpera , qne eu vou.
^. G. Briguemos , D. Fuás.
.Simic. Vamos a iífo , antes que fe acabe a cólera.
,jp. F. D. Gil , fe rendes brio , çfperai , qne eu
,. venho já. ,, .r.ti para Fjg,
Simic, Or^ vá de feu vagar, 'qne cfta penJen-
. cia não he Jc cçremonia. Senhor D. Gil , aba-
lemos com os cachin>bos , que brigar com
loucos he fer mais louco. P^ai-fe.
D.G. Tomo o teu confelho. Fai fe.
,Fag. Sim , Senhor , a caía eftá revolta i D. Tibur-
cio nos artículos da mone , e quafí moribun*
do; o velho banzando, e tudo banzeiro; e
'^ à vifta difto pode voiTa mercê introduzir fe em
câfa o mais dcprefla que pnJer , em alguma
íònna que intentar a fua induftria , e adcos.
2). .F. Ouça cá.
Fag. Não polTo , que vou á botica,
D.F.
D. F. Pois em ingrata de Dpna Níze ainda. . • •
Fi^. Não eftoa\^ra; ouvir nj»da:^
D. F« Efpere . tome lá effts vinténs pelo trabalho.
%. MòRrltíí^dfcprefl?. -^ - ' '-^
A-f. Ora di^-m^ , joís Ddífei^ íííze. . . . .
fig^ N^outra occâfião falltré^s: ', venhii iflb
depreíTa. -. ■\,\
^^f^.TM\eJk Vn\M diga-roe ,^çin quanto tiro-
a boHá, Vila hlfa , eíTa cruelj. . V
jD^ F. Eipeçtj,, ,que lenho p ^tóçíé por ótái dá r
algibeira. \ ., ,• L T !/
Fag. Pois Sçphçí » íe a fqVl^Éolia 'eí& afcrroi».
Ihada , a minha lingua eftà ferrugenta, f^/ii-^»
D. F. Muito ,wcreíreira hcefta velba^! Masaon*
de ettà D^Gaj D.Gil? Foiíe o coljar^c;
mas á fé de i)iM;fn fou , que a$ nío ha (Jc j^r-
der comigo; f^^tu , ingrata ISsIiiçe.j. hoje. mrei
a verte cUsfarçadp \ qqis. i|viÁ^ das tuas falíi-
dades hç Ji^fto^. que me rieyifta h(io fó (lâ Qis«
tro habito , mas tambein de, outro affeéto.,. , ,
CMtê D. Fuás d féguinte ''\ .
A R 1 .A. , ' * '^ ^/
De hum amigo , e de huma ingrat^
Otfei)dido , e ultrajado, i i..^ .., . .
Quemmç dera ver vingado fr
Oh nãp/ei como. z^aàgLjpM^ •;.
No meu peijo^taiiiçadorr
Mas ílm cabe ^ porque aV pcnat
Nos cftragQS repartidas -
Pelas bocas das fçridas.
Sahirá com mais vigor. f^ai-fi.
2)2 Gtitmís áh jfíèerm i
S- C E N A V. ' .1
'* • • . ■ » '
CãtntTé. Hávtrâ huma eamâ^ e nefl/f efiári J)».
TibfârctQ deitado^ affiftido 4e p. Lémíircíif
(;2>0M Úorisy Dona Nize ^€ Sevãdilbã.
D. L. r\ Que tarda eftc Madico I
^évâdí V^ Náo pode tardar muito ; róis «ir
diffe que jác vinha, . / \,
D.^L. Cotno eftaís agora', meu fobrinhp ^/ >^
jD. T. Depois que ârrorci , ftcho«náe ixiiifs aliviado.
JD. iViz. Valo.máo náo quebra. . àf^?
D\ 0of. Se fora çoufa boa tião Kam de efca-
par. ápárte.
JD. L, NSo fabeís quanrc fofgo com a voíia me-
lhora , pois. me eflava dando euidado o enter-
■ fO'| c me podeis agradecer a boa vonradé , pois
' vos fci^uro que havú fcr luzido; vós o veríeis.
D. T. Outro lamo défejo eu Hr^t a v, m.
S^m D. Gil , e Simkupio vejiiâòs de Medico.
Si mie. Veogrdtias.
D. L. Entrem , meus Senhores Doutores.
D. G* Em boa me meteo Siniicupío ! Cu nSo
fei Ò que hei de dizer. aparte.
Simic. Qual de voflàs mercês he aqui o doeme?
D. L. He efte ^òe aqui cftà de cama.
Stmic. Logo nié prareceo pelos {Ihtomas.
Sey^ad. Senhora, que sio Simicupío; eD. Gil.
' pifs D. Oor,
D. dor. Bem os vejo •• Nize , que te parece í
2). Niz. Que faz melhor eíFeíto o ceii Alecrim ,
•^c a minha Mangerotia.
$4-
Kg. Entre ^SÍ5^fp<>utor , âqâi vétti cBhft'
tàor \ qúé ^tàxéíàtn k entende -muito bciiri'
D. F. Ncftfe ItíftWic chego de fora ^ ittii ,
quando- logo tnc chamou effil';i»ullier /'^e
vieílc ver a. hum enfermei ^ \ *• ■;
D. L. Já eira cfcufado , poro» Witre , e fentc-fè^
D. Clor. Niz^ 9 D. Fuás ik^ttiftte nas fiHèz;»
t-*dW B.Gúi - ''^' ^^-•* ■•'' ••>^^'*^''-
D.iViV'Ní0 mfr peza. •'3n3ifc^^ >
j&- F/Àquettes sior D.Gil i é Sknícupiò ;4ftoà
*' ardendo! ' - • ' • aparte
Simic: Ah Senhor V não vès a^Dj Fuás tfitrtfeém
coroo gente i para D.GiL
D.G. ]à fei. ' "
D. T. Ai roinhft barriga , que morra ! Acdtíài'
*mfc,^ Senhor Doutor. - '- • v '.^
4f/m/r. A^ora vou a ifíb : ora diga^e,que lhe ÍIÍ>fe í
D. T. Tenho na barriga húnks dores mui-Unasi
4f/miV. Logo as ' engroflarcmos^^c tèwí o V^re
tpmido, inchado , c puHullante^ .>u.r..\
D. T. Alguma coufa.
Simie. Voíia mercê he cafàda j ou foltek»> ^^
2). T. Porque , Senhor pouior > '^>
4rmriV. Porque os fmaes são de prenhe. ' ''
D. L. Não Senhor , x\\xc med-íbbrinho he ma^ho.
Simie. Dianteiro , ou rtazei^ V
JD. L. Ui f Senhor Doutor ! ^Dí go que- íneii
* fobrinho he -varão.
Simic. De aço, ou de ferro? ' tu. -,7.
J5i L. He homem, não ipc entende ?' ^ i\
Simtc* Ora acabe com iflo: eis-aqui coqm^^c
tal-
hXxz de in£pfipaçáo morrem os ijoçoiei ; pois
^^.(ie liM.niap efpej:vilára iíTo com iniu^ezt » cmç^.
dendo que era ' naacho ,• lhe applicava huns içti-
fOji.,^ e fe. foflfe vario , humas iitnat ; 6,co*
!.^ojà íei que he homem > logo veremos o
^w fe lhe ha de fazer.
jp, Lp Eis*aqqi çoxfuk gofto de ver os Médicos
j^ji^ cfpcculatíyof.
Simie. Pois o mais he afneíra : diga-n^é o^íf i§ i
ceou demafiadamence a noite paliada T i'/ ;v.
/). jT. Tatuo como a; futura , |>o(que <dê((]e qiie
.íe me acabarão as chouriças, que trouxe nb
:iIfojrp;e , me um meu tio pofto a p&o , e
, .Úratija.
2X L* Aauillo são delirios, Senhor Doutor,
Simicm Amn:i. devç,; fer por força , ainda qucnio
queira , pois conforme ao atorifmo Òm bêr*
rígd dolet , c^tera membra dolet. .
2>*,T« Não são delírios. Senhor Doutor, que
cu jeílou em meu juizo perfeito. .
Simic. Peior , pois quem diz que tem juízo ,
não o tem.
D. Lv Senhor Doutor , o homem eftá allucina*
do depois quehuma fantafma , que fahio de
huma caixa , o deíancou ; e fobre i(To a gran*
de pena , que tem tomado de humas moças ,
que aqui introduzio em cafa > enganando-as »
de cuja ínfolencia fe me veio aqui a mãi queí-
xar , que era mulher de bem , ao que parecia.
Simic. Ella he muito criada de voíla mcrcè.
Z>. T. Deixemos iíTo ; o cafo hc que a minha
^baccíga não eftà boa«
^ms^ Cút-k t qwí. ainda) hf^.4e..ce^ ^<^<^t
barrígada : dcire a lingua fofa.,- i,..; ^ -jcg
D, T, Eí-U âtjiií. ^ : ,,! »M^.3,a
ifimiV, Deite mais,, mais. íUv :i..<..í.. • ^ 3i:>c
D, 7"- Náo ha rnais,. ■ ..n-i : :. f, í ^r,>
if/i7ifV. Efli baftam : he forte linguado ^ ^l^cni
mui boa |K>n ca . de HngpA ! V^jáo vofl^s. mer-
cês , Senhores Doutores, ^^^ . :■: o, ir*
D.Ç. A língua hc de prata,i : ' ><
D.F. Húmida eííá baítameroente. ^ r. *
Simic. Venha o pnlfo : eftá iniermitemc >\Ia[nh
guido , e cqnvulfívo : ó menina tomou a^ aguas j
Sevád. Ainda não veio o aguadeiro. y, *.
Simie. Pergunto fe o doeme fez a, mija }..,
D. T. Nefta cafa ifio ha ourinoí. . : . í,
Simie. Pois tome-as , ainda que fej^ n^urmax fri-
gideira em todo o cafo , quiA p€iíçrini$ optifne
cognofcimr morbus, n;
2). Z# Ah Senhores , grandç . Medico ! . >r>
Í>.Niz. E D. Fúas como eftà melancfiiíç^ii
i pATâ D. <^Í5.
D.Qor. Eflará cuidando na receita. .j^nii
Simie. Qrn. Sejihorcs , capitulemos a Qoeisefe
Eftc Fidalgo ( fè he que o he , que iftprj^ão
pcnence á Medicina 3 teve huma coloríca pro-
cedida de paixões internas porque o. efpjrito
agitado da rcprefcntação fii^mafmal ^ e (k inr
veftida feminil , reirahindq-fe o ínhgue aos vap-
fos linfáticos , deixandp eacauridas as ma^ri-t
, zes fanguinarias , fez huma revoIuçSo no, in^,
teftino refto; ecomo an>ateria c-raíTa j c Kit*
c cpfa 3 que havia nutrir; o /iicco pan^reanconi
cela
H%6 Guerras do Akerim ,
í pda fua turgençía fc achaíTe Jeílífuida do vh
gor j por falra do apperite famclico , dc^c-
Bçrou cm li(]iiído5 : eftcs pela fiia vinadc
acre , e mordaz vilicatido , c pungindo as runi*
cat , c membranas Ao venincuTo^ eacaltàráoíc
05 fa*s fixos f c vohtcíí por virtude do aci-
*' ^ do alcalino , de fone t]uc fez copn que o Se-
nhor and^ifíe com as calças na máa toda efta
" noite: in cãljis andãtur ^ qui ventre ev^Jfiw-
rjsíT, diíTc Galeno,
D. L^ Eu tiáo lhe entendi palavra. ^
D, T. Eu inoTro , fem faber de que. '
Sínik^ Conhecida a queixa, votem o remédio»- |
. qne eu , como mais antigo ^ votarei em ul-
timo Uigar-
D. G, Eu fou de parecer qac o fangrem,
D. K Eu que o purguem.
Simic. Senhores meus , a grande queixa , gran*
de remédio ; o mais efficaz he , que tome hu-
mas bichas n^ía meninas dos olhos , para
'^^^9 o humor faça retroceíTo debaixo ;^ para
íirha.
D: T* Como he IfTo de bichas nas met)inas
dos olhos ?
Simic. Ut hum remédio topicó ; nlo fe aílufte ,
que não he nada.
D.T. VoíTa mer<íè me quer cegar?
Simic. Calle-fe ahi ; quantas mefiinas tomão bi-
chás , e mais nao tégão.
D. L. Càlai-vos , fobrinho , que cllc Medico
^ he , c bem o entende.
D. T. Por vida de D.Tiburcio, ijtie primeiro
rhàíicAtv^ p diabo ao Mfisdico » e á t^cdta (1
que cu em tal confiiua. iv-.' ^ttltes^fi»
Simie. Deit^e-fe , deite-í(í: cp jhpmem éfti^A
niaoo,iíCifiiriofo. ,; /
I),,L. Áqoieui*vos, foÍ8 alguma criança ^r;j&
Z). iVís. Ora Senhores Doutores , ja t]uô volbt
mercês tqui Tc achio , btm he que Oft ia-^
formemos , eu , e aunha irmã , de varia&q^^
xas que padecemos. -i ./jut
JíiMÍc, Inda mais efla ? Ora digão*
D. C/or- Senhor , o nollo achaque he tâo fc-
melhantc^ que com huma fó receita ÍCí^gP-
dem curar ambo« os males.
D, Nh. Náo ha duvida que o meu achaque
hc o mcflno cm carne que o de minha ir.ml^
Simic, Achaque cm carne perccnct a Cirurgia,
J}. Cicn Que como dormimos ambas, r< nos
communicou o mefmo achat^uc ^ c aílím ,:Sc-
nhor j padecemos humas anciís ní> cor^çã^^
humas melancolias n^almâ, huma inquietação
nos fcnddos , huma iravAfTura nas poiencias ^
e finalmente , Senhor Doutor > he tal «ftc
mal , que fe fencc fem fe femir i que doe^^
fem doer ^ que abraza fem queimar^ queaic^
^ra enfriftpcendo , e entriftece alegrando.
Simic. Bafta , já fei , iíTo he mal Çupidifta.
Z>p L. O que he mal Cupidifta,quâQunca uí q»^í|
Simk. ^t hum maj da moda, ^ . /,
D. Niz. Que remçdio nos dão voflas mefcfo ?^
D. F. Eu difTera , que o òleo de Manjerona
era cxccllenie remédio*
D- G. O verdadeira para eífa Qfiké%^ w^ ^s V^-
mãf2s da Akaim. t>- í*
r^
1}.KJ^* Ui Sétibor 't)ómot , a MangeAMS» lA bom
.'4^Uenre remédio. ^ t.u n 5
2fe(^<?.' Nada chegk ao Alecrim, cujas ekldiencef
virtudes são tamas , oue para ndnníeraHastiio
acha h(iitiero o álgaríimo s enáofal(kAi ^ucoà
^slHtretame^Kâ 4K^ diamaíTe planca bèmdítâ, C
R\ J^ Sei^entrarmos' a efpecuUt >vfr8udeK » at
-iáii^Viaiigerôtia^O^iiiiiaque asM<la hetva ianta.
Slmic. Daqui a polia no ahat 'ni6 vaf fiadas''
JD.^ F. A Mangatona Oic^tnitar -^t Ve^u^y^
-'^uj|W ramosvn^^rdavCupido ^^'«''^rafi tnál
-'(CupfdMfta rfáo' p6de ' háv«r melhor rethtdio
que huma phnta de Vénus ; poitf Te nocar*
-iiíéí'^^ perfèijfio-com que^ariarútèza arevoí^
•ifiÒida^eHas^UTunioi^as fc4hinh para que to«
dCiÍ;è^hiio^ fejSd ')eYoglifí&0'da th^òrtalidaie'^
^Mu^tlefuavilíimo' aroma , de ^á frangraii-»
' tíâc ht hidropico o ol-fato , dia he ' a delicia
•rdfrvFlora , o mimo ^6 Abril ; e^aí píciscralda
nó annel' da primavera. •-• ' • i
Simic. He verdcre í-Aâo: ha dúvidas - -•
D' Nm^ Eflou tio contente! . * ápan.
D, •(?.'- O Alecrim , Senhor , rielá ftia exccUett-
cia I^ titular na republica aasí plantas , cujas
flore^%' dc^pois^^dè' ferem bclla imitação dos ce-
rúleos globos ,' sib a doçura do mundo nos
•mtflifluòs òTcôtoií' das abelhas * '- • ';
Simic. Todavia a matéria he de apitíbiês.
D. £?. Elle He a coroa dos jardins , ojenço ve*
getável das lagrimas- da Aurora : n» charn*-
mas he Fénix ; nas aguas Raiiihá ; e final-
mente he o antídoto univerfal de codos osma*
lés 9 e a maifCicgurji c^bog^ ^ ví<la , qotndo
no mar das queixas aflbprSo os vente» infi«
cionfulos ; e^ fim piova dií^ fyítemi^ te|^
rei traduzido ao) Poi:togite2.%l(ilm Épi^Mina
do Pfocò^ttédi^o Aviceiiã::i*-^oétíi iKkbbfMt
Htim dia para Siques mit-itííc^-*' —-'^ ^^^^
Huma grinaMá bclla'to6fíôárv,- ' '/^
E por*lnaiS qoè bnícou,'n|ò pdde^áehat^
Flor do feuf^goiflío cmwían» flon • "''^
Derprezou do jaírtltti í^'í<íli Q^jatíri^^- ' ^^^
E r tóft iiíi» ^iz p<ír* #i<ih»T ,c;
Ao gf^z(xA^tíkoSktonrAofcftt^^\ noii uJ
Ettò^ jacy«ho^^eixdu fiaí^fitt-ttòr.^^^ *^''^>^
Mas tanto í^'^hegon' Cv^tiámytf -'V^l
Entre virentes pompas o/ Alecrim,
- Hofti aetít 4ráttio preféncfóa Ébftcír ^ • vA .O
Tl? íó ?nc agradas, diffe^ póis"^ íiríi*» ^ "^
Por -ti ddpife» , fó' por te ^Áèhèr J '^ -^ -^'^
}acyntho,'^árol, rdzâ^,^^^)afmtmJ '^^^P
• í o:*í:->> í; .\:b f;np
2>. Cfor. Vf^ a Senhor Doutbi^i eâ'4utB4S
fbmãças do ' Alcaiití * - ^ * '^' ' * "^ , ^ ''1
2>. T* E morra ò Senhor dòéíite : ar>ittif(ha
barriga! '' / -/v.íi*: •. :. .."; .Vu-m;7>
D. Jl Sc verfôs podem fervi/- iJetcwos,' dfeu-
re hans^ dé hum Amegoniíla • deffe Auchor a
favor dai A^gerona petos mefmõs cMfo^h^s»
1^ emt» ioJhev»»
oLiif-;- .' .«. O N E T O^' -^ - ■' •
•nr. 3'. • '^ "V" '" "^L <;*'■ *" n
Pur^^ vencer ki Jpucs q\^4 jwròc;. ^^^
f.íjSllltas de MM^eiona.^içill^ ^^
Jg^.â^rçta, eleição, pois (ijiíiKadiaí L
Quem foubeíle yeaçer a tpJa a flor.
O jafmim defrxHfòu^no féíi xitlAot ^
A roza comfÇ9|u.fei4 efpinAwrj-.fiq .!;
No gyrafol fyi^ylco o inc|irjjMjí :^ ;: •
Entre as ycnçída^^ifloresippdí-vcç-: , í, / ;
Rcurar-fç .ftjgidp -p; Alecrim ,:•. ,í. , , . .j
Que aipor;,pani. vlngac-f^jf. ^Iz /cplher^i
Cantou ^as. «i^ h» ^nut^fo^ V viW ^ ». - /.
Nem os.id<fppjégnquií j:{?pr<vf)jÍo, quereir,:.^
>cyntho.;,,gyr^W , rofa ^ -^ijalpw.'. .
D* Niz. Vivf.o Senhor Dourp^^ c|| quero o re*
mcdio-^^ JV^ngerona. > :: T
J>. Z. Não cuidei <)ue a Miiug<^i;ona , e Ale-
- crim nt?hãa;.,caçs .virtudes. Vejamos agora o
que diz o Senhor Doucor.
'!>• fft: Que cephp 4?u com ííTq, ?, Senhores , vof-
fas mercês me vierão curar, .^^mím, ou ásra-
^ 'pl«ig3^9 ? Ai im«tíia$ barrigas 1
Simú. Calado cftive ouvindo a^ eftcs Senhores
da Efcola mode^pa; , encarecendo, s^ Màngerq-
na , e Aíq«isn^;Náo ha duvida- ^ ,. pro fãíra*
^U€ .pduej[i^!U?!^i nervofos ,argqimçntos , em
que os Doutores Alecriniftas ^ e Mangeronif-
<as fe fundão ^ e tratando Diofcorides do Man*
seronifmo , e Alecrinífmo , allenta de pedra , e
Cal 5 que part o mal Cupidífta sío remédios
ioanes ; porque tratando Ovfdio do remédio
dmoris , não achou outro mais genuíno con«
tra o mal Cupidifta que o Malmequer, . poz
virtude fympacica , magnética , diaforética , e
diurética , com a qaiil cmamr Atnorenu -Re**
petirei as palavras do mcfmo Ovídio»
SONETO.
Eíla que em cacos velhos fc produz
Mangerona mifcríima fem flor,:
EíTc pobre Alecrim, qqe em fcu ardor
Todo fc abraza por íahir á luz.
Ainda que fe vejão hoje aíhiz.
Desbancar nas baralhas do amor ,
Cuido que éllas o boUo háo= de re]>or ,
Se náo negro feja eu como hum lapuz. :
O Malmequer , Senhores , iílp fim ,
Q ue he flor que defcpgana , fera fazer
No verde da cfpcrançâ amor fem fim.
Deixem correr o tempo , e quem viver
Verá , que a Mangerona, e o Alecrim ^
As plantas beijaràõ do Malmequer.
Sevad. Viva , e reviva o Senhor. Doutor , « já
que he tão bom Medico , peço lhe me cure de
. htnnas dor«s tão grandes , que parecem feitiços.
Simic. Dá cá as pulfeiras. Ah perra quç ago-
, ra te agarrei ! Tu eftás marafmodrca, e im-
piamatica. Ah Senhor , logo , logQ , antes que
fe perpetue huma febre. podre , he necefl^ario
que efta rapí^iga ,(ome huns Simicupios. , ,.
Zm. lí. Q Str
ftM Gaerrm^ 4^ Metrim ,
JíiíGi Ai CIom,<]ue'qQándQomal6eâêiilitf);
'.í&. o morrer he rcoiedíolí r^Fàife^
J}*iv Finjo qae me voo ^ por vcf ftfolhjjpk'
rar a falfidade (]e Dona Nize. ' yêhfe.
D. T. M.inde-me cerrar ftfte miomliD^ qée yúa
: o ctt^ando eni hum foor copíoío» abafetn-me bcsv
2). L. Aqai fervia o meu capote : paciência!
vamo-nos , e deixemo-lo fuar, ninguõnlbe
faUe á mão. '^í'J(r.
D.Úor. Vamos 9 Nize y a moralizar os enx6-
mos deftes amantes* Fãi fe.
2)« Niz. Tanto me importa , vamos a reear os
noíTos craveiros. rdi-fi.
Fég. O diabo iíe Simicupío temo què me met-
tJi em hnm chichéllo com feus ardis. FéUfc.
Sevdd. He para ver fe o meu Malmequer tam-
bém entra em reftea. Vâi^.
Sabe D. Fuás.
2>. F. ]á todos fe for^o. Quem me dera encon-»
trar a eíla tyranna , cruel , falfa , inimiga.
Sabe Fagundes. . i
Fág. D. Tiburcio íica a fuar coipo bqm eaval*
lo. Mas ai ! Quem efíá aqui ?
2). F. Sou eu 3 Senhoca Fagundes , nãòie âflbfte»
Fâg. Senhor y que temeridade be. cÒz ? Voda
mercê não vè que ainda, hf kizçpie*fiifque í
Como fem deixar anoitecer penetra eflas pa*
• redes » aonde até o So). entra às fortaddasií
«ZX \F« Não reparei, que ainda era dia3rpC))t.no
. abyfmo de meu ciúme femprc eftout. its (;|fcu«
• ras. Aonde efla- efta cruel Dona .Nizeí.v^/ ,
jaEpé:£ífejrá no jatJiroí^-.^ , .c ■ ': ...;. » .
r y e Áíangeronã. rjp;
J). F. Pois vamos lá , e de caminho quero me va
• dizendo de meter-me na caixa a mim,e a D. GíK
Fig. Vamos , que eu lhe conureí o que fòí -,
ande por aqui com pés de lá. Ai Senhor D«
Fuás quanto me deve!
■ S C E N A VI.
FyU dei/uintalj em que baverãõ alguns ategiè^
ies j e hums capoeira 9 e vem D. Gil 9 e Si'
micupio defcendo por bum4 corda»
D. G. O Imicupio., deixa-me defcer eu primei*
O ro^ par;i que fe não quebre 'a jpprda
com o.<peza de ambos. ?. . Xkfce»^
Simic. Agarrc-fe bem á cotda , t daixc-fc cf*
* conesar. . v / •
JD. G. Ora jà cà eftou ; mas eu não paro aqui ,
• âié encontrar com Di>na Cloris. f^^ije^.
Sabe D. Lanferote.
2). lí Efte ;qsiíntal . he o meu ' divertimento , e
encanto ; mnm homem aqui afíentado , e to»
mando o rrefco , não ha maior regalp.
Simic» Agora já poderei defcer. afoitamente.
X>. L. Que^e ifto ^ que cahe fobre mim \ Quen^
mc' acode!- y
Ao dejcer Simicupio cahe fobre D.. Lanferote.
Sfnãc» Não he nada ., efcárránchêi-me no velho
. cuidando que era poial ; efloo bem aviado ! á p.
D. L. Mas que vejo ? A que d'ElRci , ladrões I,
Simicl Não. 0^- diflfe . eu i
J). L. LadrãO'^ yelhacáo , tu defcendo por hu-
V aU' corda 5)1 altos flPíucos de mfiuqamt;(l \, Pois
246 Guetrâf io^ Alecrim ,
com eiía mefma corda te atarei de ' ))£b , e
.' mã'09 até que atiiatiheça para encregat-te à
juftiça. .' . '.
Sánie. He bem feito ^ .jâ que eu tneímò dei
a corda para me enforcar; .
J). L. Dá xà. os braços.
Símh. Já eftá naeu a/nigo* Q«ef-mc abraçar >
JDf^Lp Anda cá, ladráo , inofíra caos puifos.,
^imiç. Não tenho febre.
D. L. Anda, que atado has de ficar.
Simic. Senhor , por fua vida que ilie tião ite ;
bàfta o enleio em que me vejo.?
2). L. Dize , a que viefte a eíie quintal i
Simic. Ora Senhor , ateime muito embori^ , mas
nâd me ajxrrtepor iíTo, ' .: '.
2). L. Por iílo hc que eu te apcfrto.; has de
confeflTar a que viefte.
Simic. Eu eftou atado , não fei o que lhe reí«
pohda. aparte.
D. L. Qiul foi o fim queiaofoi te trouxe ?
Sifnit. A dár fim à minha vida , por dar prin-
cipio n minha morte por meio defta corda,
que falfa me cnrrei^ou nasmáos de voiTà mcrcè..
J9.L- Vicftc roubar-me , nâo he -veniadb ? .•■-
Simic, Sim, Senhor, mas foi a roubar-lhe as
atrcnçóes. * * .
D. L. Anda, ladr&oíinho , para a capoeira don"
de ficarás atado. . .!
Simic. Para onde , Senhor ?
D. Z. Para a capoeira, até qtíe veoha b Sol á-
íer tcftemuftha do wu latrocínio. - . • .
Simlç. Pois voíTa mcrcè ^uer cncapoeicar-n» i
' IGhraçâsaa Deo9 que não foti cá . nòkihujmá
vgGitlinha^ roas fabe porque falia ? porqué> me
icha^tatado^quando não ha víamos jogar as«crrftas.
2). L. Anda , ladrão , que aqui ficafáv até amar
nhcccr. f^^i/e.
Simic. Ofa críaído Senhor Simicupio >: já fabe-
mos . qiie iílo - be meio* caminho anda;do ^ fa-
rá a^^lorca ;■' mas he bem- feito- que ífte' a
mim me focceda. Que tinha cu cá 'dom .D.
Gil? Eois paia que eUe fofife. gallo , me ve-
jo ea feito ^allinha , íe bem que já podia íer
franco pelo esfrangalhado } o magana eflaiii
a eftas horas entre glorias , e eu entre penas 9
elle' voando na esfera de amor"^' e éu .de aea
cahida na gema dos ovo^. - -
' Sal)e Fagundes. ; . . >
jRay. Que mais me falta para f>zcr ? Eu já fiz
a cama a todos; já' fiz afeitada de raboâ pa*
ra cearmos! ; já temperei as 'gaitas para o gal-
lego i já alTci o, fricaíTc ;. já cozi hum guar-
danapo ; agora me falta deitar os arenques de
molho , para ficar com a$ mãos lavadas. Ora
• íou huma rom^ , efquccia-me o melhor, yí^uc
he matar huma galinha para o doente , e mais
crazía a f^ca^na mio para iffp*
Simic. Eu o eílava dizendo ; grande defgraça
he fcr hum; honionk gallinhii^ pois até de htmia
mulher tem ^medo. ; - . : í
Ajg'; Mas xor^fi^íTo -que não fou para ver fangur
que logo-deíf^aia^ porém eu fecho os olhos ,
e meto a faca, qú6 alguma ficará <rpichadâ.
Simic. Oh mulher \ Deos te tire íílo do penfa-
Fãg. C^al! Eurfòii: nniito mcfihdrofifti: tf lo»
: .ziUníma ; oáo c<^ho valor para matii h^gM»
. formiga^ Ora .lá vai a Deos ^ e á iieotofa^
^iúic. Sem âlltci|sjg L^u morro dç mottej^^
.'.\nhal: nio ha mais remédio que £iUâf ave-
.. lha } mas fe lhe íallo , he capaz dejacocdat
-. o .cáo do velho » que eftá dormindp , c..«w
r cerrarrme em .parte mais apertada : oSo; fci »
'que faça; pois tal eftou, que fe a,velhâ:i|Be
mata , tião teabò no corpO; pinga de 'fangoe
• para, deitar. : - , j « ;
Fág. Paia que hecançar^cu nio fou íangufauriMlia«»
Sabe Sevadilba. ..:':
jjh^tfdí. ..Fajgundes , o Senhor eÃà deftfperadc^
por vollc j que faz ahi J
Fag. ]i quevicfte, matarás huma gallinha , qn^
. cu nao me atrevo. Vai-ft^
Sitnic. Li vem a Sevadílha : ora. o certo be que
donde a gallinha tem os ovos , ahi Xe lhe
vão os olhos.
Sevad. Aborrece-me gente melindrofa ; vejáo
:• agora que dó pôde haver de matar hum
'animal? Verão como eu faço iílo brincando.
Simie. Não são bons brincos eíTes ^ Sevadilha ;
mas fe tu já me. tens morto ^ para que me
. qperes tomar a matar ? . '. '
Sevãd. Aí que cftámos em tempo que^ faMão
os animacs ! Éfte pela voz he Stmiciipiò,
óitnic. Eu fou que te. falio de papo s he o ici
Simicupio queeftá feiío fimígallo*. ,
Sevàd. Qipem te metteo ahi ?
Simi^. O velho 9 por cu fec mctcdiflb») . .^
r r MangèroHar ' 24^
Sevad. Pois como foi? .'.:a:\L
Simic. ]á me mo lembra , que eu tenho me-
moria de gallo.
Sevad. Anda cá para fora. ..o''.'\
Simíc. Náo poíTo , fcm ta me enxotares daqui.
Sevad* Como não podes fe eu fei , que: mui»
to pôde o gallo no leu poleiro ?;
Simic. Iffo feria fe o veJhoime não' defezáriu
Sevadi Não fabes o bem que me pareces nefla
capoeira! Eílás 'guapo! Eftás frança! ,. -.'l'^
Simic. Sim, eftou frança, porque eftou feito gallo.
Sevad. Pois dá<me das tuas penas para hum regalo.
Simic. Pois tu te regalias com as minhas penas?
Sevad. Não , mas folgo de verte feito alnorai cth
pena.
Simic. Que fark fe fouberâs que cftoíu. xodà
coberto de penas vivas ? Ora anda , Sevadi*
Iha^ tira- me de más penas. '
Camão Simtcupioy e Sevadifbê a feguiiite
JL K í A A p V . o* j
Sevad. Meu frangaínho
Tupetudo 1
Como he galantinho li . • »
Quô lindo , que cftá l
Simic» Minha belia .; . J_ . ; r: *
Malfazeja, \
Cahi na. efparella » .
Libcrta-me já. :. 'V
Sevad» Coitada da. pila ^ r
Pila^ pila, pila ,
Que 16 bio de pílarr . ..í^;;
J2.
%{» Gfierráf io Ahcrim ,
Stnúc* Acode-me , filha , - > . ^»-\\
Que cftoo bft meia hoa -í \i.t :*
A cacarejar.
Ambos. Que trifte cantar :. i
He o cacarejar!
Sin^ad. Mas não te agaftet « o
Que etivoo-te a íbírifé •. f
éfiMfc. . Vem jài, <f»c não poflo ' >
Mais tcmpopenar, - <
Ambos. .Que ha pesa:, que he^ magoa >
Que hunia ave ;dC'peoa
N^o poíía- vpan
Amír^ Atida , xleíca*me'peIa<porta fórà 9 ainda
que fcja aos coices. Vâi-Je.
Skvãd. Oca vamos. ' ' Fésife.
— .S4he D. Ffias.
2). F. Para cfte quintal ou jardim , ou o que
for me diff^rfagundcs viera Dona. ÍJizç a
regar a fua Mangerona ; mas cm quanto* ella
náo vera , me eíconJerei atrás dcfte canteiro
de Alecrim , pois da Mangevona náo- quero
auxílios para encobri r me dos r.rgentados ef-
plendores da liua , qnc tão clara fe oftenca
efta noite , talvez avifando-me na clara inconf-
tancía de feus raios a variedade de Dona Nize*
Efcoudefe da batida do Alecrim,
Sabe D. (?«.-
Z). G* Grande temeridade foi a minha , pois fem
avifar ^a Dona Cloris , me eirpu^z a penetrar
os quartos defla caía , com o pecigo de me en-
contrar D. Lanfcrote y mas f^m davMa Cloris
vira
virá a 't1kç-{cu:J^r^ -z nsLíàiMXuo hu Alt'
cilicie aíKm oiÍBOçdido n^fombras deftas
o/planusvy •.ioMft$> ^'lAfae hc Matigçrcàia ÍlP^
dçoíiy .Cloris^ .íspt .cfia acção líoi huá) acafo ,
e náo eleição, .c ...n >? íj. —' •
Efeonde-ff -úâ banda ' da Mangerarúú
Sabem bana 'lt\ii^ yppnfi,jClifirk,çada huma
feia fua parte çmyèg0dqré^ynji m , re-
gandOi\e\can^^^ r.^
Z>. Niz, Sois. na eco de Flora , ;
Mangerona .bella .,. : :> . '^ S-.
. Náo fó vctdc jeftrclla.^1,. . . »
Mas luzida flor.
2). Clor. Alecrjo) florida, -
Que dé Abril na esfera
Sois >iia píiròayera .
Fragranrc primor^ L. //
jttnbas. Efta .pura neye:)^
Que tributa Fiora , • \ , • - ^ .
Sãfi .rifos-ida Aurora-^, '
£ lagrimas dâ amor»;
;./:..,)Rf;rfí,..r.tAl;l;-Q. ' "''
Dé Níz. Mas querivcjo.?; ( Ai de Itnim ! ) Quem
.arrogaineíS.^
Da Mangécona ufcirpa b fòr Cugatue 1
B. Ge : Quem:, ó Mize; efcotkKdo; amamt ^/j^era.
•. .0 SoL quú- > axioro . ncfti verde, esfera í.
, .::■.■. • ) Sabe. .
27. /• Poi»raidor5komo ajfRm cyrantio iiiceKtai^
Roímfftoe^^Nize^.iOueBieu peito adora >
Sabe. ¥.
^ rE-^rfidfit. inimiga M» ài tMtoÇ ^^''
<í'>- Qiieciiial. a uittá peni 9 ior itUltr
JSk tf. -' E m fâUb D.Qilt foc etn lorpe-teifolco
^<' ', Bafct»aMâ»cetomaii|NiQi!é^.^^
Deixa-foe , fementido, min - v^r. ^
;SlG. -;• Atende-^ .*Cidfi'í\-ti>iv'\:
Que fem caiif;i fulmina^ .te^s^ri^ores.^ ^
'••• ^ancto cÂi. Mrâi iátd^es ' "* -
Nài chknèMsdbAl&tim feliz Ale ab^^^
2>. ATiz. Sdn"«oéívo V' D;^è, Ynè Viminas .
pofqoe cu firmCi»';. . tí .'V
D. (?• E eu conftame» ^ . . ; í
D. G. € D. Niz* Bki te adorou, «te boiico amante.
A a i-a" -a;» 4..^' .".'.O .^V
D. (jfV. Attende ^ õ Clori , attenJe
Verdades' de quem fabe^
Ser firme em te adorar. \-^ v
2>. Oon Sufpende ^ infiel , ifufpende
Injurias. c^ quem' fabe
]à ntiais te. acreikcár.
D. Fms. Nize ínnauí , in^cl. ,amigo ,
Cede a ftarbará indebencia ,
' . . Que a evidencia': <':' '•'-■ « - •^^'
Não fe pódeiCQUÍvocar.
D. G. tD. N. Pois m íó querida pfendi,
D. F.tD.O. }á não creio òs teus enganos-^ '^^
X>. G. €D*N. Nas purezas-, de: meii .peftp
Felizmente víviras^
IKF.tD. 0. Nos rigores de niéu^ peito • - -^-^
Teu caíiJgo encontiiiái* :
Ti^tfl.; . j , . Mis I (ó .<:c^ tmor lyrâtino ,
Gomo- podo ettt tanto damno
-Tl : Teu cftfi^o idolatrar. ?•
Sabe TagUndéi. ' / \
jFag. }á acabarão <ie cantar l Foit^^gora entretH
a chorar. . ^ * • ,♦ < . ? .
D. dor. Porque , íagundcs ? . -/::
J^gL ; Porque o S^hòrfeu tio diz y, qut logo
vem ao quintal , aíErniando queha ladrões
em caía ;^e diz que fe náo ha de; deitar efiâ
noite, ainda que faça rèra:.dHrít)a..\^
D. (?. Aonde eftarà SimicupíO'?.: c
Fag* Não apparece ; Senhores , efcondão-fe^ e
não digão ao depois que duro fo{,e mal fe cozeo^
D, Mj5. MetâQríc.iHfib capoeira entre tanto*
D. G. £ qt)e remédio ^ já que Simicupio nac^
apparece ?
D. Á. .A nècéffidtde fabe unir a quem fe deze-
ja feparar. Nize cruel , eti me efcondo na ca-
poeira 4 qoejól» I^igar das penas he. o. cen*
tro dt hum amejn^p infeliz. Jkíete-Je na capoeira.
D. G^ Quem* ferve a Cupido , ás vezes: he leão ,
ás vezes galinha^ v - Meu-fe na capoeira.
A^* Ah Senhores < não jme efma^uem os ovos
de hu^ia gallinha ^ que ahi eftá de choco»
Saberfi t>. Tíkiirció , e Scvàditba.
Sevad. ScnhojT, o^rme. periga: olhem o dia-
ho: do- hontjeml. . ...
Z). TV Ahi noqui^K^l, te-j-queror -Mas aqwi.eflá
. CUkís )ie Nis^t ccmedjjiire^ qt negocio* EÍU mo*
que etf t^pêMrii eÍM)htMri<'^
2). Cíor. Qúa^-tol iffo f cPrfhio'? iCohio cftaodo
doente , c tão,, pçrfgofç , ycm á- cfta» horas
ao fercno? •^^••^* ^ -^••**
finar elia rapariga j pois nada lhe>^digd.-, f)ue
náò faça ais avedas^^ :De'?rorn5:r''^âe'^ftíd fcz
r:vtOAri « fiftirr4trii('>dHlr^'''como' detféTpefíKfe
ír^das^pcrttaJtPqi» i»C-^'«; .• '-' .i;' • • <- *'
D^Niz. :*Ttí>rt*b ^ères , SeVidilha ,• fenão fer
defcqrtez.oiivÀ^Ki Primou
í5m^. Voílas níetcí^ nôbí q^énwi^í-^ref ^ qvtk
c há<}e/a!9Eer^deftai[i^â;ipeftdr
JR^ilif. Fam^ qde:eftáfn&«.'e<MÍréa6 eacóitadas ?
O Senhor rX Tiburcidikíid^íithic^acfucarfc ,' e
' não me "defx^ boma horr^-rtkim ínftitice.
D. T. Calte, mentirofa.
ikg. líTo íem' írlla qcfe Ic^áms; hum 'tcftcma-
• nho , ctímd qtíértf • levanta hbma palha;^ :
D. C/or. Não nos mpor#á« éfla- aVtftíguação ;. fó
digo, Senhor D. Tíburdo s que parede mui-
to mal eftarvoíTa mçrcè-^ífai eomnoíèo a^f-
tas horas , e que pódc vir itieò.Tio , íf achar-
ttos com' Vpffà ttnerc* ;-q(ie«f!ijE>pfto íôja pri-
mo , è com tenraçõcs der ii oito , feilftpre o
recato, eckcencía fe d^vatcbnfçrví^r ; c affim
lhe pedimos ciíí còfteziaTc va pirá ò fcú quarto.
Sivad. Ande , -va '«e^qfíhdò^ó hèié\'-' '-'.
JD. T. Ncm.cu quizera ^ue meíi Tio mèatlíaf-
fe'àqui por nenhimi^,»niôilfo'. Mas 'coitado dir
• mim • qéé-élt lâ' Véitt^T- TómàHi qnc m «ão
Sfvaã. Pois efcorida-fc neíRa oipoelrai-n r-_ \
D. T. Dizes hetn. • i.^r ;>,
D. C/or. Eftás louca , Scvadflha ? Mmi Prtfnò
ha-de-fc 14 morrer n'umâ capoeira ? ifíó nlOé
D. T. Não importa , que para confervar a • fcu
recâco me metterei na pane tnais iimitti^tWk^ - '
Entra naiapoeira.
JD. Niz. Eftamos perdidai', que lá ítf etiêcHura
com os doi»! Que íizeftc , maldita i
^evad. Eu bem fci o que fiz: verib que ptça
lhe prego.
D. G. Efte deve fer Simicitpío; Ee tu, Símicopfo ?
J^. 3\ Qual Simicupío ? Soo huinaí Sirtiíbalâ- pa-
ra ellc : quem eftár aqui ? O' ScvadilHa ,. abre-
me a porra , que eu quero fahir , corra a agtía
por onde correr.
Sevad. Callc-fe, que ahi vem o velho. • "[
D. f. Que tal me fucceda ! ■ • •
D.6. Eftou tremendo! ' •'
D. Niz. e D. C/or. Eftamos perdidas !
Sahem D. Lanferote com huma luz námXd , V
Sítnicfápio veftido de Minijiro cottf vara
na mão. .-
Simic. Náo fe aíTuftcm , minhas Senhoras j que
ifto nâo he mais que huma diligencia.
D. Z. VoíTa mercê poupoumc o irabaího d« o
hir procurar de manhã para lhe entregar huoi
ladrão que tenho preze naquella capoeira.
Slmic. A iíTo mefmo venhd^, que j^ tive quem
difíb me avifaíTe.
Z>. iV/^. Que fera ifto? ;• jãfOrt^é
Z). C/or. São ínfortonlos^meWf : 'Íf4ne.
S€\fad. Fotgo por amof de D.Tíbutciò. J.|iic»lr^
éàMi H0))e |QKlàl^blf^demamar>o€hafeãvc|Q•
.< 'ã- QiAlucn^, ine f bei de dar Ja conhecer.!^ Ora »
r,imcu3&9bQrj, iCotno:ibí efte. calo i . ■ '
^2>^Air Stspponltt roâíà mercê > que acabada Jiu*
,T.*Mi'^Uk'd« M^icos', que vierão afliflír a- meu
srJ^ktíiitio ji/kvíio jáquafi noite^ «áftaoilo eu
afTentficlo jtimo-.daqaeila Mang;erona » que ^nio
.-me dcjxará niçiicír, veio dtfceodo hudn ho^
mem por huma corda ; e cuidando que ett era
' .poial me^pcKS Q pé no cachaço. > .
Simic. KTo tbi omefmo, que pór opé nopeÍF-
- xoço:-.n&o ha jmaior deraforo!..;^ :
JDfJU AflTgíieiíAe ^ não ha duvida , quando me
vi daquella force opprimido.; mas cornando a
mim , foi fobre elle , e conhecendo que era
ladrão , o prendi neffa capoeira ^ donde a pref-
pícaz diligencia de voíTa mercê faberá melhor
obrar do qus eu íallar.
-Simia. E como conhcceo voda mercê que eia
ladrão i
D.L. Pela cara, que era amais horrenda que
meus olhos virão.
Simic. Eftou já defenganado , que fou feio*, áp.
J)» X. Ande voíla mercê , e verá.
Sbnic. Ah fô ladrão , faia cà para fora.
D^ F. Voíla mercê vem enganado , porque eu
.. (^Sabf^ ha maior defgraça ! fou- hum homem
bem nafc'do.
Slmic H^ D. Fuás , quem me dera ver a D. Gil ^
.y.qw he o que .cá. mestras» :.' Ãp4^c^
2). £.-' Senhor 5 efte não he a ladrão ^ que ca
encerrei.
Simi^y^ -Se vè ^ que cftc não hc tão feio i co»
jvioívoflà riíerc^rliTi ;í vejamos fe eftã iá mais
algum ^ Oh cà efiá nfaís óutro ; venite aã eam
, p4râ firam. Ai. que he DJGil! Jà eftou díf-
cançado. * > í parte»
D, L. Também não he efte ó ladrão , que Ai
aqui encerrei.. . íj ..
P. ió. Claro ^cfta , que não foa eu \ poís'eu j gra-
. /ças. a Deos , náo neceílito de fiartar.
D. L. E que fazião voíjTas meroès aqui, foiíSò
erâo ladroes ?.;. > . .. . v
Simk. EíTa inquirição me pertence a mim , que
fou )ui2 privativo deílacaufa; evolTa mercê ^
oieu amo 9 não-fc coíiumc a mentir aos MU
niftros de vara groík, dizendo-me ^ que o
ladrão era feio , e horrendo , quando vemos ,
que eflâs Senhores $âo mui bcna eftreados. '
D. L. Senhor }uiz , por vida minha , que erá
o mais feio homem , que vi è\n meus dias.
Simic. Calle^fè, não minta , que o hei /de man-
dar carregar de ferros. >
JZ>. Z. Ora, Senhor, rorne voffa meircê a vera
capoeira, que aífim como achou dous,.que
cu não metti , talvez que ache o que eu tincerrei.
Simic. ]á t\ão tenho mais que bufcar.
D. Z. Faça-me effe gofto , que pode lá tftac
ainda mais algtím.
Sevad. Iffo que fe perde? Veja , Senhor Doutor.
Simic. Bem fei que vou debalde , mas eu vou :
mas não ., cmre voiTa tnèrcè y que me não
Tom, II. R. <\ae-
258 Guerras do AUerím ,
quero encher de piolhof ; tode ^ que Ibe doa
patente de quadrilheiro,
D. L. Eti tòu 9 que quero açora apuíar efte eni-
gma. Ai que eUe aqui ^Qa j Náo o dKTc eu i
Simic. Traga-o cà paraufóra.
JD. £. Eilo aqui. Mas ^uevejo.! NÍo foisv&s^
meu fobrinho i
jD»T. Eu fou por meus peccados.
D. L. Eu eftou beíU em befta.
Simic. Efte (im , que h'e o ladrSo , que retai
horrendiflinoa cara ; todos três venháo comigo.
D. Niz^ Ai D. Fnas , que eftou fcm alma ! ap.
D. dou Ai D. Gil , que eftou fem yida !
D. L. Senhor , advirta que efte he meu fobrinho.
Siwxc* Por fer fcu fobrinho , náo pôde fer ladrSo >
D. L* Senhor , elle mal podia defcer pela cor-
da , pois eftava dcente de cama,
Simic. Pois acafo elle dorme na capoeica í
D. £,. Náo Senhor.
Simic. Se não cjorme, que fhzia ndla feitoro-
c\H% criminis dcftes dois machacazes i
2>. L. Sobrinho , a que vieftes á capoeira i
D. T. Eu Senhor cftando
Simic. Chíton , não me ufiirpe a jurifdicção ;
jà diffe que èftas averiguações fó a mim me
pcncnce: vamos andando ad cagarronem.
D. L. Não importa ; hide fobrinho , que Deot
he grande.
X). T. A minha innocencia me livrará.
D. Zi. Como he a iua graça , meu Senhor ?
Simic. O Bacharel Pctrus in cmílis , Juiz de fo-
ra daqui com alçada na vara ate o ar.
i7t
INTERLOCUTORí^S.
Çfrene , Rifutádé , PrineczA de BeocU i
deftinaia para efpofa de Nereo.
Dorida y Princeza de Egnido , depnadaef-
pofa de Proteo.
Nelto. \ fi^bos^delRei Ponto.
Ponto y . Monarea de todo o ÂrAipeléfgo.
Polihio^ . Pai encuheno de Cyrene.
Aékrefiaf Criada de Dorida.
Caranguejo^ Òiado de Proteo.
A Scena fc reprefeiicâ em TIegra.
SCENAS DO I. ACTO.
. !• Selva , e mar com ponte.
II. Gabinete.
III. Sofjue 9 e montanha.
SCENAS DO II. ACTO-
I. Sala.
IL Gabinete.
SCENAS DO III, ACTO.
!• Jardim.
11/ Sala.
III. Templo de Aftria.
\í k\L-
«72
jís F/trUdadts.
5 C ENA L
Porto (lenfar , em aue haverá huma porke / aon*
de checarão èfcaléres para (fiefembaríifèe de
Dorida y que q fa)râ vela ponte acompanhada
de Proteo , e nella efiará Ponto , Caranguejo ,
e mais Criado» ; > antes dijlo apparecerã htima
nâo â vela: e ao mefmo tempo pajfarâ bum
coche pelo Profcerfió ão Tbeairo , que fera de
^ Selva , e nelle vira Çyrene , e Polibio , e re-
colhendo-fe , fahiraõ os mefmos. Tudo fe execu-
tara em quinto fe toca a Sinfonia , e cantão
alternadamente os Coros.
CORO.
!• Coro.
2. Coro.
1. Coro.
2. Coro.
Amhos.
1. Coro.
2. Coro.
Ambos,
EM hora ditofa
Venha Cyrene ,
Em hora fcfliva
Dorida venha.
A fer de Nereo ,
A fer de Proteo ,
Êfpofa feliz.
Os prados com flores ,
Com perlas os mares ,
Os Sceptros efmaltcm
Ds eterno matiz.
Rei.
Jtíi* Humâ , e mui^s vezes repicão as Nâiadet ,
dos bofques , e a$ Ninfas da mar o.fuave
Melibeo de akemadosi vivas » para que fe cccr-
. nizfrm os applaufos no mar, e na xcnra , ao
. meímo tempo que fe mulciplicão as felicída*
des em ambos os elementos. Em hora fcfti*.
vt , e ditofa , tomem a repicer , qua fcjáo bem
vindas, à minha Corte de Flegra as iliuftres
Princesas de Egnido ^ c Beócia , para que nas*
f^ias núpcias de meus filhos Pruceo , c Ne-*
. leo^^fc perpetue a ícmidea eftirpe das marí-
fíníUis Deidades.
Qften. ]á que a forte me deftínou., õ excelfo
Ponto Monarca; do Archipelago , ás fortunas
de pfpofa de Nereq , com a gloria de filha
tua, não invejo o throno de Juno, nem os
dominios de Thetis.
Açrc*^ Nem eu , 6 Cyrene, com cíti bclleza
p Sólio de }ovc» e o líquido Império de Neptuno.
JEr/. .Cyrene , quando cm hum fó dia fe encon«
trão untas felicidades , fejão mudos interpretes
. de meu alvoroço os internos júbilos, do co-
laç&o. E tu , ioberana Dorida ,. vem a nieus
braços , em quanto nos de Proteo te não en-
lata anrior no mais ditofo Hymenêo^
Dond. C^ vinculos y com que amor nie enlaça
em Proteo , primeiro fcráo cadeas de mitiha
efcravidão., que voluntária offisreço a Vofla*.
jiageftade, aquém já refpeito como pai, e
. ycwíQ como Senhor,
PorteOé Ai de miai, que fó eu na msúor ventu-
ra .fp{i o RÍais ihfeliz ! i . Ápdrt*
'fm^ 77. s ha;
274 ^ Tâfíidâàit
Itef» Piroca, fecn duvida que o pn:2!er'ldefte
dia fe ftz inexplicável nas cuas vozes / Ao-
rando no teu filetKÍo a tua rufpcasáo. - ■ ^
Prouo. Pois com eíFeíco Dorida vem deflinadi^pára
efpofa mFnha, e Cyrenc para meu irmio Nereo ?
Jtii. Eflía pergunta parece ociofa , pois ahces do
tranfporcc das Príncczas já eftava deftinada Cy«
rene para Nerèo , e Dorida para eípofa tua.
Prouo, Náo cem remédio o meu cormentò. â part*
Poderia fer , Senhor que mudades o primei-
• ro interno j achando , que as riquezas de Egní-
do feiiáo mais convenientes a Nerèo , como
mais moço^''e que ft túm me fobrava. o peque*
no património de Beócia ^ que a minha von-
tade não fe rege por outro império ^ que o
do teu preceito,
a^ang. Adcos minhas encommendas : Prote* ,
não he nada , ora efcutemos. âpátt»
Nerèo. £nganas-te , Proteo , na ambiçio que
me* fuppõès nas riquezas de Egnido , poísef»
timo tanto a Cyrene Princcza de Beócia, que
a julgo infépáraVcl do feu eftado •, que ò ré-
gio langue' de feus progenitores a faz digfla
de maior Império , e a mim me inhabilica pa-
ra outro defejo > e tanto que a Ter menos ré-
gia , e mais opulento o feu eftado , a não re-
cebera éípoh.
Pòiibio. Que ouço ! Grande arrojo foi o meu ! 4p*
Càrang. rroteo todavia parece quo defcja albor-
car a noiva ; pois eu não trocarei ha«ia còtt*
linha que lá vejo, nem por quantai Píih- •
ktíJii tem a Berbcciti • J<íp^Vh.
-JfC^/PtPíinçipcs,L* faw eftábnçadar,Cyr.enc )^
4çNerto, E>oridg d^l^rocep; ^. Polibip, que
conduzío a Cyrene , venha comigo » recebcK.
fts cft!inaçprtf/»,tr^ç fe dçvem a h:\ fcílo^.-^
.«•poisuCoda 9 Çprj^Ç:; impacienta no^ efpera cont
;fçftÍyo3';,,í|>pUMÍo|i., nto . dHaiCino* a noffq^v
entrada. : ,; s , Faufe.
Nereo. Vamos^ fofrnofa.Cyfenc, Fai-Je.
Cyrtn. Polibio , .. náo ... xe . apartes de mim hi^fn
íníftante. f^^^-Jf*
Prvteo. Vaincs, :D:<>r|da , vamos. Oh quem pu->'
dera trocar a force , fe bc Í6r<e, a que. me
acompanha! Ávârie ^ evêuft.
Dofid. Q coração pccfágp náo lei que me va*
ticina. á fdrt^ , € vai'Je.
Ji44f€J. Vou -çaintialcando ^ pois me parece que
ainda eftou no ■ na vi o , Q^íer ir-fe.
Cáf^fig* l^fpcrc, menina ^ donde fe vai mcccr
entr« a barafunda das carroças i Deixc-fç ef- .
lAt , que em vazando a marc » fe .embjifcaflá
na fua carruaje»
Maref. A mim me farão lugar em toda a pac^e.
Cârang. Não vè t encangalbaçáo que lá vai i
Vi , mas veja qucf ha de fqar bem para fe inc-
trr na fua eflula*
Mifref. Parece que affim he : ora vofla mçfcl
viva mil annos pçla advertência..
Carang. Como pofícrci viver annos mil , fecnr ',
conifo mil mortes cm cada olhãdiKt de vof-
la. mefcè ?
Aíaref. Tão máos olhos tenho eg qu^ dcm
S ii C«r
r76 ^As ^i^iàts
* i$L mercl ; mat litn pelo ^tiiííitiro' é!ft-'ítfíte.
MMrtf. VQ\tip€ ítkt,>, *'■-';: ' c^í
Cètâng. Sint<>-me-tniti. iqiscbratirádt>/ •' > «^
Jl/^rf/. Naticá vif'^ ^òebiíáiicb tm còufa^^^itii.
iÚrá9ig;r ScSítíiAàsHtí cei^â^Mã?^ jbenf^«rát<ra-
fá ioc cú ; náo pelo que tenho de vieraMia-
ib > ma» porque coda á âhãà d^-ijbirmofonh
a tenho -transferida :tm liiiA'ámcftè''Pi||>thaj^ri*>
«o de tua belleza, .- -'■
Mâref. Inrolence , dercomèdAlb i '''^(le tntt^hc^
eflía de fallar-me? - ;»?: ^ = -
CMráng. Náo fei Hírazear melhor ^ e- fécada bam
' enterra feu pái Jcdmo/fòt^ V - ^ reiufcitó 6^
.'meo amor eomo fei.
Jtíaref. Pafa t/ttc fe lhe* defVttidçsa «(Ta ttntaçSb,
íaíba -logo cm continente , €|ué tenho feito a
Diana hum voto Iblcfnnedéperpétua cattidade.--
Carang. Náo pibí-ittíu voto.
Marej. E affim ^fpero que efta fe)a a ultima
. vez , que tal cou<a ouça ; porque o meu v«-
to náo he coofa de brinco.
Cárang.^ E quem vetou niflb i
Mêftf. h minha devoção.
Cárjtng. Pois anc^tf queres fer cafta que caftíçir
Mârej. Hei de fer foiceíi^ para que êm mim
fe acabe a minha geração.
Cdrang, Vejáo lá de que cafta he cila > Pois eu
te armarei huma'trempe, que tu te verás em
faias pardas : Ora diga, e náo pôde anuUac
'■^C vo?ò i -
AíareJ. Eflárcvalkladoc^tautvxix^^xa^^
QfNU^^ Ppí^i^ filh^ 9 fenão desfazes cíTe voto,
/«;cras todos aj/ròyo para te íacrificarem.
Tocão os tnjirumentps do Coro.
Af4ref. ,Çoiiio».>he iíío ?
Ç4^rang. iiiq, hp.cempo agou de -o faberet »
pois a comitiva )á fe vai pondo cm marcha.
M4jef. Dize^ mais -duas palavras: como heiffi^
da facrificioí' ,: .
Carang. Tu o fabêrás anda depreíla para o teo
carrinho ^ que em Palácio to direi.
Cãfita o Coro.
'l SC E N"A II.'
Gabinete. Sabem Proteo , e Caranguejo.
t: j -'Ml, rj; ■ . '
PifOteo. ;T^;Ei|ç^i|v? » não me perfigas , qu#^
X^nio ha maior tormento para hum
ip^liz 9 qu.e % J^riffação do retiro.
Cdrang. SenhpÇ:.rf^éo , que mania he eila i
fAo mcímp; len^po que te vès proptnquo a
cafar te vejo próximo Ja enlouquecer 2 Nioef-
. l^rav^^. com- a^oroços a Dorida Princeza da
Egnido ? Nãp dizias muitas vezes lamentando
^jWt cpftas do ipar : ( fp he que o mar
téín coftas ) vem querida Dorida ^ . e fe por fal*
.«fa de 9guas encalhou o teu navio, asdcNimeus
olhos te trarão ao reboque > Nio andavas fa-
zendo Sonetos a huma aiufenda , e cantando
n)inuetes a huma faudadei Pois como agora
^^epois de ppíTuir o que defejava^ i parece que
náo defejas o que poflues.
178 A% rãHiiéiãi$
Protee. Tudo i(Td affim he; porém ib i^sfeíhá
incidentes tSo forces ^ <)ue ddftroèm o níaii
firme penfamento. • ■■ -^
Carang. Por ventura , ou por defj^nijra \ niò ht
Dorida muito bella , e fenhofa àt wxvtk Rciíioi
Proffo. AÍIim he.
Carang. Pois cjue hiats defeiM i O cerco he ,
que da Deos nozes a quem nÍo cem denres.
Protco. Sabes to o que he amor í
Carang. Oxalá que o nio foubera tánco ! AnH>r ,
ainda que nul pergunte.^, qos homens he o
mefnío que queref bcni ; "íÀs b.ftas muares
mormo , d nos outros anii^ae^ appetite.
Proteo. Pois como queres '^ue nÍo enlouqueça ,
fc cu tenho amor í- v :» . ^•.? ,
Carang. Para que sio eíTes terremotos j quando
eftás quafi propinquo a ftt tní -'teus. braços^ a
Senhora Dorida? '
froteo. Ai ! fe fouberas qúls •• : mas nio ; íc-
pohe-fe comfgo a caufa éó' meti' tormento.
Carang. Se he por i(To , diga-rrto *, que em ínlrn
ficará fcpultado efle ' íegrcdo.
Proteo, Beni fel qiie não deÍMereces a eftUna-
çáo que de ti faço ; porém ....
Carang. Porém quej Çom que eftamosí Qàc-
rcs que to diga ?
Proteo. Náo , háb me prives da gloria de o plò-
nunciar.
Carang. líTo he gloria do ceo da bòctt.
Proteo. Cvrene he a caufa do meu tormento.
Car/iftg. Náo o diflc eu'? Oh <on.o hê cerco
o ditado da gallinha da jnkiha vifínhal •
4f. P.<irtfp.^^ r^9
PrQêfÚK ^Of^(ÇJTp-(ç. que tal foi a. violência , coif
que me arrebatou a fua em tudo p.eregrinâ
belleza 9 qi^ nio tive' acordo pára dcfmentir
a inclinação: vífte áquella perFciçãa que im-
morralizando-fe nas fuás galrv^rdías fe fe^ 4da-
rar como Deidade i Vifte aqoelles plhòs qut
fe adoptarão aftros para adornaf^a. esfera da
fua formofura *? .Vifte aquella qcvc, que der-
retida de melhor eftrelia , roul>e congelar os
corações ? Vifte aquelle ondea/do epilogo dà
luzes, em cujos annéis preza a memoria não
fq lembra de outta igual marayilha ? Yífte. ••
Cârahg. Efpçrt ^ Senhor, com quem faiía ? .Iflb
he comigo ? _. . i
Vroutk .Sim , porqiie yf^a.r fe tem.fl^fculpa t
minha loucura^ ^ ^ ...
Carang. Agora ye}o, que iíTq he loucvii;a 'refina-
<la. .^u por ventura i;;! nada diiío que dizes}
Ea yi aftros , ^(bel};^,. Deidades , nem luzes }
Eu vi mais quf hupaa mulher > - ou huma
Prinçeza, quo tudp. be mulher, formofa fím,
. porem não agora lí.cottfa .^o^íci^ eftrello*^
Proteo. Calte^ nèicio,' que q.tçj}- génio g/oflcK
ro não fabe diftinguir perfeiçõffs.
Cârang. Eu cá ,nq\tpep amor figo outra filo«^
foãa mais natural^>.íbrmofura ça, para mim ha de
(er clara , paipâv^\ que todos a ctuendão^
comO: as paftoras do tempo antigo,
Proteo. Oh quanto invejo a fortuna de Nereo ,
e quanto temo que efte incêndio , em que
me abrazo , confuma faaile^ameotc os facri-
icios de ambos os Hymeneos !
Cá'
í8o ^ . A$ Tarieiaáes
Câran^. E que deterrainas com edil defonfena»
da indinaçSo ? * '' *
Proteo. Deixar a Dorida , e perteild)fr a Cyrene
a pezar de todos os impolHveis.
Caratig.. ENereo teu*innio que dirá neflfe caib^
Proteo. Terdoe jNereo , que eu nio poflo r^ei
a violência da minha inclinação ; Numen lo-
periór parece que t domina.
Cãrãng,. Em quanto a Nereo , já não he a du-
vida ; porém Cyrene como ha de correfpon-
dcr-te , fe he noiva , e Princeza ? e o faltar-
' lhe em amor íerá crime, de -leza magèftade,
Proteo. Tudo vence o tempo.
Carang. £ fe faltar o tempo ^
Proteo. Náo faltatáõ oséittmnos, pois foir Pro-
teo , que me faberci transformar èm vari^ fór-
' mas , para poduir os (avorèá de Cyrene.
Carang. Se não fora GVrcnc Prihci?za , te dif-
fera aue ce transformaífès; 'í&ivpte eih ' buro ,
que he a melhor fórmá para attrahír.
Proteo. Enaofefá d^facerro participa r-té a mef-
ma virtude dè" tf asfof mar jpeio que pôde fuccedcr,
Qtr/vfig. Eu,'SèhhJbr ?' / »
Proteo. Sim,tií. »' *i
Carang'. Se eu fou capaz diffo , já me começo
a transformar na tua vontade , e me veras
não fò transfojmado , mas formado na faculda*
de amAtotia j c ainda que fou Caranguejo ,
farei muito que ande para diante o teu
annor. Vaufe»
Sã-
êtòe Qfrmunti' t tfiará J^rouo vottadàicm r^ds
cofias para ilia. ^m- :
Qrf». PrittCipe? : . . .^ . í^tí
Proreo. Qi]tf^<ocdena$ , ói^iaceza! ': í
Offitt. Cuidei que era Nerço. . rt
Froteo. }à fei que não ha taúot . infeKcidade
que fáí Preceo. .:.• \i
Çyren, Porque? .* -
froteo. Porque fendo Nereo^ tivera a fortuna dâi
mcrccer-te cffe cuidado.
Cyren* Nereo , em quanto- Nereo , não mereci,
mais que Proteo , em quanto Proteo ; a, quali-
dade dê efpofo que eftà para confeguir*^ fae
que forma a difFerença dê.::Nerco a Proico.t
Porteo. Eíla qualidade , óCyrcne^, hc a. que mais
qualifica 'a minha defventura. i
€!yr€rt. Se aformofura de. Dorida não pMde0e fa-
zer dicofo ao maisdeígraçado^podcrit' quei-
xar-fe de infeliz a tua íórrç : mas ccixia na«
fua belleza cílào vinculadas; às fortunas ,':;.nial-.
pódea apetecer af drf Neréo» por inferiorctk ,
Frotto. Mas coro tudiO' a fc^ poílivel quort)s
aftros mudaíTem de -:^fpeâo) e que os Plaiue-
ras , que íti6âírão nomeu^horofcopo^ pudef-
fem commutar os feus influxos entre mim ,:>c
Nereo , eu fora mais ditofo oao fendo Pxoteò 9
do que o mefmo Nereo com a dica que goza.
Cyren. Enigmas pareceih 'ás:mâs palavraíS;
tíroteo. Se Nereo foubècá.,. Senhora. .••» r -r.
Sabe Dorida.
Doridm Oh quanto te agradeço , Cyrene , que
divirtas ai adancolíos de Proteo ^ mas cuido
3 Q{k^
**:- ,
f ^iqnecibA: eftilo em Fiesn i c ct l i èim 4> 6 ip-cfi
pofas com poni(fai fuQebre.
Prouo. Sempre at coufas intenCif iprodozem ^«
fekos concraciof.^.põíft alfim ootoo ha lagri-
mas de gofto ,• porque Jiio haverá ■ vAm»
r'ffàtU^ at^ia? . ^ ..i
Dorid. Nem íempre sáo conaínoo^i effi^ fiaaet
no exceíHva affèfto. ^
C^eii.'.Dbrída v poriqae^é^litolerá o afftâo ^ fe
o amor for cxceífivo ? ......
JDornf. Porque affeí£k>-! que <uo <fabé'' mudar
' iide afi^efto , .hc afFeébdaxiemonftfáção' da von-
t''tade^ .Proreo ,>' bom-^fetique aatuai prendas
imreci&ò mais Xelia. Bríncezia ^ e mais digna
'•e%ofs[;/.a tu9 rrifleza-me (lerAiade o deígoí**.
ro de noTo Hymenèo^ epoqae nSo perigoe
' t realidade na con je6hira, deiengana-meí^que aia*
da he cempoXe ácafo ea motivo os leas pezaresí
Ptotio. To Dorida ^ ta és a caufa de minhas penas.
Jbarii* -Infelír fui ;. uorém. ... > .
JRrar#o;-'Nio te aflofte efta exprefsão , qoe co-
inô>>'na- {;lotfa do amorrjha fombras de infenio^,.
4]ue\moito me emrífteça .6 meímo, que me
alegra? Pois quando comttgo vejo a gloria
que me eleva ,- vejo cambem em ti o abffmo
què 4ttc pettafíza*:^ * /
C^en. Que bem ezprríTado txn«mo !
VoTid. Que mal fingida .-fineza !
Pntio. Que .nul eiucpdbb affeâo ! dfârie^ .
• . ». ■ 'A \ .' ■■
V' c- ■'■ ■ /u ^ ■: ' .:. . w
í.
' '^'" ántâ Proteo s f^íítme ^^
Etn ci mçffha confidero .-. >
De meus^iiDales o motivo ,
Por u niorro ^ por ti. vivo ,
Tu me macas , lu mç alentas ,
i Pofs/c^mttgp cfti meu mal^ Vi
E comtigò cftà meu bem, .'
Deixa , pois, qtíjctrífte viva ^
Quem alegre bufca. a morte , , ;
E veras que» -dcfla fone v v Jj.
Efta vida me horrorifa , ..i '
E efta morte me convém* ^4Í*/h>
Vorid. Que te parece, Cyrénç^ efte novo mo-
do de querer? -m : ( ' .. -^.O
Çpm. He queto^^fcu amor náo.he vulgar. ^ >
jèorid^- ^ Achti^ aca^ em Ncf eo . femclhantcs qjc-
preisCes ? ;.:.i:».-.. * •
Qoíè/f. Ainda náa^oaVe occáfião<para.a experiencia'A
? Sabe Carah^uej&. •. , ' . -:>
Carãtig. Se eu dcfta me (aio bem , tenho tnoi-
co que contar lik cflão.asidcias Pritkce2ás , Cy^^/
:j«nes , e ^Doridas , eu darei, o recado de.iov^l
te qoe Oyreti^ meJvncendav e Dorida fique
<jero jejum t.tKMio-mc pateta ^.c.mentecapto. Ain-
da que me matem- não hei de cafar.
Cyrat. Que homem he cftc íi - .^
Dêtid. Sefk algunr oonto ^riçoqi <{ucm os Pcin*^
cipes fe diveiwm, . j
CáTáng. Tenho dito : contra minha vontade não
it €uifem« Bv
|84 Aè ffmUiâÍÊ9
Daria. Náô H;Pf^ gpajpi açhi^^jaçCbi ttams í
Vai-tc daqut ' ' ^
Qfrtn. Deixa- o, qae gôfto de o oavir.
Ourang. He boaotdóka!v DigRrtjiKimio quero
cafar. Irrar!"*A' força iheiífaBiim cáéaixar hu*
ma mulher^ á.-qoeiiiu| ifiu^ln ii v^
Çyrtn. Que xtm yiomo i ■ .- :n »«• /
\ dr^iíijf. DigO':^ ^qoe nia qtproiywá^fe a noiva
' para a fua icrnwf' ./• in./- '
Dor/V. Que noiva ií)p . /ioC
Caráng. Tu cruel y vaiíexom/.Satanás.
Doridi Arrebatado nó feu fiDentái imagina que
falia corn alguém; ' .t r* ív í..; '.
Ç^mr^o cafar htz foa cctma./b ::
Cárimg. Ai adorado impoffivel , que fò co me
•CKçaías eftk^abnari .•>:; ^ • . í^'^ \
Cyrtn. Com quem falias? ^ v . . * ,
Caré^g. Comtrgo^.comrigo bei de morrtír apéK
•fornos: efpera:, nio fujas , qcDSs do» braçds^éh
teu amante te arrancarei. Vm*fe.
Dútii. Aa' palavras defte louòoT^naò fti qiie>
éco formarão na 'idéa , qne me penetrarão
-io coração. . ? l .... .%?.
^Cffin.^ío foças caio de humlfimplcs^ . . :n
Ijmid. Se o coração não<=eftivera firidç contas
triftezas de Proteò'^ dcfprezára aímieílaa vagas
loucuras; porém às vezes sáo jpêelagfCfi' as>ci«
fualidades; pois tcmo.i'; .é \r-ff; v; jl . '\>
Cyren. Que temes?. :/ - i .;.•,. i.i o.,: ;;t(.>
.DorfJl Ai Cyronev que os cemnçett não . fe/ft^ii
bem tanto explicar como í«ndnv;.> hj
csr? ■ " .. ;: : tíj:ií 'ííi'. . ;.. i . .--.ír^
*" Càitd ' Dorida a Jeguinu ^ ;; *
' Nio- 'tenhas por delírtos
McuS' tetnorc^y
Que em amores
Em duvida he melhor • : "
Temer j que confiar)^ ^-^iV
"Oh-credula náo fej^ . i
De/ amor no cego encano, ^
Qda cm tal darono^ ^
Ctes males o peior- ^ *
Devemos efpcrar,:' f^aúfe.
Cj/ren* A' vifta daquellas «sprefsõfs de Proceo ^
venho a enceiíder qúe nio sio fem furidamen-
CO os temores de Uorida;, (fiem verdadeiíii a'
íimplicidadei do Criado. Ohf^go amor , xpc-
de abfurdos vàs fulminando ^ c que de horro-
res vás produzindo i ' . ' .
Sâbe^ Polibia.
Polib. Filha Cyrene ^ nâò fei fe me peza do
engano -qut tenho fabricado, trazendo-te pa-
ra efpofa de Nereo, em iugar de outra vtíy-
rene , veidafdeíraPrinceza de beócia; qoereiH)
'do-me aproveitar do feu óbito ,. e do teaxio-
me femelhante ao delia 9 pois já com as cf«
limaçóes de verdadeira Princeza fé me diffi-'
<:ulta o ver*te as vezes que o meu paterhár
amor defeja.
Cyren. Pat^^vC Senhor , fe náo houvera oucfgi
mal Mt /temer ^ cífe com iacilidade fe podjÉl
4ft JsmÊfdfidéOa
Polib. Pois Wií teceis ^ |cv}ti4p^^J^ booipritf-^
ctpio a ricnià *KiUuftrià > ~
Qreií. Temo ooc (é^ di^oc a dbfcobrir ^ que
a verdadeira Qyitftie'^ PriiioelA:.deiJB^bcía , he
Mecida , t que tu és.mea. paUft eu incriira
Prioceza ; e pôde fjtr^ qoc ufc convena cm
luto toda cfta pQmpaffe(tita9.ftri^|umcial appari^to
Polibé Af emprezas difficoltofip n|ó. fe mtentlo
fem perigo ^^fi km fufl*- ^à&O '.^e adquire
buma Còroa«< BemL-fei exponbò.aiiiíoha vi«^
da pela tua elevaglo 9 porem. rQOõfid.mndo a
brevidade com quQ fe ha.-.drneffiHtaar cfte
flymcnto, e que quanda f e 4(r(çiib'fa o eti-
gâno' tCv acharás Senhora do alvedrio de Ne*
, ceor preto *ròs bn^ dctua foriqorurl, AjcÃj»
dmando como fortuna o reajKngano, teràdi**
. tofo fim o noúb ^premeditado .intento. >• .
C)mi. Oh queiíiovòs Deofcs pfofpcrállo !
Sâbt.Ntno.
Nereo. Cyrene , como f^i eftimas o exercido
da caça, t>or te.dar die alívio ^ tem ElReí
i meu Pai determinado divertir-^cemhuma ca*
:ç^da Teal , donde vejas : a 4eftresa , e vabr
-^òs .nolTos>tnonteirQ0«'. . V. •. . \
Qfrtn* Impuifoíisib da benignidade^ dcIRci , a
-flquem agra4eço>. ^ a voffa Alteia o cuidado
'de meu divcrtimenioi '^ .. r
Nètito \ tâo alta Princeza todo âessccdo hedevído.
Pbifb.pATccCi Senhor, que ;apoftáráo oa fados
a fazer-ce dirofo, unindo na efpota, quepof*
ufaes , a ultima períèiçáo dá {ormofueàn 1. /. .
Hiíio» Poiíbio> hiima focmfura hla bf di«á(b
lie Pwm. . íSÇks
hom Príncipe: os lUafircs Heroes^^de quem
ckfccndc Cyrenc , a fazem digria dá minha
veneração : a be&eza he vuigar anraâivo de
ham animo piebeo : a regiti afcendencia he
digna eftimação de hum Príncipe.: à formo-
fura caduca oom o tempo : a nobreza íe, im»
morcaliza na pofteridadc ; e aflim , . Polibio ,
podes entender ^ que a fér Cyrcne menos
regia , abandonara o thalamo , e deípreizifaív,
a formofura , não fendo adornada da ^&Iage{«
tadc.^ - Fai^feji
Cj)nn. Eque dizes agora, Senhor ? Eftims(rá Ne»
reo com flf fortuna de pofluir a-miiihar^xdfè^
za o íeo engano ? Vès cabida por terr;( >a Jà-
f e , tonde erigias as tiias n^àquinas'^ Ai 'de
mim 9 Senhor 9 quanto mçlhor me for)t viver
occulca , coroo efiava , nas ruAícas aldeai d«-
Beócia , que ver*me quaíi propinqua a cahir
da eminência de hum throno no abyin^o de;
rua ambição! i . . .
Polib. Não «me afflijas ccfm eíTa ponderação r po-
rém não foi pequena fortuna poder no an*
cicipado defengano de Nereo bufcar o rcm^\
dio dcfte ifehfnenre damnoj eno emianco'fn>^
curar dcívanecer-lhe com profiados cárióbos a.
violência de fua inclinação. r
Cttnta Pdibio 4 feguinti
A & i A». .
Na on<k repetida; -
Do' Zéfiro JtKpcllída ' i» :..
' Tidm a dura pati)ia •. r . r
9^ Js^^Mkdáitt
in^rtp :.!AoiaEme IBanckfifeiilii ;r?- ri rrri/-^
crfiTR: Seu Kqoido triftaL
itÁ i>^r.;Tflofeo detham «oace alcança: ^/^l-'
«o.nidi Bei»; p6dfi haver mudança - • - >
«ml T^í Na inftaocia 4^ catinbc» .. ^ . > -* .\J.
Do génio ieq báL . .J^rfg.
JUiM^, Dorida te «%efi..^Çteiiiiocil» paia iavstá
-lodoAÓm. . .. ... .]. _ , ,..- \ .'.xv> .
Qmi.aEu vou. Oh loiíKa ambiçio, aonutoiot
• fiftcipitas! . ■',■■•.:■ /■. .-■:•;' j,c. :r4Í*/êp. :
jlÃf^isTonúca qne Canuigncjo: aieriivabaBe
-dfeeexpttcar aqueUajarenga do Saarifieb:* que
rflhc' náo p^de perceber com a balha:da$ cA-
vtafoUas ; porém fccai he » antes hei dedaf h^m
: olho ao dcmo^ que huma máo ao.aniDr*
SMbt Cdráuigfáejo.
Cãtãng. Eu afEm. como toUo àt\ a emwder' a
Cyrcnc o intento de Proteo , :C: eUa*a meo
-ver nur não deixaria de emender» qoe.iMi
olhos de grande mbercula»;
MâTtf. Senhor Caranguejo.
Cintf^» Senhora Marefia minha Senhola*
MMfrf. Ha muito aue nos nio vemos.
Càtéttig. Que ha de ier i Efia oocupaçãoile So^
ra-Miniftro, de Vénus não me deixa huma ho-
ra livre pafá ter ò meu regaboFe. '
Mãref. Bom oíficiodeve elle fer.
Carãtig. Bom he ; mas para o meu ^Qiio não
he muito coufa ; efia tarde facrlficaoios qoa«
tro moças y como.quatfo to|^rcs^.:pMnioque-
iti%^ <aCa» S .e cpnieíTo-ce ^ que qviando le^;
V4n^i &machdvlif)h4Lflparft.'clercáíregaf o golpe ^
que me fagio- o fangue do corp^k
M^réi[,r Ai de mim .çoiçâck! ' Digàrinc , Scnhof
oC^cangnejo. ,^ ., :, .>•;/'
Cajrang. O quiet ^;5enh6r4 Ca^âtiguejola í
A^4T^^ E/fa tei ije cumpte tanco a rifca ^ quê
(ptjft$ que nãx> casão joaorirem? i
d^rÃtii. Vif como^doúà) e três são nove: fat-
..l^^;(.iç nerqucionãò fabe) que todaaqod-
ia mulher que . Ct moAu crquiva^ e def^.
• é/^hoí^ i como V. g. aquelías que úida me fie-'
àt , te nao^bfandac a cpi^diçâo ^ ^a de íer
.facríâcio d^ ^Venus cpmo Deofa.dos amores.
Aíflfff* Não Ha -lei j[naís. barba» dob que eíTa.^ *
cj^^Wf^r, Wle/itW ft;.V!Ç>nHde ! -.' -"
Cáràng. Bçm fe pôde cafar íehi vontade % pois
^-quantos fe câ$âo contra vontade ? .\
M^^^ Cafamento fein vontade não he tafame mo.
Cmr^ngy A^^uiMPi olha , a vontade he coufa
•xque te nãq vè 1 e vendo hum homem a noi-
yai-inão lhe abre o coração para lhe ver a von-
tade , pojs bafta fabe^r que cem as três potencias
da alma^j^m^tHorkiy entendimento , e vontade;
porque iíTo de caiar fempre. vai na . ié dos
padrinhos* v •? . ^ ,'j
JUaref. E quemterií ó magano , que tal lei
inventou ? ^ •?■ - ' :; -'
Carang. Calte , p^p fejas blasfémia ; olhi que
foi ApóIIo era defpiquc do tígof dê- Daphne,
Màref. B m haja cila ; o mefmo fizera eu. Por
força ? lílo não ^ ainda -guc (t\aL Wcw "^cXs ^
tfio Ai JnífMâies
- além dí(ro:4enho fclto^ voto deièftiAAf^a
, £)iana , xjue me mpoffibíHca o cíídt i^t' hti
de cumprilio , jDais <}uc mC matem.
OtTfng. Por :fnímifá^ o qoe quiseres , qul' f*-"
CO não he mais que íiiíinuar y que fupponoiYiSo
fejas iiiih1iaí^ò«ima.ir'poís ^a ku carinFWH-V^
vo apartado , ''<am - tqdo és criada de DoVjdáV^
e tenho dó do5 teu» p«Aicosfthnò9; Còkadrfihà^
que ]aftima>enho de d ! Náo^oHres para-inihiv'
quic cada vez querè vejo, (e nléfaítté etcòra^feó.
JUdref. Não te compadeças- dtf tuim. ='' "^ <'
Carang. Não pode ler , que' Toii rhuí áiaft)5%;
em apettaado câ blhos logò< ehoftk* ; / ^'^
Mâ^f. ilffo" vai de tft bonft- toràçío. • >í;íi'^m
CffTilifí^.jAncei ^ísaid^cíer bofts <)lhas',/qué iiMJb^
nunca me choroii o còraÇão M cbrpò , CDitic^
as crbnças na barriga. * i ■ '^ :>^'«*-
M^ref. Pois , Sentior Caranguejo , Mareíia «fio
ha dtdefcer da burra ainda que a leve o diabo.*
Carang. Poised montarei a-.cavallo ^ e irei àii^'
pane ã juftiça 9 èíòmeme por defcargOVde
> minha confciencía te -tomo a lembrar a rigo-
rofa^ fevera, e fulminante lei de Apóllo,'a
qual de cabo a rabo he a- Seguinte per /ormi-
lia verba 9 ibi.
DEC í M A.. . ;. .-
Toda a mulher que não for
Inclinada ao matritnbnlo , -
Ha dè Icvalfa ò dèmenío ^
^ Se a não levar to' arooi :
< J/are Jogo de deçôr
"■■ ^ífeii tyrannb • ddfijcnhár } ' '^
Porém fe-iftócl-^àtjrdridá> ^ ' ?[ l, *"
Seu rigor, deye efcolhír ' T ''
Ou morrer , pqr rt£o ci ftr , ; f^aife.
Àfàref: tii - cnraiadtírí fehitlha n tç ! Káo tci ò *
:*<}uc Kèrdefazcr nèrté tafo ! Sé íf^fo^ he líii--
' taf-fi«í {í ft iVaò 'cafó/i' hfe morrir r 'oh que"
apertado cafò ! Pois. fc todo íifc inofcér , êr*
colherei á morre , oíÃ^/Riê \toY fria is fuàve: T
, ,.NáQ ^ha quem nic díeá . '.^ . ' ' ..
^ — ípbr^ífts cídaScí^;' V...-; ■/ .';-
^■'- ■ Se devo àrfaf i' "^ ' .'••"-■■"
• ■■ . ''Se;nío^ ^''{tfimY\ ' "■ ■ ^'
• ' .'.Poren;! qae vèrdacfc ^
' Me' pôdeift dizer í
„ i&[<e éti be! de 'morrer
Aílíhi còmò afiím? f^ai-fi.^
.$ G E N;A líl.
Sofyu€í *Mdyérâ bmiifotiíè nMízaáodeffíirn^
r ^ fóm; de bamá Sinfonia dt trompa bttiô)
Jãbindo vários montéiroí com* irtflntfnéntQs ve-
nmorÍQS f Je verÃo cr^zâr o Tbejòfo Vári&ç
animaés filyelires , e fabirão enconiiâáot Òjh
tene^, è^Hertú.
Náh. /^ITrèhé^ nSò te cmpenheá taritò no
• V^ feguimcnto deíTas terás , nem i}i>v .
ntoí dfíWtàftehtò^ avemurte i tu\ N[\^^ \ tl-^
T ii \v^
jpçrs , c verás , . que .apcefe^fco nas dias de
tua formofura o liyiis $tro?: javali , qucoccul-
tâo eftcs bofquçs. í^ , ,.^
Qren. Não , Príncipe , Áí^\ie o exceflb do
^teu valor , qâe^fèmo eni ti a trage<íía áe Adónis.
Ne¥€0. T^doilá yentiirâ c^.niorrer ncs braços
d^ifla melhor Yi^niis , ambiciofo bufcaret a mon^»
Çyrin. Sét W comparas f^i.Vctius,^ já feí. Uii
fingida ei&i jiiezai^. ' • .. j/
iVrre^: í?rng:kja » jpoçljqa^^^^ V^
Qrren. Porqqç ,<l f^n^o^ÍMjL fííMr fi não te podo
obrigar a tfênWm çxceni»^ nâo fendo anima-
do do Régio faiigue,. , /
Nereo. Affim he > mas qmindío a Megc^ade fe
une a belleza , são mais^ yeperados os Idolof
da formofara : mais.forinpia , ap que^parece ,
hc a Lua, ma$ por fer tão baixa a fua ef-
fera , nâo merece tantos elogios de bdla , co-
mo a miníma ellrella , pelo elevado folio, em
que fe oftenta galharda maravilKa dps Ceos*
Cyhn. Vifto iíTo 5 a nâò fer cu Princeza , não
feria objeílo de teu amor?
Nereo. Náo fapponfias hum impoífivel, qu^o al-
canço a fonuna de poíTufr-te Prínceza^e formofa.
Ç^en, Pois adverte, (já que me appellidas de
Vénus ) que como Deidade eftimarei mais os
cultos de (ormoía , que os tributos de
Princeza.
JVereo. Para mim não ha mais formofura que
a nobreza ; e amando-te como Princeza, te ado-
ro como bella,
Ç^r^/r. Defík forte imçofflbiUus o Hyrnenêo,
it Prouoi lp5
que defejas ; cr paíVa o confeguíres , lias <Íe Ima-
ginâr-me fem qualidade Je Princeza^ aliás««.«
JVereo/ Que? '
Sabe Èl Rei. '.
/?ef\ Que te afítígc , Cyrene?
Q/rew. Acbaf , Sefihor , hútti cfpõfo ; que tnc
adora por polftica^más não por affecfbo. ííiier irfe.
Rei. Efpcra.
Sete huma fera eórrendo.
Çyren. Mal poderei , até ftSo vingar nefta fera
' asoíFenças de òutrà. ^ ffáirfe.
Rei. Que foi ifto , Nereo ? '
Nereo. Senhor , pefmítte-me que evite em Cy-
rene , algum perigo no feguimento daqueíla
fera. \' ' f^^i-fe.
Xei. Efta condição de Nered atiffiéra , elevada *, c
^foberba, feni duvida motivoo em Cyrene al-
gum dcfeofto ; não heaffimProteo, cujo gé-
nio mais docilbe o attraélivo dos corações. Fe«
liz Dorida fera com tal efpofo:mas ella alli vem.
Sabe Dorida. '
Rei. Dorida , eftimarei aches alivio no diverti-
mento da caça.
Dorid. Antes me penaliza ; por não achar a fé«-
ra 5 que bufco.
Rei. St efcondería talvez temerofâ do teu valor.
Dorid. Antes pfiJcra cu eíconder-rtie temerofâ
da fuá ferocidade. i.r.íf .': ..
Rei. Se a temes V .como' a' biifcas ? ''^^^
porid. Para dcfertganar-me da qualidade da faz
■'' efpecie , poÍs"'tÍ5ndò á vift<j 'Virias vítii ^ tiâs^
íçi diítíngffíT 2 fua natmcxa. - / .
jfUi. DeííIâra-iM cff^ . cçigipa i. qu dízc^mc,. j^oht
de habiia cfla fér^"? • ^.V: .. :
'jPoTídí Em paiacjio/
Rei. Em paUçio qiie fera f:)óde haver cprnoeÍT
fá quç dizes ?,/,/..'..
J)prf4-/Q^5!Cn f . Pro/çò. . , ^ .
jírf. Protcóí powQ nap me tc-
"^^ nhãs confufd. ç • *- ;
I)orid. ProuRO ,, SeiTihpr ,^ ,jçq.)o gcnip indómito
/ *em Q poiitiç^ o j^erfíjadi a íet mais atteii^
CO , nem á fazaò de'e())ofo'0 obriga a fcf
mais amante. /, > ■ - '
£ei. EfoiCQ. j Ç^íp me prríuado.
^ri4. Vês' por^ vçntura aqui a Protão , ao mt*
"* pós para lifóngèar-me com as alliftehcias de
,. efpQfpi^, ao^mefmc^ tempo que Nereo fegoio-
dp a Cyrene j ado;a os fcus veftigios ?
JSÉçL Não ifj>ãgisves em Proteo menos actençáp
'' â tua peíToa.; ;^ cafuaijdade de feu defvío ncf-
ta occafiáo não feja argumento de feu defa-
mor, Ah fe fouberas a fuave índole de Pro-r
teo , verias que não cabem em feu peito as
ferocidades, C|ue lhe imaginas!
^rid, Ah fe foubcras, qu^e ainda lhe não me-
reci hiim íó agrado !
jHei. A não. íerem tão dignas* de fé as tuas pa-
lavras , as duvidara por incríveis. PrvUeo , ou
mudou a natureza , ou perdco u juízo ; po-
rém , antes quç fe a.ccumulcm novos incen<-
tivos ,4 queixa , na brevidade do Hyrrienèç^
remediarei a^.dçfoçdçns da mocidade, a parti
/iiK<9e/c.íS^^ fesablmiii.fera vem
. 1 j correndo ; aenfaif db anôM !^ i&í I^ik^ ella : álli v^m !
TACudãò«-me::?IOl]o8."<Vâ|: rnwi ';i; •, :.
• Hií. Scsfiilhhíti jÍ9rçofo;itDòvidarv'Tmra.-t^ ^jqúe
cedo (íaréí prmdencia à-iecu reniirnrqtoiTííii^yè.
DòTíd. Segiie«iiiCb^ir/l3que)rT>s inftaoces':|B|ueí.aqai
r.iQC.dilaco íent Proceo^^ sãoixonchiuact» ójfen-
.'.fas do meu .decóíb/-" ?'> r-' ^ \Wài'fe.
Mar^tf Tom^ío^t )í doifisib crm 'lègoas ! i
jí^.f.tfUeriKJr-feíMarefw^- lbe^fab< aoneií^tro
.Qirangíiejo itrsnsfpimaAkoem poná montczu
Carang. Não fera Êrérfc -ít oí 'ff; • ^i\.' «!
Maref. Aí de mim , que {xirê0» tío i^rcq! \^.
CíW/íf. Queiri^amor ,cfttfl aafeçít^iih^ar .";.';
Maref. Ai , «pie oporei me-iRvefte! Vai-te da-
qui , não me emporcalhas^ '^^^ Mi.
Câráng. Não fujas , quer eu fbu o mais aífev
do porcalháo qiic temo Mundo^ . .>í'.fc\>*\
Maref. Nem atemos tenho pérafíifuçiiuvSâiiÈlpc
porco monrez,.por vida^dc'-£sbsí^bacoririht>SL»
que nâo fujc o fcu dente corri 0'nieu fangue,
Carang. Attende prinieirD ■ a efta ■ amante . porC^»
ria , fenão fico entendendo <]a6 tk não piíla
da garganta , efta álpiirca.'' . >
Invefle ^ c cahe iMiréfu defmaiAdé^^ e tonta C4r
rang;4ejo na Jà4 jorna.' ' • * >
AéatefJ Aí de niira.l Qu^em rtie acode que.m»ttíij
Cí^rang. Ocsí ea:a^. fiz como -os ineusTwriies !
Deímalou-fe iMarcfu fem dizer rfqui eílòu !
': X)' Marefia , ó.;Taparto ç;deftccitóúaL-5?Ç'4^AfiSr
morrcie, olha que Sdx^JÇu* ÇLw^x«^^^v^^^
•^ At ^éukiáiet
j,\M:.V^. »fÍP icfolves., qa^ cuiiHrfhao*eídofer
-■..;9 J>6lcguiii^ ». qpc (ç leve ás aras de Venas.
Martf. Que conç lu.que eu inoru?
ijOtTáilig^ Porqpe quem le A.vira,'bem te quer. ,
"• ' ' Cânu ÇtratiguelQ à ff^uinu ^
.: ::ii ..Qu^ndD*yÍrés :0 ;dtlca:jClltélo \j
Na tua garganta luzente vibrar ^
i.Ale^dir^y : hafta , bafta ^* eu me cafo ; •.
Porém fem remédio , que encão grogotó.
Bufca amame a dicofo conjugio >
,.a.*: fir.di?e a Oiana que vi bugiar,
E anteatte* aperte o nó do Hymenfeo, ,
Do- que nà garganta te aperte outro nó.
,; ■ ' I^aifi.
j-Máref. Oh dcfgraçada MareCa ! Para iflo vira
' eu cá acompanhando a Dorida ? Não me fò-
, ia melhor ler no mar alimento de hum tuba-
rão , que fer em terra défpojo de .Carangue-
jo ? Oh voto , quem nunca te fizera ! Mas que
digo? Ainda que morra náo hei de cafar. Vai-fe.
Sabe Çyrene.
Çyren. Que loucura fera efta com que andão
eftes criados , poi^ antes q^ierem a morte do
que cafar? Porém para afadiga da caça , pa-
rece que efte vírentç monte , a quem a Auro-
. ' ra bordou de perpl^s , e Abril dé flores , me
eftá perfuidindo com vegfitíiíites linguas , que
ncUc defcance , em quanto nãp cheg^ a comitivg.
Jlíâref. Sòfr"touir cfcrtipulofa feèflk ^ihttéH^l^di»
• ze ^ Ga r^n^uejo por tua vídft » «chils' » qúe Que-
brei o voto,- eftando etíi téas bríços? ■ v*-
Càtartg. Nio eftou bem ccnoi dcita-te eõtra^è^
nus meus |)r^ços, para ^ ver. cqi7> mais circunf*
pecçáo fe'*(fbèbrafte- o Vota' ' ' '
JlÍATeJ. Deígraçada .dq tpim ! Eu nos braços de
hum homem ! C^ue me Êrá Diana fe o fouber ?
Carang. E quètn lho ha nie diberi Eu ^r mim
livre cftte.^
^aref. Antes • 9 javali me > emporcalhada qutf
• v€r-me em-reu$ braços. ' fí^ : '^- '^
Carang. Para que tanio rigor? • ?
MareJ. Por nio querer qaè Diant mé roace«
Carang. Pois porque fugiam da = feri ? ']
MareJ. Por n}ô perder a irida, . i
Carang. Pois tolla , fc fugias por querer viver ,
porque- não foges da morte, qiie i!è eípèíiík>
íacrifio de Vénus , pela rebeldia do teu dòfdcm í
Màref. Porque affim como és de fegrcdo , para
' não dizefes a Diana que eílíve em ceu« bra«
ços , também o feras para não contares a Vc*
nus que íou dcfdenhofa,
Carang. A Diana poderei íer desleal , mas não
a Venos, que íôu feu facerdotifo j e àffim,
Mãfrefía , deixa-tc deffas loucuras ; trata dé buf»
car marido , não queiras escpcrimentar o ri^io^^
rofo golpe do facrificio,
Maref. Pois tu , que és o verdugo , n}o has de
ter dó de me matar?
Carang. Dó-refeij^mas ha de fec de^v& &v\xix
ffio Ai Fiftíiátts
ém ti- mê ari^btu y pôde defculptr o meo tr«
TQJo , e comraAtf a caa iTcnção.
'^ffeúi Loiico Príncipe j quê ihtenras com ceui
' ' «xciiemos ?
'Prote^. Amar-té/
Cyreny¥íLt3í qdtyfè fabes que nSo poflb cor-
' \rcfporidcrte? .
PorteOé Para querer-te náo neceffitò t]a tua cor*
'•fefpòiidetftia ; que feria menos pura a chani-
ma de m^u dmor', fe para arder neceíEtaflc
' ée rciis favores. '
Çyrftt, Pois fe 'amas independente, pára que mé
•btiftas amam^?'
'Proteo. Para que nSo ignores o meu racríficio.
Oyi^èHJ E^^cfiíc importa deixar de ó faber >
Ptòíeãi Seria ufurpar-te a gloria defle triunfo ,
occultãndo-te o defpojo da vitoriar.
Cyren. Viflo iffo , como cftàs fatisfeito , fica-c*
" embora.
Proteo. Efpera.
Cyrtn. Que mais queres , fe fatisfeito cftás ?
Froteo. Que te lembres do meu amor.
Cyrífi. Pará que , fe háo hei de premiar-tc ?
Proteo, Por náo fer precifo tornar-tc a íignifi-
car o quanto te aderò. '
Cyren. Por evitar efta occafiáo , íó por iffo me
■ lembrareP. r ' -
Pròfeo. 'Adverte , que fe te diflíe que não ef-
«fícrava favores^ nâb he jufto que experimen-
-"<e$' deív^l^czos,*
íy^/f;' 'Não, íeí '^ue tíítlo' hajt entre amar , • c
- ^jaborrotíerv • : ■ ^ -•
Pròteo. Huma inclinação , que nem he amor^
nem deixa de a fcr. ,
Cyrett. Mas poderá Ter amor.
Proteo. Se o for, feríi banigoidade taa y* mar
nâo que eu o efperc»!.
Cyrcn. Oh, <^ue fc efta chaipQta ardefÍAemNc-
reo, fem fuflo con^cg^trià a Coroa]
.1 ■ . ' .^: ; *
Cdnta Proteo o RecU4Íí>:.^e,:f€xfigfk^ e dè-^
pois Untâo os dMSi4\4T^a a d0o.
,* ■'■'! í.i ■ . - ' í
» ».C *iT -A í» O. . 'í- VA.
Bcliflimo prodígio ^ «mado-.^^nciuuOy
Se te eu diíTera o quanto ./•.
Finamente te adoro <,. .|... .-.y .
Julgaras fabuloia :a< cnlMâde ^ ; .. - ív .\.v:
Com qne me abrazjEi jainance ■:< . .f; ..:.
Maripofa de amor :ii<;0ef' ]^iiA.-oIlu>f^ i
Que animadas eftr^Upf. /V
Nortes luzidos sãOv^í^ hprn p^r^giino^
Qnc cm votivos ^xÁpvf^^^ , ' <
OíFerece, lacrimoío efi): tfH^nali^rcs-. r(
Dom líquidos inccndkM fiB|.«dw3 maroíi
í^■^■~ .
a.^\^
fst As P^drkàádei
ARlA A DITO
Moiro. Se acafo et éfqueceres ^
Das lagrimas que choro
• ' - A fé ccfm qae te adoro
Lcitibrar-tò fabèrá.
Cyrtn. Káò cabe na memoria
» Tea loco defváTÍò ,
• Pbis Jò tni piraátò o rio
Do Avemo fó fera.
Prouo. Ah , lembm-tt de* mim ^
Que cemo te adorei.
Cyren. Efqiiéce-ir-de mirtS , '
Que tua não (tttu
Prouo. Mal poderei efquccéMtiej
Cyrtn. Mal poderei íembrar-rtc.
Ambos* De tão vilemo' áfdof;.
Proteo. Porcfúc ían^â impiédide,
Cyrene infiel , porque i
Qrfn,. pDrqbe^fikár^Hío *vd'
De eípofa á fadrâ fé. -\
Jmbos. Oh falle ítl^nléif^ atento i
A. R 4 A A -> ,tr 0^/' ■■•■' ■■■■
Hfmò^ St átatò t#J|ífiíué<?effes. ■' ^> '- '
Das lagrimas .qrfé chòrb /- "P
--V' í:í. a íé' ccWif ejátf fc adoro y : * "^-^
» £<rtíi"bhir.ife ífafciApa'.' -- •• '"• f- ' '
Qiren» Nâó cabe ha memória
•Vi^ 'i •Fa>\íotor>^fvAM';
.Pbíaidè VtSb: jJira#pê' ».o íirf
Do A?emò fô feri.
A-o^o. Ah , lembtii-iit \íe» miriii /
Óuc temo tt adorei.
Cyrew: Ef qitóíMtn«c«>í«iíf« ^ • = ' '^> ;5 <^ - ' •
Sue tua não fôíèí;' •' i-"^
ai pódcrflfi efquccér*^rtie | • •/
Çyrett. Mal poderei : íeriibWtt*"rtc ,^
Jimbos. De ião viIeftto^áYdof>/
Prí?ífo. Porcpt' tarftíâ ihipitólde,'
Cyrcne infiel , porqiie ^ ^ . •
ÇvTfW. Pofqôé.fiWr^fiío »v6* *
De eípofa à íadOi' ffc
j^m^of • Oh' falte d' irtétf ^ aíenro y
%i#
»?«
'* t X A
^K"*.-
, •.. .! . •-. .-•■'... (:-. ■"..-? '.••■I. •. •> .■•'■Al
Meu TT À^ '<MÍe:^ PrinccM©'Jvjvseiil"ifftinitihfO
I das da<} d^fetehçoc» de? Nerao'; e ■ Pi»-
^ ttfo'5abbrevidr 4(iiupajas^ fora o ivnpeo
remedia v^rt que' céiíe :^ toii.èftuhiriop Fo-
Irbio-, tenhó-^deimninádo ^«iJho)B)iíe condoa
o régio IÍymQtito"dtirimàk ^ílhbt 7^^rfarr«>4s^
tua diligencia^' i que if o - :excerjar' *at)ira!bo ois-
iatí graçis^fbf írlío>gr£iadi>.rfi^cdè*.^ pètil Mm-
^bem -me»' «ofhpttcih as 'gbblapldeâei'dia/'Ub
i?ef. A ri j^^jjowjue^èn ;. ri r, oi!oD\,b f:£?lvib
Fojib. J^òf^^iit^ aflionona ds>l^JcocòQdQ'jàHCyift.
-rene^; }á'f^(io^e^ifldíci cdesfievT^i oimdibíiBr.
i?f I: Coín' 'i(fb»^TeUit«MK> ««rdvibfdins: doprrFDtt-
cipe» ; ' <}M*-^^4r «Hlii^âi^ s^iyqaBBf : ohe^ • caúítn )Be
grandes' rairKls3'^ fcyjjí.;^*-. chncQ mJÍ .ino
PoffK Acdt^éir -Ito d» nii^'^\vúdenc{a:r.rna. Unia-»
-dftde conflftea^iiiir^cinraicMi. i^^fmtéi^ê vâi-fe.
JDurfV/. Vo(Fa':M«íèfifiklr , rS^bcBci^c^ :^;ccw^
^^♦^ As ^driedadité
mada , nue me trouxe infauftamentc a Ficgfa ,
^n^e- £e. .u^o%aiigiçen(e maior injufj^^-^HOiW,
nlià P^ffoi ; pdís quem ariies^dc fcr eípou/mè
defeírimi^ , que»poí7o efpei^ac depois , oigindo
as faáalSládes^yi marido igriorarem joialmeiue
os eííylós. do carinho *
Sei. Dorida , a e({i d^cOnfiâtiça Iirevemente fatis-
£urdi i c adverte 5 que l^roteo he meu filho ,
c não f^ltaâo.ls', Qlxcigáçóe^ de ícu /Auigue.
Sabe Qreni.
QrHilfr iSenhor; cotna no. PijiKJpe N[er9> nSa\
«ÉNDÍco honra» , .jiem eAado^ ^ c poj^. elles , e
«j^offlles iné deti a.fertiina ^ c a natureza 5 ain-
-dV qot^.Feiidacarjaiateu vafip Íniperi4> ; eco-
.•snto nft doce. uojáo de -Hymehèo deve fó rc-
^mi a vontadd ás lleía do, am0r 5 e não ás da ra*
-Eão d.«jeíbdo;^. cem Nereo tudo são politica»
•t)9>ir«ti :flnv)r)<lígp , Senhor-, ;<)ue.qqcro ic-me
^í^mc BjrqcJaii^i jsor náo (offrcr o mcQ ^eniò»'
-qu99 ba^a de '<& amar em mim , ou a pofteri*
dade^ ou t afocúd^ncÍA, ficajadf^ -vacilante na
divisão do culto a independetncia do. amor. •
if^flÀRigOffoibs iDeofos 5 corado, aflim ides tro:^.
.tarfídb em pdzaxes.^s minhas ,^m fut^adas ef-
'pcránças ^ Printfllzas , oflas idercQrtfiança$ sSo
rdemaíiados efempuios de. háima faocazia tndif-
creta. Em Dorida a queixa heP^ais? betofun-
•ifcidijmas èm-.ítliCyrcnc, hefcmfuhdam^n- ;
•to*» eftimulpi; pois- nlo põffo comprehendcr
cila metafyfica derdnior.Eiú' fim, penhoras, por-
nqiac nio fufpeite d Mundo nèlles í-^^feíTos maioc ;
çãuíã do que effr„;hoí\t fc c^^Ucará clTc
■ii Proíeo. ■:, ^05
'Hf mento, eentio vereis defvatiecklos osvof»
fos temores»
Dorida ^ iQ/rene com os lenços nos olbos.
Dorjd, }à túo ha tempo de efperar eííe defen*
^gano ; è V]uando não me permutas licença ,
nas corretftes de meu pranto navegarei para
Egnido.
Cfren. E eu voarei para Beocít nas azas dé
.minhas penas. .^^
Mti* Haverá quem pofla refíftir a untos mar ty rios !
/!:.. Canta El Rei a fegmnte ^
A R I A. ^ ^
-Tf^vt ReFreSi O: pranto". Dorida I
•f. : Cyrehe , não lamentes >
V- Nàomais, não me atormentes 9
<ji%4 • Que pôde íer que troques
As mágoas em prazeré
^r.'^ Deftèrra o medo pânico > Para Çyrettí
-u . . Alenta no receio | Para Doríd.
Alenta, pois que creio ,
^ Que contra o meu império
O mal nio em poder.
^ ..I. E que defgraça foi a noila , Dorida , ou
para melhor dizer a minha ^ pois tenho buai
rtípofo , que adora mais os meus progenitores ,
do que. a mim; porque tudo he encarecér-me
^a minha aícendencia amando mais opaíTado,
do que o* prefente ! . .
Dorid. Pois eo , Cyrene , em nenhum tenipo «
fou amada ; vè cu qual he jaúot infelicidade, i
tm. IJ. V Ot
Çyrni. Em Prmeo ferárerpeiio cfTeílcfTiofipiítf
tne conda he extreniof» amante. .
Dorid* Sabes mai« do qoe cu.'
Sáb^m Carángtêêjo , e Marefia cádâbttm porfM
farte j fim verem as Princezas , ' 4omo Jal^.
lando fá comjigo.
Mdref. Por maia que me miitem nio hei de CR&r.
Cfrdtig. Não hei de caiar ainda que me matciii^
Dormi Ha loucura femelhante ! O peior ht qc»
cfta criada .eftá com o mefn^o ijídixio í Ma«
refia , que lens \ Dommonicóu-cèefte fimplez a
tua loucura J
Car/ing. Aqui- fé defcobre a patfanha; ":ã fgru
Mare/n Minha Senhora , qoero embarcár-me fSk^
ra a minha terra ^ porque nefta , ou hei der
morrer , ou hei de cafar; e eu nem qí>M:o
cafar , nem morrer.
Dorid. Ainda mais eíTa pena renho que fenrir ^
*vèndo-cc neíTe cftado í £ftà também a Iouccoih
firmada I Que te parece , Cyrcne ?
Cyren. Será força de aftro ,' que influa aefte
hemisfério.
Màref, Senhora , eu me quero embarcar por
náo morrer.
Dorid. Ha cafo igual !
Cãrang. Senhoras , digão-Ihe aue íim , que íc
lhe contradizem, he capaz de fe matar.
Msref. Ot forte- que eu fiz voto decaftidadoa
Dfina> e aiGm. ...
Csrânf. Sim , fim , o que tu quizeres.
Jlíárejn Náo frie deixarás. Caranguejo ^
CâTáng. Mòi áoidinha eftás ! Vàí-re datiij náo
. vçz que eftàs diante das peffoas Rcaes ? '
JUaref. Poli' cu àtjuí não hei de dar a oíTada ,
iílo ftáo, ^ Fdi Je.
Cyren. Ea ti louco^ quem te ha de repr ehcndcr ?
Cardng. Eu louco J He mui boa calía de lou*
CO cfte 5 Louco feria eu , fe por amor de meu
irmão me cafafle contra vontade : i(To não; ain-
da que meu pai me lançaíTe a maldição com
si miò direita.
Jborid. Cállá-'re , ncfciq > qu6 te abot'ri?ço.
Çyrén. Muito fe declara o fingido íimplez. âpdrt.
Quem he teu amõ ?'
Cãirang: Eu Tou huttia virgula delRei Ponto ,
* quando eftamos juntos fazemos pohto, e virgula*
Dorid* Cyrene , diverte-re com o louco, queea
, võu. fentir meus malesi ' ' 'Fai-Je.
àyretlé Anda cá , fingido ; ctiidas que'iiáo pe-'
iletrò as tuas íimuladas frazes ?
Caifang. Iflò metaos he ó que eu queria.
Cyreti. Quem tão atrevidamente te induftriou i
Cdrang. Hum louco de amor.
Çyreni Quem he eíle l0tíco ?
Cdrang. He ca hania creaturã , que por mais
que lhe diíTe , Senhor Proteo , veja que a Se-
nhora Cyrene , queãífim fe falia em aufencia ,
íie cfpola de fcu irròão Nereo , e que ^Aâo po-
de cafar com elia ; porque ainda que queirão
os contrahcnces , hão de haver grandes impe-
dimentos f mas elle , aíferrando os dentes ,
barco o pé na caía , e pondd a mão no peiro
diíTe y ou Cyrene ha de fer minha , ou eu não
hcj de fer cu, Y Vv 0|^
íjo8 Jsrétrhdâdes
Cyrèn. Com queProtco concebeo tSo aneviJo
pcnfamcnto ?
Câ^dnjr. Mso Senhora , n&o foi P.rptco , foi cá
huma creatura*
Cyren. Adverte que a dÍo querer fazer ruUíca
. cíTz temeridade , experimentarias o cafFigo de
teu arrojo^ Vai-r^ daqui infoientc j aDtes que
a cóleia domine a prudência.
Câiang. Tudo ido lhe dííTe eu: parece que ade^
vinhavâ , pois lhe difle; olhe creatura que
a Senhora Cyrene íe ha de cnFsdar ^ vai »
cceacura , e diz-me : Í3om remrdio ^ quando
vires que fe agafta^ àizt^ que eftas louco :
co.n que , Senhora , não faça caio do qoe
diz hum louco ; e aflim tomando ao meu luci*
do íntervalio , digo » que não hei de cafar ^
ainda que me matcm^ f^ãi-Jem
Cyren. Quem fe vio cm maior enleio ! Mas já*
que a ambição de meu pai fabricou efte en-
gano , porque não quizeftes , injuftos fados ,
que vieiTe dçílinada eípofâ deProreo, no' qual
a cegueira de feu amor não diflinguiría qua-
^ lidadcs |>ara amar , como em Nereo que. • •
Sabe J^ereo*
iVerfO. Ventorofo Ncrco, que euvio pronunciar
o fcu nome neíTe vivo Oráculo de Vénus !
Cyren. Ai de mim ! Se me ouviria i Não ouvifle
mais que o teu nome ?
K^reo, £(ía foi a uirima claufula que re ouvi.
Cyreif. Bem cftou. ã pãrt. Pois fe não ouvifte
mais , ouve agora o que não ouvifte.
de Proteo. ?op
Sàbt^ Proieo ao baflidor.
fhroteo. Bufcando yenho o prodígio q»e adoro ;
^ nias fom Nerco ^á ; ai infetiz !
J^erto. Não dilates o vèqturofo diTcurfo de qqcnft
foi aíTompto á minha ielicídade.
Çyrcn. Dizia , pois , que fda pbffivel que não
encontre cm Nereo hom vcrdadcifo amor , que
dòsluftre o luzido da fua c^ámma com os fu-
mos da politica ! Qcie ame em mim mais o
fanguc do que as vêas ! Qae venere o pincel »
f não eítíme a copia ! Oh qt^ indigno amor !
Ifto dizia 3 Nereo i e f e quetes deftruir elle
conceito, muda o fyftcma do teu amor,
ífereo. Effa dÍTÍsão que intentas fazer da for-
mofura , e da qualidade , he impraticável n^
fnitiha idéa ; e fenão dize-me : teria decente ,
qqc p^ra efpofa minha efrolhcflc outro fujei-
to menos que huma Prince^uii
Cyr^^> Ai de mim! ã parte.
Nereo. Refpondç. * .
Cyren, AíEm hc.
Nereo. Refpondc-nie mais: feria licito qué in-
' flammado ena huma vulgar formofura , abatefr
fe o cfplendor da Mageftade , antepondo o
meu ardor ao meq decoro í Gomo fe confcr-
y^ría ^ nobreza fe fó o anfor foíle^ o dirc-^^
ftor dos Hymenfos ? Enri finj , Cyrcne , oáo
imagines que dçfeftimq a t^a.. formufura poc
eftimar a tua grandezi j que quando as adoro
unidas , n|o fei díAinguir a caufá de tritu amotv
Proteo. Que ouça ifto , c qúé vWílV 'V ' * *' .
Çyrfjf. O amor , SJetw i» í^i^n^ -^^ «x^vcfívíJk 'i
)io Js^ Fâriedédes
e níú indiff^ence ; que quanto maior he t dm-
íz j donde fe origina , tanto mais efficaz he
o (eu efieico: a qualidade pôde infundir ]yiene-
rações, maf não amor ^ tformofura He^aqucl-
le vinculo mais force, oiie prende a vontade jj
e como fó a chamma do amor ha de ardeç
na facra têa de Hymenèo, falcando-ce a oc-
cafiáo defle amor , não fcrá luzido o céu
Hymenèo.
PrQteo. Notável capricho de Cyrene!
NirtQ. £n(ina-me a fazer eíía differenç^ , para
; faber no aue erra o, meu amor.
Çyreti. Haa de imaginar*me , não Princeza , po-
tém hnma particular formofura , a quem (ó op-
ino amante tributes adorações.
J^^reo. E paia que he eíTa difFêrença ?
Cyren* Porque fe algum dia perturbarem os fa-
' dos eAa 'proQ)eridade , que gozamos j arrui-
nado o throno , quebrado o fcèptro , c mur-
cho o laurel , náo me dcfcftimes, porque ]á
não fou Princeza.
iWeo. Quando lal acemeça , contentar-me-hci
com que tenhas íiJo Princeza ; e porque te
não canfes còm mais explicações de amp^r ,
cfte he,o uhimo defengaiio que te dou.
Cdnta Nereo a Ária que fe fegiie , eofe^mnie
RECITADO.
Deixa , Cyrene , deixa eíTc exquifito \.
Novo modo de amar, que em meus ardores
Náo djílÍ9g9_ouUQ modo de querer-te
de PorUQ.\ çil
Nefte extremo de amarrote »
Mais <]ue hum puro adorar-ce »
Com láo c^ga violência , . .
Que confunA^jeiíi meu pcko o requiHto ,
Qoc em e^igm^s propõv s a meus fencidos ^ \
Pois que effa fomiofuiia me perfuade
Que belleza não faa fem Magçfiàde.
A H 1 A, .
Se em Maio ofteata a rofa
Os timbres de formofa , i
Nào deve á formofufa ^
As glorias de Princcza ,
Quê a Purpura ^ qpe vefte ,
CHe deu a inveftidura
Pe bella Imperatriz.
Poía ró fe na beUeza
Amor fe vinculara ,
Que cedo lhe a^eabár^, ■,.::"■'
Do tempo : nos eftragoa
A pompa dos Abris, f^éiife.
Sabe Proteo.
pfoti09 Acafo^ belliilima Cyrene, vive ainda
na cua-memoría aquellç eãícaz extremo d(^
«MU amor>
Q/ren. Não me lembres tanto , que ás vezes o
muito lembrar faz efquecer. j
JProteo. Pois nem queres qqe te lembre a tnU^
nha conftancia í \
ifj/ren. Para qnOt fe me nSoefquece } Que mais
-. queres? ,.: r
PWÇÇf N*l4 miei «4 WC. ^W^% Sifftt Vr^
t»t JsTmeáadef
Çyrcn. Ouves i Não lorfiei maíf a lembrar-me
Faz é/fte fe viã.
ProtiO. Adverte que te não hás de- efquecce.
Qren, De que ?
Proteo, Qtie derejára , fe poflivel foflfe , não fè»
rei quem és. > . *?
Cyr€n. Para qne ? . ' .
ProttO, Para amarce independente da tua grande-
za i pois baftava' pára' fjizer-me feliz , poíTuír
a tua belle^a' em qualquer eftado da for-
tuna. ■ ' ; . ' . I
Çyren, Que ouço? Apurarei a fua fineza. âp4ru
Não vès , que nSo eftaría bem aò teu cara-
cler menos e(pofa , que huma Prínccza }
Proteo. Em hum Príncipe fem amor aflim he ;
mas quando fe fente abrazar b coração na
fotmofiua , rornprmfe as leis da politica » e
fc promiil^áò as de Cupido.
Ç^Tcn. Pois a não fer eu quem fou j me adptá-
ras com o rrteímo cxtrertio ? '
Prõito, Eu nfio adoro cm ti mais que a bcN
Jczn , de cniopetegrinò império ambiciofo de-
ra pslo confeguTr, quanto poffúo : ainda >fte
^ pouco , desa à libctdâdf : nada encareço , dera
• mcfma vida , fc uido \i tivera confngirado
em os tyrannos tirares de" tco -rigor.
C^ren. Como íabes fcr im}M>flivel deixar da fer
'-* quem fou , por íffo affeclas cflía fineza. -'^»
Prouo. O' Cyrene, pelos Deòieií do império
do mar « edo abyfmo te faros que asexprW*
soes, que me ouves, náo são hntiftlcas , fe-
nio veidadetros eifirítos de meu amoi.
'''•lie Pràtié^^ ??f4
^eri» Btftâ , Príncipe , que iflb hc mais que
-•'lembfíNme o wu querer. • i V.vl
Proteo. He' lembrar-te com as ci^cofiftatiicías
^:■ cóúi que ce adoro. '-^^
Cyren. Mas jà fíi>es que fenia eíperanÇa do premio,
'^hfçteò, Baftà-tnc*. náó viver ignorado na tua j4çà ,
• por não haver premio , que corr^pònda a meu
aa[)or,vtietik ^çrecimeiup» que còntafte a lisa.
iíenção. " ,• ;.
S O NETO.
N£o intento favores mereccr-te. 'i
Cyrené , quando chego a idoli|trar*te ,
Que excedendo os llmkesíó de amár-te t
Nunca os principios toco de querer*te.
'"-^Gofn raiã0 poderias oíiêtuier*te ,
Se ambiciofo cnegára a defejar-te 9 :
Que pata fer mais fino no adoràr«te ,
Sftn> premio o fá^rificto hçi de incender«r^.
' Amar, niohe- querer, qqe imj)ura ardera
•A' ehàinma de Cúpido , fe efperara
FrmoS , adonde ludo be Piimavéra ;
' E ít àcafd-, ó Cyrene , imaginara.
Que na tua belleza premio houvera ,
Pelo premio a bèlieza defprêzáca. Jf^éi^ft,
Çyren. Se direi a Proteo quem <fou , para iefla-
- belecer 'melhor a minha fortuna ? Más cóm4,
f ' fé Dorida , e Nereo embaráção a minha proC*
peridade ? Em Nereo vacilla a Coroa ; em Pro-
teo tenho eonftante Sceptro : oh defgr^içad^
-•• Cyrene! A tua felicidade refaz mais infdíz.
%í4 'M Fétriedáda
' ''•' Sabe Polibio. í
fyi^. Chegou o vencurofo dia , em que fe hSo
: fàltr coroar as noflas eípertoois com o diade*
nt da pode ; pois ordeiK>u ElRei que hoje fe
comduão 08 Uymetièos dos jPríDcipes.
Qnn. Mas, Senhor., nio ce IcmbrSo as pali^
vras de Ncrco ? ■ •
Pom. Nem tudo o que fe diz, k odcoiUp ,
fyreii, E fe o executar i
¥/Aik. E que remédio , fenão obedecer aos (t-
^os > Que fe todos os Tuccefl)^ fe premed«cáft
fem , nenhutpa acçio extraordinária fe ituen*
tária. Vamos , que na brevidade coníifle mui'?
ta parre da npfla fonvna. ,
Çyren. ^fpera , Senhor , qoe pode fer qoe ffm
fijíb a couiigamos.
Poiíb. Dizc.
Çyren. Proteo me adora tãoexceflivamenre, que
chegou a publicar entre irarias exprefsões do
feu amor , que ainda a não fer cu Princeza ,
como fuppóe , me faria efpofa fua , e revar
lidou com cães juramentos , que me fez pre?
fiiadir a fua realidades.
Polib. Saberá acafo que tu és minha filha }
\fyren. Não , Senhor ; e parecia-me , qi|e fç pii-
• dcíle eu fer de Proteo , e. . .
fpHb. Cala-te nio pronuncies tal , que para iflb
ailim fer dependia do confenti mento delRei ,
da vontade de Nereo , c do beneplácito de
Porida ; quanto mais , que pretexto decoro*
fo para iíTo poderia haver ? Sigamos o pre-
pncditado dcfígnío , qiic os Deofes nos ferio ;pro-
ãePr0U$.\ ^^1:5
Çyfeti. Jâ nem eíperanças içnho de fijfifcKz ,
pois vejo fruftrados todos os meio^ (^ fo^
di^o fazcr-me ditofa. .^ ^. :
Canta Cyrehe i Jegnintç ^ * -
A R I A.
Mifera ]i não poflb ,
Fugir á ciucldade , r
$e hum pai me perfqad^
Qws figa o vil dçftjno
. . p« llum bárbaro furor, .
Rarecc-mc que vejp
Nos braços de Ncrco
A morte por trofêo
/ po ícu cruel anpior. J^dhjk
S C E N A II.
Gabinete adornado de cadeiras , e biêm Relógio ,
e [abe Mareia.
Aíaref. C>E Dorida me n^o m^nda para a mU
*v3 nha terra , foq capaz de me enfor-
car pelas minhas mios; pois ames quero firt
çtí carrafc;^ de mim mefma , que dar eíTe go(^
to a Carahgueijo. Mas aí de mim-j que me
- nSo poffb ter cm pé, que de continuo çon-
fiderar na niateria^ caio -com vírtige^ ! A\ ^
ai , que tenho o miolo Cofo !• Se me náo {ex\r
to, caio de liar izes. , Que feria de. miip-, fe
não fora o balfamo apopletícò^ qae me.cçyç^
robora o celebro? ..
^Ífenu-Je em buma cadeira ^ que fubitamenfi
7)1^ Ai Fifieâãdes
t fe transforma tm Caranguejo^ em qaem fi^
€arÁ affmada Marcfia , cuidando qat eftã
na cadeira.
Carang. ]á que Marefia eftá de aíTcnco , verei
íe poíTo furrepricíimente aproveiur-me de feus
cularraes favores , já qae tio acrazado eftou
no feu amor.
Marcf. Se não fora efte voto de caftidade , que
me dera a mim de cafar^
Çarang. Agoro que amor navega vencò em pop-
pa, verei quanto péza efte índiatrcó planeta.
Maref. Se eu tivera a certeira , que Diana It
nio havia enfadar ^ )à me caiara rebolindo :
mas eu peccádora , comp o hei dê faber >
3çit| podia Diana , vendo a ban&nda eni
que me acho , nio digo cara a cara , mas di-
zer-me ao ouvido o que nelle cafo devo obrar.
Çarang. Gafar.
Jlíaref. Que ouço I Clitofa orelha , que tal ou-
viftc ! Logo pofTo fem offendcr-tc caiar í
Çarang. Ate rebentar.
M^ref. Bem : vifto ifÍQ p voto não vai de tuda í
Çârang. Nada.
Marcf. E a promeffa vai de pouco*
Çârang. Como hum coco.
JidãreJ. Não renho mais que ouvir : you«mc
deprcfTâ a dar ordem a nfamorar-me para ca-
far anfs que Diana fe arrependa.
QHer levantar fe , e 4 detém Carangvfejo.
pfftw^» Sn^penda.
Mtret. Quem me agarra i
piràn^. A minha cartai • ^.
ie Poruò.p ^17
JUétrtf. U^$ tu Caranguejo > Ha maior ififolen-
cia ! Eu adcntada cm ti ! Gomo foi iftp?:.
Cârang. Eu o não direi: o que fei h^ oucef-
undo aíTencido em hum tamborete , . vicfftc ui ,
e te féntafte nas minhas cadeiras^
MdreJ. Tal eftava com as virtigens i .qu<i não
reparei aonde me aíTencava : e tu porque te
não deíviafte?
Cârang. Eftava dormindo , e não te fenti.
MéO^ef. Por iíío eu dizia comigo : valha^me Deos^
que duro he efta aílento !
Cãrang. t^or iíTo eu cambem dizia : válha-me amor^
que moUe he efta aflentada ! E logo aflenteí
comigo fazer diíío hum aílento no cat^henho
jde minha memoria.
Jííaref. Ouvirias também o que eu ouvi ?
Carang. Qút ouviftc tu?
AÍArej. Nao 9 dize tu primeiro^
Carang. Não quero , dize tu.
Man]. Eu não hei dizer fem cu dizeres. .
Cdrang. Com que eftamos aqui dize to díjrei
eu > O que eu ouvi foi huma voz , ou hum
éco fuíTurrante que dizia azar , azar<
Híaref. Cafar he que dizia.
Carang. Cafar diria , ainda que eu não ouvi maif
do que azar; porem cafar, e azar todo; beo
mefmo. . . '
Maref. ]á'fei que não foi fancafia , nela me
enganei no que ouvi.
Carang. Pois que era?
Maref. Não era nada : que te impona ?
Carang. A mim dous caracóis s minça tivp e^
tW jit Fârieããies
fi(o de ínqtferedor ;"ò'qtue rae itnportft fabtr^
ht', fc ain(k eftás com eftoma^o de feríacrt-
BCààz que o cempo fe raí acabando ^e Ve*,
nuá já me prep;unroaí : efta moça caía , ocr ião
cafa.^ E eu fiz que a não oq via , poir ouvir*
^ te ò ckimo defetigano : pois que di>.es i
JHártfi Sétihor Carángtrejo ^ eu ja eítoor refolt^
ra a cafar^ i
CatÂfifl* Eu fempfe diffe que tú morrias j?or cafar^
AÍAref. Quero cáfar ; que hei de hzti >
Cârang. Que dizes minha Marefia ? Da ca hxm
abrsrço em alv içaras de(Ta boa nofaé
Mâtef. Abraço ? Humá balia.
Cdràng. Que defabailado rigor !
Maref. Quero que Vénus • me devi cflSa fineza.
Carang. Elfa te agradecerá ; porém agora he ne-
ceílario efcolher marido logo , • já.
MdreJ. Ahi com canta preíía ! Hei de efcolher
muito de meu vagar.
Cararig. Qual vagar ) Vcnus hc mui executiva ,
qiíe fe todas di(Te(Tem , ainda nâo efcoihi ma-
tido , com eíTe pretexto punca cafariáo : não,
Senhora , efcolher logo , ou para melhor di-
zer , não efcolher , fenáo fechar os olhos y e
cafar, feja com quem for.
Mdrèf: líTo agora he mais apertado.
Cdrdng. Nâo tem remédio.
^ifre/.'Com quem hei de cafar fe nao conhe-
ço ninguém ?
Carang. Lança os olhos por efla cafa ; vè , vé
fe achas aqui com quem te empregue^?.,
Mdref. A^uí fora ellc não eftá ninguém.
Cãréing. Pois cafa com cfle^eUe.
Màtef. Que? Comtigo ! . -
CarAng. ComrigQ. não , comigo^ ,.
yHãteJ. Pois hei dé cafar comigo.
CéO^dttg.t Hio^ com eu.
M^^f* Ora iílo hé o que me. faltava; rate )
morrer, qoe'»caÊir comtigo. - . . :.^
Carang.. Pois cu 'foo mais feio que a moRc-?
Aidref. Sim , que pódcs fcr morte da morte* -
Carâng. Nào me tportifiques , com ciíe clogjío' .
fúnebre;, -'/--■ . - V
MâreJ. Era o c^ue tne faltava, r /.
Cãiâng. Talvez que' te falte quan& me bufeares*
Márei. Se forip^ra ido nunca. to! appareças^
CaniA Mdrefia a^tgmnti
• A R, l' A.; *.'
Não yjmo meu;noÍYOi/.
Como h^ gaiantinbó ? ;; t.;..
Com effe fqcipho, íi-j '.>:
Queria muthen? ' < h; - ''
Que tolo, qoie (implei^qucrflecio hc vofsèi
Bemúeí não merciço: v
Tão lindos amorfcs^i,. ?-
Porém taes fávorer .; . / :
Os lanço de mim, co^ ponu do pé.
Cdrsng. Ora , Senhores, digiooqué quizerimn;
a tal Marefít -Te nâo fedtrá ^ era huma galt|u« V
AC mocet0Q«:;r pprqme ainds^ jqua m não qu«^
diflc-mc quanto: quiz* V
Çfrifi. tfouco qu5 fazei íhijfar.O í ^h.;..- .^HnVfi
OÊTángi EOava ^einfar eOe séog^í.tfíLt h^t^poò
ma galante ptflaive me dÍi(Iérié^i^ciQ^:'dbv^{i^>
ná por minuetes 9 que paiiKe^gon^»^.^^fie.|fíiní(>-
QfittV' Oomefta^ cem «a nitf loiíadtasiii^ J «t^Vk
Õirang. Não,, Senhora^ «gói^tiio^tenboikinlH
^gíoMeroDQomadòj maiefpdre^queeUccMf.^iO
-<Màal3
*lt>'. - ;
. Tdda-i fiimb afanu -^
$e.«b^,aii^Qref^ í.ív:
E a caáa inftamt
Morrendo eftà. '
Maia que os mimnoa
Sio meus ardores ,
Nos teus rigores í ^ :
Conta nio ha. -' - /'
• 'filas ai tyránna ^ .
Se a^^fuém te ad^a
l^oíle cfta hora
Hora de amar )
vjrrríf. iito he nuis que artificio Imiiiáno ! Coii-
f^éftour-- ■•• ■ -■•' r ■■ " '.". .■;
f. Eflou vendo ^e ha de vir tempo cm
os reiagfos^c^mSO) e cafem^ c^tcnh&o-Afaos.
Quem me dera que toimaífe a /repetir cf-
u /uaviâima coatouitidi»
ie Proteo. ^zt
Xiárâng. O relógio he de repetição ; fc o quer
tomar a ouvir ^ toqae-lhe naquelie ferrínnoj;
e vccá.
Oreif. Tu parece que fabes o fegredo dcfte relógio^
Carkng. Sim , Senhora , o fegredo defte relógio
fó eu , e elle o fabemos.
Qreif. Pois faze com que repita.
árang» Para que? Toque VoíTa Alteza mefoiOf
com o feu altiíEmo dedo ; que tem mais ga«
lançaria a mão de huipa Senhora no moíua»
dor de hum relógio.
Q/ren. Pois eu toco. Mas ai de mim ! Proteo i
como affim. . • •
Toca Qirene no retogio 9 ^ efie fe transforma
em Proteo.
Proteo. Não te admires, Cyrene, que bufquc
o meu amor artifícios , para communicar-te »
que donde não vence a força dos carinhos 9
venção as fubtilezas da induftria. Tu fabes o
quanto te adoro ; não ignoras o extremo- coni
que te idolatro ; e quantos mais impoíTiveís
encontro para poíTuir-te , mais incentivos me
arraftão para qnerer-te.
Çyren. Príncipe j o teu amor , ou o teu deliria
não pôde ter reconipenfa : não fabes que ef-
tou deftihada efpofa de teu irmão , e que eCf
tas eleito conforte de Dorida ? Como poders^
hnm^ paixão cega vencer tantos impofli\:i;^^
e difficuldades?
Prouo. Logo fe as não houvera. , confeguirift t^
tua belleza?
Tom. IL, X €$•
%U ^s Faríediies
Çjfnn» Para que» fe ta amas independente Ja
premio ? "' ^
Csrang. Se dá corda ao relógio , não parará hnm
inftance. a pme.
PfOte$. Ainda que ame femerperança , niõd^f*'
mereço o premio.
Çyren. Iflí^) mefmo he efperar o premio do me-
recimento.
Pfoteo. Nâo , que bem poíTo merecer fem crperar.
Càrang. Se efpero que iilo fe acabe , tenho bem
qúc efperar. â parte , e f^ãi-fe.
Troteo. So liuma fupplíca le faço.
Qren. E hc >
Protto. Que nío bufques os braços de teu ef-
pofo 9 que iião ferão tão firmes , como os meus.
Sabe Polibio ao baflidor,
Polib. Que vejo ! Cyrcne , c Procco ! Obferva-
rei o que dizem.
Cjren. Nâo fci fc me declare com Proteo , que
aquella fineza não l)e para dcrprcz.ir. âpart.
Proteo. Que te fufpcudeo , Cyrcne ? Imaginas
nos obftaculos , que propozcftc ? Pois fabc
que tenho no mar poder , e no peito fogo pa«
ra confumir a mais forte oppofição.
Cfren. Ai Proteo , quem pudera experimentar a
tua conftancia ! Mas cèmo dcclarar-te. . . .
Polib. Ai de mim , que Cyrene fe declara !
Proteo. Não recees que defcftimc aoccafiãodc
pofTuir cila ventura , que me negas tyranna,
Cyren. Píoimcics , Proteo ? Ai de mim I Nác
fci o que digo ! Se acafo foubcres. . . . Qu(
enleio me embaraça ?
ie Porteoí ^t^'
Polib. Eftou perdido ,í fe lhe declara õ fegfeda V
Proteo. Que reccas í Não fabes o meu amor?
Cyren. Pois Proieo , já que o teu extremo mc\
fegura o receio ^ faberàs. que cu. • • •
Sabe Polibio.
Polib. Eu lho eftorvarei. i/>4rr. Senhora , Élr:
Rei ordena que venhas jà , para que £eef«^
fcicue hoj« o Hymcnêo.
Cyren. Ai de mim !
Proteo. Hoje mefmo?
Polib. He vontade delReí. ^.
Proteo. Não p6dc haver dilação >
Polib. Nenhuma: vem. Senhora,
Proteo. Efpera , Polibio , que celeridade, he eíTa ?
Polib. He obedecer aos impérios do Soberano.;
Proteo. Obedece , mas nio excedas -, que iflb*
mais parece violência, que obediência.
Polib. Mais vai p exceflb em hum vaílallp , quç
a defobediencia em , hum íilhò.
Proteo. Tu me reprehéndes^ bárbaro-, foraftci-
ro ? Não rc lembra que viefte de Beócia a
mendigar favores em Flegra ? Sc náo fora.. .
Cyrerí. Senhor , Polibio nos (eus annos cem a
dcfculpa de fcu exceíTo.
Polib. Senhor , como ElRei manda que não
vá fem a Princeza , todo o exceflo hc louvá-
vel. Senhora, nãO te dilates.
Cyren. Príncipe , he força obedecer.
Proteo. Pois vás com effcitò ao Hymenèo ? .;■ ^
Polib. Infallivelmenie.
Proteo. Náo te perfumo atr-, comC^^^a^,^^^-
)24 As Vmeiâies
PoHb. Pois cu por ellt refponcio , que deixar ir
feri impoflivel. •
Práteo.. E eu rambem por dia refpondo 9 qae^
ir nSo pôde.
Políb.^ Eu fetn ella não hei de ir.
Protiò» E eu matido que vás (em elia.
Polib. Cyrene nSo he Dorida. ^
Pratep. E eu fou Proteo , que huma vez em- '
penhado em impedir-te que leves a Cyrene ,
o não has de confeguir.
Qiren. Príncipe, que te perdes ! Polibio, que fazes ?
Polib* Obedecer a ElReí.
Çyren. Príncipe , adeos: vou fem alma ! ápart.
ProUQ. Efpera. AI de mim ^ que a vida , e o co-
ração me levas ! Á pãrt'
Polw. Venha voíTa Alteza , que a(fim importa-
Proteo. Pois bárbaro inftru mento de minha mor^
te roubarei a tua vida , em recompenfa da que
me levas.
Puxa Proteo bum punhal contra Polilfio , e/e*
re a Cyrene ^ que le mete de premeio j e cá'
be aefmaiada.
Polib, Que ínrcntas
Cyren. Sufpende , Senhor : mas ai que me fcrif-
te , e o Tangue. ... ai de mim !
Proteo. Que vejo I Cyrene ( ai infeliz ! ) cnfan-
guentada ! Ah cruel , que tu fofte a caufa. • •
Polib. A tuá imptudenc ia. • . Ha tormento igual !
Senhora ? Cyrene ?
Proteo. O fanguc he copiofo. Mas eu vivo , e
Cyrene deímaiada ! Eu me tirarei a vida p9-
ja cafiígo de meu innocence delícflo : morre ,
infeliz Proteo. Aq
\
de Proteoh ;Í5
Ao querer ferir-fe Proteo , Polibh o ditem , fí-
rando'lhe o punhal , efied com efle na mio. '
Pqlib. Senhor, que fazes?. Não fejas homicida
de li mefmo.
Proteo. De què me ferve a vida , vendo fem
vida a Cyrene ?
PoVtb. Larga o punhal ; não ^re mates, '
Proteo. Não he necelTario mais inftmmcnto pa^
ra a minha: morte quã a minha pena. Vãi-fem
Sabem El Rei , Nereo , Dorida , e Aíarefia.
Rei. Que exceffo he ' cfte ?
Nerèc. Ai de mhn ! Cyretis enfanguentada !
Dorid. Sem alentos Cyrenô !
JRei. Quefoi jfta, Políbio^ ^ .
Polib. Quem ^evio ism maior afflicção! aparta
Rei. Emmudeíces? Não refpondes?
Nereo. Queres mais refpofta que aquelle punhal i
c aquejlc fãngue ? .
Rei. tRcrírem aPrinceza , c cuidefe cxa£hiín6r*
te na fua Jauí^e.
Maref. VaAfhos; coitadinha ! Ainda aflim oTaQ«
gue real he Vermeliho coíbo os ouf ros fangues.
- ^^ LevM aQiren^m
Rei. Dizc , infame ti^érarío , que efpiríto ík*
crilego animou eíTe braço para cantd inítilto ?
Nereo. Não perguntes ; cafti^ fem dilação.
Polib. Senhor , què direi? %fte braço não fo
armou oontra Cyrene ,* porque. ...
Rei. Pois quem , feeííc punhal te contradiz ?
Nereo. AtfáeDt ferida te condemna.
Dorid. E aqueUe fangue te accufa.
Polik. E c&ã vida me falte . í^ tu« ; % » ^
.^l6 Àt^ Fârtfdadet
Nerto. Em vão negas , quando vemos em ti p
punhal , c em Cyrene o golpe. .
Polib. OhDeofes! Quem fe vio em maior conf-
lernaçáo ? Pois fe críminíno a Procco , ha de
provalecer a iua deteza^ e aniinha innocen-
çía perecerá. â pari.
Rei. Nenhuma defculpa dás i
' :Polib* Cyrene o dirá.
JRei. Pòis em quanto o não diz , levem-no á
torre de Palácio, aonde fe apure o feu deli-
do , e da íua culpa o caftigo fique ao arbi-
trio de Nereo , como parte mais oilTendida.
Polib, Nào pôde haver çaíVgo aonde não ha culpa.
CdHta Polibio o Jeguinti Recitado , defoi$ do
qíêal cantão El Rei y Dorida^ Nereo ^ eo
mefmo Polibio a Ária a quatro.
RECITADO.
.Não me alTuflia, 6 Monarca eíle caftigo.
Que me intimas irado,
. Que o fangue de Cyrene idolatrado
^Derramar não procura y quem o eftima ,
Qual outro pai ; porém fe a forte ímpia
.Pxetendc aflim que eu inorra ,
Morrerei faiisfeíto : mas adverte ,
Se acaío a minha vida
A fua duplicara hoje no throno.
Eu feria homicida de mim mefmo »
E já na morte exangue
Lhe fervi rá de purpura o meu fangue-
K^VK
de ProtiOé . JI7
^ • A R t Al A 4.
Polib. Secn culpa ao . f^pplici^ - «
Me leva hum rigor.
ieu Infame, traidor.
Sem culpa não he.
Ncreo* Não he ; porque a culpa
Bem clara fe vô.
Polib^ Teu rogo propicio PáU Doriãi
Senhora inièrceda
Por efte infeliz.
Dorid. Não podo, qúè a culpa
. ^^ Defcuipa oão icm.
PolOr*^ Não ha quem. acuda
. '-; Por (íôc infeliz ?
D^f RíJ.Ner. Não ha ^ pprqqe a culpa*
' Bem cj^ra^^ fe vè. , .
Volib. Quc,^^ mbçro mnoçcrjtc
• . . Vó$.Pçpfã3 Xabeis. '
i)or.iíeí\JV<rf. Dáç jy0a,,vingatiça .'.
^ , O ei^^oD^o lereis*
Polih. t)a injuíta vingança :
Aos Çff^ damareí.
Dor. jRd. iWr. Os Uçoíea fulminecn; . ^
: Hum gi^ye caftigct ^,
Que A hpm bárbaro dÂ.
'^AlU
Íi9 jisVaríeiáies .
PARTE III.
. S C E N A I.
^^firdim^ em que tjlarâ fobrebuma pilaftrd bmit
' vdfo de amor perfeito , e em outra mais inje^
rior outro de cravos amarellos , e Jabe Elf
Rei Ponto.
Rei. y*^ Ucm me aconfélhará em tantos com-
\9 ^^^^ ^^ duvidas , quantos aflaltSo
\^ a efte afflifto coração ? Deixo as im*
. prudéncias dos Príncipes na defattenção das Prin-
cezas , como mal que pôde ter remédio ; mas
d ferida de Cyrcne não cem cura na minha
magoa. Que furor fulminado do cavcraofo
Abyfmo impellio o peito de Polibio para tan-
to excedo ^ ' Não cabe na imaginação o fea
atrevimento.
Sdbe Cyréne.
Cyren. Senhor , a teus pés. . . .
Reu Que. cxceíTo he efte , Cyrene ? como te
vejo ncfte lugar ainda mal convaiccida ?
Cyren. A ferida não foi ião grave como fe ima-
ginou , pois a penas penetrou a região da cu*
eis i porém ainda que fora mortal y nem por
itTo deixaria de vir a teus pés.
-Sif/V Que caufa pòàegbt\^^i:\^ acanto excedo í
ie Protèo: ^igi
t^rén. A liberdade de Políbiô , por quem Se-
nhor intercedo ; e fç o meu valimento pode
merecer- te alguma attençãó , efpero da tua beni-
gnidade fatJsfàças ao empenho do meu defe]o.
Het, Quando eu cuidava ^ue vinhas a fomen-
tar o feu caftigo , vens á interceder pela fua
liberdade?
Cyren. Por ido mefmo 5 porque a vingança nSo
cabe em peitos generolos*
XeL £ que diria o Mundo , vendo imputiido
hum rao grave dellfto?
Çyren. Melhor he que o Mundo ignore que
houve atrevimento cm hum vaflallo para .cri«
me' tio execrando -, ciueha cafòs àsvc?eii èm
que he melhor diflimular a culpa , que caftí-
Çar o dílifto.
Rei. E nâo podes penetrar o deíignío defla te-
meridade de PoUdÍo, ou que intereflé bufca*
va na tua morte ? . *
Cyren. Não fci mais 'que pédjr-te a fua liberdade;
£ci. A ^ereo , como parte mais offeitididá , eu*
creguei a culpa de Polibio ; delle depende a
fcntcnça ; a cUe podes recorrer. P^M-fe.
Çyren. .Ai de mim í Que fendo Pròteo o que
me feriffe, feja Polibio o culpado? Más Po-
libio , que íe defculpou com Protéo , moftran-
do a fua innocenVHa , fém duvida que o quer
confervar para o fim de fcus intentos.^ Ai ama-
do pai , quantos extremos tedèyò iVok pé-
la minha fortuna offerece^ a tua. vida! Mas
para que nefte pceancrdè cònftfsoes fáibk o
norte que dcvoftgUiri Hiéf tnvVaxtí Viim«v^
I^Q jíslfariedd4es
, fo occuiro nas flores de hum ratnjíhere » pari
que com efta cauceQa fe encubra o meu de-
(ignío. Eftè amor perféiió feja o ii\ftrumento
de minha fortuna^
jto .tirar hum rxmo de amor ver feito ^ defappãm
tece d ,pileflra , e o v4fôftciíndo em Proteo ,.
em cíêjà mio je me a de Cyrene\ cfêidando
, gf^ M^^na flor, •
Ai de mim ! Quje vejo ? Atrevido Proteo ,
folca-me a mão, n^c queiras com os disfar-
ces - de flor encubrír #s venenos de afpide ,
que tu não és o arnor perfeito que cu bufco.
Canta Proteo ojéguim Recitado » t 4^0*
RECITADO.
Amojr perfeito , fou Cyrene bella ,
Quej^inutidado da copia de meu pranto
Ao Empyreo fe eftendc ,4 minha rama;
Que fp no Ceo de fogo bufco a chamou ,
Conià cçnno feliz de meu incêndio i
E fc jíquella fçrida ,
Belliflima homicida , /
Augmenta. teu rigor neífa impiedade ,
Puma çafúalidaJe .
(Ai ^^e. mim ! ) deftruir nâo pode aquellaí
jbocer cfpcrança , que me promettias ;
Mas fe á innocence culpa que não tenho 3
Teus rigores augmenta ,
Verás ( oh Ímpia forte ! )
Bi/ícar na minha doi a minha morte, .
déProM.. «1
A R 1 A*
Se AmojT^ fç a Parca irad*
Qualcíueç tirar-me intenta ,
A vida <|ue me ^alenta ;
Mais .vai qi>€ eu feja , ( ó bella,)
Triunfo ^tnão da morte, -
Dcfpojoí fim do amQr. ;,
Pois quaniío affliâo intento
Bufcar maior tormento.
Morrendo fo de amante.
Será o^pctiar maior. Qu^t ir-fif
Cyren. Efpera , Proteo , qiie nâp te crimino,
'i p^M^ te cadigares; bem fci que cuí mefma
me entreguei fio :goIpe^ quando intentava fe*
rijf. % Ppíibip. : , /
Proteo. Também fei que eu aipda que inno-
' çcfiZQj fui Q/inftriímento de teu cclypfc i c
-/ainda que no fagrado de tuabelleza acha ím-
. ■ Hnuiiixiade a Itiinna culpa , permitte«me , Cyr
rene, que a fatísfaça morrendo.
Cjiripn: Nãohe tempo agora de ouvir fínezar$
fabe que Polibio
Proteo. Já fei que. a Polibio fe imputou o de-
iiélo dé fcrir-te , e que prezo eftá na torre
t *'dcv Palácio.
Cyren. E fabe quê por te náo criminar , con-
fentio mudamente no crime que fe lhe im-
.';:pQK : ígora^Proteo he cfcufado lembrar-t<^ ^
. 0br(gação , em que eftás de o libertarei , co-
mo JPfincipe , ,c :çoino gâuttob> s ofx^ V^ t^-
({^2 Jí VârUãâãet
zio te empenhes em defender ha nu ínix>ceii4
' te vida , que pela tua tranauillidadc fe ex-
põe ao mais fúnebre cadafatlo.
Proteo. Suppofto feja Polibio q inftrumento de
minha ruína na celiridade de teu Hymcnípy
com tudo , como te empenhas na íua liber-
dade 3 por ella exporei a minha vida ; que mor-
rer por ci , ó Cyrene , nio he novidade no
meu amor. ■
Çyren. Não he neceíTarlo por ora tocar o ulti-
mo extremo da fineza ; vença a índuftria prí-
* meiro y e depois a deferpetáçio ; e fõ eíTa ac-
ção poderá perfuadir-me a tua condanda.
Ptoteo. Pois ainda delia duvidas ? * • " •
Cyren. Sim , pois até o prefente nSo experimen-
tei em ti mais que varídades na tua forma:
deixa pois o mudável, e sè firme na efiica-
•' cia de tua fineza.
Vroteo. Ainda que tenha por natureza o muda-
- vel , iflfo he quanto ao exterior , pois codas
^ : eflas mudanças são demonftrativos de' tnt*
nha firmeza.
Cyren. Pois , Príncipe , na liberdade de Polibio
a experimenrarei.
Proteo. Na liberdade de Polibio o verás.
Jo irem-fe , fahem ao encontro Nereo a Cyrene t^
e Dorida a Proteo.
Dorid. O que ha de ver , Cyrene ?
Proteo. Na vida de Pplibio o caftigo. de fiia" te-
meridade. Vêi'[e.
Nereo. Que imenias expetimcwarí
J
it Proteo. ■ . ^^
Cyren. A tuâ fitieza ha liberdade de Polibio ,
a pczar dos empenhos de Proceo.
Nereo. Ah tyranna, ^ue bem percebo, a toa ^n-
duftria ! Aparte.
Cyren. E affim , Nereo , efpero da tua gentro-
(idade , que libertes a Polibio ; que com ef*
te premio lhe iatisfaço o fer dicofo inflrumen-
to de eu poíTuic a felicidade de efpofa tua ,
na condução de Beócia para Flegra*
Nereo. Parece que algum fufto, ou perplext*
dade te fez mudar a intet^io de tua fuppli*'
ca. • , . Ah tyranna ! a part.
Cyren. A anciã que tenho de liberta a Poli-
bio , quando me afiflige o> coração , não me
perturba o acordo para pedir-^te a íua liberdade.
Nereo. Para te oftentares generofa , bafiafabef^
fe, que intercedefte por Polibio ; roas eu çq«
mo duas vezes oíiendido tu íúa vida , vinga-»
rei as minhas oífenfas. Fai-fe^
Cyren. Que fe falte ao refpeito a huma efpofa
e a huma Princeza ! Dorida, intercede tam-
bém por Polibio , que talvez > feja mais ven^
rurofa a tua fnpplica. , .
Dorid. Pede a Proteo , que não deixará de ia*
tísfazer ao teu empenho ^ que eu me embarco
para Egnido fem dilação , pois já conheça
a cauía , donde nafcem os defvips d^ Pcotcp»
Cy^». Donde , Dorida ?
Dorid. Donde não imaginava , Cyrene. Fai-pé»
Cyren. Ai infeliz , que Proteò me intenta pre-
cipitar com fcus extremos 9 pois do femblan*
te de Nereo ^ e dos palavtas d^ Doíi>à^ \x\V^
im As Fâriedaãts
ro os zelos , em que fe abrazio i AhTroceo ,■
p, que tu és a caufa de todofs . os meus males ,
sè algum dia inftrumenro de minha fonuna.
Canta Cyrtne a feguime
A R 1 A» .
Fortuna que ineonflance.
Te oftentas rigorofa,
Quando ferei ditofa i .
Quando ferei feliz ?
Sufpende por hum pouco
Teu moto acelerado , . .
Não feja fempre o fado
Cruel a huma infeliz. Fâi-Je,
Sabe Marefía.
JHaref. Agora me diíTe Dorida que .me prepa-
raíTe , que nos havíamos embarcar para a nofla
terra ; iíTo jà havia fer ha mais tempo ; e fem
dizer nada a Caranguejo , me hei de defp^
dir em Grego , que ainda he peior que em
Latim ^ e quantos traftes y e cacaréos tiver ,
tudo hei de levar comigo. £ para facriâcar a
Diana , Deofa dos bofques , levarei efte cravei-
ro de cravos atnarellos, em memoria da de-
fefperação , em que me poz o facerdotifo Ca-
ranguejo ; e aílim já o vou levando , ainda
que feja ao coUo :
jío tomar Marefta o craveiro nos braços , fe
transforma efte em afigura de Caranguejo ,
e diz Marefia o figuinte
Maref. Mas ai ! Que diabo he ifto ?
Carang. Não he diabo j fou eu mefmo que
fou endiabrado.
ãe Proteó. ^?í
Maref, Es tu ? Deixa»m« negro mofino.
C^râng. Mofina, és tu , que nenhum favor ni« das.
Maref. LzTgz-mc j fc não hei de chamar. â que
delReú ^ ; ■;;
Càrang. E eu hei de chainár a que dé V^nus.'
MareJ. Tu não queres?
Carang. Quero, quero.
Marej. Pois toma, Atira com elle ao chão.
Carang. Só i(To me podes dar ; mas cahitido a
teus pés não quero m<iior fortuna.
Marej. He muito atrevido:com enganos comigo?
Carang, Deixemos íffo Marefia , que jâ nâò ef-
tamos ncfTcs termos , pois fó a teus pés pròf-
trado põe aboca hum Catanguejo amante 9, c
te pede com lagrimas de Tangue^ que f e ba$
de efcolher marido , que feja efte pobre nien*
digo de teus favores , pois nido wis hu\ha
obra pit ; porque fou num moço oríãb fem
pai , nem mâi.
Maref. Jà não fe me dà de Vcnus , porque ho-
je me embarco , e mais Dorida, e nos va-
mos defta maldita terra.
Carang. Iflb he fallar.
Marej. Quando o vires , op quando me não tí*
res , então o. crerás.
Carang. Não poderás ter feito iíTo ha mais tem-
po , e cfcufar de andar dando tfato^l ao jfuizOy
empenhando-me com Vénus , pedindo*lhe amo*
ratorias para te efpcrar , ficando eu por rea ^
fiador, abonando a tua peíToa i {fto tudo te-
nho obrado a teu refpeito, e agora que ha
^c ícr de mimi
5?6 JÍs P^driedãdes
'JMáref, Cada qual forra a faa pelle.
Cârâng. E a minha, ha de ficar cativa para Ve-
xiui me tirar do coiro a fiança ?
JUáref. Que tenho cu com iílo i
Qarang. He boa eíTa ! Não , Senhora , qqe ett
fiquei por vofsè que havia de caíac mais dia j
menos dia ; e agora quer efcapolir > Nada:
mandado de fegurança no cafo.
W^rff*^ Eu não vou poc minha vontade , qoe
Dorida me leva. ^
Càrang. Pois cafa primeiro antes que te vits ,
ainda que feja comigo , e vai-te depois âiuir
to emtera , que iíTo bafta para eu ficar liber>
tQ no forro interno.
^Manf, Qual cafar ? Se eu por amor dtflo me
vou» e comtigo muito menos.
Càrang. Efle menos he que he o mais.
Mdreji O que poiTo &zer , he defpedir-me de
ti : fe queres direi que te fiques embora.
Càrang. Eu fempre ouvi dizer que quem fe def-
pede fe abraça , e fe me has de abraçar , def-
peçamo>nos já.
Maref. Hum abraço Francez não fe nega a nin-
guém. Abra^a-o.
Càrang. Ora feja pela vida , e faude do Senhor
feu pai : a'braçada feja a tua alma todos os
dias da tua vida*
Cantão Caranguejo i e Marefta a feguinte
ARI A.
AioTif. Senhor Caranguejo ^
Adeqs que me vou.
Cá-
" ie Paruo:. ^57
CárMg. Li vai o meu bem ,
Meu mal me matou»
Mdref. Não choce barbado ,
Vofsè he rapaz? a.t
Cârmtg. Amor he que chora ,
Que amor he rapaz. .'•■• ^
M^ref. Adeos,^ que me vou 5
(^Mg. Não. digas tyranna.
Ambos. Adeos que me vou.
Mãref, Oh quanro me cufta i
Dcíxar*ie fem mim !
Oargfíg. Oh quanto me aflufta . ,z :.ir.
. . . Eiear-mc fcm ti ! • ■ :
Ambas* Porétn paciência , . •
Que na agua do pranto
Amor fe afiogou. . • •. ' f^úlfu
S C E N A IL
Sálâ^ Sabm Nerco , e Qfrere.
<^fif. /T:T,Er ^lEvel Nereo , que :oS rogos
XjL de numa efpofa não tenhio vali-
'memo tia tua attenção?
JNereo* Por iflb mefmo que para que fe faiba
o quanto eftímo a minha eípora , hi^i de moí-
trar o quanro fei vingar á fua cíj^^fa.
X^^^^^Se.feu demittodeimím efla oflenfa^ játe
não .fica acção para a caftigar. •
Nftei^ As offenfas da efpofa são recíprocas ao
. cfpòfo; e fe da tua parte demittes a injuria ,
da minha nio perdoo a offcnfa : 6 lá , era*
Tom. //. Y ç,io
/
^'
^|S Af rdritdaies
gSo aqui a Polibio , para que vtfi Cjtent
no feu caftigo o meu amor.
Ç^ren. Barbara fitieza Irò e(Ta ^ Nereo : quem vio
maior defgraça ! * á psrtc.
Sabe Polibio com càdeasj e Omardaur,. .-
Polib. A' tua prefença chega o fnfelii> Polibio ,
e tao infeliz , que pela meíma acçáò , qtvç
devera fer prímiaído , íe vè na coníUrnaçio
de perder a vida.
Cyren. Mal poílo conter as lagrimas.
Nerto. Polibio , jà fabes que fou o .Fífcal de
tua culpa ; do caftigo não duvides ;v porém pá^
ra que feja menoshorrorofo/a efiitíflaculo ,
quero me digas , qual foi o fim der tãoenòfr
me deli-lo ? ■
Poíib. Que delidte? .;.... -í ;c. /.
Nereo. Ainda re atreves a negar, ou imaginas
que não dclinquiftc ? ! • ^.
Polib, Sim , porque não offcndi a Cyrene.
Nereo. Náo inteticcs .negar hariíTleLfâD^, que nSo
cem defeza , que quafí aos noflbs olhos foi
tx>mmetrfdo > íà qtiero me di^s.<)uC(n terfanpclr
lio a tanto éxceffo?
Polib. Senhor, eu não offendi a Gyrencs ella
' fabe a^ minha innocencia. " .1
Nereo, Pois quem? t-y o
Polib. Cyrene o dirá. ^^ . •• • i
Nereo. Cyrene , fe queres .a vida de- polifajd)^
porque não declaras ooífcnfor? i- í .*: íi"
Çj/ren. Ai infeliz ! Qc^fe ftlrei emre .hum {^i^^
• hum amante ? ^ ^n^/párt.
'NereQ* Que dizes ^ Mas^ i;iada diigas%: qite o^-reu
Í4 PfQUO^. %%9
r ISéácio €il0()tieme ine diz que {bi Polifajo}
que fe não foíTe, quando Ibc dcfejas^ « ljber«
dade , accufarias vo dçlinqutmte ; não cenho mtig
. . que averiguar : feja Polibio conduzido ao Tem»
{^a de Aftréa , aonde no risor da : judiç» 2^
gtie com a vida o feu deli.ao, -
ChtgSo os gaardas a Uvát $ P^UkiOy •
Ofren. Erperai , que Polibio não be a d^}tnqpence(
Nereo. Pois quem , Cyrenc í r -. r .
Çyren^ Que direi ! Oh abyfmo de cKmfuz6es ! 4'pi|
Nereo. Lavai a Polibio , que Cyrene o.çfíjnde^Ki^
Polib^ Vamos , que hum reípcícò tn< cfiiqiikifl^
Cyrctt. Vença ao imqr a, ^lUresiitefr iftífp^i^lefí^
que eu declaro quen[) foi o dclin(|U.^tHe* ■■
Nereo. São cfcnfedos .et1iç5,4rcifk^.f^^
der à exccuçâa :* leveih^ a Pòljbio 9 que- 'CtUf
he o delinquci)te» ._. -r ; ,..
Q«:^. Mio he , Nerco ; não hc;t eu hc que jii^
a delinquente, .^r-: : *,
JíertOk De .que fóftti ? ^; í.: , ^ -
Cyren* Defta force : como determitxin EiRei a
bsevidade do noíTo B^oieh^^k . ;
Sabe Próteo^4Í^\èjiiiA^\^:€^ ^^ támbm
'■.,.■' ^í'^ ifí^h :*^. OfrfingUeJQ Amado,
Nereo. .Que he iílo vProceo í .
/âro^úb Libertar '« Polibio , pára que a fopplka
de Cyrenc nâo4ique fem iacisfnç&o decente à
fua píríToa. * . kí
Nereo. Pois ta incenxa» dcffrfcar u iaçiiJKi^ 41^
••■'■mmhi'-e^fiii.> ;•■■ . -. . \ .^,*v^^.
'ij4o A^VAfieãàies
Proteo. Nao: mas as injorias de htmá Dánu
-' offcndida, fim.
Cyren. Mâiôt dámno fe vai originando, ápart.
Pólih. Proteo obra como Príncipe. apém,
Cdrang* Hoje ~h^ de ir cudo com Berzabá.
Nereo. Proceo ^ enldiíqaecefte l Não fabes o pe-
rigo a c|iic te expões ?
Plroteoi)i fei.
Ncreo. Pois aue intentas , fe o fabes ?
Proteo. Defínoer^a Polibio.
Nereo. Como ? •
PnottM). Dífta fórtp. Brigão.
Cârânf: M que aqui eftá o homem ! Que he iíTo là ?
Ifeftn. Mcdetice^ Preteo ^ fabereí caftígar a toa
temerídade. '
Polib. Valha^^e ò valor de Proteo.
Cjren. Nereo\: Proteo , que internas ? Ai de mim !
Polibio, recifíi-te.
polib. N|o poíTo que as prizões me embaração*
Proteo. Polibio , fegue-me,
Nereo. Não em quanto efta cfpada fe unii a
efte braço; - ^ ' - - .
Carang* Ah -cobardes, hoje ha de fentir o Man*
do as mordeduras deue Caranguejo.
Sihem El Rei ; e ^ Dòrtdd.
Rei. Que infulto hc efte ? Qiíe he iíTo, Prin-
cipes ? Sufpendei as arhias^
Proteo. Friifhou-rc o meu fÀtento.: ? áfortm
Dorid. Qic laftimofa tragedia! .1". --
C^rang. Bom padrinho tiverâo. * •• •'
JfeiV Neíeo , que exceflb for efte ?
IVI^reo» Arrojo de Pcoceo que com cfia violencu
de Proieà/ :54r
intentou libertar a Polibio por fatisfazer aos enr
penhos de Cyrene.
Jlei. Temerário Pfoteo , como fem attenção ao
decoro defte Palácio com mão amada a£m
o profanas.^ .
Cf r^Mj". Ponto de interrogação.
Proteo. Senhor , hum precipitado empenho não
repara em artenções í que a cega paixão, que#
predomina cm meu peito 9 não faoe .diílingutr
a purpura , mais que a do fangue , que in-
tento verter pela liberdade de Polibio.
£ei. Bárbaro louco, imprudente, aífim me refpotK
àcH ? Não fabes que íou teu pai , e teu Rei ? Le*
vem-no prezo , e junto com Polibio feráõ ambos
víâimas de Aftréa. Quem viomaior infulto]
Carang. Ponto de admiração.
Proteo. Mais me vangloría9 com eíTe caftigo» pois
quando não poíTo defender a Polibio , ao me-
nos me fervirà de defculpa o não tçr vida pa?»
ra libcrtailo.
Çyr^n.Eipirou a minha erperança^e eu com ella. âjf^
Dorid. Sem embargo das ingratidões de Prot^O^
por elle fupplico. Senhor.
Rei. Náo peças por hum ingrace»
Dorida Baila lhe. «ter o nome de erpofomeu»
Rei. Deíica ,. Dorida ; deixa , que fe viiigueRi
em hum (ó caftígo tantas oíFenfas: fçjãolevadpf^
como digo , ao Templo da Juftiça , > aonde no
feu Tangue fc purifiquem as fuás cubas.
Polib.Uzo vai a mfciha innocencia coturaeife rígor>
Cyren.Não póãe. ^«ivev pranto abcaud^f t([\à3QS!ã2&
XW. Não pôde, não vai , não fe attende ; *Ic*
val-os. f^^fe.
Cdrãflg. Aquillo he pomo imal,
Çjliftn. Crael crpofo , porque tião ce )aâcs ^qoe
triunfas de minhas lagrimas , não has de ter
o prazer de que eu veja a execução de tua
' tihf^itíçà \ pois defefpcrada bufcarei quem me
vingue defta injuria. ^ f^dijcn
PoUh. Os Ceos moftraráõ a minha innocenda.
Fai com os gMãrdáin
Nereo. Vá também eíle tyranno irmão penurba-
* dor do fõcôgo de meosfentidos,
Tràteo. Não ha de ter eda jaclancia. ápdrU
JOúfíL Vé , NereQ, que contra hum irmão he
' indigno e(Te procedimento.
Nereo, Se fouberas , Diorida , o que eu não igno-
' n> , náo intercederás per elIe.
Dmid. Quem nunca o foubera ! â fdrt*
'Cardhg. Sk(^ boa cafta de irmãos eftes i Por cl-j|
les fe pode dizer : qmndo froíres Jmt bonl ^
" ftmt bonifrates.
^ereo. Em que vos detend^ss , que o não le-
vais i
Proteo. Na forma delRel me transformarei, i pu
Trasfomi-fc Protão na figwra delRei.
Wereb. Lèvai-o : não me obedeceis ?
^Sold. A quem , Senhor f
Nereó. A Pròteo.
Sol d. Ptoico não eíbí ^ui.
iN&eo. É cffe quem hè? tá» que vejo! Se-
"^nhor , Voffá Mageftade como aqui , c Proreo ?
.J^frou confuC(>l QtitvVVMãa hcdiaí
ãe Protèó. ^ ^A%
Proieà. Sc PfOtco nâo ppparcce biifqucfr^io ^
que imporu -não ficar fem cafiigo. FAhfe.
Cétrang* Ficarão pafmados: o cerco he que eu ^
- e meu amo j íomos dous. . :.
Nereo. Dorida , não vide a Procco ficar entre
os$;uardas, quando fe aufemou EiReií
Dorid. Não ..ha duvidai
NertQ» Pois como Proceo y fem que o viffemot ^
' deíappareceo? e ElRci efiava entre ost guardas }
Carang* He que foi precifo iazec dous pontos
na oração.
Dmid. He cafo maravilhofo ! ;
Nereo. Que fugiíTe Proteo , fera que ^elie pa«
r deíTem os meus zelos vingar-fe ! O' lá , coda. ef«
{a comitiva , que armada veio com Proteo naTu-
1 Uevação, feja conduzida ao tiiais efcurò cárcere.
•Cârang. Boas noites tenhão voiías mercês» :
Nereo. E haja particular . vigilância nefle criado.
Çármg. Sempre obrigado : cá para nós não he
/ nece^ario ceremonías. He bem feito ! à fart*
J)ond. . Nereo , "efle criado he louco. ::
Cãrang. He verdade j nern tal me lembrava»
Nereo. E como fabes- quÁ be.ióuco^
Dorid. Pelo ter vifto varias vezes,
Carang. E(Ta ainda he melhor ! Que i Prender*
me para cafar ? Pois defenganem-fe • que aio*
da que me matem, nãoN^ei de cárar.
Dorid. Com aqucfla; teima anda fempre.
Nereo. EíTe por louco , pois o .abona Dorida,
fique , e levem os mais. b-
Levio os guardes os que vierMo tom Proteo.
Ourang. De boa efcapeí! .Vi'a«ioncTdiantedoa
>í:
!l{4« As Fâricãadit
> 'Olho9. O cerco he que st vidados nefcios^
e loucos he maior que a dos entendidos.
- : À parte , e vêi-fe.
Doni. Nereo, nãa te afili)as com ranro excef-
'-' fO) bufcando na tua pena a tua morte , que
mais importa a tua vida.
Nereo. Ai DoriJa , que o ^meo fentímenco por
. fiiez[dicavcl he mais íenfivel ! . ,
Dorid. Aprende de . meu foíFrimento , pois fen*
> tlndo o mefmo mal que tu padeces , pro*
curo íuavizailo com o retiro. FéU^fe.
Nereo. Dorida com prudência me deu a enten*
' der 06 feus xelos : ai infeliz , que já com ãtk^
-' plicado indicio póie defafogar publicamente
a minha dor nos zelos de Cyrene! Ah Prin-
ceza indigna de tão foberano epicheto ! Oh
Proteo aleivofo , digno de eterna infâmia nos
annaes da memoria ! Huma contra as fobera-
nias do caraíler , outro contra as leis da leal-
dade , e da natureza fe armário inftrumemos
de minha magoa no tprmento de meu ciúme»
Canu Nereo a fegiêlnte
A R I A» ■ #
Selvática fera ^
Da brenha mais tcfca -
Se enaefpa, fc enrofcai
Se a cara coníórte
SOS braços encontra
^<^
de Prouo. ^4$.
Se.o ruftíco inftin£lo
De hum bruto padece ^ ,
Defculpa iperccc
Huina alma abrazada
Dos zelos no mal. Fai-Jt.
S C E N A III.
l^implo dt jiftréd , cm fimttlacro da Jufti^d.
Sahe Marefia.
Maref. /^ Om eftas embrulhadas de Palácio
Vianda tudo tão mexido, e^remexi*
do , que eftou vendo como fe ha de fahir dei-
ta mexuda: o que mais finto he dilatar fep
noflb embarque por caufa das traições do Se-
nhor Polibio , que fem alma nem confciencta
quiz tirar fangue donde o nào havia : pois hei
de regalar-me de o ver pemear.
Sabe Caranguejo.
Cãtãng. Aqui fe pagão eilas : vês coroo o tea
peccado te trouxe por teu pé ao miferando
fupplicio no Templo de Vénus ?
Maref. Que dizes ? Efte he^de Venuís o Templo í
Carang. Aílim dizem os comtenplativos.
Mareja Pois a Eflatua de Vénus hedaquella firVcte^?
Carati^. Sim , Senhora^ mas não . me admira
que não conheça a Vénus quem não quer càTar»
Jlíaref. Vénus com os olhos tapados , mais me
parece Cupido , que Vénus,
CarangMc que a formofura tem o amor nos olhosJ
Aíaref. Mas fe he mulher , porque traz efpada ?
Cojrar^* Por amor dos virgies que dà na gente.
%4^ At Vmtàâátt
*Mdref. E as balanças que (igníficão ^ -
Carãng. He para pezar ts finezas*; fnas advcr«
ce y que aquellas balanças não tem fiel , por-
que, codas as Vénus são fidifas*
•MâTtf. Ora muito me contas.
Carang. E tu naJa me dizes do cafamcnto ?
Aíaryí Verdade he que já tazía tenção de cafar,
Cârang. Filha-, as tenções livráo as almas , m»
não os corpos.
MAteJ. Eu fim caiara comtigo; porém não fei
'■ qus te diga. ■ . \
-Otrang. Náo fei como a Marefia te não faz
^ vomitar tudo quanto tens no bucho.
'Jlíattfé Não fei como és ; não fei , que ce ial-
ca^ para feres de meu gofto^
Carang. Nada me falta , porque o cea rigor
i me tem acabado.
Maref. Acabado fim , mas não perfeito.
Carang. E plufquam perfeito: ora dize , leve o
^ diabo paixões > aonJe havias to achar quem
^ mais te quizeíTe? Por ti fendo muito limpo ^
^ me fiz hum porco i por ti me fiz cadeira de
' braços , para ter pé de te poffuir ; e finalmen-
te po»- ti me amortalhei em hum craveiro de
^ ' cravos de defuntos , para renafcer como bicho
• ' dis feda no capulho de teu agrado; e fe tup
-' do ifto te não move , vè de que forte me
-■ queres , que para tudo fou de cera.
Omr
áe Proítò. * %Af
ÇásM Caranguejo a feguimc y-.
Tomara fa2cr-me - .
£m mil pedacinhos , \
Por ver íç os carinhos
Tc poíTo colher :
iSe queres líic ver . \
Gigante, aqui eflou : Faz^Je Gigante*
Vê lá como fou
Âilim tamanhão ?
Se quês que me abaixe
. Serei hum Anáo. Faz-fe AijiSo.
Klas náo , Anão não ^
Que Anão he agoiro , ,
Serei ^manhão. Faz-fe Gigante^
( Se affim não te agraào ,
Serei defgraçado 5
Mas não feanchão,
Maref* Bafla com tanro dcfengonçamento. Masi
ti, efpera, dcixa-me efconder naqnclle caliã*
nho que lá vem hum homem correndo z qua«
- tro pés 9 mui^o afroflurado co^ huma faca na
jnSo* EJcondi-Jcm
Càrdng. Efpera , aonde te vás efconder ?
Sabe Proteo íqm bum funbal na mão, ";
Proteo. Junto á arado facrificio deAftréa^me
occuttareí^ e com efle punahl matarei o í>arba«
ro executor da juftiça , quando intenre. tirar ^
vida a Polibio.
Carâng. Ah^ caio igual ! Senhor , vcns-te meAfer
- na Boca • do |obo •' ]ji que te tratisforp^fte/ cm
m^ Js Vmeiaies
Ponto tão poncualmence parft efcapir das gar-
ras de Nereo , como lhe queres agora cahir
nas unhas ^ Para que Senhor .'
Proteo. Ou para nutar , ou para morrer ; qucfe
hei de perder a Cyrene , que imperta qoe
perca a vida?
Cárang. Ainda aílim ^ aquillo de viver hc bom
. para a (aude.
Proteo. E tu como pudefte efcapar acompanhan-
do-me também ?
Cárang. Pelo f^rivelegio de louco , que he mui
grande ; que Te eu tivera entenãímento , don*
de eftaria a eftas horas ?
Proteo. E. Cyrene , ( ai de mim ! ) quie diz ?
Çarang. Ella alli vem, e Dorida*
Proteo. Occuitar-me quero, como diíTe. Amor,
íe CS Deidade , favorece os meus intentos.
Efconde-fe Proteo junto â EJiatua dét Jufti^âf
e fabem Cyrene accellerada , e Dorida de-
tendo-a.
Dorid. Cyrene , que exceflb he efte ? Náo atten-
des ao teu decoro ? Aonde caminhas precipitada \
Cyren. Dorida , não eftou em mim ^ que que-
res que faça huma defefperada , huma afflíéh ,
e huma infeliz ? -
JDorid. Retiremo-nos antes que fe honrorife a
vifta com o funeíio efpcáaculo de Polibio-,
que já caminha para efte Templo- de Aftcéa.
Cyren, A iflo mefmo he que venho , não por
vera fua tragedia , mas por impedir a fua morte.
JDorid. Para que te empenhas em hum impoílir
Yclf quando N^t^Q v^o^çtlLldo % náo íei de que
occulto feotimento intenta vingar-fc ..na fàá
vida? Porém jà occupados * os pórticos: de bu»
ma immenra turba , jmal nos poderemos: retiiar;
Toeão tambores.
Carang. Grande trovoada fc vai armando !
Çyren. Ai qué^ a vida fe me vai acabando ! Nem
Proteo ajâíjjarece para maior pena roinfia! Que
farei {òui afflifta em tanta multidão de pezarcs l
Sabem ^iRei Pomo , Nereo ^ e depois Polibio.
eom guardas -, e fabe Marefia donde efia-
va ejcondida.
Hei. Com efFeito náo tem apparecido Proteo ?
Nereo. jParcce que a tecra o cragou por caftigo
de feli delifto.
Rei. Ai Proteo! Quem pudera.. .. Mas náo,
náo merece piedade hum filho ingrato.
Nereo. Agora verá Proteo. fe pôde libertar a
Polibio ,^ que nas Aras de Aftréa boje ha de
fer vi£tiiíiíi de feu rigor.
Catita Polibio a Atia , e ojeguinte
R B C I T A D o,
. . í
Aftréa Soberana , / . .
Sagrada fillvi do brilhante, Qyilmpo ,
Como aíEm confentes que huma inQo<íencit
Profane teu9 altares
No impuro façrificio,.
Sue íncender hoje intçnw hutna impiedade I, .
as jà fei, infeliz , que, como és cégn
Náo verás da fentença a iniquidade; '
<y$o Jr FáHeãkdes
Osve fao menos os mizeros damorei :
Dofta inculpaTcl vfda ,
Poisjiiio pede a }uftiça ,
Ver no Templo de Aftréa huma injuftiça*
A R I A. )
: Se o tcSko inftrnmento , ' ;
Qae vibras ingente
De huma alma innocente
Cafligo náo hc :
- Ao duro fupplicío »
Impávido vou.
Náo fujo, náo temo . •''"
Da morre os »~ horrores,
Que a rígida efpada
Em -vida inculpada ^
- Já mi is penetrou.
Q/mendo Polibio caminhar pirá á Efiama di
Aftréd j o impede Cyrene.
Cyren. Aonde vás y Polibio ? Efpera.
Polib. Quem me defende ?
Cyreff. Cyrene te ampara.
Eeu Tu não podes impedir a execução da juílíça*
Nereo. Execute-ie a fentença.
Carang, Embargos temos. á part.
Cyren. Náo pôde execurar-fc a fentença ; porque
fendo falfa a culpa , não pôde fer a pena ver»
dâdeira. .
Nerco. Se clle a não contradiz , quô mais evi-
dencia pode haver? Morra Polibio*
Q^elf.' Polibio cttkitfttorccmcí aíRirmo que rat
não podia oíFender," ?? '
Jieu Porque ?
z^eProuo. ^ if*
^^fr. Romp9t*(e o filencio por huma vez. é f4Tt%
Porque he meu, pai. : y
líerea^ i?«. Teu pai Polibio ? Que dizçs í
PoUb. Cahip a máquina die minha iáéà.. á.p4rtm
Çyre^ Senhor g meu pai he PoliNo , ti^o q <lqyí4es.
Polih* Não fou pai de Çyrene : não à\]^\^s ^
Senhora, com eíTe engano o ceu Hyv^njt^
deixa^ que eu morra j que pouco preço bfi<h|ir
ma vida para comprar hum. Reino..
Sei* Que mais podia excogicar a tua induftrí^
-; para libertar ^- Poliljio ? .
NiftOm A fentença fe execute fem dilação*
j0Tetf.'. Soberano Monarca , não são induftriaf
da idéa , são reahdades da natureza > Polibio
í he meu pai,- - .... 1
iSeú Gomo .póflè. iQò.fer fe tu és filha, i^ci
de Beócia ? ' •
Çjfrem Attende^mc, Cífaberáâ: Não ignoras fi|;
' revoluções , . Cj euer/as • que houv^ ,em. Bg^^
pto , aonde Pj^ipío íoi cabeça de huma par-
- tíalidade; ecomo efta ficaííe íuperada» íe?re«
- ..xírõu a Beócia ! comigo , e ahi me deixou oc«
cuíca em a fuftica montanha de.b.Mtpa Aldta ,
paira que o ftii!Or inimigo, não triunfítne.i.dlp
injnha ínnocencia : paflbu Polibio a : Fiegra a
- ícrvir^^te , cpmo fabes^ a <)uMn • déítç o ?cará-
Qitt de EmbaiKaddri paca BçQcia.ar;coiyÍ9ZÍc
ã: foa Princeza para.efpofa- diP Nec^o: :,chc-
'gando Poljbjj^^ 9 S^oeik raqbou Ter falecida
aquella Princeza , também chamada Cyronc i
. e :diífimulando o motivo.; itre {louxè a vwini
, |i>t|a Ncreo ; querendo com efta induílria^ycr*
me coroada Princeza. Pr^*
1
liít As Fárieàaies
Prouo. Se fera illusio o que ooço ? í páH:
Cyren. Ejá que eftc impcnfãdo acafo defcobrio
efte engano , a teus pés , Senhor , eu e PoU«
• bio pedimos perdão defta temeridade, pari
que num deliâo verdadeiro fejá indulto deoii*
iro que o nSo he. ^
Xtu Ha cafo mais extraordinário !
"Nèreo* Nem alentos tenho para refplrar,
Dorid. Prodigíofo fucceíTo !
■Jldatef. Quando eu vi que rinha o Tangue ver**
mclho como o meu , logo duvidei que ibf-
fe jde fangue Real. ã foru
C^rdftg. E o que mamou de Altezas & ohnehà
' calada ! ; i ^ pârt.
Polih. Defta forre , Senhor , conhecido quem
'fou , bem fe vè que nio podia intentar a
morte de Cyrene.
Iffe/* Pois como tinhas o punhal na mão ?
•Polib. Porque querendo maltar-me Proteo , Cy-
rene commovida do amor de filha , fe met-
* teo de premeio, e cafuaímente a fério\Pro-
'^ teo ; ficando o fcu punhal f>or -outro fome-
- Ih^ante incidente na minha mão.
Jíe/. "XJuanto defle crime eftàs perdoado ; mas
não ficará fem caftigo eíTe que maquinafte
para coroar a Cyrene. Dlze , atrevido , e in-
fame Polibio , como fabricafte tão perníciofo
'^- engano em ludibrio de minha Coroa , perden-
do por tua caufa Proi^ò a Patllâ , e eu a fua
companhia? .\^..:
If^reo. Deixa , Senhor , que* eu vingue efía of*
tcnfa 9 pois eu era o alvo do fca engano,
e
ii Vortéo. ns%
e ifliiii , fdmanriído, bárbaro^ traidor , eim
meus braços. « • .
Ao accommeuer Mf^ a Polibio i fábeProteo.
Ptílib. Nío ha qu0m me fcccorra ?
ProtetK Proceo te 4Íe»fefidèrà ; fufpende o furor »
Ncrco. r. ' -
Qr<ff. Oh extremoífo amante! ápOHe,
MeL Proteo , és tu ^ ou he engano da ÈintaCt
o que vejo ? =
Nereo. Ainda intentas amparar a hum traidor ^
Cyren. Néteo , fe acall> aquelle apparente nome
. de eípofa j^de concjliar no teu peito algum
tffcéio y rogo-te qúc- releves os exceflfos d«
hnma indiTcréta ann>içSo.
Neri(o. Ainda te atreves , fementida , tyninna ,
a lémbrar-me o nome de efppfa ? Por iíTo in-
tentavas com cautelas que te adoraíTe como
bella , e não como Prínceza i Pois agora , que
nâo variei de fyftema , nâo fendo m quen^
^n imaginava , dcfprézo a tua iormtrfinra , poir
não fer adornada de Mageftade*
Cêrangi Eflo mifmò quiete la' mona.
Proteo. Pois na minha eftjmação tanto vai a for*
inofuta de Cyrene ^ como a mais egreg|iâ Prin-*
ceza ; e affim , Rei , Pai , e Senhor, a céus
pés proftrado te pe^ , me dêsâ Cyrene poc
efpoia) que fuppoftò-nSo f^ia*£(ha.ddKei de
Beócia , o nobre fan^ue det Polibio , & a iua
belleza , pódcm compensar iiuin incidente da.
fortuna.
Reu Que dizes, Proteo > Ehionquecííle acaíb l
Proieo. Sc me nceas efta -ventura ^ qom «de vivi
2ÍM. y/. % x&A
^ %S4 A Féfrífj^d»
«hal ^11)6 cífirei a vUla^tifaíi ftm G^tene
tudo hc morrer.
Rei. E a Qcridii omid.<6 Jbiv4e íwtfiser ?
Dorii. K" vifla .daqiíolKe ewrMUo .de amor , ^
poib;e(ptm? Logrq:,í^^{f^
Rei. Coino Dorida confemc tiõ defejo de AmS-
let V s^ Ncreo dctniiic^rft Qyreiíe , náo poA»
difliciiluHf ^ tuÀ fopplica ftiUyrme he tua, Pnoteà
IVoífO^ Amada Cyrcoc, fucua t>elleza cMÉfig»
o maior* Í9HNMÍO. ; ^p ,-. -. .^^
Cyrm. E.m» rq tcq amor â maior iiytoiUu*^ . •
Polib. Sempre fé logrou Q0itu imento: dítDfi|.idca!
RH* Dorida 9 Tc acafo qi^xerei aue Ncvéo -f»*
)a ceu feliz efpofo , coAík efla dita fe alcaa>
cará boin.Qomplcto çráízer. . /-^
VoriJU NiO" poíTo rcfiftir.ao teu preceito. -. . ^
Nereo. Nem -cu deixar de agradecer eflâ bene-
volência «, -^ando acho , em ti a qualidade^.,
que fó 'adorp unida á tua belleza.
Catâng.M^W&k^ quòres tu agora facrífícar-te a
cafar comigo por dc(carjgo.xiekua€Qnfctencía^
Mdref. Mais Tal l%um ruim concerto ^rque ho-
ma boadenMnda;^ and4cafértu)s , que ao me-
nos em. hum marido tenho hum efcravo. .
Cardug. Pois então leve. 9 diabo paixões i . todos
ficão acodlnmo^dos , e façisfeitos ce«i asíoa
oonfoiteSf^e Proâ^o^Miis que nenhum $ pois
' com as fuascVariedadea^ c mudanças , moflrou
a maior ãrmoza tios^^amoKes de.Cyrene.
Proteo. E já que os fados profperário os meus
mcentos % Pepita, outra vez o tdtemado acceor
••«aí fcflivoajttbilo»ií;. .^í-
'■ r. ■ l V., jBflp-
ie ProUo. %if
c o & o«
!• Oro* Em Jiori Jicc^a
Venha Cyrciw»,
2. O^rOé Em hora íeftiVa
Dorkia venha.
i.Gvo. A fcr de Nereo^
2. Coro. A f er de Proteo ,
Ambos. Efpòfa feliz.
i.Cbro. Os prados com iorct»
1. Coro. Com perlas os mares ,
AinbQS. Os Scepcros efmaltem
l>e ecemo matiz.
F I VL
I
i
ZH ^!Wi^
precipício
F A ETONTE,
OPERA QUE SE REPRESENTOU
no Theatro do Bairro Alto dã Lisboa ,
no mtz de Janeiro de 17^8.
ARGUMENTO.,
T Afies , irmão ie Tirrenq , j^eí ie, Itdiâ 9,
ufurpa efie Rèitio , o qn4l perteftce d Ege*
ria , í^nfd do Eridano , ' ejtlhd di^irreno. f/fe-
tonu , filho do Sol , e reputado por filho de bum
Pafíor de Thejfalia , vendo o retrato de Egeria ,
rendido lhe tribtéti o jeu amor ; e para melhor
d4r a conhecer a Egeria , fahe de The (falia ,
e fe occf$pa na Itália em acções do agrado defta
Ninfa ; por ctija caufa fahe de Thaffalia o Ma-
gicn Fiton em fegtéimento de Faetonte^ para o
defviar defte amor j por quanto ainda nefie tem-
po ignorada Factónte o jeu verdadeiro pai , t
Fiton lhe receava a ruina , quando o chegajfe s
tonbecer. Eftahelecido Faetonte nos agrados de
Egeria <9 ejta para refíaurar o Reino pelas ac-
0e% daqúelles , que a pretendião , para efte fim
ufa occultamente prometter a mão de efpofa a Me*
cenas ^ e a Ftietonte , em que confiftem os maio*
res lances defla Hijioria. jílbano\ Príncipe de
Ligurià 5 pretenda Jer efpo^o d« iÇmene , filha
1 -- * ..'.'" i».
?57
i€ Tdges. Efle, éfuanão Fdetonte fe deeldrafi-
Ibo do Sòl\ ò pretende para efpofo de Jfmetíé ^
€ pdra o de Egefid d Albano.^ o$,auaes ftngidd"
mente fe áeclâmf àmdntes conrd/eridd dos ze-
los. Jppdrece Apóllo , é declara a faetome por
Jeu filho : èfít lhe pedi fdcaldkdt para g^rét na
caro^d do Sol. Sefifte ApoVo ; porém inflando
Fdetonti , lho concede -, e efle depois á vtfta dt
Egerid fe vé preeipitddo no Eridano. O mdis fe
verá no contextptdd Hiftorid. . .
INTERLOCUTORES.
Baetotire , Filho do Sol. ^ .
Albano , Princípc dp Ltgarid.
Mecenas. ^"^
Tages , Jtei.
Fiton , Barbas 3 Magico.
Chichisbeo , Críado de Faetome.
Egeria, Primeira Ddmã ^ fobrinbd de Tãr
ges. • .
Ifmene, ' Sef^mdd Ddma^Jtlhd deTdges.
CfairinoU» Qiddd de Egerid.
V3k^M
/■í J
ni. Cmmâ. ' '' ■
SCENAS DO IL ACTO.
II. Selvd. .
IIL Gabinete bem adornado.
IV. Típmp/a rfe Hymenêo.
SCENAS DO III. ACTO-
I, Camerd.
It ^4/4.
ni. Bofqae ^ como ino principio.
Prtcipieiot át Fâttonte. ^5p
P ARTE L
• : A
S C Bi>J A L
Bofque froniofo nús Ribeiras à$ rio EriiêiiD.
Em quanto Facionu canta fegémè Recita- \
do, trijahinio Egma em bumof cmtéba tira'
da for doHs Dilfinu
a E c 1 T A D o•^^? .'"•
Faih .^\7\ Gtút peregrina,
Waj Do fagradp Eridatio Ninft bèlla ,
"* ' Deixa.o cerúleo, errame , trono vago^
Em que habitas [)eidade ; :
Que fe aguas procuras cm taes 'mágoas
Vem a meus olhos, que também tem agoas.
Cama o Coro. . ^^^ v
'Alenta, reípira , . . . . ^
Galhardo Paftor^
Pois vês, que a teurógoi.
Partido o ayftal . - <•
& abrazão .as-agpas: : . '^
Em fogo de iunç^r. ;- »'' :^*
Faet.St.àt Itálica csfént. <. - - Jw-.r. - '
Tutellãr Divindade te appellidas 9
Ampara hum peregrino ^
I
^éò Pmipichs X ^
Quê a reu facro ETtdino ficndct
Omro rio cm fcu panto : oh quanto temo ^
Que tinido o facríGcio i Divindade ,
Sf Itimdc o Ofbe einZií[aÍda impiedade I
ál ^ c o a o-
Alema , rcfpira ,
Galhardo Paftor , &c-
..FMt, Outn vez , e rail vôzes
Tc bufco impaciente ,
For ver fc ri^orofo meu dcftíno
Nos influxos brílliantçs de rcus fâios
Acha feguro afylo , c o pafTo crranie
De hum animo conílântr
Encaminha propicia » porque vejas,
Qtic idôtatra numera em vagos gyrot
Tanios os votos , quantos os fuípifos,
^ '^ y ,.}-r.i .. ^ . . . C O R O. ^ ^
Alent:^ , refpira , ^
.^^ínGalhardo Paftor i&x.
r- ;:■» .íKj 'i , ■ - ■ ■ ■■ ■
A ejla ultima cUufàla do Cbro ^defetnlfarcâ £ge^
riâ , e cantd a figuinte Ariã^ e
R Ç C l T ' A. I> i o.
Hum peregrino* affeâoj
Me occupa o coração, qttando «inquieto ;
Nem as aguas do maf ly ou mcos foípiroc ,
Surcando em doas milngytog : i
Me deíxio reípírar , porque em meu peito
Me abraza o eégo zxiài 4^ WBták perfeito. ^ '">
▲ R tAt
ir Pdemte. ' tfgt
■ '• ' A Sl'l A»'
Mão fei que novo affc3o
Sinto no amante peito ;
Só íri que ofcu cffeito
Me obriga a te adorar.
Do teu doce-artraâivo
]â iente o amante peito » .
£ á vida não compeco
Gofto mais fingular.
Eger» Rrrame peregrino ^ a euji vifta cdbrmovi-
do oEridano divide ocryftai de faa^' aguas»
para multiplicar a tua fórmfi nos feils eípelbos ;
que incógnito attradlivo occukas em ti, pois
até eu como Deidade déflas aguas , ce eflou
amando, fem faber a ctufa porque lequeM.^
Fáit. Nao fei , Egeria , náo fei ; pergunta aos
Aílros , de cujos influxos íe originão as fyoi-
patías: fó fei que harvctá três dias, que oc-
culto me tens nede Frondofo boTqoe , verdes
obeiifcoa do EriJano , mais como foragido »
quccomo habitante.
£^^r. Tatober» fabes , quèem rodo effe tem-
po nâo merecerão os meus agrados arraficar
CO profundo íilencio de teu peito quJSem^^iTy
e a caufa de tua peregtinaçio.
Faet. Mio- fei mais de mim , <\ut ferfitím Pai-
cor , com efpiritos tão altamente nafcídos^que
intentáo competir com os Deofes mais bri«
Ihantes . do Firmamenio« ♦' í.-»
Jl^fr. Como pód«m em hum Paftorcaber^Jtio
altos peniamemos^ * '-.^j
^ FdH. Porque a almii^^ue me tníma , ou nSo
he defte oorp^ti WttW corpo miKhrxitquel-
la alma. . .jjr. .
f^ff. Dize-me m omuos. o tçu 0ome , e t
roa pátria ? ..,..••
J4fi. FactoQtê boTomeii nQmc,*.e a minha., «
Iger. Efpera: Faetonn.teçbanaif Aí de mim ! áf.
Fdet. Quecens^Egerit.^ AilíiftòttrCQomeuiiofne?
J^er. Sim , Faetooce.f^pQÍii no qmvíUo pronim»
ciar , me ienci abrazar em hum viva incêndio»
Am. -Em fim i S^qrn^ paia c]iMr te^obackfa
em^ tudo f ThçffaUji Ma inínha. pátria.
rJEgtir.,Ji porque dalU:!U apanafte ?
Fnir^ A{ d^mim! X^em poderá dedarar^! i fM.
;í)j«r.' £mmt|decr« ? >, • . ^
ivfei.M Como quer«i'^ (e comivefle em :Tbeíralía
1. ..hum coração , cpic.nrão cabe era rodoiO mun-
,do; pois ió nas «thereas Regiões. cerd limi-
te a pxinha ambjçãor.^
£ger. A Kor« entendo i^Faetootc , que algum t>ro-
I pício^ Numân te cooduzrp a Itajia.^ para teres
venturofo i,nftrumcnto. das minhas idéas; pois
-fó-.O teu valor. ,>e >a via. an)biçãiO .póderáô fuf-
v pender a roda de minha, jnfaufta fortuna.
JiíUti^ :Pois em. que^ tO: dilatas ^ Propõe ,: galhar-
da f^in(a, qu^.íaut^u refpeiro' j( fe ne^arío
«rh.ftr) Trotfbaiei ás. linees ao-Soli^iaJilep^noo
:tio uidênie., e ps caios a lu^trer^p^ra que
':''cQi\[kfii^ÍQ$ « tridente^Kie luzes., poffli" triunfar
do Sol , do Mir y ^c do £m^yK]i^.b>;f
€j^er«')é<)ue a altivcízde teus pcnfamentof liie
perfuade a minha ventura v-i^br*^ «9ve:'eB:rou
ii FaeiOHte. ,%6^
ia ipfeliz EgcrJA, filh^ deTirrcno, Reifloe
foi defta Rfgião ; o qofA.deJx;indo.me pvipil-
Ia debaixo d^ lutcUa díjíagc? >. feu innão,
c meu lio ^ cflc lyranuaxncmc me tem ufur-
pado o Sceptro , intentando perpetuar a asinha
Coroa na /ua.dBfccndencia.^,ta2cndo com que
Ifmene ,fua ifilha, feja hcideica de mipl^ for-
tuna, caíahdo-a com Albano feu fobdnho ,
Príncipe da Liguria. . Ah cruel Albano !^Ah
'fcilfo amanri I â psfie.
Fdct. Que foffrâo òs Deofes fcmclhantcs injuftíçasf
£ger. Albano pois , com as armas da ^Liguria
intenta fegurar o thronq de Ifmcnp ; ij affim
dcfvallida , c fcm amparo^ confinto efta vio-
lência 9 efie actentado , e efta iojuria , até
que «o teu valor, animado de tão altos efpi-
jriíos faiba fegurar-me o thorno , que me ufur-
p4 huma tyranna » para. qu^ ambos coní)ga«
mos, ea a minha Coroa., etu aminhamão*
Fâtt» Pois eu , Egeria , hei ^de fer Rei de Ita|ia?
Egif^ Coidej que perguntavas fe havias, d«
fer meu efpofo. .-^
Fdet. Sem o c^rafler de I^eí^ icu efpofo jponio
poderei fcr^í ; .
E%er. .Sim pciàêrias , pela violência \ con^ «c
roc actrabe o .teu nome , t^. toa peflbi,;,-^
pois da minha p^tp cftá p amor, eftejã \^
. tua a fortuna. / *!
fdct. E ^Axi,.^^t 9 tua fc dftabeleçi , drfcpr*
ranpíoR o meio para a cot^feggifcsl ' / '
j^er. Não acho oucrQ noais effipaz que fer^sip
homicida de ifmene, c eu dé Albano ^..p^ifa
\ 'tpt defiiíitia jf«k feopfctW M^^ítetr de
' fíêifétdtcct 6 Unrei' nai fuás «áBeças ; voh ex-
imai iffim V èft»ik'Real , pút feífet me tf^
• dartimarfô Príntóéá hefcdiurít.
' j4llí.;Mió fetâ hiéffiòi' qne^ '^Ibatia fiéaífeao
ai^trio de mhlM#:)ra8 » è tíitobíè ao das tuas ,
1^ qaé isa itàfíídkié dot 'ffitoa ficatfe fem
'"perigo k tehmçio^
Bgtr. Nio , pofia|kié ' fe nio ha de brcrtimir , .xpe
jiQfiu mulKet naja de (cr homiéída dé tem
liomem se alEm no maior dMifírtçe <t enicb*
' .Virá omatòr^verieno : e pois iicfta qtmítt^
^^ finha aò Eridano yive^ElRei , aella te Qica-
inioha aonde cfpero introdazir ce. Mayi aí . Eae^
^: totire , hiò feí fe- me fab^^correfpotâdf \
^Ti^tl Não fabej que a infidelidade nio cabe
cm mfti peito } E fe me não acreditas , fede*
me teftemunhas v6s Padre Erídano , yos ce-
rúleas Ninfas , que neíTes pélagos habitais , de
. que já mais ferci infiel a Egería ; e fc ofor,
permltci qué (iqao as vofTaÉ aguis os fifcacs
do meu deliíVo, / .
^ger. Bafta, Factomc; mas Í5 te advirto , que
has de fcr o homicida de Ifmene.
JPãct. Para qné me lerhbra.7 cflá circumftancia í
)E^tt^ Para que tfSo adies defculpa na.fua formofura.
taii. A que eu 'ádorò hc objeíte lâo peregrino
que, nio admine hofpedar-re em meu peito
- outra qualquer belleza ; e affim a f!c Ifmctii
nio poderá fer rètnora de meu impulfo.
'J$f «r. Níáò me diíyaneças com âffeoadõs pe-
Tatu Que mal entendes aonde fe dirigem os
meus fufpiros ! í, faru Mas cambem adverte
que has de (er homicida de Albano.
'Egff. Para que me ratificas o que eu feí ?
Tãtu NSo lei o para oue ; fó (ei que Alba- ^
no he Pfincipe , € poderofo \ e tu defvalida ,
« fem amparo.^
igtt. Sõ no teu braço feguro a minha fortuna*
tÀ€U Pois , Eeería , a emprçnder.
iMf. Pois , Faetonte , a confeguir : mas lem*
bro-tc outra vez , que has de íer Monarca de
Itália , e que Ifmene he farmofa ; cinge a
,Çoioa nos olhos » para que fejas Cupid<> da
túa ambição ^ e não do teu amor.
Cánm Égnii , e Fsamc ajeguinu
íger. Se acafo a formofura
O golpe te íufpende.
Na fufpensâo attende
A' gloria do reinar.
Fátt. A' copia , que idolatro
Tributo extremo tal ,
8UC íõ no original
;c poffo retratar,
JBgcr. Oh peçoHo não fejas
A tanta fé traidor !
FaeU Oh rogo-te que creias
\ As veras defte amor.
Ambos. Quei affedlo tão confiante
^ . Mudável não féiá.
?tó^ . firMpUío • ,
£gtn' Nâ^a <jtífc"<Sfiç' pomcttcf " •:*
• Sòccgá X) íiMru cuidado : -
FãH. O mea atTfbr prdftrado
Fíd feifâ ébmtigo. ;
jí^kâí. 1*018 vè conr fcgúrátnçâ *
c ^ ^ ' No bem ^ qae' am«nr6 fod , ' '
A gloria que terá. • f^^^-fi JBt^^ -
Dentr. Por aqui fof ; fe^t^ todos. v /. ' ' *
JFM: Qài rumor fera e&éf Séà táo^let^^
-bcctricitr-itoe. -''■'■ ; ' '^
Efeondtje^ Fatúm€% e fáifé'Aiák com Mi
lim HM m3ò'i à0t 49 icpúis d lémcirá A
chão, efe dtfpi: ^ - ^ ^^- *•
fiton. Aonde açKará refugio hum jnfeliz l Def-
pojar-itne qoer^ cfãfta recopilada' tòefida , 'que
inútil me não ampara; e para;c|]ue mais dif-
farçado poíTa efcapar defte bárbaro furor , (era
precifo mudar de trage ; e ainda que me prdl*
dio ) dizendo que nao (ou quem bufcio , dei*
xarei ao menos vacilante o feu inceiíto. Oh
fciencíasjaté quando deixareis dd fer perfeguiddA !
Dentr. Vamos ao Eridano.
Fiton. Oh tu frondofo Bofque ^ sè propicio re»
fqgio de hum defgraçadb , occulcandò-me em
teu verde labyrintho. Más quem cílà aqui í
Ao bir efionder-fe , ertcomraje com FdttoMe^
Faet. Que vejo ! Tu não és Fiton ?
Fiton. Faetonte, hepoffivél que reencontro?
Fdet. Náo, te deixei em Theffalia ?
Fiton. Sim ; mas como foúbe qué precipieaclt-
mcore vinhas a ItaUa a bofcac o oirij^al da*
ãe FmMíí' níy
Ia copia , que cafuaknet^^e veíò , ás tuas mãos ,
foi prettfi) reguÍNce , para que te nÍo arruinar*
fem os teus pcnfanientos. Oh nunca te eu
diíTera que em Itália habitaivâ cflfa fotmofura !
Fm. Poid;já que eftamos em Itaíla , porque
me não declaras quem - he eiía foberaaa bel*
leza ? Para que me occulras o originai de tSo
beliâ copia , quando vês que vagando por ef*
as r^iões , venho louco .amante a ver fe
enqomro o idolo , que adoro em fombras , e
me abraza cm chatnmas?
Fhott. Fáetonte 5 convém i tua confervação ó
ignorares de quem he o retrato ^ pois tenho
alcançado pelas minhas fciencía$ Magicas , e
Aftrologicas , que o original dcda copia ha de
fer t cau& do teu precipicio -, e fe longe do
perigo te recatei o dizer^to , agora que eftás
perto ^ damno , como to poderei declarara
Fm. Como ? Defta fórçe : arrancando-te do pei-
to o coração, já que nSo poflb o fegredo,
que me occultas.
Luta Faetonte com Fiton.
Fium. Louco mancebo , que fazes \
2>eif/r. Cercai rodos effe bofque. .-» *
Fiton. Eípera , não queiras, que ambos aqtfi
pereçamos 9 pois fei que câa tropel vempa*
ra- nos prender. Com efte engano eftorvarei
Q feu furor. , â parte.
Fdet. Deixo-te 'coni vida , para em melhor oc-
cafião^ fáber a caufa de meu precipício: anda*
FÍ9Qn. Vamos, que por mais que to^ clBpenhes ,
o não bas de íabcr. T^í-Je. S^«^
Sée 'Gbiéiàeo. ^ f'!^^>
tífiA^ Ord foa bem afnoMUu-iiio cnduTit»*'
Spnha ^' ív disser; qoe y^otu co palltiiftní»
Q derde .TheíTalb^asé^qaiacrftZ' deboorbifí*,
CO 9 00 de humi Faetodce , que tcHló'heV^
oiefino ! £ o peior he qa6 mé défencMWf
dclle , e ando perdido pelo moçp !' Qjmt tá
de fazer o pobre Chichiri>eo, poftono ccih
iro. de Itália , fcm. /aber a^ai aonde«;^cai
caTa^ Iftçaiédas, t( o qtn maia he, feiííifW
tríni ? O que me vai ha ffer ca Chichljibcfõ ^
quQrtercí . entrada fràncaòtm roda i' ça(A )iil *
A)4<wHc^.íflo que &Ut cAá^í' Ora vcjámOíS oh»
he^ hu9^ veftído qae cfiá. dcfpidb ; «^'.fabta
Deo> qoe já efte mea x;ftavà por hoo* fot
ie me- chegará ? Vejamos : bello! |iiflàiDen>
te! Al£;um^ útm algebíbifta fe compadeceo
da minha piranguíce. . Olá , temos mais bom
livro? Náo ha duvida , he livro ; e he de
razão que o veja : ora bem dizem, que ,cm
- Itália nafcem os livros , coma nafccm as mal-
vas : vejamos fe achamos nelle alguma cou«
fa , pois dizem que tudo fe acha noslívrof.
jíffentáfe , e come^ ajolhtar o livro^ Abra*
B>os , .e vejamos o que contem ; Libet afthh
hmagiio: Irra T Magico! Pafla iõra: vejâo
lá que matéria úo peçonhenta contém o lat
Ijvrinho ! Libera me ! Ora ainda aíEm ;, Tal*
va a confcíencia , vamos vendo o 'Jndix rr*
Inm notabilium. Capítulo primeiro , «le fipMO'
mU , (jnod eft nárjgomm conjrontatio : tfto
b9;de íer galanfie. dapitolo feguodo i^ de iVí-
{rromantid ; ifto bc couía jàf^ negros ! nej^n
ciência he ellâ ! £u náo quero ver mais , quç
fc me vão .arrimando os cabe)Ios.
y^ao fabindo por detrás de Cèichisheo Mecenas ^
li r. e-. 0$: Soldadas. \^
Jiíecen. Aquellq; fistn.^uvida he^o Nigroiranríco
..x]ue bufcamos ). vamos deí;q[)9nfô, e levemo-
-lo i^rezo» com rofto tapsidòi pÁ^^ qae Hos
-jinão offemla icom algum encanto».' .-;
Cbkb^E o diabinho noo ejftà dizendo que ior«
* rxK outra vez , a abrir o livro : íõa ce^caçs^ |
•'.nía fei fe còníinra nclía. ; - ' i ; ->
Chegão os Soldados ^ tofãoo rofio. a CbkbiJ^
beoy.e o vao If^^ndo,
Jlíeeen. Leven)*no .deprçfíf ,
i^
Cbicb. Eu o díflevá! JÈ^ite , encantadoras , qúe
: me quereis i Hwtúc rçcheis os olhos <| que ain«
. da náo eAou^para morier. . {
Mècen. G^VuGríe^ 4bís levent 'também dTelivro^'
Cbicb. Deftà ninguém fe livra,
: Mecen. Vamos , vamos^ í
Cbicb. PâtSL ondç? Para o inferno i
Mecen, Lá o yeiá. - . ;,
Cbiçb. Là o nrei) f<i mcdeiUparem os oljbot;
\: .:
Jm.21. hi '^^^V
'^V ;"íi^cENÍ:tt. ■■/'■■■■
jf/^^/l. r\ Uarvk» , *6 b««a Aurora , has àt
^^ amaniieGcir riibtlhá , t aiegre m hoÉl
Àoremofo aUMifitt ; para que mac
^ elidas '4ej Kineae f« acabem a6 «línbta elpcr
ranças \ Mas que difU Egería «Ia minha in-
*' Uracidio > Razia toai ;* fui4lie Ingraco ; vog
K ^coLii0|J(xMa não fcr , fe amor , e an^ifão ven-
cerão a minha conftanciat fehe quc«raa»(«
' xUneía , conftancia qtK fr iiuidoQ 3
• J^lbe Egeriâ.
Eger. Dizcm-me , Albano , que d mão de Ifr
' mene te fubtlma hoj$* Ho ckfono de iuUa.^ è
affiti como mais imereiiada rios teus trixMrfos
venho a dar*te os parabéns de tanta fortnna.
AthM. Qae has de rcfponder ^ ingrato cora-
ção ? i ^birtf*
JS^er. Quem já poderá ccflítít a teu poder ? Sc
aos dominíos de Líguria une« as jproviíicias
do Eridano , que inimigo te podefa roíiftir !
Como ferio copioTos os teus exércitos ! Tra«
ta de erigir templos à tua fortuna , e altares
à tua bella efpofa , por não feres ingrato ;
porque a ingratidão , ó Albano , he huma
mancha , que deslufbra o peito mais fobcrano»
albano. Bem entendo a Egería ; vou-me fem
refponder-lhe. â parte. Q^r ir-Je.
J^er. Que he ido ? Te vãs fem refponder-me í
Já te deívanecc o íuiut^ à<ivcivci\^ *. Ç^^^ira ao
r mfetiój', jji» para o jrelpeiio çlitadíi^qM fSkí
defvalída , (ou filha de Tirrena^^- Monaroi
qwe foi dtífe 4legíáaí r c- , .: :^ ;.:;.« ,, ,jV
jjlban. £geria , em mim nio. Ike^deÊUeDçSo
êfte r edN>-; ti«k:6iÁp;ide»>iHmr da roa àcíffoç^
Eger. Bem o moftras , fome^nda a itilttfaa^ mi-
na , pur cnthronizar hupia tyrámMi; diáò ,. IkW
mco 5 não pfoAMtielke' ^ef^nd^rc i; millj^
tnftiçi , ò6 to' mè(UÍ8 £Kurr-roe 'I^lMè^
■ Lígurid ?' ' • ' ' • ' ■■•> «f "'"* '
Jlhan. Affim-be; nMtiil0 feife tck]igii<)M('«;
J^ef. Que iHfs dè^Uiacr ^ -ingitait^ ji &jba^ que
já tiio' neeeiCtó' dó^ifètís favorei', poi» slfue*
dádè de AbifiJ^Mtm fez;Nili£i'dõ^Brídâ^
aonde etpérõ ^t^uhht de hum cvi^MUto , qw
me uforpa aCõroà, e de hum hdfi» am«Me ,
Sue crnet' mé oflfeiide. ' - :. . jj
/ff». Pots-ii Eger») fe já ccmiOiDeidade lé
yls jniinéíica&teiklo I nio necióffifarás d6 Mfu$
atixiRos. ^' :..«■■■.! '.v"Í
JBger. Mas m nèeeffiiariís de minhas piedàdei;
Alban. £u de mas piedades > De ^e fónoi,' ^.
Sâbf Mtãid rpMgH.*' "^
J?eí. Albano;'^ aqui fe mc^avira- que Fkeil)
'áqueilecékbre Magico de Theflalia^ fe acha
ikfta Provtrtcia i dei ordem - qiue: mo tttntíitk
fem de quâli^r parte onde eAeji, parar que
^ délle faibft 08 oeeuttoefegfedos» q«elmpoRio
k mínhe Céiòá ; para que afltm eòm Wais
foeego poflTa eompteterio teui Bfmeniè.
jílbdn. O wtí preceim^', fi^enk^ i \x% ^ trfjè!cv>
A» ii ^«^
Mfeimu 'A' Hisk» túo. ^'kfMn- 'o fotúhl :>
Chub, M.15 podii «lerinihtr:ifb , que me h>
.cede de -prçimie. i ^;. .
jfíbML Senprot foi jJnii(irío :4Íos Ixunent doatof
negarem o que fabem, . -
£0L Hà V '>imior homent d» UcmJo ! '. • . ' ^
CEitté. O oarni lic ^-cjue d pomo eftá «m dize-
rem que hum homem he fibio, que kíot*
ça o ha de Ter, «inda que (ejsL hum padaça
<' d'aTno. , á pârL
JBei. Fícon , tem entendido «|ue cftou fcdèan*
.temente capacitado de qaem ^; e M&i ít-
: berát -que ha rres noites que em fonbfltfe
- anc TcpfidícsiKa , que hu**) inaacebo , filho do
.' Soi , habita occulto «m Itália ; tománt toe de-
clirifr:s aonJe eifó , para qye como fittio de
Apotto Iht confa^re os calcos -que te lhe devem.
i^/r. Fi^ho do Sol ! Qiicm feri ? á pOfU.
Cbicb. iíi% eftámaito bem ; mas (t eu oia fou
adevinháo , como podo dizer aonde eftã ef*
- Ife fení^òr filbo do SoM i& demais , Senhor,
Jue renho fiara mim que íflo foi foaho.
. Amda ^mifn , be táo repetida efia viaSo ,
que me perAiade n6oíer errb dafamafia* .
Orch, Pois , Senhor , nio he etio coaíitfiino
encsnder que o Solfem filhou Bem feí qna
Eela x^ffx do Súl , Solide mugil , que o Kol
e maioulioo , e nem por iflo fe íegae , que
tenha filho , porque Ati$fã , Mi$fd , kt fe-
ininino , c com tudo at Maias sio caftu :
jngo 8cc. não fci fe me cicplico ?
éRif\ ik ião bexMm; vtta eantadido que im^
"^bsn^
ãecJPámme. '^
hâf de i^áizefo aliás fe ^aI>ar4:;jÇ0ltí t ma. vi-
da a tua fcicncia, Jl^êhfi»
Albãfi. Homem , vè ta em . çfat xt omucs ii^
de fazer a vontade a ElRei»/ . V^Je»
Cbicb. Ha femelhante tmatadura ! Qi^ei dua
Mageftade á for(a que • eii^ (eja IcifictHfd i E
. dado cafo que o tosa ^ . cu. pof ventilra*. ibu
cáarod^ doe çtí2jPt^àf>9 fui Uhet àmfíhos
alheios ? Ah 5enl^,^ Vofíi SenhQ^íii,defeMí|ny
oe a EiRei » que em rila dar A<í»giea ^tíã^ifei
por onde elía corre,
M^cen. Fiton , acho que eífo repetida* Mglr
çlò he já iníprudefKJ» : to4#8' fabcmo^ .4^<m
és ; e pois a force le <ondu9BÍo.ai efle Paiz ,
a tua fciencia M .de íer o meio da noiTa rran-
quiUidade ; porque Egeria ^ efiar f riiDcexa ^u6
vès y vivo efppli^da do dwòino de ie« |piW^f#-
laa víolçtv?ia$; cklRei^ qne imcnca cntIvQiMzar
a filha, caCaíiidò-a com Albano Piiiuripe de
Ligaria. $ mas iftohe efcitfado dJzer-to», fois
tu comor. Magico a. n2o haft: dè ignorar. .
Oncb^ Não me dígai joada ^ eotaa- verá St eu
fei alguma coufa.
.Ç^. Queimairas,: Mtfceads^
Mtctn. Commwicat a Fitti» os noITos imenros ,
Sra que poflâmos tdon&a > ainda ^«etfeja
agicamentè* :
J£g€r. E tens a cetteza que todos os Mágicos
são fieis , e leaes? (
Meéen. Não ; mas como*. eHes ttidtr aficançSo pe-
la fua fciencia j não ignoraiá .Ck pisão que
temos celebrado d^ idm&t^U. ^ v»»cw^ ^^
^ PncipFrío'
*í'tca (>irf'ieòttf'*â fortuna de /âr'eu teu cf*'
poíó.
EgeK Pò\i'^ Fitoa , fe a ' tua fcieocia tuda ai**
'- can^a , pcço-te qae a empenhes coda ^ para
2ue coiníiga a Coroa, qtic meufurpa a am^i
içáo ^delllci meu • tio : favorece os intento»
^: 'de Mecenas ;' pòls oonfegaindo. a fortuna , que
- efpcro' ,' tõ prortirtto fe«. agradecida. Vãi^fe.
Çbkbi Senhor Mecenas , com quem efteve hU
^'Uando agora aquella, Senhora Egeria , que pot
nome náo perca ?
Mecitt» ■ Cofntigo. '
Cbicb. Comigo ? hc bôa teimai Pois acha Ver-
. fa Senhoria -que fe eu pudera dar Coroaa »
- que as nio tomara para mim , por não efiac
■ às''Ordens de ninguém ?
Jií^cem Deixa loucuras : bem vès o empenho,
em' que eftou de coroar a Egeria -, patrocina
os meus deíisinios , que do feu bom exíco pen-
de toda a minha fortuna; pois icconfeíTo, Fi-
ton , que ardo em hum vivo incêndio de amor »
ecé^o intento emprendcr porEgetia as maio*
rés diíRculdades.
Chicb. Ahi vai parar tudo: jii me a mim ad^
míravi que o trampofo do rapaz não havia
mecter a fua colherada !
Cama Mecenas a fegmntt
A R I A.
Naquclía Deidade
Galharda , que vifte 3
. Coníifte
Dí minha vetvtsitx
de FâttoOk: i;rt
Se a f6rtc m« nega : - " . a -
iPortuna tio bctla 9
Scin cUa y ^ -^ ^
Scmí dc/gNiçido ,
Serei infeliz. ^irf/e.
■ • ' . :.v
Ob/Vi&. Ifto já vai de foz em fóra ; eu emei)d«
que ifto he realidade pura, e não Magica ;lo-
nhada ; c o peior he. que eu íou d x]ue iiçokia
oração , e cuidão que fou Magico ! Em. oe*
gra hora apanhei o cal viftido , e o tal livri-
nho! Mas aindf^ilim} devo muito a tod«s;
pois hmn me defcobre o feu peito , outro
me vomita o feu bucho ; c eu com tanta
coufa eftou para rebentar. : (,:
Sâbtm iMonu , t Fxtm.
Fatt. Ainda nSo- creio que me veja habitar em
palácios: quanto meaçradUo eftes mármores ! .
Quanto me recreia efta magnificência 1^ Parei'
ce que neftas altas torres habítão ' os meus
pcnfamcntos ; neftes edfficíos fe eleváo o«
meus cfpiritos! Eftes póttidos' sáo poUidos c€-
" pethosdr minha ambição 4 eftas columnastaN
vez fe erigirão pam netlas fe coUocarem suí
meus triunfos !
Titon. Nãa gaftes o.tempo em aéreos penfametl-
tos , quando fabes que és filho de hum Paftor.
Faeu lambem Apolio foi Paftof de Admeto :
nada me injurias com ido.
fiton. Oh quem pudeib^ declarar-te quemvifrí l
Reprinac-iflc génio •, náõ bvác^aLt^ tíS^ ^^'^'i
i
f^ PHcificio ^
corho-te a recommcndar ; pois mal f abes arot«
,. na que te cfpera , . Faêtònce»
Cbicb. Faecontc Í\Ílt ? Ai que aÚi -eftá meo
amo ! Pois por vid^ nUaha que hei de magí«
; \caccom ellc.
FãH. }á que me não queres dizer o que te per-
^ gumo y recorrerei a. outro Magico» 'que me
' diile agora Egeru habitava em Palácio » e el«
le nie informará^ quem .he o adorado enigma
que adoro : mas aquelie hc^ irguudo os &
.naes que me deu Egeria.
Cbf^« Elle comigo. \
fatti O' tu fabio potcento da N^romaficía ,
compadece-te de hum peregrino y.que inflam*
mado de amor procura o original, de huBU
cópia , que
Chich. Que acheftè cm ThèíTalia que te diíTc-
fio eftava em Itália^ que vens em cata dei*
; la ; hio h;ifto , Faetontc ?
JFãit. Que ouço ! Nada ignoca : Fiton , que te
. parece í
Flton. Quaíi que me confundo.
afile^ Pois dizcmcj de quem he eftc retrato?
Aíoftrd o retrato.
Onicb. FiAoAmHs \ queres que to diga 2 Mas ao
depois talvez , que te arrependas,
Uton. Não lho digas , fe achas que lhe |>óde
. fucc?der algum damno.
Fset. Dcixa*me cruel; que damnò p6dc cauíàt
a formofura ?
Omhr Que damno ? Muito grande ; porque ba
fotmoíuras damnaçtas : olha 9 huma amlber lor-
mo»
it Fãnmlli. ^9
Hfort por fyxçt ha de fex prefumidâ ; dapi^»
fumpçaò 7ègue-re o fcr tblla ; da toUice o fa*
ztr aíneiras ; das afneíraá o dar couces ; quem dá '
couces, tem macadarasiicom que Senhor^
quem albardar huma formofura , ha de aturar
o fer raivofa , zelofâ , comichofa , pedincho*
na , defvaDecídajL-poia fe. tiver accidcmes da
madre , ainda $ão .ouorof quinhentos,
Faet. Se tudo iflo sáo cffeitos da formofura $
nada temo , tendo tio foberana caúfa \ dizer
me, não mecenfias íoipenfo.
Cbicb. Com efleíto queres que te diga de quem
hc o retrato ?
íã€t. Dize.
Cbicb. Áo depois não te arrependas^
Fãet. Dize , que me nio hei de arrepender ; de
; quem lie^ ' . / '
Chich. He de boina mulher*
Faet. Mas que mulher he ^eíTa , e aonde eflfc \
Cbicb» .Cíbi: pinuda erh cobre , nãp a vè ? '
Faet. líTo he a pintura.
Cbicb. Sim , a piauira ; pois que pergunta yof«
fa mercê ?
Faet. De quem hé o retrato ? ,
Cbicb. Fareoe-mç que he de Apèlles ; ou eo
me enganarei.
An« )á me deféíperas : dize-ihe ,.e defengana*
nie p, qual he p original dcfte retrato ^
Cbub^JíSo he outra coufa : ^ tpc renrato ; e pa«
ra lho dizer com mais certeza ^ deize-mç ver
tiof mein ialfairabíoié '
ç8p .Prmfkio'
Tolbianão Chicbisbeò o livro , citmã ifeeumtc
7. ■ -A R -l. Ju.. •;.:;.-■
Vagos eípiritoa
Do negro Cocito
Refpondci-mc já
ÍV-: Por magica , megicâ , migíca ,'
Quem he de Faecontc
A bcUà Frcgona <'■- ' '
Seu pai, feu av6, '
Quem he , quem feri? > '
f ' Qu« â ^ría fomcnre >
Do abyfmo fervente ^
. De homa mulher
Saber poderá.
£iton. Senhor, agora reparo, aquelle heotnea
livro , e o meu veftido : cfte homem ■ dcvt
■ fér àl^um velhaco.
Faet, Affim me parece ; ]k fei que cfi humfin*
gido ignorante.
Cfi ícfr- Sabes mais do que cu. -
Fiton. Quem te deu elTc livro.
Chich. Ninguém porque o achei.
faet: Pois como ínfolente , me pretendias
enganar ?
Cbicb, Venha cá ; tão louquinho eftà , que tnt
não conhece ? Não vè que íou Chichisbeo í
Faet. Agora reparo : Chichisbeo , he ipoifivel
. que te vejo ?
Cí^ich. O verme he o menos , que iílo fará quem
mo for cego : g aLcVai-m^ ^wí^v?j«í he o
mais. ^^"^
ÍJif.7C«m9vJbc:iflb? Corttá-ttioi : - > ^ .Ir ;j
CÍ&Í46.. PepQjs que de ThcíTalía: partimos wás
^' .ori gí (lai daíquelle rotldíto rjetrato ,. ch«gà«
;.ri9>f|s t^-^^ '«- quapd^lfo^ duas Ipalhetadas ,
embrenhandor^ vofla incccè pelos bofques do
Eridano, o perdi de \\R.9,\i íem que á íot09,
/^•*<k (diligencia : o podefle defencovar : Qafta fofi*
frogicídade andava , quando palavras nao.erão
dicas ,. Iorque eu não dizia palavra.; eis-quft
acho efte. veftidpj e.;^fte livró > eis-que ape-
nas eu o abri ; eis-que mê prendem , e tnc
prefentão a ElRei empeíToa., aíHraiandp ^
que cu era Fiton , aquelle Magico de Thef-
, íalia , que ep nunca vi^:e Por roais qu6 mi
defempulhei , não foi poílivel ciraf^ihe dos caf-
C03 que eu. era Fiton/: ! r. "»^
JFHon. Mais fcguro eftoq; .agora disfarçado trtx
Chichisbcb. Á part^
Fdet. ]á (me iens,eilii fortuna, vai vivendo com
o tempo.
Chich. Idot íim ;^)nas fe me pedirem que fx*
?:a alj^úmt magica , como na de fer fe eu*
. ou defazidp ip^ra i&o ile- paéVo&.
Fiton. Não tenha ínedo diSo ^ que fará quan-
to i]uíier, ,^ : • ; ; ^ .*
Cbicb, Ah Senhor, queoaihe efte Japuz, que
tambcR) (t qoer metcer em reftear nugicaí.
FMé H« hum criado* que tomei na ^ud falta.
Cbich; Pois vofeè me legura .que hei de fa-
zer ^magicfisP » .
Fhàn. Parece-me que íim ^ que <]itiHn cen»' c(b
livro í»Z::msím9 quer; j . ..^.^
■ • ■ ■ Qov^ »
?8x '"Pmiffih-
Cbicb. Com tuda ifío náo he poftv^riifevMlHílr
! quem he hum filhd do Sol , aâd em Itália
; babica ; e diz EtRei que lho Ml de dfêer,
porque elle ò foithoá , t que fénSa, Hhe ha
de fioparar a alma^do corpOk
Jíin: Filho do Sol?
J^ton. Como fc altera Faetotice! ipâru
Faet. ChicKisbep , em co(io*o cáfo m fcas de
di^er a ElRei que eu íbu o (itiio do Sol,
para com eíTe pretexto co^eur as minhas
* idcas. • ■■'"' ' ' : '
fUon. Ai de mim , que Faetente- procura a fua
ruína ! i part.
Cbicb. E fe depois apparecer o verdadeiro filho
. do Sol , e me apanharem na niencira ?
Faet. Nunca tal fuccederà , porque nSo ha filho
do Sol 5 e fe o ha ferei cu 9 pelo elevado
efpírito , que me anima.
Cbieh. Se voíTa mercê tivera os cabellos louros 9
ainda , ainda.
Jfíton. Que inicatas ? Não fabes , que he facri-
légio appropriar-tc a ti a di^nídadi^ ' d^ filho do
Sol y eque ApoUo irritado pode caftigar-te , e a
quem para ifTo concorrer?
Chich. He verdade que eu fou o cotKurrente:
não temos nada ffritOt
JFaet. Deixa-me , infame eftorvo de minhas fe-
licidades : que tens tu que me arruine ? Ho«
mem, dize que eu fou o filho do Sok
0)ub. Se es hum filho das ervas , como que*
iCi fer filho do Sol >
Iket. Advercc , c^uc tCviS.^ vt ^^<* ^^ ^«dc
ie Faeiome. %%%
"ízrm ; porque tn , ou has de dizer quemlitv
. í o filho do . Sol 9 ou ce hão de maçar*
(3hich. EiTa razSo concluio-me r^vóíTa «croè liÉ
o filho do Sol , c tenho dko : CoH(ftitm ir
úUumSolis. r . ;^>
Ftton. Oh violento poder dos fados ! Quei»po«
de reíiiUr a tens impérios ? á.fêxh
Fâ€t. Ná« ftbes quanto efiirao efta ocdrfião ,
para que aflim poíía frequentar fem perijgo *ef-
te palácio , e fervir aos defigoiòs de Egeria^^
huma Princeza, • . «
Chich. Sim, Senhor ^ huma Prinçéza filha de quem
Deos tem efDoriada dochrotK) ^ não he aíHm }
FáiU Muitor faDes. ' >
Chid)^ Não v que fou Magico l Pois aiodai
fei mais.
Faet.Dizt. '
Chicb. Não poflò , t]ue efiá Jàb: figillo mágicalL
Fãeu Na4^ |ne importa faber mais que. obel^'
lo original defte retrato^ pois quanto interno ,
he para ver fe deícubro efle encanto de amon
Cotiji latMttt dJ^Mintt
Nas pupillas de meus olhos ^
O meu bem hei de bufcar , • ;
E verei fe poflò achar.
Entra a cópia de meu-mnto .;
Dcfta cópia o exeniplar.V
Sete encontro, objedo amado ^ ' v
Acharás nefta alma amançé
,Hnm morrer a i:ada ínfianMj
ftium. viver mn te tàíàivi^ aV^ \^*^
^84 .i^itipích
^ton^ Vake errado mancebo , que aIgM»r<Iu
le pezarà do engano que intentas fabricar, á f.
'Mtoní'^9 diz-?;^ • ' ■ . .i
Cbicb. Não diga a ninguém que eu fow.Magí*
►cw^ :entendcò-mc ?
J$ítt)i9.'Bein entendo; mas. eu farei còm que te
« cfenhão p6r Magico ,exerdtando na toa peíloa
-j ovados encanros , para que fiquem na certeza ,
c.de Que caai^ítoQ , que buícão ^ e^ eu Uvre
de cnegar às mios delReí. Foi ftn
\. ■ >! : Sabe Chirínola.^
Úfirin. Venho Pc antepé a ver c&é Magico , que
.'tèm alvoraçado iodo èfte palácio, e he cou?
fa que nunca vi em minha vida.
Chicb. Que eftarâ efpreicando aquella moça ? O'
menina , procura alguma coufa ?
Chirin. Vinha a ver hum Magico, que eftá cm
palácio.
Chichi E para que?
Chirin.Sò por ver como he a cara de hum feiticeiro.
Chie. He como efta que voíla mercê èftá vendo.
Cbirin. Pois voíTa mercê mefmo he o feiticeiro ?
Cbicb. Para íervir ao diabo , c a voíTa mercê,
que tudo hc Jium.
Cbirin, Ai , difs;uc-(e para lá que fe me arre^
pião os cabellos!
0)icb. De que te affuftas ? Que cuidas tu , que
he íer Magico ?
Úfirin. Coni licença/ de voíTa tnercè , dizcnj
CtM. ;Eíbs. tio outros , aue eu ca nSo fallo
com o diabo , o diabo ne que falia comigo»
Cbirin. Iflfo. ttido vem a fer o mefmo.
Cbicb. E t ti que fe re dà diíTo ? Tomaras m ^
. ^Dc hum M^ico delTes te amafíe^ então ve-
. :ri«8« • • . . Qâo digo tiada.
Cbirin. Deos "me livre }
Ctliib^ Queres tu que eu fejt teu Chíchi8beo^
Zombaria fóra.
OAíiU Para que ^ Não jure*, que bem lho creio*:
Cbkb.' Hei de fer o mais fino ChichisbeOj que
(ha-^e haver. em coda a Italia«
Cbirin* Vá-fe dahi , que he Jium feiticeiro.
Cbfcb^ Feiticeira és tu , que me tens enfeitiçado*
Cbirin^, Só de huma forte me poderá render.
Cbicb. Como?.
CbkiH. Renunqando o pa<íb, e depondo a Magícaé
Cbitb. St hítfi^' çonCtíte , já renuncio, não fó
.Í.Q paélo y.mas tudo que te pofla dar pena;
pois fó quero , que voe o ineu amor á ef-
téra dos teus olhos.
C^ffffif. Eflamos/ judos ; porém veja lá o que
faz: ag^ra o apurarei, i piír^ Oradíze, co-
.010. me chamo eu ?
Cbicb. Se eu já não fou feiticeiro , como poflo
r :tdevinhar o teu nome i Eftá galante a Chírinola!
Cbirin. Não temos nada feito; va-fcdahÍ3 que
'; 4inda he quem de antes era.
Cbich. Porque ? .
Cbirin. DiíTe^lhc que me adevinhaíTe o nome^
e mo efcarrou na bochecha
Cbicb. Eu o teu ngmc i De que forte i
Sm. IL Bb QhU
^S6 Pncipitío
Cbirifi. Não difle Chirínola ^ Qae vkA tmià
de dizer í itio*
C*/ffc. Poil to te chamas Chiriiiolâ>
Chirin. Sim, Senhor, faça-fe de- novas. -^i
0}ich. O' Chirinola 3 emchíríndla meiohiae«U|
fc cu fabía que tu te chamavas Chiriaola.
Chirin. Pois para que diíTe Ghirmofa ? ■• *^
Chicb. Nunca fe vío hum Upffis nomihis-^ Sé
havia de dizer charamella , diíTe ckiiiiAiá*
Cbirin. Òn fldmttto a defcttlpa , mas nío llic^
fucceda outra. » •'.'■■/
Cbicb. Qual outra ^ Eu qoero mais enctnrb,
i]ue ' e^à bélleza , '- nem ma'8 tdèvihhar* qod
os teus pemfamemos , nem mais paâo^'4p^
effè Cyfne de. Vénus , de cuids azas fotmòà
Cupido as Tuas , de cujas penas avmod ai/<A;^
ias para féfrir , e para voar ? Tco ChicM^o
hei de fer , e fô o não for , náb fcja embora;
Chrrin. Vcjaí lá o t]be diz , olhe bem paca mim.
Ckicb. Tenho dito.
Immediâtarrteme lhe crefce o nâtlz a CbtdisbtB
com desjormidáde^,
Cbirin. Ahi que nariz ! Ifto atura-fe ? Ha ho-
méih mai5 mentirofo ?
Oíkh. Que fiz eu ? Que nariz ? Explicate nío
fallís pelos narizes.
Cmin. Como queres que creia , fe ao mef*
0)0 tempo , que dizes não hás de fer Magi*
CO, facas por hum nariz tamanho -oomo ho*
'' iff , e. á manhã?
Qdçb^ He verdade ! Crefceo-me o nariz íHà
de Fánom* 18?
: cafo igualJ Oh Chirinola , efte nSo.he o meú
tiAriz , e niftp podes aíTencar.
0}irín. V^-fefUhí» embufteiro, Magico , feiticeiro;
Cib/(6. Filha do meu. coração , eU eftou innocen-
te ; verdade he qoe me rebentou efte nariz
á áor da cara , mas eu não concorri para iíTo»
Chirin. Não ? Fui cu ?
Chicb. Vê tu não feja iflo algum IcicenJíoV
Cbiririf He nariz em nariz.
Cbkb. Tu tens razão ;he fone penca!
Chirin. Arre là ! com nariz mais da marca > If-
fo não fe atura: ande, vá«fe3 ^"^^ 94? '^
chegue r^os narizes, ^ , r
Canta 0irinolá a fcguitíte *
Se quer adprat«me 9
Pa Magica Aija ;
S^ qqer defprezar-me ,
Fará o que quizer. ;
Qué he muito fenhor v "
Do Senhor feu nariz.
Bem fabe não goftp ■■'
Pft feitiçarias ,
Que sãp rapazias ,
Que eftalão num trás,
E eftão pojT hiini triz, Vãt-fe.
Cbicb. Vio-fe náríz mais intrbmetido do que
efte inea ! E que por amor , delle vá Chiri*
noiá ventandb por ahi f<^ra ! Ifto deve fer <;on-
tagio do tal livrinho :. arre com tal i\ax\x^
Mês aonde cBÁ elle ?,£fc<wide*k-\b% ^ tvwvt.^^^v^-
^68 PMdfkh
^- inio-re> SSeM i1uvi4a fyi onátíz ãxá^^ãtQú*
riiiola 4 pcdíMhe bom qaarccli/^mis tu- voa
a pcdir«Uíe as (dvíçatas i 6Cliirfaiolt.y c6eitt|
qot jáí' êftM 4efnar)gado. ^^»í^
. -.," ^$x: EN A!fin. • "-..n^
Cfmer4 ^í-rfpi.ate haverá bitm kbfeíe^ ^ f^
efiihiêmd vífU àccèfd i é bãveri imiV ,lmfM(
Cadeira, J^Aem Ifinaie , ^jítbmo p 1 0éwM
paJfarA do bâfUdor. . ,. ;.
i/jfmefi; 1^ Afta até aqui ^ Albano.' '
^mrn. He eftilo do dec6m ^ e da^^licicá poc
limites á entrada dos efporps , aonde habirSo
as efpofas ; e aflim ja (abes que aqui nio
podes eftar j e hc prccifo Vctirar-cc,
Albán. Poderia fe o doíIo hymenèo voara mtis
acelerado.
Ifmen. NSo bafta a cercexa da pode pára fuavi»
zar o martyrio da efpcrança ?
Albân. Não , Ifmene , que toda a poíTe he da-
vidofa , que tem a eíperança por fiadora*
Jfmtn. Quando eu » e ElRei a abonamos ^ fe-
Ruro podes eftar.
jllban. Pois Senhora , já que não tenho licen*
Í;a para me dilatar , nefte papel veras a cao-
a de meu tormento.
Vãt4e Albano^ dando bum papel a Ifmene, e
éftaajfemafe a Mio , e fàe ao bà^idor JSff-
' ri'd,' e Faetome eom bítm pmhãl na mão ,
f ifmene eftará & Jàr^ y ^z. Ifet uo veja
de Faemte: ^89
JEger. Chegou o xcmpo da noila vingança ; altí
cens a límene ; a occafião hcopportuna, ef*
grime o yaleroíb braço , pois para te coroa-/
^ ires tieceffirás ^a purpura daquelle fanguc. Vai-fe^
Fáet* t.EStoxjL immovel 9 pois^4>arece efpecíe de
cobardia marar~ huma momer.
j^nun. Enigmas me pareceín as cifras de Alba-
no^quero repctiUas para as comprehendcr melhor.
tãét. Mas em que reparo, fe muitas vezes a
cjrjrannia he o primeiro dagráo para fubír ao
mrono ? '^
Ifmen. Senhora , ( diz Albano aqui ) cfte cxcef-
fo cblRei em procurar o íilho do Sol me per-
fuade , que achando-o i quererá dar-lhe a glo-
ria de teu efpofo » para divinizar com hum fi-
lho de ApoUo a fua defcendencia. Quem fera ef-
te filho do Sol >
^0^. Não pareça a dilação cobardia; triuiife Egeria.
Jfwim, Diz mais : E temo , Senhora , que ef-
te ôHui. do^-Sol , ufurpando me a foi^una de
teu Hymenèo 3 feja inftrumento da minha mor-
te, tirando-me a vida.
Fdit. Morre, infeliz SâbCm
Ao bir levantar o braço fará ferir ^ Ifmene ,
a vê 9 erfe fufpende , e tila fe levanta.
Ifmen. Aí de mim ! Como , traidor , alfím. • ;
Féiet. Que he o que vejo ! Nâo he efte o bel-
Ib original da copta que adorp ? Immovel
^ftoa! Deixa cahir o punhal.
Jfmen. Olá , acudi , que hum traidor. • .
Faeti Sufpçnde a voz, Ifmene; não digas traí-^
. ' doir 3 amante íim.
)9D Pmdfhh
Ífneff. Com ham pofahaL^f;;. > ' ' \/
*âeu Achou t òcçultâ caofa defeu iticttnáiBu
íMoiv Imenca rinr-me »:tidii -. « /j^
Ar»/ Sem tila efloa^ vendo ilaiiifeUz «tdnas*
poi» ie affiimo , qne tp^ofioriiièdia «riflRUtew'^.
Ífmen^. Mas intentavas maitrAéiet. - A:
'âii. Sim ; mas tanto ^oe tt vi , mafqfpsnil
o biaçi o ájftâo, com ^ se tdórbw ^ -?
Ifimn. Ttt^adoiar-me f Creres com hiiOMi i
fa apadrinhar hom ddiâoi? . Acodi todoii^
tcs qiie o traidor fe aofeme.
Ae». SSrnhora , que intentas } .
Jkntti Aocudamos ao quarto da fíkiceÈtu
FãH. Ai de mim, que Ke itiiaUivel -a m
ruína ! Bem o dme Fitoa: aonde me éfaso*
derei? Qi^ efcmêer-fe»
Jfmen. Ef^^era, traidor , que te nlo hu de áofemar i
que tirâibem tenho valor para te farpender.
Jfmene pegd em Faetonte , e efie inunu hêfiá^
• do ^ tlrar-fé dat mios deíléU
Fâet. NSo me fejas duas vezes homicida , dei-
xa me ao menos aufentar.
ifmen. Sem caftigo nio has de ficar.
JFâeí. Oh qiiem diflera , que me abrate Ifim-
ne , e que eu fuja de feus braços! Deixa-me
Ifmenc.
tiêntr. Aqui tío u vozes.
Faet. NS&o há mais remédio j que apagar a:hz*
Jpagé ásiuss.
Mien. Qoe fazes? > . "
'KM. Fugir àt ti f pata buicár-te oucrA Vei.
FfÊhfe.
filmfiijnimnó-^ agiria ^ e bum criado: com luz.
Alban. Que tens, Ifmeoiçi Quem ce motiva a
dar vozes ?
WgéL- (^ oe. fpccedeo i Aí 4e mim', .que (e
fruíiroo o meu incento ? r^ \^ á.part.
jyhfeir/ Eoapnorâíle acafo Imm tcaidor , que b^r*
bara'i e albí^ramtme? me quizrdraríia vida i
dlllifli^ Quèin Yfriâ a 'atrevido ^*;-qtie^ concthiU)
-^vt&o^iiofflvetlpcnfarnÉnco 7 / >
J^fm-oAíiida náo- creio-que cftàs faim vtda.
jílban. E para onde fugío ?
:^#k''^Hãia (d;,..pov^e âpa^u a loz '^.' para com
as ron4>ras ^írverttobrir faielhor^ I^c^-o , Al-
bano , que o traidor não poderá efiar longe ,
e caftiga a .&a temeridade*
Eger. Ai infeliz , Faetonte ! ã part.
Albãn. Em vaà a-bofcaãoj vetâs'^ tomo vingo
a tua ofFeofa. / ■ -
Egcr. Aonde vás , ingrato^! Tanta iinézã le me-
rece Ifmene 9 para expores a :cua. vida á: der
fefperação de hum infiel agrcflor.-
Alban. Nio (abes que feu amante^ e eípofoí
Deixa me., Egeríai ' i «
J/ineif. Vai não te dilates. .
Èger. E a (ba.vida?' ' ^v'
^nen. Os Deoíêt^a detendcráõ. c; .;.i
Eger. Para que he bufcar remédios extraordi-
nários , quando fem e(Te recurfo o podemos
evitar ? AíEm darei tempo para que fuja Fae- '
fonte. á paru
Alban. Que tens com a minha vida^ Máo me
detenham.
I9é
^MMVft»'^
t}»®» <r ^-í?«tgg?® ^^ « f ?• Wí
partíé:^
Jíkém.
dor, fe«'^
o tni*
fthtidó:
mca^aridad^ toáS^*V;iiiUge
como poderia entéstr éft» MW^'/ c -1
fem te vífto d» 'flfiMicfiit; , ' i i'»i ? .iv^.A.v
Sabe CMcbíAeo/' ' '^ -^^ .'
CftM. Donde eftari éíte FâeconM';' que nló.he
poffivel atinar com etie ? Eiá-á^fil otra cpvt^
do hum homecA' havia fer feicieekip^ ...
^Ihan. Fiton, *■'"•; "■'
Gb/db. Que manda ' Vofb Akéka iifiiicg Ifereiiada \
JRbãn. Que me dedãrei quem %i o criÚorf
que qoiz offender a Ifmcne efta notce ; ejá
tiefte diameose te antícipo o pemío de toa
(ciência. - *^ y: » DáAbe btm ântl
Cbieb. Aceito o diamante , porque me ferve cá
para certa coofa de minha fciencia desfeito em
vinagre; pois que diz VoíTa Alteza^
JUhãn. Saber quem foi o traidor de Ifa;iene »
(jue a quiz matar efta noite.
€btA. A que horas i
JridJ. FazU luar , ou cfcuro ? ^ /
4ibMn^ Náo reparei.
Çbicb. Nem ^u ^ mas fem oíía çircumftAticift: paf-
faremos; e diga-me mais » o tcáiçbr^xAegoa
a ferir a Ifmeiíe í . .
Jllb n. Náo , porque 'acodi a defenddla, "-^ /: \
Cbicb. Pois (liba yoda Alteza ^ qute ft? uãàÁMb!
tou 9 ;€ que viva cftá ; quer kbci maâs algob
ma coufa ;
Albàn. Quem he o traidor he .que mec iitopor-
u íabcr, c aonde eflá. //. i
Obicí^. Sabe Voila Alteza por onde elfe \àm i
Alhan. Se eu o foubera , .mo to perguntara,
ÕjM. Pois também eu Uio não perguntara* fe
o (òubera.
Jilban. A ti nada te he occulco^ poismo^tô^
lume dos aftros lès todos os lucceflbs do Mundo*
Obicft. IlTo aílím he, mas he ^m oculoa» .
Alban^ Não me éntretenhas com frívolas èd^
culpas ; <u efiou empenhado a que me à\%Éi
o que te pergunto, quando não aqui ficams
. fcpultado. >' >
CWro/Não me ameace ^ qije por m^L aiâdaiie
Eeior : olhe , Senhor , h quer fabér iqoem
e o traidor ^ vá ao bofque ^o Erídanò,
o primeiro homem que^ahi encontrar, cflie^e:
porém fíãgredo no cafo ; poai^uc cu cá JiSo
fon honlem de mexericos.
jllban. Pois , Ficon , fe acho cerio o oue «ned(«
^es 9 ainda íerá maior o meu amdecimemo*
Cbuh. VaHc cos 4iabo8 ^ foit fp foi ne ym
^ Pntlfièh
vre èkqddla fimgiiixàga , Ihê èiúk <fiit ^Sã*
Y« no Eridino : nio mè temkoií doer-ibe
•'^Mieftiva tioi i]iiÍiiiot Infemot^ por vèr fe
^' tiUa^lá bafcftr.
Mfl. Fltt»? i
CUeft. . Avie^d : ouort immiqaçlo mncM. 4 fM*
ÈH. Awa icitncU*, nem ooca6ia C& fne pSde
íhrrar de hum empenho. Qieiii foi o que
*u«.irmene.,^.» •■'•■-,
0>iib. Qoiz matar eft» noíte^-fecilo dez lio-
:' .fáif? iá dHTe a AU>anp, qoc faBe toEridaRòj^
tmoM o achafia#
Xef. iPtodigiofo homem! Vem ci> Pitou , Te
eras cio iníigne Magico , para^^ntfavatí
tUcb.Poí não ter applaafos; pois loa tfo tni«
mt^o de rompantes laadatorios , que por iflb
fugi de Theffalia.
^Mgcm, AténiíTo moftra que hc verdadeiro Sabia.
Mtu E como eftamos do filho do Sol }^
GMfifr. Já o cenho quafi defcoberco aré o pef*
toco ; falta-me fò ver-lhe a cara para o conhecer.
tlBei Pois quem te impede/ o. feu coul conhe-
-r. dmenco? 1 . » . -
Cbidf. Os vapores craíTos da teita » que eftão ef-
icorecendo o brílhan^ dos aftros ; mas a pe-
Tzt de tudo hei de trazeUo aqd pelos caoel*
los, fobpena de enforcar os livros. • .
ÍM^mt. Senhor^ lembro a. Vodâ Magefiade,
,:.ique- Albano pcecendeo algum dia a E^pria ef-
..pofa, e não fei , fe o traidor feria. •• •
UtikCúi^ ) Ueottòa ; k^ax ^ çecoèbo ; AI-
de Fáètúnk. ^
• bino he Príncipe I e quando o nSofodè ,^ iiiait
intereíTe acharia em Ifisienc « qne em. E^ietia*
Aíecen. ElRci muito confia em /[Ibana^ eas
minhas idéasmuico fejrccardão na cs^cctiçio^
por não achar a opportunídade i]ae defeco.
Ai Egcria , que a tua infelicidade me fnfperk»
de o arrojo , e me efconde a occafião ! Man
fõ tu , ó Fiton , compadeccndo-te do meu
amor , podes remediar o meu empenho j que
me refpondes , Fiton > Fiton , não ouves i
Arrebatado em extafis eftá* Fiton ?
Obicb. Não me deixatá 9. Senhor Mecenas , que
eflava agora ideando àquíllo , que Vofla Se-
nhoria me recommendou acerca da Senhora
E^eria 9 e o tinha já quaíi concluído , fe md
nao chama?
Mecen. Até niíTo foo infeliz ; mas bafta*me pa-
ra alentar a minha efpérança , faber que te
nap efqueces da minha pertenção; masfó te
digo , que defejára que Albano cabide do va^
limento , por não confeguir o Hymenèa, que
pretende, e unir maior .poder .ao meu con*
trario.
Gbicb. Tudo bem fe fará* >
Sãhe CbirinoU ão bafiidor j e Meeetids oiyê.
Cbirin. Graças a Deos , que )à achei efte Me*
cenas! Tomara fallar-lhe fó por fó, femque
me vifle o meu Chichiabco. Cé.
Mecen. Que me quererá aquella Criada } Fi*
' ton , rctira-te que importa ficar íó; depois
fallaremos.
JlAm. Qfib llir:lk ikMORy^Caiirfllàlt r Vv <.
•oM fe^aãbi^ dfv6nítidp;v)eni hacha a
«nfl^ras do Eudano } «pe oMervfs ot
.:; iiiifteniòi y ' qoe - podo ^ díer aches
. ' fifto.^fn^ o intento. . , ,;5 -^
^Âílim^ Dizc-lhe , qnt ^ repofta hr a -àbedlai»
: aeik>oom que exorátofoi fens ^octíam^-f^mi-fe.
Cbhb. Temos àCbirinotal.fèin skoViceini !
CNr^k <£tt não Cci €ffiaiaSt upúCàiáA efliA
CfMdk^HQviMido nSs bèjiMrem tieovbairas. Sáte.
íjbhhi. FzHc claro, ecí&í me dè remoques.
Ú)icb. Ora não fiava de ti que ti?eflfeff táo bai-
lia ^olficto , fendo tu á primeira : terceira , qos
ètt vi .tio deftem)>erada neíTa matéria !
Cbtrm^v^E quem to diílei^.
ClriitL Herboa pergunta: efla ! A hum Mágico
•ãp' (e» pergama quenr lho difle.
Cbcrm;.. Perdoe » que. cuidava qtw jk tiíótti
Magico.
CbM. Ai, que me nSo lembrtvá dápromèflâ,
. que « fiz ! Eftou zontibando: ; eo siáo fei
. Moa.
OMtuilftfio não foQ àlcovheiía?
^Coicb. C>ial stcovfteiFat '
CSiVf »•; ' fiefn fe coahèoe o remende que oSo
. U«dç meimo paooo; .<
Cbidf. Ah GhitinoU ^ Cabe Dtoa aa ttahas oom
.que cMb, ^njiartfe ciòzeitdçiifenoos/gakniMÍaf
amatorias ,f e lailfino^ em cpufai iiziidaà*
S(ím» PcHa'i)Vft:4)a.4c..tK>vaa ' '/ - ,
3)icbk O «cu igfiiMV ■'•: \
El^íffti. Posa ^(?o jà não he v^elhp >
Dhfr^. Njb.véa .que os velhos são du^a vcces
ui nietiinos ? ••■••..' i ;?• . , . ■' ^ •;
0ri>CK. Pois qqciquer o -DoejcMno ? ; ; -
CWíô>i Quer nanar, v ;1
CairirMu PdiSí bftfquc quem o «ttbalej. -'-'''-^
Cbicb.' Sempre me.rtndas. ea)}>alando' tom^^i^
UigafelNlo vès que írn, teu Qhiçbisbeo., »
quem fe devem os carinhos de jWib,.,Ç:. por-
ta franca os agrados ?
Gb/rí/f. Ai9d!i».^íftai8 cârínhos ^ ainda «mais agra*
dos dos que lhe eu faço i
Cbicb. Iflb íim ; mas ... ^
Chirin. Mas que i Diga : mas que ?
Cbkb. A mim me. tinbão díio i^Q i)>uitp fe men«
te nefte mundo.!: ) que os Çhichifcbéos abra-
ça vão as fuás Chidiisboa^ ; quererão duasaU
mas n^um corpo ; o. que buitv , queria , outro
Íjoería; qm^ a fé amaniti^ çra inviolável ; a af-
lílencia contiiHia : cl cuidado fiequente ; e que
.. éfiavão olhando hum-^para , o outro fempre
fem peftanejar , e no cabo nada difto acho em
■ Itália : que fera í ^
Cbirítt. Eftás muito alheio no cafo.
'3)icb. Angora , eu eftou muito bem certo nas
leis do Chichisbeato.
Cbirin. Nada fabe fenão ter atrevidos penfa-
mentos : não fabe que hum Chichisbeo ha
,7 4ft.
de paflTai o$ tftnirél^^dfapfãttflci f« ^ciir .
ide&di, que nÍo cxifte Ar^VfnMI ll^bl»-^*; M
homa ci[À V^lftfe Yè délu^ífc^ M> bllMs IM
'-^<tepl4^^ fita>'<i'^«(gàr ià4[it í^^'e (|itka 4s^
também aos cirçomflamer; e não oAú^ yWM'tt
l)eb Un^yC^iie-èadler^ò^iefifttiri^^
GbfVfii. Seja o qoe for , iffo ht'4$''^-iá fe nfi.
^irhl lílo' tútfmtct liem; ' -^ . « > .*.;•)
lfi-:Í
A B. 1 A»
! -:::J
i
;•■•
""•" Cara' mia ; cara f dira*! •'-•
• 'Per «a mio cor ttafitto
*' «Smarfito, sbí^rritc'"' ^-f^'"-' • v ■'
H dardo fenti d^anciorr^:' *
• Mofírôy má qual 9Fcnioe; ;'í
Che ncl fiioco fao fidice -^ Ti
Pià bella rtvivtfallofi'' Fâifi.
Gb/rm. He o mais galante Chlchi^o que' te-
nho vifto! . f^di-Jt*
de Faetõfite. 401
SC EN A IL
Silva. Sabem JEgeriá^ e JPáemte.
Egeu /^Uaato, Faecome, finto fe malògraf-
V^ fc tão bem premeditada acção T
TAet. Bem vês , Egeria , como obedeço aos
teus preceitos , e comp defempenho a minha
palavra; falta cumprires da tua parte com a
morte de Albano.
EgeTé Ainda não falca o tempo: cuidemos pri-
meiro em falvar a tua vida , pois he certo,
que de Ifmene fofte vifto , e fe fazem dili-
gencias para te prenderem; e aílím fera pre-
cifo, que feja outra vez efte bofque do Erí-
dano verde afylo de tua peíToa. \
Faet.' Ai de mim-, que mais finto o cruel def-
terro , que perder a própria vida , pois quí-
zera que Ifmene me vifie mil vezes traidor !
Eger. Para que he tão inútil acção \
Faét. Pari executar a minha fineza nos contí-
nuos facrificíos à tua formofura.
Eget. Muito te devo.
DentK Ao bofque , a felva , tó , t6.
Eger. Mas alli vem Hmene ; póe em execução
o teu intento , que eu me retiro , e occulta
nefte arvoredo eftarei obfervando o teu valor :
( «flim fingirei , que o vejo , para que fe alen-
te na execução 5 â part. ) que huma coufa he
defejar a morte , outra vella executar. Vaufe.
Faet. Efpera , E^eria , mas ai de mim ! Quem
fe vio em maior confternação ! Pois eíperar
Tm. Ilé Ce t.^-
402 '' JPf^^f^^. ,
Egcria pela moné de Ifineoe » Ifmene aqod*
le foberano idolb dá mniot ^ cuja copia ^ádo*
rei primeiro , qoa o fea originat i VerW
Eeeria açreflòr ^ e ver ^ ^ Tfnfòne âmatue !
Oh qae intrincado labyrin^ de amor ! Abs
dia ia vçm chegando ^ e ca para íácisfazcr
a amoos os,' empenhos^ fingirei y ooe me de* ^
feficomro , e no cm canto gozarão oi olhos '
por entre eftas ramas o beliò Sot , que me
abraza; . ' Èfiande-ft.
Sêbem Ifmeue cúm árcQ , e feUãs , e âlgms
Híoníeiras.
^mtn. AV\ fb moverão raràos , fem dúvida qoe
alií £6 embféniioo a fera. Efpcra veloz jcro*
Í^iffico do vento , que eo com efta iEcta te
urpcnderei a fuga.
AÚTA bíimA feUA ^ e iâ tm Faeíonte , e cábe
atravetfado com ella aos pés de Ifmene.
Faeí. Ai de mim , tyranna ^ que ine maufte!
IJmen. Que vejo ! Ai infeliz ^ que cuidei eras
a fcxa 9 (]ue vinha feguindo ! Levania-te , ho-
mem , que as minhas piedades far&o menos
horrível a tragedia deíle acáfo. LevâHféi-o^
Facu Com t&o feliz remédio íerà ditofa a ini^
nha morce: perdoe Egcria, que a occafiâo
não permitte at(ençõe$. Á parte*
ffmen. Aotide foi a ferida i
faet. No peíro.
Jfmen. E he_penôcranie ?
pM. Chegou me ao coração.
ífinen. Ao coração ? Se alRm fora não efiarias
com vida.
dt Paettmte. 40;
Faet. EÍIe he o privilegio do teu golpe , quç
imtnorcaliza a mefma morte.
Ifmen. Agora vejo que eftás mortal, pois que
deliras : leyai efte homem , e de fua feida
o remédio correrá por minha eonta.
Quer Ifimni ir-ft^ e Faetome a dttem 9 e can-
ta afegmnte
Deixa que eu morra
Defta ferida ,
luc he melhor vida
m!
orrer por n.
Se me defejas
Da morte izento ,
Não te retires ;
Pois fô me âlenéò
Com ver-te aquL. Cébe.
JJmm* Levai , levai efle homem » que ftoe hor-
.rorifa ver tamo fangue. ^^*/^
íabem por hma parte Aibíme^ e da oittra to-
go depois Mecenas , Fhon » e Cbicbisheo.
AlBan. Efperai: que homem he efle? Qiem o ferio?
Múnteir. Ifmene com huma fetta.
Mban. Sem duvida , que efte he o traidor ^ que
quiz maiar a Ifmene, pois he o |)rimeitfa ho-
mem que encontra tios feoíques do Eridirtto ,
como me difle Fiton ; e pelo conhecer ITtiie'
Nê, valcfoft íe qui2 vingaf pelas faas iníòs.
Faet. Ai de mim ! Efpera , i»&ú «e Vis , t^rin-
fit toubadork da minha vida , )>ois com a mf-
Ce ii tvKi.
404 Precipício
nha mone náo extingaes o ardor , em qut
me abrazo. LiVámémiíhfe.
'Albãn. Ainda fulminas vinganças, infame 9 trai- .
dor ? Mas fe femivivo ce deixou a piedade de If-
mene, a minha vingança ce acabará de huma vez.
PtoA por bum pfmbdl , e fãbm Aéecauá ^ B-
ton , e Cbicbisbeo.
Faet. Ainda que exangue me vês, labe que te-
nho efpir jtos paia fappcdícar o. ceu arrojo :
larga o punhal , e vem a meus braços.
0*icb. Em grande perigo efiá Faetonce ! O en*
gano me valha. Sufpende o braço , facrilego
Albano: Mecenas, e&t he o filho do Sol 9
por quem tanto fufpira ElRei.
Mecen. Que dizes?
Alban. Efte náo he o filho do Sol , be o trai-
dor de Ifmenc , e nelle quero completar o ref«
to da vingança , que deixou Ifmene principiada.
Chich. Ora náo o fabereí eu ? e fenão perg^n-
tC'ihe , e verá o que elle diz.
Fâet. Deixa , Fiton , pois lhe vai a fua igno-
rância , para que ApoUo , como a faailego ,
o náo caftigue com feus raios.
Fiton. Não ha mais remédio que obedecer aos
fados y para que náo perca Faeconte a vida ;
e para maior evidencia de que elle he o filho
do Sol , fará ApoUo que íe mováo eftas ar-
vores , mudando o fítio , em que habicáo,
Moyem-fe as arvores de hiíma parte para a outra.
Todos. Prodigioío fucceíTo !
Fact. Grande Maj;ico he Fiion ! á pari.
†FâéttmU: 40$
Jt9Nlrfr;^Sc eu foubéra fazer difto', dava duas & .
gas na inveja. âpm.
Jiíecen. Que mais evidencia úueretnos ^ Vem ,
venerado 'filhô; do Sol , a ennobrecer efta regi&d•^
AibM. Ficon'^ Senhor , heo culpado no meu
êxcefío 4, |fai& tiie diffe que a ^írimciro hò-
- m6tftrque':>6ncontra(Te nos bofqiies do Erida*»
no , 'qoe.eflfe era o traidor^ que quiz matar
.'4 ^líhiene ; e como fofte o primeiro , que en-
'contreí , c orret-cé ferido por Ifmene , me
'. perfuadi , - que eras o traidor \ e aíGm defculpa
• 'O» meu i^trevimenco y pois fó Fíton por énga-
miír-iné merece o caftigo.
CbíA. 'fNão nego , que eu diííe que o primei-
ro^ homem que encontraííe , era o traidor;
porém Faeconce , ( que aífiin íe chama efte Se-
nhor Çlho do SÓI) n&o he femideo$ : logo
nSo o enganri. . ^ : .
Fatt. li o ferir*m'e Ifmene foi huma cafuaiidadò.
Mtcen. Vamos \ Senhores 9 não dilatemos o dar
a ElRei efte prazer : vem ^ efclarecido Fae#
ronte. • ^ • Vdufe»
Taet.^m principio levão 09 meus intentos. Vãl4ii
Alban. Vou fem alma^ pois tetno nefle filho
do Sol o cclypfe do meu 'amor. Fâi-fi.
Fiton. Oh quatitc; em vão pretende a prudência
humana íufpender a tnovimehca xlas eflrelta&r
Cbicb. Ora yejão as coufas deftè inundo como
são ) pois eu fendb huftrafnaem peíToa , ef^
r^ feito fáoripa era .camè"; e; FaetoiítA ít»r
dohumniiipjem , lávaiaiecNttvm&c^ xl^sc»^
40$ Bm/Ub .
fflha do Sol ! Se iOo afe pastr :
deflunpiçSo ^ mnof vicb ptt
Iget. CnUickifa venho fmfiiber fe ]
cocaria o favento ;fDat allí cfláFiio% dfe me ».
femuiá : Fim vem a atai^K déJiiiat «knidk
CfM. Não poffOf Senhora , qoe andai mdio < to-
vobo com o nofo fucceffo , qèoiígofa aàm-
tecfo. ' * -Véá^fit.
Egif. Qoe fuoceflb? ETpenii mait confofip of»
roo ! Mas oocm davida ^ riarà .^a mooe
de Ifmene? Porém qoevqo! Alviçaiaaiv ao-
raçSo ; todo efte peado eftí innnidado deiai*
gne , não pôde haver mais (egoro .iodidò V
poifl haver ftnjnie oo higir 9^ aonde deixei a
Faetonce ^ e Ifmene ; dizer-me Fíron accele*
• rado que andava tudo revolto com hum no*
vo fucceíTo , que pôde fcr fenio o que imagi*
no? Oh valcrofo Faetonte i Oh extremofo
amante ! Só o teu valor me podia coroar de
triunfot.
Sétí)€ Cbirinolã.
Oúfin. Senhora , que fera iflo } Todo cfte pra-
do cheio de Tangue ^ e alli encontrar a Albano
pailído , como K^btdaltado , e Mecenas » que
ievavão hum homem como prazo ^
Efiir. Vifte que homem era ?
à>kh. N&o o pude diftinguir , por ir cercado
da muita gentiiiv.
jBgtr. Ai de mim que fera Faetonte ! Semedo-
vida que morta Ifinene ^ não poderia efctpar !
Ckmm Poia » Senhora , que faria tflo ^
^ir. Runnía felicidade. ;^ e hurba del^ça a^
mefnío cempo ; aqiielle que vifte m prezo ^
era ( ai de mim ! ; o mais exmmofo amante
que mie adoiiava: chjsgafldò a ramo a faa fi-
neza , €pie chegou- a dar a mortte a" limene ,
cujo fanguc he efte, <pie» mariz^i efte prado.
Chirin. Ora jà fe acabarão os teiii cuidados á
ciifta do fangue alheio.
£^er. As armas da jufl(||t sSo mói poderofts.
Coirin. Agora , Senhora^ que te vês ^em op«
pofição no throno, lemdNraMé da mir^ha lealdade.
Bger. Ainda náó creio éfta fomina. Oh ambi*
ção de reinai a quanto obpfga» ! Oh cégsf .
amor a quanto te deliberas ! .
Cémui^ Eg§né^ Jê fegmmt-
A R I A.
Verdes louros ^ Bridano ,
Só aflifH nó fdiíi»* u(tino •
DéíTe faMue matizados
Vóa me naveís de coroar.
fiba ó tu dicofQ> amanHht
Que por mim penando vis ,
A teu peito iicl cohftante
Eu pcometco lihert»^. Fái-fè.
. S C EN A^.tti. . .'^ ^
Gabinete bem aiorndâò. S^em Ritíofift y
é Cbicbisbeo.
Cbicb. /^ Ra Senhor filho dé^ $òl , fejarlfte-maí-
V^ to parabém a voíía femideida^e <^ ooU
gue fe vê palaclego ,. tanetiÀo àw* çwA» >
4o8 JMíriPf^
»»Si if»m«pcço|4hd«ii>aiejá <|iie Oi&nliDr)
fcn. pií;.iiih ^vpfiylnftof . m .ooro de^irime e
qi^ii]aiJJbHÍ(s» qM siflm cbbigp èm:fa$
mineoie^.; aluando iifié t baí. <k pollo imjoJIio
dj^ 4iu.il ^cqoRo qow» bci^
ftWfJBíW ÍMt^Chichlibeo, que db-cpitpéi:
com que me hdlas , hc homa rigaíou jOMOI
de; nou, fufiumeocoílmto fe o nafoer nobui.
he JoTò da-fbrciipaji-c^ o nmtnlM^^X)
t nM«'i|^bftfja.l/et9eMlrei : effa acftfo* : jiiv
(>iV6. K como.^^íttt da fcM^í Z ./....
^^2 Odafi «Sq à fofça do aâlToe ffen^diM
CKw* E quem te feiíaí ' f ; •.«> >
jFmi. irmetie* earuâlmeoi^ .eon hxvam íettt , qoc
]?ara hum bruto a defpedio do arco.
Cbieb. Andar ^ nunca errou otjro.
Fãet. E mais fentira fe.o ^ràra*
<:bicb. Nio emendo eíla filoíoiia.
Fátt. Porque lípaene he o bello original daqnd"
la copia , que de Thelhlía me uúúxe em ft^
netico delirio* r ^
Cbicb. Ifmcne . meffpa }
FéUi.^ Ifmene , porque aqoella bdieza íb de bum
animo Real poderia. <cr adorno.
Cbicb. Caro tè cbftou oacbraliá , pois zomban-
do^ zombando, jte hia. .cuft^ndo.a vida. ^
fáet. 'Inímbem o >So achal(a. me cuflaria 'o
mefmo.
Cbicb. Que pretendes agoit depois de filiado na
cafa do Sol?
An» Efoifada pei^unta^ quando fabes os es-
ie FàHomei 409
- fremes que fiz por Ifmene , quatído pinta-
da : pdis qnem tão finamente adorou as fuás
• fombras , como deiícará de* idolatrar o dato
de fuás lu2es >
Cbicb. Eu o creio ; mas com tqdo não falta quem
diga, que huma mulher he" melhor pinuda^
' que viva-;' pois o pincel he corio ò folimíQ
que mata <}$ defeitos* ; f
Fmíí, Em Ifmene tudo fcãfit. perfeições.
Cbid>. Com que Egeria'<jir' la vai c'os diabos^
FdeL Não tem que fe loflfbnder Egería-, pois
primeiro adorei a. Kroene.-i
Cbicb. Na verdade, que fe fouberas o que ha
na matéria entre Egerià^ e Mecenas^ que ha
mais tempo que a hàvíaé ter repudiado. '
FMet. Conta*me, para que poffa cohotidSar-o
meu defvio.
tbicbé Senhor 9 eunão-fou^de mexiricbs; ntfla
certeza faiba voflà mercê 9 que Egeria' fe± á
Mecenas efaíto »de cafamehto 9 ou coofa que
o valha , e fe lhe mete na cabeça,* que ka
de 'por a Egeria no throno ; e não deixSo
de ter. feus colloquio). anoatorios.
Fáet. Qt/em to diffe i
Cbicb. Eúf^ que o ouvi com eftes olhos ieprt-
tendèrãoi^.' que eu déflfe algum foccòi'ro itaa-
Sico nanuteria ; ccmn.que , Senhor, ifto an-
a mui. folapado , e. combalido ^ hzf o teu
negodo , gema quem- gemer ; já eíiíis feito
filho do Sol, e como rát podes cafar'^ aonde
puzeres o dáio meminho.
Faet. Não fabes quamò eftiino eifa Alfidade
4s^
4m Pntífieio
úê EgeMa, P^a que iem efcrapulps it eèn«
fiíincja foÔz livrcmetiDe pêrtendcr x Ifmene»
Okk. Çim , Senhoc» Ifincne , e niaís irmem ^
que o mais be cuvio de facaria^
jf^ée, yinene.
.$^,CiM(]adof4 da .toa faude Venho expte&r-
te 0;C}uanco eáimarei a tua melhora, para que
no allívjo da queixa fe mitigue o pezar defer
eo a caufa da rua moleftia.
fy^ P^: melhor vontade receberá- os parabcns^
da ferida , que o«, dib melhora ; pois morren-
do^os eolpes da tua fetca , acharias no la-
vCrificio da rainha vida os cultos de quero te
adora como Deidade^ Oh quantas vezes , IF-
. mefie , aliomino a arte que inventou antído-
tos para curar-me ; pois quizeca no mortal
da ferida immorcalizar a minha fineza !
Jfinm* Bem inftrúido cfiás nas lifonjas da Cor-
te, n^s como effes affe6los são mais eCFeítos
do- entendimento , que da vontade , te agn*
< daráõ mais os elogios ^ que a correfponJen-
cia ; e pois fatisfeita vou , vendo te convale-
cido , prcmitte-me que me retire. Quer irjc.
fiêih Não te vás ^ fem que primeiro te infor-
mes de outra enfermidade maior , que padeço ;
que fé piedofate ollentas com os males, do
cocpo , lerá rázâo que propícia te encontre no
f^ai que minha alma padece.
Cbiel>. Aquelle mal d^alma, como coufa occol-
ta , f6 a mim me pertencia dizello , a quem
toca revelar os fcgredos animaes ; porem diga
Q
ie Faeumte. 411
o Senhor Faeconte , ^ue em fim mais íabe a.
collo no feu , que o difcreto nó alheio.
Faet. Havetá hum anno ^ formofa Ifmcne ^ que
te vi, ou para melhor dizer, que ceguei de
te ver ; e aflim como o Iman procura o fer^
rb , o Eliotropio o Sol , e fogo oar , áf-
fim- defde ThcíTaiia, onde .te admirei, a prô*
Cfeirar*tc veto o meu affeâo duas vezes pere»
grino: deixo de encârecerte os defvébs, os
, cufdadqs , e os fafpiros , que me mòtivaíEe^'
p«r . te náo horrorizar a tragedia do mc^
tormento.
IfiHen.'\'St nunca fui a Theflalia , como neUa,
ns/r podias ver?
Fdti. Nefie retrato. Aíqfbrá^ o retráiOé ^
CbUh. Eu foo muito boa teftimunha , 6 niais
por. final que o vio em jejum , . e logo ficou
náo fci como.
Jjmm* E de que (oRt veio a teu poderá
Fatt. Achando-o nas ribeiras do mar, entre os
fragmento^ de hum nauEragio.
Obfdr. Ah^ Senhdr,peça perdão a Sua Alteia
de achar o feu retrato na praia , que nSo he
lugar decçínte.
JfjTufeit» At àc mim , que efte he o meu retrato i
que fe enviou ao Príncipe de Rhodes , çius
infeKz naufragou com elle , vindo«me receber
por cfpofa ! â fâH.
Féut. Tc, enternece ver o teu retrato, on.de
ouvir os meus fnfpiros ?
límtn. De ambas as coufas : o retrato pelo ver
fom dono 9 e os teus fufpirospor inúteis.
iMãU
fispde "^cn^ inateir éi íoiproi| Mmbèni fi^
cãéét' dizer alguim^fiDoãfii pelo dMco «de w-
-cèi«rf pofémnKh*-» <{iie Voffii^AUezft nioha
•Ide^disrprezirihQoi filho do Sol h^dttio, m
•46j jpor ser oor avó de íàm fittm jk>'o1oo
•^tdo ,Sol y^fXMéni dkr. ot olhe» da CM».^ '
]fmi»M Pm que tanto ce empenhas por Faeconte l
CltA0/Vúnpm -a ApoUo ftô pai defo o «jut feí ,
:por fér o.Meftie em. anoi^. Jiagtaa ,' 01 At
crològicai. «u^iu*^*
j^ínon «Faeconte ^ taida cheg^o «ot niéot oo>^
vidos os teus rafpiros , pois jl Too. <fe Albano»
Jímu*:Mwu^*mt defcng^nari- cmaTí Ddieí
paé;niènpsmsncer«(e a minha efperança nairaiW
:dade de que po0o merecer- es tet^s agrados.
Cbicb. Ahi vem EiRd. //" '
jrfnan. Eftímo por atalhar os (èus difcorfos. ip»
Sâbc ElRei.
JteL Dicofa ItalU ! Ditofo Monarca ^ que tem a
,Í9nuna de puflbir o filho do Sol noa ambiò
tòs do feo domínio! Permicte pois : que proA
trado a teus pés confagre a teu rcfpeito^ repa-
, tidas venerares.- ... fjtz-^ãjoêlis*.
Pm» Setrfior , Vofla ,Mageftade nSo deve eftat
.deflii forte ; os meus oráçot ferio, o thtôno
.tlonde melhor fc coUoque a tua fobeninia.
Bé^ Galhardo, afprâo ! Vès, Fttoo^^^uõ o que*
fonhei não foi erro da fsmáfía/
Obidhé He que^VoíTa Mageftadc fábr mais dor-
mindo • que acordado»
i€ Faemte. 41^
MeL Mas í^ptt te agradeço o Teres cu o di-
cofo inftrtimento da bem qtie poíTuo.
Cbiib» P0Í5 na verdade que bem me cuftoo a/
dar com cllc.
ittf. Rcfta agora que me defcubras o agref-
for de IfmeDç. .
Cbicb. Pattléttim^ não vai a eftafar.,
JRti, Suppottbo , Faetonte , que já ceras releva-
do a límene a caíualidade de> íerirte no bof-
, €{uti e para aue com huma acção facisfaça
a dous empenhos , vem comigo ao templo de
Hymenèo, donde depois de facrificara Apoilo^
fraco ao beneficio de permictir, habice comigo
um filho feu , affiftiràs aos defpoforios delf-
.snene.com ^Ibano^para que com ceu infiuico feja
^Sempre faufto , fempreditofo ofeuHymenèo.
Fatt. Que ouço ? Ai infeliz ! , ã parte.
Cbicb. Là vai quanto MarUu fiou ! d paru»
Hei. Vem, Faecontc.
Faet. Senhor. ... Ifmene. ,. . oHymenèo.. ..
poderia. . . «porque. . • . Não fei o que digo. á p.
JteL Que cens? Que ce perturba !
Cbicb. Náo repare VoíTa Mageftade , que codc^
os filhos do Sol maftígão as palavras , e engo-
lem 05 conceicos : quer dizer , que fe podia
dilacar o cafamento i porque ainda fe acha mal
convalecido , e lhe tremem tanto as p/:rnas
que não pode dar huma paliada.
Sei. Peno fica o templo ; ppis convém n/ío di*
lacar, antes que outro traidor impuHo inten-
te malograr as njinhas ídéas. Vem Senhor.
rdi^fe.
Xm. He precife obiíkoà : irnMie , ImAfa-ie
de mim. " »' F^e.
CMrft» Ande , Senhor , que honra ^ e préfémi» .
nSo cibe n'um facco. • /W/r.
j^Smi. Qiie urde Tiefte ; tXiM do Sol » omn
▼ez como a dizer, eqoeiccelenfido voas Hynie-
nèo de Albano f AfttSá dèhMI » e a nt-
dança de oucto tio hoje os taeem Aros di
minha magoa. ^ ^ ^
4Meiii .^ma» # CbiriniAên ài^^ffim^m nio
vtjã ê/fmenè. ' *'
diriii» Senhora , récolbamo-nos deplreflá- ao tco
qoano » ipiira <fat fe nfo ftffdte em nó» ai-
Ãmattàiçios ^lMlfcki*^iecoiiie«onfefle ode*.
UAo, djrtmoa awoffla fiftrtadai ditemb qoe
eflivemoa lem caía,
J^. Pois anda , qne até Aão faber de Faetoti-
ic , nSo focegarà o mea coração ; e pois Já
o Ceo me vingou deAa tyranna , de íeu fan-
gnft tf^méam a -mfiiiha Coroa. Mas que be
o que VQ}o ? Aí 4e mim ! Fé a IJmene.
Cbirin. O que > O qoc, Senhora ? Hfc verdade!
A qoe delRei ^ íAé fni eu ^ nSo fui eu, Ifnaenc.
Migitr. O àfenro «c falta; Mfncne, não crimi-
na â mfliha fiiinocartoia pot^ Faerome. . .
tt^as ai de 4nhn ! Dcjmái4je.
J/mm. Que hb iflo^ Que perturbação he eíb^
. E^jeria , «oma em tK Diife ru^ que foi ifto?
P4tã Chirinolâ.
Cbifki. Tottúra-me defmaiar ; nfiás não poflb.
Jfftíen^ Ha oonf^sio rtmelliance ! De que te af-
^ I^íilibras f Sou algvoDa &x^(taaL ^
ãe Fáetonte. 4**
Cbiriti. Efpcrc aue já vou perdendo o medo ;
pois VoíTa Alteza he mefmo Vofla Alteza^
(jfriffff. Pois quem hei de fer ?
Cbirin, Deixe me apalpar, -
Jfmtn» Para que ? >
Cbirin. Com que Vo(U Alteza náo morreo?
Ifmen. NSo^ me vte P
0)irim Bem vejo ; mais nlo íei ífe he à^u-
ma coufa do outro Mundo.
Ilmen. Deixa derpropoíicos , acudamos a Egcria :
Egeria ? Egertâ ?
Bger. Perdoa-me 9 Ifmene, que eu hiL •••
Chirin. Ai que fe declara ! Senhora 9 Senhora ,
que não he morta a. Senhora Ifmene , não a
matou o javali na caça como differão ; não
tenfia fufto.
Bg€T. At de mim ! Que horrível fancaíia !
íxvanu-feé
Jfnten. Que foi ifto ^ Egeria ? Que enigma
. he èfte?
Chirin. He o que eu diíTe 9 Senhora ^ pois nos
affirmárão , que hum javali dèfpcdaçàra aVof-
fa Alteza , que Júpiter guarde , t por final
nos moftrárgo o fangue^ nós eípãVoridas , ia*
ventando outra vez a moda do arripiado,
viemos correndo a bom correr , para calhar
hum par de choradeiras $ quando de repente a
vimos a Voíía Alteza ; e como fomos medro*
ias, cuidámos que era huma cadavera.
Eger. Bem remediou: â parte. Ifmene , dá-me
hum abraço , que a tua morte muito me tem
cuftado ^ c porque o iufto ainda ms occupa
4MJ$ , Pmifkio
iB|ika*parte dot femkkt , permkte ooe im
leiÍjBe. :\ : r4Í-yê.
Cbirin. Arreia coin t Étteaciriíiba , que' iiot bit
dando na cabeça! . - . ^^'fi*
^jffmen. Que enigmas .ferie éflet ! :£gcriá athOa-
dt; iimgiiiar-ine defuóu ; pedindoHM pcr^
e que a n&o crimine? Nia fet o queconje*
ânre ! Bbs ai infeliz,' que aqaellet fuAos ^ e
a^ellas palavras « ainda qae mal explicadas i
dizem muíco ! Oh fede de reinar , quip ím-
pia , c facrilega he a tua ambição l Qoe máqui-
nas não ínvenus! Qne cjEtanoias ntoeiKcacss!
Cãiiid Ifmmi^ é fifuum •
A R I A.
Dicora Paftorinha ^
Que alegre cm verde prado^ ^^
Só cuida no feu gado
Ao íom da melodia ^
Que infpira a rude ftauca
Do amante feu Paftor.
Policicas uâo ufa ,
Nem máximas inventa ,
Ufana fe contenta
Das flores 5 que tributa
A' fé de hum cafio amor* VAvft.
^t^^
4$. jpÃitonU. 4t7 '
' ' SrCE NA IV.
Templo dé H^menêOy em cajo fimulscro Je verá
' bt$ma têã incendida. Sabem Chichisbeo y e
Cbirinola.
Cbicb. A Nda dq)re(ra , fe queres ver o noi-
jHL vado^ antes que le incupa o tem^
,I>lo de geme.
Cbirin. Ha de ter muito que ver , pois dizem
•: que o filho do Sol também aíEfte muito bizarro.
Cbicb. Põe«te ahi , e dal^i te não bulas.
Cbirin. Sim Senhor , mas a mini me confta
que voíTè ainda he hum refinado Magico , e
que anda adeyinhando o feito , e o por fazer.
Cbicbm Se eu eáivéra mais de vagar, eu tedif«~
fera por onde o gato vai ás filhozes*
Cbirin. > Eu bem fei por onde. vai.
Chicb. Por onde ?
Cbirin. Pela trapeira.
Cbidí. Pela tripeira has de dizer , pois tudo quan*
CO faço he por amor da tripa : ah Chirino-
la , que bella occaíião para nos cafamios !
Olha náo te faz cócegas ver allí oDeòs dos
caíamentos cpm a-fua luminária ateada, na cha-
miné de Cupido y em cujo fogo falvat^e fe
abrazão os miferaveis do jugo araatorio? Di*
ze , não tenhas vergonha.
Cbirin. Voíft tem a culpa de não ter o que defeja,
pois fe não fora feiticeiro , caiáramos agorai.
CbiA. Ainda crés que fou defles ?
Cbirin. Eu fou alguma tolla > Mão viês que
4Tt) .fntífítí0*
qaem o demo coma ».feiiipre., lhe fica hum
Çcito? . ' -
Cbtcb. Eu oáo fei qoe eetco hei de dar éiAo:
Se lhe declaro t criud&V peide^fe FatcoBce^
fe me callo , perco a Chinnola , e efit occa-
(iáo qoe ainda he mais ôlvãi qae Chirinobu á f.
Ú)ifin. Que diz? Picou pafmado? *
CbiA* Bom fei , que qoem qoe^ bem , diz do
que fabe , dá do que tem ; mas m has de
guardar hum (cgredo daqoeúès de maço , a
mona , e entio íaberás ooufás , ainda qoe fo-
nhadás , nunca viftas. .
tí^im. I(Iò corre por minha, conta ; pds que he i
ebiíb. He hum iegiredo.
Cbiriní Di2cM>»
Cbicbé Não IO poíTo dizer, pois (ò eu o ídi
e mais certa pelica ; e fe cu o fouberes já não
he fegredo ; porque paflando de dous acabou-»
fe o legrcdo.
Chirin. Pois dize-mo fem fer em fegredo.
CAicb, Então que fineza te faço eu em dizcf
hnma coufa que náo<he de fegredo ?
0jirin. Pois «ie que forte o hei de fabcr?
Cbich» De ncniuima , pois não fabendo tu o fe-
gredo, vens a fabcr que ha fegredas q|»^
ne o qoe te baila.
Òtirin. Và-íe daW ; volíè he o que fe preza de
amante i VoíTò he Chiehisbeo i He huma
baila. ,
>»\w%
ãe Faetonte. 41$
Canu Cbirinola a feguinte
A R I A. '
Se não fias de mim o fegrcdo ,
Eu da teu amor me náo qtiero fiar ;
<^ue fe nâo pode dar eonnafiça $
Em quem dcffconfia íéu peito irtòftrar.
Fia , pois , fe não queres <]ue defconfie
Do pouco que fias de mim ce âar^
Porque na fianjra daquellè fegrcdo
Fiada confio os exciemos de ainar.
Cbicb. ^bailemos daqui , que para efte lugar vem
correndo muita gbnte. Retirao Je d bum lado.
Sabem Faetome , e Fiton.
Faei. Fícon , fabe que eu eftou quafi defefpe-
rado. Albano , e Ifmene hoje fe defposão ; e
eu fe tal chego a ver morrerei infallivclmen-
te ; e fe por evitar os meus precipios tamo me
recatafte dizer , que era de Imiene aquelie
retrato ; agora que o fci , c que o náo fer
minha me ha de cuftar a vida , rt^medea a
minha mágoa no infaliivel de minha morte.
Faúje.
Fiton. Dos dous males o menor fe ha de ele-
%^^\ c Póís dizem oue o fabio domina os
aftros , verei íc j)oflo emendar com hum
precipício outro precipício. Ápart.
Cbich. A^da eá tu 9 que ainda não tens nomc^
ncfta Hiftoria; como te chamáo ?
Fiton. Chichisbeo.
Chicb. Chichisbeo fou eu deíla menina^
Fiton* Pois eu o fou de meu amo*
^- » Dd u €bV.
Cbicb. E elle qac te aderia :qiie ce cfteve fiil*
lando com braços. , olhos , e nariz , moi af«
froflaradoi;
Fi0n. • VoCEi meccfe como lie Ilagiça nSo Mcef-
fua ooe lhe di(gi* v<
Ojicb. Eu ja dí(fe oio feí nada , <|ac eífa menina
me dea aoacardina paia fó me kmbrãr delia.
dirin. Aquillo he g;ilamaria«*
Chieb. Náo he; que falío emitueos finco fen-
tidos. ^ . . i • •
Cbirin. Eftás colhido.
Ú>icb. Não eftoB colhido»
Cbirin. Eftás» pois ié dizes que .^edei an^ar*
dina, como ainda tens todos qb finco fenci''
do9 > que fe affim fora havias perder hnm dslles i
Fiton. I cm razão.
Cbicb. Mas &ica4he a iuftiça , porque ca por
meus peccados tinha fcis ícntidos , náo me-
nos ; os finco já fc fabe.
Cbirin. E o outro qual he ?
Cbicb. He o que tenho em tf.
Cbirin. Mas qual delles perdefte por amor àt
* mim ? \
Cbicb. Perdi o ver; mas més tal, que nio fa-
zes carreira a cego.
Fiton. Menina, . o Senhor Fíton fc^eftã dbfar-
Çando , que elle he Magico .como ninguém.
Cbicb. Magico feri elle , e fe não fora» • • maf
tiles lá vem , tu me pagarás.
it Fàmnte; 421
VSo fdbindo ElRei , Fdetonte , Mecenas , Jf-
meney e Albano ^ coroados de flores.
Canta o Coro. '
Na tèâ lozentc
Do facro Hymenèo
Se acccnda brilhante
O raio flammame
Do filho do Sol.
Sgu Aquella ardetítè tèa^, que itlumina o facro
Hymenêo , feja immortalizáda cóiti as lo:ies
^ de Apollo , para que fempre clara a miníiia
defccndencia 9 configa perpétua duração a pézar
t dos eftragos do tempo, i ^ •
Alban. Propicio itbxSt , já pozeftfe Itfnire a mi*
nhãs efperanças. • .;,' '
FaeU ]á me vai faltando a pacicncia , para to-
lerar èfte violento rigor dofad^. âfort.
Ifmen. Faetonte náó aparta os olhos de mim. âf.
ObfVi!^. Olha , aprende bem , Chirmola ^ aâc^re-
monías matrimoniaes , para quando ch^ar a
noflã. occafião. '*'
Rei* Ifmene , reconhece a Albano Príncipe de
Liguria por teu efpofo ^ e naquella fagfada
tèa de Hymenêo , que êm brilhante pyra aò
Ceo fe dirige j abraza o teu coração no revê-
tente amor conjugal s a. auem profperem os
Deofes , e felicitem os fados*.
Jfmen. Sem ufo do alvedrio me conduz a efte
templo o teu preceito , 'como viílwa de H^í-
4lt .iRWMVM^
Arr. Vfli-fe conclaifido a minlit^ vid^; mu <g
jnorlM^ naift nbbreiatfitt. ípài. pátáfímk
JPHon. Eff^erâ» fêú tt ítbtMk».
Cbieb, CafiuneniD no meio M galhofa nona
tal vi! ^
^Ibân. Princesa , já qoç n fibn» mà deftinon
tio aba fonuna, /foiiMi.capi(4ijllia mio o de-
creto do propiciç fidffift qM^ içverence a le-
ceberei com ambas pam fiaiHcy fiqprança da
minha feliddade. i. JifirMi ãmio^
Fátt. Efpera , ai de mim I
idtínín, ;Qpe dy? «|;, Faeiomc if ; : . . 1 i
BMk, Quft.vjaa^ a .Iffz 4f HlIPfeçfio » qoft.ao
-'ibrea^-iliylo a límene, (e fxfif^ío^ ;:
i?e/. InfauRo prefagiò ! SMTpendahfe p Hymt8^> t
i.pois a íoa Deidade , ofocwliaiido a. \\xZi QM
avifa de alguma fatal roina, -
JBl^í, He calo nunca vifloj
^ere/i. E n^le fe /rncerra pródigo gjrande»'
^llfan* Se Hyqneaèp of;.coltou aãiamn^a hepor-
Í|ue fobrava a de^ meu amor » em coja pre?
ença hão podia lazír a fua , bem como aa ef-
trellas á vífta do Sol; eaffioíi permíttc » rSe-
' - nhor , que defprezido efte ., que imaginas pfCr
faglp , ie cffeirae o noflp Hymenèo.
Jleh Sonfticos fundamentos 9ão podem prevale-
. cer a tãp^^KCraordinario acontecimento «olé jque
Fiton nos declare a caufá de extingpir-fe
aqoella luz.
^Faet. Diga Fiton,
0^« Sou chatc^âo ^ c^ti(tMií^% . :
JlhM. Da^taafemftnsa pendia. Ji mjnha vida»
.4 pén. pm CbUbisbeq,
itW. Di^fi, Fi.tpfi, pojquf) tQmii^ fir apagada
aqudla luz? v: .:_
Cbicb. Porque rç[ acabou a corçícúè :
Faet. Refpqndc ferio , ç.vMá oqq« bz^u
â paru para Chichisbeo.
jílban. Fiton com aguelja galantaria vem a di-
zer que foi cafualidade , e não myftcriora a
extinção daquelU )uz.
Cbicb. Tal não dígq , 6 aii não fou lâo efcuro
que neceffite de jpai vieiho para commencar-
me : refpondí allita ^ porque \\io quero dizer
que o Deos Apoilo p^^ 4§^ luzes n&o leva a bem
efte matrimonio , âk j^.çg^Q 4ífto eu. a direi a
Sua Mageftad^ ^ ;por..fp r\[k (l^i)^ gabinete.
Ifmen. Ha enleio f^j^iMllh^iHí^ !
Faet. Viva a mitiha çípçr^fiça, â part.
Rei. Vês , A^^t qwç QÍfl ^9} f«m myfterio ?
E pois devèmgf i^^^ás^^ » AÍH.4â. #P mínimo
' i|çepo dos Deo/cs ^ , já pgp pòiie Jfmene ler
'tua , pois que Hymenèo efconde a luz , pa-
. :jcjji/cp»lfitf «V. ffMphras o inu 4}rf(?jo. ,
'€ãiitét^^bên& d fegiêinn Ária , e
Oh fnfoliz , pb írifl» í«in allivio., .
:Wíf*» mtganiíf^^.cQR^p fw límcnç ^
Vjvirqjf! Í^Qfí;^fci g|| ^fo gplpt ....
pa ftwfe»fí| firuei, .qu^. fpíí fegár^
Cuja iwi|§ íkpiqíf liggq cpnfla^e.;,, ..
AH WHitfileh
Oh Júpiter piedofq» deft ieifiEn -^
O nrtfalco nuor de cea incetufio
Coom, hum peho iafèlb fdmitia ingente 9
Que para pcovocar og ceosíbrores^
Incentivo nio ha ttiais ^Ademido ,^
Qaf nafcer infeliz bum «K^jttçado*
Irada , e languenre ,
Frenético , e amante ,
O' injofta Deidade,
Da nu impiedade
A ]ove roprèmo ;
Ble^ quero qoéisaif;
Se a luz mé nfúrpafie
Do facro Hymehèo »
Cruel te enganafte.
Sue em chânuna níafi puia
inha alma confiante
Se fente abrazar, FéUftí
Chicb. Parece que lhe trdeo a jeropíga ! â fári.
Rei. Deofes fotMcranos , em que. pôde ofiènder-
vos o Hymenèo de Albano , para que me prt«
veis da gloria defte dia ? Más quem p6de com*
prehender as voíTas ahas difpofiçõés ! Vem»
Facconce a facríficar como aiíTe^ a Arx^lòtea
pai , náo fó para gratificar a tua vinda » mas
cambem para applacar a foa indignacSo, re-
petindo o mefmo Coro ^ para que a lemhran-
f a da culpa ítja mcci»m da piedade.
c «o ■*; ^i ^r]:.
Dõ^^facro Hyniento'^.' / -*'
Se acenda brilhante
O raia flainniãme '
Do filho do Sol.
't ri;.
■t i:.ú\ ja
BAK-
«4 .^nritf^ofi
Ir A iVí.3b!E .:I1I«
S C fej»; A:, hui O
Canutâ. Sábtm Fáitmtu ^ € Fmn.
Fáit. X* 7^ Em 9 Eicon , a meus braços , poii
^ á tua fciencia devo a vida , que
^ refpiro; que fe náo excit^aias aaoel*
la loz em H^menèOi. em cinzas me reduzi-
ria a (ba chaini^su.^^-
Jboif. Faetonte 3 -a^r^ ; que^de todo tens fupe-
rado o violento ^ror dos fadas , e te vis nef-
ta profperidade ifi^nip do |;rande danino , que
te efperava , te dedUrarei o que antas ve-
zes recufei dízcr-ce. '' Sabe que cu és na rea-
lidade o verdadeiro filho do Sol , e de Qi-
mene , aquella ínftufta belleza , que exDofta
aos rigores de Diana entre os montes riabi-
ta como fera.
Fáet. Ai de mim ! Que fempre has de fer crael
para comigo! pois ao meimo tempo confun-
des a delícia de hum prazer , com o rigor
de hum pezar !
Fiton. E affim rcleva-me o não háver-ie com-
municado ha mais tempo efie fegredo ; poraue
como eftava decretado dos fados , que a faoe*
res .tu quem eras , efla fciencia havia de fer
r. tjçu prcc^cip por cauta; flc. ^umu fortqofu-
raVpor^ido teoccultei efte défeneano ; {K>réi]|
agora ,q^q.fupf!onhq.tru]OJF^. dê léus deorecoí,*^
razão' hj^^ie .^iunfcs taçnb^mj ^ mftu fUencio»
faet. Fuderui áU^f-tiifx^ «m tenipo 9 Qoe .fçâtif
. to agradecedè-; maf . tçttípfc '«ftimo íâber cà«
':']o mhil[>,fofM'f(o bem >niada., me dizes de no-
vo y pois Zr.^U\yçz,dc ^jx^pus penfamemos náo
poderia, ter meoos: pr^gçnitor,: eu te relevo .i|
roubo ,,qp,e ça<;:iizefte,4o^t6ippo9 que igMf
,^c'i4 gjí^ria.djç.me j^íW, filho do Sol.
Fitoh. Era precifo obedecer aíoinfiuxo dos afiros;
i^/. JMãp^reas DeíTaa. quimeras: de ro^us fucc
cefío^ pò^ <«oUigír ô quan? ^rrad^ he t já*
. diciarU ^pecuíaipáo 4^ f <ll9$ 5 cuja.,f€içti(cia
. '^ta^fo vf^r9sr|](us rei^ira-^fi^queabi vqp.Eg^l$a«
£í«r^. J^r^.Quç.^ f ^tí^f ,,na.e .ocçulravas qufm
eras ? Bem me parecia f mim que .0 ceo
r.tbripfo. %}ç!pto tipha mais. fol^er^a prjgeiTii. ^
JF40t. . Q9tór<>c«]iíli4í qwiçnirlírít ^ para j{)u^:,d Amor
prefjprHTer iapsrerpeito m u?a jndiDRçlo» » <
Jf^fr. Sc effi^hi^ilhanto/D^yfl^e» qjipfi ifpnior-
;.r caliza;.4fviç}a ^, que teQ)é$, .qge não ^bi|§.4p
executar 9^ morie de Ifmené , pois yí^Pf^ èv^Sí^
.' vezeci d^ixaí3:e^ burlada a mii^a expeâaitiyifi ? .
JFaet. Como fei. que Mecenas toro a.im<çiínft
incumbência^ )à nio poderei executar o^ipu»
defignio3.
^er. Vi^fdade.he que Mecenas cçnnpade(jdo
da minha defgraça , intentou reftituir ao thro*
no
- nò de InOêjAt^^^ttiú^
^"^íar féTidé WlMtt'ttMi^ò^ fino.
I3#.^^ da Tu ipiíKé <fflf b lÃ^^
^''«íltfá a c6nffànctií'i<^còm qúcteiâiilHtf i porém
*^a3idò, FaeionccV'^ .HTe iScâkla cramê fe
•í^^wghto de ál^fAP%bcnt> 'èdsait<f. ^•
rdèí:- Occulto iriOd^i^bcH ;''^«Mi tb éã dílftn
'^mt (ámbeih'írefemj^'r-víd#'fc
lei |Jahi que fitii,^^ulvet 'fii^^aâw&ii iâda-
•*34í o^íniai 'cífefeé.- ^ - • - ^ ' • • or-> :•?.-; f.-* • . ■. •
j^r. 'L?ttta qué "féjáif^^iiiift 'Mio' «flikM% nlk
-''dé Albano , itítKfeMoft dê !N«biÉl[ ^'cMÍa ao
£iytííiãpio prect^iaSfi m mWmáèk^è^^áJhít'
•^'fípi^ilà^^-eá-éi^fcM^ fíé na
•''i^Madc dos fexos fioue (ttà jperígcí a iefokiç&0|
• deíTa forte , nem- a fermofora de Ifmene te faC-
f *|^d^à o golpe' ,c nem a Vida" de»^ Albano, a
<* 'lelos te incitará. '•
Fa&i: P^ara cabal fatisfação de meos zelos to
'«'imcrma has de fer homíeida dõ Albano; alià^
enteifdmi, qiíe-sa' piedade teretka ò braço >
* e o amor te fúfpãide o golpe.
IBger. O mefmo podo eu dizer de Ifmene pa«
' iá comtígo. <
Faaí Fátá defvânectr eíTa fufpèftay baflainten-
r .tar 'O golpe duas vezes , ainda qiié de nenhtí-
' ' ma fé confeguifle ; e ãffim nSo tens que te
eximir , que Albano fica ao arbitrio de tuas
iras. Affim fegurareí a vida de límene. áp4n.
• -Ví .•..-• . .. ■ . .;.."
ii fditçme. 42^
Sabem El Rei ^ e^Cbichisbeó. i
Seu Bafla , que efla foi a caufa porque fe ex-
tinguio a Juz do Hymen^ i
Cbicb. Sim, Senhor, que hcvomade dcApoIIo,
qne feu filho Faetonte feja genro de Vofla
Mageftade, e a Senhora Ifmeoe nora, eVo(-
fe Magçftada íogro de Faetonte , e efiema-
. ridf da djta Senhora. ...
XèL ! Faetonte , como o obedecer aos Deofest
ke prji|;Dj|ria obrigação de hum Monarca , m^l
poderei refíftir aes mudos preceitos de Apol-
16 teu pai ; pois he (lia vontade que If*
mene feja tua efpofa, e^oãp de Albano, poc
. cuja caufa, ufurpou a luz no feu Hymenèo.
Cbicb. Do que pão ha a menor dúvida , auen-'
to fecreto magicali, â paru
JSger* Ai infeliz, que ouço!
^eu Ai feliz , que ouvJ !
fyi. E pois tu , como filho de Apollo , eflás
mais obrigado a. obedecer-lhe , entendo te fa-
{'eitarás ao feu império : bem conheço aue efti
fmene faltão méritos para fer efpofa dehunv
' filho do Sol ; por^m huma cega obediência
náo repara em qualidades.
Cbicb. Pois que lhe ha de fazer , fe he vontadò
do Senhor feu Pai ? Feche os olhos , e diga
que íim , que no acceitar vai o ganho.
á psru para Faetonte.
JReh Que dizes, Faetonte ?
JFaet. Que , hei de refpooder ^ ouvindo-mè Ege-
ria? iparu
Rei. Emmud^ces i
CbUb. He véiMnlioro' ent Iht ftOâliBo em ca-
'- far : di^ « Satfhor ^ quê fe as bdlozâs tS» Ún-
dadet» Uimne: em tedá- o defaieneoe^
rSgtr. Bloito me aegrava FaécoAté èàupclh ^
lendo. " " " 'i ■" • ijiiit.
Ac». Bem fei que afonnaTÉri dê^Ifltiráe he
^ dignt 4o me(mo Jtkfricér , ^k fitKopi y D^
nae, e Leda n^o cívérfio raáif'' -líeUak perfd-
^çjkt ; porém. : ; Há déigraça fieiAlBiiaiiell i ]pi
Cbicb. Pdrém , ^oe? Qve diabo \1M bálbu-
tienie? A tolpa tenho eo. * ' à part.
Mti. Que refelvesi Fàêtonte? '
€biib. SèfAor, flio.cem'<iue ^éíblver^ porque
- eOe iietia AiatMafiSo .ceflçí Voto: ea fou o
' qoé hei de dar t ttMutío ; t affim digo *
Vofla Mageftade que eHe quer , e requer ,
que fe faça logo, e já o câramento, eeu,
?ue entro a fazer o rcquerimenco , certo he
be tenho n^tiità ratáò para o faber.
Xtu AfRtn o entendo , c aa boa índole de Fac-
tòhte òutfa coUfâ íe nio podia efperar ; e pa-
ra que faiisfaÇa á prctençSò de Egeria , fup-
pondo qnè tttú algum domínio á herança dcí*
ta Monarquia , quero que café com Albano ,
pois com o Priticipido de Ligurk , fica ( ain-
da que não em tudo) em parte fatísfcita a
fua queixa.
£ger. Ainda que Vbíía Mageftade pudera repar-
tir os domínios de Líguria , niò poder.í con-
traftar ò alvedrio de Albano, <me adorando
a Umene » o confidero agora foorc aaianre ,
zcloío. '
de Faemie. ^ ^í
Sei. Quando o não vença a ra2ão , o convencerá
a' violência: véni , Fitort , tjiie importa^ cònii*
tnunicar«te macerias de importância, f^v-fe,
tíbicb. Valha-me Dcos ! Tomará fer privado' de
íer privado, ' f^Ai-fe.
Faeu Egerta , a que mais pôde afpifâr -o teu
dcfejò ? Já confeguiÔe o Hymènào <te Alba-
no : feras Princeza de Liguria 5 e cóAí asr ar-
mas de teu efpofo poderás reftaurár à túá Côrpa.
Eger. Sendo tu o Monarca, e aiil^iliadóí dò6
raios de ApoUo , qde exercito cè reíiftifá ? Pote
para ficar vencido bafta ter porcóntrâtio a<$ Sol.
Faeu Se aí&m fofle , eu me dftisiára veAftef 5 íô
para que tu triunfiiãcs.'
CantA Faetonte a feguinte
A R I A.
Serèa encantadora
AíFaga o navegante.
Que intrépido , e nadantê
Fugindo do fèu canto '
Intenta triunfar.
Repara que á belleza
Contém tal hartiionía ,
Sue em dece itielodia
briga a naufragar» Fai^Je.
Eger. Que aíFeéladas finesas ! Ab tyranno aman-
te , que o teu génio atilbfciofámente elevado
ce fará efquec^ do tâèu ^Mtbr.
4%t «IVMflri^
Sábf Mmui.
^jilhm.: Qpm ma d«ea ikber o« qae cerí fcwe-
lada Ficon ácerct da cninçSo daqaeUi luz de
meu infeliz HymenèQ ; pois ftodantc o ca-
. caiçio da foa repofia , nem bein vífo , nem
bem morto eflá.
jEger. Vès , Albtno , como os Dcòfes «affi^
a hum prejuro , a hum filfo 9 t ã bom oai*
. dor amanc#!
jilbéut. Ignoro o que dizes.
JEgiTi Pois fabe , para qae o nfio J«ioics: D^
darou Ficon , que a éxcíncçlo diqttelia Uiz
. tra hum mudo império de Apdlo , infinntil-
do fer fuáf vontade qoe FteoMite fe dcTpd*
zafle com Ifinenc ; no que ElReí convéio por
não defobedecer á ínfínuaçSo de hum Dcos.
Albán. Immortal devo de fer, pois jnio rendo
a vida a golpe cáo cruel.
Eger. Se foubsra que havia de fer tão peno-
fa p»ra ti efta nocicia , não ta dera ; e aífim
efcufarei de^di2er-te , que infallivelmente Fae*
tonte fe de^fa com Ifmene, e tu ficas et*
cluido da floria de poíTuir fua bcUeza.
jllban. Vençáo os acertos da prudência as vio-
lências de hum pezar. aparte. Não fabcSf
Egeria , o quanto eftímo eíía mudança de meu
Hymenèo , para que dcfenganado das inconf-
tancias da fortuna , em que até agora naufra-
guei , poíTa tomar o norte, que perdi: Ateus
pcs, Egeria , fe proftra a minha culpa i não quero
acumular defculpas ao deliflo , por nào díf*
£cultar o perdão. jljoelbã.
JEy^r. Quê fazes. Albano?
Alban. Revalidar o primeiro .voto , que confa-
gíei nas aras^de cea amor.
Eger. Ainda- que pudera vingar-me de teu aleí-
* vofo proceder, quero Ter extremofa comtigo,
pois íe não houvera ingratidões não haverião
finezas. Ailim conyem para os meus intentos.
á parte.
Albân. Pois, Egeria , fe a ma. piedade meam-
' pára , eu te prometto preparar te o thronò , atro-
peitando todas as diificuldades. ^ocra Faetonte.
Ihntr. Viva Faetonte.
Eger. Morra Faetonte , t também Ifmene.
JDcnír.yiva Ifmene.
Eg^j^r Que encontrados écds refpondem ás nof-
fas idéas ? '.
Dentr. Viva Faetonte , viva Ifmene; •
Sahe CbirinoU. . .
Cbirin. Senhora , que eftà tudo alvoroçado com
danças , coros >• e bailes , applaudindo o no-
vo cfpofo de- Ifmene, que dizem he bum fi-
, lho do Sol^ que eu por final vi. jutyò com
Ifmene , tio. refplandecence , que era huma
coiíía nunca vtfta. Ai Senhora , efpere pam o
yer, que eile para cà vinha caminhando.
fyer. Por ifTo: mefmo irei mais depreila. Oh
cruel pezar , não fejas ufurpador de minha vi-
da , em quanto a fortuna me não facilita ò
meio da vingança! Fai-fe^
Cíbmn. Vamos, vamos Senhora, depreda.. Fohfc*
jilkân. Haverá homem mais infeliz > Para que
injuftas Deidades, vos efnpenhaftes a fazer*
Tam, 7Á Ee tw:»
4VÍ .\ P^atifiéi *.
me dicoro » fe depòit que toe elevei i6.ai» .
de- cancã vennira, 'me^lavieit de derpènhard» .
bem , que cheguei t pofhk:í Mas ta , 6 cnút ^
Monarca, fe me ofofpafte a veomca com t cQmh .
fa mjuftamence , eu juftamence ce arraacaM
com o Soepcro a amoiçio ; porque . a juftiga
de £a^Ha me darit amias. paca crínnEar Jà tti>
«ruelàade
Jfmeni Gonfafa^f e vacUance no pcocelbfp mar
^cantas variedades acé me £ilca none pan nãF
vcgar 9 fegocâ na perígoía carreurãí de do ino^:
pinados luctcflbs. Mas quem eAá soai í.. ./.v
Albân. Quem ha de fer? He boma lomlm dê.
Albano , x|iie. fé t^ )à pcíarido.Je toda. a haij^..
depois que peideo ò foi de cua fbmiofara. ,
Jfmen. Pois fe és fombra , como não defappa* í
reccs ^ Que com os rcfplendorcs do Sol fo«
gem as fombcas.
jilbân. ]á fei , cycanna , pfxt como Ave do Sol
ce queres cicroú^r nas luzes ; 'mas não he la^
záo ^ que rdigíoiamente negues o teu coração
a Cupido , para fazer cklle facríâcio a Apollo»
J/mm. Que queres , Albano , qoe cc ref^KMKb ,
fe hum Pâi , hum Monarca , e huma Divin-
dade sio cr ipl içados Tinculos , que me prcn- \
dem o alvedrio } Supõe que nonca me viAe «
fupó^-níe a mais anel , a mais cyranna icia
das hiccanas breahas , para que croques em
odio^ a que. foi amor.
jfítém. Amor que foi , fempre he ; pois nSo CMi
mais 4)iie bom coafo^ e voe iâb & ptou encimo;
de Fanome. 4:;$
Sabe Faetonte*
Fáet. Galharda Ifmicne., não pôde xhegar a roais
. o excedo , a que fe fublimà a minha for-
tuna, do que a ver-me coroado com as ver-
des ramas da efperança de poduír te.
ÃlhA}u Ha- tormento mais cruel J Sem duvida,.
Fáetonce , que ainda te não poíTo. encarecer ,
*o quanto te venera toda a Itália.
tàèt. ]à feí , Albano ; porém adverte , Ifmene ,
•qne menos eftimo nafcer filho do Sol, que
refiiifcer na esfera de teus braços.
jilbofl* Se nos meus.:dominíos te. ' poíTuíra , ve-
'ttíis arder toda a LiguriarCm maiores demonfr
uações de prazer.
Faetm £0 o reconheço. Bem quízera , Ifmene ,'
tnoftrar-te, que aquelia fetta , com que me
acfaveíTafte o péíto, te deu amor para ferir*
me, cuja cicatriz, fera o mais vivo íigillo,
aue eterno acredita a eiHcacia de meu querer.
AlbsHé Ett defefeeror â pane; Porém , Faeton-
te, -ypara recotihectres o meu aíFeé>o;..
Faet. peixa-me, Albano, que efiás itnportuno.
Alhàne*¥o\s cala-te, Faetonte, que eíiàs infup»
portável.
Faet. Se te pcza de ouvir me , rctira-te , c dci-
xa-me íignifícar á minha bella Ifmene , os ex-
tremos, com que a idolatro»
jfíban. Nem podo deixar-te, nem poflo ouvír-^
'ce t bem feí , que hum fupremo Nmcen te ,
dèftínou^^bfta fortuna). roas aáo ignoras, quê
adorei a Ifitiene com attenções de efpolo , c
o ciúme he hum monflro iníòfrivsL
'= Ec ii ía«x.
4^0 Prerípich /
Faet. Pois , Albano , que remédio , fenão fatrj*
ficar a vontade ao império tioà Deofes ? -Bem
fei , que te fobrão motivos para a tua mágoa ,
porém fentirás agora o meímo mal , que eu
padeci.
Alban* O mefnio não ^ que feo.padecefte , foi.
em texpo , cfot não tinhas alcançado os fa«
vores de límene , e mal pode fec o fenti-
^mérito, que hoje me penaliza ^7 igual iaflio»,
l^io , que te arr^fiava antes de favorecido;
que então fentias coaio zelofo pretendeme ,
e eu padeço hoje como zdofo defefperado.
Fâct. Se deíefperafte , já. te não fica mais que
cfperar.
AUfan. Enganas^ce^ Faetontc » que aioda me:fi?
ta a efperança de faber o'mou' valor caftigtr
a caufa da minha defeíperação.
Faet, Pois tu tens oufadia , para te oppor a hum
filho do Sol?
Alban. Ainda contra o mefnao Sol íe ha de ani- .
mar a minha arrogante temeridade, porqt^e a
cegueira, com que os zelos me tHuçiináo ,
me não dà lugar para ver^ as ímpoiribílid^des ,
que cmprendo.
Fdeu Bárbaro , verás no poder de meu braço
o caftígo , que merece a tua oufadia arrogante.
. Empanbão as efpadas.
Jfmen. Que intentas, Faetontc ? Albano^qiíe fazes^
Alban. Perder a .vida ; que fecm te perder fico
fcm alma j bem hc que: quem lyrannamcnce
me ufurpa a^ alma y feja violento verdugo ,
que me tire a vida.
de Fmànu: 4?7
i^mhtí Aiéud&or >todos , que fe matíto*
JS>^iiiri No quarto da Princesa hè a pendência*
. -'. p Sabem EtRei i e Soldados.
Jírj.^ Albano , Faetome , que atrevimento heef-
Vi.^xc^ Affim fe ultraja o mèu decoro? Sufpen-
dei o furor da voíla indignação.
Faèu Senhor , Albano me provocou de forte ,
V que com precipitada arrogância cheguei a pro-
fanar a immunidade do Palácio, íem attender. • •
Jíef\ Pois tu , Albano, feni attenção ao meu
rcfpcito, fem temor das minhas iras, tivcftc
^. ouíadia , para^roniper em tio inopitiado iofultò l
Alban. Huma paixão cega não pode actendec^a
rcfpeitos , quandoe^ fó rcfpeita o defafo^o j que
intenta conleguir na vingança; e aínnu. •
^eL Não pertendas córarr com apparcncés: def-
culpas o teu deliâo, que henhunia fatisfação
pôde condecorar a tão grande culpa. Per*
doe Albano , que primeiro eftá a anciofa am-
bição , com. que intento divinizar t m-^nha
regia eftirpe.-r . â fãtte.
Alban. * Não irnagines , tyranno Monarca , que
pertendo acclimular defculpas á temeridade , '
em que me empenhei; que o meu intenta fó
fe encaminha a figniSeaf^te a razão , que te-
nho , para cafiigar as femrazões ^ coni que
me ufurpas a vida , na efpofa qtre me tiegas.
Rei. Pois tu , Albano , empenhas*te , contrari-
ando írreligiofamente os divinos decretos >
Jllban. Sim j que decretos injuftos , nem. sãò di-
vinos, nem decretos ; pot<^ue nenhum decre«
4»8 .-Pnei^idâ
to Tem joftifa p6de vioIema»)A. libeidib^dM
. iilvédrios* E fe en a4oio t ITmenò oomÀo
fino extremo , que fendo em nós doas as von-
^ ctdes i hft Dhico o qúèitr , como me queres
tu perfuadir que oi Deofea pèttendemcbcAlfi*
gM duas vomadea 9 as quaea recipiocaiaeme
onio o amocí,
Cânu Albano o ftgnim
R B C I TA D 0«
iSf' me negas o bem» que 'fino adoro»
AoNijje fecorrcféi^, -
Sen&owaó fòrtevvaiòr^ que ha .em meo |ieico?
- SeneUe mais perfeito '
?' Tenho o rancor fegnro^>e o cafltgo :
Porque vineue dos zelos a violência ,
Que efte falfo traidor, efle inimigo
OríginSo em minha alma ,
Levahdo*me com barbara indecencia
Em Ifínene Divina a cara vida ?
Sinta pois , ( ai de mim ! ) minha vingança i
Quem a vida me ufurpa em tal mudança.
A R I A A 4*
V Alban. 0$ Deofes nSo podem
Dous finos affeâos»
Que amor vinculou ,
]à mais feparar. '
Rei. ". Se os Deofes o querem i
Quem o ha de eftorvar?
Albém. Amor , que os unío ,
Quç 08 cmet c»(i(tvi«t.
A Fanome. 41^
Tdel. Amor he mudável »
Tal não pôde obrar.
jilban. Que dizes, Ifcnerie ,
,A canto pezar ^
Jfmen. A taoiós decretos
Não poíTo faltar.
Albâfi. Se a vida me falta
Na tua mudança ,
Que poflo eípcrar > •
Do iado a violência
Dos zelos o mal.
Alban. Do iniufto decreto»
J?eí/ Da iníqua fjpntença »
Jfmm.: Da minha' efquivança,
Faeu Da tua mudança ,
Todos. Aos Ceos pedirei ^
Soccorro , clanendft
Em mal tão fataL VSõ-ff*
S C E N A II.
SaU^ Saht Cbirinola.
Cbiritt. TT" Alha-mc amor , c a Deofa da ca-
ir riofidade , ( fe he que ha curiofi-
dade nos Deofes ! ) Que tenha eu* paciência ,
para fupponar ha tanto tempo hum appecítc
dífto 9 a que chamãõ querer fabcr o que?fe
pada , e que paífe fem lazer aquelias oxtiaor-
dinarias diligencias :^t ^que todas coftumanhos»
4^ riPnei^elá
para facar afiim ^do bõ^f' ft Ftoii efla fe^
ipedo^ que tamo me o^oht ( Teinâra jà aptn
nhallo , qoe o hei de fioer ' iromicac li^ fà
pé cado quanto fabe. : -.
Sábi Cbiebidm^* /•
OftM. He boa efta ! Eftà ^^Faeiome por anot
de mim enchronizado » logrando de aflemo<>f
agrados de lúnene ^ e ea por limor delle ef*
wvL de aza cahida not iavorer dè ChírinoU !
■e defgraça nio poder voar a:niinha efperao*
^a íl esfera deToá ãcceicaçio !' ^:« .
Cbirin. EUe cà/vem: darei {adsfaç&o^á minba
corioiidade.
Cbicb» Faetonte , como dtgo , eAà afiando of-
tanhas no aflador da correfpondencia ; e eu ef-
cou foíFrcndo os eftouroa nas brazas dos deT*
prezos : eflou ardendo !
Cbirin. Senhor Ficon}
Cbicb. Senhora Chirínola?
Cbirin. VoíTa mercê deve andar mní occupado
com a Fadiga da fua privança ; pois ja ha
canto tempo que me privou da fua vifta i
0)ich. Grandes são os negócios que eu , e El-
Rei temos por ora entre mios ; porém nunca
cftes feráo baflantes,, para dar de mão á lam-
buje dos teus favores ; e para que vejas , que
nio he a privança a que me faz efquecer de
ci , já não quero fer privado delRci mas fó
teu , minha Chirinola.
- Cbirin. Meu , porque í
Cbich. Porque na minha eftimação és a mais ce-
lebre privada pax^ Vra^ca ^tvH^à^K
1^ .. . QívtW
? €fti>iff. Guftrde-fe para lá, que não crêío f)^^
vras IiToiigeúa$: náo venha^ zombar da geme.
rCbích. Se eu amo de veras , como pòíTo fallac
zombando?
t Cbirín. Poia fe ama de veras , diga-4nc por oti«
: r de andou , que ha tanto tempo que me não
vè ? He Chichisbeo , e falta às condições da
Çhichisbeticc ! v
Cbicbffíiío foi por minha culpa.
Cbirin. Pois de quem?
Cbicb. De EIReí ^ que andamos confultando va-^
,/. riQS nego^lps pertencentes ás razões de.^^dp,
Chirín. Eôado de que?
OHch. Eftado de límené ; nao fabes que jà fe
não defpofa com Albano? <0: .
pJirin. Pois com quem? .;,. '
CHcb» Com Fíietonte ; lobre ilTo he què cu em-
penhei a eificacia da minha íciet^cia ; e ain*
^ da que me fuou p topete , li no volume dof
^ adros , qup ella íiavia de fcr fua ; porque a
extinção da tèa de Hymenêo não foi por lhe
roerem os ;i:atos a crocida « ou por lhe chu-
parem os morcegos o azeite.
Cbirin. Pois que toi ?
dicb* Foi huma muda infínuação com que O
. Deifico Planeta quíz moílrar^ que o Senhor Fae^
tonte havia de fer o ligitímo matido da Senhora
Ifmene , e .a- Senhora Ifmene a legitima mu-
lher do Senhor Faetonre ; mas com tal pa-
&0y e condição , que Sua Mas;eftade havia de
dar o Reino , para ligitimar eâ:e matrimonio.
Cbirin. Com que voíTa mercê foi o que deci*
. ffsou efle enigma í - Chkh^
^44^ ' Preeipich ___
tSficb. Ku foi o Icgkrmo decífrante" V porcjúe mi
cifras dcíTe ceruleo globo li as juftas caufas,
que havia , para affim fc difpôr ; c tambcin
vejo as baftardas dcícuípas 5 com que cu cngci-
tft^ o meu amor , e me tens feito andar com a
V cabeça n roda , confiderando na caufa dos
t' tpus fc|>udios, -
Cbirhu Quai amor , nem que alforjes de li pre-
ta ? Eu não quero nada com Mágicos^ ^
., , A.,^ Sâhe Mumás ãú bãfiidtíu, "
^"Áémn* Quê não pofla eu alcançar de Fíton il:
^ guma infinuação, que facíUrando os meus de-
f i Agnks fegurc as efpcrançasdc poíTuir com E|e-
lia o Scepcro , que pcrtendo ! Mas clle aqui
eftá com Chidnola r erperarci que fc vá,
t **• Fkã ao bâfiidm *
""CfeH». Não quero nadt com feiticeiros,
Sâbi Ifmcne m bajiidor^ ^
J^mm, Aonde achará huma def^^áçada allivío as
- Aias afHicções ; Mas aqui cHá Chtrinola com
^* Fitofi : eu me retiro; Fica ao bafiiàou
Cbich. Chirinolt , eu ftáo fou feiticeiro^
Cbirin. Porque?
^C3&/c*. Porqud não fpu Magico. • ^
ÚÍírfif. Se iiâo hc Magico cotKO áecifrou tan-
' té enigma ? ' ^ . *-
Chieh. Áhi hequc cfta enigmática a tttinha dcf-
veniura.
Cbirin. Dectare-fc.
Cbich. Não pofio.
» fiWrm; Purque ? ' '
; T ^ - : > Chich.
di Fáetímte: 44)
Cbifb. Porqae he fegrcdoj e temo. •;•
Chirin. Que teme ?
Cbkb. Que dès com á língua nos dentes^ e me
\ tirem as ganas de comer*
Chirin. Não me falle por encrcdentes, que ea
não entendo equivocas.. <.
Cbícb. Eu vomíto-lhe o fegredo aos bocadinhos i
que jà náa poflb aturar a purga dos defpre-
zos. i parte.
Chirin. íiio auer abrir aboca para fallar ^Pois
feche os olnos , para nunca mais roe ver*
Gb/c6. Eípera ^ Chirinola ; qáo vires as coftat
à minha efperança , deixa navegar a náo de
. meu carinho no mar da tua correfpondencia ,
que eu prometto defcarrcgar na falua de teus
ouvidos a commirsão defte fegredo , ainda qaô
beba q falgado trago da morte.
Cbirín. Pois dize , meu rico Fiton , que eu te
i«'. prometto dar hum bom. refrefco , e fegurar o
teu amor com as amarras de meus braços.
Cbicb. Quem não dará á cofta no mar daquel-
les braços! Adcos fegredo , boa viagem,
que enjoado nas ondas dos favores vomito as
tripas. Pois ^alto Chichisbeo , defem bucha , e
padeça quem padecer ; que primeiro efiã o
íalvamento do teu amor , do qjue o bom fuc-
ce 00 de Faetonte : In écquali pericalo dcbet
quis fihi prius conjulere.
Cbirin. Que diz ^ Senhor Fiton ?
Cbicb. Eu não fou Fiton , Chirinola , fou femi-
criado daquelle que fe quer fazer femideos :
Não fou Magico , filha ; porque nunca adevi-
aAcí mais que os teus ]^(amtCAos. 1^
Jfmen. *Ai Albáfto , «me lOò títtíúílàk éifiíU
tuas defconfianças ! - * / . •
''Mkcifí^Vbiòt hvftííúàk eftranhd Ibccdlo! , I
C&rr/ir. Para que difleOe, ^ eit::filho'do Sélll
'Cbfdf: Paní qiié^ElRd^me itio dèafle^vidai
qae ateirooo em ih0t'f qu« hti^lft defiDobrir
^ Vfilhò dó Sdfc í'-; ^ • >
•' Jsàrà que caftigue efte ínrulco.'
GNrlif; Para * que^^ diflcfftd da txtíiif!lQ^'da luz d#
tbm. Porque Fatcomé quiz que atiçaffe aEt\
Rei 9-para íe n&o apâ^r a luz da foa efeemi- '
' Ç>; pois também queria accender nocaunpn- i
to da^Senhòra Ifmene a fua luz»
ObrWrr: Faetonte nio ama á Egeria ?
Cbich. Foi antes de ver a Ifmene , que ao de«
pois ficou Egeria a perder de vifta.
Chirin. E ciucm he efte jFaecome^ .♦,
Cbicb. He hum Paftor aflim chamado filho it
hum homem , que nunca ouvi nomear ; e de
huma mulher , que habita emrei^ as feras de
Diana.
G&irm;Vai-t6 embora que és hum refinado Magico.
Cbicb. O* Filha » fe me nSo crés , aqui com to-
da a folemnidade o jurarei.
C«\«
de Faeíonu: 445:
CdntSo Cbkbisbeo 9 e ChirínoU a feguinte
A K 1 A A D V o*
' r • . . j-.in
Cbítb. Se cuidas , que poíTo .
pa Magica lifar^ . ... .;
Te enganas menina 9 ^/^
Cbirin. Náo creio effe eng^not , . '
CbiX^. Bçm..ft>e pódes^crer. _ / ^ • A
Chirín. Sabendo outra coiiía , .
Iflo não farei.. ^
Cbicb. £u falio verdade.
dfirin. Não falia , infolente , .
Voffê mente.
Cbícb. Não minto, não 9 não* ^
Cbirin. Pois jure.
Ckicb. Eu juro,
jímbos^ ^ E trejur-
Que leve o diabo ^
. . Quem Ma^'co hc. .
Cbirin. Se juras , já fei. . . . *
Cbich. Pois crê, que jurei.
Ambos. Não fer feiticeiro,
Queq;i não adeviíiliaj
Bem claro fe vè. Fáije Ckid>*
V.': Sâht Ifmenc..
IJmen. Efpcra , Chirinòla , quê tu has^ de fer ^
ditofo inárumento das n^inbaB felicidades.
Cbirin. E^ ^ Senhor i De que fórie P
44^' PtéHpkÍQ '■
\ .Ssbe ^ÍM^. 40, bãfiii^r^, ., ,
JUbm. Aonde acbanl^ham infeliz refrigério , pt-
n lenitivo do mal ^ que ò pttiafízt , fe pa-
ia qualquer parte V^^e cáminlúi;;' cMre pãni
O maltratar com aceleradot paflòf a fiái' detntf
f»í Mas aqui eftk.Ifmènef AK iiiigrâJba! Ra*
tiro-me , qoe nÍo *q|éerò vèr diè (nca a on
a canfa das miriiás-iáfflicçõi^.- -^ ' ; -
'^rnn. Nlo negues ; -ji- ÍA ffit vã/^lk Fitòn i '
he Ghichisbeo. f •-••''' .-■..:••
Cbkin. Meus peçcados ! Lá tai tf fegredo ç'oi
diabos! P«ís Vofla Alteza fhefmo èuvio 'io-
do da mefma fórte-f-Ai deígNÍ^^da •demilBr
Jfmn. Tudo ouvi.
Cbirin. Ora diga^fne. Senhora: è^M^^l^aettfote
não era filho do SoH
Albm. Que ouço ! Alma refptra , què )á nlo
he diíHculcora a tua felicidade. . .
Jfmen. Também ouvi iíTo , não ha dúvida,
Cbirin. Senhora , veja por Tuà Vida , fé ouvio ,
?ue eu não quero ficar em má conta com
Jhichisbcb?
JJmen. Dize que eu te einpenho a minha Real
palavra , para apadrinhar a Chichisbeo.
Cbirin. Aflím foi , Senhora , mas veja nSo me
engane , que fe o nãò onvió , eu não quero
faltar ao feçredo ; porque ainda que rapariga »
não fou cá de mexericos , iíTo não.
Ifmen. Dcfcança: Tu has de dar a ElRei efta
noticia, e a Albano , para que tom tão feliz
aunurtcio alente á fua amorofa^preicnção.
ie FaetottUé 447 ;.
Sabe Albano.
Albân. AlbaAO, Senhora , já á~teus pés com
reverente acatamcnco ijuer gratificar a felici-
dade de fe ver favorecido na tua lembrança*
l[men. Vai , Chirinola , noticiar a EIRei cíle
defengano. *
Cbirin. Ui Senhora , Voíla ^tesa não fabe ,
que Qiichísbeo me reooimmeadou tanto o fe-
gredo ? E entio que conta poíTo eu dar de
mim 9 fe o foubet EIRei , c .todo o Mundo }
Oh curiofidade , em que. afâicções me me-
icfte! Vai'j€.
tfmen. Vai , e não te dilates» J^i Albano ^ e
que pouco conheces o, jubilo, que em meu
peito amante caufou efte feliz defehgano !
^Ibârié Eu o reconheço 9 pois fcropre nabalMifft^
' de minha, eilimação foqbe contrapezar os re-
quintes,, a que íe fublimárão os quilates de
ceq fino amor^ por iíTo íenti^com tio vebc-
pente .defgof^p o duro golpe , que com in«
jufta violência quiz cortar o efireito vincukK,
com. que Cupido nos unío os corações ; -mas
^ff>^^ » <i}ue. iBe : confidero outra vez unido ao
bem , de quem me fpppunV feparado , coni
cQtitinuos ^eradecimentos correfponderei a tão
fucceflivos favores.
Jfmen. Na minha firmeza, acharás eterna a leal*
(dade , com qu«i confiante te adorei.
jUban. Nella eterniza amor a gloria de fuás fe-
licidades»
Caxi-^
448 Precipício
Canta Albano a fcgmnH
A R r A«
'-< Ifmètie querida »
Meu bello ponenro j
Náo mudes de iiuemo)
Pois mágoa feria,
.Que chegue á morrer >
Quem morre de amor. *- '
^ Na toar lembrança .
Só viva a memoria
■ Da célebre gloría,
Que caufá hum favor. - ' Véd-fc^
í2/»fCTf. Que hc ifto', que por mim páfla ? Al-
' bano por hum câfual accídente ficou fencindo
o duro golpe de ininha apparente mudança ;
Faetonce com cautelofos enganos pretendia
íeparar os eftreitos vínculos, com que amor
ik>s enlaçou os ifFeélos ao mefmo tempo,
qúe Com reciprocas finezas fe correfponde
com Egeria I Oh queira amor náo fejâo maio-
res os fingimentos de Faetonce, para eu náo
ter mais impoílibilidades que vencer no Hy-
menêo de Albano !
Sabe Factonte.
Faet. Que tens, adorada Ifmene?'Se Albano
te occafionou algum motivo de fehtimento,
faze-me participante da queixa , que logo com
a fua morte verás fatisfeita a tua pena.
Jjmcn. As minhas penas , Faetonce , nafcem das
pe-
: EP^í^.^fl^^ me dás ; 'nlo, voes tâc^ ^Ito , que
/ fçgô y minhí^'dcfgraça ábaierá as azas com
^^qucji^eira cprre, ^. p^iji diiíiçulijlc as minhas
]^ fciicidadesé ■ ^*^ ^ -j , , /^ ^ i ,.
íjWí.. N&9 te tmcnío^i^lfixiíiic./ '= ^'■■
i/fíiefi. ,|5òis bçm^ me çnfenclo , Fattonte ; ,c tòr-
^ ncHcc''t advertir , que o muiço voir náo hc meio
^ eiííca^^ pata fubir ^ mas. mofivo jnfaflfvel . pa-
^' ra, hftdn amj^icíofo fe^ atãTer.;,^^'/ ' ■ '^ífi'/^*
JRfirlt 1^1 de, liifm^ gjic is paUyfti dç irmçne
*^j|pJUiidJ;iâ em àie^ timidci coraçip.'. nág» -{eí
^/<liid^ oiículto^cneno ,' que parece nâo cabçja
. dêmrp eiri rneu peito, c quíi demimfáhlrn
^,por nâo Tc açtiar^çm comigo! Mas eu em
} Irmenc apuTSLfeJ às cònfusães dcâe áiligma:
j Òípeu^ Ifmêne. ;
'^^^^ Egkid^ . . , . _ , '
J^er. Que ha dè efperir j falfo , traidor; àmán-
le ? Que èfquetjdo ao juramtnto , que fizef-
" rCj de defender á rninhá caufa , fertl êaàfá ,
nem moií^o » que poíTa condecorar á fua m-
fehcídadc , bufças á Ifnjetie , pára iiít oíféii-
. der ingrato.' .;
Pàit. Deixa-nriè , Egera i fé á deígráça ctfidacío-'
fa cê /eguè , pára que me perfegues tu tio
dilígetfte i fe nio motiyo as tuaç infelicidades ?
Eger. ]à te deixo ,. infame ; já fujo da tua víf-
ca , fementido ; porque, nio quero ver nas
foiftunas de ifmene á occafiao da minha mor*»
, ce.: e aífínr. como. Ninfa do Èridai>p vou já
inúYidat a cópia de fúas cryftallinas aguas , com
as correntes de mihhás enternecidas lagrimas.
Tom. II. líí «Jt
4ÍO Prèclfiitío ''
até' (]ué o Ccò , compadecido Áz i))infn ^ètí*
ventara, e júfticdro k tuaí infilícidaãc , vIih
f^ue corti teu prédpidio a minha queixa. ''.^/'ir/e.
Faet. Vaiha-me o Ceo ! Iflo he fonho"^. oa.rea*
lidade? Ifmene advenmdtíf^me , ;qu'eli amfilr'
fáp de fubir he tropeço pára med^lDeiihar^
e Égcíia cult>ándd-me dé {i^oto y pedindo ad
CjCQ juftí^ : Joílos Deofes i quê vàueinios
ááò eftes , que amedrentio éfte timiâp' <òra^
fSb^ tíe verdade que' eu protôetcL a Egeè»,
defender á Aia eaufa ^ p\ámj^i a ÊoVõã ^ tta«
■ foi fem fal?<f,'que havíá dfc oáfr^
pura á cudá do^ia^gue da tfiiJ^ne^^ pbisftal
poderia tirar » vida ao orfgirial ^ q^Çi^' J^'
rteirò entregoà" í "cópia tòdá iattha. "AO^^
mene , que tu ç» a motoraf das minHàs d!?f-
venturas ! forque fe figo a canfa de ^geria,
precifó-me a. tirar-te a. vida , ena préçisáodsí
tq^ vida fícò fem alma':, Sé deixo a Êgcria,
para te fe^píV., cenlro contra' mfm a perfcgui-
ção dos Deofes y pois concorro na culpa de
perjuro. Mas ai de mim , qúe ahí vem Ifine-
ne com ElRei ! Rctiro*me , por não vct a
tiuma ingrata. Âetira-Je aobafiidor.
Sabm ElRei , Ifmerte , jílbano , Mecenas , e
Cbhrinoléi, .
£ci. Fois Faetonte , hc hum pobre Paftor , e nio
filho do Sol?
Faet. Ai de mim ! Qúe ouço ? Eftoú fem alma!
Jlbané Aflim o confeíTa Chichísbeo > coropadc'
eido do nofló tue.\wo«
" Ú€ Fàeióme. 4si
Pàet. Ah ihfiel.^ t^icon , que tu rhé precípítafte
M^ceh. e lfm€fí. %^ o ouyl dizer a Cniriíio la*
Cbirín^ Aà}U eiiçrçí ^u : queira Júpiter , qu^ èii
'oMfga de 'fòirté j que femprc fique cm fegrcí-
do por' não .faltar á GHlchisbçp.
jRtL Chmrinoja ,* deíbrígana-nos : Quem te diíTe ^
que Cliíchisbio , era Factonté.'?
Cbfrin. Senhor , eu , fô o poífo' dizer efn fegfre-'
'deY Se Voík I^ageftgde proáietté hão feveUc
^ t nada ^ ei) ètuâo direi' ^ que hé hum I^aftor , ,e
* jpqt final , gue.fua ínái hç outra Paftoca ', qdte
' áuárda aà feras de humà JDpna Diana ^ qiii; he
Senhora dos 'bofques.
Reié Oh como ^ndei accelaradp* enií àdmíttjr.a
Faetònte p^ir ;flíKo dó Spl , e em crer as.m-
gijas in(inu9,ÇQes do Magico ! perdoa , Afba-*
no j' ã injuÁa^ repugnância do teu I^ymeneo ;
..inas conK> .fabç>', qtie a extinção da lôz 'me
deti apparetíre$ 'motivos , para .fiippor éra infi-
Ífbaoão Tk)S t)eoTe$ a demora das núpcias ,^ en-
etido , que iné fòhrão fundamentos para a^.mi-
Ilha defculpa •, e paira que a alegria da poíte
Tuaví^e o Jefgoíio da derefperaçao , já Ilhie-
ferà tua feliz efpofa a pezar dos fingimentos
do engatiofo Fiton , e Talfò Faetònte. '
Fàet. Ai de mim infeliz! Efte fim , que heo
meu maior precipício ! '
Alban. Senhor , mal pôde fer culpa o que iiáo
foi advertência , pois padecemos rodos o ihef-
mo encano.
Çbirin. Voffa Míigcftade njio .di ja. nàdã\ a nin.
£uem; peçõ-lhc pelavlda di *&tiS&^VÍ \^ttN&-
nc; e part <{ue o não dig^, Iiâ <Íe me píXH
metcer homa còuía.
,Ífeí. Que hc>.
Cbirih. Que, nâp. lia de hÍL^t tnál a ÇhíchiT-
hcò , porqbè ellè não i^c culpa nefias aren-
gas , çomo^ f^i>e fua Alteza.
^^Èèi. Náo merece perdão tio g/ande culpa ; ànf-'
, bos padecç^áõ p rigor de mmhas iras.
.Ofifin. Senhor^ , lá fe a venha ^ . ha dé mç h^
zer bòa a palavra., que me deo«
'4/mêm. Scnh«r^ .eu proméfti t Chfrínola a vída
dç Chichisbtfo ,' Ye ella cohfeíTíiffe ; c affun. . 4
jRii. Bafta , Príncèta ; eu Ibe perdo-o, poistti
,0 apadrinhas, c *
jfib$n* Pois Sétihor, fe eu qual^Arabica Fenit
"dgs cinzas do efqiiècimetiíto rénafço para ter
nòvá vida na esfera de tua lembrança; peço-
' te 9 que náo caflígucs aFaerontç; porque que^
ro. antes , que morra aos golpes de huma fu.
riofa defcfperaçâo , do que vcllo perder a vi-
da aos fios de hum cutelo ; e aflini. .' .
[Jíet. Bem eflá : fique Aiuito embora padecendo
as violências de huma mõne fuccefliva na?
mãos da dererperaçãp^ ; porque a loucura , que
o incitou a tão inopinado infulto , fica inca-
paz de todo o mais caftigo.r Vamos ^ Albano.
jiiban. Obediente te figo.
Fão-fe todos com El Rei.
0)irin. Ainda que não guardei o fegredo , te-
nho fegura a vida de Chichisbeo , que he o
que mais iniporta.
\Faet. Immortãl devo fer, pois não perco a vi*
da
ie Faetonu. a5\
"'■ 'ii tid òh , em que pttfo a íònene ! Ifoie-
^nç,efpcra, , ,
TfiheH. Que queres , Factóntc ?
^^ffl* Que te lembres de minha amordfa conf*
"', cancia , para que affim mitigue com a f orífi-^
.deraÇâo de, lembrado p duro Ç^lpe dè desfa-
/.Vprccido; porqud jíium amor..,.'.
JFpHfft. Que dizes , Faecotice ? Ainda a rua louca
cêmcridade prefiftc no meifmo delirip ? Advçr-
'yt ' S^^ ^^ permicti eitos afFeflúofas exprçlT-
;^ft, quando ce coníidêrei filho do Sol, ago-
ra que fonheço feres hum humilde Paftor ,
te não poíTo conceder o mefmo indulto : vai-
' tê, que em Egeria acharás propicia a Forjcp-
flia , para vares premiado o teu amor.
Faz gfêe fc vaL
fdif. Senhora. ...
Jfmen, Não mais , Factonte,
Fdei. Adverte. . . ,
jQf^en. Náo ht que advertir,
, Faet. Que eu femprc. » .
Jfmen. Não quero 'otivir-tc. . ,
Féft. Rendido. ...
Jfmen» Não p^íícs ^diante.
Fdet. Te deciíquci o meu amor,
Jfmen. Deixa-me, Faeronte,
Faet. Como te poflb deixar , fe íempre dcfvela-
da t2 bufca a minha fé ^
ffmen. Chirinola , chama quem prenda ede louco.
Cbirin. Eu vou, Senhora. Fatfe.
Fdet. Louco fim ; mas he porque delirante o
ipçu cuidado enJFerma de adorar*te. Equepou-
«í;^
4í4 Frecipich
CO correfixiodes , Ifmene , tos delírios àfBx
fino amor ! .
JJmen. Vai-te, Fâçtonte; náo queiras (|oe' a ji^
Ilha indignação le precipite. •
Fãet. Que giaís precipício , que o da minKa
efpcrança, cahindo dò Çco dlefla bcllcza pa-
ra o abyfmo da minha clefcrperaçio ^ AiJtr-
' mene , què me tyránnizas a alma ! E para qut
vejas, que defc(timó a vida, voa buícár " á
minha nriorte ; ciúc fe rnorro pof ti , . quanjlo
te adoro •, .quando ce^iercp , bem, hc qué per-
ca a vida. ^ * Vài-fe^
Ifmen. Eprcunà , poi$ eílamos fós , refponde is^
queixas de huma infeliz. ( Se hecjqe á hp-
ma infeliz oovio as fuás queixas a forrtiii2u)
Se queriaJs, que admíttiffca Faeiòntc, por-
que não ancícipaílc a occaíião de vello , para
lhe dar a primazia na coirefpondencia? Pois
fc fò Albano logra as primícias de meu amor,
para que me pcrfegues com âs opppfíçóe^ de
Facrontc ? Oh , fufpende a roda de tuas in-
coftanciaç , para. que eu féguré as 6rmez^ diç
minhas felicidades!
Canta Ifmene a feguinte
A R • A.
Fortuna , que ínconftante
Te oftenras rigorofa ,
Quando ferei ditofa ?
Quando fet«i feliz ^.
Suíp^ode por hqm pouco
Teu masc> acp.ckra<te.
Mão feja femprií o fado
Cruel ^ huma 'infeliz. Fâifií.
S CE N A III.
fofquê y como éo principio. Sabem FâHme^
e FitQp.^
Pçntr. /^ Úârdçm dó loi^^o ^ guardem/ do
VJ!.io.ocol.:
JFáet. Vèj, infid^Pitòn, <\^t já eftou fcítò at
yo* da ircisãp. popular >
/Tiroif. Eiqpal bçiâ içaq&r 9^ move fàl làdibrio }
fítU A tua ^ jnfiddidad^ ; pois difTefte não era
^u £{ho do^^ó^^^^^ c fe jpda.nia aleivofia c^e-
Í;o a tal opprpbrio , coni á tua mprtje darei
atisfâcão ás mitit^s iras* Pnxâ ppr bunipunhãt.
ffton. Façcome^ ,nio te predpite?., .<y]e c^íU^
tnésít^o : ,( primeiro eiU que mdo a.minha
vj£) con\0:,Mdia eu negar» o que )í tan-r
tas ve^eá confcffpi ? T^ és o verdadeiro filho
do Sol.^ e jpar^ jç|ue te défeáganes, chama a
^Appllò tçvi pjài^.que ellc refppnderà benigna
'às tua$ vozes.".! ..
J^fd. Iti^reís .çpníidero.todas as prpGa& ; que as
\ozcs de huiin infeliz nem Ainda, o vento as
ouve ; mas Te .a diUgencia hc prp^enitora da
^ccqna , não quero maloga( ss, ÍQrcpnas por
çmi&ão da diligencia..
Cftxi-
4fí Precipício
í .r
CAtitâ Fdeumte $ fig/êimq
R 1( C I T.A .0' o» '
Q^ tu luzida ant(>rch4 , , >
Que nefla cthereá Sala predominai
A brilhante caterva •'.:.,.
De todos os Planetas,
Oqve 03 ecos, as vozes ^ os clao^orcs.
De hum miicre irifcriz ",' a quem 9 fóuft
Dá na vida p çígor da mefqpa tòttc. ' .
■ ■ ■ I o . . . í i "*■■..,..' .' "í .
JfdU Imperial do Sol , em quedpp/íreçerâ AvoU^
lo ^ qtée ilifcíeiá ertíbuniâ 'h^yém ; d qfía[ird\
■ W M/r p^ríe efiffierda outro ^djfifitá pdrd fdc-^
tome \ e cantio ambos àlftfnMivfinmtè d^
feguinte
R' E C 1 T A D o:
JlpoL Qtrem he que terrtamentç'''
RcmeiíC ão Dcos ApolW a fua queixa ?
Fae$. Faetonte tt bufca , ó Deoi luzente ,
Para que' a tua picdide '
lhe dè horira , nobflézâ , è Mageftadc :
Hum humilde Paílor todos me cniibao 9
E aflim faber pencndo , *
Qual he mhha nobreza j pois p.reAimo ,
Que a fer fílho do Sol , háo pecfhíttír;t
Ver com tanta igncmía ultrajado
O régio cfplcndor , que tenho herdado,
jIpoL òufpcnde , Faetgnte , cila quimera
Dl rua fanrafia ;
Do Sol Kccias os xííq^ ^cswa<\uc brilhas :
t€ ipàéúnàe. iff
% fc gueres dcíííf rar èffe fcéá^r ,
Pclo';Úágt) Averhò ài^i W )uro
Dií^tC^facílijir tqrfò b ffgutóy ' T
JFâet. Sc mcvfás facàí^adeV'':^ :
>píí/. Para taâô ta doó. ' ^ "\ '^.<.'
i5f«. D que te pétd 7 *^''^ .^ *^
Me leves . jao càèíttí ^lít^níçâto , ^
E do^^^ÇÍb' "tíàmiíiintif 4 - ' ■ V '^^
'rtíf 'íjàiP^gyraí o <yçBçT-^ ' /, ^ ^' V- -
Me cnxregoés -o dótiímíd. ^ V'
^fo/. ífifpdffivíiP * ' ^ ^ ^ \; -" *
Será de cotifcgulr/ ' ' ■ . i •'* "^
\jRlrt. Porcjue? ^ -- ^ .
yípo/. Porque remo o tèà jpcí^di' ^ * M*'
^4e/. .Não teinás , x\i6^-xtçiií%. Jy] i . ■. v
-rfK Confidcra, V " ^-^
Faeu ííad* confidctó, - ' - •' ^/> ;
ví)7o/. Adverte , Faètótitç. ' ' '
/vl«. Nada ha que advèrjirr -' "
Deílc carro fl|iminátlté; "
Hei de governar bòj!e á luz brjíhatue ^^
I^ára que toda á áfmr Orbícuiâr
Conheça a fidalguia , , ,
'•'■' QtemèaTèt«i/«hróBrèèç
jÊpot:-^ Ná2U- lÂlçm cdmtigo Itóttieus. iefíi(^tó:>!
Art:^ Inqtèls/ Slt) > t feit7ffató< eíTa pocffeiy '
Que quem do Sol herdou os refplatidores
As htóéf do mefmò SfoF tàbe fetóiir'- ^'*
Qual Águia Imperatriz ^, que efla Hii^ porfa^
Se|ue fem ctftnor,a bufca doníi ventura. ^
: E le nas mSos do deíprezò héi de ácaUr.^
Melhèr fera 3 que mòrrâ '
4f8 picij^h^
HooràdQ 9 js enrtobrecidp j -t
Coipo filbo do Sol lÊcpTfhedda^
'JpoU Vetiça, ^ig, hoje a ^nduftfia
A violência dos fados , .^^ ,
Que inftçúzido prifnciro^^ji./r'!
Girará com yentqri .. V. \
JFaet. i^c ttifmd^^A^wi,
jipoL Sobe coniigo , ]t vent i% B\tt0í3fmtc^
Qcffa çele|íç;e!ffçra,;..^^^
Aonde cumpriras o céàJoten^o^^ . .^
Faet. jíá goftofp iç íigo > .^.' , ; '■] :
Ppís jà nobreza cenho. ^ • -^ .• v
^pol. Nobi;cía terá$/
Com pompa luzida,
Se ha hoje de ver
No claro faroj.
A €;loria. fubiaa ,
Com que refplandecíi
O fiiho. ç[o Sol,
Sóhe JFaefQntc eUyddo de hkinuheçíiimA Mé ft
[entar riA ntfvem. f^ão-fe , y i-d^fappareee 4
Sala f ficariflo em bojfque como ao principio.
fiton. Qh queira Júpiter ache Faetonte a fortu-
'na profpera , para fuperar o rigor dos fados,
mas como temo , que a remontada eminência ,
a que a fua ambiciofa cegueira o eleva , fe-
Ja a mefma que o leve caiitetofa para o mais
' cmi-
. çmincQce ^^fpenho! Klâs aqui vem .Chícm(*
; béb : rétiro-me 9 para òferetvar os' ícuii^^
Sdhe Çbiçbhbeo.
€bicb. Doti eu ãDeos aquem item ^m^imcQ-
*'to, que de hum deftes lógò^fetefajter tu-
do com muito íí;^q, como fçz oí mçu \afl|ijpP
Faèromc i^ne pata móftirar , 4\íiç não 'èra de
todo coUo , poz o corpo em arrecadação i. é
deixou a minha vida por hcikQ fio;
fíton. Não foras tu nefcio. '*,\' ' ^ PJf^f,
Çbicb. Foi ò cafoí Vio Factonte q caldo "en-
•" tòt*na3o , ' e, qúè fez ? Deíi as palangatnas , deí-
' «fando o^ jyrrfxll de Chichisboo para pràtínho
' dó dekrifiÁé dak irás dcL^éí/, que'a eftas ho-
' lis fuppotiho,' que .fe.cotnie de ràiva, poren-*
^olir a tógráção da minha Maeíçf ; ,e cem. mui^^^
tá razão , que tião heèí^(f Bócadd tão íyffnó"'
f o , que fe poflfa tragar.
J^uon. Por tua;"c<ilpa fcv^ ^^^^9"^^ Pí*Prp.<Wfj^
' *ao níaiór* predpicío. ' '' . â parte.
Cbich. Ainda &(Em , era l>em .f|;úo , que El^l^qí,
' mepòzcffe ás mãos, e''alK>a vontade ^' qpé'
' eu tfve a culpa de rodos cÍlcs.''enrredos ; .que
fe 'hie riãomettèra á deícp^Vír o filho doSpI^
^nlo yeria agora poílá ac Sol a minha mentira*
" ' ' ' Sahe Chirinola.
OJirin. Por mais que corra , c que difcorrn ,
não poíTo encontrar a Chichisbeo , paralH^
intimar a Tua ventura, na foríuna , que teve'
na benignidade delRei. Mas ai , que ellc aqui .
efiá ! Defcança coração. Chichisbeo ?
r
Çbiçbf ^inda me tu app^jrces , £Ufâ.t!hiKQbhj!
'Dize-me, embufteira, timo pèjd te Tezhíim
fegredo , que no. mefnnp jnftante l em que o
CQncet>.eÍ|e , p vpoijtafte^nas bochechas delRei ?
Pífotf. jÉm hpa- ff «^euria òineccoo, para fe niò
*. revelar. . . ^ ''",'. .
Çhirin. E que havia eq dê fazer j^ fe Ifineqe tu-
do ouvio ' . , ' .
CbUb. Negar a iroxé moxe, ...
0ÍTW. E que fazia com ifto?
Çbícbj Pqz q cafq em dúvida «pqrqqe o cafo
negado nunca jie bem provai; e em qnatv^^
to fe averiguava a verdade, tjnha eu tempo
de por o vulíco na guardaroupa dá fegurança »
é pot tua culpa e(tou açora em tçrmpi cfé o
veres pendurado no cabide da forca»
0írítt. Nãp temas tal , que Ifmçnç pedio a tua
vida a felRei. . .
Chich. Vi(lo iífo não morro defta tratada?
Cbirin. Trata tu de te livrar de outra. ». que def-
ta eftá livre a tya vida.
Cbicb. Vivas milito annos : fempre agradecido
ao livramento da foltura » que me nlp podido
fazer bom cabello as ligaduras día morte*
Fiíon. Vafo máo nunca quebra.
Cbicb. Ora dize-me , Ghírinola , que fe diz em
Palácio de Faetonte'^ ífmene fentio não fer
fil|io do Sol ?
Ojirin. Ífmene de nenhuma forte ; antes pare-
ce que o eftimou.
0ich. E Egeria que diz à tyrannia , com que
a dcíprczou ?
ie FaetonU.^ 4fi
n. Út Egeria não fèi nadâ^ fó fei , qae
patíentét ie atiTentob para ú !kgjià$ àò Eri-
10 , aonde habita ccrmo f^ihfa.
h Hiria tCmar banhols de paciência parare-
gerio do calòr da (tefefpera^^ò ,' em qué si
zcrio as chammás dos zelolr ; liiás tem tu
lo que fe me nSo engana a Viíbt ella an-
paileandb a pé enxuto asiigiias de Erída*
^: cheguemos nós para lá pé ante pé ^.pn^»
'pèfqáímos algdma toufá do qiie eUá diz. '
obre/e d marinha , e ãpparece Égeria hú
no mim éU) fríntipío i^^t MiU 'é- jÊgulH^j^--
&ed(e$' rpbéràtios, fe fois' ju^ílos ^
\o afiiòi perhiittis iri)u(bíifadite y /" '
tium Ibíáúr , fcmcnifddr, / *
o', eptrjiírò amante- * *
laffiCtó confiante • '^ '
>rezè ,, fcm tçtnoí de VoffáTs iráíi ?
cando^me ukiràjadá 9
âa, e impaciente, "^■'
zelos padecendo o aélivò ardor ,' y' ,,
^llívio, íenà rea^edío a tánítai dorf .'*
Kas ehamtíiás dos 2élo8
^Minha alma abrazada^.
Com fúria ardente ,
Impaciente j
Ddirame*
] : tit hutD h\to amante
Aos Deofcs (uprçnos
.^ S€ chega a quei^çan
. Com jufta violência
. yihgatrçA , caftígo ,
Cpncra cfie inimigo
Os Ceo8 me hão do darw
■'.i
<Íkb.
C|iê^a-te yitiL eíla ^ e apara-lhepOa %a<'
pos ^ áquillo he défefperaçSo refinada. '
Jppsrtii Fdeíomè tiq Jlto, Mm bum rtJflMàt^
Egtr. Para quapdo, ô Deofcs foberanos , gptr^
dais a voíTá indignaçãp , fe a hum falfa aman*
te , que tanto ^urlou as minhas eíper^nçasi
deixais ifcríco de caftigos ? Júpiter tupremo %
para quando sãó os raios , fe não abrazais hum
peito fementido , que tão tibio .corrcfpondeo
' aos incêndios de hum fino amor 2 Oh venhãò
as voíias vinganças , para que o Mundo , co*
nhecendo o caftígo , reconheça a equidade
da vofla juftiça.
FáQU Agora que em Iumit)ofo carro ( como fub-
ftitúto Á6 meu pai Apollo ) alento os Plane
ias com raios , e te Volvo a celefiial esfera com
gyros , quero gyrar a esfera terrcftrc ,. encami-
nnando o meu brilhante curfo ás caudalofas
correntes do Eridano, para que Ifmene feaí-
fombre em hum epilogo de luzes , já que me
fubmergio em hum pélago de defprezos. Ve-
rá r^es , c vctà ^oà^ ^ Voíií^^ cwJca^wizado
■ .' ' . . ^' ■. • . •
\ funãio com aDyfboçde hamiídades;
jpiion. ]á Faetcnre fé vè nò radíahté carro/ do
"^ Sol : queira Jojpicer; qiie as ibiinhás fcieiitíaí
. íejáo ^bulom.
Faet. ]à divífo á Região de Itália ; jà diiifo a^
cryftallinis enchcnce& do undòíb Ef ídano .; pbts
iqiae faço y que não encaminho os meus gf-
ros nos feii^ criftaes , para retratar ncUes; ^
-gratAliofa pompa dè meus luzimebcbs ? Mas
•'ai de mim^ t]áe os brutos enftrbârdos còr'^
rêm (tiÁ gòvdrno ! Mas quò tnuitò Te difcor-
' tòtíl^giiiiidòâ da rtiitiha infetkidade !
_' Rmdó diàitfo.
3>fWíV; Dôofcsí piedade! Júpiter jfdíccfo^ro!
Úfêtrús. Que me quein^o ! Qjj^ ihe abrazo! .
ÒttProsl Clemência, Deofea? Fàyôlr , jilpirêr!*
"^ S4hirÁS ioàòi
fítofi. Ài ínf&Iiz Páetònte, qtie nlíd fòrão ftm
'; fundamento as tninhas cautelas !
Paet. Inúteis são todas as porfias : ál Êg^ri^ ,
que os Deofeis conjurados contra mim y que*
rem que pague com meu precipício a culpa ,
^ue comniettí, faltando ao júraihento que te dei !
Pdjfâ bftm hio atravèffaúdo o carro , e çãhè
Faeiontè not hrd^s de Egma.^ .
Eger. Ai de mim infeliz ! Mas que vejo ? Não
és tu o fementido Fackonte , a quem os Dro-
fes, compadecidos da minha injuria, precipí-
tio jufticeiros paira caftigo da tua infidelidàife t
Olhai 9 fe as aguas do Ffidano hãó forSò' as
qóe ce etígirão decente tumuíõVÇ^Mi fi^ltar
4<4 Pwifkio .
A rua higratidÍQ> as corrente it meip, 'prancò
féjáo as que puri&quem as manchas de lua
. jnconftancía par^ gue fe paccncccm os realces
da cuá firmeza i Mas ai ! Ai que ja cncregoií
nas mãos da mone os ulrlites e/pirítos.^ paca
d^ixsi de todo fein alentos a minha efperanja !
Tçdos. Horrofo caáigo !
iíd. Qpal íerá a caula de unu ã>nftemaf ao >
fhon.Hc tempo de romper as prizões ao filen-
cio , qòe^ perdido Factome , já nao l^^mais
que perdícD . . á parte. , ,. ' : Sabe.
Eu (ou ínviâo Tages , o infeliz Eicon , ^e
feguindo a Faecoiue vivi disfarçado.^ no teu
. Reino com 6 nome de Chichísoco.
&U£. O meii oomc feico ciapa de relhacos ! Se
nâo fora EIRéí. * . . .
Fitoh. Porque a minha folicita diligencia quiz
triunfar datua proBada vigilância; pois a faber
Faciontc quem era ,^ efta mefma icíencia lhe
havia de lérvir de inaior ruitía por caufa de
huma formòfura. E como agora fe faz preci*
fa a narração defie tio inopinado cafó , não
poíTo occuícar-ce quem fsu , nem deixar de
.rhahife({ar*tè ó intbrcúnío de Faeconte.
Chicb. Ouçamos , que ifto ha de fer galante.
Fitòn. Sabe , gue cÔe me quiz tirar a vida (re-
fentido dás ignominias ,com que fe vio ulira-
jado de ti , e de todos de leu Reino ) fe
lhe não. ceruficafle o illúftre brazáo de fua fo-
berana origem ^ e como ellc he o verdadeiro
filho do Sol , e como cal fempre das minhas
ícicncias lefpeitado » icicentei « para defvíar o
yf^iihfiE fc;2. filM^icp ^feem: j j^ímí jpMmtiro »fiIftáo
denÍ:es , que f>aM(§W^: ^â,ifiê4$:é€ne: êrúhiata
inciph àje ipfo.
havia de invocar a Apollo feu píi: cftc def-
eco a rccebelFo com ^ompa raageftoíi , e com
a mefaia magcft^dç o conàiziõ i celefte gíT.
fera , para governar q carro do Sol , do qWl
cahío dcrpephado para os braços de Bgeriá.
CbUh. O certo hc que zombando »fe dizem ás
verdades. .* ^. ;; 1 >
JZ^i. Nio forão íUusõea , mas .verdades, as qiie
íonhei. : ' , r. . , . >*
Fhon. Efta , Senhor', foi^a canfa t|uô me índ-
lou a viver disfarçado no teu Reino; efte o
infortúnio do infeliz Façttíííte!^ que de nenhu-
ma forte puderão as, minhaa (ciências «vítaf^:
antes me parece, qu^ todos os prineipios*,
^ que intentei para reparo doi.prfiicípicio., forSo
meios infalliveis com que lhe aéblel^ei o defpenhtit»
Chicb. líTo fQÍ;o meímot, que errar; os* princí-
pios de meio a meio por todos os pritKipioi.
Todos. Eftranho caio! : - ''
Chicb. Hc cafo qMiem nenhum cafb fc =p6dò
cafar com outros cafos.,
ReL Temo, Fiton', que Apollo refcntidò dò
injufto defprezo, com que ultrajei a Faeton*
/ je , com injuda indignação empregue cm mrch
o poder de fuás iras..
^oif. Appllo> Senljor^ 'bcmconheqe jque ignft-
R E C 1 T A DO.
Sabei,. que Apòllo fou o Deos flaimnant
Qoe na esfera brilhante
Deíle celefte globo ,
Com luzida influencia *
A todos os Planetas ilIumino«
A Facconte dou por filhoearo
De femideos a gloria fempre excelia,
Nova vida cobrando 9
Para que refufcite
Novo amante de Egería. '
Ifmene fera de Albano eípofa :
C em doce Hymenfto todos unidos,
Ifmene na Ligiiriacom Albano
Factonte na Itália, e Eridano ,
Reinarão ;* porqtie fique defta íòttt
Egeria fatisíeita ,
Pois com t>omDa luzida
^«mioitnentd -quando reconheço a jaftiça de
Ègerift na fuecersád dcfta Monarquia.
Q/fS^ylflb bc fazer da neçcffidade virtude.
JFÒet. .feliz noil' y^zes ^ quem rerufcicando vtve
..f&rií cpofagrar: nas aras de lua belleza huoM
novar.^ida , ' c tão nova , que fe aquella poc
não viver comiigo me conduzio is mãos da
. mocfc^ ; . efta me encaminha para a vida,
jpoia vivo ')á de jnorrer por ti.
Xgtr. pa morte dos defprezos paflbu o meu
amor para a vida dos favores.
Cbicb. I(ío he paílar da morte para a vida ^ co*
mo quem paíTa da vida para a mone.
Jfmm* Albano , fe como Princeza fui alvo de
teus favores , agora não permitias , que cu
feja o objeâo dos teus defprezos.
Albém. Enganas-te , Ifmene ; não ha maior im-
pério , que o da tua belleza , da qual fempre
vaíTallo fe confeíTa o meu amor.
Cbid)» Chirtnola , jà vès , que enforquei os li*
vros da Magica : acorda-te de mim.
Cbtrin. Eu femjpre fonhei em te querer: Tua
fou.
Cbiib. Pois enrão que fazes ? Dã cã eflfa mão
de papel , que quero imprimir nelía as cifraa
da minha affeição.
M^ctn. Perdida Ê geria ^ com o amor voou a ef-
|>erança de reinar.
Cbicb. Senhor Mecenas conrente*fe vofla mercê
neflcs cafamfintos com o fcu nome , que me*
Ibor fe ha de cafarcom o ofRcio de padrinho.
. Rtu Efclarecido Faetonte , relcva-me o$ defpre-
jcom, mcliflaai cònronancias',- pubtièand(f Íif'
geftadc íupfema., a que trte êtêvouafertuhjif^
,lJpfpeiiosii, ^qup coíifigo coiMo filho^do iSÍoU'
.-." j . '> '• ■•" ■• c ò"-'K- o,; ■ ■ '
> - Na tea^ luzente ' • ' r
l>o fàcro Hymente'' -.''_ - ^
Se acenda brilhante^ * - *
O rwo flammam-e^ \'
- Do- filho do S0I.Í ' ;
FIM DO SEGUMDaTOMO;
PROTESTAÇAa
DO^COLLECTOR-
AS palavras Deojes , Nunten , Ri-
do , Divindade , Omnipotência , e
Sabedoria , íe devem fomente entender
no fentido Poético, e não de nenhu-
ma outra maneira ; porque fomente íe
ufa delias neftas Obras como necef-
farias\ para adorno da com{X)íiçâo Dra*
matica , e exprefsâo dos Epifodios Có-
micos*, e não com intenção de ofien-
der em coufa alguma aos dogmas da<
Santa Madre Igreja , a quem çomO'
obediente filho me fujeito em tudo O
que ella determina.
IN D ICE
I DAS OPERAS , QJJE CONTEM
I eíb fegundo Tomo.
L
Jbyrintbo de Creta. Pagina 3,
Guerras do Alecrim , e Mangerona.
: Pag. ....... . 1^7.
As Fariedade de Proteo. Pag. . 269.
Trecipich de Faetonte. Vz^. • * 3jrér.
H :> I (T yr 1
.r ■ Bi!!.' -'i .h'<'>vV ■'.