Skip to main content

Full text of "Trovador : collecção de modinhas, recitativos, árias, lundús, etc"

See other formats


Google 


This  is  a  digital  copy  of  a  book  that  was  prcscrvod  for  gcncrations  on  library  shclvcs  bcforc  it  was  carcfully  scannod  by  Google  as  part  of  a  projcct 

to  make  the  world's  books  discoverablc  online. 

It  has  survived  long  enough  for  the  copyright  to  expire  and  the  book  to  enter  the  public  domain.  A  public  domain  book  is  one  that  was  never  subject 

to  copyright  or  whose  legal  copyright  term  has  expired.  Whether  a  book  is  in  the  public  domain  may  vary  country  to  country.  Public  domain  books 

are  our  gateways  to  the  past,  representing  a  wealth  of  history,  cultuie  and  knowledge  that's  often  difficult  to  discover. 

Marks,  notations  and  other  maiginalia  present  in  the  original  volume  will  appear  in  this  file  -  a  reminder  of  this  book's  long  journcy  from  the 

publisher  to  a  library  and  finally  to  you. 

Usage  guidelines 

Google  is  proud  to  partner  with  libraries  to  digitize  public  domain  materiais  and  make  them  widely  accessible.  Public  domain  books  belong  to  the 
public  and  we  are  merely  their  custodians.  Nevertheless,  this  work  is  expensive,  so  in  order  to  keep  providing  this  resource,  we  have  taken  steps  to 
prcvcnt  abuse  by  commercial  parties,  including  placing  lechnical  restrictions  on  automated  querying. 
We  also  ask  that  you: 

+  Make  non-commercial  use  of  the  files  We  designed  Google  Book  Search  for  use  by  individuais,  and  we  request  that  you  use  these  files  for 
personal,  non-commercial  purposes. 

+  Refrainfivm  automated  querying  Do  nol  send  automated  queries  of  any  sort  to  Google's  system:  If  you  are  conducting  research  on  machinc 
translation,  optical  character  recognition  or  other  áreas  where  access  to  a  laige  amount  of  text  is  helpful,  please  contact  us.  We  encouragc  the 
use  of  public  domain  materiais  for  these  purposes  and  may  be  able  to  help. 

+  Maintain  attributionTht  GoogXt  "watermark"  you  see  on  each  file  is essential  for  informingpcoplcabout  this  projcct  and  hclping  them  find 
additional  materiais  through  Google  Book  Search.  Please  do  not  remove  it. 

+  Keep  it  legal  Whatever  your  use,  remember  that  you  are  lesponsible  for  ensuring  that  what  you  are  doing  is  legal.  Do  not  assume  that  just 
because  we  believe  a  book  is  in  the  public  domain  for  users  in  the  United  States,  that  the  work  is  also  in  the  public  domain  for  users  in  other 
countiies.  Whether  a  book  is  still  in  copyright  varies  from  country  to  country,  and  we  can'l  offer  guidance  on  whether  any  specific  use  of 
any  specific  book  is  allowed.  Please  do  not  assume  that  a  book's  appearance  in  Google  Book  Search  mcans  it  can  bc  used  in  any  manner 
anywhere  in  the  world.  Copyright  infringement  liabili^  can  be  quite  severe. 

About  Google  Book  Search 

Googlc's  mission  is  to  organize  the  world's  information  and  to  make  it  univcrsally  accessible  and  uscful.   Google  Book  Search  hclps  rcadcrs 
discover  the  world's  books  while  hclping  authors  and  publishers  rcach  ncw  audicnccs.  You  can  search  through  the  full  icxi  of  this  book  on  the  web 

at|http: //books.  google  .com/l 


Google 


Esta  é  uma  cópia  digital  de  um  livro  que  foi  preservado  por  gerações  em  prateleiras  de  bibliotecas  até  ser  cuidadosamente  digitalizado 

pelo  Google,  como  parte  de  um  projeto  que  visa  disponibilizar  livros  do  mundo  todo  na  Internet. 

O  livro  sobreviveu  tempo  suficiente  para  que  os  direitos  autorais  expirassem  e  ele  se  tornasse  então  parte  do  domínio  público.  Um  livro 

de  domínio  público  é  aquele  que  nunca  esteve  sujeito  a  direitos  autorais  ou  cujos  direitos  autorais  expiraram.  A  condição  de  domínio 

público  de  um  livro  pode  variar  de  país  para  país.  Os  livros  de  domínio  público  são  as  nossas  portas  de  acesso  ao  passado  e  representam 

uma  grande  riqueza  histórica,  cultural  e  de  conhecimentos,  normalmente  difíceis  de  serem  descobertos. 

As  marcas,  observações  e  outras  notas  nas  margens  do  volume  original  aparecerão  neste  arquivo  um  reflexo  da  longa  jornada  pela  qual 

o  livro  passou:  do  editor  à  biblioteca,  e  finalmente  até  você. 


Diretrizes  de  uso 

O  Google  se  orgulha  de  realizar  parcerias  com  bibliotecas  para  digitalizar  materiais  de  domínio  púbUco  e  torná-los  amplamente  acessíveis. 
Os  livros  de  domínio  público  pertencem  ao  público,  e  nós  meramente  os  preservamos.    No  entanto,  esse  trabalho  é  dispendioso;  sendo 
assim,  para  continuar  a  oferecer  este  recurso,  formulamos  algumas  etapas  visando  evitar  o  abuso  por  partes  comerciais,  incluindo  o 
estabelecimento  de  restrições  técnicas  nas  consultas  automatizadas. 
Pedimos  que  você: 

•  Faça  somente  uso  não  comercial  dos  arquivos. 

A  Pesquisa  de  Livros  do  Google  foi  projetada  p;ira  o  uso  individuíil,  e  nós  solicitamos  que  você  use  estes  arquivos  para  fins 
pessoais  e  não  comerciais. 

•  Evite  consultas  automatizadas. 

Não  envie  consultas  automatizadas  de  qualquer  espécie  ao  sistema  do  Google.  Se  você  estiver  realizando  pesquisas  sobre  tradução 
automática,  reconhecimento  ótico  de  caracteres  ou  outras  áreas  para  as  quEus  o  acesso  a  uma  grande  quantidade  de  texto  for  útil, 
entre  em  contato  conosco.  Incentivamos  o  uso  de  materiais  de  domínio  público  para  esses  fins  e  talvez  possamos  ajudar. 

•  Mantenha  a  atribuição. 

A  "marca  dágua"  que  você  vê  em  cada  um  dos  arquivos  6  essencial  para  informar  aa  pessoas  sobre  este  projoto  c  ajudá-las  a 
encontrar  outros  materiais  através  da  Pesquisa  de  Livros  do  Google.  Não  a  remova. 

•  Mantenha  os  padrões  legais. 

Independentemente  do  que  você  usar,  tenha  em  mente  que  é  responsável  por  garantir  que  o  que  está  fazendo  esteja  dentro  da  lei. 
Não  presuma  que,  só  porque  acreditamos  que  um  livro  é  de  domínio  público  para  os  usuários  dos  Estados  Unidos,  a  obra  será  de 
domínio  público  para  usuários  de  outros  países.  A  condição  dos  direitos  autorais  de  um  livro  varia  de  país  para  pais,  e  nós  não 
podemos  oferecer  orientação  sobre  a  permissão  ou  não  de  determinado  uso  de  um  livro  em  específico.  Lembramos  que  o  fato  de 
o  livro  aparecer  na  Pesquisa  de  Livros  do  Google  não  significa  que  ele  pode  ser  usado  de  qualquer  maneira  em  qualquer  lugar  do 
mundo.    As  consequências  pela  violação  de  direitos  autorais  podem  ser  graves. 

Sobre  a  Pesquisa  de  Livros  do  Google 

A  missão  do  Google  é  organizar  as  informações  de  todo  o  mundo  c  torná-las  úteis  e  acessíveis.  A  Pesquisa  de  Livros  do  Google  ajuda 
os  leitores  a  descobrir  livros  do  mundo  todo  ao  mesmo  tempo  em  que  ajuda  os  autores  e  editores  a  alcançar  novos  públicos.  Você  pode 
pesquisar  o  texto  integral  deste  livro  na  web,  em |http :  //books . google .  com/| 


T110YA1}0'1 


i:OLrn:i.(:.S' 


miiu":m[R 


NOVA  ECIÇÃO,  COiíPÍCTA 


•í 

% 


RIO    l.H:   .TANKIUO 

IHTO 


r 


k... 


LIVRARIA  POPDLAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


aUA  DE  S.  JOSÉ,  li  -  RIO  DE  JANEIEO 


A.  Herculano  —  O  bobo,  novo  ro- 
mance. —  O  Eurico. — O  monge 
de  Ciatcr.  2  v.  — Lendas  o  nar- 
rativas. 2  V. — Historia  da  in- 
quisição cm  Portugal.  3  v. — 
Historia  de  Portugal.  4  v.  — 
Estudos  sobre  o  casamento  ci- 
vil. 5  folhetos.  —  A  reacção  ul- 
ti:amontana  em  Portugal.  —  A 
voz  do  propheta. — Ao  partido 
liberal.  — -Poesias.  — Opuaculos. 
2  V. 

Pinheiro  Chagas  —  Poema  da  mo- 
cidade, o  o  poemeto  O  anjo  do 
lar.  1  V.  —  A  flor  secca,  roman- 
ce. — A  corte  de  D.  Joào  v.  — 
Tristezas  á  beira-mar.  —  En- 
saios críticos. — Novos  ensaios 
oritico.-í.  — A  Judia,  drama.  —  A 
morgadinha  de  VaJ.-flór,  drama. 

—  Portuguezes  illustres. — Ma- 
drid, scenas  de  viagem.  —  Du- 
rante o  combate,  pretexto  n'ura 
acto. — A  vingança  do  sargen- 
to, por  Landelle,  trad.  3  v.— 
Em  rodor  da  minha  secretaria, 
po»  Disforges,  trad.  —  A  fada 
de  Auteuil,  por  P.  du  Terrail, 
trad.  —  A  San  Felice,  por  A. 
Dumas,  trad.  —  Amigas  e  pec- 
eadoras,  por  M.»»*'  Giraud,  trad. 

—  O  juramento  da  duqueza.  — 
O  testamento  do  conde,  trad. — 
A  virgem  Guaraciaba.  —  Con- 
tos e  descri pçoes.  —  O  major 
Napoleão. — O  segredo  da  vis- 
condessa. 1  V. — Os  guerrilhei- 
ros da  morto.  1  v.  —  Historia 
da  com  muna  de  Paris.  2  gr.  v. 
•om  estampas.  —  Ministros,  pa- 
dres e  reis.  1  v.  —  Histoi^a  da 
^erra  entro  a  França  e  a  Prús- 
sia. 1  V. — A  conspiração  de 
Pernambuco.  1  v.  —  A  mascara 
vermelha.  1  v.  —  Astúcias  de 
namorada.  1  v. — O  filho  de 
Marat,  trad.  4  v.  —  Historia  de 
Portugal.  8  V.  —  Lenda  da  meia 
noite.  1  V. — O  terremoto  de 
Lisboa.    1  V. — A  varanda  de 


Julieta.   1  V.  —  Dramas  do  po- 
vo. 
RnBELLO    DA    Silva  —  Fastos      da 
Igreja,  historia  da  vidadqs  san- 
tos. 2  V. — A  mocidade  de    D. 
João  V,  romance.   3   v. — Ódio 
velho  nào  cança.  2  v. — Histo- 
ria de  Portugal.  5  v.  —  Vida   e 
escriptos  de  Martinez  de  la   Ro- 
sa.—  Lagrimas   e  thesouros.     l 
V.  —  Varões    illustres    das    três 
épocas  condtitucionaes,  com   re- 
tratos.—  De  noite  todos  os  g^a- 
tos  sào  pardos,  romance.  —  Con- 
tos o  Lendas,    l  v.  —  Compen- 
dio   de    economia    industrial    e 
commercial.    1    v.  —  Economia 
politica.  1  V. — ílconomia  ruriil. 
1  V. 

JuLio  Diniz  —  As  apprehensoes  de 
uma  mài. 

JuLio  C.  Macuado  —  Contos  ao 
luar.  —  Historias  para  gente 
moça.  —  Pa.ssoTos  e  phantasias. 

—  Em  Hospanha,  scenas  de  via- 
gem.—Rocordaçues  do  Parirt  e 
Londres.  —  Scenas  da  minha 
terra. — Contos  s^  vapor. —  Do 
Chiado  a  Veneza.  —  Quadros  do 
campo  e  da  cidade. —  Da  loucu- 
ra e  das  manias  em  Portugal. 

—  Lisboa  na  rua.  1  v.  —  Os 
theatros  de  Lisboa.  —  Estevão. 
1  V.  —  A  vida  em  Lisboa.  2  v. 
— Cláudio,  1  V. — Manhas  e  noi- 
tes. 1  V. 

Camillo  C.  Branco  —  Agulha  em 
palheiro. — Amor  de  perdiçTio.  * 
— Amor  de  salvação. — Os  amo- 
res do  Diabo,  ti-ad.  —  Anathc- 
ma.  —  Annos  de  prosa.  —  Aven- 
turas de  Banilio  Fernandes  En- 
xertado. —  O  bem  e  o  mal.  — 
Os  brilhantes  do  brazileiro.  — 
A  bruxa  do  monte  Córdova. — 
Carlota  Angela. — O  carrasco* 
de  Victor  Hugo.  —  Cavar  cm 
minas.  —  Cousas  leves  e  pesa- 
das. —  Cousas  espantosas.  — 
Coraç&o,  cabeça  o  estômago.  — 


^^tmt^am^m^i^»» 


TROVADOR 


COULECÇÃO 


DE 


IDINHIS,  RECITIlTIlfOS,  MIAS,  lUNOOS,  ETC. 


NOVA  EDIÇXO,  CORRECTA 


TOLUHE  I 


RIO  DE  JANEIRO 

Ha  mm  POPOUB  dl  A.  i  da  at02  COUTINHO— Editor 

76,  RmdoS.  Joaé,  76 


•  / 


tvp.  SB  ájnrano  jobA  da  silva 
.    6f  »  Rim  4a  CcmeèUa  Têlkà,  62 


i97« 


T7 


M761057 


^ .. 


,:■/ 


8  TROVADOR 

DoB  amigos  hypocritas  ilSo  quero 
Publicas  provas  de  affeiçSo  fingida; 
Deixem-me  morto  só,  como  deixaram-me 
Luctar  só  contra  a  sorte  toda  a  vida. 

• 

Outros  prantos  nSo  quero  que  nSo  sejam 
Esses  prantos  de  fel  amargurado 
De  minha  companheira  de  infortúnio. 
Que  me  adora,  apesar  de  desgraçado. 

O  pranto,  açucena  de  minh'almAy 

Do  coraçSo  sincero,  d'alma  sS, 

De  um  anjo  que  também  sente  os  meus  miales, 

De  uma  virgem  que  adoro  como  irmS. 

•        Tenho  um  joyen  amigo,  também  quero 
Que  junte  em  minha  eça  os  prantos  «eus 
Aos  de  um  pobre  anciSo,  que  perfilhou-me 
Quando  a  filha  entregou-me  aos  pés  de  Deus. 

Dos  meus  todos,  eu  sei  que  terei  preces, 
Saudades  e  lagrimas  também, 
Que  nSo  tenho  lembrança  de  offendel-os, 
E  sei  quanta  amizade  elles  me  tem. 

E  tranquillo,  meu  Deus,  a  vós  me  entrego, 
Pepcador  de  mil  culpas  carregado; 
Mas  os  prantos  dos  meus  perdSo  vos  pedem 
E  o  muito  que  também  tenho  chorado. 


1 
i 


TtOrAUM 


o 


RISO  E  MORTB 


Quando  en  deixar  de  chorar, 
Quando  en  contente  me  rir, 
NBo  ae  enganeoii  —  deBconfifoi 
Qoe  nSo  tardo  a  sncçnmbir. 

Quando  a  alma  ao  infortúnio 
Aarim  Hgada  se  tem, 
Como  termo  da  desgraça 
A  morte  nlo  longe  vem. 

Eu  vim  ao  mundo  chorando,    * 
É  chorar  o  meu  yiyer; 
Quando  eu  deixar  de  chorar 
EiStou  prestes  a  morrer. 

Vem,  ó  morte !  —  de  meu  pranto 
Nlo  reotiies;  podes  TÍr: 
CShoro  nos  bvaços  da  vida, 
NoB  teus  braços  me  hei-de  rir* 

Muitas  vezes  um  momento 
Que  parece  de  ventura, 
NSo  é  mais  que  um  ris(f  d^alma, 
Vendo  perto  a  sepultura, 

O  feliz  ri-se  da  vida, 
Por  vâr  n'eUa  seu  jardim ; 
O  desgraçado  na  morte. 
For  vâr  da  desgraça  o  fim« 


10  nOTADOR 


RECITATIVO 


TEU  DOCE  AMOR 


Da  hm  sublimei  que  te  inunda  00  olhos, 
Vem  dar-me  um  raio  de  eternal  fulgw; 
E  no  nleu  peito  a  suspirar  amante 
DJUme  as  delidas  do  teu  d6ee  amor. 

Quero-te  muito^  matutina  estrella, 
Celeste  musa,  peregrina  flor; 
Por  ti  velando,  suspirei  saudoso. 
Chorando  a  £alta  do  teu  doce  amor. 

As  auras  brandas  do  correr  da  tarde, 
O  ether  puro  de  asulada  c6r 
N80  tem  perfumes  como  tens  nos  lalnos. 
Nos  temos  be\jos  do  teu  dõce  amor. 

O  oéo  e  os  astros,  a  prateada  lua, 
O  fogo  ethereo  que  nos  dá  calor 
Nlo  tem  império  ho  meu  sêr  inteiro. 
Como  os  perfumes  do  teu  doce  amor. 

Nlo  era  um  sonho  que  eu  guardava  n^alma. 
Nas  vivas  chammas  de  um  sentido  ardor; 
Eram  as  rosas  de  um  affecto  immenso. 
Eram  saudades  do  teu  doce  amor. 

Mas  hoje  sinto  que  acordei  de  novo, 
Que  ás  faces  volta  o  juvenil  rubor, 
Noya  existência  no  teu  seio  encontro. 
Nos  teus  afisigos,  no  teu  doce  amôr. 

« 

Bettencourt  da  Silva. 


r 


TBOVADOB 


11 


CANÇÍO 


O  ARTISTA 

• 


(bomakob) 


Moaiea  do  iH.^^  sor.  António  Luiz  de  Moura 

Curvado  em  lacta  eouBtante 
Da  vida  eo^as  inoertesas, 
Soffire  o  artista  desgraçado 
Da  sorte  as  duras  cruezas. 


í 


Chorando  —  coitado ! 
Da  sorte  ao  rigor, 
Seus  bens  sSo  o  pranto, 
Seus  gosos  a  dôr. 

Apenas  desponta  o  dia 
Corre  yelos  ao  trabalho, 
A  noite  longa  já  vai, 
NSo  basca  doce  agasalho. 

Chorando  — ^  etc. 

Quando  —  quebradas  as  forças 
Dorido  —  quer  repousar, 
Cuidados  mil  que  o  anceiam 
Seu  somno  yem  perturbar. 

Chorando  —  etc. 


I 


12  TROVADOR 

Vê  sua  esposa  e  os  filhinhos 
*  Ás  Teses  faltos  de  pio ; 

Sem  meios  p'ra  adqoiril-o 
Fagir-lhe  sente  a  razSo. 

Chorando  —  etc. 

No  leito  da  dôr  ^  rezes 
De  tudo  vô-se  privado, 
Que  em  vSo  procura  o  artista 
Mudar  o  rigor  do  fado. 

Chorando  —  etc. 

Estranho  vive  -—  ooitado  I 

Do  mundo  aos  gozos  mesquinhos; 

O  pobre  artista  por  bens 

Só  tem  acerbos  espinhos. 

Chorando  —  etc 

Até  que  em  oampa  esquecida 
Das  lides  acha  o  repouso, 
Soffreu  do  mundo  os  desprezos, 
As  dores  teye  por  goao. 

J7Io  mais  do  destino 
Tem  nada  a  temer; 
O  artista  repousa 
Somente  ao  morrer! 


A.  J.  d$  JSfcuM, 


TROVADOR  13 


lundCs 


I 


A  CÕR  MORENA 

Paxs  Bor  cantado  oom  a  masioa  do  kmdú  —  A  JHòremh&a 

Cdr  morena  delicada, 

Apreciada 
Eb  por  muitos  com  razSo; 
Pois  por  ti  também  eu  sinto, 

Ah!  nZo  minto, 
Quanto  pdde  uma  paix3o« 

Tem  tal  côr  tanta  gracinha, 

Sinhizinha, 
Que  só  por  gracinha  prende ; 
£,  seguro  em  tal  prisão. 


I  O  coração 

Inda  mais  culto  lhe  rende. 

É  gentil  a  moreninha, 
Engsaeadinha, 

Muito  TÍva  e  ardilosa ; 

E  se  mais  travessa  é  ella 
£  nuns  bella, 

É  mil  Yeees  mais  formosa. 

Mas  eu^  ^iie  estes  Tersos  fiifò, 

Dou  um  passo 
Que  parece  mangaçSo; 
E  aposto  que  a  sinhá, 

linda  y&jáj 
Cr&-me  um  bello  mocetSoI 


i4  TROYAlXm 

PoÍ8  nBo  sou,  minha  senhora, 
E  sem  demora 

Desfiiço  este  enganosinho; 

Amo,  sim,  a  vossa  cÕr, 
E  com  ardor, 

Mas  por  ser  de  meu 


Ea  gosto  d'um  rapazinho 

Moreninho, 
Também  cheio  de  gracinha; 
N3o  lhe  ganha  em  trayessuras, 

Diabroras, 
  mais  viva  moreninha. 

É  a  eôr  mais  feiticeira, 

Candongaeira, 
Que  creoa  a  natoresa; 
E  a  ti,  que  tens  tal  oftr, 

Meu  amor, 
Jaro  amar*te  com  firmeza. 

Por  uma  ji>vên  fiwnimnm. 


BORBOLETA 

Meninas  ha  qoe  me  chamam 
Borboleta  e  beija-flõr, 
Porque  dizem  que  eu  a  todas 
Faço  protestos  de  amor* 

Como  se  enganam 
Em  tal  pensari 
Jonia  que  diga 
Se  eu  sei  amar. 


TROVADOR  i5 

Porque  eu  olhe  com  temiura 
Às  vezes  para  uma  bell^i 
Me  julgam  sem  mais  nem  menos 
Apaixonado  por  ella  I 

Como  se  enganam — ete« 

Dizendo  que  as  moças  todas 
Meus  mimos  e  graças  tem| 
Decidiram  em  seu  jury 
Que  eu  nSo  adoro  a  ninguém* 

Como  se  enganam  —  ote. 

Passa  por  certo  entre  ellas 
Que  a  minha  forte  paizio 
DesjEu-se  toda  na  lingua^ 
Sem  ohegar  ao  coraçBo. 

Como  fie  enganam  —  eto. 


MODINHAS 


01  SORTE  HIRHA  CRQBL I 

Oh  sorte  minha  cruel, 
Vem  meus  dias  terminar, 
J&qu0  Jonia,  poi;  quem  morro, 
Nlo  nie  quer  £élis  tomar. 


t6  movADOii 

Só  o  deMjo 
De  ag^MT 
Maatom-me  a  vida 
Sempre  a  penar. 

Um  momento  de  prazer 
Bem  merece  o  trabidor. 
Que  BÓ  tem  por  ti  soflfrido 
Tantos  tensenlov  e  dôr. 

S4  o  desejo 
De  a  gozar 
MantemHue  a  vida 
Sempre  a  penar. 

Céos  I  oh  eioa  I  por  piedade 
Arrancai  meu  coração. 
Que  Bumiu-se  a  minha  estrella 
Nas  nuvens  da  ingratidSo  I 

Só  o  desejo 
De  a  gozar 
Hantem-me  a  vida 
Sempre  a  penar. 


ROSTO  D'ANJO 


Besto  d'anjo,  formos*  donzeUa, 
Que  as  cadêas  de  amor  me  poxeste, 
Ahl  nSo  f^jas^-^nSo  leves-me  a  vida^ 
Nlo  me  roubes  úm  bem  que  me  deste. 


nOTADOR  t7 


ITBIMLBO 


Ji  nSo  pôde  meu  peito  ner  d'<mtra, 
Ji  nlo  posso  existir  sem  te  amar; 
Só  comtigo  entendi  a  existência, 
Qparo  á  campa  comtigo  baixar. 

Slo  ligados  os  meus  aos  teus  dias 
Como  o  ealix  da  foUia  da  âfir !  • .  • 
NSo  c<msintas  que  a  flor  se  desfolhe, 
Ah !  nlo  quebres  os  laços,  de  amor ! 

■8imrBU.H0 

Já  nlo  pôde  meu  peito  ser  d^outra, 
Ji  dIo  posso  existir  sem  te  amar; 
Só  oomtigo  entendi  a  existeorfa, 
Quero  á  campa  oomtigo  baixar. 


RECITATIVOS 


BRAZn.,   ACORDAI... 


(bscitativo  hbboioo) 


Brasil,  acorda  do  dormir  profundo, 
O  Tdho  mundo — te  contempla  a  furto, 
Vendo  tolher-te — da  moUeza  o  laço  — 
Da  gloria  o  passo — para  ti  tSo  curto. 


18  TROTADOU 

Gigante  immenso  pelo  céo  roiado 
A  mareio  fado — de  brilhantes  loarofl, 
Porque,  fremente  qual  bramir  das  vagas, 
Já  nSo  esmagas — quem  te  trae  desdouros? !•• 

Em  sonho,  ao  menos,  meu  Brazil,  nSo  vfis, 
NSo  entrevês  —  essa  cohorte  ousada, 
Que — ^traiçoeira — do  teu  somno  á  sombra 
  honra  assombra — sob  a  dextra  armada? I... 

E  tu  dormitas !•••  quem  dormir  te  £ab?..« 
Que  mSo  audaz  —  o  teu  valor  reprime? ! . .  • 
Aht...  tens  razBo...  que  do  passado  os  guia» 
Foram  harpias  a  vender-te  ao  crime ! . .  • 

Porém  qu'importa ! . . .  do  lethargo  acorda !  •  •  • 
Esmaga  a  horda — que  voraz — servil  — 
Ousou  tocar,  o  teu  emblema  santo, 
Manchar-te  o  manto — traiçoeira  e  vil!... 

Vâ  de  teus  filhos  como  jorra  o  sangue!... 
Um  povo  exangue — já  descrido  dama!...  ^ 
Eiat...  em  teus  olhos,  meu  Brazil  valente, 
Brilhe  fremente — do  valor  a  chamma!.*. 

Tens  elementos  que  os  inveja  o  mundo; 
És  sem  segundo — a  cobardia  pune; 
Ergue  terrivel  esse  busto — e  mostra 
Que  nSo  se  arrostra — teu  fiiror  impune!.  •  • 

Ah!...  estremeces,  meu  Brazil  querido?!... 
Emfim ! .  •  •  ouvido  foi  da  pátria  o  grito  ? ! . .  • 
Moves  os  membros  do  torpor  escravos, 
Ao  som  dos  bravos  —  do  teu  povo  afflicto!..» 


1    O  povo  de  Mattc^GroBso. 


nOTADOR  19 

Ergueste  o  ooUo,  e  ten  alhar  eerleiro 
O  qoadro — inteiro — devassoa — terrivel; 
A  fronte  enragas — tea  olhar  é  chamma 
Qae  o  raio  inflaouna — de  TÍngança  hontrel ! . .  • 

Hosanal...  hosana I...  povo-rei,  hosana !••• 
Do  céo  dimana — nossa  gloria  certa!... 
Em  mar€Ío  fiogo,  mea  Brazil,  já  ardes  I .  •  • 
Tremei,  cobardes  I  meu  Brasil  desperta  I  • .  • 

1865. 

A,  «7.  dê  Sousa. 


ELVIRA 


Serenos  threnos  de  alande  rade, 
Da  juventude,  venho  aqui  depor ; 
Sonhaiíllo,  amando  teus  encantos  santos, 
Virgem,  meus  cantos  pedem  só  amer ! ' 

Formosas  rosas  n'esse  rosto,  posto. 
Ha,  só  por  gosto,  da  natura  a  mSo ; 
Teu  seio,  cheio  de  ternura  pura. 
Tem  na  brancura  virginal  condSol 

NSo  minto.  Sinto  que  minh'alma  a  palma 
Sonha  da  calma  tivesse  teu  sorrir.  •• 
Tristonhos  sonhos  do  futuro,  eu  juro, 
Teu  riso  puro  poderá  banir ! 

Florida  a  vida  se  tomara,  e  eara, 
Se  pouco  avara  fosses  tu  no  amar; 
De  amores  dores  nlo  carpira  a  lyra, 
Se  alento,  Elvira,  me  quizesses  dar  I 


« 


4-' 


b.. 


20  TMTADOR 

DiyinoB  hjmnoey — nSo  lamentoi  lentos, 
Soltint  aos  centos  teu  fiel  cantor, 
Se  anhelos  bellos,  perfumosos  goaos, 
Dias  ditosos  lhe  troaxesse  amorl 

Men  peito,  leito  de  amargteas  duras. 
De  crenças  puras  se  nutrira  um  dia, 
Se  Elyira  dirá  a  meus  amenos  threnos 
Dissesse  ao  menos  que  yalor  daria! 

J.  F.  N. 


ARU 


A  CORDA  SEHSIVEL 


Tradncç&o  de  F.  P.  Brito,  da  comedia  do  mesmo  título 


Da  sorte  aos  acasos  nada  é  i 
B  tudo  de  amor  se  dere  esperari 
Porque  das  mulheres  a  —  corda  êênaivel 
Mais  tarde  ou  mãiB  cedo  se  sente  Tibrar. 

É  sempre  a  hwreira  em  tudo  aocossivel 
A  todos  aquelles  que  bem  podòm  dar; 
O  fraco  lhe  movem,  a — corda  mntwel, 
O  cano,  o  vestido,  o  brinco,  o  ooUar. 


nOTADOE  21 

A  grata  iurgueta  é  mais  susceptiyel, 
Com  certa  reserva  te  fas  respeitar; 
Se  dIo4he,  porém,  na — etn^da  êêmivêl, 
ÁBsim  como  vive  se  deixa  levar. 


A  nobre  fidalga  se  mostra  inflezirel 
BrazSes  e  grandezas  querendo  mostrar, 
Mas  cede  ao  vibrado  da — corda  êemivêl, 
Se  ha  mSo  amestrada  que  a  saiba  tocar. 

Sagaz  baiUarina  é  tal  combnstivel 
Que  o  fogo  de  amor  faz  logo  atear, 
Mas  d^ella  é  o  fraco,  a — corda  ##nf»ti#2. 
Folia,  brinqnedo,  passeio  oa  jantar* 

A  bella  criada,  se  está  disponível, 
Na  casa  dos  amos  quer  brios  mostrar; 
As  toque,  porém,  da — corda  êênêivel, 
Por  dadiva  simples  se  deixa  levar. 

A  sonsa  beaia,  na  igreja  infallivel, 
Que  em  Deus  só  parece  rezando  pensar. 
Ao  nmples  vibrado  da — corda  ^mrnvel, 
Nem  mais  um  momento  se  occupa  em  rezar, 

A  pura  innocencia,  empresa  é  temível 
Fazel-a  de  amores  nas  luctas  entrar. 
Porque  ninguém  sabe  da — corda  êênêivel 
No  peito  innocente  onde  é  o  lugar. 

Comtndo  na  terra  nada  é  impossivel 
E  tudo  de  amor  se  deve  esperar, 
Porque  das  mulheres  a — corda  setuivel 
Mais  tarde  ou  mais  cedo  se  sente  vibrar.. 


22  TAOYABOR 


LUNDUS 


PONTO  FINAL 
Poesia  de  F.  P.  Brito,  e  muaics  do  aor/J.  J.  Goyaimo 

Tive  por  certa  menina 
Uma  paixSo  sem  igual, 
Que  escapou  de  dar  commigo 
Dos  doados  no  hospital. 

Porém  agora 
Meu  coraçSo 
Poz  na  oraçBo 

Amei  com  pontos  e  virgulas, 
DivisSes  e  reticencias.  •  • 
Tiradas  as  consequências, 
Tudo  era  artificial  I 

Porém  agora 
Meu  coração 
Poz  na  oraçSo 
Ponio  final. 

O  que  ella  por  mim  fazia 
Fazia  a  outros  também ; 
NSo  ter  amor  a  ninguém 
E  seu  timbre  natural. 


TBOTABOR 

• 

Por  iseo  agora 
Meu  ooraçlo 
Poa  na  oraçSo 
P<jWto  fimal. 


S8 


A  HARREQUINHA 
Poesia  de  F.  P.  Brito,  e  musica  do  anr.  F.  M.  da  Silva 

Os  olhos  namoradores 
Da  engraçada  yá-yázinha, 
Logo  me  fazem  lembrar 
^ua  bella  marrequinha. 

Yá-yá,  não  teime, 
Solte  a  marreca, 
SenSo  eu  morro, 
Leya-me  a  breca. 

Se  dançando  a  brafílUira 
Quebra  o  corpo  a  yi-yázinha. 
Com  ella  brinca  pulando 
Sua  bella  marrequinha. 

Yá-yá,  nSo  teime, 
Solte  a  marreca. 
Senão  eu  m<nrro, 
Leva-me  a  breca* 

(^uem  a  yê  terna  e  mimosa 
Pequenina  e  redondinha. 
Não  diz  que  conserva  presa 
Soa  bella  marrequinha. 


24  TMTAIK» 

Yá^já,  nSo  tdme, 
Solte  a  mttrreeâ^ 
Senio  eu  morro, 
Leva-me  a  brçoa. 

Na  margem  da  Caqaeirada 
NSo  ha  BÓ  bagre  e  tainha, 
Alli  foi  que  ella  creou 
Soa  bella  marrequinha. 

Yá-yá,  nSo  teime, 
Solte  a  marreca, 
SenSo  eu  morro, 
Lera-me  a  breca. 

Tanto  tempo  sem  beber, 
Tio  jumrú...  coitadinha... 
Qoasi  qae  morre  de  sede 
Soa  bdia  marrequinha. 

Yá-yá,  nSo  teime, 
Solte  a  marreca, 
SenSo  eu  morro, 
Leya-me  a  breca. 


fMYAMH  i5 


MODINHAS 


SlO  CIUMBB  DE  UMA  DlftllATA 

Sinto  no  peito  ama  dAr 
Que  me  conaome  e  maltrata; 
A  dOr  que  sente  minh'alma 
88o  ciumê9  de  umã  ingraêm. 

Tenho  no  peito  um  amor 
Q;ae  meu  Bocego  arrebata; 
Ob  tormentos  por  qae  passo 
88o  eiwMê  ãé  uma  ingrata^ 

Porque  perto  já  da  eampa 
A  agonia  se  dilata? 
NSo  sSo  saudades  do  mundo, 
88o  eiwMs  de  uma  ingrata. 


A  AVSEHCIA 

Poesia  do  tSíj^  sor.  dr.  D.  J.  G.  Magalh&es,  e  musica 
do  SDT.  Raphael  G.  Machado 

Se  os  meos  suspiros  voassem 
Cos  meus  tristes  pensamentos, 
E  naxiaado  os  meus  tormentos, 
lio  teu  coraçSo  vibrassem ; 
Fiearia  oommoyida, 
Okl  minlia  Urania  querida  t 


26  TROVADOR 

Leyaiy  ó  céos, 
AoB  seofl  ouvidoti 
Meus  ais  saudosoB 
E  meus  gemidos. 

Ausente  de  ti,  ó  bella, 
Só  tristeasa  me  rodeia; 
NSo  vAs  a  noite  tSo  feia, 
Sem  lua,  sem  uma  estrella? 
Assim  tenho  esfaima  agora, 
£st'alma  que  por  ti  chora. 

Levai,  ó  céos  —  eto. 

Que  de  vezes  passeando 
N'esta  horrenda  soledade, 
Consumido  de  saudade, 
Adormeço  em  ti  pensando  I 
Sonho  entio,  e  assim  só  viro 
Com  esse  praaser  esquivo. 

Levú,  ó  oéos  —  eto. 


RECITATIVO 


dA-me  um  sorriso 

Porque  me  ibges?  teu  desprezo  mata, 
Maltrata  o  seio  que  se  abraza  em  chamma, 
Com  teu  rigor,  foge-me  a  razSo, 
E  o  coraçSo  mais  a  mais  se  inflamma. 


mOTÀDOR  27 

£  86  de  longe,  para  mim  aamndo, 
Além  fbgindo,  tea  zombar  ocmheço, 
Tratos  do  inferno  me  acabrunham  alma,        ^ 
Da  yida  a  calma  a  tea  amor  ofTreço  I 

Naa  lindas  pregas  doesse  teu  vestidoí 
Yego  tolbido  mea  prazer  futuro; 
Ahl  nlote  volyas,  quero  vâr  tea  rosto, 
Di-me  um  só  gosto  no  teu  riso  paio. 

Ah!  nlo  me  fojas,  yem  ser  minha  am  dia, 
Sacra  magia  para  mim  desprende, 
Tem  ser  o  anjo  a  me  guiar  na  vida, 
Louca,  pordida,  que  a  ti  só  me  prende  I 

Olha  •  mea  peito  succumbindo  á  dôr, 
Lâ  santo  amor  nos  meus  rubros  olhos, 
Labça^me —  boa  —  n'um  caminho  liso, 
D&-me  o  p'raÍ8o  n'am  trilhar  de  abrolhos. 

Eis-me  currado  p'ra  beijar*te  as  plantas. 
Pois  me  Bupplantas  n'um  penar  tSo  forte ; 
More  estes  lábios  doce  —  sim  — ,  me  dando. 
Cedo  mudando  minha  fera  sorte. 

DA-me  um  só  gesto,  te  darei  a  yida. 
Louca,  perdida,  que  a  ti  só  me  prende,  , 

Jonta-te  ao  seio  de  um  fervente  amar. 
Sente  o  pulsar  que  de  si  desprende. 

Dar-te-hei  um  beijo,  morrerei  contente. 
Crente  da  vida  que  em  ti  bebi; 
Embora  eu  morto,  sem  calor  na  artéria. 
Torpe  matéria  —  pensarei  em  ti  I  — 

Rodrigues  Proença. 


POIQUEHEFITASI 

Forqae  me  fitas  esaes  olhos  languidos? 
Porque  interrogas  a  minh'alma  assim? 
NZo  Tês  que  soffiro  —  que  padeço  tanto, 
Que  de  ti  fkyo  por  fugir  de  mim? 

Ave  oanyada  de  pairar  no  especo, 
Buscas  a  sombra?  que  fidlaa  miragem  1 
Oh!  nSo  te  iilndas...  porque  em  yes  d'oisÍB 
Talyez  encontres  a  fSfttal  voragenu 

Vir  de  tSo  alto  procurar  na  tenm 

Um  ramo  verde  para  ao  sol  peosar  I 

Ai  I  volye  prompta. . .  nZo  te  arrisques.  •  •  treme, 

NSo  é  um  lago  o  que  tu  Tês. .  •  é  o  mar  I 

Tens  tu  coragem  d'afirontar  as  ondas 
Que  além  se  alteiam  em  feroz  tropel, 
E  á  tempestade  confiar  afouta 
De  teu  destino  o  festival  baixel  ? 

Se  tens,  escuta :  caminbemos  juntos, 
Embora  eu  sinta  vacillar-me  o  pé; 
Serás  o  fieu^ho  dispersando  as  trevas 
Em  que  eu  já  via  abandonar-me  a  fé  I 

Estreito  abraço  nos  enlaça  as  vidas 
Presas,  bem  presas  pelo  gozo  e  odor; 
Quando  tu  gemas,  gemerei  comtigo; 
Quando  sor/ires,  sorrirei  d'amorI 

Iremos  ambos  aos  confins  do  mundo 
Pedir  ao  ermo  a  solidSo  capaz; 
Vagar  i  tarde  na  lagÔa  amena, 
Cantar  dos  astros  ao  luzir  fugaz ! 


mOTAMR  29 


Mblb  b6  o  tufio  acoommettèr  bramiiido 
O  lenlio  frágil  da  amorosa  nau, 
Perdidos  ambos  entre  as  vagas  doudas, 
Onde  eneontrar  da  salvaçSo  o  yaa  ? 

Entre  os  extremos  de  tSo  viria  sorte 
Lacto,  mesqoinhoi  a  procurar  a  luz 
Que  nos  aponta  da  ventura  a  senda, 
Ou  dar  os  braços  á  espinhosa  cruz ! 


ROMANCE 


JÁ  NÃO  VIVE  DÉUA 

Poeda  do  snr.  F.  d*A.  Pereira  Castro,  e  masiea 
do  «ur.  Elias  Alvares  Lobo 

Sinto  a  morte  no  meu  peito, 
Sinto  a  febre  da  agonia; 
Já  nSo  vive  Delia — virgem 
Fdt  quem  minh'alma  vivia* 

Vou  vêl-a,  vou  procural-a, 
A  virgem  dos  sonhos  meus; 
Se  n3o  achal-a  nas  tumbas, 
Hei-de  encontral*a  nos  ofios* 

Âil  nXo  chores,  mSi  querida, 
Nlo  augmentes  minha  d$r; 
Já  n3o  soffiro, — na  agonia 
Ouço  as  dulias  ao  Senhor. 


30  TROTADOt 

Querida  fl6r  de  miiih'aliiia, 
Minha  mSi,  eu  parto  •  •  •  adeus  ! 
Adormeço  nos  teus  braços. 
Acordarei  lá  nos  oéos. 


LUNDfiS 


FEITIÇOS  DA  MULATA 

Quando  vejo  da  mulata 
Um  reverendo  braçSo, 
Cabello  liso  e  bem  negro. 
Largo,  chato  cadeirão; 

Eis-me  já  todo  rendido, 
Já  captivo  da  paixSo, 
Perco  os  sentidos  de  todo, 
KSo  fico  mais  gente,  nSo. 

Se  brilham  dentes  de  prata 
Enti^e  um  beiço  arrebitado, 
E  se  este  tem  bigodinho 
Bem  compacto  e  azulado; 

Eis-me  já  todo  rendido — etc. 

Sd  um  naris  arrebitado, 
E  um  olhar  desdenhoso. 
Se  seus  gestos  dSo  symptomas 
De  ter  um  peito  amoroso; 

.Eis-me  já  todo  rendido  ^- etc. 


j 


TROVADOR  SI 


Se  vejo  pomos  de  Yenus 
Entre  as  vestes  empurrar, 
Se  tem  pulso  feito  a  tomo, 
Cintuiinha  de  matar; 

Eis-me  já  todo  rendido — etc. 

Mais  que  o  corpo,  escnrecido, 
Se  o  soTaqainho  diviso, 
Todo  bom,  todo  cheiroso, 
Bem  côr  do  céo,  por  bem  liso; 

Eis-me  já  todo  rendido  —  eto. 

Se  acaso  o  vento  estampa 
Kas  vestes  certo  retrato, 
Por  quem  suspiro  morrendo, 
Por  quem  morrendo  me  mato ; 

Eis-me  já  todo  rendido  —  etc. 

Com  andar  meigo — gingando. 
Se  me  &z  certos  tremidos, 
Aformoseando  o  rodaque 
Com  compassados  bulidos ; 

Eis-me  já  todo  rendido — etc. 

Se  á  final  a  gozar  venbo 
TSo  subida  formosura, 
Me  tomo  divinisado. 
Deixo  de  ser  creatura; 

Eis-me  entSo  mais  que  rendido^ 
Mais  captivo  da  paixSo, 
Entre  soluços  expiro, 
NSo  fico  mais  gente,  nSo. 


SI  TROVADOR 

NiO  POSSO  COM  MAIS  NINGUÉM 

% 

Para  B«r  cantado  pela  miudca  do  landú — Sk*  poêêo  com  maU  aiguem 

E  mentira  quem  lhe  disse 
Que  moitas  me  querem  bem,  . 
Tenho  apenas  uma  amante, 
NSo  posso  com  mais  ninguém. 

Pois  já  trago  esfrangalhado 

O  meu  pobre  ooraç2lo, 

Me  deixem  por  piedade,  , 

NSo  posso  com  ninguém,  nSo« 

f 

Esta  amante,  que  possuo,  £  . 

Verdade  é — me  quer  bem,        -    ^ 
Mas  creiam,  já  me  aborrece. •• 
NSo  posso  com  mais  ninguém» 

c  Se  por  falso  ou  inconstante  » 
Alguma  outra  me  tem, 
Paciência  —  uma  é  bastante, 
NSo  posse  com  mais  ninguém* 

Eu  bem  sei  que  as  mocinhas 
Me  julgarSo  toleirSo, 
Mas  por  modéstia  é  que  eu  digo : 
NSo  posso  com  ninguém,  nSo. 


TROTADOR  33 


MODINHAS 


AMOR  PERFEITO 

(hova  modeiha) 
Para  ser  cantada  pela  musica  da  modinha  —  Roxa  saudade 

Amor  perfeito. 
Tema  florinHa, 
Tu  és  a  cópia 
Da  vida  minha. 

Tu  60  conheces 
O  que  é  paixSo, 
Pois  que  do  amor 
Tens  a  expressão. 

Tua  côr  iinda, 
£  delicada, 
É  p'lps  amantes 
Apreciada» 

Cada  folhinha, 
Que  em  ti  se  prende, 
Nas  almas  ternas 
Amor  accend^. 

Vives,  fiorinha, 
Tal  como  eu  viro, 
De  amor  ardendo 
Em  fogo  acliyo. 

3. 


34  TROVADOR 

Só  tu  exprimes 
Perfeito  amor : 
PaixSo  igual 
Dá-me  calor. 

Adeus,  mimosa. 
Galante  flor; 
Deus  te  conserve 
Symb'lo  de  amor. 

• 

P'ra  mim  só  peço 
Um  terno  peito, 
Que  me  consagre 
Amor  perfeito. 


Por  uma  joven  fluminense. 


DESALENTO 

Poesia  do  fallccido  dr.  Laurindo  Kebelio,  e  musica  de  ««* 

Quando  eu  morrer,  minha  morte 
Não  lamentes,  caro  amigo; 
O  sepulchro  é  um  jazigo 
Onde  eu  devo  descançar; 
A  minha  triste  existência 
É  tão  pesada,  é  tSo  dura. 
Que  a  pedra  da  sepultura 
Já  não  me  pôde  pesar. 

Uma  lagrima,  um  suspiro. 
Eis  quanto  custa  o  morrer; 
Custa-nos  sempre  o  viver 
Prantos,  suspiros  sem  fim: 


TROVADOR  85 

Que  tormento  fora  a  vida 
Se  nSo  fosse  transitória! 
NSo  me  risques  da  memoriai 
Porém  nSo  chores  por  mim. 

Enchem  trevas  o  septtlchrOy 
Mas  ninguém  d'elle  se  queixa; 
Quando  o  morto  os  olhos  fecha 
Não  quer  luz —  quer  descançar; 
Aquelle*  fundo  silencio, 
Aquelle  extremo  abandono, 
DSo-lhe  tão  tranquillo  BomnO| 
Que  nZo  pôde  despertar. 

Já  tive  medo  da  morte, 
Agora  tenho-0  da  vida ; 
Sinto  minh'alma  abatida, 
Sem  yigor  o  coraçSo; 
Já  cançado  de  Tiver 
Para  a  morte  os  olhos  lanço. 
Vejo  n'ella  o  meu  descanço, 
A  minha  consolaçSo. 


A  DESPEDIA 


Musica  de  «  •  • 


A  herva  nasce  no  prado, 
Dá-lhe  impulso  a  natureza, 
Florece,  murcha,  se  extingue, 
—  Esta  vida  é  sem  firmeza. 


36  TROYADOI 

Linda  ro0a  desabrocha^ 
Ostenta  gentil  belleza. 
Logo  após  perde  o  perfume, 

—  Esta  vida  é  sem  firmesa. 

Nada  no  mundo  se  exime 
D'e8ta  lei  a  tal  fereza, 
Tal  é  dos  mortaes  a  sorte, 

-^  Esta  vida  é  sem  firmeaa. 

• 

Às  delicias  de  um  só  dia 

Suocede  logo  a  tristeza, 

Aos  prazeres  succedem  prantos, 

—  Esta  yida  é  sem  firmeza* 

Infância,  sonhos  dourados, 
Brilhantes  de  gentileza. 
Tudo  passa  vindo  a  morte, 

—  Esta  yida  é  sem  firmeza. 

Alegre  busco  teu  canto. 
Em  ti  louvo  a  natureza, 
ÁmanhSl  tudo  é  mudado, 

—  Esta  vida  é  sem  firmeza. 

Eu  parto  com  a  saudade. 
No  peito  levo  a  tristeza. 
Tu  ficas,  logo  te  esqueces, 

—  Esta  vida  é  sem  firmeza. 

S.  Paulo— Setembro,  1862. 


TROVADOR  •  VI 


RECITATIVOS 


I 


O  CASTO  DA  VIRGEM 

Eu  sou  qual  rosa,  na  manhS  serena, 
Áo  sol  rompendo  o  coralino  encanto; 
Se  a  briza  passa,  na  singela  aragem 
Aos  céos  envio  meu  sincero  canto.  •  • 

No  liso  espelho  de  azuladas  aguas, 
Ea  miro  ás  vezes  meu  gentil  «eBiMafite; 
E  as  estrellas  de  meus  olhos  liados 
ÂUi  retratam  seu  luzir  brilhante. 

■ 

Das  meigas  flores  que  no  prado  colho 
NSo  ha  nenluusia,  eomo  eu,  tSo  bella.  •  t 
Mas  aos  perfumes  eu  lhe  ajunto  be^os 
E  d'ellas  teço  vii;ginar  capella. 

À  claridade  de  um  luar  ameno, 
Nas  verdes  jpihas  de  meus  louros  annosi. 
Eu  passo  a  vida  descuidosa  e  pum. 
Do  mundo  longe,  dos  mortaes  enganos. 

Se  as  avesinhas,  ao  alvor  d'aurora, 
Nos  seus  gorgeios  vem  saudar  o  dia, 
Eu  rezo  á  noite  uma  oraçSo  de  amores, 
Gratos  perfumes  d'immortal  poesia. 

Feliz,  ditosa,  só  em  Deus  pensando, 
Caricias  gozo  de  uma  mSi  querida; 
No  seu  regaço  dôce  amor  me  enleia 
E  aos  seus  afagos  eu  entrego  a  vida. 


« , 


/   • 


Bettencourt  da  8Qwt^ 


40  TROVADOR 

A  lua  já  vai  bem  alta. 
Não  ge  escuta  um  b6  rumor, 
A  briza  manda  oa  queixumes 
De  teu  desgraçado  amor. 

Canta,  e  corre  sobre  as  aguas, 
Que  abrandarás  tuas  maguás. 


LUNDC 


DIBERNIZATE,  ENGRAXATE,  A  LA  MODE  DE  PARIS 

(voto  lundu) 
Poesia  do  snr.  M.  M.,  e  musica  do  snr.  V.  A.  B. 

Que  maldita  é  esta  vida,      ^ 
Soes  e  chuvas  supportar, 
Escovas,  graxas  em  potes, 
Eu  sósinho  a  carregar! 

NSo  sabem?  Já  meu  retrato 
Ko  caíxSo  mandei  pregar. 
Para  vêr  se  com  tal  luxo 
AttençSo  vou  despertar. 

Porém  se  eu  vejo  um  freguez, 
Com  força  o  coUega  diz: 
Inibemizate,  engraxate, 
A  la  mods  de  Paris. 

EntSo  fico  a  vêr  navios, 
N'um  mar  de  graxa  atolados, 
Quando  os  pés  dos  taes  fireguezes 
Pedem  ser  assim  c&amados. 


TROVADM  41 


Ma0  ao0  inalaB  tSo  cruéis 
Que  sente  meu  coraçSo, 
Elncontro  meosBamoricos 
Por  tema  oompensaçlo. 

Namoro  toda  a  cfeoula/ 
Seus  olhos  tem  attraeçSo; 
Das  brancas  nem  mesmo  a  cdr 
Me  causa  mais  sensaçSo. 

Que  casamento  feliz 
Dentro  em  pouco  irei  gozar, 
Indo*  abrir  co'a  creoulinha 
Uma  casa  de  engraxar  I 

Sereaos  muito  felizes, 
O  meu  coraglo  me  diz, 
A  ella  unido  p'ra  sempire 
A  Ia  mods  ds  Paris. 


MODINHAS 


TROVADOR 


(agocmçIo) 


Trorador,  o  que  tens?  o  que  soffires? 
Porque  choras  com  tanta  afflicçlo?... 
O  teu  pranto  demais  me  compunge, 
Trorador,  ahl  nSo  diores  mais,  nSol 


4St  TROVADOR 

Qae  Be  acaso  a  mulher  que  tu  amas 
Te  tratou  com  acerbo  rigor, 
Trovador,  ah!  por  isso  nSo  chores, 
Ah !  nSo  creias,  fpr  Deus,  em  amor* 

O  amor  da  mulher  é  qual  nuvem 
Quando  o  vento  a  sacode  no  ar; 
Q  amor  da  mulher  é  volúvel 
E  tSo  vario  qual  onda  do  mar« 

O  amor  da  mulher  é  qual  frágil, 
Pequenino,  adoudádo  batel, 
Que  vaguêa  sem  norte  —  sem  rumo, 
Té  quebrar-se  n'um  fraco  parcel. 

O  amor  da  mulher  é  qual  facho 
N'uma  noite  de  inverno  a  luzir; 
É  estrella  do  céo,  entre  as  nuvens, 
Quando  a  espaços  se  vê  transluzir. 

A  mulher  tem  o  dom  da  belleza. 
Tem  maneiras  de  mais  p'ra  enlevar; 
Mas,  no  meio  de  seus  attractivos, 
A  mulher  tem  o  dom  de  enganar. 

Um  exemplo  tu  tens  em  Helena 
Que  os  muros  de  Troja  abateu. 
Que — infida  —  deixando  o  consorte 
Para  os  braços  do  amante  correu* 

A  mulher  tem  feitiço  nos  olhos 
£  nos  lábios  veneno  lethal ; 
A  mulher  nos  illude  chorando 
£  —  sorrindo  —  nos  crava  o  punhal. 

O  amor  da  mulher  é  qual  rosa. 
Desabrocha,  mas  logo  fenece, 
O  que  hoje  a  mulher  idolatra 
AmanhS  menospreza,  aborrece. 


jp_i 


TROVADOR  43 


TroYador,  ah!  esquece  essa  ingrata, 
N3o  mendigues  a  soa  affeiçSo ; 
Ahl  nSo  queiras  a  quem  te  maltrata, 
Trovador,  ah  I  nSo  chores  mais,  nSo ! 


DÁ-ME  UM  SORRISO 


Poesia  do  sor.  J.  J.  Bernardo,  e  muaica  do  sor.  J.  F.  das  Cliagas 


Diai-me  ó  bella,  sd  me  adoras, 
Escuta  com  attençSo, 
Di-me  um  riso  de  teus  lábios. 
Consola  meu  coraçSo. 

Se  teti  ajSecto  é  volurel, 
Porque  me  illudes  em  vSo? 
Pede  a  teu  anjo  um  punhal 
E  me  crava  o  ooraçSo. 

Ah!  como  sou  infeliz, 
Amar  e  nSo  ser  amado ! 
Ser  pelo  anjo  que  adoro 
Pouco  a  pouco  desprezado ! 

Ptudencia,  tu  és  a  mBi 
D^um  infeliz  como  eu ; 
Já  gozei  horas  felizes, 
lífia  coraçSo  já  bateu. 


44  TBOYADOR 


JÁ  PASSEI  DIAS  FEUZSS 


Já  passei  dias  felizes, 
Minha  dita  foi  sem  par; 
Já  gozei  com  Liiia  bella 
lindas  noites  de  loar. 

A  minha  yida  hoje  é  triste, 
NSo  é  vida,  é  um  penar; 
Porém  eu  ainda  espero 
Felizes  dias  passar. 

Quantas  vezes  vi  seu  rosto 
Tinto  de  brando  carmim ! 
Os  seus  olhos,  amorosos, 
NSo  se  volviam  de  mim. 

A  minha  vida  hoje  é  triste  —  etc. 

Quantas  vezes  no  meu  coUo 
Docemente  adormecia! 
Quantas  veses  me  fallava 
D'amor  e  de  sympathia! 

A  minha  vida  hoje  é  triste  —  etc. 

Saudade  tenho  do  tempo, 
D'aquelle  tempo  passado  j 
Saudades,  por  ter  perdido '. 
O  meu  anjo  idolatrado» 

A  minha  vida  hoje  é  triste  —  etc* 


TROVADOR  45 


RECITATIVOS 


A  PENSATIVA 

Qaal  Hagdalena  Bobre  a  cruz  pendida, 
Vi-a  embebida  noa  scismares  seus ; 
Talvez  pensasse  nos  affectos  idos, 
Oa  ais  sentidos  enviasse  a  Deus. 

Eu  vi-a  triste,  qual  marmórea  imagem 
Exposta  á  aragem  d 'uma  noite  bella; 
Tendo  as  madeixas  de  côr  negra  —  soltas  — 
N'ellas  envoltas  —  virginal  capella. 

Vi-a  tão  triste,  qual  a  rola,  quando 
No  ramo  brando  entoar  vai  queixas ; 
D'aquella  alma,  pela  dôr  magoada, 
Ella — coitada —  desprendia  endeixas. 

Tinha  no  rosto  pallidez  patente. 

Era  fervente  seu  orar  de  virgem ; 

—  Talvez  nas  px:eces  perguntasse  a  Deus 

Dos  males  seus  a  primitiva  origem.  •  l 

TSo  pensativa  I  e  na  flor  da  idade ! 

A  inflieidade  ella  tem  por  norte ; 

Em  vez  de  affectos  lhe  gHardarem  n'alma^ 

Deram-lhe  a  palma  de  sinistra  sorte. 

Busca  prazeres  innocentes,  virgem, 
Qu'essa  vertigem  passará  veloz ; 
Procura  o  templo,  e  com  fervor  —  no  altar, 
Vai  segredar  com  o  Senhor  —  a  sós. 
1865. 

Qualòerto  Peçanha. 


46  nOTADOII 


OLHAR  DE  VIRGEM 


Poeâa  do  snr.  Eduardo  Villas-Boas,  e  manca  do  snr.  Raphael  Goelbo 

O  olhar  de  virgem  —  é  tio  puro  e  lindo 
Qaal  raio  infindo  de  celeste  luz; 
Reflecte  a  santa  candidez  da  alma 
E  a  doce  calma  que  lh'a  banha  a  flux. 

O  olhar  de  virgem  —  santamente  amada, 
E  'madrugada  de  gentil  luar; 
É  a  innocencia  transcolando  odores, 
Briza  que  ás  flores  vai  frescura  dar. 

.  O  olhar  de  "virgem  —  é  o  lago  ameno 
Que  o  céo  sereno  retratou  gentil ; 
É  livro  d'alma  —  que  por  Deus  aberto 
NSo  tem  incerto  um  pensamento  vil. 

O  olhar  de  virgem  fulgurante  brilha 

Se  ella  trilha  —  da  candura  a  senda ; 

Mas,*  transviada  pelo  amor  immundo. 

Quem  ha  no  mundo  que  o  fulgor  lhe  accenda? 

Ninguém :  que  ao  fogo  d'esse  olhar  tSo  temo. 
Foi  o  Eterno  quem  pureza  deu : 
Perdida  ella  —  n'um  &tal  delírio, 
MurchaHie  o  lyrio  que  o  candor  perdeu. 


TROVADOR  47 


ROMANCE 


CONnSSiO  E  DESENGANO 


Poeria  e  musica  de  H.  A.  de  Mesquita.  Compoeto  em  Paris 
pelo  auihor,  e  reoentemente  publicado  n*esta  corte 


Tu  és  bella,  teu  rosto  é  tSo  lindo 
Como  um  astro  de  noite  a  luzir; 
SSo  tens  lábios  a  rosa  entre-abrindo, 
E  de  am  anjo  teu  mago  sorrir. 

Maa  qne  importa  qtie  sejas  um  nnme, 
Se  és  iim'alma  de  aíFectos  descrida, 
Uma  rosa  de  amor  sem  perfume, 
Uma  estatua  formosa  sem  vida? 

Ta  serias  de  amor  minha  estrella, 
Dos  meus  sonhos  o  puro  ideal ; 
Foras  tu,  ai^o  meu,  menos  bella, 
Mas  teu  peito  mais  firme  e  leall 

Esses  cantos  de  outr'ora  acabaram, 
Para  ti  minha  muea  findou. 
Teus  desprezos  as  cordas  quebraram 
D'esta  lyra  que  a  ti  se  votou. 


4S  TBOYADOR 


LUNDUS 


EU  JÁ  nVE  UMA 


n-íji 


EjU  já  tiye  uma  menina 
A  quem  amei  mais  que  a  ti ; 
Ausentou-se,  foi-se  embora, 
Eu  fiquei,  mas  nSo  morri. 

• 

Menina  traidora, 
Que  falta  á  promessa, 
NSo  fique  em  lembrança, 
Melhor  é  que  esqueça* 

Antes  quero  vêr-me 
Queimado  do  lume, 
Do  que  andar  soffrendo 
O  negro  ciúme.. 

Comprei  para  a  cuja 

Um  lindo  retrato, 

De  um  génio  inconstante, 

Volúvel,  ingrato. 

• 

Gastar  a  gente 
Os  seus  cabedaes, 
Em  fitas  bonitas 
E  outras  cousas  mais; 

Andar  a  gente 
Feito  gato  ladrão. 
Em  risco  de  achar 
Pedrada  ou  bordSo; 


TROfilDOR  49 


Passar  pela  ma, 
Parar  na  esquina, 
Julgando  que  ouyia 
A  voz  da  menina; 

Olhando  p'ra  lá, 
Se  chega  á  janella, 
Como  a  noite  é  escura 
N8o  sabe  se  é  ella ! 

Acoender  o  charuto 
P'ra  dar  o  signal, 
£  ella  namorando 
Outro  no  quintal; 

Sósinho  n'um  canto 
Com  ares  de  tolo, 
£  ella  com  outro 
Fazendo  tyolo; 

Estar  sempre  ao  canto 
Sósinho  ou  em  pé. 
Chocando  c'o8  olhos 
Como  o  jacaré; 

Gostar  da  menina. 
Dar  a  pioholeta. 
Sem  ao  menos  poder 
Fallar  com  a  preta: 

Trabalhos  cruéis. 
Que  já  foram  meus, 
N8o  £Edlem-me  n^elles 
Pek)  amor  de  Deus. 


50  TROTADOR 


■ULATINHA  DO  CABAÇO 

Eu  goBto  da  côr  morena. 

Sempre  amena, 
Que  mimosa  me  arrebata; 
Essa  côr  é  da  faceira, 

F^ticeira, 
Molatinha  que  me  mata. 

Eu  gosto  dos  olhos  d'ella, 

Quando  ella 
Para  mim  os  quer  volver; 
Esses  olhos  melindrosos, 

Tfto  formosos, 
Dizem  —  sim  —  até  morrer. 

NSo  gosto  da  côr  do  lyrio, 

Que  delirio 
Vi  causar  já  de  repente; 
Nem  também  da  côr  nocturna, 

Que  da  fuma 
O  sepulchro  traz  patente. 

Amo  a  côr  que  se  colloca 

Na  pipoca, 
Na  parte  que  nlo  rebentai; 
Essa  côr  assim  querida, 

Conhecida 
Noe  bolinhos  da  mSi  Benta. 

Oh  I  que  sim,  por  em»  côr 

De  meu  amor, 
Me  derreto,  me  espatife; 
Tenho  febre,  tenho  frios, 

Calefrios, 
Tenho  gosma,  tenho  typho. 


TROYADOR  51 

Mulatinha  do  caroço 

No  pescoço, 
Eis  aqui  o  teu  cambSo; 
Hette  o  ferro  cl'agcdlliada, 

Minha  amada, 
No  teu  dengae  cachorrSo* 

« 

Fora,  fora,  minha  bella, 

Na  costella 
De  teu  grato  camaphea; 
Dar-te-hei  o  que  puder, 

Se  és  mulher, 
Meu  amor  de  ti  nasceu. 

Dar-te-hei  o  que  quiseres, 

Se  fizeres 
Quanto  trago  em  minha  mente*. • 
Nos  meus  braços,  meus  cuidados 

Oh!  peccados! 
Vai-te  embora,  que  Tem  gente t.  • . 


MODINHAS 


TROVADOR 

m 

Trovador,  tudo  isso  d  rerdade : 
A  mulher  é  tjranna  —  é  emel; 
A  mulher,  com  ternura  nos  olhos, 
Voe  embebe  noe  lábios  o  fel. 


5S  TROVADOR 

Porém,  YÓB,  ó  tTraxmos,  nSo  yêdes 
Que  BoU  eauaa  de  todo  o  seu  mal  ? 
Que  sem  pena,  sem  dó,  sem  piedade, 
Sem  cessar  lhe  crayaeB  o  punhal? 

Podeis  Yós,  por  ventara,  negar 
Ser  com  ella  em  tudo  tjrannos? 
Vossas  leis  sSo  tornais  uma  escrava, 
Ou  mantel-a  com  vossos  enganos. 

Podereis,  por  ventura,  negar 
Que,  senhores  de  sua  fraqueza, 
Abusaes  d'essa  força  que  tendes. 
Para  bem  rebaixar  vossa  presa? !••• 

A  mulher  é  um  ente  sublime. 
Porém  vós  n8o  amaes  as  fieis; 
Com  o  exemplo  de  vossos  enganos 
As  fazeis  igualmente  cruéis. 

NSo  amaes,  certamente,  a  mulher 
Que,  sincera,  por  vós  dá  a  vida; 
Abusaes  d'um  amor  extremoso. 
Com  excesso  amaes  a  infida. 

Porque  ^itSo  &llaes,  ó  infames. 
No  geral,  insultando  a  mulher. 
Se,  depois  de  roubar-lhe  o  socego, 
D'ellas  gozos  o  homem  só  quer? 

Se  a  mulher,  em  astúcia,  vos  vence. 
Se,  sensível,  por  vós  é  pisada; 
NSo  amaes  a  doçura  —  os  excessos. 
Só  astúcia  por  vós  é  prezada. 

Quereis,  inda,  ó  monslros,  negar 
Ser  verdade  o  que  digo  de  vós? 
Que,  sem  pejo  de  serdes  malvadoS| 
InfiEimaates  sois  sempre  de  nós  I 


« 


( 


TROVADOR  &8 


Se  soabesseis  prezar  a  virtade 
Da  mulher  que  vos  sabe  adorar  j 
PoderieiSi  entSo,  conhecer 
Qae  a  mulher  só  nasceu  para  amar. 


SB  EU  FORA  da  noite  O  ASTRO  F0BH080 
Foaria  do  ma.  F.  H.  A.,  e  mtuioa  do  snr.  José  Bufinod^Oliveira  Costa 

Se  eu  ftra  da  noite  o  astro  formoso, 
Em  teus  lindos  olhos  quizera  brilhar; 
Teus  negros  cabellos  soltara  aos  ares, 
Se  ftra  das  praias  a  briza  a  rolar. 

Se  eu  ftra  da  noite  o  eoko  sentidoí 
^la  £il]a  —  inspirado  —  quizera  imitar; 
Se  eu  ftra  das  aves  a  ave  mais  linda, 
No  brago  de  neve  iria  pousar. 

Se  eu  ftra  das  flores  —  a  flor  predilecta, 
De  teus  meigos  olhos  quizera  um  olhar; 
Se  eu  ftra  uma  pomba  —  ou  rola  innocente. 
Teus  dSeea  afagos  quizera  gozar. 

Se  eu  ftra  uma  trova  —  ou  verso  singelo, 

fin  teus  dtees  lábios  quizera  pousar ; 

Se  eu  ftia  uma  lyra  de  cordas  douradas,  * 

Por  teuB  débeis  dedos  quizera  passar. 

Mas  eu  nSo  sou  astro,  nem  lyra,  nem  eoho, 
Kem  .Te,  nem  trav.,  nem  bri»  áo  m»; 
Sou  homem  que  sente,  que  soffire,  que  geme, 
Qae  canta  na  terra,  o  que  pôde  amar. 


51  nOVADOR 


ANJO 


Poma  de  Caaimiro  de  Abrea,  e  musica  do  sor.  Hi^go  Buasoou^fer 

Eu  era  sombrio  e  triste.  •• 
Contente  minh'alma  é. 
Eu  duvidava  sorrir, 
E  ji  no  amar  tenho  fé. 

Um  anjo  veio — e  deu  vida 
Ao  peito  de  amores  nú, 
Minh'alma,  agora  remida, 
Adora  um  asgo  —  que  és  tu. 


REOTATIVOS 


A  VIRGEM  DOS  MEUS  SONHOS 

Poesia  de  A.  L.  Ferras  Castro,  e  musiea  de  «•* 

Nas  horas  tristes  da  mudez  da  noite       » 
Eu  velo,  eu  soísmo — sem  poder  dormir; 
Vejo  —  entre  sombras — a  gentil  donaelk, 
Por  quem  meu  peito  sabe  só  sentir  1 

E  se  adormeço -—nos  meus  sonhos  passa 
Sua  tSo  linda  e  divinal  visZo ! 
Busco  fidlar-lhe,  e  esmoreço  a  medo, 
E  embalde  intento  lhe  beijar  a  udtol 


CMTAIKm  S5 


Que  BÍiia  a  minha!  —  que  cruel  tapplioiol 
Tel-a  a  mea  lado — aem  um  gosto  ter^ 
Qoe  geoio  é  esM  que  o  temor  me  iniptra, 
Que  em  taataa  dores  me  fará  morrer? 


E  quando  acordo — delirante  sempre — 
Choro  esse  eonho  que  passou-se  entZoi 
Emhora  eu  saiba  que  é  mentido  tudO| 
Loueas  insomnias  de  fiel  paiz2oJ 

Ail  quanto  soAne  ii'csto  amor  que  nutro] 
Quanto  tormento  por  amar  sem  fim  I  •  •« 
E  quantas  scismas — que  cruéis  deliriai 
Nlo  sinto  sempre  se^passar  em  miml 


PERDOA 

Perdfia,  ó  yirgem,  se  em  momento  louco 
Calquei  aos  pés  de  tua  c'rÔa  as  flores; 
Perdfia  ao  joven  que  to  amou  com  anda, 
PerdSa  ao  crente  a  quem  só  désto  dores. 

Perdtai  ó  aigo,  o  desvairar -de  um  moço, 
Qae  envolto  em  mágoa  se  atirou  á  orgia; 
Perdoa  ao  naufrago  de  escrabosa  senda, 
Perdoa  áquelle  que  to  amára  um  dia. 

Perdoa,  archanjo,  ao  atrevido  nauta 
Que,  sobre  as  vagas,  seu  batel  partiu. 
Perdoa  ao  peito  do  descrente  moço, 
Qoe  acerbas  dores  só  por  ti  oortiu. 


:i:x 


TROVADOR 

Perdte,  densa — me  horrorisa  a  morte, 
E  eu  já  me  vejo  do  abjamo  ás  bordas; 
PerdBa  ao  vate  que  cantou-te  n'harpa, 
Tendo4he  o  tempo  carcomido  as  cordas. 

Molher,  perdda  mens  impuros  beijos 
Que  sobre  a  £ftce  te  imprimi  com  anda; 
Mulher  perjura,  me  roubaste  as  flores 
De  minha  c'r6a,  no  sorrir  da  infancia. 


Perdda  víbora,  ao  marinheiro  ousado, 
A  quem  murchaste  sua  verde  palma; 
Perdoa,  e  vê  como  eu  vivo  triste, 
Condemna  o  corpo,  mas  perdfta  á  ahna. 


«7.  M.  Mancebo* 


ROMANCE 


AYIDA 

(tbb8  piiabvs) 
Poena  do  sqr.  ▲.  J.  âe  Sonsa,  e  miudca  do  snr.  A.  L.  Moura 

MANHA 

Ao  primo  alvor 
Da  vida  em  flor, 
É  tudo  odores. 
Tudo  primores. 


TROVADOR  57 

O  céo  é  paro, 
Bello  o  fatnro, 
Sempre  folgança, 
No  peito  esperança» 

£  a  yida  um  céo  de  amores 
Hatisado  de  mil  flftreu, 
E  nm  ledo  paraiso 
De  eterno  riso. 

Doce  ilIusSo, 
Bafejo  d^alma, 
Do  coraçSo 
Transpira  a  calma. 

Ê  a  manhS 
Leda  e  lonçl 
Da  primavera 
Que  n'alma. impera. 

TABDE 

Ao  meio  dia, 
Sem  harmonia, 
Da.  existência 
Muda  a  essência. 

Kto  é  a  Tida 
Já  tSo  florida, 
O  céo  tSo  puro, 
Ledo  o  futoro. 

Nossa  estrella  empallidece. 
Nosso  céo  se  obscurece. 
Nossas  flores  matizadas 
Tombam  crestadas. 


58  noTÁMm 

VadUa  a  crença, 
Duvida  immenaa 
No  ooraylo 
Soada  a  raeSo. 

Taidtt  da  vida, 
Meio  descrida, 
A  nuvem  d'ouro 
Muda  em  agoura. 

NOITB 

À  noite  o  céo 
De  umbroso  véo, 
Tnya  os  negrores 
Cheio  de  horrorea* 

Soluça  a  alma 
Perdida  a  calmai; 
Foge  o  futuro 
N'um  cahos  escuro, 

É  a  vida  um  céo  de  homres 
Semeado  de  mil  dôres, 
Negra  copia  do  inferno, 
De  pranto  eterno. 

Morre  o  sorriso 
Perdido  o  siso; 
Da  dõr  no  cumulo 
Só  resta  o  tumulo. 

Crenças  e  flores, 
Perfume,  amores. 
Tudo  se  esvaí 
Da  morte  ao  ai« 


tBoyáJxm  89 


lundCs 


MENINA  TOSSfi  KE  OIGA 

Menina  yoesê  me  diga 
Para  qae  é  tSo  ingrata? 
Se  conhece  os  meus  agrados, 
Porque  tanto  me  maltrata? 

A  amizade  que  me  tinha 
Ê  poedyel  que  perdesse? 
Assim  é  que  yossô  paga?«.« 
Qnem  mais  faz  menos  merece* 

Nlo  zombe  tanto  de  mim, 
Attenda  i  minha  expressio; 
Os  meus  lábios  só  exprimem 
O  que  sente  o  coraçlo. 

Se  seguir  a  maltratar-me, 
Tem  de  vêr-me  exasperar; 
Eu  já  nSo  posso  viver 
Tsnto  tempo  a  suspirar ! 


A8  CLARINHAS  E  AS  MORENINHAS 

Babo-me  todo, 
Vendo  mocinhas 
Quer  sejam  claras, 
Quer  moreninhas. 


M  TROVADOR 

Gosto  das  claras, 
Fallo  a  verdade, 
Mas  nSo  lhes  tenho 
Grande  amizade. 

Amolas  por  gosto. 
Brinco  —  namoro, 
Mas,  seriamente, 
N8o  as  adoro. 

Jamais  por  claras 
Sinto  paixSo; 
Eu  nunca  amei-as 
Do  coraçKo. 

Brinco  com  ellas 
Por  divertir, 
Matar  o  tempo, 
Zombar  e  rir. 

Mas  as  morenas  I 
Jesus  I  d^aqijiellas 
Que  sKo  da  gema. 
Morro  por  ellas! 

Ao  ydl-«s,  fico 
De  amor  acceso, 
E  pelo  beiço 
Me  sinto  preso. 

As  moreninhas 
Fazem-me  tolo; 
Ellas  me  tiram 
Todo  o  miolo. 

Desmaio,  choro. 
Se  chego  a  yêl-as; 
E  meu  destino 
Morrer  por  ellas. 


TROVADOR  61 


MODINHAS 


TROVADOR 


(neuxDA  dbfbsa) 


Trovador,  eu  lastimo  comtigo 
D'e88a  ingrata  o  insano  rigor; 
£  do  pranto  qoe  vertes — tão  triste — 
Ea  bem  vqo  o  cruel  dissabor. 

Eo  detesto  a  mulher  que  do  peito 
Te  cravara  o  espinho  da  dôr; 
Ahl  esquece  a  perjura  qae  adoras, 
Mas,  por  Deus  I  acredita  em  amor  t 

O  amor  da  mulher  é  sublime, 
Ms  do  céo  qual  lampejo  divino; 
£  estrella  brilhante  e  serena, 
Que  precede  ao  clarão  matutino. 

O  amor  da  mulher  é  qual  bríza 
Quando  á  tarde  suspisa  saudosa; 
É  a  fonte  que,  doce,  murmura 
N'uma  praia  deserta — arenosa. 

A  mulher  é  um  ei^te  infeliz, 
O  seu  fiado  é  soffireiç  e  amar; 
Quando  os  homens  as  tomam  esoravas, 
Inda  os  ferros  vBojoàeigas  beijar. 


U  TilOTAIKIll 

  coitada,  illadida,  BÍncera, 
Qtiiz  no  homem  firmeza  encontrar; 
NSo  prevê  qtte  quando  elle  jura, 
à  mulher  só  procura  enganar. 

A  mulher  é  ludibrio  da  sorte 
Quando  é  firme,  constante  e  fiel; 
Mas  os  homens  o  culto  lhe  rendem, 
Quando  é  feJsa,  perjui;a  e  cruel. 

Para  exemplo  tu  tens  essa  Helena, 
Que  o  consorte,  trahindo,  deixou; 
Pois  por  ella  ser  falsa  e  perjura^ 
Foi  que  Paris  tSo  cego  ficou. 

O  amor  da  mulher  é  perfume 
Que  se  exhala  de  niveo  jasmim; 
O  amor  da  mulher  é  constante, 
N8o  conhece  limites  nem  fim. 

E  porque  uma  quebrara  os  seus  votos, 
Todas  ellas  perjuras  nSo  são; 
No  amor  da  mulher  acredita.  •• 
Trovador,  ahl  nSo  chores  mais,  nSo! 


LEMBRANÇAS  BO  NOSSO  AMOR 

Qual  quebra  a  vaga  do  mar 
Carcomendo  as  duras  fragM^ 
Assim  da  saudade  as  vaga« 
O  meu  peito  vem  quebrar: 
O  meu  destino  é  pensar. 
Ingrata,  no  teu  rigor; 
Ve  que  contraste  de  horror: 
Tu  na  minh'alma  gravada, 
Da  tua  mente  apagada 
Lembranças  do  nosso  amor» 


TROVADOR 


13 


8e  o  8ol  desponta,  eu  lamento; 
Se  Q  0ol  se  deepede,  eu  ehoro; 
Se  a  brisa  passa,  eu  imploro 
CompaizSo  p'ra  meu  tormento : 
Como  nlo  gozo  am  momento 
Do  scnnno  o  doce  favor, 
Alta  noite,  com  fervor, 
Em  ti  minh'alma  se  inspira, 
Canto  ao  som  da  minha  Ijra 
Lembranças  do  nosso  amor. 

Mnlber,  a  lei  do  meu  fado 
E  o  destino  em  que  vivo. 
Depois  de  ficar  captivo 
D'am  gesto,  d'um  teu  agrado : 
Sinto  meu  corpo  vergado 
Ao  peso  do  dissabor; 
Vai-mefogindoocalor... 
Ai  qae  me  matam,  querida. 
Saudades  da  nossa  vida. 
Lembranças  do  nosso  amor« 

O  a^jo  da  morte  pousa 
Ka  minba  fronte  já  fria; 
Vai  passear  algum  dia 
Onde  mea  oorpo  repousa : 
Da  sepultura — na  lousa 
QiM  barde  abafSEur  minha  dôr — 
Por  piedade,  por  favor 
Planta  um  goivo,  uma  saudade, 
Signal  da  nossa  amizade, 
Lembranças  do  nosso  amor. 


M  TROYADOB 


A  SAUDADE  KE  FLA6ELLA 


A  saudade  me  flagellai 
Mais  zilo  poflso  em  ti  fallar; 
O  motÍTO  por  que  peno 

Devo  sempre  em  mim  guardar. 

* 

Mas  se  a  sorte  melhorar 
O  sensível  peito  meu, 
Hei-de  v6r-te  no»  meus  braços, 
E  depois  voar  a^  céo. 


Eu  adoro  a  uma  ingrata 
E  nBo  posso  aborrecel-4ij 
E  tio  cruel  minha  estrella, 
Que  estou  sempre  a  suspirar. 


.• 


Has  se  a  sorte — ete. 

Recordando  que  teu  nome 
N'um  verde  tronco  escrevi, 
Fui  beijal-o,  e,  quasi  louco, 
Julguei- dar  um  beijo  eia  ti. 


Mas  se  a  sorte  —  etc. 


Salvador  Fabregas, 


* 


.♦ 


H 


s 


TROVADOR  65 


RECITATIVOS 


HÃO  SEI  QUE  snrro 

NIo  sei  que  sinto,  quando  junto  a  ti 
Momentos  passo  de  prazer  immenso; 
KSo  sei  que  sinto,  se  a  teu  lado  gozo 
Delicias  puras  d'um  amor  intenso. 

Nlo  sei  que  sinto,  a  minh'alma  tema|.    • 
De  dita  infinda  se  embriaga  entSo; 
£  n'6Bsas  horas,  que  se  passam  rápidas, 
Eaqaeço  dores  que  pezar  me  dSo. 

Nlo  sei  que  sinto,  se  um  instante  buscas 
A  minha  mZo  para  á  tua  unir; 
Do  encanto  dõce,  que  me  prende  a  ti, 
EntSo  quizera  m'esquiyar.  •  •  fiigir ! 

KSo  sei  que  sinto, — um  tremor  convulso 
Me  agita  o  corpo  como  o  vento  á  flor;  . 
£,  como  ella,  eu  me  curvo  ao  poso 
De  teus  extremos  e — constante  amor. 

Nko  sei  que  sinto,  quando  te  nSo  vejo. 
Pena  infinita  me  consome  e  rala; 
Se  te  contemplo,  meu  penar  olvido. 
Meu  peito  exulta,  —  meu  soffrer  se  cala. 

Mas...  ah!  bem  sei!  este  fogo  intenso 
Que  o  peito  abraza,  devorando  a  mente, 
Estes  transportes  que  me  offuscam — sSo 
BeliríoB  d'alin»-é  om  amor  ardente! 


Por  uma  javen  fluminense. 

5 


66  TROVADOft 


A  BRUMA 

Bruma  cinérea  de  invernosa  vida, 
Onde,  pendida,  vaes  esquiva  assim?.  •• 
Ai!  nSo  me  fujas,  que  este  céo  te  mente, 
Que  elle  nSo  sente  quanto  eu  sinto  em  mim. 

Qaeres  amores  tu  gozai*  no  enleio 

D'um  triste  seio,  no  harpejar  da  d$r?,.. 

NSo  corras  tanto,  que  o  tufSo  te  cança.^. 

Ail  da  bonança  no  cançado  ardor.  •• 

• 

Vês  no  infinito  qual  azul  se  ostenta?*. • 

Vês  suarenta,  meiga  nuve'alli?. .  • 

O  sol  requeima-a: — triste  sorte  dura! 

Fora  tSo  pura,  como  és  pura  aqui. 

Vês  tanto  azul  de  que  se  tinge  agora 
A  meiga  aurora  n'essa  negra  cor? 
Vês  mais  a  nuvem  junto  ao  sol  Mnda? 
Eii-a  que  finda  no  tormento  a  dôr. 

Bouco  trovão  a  estalar  de  irado. 
Esse  enrubado — e  assustador  fíizil, 
NSo  vês,  louquinha,  este  mentir  perjuro?... 
Ai !  tanto  escuro  no  teu  céo  de  anil ! .  •  • 

Ail  que  sumidas  na  procella  as  cores 
Das  tristes  flores  da  esperança  eu  vi  I 
Hoje  só  restam  resequidas  crenças, 
.Trevas  immensas,  minha  Bruma,  a  ti  I  •  •  • 

NSo  corras  tanto,  que  o  tufSo  te*cança. 
Ai!  que  a  esperança  te  fistrásoffr^... 
Quebra  a  anciedade,  no  parcel  da  vida. 
Se  a  tens  perdida  —  vem  aqui  morrer. 


Jvlio  da  Oama. 


TROVADOR  67 


LUNDU 


ESPANTA  O  GRANDE  PROGRESSO 

Espanta  o  grande  progresso 
D'esta  nossa  capital, 
Decresce  o  bem  por  momento, 
Cresce  a  desgraça  e  o  mal. 
A  carestia  de  tndo, 
De  grande  já  nSo  tem  nome, 
O  pobre  morre  de  fome, 
De  miséria  e  de  traballios. 

Em  bellos  carros 
O  rico  corre, 
O  pobre  morre. 
Sem  que  comer; 
Tudo  é  soffrer 
Para  a  pobreza; 
Só  a  riqueza 
Vive  contente : 
Mortal  que  vive 
De  seu  trabalho, 
N3o  tem  um  canto 
Para  agasalho. 

Sinbi,  nSo  me  peça  dinheiro, 
Q\^e  eu  nSo  tenho  para  lhe  dar; 
Quando  nSo  estou  de  guarda. 
Paia  folga,  eu  vou  rondar. 

A  carne  secca  tSo  caral 
Cada  vez  o  preço  cresce, 
O  monopolista  á  custa 
Da  pobreza  8'enriqueoe* 


68  TROYÂBOft 

No8  açougaes  carne  podre, 
Kas  roas  leite  com  agua, 
Cansa  dõr  e  causa  magoa 
O  pSo  de  tSo  pequenino. 

A  dez  tostSes 
^into  gosmento, 
Fe^Xo  bichento 
A  peso  d'ouro; 
Toucinho  couro 
E  já  tocado, 
Café  torrado 
Com  milho  podre; 
Todos  os  mezes, 
For  alugueis. 
Quatro  paredes, 
Trinta  mil  reis. 

Sinhi,  nSo  me  peça  dinheiro, 
Que  eu  nSo  tenho  para  lhe  dar; 
Quando  nSo  estou  de  guarda. 
Para  folga^  eu  vou  rondar. 

Pejam  as  ruas  mendigos. 
Ha  ladrSes  por  toda  a  parte. 
Em  breve  nos  darSo  leis 
A  fiica  e  o  bacamarte. 
Por  altas  horas  da  noite 
Inyadem  nossos  poleiros, 
E  nos  leyam,  ratoneiros, 
A  creaçSo  dos  quintaes. 

Té  as  torneiras 
Já  nSo  escapam. 
Pois  tudo  rapam 
De  mn  modo  estranho; 


nOYADOK  ^ 

Pretos  do  ganho 
SBo  espreitados, 
Apâs  roubados 
Pelos  gatunos. 
Em  grandes  festas, 
Bailes,  passeios, 
Sempre  acham  meios 
De  ratonar. 


Sinhá,  nSo  me  peça  dinheiro, 
Que  eu  nZo  tenho  cara  lhe  dar; 
Quando  nSo  estoa  de  guarda. 
Para  folga,  eu  tou  rondar. 

FeijSo,  milho  e  assucar, 
CSame  e  peixe  já  cozidos 
NoB  vem  das  terra  dHSuropa, 
Vem  dos  Estados-Unidos; 
Em  quanto  o  monopolista 
O  seu  negocio  equilibra. 
Vendendo  a  pataca  a  libra, 
Vai  o  pobre  á  carne  secca. 


Quatro  pimentas 
Por  um  vintém. 
Só  quem  o  tem 
Pôde  gozar; 
Quem  quer  comprar 
Alguns  limSes, 
Dá  douB  tostSes 
Por  um  somente: 
Viva  quem  vive. 
Morra  o  regresso, 
Viva  a  naçXo, 
Viva  o  progresso  1 


70  TROTIDOR 


Sinhi,  nSo  me  peça  dixdieiro, 
Qae  ea  nSo  tenho  para  lhe  dar; 
Quando  nSo  estou  de  guarda, 
Para  folga,  eu  tou  rondar. 


MODINHAS 


LEMBRANÇAS  BO  NOSSO  AKOR 

(bbbposta) 

Se  08  sentimentos  de  outr'ora 
Inda  ezÍ3tem  no  teu  peito, 
Doesse  passado  desfeito 
NSo  posso  lembrar-me  agora: 
Meu  ooraçSo  outro  adora, 
Hoje  nSo  tenho-te  amor; 
Se  é  fraqueza,  ou  se  é  rigor, 
PerdSo  imploro  clemente, 
NSo  posso  guardar  na  mente 
Lembranças  do  nosso  amor. 

Este  peito  nSo  é  meu, 
Já  o  dei  a  outro  amante; 
Porque  buscas,  inconstante, 
O  que  nSo  pôde  ser  teu? 
Jurei-lhe  á  &ce  do  céo 
Amal-o  com  firme  ardor; 
Yè  o  contraste  de  horror: 
De  minha  mente  exclui, 
E  nem  me  restam  de  ti 
Lembranças  do  nosso  amor. 


nOYADOR  11 


O  tempo  desfas  a  ma^oái 
I>e8troe  humana  grandeza) 
Da  vida,  gloria  e  riqueza 
Até  a  esperança  se  apaga; 
Talvez  que  o  tempo  te  traga 
Bemedio  p'ra  a  tua  dôr; 
Só  eu  mereço  um  favor: 
Se  inda  me  tens  amizade, 
Klo  conserves — por  piedade 
Lembranças  do  nosso  amor. 

N2o  suspires  e  não  chores, 
NSo  me  magoes  est'alma, 
Vai  amar  outra  -^  e  acalma 
Teu  sofrer  n'estes  amores; 
Quando  cadáver  já  fores, 
NZo  me  pedes,  trovador. 
Que  vá  plantar  uma  flor?.*. 
Pois  ella  deve  morrer, 
E  nunca  mais  ha-de  ter 
Lembranças  do  nosso  amor. 


SDPPLICA 


(VOYA  MODIUHa) 


Para  aer  cantada  pela  musica  da  modinha —  Nào  te  esqueças,  Marília, 

de  mim 


mo  te  esqueças  de  mim,  ó  donzella, 
Odiando  alegre  gozares  amores ; 
TSÍMo  te  esqueças  de  mim,  quando  triste, 
Só,  me  vires  luctando  entre  dores! 


n  TBOTADCHI 

NSo  te  esqueças  de  mim,  qtutndo  i  noite 
Escatares  o  triste  descrido; 
NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  &  lua 
Um  suspiro  escapar-me  sentido. 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando,  6  bella, 
Reclinada  sonhares  na  ventura; 
Pois  que  o  pobre,  n'um  leito  d'espinlios, 
liba  o  caliz  de  negra  amargura. 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  a  lua 
Fôr,  contente,  teus  lábios  beijar; 
Vem  ouvir  os  pungentes  lamentos 
De  quem  vive  saudoso  a  chorar ! 

NSo  te  esqueças  de  mim,  ó  meu  anjo, 
Que  padeço  sem  ter  mais  ventura; 
Corre  a  dar-me  um  sorriso  dos  teus, 
Emanado  d'ess'alma  tSo  pura. 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  ouvires 
Os  tangeres  dos  sinos  da  sorte; 
Lembra  aquelle  que  amou-te  na  vida. 
Que  hoje  dorme  no  leito  da  morte. 

Adeodato  Sócrates  dê  Méllom 


novAMR  78 


RECITATIVOS 


ESFERAirÇA  MORTA 

• 

Qae  me  importam  dliarpa  sonorosos  cantíoos, 
Qae  me  importam  graças,  da  manhS  o  alvor; 
QoB  me  importam  olhos  cliammejantes,  viridos, 
Se  nXo  tenko  crença,  se  nSo  tenho  amor?* 

Que  me  importam  bailes  em  salSes  esplendidos, 
Que  me  importam  Tozes  do  melhor  caútor; 
Qae  me  importam  galas  d'este  mondo  fol^daa, 
Se  nSo  tenho  cr^aça,  se  nSo  tenho  amor? 

Que  me  importam  os  lares  que  deixei  na  infância, 
Qne  me  importa  o  aroma  da  mais  bella  fl6r; 
Que  me  importam  gozos  dos  mens  dias  plácidos, 
Se  nSo  tenho  crença,  se  nlo  tenho  apaor? 

Que  me  importam  lábios,  ou  sorrisos  cândidos. 
Que  me  importam  faces  de  porpnrea  c8r; 
Que  me  importam  phrases,  ou  suspiros  languidos. 
Se  nSo  tenho  crença,  se  nSo  tenho  amor? 

D.  Maria  J.  Martinê  de  Carvalho» 


VBMk  E  PROCEDE 

Pensei,  quando  te  dei  de  amores  flores, 
Qae  de  tu'alma  a  palma  obteria; 
"È  aoÊresr  o  prazer,  descrença  a  crença.  •  • 
DepsI  quanto  senti  por  ti,  Maria  I 


lê  nOUiMNI 

Do  paraiso  am  riso  achavas,  dayas, 
A  quem  no  peito  um  leito  te  sagrou ! 
Mas  hoje  foge,  vai-se,  esvú-se  o  sonho 
Tio  lindo,  infibdo,  que  a  paixSo  matou  I 

Desperto,  e  perto,  nevoeiro  inteiro 
Âo  pobre  encobre  festival  porvir! 
D'outr'ora,  agora,  o  desespero  austero 
Renovo,  provo  n'um  cruel  sentir! 

A  fSe^la  amada,  de  cabellos  bellos, 
Morena,*  amena,  no  gentil  fallar, 
Jura,  perjura,  vai  mentindo,  rindo. 
Dando,  tira&do  traiçoeiro  amar!... 

• 

Separa...  pára!. ..  Vaes  caminho  asinhol 
Concede,  oede  a  paz  ao  teu  viver! 
Ai!  tanto  encanto  dá  contento,  augmento, 
A  calma  â'alma  que  nSo  faz  sofFrer! 

Revive,  Tive  nos  teus  passos  lassos... 
Mas  olha — ahtolha-se  a  mortalha  fria! 
Ent^  perdSo  irás,  contrita,  afflicta^ 
Dos  males  teus  a  Deus  pedir,  Maria! 


i\  a  Tertige'  de  um  tormento  lento 
Betira,  atira  a  virgindade  ao  chSo ! 
Pensa  na  crença  que  á  menina  ensina 
O  anjo  archanjo,  maternal  condSo. 

Ainda  és  linda !  Tio  criança,  laoiga 
A  vista  á  lista  das  perdidas  Lais ! 
Nos  factos  gratos  da  materna,  etoma, 
Bude  virtude,  uma  liçSo  terás  t 


L.IVÍX. 


TROVADOR  75 


lundC 


ESTAMOS  NO  SÉCULO  DAS  LUZES 

'StMiíios  no  0ec'lo  das  lazeSi 
Já  nSo  ha  que  duvidar; 
Temos  gaz  por  toda  a  parte 
Para  nos  alumiar  I 

A,  E,  I,  O,  U, 
Vamos  todos  aprender, 
Já  se  ensina  de»repente 
.  Sem  as  letras  conhecer. 

Temoa  estradas  de  ferro 
Para-  mais  depressa  andar, 
Todos  Uknde  correr  tanto 
Que  por  fim  hSo^de  cangar. 

BA|  be^  bi,  bo,  bu — ete. 

Já  com  noTO  calçamento 
Vejo  as  ruas  se  calçar, 
Defino  ft^pato  e  meia 
Já  se  pôde  pa£»ear. 

Çai  ce,  ci,  ço,  çu — etc. 

Jà^ie  alacgam  as  mas, 
A  da  Qano  é  a  primeira, 
Hoje  tudo  sSo  progressos 
De  funosa  ladroeira. 

Da,  de,  di,  do,  du  —  etc. 


76  TROYADM 

Âgtui  Biija,  cisco  e  iaclo 
Já  se  nSo  deve  ajuntar, 
Ê  ró  Unç«r-M  n»  i«t 
Que  as  carroças  Y^n  buscar* 

Fa,  fe,  fi,  fo,  & — elo. 

Já  se  segaram  as  TÍdas, 
Já  se  nSo  deve  morrer, 
Quem  tem  sua  creoulinba 
NSo  tem  medo  de  a  perder* 

Ga,  gue,  gui  go,  gu— etc. 

Temos  agua  pelos  cantos, 
Que  sempre  estSo  a  correr. 
Sujo  já  por  falta  d'agna 
IHiiguem  mais  deve  morzer* 

Ja»  j«j  }h  JOj  j'* — ^^ 

Já  temos  grandes  tkeatros, 
E  a  empresa  quer  crescer; 
Estamos  n'um  céo  aberto, 
Isto,  sim — é  que  é  viver! 

La,  le,  li,  lo  In— eto. 

Quando  ha  fogo  na  «ndade 
S.  Francisco  dá  o  avisoj 
O  castello  corresponde 
Com  três  tiros  á  Oabiso. 

Ma,  me,  mi,  mo,  mu — eto* 

Os  estrangeiros  se  empi^gam 
N'essa  nova  exploraçlo; 
Nada  tondo  de  fortuna, 
Vem  ganhar  um 


Na,  ne,  ni,  no  au — ete« 


3MTAD0R  ^^ 


Natíonaes  de  bocca  aberta^ 
Nada  trado  que  comer, 
jComo  boi  de  canga  ás  cOflias 
Caladinlio .  até  morrer. 


P*>  P®i  Vh  P^i  P^ — ®*®' 

Co'â  carestia  dos  géneros 
Como  o  pobre  ba-de  viver? 
Com  um  pequeno  salário 
Como  bonrado  pôde  ser? 

Ba,  re,  ri,  ro,  ru— etc* 

Os  poderosos  nSo  querem 
Com  os  pobres  se  importar ; 
O  pobre  cbeira  a  defunto, 
Pois  só  sabe  Importunar. 

Sa,  se,  si,  so,  su— etc* 

Eis  o  que  é  o  paiz  natal 
Dos  filhos  que  viu  nascer; 
Qualquer  estrangeiro  á  tôa 
Vem  aqui  enriquecer. 

Ta,  te,  ti,  to,  tu— etc. 

Ji  temos,  por  f  licidade, 
Helbor  colcmisação; 
Felizmente  se  acabou 
A  fèsgra  espeeulaçSo. 

Va,  ve,  vi,  vo,  vu — etc. 

Os  transportes  sXo  immensos, 
Quer  por  terra,  quer  por  mar ; 
Até  se  pôde  seguro 
Já  navegar  pelo  ar. 

Xa,  xe,  xi,  xo,  xu— etc. 


78  TBOTASm 


Emfim,  lUBgaem  pdde  j4 
Duvidar  da  perfeíçZo; 
Que  nSo  ha  eeçlo,  oomo  arte|% 
De  maior  iUnstraçIo. 

Za^  ze,  zi,  zp,  m, 
Já  podemos  aprender,. 
Já  se  ensina  de  repente 
Sem  as  letras  conhecer. 


MODINHAS 


QUANTO  ÉS  BELLA!... 

(ffOYA  modinha) 

Para  sor  cantada  pela  musica  da  modinha— âMke»  com  mU  fiôres 

Amor,  enraivado 
Um  dia  se  achava, 
Por  vêr  que  só  d'dUe 
Armania  zombava. 

De  seus  áttractívoB 
EntSo  se  esquecendo, 
A  setta  prepara, 
Mais  nada  prevendo* 

Celeste  beldade 

Eis  que  lhe  apparece.  •  • 

A  setta  reprime, 

A  Veniui  conhaoe  I  •  •  • 


TMTAOOR  TO 

c  Em  vÓB  nlo  qoiíera  », 
Lhe  diz  o  menino, 
c  Agora  moBtrar-me 
Tio  duro  e  ferino. 

c  Tomei-Yos  por  ella.  •  • 
Por  cópia  da  ingrata, 
Que  zomba  de  Amor, 
Que  tanto  o  maltrata. » 

«7.  M»  Mourão. 


unir  ALMA  É  TRISTE 

Poeda  de  Casimiro  de  Abreu,  e  muflica  de  ««« 

Minh'ahDa  é  triste  como  a  rola  afflicta 
Que  o  bosque  acorda  desde  o  alvor  da  aurora, 
E  em  doce  arrulho,  que  o  soluço  imita, 
O  morto  esposo  gemedora  chora. 

E,  como  a  rola  que  perdeu  o  esposo, 
Minb'alma  chora  as  Alusões  perdidas, 
E  no  seu  liyro  de  fanado  gozo 
Belê  as  folhas  que  já  foram  lidas. 

E  como  notas  de  ehoroea  endeiza 
Seu  pobre  canto  com  a  dôr  desmaia, 
E  seus  gemidos  sZo  iguaes  á  queixa 
Que  a  yaga  solta  quando  be^a  a  praia. 

Como  a  criança  que  banhada  em  prantos 
Procura  o  brinco  que  leyou4he  o  rio, 
]finh'alma  quer  reeuscitar  noie  cantos 
Um  8Ó  dos  lyrioB  que  murdieu  o  estio. 


80  TROYABOl 

Dizem  que  ha  gozos  nas  mandanaB  galas, 
Mas  eu  nSo  sei  em  qae  o  prazer  oonsiste, 
Ott  só  no  campo,  ou  no  rumor  das  salas, 
NSo  Bei  por  qae,  mas  a  minh'alma  è  triste ! 


TIVEHDO  DE  TI  DISTASTE 

Poesia  de  uma  nitheroyhenae,  e  musiea  de  J.  J.  Bernardes 

Vivendo  de  ti  distante 
E  sempre  em  grande  afflicçSo, 
De  saudades  tenho  oppresso 
O  ineu  leal  coraçSo, 

Se  tu  de  mim 
NSo  te  esqueceres, 
Ainda  terei 
Divos  prazeres. 

Se  inda  em  teu  peito  existe 
Aqudia  mesma  paixSo, 
Vem,  que  ancioso  t'espera 
Um  saudoso  ooraç2o. 

Se  tu  de  mim 
KSo  te  esqueceres, 
HSo-de  ter  fim 
Os  meus  lazeres. 

Juraste — eu  também  jurei 
Por  Deus,  que  entSo  nos  ouvia. 
Que  findaria  esse  amor 
Ko  fímdo  da  campa  fria. 

Ojuramento 
NSo  quebres — nlO, 
Que  ainda  é  constante 
Métt  eoraçSo* 


j 


TROVADOR  81 

GEMO  NA  DURA  PRISiO 

Qaando  de  Analia  eu  reparo 
A  sublime  perfeição, 
Caio  nos  laços  de  amor^ 
Gemo  na  dará  prisão. 

De  Analia  vencer  não  posso 
A  menor  contemplação, 
Cadêas,  ferros  arrasto. 
Gemo  na  dura  prisão. 

• 

Se  a  linda  Analia  qaizesse 
Socegar  meu  coração. .  • 
Mas  não  quer,  sou  desgraçado. 
Gemo  na  dura  prisão. 


RECITATIVOS 


k  LUA 


(^tíb  fases,  risonha,  mirando  estes  mares. 
Suspensa  nos  ares — vagando  nos  céos? 
Quem  és?  que  mysterio !  revela  o  segredo, 
Bevela,  que  é  cedo  —  se  és  filha  de  Deus! 

O  dôoe  cortejo  de  estrellas  mimosas, 
Grentis,  luminosas — te  seguem  p'ra  aléml 
— Expande,  não  temas — teus  languidos  ri 
£  ii'e88es  desmaios — me  falia  também! 


se  TROViiBOR 

Se  fallaS)  conversas  —  conversas  sósinha? 
Caminha...  caminha  —  mas  diz-me  o  que  és: 
Es  mundo  perdido  no  céo  purpurino, 
Ou  throno  divino  —  da  Virgem  aos  pés? 

Espera!  não  fojas,  nSo  fujas  do  dia, 
Celeste  magia  —  nSo  cances,  derrama! 
Eu  amo-te  os  meigos  —  os  ternos  palores 
No  laivo  de  amores  —  que  o  peito  m'inflamma  f 

As 'flores  te  adoram,  que  orvalhas  sahindo, 
Das  nuvens  fugindo  —  ligeira  a  brilhai*, 
O  lago  alvacento  nas  aguas  do  prata 
Teu  porte  retrata  no  seu  soluçar! 

Os  montes  altivos  e  serras  tu  beijas, 
A  relva  vicejas  —  do  campo  a  morrer ! 
És  astro  de  amores  —  vagando  nos  ares, 
Tombando  nos  mares — rolando  a  correr! 

Ah!  dize,  nSo  cales,  se  és  praga  de  fada. 
Ou  alma  penada  —  no  espaço  perdida. 
Ou  noiva  de  um  santo  —  tSo  alto  emb&lada, 
Ou  prece  sagrada  —  de  um  ai\jo  cahida? 

Se  foste  da  terra,  que  sina  é  a  tua?.  •  • 
NSo  fujas,  oh  lua  —  não  fujas  do  dia; 
Eu  conto-te  os  transes  —  e  as  magoas  do  seio, 
E  o  férvido  anceio  —  qu'est'alma  angustia. 

As  paginas  soltas  do  livro  da  vida 
Soletra,  querida  —  se  foste  da  terra! 
Porém,  vagabunda — se  foges  errante. 
Na  luz  vacillante  teu  manto  descerrai 


r 


i 


TROVADOR  83 

SSo  horas  propicias — que  dôcos  momentos  1 
Aplaca  08  tormentos  —  que  eu  soffro  comtigol 
—  Espera!  do  vento  no  plácido  açoite, 
Princeza  da  iv>ite  —  conyersa  commigo! 

Pelo  fallecido  João  Rodrigues  Proença. 


AO  SOL 


Que  fazes  —  possante  —  no  ar  dominando, 
Teu  fogo  espalliando — por  montes  e  vallés?. . 
Sevela  quem  deu-te  tamanho  poder, 
Bevela  o  teu  ser  —  revela,  nâo  cales. 

O  mundo  se  agita  apenas  despontas, 
Apenas  apontas  —  ao  longe  fulgindo; 
Mil  hymnos  da  terra  ao  céo  se  levantam 
Das  aves  que  cantam  — aos  ninhos  fugindo. 

Do  prado  as  florinhas  esperam  contentes 
Teus  beijos  ardentes,  repletos  de  amor; 
A  relva  mimosa,  de  orvalho  banhada. 
Espera  curvada  —  teu  doce  calor. 

Em  toda  a  natura  renasce  alegria, 
Apenas  o  dia  —  em  teu  carro  se  mostra; 
Até  do  deserto  o  selvagem  feroz,       , 
Correndo  veloz  —  contrito  se  prostra. 

Que  mago  deleite,  que  doce  langor 
Teu  vivo  calor  —  nos  lança  dos  ares, 
Nas  horas  da  sesta,  lá  quando  dominas 
As  Vttrdes  camninas  —  o  leito  dos  mares  ! .  •  • 


^ 


81  TROVADOR 

I 

EntSo  ta  imperas  da  briza  aos  bafejos, 
Mil  loucos  desejos — fazendo  sonhar; 
Porém  —  sobranceiro — »ao  mundo  soriindo, 
Tu  yaes  pros^guindo  —  no  teu*caminliar. 

E  quando  completas  teu  giro  no  espaço, 
E  yaes  no  regaço  —  do  mar  t^indinando; 
Que  santo  mysterio!  que  doce  magia, 
Que  meiga  poesia  yaes  tu  espalhando !  •  •  •  ' 

Do  prado  os  cantores  te  mandam  do  seio, 
Em  doce  gorgeio,  cançSes  sonorosas ; 
Nas  azas  da  briza  te  mandam  as  flores 
Suaves  odores  —  das  pet'las  mimosas. 

Oh  sol  I  •  •  •  quem  és  tu,  que  lá  d^essa  altura 
A  toda  a  natura  —  dás  tanto  esplendor?. . . 
És  rei  do  universo,  do  céo  habitante. 
Ou  £ekcho  brilhante  —  nas  mãos  do  Senhor?. .  • 

» 
Âh !  •  • .  diz-me  o  segredo  de  tua  existência, 

Bevela  a  essência  —  que  encerras  comtigo ; 

A*  luz  de  teus  raios,  em  basta  floresta. 

Nas  horas  d^  sesta  —  conversa  commigo. 

A,  J.  de  8<nh$a. 


HA60A  E  SAUDADE 


Pallido  o  rosto,  sobre  a  mSo  mimosa, 

Vejo-a  saudosa,  succUmbindo  á  dõr; 

Sua  alma  apraz-se  na  agonia  lenta, 

Que  mais  lhe  augmenta  um  desgraçado  amor< 


TROVADOR  85 


Longe,  bem  longe,  no  scismar  ancioBO, 
Busca  o  ditoso,  a  quem  oatr'ora  amoa, 
£  que,  sem  alma,  desprezando  prantos, 
Laços  t2o  santos,  sem  pezar  quebrou* 


Porque,  sem  dó,  espedaçaste  os  sonhos 
H^gos,  risonhos,  de  tSo  puro  amor? 
Porque  trouxeste  em  apparencia  calma, 
A  morte  dUma  i  mwis  bdla  fidrí 

Dize-me :  acaso  nSo  choraste  ao  vêl-a 
Tio  triste  e  bella  na  fatal  mudez? 
£  sem  piedade  a  tSo  leaes  extremos, 
Disseste:  amemos,  a  sorrir,  talvez? 

Dize-me :  acaso  mel*eceste  a  chamma 
Que  ainda  inflamma  o  sen  ardente  olhar? 
IMze-me:  acaso  mereceste  os  prantos 
E  00  lindos  cantos  de  quem  soube  amar? 

Maldito  aquelle  que  murchou  a  rosa, 
Pura,  mimosa,  de  celeste  alvor  1 
Maldito  aquelle  que  zombou  da  (arença 
Única,  immensa,  do  mais  santo  amor ! 


Por  um  nitheroj/hente» 


86  TROVADOR 


LUNDU 


É  PENEIRA  NOS  OLHOS  QUE  TEM 

As  peneiras  no  mundo  só  servem 
Para  riso,  vergonha  e  desdém, 
E  os  homens  os  mais  intruidos 
Tem  peneira  nos  olhos  também. 

Toda  a  moça  que  vai  p'ra  a  janella 
Esperar  o  amante  que  vem, 
Quando  a  mãi  vem  a  ser  sabedora, 
Tem  peneira  nos  olhos  também. 

Toda  a  moça  que  gosta  de  bailes, 
É  porque  n'isso  interesse  ellas  tem, 
Quasi  sempre  por  estes  lugares 
Ha  peneira  nos  olhos  também. 

  mamã  que  deixa  suas  filhas 

Com  seus  primos  —  por  homens  de  bem, 

E  depois  arrependem-se  e  casam, 

Ê  peneira  nos  olhos  que  tem. 

Certos  velhos  com  falta  de  tino, 
Que  inda  tentam  casar-se  mui  bem, 
Quando  pensam  que  os  filhos  sSo  d^elles 
É  peneira  nos  olhos  que  tem. 

Toda  a  moça  que  cose  por  machina 
E  que  julga  coser  muito  bem, 
Dando  pontos  de  légua  e  meia 
Tem  peneira  nos  olhos  também. 


TROVADOR  87 


MODINHAS 


VEM,  DONZELU,  NA  HORA  EXTREMA 

(iCOVÂ  modiuha) 

Vem,  donzella,  na  hora  extrema 
Cinge  ao  meu  teu  casto  seio, 
E  corando  em  mago  enleio^ 
y«m  dizer  um  triste  adeus. 

Adeus,  rosa  d'ÍDnocenciay 
O  virgem  dos  sonhos  meus ! 

N'am  sorriso  teu  divino 
Unge  o  raio  de  esperança, 
E  qual  astro  de  bonança 
  minha  noite  illumina. 

Adeus,  Ijrio  de  candura, 
Adeus,  fada  peregrina. 

Dá-me  um  só  beijo. ..  com  elle 
Mitiga  da  ausência  as  dores; 
E  bem  tsomo  a  aurora  ás  flores, 
Me  orvalha  o  sonho  amoroso. 

AdeuB,  flor,  celeste  virgem, 

Minha  fada,  anjo  formoso. 

« 

Cândido  José  de  Araújo  Vianna, 


•8  TROVADOR 


A  DESPEDIDA 


Poesia  do  falleoldo  dr.  Laurindo  Eebollo,  e  musica  do  snr.  J.  L, 

de  Almeida  Cunha 


AdeuBi  adôUB,  é  chegada 
A  hora  da  despedida; 
Vouj  que  importa,  se  te  deixo 
N'este  adeus  a  minha  vida? 

Foste  ingrata  aos  meus  extremos, 
Nto  te  peço  gratidSo; 
PerdSo  para  os  meus  carinhos, 
Aos  meus  amores  perdSo. 

Eu  era  um  ente  na  terra. 
Tu  eras  um  cherubim ; 
Deus  tirou-te  dos  seus  anjos, 
N8o  nasceste  para  mim. 

Perdoa  ao  louco  d'amor 
Esta  estulta  elevaçSo; 
PerdSo  para  os  meus  carinhos, 
Aos  meus  amores  perdSo. 

O  crime  que  commetti 
Foi  muito  punido  já ; 
Castigou-me  o  teudes  prezo. 
Maior  castigo  nXo  ha. 

Castigado,  reconheço 
Quanto  é  justa  a  puniçSo; 
Perdão  para  os  meus  carinhos. 
Aos  meus  amores  perdSo. 


I 

A 


TROVADOR 


89 


Poaca  vida  já  me  resta ; 
Ea  sinto  qae  esta  amargara 
TSo  intensa — muito  cedo 
Ha^e  abrir-me  a  sepultura. 

Do  crime  que  fiz  de  amar-te 
Vem  dar-me  absolviçSo; 
FerdSo  para  os  meus  carinhos, 
Aos  meus  amores  perdSo. 


ALÉM  DE  MEUS  HALBS 


Além  de  meus  males 
Vêr  Mareia  infiel| 
Zombar  de  meus  prantos, 
Ser  sempre  cruel. 

Ê  tSo  caprichosa, 
E  tSo  fementida, 
NSo  sabe  essa  ingrata 
Que  me  rouba  a  vida ! 
Oh  Mareia,  adeus. 
Eu  morro,  adeus. 

Da  sorte  os  caprichos 
NSo  me  tributavam. 
Quando  os  lábios  d'ella 
Um  riso  me  davam. 

É  tSo  caprichosa  —  etc< 


90  TROVADOR 

E  agora  se  uniram 
A  ingrata  e  a  sorte, 
Para  gota  a  gota 
Me  darem  a  morte. 


É  tâo  caprichosl^—  etc. 


ADEUS,  MEU  ANJO 

Adetu9,  meu  anjo,  que  eu  parto, 
P'ra  longe  de  ti  me  ausento; 
Vou  soffrer  saudosas  dores, 
Vou  passar  cruel  tormento. 

Adora  a  triste  saudade. 
Emblema  do  meu  amor; 
Gravadas  eu  tonho  n'alma 
Seu  padecer,  sua  dôr. 


Oenuíno  José  Tavares, 


RECITATIVOS 


O  SONHO 

Eu  tive  um  sonho  era  que  vi  —  senti 
Lucinda,  linda,  para  mim  partir; 
E  09  lábios  bellos  entreabrindo  —  rindo, 
Ditoso  gozo  demonstrar  friur. 


TROVADOR 


91 


!Era  seu  rosto  de  encantos  tantoe, 
Sereno,  amenO|  de  morena  côr; 
Pedi-lhe  um  beijo,  e  n'um  engano  lhano, 
Delirei|  manchei  seu  Juvenil  pudor. 

£lla,  anciosa,  n'e3se  enredo  ledo 
Furtivo,  'squivo  um  olhar  lançou-me; 
Jalguei  estar  n'esse  instante,  ante 
Estrella  bella  que  o  céo  fadou-me. 

Foi  d'esses  sonhos  que  a  mente  %ente. .  • 
Dourado  fado  ao  perpassar  da  vida.  • . 
Sonho  que  indica  mil  venturas  puras, 
Elstreito  preito  de  existência  fida. 

£ngano  d'alma  que  existe  triste, 
SofPrendo,  crendo  em  ideaes  primores. . . 
IllusSo  fictícia  que  n'um  momento  lento. 
Contente  sente  quem  sonhar  amores. 

Mas  despertando  do  risonho  sonho, 
Liucinda,  linda,  jamais  pude  achar! 
N2o  pude  vêl-a !  mas. . .  embora.  • .  agora 
Desperto  certo  de  que  a  devo  amar. 

Ricardo  Francisco  de  Almeida. 


A  NEBULOSA 


Poeaia  do  snr.  Tito  Livio,  e  musica  do  sur.  José  de  Souaa  e  Aragào 

Já  lâstes  a  Nebulosa 
Do  fluminense  cantor? 
NSo  vistes  a  peregrina 
Que  matou  ao  trovador?! 


92  TBOYÂDOR 

Assinii  xnulheri  tu  me  matas 
Com  teus  desprezos  sem  fim ; 
NSo  tenhas  tal  isençSo, 
'   Meu  anjO|  tem  dó  de  mim. 

A  flor  de  minha  esperança 
Assim  ta  queres  murchar? 
NSo  te  commove  meu  pranto, 
Inda  queres  me  matar? 

Queres  que  faça  em  pedaços 
A  minha  Ijra  querida, 
Que  te  diga  eterno  adeus, 
Ao  depois  termine  a  vida? 

Que  eu  morra  porque  te  amo, 
NSo  consintas,  lindo  archanjo; 
Mulher,  acolhe  os  meus  ais. 
Tem  pena  de  mim,  meu  anjo. 


CANÇÃO 


O  MARUJO 

Triste  vida  a  do  marujo, 
Qual  d'ellas  a  mais  cançada, 
Por  'mor  da  triste  soldada 
Passa  tormentos. 

Andar  á  chura  e  aos  yentos, 
Quer  de  verSo,  quer  de  inTomo, 
Que  .parece  o  próprio  inferno. 
Com  tempestades. 


TROVADOR 


93 


As  nossas  necessidades 
Nos  forçam  a  navegar, 
E  passar  tempos  no  mar 
Em  aguaceiros. 

Paasam-se  dias  inteiros 
Sem  se  poder  cozinhar. 
Nem  tZo  pouco  mal  assar 
Nossa  comida. 

Arrenego  eu'  d'esta  vida 
Que  nos  dá  tanta  canceira; 
Sem  a  nossa  bebedeira 
NSo,  não  passamos. 

Quando  descansados  'stamos 
No  rancho  a  socegar, 
EntUo  ouvimos  gritar : 
—  Oh  I  leva  arriba  I 


LUNDC 


O  BANQUEIRO 


Musica  do  snr.  J.  L.  de  Akneida  Cuaha 


O  diabo  da  menina 
Commigo  se  enrabichou 
De  tal  modo,  que  por  mim 
Um  banqueiro  abandonou; 


94  TROVADOR 


Daya-lhe  o  rico  banqueiro 

Seiscentos  mil  reis  mensaes, 
Ea  por  dia  dou-lhe  cinco, 
A  menina  pede  mais. 

Pede  maÍ8|  mas  nSo  me  deixa, 
Gosta  mais  do  meu  dinheiro. 
Acha  mais  gosto  nas  minhas 
Que  nas  notas  do  banqueiro. 

Trata  as  minhas  com  apreço, 
Trata  as  d'elle  com  desdém; 
Eu  não  sei,  ella  é  quem  sabe 
As  minhas  que  gosto  tem, 

O  banqueiro  é  um  labrego, 
Grosseiro  por  natureza, 
Talvez  que  as  notas  nem  saiba 
Dar-lhe  com  delicadeza, 

Elle  di  notas  mensaes, 
Eu  dou  as  minhas  por  dia 
Com  toda  a  delicadeza, 
Com  toda  a  diplomacia. 

Ás  vezes  eu  dou-lhe  as  notas 
Com  geitos  e  modos  taes. 
Que  em  suspiros,  dá-me  em  troca 
Temas  notas  musicaes. 

Feito  o  troco,  diz  tomando 
A  bolsa  do  meu  dinheiro : 
Quem  é  que  troca  esta  bolsa 
Pelo  banco,  de  um  banqueiro? 


TROVADOR 


95 


MODINHAS 


SE  ÉS  ANJO  NO  GESTO  E  BELLEZA 

Masica  do  snr.  José  Leite 

Se  és  anjo  no  gesto  e  belleza, 
Tens  no  |)eito  de  fera  o  rigor ! . . . 
Ai !  nSo  temo  tens  feios  enganos ! 
Já  nSo  sinto  por  ti  temo  amor! 

Desfolharam  a  flor  de  meus  dias, 
Como  o  vento  desfolha  uma  flori 
NSo  quizeste  que  a  flor  fosse  minha, 
Já  nSo  sinto  por  ti  terno  amor !  •  •  • 

De  teus  olhos  n'am  terno  desmaio 
Vi  escripta  a  traiçSo  e  furor ! . .  • 
Enganaya-me  a  luz  de  teus  olhos, 
Já  não  sinto  por  ti  terno  amor ! .  • . 

Desfolharam  a  flôr  de  meus  dias  —  etc. 


NAS  HORAS  QUE  PASSO  TiO  TRISTB 


(hoya  modihha) 


Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha  —  O  descrido 


Nas  horas  qae  passo  tão  triste 
Bem  recordo  meus  doces  amores, 
Esses  «onhos  dourados  de  oxitr'ora, 
Esses  prados  cobertos  de  flores; 


96  TROVADOR 

Esses  tempos  tSo  beUcs,  tSo  paroB| 
De  floridas  manhãs  de  arrebol, 
Onde  ea,  em  palmares  yirentesi 
NSo  sentia  os  ardores  do  sol; 

Esses  tempos...  nSo  quero  lembrar-me! 
Morre  o  riso  nos  campos  da  dor; 
Soffire  o  peito,  de  magoa  tranzido, 
Ao  lembrar-me  da  quadra  de  amor. 

Da  saudade  o  abutre  voraz 
E  só  hoje  meu  doce  prazer. . . 
A  pensar  só  nos  dias  de  outr'oraí 
Eu  só  peço,  —  só  quero  morrer ! 

Corra  em  faces  doridas  o  pranto 
Da  tristeza  cruel  a  mim  dado; 
Finde  o  cálix  das  fezes  amargas 
Junto  sempre  do  meu  negro  fGido.  ' 

Tudo  é  findo  p'ra  mim,  só  as  gotas 
D'esse  pranto  que  corre-me  forte 
Faz  qu'eu  triste  —  de  tudo  esquecido. 
Queira,  rindo,  abraçar-me  eo'a  morte. 

Adeodato  8oeraièê$  dê  MMo. 


RÓSEAS  FLORES  D*ALTORADA 

Boseas  flores  d'alyorada^ 
Teus  perfumes  causam  dôr; 
Essa  imagem  que  recorda» 
E'  meu  puro  e  santo  amor. 


i 


TROTABOR  IOi 


Me  chamaip  TSgo,  eê  ccsUra  e  tal, 
Té  animal  disem  j&  qu'ea  sou ; 
Pouco  me  importa  qa'eUe3  tBo  fallaado, 
Mesmo  vagando  —  bem  vivendo  vou. 


QuaJòerto  Peçanha. 


ROMANCE 


AHOR  DE  mi 


do  snr.  Elias  Alves  Lobo 


Sob  as  azas  plumosas  da  rôla 
O  âUlinbo  piando  se  acolhe. 
Como  em  seio  de  mSi  carinhosa 
Temo  infante  mil  beijos  recolhe. 

Sabe  a  rôla,  arroubada  de  affecto, 
O  seu  filho  contente  a&gar; 
E  a  mSi,  com  extremo  e  enlevo, 
Doce  somno  d'infaneia  embalar. 

Nossa  mSi  é  o  anjo  inspirado 
Que  na  dôr  ou  prazer  resplandece; 
Tudo  acaba  e  destróe-se  na  vida. 
Só  de  mSi  o  amor  nSo  fenece. 

Se  elle  chora,  ella  chora  com  elle. 
Se  elle  ri,  ella  exulta  também; 
Nossa  mSi  é  um  anjo  sublime, 
Outro  igual  este  mundo  nSo  tem. 


TRGfADOR 

Pôde  o  crime  manehar  a  exirteneÍA 
D'am  seu  filho  nos  seios  criado ; 
  mSi  tema  lamenta  a  desgraça, 
Mas  nSo  deixa  seu  filho  isolado. 

Nossa  mSi  é  om  anjo  inspirado. 
Que  na  dõr  ou  prazer  resplandece ; 
Tudo  acaba  e  destróe-se  na  vida, 
Só  de  mSi  o  amor  nSo  fenece. 


LUNDC 


A  GÕR  MORENA 

(■OTO  Linn>{) 

* 

Resposta  ao  londú  do  mesmo  titulo  pabliosdo  no  n.«  1  do  Troyádob 
por  uma  joTen  fluminense.  Para  ser  oantado  pela  mosica  do  Icm- 
dú  —  Mulatinha  do  caroço. 

Eu  bem  sei  que  é  delicada, 

Apreciada, 
Da  morena  a  viva  oôr; 
Eu  por  ella  também  sinto, 

E  nSo  minto, 
O  mais  puro  e  santo  amor. 

E'  a  côr  mais  delicada. 

Enfeitiçada, 
Que  captiva  o  coração; 
Eu  por  ella  sinto  n'alma 

Dôoe  calma 
Da  mais  ardente  paizio. 


J 


TBOTASM  101 


E'  mimosa,  engraçadinha 

A  moreninha. 
Me  sedns  a  todo  instante ; 
Puxo  amor  ea  lhe  jorei, 

Viverei, 
Qoal  leal  e  fido  amante. 

Ea  serei,  e  hei-de  ser, 

Ai%  morrer, 
Da  morena  bem  constante; 
Só  o  fado,  a  negra  sorte^ 

Só  a  morte 
He  fiurá  ser  inconstante. 

Eu  gosto  da  moreninha, 

Firmezinha, 
Bem  sincera  e  bem  bondosa; 
Nlo  é  só  a  linda  c6r. 

Meu  amor, 
Qne  a  &z  ser  assim  mimosa. 

Ea  aposto  ser  a  côr. 

Meu  amor, 
Qne  mais  agrados  inspira; 
É  por  eUa  que  os  oantoves, 

TroTadoreUy 
As  cordas  vibram  da  lyra. 


Adeodato  SacrcOeê  dê  MMo. 


t04  TROVADOR 


MODINHAS 


A  VIRGEM  DO  MEU  AMOR 

(hoya  modxhha.) 
Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha  —  Bôxa  êoudade 

Quando  te  vejo, 
Mimosa  flor, 
Louco  —  por  ti 
Morro  de  amor. 

Um  teu  sorriso 
E'  meu  viver; 
Longe  de  ti 
Vivo  a  soflBrer. 

Tuas  madeixas, 
De  negra  oõr. 
Me  ateiam  n'alma 
Voraz  amor. 

Olhinhos  ternos, 
TSo  seductores, 
SSo  pyrilampos 
Por  entre  as  flores. 

Tu  és,  ó  virgem, 
O  meu  condSo; 
'        Trago-te  sempre 
No  coraçSo. 


TROYABOR 


91 


Ail  quem  respira 
Os  teoB  odores, 
Fenece  triste, 

Morre  de  amores. 

i 

NSo  pôde  gozar  yenturas 
Qaem  de  amor  aoffire  afflicçXo, 
NSo  pôde,  afeito  aos  gemidos, 
Ter  prazer  meu  coraçto. 

Ai !  quem  respira  —  eto. 

Sem  os  sonhos  de  ventura 
Murchou-se  a  flor  do  desejo; 
Que  m'importam  outras  flores. 
Se  a  minha  bella  eu  nSo  vejo. 

Ai  I  qaem  respira  —  eto. 

Deixai  que  eu  viva  <íq  penas. 
De  saudade  e  de  lembrança, 
Já  que  sequer  me  nSo  reata 
Nem  uma  só  esperança. 

Ai !  quem  respira 
Os  teus  odores, 
Fenece  triste, 
Morre  de  amores. 


MARIUA,  ESCUTA 


k,  escuta, 
Ouve  os  queixumes, 
Nlo  ha  quem  ame 
Sem  ter  ciúmes. 


M  TEOTÀDOR 

ICftrilia,  «ioata 
Meu  ooniçlo, 
Tem  dó,  traa  pma 
^D'QtU  afflieçlo. 

DA-me  mu  rival; 
Craya  em  mea  peito 
Duvo  puiihAl. 

Dá-mOy  6  Marilia, 
Teu  coraçSo, 
Ou  dá-ine  a  morte 
Com  tua  mSo. 

O  desgraçado 
Suspira  e  chorai 
E  delirante 
Amor  te  implora. 


RECHATIVOS 


ALVA 


ÀBtro  divino,  que  rompendo  as  trevas 
O  mundo  inundas  de  esplendor  brilhante ; 
'Virtude  aoordas,  e  a  crença  elevas 
Ao  mortal  triste  que  vagueia  errante. 

Se  longas  horas  te  contempla  attento 
Ó  ente  triste,  de  soffirer  cançado; 
Seu  mal  esquece,  e  um  novo  alento 
Sente  no  peito,  pela  dôr  magoado. 


j 


TROYADOR 


90 


Ka  soidBo  da  noite,  «e  am  soiBmar  ardmta 
Abysma  o  homem  que,  pensando — yela; 
Teos  brandoB  raios  dlo-llie  calma  á  mento, 
Qae  se  extasia  de  te  vâr  tSo  bella* 

Fogo  sagrado,  tea  celeste  encanto 
I7o  mundo  impera  com  poder  immenso; 
Só  tu  inspiras  o  amor  mais  santo, 

sublime  d'um  afifecto  intenso. 


Teu  doce  brillxo  que  no  ar  fulgura, 
E'  qual  anjinho  a  doudejar  sereno; 
Tranquillo  corre,  sua  idóa  é  pura... 
Assim  tu  corres  pelo  céo  ameno. 

Astro  dÍTÍno,  que  rompendo  as  trevas 
O  mundo  inundas  de  esplendor  brilhante : 
As  almas  puras  que  na  terra  enlevas 
Meigo  illumina,  dá-Ihe  luz  constante. 

Por  uma  joven  fluminense^ 


O  TA60 


NBo  tenho  bago  no  meu  bolso  —  é  &cto : 
O  meu  sapato  já  roido  é  todo ; 
Ando  calçado,  mas  dos  pés  os  dedos 
liâem  segredos  que  só  ha  no  lodo. 

Os  cotovelos  da  oasaoa  usada, 
Uma  risada  também  dSo,  se  encolho 
Qualquer  dos  braços,  p'ra  chamar  alguém 
Que  vejo  além  tt  me  piscar  o  olho. 


100  TROVADOR 

A  minhA  calça,  nos  seus  doas  joelhos 
Tem  espelhos  p'ra  mirar-se  o  home' 
Qae  só  procora  pervertidos  guias, 
E  nas  orgias  seu  vivor  consome. 

Chapéo  nSo  tenho,  a  cachola  minha, 
Ail  coitadinha!  trago  sempre  núa; 
Os  meus  cabellos  (meu  prazer !),  .coitados, 
Arripiados,  pavor  tem  da  lua. 

• 

Minha  camisa,  que  também  foi  nova, 
Qae  grande  sova  tem  levado  —  sei ; 
Porém  nSo  lembro  se  á  lavadeira, 
Oa  á  caseira  p'ra  lavar  eu  dei. 

As  minhas  meias,  se  algaem  as  visse, 
Talvez  sentisse...  (mas  sSo  meias  finas) 
...  Porque  exhalam  (sem  ser  lisonjeiro) 
O  bdlo  cheiro  de  um  frescal  de  Minas. 

E  no  entanto,  que  namoro  ás  bellas 
Que  p'las  janeilas  —  ao  passar  eu  vejo ! 
Algumas  deixam  escapar  o  riso, 
Que  de  improviso  fugir  deixa  o  pejo. 

E  assim  vivo  —  ora  rio  e  canto^ 
Se  a  tanto  chega  meu  prazer  no  dia ; 
Também  ás  vezes  amanheço  ardido, 
Se  hei  dormido  com  cruel  azia. 

Se  acaso  peço  com  voz  suppUcante 

A  um  passante,  —  pouca  cousa  — ^um  bago; 

O  tal  me  lança  um  olhar  feroz. 

Muda  de  voz  e  me  diz :  sahe  —7  vago. 


À 


TROVADOR 


408 


RECITATIVOS 


SAUDABE 


Era  mentira  quando  o  seio  ardente 
Inda  tremente  sobre  o  meu  senti  I 
Ohl  qae  loucora  n'e8se  rSo  desejo, 
K'aqaeile  beijo  que  ao  te  dar  morri  I 

Lembra-me  ainda  o  clarear  da  loa 
Quando  na  tua  minha  mão  tremeu ; 
Inda  imagino  teu  vestido  aéreo 
N'e88e  mysterio  que  me  enlouqueceu. 

Húmida  nuyem  de  uma  luz  saudosa 
A  face  rosa  te  cobriu . .  •  passou ; 
Como  de  orvalho  esse  véo  nitente 
Que  o  lyrio  algente  de  pudor  curvou. 

Oh !  que  alegrias,  noa  jardins,  nas  salas. 
As  doces  falias  do  te  ouvir  sonhei ! 
Entre  as  roseiras,  do  luar  queridas, 
Hoje  esqueèidas  a  memoria  achei. 

Ficou-me  apenas  n'esta  curta  idade 
Murcha  saudade  do  sonhar  fagueiro: 
E'  flor  que  exprime,  quando  passas  linda, 
A  vida  finda  do  amor  primeiro. 


B.  Paalo,  185. . 


Conselheiro  J.  Bonifácio. 


410  TROYADOit 


EHLEYO 

A  meia  noite,  silenciosa  a  terra, 
£a  quero  a  vida  reviver  comtigo ; 
Nova  existência  de  dourado  enleio 
De  amor  ditosa,  vem  sonhar  commigo. 

Sobre  o  meu  peito  enrubecida,  anciofla 
Eu  quero  vâr-te  de  meus — ais — rendida, 
De  amor  oaptiva,  perfumados  beijos 
Minh'alma  triste  colherá  na  vida. 

£  tu  em  gozos  de  mn  sentir  profundo 
Caricias  ternas,  meu  amor  fruindo, 
Sempre  a  meu  lado,  divinaes  prazeres. 
Celestes  sonhos,  gozi^ráa  sorrindo. 

Assim  da  vida  as  esmaltadas  flores 
De  nossas  almas  nascerXo  formosas ; 
Aéreo  mundo  habitaremos  ambos. 
Amante  império,  que  existir  de  rosas ! 

E  entSo  comtigo,  em  anhelante  abraço 
Vendo-te  bella,  a  palpitar  tremendo. 
Sobre  o  teu  coUo  de  volúpia  cheio 
Quero  o  meu  rosto  reclinar  morrendo* 

F.  J.  Bettencourt  da  Silva» 


I 

1 


TMVAlKm  IH 


ROMANCE 


VEM  TE  VI 

do  8iir.  Bettenoourt  Sampaio,  o  musica  do  snr.  £.  Alvaree  Lobo. 

Debaixo  d'este  arvoredo 
Para  te  olhar  me  escondi, 
Tu  passavas  em  segredo, 
Cantei  baixinho  com  medo : 

{Indtando  o  poêêaro) 
Bem  te  vi. 

Quiz  dizer-te,  atras  oorrendo, 
Morro  de  amores  por  ti ; 
Mas  nSo  sei  porque  tremendo 
Fiquei  parado  dizendo : 

(Imitando  o  poBêaro) 
Bem  te  vi. 

Junto  a  fonte  crystallina 
Scismando  chegaste  aUi; 
Sopra  a  briza  a  casualina 
*  Doce  nome  Cipladina : 

(Imitando  o  paêsaro) 
Bem  te  vi. 

E  tu  voltaste  cantando ! 
Que  voz  tSo  meiga  que  oaví ; 
Fui  entSo  te  acompanhando, 
Foste  andando, 

(Imitando  o  pauaro) 
Bem  te  vi. 


lit  TROVADOR 


BARCAROLA 


BARCA  BELLA 


Pescador  da  barca  Bella, 
Onde  vaes  pescar  com  ella, 

Que  é  tSo  bella, 

O  pescador? 

NSo  YÔ8  que  a  ultima  estrella 
No  céo  nublado  se  vela? 

Colhe  a  vela, 

Ó  pescador! 

Pescador  da  barca  Bella, 
Inda  é  tempo,  foge  d'ella; 

Foge  d'ella, 

O  pescador  I 

NSo  se  enrede  a  rede  n'ella, 
Que  perdido  é  o  remo  e  vela 

Só  de  vêl-a, 

Ó  pescador ! 

Deita  o  lanço  com  cautela 
Que  a  serêa  canta  bella, 

Mas  cautela, 

Ó  pescador  I 


nOTADOR  165 

Aceita  as  provas 
Do  teu  cantor, 
Que  BÓ  em  vèr-te 
Morre  de  amor. 

AdeodcUo  Sócrates  de  MeUo. 


QUE  QUERES  MAIS? 


Poesia  do  falleoiâo  ^.  Laurindo  Rebello,  o  manca 
do  snr.  J.  L.  de  A.  Cunha 


Que  maia  desejas  7^ 
Tudo  te  deiy 
De  tudo,  em  troca 
Nada  alcancei. 

Dci-te  meu  peito 
Em  pranto  e  ais ; 
Dei-te  minh'alma, 
Que  queres  mais? 

Juraste  eterna 
FideUdade : 
Segoin-se  á  jura 
A  falsidade. 

Em  toda  a  parte 
Vejo  rivaes; 
Aféperdi-te, 
NSo  creio  mais. 

Se  nSo  me  queres, 
Se  nSo  me  adcuras, 
Quando  me  queixo 
Que  tens,  que  choras? 


lOS  TROVABQfl 


Ah  I  nSo  me  {Hrendas 
No  pranto  tea ; 
NSo  qaero  um  pranto 
Qae  nlo  é  men. 

Mas  ahy  perdoa.  •• 
Foi  illasSo; 
Dos  meos  transportes 
Tem  compaizBo* 

Perdoa!  esaaeee 
O  mea  rigor; 
NSo  fere  offensa 
(     Que  yem  de  amor. 


QUANDO  NO  TUmiLG 


Quando  no  tumulo 
Dormires  um  dia 
Da  morte  o  somno, 
Na  lousa  fria; 

.  OuvírSo  meu  pó, 
Gemer  e  oarpir, 
Sô  o  nome  da  beUa 
Alguém  proferir. 

Será  indeleTol 
A  minha  ternura; 
Jurei  adoral-a 
'Té  na  sepultura. 


TROTADOR 


107 


Porém  se  primeiro 
Morreres,  Armia, 
Regará  meu  pranto 
Tua  loojsa  fria. 

Se  guavdas  constância, 
Amor  e  fé  pura, 
Serei  sempre  teu, 
'Té  na  sepultura. 

Nos  rogos  e  preces, 
Na  dôr  e  gemido, 
De  Armia  o  nome 
Será  proferido. 


A  DESCRENTE 

Foi  ditosa  e  feliz  minha  infância 
Toda  cheia  de  crença  e  de  amor, 
O  porvir  qu'eu  amara  com  anciã, 
Que  mais  tarde  deyia  transpor. 

QnSò  mentida  me  foi  a  esperança! 
Muito  cedo  perdi  a  illusSo ! 
Ai  dé  mim,  que  inda  sendo  criança. 
Vi  morrer  este  meu  coraçSo! 


E  morrer  sem  gozar  um  instante 
O  porvir*  que  no  berço  sonhei ! . . . 
Inda  moça,  e  do  crime  distante, 
Bem  depressa  no  crime  acordei. 


109  TROVADOR 

Acordei.  ••  qaiz  voltar.  ••  era  tarde.  •• 
Já  nSo  pude  á  desgraça  fugir ! 
Só  me  reata  hoje  triste  e  cobarde, 
O  meu  negro  destino  carpir. 

Essa  crença  de  amores  que  eu  tive, 
Ai!  p'ra  sempre,  p'ra  sempre  perdi; 
Em  vez  d'ella  o  cjnismo  revive 
Junto  ao  fel  qa'inda  moça  bebi. 

Que  mlmporta  que  nada  me  reste 
D 'essa  idade  de  crença  e  prazer; 
Que  m'importa  que  o  mundo  deteste 
Este  pranto  que  a  dôr  faz  verter?. .  • 

« 

Que  m'importa  a  indiff 'rença  do  mondo, 
Se  p'ra  o  mundo  indiff 'rente  já  sou?.  • . 
De  meu  crime  o  remorso  profundo 
Já  a  esperança  e  a  fé  me  roubou ! 

Só  me  resta  o  socego  da  campa 
Onde  em  breve  eu  irei  repousar! 
Esta  nódoa,  que  o  crime  m'estampa. 
Só  co'a  morte  eu  a  posso  apagar. 

D.  Josephina  Pitanga. 


TROYáiyOR  113 


lundCs 


COHTIGO  SÕ  POSSO  EU 

{hovo  lukdó) 
Para  aer  cantado  pela  musica  do  lundu — Eu  posso  com  maia  alguém 

Porque  duvidas  de  mim? 
'  D'am  amor  qae  é  todo  teu? 
Apre  lá,  com  teu8  ciúmes ! 
Comtigo  só  posso  eu. 

Quem  tSp  pouca  confiança 
Na  cabeça  te  metteu? 
Teus  amuos  nSo  mereçOi^ 
Comtigo  só  posso  eu. 

Taes  duvidas  mortificam 
O  sincero  peito  meu ; 
Só  eu  posèo  supportar-te, 
Comtigo  só  posso  eu. 

Diz-me  pois,  meu  amuado, 
Esse  zelos,  quem  t'os  deu?.  • . 
Taes  ciúmes  são  denguices, 
Comtigo  só  posso  eu. 

Confia,  meu  bem,  em  mim, 
N'um  peito  que  é  todo  teu; 
Amor,  ternura  e  constância, 
.Quem  te  consagra — sou  eu. 

« 

Por  uma  joven  fluminense* 

8 


114  TROVADOR 


LÁ  NO  LARGO  DA  SÉ 


Lá  no  largo  da  Sé  Velha 
'Stá  vivo  um  longo  tútú 
N^ama  gaiola  de  ferro, 
Chamado  surticãcá. 

Cobra  feroz 
Qae  tudo  ataca; 
'Té  d'algibeira 
Tira  a  pataca. 

Bravo !  da  especulaçSO 
SSo  progressos  da  naçlo. 

Elephantes  beberrSes, 
Cavallos  em  rodo^os, 
N'am  ourro  perto  d'Ajada 
Com  macacos  e  bugios* 

Tudo  se  vô, 
Misericórdia ! 
Só  por  dinheiro 
Ha  tal  mixordia. 

Bravo  I  da  especulaçSo  —  etc. 

Garatujas  mal  cortadas, 
Cosmoramas  triplicados. 
Fazem  vermos  toda  a  Europa 
Por  vidrinhos  mal  pintados. 

Boma,  Veneza, 
Londres,  Paris, 
Tudo  se  chega 
Ao  nosso  nariz. 

Bravo  !  da  especulaçSo  —  etc, 


TROV/IDOU  115 

Os  OBtrangeiroft  dXo  bailes 
P'ra  regalar  o  Brasil ; 
Mas  a  rua  do  Ouvidor 
E'  de  dinheiro  um  foniL 

Lindas  modinhas 
Vindas  de  França, 
Nossos  vinténs 
Lá  vSo  na  dança. 

Bravo !  da  especulaçSo  —  ete. 

Água  em  pedra  vem  do  norte 
PVa  sorvetes  fabricar ; 
De  que  nos  serve  os  oobrinhos 
Sem  a  gente  refrescar? 

A  pitanguinha 
Cajá,  cajá, 
Na  guela  fazem 
Taratatá ! 

Bravo  I  da  especulação  —  etc. 

Condido  Jgnaçio  da  SUva. 


MODINHAS 


VmaEH  SANTA 

Virgem  santa  e  meiga  a  quem  eu  amo 
Mais  do  que  se  ama  a  vida,  a  pátria,  os  oéos; 
Deixa  que  em  teu  coUo  eu  deite  a  fronte. 
Durma  e  sonhe  com  os  amores  meus. 


116  TROVADOR 

Assim  quero  gosar  tranqnillo  somno, 

Sonhar  comtigo  e  te  abraçar  sonhando; 

Tuas  mSos  sentir  unidas  ás  minhas, 

Um  beijo  tòu,  um  beijo  meu  de  quando  em  quando. 

Bella  virgem  de  amor,  meu  sêr  conforta, 
Tu  és  a  flor  que  me  embriagas  com  perfume ; 
Quero  vêr-me  feliz,  no  céo  julgar-me. 
Ter  esperança,  ter  fé,  nSo  mais  ciúme. 

Escuta,  ó  virgem  minha  —  quando  á  noite, 
Nas  horas  do  silencio  e  do  pranto. 
Surgir  a  lua  clareando  os  montes, 
Recorda-te  de  mim,  que  te  amo  tanto. 


SICaiANA 

Musica  de  Jo&o  Baptista  Cimbres 

Nas  horas  da  tarde  rubentes  do  outono, 
O  doce  Busurro  da  lympha  fugaz 
Desperta  em  meu  peito  saudade  voraz 
De  quem,  bem  o  sabes,  meu  anjo  —  do  ti. 

Quem  sabe  se  ainda  te  lembras  de  mim 
Que  trago  indelével,  na  mente  gravada, 
A  tua  imagem  de  tanto  fulgor^ 
Teus  olhos  brilhantes,  a  face  rosada. 

No  brilho  dos  raios  do  astro  da  noite, 
No  lindo  horisonte  em  noite  estrellada; 
A  luz  que  scintilla  nSo  é  comparada 
Aquella  que  brilha  em  teu  casto  semblante. 


i 
TROVADOR  117 


Mas  ali !  que  bem  penso,  é  triste  pensar ! 
NSo  sei  o  motivo  porque  a  natureza, 
A  tantos  encantos,  enlevos,  bolieza. 
Um  coraçSo  firme  deixou  de  ceder-te. 


NASCE  RISONHA  A  AURORA 

Poesia  de  M.  P.  de  Ulhôa  Cintra,  o  musica  de  Franoiseo  de  Bailes  Couto 

Nasce  risonha  a  aurora. 
Para  todos  ha  prazer; 
Só  eu  triste,  desgraçado. 
Vivo  sempre  a  padecer. 

Canta  o  terno  passarinho, 
Vejo  Q  campo  florescer; 
Para  mim  nSo  ha  ventura, 
Vivo  sempre  a  padecer. 


SE  A  ESPERANÇA  JÁ  NÃO  TENHO 
L     Poesia  de  M.  P.  de  Ulhôa  Cintra,  e  musica  de  Francisco  de  Salles  Conto 

Se  a  esperança  já  nSo  tenho, 
Para  que,  ó  céos,  viver? 
Se  Lisia  de  mim  s'esquece. 
Meu  allivio  é  só  morrer. 

Gomo  é  cruel 
*  A  sorte  dura. 

Que  me  condemna 
.  À  sepultura! 


118  TROVADOR 


O  oéo  castigue 
O  teu  rigor, 
Já  que  desprezas 
Meu  terno  amor. 


A  TIDA  E  A  MORTE 

Olha,  Mareia,  aquelles  campos 
De  sopulchros  alinhados; 
Alli  dormirão  bem  cedo 
Os  meus  ossos  descarnados. 

Suspende  o  pranto  de  amor, 
NSo  chores,  prenda  querida, 
Porque  a  morte  nos  liberta 
Das  desgraças  doesta  vida* 

Qual  amamos  sobre  a  terra, 

—  Já  da  vida  roto  véo  — 

Co'o  mesmo  extremo  se  pôde  • 

Também  amar  lá  no  céo. 

Suspende  o  pranto  de  amor —  etc. 


Noronha, 


TROVADOR  119 


RECITÀnVOS 


TENnS 


Vem,  rainha  estrella,  que  te  espero  ancioBO, 
Astro  garboso  a  irradiar  no  céo; 
Vem,  rutilante,  a  desparzir  yenturas, 
Lá  nas  alturas  a  fulgir  sem  yéo. 

Amo-te  ao  yâr-te,  encantadora  e  bella, 
O  minha  estrella,  corpo  que  'seduz ; 
Contemplativo  olho-te,  mimosa, 
Qual  mariposa  que  procura  a  luz. 

Vénus  esbelta  que  no  espaço  infindo, 
De  aspecto  lindo  yens  amor  saudar; 
Ohl  como  ao  yêr-te  tSo  feliz  me  sinto, 
Qnandoci^resinto  tua  luz  brilhar! 

ígnea  âdsca,  que  minh'alma  inflamma 
Com  esta  chamma  magnetisadora ; 
No  azul  celeste  quando  te  namoro 
De  prazer  choro,  minha  seductora. 

Tu  és  a  imagem  do  objecto  amado, 
Qne  captiyado  tem  minh'a1ma  afflicta... 
Parece,  ao  yêr-te,  que  a  meu  seio  aperto 
Sen  corpo  esbelto,  de  belleza  infinita. 

Sea  lindo  rosto,  sua  tez  mimosa, 
Bocca  graciosa  de  um  gentil  sorrir;  ■ 
Negros  cabellos,  elegante  porte. 
Que  n'imi  transporte  faz  amor  sentir. 


490  TROVADOR 

Temo  carinho  que  de  amor  captíya, 
Que  ao  ente  priva  ao  coraçSo  da  calma; 
Quem  páde  vêl-a  sem  sentir  d^amores 
Suaves  dores  que  nos  pungem  n'alma? 


Qtçhò. 


RECORDAÇÃO 

Triste  lembrança  de  um  passado  ameno, 
Que  tSo  sereno  me  sorria  outr'ora; 
A  vida  era  para  mim  delicias. . . 
Essas  caricias  —  almejava  agora. .  • 

Mas  hoje,  dura  me  tem  sido  a  sorte, 
Porém  seu  norte  seguirei  ao  fim; 
Suspiros  tristes,  magoados  prantos,. 
SSo  os  encantos  de  um  viver  assim. 

Se  da  vida  os  gozos  desfrutar  podéra, 
EntSo  quizera  te  offertar  um  canto; 
Os  tristes  ais  se  tornariam  beijos, 
Loucos  desejos  que  almejava  tanto. 

• 

NSo  pôde  o  tempo  despertar  n'est'alma 
A  doce  calma  de  um  viver  de  flores; 
Não  pôde  o  tempo  apagar  da  mente 
Aquelle  ente  que  me  deu  amores% 

Se  um  dia  a  vida  me  offertar  venturas, 
Q-ozos,  ternuras,  sem  cruentas  dores; 
Serei  feliz,  despertará  n'est'alma 
A  doce  calma  de  um  viver  de  amores. 


o 


J 


TROVADOR  121 


Porém  86  a  sorte  nSo  qaizer  poupar-me, 
E  offertar-me  em  vez  de  gozos  —  dores, 
Co'a  fironte  baixa,  entregarei  meus  braços 
Ao6  doces  laços  da  prisão  de  amores. 


I » 


CANÇÃO 


O  AMOR  PERFEITO 

Poeôa  do  anr.  dr.  D.  J.  Gonçalves  de  Magalhftes,  e  mosíea  do  snr. 

Baphael  Coelho 

És  um  discurso  eloquente, 

Mimosa  flor! 
Tu  promettes  mudamente 

Perfeito  amor. 

Por  ti,  sem  que  ella  m'o  diga, 

Deve  suppõr 
Que  a  ter-me  sempre  se  obriga 

Perfeito  amor. 

Teu  nome,  que  tanto  exprime, 

Augmenta  o  ardor 
Do  meu  eterno  e  sublime 

Perfeito  amor. 

Eu  grato  e  amante  te  aoeito 

Como  um  penhor 
De  que  ha  por  mim  em  seu  peito 

Perfeito  amor. 


123  TROVADOR 


ROMANCES 


A  FLOR  uSAUDADEb 

Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  GU>nçalveB  de  Magalhies,  e  musica  do  snr. 

Raphael  Coelho 

Saadade,  tema  saudade, 
Flor  tSo  triste  e  t%o  mimosa; 
Tu  és  a  imagem  dest'alma, 
Dest'alma  de  amor  anciosa^ 

Tua  forma  e  côr  retratam 
Meu  coraçSo  magoado; 
Teu  nome  o  affecto  exprime 
Em  que  aqui  yíyq  engol£Etdo. 

linda  mSo  roubou-te  o  vaso 
Do  qual  eras  ornamento; 
Mas  yens  morar  em  meu  peito, 
Vens  acalmar  meu  tormento. 

O  que  me  dizes  tSo  tema 
E  um  doce  lenitivo 
Para  as  anciãs  de  minli'alma, 
Na  solidSo  em  que  yíto. 


TROVADOR  i23 


EU  VI  O  ANJO  DA  MORTE 
Poeú  do  snr.  dr.  A.  J.  de  Araújo,  e  musica  do  sor.  Elias  Alvarw  Lobo 

Eu  yi  o  ai\jo  da  morte 
Ferir  minha  mSi  querida; 
Eu  também  morri  com  ella, 
Vivia  com  soa  vida. 

Yi  morrer  depois  meu  filho, 
Metade  de  meu  Tirer; 
A  esposa,  uma  filha  mais, 
Senti-me  inteiro  moAer. 

N3d  é  Tida  a  Tida  morta, 
Nem  a  sombra  é  realidade; 
Busco  em  ySo  a  minha  Tida 
Na  minha  morta  metade. 


LUNDU 


EU  POSSO  COM  MAIS  ALGUÉM 

£  &\bOj  meu  bem,  quem  diz 
Que  uma  só  me  quer  bem; 
Eu  tenho  quatro  amantes 
E  posso  com  mais  alguém. 

Tenho  uma  que  me  é  dôce, 
Tenho  outra  que  me  quer  bem; 
Eu  amo  a  uma  e  a  outra 
E  posso  com  mais  alguém. 


iU  TROVADOR 

Ao  templo  de  amor  jurei 
N8o  amar  a  mais  ninguém ; 
Mas  o  amor  a  amar  me  obriga 
E  posso  com  mais  alguém. 

Se  por  falso  ou  inconstante 
Alguma  d'ellas  me  tem, 
Eu  as  convenço  o  contrario, 
E  posso  com  mais  alguém. 

• 

Elias  amam  como  eu  amo 
A  mil  amantes  também; 
Elias  dizem  como  eft  digo 
E  posso  com  mais  alguém. 


MODINHAS 


UMA  CHAGA  ME  ABRISTE  NO  PEITO 

Musica  de  J.  S.  ArveUos 

Uma  chaga  me  abriste  no  peito 
Que  jamais  nSo  se  pôde  curar; 
E  coitado  de  mim,  sem  ventura, 
Sinto  a  vida  querer-se  findar. 

Foste  louca  em  me  dar  juramento 
Que  jamais  tu  podias  cumprir; 
Foi  tormento  que  tu  me  engendraste 
Para  agora  eu  viver  a  carpir. 


j 


TROVADOR  i25 


Eu  tSo  crédulo,  pensando  commigo 
Que  era  amado  por  ti,  bella  ingrata, 
Só  achei  p'ra  meu  mal  um  tormento 
Que  enlouquece,  que  fere,  que  mata. 


O  DESCRIDO 

Que  m'importam  prazeres  da  terra, 
D'eB8e8  raios  o  louco  furor; 
Que  m'importa  o  rugir  da  tormenta, 
D'e8sas  yagas  faiscas  de  horror? 

Que  m^importa  que  o  mundo  se  acabe, 
Que  na  terra  só  eu  fique  rei; 
Que  m'importa,  se  o  mundo  eu  detesto. 
Se  desprezo  e  rancor  lhe  yotei? 

Venha  embora  coriscos  e  raios 
Boubar  doce  esperança  de  amor, 
Que  este  peito  de  mármore  e  gelo 
Só  tem  fé  no  tormento  e  na  dôr. 

Tive  fé,  muita  fé,  n'esta  vida. 
Crenças  mil  n^este  meu  coraçSo; 
Mas  qu'importa  se  seccas,  mirrhadas, 
£il-as  todas  perdidas  no  chSo? 

Já  nSo  tenho  uma  esperança  n'est'alma 
Que  o  cynismo  varou-me  de  fel; 
Além  sim,  que  só  podem  caveiras, 
K'esta  fronte  cingir  jim  laurel. 

Eia,  avante,  meu  peito,  eia,  avante. 
Solta  um  brado  de  temo  estampido; 
Que  soando,  soando  nos  ares, 
lÁ  repita  bradando  —  descrido. 


ÍS6  TBOTADOR 


NOSSA  Mil 

Nossa  mSíy  dom  oelestOi  precioso, 
É  um  anjo  piedoso 
DoB  céoB  á  terra  mandado 
Para  ter  de  nós  cuidado: 
Quando  a  primeira  luz 
Sobre  nossos  olhos  desce, 
Qnem  comnosco  ri  e  folga, 
Qaem  comnosco  se  entristece? 
Nossa  mSi  t 

Nossa  mSi  boa  ou  mi,  sempre  nos  ama, 
Traz-nos  no  sen  coração; 
NSo  ha  amor  nem  amizade  • 
Que  iguale  á  sua  affeiçSo: 
Quando  no  termo  da  vida 
A  morte  já  nos  espera 
Com  a  sua  fouce  erguida. 
Quem  por  nós  morrer  quizera? 
Nossa  mSi! 

Francisco  António  de  Carvalho* 


RECITATIVO 


flOresjdalma 

As  flores  dUma  que  se  alteiam  bellas, 
Puras,  singelas,  orvalhadas,  yiyas, 
Teem  mais  aromas,  e  sSo  mais  formosas 
Que  as  pobres  rosas,  n'ttm  jardim  captiyas, 


TROVAJDOR  iSl 

SqI  bemfazejo  lhes  aquece  a  rama, 
Ladda  cixamma,  sem  ardor  que  mata ; 
Banham-lhe  as  hastes,  retratando  as  frontes, 
limpidas  fontes  em  ramaes  de  «prata. 

Qne  amenidade !  nos  vergéis  suaves, 
Cantam  as  aves,  sem  cessar,  amores ; 
Se  ha  céo  na  terra,  se  ventura  ha  n'ella, 
B^alma  singela  se  achará  nas  flores. 

Filhas  das  crenças,  como  as  crenças  puras, 
De  mil  venturas  mensageiras  bellas. 
Se  o  vento  um  dia  lhes  soprar  e  as  oórte. 
Deus! — dá-me  a  sorte  de  morrer  com  ellas. 

Ao  ermo  embora,  a  divagar  sósinho. 
Corra  o  mesquinho,  por  amor  trahido. 
Quando  o  remorso  lhe  não  turbe  a  calma. 
Nas  flores  d'alma  encontrará  olvido. 

Naufrago  lasso  a  sossobrar  nas  vagas, 
San  vêr  as  plagas  em  que  almeja  um  porto, 
limbora  o  matem  cruciantas  dores, 
D'ahna  nas  flores  achará  conforto. 

O  pobre  monge,  que,  de  pé  descalço, 
D W  mundo  falso  os  areaes  percorre. 
Quando  lhe  entregam  do  martyrio  a  palma, 
Às  flores  d'alma  se  encommenda,  e  morre. 


1 


iS8  TROVADOR 


BÀRGÀR0L4 


A  BORDA  DO  MAR 

Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  Gk)iiçalYe8  do  Magalhfteg,  e  moBioa  do  anr. 

Raphftel  Coolho 

De  noite,  o  véo  cinzento 
Enyolye  a  natureza, 
E  cobre  de  tristeza  ' 

O  céo,  a  terra,  e  o  mar. 


Ligeira  barca  ao  longe 
Apenas  se  annuncia 
No  trilho  de  ardentia 
Que  deixa  em  seu  passar. 

Oaço  bater  o  remo 
Monótono  e  pausado, 
É  o  canto  do  coitado 
Que  alli  vai  a  remar. 

Da  briza  nas  refregas 
Que  vem  aos  meus  ouyidos 
Em  echos  repetidos 
Amor!  —  ouço  exclamar. 


E  como  solitário 
E  triste  este  lamento 
Ao  suSíUrrar  do  vento 
Nas  ondas,  e  ao  luarl 


TROVADOR 


129 


E  eu,  qae  aqui  sósiulio 
Escuto  o  mesmo  canto, 
Reter  nSo  posso  o  pranto 
Que  sinto  borbulhar. 

É  que  essa  voz  chorosa 
Que  sôa  sobre  as  aguas 
Ás  minhas  próprias  maguas 
Parece  relatar. 

Como  este  peito  anciado 
O  mesmo  affecto  exprimo; 
E  gemo,  e  me  lastimo 
No  meu  yago  scismar. 


ROMANCE 


A  TRISTEZA 

Poesia  do  bdt.  dr.  D.  J.  Gonçalves  Magalhães,  e  musica  do  ísar. 

Raphael  Coelho 


Porque  o  céo  de  repente 
Perdeu  a  sua  belleza? 
B'onde  vem  esta  tristeza 
Que  me  envolve  o  coração? 

Como  o  pano  mortuário 
Que  sobre  o  tumulo  s'estende 
Ou  como  a  nuvem  que  pende 
Peja<ia  de  atro  bulcão; 


130  TROVADOR 

Eu  nSo  seiy  oh  minha  amada, 
Eu  nSo  sei  porque  suspiro; 
NSo  sei  mesmo  se  deliro 
No  meu  excessivo  amor. 

Mas  agora  estou  iSo  triste 
Como  o  misero  proscripto. 
Duvidoso,  incerto  e  afflicto. 
Do  seu  destino  no  horror. 

Temendo  assim  me  definho 
Como  o  arbusto  sequioso, 
Exposto  ao  sol  rigoroso 
Que  morre  sem  florescer. 

Falia,  minha  amada,  £Eilla  I 
De  tua  voz  á  magia 
Renasce  minha  alegria, 
Extingue-se  o  meu  soffrer. 


LUNDt 


ESTES  MOCINHOS  FAGORA 

Estes  mocinhos  d'agora 
Já  nSo  sabem  mais  amar; 
Fazem  tudo  quanto  podem 
Para  as  moças  enganar. 

Bandoleiros,  inconstantes, 
Só  querem  pagodear; 
Namoram  a  todas  ellas 
Para  o  seu  tempo  passar. 


úi;**:* 


nOVADOR  431 


Estes  mocinhos  d'agora 
Só  desejam  'specular; 
Procuram  só  moças  ricas 
Para  mi  vida  lhes  dar. 

Estes  mocinhos  d'agora 
Sentimentos  já  nSo  tem ; 
Fazem  mil  promessas  falsas, 
Dizendo  que  querem  bem^. 

Estes  mocinhos  d'agora 
Só  nos  querem  enganar; 
Façamos  nós  outro  tanto, 
Para  taboa  a  todos  dar. 

Estes  mocinhos  d'agora 
O  seu  prazer  é  mentir ; 
Fingem  tudo  quanto  podem 
Para  melhor  conseguir. 

Estes  mocinhos  d'agora 
A  yergonha  já  perderam; 
Da  ronha  e  da  maldade 
Muito  sueco  já  beberam. 

Estes  mocinhos  d'agora 
NSo  merecem  compaizSo; 
Entes  sSo  mui  abjectos, 
t>eyem  ir  p'ra  a  correcçSo. 


132  TROVADOR 


MODINHAS 


SE  DISFARÇO  QUANTO  SIMTO 

Se  diBfkrço  quanto  sinto 
O  teu  crael  proceder, 
E  justo  que  tu  conheças 
Quanto  me  custa  soffirer. 

N'alma  se  accende 
Ódio  e  vinganças; 
Tornam-se  amargas 
As  esperanças. 

N'esta  afflicçSo, 
Nem  mesmo  amor 
Di  lenitivo 
Á  minha  dõr. 

Mas  se  conheces 
O  que  é  paixSo, 
NSo  mais  aflijas 
Meu  coraçSo. 


Foste  perjura, 
Foste  cruel; 
Quebraste  a  jura, 
Foste  infiel. 


TROVADOR  133 


PMlQIlE  SOU  TRISTE 

(nota  modihha) 

ser  cantada  na  musioa  da  modinha  —  Quando  eu  morrer  ninguém 

chore  a  minha  morte 

Oh!  queres  tu  saber  porque  bou  triste, 
Porque  vivo  em  constante  soluçar!? 
É  porque  na  miuh'alma  um  sentimento 
Na  desgraça  cruel  faz-me  pensar. 

É  porque  n^esta  vida  o  desengano 
De  tudo  quanto  existe,  em  mim  pousou; 
£  a  descrença  gelada  e  positiva 
Negro  leito  em  minh'alma  já   ormou. 

Dirás  tu  que  sou  moço  e  que  é  fingido 
O  tétrico  suspiro  que  assim  dou? 
£  que  onde  um  coraçSo  bate  com  vida, 
A  descrença  nem  sequer  jamais  passou. 

Ahl  como  és  iUudida.  •  •  o  meu  peito 
Âo  do  yelho  se  assemelha,  está  rugoso; 
£  de  moço  as  minhas  faces  desbotadas 
^So  sentem  da  mocidade  o  doce  gozo. 

O  que  p(}de  esperar  um  pobre  orphSo 
Qqo  as  delicias  de  uma  mái  cedo  perdeu? 
£  9ue  08  prazeres  do  mundo,  n'um  só  dia 
"«»  sempre  em  seu  peito  elle  escondeu?! 

^tH.  . .  qtte  me  importa  de  quem  goza 
^  oaaj^do  mil  prazeres  com  riqueza? 
p  .  ^*^^ejo  essa  sorte  ficticia, 

^^contro  mais  prazeres  na  tristeza. 

Adeodato  Sócrates  de  Mello. 


13t  TROVADOR 


ÁCAB0U4U  Á  MDIIâ  eURÇA 

Acabou-se  a  minha  crença. 
Sem  crença  devo  morrer; 
Quando  deixei  de  crãr  n^ella. 
Em  quem  mais  poderei  crer? 

Onde  a  verdade 
Pôde  fulgir, 
Se  até  um  anjo 
Sabe  mentir? 

Como  um  anjo  me  fallou, 
Como  um  anjo  me  sorriu ; 
Como  um  anjo  me  jurou, 
Quebrou  a  jura,  mentiu. 

Onde  a  verdade 
Pôde  fulgir?  — etc. 

No  olhar  e  nas  palavras, 
Onde  a  innocencia  respira, 
Em  tudo  —  que  diz  verdade. 
Só  eu  encontrei  mentira. 

Onde  a  verdade 
Pôde  fulgir?— etc. 


iJ 


TROVADOR  i  35 


RECITATIVO 


ESCUTA,   VIRGEM  I 

• 

Anjo  d^encantoB,  porqa'és  muda  e  triste? 
Acaso  existe  em  teu  peito — dôr? 
Porque  teu  rosto,  tão  risonho  outr'ora, 
So  mostra  agora  de  marmórea  c5r? 

Dize,  meu  anjo,  porqu'és  triste  assim? 
Porque  ao  jasmim  subtrahiste  a  côr? 
Dize,  meu  anjo — o  teu  peito  inflamma 
Celeste  chamma  appellidada — amor? 

Es  qual  criança  que  nascida  ha  pouco, 
Do  mundo  louco  desconhece  as  falias. . . 
Ai  nSo  te  deixes  enlevar  por  cantos, 
Nem  por  encantos  de  appar entes  galas. 

Lembra-te  sempre  que  a  pureza  é  flôr. 
De  tanto  odor  e  perfeição  dotada, 
Que  mão  impura  se  a  tocar  de  leve, 
Eil-a  mui  breye  para  o  chSo  tombada* 

Ama,  donzella,  com  amor  immenso. 
Ardente,  intenso,  —  a  tua  mSi  querida; 
Entre  teus  braços  com  amor  a  aperta, 
— Sublime  offerta  p'ra  quem  deu-te  a  vida. 

IrmZ  dos  anjos,  tu  o  és,  donzella, 
Nivea  capella  te  engrinalda  a  frente; 
Ainda  ha  pouco  eu  te  vi  no  templo 
Dando  um  exemplo  de  uma  fé  fervente. 


Í86  TROVADOR 

Deixa  que  o  bardo,  em  cujo  peito  triste, 

Somente  existem  cruciantes  dores; 

Fraco  conselho  te  offereça,  virgem, 

— Louca  vertigem  de  um  scismar  de  amores. 

Esquece  tudo,  p'ra  adorar  somente 
Aquelle  ente  que  te  deu  a  vida; 
Quando  o  mau  fado  te  offertar  seus  laços, 
Lança-te  aos  braços  de  tua  mãi  querida ! 

Ghicdberto  Peçanha, 


C4NÇÂ0 


O  ESCRAVO 


N'uma  alta  e  frondosa 
Brazilea  floresta, 
Que  o  sol  açoutava 
Em  cálida  sesta; 

Ao  som  compassado 
Da  fouce  pesada 
Que  os  troncos  derruba, 
Prepara  a  queimada; 

Com  voz  rude  e  triste 
Que  ao  longe  echoava. 
Um  pobre  captivo 
Taes  queixas  soltava: 


À 


•j 


TROVADOn  i  37 

n  Em  simples  palhoça 
Eu  livre  nasci, 
Mas  preso  e  vendido 
Captivo  me  vi. 

O  filho,  a  mulher, 
Forçado  deixei, 
A  pobre  familia 
NSo  mais  avistei. 

SSo  livres  os  brancos, 
Nao  soffrem  rigor; 
Mas,  eu  por  ser  negro, 

Eu  tenho — um  senhor. 

ff 

Com  elles  nem  devo 
Co'a8  dores  chorar ; 
Mas  devo,  soffrendo, 
Chorando  cantar. 

A  dôr,  o  prazer 
Em  mim  crimes  s%o; 
Castigos  por  isso 
No  corpo  me  dSo. 

À  chuva  e  ao  sol 
Sempre  a  trabalhar, 
De  pouco  descanço 
Eu  posso  gozar. 

Os  fructoB  da  terra- 
Que  cavo  a  suar, 
N3o  são  p'ra  meus  filhos 
Que  vejo  penar. 


I  138  TROVADOR 


\ 


O  oaro  qae  ganho 
Me  nSo  faz  ser  rioo, 
Por  maito  que  dê. 
Eu  forro  nSo  fico. 


O  mesmo  sustento 
Que  dSo-me,  grosseiro, 
Me  dão  porque  temem 
Perder  sêu  dinheiro. 

De  um  tal  captiveiro 
Soffirendo  os  rigores, 
Minha  mocidade 
Gastou-se  entre  dores* 

Ao  peso  dos  annos 
Já  hoje  curvado, 
P'ra  todo  o  serviço 
Sou  inda  chamado. 

Ao  branco,  se  é  relho, 
Teem  todos  respeito; 
Eu  inda  ao  chicote 
Vivo  hoje  sujeito ! 

De  que  serve  a  vida 
A  quem,  como  eu, 
Sem  ter  liberdade 
Já  tudo  perdeu? 

Sé  uma  esperança 
Eu  sempre  hei-de  ter: 
Morrendo,  outra  vez 
Eu  livre  hei-de  ser. 


i 


TROVADOR  139 

Meu  bom  Pai  do  eéo, 
Ah !  tende  clemência ! 
Oavi  minhas  yoases, 
Findai-me  a  existência  i » 

Aqui  o  captivo 
Cançado  parou, 
E  co'a  mSo  calloBa 
O  pranto  enxugou. 

E  o  echo  passado, 
Que  a  Toz  repetia, 
—  Fi^íidaume  a  exietenciaf 
Ao  longe  dizia. 

Pirei  Ferrão. 


LUNDUS 


A   CLARA 

(novo  LUHDé) 

Para  ser  cantado  pela  masica  do  lundu — Mulatinha  do  caroço 

Todos  fidlam  com  paixSo, 

E  teem  razSo, 
Da  morena  e  linda  cOr; 
Mas  também  a  c6r  que  é  clara 

N3o  é  rara, 
Tem  encantos,  tem  amor. 


140  TROYADOR 

A  que  é  clara  e  bem  rosada, 

Idolatrada, 
Tem  dengoices* . .  tem  carinhos ; 
Seus  encantos  sempre  exaltam, 

Arrebatam 
Seus  feitiços  mimosinhos. 

Eu  por  ella  dou  a  vida 

Tão  querida, 
Meu  amor,  meu  coração; 
A  que  é  clara  e  tSo  mimosa. 

Melindrosa, 
Faz-me  perder  a  razSo!  « 

linda  côr  de  casta  alvura, 

Que  tSo  pura. 
Tem  dos  anjos  semelhança; 
Se  as  faces  lhe  cobre  o  pejo. 
Que  desejo 
.      Alimente  minha  esp-rança ! 

A  que  é  clara  e  bonitinha. 

Jovenzinha, 
Tem  de  archanjo  a  perfeição ; 
A  morena  nSo  é  tanto, 

No  encanto. 
Cá  na  minha  opiniSo. 

Mas  se  acaso  eu  m'enganei 

Ou  errei 
No  que  digo  com  razSo, 
Moças  claras  e  morenas. 

Sempre  amenas. . . 
A  vós  eu  peço  perdão. 


S.  «7.  S, 


TROVADOR 


141 


TÁTÁZINHA  V0S8Ê  MESMO 

ITáyázinha  voasê  mesmo 
"Foi  a  cansa  de  meu  mal, 
Hanca  pensei  que  vossê 
Me  fizesse  cousa  tal. 
(Arranjou  bem  o  seu  papel)  ^ 

m 

Sempre  é  moça  I 
Benego  eu  d'ellal 
Com  t^es  sujeitas 
Muita  cautela. 

Todo  o  tempo  m'enganOu, 
Fez  de  mim  seu  bobosinho ; 
^Quando  me  yia  chorar 
Me  dizia:  Coitadinho ! 
(Que  cabecinha  tão  leve!) 

Sempre  é  moça! 
Renego  eu  d'ella  I 
Com  taes  sujeitas 

« 

Muita  cautela. 


Que  me  amava  com  ternura, 

Trinta  vezes  me  jurou ; 

Quando  me  quiz  ser  ingrata, 

De  uma  só  tudo  negou. 

(lyande  não  e* espera,  d*aki  é  que  vem), 

Sempre  é  moça! 
Benego  eu  d^ella ! 
Com  taes  sujeitas 
Muita  cautela. 


142 


rnovADoR 


MODINHAS 


ADEUS,  LTRA  MALFADADA 

N'estes  troncos  pendurada 
Ficará  a  minha  lyra, 
Té  que  o  vento  as  cordas  fira, 
Te  faça  lembrar — amor. 

« 

Adeus,  lyra 
Malfadada, 
Cionsagrada 
A  meu — amor. 

LeSes,  tigres  e  rochedos 
Tens  movido  com  ternura; 
Mas  de  Lilia  sempre  dura 
Tu  nSo  moves  o  rigor. 

Adeus,  lyra 
Malfadada, 
Consagrada 
A  meu  —  amor. 

Vai,  ó  lilia,  doeste  mundo, 
Vai  viver  na  solidSo; 
Lá  mesmo  receberás 
A  minha  triste  cançSo. 

Adeus,  lyra 
Mal&dada, 
Consummai 
Esta  paixSo. 


j 


TROVADOR  i43 


O  TEU  AHOR,  PURA  VraGEM 

t 

\ 

O  teu  amor,  pura  virgem, 
Muito  me  faz  padecer; 
Mas  eu  deixar  de  te  amar, 
Isso  nSo,  inão  pôde  ser. 

O  nobre  porque  é  rico. 
Me  comprar  nSo  tem  poder; 
Mas  separar-me  de  ti. 
Isso  sim,  sim  pôde  ser. 

Pôde  o  céo  baixar  i  terra, 
£  a  terra  em  fogo  arder; 
Mas  eu  deixar  de  te  amar. 
Isso  não,  não  pôde  ser. 


w 

Chovam  raios  e  coriscos, 
A  terra  fique  a  tremw; 
Para  te  vôr  em  meus  braços. 
Isso  sim,  sim  pôde  ser. 

Eu  quero  estar  a  teu  lado 
Para  contente  viver; 
Has  vêr-te  nos  braços  d'outro, 
Isso  não,  não  pôde  ser. 

Fiel  ao  meu  juramento^ 
Nunca  me  hei-de  esquecer; 
Mas  tu  quebrares  o  teu. 
Isso  sim,  sim  pôde  B6r« 


144  TROVADOR 

■ 

BTESTAS  PRAIAS  DE  LÍMPIDAS  ARÊAS 

N^estas  praias  de  límpidas  arêas 
Prateadas  á  noite  pela  lua, 
Passo  as  horas,  scismando  nos  amores 
Que  perdido  bebi  na  imagem  tua. 

Quando  o  sorpelos  montes  declinando 
Vai  ao  mar  sepultar  os  seus  ardores, 
Uma  lagrima  me  rola  pelas  faces, 
Recordando  sósinho  esses  amores. 

O  campinas !  ó  praias  seduetoras  I 
O  montanhas !  ó  valles  de  saudade ! 
Meus  segredos  guardai  em  vossos  peitos 
D'esses  tempos  de  tanta  flicidade! 

Do  recinto  não  passe  d'esses  mares 
Os  votos  que  a  ella  dediquei ; 
Guardem  praias,  campinas  e  montanhas 
Quantos  ais  e  suspiros  lhe  enviei. 


PRAZERES  QUE  EU  NÃO  SONHAVA 


Prazeres  que  eu  nSo  sonhava 
Teu  amor  me  fez  gozar; 
Bella  Armia,  tu  não  queiras 
  minha  vida  acabar. 

Careço  de  ti,  meu  anjo, 
Careço  do  teu  amor. 
Como  uma  gota  de  orvalho 
Carece  do  prado  a  flor. 


i 


íl 


no?AiM»t  146 


EU  SOFFRO  AN6USTUS  ME  SUFFOCAR 

Eu  soffro  angufttuiB 
Me  Buffocar, 
Meu  lenitivo 
É  BÓ  chorar. 

Eia,  choremos^ 
Comeoe  o  canto; 
Também  cantando 
Se  verte  o  pianto. 

a 

O  pranto  ás  vezes 
Ê  briza  d^ahca 
Que  a  dôr  mitiga 
E  o  pranto  acalma. 

EntSo  o  canto         * 
Nos  céoB  «e  isola ; 
Penetra  os  ares 
E  Dens  consola. 

O  canto  é  prece 
Que  v6a  a  Deus, 
Se  o  triste  canta 
Os  males  seus. 

Em  cada  nota 
Que  o  canto  dÍ9i| 
A  àôr  traduz-se 
Do  infeliz. 

Depois  que  a  ingrata 
Feritt<>me  tanto, 
âjue  de  mim  fôra 
este  canto; 


10 


144  TMWABM 

Talvez  as  dores 
Fossen  mortaes, 
Se  as  nlo  curasse 
Com  estes  ais. 


RECITATIVO 


<> 


ELISA 


Poesia  do  sor.  Bnlhfto  Pato,  e  musica  do  aar.  IkaíMo  Goéllio 


Era  no  outono,  quando  4  imagem  toa 
A  lu2  da  lua,  seductorA^  vif 
Lembras-te  ainda  d'essa.  noite,  Elisa? 
Que  doce  briza  si^spiray^  idli !  •  ..• 

Toda  de  branco,  em  tua  fronte  bellâ 
Rosa  singela  se  enlaçava  entSo; 
Vi-te,  e  perdido  de  te  yêr,  ^buscfira 
Se  me  apartava  da  gentil 


Oh!  que  era  embalde!  quanto  mais  te  Tia, 
Mais  me  perdia  deHrwte  amorl< 
Magicas  falias  proferiste  incerta^ 
Toda  coberta  d'infantil  rabõr. , 

Tremulo,  anciqso,.  quiz  pedir-te  um  beijo, 
Louco  desejo,  que  fugir-te  vi«  •,« 
Viste-me  triste,  para  mim  voltasÉa^ 
NBo  me  fisUaste,  mas  eu  bem  oikvL 


I 


Tlbia^  «mmVadA  de  perAaM,  •  briM, 
Ijembras-te,  EImb,  «mpiniT»  enllo* .  • 

E  meiguiente  me  JlMiwate — ttlo ! .  •  • 


ROMANCE 


OS  OLHOS  HE  DRAMU 


FíOMia  do  flBT.  cb.  D.  J.  a.  ck  M^galliigt^  <e  mvnca 

do  BDT.  Eaphael  Coelho 


OmIo  de  Tdr  os  tens  olhds 
Quando  paareces  penoar; 
Meio^bertOB,  asaombradoa, 
Sem  moita  luss  denramAr. 

Ghxto  de  Têt-es  fadlantes, 
Espargindo  almo  falgor; 
E  noB  peitoB  embebendo 
Alegria,  vida  e  amor. 

Também  gosto  quando  exprimem 
A  ternura^  a  oompaizRò; 
E  qualquer  ligeiro  affsele 
De  innooenMr  eoraçlo. 

Maa  quando  os  Tolyes  fintiroa 
Para  mim,  è  apda  aos  oêoa; 
Bntlo  é  que  nada  iguala 
graças  dos  ^kos  tcMis. 


« 


Ii8  ffMVAAM 

Nfto  tMn  4UUÍ'  <4bM  liniAéss  * 
Ottftftdd  AsuflL  dii  Amor  fl&  JTiiimihBi 
EntSo  é  que  gQ0»  uMÍa. 


LUNDU . 


DÚ  BRAZn.  A  MULATINHA 

Do  Brazil  a  mulatinha 
É  do  céo  doce  maná; 
Aiioeicada  'frtitinha, 
Saboroso  cambucá. 

É  quitute^,  i^petltoiOy 
É  melhor  qoa  vatapá; 
É  néctar  dalioioBo^ 
E  boa  oomo  nSo  ha* 

É  manjar  bem  delicado, 
É  melado  com  cará; 
Agradarei  b^m  bocado, 
Gostoso  maracujá* 

É  cajá  asaiuuM^adQ, 
E  tem  de  maçiga  o  «abfiir ;   . 
É  qoibêbe  apiunentado 
Pelas  mSosinhas  de  amos.  . 

E  dôc»  fioSr  de  xqsa, 
Ê  melhor  do  que  melado; 
Delicada  e  melindrosa, 
Vinho  velho  OQg«Jxa&da* 


j 


TR(y?JiMk 


1M 


'*! 


É  nuutgttrahA  da  Beiam, 
E  àtUstí  fiivo  de  mel ; 
MSo  é  dá»  como  d  dia, 
Nem  alra  eomo  o  papdí.  - 

A  mulatínlia  mimoaa, 
(Ro0  d'oTw  com  eanoik) 
É  morwã  o6r  de  raw, 
Tem  wtta  eôr  mittto  bellab 


É  fiMseira,  tem  candura, 
Tem  do  coco  o  paladar; 
Tem.meiguioe,  tom  texaott, 
Tem  quindins  de  enfeitiçar. 

Quando,  leitor,  tc^  «lia 
Tio  tema,  tio  morainh^ 
Logo  ezclaou»:  Como  é  bella 
Do  Brazil  a  muIiiiBlMiI 

Oi  olhoe  sabe  Tolrer, 
Também  sabe  namorar; 
Ok  I  quem  me  d«ra  podar 
Junto  d'ella  sempre  estar  t 


MODINHAS 


POI  CRUEL  O  HBO  UaTD» 


Foi  enHi  o  meu  destino. 
Foi  sonho  minha  ^«ntwa; 
Kada  penhora  A  uma  ingrata, 
Só  me  restar  A  sefruHftra. 


150  «WAMR 

Ji  foi  i^Miite  mui  toKpOi 
E  querido  oomodoçu»; 
Hoje  si  ttnlio  ionnwlni, 
Só  me  Mrtft  •  aepaltu»* 

Por  rir  n^gn  ing»tídl0| 
Nlo  bi^  igual  d^Teatvre; 
De  tio  c^  e  £aro  golpe^ 
Só  mê  veita  •  BepuUusu*^^ 


  flOr  do  HEIT  CDLTO 

A  flor  de  Hieor  culto, 
A  roHi  que  ha  poaoo 
Tio  cbeia  de  encantos 
Se  via  oetentar; 
De  chofre  o  tufSo 
Levou-a  xmm  asas, 
Ab  petUaa  coaram, 
Dispenàe  00  ar. 

Qae  fldré  aquella? 
Que  triste  coitada ! 
O  crepe  de  luto 

Parece  «fesiiir; 
Ê  flâr  de  saudade, 
Que  ausente  da  rosa 
CoBimigo  chorosa, 
Buteoe  sentir. 

Vem,  flftr  de  miah^aliM^ 
nnir«4e  ae  meu  seio. 
Pois  quefo  eomtigo 
Meu  pwsAe  rerter; 


J 


núnmm 


Ifit 


O  meu  ooraçlo 
Itelído  ficou, 
ÂB  harpas  não  podem, 
Nlo  pg^bom  gemer. 


ANJO  DO  CÉO,  TU  ME  MATiUS 


N^ene  «te»  rosto  onde  aoaias 
O  pimdozior  e  o  riso, 
Onde  mil  graças  diviso, 
Anjo  do  céo,  ta  me  matas ; 
Men  peito  tudo  dilata 
No  mais  completo  prazer ; 
Qnúera,  «len  anjo,  ser  ^  i 
O  ten  bem  idolatrado ; 
CSom  ternuras  e  agrados. 
Tu  me  matas  sem  querer. 

Se  Tolres  um  riso  a  mim, 
Ohl  que  dita,  oh!  que  ventura! 
Se  me  adoras,  virgem  pum. 
De  teus  lábios  quero  um  êim: 
Mftis  leve,  o$r  de  oarmim 
Fas  teu  roeto  enrubeoer ; 
Nada  tenhas  a  temer 
Em  me  £Edlar  a  verdade, 
Pfi»  minha  felicidade 
Quero  um-^sim  — dep^  inorrer. 


19t  TROTABOR 


H070S  ABES,  NOTOS  CUHAS  «El  LOaâE^RESPIRAB 

NoTOB  ares,  novos  climas 
Irei  longe  respirar, 
,    Lá  mesmo  serei  ditoso 
Se  meu  bem  nunca  mudar. 

Esseis  mares  solitários 
Vou  chorando  transitar. 
Mas  depob  Têr-me*hSo  alegro 
Se  meu  bem  nunca  mudar* 


RECITATIVOS 


.  *j 


SEGREDO 

* 

Quando  eu  ás  vezes  teu  olhar  sarpr'dnda    • 
Languido  e  temo  sobre  mim  pMrar, 
Em  cada  golpe  d^esèe  olhar  compreendo 
O  que  me  queres  talvez  perguntar* 

E  sempre  finjo  que  ignoro  tudol 
Que  nem  sei  mesmo  quem  tu  és,  quem  soaf 
E  me  conserro  mdifiérente  e  mudo 
Como  criança  que  a  visSo  pasmou. 

Talvez  tu  penses  que  evitar  pretendo 
Essas  promessas  de  um  amor  por  vir, 
Perdoa  á  folha  que  arrcbata-a  o  vento, 
EUa  nSo  sabe  aonde  vai  cahir. 


i 


f 


TROVAMII 

■ 

Queres  ourir-me  que  a  razão  me  ensma 
A  qve  me  faça-Jbadifferente  aasimf 
E  que  nXo  quero  me  curvar  á  sina 
K&i  que  do  berço  ae  engraçou  de  mip. 

NSo  devo  rir-me  quando  sinto  dôres 
Nem  iOudir-me  de  esperanças  mais; 
Kinha  alma  esyaÍHBe,  como  murcham  flores, 
Oemendo  agora  seus  doridos  ais* 

Perd6te,  wyevi»  ess€^  xuodo  ousadOf 
Por  que  eu  erito  teu  iugenuo  amer, 
£a  cumpro  apenas  um  dever  sagradoí 
Fagpbida  aos  gases  p'ra  viver  na  dâr» 

Ta  és  estreUa,  no  fulgor  princesa, 
Que  » losm  inundas  de  tio  meiga  Ins ; 
Ea  sou  o  C7TÍ0  que  só  diz  tristeza 
Qoando  atttDsia  mortuária  crua. 

Ta  és  rainhai  e  de  teu  throoo  a»  galis 
Eu  nlo  ptdera  contemplar  sem  medo-^ 
Be  longe  escuto  tuas  meigas  falias, 
E  se  tal  Í199  é  por  ser  meu  segveée^ 


Oh!  Bs  ta  aoi^f  ecnu  amor  tSo  «mie, 
Que  nZo  poésra-to  áiaer  jamais  1 
Porém  se  fajq  de  tamanho  encanto 
K  fae  reeèii>  que  o  contar  qumaes. 

» 
£  Mtbe  agoM  quei  esse  amor  de  hmim 
Q^  por  ti.  antre  n'utn  fatal  segreda, ' 
^  acho  ainda  para  ti  mui  pouco, 
Ift*  irfto  o  reviales  porque  tenho  medo. 


Dr.  Climaeo  A.  B.  Oliveira» 


1 


154  noTAfioa 


A  GâRLU  Dâ  THUIBK 

Qoa  é  feito  dás  flftres  da  branca  oapella 
Que  amaytt-te,  oh  bella,  da  fronto  a  pnresa? 
Qae  ó  feito  do  riso  com  qae  descuidosai 
Froiaa  gogtoaa     tio  meiga  belieaà? 

Que  é  feito  das  cores  qne  o  lyrio  inrejshray 
Que  a  rosa  almejava — também  possuir? 
Que  é  feito  da  pai  que  morara  em  left  ptíto| 
Jamais  contrafeito — a  pensar  no 


Qne  ó  feito  doe  brincos  com  qa^inda  iuMoento 
GoiaTas  contente — dos  annos  a  flor? 
Que  é  feito  do  fbgto  dos  olhos  galanteS| 
Tio  negros^  bilhantes,  tSo  cheios  de  amov? 

Que  é  feito  da  graga  com  qne  tio  ftMMÍr% 
Qaal  corça  ligeira — no  prado  saltaras? 
Qne  é  finto  dos  cantos  de  doce  magia, 
De  tanta  harmonia — que  alegre  s<^ras? 

Ai  tristol — que  é  finto  de  todo  o  passacfe, 
Tio  bello,  donrado — tio  cheio  de  fldres? 
Ai  i  triste  i  trooasAe-o,  com  tua  insphidieneia^ 
Por  triste  eaásten<Sia,  tio  cheia de>ddMi!.«. 

A  branca  capella  jas  murcha  ^^  f>sfolhada| 
Por  terra  lançada — p'ra  mais  nlo  B'erguer; 
Ai,  triste I  senetta  que  rale  o  ser  beUa? 
Sem  branca  ci^^eUa — que  rale  o  riter? 


B.9. 


mOVAM» 


tos 


ROMANCE 


08  OLHOS  CHOROSOS 


do  snr.  ár.  D.  J.  GonçftlyeB  MagalUes,  e  mniioa 
do  inr.  Baphael  Coelho 


Porque  ohoraes,  tristes  ollios, 
Ho  cançadoe  de  chorar? 
Q^ein  Tosae  pranto  motiva, 
Ahl  nlo  00  lia-de  enxugar. 

Em  tIo  lagrimas  de  sangue, 
Naaddas  do  coraçlo, 
Mostrassem  sobre  o  mea  rosto 
A  minha  interna  aflioçSo. 

Suspendei  asaaigo  pranto, 
Snspendd,  que  a  vossa  dOr 
Nlo  pôde  n'am  peito  írio 
Inspirar  paixlo  e  amer. 

Mas  se  nm  destine  de  ferre 
Vos  obriga  que  choreis, 
EntSo  chorai,  tristes  olhos. 
Até  que  em  fim  estaleis. 


/ 


IM  TMTAMtt 


LUNBti 


QUANDO  EU  ERA  ÇRIAIfCniEA 


.♦ 


Quando  eu  era  criaiiciíiha 

Engraçadinha, 
Moças  bellas  me  adoravam ; 
Me  beijavam  dôeementei 

E  tSo  contenta, 
Só  de  amor  a  miai^  faUavêou 

Hoje  ea  vivo  de0|Nreaado, 

Isolado; 
Sem  beijinhos,  sem  doçonai 
Já  nSo  tenho  mais  praser^ 

Que  viver !  •  • . 
Mudou  tudo  de  figcura. 

Sé  ^o  berço  em  que  eu  ^amtnk 

Me  embalava 
D'amor  a  sorte  clemeatAi  , 
Hoje  tudo  mudo  ç  triste, 

Só  resiste 
Ao  negro  fado  imponente.     , 

Já  nSo  sou  mais  criandnlia 

Innocentinha, 
Já  nSo  tenho  mais  candura; 
Já  nSo  tenho  mais  carinhos. 

Nem  beijinhos, 
Mudou  tudo  a  desventura  I 


Adeod(xto  Sócrates  de  MeUo. 


i 


Í57 


MODINHAS 


IHORBEMil 


QaSo  e]AeiDeros  que  bSò 
Ob  gOBoa  da  nosea  vida !  •  •  • 
Q«Id  trabálliOBOS  e  tristeB 
Ob  dias  de  tanta  lida ! 


Custa  muito  a  Bupportar 
Tantos  vaivéns  d'e8to  mundo, 
Tanta  esperança  perdida. 
Tanto  dissabor  profundo ! 

A  saudade  é  sobre  tudo 
MariTrio  do  eoraçXo, 
Quando  soflEremoB  d 'um  ÍUho 
Eterna  separaçSo ! . .  • 

D.  A.  Soêinha  de  8*  (Portuense)  • 


LAGRIMAS  DA  DÕR 


Paia  Ber  eaíxtada  com  o  tom  da  modinha — Qiwmdo  o  céójiá 

em  teu9  lábios 


Quando  em  torno  aos  (lhos  meus 
Virem  nódoas  azuladas, 
—  SBo  as  lagrimas  da  dõr 
Ao  infeliz  ofertadas. 


tS6  TMTAMi 


[i  o  tíço  dos  anxiot 
N'aiirora  da  mocidade^t 
Hoje  só  tfago  no  peit0 
Grata  lembrança  e  saadade* 

Quando  Tirem  eu  verter 
Um  pranto  qne  nSe  tem  êàt^ 
NSo  zombem,  por  piedade, 
Tenham  compaixSo  de  mim» 

Perdi  o  vi{o  dos  aaiios-^ete. 

Perdi  meu  guia  da  vida, 
Vlyo  no  mondo  isolado, 
Qual  baixel  singrando  í  tâa, 
à  merca  do  rento  irado» 

Perdi  o  yiço  dos  annos — etc. 

Só  terá  fim  minha  d6t^  . 
Só  findará  a  saudade  . 
Quando  eu,  junto  ao  meu  guia» 
na  eternidade* 


Lá  entSo  serei  ditoso» •• 
Findará  minha  agonia, 
Junto  áquella,  que  no  mundo. 
Me  serviu  de  firme  gui*-- 

Ouàlberto  Peçonha. 


TROTâBOl 


4M 


EU  AMEI  mu  DfcomrrAnTB 

Ea  amd  uma  inconstante 

Que  foi  lagiata  e  perjura; 

Troeoa  os  dias  ditosos 

S6  por  éiãB  de  amargura; 
Sb  pois  como  ella  pagou 
Minha  tio  grande  tamoral 

Mas  inda  um  dia  yirá 
Que  o  inferno,  doToraado 
Monstro  tal  de  ingratidle,. 
Seus  orimes  iri  -pêgfmio. 

Sen  praeer  é  só  lograr, 

Ser  ingrata,  ser  perjura; 

Maltntfar  oom  sens^  ciúmes, 

Carar.  fiuido  a  sepultura; 
Abusar  da  sympathia, 
D6ces  mimos  de  ternura  I 

Ma»  inda  um  dia  tíjí-— etOi 

Quando,  em  fim,  de  ti  gostei^ 
Que  eras  assim  nSo  sabia; 
Monstro  tal  d^  ingratidio, 
Sjmb^^  da  tjnuamia; 

Eis  pois  oomo  ella  pagou 

Tio  sincera  STmpathiai 


Mas  inda  um  dia  vicá«-*ela* 


ItO  TROVADOR 


REcnmyo 


DH  NAMORADO  DA  Ê^OCA 

Passeia  á  tarde,  qaando  o  sol  é  posto, 
P'ra  vâr  seu  rosto,  men<1igar*llie  um  riso; 
Porâm,  se  avista  a  seu  lado,  o  Mho, 
Fica  vermelho  —  quàsi  perde  o  siso  I 

Volta  a  esifuiiia,  Aima  sen  ohanxio, 
Qual  o  matuto  que  á  cidade  vem! 
Ahi  espera  «p«r  algum  esoripto, 
E  fica  afflicto  se  nSo  vem  ninguém. 

MiraHBe  todo — limpa  seu  calçado — 
Queji  rasgado,  tinha  posto  ao  lado; 
Mesmo  os  tacSes  .elle  nlo  dispensa*  •  • 
Somente  pensa  em  feser-se  amado! 

£zp8e-se  i  chuva,  se  expSe  á  lama, 
P'ra  ter  á  fama  de  a  conquistar  t 
Mas  se  reflecte,  marcha  direitinho, 
—  Mui  caladinho-^  para  o  Alcaaar* 

Aiii  dis&rça  da  paixSo  as  mágoas, 
Com  certas  aguas  de  diveinas  cftres; 
Bebe  cognac — eapilé  composto — 
Tudo  por  gosto  d'esqueoer  ansoresi 

E  quandb  aeaba  d«  uma  tal  folia, 
De  poeêia  se  lh'escalcla  a  mente.  •  • 
Caminha,  aceeso  qual  ardente  braza, 
E  chega  a  casa  por  demais  contente  I 

B.  F.  d'Ahmda. 


J 


TROVADOR 


m 


lundC 


  TIDA  DO  FRADE 


Triste  vida  é  a  do  frade, 
bidá  peor  que  a  da  {reira, 
Andar  de  noite  á  carreira, 
Na  penitencia. 

É  preciso  paciência 
Com  nosso  noviciado; 
Andar  um  anno  encerrado, 
Eu  nSo  sabia. 


Eu  bem  disse — nSo  queria 
Ser  frade  n'este  convento — 
Porque  tSo  grande  tormento 
Experimentei, 

A  força  eu  professei, 
Por  meu  pai  assim  querer, 
Sou  defunto  sem  moirer, 
Amortalhado. 


Vivo  n'um  fogo  abrazado 
Com  este  burel  vestido. 
Quando  me  vejo  despido 
Estou  contente. 


11 


19S  TROVADOR 

Qaando  me  vejo  doente, 
Deitado  na  enfermaria, 
E  quando  tenho  alegria 
Pelo  descanço. 

Se  algama  licença  alcanço 
De  meoB  pães  ir  visitar, 
Se  vSo  outros  passear, 
Eu  também  vou. 

Assim  que  o  canto  yoltoa.  •  • 
O  meu  leal  companheiro 
Fh>cura  a  rua^ — primeiro 
^         De  seus  amores. 


Se  é  doente,  nSo  tem  dores 
Porque  solto  assim  se  vê; 
Inda  que  a  gota  lhe  dê, 
NBo  é  tSo  forte. 


Cuido  ir  buscar  a  morte 
Quando  subo  esta  ladeirft; 
Eu  desço-a  toda  á  carreira, 
A  toda  a  pressa. 

Da  missas  uma  remessa      '^- 
O  guardiSo  sempre  tem; 
Oanhar  um  frade  um  vintém, 
Ora...  essa  é  boa!..'. 


Se  morre  alguma  pessoa 
Que  officio  vamos  rezar, 
Todos  juntos  a  cantar 
Eu  quero  TÔl-4t. 


TROVADOR 


163 


De  luute  á  porta  ãm  eella 
Certas  matracas  tooando, 
Vamo-nos  já  levantando 
Orar  p'ra  o  oôro. 

E«  oom  isso  qnasi  morrOi      , 
Ás  Tezes  samnambolindo; 
Se  estou  sonhando  ou  dormindo, 
Também  nSo  sei. 

Acordado  dormirm.  •  • 
Toca  o  officio  d'agonia| 
Vamos  para  a  enfermaria       • 

Versos  cantar, 

O  frade,  perto,  a  expirar, 
Sem  acabar  de  morrer; 
Quando  o-dia  amanhecer 
'Stá  estendido. 


Já  morreu  arrependido 
O  nosso  frade  doente, 
Ponha-se  isso  bem  patente 
Que  officio  temoa. 

Graças  a  Deus  já  rezemos, 
Toca  o  sino — a  refeitório, 
P'ra  tomar  um  vomitório 
De  arroz  cozido. 


Se  algum,  mm  conhecido 
Frade  quizeiD^e  metter, 
Antes  se  exponha  a  morrer 
Do  9»;  ser  frad^. 


(04  TROYABOa 


/ 
I 


Do  m^Bino  se  queixa  a  madre 
Por  nSo  acompanhar  o  frad^..* 
Por  nSo  ter  mais  liberdade. .  • 
E  nada  mais* 


AO  PARA6UAY 

Brilha  a  estrella  tSo  formosa) 

'Luminosa, 
Do  Brazil  gtande  poder; 
Eia  l  braros,  oom  valor. 

Sem  teTt&ty 
Mas  ás  armas  sem  temer! 

De  Lopez  e  a  sua  gente, 

Que  valente 
Quer  a  custo  a  nós  vencer, 
N8o  temaes,  oh  brazileiroa 

Verdadeiros; 
A  gloria  nossa  ha-de  ser! 

O  Brazil  j&mais  da  guerra 

Não  se  aterra, 
Tem  valor  e  tem  nobreza; 
É  muralha  rija  e  forte,     . 

Quem  á  morte 
Se  arroja  com  gran  firmeza! 

De  Santo  Borja  expulsai-os, 

Mergulhai-os 
Em  sangue,  tSo  vis  tyrannos, 
Que  só  sabem  affrontar   . 

B  desgraçar. 
Dar  a  morte^  oausar  damnosl 


\ 


TROVAMH 


469 


Nomo  pai  tio  carinhoso 

E  amoroso,  ' 

Nossos  mares  já  sulooa, 

Soa  coragem  a  amor, 
Com  ardor 

Nossos  brios  ayivoa  I 

Augusto  Eugénio  da  8iha  Santiago, 


MODINHAS 


DÁ-ME  UM  BEUQ 


Poeôa  do  át,  Laorindo,  a  mufilca  de  A.  Cunha 


Se  ma  adoras,  ó  me  qtteraíi, 
Como  dizes  com  ardor, 
Di-me  um  beijo  tSo  somente 
Em  proT»  do  teu  amor».  • 

A  paixSo  em  qne  me  abraso, 
Dilacera  o  peito  meu; 
Di-me  ptazer,  dá-ma  "vida, 
Di-ma,  dá^me  um  beijo  teu. 

Amor  anima  e  acoende 
Em  chammas,  do  céo  nascidas, 
DouB  corações  n'um  abraço,    ' 
Em  ui^  beijo  duas  vidas* 


166  1MYA1MMI 

Uma  vida  qa«  m%  falta.  •  • 
A  metade  do  mea  s6r, 
Quero  um  beijo  amoroea 
Dos  teus  labio0  reoeber. 


ESCUTA,  DONZELLA 

Foeídm  de  H.  Machado,  musica  de  Vizgiiie 

Eflcuta,  donzella,  escuta 
O  meu  continuo  penar; 
Ausente  de  ti.  •  •  distantOi 
Paaao  a  vida  a  suspirar. 

Ao  vôr-te  logo  jurei 
Ser  somente  teu  amante; 
Dar-to-hei  a  própria  yida 
Se  tu  me  fôres  constante. 

I 

Porám  a  sorte  infiel 
Quiz  de  ti  me  separar, 
Ma«  nlo  pôde  de  meu  peito 
Tua  lembrança  risoar  I 

Tsago  gntyado  na  mente 
O  teu  mimoso  semblantei 
E  jamais  te  esquecerei 
Se  tu  me  fôres  constante. 

Escuta,  donsella,  escuta 
Do  bardo  triste  cantar, 
Até  que  a  morte  dê  fim 
Ao  meu  continuo  penar  I 


nOTADOft  167 


K'e8te  rdtiro  em  qne  víto^ 
Bem  longe  de  ti  distant6| 
Juro  am&r-te  até  morrer 
Se  ta  me  fores  constante* 


DORME,  DORME,  Õ  MORENA 


Dorme,  dorme,  ó  morensi 
O  Bomno  da  eternidadei 
Qae  só  deixaste  ao  esposo 
A  triste  flor  da  saudade. 

Botibou-me  a  parca  tyranna 
O  meu  mais  caro  penhor; 
Com  elle  a  ãôr  dos  meus  diasi 
Kinha  yida,  meu  amor. 

Que  sorte  desventurada 
Traz  meu  pranto  em  amargiUraf 
Dorme,  dorme  ó  morena, 
Lá  na  fria  sepultura. 

Se  tu  meu  pranto  eseutateB, 
Envolto  com  j  meu  soffrer 
Passarei  contente  a  vida. 
Até  findar  meu  viver. 

Se  08  meus  lamentos  ouvires^ 
Bepassados  de  ternura.  •  • 
Dorme,  dorme,  ó  morena. 
Lá  na  fria'  «epultUra. 


i 


} 


168  TROVADOB 

Aàeojêj  6  bella  morena, 
Descançada  doeste  inundo; 
Fico  8Ó  em  cruel  lucta, 
Com  ^te  ardor  tão  profimdo» 


O  CEGO 


Pensam  que  vejo  e  não  vejo, 
NSo  yejo,  que  cego  estou; 
De  que  me  servem  os  olhos 

Se  a  minha  luz  se  apagou? 

» 

Âh  I  não  deixes  que  eu  me  pe>rca 
N'esta  immensa  escuridão; 
Oh  anjo  que  me  cegaste, 
Vem  ao  menos  dar-me  a  mão ! 


Deixe  passar  o  mendigo 
Quem  a  vista  não  perdeu; 
Só  me  pôde  dar  esmolas 
Quem  fôr  cego  como  eu. 

Ah  t  não  deixes — etc. 

Ao  avifltar-te,  meu  anjo, 
A  luz  divina  senti ; 
Mas  ao  perder-te  «ie  vista, 
A  minha  vista  perdi. 

Ah!  não  deixes — etc» 


i 

j 


THOTABM  4W 


Se  eu  cahiry  dá-me  teus  braçoB, 
Dá-m'o0y  ]pe}o  amor  de  Deus; 
Talvez  que  receba  a  vista     - 
Caliidò  noB  braços  teus ! 

Ah!  nSo  deixes  —  etc. 


ULUL  BELLA,  O  TRISTE  FRANTO 


LdUn  bella,  o  triste  pranto 
Que  me  fizeste  verter, 
É  gmol  sámente  a  causa 
Do  tem  fidso  proceder. 

.    Vinde,  ó  farias  do  Avensoi 
Depressa  me  ajudar; 
Ho|e  semente  procuro 
D'easa  ingrata  me  vingar* 

KSo  é.bem  que  um  peito  fira 
Quem  desconhece  o  amor, 
Zombando  da  cruel  sorte 
Do  meu;  peito  abrazador. 

Moira  essa  ingrata, 
Essa  tyranna 
Que  entre  nós  vive, 
£m  fÒmia  humana. 

M<ttTa  a  perjura, 
Ji  que  assim  quer ; 
Çottio  nlo  ama, 
Klo  é  mulher. 


fW  fROTÂDOl 


REOTATIVOS 


QO£R0  FD6IR-TÊ 


Quero  fogir-te,  mas  nSo  posso,  Yirgem| 
Pois  sott  capti^o  de  um  poder  sublime; 
Queiro  fogir-te,  mas  fatal  vertigem 
Me  dobra  o  oorpo,  oomo  a  briaa  •  fiíaamm 

Do  Éden  de  amor  és  meu  redado  peom^ 
Ninguém  no  mundo  miaba  dâr  oompr'ebd%I 
Quero  fiogir-te,  quero,  sim,  mas  como, 
Se  um  teu  mríso  me  sedus,  me  prende  ? 

Para  enganar-me  digo  muitas  reeat 

Que  és  mi,  qm»  és  Ma,  que  é  louoom  amair-te; 

EntSo  deliro,  bebo  até  ás  fezes 

A  taça  amarga  que  o  soffror  reparte. 

Quero  fugir<*te,  na  floresta  vago, 
Colho  uma  rosa,  teu  retrato  é  eUa ; 
Contemplo  o  céo,  e  li  teu  rosto  mago 
Inda  adndro  em  cada  nivea  eate^eUa* 


Se  mais  te  fujo,  mais  a  ti  me  preadi^ 
NSo  aobo  ausência  que  de  ti  me  ausente ; 
Se  08  olhos  gozam  quando  te  estou  TendO| 
Em  te  nZo  vendo  gozo-te  na  mealel 

Tu  és  o  iman  que  me  attrahes  a  Tida, 
Qual  mariposa  em  teu  olhar  me  abraio; 
Quero  fíigir-to,  que  imponente  Udal 
Da  minha  sombra  fugir  posso  acaso  I  ? 


J 


nOVABM  171 

Fugir  nSo  poMo;  bIo  se  foge  á  sinai 
Mio  fege  o  corpo  quando  é  pr»sa  a  idéa; 
Soa  tea  escravo;  sobre  mim  d<HDaina, 
ISs  os  meus  pulsos,  laaça^me  a  oadêa  I 


N 
\ 


ROMANeE 


A  DESPEDIDA 

Poesia  de  Bettenoonxt  Sampaio,  e  musica  de  fi.  A.  Lobo 

Adeos,  teita  dos  amores^ 
PaoUcea,  adeus,  adeus; 
Da  saudade  acerbas  dtna 
NSo  findarSo  dias  meus. 

E  to^  virgem  peregrina, 
Anjo  do  céo  que  adorei; 
Quem  sabe,  ternf  Angelina, 
Se  AlgttQi  dia  te  verei  I 

N'este  estado  de  incertesa^ 
Qne  magoa  sinto  de  amor  I 
Até  mesmo  a  natoresa 
Pareoe  chorar  de  dôrl  / 

Ah  I  que  saadade 
Ma  scdidSo! 
N'este  meu  canto 
Deixo  alma  e  pranto 
£  coraçSo* 


^^%  TROVABOR 

Felicidade,  felieidade, 
A  ti,  aos  teus; 
Ai]Jo  dos  céos, 
Adeus,  adeus. 


LUNDU 


KENINA,  PORQUE  RAZiO 

Menina,  porque  razSò 
Passo,  e  foge  da  janella? 
— Ê  porque  vou  á  cozinha 
'Botar  fogo  na  panoUa* 

Castiga,  castiga, 
Seu  bem  aqui  está;        •  • 
Quem  d^elle  hSo  gosta^ 
De  quem  gostará? 

Menina,  porque  motivo 
Quando  eu  passo  nfto  dis^-^ entre? 
— Ora  senhor,  vá  andando, 
De  o^ompostas  'stou  sdente* 

Castiga — etc* 

* 

NSo  fujas,  que  eu  nSo  sou  biehO) 
Eu  sou  creatura  humana; 
— Ora  senhor,  vá  andando, 
Com  compostas  nSo  me  engana. 

Castiga — etc* 


J 


TROVADOR  173 


Menina,  esses  seus  dentinhos 
Ê  que  me  faz  repellir; 
— Ora  senhor,  vá  andando. 
For  Deas,^n2lo  me  faça  rir. . 

Castiga — etc. 


MODINHAS 


VEXnSI  CABAIAS 


Deixei  eabanas, 
Deixef  meus  gados 
P*ra  vôr  Analia 
Dos  meus  cuidados. 

ELia  finrtana 
Que  ea  tenho  achado: 
Amar  constante, 
Sem  ser  amado, 

Amar  constante 
Sem  ser  amado, 
Por  otttro  amante 
Ser  despiesa^o. 

Um  infelie 
Deve  morrer 
Fiara  uma  ingrata 
Muaoa  mâts  vâr. 


iU  TROYAIKA 


Ea  vf  Analia 
N8o  sei  aonde, 
Chapio  por  elia, 
NSo  me  responde.     , 

Ahl  yem,  Analia, 
Entra  em  meu  peito, 
Yem  vêr  o  estrago 
Que  ma  tens  feito* 


OS  CIÚMES 

Por  outros  lábios  passados 
NSo  posso  seu  nome  ouvir; 
De  todos  tenho  ciúmes 
Quando  te  vejo  sorrir. 

Tenho  ciúmes  das  46zes 
Que  a  teus  pés  rejo  abrir^ 

Aborreço  os  olhos  todos 
Que  ousam  teus  olhos  mirar; 
Aborreço  a  aragem  mansa 
Que  vem  teus  labiòs 


E'  loucura  ter  ciúmes,     '■ 
Mas  sSo  esses  de  matar. 

NSo  me  lances  esses  (4hòs, 
Que  ^u  já  nSo  posso  Bofírer; 
Tenho  medo  de  mim  mesmo, 
De  um  amor  como  eu  sei  tar. 

Ha  na  vida  mil  tormeatos 
P'ra  uma  hera  de  prasar. 


TROYABOII  ilS 


ROLA 


Des  qii'o  amor  me  deu  qn'ea  lesse 
Nos  teus  olhos  minha  sina. 
Ando  como  a  peregrina 
Bola  que  o  esposo  perdeu ; 
Seja  noite  ou  seja  dia 
Eu  te  procuro  constante; 
Vem,  ohl  vem,  querido  amante, 
Toa  sou  e  tu  és  meu. 

w 

Vem,  oh!  yem,  que  por  ti  clamo, 
Vem  contentar  meus  desejos, 
Vem  fitrtar-me  com  teus  beijos, 
— Vem  saciar-me  de  amor! 
Amo-te,  quero-te,  adoro-te, 
Abrazo-me  quando  em  ti  penso, 
E  em  fogo  yoraz,  extenso 
Anceio  louco  de  ardôr! 

Vem,  que  te  chamo  e  te  aguardo, 
Vem  apertar^síie  em  teus  braços, 
Estreitar-me  em  doces  laços, 
Vem  pousar  no  peito  meu; 
Que  se  o  amor  me  deu  que  eu  lesse 
Nos  teus  ollioa  uvinha  sina^ 
Ando  como  a  peregrina 
Bola  que  o  esposo  perdeu* 


maamk  dos  olhos  mboboí 

Meninu  dos  olhos  negros 
Morro  por  ti  de  paixSo; 
Menina  dos  olhos  negros. 
Queres  tu  meu  coraçSo? 


lUi  Tftoi^oa 

Como  ta  nSo  ha  na  terra 
TSo  linda,  tSo  bell&  âôr; 
Menina  dos  olhos  negros, 
Queres  ta  o  mea  amor? 

Da  capella  de  um  archai^o 
£s  luzinha  desprendida; 
Menina  dos  olhos  negros. 
Queres  tu  a  minha  yida? 

Podes  vèr  que  sSo  já  tuas 
^  Estrellas  do  firmamento; 

Menina  ãos  olhos  negros, 
Queres  tu  meu  pensamento? 

Quero  ser  teu  e  tu  minha 
Por  uma  doce  uniSo, 
Dou-te  todo  o  pensamento, 
Alma,  yida  e  coraçSo. 


REOTATIYO 


80HH0  DE  VIR&BM 

ESil-a  tSo  bella — sobre  o  leito — immersa 
No  somno  ameno  da  estaçSo  gentil!*  •  • 
Branca  açucena  que  entreabre  o  cálix, 
Amor  lhe  alenta  o  melindroso  hastilt*.. 

Amor  de  rola,  que  inda  ha  pouco  o  ninho 
Qnardaya  implume  a' pipilar  medrosa; 
Mede  o  espaço,  e  ensaiando  o  yôo. 
As  tenras  azas  experimenta  airosa. 


TROVADOR 


m 


Bã-a  tSo  beOa  I .  •  •  mal  cerrados  oilios, 
Lábios  purpúreos — um  sorrir  d'ai]jiiiho, 
Madeizas  d'ouro  sobre  o  leito  esparsas, 
Seio  de  neve  a  se  agitar  mansinho. 

Sonha  e  sorri-se;  que  horisonte  azul 
K'ahna  lhe  esparge  de  esperança  as  flores ! 
Sonha  e  sorrinse;  que  dourada  nuvem 
Lhe  occttita  aos  olhos  da  descrença  as  dores ! 

Dorme,  donzella,  teu  dormir  sereno.  •  • 

Oh!  nSo  despertes  4^  illusSo  dourada  I  •  •  • 

Qne  bSo  fisdlazeB  doesta  vida  os  gozos, 

O  Bonho — um  mundo — o  despertar — um  nada. 

Teu  leito  é  templo  que  a  innocencia  guarda; 

Tecem  os  anjos  as  grinaldas  tuas; 

Baste-te  o  gozo  das  virgineas  flores, 

Outros  perfumes. •  •  ah  I  por  Deus. • .  nSo  fruas! 


LUNDU 


sinho  jucá 


Sinhd  Jucá,  yár-se  embora, 
NZo  me  conte  historias,  n3o; 
Ji  se  esqueceu  do  que  fez.. . 
Na  noite  de  S.  JoSo? 


12 


178  TROVADOR 

Ai,  meu  DeuB,  sinhô  Jaquinha, 
VoMê  é  08  meus  peooados  t 
Vi-BO  embora,  já  lhe  dÍBfle, 
NSo  me  queira  dar  ouidadoB. 
As  artes  do  sinhõ  moço 
SSo  mesmo  artes  do  demónio, 
Para  vêr-me  livre  d'elle 
Vou  rezar  a  Santo  António* 
Santo  António,  meu  santinho, 
Valei-me  n'esta  afflicçSo, 
Fazei  com  que  sinhôzinhô 
NSo  me  faça  tentaçSo* 
Santo  António^  Santo  António, 
Que  tentação  do  demónio! 

Sinhõ  Jucá,  é  forte  teima ! 
NSo  bula  commigo,  nSo: 
NSo  brinque  como  brincou 
Na  noite  de  S.  JoSo. 

Ai,  meu  Deus  —  etc. 

Sinhd  Jucá,  arre  de  lá, 
SenSo  leva  um  bofetSo; 
Eu  nSo  quero  mais  gracinhas 
Da  noite  de  S.  JoSo. 

« 

Ai,  meu  Deus — etc* 

Sinhõ  Jucá,  vooê  chwa? 
Já  se  viu  tal  tentaçSo? 
NSo  se  vá,  que  já  nSo  ralho 
Da  noite  de  S.  JoBo. 


Ai,  meu  Deus,  sinhÕ 
VoBsê  é  os  meus  peccados; 


J 


TBOYADOR  i 79 


Eis  aqui  mais  outra  vez 
Os  meus  protestos  quebrados ; 
Ás  artes  do  smkô  Jucá 
SSo  mesmo  artes  do  demónio, 
NSo  me  posso  livrar  d'e]le 
Nem  rezando  a  Santo  António. 
Santo  António,  meu  santinho, 
Já  nSo  vales  nada,  não, 
O  chorar  de  sinhôsinho 
Derreteu-me  o  coração. 
Santo  António,  Santo  António, 
Que  tentaçSo  do  demónio ! 


MODINHAS 


BETEM  NOS  LÁBIOS  INGBATOS 
Poesia  do  anr.  Perdra  Sousa,  e  muaiea  do  mt.  Baphael  Coelho, 

Betem  nos  lábios  ingratos, 
Betem  tanta  crueldade; 
Em  ti  perdoo  a  mentira, 
Em  ti  detesto  a  verdade. 

Essa  verdade 
Pôde  matar,    ' 
Esta  mentira 
Pôde  animar. 


i80  TROVADOR 

-  # 

Se  despreflas  meu  amor, 
NSo  n'o  digas,  por  piedade, 
Cala  no  peito  o  que  sentesi 
Em  ti  detesto  a  verdade. 

Esse  silencio 
Pôde  animar, 
Essa  verdade 
Me  vai  matar. 


QUE  NOITES  QU^EU  PASSO  AQUI  NO  ROCHEDO  ' 
Poesia  do  snr.  dr.  Viliela  Tavares,  musica  do  snr.  A.  J.  S.  Mootoito. 

Que  noites  qa'eu  passo  aqui  no  rochedo 

A  borda  do  mar, 
Inquieto  e  afflicto,  com  susto  e  com  medo, 

E  sempre  a  cuidar  I 

Se  chove  ligeiro,  as  aguaa  correndo 

A  choça  humedece ; 
Viuva  nSo  bebas,  na  gruta  gemendo, 

Minh'alma  entristece. 

Se  o  cume  do  pico  a  lua  prateia. 

Ao  seu  clarear 
Meu  peito  infeliz  suspira  e  anceia, 

Começo  a  chorar. 


^    A  mosioa  doesta  modiplia  acha-se  á  venda  na  ma  de  Gkinçal- 
ves  Dias  n.o  61,  estabelecimento  musical  do  snr.  Nioasso  Garcia. 


TROVADOR  i81 

Passadas  yentnras  me  vem  á  lembrança, 

Que  doce  painel  I  • .  • 
Ckmtemplo  depois  da  sorte  a  mudança 

P'ra  mim  tSo  cruel. 


Sem  forças,  em  tSo,  deitado  no  leito 

Eu  quero  dormir; 
Saudade  que  fere,  que  rala-me  o  peito 

Eu  entro  a  sentir. 


Saudade  da  terra  que  longe  deixei, 

E  onde  nasci; 
Saudade  do  poTO,  da  gente  que  amei, 

Mas  que  eu  já  perdi. 

Saudade  da  matta  do  meu  sabiá. 

Dos  plumeos  cantores; 
Dos  firuotos  tSo  bellos,  tSo  bons  que  alli  ha, 

Saudade  das  flores. 

Saudades  das  ruas,  e  rios  o  fontes 

Que  ha  na  cidade; 
Saudade  do  prado,  dos  yalles  e  montes. 

De  tudo,  saudade! 

Que  noites  eu  passo  aqui  no  rochedo 

A  borda  do  mar. 
Inquieto  e  afflicto,  com  susto  e  com  medo 

E  sempre  a  cuidar ! 

Se  durmo  cançado  de  tax^to  lidar. 

De  tanto  soffirer. 
Vampiros  dispersos  pairando  no  ar 

Em  sonhos  tou  yâr. 


18Í  '      TROVADOtl 

Idéasy  imagens,  cruéis  pensamentos 

Se  avivam  entSo ; 
Desperto,  meus  males,  martjrios,  tormentos 

Mais  graves  me  sSo. 

Taes  sSo  minhas  noites,  que  noites  de^  horror, 

Tal  é  minha  sorte; 
SSo  noites  eternas  de  mágoas  e  dôr, 

SSo  noites  de  morte. 


POR  ENTRE  AS  TREVAS  DA  NOITE 


For  entre  as  trevas  da  poite 
Que  cercam  minha  existência, 
Brilha  um  astro  de  innooencia 
Que  é  minha  estrella  polar. 
Nos  abysmos  de  minh'alma 
Só  ella  pôde  brilhar. 

O  clarSo  frouxo  da  lua 

Já  desmaia  no  horisonte, . 

E  o  d'ella  na  minha  fronte 

Inda  nSo  veio  pousar. 

Ide,  6  sons  de  minha  lyra 
Em  torno  d'eila  adejar. 

Apenas  n'este  silencio 
Ouço  o  cahir  de  uma  fonte 
Que  vem  descendo  do  monte 
Com  sonoro  crepitar, 

Eu  ajunto  ás  vozes  d'ella 
Os  echos  do  meu  cantar. 


TROVADOR 


183 


Vem,  flor  dos  jardins  cetesteB, 
Vem,  meu  anjo,  sem  receio, 
Entornar  dentro  em  meu  seio 
Toa  perfome  e  teu  olhar; 

Por  ta'alma  innocentinha 
Minh'alma  quero  trocar* 

Mas  talvez  que  adormecida, 
Recostada  a  seu  postigo, 
Sonhando,  ó  virgem,  commigo 
Vlo  meãs  cantos  te  ac(»rdar : 

Adens,  ó  virgem,  que  o  bardo 
Nlo  quer  teu  somno  turbar. 

Olha  que  a  noite  é  bem  negra, 

Faz  frio  de  inyemo  e  gelo. 

Já  sinto  no  meu  cabello 

O  sereno  a  gotejar ; 

ftto  erra  estrella  no  eéo. 
Nem  ouço  o  mocho  piar. 


RECITATIVOS 


FADA  nC  SRGAlltOS 


Fada  de  eneaatos  qae  eu  adoro  e  amo, 
Por  quem  me  inflammo  sem  yeataniB  tor, 
Deixas  que  o  pobre,  suspirando  amores, 
Sinta  os  rigores  d'am  oruel  soffirer? 


184  TROVADOR 

Deixas,  ó  virgem,  que  o  meu  negro  fado, 
Que  me  ha  ligado  á  desventura  assim, 
Longe  dos  gozos,  como  a  flor  pendida, 
É  minha  vida  um  suspirar  s^n  fim? 

E  tu,  flor  bella  no  tapiz  dos  prados, 
Doces,  bordados  de  mimosas  oôres, 
NSo  Tês  o  pobre  que  por  ti  clamando 
Vive  chorando  n'um  viver  de  dores? 

Oh  I  se  eu  nunca  disse,  te  direi  agora, 
Minh'alma  chora  por  teu  doce  amor; 
Vem  dar  ao  triste,  que  nlo  tem  abrigo. 
Um  peito  amigo  a  mitígar-lhe  a  dôr. 

Vem  tu,  ó  virgem,  doce  irmS  dos  risos, 
Dar-me  os  sorrisos  de  uma  vida  para; 
Ai  I  doce  anjo,  minha  vida  abrazas, 
Boça-me  as  azas  de  feliz  ventura. 

NSo  temas  nunca  que  eu  te  olvide,  nSo  I 
Meu  coraçSo  e  meu  amor  s8o  teus ; 
Se  me  desprezas  vagarei  perdido 
Como  o  descrido  nos  desertos  seus ! 


Adeodato  Sócrates  dê  MMo.  * 


DESPREZA  O  Minmo 

Despreza  o  mundo  que  caminha  errante. 
Que,  ignorante,  jamais  crê  —  virtude ! . .  • 
Despreza  o  mundo  que  a  acçSo  mais  pura 
Se  lhe  figura  —  sentimento  rude! . •  • 


TROTADOn  185 


I>e8preza  quem  no  lodaçal  do  mando 
Vegeta  immnndo,  sem  virtudes  ter ; 
I>espreza  aqaelle  que  o  crime  abraça, 
Sorvendo  a  taça  do  agro  so£Erer ! 

Os  que  te  accasam  de  leviandades, 
SSo  nnllidades  —  só  inspiram  dó !  •  •  • 
Sem  se  lembrarem  que  serSo  um  dia 
Pia  morte  impia,  reduzidos  a  pó. 

Altiva  e  nobre  tua  fronte  ergue, 
ES  firme  segue  da  virtude  o  trilho ; 
Bi-te  d'aquelleB  que  com  falso  agrado 
Tem  procurado  te  offuscar  o  brilho. . . 

CoraçSo  de  anjo,  formas  de  mulher, 
C  bem  cruel  quem  te  impSe  soffi-er ! 
Que  desprezando  todo  teu  encanto 
Vertendo  o  pranto  te  fará  morrer !  •  •  • 

£u  te  admiro,  e  comprehendo  tanto 
Quanto  teu  pranto  me  traduz  —  delirio !  •  •  • 
Que  com  puro  afifecto  —  serena  calma 
Te  offiarto  a  palma  do  cruel  martyrio ! .  •  • 

Despreza  o  mundo  que  caminha  errante, 
Que,  ignorante,  jamais  cr6  —  virtude !••• 
Despreza  o  mundo  que  a  acçSo  mais  pura 
Se  lhe  figura — sentimento  rudel... 


Sm    J,    S, 


186  '  TROVADOR 


LUNDC 


NÃO  MB  AHOnNE 

^  • 

Arre  lá,  nSo  me  amofine 
Com  tamanha  impertinência; 
NSo  goza  mais  meu  amor, 
Tenha  santa  paciência. 

Eu  gosto  de  quem  nSo  tem 
CoraçSo  p'ra  muita  gente; 
Gosto  de  quem  quando  falia 
NSo  é  fingida  —  nSo  mente. 

NSo  avive  esses  olhinlvos 
Para  vêr  se  me  captiva ; 
Uma  vez  já  me  enganou, 
Pois  sem  mim,  agora  viva. 

Eu  gosto  de  quem  nSo  tem  —  etc. 

Se  vossa  nSo  me  queria, 
Dissesse  logo  á  primeira; 
Agora  nSo  tem  café, 
NSo  o&io  na  ratoeira. 

Eu  gosto  de  quem  nSo  tem  —  etc. 


TROVADOR  187 


MODINHAS 


PERDEU  A  FLOR  DE  MEUS  DIAS 

Peordea  a  flor  de  meãs  dias 
Todo  o  perfume  de  amor; 
Ramos  seccos  pendem  d'ha8te, 
Já  nSo  YÍye  a  minha  flor. 

O  tempo  que  tudo  muda 
NSo  minora  a  minha  dôr; 
Já  nSo  tenho  primavera, 
Já  nSo  vive  a  minha  flôr. 

Só  encontro  no  deserto 
Bafejo  consolador; 
Fechai-Tos,  jardins  do  mundo, 
Já  nSo  vive  a  minha  flor. 


NO  SEMBLANTE  TENS  IMPRESSO 

No  semblante  tens  impresso 
  constância,  a  lealdade; 
Ta  és  um  a^jo  de  amor. 
Tens  belleza  e  tens  bondade. 

Tens  uns  olhos  scintillantes, 
Que  bem  exprimem  —  amor; 
Quem  os  vê,  deixar  nSo  pôde 
De  adoral-os  com  fervor. 


188  TROVADOR 

Ob  teoB  dotes  diyinaes 
*  Deiza-me  só  contemplar, 

Já  que  a  sorte  acerba,  ÍDJusta, 
NSo  nos  deixa  amor  gozar. 


JUSTOS  CÉOS,  COMO  £  POSSÍVEL 


Justos  céos,  como  é  possível 
Que  seja  a  ternura  um  crime, 
Se  tudo  quanto  é  vivente 
Da,  lei  de  amor  nSo  se  exime? 

Se  é  delicto  ser  amante, 
Suspirar  —  morrer  de  dôr, 
Crime  é  da  natureza 
Que  ensina  a  ter  amor. 

Té  o  próprio  deus  do  Âvemo 
Que  os  condemnados  opprime. 
Se  chegar  a  yôr  teus  olhos 
Da  lei  de  amor  nSo  se  exime. 


OS  HAHDAMBHTOS 


Eu  confesso  .minhas  culpas 
Todas  pelos  mandamentos; 
Depois  que  eu  vi  a  Marilia 
Trago  vários  pensamentos. 


TROYADOR  189 


O  primeiro  amar  a  Deus: 
Eu  amo  o  mea  bem  qaerer; 
Se  Marília  f6r  constante 
Hei-de  amal-a  até  morrer. 

Segando  é  nSo  jurar 
Pelo  santo  nome  em  vlo; 
Eu  jurei  amar  Marília 
De  todo  o  mea  oora$8o. 

O  terceiro  ouvir  missa 
Nos  dias  de  santa  guarda; 
Eu  cem  missas  ouvirei 
'Stando  a  par  de  minha  amada. 

O  quarto  honrar  pai  e  mSi| 
Pai  e  mSi  respeitarei; 
Só  por  ti,  Marília  amada, 
Pai  e  mSi  eu  deixarei. 

O  quinto  nSo  furtarás 
Mesmo  tendo  precisSo ; 
Eu  só  fiz  ainda  um  fhrtor 
De  Marilia  o  coraçSo. 

Sexto  guardar  castidade 
Qae  é  virtude  apreciada; 
Ea  serei  sempre  mui  casto 
'Stando  a  par  da  minha  amada. 

O  sétimo  é  nSo  matar, 

Su  nunca  matei  ninguém ; 

Eu  só  mato  as  saudades 
Que  sinto  por  ti,  meu  bem. 


i90  TBOVADOR 

Oitavo  é  nSo  levantar 
Namoa,  falsos  a  ninguém ; 
Eu  só  disse  qne  Marília 
Era  BÓ  minha  e  meu  bem. 

O  nono  é  nSo  desejar 
Do  próximo  a  mnlher; 
Eu  só  desejo  a  Marília 
Porque  eu  quero  e  ella  quer. 

Decimo  é  nXo  cubicar 
Nunca  as  cousas  de  ninguém ; 

Eu  só  cubico  a  Marília 
Porque  ella  é  o  meu  bem. 

Estes  dez  mandamentos 
Só  em  dous  é  que  s'encerra: 
Amar  a  Deus  no  céo, 
E  a  Marília  oá  na  terra. 


til 


:j 


RECnATIVO 


EU  VI-TE,  VIRGEM 

Eu  vi-tC;  virgem,  sobre  o  coUo  a  fronte 
Curvada  á  fonte  a  segredar  queixumes ! 
Eu  vi-te  triste,  qual  pendida  rosa 
Hontem  mimosa  a  exhalar  perfumes! 


TMTADOR  IM 

CSabelloB  negioi,  no  cabir  espftraos, 
FormoBOB  traços  egtapavam  n'agiia! 
Assim  eu  vi-te  a  eztfmhir  da  harpa 
Acerba  fiupa  do  pungente  mágoa  I 

Biuqnei-te !  Aeheí-te!  Em  macia  relva 
Além  da  selTa,  recostei-te  a  mim  I 
cPor  mim  definhas?  »  —  pergantei  corando 
E  to,  chorando  me  disseste  —  %n  I 


Depois,  a  sorte  resequiu-me  as  flores  I 
Espinhos,  dores,  entomou-me  n'almal 
Mas  inda  espero  n'am  recente  espaço 
Prender-te  ao  laço  de  amorosa  palma. 


Virginio  Martins  dê  Carvalho. 


LDNDC 


o  TODO  DE  SINHÁZINHA 


Quem  qtdzer  venha  escutar 
Como  é  bella  esta  letrinha, 
Como  eu  voa  retratar 
O  todo  de  sinhizinha. 


193 


TROVADOR 


SeuB  cabellos  pretos,  finos, 
A  cabeça  redondinha, 
Sua  testa  bem  formada. 
Como  é  bella  a  sinházinha  1 

Seu»^  olhos  pardos  e  vivos, 
Soa  bocca  bem  feitinha, 
Sea  nariz  bem  afilado 
Como  é  bella  a  sinházinha  I 

Seus  bracinhos  torneados, 
Sua  mão  bem  talhadinha. 
De  cintura  muito  airosa 
Como  é  bella  a  sinházinha ! 


i 


Brilha  um  sorriso  em  seus  lábios 
Como  brilha  uma  estrellinha; 
É  joven,  é  bello  e  meigo 
O  todo  de  sinházinha. 


I 


É  um  anjiiiho  Je  amor, 
E  formosa  e  galantinha, 
A  natureza  esmerounse 
No  todo  de  sinházinha. 


1 


I 


í: 


NSo  pôde  deixar  de  amar 
Quem  ouvir  esta  letrinha; 
Que  a  natureza  esmerou-se 
No  todo  de  sinházinha. 


TROVADOR  >  i93 


MODINHAS 


COMO  SE  AMA  A  DEUS  NO  CÉO 


Como  86  ama  a  Deus  no  céo 
Te  adorou  minh'alma  pura, 
Mas  tu  desprezaste,  ingrata, 
^Meus  extremos  de  ternura. 

Se  desprezar  tu  podeste 
Quem  soube  tanto  adorar-te, 
,  NSo  devo  amar  quem  me  odeia, 
Deyo  também  desprezar-te. 

Porque  se  é  crime  o  desprezo 
£m  paga  d'uma  affeicSo, 
Também  é  loucura  amar-se 
Quem  pratica  ingratidão. 

Se  desprezar  tu  podeste — ete. 


QUEM  SABEI?.. . 


TSo  longe  de  mim,  distante. 
Onde  irá  teu  pensamento? 
Quizera  saber  agora 
Se  esqueceste  o  juramento. 


18 


194  TROVADOR 

Quem  sabe  se  tu  és  oonatante, 
Se  indA  é  mea  teu  pensamento? 
Minh'alma  toda  devora 
Da  saudade  agro  tormento. 

Vivendo  de  ti  distante, 

Ai,  meu  Deus,  que  amargo  pranto  I 

Suspiros,  angustias,  dôres 

SSo  as  yozes  do  mea  canto. 

Quem  sabe — etc. 

Quem  sabe,  pomba  innocente, 
Se  também  te  corre  o  pranto  I 
Minha  alma  cbeia  de  amores 
Te  entreguei  ji  n'este  canto. 

Quem  sabe — etc. 


HARILU,  TEUS  OLHOS  TÃO  TRISTES 


Poesia  de  J.  Verisaimo  da  Silva,  o  musica  de  José  Martins 

de  Santa  Rosa 


Marília,  teus  olhos  tSo  tristes 
Se  volvem  magoados  p'ra  mim; 
Diviso  o  pezar  derramado 
Na  face  de  neve  e  carmim. 

Desejo  saber  o  que  opprime 
Tua  alma  tSo  virgem,  tSo  pura; 
Marília,  tu  soffires,  mas  eu 
Também  soffiro  horrível  tortura* 


TROVADOR  195 


AffliiT 


Ília,  tea  longo  soiflinar ; 

O  pranto  rebenta  em  teus  oUios, 
Eu  quero  oomtigo  chorar. 


Desejo  saber — etc. 


EU  SOHHBI  QUE  NOS  HEU8  BRAÇOS 


Eu  sonhei  que  nos  meus  braços 
Docemente  te  apertava;  ^ 

Nos  teus  lábios,  minha  bella, 
Toda  inteira  a  vida  achava. 

Oh  I  que  prazer  tSo  celeste 
Tivera  nWe  sonhar  I 
Se  tal  sonho  fora  eterno, 
Quisera  nunca  acordar. 

Antes  fosse  o  sonho  a  vida 
Que  entio  teria  praser, 
Pois  acordado,  só  tenho 
Um  continuo  padecer. 

Ohl  que  prazer  tSo  celeste — etc. 


^ 


RECITATIVOS 


PERFVIfES  D'ALIU 


Mancebo,  escata  o  que  eu  tí  ao  mondo. 
Sentir  profondo,  soSrifflento,  d$rw; 
XUbos  de  gelo,  bem  amargo  pranto, 
Lagnbre  canto  em  maosolóo  de  amores. 

Amor  nSo  vi  no  fallar  da  virgem, 
Nem  na  vertigem  de  voraa  paizSo; 
Só  vi  enganoB,  mentirosoB  sonhos, 
Echos  medonhos  de  cruel  traiçUo ! . . . 

Poisar  nSo  vi  um  eoraçSo  somente, 
Nem  ternamente  murmurar  amor  I , . . 
Só  vi  desprezo,  a  mentira  impara, 
  desventura  no  gemer  da  dCr. 

NSo  vi  um  riao,  nem  um  casto  beijo, 
Temo  desejo  de  om  coração  amante; 
Só  os  sorrisos  de  infernal  traiçSo, 
A  ingratidSo  a  se  ostentar  constante, 

O  Tido  ea  vi  —  bem  veloz  correr, 
E  se  perder  no  turbilhSo  das  salas ; 
Eu  vi  coroas  lá  no  cbSo  tombadas, 
E  j&  manchadas  da  donzella  as  galas. 

Pasmei  ao  vdr,  no  aloouce,  ellaa. 
Mulheres  bellas,  a  vender  amor; 
Yi  suas  faces  com  a  côr  da  morte, 
Pungente  sorte  que  lhe  deu  a  dôr. 


J 


i 


TROVADOR  197 

Chorei  ao  yêr  dma  virgem  linda, 
De  dõr  infinda,  praguejar,  descrida ! .  • . 
Vendo  qne  era  por  seu  pai  mandada, 
Era  arrastada  ao  altar,  vendida ! 

Amor  nSo  queiras,  porque  amor  é  morte, 
Começo  forte  de  um  gemer  profundo ; 
Amor  nSo  queiras  porque  amor  nSo  ha, 
Nem  ella  o  dá  a  ninguém,  no  mundo  I  •  •  • 

Veríssimo  José  do  Bomsuccesso  Júnior. 


O  ESTUDANTE 


Hoje  1^  quinze  do  meu  mez  de  aulista. 
Ando  com  a  crista  para  o  chSo  cahida; 
Em  08  meus  bolsos  de  estudante  pobre 
Dez  reis  em  cobre  já  nSo  tem  guarida. 

Aonde  pára  a  infeliz  mezada 
A  mim  mandada  peía  mãi  querida? 
Talvez  na  bolsa  de  qualquer  jurista 
N'esta  hora  exista,  bem  e  bem  cosida. 

• 

Ai !  ai  I  meu  Deus,  que  existência  agra ! 
Parece  praga  sobre  mim  rogada ! 
Ando  nas  ruas  qual  Judeu-Errante, 
Sujo,  pingante,  sem  vintém — sem  íMda. 

Esoabriado  qual  um  cão  damnado, 
£  meu  estado  quando  vou  p'las  ruas ; 
Porque  s'encontro  com  credor  audaz, 
Elle  é  capaz  de  me  fazer  das  sitas. 


lOS  TROVADOR 

£u  devo  a  casa  onde  moro  ha  um  mes, 
Âo  meu  freguês  do  reãtauranie  dero, 
Ao  araiarinho  do  José  Manoel 
Devo  o  papel  que  a  sabbatina  esorevo. 

Do  importuno  alfskiate  a  conta 
Creio  já  monta  a  bem  puxados  cobres; 
Que  quer  que  faça?  oh  que  impertinentes ! 
Os  meus  parentes  também  sSo  mui  pobres.  •  • 

Credito,  foi-se  I  minha  lavadeira, 
A  engommadeira,  té  meu  sapateiro, 
Por  seus  cobrínhos  mui  2sangados  clamam 
E  já  me  chamam  de  vil  caloteiro. 

Que  amarga  vida  passa  o  estudante 
Sempre  oscillante  nos  desejos  seus  I 
Passa  tormentos  que  só  elle  sabe, 
Pois  só  lhe  cabe  o  furor  de  Deus ! 

Pois  nSo!  se  adora  a  uma  moça  bella, 

Votando  a  ella  um  amor  eterno, 

EUa  depois  de  o  mirar  mui  bem 

Diz  com  desdém :  Ê  escolar!  que  inferno! 

Inda  nSo  é  tudo,  o  estudante  estuda, 
De  cores  muda,  de  cançado  tomba; 
Os  seus  exames  vai  fazer  na  escola. 
Por  uma  bola  chupa  ás  vezes  bomba* 

Fica  sem  credito,  perde  o  anno,  a  amante, 
Dá  em  vagante — o  que  quer  que  faça? 
Começa  então  a  frequentar  orgias, 
E  vai  seus  dias  terminar  na  praça. 

Oualberto  Peçonha. 


J 


TROVADOR  190 


LUNDU 


O  CARANGUEJO 

Caranguejo  anda  ao  atá 
Procurando  a  sua  entrada, 
Veio  seu  mestre  titio 
Fez  dos  c'ranguejos  cambada. 

Depois  das  cambadas  feitas 
Sahiu  p'ra  a  rua  a  gritar: 
— Chega,  chega  a  freguezia! 
^  Vai  caranguejo,  sinhá? 

Moças  pobres  que  yê  chamam, 
E  vSo  logo  a  perguntar : 
— Quanto  custa  os  caranguejos? 
— Meia  pataca,  sinhá ! 

—Mestre  titio  me  diga 

O  seu  nome  como  é? 

— Sinhá,  p'ra  que  quer  saber? 

Eu  me  chaqio  pai  Manoé. 

— Pms  pai  Manoel,  vossê 
Vai  dar  passeio  ligeiro, 
E  quando  vier  de  vblta 
Venha  buscar  seu  dinheiro* 

— Moça,  leva  os  caranguejos 
E  deita-os  a  cozinhar. 
Que  mestre  titio  nSo  tarda 
O  seu  dinheiro  buscar. 


202  TROVADOR 

Basta,  para  oastigar-te, 
O  tocar  no  que  toquei; 
O  lembrar  que  estes  carinhos 
SSo  restos  que  eu  ji  deixei. 

Pelo  que  gozas  agora 
Imagina  o  que  gozei ! 
O  que  bebes  tSo  sedento 
•  SSo  restos  que  eu  já  deixei. 

A  flor,  o  fructo  de  amor, 
Intactos  n'elle  encontrei'; 
Tudo  o  mais  que  der  aos  outros 
SSo  restos  que  eu  ji  deixei. 


RECITATIVOS 


SONHA 

Sonha,  donzella,  a  mocidade  é  bella, 
P'ra  quem  só  teve  desde  o  berço  fl6res ; 
A  yida  é  triste  para  mim,  coitado. 
Que  yivo  cheio  de  cruentas  dores  t 

Sonha,  nSo  penses  no  cantor  perdido. 
Amante  e  crente  do  candor  dos  iTrios; 
Sonha,  nSo  queiras  partilhar  commigo, 
Do  mundo  falso  seus  cruéis  martyrios. 

Sonha,  nSo  olhes  a  impureaa  d'aliiia 
De  um  poeta  que  te  amou  com  anbia; 


i 


TROVADOR  208 

Atira  ao  fogo  esses  loucos  cantos 
De  quem  na  orgia  mareou  a  iuÍAnoia. 

Sonha,  que  ps  anjos  sonharBo  comtigo, 
A  virgem  pura  guardará  teus  cantos; 
Mas  nio  maldigas  n^esse  sonho  puro 
A  quem  da  lyra  arrancou  só  prantos. 

Sonha,  nSo  chores  por  me  vêr  perdido, 
Louco,  descrendo  da  cruenta  sorte; 
NSo  queiras  rêr-me  navegando  afouto 
Por  sobra  as  vagas  da  tremenda  morte. 

Sonha,  que  o  pobre  chorará  sósinho. 
Sorvendo  a  taça  d'amafgosa  lida ; 
E  quando  a  morte  me  riscar  do  mundo, 
Mesmo  cadáver — te  amarei,  querida. 

Sonha,  não  penses,  é  loucura  a  vida, 
E  falso  e  negro  teu  viver  dourado ; 
Só^nSo  é  falso  o  poema  immenso 
Que  sobre  a  campa  deixarei  gravado  I 

«7.  M.  Mancebo, 


JOVITA 


A  bella,  valente,  guerreira  Jovita 
O  pasmo  hoje  excita  com  seu  proceder ; 
Quem  é  que  diria  que  um  peito  tSo  frágil 
Teria  a  coragem  d'aquella  mulher?! 

Deixando  a  familia,  deixando  seus  lares. 
Da  guerra  os  azares  vai  ella  arrostar! 
NSo  quer  (que  coragem !)  servir  d'enfermeira. 
Quer,  sim,  per  guerreira  p'ra  muito$  matai: ! 


904  TROVADOR 

Javita  nSo  teme  pisar  00  espinhos 
De  horriveis  caminhos  oo'a  planta  mimosa; 
NSo  teme  trocar  esse  clima  do  Norte 
Pio  frio  tSo  forte  da  plaga  arenosa. 

Que  exemplo"Bnblime !  Que  facto  gigante 
Se  dá  n'este  instante  no  nosso  Brazil ! 
O  mando  hoje  pasma,  todo  elle  s^inclina, 
Porque  a  mão  divina  nos  guia  o  fuzil. 

• 
Permitte,  heroina,  que  o  bardo  obscuro 

Te  augure  um  futuro  risonho,  feliz ; 

Que  voltes  da  guerra  coberta  de  gloria, 

Que  illustres  a  h^toria  do  nosso  paiz. 

Qreycrio  ChrisHno  da  Silva. 


LUNDC 


A  CASA  UAL  ASSOMBRADA 

Vê-se  a  cidade  abalada, 
Todas  as  velhas  rezando, 
Ás  criancinhas  chorando, 
E  a  policia  agitada : 
— A  casa  mal  assombrada!  — 
Grita  em  coro  a  multicl|io; 
Ê  tSo  grande  a  confusSo 
Que  a  folhinha  postergou-se, 
E  a  Quaresma  mostrounse      ^ 
Depois  da  BesurreiçSo ! 


j 


TROVADOR  205 


Mas  Tamos  do  caao  ao  fondo; 
Diz,  Quaresma,  o  que  é  isto? 
É  um  caso  nunca  visto, 
É  um'alma  do  outro  mundo, 
Reina  um  mysterio  profundo 
N'e8ta  mísera  casinha? 
Porque  mal  chega  a  noitinha, 
Logo  um  defunto  brejeiro 
Bate  como  um  leiloeiro 
Lá  na  porta  da  covinha. 

Um  gato  preto  já  vi 

Que  era  tudo,  menos  gato; 

Vi  arrastar  um  sapato 

Que  eu  nSo  calcei  nem  buli; 

Andando  d'aqui  p'ra  alli 

Encontrei  uma  tripeça. 

Vi  um  caixão  e  uma  eça. 

Um  gallo  cacarejando, 

E  lá  no  quinUl  .rinchando    , 

Um  cavallo  s^n  cabeça. 

Safa!  o  caso  fjus  terror! 
Estou  com  medo,  nEo  nego! 
Uma  alma  que  bate  o  prego 
Contra  ás  ordens  do  inspector!? 
Diz  o  tal  martellador: 
Como  bate?  e  com  que  som? 
Faz  assim:  tem,  tam,  tom,  tom; 
Esta  agora  é  diabólica ! 
Com  tal  pancada  symbolica. 
Só  se  é  alma  de  maçon. 

Acode  a  policia  ousada, 
Dous  pedestres  com  archote 


306  TROVADOR 

InTadem  anoftando  a  morte 
A  casa  mal  aasombrada : 
A  tropa  disciplinada 
Divide-se  em  pelotSes, 
Ouye-se  proclamaçSes 
D'eB8eB  modenuMs  soayoB, 
Firmes,  intrépidos,  bravos, 
Molham  oomtudo  os  calçSes. 

Porta,  janelU  e  telhado, 
Sala,  cozinha  e  quintal, 
Tado  em  bloqueio  infernal 
Ficou  dous  dias  cercado. 
O  povo  aterrorieado 
De  noite  uma  sombra  viu. 
As  três  pancadas  se  ouviu, 
Era  a  hora  tSo  sinistra 
Que  o  pedestre  de  mais  crista 
De  cambalhotas  cahiu. 

Màs  a  visSo  'stá  filada, 
A  tal  alma  do  outro  mundo ; 
De  immenso  gosto  profundo 
Fica  a  cidade  banhada* •• 
A  alma  achou-se  trepada 
Em  um  velho  paredSo : 
Era  um  bello,  um  maganSo*.. 
Por  zombar  dos  assombrados 
Foi  pagar  os  seus  peccados 
Na  casa  da  correcção*  •  • 


Fm    DO  VOLUME  I 


I 

j 


I 


Pag. 

A  aaseneta 25 

^Á  borda  do  mar 128 

'A  brama ^ 66 

Acaboa-se  a  minha  orença. .  134 

A  capella  da  virgem 154 

A  easa  mal  assombrada. . . .  204 

A  ciara 139 

A  corda  sensível 20 

A  eÔT  morena 13 

A  eôr  morena 102 

A  descrente 107 

A  despedida 35 

A  despedida 88 

A  despedida 171 

Adeas^  lyra  malfadada 142 

Adens,  mea  anjo 90 

A  fiôr  do  men  cnlto 150 

A  flor  tSandade» 122 

Além  de  meos  males 89 

Alua 81 

Alua 98 

A  marrequinha. 23 

Amor  de  mãi 101 

Amor  de  ml.\ 157 

Amor  perfeito 33 

A  nebulosa 91 

Anjo.... 54 

Anjo  do  oéo,  ta  me  matas. . .  151 

Ao  Paragnay 164 

Ao  sol 83 

A  pensativa 45 

A  saudade  me  flagella 64 

As  olarinhas  e  as  moreninhas  59 

A  tr-Istera 129 

Ávida 56 

A  TÍda  dofrade 161 

A  Tida  e  a  morte 118 

A  virgem  do  meu  amor. . . .  104 

A  virgem  dos  mens  sonhos .  54 

Barca  Bella 112 

Bem  te  vi 111 

Borboleta 14 


Pag. 

Bradl,  acorda  1 17 

domo  se  ama  a  Deas  no  céo  193 

Comtigo  Bó  posso  eu 113 

Ck>nfiss&o  e  desengano 47 

Dá-me  um  beijo 165 

Dá-me  um  sorriso 26 

Dá-me  um  sorriso 43 

Deixei  cabanas 173 

Desalento 34 

Despreza  o  mundo 184 

Do  Brasil  a  mulatinha 148 

Dorme,  dorme,  ó  morena. . .  167 

Elisa 146 

Elvira 19 

Enlevo 110 

£  peneira  nos  olhos  que  tem  86 

Escuta, donzella. 166 

Escuta,  virgem ! 135 

Espanta  o  grande  progpresso  67 

Esperança  morta 73 

Estamos  no  século  das  luzes  75 

Estes  mocinhos  d*agora 130 

Eu  amei  uma  inconstante . . .  159 

Eu  já  tive  uma  menina 48 

Eu  posso  com  mais  algaem .  123 
Eu  soffiro  angustias  me  sufFo- 

car 145 

Eu  sonhei  que  nos  meus  bra- 
ços   195 

Eki  vi  o  anjo  da  morte 123 

Eu  vi-te,  virgem 190. 

Fada  de  encantos 183 

Feitiços  da  mulata 30 

Flores  d^alma 126 

Foi  cruel  o  meu  destíno. . . .  149 

Gemo  na  dura  prisão 81 

Imbemizate,  engrazate,  a  la 

mode  de  Paris 40 

Já  não  vive  Delia 29 

Já  passei  dias  felizes 44 

Jovita. 203 

Justos  céos,  como  é  possivel  188 


Pag. 

L&gritaasda  ddr l&T 

Lã  no  largo  da  Sé lU 

Lambrançae  do  nosso  amor.  62 

Lembrunçaa  do  noMO  amor.  70 

Lílía  bella,  o  triste  pranto. .  169 

Magoa  e  saudade 84 

Marília,  escuta 97 

Marilia,  teusollioB  tristea. . .  194 

HenioEt  doB  olhos  negros. . .  175 

Menina  vossê  me  diga 59 

Menina,  porque  razíLo 172 

Minh"alnia  é  triste ■  79 

Mulatinha  do  oaroço âO 

Nio  me  amofine .  1™ 

Não  pouo  com  mais  ninguém  33 

Ni«  sei  que  sinto ^ 

Nasce  risonha  a  aororft 117 

NsB  horaa  qaepasaotiotris- 


126  I 


N'eBtae  praias  de  límpidas 

arêu 

No  semblante  tens  impresso 

Nossa  mfti 

Notou  ares,  novos  oUmas  irei 

hjage  respirar 162 

O  amorT>erfoito 121 

O  artista 11 

O  banqueiro 93 

O  canto  do  cysne 7 

O  canto  da  virgem 37 

O  caranguejo 199 

Ooogo 168 

Odesorido 125 

136 


O  estudante 

O  gondoleiro 

Oh  I  que  bom  se  en 

Oh  sorte  minha  cntel! 1& 

Olbar  de  virgem 46 

O  marujo 92 

OsoiuDies IW 

,0s  olhos,  chorosos 1&& 

Os  olhos  de  Unuúa 147 

Os  mandamentos,  < 188 


O  teu  amor,  pura  virgem . . . 
O  todo  de  unhiúnha 

Pensa  «procede 

Petden  a  flor  de  mens  dias. 


143 


Perdoa tA 

Perfumes  d'aLma 191 

Ponto  final a 

Por  ontre  as  trevas  da  noita  1% 

Porqoe  me  fitas? Si 

Porqne  soa  triste 133 

Prazeres  que  eu  nio  sonhava  144 

Quando  eu  era  criancinha. .  15C 

Quando  no  tumulo lOC 

Quanto  és  bella  ! 7G 

Quem  sabei? 193 

Que  noites  qn'en  passo  aqui 

no  rochedo 180 

Que  queres  mais? i^^ 

Quorofugir-to 'iW 

Recordaç&o IST 

Remorsos * 

Retém  noa  lábios  ingratos . .  17 

Riso  e  morte ' 

^8 n 

Róseas  flores  d'alTOrada....  96 

Kosto  d'ai\jo 16 

Saudade 108 

iíão  ciúmes  de  uma  ingrata.  36 

São  restos  que  cu  j&  deixei.  SOI 

Se  a  esperança  jA  n&o  tenho  ^17 

Se  disfarço  quanto  sinto.. :.  ^38 
Se  és  anjo  no  gesto  e  belle- 

la M 

Se  eu  fâra  da  noite  o  astro 

formoso b3 

Segredo. 16Í 

Siciliana 116 

SinhôJuca 117 

Sonha 202 

Sonho  de  virgem.. ...'. 116 

Suppliea 71 

Teu  doce  amor 10 

Írovador 41 

rovador 61 

Trovador 61 

Um  namorado  da  época ....  160 
'  Uma  chaga  me  abriste  no 

peite 124 

Vem,  donzella,  na  hora  ex- 
trema   ST 

Vénus 119 

Virgem  santa 1I5 

Vivendo  de  ti  distante 80 

Y&7&iinha  voseê  mesmo. ...  141 


~\Ui^ 


m. 


LIVRARIA  POPULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


douda  do  Candal.  —  Doze  ca- 
inento.-í  felizes.  — Dua*  horas 
de  leitura.  —  Engcitada.  —  O 
eequoleto.  —  Estreílas  funestas. 

—  Kst-ella;i  projicias.  — Fanny. 

—  A  fillia  do  arcediago.  —  A  fi- 
lha do  doutor  nogro. — A  filha 
do     regicida.  —  (»  demónio    do 
OUTO.  2  V.  —  A  freira  no  «ubtor- 
raneo. — Judeu.    2    v  — Lagri- 
ma.s  íibcnçoadaíJ.  — O  livro  ne- 
gro do  padre  Diniz.  —  Livro  do 
consolação.  —  Lucta   do   gigan- 
U^B. — Memorias   do  cárcere.   2 
V.  — Meinonaa  de  Guilherme  do 
Amaral. — Memorias dffr.  Jofio 
do   S.    J.    Queiroz.  —  Myfitorios 
de  Lisboa.  2  v.  —  O  mortaico.  — 
A  neta  do  arcediago.  —  No  Bom 
IedU3  do  Monte.  — Noites  de  in- 
fcomnia,   publicação  mensal.   12 
vol.  —  Noites   de    Lamego.  — 
Aonde    estí    a  felicidade  ?  —  O 
olho  do  vidro. — O    que  fazem 
malhcrea. — Quatro  horaa  inno- 
oentcs.  — A  queda  de  um  anjo. 

—  O  Regicida.  1  v.  —  Romance 
de  um  homem  rico.  —  Romance 
de  um  rapaz  pobre.  —O  retrato 
de    Ricardina. — O    sangue. — 

—  Sceuas     contemporâneas.  — 

—  Scenaa  da  Foz. — Scenas  in- 
noccntes   da  comedia  •  humana. 

—  O  senhor  do  paço  do  Ninàes. 

—  A  serêa.  —  O  santo  da  mon- 
tanha. —  Aa  três  irmàs.  —  A 
mulher  fatal.  —  Um  homem  de 
brios.  —  Vingança.  —  Vinte  ho- 
ras do  liteira. — Virtudes  anti- 
gas. 

Obbas  ditkbsab  do  mesmo  autuob 
— Divindade  do  Jesus.  —  Horas 
de  paz. — Os  martyres.  2  v.'tr. 

—  O  génio  do  fibrisfeiànismo.  2 
V.  trad.  —  A  imraõrlalidade,  a 
morte  e  4  vida,  tx^d. — Jesus 

iChristo  perante  o  século,  trad. 

—  Apreciações  litterarías.  —  O 
muivdo  elegante,  coUecção  do 
romances,  poesias,  musicas  o  es- 
tampas. —  Vaidades  irritadas  e 
irritantes. — D.  António  Alves 
Martins,  bispo  de  Vizeu,  biogra- 
phia.  —  A  espada  de  Alexandre. 


DuAMAs  DO  MKSMo  —  Abonçoadas 
lagrimas.  —  Como  os  anjos  se 
vingam.  — O  condenmado. —  Es- 
pinhos e  flores. — Agostinho  de 
Ceuta. — O  marquez  do  Torres 
Novart.  —  Jus^^iça.  —  O  morgado 
de  Fafe  cm  Lisboa. — O  morga- 
do de  Fafe  amoroso.  —  Poesia  ou 
dinheiro?  —  Purgatório  e  paraí- 
so.—  O  ultimo  acto. 

Mendks  Lf.al  —  Os  primeiros  amo- 
res de  Bocage,  comedia.  —  Can- 
tico.s,  poesias. — Os  mosquetei- 
ros d 'Africa.  1  v.  —  Infaustas 
aventuras  de  me^itre  Marçal  Es- 
touro,  victima  de  uma  paixão 

1  vol.  -O  pavilhão  negro,  poe- 
meto. —•Os  bandeirantes  (chro- 
nicji  do  ultramar).  3  v.  — O  ca- 
labar,  historia  brazileira.  4.  v. 

—  Guerra  do  Nizam,  trad. — A 
afilhada  do  barão,  comedia. — 
Pedro, drama. —  Pobreza  enver- 
gonhada, drama.  —  Egas  Moniz, 
drama. — A  pobre  das  ruiuas 
ou  o  corsário  vermelho,  di-ama 
e  outros. 

JuLio  Diniz  —  A  morgadinha  dos 
cannaviacs,  chronica  da  aldêa. 

2  v. 

Almeida  Garret  —  Viagens  na  mi- 
nha terra.  2  v.  —  Arco  de  Sant'- 
Anna.  2  v. — Flores  sem  fru- 
cto ;  Lyrica,  poesias.  —  Fabu- 
las, folhas  cabidas.  —  D.  Bran- 
ca, poema.  —  Romanceiro.  3  v. 

—  Camões,  poema.  —  Catào,  tra- 
gedia.—  Meropo  e  Gil  Vicente. 

—  Frei  Luiz  do  Sousa.  —  D.  Phi- 
lippa  do  Vilhena.  — Sobrinha  do 
marquez.  —  O  Alfageme  de  San- 
tarém.—  Tratado  de  educação. 

—  Portugal  na  balança  da  Eu- 
ropa.—  O  retrato  de  Vénus. — 
Discursos  parlamentares.    1   v. 

—  Helena,  romance.  1  v. 
Conselheiro    Bastos  —  Collecçâo 

de  pensam  cílios,  máximas  e  pró-* 
verbiòs.  2  v.  —  O  medico  do  de- 
serto.—  A  virgem  da  Polónia. 
— ^Dou3  artistas,  ou  Albano  c 
Virgiuia.  —  Meditações  ou  dis- 
cursos religiosos.  1  v. 
Castilho  —  Noites  do  castello,  os 


f 


V 


X 


t' 


LIVIiARIA  VOrULAR  DE  CRUZ  COlJTrcUO 


ror^c  )H  tio  I*í)ríi'i'-.il.  1  V.  coTi 
o -' nu;>a-i.  -  -Tratiulo  d-*  in.-'ri- 
ti.'  •'  ;íO   .>0'*t".  _'.ie/,M,  -   -  O  OUtoiU). 

ilt'  l^-'u)  o  Xiri'i-.o.  -  Tríit-i'!  > 
d-'  niut':ri.):.M*-i.  -  -  A  ;»ri'ii.ivr/:i. 
-  K-^tM  \  .r-r»  »s  ni)"t\' >^.  --  Am 
Ví"<t  izic*;'^  d<'  \  i  .rili.),  t'";Hl.-  - 
')  Li\  ;ir'':".i'>.  t.r.«d.  -O  !ii»h1Íco  :'• 
f»>-.;'l.  —  'i':ivf':ru.  ---  Ar;  Tn,'tt- 
.i;i) ',)li()i'.'-;    d",    O\l.llo.    l    V. - 

*^   V.     --A-A     •^nl)ic'iMil:'s,     f-V'd.    - 

Af<'l'i«)ii(»  i-o"t'r»ii«"  < \i -^r".)'!,).  -  - 
<^  .-pMo'"!'-.  d»  <>,-i  lio,  tiMll.  — A 
!v;l  do  A.i.'c'i.'1'o'  *•«;»,  t''.;d.  -O 
l''.;;»>to,  t":Ml.  O  \?%s-t.if-';"OM... 
.  t  Mil  I  ;\>»  -  -  r,'.\  I':j-'-í.  -  !r.-*.(- 
ri  IS  r-í'"  d''  ■•»•  i'i .  —  M'->t'^"io>.  (.1  ' 
Pv. -.id  i  dl*  í'int'-;i.  — A-^  l'n'  >n-,. 

d;i  ai  i"'  i.  tr.:d. 

•  'iiHiK    'i'  iw  iT).  lio    i>*A:«Airrnv  — O 

f«'li/.   ii^  l-' 1.' >d  "'nti*   d)  ii!,;;tdo  o 

d.i  i'ort»rn.  :í  v.  co^i  «»;'  r  ;  >  «.r*. 

-  K  •i'r(";.*:'i  >  ^'liio.^o  )}'U"í.  Í'J  v. 

-  (';irt;i'^ '»')  /-^ii^M-nritli  ''ii.ific/is. 
•S  V. 

127  V.  S"-id<> :  S«M'i:iM('H.  —  ÍVr-f   ^. 

-  -  í  li-^tovii  d))  fiit'iro.  — A»*t"».  d  '. 
íwt  i\\  —1  ^b'-i^  v;iri;is?.  — Oh<-.'i^ 
i'n-dit..rt  o.  a  vida  d»)  p.id'^;  Aii- 
ti)'.Mo  Vi-'ir'i. 

!*a:>íi::  Jo-,j'i  \.  di:  Ma^t'-'*"»  —  Mo- 
ti  II  lir.f' r:Tío.  1  V.  —  A  b'\^*a 
c^ft»l'd>.  1  V,  — (^;i"f'.-;.  4  V. — 
O  d'»^'';'_:aiH).  Mfriodwv)  •(oiif-ico. 
V.  mo  "'d.  — O  t  ■4'>  Híriídor  'vn-fr,- 
^•i  *z.  4.  V. — Os  h.irro.>,  ;v»ivi-.i. 
--(  Mí'"!r«\  p(><'MiM. — A  'ti.  d  fi- 
(líio,  iu»i»!n.'i  — A  íiniMi'»".'' ,  poo- 
ni.i,  —  A  vi*>  r"!n  rxtí*."iM  ao 
tMn')]o  d;t  S;'bfd')rii,  po."  ifi. — 
Newton.  no'^-M}i.—  A  vc  d-d  ». 
oa  '.)'''í  = ':;i'-ntos  phiinso  dro.M 
»;ob"»>  or-  ob'<'cr(H  in.'ii-í  iinjcjrt-iii- 
t\'A  á  r.-'  :i  •>,  o  ao  f^t.ulo.  1  v. 

—  C«  n-^iia  do.-í  TiU>.i.)dir*.    2  v. 

—  O  !5'^fedo  rtivelfido  ou  inani- 


f'rtt  íçào  do  r}y<t'"?!'ia  i\n^  pt*i3rei- 
ro>  livriM  c  iiluini  j;;»!»)'^,  «•  «%ua 
iiit'(  i  Míc:  i  na  f;ir:il  r»-volu»;ã~» 
tVaMcv.a.  .")  V.  —  O  hoin*Mn  ou 
o.-í  liii,it<w  da  r;i  it>. --Cartits 
n'ui:o-.o  »luo:i^  a  Attjco.  1  v.  — 
T;.'i',tt.i  ;\o  di>"4  i>rl:.i''  lii)^  ir.fta- 
n^ix  -  ico>^,  O  i>^oi--< -A  dos  }>v*lre:- 
r.»s  liv^•'^í  ill".;inÍM:idos.  1  v.  — 
<\;itiíi  a  fti  riMlrn  A.  Cavroê. 
«»  outi-(M  ioPi,'íO'*.  1  Y.  —  i.M  se- 
ba:^ti;!llist:l■^,  r»'fiiíav,';io  h  in  'í^iLía 
obra  j)<^ios  i\'d  u'íori'.»  do  (.'í>rreio 
d.i  l\':il..Miia.  2  V,  —  O  uovo  Jir- 

-     '::•). lauta,  puiMiiu. 

A.  riMí.xrr.L  -  K<^b  ».'o^  e  opific^v- 
dios.  1  V.-  -  VnvXo>  ao  coTor  da 
!) '.Mia.  -  Idvllio^á  b.''ira(V:»,::un. 
1  V.  -í>  t<'Stiaifiiío  iiv  <:i:iiruo. 
--  O  ann '1  jii\  >t  rrio-io.  -A  |>c>rfa 
do  paraíso.  -  Do  iu>''tal  á  cla- 
r  ib. »ia.  — -  roT^írrÍTKK.-ò»  dl  iia  al- 
dra.  — O  livro  d-is  L:ir'iina3.  — 
O  livi-í)  d;i!^  i\«*)r«'s.  —  Mvíiterios 
da  iriinha  rua.  —  XtrvosOíi.  l\-ni- 
pbar".('i)^  o  s;:niriiii<«>r»'^.  —  Kutre 
o  et"'  o  o  ooi:  lac  —  A  virtude 
d'í  I!o<i:i,i,  trai.  —  O  d«"»ií're-d:.- 
do,  tr.id.  — M'"»inori;d  de  famí- 
lia, tr.id.---(>  do.St-obrimcuto  do 
l>r;'/il.  voidiiiC'!, 

'  >S    PTUl/VN.íS    DK    IVVR!!>,    pOr    Paulo 

d(*  l>i)i*."rt^  o  V. 

r'n.a  l^i  i/.  i»k  Soi:- v-- Historia  de 
S,  DoadníTO^.  t>  v. — Vida  d^ 
J>.  fnM  Baitholonn^H  dos  Mar- 
tvrc'^.  2  V. — Auiia.^s  d»»  el-re: 
D.  Joàí)  in.  1  V. — Vidadelien- 
vioue  dl'  Sti.sa.  1  V. 

i^Ki.Ni  -O  tr-Mio  da  liniriui  portu- 
tru'\'a.  2  V. — Kstiub/  sobre  os 
Lusi!«d:-S.  1  T.  — Liv;òi"55  •*loTnt»n« 
taro^  d"  noetica.  1  v.  —  Li^oos 
ol<»iiitMitar(.H  de  rii«'to.*ic:i.    1    v. 

Uu  a' la^u ■  -Tratado  «'b'nu'ntar  de 
_£r!'Oírr'\pbia  astronómica,  phvsi- 
ca,  liistoriea  \\  politica, n:iti£>%e 
iriodv.rna.  ^^  v. — O  c;iteoi?jTno  da 
doutrina  chri;<ta  explicado  ou 
ex  »lieai;õeí5  do  Catecismo  de  Ae- 


4 


PortT  1876  — Typ.  .de  Antouio  José  da  Siha  Teixeira,  CimccUa  Vclh*,  ÇG 


ninimiiiiiinniii»wT«wTWTrw»«^»^.iiy«.».^fin'"iiMni7V"Tvn 


BBBBEBSSP 


TROVADOR 


COLLECÇÃO 


t 


DE 


HS.  HECITITIVOS,  MÍ  IUNDOS.  etc, 


NOVA  EDIÇÃO,  CORRECTA 


J-N 


St 


YOLVSIE  II 


RTO  DE  JANETRO 

Ha  Lr/EAHIA  POPuIAR  de  í  L  da  CHUI  CIT::;HJ 

75,  Rua  de  S.  José,  75 

IH70 


—  E^ 


^■\r:?: 


I  . 


"1"*^ MfiiiyiiTSWwr iHMiiiiLiikiiJiimiillffW^»<9 


LI\fRARlA  POPULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


RUA  DE  S.  JOSÉ,  75  —  RIO  DE  JANEIRO 


A  Arrf.pendida,  romance  por  J. 

A.  d'Orncllaft. 
S.  Pkheiua  —  Horas  do  campo.  1 

vol. 
EsTAcío   DA   Veiga — Romanceiro 

do  Alc:arvc.  1  v. 
Dn.  'J'  10  F.  «Almi-ida  —  O  Bra- 

zil  c  a  Inc:l:it'M-r  i,  ou  o  trafico 

áo^  africaiioH.  1  v. 

A.  li\sT  —  M  ravilhas  do  fr<^nio 
do  liomcm.  2  v.  — A  cortcza.  do 
Paria, 

Janet  —  A  família. 

Freire  dh  Carvamio  —  EnMnios  so- 
bre a  historia  littornria  d(í  Por- 
tuíca  .  1  "•  . — Kerttv.òoíi  sobre  a 
liiiQ^iia  portniíiK*  a.  1  v. 

Mon.v  —  Quadros  da  historia  por- 
tuírno/a.  1  v. 

B.  PiNur.iRO  —  Arzilla.  —  Sombras 
c  Ln/.. — Ainorps  dinn  visioná- 
rio. romancT'  hl->torieo.  2  v. 

Isnr.LLA    por  Foriuin(l«'S  dn  T7ocha. 

AxPRvnr:  Feurtira  —  'rrndií.oiM  e 
phimtisias.  1  v. — A  familia  do 
josuita.  1  V.  —  Últimos  innmou- 
tos  do  D.  Podro  v.  —  Littcratii- 
ra,  musica  e  bi^lla^-artfs.  2  v. 

Mo«;ql  riu\  —  A  inarr]Uo/.a  do  Cam- 
bia.  2  V. 

O.  J*'  ciLLKr  —  Historia  dn  Sibvlla, 
1  V. — A  cond-^-^inha  d*»  ll«"«;-»'s. 

—  Flor  do  liz.  5  V.  —  Pí^man- 
co  do  um  ranaz  ]iobre.  --0  con- 
do do  (.'amour.  2  v. — Júlia  do 
Trocnour.  1  v. 

AuGisTO  r,  Or.vMPiA,  por  F.  da  Po- 
cha.  2.-'^  0(1  i  'MO. 

W.  d'Izoo  —  Maria,  ou  a  filha  do 
um  jonialriro.  7  v. — A  m:ir- 
quo/.a  do  Jji^lla-^ôr.  8  v.  —  I^- 
br<M  o  ricos,  ou  a  bruxa  dȒ  Ma- 
drid. O  V. 

TKREssrnnA.  —  O?  hypocritas.  9  V. 

—  A  J  d i  a  E  rr n  n  t o .  1 0  ,v . 
FrRXAxprz  Y  (ioyzw.vz — D.  João 

Tenório.  2  V.  com  o?t. — O  rei 
maldito.  5  v.  com  est. — Casa- 


da e  vircrcm.  2  v.  —  Lucrécia 
Borgia.  —  Memorias  de  Satanaz. 
2  V. 

Lriz  Parrénf.  —  A  inquisÍQão  c  o 
roi.  2  V.  com  est.  —  A  inquisi- 
ção do  rei  c  o  Novo  Mundo.  3  v. 
com  ost. 

Dias  Mora  —  Florinda,  ou  o  palá- 
cio encantado.  2  v.  com  est.  — 
Prliyo,ou  o  restaurador  de  Ileg- 
panha.  2  v.  com  est. 

Tarrvhoy  Mateos  —  Ódio  de  Bour- 
l)ons,  niomorias  escriptas  com 
Hantruo.  o  v.  com  est. — Tem- 
pest.idos  da  vida.  2  v.  com  oat. 

—  Os  ciúmes  de  uma  rainha.  9 
vol. 

Ilíada   de    Homero,   trad.   de    M. 

Odorieo  Mendos. 
Pailo   Fr.vAL  —  Os   companheiros 

do  silencio.  4  v. — A  loba,  8  v. 

—  As  du.ns  mulheres  do  rei.  1 
V. — As  filhas  dos  reis.  1  v. — 
Saldo  do  contMs.  1  v. — João 
Diabo.  4  v.  —  O  lobo  branco.  I 
V. — Os  valentops  del-rei.  1  v. 

0  filho  do  diabo.  1  v.  —  Uni 
drama  da  roíroncia.  1  v.  — O  rei 
dos  mendiíTOs.  4  v.  —  Aduqueza 
do  Nnmour.  2  v.  —  A  cruz  da 
espíula,  ou  o  emigrado.  1  v. — 
A  croonla.  1  v. — O  joíro  da 
morto.  ()  V.  —  O  matador  de  ti- 
ccro^.  2  V.  —  A  pt-ccndora.  1  v. 

—  Floresta  do  Pennos  ou  o  lobo 
branco.  1  v. — O  voluntário.  1 
V.  —  A  torre  do  diabo.  1  v.  — 
A  fada  dos  Arcnos.  1  v. — A 
fonto  dns  Pérolas.  1  v.  —  Os  ca- 
saoas  pratas.  1  V. — O  paraíso 
das  mulheres.  2  v. — O  corcun- 
da. G  V. 

I.iri;:    d^Araujo  —  Contos  c  histo- 
rias. 1  V.  — (,^ousas  portucrue/.as. 

1  V.  —  Novo  almocreve  das  pe- 
tas, livro  alocrre  e  foiorazà».»,  no 
po^to  do  antigo  Abnocreve  dai 
prtas.  2  V. 


j 


^ 


L 


LIVRARIA  POPULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


RUA  DE  S.  JOSÉ,  75  —  RIO  DE  JANEniO ' 


4 


*  ^ 


f;i 


Camillo  C.  Bsahco  —  Doze  casa- 
mentoB  felizes.  — Duas  horas  de 
leitora.  —  A  Ençeítada.  —  O 
esqueleto.  —  EstreTlas  funestas. 
— ^EstreUas  propicias.  —  Fanny. 
— A  filha  do  arcediago.  — A  fi- 
lha do  doutor  negro.  —  A  filha 
do  regicida.  —  O  demónio  do 
ouro.  2  V.  —  A  freira  no  subter- 
râneo.—  Judeu.  2  V.  —  Lagri- 
mas abençoadas. — O  livro  ne- 
gro do  padre  Diniz.  —  Livro  de 
consolação.  «^  Lucta  de  gigan- 
tes.—  Memorias  do  cárcere.  2 
V. — Memorias  de  Guilherme  do 
Amaral.  —  Memorias  de  fr.  Jo&o 
de  S.  J.  Queiroz.  —  Mysterios 
de  Lisboa.  2  v.  —  O  mosaico.  — 
A  neta  do  arcediago.  —  No  Bom 
Jesus  do  Monte.  — Noites  de  in- 
somnia,  publicação  mensal.  12 
vol.  —  Noites  de  Lamego.  — 
Aonde  está  a  felicidade?  —  O 
olho  de  vidro. — O  que  fazem 
mulheres. — Quatro  horas  inno- 
centes. — A  queda  de  um  anjo. 

—  O  Regicida.  1  v.  —  Homance 
de  um  homem  rico.  — Romance 
de  um  rapaz  pobre.  — O  retrato 
de   Ricardina. — O    sangue. — 

—  Scenar    contemporâneas.  — 

—  Scenas  da  Foz. — Scenas  in- 
nocentes   da  comedia  humana. 

—  O  senhor  do  paço  de  Ninftes. 

—  A  serêa.  —  O  santo  da  mon- 
tanha. —  As  três  irm&s.  —  A 
mulher  fatal. — Um  homem  de 
brios. — Vingança.  —  Vinte  ho- 
ras de  liteira. — Virtudes  anti- 
gas. —  A  douda  do  .Candal. 

Obras  divkrsas  do  msssio  authos 
— Divindade  de  Jesus.  —  Horas 
de  paz. — Os  martyres.  2  v.  tr. 
— O  ^enio  do  christianismo.  2 
V.  trad.  —  A  immortalidade,  a 
morte  e  a  vida,  trad. — Jesus 
Christo  perante  o  século,  trad. 
— Apreciações  litterarias. — O 


mundo  elegante,  colleoç&o  de 
romances,  poesias,  musicas  e  es- 
tampas. —  Vaidades  irritadas  e 
irritantes.  —  D.  António  Alvei 
Martins,  bispo  de  Vizeu,  biom- 
phia.  —  A  espada  de  Alexanare. 

Dbamas  do  mesmo  —  Abençoadas 
lagrimas.  —  Como  os  anjos  se 
vingam.  —O  condemnado.— Es- 
pinhos e  flores. — Agostinho  de 
Ceuta. — O  marquez  de  Torres 
Novas.  —  Justiça.  —  O  morgado 
de  Fafe  em  Lisboa.  —  O  morga- 
do de  Fafe  amoroso.  —  Poesia  oa 
dinheiro  ?  —  Purgatório  e  paraí- 
so. —  O  ultimo  acto. 

Mendes  Leai. — Os  primeiros  amo- 
res de  Boc*ge,  comedia. — Can-  j 
ticos,  poesias. — Os  mosquetei- 
ros d*  Africa.  1  V.  —  Infaustas 
aventuras  de  mestre  Marçal  Es- 
touro, victima  de  uma  paixio. 

1  vol.  — O  pavilhão  negro,  poe- 
meto.—  Os  bandeirantes  (chro- 

.  nica  do  ultramar).  3  v.  — O  ca- 
labar,  historia  brazileira.  4.  v. 

—  Guerra  do  Nizam,  trad.— A 
afilhada  do  bar&o,  comedia.^ 
Pedro, drama. —  Pobreza  enve^ 

Sonhada,  drama.  —  Egas  Moniif 
rama. — A  pobre  das  roisss 
ou  o  corsário  vermelho,  drama 
e  outros. 
JuLio  DiKiz — A  morgadinha  doi 
cannaviaes,  chronica  da  aldéa. 

2  V. 

Almeida  Garret  —  Viagens  na  mi- 
nha terra.  2  v.  —  Arco  de  Sant* 
Anna.  2  v. — Flores  sem  fror 
cto;  Lvrica,  poesias. — Fabu- 
las, folhas  cabidas.  —  D.  Bran- 
ca, poema.  —  Romanceiro.  3  v. 

—  Camões,  poema.  — Cat&o,  tra- 
gedia.—  Merope  e  Gil  "Viceote. 
— Frei  Luiz  de  Sousa.  —  D.  Phi- 
lippa  de  Vilhena.  — Sobrinha  do 
marquez.  —  O  Alfaçeme  de  San- 
tarém.—  Tratado  de  educaçAo. 


J 


TROVADOR 


COLLECÇÃO 


DE 


MOOINHiS,  RECITITIVOS,  iRliS,  LUNDOS,  EE. 


NOVA  EDiÇXO,  CORRECTA 


TOLOIE  II 


RIO  DE  JANEIRO 

H«  mm  POPULAR  de  A.  A,  da  CROZ  COUTINHO  —  Editor 

75,  Roa  de  8.  José,  75 


1S70 


_    J 


TTP.    DE    ARTOmO    JOSÉ    DA    SILVA    TSIXBIBA 

ef,  Bua  da  CaneêUa  Velha,  62 
4«76 


TB.@¥ÃB 


MODINHAS 


QUANDO  TUDO  ME  ABANDONA 

r 

Quando  tudo  me  abandonai 
Quando  vou  deixar  a  vida^ 
Ouve  ao  menos,  por  piedade. 
Minha  triste  despedida. 

Adeus,  Felina, 
TSo  i?uâgra  sorte 
O  anjo  da  morte 
Vem  terminar. 

E  rai  Bomir-se 
Na  campa  fria, 
Quem  só  vivia 
P'ra  te  adorar. 


Á 


6  TROVADOR 


DE  TI  BEM  LONGE 


Poesia  de  J.  A.  Barros,  e  moBÍca  do  mesmo 

De  ti  bem  longe, 
Meu  doce  encanto, 
Sinto  minh'alma 
Envolta  em  pranto. 

Meu  Deus,  que  dores, 
Que  febre  ardente 
Me  abraza  o  peito, 
Me  faz  demente  I 

Adeus,  meu  anjo, 
Morro  te  amando. 
No  pensamento 
Só  te  abraçando. 

Teima  constante 
N'um  pobre  louco. 
Que  08  tens  amores 
Gozou  tSo  pouco.   ' 

B8TRXBILB0 

Ai,  que  nSo  posso 
Nos  braços  teus 
N'esta  hora  extrema 
Dizer-te — adeus ! 


V 


TROTADOR 


O  DESTinO 


Quer  o  fado  que  te  adore, 
Que  por  ti  viva  a  Bo£frer ! 
Cumprirei  o  meu  destino, 
Hei-de  amar-te  até  morrer. 


Tu  és  um  anjo 
Sempre  lembrado, 
Em  qualquer  tempo 
Sempre  adorado*. 

És  meu  bem,  és  minba  vida, 
Meu  thesouro,  meu  prazer ; 
Eu  jurei-te  ser  constantè, 
Hei-de  amar-te  até  morrer. 


Tu  és  um  anjo  —  ele. 

Desdenhosa  —  se  tu  folgas 
Com  meu  triste  paAeoer, 
Não  importa,  bella  Mareia, 
Hei-de  amar-te  até  morrer. 

^ 

Tu  és  um  anjo  —  etc. 


9  TROVADO! 


COM  AS  LAGRIMAS  NOS  OLHOS 


Com  as  lagrimas  nos  olhos, 
Com  a  dôr  no  coração, 
Voa  soltar  da  pobre  iyra 
A  minha  triste  cançSo ; 
É  singela  e  :tSo  sentida 
Como  os  ais  na  solidSo, 
Mas  ardente  e  abrasada 
Como  a  dôr  no  coraçSo. 

Dentro  d'alma  foi  nascida, 
Foi  a  dôr  que  m'a  inspirou,, 
Foi  a  férvida  saudade 
Que  no  meu  peito  a  gerou ; 
Foi  a  benção  derradeira 
Que  minha  mãi  me  lançou, 
Foi  a  dôr,  a  dÔr  immensa 
Que  este  meu  peito  inspirou* 

Minha  mSi !  primeiro  nome 
Que  a  sorrir  balbuciei; 
Minha  mSi — dôoe  harmonia 
Que  jamais  olvidarei; 
Espero  na  santa  crença 
Que  no  peito  alimentei, 
Tal  nome  levar  a  Deus 
Que  a  sorrir  balbuciei. 

Minha  mSi  e  doce  amiga, 
Meu  primeiro  e  santo  amor, 
Para  mim  foste  na  vida 
Qual  um  arfjo  do  Senhor; 


TROVADOR 

Quantas  yezes  em  teu  peito 
Escondias  toa  dôr  I 
MSi !  oh !  mSi  t  Tu  foste  sempre 
Meu  primeiro  e  santo  amor. 

Sempre  meiga  e  carinhosa 
Vi  o  teu  pranto  correr,     ' 
—  Doce  pranto  que  soltaras 
Ayoz  do  meu  padecer; 
Como  niSi  só  tu  podias 
Minhas  magoas  comprehenderi 
E  mil  yezes  com  meu  pranto 
Vi  o  teu  pranto  correr. 

Amor  de  mXi,  puro  e  santo, 
Ai  de  mim,  já  o  perdi, 
TSo  ardente,  tSo  sagrado, 
Niínca,  nunca  conheci; 
Ha  muito  amor  n'esta  Tida, 
Mas  tSo  puro,  nunca  vi ;  . 
O  amor  de  mãi  conheço 
Depois  que  o  d'ella  perdi. 

Eu. a  perdi, —  só  no  mundo, 
Ao  desamparo  fiquei; 
Foram  lagrimas  de  sangue 
Lagrimas  que  entSo  chorei; 
De  joelhos,  junto  á  campa. 
Minha  mãi  por  ti  chamei, 
Mas  debalde. . .  nSo  me  ouyiatf , 
Ao  desamparo  fiquei. 


10  TROVADOR 


RECITATIVO 


PERDÃO 


Perdoa,  virgem,  se  inãammei-te  o  pejo 
Dando-te  um  beijo  na  yirginea  &ce| 
Foi  um  instante  de  loucura  ardente 
Que  pela  mente  me  passou  fugace.  •  • 

Perdoa,  virgem,  se  n'um  dôce  enleio 
Beijei-te  o  seio  a  palpitar  de  amor. 
Eu  n2o  sabia  que  esse  beijo  santo^  - 
Podease  taoto  enrubecer-te  a  o6r.  •  • 


Perdoa,  virgem,  se  no  meu  delirio, 
Mimoso  lyrio,  te  beijei  então; 
Vi  que  fugiste  vergonhosa,  esquiva, 
Qual  senntiva  no  tocar-se  a  mSo. 

Perdoa,  virgem,  se  no  teu  regaço, 
N'am  terno  abraço  desmaei  por  fim; 
Pois  bem  me  viste  nos  teus  pés  cabido, 
Louco,  perdido,  sem  saber  de  mim,  •  • 

Perdoa,  6  virgem,  se  de  amor  captivo, 
£\ii-te  expressivo  o  coraçSo  mostrar.  •  • 
Sou  criminoso  por  te  haver  beijado, 
Eis-me  prostrado*  • .  vem  perdSo  me  dar  •  •  • 


TROYADOB  li 

PerdZo  te  peço,  pois  n^aquelle  instonte 
Febre  inflammante  me  abrazar  senti !  •  • . 
Enlouquecido  por  te  ver  corando, 
Fui  desmaiando,  e  nos  teus  pés  cahi  •  •  • 

Perdoa,  ó  virgem,  que  de  dó  careço. .  • 
Pequei,  conheço;  nSo  me][ culpes,  njlo. . . 
Já  estou  punido,  ji  conheço  o  crime.  • . 
Arrependi-me. .  •  por  quem  és,  perdSo. 


C*  Sarafim  Alvês. 


LUNDU 


AGRADOS  DE  NHÂ-CHIQUINHA 

Ha-de  harer  grande  parada 
Com  toda  a  tropa  de  linha. 
Somente  p'ra  todos  verem 
Agrados  de  nhâ-Chiquinha. 

Tem  mais  valor,  sSo  mais  doces 
Que  a  mais  doce  bolachinha, 
SSo  feitos  de  arroz  de  leite 
Agrados  de  nhâ-Chiquinha. 

Valem  mais  que  um  bom  presunto. 
Mais  do  que  um  queijo  de  pinha ; 


L- 


12  TROYADOB 

SSo  boQB  pasteis,  bSo  de  nate^ 
Agrados  de  nhâ-Chiquinlia. 

Servem  elles  muitas  vezes 
De  tempero  na  cozinha ; 
Bebidos,  também  refrescam 
Agrados  de  nh&-Chiqainlui. 

Cruel  fado  enganador 
Poz-me  no  peito  uma  espinha, 
Fazendo  que  eu  nSo  desfirute 
Agrados  de  nhâ-Chiquinha. 

'Stou  pateta,  'stou  perdido; 
Vou  chorar  na  camarinha: 
No  peito  me  fazem  cócegas 
Agrados  de  nhâ-Chiquinha. 

NSo  quero  saber  de  primas, 
Nem  de  outra  camaradinha; 
Quero  gozar  tão  somente 
Agrados  de  nhâ-Chiquinha. 


F.  Pmda  Bniga. 


TROVADOR  13 


MODINHAS 


rOxa  saudade 


'^ 


Bôza  saudade, 
Mimosa.  flÔr, 
És  o  emblema 
Do  meu  amor. 

Tu  bSo  conheces 
O  que  é  paixSo, 
Nem  os  martyrios 
Da  ingratidSo. 

Teu  viver  triste 
Ê  apparente; 
O  meu  é  copia 
Do  que  alma  sente. 

Finges  viver 
Tal  como  eu  vivo, 
Tu  és  isenta, 
Eu  sou  captivo. 

« 

Cada  follirnha 
Que  eon  ti  se  encerra, 
Move  em  meu  peito 
Cruenta  guerra. 


i  i  TROVADOR 

Ea  trago  sempre 
Alegre  o  rosto, 
Mas  tenho  n'alma 
Cruel  desgosto. 

Adeus,  saudade, 
Mimosa  flor, 
Deus  te  conserve 
Livre  de  amor. 

Eu  já  nSo  peço 
Aos  céos  —  ventura. 
Peço  o  descanço 
Da  sepultura. 


ACEITA,  Õ  LUCINDA 


Aceita,  ó  Lucinda, 
Rosinha  tSo  linda, 
Que  orvalha-se  ainda 
De  meigo  frescor. 
EUa  é  primorosa, 
Fragrante,  cheirosai 
Nascida,  mimosa, 
No  valle  de  amor. 


Tem  tema  lindeza. 
Tem  dôc»  belleza. 
Do  valle  a  princesa^ 
Rainha  das  flores: 


J 


TROVADOR  i5 

Toda  ella  é  perfame, 
NSo  nutre  ciúme, 
Pois  tudo  presume 
S&r  deusa  de  amores* 


No  valle,  vistoso, 
Mui  lindo  e  formoso, 
Surgiu  gracioso 
Da  rosa  o  botSo; 
Depois  foi  abrindo, 
Perfume  espargindo, 
Mas  sempre  sorrindo 
Com  doce  affeição. 

NSo  vês,  6  donzella, 
Sorrindo-se  —  ella, 
T8o  pura  e  tfto  bella 
No  seu  desabrfr? 
Tu  és  mais  formosa. 
Teus  lábios,  mimosa, 
Só  sabem  á  rosa 
De  affecto — sorrir. 


Tu  és  muito  linda, 
Formosa  Lucinda, 
Qual  rosa  que  /linda 
Desabre  o  botSo: 
«  ÉB  casta  e  formosa, 
Qual  âôr  amorosa 
Que  vive  saudosa 
Na  casta  isençSo. 


Aceita,  6  lindinha, 
  linda  rosinha. 


16  TROVADOR 

Gentil,  galantinha, 
Do  seio  das  flores; 
EUa  é  primorosa, 
Fragrante,  obeirosa, 
Nascida,  mimosa, 
No  yalle  de  amores. 


O  ESPECTRO 

Espectro  horrível  que  surges 
Janto  á  minha  cabeceira  I 
Toa  voz  brada  meu  crime, 
Tenho  horror  d'68ta  caveira. 

Com  este  punhal 
Que  apertas,  convulso, 
'   Eu  fiz  este  sangue 
Que  tinge  meu  pulso. 

Foge,  espectro! — este  tormento  « 

Que  os  do  inferno  inda  é  mais  forte.  •• 
Sobre  meu  rosto  diviso 
Este  teu  bafo  de  morte. 

Com  este  punhal 
Que  apertas,  convulso^^ 
Eu  fiz  este  sangue 
Que  tinge  meu  pulso. 

Ergue  o  pulso,  e  teu  punhal 
Buido  enterra  n'este  peito! 
Âi!  mais  forte,  espectro,  calca. 
Tinge  de  sangue  meu  leito. 


TROVADOR  17 

Com  este  punhal 
Que  apertas,  tSo  forte, 
Se  a  morte  te  dei 
De  ti  quero  a  morte. 

Eil-o. .  •  alli. . .  com  o  mesmo  ferro ; 
Que  terror !  oh !  que  tortura  I 
Cavando  junto  a  meu  leito, 
Vai-me  abrindo  a  sepultura. 

Oh!  sombra,  piedade, 
Kão  calques  assim, 
Eu  dei-te  um  só  golpe, 
Tu  mil  sobre  mim.* 

• 
Sumiu-se. . .  mas  inda  escuto 

Seus  gemidos — que  afflicçSoI 

E  esta  mancha  de  sangue 

NSo  se  apaga — oh  !  maldição  t . . . 

Espectro,  descança, 
Que  ao  triste  homicida 
As  dores  do  inferno 
Começam  na  yida. 


RECITATIVOS 


A  VIRGEM  HOREHA 

Quizera,  virgem,  n'esta  terna  hora 
Que  a  dôr  minora  os  tormentos  meus, 


18  TROTADOR 

Polflando  a  lyra,  descantar  contente, 
Mui  dOcementei  os  encantos  teus. 

Morena,  amo-te  com  fervor  tSo  forte, 
Que  perco  o  norte  só  pensando  em  ti; 
Teus  attractivos  me  enfeitiçam  tanto,- 
Que  yerto  pranto  que  jamais  verti. 

Âmo-te  muito,  occultar  nSo  devo. 
Mas  nSo  me  atrevo  meu  soffirer  dizer; 
Sinto  no  peito  tão  ardente  chamma 
Que  me  inflamma — sem  allivio  ter. 

Quizera  mesmo,  sem  pensar  na  vida, 
TSo  fementida,  elevar-te  um  dia; 
Porém  debalde,  desafina  a  Ijra, 
E  nem  me  inspira  a  doce  poesia !  •  •  • 


DONZELLA 

Donzella  bella  que  a  terra  encerra. 
Qual  anjo  archanjo,  eu  sonhei,  amei; 
Só  cria  e  via  no  profundo  mundo. 
Amores,  flores  que  eu  não  gozei. 

  esperança  mansa  qae  me  viu,  fugiu, 
Deixando,  dando  por  amores,  dores; 
O  vento  lento  que  acalma  a  alma. 
Quebrou,  pbou  as  tenrinhas  flores. 


TROVADOS  i9 

Bisonhoe  sonho?  de  innooente,  crente, 
Profondo  o  mnndo  nSo  o  ori»  e  via, 
Pa  desgraça  a  taça  nos  amargos  tragOB| 
Consiste,  existe  o  que  nSo  previa. 

Foi  tanto  o  pranto,  que  enlutou,  niatou, 
Immensas  crenças  do  meu  eito  peito, 
Descrida  vida,  que  inâamma  a  chamma. 
No  peito  a  eito  de  soffirer  desfeito. 

A  immensa  crença  do  passado  amado 
Findou,  deixou  só  por  sim,  um  ai... 
Da  campa  a  tampa  se  desprende,  fende. 
Da  morte  o  corte  ji  ferindo  vai. 


LUNDU 


O  TESTAMEHTO 

Nada  de  graças,  nada  de  dicterios, 

Que  eu  vou  tratur  de  negócios  muito  sérios*: 

Â8  mocinhas  do  tom  quando  eu  morrer, 
PassarSo  cinco  dias  sem  comer. 

Pois  um  morto  que  causa  tanta  magoa 
Requer  um  jejum  de  pSo  e  agua/ 

NSo  quero  meu  corpo  puxado  por  cavallos, 
E  nem  se  ouçam  dos  sinos  os  badalos. 


I 


90  «OVADOB 

Cmcoenta  yettias  i>em  feiae  e  careoas 
ÂtrasK  irSo  a  tocar  «nas  rabecas. 

Outras  tantas  sem  geito  —  des jentadas 
IrSo  dançando  as  soas  galopadas. 

Muitas  outras,  formadas  em  piquetes, 
Ii4U>  também  atacando  seus'  fogueteo» 

Trinta  moças  bonitas  e  gorduchas 

IrSo  dançando  suas  valsas  e  cachuchas^ . 

Outras  tantas  yestidas  de  touquim 
TocarSo  do  outro  lado  seu  flautimi 

■ 

Quatro  donzellas  que  façam  bem  crochel 
Irlo  cantando  o  meu  Liberormé. 

Um  velho  oalvo — que  sqa  bem  pansmlé 
Irá  na  frente  soprando  em  um  canudo. 

O  meu  caixão  irá  escancarado 
Para  ser  visto  pelo  sexo  amado. 

Levarei  lindas  palmas  e  capellas 
Offerecidas  por  velhas  e  donzellas. 

Irei  de  botas — em  fralda  de  camisa, 
Pois  um  defunto  de  luxo  nJLo  precisa. 

Quando  á  porta  eu  chegar  do  cemitério 
Tudo  se  cale  e  fique  muito  serio. 

HSo-de  todos  pegar  no  meu  caixSo 
P'ra  meu  corpo  lançar  no  frio  chSo. 

Quarenta  vdhas  que  sejam  bem  veBunfaas 
CantarXo  na  minha  cova  as  ladainhas. 

E  quando  o  padre  me  estiver  encommendando 
As  moças  todas  devem  'star  sempre  chorando* 

Qitando  acabar  e  ihaer — AmenJetn^, 
HSo-de  todos  fazer — aignal  da  cruz. 

E  qvando  se'  pozer  a  capa  r6xa. 
Cada  moça  pegará  na  sua  tocha. 


fBOTAOOB  21 

Em  torno  á  cova  dftnçarlo  a  gajjppads 
Até  que  a  terra  fique  bem  socada. 

Pois  eu  n!o  aei  para  qi|e  se  dioer  dere 
A  un  jDorto — A  terra  Ihê  4^a  hv^ 


MODINHAS 


AaVORKDO,  TU  U  TJSTE 


Aryoyedo,  tu  já  viste 
A  minha  Jonia  mimosa, 
Tir-se  mt>strar  saudosa 
Com  seu  rosto  encaxrtador. 

!DeiKa  eákir- tuas  feUiaa,  '-( 

Sente  também  minha  dôr» 

Joaia  ás  vezea  me  dizia 
Com  amante  singeleza : 
— Aonio,  tem  a  certeza 
Que  eu  te  amo  com  ardor. 

Mudao^e  os;  tempos 
Doesta  v<eiítnra, 
Jènky  perjwã, 
UB»  tem-me  mmt* 


TROVADOS 


QUAMDO  BD  MOBRER. . . 

Qaando  eu  morrer  ninguém  chore  minha  morte. 
Esqueçam  meu  oadaver  em  seu  leito; 
Mas  levem-na  bem  triste,  as  tranças  soltas, 
E  deixem-na  chorar  sobre  o  meu  peito. 

Nada  mais  quero  do  que  um  cyrio  acoeso; 
Ninguém  junto  a  meu  leito  de  finado; 
Só  ella  a  soluçar,  pallida  e  louca, 
Reclinada  em  meu  peito  enregelado. 

Consolem  minha  mSi — que  talvez  morra, 
ÂÍAStem-na  de  tudo  quanto  amei  f 
Pela  rua  onde  passar  o  meu  enterro 
NBo  lhe  mostrem  o  retrato  que  lhe  áeL 

• 

A  meu  pai  nunca  fallem  em  meu  njome, 
Deixem-no  mudo,  combater  a  sua  dôr; 
Mas  se  o  virem  chorar,  ohl  nSo  lhe  fallem, 
Bespeitem— «que  me  tinha  muito  amor. 

« 

E  tranquillo,  meu  Deus,  a  vós  entrego 
A  frágil  vida  de  minha  casta  irmS; 
Cândida  flOr — que  o  pranto  da  saudade 
Será  orvalho  que  nBo  tem  manhS. 

Nada  mais  quero;— e  que  ninguém  chore. 
Esqueçam  meu  oadaver  em  seu  leito; 
Mas  levem-na  bc^n  triste,  imi  traças  soltas, 
E  deizem-na  ehonur  sobre  meu  peito. 


TROVADOR  23 


ACABA  DE  ASSASSINAR-MB 

Acaba  de  assassinar-me, 
Satisfaz  tua  maldade: 
Dei-te  metade  da  vida. 
Tira,  poÍB|  outra  metade. 

Quando  cadáver 
Já  fôr  mudo  e  finO| 
Âtira-o  ao  rio 
Que  geme  a  teus  pés; 
Dá-lhe  um  sorriso 
D'amor,  expressiva, 
EHnge-te  compassiva 
De  mim — uma  vez. 

Dava-te  o  meu  coraçSo 
Se  o  podesse  arrancar; 
Arrancando-o  sei  que  morro, 
Morto  nSo  posso  te  amar* 

Quando  cadáver 
Já  fôr  mudo  e  frio, 
Atira-o  ao  rio 
Que  geme  a  teus  pés; 
Dá-lhe  um  sorriso 
D'amor,  expressiva, 
Finge-te  compassiva 
De  mim — uma  vez. 


i4  TROVADOR 


MEU  NOITE,  HORA  TERfilVEL 

Meia  noite,  hora  terrivel, 
Silencio  reina  profundo. 
Só  ea  vivo  n'este  mundo 
Meditando  no  amor, 
Que  por  ser  tão  desditoso 
Me  fará  morrer  de  dôr. 

• 

A  lua  lá  vem  surgindo, 
TSo  bella  como  uma  rosa; 
Bella  lua,  tSo  mimosa. 
Mais  augmentas  meu  amor, 
Que  por  ser  tZo  desditoso 
Me  &rá  morrer  de  dôr. 

Mas,  ingrata,  me  nSo  ama. 
Porque  sou  mui  desgraçado, 
Porque  sinto  apaixonado 
Por  ella — somente  amor. 
Que  por  ser  tSo  desditoso 
Me  ís^i  morrer  de  dÔr. 


RECITATIVOS 


A  MINHA  IRMl 

Se  eu  f5sBe  do  céo  archanjo  mimoso, 
Que  Ijra  divina  fizesse  vibrar. 
Em  sons  maviosos,  irmS,  eu  quizera 
Hoje,  contente,  teus  annos  cantar. 


THOTÁDOB  S5 

Se  ea  íasse  do  prado  mui  bella  flormha, 
De  aiximA  saaTO  e  galante  cSr; 
Quizera  vaidosa  ornar  teus  cabelloB, 
E  n^elles  murchar — perder  mea  odor. 

Se  thesonros  immensos  nó  mnndo  eu  tiyesBe 
Que  mil  ricas  prendas  podesse  offertar, 
Quizera  vêr-te  hoje  de  jóias  cercada, 
Riquezas  sem  conta  far-te-hia  gozar. 

Mas  archanjo  nSo  sou,  nem  bella  florínha, 
Thesouros  n3o  tenho  que  possa  offertar-tSi 
Só  posso  mostrar-te  em  meu  pobre  canta 
A  amizade  mais  pura  que  sei  consagrar^e. 

,  26  de  agosto. 

Cândida  hahd  de  Pinho  Cotrím. 


NÃO  SEI,  MAS  SEI 

NSo  sei  dizer-te  quanto  tenho  n'alma, 
Nem  sei  contar-te  quanto  soffro  e  sinto; 
Mas  sei  que  vivo,  que  te  prezo  e  muito, 
Sei  que  em  meus  sonhos  teu  amor  presinto. 

NSo  sei  fallar-te  n'um  fidlar  de  amores, 
Nem  sei  expor- te  o  anhelar  do  "peito; 
Mas  sei  mostrar-te  meus  lauréis  de  gloria, 
Sei  que  aos  teus  rogos  viverei  sujeito. 

NSo  sei  te  a  serte  madari  meu  fiido, 
Nem  sei  se  a  vida  m0  «erá  rÍ0enha| 


26  TBOVADOR 

Mas  mí  que  embora  do  ponrir  descraa 
Minh'alma  é  linda  se  comtígo  sonha* 

Nío  sei  se  a  bríza  me  trará  perfínnes, 
Nem  sei  se  a  lua  do  meu  cóo  nSo  dista; 
Mas  sei  que  aurora  para  mim  desponta 
Quando  mÍDh'alma  teu  semblante  avista. 

Nlo  sei  se  ha  flores  no  existir  de  infante. 
Nem  sei  se  ha  fructos  na  estação  de  amores; 
Mas  sei  que  existem  sobre  um  chSo  d'espinhoa 
Meus  cinco  lustros  de  continuas  dõres. 

NSo  sei  se  ha  risos  quando  um  peito  eoffire. 
Nem  sei  se  ha  prantos  quando  amor  se  gosa; 
Mas  sei  que  ás  vezes,  de  prazer  vestidO| 
Meu  peito  o  luto  sem  querer  desposa. 

NSo  sei  dizer-te  o  que  tenho  n'alma, 
Nem  sei  contar-te,  quanto  soffiro  e  sinto; 
Mas  sei  que  yirO|  que  te  prezo  e  muito, 
Sei  que  em  meus  sonhos  teu  amor  presinto. 

F.  lAitítO. 


lundC 


PAI  JOÃO 

Quando  iõ  taya  na  minha  teia 
{d  idiadiata  capitSo, 


TROVADOR  Í7 


Chega  na  terá  dim  baranoo, 
lô  mi  chama — Pai  João* 

Qaand».  iô  tara  na  minha  terá 
Comia  minha  garinha, 
Chega  na  terá  dim  baranoQ^ 
Cine  saca  oo  farinha* 

Quando  iô  tara  na  minha  terá 
16  chamava  generá, 
Chega  na  terá  dim  baranoo 
Pega  o  tòio  vai  ganha. 

Dissofôro  dim  baranco 

Nõ  ai  póri  atura, 

Ti  comendo,  ti.  • .  drumindo, 

Manda  ^egro  trabaii. 

Baranco — dise  quando  mfire 
Jeanichmto  que  levou, 
£  o  pretinho  quando  more 
Foi  Qa4Aaxa  que  matou. 

Quando  baranco  vai  na  i^nda 
Logo  di2i  ti  'aquentiro, 
Noaso  preto  vai  na  venda, 
Acha  copO|  ti  viriro. 

Baranco  dÍ2Í  —  piéto  fruia. 
Preto  fruta  oo  rásSo,. 
SinhO  baraaco  também  tíUiã 
Quando  panha  casiSo.       '- 

Noaao  preto  firuta  garinha, 
Fruta  aaoeo  da  inJgSo, 


28  TROVAM  R 

Sinhd  baranco  quando  fimta 
Frata  prata  e  pataolo^ 

Nomo  preto  quando  frnta 
Vai  para  aa  oorrecçSo^ 
SinbA  baranoo  quando  frota 
Logo  sai  ainhô  barlo. 


MODINHAS 


GRATO  VTSTERIO 

€bato  ayateno 
Que  e8i'alma  sentoi 
Yida  de  amprea 
Qoa  a  ú  me  prende* 

8e  ee  meus  praseres 
NSo  desfallecem, 
Os  tnetis  gemidos 
NSo  emmudeeeoi.  • 


-Se  doe  jaffdins 
Vejo  o  primor, 
.Ta  és  das  fldres 
A  meUior  flâr« 

Se  es  aetros  ybjol 
No  teu  samUánte, 


•r  • 


nOVAMR 


Lançam  tens  tihtíB 
Jjiz  mais  brilhante. 


Esgota  o  mundo 
Os  dotes  seus, 
Todos — no  dia 
DoB  annos  teas« 


Kão  queima  o  frio, 
O  sol  não  arde, 
É  pomo  de  onro 
Mas  mãos  da  tarde. 


Oh !  njmpha  bella, 
Em  toda  a  era 
Sejam  teus  dias 
De  primavera. 


Um  anjo  sejas 
Pela  ventura, 
Como  és  um  anjo 
De  formosura. 


RO  VERDOR  DOS  TEUS  AHNOS 


No  meotier  dos  teus  annoe  —  amei-te, 
Pequeniaa  ta  eras  antftò; 
Innocente,  finrmosa,  tSo  linda, 
Como  é  Hndo  da  rosa  o  botlo. 


90  TROVAMH 


Mas  cresceste,  e  comtig^  também 
Da  riqueza  a  vil  ambiçlo; 
Esquecendo  as  juras  tSo  santas, 
Só  me  deste  rigor  e  traiçZo. 

Mas  permitta  este  Deva  que  nos  oave, 
Testemunha  do  meu  padecer, 
Que  feliz  um  só  dia  nSo  sejas, 
Que  o  hymeneu  nSo  te  traga  prazer. 

Este  homem  por  quem  me  abandonas, 
E  que  o  amor  nSo  te  sabe  entender, 
Que  te  vote  o  mais  fero  desprezo. 
Que  de  pena  te  faça  morrer. 


TENHO  SORRISO  N0$  LÁBIOS 


Tenho  sorriso  nos  lábios 
E  a  dôr  no  coraçlLo, 
Minh'alma  hoje  padece 
  mais  intensa  paixSo. 

Soffi*er  eu  já  nSo  posso 
Esta  mSo  tSo  homicida; 
Se  teu  prazer  é  este, 
Tira-me  a  triste  vida. 


Quando  o  céo  em  recompensa 
Minha  innocencia  mostrar, 
Saberás  entSo  knorrer, 
Sabendo  também  amar. 


i 


TROYADOB  31 

Sofirer  ea  já  nSo  posso — ete« 

Percorrendo  esses  lares, 
Entre  sepalchros  volvendo 
Acharás  o  nome  escripto 
De  quem  por  ti  viveu  soffirendo. 

SoflBrer  eu  já  nSo  posso  —  ete. 


O  pranto  que  eu  hoje  verto 
Ê  qual  tributo  de  amor; 
Só  terSo  fim  minhas  lagrimas 
Quando  cessar  minha  dôr. 


Soffrer  eu  já  nSo  posso  —  etc. 


AVELIHA 


Para  ser  cantada  pela  mosica  da  modinha  —  Mal  te  vi  eu  te  amei 


Teu  semblante  gentil,  sednctor, 
De  teus  olhos  o  terno  brilhar, 
Nas  cadôas  me  prende  de  amor, 
NSo  mais  posso  senSo  te  adorar. 

Vem^  ó  bella,  das  bellas  rainha, 
Vem,  õ  flor  de  celeste  jardim ; 
Vem,  formosa  e  gentil  moreninha, 
Dar-me  vida  ou  matar-me,  vem..«  sim, 


82  faOTADOR 

Morrerei  se  desprezas  a  ciiainma 
Que  arde  dentro  de  meu  coraçSo; 
Morrerei  se  a  paixSo  que  me  infiamma 
NSo  merece  de  ti  compaixSo. 

Vem,  ó  bella^  das  bellas  rainha —  etc. 

Morrerei  se  com  ar  desdenhoso 
Os  tens  olhos  fitares  em  mim; 
Morrerei  se  do  peito  amoroso 
Desprezares  meus  cantos  sem  fim. 

Vem,  ó  bella,  das  bellas  rainha — etc. 

Mas  se  aceitas  o  amor  temo  e  puro 
Que  te  vota  o  meu  peito,  Avelina  I 
Dá-me  um — sim — de  teua  lábios^  e  juro 
Que  adorar-te  será  minha  sina.  •  • 

Vem,  ó  bella,  das  bellas  rainha  —  etc. 

Ignacio. 


RECITATirOS 


QUIQUITA 


diser-te  que  dura  e  pungente 
Saudade  indemente  meu  peito  trucida ; 


i 


TROVADOR  33 

Porém  qae  minha  alma  de  ti  mesmo  ausente 
Amor  mais  fervente  te  guardai  ó  querida  I 


Quizera  beijar-te  coi£  tal  castidade, 
Que  só  da  saudade  tirasse  a  tortura  I 
Quisera  em  teus  braços  depois,  ó  deidade, 
Fallar-te  á  vontade  de  amor  e  ventura  I 

Quizera  fidlar-te  dos  nossos  amores, 
Dos  quadros  de  fldres  que  juntos  fizemos ! 
Lembrar-te  esses  tempos  tio  faellos,  sem  d6res 
E  os  mil  amargares  ^ne  em  trooa  tivemos. 

Porém  de  que  servem  lembranças,  desejos, 
Que  valem  os  beijos  e  gozos  de  outr'ora 
Se  o  aajp  das  dores,  nos  triites  adejos 
Com  feios  motejos  de  nós  zomba  agora!? 

Quiquita,  esperemos;  um  Deus  ha  bondoso 
Que  ao  triste,  piedoso,  concede  carioiasl 
TalveB  que  elle  mude  este  fiido  horroroso 
N'um  mar  venturoso  de  eternas  delicias ! 

Manoel  de  Macedo» 


O  HDIIDO  É  Tio 

O  mundo  é  vSo,  se  o  passado,  ó  virgem, 
Imprime  n'alma  do  soffirer  a  dôr; 
O  mundo  é  vSo,  se  afagamos,  loucos, 
Lembranças  loucas  de  mentido  amor. 

VOL.  u. 


34  TROVADOR 

Ao  aTÍsiiir-te  tio  fonnosa  e  belU 
Quis  mea  futuro  a  teus  pés  depor; 
Tu  desdenhaste  da  offerenda  minha, 
Pois  era  pobre,  só  te  dava  amor! 

Ameirte,  virgem,  dediquei-te  outr'ora 
Trovas  BineenuB  de  sincero  ardôr; 
E  tu,  vaidosa,  desprezaste,  ingrata, 
Os  carmea  trifltes  d'e8te  teu  cantor. 

A  primavera  de  ditosos  goeos, 
Brotou  de  flores  no  meu  pdto  amor; 
Mas  veio  o  inverno  de  descrença  agreste. 
Tombou  a0  hastes  e  murchou  a  flor  I 

Nada  me  resta  d'esse  amor  tio  puro, 
Nem  do  passado  a  lembrança  agora; 
Foi  breve  sonho,  illusSo  nocturna. 
Que  s'esvaiu  ao  despontar  d'aurora« 

O  mundo  é  v8o,  se  o  passado,  ó  virgem, 
Imprime  n'alma  do  softer  a  dôr ; 
O  mundo  é  vão,  se  afagamos,  loucos, 
Lembranças  loucas  de  mentido  amor. 

Hlmrique  Machado, 


MOVMKm  85 


LUNDU 


CRÊ  E  AMA  COMa  EU 

/ 

Para  ser  cantado  na  musica  áo  lundu  —  HAdatinha  do  earoço 

Ouve  òs  lí^nB  votos,  donzdliEÍ, 

Minha  esbrella, 
Uuve  attenta  o  canto  meu; 
E  86  queres  ser  amada^ 

Adorada, 
Crê  e  ama.  como  eu*  , . 


NSo  duviáes,  bella  rosa, 

T3o  formosa, 
D'am  amor  que  é  todo  teu; 
Nlk)  ^uTÍdes,  sê  constante, 

Minha  amante, 
Crê  e  ama  como  eu. 

Tttdo  cede  ao  deus  d'amor, 

Mii;^  iêri 
Tudo  cédd  ao  Ju^  seu ; 
NIo  serás  exceptuada, 

Minha  amada, 
Crê  e  ama  como  eu. 

»  # 

Êteu  sorriso  d'um  anjo, 

É  d'archanjo, 
E  diyiiKi  o  olhar  teu;  . 
NSo  d«M8  ser  ineonstentet, 

Minha  amante, 
Crê  e  nua  eomo  eu.  . . 


'I- 


86  TROYADOR 


Eu  confesso  qae  te  adoro. 

Que  imploro, 
E  só  qaero  o  amor  tea; 
Dis-me  também  qae  te  ofiuias, 

Que  me  amas, 
Crê  e  ama  como  eu. 

O  teu  olhar  ezpressiTO, 

Tio  lasoiyo, 
Já  d'amor  me  enlouqueoeii ; 
Em  paga  d'isto,  donzella, 

Minha  beUa,      * 
Cr6  e  ama  como  eu* 

Aceita,  pois,  beOa  rosa, 

TSo  formosa, 
O  sincero  culto  meu; 
Que  sempre  te  pedirei, 

E  direi. 
Crê  e  ama  como  eu. 


M.  J.  dê  Almeida, 


MODINHAS 


■BV  DESTINO  É  DDIUDâTBL 

Hea  destino  é  immndaTel, 
Minha  desgraça  é  constante; 
Ea  choro  todos  os  dias. 
Eu  suspiro  a  cada  instante* 


j 


TROVADOR  37 

Perdi  de  Lilia  a  belleza, 
Murchou-lhe  a  morte  o  semblante ; 
Por  Lilia,  sempre  chorando, 
Ea  suspiro  a  cada  instante. 

Vem,  ó  morte  piedosa, 
Vem  findar  de  um  triste  amante 
Um  destino  irresistível, 
Uma  desgraça  oonstânte. 


ADOBEI  UMA  ALMA  IMPURA 

Adorei  ama  afana  impura, 
NSo  devo  adorar  assim ; 
Devo  morrer  por  quem  mostra 
Que  também  morre  por  mim. 

Desprezos  pagam 
IngratidSo ; 
Pagam  ternuras 
Firme  paixSo. 

Firme  adoro  a  Lilia  bella, 
E  devo  adoirar  assim ; 
Tenuts  provas  me  asseguram 
Que  também  morre  por  mi». 

■ 

Desprezos  pagam — etc. 


3S  TROVADOR 


alo  PEDAÇOS  DE  liniH'ALIf4 

Silo  pôdaços  de  xninh^alnia 
Ob  Buspiros  qae  aqui  dou; 
Oahem  aoB  pé§  4'ufDa  iagrata 
Que  alma  0  vida  me  roubos. 

Quão  fdUa  ou  sfio  soria 
Se  ella  eBtiyesse  aonde  estou, 
EsBa  ingrata  e  deshumana 
Que  alma  e  yida  me  roubou ! 


0E8VBDIDA 

•  r 

Já  jir^orosa  a  manhft  ..     / , 
Ab  trevas,  vai  diflsipando;. 
Ligeiro  batel  de  amor 
A  terra  vai  demandando. 

Chega  o  momento  fafal, 
Bate  a  hora  da  parti(}a; 
Ah !  quanto  custa  a  minh'alma 
TSo  saudosa  despedida ! 

Arminda,  fimnosa  Anttinda, 
K80  chorae,  yem  abraçar-ine, 
Na<y  pètiÉBB  ^ue  a  dura  aosetíoia 
Possa  de  ti  separar-me. 

Chega  o  momento  fatal — etc. 


TROVADOR 


39 


PAIXÕES  QUE  EU  EXTIHGUI 

PaixSes  que  ea  extiogai, 
Dias,  noites  que  ostentei, 
Vendo  que  tu  nSo  me  amavas 
Meus  snspiros  snffoquei. 

Tu  me  fizeste  esquscer, 
Bella,  outra  bella  que  amei; 
Vendo  que  tu  nSo  me  amavas 
MeuB  suspiros  suffoquei.  • 


OS  TEUS  OLHOS  ANILADOS 


Em  teus  olhos  anilados 
Amor  feriu  meu  coraçZo; 
Quis  fugir,  mm  já  sem  forças 
Suecumbiu  minha  razSo* 

Por  ti  gemendo 
Agrilhoado, 
Mudar  nSo  posso 
Meu  triste  fado. 

Que  remova  o  fado  meu 
Suspirando,  rogo  a  Amor, 
Mas,  o  pérfido  sorrindo. 
Mais  augmenta  minha  dôr. 

Fogo  Toras 
Sinto  no  peito. 
De  ingratidlp 
Cruel  effeito. 


40  TROVADOR 

Foi  meu  amor  excessivo 
Que  fez  minha  desventura ; 
Ó  quanto  melhor  me  fôra 
Ter  de  amor  menos  ternura  I 

Vem  a  meus  braços, 
Morte  ditosa, 
Tirar-me  a  vida 
Já  tSo  penosa. 


1j •  *  •  •Cti 


RECITATIVOS 


AOS  HIOU^S  BB  RUCmiSLO 

Um  feito  assombroso  das  armas  braziloas, 
Bem  mostra  a  bravura  dos  homens  do  mar ; 
Por  entre  a  metralha  da  força  inimiga, 
Da  gloria  a  coroa  souberam  ganhar! 

No  meio  das  bombas,  ao  golpe  dos  sabres. 
Que  scenas  de  sangue  I  Que  immenso  revez ! 
Os  vultos  homéricos  surgiam  do  fumo, 
Batendo  os  escravos  do  infame  Lopezl 

Os  bravos  da  armada,  leSes  do  oceano. 
Destroçam  as  naves  sem  pena,  nem  dó : 
O.  forte  Amasionas  se  arroja  sobre  ellas, 
Fazendo-as  pedaços,  toroando-as  em  pó ! 


■ 


TROVABOR  ** 

A  gloria  brazilea  sorri-se  esplendente. 
Mostrando  aos  caudilhos  da  esorava  ÂBãwnpqão 
Qae  o  povo  que  é  livre  nSo  teme  os  pelouros 
Lançados  da  bocca  de  imigo  canUo  I 

Em  breve  a  bandeira  que  Avante  se  espelha 
Nas  aguas  do  manso  gentil  Paraná, 
Irá  triumphante  plantar*se  á  muralha, 
Que  forma  a  defesa  da  imbelle 


EntSo,  brazileiros,  valentes  soldados, 
Quaes  outros  romanos  de  cota  e  de  ames, 
Vereis  o  cacique  do  sul  abatido, 
Sem  pátria,  sem  gloria,  sem  vida,  talvez ! 


AfUhero  Lopéê. 


AMOR  E  CREHÇA 

Anjo  celeste  que  entrevi  n'um  sonho. 
Tu  foste  a  esperança  que  dourou-me  a  vida. 
Que  deu  alento,  que  avivou  a  crença, 
Enfiraquecida  por  continua  lida ! 

E  como  o  orvalho  da  manhS  serena 
Que  gota  a  gota  vai  dar  vida  á  flfir, 
Tu  foste,  oh  virgem,  quem  n'um  peito  frio 
Lanoiste  a  chamma  do  primeiro  amor. 

Sem  fé,  sem  crença,  vagueava  incerto 
Qual  viajante  sem  pharol,  sem  norte; 
Tu  foste  a  estreita  que  vivace  e  bella 
Hostrou-me  o  trilho  da  risonha  sorte  I 


41  TROVAIK>R 

Entre  metis  rifos,  virginal  te  rejo 
Em  ama  auréola  de  divino  encanto: 
Se  eu  me  lamento,  ciciando,  a  brin 
Vem  n'am  suspiro  diluir  meu  pranto. 

Por  isso  amei  a  tua  imagem  bella 
N'atro  delirio  d'uma  febre  ardente ; 
Agora  peço  teu  amor  tSo  casto, 
Já  que,  donaella,  me  tomaste  orente. 

Março,  1864. 

F.  H.  da  Costa  Júnior^ 


LUNDC 


QUANDO  EU  ERA  PEQUEHINO  ^ 

Quando  eu  era  pequenino, 

Que  diabinho 
Mais  travesso  havia  entSo? 
Quando  as  moças  me  beijavam, 

Me  abraçavam. 
Já  lhes  dava  beliscSo  • .  • 


E  brincava  co'a  priminha 
Mariquinhas, 

Escondidos  no  quintal; 

Era  tSo  bom  o  brinquedo, 
Em  segredo, 

Á  sombra  do  laranjal. • . 

^    Este  lundu  tem  musica  própria. 


TKOVAMII 


43 


Já  beijaTa-lke  a  boqnii^^ 

Feohadinhft, 
Como  da  rom  o  botSo ; 
E  se  ao  abnl«4i  aoiria, 

Eu  sentia  ' 

Palpitar-4ne  o  eoraçBo.  • 

Mas  hoje  como  soa  grandoí 

E  se  expande 
Em  meu  peitp  mais  aidor, 
Já  nSo  acho  ^uem  me  beije, 

Qnem  deseje, 
Ou  aceite  meu  amor. 


Se  a  furto  beijo  a  priminha, 

Brejeirinha, 
Vai  diaer  tudo  a  vAtó; 
Ouço  logo  ama  raspait^. . . 

Que  mudÂnfa  I 
Âté  failattHBie  enjt  eip6! 

Assim  ^  emboia  eu  ^e, 

E  T«^iire, 
De  nSo  dar  mais  beUacSo) 
Se  peço  nm  beijo  á  priminha, 

Velfaaquinha, 
Me  responde: — Ora!  poisnlol 


■ 

Quando  penso  no  passado, 

Mal  gozado, 
Lembra-me  um  canto  qne  ouvi ; 
E  pura  moralidade, 

E  verdade, 
Nanca  mais  o  esqueci : 


41  TKOVÂDm 


c  o  gaUo,  em  quanto  criança 

Tem  pitança 
Qne  lhe  dá  mimosa  mSo; 
Depois  de  velho, -coitado, 

Alquebrado, 
Bate  oo'o  Moo  no  chio. » 


V 


MODINHAS 


Rio  MB  OUVES  SnSPIRART 

Até  onde  as  nnvens  giram 
Vlo  meus  suspires  pafar; 
E  ta  tSo  peHo  de  mim 
Kio  me  oayes  snqpiíai'? 

O  motiro,  ingrata  Elisa, 
Que  isso  me  fae  l^nèrar, 
É  porqne,  com  craeldade 
Klo  me  ouves  snspirar. 

Dás  ingratas  que  ha  no  mundo 
Tu  és  ii^rata  sem  par; 
És  tu  só  que  entre  os  viventes 
KSo  me  ouves  suspirar. 


j 


TMTAMR  45 


BD  AHâf â  TERHAMBITE 


Eu  Amava  ternamente 
Um  anjo  qae  o  céo  creou, 
Esae  anjo  era  tSo  bello 
Qne  minha  yida  alentou* 

Mas  a  Borte  que  pen^ae 
O  mea*  triste  ooraçSo, 
Fez  que  ella  desprezasse 
Minha  ternura  e  paixSo. 

Infeliz  qae  só  viTÍa, 
Enlevada  n^esse  amor; 
Illndida,  incauta,  cede, 
Quanto  lhe  pede  o  traidor  I 

E  depois  ^  que  seu  engano 
Começou  a  conhecer, 
Coitadinha,  desgraçada, 
Succnmbiu  a  padecer. 


■AL  TE  TI 


Mal  te  vi,  «I  te  amei,  disse,  é  esta, 
Ê  só  esta  a  quem  devo  adorar; 
E  nenhuma  esperança  me  resta, 
Que  o  teu  poro  affeoto  gozar. 


46  TBO¥AMR 

Vem,  ó  fada  gentil  de  meiu  Bonhos, 
Vem  ao  meiu»  gorrir  para  mim; 
Vem  dourar  ob  meus  dias  tristonhos, 
Vem  amar-me,  alentar«-me|  vem,  sim  I 

É  por  ti,  0Ó  por  ti  que  eu  respiro, 
É  por  ti  que  me  apraz  o  viver  j 
Áh  I  mil  vezes  a  morte  prefiro, 
Se  te  devo,  meu  anjo,  perder. 

Vem,  ó  fiada  gentil  —  etc. 

Bem  podias,  ó  sol,  no  horisonte 

O  teu  orbe  de  fogo  occultar; 

Que  outro  sol  mais  que  tu  resplandece. 

Que  meus  dias  cruéis  vem  dourar. 

Vem,  ó  fada  gentil  —  etc. 


O  MEU  PASSADO  E  O  MED  PRESENTE 


^m  casta,  eu  já  fiii  como  tu, 
Já  vivi  como  os  anjos  no  céo; 
Esta  fronte  que  Tês  humildada. 
Foi  coberta  com  cândido  véo. 

Eu  tambeoi  como  tu  tive  fldrss. 
Tive  tanta  grinalda  singola  1 
Tive  beijos  de  um  pai  carinhoso^ 
Eu  também  como  tu  já  fiai  b^aé 


noykom 


il 


Como  tu  eu  já  tive  esperança, 
Já  gozei  d'eB8a  vida  sagrada : 
Hoje  vivo  a  lactar  com  as  dores, 
Que  fulmina  a  mulher  desgraçada. 

Tive  mSi,  como  tu  inda  tens, 
Que  velava  por  minha  ventura; 
Que  tornava  meus  dias  ditosos. 
De  selis  lábios  me  dava  a  doçura. 

Mas  bem  cedo,  donzella,  essa  gloria, 
Qual  um  «omho  depressa  passou. 
Essas  fldres  sagradas  que  tí^e, 
Foi  um  beijo  infernal  que  as  munshou» 


Esse  véo  innocente  que  tive, 
M'o  tiraram  sem  pena  nem  dó ; 
ímpia  mSo  m'o  rasgou  com  deBjNreao, 
Nem  as  cinsas  se  encontram  no  pó» 


Me  desculpa,  donzella,  este  canto. 
Repassado  de  dâr  e  de  fel : 
Omve  as  queixas  da  triste  perdida, 
Que  sSo  eohM  da  sorte  cruel. 


48  TROTADOB 


RECITATITOS 


É  CURTA  A  VIDA 


E'  corta  a  yida  ao  mortal 
Que  venturoso  gosa  alegre  o  mando; 
É  oorta  a  yida  se  jámab  sentiu^ 
Se  nunca  o  feriu  um  pezar  profuxido. 

E'  curta  a  yida  se  ha  n'eUa  goaos, 
Ternos,  mimosos,  d'am  yiver  de  amores ; 
£'  curta  a  yida  se  oorve  serena, 
Ddce  e  amena,  qual  yiver  de  flores. 

E'  curta  a  vida  se'  um  amor  eterno 
K'um  peito  tomo  bem  vozaa  se  aooeade; 
E'  curta  a  vida,  se  goaa  eoatoate 
O  meigo  ente  que  seduz  e  prende. 

E'  curta  a  vida  quando  ha  n'ella  encantos 
Praaeres  tantos  que  á  mente  assaltam; 
E'  (mrta  a  vida  se  n'ella  gozamos. 
Se  desfrutamos  delicias  que  matam. 

P'ra  mim  que  gozo  a  suprema  dita 
Grande,  infinita,  de  viver  comtigo; 
E'  curta  a  vida  e  mais  curta  ainda 
A  ventura  infinda  que  gozas  commigo. 


TROVADOR 


49 


E'  corta  a  vida — e  só  peço  a  Deus 
CarixihoB  tens  para  sempre  gozar; 
Longe  o  desgosto — que  nSo  venha  a  d$r 
Tto  puro  amor  jamais  pertorbar. 

Cândida  Isabel  de  Pinho  Cotrim  ^. 


COMO  EU  TE  AMO 

^mo-te,  virgem,  como  ama  o  naata 
A  plaga  amiga  que  divisa  além, 
Quando  depois  de  um  viajar  sem  fim 
Encontra  aquelles  que  buscando  vem. 

Amo-te,  virgem,  como  o  louco  ama 
Em  suas  noites  —  a  visão  fugaz 
Que  á  sua  ment^ — perturbada  —  ás  "^^zfíA 
Um  pensamento  radiante  traz. 

Amo-te,  virgem,  como  a  noiva  ama 
A  nivea  c'r6a  que  lhe  adorna  a  frente, 
E  que  o  riso  virginal  nos  lábios 
Nas  mSos  do  esposo  vai  depor  contente. 


Amo»te,  virgem,  como  ama  a  flor 
Ao  rodo  puro  das  manhBs  de  abril, 
Quando  enviado  pela  mSò  de  Deus 
Vem  humectar-lhe  seu  mimoso  hastil. 

Afl  modinhas,  reeitatioos  e  lundus,  que  se  publicaram  em  algu- 
paginaii  do  l.<>  volune  do Tboyadob,  assignados— -Po)*  timajoven 

1 — pertencem  a  esta  mesma  senhora. 
Voe»,  u.  4 


50  TROVADOR 

Amo-te,  viji^emi  oomo  ama  a  rola 
A  matta  virgem,  ao  romper  do  dia... 
Qoaado  o  esposo,  em  saave  arrolho 
CançSo  sonora  ao  Stemo  envia. 

Amo-te,  virgem,  como  o  avaro  ama 
O  seu  thesooro  que  lhe  offosca  a  vista, 
NSo  oomprehendendo  que  um  outro  amor 
Mais  do  que  aquelle  que  oontempla  —  exista. 

Amo-te  tanto,  que  explioar — nSo  sei, 
KSo  tenho  phrases  p'ra  exprímil-o,  virgem..  • 
Só  sei  dizer-te  que  te  adoro  muito. . . 
Que  teus  encantos  sSo  d'amor  a  origem. 

Somente  em  troca  d'este  amor  te  pede, 
Dos  teus  encantos  o  fiel  cantor, 
Que  em  vez  de  um  riso  de  desprezo,  ao  menos 
Lança  sobre  elle  um  olhar  de  amor ! . . . 


LUNDfi 


08  OLHOS  DE  TÁTÁZDIHA 


Nunca  vi  olhos  tBo  bellos 
Como  08  da  minha  visinha, 
DSo  a  morte  n'um  instante 
Os  olhos  de  yáyáiinha. 


TROVADOR  51 


NSo  tem  a  cdr  da  saphira, 
Nem  a  côr  da  vitivinha, 
Porém  bSo  da  côr  da  noite 
Os  olhos  de  yáyázinha. 

EUes  sSo  muito  galantes 
Como  sSo  08  da  vizinha^ 
Nos  requebros  faliam  tanto 
Os  olhos  de  yáy&zinha.  '    \ 

Também  tem  olhos  formosos 
A  minha  cara  priminha, 
Mas  nSo  faliam,  como  faliam 
Os  olhos  de  yáy&zinha. 

Eu  encontrei  no  passeio 
Uma  gentil  moreninha, 
Era  bella,  mas  nSo  tinha 
Os  olhos  de  yájázinha. 

Fiquei  tSo  apaixonado 
Que  disse  a  minha  madrinha : 
—  'Stou  doente  porque  vi 
Os  olhos  de  yáy&zinha. 

Ando  agora  como  anda 
No  yerSo  bella  andorinha. 
Tudo  por  vêr  um  momento 
Os  olhos  de  yáy&zinha. 

NSo  sei  se  sSo  olhos  d'aigO, 
De  princeza,  ou  de  rainha, 
Só  sei  que  matam  de  amor 
Os  olhos  de  yáy&zinha. 


52  TROVADOR 


BBTRtBILHO 


SSo  olhoB  lindos 
De  negra  cõr, 
Os  olhos  d'ella 
Cheios  de  amor  I  •  •  • 


Oualbêrto  Pêçanha. 


MODINHAS 


NiO  TENHO  TANTA  VENTURA 


O  meu  bem  diz  que  ha-de  am^r-me 
Inda  além  da  sepultulra; 
Mas  apesar  de  seus  votos 
NSo  tenho  tanta  ventura. 

O  seu  rosto  tem  belleza, 
  su'alma  tem  candura, 
P'ra  mim  nSo  sSo  tantos  bens, 
Não  tenho  tanta  ventura. 

Se  eu  podesse  noite  e  dia 
Gozar  sua  formosura.  •  • 
De  que  servem  meus  desejos? 
NSo  tenho  tanta  ventura. 


TROVADOR  53 

I 


DE  AMOR  LIÇOES  PROVEITOSAS 


De  amor  liçSes  proveitosas 
Em  teus  olhos  aprendi; 
Teu  discipalo,  teu  amante, 
KBo  posso  viver  sem  ti. 

Os  meus  e  teus  sentimentos 
N'am  instante  os  compr'endi; 
Padeço  se  tu  padeces, 
NSo  posso  viver  sem  ti. 

Gentil  Hermania,  em  teus  olhos 
Um  segredo  de  amor  li; 
Depois  d'aqaelle  momento 
NSo  posso  viver  sem  ti. 

Se  teus  passos,  minha  bella, 
Desde  entSo  logo  segui; 
E  depois  d'esse  momento 
NBo  posso  viver  sem  ti. 

•       Muito  tempo  sem  proveito 
Minha  paixSo  oombati; 
Hoje  estou  desenganado, 
NSo  posso  viver  sem  ti. 


54  TROVADOR 


FLORINHA  BRANCA 


Vi  surgir  florínha  branca, 
De  f algente  e  nivea  côr, 
Vi-a  sorrir  alva  e  franca, 
NSo  lhe  pude  rir  de  amor. 

Cegaei-me  na  sua  alvura, 
Bespirei-a,  estremeci! 
Quiz  colhêl-a.  •  •  era  tSo  pura ! 
Ao  tocal-a  endoudeci  I 

Vi-a  depois,  doudejando, 
Nas  azas  da  viração ; 
E  junto  ao  tronco — scismando 
Lá  ficou  meu  ooraçSo ! 

AfiEigada  em  doce  enleio 
Ao  hastil  nSo  mais  voltou, 
Das  galas  deram-lhe  o  seio 
Pelos  lares  que  habitou. 

A  saudade,  á  desventura. 
Nem  sei  como  resisti ! 
Adeus,  florinha,  alva  e  pura, 
Vou  morrer  longe  de  ti. 

Se  a  scismar — o  teu  captivo 
Te  lembrou  alguma  vez; 
Pelos  ais  que  te  deu  vivo. 
Morto,  é  bem  que  um  ai  lhe  dês, 

E  os  sonhos  que  eu  tinha 
Senti-OB  morrer, 
E  a  branca  florinha 
NSo  mais  hei-de  vêr. 


TROTADOR  55 


JÁ   PERDI  TODA  A  ALEGRU 


Pensando  no  meu  destino 
Passo  a  noite,  passo  o  dia; 
Tudo  que  me  cerca  é  triste, 
Já  perdi  toda  a  alegria. 

Âh  I  nSo  me  negnes 
Minha  paixSo; 
Foge  do  crime 
Da  ingratidSo. 

De  mim  foge  o  prazer  todo, 
Voa  baixar  á  campa  firia; 
Nenhuma  espVança  me  anima, 
J&  perdi  toda  a  alegria. 

Ah  I  nSo  me '  negues — eto. 


RECITATIVOS 


nmiEIRAHOTA 

Prefiro  a  vida,  a  contemplar  a  morte; 
Antes  a  sorte  de  eternal  sofi^r, 
Do  que  tto  moço  vêr  finar-se  as  flores, 
Santos  amores  de  infantil  yÍTer ! 


\ 


56  TROVADOR 

Da  javentude  a  estaçSo  querida 

Vejo  descrida,  mas  nSo  restam  ais! 

Que  importa  a  Ijra?  jaz  lançada  a  um  canto, 

NSo  pede  pranto,  nem  suspira  mais.  •  • 

• 

NSo  ama  as  formas  de  gentil  donzdla, 
Meiga,  singela,  nem  a  iguala  á  flôr  I 
KSo  quero  os  beijos  de  seus  lábios  bellos, 
Que  sSo  08  zelos  de  infeliz  amor! 

NSo  tive  um  anjo  que  me  desse  gozos, 
Dias  ditosos  da  estaçSo  florida; 
NSo  penso  triste  no  mentir  dos  sonhos 
Que  sSo  medonhos  no  frescor  da  vida. 

• 

Agora  quero,  n'um  descrer  profundo. 
Olhar  o  mundo  sem  pudor,  sem  pejo ; 
NSo  curvo  a  fironte  do  destino  á  sorte, 
NSo  quero  a  morte,  mas  viver  desejo ! 

M.  P.  LeUOo. 


ULTIUA  NOTA 

» 

NSo  quero  a  vida;  eu  prefiro  a  morte 
Á  dura  sorte  de  eternal  soffi^er; 
TSo  moço  ainda!  mas  infindas  dôres 
Mirraram  as  flores  de  infantil  viver. 

Da  juventude,  a  estaçSo  florida. 
Tenho  perdida,  só  me  restam  ais ; 
Compulso  a  lyra  p'ra  compor  um  canto, 
Quebrada,  em  pranto,  já  nSo  geme  mais. 


TROVADOR 


57 


Amei  as  formas  de  gentil  donzella, 
Meiga,  singela,  qual  do  campo  a  flor ; 
Ardentes  beijos  em  seus  lábios  bellos 
Ligaram  os  elos  de  infeliz  amor. 

Perdi  o  anjo  que  me  dava  gozos ! 
Dias  saudosos  da  estaçSo  florida  I 
Morren  a  Ijra  no  esvair  dos  sonhos 
Que  tSo  risonhos  me  embalaram  a  vida. 

Agora  geme  n'um  soismar  profundo, 
Do  tredo  mundo  nem  prazer  almejo ; 
Curvai  a  fronte  ao  negrejar  da  sorte, 
Além — a  morte  a  convidar-me  vejo. 

É 

F.  M.  Carvalho. 


LINDÚ 


UNS  OLHOS  QUE  TI 


Fiquei  preso  a  certos  olhos 
De  uma  morena  que  vi; 
Quiz  desprender-me,  era  tarde, 
Seu  captivo  me  senti. 


Pedi-lhe  me  desse  amor, 
Consentiu  no  que  pedi. 


58  TROVADOR 

Eram  negros,  odr  da  noite, 
Os  negros  olhos  que  vi; 
E  tinham  tal  attracgSo 
Que  me  prenderam  a  si. 


Eram  cadêas  d'amor, 
Pois  captiyo  me  senti. 

Na  terra  nlo  ha  ignaes, 
Digo  eu...  pois  nunca  os  yi; 
Eram  olhos  que  fallavam, 
Palavras  que  traduzi. 

Que  constante  elles  me  fossem 
Foi  só  isso  que  pedi. 

Já  nBo  tenho  outro  Deus 
'Depois  qu'esses  olhos  vi; 
Rendi-lhes  culto  d'amores 
E  quasi  que  me  perdi. 

E2ram  olhos  feiticeiros, 
Os  negros  olhos  que  vi. 

Desprendeu-me  das  cadâas 
Que  me  ligavam  a  si, 
Apesar  de  me  vôr  solto* 
Dos  olhos  nSo  me  esqueci. 

Eram  olhos  feitioeiros 
Os  negros  olhos  que  vi, 
Quizeram  por  fim  matar-me 
E  não  sei  como  fugi! 

Henriques  Machado, 


trotâbor  59 


HODINHAS 


SOLTA  UM  «AI»  MEU  COBAÇlO 


Qaando  de  Jonia  recebo 
De  amor  a  doce  expressSo, 
Exalta  todo  o  meu  peito, 
Solta  um — ai — mea  coraçSo. 

Quando  eu  te  vejo,  ó  bella, 
Sinto  ama  viva  emoçSo ; 
Minh'alma  fica  contente, 
Solta  um — ai — meu  coraçSo. 


AMOR  ME  VIU,  NÃO  FEZ  CASO 


Amor  me  yin,  nSo  fez  caso. 
Zombou,  cruel  fementida; 
Tendo  um  rival  a  seu  lado, 
Ingrata,  roubou-me  a  vida. 

Por  Deui,  que  a  vida  é  um  sonho 
Quando  ellas  nos  sabe'amar; 
Mulher  que  tanto  adorei 
Hoje  me  quer  desprezar. 


60  TROVADOR 

Mulher,  por  Deus  eu  te  juro 
Que  ainda  te  tenho  amor; 
Se  tu  me  £5res  constante, 
Eu  serei  teu  trovador. 

Por  Deus,  que  a  vida  é  um  sonho — etc. 

Mulher,  por  Deus  eu  te  peço 
Que  nSo  me  dês  um  rival; 
Tu  és  um  anjo  da  terra, 
És  um  anjo  divinal. 

Por  Deus,  que  a  vida  é  um  sonho — etc. 


SOLIDÃO 


Para  ser  cantada  oom  a  musica  da  modinha  —  Quando  morrer,  ningtíem 

chore  a  minha  morte 


Ê  triste  a  soiidSo  como  nas  mattas 
Da  casta  pomba  o  solitário  arrulho; 
Como  do  céo  as  rotas  cataractas 
Ao  som  do  mar  em  hórrido  marulho. 

Sentado  como  em  face  de  agonias 
Tenho  minh'alma  a  desfolhar  lembranças; 
NSo  sei  que  sorte  vem  coar  meus  dias 
*Por  tantas  dores  e  por  taes  provanças. 


J 


TROVADOR  61 

Mli  da  triflieza,  sócia  das  insomnias, 
Noite  e  dia  me  segue  a  solidSo; 
E  em  soas  difficeis  acrimonias 
Me  cança  o  peito  e  azeda  o  ooraçSo. 

Aqui  de  imagens  bellas  se  povÔa, 
Alli  de  faxas  negras  se  atavia; 
E  em  vozes  sepulcliraes  pávida  echda 
Como  assopros  do  vento  em  noite  fria. 

Se  as  portas  matutinas  vSo-se  abrindo 
A  roxa  aurora  no  horisonte  em  fogo, 
Quem  velou  no  silencio,  a  sós  sorrindo, 
Vai  recebel-o  ao  nascimento  logo. 

Mas  o  silencio  e  a  solidSo  que  dura 
Vem  sempre  o  riso  suspender-lhe  em  meio ; 
E  o  dia  é  triste  como  a  noite  escufla, 
Mesmo  daç  rosas  matinaes  no  seio. 

O  vôo  altivo  d'aguia,  e  icareas  azas 
Quizera  eu  ter  para  transpor  espaços;    . 
Por  que  este  peito  que  me  arde  em  brasas 
Fora  acalmado  nos  paternos  braços. 

A.  C.  Q.  Peçanha. 


62  TROTÁBOR 


BÀLUDA 


A  ararn.  carouna 


A  gentil  Carolina  era  bella 
Como  é  bella  nos  campos  a  flor; 
Em  seus  olhos  brilhava  a  innocencia, 
Em  seu  peito  o  fogo  de  amor. 

Aos  encantos  de  lindo  mancebo 
Coraçlo,  alma  e  vida  entreeou; 
Era  d'elle,  e  somente  por  elle, 
Que  seu  peito  de  amor  se  abrazou. 

Meia  ndte  no  bronze  da  torre 
Graremente  o  silencio  occultou; 
Pelos  ares  a  briza  rolando 
De  echo  em  echo  o  zunido  levou. 

Carolina,  que  as  horas  contava, 
Meia  noite!  e  murmura,  estremece; 
Lança  os  olhos  além  da  janella, 
Branca  lua  no  céo  apparece. 

De  improviso  se  ergue,  abre  a  porta, 
Sahe  de  casa  tremendo  medrosa; 
Entre  os  vastos  arbustos  sósinha. 
Move  os  passos,  subtil,  cautelosa. 


i 


TROVADOR  08 

Eíb  que  indo  a  passar  os  canteiros 
De  repente,  assustada,  parou ; 
Um  presagio  siidstro  de  morte 
Á  sua  alma  opprimida  fallou. 

No  jardim  entre  o  basto  arvoredo 
Branca  sombra  suppSe  a  vôr  além; 
Quer  fugir,  mas  &lleoem-Ihe  as  forças, 
Mio  gelada  seus  passos  detém. 

Quer  gritar,  morre  a  voz  em  seu  peito, 
Nem  sequer  soltar  pôde  um  gemido; 
  ílnal,  dando  passos,  tropeça 
N'um  cadáver  no  chSo  estendido  I 

Grito  horrível  lhe  escapa  do  peito, 
N'esse  rosto  que  a  morte  embranquecOé  • . 
N'esse  corpo  de  sangue  banhado,   « 
Carolina  o  amante  conhece ! 

# 

A  aurora  raiando  mais  tarde 
D'esse  quadro  de  horror  teve  medo ; 
Dous  amantes  jaziam  sem  vida 
No  quintal  entre  o  basto  arvoredo. 

E  a  gentil  Carolina  era  bella 
Como  é  bdla  nos  campos  a  flor; 
Em  seus  olhos  brilhava  a  innocencia, 
Em  «eu  peito  o  fogo  de  amor. 


64  TROTADOR 


RECITATIVO 


O  AHJO  DA  PÁTRIA 

t 


Monarcha  excelso  que  no  Bolio  és  pai, , 
Astro  {algente,  de  teu  poyo  gaia; 
Ante  teu  brilho  que  deslumbra  o  dia 
O  barbarismo  titubia  —  cái. 

A  teu  exemplo  —  que  admira  o  mundo, 
Erguem-se  altivos  do  Brasil  os  bravos; 
Treme  ò  bandido  que  domina  escravos 
Com  leis  de  ferro  no  seu  antro  immundo. 

P'ra  compensar-te  nXo  bastara  o  povo 
Correr  intrépido — affrontar  a  morte, 
Morrer  mil  vezes — resurgir  mais  forte, 
Por  ti  mil  vezes  succumbir  de  novo?... 

Sim,  que  ó  monarcha  que  os  carinhos  seus. 
Bouba  i  fiamilia — vem  ao  povo  dál-os, 
É  mais  que  um  rei  a  dominar  vassallos, 
É  mais  que  César — só  iguala  a  Deus. 

Tu  és  um  anjo  pelo  céo  mandado 
A  esta  terra  do  Senhor  bemdita^ 
És  divindade  que  o  Brazil  habita 
P'ra  preserval-o  de  maligno  fado. 


TROVADOR  65 

Recolhe  as  bençSos  que  o  Brazil  inteiro 
Dos  seios  d'alma  sobre  ti  derrama, 
Que  este  povo,  que  seu  pai  te  chama, 
Vai  demonstrar-te  quanto  é  guerreiro. 

E  quando  houvermos  recolhido  o  louro 
Que  nos  aguarda  no  sorrir  da  gloria, 
Em  áureas  letras  fulgirá  na  historia 
Teu  nome  augusto,  do  Brazil  thesouro. 

» 

A.  J.  de  Soma. 


LUNDt 


CONSELHOS  ÁS  MOÇAS 


Menina  solteira 
Que  almeja  casar 
Não  caia  em  amar 
A  homem  algum; 
Não  seja  notável 
Por  sua  esquivança, 
Nlo  tenha  esperança 
De  amante  algum. 


68  TEOYADOR 

Quizera  mostrar-te  quanto 
O  meu  peito  sabe  amar; 
Em  duna  da  mesma  pedra 
Eu  te  queria  abraçar. 

Abraçar-te,  sim,  queria 
Sobre  e  meu  peito  —  dizendo: 
Querido  anjo,  hei-de  amar-te 
Em  quanto  estiver  vivendo  I 

O  amor  que  te  jurei 
E'  constante,  é  fé  mui  pura; 
Este  amor  ha-de  ir  commigo 
Descançar  na  sepultura. 

Para  mim,  querido  anjo, 
Um  só  momento  gozar-te, 
ThronoB,  coroas  daria, 
Se  um  throno  podesse  dar-te. 

?orém  daria  a  minh^alma 
Que  mais  do  que  um  throno  v»l', 
Dar-te-hia  minha  lyra 
Que  teu  um  som  perennal. 


SONHOS  FAGUEIROS 

(guando  dormires,  sonha  commigo 
Sonhos  {agueiros,  sonhos  d'amor; 
Se  assim  sonhares  commigo,  ó  virgem. 
Sonharei  ooi^tígo^  6  linda  flor  I 


TROVADOR  69 


Sonha  oommigo  sonhos  de  amor, 
Que  eu  sonharei  «omtigOf  ó  flor. 


Lembra-te,  ó  virgem,  de  quem  te  adora 
Na  dura  ausenoia  do  teu  amor; 
Sonhai  commigo,  pois  se  sonhares, 
Sonharei  oomtigo,  ó  linda  flôr ! 

Sonha  commigo  —  ete. 

Quando  sósinha  ta  meditares 
Nas  doces  provas  do  nosso  amor. 
Sonha  oommigo,  pois  se  sonhares 
Sonharei  oomtigo,  ó  linda  flôr! 

Sonha  commigo-etc. 

Um  olhar  temo,  om  riso  meigo. 
Em  paga  di-me  de  tanto  amor; 
Qae  ea,  ji  rendido  p'lo8  teoa  carinhos^ 
Sonharei  oomtigo,  ó  linda  flAr! 

Sonha  commigo — etc. 


70  TMYADm 


CANÇÃO 


O  BARDO 


Frio  manto  d'e8trellas  bordado 
Vai  a  noite  trajando  no  céo ; 
Cahe  o  orvalho  nas  aaaa  da  brisa. 
Que  gelado  entre  as  felhas  morrea. 

Na  manslo  doe  finados  divaga 
Triste  bardo  oom  a  Ijra  na  mio; 
Aoha  a  oampa  que  busca,  Bentado, 
E  diifere  esta  triste  oançlo : 

Tantos  raios  de  Ina  li  ne  ofo 
E  nenhom  de  eq^erança  ea  aehei! 
O  ojpreste  e  o  goivo  da  campa 
Foram  restos  de  um  bem  que  adorai 

Entretanto,  aqui  venho,  debalde, 
Alta  noite  teu  nome  invocar ; 
€!hamam  isto  loucura  na  terra, 
Mas  eu  chamo  constante  adorar. 

Uns  tem  pranto  chorado  dos  olhos, 
Dentro  d'alma  chorado  é  o  meu; 
Pois  nlo  ha  quem  o  venha  enxugar, 
Pois  quem  sabe  é  só  Deus  e  sou  eu. 


TROVADOR  71 


Erm  cinza  gelada  por  fórtf, 
E  no  centro  valcSo  a  escaldar; 
O  oceano  tranqoillo  na  face 
E  no  fando  revolto  a  bramar. 


Em  roupagem  de  neve  abafado    ^ 
Deace  um  anjo  da  etherea  mansSo; 
Se  é  ella,  foi  Deus  que  a  mandou 
He  valer  n'esta  negra  afflicç8o« 

Li  fle  vai  a  visBo  com  a  nuvem, 
86  nlo  vai  este  meu  padecer ! 
Ju«t08  oéos  I  se  meu  mal  nSo  abranda, 
Veies  mil  eu  prefiro  morrer  I  •  •  • 

E  08  eobos  saudoeoB  ao  longe 
Bqietiam  por  veses — morrer; 
Era  o  verbo  final  de  seus  lábios 
N'e8ta  noite  de  horrível  soffirer. 

E  o  8ol  da  manhS  descortina 
Triste  sceha  que  íaz  compungir : 
Um  cadáver  com  a  Ijra  no  peito.  •  • 
Era  o  bardo  p'ra  sempre  a  dormir!. .  • 


72  TROVADOR 


RECITATIVO 


QUE  VALE  A  VIDA? 


Que  vale  a  vida  n'am  viver  d'enganoBy 
Crenças  perdidas  de  porvir  fistllaz; 
Que  vale  o  inundo,  se  desdita  amarga, 
Saudades,  prantos,  o  prazer  nos  trás? 

Que  valem  risos,  animadas  falias. 
Que  valem  festas  e  prazeres  ruidosos; 
Se  os  tristes  eehoB,  amargor  só  dizem, 
Se  a  alma  esvai-se  n'esses  sons  dolosos? 

Que  vale  a  vida  se  a  existência  é  peso, 
Se  as  chagas  d'alma  só  nos  pungem  dôresj; 
Se  a  esperança  ás  vezes  nos  afaga  ainda, 
Que  vale  amar-se  sem  gozar  amores? 

Que  vale  ao  orphSo  que  abandonado  estava. 
Uma  opulenta  habitaçSo  aberta; 
Se  o  pobre  albergue  de  seus  pães,  perdendo, 
Tudo  o  que  goza  a  caridade  offerta? 

Nobre  soldado  que  defende  a  pátria, 
Porém  na  lucta  vê  a  acç%o  perdida; 
E  que  forçado  p'ra  salvar-se...  foge. 
Perde  a  nobreza — de  que  vale  a  vidtf? 


TROVADOR 


73 


Ao  oriíilinoBO  que  jazendo  em  ferros, 
Dormindo  Bonfaia  liberdade  infinda; 
Que  vale  o  sonho,  se  ao  despertar  conhece 
Que  captiveiro  continua  ainda?! 

Que  Tale  a  rida  n'um  yiver  d^enganos. 
Crenças  perdidas  de  porvir  fallaz ; 
Que  vale  o  mundo,  se  desdita  amaina 
Saudades,  prantos,  o  prazer  nos  traz? 

Henrique  McLchado. 


lundCs 


TENHO  UH  BICHO  CÁ  POR  DEITRO 


Tenho  um  bicho  cá  por  dentro 
Que  me  róe  e  está  roendo; 
Quanto  mais  afago  o  bicho, 
Mais  o  bicho  vai  comendo. 


SSo  cousinhas  doces 
Que  fazem  chorar, 
NSo  mates  o  bicho 
Que  me  quer  matar. 


74  TE0TADOB 

Tenho  «m  bidbo  c&  por  dentro 
Que  fiuB  artes  do  diabo; 
Qiuuito  mais  a&go  o  bicho, 
l£aÍB  o  faioho  encreepa  o  rabo. 

Slo  oonunhas  dòooB — eto. 

Tenho  um  bicho  cá  por  dentro 
QaefiuB  um  tá  tá  tá  tá; 
Quanto  mais  afago  o  bicho, 
l£aÍB  o  láoho  poios  dá. 

Slo  ooosinhas  doces — etc 


■il  BEMT  A 


Coitadinho,  como  é  tolo 
Sn  eoidar  qoe  eu  o  adorol  , 
Por  me  vêr  andar  chorando, 
Sabe  Deus  por  quem  eu  choro  t 

MSi  Benta  me  fia  nm  bolo. 

Minhas  candongas, 
KSo  posso,  senhor  tenente, 

Minhas  candongas, 
Qae  os  bolos  sSo  de  yá-yá, 

Minhas  candongas, 
Nlo  se  fiam  a  toda  a  gentQ, 

Minhas  candongas, 


nOTADOR  ^^ 

Porque  tem  muitos  temperos, 

Minhas  candongas, 
ÂssQcar,  numteiga  e  cravo, 

Minhtiff  candongas, 
E  outras  cousinhas  mais, 

Minhas  candongas. 
Bolinhos  de  qui-lê-lê, 

Minhas  candongas,  ^ 
Ponto  de  admiraçKo, 

Minhas  candongas, 
O  gente  Manoé, 

Minhas  candongas, 
Está  quente,  sinhá,  bem  quente. 

VoBsê  se  anda  gabando 
Q«e  fioi  o  que  me  deixou; 
Pôde  ficar  na  certessa 
Que  muita  cinza  leyou« 

Mli  Benta  me  fia  um  bolo — etc. 


aheus,  arhia 

Adeus,  Armia, 
Pk^nda  querida,' 
Deixo-te  a  alma, 
Entrego-te  a  vida. 

De  ti  me  aparto 
Triste,  saudoso, 
-Sou  ii^elix, 
Sou  desditoso. 


76  TROVADOR 


I 


I 


Antes  qaizera 
Perder  a  vida, 
Do  que  detxar-te, 
Prenda  querida. 


De  ti  me  aparto  —  etc. 


VAI,  SUSPIRO,  CHEGA  AOS  LARES 


Vai,  ereuipiro,  chega  aos  lares 
Da  habitaçSo  mais  ditosa, 
Onde  existe  minha  bella, 
Minha  Germana  mimosa. 


Assim  que  a  vires 
Volta  apressado, 
Vem  dar  alento 
A  um  desgraçado. 


A  HORA  QUE  TE  NÃO  VEJO 


A  hora  que  te  nlo  vejo 
E  p'ra  mim  hora  perdida; 
Se  vivo  só  a  teu  lado, 
Como  é  curta  a  minha  vida  I 


TROVADOR 


17 


Que  vida,  que  instantes, 
Que  breve  existência, 
Qtte  vida  d 'angustias 
Passada  n'aasencia ! 


COMO  ÉS  BELLA 

Tu  és  bella  como  é  bello 
O  despontar  da  manhã ; 
És  linda  como  a  bonina 
Do  jardim  a  mais  louçã. 

Tu  és  bella  como  é  bella 
Uma  criança  a  sorrir; 
Tu  és  linda  como  a  rosa 
Chrysalina,  quasi  a  abrir. 

Tu  és  bella  ooino  é  bello 
O  roxo  lyrio  do  vaV; 
Do  jasmim  tens  a  brancura, 
Da  oecem  és  a  rival. 

Tu  és  bella  como  é  hélio 
O  céo  azul  estrellado; 
És  linda  qual  a  florinba, 
Kascida  em  florido  prado. 


Tu  és  bella  eofsxo  é  bello 
O  matutino  arrebol; 
És  bella  como  são  bellos 
Os  resplendores  do  sol. 


I 


78  TROVADOR 

Ta  és  bella  como  é  bella 
Uma  noite  de  luar; 
És  linda  qual  bella  amante 
Em  seu  temo  delirar. 

Das  £EidaB  tens  os  encantos, « 
Dos  anjos  tens  a  candnra; 
Tu  és  o  ente  mais  bello 
Que  tem  creado  a  natura. 


M.  J.  de  Almeida. 


ANJO  DE  AMOR 


Quando  teus  lábios  desprendem 
Terno  riso  encantador, 
Sinto  quSo  dôce  é^me  a  vida, 
N'um  teu  riso,  aigo  de  amor. 

Sem  ti  sSo  tristes  meus  dias. 
Duro  e  penoso  viver ; 
Junto  a  ti,  preso  em  tens  bragos, 
Gozar  quero  até  morrer. 

E'  meu  destino  adorar-te. 
Embora  sejas  perjura; 
O  meu  amor  não  esmaga 
A  pedra  da  s^ultura. 


TROYAIXm 


79 


Ob  laços  com  qae  me  prendeB 
Ainda  mais  quero  apertar, 
Nlo  6  crime,  antee  virtade 
sempre  te  adorar. 


Bode  o  gelo  do  sepulchro 
Tirar  da  vida  o  calor ; 
Mas  d'am  peito,  firme  amante, 
Apagar  nto  pôde  amor. 

▼enha  a  morte  embora  nm  dia 
Sobre  mim  com  sen  furor, 
Horto,  extincto,  em  nm  sepnlehro 
Este  peito  terá  amor. 


REOTATIVOS 


AMOR  E  MBDO 


Quando  te  fujo  e  me  desvio  cauto, 
Da  lu2  de  fogo  que  te  cerca,  ó  bella, 
Comtigo  dizes,  suspirando  amores : 
Meu  Deus!  que  gelol  que  frieza  aquella! 


80  TROVADOR 

Como  te  enganas  I  meu  amor  é  chamma 
Que  ae  alimenta  no  voraz  segredo; 
E  se  te  fojo  é  que  te  adoro  louco: 
És  bella,  eu  moço,  tens  amor,  eu  medo. 

Tenho  medo  de  min,  de  ti,  de  tudo, 
Da  luz,  da  sombra,  do  silencio  ou  Yozes, 
Das  folhas  seccas,  do  chorar  das  fontes, 
Das  horas  longas  a  correr  velozes. 

O  véo  da  noite  me  atormenta  em  dôres, 
A  luz  da  aurora  me  entumece  os  seios; 
E  ao  vento  fresco  do  cahir  das  tardes 
Eu  me  estremeço  de  cruéis  receios. 

E  que  este  vento  que  na  várzea  ao  longe 
Do  oolmo  o  fumo  caprichoso  ondêa, 
Soprando  um  dia  tornaria  incêndio 
A  chamma  viva  que  teu  riso  atêa. 

Ah!  se  abrazado  crepitasse  o  cedro, 
Cedendo  ao  raio  que  a  tormenta  envia. 
Diz:  que  seria  da  plantinha  humilde 
Que  á  sombra  d'elle  tSo  feliz  crescia? 

A  labareda  que  se  enrosca  ao  tronco 
Tomara  a  planta  qual  queimara  o  galho, 
E  a  pobre  nunca  reviver  podéra, 
Chovesse  embora  paternal  orvalho. 

Ail  se  te  visse  no  calor  da  sesta, 
A  mSo  tremente  no  calor  das  tuas, 
Amava  todo  o  teu  vestido  branco, 
Soltos  cabellos  nas  espáduas  nuas!,. 

Coêimiro  de  Abreu. 


TROVADOR  81 


A  MORENIHHA 


Vem,  moreninha,  com  teu  bardo  ao  lado, 
Vâr  o  dourado  firmamento  além ; 
Vem  divagar  por  este  mundo,  cheio 
De  puro  enleio  e  flicidade — vem. 

Vem,  moreninha,  nSo  receies — nSo, 
Que  a  soIidSo  nos  servirá  de  véo; 
Quero  em  teu  seio  reclinado,  virgem, 
Contar-te  a  origem  doeste  amor  do  céo. 

Caminha,  virgem,  porque  tremes?  calas? 
Porque  nSo  falias  —  gentil  moreninha? 
Dissipa  o  enleio  que  te  faz  medrosa, 
E  carinhosa  vem  dizer — q^ue  és  minha. 

Queres  saber  porque  te  amei,  donzella, 
Por  entre  aquella  multidSo  que  eu  vi? 
Foi  porque  ao  vêr  o  teu  semblante  bello 
Suave  ánhelo  dentro  em  mim  senti. 

Trajavas  galas,  caminhando  ovante, 
NSo  mui  distante  do  teu  bardo,  amei-te, 
Gravei  teu  nome  no  meu  pensamento, 
E  om  tal  momento  meu  amor  sagrei-te. 

Dize  que  és  minha  n'um  sorriso  puro, 
Dá-me  um  futuro  de  prazer — d'encantos; 
Que  ás  tuas  plantas  me  verás  curvado, 
Eoebriado  por  teus  votos  santos. 

Qwdberto  Peçanha. 
▼of>.  n.  6 


82  TROVADOR 


LUNDU 


O  NARIZ  DE  TÁTÁZINHA 


Menina,  faça  o  favor 
De  me  dizer  que  lhe  fiz? 
EntSo  porque  quando  eu  passo 
Voseê  me  torce  o  nariz? 

Pois  julga  que  sou 
Algum  hadamécof 
Yáyá  do  meu  peito 
Eu  sou  seu  boneco, 
Gosto  de  vossè, 
Por  isso  não  pecco» 

Eu  sei  que  vossê  namora 
O  seu  priminho  Luiz, 
Mas  isso  não  é  razSo 
P'ra  me  torcer  o  nariz. 

Pois  julga — etc. 

Desde  o  domingo  que  foi 
Ouvir  missa  na  matriz, 
Eu  lhe  adorei,  mas  nSo  vi 
Vossê  torcer  o  nariz. 

Pois  julga  —  etc. 


TROYADOR  83 


Pois  86  acaso  o  meu  rosto 
E  feio,  tem  côr  de  giz, 
Tenha  dó  de  mim,  j&y&y 
N8o  torça  tanto  o  nariz. 

Pois  julga — e^. 

Já  tenho  ataqaes  de  nervos, 
E  também  um  pleuriz, 
Me  cure — quebre  o  resguardo 
No  torcer  do  seu  nariz. 

Pois  julga — etc. 

Por  tanto,  minha  jáyá, 
Já  que  mal  nenhum  lhe  fiz, 
Me  quebre  os  olhos  com  graça, 
Mas  sem  torcer  o  nariz. 

Pois  julga — etc. 


Gualbet^o  Peçanka. 


84  TROVADOR 


MODINHAS 


ERA  01ITR*0RA  A  HIIIHA  VDA 


Era  oatr'ora  a 
Vida  inteira  que  eu  gozava; 
Era  o  fresco  alvor  da  aurora 
Que  no  horisonte  apontava. 

Minha  vida  hoje  se  aparta 
Da  vereda  da  paixSo ; 
Que  nos  mostra  um  só  abysmo, 
Que  nos  queima  qual  vuIcSo. 

Que  vida  goza  quem  vive 
Sem  ser  de  amor  dominado! 
É  feliz  porque  não  traz 
Alma  e  peito  apaixonado. 

Vive  entSo  como  no  céo 
Os  anjos,  juntos  de  Deus, 
Que  nSo  soffrem  como  eu  soffiro 
Os  tristes  gemidos  meus* 

Como  gemidos  que  sahem 
De  dentro  do  peito  meu, 
Como  um  triste,  que  nSo  acha 
Lenitivo  ao  pranto  seu. 


I 


TROVADOR 

Perde  a  rosa  o  seu  alento, 
Também  perde  o  sea  candor ; 
Das  flores  a  mais  qnerida 
Qne  se  di  ao  temo  amor. 

Qual  Venesa  que  se  banha 
No  Adriatioo  gentil ; 
E'  cidade  da  montai^lia, 
E'  prinoeza  do  BraaiL 

Vinde,  ó  meu  Deus,  dar  allivio 
Ao  meâ  triste  ooraçlo; 
O  teu  —  sim  — a  minha  rida, 
A  minha  morte  o  ten — nSo. 


1 


COBO  Ê  PURO  O  DOCE  0R7ALH0 

(■OTA  MOSIBRá) 

Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha — Attsencia 

Como  é  pnro  o  dôoe  oryalho 
Que  dá  yida  ao  temo  galho 
Da  mimosa  e  pura  flõr  I 
Como  é  puro  o  passarinho, 
Que  perdendo  o  caro  ninho 
Sente  o  peso  do  rigor ! 

Como  é  pura  a  vira  estrella 
Que  no  eéo  brilhando,  bella, 
Mostra  graças  e  primor  I 


86  THOYADOR 

Como  é  pura  a  branca  loa, 
Desenhando  a  fitioe  nda, 
Nos  trazendo  só  amor  I 

Como  é  pura  a  virgemzinha 
Que  sorri,  imiocentinha, 
Nos  braços  de  sua  irmS! 
Como  é  puro  os  passarinhos 
Despertarem  nos  seuB  ninhos, 
Saudando  a  luz  da  manhã  1 

Como  é  puro  esses  anjinhos 
Lá  no  cóo,  iSLo  queridinhos^ 
Juntinhos  do  CreadorI 
Como  é  puro — da  donzeila. 
Virginal  linda  capella, 
O  mais  santo  e  dôoe  amor! 


Adêodato  Sócrates  de  Mello. 


EU  QUIZERA  SER  ETERNO 


Eu  quizera  ser  eterno 
Para  teu  amante  ser; 
Como  eterno  ser  nSo  posso, 
Hei-de  amar-te  até  morrer» 

Menina,  se  eu  nSo  te  amo, 
Um  passo  nSo  ch^e  a  dAr; 
A  própria  terra  em  que  piso 
Pôde  mesmo  me  faltar» 


TROVADOR  81 

Ah!  meu  bem,  se  eu  uSo  te  amo, 
O  Deus  do  céo  não  me  escute, 
Nem  o  sol  me  alumie, 
Nem  a  terra  me  sepulte* 

Ainda  depois  de  morto, 
Debaixo  do  frio  chSo, 
Acharás  teu  nome  escripto 
No  meu  terno  coração. 


UM  TERNO  SORRISO 


Um  terno  sorriso 
De  amor  e  saudade 
Ainda  te  offerta 
Quem  tem-te  amizade. 

Que  dores,  que  angustias, 
Que  pranto  exhaurido ! 
São  lagrimas  tristes 
Que  eu  verto  sentido. 

Lá  quando  nos  astros 
O  sol  vem  raiando, 
Desperto  no  leito 
Teu  nome  chamando. 


Que  dôrçs,  que  angustias — etc« 


88  TROVADOR 

De  todo  o  passado 
Me  vem  a  lembrança, 
Contemplo  esta  sorte, 
Me  resta  a  esperança. 


Qae  dores,  que  angastias — ete. 

Mea  anjo  do  oéo, 
Attende  a  clemência, 
OuTÍ  minha  voz, 
Findai-me  a  existência. 

Qae  dores,  qne  angastias  —  etci 


RECITÀTIVOS 


PENSO  EH  TI   * 

Penso  em  ti  com  ardor  intenso. 
Tua  lembrança  minh'alma  encerra; 
Penso  em  ti,  minha  rida  és  tu. 
Meu  doce  bem,  meu  amor  na  terra.* 

Penso  em  ti  como  pensa  afflicta 
A  pobre  mSi  que  do  filho  ausente 
Verte  o  pranto  da  saudade  amarga, 
Que  su'alma  opprime,  que  no  peito  sente« 


TROVADOR  89 

Penso  em  ti  como  o  rico  avaro 
Pensando  vela  nos  thesooroe  seus ; 
Bem  como  elle  receio  perd^-te, 
Temo  qne  xonbem-me  ós  carinhos  teus. 

Penso  em  ti  como  misero  enfermo 
Em  triste  leito  pela  dôr  prostrado, 
Pensa  ancioso  no  suave  allivio 
Que  gozar  espera  de  soffrer  cançado. 

Penso  em  ti,  como  pensa  em  Deus 

O  desditoso  que  seus  males  chora ; 

Penso  em  ti  com  sublime  affecto, 

Com  fervor  constante  de  quem  firme  adora. 

Penso  em  ti  e  esquecer  nSo  posso 
Um  só  momento  quem  adoro  tanto; 
Penso  em  ti  com  paizSo  ardente, 
Com  extremos  puros  do  amor  mais  santo. 

Cândida  Isabel  de  Pinho  Cotrim. 


AGORA 


Outr'ora  da  vida  encantos  gozei. 
Vivi  embalado  em  maga  illusSo, 
Do  escameo  ao  amor  difTrença  nlo  via; 
Oostoso  perdia  a  luz  da  razSo  I 


90  TROVADOR 

Momentos  felizes  passei  ye^taroBOs, 
Do  céo  divisei  celeste  visSo, 
Jalgaei-me  ditoso,  amei  com  ardor, 
E  em  paga  a  perjura  me  dava  traiçXo. 


Cedeu  a  meus  rogos^  fingiu  mil  promessas, 
Esperanças  fagueiras  senti  eu  entSo : 
Nas  falias  mentidas  que  amor  me  jurava 
Pensei  impossível  que  houvesse  traiç&o. 


Julguei-a  sincera,  ludibrio  enganoso  I 
Zombava  de  mim  sem  ter  compaixão: 
Se  amor  lhe  jurava,  traidora  sorria, 
Gostoso  perdia  a  luz  da  razSo. 


Mas  hoje  descrente  nSo  penso  mais  n'eUa, 
D'amor  dôoe  enleio  perdi  a  illusSo; 
Conheço  a  dijSerença  d'amor  ao  escameo, 
Procuro  socego  p'ra  meu  coraçSo# 

Oermano  da  Co9ta. 


J 


N 


TIM>VAI>OR  ^* 


lundC 


\ 


AS  BEATAS 


Yôyôzinlu),  vá-se  embora 
Que  eu  nSo  gosto  de  brincar; 
NSo  venha,  com  boub  carinhos, 
Minha  reza  atrapalhar. 

Vossê  quer  perder  minh*alma, 
Vossê  quer  só  m'enganar, 

Vá-BQ  embora,  yôyôzinho, 
Kão  me  Venha  já  tentar ; 
As  boquinhas  que  me  pede 
Tenho  medo  de  lhe  dar. 

Voflsê  quer  perder  minha'alma, 
VoBSÔ  quer  só  m^enganar. 

NSo  venha  com  seus  abraços 
Meus  amores  despertar; 
Guarde  tudo  para  logo, 
Quando  acabar  de  rezar. 

Vossê  quer  perder  minh*alma, 
Vossê  quer  só  m'en|anar. 


92  TROTADO» 

Tenho  medo,  jòjòzmho^ 
Basta  já  de  me  abraçar ; 
NSo  me  dê  tanta  boquinha. 
Que  me  pôde  atarantar. 

VoBsê  quer  perder  minh'alma, 
Vofisê  quer  só  m'enganar. 


MODINHAS 


PORQUE,  Ú  JIORTE  CRIISL 

Porque,  ó  morte  cruel, 
Minha  alegria  roubaste? 
Porque  do  filho  que  amava 
Os  tenros  dias  cortaste? 

Sua  innooencia 
Nlo  te  moreu? 
Ai!  como  é  triste 
O  fado  meu ! 

Oabriêl  Femandeê  da  Trindade. 


■ 


TROVADOR  93 


TROVADOR 


(TBBCEIBA   DBFE2A) 


Trovadori  o  qne  tens?  tu  nSo  soffrea, 
Bem  fingida  é  a  tna  afflicçSo; 
N'e88e  pranto  que  as  faces  te  orvalha 
Eu  só  yejo  um  signal  de  traição. 

Se  a  mulher,  a  quem  dizes  que  amavas, 
Te  tratou  com  acerbo  rigor, 
Foi  por  ter'  conhecido  que  amava 
Um  infame,  um  cruel  seductor. 

Se  o  amor  da  mulher  é  uma  nuvem. 
Qual  o  vento  que  a  faz  agitar  ?•• .. 
NSo  será  o  amor  d'um  ingrato 
Que  esta  nuvem  procura  arrastar? 

Se  o  amor  da  mulher  é  luzerna 
Para  o  homem  que  a  não  sabe  amar, 
O  amor  da  mulher  é  estrella 
Porque  firme  ha-de  sempre  brilhar. 

O  amor  da  mulher  nSo  é  firagil, 
Pequenino,  adoudado  batel ; 
O  amor  da  mulher  é  constante. 
Mesmo  achando  um  amante  infiel. 

O  amor  da  mulher  é  qual  rosa 
Que  insensatos  procuram  colher; 
Vis  insectos  que  trazem  veneno 
Para  a  pobre  da  flor  fenecer. 


94  TROTADOR 

A  mulher  que  promette,  nSo  falta; 
Se  ella  jura,  ha-de  a  jura  cumprir; 
A  mulher  é  fiel,  é  sincera, 
A  mulher  nSo  precisa  mentir. 

Um  exemplo  só  não,  porém  muitos, 
Eu  aqui  poderia  mostrar, 
\  De  que  só  a  mulher  sente  amor, 
Pe  que  só  a  mulher  sabe  amar. 

Quando  meiga  se  mostra  a  mulher 
Com  agrados,  com  ternos  carinhos. 
Um  futuro  lhe  mostram  de  flores 
Doestas  flores  que  occi^ltam  espinhos. 

A  mulher  tem  o  dom  da  belleza, 
Tem  maneiras  que  sabem  captar, 
A  mulher  é  um  todo  perfeito, 
Se  dinheiro  ella  tem  a  fartar. 

A  mulher  tem  feitiço  nos  olhos. 
Diz  o  infame,  cruel  lisonjeiro!.  •• 
A  mulher  é  um  anjo  no  mundo, 
Se  elle  vê  que  a  mulher  tem  dinheiro! 

O  amor  da  mulher  é  tSo  firme 
Quanto  é  firme  o  rochedo  gigante; 
O  amor  da  mulher  não  se  vende: 
Ella,  só,  é  quem  ama  constante. 


TROTADOR  95 


UHA  INGRATA,  UMA  INCONSTANTE 


Uma  ingrata,  uma  inconstante 
Que  en  amei  mais  do  qne  a  mim, 
Uniu  o  ciúme  á  saudade 
Para  aos  meus  dias  dar  fim. 

Já  que  não  posso 
Nunca  esquecel-a, 
Mesmo  trahido 
Desejo  vôl-a. 

Cruel  destino! 
Céos,  compaixSo 
P'ra  um  desgraçado, 
Morte  ou  perdão ! 

Para  amar  somente  a  ella 
Infeliz  ao  mundo  yim, 
Ao  mundo  veio  a  tyranna 
Para  aos  meus  dias  dar  fim. 

Já  que  nSo  posso — etc. 

Anjo  na  voz  e  apparencia 
Também  a  julgava  assim, 
Mas  ella  tomou-se  fera 
Para  aos  meus  dias  dar  fim. 

E  que  nSo  seja 
Meu  peito  igual, 
Ainda  suspiro 
Por  monstro  tal. 


96  TROVilDOR 


RECITATIVO 


BSCDTA. .  • 


Se  para  amar-te  f8r  mister  martTrio, 
Com  que  delírio  saberei  soffirerl... 
Se  d^altas  glorias  fôr  mister  a  pajbna, 
Talf^eas  minh'alma  possa  além  colher. 

Quebrar  cadèasi  conquistar  um  nome 
Que  nSo  consome  o  pei^passar  das  eras  I 
Arcar  co^as  farias  de  iracundos  nortes, 
Scfffirer  mil  mortes  sem  morrer  deTéras!... 

Nas  próprias  carnes  apertar  oilicios, 
Nos  sacrificio8|  ter  bereno  rosto; 
Pisar  descalço  sobre  espinhos  duros 
Com  pés  seguros,  com  signaes  de  gosto !  •  •  • 

Longe  da  pátria,  no  paiz  mais  feio, 
Do  tédio  em  meio  por  amar-te  irei  ; 
Viver,  embora,  sob  a  zona  ardente, 
E  alli  contente  por  te  amar  serei! 

■ 

E  a  ser  amado,  se  fôr  mister  o  inoenso 
Que  sobe  denso  dos  salSes  aos  tectos. 
Serei  altivo !  • .  •  NZo  irei  de  rastos, 
Com  lábios  castos,  mendigar  affectos. 


J 


TROVADOR  97 

£  86  me  odeias  por  nSo  ir  ás  salas 
Dizer-te  as  fitllas  de  immortal  paixSo; 
E  aos  olhos  de  outrem^  profanando  extremos, 
Dizer-te — amemos — ,  apertar-te  a  mio; 

Dá-me  tea  ódio,  que  eu  nSo  quero,  escuta, 
Beber  cicuta  procurando  mel ! . .  •  , 

Dá-me  teu  ódio,  mas  em  grau  subido, 
Embora  ungido  de  amargoso  fel !  •  •  • 

Dá-me  teu  ódio,  por  fatal  sentença, 

A  indifferença  me  será  peor ; 

Que  um  sentimento  por  mim  sintas  n'alma, 

Dá-me  essa  palma  de  soffrer  melhor !  •  •  • 

Dr.  Pedro  de  Calazan». 


LUNDU 


A  QUEBRA  DOS  BANCOS 


Para  ser  cantado  pela  musica  do  limdú — Espanta  o  grande  progresso 


Tudo  anda  em  reboliço 
Cá  pela  nosf>ia  cidade. 
Ha  cousinhas  que  amedrontam, 
Temos  grande  novidade: 
iroft.  n- 


98  XROYÁDOR 

Corre  ahi  de  bocca  em  bocca 
Que  o  nosso  grande  banqudro 
Fez  sciente  a  seus  credores 
Que  nlo  tinha  mais  dinheiro. 


Todos  lastimam 
Em  cada  canto. 
Vertendo  pranto 
Amargurado: 
Por  ter  guardado 
O  seu  dinheiro 
Com  o  banqueiro 
TSo  conhecido, 
Vivem  agora 
Em  agonias, 
Chorando  suas 
Economias. 


Tenham  calma  e  paciência, 
O  medo  desvanecendo. 
Forque  se  vai  proceder 
A  um  total  dividendo. 


Apenas  se  divulgou 
Tal  noticia  na  cidade, 
Ficou  quasi  que  maluca 
Da  população — metade: 
Viu-se  grandes  e  pequenos 
Andar  em  passo  de  cSo, 
Tudo  fallava  e  gritava. 
Houve  grande  confhslo. 


Todos  lastimam — eto« 


TROYADOR 


99 


Tenham  calma  e  paciência^ 
O  medo  desvanecendo, 
Porque  se  vai  proceder 
A  um  total  dividendo. 


Via-se  na  ma  Direita, 
Em  frente  á  casa  bancaria, 
Gente  bem  e  mal  vestida, 
Podendo  chamar-se  vária ; 
Os  soldados  da  policia 
D'es{$adas  desembainhadas, 
Ican  dispersando  o  povo  . 
A  poder  de  cutiladas. 


Todos  lastimam — etc. 


Tenham  calma  e  paciência, 
O  medo  desvanecendo, 
Porque  se  vai  proceder 
A  om  total  dividendo. 


Chorava  o  pobre  carreiro, 
Chorava  o  negociante. 
Grande  alarido  fazia 
Das  mas  o  mendicante; 
Pois  até  mesmo  os  mendigos 
Sem  que  comer — ezhanridos. 
Diziam,  para  se  oavir. 
Que  tinham  vales  perdidos. 


Todos  lastimam — etc. 


l  100  TROVADOR 


Tenham  calma  e  paciência, 
O  medo  desvaneoendo, 
Forque  se  vai  proceder 
A  um  total  dividendo. 


Já  se  deixa  vêr  entSo 
Que  no  mundo  nSo  ha  pobres^ 
Pois  os  mais  necessitados. 
Tinham  junto  bem  bons  cobres; 
Mudaram-se  entSo  as  scenas^ 
Os  ricos  ficaram  pobres. 
Os  pobres  sSo  ricos  hoje, 
Pois  trazem  comsigo  os  cobres. 


Todos  lastimam — etc. 


Tenham  calma  e  paciência, 
O  medo  desvanecendo, 
Porque  se  vai  proceder 
A  um  total  dividendo. 


Oualberto  Peçonha. 


TROTADOS 


iOi 


MODINHAS 


HiO  TE  ESQUEÇAS,  MARÍLIA,  DE  MIM 


Chega  a  hora  da  minha  partida, 
Adens,  anjo,  adeus,  cherabim; 
Em  minh'alma  ta  vaes  retratada, 
NXo  te  esqueças,  Marília,  de  mim. 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  a  lua 
Clarear  no  celeste  jardim ; 
Quando  as  trevas  da  noite  ofioscarem, 
NSo  te  esqueças,  Marilia,  de  mim« 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  a  rosa 
Desabrochada,  murchar  no  jardim  ; 
Quando  a  rola  no  bosque  cantar, 
NSo  te  esqueças,  Márilia,  de  mim. 

NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  yires 
A  açucena  e  o  bello  jasmim ; 
Quando  o  triste  cypreste  enoontrares, 
NSo  te  esqueças,  Marilia,  de  rnún. 


NSo  te  esqueças  de  mim,  quando  a  aurora 
Vem  tingir-se  ãe «branco  e  carmim; 
Quando  o  sol  expirar  no  occaso, 
NSo  te  esqueças,  Marilia,  de  mim. 


102  TROVADOR 

N8o  te  esqueças  de  mim,  quando,  ao  longe, 
Escutares  lamentos  sem  fim; 
Quando  á  lyra  algum  triste  chorar, 
NSo  te  esqueças,  Marilia,  de  mim. 

N2o  te  esqueças  de  mim,  que  te  adoro. 
Que  padeço  tormentos  sem  fim; 
Já  que  a  sorte  nos  quer  separar, 
NSo  te  esqueças,  Marília,  de  mim» 


MEUS  GEMIDOS  SOLTO  EH  VÃO 

Modinha  tirada  da  opera  Leêtooq,  arranjada  por  J.  M.  S.  &. 

Meus  gemidos  solto  em  vBo, 
Meus  olhos  sSo  doas  fontes, 
Os  meus  ais  rompem  os  ares, 
Mas  respondem  só  os  montes. 

Minha  Analia  já  nKo  yiye, 
Ai  I  que  dôr,  ai  I  que  tormento ! 
Vem,  6  morte^  fini^isa 
Minha  vida  n'um  momento* 

Desde  que  os  temos  afagos 
De  Analia  roubou-me  a  impía, 
Meus  dias  foram  votados 
A  cruel  melancolia. 

Minha  Analia  já  nSo  vive — etc. 


TROYADOR 


103 


De  seu  trato  os  sSos  prazeres 
Em  ySo  minh'alma  procura. 
Só  um  tumulo  me  responde : 
«Aqui  jaz  tua  ventura.  » 

Minha  Analia  já  nÍo  yiye — etc. 


DESEJO  A  VIDA  ACABAR 


Muitas  vezes  eu  procuro 
A  saudade  disfarçar. 
Mas  como  allivio  nSo  tenho 
Desejo  a  vida  acabar» 

Eu  procuro  a  solidSo 
P'ra  allivio  do  meu  penar; 
Mas  como  allivio  não  tenho 
Desejo  a  vida  acabar. 


QUAMDO  AS  GLORIAS  QUE  GOZEI 


Quando  as  glorias  que  gozei 
Vou  na  idéa  revolver, 
Sinto  i  força  da  saudade 
Meu  triste  pranto  correr. 


104  TROYAIK»      . 

Os  que  já  tive, 
Dôoes  momentoB, 
SSo  hoje  a  causa 
DoB  meus  tormentos* 

Encantos  que  já  nZo  góso, 
Mas  que  nSo  posso  esquecer, 
Fazem  dos  meus  olhos  tristes 
Meu  triste  pranto  correr. 

Os  que  já  tive — etc. 

Eu  bem  sei  para  que  amor 
Me  quiz  ditoso  fazer: 
Foi  para  vêr  de  continuo 
Meu  triste  pranto  correr* 

Os  que  jáf  tive — etc. 


DEPOIS  QUE  TE  DEI  MI1!H*ALHA 

Depois  que  te  dei  minh'alma 
Só  vivo  um 'hora  no  dia; 
Mas^  hoje  nem  gozar  pude 
De  um  momento  de  alegria.   . 

Só|  6  lilia,  nos  teus  braços, 
Do  mundo  todo  esquecido, 
Poderei  gozar,  um'hora, 
D'ausencia  o  tempo  perdido. 


i 


TROVADOR  105 


RECITATIYOS 


VÃO  TE  LAMENTO 


Lamentem  outros  muito  embora,  virgem, 
Na  fria  campa  que  teu  corpo  encerra, 
Eu  nSo,  nSo  choro  tou  perdido  amor, 
Porque  minh'alma  nSo  se  prende  á  terra ! 

D^immensos  gozos  que  na  terra  existem, 
Soffiri  immensas,  cruciantes  dôres; 
Da  primavera  em  juventude  amena 
Brotaram  murchas  na  minh'alma  as  flores. 

Yi  uma  a  uma  desfolhar-se  todas. 
Sem  que  da  vida  as  bafejasse  o  sol  I 
Foi  manhS  triste,  despontou  sem  aura, 
Tomando  escuro  o  vivido  arrebol ! 

Vi-te  na  senda  de  minha  vida  escura, 
Senti  o  iman  que  me  attrahia  a  ti ; 
Quiz  de  teus  olhos  receber  a  luz, 
Tomei-me  alegre  de  prazer — sorri. 


Déste-me  luz,  ainda  mais,  amores, 
Dias  fSEigueiros  de  porvir  ditosos ; 
Porém  a  morte  te  roubou,  tyranna  I 
Quando  da  vida  começava  os  gozos. 


» 


406  TROTáDOR 

Era  forçoso,  era  a  sorte  minhai 
NZo  gozar  nunca  da  existência  as  fl&res ; 
Na  senda  immensa  de  minha  vida  escura 
Trilhar  espinhos,  e  perder  amores ! 

£  desde  entSo  a  minha  alma  triste, 
Longe  da  terra,  na  regilo  immensa, 
Vaga  sósinha,  solitária  e  louca, 
Esquece  a  vida  de  soffrer  intensa. 

Lamentem  outros  muito  embora,  virgem, 
Na  fria  campa  que  teu  corpo  encerra, 
Eu  nSo,  n8o  choro  teu  perdido  amor. 
Porque  minh'alma  nlo  se  prende  á  terral 

Sènrijuê  Mackaão. 


ÂTTENDE,  Õ  YIRGEHI 


Attende,  ó  virgem,  de  minh'alma  as  fiJlas, 
Meus  rudes  cantos,  sem  expressSo,  sem  cfir; 
Elles  exprimem  um  sentir  immenso, 
Soflfrer  intenso  d'extremoso  amor! 


Se  amor  é  chamma  que  devora  e  queima. 
Loucos  nos  toma  nos  matando  em  fim, 
E'  pura  chamma  o  que  sinto  n'alma, 
Attende,  ó  virgem,  eu  te  amo  assim. 


TROVADOR  107 


Se  crês  mentidas  as  palavras  minhaSi 
Slnda  tSo  joven  tu  já  és  descrente ; 
Soa  desgraçado,  pois  frustradas  vejo 
Crenças  {agueiras  que  minli'alma  sente. 


Attendoí  virgem,  meu  amor  é  puro. 
Temo,  sincero,  como  nunca  amei; 
Digas  embora  n'um  sorrir  descrente 
Que  amando  tanto  inda  nSo  jurei. 

N8o  juro,  virgem,  perjurar  nSo  quero, 
A  santa  crença  que  minh'alma  inflamma ; 
Temo  que  um  dia  ao  teu  rigor  vencido 
Venha  a  descrença  eztinguir-me  a  chamma. 


Escuta,  pois,  de  minha  alma  as  fiUlas, 
Meus  rudes  cantos  de  tristeza  e  dôr ; 
Toma  meus  dias  de  porvir  ditosos, 
Vem  dar-me  a  palma  de  teu  puro  amor. 

Chrmano  da  Coita. 


\> 


108  TROVADOR 


LUNDU 


O  TELLES  CARAPIHTEmO 


Sabes  o  que  aconteceu 
Âo  Telles  Carapinteiro? 
Para  Santa  Philomena 
Dispôz-se  a  pedir  dinheiro  I 

E  sem  tirar  a  licença 
Da  camará  municipal, 
Se  yiu  bem  apertadinho 
Pelos  guardas  do  fiscal. 

O  Telles  tanto  envolvidoí 
Oom  ópa  e  bolsa  na  mSo, 
O  fiscal  disse  a  seus  guardas : 
f  Tragam  cá  esse  ermitSo.» 

O  Telles  assim  que  ouviu, 
No  coração  sente  dôr; 
Apressando  mais  os  passos 
Metteu-se  n'um  corredor* 

  ópa  logo  tirou 
E  com  a  Santa  envolveU| 
Embrulhou  tudo  n'um  lenço ; " 
Quem  vai-se  embora  sou  eu. 


TROVADOR 


109 


Nada,  nada,  senhor  Sousa, 
N'outra  nSo  tomo  a  cahir, 
Que  sem  tirar  a  licença 
P'ra  Santa  nSo  vou  pedir. 


*v 


Puxando  pela  boceta 
O  Telles  toma  tabaco; 
Olhando  para  dous  guardas, 
Oh!  que  caras  de  macaco! 

Milagre  que  a  Santa  fez 
Pela  minha  devoção, 
livrou-me  de  eu  ser  preso, 
De  pagar  condemnaçSo. 

Triste  cousa  é  ser-se  pobre, 
Viver  sujeito,  enganando; 
Quando  mal  se  nSo  precata 
'Stá  na  cadêa  brincando. 


Esta  Sakita  Philomena 
£  uma  Santa  mui  bella; 
Mas  sem  tirar  a  licença 
NSo  tomo  a  pedir  p'ra  ella. 


110  TROYADOlt 


MODINHAS 


JÁ  NÃO  POSSO  TIV^R  HAIS  NO  MUNDO! 

Musica  da  modinha  — Lá  n^aqueUe  gigante  de  pedra 

Já  nSo  poBsso  viver  mais  no  mundo! 
SSo  meus  dias  de  pranto  e  de  dôr; 
Vem,  ó  parca,  cortar-me  a  existene^, 
Vem  pôr  termo  da  sorte — ao  rigor! 

Tive  infância  feliz  e  ditosa, 
Foi-me  leda,  bem  n'ella  gozei; 
Depois,  entes  qae  muito  prezava. 
Deus  chamou-os!  Oh!  muito  chorei! 

Âi  de  mim,  tão  sósinho  que  sou! 
Já  nSo  posso  viver  mais  no  mundo; 
Vem,  ó  parca,  ceifar  os  meus'  dias, 
Deixarei  de  viver  gemebundo! 

Quero  eu  vêr  se  terei  lenitivo 

P'ra  meus  males — da  tumba  no  fundo; 

Que  me  serve  viver  afflictivo? 

Já  nSo  posso  viver  mais  nc mundo! 


F.P. 


TROVADOR  lli 


FOSTE  FALSA  HONTEMANOITE 

Bem  sabia  eu  que  vivia 
N'este  mundo  só  por  ti; 
Era  tua  a  minha  vida 
Desde  o  dia  em  que  te  vi. 

Foste  £Eilsa  hontem  a  noite, 
Meu  riyai  eu  conheci, 
Que  conversavas  com  elle 
NSo  me  negues,  eu  bem  vi! 

Bem  sabias  que  eu  vivia 
Dia  e  noite  a  suspirar, 
Esperando  aquella  hora 
De  te  vèr  e  te  fitUar. 

Foste  fSedsa  hontem  a  noite — etc. 

Eu  bem  sei  que  tu  tens  outro 
A  quem  tu  tens  mais  amor. 
Mas  eu  sempre  vou  bebendo 
Negro  cálix  de  amargor. 

Foste  falsa  hontem  a  noite — eto.^ 

Arrastando  estas  correntes 
Pelas  ruas  da  cidade 
Nunca  achei  tamanho  peso 
Como  a  tua  falsidade. 

Foste  falsa  hontem  a  noite — etc. 

F.  P.  Ç!fM4. 


lis  TROYABOR 


RECITATIVO 


BSGDTA 1 


Escutai  donzellai  a  voz  do  cantor 
Que  louco  de  amores  só  chama  por  ti; 
Escuta,  donzella,  escuta,  eu  te  peço, 
Nlo  fujas,  nSo 'negues,  coraste,  bem  yi.« 

Eu  vi,  eu  bem  vi,  nlo  negues,  donzellai 
Eu  yi  tuas  faces  cobertas  de  pejo; 
Ficaste  tSo  bella  qual  rosa  no  prado 
Recebe  das  brizas  o  cândido  beijo. 

NSo  figas,  donzella,  do  pobre  cantor  . 
Que  ébrio  de  amorei  só  geme  e  suspira; 
NSo  fujas,  meu  axgo,  ao  menos  escuta 
As  pobres  estrophes  que  solta  esta  lyra. 

As  negras  madeixas  de  finos  cabellos 
Nas  costas  cabiam  da  virgem  esquiva» 
E  ella  corria  sem  mesmo  lembrar-se 
Que  aqui  a  minli'alma  ficava  captiva* 

EntSo  já  cançada  de  tanto  correr 
Parou  e  sentou-se  bem  junto  da  fonte, 
Depois,  feiticeira,  sorrindo  eu  bem  vi 
Nas  niveas  mSosinhas  pousares  a  fronte. 


J 


TMVAMR  118 


Nas  níveas  rnSoeinhas  a  fronte  pousaste, 
Nos  lábios  um  riso  te  veio  brincar, 
Arqueja-te  o  ooUo,  e  eu,  em  delírio, 
Teus  lábios  não  cesso  sequer  de  beijar. 


Escuta,  donzella,  a  voz  do  cantor, 
Que  louco  de  amores  só  chama  por  ti ; 
N2b)  fujas,  te  peço,  ó  virgem  esquiva. 
Ao  furto  de  um  beijo  coraste — eu  bem  vi. 


Oarcia  Mascarenhas* 


CANÇÃO 


MINHA  HÃI! 


Minha  mSi,  hontem  no  baile 
Um  poeta  me  tirou, 
Me  chamou  seu  branco  lyrio, 
Açucena  me  chamou; 
Disse  cousas  tão  bonitas 
N'essas  falias  que  failou. .  • 
▼oxi.  n.  8 


414  TROYADOE 


Diga,  diga,  mamasinha, 
Quando  ao  baile  voltará? 
Mude  em  pasta  minlias  tranças, 
Minha  mSi,  consentirá  ? 
Eu  já  tenho  treze  annos. 
Já  nBo  posso  ser  yáyá. 

Eu  já  bordo,  marco,  canto, 
E  eu  já  danço  também, 
Os  foiy^edos  infantis 
P*ra  mim  nenhum  prazer  tem ; 
Já  nío  quero  vestir  calças. 
Leio  versos  muito  bem. 

Estes  meus  vestidos  curtos 
Pôde  dál-os  á^  sinhá, 
Qu'ea  já  'stou  muito  crescida. 
Já  entendo  o  sabiá; 
Eu  já  tenho  treze  annos, 

Já  nSo  posso  ser  yáyi. 

* 

Quando  ouço  o  primo  Jucá 
A  gemer  no  violSo, 
Como  a  folha  do  coqueiro 
No  cahir  na  viração; 
Eu  n&o  sei  que  sinto  n'alma, 
Dóe-me  tanto  o  coraçSo !  •  •  • 


TROVADOR  115 


RECITATIVO 


NiO  TE  POSSO  AMAR 

Perdto,  donzella,  se  te  amei  com  anciã, 
Se  ousei  na  infância  meu  amor  te  dar : 
Nasci  na  plebe,  ta  nasceste  nol>re, 
Tu — rica,  eu  — pobre:  nSo  te  posso  amar! 

Vi-te  tSo  bella  no  sophá  cahida, 
Cheia  de  yida,  palpitante  o  seio: 
Louco,  adorei-te  por  te  vêr,  querida, 
Co'a  mSo  pendida  do  regaço  ao  meio. 

Vi-te  dormindo;  teu  vestido  solto, 
Branco,  revolto,  descobria  a  meia : 
De  amor  ardendo,  quÍ2  beijar-te,Jedo: 
Mas.  •  •  tive  medo  da  gentil  sereia ! 

Quero  adorar-te,  te  sagrar  um  culto 
Inda  que  occulto  no  febril  desejo: 
Quero  estreitar-me  nos  teus  niveos  braços, 
Por  entre  abraços  te  imprimir  um  beijo. 

Pequei,  donzdila,  por  te  amar,  perdido: 
A  meu  gemido  teu  desprezo  deste : 
Nlo  te  envergonhes  de  alentar  o  pobre ; 
Qae  o  pobre  é  nobre  na  mansSo  celeste. 


il6  TROVADOR 


Plebeu  ousadoí  me  esqueci,  archaujo, 
Que  para  o  anjo  nSo  devera  olhar: 
NSo  me  condemnes;  meu  arrojo  encobre; 
És  rica,  eu  pobre :  nSo  te  posso  amar! 


Oenuino  Mancebo, 


MODINHA 


SOBRE  AS  AGUAS  DO  MAR 


Musica  da  modinha  —  MáL  te  vi  eu  te  nmei 


Eu  já  yi  sobre  as  aguas  do  mar 
Balançar-se  uma  rosa  em  botSO| 
Vi-lhe  abrir  o  mimoso  embrjSo, 
Poucas  horas  depois  desfolhar. 


Uma  a  uma  as  folhinhas  cahindo 
Lá  se  foram  nas  aguas  boiando; 
OrphZsinha  a  roseira  viçando, 
Pouco  a  pouco  se  foi  consumindo. 


TROYÂBOR  117 


E  ao  cabo  d'um  anno  voltei. 
Já  estava  a  roseira  viçosa, 
Já  pendia  outra  vez  uma  rosa. 
Que  também  no  botSo  enxerguei. 


Eis  que  morre,  ella  vem  renascer 
Cada  flor  sem  que  mude  d'essencia ; 
Só  a  rosa  de  humana  existência 
Duas  vidas  não  pôde  viver. 


Cada  fblha,  que  ao  pego  cabir, 
Caia  ao  menos  sem  mancha  e  viçosa, 
E  nadando  na  vaga  espumosa 
NSo  se  possa  jamais  submergir. 


E  o  perfume  que  assim  se  exhalar 
D'essas  puras  folhinhas  da  vida. 
Vá,  deixando  a  terrestre  guarida. 
Nossas  almas  no  céo  aguardar. 


118  TROVADOR 

I 


LUNDU 


O  CAFUNÉ 


Manca  de  J.  L.  de  Almeida  Ganha 


Eu  adoro  a  uma  j&f&y 
Que  quando  está  de  maré. 
Me  chama  muito  em  socego 
P'ra  me  dar  seu  cafuné. 


Que  geitinho  que  ella  tem 
No  revivar  dos  dedinhos! 
Fecho  os  olhos  e  suspiro 
Quando  sinto  os  estalinhos. 

ICas  quando  zangada  está, 
Raivosa  me  bate  o  pé, 
Me  chinga,  ralha  commigo 
E  nSo  me  dá  cafuné. 

Nto  sei  entSo  o  que  faça, 
Mesmo  &zendo  carinhos 
Ella  entre  meus  cabellos 
NBo  passa  mais  seus  dedinhos. 

Um  dia  zangou-se  toda 
Por  vir  cheirando  a  rapé; 
Me  chamou  de  valho  e  velho, 
E  nSo  me  deu  cafuné. 


j 


TAOVABOR 


149 


Brígoa  cominigo  deyéras; 
Mas  passada  a  raivasinha, 
Me  offertou  cheia  de  encantos 
Uma  linha  bocetinha. 

Qae 'boceta  tSo  mimosa! 
Dos  pares  emblema  é; 
Quando  sorvi  a  pitada 
Deu-me  ella  um  cafuné. 

Àh !  que  gosto  que  eu  senti 
Na  boceta  do  rapé  I 
iBncontrei  o  melhor  meio 
De  gaxihar  meu  cafuné. 


E.  Villas-Bom. 


MODINHA 


PELO  CIMO  D'AQUELLA  ALTA  SERRA 

Musica  da  modinha  —  Gigante  de  pedra 

Pelo  cima  d'aquella  alta  serra 
Que  se  diz  da  Tijuca  chamar, 
Para  allivio  da  dôr  que  me  aterra 
Vivo  só  por  alli  a  vagar! 


110  ntmjMm 

Testemnnlia,  oito  montOi  tii  és. 
Dos  meus  ais  e  sentidas  endeixas, 
Quando  ahi  d'essafi  ardores  aos  pés, 
Sento-me  e  £eiço  ouvir  minlias  queixas ! 


Pela  ingrata,  que  ousou  desprezar 
Os  meus  brios  d'amante  fiel, 
E  da  taça  me  faz  esgotar 
Té  a  Atima  partícula  de  fel. 

Oh!  nSo  posso  sofirer  jamais,  nlo; 
Soffrer  tanto  no  mundo  agras  dôres! 
Jaz  oppresso  este  meu  eoraçSo, 
S8o  meus  dias  de  magoa  e  de  horrores ! 


Qiíero  aqui,  ó  Tijuca,  fit^lar, 
N'este  ehSo  para  sempre  cahir; 
Aqui  só  é  que  a  deyo  acabar,        ^ 
Só  aqui,  deixarei  de  existir! 

Jamais  deves  contar  minha  lyiorte 
à ingrata,  por  quem  padeci, 
Que,  no  mundo,  por  ella  sem  norte, 
Já  vaguei,  e  acabar  vim  aqui  f 

Só  a  aurora,  quando  no  Oriente 
N'altas  nuvens,  risonha  mostrar-se, 
Testemunha  será  d'este  ente 
Que  de  amores,  quiz  cedo  finar-se. 


Pelo^cimo  d'aqueila  alta  serra 
Que  se  diz  da  Tijuca  chamar. 


1 


TROVADOn  12i 


Para  allivio  da  dôr  que  lae  «terra, 
Vivo  BÓ  por  alli  a  Tagar. 


F.  P.  Lisboa. 


RECITATIVO 


PERBiOl 


Tu  foste  a  rcísa  purpurina  e  bella, 
Eu  foi  prooella  que  do  inferno  vim ; 
Bojei-te  as  folhas  p^  chSo  cabida», 
Que  hoje,  erguidas,  rem  aorrir  de  mim  I 


Era  n'am  baile,  — inda  bem  criança, 
Cheia  d'e8p 'rança  lá  te  vi  folgar; 
E  logo  mn  riso  de  teu  lábio  puro, 
Eu  qniz  perjuro,  para  mim  roubar.. 


Eras  tio  linda  I  teu  olhar  de  virgem, 
Louca^  vertigem  me  causou  d'amor; 
Mas  eu,  cobarde,  te  feri  com  calma, 
Boubeinte  d'alma  a  candorosa  flor !  •  •  • 


t2S  TROVADOR 

Pobre  criança  1  teu  amor  primeiro, 
Vieste  inteiro  me  offertar  novel; 
E  nem  previas  que  na  taça  para 
Minh'alma  impara  te  lançava  o  fel ! 

Cynioo,  infame,  a  victimar  afeito, 
Da  flor  do  peito  te  roubei  o  olor !  •  •  •  • 
E  nem  pensava  que  mais  tarde,  um  dia. 
Chorar  viria  de  remorso  e  dôr! 


Meu  vil  cynismo  no  teu  riso  insonte, 
Viu  o  horisonte  da  mais  bella  tarde; 
Hoje  minh'alma  de  chorar  s'inflamma 
Na  dura  chamma  que  em  meu  peito  arde ! 


Quantos  phantasmasl  que  tíbSo  errante 
A  todo  instante  me  ^erãegue,  oh  I  simi!  •  •  • 
O'  Deus  I  livrai-me  da  tyranna  lida, 
Tirai-me  a  vida  que  jamais  tem  fim ! 

r     • 
T 

c    *  ■ 

PerdSo,  meu  anjo,  se  roubei-te  a  calma. 
Se  as  flôre$  d'alma  te  rojei  ao  chSo; 
Perd2o,  meu  anjo,  se  fui  louco  um  dia. 
Perdão,  Elmira,  para  mim,  perdSo! 


Tu  foste  a  rosa  purpurina  e  bella. 
Eu  fui  procella  que  do  inferno  vim; 
Bojei-te  as  folhas  pelo  chSo  cabidas, 
Que  hoje  erguidas  vem  sorrir  de  mim ! 


O.  a.  MMò. 


i 


TBOYADOR  i23 


MODINHAS 


UNS  OLHOS  Tio  MATADORES  1 


Uns  olhos  tSo  matadores 
Inda  nSo  yi  em  ninguém, 
Como  aqaelles  que  volviam 
No  rosto  de  um  temo  bem. 

Eram  tSo  bellos,  tSo  vivos 
Nos  eixos  sempre  a  mover, 
Que  por  elles  n'este  mundo 
Eu  só  quizera  viver ! 

No  rosto  temo,  risonho 
Tio  buliçosos,  tSo  bellos  t 
Que  já  captivo  eu  sentia 
Me  vendo  preso  em  seus  elos. 

Minh'alma  presa  e  captiva 
Somente  os  queria  amar, 
Eram  tSo  yivos,  tSo  bellos 
Sempre  a  mover  sem  cessar. 

Sorria,  que  riso  santo 
D'esses  seus  lábios  fugia  I 
Olhava,  que  olhares  temos 
Me  lançar,  sorrindo  eu  vi-a. 


124  TROVADOR 

Eram  tSo  bellos,  tSo  tíyob 
Nos  eixos  sempre  a  mover. 
Que  por  ellta  ii'aste  mvndo 
Eu  só  quizera  viver! 


Oliveira  FemanÓM. 


DE  TEU  ROSTO  UH  GESTO  BEUO 


\ 


De  teu  rosto  um  gesto  bello, 
N'um  teu  olhar,  doce  riso, 
E'  p'rá  mim  a  fiôr  mimosa, 
Tem  no  céo  o  paraíso! 


As  roseiras  vSo  seccando. 
Soas  folhas  yXo  cahindo. 
Assim  £st2  o  triste  amante 
Quando  ausente  está  doraândo ! 


Eu  te  peço,  ó  minha  bella, 
Qne  não  deixes  de  mô  amar. 
Tendo  dó  d'este  cadáver  • 

Que  nSo  pôde  te  deixar. 


A  dôr  que  meu  peito  sente 
Só  tu  podes  acabar. 
Teus  lindos  olhos  defendam 
Se  algum  me  quissor  matar  I 


TROTÂDOR  125 


RECITATIVO 


PEREGRINA  IMAGEM 


Porque  me  foges,  peregrina  imagem? 
Porque  torturas  a  minh'alma  afflicta? 
NSo  Tês  que  choro  de  soffirer  teu  odío 
Que  mais  ardente  meu  amor  incita?  I 

Porque  desvias  esses  olhos  languidos 
Dos  meus  que  anceiam  se  royêr  nos  teus  ? 
Porque  emmudeces  quando  fallo  e  peço 
Perd2o,  descxilpa  dos  delirioe  meus  ?  ! 

Porque  constante''  teu  olhar  furtivo, 
SurprehendO|  ás  vezes,  a  fixar-se  além? 
Porque  reclinas  pensadora  a  fronte? 
Porque  suspiras,  sem  amar  ninguém  ? 

Porque  recusas  ao  piaiid|  oh  Diva, 
Que  volte  as  folhas  do  Nocturno  ou  Canto, 
Dixendo  altiva :  —  «  NS9  lhe  dê  cuidado, 
cNSo  se  incouunode;  nio  mereço  tanto?» 

Ou  se  eu  insisto  no  almejado  intetito, 
Mordendo  os  lábios,  a  córar-te  o  rosto. 
Porque  murmuras  ao  vohar-me  as  costas; 
— c  Sinto  viesse  a  me  massar  disposto?  !> 


126  TROTADOS 

Depois.  • .  deitando-me  am  olKar  d^aquelles 
Que  enleiam,  matam  um  feliz  mortal, 
Sorrindo  dizes  m'e8tendenâo  a  mio : 
— c  NSo  se  amofine,  que  nSo  fiz  por  mal  ?  > 


Se  persistires  n'esta  forma  excêntrica 
De  torturares  a  minli'alma  ardente, 

« 

Hei-de  hnmilha^-te,  revelando  a  todos 
Que  o  teu  orgulho  meu  amor  consente  I 


Octaviano  Hudsom, 


GANCÂO 


EULDfA 


Eolina,  pedes  que  ea  conte 
O  segredo  de  minli'alma? 
Queres  tu  ,que  eu  te  aponte 

Minha  dôr? 
E  podes  tu,  Ineiga  flAr, 
Dar-me  de  ti — dOce  calma?! 


TROVADOR  127 


Poíb  ouve,  Eulina,  querida: 
E'  bem  triste  o  meu  viver : 
Em  contínua  e  crua  lida 

N^este  mundo, 
Sempre  vivo  gemebundo. 
Sem  alegre  jamais  ser. 

Dir-me-has:  cQual  é  a  causa?» 
Dir-te-hei :  «  Tu  saberás», 
Não  faço  minima  pausa, 

Responderei ; 
Mui  fiel  eu  te  serei. 
Lealdade  em  mim  verás. 


Pôde  vir,  Eulina,  um  anjo 
Os  meus  males  terminar ; 
Pôde,  sim,  vir  um  archanjo 

Dar  conforto 
A  quem  se  julga  já  morto, 
Prestes  na  campa  a  tombar  1 

Serás,  pois,  o  anjo,  Eulina, 
Meu  coração  é  quem  dÍ2; 
Quem  dera  vâr-te,  menina, 

A  meu  lado, 
Ficaria  eu  consolado, 
Meu  viver  era  feliz  I 


,        ,.    F.  P.  Lisboa. 


128  nOYÀDOR 


lUNDÚ 


PERBED-SE  A  Cfi&VEl 


Perdeu-se  a  chav^ ! 
Quem  havia  tal  dizer  1 
Uma  chaTe  como  aquella 
Nunca  maiu  eu  hei-de  ter. 

PerdeuHse  a  chare! 
Como  hei-de  contas  dar 
A  meu  bem,  quando  de  noite 
Me  pedir  para  lh'a  dar? 

Perdeu-se  a  chave ! 
Ah!  meu  Deus,  que  canfuBSp! 
Annunciei  no  «/ortioZ/ 
Mas  noticiaa  nSo  me  d&o. 

Perdeu-se  a  chave! 
NSo  me  fazem  outra  igual; 
Era  chave  de  segredo 
Com  certa  mola  real. 

Perdeú-se  a  chave 
Que  trazia  na  cintura; 
Seu  Mané  quando  vier 
Pintará  a  — saracura. 


TROVADOR  1S9 

PerdeuHse  a  ohare 

Já  gastei  um  dia  inteiro 

A  procurar  pela  sala, 

Pio  quintal,  pio  gallinlieiro  t 

Perdeu-se  a  ohare 
Que  fechava  o  gavetSo  I 
Tenho  o  puff  lá  trancado, 
Oh  que  grande  entalaçSo ! 

Perdeu-se  a  chave 
Quando  vim  de  Cascadura; 
Para  entrar  dentro  de  casa 
Arrombei  a  fechadura. 

Perdeu-se  a  chave 
Lá  na  rua  do  Aterro ; 
Quero  outra  semelhante, 
USo  fazem  do  mesmo  ferro. 

Perdeu-se  a  chave, 
Chavinha  como  nSo  ha ! 
Dava  duas  e  três  voltas, 
Ao  sahir  feuzia :  —  tá !  * 

Perdeu-se  a  chave  I 

Outra  igual:  nXo  ha  quem  faça : 

Em  MilSo,  na  Noruega 

No  JapSo,  mesmo  em  Mombaça. 

Perdeu-se  a  chave ! 
Chprarei  por  ella  um  anno ; 
Foi  forjada  pelos  Cyclopes, 
Por  mando  do  deus  Vulcano. 

1*.  P.  Litboa. 

TOXi.  n.  9 


190  TROVADOR 


MODINHAS 


A  MOÇA  SOLTEIRA 

Toda  a  moça  solteira  que  cora 
Quando  os  moços  lhe  querem  fallar, 
E'  signal  evidente  que  a  cuja. 
Acreditem,  leitor — quer  casar. 

■ 

Quando  virem  qualquer  uma  moça 

De  manhS  o  cabello  enfeitar 

Com  trancinhas,  pôr  fldres  no  coque. 

Acreditem,  leitor — ^uer  casar»  i 

Quando  virem  &  tarde  uma  belia 
A'  janella  se  ir  reclinar. 
Dando  risos  a  todos  que  passam. 
Acreditem,  leitor — quer  casar. 


Quando  virem  a  mesma  &'um  canto 
Sem  motivos  haver  a  chorar, 
NSo  procurem  saber  qual  a  «oaosa, 
Pois  a  mesma  o  quer  é  casar. 

Quando  virem  qualquer  uma  d'ellas 
De  qualquer  um  rapa2s  desdenhar, 
E'  signal  que  ella  gosta  do  cujo 
E  desdenha  porque  quer  casar. 


TaOVÂJ)OR 


'Quando  yirem  na  roa  uma  moça 
Procurando  affeetar  o  andar, 
D'68te  modo  mostrando-se  airosa, 
igam  logo: — can,,«  axu*«  quer  casar.» 


m 


Quando  yirem  qualquer  uma  mo^ 
Pós  de  arroz  no  semblante  lançar, 
Occultando  com  elles  mil  sardaSy 
A  razão  pela  qual.  • .  é  casar^ 

Quando  vitem  n'um  baile  uma  moça 
Ck>m  um  moço  somente  dançar, 
Podem  crêir  que  é  namoro  ferrado, 
Cujo  £m,  realmente,  é  casar. 


Qoalquer  um  movimento  da  moça 
Isto  é  (no  meu  fraco  pensar). 
Eu  traduzo,  queridos  leitoreé. 
Por  desejo  tSo  só  de  casar. 

Quando  yirem  co^i  olhos  quebrados 
Mil  suspiros  deixando  escapar, 
£  dizer : —  «  Eu  estou  mui  doentes, 
Tudo  é  falso,  leitor,  quer  casar. 


João  Ouaiberto  de  K^k€wA%  Péçanha* 


132  TROVADOR 


RECORDAÇÕES  DO  PASSADO 

MuBÍoa  dA  modinha — Por  entre  cu  trevas  da  noiU 

Vai  além,  men  pensameDto, 
Divagando  sempre  incerto, 
Qual  divaga  sem  ter  ramo 
O  viajor  no  deserto. 

Assim  meu  peito  em  delírio  * 

Soffre  cruel  desventura : 
Por  penhor  tem  a  tormenta, 
Por  descanço  a  sepultura ! 

Hoje,  eis-me  sempre  so&endo 
Da  avara  sorte  as  torturas ; 
Por  fanal  tenho  o  martírio, 
Por  penhor  as  amarguras  I 

Assim,  meu  peito  em*  desdita 

Tem  desde  o«berço  só  dores; 

Soffrendo  sempre  na  vida 

Os  mais  cruéis  dissabores.  . ' 

Sempre  a  lidar  n'este  mundo 
Curtindo  tantos  rigores. 
Ao  luotar  co'a  dura  sorte 
Vê-se  o  mortal  entre  dores. 

Acabou-se  o  tempo  amigo 
D'e8sa  idade  florescente. 
Em  que  brincando  sorria 
Sem  ter  pezares  na  mente. 

.  A.  (7.  d'Ol%i>eira  Femandeê. 


1 


TROVADOR  433 


CANÇÃO 


OSOMNO 

O'  somno  I  ó  noivo  pallido 
Das  noites  perfumosas, 
Que  um  chão  de  nebulostu 
Trilhas  pela  amplidão ! 
Eip  vez  de  verdes  pâmpanos^ 
Na  branca  fronte  enrolas 
As  languidas  papoulas, 
Que  agita  a  viração. 

Nas  horas  solitárias, 
Em  que  yagueia  a  lua, 
E  laya  a  planta  nua 
Na  onda  azul  do  mar, 
Cum  dedo  sobre  os  lábios 
No  vôo  silencioso, 
Vejo-te  cauteloso 
No  espaço  yii^ar  I 

Deus  do  infeliz,  do  núsero  ! 
Consolação  do  afflicto  I 
Descanço  do  precito, 
Que  sonho  a  vida  em  ti ! 
Quando  a  cidade  tétrica 
De  angustia  e  dôr  não  geme* « • 
E'  tu|t  mão  que  espreme 
A  dormideira^  aUi. 


^ 


431  TROVADOn 

Em  tua  branca  túnica 
Envolves  meio  mundo.  •  • 
E'  teu  seio  fecundo 
De  sonhos  e  visSes, 
Dos  templos  aos  prostibulos, 
Desde  o  tugúrio  ao  paço, 
Tu  lanças  lá  do  espaço 
Punhados  de  illusSes !  • .  • 


Da  vida  o  somno  r&hidó, 
Do  hatcchiz  a  essência, 
O  ópio,  que  a  indolência 
Derrama  em  nosso  sêr, 
NSo  valem,  génio  magico, 
Teu  seio,  onde  repousa 
A  placidez  da  lousa 
E  o  goflso  dó  viver..  • ' 

• 

O'  somno  I  Unge-me  as  pálpebras. . 
Entorna  o  esquecimento 
Na  luz  do  pensamento, 
Que  abrasa  o  craneo  meu: 
Como  o  pastor  da  Arcádia, 
Que  uma  ave  err&nte  aninha.  •• 
Minh'alma  é  uttia  andorinha. . . 
Abre-lhe  o  seio  teu. 

Tu,  que  fechaste  as  pétalas 
Do  Ijrio,  que  pendia, 
Chorando  i  luz  do  dia 
Cos  raios  do  arrebol. 
Também  feoha-me  as  pálpebras. . . 
Sem  ella  o  que  é  a  vida?. . . 
Eu  sou  a  fldr  pendida 
Que  espera  a  luz  do  soh 


TROVADOR  435 


O  leito  das  euphorbias 
P^ra  mim  nSo  é  veneno.  •  • 
Oave-me,  ó  Deus  sereno! 
O'  Deus  consolador 
Com  teu  diyino  bálsamo 
Cala^me  a  anciedade ! 
Mata-^me  esta  saudade, 
Apaga-me  egta  dõr. 

Mas  quando,  ao  brilho  rutilo 
Do  dia  deslumbrante, 
Vires  a  minlia  amante 
Que  volve  para  mim, 
EntSo  ergue-me  súbito.  •• 
E'  minha  aurora  linda.  •• 
Meu  ax^o,.,  mais  ainda.». 

E' minha  amante  emfim! 


O'  somno !  O'  deus  noctívago ! 
Doce  influencia  amiga  I 
Génio  que  a  Grécia  antigi^ 
Chamava  de  Morpheu. 
Ouve  I  •  •  •  e  se  minhas  supplic^ 
Em  breve  realisares.** 
Voto  nos  teus  altares 
Minha  lyra  de  Orpheu ! 


Cattro  Ahe$. 


i  86  TROVADOR 


RECHATIVOS 


LÁ  NOS  PAUURES 


Junto  aoB  palmares  no  correr  da  tarde 
Eu  te  vi  bella  e  seductora  ahi ! 
Já  nSo  te  lembras  d'esse  tempo  findo, 
Quando  teu  rosto  me  sorria  alli? 

Quanta  belleza  nSo  te  ornava  a  fronte 
Que  ao  contemplal-a  me  canson  paixSo ! 
Louco  em  mirar-te  me  perdi  am  dia, 
Eu  quis  fídlar-te  e  me  disseste — nSo ! 

—  NSo  é  possível,  minha  mâi  nos  vê : 
Se  eu  aqui  fosse  vos  failar  acaso  I 
Deizai-me  só  e  por  favor  nest^hora, 
Antes  que  venha  pôrnse  tudo  em  raso.  •  • 

Meu  Deus !  que  é  Isto  que  acabei  de  ouvir 
N^este  momento  que  o  prazer  dilata? 
Tive  em  resposta  que  me  fosse  embora.  • . 
Talvez  que  a  visse  a  pertinaz  barata  I 

Quem  sabe,  acaso,  se  nSo  houve  arrufos 
Por  minha  causa  co'a  menina,  hein?.  • , 
Louco,  ancioso  por  saber  que  é  isto, 
Quasi  que  estalo  de  paixão  tamb^n ! 


TROVADOR  437 

Talvez  que  o  velho  de  rabugem  cheio 
Tivesse  liguem  que  lhe  contasse  o  caso!.  •  • 
E  minha  amada  temerosa  agora 
Teme  que  o  cujo  ponha  tado  em  raso !  • .  • 


A  noite  é  bella,  mas  a  arage'  é  forte, 
Ea  já  tirito,  mas  d'aqai  nSo  fujo  ! .  • . 
Hei-de  apanhal-a  no  meu  geito,  e  entSo 
EUa  dirá  o  que  souber  do  cujo  L  •  • 


Lá  nos  palmares  no  correr  da  tarde 
Eu  a  vi  bella  e  seductora  ahi ! 
Sempre  a  esperava  impaciente  á  sombra 
D'es0e8  olmeiros  que  florescem  alU! 


A.  C.  d' Oliveira  Fernandes. 


valo 


Era  de  noite,  despontava  a  lua, 
De  face  nua,  a  derramar  fulgores ; 
Vi-*a  Bcismando  lá  na  várzea,  a  medo, 
O  seu  segredo  confiando  ás  flores. 


Timida  onda  a  se  quebrar  desmaia, 
Ka  branca  praia  a  soluçar  defronte; 
£  a  doce  briza  a  respirar  saudosa. 
Vinha  medrosa  bafejar-lhe  a  fronte ! 


t 


138  TROVADOR 

Era  tristonho  oomo  a  flôr  sem  vida, 
Murchai  perdida  do  hastii  mimoso; 
Nas  brancas  yestes^  o  seu  niyeo  seio. 
Em  doce  enleio  palpitava  ancioso.  •  • 


Louco,  em  delírio,  quis  beijar-lbe  as  plantas, 
E  phrases  santas  lhe  fallar  a  medo ; 
Mas  ella  esquiva,  para  os  céos  voando 
Foi,  me  deixando  aen  fatal  segredo  1 


Tudo  apagoú-se !  • .  •  foi  um  meigo  sonho, 
Doce,  risonho,  que  eu  sonhei,  d'amor ; 
Era  a  neblina  que  pairava  airosa. 
Sobre  uma  rosa  que  se  abria  em  flôr» 


O.  B.  Mello. 


IRDA  BOVÍDASI 


Tu,  hontem,  virgem,  perguntaste,  tremula, 
Muito  baixinho :  —  se  te  tinha  amor ; 
Depois  coraste.  •  *  abaixaste  os  olhos. .  • 
Inda  mais  bella  tu  ficaste,  ó  fltr  t  •  •  • 


Ao  vèr-te  linda,  enrubecida  e  tremula. 

Eu  senti  logo  uma  febril  vertigem. ..   - 

E  exclamei  com  divinal  transporte : 

—  cTume  perguntas  se  te  amo,  virgem?!..*» 


J 


TBOVABOR 


139 


Pois  ta  nSo  sentes,  minha  flor  mimosa, 
Não  yês  meu  peito  palpitar  constante? 
NSo. ouves  falias  de  um  amor  ardente? 
Não  ouves  votos  a  cada  um  instante  ? 

NSo  comprehendes  meus  olhares  temos? 
Âs  minhas  phrases  a  teus  pés  cabidas  ? 
Tu  bem  conheces  que  o  que  eu  t£«go  n'alma 
£'  este  amor;  e...  inda  tu  duvidas?  !... 

Inda  duvidas  doeste  amor  tSo  puro 
Que  eu  te  dedico,  minha  joven  bella?... 
Pois  nSo  te  disse  eu,  que  o  meu  desejo 
Era  levar-te  á  divinal  capella? 


QUAL  SEMFREVITA 

Qual  sempreviva  que  se  ostenta  bella, 
Tu  és,  donzella,  d^essa  flÔr — retrato; 
Como  é  tSo  bello  o  teu  porte  altivo 
E  como  é  vivo  teu  olhar  tSo  grato  I  • . . 

Tu  és  tSo  linda  como  a  fresca  rosa 
Toda  cheirosa  por  manhS  d^âbril ; 
Ou,  qual  o  lyrio,  que  se  pende  airoso, 
Mui  perfumoso,  lá  do  seu  hastil ! 


Eu  sou  agora  o  lyrio  sossobrado ! 
Tufão  ousado  fez-me  ao  ohSo  volver ; 
Quero  ter  vida,  e  de  ti  careço, 
Ohl  desfalleço  I  Yem-me  soccorrer!... 


i40  TROVADOR 

Dá-me  o  perfome  d^essa  linda  rosa, 
O  reflcender  do  mais  mimoso  lyrío ; 
Garboso  porte  da  sempreviva  airosa, 
E,  yem,  piedosa,  tírar-me  o  delirio. 

Se  isso  fizeres^  se  me  acalentares, 
Se  me  fallares,  eu  direi: — que  tívo; 
Mas,  se  cruel,  tu  me  desprezares, 
Eu,  d;e  pezares,  para  a  tumba  sigo  I 

Qual  sempreyiva,  que  se  ostenta  bella, 
Tu  és^  donzella,  d'essa  flor  —  retrato ; 
Como  é  tSo  bello  o  teu  porte  altivo, 
E  como  é  yíyo  teu  olhar  tSo  grato !  • .  • 


F.  P.  Litboa. 


MODINHAS 


OIMFEUZ 


Musica  da  modinha —  Um  temo  wrriio 


Arara  sorte, 
Cruel  tormento. 
Sempre  devora 
Meu  pensamento. 


TROVADOR  141 

I 

£  o  peito  oppresao 
Pia  dôr  pungente, 
Soffire  08  rigores 
Que  o  fado  tente. 

Da  taça  amarga 
Sorvendo  o  fel. 
Meu  peito  sente 
NSo  ter  quartel. 

Assim,  soffrendo, 
Sempre  constante, 
Tenho  martyrios 
A  oada  instante. 

O  vicilino, 
Temo,  mimoso, 
Da  rosa  o  néctar 
Frue,  ditoso. 

O  infeliz 
A'  sorte  exposto. 
Tem  por  divisa 
Agro  desgosto! 

A  borboleta 
De  vivas  côres, 
Sobre  a  campina 
Qoza  de  'amores. 

Mas  o  meu  peito, 

Sempre  tristonho, 

Soffire  da  sorte 

Golpe  medonho!  . 

i 

A.  C.  d'OUv$ira  FerruÊndee. 


142  TfiOVADOR 


RECITATIVOS 


ESQ1IECER-TE71 


Quero  esquecer-te,  mas  debalde  tento, 
MSo  de  ferro  me  prendea  a  alma; 
Quero  esquecer-te,  mas  prefere  o  peito 
Soffrer  e  amar-te,  sem  a  dCce  oalma ! 

Oh!  eu  te  amo,  com  fervor  insano, 
E  gemo  e  choro,  porque  não  és  minha; 
Oh !  eu  te  amo,  elevei-te  um  throno 
N^este  meu  peito,  aonde  és  rainha. 

Ouve,  6  Diva: — meu  gemer  é  triste, 
E' melodia  do  sagrado  templo; 
Longe,  eu  lamento;  perto,  eu  m^estremeço; 
E  nSo  és  minha,  e  eu  nSo  te  contemplo  I 

Quero  esquecer-me  de  teu  rosto  amado, 
D'eBses  teus  olhos  divinaes,  fulgentes.  •• 
Mas  ai  I  *minh'alma  a  teus  pés  curvada. 
Chora,  coitada,  lagrimas  ardentes! 

Porque  assim  o  teu  amor  pesou-me. 
Branca  pombinha  que  suspira  á  tarde? 
Tu  qu'és  tSo  pura,  ateaste  o  incendia 
No  qual  minh'aliaa  innocente  arde ! 


TROVADOR 


1«S 


Eu  sou  qual  Ijrrio  do  hastil  t<»nbado 
Que  morto  embora,  — yê  soprar  o  sul ; 
Perdido  nauta  que  navega  a  esmo, 
Cravando  08  olhos  lá  no  oéo  azull 


Tu  és  a  briza  que  fiigueira,  á  tarde. 
Sopra  de  manso,  agitando  as  flores ; 
Serena  estrella  sob  um  céo  d'anil, 
Cheia  d'enoantos,  de  gentis  fulgores. 


Ouve,  ó  Diva : — meu  gemer  é  triste, 
E'- melodia  do  sagrado  templo; 
Longe,  eu  lamento ;  perto,  eu  m'estremeço ; 
E  nSo  és  minha,  e  eu  nSo  te  contemplo! 


JT.  £r.  da  C<39ta  Sobrinho, 


KDLHER,  AMEI-TEl 


Mulher,  amei-te  t  no  delírio  insano. 
Nunca  um  engano  nos  teus  olhos  vi.I*.« 
Amei  teus  risos  virginaes,  pensando. 
Sempre  sonhando  muito  amor  em  ti. 


Amei  teus  risos,  teu  olhar  ardente : 
Por  ti,  contente,  minha  vida  eu  déral 
Amei  as  vozes  de  teu  canto  impuro, 
Amei-te,  e  juro,  por  te  vêr  sincera. 


144  TROYABOR 

Amei  as  crenças  que  ao  romper  da  aurora 
Tinha,  e  que  agora  sSo  pVa  mim — desgostos ! 
Amei  das  auras  a  cançSo  serena, 
A  oôr  morena  de  teu  bello  rosto. 

Amei  a  relva  que  o  pésinho  breve 
Pisava  leve,  sem  dobrar  ao  menos  t 
Amei  teus  lábios,  palpitar  do  seio, 

■ 

Pensando,  cbeio  de  amorosos  threnosl 

Amei-te,  e  louco,  te  adorara  um  dia. 

Alma  que  eu  cria,  dos  affectos  santos ! 

Amei-te,  e  louco  te  cedera  est'alma, 

A  crença,  a  calma,  mesmo  até...  meus  prantos ! 

Mas  tu,  que  apenas  no  calor  das  salas 
Amas  as  falias  de  mentida  crença ; 
Oh  I  nSo  podeste  comprehender  meu  peito. 
Sublime  leito  de  paixSo  immensa ! 

Mas,  diz :  se  á  sombra  de  dourados  tectos 
Crês  nos  affectos  que  a  teus  pés  rastejam? 
Se  meigas  vozes  só  to  pedem  risos. 
Se  meigos  risos  teu  amor  desejam? 

P'ra  que  quizeste  do  mancebo  honesto, 
'Eiso  modesto  merecer  impura?! 
Para  que  os  risos  de  teus  lábios  bellos 
Tentam,  singelos,  inspirar  ternura?! 

Que  eu  seja  hoje  teu  ludibrio  —  é  justo ; 
Já  que  sem  custo  inclinei-me  a  ti ! 
E,  se  te  amando  maculei  minh'alma, 
Do  gozo  a  palma,  aonde  esti  ?  —  perdi«  — 

m  *  m 


i 


TROVADOR  145 


O  QUE  En  SOU 

Eu  soa  qaal  lyrio  que  oa  sepulcbroa  ornam 
B  ás  vezes  tomam  somnolenta  a  lua ; 
Qual  caminhante  que  cançado  pára 
Quando  depara  co'a  choupana  sua... 

Eu  soa  qual  rosa  que  yaga  á  tôa 
Lá  na  lagÕa  crystallina  e  pura, 
E  quando  esquecida  da  tyraxma  lida 
Peorde  a  vida,  a  salvação  futura. 

Qual  açucena  que  em  desertos  prados 
Jaz  sem  cuidados,  soSredora  e  só.  • . 
Assim  ^supporto  do  martjrio  as  ddres 
Sofitendo  amores.  • .  mas  ninguém  tem  dó. 


Por  isso  triste,. de  viver  cançado, 
Soa  desprezado  como  o  próprio  pó ! 
Ai !  quem  diria,  que  minh'alma  triste. 
Já  nSo  resiste.  •  •  reservada  é  só. .  • 


O  mundo  é  um  sonho  d'illus3es  douradas 
Por  nós  oreadas...  na  imaginaçlo, 
Nós,  pobres  loucos,  de  correr  cançados. 
Somos  atirados  para  a  perdiçSo  I 


D.  Comurgo. 


voi..  n.  '  •     *  10 


146  TROVADOR 


kfmník 


{Bacodia  á  Judia) 

  noite  estava  em  meio ;  a  loa.  •  •  repousava 
Em  torno  da  fazenda ;  — escoro,  como  breu  I 
Lá  dentro,  no  poleiro,  o  gallo...  nem  cantava  I 
Silencio  sepalohral  e  triste — como  ea ! 

Mas  n'isto,  de  repente,  um  cSo  da  Terra  Nova 
Latindo  com  furor,  pSe  tudo  em  confosSo ! 
Os  grillos  a  tremer,  encolhem-se  na  cova ! 
Beone-se  o  pavor  á  c  negra  »  escuridSo ! 

Oh  I  tardes  da  Pampolha  t  oh  dias  ventoroaos ! 
Noites  em  qae  sonhei !  manhSs  em  que  vivi  I 
Cartas  do  meu  amor !  suspiros  dolorosos ! 
Árvore  a  cuja  sombra. .  •  a  amar  eu  aprendi ! 

Se  acaso  meu  tutor  nSo  fosse  tão  perversOi 
E  eu  podesse  um  dia  unir-me  ao  meu  Luiz, 
Levando  quanto  ha  de  grande  no  universo, 
Vivera  na  Pampulha  alegre  é  bem  feliz ! . . . 

A  noite  estava  fria :  envolta  no  meu  chalé, 
Fui  vêr  se  resoiiava  o  preto  Serafim, 
Porém  voltei  atraz  t  na  cerca,  junto  ao  vsHe 
Um  vulto  lobriguei :  cantava,  —  e  era  assim  : 

Ouves  meu  canto,  minha  voz  plangente, 
Pomba  innocente,  divinal  mulher? 
Olha,  nSo  posso  caminhar  avante, 
Esse  tratante  d'esse  cXo.  •  •  nSo  quer  !  •  .\ 


TROVADOR  147 

Dormes  ?  pois  donne :  ficarei  relando 

E  em  ti  pensando...  oomo  penso  em  mim! 

Dorme  1  repoasa !  recupera  alenio 

Que  eu  conto  ao  vento  quanto  sinto  emfim  1 

Anjo  doB  anjos  I  resplendente  norte ! 
Em  quanto  a  morte  me  deixar  viver.  •• 
Hei-de  segoir-te  como  um  cSo  de  fila, 
Bica  pupilla. — NSo  tem  mais  que  vêr  1 

D'onde  vieste,  em  que  paiz  andaste? 

Onde  deixaste  teu  querido  pai  ? 

Ko  Porto?  em  Braga?  em  Macacu?  na  China? 

Pobre  menina!  que  tormento !  ai  1  ai ! 

Harpa  sem  corda  que  no  mundo  vagas 
lionge  das  plagas  onde  viste  a  lu2, 
Ave  sem  niáho,  suspirosa  pomba 
Sobre  quem  tomba  tSo  pesada  cru^  ! .  •  • 

Herdeira  rica  de  um  pecúlio  immenso, 
Ko  qual  eu  penso — quando  penso  em  ti. 
Foge  commigo ;  vamos  vêr  o  mundo  I 

Deixa  o  profundo  lodaçal  d'aqui  I 

• 

Porque  motivo  has-de  ficar  solteii»> 
Ta,  que  és  herdeira  da  pecúlio  tal  ? 
Casa  commigo,  divinal  donzella, 
J)eixA  •  tutella,  que  parece  mal ! 

Meu  cavaquinho!  pcnrqiie  choras  tanto? 
Canto  I  meu  canto! — vou  perdendo  a  voz  i.  •  • 
£'  praga,  é  praga,  companheiro,  vamos, 
Prestes  fujamos  doesse  cSo  feros. 


148         *  TROTADOR 

Ladra,  maldito  ladrador  do  inferno  I 
Trifiiace  eterno  acorrentado  ahi ! 
Ladra,  barreira  que  me  impede  um  goso  I 
Ladra,  tinhoao  I  que  eu  nBo  fioo  aqui. 


GANÇiO 


OPESCADOR 

Baroo  ao  mar,  ó  pescador, 
Solta  as  velas  ao  fresoor 
Da  brica  que  geme  e  chora : 
Lança  teu  baroo  ligeiro 
Sobre  este  mar  tSo  fagueiro, 
i  pesca,  sem  demora! 


Bonançoso  está  o  mar 
Para  os  segredos  guardar 
De  tuas  cançSes  de  amor ! 
  lua  no  oéo  mimosa, 
Befleetd  siléncioBa 
Sobre  ti,  ó  pescador  t 

Ji  vai  o  gentil  barquinho 
Por  sobre  as  ondas  sósinho. 
Garboso,  alegre  a  coirer; 
Mais  de  um  peito  jaz  s^itido 
De  saudade  entristecido, 
Leviuita  o  véo  do  s(^er.   ' 


i 


TROYADOR  149 


linda,  uma  yirgem  chorando 
Na  praia,  está  murmurando 
Pia  e  fervente  oraçSo  I 
E  o  amante  pescador, 
Lembra-se  n^eate  amor 
Myvterio  do  coraçSo! 

O  tSo  lindo  pescador 
Vê  na  praia  seu  amor 
Por  elle  triste  a  chorar! 
Empunha  sua  viola, 
E  pungente  barcarola 
Começa  triste  a  cantar: 

Adeus  anjo, 
Adeus  amor. 
Lembra-te  sempre 
Do  pescador; 


Que  vai  tristonho 
Em  ti  pensando 
E  seus  gemidos 
Vid-te  offertando. 


Eu  te  prometto 
Quando  voltar, 
Oh!  minha  virgem 
Mais  te  adorar ! 


Se  ouço  a  vaga 
Triste  gemer. 
Teu  lindo  nome 
Vem  me  diser! 


1(0  TROVADOR 

Se  a  briza  passa 
Dando  o  frescor, 
Por  ella  envio 
Meu  triste  amor. 

Lembra-te  sempre 
Do  pescador, 
.    Adeus,  meu  anjo, 
Meu  pobre  amor ! 


LUNDU 


MEU  CORAÇÃO  ESTÁ  VAZIO 

Meu  coraçSo  está  vasio, 
Vou  pôr  escriptOB  agora ; 
Se  m'o  quizer  alugar 
Dou  preferencia  á  senhora. 

Tem  salas,  quartos,  saletas, 
Gabinete  e  corredor; 
O  aluguer  é  barato 
Mas  exige  fiador. 

N'elle  já  tem  habitado 
Moças  todas  bonitinhas, 
Altas,  baixas,  gordas,  magras. 
Claras,  louras,  moreninhas.^ 


TROVADOR  151 


'  De  algamas  levei  calotes 
For  n'eUaa  me  haver  fiado; 
Agora  o  ajuste  é  outro: 
Um  beijinho  adiantado. 

Tem  um  formoso  jardim 
Todo  enfeitado  de  grades. 
Com  suspiros,  nSo-me-deixes, 
Amor-perfeito  e  saudades. 

Em  cada  compartimento 
EstSo  retratos  diversos 
E  no  papel  das  paredes 
Uma  enfiada  de  versos. 


Quem  'n'aUe  morar  ag<»a 
N8o  precisa  de  folhinha, 
Que  o*  nome  alli  ha-de  achar 
De  toda  e  qualquer  santinha. 

Entre,  pois,  mitiha  senhora, 
Tome  posse  da  morada, 
Que  depois  de  éstàr  lá  dentro 
NSo  se  lembra  de  mais  nada. 


^. 


152  TROVADOR  • 


RECITATIVOS 


flOs  iffimnriíiu 


Flôr  de  minhUma  perfumosa  e  linda, 
Busca  n'alyura  doesse  seio  abrigo ; 
Conta-Ihe  as  falias  que  eu  te  digo  a  sós. 
Vai,  flôr  querida,  que  eu  serei  oomtigo. 

Ah  I  nSo  consintas  que  esse  amor  de  anjo 
Seja  levado  p'lo  soprar  de  Deus..; 
Ah !  nSo  consintas,  minha  flôr,  te  peço ; 
Sim,  velai  sempre  pios  amores  ineus. 


Quando  tristonho  declinar  o  dia,      » 
Em  mim  lhe  falia,  minha  pobre  flôr ; 
Lembra-lhe  os  prantos  que  yerti  por  ella, 
Lembra-lhe  as  horas  do  saudoso  amor !  •  • . 


Pinta-lhe  o  manto  de  minh'alma  triste, 
De  côr  tSo  negra,  pela  dôr  manchado; 
Pinta-lhe  as  chammas  doesse  amor  ardente, 
Que  no  meu  peito  já  se  tem  creado. 

Beija-lhe  a  fironte  divinal  e  santa. 
Como  se  eu  fôra,  dá^lhe  amor  também ; 
Di-lhe  teus  cantos,  bafeja-lhe  a  vida, 
Di-lhe  o  perfume  que  o  teu  seio  tem. 


TROVADOR  153 


Porém  86  om  dia,  minha  flor,  tu  yires 
Que  a  lyra  esquece  do  seu  bom  cantor,  * 
Võa  aos  braços  de  minli'alma  triste. 
Entoando  um  hyn^no  ao  infeliz  amor  t.  •  • 


O.  8.  Mello. 


HOITTEM  NO  BAILE 
*  Foeda  do  dr.  J.  Tito  Nabnco  d'Araujo,  e  mosioa  de  B.  £.  Graça  Bastos 

0 

Hontem  no  baile*,  do  teu  seio  lindo. 
Meiga  e  sorrindo,  me  offertaste  a  flôr ; 
Beijei^a  tremulo,  e  meu  sêr  captivo, 
Do  porte  altivo,  suspirou  de  amor. 

Tema  me  olhaste,  e  nos  teus  olhos  bellos, 
Qaantos  anhelos,  quantos  sonhos  li ! 
Lagrima  triste  deslisou  no  rosto. 
Fundo  desgosto  por  te  amar  senti. 

  flôr  querida,  coneheguei  ao  peito, 
E  o  amor-perfeito  emmurcheceu  de  dôr; 
Lá,  no  teu  ooUo,  era  lindo,  amado. 
Aqui  nevada,  desfolhou  no  alvor. 

Então  aos  olhos,  de  soffirer  batidos 
Sempre  abatidos,  a  verdade  veio. 
Quadro  de  sombras,  infernal,  horrível, 
O  impossível,  a  se  erguer  permeio. 


154  TROYADOR 

A  luz  dn  vida  me  roabamm  rindo, 
Vivo  oarpmdo,  meu  amor  proscrípto, 
Foge,  nSo  yenhaa,  eu  só  tenho  dôrea, 
E'  8Ó  de  horroroB,  o  meu  &do  escripto, 

Ergae  tens  olhos  para  a  luz  da  aurora, 
Ella  desflora  do  oriente  o  véo, 
Da  prinftiYera  nSo  desfolha  as  flores, 
Os  teus  amores  devem  ser  p'ra  o  céo. 


CANÇÃO 


INDA  DIZEST 


Resposta  i  caaçio — Jlliiifta  m&i 

Inda  dizes,  ó  lambida, 
Que  um  poeta  te  tirou, 
E,  inda  mui  derretida, 
Que  açucena  te  chamou? ! 
Que  te  disse  certa  cousa?  1.. 
Âh!  nSo  sei  como  ji  estou**. 

■ 

E  pedes  p'ra  ao  baile  eu  ir, 
Hein,  senhora  descarada?! 
Âs  pastas  que  vossê  quer 
E'  a  cabeça  rapada. 


TPOTADOR 


1«5 


Tu  já  contas  treze  annoa? ! 
Jesus  I  que  cara  estanhada !  •  •  • 

Que  tal  acham  a  minha  cuja? 
KSo  quer  ser  mais  yáyásinha !  •  • 
Pois,  d'ora  avante  mui  suja, 
Andará  lá  na  oossinha, 
Socará  milho  p'ra  pintos, 
Verá  o  ovo  da  gallinha. 


Se  bordas,  marcas,  espantas 
A  gente,  e  sabes  pular, 
Inda  faltam  cousas  tantas 
Que  convém  eu  te  ensinar : 
Irea  lavar  tua  roupa, 
t^egar  no  ferro,  engomar. 

A  tal  folha  do  coqueiro 
Ao  cahir  da  viraçSo, 
T'a  darei  c'um  marmeleiro 
Té  te  vêr  fazer  vergSo ! 
E  teu  primo  nSo  mais  entra 
Em  casa,  nSo  quero,  nSo ! 


F.  P.  Lisboa. 


t56 


TROVÂDQR 


LUNDU 


A  HOREHIMHA  0'AQUI 


(RB8F08TA  I  KITLATINHA  DE  ci) 


MoBÍca  do  Itmdú — Do  BrcaU  a  mulaUnha 


Tem  no  rosto — ineoi^primivel 
Bellezá,  como  nSo  yi; 
Tem  um  gesto  mui  —  semivel 
A  moreninha  d* aqui/ 

Mais  clara  que  o  chocokOe, 
Menos  bella  do  que  hoori ; 
Mas  tem  valor  de  quilate 
A  moreninha  d^aqui! 

Nem  vatapá  da  Bahia, 
Nem  o  doce  abacachy 
Vencerão  em  primazia 
A  moreninha  d*  aqui  ! 

E'  qual  melado  em  doçura.  •  • 
Outra  igual  inda  nSo  vi ; 
Tem  no  seu  todo  a  primura 
A  moreninha  d' aqui! 

Requebra  e  fica  engradada 
Quando  avista  o  seu  dandy; 
Toma  a  gente  eclipsada 
A  moreninha  d' aqui  ! 


TAOVADOR  167 

Se  os  olhos  revira  ella 
Praguejando,  nos  diz  —  ih!... 
Corando  após,  se  faz  bella 
A  moreninha  d'(iqui  ! 

Corvando-se  com  tal  derriço, 
No  requebro  ella  sorri; 
E  c'iim  olhar  £az  feitiço 
A  moreninha  d^aqui  l 

Se  fedlardes  em  folia 
Vel-a-heis  pulando  ahi... 
Sempre  com  dôoe  alegria 
A  moreninha  d' aqui  I 

é 

NSo  ha  outra  oomo  ella, 
Nem  aqoi,  nem  acolá. . . 
Que  cause  prazer  ao  veJra 
Sorrindo-se: — ahl  áht  ahl  ahl 

A.  C.  dê  Oliveira  Fernandes. 


MODINHA 


PASSEANDO  NA  FLORESTA 

Passeando  na  floresta 

Pela  sesta, 
Deparei  com  lindo  anjo ! 
Tem  nos  olhos  formosiira, 

Tem  candura 
No  seu  rosto,  que  é  d^ArchanjoI 


158  TROTÁDOR 

A  contemplar  o  tal  rosto, 
Eu  com  gosto 

Mil  veses  me  extasiei ! .  •  • 

E'  do  céo  anjo  cabido, 
E  erguido 

Cá  na  terra,  a  nos  dar  lei  t 

Oh !  quem  me  dera  viver, 

Sempre  ser 
A  tal  anjo  obediente ! 
Minha  vida  era  de  rosaa 

Perfomosas, 
Meu  viver  bem  florescente  I  •  • 

Eia,  pois — ouve-me,  6  anjo, 

O  Archanjo, 
Minha  homilde  narraçio : 
Se  és  anjo  do  En^pyreo, 

Casto  lyrio, 
De  ti  — qaero  protecçSo. 


ra  •• 


F.  P.  LUboa. 


PIM  DO  VOLUME  II 


Pag, 

Acaba  de  astassinar-me ....  23 

Acdta,  6  Titteinda 14 

^  Adeua,  Annia 75 

'  Adorei  uma  alma  impara ...  37 

A  gentil  Gasolina 62 

Agora 89 

AmdoB  de  nhâ*Chiq«dnha. .  11 

A  nora  qae  te  n&o  vejo 76 

A  minha  irmã 24 

A  moça  aolteira 130 

.  Amor  e  crença 41 

Amor  e  medo 79 

A  moreninha 81 

A  moreninha  d*aqui 156 

Amor  me  viu,  nab  fez  caso.  59 

Anjo  de  amor 78 

AuOB  heroee  de  Biachuelo. ...  40 

A  pnpilla. 146 

A  quebra  dos  bancos • .  97 

Arvoredo,  ta  já  viste 21 

Ab  beatas 91 

Attende,  ó  virgem *  106 

Avelina 31 

A  virgem  morena 17 

Com  as  lagrimas  nos  olhos . .  8 

Como  é  puro  o  doce  orvalho.  85 

Comoésbella ,   77 

Como  eu  te  amo '   49 

Conselhos  ás  moças 65 

Cré  e  ama  como  eu 35 

]>e  amor  lições  proveitosas.  53 

Depois  qae  te  dei  minh^alma  104 


Desejo  a  vida  acabar 103 

Despedida 38 

De  teu  rosto  um  gesto  béllo.  124 

De  ti  bem  longe 6 

gonzella 18 

curta  a  vida 48 

Era  outr*ora  a  minha  vida. .  84 

Escuta 96 

Escutai 112 

£squecer-te  ? ! 142 

Eu  amava  ternamente 46 

EuUna 126 

Eu  quizera  ser  eterno 86 

Flor  de  minh*alma 152 

Florinha  branca 54 

Foste  falsa  hontom  á  noite. .  111 

Grato  mysterio 28 

Hontem  no  baile 153 

Inda  dizes? 154 

Inda  duvidas? 138 

Já  n&o  posso  viver  mais  no 

mundo 110 

Já  perdi  toda  a  alegria  ....  55 

Lá  nos  palmares 136 

Mâi  Benta 74 

Mal  te  vi 45 

Meia  noite,  hora  terrível. ...  24 

Meu  coração  está  vazio 150 

Meu  destino  é  immudavel. . .  36 

Meus  gemidos  solto  em  v&o.  102 

Minham&i! 113 

Mulher,  amei-te ! 143 


iGO 


INDIGB 


Nfto  mo  ouves  soBpirar  ? . ...  44 

N&o  sei,  maB  sei 2Õ 

Não  te  esqueças,  Maxilia,  de 

mim 101 

N&o  te  lamento 105 

Não  tenho  tanta  ventura  ...  52 

Nfto  te  posso  amar 115 

No  verdor  dos  teus  annos. . .  29 

O  anjo  da  pátria 64 

O  bardo 70 

O  cafuné 118 

O  destino 7 

O  espectro 16 

Oiníeliz 140 

O  meu  passado  e  o  meu  pre- 
sente    46 

O  mundo  é  vãq 33 

O  nariz  de  yáyásinha 98 

O  pescador 148 

O  que  eu  sou 145 

Os  olhos  de  yáyázinha  . .  ^  .  20 

O  sonmo 133 

Qs  teus  olhos  anilados 39 

O  Telles  carapinteiro 108 

O  testamento 19 

Pai  Jo&o 26 

Paixões  que  ^u  extingui 39 

Passeando  na  floresta 157 

Pelo  cimo  d'aquella  alta  ser- 
ra    119 

Penso  em  ti 88 

Perdão 10 

Perdão! 121 


Pag. 

Perdeu-se  a  chave ! 128 

Peregrina  imagem 125 

Porque,  ó  morte  cruel 92 

Primeira  nota 55 

Qual  sempreviva 139 

Quando  as  glorias  que  go- 
zei    103 

Quando  eu  era  pequenino. . .  42 

Quando  eu  morrer 22 

Quando  tudo  me  abandona.  5 

Que  vale  a  vida  ? 72 

Quiquita 82 

Recordações  do  passado ....  132 

Bôxa  saudade 13 

S&o  pedaços  de  minh'alma. .  38 

Sentado  sobre  uma  pedra ...  67 

Sobre  as  aguas  do  mar 116 

Solidão 60 

Solta  um  c  ai  *  meu  ooraçfto.  59 

Sonhos  fagueiros 68 

Tenho  um  bicho  cá  por  den- 
tro   73 

Tenho  sorriso  nos  lábios. ...  30 

Trovador  (3.»  defesa) 93 

Ultima  nota 56 

Uma  ingrata,  uma  inconstan- 
te   95 

Um  temo  sorriso 87 

Uns  olhos  que  vi 57 

Uns  olhos  t&o  matadores ! . .  123 
Vai,  suspiro,  chega  aos  la- 
res    76 

Visão 187 


LlVRJftllA  POPULAR  DK  CMVZ  COUTINHO 


Duas  mulheres,  romanco  do  A. 
Belot. 

JuLio  DíKiz  —  Os  íidiilf^ofí  da  cnsi 
mouriáca.  2  v.  —  A  ino^-c^/uUnhí» 
dos  Cannaviaíííí,  clironic.i  d;i  al- 
deã. 2  V.  —  Ah  ]->u;)ill!M  do  snr. 
Keitor. — Uma  familin  inu*'-'''n. 

—  O»  POvOlIos  da  tia  riiilojnolM 
e  o  espolio  do  snr.  Cypri:!!)»), 
com  o  ri't:-ato  do  autlinr.  —  A-i 
Epprohf»TH'"o.-í  (V*.  uma  miii  o  uma 
flor  d 'entre  o  ;r'^lo.  —  Pof^JK. 

MvsTKRios  DO  Alcazar,  por  Santo<4 
Leal . 

Teixkira  e  SorsA — Tard«^s  de  um 
pintor,  ou  aH  lutri^rns  de  um  je- 
fluita.  .'>  V.  — ^ÍMii;».  ou  a  me:^i')a 
roubada.  —  A  Provideufl/i.  5  v. 
— Ah  fat*ílidndí'íí  d"  dou< Jovfim. 
4  V. — O  lilho  do  ji^-iondor.  1  v. 

A  iifr)F.PKNni:xrí.\  do  1»kvzii..  poe- 
ma em  12  cautos.  :)  v.  — Os  ti-^s 
dia 3  de  um  noivado.  po<^vn:i. 

F.  X.  PR  Novaes — Mnnta  d'^  re- 
talhos. 1  V.  em  pro-;.'i  ev''v-;o.  -- 
CartMsdeum  roíM-iro.  — í*t)''si.iH. 

—  Nov:i»po(»-*ins.  —  Poc-^Íms  no^- 
thumas,  com  rotrnfo.  --0  fntu- 
TO  um  ffrnndí*  e  ír!'o-<^o  v.  com 
romanc^H,  poímíms,  mM^icns  í> es- 
tampas.—  Sccnas  da  Fo/^. come- 
dia. 

O   AMNRL  PRETO,  hi?itoria   de  uma 

infeliz.  2  v. 
Dr.    IVvRROSA  KonRiorF.3  —  (''ontofl 

nocturnoí*. — O  livro  de  Orliua, 

pa trinas  intimna. 

Pr.BXAVPKS   DA   TíofTTA AuiTUsfO    C 

Olvmnia,  2."^  edicao  Mi-.L^inenta- 
da.  -  Tftbella,  romnuc<\  -  ('<>.]- 
fifíiòes  do  uma  froira.  —  O  r  >;i)e- 
ctro  de  Helona  em  ^^onlmsnolio- 
mícida. — afaria  da  Concflerio, 
a  vi c  ti  ma  do  d ^^scmbargador  Pon- 
toa Vcsprueiro. 

VrEiHA  DE  Castro  —  Diâcurf»03  par- 
lamoTitarert. — Uma  pa«rii\a  da 
unireraidade.  — A  republica.  — 
Bioí2:i*a"bia  de  Camillo  C  Bran- 
co. —  Procef<<to  de  Vieira  de  Cas- 
tro, com  2  ret^*ato=*. 

TiNvrDRo  —  O  libcUo  do  povo,  3.^ 
cdiçTio. 

Casimiro  dk  Abreu  —  Primaveras, 


I 


nova  edioao  aufrmentada  com 
poo^iag,  biographia  c  retrato  do 
antlior. 

(\\RT.n^,  romance  do  dr.  Adolpbo 
11.  da  Silva. 

Ji.sn  dt:  Alkncvu  —  A  expiação, 
comodia.  —  As  a/ns  de  um  aujo, 
comedia.  — U..ia  tlwt^^'  constitu- 
cio!';il. — Di^^cur.sos.  1  V. — Ao 
correr  da  ])f'ir.i;i. 

ZAT.rvu  Cop.tus  dn  roí;a.  2  v. — 
P<»v.l'n''"'>''S,  pn"sl;is.—  Pei ef^ri- 
n"«:n)  p  »la  pro\i;!(la  de  S.  Pau- 
lo. -   -  l)n;-es  (í  tlií.on,  ]i()esi:is.  — • 

Sírios  illii^*^r<M:  l>io^rai)hia  do 
('■r.istovào  Colombo. 

O  í.ivRO  DO  dcmocuata,  por  Aj'CC- 
s^Imo. 

Er<;rN-io  Sn: — Matliild^^,  mcmo- 
rins  de  uma  jovími.  «^  v. — Os 
IIImo-;  do  ípnor.  2  v. — O  aven- 
tnrí-i''o.  o  v. —  Afrir^iin,  o  ens"^^!- 
trdo.  T)  V.  —  O  T*;:('.h:i  d»' J:mina. 
1  V.  —  r)'»'"tli'i  uePioiicrinel.2  V. 
--A  i»r"ditv;"io.  4  V.  —  ííorculeíí 

•  Ví'i. '••!.'.  12  V. — O  in:i"qiu'z  de 
S.»rvlj"*.  2  V.  — A  f;nniri.'i  .Touf- 
fiv.v.  r»  V.  —  A  vi"-!;!  d^  Kont- 
ven.  1  V.  At:r'-Í»''il.  1  v.--^Tifl3 
M;irv.  *»  v.  -  O  Joio  CMvalleiro. 
4  V.  -  -l'h"Te/'i  ]);nioitM*.2  v. — 
A  ft:d:>'n:MidrM.  ?i  \ .  -  -A  I>>i'ma- 
I)ieii:i.  — f>s  í5»'f(»  pi'ee."dos  n^or- 
t.i'M.  12  v.  -  Tln-it  o  dn  vida 
hiniiíiiia.  5  v.  —  O-t  iVi^io-^-fami- 
lii.  .•>  V.--0  co»'>!iii'iKl-idoT  de 
i\^iUa.  2  V. — ()  .Ttitl-Mi  Krvívnte. 
]í)  v. — O-t  mv^t.^iio4  dl'  Paris. 
10  V.--0  se^'-'-('d.)  d<>  f";'ave<?S'n- 
ro.  A  V. — O  vatici-.no.  2  v. — 
O  abnlrnuf.^  T/'vacii'M'.  1  v.-  — 
Os  my.^fono:s  do  povo.  9  v.  com 
est. 

Es^riRÓs  —  Processo  do  primeiro 
martyr  da  libfM-dndf  brazileira 
J.  J.  da  Silva  Xavier,  por  an- 
tonomásia o  Tirn-f-hv.f^a.  1  v. 

Leo  Juntou  —  A.s  mulheres  perdi- 
das, tynos  coTifemporareos.  3  V. 
—  Os  libertinos  e  tartufos.  — As 
precioj^y  ci'^"'»'"<vs  e  rs  irterca- 
dov-is  íli  ;<''■;(.•. —  A  Qvv.'.  do 
fofo.  —  O  Iv/io  do  sopulciíro. — 
Luiza^  a  resuscit-vla. 


LIVilAPilA  l*OPL'LAU  m  CilliZ  COUTINIJO 


RUA  DF,  S.  JOSÍ:,  7.')  -  \\U)  \.\:.  ,lAXEH;,i! 


iniii:r*rcs.  —  A   fa  iillia  (L»-;  jv>r-  ^       j«co-»,     o:'tro    (.4í«;.í:     ^olh'•.•l^':':, 

^i'!<.  2  V. —  (ír^  draiii,'s  dí)  in;iv.  V'iiir^'li.  d<niii:i(»,  ^rainào.  d-r  ':»s, 

-  \.       O  C"tVo  de  jjiaia. — D.?  i       x:'di>'/..  ••íc. 

Tavi.!  a  ('-1.117..  ti  V.-     i)i'  Cadi/  b\  (''jí)I"..í  —O  C'»i>-irio  v  tí.i-.-Ii];.». 

a.  '!';.!■■_■'".•.  t>  V.     -A  d\Mia  da,-5  .*)  v. --(>  c-í.ii  u>  d'>  cm:  m  i-c-..- 

I)<'i""".;í^.  .')  V.   —A  iii;l')  ( o»  :':.■•:-  '       t"0.   -1  v.   -í.)  cirra-i*"*.  :^   v.-- 

do.  -     U  chihU»  dl!    ^•llIlr''-^ :ii'Ím-  ()-;   \>\)í'-í  do  mar.  *j  v.     -O   'iv- 

tC).   \  \.-     As  daa^  l'i.,'ia^.'.)  v.  '       didor  d-'.  í '.rrciíin.  4  v.  —  (í  •>:- 

-  A  t.''>',-4i',".,'i  ria.  .'»  V.  Uscorn-  Idío.  -í-  v.-  -O  d'_»rradt';-;o  Moiâ- 
;>;!.ili''MMs  d  '  .(aii'1.  li  V.  —  O  ca-  cino.  1  \'.--<U  p:'.:''t'nos  -In. 
\í  l'it''u-i»  d)  ií  riMUM'í.;i.  i>  V.   —  Aia.-.-ic'.   1  v. 

A  ca  ^•'  'i  '  '_"'•!. ).  .*)  V.    —  A-cajiio  :'ii:,.::Ar-  -A  í.-iticdra  ii  ",  .M.  1   v. 

ou  :i    (! 'lii'  dt'  Fi'a:K"*.-,C't  1.   -l-  v.  Aijtk"'»     í'T,\^^^t•l:I•  —  iS*    ;ii't.h--=^ 

-  ['-.ia   í"aii\ii'a,  cn.-rA.    —  AíMÍ-  (W.  ^V''t;  "a;in.    5   v.  —  ^'    r<.'i    ui-. 
iiiia   >iarj'i.-iiia.  ,')  v.-    (?-;<(iia-  i        íiaiia.  '2  v.  cuiii  cst.a'.i:-' .s. 
r»ai'-i   •'   (.•:"..■<>.   .")   v.  — A   daaia  Smmint-    l*icci<»la.  1  v. 

d<'   Moii.>''r»    11.  »i  V.-   -r.'1'dna.  ^K   Jíin.NCA  i»..  Cakvai.iio-  — (.)   pro- 

iJ  V.        l'.'r:i:j:da.  '2  v.    -  iM  '.ar-  <;t»  da  f'd'oid:ido.  1  v. 

do  III.  2  V.  -    A  li  !i.:  d  )  T-'-LLcaí.i.  ■  Jj\':o\'i..\\r.-  -O  ívirtido  libci";:!.  ^o-u 

4.  V.  —Historia    dcs   Suiaias,  2  jiri-L:i';i'a.ina  c  futuro.  —  J^.arisii;i 

V.-     Coiaic^-a    do   ^.  li,;')iirv.   2  Aiiicrica.  -  -  <_>  }U"i:icIpo    Cao    do 

V. —  (*"'ciil;i  ou  o  V":-' '-lo  dt' n-ii-  AiTiia. 

vaiio.   ','   V.   --<)  c:  «Iiao    i'au".o.  ]'rií::i'iv    u::    A/.ra  \iía -- AvrL^clin.i 

il   V.-     Aiaan"y.    '•'>  v.     -Cr.tlia-  oa  d')u^  rv^^^sos  i-mí-:"'^;.  -  -  (.'oiuci- 

vina    I5!u;n.    2  v.        A^   i^iMicuá  (lv'i'ci;i-<  fatin-s.  voinanoc. 

dl'   Macliocoul.   '1    V.-  -A  tulipa  A    ('■tM'i<^v    t>v:    MoN.K-l^rursTo, 

ii»-_--a.   .••  V.  —  Sylvauilira.  2  v,  i       ])or  J  )u  líoys. 

-  -<).-,  cri.iii.D  c -l"!;!-"',?.  ■)  y.—-  .T.  <  >-''.i!o -- \'ida  o  f<'it'j^  dc  el-r-^i 
]>i'ii.7  d\^  t^-'.  2  V.   -A  ru-na  do  ]>.  ^|;^l(l(l.  .'>  v. 

i-jiVr.:().  -O  ca\a]iu'iro  da  v.i-  Vi'a:.\:i-.  l'.  lu:  (\\í-ru,) — '^  lio- 
HU  \  i'rni''l]ia.  -  -.' "oi.';».  1  v. —  ,  luM-:  d'  ^:  ruU-^.  f^-u  o- -^jàrimoii- 
Apmitai  uMif'>á  d.'  .AiUiiUV.  l  Y.  i'0^  da  c-c/a.vidào.  2  v.  —  Myíí- 
— -O  l)a>t'ii'do  Mauiccjii.  1  v.  —  tíMào.s  da  mça-.  -1  V. — Mi:?ori:ifl 
(«'a'.)-iid  La-:d)rrt.  1  v.  -Vm  '  da  aclualidado.  -1  v. 
i:.orto  a  co'^tar  sua  hi-^to.-ia.  1  TaroruiLO  ii'i\(i  v — -Visão  út>à  toiu- 
V.  —  J-í'!)'!  dl'  l»i\"i<'ra.  o  v. ---  j^d-í. -— 'rtMi"ine--tn.do..-j  aor.or.-is. — 
Jor.inia  do  X.-nn/nH.  l  v. — A  On-uua  do  lasro.  — To-.-iaintos, 
inar('Ui'/a  diM>  •iuvilli<TS,  —  PaM-  I  pne.si-i-;.  -  -  J-^-^ih.-i^  v-.-al^í^,  [M>o- 
eal  Druuo.  1  v.-  A  pouiba.  1  i  sia-^.  -  ■'"iorv'-3Ía  do  roin;:r.c.'"'b, — 
V.-  -Or.  tr*'S  i]"io- iU"Nàros.  4  v.  Canto.-^  po^pularosdo  !i"c"hí'pol:igo 
--  A'iuto  auuos  d,'p(  is.  5  v, —  ,  fi(^'oriaTio.  —  Caucionoiro  c  ro- 
Viscondc  d'!  liraLciouiio.    10  v.  maucciro  peral  portii^uez.  1  v. 

-  (>  lilho  do  Marat.  5  v.  — lutroduccào  á  historia  da  lit- 
Vn.oK  ou  o  mcniu.o  da  ««dva.  ;  tcratura  portuí^ueza.  1  v.  — Mia- 
OjavKiRA  —  JoMi    K^t"T;io,    csboí;n  I       toria  doB  quinhentistas.   3  v. — 

bio^i-a])lnco,  coui  o  retraio.  Iliritoria    do    thontro   portu^rne;: 

Araiuiu  —  Diccionario  dos  joíTOH.  1  ,       no  século  xvr.    1   v.  —  liia:oi"ia 


j 


i 


LIVRAIIIA  ['OPULAll  bí  i:ill'Z  COIIJXIJÔ 


KIIA  DH  S.  J;tóK,  7.')  -  ll!t)  !-ií  JANKliií} 


Ai^TON^ir:  I)i'.Mvs  — -A  crnorra  dvis 
in';lh  •••('.-5.  -A  i/ii  iii;:  Jos  Dor- 
tri.!^.  *J  V.-  <  >.-  d  •;iin:i.^  do  iivtv. 
:2  V.  — <>  i'<.t':\í  de  p.aíii.  ~  L>tí 
^.•l:■i^  a  (  'idi.'..  h  V.—  1/0  Ciidi/ 
a  Tai';:**".'.  »>  v.  —  A  da  aia  ila.s 
;)(N-c'.ar^.  M  V.  -  A  nià'>  di>  l'.;  a- 
dn.  -()  cíhdii  di'  M'»aie-(  ■^a•i^- 
to.  1  V.  /v  ^  da;.-^  IKaíir-s.'.)  V. 
-  -  A  ctr.Hi^.ici.cia.  •)  V.  ( )s  C'>m- 
ii;!!'.'!»  i'-()i  d  '  ,1  ''ia.  "J  V.  —O  ca- 
\ar'-'ii'(i  u.)  I  i  iniu".  tal.  2  v. — 
A  L':i-^a  d  '  LI''  l">.  '<>  V.  —  A^c*:  ;d<) 
uu  a  r.r-.r  ii>-  l''r;ií;c"  ;L"<»  i.  4  V. 
1'm  a    í';:  n-Ta   civ-':! . --- A  laii- 


p.a;;    N-ii-^-   •  «ti .   :)   v 
r'-:;'a   o   ri.   -o.    õ    v. 


d"  Mun'ia-\''a,  »>  v.  -  -l'aa'i.i;i. 
li  V.  -  I'.Ti;:iiid  i.  2  V.  -J'M'iar- 
do  iir.  "J  V.  -  A  li  h.!  li)  V"L;t'iiti"í. 
'1.  V.     -Ili.turia    dus   Siu.rtí^.  *J 

V.—     ('(Hair^-í-L     do     '^:.lÍ.,'jIll'V.    2 

V.  —  (\'(.*iiia  ou  o  \a':^;idu  diMi-i- 
v;ido.  l!  V.  -n  c;.  )iíao  r.'ia'o. 
'J  V.  — -  A-inaurv.  •>  v.  -  -Catlia- 
viua  iMuni,  "2  v.  -A.-)  i.T'uh';\3 
áy\  ."\í:',''i--coul.  1  V.— -A  tn.l:[ia 
lii-Lfra.   .*»  V,  — í^v.v.-nndra.   li  v. 

—  -O-^  ci-i.MH  o.i'l -br»'.-^.  .'>  V. — 
J)'*;iH  d".-;»^'.  'J  V.  -  A  lur;ta  do 
ii:i"tM-ao.  -(í  cavalo.'i-'o  da  oa- 
i-.a  ^■  ■.■iiicrii.i.  -/,]':)"..  :i.  L  V.  -- 
Aon!;t:ii'i'Mir'>á  d  '  .\ii(.'ii:v.  1  v. 
--()  })ad;i.-(ii)  ^!aiil''0;i.  4  v. — 
ííah'-i(d  Lioidjvrt.  1  v.  —  Um 
n.(;rlij  a  cordar  -aia  lii-toria.  1 
V. — Js^.l) '.l  d"'  l).'! viera,  o  v. — 
Joauua  do  Xani/,c.-.  1  v.  —  A 
niar(|ii''/.:i  ilc  !>  -iiivillifax.  -  1'aH- 
cal  ruaiiio.  1  V.-  A  poaiba.  1 
Y. -—()-;  trt'S  ino-oK"t''irOf?,  4  v. 

—  A'iuto  M'nn)-i  df'|tnis.  o  V, — 
Vi-^iMindo  do  J 'ra^íoloniio.    10   V. 

—  O  íillio  áv  Mar;if.  õ  v. 
Vn-iuR  ou  o  Tíoaiiuo  da  Sidva. 
OjaviaiiA  —  J(>>(]    I^^it-Tno,    <'sbo(;o 

bio£:ra.ohico,  com  o  retrato. 
Ajuiuur  —  Diccionario  doH  ioiroa.  1 


l^r.w.^o  V.    C'>!lt'"ildo  urii:-,  dií  li    ■ 
j-;J'i,-;.     oufi'     clitN:     V<dt  U'  "l»  . 
V.  ni-tli,  ^'»  iadii<'t,  ^i'^iMo,  d   i"  •;".■?, 
\"-.«i  'V.:.  <-ti',. 

l'\  ( '-  .lia  i:       O  ('Or.-u^-io   v< y.  v». 

n  V.  —O  e-;,ri;LO  do  Cimuo  i^:',.- 
t-.'0.  1  V.-  -O  cr.!-:-n.-oo.  li  v.  — 
( >,-í  U'^n'i  do  mar.  li  v.  -  -  O  t  v- 
dMor  do  tí^.vrcuo-.  4  V.--0  i>i- 
lo!o.  4  V.  -  O  d?rr;í(l.'i:-o  i.ioi  j- 
(M^a).  1  v.--^M  -aur":  rio-;  ,.- 
.■\iMr.'i,ta.   !  V. 

:»a).a.\L-  A  fatie,  ira  :;'"»'.a"a.   1  v. 

.rVi.'-:  ura  l.a.  \N-^':"a'  -- «.^  ?  ;.  r  ./f.s 
ui>  A^-*:i  :  lav.  5  v.--0  v.  i  /,.«. 
ít\lia.  J,  V.  e.oiu  o-tarir-a-í. 

'^\iMiNr,    -i'lec'i^la.  1  v. 

I.>.  loiVNCA  :r,:  Cakvaluj  —  O  pro- 
ro  d'i  í'.']u'id;al»j.   1   V. 

l.Ar.orr, \vi;  -O  piirtido  liboral.  -x /.u 
p,-o<j;i'aituiia  o  íiiiuro.  —  J^•lrihllu 
A-ai^riea.  —  O  nri:u'ipo  (ato  do 
A^^iia. 

Piar.  i;iA  m:  A:um\UA  —  Ar.crrdina 
ou  dou-i  r.e'i-«)^  loii.a'.-?.  —  Coiíici- 
dfaaaf-  •'.-.taí.M.  ron.ai.ce. 

]M)r  iHi  i)0>.<. 
J.  ( ^-i'iao  -  -  Vid.i  O  foito^  do  ol-roi 
D.  A-aaOfd.  :;  V. 

Vl"-Nli:     r.     mi:     (•ASIKO O.-i       ]^j- 

'::  ^L )  il.  r;:  ...au^  r.u  O-,  ríohriír.t"»!!- 
to.'j  da  o.-c/a  vidão.  -  v.--^jyíí- 
fario.i  da  roça.  4-  v.  —  Mi^orijXR 
da  actualidade.  4:  v. 
TiiKoiauLO  linAo  V -  — Vif^au  dos  t«Mn- 
1)04.  — Tom'-veritad'\=\  sovor-i».  — 
Oudiíia  do  líiíro.  —  Torro:it«'í?, 
r>0(í^i'"-i.  --Foraí.-i  YO'.'d-.M.  poc- 
i;i;i  ^.  -  '-^loro^*::!  do  rOTnr:]c*,o-=^.  — 
( 'auto.-i  'oopularos  do  archÍMolr?  nr^ 
{i(,'ori;iuo,  --  Cancioneiro  c  fo- 
maucciro  crcnl  "[>ortuguí>z.  1  v. 
—  lutrofbicialo  á  bi^toria  d"\  lit- 
t^ratura  portiisraeza.  1  v.  —  Ilis- 
t.()riíi  doH  rpiiuhcntistas.  3  v.  — 
líi-^toria  do  thcatro  portii£^ni»7 
no  socLilo  XVI.    1  V.  —  íliatoria 


J 


LIVRARIA  POPULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


KUÀ  DE  S.  SOS&,  75  —  KIO  DE  JAHEIBO 


Almeida  G-árbbtt  —  Portagal  na 
balança  da  Europa. — O  retra- 
to de  VenuB. — DiscarsoB  par- 
lamentares. 1  y. —  Helena.  1  y. 

COHSSLHEIBO     Ba.8T08  —  ColleOÇflO 

de  pensamentos,  máximas  e  pro- 
yen>ios.  2  y.  — O  medico  do  de- 
serto.—  A  yirgem  da  Polónia. 

—  Dous  artistas,  oa  Albano  e 
Virgínia. — Meditações  ou  dis- 
cursos religiosos.  1  y. 

Castilho  —  Noites  do  oastello.  os 
eiumes  do  bardo. —  Quadros  his- 
toiioes  de  Portugal.  1  y.  com 
estampas. — Tratado  de  metri- 
ficação portuguesa.  — O  outono, 
coUeoçto  de  poesias. — Cartas 
de  £<mo  e  Narciso.  —  Tratado 
de  mnemónica.  —  A  primayera. 

—  Escavações  poéticas.  —  As 
G^rgicas  de  Virgílio,  trad.  — 
O  avarento,  trad.  —  O  medico  á 
força.  —  Tartufo.  —  As  meta- 
morphoses  de  Ovidio.  1  y. — 
Amor  e  melancolia.  —  Camões. 
3  y. — As  sabichonas,  trad. — 
Methodo  português  Castilho. — 
Os  amores  de  Ovidio,  trad. — A 
Wra  de  Anachreonte,  trad.  — O 
Fausto,  trad.  —  O  Misanthropo. 

B.  ObtiqIo — Em  Paris.  —  Histo- 
rias côr  de  rosa.  —  Mjsterios  da 
estrada  de  Cintra.  —  As  Farpas, 
oollecç&o  completa.  —  Hygiene 
da  alma,  trad. 

PaDBB    TmBODORO    D'ALlfBIDA — O 

felis  independente  do  mundo  e 

da  fortuna.  2  y.  com  estampas. 

— Beoreaç&ophilosophica.  10  y. 

— Cartas  physico-mathematícas. 

8y.  . 

Padbb  Ahtovio  Vieira  —  Obras. 
*   27  y .  sendo :  Sermões.  —  Cartas. 

—  Historia  do  futuro.  — Arte  de 
furtar .  —  Obras  varias. — Obras 
inéditas  e  a  vida  do  padre  An- 
tónio Vieira. 

Padre  JosA  A.  de  Macedo  —  Mo- 


tim litterario.  1  v.  —  A  besta 
esfolada.  1  y.  — Cartas.  4  v.— 

0  desengano,  periódico  politico, 
e  moral.  — O  espectador  porte- 
guez.  4  v.  — Os  burros,  poema. 
— Oriente,  poema.  — A  medita- 
ção, poema.  — A  natureaa,  poe- 
ma. —  A  viagem   extática  ao 
templo  da  Sabedoria,  poema.  — 
Newton^  poema.  —  A  verdade, 
ou    pensamentos    philosophioofl 
sobre  os  objectos  mais  importan- 
tes á  religião,  e  ao  estado.  1  v. 
— Censura  dos  Lusíadas.  3  v. 
— O  segredo  revelado  ou  mani- 
festaj^  do  svstema  dos  pedrei- 
ros livres  e  (iluminados,  e  soa 
influencia    na   fatal   revcdução 
franceza.  õ  v.  —  O  homem  oa 
08   limites  da  razão. — Cartas 
philoBophicas  a  Attíco.  1  v. — 
Hefutação  dos  principios  meta- 
phjsicos,  e  moraes  dos  pedrei- 
ros  livres   illuminados.  1  v.— 
Cartas  a  frei  Pedro  A.  Cavroé, 
e  outros  folhetos.  I  v. — Os  se- 
bastianistas, refutação  á  mesma 
obra  pelos  redactores  do  Correio 
da  Península.  2  v.  — O  novo  ar- 
gonauta, poema. 

A.  PiMBHTBL  —  Esboços  O  cpiso* 
dios.  1  V. — Contos  ao  correr  di 
penna. —  Idyllios  á  beira  d*agaa. 

1  y. — O  testamento  de  sangue. 
— O  annel misterioso. — ^A  porta 
do  paraiso. — Do  portal  a  cla- 
rabóia.—  Peregrinações  na  al- 
deã. —  O  livro  das  lagrimas.  " 
O  livro  das  flores. —  Mysterk» 
da  minha  rua.  — Nervosos,  lym- 
phaticos  e  sang^uineos. — Entiv 
o  café  e  o  cognac.  —  A  virtude 
de  Bosina,  trad. — O  degreda- 
do, trad.  —  Memorial  de  famí- 
lia, trad.  — O  descobrimento  do 
Brazil,  romanoe. 

Os  PURITAROS  DE   PAXI8|  pOT  PMlto 

de  Bocage.  3  y. 


TROVADOR 


COLLECÇÃO 


DB 


MODINHAS,  RECITIITIVOS,  HllillS,  LUNDfiS,  ETC. 


NOVA  EDIÇXO,  CORRECTA 


YOLVME  m 


RIO  DE  JANEIRO 

Na  LIVllM  POPDUE  iil  L  da  GBDZCOIINHO.- Editor 

76,  Boa  úe  8.  Jcaê,  T6 


I8T« 


ttW»    DB  AKTOMIO  JOtA   DA  BOàVA 

62,  nua  âa.  Càn^jBlia  TêUm»  9i 


â87d 


rmwMm 


MODINHAS 


NO  HEO  ROSTO  mHGUBI  Vfi 


No  meu  rofio  ningaem  vê 
Nenhum  signal  d'afflicçSo; 
Meu  desgosto,  minha  d6r 
Eu  guardei  no  ooraçSo. 

E^  oconito  o  quanto  pesso 
O  que  soffre  o  coraçSo, 
Soffire  muito,  mas  nSo  mostra 
Nenhum  signal  d'afflic$ao. 

Nas  festas  também  m^enoontram 
Fingindo  satisfaçSo, 
Porque  a  magoa  bem  cruel 
Eu  guardo  no  coracSo. 


6  TROVADOR 


QUANDO  EU  MORRER,  HÃO  QUEUO  EM  MINHA  CAMPA 


(VOYA  MODOBis) 


Para  ser  cantada  pda  miunoa  da  modinha—  Quandaeu  morrer,  fiM^iiesi 

chore  a  minha  morte 


Quando  eu  morrer,  nSo  quero  em  minha  campa 
Lindas,  perfumadas,  brancas  flores; 
Deixem  dormir  ttanqaiQo  eiti  f9fr  terra 
Quem  apenas  só  na  vida  colheu  dores. 

Dispensa  funeraes,  pompas  á  morte, 
Gomo  eu,  desditosa  creatura; 
Que  deve  apenas  ter  humildemente 
Uma  cruz  que  lhe  marque  a  sepultura. 

Li^mas  fingidas  nSo  as  quero; 
Quero  o  pranto  sentido  da  amizade; 
E  que  lancem  no  meu  jazigo  pobre 
Como  emblema  da  ddr,  uma  saudade! 

Eu  sinto  que  e^ta  vida,  em  flõr  ainda. 
Parece  de  improviso  emmurchecer ; 
Um  sentimento  tenho  que  me  diz 
Que  joven,  muito  joven  hei  morrer  I 

E  tu  mesmo  a  quem  amo  e  por  quem  choro, 
Se  eu  morressse  amanhã,  abandonado, 
Talvez  que  chorosa  assim  dissesses : 
— Eil-o  morto,  findou-se  o  desgraçado ! 

ta 
I 

AdMdato  Soerão  de  MeUo. 


TaavÀDaR  «7 


VIVO  SÕ  PARA  TE  AMAR 


Em  qualquer  parte  que  esteja 
Eu  arai  ti  nSo  posso  estar; 
Nada  no  inundo  me  interessa, 
Vivo  só  para  te  amar. 

Os  dias  de  minha  yida 
Sá  tu  podes  prolongar, 
Teu  amor  me  faz  ditoso, 
Vivo  só  para  te  amar. 

Eu  só  desejo  a  teu  lado 
Noites  e  dias  passar, 
Minha  vida  não  é  minhaj 
Vivo  só  para  te  amar. 

.  Para  onde  quer  que  fôres 
Eu  te  quero  acompanhar; 
NSo  vivo  senSo  porque 
Vivo  só  para  te  amar. 

Não  vivo  para  os  prazeres 
Que  tu  não  podes  gozar; 
Vivo  para  vêr-te  alegre. 
Vivo  só  para  te  amar. 

Distante  de  tua  viata 
Nada  me  pôde  agradar; 
Eu  nZo  vivo  para  o  mundo, 
Vivo  só  para  te  amar. 


8  TROVADOR 

O  mesmo  ar  que  respiras 
Quero,  meu  bem,  respirar; 
Só  tea  alento  me  alenta. 
Vivo  só  para  te  amar. 


Quando  o  somno  me  accmimette 
Entro  comtigo  a  sonhar; 
On  acordado  on  dormindo, 
Vivo  só  para  te  amar. 

Os  amorosos  excessos 

Te  devem  capadtar 

Qne  nSo  minto,  quando  digo: 

Vivo  só  para  te  amar. 

Minhas  firmeis  expressSes 
Tu  deves  acompanhar; 
Âh !  dize,  dize  commigo : 
Vivo  só  para  te  amar. 


4 

I 
J 

•  I 


A  STHPATHIi 


Muito  embora  ausente  viva 
De  quem  jurei  adorar, 
Minha  fé,  minha  constância 
NSo  pôde  o  tempo  mudar. 

De  uma  simples  amizade, 
Quantas  vezes,  sem  querer. 
Vai  crescendo  a  sympathia 
Que  d'amor  nos  faz  morrer! 


TROVADOR  9 


RECITATIVOS 


A  TRANSVIADA 


Trajando  galas,  nos  encantos  bella, 
Caminha  ella  sem  saudar-lhe  alguém; 
Passeia  em  carros,  no  theatro  ostenta 
Tado  qne  inventa,  que  lhe  fique  bem ! 


Porém  qual  flôr  que  no  calor  da  festa 
As  peflas  cresta,  p'ra  depois  murchar,* 
Ou  mariposa  que  a  voar  s'inflamma. 
Em  tomo  á  chamma  que  a  vai  queimar; 

Assim  foi  elIa,  essa  yil  mundana. 
Na  orgi|i  insana,  se  atirou,  perdeu !  •  •  • 
Foi  mariposa  que  queimando  as  azas 
Do  ardor  das  brazas  nunca  mais  se  ergueu. 

E  essa  infame,  desprezando  o  esposo. 
Que  eterno  gozo  lhe  &zia  ter. 
Prestes  se  atira — que  fatal  loucura! 
Ka  vida  impura,  que  lhe  dá  prazer. 

Amou-a  elle,  oomò  amar  no  mundo 
Jamais  profundo,  pôde  amar  alguém ! 
D'amor  tSo  puro,  deslembrou-se  a  ingrata 
Que  o  affecto  o  mata,  no  alcouce  —  além! 


10  TROTAMR 

Tudo  mais  nobre  que  sentiu  no  peito 
L&  jaz  desfeito  pelo  atros  afio, 
Matou-lhe  as  crenças  infernaes  orgias, 
Noites  sombrias  que  nSo  te;m  mimhS ! 

Hoje  apontada  pelo  audaz  cynismo, 
Mede  o  abysmp,  quer  fíigir-lhe  em  ySo  ! 
Que  a  turba  aponta-lhe  uma  bolsa  infame 
E  em  face  brame — já  nSo  ha  perdão ! 

Marcou-a.  o  mundo  com  fatal  sinete  I 
Este  ferrete  que  tSo  negro  é !  •  •  • 
E  em  represálias,  a  mulher  pedida 
V  ive  uma  vida  sem  moral,  sem  fé ! ! 

Maldiz  o  mundo,  que  a  supporta  ainda! 
Se  é  bella  ou  linda,  tem  vassallos  seus! 
Mas  nSo  se  lembra,  desgraçada  errante, 
Da  fulminante  maldiçSo  de  Deus. 

Qual  águia  altiva  de  voar  cançada 
Mais  apressada  na  descida  vai! 
Assim  aquella  que  perdeu  a  calma 
Corpo  sem  alma — na  miséria  cái! 

Mulher  perdida,  de  que  servem  galas, 
Ou  meigas  falias,  que  fingidas  sSo? 
.  Se  n'esses  olhos,  em  que  affeetaó  calma, 
Lê-se  a  tu'alma,  que  só  diz — traiçSo? 

Que  valem  sedas,  deslumbrantes  modas, 
Mercadas  todas  com  tSo  vil  moeda? 
Vendes  o  corpo  p'ra  comprar  enfeites, 
Gbzar  deleites  que  a  moral  te  réda! 


TROTADOR  li 


Desenfreadas  nã»  paixBes  insanas, 
As  yis  mundanas  atírar-se  ySo; 
Todo  o  seu  ouro  gastam  em  cogutêtica 
E  na  velhice,  nem  sequer  p^ra  pSo!. •  • 

Altivos  paços  habitar  pretendemi 
Elias  que  vendem  seu  fingido  amor, 
Rubras  se  mostram,  virginaes,  fogaoes, 
Mas  n'As^s  fiioes  já  nSo  ha  pudor  I 

Cynioas  vivem,  na  miBeria  morrem! 
Nem  as  soccorre  bemfazeja  mSo!.  •  • 
Bem  penitentes  ao  sepulchro  baixam 
E  lá  nem  acham  uma  cruz  no  chSo ! 


FESTAS  DE  DÕR 

■ 

Tu  queres  que  eu  te  dã  magos  encantos. 
Canto»  santos  d'uma  harpa  que  morreu? 
Negro  crepe  envolvera  minha  vida, 
Ida,  lida  das  dores  no  escarcéu? 

Do  f emplo  de  meu  sâr  na  branca  nave. 
Ave  grave,  funérea  se  aninhou ! 
Eu  senti  da  esperança,  então  fugindo. 
Indo,  findo,  o  sonhar  que  acalentou. 

De  meus  seios  morrendo  a  dôee  calma, 
Alma  á  palma  correu  da  solidXo ; 
De  meus  brincos  da  infância  só  me  resta 
Esta  festa  de  dâr,  que  os  pra&tos  dSo. 


It  TROYAOOR 

Arrancado  bem  cedo  de  meus  lares, 
ÂreS)  mares  diff^rentes  avistei  ] 
E  pisando  do  mundo  o  trilho  incerto, 
Certo,  perto  da  campa  me  prostrei. 

D^assas  negras,  funéreo,  vaticina 
Sina  f  rina,  o  atchango,  aos  dias  areus ; 
De  saudades  assim,  no  extremo  alento. 
Lento  vento  erguerá  mính'alma  a  Deusl 


ê 


V.  de  Carvalho* 


LUNDU 


CHÁ  PRETO,  SDfBÃ 

Sínhásinha,  hontem  de  tarde 
Perdeu  as  côres  mimosas; 
Âi  I  quanto  mais  o  sol  arde,^ 
Mais  se  desbotam  as  rosas. 

Sinh&sinha,  meu  amor. 
Vale  a  pena,  regue  a  fiôr. 

ÂM  tem  rosca  fina, 
Chár  preto  aqui  está  { 
Receia  a  mofina  ? 
"Stio  tome,  sinhá ! 


TROVADOR  IS 

Â8  flores  da  madrugada 
SerSo  eatrellas  do  dia; 
Da  noite,  fiôr  eerá  &da 
De  dôceLioalancolia. 

SinhAflinha,  meu  amor^ 
Vale  a  pena,  regae  a  flôr, 

Ahi  tem  rosca  fina— *eto» 

Já  a  noite  solta  o  seu  manto 
E  coram  as  fÍEices  bellas*  •  • 
Sinhá,  meu  tímido  encanto, 
Oh !  rosa,  gémea  de  estrdlas ! 

Sinhásinha,  dê-me  a  fiôr, 
Dou-lhe  em  paga  meu  amor  I 

E  dou  roscas  finas^ 
E  dou-lhe  bpm  chá! 
NSo  creia  em  mofinas, 
Âil  tome...  sinhá... 


MODINHAS 


SONpEt  QVE  MIL  FLOBBS 

Sonhei  que  mil  flfires 
N'um  prado  bolhia, 
E  sobre  o  teu  coUo, 
Anoania,  espargia. 


U'  TKOTADOR 

Que  &u  grinalda 
EntSa  te  oflfertaTa  I 
Qoa  beijos  sem  oonta 
A  farto  te  daTal... 

• 

Sonhei  que  constante 
Juravas  de  ser-me^ 
Em  quanto  da  vida  ' 
'   O  sepio  aqveoeMiie. 

EntSoy  minha  Armania, 
Feliz  me  jtdgaya, 
Em  rêr  a  meu  lado 
Aqadla  qve  amava. 

Mas  tanta  ventura 
Tomon-se  illtisoria, 
E  d'ella  conservo 
Apenas  memoria. 

Oapellas  e  fldres, 
Os  prados  e  jura. 
Foi  sonho  enganoso, 
Foi  tudo  amargara ! 

Assim,  *Díft^#  Aimaoiai 

Voa  triste  passando, 
Em  sonhos  somente 
Venturas  gozando... 

Aéè  que  eu  ma  dia^    ~ 
Feliz  e  ditoso. 
Me  toma  cotttigo 
Assas  ventun^sol  •  • « 


«7.  Jf*  Mourão^ 


TROVAnOR  15 


AESTREUA 


(sota  uojombá) 


Para  ser  cantada  na  mnsiea  da  modinha  ^^oorckíi  mèiha  qatrida 

% 


Vem  vêr,  6  virgem  formosa, 
Lá  tio  oéo  brilhante  estrella; 
Como  se  mostra  garbosa, 
Butilante,  pura  e  bella  I 

Contempla,  virgem,  o  astro 
Pousado  no  firmamento. 
Esquece  do  mundo  as  dores, 
P8e  n^elle  o  teu  pensamento. 

És  donzella,  e  no  teu  peito 
Tens  sensível  coraçSo, 
Nem  sequer  pensas  que  o  mundo 
E'  morada  da  illusSo! 


Te  oonserra  sempre  punti 
Faceira,  galante  e  bella, 
Segue  o  exemplo,  menina, 
D'aquella  brilhante  estrella. 

■ 

QtkaiUeirào 


16  TROVADOR 


X£IIBRAIf CAS  DA  PÁTRIA 

Lá  quando  a  noite  já  se  aproxima 
No  monte  envolto  de  negra  oôr, 
Por  entre  nuvens  surgindo  a  loa 
Ao  pensamento  nos  trás  amor. 

EntSo  quizera,  sulcando  os  mares, 
Ir  vèr  a  pátria,  meu  doce  encanto, 
Sentir  minli'alma  gozar  venturas. 
Ir  vêr  esse  anjo  que  adoro  tanto. 

Lá  quando  á  noite  d'almo  luar 
Ouço  na  rocha  o  mar  bater,  w 

E  quando  a  lua  já  vai  bem  longe 
Harpas  sonoras  ouço  tanger; 

Cruéis  saudades  entSo  eu  sinto 
Doesse  meu  anjo  que  adoro  tanto. 
Sentir  minii'alma  gozar  venturas. 
Ir  vêr  a  pátria,  meu  doce  encanto. 

Aqui  eu  vejo  também  bellezas, 
Virgens  amáveis  de  meigo  olhar; 
Vejo  florestas  sempre  virentes,* 
Que  aos  céos  parece  que  vSo  chegar. 

Uas  ahl  que  tudo  vem  recordar 
Esse  meu  anjo  que  adoro  tanto; 
Sentir  minh'  alma  gozar  venturas. 
Ir  vêr  a  pátria,  meu  dêce  encanto. 


TROVADOR  11 


AS  MULHERES  DE  HARMORE 


Amas  tu,  Marco  formosa, 
Em  oa  8al5es  deslumbrantes, 
A  sjmphonia  ruidosa 
Que  saltar  faz  os  daiiçantes? 
Amas*  tu  em  noite  escura 
O  ligeiro  murmurar 
Da  ramagem  na  espessura 
Como  o  yento  a  sibilar  ?  •  • . 


KSoI  nSo!  nSo!  nSol 
Marco,  que  amas  entSo  ?  1 

Nem  da  raga  o  murmurar, 
Nem  da  tutinegra  o  canto. 
Nem  da  calhandra  o  gritar, 
Nem  do  bardo  o  triste  pranto. 

« 

Amas  o  alegre  cantar. 
Da  orgia  o  vivo  signal. 
Quando  a  razSo  se  afifar 
Vai  em  copos  de  crjstal? 
Amas  o  divino  accento 
Que  parte  do  orgSo  sagrado, 
£  que  parece  um  lamento 
Pelo  incenso  ao  céo  lotado?»  •  • 


NSoI  nSo!  nSo!  nSo! 
Marco,  que  amas  entZo? ! 


Nem  da  vaga  o  murmurar —  etc. 

TOEi.  ui.  2 


It  tBOTADOB 

£  gostas  ta,  quando  errante 
Em  negro  bosque  cerrado, 
Dos  sons  da  trompa  vibrante 
A  perseguir  o  veado? 
E  gOBtas  ao  anoitecer 
D'oavir  os  sinos  tocar, 
Qhamando  a  se  recolher 

O  gado'  que  foi  pastar?.  •  • 

• 

Nlot  nlol  nSot  nlo! 
Maroo,  que  amas  entio?  f 

Nem  da  vaga  o  murmurar. 
Nem  da  tutinègra  o  canto, 
Nem  da  calhandra  o  gritar, 
Nem  do  bardo  o  triste  pranto. 

De  Marco  vede  o  encanAo! 


RECITATIVOS 


MULHERES  E  FLORES 


Aos  hymnes  da  hriza,  que  vem  susurrante 
Da  noite  o  sudário  n'aurora  apartar, 
Dissipam-se  as  brumas,  e  a  luz  cambiante 
Na  &6e  da  terra  se  vem  Mtratar. 


1 


TROVADOS  10 

• 

Dourada  cortina  n'am  ohSo  de  turquezas 
Além  resplandece  nos  cimos  dos  montes, 
E  a  relva  mimosa  nas  lindas  devezas 
Se  cobre  de  per*ias  que  saltam  das  fontes. 

Grinaldas  de  raios  s^encapam  dos  ares, 
De  gratos  aromas  transborda  a  floresta ; 
E  um  doce  concerto  nos  verdes  palmares 
Ao  mimdo  desperta  nos  bjmnos  de  festa. 

E  tndo  floresce  no  mar  de  folhagem, 
Que  brilha,  quo  avulta  nas  vivas  campinas ; 
£  o  astro  dos  astros  em  sua  passagem 
De  louros  esmaltes  adorna  as  coUinas. 


Nas  faxas  cientes  palpitam  as  flores, 
E  as  folhas  nevadas  desprendem  a  luz. 
Mostrando  nas  formas,  nas  graças,  nas  cSres 
Um  quadro  pomposo  que  os  olhos  seduz. 

E  aos  echos  sonoros  assim  despertados 
Os  campos  enchendo  de  tema  alegria,     . 
SSo  virgens  dormidas  nas  longas  noitadas 
Que  aos  be\jos  acordam  dos  raios  do  dia; 

• 

SSo  nymphas  aéreas,  formosas  donzellas^ 
Que  á  noite  se  velam  nos  ricos  sendaes, 
Azues  borboletas  que  giram  singelas 
Aos  cantos  das  aves.  aos  sons  matinaes* 

D'orvalho  e  perfume  formaram-se  as  flores, 
Fez  Deus  as  mulheres  de  luz  e  poesia ; 
£m  umas  realçam  fragrantes  vapores, 
Besumem  as  outras  «^  belleza  e  harmonia. 


90  TROVADOR 

• 

Na  terra  as  mnlheroB  sSo  astros  brilhantes, 
Dos  sonhos  a  crença  mais  pura  e  sagrada; 
SSo  lindos  poemas,  s3o  anjos  errantes 
Qae  a  vida  perfumam  com  dedos  de  fada. 

E  tudo  que  brilha,  que  falia  de  amores, 
Que  graças  revela  do  sol  a  pureza. 
Repete  sorrindo : — Mulheres  e  flores ! 
Excelsa  homenagem  prestando  á  belleza. 


Cicero  Pontes» 


UH  SÕ  SORRISO 

Amo-te,  virgem,  com  amor  profundo, 
Sem  ti  o  mundo  é  sofirer  sem  fim. 
Amando  eu  louco  e  com  amor  tSo  crente, 
Teu  peito  sente  tanto  amor  assim?»  •• 

Ao  soffrer  continuo  de  continua  dôr, 
Ao  infrene  amor  que  me  cega  assim, 
Pagar  me  podes  com  um  sorrir  fugace 
Que  na  tUa  face  se  deslize  emnml.^.. 

Noites  dlnsomnia,  e  de  pensar  infindo. 
Sempre  sentindo  só  ^ngustia  e  dôr, 
A  dôr  tSo  nobre,  podes  dar  um  fim. 
Responde  emfim  que  ji  me  tens  amor.  • . 

Um  só  sorriso  que  constante  almejo 
E  em  casto  ensejo  me  fugisse  a  vida. 
Findar  a  crença  que  me  afaga  a  alma, 
Sentir  com  calma  terminar-se  a  lida! 


\  1 

\ 

V 


\ 


\ 

\ 


TROVADOR  21 


\ 


Pois  n^esse  riso  um  divinal  sentir 
Pôde  exprimir  ao  transmigrar  a  alma, 
Ao  que  tSo  crente  só  deseja  amor, 
Tendo  da  dõr  a  cmciante  palma !  • . . 


Um  só  sorriso  que  matar  me  venha, 
Que  perdSo  tenha,  pois  que  já  diviso 
Ser  louco  e  ousado  o  meu  audaz  transporte, 
Ou  mereço  a  morte.  •  •  ou  um  só  sorriso. 


Germano  da  Costa. 


LUNDt 


PURA  VIRGEM  MORENINHA 


(novo  luhdú) 
Para  ser  cantado  na  musica  do  landú — Ea  gosto  da  côr  morena 

Pura  virgem  moreninha, 

Bonitinha, 
Vem  correndo  ante  meus  braços; 
Vem,  nSo  tardes^  minha  flor. 

Meu  amor. 
Quero  unir-me  em  doces  laços. 


a  TROVADOR 

O  teu  roéto  tão  mimoso, 
Bem  formoflOi 

N'elle  impera  bó  pador ; 

Eu  quizera  sempre  assim, 
Seraphim, 

Vâr-te  linda,  meu  amor. 


Teu  olhar  tão  seduetor, 

Diz  amor, 
Gentil,  faceira  donzella; 
Enlouqueço  em  contemplar-te, 

Adorar-te, 
Moreninha,  minha  estrella. 

Eu  quando  passo  e  te  vejo, 

Que  desejo 
Em  te  vêr  assim  tão  bella, 
Na  mais  pura  singeleza 

E  firmeza, 
TSo  tristonha  na  janella ! 

Poucas  vezes  me  appareoes, 

E  t'esqueces. 
Moreninha,  meus  cuidados; 
NSo  me  queiras  illudir. 

Me  fugir. 
Que  tu  és  os  meus  peccados. 

Tento  ás  vezes  em  chegar      * 

A  declarar 
Este  fogo  abrazador; 
E  dizer-te  bem  baixinho. 

Meu  anjinho, 
Eu  sé  quero  teu  amor. 


TROVADOR  28 


Mas  nSo  posso,  tenho  medo, 

E'  segredo 
Que  oceulto  no  coraçSo  t 
Se  ea  o  contar,  soa  traidor, 

Fallador, 
Que  nSo  guardo  uma  paixão. 

N'uma  noite  em  que  te  vi, 

Junto  ahi 
Vestidinha  de  branquinho, 
TSo  risonha  só  dançando 

E  brincando. 
Moreninha,  meu  anjinho* 


ALTA  KOITE 

Alta  noite,  tudo  dorme, 
Tado  é  silencio  na  terra; 
Nem  sequer' nos  ares  erra 
Negro  mocho  gemedor; 
Oh!  que  horas  tSo  propicias 
Para  quem  morre  de  amori 

Já  se  abre  a  gelosia 

De  seu  bem,  caro,  adorado, 

Ancioso  —  o  prazo  dado, 

Espera  o  seu  amador ; 

Vem,  saudosa  e  grata  amante. 

Que  por  ti  suspira  amor ! 

Ije<m(M:,  meu  doce  anjo. 
Vem,  que  bate  hora  primeira, 
.  Vem  pela  vez  derradeira 


24  TBOTADOR 

Abraçar  o  teu  cantor ! 
Nos  teus  braços  ache  vida 
Quem  por  ti  morre  de  amor. 

Só  por.  ti  affronto  a  sorte, 
Qiie  a  yida,  de  ti  amada, 
A  cruel  golpe  de  espada 
Vou  por  ti  contente  expor; 
Oh  I  por  mim  seja  o  triumpho, 
Que  por  ti  é  meu  amor. 

A  gelosia  se  abre, 
E'  hora  da  despedida, 
Podesse  aqui  minha  vida 
Findar  da  saudade  a  d6r ; 
Vem,  saudosa  e  grata  amante, 
Tua  porta  abrir  a  amor. 


EU  AMO  AS  FLORES 

Ifosica  de  M.  A.  de  Sousa  Queiroz,  e  poesia  de  Magalh&OB 

Eu  amo  as  flores  que  mudamente 
Paix5es  explicam  que  o  peito  sente; 
Amo  a  saudade,  o  amor-perfeito. 
Mas  o  suspiro  trago  no  peito. 

A  forma  esbelta  termina  em  ponta 
Como  uma  lança  que  ao  céo  remonta; 
Assim,  minh'alma,  suspiros  geras 
Que  ferir  podem  as  mesmas  feras. 


j 


TROVADOR  25 


UM  HTSTERIO 


Poeflia  do  snr.  Albano  Cordeiro,  e  musioa  do  snr.  Baphael 

é 

Em  noite  medonha, 
Que  08  raios  cruzavam, 
Que  08  ventos  lactavam 
Co'as  ondas  do  mar; 

Meu  peito  saudoso 

Cum  rosto  formoso 

Buscaya  sonhar. 


A  lua  tranquillai 

Das  ondas  se  erguendo, 

E  08  raios  detendo 

.Cum  meigo  volver; 

Calmou  da  tormenta 
A  fúria  cruenta, 
Mas  fez-me  gemer ! 


Senti  na  bonança 

Cruel  desventura, 

Provei  a  amargura. 

Que  amor  recordei; 

Mas  foi  por  aquella 
Que  outr'ora  tSo  bella 
Gostoso  adorei. 


r 
I 


A  lua  piedosa, 
A  face  cobrindo. 
Ao  oéo  foi  subindo 
.Com  doce  langor; 


26 


TROVADOR 


E  O  céo  puro  e  santo 
Juntou-Be  a  mea  pranto, 
Calmou  minha  dôr. 


DUETO 


O  MEnunHO  E  A  POBRE 


MEIRINHO 


01á|  vamos  sem  demora 
F'ra  a  casa  da  correcçSo ; 
Tantos  pobres  na  cidade. . . 
NSo  está  má  vadiação ! 


POBRE 


Vej&  bem,  senhor  meirinho, 
D'este  lado  estou  'squecida, 
Esta  mSo  p'ra  nada  serve, 
Doeste  olho  estou  perdida. 


MEIRINHO 


Minha  pobre,  não  m'anbaça8. 
Podes  muito  bem  servir, 
Inda  és  moça,  reforçada, 
Deixa  a  vida  de  pedir^ 


TROVADOR 


POBBE 


Como  poderei  viver 
Sem  esmolas  dos  fieis? 
Senhor  meirinho,  vá-se  embora, 
E  me  dê  alguns  dez  reis. 


MEIBINHO 


Marche  já,  minha  devota. 
Tenho  ordens  apertadas. 
Velhas,  tontas,  mancas,  tortas, 
IrSo  todas  amarradas. 


POBBE 


Se-me  leva,  senhorzinho. 
Muita  gente  sentirá ; 
Dos  meninos  que  eu  educo. 
Coitadinhos,  que  será  ? 


MEIBINHO 


Oh  mulher,  nío  sei  que  dia  I 
Vamos  já  para  a  prisSo, 


'•  •  • 


POBBE 


Ah !  me  deixe,  senhorzinho, 
Qu'eu  lhe  dou  meu  coraçSo. 

Eu  sou  pobre,  isso  6  verdade, 
Mas  sou  pobre  mui  fagueira, 
Sei  dançar  o  miudinho, 
Sei. puxar  minha  fieira. 


47 


28  TROVADOR 


MEIRINHO 


Também  tem  esta  cidade 
Pobresinhas  com  dendê; 
EUas  fazem  traquinadas 
Com  artes  nSo  sei  de  quê. 


POBRE 


O  Brazil  tem  seus  meirinhos 
Que  nos  prendem  com  ternura, 
Forque  os  moços  brazileiros 
Tem  feitiços,  tem  doçura ! 


MEIRINHO 


Da  justiça  official 
Nem  por  isso  sou  marreco, 
Quando  estendo  a  minha  gambía 
Sou  mais  leve  que  um  boneoo. 

AMBOS 

Já  que  amor  assim  nos  prende, 
Da  policia  nos  livremos, 
Pois  se  d'esta  nós  zombamos, 
Com  amor  nós  nSo  podemos. 

Vamos  viver  sempre  juntos 
Mendigando  com  pobreza; 
Pois  amor  quando  nos  prende 
NSo  se  importa  com  riqueza. 


TROVADOB 


29 


RECITATIVOS 


NO  MAR 

Lembras-te  quando  te  beijei  o  seio 
N'aqaelle  enldo  que  de  amor  prorém? 
Aqnellas  falias  que  trocamos  rindo, 
Gozos  sentindo — quem  ouvia? — ninguém. 

Lembras-te,  virgem,  quando  além — no  mar, 
Triste,  a  scismar — adormeci  aos  cantos 
Que  desprendias,  contemplando  a  Ina, 
Que  a  forma  tua  desnudava  encantos? 


Lembras-te  quando  ao  despertar  fitei-te, 
Depois  beijei-te  a  nacarada  face? 
Que  tu  coraste?  mas  porque  coraste? 
Virgem,  julgaste  meu  enlevo  audace? 

ff 

Lembras-te  quando  meu  batel  singrando 
O  pego  brando,  tu  p'ra  mim  sorrias? 
ll'aquelle  riso  que  é  de  amor  a  origem, 
Me  dize,  virgens,  o  que  então  dirias? 


Lembras-te  quando  se  mostrou  no  céo 
Alva  sem  véo — a  matutina  estrella, 
Que  tu  disseste  com  fetllar  de  fada : 
c Oh I  luz  sagrada — como  tu  és  bella! » 


30  TBOTADOE 

Se  par  acaso  te  recordas -^flfir, 
Do  nosso  amor,  d'aqaella  noite  emfim; 
Fita  08  teus  olhos  nos  meus  olhos — rindo, 
Um  g0£0  infindo  me  fiiz  ter  n'nm — sim. 


Oualberto  Peçonha. 


PERDiO 


Ousei  amar-^te  muito,  quando  plácida 
Sonhara  possuir-te  inda  algom  dia, 
Manchei  nos  rersos  meus  teu  nome  cândido, 
A  illusSo  já  passou :  perdSo,  Maria. 

Pequei  I  Fugir  nSo  pude  ao  fogo  virido 
De  teus  olhos  formosos,  sem  rívaes; 
Perdôa-me,  por  Deus!  meu  rosto  pallido 
Bem  te  diz  que  soffirer  nSo  posso  mais. 

Fui  um  louco  I  Olvidei  a  negra  túnica 
Da  pobreza  em  que  a  sorte  me  envolreu; 
Esqueci  que  do  mundo  as  galas  fulgidas 
NSo  eram  para  os  pobres  como  eu. 

Tu  eras  meu  fiinal  I  na  yida  insipida 
Era  minha  ambiçSo  o  teu  amor; 
Os  dias  de  ventura  foram  rápidos, 
A  esperança  morreu,  morreu  em  flor* 


TROVADOR  31 


1 
1 


Fui  um  louco  em  Bonhar  gozos  purisdimoB, 
EVi  um  louco  porque  nSo  te  evitei ; 
Mas  quem  podéra  vêr  teu  rosto  angelioo 
Sem  deixarHse  prender,  qual  me  deixei? 

Agora  é  tudo  findo,  é  tudo  mármore 
N^este  peito  em  que  tinhas  um  altar: 
Se  a  natura  nSo  fosse  minha  cúmplice, 
Eu,  de  certo  frigira  de  te  amar. 

Sendo  pobre  devera  $fii  mais  timido, 
Que  amar  o  pobre  ao  rico  é  ousadia; 
Mas  agora  meu  peito  é  todo  gélido, 
A  illusSo  já  se  foi; — perdSo,  Maria. 


LUNDU 


F.N. 


MABILIA,  MEU  DOCE  BEM 

Marília,  meu  ddce  bem, 
Âpenaa  tens  oUiM  vi, 
Cessoa  ^a  mínlia  eziatenda, 
Ji  nSo  TÍTO,  já  morrí. 

Ai  lê  lê  lê,  certamente 
Olhos  taes  queimam  a  gente. 


f 


32  TROYÂDOR 

Despedem  raios  divinos 
Que  ateiam  ii'alma  a  paixSo; 
N'e9te  fogo  é  que  abrazou-se 
De  todo  meu  coraçSo. 

Ai  lê  lô  lê,  certamente 
Olhos  taes  queimam  a  gente. 

Porém  se  os  teus  olhos  matam, 
Sabem  dar  vida  também 
Por  um  certo  requebrado 
Que  tudo  pôde,  meu  bem. 

Ai  lè  lê  lê,  certamente 
Olhos  taes  queimam  a  gente. 


MODINHAS 


EU  VI  TEU  ROSTO 

Eu  vi  teu  rosto, 
Que  me  indicava 
Seres  sensível 
A  quem  te  amava. 

Logo  em  te  amar 
Então  pensei, 
E  fido  amor 
Te  consagrei. 


TROVADOR  38 

Quando  minli'alma 
Em  ti  pensava, 
Em  mil  delicias 
Se  mergulhava. 


Agora  vejo 
Que  a  natureza 
Não  te  deu  mais 
Do  que  belleza. 


N^esses  teus  lábios 
D 'alma  ternura, 
Vi  no  teu  riso 
Bir-se  a  ventura. 


Quanto  enganei-me ! 
Que  o  riso,  então, 
Da  falsidade 
Era  expressão. 


A  mão  tomei-te, 
Corou-té  o  pejo, 
Voltajite^a  face, 
Furtei-te  um  beijo. 


O  dôoe  néctar 
Que  então  bebi. 
Que  era  veneno 
Depois  senti. 

-roXé.  xn.  3 


Magica  roaa, 
Mos  teuB  carinhos 
Só  tí  as  coras, 
Nunca  os  espinhos. 


Forma  e  perfume 
Foi  illasSo, 
Trago  08  espinhos 
Ko  coração. 


Mesmo  na  terra 
Julguei  ea  v6l-a, 
Astjro  divino, 
A  minha  estrella. 


Fallar  no  brilho, 
Ma  claridade, 
Marcava  um  ponto 
De  tempestade. 


N'am  olhar  puro 
Belajnpejante, 
O  céo  mostroa-me 
Por  um  instante. 


A  tíbSo  teve 
Cruel  desmaio; 
Foi-se  o  relâmpago, 
Feriu-me  o  raio. 


TROVADOR  35 


DE  DMA  PASTORA  OS  OLHOS  BELLOS 


De  uma  pastora 
Ob  olhos  bellos 
Me  tem  causado 
Amor,  desvelos. 

Morro  por  ella 
A  todo  o  instante, 
Mas  ella  ignora 
Meu  peito  amante. 


Agro  receio 
Me  embaraça. 
Fico  indeciso, 
NSo  sei  que  faça. 

Emfim,  amor, 
Bege  meus  passos, 
  vêr  se  encontro 
Fagueiros  laços. 

Chego-me  á  bdla 
Mas  com  pudor, 
Apenas  faHo 
No  meu  amor. 


Confusa  fica, 
Os  olhos  volve, 
Levanta  a  voz 
E  assim.resolve : 


36  TROVADOR  j 

I 

( 


Vivamos  aempre 
Em  doces  laços, 
Depois  me  aperta 
Entre  seus  braços. 


Pensem  amantes 
A  sensaçXo 
Que  sentiria 
Meu  ooraçSol 


Cândido  Ignaeio  da  Silva, 


SE  EU  FORA  a  criança  HAIS  LINDA  E  FORHOSA 


(vovÁ  modinha) 


Para  ser  cantada  na  nnuica  da  modinha  <->-iSe  tufõra  da  noite  o  atiro 

fovfnoêo 


Se  eu  fôra  a  criança  mais  linda  e  iiirmosa, 
Quizera,  ó  belleza !  constante  te  olhar ; 
Se  eu  f(5ra  dos  caaitos  a  nota  suave, 
Quisera  contente  a  teu  lado  soar ! 


Se  eu  fôra  uma  rosa  de  vivo  perfome, 
Quizera  em  teu  peito  ditosa  moinar; 
Se  eu  fôra  das  tardes  a  niais  linda  e  pura, 
Quizera,  sorrindo,  fazer-4e  primar. 


TROVADOR  .  37 

Se  eu  fora  das  ares  a  are  mais  linda, 
Quizera  em  teu  collo  constante  potisar ; 
Se  ea  fôra  dos  entes  o  mais  verdadeiro, 
Qnizera,  ó  meu  anjo,  sósinbo  te  amar. 

• 

Has  eu  sou  um  triste  que  vivo  penando, 
Sen!  t^  os  prazeres  da  doce  ventura; 
Por  isso  nSo  posso,  nem  mesmo  que  queira, 
Amar-te,  donseila,  gentil  creatura. 

Àdeodato  Sócrates  de  Mello. 


aNÇÂo 


O  CANTO  DO  SABIÁ 
Poesia  do  dr.  D.  J.  G.  de  Magalh&es,  e  musica  do  snr.  Raphael  Coelho 

Urania,  não  ouves 
Um  temo  reclamo 
Que  soa  no  ramo 
Do  teu  manacá? 
Se  queres  ouvil-o 
O  passo  apressemos, 
De  perto  escutemos. 
Que  é  um  sabiá. 


38  TROVADOR 

Sentemo-noB  juntoB 
Aqui  no  bosquete, 
Sobre  este  tapete 
De  verde  capim : 
NSo  vás  para  longe, 
Que  fico  enfadado; 
Âqni,  a  meu  lado, 
Bem  perto  de  mim. 


Fállemos  de  manso 
Em  quanto  elle  canta; 
Se  a  voz  o  espanta, 
B'aqui  fugirá : 
Ah !  diz-me  ao  ouvido 
Se  aquelle  gor^geio 
De  amar,  em  teu  seio. 
Desejos  não  dá? 


Eu  creio  que  entendo 
Aquella  cantiga; 
Se  queres  que  o  diga 
Besponde  que  sim: 
No  seu  estribilho 
Diz  elle: — mortaes. 
De  amor  não  temaes, 
Ainai-yoB  sem  fim. 


TROVADOR  39 


RECITATIVOS 


O  POBRE 


Ao  som  das  vozes'  doa  tristonhos  filhos 
Qae  i  mingoa  pedem  pVa  comer  um  pSo, 
Sahe  da  choupana  mui  tristonho  o  pobre 
C!p'o  sacco  á  cinta,  co'o  bordSo  na  mSo. 


« 

Então  tremendo  de  vergonha  e  fome, 
Estende  ao  povo  a  mirrada  mao, 
P'ra  todos  olha,  se  encaminLa  á  porta 
Do  rico  avaro  que  lhe  brada:  — Não! 


Coitado,  humilde  vai  seguindo  sempre 
Com  fé  no  peito  que  gemendo  chora, 
E  vendo  as  turbas  com  desdém  passando, 
Ao  céo  e  á  terra  uma  esmola  implora*. 


Ninguém  o  attende ;  elle  já  cançado 
De  tantas  vezes  suas  mãos  erguer, 
Soluça  e  geme,  qual  no  galho  a  rola 
Afflicta  e  triste  sem  o  esposo  vêr« 

Com  passos  lentos  vai  depois  sentar-se 
Do  templo  santo  nas  escadas  frias, 
Ahi  descança  por  um  pouco  e  dorme 
Ao  som  dos  gritos  de  venaes  orgias. 


40  TROVADOR 

Desponta  negra  como  crepe  a  noite, 

A  loa  nasce  matizando  o  espaço; 

E  o  pobre  tremulo,  todo  entregue  á  mágoa, 

'Por  entre  as  trevas  busca  o  lar  escaco. 


Contempla,  entrando,  sobre  rota  esteira, 
Seus  filhos,  tristes,  lamentando  em  vao, 
Parece  dizem :  De  soccorro  á  mingoa 
E'  já  cadáver  nosso  pobre  irmSo ! 


Meus  filhos,  diz-lhes,  mergulhado  em  pranto, 
D'aqui  a  pouco  morrereis  também. 
Pedi  chorando,  e  vosso  pai,  coitado, 
Sustento  agora  p'ra  vos  dar  não  tem. 


Na  dôr  arranca  suas  cZs  com  anciã. 
Nos  olhos  baços  já  vê  fusco  o  brilho, 
E  louco  andando  para  tudo  exclama : 
Esmola  ao  menos  p'ra  enterrar  meu  filho ! 


Na  porta  pára,  vê  sahir  de  um  carro 
Trajando  galas  ricamente  o  nobre, 
Esmola  pede !  E  qual  a  um  cão  leproso 
Repelle  o  rico  bruscamente  ao  pobre ! 


Debalde  grita,  e  estalando  á  fome. 
Sobre  a  calçada  tiritando  cái : 
E  ao  vento  fresco  da  risonha  aurora 
Coitado,  morre,  desprendendo  um  ai  I 


TROTADOR  41 

Depois  enrolto  n'am  andrajo  immundo 
Inerte  o  corpo  se  conduz  seili  gala^ 
E  em  quanto  o  rico  tem  vaidosa  tumba, 
Se  lança  o  pobre  com  desdém  na  valia ! 

Cândido  José  Ferreira  Leal. 


UH  PEDIDO 


M ulber,  és  bella  qual  nSo  sei  pintar-te, 
Só  sei  amar-te  e  como  eu  sei  ninguém; 
Typo  sublime  de  apurado  gosto, 
N'alma  e  no  rosto,  e  no  sorrir  também, 

D'e8sa  cadêa  em  que  se  liga  o  bello, 
Tu  foste  o  élo  mais  perfeito,  sim; 
Como  que  em  prova  do  requinte  d'arte 
Quiz  Deus  formar-te  tSo  formosa  assim. 


Húmidos  lábios  de  accender  desejos 
Provocam  beijos  dè  paíxSo  infinda; 
Que  amenidade  de  expressão  tem  ella ! 
Oh!  como  é  bella,  se^uctora  e  lindai 

Na  sala  ostenta  ém  caprichosas  Ondas 
Formas  redondas  do  corpinho  leve. 
Quanta  nobreza !  que  pisar  sereno ! 
Que  pé  pequeno  I  que  cintura  breve ! 


42 


TROYilDOR 


E  as  mSos  macias,  setinosas,  puras, 
Tranças  escaras,  fronte  veneranda, 
CoUo  de  cjsne,  voz  sonora  e  doce 
Como  se  fosse  nma  harmonia  branda« 


E  aquelle  agrado  que  por  si  resume 
Todo  o  perfume  da  mulher  moral, 
E'  oomo  o  iman  que  seduz  a  gente, 
Philtro  innocente  que  nSLo  tem  igual. 


Eu  que  a  idolatro  com  fervor  sincero, 
Nada  mais  quero  que  em  silencio  a  amar; 
No  tabernáculo  de  meu  peito  occulto 
Votei-lhe  um  culto,  um  verdadeiro  altar. 


E  por  ventura  se  a  ambição  cegar-me 
N8o  vou  prestar-me  a  importunal-a,  nSo; 
J&  peço  muito  se  disser: — desejo 
Depôr-te  um  *beijo  na  mimosa  mSo. 


TROVADOR  43 


LUNDC 


ESTA  NOITE,  OH  CÉOSI  QUE  DITA! 


Esta  noite,  oh  céos !  que  dita  I 
Com  meu  bemzinho  fallei, 
Das  cousinhas  que  me  disse 
Nunca  mais  m'esquecerei.     / 


Deu-me  um  certo  guisadinho 
Que  comi,  muito  gostei ! 
Do  ardor  das  pimentinhas 
Nunca  mais  m'esquecerei. 


Ao  olhar  para  a  janella 
Na  calçada  tropecei, 
Da  tremenda  cabeçada 
Nunca  mais  m'esquecerei. 


U  TROTADOR 


MODINHAS 


ACORDA,  UNHA  QUERIDA 


Acordai  minlia  qaerida, 
Acorda,  foge  do  leito. 
Vem  ouTÍr  a  voz  do  peito 
Do  teu  triste  trovador. 


Oh  céos !  que  silencio, 
Que  dõr,  que  penar, 
Que  grato  luar, 
Que  noite  de  amor ! 


Vem  ver,  Diana  formosa, 
Dos  amantes  protectora. 
Vem  abraçar  como  outr'ora 
Teu  constante  trovador» 


Oh  céos!  que  silencio — etc. 

4 

Troca  os  sonhos  que  te  illudem 
Pela  verdade  ditosa, 
.Vem  consolar  amorosa 
Teu  saudoso  trovador. 

Oh  céos!  que  silencio — etc. 


TROTADOR  45 


K^este  8Ítío  onde  ditoso  , 
J&  gozei  o  teu  carinho^ 
NSo  deixes  gemer  sósinho 
Teu  amante  trovador. 


Oh  céos!  que  silencio — etc. 

Mas  ah !  debalde  te  chamo.  •  • 
Só  me  escuta  a  natureza, 
Já  do  somno  és  feliz  presa, 
NSo  ouves  teu  trovador. 

Oh  céos  I  que  silencio  —  etc. 


Bella  lua  além  fulgura 
Em  mimoso  céo  de  anil, 
Mas  aqui  nem  um  ceitil 
Alumia  o  trovador.        « 


Oh  céos !  que  silencio — etc. 


Acorda,  virgem  formosa, 
D'esse  teu  meigo  dormir, 
Vein  escutar  o  carpir 
Do  teu  triste  trovador. 


Oh  oéoB  I  que  silencio-*- etc. 


46  TROTADOIt 


MINHA  SORTE,  CARA  ELVIRA 

Minha  sorte,  cara  Elvira, 
E' tristonha,  al^orrecida;  * 
A  mais  cruel  e  pungente 
De  todas  as  que  ha  na  vida. 

Mas  se  me  deres 
Um  riso  teu, 
Será  mudayel 
O  fado  meu. 

Ah!  não,  nSo  negues, 
Presta  um  sorriso ; 
Dá-me  as  delicias 
Do  paraíso. 

Minhas  faces  já  perderam 
Sjmpatkias,  brilho  e  côr; 
Meus  lábios  n£o  tem  doçura. 
Nem  mais  exprimem  amor. 

Mas  se  me  deres — etc. 
Ahl  não,  nSo  negues — etc. 

Minha  Elvira,  os  teus  encantos 
Levam  gente  á  sepultura; 
És  cruel,  porque  me  n^as 
Um  instante  de  ventura. 

Mas  se  me  deres  —  etc. 
Ah  I  nSo,  nSo  n^ués — etc. 


I 


TROVADOR  47 


ROMANCE 


[. 


QUEIXAS 


Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  G.  de  Magalh&es,  e  musica 

do  snr.  Raphael  Coelho 


Sem  doce  esperança^ 
Ph  minha  querida, 
Amor  nSo  é  vida, 
£'  morte  sem  fim : 
De  amor  outros  gozam 
Suaves  momentos ; 
Porém  08  tormentos 
SSo  só  para  mim. 

Qu'importa  qu'eu  veja 
Teu  rosto  engraçado, 
De  um  riso  animado, 
Ao  longe  brilhar; 
Se  a  magoa  que  sinto, 
Amor,  não  adoço, 
E  posso,  9  nSo  posso 
Teus  olhos  beijar  ? 

Qu'impprta  que  eu  pense 
Que  tu  serás  minha? 
Quem  é  que  adivinha 
O  teu^coraçSo? 


i 


ÕO  TROVADOR 


CAMÉLIA 


Nas  veigas  meigas  de  encantado  prado, 
Vi-te|  enlevado,  n'am  sonhar  de  amores ; 
Infinda  ^  linda,  qual  mimosa  rosa 
Eras  formosa  ^obre  as  outras  flores. 


Celestes  vestes  da  mais  pura  alvura, 
Tua  estatura  divinal  cobriam  ; 
Immensos,  densos,  teus  cabellos  bellos. 
Em  negros  elos  a  teus  pés  cabiam. 

Da  infância  n'ancia,  com  enredo  e  medo, . 
O  meu  segredo  revelei-te  então ; 
Ein  susto,  a  custo,  com  receio,  enltíe... 
Disseste  —  creio -^nSo  te  lembras? — Nlo? 


Insano  engano,  minha  mente  crente. 
Fusca,  demente. ..  tresvairou-se  emflm; 
Insano  engano,  que  fingida,  infida, 
A  alma  rendida — me  disseste :  — Sim. 


Mentias ! . . .  rias. ,  •  que  teu  peito  afeito 
A  ser  o  leito  de  volúpia — ardor; 
Sobre  a  cratera  de  fogosos  gozos. 
Que  venenosos  vão  beber  amor. 


Mentias.. •  rias...  n'esse  gesto  honesto, 
N'es8e  protesto,  que  fizeste  ahi, 
Malvina,  indina,  tu  mirraste,  erraste, 
A  flor  que  a^^haste  vicejar  por  ti. 


TROVADOn 


&t 


Sonhei-ie.  •  •  amei^to.  •  •  dtlirante,  enrinite, 
Loaoo  um  ixutantà — devoroa-me  amor, 
Hab  hoje.,,  foge,.,  flor  inoasta,  gaata».. 
— Camélia...  iMurta-^qne  te  roto  horror  1 


LUNDli 


O  PADECEHTE  « 


Poesia  do  sor.  A.  J.  de  Soasa,  q  mwoa  do  m^Xf  A.  L.  de  Hoora 

Mulata,  tu  ée  a  eaosa 
De  ea  andar  aos  trambolh8eS| 
Levo  cholipa — sopapo, 
Cachdeta  —  ^coçSee. 

Ando  cego — atoleimado, 
Doa  nas  portas  narígadaa, 
Babo-me  todo,  me  esfolo, 
Me  arra^ — dou  cawUftdaa. 


Tenho  os  olhos  inflaqipiados, 
A  cara  toda  papnda| 
Bebo.agm^  cbeea  oom  biohos, 
Como  batatfj^  ça^cudat 


52  TROVADOR 


Mulata,  ta  és  a  causa 
De  eu  toraar-me  um  lambasZo, 
Lambo  o  rauho  do  nanz, 
Dou  cambalhotas  no  ch2o. 


TuBso,  espirro,  escarro,  cuspo, 
Mas  me  falta  n&o  sei  qu8 ; 
Bebo  cana,  masco,  fumo. 
Só  de  amores  por  vossè. 


Mulata,  minha  mulata, 
'  De  teu  bem  tem  piedade,  ^ 

ft  ^5  Fazer  bem  a  quem  padece  ^  a  , 

E'  virtude — è  caridade.  f  #  ^ 


Mulata,  morrer  por  ti 
E'  agora  o  toeu  oflScio;         /  4 
Ou  dá  allivio.a  meus  malesj     ^ 
Ou  me  manda  p'ra  o  hospioio. 


MODINB/^S 


Ê  Tio  FORMOSA  MAIULU  BEUA 


E'  tSo  formosa 
Marília  bella, 
Qu'eu  de  continuo 
Morfo  por  ella. 


j 


TROVADOR 


53 


Apenas  vi 
O  seu  semblante 
Tomei-me  em  outro 
No  mesmo  instante. 

No  seu  semblante 
De  fina  côr, 
Diviso,  abertas, 
Rosas  d'amor. 

Se  me  coneedes 
Um  terno  beijo,* 
Do  céo  da  terra 
Nada  desejo. 

Morena  bella 
Por  piedade, 
Guarda  bem  firme 
Nossa  amizade. 

Confusa  fica, 
Os  olhos  volve, 
Levanta  a  voz 
E  assim  resolve: 

Vivamos  juntos 
Em  doces  laços. 
Depois  me  aperta 
Entre  seus  braços. 


EntSo  lhe  digo*: 
Bella  pastora, 
Tu  és  mais  linda 
Que  a  própria  Aurora. 


54  TROVADOR 

Suspira  a  bella 
E  emmaddòe, 
Volye  B611B  olhos 
E  desfalleoe. 

Vejam,  amantes, 
Qae  sensaçSo 
NSo  sentiria 
Meu  ooraçSo! 


UM  TEU  SUSPIRAR 


Poesia  do  snr.  J.  M.  Mourfto,  o  mosioa  do  snr.  dr.  ClarimuiMlo 


Amor  querendo 
De  mim  síombar, 
Teus  olhos,  Lisia, 
Me  quiz  mostrar. 

Suave  effeito 
EntSo  senti  ••  • 
D'elles  escraro 
Logo  me  vi ! 

* 
Agora,  Lisia, 

Sinto  paixSo, 

Por  tí  só  geme 

Meu  eoraçSo. 


TROVADOR 


S'e8teB  affeetos 
Intentas  pagar, 
Lism,  me  basta 
Um  teu  suspirar ! 


•  •  • 


b5 


AINDA  ELU?... 

(mota  modihba) 
Poesia  e  musioa  do  snr.  J.  O.  Pinto  Pereira 

No  peito  sinto  uma  dor, 
Que  me  leva  á  sepultura ; 
Por  me  terem  desprezado, 
Atirado  á  desventura. 


Para  que  nasci  então  ? . . . 

Para  ser  sujeito  á  sorte? 

Eu  amei,  nSo  fui  amado? 

Ah !  meu  Senhor,  dai-me  a  morte ! 


Houve  um  dia  que  eu  ouvi 
lânda  morena  dizer  : 
«  Eu  te  adoro,  amo-te  muito, 
<  Serei  tua  até  morrer.  » 


Po];ém  hoje,  Deus  d^axpor, 
Que  malquVença'8  tens  de  mim  ? 
Porque  negas  esse  amor. 
Porque  me  foges  assim? 


56  TROVADOR 


Âh  I  •  •  •  já  sei.  • .  eu  foi  ingrato, 
Dis-lbe  asBÍm  o  coraçSo ; 
N8o  importa,  que  eu  espero 
Algum  dia  o  teu  perdfio. 


ÁRIA 


o  CAPITÃO  HATA  MOUROS 


Aqui  yenlio,  mquB  senhores, 
Certo  de  vossas  bondades, 
Contar-Tos  mil  novidades, 
De  meu.  posto  altos  penhores. 
Ficai  sendo  sabedores 
Do  que  é  este  capitSo, 
Amoroso  e  valentSo 
Como  ninguém  pôde  ser ; 
Emfim,  pVa  tudo  dÍ2ser,v 

Boiique  lá  o  rabecSo. 

» 

No  jóguinho  do  bilhar 
Sou  fallado  em  todo  o  mundo, 
Porque  o  sei  tanto  ao  fundo 
Que  a  dormir  o  vou  jogar ; 
£u  posso  carambolar 
Em  6em  bolas  de  uma  ves. 
Posso  formar  um  xadrez 
Na  volta  da  carambola, 
Formo  emfim  uma  gaiola 
Coilio  ninguém  jamais  fez. 


TROVADOR  57 


Soa  Bublime  na  caçada^ 
Pois  mato  araras  a  eroqup, 
Mato  lobos  a  badoqae, 
Gafanhotos  &  estocada^ 
£  camelos  &  pedrada; 
Quando  me  di  cá  na  veia, 
Com  um  punhado  de  areia 
Mato  meros  e  robalos, 
E  até  com  estes  estalos 
J&  pesquei  uma  baleia. 

Eu  já  tive  por  bastSo 
O  tronco  d'umà  mangeira, 
Já  tive  por  cabelleira 
Um  enchimento  de  colchSo ; 
Por  ter  firme  o  coraySo 
E  ser  no  amor  afeito, 
A  uma  dama  de  geito, 
Com  paixSo  como  nSo  vi, 
Dez  annos  eu  trouxe  aqui... 
Como  alfinete  debito. 

Tudo  quanto  tenho  exposto 
Passará  por  caçoada. 
Assim  nSo  direi  mais  nada 
Para  nSo  vos  dar  desgosto : 
Vou  cumprir  d'e6te  meu  posto 
O  que  n'elle  muito  abunda, 
Com  figura  tSo  jocunda 
NSo  me  posso  demorar, 
Pois  vou  patrulhas  rondar 
Da  ArmaçSo  ao  Quebrabunda. 


58  TROVADOR 


RECITATIVOS 


O  TEU  SEMBLANTE 


O  teu  semblante  captivoa-me  a  alma 
Pois  d'ella  a  palma  só  a  ti  eu  dei, 
Viyer  eu  quero  sempre  escravo  teu 
Que  é  fado  meu  que  só  de  ti  serei. 

Quando  da  vida  abòrrecer-me  quero 
E  só  espero  a  prematura  morte, 
Becebo  animo  aa  pensar  em  ti 
E  me  sorri  a  desejada  sorte. 

t 

Sem  ti  nXo  posso  supportar  a  vida, 
Pois  tu,  querida,  és  o  meu  encanto ; 
Teus  negros  olhos  tSo  gentis,  tSo  bellos, 
S3o  fortes  elos  que  me  prendem  tanto. 

Se  por  ti  nSo  posso  ser  um  dia  amado 
E  já  cançado  estiver  com  a  sorte, 
Nunca  reveles  a  cruel  verdade, 
Por  piedade  nSo  me  dês  a  morte. 

Maa  tu  és  boa^  formosa,  és  bella. 
Gentil  donzella,  a  quem  tanto  amo. 
Volve  esses  olhos  que  seduzem  tanto 
E  enxuga  o  pranto  que  por  ti  derramo. 


\ 


TROVADOR  59 


Ahl  fiJla !  apaga  a  ai^ctente  ohamma 
Que  o  peito  inflamma  do  teu  trovador ! 
Diz-me  ao  ouvido  Be  6  receio  teu, 
—  Que  será  meu  o  teu  eai^to  amor. 


A  JOVEN  MORENA 


PoesML  do  sor.  Gtotulio  de  Mendoaça,  e  musica  do  snr.  J.  S.  ArvelloB 


Morena,  eu  amo-te  com  fatal  loucura 

» 

Na  vida  impura,  que  me  dá  prazer; 
Morena,  eu  amo-te,  meigamente  fallo. 
Suspiro  ezhalo  n'um  cruel  soffrer. 


Amor  é  fogo  que  s^ateia  n'alma 
Na  pura  calma  d'um  ditoso  sonho ; 
Amor  é  vida  que  se  esvai  ligeira, 
Aura  &gueira  de  um  pervir  risonlio. 

• 
Vi-te  n'nm  baile  n'um  salSo  dourado 

E  fui,  curvado,  te  adorat,  meu  anjo ! 

Estavas  bella,  tSo  gentil,  serena, 

Eras,  morena,  meu  celeste  archanjo. 

r 

Depois  que  yi-te,  n'um  valsar  ifrdente 
Busquei  demente  protestar-te  amores, 
£  quando  um  dia  te  pedi  carinbos 
Ai!  tive  espinhos  de  cruentas  dÔres ! 


eO  TROVADOR 

Fitei  meus  olhos  no  teu  rosto  virgem, 
Senti  vertigem  perpassar  por  mim ; 
Porém  nlo  pude  desviar-me  loaco, 
Ai  t  pouoo  a  pouco,  me  fugiste  emfimi 

Amei-te  muito  com  fiital  delirio 
Que  o  meu  martjrio,  abandonaste  emfim, 
Foste  ingrata,  desprezaste  a  sorte, 
Buscaste  a  morte,  e  me  entregaste  aifim. 


Que  importa  a  vida  no  illusorio  mundo. 
Se  é  tSo  profundo  meu  soffrer  e  sorte. 
Se  desprezado  viverei,  carpindo, 
Cherando  ou  rindo  buscarei  a  morte? 


LUNDU 


EU  QUERO-HE  CASAR 


Poena  do  snr.  dr.  J.  M.  de  Macedo,  e  rnasíca  do  sor.  Franciíeo 

António  de  Carvalho 


Eu  já  nSo  sou  criança, 
Ji  tenho  bem  juizo, 
Ji  sei  que  me  é  preciso 
Para  viver,  amar : 
BíamZ,  fiz  treze  annos, 
Eu  quero  me  casar. 


TROVADOR  61 


Darei  minbas  bonecas 
Á  Dona  Carolina, 
Ê.  ainda  peqaenina,  * 

N8o  sabe  o  que  é  amar ; 
MamS,  eu  ji  sei  tudo, 

Eu  quero  me  casar. 

• 

No  coraçSo  das  moças 
Ha  um  certo  bichinho, 
Que  róe  devagarinho 
Até  fazer  iimar ; 
MamS,  isto  é  sabido, 
Eu  quero  me  casar, 

MamS  ralhar  nSo  pôde, 
Papá  também  amou. 
Do  céo  foi  que  baixou 
A  lei  qoe  ensina  a  amar ; 
MamS,  Deus  é  quem  manda, 
Eu  quero  me  casar. 


MODINHAS 


DE  TI  nQUBI  TÃO  ESCRAVO 

De  ti  fiquei  tSo  escravo 
Dq^is  que  teus  olhos  vi. 
Que  vivo  só  p'ra  teus  olhos, 
NIo  posso  viver  sem  ti. 


62  TBaVAMIt 

ContempUi&âo  teu  gembUnte 
Sinto  a  vida  m'osc^^i 
N^ttm  teu  olbar  peroo  a  tícU} 
Besoaoíto  n'oiitrQ  plbar. 


Mar  é  tSo  doce 
Viver  assim, 
lilia,  nlo  deixes 
De  olhar  p'ra  uim. 


N'am  raio  de  teus  olhares 

Minh'alma  inteira  prendi. 

Se  tens  minh'alma  em  teus  olhos, 

NSo  posso  viver  sem  ti» 

A  qualquer  parte  que  os  volvas 

Minh'alma  sluto  voar, 

Inda  que  livre  nas  azasi^ 

Presa  só  em  toa  olhar. 


Mas  é  tio  doce  —  etc. 


Que  era  meu  &io  ser  teu 
Ao  vêr-te  reconheci, 
NSo  se  muda  a  lei  do  fado, 
NSo  posso  viver  sem  ti. 
Por  nSo  ser  inda  òompleta 
Kipba  dOee  e6erafn4SO| 
Se  me  ferem  teus' olhares, 
Choro  sobre  o  meu  grilbSo* 


Ma9  f&  tjUo  4$90— ^% 


TROVAMH  63 


A  PSaOU  DE  PAQUETA 

Morena,  ea  temio  medo 
DoB  jteoB  olhos  iSo  formocm, 
Dos  teus  olhoB  tSo  farilhantei, 
Como  os  astros  InminosoB; 
Tenho  meáo  que  me  firam, 
Que  me  possam  ser  perigosos.' 

Morena,  eu  tenho  medo 
Dos  teus  lábios  purpurinos, 
D'e6se8  lábios  tSo  ingénuos 
Que  despertam  doces  hymnos ; 
Teínho  medo  que  me  matem 
Com  sorrisos  tSo  divinos. 

Morena,  eu  tenho  medo 
Do  teu  coUo  palpitante, 
D'esse  coUo  melindroso, 
T2o  gentil  e  deslumbrante ; 
Tenho  medo  de  perder-me 
N'um  momento  delirante. 

Morena,  eu  tenho  medo 
Do  tw  temo  coração, 
D^essas  fibras  delicadas 
Que  me  rojam  na  paixSo ; 
Tenho  medo,  muito  medo, 
D'esse  anK»*,  d'essa  affeiçSo.    ' 

Morena,  eu  tonho  medo 
D'esses  traços  de  belleza. 
Que  brilb^n  i^'esse0  t^us  Ubbios, 
Que  te  ám  a.wtw^ezii; 


64  TROVADOR 

Tenho  medo  que  nSo  ames 
Qaem  te  ama  com  firmesa. 

Morena,  eu  tenno  medo 
D'ewe  andar  tSo  seductor ; 
D^eese  porte  mageatoso 
Para  mim  £a8einador; 
Tenho  medo  do  perder-tOi 
Moreninha,  •  •  meu  amor  t 


M.  Ignaeio  Mendes, 


CANÇÃO 


A  TIVANDEIRA 

Mnnoa  do  snr.  J,  8.  Arvdloe 

Âí  I  qae  vida  qae  passa  na  terra 
Quem  nBo  ouve  o  rafar  do  tambor, 
Qaem  nXo  canta  na  força  da  gaerra : 
Âi  amor,  a^amor,  ai  amori 


Qaem  a  vida  qaiaer  verdadeira 
Ê  £user-Be  uma  ves  vivaadeim. 


Tm)YA0OII  65 


Só  na  guerra  se  matam  saadadea^ 
Só  na  guenra  se  sente  o  viver )' 
Só  na  guerra  se  acabam  vaidades, 
Só  na  guerra  nto  oueta  a  morrer. 

Âi  que  vida,  que  vida,  qne  vida, 
Ai  que  sorte  tão  bem  escolhida ! 

Âi  que  vida  que  passa  na  guerra 
^uem  pequena  na  guerra  viveu, 
Quem  sósinha  passando  na  terra 
Nem  o  pai,  nem  a  mSi  conheceu. 


Quem  a  vida  quizer  verdadeira 
E'  fazer^se  nma  vez  vivandeira. 


Ai  que  vida  esta  vida  qu'eu  passo 
Com  tão  lindo  e  gentil  mocetão ! 
Se  eu  depois  da  batalha  o  abraço; 
Ai  que  gosto  pVa  meu  coração  ! 


Que  ternura  cantando  ao  tambor 
Ai  amor,  ai  amor,  ai  amori 


Que  harmonia  não  tem  a  metralha 
Derrubando  fileifas  sem  fim, 
E  depois,  só  depois  da  batalha 
V61-0  salvo,  cantandò-me  assim : 


Entre  aa  marohaa  fazendo  trincheira, 
Mais  te  amo,  gentil  vivandeira; 

VOL. lU.  5 


86  TAOYADOR 

Não  me  assustam  trabalhos  da  lida 
Nem  as  baias  me  fazem  chorar; 
Ai  que  vida,  que  rida,  que  yida. 
Esta  vida  passada  a  cantar  I 


Qu'eu  lá  sinto  no  campo  o  tambor 
A  fallar-me  meiguices  de  amor. 


Mas  deixemos  os  cantos  sentidos, 
Estes  cantos  do  meu  ooraçSo, 
E  prestemos  attentos  ouvidos 
Ao  taplSo,  rataplSo,  rataplSo. 


Ao  tapl2o,  rataplBo,  que  o  tambor 
Vai  cadente  fallando  de  amor. 


RECITATIVOS 


ODTR'ORA,  AGORA 


Encantos  santos  que  gozaste  e  amaste 
O  mundo  outr'ora,  com  desdém  mordaz. 
Roubou,  lançou  no  profundo,  immundo 
Abysmo  infrene  da  paixSo  audaz. 


i 


TROVADOR  67 


Em  quanto  o  encanto  realçou,  brilhou 
Tu  foste  a  fada  dos  salões  da  orgia, 
Sorrias,  vias  a  teu  lado  amado 
A  mão  do  rico  te  apertar  tSo  fria. 

Gozada,  olhada  pela  gente  ardente 
Tremente  ouvias  murmurarem  falias, 
Tem  louro  o  ouro  te  affrontou,  comprou ; 
Até  nos  templos  ostentaste  as  galas. 

Mundana,  insana  tua  crença  immensa 
Mulher  vendeste  por  um  beijo  impuro. 
Sereia  cheia  de  candor,  de  amor 
Trocaste  a  vida  por  infernal  futuro. 

D'outr'ora  agora  teus  fprmosos  gozos 
SSo  dores  lentas  te  matando  a  alma. 
Cercada  olhada  com  horror  a  flor 
Seu  viço  perde  deslumbrante  calma. 

Funérea  a  ethérea  candidez  da  tez 
Em  vez  da  nympha  um  cadáver  mostra, 
E  a  lamentar,  chorar  o  desgraçado  fado 
Já  tarde  a  louca  com  horror  se  prostra. 

De  véo  labéo  que  a  affironta  aponta 
Nem  mesmo  as  cinzas  se  avistou  no  pó, 
Lasciva,  altiva,  a  pudibunda,  immunda 
Mulher  perdida  não  arranca  um  dó. 

D'outr'orá,  a  aurora  já  nSo  ri  p'ra  ti, 
Teu  corpo  cobre  nauseabunda  chaga. 
Atrozes  vozes  te  proclamam,  chamam 
Perversa  louca  que  a  innocencia  traga. 


» 


« 


68  TROVADOR 

Perjura,  impura,  soluçando,  andando 
Mendiga  triste,  mas  ninguém  lhe  aeode, 
Afflicgka  grita,  pois  que  tarde  ardo 
Sagrada  chamma  que  a  remir  nXo  pôde. 


Doente  sente  sua  desdita  afflicta 
E  vê  angustia  que  somente  resta, 
Lamentos  lentos  da  perdida  Vida 
A'  rosa  linda  ^ue  murchou  na  festa. 


Implora,  chora  no  coraçSo  perdSo 
E  n'uma  enxerga  sçu  suspiro  èxhala. 
Só  chora  a  aurora — no  cemitério  o  império 
Acaba,  morre  sepultando  a  gala. 


E  q  archanjo  ou  anjo  que  nasceu  no  céo 
Roçando  as  azas  nos  paúes  da  terra 
Fenece,  desce  ji  sombrio  e  frio 
A'  cova  rasa  que  a  miséria  encerra. 


Risonhos  sonhos,  tim  oapella  bella. 
Vaidade,  gozos  que  tiveste  outr'ora. 
Amores,  âôres,  teus  encantos  santos 
E'  á  saudade  tudo  entregue  agora. 


Caiidido  José  Ferreira  Leal. 


.■•    m^m 


r 

r 

} 


TROVABOR  69 


DESPEDIDA 


Adeus,  meu  anjo,  vou  partir,  deixar-te, 
Soou  a  hora  da  fatal  partida, 
A  longea  terras  vou  carpir  saudoso  - 
A  triste  ausência  d^essa  imitem  querida. 


Não  podem  phrases  revelar4e  o  quanto 
Minh'alma  sente  n^este  extremo  adeup ; 
Só  sei  dizer-te  que  de  dõr  succumbe 
Ao  separar-se  dos  carinhos  teus. 


Que  de  saudades  eu  não  vou  soffrei: 
Ao  vêr-me  ausente  d'este  amor  tão  puro, 
Os  d6ce&  gozoB  do  feliz  passado 
Bem  amargosos  vão  ser  no  futuro. 


Oh!  a  saudade,  essa  dôr  pungente 
Em  outras  eras  já  por  mim  sentida, 
Agudo  espinho  que  se  entraliha  n'alma, 
Que  a  dilacera  e  nos  rouba  a  vida ! 


Não  chores,  virgem,  não  te  afflijas  tanto, 
Enxuga  o  pranto  d'esses  olhos  teus ; 
Não  vês,  querida,  que  esse  pranto  amargo 
Vem  augmentar  os  soffirimentos  meus? 


Não  chores,  virgem,  não  succumbas  triste. 
Que  grata  esp'rança  eu  conservo  ainda 
De  ser  ditoso  e  de  viver  comtigo  * 
Dias  felizes  d' alegria  infinda. 


70  TROVADOR 

Adeus,  meu  anjo,  vou  partir,  deixar-te, 

Soou  a  hora  da  fatal  partida; 

A  longes  terras  vou  carpir  saudoso 

A  triste  ausência  d^essa  imagem  qu'rida. 


M.  J.  de  Almeida, 


LUNDU 


QUALQUER  MULHER  QUE  ENCONTRARES 


Qualquer  mulher  que'encontrares, 
Seja  bella,  seja  feia, 
Gritai  logo  á  bocca  cheia : 
Jesus !  nome  de  Jesus ! 


Fugi  d'ella,  filhos  meus. 
Como  o. diabo  da  crus. 


Se  a  encontrares  de  tarde 
Passeando  muito  airosa. 
Té  que  a  lua  vagarosa 
Apresente  a  sua  luz ; 


Fugi  d'ella,  filhos  meus — etc« 


TROVADOR  71 


Se  olhares  para  t»az 
E  ella  olhar  tambein, 
Mostrando  sem  pejo  a  quem 
Só  quer  vâr  os  hombros  nús ; 

fSigi  d'ella)  filhos  meus — etc. 


MODINHAS 


MINHA  TERRA  TEM  LOUREIROS 

Minha  terra  tem  loureiros 
Onde  canta  o  rouxinol, 
Canto  triste  e  solitário    • 
Que  se  esconde  ao  pôr  do  sol. 

Quem  m'o  dera  ouvir  de  novo 
N'essa  terra  que  eu  deixei ! 

Minha  terra  tem  campinas 
Que  tapizam  lindas  flores, 
Trinam  lá  melhor  as  aves. 
Sabem  mais  cantar  amores. , 

Quem  me  dera  ouvir  seu  canto, 
Se  o  seu  sol  eu  sempre  amei ! 


72  TROVADOR 

Oh !  falsârio  prazer  n3%  me  sigas, 
•Eu  comtigo  nSo  quero  alliaQça; 
Que  ao  sepulohro  me  deve — promette 
Essa  idéa  da  prova — Esperança. 


Oh  I  quem  me  dera  gozar 
O  doce  ar  que  gozei ! 


QUANDO  OS  TEUS  OLHOS 


Quando  os  teus  olhos 
Quebram  langor, 
São  iodos  graças, 
És  toda  amor. 
Os  olhos  d^outra, 
Faça  o  que  for, 
São  sim  os  olhos, 
Mas  nSo  d'amor. 


E'  tua  bocca 
Mimosa  âôr, 
Vedam  tocaia 
Graças  d'amor. 
Nos  lábios  d'outra 
Posso  os  meus  pôi^ 
Sem  que  no  peito 
Palpite  amor. 

Quando  do  pejo 
Brilha  o  rubor, 


■ 


TROVADOR  73 

Nas  facoB  tuas 
Adeja  amor* 
Se  as  faces  d'outra 
Mudam  de  cor, 
O  pejo  é  outro, 
NSo  vejo  atúor. 


Se  dás  um  gosto 
Ou  lima  dôr, 
Em  uma,,  em  outra 
Conheço  amor. 
Dados  por  outra 
O  gosto  é  dôr, 
E'  dôr  ou  gosto, 
Mas  nSo  d'amor. 


Quem  de  Marília 
Teve  um  favor, 
D'outra  não  queira, 
Qué  insulta  amor. 
Amor  comtigo 
E'  vivo  ardor, 
Nos  braços  d'outra 
E'  gelo  amor. 


74  TROVADOR 


AMA 


Q  BOLEEIRO 


Tríflto  vida  é  bolear 
Todos  os  dias  e  noites, 
Montado  n'um  borro  magro, 
Com  esporas  e  açoites. 


Levar  tafulas  bonitas, 
Na  sege  bem  recostadas, 
De  passeio,  aos  tramboIhSes, 
Pias  mas  esburacadas. 


Mas  ellas  sempre  me  pagam 
Sem  nuiica  faser  careta ; 
E  no  fim  sempre  me  dXo 
Qualquer  cousa  de  gorgeta. 

Que  triste  sqtte  é  a  minha, 
Que  me  fez  ser  boleeiro, 
Para  servir  a  vadios 
E  ganhar  pouco  dinheiro! 

Mas  ai !  que  agora  me  lembro. . . 
Esta  idéa  ninguém  vence... 
Vou  m'empenhar  para  ser 
De  uma  gôndola  fluminense. 


TROVADOR  75 


Mas  assim  nSo  me  succede, 
Pois  a  sorte  me  depara 
A  servir  a  um  pelintrinha 
Que  me  prega  meia-cara. 

Passo  já  a  governar 
Um  d'esses  velhos  caixSes 
Que  leva  a  gente  arrastada 
E  também  aos  trambolhões. 


E'  verdade  que  a  gente 
Do  serviço  já  cançada, 
Vai  arrumando  sem  dó, 
Uma  forte  clucotada. 


E  entSo  com  o  diabo, 
E  a  nossa  tentação, 
Em  lugar  de  dar  nas  bestas 
Quebramos  um  lampeSo. 

E  até  mesmo  sem  querer, 
Começa  o  mundo  inteiro : 
€  Pega,  agarra  esse  tratante, 
E'  um  patife,  um  brejeiro,  lí» 

De  sorte  que  por  descuido 
Não  se  ganha  quasi  nada; 
Pôde  o  pobre  boleeiro 
Chupar  uma  bengalada. . . 

Um  homen  atrapalhado 
Sem  saber  o  que  fskzer 
Vai  vingando«se  nas  bestas, 
Dá-lhe  forte  e  a  valer. 


76  TROVADOR 

Eu  nasci  para  ser  tua, 
Tu  nasceste  p'ra  ser  meu, 
C^  amor,  amor  se  paga, 
Meu  amor  é  todo  teu. 


Constança.  •  •  eu  morro, 
NSo  morre,  nSo, 
'Stá  aqui  seu  bem, 
Seu  coraçSo. 


Quem  me  desata 
Esta  gravata. 
Que  me  machuca, 
O'  senhor  Jucá! 


Sinhá,  quem  foi  que  disse 
Qu'eu  nSo  gostava  de  schotisse? 


RECITATIVOS 


O  PERDiO 


Perdoa,  oh  virgem,  se  te  amei  sonhando, 
Se,  despertando,  m^ndiguei-te  um  riso; 
Perdoa,  oh  virgem,  se  nos  meus  amores, 
Bem  como  as  flôros  desmaiei  conciso. . . 


TROVADOR  17 

Perdoa,  oh  deusa,  se  nos  meus  delírios, 
Á  Ittz  dos  círios  pro£Giiiei4e  o  pejo ; 
Perdoa,  ok  deusa,  se  n^imi  louco  anceio 
Beijei-te  o  seio,  supplíquei^te  um  beijo  I 

Perdoa,  oh  santa,  se  por  ti  convulsa, 
No  peito  pulsa  destemida  veia ; 
Perdoa,  oh  santa,  quanto  mais  s'inflamma 
De  amor^  chamma  mais  voraz  se  ateia  I 

Perdoa,  archanjo,  se  te  foi  ousado. 
Em  ter  fallado  n'esse  amor  tSk>  cedo ; 
Perdoa,  archanjo — por  tuaft  virgeoB  c'rõas, 
Se  me  perdoas  — guardarei  segredo ! 

PerdSo,  senhora!  —  teus  olhares  sérios 

Só  tem  mysterioS;  que  me  causam  damno ; 

PerdSo,  senhora !  se  me  vires  triste,       .  . 

A  dôr  consiste  n'um  fatal  engano. 
i  • 

L 

i  

I  Deixa,  donzella,  reparar  meu  erro, 

N'este  desterro  derramar  taeu  pranto ; 
Deixa  que  ao  menos  em  queixosa  endeixa. 
Lamente  a  queixa,  que  me  opprime  tanto. « • 

Consente,  yirgém,  q^e  na  pyra  ardente, 
Eu  yá  demente  me  queimar  em  vida ; 
Então  na  tumbi^,  já  depois  de  morto, 
Terei  conforto  da  tyranna  Uda  t 

E  ]i  sósinho,  passarei  oontente,^ 

E  etemamente«esquQoerei  o  mundo: 
I  Meu  pobre  peito  de  te  amar  cançado, 

^  L&  sem  cuidado  dormirá  ^fundvl... 


78  TROVADOR 

Eu  8Ó  te  peço  que  me  vis  um  dia, 
Na  lousa  fria  desfolhar-me  um  cravo, 
E  lá,  meu  a;njp|  murmur%r  cunrado : 
Morreu,  coitado,  de  meu  peito  eicravo! 


SUPPUCA 


Gentil  morena,  a  quem  adoro  e  amo 
No  fogo  ardente  do  amor  mais  santo, 
Conserva  sempre  em  teus  lábios  virgens 
Leal  sorriso  a  mitigar  meu  praAto. 

Ah  I  nunca  olvides  este  amor  tSo  puro 
Por  outro  affecto  que  nSo  seja  o  meu ; 
Pois  quero  ainda  te  beijando  um  dia 
ligar  ditoso  meu  destino  ao  teu. 

Perdoa  acaso  se  te  offendo,  ó  virgem, 
Pois  eu  j&mais  te  julgarft  perjura; 
Bem  sei  qae  és  firme,  por  demais  constante 
Para  que  esqueças  tão  sagrada  jura. 

« 

Ah !  como  é  bello,  ao  .cahir  das  tardes. 
Pensar  em  ti,  e  me  julgar  feliz  ! 
Sentir  no  peito  o  coração  fallar-me 
Em  doces  falias  que  o  porvir  me  diz ! 

Ah !  como  é  bello  ao  chegar  das  noites 
Yêr  em  minh'alma  a  dôce  imagetn  tua, 
Julgar-te  um  anjo  de  sublime  encanto, 
Aos  frouxos  raidí^  que  desprende  a  lua  1 


TROVADOR  79 


Bem  pôde  a  Borte  caprichosa^  um  dia, 
A  minha  vida  dar  o  finai  corte ; 
Ainda  assim,  eu  te  amarei  constante 
Além  do  tumulo,  affirontando  a  morte. 


Gentil  morena,  serei  feliz  te  amando, 
Víyo  e  alento-me  dos  sonrisos  teus ; 
Consenra  sempre  em  teu  peito,  virgem, 
O  fogo  santo  dos  amores  meus. 


Piíiío  Pereira. 


lundC 


UMA  PEQUENA  BREJEIRA 


Uma  pequena  brejeira 
Commigo  yive  em  amores ; 
Quando  passo  á  sua  porta 
M'embriaga  com  mil  flores. 

Menina  que  offerta 
Ao  seu  namorado 
Boquinhas,  abraços, 
NSo  é  desagrado. 


80  TBOVADOR 

NSo  me  larga  sen)  qtt'ea  dâ 
Na  sua  fetce  mimoaa 
Um  OBColo  de  paro  amor, 
Tornaado^iBe  aflaim  formoaa* 


Menioa  que  offerta 
Ao  aea  namorado  —  etc« 


Sempre  espera  qáando  eu  passo 
Na  janeila  a  tal  pequena ; 
E  quando  me  avista  ao  longe 
Com  seu  lencinho  m'acena. 


Menina  que  offerta 
Ao  seu  namorado — etc. 


Tem  delgada  cinturinha, 
JS'  bem  feita  a  minha  querida ; 
Quando  vou  beijar-lhe  as  tranças 
Fica  quasi  sem  ter  vida. 


Menina  que  offerta 
Ao  seu  namorado — etc. 


*  TIIOVADOR  81 


MODINHAS 


BEUO  A  MJ^O  QUE  ME  CONDEMNA 


Poeôa  do  dr.  J.  M.  Nunes  Gardá,  e  mosioa  do  snr.  B.  S.  P.  M. 


Beijo  a  mSo  que  m^  condenma 
A  ser  sempre  desgraçado, 
Obedeço  ao  meu  destino, 
Bespeito  o  poder  do  £ftdo. 


Que  eu  ame  tanto 
Sem  ser  amado, 
Sou  infeliz, 
Sou  desgraçado. 


KEU  SCI8HAR 


NSo  creias,  lilia,  nSo  creias 
Que  eu  deixei  de  te  adorar ; 
NSo  creias  em  yotos  d'oatro, 
Crê  somente  em  meu  scismar. 
vos*-  ni. 


8Í  TROYADOB  * 

Aperta  de  amor  os  laços, 
Da  sorte  quebra  o  ri^r, 
Vem  felis  ser  em  meus  braços, 
Vem,  meu  anjo  e  meu  amor. 

Se  alguém  com  yob  tremente 
Junto  a  ti  de  amor  fallar, 
Nfto  creias  em  suas  juras, 
Mas  escuta'  o  meu  sdsmar. 

Aperta  de  amor  os  laços — etc. 

i 

NSo  consintas  nos  teus  lábios 
Vá  mil  doçuras  libar. 
Foge  d'esse  que  nSo  vive 
Como  eu  em  doce  scismar. 

Aperta  de  amor  os  laços — etc. 

Foge  a  todos,  vem  a  mim, 
Vem  ouvir  meu  palpitar^ 
E  deixa  que  no  teu  collo 
Tome  em  veras  meu  scisma^. 

Aperta  de  amor  os  laços — etc. 

Delicias  sem  fim  concede 
A  quem  sabe  tanto  amar, 
Vem  a  meus  braços  depressa 
Ouvir  meu  terno  scismar. 

Aperta  de  amor  os  laços — etc. 


Braulio  Cláudio. 


TROVADOR  83 


QUANDO  A  AVE  DA  NOITE 


Quando  a  ave  da  noite 
Pavoroso  esvoaçar 
Na  pedra  de  minha  lousa 
O  meu  somno  despertar; 
Nlo  cuides  que  o^  isolamento 
Tudo  pôde  consummar. 

Quando  ouvires  de  noite 

Gemidos  tristes  de  dor, 

Lembra-te  do  teu  poeta 

Que  dorme  em  campa  de  horror; 

O  tempo  tudo  destróe 

Mas  não  destróe  meu  amon 


Qaando  os  áridos  sons 
Te  emlmagar  no  dormir, 
NSo  cuides  que  a  fria  ausência 
Tudo  pôde  consumir; 
Meu  amor  foi  verdadeiro, 
Jamais  pôde  se  extinguir. 

Quando  o  funéreo  cantor 

A  noite  negra  apontar 

Nos  desertos  pavorosos 

Com  medofiho  suspirar; 

NSo  cuides  que  a  dura  auseneia 

Pôde  de  ti  me  apartar. 


8i  TROVADOR 


CANÇiO 


O  FILHO  FBODIOO 


Poesia  do  sor.  Mello  Moraes  Filho,  e  musica  do  snr.  J.  S.  ArvéUoe 


Delinqni,  manchei  na  vida 
  fiôr  de  minlia  ventara, 
E  com  a  fironte  abatida 
Busco  a  firia  sepultura; 
Ai !  meu  Deus,  que  negros 
Passei  ao  sol  das  orgias, 
Ao  lado  dos  lupanares ! 
Agora  minh'almA  affliota 
Como  a  lua  tZõ  contrita 
\lve  só  de  seus  pezares. 


Ah!  Senhor,  porque  tiraste 
O  homem  do  frágil  pó, 
E  depois  o  desprezaste 
Deixando-o  no  mundo  só? 
Sem  mesmo  ter  um  abrigo 
SenSo  a  morte,  o  jazigo, 
N^essa  viagem  de  um  dia... 
E  depois,  ó  Deus  eterno, 
Talvez,  quem  sabe  ?  o  inferno 
Quando  a  fronte  se  resfria* 

Ai,  meu  pai  I  se  tu  souberas 
Os  meus  tormentos  d'agora. 


TROYAiyOR  85 


Lenitivo,  oh  a^m,  me  deras 
Á  magoa  que  me  devora! 
Se  já  nSo  tenho  innocencia 
Sinto,  sinto,  muita  ardência 
Me  queimar  o  sangue,  o  peito: 
Ah!  eu  devo  no  revés 
Banhar  de  pranto  os  teus  pés 
Sem  phrases  ao  muito  affecto. 

Sim,  perdSo,  perdfto  te  peço. 
Meu  bom  pai...  Me  arrependi; 
Se  d'eUe  eu  hoje  careço 
De  todo  me  nSo  perdi. 
Fui  apesar  um  momento 
Desbotado  ao  desalento 
D'es6a8  paixSes  de  matar. .. 
Mas...  não  quero,  pai,  benigno 
Conheço,  já  nSo  sou  digno 
D'em  tua  morada  entrar. 


RECITATIVOS 


DEVANEIO 


Amar-te  é  a  sina  doeste  peito  ardente 
Qae  almeja  crente  teu  amor  também ; 
Amar-te  é  a  vida  que  me  infiltra  n'alma 
A  doce  calma  que  venturas  tem. 


86  TROVADOR 

Embora  a  sorte  me  comprima  o  peito, 
Em  duro  leito  de  bem  agras  dores, 
Quero  adorar-te  assim  mesmo,  -virgem, 
N'eBta  vertigem  de  um  soffror  de  amores. 


Mas  ai,  eu  sei  que  em  vBo  procuro 
No  meu  futuro  descobrir  esperanças, 
Hoje  meu  peito  de  sofrer  cançado, 
Somno  passado,  vai  colher  lembranças. 


D'es8as  lembranças  do  viver  d'oQtr'ora, 
Bem  triste  chora  quem  por  ti  suspira. 
Hoje  offuscadas,  só  me  restam  dores, 
Mirrhadas  flores  no  vibrar  a  Ijra. 


Quem  sabe?  aiada  voltarSo  risonhos 
Os  lindos  sonhos  da  eetaçfto  florida? 
Oh !  quSo  ditosa  me  seria  a  sorte 
N'este  transporte?  respirando  a  vida! 


Oh!  quanto  é  doce  a  esperança  linda 
Que  vive  ainda  entre  o  meu  aoffirer ; 
N'ella  sorri-me  tua  imagem  querida 
E  dá-me  a  vida  para  amar^te  e  crer. 


22.  da  SUva. 


I 


TROVADOR  87 


O  ARTISTA 


Eram  ias  artes, .  n'ontro  tempo,  a  base 
Que  a  sociedade  sustentava  em  pé ; 
Elias  traziam  o  socego  aos  povos, 
Eram  dos  reis  a  redempçSo  —  a  fé. 


Âs  artes  eram  necessárias — ateis, 
A  bem  do  aso  e. protecção  do  mundo; 
Sem  ella  nunca  a  sociedade  imbelle 
Se  ergueria  do  dormir  profundo. 


N'aquelle  tempo  era  o  artista  grande, 
Amavam-o  muito --^ por  amor  das  artes; 
Da  fama  a  tuba  se  fazendo  ouvir 
Soava — artista — por  diversas  partes. 


Nos  régios  paços  onde  ha  só  pompas. 
Onde  etiquetas*  por  demais  se  avista. 
Entrava  altivo,  com  seguros  pitssos. 
Era  p'los  nobres  rodeado  o  artista. 


Hoje  o  artista  é  no  mundo  o  ente 
A  quem  se  vota  indifferença  çó; 
E'  semelhante  ao  ignoto  insecto 
Que  vive  e  morre  envolvido  em  pó. 


Que  vale  o  artista  n'este  mundo — onde 
As  artes  morrem  por  não  ter  cultor? 
Que  vale  o  artista — talentoso  mesmo, 
Se  a  sociedade  não  lhe  dá  valor?... 


88  TROVADOR 

EUa  o  repelle  indifferente  e  calma,       • 
Despreza  o  génio  se  o  artista  é  pobre ; 
E  oom  sorriso  derisor — satanioo 
Abre  seus  braços  ao  potente — ao  nobre. 


NSo  entendendo  qne  o  artista  é  grande, 
Que, sem  as  artes  findaria  o  mnndo; 
Que  a  sociedade  viveria  immersa 
N^um  labjrintho  por  demais  profundo. 


Caminha,  artista,  e  o  perdSo  offerta 
A  quem  teu  génio  de  ludibrio  cobre ; 
Esta  que  hoje  te  repelle  —  um  dia 
Conhecerá  que  o  artista  é  nobre. 


Oualberto  Peçonha. 


LUNDU 


QUEM  É  POBRE  NÃO  TEM  TICIOS 


Quem  é  pobre  nSo  tem  vicies, 
Deixe-se  de  namorar,' 
Se  as  moças  cantam  assim 
Como  ]>óde  o  pobre  amar? 


TROVADOR  89 

Fora — lhe  dizem 
Âs  moças  todaa^ 
Ninguém  comtigo 
Quer  fazer  bodas. 


Mas,  seja  o  que  fôr, 
Já  nSo  m 'embaraça, 
Agora  jurei 
Amar  por  pirraça. 


MODINHAS 


VAI-TE,  RECEIO 


Vai-te,  receio, 
Pçr  um  momento; 
Vai-te,  tormento 
Consumidor ! 


Brilha  a  verdade 
Entre  os  arcanos, 
Fujam  enganos, 
Falle  o  amor. 


Armia,  escuta 
O  desgraçado, 
Apaixonado 
Meu  coraçSo. 


90  TROVADOR 

« 

Tado  quanto 
Emprehende, 
Hoje  depende 
D'am  9Ím  ou  não. 


Oh!  bella  Armia, 
Ama  constante 
Ao  temo  amante, 
Que  falia  assim. 

Anjo  do  céo, 
Muda-me  a  sorte, 
Ou  dá-me  a  morte, 
Ou  diz*me  sim. 


ASTRO  BO  CÉO 

m 

Astro  do  céo, 
Rara  belleza,         < 
Acaso  és  dom 
Da  natureza? 

Da  naturesa* 
E's  perfeiçSo, 
Aceita,  oh  bella, 
Meu  coraçSo. 

Meu  coraçSo 
A  ti  pertence. 
Tua  candura 
A  mim  só  vence. 


TBOYABOR  91 

A  mim  só  vence 

r 

Teu  mago  olhar, 
TSo  penetrante 
Faz-me  expirar. 

Faz-me  expirar 
Somente  ao  yèr-te, 
Mas  quero  a  vida 
A  pertencer-te. 

P'ra  pertencer-te, 
P'ra  ser  ditoso, 
Quizera  um  sim 
Esperançoso. 

Esperançoso, 
De  ti  almejo 
Dos  lábios  teus 
Um  doce  beijo. 

Um  dfice  beijo 
Seria  a  paga, 
Seria  a  cura 
Fra  a  minha  chaga. 

P'ra  a  minha  cha|;a 
Inda  sangrenta. 
Mas!  que  é  isto?.*. 
Ella  se  ausenta! 

EUa  se  ausenta. .  • 
Porque,  cruel? 
Queres  ainda 
Que  eu  sorva  fel  ? 


92  TROVADOR 

Que  eu  sorra  fel? 
Eu  te  enganei.  •  • 
E'8  iUudida, 
Muito  te  amei. 

Muito  te  amei 
E  adivinha, 
Inda  te  amo, 
Oh  bella  minha ! 


RONDINO 


a.p. 


OSOMHO 


Poeria  do  dr.  D.  J.  Gk>nçalvefl  de  Magalh&es,  e  mosica 

do  anr.  Raphael  Coelho 


Que  bello  sonho 
Eu  hoje  tive  1 
Também  sonhando 
O  homem  vive. 

• 

Era  meu  leito 
O  teu  regaço; 
Mea  travesseiro 
Teu  lindo  braço.  ^ 


TROVADOR 


Contra  o  teu  peito 
Ta  me  apertavas, 
E  com  teus  dedos 
Me  penteavas. 


93 


i 


Teu  lindos  olhos 
Que  ratilavam, 
Celestes  cbammas 
Aos  meus  vijbravam. 

Ás  nossas  almas 
N'esse  momento 
Só  se  nutriam 
De  um  pensamento. 

Eu  n'esse  arroubo 
N8o  reflectia; 
No  céo  pairava, 
No  céo  vivia. 


Porém  acordo... 
Oh  !  que  amargura ! 
Foi  mero  sonho 
Minha  ventura. 


Antes,  sim,  antes 
Nunca  acordasse. 
Antes  jv  ou  sempre 
Assim  sonhasse. 


9i  TROVADOR 


RECITATIVOS 


O  9010  LTRIO 


O  roxo  lyrío  que  s^inclina  á  boira 
L&  da  ribeira^  solitário  e  triste; 
Ai  I  nSo  recebe,  coitadinho,  alento^ 
Nem  já  do  vento  seu  fhror  resiste. 


A  philomela  que  no  bosque  undoso, 
De  seu  esposo  lhe  pranteia  a  morte, 
De  galho  enqi  galho,  loucamente  o  chora, 
Debalde  implora  compaixão  da  sorte** 


Sou  como  o  lyrio  que  lhe  falta  a  araggsm 
N'esta  romagem  que  se  chama  vida  I 
Bem  como  o  lyrio  me  balouça  o  vento. 
Do  sofiQrimedto,  na  mundana-  lida  I 


E  qual  nos  bosques  rouxinol  plumoso 
Que  desditoso,  seu  amor  perdeu: 
Assim-410  mundo  vagueando,  errante. 
Busco  o  semblante  paternal  do  céo. 


Assim  minh'alma  n'este  alvÔr  da  vida 
Jaz  envolvida  n'um  pezar  secreto : 
Assim  meu  peito  de  descrença  infinda 
Esvái-se  e  finda  por  fatal  decreto. 


TROVADOR  95 

I 

O  mundo !  o  mondo  I  de  baldSoB  me  cobre. 
Despreza  o  pobre  qué  mendiga  um  riso  I 
Triste,  coitado,  sem  gozar  ventoras, 
Sente  amargaras  de  um  viver  conoÍBol 


DEVANEIOS 

Eu  quero  yêr-te  de  esplendor  cercada, 
A  fronte  ornada  de  mimosas  flôtes, 
No  ardor  de  um  baile  me  £Edlar  mansinho 
Murmurar  baixinho  segredando  amores. 

Nos  salSes  da  moda  nSo  desejo  vêr-te 
Toda  embeber-te  em  pensamentos  vSos, 
Nem  vêr  um  outro  receber  sorrindo 
O  ramo  lindo  de  tuas  níveas  mSos. 

Na  valsa,  oh  beUa,  quero  vêr*-te  exangue 
Curvada  e  langue  sobre  o  peito  m^u,  ^ 
Arqueando  tremula  de  febril  cansaço, 
Qomprimir-me  o  braço  sobre  o  peito  teu. 

No  ardor  da  valsa  perpassar  ligeira 
Voar  faceira  eu  não  te  vejA,  ai,  nSo ! 
Sobre  outro  peito  .descançi»ndo  a  fronte 
Qual  flor  do  monte  que  pendeu  p'ra  o  chSo. 

Quando  o, baile  em  meio  mais  prazer  encerra 
Vêr-te  quizera  abandonar  as  salas, 
E  a  sós  commigo  te  isolar  contente        ^ 
Prendendo  a  mente  em  au^orosãs  fallaa. 


96 


TROVADOR 


Eu  qaero  yêr-te  de  esplendor  cercada, 
A  fronte  ornada  de  mimoBas  ^ôres, 
No  ardor  de  am  baile  me  fallar  mansinho, 
Murmurar  baixinho  segredando  amores. 


C,  da  Rocha, 


LUNDO 


o  SÉCULO  DO  PROGRESSO 


(voto  luidó) 


Para  ser  cantado  péla  musica  do  landú  —Sitounoê  no  êteulo  doa  Itaet 


Hoje  tudo  n'este  mundo, 
Faz  a  gente  admii^r. 
Cousas  novas  que  agparecem 
Que  nem  sei  vos  explicar  I 


A,  E,  I,  O,  U, 
Queiram  todos  conhecer. 
Essas  cousas  que  appareoem, 
Para  o  povo  se  entreter. 


TROVADOR  97 


Temos  bailes  sem  cessar, 
Para  o  povo  galopar, 
E  ruas  novas  se  abrem 
Para  o  povo  gassear. 

^  Ba^  be,  bi,  bo,  bu  —  etc. 

Cada  dia  só  se  vê 
Novas  mas  se  calçar; 
E  baixado  o  ministério 
Eis  as  ruas  a  chorar. 

Ça,  ce,  ci,  ço,  çu — etc. 

A  pedirem,  coitadinhas, 
Que  nSo  estejam  só  paradas, 
Que  assim  entre  o  ministério 
Para  serem  bem  calçadas. 

Da,  de,  di,  do,  du — etc. 

* 
Tantos  entes  pelas  ruas, 
Com  caixSes  a  carregar, 
A  gritareín  que  atormenta : 
Ohl  Preguez,  quer  engraxar? 

Pa,  fe,  fi,  fo,  fii — etc. 

Uma  rua  tSo  antiga, 
Bem  gravada  na  memoria; 
Matacavallos  já  chamada 
Biachuelo  é  hoje  á  gloria  I 

Ga,  gue,  gui,  go,  gu— etc. 
VOL.  m. 


98  TROVADOR 

Hoje  tudo  é  caso  ^oyo, 
Faz  a  gente  admirar, 
Ha  também  soas  couainhas 
Qae  nos  ím  bem  espantar. 

• 
Ja>  je»  ih  JOi  ju— etc. 

Como  seja  a  dura  ordem, 
Que  se  dea  sem  olvidar, 
A  nosso  povo,  coitadinho, 
Para  a  guerra  já  marchar. 

La,  le,  li,  lo,  lu — etc. 

Tudo  isto  só  por  causa 
Do  tjranno  do  Lopez; 
Que  anda  o  povo  tristemente 
A  chorar  o  seu  revez. 

Ma,  me,  mi,  mo,  mu  —  etc. 

Deixa  estar  que  este  brinquedo, 
Bem  depressa  ha-de  acabar; 
Hei-de  ter  meu  gostosinho 
De  vâr  o  Lopez  a  chorar ! 

Na,  ne,  ni,  no,  nu — eto. 

Ji  nSo  pôde  a  humanidade. 
Seu  passeio  desfrutar ! 
Pois  encontra  quem  lhes  diga 
Tenha  a  bondade  de  eseutar : 

• 
Pa,  pe,  pi,  po,  pu — etc. 


TROVADOR  99 


O  senhor  traz  seu  documento, 
Que  elle  Urre  assim  da  praça? 
Se  nSo  traz  responda  já, 
Pois  nos  serve  bem  a  caça. 

Ra,  re  ri,  ro,  ru — eto. 

Diz  o  pobre,  coitadinhO| 
Eu  só  vim  a  passear, 
Não  sabia  se  os  senhores 
Tinham  ordem  de  caçar ! 

Sa,  se,  si,  so,  su — 'Otc. 

Pois  então,  meu  amiguinho. 
Me  desculpe  o  proceder; 
Acompanhe-o,  oh  camarada, 
Queira  já  o  recolher. 

Ta,  te,  ti,  to,  tu  —  etc. 

O  governo  assim  me  manda. 
Vá  cumprir  o  seu  dever, 
Recrutando  os  probresinhos 
Que  nSo  tem  de  quem  valer. 

Va,  ve,  vi,  vo,  vu  —  etc. 

Cá  08  ricos  eu  nSo  mexo, 
Tenho  medo  de  sojSrer 
De  seus  pães  atrevimentos 
Que  me  podem  offender  I 

Xa,  xe,  xi,  xo,  xu — etc. 


100  TROVADOR 

I 

Tudo  isto  a  quem  devemos? 
Eu  pergunto — me  diz  nSo  sei, 
Os  ricos  nSo  soffrem  penas, 
Os  pobres  tem  dura  lei ! 


Za,  ze,  zi|  ZO)  zu, 
Corram  todos  a  venceri 
Em  geral  corram  ás  armas 
Quero  o  Lope^  a  tremer! 


Adsodato  Sócrates  de  Mello. 


MODINHAS 


DE  Tio  LONGE  OUVIR  NÃO  PODES 


De  tSo  longe  ouvir  nSo  podes 
O  meu  triste  suspirar  ! 
Quanto  eu  soffro  n'esta  ausência 
NSo  sabes  avaliar. 


Sim,  tu  nSo  podes 

Avaliar, 

O  quanto  é  triste 

O  meu  penar. 


Por  um    bahiano. 


TROVADOR  101 


quá!ndo  em  meu  peito  rebentar-se  a  fibra 


Poesia  do  snr.  Alvares  de  Azevedo,  e  musica  do  snr.   J.  Bufino 

de  O.  Costa. 


Quando  em  meu  peito  rebentar-se  a  fibra 
Que  o  espirito  enlaça  á  dôr  yehemente, 
HSo  derramem  por  mim  em  tristes  pálpebras 
Uma  só  lagrima  de  paixSo  demente. 


E  nem  desfolhem  na  matéria  impara 
A  flor  do  valle,  em  que  adormece  o  vento; 
Não  quero  que  uma  só  nota  de  alegria 
Se  cale  por  meu  triste  passamento. 


Eu  deixo  a  vida  como  deixa  o  tédio 
Do  deserto  o  poente  caminheiro, 
Como  as  horas  de  um  longo  pesadelo, 
Que  se  desfaz  com  o  dobre  de  um  sineiro. 


Como  um  deserto  de  minh'alma  errante, 
Onde  um  fogo  insensato  a  consumia; 
Só  levo  uma  saudade  d^esses  tempos 
Que  amorosa  illusão  me  embellecia. 


Só  tenho  uma  saudade  d^essa  sombra, 
Que  eu  sentia  velar  nas  noites  minhas, 
É  de  ti,  minha  mSi,  pobre  coitada, 
Que  por  minha  tristeza  te  definhas. 


i02  TROVADOR 

De  meu  pai,  e  de  meus  únicos  amigos, 
Poucos,  bem  poucos,  e  que  nZo  zombavam, 
Qqando  em  noites  de  febre  doudecido 
Minhas  pallidas  crenças  duvidavam. 

Só  tu,  ob  mocidade  sonhadora, 
Ao  pallido  poeta  doestas  flores. 
Se  viveu  foi  por  ti,  e  d'esperanças, 
De  na  vida  gozar  de  teus  amores. 

Se  uma  lagrima  as  pálpebras  me  inundam, 
Se  um  suspiro  no  seio  treme  ainda, 
É  pela  virgem  que  sonhei,  que  nunca, 
Nos  lábios  me  encostou  a  face  linda. 

Beijarei  a  verdade  santa  e  nua, 
Verei  crystallisar-se  sonho  amigo ! 
O'  minha  virgem  dos  errantes  sonhos, 
Filha  do  céo,  eu  vou  amar  comtigo ! 

9 

Mas  desvanece  o  meu  leito  solitário 
Na  floresta  dos  homens  esquecida ; 
E  á  sombra  de  uma  cruz  escrevam  n'ella: 
Foi  poeta,  sonhou,  e  amou  na  vida. 

Sombra  do  valle,  noites  das  montanhas 
Que  minha  alma  cantara  e  amara  tanto, 
Protegei  o  meu  corpo,  abandonado, 

E  no  silencio  derramai-lhe  um  canto. 

« 

« 

Mas  quando  preludia  a  ave  da  aurora 
E  quando  á  meia  noite  o  céo  repousa, 
Arvoredo  do  bosque,  abri  os  ramos, 
Deixai-me  a  lua  pratear*me  a  lousa. 


tROVADOft 


103 


CANÇÃO 


O  Exnjo 

t 

Poesia  do  snr.  A.  Gonçalvee  Dias,  e  musica  de  »»« 

Minha  terra  tem  palmeiras 
Onde  canta  o  sabiá ; 
ÂB  aves  que  aqai  gorgeiam 
Não  gorgeiam  como  lá. 

Nosso  céo  tem  mais  estrellas. 
Nossas  várzeas  tem  mais  âôres; 
Nossos  bosques  tem  mais  vida, 
NoBsa  vida  tem  amoles. 


Em  sciamar  —  sósinho — á  noite, 
Mais  praser  encontro  eu  lá ; 
Minha  terra  tem  palmeiras 
Onde  canta  o  sabiá. 


Minha  terra  tem  palmeiras 
Que  taes  nSo  encontro  eu  cá; 
Em  scismar — sósinho — á  noite, 
Mais  prazer  encontro  eu  lá; 
Minha  terra  tem  palmeiras 
Onde  canta  o  sabiá. 


KSo  permitta  Deus  que  eu  morra 
Sem  que  ea  volte  para  lá, 


10 i  TROVADOR 

Sem  que  eu  desfrute  os  primores 
Que  eu  nSo  encontro  cá, 
Sem  que  inda  aviste  as  palmeiras 
Onde  canta  o  sabiá. 


RECITATIVOS 


AO  VÊL-A 

Ao  vêl-a — gelou-se-me  o  sangue  nas  veias! 
Prenderam-me  os  passos,  immovel  fiquei ! 
NSo  era  mais  eu — nSo  era  —  quem  via... 
Sem  luz,  sem  sentidos,  sem  alma  me  achei ! 

Tal  era  a  pureza  das  faces  mimosas ! 
Tal  era  dos  olhos  o  doce  fulgor ! 
Tal  era  o  sorriso  dos  lábios  de  rosa! 
Tal  era  a  candura  da  virgem  de  amor. 

Quizera  dizer-lhe,  baixinho,  em  segredo : 
Tu,  fada  d^encantos,  vieste  doa  céos? 
Mas  tremulo,  a  susto,  meu  sêr  emmudece. 
Nem  animo  tive  de  olhal-a,  meu  Deus ! 

TSo  cândida,  e  linda,  de  tantos  encantos, 
Excede  as  estrellas  no  intenso  brilhar! 
NSo  é  creatura  nascida  na  terra, 
E'  Vénus  sahindo  da  espuma  do  mar. 


f 


TROVADOR  105 

Um  ai  de  surpreza  do  labio  escapou-lhe 
Ao  yêr-me,  ao  olhar-me  tSo  perto  de  si ! 
Qae — ai — qae  harmonia,  que  nota  divina! 
Meu  Deus,  H^este  instante,  porque  nSó  morri? 


Depois...  como  aquelle  que  salie  d'um  delírio, 
Meus  trémulos  olhos  desvio  do  chSo, 
Embalde  a  procuro  no  espaço  infinito... 
Já  tinha  de  todo  fugido  a  visSo ! .  •  • 


JoȎ  Luiz  Caetano  da  Silva. 


A.  •  • 


Meu  peito  soffire,  sufibcando  dores, 
Cândidas  flores  que  *definham  n'alma ! . . 
Meu  peito  sojBTre  em  cruel  martyrio 
Atroz  delírio  que  jamais  tem  calina !  •  • . 


Do  amor  extremo  eu  frui  delicias. 
Doces  caricias  de  celeste  Archanjo.  •  • 
Transportes  d'alma  se  ateavam  bellos, 
Puros,  singelos,  qual  sorrisos  de  anjo ! 


UlusSes  perdidas  do  perdido  amor ! .  • . 
Murchou  a  flor  que  me  prendia  á  vida  I 
Sonhos  dourados  de  um  porvir  immenso, 
Em  Bo£frer  intenso  reverteu  a  infida.  •• 


106  TROVADOR 


Hoje  descrido — sem  vigor  meoft  braços, 
Desfaz  os  laços  que  amor  prendea !  •  •  • 
Do  sentir  puro  a  intensa  dôr 
DesfiiUia  a  flfir  que  também — morren !  • . 


Mas  ah  t  • .  •  nSo  fujas,  que  por  ti  a  vida 
Vejo  perdida  sossobrando  4  dôr!... 
NSo  fujas, — n3o — que  sem  ti  minValma 
Jamais  é  calma  de  tSo  santo  amorl... 


Este  amor  puro  foi  por  Deus  dictado 
Ao  ente  amado  que  me  faz  soffrer ! . . . 
Mas  ah!...  por  ella  tudo  sSo  encantos, 
Amargos  prantos  que  me  faz  morrer ! . . . 

Meu  peito  soffre,  sufFoeando  dores, 
Cândidas  flores  que  definham  n'alma !  •'. . 
Meu  peito  soffre  em  cruel  martyrio 
Atro  delirío  que  jamais  tem  calma ! .  •  • 


S.  Jm  S, 


ià 


r- 


TROVADOR  lOT 


LUNDU 


A  UVADEIRA 


Poesia  do  snr.  M.  M.,  e  musica  do  sor.  Aryellos 


N'e8te  mando  a  lavadeira 
NSo  podo  ter  coração, 
Seus  amores  devem  ser 
A  gamela  e  o  sabSo. 


Yôyô  me  desculpe, 
NSo  seja  teimoso, 
Quem  é  que  recusa 
Namoro  rendoso? 


O  meu  lindo  estudantinho 
Se  nSo  tem  roupa  lavada, 
•  Diz  que  fui  ver  freguezia 
Por  entre  a  rapaziada. 


Yôyô  me  desculpe — etc. 

Mas  se  ás  vezes  eu  encontro 
Mocinhos  apacatados, 


108  TROVàDOR 

NSo  lhes  hei-de  dar  com  gosto 
Os  botões  mais  bem  pregados? 

Yôyô  me  desculpe — etc. 

EntSo  sim,  lá  mesmo  a  casa 
A  roupa  lhe  vou  buscar; 
Elles  dSo-me,  em  troca  d'isso, 
O  dobro,  se  a  fôr  levar. 

Yôyô  me  desculpe — etc. 

Âflsim  vou  passando  a  vida 
Suave  como  ninguém, 
Pois  d^esses  moços  assim 
A  roupa  nem  suja  tem. 

Yôyô  me  desculpe — etc. 

E  affirmo  que  apesar 

De  nSo  ser  má  lavadeirai^ 

Vale  mais  o  meu  sabSo 

Que  a  gomma  da  engommadeira. 

Yôyô  me  desculpe — etc. 


TROVADOR  109 


MODINHAS 


EU  VIVO,  MAS  OH  I  NÃO  VIVOJ 


Eu  viyo,  maa  oh !  nSo  títo 
Com  quem  qaizera  viver, 
Vivo  só,  vivo  penando, 
Víto  sempre  a  padecer. 

A  padecer 
E  a  penar, 
Ai!  ai!  não  posso 
Tal  supportar! 

Meu  Deus,  se  viyer  nSo  hei-de 
Com  quem  quizera  viver, 
Matai-me  por  piedade. 
Que  assim  vivo  a  morrer! 


A  morrer  vivo. 
Por  nSo  poder 
Com  quem  desejo 
Junto  viver  I 


H2  TROVADOR 

Pôde  o  frio  da  mortalha 
Os  meus  affeotos  em  dôr ; 
Mas  ha-de  ser  sempre  firme 
Na  minh'alma  o  teu  amor* 

Sem  ti  eu  yíyo  chorando — etc. 

AdeuS)  oh !  anjo  formoso, 
Meu  amor,  minha  illusBo; 
Do  bardo  pleno  de  amores 
Aceita-lhe  o  coraçSo. 

Sem  ti  eu  yíyo  chorando — etc. 

Adeodato  Sócrates  de  Metlo* 


ROMANCE 


CANTEHOS  UM  SIM 


(SCHEHZZO) 


Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  Gronçalves  Magalh&es,  e  musica 

do  snr.  Baphael  Coelho 


Oh  anjo  que  inspiraa 
Palavras  de  amor, 


' 


TROVADOR  1 1 3 


E  abrazas  o  peito 
Dô  amante  cantor,    . 
Da  espkera  celeste 
Ah  yem,  vem  a  mim, 
Cantemos,  oh  anjo, 
Cantemos  um  sim. 


Um  sim  em  seos  lábios 
Ouvi  murmurar, 
TSo  doce,  tão  meigo. 
Qual  brando  vilirar 
De  uma  harpa  tocada 
Por  um  seraphim. 
Cantemos,  oh  anjo. 
Cantemos  um  sim. 


Desde  esse  momento 
O  meu  coraçSo 
Tranquillo  palpita 
Sem  mais  oppressSo. 
De  Urania  a  pi^layra 
Áos  Santos  poz  fim, 
Cantemos,  oh  ai\jo. 
Cantemos  um  sim. 


Oh  anjo,  teu  canto 
1^0  pôde  exprimir 
O  enlevo  divino 
Que  um  sim  faz  sentir! 
Debalde  te  invoco; 
Mas  ah !  mesmo  assim 
Cantemos,  oh  anjo. 
Cantemos  um  sim. 


Toi..  m.  8 


114  TROVADOR 


BEGITATIYOS 


SDPPUCA 

(bscxtatito  bacbo) 

Jesus,  attende  ás  ardentes  preces 
Que  ao  céo  t'envio  n'e8te  santo  dia. 
Perdão,  Senhor,  para  mim,  culpada, 
Que  á  teus  pés  supplico  por  tua  agonia. 

■ 

PerdSo  Jesus,  para  a  triste  afflicta 
Que  hoje  chora  com  pèzar  profundo, 
Perdão  p'ra  ella  que  em  ti  confia 
Porque  és,  Senhor,  o  Salvador  do  mundo. 

Sei  que  mereço  tua  santaira. 
Que  sou  indigna  de  tua  bondade. 
Porém  contrita  de  te  haver  magoado 
Eis  os  meus  rogos  — tem  de  mim  piedade. 

Perdoa,  Senhor,  os  duros  aggravos 
Com  que  na  vida  te  tenho  offendido, 
Perdoa,  Senhor,  se  meu  peito  ingrato 
Teu.  santo  amor  tenha  até  esquecido. 

■ 

Jesus,  perdoa,  pela  Santa  Virgem, 
Pelos  martyrios  da  tua  Paixão, 
Perdoa,  á  misera  que  de  angustia  cheia 
Com  fervor  supplíca  —  Jesus,  compaixão. 


TROVADOR  115 


Perdão  espero  e  perdSo  terei. 
Benigno  Pai,  que  por  nds  morrendo, 
AsBáfl  proraste  que  a  toa  miaaSo 
No  mondo  era — perdoar  soffirendo! 


' 
t 


Candiida  habd  de  Pinko  Cotrim. 


I 

■ 


DEUSI... 


P'ra  qualquer  parte  qu'eu  revolva  os  olhos 
Yejo  myiterioB  e  preceitos  seus; 
Na  flor,  no  prado,  no  perfume — em  tudo 
£u  reconheço  teu  poder — meu  Deus  ! 

Pela  manhS,  no  alvorecer  do  dia. 
Se  do  sol  vejo  radiante  luz, 
Minh'alma  se  enche  de  prazer  e  jubilo 
Beconhecendo  teu  poder — Jesus! 

Se  á  noite  vejo  no  Empjreo  a  lua 
Campeando  envolta  em  mortal  palor, 
Hinh'alma  é  triste  ao  contcmplal-a  assim 
Uas  reconheço  tBU.podier — Senhor! 

Ao  vâr  o  brilho  da  soentelfaA  honriyel 
Esclarecer  o  nebuloso  céo^  ,     \ 

^  j^go  vêr  a  tua  imagem — Deus 
Aquém  de  um  negro,,  condensado  véo* 


116  TROVADOR 

Ku  recoxiheço  toa  poder  no  embate 
Das  espumantes  e  continuas  vagas, 
Que  lactam  rijas  n'um  cruel  gemer 
Em  nossas  bellas,  arenosas  plagas. 

Eu  reconheço  teu  poder  em  tudo 
Que  chegar  pôde  aos  sentidos  meus, 
E  de  joelhos  a  teus  pés,  eu  juro 
Que  reconheço  teu  poder — meu  Deus! 

Quem  ha  que  possa  duvidar  que  exista 
Um  Deus  potente,  caridoso  e  grande? 
Que  lá  no  templo  em  oraç3es  ferventes 
O  seu  poder  e  magestade  expande? 


Gualbêrto  Peçonha, 


LUNDC 


mo  TE  RIAS,  OH  MENINA 
Lundu  brasileiro  pdo  snr.  dr.  J.  M.  M.  Gaveia 

N8o  te  rias,  oh  menina, 
Que  teu  riso  é  venenoso, 
O  amor  dos  teus  agrados 
Me  foi  sempre  suspeitoso. 


TROVADOR  117 


Vai-te,  oh  menina, 
NSo  te  lamentes, 
Qae  bem  conheço 
Como  tu  mentes. 


Em  qnanto  por  ti  chorei 
Cmel  foste  p'ra  commigo, 
Cançado  d'an)or  sem  fracto 
No  silencio  achei  abrigo. 

Vai-te,  oh  menina — etc. 

E'  amor  tSo  transitório 
Que  achei  loacnra  amar, 
Pois  se  hoje  amor  dá  risos, 
Amanhã  nos  faz  chorar. 

Vai-te,  oh  menina — etc. 

Nlo  procurei  a  ventura 
Mas  emfim  sou  venturoso. 
Rejeitando  teus  agrados 
Eu  me  vejo  mui  ditoso. 

Vai-te,  oh  menina — etc. 

E'  das  bellas  rejeitado 
Quem  lhes  nSo  captiva  a  alma. 
Mas  eu  qu^as  bellas  rejeito 
De  amante  nSo  quero  a  palma. 

Vai-te,  oh  menina — etc. 


118  TROVADOR 


MODINHA 


MORENA 


Eu  adoro  unfl  olhos  pretos, 
O4  olhos  de  uma  morena; 
Mas  esta  mulher  ingrata 
De  meu  yiyer  não  tem  pena. 

Tem  pena,  meu  anjo, 
De  um  triste  amante 
Que  por  ti  suspira 
A  todo  o  instante. 


Vem,  Emilia,  nSo  tardes, 
Abrandar  esta  paixão ; 
Vém  yêr  quanto  é  triste 
As  mágoas  de  um  coração ! 


Só  tu,  meu  anjo. 
Com  teu  amor 
Dás  allivio 
Á  minha  dôr. 


Sê  me  nSo  amas,  ingrata, 
Dá-me  já  a  sepultura, 
JPois  já  basta  de  soffrer 
Esta  pobre  creatura. 


TROVADOR  119 


Áttende,  Emília, 
A  minha  dôr, 
Escuta  o  pranto 
De  teu  amor. 


Esquece,  mulher  ingrata, 
De  quem  tanto  te  amou, 
NSo  poBsb  mais  esquecer-me 
De  quem  a  vida  me  roubou. 


Tem  pena,  meu  anjo, 
De  um  coração. 
Morena  tem  dó, 
Tem  compaixSo. 


B,  Júlio  Tavares. 


RECITATIVO 


OHI  QUE  VIDAI 


Que  triste  vida !  sem  gozar  ventura 
Quanta  tortura,  amolaçSo,  príyança  I 
Que  dôr  d^estomago  meu  viver  consome, 
Ah  quanta  fome  me  devora  a  pansa ! 


ÍÍ0  TROTADOR 

E  nem  sequer — ao  remexer  no  bolso 
Encontrar  posso  um  desgarrado  bago  I 
NSo  ter  um  nickel  p'ra  comprar* . .  empada 
E  um  camarada  nSo  dizer-me.  •  •  pago ! 

Ser  estudante!  que  desejo  informe, 
Sonho  disforme  que  nos  faz  tremer! 
Ter  ao  seu  lado  um  c  Lacroix  »  famoso, 
livro  horroroso...  e  obrigado  a  lêr ! 

Vèr  um  c  Ganot »  a  nos  fazer  caretas 
E  nSo  ter  petas  p'ra  contar  ao  lente ! 
Vêr  um  Guilmin  a  nos  massar  insano 
E  o  fim  do  anuo  a  apavorar  a  gente  i 

Vâr  a  mezada  evaporar-se  inteira 
Logo  á  primeira  esbodegada  empresa; 
Passar  com  fome  d'um  hotel  á  frente 
E  c  olhar »  sóm«nte  p'ra  tSo  lauta  mesa.  • . 

Seguir  c tinindo»,  caminhar  calado 
Sem  ter  jantado,  nem  café  tomar.  • . 
Ouvir  bem  perto  uma  «  sanfona  >  ingrata 
Que  nos  maltrata,  que  nos  vem  massar. 

JSÍSo  comprar  velas  por  nSo  ter  dinheiro 
E  o  mez  inteiro  vâr  —  em  frente  ainda ; 
Passar  as  noites  a  formar. castellos 
Nos  sonhos  bellos  d'uma  esperança  infinda. 


E  de  repente  ouvir  bater  á  porta, 
Oh!  quem  se  importa  co 'este -pobre  invalido? 
'  Mandar  entrar  a  quem  nos  quer  tâo  cedo 
E  olhar  com  medo,  o  que  é  «  cadáver  »  pallido ! 


TROVADOR  121 

c  Cadaror  >  lirido  d 'um  €  sepolchro  »  á  beira 
Sabem  «  que  cheira  ?  »  o  aluguer  do  ràess. 
Inda  se  atreve  a  1103  pedir  dinheiro ! 
Pobre  sendeiro!...  lá  perdeu  o  fregnez. 

Sentir  desejo  de  beber  cerveja 
E  sem  que  veja  quem  nos  pague  a  dita ! 
Ter  saca-rôlhas  e  nSo  dar-lhe  emprego ! 
Vou  p6l-a  ao  «  prego  »  —  inspiração  bemdita  f 

Passar  revista  a  quanto  em  bolso  existe, 
Cigarros. ••  viste!  nem  sequer  um  só! 
Oh !  digam  todos  que  o  cigarro  adoram 
Se  entSo  não  choram  que  até  mette  dó. 

Ter  por  mobilia — uma  cadeira  velha, 
Por  tecto — a  telha  d'uma  casa  suja; 
Sentir — na  cama  —  de  gozar  desejos...' 

Ter  persevejos  em  lugar  da  c  cuja. . .  » 

• 

Lêr  ao  luar  e  ao  lampeSo  da  esquina  I 
Que  triste  sina !  que  viver  ingrato ! 
E  a  fomej...  a  fome  a  nos  trazer  tristeza, 
NSo  ter  na  mesa  nem  sequer  um  prato ! . .  • 

Que  triste  vida  o  estudante  passa ! 

NSo  é  c  chalaça  9,  é  peor  que  a  morte  I 

Oh  me  respondam  que  poder  resiste 

Ao  império  triste  de  tSo  triste  sorte  !  ?  • 

NSo  ter  mais  livros  p'ra  levar  ao^«  sebo! » 
(Que  08  que  recebo — a  e^te  amigo  entrego;) 
NSo  ter  ao  menos  u  :i  relógio  usado 
Para  apressado  pendurar  no  prego.  «^ 


122  TROVADOR 

Dormir  pensando  n'ama  rirgem  bella, 
Sonhar  com  ella.  • .  conseguir. . .  desejos. .  • 
Depois  desperto. ..  o  que  o  amigo  julga? 
Era  orna  pulga  que  me  dava  beijos. 

Emfim. .  •  eu  amo  este  viver  errante.  • . 
Ser  estudante  para  ser — doutor! 
Depois  dar  couces  na  sciencia,  em  tudo ! 
E'  grande  estudo,  se  me  faz  £Etvor ! 

Lograr  aos  lentes,  ao  bedel  comprar, 
Sempre  <  coar  »  a  sabbatina  inteira, 
Crê,  meu  amigo,  a  approvaçSo  é  certa : 
Ninguém  se  aperta  quando  tem  c  parteira.  » 

E  viva,  viva  o  pandegar  constante  ! 
Viva  o  estudante  que  nSo  leva  ponto  ! 
E  quando  eu  —  velbo  me  chamar  um  dia 
Esta  alegria  com  pezar  desconto ! 

A  noite  chega  —  e  eunSo  tenho  vela !   : 
.  Forte  mazella  !  que  &zer  ?  «  rezar  ?  » 
Valha-me  isto,  que  a  nSo  ser  assim 
NBo  sei  que  fim,  a  estes  versos  dar. 


TROVADOR  123 


LUNDU 


É  TARDE 

Musica  de  J.  N.  Monteiro 

É  tarde,  pois  sim,  bem  sei 
Que  Yotoês  sSo  mui  falsarias, 
Mil  protestos  todas  juram 
.  E  por  fim  tomamHse  varias. 

Todas  vossês  sSo  assim, 
.  EstSo.  sempre  a  n^o  querer, 
E  depois  do  laço  armado 
N'elle  logo  se  vSo  metter. 

A  mulher  é  bicho  frágil 
E  fácil  de  convencer ; 
Só  nSo  é  fácil  fazel-as 
O  seu  orgulho  abater. 

Todas  vossas  sSo  assim — etc. 

.  Eu  renego  de  tal  bicho 
Por  trazer  sal  na  moleira, 
Fujo  d'ellas  por  ter  medo 
De  cahir  na  ratoeira. 

Todas  vossês  sSo  assim  —  etc. 


124  TROVADOR 

Tado  no  mondo  se  esrai, 
Até  a  própria  razSo, 
Só  nXo  86  esvai  a  lembrança 
Qae  eu  trago  no  coraçSo. 

Todaa  vossès  eSo  assim — etc* 


•  ■ 


A.  C.  de  Oliveira  Femandee, 


MODINHA 


LÁ  ir  AQUELLE  DESERTO 


Musica  da  modinha — Gigante  de  pedra 


l  n^aqneHe  deserto  tristonho 
Onde  ouço  o  gemido  do  mar,     ^ 
Oceoltando  traiç5es  que  me  ferem, 
Quero  só  minhas  mágoas  chorar. 


L&  mesmo  irei  osquecer-me 
Da  perjura,  da  impia  e  da  ingrata, 
Da  donzella  que  aasim  me  despreza, 
Da  mulher  que  o  sorriso  me  mata. 


1 


i 


TROVABOK  125 


Minhas  queixas,  meus  ais  e  suspiros 
Subirão  á  etherea  mansSo ; 
Pois  na  terra  nSo  acho  um  vivente 
Que  console  esse  meu  coraçSo. 

Se  desejas,  oh  Mareia,  saber 
Este  sitio  de  tanta  doçura, 
Na  sombria  morada  dos  mortos 
Acharás  a  minha  sepultura. 

• 

Se  acaso  tu  por  mim  chorares 
Lá  da  canSpa  te  reaponderSo, 
Ai  nSo  chores,  que  existo  mesmo 
Sepultado  lá  na  escuridSo. 

Ferdoai-me,  meu  Deus,  se  blasphemo, 
Já  nSo  posso  esta  vida  conter, 
Se  pedindo  a  morte  é  peccado 
Eu  Boffirendo  nSo  ^ero  viver. 


Adeus  pátria,  adeus  mundo,  adeus  tudo, 
Vivam  todos  a  quem  amo  na  terra, 
Becebei  essas  trovas  sentidas 
De  um  soldado  que  veio  da  guerra. 


126  TROVADOR 


RECnATIVOS 


AMEII 


Amei  as  flores  que  me  ornavam  o  berço, 
Amei  00  cantos  de  uma  mSi  querida, 
Amei  a  virgem  que  aqueceu-m^  o  culto, 
Amei  o  anjo  que  me  deu  a  vida. 

Amei  do  lirio  a  candidez  tSo  pura, 
Amei  da  harpa  o  sentido  harpejo, 
Amei  as  flores  que  se  inclinam  tristes, 
Amei  da  virgem  o  ardente  beijo. 

Amei  da  rola  a  tristonha  queixa. 
Amei  sorrindo  o  nascer  da  aurora, 
Amei  o  lago  todo  crespo  ao  venio, 
Amei  a  bocca  que  beijei  outr'ora. 

Amei  das  salas  o  trajar  e  galas. 
Amei  os  risos,  os  festSes,  as  flores, 
Amei  a  orchestra  que  morria  em  ais. 
Amei  da  morte  seus  cruéis  horrores. 


Amei  a  gloria  com  loucura  e  anciã, 
Amei  da  taça  o  calor  do  vinho. 
Amei  o  collo  que  aqueceu-me  a  fronte. 
Amei  das  matas  o  gentil  pombinho. 


TROVADOR  1S7 


Amei  do  piano  o  correr  dos  dedos, 
Amei  da  estrada  o  anciSo  curvado,    - 
Amei  da  vida  o  sorrir  fingido, 
Amei  do  jogo  o  cahir  do  dado. 

Amei  do  orphSo  a  sentida  prece, 
Amei  da  noiva  o  coroa  pura. 
Amei  dos  bailes  o  rodar  da  valsa, 
Amei  as  letras  de  uma  sepultura. 

Amei  a  tocha  accendida  ao  morto, 
Amei  dos  lábios  o  palor  da  morte, 
Amei  do  morto  o  contrahir  das  faces, 
Amei  do  preso  o  carpir  da  sorte. 

Amei  do  pobre  o  esfarrapado  manto, 
Amei  da  lua  a  brilhante  luz, 
Amei  a  flauta  que  em  trinados  morre. 
Amei  o  martyr  que  morreu  na  cruz. 

Amei  das  vagas  o  chorar  sentido, 
Aínei  de. Deus  o  poder  tão  forte. 
Amei  o  lirio  debruçado  ao  longe. 
Amei  a  virgem  que  me  deu  a  morte* 


FLORES  DO  CORACiO 

A  aurora  assoma — e  a  terra  doma 
Co'a  extensa  coma  de  rubra  côr, 
N'esta  hora  maga  suspira  a  vaga, 
E  a  briza  afaga  no  ramo  a  flor. 


It8  TROVADOR 

Hora  de  encantos  que  só  tem  cantos, 
Ternos  qaebrantos'que  amor  produz, 
Além  serpeia  argêntea  veia, 
E  a  ave  gorgeia  saudando,  a  luz. 

• 

Que  primavera !•• .  — ai!  quem  me  dera 
Qual  doce  hera  que  se  une  á  flor, 
*Vêr-me  em  teus  braços,  preso  em  teus  laços 
E  em  teus  regaços  yiyer  de' — amor... 

Foge  a  belleza,  passa  a  nobreza. 
Fica  a  pobreza  se  a  parca  vem ! . .  • 
Mas  terna  chamma  que  amor  iniSamma 
Vai  com  quem  ama  surgir  além. 

A  aurora  assoma  e  a  terra  doma 
Co'a  a  extensa  coma  de  rubra  côr, 
N^esta  hora  maga  suspira  a  vaga, 
E  a  briza  afaga  no  ramo  a  flõr. 

Vem  pois,  donzella^  que  amor  nos  yela 
E  a  briza  é  bella  e  é  manso  o  mar, 
Nosso  barquinho  alli  sósinho. . . 
Parece  um  ninho  que  aguarda  o  par. 

Lá  n'essas  aguas  dir-te*hei  as  firagoas, 
A  dôr  e  as  mágoas  que  sinto  em  mim, 
E  aos  rumorejos  dos  meus  harpejos 
Quero  6m  teus  beijos  da  vida  o  fim. 

Hora  de  encantos  que  só  tem  cantos, 
Temos  quebrantos  que  amor  produz, 
Além  serpeia  argêntea  vòia, 
E  a  ave  gorgeia  saudando  a  luz. 


TROVADOR  r29 


Teus  olhos  bellos  cansam  anhelos. 
Sim  I . .  •  quero  vêl-os  cheios  de  amor. 
Vibrar  um  raio  solto  a  soslaio, 
Temo  desmaio  de  luz  de — amor!... 


Na  face  pura,  que  formosura... 
Quanta  doçura  tens  no  fallar, 
Que  morbideza,  que  singeleza. 
Quanta  nobreza  no  teu  amar  ! 


Que  primavera ! .  • .  ai ! . .  •  quem  me  dera 
Qual  doce  hera  que  se  une  á  fiôr, 
Vêr-me  em  teus  braços,  preso  em  teus  laços, 
Em  teus  regaços  viver  de — amor. 

No  doce  riso  mais  indeciso 

Que  paraíso  se  vê  brilhar ! 

Que  moreninha  I . . .  como  ella  vinha; . . 

Era  a  rainha  do  meu  pensar ! 

Como  se  agita  tua  alma  afflicta, 
Porque  palpita  teu  seio  em  ãôr? 
Tiveste  medo  que  o  segredo 
Bompesse  tredo  do  nosso  amor?... 


(7.  Abreu, 


VOL. lU. 


130  TROVADOR 


CANÇÃO 


A  MULATA 


Eu  sou  mulata  yaidosa, 
Linda,  faceira,  mimosa, 
Qaaes  muitas  brancas  nSo  sSo; 
Tenho  requebros  mais  bellos ; 
Se  a  noite  sSo  meus  cabellos, 
O  dia  é  meu  coraçSo. 


Sob  a  camisa  bordada, 
Fina,  tSo  alva,  arrendada, 
Me  treme  o. seio  moreno; 
E'  como  o  jambo  cheiroso 
Que  pende  ao  galho  formoso 
Coberto  pelo  sereno. 


Nos  bicos  da  chinelinha. 
Quem  vôa  mais  levezinha, 
Mais  levezinha  do  que  eu? 
Eu  sou  mulata  tafula, 
No  samba  rompendo  a  chula 
Jamais  ninguém  me  yenceu. 


TROVADOR  131 


Ao  afinar  da  viola, 
Qnando  estala  a  castanliola, 
Ferve  a  dança  e  o  desafio, 
Peneiro  n'um  moUe  anceio, 
Vou  mansa  n'um  bambaleio 
Qual  vai  a  garça  no  rio. 


Aos  moços  todos  esqniva, 
Sendo  de  todos  captiva, 
Demoro  os  olhares  mens: 
Mas,  se  murmuram  i  maldita! 
Bravo,  mulata  bonita ! 
Adeus,  meu  yôyô,  adeus. . . 


Minhas  yáyás  de  janella 
Me  atiram  cada  olhadella, 
Ai  dá-se!  mortas  assim... 
E  eu  sigo  mais  orgulhosa, 
Como  se  a  cara  raivosa 
NSo  fosse  feita  p'ra  mim* 

Na  fronte  ainda  que  baça, 
Me  assenta  o  troço  de  cassa. 
Melhor  que  c'rôa  gentil; 
E  eu  posso  dizer  ufana. 
Que  qual  mulata  bahiana 
Outra  não  ha  no  Brazil. 


Kos  meus  pulsos  delicados 
Trago  coraes  engrazados  - 
Em  contas  d'ouro  divinas; 
Prendo  o  meu  pano  &  cintura,. 
Que  rola  pela  brancura 
Das  saias  de  rendas  finas. 


s 


132  TROVADOR 

Se  arde  um  desejo  agora, 
De  meiíB  affectoa  senhora, 
Sei  enoontral-o  no  amor; 
Minh'alma  é  qual  borboleta, 
Que  YÔa  e  vôa  inquieta 
Pousando  de  flor  em  flor. 


Meus  brincos  de  pedraria 
Tombam,  £Eizendo  harmonia 
Com  meu  cordSo  reluzente; 
Na  carrentinha  de  prata, 
Tem  sempre  e  sempre  a  mulata 
Figuinhoê  de  boa  gente. 


Eu  gosto  bem  doesta  vida, 
Que  assim  se  passa  esquecida 
De  tudo  que  é  triste  e  vSo; 
Um  dito  repinicado, 
Um  mimo,  um  riso,  um  agrado 
Captivam  meu  poraçSo. 

Nos  presepes  da  Lapinha 
Só  a/nulata  é  rainha, 
Meiga  a  mostrar-se  de  novo^ 
Da  sua  face  ao  encanto 
Vai-se  o  fervor  pelo  Santo, 
P'ra  o  danto  nSo  olha  o  povo ! 

Minha  existência  é  de  flores. 
De  sonhos,  de  luz,  de  amores. 
De  amores  que  nSo  tem  fim; 
Escrava,  na  terra  um  dono. 
Outro  no  céo  sobre  um  throno, 
Qu'é  meu  Senhor  do  Bomfim. 


I 


• 


TROVADOR  133 


Na  fronte,  ainda  que  baça. 
Me  assenta  o  troço  de  cassa, 
Melhor  qne  c'rÔa  gentil ; 
E  eu  posso  dizer  ufana, 
Que  qual  mulata  bahiana 
Outra  nSo  ha  no  Brazil. 


Mello  Moraes. 


RECITATIVO 


ELOAH  DO  AMOR 


Linda,  mais  linda  que  o  sorrir  d'aurora. 
Doce,  mais  doce  que  o  fulgor  dos  céos. 
Pura,  mais  pura  que  o  scisjnar  dos  anjos. 
Cândida  pomba  do  pomar  de  Deus ! 

Branca,  mais  branca  que  a  nitente  espuma,' 
Langue*,  mais  langue  que  o  langor  da  lua ; 
Pérola  fina  a^  resvalar  no  espaço, 
Gotta  de  luz  que  n'amplidão  fluctúa ! 

VisSo  das  noites  encantadas,  ledas, 
Risonha  e  santa,  de  sonhares  magos ; 
Crença  que  alenta,  fascinante  estrella. 
Que  beija  flores,  se  reflecte  em  lagos ! 


134  TROVADOR 

Quem  deu-te  os  risos  das  travessas  fadas, 
Falias  e  cantos  das  gentis  sereias? 
Peio  de  rosa  tSo  medroso  e  casto. 

Quem  deu^-te  encantos  divinaes,  sublimes, 
Dons  tSo  mimosos,  tSo  tremido  seio? 
Voz  doce  e  meiga  qual  cahir  d 'orvalhos 
Que  excita  o  peito  a  palpitar  d'enleio? 

Dá-me  essas  flores  que  teus  lábios  brotam. 
Quando  se  abrem  á  modular  o  canto ! 
Dá-me  essas  pérolas  que  teus  olhos  vertem, 
Quando  rebenta  crystallino  pranto. 

« 

Quero  guardal-as  n'uma  urna  santa, 
Quero  guardal-as  n'um  secreto  altar, 
•     Formar  diademas  p'ra  cingir  a  fronte, 
Presa  das  febres  de  penoso  amar  ! 

Âh!  rola  insonte  das  campinas  verdes, 
Dá-me  essas  flores  que  atiraes  ao  chão; 
Quero  aquecel-as  no  calor  dos  lábios, 
Cobrir  as  chagas  da  voraz  paixão ! 

Ah !  lirio  verde  do  regato  á  beira 
Pendido  á  briza,  á  viração  do  norte, 
Banha  minh^alma  de  esperança  e  crenças, 
Antes  que  tombe  ao  vendaval  da  sorte ! 

Linda  sereia  que  tem  mel  na  voz, 
Archanjo  louro  de  cerúleos  olhos, 
Ampara  o  lenho  do  tufòo  medonho,. 
Antes  que  o  lancem  sobre  o  mar  d^escolhos. 


TROVADOR  135 


Doce  Eloah !  dos  meus  amores  falia 
Á  tarde  amena,  quando  o  sol  s'enyolve; 
No  manto  escuro  que  desdobra  a  noite, 
A  meiga  estrella  que  no  céo  se  move. 


Tenho  um  abysmo  no  trevoso  peito ! 
Se  olhares,  anjo,  luz  terás  no  fundo ! 
Ah!  brilha,  brilha,  incarnação  do  bello. 
Jorra  scentelhas  n'este  cabos  profundo! 

Palpita  a  torra...  a  natureza  anceia... 
Astros  palpitam  sob  os  céos  azues  !  • .  • 
Sorris — as  harpas  nas  espheras  tremem! 
Sorris — o  espaço  mais  derrama  luz  ! 


LUNDC 


A  MULATA  CÕR  DE  JAMBO 


Derreto-me,  babo-me  todo 
Pela  mulata. c6r  de  jambo; 
Se  a  vejo,  nSo  me  acoommodo. 
Té  fieo  das  pernas  bambo ! 

t 

E,  se  entSo  ella  me  ousa 

Um  temo  olhar  despedir, 


1 36  TROVADOR 

Fico  eu  qual  maripoBa, 
Estou  em  chammas  a  cahir  ! 


Tem  tal  feitiço. a  mulata, 
£'  tSo  grata  a  sua  côr, 
Qu'ao  vêl-a,  fica  em  cascata 
Minha  testa,  com  o  suor  I . . . 


Se  ella  diz-me: — «yôyô, 
«  Gosto  munto  di  vossê ;  »  — 
Enlevado  ás  nuvens  vou, 
Caio  na  terra  de  pé  ! 


Se  arrasta  o  chinellnho 
Da  cidade,  pelas  ruas, 
NSo  Bocégo  um  instantinho, 
L&  anda  nas  aguas  suas  ! 


Inda,  se  vejo  ella  ir 
Se  mexendo,  e  a  gingar ; 
Fico  eu  quasi  a  dormir, 
Vou  p'ra  casa  me  deitar. 


Um  dia,  como,  nSo  sei; 
EUa  cahiu-me  nas  unhas. 
Gritou  logo: — Aqui  d'el-rei, 
Tomou  suas  testemunhas ! 


Tive  por  fim  de  largal-a 
P'ra  não  ir  para  o  chilindró ; 
Mas  vivo  sempre  a  choral-a. 
Pela  mulata  tenho  dó  ! 


TROVADOR  137 


Derreto-me,  babo-me  todo 
Pela  mulata  cor  de  jambo ; 
Se  a  yejo,  n2o  me  accommodo, 
Té  fico  das  pernas  bambo ! 


F.  P.  Lisboa. 


MODINHAS 


HERVA  MIMOSA  DO  CAMPO 

« 

Herva  mimosa  do  campo 
Tu  és  o  retrato  meu, 
Se  a  vida  perdes  em  breve 
Eu  sigo  o  destino  teu. 

EBTSIBILHO 

Eu  na  serie  dos  humanos, 
Tu  no  reino  vegetal, 
Ambos  soffremos  o  golpe 
Que  extingue  o  triste  mortal. 

Mas  na  perda  da  existência 
Sua  vida  é  fortunosa, 
Tu  nSo  guardas,  não  conservas 
Terna  paixão  amorosa. 

Eu  na  serie  dos  humanos — etc. 


138  TROVADOR 


COMO  O  ORVALHO  DA  NOITE 

Como  o  orvalho  da  noite 
Basca  o  carinho  da  flor,  < 

Assim  minh'alma  em  delírio 
Suspira  por  teu  amor. 

E8TSIBILH0 

Mas  tu  qual  uma  insensata 
Com  teus  desprezos  me  matas. 

Mas  se  eu  podesse  encontrar 
Nos  teus  lábios  um  sorrir, 
Seria  minha  ventura 
E  também  o  meu  porvir. 

Mas  com  tanta  crueldade 
Nem  sequer  tens-me  amizade. 

Permitta  os  céos  que  algum  dia 
Mais  feliz  eu  possa  ser, 
Se  continuar  n'esta  .iorte 
Antes  prefiro  morrer. 

A  morte  é  um  sonho  dourado 
Para  quem  é  desprezado. 


TROVADOR  139 


RECITATIYOS 


ADEUS ! 


Sobre  esta  terra,  onde  feliz  outr'ora    . 
Sequer  uma  hoi^a  deslisou  sem  calma, 
A  vida  em  sonhos,  divagou  a  mente 
Na  fó  fui  crente,  não  chorou  minh^alma. 

Nunca  em  meu  peito  se  ralaram  dores, 
Pallidas  flores  do  jardim  da  vida ; 
Nunca  em  meus  sonhos  a  mulher  tSo  pura 
ímpia,  perjura,  foi  na  fé  descrida. 

Hoje  perdido  na  avidez  do  mundo 
Louco  profundo  meu  amor  existe ; 
Planta  mimosa  de  vendaval  batida, 
Quasi  sem  vida  a  desfolhar  resiste. 


Louca  esperança  que  sorriu- me  um  dia 
Quando  já  cria  n^um  amor  mentido, 
Leve  perdeu-se,  estremeceu  meu  peito 
Mudo  despeito  ás  illusoes  perdido  ! 

Soluça  a  briza  que  me  secca  o  pranto 
No  débil  canto  que  se  eleva  aos  céos, 
Âh!  que  era  um  sonho  de  visão  dourada 
Hoje  murchado  fia  mentira  —  Adeus  ! 


140  TROVADOR 


AMARTE  É  CRIME 


^mar-te  é  crime,  bem  o  sinto  ii'alma, 
A  doce  calma  que  ventara  dá, 
Amar-te  é  honra  que  em  meu  peito  brilha, 
Em  ardente  pilha,  carcomida  já  ! 

Querendo  amar-te  commetti  um  crime 
N^esse  amor  firme  que  eu  a  ti  votei, 
E  tu,  ingrata,  te  mostraste  esquiva, 
Com  a  fronte  altiva  caminhaste  além. 


Caminha,  ingrata,  cançaráfl  um  dia, 
Na  cainpa  fria  acharás  o  gozo, 

• 

Tu  és  criança !  eu  desculpo  a  falta, 
A  dôr  nSo  mata:  também  dá  repouso. 

Repouso  eterno  para  mim  desejo. 
Pelo  ensejo  de  um  amor  sagrado, 
Eu  só  te  lembro  o  passado  tempo. 
Que  tão  cruento  foi  abandonado. 

Mulher  sem  alma,  sem  um  sentimento ; 
N'esse  momento  eu  te  lembro  tudo, 
Talvez  que  digas,  que  o  passado  é  pouco, 
Que  sendo  louco  para  ti  fui  mudo. 

Louco  e  bem  louco  por  deixar  na  vida. 
Triste  abatida  a  mimosa  flor, 
Mas  é  destino  de  uma  sorte  impura. . . 
Na  sepultura  findará  a  dôr ! ! 

Alfredo  Chiappe  da  Cunha, 


TROVADOR  141 


O  TEU  SORRISO 


Donzella  eu  amo-te,  com  amor  tSo  puro, 
Ámo-te,  juro,  com  intenso  amor, 
l|eu  peito  pulsa,  e  por  ti  palpita, 
Minh'alma  afflicta,  te  compara  á  flor. 

Ah !  quem  dera,  de  meu  peito  amante, 
Sentir  constante,  outro  junto  ao  meu  : 
Ah!  quem  dera,  n^uma  hora' ao  menos. 
Eu  vêr-te,  Vénus,  um — sorriso  —  teu. 

Feliz  seria,  se  a  sorrir  te  visse, 
Sim,  se  sentisse,  um — sorriso  —  teu, 
EntSo  poeta,  me  faria  um  dia, 
E  tu  verias*,  o  —  sorriso  —  meu. 

Se  não  mereço,  o  que  tanto  almejo, 
Dá-me  um  lampejo,  no  -sonhar  comtigo  ; 
Esse  segredo  que  ha  muito  sinto. 
Sim,  eu  não  minto,  morrerá  commigo. 

E'  meu  desejo,  o  ser  feliz  um  dia. 
Sentir  alegria,  despertar  minh'alma  ; 
Queixar  na  lyra,  cantar  a  trova, 
E  dar-te  em  prova,  do  martyrio  a  palma. 

Mas  se  não  posso  tal  ventura  ter, 
Se  meu  querer  é  uma  idéa  vã ; 
Consente,  oh !  anjo,  se  algum,  dia  vêr-te^ 
Possa  querer-te  como  minha — irmã. 


M,  A.  Bé  CunJia* 


142  TROVADOR 


LUNDUS 


A  MULATINHA 

Para  ser  cantada  oom  a  musica  da — Mulatinha  do  caroço 

A  mulatinha  é  garbosa 

E  dengosa 
NoB  requebros  que  ella  tem, 
No  andar  é  tão  ligeira 

E  faceira, 
Oh !  quanto  lhe  assenta  bem  ! 

  sua  côr  é  tão  bella. 

Tão  singela 
E  por  isso  mais  amada ; 
NSo  fallecia  a  natureza. 

P'ra  belleza 
Basta  sua  côr  prezada. 

Em  seus  olhos  a  ternura 

Tem  doçura 
Que  só  descrevem  amor, 
Tem  o  alvor  da  innocencia 

Que  a  decência 
No  volver  deu-lhe  pudor. 

Sua  falia  tem  encantos 
Que  a  tantos 
Não  pôde  a  branca  igualar ; 


TROVADOR 


U3 


Ella  sabe  ser  constante 

Ao  amante, 
Sem  o  saber  enganar. 

Seus  pésinhos  delicados 
Bem  formados 

DSo  pulinhos  no  pisar, 

Vai  calçando  os  coraçSes, 
(TentaçSes) 

Quem  pôde  ver  sem  te  amar  1 

A  mulatinha  é  garbosa  * 

Ê  dengosa, 
Tem  affectos  para  mim  ! 
Este  dote  de  candura 

E  ventura 
Foi  Deus  quem  te  fez  assim  •  • . 


Honorato  Lopes» 


A  MORENINHA  FLUMINENSE 


Para  ser  cantada  pela  musica —  Quando  eu  era  pequeno 


Quando  a  bella  moreninha 
Enfeitadinha', 

Na  janella  se  apresenta, 

Toma  o  triste  mui  contente^ 
E  de  repente, 

Os  seus  males  afugenta. 


144  TROVADOR 

Todos  volvôm  para  ella 
Com  cautela 

Um  olliar  de  BeducçSo ; 

Mas  travessa  ella  s'esqaiya 
Sempre  viva, 

Dando  assim  a  decisSo.. 


Moreninha  encantadora 
E  seduotora, 

Minha  sina  é  te  adorar ; 

Dou-te,  pois,  meu  coração 
Em  adoraçSo ; 

Nada  mais  posso  offertar. 


Contemplando  os  olhos  teus 
Sinto  nos  meus 

Uma  celeste  claridade  : 

Em  uns  olhos  tão  brilhantes, 
Por  instantes 

Julguei  ver  a  Divindade ! .  • . 

Vem,  ó  virgem  de  meus  sonhos 

TSo  risonhos, 
Vem  dourar  minha  existência ; 
NSo  me  occultes  um  segredo, 

E  diz-me  cedo 
Se  mereço  a  preferencia. 

Sultana  bella  e  fagueira 
E  companheira 

Dos  anjos  e  da  ventura, 

Deixa  que  m.eu  pensamento 
N'um  momento 

Te  admire  a  formosura. 


TROVADOR  145 


\ 


Como  ta  outra  n8o  vejo 
(Nem  doBejo) 

Que  me  possa  captivar, 

És  um  typo  especial, 

Que  sem  igual 

Só  o  Brazil  pôde  ostentar. 


NSo  me  negues  teu  amor, 

Doce  favor, 
Que  te  peço  supplicante; 
Quando  mesmo  me  aborreças 

Não  esqueças 
Que  serei  firme  e  constante. 


Se  te  faço  essa  promessa, 
E  tenho  pressa 

Que  me  dês  um  desengano, 

É  porque  tenho  receio 

Que  em  teu  seio 

Um  rival  me  cause  damno. 


Meu  destino  a  ti  prendendo, 
Irei  rendendo 

Muitas  graças  ao  Senhor, 

De  tXo  bella  assim  formar-te, 
Primor  d'arte, 

DoB  jardins  mais  linda  flôr. 


João  Pinto  de  Soma  Masearenhaa. 


voL.  m.  •  10 


146  TROVADOR 


FADINHO 


Chega-te  cá  para  mim, 
Cheiro  de  roupa  lavada ; 
Chega-te  bem  chegadinho, 
Que  uma  noite  nao  é  nada. 


Fui  ao  mar  pòr  vêr  as  aguas, 
Ao  jardim  por  vêr  as  flores ; 
Ao  céo  por  vêr  as  estrellas, 
Aqui  por  vêr  meus  amores. 


Toda  esta  noite  eu  andei 
Volta  ao  mar  e  volta  á  terra ; 
Para  vêr  se  dava  fundo 
Ao  pé  da  tua  janella. 


Se  eu  fôra  o  sol  que  subira, 
Dava  na  tua  janella ; 
Fôra-te  fallar  á  cama. 
Raios  da  manhS  te  dera. 


Estrellinha  do  nordeste, 
Que  me  andaes  alumiando, 
Alumiai-me  de" noite. 
Que  eu  de  dia  vou  andando. 


TROVADOR  147 


Depois  que  os  meoa  olhos  viram 
A  graça  que  os  tens  tem, 
Nanca  mais  foram  senhores 
De  olhar  para  mais  ninguém. 


O  mar  é  vivo,  nSo  falia, 
O  rio  corre  e  não  cança; 
Desejava  de  saber 
Se  me  tinhas  na  lembrança. 


RECITATIVO 


A  PROSTITUTA    . 


Trajando  galas,  nos  encantos  bella, 
Caminhava  ella,  sem  saudal-a  alguém ; 
Passeia  em  carros,  no  theatro  ostenta 
Tudo  o  qu'inyenta,  que  lhe  fique  bem  I 


Porém  qual  flôr,  que  no  calor  da  festa 
As  peflas  cresta,  p'ra  depois  murchar; 
Ou  mariposa,  ^e  a  voar  s^inâamma, 
Em  torno  á  chamma,  que  busca  beijar ; 


S 


* 
i  148  TAOVÀDOR 

Assim  foi  ella;  como  vil  mundana, 
Na  orgia  insana  se  atirou  —  perdeu! 
Foi  mariposa,  que  queimando  as  aza£, 

Do  ardor  das  brazas  nunca  mais  8'orgueu! 

• 

E  essa  infame  desprezando  o  esposo, 
Qu'eterno  gozo  lhe  faria  ter, 
Prestes  se  atira — que  fatal  loucura! 
Na  vida  impura,  que  lhe  dá  prazer ! 

Amou-a  elie,  como  amar  no  mundo 
Jamais  profundo  pôde  amar  alguém ! 
D'extremos  tantos  deslembrou-se  a  ingrata. 
Que  o  affecto  mata,  no  alcouce  — além ! 

Tudo  mais  nobre,  que  sentiu  seu  peito 
Lá  jaz  desfeito  por  atroz  afSo ! 
Matou-lhe  as  crenças  infernal  orgia. 
Noite  sombria,  que  nSo  tem  manhS  ! 

Hoje  apontada  pelo  audaz  cynismo 
Mede  o  abysmo,  quer  fugir-lhe  em  vSo ! 
Que  a  turba  aponta-lhe  uma  bolsa  infame 
E  em  face  brame — já  nSo  ha  perdZo! 

Karcou-a  o  mundo  com  fatal  sinete! 
Esse  ferrete,  — que  tSo  negro  é  I     ' 
E  em  represália, — já  mulher  perdida 
Vive  uma  vida  —  sem  moral,  sem  fé  I 

Maldiz  o  mundo,  que  a  supporta  ainda : 
Se  é  bella  ou  linda,  tem  vassallos  seus !  •  •  • 
Mas  não  se  lembra, — desgraçada  enrante, 
Da  fulminante  maldição  de  Deus !  •  •  • 


TROVADOR  *  149 


Qual  águia  altiva  de  voar  cançada, 
Mais  apressada  na  descida  vai ; 
Assim  aquella,  que  perdeu  a  calma, 
Corpo  sem  alma  na  miséria  cái! 

Mulher  perdida,  de  que  servem  galas, 
Ou  meigas  falias,  que  fíngidas  sSo, 
Se  d'esses  olhos  em  que  affectos  calma, 
LS-se  a  tu'alma  que  só  diz  —  traiçSo?! 

• 
Que  valem  sedas,  deslumbrantes  modas. 

Mercadas  todas  com  tão  vil  moeda  ?... 

Vendes  o  corpo  p'ra  comprar  enfeites, 

Gozar  deleites,  que  a  moral  te  veda ! 

Desenfreada  e  nas  paixSes  insana, 
EUa,  mundana,  nada  vale,  não; 
Gasta  o  seu  ouro  na  fatal  ledice, 
P'ra  na  velhice — mendigar  um  pSo! 

Altivos  paços  habitar  pretende 
Ella,  que  vende  seu  fíngido  amor ; 
Bubra  se  mostra  nos  ardis  fugaces. 
Mas  n'e8saB  faces.  •  •  já  nSo  ha  pudor ! 

Cynica  vive,  nã  miséria  morre; 
Nem  a  soccorre  bemfazeja  mão! 
E  impenitente,  á  sepultura  baixa 
E  lá  nem  acha — uma  só  cruz  no  chSo! 


E.  Villas-Bôas. 


150  TROVADOR 


MODINHA 


QUANDO  A  VIDA 


Quando  a  vida  passava  entre  sonhos 
N'esta  idade  de  meiga  illusâo, 
Foi  entSo  que  amei  uma  virgem 
Que  era  o  idolo  de  meu  coração. 


ESTRIBILHO 


Em  um  olhar  eu  lhe  disse — eu  te  amo, 
N'outro  olhar  respondeu-me :  és  amado ! 
Traiçoeiro  espelho  de  meu  peito, 
Que  mysterio  eu  não  tenho  revelado. 

No  bulício  importuno  do  baile 
Onde  a  taça  é  o  rigor  da  folia, 
Tua  imagem  era  linda  e  tão  bella 
Como  um  ralo  do  céo  parecia. 

B8TBIBILH0 

Quiz  fugir,  mas  fugir  p'ra  bem  longe 
Para  ver  se  podia  esquecel-a, 
Era  embalde,  onde  quer  qu^estivesse 
Nunca,  nunca  eu  deixava  de  vêl-a. 


TROVADOR  151  \ 


Mas  a  custo  se  calaram  nos  lábios 
As  palavras  ardentes  do  amor; 
Não  fiz  jura,  nem  quiz  ser  perjuro, 
Nem  quiz  ser  alcunhado  traidor. 


ESTBIBILHO 


Quiz  nos  braços  de  uma  noya  amante 
Esquecer  este  meu  pensamento, 
Deixar  uma  entregue  ao  desprezo, 
Seguir  outra,  um  amor  de  momento* 


RECITATIVO 


EU  VI-TE,  VIRGEM 

Eu  yi-te,  virgem,  sobre  o  coUo  a  fronte 
Curvada  á  fonte  a  segredar  queixumes ! 
Eu,vi-te  triste,  qual  pendida  rosa 
Hontem  mimosa  a  exhalar  perfumes ! 

Cabellos  negros  no  cahir  esparsos. 

Formosos  traços  estampavam  n'agua! 

» 

Assim  eu  vi^te  a  extrahir  da  harpa 
Acerba  fsEurpa  de  pungente  magua. 


152  TROYÁDOR 

BoBqaei-te !  achei-te !  Em  mada  relva 
Além  da  Belva,  recostei-te  a  mim  I 
cPor  mim  definhas?» — perguntei  corando, 
E  ta  chorando,  me  disseste — simi 

Depois  a  sorte  reseqoia-me  as  flores  ! .  • . 
Espinhos,  dores,  entornou-me  n'alma ! 
Mas  inda  espero  n'am  recente  espaço 
Prender*t6  ao  laço  de  amorosa  palma. 


FADINHO 


TENHO  RAIVA  A  GENTE  GORDA 

Tenho  raiya  á  gente  gorda, 
O  meu  amor  é  magrinho ; 
Quando  yai  para  a  igreja 
Parece  um  ramalhetinho. 

Triste  vida  tem  quem  ama, 
Se  o  amor  é  lisonjeiro: 
Tanto  mais  bonita  dama. 
Tanto  peor  captiveiro. 

Oh  Maria,  lava  a  louça, 
Deiza-te  de  namorar, 
Que  o  amor  aperta  a  mSo, 
E  fica  a  louça  por  lavar. 


TROVADOR  153 


Oh  Maria,  ta  nSo  sabes, 
Meus  olhos  morrem  por  ti ; 
Tu  queres  saber  de  quando  ? 
Foi  do  aia  em  que  te  vi. 

Oh  Maria,  oh  Maria, 
Para  te  amar  ando  louco ; 
Passo  frio,  passo  fome, 

Levo  má  yida,  ^da  roto. 

• 

O  amor  nasce  do  dar, 
Meu  amor  que  te  darei? 
O  amor  que  n&o  despende, 
E'  certo  que  nSo  tem  lei. 

Coitado  quem  tem  amores 
E  se  deita  sem  os  vêr; 
Toda  a  noite  está  sonhando 
Quando  ha-de  amanhecer. 

  ribeira  quando  corre, 
No  meio  faz  a  zoada ; . 
Quem  tem  amores  nSo  dorme 
O  somno  da  madrugada. 

• 

A  pombinha  chega  o  bico 
Áo  pombinho  rolador ; 
SSo  signaes  que  symbolísam 
A  doce  união  d'amor. 


Noite  escura,  noite  escura,   . 
Quem  ama  nSo  arreceia. 
Quem  quer  bem  ao  seu  amor 
Pela  porta  lhe  passeia. 


454  TROVADOR 

Rapariga,  dá-me  um  beijo, 
Um  beijo  pela  tua  alma; 
Tu  não  sabea  quanto  gosto 
De  sombra  quando  faz  calma. 

Esta  noite  cboyeu  ouro, 
Diamantes  orvalhou; 
Lá  vem  o  sol  com  seus  raios 
Enxugar  quem  se  alagou. 

Eu  dei-te  o  meu  coração. 
Eu  não  t'o  dei  por  libello; 

Eu  dei-te  amor  por  amor, 

• 

Amor  te  dei,  amor  quero. 

• 

Tendes  amorzinhos  novos, 
Que  te  faça  bom  proveito; 
Deus  vol-os  deixe  gozar 
Que  nem  sereno  no  feto. 


RECITATIVO 


É  ELLAI 


Sc  ás  vezes  triste,  meditando  passo 
Nas  longas  horas  de  uma  noite  bella, 
Em  vendo  a  lua  lá  no  denso  espaço, 
EntSo  exclamo  com  prazer — é  ella! 


TROVADOR  455 


Se  lá  nos  bosques,  me  sorrinho  as  flores, 
Uma  diviso,  d^entre  as  mais  singelas ; 
Nos  attractivos  em  que  leio  amores 
Ainda  eu  digo  com  prazer — é  ella! 


No  temo  canto  que  de  além  se  escuta. 
Da  pobre  freira  na  prisão  da  cella, 
Durido  e  creio,  no  flnal  da  lucta 
A  mesma  idéa  vem  dizer-me — é  ella! 


Quando  nos  mares,  a  gentil  barquinha 
Toda  garbosa  vai  correndo  á  vela, 
N^essa  fugida  que  alli  faz  sósinha 
Ainda  eu  juro  que  por  Deus — é  ella ! 


Na  mesma  estrella  que  no  céo  diviso, 
Brilhante,  pura,  reflectindo  bella ; 
Em  suas  faces,  traduzido  um  riso 
Protesto,  affifmo  ainda  mais  —  é  ella ! 


Por  mais  que  busque  distracç3es  na  vida. 
Atroz  lembrança  minha  mente  gela. 
Quer  nos  prazeres,  na  cruenta  lida 
Que  mais  me  inspira,  bem  conheço — é.ella! 


No  mar,  na  terra,  lá  no  eéo,  nas  flores. 
Por  toda  a  parte  minha  mente  vela. 
Se  em  tudo  eu  leio  divinaes  amores, 
E'  porque  tudo  vem  dizer-me  —  é  ella! 


•   A.  i.  G.  de  Castro, 


156  TROVÀDOU 


lundC 


os  SETE  SACRAMEliTOS 


Oh  menina^  eu  te  peço 
Que  sigas  os  meãs  intentos; 
Olha  que  te  proponho 
Estes  sete  sacramentos : 


O  primeiro  é  o  baptismo, 
NSo  sei  se  sou  baptisado ; 
Creio  em  tudo  o  que  Deus  disse, 
Não  sei  se  sou  confirmado. 


Segundo  é  confirmação, 
Confirma  amor  na  verdade ; 
Se  te  eu  quero  bem  ou  nSo, 
Deus  do  oéo  é  quem  o  sabe. 

O  terceiro  é  commungar, 
Quem  communga  confessou; 
Para  uns  começa  o  mundo, 
Para  outit>s  se  acabou. 


O  quarto  é  penitencia, 
Penitencia  tenho  tido; 
Quando  me  ausento  de  ti 
NKo  sei  se  morro^  se  vivo. 


I 


TROVADOR  157 


O  quinto  é  extrema-unçSo, 
SXo  palavras  em  latim : 
Fostes  uma  linda  rosa 
Que  creei  no  meu  jardim. 


O  âexto  é  a  ordem, 
Que  eu  tenho  de  te  prender; 
Na  cadea  dos  teus  braços, 
É  que  eu  m»  queria  vêr. 


O  sétimo  é  matrimonio, 
Quando  é  o  dar  da  mSo ; 
Nunca  se  pôde  apartar 
Uma  rosa  de  um  botSo. 


Estes  sete  sacramentos  . 
SSo  da  santa  madre  igreja, 
Anda  o  mundo  ás  avessas. 
Ninguém  logra  o  que  deseja, 


MODINHA 


.■J 


a» 


QUANDO  OS  CÉOS  DiO  EH  TEUS  LÁBIOS 

Quando  os  oéos  dSo  em  teus  lábios 
Temo  riso  encantador, 
Sinto  quSo  doce  é-me  a  vida, 
Em  teu  riso,  anjo  de  amor. 


158  TROVálKNl 

Sem  ti  são  tristes  os  meus  dias. 
Duro  e  penoso  meu  viver, 
Junto  a  ti  preso  em  teus  braçc» 
Viver,  quero  até  morrer. 

Os  laços  com  que  me  prendes    < 
Ainda  mais  quero  apertar, 
Nãô  é  crime  antes  virtude 
Sempre  amando  até  acabar. 

E'  minha  sina  adorar-te 
Embora  sejas  perjura, 
Que  meu  amor  nSo  esmaga 
A  pedra  da  sepultura. 

Venha  a  morte  embora  um' dia 
Sobre  mim  seu  furor  parte; 
Morto,  extincto,  no  sepulchro 
Este  peito  inda  ha-de  amar-te. 

^  Pôde  o  gelo  do  sepulchro 
Tirar  da  vida  o  calor. 
Mas  d'um  peito  firme  amante 
Apagar  não  pôde  amor. 


FIM  DO  VOLUME  in 


lltTIDICrB 


Pag. 

Acorda,  minha  querida. ...  94 

Adeufl! 134 

Adeus,  pura  virgem  de  meus 

sonhos 111 

A  estrella 15 

Ainda  ella  ? õõ 

A  joven  morena 59 

A  lavadeira 107 

Alta  noite 23 

Amar-te  é  crime 140 

Amei!...: 126 

A  moreninha  fluminense ....  143 

A  mulata 130 

A  mulata  cor  de  jambo. . .  ^  135 

A  mulatinha 142 

Ao  vêl-a 104 

A  pérola  de  Paqueta 63 

A  prostituta 147 

As  mulheres  de  mármore. ...  L7 

Astro  do  céo 90 

A  sympathiá 8 

A  transviada 9 

A  vivandeira 64 

Beijo  a  mao  que  me  condem- 

na 81 

Camélia 50 

Cantemos  um  sim. 112 

Chá  preto,  sinhá 12 

Como  o  orvalho  da  noite. . .  138 

Desde  o  dia  em  que  te  vi . . .  110 

Despedida 69 

De  tão  longe  ouvir  não  podes  100 

De  ti  fiquei  t&o  escravo 61 


Pag, 

Deus!...,. 115 

Devaneio 85 

Devaneios 85 

D 'uma  pastora  os  olhos  bel- 

los ' 35 

E 105 

Eeila! 154 

Eloah  do  amor 133 

Esta  noite,  oh  céos!  que  di- 

,  ta! 43 

1^  tão  formosa  Marilia  bella  52 

E  tarde 123 

Eu  amo  as  flores 24 

Eu  quero-me  casar 60 

Eu  vi-te,  vii-gem 151 

Eu  vi  teu  rosto . . .  i. 32 

Eu  vivo,  mas  oh !  não  vivo !  109 

Fadinho 146 

Festas  de  dôr 11 

Flores  do  coração 127  * 

Herva  mimosa  do  campo. . .  137 

Lá  n^aquelie  deserto 124 

Lembranças  da  pátria 16 

Marilia,  meu  doce  bem 31 

Meu  scismar 81 

Minh^alma  é  triste 48 

Minha  sorte,  cara  Elvira. . .  46 

Minha  terra  tem  loureiros. .  71 

Morena 118 

Mulheres  e  flores 18 

Não  te  rias,  oh  menina.  *.. . .  116 

No  mar 29 

No  meu  rosto  ninguém  vê. .  5 


160 


IKDIGS 


O  artiflta 87 

O  boleeiro 74 

O  canto  do  sabiá 38 

O  capitiU)  mata-moaro6 56 

O  exiUo 103 

O  filho  pródigo 84 

Oh!  que  vida!  ;....". H9  ' 

O  meirinho  e  a  pobre 26  ^ 

O  padecente 51 

Operdào 76  : 

O  pobre 39  | 

O  roxo  lyrio 84  ' 

O  século  do  progreMO 96 

Os  sete  sacramentos 156 

O  sonho 82 

O  teu  semblante 58 

O  teu  sorriso 141 

Outr'ora,  agora 66 

Perdão 30 

Pura  virgem   moreninha. . .  21 
Qualquer  mulher  que  encon- 
trares   70 

Quando  a  ave  da  noite 83 


Quando  a  vida 150 

Quando  em  meu  peito  reben- 

tar-se  a  fibra 101 

Quando  eu  morrer,  n&o  que- 
ro em  minha  campa 6 

Quando  os  céos  dão  em  tens 

lábios 157 

Quando  os  teus  olhos 72 

Queixas 47 

Quem  é  pobre  n2o  tom  vioios  S8 
Se  eu  fora  a  criança  mais  lin- 
da e  formosa ^ 36 

Sonhei  que  mil  flores lá 

Supplica 78 

Supplica 114 

Tenho  raiva  á  gente  gorda . .  152 

Uma  pequena  brejeira 79 

Um  mysterio #> . . .  35 

Um  pedido 44 

Um  8Ó  sorriiw 21 

Um  teu  suspirar 50 

Vai-te,  recdo 89 

Vivo  &(5  para  te  amar .....'  7 


i:\.:\í;!\  i'oiti.ar  i>f  ckvz  cnrTJNiU) 


>    --.1.       1       '.-.  ,'-.■',.'     I     t'     ''    •'     ■!> 

'     i"  ■:  •'  •    .  ' "    -  '!•    ..>    \\  ;  . .    I    ',  . 

-  ■;'-.'  I  '  '  i':  •  i.i»"  I '  i'M  .  M    .  . ''  I-  'i 

\\'  ■    ;•   .'il,'  ■  .1  -. .     '     •             Mi./  .•.•1;l 


ilc    ' 


•'  Hw.. 


I  !  '       i.  I     . 


'..II'     1    V. 


\\    ~.v 


I.   '    i!,.'-i 

•  T 

•    -í  1    ",  .• 


1  >  ".    •  I  1        r 


'  '■,>;!■  n   ■'■  ' 


'!        >•'■  >      .1  í 


1  1  (i.-r  •.'■ii'- 


'  1  ■         ■ 

tu::»  »•,  ,   ti  ,  ..,._.    t      ,1 ;    •> 

\\       i  I,      •,  .'  1    ',  .        '   !)  •■  - 

|>  'il        !-.       I 

:i!i!  ■  ■  i'  •.'.»■  i .  I  V.  -  \  i:'li'.' 
í  ii  '.  i  T.  í  V.  <  '-  r'U:(!  Ill  ..l'!  j 
V  '  i  i:'i>l.  1  w  -  ( i  •  •  •"  ('i.  Ni- 
Z:l':  .  1  \'.  -  í  'i  '■  111-'.  ■'  )  lie 
r'  1'iiil'  i .    li    N  .  -  -   <  •    t''  •  .M-    «i'.».    L> 

V.  -   -  '  '  '■]>     'I-'  .••    '.).    1    ',  . 

r.        I  .  ...  1      '  > 

.  ■')    1.  •    •.  •       .\  •    '  .1  '  .  ..irrii- 

)>•'.  -.  *J  ','    .'•''.  I'  •       .-    >. 


:-..i!  i ! 


I  ■  .-i'  ' .  1 


■   -^>,  •    •  -  I  ..    h   V 


">  I   . '  i.     . 
il     .1 '•■!     t' 


I  .    !'i.     •"  ■*■■,"  "     l     l 


.-''>'•.     I    V.     *•'        '  ->   . 


«  ) .    1  r.ui      -  A 


l^     lI'       .f  -.1")     O 


-<;'  '♦■'  Mr ».'.     :.'     V .     ;■■•    •     .  -.'rt        ';>s. 


Mhj 


■  lilii    «i  '    S    .!Í.)    .\ii  li-é. 


j»;n.'"il''^  .í.    1   V.    -    l\i'|U:T;i.     ii)<'- 
ir.;i.  —     ^'•"'-:()-',.      l    V.  i ';l.l';rt:'S 

&.1  t.inlf.  1  V.     -ÍTv;wi"lla,  triid. 
--Lu  ^'l'^llU■f'■M.  trad. 
A    FAMH.iA   1)1)  .ri  ,1  ifA,  1'nr  AiulrP- 
<je   l''<'rr.  ira, 

JOí<''-    ^-    K'lHr:U(J--    A!líUll^^     f."UC*í>S 
dil     l^M^ur.-l     (^    il"t     ('X')iMMíMlCÍil.    2 

V.  --  ^^-^íii.l-')  "  ov.ú  o  [M>litlco  í«0- 
br'í  <■»-*  í.u>í:ida=^.  1  v,  —  Priniei- 


Yú^  trai;n.-;  do  uin.-i  i'('>onhji  do 
littoríitui-.'i.  1  V.  1  >^  LiHÍad;i.-^ 
t'  o  (\).->"n<H.  í)U  ( 'aiiM.M'-^  iMni->ido- 
i"adg  por  líii  i.n.-liic,  curiio  um 
[>i:'t«)r  da  iril.urc/.a .  1  y.—-]lv- 
sinHi-r-i-H  do  coiis  mIio  (U;  «.'srado. 
11  v'. 
A  N'':{  \i>!;  — í.'ai'l:(-  csití nta-^  d'i  1ti- 
d'-L  o  da  <."nÍMa.  :.'  v.  ou  a  cstani- 

ti'  ^.'.    i\    i>i-;   {\   :it;u;     -Da  u:dru) 

iít.''i\'a.  1   \'. 
X\\.    K  '-A  SiLVA    —  ^'íi.mI  •()•<  :;atu- 

r."-":..    1    V.  -    •  >    '    -r  ■iiciiri)    (!o 

tVadf,     1     V.  --    l"r;''-i-.- ,     VtMl'  .* ; 

v'i-;t"->;    d''-^t'i'i  )f  .M'.-i    t'    iii'i'sÍMS. 

1   V.      ' 
('.  i  '.  A''.y-\\:T*')-  -A  \[r.-  !"'^i'-5,  vor- 

^..-.   1   V. 
'V  ii>    i-r.    N(pK'  ■>  'A        'vli-iroiâa  -   d(; 

u>  "i     ri  ;i    rto.       -  r.i  <-  :(.->    i»    di- 

1'a;  i.i»  .:i:  Is"(  :í  -  ( i  -n  \  (  Iidublaiic 
}  'Mi:..:'-a.  do  ^ii"  ii;"':»-;-.  -  A 
ii. ''>:"ra  d.a-  ívr<  <,  \.\a.  { )  s:i,-. 
( '!i  •:•;'■  i.  L'  V.  riiin  •  I:';'ím:i-.  - 
As  iT.diiia-"'.'^,  r»  '!■;.>.)<'  o  \inliO. 
A  Vfvda  ri  1-4  aiiiiáx."-..  A 
dai'ia.  d"<ti">'-  <''iia/íi  !i<>^.-  (); 
Ft'l  !•  ba':').-  (l'.'\  a  .  ■  l);!iior<|UC 
;.<.'-i  o'í  i'  c»  a '  ''■■'!  ''  <.'  'i!''";a .  - 
A  M  I  ri .;  i' ..-1  I  >'  i_";i -.viT.  --1).ii-m- 
fi'-í-i»i-  l'"i '";,••.'.■!  r.i'.-  A  iii"ai:ia 
bnii'i  :•  do  a  iT.i  !i  ialt;.  (  í-,  ])C- 
i.ii'  a.'.-  ^•"^•'  'iO<  tnr:M'iii  L:'*a,'dt'rí 
rin  ht,-.  ( )  ■111  a"(i  (it>  -;a'*.  .Mar- 
ti !'•>.  —  n  Iv  ,  ( j  i»>  <  H<)>  a;ni.  li 
V.  v"  '.  c-;!  i;.!  a  ^.  - -- l''i(a' ':.r:na.. 
. —  ( )  11. -to  d'"  <  'tr'!  u(*lii\  A  \  iii- 
va  Ta  'ia!.--  A-  ■  •  iiia- da  ai,iia 
fa  rini.-i .  r.ii  liM  11.  M  arrii)M- 
I:  lo.  —  Liii  iiafi  lo  d  *  .,iu'ii\  ^0 
zi.ialja.  —  n  nnrf.-iro  d.i  rua  da 
líarca.  —  Zi/iua.  'J  v.  «'.»ia  ca- 
tariijVs.s.  —  Vr\)â  >.<L;'rn.  -  ()4 
Co'nivaiili(^ii-(),-,  (hiA  íulnM'as.  ".'  v. 
com  (vt:ll^pa^;. — O  (Iii^tavo  ou 
;i  boa  iuH;a.  4  v.  -  -  Paulo  ti  í)  í<(Mi 
cào.  .S  V.  —  A  iruiTi  Amai. — O 
ninaidc  da  Iuh.  li  v.  -  O  meu 
visinho  líaymundo.  -  O  bavb(»i' 
ro  d«'  Parirt.  rm.'i  nudlnH*  de 
tvi^-^  caraH.  -A  (íariíi  bi"anea. — 
A  biíTÔa  d'Aut.<'uil.    -AdonzellA 


uviiAiHA  3^oi>i;lah  i>k  cuvz  cociinho 


d«í  U^r^n  illc.  O  lioiiKMri  dos 
tr*'s  tMli;"i.'-»  —  Ainlró.  l  v 
A  fa.:  iíia  (''«'íl''.  -1  V.  Fm  iir- 
lm"'ii».  '2  V  t  •.'■i>:-Lr'"tM .  4  v.  - 
O  ^i^•ll).1  a  í|U:  t"<i.  -1  \".  -  ^ísíJ.'  1  l- 
l''-i;i.  l  V.  rin  riioVíiqji  do  lin- 
iii«'ii;  c:i->-:'l(>.  ■  Nrni  Sfiii  are  n<Ma 
T.ir  ca.  1  V.  Jo:íu.  l  v.  Mii- 
Ih  -r.  Ill  irido  r  íiKiaii^f.  [  y , 
C)  llllio  d?'  ííihilri  nuiilí-M-.  "J  y. 
--A  in  Miiiia  Lis-i.  ()  ai.^iu-ó 
ritVard  n  i';i  tiix  in\--^í"rin-;o 
da  1'^  mi  ir..  -A  rai.iiiia  KvaiJ- 
lard.  'J  V. — A  ^'íi-.  "  d-' Mi'Mliaii- 
quiii.  '2  V. -— Fin  na  morado  i*.a- 
louru.   2  V.        O  niiiOi'  farc.ir-da. 

—  Nfin      eiri;(,i:<  .      IMMn      -soltei  |-;i, 

iicn  viiis'a.  —  l'iii  inii'""dt»  -i  »-dÍ- 
do.  -  Ar;  t',ii\-i'ii\iH  -A  l<':t<'i"a 
do  ^í()l  {íVi-ji>'-il.  1  ^--^"11110- 
Vrii  riiv'ant;.  lior.  1  V.  -  í >  ^--m 
gra\aía.  !  v. -- I'ol)"ni('au  c  l''i- 
li  ia.  4  V.  A  pv.HMíra  d"ui.ia 
iHMíhiT.  -1  V.  — O  lio"!i''.ii  da  na- 
tn.iava.  1  V.  -  -  A  univa  de  l''o!!- 
t>'nay-dw-ros:i.-;.  1  v.  —  (^'^'lr''ta. 
2  V.  -  ()  l)i;x<n]('..  -1  V.  -  -  l-ott».  át'- 
plio»-.  4  V.  ctc. 

O  iiit.\:rM  KA  r\(  A.  po^' lMai('-ito  Ivol- 
l.'t..  o  V. 

Fahit-^  t^  a-iol-^-ic-Míto.  oduraflo 
jia  Ix^-idadc.  -í(*.i.''OÍa  (•  iii(ui>.h'ia. 
1  V.  A-i  ',")''i'f",io4.is  C"l'"l>r.'^  í» 
íi!^  iií-^ioiidoras  do  ainor.  ty^os 
Coiitc'Ti;)oi'ar.iH)<. 

Ri:vNoi,'.-  ( '-i  dr  iiioiH  d.»  Lon- 
d  •,■-;.  Tl»  V. 

G.\N""i'  IFi-toi-ia  iniivfrsal  12  v. 
Com  c-ií-ani  iK.  —  Mari:,Mi-ida  l*iH- 
tt^rla,  rom.ii;(''í. 

rA'^rr\i.  -  -A  navto  Tiio'-a!.  -1  v. — 
I'^,-^ío-;a  <»  miilhv^r.  -  -  Kinaio  c"i- 
tico  r^ol)'.-,!  a  vlaLrcm  ao  lira.-U 
em  l>r>L'.  2  V. 

Fran'  is  ■•)  M  \\oi:l  i».v  Sn  va  Comi- 
Ijo/idi»»  d'>  musica . 

O.  AiMVHi)  --Ari  í^uiM-rillns  do 
.íoarc/..  1  V. 

Jo\.(íi'iM  M,  m:  M A<-r.D()  •  O  r()"a-<- 
tciro.   3  V.  —  (K-4  ([iiatro  poiítod 


cai-dt'a>-'?í.  1  V.  —  T'i'i  n(o\'o  a 
d  líí.-  1  oir  is.  ')  V. -- A  iiainoíVL- 
d--'i'a.  ."•  V.  —  Niiia.  t?  v.  ■  A3 
nv.il!i''.'o-  (].>  mM')ri'l]a.  2  v.  -  A 
luiíiMíi  '\:\:\'i.  2  V.  A-^  \'iv-";- 
iiias  :;l.:'õ'''i.  "2  v.  —  A  iiíorc.n- 
7ilia,  1  V.  —  A  ii-dv.do4:i.  1  v.  - - 
('nlN>  do  d 'vr.  1  v.  -  Mo-iiorirxs 
do  soVr-iíii.t»  d"  inoii  tio.  2  \. — 
Mo';o  loaro. '^  V.  - ''N  dons  amo- 
rcn.  1?  V.-  Komaiicfs  da  s(^  iin- 
11a.  ]?.'^a  'J  V.  \'ic'"'nfiiia-  .'í 
V.  O  '):'Í!MO  d.í  (^alifoniia,  c»'»- 
inodia  í  ai  u\v.  ac.tn.  -  Tíoinis-ào 
d'>  P"('cad'><.  coai'  dia .  -  Poiíiaii- 
c  d"ii:aa  \-ollia  ,  c.otk  dia .  -  ITm 
:  pas-ifio  pela  c''d-'do  do  17io  á*?, 
.íanrl''0.  2  v.  ct>Mi  o^tam'•aí^.  — 
No;''^-o>dr-  eliro''<\Li"í'adna  do  }>ríi- 
zil.  2  \. 

Fxnr.í.T.ns,  oóo.fo^  f'i''0.tr'c<~*A. 

Mv.r  S-.\ii  —  n.-^Hoa.  f)  V.— Co- 
rina  ou  :i  l*;ilia.  4  \\ 

!\TAO\Li!'\rs  íaM^  -  -  Mi  M:ít'.ira.^  ro- 
mântica 1  V.  c'.^''t'*".^do:  Mar- 
twio  d'nm  m\jo ;  I'ia  d"aiiia  Í7i- 
tiaií)  ;  Vu\  lia  d'-  iioiv.-nlo. 

PiairnsA  T)\  Srt.vk  -líisToria  da 
fmidacàn  do  im'v'-'o  h^-a/.ili^^.iro. 
7  V.  Maooid  d'»  ■\TfM*:"M.,  r]iL*o- 
irca  ílo  <.■(•  d-i  XVI.  1  v.  -  ,Iia"o- 
nvi>u)  cr.-ío  I^\ll.  -  (>3  varrprt 
illiwt-,!'(v-i    do    iJrdl   d\ii-a'itc    03 

t''MinoS    Co'oui;0  S.  "_^  V.  —  Si'Cr''''\- 

■        df)  nt>rio(lo  ilo  reinado  do  D.  IV'- 

,        d"o  1  d.o  ]>'-,»'ii.  na'rativa  bi:4to- 

rica     1    V,       <n)rr'i  littoraria.s  e 

l^olirica^    2  v. 

l"i\^r'.-i  —  r.i  itM-í  do  ndnha  .lava. 

Ti.   í 'oN-íí  11  N.- V  -    o    unha    'o-cidii. 

(4"i.-T\     -  l'!>bo"(t-.  bioLrraphioori  dorí 

t)'-ii.c:i  Kic.-i   i»iuto:"í'-t  itali.aroá.   1 

vol. 

C  Io'nriu        A    ]>oiit'"'   nova.    3  v. 

—  (>s  m'^;;di:ro4  ilo  Pari-^.-l  v  — 

!        O    trihaii:;!    S"C"''to.    1   v    -  -  l'o- 

I        vosovoi-   '>v.     -  Servos  o  bi'\":ir- 

doíi  ou  a   o>i'-a\  iiiío^  na  líus-^ia. 

I       4  V.  „    i)  s;.dr'';!dor  do  montt  tl'>. 

Borto.  -  V.      O  poota  da  raiidia. 


PorU  :   IHTO—  T>p.    do  " António    Jcst'    da   Silva  Tiàvt  iro,    <  .111- dia  Vcltia,   B2 


I"       IMOYAÍ); 


-.' 

(;ijij.r;':gÀu 

t 
í, 
(1 

■  \ 

Kt: 

li, 

!; 
íl 

1 

lOINHJS,  iCITíTIVOS,  ífilíS,  LU! 

m.UL  \ 

f^ 

h 

t 

'ii 

«OVA   EOIÇAO.  COH^.tCl  ■ 

( 
f 

A 

(( 

II') 

•    1 

voi.iMi:  IV 

í 
1 

í. 
t 

if 

'.i 
■ ) 
•1 

:.!<>   liK  1  \ :• 

p 


"   1    -        ,      . 


]-.-.N^       4.      • 


>•■»••  •     11.   ,  •!•    < '  'i  • '  ir- 


-    I 


(\: 


I       * 


u    .-  ni- 


'>.      .      M 


{ \ 


1  •! 

t  ( 


1       • 


)    V, 

•11".  r 


A 
A 


>      ' 


\'. 


•>   '      .1 


.1- 


fV  ,1  •    1  V.-  -A  f-  '    •.  í:  V.--0 

V    ■    -   '  '     ■;'.•,'•  :p      ■  i'  •     ';i .    1:1     V.     - 
\   •  »    .1    ^   •      |.    ■;     •:       ,   ,■-•"  i       1    V.-  — 

<  '•    .  ■'...   .:>  li.)    r.í    ■-•.  .»  V.        : '    , 
d"!  •    ■    '"'i:' . ."'  V.-    >*M\-.    ••^  ' 

1  T  I  •  ( 


tl.^  t 


»*■     '/('; 


i  <      'ir         " 

I :    - 


'-.  "  V.-  -  i  -•  . 
r  '    í- 1  ^  '.1  ■-•  •  »  ---  <  '-^  ';:'■;  >    *■'-, 
II  i.ilia    a-,.;  .  ;  '  --   « '    ...:  .ir   V    : 

Cl'  '-i  .         N'"  1    ^-  is  •'■:■.     ■■  ',.  <' 

^,,!l    ,  n.-'  1  vi  ;    .1  -    '  ■ 

\\    ..1    i.v  .iv  *>;';.     -- 
1  " «     '  ■    ' 

A'i  v'.- ''  '\  '.  r..\   -  -  y     ■•>•  V  > 
A^N'.^  A.  Tl  \<  .:«..i  -  -  Ij  .. 

.^r-.i-i  ^-^  í '  -^«^   lí   I  .  -    ?  1  r 
\'''.  *i''i"   )».__'     •    ,1 


J'  I  ■ 


A  ■ 


I    , 


-.  <•  ^ 


'  V  :- 


or. :    • 


«  I    I 


.     ')     t 


•  1 


..  I 


/:.' 


f  f 


•.  t  ' 


§       •    -• 


•  ' ' '  > 


'  v...  r 


<  ,  .♦ 


n   1 


('  >     : 


{■ 


r 


1       ■   ■       .      '  ■       \  -              l"> 

'•■"'.•    ■  ,        1  .-. 

•- 

■''."'  :l     < '  '    ' ". 

'. 

.  1  V,    -^'     .  :  .', 

1     V. 

1 
i  ' 

«                  «■ 
«             i                               1      - 

V 


LIVRARIA  POP  ULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


RUA  DE  S.  JOSÉ,  76  —  WO  DE  JANEIRO 


A  Abihpeitdida,  romance  por  J. 

Â.  d'0mella8. 
8.  Pereira — Horas  do  campo.  1 

vol. 
EsTAcio  DÁ   Veioa  —  Romanceiro 

do  Algarve.  1  v. 
Da.  Tito  P.  d' Almeida  —  O  Bra- 

zil  e  a  Inglaterra,  ou  o  trafico 

dos  africanos.  1  v. 

A.  Bast — Maravilhas  do  génio 
do  homem.  2  v.  — A  cortezâ  de 
Paris. 

Javbt  —  A  familia. 

Freire  de  Carvalho  —  Ensaios  so- 
bie  a  historia  litteraria  de  Por- 
tugal. 1  y. — Reflexões  sobro  % 
lingua  portugueza.  1  v. 

MoTTA — Quadros  da  historia  por- 
tugueza. 1  Y. 

B.  Pinheiro  —  Arzilla.  — Sombras 
e  Luz. — Amores  d 'um  visioná- 
rio, romance  histórico.  2  v. 

IsBELLA,  por  Fernandes  da  Rocha. 

Andrade  Ferreira — Tradições  e 
phantasias.  1  v.  — -  A  familia  do 
jesuita.  1  V.  —  Últimos  momen- 
tos de  D.  Pedro  v.  —  Litteratu- 
ra,  mu^ca  e  bellas-artes.  2  v. 

Mosqueira  —  A  marqueza  de  Cam- 
ba. 2  V. 

O ,  Fbuillbt  —  Historia  da  Sibylla , 
1  y.  —  A  condessinha  de  flores. 

—  Flor  de  liz.  5  v. — Roman- 
ce de  um  rapaz  pobre.  — O  con- 
de de  Camour.  2  y. — Júlia  de 
Trecoeur.  1  v. 

AnansTO  b  Olympia,  por  F.  da  Ro- 
cha. 2.^  ediç&o. 

W.  D*Izco  —  Maria,  ou  a  filha  de 
um  jornaleiro.  7  v. — A  mar- 
queza de  Bella-flôr.  8  v.  —  Po- 
bres e  ricos,  ou  a  bruxa  de  Ma- 
drid. 9  V. 

Tbrebserra  —  Os  hypocritas.  9  v. 

—  A  Judia  Errante.  10  v. 
Ferhandez  y  Gonzalez  —  D.  João 

Tenório.  2  v.  com  ost. — O  rei 
maldito.  5  v.  com  ost.  —  Casa- 


da e  virgem.  2  v.  —  Laerecia 
Borgia.  — Memorias  de  Satanás. 
2  V. 

Luiz  Parrbkb  —  A  inquisiçfio  e  o 
rei.  2  V.  com  est. — A  inquisi- 
çâo  do  rei  e  o  Novo  Mundo.  3  v. 
com  est. 

Dias  Mora  —  Florinda,  ou  o  paia- 
cio  encantado.  2  v.  com  est.  — 
•  Pelayo,  ou  o  restaurador  de  Hea- 
panha.  2  y.  com  est. 

Taer&go  T  Mateos — Ódio  de  Bour- 
bons,  memorias  escriptaa  com 
'  sangue.  3  y.  com  est.  —  Tem- 
pestades da  vida.  2  v.  com  est. 

—  Os  ciúmes  de  uma  rainha.  9 
vol.   - 

Ilíada  de  Homero,  trad.  de  M. 

Odorico  Mendes. 
Paulo  Feval  —  Os  companheixoa 

do  silencio.  4  v.  — A  loba.  3  v. 

—  As  duas  mulheres  do  rú.  1 
y. — As  filhas  dos  reis.  1  v. — 
Saldo  de  contas.  1  v. — Joio 
Diabo.  4  v.  —  O  lobo  branco.  1 
v. — Os  valentões  d'el-rei.  1  v. 

0  filho  do  diabo.  1  v. — Um 
drama  da  regência.  1  y.  —  Orei 
dos  mendigos.  4  v. — Adaqneia 
de  Namour.  2  v. — A  cruz  da 
espada,  ou  o  emigrado.  1  y.  — 
A  oreoula.  1  y. — O  jogo  da 
morte.  6  v.  —  O  matador  de  ti- 
gres. 2  y.  —  A  peccadora.  1  v. 
— Floresta  de  Reúnes  oa  o  lobo 
branco.  1  v. — O  voluntário.  1 
V.  —  A  torre  do  diabo.  1  v. — 
A  fada  dos  Arcaes.  1  v. — A 
fonte  das  Pérolas.  1  v.  —  Os  ca- 
sacas pretas..  1  v.  — O  paraíso 

•  das  mulheres.  2  v. — O  oorouu» 
da.  6  v. 

Luiz  d^Araujo  —  Contos  e  histo- 
rias. 1 V. — Cousas  portuguems. 

1  V.  —  Novo  almocreve  daa  pe- 
tas^ livro  alegre  o  folgazão,  no 
gosto  do  antigo  Almocreve  doã 
jyetoi.  2  v. 


TROVADOR 


GOLLECÇÃO 


DS 


MODINHiS,  RECITiTIVOS,  ARIIS,  lUNDIJS,  ETC. 


NOVA  EDIÇXO,  CORRECTA 


VOLUME  rv 


RIO  DE3  JANEIRO 

Na  LIVMBI&  POPDL&R  è  â.  A.  da  CROZ  G0D7INH0— Editor 

75,  Rua  de  S.  José,  75 


i87e 


POETO 

TTPOaiÀPHIA  Dl  AHTOXXO  JOSé  DA  SILYA 

62,  Rua  da  CaneeUa  Velha,  OK 


1876 


EO¥M@E 


MODINHAS 


QUEM  NÃO  AMA  E  NÃO  ADORA 


Os  prazeres  que  nos  domam 
Da  existenciíi  dôce  aurora, 
Gozar  nSo  pode  na  Vida 
Quem  nSo  ama  e  nSo  adora. 


Quem  nSo  rende  affectuoso 
Terno  culto  á  formosura, 
Existe  envolto  em  tristeza, 
Vivo  está  na  sepultura. 


No  universo  não  descubro 
Quem  d'amor  á  lei  se  esquive ; 
Pois  que  amor  é  mais  que  a  vida, 
Só  amando  é  que  se  vive ! 


I 


TROVADOR 


Pois  BO  O  amor  é  que  adoça 
Nossos  dias  de  amargura, 
Sem  prazer  a  vida  é  morte, 
Sem  amor  nSo  ha  yiintura. 


DEIXA,  DAHLIA 


Deixa,  daUia,  flor  mimosa 
Ostentfl^  toa  ballefea, 
Toa  imagem  respeitosa 
E'  o  emblema*  da  tristeza. 


Nas  roxas  folhas 
Tens  o  padrão 
De  qtranto  sofire 
Meu  coraçSo ! 

Teu  centro,  duro,  exaspera 
Minh'alma,  em  zelos  acQesa, 
Flôr  que  assim  paíxSo  exprime 
E'  o  emblema  da  tristeza. 


Nas  roxas  folhas 
Tens  o  padrão  ^ 
De  quanto  soffre 
Meu  coraçSo! 


TROVADOR 


DUETO 


o  MESTRE  DE  MUSICA 


DAMA 


Dá  licença,  senhor  mestfe? 


KESTBE 


Pôde  entrar,  minha  senhora. 


DAMA 

Como  passa,  senhor  mestre? 

MESTBE  * 

Vou  passando  menos  mal; 
Ora  vamos,  méu  amor, 
Venha  dar  saa  liçSo ; 
Cante  bem  a£nadinUo, 
Faça  o  compasso  co'a  mSo. 

DAMA 

Sim,  senhor,  já  estou  prompta, 
Mas  precisa  desculpar. . . 


MESTRE 


Oh !  pois  nSU>.*. . 


8  TROVADOR 


DAMA 


Porque  estou  bastante  rouca, 
NSo  poderei  bem  cantar. 

MRSTRE 

Ora  vamos,  meu  amor  —  etc. 
NSo  importa,  eu  lhe  desculpo, 
Vamos,  dô-me  attençSo. 
Dó,  ré,  mi,  £&,  sol,  lá,  si : 
Entendeis,  minha  menina, 
ESsta  minha  afinaçSo  ? 


DAMA 


Sim,  senhor,  entendo  bem. 

MESTRE 

Ora  agora  principie 
Com  justiça  e  promptidSo. 

DAMA 

Fá,  mi,  dó,  ré,  £&,  dó. 

Dó,  dó,  dó. 

Na  deixa,  está  perdida, 

E  nSo  sei  qual  a  razSo 

• 

Ha  tanto  tempo  que  ensino.  • . 
Cada  vez  peor  liçSo.*. . 
Olhe,  a  bocca  bem  aberta. 
Compasso  bem  prolongado, 
O  nariz  bem  perfilado, 
Veja  a  minha  posiçfto.        * 


TROVADOR  9 


DAMA 


,Sim,  senhor,  eu  principio, 

En  careço  solfejar 

Mi,  ré,  fá,  dó,  fá,  dó,  lá. 

MESTRE 

• 

Qoal,  fá,  dó  nem  fá,  dó,  mi ! 
Vá  outra  cousa  estudar. 
Para  a  musica  nSo  tem  geito, 
Outro  officio  vá  buscar. 

DAMA 

• 

Sim,  senhor,  querido  mestte, 
Eu  lhe  prometto  estudar, 
E  se  fôr  do  seu  agrado 
Um  lundu  eu  vou  dançar. 

IfESTBE 

Oh  diabo,  ella  ahi  yem 
Com  aquella  tentação. 
Pois  sabe  que^nSo  resiste 
Meu  sensível  coraçSo. 

LUNDU 


DAMA 


Ora  diga,  senhor  mestre, 
K3o  lhe  agrada  mais  dançar 
Com  geitinhos  e  requebros 
Que  até  oe  céos  faz  chorar? 


10  TROVADOR 


MESTBE 


E'  tSo  bom,  é  tSo  gostoso 
Qae  se  eu  tivera  pataca, 
Toda  a  vida  eu  te  daria 
Corta,  jaca,  corta,  jaca.  ^ 

AMBOS 

Bravo,  meu  bem,  está  de  tremer/ 

Queijadas  de  côco, 

Pasteis  de  melado, 

Suspií^s  e  ais 

Do  meu  bem  amado. 

Sim,  é  engraçado. 
Gostoso  é  morrer 
Ligado  a  teus  braços^ 
A  vida  perder. 

Bravo,  meubem^  está  de  tremer — etc, 

Oh !  sinhá  Maria  olé 
Olhe  os  porcos  na  canoella. 
Se  os  porcos  forem  teimosos 
Dê  com  elles  na  panela. 

DAMA 

Dó,  ré,  mi,  £&,  sol,  1&,  si. 
Até  quando  eu  cá  vditar. 

MESTBE 

Adeusinho,  nSo  8'esqneça 
Da  liçSo  bem  estudar,      i 


THOVADÇR  11 

AHB08 

Brayo,  mea  bem,  está  de  tremer — etc. 
Oh!  sinhá  Maria  olé — eto. 


RECITATIVOS 


ESTATUA  DA  VIDA 

Estatua  inerte,  insensível,  calma, 
Mimoso  corpo,.  nBo  conhece  a  vida, 
Pallida  estrella  que  biUhar  não  sabes, 
Pérola  santa,  para  os  céos  perdida. 

» 

Jardim  sem  flores,  dem  perfume,  secco, 
Lodosa  argilla,  desprezivel  pó, 
Orgulho  inútil,  sentimento  morto, 
Gelado  peito,  não  conserva  dó. 

Formosa  e  linda,  alabastrina  Vénus 
E'  muda  e  fria,  e  nem  um  riso  tem. 
Alma  de  mármore,  sem  fé,  sacrílega. 
Aos  céos  prendel-a  nem  um  sonhp  vem, 

• 
Altar  sem  cultos,  sem  amor,  sem  idolos, 
BeligiSo  sem  crentes,  muda  já  está. 
Sacrário  augusto,  esperança  morta. 
Nem  um  suspiro  o  coraçSo  lhe  di. 


12  TROVADOR 

Vaso  esculpido  de  valor  sublime 
Que  doce  orvalho  não  colheu  do  céo,' 
Bello  horisonte,  mas  sem  luz,  sem  brilho 
Sempre  escondido. por  funéreo  véo. 


Adormecido,  sepulchral  archanjo 
Celeste  aroma  *-^  nem  â  Deus  orou, 
Apenas  folhas  —  desbotada  rosa, 
Sem  ter  amor  seu  coraçSo  ficou. 


Bettencourt  da  Silwi. 


O  QUE  EU  SENTI 


Senti  no  corpo  um  tremor  convulso, 
Senti  minh'alma  desfazer-se  em  prantos, 
Senti  que  breve  me  fugia  o  pulso. 
Senti  do  peito  já  fugir-me  os  cantos. 


Oh !  •  • .  eu  so£Pria ! .  • .  sim,  soffria  immenso, 
Amores  loucos  me  abrazava  o  peito: 
Hoje,  cançado  de  um  soffirer  intenso 
E'  meu  martyrío  o  já  passado  preito. 

Senti  saudades  quando  já  distante  ^ 
De  ti,  ó  bella,  tão  tristonho  vi-me; 
Queria  ao  menos  contemplar  constante 
O  rosto  puro  pelo  qual  perdi-me. 


TROVADOR  13 


Pois  caminhava  faturando  anòiòres 
Qa^em  breve  iriam  junto  a  ti  pairar; 
Senti  que  via  n'am  jardim  mil  flores, 
E  qne  as  mais  bellas  te  podia  dar. 

Oh !  essas  flores  que  em  delirio  via, 
Eram  mil  beijos  que  almejara  dar-te; 
Eram  desejos  qne  jamais  eu  cria 
Que  em  vio  fizesse  o  meu  peito  amar-te. 

Mui  feliz  fui  n'e8se  instante,  virgem, 
Julgara  a  vida  mais  alento  ter !  • . . 
Mas  hoje,  longe,  só  tu  és  a  origem. 
Do  pranto  amargo  que  me  £Etz  descrer. 


Monte^Real. 


LUNDt 


UM  JOGO 


Manca  do  sor.  Noronha 


Com  gentil,  formosa  dama 
Ha  muito  tempo  joguei, 
Furo  jogo  em  qué  perdendo 
Com  essa  perda  ga;ihei. 


i4  TROVADOR 

Comecei  por  um  sorriso, 
Ella  um  olkar  me  lançou, 
Com  esse  olhar  fiquei  doudo, 
Quasi  oom  elle  ganhou* 

Insiste,  dei-lhe  um  suspiro, 
Ella  um  ai  me  desprendeu, 
Ouvindo  soltar  segundo 
Catou*Be  e  quasi  perdeu. 

Deu-lhe  um  sentir  de  minh'alma, 
Deu-me  um  sorrir  de  paixSo, 
Quiz  vencer,  fiquei  vencido, 
Lá  perdi  meu  coraçto. 

Perdi  tudo,  mas  que  importa 
Se  em  breve  me  resarci, 
Se  ganhei  a  affeiçSo  d'ella 
E^  troca  do  que  perdi? 

Ha  muito  tempo,  ha  mmto, 
Comtigo,  Isbella,  joguei : 
Perdesse  embora  no  jogo, 
N'essa  perda  alfim  ganhei. 


í 

A 


TROVADOR  45 


MODINHAS 


MARILU.  SE  HE  NiO  AMAS 

Poesia  e  moBÍca  do  fallecido  padre-mestre  José  Mauricio  Nunes  Garcia 

Marília,  se  me  nSo  amas, 
NSo  me  digas  a  verdade, 
Finge  amor,  tem  compaixão. 
Mente,  ingrata,  por  piedade. 

Dize  que  longe  de  mim 
Sentes  penosa  saudade, 
Dá-me  esta  doce  illuslb. 
Mente,  ingrata,  por  piedade. 


A  VIRGEM  MELANCOUCA 


(nova  hooisha) 


Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha — Sonhei  qtie  mil  flores 


Eu  amo  essa  virgem 
TSo  pura  e  tSo  bella,. 
Morena  formosa, 
TSo  casta  donzella. 


i6  TROVADOR 

Imagem  tão  lindai 
Exemplo  de  amor, 
Das  flores  mais  bellas 
E'  ella  essa  flor.  . 

E'  mais  que  coxistante, 
E'  mui  virtuosa; 
Dos  anjos  é  copia 
E  mui  carinhosa. 

Por  ella  sou  rei, 
Sou  grande  cantor ; 
Foi  ella  quem  dea-me 
Soberbo  valor. 

Oatr'ora  eu  carpia 
Vivendo  a  cborar, 
Sem  ter  lenitivo 
Meu  duro  penar! 

Foi  bastante  v61-a 
D'amor  a  sorrir, 
Meu  £ftdo  cruel 
Fez  ella  fugir. 

Morena  formosa 
És  meu  pensamento; 
Se  hoje  tu  tens 
Cruel.  sofiErimento ! 

Virá  esse  f*"ft 
De  tanta  espprança, 
Que  em  vez  de  ter  dores 
Terás  a  bonança. 


Adeodato  Sócrates  'de  Mello. 


TROVADOR  i  7 


O  MEU  PENAR 


Basco  camiàiia  serena 

Para  livre  snspirar, 

Cresce  o  mal  que  me  atormenta, 

Âugmenta-se  o  meu  penar. 

Se  ao  brando  rio  procuro 
As  minhas  penas  contar, 
O  rio  foge  de  ouvir-me, 
Augmenta-se  o  meu  penar. 

Se  ao  temo  canto  de  uma  ave 
Vou  meus  gemidos  juntar, 
Emmudece  o  passarinho, 
Augmenta-se  o  meu  penar. 


CANGiO 


O  DIA  NUPCIAL 

(CAXTICO  DO  E8FOSO) 

Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  GU^nçalves  Magalh&es,  e  musioa 

do  snr.  Baphael  Coelho 

*  £il-a  de  branco  vestida 
Qual  bella  estatua  de  neve, 

VOL.  IV.  • 


18  TROVADOR 

Que  á  terra  do  céo  descida 
Ninguém,  nem  mesmo  de  leTO, 
A  por-ihe  os  dedos  se  atreve 
Por  não  vêl-a  polloida  l 


y 


Nunca  tSo  pura, 
Nunca  tSo  bella, 
Brilhou  estrella 
No  azul  do  céo. 
Nunca  roseira 
A  amor  sorrindo, 
Assim  tão  lindo 
BotSo  ergueu. 

Em  lago  argênteo 
Cjsne  garboso, 
TSo  gracioso 
Jamais  pairou. 
Sublime  artista 
iDe  amor  dilecto 
TSo  puro  objecto 
Nunca  ideou. 


TSo  sublime  e  primorosa 
Como  o  arroubo  da  poesia, 
Como  a  imagem  graciosa 
Que  a  mente  do  vate  cria. 
Quando  vaga  a  phantasia 
Na  enlevaçSo  primorosa. 


Em  seu  semblante 
Tudo  é  ventura, 


TROVADOR  19 

Tudo  é  candura. 
Tudo  é  pudor. 
Alma  celeatõ 
Lhe  aaima  o  rosto, 
Que  é  um  composto 
Que  inspira  amor. 

Ai  de  quem  lhe  ouve 
A  Yoz  canora, 
Que  se  evapora 
Em  brandos  sons ! 
livre  esoutando-a 
Ninguém  persiste, 
Ninguém  resiste 
A  tantos  dons. 

Oh  lua,  oh  estrellas. 
Oh  céos,  ah !  sabei, 
Que  ella  é  minha  esposa, 
Que  esta  alma  lhe  dei  I 
Na  vida  e  na  morte 
Só  d'ella  lerei. 


RUITATIVOS 


FALLA 

Falia,  meu  anjol  Que  tuas  vozes  cândidas 
Aos  meus  ouvidos  venham  ter  bem  ternas ! 
Ah !  falia,  falia !  De  teus  lábios  trémulos 
Solta  essas  notas  divinaes,  eternas ! 


20  TROTiU)OR 

Deixa  em  mea  peito  vir  cahir  dulcissimas, 
Oscillando  uma  a  uma  entre  o  receio, 
As  tuas  phrases  que  em  minh'alma  gélida 
Mudam-se  em  chammas  me  «brazando  o  seio ! 


Falta  ao  canário  um  harpejar  tSo  magico, 
£  falta  i  1  jra  um  proferir  tSo  dino  I 
Nada  te  iguala  no  £allar  angélico.  •• 
Slo  tuas  ÍEdlas  sacrosanto  hjmno. 


Quando  tu  dizes  <  Eu  te  amo»  e  pudica 
O  rosto  escondes  com  ternura  e  medo, 
Sem  ti  no  céo  não  se  desprende  um  cântico 
Assim  vibrado,  tfto  sublime  e  ledo ! 


Se  em  alta  noite  entristecida,  pávida, 
Gemer  a  flauta  na  soidSo  é  bello. 
Mais  bella  ainda  é  proferida  syllaba 
Pelos  teus  lábios  c'o  in£eintil  desvelo! 


Na  mata  umbrosa  o  sabiá  extático 
Cala  seu  quebro  que  vencido  fica! 
Tudo  emmudece  á  tua  vo^,  e  o  misero 
Na  mágoa  immerso  seu  sofirer  deifica! 


Falia,  meu  ai^o !  Tua  voz  é  bálsamo 
Que  suavisa  do  pezar  a  chaga  i 
Com  tuas  falias  doesta  vida  lúgubre, 
Mata  a  descrença  que  meu  peito  esmaga ! 


M.  P.  Leitão. 


i 


TROVADOR  il 


AMOR  E  delírio 


Vem  vêr,  ó  virgem,  como  esta  alma  sente, 
E  nSo  te  mente  no  jorar-te  amor ! 
Vem  vêr  que  adoro  teu  cabello  louro 
Que  é  meu  thesouro  de  maior  yalor ! .  •  • 


Vem  yâr  que  sinto  n'este  peito  em  anciã 
Muita  constância  que  terei  por  ti !  • .  • 
Vem  vêr  que  choro  por  te  vêr  chorar 
Ao  dedilhar  d'esta  minha  harpa  aqui. 

Eu  amo,  ó  virgem,  teu  olhar  quebrado, 
E  o  assombrado  d'esses  olhos  bellos ! 
Eu  amo  a  neve  de  teu  coUo  virgem, 
Amo  a  vertigem,  meu  sonhar,  d'anhelos ! 

Amo  teu  peito,  divinal  sacrário. 
Que  é  meu  erário,  meu  altar  d'amor ! 
Amo-te  o  riso  que  dá  luz  ao  triste, 
Que  n2o  resiste  ao  sofPnmento,  á  dôr !  • .  • 

Amo  teus  olhos  que  me  accendem  n'alma 
Amor  sem  calma,  divinal  paisIU)! 
Amo-te  a  face,  tSo  rosada,  bella. 
Amo,  donzella,  teu  fanal  condão !... 


E  quando  ás  vezes  um  murmúrio  vago 
Vem  n'um  só  trago  acordar  minh'alma, 
EntSo  eu  sinto  tua  imagem  qu'rida 
Abrir-me  a  frida  d'este  amor  sem  calma ! . . . 


ii  TROVADOR 

E  BÍnto  em  sonhos  tua  imagem  qa'rida 
Chamar-me  á  vida,  attenuar-me  a  dôr ! 
E  doa-te  em  paga  ix'esta  minha  lyra, 
Quando  delira,  um  suspirar  d'amor ! . . . 


V.  M.  3.  M. 


LUNDfi 


BBRNABÉ  CANGICA 


Mulata,  tu  és  a  causa 
D'eU  andar  sempre  a  tinir. 
Todo  o  dinheiro  que  ganho 
E'  pouoo  pVa  me  vestir. 


Todo  á  moda,  qual  janota 
Ando  sempre  a  passear : 
Todas  as  vezes  que  saio 
Vou  as  botas  engraxar. 


Alegre  por  tua  porta 
Passo  o  dia,  a  noite  passo, 
Miro  todo  este  corpinho, 
Eu  mesmo  nSo  sei  que  faço. 


TROVADOR 


23 


Se  te  yejo  debruçada 
Contente  só  na  janella, 
Tado  em  mim  é  confusSo, 
Sinto  dores  na  canella. 


Quando  eu  tiver  oerteza 
Que  me  adoras  a  mim  só 
Vãr-me-has  atraz  de  ti 
Humilde  qual  um  totó. 


Mulata,  eu  vou-me  embora, 
Mas  meu  nome  aqui  te  fica, 
I^unca  te  esqueças,  meu  bem, 
Do  teu  — Bwmabé  Cangica. 


MODINHAS 


QUANDO  SEU  BEM  VAI-SE  EMBORA 


Cresce  amor  de  dia  em  dia, 
Cresce  amor  de  hora  em  hora, 
Cresce  também  a  saudade 
Quando  seu  bem  vai-se  embora. 


24  "  TROVADOR 

Temos  ciameB 
Causam  saudade, 
Nada  mais  firme 
Que  uma  amizade. 

Tudo  no  mundo  fenece, 
O  mesmo  amor  se  minora, 
Só  quem  nSo  ama  nSo  sente 
Quando  seu  bem  vai-se  embora. 

Ternos  ciúmes  —  etc. 

Grandes  tormentos  padece 
Um  peito  que  firme  adora. 
Só  quem  ama  é  que  sente 
Quando  seu  bem  vai-se  embora. 

Ternos  ciúmes  —  etc. 

Sente  a  alma  espedaçarnse, 
Suspira,  lamenta  e  chora, 
Quem  ama  está  presente 
Quando  seu  bem  yai-se  embora. 

Ternos  ciúmes  —  etc. 

Ainda  que  os  lábios  nSo  fallem 
Da  despedida  na  hora, 
Os  olhos  pedem  que  fiquem 
Quando  seu  bem  vai-se  embora 

Ternos  ciúmes  —  etc. 


TROVADOR  S5 


PARA  Mm  É  O  MUNDO  UM  DESERTO 


(noya.  modihha) 


Para  ser  cantada  com  a  musica  da  modinha  —  Mal  te  vi  eu  te  amei 


Para  mim  é  o  mando  um  deserto, 
Passo  a  vida  em  continuo  soíFrer, 
Nada  yejo  qne  possa  alegrar-me 
Nem  oessar  este  meu. padecer. 

Vem,  oh !  morte,  visão  de  meus  sonhos, 
Vem,  nSlo  tardes  feliz  me  tomar! 
X)uve  o — brado,  —  do  triste  que  chora, 
Vem,  nSo  tardes,  meu  pranto  enxugar ! 

N'este  mundo  nSo  tenho  um  amigo 
Qae  me  possa  um  suspiro  colher, 
N^este  mundo  encontrei  só  tormentos 
Que  me  fazem  mil  vezes  soffrer ! 

Vem,  oh!  morte,  visSo  de  meus  sonhos — etc. 

Todos  gozam  na  vida  prazeres 
Só  eu  vivo  no  mundo  a  penar,  * 
Se  existindo,  só  tive  pezares, 
Devo  morto  delicias  gozar. 

Vem,  oh!  morte,  visão  de  meus  sonhos — etc. 


26  TROVADOR 

Ea  amei  no  verdor  de  meus  annos 
A  belleza  que  o  mundo  invejava! 
Foram  poucos  os  gozos  que  tive 
D'e8se  amor  que  meu  peito  animava. 

Vem,  oh!  morte,  visSo  de  meus  sonhos — etc 


« 
D'esse  amor  que  meu  peito  nutria 

NSo  existe  sequer  uma  flor, 

.  Este  mundo  p'ra  mim  é  cruel, 

Dá-me  prantos,  tormentos  e  dôr ! 


Vem,  oh!  morte,  visSo  de  meus  sonhos r-etc. 

NSo  aspiro  as  riquezas  do  mundo 

Nem  tSo  pouco  delicias  gozar ;  * 

Só  desejo  o  silencio  dos  tumules. 

Onde  breve  eu  irei  repousar. 

Vem,  oh!  morte,  visSo  de  meus  sonhos  —  etc. 

Hoje  triste  no  mundo,  sósinho. 
Tento  embalde  meu  pranto  occultar. 
Que  os  gemidos  que  estalam-me  o  peito 
Só  a  morte  é  que  os  pôde  acabar ! 

Vem,  oh !  morte,  visSo  de  meus  sonhos — etc. 

Mdlo  e  Oliveira  Júnior, 


TROVADOR  21 


POLACA 


AMOR  ETERNO 


Poesia  do  snr.  dr.  D.  J.  Gonçalves  MagaMes,  e  musica 
*  do  snr.  Raphael  Coelho 


Vi,  minha  Urania, 
Tea  lindo  rosto ! 
'  MÍD]i'alma  absorta 
Tremeu  de  gosto. 


Dentro  do  peito 
O  coraçSo 
Sentia  o  ejSeito 
D 'essa  visSo. 


De  um  poder  novo 
Todo  o  attractivo 
Soprou-me  n'alma 
Um  fogo  vivo. 


Fiquei  sabendo 
Porque  nasci, 
Alegre  vendo 
Mentem  em  ti. 


S8  TROVADOR 

O  amor  eterno 
Qae  tudo  cria, 
Se  amor  nSo  fosse, 
NSo  noB  faria. 

Nossa  existência 
E'  toda  amor, 
Qual  é  a  essência 
Do  Creador. 


NSo,  nSo,  a  morte 
Não  nos  separa; 
Âlém  dos  mandos 
Ha  luz  mais  clara. 

A  ella  accesso 
E'  o  morrer, 
.E'  um  processo 
Do  renascer. 

Os  qae  no  mondo 
SSo  mais  amantes 
SerSo  anidos, 
Mas  radiantes. 

Amor  mais  forte 
Lá  irá  ter, 
Sem  já  da  morte 
Nada  temer. 

Tal  é,  ohl  bella, 
Nosso  destino ! 
O  céo  me  inspira 
Qoanto  imagino? 


TROVADOR  29 

Do  amor  no  estudo 
Consiste  o  bem ; 
O  mal  é  tado 
Que  amor  nSo  tem. 


O  bem  só  amo, 
O  bem  desejo, 
O  bem  agora 
Em  ti  só  yejo. 


Quero  a  teu  lado 
O  bem  gozar 
E  ser  amado, 
E  sempre  amar. 


8e  tu  desejas 
Ser  venturosa, 
Ama  a  quem  te  ama, 
E  est'alma  esposa : 


E  temo  unamos 
Teu  sêr  e  o  meu. 
Dos  dous  façamos 
Como  um  só  Eu. 


L. 


80  TROVADOR 


RECITATIVOS 


UM  TEU  DOCE  agrado 


Eu  amo  a^  flores  em  manhS  serena, 
FrescaSi  viçosas,  perfumando  o  prado, 
Porém  adoro,  amo  mais  ainda 
Um  teu  sorriso,  um  teu  ddoe  agrado. 

Eu  amo  os  cantos  maviosos,  puros, 
Gorgeios  brandos  de  mimoso  alado, . 
Mas.  • .  ah !  que  amo,  muito  mais  eu  amo 
Um  teu  sorriso,  um  teu  doce  agrado ! 

Eu  amo  vêr  em  deserta  praia 
O  mar  sereno  qual  leSo  domado, 
Porém  mais  amo,  mais  prazer  me  d&  . 
Um  teu  sorriso,  um  teu  doce  agrado. 

Eu  amo  as  meigas  e  temas  carícias 
Da  mSi  querida  ao  filhinho  amado. 
Mas  mais  eu  amo  um  carinho  teu, 
Um  teu  sorriso,  um  teu  doce  agrado. 

Eu  amo  ouvir  os  accordes  santos 
D^orgSo  divino  em  templo  sagrado, 
Mas  amo. . .  adoro  com  fervor  maior 
Um  teu  sorriso,  um  teu  doce  agrado. 


TROVADOR  81 


Eu  amo  os  brincos  d^iiifantil  menino 
Que  folga  isento  do  menor  caidadO) 
Porém  ea  amo  muito  mais  que  tudo 
Um  teu  8orris0|  um  teu  doce  agrado. 


Condida  lêobel  dé  Pinto  Chtrím* 


A  VIRGEM  DP  LOTO 


Trajava  vestes  que  o  sofirer  exige, 
Mesmo  de  luto  se  ostentava  bella, 
— Era  qual  anjo  a  vigiar  sepulchros 
Da  noite  em  meio — em  faneral  capella. 

N'aquellas  &ces  onde  outr^ora  a  rosa 
CoUocar  vinha  suas  lindas  cores, 
Eu  vi  08  traços  salientes — vivos 
Das  nutis  atrozes,  cruciantes  dores. 


Quizera  parte  d'esta  dôr  tSo  forte 
Sofifrer  sósinho  —  mui  feliz  seria; 
P'ra  contemplar-te  mui  risonha,  sempre 
Parte  d'est'alma  eu  a  ti  daria. 


Quizera  vêr-te,  como  outr'ora  —  alegre, 
Pixando  a  lua  no  seu  céo  de  anií, 
Quizera  vêr-te,  como  outr'ara  vi-te. 
Cheia  de  encantos,  de  attractivos  mil. 


32  TROVADOR 

Qaizera  a  face  te  oscular  um  dia, 
Entre  meus  braços  te  estreitar  uma  hora, 
Mesmo  que  a  morte  me  roubasse  a  vida 
Entre  mil  tratos — morreria — embora. 


E'8  minha  sombVa  a  me  guiar  os  passos, 
Dos  sonhos  meus  —  celestial  visSo; 
E's  a  mulher  a  quem  venero  e  amo, 
Se  esta  franqueza  te  ofifender —  perdSo ! 


Oualberto  Peçonha. 


LUNDU 


O  PROGRESSO  DO  PAIZ 


Para  ser  cantado  com  a  musioa  do  londú —  O  TeUes  carafiMro 


O  progresso  *âo  pais 
Cada  vez  augmenta  mais, 
Temos  por  toda  a  cidade 
Encanamento  p'ra  fecaes. 


Já  a  Praça  do  Mercado 
Está  no  século  das  lanUmoBj 
Pois  abriu  nos  quatro  cantos 
Um  botequim  e  três  tabernas» 


J 


TROVADOR  33 


Também  na  Praia  do  Feixe 
Tem  o  negocio  augmentado ; 
Com  dous  yintens  de  re&esco 
O  poYO  fica  gelado. 

Já  a  ma  do  Catette 
Está-se  pondo  em  grande  gala, 
Té  mesmo  a  Uruguayana 
Madou-ae  p'ra  a  rua  da  Valia. 

Também  o  grande  Rocio 
Tem-se  posto  em  grande  luxo; 
Pois  sustenta  em  cada  canto 
Um  formidável  repuxo. 

O  Campo  andou  cercado 
Por  mais  de  um  batalhSlo ; 
No  centro  tomando — ares — 
Os  presos  da  Correcção. 

A  guarda  nacional 
Anda  toda  aquartelada, 
Fazendo  rondas  e  guardas, 
Tem-se  visto  atrapalhada. 

Também  se  vâ  pelas  ruas 
Macacos  a  tocar  pratos, 
E  o  Bouleyard-Carceler 
Arrendado  aos — engraxátos. 

Temos  em  todos  os  cantos 
Cambistas  de  loterias^ 
Temos  tocadores  de  harpas, 
Pandeiros  e  cantorias. 

VOZt-   IV. 


34  TROVADOR 

Também  temos  um  invento 
P'ra  allÍTÍar  algibeiras, 
E'  descaidar-se  nas  festas, 
Dos  —  bif adores  de  carteircu. 

Temos  guerra  lá  no  sul 
Qué  nos  veio  arripiar ; 
Portanto  faço  aqui  ponto 
Té  à  guerra  terminar. 


Augugto  Rodrigues  Duarte. 


MODINHAS 


O  ADEUS  DO  VOLUNTÁRIO 


Minha  mSi,  eu  parto,  adeus, 
Vou  imigos  combater, 
Pela  pátria,  por  meu  rei 
O  meu  sangue  vou  verter. 


Não  chores,  querida  mSi, 
Por  teu  filho  tSo  querido. 
Eu  parto,  mas  voltarei 
Quando  o  tredo  £5r  vencido. 


TROVADOR  3j 


Ouço  a  voz  de  meus  irmãos 
Qae  me  chamam  ao  combate, 
Voa  comprar  com  o  meu  sangue 
Dos  meus  irmãos  o  rôagate. 

Occultarás,  por  piedade, 
Minha  mãi^  o  pranto  teu, 
Porque  elle  desfallece 
O  triste  coração  meu. 

Voltarei  cheio  de  gloria 
A  este  querido  solo, 
— Minha  fronte  laureada 
Reclinarei  em  teu  coUo. 

Quando  passares  um  dia 
Por  meio  do  tropel  vario, 
De  prazer — elle  dirá 
Eis  a  mãi  do  voluntário. 

Voltarei. .  •  porque  as  balas 
A  mim  não  alcançarão, 
Porque  teu  retrato — mãi 
Levo  no  meu  coração. 

Porótn  se  Deus  fôr  servido 

m 

Levar-me  p'ra  o  reino  seu, 
Paciência,  minha  mãi. 
Dá  ao  filho  o  pranto  teu. 

E  quando  te  perguntarem 
Pelo  teu  filho — soldado. 
Responde  —  morreu  na  Incta 
Com  valor  mui  denodado. 


; 


36  troyàdor 

Minha  mSi,  ea  parto,  adeas, 
Voa  imigofl  combater, 
Pela  pátria,  e  por  meu  rei 
O  meu  sangue  vou  yerter. 


TEUS  LINDOS  0LE08 


TeuB  lindos  olhos 
Pretos,  formosos, 
Mais  luminosos 
Que  os  astros  sSo, 
Quando  se  yolvem 
Temos,  brilhantes, 
DSo  aos  amantes 
ConsolaçSo. 


Bocoa  pequena, 
Virgem  e  grave, 
Amor  suave 
Faz  libaçSo. 
Ah  I  se  eu  podesse 
Beijal-a  um  dia, 
EntSo  teria 

ConsolaçSo, 

r 

Os  alvos  dentes 
Da  côr  da  neve. 
Da  bocca  breve 
Ornatos  s2o. 


— B— »W^S_ 


TROVADOR  37 


Os  torneados, 
Braços  hem  feitos 
Parecem  feitos 
à  proporçSo. 


Cintura  airosa 
E  das  melhores^ 
Por  onde  amores, 
Prender  nos  vSo. 
Por  isso  agora 
Amor  sagrado 
Nos  tem  formado 
Doce  prisão. 


Pretos  cabellos 
Soltos  nop  hombros 
Causam  assombros 
Âo  coração: 
Os  pés  descalços 
Formam  passadas : 
Flores  sagradas 

Nascem  do  chão. 


Ah  I  lilia  bella, 
Te  retratei, 
Se  n'isto  errei 
Peço  perdão. 
Solta  um  sorriso. 
Presta  um  soiccorro. 
Senão  eu  morro 
Doesta  a£9icção. 


38  TROVADOH 


O  MEU  FIEL  JURAMENTO 

MoBÍca  do  snr.  Noronha 


Ary're  que  embalas  teus  ramos 
N&s  brandas  azas  do  vento, 
Deixa  gravar  em  teu  tronco 
O  meu  fiel  juramento. 


Se  aqui  passar  algum  dia 
O  motor  do  meu  tormento, 
Leia  ao  menos  uma  vez 
O  meu  fiel  juramento. 

E  se  sobre  estas  palavras 
Meditar  um  só  momento, 
Saiba  que  fida  ainda'  guarda 
O  meu  fiel  juramento. 


RECITATIVOS 


SONHEI-A 

Sonhei-a !  dormia  co^as  mSios  sobre  os  seios 
Talvez  nos  anceios  d'um  vago  sonhar ! 
E  vinham-lhe  ao  rosto  quebrar-se  em  desmaios 
Os  pallidos  raios  de  um  tibio  luar. 


TROVADOR  39 

Qae  noite !  que  ar  puro !  que  bagico  effeito 
Nas  fibras  do  peito  senti  palpitar, 
Qae  sustos,  que  angustias !  por  vêl-a  abatida 
Por  yêl-a  dormida  tão  perto  do  mar ! 

E  a  noite  ia  alta !  e  a  briza  gemia 
E  o  mar  parecia  querêl-a  beijar: 
Dormia  tão  perto  que  os  alvos  vestidos 
Julguei  confundidos  co'a  espuma  do  mar ! 

Assim  que  avistei-a  de  longe  correndo 
Cheguei-me  tremendo  já  quasi  a  tocal-a.  •  • 
Propicia  era  a  hora,  da  noite  o  ensejo 
E  louco  n'um  beijo  fui  quasi  acordal-a« 

Mas  antes  do  beijo  depôr-lhe  na  fronte, 
No  largo  horisonte  eis  surge-me  o  dia; 
O  engano  desfez-se ;  a  sombra  fugiu-me, 
Fugiu-me!  e  entre  as  neyoas  da  noite  a  perdia. 


A  iniLHER  PERDIDA 

Nem  sempre  a  misera  se  arroja  ao  lago, 
Sem  um  afago,  sensual,  impuro, 
Concebido  sempre  por  nefando  gozo 
Do  mentiroso,  que  nSo  tem  futuro. 

A  misera  vendo  offerecer-lhe  galas. 
Ou  temas  falias  que  mentidas  são. 
Té  olvida  o  leito  da  infância  bella 
E  caminha  ella  para  a  laxidSo ! 


40  TROVADOR 

Vai  Boryer  o  gozo  do  voraz  mandaBO, 
Qaa  tão  ufano,  não  lhe  punge  n'alma, 
Arrostar  um  crime  deshonrando  aquella 
Que  a  florte  d'ella,  colheria  a  palma. 

Decorrido  tempo  v$-se  a  pobre  exhausta 
Da  vida  fausta  que  já  foi  senhora ; 
Nem  vendo  aquelle  que  cortou-Ihe  os  elos 
Dos  dias  bellofl  que  gozara  outr'ora  1 

Se  remonta  então  no  painel  do  crime, 
Porque  a  opprime  da  miséria  o  manto, 
Trocando  beijos  pela  vil  moeda 
Que  o  crime  a  veda  de  gozar  encanto ! 

Nas  orgias  busca  mitigar  as  mágoas, 
Mas  acha  fraguas  de  acceso  horror ! ! 
Acha  veneno  que  n'um  hospital 
Vai  afinal  succumbir  de  dôr ! 


A 


Succumbe  alfim !  ao  rigor  da  borte 
Quanda  a  morte  lhe  fenece  a  vida ! 
Sem  ter  quem  diga  apontando  a  lousa 
AUi  repousa  —  A  mulher  perdida !  — 


A  VIRGEM  DA  NOITE 


A  yirgem  da  noite  no  azul  transparente 
Do  lago  tremente  reflecte  o  perfil : 
E  o  manto  de  estrellas  sorrindo  desata 
Em  ondas  de  prata  no  ether  subtil! 


TROVADOR  41 

A  terra  abrazada  palpita  em  desejos, 
Nas  selvas  os  beijos  se  escutam  d'amor: 
Ás  auras  travessas  brincando  nas  ramas 
Abrazam  em  chammas  o  coUo  da  flor! 

Trepidam  regatos  por  entre  a  verdura 
De  branca  espessura  em  dôoe  gemer  ;* 
£m  vago,  amoroso,  celeste  abandono 
Parece  que  ao  somno  convida,  ao  prazer ! 

A  mystica  sombra  dos  bosques  frondosos 
Nos  campos  saudosos,  phantasmas  produz ! 
Eterna,  incessante,  suave  harmonia. 
Nos  diz — Poesia  —  nos  raios  da  luz!... 

Que  noite,  que  immensa  e  profunda  tristeza 
Do  céo  na  pureza,  nos  astros,  no  ar  ! . .  • 
Saudade  infinita  que  as  almas  devora 
Sentimos  n'esta  hora,  pungir,  abrazar! 

Poeta,  silencio !  curvemos  a  fronte 
Ao  vivo  horisonte  d'ignoto  arrebol ! 
No  seio  da  noite  fecundo  estremece 
E  surge,  apparece,  em  breve  outro  sol ! 

Extático  e  mudo  adoro  e  contemplo! 
Nas  aras  do  templo  me  prosto  ante  Deus ! 
Mas  tu,  cujos  cantos  o  génio  illumina. 
Na  harpa  divina  remoata-te  aos  céos ! 

« 
'  E.  Zaluar. 


**  TROVADOn 


LUNDU 


MESMO  DA  CAMA  PÔDE  ESCUTAR 


Mesmo  da  cama 
Pôde  escutar 
Esta  modinha 
Que  vou  cantar. 


NSo  se  levante, 
NSo  quero,  nío, 
Pôde  apanhar 
tJonstipaçao. 


Amo  a  uma  bella 
Que  é  moreninha, 
E  engraçada, 
E  bonitinha. 


Tem  lindos  olhos 
De  negra  c6r, 
Elles  exprimem 
Amor. . .  amor. . . 


TROVADOR 


43 


Âs  suas  faces 
Vertem  carmim, 
Tem  lindos  dentes 
Cor  de  marfim. 


Ella  é  minh'alma, 
É  vida  minha, 
É  o  meu  Deus 
A  moreninha. 


Ella  castiga 
Com  sua  côr, 
'[todo  o  seu  talhe 
Exprime  amor. 


Quero  comtigo 
Mui  docemente, 
Dar  em  teus  lábios 
Um  beijo  ardente. 


Beijo  de  amor 
E  de  amizade, 
Com  que  suave 
Faz  a  saudade. 


u 


TROVADOR 


MODINnÁS 


A  Til 

Musica  do  snr.  Noronha 

Feliz  a  briza  que  teus  lábios  roça, 
Feliz  a  flor  que  no  teu  coUo  expira, 
É  mais  feliz  quem  ii'um  sorrir  te  sorve 

Sôfrego  beijo. 

» 

Se  te  diviso,  o  ar  e  a  luz  me  foge, 
Mil  pulsaçSes  meu  coração  constrangem. 
Louco  titubo  e  o  rubro  humor  nas  veias 

Gélido  pira. 

Mas  se  te  escuto  as  namoradas  falias. 
Se  em  brando  amor  os  olhos  teus  removes, 
Se  a  doce  bocca  de  coraes  entre-abre 

Languido  riso. 


Oh !  que  delirio  comparar-se  pôde 
Ao  que  minh'alma  a  ignotos  céos  arrouba? 
Sem  côr,  sem  voz,  sem  esperança,  sem  alma 

Tremulo  morro.         '  * 


THOYÂDOR  45 


LAGRIMAS  DO  VOLUNTÁRIO 


Poecáa  do  snr.  V.  J.  Bom  Suoeesso  Júnior,  e  musica  do  snr.  Arvellos 


Bofa  a  caixa,  á  guerra,  á  guerra  I  • « 
Eis  o  brado  da  naç&o ; 
Sou  brazileiro  e  com  anciã 
Voa  defender  meu  pendSo. 

Adeus,  esposa  querida, 
Alijo  que  sempre  adorei; 
Cala  o-  pranto,  a  dôr  mitiga, 
Que  breve  te  abraçarei. 

Vou  libar,  sei,  gota  a  gota 
O  cálix  do  sojQTrimento, 
Mas  serei  feliz  yencendo, 
Te  tendo  no  pensamento. 

Adeus,  meus  queridos  filhos, 
Abraçai  o  vosso  pai. 
Que  para  vos  dar  um  *nome 
Defender  a  pátria  vai. 

Meus  filhos  I .  •  •  querida  esposa, 
Coragem  I  • . .  tende  valor  : 
O  Brazil  é  nossa  pátria, 
Pedro  é  nosso  imperador. 

Virgem  Santa,  eu  vos  entrego 
Os  únicos  penhores  meus, 
Por  minha  mulher  e  filhos 
Velai  sempre,  oh!  Senhor  Deusl 


46  TROVADOR 


POR  UM  SÕ  AI 


Se  me  queres  vêr  rendido 
De  joelhos,  a  teus  pés, 
Por  um  olhar  que  me  lances, 
Por  um  só  ai  que  me  dês ; 

m 

Se  queres  vêr  o  meu  peito 
Rugindo  como  um  vuIcSo, 
Estourar,  arder  em  ohammas, 
Ferver  de  amor  e  paixSo ; 

Se  me  queres  vêr  sujeito, 
Curvado  e  preso  a  tua  lei. 
Mais  humilde  que  um  escravo, 
Mais  orgulhoso  que  um  rei; 

Meus  olhos  sobre  os  teus  olhos 
Meu  coração  a  teus  pés ; 
Por  um  olhar  que  me  lances 
Por  um  b6  ai  que  me  dês. 

Veja  eu  sobre  os  teus  lábios 
Esta  só  palavra — amor. 
Estrella,  cortando  os  ares, 
Abelha,  sobre  uma  flor. 

9 

EntSo  verás  dos  meue  olhos 
Que  o  pezar  me  não  cegou. 
Rebentarem  de  alegria 
Prantos  que  a  dõr  estancou. 


TROVADOR  47 


EntSo  verás  o  meu  peito 
Como  outra  vez  se  incendia, 
Era  folha  verde  e  fresca 
Onde  o  sol  sé  reflectia. 

Murcha  e  triste  pende  agora, 
Cahiu,  jaz  solta,  está  só ; 
Exposta  ao  fogo,  arde  em  chamma, 
Deixal-a,  desfis^z-se  em  pó  I 

Ha-de  sentir  outra  vida 
Outra  vez  meu  coraçSo, 
Escutarei  palpitando 
De  amor,  de  fogo  e  paixSo. 

Lascado  tronco  sem  graça 
Tal  fui,  tal  me  vês  agora! 
Mas  venha  o  orvalho  celeste, 
Venha  o  bafejo  da  aurora. 

Venha  um  raio  de  alegria 
Dar-lhe  ás  raizes  calor ; 
Revive  de  novo  e  brota 
Folhas,  galhos  e  verdor. 

•  NSo  quero  palavras  falsas, 
NSo  quero  um  olhar  que  minta, 
Nem  um  suspiro  fingido. 
Nem  voz  que  o  peito  nSo  sinta. 

Basta^me  um  gesto,  um  aceno. 
Uma  só  prova — e  verás, 
Minh'alma  presa  em  teus  lábios 
Como  de  amor  se  desfaz  I 


48  TROVADOR 

Vêr-me-has  rendido  e  sujeito, 
Captiyo  e  preso  á  tua  lei ; 
Mais  humilde  que  um  escravo, 
Mais  orgulhoso  que  um  rei  I 


DESEJO 


Musica  do  sor.  Noronha 


Qh !  quem  nos  teus  braços 
Podéra  ditoso 
No  mundo  viver, 
Do  mundo  esquecido 
No  languido  gozo 
Do  infindo  prazer  t 

Senhora,  teus  olhos 
Serenos  em  calma, 
Paliando  d'além, 
D'além  de  uma  vida 
Que  sonha  minh'alma 
Que  a  terra  nBo  tem. 

Eu  dera  este  mundo 
Com  tudo  que  encerra, 
Por  esse  condSo; 
Thesouros  e  glorias, 
Os  thronos  da  terra 
Que  valem,  que  sSo  ! 


TROVADOR  M 


A  vida,  essa  mesma 
Daria  contente 
Sem  pena,  sem  dôr, 
Se  um  dia  embalasse, 
Um  dia  somente, 
Meu  sonho  de  amor. 


RECITATIVOS 


OUTR^ORA 


Afagos  magos  e  venturas  paras, 
Donzella,  outr'ora  já  gozei  por  ti, 
Immensas  crenças  na  perdida  yida 
Dentro  em  meu  peito  com  prazer  senti. 


De  enleio  o  seio  palpitante,  amante, 
Ai !  muitas  vezes  palpitou  de  amor ; 
Miiili'alma  a  palma  da  magia  via 
Do0  teus  amores  na  primeira  flôr. 


Inunerso  em  f)erço  de  risonhos  sonhos 
Meu  pensamento  vagueou  no  céo; 
Sereia  cheia  dos  augures  puros. 
Porque  rasgaste  o  pudibundo  véo? 

VOL.   IV, 


50  TROVADOR 

Âmei-to.  Dei-te  do  meu  peito  a  eito 
Toda  a  esperança,  todo  o  am(»r  e  fé ; 
NSo  via,  cria  que  a  donzella  belia 
Só  ergaeria  meu  amor  de  pé.  , 

Vira  da  lyra  nos  divinos  hyninoB 
Uma  esperança  a  desabrochar  em  flor; 
Nas  scismas  —  prismas,  nos  amores — flores, 
Nas  crenças — vida,  e  n'essa  vida — amor.  . 

» 

Da  lyra  ouvira  nos  amenos  ihrenos 
A  tua  doce  o  embriagante  voz : 
Sonhando,  amando,  no  meu  seio  veio 
Lançar  as  garras  um  ciúme  atroz. 

Trahiste;  riste  dos  encantos — tantos, 
Que  promettiam  divinal  porvir ; 
Mataste,  eivaste  uma  ventura  pura 
No  venenoso  d'esse  teu  sorrir. 


Outr'oxa — a  aurora  de  ditosos  gozos.  •• 
Hoje  —  amargura  que  p'ra  mim  sorrir 
Outr'ora — a  aurora  de  risonhos  sonhos... 
Hpje — a  saudade  d'esse  amor  por  ti. 


OafAeu 


TaovAO(m  51 


A  TARDE 

NSo  imaginaa  como  é  bella  a  tarde  I 
O  peito  arde  com  saudades  mil. 
Ao  doce  aroma  d'es8as  flores  bellas, 
Lindas,  singelas,  sob  um  céo  de  anil. 

Além  murmura  na  folhage'  a  briza, 
E  após  desliza  do  riacho  ao  leito, 
E  a  meiga  rola  no  laranjal  florido 
Solta  um  gemido  ao  soluçar  do  peito. 

O  orvalho  desce  em  crystallinas  gotas, 
—  Pérolas  soltas  esmaltando  as  flores — 
Quando  talvez...  bem  palpitam  os  seios 
N'esiiea  anceios  de  virginaes  amores. 

Triste  suspira  a  jurity  saudosa, 
Bella  e  formosa  da  coUina  á  margem, 
E  sobre  a  rosa  .o  colibri  mimoso 
Balouça  airoso  ao  perpassar  da  aragem. 

Lá  no  occaso  descambando  ardente,       * 
Morre  fulgente  o  bello  rei  dos  astros; 
Como  o  navio  que  n^horisonte  louco, 
Vai  pouco  a  pouco  escondendo^  os  mastros, 

£'  —  uma  idéa  d^esses  sonhos  bellos, 
D 'esses  anhelos  que  ao  coraçAo  pulsou! 
E'  a  imagem  de  um  amor  primeiro. 
Sonho  fageiro-que  morreu. ••  passou... 


Benjamin  LaboUilre. 


5S  TROVADOR 


LUNDC 


GENTIL  ANAUA 


Lundu  brasileiro  por  J.  M.  N.  Garcia 


Gentil  Ânalia^  a  belleza, 
Graças,  meiguices,  candura, 
Só  na  tua  formosura 
Esgotou  a  natureza; 
Do  céo  toda  a  gentileza 
Bespira  teu  ar  fagueiro,    . 
Teu  corpinho  fieiticeiro 
Que  accende,  que  inspira  amor ; 
Inda  para  mais  primor 
Teu  corpinho  brasileiro. 


E'  tal  tua  perfeição, 

SSo  taes  teus  dotes  divinos, 

Que  08  mesmos  brutos  fexiinos 

Te  rendem  adoraçSo^ 

Jove  co'a  fulminante  mSo 

Com  que  abraza  o  mundo  inteiro, 

Suspende  com  ar  sobranceiro 

Quando  vê  em  ti,  meu  bem. 


TROVADOR  53 


Brilhar  os  dotes  que  tem 
Teu  corpinho  brazileiro. 


A  par  d'eB8a  Divindade 
MSi  das  graças  e  dos  amores, 
A  quem  sublimes  louvores 
Tributa  a  humanidade; 
Nos  quindins,  na  gravidade, 
Tu  tens  o  lugar  primeiro : 
Tudo  quanto  ha  lisonjeiro, 
Que  attrahe,  captiva  e  rende. 
Em  ti,  meu  bem,  comprehende 
Teu  corpinho  brazileiro. 


Mil  bens  que  a  fortuna  cria, 
Pesados  cofres  de  ouro, 
O  mais  sublime  thesouro, 
O  mesmo  tbrono,  a  monarchia. 
Tudo,  tudo  eu  deixaria. 
Deixaria  o  mundo  inteiro. 
Se  meu  amor  verdadeiro 
Desse  ouvido  ao  seu  bem. 
Desse  tudo  que  em  si  tem 
Teu  corpinho  brazileiro. 


>• 
/ 


54  TROTADOR 


MODINHAS 


CORAÇÃO  DE  BRONZE 


Nem  um  ai,  nem  um  suspiro 
Já  te  causam  sensaçâOi 
A  tudo  és  insensível, 
Tens  de  bronze  o  coraçSo. 

■ 

Minhas  lagrimas  nSo  te  movem, 
Nem  minha  tema  paixFío ; 
SSo  baldados  meus  extremos, 
Tens  de  bronze  o  coração ! 


ADEUS  Á  PÁTRIA 

« 

(noya  modthba) 
Para  ser  cantada  pela  ihaslca  da  modinha  —  Dá-me  um  beijo 

Adeus,  cidade  do  Porto, 
Pátria  de  minha  paixílo, 
Saudades  que  n'alma  sinto 
N&ncamais  me  esquecerão. 


TROVADOR 


55 


Para  loBges  terras  voa 
Já  que  a  sorte  assim  o  qniz, 
Eu  espero  vêr-te  ainda 
Se  tim  dia  fôr  feliz. 


Da  infância  aquelles  tempos 
Que  em  minha  pátria  passei, 
Tão  alegres,  tSo  felizes 
Nunca  mais  os  gozarei* 

Vai-se  acabar  esse  tempo 
Outro  pois  começará, 
Se  o  presente  é  tSo  tristonho 
O  porvir  melhor  será. 

Esses  dias  venturosos  ' 
Que  tSo  depressa  voaram, 
Já  morreram  para  mim. 
Já  para  mim  se  acabaram. 

Esses  tempos  que  folgava 
Em  frente  do  Hio  Douro, 
Para  .vir  inda  a  gozal-os 
Daria  um  grande  thesonro. 

Mas  esse  grande  thesooro 
Que  te  posso  offerecer, 
£'  um  coraçSo  verdadeiro 
Que  te  ama  até  morrer. 

Adeus,  dd^e  do  Porto, 
Onde  foi  meu  nascimento,. 
Deus  me  leve  e  aqui  me  traga 
  vêr-te  com  salvamento. 


Í*L£.«..*^ 


66  TROVADOR 

Oh  I  minha  mSi  carinhosa 
De  minh'alnia  tSo  quorida, 
Nossos  corações  se  partem 
N'este  adeus  de  despedida. 

Adeus  mSi,  adens  amigos, 
Adeus  minha  habitaçfto, 
De  ti  levo  mil  saudades, 
Em  ti  deixo  o  coraçSo. 

Adeus  tudo  quanto  adoro, 
Adeus  tudo  quanto  amei, 
Tenho  esperança  q'inda  um  dia 
A  minha  pátria  voltarei. 

Adeus,  cidade  do  Porto, 
Encantos  da  vida,  adeus. 
Que  a  TÔr>te  torne  um  dia 
Oxidi  permitta  Deus. 

Por  uma  aeíihora  portuense  ao  deixar  Portugal, 


TEM,  Õ  BRIZA,  FIEL  COMPANHEIRA 


Lá  no  topo  erguido  da  serra 
Quero  ser  pela  briza  afagado, 
Já  que  outras  caricias  não  gozo 
Que  compensem  o  meu  triste  &do'. 


TROVAt>OR  57 


Vem^  ó  briza,  fiel  companheira, 
NSo  te  queiras  de  mim  afastar, 
Acompanha  o  meu  triste  fado, 
Harmonisa  meu  rude  cantar. 

Desprezado  eu  fui  pela  ingrata, 
Sou  dos  entes  o  mais  infeliz, 
Para'  que  merecesse  tal  sorte 
NSo  me  lembra  nem  sei  o  que  fiz. 

Vem,  ó  briza  —  etc. 

Se  algum  dia  contrita  esta  ingrata 
Seu  perdão  me  vier  supplicar, 
Hei-de  então  com  doçura  e  bondade, 
Porque  amo...  saber  perdoar. 

Vera,  ó  briza  —  etc. 


RECITATIVOS 


recordaOão  da  tristeza 

Sombria  noite  me  recorda  em  dores 
Loucos  amores  que  frui  comtigo, 
Anhelos,  crenças,  d'essa  quadra  ida 
Pttngem-m^e  a  vida  no  porvir  imigo. 


58  TnOYAI>OR 

Choro  esse  tempo  de  íllusorios  sonhos 
Que  tSo  risonhos  me  douravam  os  dias, 
Choro  a  esperança  que  brotou-míe  n'alrDa 
Ka  doce  calma  de  gentis  delicias. 

• 

Sim,  que  dos  gozos  perfumosas  flores 
Restam-me  as  dores  que  ligou  uma  sorte, 
Hoje  meus  lábios  no  soffrer  crestados 
Em  ais  magoados  só  murmuram  a  morte. 

Fanou-se  a  estrella  que  fulgia  pura, 
A  desventura. d'um  penar  sem  fim,  • 
Perdi  o  anjo  que  inspirou-me  as  crenças, 
Santas,  immensas,  a  sorrir  p'ra  mim» 

Que  espero  agora  a  soluçar  descrente 
No  pranto  ardente  de  cruel  saudade? 
Que  espero  agora  no  perder  dos  risos, 
Falsos  sorrisos  do  florir  da  idade? 

Triste  e  sósinho  n'um  pungir  de  dôres 
Lembra-me  amores  que  gozei  comtigo, 
Embora  a  sorte  nos  rompesse  os  laços, 
Sigo  os  teus  passos,  tua  sombra  sigo. 


sòhhos,  amores 

Sonhos,  amores,  illusSes  desfeitas, 
Crenças,  anhelos,  já  nSo  sinto  mais; 
O  peito  exangue,  na  descrença  immerso, 
lamenta  as  flores  que  não  vê  jamais !  * 


TROVADOR        '  .  59 


E  quanto  brilho  lobrigava  ao  longe, 
Quanta  esperança  n'um  futuro  lindo ; 
Hoje  me  vejo  sobre  um  lar  d'espinhos, 
No  qual  outr'ora  perpassei  sorrindo. 

Áh  I  se  podesse  me  esquecer  do  mundo, 
Viver  tranquillo  n'um  lugar  ameno, 
Sentir  a  briza  bafejar  meu  rosto, 
Ouvir  a  lympha  no  passar  sereno; 

Ah !  se  podesse  na  mimosa  relva, 
Sentado  á  sombra  de  gentil  mangueira, 
Visar  a  lua  no  seguir  das  nuvens, 
E  vêr  a  estrella  na  veloz  carreira; 


Ah!  se  podesse  n'um  cantar  de  amores 
Chamar  a  virgem  que  me  faz  descrente; 
E  recostado  sobre  o  seio...  amado, 
Ouvir  as  vozes  de  seu  peito  crente; 

Eu  dera  a  vida  juvenil  que  gozo, 
Toda  a  existência  que  meu  sêr  encerra. .  • 
E  abraçando  com  transporte  a  lousa. 
Cantando  amores  deixaria  a  terra. 


Sonhos,  amores,  illusSes  desfeitas, 
Crenças,  anhelos,  já  não  sinto  mais; 
O  peito  exangue,  na  descrença  immerso, 
Lamenta  aô  flores  que  não  vê  jamais. 


M,  P,  Leitão, 


60  TROVADOR 


O  SOLDADO 

Ai  guerra!  só  guerra  eu  ouço  bradar, 
Ao  longe  gritar  a  pátria  offendída, 
Lá  corro  contente,  vou  bravo,  valente, 
Com  fé  bem  ardente  entregar  minha  vida. 

Vingar  os  meus  brios,  tSo  nobres,  tão  puros, 
Cpm  passos  seguroa  levar  meu  pendão; 
Calcar  com  justiça  os  feros  tyrannos 
Bem  vis,  desbumanos,  que  deu-nos  traiçSo. 

Ardente  minh'alma  com  firme  valor. 
Pulando  de  amor  qual  bravo  sem  par, 
Mostrando  aos  tyrannos  brazilea  coragem, 
Nto  teme  a  romagem  que  viu-lhe  acenar. 

Só  quero  ter  glorias,  voltar  Tenturoso, 
Ao  seio  ditoso,  meu  dôce  viver, 
Gozar  as  caricas  que  outr'ora  gozei,  , 
De  ti,  que  deixei,  minha  mSi !  meu  prazer ! 

Ha  tempos  já  tive  as  doçuras  da  vida, . 
De  vêr-se  rendida  Urugitayna  afamada. 
Sem  sangue,  nem  lagrimas,  a  justiça  vencer, 

A  fome,  o  poder;  que  gloria  avivada! 

» 

Foi  Pedro  esse  heroe  valente  guerreiro, 
Fiel  justiceiro  quç  lhes  deu  a  Iiç2o; 
Fazendo  só  vêr  esse  ingrato,  atrevido, 
O  quanto  sentido  se  pune  a  traição! 

'Adeodató  Sócrates  de  MeUo. 


TROVADOR  61 


LUNDU 


O  GATINHO 

Era  um  gatinho  que  eu  tive 
Um  gatinho  folgasâo, 
Quereis  saber  o  seu  nome? 
Eu  o  chamava  Turrão. 
Quereis  sabel-o  porque? 
Eu  já  vos  digo  a^razSo : 


Era  da  côr  de  azeviche, 

Tinha  coUoira  amarella, 

Quem  m'o  deu,  nSo  sei  se  o  conte... 

Eu  o  furtei  d 'urna  bella!.,. 

cE  mentira,  tenho  zelos, 

O  gatinho  deu-t'o  ella !  » 


Se  te* arrufas  já  commigo 
EntSo  nSo  quero  contar ; 
Vai  ouvindo  a  minha  historia, 
Escuta,  que  has-de  gostar: 
Eu  o  chamava  TurrSo 
Porque  era  bravo  no  brincar» 


Quando  me  via  tristonho 
Lamber  vinha-me  a  mão, 
Quando  me  via  contente 
Dava  pulinhos  no  chSo : 


63  TaOYADOR 

Assim  tomava  o  gatinho 
De  prazer  um  bom  fartSo* 


Mas  um  dia,  oh  I  que  ventura, 
O  gatinho  era  brejeiro, 
Viu  uma  moça  dançando, 
Foi-se  a  ella  surrateiro;  * 
Furtou-lhe  a  liga  da  meia 
E  fugiu  com  eila  ligeiro ! 


«Que  foi  feito  do  gatinho?» 
A  moça  logo  que  o  via 
Lembrando-se  da  graçola 
De  prazer  gostosa  ria; 
Té  que  por  descuido  meu     . 
M'o  furtou  n'um  certo  dia ! 


MODINHAS 


A  MINHA  LILIA  HOBRED 


N'aquella8  altas  montanhas 
Aonde  Lilia  nasceu. 
Veio  o  rigor  do  inverno, 
A  minha  Lilia  morreu. 


TROVADOR  63 


ÂBsim  como  as 'flores  nascem 
  minha  Lilia  nasceu, 
Assim  como  as  flores  morresn 
A  minha  Lilia  morren. 

Do  monte  veio  xim  pastor 
A  minha  porta  bateu. 
Somente  dar-me  a  noticia 
Que  a  miniia  Lilia  morreu. 

O.céo  cohriu-se  de  nuvens, 
A  própria  terra  tremeu, 
Ouvindo  a  triste  noticia 
Que  a  minha  .Lilia  morreu» 

O  morte,  que  mataste  Lilia, 
Mata-me  a  mim,  que  sou  teu, 
Fere-me  com  o  mesmo  ferr^ 
Com  que  minha  Lilia  morreu. 


OA  INNOCENCIA  O  DOCE  ESTADO 


Na  minha  pobre  cabana 

Eu  vivia  descançado. 

Mas,  oh  céos!  tão  pouco  dura 

Da  innoeencia  o  doce  estado! 

• 

A  pastora  mais  gentil. 
Doestes  campos,  d'este  prado, 
Boubou-me  sem  eu  sentir 
Da  innoeencia  o  dôce  estado. 


64  TROVADOR 

Na  porta  da  minha  gruta* 
Me  paz  entSo  assentado, 
Invejando  a  quem  gozava 
Da  innocencia  o  doce  estado. 


Suspiros  mil  arrancava 
Do  meu  peito  amargurado ; 
Felizes  todos  que  gozam 
Da  í  jLno^eneia  o  dõee  estado. 


N^estes  campos  eu  vivia 
A  apascentar  o  meu  gado. 
Sem  idéas  de  perder 
Da  innocencia  o  doce  estado. 


Pastor  de  amor  sou  todo. 
Já  estou  desenganado. 
Por  gosto  tenliO  perdido 
Da  innocencia  o  doce  estado» 


Dou-te  tudo  quanto  tenho 
Por  gosto  tudo  te  hei  dado, 
Até  dei-te  sem  sentir 
Da  innocencia  o  doce  estado, 

Francina,  vivo  a  pensaTi 
D'esta  aldêa  separado. 
Suspirando  po;  achar 
Da  innocencia  o  dôce  estado. 


t 


TnOVADOá  6& 


PEZARES 


Tal  como  a  nuvem 
Rubra-dourada, 
Qae  co'alyorada 
Foge,  se  esyai; 
E'  a  minli'alma ! 
A  mão  do  pranto 
Bouboa-lhe  o  encanto, 
Deixou-lhe  um  ai ! 


Por  isBO  eu  triste, 
Desalentado, 
Busco  no  canto 
Ser  consolado. 


Amei  qual  loucO; 
Doce  vertigem 
Por  uma  virgem 
Senti !  • .  •  que  amor !  • 
E  d^essa  bella, 
Gentil  criança, 
Só  a  lembrança 
Me  resta,  e  dôr. 


•  • 


Por  isso  eu  triste  —  etc. 

Sonhos  de  gloria 
Se  dissiparam ; 
D'elles  ficaram 
Feroz  saudade : 

VOIí.   IV.  Ô 


f 


66  TROVADOR 

Fngia^me  o  estro ! 
Sim,  eu  nSo  minto ; 
Moço,  me  sinto 
Sem  mocidade! 


Por  isso  eu  triste  —  etc. 


Os  meus  penates.  •• 
Tudo  o  que  amei^ 
Onde  08  deixei, 
Onde  é  que  estSo? 
Tudo  f ugiu-me !  •  •  • 
Âté  o  berço! 
Vejo-me  immerso 
Na  solidão ! 


Por  isso  eu  triste — etc. 


RECITATIVOS 


PUJO  SE  VÊR-TE 


Fujo  de  vèr-te,  e  no  encaínto  d'aima 
G-ozo  as  delicias  se  te  y^o  alfim, 
Fujo  de  yêr-te,  e  no  encanto,  a  calma 
Perco  se  deií^o  de  te  vêr,  oÍi !  sim ! 


j 


TROVADOR  67 


Fajo  de  vêr-te,  pois  teus  olhos  bdlos 
Matar-me  podem  sem  pezar  sentir, 
Embora  eu  sinta  só  por  ti  desvelos, 
NSo  posso  yâr-te,  ciem  sequer  te  ouvir. 

Fujo  de  vêr-te,  mas  cruel  tormento 
NSo  pôde  amante  supportar  a  dor, 
E  no  entanto  só  te  vêr  intento. 
Sem  que  me  peças  nSo  te  digo  amor. 

Fujo  de  vâr-te,  e  dos  passados  gozos 
Vai  a  lembrança  te  .pedir  perdão, 
Mas  esse  orgulho  que  nos  fez  ditosos 
Bojar  nSo  quero  a  teus  pés,  oh !  nSo! 

Fujo  de  vêr-te,  e  se  me  vês  tristonho 
Vejo  em  teus  olhos  reflectir-se  a  dor, 
Fujo  de  vêr-te,  e  se  me  vês  risonho. 
Quanto  me  alegra  teu  sorrir  d 'amor! 

Fujo  de  vêr-te,  mas  se  alegre  ou  triste, 
Lugar  n'e8ta  alma  caprichosa  tens, 
Se  a  copia  tua  no  meu  peito  existe, 
Porque  a  meus  braços  te  lançar  nSo  vens? 


GEKIDOS  B'AL1IA 


DonzeUa  bella,  ^ue  incensei  e  amei, 
Qual  ama  a  chamma  a  mariposa  airosa : 
Mou  peito,  afeito  a  delicioso  gozo, 
Foi. . .  teu  morreu  como  a  min^psa  rosa ! 


68  TROVADOR  * 

Dilecto  afiecto  te  votava  e  dava 
Minh'alma  em  calma,  meu  amor  em  flor: 
Desprezo  acceso  bem  audaz,  mordaz, 
Me  deste !  encheste  o  trovador  de  dôr ! 


Ingrata  I  mata  pouco  a  pouco  o  louco 
Que  triste  viste  te  jurar — amar  I 
E|  má,  me  dá  eàses  desdéns  que  tens. 
Severos,  feroS|  a  me  dar  penar  I  •  •  • 


4 

Embora  agora  tu  me  estales,  falles 
Segredos  tredos  de  cantor  e  amor : 
Oh!  diis,  feliz: — És  venturado  e  amado.. • 
Engana !  sana-me  o  travor  de  dôr ! 


Desejo  um  beijo  de  candura  pura, 
De  um  riso  e  viso,  de  delphim,  p'ra  mim.. 
Um  lasso  abraço  a  murmurar  sem  par 
Paix&o. .  •  que  entSo  és  seraphim  assim.  •  • 


Porém,  que  tem  meu  coração? . .  •  Em  vXo 
Em  tudo  illudo  1  Eis-te  a  fugir  e  a  rir. 
Do  vulto  estulto  que  em  risonho  sonho, 
N'um  oéo  sem  véo  te  viu  fulgir. . .  sorrir  1 


Âi  hoje...  foge!  Oh  minha  endeixa...  deixa 
Serena  arena  em  que  crepita  a  dita.  • . 
Que  o  pranto  tanto,  dos  jneus  cantos  santos, 
Ai  são  cançSo  de  uma  desdita  afflicta  I  • .  • 


TROVADOR  69 


Gemidos  fidos  da  minh^alma  em  calma 
Sedentos,  lentos  a  viver  sem  qu'rer! 
Nó  mundb  immundo  me  esvaindo,  p  lindo 
Amor  em  flor  a  fenecer...  morrer !... 


«7.  Pereita  dt  Almeida. 


LUNDU 


MUITO  A  HINH'ALMA  SOFFREU 

Amei  de  uma  bella  os  olhos. 
Uns  olhos  da  côr  do  céo; 
Por  causa  d'esses  olhinhos 
Muito  a  minh'alma  sofieu. 

Feitiço,  escuta, 
Olha  teu  dengue, 
NSo  mais  me  chamei^ 
Cacherenguêngue. 

Tenho  visto  olhares  ternos. 
Porém  nenhum  como  o  teu ; 
Por  causa  d 'esses  olhares 
Muito  a  minh^alma  soffireu. 

Feitiço,  escuta  —  etc. 


« 


70  TROVADOR 

Dei-lhe  um  mimo  feito  d'ouro, 
Um  formoso  camapheu; 
Porém  antes  d'ella  aceitar 
M^ito  a  minh'alma  soffrea. 

FeitiçOi  escuta  —  etc. 


Quando  fallei-lhe  em  amor 
Toda  ella  estremeceu, 
Ao  vêl-a  tremula  de  susto 

m 

Muito  a  minh'alma  soffireu* 


Feitiço^  escuta — etc. 


Tomei-lhe  as  mSos  sem  pedil-as, 
Uni-as  ao  peito  meu, 
Mas  ao  sentii-a  raivosa 
Muito  a  minh^alma  sofi&eu. 


Feitiço,  escuta  —  etc. 


Meus  carinhos,  meus  affectos, 
Tudo  ella  aboi^eceu;    : 
D'essa  ingrata  que  mentiu-me, 
Muito  a  minh'alma  soffi^u. 


Feitiço,  escuta  —  etc. 


Esse  anjinho  tão  formoso, 
Nunca  o  amor  concebeu, 


TROVADOR  71 


Todo  O  tempo  que  adorei-a 
Muito  a  mixili'alma  soffireu. 


Feitiço,  escnta  —  etc. 


MeUo  e  Oliveira  Junicr. 


MODINHAS 


ESCUTA,  OH  TIR6EH 


Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha —  Virgem  Saanta 


Virgem  santa  e  meiga  a  quem  adoro 
Mais  do  que  o  proseripto  ao  lar  querido, 
Escuta,  oh  virgem,  o  que  sinto  n'e8te  peito, 
Attende  ao  menos  ao  meu  pranto,  ao  meu  gemido. 

Escuta,  oh  virgem,  ao  trovador  que  louco 
Por  ti  vive  só  de  amor  já  delirante; 
Por  Deus,  nSo  tenhas  oh!  tanto  rancor  d^elle 
Que  ha  soffrido  de  mais  por  ser  amante. 

Deixa  que  n'e8Ba)s  faces  de  carmim 
Sorva  um  beijo  de  amot*  em  meti  delírio, 
Ah !  nSo  sejas  cruel,  tem  dó  de  mim, 
Attende  ao  menos  a  este  meu  martyrio. 


72  TROVADOR 

Deixa  que  n^eàsas  tranças  de  azeviche 
Pouse  um  beijo  com  lábios  resequidos, 
Que  sentindo  d'aki  grato  perfume 
Possa  então  acalmar  os  meus  gemidos. 

Se  ouvires  branda  lyra  por  deshoras 
Das  cordas  tristes  sons  só  d'ais  ferir, 
Sente  amor,  sente  amor,  abre  a  janella, 
Vem  ouvir,  o  ieu  bardo  entSo  carpir. 


OS  INSTAIITES  QUE  NOS  RESTAM 

Os  instantes  que  nos  restam. 
Linda  Mareia,  aproveitemos! 
Instantes  tão  venturosos 
Sabe  o  céo  quando  teremos. 

» 

Mareia,  se  os  nossos  destinos, 
Curtos  dias  nos  protestam. 
Para  que  desperdiçamos 
Os  instantes  que  nos  restam? 

Ah!  nSo  percamos. 
Minha  querida, 
Doces  momentos 

r 

Da  nossa  vida. 

Se  a  risonha  primavera 
De  nossos  annos  já  vemos. 
Da  idade  os  bellos  dias. 
Linda  Mareia,  aproveitemos ! 


TROVADOR  73 

Vem,  minha  bella, 
Entra  em  meu  peito, 
De  amor  nos  una 
Vincalo  estreito. 

NSo  percamod  um  instante 
Dos  nossos  dias  gostosos, 
Antes  que  a  morte  no|  roube 
Instantes  t2|p  venturosos, 

•Vem,  minha  Mareia, 
Que  o  tempo  «orre, 
N^umliora  o  homem 
Se  nasce,  morre. 

  gozar  tSo  bellòs  dias 
Sabe  Deus  se  tornaremos, 
O  prazer  que  temos  hoje 
Sabe  o  céo  quando  teremos. 

Vem,  une  á  tua 
^     A  minha  sorte, 
Vivamos  juntos 
Até  a  morte. 


A  RECORDAÇÃO 


Adorei  na  minha  infância 
Bella  joven  seductora, 
Foi  feliz  minl^  ventura, 
Nossa  sorte  encantadora. 


74  TROVADOR 

Mimosa  flor 
D'ha8te  pendida, 
Vem  reeordar 
Minha  qnerída. 

De  amores  aa  delicias 
Em  nossos  peitos  jazeram, 
As  sabias  leis  de  Cupido 
Ás  nossas  alinas  pi^nderam. 

Mimosa  flor — etc.       * 

• 

Da  nossa  jura  de  amor 
O  hjmenea  se  apossou, 
O  doce  laço  da  vida 
Té  por  fim  se  consunimou. 

Mimosa  flor — etc. 

Correu  o  tempo  toIoz, 
Seguiu-se  a  sorte  fatal, 
Mas  em  breye  yi  findado 
O  nosso  amor  conjugal. 

Mimosa  flor — etc. 

Pois  a  morte  impia  e  fára 
Roubar  veio  a  minha  amada^ 
Deixando  em  meu  temo  «peito 
Sua  imagem  retratada. 

Mimosa  flor  —  etc. 


TROVADOR  lã 


Como  prova  de  lemtrançA 
Da  nossa  antiga  ventura, 
Fui  plantar  uma  saudade 
Junto  á  sua  sepultura. 

Mimosa  flor — etc. 

Cresce  commigo  a  saudade, 
A  lembrança  do  passado, 
£  assim  a  penar  vivo 
Carpindo  o  meu  duro  fado. 

Mimosa  flor — etc. 

Bem  juntinho  da  saudade 
Mimosa  rosa  nasceu, 
Recordando  o  nosso  amor 
Da  débil  haste  pendeu. 

Mimosa  flôr — etc. 


.76  TROVADOR 


RECITATIVOS 


NEGRA  SORTE 


Âi,  negra  sorte!  que  cruel  martyrio! 
Na  luz  de  um  cirio  se  findou  a  lida! 
Veio  o  cypreste  me  plantar  saudade, 
Qu'infelicidade  nos  vergéis  da  vida! 

'  Arca  sagrada— r  tu,  infeliz  mancebo, 
No  monte  Nebo  te  ^escondeste  só, 
NSo  mais  teus  cantos  ouvirei  no  mundo, 
Gemer  profundo  se  yolveu  no  pó. 

Flores  coitadas  que  na  terra  outr'ora 
Tinham  na  aurora  o  bafejar  do  orvalho, 
Murchas  agora  com  horror  pendidas 
Choram  sentidas — resequido  o  galho. 

As  flores  choram  .porque  triste  o  céo 
Lançara  um  véo  sobre  a  manhã  mais  linda, 
Carpindo  a  tarde  se  divisa  lenta 
A  dôr  cruenta  que  só  n'alma  finda. 

Vate  descrido  no  bercinho  ameno 
Cantou  seu  threno  mas  depois  morreu, 
Ave  ligeira  pelo  sol  queimada 
Cahiu  cançada — nunca  mais  se  ergueu! 


Foi  qoal  a  águia  qae  batendo  as  az&B 
K'um  chão  de  biazas  s'e8queceu  do  rSo, 
Foi  qual  o  cjene  que  a  cantar  nas  aguas 
Descanço  áa  magoas  a  chorar  baseou  t 

Harpa  arrojada,  atirada  a  tim  d&nto 
Só  qner  o  pranto,  a  oração  doe  anjos, 
Quebrada  a  corda  —  que  Ibe  resta  agora 
Dos  BonB  d'oatr'ora — dirinaes  arcbanjoB? 

Besta  a  saudade,  resta  a  agonia  t 
Prazer  de  um  dia  Í6i  lembrança  ou  luto ! 
Pobre  mancebo — no  jardim  ceifada 
Arvore  oòítada  que  morreu  sem  frocto! 

A  mágoa,  o  pranto  só  ficou  na  terra, 
N'eUa  Be  encerra  fraternal  o  laço ; 
Assim  foi  pássaro  —  na  prisão  captivo, 
KSo  mais  altivo  esvoaçou  no  espaço! 

Lyra  encantada — uma  manbit  sem  tarde 
Ko  fogo  arde  da  paixão  mais  quente, 
Depois  a  noite  vem  nublar  impura. 
Tornar  escura  —  a  vocaçSo  do  crente  ! 

Artista,  génio — coração  tSo  quente 
Já  não  se  sente,  já  não  bate  mais. 
Vate  na  vida  de  gemer  cangado 
Foi  apressado  desprender  seus  aia ! 

Cheio  de  amores  na  feliz  memoria 
Tentava  a  gloria  só  erguer  de  pé ! 
Mas  negra  parca  sepultar  lá  veio 
O  artista  cheio  de  esperança  e  fé  1  — 


7S  TROTADOS 

Foi-8e  O  passado  a  se  toldar  de  escoro 
E  o  fiado  impuro  lhe  surgia  medonho ! 
Mas  foi  sublime,  governando  a  vista 
Na  terra  artista  —  Baphael  no  sonho  I 


De  Deus  a  imagem  sobi^e  ti  pendida 
Deixaste  a  vida  é  abraçaste  a  luz! 
Meu  Deus,  disseste — para  mim  sorriste, 
Em  quanto  triste  te  apontava  a  oruz  i 


Assim  o  martyr  conduzindo  a  palma 
Depoz  8u*alma  lá  nos  céos  um  dia ! 
Âo  Christo  unido  na  final  vertigem 

A  santa  virgem  Ihtí  serviu  de  guia ! 

• 

Ai,  negra  sorte!  que  cruel  martyrio! 
Na  luz  de  um  cirio  se  findou  a  lida! 
Veio  o  cjpreste  me  plantar  saudade, 
Qu'infelicidade  nos  vergéis  da  vida ! 

E  tudo  o  esquece  —  só  na  teiTa  existe 
O  amigo  triste  nos  lamentos  seus, 
Também  se  finda  a  descantar  ternura 
Da  sepultura  no  prezado  adeus  I 

Cândido  José  Ferrwa  Led. 


I 

1 


TROVADOR  79 


SONHEI-TE 


Sonhei-te  da  paz  no  retiro  profundo 
Dos  males  do  mundo  fugindo  ao  baldSo ; 
Sonhei-te  nos  dias  de  tema  amizade, 
N'amarga  saudade  de  meu  coraçSõ. 

Sonhei-te,  anjo  puro,  nos  céos  existente, 
Quand'inda  innocente  no  berço  dormia. 
Teu  rosto  divino  d'archanjo  n'um  riso 
Com  temo  sorriso  p'ra  mim  se  sorria. 

Sonhei-te  nas  noites  serenas  d'estio, 
Âs  aguas  do  rio  sentindo  oorrer; 
E  vendo  da  praia  nas  rochas  sentado 
O  sol  namorado  no  mar  s'esconder. 


Sonhei-te  de  noite  revendo  as  estrellas, 
As  luzes  tSo  bellas  dos  astros  dos  céos ; 
Sonhei-te  do  nflindo  enganoso  apartado, 
De  rojo  prostrado  no  templo  de  Deus. 

E  quando  mil  votos  traidores,  mentidos, 
Protestos  fingidos  no  mundo  encontrei ; 
Lá  mesmo  entre  os  braços  diamante  enganosa,  ^ 
Imagem  formosai  comtigo  sonhei. 


80  TROVADOR 


LUNDU 


GENTIS,  VOSSÊ  JÁ  VIU,  JÁ? 


Lundu  brazileiro,  composto  pelo  curioíio  B.  B.,e  posto  cm  musica  pelo 

professor  Dorison 


Gentis,  TOSsê  já  viu,  já, 
lôyô  maiB  sidotô?* 
Que  deixa  o  peito  dá  gentis 
Fazendo  tatá  sem  dô  ? 


Qui  ladrão  que  faz  a  gentis 
Sentir  por  elle  um  bithinho, 
Boendo  no  coraçSo 
Lhe  pinicando  mansinho. 

Vossê,  gentis,  nSo  tem,  não. 
Também  seu  camondonguinho, 
NSo  tem  amor,  n%o  quer  bem 
  algum  iôyôsinho  ? 

Pois  é  doce,  é  bem  gostoso 
Ter  a  gentis  seu  ladrão. 
Para  alliviar  as  mágoas 
De  seu  triste  coração. 


TROVADOR  81 


Não  ha  gentis  de  bom  gosto, 
Do  grande  tom  rigoroso, 
Que  não  tenha  seu  Adónis, 
Seu  trambolhinho  amoroso. 


O  querer  bem  e  amar 
£  o  gostar,  do  que  é  bom. 
Não  offende,  não  é  crime, 
E  não  é  peccado,  não. 


MODINHAS 


,1 


A  CONCHA  E  A  VIRGEIL 


Linda  concha  que  passava 
Boiando  por  sobre  o  mar, 
Junto  a  uma  rocha  onde  estava 
Triste  donzella  a  pensar; 


Porguntou-Uie :  Virgem  bella, 
Que  fazes  no  teu  scismar? 
*  E  tu?  pergunta  a  donzellaj 
Que  fazes  no  teu  vagar? 


VOI*.    IV. 


82  TROVADOR 

Responde  a  concha :  Forma4<^ 
Por  estas  aguas  do  nw» 
Sou  pelas  aguas  levada. 
Não  sei  onde  vou  parar. 


Diz-lhe  a  virgem  sentida, 
Que  estava  triste  a  pensar: 
Eu  também  vago  na  vida 
Como  tu  vagas  no  mar. 


Vaes  de  uma  a  outra  das  vagas, 
Eu  de  um  a  outro  scismar, 
Tu  indolente  divagas, 
Eu  vivo  triste  a  cantar. 


Vaes  onde  te  leva  a  sorte, 
Eu  aonde  me  leva  a  Deus, 
Buscas  a  vida,  eu  a  morte. 
Buscas  a  terra,  eu  os  céos. 


j 


SE  O  FADO  ASSIM  TE  ORDENA 


Se  o  fado  assim  te  ordena 
Cumpre-o  e  sê-me  constante. 
Que  no  lugar  mais  remoto 
Saberei  ser  tua  amante. 


TROVADOR  88 


I 

1 


Mesmo  distante 
Te  gaardarei 
O  fido  amor 
Que  te  jurei. 

Inda  mil  braças 
Na  sepultura. 
Te  serei  firme 
Na  minha  jura« 

A  cruel  sorte 
Com  seu  rigor 
Quebrar  n2lo  pôde 
Meu  firme  amor. 

Ah!  sê  constante, 
Guarda-me  amor, 
Ah!  Tí%o  me  sejas 
Falso  e  traidor ! 


D.  Preciosa  Q.  P.  Duarte. 


A  MARINA 


Para  ser  cantada  na  musica  da  modinha  —  Q^ando  eu  morr^ 

não  chorem  minha  morte 


Quando  um  dia  me  vires  vaoillante 
Percorrendo  esse  trilho  de  amarguras, 
NSo  me  dês  um  olhar,  nSo  me  maldigas, 
Nem  sorrias  das  minhas  desventuras. 


84  TROVADOR 

NSo  sorrias,  mulher,  pois  nSo  soubeste 
Dar  vida  ao  infeliz  que  agonisava, 
Foste  o  vento  maldito  que  assoprando 
ÂB  pétalas  da  florinha  desfolhava. 


r 

Vampiro  feminino  que  sugaste 
O  alento  d'esta  alma  enfebrecida, 
Insecto  venenoso  quç  perpassa 
E  rápido  como  a  setta  rouba  a  vida. 


Sem  dó,  sem  compaixSo  aniquilaste 
Um  futuro  tSo  ledo  que  sonhei, 
Mulher,  tu  me  illudiste,  nSo  me  falles, 
Nem  digas  que  eu  tSo  louco  te  adorei. 


Tu  não  és  a  visSo  que  eu  contemplava 
Em  meus  sonhos  de  amor  junto  ao  seu  leito, 
Que  essa  tinha,  ó  mulher,  um  coração 
Palpitando  de  leve  no  meu  peito. 


Tu  nSo  és  a  visSo  de  vestes  alvas 
Que  tão  pura  e  gentil  me  apparecia, 
Sua  voz  era  meiga  como  a  rola 
Soltando  pura  endeixa  de  harmonia. 


Quando  um  dia  me  vires  sobre  a  estrada 
Succumbindo  infeliz  ao  desalento, 
NSo  me  dês  um  olhar,  nSo  quero  ouvir-te, 
Não  venhas  avivar  o  meu  tormento. 


TROVADOR  85 


Se  as  turbas  curiosas  perguntarem 
O  nome  de  quem  jaz  agonisando, 
Responde  desdenhosa  á  populaça: 
Um  louco  por  amor,  um  miserando ! 


Alvarenga  Netto. 


DESDE  O  DU  EM  QUE  TE  VI 


Desde  o  dia  em  que  te  vi 
Ainda  em  botSo,  bella  flor, 
Vi-te  e  guardei  em  meu  peito 
Amizade  e  puro  amor. 

Mas  se  algum  dia  eu  podesse 
Desfrutar  amores  teus, 
EntSo  sorrindo  eu  diria: 
Tu  és  minha,  encantos  meus. 

Por  mando  da  flor 
,De  minha  affeiçBo, 
Vieram  três  rosas 
Ainda  em  botSo 
Plantar  em  meu  peito 
Amor  e  paixfio. 

N'essas  pétalas  de  carmim 
Que  retratam  formosura, 
Ficou  minh'alma  gravada, 
Mas  gravada  sem  ventura. 


86  TROVADOR  - 

Porém  quando  a  morte  ímpia 
Meus  tristos  dias  findar. 
Vai,  oh  flor  de  meus  encantos, 
Lá  na  campa  vegetar. 

Lá  d'entre  00  sepolcbros 
De  orvalho  banhada, 
Revela  teu  cheiro 
Na  triste  morada, 
Que  aksim  é  minValma 
Ao  Empjreo  levada. 


RECITATIVOS 


CARHINIA 


Carminia  em  trajes,  que  a  manhS  consente 
E  reclinada  n'um  divan  —  sósinha. 
Espera  a  noite  pVa  tornar-se  bella 
E  do  seu  baile  se  fazer  rainha. 


Tem  ella  o  peito  de  paixSes  eivado. 
No  pensamento  só  possae  amores, 
Pensa  em  delicias,  não  sabendo  ella 
Que  após  os  gozos  se  succedem  dores. 


TROVADOR  87 

Esquece  tudo,  p'ra  lembrar-se  apenas 
Que  é  moça  e  linda  —  que  possue  grandezas ; 
Só  de  seus  lábios  se  desatam  risos 
Se  em  dextra  alheia  ella  vê  riquezas. 


E'  uma  d^essas  cortez&s  da  época 
Que  tudo  exprimem  n'um  olhar  somente. 
Recebe  em  troca  dos  amantes,  seus 
MontSes  de  ouro  por  um  be\jo  ardente. 


Dé  Margarida  Gautier  é  copia, 
Despreza  o  homem  que  a  yenera  tanto, 
Sorri  de  jubilo  se  nas  &ces  d'eUe 
Enxerga  os  sulcos  de  amargoso  pranto. 


SSo  estes  entes  o  retrato  yiyo 
Da  fl6r  garbosa  — de  manhã  nascida, 
Que  apenas  chega  o  tufXo  da  tarde 
£il-a  sem  folhas — pelo  chSo  cahida. 


E  aquelles  mesmos  que  no  hastil  a  viram. 
Que  a  contemplaram  tSo  garbosa  e  bella, 
Nem  se  recordam  da  manhB  passada 
E  vSo  passando  sem  olhar  p'ra  ella. 


E  a  pobre  rosa  pelo  chSo  rojada 
Beflecte  como  a  felicidade  corre; 
£  impellida  pelo  vento — a  flor — 
Vai  ter  ao  oeno  que  a  recebe — e  mor];^I 


Gualberio  Peçanha. 


88  TROVADOR 


A  MORENINHA 


Ttt  pedes  mu  verso,  gentil  moreninha? 

Se  queres  meu  canto  tristonho  te  dou, 

NSo  sintas  que  eu  chore,  que  o  choro  é  meu  canto, 

Morreram  meus  gostos,  poeta'  não  sou. 


Tu  pedes  um  verso,  gentil  moreninha? 
Vem  preste  sentar-te  bem  junto  de  mim... 
Escuta  uma  historia  dos  tempos  passados. . . 
Mas  olha...  Nâo  chores !  nSo  chores  assim... 


Escuta  uma  historia  dos  tempos  passados. 
Historia  tão  triste  que  eu  temo  contar-te : 
Amei  uma  virgem,  seu  nome  era  Rosa, 
Morena,  tu  coras?...  Não  quero  en£adar-te.. 

Amei  uma  virgem,  seu  nome  era  Rosa, 
Morena,  tu  sabes,  que  vida  eu  gozava? 
Amaste  algum  dia,  responde?  ó  morena, 
A  vida  era  um  sonho,  sonhando  a  passava. 

m 

I 

Amaste  algum  dia?  responde,  ó  morena. 
Sentiste  no  peito  doçuras  de  amor? 
Trocaste  algum  beijo  nos  fervidos  votos. 
Cercada  da  briza,  dos  céos  e  da  flor? 

Trocaste  a\jgum  beijo  nos  fervidos  votos. 
Morena,  trocaste  na  jura  sagrada  ?  . 
E'  prece  divina  que  os  anjos  entoam. 
Se  jura  tão  santa  presiste  guardada. 


TROYABOR  89 

E'  prece  divina  que  os  anjos  entoam 
E  ella  jurava  — jurava  constante, 
Na  pátria  querida  sorrindo  aos  prazeres, 
Com  fé  protestava  nas  juras  do  amante. 

Na  pátria  querida  sorrindo  aos  prazeres 
Eu  tinha  esperanças  de  um  dÔce  porvir, 
Um  dia,  p'ra  longe  dos  lares  paternos, 
Jamais  eu  pensara  tão  cedo  sahir. 

Um  dia  p'ra  longe  dos  lares  paternos 
A  sorte  imprevista  meus  passos  guiou; 
Morena,  eu  nSo  digo. . .  meu  peito  se  parte,^ 
Mas,  ouve. .  •  Qssa  virgem  taes  juras  quebrou. 

^  • 

Morena,  eu  nSo  digo...  meu  peito  se  parte... 
Distante  da  pátria  dous  annos  passei. 
Voltava  eu  contente,  correndo  a  caamal-a. 
Nadava  em  prazeres,  quando  ella  avistei. 

Voltava  eu  contente  correndo  a  chamal-a,  • 
Mas  vejo...  que  um  outro  beijava-lhe  a  mSo. .. 
Não  sou  eu  teu  noivo  ? . . .  Kisonho  lhe  digo : 
A  Ímpia,  sorrindo,  responde-me:  —  Nâo!... 


90  TROVADOR 


LUNDU 


O  RETRATO  DE  SmHÁSIHHA 


ELicutom  bem 
Qae  von  cantar, 
Uma  menina 
Vou  retratar. 


Cabeça  immunda, 
Cheia  de  caspa, 
Tira  aos  alqueires 
Quando  se  raspa. 

N8o  tem  orelhas 
Por  seus  peccados, 
Tem  08  lugares 
Esburacados. 

Os  olhos  vesgos 
E  agathados, 
'Té  sem  pestanas 
Sapirocados. 

Nariz  en^pme 
E  acachapado, 
Toma-lhe  a  cara 
De  lado  a  lado. 


j 


TROVADOR  91 


A  bocca  é  grande, 
Dentes  compridoB, 
Cheios  de  sopas 
£  alguns  cabidos. 


Os  seus  peitinhos 
São  de  borracha, 
E  08  biquinhos 
SSo  de  tarracha. 


Os  seus  bracinhos 
De  orango-tango, 
Suas  perninhas 
De  magro  frango. 

Cintura  fina, 
Banda  nSo  tem. 
O  mais  não  digo, 
Eu  sei  mui  bem. 


Quem  apanhar 
Bichinho,  igual, 
Deve-o  guardar 
Para  signal. 


92  TROVADOR 


MODINHAS 


A  NOIVA  DO  SEPULCHRO 


Poesia  do  snr.  J.  Norberto  de  Sousa  e  Silva,  e  manca 

do  snr.  F.  de  S.  Nonmha 


Uma  cruz  e  bronca  pedra 
Eis  a  Bua  sepultura; 
Âh!  por  minha  desventura, 
Aqui  jaz,  silencio,  amor! 
Minlias  lagiimas  somente 
Denum^iem  minha  dôr! 

Infeliz  I . . .  EUe  saudoso 
O  praz(t  dado  aguardava; 
Sente  passos. . .  me  julgava, 
Mas  o  fere  vil  traidor ! 
Oh  cruel,  podeste  tanto  ? 
Como  é  dura  a  noiinha  dôr ! 


Tosca  cruz...  pedra  sagr%|la, 
Becebei  meu  triste  pranto ! 
Recebei  em  penhor  tanto 
Minha  dextra,  e  meu  amor ! 
Oh!  console  este  consorcio 
Da  saudade  a  minha  dôr ! 


TROVADOR  93 


SEM  A  TUA  COMPANHU 


Como  quem  vive  nas  trevas 
Privado  da  luz  do  dia, 
Assim  eu  sinto  minh'alma 
Sem  a  tua  companhia. 

Sou  uma  harpa  já  quebrada 
Que  sôa  sem  melodia, 
Sou  uma  flor  desfolhada 
Sem  a  tua  companhia. 

NSo  sinto  o  menor  prazer, 
NSo  pousa  em  mim  alegria, . 
Sou  uma  estatua  sem  vida 
Sem  a  tua  companhia. 

Sou  um  cadáver,  meu  anjo, 
Deitado  na.  campa  fria; 
](7So  posso  ter  existência 
Sem  a  tua  companhia. 


•  t/.  B,  S» 


I 


96  TROVADOR 

Oh !  yem,  morena,  nSo  vacUles,  vem, 
Quero  em  meus  braços  t'e8treitaf — fremente, 
Seráa  a  minha  Malibran  formosa, 
Por  quem  a  vida  offertarei  contente. 


Vem.  • .  que  me  importa  doeste  mundo  as  falias 
Se  tu  me  adoras,  se  eu  também  te  adoro, 
Se  aoaso  folgas,  sou  contente  ao  yêr-te. 
Se  tu  padeces  também  ^offro  —  choro. 


Oh!  yem,  morena,  esqueçamos  tudo, 
HLabitaremos  da  florestra  em  meio ; 
Quando  dormires  velarei  teu  somno, 
De  lindas  flores  cobrirei  teu  seio. 


Lá  viveremos  qual  no  céo  os  anjos, 
Frondentes  arv'res  nos  darSo  abrigo; 
E  quando  a  aurora  despontar  risonha 
O  sabiá  conversará  comtigo. 


Oh  I  vem,  morena,  na  soidSo  das  matas 
Olvidaremos  d'este  mundo  as  galas; 
Existiremos  um  p'ra  o  outro  ^—apenas 
Trocando  mutuas  —  amorosas  fsdlas. 


Nada  receies,  vem  fruir  commigo,  ' 
Que  te  idolatro  —  um  existir  de  flores, 
Longe  das  turbas  —  tudo  são  delicias, 
Longe  das  turbas  —  nSo  existem  dores. 


X 


TROVADOR  97 


Oh !  vem,  morena,  gozaremos  juntos 
Este  amor  santo,  abençoado,  paro; 
Serás  meu  anjo  tutelar  na  vida, 
Mesmo  além-tumulo  te  amarei  —  eu  juro. 


Qualberto  Peçanha, 


GEMIDOS  DAUIA 


Feliz  eu  fôra,  se  tivesse  agora 
Lyra  ^onora,  p'ra  cantar  fiilgôres  ; 
Feliz  evL  fôra,  se  minha  alma  louca, 
Cançada  e  rouca,  nSo  sentisse  dores 


Feliz  eu  fôra,  sè  minha'alma  triste 
Que  tu  feriste,  fatal  crença  ingrata; 
Me  desse  amor,  mas  desse  amor  constante, 
Que  docemente,  nossa  vida  mata. 


Feliz  eu  fôra,  se  em  sonhar  d^amores 
Mimosas  flores,  junto  a  mim  tiresse ; 
EntSo  qnizera  que  seu  lindo  rosto. 
Ao  mw  desgosto,  outra  vida  desse. 

VOL.   IV. 


L 


r 


98  TROYADOR 

Feliz  eu  fora,  se  meu  pobre  peito, 
Sentisse  o  effeito  de  gentil  amor ; 
EntSo  veria  o  meu  archanjo  lindo 
P'ra  mim  sorrindo,  desterrar-me  a  dSr. 


Feliz  eu  f5ra,  se  podesse  agora. 
Como  out'ora,  nSo  sentir  paixSo; 
Por  esses  olhos  de  belleza  cheios 
Que  a  seus  enleies  me  arrastando  tSo. 


Feliz  eu  fÔra,  se  a  mente  inquieta 
Com  Yoz  dilecta,  me  dissesse...  amai... 
A  joven  bella,  de  teus  sonhos  queridos, 
Os  teus  gemidos  escutando  vai. 


Feliz  eu  fora,  se  o  fatal  destino 
Me  desse  um  hymno  de  gentil  esp'rança, 
Depois  da  infausta  illusSo  perdida, 
Me  desse  á  vida  o  que  a  vida  cança. 


Feliz  eu  fôra,  se  gozasse  tanto ; 
Mas  tal  encanto  para  mim  n2o  ha; 
Cruel  tristeza  me  escurece  a  alma, 
Me  rouba  a  calma  que  o  prazer  me  dá» 


i 


TROVADOR  99 


LUNDfi 


LUNDU  DAS  MOÇAS 


Para  o  dia  de  Santo  António 


Santo  António,  men  santinho, 
Âttendei  minha  oraçSo, 
Eu  prometto  ter-vos  sempre 
Junto  do  meu  coraçSo. 

Liyrai-me  do  laço, 
Oh  meu  Santo  António, 
Para  que  o  demónio 
NSo  Tenha  tentar, 
A  dar-voB  um  banho 
No  fundo  do  mar. 

Daí-me  um  noivo,  me^  santinho, 
Um  noivo  gordo  ou  bem  magro, 
Que  me  adore,  e  recompense 

O  amor  que  lhe  consagro. 

» 


livrai-me  do  laço, 

Oh  meu  Santo  António  —  etc. 


100  TROVADOR 

KSo  O  quero  doe  que  faliam 
Em  bailes,  fancç3es  somente, 
Qae  esses  tirados  d'ahi 
A  forma  só  tem  de  gente. 


livrai-me  do  laço, 

Oh  meu  Santo  António — etc. 


NSo  me  dês  d'e8tes  que  fisJlam 
Com  modos  de  santarrto, 
Que  oochicham  segredinhos 
Limpando  as  unhas  da  mSo. 


liyrai-me  do  laço, 

Oh  meu  Santo  António  —  etc. 


Dos  que  olham  com  tregeitos, 
Com  artes  nSo  sei  de  quê, 
Paliando  sempre  em  amores, 
Meu  santinho,  nSo  me  dê. 


Liyrai-me  do  laço, 

Oh  meu  Santo  António  —  etc« 


Dos  que  andam  farejando 
Casamentos  com  dinheiro, 
D'esses  nZo,  porque  só  querem 
Escrava  no  captiveiro. 


Liyrai-me  do  laço. 

Oh  meu  Santo  António  —  etc. 


TROVADOR  101 


DoB  1[>eat08  moraliatas 
Que  a  tado  ohamam  indecente, 
Cruz,  demónio  !  Agua  salgada  I 
Deus  me  livre  de  tal  gente ! 


liyrai-me  do  laço, 

Oh  mea  Santo  António  —  etc< 


MODINHAS 


QUANDO  MARIUA  BELLA 

Quando  Marília  bella 
De  algum  pastor  se  agrada, 
Treme  de  susto  e  de  zelo 
A  minh'alma  apaixonada. 

Ah!  coraçSes  insensireis, 
Que  amor  ancioso  brada, 
Sirva  de  exemplo  a  todos 
A  minh'alma  apaixonada. 


L 


102  TROVADO» 


OESPEniDA 


Quando,  Marília  bella, 
Teus  mimos  eu  gozava, 
E  mais  absortp  estava 
Na  gloria  de  te  vêr, 
Invejoso  o  destino 
I)o  meu  contentamento, 
No  mais  cruel  tormento 
Tornou  nosso  prazer. 

m 

Deereta  rigoroso 
Que  eu  gema  toda  a  vida, 
Nem  um 'hora  de  alegria 
Se  atreve  a  conceder. 
Dos  braços  teus  me  aparta. 
Da  pátria  me  desterra, 
Vagar  de  terra  em  terra 
Me  ordena  até  morrer. 


Cumprir  me  foi  forçoso, 
Oara,  os  decretos  seus, 
E  nem  um  terno  adeus 
Te  pude,  ó  céos !  dizer. 
Chorai,  meus  tristes  olhos. 
Chorai  tSLo  dura  sorte, 
Até  que  o  véo  da  morte 
Vos  venha  escurecer. 


TaOTÁiNKR  108 


JUNTO  AO  CEMITÉRIO 


Poesia  do  snr.  José  Viotoríno,  e  musica  do  anr.  Elias  Alvares  Lobo 


De  que  valem  grandezas  da  terra, 
SeuB  orgulhos  despidos  de  amor, 
Se  as  grandezas  tão  fofas  que  encerra 
Se  sepultam  da  campa  no  horror?... 


De  que  valem  sorrisos  fagueiros 
Desprendidos  sem  alma  ou  ardor, 
Se  os  sorrisos  voando  ligeiros 
V8o  sumir-se  da  campa  no  horror?... 


De  que  valem  bellezas  na  vida 
Sem  o  brilho  do  meigo  puder, 
Se  a  belleza,  qual  flor  já  pendida. 
Perde  o  viço  da  campa  no  horror?... 


De  que  valem  na  vida  os  prazeres, 
Temas  phrases,  do  ouro  o  fulgor, 
Se  taes  l>rilhos,  encantos,  poderes 
Lá  se  esconde  da  campa  no  horror?.. 


Esta  vida  é  votada  á  tristeza. 
As  misérias,  aos  prantos  e  a  d$r ! 
N'ella  a  gloria,  o  poder,  a  belleza, 
Tudo  foge  da  campa  nó  horror !  •  • . 


iOl  TROVADOR 

Venha  embora  nma  falsa  doçora 
D'esta  vida  occultar  o  amargor, 
Tado  acaba !  somente  a  alma^pnra 
NSo  succumbe  da  campa  no  horror. 


CANÇÃO 


A  DESPEDIDA  DO  TULDHTARIO 


Compofliç&o  do  Bor.  Joaé  Rufino  de  Oliveira  Gosta 


Adeus,  terra^de  meu  berço, 
Pátria  minha  tSo  querida, 
Em  defeza  de  taus  brios 
Vou  arriscar  minha  vida. 


Adeus,  minha  mSi  sagrada, 
A  quem  devo  tanto  e  tanto ! 
Roga  a  Deus  p'ra  que  eu  nSo  morra, 
E  volte  a  enxugar  teu  pranto. 

Adeus,  querida  maninha, 
Anjo  do  céo,  flor  da  terra. .  \   ' 
Já  ouço  o  som  da  trombeta 
Que  me  chama  para  a  guerra. 


TROVADOR  405 


Adeus,  mulher  adorada, 
Meiga,  tema,  dôce  amante ; 
O  osculo  da  despedida, 
Âh!  vem  dar-me  n'este  instante. 


Adeus,  terra  de  meu  berço. 
Adeus,  minha  mSi  sagrada. 
Adeus,  querida  maninha,  - 
Adeus,  mulher  adorada. 


Adeus,  excelso  monaroha 
D'aureo  torrSo  brazileiro, 
Abençoa  o  teu  soldado,  * 
Aperta  a  mSo  do  guerreiro. 

Lá  nas  campinas  dò  sul, 
Sempre  em  memoria  terei- 
Pátria,  mSi,  irmS,  amante. 
Meus  deveres  e  o  meu  rei. 


RECITATIVOS 


KOnrAIMk  É  TRISTE 

Minh'alma  é  triste  como  a  voz  do  aino 
Carpindo  o  morto  sobre  a  lagé  firia; 
Ê  dôce  e  grave  qual  no  templo  um  hymno. 
Ou  como  a  prece  ao  desmaiar  do  dia. 


106  TBOTADOR 

Se  passa  um  bote  cofii  as  velas  soltas 
Minh'alina  o  segue  n'amplidio  dos  maros^ 
E  longas  horas*  acompanha  as  voltas 
Das  andorinhas  recortando  ok  ares. 


Ás  vezes,  louca,  n'um  scismar  perdida, 
Minh'alma  triste  vai  vagando  á  toa,^ 
Bem  como  a  folha  que  do  sul  batida 
Bóia  nas  aguas  de  gentil  lagôi^ ! 


E  como  a  rola  que  em  sentida  queixa 
O  bosque  acorda  desde  o  alvor  da  aurora, 
Minh'alma  em  notas  de  chorosa  endeiza 
Lamenta  os  sonhos  que  já  tive  outr'ora. 


Dizem  que  ha  gozos  no  CQrrer  dos  annos ! . 
Só  eu  nZo  sei  em  que  o  prazer  consiste, 
—  Pobre  ludibrio  de  cruéis  enganos, 
Perdi  os  risos — a  minh'alma  é  triste ! 


Minh'alma  é  triste  como  a  flor  que  morre 
Perdida  á  beira  do  riacho  ingrato ; 
Nem  beijos  di-lhe  a  viraçSo  que  corre, 
I^em  doce  canto  o  sabiá  do  mato ! 


E  como  a  flor  que  solitária  pende 
Sem  ter  caricias  no  voar  da  briza, 
Minh'alma  murcha,  mas  ninguém  a  entende, 
Que  a  pobreainha  só  de  amor  precisa! 


TROVADOR  ,    107 


Amei  outr'ora  com  amor  bem  santo 
Os  negros  olhoB  de  gentil  donzella, 
Mas  d'essa  fronte  de  sublime  encanto 
Outro  tirou  a  rirginal  capella. 


Oh  I  quantas  rezes  a  prendi  nos  braços ! 
Que  o  diga  e  falle  o  laranjal  florido ! 
Se  mSo  de  ferro  espedaçou  dous  laços^ 
Ambos  choramos  mas  n*um  só  gemido ! 


Dizem  que  ha  gozos  no  viver  d'amores, 
Só  eu  n2o  sei  em  que  o  prazer  \^nsiste ! 
—  Eu  vejo  o  mundo  na  estaçSo  das  flores.  •• 
Tudo  sorri — mas  a  minh'alma  é  triste! 


Minh'alma  é  trbte  como  o  grito  agudo 
Das  arapongas  no  sertSo  deserto ; 
£  como  o  nauta  sobre  o  mar  sanhudo, 
Loqge  da  praia  que  julgou  tSo  perto ! 


A  mocidade  no  sonhar  florida 
Em  mim  foi  beijo  de  lasciva  virgem : 
—  Pulava  o  sangue  e  me  fervia  a  vida, 
Ardendo  a  fronte  em  bacchanal  vertigem. 


De  tanto  fogo  tinha  a  mente  cheia !  •  • . 
No  afSo  da  gloria  me  atirôi  com  aneia. .  • 
E,  Terto  ou  longe,  quiz  beijar  a  serêa 
Que  em  doce  canto  me  attrahiu  na  infância. 


108  tROVAOOR 

Ai !  loucos  sonhos  de  mancebo  ardente ! 
Esp'ran{as  altas...  Eil-as  já  tão  rasas!... 
— Pombo  selvagem,  qiiiz  voar  oontente... 
Feríu-me  a  bala  no  bater  das  azas ! 


Dizem  que  ha  gozos  no  correr  da  Tida... 
Só  eu  nSo  sei  em  que  o  prazer  consiste! 
— No  amor,  na  gloria,  na  mundana  lida 
Foram-se  as  flores — a  minh'alma  é  triste! 


Cofimiro  de  Abrtu, 


HÃO  POSSO  ESQUECEL-A 


NSo  posso  esquecel-a  que  é  muito  formosa, 
TSo  meiga,  tSo  linda,  de  £aces  rosadas ; 
Que  olhos  tSo  ternos,  que  olhar  penetrante, 
Que  louros  cabellos  em  tranças  largadas! 


NSo  posso  esquecel-a  que  é  um  anjo  na  terra, 
E  fada  gentil,  tem  tanta  ternura* . . 
Me  chamem  de  louco,  que  importa  que  o  sejs? 
Eu  quero  ser  louco  por  tal  creatura. 


NSo  posso  esquecel-a,  desejo  adoral-a, 
Embora  que  o  fado  nos' tente  apartar, 
Que  importa  soffirer  da  sorte  os  dictames 
Se  lá  na  mansSo  a  pretendo  abraçar? 


TROVADOR  109 


Qae  importa  que  eu  soffra  tormentos  horríveis 
Amando  essa  joven  de  tanta  belleza  ? 
NZo  posso  esquecel-a,  nSo  devo,  nSo  quero, 
NSo  pecco  em  amal-a  com  tanta  firmeza. 


LUNDC 


HiO  HA  TROCOS  MIÚDOS 


Para  ser  cantado  pela  mnBica  do  lundu  — Eu  go9to  da  côr  morena 


Anda  o  povo  em  multidão, 

Que  oonfasSo  I 
Lastimando  o  duro  fado, 
Sem  poder  comprar  mais  nada, 

Ail  caçoada, 
Ter  dinheiro  aesprezado. 


Quer  seus  dôoes  bons  comer 

E  beber, 

» 

O  deus  Baccho  queridinho, 
Ha-de  só  os  adorar. 

Sem  tocar, 
Pois  nSo  ha  mais  trocoeinho. 


110  TROVADOR 

Quanto  é  triste  ii'eBta  vida, 

Esta  lida, 
De  confusa  andar  as  leis, 
Sem  saberem  sustentar, 

Bem  mandar, 
Haver  troco  aos  pontapés. 

Só  U  querem  aceitar, 

Destrocar, 
Nota  grande  aos  moçosinhos 
Bem  janotas  e  trajados. 

Afamados, 
Do  Thesouro  empregadinhos. 

Estes  sSo  bem  garantidos, 
S3o  servidos  « 

De  mittdos  a  fartar, 

Só  n2o  tem  os  pobresinhos, 
Coitadinhos, 

Que  ha-de  a  nota  cambiar ! 


Tudo  isto  a  qnem  devemos, 

Nem  sabemos, 
Se  á  Justiça,  se  ao  Poder ; 
Queira  o  povo  lastimar, 

Esperar, 
Mundo  novo  apparecer. 


Adeodato  Sócrates  de  Mello, 


•• 


TftOYADOR  111 


MODINHAS 


BASTA,  AMOR,  MED  TERNO  PEITO 


Basta,  amor,  meu  temo  peito 
Assas  penado  já  tem, 
Para  stea  desventura 
Foi  bastante  querer  bem. 


Amor,  escuta 
Tão  justa  queixa, 
Amor,  piedade, 
Vai-te,  me  deixa. 

O  pranto  me  inunda  a  faoe, 
Nos  olhos  nSo  se  detém, 
Quem  quer  chorar,  como  eu  choro, 
Custa  pouco,  queira  bem. 


Amor,  escuta — etc. 

Contra  os  delirios  de  amor 
A  r^zSo  for^a'  não  tem. 
Que  a  razão  é  só  chimera 
Se  se  oppSe  ao  querer  bem. 


112  TROVADOR 


irUHAS  DESERTAS  PRAUS 

N'iima8  desertas  praias 
Abandonoà-me  Armia, 
Inda  me  lembra  um  dia 
TSo  triste  para  mim. 


Fiquei  sobre  o  rochedo 
De  todas  abandonado, 
Entreguei-me  á  lei  do  fiulo. 
Os  meus  gostos  deram  fim. 

• 

Echo  saudoso 
Chega  ao  baixel, 
Tras-me  noticias 
D'esta  infiel. 


Ciúmes  e  saudades. 
Tormentos  e  dores, 
Slo  estes  os  prémios 
Que  tire  de  amores.. 


O  fado  tjranno, 
A  barbara  sorte, 
Acaba  com  a  morte 
T8o  duro  rigor. 


# 


j 


TROVADOR  H3 


UMA  VISÃO 


Poerâa  do  snr.  Gonçalves  Dias,  e  musica  do  snr.  José  Amat 


Quando  o  somno  me  pesa  nos  olhos 
Revoar  sihto  em  torno  de  mim, ' 
Vaga  sombra  que  ameiga  os  meus  sonhos, 
Talvez  forma  de  algum  seraphim. 

Toda  a  noite  um  adejo  suave 
Me  acalenta  com  meigo  frescor, 
Vem,  meu  anjo,  dos  cílios  retintos 
Vem  levar-me  nas  azas  de  amor. 

Passo  a  noite  se  acaso  repouso, 
Sempre  a  vêr-te  nos  meus  sonhos  d'ourof 
Alva  a  tez,  breve  a  bocca  rosada 
Sob  o  véo  escondido  um  thesouro* 

w 

N'uma  rede  de  encantos  me  prendes 
Com  grinaldas  de  mystico  odor. 
Vem,  meu  anjo,  dos  cílios  retintos 
Vem  levar-me  nas  azas  de  amor. 

Bella  fada  que  douras  meus  sonhos 
Que  sympathica  a  vida  me  fez ! 
Já  nSo  és  illusSo  mentirosa. 
Eu  te  vejo  acordando  talvez ! 

Bello  anjo  d 'uma  alma  celeste 

Seu  doce  olhar  de  graça  e  pudor. 

Vem,  meu  anjo,  dos  cílios  retintos 

Vem-me  arroubar  d'extremos  d'amor. 
voi..  rr.  8 


114  TROYADOK 


COMO  AD0RAR-TE7... 

PerdSo,  mulher,  se  te  adorei  um  dia, 
Se  loucas  phrases  desprendi  sorrindo; 
Disse:  ceu  te  adoro»  no  £EiIlar,  mentindo 
Balbuciei  o  qu'eu  entSo  sentia* 

Como  adorar-te,  se  nSo  tenho  amores, 
Gomo  verdade  te  fallar,  .se  minto? 
Como  adorar-te,  se  nest'alma  sinto 
Cruéis  tormentos  —  infinitas  dores? 


Como  adorar-te,  se  gastei  meus  dias 
Nos  attractivos  da  mulher  perdida? 
Como  adorar-te,  se  gastei  a  vida 
Com  as  Bacchantes  —  nas  venaes  or^as? 

Como  adorar-te,  se  não  tenho  crença, 
Se  vivo  errando  n'e8te  mundo  á  toa. 
Se  de  mancebo  virginal  coroa 
Eu  desfolhei-a  com  angustia  immensa? 

Como  adorar-te,  se  me  vejo  só 
Dentro  do  peito  acalentando  a  dôr? 
Como,  donzella,  te  offertar  amor 
Quem  só  implora  compaixão  e  dó? 

Guarda  de  virgem,  este  casto  amor. 
Penhor  sagrado  de  quem  é  criança, 
Qu'este  meu  peito  que  não  tem  esperança 
Só  guardará  o  soffrimento  —  a  dôr. 


Gualberto  Peçanhai 


i 


TROVADOR  115 


9  \ 


# 


TRISTES  HARPEJOS  ^  | 


NSo  chores,  mancebo,  nos  sonhos  da  vida,  « 

Na  triste  gaarida  de  amor  e  soffrer !  -  % 

Não  chores,  teus  prantos  de  dores  partidos 
NSo  pagam  gemidos  de  amargo  yiver ! 


■K. 


.  >   ■  •    ,•* 


NSo  chores,  teu  peito  dç  magoas  coberto  vrv^ 

Bem  pôde,  deserto  de  gozos,  marchar ! 

NSo  chores,  que  a  senda  dos  tristeê  Ttarpejos  '':'  4 

Te  rouba  os  adejos  colhidos  no  lar ! . .  • 


'<  lf  *-^ 

NSo  chores,  Quiquita,  tirada  dos  braços,  1^1 

Dos  doces  abraços  de  ti,  feneceu!  t""'^^ 

NSo  chores,  su^alma  da  lamina  indina.  .                     '"'j^-^  C' 

Lá  foi-se  divina,  p'ra  o  grémio  do  cóo.  '                          \:^:k 

NSo  chores,  que  a  vida  de  acerbas  torturas  '                ''^^i 

Em  tantas  doçuras  ás  vezes  se  faz !  '    ^ 

NSo  chores,  que  o  anjo  dos  teus  amargores  '  x^ 

Te  guarda  os  amores,  que  um  dia  terás I...  '  "^^ 


'1 


r4 


NSo  chores,  mancebo,-  nos  cardos  da  vida,  j,      ^ 

Na  triste  guarida  de  amor  e  penar  I  .  ^;^ 

Quiquita  era  virgem — morreu  innocentet  '.'§ 

NSo  resta  inclemente — por  ella  —  chorar!  -/^ 


Casimiro  Ramalho.  •  >  irt' 


u 


116  TROVADOR 


LUNDU 


CONSELHOS  AOS  HOMENS 


Amar  a  moça  formosa 
E'  muito  bom,  é  gostoso, 
Em  quanto  ella  nos  tributa 
Amor  sincero,  extremoso. 


Mas  se  ella  nos  finge 
O  que  a  alma  nSo  sente, 
Se  de  outro  os  carinhos 
Afaga  e  consente. •• 


EntSo  é  tolice 
Ser  d'ella  amador, 
Então,  meus  amigos, 
Fujamos  de  amor* 


Amar  a  moça  que  é  feia 
Ás  vezes  também  é  bom, 
Se  ella  tem  alguma  graça, 
Se  é  rica,  ou  do  grande  tom! 


I 


TROYADOR  il7 

Mas  se  ella  sem  graça 
Seu  corpo  atavia, 
Se  é  pobre  e  ser  tola 
Em  tudo  annuncia.  •  • 


EntSo  é  tolice  —  etc. 


Amar  a  moça  faceira 
Ás  Tezes  tem  cabimento 
Se  no  olhar,  se  no  riso, 
Revela  discernimento. 


Mas  se  ella  é  louquinha 
No  riso,  no  olhar, 
Se  a  todos  namora 
Para  vêl-os  penar ••• 


EntSo  é  tolice  —  etc» 


Amar  a  moça  que  é  fria, 
Nem  sempre  é  um  grande  mal^ 
Se  com  pressa  ella  repelle 
Os  planos  d'aadaz  rival. 


Mas  se  ella  sem  alma 
O  amor  desconhece, 
Se  nossos  protestos 
Despreza  ou  esquece  •• 


EntSo  é  tolice — etc. 


* 


120  TROVADOR 

Davam-me  os  céos 
O  bem  maior, 
Os  céos  n^  valem 
Um  teu  fevor. 


TIDA  E  MORTE 


Poesia  de  Mello  Moraes  Filho,  e  musica  de  Calado  Jamor 


linda  flor,  como  és  mimosa 
Na  tua  manhã  primeira ; 
Es  oomo  a  virgem  formosa 
Cantando  de  amor  fagueira. 


E  que  côr  tu  tens  suave, 
Como  realças  no  monte ! 
Semelhas  á  branca  neve 
Que  se  balouça  na  fonte. 


São  teus  cantos  os  da  briza 
Que  te  beijou  ao  nascer, 
O  teu  véo  a  nuvem  lisa 
Que  pelo  ar  vai  descer. 


Mas. . .  que  vejo !  emmurchecida 
Aos  silvos  d'atro  tufão... 
Não  tens  perfumes?  perdida 
Tu  jazes  no  frio  chão? ! 


i 


TROVADOR  i2l 


Revive,  bella  florinhaj 
Que  quero  te  dar  um  canto, 
Serás  p'ra  sempre  a  rainha 
D'e3ta  alma  que  te  quer  tanto. 

Mas  qual  assim  é  a  vida 
N^este  viver  de  amargura, 
Ao  principio  embellecida 
De  pensamento  e  ventura. 

E  depois,  um  vento  frio 
Desbota  as  flores  do  peito, 
E  da  morte  o  calefrio 
Nos  atormenta  em  seu  leito. 


TÃO  LONGE  DE  MIM  DISTANTE 

Tão  longe  de  mim  distante 
Onde  irá  teu  pensamento? 
Quizera  saber  agora 
Se  esqueceste  o  juramento. 

Quem  sabe  se  és  constante, 
Se  ainda  é  meu  teu  pensamento? 
Minba  alma  toda  devora 
Da  saudade  agro  tormento. 

Vivente  de  ti  ausente, 

Ah !  meu  Deus,  que  amargo  pranto ! 

Suspiros,  angustias,  dôres, 

São  as  vozes  de  meu  canto. 


121  TROVADOR 

Qaem  sabe,  pomba  innooente, 
Se  também  te  corre  o  pranto ! 
Minh'alma  cbeía  de  amores 
Te  entreguei  já  n'eate  canto. 


RECITATIVO 


CRENÇA  E  MORTE 


NSo  tenho  lyra  para  decantar-te, 
Só  para  amar-te  vim  aqoi^  oh  virgem; 
Ta  és  o  anjo  que  me  deste  alento 
Ao  soffiimento  de  que  foste  origem; 


Tu  és  tSo  linda,  tSo  formosa  e  pura, 
Tua  candura,  enlaçou  minh'alma. 
Louco  corri.  ••  e  para  mim  sorrindo 
Disseste  rindo: — nSo  te  dou  a  palma. 


Eu  vi-te,  bella,  a  me  fallar  de  amores 
Por  entre  as  flôreS|  de  um  jardim  mimoso; 
O  sol  nó  occaso  desmaiava — além 
Na  côr  que  tem^  nosso  céo  formoso. 


i 


Na  branda  aragem  do  soprar  da  briza 
Qne  80  deeliza  sobre  um  mar  tSo  quedo; 
Ouvi  a  queixa  sonorosa  —  triste 
Di^er  que  ezúte,  bem  iatal  degredo. 


Sntre  HoismaB  a  divagar  tristonho 
Sempre  nsonbo  tea  semblante  vi, 
£  entre  qneixas  de  sentido  pranto 
Sentí  o  encanto  que  me  prende  a  tí. 


E  ae  algum  dia  nos  vaí-vens  da  sorte 
Vier  a  morte  regelar  meu  peito ; 
Vú  ao  sepolchro  de  teu  pobre  noÍ70 
Deitar  um  goivo,  de  amizade  em  preito. 


Eugénio  Pastoi. 


LUNDU 

JÁ  Mio  HA  TROCOS  MIÚDOS 

Pant  ser  cantado  pala  monoB  do  Inodú  -^Estamos  no  aeculo  dat  Ime» 

Já  nXo  ha  trocos  iniudos 
K'eflta  nossa  capital, 
Os  cambistas  são.  os  grandes 
N'eeta  época  fatal. . 


124  TROVADOR 


Os  pobres  é  que  se  vêem 
Em  assados  e  aparos, 
Pois  desejando  miúdos 
HSo-de  pagar  grandes  juros. 

Um  gasto  de  ires  mil  reis 
Kâo  é  nada,  ainda  é  pouco, 
P'ra  uma  nota  de  dez 
Dizem  logo : — Não  ha  troco. 

Até  nas  casas  de  pasto 
As  listas  tem  um  letreiro, 
Dizendo  que  p'ra  comer 
Lerem  trocado  dinheiro* 

Já  se  vê  pelas  vidraças 
Letreiros  sobre  papeis 
Dizendo  não  haver  troco 
Mesmcí  p'ra  cinco  mil  reis. 

De  maneira  que  o  pobre, 
Mesmo  tendo  algum  dinheiro, 
NSo  trazendo  os  taes  miúdos 
Passará  por  caloteiro. 

Correm  annuncios  com  letras 
De  palmo  de  comprimento 
Dizendo  que  os  taes  miúdos 
Vendem-se  a  doze  por  cento. 

E  não  sabemos  té  onde 
Tudo  isso  irá  parar, 
O  certo  é  que  o  pobre 
Ha-de — soffer  e  calar. 


TROVADOR 


125 


Houve  ha  pouco  uma  assembléa 
Já  B6  sabe,  de  graúdos, 
Para  vêr  se  decidiam 
  questflo  dos  taes  miúdos. 


Ainda  agora  se  espera 
•Pela  tal  resolução, 
N8o  admira  pois  tudo 
É  assim  n'esta  nação. 


As  cousas  estão  mudadas, 
Já  se  despreza  os  graúdos. 
Pois  agora  só  imperam 
Como  é  sabido,  os  miúdos. 

E  quem  ha-de  nos  valer 
Em  momento  tão  sinistro  ? . . . 
Ah !  já  sei,  corramos  todos 
Ao  palácio  do  ministro. 


Oualberto  Peçanha. 


126  TROVADOR 


FADINHO 


O  CRAVO,  DEPOIS  DE  SECCO 

O  cravo,  depois  de  secco, 
Bota-se  por  ahi  além ; 
A  rosa,  quanto  mai6  secca, 
Tanto  mais  préstimo  tem. 

Que  lindo  botSo  de  roea 
Que  aquella  roseira  tem ! 
Debaixo  ninguém  lhe  ohegai 
Acima  nSo  vai  ninguém. 

A  rosa  que  é  bem  nascida, 
Tem  acções  de  bem  criada; 
Ainda  que  se  ache  offendida 
NSo  se  mostra  apaixonada. 

A  rosa  muito  aberta 
Qualquer  vento  a  desfolha; 
A  moça  muito  garrida 
Qualquer  rapaz  a  namora. 

Brilha,  rosa  que  nasceste 
Na  mais  linda  primavera; 
Foste  nada  entre  os  espinhos 
Para  mais  brilhares  na  terra. 


TROVADOR  127 


Aqui  d'onde  estou  bem  yejo 
Uma  rosa  gisgular; 
Tenho  gosto  de  a  rèr, 
Pena  de  nBo  a  gossar. 

Rosa  branca  na  silveira, 
Cravo  rosado  do  monte: 
Quem  quer  vêr  a  rosa  alegre 
Ponha-lhe  o  cravo  defronte. 

A  rosa  muito  aberta 
Nenhuma  valia  tem; 
Ao  botSosinho  fechado 
Todo  o  mundo  lhe  quer  bem. 

Perde  a  rosa  o  cheiro  fresco, 
Também  perde  a  linda  côr; 
Tudo  tem  sua  mudança, 
Só  nSo  deixo  o  meu  amor. 

Oh !  rapaz  que  vendes  rosas, 
Vem  cá  que  eu  tenho  dinheiro; 
Vende-me  das  fechadinhas, 
Que  as  abertas  nSo  tem  cheiro. 

Aqui  d'onde  estou  bem  vejo 
Uma  rosa  para  abrir ; 
Quem  me  dera. ser  sereno, 
Que  n'ella  fôra  cahir ! 

Minha  rosa  mui  brilhante, 
Todo  o  mundo  te  cubica; 
Ao  doiyingo  na  igrerja 
Quem  te  vê  nBo  ouve  missa. 


j 


1 


128  TROVADOR 

Eu  não  te  adoro,  janella, 
Pois  não  tens  merecimento ; 
Adoro  aquella  rosa, 
Que  está  da  banda  de  dentro. 


A  rosa  quer-se  apanhada 
Antes  do  sahir  do  sol ; 
O  cravo  ao  meio  dia, 
P'ra  seu  cheiro  ser  melhor. 


MODINHAS 


JÁ  HÃO  SINTO  POR  TI  TANTO  AMOR 


Se  és  anjo  no  rosto  e  belleza, 
Tens  no  peito  de  fera  o  rigor, 
Aij  nSo  temo  teus  feros  enganos, 
Já*nSo  sinto  por  ti  tanto  amor. 


Desligaram-se  os  teus  dos  meus  dias 
Como  o  vento  desfolha  ama  flôr, 
NSo  quiseste  que  a  âôr  Jfosse  minha. 
Já  nSo  sinto  por  ti  tanto  amor. 


TROVADOR  129 

De  teu  olhar  no  ternotf  esmaio 
Vejo  escripto  a  traiçSo  e  o  furor, 
Me  enganaste  a  laz  de  meus  olhos, 
Já  nSo  sinto  por  ti  tanto  amor. 

i 

Desligaram-se  os  teus  dos  meus  dias  \ 

Como  o  vento  desfolha  uma  flor. 
NSo  quizeste  que  a  flor  fosse  minha, 
Já  nSo  sinto  por  ti  tanto  amor. 


TOIi.    !▼ 


ROMANCE 


XOI»  SESmORA 

— Deus  esteja  com  as  tias 
Todas  três  a  costurar, 
c  Deus  yenha  Qom  o  sobrinho 
Que  yem  de  passar  o  mar. 

— Que  é  do  cavallo  branco 
Que  eU  deixei  aqui  ficar? 
c  Vosso  cavallo,  metiino^ 
Lá  nas  guerras  ha-de  andar» 

—  Que  é  do  meu  annel  de  ouro 
Que  eu  deixei  aqui  ficar? 
c  O  vosso  annel,  menino^ 
No  dedo  da  prima  ha-de  andar. 


4 


130  TROVADOR 

— Qae  6  da%iinha  rica  prima 
Que  ea  deixei  aqui  ficar? 
c  A  yoBsa  prihia,  menino, 
Já  comnoBco  nSo  quiz  estar; 
Esti  hoje  cozendo  pSo 
Para  ámanhS  se  casar. 

— Digam-me  as  senhoras  tias 
Ella  onde  yai  morar  ? 
Quero  ir  a  sua  casa, 
Qaero  com  ella  fallar. 

c  Menino,  nSo  vades  1&, 
Que  elles  podem-yos  matar. 
— Matarem-me,  jenhores,  nSo, 
Que  eu  também  sei  praticar; 
Nas  terras  por  onde  andei 
Aprendi  a  conversar. 

Quando  l\ye  bateu  á  porta 
Já  estavam  pVa  jantar ; 
Arrearam-se  as  cadeiras 
Para  o  senhor  se  assentar. 

— Deus  esteja  com  os  folgantes, 
Pois  bem  sabem  que  é  brincar; 
NSo  se  arrojem  as  cadeiras, 
NSo  me  quero  assentar, 
NSo  me  quero  assentar,  nSo, 
Nem  nadi^  quero  gastar; 
Se  o  noivo  dá  licença 
Á  noiva  quero  £allar. 

—  c  Licença,  senhor,  a  tem, 
Se  ella  lh'a  quiaer  dar. 


i 


TROVADOR  131 


—  Toma  lá  este  vestido 
Para  levares  a  casar; 
Outros  melhores  que  eu  tinha 
NZo  os  quiseste  ganhar. 

c  Aqni  d'el-rei  quem  me  acode, 

Justiça  a  este  lugar ! 

Os  meus  primeiros  amores 

No  coraçSo  tem  lugar, 

Vá  o  noivo  para  a  rua, 

Fique  este  no  seu  lugar. 


CANÇONETA 


TIYA  O  2£  PEREIRAI 

Poesia  do  sflr<  FtaiMiaoo  Corrêa  Vaaqaw 

CORO 

« 

E  viva  o  Zé  Pereiral 
Fob  que  a  lúnguem  &z  mal, 
E  vira  a  bebedeira 
Nos  dias  de  carnaval ! 
Zim,  balala  I  Zim  balala  I 
E  tiva  o  carnaval  \ 


182  TROVADOR 

Uma  tarde  passeando 
Lá  na  rua  do  SabSo, 
Eu  fiquei  sem  meu  chapéo 
Por  causa  da  viração. 
Eu  nSo  sinto  o  meu  chapéo 
Nem  qu'isto  me  aconteça, 
Sinto  8Ó  deixar  com  elle 
A  minta  pobre  cabeça. 


E  viva  o  Zé  Pereira — eto. 


Uma  yes  brincava  eu 

Com  douB  caroços  de  manga» 

E  em  casa  sem  querer. 

De  vidro,  parti  as  mangas. 

Fujo  p'ra  a  rua,  que  a  velha 

Queria  escovar-me  o  pó, 

E  uma  manga  ^'agua  ensopa-me 

As  manga»  do  paletot. 


E  viva  o  Zé  Pereira — etc. 


Uma  vez  em  certo  hotel 
Uma  tainha  eu  comia 
Que  o  sujeito  afiançava 
Ser  pescada  n^esse  dia; 
Caqa  o  dinheiro  da  gente 
Com  elle  faz  sua  dita 
Sendo  ás  veze^  estas  cobom 
Escassa»  varas  de  chita. 


E  viva  o  Zé  Pereira — etc, 


TROVADOR  133 

Pois  bem,  meu  pai,  eu  fioo 
Da  sua  fazenda  guarda. 
Mas  como  eu  ademenistro 
Quero  já  ter  uma /orcía. 
Isso  até  nSo  se  pregunta 
Tendo  6  negocio  na  mSo 
Eu  havia  de  ter  pasta 
Da  fazenda  de  argodão. 

E  viva  o  Zé  Pereira — eto. 

Vossês  sSo  uns  idiotas 
ifm  pensar  qu'eu  subo  a  serra. 
Mas  eu  vou  então  provar-Ihes, 
Como  dou  com  tudo  em  terra ! 
Hei-de  dançar  um  can-can 
Qu'ha-de  levar  tudo  a  breca ! 
Embora  que  vossas  gritem 
— Perereca!  oh!  Perereca I 

E  viva  a  Perereca 
Pois  que  a  ninguém  faz  mal,. 
Sem  agua  na  caneca, 
Nos  dias  de  carnaval! 

O  Zé  Pereira  no  carnaval 

Pôde  o  zabumba  rebentar. 

Mas  depois  d'e8ta  folia 

Outros  lhe  tomam  6  lugar! 

Seín  rruucaraê  percorrem  elleê  * 

As  ruas  d'e8ta  cidade, 

Ârrelbentando  sem  malho 

  peUe  da  humanidade  I 

E  viva  o  Zé  Pereira — etc. 


^i^  TROTADOR 

o  author  manda  pedir 
Um  pouco  de  paciência, 
Mais  do  que  nunca  predsa 
Toda  voBsa  indulgência! 
Dêem  palmaB  e  desoulpem 
Este  trabalho  grutesco  ■ 
Que  devãra  »e  chamar 
— Les  Pompiera  de  Kantorre, 

E  viva  o  Zé  Pereira — etc, 


LUNDt 


EU  jA  tive  uma  menina 

Eu  ja  tive  uma  menina 
A  quem  amei  mais  que  a  ti, 
Ausentou-se,  foirse  embora, 
Eu  fiquei,  mas  nSo  morri. 

Menina  traidoii^ 
Que  &lta  á  promessa 
KSo  fique  em  lembrançai 
Melhor  é  que  esqueça. 

Antes  quero  ser 
Queimado  do  lume, 
Que  andar  soffrendo 
O  negro  ciúme. 


TROVADOR  185 

Comprei  para  a  cuja 
Um  lindo  retrato, 
De  génio  inconstante, 
De  um  génio  ingrato. 

Gastar  a  gente 
Os  seus  cabedaes 
Em  fitas  bonitas 
E  outras  cousas  mais ; 

Andar  a  gente 
Feito  um  ladrão 
Em  risco  de  acliar 
Pedrada  ou  bordSo; 

Andar  a  gente 
Feito  um  corropio, 
Por  lamas  e  chuvas 
Em  noite  de  frio; 

Passar  pela  rua, 
Parar  na  esquina,. 
Julgando  que  ouvia 
A  voz  da  menina; 

• 

Olhando  para  li 
Se  chega  a  janella, 
Como  a  noite  é  escura 
NSo  sabe  se  é  ella; 

Acender  o  chifruto 
Para  dar  signal, 
E  ella  namorando 
Outro  no  quintal; 


136  TROVADOR 

Sósinlio  no  canto 
Como  um  tolo 
Eila  oom  outro 
Fazendo  tijolo; 


Estar  sempre  no  canto 
Sóèinho,  em  pé^ 
Chocando  oom  os  olhos 
Como  jacaré ; 


Gostar  da  menina, 
Dar  a  pioholeta, 
Sem  ao  menos  poder 
Fallâr  com  a  preta. 


Trabalhos  cruéis 
Que  ji  foram  meus 
NSo  fifJlem-me.  n^elies 
Pelo  amor  de  Deus. 


• 


TROVADOR  137 


CANÇÃO 


PARLENDAS  CARNAVALESCAS 


Ámanlift  é'  domingo 
De  pé  do  cachimbo. 
Toca  na  gaita,     . 
Repica  no  sino, 
O  sino  é  d^onro, 
Repica  no  touro; 
O  touro  é  bravo, 
Mata  fidalgo; 
Fidalgo  é  valente, 
Enterra  o  menino 
Na  cova  de  um  dente. 


Pico,  pico,  me  piquei, 
Um  grSo  de  milho  achei ; 
Um  moinho  me  moeu, 
Um  ratinho  ine  comeu. 
Eu  chamei  por  S.  Tfaiago, 
S.  Thiago  nSo  me  ouviu, 
Ouviram-me  dous  iadrSes, 
Âpalparam-me  os  calçSes; 


18S  TROVADOR 

Eu  cuidei  que  era  graça. 
Bebi  vinho  da  cabaça. 


Era  6  nSo  era 
No  tempo  da  hera, 
Meu  pai  era  vivo, 
Minha  mãi  por  naacer, 
Que  lhe  havia  de  fazer? 
Deitei  as  pernas  ás  costas 
£  puz-me  a  correr. 
Subi  por  escada  abaixo, 
Desci  por  ella  acima, 
Encontrei  um  pecegueiro 
Carregado  de  maçb, 
Fui-me  a  elle 
E  comi  avellSs. 
Veio  o  seu  dono 
E  deu-me  com  um  pau, 
Bateu-me  n'um  olho, 
Magoou-me  um  joelho. 


Ora  vamos  e  venhamos 
Pela  terra  dos  ciganos, 
Um  burrinho  compraremos, 
O  folar  quQ.elle  fizer 
Será  para  o  primeiro 
Que  aqui  fallalr  quiaer. 
Fora  eu  que  sou  juiz, 


TROVADOU  1S9 


Como  perna  de  perais, 
Fora  eu  que  sou  capitSo, 
Como  perna  de  leitSo. 


c  Cabra  cega,  d'onde  vens? 

—  De  Castella. 
cQue  me  trases? 

—  PSo  e  coBtella. 
c  Dás-me  d'ella? 

— 'NSo,  que  é  para  mim 
E  p'ra  a  minha  yelha 
Comer  d'ella. 


Bei  e  rainha, 

Condessa,  cestinha, 

Vamos  a  dar 

Uma  tarefinha. 

S.  Pedro  me  leve, 

Me  queira  leyar, 

Se  alguma  menina 

Me  fizer  olhar, 

Rir,  conversar. 

— Agora  o  Senhor  S.  Pedro 

Dá  licença  de  eu  olhar? 

—  c  N8o  te  deixo  olhar 

Sem  essa  agulha  acabada, 

E  a  outra  começada. 

— Já  acabei,  já  comecei, 

Já  tomei  a  começar. 


i40  TROVADOR 

Agora  o  Senhor  S.  Pedro 
Deu  licença  de  eu  olhar. 


€  Truz  traz ; 

—  Quem  é  ? 

c  O  velho  das  contas. 
— EUe  o  que  quer? 
c  Vender  contas. 

—  Nío  ha' dinheiro 
c  Fia  até  Janeiro. 


Sorrobico, 
MassaricO) 
Quem  te  deu 
Tamanho  bico? 
Foi  Nosso  Senhor 
Jesus  Christo. 
Bicho  vai. 
Bicho  Vem, 
  ganhar 
O  seu  vintém. 
Piolho  na  lama, 
Pulga  na  cama, 
Dá  um  pincho, 
P3e-se  em  França. .  • 


TROVADOR  141 


•  MODINHAS 


QUEH  ÉS  TUt 


Poeâa  do  ma.  Mello  Moraee,  Filho,  e  moaioa  do  sor.  8.  Bosa 


Qaem  és  tu,  qae  vens  á  noite, 
TriBtesinhd  aqui  scismar, 
Fagindo  de  tantas  galas 
Que  o  mundo  pôde  offertar ! 


Serás  nota  harmoniosa 
D'uma  lyra  de  orystal, 
Transformada  n'um  aiginho 
Dormindo  n'um  tremedal? 


És  fada  que  no  silencio 
A  tempestade  domina, 
Trajando  nas  azas  brancas 
A  meiga  luz  matutina? 


Ou  dos  meus  sonhos  ardentes 
És  o  sdr  encantador, 
Que  vens  dourar  meu  futuro 
Aos  beijos  do  teu  amor? 


/ 


142  TROVADOR 

NSo!  és  orphSo!  no  BÍlencio 
Bascas  aqui  te  abrigari 
Quando  nos  finda  a  ventura 
É  noBso  allivio  chorar! 

Es  a  crença!  és  a  saudade, 
A  muda  ezpressSo  da  dôr ! 
Jinda  perla  descravada 
Do  ihrono  azul  do  Senhor  I 


PUI  DO  YOLUIÍE  IV 


nsnDioE 


A  eoncha  e  a  TÍrgem 81 

Á  despedida  do  voluntário. .  104 

Adeas  á  pátria. .  * 54 

A  marina '. 83 

A  minha  Lilia  mçrreu 62 

Amor  e  delírio 21 

A  moreninha. ; . . .  88 

Amor  eterno 27 

A  noiya  do  sepulchro 92 

A  mulher  perdida 39 

Arecordaçao 73 

A  tarde 51 

•  Ati! 44 

'.  A  yirgem  da  noite 40 

A  -virgem  de  ínto. . . » 31 

^  A  TÍrgem  melancólica 15 

'  Basta,  amor,  meu  terno  peito  111' 

'  Bemabé  Oangiea 22 

'Carminia 86 

%  Como  adorar-te?. 114 

*  Conselhos  aos  homens. ......  116 

Coraçfto  de  bronze 54 

'  Crença  e  morte 122 

Da  innocencia  o  doce  çstado  63 

Deixa,  Dahlia 6 

^Desde  o  dia  em  que  te  vi. . .  85 

'Desejo 48 

despedida 102 

suta,  oh  virgem 71 

itua^  da  vida 11 

Sa  j&  tive  uma  menina 134 

Íalla 19 

iQO  de  vèr-te 66 


Pag, 

Gemidos  d*alma 67 

Gemidos  d*alma 97 

Gentil  Analia 52 

Gentis,  vosso  j&  viu,  já  ? . . .  80 

Já  não  ha  trocos  miuaos 123 

Já  n&o  sinto  por  ti  tanto  amor  128 

Junto  ao  cemitério 103 

Lagrimas  do  voluntário 45 

Lundu  das  moças 99 

Marilia,  se  me  n&o  amas. ...  15 
Mesmo  da  cama  pôde  escu- 
tar   42 

Minh*alma  é  triste 105 

Muito  a  minh 'alma  soffireu..  69 

Nào  ha  trocos  miúdos 109 

Nâo  polkas? , 94 

N&o  posso  esquecel-a 108 

Negra  sorte 73 

Noiva  desertora 129 

N'uma8  desertas  praias 112 

O  adeus  do  voluntário 34 

O  cravo,  depois  de  secco. . . .  126 

O  dia  nupcial 17 

O  gatinho 61 

O  mestre  de  musica 7 

O  meu  filei  juramento »  38 

O  meu  penar 17 

O  progresso  do  pais 32 

O  que  eu  senti 12 

O  retrato*  do  sinhásinha 90 

Os  instantes  que  nos  restam  72 

Osoldado 60 

Outr'ora 49 


lU 


INDIGB 


Pag. 

Para  mim  é  o  mando  um 

deserto 25 

Parlendas  oamavalescaa —  ISZ 

Pesares 65 

Por  um  só  ai t 46 

Quando  Mariiia  bella 101 

Quando  seu  bem  Tai-se  em- 
bora   23 

Quem  és  tu? 141 

Quem  n&o  ama  e  nfto  adora  5 

Recordaç&o  da  tristeza 57 

Se  a  ohamma  activa 119 

Sem  a  tua  companhia 98 

Se  o  fado  assim  te  ordena. .  82 


8onhei-a 38 

Sonhei-te 79 

Sonhos,  amores 58 

Táo  longe,  de  mim  distante  121 

Teus  lindos  olhos 36 

Tristes  harpejos IIS 

Uma  tíb&o 113 

Um  jogo 13 

Um  teu  dôee  agrado 30 

Vem...  morena! 95 

Vem,  6  brisa,  fiel  companhei- 
ra .. 56 

Vida  e  morte 120 

Viva  o  Zé  Pereira  1 13á 


j 


T     1 


.!Vn  \UIA    Vf> 


'  '  *   I  !  ■«  T  T 

l  '  r  m;"'  !■    •  :  's.   1  V.  —  \"..' 
d"  liri' ' ;  <i-..' \   í   V.    —  Dii-M   i'i- 

1'nM.      I     V.  \   i  >  .-i-.A    DM     í.-,-|M 

.'i.ii"!'.  '  V.  —'),•.  .;'íito (>(.-fi  •- 

.-^'.'•'"U'.')        ■*  '  '■'\  M'-;    :i  carf;».  ilt) 

Aii.;vLi>0  (i'MV  —  (>  *:'M:o  do  r".:'l. 
l  V.  -O  >.M'  '•'■it  )-.ii.'"  d.'  \  il- 
lir.  '2  V.  —  í»  -'^  •••«■'.'.o  d»  :ii)l).t- 
do.  1  V.  -  o  li'i'o  d  .  i;:.'.1-iv:l. 
1  V. -- l".ri::ri  d  ^í  ;  »(■  S.  Nic  )- 
v'i.  1  V.  --  /\  c  \'A  ''.'•.'  ti.'  IN-ro 
.'  -!''''iiii  —  I '<>;'"'  o'i  !  !ii '.111'.!  V 
\  .  '••l-id-M  p  Ih'  ■  «:^.  -J  V.  -  1  >  h..- 
lio  d'*  í/'-'l  -  l'".- >/'^',  t'  con.ns. 
—  [i'    •  ■  ■' ;    1  ]i  j.  (•  .111  ;nini'4. 

ALr::'::-'  ''  ■-\*.'  —  M  v-.  .tÍ.js  d-' 
í/;-1.  )'l,  [  \'..  ^.'  )■  •.  r-^  '.  ii  » ,4.  -- 
.V  ;>"ii.i  •'  •'  i  "  ■<!  •  :*  V.,  í"  '11 
f- '  ..11  '  'S  -  '•  ■  -»  li  .  i~^  .\.».''''io>  .)ii 
•  Ml  (*  '  -■'  .  '  ■-  I.  i  >:".•  ■li.)  \]  \  . ,  c.t.ni 
•  •••'■•.;.!    '  --     I  >  •  .-   •  ".il-i-TtM   d;: 


1*.    •■[>>■ 


>  rt. 


O 


V.,    (' •'■i    <:-.- 


'I     > . 


M..:.Ai.v: 


'..ii-i. 


■'>. 


)    •  " 


• .  '    .» 


I'    I    M 


1 


1    V.    -  ■ 

K.  T.vvv..--  - 

t''rl«''-i  d  ^ 

íkO.    1   V. 


(    I')'"'    i      I»'"   "  <  !i  I    !  -. . 

•  •  «  t       .   > 

'       ■'  I  fT  ■_!"  :1.  . 

;   •    ••;*'(    ;  d'' 

..'•'■'  i. 


-      1  \     ■  <  ■    :  •    '  .  •       '  '    "     •,, ..    o  .' 
:         : '  .        .-.•    .'■.••      •  .;.   1     . 

í );;.  ."^  v:      .-    M  '.::•,■  ';      -   •    ■  \     it. 

t     !;'•'  '  .    !     :M     "■.:'..•'    ^»   ,'    i"   •;< 

1'H»1  í  I'^    '.'."lio. 
Iv  v;'  !■   -;    -'.'i".     ;{   ■•/•!*  i'  •■     '      1.   .    :'l 

dr.-  i'  -  \   I   V. 
df  "  d-'  M  •.  •,  i  I .;. 

d.»     IlJ.'\    •   •   »      !   i    r     ;  .,    ».  .^      -i 

]>!i'c  >  t^  t  /•>'■■''  .       »    . ;   .  1  'C 
:.ii,  u  V-.1'-         ■..■.'.' 
j  )!-i'  :  !. ■;,  •;    d'>    «'■'  .        .  ■'    )    ,    ■./  r.- 

M.:..'  -^   i.     :.    I  V. 

II  •^ii  /'  \    I.»    !  •;  ■  ■.'!..  ■•  '\'     •   ,.'•,: 

A')". Ml  i»   !/.•"•:.  J   V..  <■  • 
]*.  nr.;i'.i  s  \t      .   d  '    i"  .'    '    ..     •'       j    ■■; 

i'i- ...  ;  /. 

<  ).-   i\<"  \-.  <r;   :'    ,1      •'  ■  "  .      ■  '    ■  i'     »^ 

rio  '1'.  I  *"".'      >,:  '  •    •'     •  .     .'   V 

■* '  1         .  ,     ' 

\. ).■■■)••  i  ■:.•-'    \  . 

11  ■  ■  1 

■  )  "■*        .(.'■■.'        . .  '  '.,•,. 

(•(.r-l    (       '       !',"■. 

]..'■.   i  )  t  ■  •'>     •■  '...    J    \  . 

]' '      n    .  \     ('  ;•         ''■'.,    ."';  •  v'.'  Ti, 

,Mr  'l  .:'    ■•-  .  íi  \  .  .  '•     ..  ■        '    '  '    i 

(  )     :  I'  •\  •  T»    M ,  í'i     i  -i*    ,  .     '       ;•■    , 

■"'•  *  ^.   V  •(•.'  '      ■   '     :     '  ■ 

r:,.».  •■  /.     -.»-.■■     . 


■  j 


.M>  cl     \.<t  '  }. 


I  • 


(1..     •   ■  ■     ■    .    "-.■  :                            >.'.r?  dC: 

11   .\    il     M.   "M    O    -  r       "_     -,  .        C-iMli 

n-'  .'■.-■  -      •  .       ■  •             '.oirn. 

,'  )•    ■  1-;  <    '    I  .  . «  ."••      •.*■     ■'  •»  — 

I» ..  .          ,,     ;  ,.          «  'í'..o 


■r.  o  . .     I 


1 


ii,\  ^ :  í  ••  .  "•  ',  (' *  i  .*  -^  da 
IV-  .-  ,  :.  ».  l  V  ;  ^?  ^  A  tíib^r- 
IV.  d.'  il  ;  •.  '  ^ .  :  •  •"  «^  i  my^- 
^.    :    ,    .  ■■*•.  •  •    -  (    >o ;   4.* 

■:  '.^n;  5.» 


^'    :'•--.•    . 


iO   l-;.  'U:í.  i    ido  ;   6.* 


.•;,r,M  a.-  1  1  1  ii.i  :  "^  *  y^^  ilouíi 
7-,-  •*■%'.  i*;  *.).'*  As  rri.  IS  d») 
*  •    '   \i>  ;    10, i   ()    ii-AO    -M"  ite- 

í .  'J'a....\í''j  —  (>■»  (*'  i'  1'  s  do  uiníi 
•■<■  .'■i.  'j  V.— nfjinj  iíi7.  íi  íMí.bi- 

1 

»•  ').  •«. ' '::.o*».  --A^  noit-i^s  itor- 
fi    •  .JT-- A*i  li' ji-j  dt»  (TÍuUi\er 

.  '1  -■■':. I  .  -o   loi»'i(;KA]'i»'fV.  do  Villa 

*"  '-..i   l'  í«iva,  o."  odi".''.o. 
■(■   :   MK  di>  consulado  c  do  in-.juv 

1  .'i    »"r  'i  h'u»--i.   1 1  V. 

'  *  í' ,».!'  •%.  1  .IS  om  Africa,  Ásia, 
A*  i'm;í.'i.  «  O»  r.inia,  obra  cladsi- 
\.'\  "^  V.,  C'Mn  o-t  •■n>^  13. 

•  \^  .«fA  du  d.-i',ourlu  f.ito  c  oon- 
^;i  --i  «li  Imiia  ])'-l(>s  portMu^uc- 
■"s.  Fi  1  Frrnuo  1j.  d«í  L'.iíiT.uihc- 
l;i     'S   V. 

í'  ", ;  \'i^  '\:i  t•^iv^T*^i^^ado. d  '(.\jiin- 
t'  i.  ',\  V.  - -- ir'-t«»ria  da  <»rij»Mn, 
i>-.  'ri'4,í)  c  d  'cidíMicia  da*^  di- 
.  '•<»<  t.JivnfH  í^nc  agitaram  íl 
.  •  './i  J.'mIí^  li  do.  jullio  do 
'.  í '.)  :.*/•  á  al)*lÍcav^'ào  do  NajfO- 
1. -.o.  :í  V. 
'■:  ...N-f  d  ■  rriíunpo  D.  João,  por 

' '.-.  '  ..I  (lo  W^mM.  1   V, 
V  ''.»\s  '.  -^ua.i.FAs  de  IV  FraiH'i«C') 

■i",  .^.  1^.1.,  c»  d' ai  pat'i'^ij'"a 

1    í  :      .-.    1  V 
y :  v..-.-  ..*  1  .s  'míkIi  ,s  dt^  P^-^-tiiir'.!, 

'.,>'•    J   1  '    I.liT'».    1   V. 

'•1,   i.»  U)   d'i  iiic  do  Urnt^aiivM. 

2  V. 

Ml-"  •'  T*  ju:  INuíriMVTi,  i)or  Alcxun- 

.].(•  í '  .  •'.•ai.r.io.  4  V. 
M\y.M\s  r.  iMJNSAiM  v-Tíig  do  mar- 

qii'V.  d"  M'ivic.{.  1  V. 
íJHj  ^  \  <1  L  >ii    a'sa  (i  infidizOla- 

rí\  !  .ar^i^v»'.   l<)  v. 
••    •'*'    *v    <^    "5  ia     Tj * I'  'j  'i .-j  '.•■  "1  a 

II.  ■*  •:  1  i    i    o  t  .   •  ,     -ií  is  :l.i  •  lai- 

.  ...^.  f,  1';'»':.  ,M>-.  L'  V.,ív^  f.- 

,  j  :  •  •  ,1'  íí.  .1'  'o  di^  V'\  '  •  d  : 
,\"ji .  iiii    •!>  1»    !  '    •  /.)    ns     ■  ,..  I- 


ir.ii. 

1 1 1 T .  ouiA  da  rov  i'i  :\o  d  '  ?  I " ,  i?  -  - 

íi  r-  i''.s  cm  \^^'k.  1  V 
.Tllkí  ou  ti  c-'-'i  pat'-\a.  1  \ 

JOANSINIIA     ou    a    •'•»,_"•'.:  id  i      »','-"- 

ro=a . 
Ji  1  IA  oa  o  subterrâneo,  ií  \ . 
Ln. nu  1X03  o  couspirador-;s     -   % 

1n\(m  i:xrK  E  CLLPADO  ou  H   á-*^UlKÍ' 

íillio  do  uma  família.  2  v. 

J\n!)íM  DO  rovo  —  Ucin^iiioos  pu- 
blicados: O  laço  dtí  fn-re-i.  1  v 
—  Hico  e  pohro.  1  v. — '"^s  b<- 
laoiM  do  mar,  por  Vlc*^  »-  Kuz- 
iJ  V. — Memorias  da  i:i«vi.Íad' . 
1  V. — Pedro  e  Launi..  1  v. — 
O-j  anioros  d^ArtOíTuan.  5  v  - 
MiraLTeiifl  de  felicidsíd?.  1  v. 
A  íilha  do  homicida.  '->  v.  —  Ac- 
to uiella,  por  Lamartine.  1  v  — 
A  loba,  por  P,  FeVíil.  3  v.  —  d 
('onde  dt*.  (Jamord.  "2  v.  -'-f:íor:*> 
veva,  por  Karr.  1  v.  —  Tr:iipeí- 
tades  do  coração.  2  v.  -  <^s  in- 
ctMidiíirioB  da  índia.   2  v.  —  A 
família  do  IVnarvan.  *J  v.  — «' 
puia  dí)  dfS»n-to.  f)  v.  --  O  yç:  - 
da  morto.  <>  v. — O  brinc»»  t-t- 
dido.  2  Y.  —  Joaquim  l>ick  õv 
"-0  m.>r.".ior  de  tigr.^s.   *>  v  - 
O   n<'d\o  vo.rmelho.  Ti  v.  -  i' 
píHf.»  d»í  .^r.nirue.  í^  v.  -  « ;  f^'.- 
l'^"<tor  di>  monte  do>.vrti>    "2  t 
O  lilho  d»^.  Marat.  4  v. 

loirou 'NAM«»  ri 'í  JOGOS.  1    V.    'OT 
ir-  is  ('!.>  2i>íí  jopcos. 

O  latKvu  i>A  rr.i.icir>AnE.  1  v. 

C\mA'í  o  outras  obras  do  ín';rquf-' 
do  P.w-^.d.  2  \. 

ir'M';r  ,,  (l-^  ^larai•j  o  '' 


(■  ■  J 


A 


\  I»  k     & 


i 


(  ). 


r  -radi  •  r.i   »  .  •  »  . 
.*.  4  V 


I  .-     ■:•     \i'-;u^   :-.-:    '\    "Wi   './»...:...    ':ir.'eUtt   V-Íi  .,   3u 


-tc^,;^ 


TílOVADOli 


!  \mm.  i;[': :í::;:s.  m  imín  m.  9 


í.:-,*  FDlçílo,  CORRECTA 


VOLl'»rE  V 


l^í^« 


RIO  DE  JANEIRO 

■<  iraia  'jfi.-ís  i5 1.  í  dj  í;:!  djutuihc  -  ik,- 


i 


IfMM:;'^      '      ,■''!   K'-'    flT?    ri)]"f    I  ,i''T"»'ri'. 

I.;v'/.:v:.\    ;    !  ■■  .'An  LM.  (.lilA  (.(Jl1l-1;'.' 


?   '    .    r     » 


i 


-    í  .  -.    ••       '/.-.• 

■ 

'  ■  '4 

I     -  Ti'    *  f        '       '  •  *4  <  1  \\ 

^  '      '      3      i              ■..'.' 

/    -           •  •   i    ■   l     .          >'<".- 

•   .  <     '•  .".             •     ^   V, 

.'   1  .           '   .                 ;•    ..- 

t-j.-»          ;  /.  •      •  .     \  i         I.          .    . 

.i' .    -  •  .  <;        .   I   •?  \ .      *:  - 
y"^  .  .       '' '  •      ■   j  .     - 

Hl-'.     ■■'.:.    . .    .  .'..    1      .       1 ! 

At.  '  ■  ■       •,  f  4,       « 

t'    *  l  V  .      <  »  I  l  .  -        -     •       .     H 

i 

0  •   ;    •    1    V      -    !    .  '■   . .      ..     .; 

1  4*'  •■•;  .    .  •',    '*'    V      -  '  '    t  .  I  .• 
T»     "   I        v.        .\  f  '       .■ .  ,    '  •    ■  '- 

*.    ...  oi.  ::     .   í ■   •'  .  .     - 

fl.        •.  1    '•."•,■.  '■      1 ,  ii-      1 

V  --  A  • .,  ii  •     -'  \  r  i 

I i  1 ' ■   -.    I 
"    1     ,    ■  I  4   ,  t    ' .  1  t ;      •   .  .1'   •' ; 

li      V.        -     t     •    .        '■'      .1    •      .'    ■  •.   *,n 

-.  1  .   r.       ,     ,1      .  |i'.       ,.•  (.    "1   "M-    ' 

rA.'  (  .»i^  :  '•  '  .^»  V'  -  -  l  ■•  1 1  lii  '  "- 
\,  •-*  .t  •  '  ''  '  I  .  »  I  '•  '.i-  l  il.i  I 
•:*.,.  '  r  f  i  ■  .  •;  .'.:.»•--]!'-' 
:t^u  t'.'  \V  .♦''  \  '■■'•  1  V  -  A 
/■'• .  1  ^  i^a  .1  i  I!-  »■ ' .''.'  'jf  í*,'i  , 
iiv.i.u  !  i'ii:  .::i  l  v.  -  A  i';<-!  ".la  j 
«»'ir-  /  .■•  )  V  "'.:  a  vl'i"  .'  .'  t  ■  v-^-  , 
Ic^.^-rv     4  \-    -A  '  .;     ^  A".   \ '.-  ■ 

I 

:»'  .  í\  i.   lí  ..^  r  '  ^  i\"  .ii.  -  '•  i3m4 
l-:,:iV.:.t  '^11..  I».  í  ;  -.t.-í  .i;i  ('•"?►; 
i   i.i'.i;ii     1   V.  1(1.11  ^'f^::/•    ;i 5.    —   i 
A' \-    o     ii{  :m,)Ií1<-..    roíí' I  ■'«•p.  - - 
A      "•:=.>  (   1    o    il.r.d  IV.í\:i;lI    2  V.    . 
-      *.í'  i>..  f,'A   liÍ-'<'rKvi   íu*    ■  \;X   iid   I 

H!T.\-:..iV*.    1    V.    A   ICW   t,  •  lie  N  !T> 

ta  Cai'3u:ii  tt.  3  V.  — A  muidl-  1 


i   V    -  -  í  »    .  '  i . '  ■   - .    I         -•      . ,     I  - 1    ' 


■ 


\>, 


l 


> 


<  ;  r  1  • 

I     . 


.     i 


•■      ( 


'U      '. 


■  t 


l      .< 


[•    .- 


1  ■■  .       ■  < 


■|  ••   .      .  t 


)■  .  i     - 


.  r  « 


I'       .  '  .     . 

f^i     •       r»     ' ' ,    "    . 

<"i  ..      ■      •■         \'     .  - 

,^-  .  *     1  -  \     . .     ■     '..'    V 

T'       •  t  >      i^i       Ji    <«    ;      .     - 

I 

('  •  li  I'    .  .1 .1 1  • ..  ■ .' 

—     \    ■>    1     1  '      '    .    l    i  t.     * 
1'». '    r*.  I  ^'     1  '    •  '.'      'i.l  «     *>■ 

dr  III.    •'    ['-    .  '      '    "  *    ''  "■     -  '  ■*• 

t.-'  -A  I-  r»i'-.  .■  ■  .-.  I'  •'">  -'  ';'*• 

Viu.  -  -*'  i  '*■••'    í-'   '"  '  "■■•"    ''■' 
to  •!:.    <Í:i   .'■'.  "    ;•   '.ríi''  ■-   •  •  ' 
i:  :i  1/illn.  (.  I,  •uiizi  U'    ^  líi''   ■" 
íiu  1'  :'k  a  h/.'    '  -s    -  '  ■■>'"•  ^ 

viiiciii   ÒO   Ma-ai/í.»*-  p   l  :i' i    • 
V.   -  Albiiiii  U"  ,*-i"  i'-'  r^yrsrh: 
j><>rt«;',  iiez  no  l^i'i  «lo  Juiu.r^. 
V.  com  oa  retratos  àf  H«<;C'-* 


I    -  »'.  't'- 


V. 


LIVRARIA  POPULAR  DE  CRUZ  COUTINHO 


RUA  DE  S.  JOSÉ,  75  —  RIO  DE  JANEIRO 


Albxamdrb  Dumas — A  guerra  das 
malheres.  — A  família  dos  Bor- 

r'a8.  2  V. — ós  dramas  do  mar. 
V.  —  O  cofre  de  prata.  —  De 
Paris  a  Cadiz.  6  y.  —  De  Cadiz 
a  Tanger.  6  v. — A  dama  das 

Sereias.  3  v. — A  mâo  do  fina- 
0. — O  conde  de  Monte-Chris- 
to.  4  V.  —  As  duas  Dianas.  9  v. 

—  A  consciência.  3  v.  —  Os  com- 
panheiros de  Jahu.  2  v. — O  ca- 
valheiro do  Harmontal.  2  v. — 
A  casa  de  ^elo.  3  v.  —  Ascanio 

'ou  a  corte  de  Francisco  i.  4  v. 

—  Uma  família  corsa.  —  A  rai- 
nha Margarida.  5  v. — Os  qua- 
renta e  cinco,  õ  v. — A  dama 
de  Monsereau.  6  v.  —  Paulina. 
2  V.  —Fernanda.  2  v.  — Eduar- 
do in.  2  Y.  —  A  fílha  do  regente. 
4.  V. — Historia  dos  Stuarts.  2 
V.  —  Condessa  de  Salisbury.  2 
V.  —  Cecília  ou  o  vestido  de  noi- 
vado. 2  V. — O  capit&o  Paulo. 
2  V.  —  Amaury.  3  v. — Catba- 
rina  Blum.  2  v.  —  As  gémeas 
de  Machecoul.  4  v.  —  A  tulipa 
negra.  3  v. — Sylvandira.  2  v. 
— Os  crimes  célebres.  3  v. — 
Deus  dispõe.  2  v.  —  A  furna  do 
inferno. — O  cavalheiro  da  ca- 
sa vermelha.  —  Albina.  1  v. — 
Apontamentos  de  Antony.  1  v. 

—  O  bastardo  Mauleon.  4  v. — 
Gabriel  Lambert.  1  v. — Um 
morto  a  contar  sua  historia.  1 
V.  —  Isabel  de  Baviera.  3  v. — 
Joanna  de  Nápoles.  1  v.  —  A 
marqueza  de  Brinvilliers.  —  Pas- 
cal Bruno.  1  v.  —  A  pomba.  1 
V. — Os  três  mosqueteiros.  4  v. 

—  Vinte  annos  depois.  5  v. — 
Viseondo  de  Bragelonne.  10  v. 
—O  filho  de  Marat.  5  v. 

Victor  ou  o  menino  da  selva. 
Oliveira — José   Estevão,  esboço 

biographico,  com  o  retrato. 
Arabiri  —  Diccionario  dos  jogos.  1 


grosso  V.  contendo  mais  de  SOO 
jogos,  entre  elles:  voltarete, 
whisth,  dominó,  gamSo,  danuu, 
xadrez,  etc. 

F.  CooPER  —  O  corsário  vermeOio. 
3  V.  — O  espião  do  campo  neu- 
tro. 4  V.  —  O  carrasco.  2  v.— 
Os  leões  do  mar.  2  v. — O  me- 
didor de  terrenos.  4  v. — O  pi- 
loto. 4  V. — O  derradeiro  moi- 
cano. 4  V. — Os  puritanos  da 
America.  4  v. 

Bréhàt  —  A  feiticeira  negra.  1  v. 

Alberto  Blánq^^bt  —  Os  amONê 
^  Artagnan.  õ  v. — O  rd  de 
fttlia.  2  V.  com  estampas. 

Saihtiiíb  —  Pícciola.  1  v. 

D.  Branca  de  Carvalho — O  pre- 
ço da  felicídacke.'  1  v. 

LABonLAYB — O  partido  liberal,  aea 
programma  e  futuro. —  Paris  na 
America. —  O  príncipe  G&o  de 
Agua. 

Pereira  de  Azurara — Ângdíni 
ou  dous  acasos  felizes.  —  Goinei- 
dencias  fataes,  romance. 

A  Condessa  de  Montb-Chusto, 
por  Du  BojB. 

J.  Osório  —  Vida  e  feitos  de  d-rei 
D..  Manoel.  3  v. 

Vicemte  F.  db  Castro — Os  hí>- 
mens  de  sangue  ou  os  ao&imcsr 
tos  da  eacravid&o.  2  v. — Mis- 
térios da  roça.  4  v.— Miseríts 
da  actualidaae.  4  v. 

Theophilo  Braga — Visio  doe  tem- 
pos.—  Tempestades  sonoras.— 
Ondina  do  lago.  — Torrentes, 
poesias. — Folhas  verdes,  poe- 
sias. —  Flocesta  de  romances.  — 
Cantos  populares  do  arehipeUgo 
açoriano.  —  Cancioneiro  e  ro- 
manceiro geral  português.  1  v. 
—  Introducçâo  á  historia  da  ht- 
teratura  portuguesa.  1  v.  —  His- 
toria dos  quiimcntistas.  1  v  — 
Historia  do  theatro  portogues 
no  século  zvi.  1  v. 


■J 


TROVADOR 


COLLECÇÃO 


DE 


MODINHIIS,  RECITATIVOS,  ARIIS,  LUNDUS,  ETC. 


NOVA  EDIÇAO,  CORRECTA 


VOLUME  V 


RIO  DE  JANEIRO 

Na  LIVBMIA  POPULAR  de  A.  A.  da*CROZ  COUTINHO  -  ídilor 

75,  Rna  de  S.  José,  75 


« 

IH'?!» 


TTP.   ra  AHTOmO  909â  DA  0ILVA  TBIXKlU 

6f,  Bua  da  Cancella  VOha,  6t 
1876 


TE@.l 


MODINHAS 


LUZ  E  KTSTERIO 
Poeõa  de  Mello  Moraes  Filho,  e  mnaica  de  Enj^enio  OmihA 

Quando  a  loa  no  oéo  vai  percorrendo 
Prateando  o  setim  azul  do  espaço, 
Quando  o  pranto  do  orphSo  dolorido 
O  Senhor  o  recebe  em  seu  regaço; 

Quando  o  sopro  da  briza  na  palmeira 
Parece  suspirar  tSo  docemente, 
Quando  descanta  o  pobre  sertanejo 
Um  idyllio  de  amor  todo  innocente; 

Então,  eu  vou  sósinho  com  meu  pranto 
Esconder-me  do  mundo  fementido,  < 

Procuro  a  serrania  mais  espessa 
Para  n'elia  occultar  o  meu  gemido. 


I 

À 


6  '   TROVADOR 


E  lá  ea  julgo  não  sentir  da  vida 
O  sol  abrasador  queimar-me  o  seio, 
Só,  conversa  com  Deus  extasiada 
  minh'alma  prendida  n'este  enleio. 


N'um  morno  dia  perfumoso  e  lindo  • 
EUa  grata  respira  o  mago  incenso, 
E  banhada  de  luz  entoa  os  hymnos 
Gom  os  anjos  gentis  aos  pés  do  Immenso, 


E  n'este  delirar  da  mente  afflicta 
Eu  quizera  passar  a  flor  dos  annos. 
Embora  mesmo  sem  gozar  do  mundo 
Sonhos,  delicias,  infernaes  enganos. 

E  depois.  ••  os  seus  olhos  derramando 
No  meu  triste  viver  infortunado, 
Pranteio  a  minha  sorte  delirante, 
Meu  eterno  soffrer,  meu  duro  fado. 

Arrancai,  .ó  meu  Deus,  minha  existência 
N'esses  ternos  momentos  de  ventura. 
Porque  minh^alma  das  paixSes  despida 
Aos  vossos  olhos  sorrirá  mais  pura. 


TROVADOR 


NINGUÉM 


Poesia  dó  dr.  D.  J.  G.  M.,  e  musion  de  R.  Coelho 


Quando  estoa  c'o  a  minha  amada, 

Quer  a  veja  passeando, 

Quer  em  pé,  quer  assentada, 

Quer  sorrindo,  ou  quer^fallando, 

Minh'alma  magnetisada 

A  vai  sempre  acompanhando. 

Âmago  influxo 
Obediente 
Ao  seu  capricho 
Só  pensa  e  sente. 

Vós,  que  sobre  a  terra  amaes, 

Mortaes ; 
Vós,  anjos,  que  amaes  nos  céos 

A  Deus; 
Vós,  que  de  amor  entendeis, 

Sabeis 
Se  eu  posso  amar  inda  mais? 
Se  eu  nSo  posso,  póde-o  alguém? 

—  Ninguém ! 

Quando  ella  ao  som  do  piano, 
Que  ao  toque  suave  geme, 
Das  harmonias  o  arcano 
Revela  na  voz  estreme, 
Minh'alma  como  o  oceano 
Se  espraia  a  ouvil-a  e  treme. 


TROVADOR 

De  cada  nota 
Que  vai  fugindo 
E]cho  é  ininh'alma 
Que  a  vai  seguindo. 

Vós,  que  sobre  a  terra  amaes, 

Mortaes; 
Vós,  anjos,  que  amaes  nos  céos 

A  Deus; 
Vós,  que  de  amor  entendeis. 

Sabeis 
Se  eu  posso  amar  inda  mais? 
Se  eu  nXo  posso,  póde-o  alguém? 

— Ninguém ! 


ÁRIA 


O  CABELLEIREIRO 

Tive  um  pai  tSo  estouvado, 
Que  temendo  a  diabrura, 
Fez  de  minha  creatura 
Cabelleireiro  gigante: 
Porém  no  hXsí  instante 
Que  o  pentesinho  empunhava, 
Vi  que  o  peito  se  inflammava, 
£  para  o  fogo  se  aoalmar 
Hei-de  com  agua  as  pentear. 


TROVADOR 

Uma  d^ellas  penteando 
Presumida  e  impertinente, 
Vi  que  OB  m«uB  dedos  sujava 
Com  certo  ingrediente. 

O  pente  largo .  eqpantado   • 
Gritando: — porque  se  pinta? 
Para  me  sujar-me  os  dedos 
Tem  na  bola  tanta  tinta! 

Desmaiou  envergonhada 
Oahindo  com  a  caipira, 
£  me  deixando  nas  unhas 
A  mui  tinta  cabelleira. 

N'isto  entra  um  figurSo 
Marido  da  perereca, 
Um  grito  solta  de  horror : 
Minha  mulher  é  careca ! . . . 


O  tal  marido 
Com  tal  desgosto, 
Perdeu  o  riso 
Tapando  o  rosto. 


Com  muita  justiça, 
Com  muita  razão, 
Esposa  careca ! 
Cruz...  tentaçlo! 

Pois  uma  mulher  careca 
Nâo  queiram  por  um  milhão, 
Ter  a  morte  á  cabeceira, 
Cruz,  demónio,-  tentaçSo!... 


I        ^ 


10  TROVADOR 

P'ra  ser  beoco  sem  sabida, 
Como  costomam  dizer, 
Primeiro  reja  nSo  Calie 
O  que  eu  lhes  yoa  dixer : 

Primo,  nSo  seja  careca, 
Segando,  nSo  ser  idosa, 
Tercio,  ter  oontos  de  reis, 
Quarto,  nSo  uei  furiosa. 

Ah !  se  eu  poderá 
O  pente  largar, 
Ea  só  procar&ra 
Mulher  p'ra  casar* 

£  nSo  sendo  assim 
NSo  caiam  em  tal, 
Com  este  conselho 
NSo  irSo  mui  mal. 

Se  alguma  vier 
Com  tal  condiçSo, 
Só  para  fallur-lhes 
De  amor  uniSo; 

Amigos,  lhes  peço 
Se  lembrem  de  mim, 
E  sem  escutal-a 
Só  gritem  assim : 

Vai-te,  demónio, 
Vai-te,  tentaçSo... 
Se  insistir  gritem : 
—  Pega,  ladrSo!  . 


J 


TROVADOR  11 


RECITATIVOS 


ADEUA 


Adélia,  meu  anjo,  escata  um  segredo, 

Que  é  isto?  tens  medo?  Meu  Deus!  porque  coras? 

NSo  tenhas  receio,  attende,  faceira, 

Escuta,  ligeira,  que  passam-sè  as  horas. 

Não  fujas,  Adélia,  terás  tanto  medo 
De  ouvir  um  segredo,  que  tremas  assim?... 
Escuta,  meu  anjo,  teus  olhos  tSo  lindos, 
DSo  gozos  infindos — ah!  Tolve-os  p'ra  mim! 

Escuta,  meu  anjo,  nBo  tenhas  receio. 
Ainda  este  enleio?...  porque,  linda  flor? 
Porque  me  fugiste,  tremeste,  coraste. 
Jamais  escutaste — segredo  de  amor? 

Jamais  te  disseram  que  eras  formosa 
Qual  rosa  librada  nas  azas  da  briza? 
Ou  nunca  sentiste  ferir  teus  ouvidos 
Lamentos  sentados — és  muda?  indecisa? 


Escuta  o  segredo — segredo  innocento... 
Ainda  és  tremente?  ílocega...  te  imploro, 
Assim^..  socegaste...  me  attende  serena,   > 
Qalante  morena:  c  Ha  muito  eu  te  adoro >• 


12  TROVADOR 

Perdôa-me,  Adélia,  mas  tu  me  perdeste, 
Com  risos  soubeste  minh'álina  prender; 
Como  ha-de  o  poeta,  vergado  á  vertigem, 
Distante  da  yirgem  que  adora,  viver? 


Oualberto  Peçonha. 


LEMBRANÇAS 

Nas  horas  tristonhas  que  tudo  escurece, 
Que  a  alma  apparece  mostrando  seu  manto, 
São  horas  que  eu  teço  canções  de  amizade 
De  triste  saudade,  de  dôr  e  de  pranto. 


Aqui  no  retiro  da  minha  orphandade 
Aonde  a  saudade  me  tem  dado  dores, 
Eu  vi  em  teus  olhos  um  fim  de  bonanças, 
Um  céo  d'espemnças,  um  mundo  de  amorea. 


Se  escuto  o  gemido  da  rola  em  seu  ninho, 
Chorando  o  filhinho  que  cedo  perdeu, 
Se  a  briza  fagueira  nos  bosques  suspira, 
Ao  som  d'esta  lyra  também  choro  eu. 


Me  lembro  do  tempo  que  junto  passáinos, 
Que  alegres  cantámos  n'um 'mundo  de  flores; 
Da  linda  estrellinha  que  então  nos  seguia, 
Que  nos  presidia  nas  juras  do  amores. 


THOVÁDOR  13 

Me  lembro  dos  campos,  dos  cantos  saudosos,  ^ 

Dos  sons  maviosos  qae  além  eu  ouvi; 
Do  seio  materno,  do  pai  extremoso. 
Do  irmSo  carinhoso — me  lembro  de  ti. 


Se  escuto  alta  noite  gentil  trovador 
Cantando  o  amor  com  voz  de  alegria, 
Eu  tenho  saudades  do  nosso  passado, 
De  quando  a  teu  lado  contente  eu  vivia. 


LUNDU 


DE  QUE  HE  SERVE  ESTA  VIDA 


De  que  me  serye  esta  vida 
De  tormento  agro  e  sem  fim? 
Quando  não  estou  de  guarda 
Toca  a  rebate  o  clarim. 


De  que  me  servem  as  folgas 
Se  nSo  as  posso  gozar? 
Quando  n3o  'stou  de  piquete 
De  noite  saio  a  rondar. 


14  TROTADOR 

NSo  tenho  soo^gol... 
Me  diz  o  tenente : 
Vá  para  o  seiriço 
Pois  falta-me  gente. 


O  que  he!Í-4e  faser? 
Eu  TÍsto  a  fiardiídia, 
Betando  as  eorreas 
Eu  Tou  p'ra  a  gnardinha. 


Porém  se  um  .dia 
Ea  n'isto  seismar, 
Faço  uma  trôza 
E  ponho-me  a  andar. 


Com^  esta  me  raspo 
Oh!  rapaziada, 
Pois  esta  vidinha 
E'  mui  desgraçada. 


ViUarinho. 


TROVADOR  15 


L 


MODINHAS 


ROUBASTE,  TTRANNA  t^ARCA 


Roubaste,  tyranna  parca, 
Men  paij  meu  doce  amor, 
Céos,  pieSade,  dai-me  a  morte, 
Tirai-me  a  cruenta  dôr. 


De  que  me  serre  esta  vida 
N'este  mundo  de  amargura? 
Tema  mSi  que  eu  tanto  amava 
Hoje  jaz  na  sepultura ! 


ESCUTA 


Como  o  orvalho  da  noite 
Busca  o  carinho  da  flor, 
Assim  minh'alma  em  delírios 
Suspira  por  teu  amor; 
E  tu  qual  uma  insensata 
Com  teu  desprezo  me  mata. 


16  TROVADOR 


Oh !  se  èu  podesse  encontrar 
Em  teus  lábios  um  sorrir, 
Seria  a  minha  yentura 
E  também  o  meu  porvir; 
Mas  com  toa  crueldade, 
Nem  se  quer  tens-me  amizade. 


Permitta  o  céo  que  algum  dia 
Mais  feliz  possa  eu  ser, 
Se  continuar  d'eBta  sorte 
Prefiro  antes  morrer; 
A  morte  é  um  somno  dourado 
Para  quem  é  desprezado. 


I 


Manoel  Ferrtira. 


AMARGOS  DUS  PASSEI 


Amargos  dias  passei 
Pensando  na  sorte  austera, 
Hoje  me  rejo  em  desgraça, 
Já  nSo  sou  quem  d'anteB  era. 


Mas  quanto  é  triste 
Viver  ausente! 
Eu  prefiro  a  morte 
Do  que  ser  vivente. 


. 


TROVADOR  •  17 


Pentòndo  na  sorte  austera 
De  continuo  a  suspirar, 
Por  não  te  vêr,  Mareia  bella, 
O  meu  destino  é  só  chorar. 


Mas  quanto  &  triste 
Meu  padecer! 
Eu  prefiro  a  morte, 
Desejo  morrer. 


IlECITATIVOS 


O  JANOTA 


Ando  na  moda  p'ra  agradar  ás  bellas 
Que  nas  janellas  ao  passar  eu  rejo; 
Tomo-me  d'ellas  —  de  terreiro  um  gallo 
Verdade  fallo,  é  o  que  desejo. 


«   For  isso  nso  as  derradeiras  modas, 
Quaeísquer  ou  todas  que  Paris  nos  dá; 
Julgam  chaUiça  o  que  digo? — Entto 
Muita  attençSo^^-YSo  ouyindo  lá: 


i6 '  TROYADOR 

Calça  na  moda — a  balão  chamada, 
Mui  bem  talhada  por  franceza  mBo, 
Alva  camisa  de  cambraia  fina. 
Linda  botina  de  fino  tac&o; 

Chapéo  mui  fino — de  castor,  patente, 
Cabello  rente — á  duqae  de  Saxe, 
Coliete  ornado  de  botSes  brilhantes, 
Pois  dos  tunantes  é  o  luxo,  é  praxe; 

Gravata  chique — de  uma  côr  mimosa. 
Tendo  uma  rosa  por  um  alfinete, 
Luvas,  bengala,  mexican  bem  feito 
Tomam  perfeito  meu  gentil  toiUete. 

Com  primoroso  pince^nez  de  gosto 
Se  fito  o  rosto  de  qualquer  menina, 
Ella  ao  principio  quer  mostrar-se  esquiva, 
Depois  captiva  cahe  no  laço — é  sina. 

O  meu  bigode  com  torcidas  pontas 
Ás  moças  tontas  faz  dar  mil  saltinhos. 
Com  os  olhos  faço  um  tal  pisca^isca 
—  Segura  isca  para  os  taes  peixinhos. 

E  qual  moça  que  ao  meu  vêr  tSo  chique 
Presa  nSo  fique  pelo  beiço? — Hein? 
Só  desejando  qu'eu  com  tom  &ceiro 
Diga  primeiro:  « — Quer  casar,  meu  bem?» 

As  próprias  velhas — sazonados  pomos, 
Chupados  gomos  de  um  fructo  azedo, 
Dizem  qúe  anhelam  me  adorar  também, 
Eu  com  desdém,  entSo  digo: —  <Ê  oedo!> 


TROVADOR  19 

Fermittam  ellas  qa'este  amor  rejeite, 
Amas  de  leite, — nSo  preciso,  juro; 
Se  bem  que  tenha  rijos  dentes — sei, 

Jamais  gostei  de  mastigar  -pão  duro. 

• 

Folgada  vida,  mui  alegre,  passo 
Se  bem  que  escasso  seja  o  cobre.  —  Ora 
Se  ellas  me  adoram.. •  e  com  preferencia 
Pela  apparencia  que  só  vêem  por  fora. 

Como  deixar  de  idolatrar  as  bellas 
Se  eu  sou  d'ellas  um  fiel  debuxo? 
Mesmo  esbagado,  sim  senhor,  quer  quer? 
Pois  a  mulher  o  que  quer  vôr  é  luxo. 


Qualberto  Peçonha. 


O  CANTO  DO  DESCRIDO 


Que  rale  a  vida  para' o  desgraçado, 
Soffirendo  o  fado,  sem  allivio  achar? 
Antes  na  campa  esse  somno  duro 
Que  prematuro  pôde  a  morte  dar. 

Só  entre  os  mortos  o  socego  impera, 
Que  sorte  austera  tSo  cruel  negou; 
Ante  08  oyprestes  e  os  chorSes  crescidos 
Morrem  gemidoa  que  essa  dôr  levou. 


20  TROVADOR 

Ahi,  na  lousa  do  martyrio  a  palma, 
Em  santa  calma  só  pezares  gozou! 
Quando  da  yida  a  cadêa  dura 
Que  a  desventura  lhe  prender  deixou. 

Ninguém  derrame  sobre  o  triste,  o  pranto 
Que  nunca  um  canto  de  prazer  soltou! 
Que  o  réo  da  morte, — essa  noite  escura, 
Da  sepultura  o  seu  mal  findou! 

Quando  da  lua  o  clarSo  dirino 
Vier  benigno  lhe  trazer  a  luz; 
O  sacro  emblema  mostrará  brilhante 
De  insinuante — respeitosa  cruz... 

« 

J.  de  Araújo  e  SUva. 


LUNDU 


TÕTÕ,  VOSSÊ  É  O  BEMOmO 


Yôyô,  vossê  é  o  demónio 
Que  me  está  enfeitiçando, 
Deixe-me  que  sou  captiva, 
NSo  me  esteja  namorando. 


TROVADOR  21 


Leye  o  demónio  a  teutaçSo 
De  um  yôyô  tSo  feiticeiro; 
Vá-se,  deixe-me  sósinha, 
Cumprir  o  meu  captiveiro* 

Será  acaso  muita  trunfa 
Que  lhe  faz  tanta  influencia? 
•^^9  J^J^y  ^^o  Beja  assim^ 
Veja  bem,  tome  tenencia. 

NSo  queira  pela  mulata 
P'ra  sempre  ficar  perdido ; 
Que  a  muito  moço  bonito 
Isso  tem  acontecido. 

Se  sou  cará  com  melado, 
Tire-me  do  captiveiro, 
Que  a  mulata  do  Brazil, 
Se  é  boá,  vale  dinheiro» 

Se  sou  fructo  saboroso. 
Ou  do  céo  doce  maná, 
Yôyô,  traga  o  seu  dinheiro 
Pta  comprar  o  cambucá. 

Se  sou  manga  da  Bahia, 
Ou  saboroso  cajui, 
Yôyô,  traga  seu  dinheiro 
Se  me  quizer  para  si.   • 

Se  Tossâ  gosta  de  mim, 
Se  isto  tudoȎ  verdade. 
Vá  ter  com  o  meu  senhor 
Comprar  minha  liberdade. 


i 


22  TROVADOR 

Se  a  mulata  do  Brazil 
Lhe  captiva  o  coraçSo, 
Também  é  de  muita  gente 
  única  consolaçSo. 

Que  a  mulata  do  Brazil 
Sempre  grata  a  seu  senhor, 
Não  quer  ficar  perdida 
Por  causa  do  seu  amor. 


Araújo  Pinheiro  Júnior. 


MODINHAS 


FOI  EH  MANHÃ  FESTIO 

Poesia  de  Laurindo  Bebello,  e  musica  de  JoSo  A.  Canha 

Foi  em  manhS  d^estio 
D'um  prado  entre  os  rerdores, 
Q'eu  vi  os  meus  amores 
Sósinho  a  cogitar. 

Cheguei-me  a  ella, 
Tremeu  de  pejo, 
Furtei-Ihe  um  beijo, 
Põs-se  a  chorar. 


TROVADOR  33 

Eram-lhe  aquellaa  lagrimas 
Na  face  nacarada, 
Per'ias  da  madrugada 
Nas  rosas  da  manhfi. 


Santificada 
N^aquelle  instante, 
Não  era  amante, 
Era  uma  irm3« 


Curvados  os  joelhos 
Os  braços  lhe  estendia, 
Nos  olhos  me  luzia 
Meu  innocente  amor. 


Assoma  a  virgem, 
Deu-se  quebranto, 
Secca^se  o  pranto, 
Cresce  o  rubor. 


DONZELLA,  POR  PIEDADE 


Donzella,  por  piedade,  nSo  perturbes 
A  paz  que  se  abrigou  nó  peito  meu; 
Ah  I  nSo  venhas  com  teus  cantos  de  illusSes 
Recordar  um  amor  que  já  foi  teu. 


L 


M  TROVADOR 

Eu  amei-te,  sim,  ingrata,  eu  amei-te, 
Quanto  o  meu  coraçSo  amar  podia; 
No  yerdor  de  meus  annos  adorei-te 
Só  a  ti,  BÓ  a  ti  no  mundo  via. 

Faço  timbre  hoje  emfím  de  aborrecer-tOi 
Mil  rezes  faço  timbre  em  adorar-to; 
Tuas  falias  de  amor  mandam  deixar-te, 
Minha  yiyfi  paixSo  manda  querer-te. 

Se  eu  procuro,  ingrata,  deixar  de  vêr-te, 
A  tristeza  me  acompanha  a  toda  a  parte, 
Se  para  allivio  meu  busquei  fallar-te, 
Arrependo-me,  emfim  de  conhecer*te. 


QUANDO  TE  VI 

Musica  do  snr.  Koronha 

Quando  te  vi  tão  formosa 
Não  sabes  o  que  eu  senti? 
NSo  sabes,  não,  que  o  respeito 
Suffocou  meu  morno  peito 
Por  til  por  til 

Teus  olhos  cheios  de  fogo 
Jíe  cravaste — eu  yacillei; 
Est'alma  em  que  chammaa  ardoí 
Porque  foi  entSo  cobarde? 
Nio  sei...  nSo  sei. 


TROVADOR  25 


Mas  ta  lôste  no  mea  peito. 
Conheceste  o  affecto  mea, 
Porém  yendo-me  indeciso, 
Nem  tu  soltaste  arnsorriao, 
Nem  eu,  nem  eu. 

Mas  vi-te  um  dia  curvada 
Ao  peso  de  intensa  dôr, 
Choraras,  chorei,  po]:ém 
Bemdito  pranto  de  amor. 


A  SER  INGRATA  TA] 


Se  me  virem  ser  ingrata 
NSto  se  admire  ninguém, 
Um  ingrato  me  ensinou 
A  ser  ingrata  também. 


Quem  é  sincera  no  mundo 
Corre  risco  em  querer  bem; 
Eu  o  fui — mas  me  ensinaram 
A  ser  ingrata  também. 


Melhor  é  gostar  de  todos, 
NSo  querer  bem  a  ninguém; 
Já  que  o  ingrato  me  ensinou 
A  ser  ingrata  também. 


26  TROVADOR 


Vossê  me  chama  seu  beih? 
Eu  nSo  sou  bem  de  mngaem; 
Um  ingrato  me  ensinou 
A  ser  ingrata  também* 


ROMANCE 


SONHO  DE  VENTURâ 

(PBHBAIIAHTO   FUaillYO) 

Melodia  do  Bnr.  S.  Luiz  Castro,  e  palavras  do  snr.  S.  L.  de  O.  C. 

Eu  a  vi  como  sempre  tão  bella, 
Reclinada  a  sorrir-se  p'ra  mim, 
A  feliz  e  ditosa  donzella 
Me  dizia  palavras  sem  fim.  - 

Fui  feUz,  eu  também  lhe  fallei 
D'este  fogo  sagrado — o  amor, 
E  a  dextra  tomando  a  beijei  * 
Lhe  roubando  da  tez  seu  primor. 

Tu  me  amas,  formosa  deidade? 
Diz  depressa,  que  eu  quero  saber. 
Se  de  mim  queres  ter  piedade 
Ou  de  gozos  eu  renha  a  morrer. 


TROVADOR  S7 


A  sorrir^se  me  diz  eeta  diva : 
«  Eu  aceito  este  teu  puro  amor  I  » 
E  não  mais  para  mim  foi  esquiva^ 
E  fiquei  sendo  d'ella  o  senhor. 


RECITATIVOS 


MORTE  D'AL1IA 


Âmei-te,  oh  yirgem,  no  silencio  d'alma, 
Colhi  a  palma  d^nm  mentido  amor; 
E  essas  crenças  que  libei  comtigo, 
Eil-as  commigo  no  gemer  da  dôr. 

Amei-te,  oh  virgem,  e  qual  flor  mimosa 
Que  desóuidosa  com  o  tufSo  pendeu; 
Assim  minh'alma  que  aprendeu  amores 
Hoje  entre  dores  por  ti  só  morreu, 

A  linda  estrèlla  que  adorei  na  vida 
Nuvem  perdida  sua  luz  finou; 
Ai  de  agonia  soletrou  tormentos, 
Teus  pensamentos  no  horror  lançou. 


28  TROYÂixm 

Mancebo  infame,  te  saudou  o  encanto, 
Falsario  canto  to  enrolyeu  no  pó ; 
Alma  de  mármore  te  escondeu  o  yéO| 
Surdo  é-te  o  céo,  tu  mereces  dó. 

Sorriu-te  o  mundo,  Ih^escutaste  as  fidlas, 
Trajaste  as  galas  que  vestia  o  crime; 
Somno  do  inferno  te  tornou  mulher, 
Dores  requer,  teu  soffrer  me  opprime* 

Libaste  sôfrega  o  lícôr  da  morte 
Que  deu-te  a  sorte  na  fatal  vertigem; 
Pura  buscaste  de  amor  um  beijo, 
Viste  o  lampejo  de  tu'alma  virgem. 

Tudo  acabou-se  e  teus  tristes  dias 
Cavam  agonias -d'uma  fé  sem  luz; 
P'ra  ti,  ai  triste !«..  já  nSo  ha  perdSo, 
A  redempçSo  só  acharás  na  cruz ! 

Porque,  donzella,  nSo  afogou-to  o  pranto 
No  sentir  tanto  tua  inútil  vida?... 
Altar  sem  culto  te  maldiz  o  Eterno, 
Bi-se  o  inferno,  és  mulher  perdida. 

F.  J.  Bom  Sucee$90  Jfàmor. 


TROVADOR  29 


SLMAIA 


Ta  me  chamaste  de  infiel,  morena 
Porque,  tyranna,  me  offendeste  assim? 
Eu  já  faUei-te,  já  te  foi  perjuro. 
Pois  já  tens  queixas  que  £ftzer  de  mim  ? 

Talyes  tu  sejas  inoonstante  e  vária, 
E  por  teu  génio,  tu  me  julgues  tal  I 
Porém  eu  juro  que  te  amo  e  muito». • 
£  tu,  Elmaia,  tens^me  amor  igual? 

N'aquelle  baile  em  que  dançamos  juntos, 
Tu  me  provaste  que  eras  muito  mál 
A  sós  deixavas  muitas  vez^,  muitas. 
Quem  vida  e  alma,  eterno  amor  te  dá  1 

E'  assim  que  provas  que  também  me  amas? 
E'  d'essa  forma  que  se  pôde  amar? 
Não,  minha  virgem,  quem  amor  tem  jSrme, 
Só  junto  d'elle  pôde  bem  gozar.  • . 

Porém,  perdoa;  sSo  transportes  d'alma! 
Estou  vencido,  já  te  beyo  os  pés  1 
E  se  me  aftas  com  amor  bem  puro, 
Deixa  esses  modos,  que  me  sSo  cruéis. 

Manoel  ie  Macedo» 


Jm. 


30  TROyAIK)R 


LUNDfi 


OS  VADIOS 

Ghraças  aos  céos,  de  vadioB 
As  mas  limpas  estSo, 
'Stá  cheia  d'elles  a  casa 
Chamada  de  oorrecçSo. 


Já  foi-se  o  tempo 
De  mendigar, 
Fora,  vadios, 
VSo  trabalhar. 


Senhor  chefe  da  policia. 
Tem  a  nossa  gratidSo 
Por  mandar  esses  vadios 
P'ra  a  casa  de  oorrecçSo» 


Já  foi-se  o  tempo 
De  mendigar. 
Fora  vadios, 
VSo  trabalhar. 


Bem  exacto  sois,  senhor, 
Por  essa  deliberaçSo, 
Pois  muita  gente  merece 
A  casa  de  correcçSo. 


A 


TROVADOR  31 


MODINHA 


AO  DERRADEIRO  CANTAR  DO  CTSNE. 

Poesia  de  M.  M.,  e  musica  de  J.  Leite 

A  meiga  virgem 
Dos  sonhos  teus. 
Ora  na  terra 
For  ti,  a  Deus. 

Anjo  perdido 
Na  BolidSo, 
Ouve  os  saspiros 
D'am  coraçSol 

Sopro  de  morte 
Gelon-te  o  peito^ 
Tombaste  cedo 
N'am  frio  leito. 

Ango  perdido  —  etc. 

Se  ta  na  vida 
Me  deste  os  cantos, 
Na  morte  escuta 
Meus  tristes  prantos. 

Anjo  perdido  —  etc. 


32 


TROYADOR 

Adens,  ó  bardo,      ~ 
Sonha  commigo, 
Na  ^oite  eterna 
Do  teu  jazigo. 

Aiyo  perdido  —  etc, 


RECITATIYOS 


AKAR-TE 


Amar-te  é  a  acisma  d'este  peito  ardente 
Que  almeja  crente,  ten  amor  também ; 
Amar-te  é  a  vida  que  m'infiltra  n'alma 
A  doce  cahna  que  yentoras  tem. 

Embora  a*8orte  me  comprima  o  peito, 
Em  duro  leito  de  bem  agras  dôres; 
Quero  adorar-te,  assim  mesmo,  virgem, 
K'e8ta  vertigem,  de  um  sentir  de  amores. 


Mas  úl  eu  sei  que  em  ySo  procuro 
No  meu  futuro  descobrir  esp 'ranças; 
Hoje  meu  peito,  de  soffrer  oançado. 
Só  no  passado  vai  colher  lembranças. 


TROVADOR  33 


Lembranças  queridas,  no  verdor  d'oatr'ora| 
Bem  triste  chora,  quem  por  ti  suspira; 
Hoje,  o£Fu8cada8,  só  me  restam  dores, 
Mirrhadas  flores  no  vibrar  da  lyra. 

Qaem  sabe  s'inda  voltarSo  risonhos 
Os  bellos  sonhos  da  estaçSo  florida  I 
Oh!  qoSo  ditosa  me  seria  a  sorte, 
N'este  transporte,  respirando  vida ! 

Ohl  quanto  é  doce  a  esperança  linda 
Que  vive  ainda  entre  o  meu  sofi&er; 
N'ella  sorri-me  tua  imagem  querida, 
£  dá-me  a  vida  para  amar-te  e  crer. 


O  HARTTRIO 


Minh'alma  geme  n'um  atroz  delirío, 
Cruel  martjrio  que  meu  peito  encerra; 
Foi  h'esta  lueta  de  soffirer  cançada 
Que  minha  amada  me  arrojou  á  terra. 

P<yr  essa  virgem  de  meus  sonhos,  linda, 
PaixSo  infinda  me  devora  o  peito ; 
Se  ii'ella  sonho,  quando  estou  dormindo, 
Sinto  sorrindo  a  ventura  ao  leito. 


8 


»^    - 


34  TR07AMR 

.  Porém  aoordo!  e  com  ãòr  immenfii^, 
Amor  6  crença  vejo  ter  perdi4o: 

.  Carpindo  soffro  da  desgraça  o  corte 
Té  vir  a  morte  me  leyar  comsigo. 

De  que  me  serve  o  viver  no  mvndo? 
Sentir  profundo,  oocoitando  n^alma: 
Feliz  lembrança  que  sonhei  oatr'ora 
P'ra  achar  agora  do  martyrio  a  palma. 

Vem  dar-me,  virgem,  tua  mSo  ao  leito, 
Que  ao  teu,  meu  peito,  nunca  foi  traidor : 
Tanta  esperança  que  sonhei,  sem  orime.. 
Só  me  deprime  teu  perdido  amor. 

Oht  nSo  desprezes  meu  sentido  canto, 
Nem  este  pranto  que  derramo  em  vSo... 
Perdoa,  virgem.  •.  meu  soffrer  nZo  vès? 
Eis-me  a  teus  pés  a  te  pedir  perdSo. 


Mi:ih'alma  geme  n'um  atroz  delirio, 
Cruel  martyrio  que  meu  peito  encara; 
Foi  n*eBta  lucta  de  soffirer  cançada 
Que  minha  amada  me  arrojoo.  á  terra. 


\ 


» 


TROYÀIXm  35 


LUNDU 


AS  50TAS  DO  THESOURO  OU  OS  TROCOS  UUSOS 

Poe0ia  do  snr.  J.  M.  C.  Tapinambá,  e  mneica  do  mr.  AryeÚos 

Fngiram  doesta  cidade 
As  notas  de  dez  tostSes, 
Com  medo  dos  parag^ayos  I 
A  culpa  tem-a  os  mandSes. 

Velhos,  tortos,  aleijados^ 
Judeu,  christão  e  mouro, 
Tem  maná  de  frigideira 
Nas  notas  do  thesouro. 

Lá  se  foram  os  miúdos, 
Baban,  senhor  ministro, 
É  preciso  remediar-nos 
N'este  caso  tSo  sinistro. 

Velhos,  tortos — eto« 

Fedesse  de  porta  em  porta 
Qual  esmola  pede  o  pobre, 
NSo  ha  miúdos  para  cinco, 
O  que  ha  é  muito  cobre. 

Velhos,  tortos — etc. 


L 


36  TROVADOR 

NSo  ha  troco  nas  boticas, 
Nas  tabernas,  sapateiros. 
Nos  açougaes  e  logistas, 
Nem  na  mZo  dos  boleeiros* 

Velhos,  tortos — etc. 

Qaem  quizer  ir  ao  thesonro 
Sen  papelinho  sellar, 
Vá  munido  de  miados 
Se  os  tiyer  para  levar. 

Velhos,  tortos — etc. 

N'esta  casa  do  dinheiro 
NZo  ha  trocos- miados. 
Assim  como  a  mim  faltam  " 
Os  peqaenos  e  graados. 

Velhos,  tortos — etc. 

Com  letras  c6r  das  escriptas 
As  notas  do  thesoaro  estSo, 
Nos  annancios  do  Jomol 
Servindo  de  especidaçSo. 

Velhos,  tortos — eto. 

A  nossa  Dona  Policia 
Soa  vista  já  perdea, 
E  cega  no  seu  cantinho 
Esses  annancios  nSo  lea. 

Velhosi  tortos — etc. 


TROVADOR  37 


O  rico  nSo  dá  cavaco, 
Tem  credito,  coroe  fiado, 
lias  o  pobre,  coitadinho, 
É  quem  fica  atropellado. 

Velhos,  tortoa— etc. 

Eu  já  vi  uma  excellenoia, 
Que  tem  muito  dinheiro. 
Vendendo  notas  miúdas 
Na  casa  d'um  banqueiro. 

Velhos,  tortos — eto. 

Excellentissimos  senhores 
Bepresentantes  da  nagSo, 
Tende  piedade  de  nós, 
Para  o  .povo  compaizSo. 

Velhos,  tortos — etc* 

Já  vai  cheirando  mal 
A  tal  historia  de  miúdos, 
A  culpa  é  do  mesmo  povo 
Sustentar  certos  pançudos. 

Velhos,  tortos — etc. 

Choremos,  povo,  choremos 
A  miséria  de  nossa  tenra, 
Que  até  as  notas  miadas 
Voluntárias  foram  á  guerra. 

« 

Velhos,  tortos — etc. 


38  T&OYAPOR 

« 

Vou  mandar  imprimir 
Quinhentos  mil  cariSes, 
Qae  tenham  o  meemo  valor 
Das  notas  de  dez  40Bt3es« 

Velhos,  tortOB — eto. 

Com  elles  eu  voa  abrir 
Uma  casa  de  baaqnmro, 
Com  premio  bem  pequeno 
Heinle  ganhar  inxdto  dinheiro* 

4 

Velhos,  tortos — eto. 

Esta  t9k>  feliz  idéa, 
Parto  da  imaginaçSo^ 
Ha-de  ter  em  outubro 
Um  premio  na  exposiçSo. 

Velhos,  tortoB — etc. 

O  governo  agradecido 
Com  este  serviço  prestado, 
He  ha-de  dar  ama  teteya 
E  uma  pensSo  de  cruzado. 

Velhos,  tortos — eto. 

Fico  rico,  mtiito  nobre: 
O  commercio  penhoradoí 
Com  este  grande  serviço 
Me  faz  logo  deputado. 

Velhos,  tortos, — eto. 


tftt^àBOIt 


89   • 


E  tendo  uma  cadeira 
No  seio  da  representaçBo, 
KSo  custa  ser  senador,  * 
Sou  logo  senhor  barSo.  ' 

Velhos,  tortos — etc. 

Viva,  Viva  o  progresso 
Da  no8í8a  civiiisaçSo, 
Que  um  banco  de  miúdos 
Já  &z — Senador — BarSo. 

Velhos,  tortos  —  etc. 


MODINHAS 


AHEUA 


Para  ser  cantada  pek  musica  da  modinlia—  Trovador 


Ha  três  annòs,  donzella  formosa, 
Qae  meu  peito  por  ti  geme  ardente ! 
Ha  três  annos  que  soffro  torturas 
Com  sorriso  nos  lábios  que  mente! 


J!         ^  .    •_     B-  "f 


40  TROTÀDOR 

Ha  três  annoB,  perdida  a  esperança» 
Vejo  a  yida  tristonha  e  tZo  fria ! 
Men  futuro  parece  um  espectro 
He  apontando  uma  campa  vasia ! 

£  nas  horas  de  triste  abandono    . 
O  passado  contemplo  risonho, 
Procurando  esquecer,  pobre  louco, 
O  presente  tSo  negro  e  medonho ! 

E  lá  Tejo  distante  e  bem  longe, 
Entre  as  brumas  do  tempo  a  yentura» 
Vejo  risos  e  sonhos  de  gloria. 
Tema  crença  de  amor,  doce  e  pura  I 

Vejo  um  mundo  festivo  e  de  encantos. 
Onde  outr'ora  não  fui  peregrino, 
Onde  altares  a  dor  nSo  ostenta, 
Onde  é  tudo  de  amor  temo  hymno! 

Mas  se  os  olhos  eu  volvo  ao  presente, 
Se  de  sonho  bemdito  eu  acordo. 
Vejo  um  mundo  de  crepe  e  de  dores.  •• 
Minha  sina  tSo  triste  recordo ! 

.Flores  murchas,  o  riso  desfeito. 
Pranto  eterno  murchando-me  a  face, 
A  descrença  no  peito  abrazado, 
E  de  gloria  nem  sombra  fugace ! 

Eis.  a  vida  que  eu  passo  na  terra   * 
Ha  bem  tempo,  mulher,  ha  três  annos, 
Sem  achar  no  presente  consolo, 
HlusSes  do  porvir  nos  arcanos  1 


TROVADOR  41 

Ah !  nSo  digas  que  é  pouco !  ó  bem  triste. 
Do  Empyreo  oahir  no  inferno ! .  •  • 
Se  ea  a  ta^a  libei  da  yenturai 
Porque  daes-me,  mulher,  fel  eterno? 

Que  martyríos  cruéis  hei  soffrido  I 
Quantas  noites  tZo  longas,  sem  sómno  t 
Quanto  pranto  yertido  em  silencio! 
Quantos  dias  de  triste  abandono! 

Fui  outr'ora  feliz,  mas  te  vendo. 
Meu  sorriso  troquei  pelo  pranto! 
Ai  remata  os  tormentos  que  soffiro, 
Meu  affecto  recebe  tSo  santo  I 

Bi-te,  anjo,  e  nSo  queiras  que  eu  diga 
Que  um  demónio  perdeu-me  e  fugiu-me, 
Que  os  martyrios  que  soffro,  ha  três  annos, 
SSo  castigos  que  l)eus  infligiu-me! 

Oh !  tem  pena  de  mim,  santo  anjinho  I 
Cumpre  os  mandos  que  tens  do  teu  Deus, 
Alumia  o  caminho  que  trilho. 
Leva  uma  alma  que  é  tua  p'ra  os  céos! 

E  se  um  anjo  se  mancha  e  nodSa 
Os  affectos  mortaes  aceitando, 
Eu  rojado  na  terra  contrito 
Passarei  minha  vida  te  orando ! 


Ou  entSo  d'esse  céo  em  que  adejas 
Bate  as  azas  de  linda  brancura, 
Vem  a  mim  n'este  lodo  da  vida, 
Di-me  um  dia  sequer  de  ventura  I 


42  TMYABOR 

• 

E  depois  para  lá  remoniandoí 
NSo  te  importes  que  o  peito  me  arda^ 
Se  nSo  podes  ser  minha  na  terra, 
Sô  nos  céos  o  mett  anjo  da  guarda ! 

Â.  J.  de  Almeida  e  Sitva  Júnior. 


i  CRUZ  BA  SEPULTURA 


O  pharol  da  minha  vida. 
Já  nSo  brilha,  nSo  dá  luz; 
Meu  viver  é  noite  escura 
Junto  a  uma  negra  onu. 

De  continuo  gemo,  chorO| 
A  saudade  me  tortura, 
NSo  existe  mais  esperança 
Junto  a  uma  sepultura. 

O  sol  que  p'ra  mim  brilhavai 
Promettendo-me  ventura, 
Offuscou^ee  para  sempre 
Juntp  a  uma  sepultum. 

O  amor  que  vos  encanta, 
Qne  aos  viventes  seduz, 
Murchou-lhe  a  flor  da  vidi^ 
Janto  a^uma  negra  crue. 


IMVAMIt  43 


O  anjo  ^0  me  adorava 
A'  dôr  hoje  me  condvz, 
Deixou  o  corpo  sem  akna 
Junto  a  uma  negra  4mz^ 

» 
Infeliz,  que  ignorava 
Ser  amado  com  ternura, 
Hoje  o  amor  só  contempla 
Junto  a  uma  sepultura» 


RECITATIVOS 


QUIZ  FUSm-TE 

Quiz  fugir-te,  Maria  formosa, 
Pra  d'ibnor  nXo  soffrer  o  tormento; 
Quiz  fugir-te,  mulher  seductora. 
Mas  p'ra  isso  fiquei  sem  alento. 

Vi  .teu  rosto  tSo  bello,  tZo  lindo. 
Vi  teus  olhos  com',  tanto  fulgor, 
Vi  teus  lábios  p'ra  mim  se  sorrirem 
Ateando  em  meu  peito  o  amor. 


44  TROVADOR 

Ahl  entSo  já  nSo  pude  fagir-te, 
Eotreg^ei-te  o  meu  coraçSo, 
MaSy  oh !  quanto  ea  foi  infeliz, 
Poíb  foi  yiotima  de  tua  paizZo! 


Porque  tu,  ó  mulher  adorada, 
O  amor  nSo  queres  comprehender, 
Meu  socego  quizeste  roubar 
P'ra  de  pena  fazer-me  morrer ! 


J.  B.  da  Silva. 


AMOR  DO  CÊO 


Poesia  do  snr.  dr.  Kano  Álvaro,  e  musioa  de  A.  J.  Monteiío 


Vivia  triste,  como  as  aves  vivem 
Que  adejam,  longe  na  amplidSo  dos-  mareS| 
Yiyia  triste,  como  vive  o  nauta 
Saudando  a  pátria  de  longinquos  lares. 


Mas,  de  repente,  meu  viver  sombrio, 
'  Luz  vespertina  n'um  luzir  dourou, 
Eu  vi  teus  olhos  derramando  chammas 
E  por  encanto,  meu  solSrer  cessou. 


I 


>* 


I  TROVADOR  45 


Mas  ah!  que  os  olhos  que  revelam  tanto. 
Que  á  luz  da  aurora  mais  brilhantes  sBo, 
KSo  perceberam  no  tremer  dos  lábios 
Dizer-lhes  triste,  não  me  deixem  nSo. 

Âmei-os  muito !  meu  amor  foi  lirio, 
Que  doce  briza  nem  sequer  soprou; 
Foi  doce  nota  d'uma  frauta  agreste 
Que  um  echo  triste  para  o  céo  levou. 


Amei-OB  muito !  meu  amor  perdeu-se 
Além  do  espaço  que  limita  o  céo. 
Acaso  soube  a  andorinha  o  rumo 
Abrindo  as  azas  quando  o  ar  perdeu? 


Acaso  soube  no  passar  das  nuvens, 
Se  os  sentem  só  no  peito  amor? 
Acaso  soube  se  o  perfume  santo 
A  Deus  se  eleva  no  escalar  da  flor? 


Ah!  nSo  duvides  que  esse  amor  tSo  puro 
Como  o  incenso  que  se  eleva  a  Deus, 
Ahi  se  eleve  nos  dourados  sonhos 
Que  sinto  ifei  vezes  nos  delirios  meus. 


46  TROVAOOII  ^ 


jA  houve  TEHPO 


Já  hoaye  tempo  em  que  eu  tinha  riso, 
Flores  n'e8ta  alma  que  o  p]:azer  poUúe; 
Canções  alegres  oomo  as  voses  saatas 

Dos  ledos  pássaros  festejando  o  dia. 

• 

Já  vi  minh'alma  s'expandir  festiya, 
Ao  som  sympathico  d'ama  yoz  divina^ 
Tremer-me  o  corpo  ao  cantacto  meigo 
Da  mSo  macia  de  gentil  domsella. 

Se  tive  sonhos  no  inspirado  craneo... 
A  mente  em  fogo  me  ditou  mil  cantos, 
Que  como  o  incenso  que  p'ra  o  céo  s^elera 
Só  tinha  assumpto  na  mulher  que  amaTa. 

Mas,  hoje,  triste,  já  nSo  tenho  risos 
Nos  lábios  seccos  pela  febre  aguda; 
Só  tenho  lagrimas  no  coraçSo  ferido 
Pelos  espinhos  do  desprezo  adusto. 

Mas,  ^ai  I  que  importa  que  me  cuspa  o  fado 
— O  author  maldito  de  meus  males  todos  — 
Horrores  negros  que  o  Avemo  encerra 
Se  a  uma  ingrata  hei-de  amar  p'ra  sempre? 

Ainda  mesmo  que  odial-a  queira. 
Meu  Deus,  nSo  posso,  que  odiar-te  era! 
Se  um  rosto  lindo  tu  lhe  dar  soubestes 
Porque  uma  alma  lhe  destes  feia?... 


TROVÀDOA  47 

Pennitte,  oh  Deoa,  que  eu  esque^ai  a  ingrata 
Que  esta  existência  vai  mataiado  ao9  poucos; 
Eia,  Senhor,  misericórdia  ao  filho 
Sem  ledos  sonhos,  sem  amorea  santoa ! 


•  •  • 


LUNDfi 


¥ItrA  S.  JOÃO 


Poesia  de  Paula  Brito,  musica  de  um  bahiano 


Rezai,  meninas  sdteiras, 
Ao  santo  da  devoçSo, 
Fez  sempre  mil  milagres 
O  Baptista  S.  João. 

Quem  uma  fogueira 
Não  pôde  saltar, 
N'um  livro  de  sortes 
Brinquedo  ha-de  achar. 


i\ 


-.^»i 


:?! 


48  TROVADOR 

Em  quanto  a  morto  nSo  cKega 
Se  divirta  quem  poder. 
Pois  ninguém  sabe  da  vida 
O  que  DeoB  tem  p'ra  ísLzer. 

> 
Quem  uma  fogueira — etc. 

Cuide  as  casadas  nos  filhos 
Se  elles  inda  s&o  crianças, 
A  solteira  —  coitadinha,^ 
Viva  cheia  d'esperanças. 

Quem  uma  fogueira  —  etc. 

£'  dos  bens  o  bem  mais  ddce 
O  bem  da  religião, 
NSo  é  de  Deus  protegido 
Quem  nSo  reza  a  ,S.  JoSo. 

Quem  uma  fogueira — etc. 


jr^^J 


TROVADOR  49 


MODINHAS 


O  SONHO 

Eu  Bonbei  que  nos  meus  braços 
Docemente  te  apertava, 
Que  em  tens  lábios  minha  vida 
Inteira  se  evaporava. 

Oh  que  prazer  tSo  celeste 
NSo  tive  n'este  sonhar  I 
Se  tal  sonho  fosse  eterno 
Quizera  nunca  acordar. 

Antes  fôra  um  sonho  a  vida; 
Eu  teria  entSo  prazer, 
Que  acordado,  só  eu  vivo, 
N'um  continuo  padecer. 

Ohl  que  prazer — etc. 


VOIt.   T. 


50  TROVADOR 

CASO  DE  AKOR  TiO  FINGIDO 

Caso  de  amor  tSo  fingido 
Ea  já  fiz,  hoje  nSo  £Btço, 
Ea  por  ti  já  dei  a  yida, 
Hoje  nSo  dou  nem  um  passo. 

Bastai  ó  oruel,  já  nSo  posso 
Soffirer  da  sorte  o  rigor, 
Pois  nSo  yês  que  por  ti  padeço 
Lembranças  do  nosso  amor? 

Se  fazes  gosto  em  deizar-me, 
Ninguém  te  príra,  ó  crael. 
Mas  ao  menos  saiba  »  aui&do 
Que  te  fui  sempre  fiel. 

Basta,  ó  cruel,  já  nSo  possp — etc. 

Um  pensamento  de  morte. 
Uma  lembrança  de  amor. 
Uma  esperança  peardBda, 
Eis  o  que  faz  minha  dõr. 

Basta,  ó  cruel,  já  nfto  posso — etc. 

Vem,  ó  lilia,  vem  choiftsa. 
Em  meus  braços  reclinar-te. 
Vem  ouvir  temos  queixumes. 
Quero  tudo  relatar-te. 

Basta,  ó  cruel,  já  nSo  posso — etc. 


TBOVADOR  51 


Vês,  cruel,  quanto  padeço, 
Vê  também  qual  é  meu  fado, 
Vê  que  na  vida  de  amores 
Quem  ama  quer  ser  amado. 


AI,  MEU  BEM,  SE  EU  NÃO  TE  AKO 


Po69Ía  de  F.  M.  M.,  e  maaica  de  J.  B.  de  Oliveira  Costa 


Ah,  meu  bem,  se  eu  nSo  te  amo 
Um  passo  nSo  chegue  a  dar, 
A  mesma  teria  em  que  piso 
NSo  me  queira  sepultar. 

Ah,  meu  bem,  se  eu  nSo  te  amo 
Deus  do  céo  me  nSo  escute, 
Nem  o  sol  me  alumie. 
Nem  a  terra  me  sepulte. 

Ah,  meu  bem,  se  te  nSo  amo 
Seja  um  «nte  sem  rentura, 
As  ondas  do  mar  sanhudo 
Sejam  minha  sepiátum. 

* 
Se  bIo  cprâs  no  que  te  digo 
Tens  aqui  meu  juramento, 
Acharás  teu  nome  escripto 
No  meu  temo  pensamento. 


L 


í 


52  TROVADOR 

Pois  mesmo  depois  de  morto. 
Debaixo  do  &io  chSo, 
Acharás  teu  nome  escripto 
No  mea  temo  ooraçSo. 


RECITATIVOS 


A  FAUSTA 


Vivi  outr'ora  sem  amor,  sem  crença, 
Na  d$r  intensa  de  eternal  pungir! 
Foram-se  os  risos,  me  esqueci  dos  cantos, 
Só  tive  prantos  de  cruel  sentir  !•«. 


QttoZ  rola  afflicta  que  perdeu  o  espoio. 
Vivi  saudoso  a  soluçar  sem  fél... 
Doces  lembranças  que  eu  amei,  coitado  I... 
Nem  no  passado  divisei  de  pé !  •  • . 


Eu  era  a  folha  que  o  tufSo  quebrara, 
Que  além  rojara  e  que  a  seccar  pendeu!... 
N8o  houve  uma  alma  que  entendesse  a  minha, 
— Pobre  avesinha  que  a  gemer  morreu! 


TROVADOR  53 


Era-me  a  vida,  tSo  triatonha,  um  fardo 
Que  eu  pobre  e  tardo  carregava  só ! 
Via  o  presente,  como  a  terra,  escuro ! 
Via  o  futuro  reduzido  a  pó  ! . . . 


E  além  nas  nevqas  de  um  passado  inglório 
Todo  illusorio  o  meu  gozar  findou !  •  •  • 
E  eu  inda  moço  nem  um  riso  tinha, 
— Palma  mesquinha  que  o  soffirer  murchou. 


la-se  a  vida  e  minha  fé  com  ella, 
Formosa  estrella  que  brilhou  uma  vez ! 
£  eu  era  um  velho  no  verdor  dos  annos 
Só  pelos  damnos  que  o  chorar  me  fez ! 


Mas,  como  em  noites  de  cruel  procella 
A  espVança  vela  quem  morreu  cuidou, 
Um  anjo  viu-me  divagar  sem  tino 
£  o  meu  destino  com  amor  mudou. 


Hoje  eu  sou  crente,  meu  futuro  «é  liso. 
Como  um  sorriso  de  criança  á  mSi ! 
Vivo  contente,  me  esqueci  dos  prantos, 
Deram-me  os  cantos  que  o  fruir  só  tem! 


Fausta,  meu  anjo,  te  abençoo  agora, 
Que  o  bardo  chora  d^  feliz  que  é! 
£u  que  era  morto  tive  vida  immensa! 
Pela  descrença  me  outorgaste  a  fé! 


54  TROVADOR 

Ámo!  ea  te  amo,  como  á  crença  o  crente! 
Fausta  innocente,  qae  eternal  firair ! 
Dens,  Bea  affecto  ooneedei-me  eterno ! 
E  venha  o  inferno — morrerei  a  rir  I 

A»  J,  de  Almeida  e  Silva 


TEUS  OLHOS 


Morena,  eti  te  peço,  nSo  volvas  tens  olhos 
Assim  doeste  modo,  gentil,  feiticeiro; 
Oh !  não,  se  nSo  queres, .  ao  vate  abatido 
Vêr  louco  adorando  teu  rosto  faceiro ! 


Oh  nSo,  se  soubesses  com  quanta  magia 
Teus  olhos  attrahem  o  meu  coraçSo, 
De  certo,  morena,  teus  olhos  galantes 
Os  nSo  volverias  com  tanta  expressSlo ! 

« 

Se  meigos  os  fitas  na  rosa  brilhante, 
Que  expande  na  terra,  seu  grato  perfume; 
A  rosa  tSo  bella  se  esconde  medrosa^ 
Teus  olhos  sSo  bellos  que  a  faz  ter  ciúme! 

Se  no  céo  azulado  brilhando  uma  estrella 
Por  ti  é  fitada  meu  anjo — tremendo, 
Desmaia  e  se  esconde  apressada  nas  nuvens, 
Que  olhar  fascinante  1 — a  fugir  vai  dizendo. 


TAOVM)OR  55 

Assim  86  no  vate  este  olhar  perigoso 

•Ta  cravas  sorrindo,  um  momento,  um  instante, 

Coitado,  sem  siso,  a  teus  pés  fascinado 

Liá  yai  abater-se,  oaptiyo,  arquejante !••• 

Morena,  eu  te  peço,  nSo  toItas  teus  olhos 
Assim,  que  me  matas,  me  tiras  o  siso ! .  • . 
Morena,  eu  te  peço,  por  Deus  nSo  sorrias 
Que arrancas-me  a  vida  com  esse  sorriso  !••• 

</•  B.  Marcenal. 


LUNDt 


AS  VELHAS  DA  ÉPOCA 


Ai  que  para  ti  nSo  é 
Desfru&r  n^um  baile  velhas, 
Qual  pastor  entre  rebanhos 
Guardando  suas  ovelhas. 


«Que  risadas  estZo  dando 
Entre  as  portas  escondidas, 
Quem  por  entre  portas  vè 
Estas  scctnas  divertidas! 


56  TROVADOR 


Dançar  a  valsa  a  três  tempos, 
Para  traz  sempre  aos  pulinhos, 
Isso  só  fasem  as  velhas 
Do  tempo  dos  Âffbnsínhos. 

Que  risadas  —  etc. 


Julgam  que  p'ia  bem  dançar 
EUe  e  qualquer  se  arrisca ?••• 
Ora  adeus,  senhoras  velhas, 
VSo  jogar  a  tusa,  a  bisca. 


Que  risadas  —  etc. 

Vêr  aquella,  que  enxofrada 
'Stá  no  canto  de  uma  sala, 
Porque  o  janota  nSo  foi 
P'ra  uma  polka  convidal-a ! 

Que  risadas  —  etc. 


Vêr  uma  tia  baixinha. 
Gorda,  tema,  feita  amante, 
É  cousa  para  fugir      * 
Cem  léguas  d'ella  distante. 


Que  risadas  —  etc. 


VSo  antes  pegar  nas  contas 
£  rezar  dous  Pcuirê^Nossoê, 


TROVADOR  57 


Que  aa  danças  de  hoje  em  dia 
Foram  feitas  para  os  moços. 


Que  risadas  —  ete. 


MODINHAS 


COMO  A  ROSA,  AMOR  DURA  UM  SÕ  DU 


Musioa  de  Raphael  Coelho 


Como  a  rosa,  amor  dura  um  só  dia, 
Ninguém  oreia  nos  votos  d^amor, 
Sois  mimosa,  do  cume  da  gloria 
Precipita  no  abjsmo  da  dôr. 


Só  oomtigo,  no  peito  e  na  «nente, 

E'8  meu  bem,  tu  meu  Deus,  cá  na  terra, 

E'  por  ti  que  meu  peito  palpita, 

£'  em  ti  que  o -mundo  se  enoarra. 


S8  TROVADOR 

Insensato  é  o  homem  qae  pensa 
Gozar  vida  tem  ter  dissabor, 
Temo  amor  qae  ao  prazer  nos  condas, 
Nos  arroja  no  abysmo  da  dôr. 

Já  no  mondo  gozei  mil  Tentaras, 
Fui  feliz,  foi  ditoso  em  amor, 
Hoje  vivo  de  todo  esqaecido 
Sepaltado  no  abysmo  da  dôr. 

Insensato  é  o  joven  qae  pensa 
Ter  amantes  com  ingratidSes, 
Entre  amor  nSo  ha  tyrannia' 
Qae  escravisa  nossos  coraç3es. 

Já  no  mando  gozei  de  ventara, 
Foi  feliz,  fai  ditoso  em  amor, 
Hoje  vhro  de  todo  esqaecido, 
Sepaltado  no  abysmo  da  dôr. 


DESPEITO 

Ea  também  sonhei  yentoras, 
Ea  também  tive  illasSo, 
Amores  dentro  do  peito, 
Fjrazeres  no  coraçSo. 


Mas  hcge  apenas  me  resta 
Tristes  asa  soltos  em  vio. 


TROVADOR  59 


Na  rocha  d»  doBTentura. 
Minha  íIIobSo  se  findou, 
Quanto  amei,  hoje  detesto 
A  mulher  que  me  enganou. 

Detesto  a  vida  que  dia 
Para  sempre  envenenou. 

Viva  embora  mui  feliz 
Essa  mulher  que  adorei, 
Seja-Ihe  o  canto  do  mundo 
O  amor  que  lhe  jurei. 

• 

Seja-Ihe  só  a  lembrança 
Os  beijos  que  n'élla  dei. 

Do  inferno  mSo  abrazada. 
Mil  insultos  violentos 
Imprimam  n'aquellas  faces, 
N'aquelles  lábios  cruentoi^ 


Que  cuspidos  —  nlo  beijados 
NSo  fiiriam  meus  tormentos. 


60  TROVADOR 


SE  A  DESGRAÇA  ME  ACOHPANHA 


Se  a  desgraça  me  aoompanha, 
Minha  sorte  assim  o  quiz; 
Vai-te  emborai  triste  sorte, 
Lá  vem  um  dia  feliz. 


Só  uma  esperança  futura, 
Consoladora,  me  diz 
Que  entre  os  dias  desgrieiçados 
lá  yem  um  dia  feliz. 


De  amar-te  com  firmeza, 
Foi  Toto  que  sempre  fiz ; 
Para  eu  dar-te  mil  abraços. 
Lá  vem  um  dia  feliz. 


RÉCITATIVOS 


MINH'AUIIA  É  TRISTE 


(IMITAÇXO) 


Minli'alma  é  triste  oomo  é  triste  a  filha 
Que  geme  affliota  por  morrer-lhe  o  pai, 
É  triste  como— o  triste  adeus  do  filho 
Que  a  mSi  abraça  e  para  a  guerra  yai. 


TROVADOR  -61 

Minh'alma  é  triste  como  a  voz  do  nauta 
Que  aobre  as  ondas  o  soccorro  implora, 
E  triste  como  pezaroso  pranto 
Da  mSi  querida  que  p'la  filha  chora. 

Minh'alma  é  triste  qual  ranger  dos  gonzos, 
É  triste  como  o  rebentar  da  vaga ; 
inda  é  mais  triiste  que  o  adeus  da  vida 
Da  mSi  que  morre  e  a  filhinha  afaga. 

Minh'alma  é  triste  como  é  triste  a  supplica 
Do  desvalido  que  mendiga  um  pSo; 
Minh'alma  é  triste  como  o  som  do  bronze, 
Núncio  da  morte  de  um  querido  irmlo. 


Minh'alma  é  triste  como  é  triste  a  sortç 
Do  pobre  esposo  que  ao  degredo  vai; 
É  triste  como  triste  é  o  ai  pungente 
Da  infeliz  filha  que  em  deshonra  cahe. 


Cafifè. 


OS  OLHOS  D'ELLA 


Os  olhos  dW2a,  de  fulgor  divino, 
SSo  dous  pharóes  a  reflectirem  n'alma, « 
S^io  vivos  cirios  'd'um  brilhar  sem  fim, 
Luz  que  deslumbra  de  meu  peito  a  calma. 


02 


TEOTADOR 


Ob  olhoB  à*êUa  alo  estraUai  pnnui 
A  indioarem  da  vontium  o  trilh0| 
SBo  fogOB  d'alma  que  ao  brilhar  desâMi 
Ob  geloB  d'aLBM  no  mais  leyie  brilbo. 


Os  oUlob  i^êUa  a  desferirem  ehamíBaa 
SBo  quaea  de  FhdiK)  deataeadoa  raio», 
Banhi^se  o  peito  no  oalor  que  enuôura 
Ao  exprimirem  juvenil  deemaioa» 


Oa  olhoi  à*ella  aSo  de  amor  as  armas 
Que  da  razSo  o  predominio  tolhem^ 
Que  livres  pulsos  tzmiçostros  prendem. 
Que  n'am  lampcgo  mil  trimttphos  ooUmm. 

Os  olhos  d^slla  tem  minValma  presa; 
A  luz  me  foge  se  seu  brilho  vejo; 
Vaoilloy  tremo,  titdbío,  mom 
N'am  gemer  ioaco,  n^nm  tesas  aimciJo. 

• 

Os  olhos  d'sUa  sBo  a  luz  que  expelle 
A  negra  neyoa  que  me  tolda  a  vida, 
Falte^me  a  lua  que  nos  se^s  olhos  brilha, 
Minh'alma  triste  morrerá  descrida. 


Á.  J.  de  JSauia. 


TROViDM  68 


CONSELHO 


PSe  na  virtudei 
Filha  querida, 
De  tua  vida 
Todo  o  primor ; 
NSo  dês  á  sorte 
Que  tanto  illude 
Sem  a  virtude 
Algum  valor. 

Tudo  perece, 
Murcha  a  bellesa, 
Foge  a  riqueza. 
Esfria  o  amor! 
Mas  a  virtude 
Zomba  da  sorte, 
E  até  da  morte 
Disfarça  o  horror. 

Brilha  a  virtude 
Na  vida  pura. 
Qual  na  espesmora 
Do  lirio  a  côr; 
Cultiva  attenáa, 
Filha  mimosa, 
Sempre  viçosa 
TBo  linda  âdr. 


64 


TROVADOR 

t 

Pastor  hamilde, 
Monarcha  ingente, 
Soffire  igualmente 
Destino  austero: 
Mas,  o  yarSo 
Sábio  e  honradoí 
Zomba  do  fado 
Por  mais  severo. 


Honrosos  cargos, 
Titulo,  nobreza, 
É  tudo  presa 
Da  parca  dura; 
Porém,  nSo  finda 
Do  virtuoso 
O  nome  honroso 
Na  sepultura.  . 


MODINHAS 


ALZnU  FORMOSA 


Modinha  bahiaiw 


Alzira  formosa, 
Ventura  foi  vôr-te, 
Segniu-se  o  render-t» 
O  meu  coração. 


▼ot.  ▼. 


TROVADOR  65 

Amor  se  render-me 
Achou  o  motivo, 
Eu  já  sou  captiyo, 
Eu  amo  e  entBo  I  entSo.,. 


Ao  yêr  os  teus  olhos 
Vivos  e  belloB 
Eu  tenho  de  vdl-os 
Maior  ambiçSo. 

Por  mais  que  os  veja 
Não  parte  a  vontade, 
Eu  tenho  saudade 
Eu  amo  e  entSoI  entSo... 


J.  Capistrano  IMU. 


SE  AQUELLA  INGRATA 


Modinha  báhisna 


Se  aquella  ingrata 
Jurasse  ser 
Minha  somente 
Até  morrer; 


> 


66  TROVADOR 

» 

De  ser  meu  bem, 
De  ser  s6  minhA, 
De  0Ó  cominigo 
Virer  jimtÍQlia« « • 
Mas  tu,  tjranna, 
Já  nSo  me  attendes, 
Ao  temo  amante 
Cruel  offendes» 


Mea  peito  Boffre 
Ardente  chamma, 
Amor  me  abraza, 
Amor  me  inâamma. 


A  ella  corro, 
Prazer  exulto, 
Á  minha  amada 
Rendendo  culto; 
£'  quando  esta 
EntSo  me  diz : 
Comtigo,  Jonio, 
Já  sou  feliz. 


OofUbroMUiU^ 


1 


TROlíADOR  67  1 

i 


DMA  VISÃO 


Quando  o  Bomno  me  pesa  nos  olhos, 
Beyoar  sinto  em  tomo  de  mim, 
Vaga  sombra  que  ameiga  os  meus  sonhos, 
Talvez  forma  de  algum  seraphim. 

Toda  a  noite  um  adejo  suare 
Me  acalenta  com  meigo  frescor. 
Vem,  meu  anjo  dos  cilios  retintos, 
Vem  levar-me  nas  azas  de  amor/ 


Passo  a  noite  se  acaso  repouso. 
Sempre  a  yêr-te  nos  meus  sonhos  d'ouro. 
Alva  a  tez,  breve  a  bocca  rosada, 
Sob  o  véo  escondido  um  thesourol 


N'uma  rede  d'encantos  me  prendes 
Com  grinaldas  de  mystico  odor, 
Vem,  meu  anjo  dos  cilios  retintos. 
Vem  levar-me  nas  azas  de  amor. 


Bella  £ada  que  doura  meus  sonhos, 
Que  sjmpathica  a  vida  me  fex  I 
Já  nSo  és  illusSo  mentirosa, 
Eu  te  vejo  acordando  talvez ! 


Bello  anjo  d^uma  aima  celeste, 
Doce  olhar  de  innocencia  e  pudor, 
Vem,  meu  anjo  dos  cilios  retintos, 
Vem-me  dar  teus  extremos  de  amor  I 


68  TROVADOR 


XACARA 


o  QUE  É  AMOR 


do  dr.  i).  J.  G.  Magalh&es,  e  musica  do  «nr.  Btpkiel 


Ta  me  perguntas 
O  que  é  amor? 
Árduo  problema 
He  yens  propor, 
Sublime  thema 
Para  um  doutor  t 
Mas  se  me  dizes 
O  que  é  a  dôr, 
O  que  é  o  frio, 
O  que  é^  calor, 
Dir-te-hei,  oh  bella, 
O  que  é  amor. 

Amor  nSo  soiSBre 
DefiniçSo, 
Sente-«e  o  eflfoíto 
D^essa  padzSo, 
^ue  róe  no  peito 
O  ooraçSo. 


TROVADOR  69 

Sentil-o  posso, 
Dizel-o  nSo, 
É  frio,  é  febre, 
Ê  um  YolcSo; 
É  tudo  a  um  tempo 
Sem  confosSo. 


Amor  é  tado 
Por  modo  tal, 
Qne  eu  nSo  sei  dar-te 
Um  só  signal; 
Para  expUcar-te 
Seu  natural, 
Sei  que  da  vida 
EUe  é  causal: 
Mas  também  mata. 
Também  faz  mal; 
Ora  é  divino. 
Ora  infernal. 


Ora  nos  mostra 
Na  terra  o  céo 
N'um  rosto  lindo 
Como  é  o  teu. 
Quando  dormindo 
Se  volve  ao  meu; 
Ora  em  noss^alma 
Cum  gesto  seu 
O  inferno  embebe; 
Que  mais  sei  eu? 
Amor  é  tudo, 
Ê  um  Protheu. 


70  TROYABOR 

Queres  úm  mdo 
Para  o  saber? 
É  a  quem  te  ama 
Correspomier ; 
A  sua  chamma 
Tu  has^o  vêr    , 
Que  melhor  cousa 
NSo  pôde  haver. 
Correspondido, 
É  tal  prazer, 
Que  mais  os  anjos 
NSo  podem  ter. 


AHITUNÃO  SABESI 


Ah!  tu  nSo  sabes  como  eu  soffi*o,  anjinho! 
Que  duro  espinho  me  atormenta  a  vida, 
Vires  alegre  n'um  viver  de  flores 
E  eu  sofifro  dores  só  por  ti,  querida ! 

Amo-te  muito !  meu  amor  é  tanto, 
Como  esse  pranto  que  me  banha  o  rosto, 
Nas  horas  mortas  de  uma  noite  longa 
Que  mais  alonga  meu  senil  desgosto ! 

Ah !  tu  nSo  sabes  que  poema  ingente 
Soletro  crente  n'este  amor,  querida! 
Vi-te,  adorei-te,  e  a  teu  sorrir,  criança, 
Minha  esperança  renasceu  com  vida ! 


TROVADOR  71 


Amo-te  muito !  sem  te  vêr  nSo  vivo  I 
Abjo  revivo,  se  o  olhar  que  é  teu. 
Paira  na  fronte  do  defunto  andante, 
Sem  fé,  errante,  soluçando  atheu. 

Di-me  um  sorriso  I  viverei  comtigol 
Teu  rosto  amigo  velará  meu  pranto, 
£  quando  a  morte  me  privar  da  vida 
Só  tu,  querida,  esoutarás  meu  canto  I 

Âht  tu  nasceste  para  mim !  sê  minha ! 
Ai\jo  ou  rainha,  sem  amor  não  vivo! 
Ama  o  poeta  que  já  vive  pouco. 
Que  ama-te  louco  e  morrerá  captivo ! 


A.  J.  de  Almeida  e  Siha  Júnior. 


LUNDU 


O  LáSRiO  DO  FRADBSINHO 


O  ladrSo  do  fradesinho. 
Deu  agora  em  confessor. 
Eu  em  confissão  lhe  disse : 
—-Frade,  nSo  quero  teu  amor. 


72  TROVADOR 


Este  amor  nSo  é  meu, 
E  de  Baphaeli 
Qu&ndo  Raphael  f5r 
E  de  quem  quizer; 
Aturai  minhas  raivas, 
Meus  cajundús« 
Apesar  das  oousinlias 
Que  eu  bem  quizer, 
Ai!  me  larga,  diabo. 
Ai!  me  solta,  demónio; 
Diabo  do  frade. 
Que  frade  damnado, 
Me  solta  os  babados. 
Meu  bom  Santo  António. 


EUe  um  dia  me  encontrou 

Lá  na  rua  do  Quvidor, 

Eu  gritando  lhe  disse : 

—  Frade,  n8o  quero  teu  amor. 


•     t 


Este  amor  nSo  é  meu— ^etc. 

Frade,  se  queres  ter  vicio 
Antes  seja  jogador. 
Vai  encommendar  defuntos 
Na  igreja  de  S.  Salvador. 

Este  amor  lAo  é  meu — eto. 


-  .ju 


TROVADOR  •     . 78 


MODINHAS 


QUAL  SALTANTE  PASSARIHHO 

(mODXKHA  BÀStAHA) 

Qual  Baltante  passarinho  % 
Que  apesar  de  preso  oanta, 
E  que  longe  da  consorte 
Sempre  seus  males  espanta; 


Tal  eu  faço  á  Nize  ausente 
De  teus  mimosos  agrados, 
Pois  que  de  muitos  os  brados 
O  mal  minoram  de  um  ente. 


Jo9ê  Joaquim  doã  Beis, 


OHILIUA 

Oh!  lália,  de  ti  distante 
Eu  soffiro  cruel  tormento, 
O  teu  formoso  semblante 
Me  lembra  a  cada  momento* 


74.    *  TRÒTADOR 

Se  o  craçl  fado  oppressor 
Quer  que  eu  passe  aasim  a  vida, 
Se  as  saudades,  pranto  e  dôr 
Só  me  dá  sorte  homicida, 
Eu  quero  a  vida  acabada; 
Adeus,  ó  lilia  adoradJEi, 
Meu  temo  suspiro  aceita: 
Dçixa  louco  a  tua  amada 
Ji  que  teu  amor  rejeita. 

Dise,  6  Lilia  adorada. 
Se  te  nSo  more  o  meu  pranto, 
Tu  zombas  d§i  meus  tormentos, 
Fra  que  me  desprezas  tanto? 

Deu-te  acaso  a  natureza 
Insensivel.  coraç&o, 
Ou  te  deu  tanta  belleza, 
Tanta  graça  e  perfeiçSo, 
P'ra  que  eu  fosse  desgraçado? 
Tira-me  a  lei  de  meu  fado 
Que  me  &z  sempre  infeliz; 
Vou  morrer  abandonado 
Porque  o  fiftdo  e  Lália  o  quiz. 


AS  TERnOKAS  DE  MEUS  AIS 


Seccos  troncos,  dimui  penhas 
Que  em  silencio  me  esoutiKSB, 
Parece  que  estaes  sentindo 
Âb  ternura»  de  meus  ais. 


novÁSMí  7St 


De  sensiyeÍB  os  teus  olhos 
SSo  08  mais  ternos  signaes, 
Pois  repetem  com  ternura 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 

Antes  quero  vêr  meu  peito 
Passado  de  mil  punhaes, . 
Do  que  vèr  escarnecido 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 

Sentem  troncos,  sentem  penhas, 
Sentem  feros  animaes, 
Só  tu,  Marília,  nSo  sentes 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 

Justos  céos,  que  em  negra  sombra 
Meus  queixumes  escutaes. 
Talvez  que  vos  entemejam 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 

Faze,  cruel,  se  é  teu  gosto, 
Ditosos  os  meus  rivaes, 
Dará  mais  gloria  ao  exemplo 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 

Se  o  céo  te  quizer  punir 
Dos  teus  crimes  capitães. 
Pôde  ser  que  abrande  o  céo 
Âs  ternuras  de  meus  ais. 


Se  amor  com  amor  se  paga. 
Anda,  vem,  nSo  tardes  mais, 
Vem  para  vèr  com  ternura 
As  ternuras  de  meus  ais. 


2 


76  TROVADOR 


O  TABERNEIRO 


Marmnrii  o  mundo  que  o  taberneiro 
Ê  ratoneiro  por  vender — toucinhO| 
Seja  rançoso,  seja  bom,  por  preço 
Que  nSo  esqueço^- bem  puxadinho. 

Se  vende  a  carne  por  pataca-  a  libra 
Na  corda  vibra  da  pobreza  humana, 
Que  diz  ser  caro,  sem  saber  se  o  gado 
Após  cortado,  lá  no  peso  engana. 


Se  vende  um  queijo  por  dous  mil  e  cem 
Para  um  vintém  só  de  lucro  haver. 
Dizem  que  o  pobre  taberneiro  honrtido 
É  malcriado  até  no  oflTrecer. 


Quando  elle  julga  estar  mui  descançado. 
Já  reclinado  sobre  o  seu  balcão. 
Lá  entra  o^preto  da  visinha  e  diz : 
<  Nhonhô  Luiz,  m'e8queceu  sabão. » 

Só  vende  á  vista,  e  jamais  fiado 
CafK  torrado  com  feijSo  moido ; 
Também  lá  vende  ao  melhor  freguez 
Por  trinta  reis,  seu  maduro  ardido. 

O  taberneiro  vende  arroz,  farinhas,   . 
Também  sardinhas,  capiléa  e  massas ; 
Vende  presuntos,  marmeladas  finas, 
Paios  em  tinas,  salchichSes  e  passas. 


TROVADOR  77 


t 

Quasi  que  deve  se  chamar  barbeiro 
Âo  taberneiro — pois  que  dá  sangrias, 
As  d'eBte  tomam  as  pessoas  quentes, 
As  d'oatro  algentes — dizer  quero 


FeijSes  que  vende:  amendoim,  cavallo, 
Vejam,  nSo  fallo  no  que  é  mulatinho, 
Pois  se  desejo  dar  um  beijo — é  asneira 
Dal-o  á  torneira  d'um  barril  de  vinho. 


Esta  bebida  é  a  que  dá  conforto. 
Se  é  do  Porto ! — note  bem,  do  velho, 
É  um  regalo.  Depois  da  moaSst, 
Mesmo  a  garrafa  nos  parece  espelho. 


Por  ella  vâ-se  com  pezar  profundo 
Que  todo  o  mundo  p'ra  mentir  nasceu. 
Dizer  o  mesmo  que  o  taberneiro 
É  ratoneiro?... — EUe  diz:  nSo  eu. 


O  taberneiro  é  p'ra  mim  sujeito 
Pio  qual  engeito  o  melhor  bocado, 
Principalmente  quando  elle  -diz : 
Se  é  para  o  Diniz  tudo  dê  fiado. 


Todos  bem  sabem  o  que  é  fiado, 
É  género  dado  p'ra  pagar  depois. 
Com  a  differença  que  no  ir  sommar 
Vem-se  a  pagar  em  vez  de  um  bico — dois. 


Oucdberto  Pêçanha, 


78  TROYia>OR 


Rio  sou  INGRATO 


Quando  tristonho,  taciturno  fujo 
Sem  teu  semblante  seductor  olhar, 
Comtigo  àixeft  siupirando : — Ingrato  1 
Morro  por  elle,  uSo  me  sabe  amar, 

É  que  te  enganas  I  eu  padeço  e  muito, 
Mas  te  consagro  santo  amor  profundo : 
KSo  sou  ingrato;  quero  dar-te  um  culto, 
Mas  em  silencio  sem  que  saiba  o  mundo« 


Sou  mui  cioso;  mas  a  sorte  arara 
Pôde  teus  dotes  me  querer  roubar : 
Diz:  —  da  florinha  que  será — coitada — 
Se  o  ténue  orralho  lhe  vier  faltar  ? .  •  • 


A  vida  agora  sobre  um  chSo  de  flores 
— Rio  de  sonhos  —  deslisando  vai : 
Se  o  sol  crestal-a  n'uma  tarde  amena 
Murcha  de  mimos — sem  aromas  cahe. — 

É  este  o  mundo  que  illude — o  éden 
Que  prende  os  olhos,  nossa  vida  encanta : 
SSo  nossos  sonhos,  festivaes  prazeres, 
Dourada  taça  de  ventura  santa. 

Sonhar  me  àeixA  com  a  mente  em  chammafl 
Em  quanto  a  criança  do  amor  resplende : 
Em  quanto  o  peito  n3o  baqueia  exhausto 
De  encontro'  aos  prantos  que  o  soffirer  accende* 


TROVADOR  19 


Amo-te  mtdto;  mas  eu  temo  ainda 
Que  a  dôr,  que  dorme  n'este  peito  morto. 
Acorde  intensa  por  manhS  de  inTemo, 
EntSo  me  fine  sem  achar  conforto. 


NSo  soa  ingrato !  mas  a  labareda, 
Queimando  o  cedro  que  c^^mpêa  augusto, 
Um  dia  pôde,  levantando  incêndio, 
Queimar  o  débil  pequenino  tajrlMjBto* 

0 

E  se  algum  dia  —  a  padecer — disseres: 
Que  é  d'e68aB  rosas  de  minh'alma  vivas? 
NSo  te  respondo :  o  furacSo  crestou-as 
Aos  toscos  beijos  de  paixões  lascivas. 

NSo  sou  ingrato !  mas  na  primaveia 
Tenho  provado  tantas  amarguras, 
Que  sem  esperança  o  coraçSo  já  velho 
Receia  falias  de  amorosas  juras. 

I     • 

% 

Antes  tem  pena  do  soffirer  do  vate 

Que  outr'ora  a  vid&  lhe  correu  bem  BBansa ; 

O  peito  gasto  é  um  jardim  estéril 

Onde  nSo  modra  luminosa  esperança. 

Eu  me  arreceio  de  dizer*te,  virgem, 
Que  te  consagro  santo  amor  profundo. 
.  NSo  sou  ingrato !  quero  dar-te  um  culto. 
Mas  em  silencio,  sem  que  o  saiba  o  mundo. 

S.  Paal^f-1866. 

Qratviino  CoMo, 


é 


80  TROVADOR 


LUNDt 


EU  Rio  CMrare  dk  outro  ahor 


Londú  babiano  pelo  padre  Telles. 


Ea  nSo  gosto  de  outro  amor 
Qae  nto  seja  amor  de  ci, 
É  amor  jnaito  gostoso 
Amor  de  minha  sinhá. 


Seus  afiectos,  seus  quindins 
Enfeitiçam  o  mundo  inteiiO| 
Faz  escravos  homens  sérios 
O  terno  amor  brazileiro. 


Eu  zombei  por  largo  tempo 
De  seus  laços,  suas  prisSes; 
Eu  zombei  do  captiveiro 
Dos  mais  temos  ooraçSes. 


N&o  mais  quiz  o  deus  do  amor 
Consentir  a  zombaria, 
Pois  ao  yêr  certos  olhinhos 
Fez-me  preso  n'esse  dia. 


TROVADOR  81 


Ninguém  pois  deve  zombar 
D'eB86  amor  tão  feiticeiro. 
Quando  julga  que  está  livre 
E  o  mais  prisioneiro. 

,É  conselho  de  quem  ama 
Certos  olhinhos  de  cá: 
£fectos,  quindins,  requebros, 
Só  08  de  minha  sinhá. 


MODINHAS 


OS  MEUS  AMORES 


Tu  és  um  anjo  na  terra 
E  no  céo  um  seraphim, 
Dos  prados  a  bella  flor, 
E's  a  rosa  do  jardim. 


E'8  o  lustre  que  clarêas 
O  mais  escuro  salão. 
Das  damas  formoso  typo. 
Dos  homens  a  perdição. 


VOL.   V. 


82  TROVADOR 

Das  jarras  a  linda  flor, 
Dos  canteiros  o  alecrim, 
Tu  és  um  anjo  na  terra, 
E  no  céo  um  s^raphim  I 


QUANDO  EU  MORRER,  CHOREM  TODOS  MINHA  MORTB 


Para  ser  cantada  oom  a  rnuBÍca  da  modinha —  (iuando  eu  morrer 

ninguém  choire  a  minha  morte 


Quando  eu  morrer,  chorem  todos  minha  morte, 
Cerquem  meus  amigos  o  meu  leito, 
Mas  arrastem  essa  ingrata  bem  p'ra  longe. 
Pois  nSo  quero  o  contacto  de  seu  peito. 


Tudo  desejo,  muitas  flores  em  meu  tumulo^ 
Immensa  gente  junta  ao  corpo  do  finado, 
Mas  n&o  ella,  inda  que  me  traga  a  yida, 
Escondam  meu  cadáver  ji  gelado. 


Deixem  minha  pobre  mSi  verter  sen  pranto, 
Cerquem-a  de  tudo  quanto  amei, 
E  que  n'esses  amoros  de  volúpia 
Ella  chore  o  retrato  que  lhe  dei. 


TROVADOR  83 


A  meu  pai — (escusado  é  fallar  n'elle) 
Deixou-me  no  mando  ignorado  e  triste, 
Hoje  d'elie  nSo  me  resta  ama  lembrança 
TTma  só  lagrima  em  meos  olhos  nSo  existe. 


Nada  mais  quero,  chorem  todos  minha  morte, 
Cerquem  meãs  «amigos  o  meu  leito, 
Ifos  arrastem  essa  ingrata  bem  para  longe, 
Pois  nSo  quero  o  contacto  de  seu  peito. 


A  MULHER 


Poesia  do  sor.  Guedes  Jonior,  e  musica  do  smr.  Calado  Jonior 


A  mulher,  esse  dragSo  da  humanidade 
Que  a  obra  mais  perfeita  maculou, 
N8o  é  dado  do  crime  abstrahir-se, 
Pois  ferrete  feital  a  indigitou. 


O  bondoso  e  incauto  homem 
Vai  á  mulher  agradar. 
Mas  a  cruel,  fementida, 
Duro  fel  lhe  faz  tragar. 


i^. 


84 


TROVADOR 


I 

A  mulher  quando  ostenta  seuB  carinhos 
É  p'ra  o  homem  arrojar  á  negra  dôr, 
E  elle  tão  benigno,  tSo  improvido, 
Cada  vez  lhe  consagra  mais  amor. 


O  bondoso  e  incauto  homem  —  etc. 


A  mulher  quando  diz  amar  o  homem 
É  com  o  fim  de  executar  a  &lsidade, 
E  se  d'isto  se  preserva  algumas  vezes 
NSo  é  por  lhe  ter  grande  amizade. 


O  bondoso  e  incauto  homem — eto. 


A  mulher  tem  o  attributo  da  maldade 
Que  muitas  vezes  se  divisa  em  seu  semblante, 
1^  sempre  procurando  o  atroz  embuste 
Vai  alfim  apunhalar  o  peito  amante ! . . . 


O  bondoso  e  incauto  homem — etc. 


A  mulher  sempre  tem  em  sua  mente 
O  desejo  do  artificio  e  da  ilkisSo, 
Ella  vai  atraiçoar  o  incauto  homem 
Quando  mesmo  lhe  o£ferece  a  sua  mSo !.. 


O  bondoso  e  incauto  homem  —  etc. 


TROVADOR  85 


A  mulher  inda  dotada  de  bondade 
Sempre  tem  o  caracter  de  perjura, 
£'  condição  da  qual  nunca  se  afasta 
SenSo  quando  intervém  a  parca  dura  I  • . 

O  bondoso  e  incauto  homem — etc. 


TRISTES  SUDADES 


Modinha  bahiana,  por  Dami&o  Barbosa 


De  saudade  lastimosa 
Que  persegue  amantes  peitos, 
Eu  soffro  n'esta  alma  afflicta 
Os  cruéis  duros  effeitos. 


Quem  dera  me  ouvisse 
Alguém  de  ternura. 
Que  meigo  escutasse 
A  minha  amargura! 


Tristes  saudades  padecem 
Peitos  a  amor  sujeitos, 
Conheço  por  experiência 
Os  cruéis,  duros  effeitos. 


Quem  dera  me  ouvisse — etc. 


8C 


TROVADOR 


Ciames,  ais  ii2o  conheeem 
Peitos  a  vigor  afeitos, 
Pois  quem  ama  é  qaem  sente 
Os  crueisi  duros  effeltos. 


QuQpi  dera  me  ouvisse — eto. 


AOLDAR 


Era  no  estio  quando  a  sombra  tua 
Pallida  á  lua — tão  formosa  eu  vi; 
N'esse  teu  rosto  tSo  fulgente  e  bello 
Um  doce  anhelo — vi  raiar  p*ra  mi ! 


EntSo  eu  presa  de  vertige'  ardente 
Cabi  tremente — a  teus  pés,  ó  virgem: 
Tu  te  sorriste  para  mim  a  eito 
E  no  meu  peito  —  vi  de  amor  a  orígemi 


Desde  esse  instante  de  amoroso  enleio 
Eu  no  teu  seio — me  reviver  senti; 
Lembras-te,  6  anjo,  que  luar  fazia? 
Que  poesia — contemplar-te,  bouri! 


TROVADOR  87 


Oh !  bem  te  lembra,  minha  TÍrgem  bella, 
Que  arage'  aqaella  saspirara  alli; 
Era  no  estio  quando  a  sombra  toa 
Pallidi^'á  loa — tSo  formosa  vi!.,. 


O  OPULENTO 


Eil-o  que  passa  nos  seus  trexis  CaustosoS) 
Ébrio  das  pompas  que  a  riqueza  dá, 
Solta  dos  olhos  um  olhar  d'afironta, 
Ligeiro  roda  e  nem  se  avista  já. 


Insulto,  escândalo  á  miséria  extrema 
Que  ás  portas. do  infeliz  bate  só, 
Vive  em  penúria,  se  é  viver  a  vida 
Eivada  sempre  de  martyrio  e  dó. 


Por  altas  noites  em  salSes  dourados 
Se  agitam  danças  de  um  folgar  sem  fim, 
E  o  rico  mostra  esplendor  que  ostenta 
Ornatos  próprios  de  um  real  festim. 


Soam  descantes  e  harmonias  soam 
Que  infiltram  n'alma  a  languidez  d'amor, 
E  entre  os  folguedos  que  de  véos  se  rasgam^ 
Celestes  véos  de  virginal  pudor! 


88  TROVADOR 

E  as  noites  voam,  furtivas,  ledas 
Entre  as  delicias  que  ventura  tem, 
E  aos  sons  festivos  que  ao  prazer  convida 
Li  vSo  saudosas  murmurando  além. 


Às  mesmas  horas  quantas  famílias  gemem 
Tragando  o  cálix  d'amargoso  fel, 
A  quantos  crimes  não  arrasta  a  fome 
Com  seus  tormentos  de  um  pungir  cruel! 


Triste  viuva  que  vivia  pobre 
Luctando  em  balde  contra  acerba  dôr, 
Vendeu  as  filhas  ao  brilhar  da  infâmia, 
Cedeu  ao  crime.  Santo  Deus,  que  horror! 


Sobre  as  escadas  de  um  mosteiro  antigo 
Que  a  lua  esmalta  com  saudosa  luz, 
Dous  orphSosinhos  sem  um  tecto  aò  menos 
Á  sombra  dormem  do  velar  da  cruz. 


Honra4o  artista  sobre  um  leito  humilde 
Cahe  sem  alento  que  não  pôde  mais, 
Trabalha  sempre  na  miséria  immerso 
P'ra  soffrer  penas  no  porvir  fallazJ 


Velho  soldado  que  ao  bradar  da  pátria 
Vertera  o  sangue  no  calor  da  acção, 
Vergonha,  opprobrio,  maldição  eterna 
Hoje  esquecido  1&  mendigam  pão ! 


« 


TROVADOR  89 


  casta  virgem  á  penúria  cede ; 
Do  erro  ao  crime  só  um  passo  vai, 
Era  hontem  pura,  criminosa  hoje, 
ÁmanhS  perdida  nas  orgias  cahe. 


E  o  rico  folga  nos  saraus  luzidos 
Sorrindo  a  todos  com  um  sorrir  mordaz, 
E  o  rico  baldo  aos  sentimentos  nobres 
Seu  ouro  esgota  no  prazer  fallaz. 

Só  nSo  tem  ouro  p'ra  valer  ao  pobre, 
Só  não  tem  ouro  p'ra  calar  a  dôr, 
Só  nSo  tem  ouro  p'ra  salvar  a  virgem 
Dos  torpes  laços  de  um  mentido  amor. 

Homens  ditosos  que  folgaes  no  luxo, 
Vergai  á  dôr,  á  compaixão  vergai, 
E  os  agros  prantos  de  jnartyrio  e  sangue 
Nos  baços  olhos  do  infeliz  seccai. 

Dai-lhe  o  sobejo  d^essas  mesas  lautas 
Que  as  mais  das  vezes  arrojaes  ao  chSo, 
Folgai  embora,  mas  roubai  á  fome 
Tantas  famílias  que  mendigam  pSo. 


00  TROVADOR 


LUNDU 


KiO  AMO  AOS  GOSTOS  DOS  VAIS 


Que  86  importa  o  mando  ínjiuito 
Com  meus  suspiros  e  ais? 
Nio  doa  satisfaçSo  ao  mondo, 
Nlo  amo  aos  gostos  dos  mais. 

Hei-de  segair 
Meu  coraçZo, 
Embora  o  mundo 
Diga  que  nSo. 

Dizem  que  eu  tenho  mau  gosto, 
Me  dSo  razões  taes  e  quaes; 
Nilo  dou  satisfaçSo  ao  mundo, 
NSo  amo  aos  gostos  dos  mais* 

Hei-de  seguir — etC 


Uns  dizem  que  ella  é  feia 
Outros,  tamandoais; 
NSo  dou  satisfaçSo  ao  mundo, 
NSo  amo  aos  gostos  dos  mais. 

Hei-de  seguir — etc. 


TROVADOR  9t 

í 

A  PERPETUA 


Vinde,  pârpçtaa,  babitar 
Junto  d'68te  peito  men; 
Vinde  mitigar  as  dôrea 
Que  um  amor  me  concedeu. 


Vinde,  perpetua,  apressada 
Junto  a  meu  peito  habitar; 
Vinde  estas  dores  sem  fim 
Com  tua  imagem  findar. 


Perpetua,  tu  só  vieste 
Gravor-me  uma  esperança; 
Comtigo  veio  a  saudade 
Confirmar  nossa  alliança. 


Descança,  perpetua  pura, 
No  meu  peito,  até  que  um  dia 
Essa  esperança  que  traases 
Do  hymeneu  seja  alegria. 


92  TaoviJ)j>R 


O  PRISIONEIRO 


Ai!  captivo,  tSo  moço  "nvendo 
N^este  fort^,  no  mar  sem  ningaem, 
Cada  dia  te  espero  gemendo 
Como  e»pero  ser  livre  também. 


Bainha  das  ondas,  na  barca  ligeira, 
Aos  echos  cantando ^dirige-te  ao  mar; 
SSo  doces  os  ventos,  a  onda  é  fagueira 
E  o  céo  é  sem  nuvens,  tu  podes  vQgar. 


Doestas  aguas  altanas  tão  bellas, 
E  teu  seio  que  lindo  que  está ! 
TSo  suave,  quem  sopra-te  a  vela? 
Meiga  briza,  ou  amor?  quem  será? 


Bainha  das  ondas  —  etc. 


Tu,  esperança,  m'inunda  este  peito! 
Ai  I  se  queres  d'aqui  me  arrancar, 
Eu  te  sigo,  a  ventura  eu  aceito, 
Quero  Uvre  outras  plagas  pisar. 


Bainha  das  ondas  —  etc. 


TROVADOR  93 


Porque  paras?  a  dôr  que  me  cança 
Despertou-te  este  pranto  p'ra  mim? 
Semelhante  á  fugace  esj^rança 
Ai  I  oie  foges,  e  eu  vivo  inda  assim  I 


Bainha  das  ondas  —  etc. 


Enganou^me  illusBo  tSo  querida  1 
Mas  que  vejo?  m'estendes  a  mão? 
Astro  amigo  que  prendes-me  a  vida, 
AmanhS  seguirei  teu  clarão. 


Rainha  das  ondas — etc. 


SAUDADE,  FUGI  DE  HIM 


Saudade,  fugi  de  mim, 
Levai  comvosco  os  pezares, 
Vede  que  minha  Marília 
NSo  pisa  mais  estes  lares. 


FoÍHse  o  prazer, 
Foi-se  a  ventura; 
Debalde  lucto 
Contra  a  amargura. 


94  raavADOR 

Por  acinte  do  destino 
Qae  folga  com  meus  penares^ 
Veio  a  mini,  foi-se  tSo  oedO| 
NXo  piaa  mab  eetea  laree. 


Foi-se  o  prazer, 
Foi-se  a  ventura; 
Debalde  lacto 
Contra  a  amargara. 


ATinVINEA 


Ai  de  mim,  triste  viava 
Na  pobreza  abandonada; 
Já  n&o  tenho  meu  marido, 
Ai  de  mim,  triste  coitada. 


Passo  dias  entre  angustias 
N'uma  triste  solidSo ; 
Minha  sorte  foi-me'  avara. 
Só  em  mim  sinto  paixSo. 


Meu  trajar  sSo  vestes  tristes, 
Oh  I  meu  Bens,  Deus  de  bondade : 
Meu  viver  fel  amargoso. 
De  mim  tende  piedade. 


TROVADOR  95 


Tenho  em  mim  oruel  tristeza, 
Já  nSo  gozo  um  bó  prazer ; 
Ji  nSo  tenho  pai  nem  mSi| 
Só  me  resta  hoje  morrer. 


Carpindo  janto  ao  sepnlchro 
Os  restos  do  meu  amor; 
Sinto  no  peito  conTolso 
Soffocar-lhe  horrenda  dõr. 


Ohl  morte,  porque  nSo  vens 
Meus  tristes  dias  findar? 
Vinde,  por  Deus,  eu  te  peço, 
A  campa  quero  baixar. 


Ai  de  mim,  triste  viaya 
Na  pobreza  abondonada; 
Já  nSo  tenho  meu  marido, 
Ai  de  mim,  triste  ooitada. 


96 


TROVADOR 


COMO  EU  AHEI 


Amei  as  flores  qae  me  ornaram  o  berço. 
Amei  os  cantos  d'ama  mSi  querida; 
Amei  a  virgem  que  aqueceu-me  o  culto, 
Amei  o  anjo  que  me  deu  a  vida. 

Amei  do  lirio  a  candidez  tSo  pura. 
Amei  da  harpa  o  sentido  harpejo, 
Amei  as  flores  que  se  inclinam  tristes, 
Amei  da  virgem  o  ardente  beijo. 

Amei  da  rola  a  tristonha  queixa, 
Amei  sorrindo  o  nascer  d^aurora; 
Amei  o  lago  todo  crespo  ao  vento. 
Amei  a  bocca  que  be^ei  outr'ora. 


Amei  das  salas  o  trajar  e  galas. 
Amei  os  risos,  os  festSes,  as  flores. 
Amei  a  orchestra  que  morria  em  ais. 
Amei  da  morte  seus  cruéis  horrores. 


Amei  a  gloria,  com  loucura  e  anciã. 
Amei  da  taça  o  calor  do  vinho. 
Amei  o  oollo  que  aqueceu-me  a  fronte, 
Amei  das  matas  o  gentil  pombinho. 


Amei  do  piano  o  correr  de  uns  dedos, 
Amei  da  estrada  o  ancião  curvado. 
Amei  da  vida  o  sorrir  fingido, 
Amei  do  jogo  o  cahir  do  dado. 


TR0VAD6R  97 


Amei  do  orpliSo  a  sentida  preoe, 
Amei  da  noiva  a  corõa  pura, 
Amei  dos  bailes  o  rodar  da  valsa, 
Amei  aa  letras  d'ama  sepultura. 


Amei  a  tocha  accei|iy^ao  morto, 
Amei  dos  lábios  a  fl^BÍSo  da  morte, 
Amei  do  morto  o  contrahir  das  fisioes, 
Amei  do  preso  o  carpir  da  sorte*         , 


Amei  do  pobre  o  esfarrapado  manto, 
Amei  da  lua  a  brilhante  luz, 
Amei  a  flauta  que  em  trinados  morre, 
Amei  o  martyr  que  morreu  na  cruz. 

Amei  das  vagas  o  chorar  sentido. 
Amei  de  Deus  o  poder  tSo  forte; 
Amei  ao  lirio  debruçado  ao  longe, 
Amei  a  virgem  que  me  deu  a  morte  I 


J.  M.  Mancebo. 


JULIETA 


Tu  és  a  estrella  fulgurante  e  bella  . 
Da  noite  immensa  doesta  vida  incerta. 
És  08  meus  sonhos,  a  ^^sSo  bemdita 
De  encantos  divos  e  de  luz  coberta. 

VOL.   V. 


98  TROVADOR 

E  entSo  do  peito  no  segredo  eu  guardo 
Teu  nome  santo — festival  relíquia. 
Teu  rosto  meigo  me  acompanha  sempre, 
Anjo  bemdito  que  ao  poeta  guia. 


Vejo-te  ás  vezes  e  meu  a|H|k  augmenta, 
Mais  este  fogo  me  consoiJ^HHia, 
Soffiro  martyrios,  os  espinno^rescem 
D'esta  exist«noia  na  mirrada  palma. 

Âmo-te  muito  I  minhas  mSos  nas  tuas 
Tremem  tocando  n'uma  chamma  ardendo, 
Se  os  olhos  fito  nos  teus  olhos  n^ros, 
Digo  um  poema  que  só  eu  compreendo  1 

Anjo  formoso  que  eu  adoro  a  medo 
Id'lo  bemdito  do  meu  culto  santo, 
Um  pensamento  para  mim  que  sofit), 
Dar-te-hei  a  vida,  meu  amor,  meu  pranto. 


E  quando  inerte  repousar  p'ra  sempre 
Na  campa  fria  que  o  viver  consome, 
Passa  em  meus  sonhos  festival,  sorrindo, 
E  eu  morto  mesmo  bemdirei  teu  nome* 


A.  J.  de  Alrneida  e  Silva  Juntar. 


TROVADOR  99 


LUNDU 


É  BEM  BOM,  NÃO  DOE  NEM  NADA 


Minha.  dÔGe  yáyásinha 
Quando  esti  todu  enJadacU) 
Dá  pancadinhas  na  g^nte.,^ 
É  bem  bom,  n3o  dóe  nem  nada. 


Gosto  d'ella 
Só  por  isso, 
Que  a  pancada 
Tem  feitiço. 


Às  yezes  bulo  com  ella 
Para  vâl-a  amofinada, 
Dá-me  e.  •  •  puxa-me  os  oabellos, 
É  bem  bom,  não  dóe  nem  nada. 


Gosto  d'ella 
Só  por  isso, 
Que  o  enfado 
Tem  feitiço. 


100  TROVADOR 


Hontem  brícando  oom  ella 
Pregou-me  uma  dentada, 
Clamei-lhe  mesmo  ferido : 
Ê  bem  bom,  nío  dde  nem  nada. 


GoBtp  d'ella 
Só  por  ÍMo, 
Que  a  dentada 
Tem  feitiço. 


Um  dia  dando-ihe  nm  beijo 
PSz-me  a  lingoa  ensangaentada, 
Entio  me  rindo  lhe  diaae : 
É  bem  bom,  nlo  dóe  nem  nada. 


Qo0to  d'ella 
Só  por  iaaOy 
Qne  Bens  modoA 
Tem  feitiço. 


TROVADOR  lOi 


MODINHAS 


FOI  POR  mH,  FOI  PELA  SORTE 


Foi  por  mim,  foi  pela  sorte 
Minha  desgraça  tecida, 
Soa,  ó  oéos  I  bem  desgraçado, 
Nem  morro,  nem  tenho  vida. 

Por  nXo  ter  nm  desengano 
Da  minha  Mareia  qnerida, 
Viro  em  contipaa  afflicçSo, 
Nem  morro,  nein  tenho  vida. 

Do  ciúme  abrasador 
Viye  est'alma  combatida, 
N'esta  lacta  desastrosa, 
Nem  monro,  nem  tenho  vida. 

Só  da  fera  desventura 
Ê  minh'alma  perseguida; 
Ah  I  mentiu-me  o  duro  fado, 
Nem  morro,  nem  tenho  vida* 


0 


\ 


102  TROVADOR 


AI  DE  mH 

» 

Poesia  do  sor.  iDnocencio  Rego,  e  muâca  do  snr.  Joaé  J.  Âlvei 

Gemendo  em  ySo  minha  dôr, 
Mil  suspiros  Yoa  soltar; 
Consumo  as»im  minha  TÍd» 
Triste  pranto  a  derramar ! 

Âi  de  mim!  eis  meti  yive^, 
Suspirar  até  morrer. 

Aquella  que  eu  tanto  adoro 
Menospreza  o  meu  amor, 
Deixa-me  assim  ir  penando 
SolEErendo  cruetita  d6r! 


Ai  de  mim !  eis  meu  viver, 
Suspirar  até  morrer. 

Victima  da  desventura, 
Soffrerei  a  minha  sorte, 
Deixarei  de  padecer 
Quando  emfim  vier  a  morte ! 


Ai  de  mim  I  eis  meu  viver, 
Suspirar  Até  morrer. 


TROVADOR  i03 


NOSSA  HÃI 


Ama  o  bardo  seus  cantos,  seus  sonhos, 
Como  pôde  nap  terra  se  amar, 
Passam  annos,  já  velho,  infeliz, 
Nem  dos  sonhos  já  quer-se  lembrar. 

Doces  phrases  d'amor  mutuamente 
Os  amantes  só  sabem  jurar; 
Mas  o  tempo,  a  distancia,  a  ausência 
Tudo  pôde  essas  juras  quebrar. 

Cresce  a  flor  junto  á  margem  do  rio 
E  perfumes  só  quer  exhalar ; 
Nós  amamos  a  flor  quando  é  bella, 
Desprezamos  se  a  vemos  murchar. 


Mas  o  tempo,  a  distancia,  não  podem 
De  uma  mSi,  o  amor  acabar; 
Minha  mSi,  eu  vos  amo  na  terra 
Como  a  Deus  lá  no  céo  hei-de  amar.' 


Este  amor  nem  a  morte  cruel 
Poderá  em  minh'alma  acabar; 
Se  na  vida  vos  sagro  meu  peito 
Junto  á  campa  irá  elle  estalar. 

Ha-de  o  tempo,  a  distancia,  a  ausência. 
Doeste  amor  doce  laço  estreitar; 
Minha  mSi,  eu  vos  amo  na  terra 
Como  a  Deus  lá  no  céo  hei-de  amar. 


I 


i 


104  TROVADOR 


\ 


CANÇiO 


A  INFELIZ 


Já  meu  bem  desceu  á  tumba, 
Descança  na  fria  lagem, 
S6  o  verde-negro  cypreate 
Lhe  rende  triste  homenagem. 


Os  jasmins,  saudades,  lirios, 
Tudo  o  tufSo  dispersou ; 
Apenas  um  triste  goivo 
Com  o  meu  pranto  brotou. 


Vem  terminar  os  meus  dias, 
Oh!  parca!  querida  amigit; 
Depois,  orvalha  meu  tumulo; 
Meus  ossos  frios  abriga. 


E  tu,  ó  lua  fÍBigueira, 
Nas  noites  tristes  de  múo, 
Te  rogo,  por  piedade, 
Do  tua  luz  —  um  só  raio. 


TROVADOR  105 


RECIT4TIV0S 


O  PERDÃO 


Se  eu  fôra  um  cuidado,  quizera  affligir-te, 
Se  eu  fôra  a  saudade,  quizera  ralar-te, 
Se  eu  fora  um  punhal,  quizera  ferir-te, 
Se  eu  fôra  um  veneno,  quizera  matar-te. 

Se  eu  fôra  uma  dôr,  quizera  doer-te. 
Se  eu  fôra  o  abysmo,  quizera  sumir-te. 
Se  eu  fôra  uma  cobra,  quizera  morder-te. 
Se  eu  fôra  um  voicSo,  quizera  engulir-te. 

Se  eu  fôra  o  remorso,  quizera  roer-te, 
Se  eu  fôra  o  demónio,  quizera  tentar-te, 
Se  «u  fôra  um  malvado,  quizera  perder-te, 
Se  eu  fôra  uma  fera,  quizera  tragar-te. 

Mas  ah !  qu^eu  nSo  sou  nem  punhal,  nem  veneno. 
Nem  cobra,  demónio,  remorso,  cuidado, 
NSo  sou  a  saudade,  nem  fera,  nem  dôr, 
Volclto  eu  nSo  sou,  abysmo,  malvado. 

Sou  homem  que  teme  de  Deus  o  poder, 
Que  d'um  miserável  tem  dó,  compaixKo, 
PerdÔo-te  00  males  que  tu  me  fizeste, 
E  tudo  perdoo,  porque  sou  christSo. 


106  TROVADOR 


LUIZ 


(Do  drama  do  mesmo  titulo) 


Como  o  ribeiro,  que  desdobra  rápido, 
Ama  da  estrella  o  scintillar  inquieto, 
Axno  teus  olhos,  que  no  fogo  tímido 
Vem  reflectir-se  no  sonhar  dilecto. 


Como  na  praia  do  areal  um  átomo 
Am&  das  ondas  o  partir  nevado, 
Ámo  teus  risos  que  desoobrem  pendas 
Dormindo  em  l6ito  de  setim  rosado. 


Como  dos  ramos  no  arquejar  monótono 
Ama  a  avesinha,  balouçai^-se  i  briza, 
Amei  teu  seio,  no  palpite  languido, 
Quando  a  meu  seio  te  prendia,  Elisa. 

E  como  o  bardo,  no  sonhar  phantastico. 
Ama  a  lembrança,  que  levou  da  festa, 
Adoro  o  sonho,  que  desparie  bálsamos^ 
Amo  a  saudade^  que  de  ti  me  resta. 


'Ernesto  Oíbrio. 


TROVADOR  ' 101 


TOTÓ  DE  AMIZADE 


Raiou  o  dia  em  que  a  virgindade 
De  uma  deidade, — branco  véo  cingiu 
Sorrindo  alegre  eil-'a  pressurosa. 
Meiga  e  ditosa  sua  tez  cobriu* 


Hoje  que  um  canto  de  meus  lábios  pende, 
Que  minha  voz  fende,  embalsamando  o  ar, 
Sinto  n^esta  alma  um  prazer  ingente, 
Que  de  contente  nSo  posso  ocoultar. 

Feliz  teu  passo  seja  no  universo.  •• 
Que  eu  possa  em  verso  teu  viver  cantar, 
Q'inda  uma  flõr  mimosa  e  innocente 
Da  fraca  mente  te  possa  ofiertar. 

Feliz,  feliz  teu  novo  estado  seja. . . 
Que  a  fjEilsa  inveja,  nSo  ouse  manchar. 
Sempre  em  teu  lar,  seja  a  paz  amiga 
Que  sempre  siga  teu  feliz  trilhar. 

NSo  vês  a  pompa,  o  luxo  e  o  brilho 
Simples,  mas  filho  do  amor  mais  puro, 
SSo  incentivos,  que  guardar  nSo  deve 
Quem  te  prescreve,  uílci  feliz  filturo. 

É  dom  que  ha  muito,  no  peito  encerrado 
Bem  conservado,  só  agora  sahe... 
Qual  pura  essência,  que  ha  mui  guardada 
Mas  derramada  na  amplidão  se  esvai. 


106  THOYADOR 

■ 

NSo  Têa  aqui  o  grapo  encantador 
Qae  BÓ  o  amor  por  ti,  aqui  o  óhama? 
SSo  incentívos  que  ninguém  occulta, 
Que  BÓ  se  escuta,  quando  só  se  ama. 

Ibculta  pois  também,  felii  esposa, 
Minha  mente  ousa,  a  ti  yersos  &zer, 
Faltos  de  lógica,  porém  nSo  rimados, 
SSo  siinples  dados,  d'um  fraco  saber. 


Aceita  o  £ructo  d'um  fraco  talento 
N'este  momento  é  o  prazer  quem  falia, 
V  NSo  é  fingido  mas  sim  verdadeiro, 

Pois  é  o  primeiro  que  meu  peito  exhala. 


Kl 


P.  B.  C. 


LUNDU 


POL  ASSm  o  SEU  AMOR 


Foi  assim  o  seu  amor, 
Como  a  onda  elle  passou, 
Foi  esperança  de  um  dia 
Que  o  desengano  matou. 


f 
TROVADOR  109 


Foi  assim  o  seu  amor, 
Dúbio  brilhar  d'ama  estrella, 
Em  céo  escuro  e  turvado, 
VSo  capricho  de  uma  bella  I 


Foi  assim  o  seu  amor, 
ExhalaçSo  venenosa 
De  uma  fldr  que  simulava 
Ser  innocente  e  mimosa. 


MODINHAS 


N'E8TE  SmO,  QUANDO  A  NOITE 


N'este  sitio,  quando  a  noite 
E'  da  morte  uma  exprèssSo, 
O  silencio  se  perturba, 
Solta  um  ai  meu  coraçSo. 


V 


Foi  assim  o  seu  amor, 

Infiel,  mentida  jura. 

Promessa  que  fôra  santa  -^ 

Se  a  fizesse  um'alma  pura.  ^'^ 


^ 

^ 


ij 


fio  TROVADOR 

Volta  suspiro  a  meu  peito 
Ou  nos  ares  vai  morroF, 
Quero  em  miiili'alma  esoonder 
Meu  amor,  núnha  paizio» 

Quando  á  noite  a  natures&a 
Parece  nSo  ter  acç80| 
Por  violência  de  amor 
Solta  um  ai  meu  ooraçSo. 

Volta  suspiro  a  meu  peito 
Ou  nos  ares  vai  morrer. 
Quero  em  minh'aima  esconder 
Meu  amor,  minha  paixSo. 


O  DESALENTADO 


NSo  me  importa  do  baile  o  bulioio, 
Nem  da  orchestra  sonora  harmonia; 
NSo  me  importa  que  um  peito  descrente 
Já  nSo  sente  do  mundo  alegria. 

Já  nSo  sente  do  mundo  finigído ; 
Só  deseja  viver  esquecido. 

Se  na  valsa  acham  4mtrQs  ventura 
Que  as  tristezas  lhe  faça  eaqueoor; 
Eu  só  acho  mudanas  lembranças 
D^um  eterno  e  pungente  aoffirer. 


TROVADOR  111 


Ai!  tSo  joven,  as  crenças  perdi. 

Deixo  o  mundo,  p'ra  eilé  morri. 

• 

Ea  no  baile  só  vejo  mentira 
Proferida  por  bocoa  enganosa, 
Quanta  dama  ao  findar  tuna  valsa 
NSo  se  julga  p'ra  sempre  ditosa ! 

Eu  nSo  creio  nas  juras  mentidas^ 
Que  se  tomam  em  breve  esquecidaa. 

N'essas  galas  que  as  bellas  adornam 
Já  nSo  vejo  senSo  seducçSes ; 
SSo  ornatos  que  a  ellas  só  servem 
P'ra  attrahir  e  prender  coraçSes* 

CoraçSes  inexpertos  que  esquecem 
Que  essas  galas  em  casa  fenecem. 


Essas  festas  que  oiiir'ora  eu  amava 
Quero  d'ellas  agora  fioigir ; 
Que  m'importa  prazeres  do  mundo, 
Se  eu  nSo  quero  taes  gozos  fruir? 


Fujo  ao  mundo  em  que  eó  aobo  d6f 
Em  retomo  de  um  cândido  amor. 


m  TROVADOR 


COHO  Ê  ISÉIÍO  DA  DOHZEU/ 


Nova  modinha  para  ser  cantada  na  mnâca  —  São  cmmet  i^mma 

ingrata 


Como  é  bello  da  donzella 
Ouvir  £Etllar  docemente. 
Quando  prostra-ee  a  seus  péa 
Triste  infeliz  padecente ! 


Como  é  bello  da  donzella 
  pureza  e  castidade; 
Como  é  bello  a  donzella 
Ter  em  tudo  lealdade ! 


'Como  é  bello  da  donzella 
Seu  pésinho  delicadO| 
Seu  andar  tSo  feiticeiro 
Que  oaptiTa  ao  deagraçadol 


Como  é  bello  da  donzella 
Seu  trajar  com  singeleza, 
Ser  mui  casta  e  virtuosa, 
Ter  em  tudo  só  nobreza ! 


Como  é  bello  a  donzella, 
Ser  em  tudo  virtuosa. 
Do  Senhor  ser  crente  filha 
Padecente  e  carinhosa! 


TROVADOR  413 


É  mais  beUo  do  qae  tudo, 
N^este  inundo  indifferente; 
Vêr  de  um  ai\]o  dôce  riso 
Casto,  poro,  e  innocentel 


Adeodato  Sócrates  de  Mello. 


BECITATIVOS 


SAUDADES 


No  cimo  dos  montes,  ao  som  da  corrente 
Que  a  lua  tremente  prateia  ao  fulgir, 
Que  horas  eu  passo — scismando,  soismando 
E  ás  sombras  fallando  que  vejo  suigir  I 


Agora  no  encosto  da  penha  escalvada 
Diviso  estampada  de  negro  uma  cruz ; 
E  tu,  junto  d'ella,  pousar  vagarosa. 
Oh  I  virgefoi  formosa,  banhada  de  luz  t 

Depois  de  joelhos,  os  lábios  agitas, 
E  tremes,  palpitas,  pedindo  ao  Senhor; 
Talvez  me  converta  da  vida  os  espinhos 
Em  brandos  carinhos,  em  sonhos  d'amor ! 

VOL.  V.  8 


lii  TROVADOR 

Immoyel  oatr'(Mra  na  plag»  deserta 
Eu  vejo-te  incerta,  celeste  visXo, 
Cruzando  teus  braços  no  seio  tZo  belio 
E  o  negro  cabello  rojando  no  ohZo. 

Ao  brilho  dos  astros,  da  briza  ao  alento, 
Ao  vago  lamento  do  rio  a  chorar, 
Eu  ouço-te  e  yejo-te,  ó  cândida  imagem, 
Do  bosque  a  folhagem  passando  agitar. 

De  ti  separado — que  fundo  martyrio! 
Eu  sinto  em  delirio  qu^esta  alma  s^esvai; 
E  quero  do  exilio,  na  dôr  que  me  opprime, 
Um  grito  sublime  tnandar-te  n'um  ai ! 

Agora  que  a  lua  parece  que  a  medo 
A  faoe  em  segredo  saudosa  escondeu ; 
Eu  juro  que  a  morte  nSo  pôde  apartar-nos 
E  havemos  amar-nos  na  terra  e  no  oéo ! 


Augusto  Emilio  Zabiar, 


6  HEiaA  VIRGU 


O'  meiga  virgem  divinal,  querida, 
Tem  pena,  escuta  meu  crud  soffirer, 
Vem  aos  meos  braços  alentar  a  crença 
D 'um  peito  exangue,  que  só  £sz — gemer. 


j 


TROVADOR  li5 

Qne  tem  que  o  mando  te  maldiga  e  zombe  í 

Se  dar- te  eu  posso  meu  amof  ardente? 
Qae  vai  escarneos  89m  razXo  d'um  louco, 
Que  vai  eeus  cantos,  seu  sorrir  demente? 


Que  vai  promessas  d'um  gozar  mfindo 
S'em  breve  as  juras  tu  virás  quebrar? 
Só  ama  o  bardo  que  deseja  encantoa 
Um  dia  ao  menos  bem  feliz  gozar. 


Só  ama  a  briza  quando  yom  saudosa 
Beijar  mansinha  divinaes  madeixas; 
Só  ama  a  vaga,  que  bramindo  á  praia 
Entrega  aos  ventos  gemebundas  queixas. 


Só  ama  o  céo  a  pallidez  da  flor 
Que  pende  á  tarde  quando  o  aol  é  forte; 
Que  mesmo  secca  nos  jardins  perdida, 
Manda  o  orvalho  prantear-lhe  a  morte. 


Só  ama  o  triste  que  viveu  no  mundo 
Santa  lembrança  que  murchou  no  peito, 
ifió  ama  o  crente  que  desceu  ao  nada 
A  cruz  gelada  do  marmóreo  leito. 


NSo  dês  ao  mundo  teu  amor  ditoso 

Nem  tantos  sonhos  que  febril  de^qo, 

Q'eu  quero  dar-te  bem- feliz,  a  sós. 

Na  lyra — um  canto, —  no  teu  eoUouu  be^o. 


Mello  Moraêê,  filho. 


116  TROVADOR 


LUNDU 


DIZEH  QUE  SOU  BORBOLETA 


Dizem  que  sou  borboleta, 
No  amar  sou  bandoleiro, 
A  culpa  tem  quem  me  forja 
Os  ferros  do  tuiptiveiro. 


NSo  posso  yêr  moça  bella 
Sem  amor  me  titilar, 
Sou  feito  de  carne  e  osso, 
Por  força  me  hei-de  dobrar. 


Se  ha  moças  que  vibram 
Olhar  tSo  ardente, 
Que  o  peito  da  gente 

Queimando, 

Cortando, 

Rasgando^ 
Lá  dentro  nos  vlo 
Ácoender  a  paixSo; 
O  mais  insensível 
Por  bem  ou  por  mal 
Terá  sorte  igual: 


TROVADOR 

Amará, 

Gemerá, 

Se  verá 
Captivo  por  fim ; 
Eu  cá  penso  assim. 


117 


Se  vejo  moça  corada, 
Fico  de  amoir  abrazado; 
Moça  pallida  e  romântica 
P3e-me  todo  derrotado. 


  moreninha  me  encanta, 
Me  derrete,  me  maltrata. 
Me  envenena,  me  enfeitiça^ 
Me  fere,  me  abraza  e  mata. 


Por  todas  eu  sinto 
O  meu  coração 
De  gosto  e  paixSo' 

Ferido, 

Perdido, 

Rendido, 
Aos  ferros  exposto ; 
Por  gloria  e  por  gosto^ 
O  mais  insensivel. 
Por  bem  ou  por  mal. 
Terá  sorte  igual : 

Amará, 

Gemerá, 

Se  verá 
Captivo  por  fim ; 
Eu  cá  penso  assim. 


118  TROVADOR 

011x06  negroB  e  travessos 
SZo  p'ra  mim  seitas  de  amor; 
Os  azues  matam  a  gente, 
Requebrados  com  langor. 

Sejam  grandes  ou  pequenos^ 
Ardentes,  ternos  ou  não, 
Todos  elles  me  repuxam 
Suspiros  do  coraçSo. 

Olhinhos  hei  visto, 
Eu  bem  sei  de  quem, 
Que  tal  força  tem, 

Que  enleiam, 

Chasquoiam 

E  ateiam 
Voraz  fogo  ardente 
No  peito  da  gente. 
O  mais  inusensivel,  * 

Por  bem  ou  por  mal, 
•  Terá  sorte  igual : 

Amará, 

Gemerá, 

Se  verá 
Captívo  por  fim ; 
Eu  cá  penso  assim. 

Nlo  sei  o  que  é  ter  orgulho 
De-  constância  ou  de  firmeza; 
Eu  só  me  orgulho  de  amar 
A  toda  e  qualquer  belleza. 

Quando  estou  junto  daa  moças 
Meus  olhos  sSo  de  tarracha. 


TROVADOR  H% 


Meu  coraçSo  é  trapichfe^ 
Tenlio  alma  de  borracha. 


N'tun  dia,  n'am'hora, 
No  mesmo  lugar, 
Eu  gosto  de  amar 

Quarenta, 

Cincoenta, 

Sessenta. 
Se  mil  forem  bellas, 
Amar  todas  ellaf. 
O  mais  insensivel, 
Por  bem  ou  por  mal, 
Terá  sorte  igual : 

Amará, 

Gemerá, 

Se  verá 
Oaptivo  por  fim; 
Eu  cá  penso  assim. 


MODINHAS 


DE  UVBE  QUE  SEMPRE  FUI 

De  livre  que  sempre  fui 
Hoje  escravo  me  tornei; 
O  amor  sujeita  a  tudo 
Âo  rigor  de  sua  lei. 


i 


120  TROVADOR 

Inda  quá  preso 
ÂOB  olhos  teus, 
>  Do8  aotos  meus 
NSo  sou  senhor; 
Fica-me  a  gloria 
De  ser  vencido, 
De  ser  ferido 
Pór  teu  amor. 


QUEM  ÉS  TUI 


Poesia  de  Mello  Moraes,  filho,  e  musica  de  S.  Ro» 


Quem  és  tu  que  vens  á  noite 
Tristesinho  aqui  scismar, 
Fugindo  de  tantas  galas 
Que  o  mundo  pôde  offertar? 


Serás  nota  harmoniosa 
D'uma  Ijra  de  crystal, 
Transformada  n'um  ai^inho 
Dormindo  n'um  tremedal? 


És  £Etda  ^ue  no  silencio 
  tempestade  domina, 
Trajando  nas  azas  brancas 
^A  meiga  luz  matutina? 


TROVADOR  121 


Ou  dos  meus  sonhos  ardentes 
£'b  o  sêr  encantador 
Que  vens  dourar  meu  futuro 
Aos  beijos  do  teu  amor? 

NSo !  és  orphS !  no  silencio 
Buscas  aqui  te  abrigar; 
Quando  nos  finda  a  ventura 
E'  nosso  allivio  chorar! 


E's  a  crença !  és  a  saudade, 
A  muda  expressão  da  dor ! 
linda  per'la  descravada 
Do  throno  azul  do  Senhor ! 


A  HORA  QUE  TE  NÃO  VEJO 


Poesia  de  Magalhães,  e  musica  de  C.  Ignacio  da  Silva 


A  hora  que  te  não  vejo 
E'p'ra  mim  hora  perdida; 
Se  eu  vivo  só  a  teu  lado 
Como  é  curta  a  minha  vida ! 


Que  vida  d^instantes, 
Que  breve  existência, 
Que  noites  de  angustias 
Passadas  na  ausência! 


I 

^ 


122  TROYÁJX>R 

DepoU  que  te  dei  minh'alma 
Só  vivo  am'hora  no  dia, 
Mas  hoje  nem  gozar  pude 
Um  momento  de  alegria. 

Qae  vida  d^instantes — etc. 


Só,  oh  Sihda,  nos  teus  braços, 
Do  mundo  todo  esquecido, 
Poderei  gozar  n'um'hora 
Da  ausência  o  tempo  perdido. 


Que  vida  d^instantes — etc. 


VniO  DO  CfiO  CÁ  NA  TERRA 


VisSo  do  céo  cá  íia  terra, 
Encanto,  fada  ou  mulher, 
As  tuas  chammas  de  amor 
Abmzar  meu  peito  quer. 


Mulher,  se  tu  és  do  céo. 
Para  que  na  terra  vieste  habitar? 
NAo  sabes  que  ci  n'este  mundo 
Todos  h2o-de  te  amar. 


TROYADOR  ÍÍS 

m 

Todos  0BO  sensiyeifl) 
HSo-de  te  adorar? 
Porém,  oh !  Lilia, 
E'  natural 
Que  só  os  anjos 
A  ti  sejam  igual. 

Mulher,  sonho  ou  realidade, 
De  Deus  philtro  ou  enoantOi 
As  tuas  divinas  formas 
Envolve  divino  manto. 


RECITATIVOS  . 


O  POBRE 


De  porta  em  porta,  sobre  lentos  passos, 
Acompanhado  dos  filhinhos  seus, 
Bil-o  que  brada  tendo  os  olhos  baços : 
«Esmola!  esmola!  pelo  amor  de  Deus!» 

E  como  a  briza  na  amplidão  dos  ares 
A  voz  do  pobre  se  perdendo  vai ! 
Ninguém  responde  —  e  com  seus  pezares 
O  pobre  segue — desprendendo  um  —  ai! 


M 


124  TROVADOR 

jBsmola!  esmola!  n'outra  porta  implora; 
For  ella  espera  de  chapéo  na  mSo; 
Mas  em  resposta  se  lhe  diz :  < Agora 
«O  Deus  dos  céos  o  favoreça,  irmSoh 

£  o  coitadinho  seu  caminho  segue, 
Envergonhado  de  pedir  assim !••• 
Quasi  recua — mas  os  olhos  ergue, 
Contempla  os  filhos  —  e  prosegue  alfim ! 

O  dia  inteiro  no  pedir  se  passa, 
E'  raro  aquelle  que  um  vintém  lhe  dá. 
Depois  recolhe-se  á  morada  escassa 
Onde  soccorios  que  esperar  não  ha ! 

E  quando  a  estreUa  da  featiya  aurora, 
Enfeita  os  valles  c^os  primores  seus, 
Eil-o  coitado!  que  outra  vez  implora, 
Esmola !  esmola !  pelo  amor  de  Deus ! 

E  como  a  briza  na  amplidão  dos  ares 
A  voz  do  pobre  se  perdendo  vai ! 
Ninguém  responde  —  e  com  seus  pezares 
O  pobre  segue  —  desprendendo  um  —  ai! 

Ferreira  Nwei- 


\ 


TROVADOR  1S5 


LACRIMOSA 


Lacrimosas,  tristes,  de  meu  peito  as  vozes, 
Já  sem  consolo  se  concentram  n'alma.  •  • 
Perdida  a  esp'rança,  sem  faturo  e  crenças, 
Meu  Deus!  a  morte!  p'ra  ventara  e  calma. .. 

Meu  Deus !  a  morte !  Se  o  morrer  é  pena, 
Quero  soíFrel-a ! « .  •  Que  castigo  ameno !  •  •  • 
Se  a  vida  encaro,  que  torturas  sinto !  •  •  • 
Se  a  morte  eu  vejo,  minka  dor  sereno,  • . 

Se  a  morte  eu  vejo,  se  esquecer  eu  penso 
Intensas  dores,  afflicçSes,  tormentos, 
Presinto  alliyio,  que  a  desgraça  affironta.  •  • 
Mas  breve  passam  tSo  subtis-momentosl.*. 

Mas  breve  passam  n'um  scismar  de  enganos 
Caros  instantes  em  que  vejo  a  morte !  • . . 
Voltam-me  as  horas^e  um  viver  de  prantos, 
De  dor  profunda  no  teimar  da  sorte  1  •  •  • 

De  dôr  profunda,  que  nSLo  mais  se  extingue. 
De  um  condemnado  por  fatal  sentença !  • .  • 
Em  vão  supplíco  —  compaixão,  clemência.  •• 
E'  minha  sina  —  confessar  descrença  I  •  •  • 

E'  minha  sina  —  divagar  no  mundo 
Como  a  barquinha  que  perdeu  seu  leme  I  •  • . 
Que  sobre  as  rocbas  impellida  bate, 
Lucta  com  as  ondas  do  oceano  infrene !  • . . 


It6  noTiLiKW 

Lacta  com  as  ondas  como  ea  lacto  em  balde 
Com  mil  misérias,  sem  parar  sem  fim  I,.. 
Nem  mais  um  riso,  nem  sequer  um  liso 
Na  tçrra;  os  homens,  inda  tem  pr'a  mim!... 


Na  terra  os  homens,  que  subir  desejam 
Degraus  do  rico,  portentoso  e  nobre, 
Ji  sobre  o  pindo,  no  viver  das  honras 
Klo* baixam  olhos  pr'a  pensar  no  pobz« !... 


NSo  baixam  olhos — ao  degrau  primeiro 
Em  que  o  pedinte  se  maldiz  sentado ! . . . 
Ehn  vZo  supplica !  • . .  Se  a  justiça  mostxa, 
Fica-lhe  apenas — :0  prazer...  coitado!... 


Fica-lhe  apenas  —  consciência  pura, 
Crença  infinita — que  a  virtude  é — nada!.. 
E,  sem  arrimo,  a  mendigar  favores 
Calca  os  espinhos  de  cruenta  estrada ! .  • . 


Calca  os  espinhos  maldizendo  a  tudo, 
Té  mesmo  ás  vozes  da  razSo  sensata, 
Que  vai  ao  pobre — do  saber — os  fóros?. 
Do  pobre  as  letras — é  o  amor  que  mata! 


Do  pobre  as  letras,  a  moral,  os  dotea 
Slo  &lso6  brilhos  de  fallaz  thesouro, 
E'  sábio  aqoelle  que  possuo  fortunas, 
Que  as  letras  Croça  por  moedas  d'ouro! . . 


TROVADOR  127 

Lacrimosas,  tristes,  de  meu  peito  as  vozes 
Já  sem  consolo  se  conceutram  n'alma! 
Perdida  a  espVança,  sem  futuro  e  crenças, 
Meu  Deus !  a  morte !  p'ra  ventura  e  calma !  • . . 

Júlio  César  Isal. 


LUNDC 


A  QUITANDEIRA 


Meu  querido  yÕjôsinliOi 
Eu  sou  filha  dalBahia, 
Forque  passa  sem  comprar 
Um  figo  ou  melancia? 

Sõ  jôyô,  porque  quando  passa 
Os  olhos  quebra  pVa  mim? 
Olhe,  yô-yô,  p'ra  quebranto 
Tenho  figa  de  marfim. 

m 

Yôyô  me  compre  uma  fruta 
Que  eu  tenho  no  taboleiro, 
Pegue  n'ella,  meu  yõyô, 
Pegue,  ands^  tome  o  cheiro. 


128  TROVADOR 

Tenho  também  uma  fruta 
Que  yôyô  ha-de  gostar, 
Mas  também  se  elia  quiser 
Muito  caro  ha-de  pagar. 


Veja  como  ella  está 
Bonitinha  e  tKo  inchada, 
E'  escorregar  com  os  cobree 
E  dê  lá  sua  dentada. 


EntSo  gostou,  maganão? 
Isso  mesmo  eu  dizia. 
Já  rê  que  as  frutas  gostosas 
SSo  aa  que  vem  da  Bahia. 


MODINHAS 


EU  VI  UM  SABIÁ  CANTANDO 


Musica  do  BDi.  J.  S.  Arvellos 


Eu  vi  um  sabiá  cantando 
N'um  ramo,  terno  e  sósinho. 
Cantava,  porque  não  via 
A  sua  bellesa  no  ninho. 


j 


TROVADOR 


12Í 


Ai  I  ai !  ai !  ai  I 
O  oéos  que  dõrl 
Quem  pôde  viver  alegre 
Ausente  de  seu  amor? 


Eu  vi  um  sabiá  cantando 
E  um  rouxinol  também : 
Um  canta  e  outro  responde 
Triste  cousa  é  querer  bem. 


Ail  ai!  ai!  ail — etc. 

Ninguém  nos  pôde  privar 
D'este  nosso  amor  tão  fortOi 
Cá  n'este  mundo  só  Deus, 
Depois  de  Deus  só  a  morte. 

Ai!  ai!  ai!  ail — eto. 

* 
Adeus,  ó  bella  menina, 

De  ti  me  vou  apartar, 

A  coroa  que  nos  prende 

Nos  quer  hoje  separar. 

Ail  ail  ai!  ail — eto« 


VOL.   ▼. 


|99  TBÚlIMm 


A  ESTATUA  DA  DOR 


Poeda  da  Tapinambá,  e  musiea  do  anr.  J.  S.  Ârvdlofl 


Se  soubesses,  cim»  El▼iJe|^ 
Quanto  sofiOre  o  oorftçSo, 
Que  te  amo  com  ardor 
Nlesta  triste  solidXo; 


Se  soubesses  como  viro 
Dia  e  noite  a  gemer, 
Sem  crença  doesta  rida, 
N'e8te  ermo  a  padecer; 


Como  eu  tenho  saudades 
De  ti,  minha  querida, 
Lnperio  de  minValmA, 
Pharol  de  minha  yidft; 


Como  eu  desejo  findar 
A  vida,  assim  tBo  dum, 
Que  só  pôde  lenàliTe 
Buscar  na  sepultura; 


Sentirias  no  peito  a  dôr 
D^essa  tua  ingratidSo, 
E  os  mudos  lábios  teus 
Haviam  de  pedir  perdSo. 


fROYADOlt  iSI 


UH  SORRISO 


Poesia  do  enr.  P.  Á.  Brito,  e  musica  da  modinha — S»  quiisera 

ser  eterna 


Em  teus  lábios  de  carmim 
Um  doce  riso  pairoa, 
E  mvèuL  ãkma  vftdllttiite 
Por  teu  sorriso  fifeou! 


Dize,  mulher  adorada^ 
Porqae  assim  te  sorriste? 
Falia  n'essa  voz  de  aiijó 
O  que  no  peito  sentiste! 


Seria  um  riso  maligno  ? 
De  ódio  ou  de  piedade? ••• 
Mas  teus  lábios  se  tingiram 
D'enoantos  da  Divindade ! .  •  • 


Seria  um  riso  innoeenie 
Que  p'ra  ti  veio  de  Deus?... 
Mas  teu  seio  era  agitado 
E  nSo  pensavas  nos  céos !  •  •  • 


Falia  para  que  aa  morra  I 
O  que  por  H  se  passou ?••. 
Seria  um  raio  d'amor 
Que  de  tua  alma* escapou ?..• 


(32  TBOYADOR 

Se  o  foi,  entSo  com  arro]ibo8 
Eu  saúdo  o  teu  sorriso*.* 
Ea  saúdo  a  chave  d'ouro 
Que  me  abre  o  paraiso !  •  •  • 


ACABOU-SE  08  MEUS  TORIEIITOS 


N'esta  grata  cavernosa 
Vem-se  esconder  os  mortaes, 
Fiquem  n^elia  sepultados 
Os  meus  derradeiros  ais* 


Âoaboa-se  os  meus  tormentoSi 
Já  soffirer  nlo  posso  mais. 

Rades  penhas  insensiveis 
Que  a  tempos  desafiaes, 
Eistalareis  escutando 
Os  meus  derradeiros  ais. 

Aoabou-se  os  metis  tormentoSi 
Já  soffrer  nSo  posso  miús. 


Correntes  no  ar'  suspensas 
Que  este  meu  pranto  abrigaes^ 
AfoguemHBO  em  vossas  aguas 
Os  meus  derradeiros  aitf • 


TROVADOR  133 


Aoabou-se  ob  meoB  tormentOB, 
Ji  BoSrer  nSo  posso  mais. 

E  tu  que  foste  modelo 
De  muitos  peitos  leaes^^ 
Beoebe  na  campa  fria 
Os  meus  derradeiros  ais. 


Acabou-se  os  meus  tormentos, 
Já  sofirer  nSo  posso  mais. 


RECITATIVOS 


DESCRENÇA 

O  oalor  do  fogo  ou — da  chamma  ardente 

Que  a  alma  sente  incendiar-se  tanto, 

E  como  o  raio  que  fíilminit  e  mata, 

E  o  amor  da  ingrata  se  converte  em  pranto! 

Mas,  ai !  de  mim,  se  maldigo  a  sorte. 
Se  até  da  morte  hei  zombado  crente  !••• 
Qa'importa  embora  qne  humilhada  viva, 
Se  a  dôr  Ih^activa  um  viver  pungente? !••• 

Se  busco  ás  vezes  da  mulher  perjura 
Sonhar  ventura  que  gozei  outr'ora. 
Eu  sinto  n'alma  um  desejo  immenso 
IVum  fogo  intenso  abrazar-me  agora!».. 


ÂBsim  o  ódio  reboatendo  em  cluuiuna, 
Qae  mais  8'ínfl«iama  n'a]n  totm  ddlirio.  • . 
Viver  só  quero  alentando  a  vida. 
Na  fé  perdida  que  me  deu  martjrio... 

E  porqae  cKoraB?  me  dirás  tranquilla^ 
Tens  amor? — eu  a  vida,  um  despresso  e  di!..» 
Mas,  ail  de  ti...  infernal  vampiro, 
Se  da  morte  o  tiro  converter-te  em  pó ! 


Embora  eu  sinta  a  paixBo  ardente 
Queimar-me  a  mente  eom  mentidas  juras, 
Direi-te  «empre  que  nSo  creio  n^ellas, 
SSo  todas  ellas,  por  demais  perjuras. 

E  quando  alfim  já  na  tumba  fina 

A  morte  um  dia  te  roubar  a  vida, 

Tu  dirás  tremula :^i^ Que  korror!  meu  Deus! 

SSo  peccados  meus !  já  estou  perdida ! 

« 
J0S0  da  8ílv9ira  Sampaio  Jmiiat. 


O  TAOABUHDO 


Eu  durmo  e  vivo  ao  sol  como  um  oigauQ 
Fumando  o  meu  cigarro  vi^roso; 
Nas  noites  de  verSo  namoro  estrellas, 
Sou  pobre,  soa  mendigo,  e  sou  ditoso ! 


THOVAIIOR  i85 


Ando  roto,  sem  YkAèob  nom  dinheiro; 
Mas  tenho  na  viola  uma  riqueza: 
Canto  á  loa  de  noite  serenatas, 
E  quem  yive  de  amor  nSo  tem  fohtetá. 


NSo  invejo  ninguém,  nem  ouço  a  i'aiva 

Nas  cavernas  do  peitO|  suffocanté 

Quando  i  noite  nas  trevas  em  mim  se  Miomam ' 

Os  reflexos  do  baile  fascinante. 


Namoro  e  sou  feliz  nos  meus  amores. 
Sou  garboso  e  rapaz.  • .  Uma  criada 
Abrazada  de  amor  por  um  soneto 
Já  um  beijo  me  deu  subindo  a  escada,  •• 


Oito  dias  li  vSo  que  ando  scismando 
Na  donzella  que  alli  defronte  mora, 
Ella  ao  vêr-me  sorri  tão  docemente ! 
Desconfio  que  a  moça  me  namora !••• 


Tenho  por  meu  palácio  as  longas  ruas. 
Passeio  a  gosto  e  durmo  sem  temores; 
Quando  bebo,  sou  rei  como  um  poeta, 
E  o  vinho  &z  sonhar  com  os  amores. 


O  degrau  das  igrejas  é  meit  ihrono, 
Minha  pátria  é  o  venio  que  respiro, 
Minha  mSi  é  a  loa  madllenta, 
E  a  preguiça  a  mulher  por  quem  sugpiro. 


136  TROVADOR 

Escrevo  na  parede  as  miahas  rimas, 
De  painéis  a  oarvSo  adorno  a  roa ; 
Como  as  aves  do  céo  e  as  flores  puras 
Abro  meu  peito  ao  sol  e  durmo  i  lua. 

Sinto-me  um  coraçSo  de  lazzaroni ; 
Sou  filho  do  calor,  odeio  o  frio ; 
NXo  creio  no  diabo  nem  nos  santos.  •  • 
Reso  a  Nossa  Senhora,  e  sou  vadio ! 

Ora,  se  por  ahi  alguma  bella 
Bem  dourada  e  amante  da  preguiça. 
Quiser  a  nivea  mSo  unir  á  minha 
Ha-de  achar-me  na  sé,  domingo,  i  missa. 


Alvarêê  dé  Amê9€Ío. 


UMA  SDPPLICA 


Se  eu  ftra  do  Oljmpo  o  archanjo  fiiunoso, 
Ao  throno  do  Eterno  te  havia  chegar, 
Se  eu  fòra  do  mundo  monarcha  potente, 
No  throno  dourado  te  havia  sentar; 


Voando,  eu  iria  dizer-te  um  segredo. 
Se  fôra  canário  no  bosque  a  «folgar; 
Se  eu  fòra  das  flores  o  amor  perfeiío, 
Qttizera  em  teu  peito  só  desabrochar; 


TROVADOR  187 

Se  eu  fôra  de  Orpheu  a  Ijra  oaoente, 
Ten  nome  somente  quizera  cantar; 
Se  eu  fi^ra  algum  Tasso,  de  amor  perecendo, 
Como  elle  por  ti  eu  quizera  acabar; 


Se  eu  fôra  Petraroha  no  amor  extremoso, 
Por  Laura  de  certo  te  havia  trocar; 
Se  eu  fôra  Virgilio,  Castilho,  CamSes, 
Meu  estro  sublime  te  havia  o£Fertar. 


I...  eu  nSo  sou  anjo,  nem  flor,  nem  canário. 
Nem  rei,  nem  Orpheu,  nem  Tasso  amador, 
Petrarcha,  Virgilio,  Castilho,  CamSes, 
Sou  triste  coitado  que  te  implora  amor. 

B.  J.  Borgeê, 


AMOR 


Se  longe  estou  de  ti — em  ti  só  penso! 
Se  durmo,  oh !  anjo  meu,  oomtigo  scmho ! 
Comtigo  a  vida,  é  um  prazer  immenso. 
Sem  ti — deserto  inhospito,  medonho! 

Se  acaso  penso,  só  medito  em  ti ! 
Se  i  noite,  velo,  só  me  lembra  amor ! 
Benasoe  a  esp'raDça  que  perdida  vi. 
Que  a  vida  alenta,  que  me  di  valor ! 


131  TMTADOli 

Teu  nome  esoiilo  no  otciar  da  hrísa, 
Entre  a  ramagem  de  florido  vai ! 
Qoando  em  silencio — a  noite  ae  deaUBa^ 
Quando  ruge  fiirioao  o  vendaval  1 


Soa  outro  agora!  Tua  linda  imagem 
Eu  vejo  em  tudo^  tudo  me  recorda 
Desde  a  florinka  que  «e  curva  &  aragem, 
Té  o  canto  d'avey  que  nos  dia -^acordai 


Quer  vele  ou  dunn*,  seja  iioita  oa  dia^ 
Sempre  conumgo  tu  p^peirante  'stáa ; 
Depois  d'eu  morto,  volve  a  dnza  fria, 
E  o  teu  retrato  ainda  aUi  verás ! 


Sòu  teU|  és  minha !  NSo  queiras  fíigir-me, 
Qu'est'alma,  crenças,  para  ti  só  tem ! 
Ah !  nSo  me  fujas,  quando  i  noite  ouvir-me 
Por  entre  as  trevas — te  dizendo — vem! 


F.  P.  do»  Ouimarões. 


TROVAOmi  ím 


LUNDU 


A  FEIJOADA 

Mnsica  de  J.  S.  Arvelloa 

• 

Oh !  que  feijoada 
TSo  engordurada^ 
TSo  cheia  de  bredos 
Que  me  atola  ob  dedos, 
De  limSes  azedos, 
PimentSea  ardentes ! 
Oh !  que  bello  rinho, 
Qne  gordo  toucinho 
Que  na  m^sa  bolei 
Para  ficar  molle 
Só  nos  &lta  o  gole 
Da  bella  aguardente. 


Tudo  é  feijoada 
Feita  por  amor, 
Para  encher  a  pança 
De  um  trovador. 


Que  negro  tisnado, 
Que  corre  apressado 


lio  TROTAMR 

Aqoi,  no  Brasil ! 
Que  pretas  gentis, 
Bonitas  e  feias, 
Vestidas  de  tangas, 
Vendendo  pitangas, 
Laranjas  e  mangas 
No  oampo  da  feira! 
Tudo  é  bebedeira, 
Tudo  é  bandalheira, 
Que  nos  causam  zangas. 


Estas  sSo  as  notas 
Que  nos  diz  amor, 
Para  enoher  a  pança 
De  nm  trovador. 


Quanta  moça  tola 
Que  oome  cebola 
Da  Inglaterra, 
Com  medo  da  guerra 
De  Napolelo! 
Que  ha  n'esta  terra. 
Que  porcos  mimosos, 
Carneiros  cheirosos. 
Cabras  berradeiras, 
Gallinhas  poedeiras 
Nas  sQgundas-feiras 
VSo  p'ra  oorrecçto! 


Estas  sSo  as  notas 
Que  nos  diz  amor. 
Para  encher  a  pança 
De  um  trovador. 


novADoa  ii{ 


•  • 


Quanta  moça  feia 

De  meiguice  oheia, 

Nas  emas  janellas !  • 

Mas  quantaa  mazellas^ 

Quantas  erysipelas 

Encobre  o  balSo ! 

Quantos  impostores 

Da  rapaziada 
Formados  doutores, 

Andam  ás  embigadas, 

Andam  ás  cabeçadas, 

Só  a  caohaçSo! 


Tudo  é  feijoada 
Feita  por  amor, 
Para  encher  a  pança 
De  um  trovador. 


MODINHA 


ROSTO  D'AIf JO 


Rosto  d'ai^o,  fopnosa  donzella, 
Que  as  oadôas  de  amor  me  puzeste, 
Ah!  nSp  ftyas — nSo  leves-me  a  vida, 
NSo  me  roubes  um  bem  que  me  deste. 


U9 


TWyVAMIl 


Já  nXo  pôde  meu  peito  ser  á*<mbpmj 
Ji  nSo  poflso  existir  seoà  te  «nuur; 
Só  comtigo  entendi  *  ezisteiieÍA,  - 
Quero  á  campa  eomtigo  baixar. 

SBo  ligados  os  meus  aos  teus  dias, 
Como  o  caliz  á  folha  da  flor!... 
NSo  consintas  que  a  fl6r  se  desfolhe» 
Ah!  nSo  quebres  os  Laços  de  amor. 

Ji  nfto  pôde  meu  peito  ser  d*outra — etc. 


FIM  DO  VOLUME  V 


r   -•'' 


Pag. 

Acabon-se  os  meus  tormen- 
tos    132 

A  cruz  da  sepaltara 42 

Adélia 11 

A  estatua  da  dôr 130 

A  fausta. 52 

A  feijoada 139 

A  hora  que  te  nlo  vejo 121 

Ah!  tanfto  sabes! 70 

Ai  de  núin •  102 

Ai,  mea  bem,  se  eu  nfto  te 

amo 51 

A  infeliz 104 

Alzira  formosa 64 

Amargos  dias  passei 16 

Amar-te 82 

Amélia 39 

Amor 137 

Amor  do  eéo 44 

A  mulher 83 

Ao  derradeiro  cantar  do  cys- 

ne 31 

Aoloar 86 

A  perpetua 91 

A  quitandeira 127 

A  ser  ingrata  também 25 

As  notas  do  thesouro  ou  os 

trocos  miúdos 35 

As  ternuras  de  meus  ais. ...  74 

As  velhas  da  época 55 

A  viuvinha 94 

Caso  de  amor  tfto  finffido. ...  50 
Cpmo  a  rosa,  amor  dura  um 

só  dia •. 57 

Como  é  bello  da  donzella. . .  112 

Como  eu  amei 96 

Conselho 63 

Descrença 133 

De  livre  que  sempre  fui.  ...  119 


De  que  me  serve  esta  vida..  13 

Despeito 58 

Dizem  que  sou  borboleta  . . .  116 

Ponzella.  por  piedade 23 

£  bem  bom,  nAo  dóe  nem 

nada 99 

Elmaia 29 

Escuta 15 

E^  n&o  gosto  de  outro  amor  80 

Eu  vi  um  sabiá  cantando. . .  128 

Foi  assim  o  seu  amor 108 

Foi  em  manh&  d*estio 22 

Foi  por  mim,  foi  pela  sorte. '  101 

Já  houve  tempo 46 

Julieta 97 

Lagrimosa 125 

Lembranças 12 

Luiz 106 

Luz  e  mjsterio 5 

Minh'akna  é  triste 60 

Morte  d*alma 27 

Não  amo  aos  gostos  dos  mais  90 

N&o  sou  ingrato 78 

N^cste  sitio,  quando  a  noite.  109 

Ninguém 7 

Nossa  m&i ^.  103 

O  cabelleireiro 8 

O  canto  do  descrido 19 

O  desalentado 110 

Oh!  Lilia 83 

O  ianota 17 

O  ladrSo  do  firadesinho 71 

Q  martyrio 33 

O  meiga  virgem 114 

O  opulento 87 

Operdâo 105 

O  pobre ., 123 

O  prisioneiro 92 

O  que  é  amor 68 


144 


índice 


Pag, 

Ofl  meoa  amores 81 

OsolhoB  d*eLlA 61 

O  aonho 49 

Ob  yftdiM 30 

O  taberneiro 76 

O  vagabando 134 

Qual  aaltante  paaaarinho. ...  73 
Qaando  ea  morrer,  chorem 

todoa  minha  morte 82 

Qoando  te  vi 24 

Qaeméata? 102 

Quis  fneir-te 43 

Boato  dTai^o 141 

Boobaste,  tjranna  parea....  15 


Pag. 

Saudade,  fíigi  de  mim 93 

Saudades 113 

Se  a  desgraça  me  acompanha  60 

Se  aqueUa  ingrata 65 

Sonho  de  ventura 26 

Teus  olhos 54 

Tristes  saudades 85 

Uma  suppUca 136 

Uma  visão 67 

Um  sorriso 131 

Visão  do  céo  cá  na  terra 132 

Viva  8.  Jo&o 47 

Voto  de  amizade 107 

Yôjô,  VO60Ô  é  o  demónio. ...  20 


.-,  l.^M  t     --   .   r:,  ,»t    r-.y    (  it»   -r 


n 


.i 


.  '    1  ' 


1   .  . 


.  .Y    ■    ^ 


I .. 


i  . 


I  . 


i'   ,  ) 


I  .     . 


1 

'   '  4 


\  I 


\   t    • 


:  .-X;  • 


,  / 


•  \    ... 


ii 


<!'• 


\ 


*^ 


,  1    .     ' 


.    "í"  ia 
■  .    í 

■  i'  ■  :  ,   'u 


I  J 


I         I    ■      1 


1 


1     V 


'    M  »> 


I    -^  1 


\ 


'    í  - 


■       « 


>      •  I 


i       "    '      I  •,         í   !  I    •       I        l      V 

:    .       ■       V    '  : • ,  iH.- 


T,   .•       I  í 

.•  '1 
• '     •  ■ . 

II.  .  .  >  , 

f »     I , :  ■  • 

i       .    \ 

l.    -      . 


A 


'1  .  ■ 


_      >   ) 


"^  (      1         1      , '    1  > 


\      1 


'l" 


I 


.ri        ■    ...    '        í,     — 

Li"  .       f'l        ..       ,  l        I,.- 


d 

M. 

- 

l' 

á 

i 

:»    • 

I    .' 

l             >'         '  ••      5  •    i.   i  '  i.l    VOt- 

*  (  l  •  '   i'i.i  >     .  .!•    .      •'     \'   OTI 

r.    ,.!..  •'   .]  '  1  .•■  •-,    '1   i-ii       '  {    ro- 

'^       d  í  ir,  1'-  <    4'  .  *"-i.   1   V . 

ivi-M'i.    .     V.      -O        J-      .)    -'.•  ]  !.■  i  t^-  —  K'  "<   w''"'>4    íub:f 

lA.    ;>  V     --Ijvi)           51  li     •  '   , '•  i';  /  ,í  "'.,  H  V 


«.) 


i'ij< 


ii '  í 


\ 


\ 


\ 


*•• 


ijviiAHiA  r()}'iii>\u  hk  riii'"  íi^rv'   •' 


>h. '.)  à%  li:  ,M»   K»»  tingir  .Ji    2 


í 


'.''.*  «1  ti. 1.(1    *^<gi..  r^;,:     »I  u»*  v>        l"^.v- 


V 


«M,).     "»  .    !•)       li'>) 


I       1  j  í»       I      1  '  1  ■•    .  i    .'  í  1 


f    ---<» 


^'.  ivi     ]'(••*    h4  N  .v^.i     rii-.!".K  í       1 

b    >    v#i  . '  T. .    1  V 

L-       ^'^";t^l»•l  I'irí'    .ia.*."o    Pt^,-.-    i    ]    .     I 

tMi.  0  '       r".   1    ;  . 


^  ♦ 


I    /  *  •*-    .    *  ■« 


t  .•         i 


11   ^'         »  o 


■•  I» 


•  t 


J-  ■.  .    "5        Vi  • 

»:'i.    I    V. 

'ri    .1»  '   Vi      C    .^    v£       -.Si.        1     ;j     ;.   'i         "» 

li-»         >     »^ 

J.   íí.    i>M    li        AI»  I      r-    ••'     S     -*  -        S      \ 


<*   V    ^,     >    ;        »)    •  .'.*•       .V-'- 

ir.     '•   '  .      .'  -  V     ••■  ■      ■  ■  -\  » 


l'.4   '    •  t 


« 


^        4.      •      «     -  , 


«»    1 


i/ 


< )      .»  'T  'I "  .  ;•,      •;  >    i"  r. 


•,    ,    \    '         >   ►  .1 


V  )     1    V.      -i   •.-!''•;»     •  \ 

rf     \>>H        1     V.   -         li.,*^  '          •  , 

;l"  >   (•  '  >.■..   i   V    -  -   l  .-  •"     .■'  ^    •;    ' 

(i.i  li>-.-,.  jk.   1    V.    -   n  :■      .  -1 


;  .L 


■!*  ,  zru: 


\    » 


« I 


•i''í  -.1  )      --  í*  »•.  »v!  i.n  >:  ÍH     r.i  •'  .,,.1-        ,1.,  V       '^':...    »•    -- •.  ..fL  i.-it.'    l    "   ' 


'  vil  ■• 

.<..  vi,  p-;-  K.i.-í    -     <  •■)  f  >^.    »S    -^v  -    f   *  í  •  •    i  .     ) 


1 


•         I    t 


-3   ^  1 


í 


C  4    ( 


l.)i. 


>>*       •  O   I  i-.i    li    I       i  '  u.  nr.- 


!     ' 


• 


ií  A  ;..bjkr;ui». 


• 


t\.\»     \'1'Ji  -  rrp.    j»    /ijsfr*,c    íifi    «Jt    b:i»â    if.T.jrà,    r.4C--*.i    ^•»'*.   « 


*     ^ 


•r 


M 


•        I 


\.KV    I     ■   ■■      '. 

RETURN  TO  DESK  FROM  WHICH  BORJtOWED 

Thú)  book  is  due  on  lhe  la»  daie  stamped  betow,  or  on  lhe 

daie  lo  which  renevred. 

Rcoewed  books  ar«  subject  u>  immediaie  recaH. 


J6Wiir''ô4||C 


tl~10(M(-l.'M(lBSTiia :