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Full text of "Trovas inedìtas de Bandarra, natural da villa de Francoza"

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IVK 






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.'h'^ 



w 

X r o V a s 



u 



Jneditas de Bandarra 



Natural da T^illa de Frarieoza. 



Que cxestia o em poder de Pacheco Comtemporaneo 
de BandaiTa e ^ue so Ihc achlurao depois dQ 
sua mortem 



'%*^ 



Li o n d r e s* 

MDCCCXV. 



In trodu§au. 



L^om grange satlsfa^ao receberao ^ toclos 

OS Fortuguezes f assas Ginceros , a pTuden« 

« 

tes, as trovas de Gon^allo Annes Bandarra^ 
impressas em Harcellona em 1809 sobre a 
edi^ao de Nantes de 1644* Juntandose^ a 
esta edicjjo outras 9 trovas que nunca se 
tinhao impreqo pella deiRculdade qne havia 

i 

«« 

de se nao acharem. 



rv 

Ficando poreni ainda o ardcnte dezejo 
cm uiuitas pessoas de verem impresso o 
resto (de que havia noticia de sua exi« 
stencia) de todas as troyas de Bandarra; 
porque cOmo este hia profetizando, eixi di« 
versos tempos durante a sua vida; igual- 
xnente por este motivo^ aparecia'o em dU 
versos tempos, e lugares, e emi poder de 
algumas pessoas, couio se vio (por exem- 
plo) na edi^ao de Nantes de 1644 nao se 
impremirao senao, aquellas troyas, por que 
nao apirecerao as que se impremirao, em 
Barcel6na em 1809 (que fazem a 2' e 5> 
parte des ta obra) as quaes sao, as que 
se achirao em poder do Cardeal Nuno 
da Cimba, e as que tinha o Comissario do 
Santo officio Domingos Furtado de Men«^ 
don^a: e agora depois que se fez a edi^ao 
acims^ diua de 1809 » se acbarao na liyra- 



ria do Ex™o Sffr (omito o seo 

nome por motivos particulares) em xnanu- 
scrito xnnito axitigo ! to das as profecias de 
Baudarra, xiao so as que se achao ja iia^ 
pressas, nas duas edi^oens que }i dicemos^ 
mas taobem as trovas de que havia noticia^ 
que tinhao ficade em poder de Pacheco^ 
amigo 9 e comtemporaneo de Bandarra^ 
que inereceo a este tan to conceito ^ que 
foi digno de respond er a quelle as pergun- 
tas que Ihe fazia^ cujas respostas que 6an« 
darra fez a Pacheco suo as que se achao 
xia edi^To de Barcelona de 1809 des de 
paginas 60 f ate y 66. o couio esta obra 
estava imcompleta, e pella sua natureza 
' merece muita reflexao a todas as pessoas 
discretas e assas prudentes; a rogos destes 
pois hi que me determine! a mandar im- 
premir , as trovas que o dito Facheco 



VI 

tinha em seo poder » ficando deata sorte 
completa a edicuo desta ebra toda ^ de 
que ha xioticia que Bandarra profetizouy 
assim.como taobem^ completos os ardentes 
dezejos de todos os Portuguezes Fici^^ 
Cinceros, e HonradoSy como eu que xne 
prezo dceer hum* — 



Leal Portuguez, 



Quarta parte das Trovas 
de Bandarra* 



1. 

Os tempos com crueldade 
Come^ar^se hao a mover ^ 
Se me nao engana a verds^e 
All perderao aeo sev 
No meio de. certa idade* 

2. 

Vira gozando de paz 
Aquelle pastor valente ^ 
Hum lobo que guerra faz 
Mo vera toda a gente 
Com bmua limgua sagaz. 



8 

i 

Logo nas maos o pastor 
Sea cajiido tomara^ 
Sena luostrar nenhum temor 
Contra os lobos qne achara 
Hevestidos de rigor. 

Nelles fara tal destro^o 
Que sera couza de espantOf 

Como bravo Touro em cosao 
Logo perde tudo quanto 
Tinlia como partor xnX>^o» 

5. 

Ja vejo que se deaterra 
Este pastor sem ventura^ 
Da patria rebanhOy e terra 
A huma larga Sepultara 
De huma frondoza serrtt 



/ 



6. 

O manqo gaJo que cm paz 
Pella ribeira regia^ 
Ja deagovemado traz 
Triste so aem companhia^ 
Que hum mao concelho faz» 

7. 

£ logo outro pastor 
Do pou^co gado que achir> 
Sera absoluto Senhor^ 
£ sera em quanto durax 
A fortuna^ e seo rigor. 

8. 

Sera pastor estrangeird 
O que reja o manqo gado 
Que taa bravo foi primeiro 
Mas ai que falta o malhado 
Que era o principal Cameiro* 



10 

9. 

De pois que por tempo largo 
Este pastor governar 
A este rebanho amargo y 
Ontra vez ha de tomar 
A ter o que tiziha o cargo. 

Havera novos sinaes 
Da parte deste pastor ^ 
The OS mesmos anixuaes 
Por seu natural Senhor 
Darao suspiros^ e ais» 



Tomara a quebrada linhn 
No Cabo de serta idade^ 
A en cher-se como pinha y 
£ descubriri a verdada 
Do que encuberto tinbat 



11 



12. 

Sem pena que damno faqa 
Tornara pella ribeira 
Pastar o gado na pra^a^' 
For ultima, e derradeira 
Dos fados Suprema traqa* 

13. 

Tomarei a recolher 
Esta ovelha perdida 
A patria que Ihe deu ser^ 
£ porei por ella a vida 
Sem nimca des falecer. 

14. 

Entao nao me mudarei 
Poia conheceis que sou rosso f 
Minha ovelha estimarei 
Pols de outro xuodo nao foaso 
Alma 9 e vida Ihe dareU 



12 

15. 

Havera em tri^te Cidacle 
Grande fonie paste 9 e guerra^ 
Que a Escritura a nao erra 
Que em tudo falla verdade, 

16. 

De longas terras virao 
Dois Leoens mui asanhados 
Hurai de Cruz, e outro xiao 
Yingarao males pa^ador* 

17. 
Serao a forqa da espada 
Destruidas mil provindasi 
Na Luzitaxiia assollada 
Tcrao fim rouboSy e malicias* 

18. 

Na era de quarenta f i hum 
De Janeiro por diante^ 
Dari fio ao seo montante 
Apardhece cada 



13 



19. 

O* noaso Christianismo 
Nossa grande Obrigacj^o, 
INao temcs niais de Christao^ 

Do que o xiome do Bapcismo, 

Fazenios dos dias noitet 
Vivendo como agrestes, 
Havera castigo^ e ac 'urea 
Cada qual se faqa prestea. 

21. 

Espantozos movimentof 
Havemos cedo devetf 
li antes de muitos tempos 
Ha de isto de acontecer. 

22. 

Nao havera em Hespanha 
Lugar preveligiado ^ 
Tudo sera assoUado 
Dessa gente de Monnxik^,* 



14 

25. 

Todos 08 lugares pianos 
Por terra serao prostrados, 

Muitos males 9 luuitos damnos 
Havera pellos peceados^ 

24- 

As Serras se habitarao 
Eos Oiteiros xnais altos ^ 
Muitas Gentes^ sahirao 
Outros andarao em Saltos. 

Andarao como pasmados 
Chorando pellos caminhos^ 
De 8uas terras lan^ados 
De parentesy evesinhos. 

26. 

Entao nao havera amigos^ 
Nem pay que por Glho seja^ 
O mals seguro abrigo 
Sera acolherse h Igreja* 



/ 



27. 

Nesses tempos os meninos 
Ainda que innocentes, 
Terao taobem accidentes 
Muito fora dos Caminhos. 

28. 
Havera peregrina^oens 
Mortes sem conto de dura 9 
Males fogos devisoens 
So Deos Ihe pode dar cura* 

29- 

Ha de ser Rey quern for 
Que em Deos esta o saber 
O bom 9 o Sao, o xnelhor 
So elle o sa de escolher. 

30. 

For particular enteresse 
Tern chegada o mundo atanto^ 
Triste do qua Iho pareca 
Qua hdda bastar fal;oman€o« ' 



15 



16 

31. 

Os povos luo de alintar 
As culpas dos seos Monarchas^ 
Que sem nenhum estudar 
Sao Letradosy e Patriarchas* 

32. 

Nos Ceos havera sinaes 
Na Terra nao faltarao , 
Torznentos pennas, e als 
Que aos Ceos penetrarao. 

33. 
E depais do Leao xnorto 
Nuo sem falta de iiiisterio^ 
Aportara neste porto 
Outro com maior Imperio* 

34. 

Entrara com companheiro 
Na terra dos Luzitannos, 
Cada qual bom Cayalleiro 
Destruirao os Arriannos. 



i7 



.35. 

Tempos tr^z tempos virap . 
Que 05 Grandea #«r~o baixados^ 
Os pequennos exaltados 
Povo, e Key governarao» 

36. 

£ depois de tantos males • 
FomeS) pasted devisoenSf 
Clieios OS montes y e Valles 
De tristes per<$grina^oens. , 

37. 

• 

Tornara o Redemptor 
A olhar pot seo rebanho, 
£ telloha com multo amanbd 
Coma bom Bjbj e S^nbor. 

38. 
Escapara pouca gente 
De tao perigoza dan^a^ 
Yira tempo de bonanza 
Quern viver aera contente. 



18 

Vejo vir grandes baleiaa 
Pella ' cofca de Biscaya 
Gala gaia da vezmha praya 
Que Ihe tingexu as aceias. 

to. 

£is la contra a t^oniega 
Raios, Cavallos, Golfinhos, 
Com que preqa'que navcga 
Tanta Copia de Marinhos. 

h 1 . 
Vejo milhoens de Relampagoa 
Trovoens que rompem os ceos 
Nuyeius de mui grandee vdos 
Coriscos gr'andes e^pantoa. * 

42. 
Que xnancebo tao fotmozo 
J}k Luz a todo o Emisf^rio» 
Hosto xnui digno de Ixnpixio 
Forte 9 fero, e graciozo. 



19 



43. 

la por for^a toma a Sebra 
Cercado de Leoens bravos* 
Oh que unhas dentes quebrados 
Teme^ e treme toda a terra^ 

Mil rapozas ySo diante 
Buscando gnitas^ e covas, 
A Lebresy Coethos dao novaa 
Qae fujSo de tal semblante* 

Deseanqame a vista vendo 
Hirde o tempo ja chegando^ 
£ estarse a Alma alegrando ' 
Com o que reyo, e entendo. 

46. 

Venha embora 6'Leao forte 
De tantos accimipauh&do^ ; ' 
Que affii^Sa^ e tern jurado 
Que em que Ihe custe a morte 
O bao de yer coroadp* 



20 

Que grandes arriba^oens 
Sao Atuins> ou sao SardinliOff 
Maiorea sao que Barquinhas 
Sao Mioa, boms Galioeng* 

48» 

Parece que seo caminho 
He direito a Portugal 
Ai se eu xnal nao advinho 
• Nao vuo carregar de SaU 

49. 
Que rostosy corpos, e arxnaiy 
Quanto fogo> e quanto asso^ 
No rosto gente do , Paaao 
£ Soldados nas Bisarmaa* 

50. 

Ora quero - Ihe dizer 
Esta ek occnpada a Terra ^ 
Ti/bLB poderlo responder 
Se ho gente de pazy on guerra. 



21 



5U 

He genta que em si euccrrsi 
£ a quillo que diz nao faz^ 
Diz guerra^ ordena p&z 
Pergoa paz^ e faz guerra. 






O Seo Rey quer set Mcuiarcha 
E toda a Terra pertende^ 
Tudo abrange,- e tudo abarca 
£ do direito nao pende* 

53. 

Vinde ei Rey Soberanud 
Quero yos dezenganar^ 
Lembro-Y08 que sois humanno 
£ que tudo hade acabar» 

54. 
E que na postreira hora 
Quando o mal ja estiyer feito« 

v. 

£nao possa ser desfeito 
Treme olmay e emyao chora. 



22 

55: 

Lembre vod o que aconteceo 
A Tholedo com o pay ' 

Que ja cada hum U vay 
E nuo sei qual pa. o cea. 

56. 

Quereis vbs a Portugal 
'Sendo elle nome macho 
Aiuda mal por que Ihe acho 
Muita femea, e pouco Sal. 

' 57. 

Se quizerdes por direlto 
Deixarse ha elle torcer^ 
Mas forqado h6 laio geito 
Para se deixar veneer. 

58. 

Vejo V0880 damno perto 
Hireis perdendo o reynido 
Etao bem tende per certo 
Morrerdes desconsolado 



23 



59- 

Luzitanna hi chainada 
A Dama que deze)a^s» 
Ella he dantes despozada 
Perseguilla he por demais 

60. 

Ainda que em caza tem 

De Ulices tantos poybSf 

Hir-se hao comoos porcos 
Ante o Leao que Tern. , 

61. 

... 

Esta profecia he beUa 
Mux certa' e verdadeim, 
Quezn Avtx boa* terccira 
Gozara a Sabia Donzella. 



'jrw 



Fim da qiiarta parti. 



24 

Quinta patte das Trovas 
de Bandarra. 



1. 

Quando de noite me ponho 
A dormir sem me bcnzert 
Tudo o que hade acuccder 
Se me lepresenta emi Sonho. 

2; 

Sempre mandei esrc^er 
Aquillo que mie lemb/ou, 
Porque a memoria a postou 
De tudo ae esquecer. 

3.- ' ' 
Nas Trovaa que - tihhk feho 
Muito ha que conciderar, 
Como o seo tempo chegar 
Se vera o meo conceito. 

ft 

Sempre por thezoiras faqo 
As minhas contas mui certas, 
Portas que hao de estar nbertaa 
Nao sac boas para o pa^o* 



25 



6. 
Ea nfto sou Profeta inteir* 
£ menos na mixiha terra, 
Mas vejo vir pella Serra 
Atraz de hum Lobo hum Gordciio* 

6. 
O [Sol pello meio dia 
Faz o e£Eeito de Geada, 
Yejo partir huma armada 
Corregada de agua fria* 

7. 
Huma grande tempestade 
Com o ceo muiclaro, e SerennOf 
Far^ humi homihem moreno 
Com rezaa mas sem piedade. 

8. 
A minha trepeqa tern 
Trez pez mui bem a^uvos, 
Vejo frabricar huma muros 
Mas eu nao sei para quem» 

9- 
Qiiem muitos anuos durar 
Had« ver conzaa indignas., 
Tocar-se hao muitas boasinas . 
Por hommems peixes do ma]^ 



26 



Todo o mundo grita, e berra 
Cada qual no sqo ofRciOf 
Pois antes que hum beneficiOf 
Qnerem^ peste, fomet e guerra* 

11. 
Quando fnto cdm a Suvella^ 
Coiro gro^«9 e Macio^ 
Yejo prender no Hocio 
Quaze toda a parentella. . 

12. 

Eu tenho medo da morte 
Como couza superior ^ 
O Presbitero maior 
Naa had^ tomar a Cortc, 

13. 
Annos haode vir a ttrra 
£mque <por nosaos peccado8» 
Nas cazas fiquem os gados 
As gentes vivao na Serra* 

1ft. 
Sempre como os meos feijooKA 
Quando rem bem temperadoSf 
Yejo no tonplo os Copadoa . 
No Coral os Cappellaens, 



27 



15. 

Son Sapateiro, mas Nobre 
Com mui pouco Cabedal, 
Etu triste Portugal 
Quando mais rico, mais pobre, 

16. 

O (A.)^ que ponho as avessas 
Com a pema atraz levantada. 
Hade ter a mao annada 
Para degoUar Cabe^jas. 

17. 
QuandOi a terra dos Falcoena 
Certa erva* produzir, 
Creio se hade conceguir 
O deiur fora as Lezoens. . 

18. 
De hum brazeiro mui acezd 
Dandolhe o vento ligeiro, 
Se hade form an hum pinheiro 
Sem ter medida, ncm pezo* 

19. 
» O Canro que vai chiando 
For hir xmiito carregado^ / 

Sim mostra o )Ugo pezado ' 

Mas lUio tira pezo andando. 



.w 



28 



20. 
A Horteta na Panella 
Dizem que Ihe da bom go8tO| 
Essa mulher de bom rosto 
Nao ou^o tusnar bemdella* 

21. 
Hespanha mnito medroza 
A Europa muito enfadada, 
Huma xuulber de almofada 
Sabe como huma rapoza* . 



2o 
mf9 



As linhas comciae cozia 
Ja nao como as de agora/ 
Temo que se deite fora 
Quern Souber a Ave Mariat 

Na era que eu tenho ditto 
Nas Thezoiras levaatadasf 
Se haode ver muitas jomadac 
A' custa do Sao Benito. 

2«. 
Nao podd haver couza boa 
Aonde Habita o mal Frances ^ 
Temo o polbo Porttiguea 
Em poder de huma l>eoa« 



29 



25. 

Quando o Leao Hisp^nhol 
Vier quase a Portugal, 
Hade 8er o nossD xnal 
Querer hxzix como o SoL 

Quando a novo como braza 
Todaa as plantas queimar> 
Dous quiutos se bao dd ajuntar 
Sem hay^r )ogo na caza. 

27. 

• 

Em bum lugar mais am'eno 
Cercados dov mares groqosy 
Vive por peccados iiossos 
Quexn se sustesta com feno* 

Sempre vein de mionte, a monta 
As agoas das-.enxotTa!das^ 
£ veio testae cbroa'das ' ' 
Sentadas sabre buma ponte. 

^ 29. 

Quando tivereni por cercb ' 
Perdidff toda a esperanca, 
Portugal tera bonanza 
Na vlnda' da £ncuberco» 



30 

30. 
Vejo vir pello mar iaigo 
Como quein vem pa^a dentro. 
Hum hommem buscar seo centra 
Depois de hum grande lethargo* 

31. 
Quando me matar S. Jorge 
£ Marcos me requscitar, 
Sao Joao me exaltar 
Fa^a todo o mundo alforge* 

32. 
Os pez da miiiha trepe^a 
Conta trez vezes areio^ 
Ajuntalhe dous, e meio 
Dizelhe . qu4 apare^a. 

33. 
Nao po^eia fazer queixume 
De deixar q vosso. lar» 
Que ae do norte ventar 
Do Sul V08 vira o lume. 

34. 
Vejo a griEa. parideira 

luntada com huma Serpentef 

» 

E vejo que muita gente 
Tern disto graxfde caxieeira. 



M 



5$. , 
Vejo o Leao, e a Serp^ntQ 
Atraz da. gente goleima, 
Grita o gallo que ateixna 
Com o Lobo que tem diantef 

36. 
Ja vejd grancle mofina 
No porqaeiro de Sequem, 
Que o gado todo eata bem 
C<fm o Ovilheiro de Dina, 

57. 
Veio a Lua ensanguentada 
Pella iFirtude do. Eacnbarto , 
Sb esta longe , ou ae perto 
Aasim o diz a toada. 

38. 
La vem por sivok do mit 
Hum Carallo de xaadtdra, - 
Que fara n'huma pocira 
O porco que hade gnuibar. 

39. 
Vijo pedras ajuntar ' 
La muito perto » da Lua 
Vejo subir de huma, e bunia 
,E nellaa e Sol entrar, . 



■I 



V 



32 

flO. 
Vej<i pello meo Telhada 
No Ceo gratide reaplendor, 
Se he alegria, ou temer 
. Esdras o tern declarado* 

Vejo o Almocreve tomar 
As Alamanhas antigasy 
Vejo nascer' das ortigas 
A remente la do mar 

42. 

La donde o Sol vem nascendo 
Hum Djragao Tejo vir vindo, 
A SCO Cabo vem carrendo , 

Mais bichos quo o vem seguindoii 

O pMmeiro depois do quinfio 
Filho d'Aguia levanuda. 
Hade estender stia Espada 
Sobre a Galia faminto* 

Vejo sahiras' Gaivotas 
De /dentro do nosso Te]0» 
Taobem parece que veio 
As duas por eUas rotg^^ 



« ' 



33 



45. 

Sonho que rebentao fontci 
Da terra da Promi^ao, 
E que 08 Gallos de Siao 
Vao fugindo ate os'montes. 

46. 
Nao canta o Gallo com penna 
Asaguias charao mofinaf 
A aerpente encrespa a clina 
Porque Deos assim o ordenna* 

47. 
Faremos dos dias noites 
Vivendo como agrestes^ 
Havara castigo » ea^utea 
Cada hum aefa^a prestea* 



Fim da quinta parteV 



34 

Sexta parte das Trovas de 

Bandarra. 



\ 

*^f 



Sonhei que via hum fumo. 
Com grande forqa sahir f 
E deixando de Subir, 
Hum- altar vi no escuro: 
Formava tao forte muro, 
Que estava o Altar cuberto ; 
Vi a hostia nao mui perto > 
Do tal Altar arredada: 
Huma cara sublimada^ 
£m ella vi per mais certo. 

o 

Pareceme que erescia. 
Quern aasim o figurava: 
Taobem sonhei me pegava. 
Quern mulher me parecia: 
£ que com voz me dezia^ 
Anda ver a terra nova, 
Pella mao levou-me a cova^ 
Levava bello vestido, 
Ai nuvems eu fui subido^ 
Onde vi a gente toda« 



35 



3* ' 

Negra, e amolatida, 
Logo a terra baldcando, 
Arespira^ao faltando 
Eudaqni ja nao quis nada^ 
Para a terra de ' paneada 
Me trouxe a tal xnulher, 
Athe alcancei dizer 
Vou segundja vez a terra | 
Logo vinha resta era 
E tornava a apare^i'« 



Parecia a jneo ret 
Nova Igreja figurada. 
For hereges desterrada, 
Na quella terra a tremer^ 
Quern Herege quizer ser 
Ficara negro » ou molato^ 
£ tera todo m&o trato 
Por fagir da boa Ley, 
No Inferno sua grey 
Para traz dara o SaIto« 



/ 
36 

Taobem sonhei que a nuvem 
Cobria a gram redondeza^ ' 

Mui medonha, e espe^a 
Taobem r;i|os q^e derCroem^ 
A quern a fal^a Ley tem^ 
£ depois vi.aclarar 
Com hum clarao singular 9 
£m dia de huma Sexihora 
Em fe seguinte boa bora, 
Seu nascimento sempar* , . 

6. 

£m sonhoa yi grorde armada 
£a Lua, em rosso Tejo, 
Ficandolhe o Sol por baixo 
De huma Torre armada ^ 
Moiros tiverao entrada 
Pella terra de christaosj ^ 
Na Igreja vi eates maos 
Hum exercito Francez, . 
Taobem entrou dastave^ 
Accompanh&do doa M^os« , 



« A 



37 



7. 

Pella terra veio entraxido 
Ath^ 86 perder de visu. 
Com grande pr^qa, e cobii^a 
Toda a vinhao derrotando'y 
Taobem 08 Moinos chegando 
Com grande astitcia, e prr^a,^ 
Vinhaa buscando a Cabe^a 
A huma Cidade Real 
Pouco cuida Portugal ^ 
£m 6 mal que Ihe aconteqa« 

8. 

Parece quo estou ouvindo 
Nease mar a grau tormenta 
Antes que chegue oa Setenta^ 
Caxas 9 Ballas » barberinhios 
Entao h^. que vira vindo 
O Grande pastor Geral , 
Acudir a tao grao mal , 
Dando as Oyelhas austento 
£ taobem o Sacrainento 
Viva o nosso Portugal. 



38 

9. 

Poncoa^ tempofl pa^araSf 
Segundo as Profrecias, 
£m 08 Sinaes destes dias 
Outroa que cedo virao 
Huma Gran tribula^aof 
Mas ao depois vera 
A Yolu qne tudo ik, 
Chegando logo a veneer 
No mundo todo o poder 
Na Igreja ficara« 



10. 

£m todas reste tuida 
Com ma|or venera^ao^ 
So nella tern o Christaoy 
Gloria na etema vida 
Mas ai que a vejo cahida 
Que primeiro vem chegandi) 
Os boma largaudo o mundo^ 
Outroa morrendo i pre^a 
Outroa perdem t Cabeqay 
Moitos disao vqo folga^ido. 



39 



11. 

Tanto Sangue pello campo 
E tanto znorrer na iua» 
Tantos deixao vida sua 
Por guardar o nome- Santo > 
Vgux da mulher o manto 
Tera respeito on favor 9 
Ja nenhum Ihe tern amor 
A essa profanna vaidade^ 
Quando virem a Cidado 
Fosta no maior horror* 



12. 

Ja de Franqa sera ferto 
Qnem a Franca quiz andar 
Nunca mais andem trajar, 
Tomara nao ter o £ito: 
Paga o povo por ingrato 
O desprezo qne tern feito, 
Da Patria do minfao aceito 
Dando redias ao profanno. 
Terao o seo desenganno^ 
Com o Vestir mais perfeito. 



40 

15. 

Com Sangue, Boubo» e Deshonra 
Com xuortesy e Vituperios, 
Fomes doen^as^ e Guerrasy 
Querendo acahar a terra 
Com mui grande alarido^ 
Todos ficarao com sentido 
Com o mal nao esperado 
Sera prezo o Diabo 
Porque entao tudo he acabad^ 
£o morto sera vivo. 



14* 

Era taobem logo chega 
Que a todos de asento^ 
Sera fim este tormeuto 9 
Quern com bonanza navega 
Entao armada mala fera^ 
Livranos do InemigOy 
Com bom valor 9 e abrigo 
O Beato Sao Joao 
Em seo dia nos da amao^ 
£0 Incoberto vivo. 



41 

15. 



Qaem destruir os do Norte 
Eos Mpiros deitar fora» 
Matandolhe a gente'toda 
Em Cacilhas fora corte 
La vereis o estandarte 
Coni as quinas aconado 
E emtao vereis mostrado 
Em sima o, bom Jezus » 
E taobem a Santa duz 
Para veneer o Diabo. 

16. 

Veremos o mar vermelho 
Sem hir a Jerasalemy 
A qui verao os que temi 
Tom&do o meo concelho^ 
Em si proprio o espelho^ 
Muito Sajfigne em si correndo 
Mas quem for obedecendof 
Passara sobre o ^mar 
Sem que precize nadar^ 
Vera o maior portepto. 



42 

17. 

Em Cafisilhas a Bandeira 
Com estandarte Keal, 
Logo Herogei pot seo mal^ 
A morte tern de Carreira 
Tera este na Simeira' 
Hum Csristo erucificado » 
Vera o povo xnalvado 
O quao cego tern vividoy 
Em terem perceguido 
£a zuuitos marterizado* 



18. 

O Molro, Tureo, Francez 
Nao poderao tiagir todosy 
Porque xuuitos serao xnortos 
As maos do bom portaguez^ 
La levarao desta vez 
Novas aos seus que eontar> 
Quando virem em portugal 
O Encaberto deolaradoy 
Castigando todo o estraga 
Que elles yierto cauzar« 



43 



19. 

Nenhiim remedio Ihe sinto 
O Nao Tirea melhor fora , 

Yenha seni em boa bora 
Quern ao lobo famintOy 
Lbe ponba em sangue dnto 
For essas ruas no cbao » 
Bandeiraa em confucao 
Flores f Barretes , e Capas 
Deste bom Rey nada escapa^ 
Viva o Grao Sebastao, 

20. 

Sonbei que via veneer 
Aa quatro partes do mundo^ 
£ que Portugal a tudo 
Hia dando que £fizer» 
E taubem fazendo ever 
O £Vangelbo9 e a Cruz 
Ao povo £aUo de luz, 
Sacrament6 etemo dia 
Taobem a Virgem Maria 

Todos com p bom Jeziis. 



44 

21. 

Sonhei que o Sacramento 
Em todo o mundo em redondOf 
Ja das almat aera dono 
Is to maior portento 9 
Taobem grao contentamento 9 
Em ver os Bejs me cauzou 
Que na geraqao dotou , 
La de Affon^o o primeiro 
The trinta o derradeiro, 
Onde o primeiro acabou* 



For humgrande oppozitor 
Depois da linha acabada^ 
Este fara derrotada, 
A Igreja com horror 9 
A* besta mete pavor 
Emi trez^ e meio de dura 
Tanu gente a Sepultura, 
O Martir gloriozo 
For fugir do tenebrozo* 
A seguir a Vlrgem purst 



45 



Por mil 9 eduzentos annos 
A Igreja reinara, 
la todo o Christao sera 
Vivendo como irniaoa, 
Nem trapa^as neiu enganos 
Debaixo de huxna cabeqa^ 
No 860 Imperio , e pastor , 
Por Sebastiao Senhor 
A quern tudo obede^a 
Com Zelo, e grande amor. 

24. 

Este Rcy de Deos guardado 
Para limpeza do itltindo, 
De talsorte poH tudo 
Que deos seja venerade, 
Em Portugal exaltado 
De pequeno grao' Senhor f 
Os mais todos com Payor 
Logo o haode coroar, 
Por Imperador sempor 
Ao depoia do Creadon 



46 






Sonhei que via descer 
Hum Anjo em huma nuvem 
Mostrando que ja deatroe 
Quem Herege quizer ser^ 
Daqui vera a entender 
Pella yoz que Ihe ouyi 
E com fiiror disae as^lm, 
"Morra o Blasfemador 
''De Ley do bom Kedemptor, 
*'0 Prencipio desde aqui. 

26. 

Taobem a Lua correndo 
Sonhei que avia vir 
Per trez vezes a cahir^ 
£ Portugal perecendo 
A isto o que euentendo 
Que figura muito moirOf 
Viudo a buscar o oiro^ 
£ xnais riqueza notoria 
Fazendo perder a gloria , 
A quem delle foz thezoiro. 



• 47 



07 

*0 f • 

Quantos destes vao roubaxldo 
Ai quando virem chegar^ 
Muitas Naos em este mar 
£ gente em terra botando 

£ntao ouvirao. o bando » 
Mata^ fere, e degoUa^' 
Ficando a gente toUa 
Tao telia, comp pasmada 
£a terra derrojtada 
Perceguida a toda a hora. 

28. 

Morem» e ficao Cathalicos, 
Hums mprrem, outros pelejao 
Outros depr^^a despeiao;, 
O melhor que guardao vivos » 
Ja fallao Leaes amigos 
A imgratidaa sobeia^ 
£ algiims comgr^nde inveia^ 
So cuidao em .bem furtar^ 
Nenhum yuer a tuvar 
O Mai que ttpiito iob«ja» 



4« 

29. 

Nenhuin vemidio se sente 
Sem ter meio de Apellar 
Nem na terra 9 nem no Mar^ 
Vendo preza maior gente 
OmaU alto delinquentey 
Nao ficara sem castigo 
Quern xuTiito prende taobem 
Sera prezo, e cativo^ 
Pezarlhe ha de servivo 
Estando 86 aem nixnguem^ 



Nas annas pega a mulher 
Taobem entra em GorcelhOy 
Entao acode o bom Valbo 
SebasdaS Udeser, 
£ tudo em seo poder 
Ficara com grao limpeza 
On Magestadey Alteza 
Ben livras do Cativeiro 
Lobo se toma , em Cordeiror 
Em paga da tal Fineza^ 



^ 



49 
31. 

Contra gtaS Senhor se ergue 
Com furia, Asturia, e Manha^ 
£sparta, forte » Companha, 
De seo maior xnal Ihe serve, 
Taobem quexn ajuda perde 
Houra, fazenda, e Vida, 
Depois de no mar vencida 
E na terra maio^ risco^ 
Sepultado no abismo 
De todo 9GTk perdida« 

Perde Braga, vence o Porto 
£ todas serao entradaa^ 
£m o fogo das pancadas 
£m Bahia grar dectro^o, 
De Lagos ilea bem pouco 
Lisboa ja he Senhora^ 
De cativa deffen^ora 
Da Ley que haode guardar f 
Os que se querem salvar 

£ morrer em boa hora. 

4 



50 

33. 

Viva o graiwle Portugal 
Todos saltao de content^s, 
Mulheres com seos pafrentes 
Ficao livres do grao mal, 
Veja agOra cada qual 
De que sor(e poem a vida^ 
No levantar da eahida 
Tem o vemido xiamaof 
Quem cuidar em bom ChrisUo 
Sua alma sera 8ubi4a« 



34. 

£ todo o mundo sugeito 
A esta naqao portugu^za. 
For aquella grande Alteza 
Que Chris to tem em secy peitOf 
For Ihe ser o mais aceito 
Na Fe, Constancia, e Valor, 
Peregrimo , e Senhor 
Gram trabalhos padecendoi 
Em fortaleza padecenda . 
£m o mundo grao valor* 



\ 



35- 

£m humildadey e esperan^a 
A niaior que ja Be vio. 
Com caridade subio 
Ao lugar que logo alcanna , 
Justi^a com temperan^a 
Na prudencia o primeirOf 
Ko castigo o derradeiro * 

£spcrando a Sugei^ao^ 
Logo chega o pagao 
A sex Gbristao verdadeiro* 



36. 

Portugal fica mais nobre 
£m todo elle o poder, 
£ taobem se hadever 
Ficar rico, o que foi pobre^ 
Aquelle a quern a fe cobre 
Firme na Santa Igreja, 
Todos Ibe terao inveja, 
Quando virem Portuguezes 
Vencendo Turcos, FrancezeSf 
£ Moiros^ em grao Peleja, 



51 



'K*^ 



Si" 



Dois descenclentes que traz 
De grande Vj?^lor, e Brio ^ 
O Mais velho em Senli<i^;ia 
Pori a guerra, ein JPaz, 
Verao todos o que faz 
De boms na Santa I^reja, 
A forca Ihe tern inveja 
A Fortuna, e augmento^ 
Fara parto o Sacramento 
Oude toda Christao seja. 

• ■ .38. ■ ' ■ 

O PiiStor mor cedo falta 
Seo descendente reirianflo , 
E grande castigo dando 
Ao8 vezinhos de Malta, 
Quando Veneza se exalta 
De Franqa he Malograda, 
Cauzara nestapancada 
^ntre os seos naturaeSy - 
Serao os castigos taes . ' , 

Que toda seja arra4j^^^^^ •% „,^ 

Fim da Sexta Parte^ 



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