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IVK
vy
.'h'^
w
X r o V a s
u
Jneditas de Bandarra
Natural da T^illa de Frarieoza.
Que cxestia o em poder de Pacheco Comtemporaneo
de BandaiTa e ^ue so Ihc achlurao depois dQ
sua mortem
'%*^
Li o n d r e s*
MDCCCXV.
In trodu§au.
L^om grange satlsfa^ao receberao ^ toclos
OS Fortuguezes f assas Ginceros , a pTuden«
«
tes, as trovas de Gon^allo Annes Bandarra^
impressas em Harcellona em 1809 sobre a
edi^ao de Nantes de 1644* Juntandose^ a
esta edicjjo outras 9 trovas que nunca se
tinhao impreqo pella deiRculdade qne havia
i
««
de se nao acharem.
rv
Ficando poreni ainda o ardcnte dezejo
cm uiuitas pessoas de verem impresso o
resto (de que havia noticia de sua exi«
stencia) de todas as troyas de Bandarra;
porque cOmo este hia profetizando, eixi di«
versos tempos durante a sua vida; igual-
xnente por este motivo^ aparecia'o em dU
versos tempos, e lugares, e emi poder de
algumas pessoas, couio se vio (por exem-
plo) na edi^ao de Nantes de 1644 nao se
impremirao senao, aquellas troyas, por que
nao apirecerao as que se impremirao, em
Barcel6na em 1809 (que fazem a 2' e 5>
parte des ta obra) as quaes sao, as que
se achirao em poder do Cardeal Nuno
da Cimba, e as que tinha o Comissario do
Santo officio Domingos Furtado de Men«^
don^a: e agora depois que se fez a edi^ao
acims^ diua de 1809 » se acbarao na liyra-
ria do Ex™o Sffr (omito o seo
nome por motivos particulares) em xnanu-
scrito xnnito axitigo ! to das as profecias de
Baudarra, xiao so as que se achao ja iia^
pressas, nas duas edi^oens que }i dicemos^
mas taobem as trovas de que havia noticia^
que tinhao ficade em poder de Pacheco^
amigo 9 e comtemporaneo de Bandarra^
que inereceo a este tan to conceito ^ que
foi digno de respond er a quelle as pergun-
tas que Ihe fazia^ cujas respostas que 6an«
darra fez a Pacheco suo as que se achao
xia edi^To de Barcelona de 1809 des de
paginas 60 f ate y 66. o couio esta obra
estava imcompleta, e pella sua natureza
' merece muita reflexao a todas as pessoas
discretas e assas prudentes; a rogos destes
pois hi que me determine! a mandar im-
premir , as trovas que o dito Facheco
VI
tinha em seo poder » ficando deata sorte
completa a edicuo desta ebra toda ^ de
que ha xioticia que Bandarra profetizouy
assim.como taobem^ completos os ardentes
dezejos de todos os Portuguezes Fici^^
Cinceros, e HonradoSy como eu que xne
prezo dceer hum* —
Leal Portuguez,
Quarta parte das Trovas
de Bandarra*
1.
Os tempos com crueldade
Come^ar^se hao a mover ^
Se me nao engana a verds^e
All perderao aeo sev
No meio de. certa idade*
2.
Vira gozando de paz
Aquelle pastor valente ^
Hum lobo que guerra faz
Mo vera toda a gente
Com bmua limgua sagaz.
8
i
Logo nas maos o pastor
Sea cajiido tomara^
Sena luostrar nenhum temor
Contra os lobos qne achara
Hevestidos de rigor.
Nelles fara tal destro^o
Que sera couza de espantOf
Como bravo Touro em cosao
Logo perde tudo quanto
Tinlia como partor xnX>^o»
5.
Ja vejo que se deaterra
Este pastor sem ventura^
Da patria rebanhOy e terra
A huma larga Sepultara
De huma frondoza serrtt
/
6.
O manqo gaJo que cm paz
Pella ribeira regia^
Ja deagovemado traz
Triste so aem companhia^
Que hum mao concelho faz»
7.
£ logo outro pastor
Do pou^co gado que achir>
Sera absoluto Senhor^
£ sera em quanto durax
A fortuna^ e seo rigor.
8.
Sera pastor estrangeird
O que reja o manqo gado
Que taa bravo foi primeiro
Mas ai que falta o malhado
Que era o principal Cameiro*
10
9.
De pois que por tempo largo
Este pastor governar
A este rebanho amargo y
Ontra vez ha de tomar
A ter o que tiziha o cargo.
Havera novos sinaes
Da parte deste pastor ^
The OS mesmos anixuaes
Por seu natural Senhor
Darao suspiros^ e ais»
Tomara a quebrada linhn
No Cabo de serta idade^
A en cher-se como pinha y
£ descubriri a verdada
Do que encuberto tinbat
11
12.
Sem pena que damno faqa
Tornara pella ribeira
Pastar o gado na pra^a^'
For ultima, e derradeira
Dos fados Suprema traqa*
13.
Tomarei a recolher
Esta ovelha perdida
A patria que Ihe deu ser^
£ porei por ella a vida
Sem nimca des falecer.
14.
Entao nao me mudarei
Poia conheceis que sou rosso f
Minha ovelha estimarei
Pols de outro xuodo nao foaso
Alma 9 e vida Ihe dareU
12
15.
Havera em tri^te Cidacle
Grande fonie paste 9 e guerra^
Que a Escritura a nao erra
Que em tudo falla verdade,
16.
De longas terras virao
Dois Leoens mui asanhados
Hurai de Cruz, e outro xiao
Yingarao males pa^ador*
17.
Serao a forqa da espada
Destruidas mil provindasi
Na Luzitaxiia assollada
Tcrao fim rouboSy e malicias*
18.
Na era de quarenta f i hum
De Janeiro por diante^
Dari fio ao seo montante
Apardhece cada
13
19.
O* noaso Christianismo
Nossa grande Obrigacj^o,
INao temcs niais de Christao^
Do que o xiome do Bapcismo,
Fazenios dos dias noitet
Vivendo como agrestes,
Havera castigo^ e ac 'urea
Cada qual se faqa prestea.
21.
Espantozos movimentof
Havemos cedo devetf
li antes de muitos tempos
Ha de isto de acontecer.
22.
Nao havera em Hespanha
Lugar preveligiado ^
Tudo sera assoUado
Dessa gente de Monnxik^,*
14
25.
Todos 08 lugares pianos
Por terra serao prostrados,
Muitos males 9 luuitos damnos
Havera pellos peceados^
24-
As Serras se habitarao
Eos Oiteiros xnais altos ^
Muitas Gentes^ sahirao
Outros andarao em Saltos.
Andarao como pasmados
Chorando pellos caminhos^
De 8uas terras lan^ados
De parentesy evesinhos.
26.
Entao nao havera amigos^
Nem pay que por Glho seja^
O mals seguro abrigo
Sera acolherse h Igreja*
/
27.
Nesses tempos os meninos
Ainda que innocentes,
Terao taobem accidentes
Muito fora dos Caminhos.
28.
Havera peregrina^oens
Mortes sem conto de dura 9
Males fogos devisoens
So Deos Ihe pode dar cura*
29-
Ha de ser Rey quern for
Que em Deos esta o saber
O bom 9 o Sao, o xnelhor
So elle o sa de escolher.
30.
For particular enteresse
Tern chegada o mundo atanto^
Triste do qua Iho pareca
Qua hdda bastar fal;oman€o« '
15
16
31.
Os povos luo de alintar
As culpas dos seos Monarchas^
Que sem nenhum estudar
Sao Letradosy e Patriarchas*
32.
Nos Ceos havera sinaes
Na Terra nao faltarao ,
Torznentos pennas, e als
Que aos Ceos penetrarao.
33.
E depais do Leao xnorto
Nuo sem falta de iiiisterio^
Aportara neste porto
Outro com maior Imperio*
34.
Entrara com companheiro
Na terra dos Luzitannos,
Cada qual bom Cayalleiro
Destruirao os Arriannos.
i7
.35.
Tempos tr^z tempos virap .
Que 05 Grandea #«r~o baixados^
Os pequennos exaltados
Povo, e Key governarao»
36.
£ depois de tantos males •
FomeS) pasted devisoenSf
Clieios OS montes y e Valles
De tristes per<$grina^oens. ,
37.
•
Tornara o Redemptor
A olhar pot seo rebanho,
£ telloha com multo amanbd
Coma bom Bjbj e S^nbor.
38.
Escapara pouca gente
De tao perigoza dan^a^
Yira tempo de bonanza
Quern viver aera contente.
18
Vejo vir grandes baleiaa
Pella ' cofca de Biscaya
Gala gaia da vezmha praya
Que Ihe tingexu as aceias.
to.
£is la contra a t^oniega
Raios, Cavallos, Golfinhos,
Com que preqa'que navcga
Tanta Copia de Marinhos.
h 1 .
Vejo milhoens de Relampagoa
Trovoens que rompem os ceos
Nuyeius de mui grandee vdos
Coriscos gr'andes e^pantoa. *
42.
Que xnancebo tao fotmozo
J}k Luz a todo o Emisf^rio»
Hosto xnui digno de Ixnpixio
Forte 9 fero, e graciozo.
19
43.
la por for^a toma a Sebra
Cercado de Leoens bravos*
Oh que unhas dentes quebrados
Teme^ e treme toda a terra^
Mil rapozas ySo diante
Buscando gnitas^ e covas,
A Lebresy Coethos dao novaa
Qae fujSo de tal semblante*
Deseanqame a vista vendo
Hirde o tempo ja chegando^
£ estarse a Alma alegrando '
Com o que reyo, e entendo.
46.
Venha embora 6'Leao forte
De tantos accimipauh&do^ ; '
Que affii^Sa^ e tern jurado
Que em que Ihe custe a morte
O bao de yer coroadp*
20
Que grandes arriba^oens
Sao Atuins> ou sao SardinliOff
Maiorea sao que Barquinhas
Sao Mioa, boms Galioeng*
48»
Parece que seo caminho
He direito a Portugal
Ai se eu xnal nao advinho
• Nao vuo carregar de SaU
49.
Que rostosy corpos, e arxnaiy
Quanto fogo> e quanto asso^
No rosto gente do , Paaao
£ Soldados nas Bisarmaa*
50.
Ora quero - Ihe dizer
Esta ek occnpada a Terra ^
Ti/bLB poderlo responder
Se ho gente de pazy on guerra.
21
5U
He genta que em si euccrrsi
£ a quillo que diz nao faz^
Diz guerra^ ordena p&z
Pergoa paz^ e faz guerra.
O Seo Rey quer set Mcuiarcha
E toda a Terra pertende^
Tudo abrange,- e tudo abarca
£ do direito nao pende*
53.
Vinde ei Rey Soberanud
Quero yos dezenganar^
Lembro-Y08 que sois humanno
£ que tudo hade acabar»
54.
E que na postreira hora
Quando o mal ja estiyer feito«
v.
£nao possa ser desfeito
Treme olmay e emyao chora.
22
55:
Lembre vod o que aconteceo
A Tholedo com o pay '
Que ja cada hum U vay
E nuo sei qual pa. o cea.
56.
Quereis vbs a Portugal
'Sendo elle nome macho
Aiuda mal por que Ihe acho
Muita femea, e pouco Sal.
' 57.
Se quizerdes por direlto
Deixarse ha elle torcer^
Mas forqado h6 laio geito
Para se deixar veneer.
58.
Vejo V0880 damno perto
Hireis perdendo o reynido
Etao bem tende per certo
Morrerdes desconsolado
23
59-
Luzitanna hi chainada
A Dama que deze)a^s»
Ella he dantes despozada
Perseguilla he por demais
60.
Ainda que em caza tem
De Ulices tantos poybSf
Hir-se hao comoos porcos
Ante o Leao que Tern. ,
61.
...
Esta profecia he beUa
Mux certa' e verdadeim,
Quezn Avtx boa* terccira
Gozara a Sabia Donzella.
'jrw
Fim da qiiarta parti.
24
Quinta patte das Trovas
de Bandarra.
1.
Quando de noite me ponho
A dormir sem me bcnzert
Tudo o que hade acuccder
Se me lepresenta emi Sonho.
2;
Sempre mandei esrc^er
Aquillo que mie lemb/ou,
Porque a memoria a postou
De tudo ae esquecer.
3.- ' '
Nas Trovaa que - tihhk feho
Muito ha que conciderar,
Como o seo tempo chegar
Se vera o meo conceito.
ft
Sempre por thezoiras faqo
As minhas contas mui certas,
Portas que hao de estar nbertaa
Nao sac boas para o pa^o*
25
6.
Ea nfto sou Profeta inteir*
£ menos na mixiha terra,
Mas vejo vir pella Serra
Atraz de hum Lobo hum Gordciio*
6.
O [Sol pello meio dia
Faz o e£Eeito de Geada,
Yejo partir huma armada
Corregada de agua fria*
7.
Huma grande tempestade
Com o ceo muiclaro, e SerennOf
Far^ humi homihem moreno
Com rezaa mas sem piedade.
8.
A minha trepeqa tern
Trez pez mui bem a^uvos,
Vejo frabricar huma muros
Mas eu nao sei para quem»
9-
Qiiem muitos anuos durar
Had« ver conzaa indignas.,
Tocar-se hao muitas boasinas .
Por hommems peixes do ma]^
26
Todo o mundo grita, e berra
Cada qual no sqo ofRciOf
Pois antes que hum beneficiOf
Qnerem^ peste, fomet e guerra*
11.
Quando fnto cdm a Suvella^
Coiro gro^«9 e Macio^
Yejo prender no Hocio
Quaze toda a parentella. .
12.
Eu tenho medo da morte
Como couza superior ^
O Presbitero maior
Naa had^ tomar a Cortc,
13.
Annos haode vir a ttrra
£mque <por nosaos peccado8»
Nas cazas fiquem os gados
As gentes vivao na Serra*
1ft.
Sempre como os meos feijooKA
Quando rem bem temperadoSf
Yejo no tonplo os Copadoa .
No Coral os Cappellaens,
27
15.
Son Sapateiro, mas Nobre
Com mui pouco Cabedal,
Etu triste Portugal
Quando mais rico, mais pobre,
16.
O (A.)^ que ponho as avessas
Com a pema atraz levantada.
Hade ter a mao annada
Para degoUar Cabe^jas.
17.
QuandOi a terra dos Falcoena
Certa erva* produzir,
Creio se hade conceguir
O deiur fora as Lezoens. .
18.
De hum brazeiro mui acezd
Dandolhe o vento ligeiro,
Se hade form an hum pinheiro
Sem ter medida, ncm pezo*
19.
» O Canro que vai chiando
For hir xmiito carregado^ /
Sim mostra o )Ugo pezado '
Mas lUio tira pezo andando.
.w
28
20.
A Horteta na Panella
Dizem que Ihe da bom go8tO|
Essa mulher de bom rosto
Nao ou^o tusnar bemdella*
21.
Hespanha mnito medroza
A Europa muito enfadada,
Huma xuulber de almofada
Sabe como huma rapoza* .
2o
mf9
As linhas comciae cozia
Ja nao como as de agora/
Temo que se deite fora
Quern Souber a Ave Mariat
Na era que eu tenho ditto
Nas Thezoiras levaatadasf
Se haode ver muitas jomadac
A' custa do Sao Benito.
2«.
Nao podd haver couza boa
Aonde Habita o mal Frances ^
Temo o polbo Porttiguea
Em poder de huma l>eoa«
29
25.
Quando o Leao Hisp^nhol
Vier quase a Portugal,
Hade 8er o nossD xnal
Querer hxzix como o SoL
Quando a novo como braza
Todaa as plantas queimar>
Dous quiutos se bao dd ajuntar
Sem hay^r )ogo na caza.
27.
•
Em bum lugar mais am'eno
Cercados dov mares groqosy
Vive por peccados iiossos
Quexn se sustesta com feno*
Sempre vein de mionte, a monta
As agoas das-.enxotTa!das^
£ veio testae cbroa'das ' '
Sentadas sabre buma ponte.
^ 29.
Quando tivereni por cercb '
Perdidff toda a esperanca,
Portugal tera bonanza
Na vlnda' da £ncuberco»
30
30.
Vejo vir pello mar iaigo
Como quein vem pa^a dentro.
Hum hommem buscar seo centra
Depois de hum grande lethargo*
31.
Quando me matar S. Jorge
£ Marcos me requscitar,
Sao Joao me exaltar
Fa^a todo o mundo alforge*
32.
Os pez da miiiha trepe^a
Conta trez vezes areio^
Ajuntalhe dous, e meio
Dizelhe . qu4 apare^a.
33.
Nao po^eia fazer queixume
De deixar q vosso. lar»
Que ae do norte ventar
Do Sul V08 vira o lume.
34.
Vejo a griEa. parideira
luntada com huma Serpentef
»
E vejo que muita gente
Tern disto graxfde caxieeira.
M
5$. ,
Vejo o Leao, e a Serp^ntQ
Atraz da. gente goleima,
Grita o gallo que ateixna
Com o Lobo que tem diantef
36.
Ja vejd grancle mofina
No porqaeiro de Sequem,
Que o gado todo eata bem
C<fm o Ovilheiro de Dina,
57.
Veio a Lua ensanguentada
Pella iFirtude do. Eacnbarto ,
Sb esta longe , ou ae perto
Aasim o diz a toada.
38.
La vem por sivok do mit
Hum Carallo de xaadtdra, -
Que fara n'huma pocira
O porco que hade gnuibar.
39.
Vijo pedras ajuntar '
La muito perto » da Lua
Vejo subir de huma, e bunia
,E nellaa e Sol entrar, .
■I
V
32
flO.
Vej<i pello meo Telhada
No Ceo gratide reaplendor,
Se he alegria, ou temer
. Esdras o tern declarado*
Vejo o Almocreve tomar
As Alamanhas antigasy
Vejo nascer' das ortigas
A remente la do mar
42.
La donde o Sol vem nascendo
Hum Djragao Tejo vir vindo,
A SCO Cabo vem carrendo ,
Mais bichos quo o vem seguindoii
O pMmeiro depois do quinfio
Filho d'Aguia levanuda.
Hade estender stia Espada
Sobre a Galia faminto*
Vejo sahiras' Gaivotas
De /dentro do nosso Te]0»
Taobem parece que veio
As duas por eUas rotg^^
« '
33
45.
Sonho que rebentao fontci
Da terra da Promi^ao,
E que 08 Gallos de Siao
Vao fugindo ate os'montes.
46.
Nao canta o Gallo com penna
Asaguias charao mofinaf
A aerpente encrespa a clina
Porque Deos assim o ordenna*
47.
Faremos dos dias noites
Vivendo como agrestes^
Havara castigo » ea^utea
Cada hum aefa^a prestea*
Fim da quinta parteV
34
Sexta parte das Trovas de
Bandarra.
\
*^f
Sonhei que via hum fumo.
Com grande forqa sahir f
E deixando de Subir,
Hum- altar vi no escuro:
Formava tao forte muro,
Que estava o Altar cuberto ;
Vi a hostia nao mui perto >
Do tal Altar arredada:
Huma cara sublimada^
£m ella vi per mais certo.
o
Pareceme que erescia.
Quern aasim o figurava:
Taobem sonhei me pegava.
Quern mulher me parecia:
£ que com voz me dezia^
Anda ver a terra nova,
Pella mao levou-me a cova^
Levava bello vestido,
Ai nuvems eu fui subido^
Onde vi a gente toda«
35
3* '
Negra, e amolatida,
Logo a terra baldcando,
Arespira^ao faltando
Eudaqni ja nao quis nada^
Para a terra de ' paneada
Me trouxe a tal xnulher,
Athe alcancei dizer
Vou segundja vez a terra |
Logo vinha resta era
E tornava a apare^i'«
Parecia a jneo ret
Nova Igreja figurada.
For hereges desterrada,
Na quella terra a tremer^
Quern Herege quizer ser
Ficara negro » ou molato^
£ tera todo m&o trato
Por fagir da boa Ley,
No Inferno sua grey
Para traz dara o SaIto«
/
36
Taobem sonhei que a nuvem
Cobria a gram redondeza^ '
Mui medonha, e espe^a
Taobem r;i|os q^e derCroem^
A quern a fal^a Ley tem^
£ depois vi.aclarar
Com hum clarao singular 9
£m dia de huma Sexihora
Em fe seguinte boa bora,
Seu nascimento sempar* , .
6.
£m sonhoa yi grorde armada
£a Lua, em rosso Tejo,
Ficandolhe o Sol por baixo
De huma Torre armada ^
Moiros tiverao entrada
Pella terra de christaosj ^
Na Igreja vi eates maos
Hum exercito Francez, .
Taobem entrou dastave^
Accompanh&do doa M^os« ,
« A
37
7.
Pella terra veio entraxido
Ath^ 86 perder de visu.
Com grande pr^qa, e cobii^a
Toda a vinhao derrotando'y
Taobem 08 Moinos chegando
Com grande astitcia, e prr^a,^
Vinhaa buscando a Cabe^a
A huma Cidade Real
Pouco cuida Portugal ^
£m 6 mal que Ihe aconteqa«
8.
Parece quo estou ouvindo
Nease mar a grau tormenta
Antes que chegue oa Setenta^
Caxas 9 Ballas » barberinhios
Entao h^. que vira vindo
O Grande pastor Geral ,
Acudir a tao grao mal ,
Dando as Oyelhas austento
£ taobem o Sacrainento
Viva o nosso Portugal.
38
9.
Poncoa^ tempofl pa^araSf
Segundo as Profrecias,
£m 08 Sinaes destes dias
Outroa que cedo virao
Huma Gran tribula^aof
Mas ao depois vera
A Yolu qne tudo ik,
Chegando logo a veneer
No mundo todo o poder
Na Igreja ficara«
10.
£m todas reste tuida
Com ma|or venera^ao^
So nella tern o Christaoy
Gloria na etema vida
Mas ai que a vejo cahida
Que primeiro vem chegandi)
Os boma largaudo o mundo^
Outroa morrendo i pre^a
Outroa perdem t Cabeqay
Moitos disao vqo folga^ido.
39
11.
Tanto Sangue pello campo
E tanto znorrer na iua»
Tantos deixao vida sua
Por guardar o nome- Santo >
Vgux da mulher o manto
Tera respeito on favor 9
Ja nenhum Ihe tern amor
A essa profanna vaidade^
Quando virem a Cidado
Fosta no maior horror*
12.
Ja de Franqa sera ferto
Qnem a Franca quiz andar
Nunca mais andem trajar,
Tomara nao ter o £ito:
Paga o povo por ingrato
O desprezo qne tern feito,
Da Patria do minfao aceito
Dando redias ao profanno.
Terao o seo desenganno^
Com o Vestir mais perfeito.
40
15.
Com Sangue, Boubo» e Deshonra
Com xuortesy e Vituperios,
Fomes doen^as^ e Guerrasy
Querendo acahar a terra
Com mui grande alarido^
Todos ficarao com sentido
Com o mal nao esperado
Sera prezo o Diabo
Porque entao tudo he acabad^
£o morto sera vivo.
14*
Era taobem logo chega
Que a todos de asento^
Sera fim este tormeuto 9
Quern com bonanza navega
Entao armada mala fera^
Livranos do InemigOy
Com bom valor 9 e abrigo
O Beato Sao Joao
Em seo dia nos da amao^
£0 Incoberto vivo.
41
15.
Qaem destruir os do Norte
Eos Mpiros deitar fora»
Matandolhe a gente'toda
Em Cacilhas fora corte
La vereis o estandarte
Coni as quinas aconado
E emtao vereis mostrado
Em sima o, bom Jezus »
E taobem a Santa duz
Para veneer o Diabo.
16.
Veremos o mar vermelho
Sem hir a Jerasalemy
A qui verao os que temi
Tom&do o meo concelho^
Em si proprio o espelho^
Muito Sajfigne em si correndo
Mas quem for obedecendof
Passara sobre o ^mar
Sem que precize nadar^
Vera o maior portepto.
42
17.
Em Cafisilhas a Bandeira
Com estandarte Keal,
Logo Herogei pot seo mal^
A morte tern de Carreira
Tera este na Simeira'
Hum Csristo erucificado »
Vera o povo xnalvado
O quao cego tern vividoy
Em terem perceguido
£a zuuitos marterizado*
18.
O Molro, Tureo, Francez
Nao poderao tiagir todosy
Porque xuuitos serao xnortos
As maos do bom portaguez^
La levarao desta vez
Novas aos seus que eontar>
Quando virem em portugal
O Encaberto deolaradoy
Castigando todo o estraga
Que elles yierto cauzar«
43
19.
Nenhiim remedio Ihe sinto
O Nao Tirea melhor fora ,
Yenha seni em boa bora
Quern ao lobo famintOy
Lbe ponba em sangue dnto
For essas ruas no cbao »
Bandeiraa em confucao
Flores f Barretes , e Capas
Deste bom Rey nada escapa^
Viva o Grao Sebastao,
20.
Sonbei que via veneer
Aa quatro partes do mundo^
£ que Portugal a tudo
Hia dando que £fizer»
E taubem fazendo ever
O £Vangelbo9 e a Cruz
Ao povo £aUo de luz,
Sacrament6 etemo dia
Taobem a Virgem Maria
Todos com p bom Jeziis.
44
21.
Sonhei que o Sacramento
Em todo o mundo em redondOf
Ja das almat aera dono
Is to maior portento 9
Taobem grao contentamento 9
Em ver os Bejs me cauzou
Que na geraqao dotou ,
La de Affon^o o primeiro
The trinta o derradeiro,
Onde o primeiro acabou*
For humgrande oppozitor
Depois da linha acabada^
Este fara derrotada,
A Igreja com horror 9
A* besta mete pavor
Emi trez^ e meio de dura
Tanu gente a Sepultura,
O Martir gloriozo
For fugir do tenebrozo*
A seguir a Vlrgem purst
45
Por mil 9 eduzentos annos
A Igreja reinara,
la todo o Christao sera
Vivendo como irniaoa,
Nem trapa^as neiu enganos
Debaixo de huxna cabeqa^
No 860 Imperio , e pastor ,
Por Sebastiao Senhor
A quern tudo obede^a
Com Zelo, e grande amor.
24.
Este Rcy de Deos guardado
Para limpeza do itltindo,
De talsorte poH tudo
Que deos seja venerade,
Em Portugal exaltado
De pequeno grao' Senhor f
Os mais todos com Payor
Logo o haode coroar,
Por Imperador sempor
Ao depoia do Creadon
46
Sonhei que via descer
Hum Anjo em huma nuvem
Mostrando que ja deatroe
Quem Herege quizer ser^
Daqui vera a entender
Pella yoz que Ihe ouyi
E com fiiror disae as^lm,
"Morra o Blasfemador
''De Ley do bom Kedemptor,
*'0 Prencipio desde aqui.
26.
Taobem a Lua correndo
Sonhei que avia vir
Per trez vezes a cahir^
£ Portugal perecendo
A isto o que euentendo
Que figura muito moirOf
Viudo a buscar o oiro^
£ xnais riqueza notoria
Fazendo perder a gloria ,
A quem delle foz thezoiro.
• 47
07
*0 f •
Quantos destes vao roubaxldo
Ai quando virem chegar^
Muitas Naos em este mar
£ gente em terra botando
£ntao ouvirao. o bando »
Mata^ fere, e degoUa^'
Ficando a gente toUa
Tao telia, comp pasmada
£a terra derrojtada
Perceguida a toda a hora.
28.
Morem» e ficao Cathalicos,
Hums mprrem, outros pelejao
Outros depr^^a despeiao;,
O melhor que guardao vivos »
Ja fallao Leaes amigos
A imgratidaa sobeia^
£ algiims comgr^nde inveia^
So cuidao em .bem furtar^
Nenhum yuer a tuvar
O Mai que ttpiito iob«ja»
4«
29.
Nenhuin vemidio se sente
Sem ter meio de Apellar
Nem na terra 9 nem no Mar^
Vendo preza maior gente
OmaU alto delinquentey
Nao ficara sem castigo
Quern xuTiito prende taobem
Sera prezo, e cativo^
Pezarlhe ha de servivo
Estando 86 aem nixnguem^
Nas annas pega a mulher
Taobem entra em GorcelhOy
Entao acode o bom Valbo
SebasdaS Udeser,
£ tudo em seo poder
Ficara com grao limpeza
On Magestadey Alteza
Ben livras do Cativeiro
Lobo se toma , em Cordeiror
Em paga da tal Fineza^
^
49
31.
Contra gtaS Senhor se ergue
Com furia, Asturia, e Manha^
£sparta, forte » Companha,
De seo maior xnal Ihe serve,
Taobem quexn ajuda perde
Houra, fazenda, e Vida,
Depois de no mar vencida
E na terra maio^ risco^
Sepultado no abismo
De todo 9GTk perdida«
Perde Braga, vence o Porto
£ todas serao entradaa^
£m o fogo das pancadas
£m Bahia grar dectro^o,
De Lagos ilea bem pouco
Lisboa ja he Senhora^
De cativa deffen^ora
Da Ley que haode guardar f
Os que se querem salvar
£ morrer em boa hora.
4
50
33.
Viva o graiwle Portugal
Todos saltao de content^s,
Mulheres com seos pafrentes
Ficao livres do grao mal,
Veja agOra cada qual
De que sor(e poem a vida^
No levantar da eahida
Tem o vemido xiamaof
Quem cuidar em bom ChrisUo
Sua alma sera 8ubi4a«
34.
£ todo o mundo sugeito
A esta naqao portugu^za.
For aquella grande Alteza
Que Chris to tem em secy peitOf
For Ihe ser o mais aceito
Na Fe, Constancia, e Valor,
Peregrimo , e Senhor
Gram trabalhos padecendoi
Em fortaleza padecenda .
£m o mundo grao valor*
\
35-
£m humildadey e esperan^a
A niaior que ja Be vio.
Com caridade subio
Ao lugar que logo alcanna ,
Justi^a com temperan^a
Na prudencia o primeirOf
Ko castigo o derradeiro *
£spcrando a Sugei^ao^
Logo chega o pagao
A sex Gbristao verdadeiro*
36.
Portugal fica mais nobre
£m todo elle o poder,
£ taobem se hadever
Ficar rico, o que foi pobre^
Aquelle a quern a fe cobre
Firme na Santa Igreja,
Todos Ibe terao inveja,
Quando virem Portuguezes
Vencendo Turcos, FrancezeSf
£ Moiros^ em grao Peleja,
51
'K*^
Si"
Dois descenclentes que traz
De grande Vj?^lor, e Brio ^
O Mais velho em Senli<i^;ia
Pori a guerra, ein JPaz,
Verao todos o que faz
De boms na Santa I^reja,
A forca Ihe tern inveja
A Fortuna, e augmento^
Fara parto o Sacramento
Oude toda Christao seja.
• ■ .38. ■ ' ■
O PiiStor mor cedo falta
Seo descendente reirianflo ,
E grande castigo dando
Ao8 vezinhos de Malta,
Quando Veneza se exalta
De Franqa he Malograda,
Cauzara nestapancada
^ntre os seos naturaeSy -
Serao os castigos taes . ' ,
Que toda seja arra4j^^^^^ •% „,^
Fim da Sexta Parte^
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