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Full text of "Únitas."

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LIBRARY  OF  PRINCETON 


NOV  1 0 2004 


THEOLOGICAL  SEMINARY 


PER  BR7  .U54 


Zn  i t a s . 


Digitized  by  the  Internet  Archive 
in  2016 


https://archive.org/details/unitas2111inst 


PREÇO:  10,00 

ANO  21  — N."  1 
JANEIRO  — 1959 


Vigésimo  primeiro 

2 

Miguel  Rizzo 

Religião  e Sepultura 

5 

M.  R. 

Notas  e Comentários 

9 

J.  Goulart 

Segundo  apêlo  de  Albert 
Schweitzer 

13 

Conheça  a sua  Híblia 

22 

Júlio  A.  Ferreira 

Noções  de  psicologia 
Religiosa 

27 

Samuel  Figueira 

Concepção  cristã  da  raça 

33 

Visser’t  Hooft 

Métodos  de  Evangelização 

3fi 

Oscar  Arruda 

Uma  escolha  má 

39 

Religião  de  Palavras 

43 

Sabatini  Lalli 

Curiosidades  Biográficas 

49 

Sinais  Perigosos 

56 

Lauro  Bretones 

THFOI  OGiCM  SEMINAR' 


CURSO  SUPERIOR  DE  RELIGIÃO 
PATROCINADO  PELO 
INSTITUTO  DE  CULTURA  RELIGIOSA 


As  aulas  começam  em  março  próximo  e serão  ministradas 
em  um  dos  salões  do  Instituto  Mackenzie,  aos  domingos  à tarde. 
Eis,  em  síntese,  o programa  das  matérias; 

I . Evolução  das  religiões  — Elas  estão  passando  por  acen- 
tuadas modificações.  O estudo  dêsse  fenômeno  será  feito  nas  aulas 
com  abundância  de  pormenores. 

II.  Cristianismo  primitivo  — A religião  que  a maioria  da 
cristandade  hoje  representa  está  longe  de  ser  igual  ao  cristianismo 
pregado  e exemplificado  pelos  fiéis  nos  primeiros  séculos  da  era 
cristã.  Êsse  tema  será  amplamente  discutido  nas  aulas. 

III.  Cristianismo  positivo  — Existe  um  tipo  de  religião 
que  se  espraia  em  especulações  teológicas  estéreis  e até  perniciosas. 
Não  é êsse  o cristianismo  de  Cristo.  Qual  será?  Essa  resposta  os 
alunos  do  Curso  terão  clara  e muito  exemplificada. 

IV.  Experiência  religiosa  — O cristianismo  possui  um  sis- 
tema doutrinário  fascinante.  No  entanto,  êle  não  é só  doutrina. 
Essas  se  refletem  na  experiência  individual.  O estudo  dessa  parte 
da  religião  cristã  será  amplamente  de.senvolvido  nas  aulas. 

OB.SERVAÇÕES 


O curso  é de  três  meses  e vai  de  l.°  de  março  a 31  de  maio. 

Os  alunos  receberão  aj>ostilas  da  matéria  dada.  O Instituto 
de  Cultura  Religiosa  dará  um  certificado  aos  tpie  terminarem  o 
Curso. 

Durante  o jjeríotU)  das  aulas  os  alunos  terão  de  ler  vários 

livros. 

As  pessoas  (jtie  desejarem  inscrever-.se  ne.sse  Curso,  devem 
fazê-lo  imediatamente.  Lendo  aqui  seus  nomes  e enderêços,  nós 
lhes  daremos  notícias  mais  pormenorizadas  a respeito  dêsse  traba- 
lho. Êle  é feito  com  o intuito  de  preparar  pes.soas  para  levarem 
avante  um  grande  movimento  de  renovação  espiritual  no  Brasil. 
Peçam  informações  pelo  telefone:  51-7199. 

As  aulas  .serão  dadas  pelo  Secretário-Executivo  do  Instituto. 


• Verifique  se  a sua 
assinatura  está  vencida  ou 
por  vencer  pròximamcnte. 
Mande-nos  logo  a im- 
portáneia  de  Cr$  100,00 
para  que  lhe  possamos 
continuar  a enviar  a re- 
vista regularmente. 

• Ao  enviar  qualquer 
importância,  faça-o  em 
nome  do  Instituto  de 
Cultura  Heiigiosa,  e não 
cm  nome  pessoal  de  qual 
quer  dos  diretores. 


ÚNITAS 

órgão  Oficial  do  Instituto  de  Cultura  Religiosa 

Diretor  — MIC.UFL  RIZZO  JR. 

Redator  — LAURO  bRETONF.S 


Colaboradores  permanentes: 

Jorge  Goulart,  Adauto  Araújo  Dourado,  W.  J. 
Goldsmith,  Camilo  Ashear,  Oscar  Arruda,  Alceu 
Maijnard  Araújo,  Odilon  Nogueira  de  Matos, 
Mário  Barreto  França,  José  Borges  dos  Santos  Jr.  e 
Samuel  Figueira 


EXPEDIENTE 


• Envie-nos  suas  im- 
pressões sõbre  a revista. 
Elas  são  de  grande  ajuda. 
Estamos  procurando  fazer 
o melhor.  Mas  gostaríamos 
de  saber  como  nossos  lei- 
tores estão  vendo  a sua 
revista.  Escreva-nos. 


• Pedimos  tambãm  seu 
auxilio  para  o aumento 
do  número  de  leitores  da 
revista.  Procure  oferecer  a 
um  amigo  uma  assinatura 
anual  a titulo  de 
experiência. 


O Bei>.  Miguel  Bizzo  Júnior,  Diretor  desta 
revista,  atenderá  somente  às  terças  e quin- 
tas-feiras das  14  às  17  horas,  à Rua  Barão  de 
Tatui,  .'■>28. 


Assinatura  anual Cr$  100,00 

Número  avulso ” 10,00 

Sócios  do  Instituto: 

Mensalidade  — 

Interior Cr?  20,00 

S.  Paulo,  Rio,  Recife  . . ” 25,00 


Endereço : 

Rua  Barão  de  Tatiií  n.°  528  — Caixa 
Postal  7.203  — Tel  51-7Í99 
SÃO  PAULO  — Brasil 


VIGÉSIMO 


PRIMEIRO 


Miguel  Rizzo  Júnior 


Com  êste  número  entra  esta  revista  no  vigésimo  primeiro 
ano  de  sua  publicação.  Ela  surgiu  para  executar  um  programa 
cuidadosamente  elaborado.  E não  se  afasta  dêle. 

Para  que  se  tenha  uma  idéia  das  diretrizes  que  nos  orien- 
tam, transcrevamos  alguns  trechos  do  artigo  com  que  a revista  se 
apresentou  ao  público: 

“A  realização  da  vida  ideal  depende  de  dois  elementos  essen- 
ciais — princípios  verdadeiros  e dinamismo  eficiente  para  trans- 
formá-los em  realidade  viva  na  conduta. 

A ausência  do  primeiro  desses  fatores  chega  a inutilizar  es- 
forços sinceros  e até  abnegações  robustas  de  muitas  almas  nobres 
que  almejam  alcançar  sucesso  na  formação  de  uma  personalidade 
moral  inteiriça. 

Não  só  no  terreno  espiritual,  como  em  todos  os  setores  da 
atividade  humana,  os  sucessos  reais  depende?7i,  em  grande  parte, 
de  princípios  exatos.  A exemplificação  dessa  tese  é facílima,  por- 
quanto são  incontáveis  os  fatos  que  a comprovam. 

Ai  vão  algu7is  dêles. 

Segundo  a apreciação  de  lun  critico  7nilitar  arguto  e fra7ico, 
os  insucessos  reiterados  de  várias  expedições  7nilita7es  que  se  di- 
rigira7n  a Ca7iudos  se  explica7n,  em  grande  parte,  por  tun  êrro  de 
principio.  Os  co7nandantes  de  algu7uas  das  expedições  que  ali  pe- 
lejara7n  havia7n  organizado  o pla7io  da  ca7npa7iha  e77i  7noldes  clás- 
sicos, 710S  quais  a distribuição  das  tropas  piessupõe  combates  de 
e7ivergadura  co7n  adve7sários  ta7nbé’77i  organizados  de  acordo  com 
a 77ies7na  técnica  7nilitar.  Não  sendo  ésse  o caso  que  se  verificava 
nos  adustos  sertões  da  Bahia,  forçoso  seria  adotar-se  ali  outro  cri- 


Janeiro  de  1959 


— 3 


tério  para  a organização  da  investida  sobre  aquela  cidade,  hoje 
lendária. 

Deslembrados  dêsse  pormenor  importantíssimo,  emperraram 
os  condutores  das  expedições  na  técnica  dos  combates  clássicos.  Re- 
sultado: as  maiores  abnegações  de  oficiais  briosos;  os  sacrifícios,  às 
vezes  inaturaveis,  de  soldados  heróicos;  e tudo  o mais  que  se  fêz 
ali,  no  fragor  da  luta,  não  pôde  evitar  derrotas  retumbantes  e ver- 
gonhas. E elas  se  explicam,  em  grande  parte,  pela  tresloucada  rein- 
cidência no  uso  de  inadequados  princípios  estratégicos. 

Outro  exemplo:  na  Idade  Média,  aceitava-se  o princípio  do 
direito  divino  dos  reis.  Eram  êles  considerados  ministros  de  Deus 
e,  como  tais,  intangíveis  e abroquelados  contra  qualquer  possibili- 
dade de  êrro.  Suas  ordens  e caprichos  eram  inatacáveis.  O prin- 
cípio era  escandalosamente  falso.  E quem  poderá  descrever  os 
males  sociais  e políticos  que,  tragicamente,  recairam  sobre  a infeliz 
humanidade  como  resultado  dessa  concepção  falsa  do  direito? 

Ainda  outro  exemplo  mais  comezinho  e chocante.  Suponha- 
mos que  um  indivíduo  aceite  que  dois  e dois  são  cinco.  E’  um  prin- 
cipio errado.  Poderia  êsse  indivíduo  negociar?  E’  possível  que  che- 
gasse a fazer  algumas  transações.  EJ  certo,  porém,  que,  em  dado 
momento,  êle  não  lograria  acertar  as  suas  contas  por  maior  que 
fôsse  a energia  intelectual  e o tempo  que  a isso  dedicasse. 

Essa  hipótese  é absurda,  dirá  alguém.  Pois  não  é.  Na  vida 
moral  e espiritual  indivíduos  há  que  aceitaram,  como  diretrizes  da 
conduta,  erros  tão  berrantes  como  o absurdo  matemático  acima 
aludido. 

Decorre  de  tudo  isso  que  a fixação  de  conceitos  exatos  da 
vida  moral  é imprescindível  para  a formação  condigna  da  perso- 
nalidade. 

A vida  religiosa  não  escapa,  de  maneira  alguma,  a essa  exi- 
gência inflexível:  doutrinas  verdadeiras,  não  há  negar,  são  essen- 
ciais para  que  haja  verdadeira  piedade.  Os  efeitos  de  doutrinas 
errôneas,  como  se  pode  exemplificar  fartamente  no  Brasil,  se  refle- 
tem de  mil  maneiras  na  orientação  do  espirito,  dos  afetos,  das  es- 
peranças e do  destino  humano.” 

Depois  de  fazer  uma  série  de  considerações  a respeito  do 
programa  com  que  nos  apresentávamos  em  público,  dizíamos:  “A 
estrada  que  vamos  percorrer  é longa.  Acidentada,  talvez.  Mas  os 


4 — 


ÚNITAS 


nossos  pés  não  vacilam,  nem  nos  fraqueja  o ânimo  porque  nós 
já  a vemos  iluminada  por  clarões  que  procedem  do  Infinito”. 

Há  vinte  anos  que  nós  a estamos  pahnilhando.  Dupla  tem 
sido  a nossa  tarefa:  proclamar  os  princípios  exatos  da  conduta  e 
apresentar  estímulos  para  que  êles  operem  na  formação  do  caráter. 

Não  nos  preocupa  a exposição  ou  a defesa  dos  sistemas  dou- 
trinários específicos  dos  vários  corpos  eclesiásticos  que  trabalham 
no  Brasil.  Concebemos  o cristianismo  em  têrmos  do  reino  de  Deus, 
exatamente  como  o fêz  Cristo.  Onde  houver  quem  faça  a vontade 
de  Deus,  ai  está  um  súdito  do  seu  reino.  Esforçamo-nos  para  que 
êsse  domínio  espiritual  abranja  a maior  área  possível  em  nosso  pais. 

Até  hoje  trabalhamos  muito  para  consolidar  a obra  que  ini- 
ciamos com  esta  publicação.  Entramos  agora  numa  fase  nova:  a 
do  aperfeiçoamento.  Vamos  fazer  o possível  para  que  esta  revista 
entre  em  um  período  de  acentuado  progresso. 

Os  leitores  que  nos  acompanharem  perceberão  por  si  mes- 
mos como  é que  essa  etapa  da  vida  deste  periódico  vai  carac- 
terizar-se. 

Esperamos  que  ela  se  apresente  de  modo  a receber  aplausos 
de  todos  quantos  acompanham  com  simpatia  Jiossos  reiterados  es- 
forços para  progredir. 


)•( 


0 alcoolismo  é um  vício  dos  cristãos,  desconhecido  dos 
maometanos. 


)•( 


CURIOSO 

O “Anuário  Estatístico  do  Brasil”  (oficial)  informa  que  “ha- 
via no  Brasil,  em  1955,  4.777  pastores  protestantes  e 7.031  padres 
Romanistas.  Três  Estados  já  possuem  mais  pastores  que  padres. 
O Estado  do  Rio,  tinha  427  pastores  e 226  padres;  Santa  Catarina 
tinha  326  pastores  e 233  padres;  Espírito  Santo,  200  pastores  e 
98  padres.  Rio  Grande  do  Sul,  Goiás,  Maranhão  e Acre  estão  em 
igualdade  de  número  de  pastores  e padres." 


RELIGIÃO 

E 

SEPULTURA 


M.  R. 


Quem  estuda  as  religiões  do  pas- 
sado encontra  logo  alguns  carac- 
terísticos dela  bem  salientes.  Um 
dêles  era  o apêgo  à sepultura.  Os 
povos  da  Roma  Antiga  encaravam 
a morte  não  como  a dissolução  do 
sêr,  mas  como  transformação  da 
própria  vida.  Essa  crença  provo- 
cava logo  uma  questão.  Em  que 
lugar  passaria  o homem  sua  segun- 
da existência?  Eis  o que  Fustel 
de  Coulanges  escreve  sôbre  o as- 
sunto: “Cria-se  que  o espírito  imor- 
tal, uma  vez  saído  dum  corpo  ia 
animar  um  outro?  Não;  a crença 
na  metempsicose  nunca  pôde  en- 
raizar-se no  espírito  das  popula- 
ções greco-italianas;  também  não 
era  essa  a mais  antiga  opinião  dos 
Aryas  do  Oriente,  pois  que  os  hi- 
nos dos  Vedas  estão  em  oposição 
com  ela.  Cria-se  que  o espírito  su- 
bia para  o céu,  para  a região  da 
luz?  Também  não;  o pensamento 
de  que  as  almas  entravam  numa 
morada  celeste,  é duma  época  re- 
lativamente recente  no  Ocidente;  a 


habitação  celeste  era  considerada 
apenas  como  a recompensa  para  os 
grandes  homens  e para  os  benfei- 
tores da  humanidade.  Segundo  as 
mais  antigas  crenças  dos  Italianos 
e dos  Gregos,  não  era  num  outro 
mundo  que  a alma  ia  passar  a sua 
segunda  existência;  ficava  perto 
dos  homens  e continuava  a viver 
debaixo  da  terra”.  Acreditava-se 
que  na  segunda  existência  a alma 
permanecia  associada  ao  corpo. 

Os  ritos  praticados  junto  às  se- 
pulturas, mostram  claramente  que, 
quando  se  metia  um  corpo  no  se- 
pulcro acreditava-se  que  ao  mes- 
mo tempo  se  metia  lá  alguma  coi- 
sa que  vivia.  Virgílio,  que  descreve 
sempre  com  tanta  precisão  as  ce- 
rimônias religiosas,  termina  a nar- 
rativa dos  funerais  de  Polidoro 
com  estas  palavras:  “Encerramos 
a alma  no  túmulo”.  Expressões  se- 
melhantes se  encontram  em  vários 
outros  escritores. 

Havia  0 costume  de,  no  final  da 
cerimônia  fúnebre,  chamar  três  vê- 


6 — 


Ú NIT AS 


zes  a alma  do  morto  pelo  nome  que 
era  usado  em  vida.  Desejava-se- 
-Ihe  que  vivesse  feliz  debaixo  da 
terra.  Dizia-se-lhe  três  vêzes  — 
“passe  bem”,  acrescentando: 

— Que  a terra  te  seja  leve. 

Na  antiguidade  acreditava-se  tão 
firmemente  que  um  homem  vivia 
mesmo  depois  de  sepultado  que 
nunca  se  deixava  de  enterrar  com 
êle  os  objetos  que  lhe  poderiam  ser 
necessários.  Entre  êsses,  vestidos 
e armas.  Derramava-se  vinho  so- 
bre o túmulo  para  lhe  apagar  a 
sêde.  Deixavam-se  ali  alimentos 
para  matar-lhe  a fome.  Degola- 
vam-se cavalos  e escravos,  pensan- 
do que  seriam  úteis  ao  morto.  De- 
pois da  tomada  de  Tróia  os  gre- 
gos, de  volta  para  seu  país,  leva- 
ram consigo  uma  bela  cativa.  Aqui- 
les já  estava  debaixo  da  terra.  Po- 
lixena  foi  morta  sôbre  o seu  tú- 
mulo para  fazer  companhia  ao 
herói. 

E’  fácil  de  perceber  que  a sepul- 
tura tinha  um  valor  especialíssimo 
para  os  povos  que  cultivavam  tais 
crenças.  Para  êles  a alma  só  se 
fixava  na  morada  subterrânea  se 
o corpo  ficasse  ali  coberto  de  terra. 
A alma  que  não  tinha  túmulo,  não 
tinha  morada.  Andava  errante.  Ja- 
mais teria  repouso.  Peregrinava 
sempre  sob  a forma  de  fantasma, 
sem  nunca  receber  oferendas  e os 
alimentos  de  que  tanto  necessitava. 
Desgraçada,  tornava-se  dentro  de 
pouco  tempo  malfazeja.  Atormen- 
tava os  vivos,  mandava-lhes  doen- 
ças, devastava-lhes  as  searas,  ater- 


rorizava-os com  aparições  lúgubres 
para  os  lembrar  de  que  lhe  de- 
viam dar  sepultura  ao  corpo.  Daí 
é que  vieram  as  crenças  nas  almas 
do  outro  mundo.  Não  era  para  a 
ostentação  de  dor  que  se  realizava 
a cerimônia  fúnebre.  Era  para  ga- 
rantir o repouso  e a felicidade  do 
morto. 

Suetonio  conta  que,  pelo  fato  de 
não  ter  sido  enterrado  o corpo  de 
Caligula  com  cerimônia  fúnebre, 
sua  alma  andou  errante  e apareceu 
aos  vivos  até  o dia  em  que  se  de- 
senterrou o corpo  e lhe  deu  sepul- 
tura segundo  as  regras  do  ritual. 
Os  homens  da  época  temiam  menos 
a morte  do  que  ficarem  privados 
de  sepultura.  Os  atenienses  mata- 
ram generais  que,  depois  de  uma 
vitória  no  mar,  não  tinham  dado 
sepultura  aos  mortos.  Êsses  gene- 
rais, discípulos  de  alguns  filósofos, 
destiguiam  a alma  do  corpo  e não 
acreditavam  que  a sorte  dela  es- 
tivesse tão  ligada  ao  fisico.  Acha- 
vam que  pouco  importaria  que  um 
cadáver  se  decompusesse  na  terra 
e na  água.  Mas  a multidão,  em 
Atenas,  acusou  os  generais  de  im- 
piedade e fê-los  morrer.  Pela  vi- 
tória, dizia-se,  tinham  salvo  Ate- 
nas; mas  pela  sua  negligência  ti- 
nham perdido  milhares  de  almas. 
Os  pais  dos  mortos,  horrorizados 
com  o longo  suplício  que  as  almas 
iam  sofrer,  compareceram  ao  Tri- 
bunal em  trajes  de  luto  e recla- 
maram vingança.  Nas  cidades  an- 
tigas a lei  punia  os  grandes  cri- 
minosos com  um  castigo  reputado 


Janeiro  de  1959 

horripilante:  era  a privação  de  se- 
pultura. 

Periodicamente  os  parentes  do 
morto  levavam-lhe  refeições  ao  tú- 
mulo. Ovidio  e Virgilio  fazem  des- 
crição minuciosa  dessa  cerimônia. 
Os  túmulos  eram  cercados  de  gran- 
des grinaldas,  de  plantas  e de  flo- 
res. Sôbre  êle  se  colocavam  pas- 
téis, frutas,  sal,  leite  e vinho.  Essa 
cerimônia  fúnebre  não  era  apenas 
uma  comemoração.  O alimento  era 
mesmo  para  o falecido.  A prova 
disse  é que  o leite  e o vinho  era 
derramado  sôbre  o túmulo,  mas 
abria-se  um  buraco  para  que  os 
outros  alimentos  chegassem  até  ao 
morto.  Num  dos  parentes  poderia 
usar  para  si  os  alimentos  consa- 
grados aos  mortos. 

Entre  os  gregos,  na  frente  de 
cada  túmulo,  havia  um  lugar  des- 
tinado ao  preparo  do  alimento.  O 
túmulo  romano  tinha  uma  espécie 
de  cozinha  para  uso  do  morto.  Plu- 
tarco  conta  que,  depois  da  batalha 
de  Platéia,  o povo  da  cidade  se 
comprometeu  a oferecer  alimento 
aos  mortos.  Luciano  afirma:  Os 
mortos  nutrem-se  dos  manjares  que 
colocamos  sôbre  seu  túmulo  e be- 
bem 0 vinho  que  lá  derramamos; 
de  modo  que  o morto  a quem  não 
se  ofereça  coisa  alguma  está  con- 
denado à fome  perpétua.  Essas 
crenças  parecem-nos  muito  falsas 
e ridículas.  No  entanto,  exerceram 
seu  império  durante  grande  núme- 
ro de  gerações. 

Um  hábito  notável  da  época  re- 
laciona-se com  essas  supertições. 


— 7 

Ninguém  desejava  morrer  sem 
deixar  filhos  que  tratassem  de  co- 
locar alimento  no  túmulo.  Quem 
não  tinha  filho  adotava  um.  Um 
oradorateniense  explicando  a ne- 
cessidade que  um  cliente  seu  teve 
de  adotar  um  filho  dizia  que,  se 
não  houvesse  adoção,  ninguém  fa- 
ria sacrifícios  em  honra  ao  morto 
e nem  lhe  ofereceria  os  repastos 
fúnebres.  Tal  a importância  que 
os  próprios  tribunais  davam  ao 
fato.  A adoção  só  era  permitida  a 
quem  não  tivesse  filhos. 

Como  se  vê,  o bem-estar  da  alma 
do  morto,  segundo  essas  crenças, 
dependia  inteiramente  do  cuidado 
com  que  seus  parentes  promoves- 
sem cerimônias  especiais  para  tal 
fim.  Em  certos  setores  da  vida 
espiritual  do  mundo  ainda  há  ves- 
tígios dêsse  êrro  do  paganismo.  Em 
nosso  meio  mesmo,  muitas  pessoas 
pensam  que  devem  promover  ceri- 
mônias para  garantir  a salvação 
dos  seus  parentes  que  já  partiram 
para  o Além.  O advento  do  cris- 
tianismo, durante  séculos,  modifi- 
cou êsse  conceito  pagão  relativo  à 
paz  dos  mortos.  Mas  no  decorrer 
dos  tempos  a mesma  idéia  voltou 
a incorporar-se  às  crenças  de  mui- 
tas pessoas  até  hoje. 

Além  do  apêgo  à sepultura  as 
religiões  antigas  tinham  outro  ca- 
racterístico que  as  torna  comple- 
tamente diferente  das  de  hoje.  A 
religião  era  doméstica.  Por  mais 
estranho  que  pareça,  os  deuses  não 
aceitavam  adoração  de  todos  os  ho- 
mens. Não  se  apresentavam  mes- 


8 — 


ÚNITAS 


mo  como  sendo  deuses  do  gênero 
humano.  Na  religião  primitiva 
cada  um  dos  deuses  só  poderia  ser 
adorado  por  uma  familia.  A reli- 
gião era  puramente  doméstica. 

Não  raro,  duas  familias  viviam 
ao  lado  uma  da  outra  mas  tinham 
deuses  diferentes.  Se  um  moço  de 
uma  família  pede  em  casamento 
uma  jovem,  essa,  antes  de  deixar 
a sua  casa,  terá  de  abandonar  o 
fogo  paterno  e,  depois  disso,  ado- 
tará 0 deus  do  esposo.  Deixa  o 
deus  da  sua  infância  para  se  colo- 
car sob  o domínio  de  outro  que  ela 
não  conhece.  A praxe  seguida 
nesse  particular  é para  nós  muito 
estranha  e pode  ser  sintetizada 
assim:  A partir  do  casamento  a 
mulher  nada  mais  tem  de  comum 
com  a religião  doméstica  de  seus 
pais:  passa  a adotar  a religião  do 
marido.  O casamento  era  pois  um 
ato  grave.  Sem  a renúncia  da  re- 
ligião paterna,  a mulher  não  pode 
tomar  parte  nas  cerimônias  reli- 
giosas do  novo  lar  que  vai  consti- 
tuir. O ato  religioso  do  casamento 
não  era  celebrado,  invoncando  os 
deuses  do  Olimpo,  Júpiter,  Juno  e 
outros.  Não.  A cerimônia  não  se 
realizava  no  templo.  Era  cm  casa 


e 0 deus  doméstico  é que  presidia 
ao  ato. 

Como  estamos  vendo,  a religião 
antiga  longe,  muito  longe  estava 
de  ser  universal.  Jamais  passou 
pela  mente  daqueles  adoradores  a 
idéia  de  que  se  pudesse  ter  uma 
religião  para  tôdas  as  famílias  da 
cidade.  Muito  menos  para  a po- 
pulação do  país.  E’  preciso  notar 
ainda  que  algumas  das  religiões 
antigas  jamais  pretenderam  ser 
universais.  Nem  poderiam  ter  essa 
pretensão,  porquanto  algumas  pe- 
culiaridades delas  eram  de  tal  for- 
ma locais  que  não  seria  possivel 
pretender  que  se  espalhassem  pelo 
mundo. 

Estudando  êsses  fatos,  fàcilmen- 
te  verificamos  como  o cristianismo 
é diferente  de  tôdas  essas  religiões. 
Jesus  Cristo  ordenou  que  se  pre- 
gasse o evangelho  a todos  os  po- 
vos. E êle  está  sendo  pregado.  Já 
existem  traduções  do  Evangelho 
em  cêrea  de  duas  mil  línguas.  Não 
faz  muito  tempo,  foi  êle  traduzi- 
do para  duas  línguas  de  tribos  in- 
dígenas do  Brasil  que  pela  primei- 
ra vez  tiveram  expressão  escrita. 

Só  a relião  cristã  pode  ser  uni- 
versal. 


NOTAS 

E 

COMENTÁRIOS 


CARIDADE 

Não  empregamos,  aqui,  a pala- 
vra, no  sentido  comum  de  genero- 
sidade, de  espírito  caridoso,  de  dar 
esmolas.  S.  Paulo,  numa  passagem 
célebre  dos  seus  escritos,  disse: 
“Ainda  que  eu  distribuísse  tôda  a 
minha  fortuna  para  sustento  dos 
pobres,  se  não  tivesse  caridade, 
nada  me  aproveitaria”.  É dessa  ca- 
ridade, no  original  ágape,  que  é 
mais  do  que  dar  esmolas,  que  fa- 
lamos. Diz-se  que  caridade  é a ex- 
pressão concreta  do  amor.  Nem 
sempre,  porque  muitos  dão  esmola 
sem  sentir  pelo  próximo  a menor 
afeição. 

As  palavras  mudam  de  sentido. 
Têm  sentido  literal  e têm  sentido 
figurado,  analógico,  abstrato.  Cos- 
tuma-se  até  empregar  um  tempo 
com  o intuito  de  expressar  o con- 
trário de  sua  significação  etimo- 
lógica ou  usual.  Morais  regista, 
na  definição  do  termo:  “Ironica- 
mente, fizeram-lhe  a caridade,  isto 


J.  Goulart 


é,  algum  mal,  dano,  tanto  por  pa- 
lavras, como  por  obras”. 

Caridade,  no  sentido  moral,  é o 
sentimento,  o espírito  com  que  fa- 
zemos as  coisas;  é a expressão  de 
nossa  boa-vontade  para  com  o pró- 
ximo; é benevolência,  tolerância, 
compreensão,  a disposição  de  olhar 
o melhor  lado,  de  não  julgar  apres- 
sadamente e com  má  vontade. 

Somos  geralmente  muito  desca- 
ridosos.  É conhecido  aquêle  apólo- 
go espanhol.  Se  o homem  monta  o 
burrico  e deixa  o menino  a pé,  to- 
dos censuram;  se  os  dois  montam, 
se  vão  a pé  os  dois,  se  carregam, 
afinal,  o burrico,  sempre  a opinião 
pública  encontra  motivo  de  censu- 
ra, de  zombaria,  de  ridículo. 

Os  governos  são  a maior  vítima 
de  nossa  falta  de  caridade.  Se  é 
apressado  ou  se  é lento  nas  suas 
decisões,  se  é parcimonioso  ou  se  é 
generoso,  se  é tolerante  ou  se  é 
rígido,  sempre  a oposição  ou  os 
menos  aquinhoados  encontram  mo- 
tivo para  desmoralizá-lo  ou  preju- 


10 


Ú NIT AS 


clicar  os  seus  planos.  A imprensa, 
muitas  vêzes,  é cruel,  confundindo 
os  fatos  passados  com  os  presen- 
tes e criando,  não  raro,  situações 
perigosas. 

Parece  que  precisamos  todos, 
nas  condições  a que  chegaram  as 
coisas,  no  nosso  pais,  de  exercitar 
mais  a virtude  da  caridade.  Prcci- 


PACIÊNCIA 

Esta  é outra  virtude  que  preci- 
samos de  cultivar.  Costuma  dizer- 
-se  que  o brasileiro  é preguiçoso. 
Foi  Monteiro  Lobato  quem  fixou  o 
tipo  na  figura  do  “jeca  tatú”  aco- 
corado junto  do  seu  rancho  deixan- 
do o tempo  passar  e convicto  de 
que  “plantando  dá”. 

Mas,  por  outro  lado,  um  tanto 
contraditòriamente,  se  diz  também 
que  o brasileiro  é impaciente,  apres- 
sado, improvisador,  como  o menino 
que  entrerra  a semente  e vai  logo 
verificar  se  ela  brotou,  ou  o moço, 
de  quem,  diz  Amoroso  Lima,  que 
“a  análise,  exigindo  demora  e pa- 
ciência, repugna  ao  seu  espírito 
imediatista,  que  não  quer  apenas, 
mas  quer  já”.  E quer,  diz  ainda 
êle,  cm  linhas  gerais  que  tudo 
abranjam. 

Haverá  nisto  generalização,  por- 
que é muito  difícil  determinar  a 
característica  de  um  povo,  ainda 
mais  tratando-se  de  país  tão  gran- 
de como  o nosso  e tão  diversifica- 
do nas  suas  regiões,  no  seu  clima, 
na  sua  produção  e nos  elementos 


samos  ser  razoáveis.  Precisamos 
de  examinar  as  questões  com  espí- 
rito desarmado  de  paixões,  e pre- 
conceitos. Precisamos  admitir  a 
boa-fé  do  nosso  oponente.  Precisa- 
mos perdoar  as  ofensas  e agravos. 
Não  estamos  na  hora  de  cobrar, 
etsamos  na  hora  de  ajudar  e de 
cooperar. 

psíquicos  de  uma  raça  ainda  em 
formação. 

Tem-se  de  admitir,  porém,  que 
somos  um  povo  impaciente,  que 
gosta  de  improvisar  monumentos  e 
de  aparentar  feições  que  sòmente 
povos  seculares  podem  possuir. 

No  domínio  da  instrução,  todo  o 
mundo  quer  diploma,  mas  não  se 
conforma  com  estudos  prolongados, 
nem  com  pesquisas  demoradas. 
Queixavam-se  há  pouco  alguns 
mestres  universitários,  de  que  no 
Brasil  não  existe  a mentalidade 
científica,  a coragem  de  labutar 
persistentemente  num  laboratório, 
nem  o govêrno  se  interessa  por  ofe- 
recer aos  poucos  que  se  animam  a 
investigações  os  meios  necessários, 
as  verbas  e os  instrumentos. 

Se  considerarmos  a crise  atual 
da  produção,  afetando  tão  grave- 
mente a economia  nacional,  ou  a 
industrialização  violenta  do  país, 
sem  se  levar  em  conta  a matéria 
prima  estrangeira  e a criação  de 
mercados  correspondentes,  verifica- 
-sc  que  há  falta  de  planejamento 
a longo  prazo  e de  medidas  basea- 


Janeiro  de  1959 


— 11 


das  em  custosos  e prolongados  la- 
bores. 

Um  exemplo  significativo  é o de 
Brasília.  A mudança  da  capital 
está  assentada  desde  a Constitui- 
ção de  91  . Entretanto,  ou  tudo  ou 
nada.  Ninguém  se  animava  a em- 
presa tão  difícil.  Se  a construção 
se  viesse  fazendo  aos  poucos,  den- 
tro de  um  plano  bem  elaborado, 
não  estaríamos  agravando  as  nos- 
sas finanças  com  a improvisação 
de  uma  cidade  suntuosa,  faraôni- 
ca ou  babiloniana,  às  pressas,  com 
importações  caríssimas  e num  rit- 
mo exagerado,  “às  caneladas”,  co- 
mo diz  o presidente.  De  modo  que 
u’a  medida  convenientemente,  apro- 
vada por  todos,  necessária,  se  tor- 

CENTENÁRIO  DA 
IGREJA  PRESBITERIANA 

O Brasil  atravessa  uma  crise  de 
crescimento.  A população  se  avo- 
lumou, mas  a produção  não  corres- 
pondeu a êsse  fenômeno,  surgindo 
daí  problemas  graves  que  exigem 
o concurso  de  tôdas  as  correntes 
interessadas  na  grandeza  da  pá- 
tria. Com  a nação  cresceram  as 
igrejas  evangélicas  que  boje  cons- 
tituem um  elemento  ponderável  da 
nossa  estrutura  social,  o que  se  ve- 
rifica até  mesmo  na  representação 
do  protestantismo  nas  assembléias 
políticas. 

A Igreja  Precsbiteriana  conta 
conm  cêrca  de  duzentos  mil  mem- 
bros, incluindo-se  menores  e ade- 


na  um  motivo  de  temores,  de  opo- 
sição, de  perigos  e de  males.  A 
pressa.  A impaciência.  A falta  de 
continuidade,  o mal  que  vem  con- 
tribuindo até  para  o abandono  de 
empresas  em  avançado  adianta- 
mento. 

Precisamos  de  cultivar  a paciên- 
cia, de  aprender  a preparar  o ter- 
reno, de  semear  e esperar  os  fru- 
tos. Precisamos  despojar-nos  de 
tôda  a vaidade  e de  trabalhar  com 
afinco  e com  plano,  com  planos  que 
tenham  prosseguimento  e continui- 
dade. Mas  também,  por  causa  dis- 
to, não  vamos  atrapalhar.  Se  há 
alguma  coisa  boa,  contribuamos 
para  o seu  sucesso  e para  o seu 
aperfeiçoamento. 

rentes  e está  procedendo,  inteli- 
gentemente^  nestes  dias,  a uma  rea- 
valiação dos  seus  recursos  e no 
levantamento  da  obra  por  ela  rea- 
lizada no  decurso  dêste  século  de 
vida  heróica  e produtiva.  A im- 
prensa, a literatura,  a instrução,  os 
métodos  imprimidos  à obra,  os  re- 
cursos financeiros,  a extensão  dos 
campos,  as  suas  relações  interecle- 
siásticas  e intercontinentais,  tudo 
está  merecendo  estudo  por  parte 
da  comissão  promotora  das  come- 
morações. Até  um  museu  expres- 
sivo da  vida  da  Igreja,  de  suas 
tradições,  de  seus  vultos  eminen- 
tes, de  seu  desenvolvimento,  está 
sendo  carinhosamente  montado. 
Como  parte  das  comemorações  de- 
verá reunir-se,  no  próximo  ano,  no 


12  — 


Ú NIT AS 


mês  de  julho,  1959,  em  S.  Paulo,  o 
Concílio  Mundial  Presbiteriano  que 
deverá  reunir  centenas  de  delega- 
dos. 

A Igreja  Presbiteriana,  ao  lado 
de  suas  irmãs,  mais  ou  menos  da 
mesma  idade,  pode,  sem  orgulho, 
enumerar  um  rol  de  fatos  compro- 


batórios  de  sua  contribuição  ao 
progresso  da  nação,  tanto  no  ter- 
reno da  educação  religiosa  e moral, 
como  no  da  instrução,  em  que  foi 
pioneira  de  muitas  medidas,  na 
obra  hospitalar  e beneficiente,  e, 
sobretudo,  na  formação  de  uma 
consciência  sadia  e patriótica  de 
seus  membros 


)*( 


DESCOBERTA  ACIDENTAL 

“No  ano  de  1879,  afirma  H.  Van  Loon,  um  fidalgo  espanhol, 
0 marquês  de  Sautuola,  empreendeu  uma  excursão  às  cavernas  de 
Altamira,  situadas  nos  montes  Cantabros,  na  zona  setentrional  da 
Espanha. 

O marquês  levava  consigo  uma  filhinha  de  quatro  anos. 
Não  se  interessava  pelos  fósseis  que  o pai  procurava,  a pequena 
resolveu  fazer  uma  exploração  por  própria  conta.  Existia,  na  ca- 
verna, uma  parte  muito  baixa  que  nenhum  adulto  se  dera  ao  incô- 
modo de  inspeccionar.  Que  necessidade  havia  de  sujar  inutilmente 
as  roupas?  Mas,  para  a menina,  essas  rochas  suspensas  nada 
significavam;  ela  arrastou-se  até  o ângulo  menos  elevado  e acen- 
deu a lanterna.  Levantando  os  olhos,  achou-se,  porém,  face  a face 
com  os  dum  touro  e,  transida  de  horror,  gritou  pelo  pai.  Eis  como 
foi  descoberta  a primeira  das  nossas  famosas  pinturas  prehistóri- 
cas...  por  uma  criança  travêssa,  em  busca  de  distração”. 


(“As  Artes”,  pág.  33) 


2.°  APELO 
DE 

ALBERT  SCHWEITZER 


o PERIGO  DE  UMA  GUERRA 
ATÔMICA 


“Atualmente  devemos  contar  com 
a possibilidade  ameaçadora  de  de- 
sencadear-se uma  guerra  atômica 
entre  a União  Sociética  e os  Esta- 
dos Unidos,  conflito  que  só  poderá 
ser  evitado  se  as  duas  potências 
decidirem  entre  si  renunciar  às  ar- 
mas atômicas. 

“Como  chegamos  a essa  situa- 
ção ? 

“No  ano  de  1945,  os  Estados  Uni- 
dos conseguem  fabricar  a bomba 
atômica,  partindo  da  desintegração 
nuclear  do  urânio  235,  e lançam 
uma  sôbre  Hiroshima  no  dia  6 de 
agôsto  de  1945  e outra  sôbre  Na- 
gasaki,  no  dia  9 de  agôsto  do  mes- 
mo ano. 

“A  posse  dessa  bomba  atômica 
confere-lhe  uma  superioridade  mi- 
litar sem  igual  sôbi-e  todos  os  de- 
mais povos. 

“A  partir  de  julho  de  1949,  tam- 
bém a União  Soviética  dispõe  de 


uma  bomba  atômica.  E,  aliás,  seu 
efeito  é tão  grande  quanto  o da 
bomba  atômica  norte-americana, 
aperfeiçoada  durante  o período  de 
1946  a 1949.  A paz  entre  as  duas 
potências  é mantida  na  medida  em 
que  cada  uma  tem  respeito  pelas 
bombas  da  outra. 

“No  dia  3 de  outubro  de  1952,  a 
Grã-Bretanha  faz  explodir,  na  ilha 
de  Montebelle  (na  costa  nordeste 
da  Austrália)  sua  primeira  bomba 
atômica. 

“Para  novamente  ganhar  a su- 
perioridade, os  Estados  Unidos  re- 
solvem deixar  Edward  Teller  tomar 
conta  da  produção  da  bomba  de 
hidrogênio,  a qual,  espera-se,  supe- 
rará em  muito  a bomba  de  urânio. 

“Uma  primeira  experiência  é fei- 
ta com  ela  em  maio  de  1951,  em 
Eniwetok,  e uma  segunda  no  atol 
de  Elugelab,  no  Pacífico,  em  ou- 
tubro de  1952.  No  dia  1.”  de  mar- 


14  — 


Ú NIT AS 


ço  de  1954,  explode  em  Bikini  — 
uma  das  ilhas  vulcânicas  perten- 
centes ao  grupo  das  ilhas  Marshall, 
no  Oceano  Pacífico  — a bomba  de 
hidrogênio  aperfeiçoada.  Nessa 
ocasião,  descobre-se  que  seu  efeito 
expressivo  é muito  maior  do  que 
se  estimava  nos  cálculos. 

“Ao  mesmo  tempo  que  os  Esta- 
dos Unidos,  também  a União  So- 
viética se  empenha  na  fabricação 
da  bomba  de  hidrogênio.  Ela  faz 
explodir  a primeira  no  dia  12  de 
agosto  de  1953. 

OS  TELEGUIADOS 

“As  duas  potências  também  fa- 
zem concomitantemente  um  maior 
progresso.  Ora,  sucede  que  a in- 
venção da  bomba  atômica,  com  a 
qual  os  Estados  Unidos  se  ocupa- 
ram durante  a segunda  guerra 
mundial,  aplicar-se-á  aos  teleguia- 
dos, com  os  quais  já  trabalhava  a 
Alemanha  nessa  época.  Com  isso, 
não  mais  é obrigatório  que  unica- 
mente poderosos  aviões  de  bom- 
bardeio transportem  bombas  até  o 
local  onde  estas  devem  explodir. 
Dispõe-se  agora  de  teleguiados,  os 
quais,  impelidos  de  rampas  de  lan- 
çamento, podem  ser  enviados  a al- 
vos distantes,  precisamente  calcula- 
dos. 

“Chamam-se  teleguiados  aciueles 
projéteis  transportados  por  um  fo- 
guete, isto  é,  por  meio  de  um  cor- 
po voador  que  leva  consigo  o com- 


bustível que  o propele.  Êste  com- 
bustível consiste  numa  mistura  de 
substâncias  que  produzem  gases 
de  combustão,  os  quais  escapam 
com  uma  velocidade  extraordina- 
riamente grande,  através  de  uma 
abertura  estreita  em  forma  de  bico. 
ininteruptamente  trabalha-se  para 
descobrir  misturas  de  combustí- 
veis ainda  mais  eficientes  e mais 
simples  de  manejar. 

“O  projétil  carregado  pelo  fogue- 
te pode  ser  de  tipo  comum  ou  ser 
munido  de  uma  ogiva  de  bomba  de 
urânio  ou  de  bomba  de  hidrogênio. 

“Dizem  que  a União  Soviética 
dispõe  de  foguetes  que  alcançaram 
até  1.000  quilômetros,  esperando- 
-se  em  breve  outros  que  alcancem 
1.800  quilômetros,  se  é que  já  não 
existem.  Fala-se  que  os  Estados 
Unidos  já  possuem  foguetes  com 
um  alcance  de  2400  quilômetros. 

“Ainda  não  se  sabe  com  certeza 
se  já  existem  os  assim  chamados 
foguetes  intercontinentais,  capazes 
de  sobrevoar  o Oceano  Atlântico, 
isto  é,  com  um  alcance  de  mais  de 
8.000  quilômetros.  Presume-se,  no 
entanto,  que  os  problemas  referen- 
tes à sua  produção  são  solúveis  e 
que  sc  trabalha  para  isso,  tanto  no 
Leste  como  no  Oeste,  e que  o Les- 
te parece  estar,  nesse  sentido,  à 
fientc  do  Oeste. 

“Embora  ])areça  ainda  não  ha- 
ver teleguiados  intercontinentais, 
os  Estados  Unidos  já  devem  estar 
prevendo  que,  no  caso  de  uma 


Janeiro  de  1939 


— 13 


guerra  atômica,  suas  cidades,  si- 
tuadas desde  a costa  até  bem  no 
interior,  possam  ser  atingidas  por 
teleguiados  lançados  por  submari- 
nos. 

“Os  foguetes  movimcntam-se 
com  uma  velocidade  incrível.  Afir- 
ma-se que  0 foguete  intercontinen- 
tal, para  atravessar  o Oceano 
Atlântico,  necessita  menos  de  meia 
hora,  e sua  capacidade  de  carga 
oscila  entre  1 e 5 toneladas. 

ANTEVISÃO  DO  CONFLITO 
ATÔMICO 

“Como  se  desenrolaria  uma  guer- 
ra atômica  hoje  desencadeada? 

“Em  primeiro  lugar,  tratemos  da 
assim  chamada  guerra  atômica  de 
âmbito  limitado.  E’  que,  no  ínti- 
mo, certas  pessoas  têm  a esperan- 
ça de  que  as  hostilidades  poderiam 
surgir  numa  guerra  atômica  com 
um  âmbito  mais  ou  menos  limita- 
do, na  qual  ainda  não  se  fizesse 
uso  das  bombas  atômicas  aperfei- 
çoadas ou  de  poderosas  bombas  de 
hidrogênio,  mas  apenas  de  teleguia- 
dos de  curta  ou  média  trajetória. 
O extermínio  causado  pelos  tele- 
guiados, poderia,  assim  se  espera, 
manter-se  dentro  de  certos  limites 
e igualmente  propiciar  ainda  uma 
paz  oportuna. 

“No  que  se  refere  à limitação  lo- 
cal de  uma  tal  guerra,  pouca  es- 
perança há  nesse  sentido,  pois  ela 
é realizada  com  teleguiados  que 


alcançam  até  2.400  quilômetros. 
Também  não  deve  ser  menospreza- 
da a destruição  por  êles  provoca- 
da, pois  o efeito  dos  projéteis  atô- 
micos usados  é igual  ao  de  uma 
bomba  de  Hiroshima  e muito  maior 
é seu  poder  de  destruição  quando 
dotados  do  uma  ogiva  de  bomba 
de  hidrogênio. 

“É  pouco  admissível  (lue  os  ini- 
migos desistam,  desde  o principio, 
de  lançar  sôbre  as  grandes  cidades 
bombas  de  urânio  aperfeiçoadas 
ou  bombas  de  hidrogênio  por  meio 
de  bombardeiros. 

“Uma  grande  possibilidade  exis- 
te a favor  disso,  isto  é,  de  que  nu- 
ma próxima  guerra  atômica  sejam 
empregados  tanto  os  teleguiados 
como  os  grandes  bombardeiros.  A 
guerra  feita  com  o lançamento  de 
grandes  bombas  não  pode  ser  subs- 
tituída pela  de  teleguiados,  mas 
sim  por  êles  completada. 

“Quanto  ao  efeito  das  grandes 
bombas  de  hidrogênio,  deve-se  di- 
zer que  o diâmetro  das  bolas  de 
fogo  resultantes  da  sua  explosão, 
pode  abranger  vários  quilômetros. 
O calor  é avaliado  em  100  milhões 
de  graus.  Pode-se  daí  calcular  a 
quantidade  de  pessoas  aniquiladas 
— era  tempo  ínfimo  — na  cidade 
atingida,  tanto  pela  pressão  da 
explosão,  como  pelos  destroços, 
pelo  fogo,  pelo  calor  e pela  primei- 
ra e violenta  irradiação  radiativa. 
A mortal  intensidade  radiativa, 
provocada  pela  explosão,  espalhar- 


16  — 


Ú NIT AS 


se-á  por  uma  extensão  de  cêrca  de 
45.000  quilômetros  quadrados. 

“Perente  uma  comissão  do  Par- 
lamento, um  general  americano  te- 
ria feito  a seguinte  declaração: 
‘‘Se,  de  10  em  10  minutos,  forem 
lançadas  110  bombas  de  hidrogê- 
nio sôbre  os  Estados  Unidos,  mor- 
rerão ou  ficarão  feridas  70  milhões 
de  pessoas.  Além  disso,  milhares 
de  quilômetros  quadrados  ficarão 
inutilizados  para  uma  geração  in- 
teira.” Então,  os  países  como  a 
Grã-Bretanha,  a Alemanhã  Ociden- 
tal e a França  podem  ser  destruí- 
dos com  15  ou  20  bombas  de  hi- 
drogênio da  mais  recente  fabrição. 
No  que  diz  respeito  às  medidas  de 
proteção  em  uma  próxima  guerra 
atômica,  dizem  que  o presidente 
Eisenhower,  após  um  ataque  simu- 
lado com  bombas,  na  qual  também 
foram  experimentados  medidas  de 
proteção,  teria  assim  se  manifesta- 
do: “Aí  só  adianta  orar!” 

“Realmente,  não  se  pode  fazer 
muito  mais  do  que,  em  relação  a 
um  ataque  de  bombas,  dar  instru- 
ções para  que  tôdas  as  pessoas  que 
se  encontrem  no  local  se  joguem 
no  chão,  atrás  de  uma  parede,  pre- 
ferivelmente forte,  de  pedra  ou  con- 
creto, com  o rosto  voltado  para 
baixo,  e para  que,  se  possível, 
cubram  com  uma  toalha  a nuca  e 
as  costas.  Assim,  pessoas  que  não 
se  encontrarem  na  região  de  com- 
pleta destruição,  em  certas  circuns- 
tâncias poderão  escapar  à morte 
pela  irradiação.  Também  é impor- 


tante que  se  faça  chegar  aos  so- 
breviventes, se  possível,  água  e co- 
mida que  não  sejam  radiativas,  e 
que  êles  sejam  retirados  o quanto 
antes  da  zona  infestada  pela  ra- 
diatividade. 

“Está  fora  de  cogitação  a cons- 
trução de  abrigos  com  grossas  pa- 
redes de  concreto  para  tôda  a po- 
pulação de  uma  localidade.  De 
onde  se  tiraria  o local  e os  meios 
exigidos?  Onde  arranjariam  os 
habitantes,  no  caso  de  um  bombar- 
deio, 0 tempo  para  procurar  pro- 
teção em  algum  abrigo  antiaéreo? 

“Numa  guerra  atômica  não  há 
vencedores.  Só  vencidos.  Nela  to- 
dos sofrem,  com  as  bombas  e os 
projéteis  atômicos  do  inimigo,  o 
mesmo  que  a êste  foi  causado  pe- 
las armas  atômicas  da  outra  víti- 
ma. Resulta  disso  um  permanente 
aniquilamento,  ao  qual  nenhuma 
suspensão  das  operações  ou  armis- 
tício pode  pôr  fim.  Quando  se  tra- 
ta de  armas  atômicas,  nenhum 
povo  pode  dizer  ao  seu  inimigo: 
“agora  é a vez  das  armas  decidi- 
rem”, mas  sim  “agora  vamos  co- 
meter juntos  0 suicídio  em  que  nos 
exterminaremos  mutuamente”. 

“Com  razão,  um  parlamentar  in- 
glês declarou  que  quem  emprega 
armas  atômicas  tem  o mesmo  des- 
tino de  uma  abelha,  que  quando 
pica,  sucumbe  por  sua  vez  infali- 
velmente, desde  o momento  em  que 
fêz  uso  do  ferrão. 

“Uma  guerra  feita  com  armas 
atômicas  de  hoje,  no  sentido  de 


Janeiro  de  1959 


— 17 


manter  uma  liberdade  considerada 
perigosa,  não  pode  dar  os  resulta- 
dos que  dela  se  esperam. 

“Aquêles  para  quem  ela  será  fei- 
ta deverão,  no  seu  decorrer,  estar 
mortos,  ou  mais  tarde  definhar. 
Em  lugar  da  libe^•dade  caber-lhes-ia 
o extermínio. 

“As  nuvens  de  poeira  radiativa, 
que  se  seguiriam  a uma  guerra 
atômica  entre  o Leste  e o Oeste, 
poriam  em  dúvida  a sobrevivência 
dos  homens  no  mundo  inteiro.  Essas 
potências  não  precisariam  nem 
empregar,  para  isso,  todo  seu  es- 
toque de  bombas  atômicas  e de  hi- 
drogênio, calculado  em  50.000  uni- 
dades. 

“Uma  guerra  atômica,  portanto, 
é um  absurdo  e uma  crueldade  ini- 
magináveis, que  de  forma  alguma 
deve  tornar-se  realidade. 

“Infelizmente  há  o perigo  de  que 
a guerra  fria  se  transforme  numa 
guerra  atômica,  perigo  êsse  hoje 
muito  maior  do  que  foi  até  agora, 
devido  à invenção  dos  teleguiados 
e às  possibilidades  por  êles  abertas. 

AMPLIAÇÃO  DO  PERIGO 

“Em  tempos  passados,  os  Esta- 
dos Unidos  tiveram  como  princípio 
permanecerem  os  únicos,  ao  lado 
da  União  Soviética,  na  posse  de 
armas  atômicas.  Não  havia  inte- 
rêsse  em  equipar  outros  países  com 
bombas  de  urânio  ou  de  hidrogê- 
nio. Êsses  também  não  saberiam 


0 que  fazer  com  elas.  Mas,  com  a 
invenção  dos  teleguiados,  de  me- 
nor ou  maior  alcance,  modifica-se 
a situação,  pois  com  êles,  os  paí- 
ses que  estão  ligados  aos  Estados 
Unidos  podem  fazer  algo  que,  no 
seu  interêsse  e no  dos  Estados  Uni- 
dos ,seja  julgado  necessário.  Assim, 
os  Estados  Unidos  renunciam  ao 
princípio  de  não  entregar  armas 
atômicas  a outras  mãos.  Uma  gra- 
ve decisão. 

“Do  seu  ponto  de  vista,  compre- 
ensível que  os  países  da  NATO 
queiram  colocar-se  numa  posição 
tal  que,  com  essas  armas  moder- 
nas, possam  defender-se  da  União 
Soviética.  Para  esta  última,  porém, 
êsse  armamento  significa  uma 
ameaça  que  até  agora  era  inexis- 
tente. 

“De  agora  em  diante,  surgem 
condições  até  agora  inxistentes, 
para  o desenvolvimento  de  uma 
guerra  com  armas  atômicas  em 
solo  europeu  entre  os  Estados  Uni- 
dos e a União  Soviética.  O terri- 
tório da  União  Soviética,  compre- 
endido entre  a Alemanha  Ociden- 
tal e as  cidades  de  Moscou  e Cra- 
cóvia,  pode  ser  bombardeado  com 
teleguiados  de  um  alcance  médio 
de  2.400  quilômetros.  Os  teleguia- 
dos de  alcance  médio  que  a Tur- 
quia e o Irã  aceitariam  eventual- 
mente dos  Estados  Unidos  para 
defender-se  da  União  Soviética  po- 
deriam ser  perigosos  para  as  cida- 
dades  dessa  potência,  até  bem  no 
interior. 


18  — 


Ú N I T A S 


“Assim  ,a  União  Soviética  pode 
estar  se  sentindo  numa  situação 
em  que  tenha  de  repetir  uma  ma- 
nobra do  cêrco  empreendida  con- 
tra ela,  com  base  na  existência  dos 
teleguiados. 

“A  importância  estratégica  do 
Oriente  Médio  implica  em  que,  tan- 
to a União  Soviética  quanto  os  Es- 
tados Unidos,  enquanto  defendem 
os  países  daquela  zona,  tratam  de 
fazer  com  que  êles  fiquem  compro- 
metidos, apoiando-os  financeira- 
mente e fazendo  chegar  armas  (ini- 
cialmente do  tipo  comum)  às  suas 
mãos.  Em  tôdas  as  querelas  que 
lá  levantam,  aquelas  duas  potên- 
cias aparecem,  aberta  ou  secreta- 
mente ,em  posições  opostos.  Assim, 
acontecimentos  que  se  derem  no 
Oriente  Médio  podem  tornar-se  fu- 
nestos para  a preservação  da  paz. 
O Oriente  Médio  tomou  a si  o pa- 
pel que  os  Balcãs  desempenhavam 
antes  da  Primeira  Guerra. 

“O  perigo  de  uma  guerra,  que 
cresceu  com  o aparecimento  dos 
teleguiados,  tornar-se-á  ainda  maior 
pelo  fato  de  que,  provavelmente, 
uma  guerra  atômica  não  se  desen- 
cadeará com  base  na  declaração  de 
guerra  por  parte  de  uma  otência, 
mas  em  virtude  de  um  aconteci- 
mento qualquer  que  sobrevenha 
or  acaso.  Culpa  disso  terá,  de  ago- 
ra em  diante,  a importância  atri- 
buída ao  fator  tempo. 

“O  ofensor  repentino  terá  sobre 
o que  é atacado,  vantagem  que  lhe 


emprestará  uma  superioridade  qua- 
se equivalente  à vitória.  Ser-lhe-á 
possível  logo  no  comêço  inflingir 
perdas  ao  inimigo,  que  diminuam 
extraordinàriamente  a capacidade 
de  combate  dêste  último. 

“Sente-se  assim,  de  ambos  os  la- 
dos, a necessidade  de  estar  diària- 
mente  e de  hora  em  hora  à espera 
de  uma  agressão,  para  através  de 
uma  defesa  instantânea  e vigoro- 
sa, fazê-la  malograr  no  que  fôr 
possível.  Essa  urgência  da  defesa 
mais  rápida  possível  é que  traz 
consigo  o grande  perigo  de  a guer- 
ra atômica  estourar  por  acaso.  A 
rapidez  com  que  se  deve  decidir  o 
que  significa  um  ponto  visível  no 
aparelho  de  radar,  pode  possibili- 
tar um  êrro  fatal  que,  sob  certas 
circunstâncias,  poderia  originar  o 
desencadeamento  de  uma  guerra 
atômica. 

“Segundo  o general  americano 
Curtis  Le  May,  deve-se  realmente 
contar  com  essa  possibilidade. 

“De  fato,  0 mundo  correu  há  pou- 
co tempo  um  perigo  dêsse  tipo.  As 
estações  de  radar  da  Fôrça  Aérea 
norte-americana  e as  da  costa  do 
país  informaram  que  esquadrilha 
desconhecidas  de  bombardeiros  do- 
tados de  velocidade  supersônica  se 
aproximavam  do  país.  Em  conse- 
quência disso,  o general  que  che- 
fiava 0 destacamento  de  ataque  aos 
bombardeiros  deveria  ter  ordenado 
o início  de  um  bombardeio  de  con- 
tra-ataque. Contudo,  êle  não  pôdt 


Janeiro  de  1959 


— 19 


se  decidir  a isso,  com  o que  assu- 
miu uma  pesada  responsabilidade. 
Logo  após,  verificou-se  que  as  es- 
tações de  rádio  tinham  sido  víti- 
mas de  um  êrro  técnico.  0 que  po- 
deria ter  acontecido,  se  estivesse 
no  comando  um  general  um  pouco 
menos  avisado! 

“Em  tempos  vindouros,  o perigo 
de  guerra,  ocasionada  por  um  êrro, 
será  muito  maior.  Os  foguetes  su- 
persônicos, devido  a sua  pequenez, 
só  serão  visíveis  tàrdiamente  no 
radar,  daí  serem  as  possibilidades 
de  defesa  muito  limitadas.  Restam 
apenas  alguns  segundos  para  deci- 
dir se  0 que  foi  observado  no  apa- 
relho é realmente  foguete,  e pôr 
em  andamento  a defesa  necessária. 
Esta  consiste  no  envio  de  foguetes 
defensivos,  que  devem  fazer  explo- 
dir os  foguetes  inimigos  antes  que 
êstes  alcancem  seu  alvo,  e em  en- 
viar esquadrilhas  de  bombardeiros 
para  aniquilar  as  bases  de  lança- 
mento do  inimigo.  Tarefas  seme- 
lhantes não  podem  ser  entregues 
a um  cérebro  humano.  Êste  traba- 
lha devagar  demais.  Elas  têm  que 
ser  chefiadas  a um  cérebro  eletrô- 
nico, mantido  em  contacto  com  o 
aparelho  de  radar.  Se  êsse  infor- 
ma que  se  trata  realmente  de  fo- 
guetes, o cérebro  eletrônico,  de 
acôrdo  com  as  informações  trans- 
mitidas pelo  aparelho  de  radar, 
calcula,  em  questão  de  segundos,  a 
trajetória  e a distância  dêles  e faz 
partir  os  foguetes  defensivos.  Isso 
tudo  se  processa  autmàticamente. 


“A  que  ponto  chegamos:  nosso 
destino  vai  depender  de  um  cére- 
bro eletrônico  e dos  enganos  de  que 
êste  possa  ser  vítima.  Êle  só  pode 
decidir  automàticamente.  O poder 
do  cérebro  humano,  de  avançar  re- 
fletidamente  em  tôdas  as  direções 
e sentidos,  não  lhe  foi  concedido. 
Sua  decisão  é rápida,  mas  não  tem 
a profundidade  e a certeza  da  do 
cérebro  humano.  Além  disso,  o cé- 
rebro eletrônico  está  na  absoluta 
dependência  do  fato  de  que  no  seu 
tão  complicado  funcionamento,  tu- 
do, até  as  mínimas  coisas,  deve 
estar  em  absoluta  ordem. 

“Não  faltam,  portanto,  possibi- 
lidades de,  por  um  acaso  qualquer, 
tombarmos  uma  vez  numa  guerra 
atômica,  da  forma  mais  estúpida. 

“Também  não  deve  ficar  fora  de 
cogitação  uma  outra  piora  de  nossa 
situação,  que  se  relaciona  com  o 
fato  de  os  Estados  Unidos  estarem 
em  vias  de  fornecer  armas  atômi- 
cas a outros  países,  confiando-as 
àqueles  de  quem  julga  poder  supor 
que  não  as  usarão  imprudentemen- 
te ou  conforme  a própria  vontade. 
As  outras  duas  potências  atômicas 
têm  a liberdade  de  fazer  o mesmo. 
Mas  quem  é que  garante  que,  den- 
tre êsses  povos  agraciados,  não 
haverá  também,  uma  vez,  um  in- 
digno dessa  honra  que  ao  entrar 
na  posse  de  tais  armas,  fará  com 
elas  o que  bem  lhe  parecer,  sem 
se  preocupar  com  as  conseqiiên- 
cias?  Quem  é que  pode  impedi-lo? 


20  — 


Ú N I T A S 


Quem  é que  pode  induzí-lo  a re- 
nunciar ao  uso  de  suas  armas  atô- 
micas, quando  as  nações,  de  volta 
à sentatez,  resolverem  conjunta- 
mente renunciar  ao  seu  uso? 

“Cavou-se  um  buraco  no  dique. 
Isso  quer  dizer  agora  vigiar,  para 
que  não  haja,  em  conseqüência, 
uma  ruptura  fatal. 

“Que  é de  se  supor  que  tais  preo- 
cupações se  concretizem,  conclui-se 
da  declaração  que  9.235  cientistas 
enviaram  no  dia  13  de  janeira  de 
1958  à ONU,  a respeito  da  cessa- 
ção das  experiências  nucleares. 
Nela  figura  a frase  seguinte:  “En- 
quanto as  armas  atômicas  estive- 
rem em  poder  das  três  grandes  po- 
tências, é possível  estabelecer-se 
um  acôrdo  visando  ao  seu  contrô- 
le.  Se  as  experiências  continuarem 
e a posse  dessas  armas  fôr  conce- 
dida a outros  governos,  o risco  de 
se  desencadear  uma  guerra  atômi- 
ca, decorrente  da  existência  de  go- 
vernantes irresponsáveis,  será  mui- 
to maior”. 

“Portanto,  o perigo  de  uma  pró- 
xima guerra  atômica  é tão  amea- 
çador que  se  torna  uma  necessida- 
de urgente  a renúncia  às  armas 
atômicas. 

A ESTRANHA  POSIÇÃO  DOS 
E.U.A. 

“Os  Estados  Unidos,  na  questão 
da  renúncia  às  armas  atômicas,  as- 


sumem uma  estranha  posição.  Não 
pode  ser  outra  senão  a de  intervi- 
rem convictamente  em  favor  de 
sua  supressão,  mas  ao  mesmo  tem- 
po querem,  no  caso  de  isso  não  se 
tornar  realidade,  colocar-se,  junta- 
mente com  os  países  da  NATO,  nu- 
ma situação,  do  ponto  de  vista  mi- 
litar, das  mais  propícias.  Por  isso, 
os  Estados  Unidos  insistem  em  que 
aqueles  países  se  decidam  a acei- 
tar o quanto  antes  os  teleguiados 
que  lhes  está  oferecendo.  Mais 
ainda,  querem  estar  numa  situação 
em  que  mantenha  a paz  intimidan- 
do o inimigo.  Contudo  devem  ter 
conhecimento  de  que  a maioria  dos 
países  da  NATO  não  demonstra 
muita  pressa  em  se  tornar  possui- 
dor, das  armas  que  lhe  foram  ofe- 
recidas, pois  seus  dirigentes  têm 
que  enfrentar  uma  corrente  de  opi- 
nião contrária  cada  vez  mais  forte 
em  seus  países. 

“Seria  de  grande  importância  que 
os  Estados  Unidos,  nessa  hora  cru- 
cial para  a humanidade,  se  decidis- 
sem a pensar  esclusivamente  na 
necessidade  de  renúncia  às  armas 
atômicas  e,  em  conseqüência  disso, 
em  evitar  uma  guerra  atômica.  A 
teoria  da  manutenção  da  paz  por 
meio  da  intimidação  do  inimigo, 
mediante  armamento  atômico,  não 
pode  mais  ser  levada  em  conta  na 
época  presente,  com  um  perigo  de 
guerra  tão  intensificado. 


LÕ  E ABRAAO 


“Eis  aí  tôda  essa  terra  à tua  vista.  Rogo-te 
que  te  apartes  de  mim”  (Gênesis  13:9). 


Os  zagais  de  Abraão,  o patriarca, 

Brigavam  com  os  zagais  de  seu  sobrinho 
Ló.  O bom  velho  o olhar  extende,  abarca 
Os  campos  em  redor  e o chão  maninho, 

E diz  a Ló,  com  mostras  de  carinho: 

— Das  terras  que  ora  vês,  toma  e demarca 
O sitio  em  que  se  praza  armar  teu  ninho, 
Que  o meu  irei  jazer  noutra  comarca. 

Xão  desejo  que  os  meus  e os  teus  pastôres 
Vivam  nessa  contenda  repulsiva. 

Leva  o teu  gado  em  paz  para  onde  fôres. 

Será  melhor  que  conversemos,  Ló, 

A fraterna  amizade,  embora  viva 
Cada  um  de  nós  para  o seu  lado,  só. 


Benedito  R.  Aranha 


CONHEÇA 

A 

SUA  B r B L I A 


3.8  LIÇaO 


GÊNESIS:  OS 


.Vtenção,  aluno:  Você  leu,  nesta 
semana,  os  onze  primeiros  capítu- 
los de  Gênesis?  Não?  Que  pena! 
Perdeu  uma  boa  ocasião  de  o fazer 
e anulou  o propósito  dêste  curso 
que  é de  levá-lo  à Bíblia. 

Sim?  Que  bom!  Entendeu-os  me- 
lhor? Foi  para  isso  mesmo  que 

* 

O livro  de  Gênesis  está  dividido 
em  três  partes  ,a  saber:  Primór- 
dios — Patriarcas  — Descida  para 
o Egito.  Estudada  a primeira, 
caps.  1 a 11,  como  fizemos  em  aula 
anterior,  passamos  ao  período  dos 
Patriarcas.  E’  o que  vai  do  capí- 
tulo 12  até  0 36.  Se  alguém  qui- 
ser recurso  mnemónico  para  saber 


PATRIARCAS 

Rev.  Júlio  A.  Ferreira 

organizamos  o curso:  “Conheça  a 
sua  Bíblia”.  Ninguém  a pode  co- 
nhecer. Conheço  a minha,  mas  a 
sua  não  será  conhecida  se  você  não 
se  esforçar  nesse  sentido.  Creio 
que  posso  ajudá-lo,  mas  não  posso 
fazer  a sua  parte. 

* 

dos  capítulos,  basta  Icmbrar-se  que 
36  é múltiplo  de  12.  Não  deve  ter 
sido  difícil  guardar  que  os  primór- 
dios vão  de  1 a 11,  pois  que  um 
número  lembra  o outro. 

Vêde  o esquema  das  viagens  no 
periodo  dos  Patriarcas.  Do  capítu- 
lo 12  ao  36  de  Gênesis  temos  três 
biografias  de  Abraão,  de  Isaque  e 


Janeiro  de  1959 


— 23 


de  Jacó.  Os  diferentes  riscos  re- 
presentam diferentes  viagens.  Pri- 
meira: Abraão  vai  da  terra  de  sua 
parentela  (Ur)  para  uma  terra  da 
qual  diz  Deus:  “Eu  te  mostrarei” 
(Canaã).  Segunda:  Abraão  man- 
da buscar  esposa  para  o filho;  é a 
viagem  em  busca  de  Rcbeca.  Creio 
que  todos  se  lembram  dessa  via- 
gem. Comovente  história  do  en- 
contro junto  ao  poço,  quando  o ser- 
vo de  Abraão  ficou  em  silêncio 
para  ver  se  Deus  faria  prosperar 
o seu  caminho  ou  não.  Disse,  lá 
consigo,  que  a moça  que  lhe  desse 
de  beber  a êle  e aos  camelos  essa 
seria  a candidata  ao  filho  de 
Abraão.  Critério  interessante  do 
de  escolha.  É boa  qualidade  revelar 
cuidado  pelos  outros.  Após  a expo- 
sição do  propósito  da  viagem  e da 
decisão  de  Rebeca,  segue-se  a ter- 
ceira viagem,  indicada  pela  flecha 
rumo  a Canãa  de  novo:  vai  Rebeca 
ao  encontro  de  Isaque.  Sabemos 
que  dois  filhos  teve  êsse  casal:  Jacó 
e Eaú.  Quando  Isaque  era  já  ve- 
lho, Jacó  enganou  o irmão,  patro- 
cinado, infelizmente,  pela  própria 
mãe.  Esaú  ficou  irado,  e quis  ma- 
tar a Jacó.  Fugindo,  Jacó  vai  a 
Padã-Arã,  na  Galiléia,  a região  dos 
parentes.  Nessa  viagem  tem  êle 
uma  visão  de  Deus,  em  Betei.  Na 
ida.  Betei;  na  volta,  Jaboque,  vale 
onde  se  dá  o encontro  com  o anjo, 
antes  do  encontro  com  o irmão.  No 
intervalo  dessas  duas  viagens,  tam- 
bém assinaladas  no  gráfico,  êle  se 
I enriquece,  luta  contra  o próprio  so- 
I gro.  Enganara  o pai;  enganara  o 


irmão;  enganara  o sogro  — seu 
nome  era:  Enganador.  Jacó  retorna 
a Canaã. 

Feita  a apresentação  do  quadro, 
passemos  a um  pequeno  balanço  de 
informações  a respeito  de  cada  um 
dos  patriarcas. 

De  Abraão  temos  vários  inciden- 
tes narrados.  Procurámos  resumir 
dêstc  modo: 

Abraão  e a promessa  — 12 

” e as  peregrinações  — 12 

" e Ló  — 13 

” e Melquizedeque  — 14 

” e o Pacto  — 15 

” e Hagar  — 16 

” e Sara  — 17 

” e os  anjos  — 18 
” e as  cidades  impenitente.? 

— 19. 

” c Abimeleque  — 20 

” e Isaque  — 21 

” e 0 sacrificio  do  filho  — 22 
” e a viuvez  — 23. 

A promessa  é de  que  nêle, 
Abraão,  seriam  benditas  tõdas  as 
nações  da  terra:  teria  êle  descen- 
dência como  areia  do  mar  e estré- 
ias do  céu.  Levado  para  Canaã, 
morava,  com  diz  a Escritura,  em 
cabanas;  era  um  estrangeiro.  Ali 
estava  em  obediência  à palavra  de 
Deus.  Recebia  a inspiração  de  dei- 
xar os  seus  e ir  para  uma  terra 
distante,  desceu  ao  Egito,  o que 
era  natural,  pois  que  no  Egito  es- 
tava então  a capital  do  mundo.  O 
incidente  com  Ló  é muito  conheci- 


24  — 


ÚNITAS 


do;  avançaram  para  o Vale  do  Jor- 
dão, perto  do  Mar  morto,  planície 
fértil.  Ambos  tinham  rebanhos  e 
era  preciso  que  êles  decidissem  a 
respeito  da  divisão  das  terras;  es- 
tava havendo  luta  entre  os  seus 
auxiliares.  Abrão  tem  gesto  de 
generosidade:  se  tu  escoilheres  a 
direita,  eu  escolherei  a esquerda. 
Ló  escolheu  o parentmente  melhor. 
Melquizedeque,  rei  de  paz,  recebeu 
dízimos  de  Abraão.  Segue-se  a ce- 
rimônia da  circuncisão,  como  o 
marco  do  pacto  feito  entre  Deus  e 
0 patriarca.  Abraão  intercede  por 
Ló,  por  sua  família,  pelas  cidades 
impenitentes;  contudo  a maldade 
era  tal,  que  não  foi  possível  evitar 
a destruição  destas.  Sodoma  e Go- 
morra,  símbolos  da  destruição  fi- 
nal. Abimeleque  foi  um  rei  visi- 
tado por  Abraão.  Abraão  infeliz- 
mente , apesar  de  tôda  a sua  gran- 
deza de  alma,  mostrou-se  humano; 
caiu  na  fraqueza  da  mentira. 

Depois  dêsses  acontecimentos 
cumpre-se  a promessa.  Deus  lhe 
dá  o filho.  Deus  vem  depois  a pe- 
dir-lhe 0 filho.  Êste  é 0 ponto  cul- 
minante na  biografia  de  Abraão; 
sua  significação  vamos  destacar 
depois. 

Vamos  passando  à biografia  de 
seu  filho  Isaque.  O exemplo  de  Isa- 
que  como  pacifista  é o ponto  cul- 
minante na  biografia  dêste,  porque 
êle  foi  realmente  um  exemplo  de 
pacifismo.  Sua  biografia  é menor; 
menor  em  extensão  e menor  em 
importância.  Os  vultos  de  seu  pai 


Abraão  e de  seu  filho  Jacó  são  tão 
notáveis  que,  de  certa  maneira,  a 
figura  de  Isaque  fica  um  pouco 
apagada.  Entre  parêntesis:  Conta- 
-se  que  Mendelson,  o banqueiro,  era 
muito  conhecido,  sendo  seu  filho 
sempre  apresentado  como  o filho 
de  Mendelson.  O neto  se  tornou 
musicista  célebre.  O filho,  que  ago- 
ra era  velho,  passou  a ser  apresen- 
tado como  0 pai  de  Mendelson.  Cer- 
ta vez  perguntaram-lhe  quem  era. 
Respondeu:  “Eu,  a princípio,  era 
filho  de  meu  pai;  depois  passei  a 
ser  0 pai  de  meu  filho;  eu  mesmo 
não  sou  ninguém”.  Isaque  a prin- 
cípio era  filho  de  Abraão;  depois 
passou  a ser  o pai  de  Jacó.  Jacó  é, 
de  fato,  um  vulto  notável.  Notável 
primeiro  por  suas  malandragens; 
notável  depois  por  sua  conversão. 

Repassemos  rapidamente  a bio- 
grafia de  Jacó  comprando  o di- 
reito de  priniogenitura  com  um 
prato  de  lentilhas,  ganhando  a 
bênção  do  pai  quando  arranjou  um 
guisado  mais  depressa.  (A  mãe, 
protecionista,  depois  deve  ter  fi- 
cado arrependida  quando  vê  o fi- 
lho partir  para  tão  longe),  indo 
para  região  onde  estavam  os  pa- 
rentes, trabalhando,  conforme  os 
costumes  da  época,  para  receber  de 
seu  sogro  as  filhas  em  casamento, 
enganando  o próprio  Labão,  ao 
qual  deixa  sem  aviso,  vem  afinal 
ao  vale  de  Jaboque,  o vale  da  de- 
cisão. O rio  Jaboque  é um  afluen- 
te do  Jordão.  Riacho  sem  muita 
significação,  passou  à história  por 
causa  do  encontro  de  Jacó  com  o 


Janeiro  de  1959 


— 25 


anjo.  Quase  mesmo  à passagem 
do  Jordão,  quase  à entrada  de  Ca- 
naã,  teve  Jacó  êste  encontro.  Nes- 
te incidente  o mais  significativo  de 
sua  vida,  percebeu  que  de  nada  va- 
lia sua  atitude  enganadora,  pois 
que,  cedo  ou  tarde,  chegava  o ajus- 
te de  contas.  Pediu  com  grande 
insistência,  a bênção  dos  céus. 

Encontra-se  e reconcilia-se  com 
o irmãos.  Às  eauHflHpc  Hos  pais 
que  não  mais  encontrou  somou-se 
logo  a saudade  de  Raquel  a esposa 
querida,  que  veio  a morrer.  Não 
há  felicidade  completa  aqui  na 
terra.  De  nada  vale  ser  engana- 
dor. As  mais  caras  esperanças  es- 
tão além. 

E assim,  em  lugar  de  Jacó  que 
passa  aos  bastidores,  surge  no  pal- 
co dessa  história,  José  , seu  filho. 
Mas,  êste  já  pertence  a outro  pe- 
ríodo. 

Apresentadas,  em  síntese,  as  bio- 
grafias dos  patriarcas,  desejamos 
destacar  algumas  lições  essenciais. 

Abraão  é o exemplo  de  fé.  E’ 
chamado  o pai  da  fé.  O pedido  do 
sacrifício  de  Isaque,  devia  parecer- 
-Ihe  absurdo.  Mas  Hebreus  11:18 
dá-nos  0 segrêdo  dessa  história. 
Abraão  creu  na  ressurreição.  Êle 
não  discute;  obedece.  Todos  conhe- 
cem o incidente  tão  tocante;  vão 
para  o monte  Moriá,  em  Jerusalém. 
O filho  pergunta:  aqui  está  o cute- 
lo, aqui  a lenha,  onde  é que  está 
a vítima?  E a resposta  de  Abraão 
é:  “Deus  proverá”.  É o homem 

da  fé,  chamado  “pai  da  fé”.  Sua 


figura  vai  ocupar  o resto  da  Es- 
critura. O momento  cruciante  é 
êste.  Demonstrou  fé  em  muitas 
circunstâncias  da  sua  vida,  mas 
nesta  hora  êle  demonstra  fé  “cris- 
tã”. Romanos  4 mostra  a signifi- 
cação da  fé  na  vida  de  Abraão.  Ro- 
manos 4:17:  Deus  dá  existência  às 
coisas.  Mateus  22:31-32  confirma- 
-nos  a impressão. 

Vamos  passor  a Toortno  Isnane 
é um  exemplo  de  pacifista,  o inci- 
dente mestre  está  principalmente 
no  capítulo  26.  Expressão  interes- 
sante: “e  cavou  outro  poço”.  O que 
aconteceu  foi  o seguinte:  Êle  ca- 
vava um  poço  porque  o rebanho 
sem  água  não  podia  viver,  mas  vi- 
nham os  vizinhos  e criavam  uma 
situação.  No  cap.  26  de  Gênesis  a 
expressão  “E  cavou  outro  poço” 
aparece  várias  vêzes,  porque  vá- 
rias vêzes  os  inimigos  avançaram 
sôbre  o que  era  dêle.  Para  não 
questionar,  êle  deixava  o poço  e 
cavava  outro.  O final  foi  êste:  De- 
pois de  tanta  paciência  teve  recom- 
pensa. Os  inimigos  o procuraram  e 
quiseram  fazer  amizade  com  êle, 
porque  viram  que  Deus  o abençoa- 
va. Êles  disseram:  Temos  visto 
que  o Senhor  é contigo. 

Jacó  é um  exemplo  de  conversão. 
Já  temos  enunciado  essa  grande  li- 
ção na  vida  dêste  patriarca.  O su- 
plantador,  o enganador  transfor- 
mou-se num  príncipe  com  Deus. 
Êle  teve  primeiro  o nome  de  Jacó 
e depois  o nome  de  Israel.  Jacó,  o 
enganador,  deixa  atrás  um  irmão 


26  — 


ÚNITAS 


enganado  e vai  à frente  encontrar 
um  sogro  a quem  vai  também  en- 
ganar. Apesar  das  promessas  que 
fêz  a Deus  em  Betei,  êle,  até  a 
Deus  tenta  enganar,  sempre  utili- 
tário . “Se  Tu  me  abençoares,  se 
Tu  me  acompanhares  nesta  via- 
gem, se  Tu  me  fizeres  prosperar, 
então”. . . 

Na  volta  seu  espírito  é outro. 

Gênesis  32:26:  “Deixando  ir  por- 
que ja  a alva  subiu;  porém  êle 

disse,  não  te  deixarei  ir  se  não  me 
abençoares.  Disse-lhe:  qual  é o 
teu  nome?  E êle  disse:  Jacó.  En- 
tão disse:  Não  se  chamará  mais  o 
teu  nome  Jacó,  mas  Israel,  pois 
como  príncipe  lutaste  com  Deus  e 
com  os  homens  prevaleceste”.  Foi 
um  encontro  com  Deus. 

Enquanto  a pessoa  não  se  encon- 
tra realmente  com  Deus,  não  deu 
o passo  definitivo  na  vida,  e o mais 
significativo.  Nada  tem  significa- 
ção sem  a conversão,  o encontro 
com  Deus,  a decisão  feita,  de  uma 
vez  para  sempre,  de  servir  aos  pro- 
pósitos divinos. 

Leiam-se  os  textos:  Gênesis  28:4 
— “E  te  dê  a bênção  de  Abraão,  a 
ti  e à tua  semente  contigo,  para 
que  em  herança  possuas  u terra  de 


tuas  peregrinações,  que  Deus  deu 
a Abraão”. 

Gênesis  30:27  — “Então  lhe  disse 
Labão:  Se  agora  tenho  achado  gra- 
ça aos  teus  olhos,  fica  comigo.  Te- 
nho experimentado  que  o Senhor 
me  abençoou  por  amor  de  ti”. 

Gênesis  43:13-14  — “Tomai  tam- 
bém a vosso  irmão,  e levantai-vos, 
e voltai  àquele  vai'ão.  E Deus 
puUeio&o  vüS  dê  misericórdia 
diante  do  varão,  para  que  deixe  vir 
covosco  vosso  outro  irmão,  e Ben- 
jamim; e eu,  se  fôr  desfilhado,  des- 
filhado  ficarei”. 

A grande  lição  dos  patriarcas  é 
esta  que  a nossa  vida  deve  ser  di- 
rigida por  Deus.  E’  o Senhor,  Todo 
Poderoso  que  traz  a bênção  e que 
trás  a vitória;  Êle  nos  guia  pelos 
nossos  caminhos.  ’ 

Finalmente  Gênesis  46:3.  No  fi- 
nal da  vida  de  Jacó  Deus  está  lhe 
dizendo:  “Não  temas  descer  ao 
Egito,  porque  eu  te  farei  ali  uma 
grande  nação”.  Deus  transformara 
Abraão  em  uma  família  ;agora  diz 
que  transformará  esssa  família  em 
uma  grande  nação. 

Estudaremos  a gestação  dela  na 
próxima  aula. 


iMOÇOES 

DE 

PSICOLOGIA  KELIGIOSA 


Dr.  Samuel  Figueira 


TEORIAS  PSICOLÓGICAS  DO 
FENÔMENO  RELIGIOSO 
(Continuação) 


D)  CARL  JUNG.  Para  Jung,  a 
religião  é uma  autêntica  função  do 
psiquismo,  sob  a dependência  espe- 
cifica do  inconsciente  coletivo. 

Esclareçamos. 

Jung,  um  dos  mais  brilhantes 
discípulos  de  Freud,  é o teorizador 
do  inconsciente  coletivo.  Para  êle, 
não  basta  distinguir  na  psiquê,  o 
consciente  — porção  relacionada 
diretamente  com  o “eu”,  e o incons- 
ciente, — 0 “amplo  fundo  indeter- 
minàvelmente  grande”,  porção  no- 
turna da  personalidade;  no  incons- 
ciente, êle  distingue  duas  camadas: 
uma  relacionada  com  as  experiên- 
cias pessoais,  contendo  os  impul- 
sos recalcados,  lembranças  adorme- 
cidas, e algumas  expressões  senso- 
riais  não  suficientemente  fortes 


para  atingir  o consciente  — é o 
inconsciente  individual;  resta  po- 
rém, além  dessa,  outra  camada  con- 
tendo, não  mais  as  experiências  in- 
dividuais, mas  as  grandes  expe- 
riências da  espécie.  E’  o chamado 
inconsciente  coletivo.  Para  citar 
um  exemplo,  à guiza  de  ilustração, 
na  análise  do  nome  pessoal,  temos 
um  elemento  individual  — o pre- 
-nome,  e um  elemento  coletivo  — o 
sobre-nome.  Assim  como  o preno- 
me  é a expressão  do  presente,  o 
sobrenome  é depositário  do  passa- 
do, um  traço  de  união  que  liga  o 
indivíduo  aos  seus  antepassados,  e 
exprime  a herança  de  caracteres 
que  remontam  a troncos  familiares 
longínquos.  Pois  bem,  o nosso  pa- 
rentesco é também  uma  realidade 


28  — 


Ú N I T A S 


no  setor  psicológico  — é o incons- 
ciente coletivo.  Apenas  uma  dife- 
rença gigantesca  separa  o paren- 
tesco biológico  do  parentesco  psi- 
cológico: enquanto  o primeiro  tem 
um  âmbito  relativamente  restrito, 
o segundo  é universal. 

ARQUÉTIPOS 

O conteúdo  do  inconsciente  cole- 
tivo é constituído  pelas  chamadas 
“imagens  ancestrais”,  que  Jung 
também  chama  imagens  arcáicas 
ou  arquétipos.  Que  são  essas  ima- 
gens? São  resíduos  da  memória 
da  espécie,  idéias  que  se  encon- 
tram em  diferentes  povos  da  terra 
sem  terem  sido  transmitidas  pela 
tradição,  nem  pela  propagação. 
0»çânio-lo:  “É  um  fato  que  certas 
idéias  se  verificam  quase  em  tôdas 
as  partes  e em  todos  os  tempos, 
e que  até  podem  aparecer  de  per 
si  e espontãneamente,  com  intei- 
ra independência  da  tradição  e da 
migração.  Não  são  concebidas  pelo 
indivíduo,  mas  ocorrem  e ainda 
irrompem  na  consciência  indivi- 
dual”. (Psicologia  y Religion,  pág. 
21).  Como  exemplo,  cita  as  doutri- 
nas cristãs  do  pecado,  da  redenção, 
a encarnação  do  Verbo  (o  Homeni- 
-Deus),  a cruz,  a concepção  ima- 
culada (do  Filho  de  Deus),  a Trin- 
dade, etc.,  e acrescenta  que  as  dou- 
trinas cristãs  referidas  “não  são 
exclusivas  do  Cristianismo,  se  bem 


que  êste  lhe  tenha  dado  tal  desen- 
volvimento e perfeição  de  sentido 
que  mal  se  pode  comparar  com  as 
de  outras  religiões.  Com  freqüên- 
cia  encontramo-las  em  religiões  pa- 
gãs...” (Op.  Cit.  pg.  76).  A vinda 
do  Messias,  por  exemplo,  constituía 
uma  esperança  universal.  Suetônio 
testemunhou:  “Uma  antiga  e cons- 
tante tradição,  derramada  por  todo 
0 Oriente,  anunciava  que  em  de- 
terminado tempo  devia  surgir  da 
Judéia  0 dominador  do  mundo” 
(Vida  de  Vespasiano,  apud  Castelo 
Branco  — A Divindade  de  Jesus, 
pg.  101):  Castelo  Branco  cita  ainda 
vários  testemunhos  insuspeitos  sô- 
bre  o assunto.  Voltaire:  “Desde 

remotíssimas  eras,  grassava  entre 
indus  e chins  a crença  de  que  um 
sábio  viria  do  Ocidente.  A Euro- 
pa dizia  que  o sábio  viria  do  Orien- 
te. Tôdas  as  nações  assentiram  a 
necessidade  de  um  sábio”  (Op.  Cit. 
pg.  102).  Volney:  “As  tradições 

sagradas  e mitológicas  dos  tempos 
anteriores  à era  cristã,  haviam  le- 
vado por  tôda  a Asia  a esperança 
num  sublime  mediador,  o qual  de- 
via vir  Juiz  supremo,  salvador  fu- 
turo, rei.  Deus,  conquistador  e le- 
gislador, a inaugurar  na  terra  a 
idade  do  ouro  e a redimir  os  ho- 
mens do  império  do  mal.”  (Op.  Cit. 
pg.  102).  Roselly  de  Lorgues  apre- 
senta-nos, num  livro  antigo  e rica- 
mente erudito,  um  documentário 
maciço  e exaustivo,  provando  como 
os  grandes  temas  do  Cristianismo 
são  encontradiços  nas  religiões  pa- 
gãs. A noção  do  pecado  original. 


Janeiro  de  1959 


— 29 


por  exemplo,  é universal.  “Perpe- 
tuada no  antigo  Oriente,  encontra- 
mo-la igualmente  na  África,  no 
continente  americano  e nos  arqui- 
pélagos do  Oceano  Pacífico.  Em 
tôda  parte  reinou  noção  de  que  a 
condição  do  homem  havia  sido  mu- 
dada por  uma  falta.  Os  chineses. . . 
os  indus...  os  parsis  diziam:  “Em 
qualidade  de  filho  de  Meschia  e de 
Meschané,  Adão  e Eva),  o homem 
nasce  impuro”.  Todos  os  povos 
concordes  com  Platão,  reconhece- 
ram que  “a  natureza  e as  facul- 
dades do  homem  foram  mudadas  e 
corrompidas  desde  o princípio,  no 
tronco  de  que  descenderam”  (Jesus 
Cristo  Perante  o Século,  g.  328). 
Sôbre  a encarnação  do  Verbo,  diz 
De  Lorgues:  “Tradições  derivadas 
dos  tempos  ante-diluvianos  se  ha- 
viam espalhado  por  todo  o Oriente, 
e anunciavam  um  redentor  divino. 
Os  povos  confiavam  que  êsse  me- 
diador havia  de  reconciliar  com  o 
Céu  a humanidade.  Todos  espera- 
vam por  um  deus  que  deveria  en- 
carnar-se, e apesar  de  seu  poder, 
sofrer  tôdas  as  misérias,  persegui- 
ções, as  necessidades  humanas,... 
enfim  a morte.  A predição  de  seu 
nascimento  milagroso  do  seio  de 
uma  virgem  estava  tão  acreditada 
que,  em  quase  tôdas  as  teogonias 
se  encontra  a encarnação  de  um 
deus”  (Op.  pg.  329).  Cita  a seguir, 
vários  povos  nos  quais  se  encon- 
tram essas  tradições.  Os  egípcios, 
os  indus,  os  chineses  ,os  tibetanos, 
os  japonêses,  os  povos  bárbaros  da 
América,  os  germanos  os  druidas 


e outros:  “Os  hindus  e os  bramas 
ensinavam  que  Buda  nasceu  da  vir- 
gem Maha-mai.  Em  geral,  no  Ti- 
bet,  no  Japão  e na  China,  vivem 
os  povos  na  persuasão  que  um  deus, 
querendo  salvar  da  corrupção  o gê- 
nero humano,  se  encarnara  no  seio 
de  uma  virgem.  A êsse  Deus  cha- 
mam uns  Che-Kia. . .”  (Id.  pg.  330). 

A redenção  pela  morte  de  um 
deus  — eis  outro  tema  universal. 
Na  China,  os  livros  likigki  anun- 
ciavam um  herói  que  deveria  repôr 
tudo  na  ordem  primitiva,  e me- 
diante seus  próprios  padecimentos 
abolir  os  crimes.  E’  o Santo.  Os 
Kings  falam  dêsse  personagem 
misterioso.  Êle  existia  antes  do 
céu  e da  terra.  Posto  que  muito 
excelso,  sua  natureza  é semelhante 
à nossa.  “Tren-Gien  será  o deus- 
-homem;  andará  entre  os  homens, 
e os  homens  não  n’o  conhecerão. 
Ferí  o Santo,  rasgai-o  com  açoites, 
ponde  0 ladrão  em  liberdade ...” 
Em  todos  os  países,  acrescenta  De 
Lorgues,  quer  civilizados,  quer  bár- 
baros, existia  a crença  de  que  um 
deus-homem  haveria  de  resgatar, 
com  seu  sangue,  a criminosa  hu- 
manidade. Esquilo,  um  dos  mais 
profundos  mitólogos  reuniu  na  fi- 
gura de  Prometeu  todos  os  parti- 
culares da  vida  do  Redentor,  e deu 
à Grécia  o espetáculo  de  um  deus 
que  condenava  à morte  outro  deus. 
Platão,  fazendo  o retrato  simbóli- 
co do  Justo,  diz:  “Virtuoso  até  à 
morte,  êle  passará  por  injusto  e 
perverso,  e como  tal  será  flagela- 


30  — 


Ú NIT AS 


do,  atormentado,  e por  fim  posto 
na  cruz”  (Ibid.  pg.  336). 

Jung  rotula  essas  crenças  de 
arquétipos,  ou  imagens,  são  as 
“imagens  cristãs  que  não  são  ex- 
clusivas do  Cristianismo”,  e que 
“com  freqüência  encontramos  em 
religiões  pagãs”. 

Como  se  explica  a universalidade 
dessas  imagens  ou  arquétipos  ? 

— Enquanto  os  religiosos  consi- 
deram que  o âmbito  da  revelação 
não  está  estreitado  no  campo  do 
Judaismo  ou  do  Cristianismo  ape- 
nas, e mostram  como  Deus  revelou 
considerar  povos  pertencentes  à 
chamada  gentilidade,  isto  é,  povos 
não  judeus  nem  cristãos,  como  no 
caso  de  Nínive,  cidade  à qual  Jeo- 
vá mandou  um  mensageiro  espe- 
cial; Jung,  à luz  de  sua  doutrina 
do  inconsciente  coletivo,  acha  que 
há  em  todos  os  homens,  uma  dis- 
posição comum  para  cristalizar  as 
figuras  representativas  (as  gran- 
des idéias,  as  noções  comuns  de  di- 
vindade, anjos,  demônios,  e até  de 
dogmas,  como  a Trindade,  a reden- 
ção, e os  já  citados)  não  segundo 
conceitos  intelectivos,  racionais, 
mas  dc  acordo  com  um  padrão  uni- 
versal, coletivo,  irracional.  Es.'?a 
disposição  se  tranrunite  por  heran- 
ça. Faz  parte  da  estrutura  psíqui- 
ca do  homem.  Assim  pois,  não  te- 
mos sòmente  caracteres  somáticos 
e psíquicos  gerais,  comuns  a tôda 
a humanidade,  mas  também  cren- 
ças, noções  gerais,  categorias  lógi- 
cas. 


Tentando  esclarecer  o processo 
de  formação  dos  arquétipos,  Jung 
compara  ao  sistema  exial  de  um 
cristal  que  predetermina  a forma- 
ção cristalina  na  água-mãe,  sem 
possuir  o mesmo  existência  mate- 
rial. O sistema  axial  determina  a 
forma  concreta  do  cristal.  Assim 
como  o cristal,  possui  o arquétipo 
um  núcleo  de  significação  invariá- 
vel. 

Jung  acentua  pois,  em  sua  dou- 
trina mais  um  aspecto  do  paren- 
tesco universal.  Como  o diz  Ramon 
Sarró,  “mercê  de  uma  profusão 
deslumbradora  de  exemplos,  o lei- 
tor vai  percebendo  o seu  parentes- 
co com  tôdas  as  culturas.  Desco- 
bre que  uma  região  de  si  mesmo 
que  ignorava,  é uma  espécie  de  re- 
ceptáculo dos  grandes  temas  que 
têm  comovido  a Humanidade.  Tem 
a visão  grandiosa  de  sua  afinidade 
com  os  vedas,  os  egípcios,  com  os 
antigos  incas  e com  os  antigos 
germanos,  com  os  chineses  e com 
os  africanos...  Esta  camada  de 
sua  psiquê  comum  com  a humani- 
dade de  todos  os  países  e de  tôdas 
as  épocas  — é o inconsciente  co- 
letivo” (El  Yo  y el  Inconsciente, 
pg.  23,  de  Jung). 

Como  vemos,  a psicologia  dc 
Jung  trouxe  mais  uma  dimen.sâo  à 
realidade  psicológica  encarada  de 
modo  unilateral  por  Freud.  Para 
Freud,  a análise  do  inconsciente  é 
a revelação  da  bestialidade  huma- 
na; para  Jung,  “existem  nêle  for- 
ças latentes  de  aperfeiçoamento. 


Janeiro  de  1959 


— 31 


bases  de  tôda  crença,  da  moral  o 
do  sentimento  religioso”. 

Para  Jung,  o velho  Heráclito  des- 
cobriu na  antiguidade,  a mais  im- 
portante lei  psicológica  de  todos  os 
tempos,  que  é a da  “harmonia  dos 
contrários”,  isto  é,  uma  fôrça  ca- 
paz de  regular  e harmonizar  o ra- 
cional e 0 irracional.  Assim  pois,  a 
neurose  não  é libido  recalcada, 
como  quer  Freud,  nem  instinto  de 
afirmação  pessoal  reprimido  como 
quer  Adler,  mas  sim  “religiosidade 
reprimida”.  “Os  deuses  negados  se 
convertem  em  fobias,  obcessões, 
delirios”  (El  Yo  y el  Inconsciente, 
pg.  24).  E’  a rutura  desta  harmo- 
nia entre  o racional  e o irracional, 
o combate  dos  conteúdos  irracio- 
nais pelo  racionalismo  — o que  res- 
ponde em  geral  pelo  mecanismo 
das  neuroses.  Para  Jung,  o racio- 
nal e o irracional  são  duas  faces 
inalienáveis  da  vida  psiquica.  Com- 
bater o irracional  — é um  dos  erros 
palmares  do  racionalismo  que  êle 
ataca  nos  seguintes  termos:  “Para 
certa  mediocridade  intelectual,  ca- 
racterizada por  um  racionalismo 
ilustrado,  uma  teoria  cientifica  que 
simplifique  as  coisas  constitui  um 
excelente  recurso  de  defesa,  devi- 
do à inquebrantável  fé  do  homem 
moderno  em  tudo  que  leva  a eti- 
queta de  “cientifico”.  (Psicologia 
y Religion,  pg.  75).  Enrique  Bu- 
telmann,  prefaciando  a citada  obra 
de  Jung,  diz:  “Condicionado  histo- 
ricamente, Freud  “vê  como  sua 
época  o obriga  a ver”.  Em  outras 


palavras,  não  podendo  libertar-se 
00  materialismo  cientifico  dos  fins 
do  século  XIX,  concebe  o incons- 
ciente de  modo  oxclusivamente  ra- 
cionalista  e intenta  explicar  tôda 
criação  espiritual  à luz  de  sua  ima- 
gem mecanicista  do  universo.  Dai 
sua  teoria  da  sublimação,  e o con- 
siderar tôda  a cultura  humana 
como  mera  derivação  do  instinto 
sexual.  Dai  também  sua  valoração 
negativa  dos  fatores  irracionais. 

O irracional  porém,  existe;  é um 
fato  psicológico.  Portanto  como 
tal  hemos  de  considerá-lo,  cuidan- 
do de  não  violentar  sua  idiosincra- 
sia...  0 contrário  equivale  a um 
arbitrário  estreitamento  do  campo 
da  experiência.”  (Id.  pg.  12). 

Assim  entendido  o conteúdo  do 
inconsciente  coletivo,  torna-se  in- 
tuitiva a teoria  da  religião.  E’  a 
submissão  a poderes  superiores, 
um  fator  dinâmico  inconsciente 
que  se  apodera  do  sujeito  e o di- 
rige, uma  fôrça  que  irrompe  e do- 
mina 0 individuo.  Em  sua  expres- 
são textual,  “religião  exprime  a 
particular  atitude  de  uma  cons- 
ciência transformada  pela  expe- 
riência do  numinoso”.  Numinoso 
vem  a ser  “a  propriedade  de  um 
objeto  visivel  ou  o influxo  de  uma 
presença  invisivel  que  produz  uma 
especial  modificação  da  consciên- 
cia”, constituindo  “uma  condição 
do  sujeito,  independente  de  sua 
vontade”  (Ibid.,  pg  22). 

Como  se  desperta  essa  fôrça  que 
muitas  vêzes  dormita  em  nosso  ín- 


32  — 


ÚNITAS 


timo?  Na  experiência  individual, 
“essa  condição  está  coordenada 
com  uma  causa  externa  ao  indiví- 
duo”. 

Em  que  se  baseia  Jung?  — No 
estudo  de  amplo  material  no  campo 
da  mitologia,  do  folk-lore,  da  in- 
terpretação dos  sonhos,  e da  psico- 
patologia. 

* * * 

Inegàvelmente,  Jung  teve  o mé- 
rito de  revelar  mais  uma  dimensão 
do  fenômeno  religioso:  a sua  radi- 
cação no  inconsciente  coletivo.  No- 
temos que  Freud  fêz  derivar  a re- 
ligião do  inconsciente  individual. 
Ambos,  porém,  foram  unilaterais 
porque  encararam  aspectos  isola- 
dos da  religião.  Os  espiritualistas 
tradicionais  vincularam  a religião 
ao  consciente,  de  modo  exclusivo. 
Basta  assistir  uma  cerimônia  reli- 
giosa num  povo  bárbaro  para  se 
chegar  à evidência  do  dinamismo 
inconsciente  que  a anima.  Mas  não 
é possível  também  dissociá-la  de 
sua  raiz  consciente,  principalmen- 
te nos  povos  mais  civilizados. 

O grande  êrro  dos  teorizadores 
da  religião  tem  sido  monopolizar  o 
seu  significado,  tentando  simplifi- 
cá-la às  custas  do  sacrifício  de  sua 


complexidade  estrutural.  Jung,  por 
exemplo,  restringe  o campo  da  ex- 
periência de  modo  arbitrário,  ne- 
gando a influência  da  vontade  no 
fenômeno  religioso,  o que  conduz 
ao  determinismo. 

Por  outro  lado,  sua  teoria  tem  o 
mérito  inconfundível  de  focalizar  a 
importância  de  fatos  da  mais  alta 
significação,  como  os  que  servem 
de  base  à concepção  dos  arquéti- 
pos, as  crenças  universais.  Toda- 
via, negando  a confluência  do  ra- 
cional na  gênese  da  religião,  che- 
ga a conseqüências  extremas  como 
0 determinismo  religioso. 

Como  veremos  mais  tarde, 
Fromm  atribui  um  papel  funda- 
mental à razão  na  origem  e evo- 
lução do  sentimento  religioso. 

Assim  pois,  na  harmonia  dos 
“contrários”  encontraremos  uma 
visão  tridimensional  do  fenômeno 
religioso  associando  o que  há  de 
verdade  nas  teorias  de  Freud,  Jung 
e Fromm,  isto  é,  reconhecendo  as 
fontes  no  inconsciente  individual, 
no  inconsciente  coletivo,  e na  pró- 
pria razão.  São  valiosas  contribui- 
ções ao  conhecimento  das  raízes  do 
fenômeno  religioso. 

(Continuaremos) 


• • 


A 

CONCEPÇÃO  CRISTÃ 
DA 
RAÇA 


A despeito  de  tôdas  as  provas 
científicas  que  destroem  o precon- 
ceito racial,  as  relações  entre  as 
raças  ainda  permanecem  críticas. 
Daí  a necessidade  de  reafirmar  a 
concepção  cristã,  porque  só  o espí- 
rito cristão  porá  abaixo  o separa- 
tismo e implantará  a fraternidade 
universal.  Essa  concepção  aparece 
na  exposição  que  transcrevemos, 
do  Secretário  do  Conselho  Mundial 
de  Igrejas,  preparada  para  os  es- 
tudos recentemente  publicados 
pela  UNESCO. 

“A  respeito  da  concepção  cristã 
da  raça  existe  uma  crescente  coin- 
cidência de  opinião  entre  os  pensa- 
dores cristãos.  As  igrejas  têm  cri- 
do sempre  na  unidade  fundamental 
da  humanidade.  Quando  homens 
de  ciência  convocados  pela  UNES- 
CO declararam  “que  todos  os  ho- 
mens pertencem  à mesma  espécie, 
à do  homo  sapiens,  e desdendem  de 
um  mesmo  tronco  comum”  (decla- 


ração de  setembro  de  1952),  os  que 
conhecem  o N.  Testamento  recor- 
darão as  palavras  de  Paulo,  escri- 
tas há  dezenove  séculos:  “Êle  é o 
que  de  um  só  fêz  nascer  tôda  a 
geração  dos  homens,  para  que  ha- 
bitasse a vasta  extensão  da  terra” 
(Atos  17:26).  Mas,  não  se  pode 
negar  que  em  vários  períodos  da 
história  das  igrejas  cristãs  a fôr- 
ça  dessa  convicção  fundamental 
foi  gravemente  debilitada  por  cau- 
sa da  aceitação  de  ideologias  ou 
doutrinas  que  estabeleciam  uma 
hierarquia  racial.  Assim,  a atitu- 
de da  Igreja  ante  o povo  judeu, 
que  nos  primeiros  séculos  da  era 
cristã  esteve  totalmente  fundada 
em  razões  religiosas  e teológicas, 
se  converteu  desde  a época  de 
Constantino  o Grande,  e especial- 
mente durante  a idade  média,  em 
uma  estranha  combinação  de  jus- 
tificáveis motivos  teológicos  e do 
mais  anti-cristão  anti-semitismo.  O 


34  — 


ÚNITAS 


resultado  foi,  segundo  demonstram 
as  leis  da  época,  que  os  judeus  fo- 
ram considerados  como  uma  classe 
inferior  de  seres  humanos.  Ade- 
mais, quando  as  nações  ocidentais 
entraram  em  contato  direto  com  os 
povos  da  África  e chegaram  a 
exercer  sôbre  êlcs  sua  supremacia, 
certos  teólogos  pretenderam  jus- 
tificar essa  dominação  baseando-se 
na  maldição  que  Noé  lançou  con- 
tra o filho  de  Ham,  segundo  a qual 
êle  havia  de  ser  “um  servo  dos  ser- 
vidores de  seus  irmãos”  (Gênesis 
9:25).  Mais  recentemente  temos 
conhecido  o infeliz  fenômeno  de 
um  movimento  que  pretendeu  com- 
binar 0 cristianismo  com  o racismo 
nacional-socialista.  Felizmente,  po- 
demos dizer  que  essas  aberrações 
encontraram  decidida  oposição  e 
que  hoje  é dificil  encontrar  um 
teólogo  sério  ou  uma  autoridade 
eclesiástica  que  defenda  tão  fra- 
cas armações  teológicas  construí- 
das “em  defesa  da  má  causa”.  A 
declaração  da  importante  conferên- 
cia ecumênica  reunida  em  Oxford, 
cm  1937,  reflete  essa  concordância 
geral  ae  opinião  ao  manifestar  que 
“não  há  razões  para  estabelecer 
nenhuma  diferença  entre  as  raças 
quanto  ao  seu  valor  intrínseco.  Por 
tôdas  vela  igualmente,  pois  que  to- 
das foram  criadas  por  Ple  para 
pôr  a seu  serviço  o s dons  singu- 
lares e distintos  de  cada  uma” 
(The  Churches,  p.  72). 

Devemos  esclarecer,  contudo,  que 
a concepção  cristã  de  raça  tem  ca- 
racterísticas distintivas,  podendo 


dizer-se  que  é mais  teocêntrica  que 
antropocêntrica.  A afirmação  de 
Paulo,  citada  anteriormente,  prin- 
cipia com  estas  palavras:  “O  Deus 
é o que  de  um  só  fêz  nascer  tôda 
a geração  dos  homens”.  Nessas  pa- 
lavras está  a diferença  entre  um 
vago  cosmopolitismo  que  considera 
as  raças  e nações  como  puros  aci- 
dentes e a concepção  cristã  que  as 
admite  como  parte  da  estrutura  da 
vida  humana,  que  é um  dom  do 
Deus.  A igreja  cristã  não  defende 
nenhuma  forma  de  racismo.  “Con- 
tra o endeusamento  ou  antagonis- 
mo racial  ,a  igreja  deve  lançar-se 
como  contra  uma  rebelião  de  de- 
sobediência a Deus”  (The  Chur- 
ches, p.  68).  Mas  isso  não  signi- 
fica que  ela  defenda  um  inter-ra- 
cismo  abstrato. 

Enquanto  “raça”  corresponde  a 
um  conceito  puramente  biológico, 
não  há  razão  para  atribuir-lhe  um 
significado  espiritual.  A côr  da 
pele  não  tem  relevância  alguma  do 
ponto  de  vista  dos  valores  cristãos. 
Mas  no  transcurso  da  história  os 
principais  grupos  denominados  ra- 
ças têm  sido  os  portadores  de  ex- 
periências específicas,  experiências 
históricas,  e criaram  determinadas 
formas  de  cultura.  E’  útil  recor- 
dar que  a ciência  moderna  nos  en- 
sina que  as  chamadas  raças  não 
ião  compartimentos  estanques  nem 
entidades  imutáveis,  o que  nos 
ajuda  a evitar  o perigo  de  consi- 
derar absolutas  as  características 
culturais  distintivas  de  tôda  raça. 


Janeiro  de  1939 


— 35 


Contudo,  essas  características  exis- 
tem, e não  atendê-las  ou  negá-las 
em  atenção  a uma  conformidade 
geral  é tão  errôneo  como  negar  às 
pessoas  o direito  à função  especí- 
fica de  seus  próprios  dons  e facul- 
dades. Nesse  sentido  é verdade 
que,  segundo  manifestou  a Confe- 
rência de  Oxford  em  1937,  “cada 
uma  das  raças  da  humanidade  tem 
sido  beneficiada  por  Deus  com  dons 
distintos  e singulares”  e que  “o 
cristão  olha  as  diferenças  raciais 
como  parte  da  vontade  de  Deus 
para  enriquecer  a humanidade  com 
uma  diversidade  de  dons”.  O reco- 
nhecimento dessas  diferentes  facul- 
dades não  significa  uma  diferença 
de  raças  quanto  ao  valor  intrinseco 
das  mesmas. 

Essa  situação  não  é estática.  Po- 
dem produzir-se  novas  situações 


como  se  produziram  no  passado  e 
existem  hoje  em  algumas  partes  do 
mundo,  onde  várias  raças  se  têm 
unido  numa  nova  síntese.  Essas 
misturas  devem  ser  bem  recebidas 
e respeitadas  como  uma  contribui- 
ção para  a vida  comum  da  huma- 
nidade. O grande  evangelizador 
africano  Aggrey  gostava  de  repe- 
tir a parábola  das  teclas  brancas  e 
pretas  do  piano  que,  juntas,  pro- 
duzem música  harmoniosa.  Parábo- 
la exata  se  é entendida  não  com 
relação  à côr  mas  à função.  As  di- 
ferenças raciais  são  autênticas 
mas  relativas,  já  que  vão  endere- 
çadas ao  cumprimento  do  destino 
da  humanidade  como  um  todo.  Em 
última  análise,  os  homens  todos 
pertencem  a uma  só  raça  humana, 
que  Deus  criou  e deseja  salvar.” 


)•( 


JESUS  CRISTO 

“Cristo  é a expressão  visivel  do  Deus  invisivel.  Êle  existiu 
antes  da  criação,  pois  foi  através  dêle  que  todo  foi  feito,  seja 
espiritual  ou  material,  visível  ou  invisível.  Através  dêle,  e para 
êle,  também,  foram  criados  o poder  e o domínio,  a autoridade 
e a posse  de  tudo.  Êle  é tanto  o Primeiro  Princípio  como  o Prin- 
cípio de  Sustentação  de  todo  o esquema  da  criação.  E êle  é a 
cabeça  do  corpo  que  é composto  do  povo  cristão.” 


Paulo  aos  Colossenses 


MÉTODOS 

DE 

EVANGELIZAÇÃO 

(O  método  preferido  pelo  I.C.R.) 

Oscar  Arruda 


A excelente  revista  devocional 
“No  Cenáculo”  de  maio-junho  de  68 
traz  diversas  meditações  sobre  o 
tema  “Porque  amo  a Igreja”. 

Amo  a Igreja  porque  é uma 
oportunidade  para  se  conduzirem 
jovens  à vida  cristã.  Na  Igreja 
encontramos  Deus  e estreitamos 
amizades  preciosas  que  nos  ajudam 
a viver  num  mundo  melhor.  Jesus 
ia,  todos  os  sábados,  habitaulmen- 
te,  ao  templo,  legando-nos  assim 
um  exemplo  de  assiduidade  no  que 
se  refere  ao  nosso  comparecimen- 
to  na  igreja  (Lucas  4:16).  O ser- 
mão, as  preces,  os  cânticos  exercem 
inegável  influência  nos  que  ali 
comparecem  com  espírito  receptivo. 
Amamos  a Igreja  pela  influência 
sensível  que  ela  exerce  mesmo 
sôbre  aquêles  que  se  esquivam  de 
atravessar  as  suas  portas  abertas: 
pois  é evidente  que  êstes  não  po- 


dem fugir  da  santificadora  influ- 
ência que  ela  tem  sôbre  a comuni- 
dade em  que  vivem.  Como  as  ove- 
lhas têm  necessidade  do  redil,  nós 
temos  necessidade  da  Igreja.  Na 
igreja  executa-se  um  trabalho  de 
equipe  no  plano  da  vida  espiritual. 
A companhia,  a proximidade  dos 
irmãos,  robustecem  a nossa  devo- 
ção, ajudam-nos  a mais  facilmente 
realizarmos  em  nós  a presença  do 
Mestre.  A Igreja  é dedicada  à ado- 
ração de  Deus:  nela  se  revelam  as 
escrituras,  é nela  que  renovamos 
as  nossas  fôrças  para  sermos  tes- 
temunhas de  Jesus  na  sociedade 
em  que  vivemos. 

Todos  êstes,  não  há  quem  o ne- 
gue, são  argumentos  válidos,  que 
nós  acolhemos  de  todo  o coração. 

Todavia,  o I.C.R.,  desde  a sua 
fundação  há  mais  de  20  anos,  vem 
dando  preferência  a um  método  de 


Janeiro  de  1959 


— 37 


sua  criação  e que  consiste  em 
evangelizar  fora  das  igrejas;  com 
efeito,  suas  prédicas,  suas  confe- 
rências, suas  reuniões  artísticas  se 
fazem  sempre  que  possível,  prefe- 
rentemente, em  lugares  neutros: 
salões,  clubes,  sedes  de  sociedades 
recreativas  ou  culturais,  teatros, 
etc. 

Uma  infidelidade  àqueles  enun- 
ciados? Uma  contradição?  Igno- 
ramos se  no  passado  já  se  tentou 
a análise  dêsse  procedimento,  a jus- 
tificativa dessa  preferência.  Pois 
surpreendeu-nos  gostosamente  en- 
contrar numa  revista  estrangeira 
justamente  essa  análise  e essa  jus- 
tificativa. 

A revista  CHRISTIANITY  TO- 
DAY, n.°  de  29  de  setembro  de  58, 
traz  interessante  artigo  assinado 
por  Stuart  Bartoh  Babbage  a res- 
peito do  método  de  evangelização 
que  êle  diz  ter  sido  descoberto  pelo 
evangelista  Allan  Walker,  homem 
de  impressionantes  dotes  oratórios, 
autor  de  livros  notáveis  sôbre  ques- 
tões evangelísticas.  Tendo  realiza- 
do uma  campanha  de  evangeliza- 
ção na  Austrália,  chegou  à con- 
clusão da  excelência  do  método 
evangelístico  do  I.C.R.,  que  êle 
comenta  e defende  da  seguinte  ma- 
neira: 

“As  reuniões  evangelísticas  de- 
vem-se realizar  em  “território  neu- 
tro”. Fizemos  uma  significativa 
descoberta  na  Austrália.  De  uma 
extremidade  a outra  dêsse  país,  ve- 
rificamos que  os  auditórios  eram 


sempre  duas  ou  três  vêzes  maiores 
quando  as  reuniões  se  realizavam, 
não  em  templos,  mas  em  salões, 
teatros  ou  edifícios  públicos.  Cons- 
tatamos isso  de  uma  maneira  tão 
consistente  que  já  agora  nos  re- 
cusamos a planejar  evangelismo 
em  parte  alguma  a não  ser  em  ter- 
ritório neutro,  pois  é certo  estar- 
mos interessados  em  pessoas  que 
estão  fora  do  alcance  das  igrejas. 
Essa  descoberta  foi-nos  muito  sur- 
preendente e por  isso  resolvemos 
descobrir  a sua  psicologia.  Porque 
é que  certas  pessoas  mostram-se 
prontas  a comparecer  aos  salões 
públicos  e todavia  evitam  entrar 
nas  igrejas?  A principal  razão  é 
que  muitas  pessoas  não  gostam, 
acima  de  tudo,  de  serem  chamadas 
de  hipócritas.  Alimentam  a idéia 
errada  de  que  entrar  numa  igreja 
é professar  a fé  que  aí  se  cultúa. 
Não  lhes  agrada  parecerem  cristãs 
perante  pessoas  que,  conhecendo- 
-Ihes  a vida  irregular,  sem  dúvida 
as  apodariam  de  insinceras  ou  in- 
congruentes. Ficam,  portanto,  para 
fora.  Também,  entrar  numa  igre- 
ja é lançar-se  no  estilo  de  culto  aí 
seguido  e é então  que  nasce  o mêdo 
de  se  embaraçarem  ignorando  como 
proceder  através  do  desenrolar  dos 
atos  dêsse  mesmo  culto.  Assim  é 
que,  de  preferência  a serem  obser- 
vadas estar  de  pé  ou  sentar-se  em 
momentos  inoportunos,  ou  a fo- 
lhear canhestramente  um  hinário 
ou  um  livro  de  preces,  que  outros 
conhecem  tão  bem,  essas  pessoas 
acham  melhor  ficar  de  fora.  Não 


38  — 

foi  talvez,  outra,  a situação  que  Je- 
sus divisou  quando,  de  preferência 
a falar  nas  sinagogas,  êle  prega- 
va ao  ar  livre.  Essa  mesma  des- 
coberta fê-la,  talvez,  João  Wesley 
quando,  em  seus  dias,  saía  para 
fora  das  igrejas,  ao  encontro  de 
pessoas  distantes.  Então,  como 
agora,  parece  certo  que,  se  quere- 
mos ganhar  homens  para  a igreja, 
devemos  procurá-los  e argui-los 


N I T A S 

onde  êles  se  encontram,  isto  é,  fora 
das  igrejas.  E’  certamente  muito 
lógico  dizer-se  que  é um  desper- 
dício de  tempo  pregar  nas  igrejas 
com  o fito  de  alcançar  pessoas  que 
não  vão  às  igrejas.” 

Termina  o articulista;  “Aí  está 
um  atraente  comentário  e uma  con- 
clusão desafiadora.  Essas  observa- 
ções são  dignas  de  séria  reflexão.” 


)•( 


RAPOSAS  NO  SANTUÁRIO 

Havia  cinqüenta  e dois  anos  que  a cidade  de  Jerusalém  jazia 
na  sua  desolação.  Era  um  montão  de  pedras  soltas.  Em  um  local 
ou  outro  se  viam  manchas  de  casas  pobres.  Eram  refúgios  dos 
cristãos.  O recinto  do  templo  transformara-se  em  ninho  de  rapo- 
sas.. Num  dia  em  que  chegou  ali  o Rabi  Aquiba,  com  alguns  com- 
panheiros, um  dêsses  animais  fugiu  do  local  sagrado  exatamente 
de  onde  outrora  se  erguia  o santo  dos  santos.  Os  peregrinos  rom- 
peram em  chôro  convulso.  O Rabi  procurou  consolá-los  dizendo 
que  o que  estava  diante  dos  olhos  dêles  era  o cumprimento  das 
palavras  de  Jeremias  que  dizem:  “Pelo  Monte  de  Sião,  que  está 
assolado,  andam  as  raposas”  (Lamentações  V:18). 

Êsse  fato  está  narrado  no  Talmud  de  Babilônia  (Maccoth,  24  B). 

No  itinerário  da  vida  a época  dos  privilégios  é seguida  pela 
do  acêrto  de  contas.  Que  maravilhosos  privilégios  teve  Jerusalém! 
Não  se  tendo  utilizando  dêles  convenientemente,  chegou  para  ela 
o dia  da  destruição.  Além  de  ser  fato  histórico,  êsse  caso  também 
é um  símbolo.  Na  vida  individual  acontece  o mesmo:  depois  das 
grandes  oportunidades,  chega  o momento  ou  da  recompensa  ra- 
diosa ou  do  castigo  implacável. 


ESTUDOS  BÍBLICOS 


UMA  ESCOLHA  MA 


(Gênesis  XIII:11) 

A capacidade  de  tomar  decisões  na  vida  é um  dos  grandes  dons 
da  personalidade.  Qunado  o homem,  dominado  pelos  maus  sentimentos 
se  escravisa  e vai  perdendo  êsse  poder,  diminui-se  muito  a seus  próprios 
olhos.  O poder  de  pesar  os  motivos,  de  considerar  os  prós  e os  contras 
é um  dos  elementos  que  distinguem  o homem  do  animal.  Êsse  poder 
de  escolha  traz  consigo  grande  responsabildade.  Um  dos  perigos  mais 
constantes  de  errar  no  exercicio  dêsse  dom  esplêndido  se  verifica  quan- 
do 0 homem  deixa  penetrar  em  sua  alma,  como  forças  determinantes 
das  suas  escolhas  motivos  menos  nobres.  0 caso  que  vos  apresento  é 
um  exemplo  dessa  triste  verdade. 


♦ ★ •i' 

Abraão  saira  de  Haran  com  seu  sobrinho,  desejoso  de  possuir  a 
t erra  santa  que  lhe  fôra  prometida  por  Deus.  Chegando  nessa  região 
e tendo  sido  ela  sassolada  pela  fome,  transferiu-se  Abraão  com  sua  fa- 
mília para  o Egito.  Lá  esteve  alguns  anos  e,  depois  de  muitas  experiên- 
cias doces  e amargas,  voltou  a Canaã.  Enriquecera-se  muito.  Saía  con- 
duzindo grandes  rebanhos.  Seus  pastores  tiveram  desavenças  com  os  de 
seu  sobrinho  Ló.  0 velho  Abraão  propõe-lhe  então  uma  medida  para 
encerrar  as  contendas.  Separar-se-iam.  Ló  aceita  e escolhe  uma  parte 
da  terra  em  que  devia  residir.  E essa  escolha  tem  algumas  peculiarida- 
des que  exemplificam  bem  a seguinte  tese: 

MOTIVOS  INDESEJÁVEIS  NA  DETERMINAÇÃO  DA 
NOSSA  VIDA 

I — A proeminência  dos  interesses  materiais.  Ló,  achando-se  numa 
oportunidade  especialíssima  de  sua  vida,  tomou  uma  decisão  levada  mais 
do  que  tudo  por  essa  ordem  de  interêsses.  Viu  que  a terra  era  boa,  pro- 
:dutiva,  num  local  que  lhe  poderia  garantir  futuro  financeiro  e esque- 
i:eu-se  de  muitas  outras  coisas  que  não  poderiam  ser  olvidadas.  Es- 


40  — 


Ú NIT AS 


queccu-se  de  que  Abraão  era  velho,  que  era  seu  tio,  que  lhe  tinha  feito 
muitos  beneficios  e que,  por  isso  tudo  devia  caber-lhe  a parte  melhor. 
Tôdas  essas  considerações  de  ordem  moral  desapareceram  do  espírito 
de  Ló,  no  momento  em  que  falaram  os  interesses  metálicos.  Essa  situa- 
ção era  mais  grave  ainda  pelo  fato  de  já  ser  Ló  bem  rico.  Não  era 
propriamente  uma  necessidade  que  êle  tinha  de  procurar  riqueza  para 
o seu  sustento.  Era  a ganância  que  não  se  satisfaz  com  o que  possui. 
Quantas  pessoas  há  que  agem  dessa  maneira  no  mundo  moderno?  Que 
só  pensam  em  têrmos  de  lucros  e de  perdas  ? Que  vivem  perpètuamente 
a calcular  as  probabilidades  de  aumentarem  seus  haveres  ? 

II  — Desrespeito  pelos  direitos  alheios.  Isso  era  alguma  coisa 
mais  grave.  A terra  era  de  Abraão.  A êle  é que  Deus  a prometera.  Se 
Ló  tivesse  considerado  essa  circunstância,  se  a tivesse  alegado  perante 
o velho  tio,  se  tivéssemos  alguma  palavra  sua  que  reconhecesse  êsse  di- 
reito de  Abraão,  se  êle  se  recusasse  a escolher  e se  submetesse  ao  que 
Abraão  lhe  houvesse  dado,  sua  personalidade  seria  muito  mais  simpá- 
tica, mereceria  bem  mais  respeito.  Mas  êle  rechou  os  olhos  aos  direitos 
do  tio.  Êsse  é um  mal  horrível  em  nossos  dias. 

Se  nos  dermos  ao  trabalho  de  ler  a literatura  que  propaga  o so- 
cialismo e as  doutrinas  terroristas  que  visam  abolir  as  atuais  formas 
de  govêrno  do  mundo,  notaremos  que  a nota  que  elas  ferem  continua- 
mente  para  abrir  caminho  na  opinião  pública  é quase  sempor  a mesma. 
E’  a alegação  de  que  uma  grande  parte  da  sociedade  atual  se  locupleta 
de  riquezas  precisamente  porque  não  tem  respeito  pelos  direitos  da 
classe  que  trabalha  e que  produz  riqueza.  Uns  produzem  e outros  ex- 
ploram. _ - 

Sem  entrar  no  mérito  dêsses  sistemas  que  vão  coordenando  for- 
ças sociais  em  seu  favor,  podemos  afirmar  que  as  suas  alegações  são 
provas  de  que  o espírito  de  Ló  aí  está  vivo  e prejudicial  na  sociedade 
moderna.  Êsse  espírito  é que  está  criando  um  dos  problemas  políticos 
que  desafiam  a capacidade  dos  grandes  estadistas  modernos. 

III  — Desprezo  pelo  fator  religioso.  Abraão  era  uma  fôrça  reli- 
giosa. Era  o homem  que  levantava  altares.  Sua  companhia,  era  uma 
influência  espiritual  recomendável.  Mas  Ló,  por  amor  a seus  próprios 
interêsses,  prefere  scparar-se  do  tio  e habitar  nas  cercanias  de  Sodoma 
cujos  habitantes  eram  perversos.  Parece  que  o desejo  de  viver  em  um 
ambiente  que  favorece  o desenvolvimento  de  sua  religião  não  o preocupou 
muito. 

Koje  êsse  é um  mal  que  domina  grande  parte  da  sociedade  hu- 
mana. Até  mesmo  entre  os  crentes  não  há  nesse  particular  o escrúpulo 


Janeiro  de  1939 


— 41 


que  devia  haver.  Quantas  vêzes  na  elaboração  de  nossos  planos,  não 
cogitamos  bastante  se  êles  vão  ou  não  melhorar  a nossa  vida  espiritual. 
Às  vêzes,  como  que  duvidando  que  êles  expressem  a vontade  divina  a 
nosso  respeito,  nem  chegamos  a orar  convenientemente  pedindo  sôbre  êle 
as  bênçãos  de  Deus. 

Sei  de  uma  pessoa  que  ao  ter  de  transferir  residência  de  um  lugar 
para  outro,  estava  indecisa  sôbre  se  devia  ou  não  dar  êsse  passo,  por- 
que o lugar  para  onde  ia  não  tinha  trabalho  evangélico.  Essa  mostrava 
relacionar  seus  planos  da  vida  terrena  com  os  interêsses  religiosos. 

* * * 

E’  bom  determo-nos  um  pouco  no  estudo  das  conseqüências  da 
escolha  má  de  Ló: 

a)  perdeu  tudo  que  possuía. 

b)  foi  feito  cativo  de  reis  estrangeiros.  O próprio  Abraão,  de 
quem  êle  se  separara  sem  consideração  alguma,  é que  foi 
libertá-lo. 

c)  veio  a depender  de  Abraão.  Êste  é que  intercedeu  a Deus 
por  êle,  para  que  não  fôsse  destruído  com  os  habitantes  de 
Sodoma. 

d)  apesar  de  tudo  não  pôde  mais  salvar  a sua  própria  mulher 
da  corrupção  do  meio  a que  êle  mesmo  a atirou. 

Parecem  excessivas  tôdas  essas  penas,  mas,  a cada  passo,  a socie- 
dade moderna  nos  apresenta  fatos  semelhantes  que  mostram  os  efeitos 
dos  motivos  que  orientaram  a escolha  de  Ló. 

E’  necessário  examinar  também  o procedimento  de  Abraão.  Per- 
cebeu o espírito  que  dominava  o seu  sobrinho  e não  se  irritou.  Foi  ge- 
neroso. Teve  amor  à religião.  A frase  que  se  acha  no  contexto  “E  os 
cananeus  habitavam  então  a terra”,  frase  que  tem  dado  tanto  trabalho 
à alta  crítica,  arece  ter  uma  ligação  íntima  com  o procedimento  de 
Abraão.  Visto  como  estavam  na  terra  pessoas  que  eram  de  outras  cren- 
ças, êle  não  quis  dar  perante  elas  um  testemunho  mau  de  sua  fé.  Por 
isso  mesmo  cedeu  tudo  a Ló.  Tinha,  ao  contrário  de  seu  sobrinho,  muito 
respeito  pela  religião.  Deu  também  mostra  de  muita  fé.  Dava  a me- 


42  — 


Ú N IT  A S 


Ihor  parte  a Ló,  certo  de  que  Deus  não  o deixaria  sem  auxílio.  Na  sua 
atitude,  pois,  havia  muita  fé. 

Que  é que  lhe  aconteceu  em  virtude  de  tudo  isso?  Diz  a Escritura 
que  um  anjo  lhe  apareceu  e que  as  promessas  que  recebera  de  Deus  fo- 
ram rnovadas:  Uma  grande  bênção,  na  realidade. 


Ninguém  pode  esperar  hoje  essas  manifestações  do  poder  divino. 
Mas  uma  vida  orientada  por  motivos  nobres  quais  foram  as  do  velho 
patriarca  tem  ainda  recompensas  — no  beneplácito  da  consciência  e na 
paz  íntima  — tão  altos  e tão  deleitáveis  como  as  que  encheram  a alma 
do  ancião  de  Hur  dos  Caldeus. 


)•( 


INFLUÊNCIA  PÓSTUMA 


Gibbon,  analisando  a personalidade  de  Trajano,  mostra  como 
êsse  imperador  era  ambicioso  c como  estendeu  o mapa  da  suas 
conquistas.  Seus  sucessos  foram  rápidos.  Aproveitando-se  da  fra- 
queza de  certos  povos  desunidos  êle  os  venceu.  Marchou  depois 
para  o Oriente  e desceu  o Tigre,  sempre  alcançando  triunfo.  Das 
montanhas  da  Armênia  foi  até  ao  golfo  Pérsico.  Gozou  da  honra 
de  ter  sido,  entre  os  generais  romanos,  o primeiro  que  navegou 
naquele  mar  longínquo.  Quase  que  diàriamente  o senado  recebia 
notícias  de  novas  nações,  conquistadas  e soube,  deslumbrado,  que 
os  reis  do  Bósforo,  da  Ibéria,  da  Albânia  e muitos  outros  se  subme- 
teram no  domínio  do  Império.  Até  nações  como  a Armênia,  Me- 
sopotâmia  e Assíria  foram  reduzidas  à provínvias  de  Roma. 

Êsses  são  os  fatos  objetivos.  Mas  Gibbon  não  se  limita  a 
narrá-los  e procura  encontrar,  na  alma  de  Trajano,  a fõrça  que  o 
estimulava.  Não  foi  difícil  dcscobrí-la.  O imperador  romano  ficou 
deslumbrado  com  a personalidade  de  Alexandre  o Grande,  com  os 
elogios  que  êle  recebeu,  transmitidos  ao  mundo  por  uma  plêiade 
de  poetas  e historiadores.  Quis,  então,  imitar  o famoso  conquista- 
dor da  Macedõnia.  Suas  grandes  energias  foram  concentradas  nesse 
propósito  dominante.  Alexandre,  quando  estendia  por  tôda  parte 
suas  conquistas,  decerto  não  imaginava  que  um  dia  seu  exemplo 
pudesse  estimular  com  tanto  vigor  outro  conquistador  a seguir-lhe 
os  passos.  A vida  de  todos  os  homens,  tem,  como  a de  Alexandre, 
uma  influência  póstuma  que  pode  ser  boa  ou  má. 


RELIGIÃO 

DE 

PALAVRAS 


Sabatini  Lalli 


Falando  a respeito  das  “pala- 
vras”, alguém  disse:  “Inventa  sunt 
verba  ut  non  manifestentur  sensa” 
“As  palavras  foram  inventadas 
para  que  os  pensamentos  não  se- 
jam manifestos”).  A extraordiná- 
ria eapacidade  de  falar  ,o  maravi- 
lhoso dom  da  linguagem  articula- 
da e inteligente,  eoloca  o homem 
numa  posição  de  preeminência  en- 
tre os  seres  criados.  Através  da 
linguagem  o homem  não  só  está 
em  condições  de  expressar  os  seus 
verdadeiros  pensamentos,  senti- 
mentos e desejos,  mas,  também,  — 
oque  é profundamente  trágico  para 
sua  vida  e para  o seu  destino  — , 
está  em  condições  de  ocultar  os 
verdadeiros  pensamentos,  senti- 
mentos e desejos  elaborados  nos 
mais  íntimos  recesso  de  sua  cons- 
ciência. O homem  é capaz  de  men- 
tir, é capaz  de  dissimular! 

A linguagem  do  homem,  mesmo 
quando  honesta  e sincera,  é inade- 
quada e,  por  isso,  freqüentemente, 
o homem  é impreciso,  obscuro  e 


confuso  no  modo  de  dizer,  sobretu- 
do quando  se  trata  de  focalizar  os 
grandes  problemas  que  envolvem  a 
vida  humana.  A observação  dêste 
fenômeno  é comum  mesmo  nos  li- 
vros. José  Ortega  y Gasset,  notá- 
vel pensador  espanhol,  falando  a 
respeito  do  bom  livro,  disse:  “Um 
livro  só  é bom  à medida  em  que 
nos  permite  travar  um  diálogo  la- 
tente com  0 autor,  à medida  em 
que  percebemos  que  o seu  autor 
sabe  ibaginar  o leitor  e à medida 
cm  que  o leitor  sente,  nas  entreli- 
nhas, que  0 autor  quer  acariciá-lo 
ou  dar-lhe  uma  bofetada”(i).  Vale 
dizer,  que  um  livro  só  é realmente 
bom,  quando,  pela  clareza  e obje- 
tividade da  linguagem  sem  sub- 
terfúgios, comunica  idéias  vivas  e 
provoca  reações  emotivas  favorá- 
veis ou  desfavoráveis.  São  pala- 
vras ditas  com  um  propósito  defi- 
nido, são  palavras  que  têm  ende- 
rêço  certo! 

Nossa  época  se  caracteriza  pelo 
desprestívio  da  palavra.  O grande 


44  — 


ÚNIT  AS 


filósofo  da  terra  de  Cervantes,  ci- 
tado atrás,  disse  que  o desprestí- 
gio da  palavra  é uma  decorrência 
natural  do  hábito  que  os  homens 
têm  adquirido  de  falar  “Urbi  et 
Orbe”,  isto  é,  a todos  e a ninguém! 
A palavra  se  tem  prestado  aos 
mais  desencontrados  objetivos  e,  ao 
ser  proferida  pelos  homens  públi- 
cos, pelos  líderes,  não  leva  ende- 
rêço  certo.  Os  oradores  do  nosso 
tempo  “usam  da  palavra  sem  res- 
peito nem  precauções,  sem  perce- 
ber que  a palavra  é um  sacramen- 
to de  mui  delicada  ministração”(2). 
Principalmente  os  políticos  dos 
nossos  dias,  os  homens  cujas  mãos 
dirigem  os  destinos  do  mundo  em 
nosso  século,  pricipalmente  êles, 
lançaram  a palavra  no  mais  obs- 
curo ostracismo,  tornaram-na  desa- 
creditada. Esta  é a tragédia  do 
nosso  século!  Entretanto,  os  polí- 
ticos não  estão  sozinhos.  Acompa- 
nham-nos muitos  religiosos  e mui- 
tas religiões! 

Em  sua  Primeira  Carta  aos  Co- 
ríntios,  4:20,  Paulo  emprega  esta 
expressão:  “O  reino  de  Deus  não 
consiste  cm  palvras,  mas  em  vir- 
tude”. Parece-nos  que,  já  nos  dias 
de  Paulo,  a palavra  não  gozava  de 
muito  prestígio,  pois,  era  pela  pa- 
lavra que  muitos  chamados  cris- 
tãos ocultavam  o seu  pensamento, 
era  pela  palavra  que  mentiam,  era 
pela  palavra  que  a hipocrisia  to- 
mava corpo  dentro  e fora  da  Igre- 
ja! Muitos  dos  homens  a quem 
Paulo  se  dirige  professavam  a re- 


ligião de  palavras,  não  a religião 
da  Palavra! 

A religião  de  palavras  é vazia. 
Uma  jarra  vazia  é um  recipiente 
que  não  contém  coisa  alguma  ou, 
quando  muito,  está  cheio  de  ar.  Se 
a jarra  é de  porcelana  oriental  c 
de  fino  lavor  artístico  terá,  pelo 
menos,  um  valor  decorativo.  Assim 
é a religião  de  palavras:  vazia!  Se 
a forma  externa  que  uma  tal  reli- 
gião apresenta  no  seu  culto,  é rica 
em  formalismo  e aparatos  rituais, 
essa  religião  tem,  também,  apenas 
o valor  decorativo:  é bonita,  fas- 
cinante, mas...  vazia!...  Por  ou- 
tro lado,  a jarra  além  de  ser  bo- 
nita, pode  estar  cheia  e,  no  entan- 
to, pode  ser  considerada  vazia.  Ima- 
ginemos um  homem  que,  devorado 
pela  sêde,  atravessa  um  deserto 
inclemente.  Ao  longo  do  caminho 
arenoso,  depara-se  êle  com  uma 
linda  jarra  cheia  de...  areia!  Di- 
gamos que  em  vez  de  areia  a jan-a 
contenha  veneno  ou  outra  substân- 
cia que  não  lhe  possa  matar  a sêde 
atroz.  Apesar  de  cheia,  a jarra 
continua  vazia,  terrivelmente  va- 
zia! Assim  é a i-eligião  de  pala- 
vras. Ela  não  dessedenta  a alma 
humana,  não  lhe  oferece  alívio  nem 
conforto  no  longo  e penoso  cami- 
nho da  existência  sôbre  a terra! 


A religião  dos  gregos,  incorpo- 
rada cm  muitos  oráculos,  alguns 
dos  quais  muito  famosos,  por  ser 
uma  religião  de  palavras,  caiu  em 
desprestígio  dentro  da  própria 
Grécia.  O desprestígio  do  Cristia 


i 


Janeiro  de  1959 


— 45 


nismo,  em  muitos  aspectos,  se  ex- 
plica, porque,  tràgicamente,  muitos 
dos  seus  representantes  o trans- 
formaram numa  religião  de  pala- 
vras! Adulteraram-no,  extraindo- 
-Ihe  do  culto  singelo  a espirituali- 
dade vivificante.  Há  pessoas  que 
se  dizem  cristãs,  mas  vão  às  Igre- 
jas, levando  um  coração  comple- 
tamente vazio.  Vão  apenas  para 
cumprir  uma  formalidade  social! 
Mas  a virtude,  o poder  da  religião 
cristã,  está  longe  da  vida,  longe 
dos  atos,  longe  dos  negócios!  Dir- 
-se-ia  que,  desgraçadamente,  tais 
pessoas  são  apenas  objetos  de  ador- 
no, ou  pela  riqueza  dos  trajes  ou 
pelo  ridículo  das  atitudes!  Além  de 
ser  vazia,  a religião  de  palavras 
“incha”.  Notemos  a semelhança 
gráfica  entre  o verbo  “inchar”  e 
“encher”.  Quando  comparamos 
dois  corpos,  um  inchado  e outro 
cheio,  isto,  é revestido  de  uma  en- 
carnadura  firme  e consistente,  bem 
nutrida,  estabelecemos  logo  a di- 
ferença: 0 primeiro  é doente  e o 
segundo  é sadio.  Na  passagem  já 
citada,  Paulo  diz:  “Alguns  andam 
inchados,  como  se  eu  não  estivesse 
para  ir  ter  convosco”  (Vers.  18). 
O verbo  empregado  para  disignar 
o estado  de  “inchado”  é o verbo 
“phisiáo”  e quer  dizer:  “encher-se 
de  orgulho  ou  de  vaidade”.  A re- 
ligião de  palavras  não  nutre,  não 
dá  consistência  espiritual  à alma, 
mas  torna  o espírito  enfermo,  in- 
chado! Em  sua  obra  “Historia  de 
la  Religiosidad  Griega”,  Martin  P. 
Nilsson  nos  conta  que  a cerâmica 


ática,  do  Século  VIII  A.C.,  repro- 
duz cenas  de  enterros  pomposíssi- 
mos  e,  segundo  o mesmo  Autor,  ês- 
tes  enterros  refletiam  o orgulho 
pessoal  e familiar  do  que  ia  ser 
sepultado.  Além  disso,  o assombro- 
so número  de  ofertas  valiosíssimas 
encontradas  na  Acrópole,  ofertas 
feitas  à deusa  Atena,  constitui  um 
atestado  inequívoco  do  orgulho  e 
da  ostentação  de  uma  grande  par- 
te dos  habitantes  da  Grécia. 

Em  cetras  formas  de  Cristianis- 
mo, notamos  o mesmo  fenômeno 
observado  na  religião  dos  gregos. 
Não  é de  admirar,  pois,  que  São 
Paulo  encontrasse  êste  mesmo  pro- 
blema entre  muitos  dos  chamados 
cristãos  gregos  de  Corinto.  Falta- 
va a estas  pessoas  a verdadeira  ex- 
periência da  conversão  e,  assim, 
conversavam,  na  nova  religião,  os 
vícios  e os  hábitos  da  religião  de 
origem!  Além  de  ser  vazia  e de 
inchar,  a religião  de  palavras 
“mata”. 

Como  podemos  justificar  na  Igre- 
ja Cristã  da  atualidade  a existên- 
cia de  muitas  consciências  insensí- 
veis? Notemos  que  consciência 
insensível  é sinônimo  de  consciên- 
cia morta.  São  consciências  sepul- 
tadas na  “letra”,  na  “palavra”.  A 
“palavra”  é um  sepulcro  sonoro 
que  tem  a capacidade  de  narcoti- 
zar a consciência.  Foi  a religião 
de  “palavras”  de  escribas  e fari- 
seus que  matou  a consciência  de 
muitos  israelitas!  Foi  esta  a reli- 
gião de  palavras  que  Cristo  estig- 
matizou com  o seu  verbo  canden- 


46  — 


ÚNITAS 


te.  A “letra  mata,  mas ...”  0 

nosso  Cristanismo,  em  muitos  pon- 
tos, tem  sido  um  Cristianismo  de 
adjetivos.  Temos  adjetivado  o subs- 
tantivo ,isto  é,  temos  retirado  da 
palavra  viva  e operante  do  Evan- 
gelho a essência,  o poder,  a virtu- 
de, o “dynamis”.  Por  isso  a nossa 
religião  tem  sido  só  de  palavras. . . 

Entretanto,  o Evaneglho  é a re- 
ligião não  de  “palavras”,  mas  da 
“Palavra”.  É a religião  da  Pala- 
vra que  Deus  falou,  do  Verbo  fei- 
to Substantivo!  O conteúdo  dêste 
Substantivo  é de  carne  e se  cha- 
ma Jesus  Cristo!  Não  é a religião 
da  palavra  abstrata,  mas  da  pala- 
vra viva,  que  comunica  poder,  vir- 
tude, “dynamis”.  É a Palavra  que 
redime! 

Esta  é a religião  de  que  todos 
os  homens  precisam.  A religião 
cristã,  antes  de  ser  um  sistema  de 
doutrinas,  antes  de  ser  dogma,  é 
uma  pessoa,  é Jesus  Cristo!  O ter- 
mo “religião”,  vindo  de  “religare”. 


do  Latim,  segundo  alguns  autores, 
nos  dá  a idéia  de  uma  nova  rela- 
ção do  homem  com  a divindade 
que  êle  cultua.  Segundo  o Evan- 
gelho, em  Cristo  e por  meio  de 
Cristo,  o homem  é colocado  numa 
posição  privilegiada  diante  de 
Deus,  volta  a gozar  os  benefícios 
daquela  comunhão  que  manteve 
com  o Criador  antes  da  queda. 
Quem  restaura  o homem,  quem  o 
faz  voltar  de  novo  à primitiva  po- 
sição, não  são,  primàriamente,  as 
doutrinas  ou  os  dogmas,  mas  Cris- 
to, a Palavra  Viva,  o Verbo  Reden- 
tor! As  doutrinas  são  necessárias, 
mas  devem  ser  sempre  observadas 
à luz  da  Palavra  Viva,  porque,  dis- 
sociadas desta  Palavra,  elas  for- 
jam, elas  criam  a religião  de  pa- 
lavras! 


(1)  La  Rebelião  de  las  Masas,  págs. 
5-6. 

(2)  Idem,  Idem,  pág.  6. 


■ )•( 

PRINCÍPIOS  IMORTAIS  DE  CONVIVÊNCIA  FAMILIAR 

“Mulheres,  adaptai-vos  a vossos  maridos,  para  que  o vosso 
casamento  seja  uma  unidade  cristã.  Maridos,  assegurai-vos  de 
que  estais  dando  a vossas  mulheres  muito  amor  e simpatia.  Fi- 
lhos, o vosso  dever  é obedecer  a vossos  pais,  pois  em  vossa 
idade  é essa  uma  das  melhores  coisas  que  podeis  fazer  para 
mostrar  vosso  amor  a Deus.  Pais,  não  deveis  sobreearrcgar 
vossos  filhos  com  correções  para  que  êles  não  desenvolvam  um 
sentimento  de  inferioridade  e frustração”. 


Paulo  aos  Colousenses 


FALSA 

PRÉDICA 


Karl  Barth 


0 falso  profeta  é o pastor  que  agrada  a todo  mundo.  Seu 
dever  é dar  testemunho  de  Deus,  mas  êle  não  vê  a Deus  e prefere 
não  o ver  porque  vê  muitas  outras  coisas.  Êle  segue  seus  pensa- 
mentos humanos,  conserva-se  interiormente  calmo  e seguro,  evita 
hàbilmente  tudo  quanto  incomoda.  Não  espera  senão  poucas  coisas 
ou  mesmo  nada  da  parte  de  Deus.  Êle  pode  calar-se  mesmo  quan- 
do vê  homens  atravancando  seus  caminhos  de  pensamentos,  de 
opiniões,  de  cálculos  e de  sonhos  falsos,  porque  êles  querem  viver 
sem  Deus.  Êle  se  retira  sempre  quando  devia  avançar.  Êle  se 
compraz  em  ser  chamado  pregador  do  evangelho,  condutor  espiri- 
tual e servidor  de  Deus;  mas  só  serve  os  homens.  Sonha,  às  vêzes, 
que  fala  em  nome  de  Deus;  mas  não  fala  a não  ser  em  nome  da 
Igreja,  da  opinião  pública,  das  pessoas  respeitáveis  e da  sua  pe- 
quena pessoa.  Êle  sabe  que,  desde  agora  e para  sempre,  os  cami- 
nhos que  não  começam  em  Deus  não  são  caminhos  verdadeiros, 
mas  êle  não  quer  incomodar  nem  a si  mesmo  e nem  aos  outros; 
por  isso  é que  êle  pensa  e diz:  “Continuemos  prudentemente  e 
sempre  alegres  em  nosso  caminho  atual;  as  coisas  se  arranjarão 
afinal.”  Êle  sabe  que  Deus  quer  tirar  os  homens  da  impiedade  e 
que  a luta  espiritual  deve  ser  travada.  No  entanto  êle  prega  a 
“paz”,  a paz  entre  Deus  e o mundo  perdido  que  está  em  nós  e 
fora  de  nós.  Como  se  uma  tal  paz  existisse!  Êle  sabe  que  seu 
dever  consiste  em  proclamar  que  Deus  cria  uma  nova  vontade,  uma 
nova  vida;  mas  não,  êle  deixa  reinar  o espírito  do  mêdo,  do  en- 
gano, da  vaidade,  de  Mamon,  da  violência.  Eis  a muralha  cons- 
truída pelo  povo  (Ezequiel  XIII:10).  O muro  oscilante  e rachado. 
Êle  0 disfarça  pintando  de  cores  suaves  e consoladoras  da  religião 
para  o contentamento  de  todo  mundo.  Eis  aí  o falso  profeta. 


(“Christianisme  Social”,  outubro  de  1958) 


A VERDADEIRA 
VIDA  CRISTÁ 


Não  há  dúvida  de  que  a vida  cristã  verdadeira,  seja  pública 
ou  secreta,  sempre  é fecunda  e,  onde  quer  que  seja,  essa  vida  terá 
influência  sôbre  os  outros  para  o bem.  Os  que  buscam  a verdade 
ao  contemplar  a realidade  de  vidas  tais  como  essas,  inevitàvelmen- 
te  serão  atraídos  à Fonte  da  Vida. 

Considerem  êstes  exemplos.  Uma  vez,  dois  pregadores  foram 
ao  Bar  para  pregar  aos  homens  que  ali  estavam.  O primeiro  era 
brilhante  e eloqüente.  Depois  de  pregar  por  alguns  minutos,  um 
hindu  começou  a bombardeá-lo  com  uma  série  de  perguntas  que 
o obrigaram  a calar-se  a fim  de  respondê-las,  o que  não  conse- 
guiu fazer  a contento.  Por  fim,  não  tendo  satisfeito  ao  pergunta- 
dor,  voltou-se  para  o seu  companheiro  e disse:  agora  êste  irmão 
responderá!  O segundo  pregador  não  era  nem  um  bom  orador  nem 
bom  argumentador,  mas  era  um  sincero  cristão  e um  homem  de 
oração.  O hindu,  aproximando-se,  cruzou  as  mãos,  inclinou-se  ante 
êle,  fêz-lhe  uma  reverência  e,  dirigindo-se  ao  primeiro  pregador, 
disse:  não  tenho  nenhuma  pergunta  aazer  a êste  homem  pois  co- 
nheço sua  vida  e vi  nela  o Cristo,  pois,  encontrei,  por  seu  inter- 
médio, 0 caminho  da  Salvação.  Mas  estou  de  acordo  com  você,  por- 
que com  suas  palavras  você  apresenta  o Cristo  vivo,  mas  com  sua 
vida  diária  o nega.  Mas  valeria  que  sua  bôca  estivesse  sempre 
fechada,  pois  que  a mim  e aos  outros  nos  afastou  de  Cristo.  Oxalá 
que  houvesse  conhecido  seu  companheiro  há  mais  tempo,  e então 
eu  não  teria  estado  tão  longe  do  meu  Senhor  por  tanto  tempo. 
Bem,  “Der  aid  da  ust  áid’’  (Quem  chega  devagar  chega  seguro). 
Também  nisso  deve  haver  algum  bom  propósito.  Ao  ouvir  isso  o 
pregador  eloqüente  partiu  para  casa  com  a cabeça  baixa,  enver- 
gonhado, e o novo  convertido  se  pôs  ao  lado  daquele  homem  de 
Deus  e passou  a dedicar  sua  vida  ao  serviço  do  Senhor. 


Sundar  Sing 


CURIOSIDADES 
BIOGRÁFICAS...., 


EDGAR  POE 


E’  um  dos  gênios  mais  brilhantes  da  literatura  universal.  No 
entanto,  sua  vida  é saturada  de  experiências  as  mais  dramáticas.  Teve 
que  sair  da  Universidade  de  Virgínia  por  causa  da  sua  paixão  pelo  jôgo 
e pelo  álcool.  Foi  expulso  da  Escola  Militar  de  West  Point  porque,  des- 
respeitando as  regras  daquele  estabelecimento,  dedicava-se  a escrever 
poesias  nas  horas  em  que  devia  estar  nos  exercícios  militares. 

Ficou  órfão  muito  cedo.  Foi  adotado  por  um  rico  negociante.  Êsse, 
finalmente,  revoltou-se  contra  seu  filho  adotivo.  Passou  a espancá-lo, 
expulsou-o  de  casa,  deserdou-o  e recusou-se  a prestar-lhe  qualquer  auxí- 
lio financeiro. 

A história  do  casamento  de  Edgar  Poe  é uma  das  mais  românticas 
da  literatura.  Casou-se  com  a sua  prima  Virgínia  Klem.  Não  tinha  di- 
nheiro algum  naquele  tempo.  Bebia  álcool  puro.  Sua  única  irmã  morrera 
louca.  Muita  gente  o considerava  também  louco.  Tinha  o dôbro  da 
idade  da  sua  jovem  esposa.  Êle  estava  com  26  anos  e ela  com  13.  Se- 
gundo todas  as  previsões,  o casamento  terminaria  em  desastre,  mas  não 
aconteceu  isso.  Foi  um  romance  que  se  extendeu  por  tôda  vida.  Parece 
que  Poe  adorava  sua  jovem  esposa.  O amor  que  lhe  dedicava  inspirou 
algumas  das  poesias  mais  belas  da  língua  inglêsa.  Um  dos  poemas  que 
escreveu  é elogiado  sem  reservas  pelos  críticos  literários.  Intitula-se 
O CÔRVO.  Temos  dêle  ótima  tradução  feita  por  Machado  de  Assis.  A 
última  estrofe  reflete  a angústia  permanente  que  acompanhava  o poeta. 
Diz  assim: 


E o côrvo  aí  fica;  ei-lo  trepado 
No  branco  mármore  lavrado 
Da  antiga  Palas;  ei-lo  imitável,  ferrenho. 
Parece,  ao  vêr-lhe  o duro  cenho, 


50  — 


Ú NIT AS 


Um  demônio  sonhado.  A luz  caída 
Do  lampeão  sôbre  a ave  aborrecida 
No  chão  espraia  a triste  sombra;  e fora 
Daquelas  linhas  funerais 

Que  flutuam  no  chão,  a minha  alma  chora. 

Gastou  êle  escrevendo  e reescrevendo  o poema  O CÕRVO,  dez  anos. 
Depois  vendeu  o original  por  dez  dólares.  Um  ano  para  cada  dólar. 

João  Barrymor,  o famoso  astro  cinematográfico,  ganhava  mais 
do  que  isso  em  um  minuto  de  trabalho.  O manuscrito  original  só  custou 
dez  dólares,  mas  foi  recentemente  vendido  por  dezenas  de  milhares  de 
dólares.  Coisa  estranha.  Enquanto  o autor  estava  vivo  e passando  fome 
só  lhe  deram  aquela  quantia  pequena  e agora  depois  de  morto  seu  tra- 
balho rende  uma  fortuna. 

O poeta  viveu  numa  casa  pequenina  em  Nova  York,  cercada  de 
macieiras.  Isso  há  cêrca  de  cem  anos.  Alugou-a  por  três  dólares  men- 
sais, mas  não  conseguiu  pagar  nem  essa  quantia. 

Sua  esposa  ficou  tuberculosa.  Êle  não  podia  comprar  alimenta- 
ção para  ela.  Às  vêzes  comeram  aquela  flôr  que  se  chama  “dente  de 
leão”,  apenas  fervida.  Quando  os  vizinhos  descobriram  a situação  em 
que  estava  aquela  pobre  família,  trataram  de  socorrê-la.  O admirável 
é que  mesmo  nessa  situação  o casalzinho  vivia  na  mais  sincera  amizade. 
Os  últimos  dias  de  Virgínia  ela  os  passou  num  colchão  de  palha,  sem 
lençóis  e sem  cobertor  para  aquecer-se  . Quando  ficava  muito  irregelada, 
Poe  lhe  esfregava  os  pés  para  aquecê-los  e a mão  de  Virgínia  lhe  esfre- 
gava as  mãos.  Um  velho  capote  militar  que  o poeta  usara  quando  es- 
tava em  West  Point,  era  colocado  sôbre  a enfêrma  e ela  acariciava  um 
gato  para  que  êle  lhe  dormisse  aos  pés. 

Quando  Virgínia  morreu,  Poe  compôs  algumas  das  poesias  mais 
sentimentais  da  sua  vida.  Êsse  é um  caso  cm  que  as  mais  duras  prova- 
ções da  vida  não  conseguiram  desfazer  o afeto  que  fascinou  duas  almas. 


NICOLAU  II 

Êle  era  um  dos  homens  mais  ricos  que  a Europa  já  conheceu. 
Quando  morreu  possuia  terras  que  valiam  cinqüenta  milhões  de  dólares. 
Suas  jóias  foram  avaliadas  cm  oitenta  milhões.  De  tudo  isso  tirava  êle 
um  milhão  por  mês.  Isso  corresponde  a vinte  quatro  dólares  por  segundo. 

Durante  quase  um  quarto  de  século,  êle  governou  a Rússia  com 
mão  de  ferro.  Em  1917,  depois  de  três  anos  de  morticínios  inúteis,  seu 


Janeiro  de  1959 


— 51 


exército  se  revoltou  recusando-se  a prosseguir  cm  massacres  horripilan- 
tes. Assim  foi  que,  no  dia  14  de  março  de  1917,  um  grupo  de  generais 
procurou  o Tzar  da  Rússia  no  seu  aposento  particular  de  um  trem 
especial  e declarou-lhe  que  êle  tinha  que  renunciar  ao  trono.  O Tzar 
levou  um  choque  terrível.  Tornou-se  lívido.  Os  generais  pensaram  que 
êle  ia  morrer  num  desmaio  naquele  momento. 

No  próximo  dia,  às  11,15,  êle  assinou  sua  abdicação  a lápis  e 
disse:  “Dou  graças  a Deus  porque  de  hoje  em  diante  poderei  viver  como 
sempre  desejei,  em  minha  casa,  na  Criméia,  cultivando  flores. 

O Tzar  e sua  família  passaram  os  últimos  meses  de  vida  em 
dois  quartos  numa  casa  velha  em  um  bairro  de  uma  cidade  que  fica  ao 
pé  de  um  monte.  Ali  esteve  como  prisioneiro  dos  revolucionários  e era 
obrigado  a comer  com  os  camponeses.  Não  lhe  davam  nem  açúcar,  nem 
café,  nem  creme,  nem  sal  e nem  manteiga.  Só  se  alimentava  com  pão 
prêto,  sôpa  de  vegetais  muito  rala,  duas  vêzes  por  dia.  As  janelas  da 
casa  ficavam  fechadas  e os  prisioneiros  não  podiam  abri-las.  Um  dia 
a mais  jovem  princeza,  Anastácia,  abriu  um  pouco  a janela  para  res- 
pirar. Um  soldado  alvejou  a janela  imediatamente.  A família  do  Tzar 
tinha  licença  de  andar  no  jardim  minúsculo  cinco  minutos  por  dia.  O 
filho  menor  do  Tzar  estava  muito  doente.  Não  podia  andar  e o pai  o 
corregava  nos  braços.  Os  soldados  que  os  guardavam  andavam  por  ali 
quase  que  nús  e diziam  gracejos  inconvenientes  ao  Tzar,  e cantavam 
cânticos  indecorosos  junto  às  janelas  durante  a noite.  Um  dia  um  dos 
guardas  apoderou-se  de  uma  bolsa  da  imperatriz,  tomou  o dinheiro  que 
ali  estava  e disse-lhe:  “Vós  não  precisareis  mais  de  dinheiro  de  ora  em 
diante”. 

O Tzar  era  um  homem  fraco  e não  se  lastimava.  Mas  sua  esposa, 
dotada  de  espírito  muito  arrogante,  fazia  votos  ao  céu  para  que  um 
dia  pudesse  vingar-se  daqueles  animais. 

Logo  depois  da  meio  noite,  no  dia  16  de  julho  de  1918  o capitão 
dos  guardas  acordou  o Tzar  e disse-lhe  que  rebentara  uma  revolução 
na  cidade  e que  êles  deviam  esconder-se  depressa  num  celeiro  e esperar 
até  que  os  automóveis  viessem  buscá-los  para  pô-los  em  lugar  seguro. 
Quando  a imperatriz  chegou  ao  celeiro,  uma  casa  imunda  coberta  de 
teias  de  aranha,  carregando  o seu  filho  pequeno  e doente,  quiseram 
dar-lhe  uma  codeira  porque  ela  estava  desmaiando. 

Justamente  nesse  instante,  entraram  correndo  alguns  soldados  e 
gritaram:  “Vossos  amigos  fizeram  o possível  para  salvar-nos  mas  não 
conseguiram.  Nós  aqui  estamos  para  vos  matar.  Mal  acabaram  de  pro- 
nunciar essas  palavras  um  soldado  alvejou  Tzar  e o feriu  bem  no  cora- 
ção. No  instante  em  que  êle  caiu  os  soldados  começaram  atirar  nas 


52  — 


ÚNIT  AS 


mulheres  mas  por  estarem  muito  excitados,  erraram  os  alvos  várias 
vezes.  Então  as  pobres  mulheres  corriam  em  tôda  a direção  tentando 
esconder-se  umas  atraz  das  outras  e procurando  mesmo  ocultar-se  atrás 
dos  travesseiros.  Além  de  atirar  os  soldados  apunhalaram  as  mulheres. 
Poucos  minutos  depois  o único  som  que  se  ouvia  naquele  sinistro  local 
era  o ladrar  de  um  cãozinho  que  ia  de  cadáver  a cadáver  naturalmente 
procurando  encontrar  o da  sua  dona.  Um  dos  soldados  atravessou  o 
pobre  animal  com  sua  baioneta.  A soldadesca,  então,  cortou  os  corpos 
da  família  imperial  em  pedaços  atirou  gazolina  sôbre  êles  e os  queimou,. 

Poucos  dias  mais  tarde  os  soldados  revolvendo  as  cinzas  do  local 
acharam  muitas  pedras  preciosas.  E’  que  a imperatriz  e suas  filhas  ti- 
nham escondidos  diamantes,  rubis  e jóias  caríssimas  em  suas  vestes. 

Êsse  assassinato  não  foi  ordenado  oficialmente  pelo  govêrno  russo. 
Êsse  chegou  mesmo  a prender  alguns  soldados  revolucionários  e executou 
cinco  dêles.  O morticínio  da  familia  imperial  foi  um  impulso  de  vingan- 
ça de  pessoas  que  decerto  haviam  sofrido  muito  sob  o despotismo  ce- 
sarista. 

Os  carbonizados  restos  da  familia  imperial  estão  agora  enterra- 
dos em  Paris.  Como  foram  parar  lá?  Em  janeiro  de  1920,  o Cônsul 
Americano  na  Sibéria,  a pedido  de  um  amigo,  transportou  uma  -"aixa 
rústica  atada  com  cordas  e a levou  até  um  comissário  britânico,  em 
Changai.  Êsse  a encaminhou  à Europa.  O Cônsul  Americano  não  sabia 
o que  estava  dnetro  daquela  caixa.  Como  o trem  em  que  viajou  era 
muito  incômodo,  muitas  vêzes  pôs  os  pés  sôbre  ela  para  descançar. 
Quando  chegou  ao  fim  da  viagem,  ficou  surpreendido  sabendo  que  ali 
estavam,  mutilados  e carbonizados,  os  restos  do  Tzar  e da  sua  família. 
A caixa  foi  levada  até  Changai  e de  lá  para  Paris.  Aí  foi  aberta.  Entre 
outras  coisas  encontraram  dentro  dela  o dedo  da  imperatriz  que  estava 
ainda  com  o anel  de  casamento. 

INABILIDADE  FINANCEIRA 

O leitor  porventura  já  investiu  dinheiro  em  algum  empreendimento 
que  fracassou  ? Se  isso  lhe  aconteceu,  saiba  que  muita  gente  de  grande 
renome  sentiu  os  desgostos  que  uma  experiência  dessa  pode  produzir. 
Eis  alguns  exemplos. 

Mark  Twain  tinha  talento  suficiente  para  fazer  a humanidade  rir. 
Mas  fracassava  no  mundo  financeiro,  laslimàvelmente.  O pior  é que 
não  reconhecendo  a sua  deficiência,  empatou  dinheiro  em  várias  inven- 
ções. Eram  de  máquinas  (jue,  segundo  êle  julgava,  iriam  revolucionar 
a indústria  gráfica.  Depois  de  fazer  várias  tentativas  nesse  sentido. 


Janeiro  de  1959 


— 53 


verificou  que  tinha  perdido  nesses  empreendimentos  cêrca  de  cem  mil 
dólares.  Ficou  de  tal  forma  empobrecido  que,  certa  ocasião  vendeu  os 
móveis  da  sua  casa  ficando  apenas  com  o fogão.  Mas  a experiência  lhe 
foi  útil.  Quando  estava  nessa  triste  situação  os  seus  amigos  do  país 
inteiro  lhe  ofereceram  dinheiro  para  pagar  as  dívidas.  Apareceram  che- 
ques de  tôda  parte  mas  êle,  já  transformado  pelas  experiências  duras 
que  tivera,  devolveu  todo  o dinheiro  que  lhe  foi  oferecido  e lutou  heroica- 
mente para  pagar,  por  si  mesmo  tudo  o que  devia.  Não  gostava  de 
fazer  conferências  mas  viajou  por  tôda  parte  onde  se  fala  inglês,  vi- 
vendo em  hotéis  e sujeitando-se  a todo  o desconforto.  Nisso  gastou 
seis  anos  da  sua  vida  fazendo  conferências.  Assim,  saldou  todos  os 
seus  débitos. 

O general  Grant,  depois  de  sair  vencedor  da  Guerra  Civil,  foi  pro- 
curado por  alguns  aventureiros  que  quiseram  negociar  com  êle.  Usando 
do  nome  do  general,  êsses  velhacos  levantaram  dinheiro  por  tôda  parte 
num  total  de  dezesseis  milhões  de  dólares.  Veio  logo  a ameaça  da  fa- 
lência. Para  não  ser  envolvido  nela,  Grant  vendeu  uma  fazenda  que 
tinha,  as  casas  que  possuia  em  Filadélfia  e Nova  York  e mesmo  a espada 
e os  trofeus  que  constituiam  os  mais  caros  presentes  dos  seus  amigos. 

Ainda  assim  ficou  em  penúria,  justamente  no  momento  em  que 
um  câncer  lhe  dominava  o organismo.  Nessas  condições  êle  escreveu  as 
memórias  da  sua  vida.  Fêz  isso  para  não  deixar  a viúva  sem  recursos. 
O câncer  era  na  garganta.  Em  dado  momento  êle  não  pôde  mais  ditar 
e terminou  a obra,  escrevendo-a  a lápis.  Coisa  curiosa.  Foi  precisa- 
mente Mark  Twain  que,  já  refeito  dos  seus  insucessos  financeiros,  pu- 
blicou o livro  de  Grant  e isso  levou  às  mãos  da  viúva  do  grande  gene- 
ral quase  meio  milhão  de  dólares. 

O grande  Daniel  Webster  uma  vez  ficou  em  apuros  por  não  poder 
saldar  a conta  com  o açougueiro.  Oliver  Goldsmith,  o famoso  novelista 
inglês  certa  ocasião  foi  prêso  porque  não  pôde  pagar  o aluguel  do  quar- 
to. Balsac  sentia  arrepios  quando  tocavam  a campainha  da  sua  casa. 
Quase  sempre  era  algum  credor. 

Carlos  II,  rei  da  Inglaterra,  individou-se  tanto  que  teve  que  ven- 
der tôdas  as  terras  que  possuia  nos  Estados  Unidos,  e que  hoje  constitui 
o estado  de  Pensilvãnia,  por  setenta  e cinco  mil  dólares. 

A viúva  de  Abraão  Lincoln  contraiu  tantas  dívidas  que  teve  de 
vender  suas  roupas  e jóias  preciosas  para  livrar-se  dos  seus  compro- 
missos. Coisa  pior:  vendeu  até  as  camizas  de  Lincoln,  que  tinham  as 
iniciais  dêle  gravadas  com  arte. 

Brummel  foi  uma  influência  social  na  vida  da  Inglaterra.  Ensinou 
elegância  ao  príncipe  de  Gales  e projetou-se  nas  altas  camadas  do  país 


54  — 


ÚNITAS 


como  símbolo  da  elgância.  No  fim  da  vida,  sobrecarregado  de  dívidas, 
usava  vestes  rôtas,  roupa  imunda  e era  ridicularizado  por  todos  quantos 
o consideravam  outrora  como  o rei  da  elegância.  Morreu,  afinal,  num 
asilo  de  louco». 

Não  resta  dúvida  de  que  a arte  de  organizar  bem  as  finanças  par- 
ticulares tem  importância  capital  na  vida  humana. 

GENERAL  MARK  CLARK 

Na  última  guerra  mundial  foi  êle  o conquistador  de  Roma.  De- 
sembarcando em  Salerno,  no  dia  11  de  setembro  de  1943,  levou  a cabo 
uma  das  mais  difíceis  operações  de  tôda  a guerra.  Churchill  declarou 
que  a operação  anfíbia  foi  a maior  que  os  aliados  empreenderam.  Eis 
0 que  seu  filho  disse  a respeito  dêle:  “Papai  nunca  teve  um  inimigo  na 
vida.  Pode  enfurecer-se  com  um  homem,  pode  aborrecer-se  por  algo 
mal  feito;  mas  não  fica  odiando  o homem  em  si”.  Para  comprovar  êste 
ponto,  Bill  contou  a seguinte  história:  “Papai”,  disse,  “deu-me  certa  vez, 
como  presente  de  aniversário,  um  belo  relógio  de  ouro.  Um  ano  ou  tanto 
mais  tarde  alguém  o roubou  de  meu  paletó,  no  ginásio.  Estávamos  es- 
tacionados nessa  ocasião  no  Forte  Lewis,  em  Washington.  Papai  man- 
teve as  lojas  de  penhor  das  cidades  vizinhas  sob  constante  observação. 
O ladrão  foi  apanhado  quando  queria  empenhar  o relógio.  Papai  proce- 
deu as  acusações  de  forma.  Isto  significava  que  seria  julgado  por  uma 
côrte  marcial  e expulso  do  exército  com  baixa  desonrosa.  Êle  sabia  que 
uma  exoneração  dessa  espécie  era  uma  mancha  preta  que  acompanha- 
ria 0 homem  até  a sepultura,  e seu  coração  não  dava  para  tanto;  retirou 
as  acusações  e disse  ao  comandante  da  companhia  daquele  soldado  que 
resolvesse  o caso  como  achasse  melhor”. 

O General  já  esteve  no  Brasil.  Na  Itália  nossas  forças  lutaram 
no  setor  comandado  por  êle.  Eis  um  traço  bem  característico  dêsse  gran- 
de homem,  escrito  por  um  escritor  contemporâneo.” 

O General  Clark  é um  homem  modesto.  Nunca  se  vangloria  de 
seus  feitos.  Certo  dia  Bill  Clark,  seu  filho,  estava  no  quarto  de  seu  pai 
quando  êste  trocava  de  roupa.  Ficou  surpreendido  em  ver  uma  enorme 
cicatriz  nas  costas  de  seu  pai  — uma  cicatriz  com  vinte  centímetros  de 
comprimento  e larga  como  um  dedo.  Ficou  surpreendido  porque  o ge- 
neral nunca  a mencionara.  Quando  indagou  sôbre  ela,  replicou  casual- 
mente, “Oh,  fui  ferido  por  um  estilhaço  na  última  guerra”.  Foi  tudo, 
não  deu  detalhes  nem  contou  bravatas.  Bill  só  veio  a saber  a história 
daquela  cicatriz  seis  meses  mais  tarde.  Revolvendo  umas  velharias  no 
sotão,  descobriu  que  seu  pai  fôra  condecorado  e recebera  uma  citação 


Janeiro  de  1959 


— 55 


por  bravura  cm  combate.  Quando  seu  filho  Clark  lhe  entregou,  certa 
vez,  um  boletim  da  escola  com  média  99,  seu  pai  perguntou-lhe  se  estava 
satisfeito.  “Sim,  e o senhor?”  O general  respondeu:  “Bem,  não  é 100, 
não  é?  Bill  repli  ou:  “Papai,  o senhor  não  ficaria  satisfeito  com  me- 
nos de  110”. 


O PLANO  RAPACKI 

“Um  raio  de  luz  na  escuridão. 
Em  dezembro  de  1957,  o ministro 
do  Exterior  da  Polônia,  Rapacki, 
(por  sua  própria  conta  e não,  como 
se  queria  supor,  por  incumbência 
da  União  Soviética),  fêz  a propos- 
ta de  que  a Polônia,  a Tchecoslo- 
váquia,  a Alemanha  Oriental  e a 
I Ocidental  deveriam  ficar  fora  do 

I alcance  das  armas  atômicas.  Se 

i êsse  plano  fôr  aceito  e em  conse- 
I qüência  fôr  aucentada  ainda  a área 
I livre  da  ação  das  armas  nucleares 
1 na  Europa,  de  modo  que  paises  li- 
I mitrofes  também  reivindiquem  para 
( si  êsse  privilégio  e o consigam,  en- 
i tão  muito  se  conseguirá  com  isso 
I para  a manutenção  provisória  da 
I paz.  Começa-se  assim  a afugentar 
i o espectro  do  isolamento  da  União 
I Soviética. 

“Com  essa  proposta  tão  sensata, 
a opinião  pública  européia  está  ple- 
namente de  acôrdo.  Nos  últimos 
meses,  ela  reconheceu  e decidiu  que 
a Europa  não  deve  absolutamente 


tornar-se  o campo  de  batalha  de 
uma  guerra  atômica  entre  a União 
Soviética  e os  Estados  Unidos.  E 
ela  não  se  deixará  dissuadir.  Pas- 
sou o tempo  em  que  êste  ou  aquê- 
le  país  europeu  ainda  podia  plane- 
jar em  segrêdo,  manifestar  sua  ca- 
tegoria de  grande  potência  pelo 
fato  de  fabricar  armas  atômicas 
para  si  próprio.  Em  vista  da  po- 
sição que  a opinião  pública  da  Eu- 
ropa tomaria  diante  de  uma  tal 
iniciativa,  seria  inútil  proceder  a 
preparatórios  secretos  para  a sua 
realização. 

“Passou  igualmente  o tempo  em 
que  os  generais  da  NATO  e os  go- 
vernos decidissem  sòzinhos  sô- 
bre  a instalação  de  rampas  de 
lançamento  e armazenagem  de 
armas  atômicas.  Em  vista  do  pe- 
rigo de  uma  guerra  atômica,  que 
poderia  desencadear-se  em  conse- 
qüêneia,  não  mais  é levado  em  con- 
ta o procedimento  político  até  ago- 
ra usado.  Só  são  validos  os  acor- 
dos que  sejam  sancionados  como 
tais  pelos  povos.” 


PÁGINAS  FINAIS 


SINAIS  PERIGOSOS 


L.  B. 


O govêrno  acaba  de  elevar  os  niveis  do  salário  mínimo  em 
todo  o pais.  Como  sempre  acontece,  essa  medida  veio  tarde.  Tor- 
nou-se uma  medida  inócua,  porque  os  preços  de  todos  os  gêneros 
foram  aumentados  muito  além  da  capacidade  econômica  das  classes 
desfavorecidas. 

Em  face  dessa  medida  governamental,  os  grupos  indiístriais 
começaram  a sua  política  de  economia,  dispensando  operários  e 
trabalhadores  de  todos  os  níveis.  No  Rio  de  Janeiro  foram  dispen- 
sados, dias  após  a publicação  do  decreto  governamental,  50.000 
operários.  Em  S.  Paulo,  calcula-se  que  haverá,  dentro  de  poucas 
semanas,  100.000  desempregados.  Começou,  ou  melhor,  recomeçou 
a onda  de  desernpregos.  Para  a economia  yiacional  isso  representa 
urna  redução  danosa.  Cairá  a produção  e,  em  consequência,  haverá 
nova  onda  de  urnento  de  preços.  Mas  o sacrifício  mais  grave  recai 
sôbre  êsses  operários  e sobre  suas  famílias.  Eamilias  numerosas  — 
pois  um  operário  obedece  à natureza  e a Deus,  e não  usa  recursos 
ilícitos  e imorais  na  limitação  de  filhos  — vão  padecer  necessida- 
des por  alguns  meses  até  que  seus  chefes  consigam  um  novo  ern- 
prêgo,  e sempre  em  situação  inferior.  Crianças  vão  passar  fome, 
sujeitas  às  moléstias  naturais  e conhecidas.  A tristeza  e pranto 
voltarão  ao  recinto  désses  humildes  lares. 

Mas,  por  estranho  que  pareça,  o mais  grave  de  tudo  isso  é que 
as  elites  brasileiras  não  têm  capacidade  de  liderança  e não  estão 


Janeiro  de  1959 


— 57 


à altura  de  pôr  um  fim  a ésse  regime  vergonhoso.  Os  donos  do 
poder  econômico  nunca  perdem,  não  podem  perder  em  suas  rendas. 
Êles  são  incapazes  de  ajudar  a nação  e o operário,  de  que  depen- 
dem, a solucionar  ésse  gravíssimo  problema  que  gira  dentro  de 
um  circulo  vicioso.  A ganância  não  lhes  permite  fazer  um  peque- 
no sacrifício:  o sacrifício  de  ganhar  um  pouco  menos.  Não.  Pouco 
lhes  importa  que  milhares  de  famílias  fiquem,  de  uma  hora  para 
outra,  desamparadas  do  fundamental  à sobrevivência  digna.  Pouco 
lhes  importa  que  crianças  venham  a morrer  de  fome  ou  que  pe- 
rambulam pelas  ruas  implorando  socorro  à caridade  pública.  Êsses 
problemas  não  lhes  passam  pela  consciência.  Na  verdade,  êles  não 
têm  consciência  para  isso. 

Êsse  é o espetáculo  triste  e vergonhoso  a que  assistimos  nova- 
mente. O leitor  perguntará:  que  é que  tem  o cristianismo  a ver 
com  isso?  Que  é que  tem  o cristianismo  a ver  com  isso?  — é a per- 
gunta que  também  fazemos  à nossa  consciência  cristã.  Nôs  somos 
cristãos  e estamos  convencidos  de  que  a solução  dêsse  problema 
está  na  dependência  de  uma  séria  atitude  dos  brasileiros:  a acei- 
tação de  Cristo  como  Salvador  pessoal  de  todos  os  brasileiros.  Mas 
os  nossos  dirigentes  não  pensam  em  tomar  tal  atitude,  pois  isso 
haveria  de  contrariar,  fundamentalmente,  seus  interêsses.  As  classes 
operárias,  por  sua  vez,  não  acreditam  mais  nesse  tipo  de  cristia- 
nismo que  não  se  interessa  pelas  suas  necessidades  básicas  — as 
necessidades  do  almiento,  do  calçado,  do  vestido,  do  abrigo  mo- 
desto, do  direito  à educação,  da  dignidade  de  viver.  Nós  ficamos 
tranquilos  porque  apontamos  a solução  definitiva,  as  elites  e os 
operários  não  aceitam  essa  solução  pelas  razões  apontadas,  e os 
problemas  continuam  a agravar-se. 

Mas  há  alguém  que  está  à espera  de  uma  oportunidade  para 
dar  a sua  solução  definitiva  a êsse  problema.  Se  as  coisas  conti- 
nuarem dêsse  modo,  os  comunistas  vão  tomar  o poder  no  Brasil. 
Chegará  a vez  de  o Brasil  cair  nas  mãos  dos  comunistas,  como  acon- 
teceu com  a China.  Êles  porão  fim  a essa  situação  vergonhosa. 
Os  operários  serão  transformados  em  escravos  do  Estado,  mas  terão 


58  — 


ÚNITAS 


pão  e abrigo,  e as  elites  irão  para  os  campos  de  fusilamento  ou  de 
trabalhos  forçados.  Nós  perderemos  a liberdade  e as  esperanças,  e 
o direito  a uma  vida  decente  e digna,  como  entendemos. 

As  classes  dirigentes,  as  elites,  pomposa  e impropriamente  de- 
nominadas “as  classes  produtoras”  (classes  produtoras  são  as  classes 
operárias),  são  agentes  do  comunismo  internacional  e totalitário. 
Essas  classes,  que  detêm  o poder  no  Brasil,  estão  criando  as  condi- 
ções para  a implatação  do  comunismo  no  Brasil,  direitinho,  à se- 
melhança do  que  fizeram  as  classes  “produtoras”  da  China  e de 
outros  paises.  As  elites  dirigentes  do  pais  são  comunistas  contra 
a sua  vontade. 

Vamos  dar  ao  leitor  outro  exemplo  de  como  se  processa  a de- 
composição do  Brasil.  Quem  abre  os  jornais,  sobretudo  nas  edi- 
ções de  domingo,  fica  revoltado  com  as  exibições  de  luxo,  pompa 
e miséria  moral,  das  elites,  das  “classes  produtoras”.  Há  um  jornal 
considerado  sério,  aqui  em  São  Paulo,  que  publica  duas  seções,  de 
oito  páginas  cada  uma,  dedicadas  exclusivamente  às  “classes  pro- 
dutoras”. Senhoras  e Senhores  graves  ali  aparecem,  numa  parada 
de  super-luxo,  de  pompa,  de  miséria  moral.  Que  a classe  dirigente 
exiba,  nas  páginas  dos  jornais,  sua  miséria  moral  e seu  sentido 
fútil  da  vida,  é já  um  triste  espetáculo  para  um  povo  pobre  e 
necessitado  de  tudo;  mas,  tolera-se,  desde  que  estamos  em  um  re- 
gime democrático  no  qual  cada  um  tem  o direito  de  mostrar-se 
como  é.  Mas  é intolerável  que  essa  classe  dirigente  pretenda  fazer 
“caridade”  à custa  da  miséria  do  povo.  Pois  a classe  dirigente  pro- 
cura justificar,  cristãmente  seu  luxo,  sua  pompa  e sua  miséria 
moral,  organizando  festinhas  ein  favor  de  um  pósto  de  assistência 
à infância,  de  um  orfanato,  de  um  sanatório,  ou  de  um  clube  de 
futebol  qualquer.  Isso  é um  insulto  à desgraça,  ao  sofrimento  e à 
miséria  da  maioria. 

Será  possível  evitar  uma  desgraça  fatal  ao  Brasil?  E’  possível. 
Tudo  depende  de  uma  ação  conjunta,  decidida  e corajosa  dos  ver- 
dadeiros cristãos,  Uma  ação  sobre  o govérno,  seus  departamentos 


Janeiro  de  1939 


— 59 


competentes,  sôbre  as  casas  legislativas,  uma  ação  de  esclarecimen- 
to e politização  do  povo,  uma  ação  de  vigilância  e de  critica.  Isso 
dá  resultado. 

Ou  tomamos  essa  resolução,  ou  corremos  o risco  de  perder  a 
missão  divina  de  que  estamos  revestidos. 

Uma  ação  dêsse  tipo  requer  coragem.  Coragem  para  ser  cris- 
tão em  um  mundo  sem  Cristo  e sem  Deus.  Coragem  para  ter  fé, 
em  um  mundo  incrédulo.  Coragem  para  manter  a esperança  de 
dias  melhores  em  um  mundo  no  qual  todos  perderam  a esperança. 
E’  preciso  ter  coragem  de  ser  cristão.  Mas,  se  nós  nos  considera- 
mos realmente  cristãos,  isso  significa  que  Jesus  nos  chama  para  dar 
testemunho  da  fôrça  e da  superioridade  do  seu  programa  e do  seu 
Reino.  Estamos  nós  à altura  dêsse  momento  decisivo? 


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