ENCADERNADORA KRISTINA LTDA. H. José Bofrfácio. 176 - S.loja 8.9 Fone: (011) 232-2183 -3106-0356 - 3107-1398 Fax:(011)232-1750 BOLETIM BIOLÓGICO. NOVA SÉRIE CLUBE ZOOLOGICO DO BRASIL E SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENTOMOLOGIA (SÂO PAULO) 1937-38 V.3 N.l-4 Boletim Biologico ÓRGÃO DO CLUBE ZOÓLOGICO DO BRASIL i oco * o o _ . . i _ o* Pinto, O. — Uma nova ave (Troglodytidae) do Rio Juruá (Amazonas) • 4 Pinto, O. — Grallaria ochroleuca Pelzeln prova ser ave diversa de Myioturdus ochroleucus Wied . 6 Marcus, E. — Sôbre a Anabiose dos Tardigrados, com descrição duma nova especie 7 Piza Jr., S. de T. — Uma nova espécie de aranha neotrópica da familia Hersiliidae 14 ' . DIVULGAÇÃO CIENTIFICA: Bergamin, F. — Observação dos peixes doentes . 21 Magalhães, A. C. de — Voracidade de alguns peixes Anonímo — Notas sôbre parasitismo em biologia . 29 Caixa Postal 362 — S. Paulo, Brasil ¥oI. III (Sova Série) MAIO DE 1937 — ÍNDICE . '*-? ARTIGOS ORIGINAIS: Pinto, O. — Um novo mamífero (Hapalidae) do Rio Juruá (Amazonas) 3 NOTAS DE AMADORISMO: existem . . . Pirajá, E. de O. — Caçada ao cervo 17 Pinto, O. — A rolinha Oxypelia cyanopis Pelzeln, só~ri‘ conhecida do Brasil, é das aves mais raras queT~ carnívoros 26 Lista dos socios fundadores do C. Z. B 35 Boletim Biologico órgão do clube zoólogico do ÜLspi Caixa Postal 362 — S. Paulo, Brasil * I. ARTIGOS ORIGINAIS / - V V - Um novo mamífero (Hapalidae) do rio Juruá (Amazonas) Por Ouverio PIXTO (do Museu Paulista) Quatro exemplares de um simio do Jurua, presenteados ultimamente por A. Olalla ao Museu Paulista, não me parecem encontrar descrição em ne- n uma das especies conhecidas, fazen- o supôr que, ainda durante muito empo, a vasta selva amazônica conti- nuara a ser para o zoologo uma agra- davel fonte de surpresas. Leontocebus Hololeucus sp. n. Typo: de Santo Antonio, Rio Eirú (afluente da margem direita do Rio Juruá, pouco acima de S. Felipe), no estado do Amazonas. No. 4.159, na coleção do Museu Paulista. Macho adulto colecionado em 14 de Outubro de 1936, por A. M. Olalla. Diagnose: Com os caracteres ge- nencos de Leontocebus, inclusive a ju- ba de pelos mais largos e densos no pescoço e na nuca, mas diferente de to- . das as especies descritas no gênero pela sua pelagem branca, quasi uni- forme. Descripção do Tipo: Pelo da ca- beça branco, como o dorso, deixando, porém, transparecer a pele escura on- de é mais curto e ralo, como na face e no queixo; orelhas escuras, quási nuas; adeante delas longo tufo de ne- los que contribuía para a formação da juba, também branca, e constituída pnncipalmente pelos pelos do vértice da nuca, dos lados do pescoço ; dorso e lado externo dos membros — bran cos, com mescla irregular de tons aca- murçados, que se evidenciam parti cularmente nas extremidades posterio res e sobretudo na cauda; lado i n fenor do corpo de colorido branco tingido acentuadamente de camurça principalmente nas axilas, no baixo ventre e na area peri-genital ; face dor- sal das extremidades forradas de pelo curto e ralo, branco nas anteriores e branco-acamurçados nas posteriores deixando entrever o fundo escuro da pele subjacente. Medidas: Comprimento total 63 mm.; cauda 38; pés 55; mãos 45 Diam. ocipi to-nasal 47 mm. ; bizigoma- tico 34; bitemporal 24; larg. da caixa craniana 27; compr. palatal 15 ; compr. dos nasais 7; compr. série molares su- periores 9,5 ; compr. série molares in- feriores 10; compr. mandíbula 31. Cotipos: Macho adulto, de 13 de Outubro de 1936; Fémea adulta, de 12 BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III Xo. 5 de Outubro; Fêmea adulta, de 14 de Outubro. Todos de Santo Antonio, no Rio Eirú, afluente do Juruá, caçados por Olalla. Concordam nos caracteres gerais com o exemplar típico, variando apenas na pureza do branco, que em alguns é mais manchado de tons de camurça, e, principalmente, no colorido das partes inferiores do corpo e inter- nas dos membros, quási brancas puras num individuo, e fracamente acamur- çadas no macho de 13 de Outubro. Notas suplementares: A coloca- ção da nova especie no genero, não só se baseia nos caracteres externos apon- tados anteriormente, como ainda se confirma pelo estudo dos caracteres craniologicos e de dentição. O tamanho do crânio, e robustez da mandíbula e muito especialmente o tamanho consi- derável dos caninos inferiores, cerca de tres vezes mais longos do que os incisivos, e destes separados por largo diástema, excluem, alem do mais, pos- sibilidade de confusão com os micos do genero Hapale Geoffr. A juba, não obstante muito menos desenvolvida e característica da que em certas espe- cies como L. rosalia, é entretanto bem evidente, pelo menos muito mais do que em outras admitidas muitas vezes no genero. Uma nova ave Troglodyüdae do rio Juruá (Amazonas) Por O l i v e r i o PINTO (do Museu Paulista) Em caso semelhante ao do macaco precedentemente descrito está tam- bém um pássaro, parte da fina serie de exemplares omitologicos oferecidos ao Museu Paulista pelo memso colecio- nador, Sr. A. Olalla. Provêm todos do logar chamado Lago Grande e, a jul- gar pelas ultimas fontes informativas, a especie parece-me não haver até hoje recebido batismo cientifico. A ave tem todos os caracteres de um Trogloditideo muito semelhante, abs- tração feita do colorido da plumagem, ás especies do genero Thryophilus Baird, e está representada por quatro exemplares adultos, todos infelizmente do sexo masculino. Pela curvatura mais acentuada do bico e principalmen- te pelo nítido entalhe ou “dente” que assinala a tomia da maxila superior na sua porção subterminal, parece enqua- drar-se na definição do genero Odon- torhynchus, fundado por Pelzeln (1) para uma única especie descoberta por (1) Om. Brds., p 67 Natterer no alto Rio Madeira (Salto do Girau) e por êle referida, em seu catalogo manuscripto, sob a denomina- ção de Opetiorhynchus cinereus, com a diferença contudo de possuirem os nos- sos exemplares cauda notavelmente mais curta (35 mm. em vez de 47 a 49 mm.) do que as especies induidas ha- bitualmente naquele gênero. Sabe-se que Odoiitoi hynchus, por ser nome previamente ocupado, foi por Rich- mond (Pr. Biol. Soc. Washington XXVIII: 190.1915) mudado moder- namente em Odontorchilus. Os caracteres gerais da plumagem dos exemplares que temos sob estudo correspondem ainda muito de perto aos descritos na ave de Natterer, distan- ciando-se, não obstante, dela por dife- renças bastante notáveis, como seja o colorido das partes inferiores, franca- mente cinzentas, em vez de brancas, lavadas de amarelo claro (“gastreo toto albidis isabellino lavatis”). De- pois de Pelzeln, a ave de Salto de Girau, uma fêmea tida como incom- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 O. Pinto — Uma nova ave (Troglodytidae) 5 pletamente adulta, foi novamente es- tudada por Hellmayr (Novit. Zool. XVII: 264. 1910), que nos informa ter tido também em mãos um exem- plar macho, talvez da mesma especie, colecionado em 1846 no Rio Javari por Castelnau e Deville, chamando a aten- ção para um certo número de caracte- res em que êle difere da ave descoberta por Natterer. “Êle é maior, diz o re- ferido omitologo (59 mm., de aza, cauda incompleta), com bico aparen- temente maior e mais robusto (embora muito danificado pelo tiro), as partes superiores são antes cinzento-oliváceas, as faixas transversais da cauda muito mais largas, as partes inferiores cin- zento-claras (em vez de brancas) , etc. Esta descrição, conquanto sumária, su- gere bastante coincidências entre as di- ferenças apontadas por Hellmayr e as que observo nos nossos exemplares, representativos talvez de uma forma intermedia, consoante a posição geo- gráfica da região onde foram detidos. Em anos mais recentes a ave de Natterer foi encontrada noutras partes da Amazónia Brasileira, sempre nos afluentes da margem direita do Rio Amazonas e a leste do Rio Madeira; Hellmayr examinou no Carnegie Mu- seum exemplares do Rio Tapajoz (Mi- ritituba e Colonia Mojuí, perto de Can- tarem, e Spethlage deu-nos noticia (Boi. Mus. Nac. Rio de Janeiro II : 49. 1926) de um outro do Rio Inn, atlu- ente da margem direita do Rio Xmgu- De sua ocorrência a oeste do Rio í 1 deira, abstraido o pássaro duvidoso de Castelnau, não ha documentos positi- vos, nem tampouco de qualquer outn forma a ela subspecificamente subordi- nada, convindo, porém, lembrar que no Perú aparece uma outra especie do mesmo genero. Odontorchilus branuktt (Taczanowski & Berlepsch), que, re- presentada por duas raças, se estende através do Equador até o sudeste da folnmbia. Mas não ha confusão pos- sível entre a especie e a ave que des- crevemos; basta, para prová-lo, olhar a estampa que acompanha sua descri- ção original (Pro. Zool. Soc. London. tab. 6.1885). Diante dos argumentos acima expos- tos, passo a descrevê-la como uma no- va especie, dedicando-a ao seu cole- cionador, a quem se deve a remessa graciosa de todos os exemplares : Odontorchilus olallae, sp. n. Tipo: de Lago Grande, no alto Rio Juruá, Estado do Amazonas. No. 16.286 na coleção do Museu Paulista. Macho adulto colecionado por A. M. Olalla, em 17 de Outubro de 1936. Diagnose : Caracteres semelhantes aos descritos em Odontorhynchus ci- nereus, mas com o bico consideravel- mente maior e mais forte, a cauda muito mais curta e o dorso cinzento, sem nenhum banho olivaceo per- ceptível. Descrição do tipo : Partes superio- res uniformemente cinzento-escuras, desde a nuca até o uropígio, sem nen- hum tom olivaceo perceptível ; pileo mais escuro do que o dorso e bem de- limitado com éle na nuca ; loros, boche- chas e região auricular pouco distinta, esbranquiçada, prolongando-se para trás do ôlho até quási o nível da nuca ; partes inferiores cinzentas esbranqui- çadas, clareando progressivamente do peito para a garganta ; flancos e crisso de cinzento mais escuro do que o da parte média do abdome ; lado superior das azas cinzento-escuro, com as ré- miges internas manchadas perceptivel- mente de estreitas faixas transversais; coberturas superiores das azas da côr do dorso; ditas inferiores das azas branco-acinzentadas, mais ou menos como a garganta ; cauda de 12 rectri- zes sub-iguais, as alterais mais curtas do que as outras, pretas, com seis fai- xas transversais cinzentas daras, que nas centrais interessam toda a largura da pena e nas outras se limitam á barba externa; o bico de côr camea aproxi- 6 BOLETIM BIOLOGICO (Xov. Ser.) Vol. UI Xo. 5 madamente uniforme, de culme leve- mente arqueado na metade terminal e com entalhe perceptível na tomia da maxila, proximo á ponta. Dimensões : aza 57 mm. ; cauda 35 mm. ; culme 22 mm. ; Cotipos: Tres outros machos egual- mente adultos, de Lago Grande, caça- dos em 17 de Outubro (Nos. 16.287, 16.288 e 16.289, na coleção do Mus. Paul.). São Paulo, 27 de fevereiro de 1937. Orallaria ochroleuca Pelzeln prova ser ave diversa do Myioíurdus ochroleucus Wied Por Oliverio PINTO (do Museu Paulista) Determinados como Grallaria ochro- leuca (Wied), ha no Museu Paulista dous Formicarideos, que logo á primei- ra inspeção se impõem como aves de esepcies diferentes. Provém um dêles da região circunjacente da antiga ci- dade de Vila Nova da Rainha, hoje Bonfim, na zona de caatingas do norte da Baía, onde o caçara E. Garde em Março de 1908; o outro, do Alto da Serra, em São Paulo, região de gran- des matas, onde anos atrás manteve o Museu um serviço regular de explo- ração omitologica, graças á Estação Biologica ali fundada por H. v. Ihe- ring. Ora, o estudo destes dois exem- plares parece-me concludente no escla- recer a confusão que ainda reina em tômo da ave colecionada pelo Príncipe Maximiliano nos arredores de Con- quista (sul da Baía) e depois por êle descrito in “Beitraege Naturgeschichte Brasiliens” (vol. III pt 2. p. 1032, 1831) com o nome de Myioturdus ochroleucus. O nosso exemplar de Bonfim, que é um macho adulto, apresenta ca- racteres muito exatamente concordan- tes com a descripção de Wied, não obs- tante certas deficiências desta última. De qualquer modo, não vejo como dei- xar de atribui-lo sem resitações á es- pecie descrita pelo zoólogo prussiano. A garganta é granca sem mácula, limi- tada lateralmente pelas listas mista- cais; o restante das partes inferiores tem colorido fundamental também branco, com largas manchas longitu- dinais da canela clara, prindpalmente no baixo abdome e nos flancos, e o peito densamente manchado de pintas arredondadas, ou antes cuneiformes, misturadas de canela; coberteiras in- feriores da cauda brancas puras ; duas listas superciliares branco-acaneladas. Suas medidas são : aza 76 mm. ; cauda 38; culme 18; tarso 35. Muito diversos são os caracteres do exemplar do Alto da Serra, também macho adulto. Com as proporções aproximadamente as mesmas de sua si- milar, destaca-se de comêço pelo com- primento visivelmente mais avantajado dos tarsos, que medem 39 mm., en- quanto na ave de Bonfim éles não ex- cedem a 35 mm. Depois dêsse ponto, o colorido das partes inferiores, com ex- ceção da garganta, quási branca, é de canela carregado, tirante francamente a ferrugem no abdome, inclusive as coberteiras inferiores da cauda e as coxas; as manchas escuras do peito, menos destacadas sobre o fundo cane- lino, são muito mais esparsos e me- nores (particularmente na porção cen- tral) do que na especie baiana. Ha ainda a referir a ausência de qualquer lista superciliar distinta e o colorido mais carregado, francamente pardo-oli- váceo (em vez de pardo-acinzentado) 1937 •a ave (Troglodytidae) 7 O. Pinto — Uma nov das partes superiores. Quem se dé agora ao trabalho de confrontar a descrição acima com o que nos informa Hellmayr (in Catai. Birds of Américas III, p. 375, nota) sôbre os caracteres dos dois exempla- res colecionados em Ipanema por Nat- terer, semelhante “in the markings be- low with Wied’s description, though the entire under parts including the tail coverts, except for the white throat, are deep ochraceous”, conven- cer-se-á de que a ave do Alto da Serra se ajusta de modo precioso a este per- fil, provando pertencerem as aves de São Paulo a uma esoecie bem definida e perfeitamente distinta da ave septen- trional. descoberta pelo explorador germânico. Assim, se confirma á luz dos fatos a previsão exarada por Hell- mayr no trabalho já citado, cabendo á forma meridional ser tratada como forma distincta que proponho cha- mar-se : Grallaria nattereri, sp. n. O Tipo da nova forma, que o futuro poderá provar subspecificamente rela- cionada com G. ochrolcuca, é um ma- cho adulto. No. 4.729, na coleção do Museu Paulista, caçado por João Li- ma, no Alto da Serra, em 27 de Agosto de 1904. Suas medidas são: aza 78 mm.; cauda 36 y 2 \ culme 17; tarso 39. Não tenho conhecimento ri suai com a ave do Ceará, que E. Snethlage (in- J. of Ornith. LXXII : 447. 1824 ; Serra de Ibiapaba), descreveu com o nome de Gr aliaria martinsi, mas tenho forte presunção de que as aves nordesti- nas concordarão com a de Bonfim, pas- sando o dito nome para a sinonimia de G. ochroleuca Wied. São Paulo, 28 de fevereiro de 1937. Sôbre a anabiose dos Tardigrados, com descrição nova especie. Por Ernesto MARCUS (do Inst. de Zoologia, Universidade de São Paulo) A duma Os Tardigrados formam um pe- queno grupo isolado dos Artrópodos, que contêm pouco mais de 250 especies. Apezar de possuírem oito patas, nada têm de comum com as aranhas ; são, porém, ligados ainda mais intimamente com os Onicóforos, Artropodos primi- tivos dos continentes meridionais que em vários pontos se assemelham aos Anelídeos. São os Tardigrados de tamanho mi- croscópico, nunca ultrapassam 1,2 mm. e atingem, em geral, sómente a metade deste comprimento. Vivem no musgo, liquens e em outras plantas que for- mam tapetes no solo, nas rochas ou nos cepos. Ha também muitas especies que se encontram do mesmo modo entre as algas da agua doce. Neste meio ambiente, assim como no mar, so- mente poucas formas são particular- mente restritas. Nutrem-se êsses ani- maizinhos quási exclusivamente do conteúdo das células vegetais, cujas paredes perfuram por meio de seus es- tiletes, sugando, com a chamada fa- ringe, o suco semi-liquido, que é dige- rido dentro das células intestinais, por- tanto intracelularmente, dando-se então a defecação muitas vezes simultanea- mente com a muda da cutícula. Para abandonar a velha cuticula é mister uma diminuição do volume do corpo. Sem entrar mais em pormenores quan- BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III Xo. 5 to a êsse ou a outros fenómenos muito complexos da fisiologia dos Tardigra- dos, damos aqui um resumo da sua anatomia: o systema nervoso é gran- de em desproporção correspondente aos instintos até hoje conhecidos. As gónadas ou pelo menos os duetos ge- nitais, são pares ; as glandulas retais têm, provavelmente, funções excreto- rias, e as glandulas das patas renovam as unhas nas mudas. Já desde o século XVIII- um pro- blema muito estudado é o comporta- mento dos Tardigrados na dessecação. Não sendo o ar, mas a água, especial- mente a do mar, o ambiente mais apro- priado aos organismos, constitui ques- tão de primeira ordem para os animais terrestres resguardar-se da dessecação. Falando aqui de animais terrestres, se- jam incluídos também aqueles animais que vivem nas aguas periodicamente ou ocasionalmente transitórias. Servem- se, em geral, duma proteção exte- rior, seja segregando um envolucro, como os Protozoários, seja fechando a sua concha, como fazem os caracóis terrestres, ou ainda conservando um pouco de água, insulando-se de vá- rios modos do ambiente durante a vasante (Balanidos, Quitonideos) ou finalmente, calafetando o corpo para toda a vida. Só animais do ultimo grupo, Vertebrados terrestres verda- deiros ( Amniota ) e as aranhas e os insetos tornam-se capazes para a vida ativa no ar séco, no qual podem espe- cialmente existir os artrópodos citados e também algumas aves e repteis do deserto, por necessitarem um minimo de agua para substituir a eliminada e evaporada. Estão expostos nos musgos os Tardi- grados e seus ovos, muitas vezes, ás mudanças que vão da humidade á sê- ca. Quando a delgada pelicula de agua que cobre e fica entre as folhas, na qual vivem, começa a diminuir e por fim desaparece completamente, é interrompido o desenvolvimento dos ovos, enquanto os animais se con- traem. tomando a forma de toneizi- nhos. Eliminam água da cavidade do corpo e ficam sem movimento e sem outra atividade perceptível, protegi- dos somente pela cutícula durante o período sêco. Pelo que se sabe hoje, podem êles ficar neste estado, chama- do anabiotico, durante seis anos e meio, vão voltando mais á vida ativa, quando são humedecidos depois deste espaço de tempo. Ultrapassam -nos os Xematodios, cujo estado anabiotico póde durar vinte e sete anos. E’ êste o máximo que os organismos supor- tam com relação á descontinuação de sua vida. São lendas as que ouvimos falar das ricas colheitas obtidas pela semeadura do trigo encontrado nos tumulos das múmias. Como não ha diferença entre os Tardigrados bem alimentados e os que já jejuavam ha certo tempo, re- lativamente á sobrevivência no estado sêco. parece parar o metabolismo nes- sa fase. Não se pode, igualmente, perceber uma diminuição das subs- tancias nutritivas armazenadas em cé- lulas especiais durante a anabiose ou imediatamente depois da revivescên- cia. Tudo induz a crer que exista nos Tardigrados uma cessação do metabolismo, sem que sobrevenha a morte. Sem dúvida, poderiam ser feitas objeções contra êsse modo de ver, no qual os Tardigrados secos são com- parados a um relogio, que está com corda, porém parado. Pondo-o nova- mente em movimento, começa éle a trabalhar após uma interrupção de seis anos e meio. E' bem provável que o metabolismo, extreraamente re- duzido, continúi durante a anabiose, escapando o consumo minimo das provisões nutritivas ás observações, sendo ésse animaes microscopicos im- próprios ás investigações quantitati- vas.. Entre as numerosas experiên- cias feitas, desde as pesquisas funda- mentais de Spallanzani (1776) e Doy- ère (1840, 1842) para elucidar a ana- cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 E. Marcus — Sobre a Anabiose dos Tardigrados biose dos Tardigrados e outros habi- tantes dos musgos, merecem ser real- çadas as recentes do Prof. Rahm, O. S. B. (Friburgo, Suiça), porque ul- trapassam todas as anteriores com respeito ao grau da exsicação. Expe- rimentando no Instituto Criosjenico da Universidade de Leyden, submergiu êle os Tardigrados anabioticos em ar liquido e em helio liquido durante vinte meses, e oito horas e meia, res- pectivamente. Sot‘reviver?do! os ani- mais a êsse frio intenso, abaixo de cento e noventa e duzentos e setenta e dois graus, respectivamente, pare- ceu confirmar-se a opinião de ser completamente interrompido o meta- bolismo durante a anabiose. Em virtu- de da máxima da química fisica "cor- pora non agunt nisi soluta”, a per- sistência do metabolismo nesses ani- mais inteiramente congelados devia parecer excluída. Duros e secos como que petrificados, parecem possuir no máximo uma vida latente ou poten- cial, mas não uma ativa. Fica relativamente moderado o li- mite do calor suportável pelos Tardi- gradôs anabioticos, porque ressuscitam somente poucos dentre os toneizinhos expostos, durante vinte horas, á tem- peratura de 79°. C. No caso de exis- tir, em geral, um metabolismo du- rante a anabiose, deveria tratar-se dum anaerobiotico, porque uma de- mora num vacuo completo durante vinte e quatro horas não prejudica os estados sêcos. Podem também ficar durante 7 meses em meios ambientes livres de oxigênio, por exemplo no gas de helio e de hidrogênio, sem que se dê uma diminuição do número dos animais reviviscentes. Pelo contrário, não são susceptíveis a uma só inter- pretação as experiencias nas quais os Tardigrados sêcos foram colocados num exsicador durante alguns dias até seis meses. Como os aparelhos usados nessas experiencias funcionam com gases venenosos, p. ex., acido sulfurico, poder-se-ia atribuir a into- xicações o número muito considerá- vel dos animais não ressucitáveis de- pois de uma permanência de seis me- ses no exsicador. Mais importante do que essas causas da mortalidade é a sobrevivência de alguns animais do exsicador. A capacidade de um orga- nismo^ poder suportar a perda do seu conteúdo aquoso até alcançar o esta- do de equilíbrio com o ar ambiente ja e facto extraordinário; porém mais admirável ainda é verificar-se poder essa capacidade atingir o valor de 8%, o qual aliás é muito baixo, da humi- dade do ar nos exsicadores. Também nas condições naturais, quási sempre não ressuscitam mais alguns indiví- duos de uma população de Tardigra- dos num musgo sujeito á dessecação, o que prova não ser indiferente ao organismo perder tanta quantidade do liquido do seu corpo. Ao que parece, não podem êles, igualmente, sofrer dessecações com frequência ilimitada, ou com intervalos muito pequenos; tudo isso, porém, ainda permanece problemático. Encontramos, doutro lado, na literatura expressa a opinião de ser indispensável á vida normal dos Tardigrados uma dessecação per- riódica, porque neste estado poderiam eliminar os residuos do metabolismo e incorporá-las nas células da epider- me e da cavidade celomatica, cuja função consiste em acumular as ex- creções. E’ inteiramente hipotética esta concepção, não se dando um aumen- to visível das matérias mencionadas nas células correspondentes durante a anabiose, ainda que tal acumulação seja bem acessível á observação du- rante a vida atira dos animais. Neste conceito que admite o descanso dos Tardigrados na anabiose, supõe-se, além disso, persistir o metabolismo, o qual, porém, ainda não foi verificado. E’ verdade que o contrário também não foi provado, a saber, a interrupção do metabolismo nos animais sêcos. De fato, não são êles sêcos, nem os que permaneceram varias semanas no ex- 10 BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Scr.) Vol. ílí Xo. 5 sicador, nem os mergulhados no ar ou helio líquidos. Por mais atraentes que sejam essas experiencias cuidadosas, não são elas, porém, de molde a trazer uma solução decisiva quanto á conti- nuação ou interrupção do metabolis- mo durante a anabiose. Respiração, alimentação e acumulação das excre- ções talvez se realizem muito lenta- mente, no interior das células do to- nelzniho, que não se congelou inteira- mente. Coloides pobres em água, como são as células dos Tardigrados secos e os líquidos intercelulares possuem um ponto de congelação, alcançando mais de 100 graus abaixo de zero. Um rebaixamento ulterior do ponto de congelação realiza-se pela extrema exiguidade dos tubos capilares nos quais os coloides estão situados. Não são, portanto, os toneizinhos compa- ráveis a petrificações. Na falta da de- monstrabilidade duma suspensão da vida ativa durante a anabiose, seria talvez licito concluir da limitação tem- porária da ressuscitabilidade haver uma continuidade dos processos vitais durante a anabiose. Também essa con- clusão é hipotética, por não se ter obtido até agora prova alguma nessa direção. Além disso, não inclui a per- sistência do metabolismo a unica pos- sibilidade que explica a razão de se- rem os Tardigrados secos somente ressuscitáveis dentro de cêrca de seis anos. Conhecemos o fato de um movei velho, por exemplo uma poltrona, fora de uso talvez por muitos anos cair inesperadamente em pedaços. A cola, costumamos dizer então, tornou-se ve- lha demais. Analogicamente envelhe- cem os coloides, o conteúdo proto- plasmatico das células animais. E’ lá- bil o seu equilíbrio interno, e as mí- nimas ocilações causadas por quais- quer influencias exteriores pódem efetuar uma dispersão irreversível do protoplasma, o que significa não serem ressuscitáveis os animais secos; estão mortos. Mas antes de adotarmos essa teoria como explicação do limite tem- porário da resistência dos Tardigra- dos á dessecação, é mistér fazer mi- nuciosas pesquisas histológicas sôbre a persistência ou diminuição das subs- tancias nutritivas antes e depois da anabiose. Essa questão, de fato, não parece estar resolvida definitivamen- te, não obstante algumas observações nas quais não foram verificadas alte- rações. Poderiam ser combinadas com tal trabalho certas investigações expe- rimentais sóbre o problema, procu- rando-se verificar si os ressuscitamen- tos iterativos atuam talvez como es- timulantes e prolongam dêste modo a duração total da vida ativa dos Tardi- grados. * * * Durante as primeiras pesquisas que terão de contribuir á sinopse dos Tar- digrados brasileiros, foi encontrada uma nova especie bem caracterizada, que desejo dedicar ao meu colabora- dor, Paulo Sawaya, do Instituto de Zo- ologia da Universidade de São Paulo : Macrobioius sawayai, sp. n. Muito pequeno ; pouco pigmentado ; com olhos na posição habitual, por- tanto posterior. Cutícula lisa, sem quaisquer saliências. Abertura estreita da boca desprovida de lamelas bucais e em posição ventral como a do Ma- crobiotus intermedias. Tubo bucal es- treito (1 micron de diâmetro) e pouco encurvado. Sem “bastonete de apoio” (“Scheidenhalter”), mas apófises musculares em forma de cristas. Fa- ringe curta-oral com 20 micra de com- primento e 19 micra de largura e pro- vida duma curta serie (7,5 micra de comprimento) de placazinhas (placoi- deos). Presentes tres grânulos de 2,0. 2,2 e 2,2 micra de comprimento, dos quais o l.° e o 2.° *tom 2 micra de largura, o 3.° mais estreito. Em geral é perceptivel um pequeno microplacoi- deo. As extremidades são curtas, as unhas pequenas, mas fortes, com 7 mi- cra de comprimento e unidas até á cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 E. Marcus — Sôbre a Anabiose dos Tardigrados 11 metade do ramo principal que tem duas pontas acessórias. A lunula é aberta. Os maiores animais medem 200 micra; compr. da faringe 100 mils. (= milésimos do comprimento do corpo), das unhas 35 mils., diâmetro do tubo bucal 10 cph (porcento da extensão da faringe) ; largura da fa- ringe 95 cph ; serie dos placoideos 37,5 cph; extensão dos placoideos 10, 11 e 11 cph; largura dos dois placoi- deos 10 cph. No material abundante de cerca de 100 exemplares encontraram-se so- mente dois óvos, de forma globosa e 66 micra de diâmetro inclusive, 54 micra exclusive as apófises que meden 6 micra. São elas cones finos escas- samente distribuídos na casca do oxo e têm base subitamente estendida e ponta obtusa. Local: Pacaembú, capi- tal de S. Paulo, em musgos das ar- vores. , . j Nota: A especie e aparentada com M. aculeatus, distinguindo-se, porém, nitidamente dela, por lhe fal- tarem as apófises dorsais, como tam- bém pelas unhas fortes e pelas dife- rentes apófises do ovo. Semelha mui- to a M. intermedias quanto a forma da cabeça, ao aparelho bucal e as unhas; todavia, separa-se dessa espe- cie, pelos ovos que têm forma com- pletamente diversa. M. porten dút- renda-se pelas apófises desiguais do ovo, largura do tubo bucal e outras particularidades nas medidas dos placoideos e mais ainda. Possui tam- bém o bastonete de apoio, estrutura usual no genero Macrobiotus e que falta em M. sawayai. Esta e a pri- meira espede do genero Macrobiotus, na qual a ausenda dêsse orgam e a presença de apófises musculares, aliás características para o genero Hypsibius, foram verificadas. Abstract. The water-bears, and those spe- cies living in mosses as well, must be considered as aquatic animais, be- cause their active life depends of the water-pellicle on and between the leaflets of the moss. Upon losing water the animais shrivel up ; but their capacity for resisting desicca- tion is limited in time. In spite of all experiments, such as exposure of the dry stages to extremely low tem- perature (-272° C.) and dryness (8% atmospheric humidity), the possibility for intercellular metabolic processes can not yet be denied ; nor has the permanence of such proces- ses been sufficienthy proven. The time limitation of the revival capacity might be due to an ageing of the col- loids. The new species Macrobiotus sawayai does not show the suppor- ting rod, otherwise common in Ma- crobiotus, while the mouth-tube is provided with processes for the in- sertion of musdes, a character which hitherto had been thought to be pe- culiar to Hypsibius. Bibliografia Marcus, E. : Tardigrada in Broun’ s Klassen und Ordungen des Tier- Reichs, vol. 5, IV, lib. 3, Lipsia 1929 Marcus, E : Tardigrada in Das Tierreich (Preuss. Akad. Wis- sensch.), fase. 66 Berlim & Lipsia 1936. S. Paulo, março de 1937. Fig. 1 — I. Esquema da organização dum Macrobiotus hu- felandii C. A. S. Sch. — o. — a) ánus; b) boca; e) estilete; g) glandula bucal; gi) gânglio esofagiano superior (cérebro) com olho; i) intestino; n) cadeia nervosa; o) ovário; p) glandula da pata; ph) faringe; r) glandulas rectais; rs) receptáculo espermatico (rece- ptaculum seminis). — II. Estado habitual dum Macrobiotus vivente — III. Estado sêco (tonelzinho dum Macrobiotus). cm 1 SciELO BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III Xo. 5 AOOp 1937 E. Marcus — Sôbre a Anabiose dos Tardigrados 13 Fig. 2 — Macrobiotus sawayai, sp. n. — A) aspéto total; B) aparelho bucal, vista lateral; C) o mesmo, vista dorsal; D) unhas da quarta pata, vista ventral; E) ovo; F) cone solitário da casca do ovo 14 BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III Xo. 5 Uma nova especie de aranha neotropica da (amilia Hersiliidae. Por S. de Toledo PIZA Tcr. (Escola Agrícola. Piracicaba) Tama brasiliensis, sp. n. 0 — 8 mm. + Cephalothorax longior quam latior, marginibus lateralibus uivformiter re- tundatis, antice aogustior, pilis piceis obtectus. Regio ocularis set prominens. postice fortiter et antice non multo de- clivis, lateraliter plus minusve vertica- lis. Qypeus proclivis, area oculorum mediorum multo longior. Oculi postice circiter aequalis, in lineam sat recurvam, mediis inter se quam a lateralibus vx proximioribus. Area oculorum medio- rum circiter quadrata, oculis anticis pos- ticis majoribus. Femora 4 anteriora supeme spinis 3 nigris brevibusque in medio, 4 pallidis longis utrinque, longi- tudinaliter armata ; patellae cum spinis 2 lateralibus; tibiae spinis 3 in medio, 2 ad latera ; protarsi spinis dorsalibus 2 ad absin, 3 ante médium. Pedes 4 pos- teriores spinis nonnullis instructi. Palpi longe-spinulosi. Sternum aeque lon- gum ac latum, amplum, antice recte- truncatun et parce longe-pilosum. pos- tice yalde angulosum. Chelae cylindro- conicae. Labium latius quam long us apice rotundatum et vix angustius, di- midium laminarum attingens. Laminae sat latae apice intus angulosae. Abdó- men squamosum, pilis nigris brevibus- que vestitum, multo latius quem longius, postice in medio productum, foveas transversalibus dorsaliter praeditum. Mamillae anticae cylindro-conicae, apice truncatae; posticae rectae, segmento ul- timo valde longo, ad extremitatem sen- sim attenuato, apice acuminato, pilosae. Venter parce pilosus. Color fundamentalis cinerea. Cepha- lothorax margine interrupte nigro-lim- batus, plagis pallidis submarginalibus omatus. Regio ocularis in medio ru- bra. Femora 4 anteriora, supeme visa, maculis 3 irregularibus magnis, basilari viridi, alteris nigro-yiridis, a plagis pal- lidis divisis, omnibus fere varie rubro- picturatis. Patellae castaneo-nigro-rubes- centes ; tibiae virescentes, basi fuscae, anulo mediano magno, altero apicali ambobus castaneo-mfis, ultimo densiore. Protarsi trianulati : anulo basali párvu- lo, anulo subbasab et apicali magnis; tarsi infuscati. Pedes 4 posteriore- plus minusve precedentibus similis. Fe- mora 4 antica inferne magna parte ru- bescentia. Chelae macula magna extuc ad basin, altera minuta ad apicem oma- tae. Unci chelarum castaneo-mfi, basi diluti. Abdómen virescens, lateraliter nigrum, magna vitta nigra longitudinal! in medio, alteris transversis omatum. Mamillae posticae rufescentes, plagis 2 claris. Venter claras. Sternum album, partim virescens. Epigynum castaneum. Habitat: Pracicaba (São Paulo), in Centolobiun i robustum Mart. capta. 0 — 8 mm. sine mamillis. Cefalotórace mais largo do que longo, de bordos laterais uniformemente arre- dondados, mais estreito na frente, co- berto de pêlos escuros. Região ocular muito elevada, com uma forte declivida- de posterior e uma anterior bem mais fraca, de lados mais ou menos vertica : s Qipeo proclive, bem mais largo do qr a área dos olhos médios e com um tufo mediano de pêlos logo abaixo daquela área. Olhos posteriores em linha mui- to recurva, mais ou menos iguais, os médios um pouco mais proximos entre si do que dos latera : s. Área dos olhos cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 19 :; 15 Piza Jr. — Uma nova especie de aranha neotropica médios aproximadamente quadrada, sen- do os olhos anteriores maiores do que os posteriores. Fêmures dos dois pri- meiros pares com 3 pequenos espinhos negros dorsais e mais 4 longos espinhos claros de cada lado; patelas com 2 espi- nhos latera : s; tíbias com 3 espinhos me- dianos e 2 de cada lado; protarsos com um par de espinhos na base e mais 3 espinhos acima do meio. Patas dos dois últimos pares com alguns espinhos. Palpos com longos espinhos. Queliceras cilindro-cónicas. Esterno largo, direito- truncado na frente e fortemente angulo- so atrás, de comprimento e largura aproximadamente guais, com poucos pêlos longos na porção anterior. Lábio mais largo do que longo, de ápice arredon- dado e um pouco mais estreito, alcan- çando o meio das laminas. Laminas bastante largas, intemamente angulosas no ápice. Abdome escamoso, com pê- cm l SciELO 16 BOLETIM BIOLOGICO (Xcv. Ser.) Vol. III Xo. 5 los negros e curtos, bem mais largo do que longo, com uma protuberância no meio da face posterior e com fóveas transversais na face dorsal. Fiandeiras anteriores cilindro-conicas, truncadas ; posteriores direitas, fortemente pilosas, com o ultimo segmento muito longo e cada vez mais fino para o ápice, que é pontudo. Ventre pouco piloso. Côr geral cinzenta. Cefalotórace com uma estreita orla negra por partes in- terrompida, com algumas zonas mais claras submarginais. Cômoro ocular e clipeo vermelhos no meio; um pequeno triângulo vermelho claro na base do cô- moro ocular. Fêmores dos dois primei- ros pares, vistos por cima, com 3 man- chas grandes e irregulares, sendo a basi- lar verde e as outras verde-negras, en- tre as quais ha zonas mais claras, com algum vermelho que se nota também so- bre as manchas; patelas castanho-negro- avermelhadas ; tíbias esverdeadas, escu- ras na base, com um grande anel media- no e outro apicilar de côr csstanho- avermelhada, sendo este mais escuro; protarsos com 3 aneis escuros: 1 peque- no basilar e 2 grandes, sendo um sub- basilar e outro apicilar; tarsos escuros. Os fêmores dos dois primeiros pares apresentam-se inferiormente em grande parte vermelhos. As pernas dos dois últimos pares são mais ou menos como as dos precedentes. Queliceras com duas grandes manchas negras, externa- mente, na base, e duas pequenas toman- do todo o áp ce; garras castanho-aver- melhadas, claras na base. Palpos mais ou menos como as patas. Abdome dor- salmente esverdeado, lateralmente ne- gro, com uma grande listra mediana, longitudinal, irregular, da qual partem outras transversais. Fiandeiras poste- riores avermelhadas, com duas zonas claras. Ventre claro. Esterno branco, em parte esverdeado. Epígino castanho. Habitat: Piracicaba, S. Paulo; captu- rada em Centolobium robustum Mart. . cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 O. Pinto — A rolinha Oxypelia cyanopis Pelzeln 17 II. NOTAS DE AMADORISMO A rolinha Oxypelia cyanopis Pelzeln, só conhecida do Brasil, é uma das aves mais raras que existem. • V‘STA vo Ha na a vi fauna brasileira algumas raridades que ainda hoje constituem a aspiração insatisfeita dos mais ri- cos museus e não raramente o desa- pontamento dos expertos coleciona- dores lançados á sua procura. Esta raridade é por vezes apenas aparen- te, dependendo simplesmente de cir- cunstancias ligadas ao âmbito muito limitado da área de sua distribuição geográfica, porventura desconhecido da ciência omitologica por deficiên- cia das informações prestadas pelos seus descobridores. Nesta hipótese, quando ao cabo de anos um acaso feliz põe em boa pista os novos exploradores, acontece fa- zerem-se coletas abundantes de espe- cies procuradas inutilmente durante muito tempo, mas na realidade repre- sentadas copiosamente no distrito que lhes é proprio. Mas nem sempre é êsse o caso; contam-se em nossa omis numerosos exemplos sobre cujos pontos de ocorrência se possuem dados preci- sos e cuja área de dispersão é sabi- damente dilatada, mas que, apesar disso, continuam a desafiar o esforço dos pesquisadores que ambicionam conquistá-los. Trata-se, pois, de especies efetiva- mente raras, cujo encontro fortuito pode ocorrer a quem menos o espere, mas que seria ilusorio ir diretamente á sua procura. Para elas inestimá- vel seria o concurso que à ciência po- deriam prestar as pessoas curiosas da Natureza, os caçadores, e até mes- mo os homens do campo, uma vez que se habilitassem a reconhecê-los no meio das formas banais, com que Por Oliverio PINTO (do Museu Paulista) [ V - ^ C. na maioria das vezes podem' sêf facil- mente confundidas. Assim, deverão as notas que se seguem valer por um caloroso apêlo àqueles que me ouvem ou me lerão, no sentido de nos coad- juvarem na medida de suas possibili- dades nesta tarefa delicada de tomar cada vez melhor conhecido o nosso mundo alado. Com este intuito não é necessário mover imoderada perseguição aos voláteis que enfentam a nossa paisa- gem e não raro trabalham em nosso proveito; longe de mim a intenção de lhes fazer este desastrado convite. Mas, educando a capacidade de ob- servação, instruindo-se conveniente- mente sobre o assunto que passará a muito mais interessa-los, todos pode- rão, às vezes, até sem lançar mão de meios destruidores, aproveitar o que será sempre apenas um presente de raras oportunidades. ’A frente das creaturinhas a que me refiro está um mimoso Columbídeo, não sem bastante semelhança com a rolinha comum, porém inferior a ela em tamanho, e ainda muito fácil de distinguir dela pelo colorido do plu- magem. Refiro-me a Oxypelia cya- nopis Pelzeln. Para distingui-la de sua semelhan- te, é bastante reparar o colorido do alto da cabeça e do pescoço, que são intensamente ruivo-acanelados, ao- invés-de cinzentos claros, como na rôla comum ; o dorso, pardo-olivaceo, sem mescla de ferrugem, contrasta vivamente com a base da cauda, que, vista de cima, é fortemente tingida desta côr ; as azas, elegantemente manchadas de espelhos metálicos de cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 IS BOLETIM BIOLOGICO íXov. Ser.I Vol. III Xo. 5 azul carregado, são pardas como o dorso na metade posterior (terciá- rias e coberteiras maiores), ao passo que na porção dianteira e nos encon- tros é fortemente tisnada de ferru- gem; na face ventral o peito é que apresenta colorido mais intenso, o craneo, volvendo a vinaceo na gargan- ta, e esmaecendo progressivamente em direção ao abdome, até as cober- teiras inferiores da cauda, perfeita- mente brancas; as retrizes, vistas de baixo, são negras; a iris é de um belo azul, o bico preto Em porte (aza 69, cauda 67, bico 11 milímetros) rivaliza com a rolinha menor Chatnaepelia minuta (Linn.), mas é inconfundível com ela, que tem a face superior quási uniformemente cinzenta e o lado ventral branco-acin- zentado, sem mescla de ferrugem. A espécie foi descoberta em Cuia- bá, ha pouco mais de um século, pelo grande explorador austríaco Johan- nes Natterer, que a registou com aquele nome em seu catalogo manus- crito. sob o No. 665. Tendo feito na capital mato-gros- sense dois longos estágios, o primeiro de dezembro de 1823 a junho de 1825, e o segundo de outubro de 1827 a ja- neiro de 1828, num total de cêrca de 22 meses de permanência, conseguiu o infatigável naturalista reunir não mais de cinco exemplares, obtidos to- dos nos meses de verão, a saber de- zembro, janeiro e fevereiro, quási sempre por meio de armadilha, e pro- ximo á nova caserna, como teve o cuidado de no-lo informar, nos apon- tamentos que se salvaram da destrui- ção de seus papeis (cf. Aug. von Pel- zeln in Zur Omith. Brasil. IV : 2 77, 336, 337, 1870). Aos futuros exploradores que pas- saram pela mesma zona, alguns dos quais como H. Smith nela permane- ceram largo tempo, conseguindo vo- lumoso material zoologico, a sorte nunca mais se mostrou propícia ao novo encontro com a rara espede, tal- vez do número dos que se acham em via de extinção. Sabe-se hoje, todavia, que a sua área de distribuição não se limita áqucla zona circunscrita do planalto mato-grossense, pelo providencial aca- so que favoreceu em outubro de 1904 a Ernesto Garbe, o antigo e laborioso colecionador do Museu Paulista, a obtenção de um belo exemplar macho em Itapura, na margem direita do Rio Paraná, estado de São Paulo. Não consta que, afora os acima mencionados, existam outros quais- quer exemplares da espécie nos mu- seus do mundo, pois os poucos a pos- suí-la representada nas suas coleções, como o British Museum de Londres e o American Museum de Nova York conseguiram-nos às custas do Museu de Viena, onde foram guardadas as coleções de Natterer. Compete, portanto, aos nossos ca- çadores mais peritos a obtenção de novos exemplares dessa preciosa ave- zinha. S. Paulo, março de 1937. Caçada ao cervo Por Eduardo de Oliveira PI RAIA’ De cor parda avermelhada, grande, esbelto, elegantíssimo e gracioso em todos os movimentos, dando ao mes- mo tempo impressão de força formi- dável, agilimo, majestoso ao erguer a cabeça, ao andar, ao enfrentar o pe- rigo, uma expressão de inteligência e bondade nos grandes olhos tristo- nhos, que se transformam em brazas de odio nas acuações, fortemente do- 1937 Pirajá — Cacada ao cervo 19 tado de largas armas de numerosas pontas, o Cervo é, sem duvida, um dos animais mais belos e mais deco- rativos da nossa fauna silvestre. E’ um presente inesquecível e raro de beleza para os nossos olhos ve-lo em liberdade, pastando despreocupa- damente, ou erguendo majestosamen- te a grande galhada ao pressentir al- gum perigo proximo, dando enfim a mais linda nota de cor e de vida ao verde quente da macega nos varjões extensissimos ou à prata patinada dos infinitos banhados do pantanal mato- grossense. Infelizmente, perseguido por caça- dores, peões e onças, relativamente facil de ser morto em ciladas, vai-se tornando raro e a sua extinção será fatal e próxima, si medidas urgentes de proteção não forem tomadas. Os caçadores o perseguem pela sua raridade e valor como peça venatoria ou trafeu de caça ; os peões para faze- rem com seu ótimo couro os “tiradores de laço”, os tão decorativos e interes- santes aventais de longas franjas pen- dentes; não bastando isto, o Cervo, embora não seja presa fácil, é um pe- tisco muito procurado pela formidá- vel e sinistra rainha dos sertões: Sua Majestade, a Pintada. # * * A caçada ao cervo é geralmente feita de duas maneiras: de cilada, o que pouco ou nenhum interesse apre- senta, pois, com cautela, negaceando, dêle quasi sempre se pode aproximar em distancia de atira-lo praticamente á queima-bucha ; ou correndo-o com matilhas de cãis adestrados. Dêsse modo, uma vez que se conte com todos os elementos necessários, — e embora não nos possa dar a emoção brutal que nos dá a acuação da Pintada — é certamente a caçada mais difícil, mais movimentada e tam- bém a mais empolgante que se pode realizar nesta parte do continente. Mas é caçada que exige, para ser ten- tada, êsses elementos necessários que são numerosos e importantes e sem os quais ela fracassará por certo : cãis de faro, velocidade e resistência ex- cepcionais; montarias também velo- zes, resistentes, dóceis e corajosas e, finalmente, caçadores hábeis, ótimos cavaleiros, dispostos, prudentes e de condições físicas a toda prova. Porque o Cervo, uma vez encon- trado, ou “levantado” no termo cine- gético, parte numa disparada louca, em que se multiplicam força e veloci- dade, através de banhados, capões, macegas, “corixos”, cordilheiras".’ rios e “baías”, para, finalmente, fati- gado, ao fim de horas, muitas vezes cinco ou seis, verificando que a per- seguição não lhe deixa a pista, ofere- cer combate em campo aberto, esco- rando a matilha, geralmente num ba- nhado de pouco fundo e difícil acesso. E’ a “acuação”. Em todo êsse per- curso, mister se faz que os cãis sigam de perto a batida e que, logo atrás ou junto dêles, numa corrida de obstá- culos em terreno desconhecido, vare- jando espinhos e atoleiros, rios e “baias” infestadas de piranhas, ve- nham os caçadores e suas montarias. Não é tarefa para qualquer homem, por bastante dextro que seja . . . Acuado, o Cervo é um animal feroz e perigosissimo, porque, valente, do- tado de agilidade pasmosa, éle inves- te fatalmente quando se apercebe da aproximação do caçador. E o golpe das suas pontas aceradas vale bem a “tapona” da Pintada ou a dilaceração pelas presas tremendas do cachaço" Baguá”. E’ necessário, portanto, ser pru- dente, ligeiro no gatilho e bom no “ponto”. Daqui de São Paulo, sei que os Junqueiras, continuando e honrando as tradições da sua grande raça de caçadores, tém empreendido excur- sões ao pantanal do Rio Negro e, com suas matilhas extraordinárias, de pu- ríssima linhagem, realizado, com o espirito de desportistas que os ca- 20 BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III No. 5 racteriza. essa caçada inegualável. Dessa mesma Fazenda do Rio Ne- gro, esse recanto maravilhoso do mundo encantado que é o Pantanal de Mato Grosso, onde, a convite e na companhia dos meus caros amigos Antonio e Luis Rondon, me achava caçando onças, trouxe como uma das melhores lembranças venatorias de minha vida a impressão de uma ca- çada de Cervo. (Fig. 1). Após um dia exaustivo, passado todo na batida das Pintadas, fatiga- dos, caminhavamos uma tarde, à pro- um pouco atrás, acudiram á salva e de novo a música barbara da “corri- da”, tão cara aos nossos ouvidos de caçador, ceoou, solene, naquelas soli- dões . Certos de que o tiro se perdera, e de que os cãis em breve, dada a ve- locidade do perseguido, abandona- riam, desanimados, a corrida, conti- nuamos a nossa caminhada, quando, de repente, mais ou menos a uns tres quilómetros, ouvimos “ferver” a acuação. — O cervo está ferido, disse Luis Fig. 1. Viajando através do Pantanal de Mato Grosso. cura de um logar propicio para o pouso, na imensa planície do panta- nal, sob um dos crepúsculos verme- lhos e longuíssimos, quando Luis Rondon, estacando o cavalo, mostrou- me, a uns duzentos metros na nossa frente, um enorme cervo que, parado, com a cabeça erguida, nos olhava. Era um exemplar soberbo e raro, pelo porte e pelo número c beleza das armas. Assaltou-me imediatamente o dese- jo de obter aquele magnifico trofeu de caça. Apeando, visei rapidamente e o tiro reboou . . . O cervo deu um salto formidável e partiu como uma flexa, dando a impressão de que voava por sóbre a macega alta. Os cãis, que vinham Rondon. sem o que não se deixaria alcançar tão cedo. Cravando as esporas nas lihargas dos cavalos, disparámos para lá. Ao chegar, um espetáculo esplen- dido se nos desvendou aos olhos : numa lagoa, que o sol poente tingia de todas as cores da palheta 1 , com agua pelo peito, o Cervo, majestoso, enfrentava a matilha que, furiosa, na- dava em volta, ladrando. De vez em quando investia sóbre um cão mais proximo, afundava-o com as patas dianteiras e procurava atingi-lo com as pontas. Sobre nossas cabeças numerosos bandos de Araras, Garças, Colherei- ros, Jaburus, esvoaçavam em re- voada. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 Pira já — Cacada ao cervo 21 E aquela sinfonia de cores — o céu rubro, pintalgado pelo colorido das aves, a gama do verde na macega e nos capões de mato, a lagoa multicor e aquele “jazz” selvagem de ruidos — o ensurdecedor latir dos cãis. o grito das araras assustadas, as excla- mações dos caçadores — e no meio de tudo isso, centro de tudo isso, aquele nobre animal, combatendo só, ferido, mantendo em respeito os ini- migos que o cervavam, como um ve- lho chefe, vendendo caro a sua vida, era qualquer coisa de solene, de grandioso, de inesquecível !. Mas urgia dar um fim a tudo: o Cervo já ferira dois cãis e a todo mo- mento ameaçava atingir outros. Do logar em que nos encontrava- mos era impossível matá-lo sem cor- rer o risco quási certo de alcançar também um dos cãis que, nadando. dorico Alvares de Assis), que, visan- do-o com a sua Purdey 12, seguia to- dos os movimentos do Cervo. Luis Rondon, sempre montado, foi-se aproximando cautelosamente, quando, rápido, o animal se volta e, após curta hesitação, investe furioso. Xo mesmo segundo partiu o tiro de Iquinho, mas, devido á intensa emoção do atirador, inseguro, sua “Ideal”, com o silvo caraterístico, raspando o pescoço do alvo, foi ferir ao longe as aguas da lagoa. Perce- bendo isso, eu, que me achava pronto, quasi instantaneamente atirei tam- bém. E só então a bala da minha “Savage”, atingindo em cheio a cabe- ça do Cervo, fulminava-o a tres me- tros de Luis Rondon, cuja montaria, inquieta e nervosa, empinava, pro- curando fugir á agressão (Fig. 2). Nessa noite, á luz da fogueira, de- Fig. 2. O Cervo abatido. apertavam o cerco. Foi quando Luis Rondon se lem- brou de, contornando um pequeno ca- pão de mato que bordejava a lagoa, aproximar do animal para liquidá-lo a tiros de revolver. Antes de sair ainda preveniu: — “Si êle me perceber e investir, atire rápido, de qualquer maneira Cabia a vez ao nosso amigo Iquinho (Theo- pois da prosa, do chimarrão e do churrasco, os peões acabaram de sal- gar e esticar o belo couro, enquanto na rêde, sob o mosquiteiro, eu, satis- feito, procurava conciliar o bom sono reparador, após um dia cheio, em que conseguira para o arquivo dos meus já longos anos de caçadas um lindo trofeu, uma luminosa recordação e uma grande saudade. São Paulo, março de 1937. BOLETIM BIOLOGICO ( Nbv. Ser.) Vol. III N T o. 5 DIVULGAÇÃO CIENTIFICA Observação dos peixes doentes Por Francisco BERGAMIN (do Laboratorio de Hidrobiologia do De- partamento de Industria Animal). Lembramos aqui, antes de mais nada, o velho preceito, tão bem apli- cável ao homem como aos animais: “E’ mais fácil prevenir do que reme- diar”. Prevenir uma moléstia ou debelá-la no inico é empreendimento mais fácil, menos trabalhoso e de exito mais certo do que procurar curá-la num estádio já avançado. Como prevenir as moléstias nos peixes? Do mesmo modo que no homem: boa água, boa alimentação e bom ar. Boa água. Água sempre limpa, sempre renovada. Água em que não se faz nenhum despejo, em que nenhuma substancia toxica é lançada. Água neutra ou levemente alcalina. Boa alimentação. Alimentação exó- gena e endógena suficiente, não con- taminada, em bom estado de conser- vação. Alimentação renovada todos os dias, pois o alimento que fica de um dia para o outro fermenta, po- luindo, assim, a água e roubando-lhe o oxygenio, além de ser toxico por si mesmo. Bom ar. Sabemos que a água man- tém, dissolvida, uma certa taxa de oxygenio, que, para uma mesma tem- peratura e em condições mais ou me- nos idênticas, sofre mui pequenas os- cilações. Si a agua é parada, a su- perfície de absorção de oxygenio é pequena, e a taxa aí só se manterá si o consumo (respiração dos organis- mos vivos, decomposição de matéria organica, etc.) for pequeno. Numa água corrente, a taxa se manterá sempre próxima do normal, pois ha renovação constante. Além disso, o movimento da água, pondo em conta- to com o ar sempre particulas novas desta, facilita a absorpção de oxigé- nio, cujo teor só será regulado pela temperatura. A chegada de ar no fundo de um recipiente contendo água. além de pôr esta em contato com o ar, ainda a movimenta, facili- tando extraordinariamente a absor- ção de oxigénio. Portanto, água sem- pre renovada, água corrente ou água arejada garante para o peixe uma boa respiração. Fornecendo ao peixe estes tres elementos, tê-lo-emos colocado em condições ótimas de vida e êle dificil- mente adoecerá, porque encontrará em si meios de defesa contra todos os ataques externos. Tudo se resume, portanto, no se- guinte: Conservar intatas as defesas organicas. Dar ao peixe uma água sempre limpa, alimentá-lo bem e garantir-lhe uma taxa de oxigénio suficiente são o primeiro e o mais eficaz meio de combate às moléstias. Um peixe in- sui. cientemente alimentado, e numa agua turva, com matéria organica em decomposição, malodorante, portanto, com uma taxa de oxigénio,» que se pode dizer de antemão, muito baixa, este peixe está fadado a contrair mo- léstia, si não morrer em conseqüencia mesmo das más condições do meio em que se acha. O oxigénio deve merecer especial atenção por parte do piscicultor. Êle é prejudicial em excesso, como tam- bém é prejudicial sua falta. Em nos- so meio nunca encontraremos oxigé- nio em excesso na água. Mesmo que sua produção no seio da água seja cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 Bercamirl — Observação dos Deixes doentes 23 grande, êle aí não fica retido, mas desprende-se, como qualquer gas não dissolvido. Só em condições muito especiais, nos climas muitos frios, pode-se encontrar um excesso de oxigênio: Quando .a superfície da agua congela e a camada de gêlo é transparente, a luz poderá manter as trocas das plantas submersas, e o oxi- gênio produzido, não podendo des- prender-se por causa do gêlo, aumen- ta extraordinariamente a taxa de oxigênio dissolvido. A pressão a que o mesmo está submetido sob a cama- da de gêlo e a baixa temperatura são responsáveis por êste aumento. Um teor em oxigênio muito baixo é o que vamos encontrar muito fre- qüentemente em nossas aguas. Numa agua em que houver muita matéria organica, produzem-se fermentações tendentes a oxidá-la. Ora, isso só é possivel em presença do oxigênio. Como o principal oxigênio disponível numa água é o oxigênio dissolvido, conclue-se facilmente que essa água vai empobrecer-se, tornando impossí- vel a vida no seu interior. Portanto, para se manter uma água em boas condições é preciso evitar que nela sejam lançadas ou conservadas subs- tancias susceptíveis de sofrer fermen- tações, como esgotos, resíduos de fa- bricas de papel, tecido, etc. Concorrem também muito, além da absorção, para manter alta a taxa de oxigênio na agua, as plantas ver- des submersas. A respiração nestas plantas, em ultima analise, vai dar desprendimento de oxigênio, que será absorvido pela água. Por aí podemos calcular a importância das plantas nas águas de criação. Além disso, nas raizes, ramifica- ções dos vegetais vivem e proliferam miríades de microcrustaceos, proto- zoários, algas microscópicas, que constituem o principal, sinão o unico alimento dos alevinos e dos peixes pequenos. Enfim, ésses e muitos outros são os meios de fornecer ao peixe um meio ótimo, que lhe garante todos os elementos de defesa contra as molés- tias. Quando ha um desvio notável nes- tas condições ótimas, quando o peixe não se acha mais em meio adequado à sua vida, êle vem a sofrer com isso, e a conseqüencia são, ou as moléstias, que encontram terreno propicio no animal enfraquecido, ou a morte em massa dos peixes pela falta de oxigê- nio. Aqui começa a via crucis do pis- cicultor que vê seus peixes morrerem em grandes quantidades e na maior parte das vezes não póde dar um pa- radeiro a essa derrocada. Quando algum sintoma estranho for notado, o peixe deve ser retirado imediatamente e posto em observa- ção. Neste ponto o observador pre- cisa pôr em jôgo todos os seus conhe- cimentos, lançar mão de todos os re- cursos para diagnosticar a moléstia e curá-la, quando possivel. No inicio de quási todas as moléstias de peixes, que são, na sua grande maioria, pa- rasitarias, é indispensável o micros- copio para o diagnostico. No princi- pio não aparecem os pontos brancos da ictioftiriose, da mixosporidiose, os tumores desta ultima e da linfocisto- matose, os tufos de Saprolegnia, etc. Só o microscopio poderá desvendar a causa. O piscicultor deve possuir e usar e abusar do microscopio. Sem éle nenhuma terapêutica poderá ser iniciada. E’ de capital importância na obser- vação dos peixes doentes o estudo da sua atitude e do seu comportamento no meio liquido. O peixe são mantém-se na água com o ventre para baixo, em constan- te movimento, deslocando seu corpo ou apenas movimentando as nadadei- ras para manter-se em equilibrio. Si ha correnteza, o peixe coloca-se com o seu eixo longitudinal no sentido da I 24 BOLETIM BIOLOGICO (Xov. Ser.) Vol. III Xo. 5 corrente è com a cabeça voltada para ela. Em geral os peixes nãdam em gru- pos, e quasi não se separam. O am- fica como que aturdido, pouco se mo- vimentando; mas logo readquire toda a sua vivacidade, toma-se inquieto, nada desordenadamente de um lado para outro; até que, por fim, quando estiver habituado com o novo meio, se comportará como normalmente. ’A aproximação de uma pessoa al- guns se debatem, se agitam, podendo mesmo saltar fora do recipiente, como o Lambari, etc. . Outros só se tor- nam agitados quando excitados dire- tamente, como o Acará, o Pacú, a Carpa, etc. O comportamento do peixe doente é diverso. Permanece com o dorso ou com um dos lados para baixo. Si ainda conserva alguma força, pode manter-se na sua posição normal, mas conserva-se parado, tendo difi- culdade de manter-se em equilíbrio. O Guarú, por exemplo, quando ata- cado de Ichthyophthirius permanece no mesmo sítio, e executa movimen- tos de lateralidade, movimentos pe- quenos e mais ou menos lentos, se- gundo o grau da infecção. O Lam- bari, atacado pelo mesmo protozoário, fica geralmente no fundo ou parado ou locomovendo-se lentamente e num pequeno espaço. Si o grau de infestação é muito elevado, si, além de toda a superfície do corpo estar recoberta pelo parasi- to, êste ainda ataca toda a superfície respiratória das branquías, vemos o peixe dar saltos violentos e desorde- nados, rodar sobre seu eixo longitu- dinal, nadar de um lado para outro, saltar fora da agua e ir imediatamen- te ao fundo, tudo isso sem nexo, desordenadamente, e, por fim, quedar morto ao fundo. São sinais de asfi- xia, que temos observado inúmeras vezes, entre outros, no Mandi-cho- rão. Os mesmos saltos violentos podem ser observados quando o peixe sente uma dor muito aguda, como na per- furação intestinal. O peixe enfraquecido por uma doença deixa-se arrastar pela corren- teza, não se mantém em equilíbrio nela, carregado muitas vezes como corpo inerte, pouca resistência ofere- cendo contra ela, até ser detido num remanso ou por um obstáculo. Quan- do o peixe não consegue enfrentar a correnteza, apanhemo-lo, lancemos mão do microscopio, pois encontrare- mos uma causa do seu enfraqueci- mento. O peixe são somente procura a su- perfície do liquido à cata de alimento. Si virmos um peixe nadando na su- perfície, com a boca fóra da água, ou a dar saltos repetidos acima da su- perfície, é porque sente falta de oxi- génio e vai procurá-lo no ar. A causa pode residr nele ou no meio liquido. Si as suas guelras estão cobertas de parasitos, tendo assim sua superfície respiratória muito diminuida, si este- ve em contato com substancias oleo- sas que aderem às guelras, impermea- bilizando-as, o peixe respira mal, sen- te falta de oxigénio e vai procurá-lo na superfície. Si o mal é externo, isto é, si na água falta oxigénio, a mesma cousa se dará. Os sintomas de asfixia devem levar-nos, portanto, primeiramente ao doseamento do oxi- génio da água e em seguida à pesqui- sa de parasitos nas guelras e na su- perfície do corpo. O peixe não pode manter-se mais em equilíbrio, dirige-se de um lado para outro, vai ora para baixo ora para cima, nada sobre o dorso ou de lado, ou roda sobre seu eixo longitu- dinal. Podem estes ser sinais de forte fraqueza geral, que se segue a diferentes lesões ou por más condi- ções do meio, mas podem também ser sintomas de uma moléstia especi- fica. Os peixes que oscilam com vertigens, devem ser transportados para um recipiente de observação e o cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 Bergamin — Observação dos peixes doentes 25 microscopio irá determinar a nature- za da moléstia. Os animais sãos nadam geralmen- te em grupos. Si um dêles se deixa ficar atrás, por nadar mais lentamen- te e menos energicamente, si fica abandonado de um lado, procurando geralmente um logar calmo proximo do bordo, sua atenção é menos viva, deixa-se prender com facilidade, deve-se suspeitar que está doente. Também se reconhece um peixe doente ao alimentá-lo. Os peixes sãos atiram-se vorazmente ao alimen- to, repelem-se uns aos outros, algu- mas especies saltam fora da agua, en- golem rapidamente o bocado apanha- _ do e voltam à carga. O peixe doen- te em geral perde o apetite. Só de longe em longe procura alimento e isso mesmo sem nenhuma avidez. Longe de repelir os outros, é repelido e fica sempre atrás, sem nenhum mo- vimento de reação. Nem sempre o fato de não se lan- çar o peixe ao alimento denota doen- ça. Si é um peixe recem-capturado, além da comoção produzida pela mu- dança de meio, também o hábito de outros alimentos contribui para isso. Por exemplo : um peixe habituado ao alimento vivo só lentamente se habi- tuará a alimentação artificial nos aquarios. As águas poluídas por despejos de cidades, residuos domésticos e de fá- bricas, hospitais, estábulos, são meios impróprios para a vida dos peixes, que disso se ressentem, manifestando seu malestar por saltos fora da água, agitação, um como que nervosismo no período de excitação, e apatia e quietude quando as forças decaem. E’ preciso neste caso dosear o oxigê- nio, cuja taxa será muito pequena, insuficiente para a respiração do pei- xe. Isto deve ser corrigido, em pri- meiro logar afastando as causas e, como paliativo, arejando a água e au- mentando a vegetação verde. O mesmo se observará quando na água houver algum toxico. Neste caso o unico meio para evitar a mor- te, quando isso é possivel, é retirar o peixe e colocá-lo em água fresca e sempre renovada. Quando o peixe chega ao estado de prostração por falta de oxigênio ou por intoxicação, seus movimentos respiratórios são rápidos, ofegantes, procurando compensar a falta de oxi- gênio pela grande quantidade dágua que faz passar pelas guelras. Si ainda ha uma certa taxa de oxigênio na água, o peixe poderá nela viver al- gum tempo, graças ao número maior de movimentos respiratórios; mas por fim, si a modificação do meio não se dér, êle virá a sucumbir. A prin- cípio, sobe à superficie para respirar, mas depois vai ao fundo ou nada so- bre o dorso, até que a morte sobre- venha. Si a água for renovada ou si o peixe for passado para uma água fresca, as melhoras serão rapidas: os movimentos respiratórios diminuem de numero aumentam de amplitu- de, o peixe se conserva geralmente parado, até o restabelecimento com- . pleto e por fim retoma sua vida nor- mal. O peixe morto por asfixia apresen- ta-se numa atitude bastante caracte- rística: boca meio aberta, operculo elevado e as branquías acoladas umas ás outras. Esta atitude é devida à contratura dos musculos respirató- rios, excitados pelo C02 que está em excesso no organismo do peixe. Êste estado permanece mesmo depois da sua morte, de modo que facilmente se reconhecerá no cadáver. Um peixe, proximo à morte por asfixia, pode sobreviver, si se lhe fizer passar pelas guelras uma cor- rente de água fresca rica em oxigênio dissolvido. Quando o peixe vai ao fundo e morre, aí permanece algum tempo; a pele torna-se palida e os olhos per- dem o brilho. Depois os gazes pro- 26 BOLETIM BIOLOGICO (Nov. Ser.) Vol. III No. 5 duzidos pela fermentação se acumu- lam no interior do corpo e o peixe sobe à superfície. E’ por isso oue muitas vezes o criador não nota a norte dos peixes nos tanques. A observação da evacuação dos peixes também tem muita importân- cia no estudo dos peixes doentes. O excremento que pende do anus em longo fio denota moléstia intestina 1 : podem mesmo ser vermes. Esses ci- lindros de fezes podem ser muito lon- gos. Já observamos alguns de cerca de 20 centímetros de comprimento. Não são constituidos apenas de fezes, mas também de porções da mucosa intestinal descamada. E’ preciso exa- minar tais fezes ao microscopio para determinar-se a causa da moléstia. Estudemos agora seu comporta- mento fóra dágua. Na mão o peixe não se debate energicamente, pro- curando escapar. Pela fôrça com que êle se debate podemos já saber si se trata de um peixe são ou doen- te. Neste, os movimentos de defesa estão muito diminuídos. Freqüente- . mente mal se debate, apenas deglute o ar espaçadamente, fica deitado so- bre a mão e a cauda pende inerte. Seus olhos fornecem também boas in- dicações sôbre seu estado de saude. Nos individuos mal nutridos, enfra- quecidos por uma moléstia ou pelas más condições da água, os olhos são fundos e seu brilho está escurecido. A mobilidade dos olhos também está diminuída pelo efeito da moléstia. Pelos olhos também se pode reconhe- cer si um peixe morto era doente em vida, mas com a condição de serem absolutamente frescos, isto é. que sua morte seja recente. Ao observarmos um peixe morto de pouco tempo e virmos seus olhos fundos e com bri- lho apagado, podemos dizer que êsse peixe era doente. A necropsia e o microscopio nos dirão si estavamos enganados ou não. Naturalmente esta observação só será valida quan- do o peixe for bem fresco, pois, de- pois de certo tempo da morte, os olhos se afundam, mesmo nos peixes sãos . A cõr dos peixes depende muito das condições externas e internas. Num tanque ou num aquario som- breado, com o fundo de lodo preto, com água pouco limpa, e profundo, os peixes serão escuros. Por ex. : os peixes de fundo, que vivem mais no lodo, como em geral os de couro, são de còres mais sombrias do que outros que preferem pequenas águas e cla- ras, como o Lambari. Quando ha falta de oxigénio na água, os peixes tomam-se mais cla- ros, de uma palidez bem perceptível. O mesmo se dá com o peixe asfixia- do. O excesso de oxigénio também deve produzir alterações na coloração do peixe, mas isso ainda não nos foi dado observar, pela dificuldade de se obter um excesso de oxigénio dissol- vido na agua. A deficiência de nutrição toma os peixes de coloração mais carregada. Os peixes muito gordos, superalimen- tados, com abundancia de gordura de reserva, são pálidos. Portanto, pei- xes demasiada ou deficientemente alimentados sofrem alteração na sua coloração normal. No inverno, mesmo com a mais perfeita saude, os peixes se tomam pálidos. No verão são mais escuros. As moléstias também modificam a coloração normal. Peixes que sofrem de moléstias intestinais, perturbações na digestão, moléstias do figado, etc . são mais escuros. As “escamas arre- piadas”, moléstias muito encontradi- ça nos Characidae, são indicio ds per- turbação intestinal, geralmente cons- tipação. As condições externas podem dar- nos indicações preciosas no estudo da mudança de coloração. Si tivermos uma água arejada, isso evidentemen- te exclui das nossas cogitações a falta de oxigénio. Um peixe que vemos cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1937 Magalhães \ r cracida\ : «isniano üOgiiiA » .» tvor. tmu . 'iWn iw' ir.nV — ÍOHHAH ! JA 180 3 OIÍ JAVJíAO AVIA4 sb OAOt -> AYAV/A2 OJUAG £f ( lín-oiA^wV.) i>">iVuiíA «nfi sb j-tonanoaO IííetH ob esbiq ..o . ,-jg ob «ÍM-J53 soa -• 3'-AJ OOIH3U3?; U tíJM- • • '. h ?.?si - ' * . J - (r!í*fc»q> ’m» (.W».'I v» ■ ' i i -b * orlrriit os oijni* CiT4iq OTH ‘ /JJO :eh*ijiíotí oisv. a ftoKA ltn‘1 — AYAV/A2 OJUA3 Jt MÍrflr.H-M «b . . 3 wtttMr. onaaD >b -jlu»q iaba[ I M 1 1 H ti o #b*o ,r«»j9lo<í -Jl ^50»^ «H*0 cm 1 2 3 4 5 7 SClELO 77 72 73 74 75 16 77 Boletim Biologico ORGÂO DO CLU3E ZOOLÓGICO DO BRASIL Caixa Postal 362 - S. Paulo, Brasil Vol. III (Nova Série) MAIO DE 1938 N.* í n i S, Ocorrência de Branduostorna (Amphioxus) na baía de^ajntos.- ;/ PAULO SAWAYA Livre-docente de Zoologia JOÃO DE PAIVA CARVALHO do Serviço de Oca e Pesca (Trabalho do Departamento de Zoologia da Universidade de S. Paulo: Pref. F. MARCUS) Em Abril de J937 o Departamento de Zoologia realisou durante as férias da Páscoa uma excursão a Santos com o objectivo de colher material para investigações e para ensino. Co- mo de costume, foram visitados lon- gamente div erso s pontos da praia da Ilha de Santo Amaro (Fortaleza Ve- lha. Góis, Sangáva) e a Ilha das Pal- mas. Pela primeira vez tentou-se abor- dar a Ilha da Moéla a cerca de 8 mi- lhas de Santos. Infelizmente, o estado do mar não permitiu chegar ao. ponto visado, tendo-se colhido, durante o re- gresso, plankton das imediações do lugar denominado Saco do Major. Mesta ocasião a superfície do mar apresentava quantidade notável de es puma amarelada, a qual, como pude- mos verificar, continha grande núme- ro de Salpas. tar-se um possível encalhe do aparelho no leito do mar. Ao atingirmos a al- tura da práia-do Cheira Limão, a dra- ga agarrou o fundo, o qual nesse pon- to é bastante arenoso. Tão fortemente aderiu, que o barco deixou de prose- giiir, embora acelerad o o m otor. Xa iminência de romper-se o cabo, resol- vemos retirar a draga, o que se con- -eguiu sómente com uma tração em sentido contrário, com o barco em marcha á ré. Copioso foi o mate- rial trazido, e no meio das pedras, conchas. Crustáceos, Equinodermas, etc. notámos imediatamente a presen- ça de vários Aníióxos, os quais fo- ram cuidadosamente recolhidos num balde com agua do mar, constante- mente renovada até o laboratorio do Instituto de Pesca Marítima, base dos nossos trabalhos. Ao voltarmos, depois de uma ligeira Parada na Ilha das Palmas, propuze- mo-nos a arrastar a draga na entrada do Canal, numa profundidade 20 a 25 braças, afim de colher elementos ben- tónicos. A tração se fez tão lenta- mente quanto permitia o movimento do pequeno barco a motor que nos conduzia, sendo o respectivo cabo sus- tentado por um de nós, afim de evi- A pesquisa do Branchiostovia no litoral de Santos foi, durante todas as inúmeras excursões que ali fizemos, um dos objectivos estabelecidos no programa. Desde 1934, sempre em colaboração com o pessoal do Instituto de Pesca Marítima, não obstante as instalações bastante primitivas de que dispomos, vimos explorando a baía de u Bofetím Bfofogíco (Xov. Ser.) Vbt ITT. X.° Z Santos e práíaa vizinhas, com o in- tuito de obter material para estudo, para municiar o íaboratorío de Zoolo- gia recem-ínstalado, numa tentativa que nos parece titíl, de fazer o inven- tario da fauna da baía. determinando épocas de reprodnção, período de cres- cimento, influência das estações etc. Prevíamos uma tal coleta de Anfíó- xos. não somente pela conhecida dis- tribuição geográfica do cariberum co- mo pelo fáto de já em 1925, HKR MAXX LúDERWALDT (1929. p. 40), os ter obtido “perto da Ilha de S. Sebastião especialmente no canal, onde é bem conhecido dos pescadores que o denominam dc Maria Molle”. O numero de exemplares captura- dos sobe a 29. distribuídos entre jo- vens e adultos. As larvas faltaram completamente. Do lote foram toma- dos 11 exemplares para a determina- ção da especíe. tendo-se encontrado ;t seguinte formula iraotómica. e respecti- vas medidas: MIOTOMOS miotomos X.° dc Exemplares Fre-atnO' po ricos Atrícrporo- anais Post-anaís Compn snento em mm. 1 ... • . | 39 ,5 8=62 41 2 37 15 7 = 59 31—35 1 37 14 8 = 59 33 4 37 15 8 = 60 38.5 - 32 - 36 - 35 2 ' 37 15 9 = 61 41 — 40 1 37 14 7 = 58 28 Pela fórmula dos miótomos e ainda mais pelos caracteres da nadadeira dorsal (altura maxíma 0.5 mm veri- ficada a 5 mm. caudalmente á verti- cal que passa pelo anus), das ineta- pleura-, dos cirros, observados por um de nós (SAWAYA), autorizam para os nossos animais a classificação dc RranchioStotMd cariberum Sundevaíl 1855. Nesta simples nota apenas preten- demos chamar a atenção sobre a ocor- rência na traía de Santos, local de re- conhecidas vantagens para o estudo da biologia marinha, destes animais uti- líssimos e indispensáveis em todos os laboratórios de Zoologia. Até agora infrutíferos foram os esforços desem- [>enhàdos nesse sentido, durante 3 anos seguidos. Deixamos, de proposito, ccmpleta- metite de lado a discussão da sistemá- tica da especie aqui assinalada, rela tivamente aos resultados mencionados por HUBBS (1922. pg. 7) o qual. tomou para ponto de reparo funda- mental nas suas diagnoses o numero de câmaras radiais das nadadeiras dor- sal (227 a 231) e preanal (33 a 35). Sendo o Br. cariberum uma das maio- res especíes do gênero, bastante difí- cil é a verificação das câmaras radiais das nadadeiras, principalrnente dado ò elevado número dela-. Não obstante, tentou-se a contagem de alguns exem- plares. mas visto os resultados discor- dantes. aguardar-se-á outra oportu- nidade para o confronto deste mate- rial e outro que porventura obtiver, com as conclusões de HUBBS para esta especie. Ainda sob o ponto de vista da sis tematica não seria demais lembrar que KIRKÀLDY (1895. p. 313) dá [rara o cariberum 37-j-5-j-8=;50 como for- mula habitual e comprimento de 40 mm. para 8 exemplares de que dispoz. Tal fórmula não se verificou nenhuma cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 19 3 8 P. Sawaya e }. de P. Carvalho — Ocorr. de Branchiostoma 45 vez nos espedmens aqui observados. HUBBS O. c.) indica 37+12 a 44-Í-9 = 48 a 61 (contagem feita na maioria por ANDREWS, 1853) e •comprimento máximo 51 mm. para o caribanim. Maior acordo com os de taes elementos numéricos dos nossos exemplares se encontra nos apontados oor FRAXZ (1927. p. 482), o qual dá para a Fórmula dos miotomos -35+14-1-9 = 58. havendo na maioria c’e 57 a 60. e sendo o comprimento atè '62 mm. Pela Formula mioòmica e pelo com- poitameiito do lóbo dorsal da nada- 'deira caudal, os nossos exemplares di— tingueni-se Facilmente de Br. elonga- luin, de Br. calHornícnse e de Br. la; i- ceoiahim, os quais segundo .LõX X - BERG (1903) GOLDSCHMIDT (1905. p. 133), PIETSCHM AXX (1933, pg. 114) e outros A A., seriam dos Br., os que ocorrem nas costas oéste e leste das Américas. Xão obstante na mesma ocasião ter- mos colhido abundante material plank- tonico. nem desta vez e nem de ou- tras, nos foi dado veriFicar a presença de larvas de Br. no canal de Santos. Sem duvida, pesquisas futuras pode- rão demonstrar a sua existência nes- ta região. LPDERW ALDT (1. c., p. 11) refere ter encontrado no planl<- ton do canal tle S. Sebastião um aro- fióxo, sem dizer se se tratava de larva on adulto. Os exemplares, co- lhidos por este A. existentes no Mu- seu Paulista, são também Br. cari baum e capturados no canal da Ilha referida, i.é, na praia onde vivem “em bancos de areia, húmidos, um tanto lo dosos, enterrados alguns centímetros tia areia, dc modo a poderem ser apa- nhados com facilidade ás dezenas, me- xendo-se na areia com o facão ou so- mente a mão” (1. C-, p. 15). Os nossos animais permaneceram vivos cm aquarios do lalx>ratorio rio Instituto de Pesca, contendo no fun- do ca. de 5 erns. de areia de espessura e ca. 500 cc. de agua do mar, o que corresponde ás indicações dadas por FRAXZ (1927, pg. 13) para a ma- nutenção rio Br. lauccolaluui no labo- ratorio. Da observação dos animais em tal ambiente, resultou verificar-se que o caribteum se comporta perfeitamente como o lauceolatian quanto aos movi- mentos, em relação ã temperatura da agua. á oxigenação, etc., referidos por este ultimo A. Conservámos os animais sem maiores cuidados uo aquario durante 4 dias. nada havendo que indicasse qualquer anormalidade, seja quanto à irritação, ao modo de locomoção, á nutrição, etc. A agua foi rrocada algnmas vezes, mas nunca are- jada, tendo sido obtida do proprio canal de Santos, onde. dado o movi- mento intenso do porto, é bastante im- pura. 4 dos exemplares foram trans- portados para S. Paulo dentro de um frasco com areia no fundo e cerca de um litro de agua do mar. Dentro dele permaneceram ainda 48 horas, findas as quais foram se tomando cada vez mais opacos, com movimentos grada- tivamente mais fracos e perda sensí- vel da excitabilidade mecânica, tal co- mo acontece com o hnccolatum, vindo a morrer a seguir. E de se notar, no entretanto, que a morte dos nõssos animais não foi precedida do fenóme- no conhecido por “envermelhecimen- to”, como acontece para a especie ulti- ma referida. Alguns especimens mostravam go- nadas bem desenvolvidas em oposição à maioria em que elas apenas ligeira- mente se esboçavam. Confrontando, quanto ao Br. cari- hccuw. os resultados de nossa excur- são com os de LÜDERW ALDT (1. c.) nota-se que. emquanto este A. obteve seus animacs escavando a práia. “habitat” comum de todos os representantes deste genero, nós os co- lhemos por meio de dragagem a cer- ca de 25 ms. de profundidade, por- tanto no litoral bental superior. Alèm cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 46 Boletim Bíologico (Xov. Ser.) Vol. UI. N.° 2 disso. não nos parece sem importân- cia a data da captura, sendo Setem- bro a da Ilha de S. Sebastião, e Abril a da baia de Santos, épocas que cor- respondem a estações bem diferentes quanto aos ventos, temperatura e chuvas. Em resumo, o nosso achado vem indicar que no canal de Santos muito proximo portanto dos centros de es- tudos zoologicos, é possivel obter-se o Br. caribcenni Sundevall, material excelente e indispensável para o en- sino. Sendo uma especie cuja biolo- gia ainda apresenta aspectos inéditos, seria se mduvida recomendável a sua pesquisa, dadas as condições tão favo- ráveis que a baía de Santos apresenta para tais estudos. SUMMARY The authors dredged in bay oí San- tos, in the “channcl" at a depth cí 25 in. severa! speciriiens oí Brc;t- chiostoina caribeciiw. The greatest lengh that has been seen, is 41 mm. the minimum 28 mm. The most com- mon myotome formula is: 37 +.'15 -j- 8 = 60. The authors observed their material in an aquarium where th.e behaviour of Br. caribccum is much likc that of Br. laéiçcolahtm, as recorded by FRAXZ (1927). In the methods of classification used by HUBBS (1922) the authors keep some reservation. becar.se the result- obtained. are somewbat discordant. At a Iater opportunity the authors hope to confront the numbers of the dorsal and pre-anal ray-chambers of their specimens with those published bv Htibbs. LITERATURA: Fraxz, V. 1927 — Morphologie der Akra- nier. Ergeb. d. Anat. u. Entwicklung. 3. Abtg. v. 27. p. 464-692. Idcm. 1927 — Branchiostoma. GRIMPE & WAGLER. E.: Die Tierwelt d. Xord- u. Ostsee. Teil 12b, 64 p. Leioz’g. Got-DScurunT, R. 1903 — Xotiz über Bran- chiostoma elongatum Sundevall. Zool. An/., v. 23. p. 132-133. Henrs, C. L.. 1922 — A List of the Lan- celets of the World with Diagnoses of íive new species of Branchiostoma. Occasional Papers of the Museum of Zoology, Univ. Michigan. n. 103. v. 16. 16 p. Kirkaldy, J. W. 1893 — A Revision of the genera and species of the Bran- chiostomidae. Quart. Journ. Micro. Sei., v. 37, p. 303-323, pi. 34-35. LÕNMirRC. E„ 1903 — Pisces em BROXX’S Klassen u. Ordnttngen des Thier- Reichs, v. 6. I. 161 p. L: ui sw.M.DT. H.. 1929 — Resultados de uma excursão scientifica á Ilha de São Sebastiã r. em 1925. Rev. Mus. Paulis- ta, v. 16, p. 1-80. 3 pl„ S. Paulo. FiKTSCHrrAMX, J. \V„ 1895 — Acranía. KCKEXTHAL-KRUMBACH : Hand. Zool. v. 6. 1. Hãlfte, 2. Liefg. p. 113- 208. Berlin & Leipzig. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1 9 3 8 S. de Toledo Piza — Duas novas Oxyopidas do Brasil 47 Duas novas aranhas oxyopidas do Brasil Por S. DE TOLEDO PIZA JUNIOR (Trabalho da Escola Agrícola, Piracicaba) Fig. 1 - Oxyopes M-fasciatus Palpo do macho Cephalothorax breve-ovatus, sti ia thoracica levi. Oculi medii postici la- teralibus paullo majores et ab illis quam inter se vix remotiores. Oculi laterales antici et medii postici aequa- les, aream parallelam sat longiorem quam latiorem designantes. Oculi íne- dii antici lateralibus plus quam duplo minores. Gypeus verticalis, area ocula- ri vix brevior. Chelae clypeo vix lon- giores. Femur palporum superne pilis spiniformibus 4, quarum 2 minoribus subapicalibus in parem dispositis ; pa- tella in medio seta longa, ad apicem altera majore instructa; tibia quam pa- tella subaeque longa, superne setis 3, inferne apophyse apicali transversa, minute bidentata, intus ampliata, extus attenuata; tarsus cordiformis, apice longe-acuminatus, basi extus tubérculo magno, inferne altero minuto instru- ctus, pilosus. setis nonnullis parvas ar- matus; tibia tarsusque iiitus Ionge- pilosi. Sternum convexiusculum, aeque longum ac Iatum, antice truncatum, pi- lis nonnullis longis alteris tenuissimis intermixtis vestitum. Laminae subpa- rallelae, duplo longiores quam latiores. Labium rectangulare, dimidium lami- narum superans. Abdômen pyriforme. Cephalothorax luteus, fasciis squa- marum nigrarum 4, 2 sat latis utrin- que, 2 angustioribus postice attenua- tis, inter se valde appropinquatis, in medio, litteram M conjunctim desig- nantibus, ornatus. Area oculorum plus minusve colore fasciarum. Basis ocu- lorum nigra. Clypeus area longitudi- nali castaneo-nigra latíssima, versus marginem ampliata, in medio ornatus. Palpi castaneo-nigri, femoribus, patel- lis tibiisque dorsaliter aream longitu- dinalem glabram dilutiorem plus mi- nusve obliquam exhibentibus. Pedes uniformiter dilute lutescentes, spinis castaneo-nigris. Sternum laete luteum, parce nigro-lituratum. Laminae la- biumque, apice excepto, nigra. Chelae omnino fere nigrae, area triangulari magna, luteo-marmorata, antice oma- tae. Abdômen nigrum, ad basin longi- tudinaliter striolatum. Venter dilutior sed vitta longitudina li latíssima, pa- rallela, ornatus. Areae pulmonales lu- teae. Patria — Piracicaba (E. de São Paulo). Leg. — Prof. Jaynie Rocha de Al- meida. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 48 Boletim Biologico (Xov. Ser.) Vol. III. X.° 2 wr Fig. 2 - Peceutia maculipedes Labio e laminas maxillares Cephalothorax pyriformis, antice no multo attenuatus. parte thoracica glabra. sulco breví et profundo, parte cephalica laxe et tenuiter pilosa. area oculari pilis flavis decumbentibus et setis nonnullis longis obtecta. Oculi postici subaequales, plus minusve ae- quidistantes, lineam Ievissime recur- vam designantes. Oculi antici in aream trapezoidalem latiorem quam longio- rem dispositi, inter se drciter aequi- distantes sed medii quam laterales quadruplo minores. Oculi laterales antici oculis posticis multo majores. Oculi medii postici et laterales antici aream trapezoidalem longiorem quam latiorem formantes. Gypeus verticalis. area oculari paullo longior, setis 3 in triangulum dispositis. Chelae longae. clypeo duplo fere longiores, seta longa ad trientem basalem prope marginem internum instructae. Sternum vix lon- gius quam latius. antice truncatum. postice rotundatum. parcissime pilo- sum. I abium paullo longius quam Ia- tius, in medio angulatim ampliatum. apice excavatum. dimidium laminarum paullo superans. Laminae convergen- tes. apice* obliqúe truncatae. Pedes Iongi, non multo pilosí sed valde spi- nulosi. Abdômen elongatum, postice sensim attenuatum. minutissime pilo- sum, lateraliter squamosum. Cephalothorax lutescens, laevis, area ocúlari obscuriore, oculis in maculi? nigris positis. Margo clypei extremi- tatibus nigris. Sternum. laminae che- laeque. colore cephalothoracis. Labium brunneum. Pedes diluti, spinis fulvís in maculis brunneis interdum con- fluentibus implantatis, tarsis castaneis. Aíxlomen utrinque ocraceum. super et sublus vfitarn latam longitudinalem haud squamosam. cineream, in medio exhibens. Mamillae inferiores dense castaneae. Patria — Piracicaba (E. de São Paulo). 1 9 3 8 Frederico Lane - Uma nova especie do genero Macropophora 49 Uma nova especie do genero Macropophora. Thomson, 1864 (Col. Lamiidae) por FREDERICO LANE (Trab. do Museu Paulista) O genero Macropophora Thomson. hoffnianni e. posteriormente (1921). 1864 (1), juntamente com Acrocinus como lateralis por Melzer ; o segundo 11!., 1806 (2), constituem a subfami- foi determniado por Melzer como hof- lia Acrocininae, caracterisada por fmanni, mas concorda perfeitameme Thomson (3) pela seguinte diagnose: com o primeiro exemplar e ambos cor- “ Antennas distantes. Pernas an- respondem bem á diagnose de Lacor- teriores muito alongadas : acctalmlos daire. ao passo que divergem mais da anteriores íntegros, exteriormente an- diagnose de Thomson para hof fmanni. gulosos; femures não clavados”. As duas especies em questão devem Acrocinus é monotypico e representa- ser. no entanto, bastante affins. A do pelo notável lamiideo Acrocinus M. trochlcaris (L., 1758) restringe-se ionghnanus (L. 1758). Macropopho- á Guyana e á região Amazônica e del- ra continha até o presente quatro es- la existe farta bibliographia e figu- pecies. Por demais conhecida é a ração. Macropophora acccntifer (01., 1795) Passo a descrever mais uma espe- < 4), broca vulgar da laranjeira, com cie do Amazonas, que parece reunir unia distribuição geographica que caracteres que justificam a sua des- abrange os seguintes estados da cripção como nova. Lnião: Bahia. Espirito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo. Paraná, Santa la de procedência mas provavelmente lambem de São Paulo. O primeiro Macropophora worontsom, sp. n. Catharina e provavelmente outros mais. De todas as especies do ge- nero é a unica que possue a biolo- gia (5) estudada, alem de fartas re- ferencias na litteratura entomologico- agricola brasileira. M. hoffmanni (Thomson, 1860) (6) é apenas ci- tada como do Brasil e delia não exis- te outra referencia alem da diagnose original. E’ a unica das especies não Paulista. De M. lateralis Lacord., i 872, também só existe a nota dia- gnostica de Lacordaire (7) com a ci- tação usual de localidade "Brasília . ( t Museu Paulista possue desta espe- C| e dois exemplares, um do Estado de Sao Paulo e outro da Ex-Collecção 'd- Navarro de Andrade, sem etique- 01 determinado por Gounelle como (Fig. I.) 50 Boletim Biologico (Xov. Ser.) Vol. III, N.° 2 9 Negra, revestida de curta e den- sa pubescencia cinzenta, variada aqui e ali por desenhos negros ou ama- rellos. Cabeça globosa, fronte relativamen- te larga, deprimida entre os tubércu- los das antennas, entre os lobos su- periores dos olhos com uma carena raza, curta e lisa; com um sulco fino longitudinal do clypeo ao vertice, este volumoso; as genas em parte lisas, assim como a região prethoracica do vertice. A pubescencia esparsa e cur- ta, griseo-amarella, com excepção de duas manchas irregulares negras no vertice, uma de cada lado, atraz dos olhos. Mandibulas muito curtas, ne- gras, com uma excavação triangular latero-basal, os ápices chanfrados. Palpos rufescentes; os maxillares com os artículos apical e basal sub-eguaes em comprimento, o 2.° menos da me- tade do comprimento ctequelles; os la- biaes com os artículos apical e o an- terior sub-eguaes. Olhos volumosos, grossamente gra- nulados, o bordo posterior levemente sinuoso, quasi direito, o anterior pro- fundamente sinuoso; os lobos inferio- res arredondados, dirigidos para a fronte, quasi unidos em baixo á mar- gem clypeal, os superiores menores e approximados no vertice. Antennas longas, 2 vezes o compri- mento do corpo, finamente pontuadas ; o escapo robusto, relativamente curto, com pubescencia griseo-flava e infe- riormente munido de uma serie de cerdas Iongas*que se extendem á ba- se do 7.° articulo; artículos 3-11 lon- gos, cylindricos, o 3.° com o dobro do comprimento do escapo, 4-5-6 e 7 gra- rluahnente curtos, 7-1 1 subeguaes ; arts. 3-4 com pubescencia griseo-fla- va excepto um annel apical negro, que augmenta nos artículos seguintes até ser quasi geral nos últimos tres. Prothorax curto, o bordo anterior e o posterior levemente elevados, ca- da qual com uma serie transversal de pontos grossos escavados ; os bordos lateraes com um processo mammilar de ponta curta e aguda; o pronoto sub-inerme, com uma elevação central e mais duas antero-lateraes, uma de cada lado, e próximas ao tubérculo agudo que se encontra de cada lado do pronoto; perto da base com mais duas elevações razas, quasi obsoletas ; as elevações anteriores e posteriores, incluindo os tubérculos agudos do pro- noto, estão dispostas de cada lado em semi-circulo espesso como em tro- chlearis. A pubescencia griseo-fulva. Escutello largo na base, o apice agudo-arredondado, a pubescencia grisea. Os elytros na base mais largos que o prothorax e com quatro vezes o seu comprimento, estreitados para os ápi- ces, estes lunulados, e extemameme agudos. A base um pouco elevada, munida de algumas series de tubércu- los lisos com pontos impressos corres- pondentes e contíguos ; no 2.° quarto dos elytros, de cada lado, com uma região levemente côncava, onde os tu- bérculos se tornam quasi obsoletos, de disposição irregular e mais espaçados, os pontos impressos, porem, nítidos. No terceiro quarto existe também, de cada lado. uma região côncava mais raza, menor e mais próxima á sutura e munida apenas com uma ou outra pontuação imprecisa; junto á sutura e perto dos ápices com dois pontos impressos de cada lado. Os humeros salientes ; Iateralmente com series mui- to unidas de tubérculos e impressões fundas que alcançam a metade dos elytros. A base dos elytros de um cin- zento-claro com algumas manchas im- precisas longitudinaes amarellas; as exavações dorsaes de um cinzento mais carregado, os desenhos das se- gundas excavações prolongando-se em faixa, junto á sutura e em direcção aos ápices dos elytros; lateralmente, abaixo dos humeros e até ao meio uma mancha negra, larga, que borde- ja também a faixa basal clara e os contornos inferiores das primeiras ex- cavações. ahi imprecisamente ç sem attingir a sutura; ainda lateralmente. 1 9 3 8 Frderico Lane — Uma nova especie do genero Macropophora 51 no meio dos elytros uma mancha ir- regular cinzento-clara ligada por es- treita faixa á mancha apical ; acima da faixa estreita urna mancha negra que sc extende bordejando os contornos das segundas exeavações ; a mancha apical clara com duas faixas irregula- res obliquas, uma de cada lado, do canto suturai á margem externa dos elytros. Processo prostema! com os bordos elevados em carena; o mesosternal plano, mais largo: o processo inter- coxal posterior agudo. Metasterno vo- lumoso, com uma linha mediana lon- gitudinal glabra; os epistemos meta- thoracicos estreitos. Externo e ab- dômen revestidos de pubescencia gri- sea. Pernas longas, lineares, as coxas dianteiras e medias globosas e salien- tes : a pubesccncia griseo-amardla. os ápices das tíbias e os tarsos negros, as sói as rufescentes. Comprimento 28 mm.; largura hu- meral 10 mnu Holotypo 9 na collecção do Mu- - ? eu Paulista sob o numero 22.921. Lccalidadc-typo : Amazonas. Rio Paruary, collcccionado em Março de Í937 j>elo Sr. Ce :ar \Y' rontzow, a quem tenho o grande prazer de dedi- car a cspecie. Discussão taxononiica : Próxima de Macropophora troehlearis (L., 1758), da qual se distingue principal- mente pela forma mais arredondada dos lobos inferiores dos olhos e pela sua proximidade á margem clypeal : pelo escapo das antennas, mais curto e encorpado; pela coloração, desenhos e pontuação dos elytros, etc. ABSTRACT The author clescribes a new species oi Macropophora from the Amazon Valley. to which he proposes tbe r.a- me worontcozvi. Fig. 1 — Macropophora woronlsowi. ( 1 ) Thomson, Syst. Ceramb., 1861, p. 15. ( 2 ) 111. Magz. Insectenk. V, 1806, p. 247. (3) Thomson, Classif. Ceramb. 1860, pp. 27 e 28. (4) Olivier, Ent. IV, n.° 66, 1795, r . 8, pl. 4. fig. 16. (5) C. Moreira, Ann. Soc. Ent. France, vol. 82. 1913, p. 745, pis. II e III. (6) Thomson, Classif. Ceramb., 1860. p. 28. ‘ (7) Lacordaire, Gen. Col. IX, 1872, p. 735, nota 2. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 52 Boletim Bioíogíco (Xov. Ser.) Vol. III. X.° 2 Macrobiotus evelinae, uma nova especie dos Tardigrados por ROSINA DE BARROS «Itirva monitora de Zoologia (Trabalho do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo: ProF. Dr. E. Marcas) Xo decurso das minhas pesquisa-:, iniciadas sobre os Tardigrados brasi- leiros especíalmente aqueles de São Paulo, tive ocasião de observar di- versos exemplares de uma especie, que deve ser considerada como nova, em virtude dos caracteres do ovo e da morfologia do animal adulto. Tomei a liberdade de adotar para essa nova es- pecie o nome da senhora du Bois-Rey- mond Marcus. a quem sou muito gra- ta pelas atenções que me vem dispen- sando no Laboratorio. Macrobiotus evelinae,. spec. nov. O animal adulto (Fig. 1) logo cha- ma a atenção do observador pelo ta- manho relativamente grande, e. tam- bém pela sua viva coloração rosea. Es- ta lhe é dada pelas células de reserva e pelo liquido da cavidade celomatica. Xota-se que a pigmentação é maior nos adultos que em indivíduos jovens. Visinhos ao aparelho bucal estão os pigmentos ocelares, bem pretos e dis- postos na região posterior do cerebro. Pequenas pontuações (poros articula- res) adornam a cutícula, aliás lisa des- te Macrobiotus, são perfeitamente vi- síveis no contorno. Tres aneis formam a abertura bucal, que tem uma posi- ^ 9 3 8 Rosina de Barros S'ão terminaL Levemente recurvado na parte anterior, o tubo bucal apresenta uma largura de 5,4 para 45 de comprimento. Foi aí constatada a pre- sença do porta-bainlia. Com 32,5 (largura) X 39,6 (comprimento a faringe. (Fig. 2 ). grande e oval, con- tem 3 series de 2 pares -uccessivos de macroplacoid.es ou na linguagem abreviada da sistemática dos Tardi- grados 2 macroplacoides. Xão ha mi- croplacoide. Os macroplacoides em Forma de bastonetes são differentes nc tamanho e no contorno. Distingue-se tuna ligeira projeção com aspecto de nó. na parte mediana e interna do l.° placoide. Dimensões destes: l.° ma- croplacoide: 10,8 X 2.7 ; 2.° macro- placoide: 6,3 X 3,2 . Estes algaris- mos indicam que o 2.° macroplacoide tem quasi 2/3 do comprimento do l.°. As apófises são bem desenvolvidas. Nas extremidades não muito curtas, as garras (Fig. 3), bifurcam-se sómente - Macrobiotus Evelinae 53 depois de determinada extensão. Ori- ginam-se então dois ramos; o princi- pal. maior, com uma zona cuticular bastante refringente e duas pontas ac- cessórias ; o ramo secundário, mais curto e sem essas particularidades. A lunula é fechada, havendo logo abaixo um reforçamento cuticular pouco per- ceptivel ; representado no desenho por uma sombra. Mede 436 de comprimento, sendo que 9 (“ms” da literatura) desta extensão corresponde ao comprimento da faringe; 33 ao das garras; 13% (“cph” da literatura) da maior dimensão ou longura da faringe ao diâmetro do tubo bucal ; 81 % á lar- gura da mesma; 27% e 15%, respe- ctivamente, ao comprimento dos l.° e 2.° placoide, e 6%-8%, respectiva- mente, á largura do l.° e 2.° pla- coide. Os ovos são grandes (Fig. 4), cas- tanho-avermelhados ; possuem espi- 54 Boletim Bíologico (Xov. Ser .) Vol. III, N\° 2 ulips nem sempre erectos. Entre os espinhos, distribuem-se na superfície do ovo. desordenadamente, granula- ções bem irregulares na forma. O com- primento dos espinhos varia entre 10,8 — 12.6 — 16,2 — 19.8 . Xum mesmo plano ótico observei apenas 23 deles; isto mostra, que o seu numero é bem limitado. A cada interstício en- tre duas saliências cabem 3 a 5 gra- nulações. Forma do ovo redonda com 86.4 de diâmetro. Localidade: Capivarí (Campos de Jordão — sitio do Homem Morto) — Estado de São Paulo — Musgos de arvores trazidos por gentileza da Snrta. Juanita Fortlage, do Departa- mento de Zoologia. M. Iiiifelaiidii forma rcccns Cuén ( Marcus 1936, p. 198) distingue-se de M. cvdinac, por possuir saliências ovulares mais numerosas e de outra forma. Quanto ao M. hiifctandii S. Schultze (Marcus 1936, p, l94), ain- da mais nitida é a sua separação pelo typo bem diverso tios ovos, e. em se- gundo lugar^pela presença do micro- placoide. . - ' ABSTRACT. 6 pX The author desenhes a new Tardi- grade, Macrobiotus cvclinac, dedicated to Mrs. Eveline du Bois-Reymond 'vtaj. H Ar Marcus and found ih Campos do Jor- dão, State of S. Paulo, Brazil. The animais are pink. especially the adult ones ; the two rods of the pharvnx are of different length, and the tirst is provided with a projection on the inner side. The most important cha- racter of the new species is furnished hy the spherical egg. that is covered by rather fewr" slender tapering pro- cesses and irregular granulations between them. BIBLtOGRAPHIA Marcus, Ernst, 1936 — Tardigrada: 66. fase. Das Tierreich (Preuss. Akad. Wissensch. ) 340 1 p., 306 fig. Berlin & Leipzig (Walter de Gruyter & Co.). X. ; S à t \ EXPLICAÇÃO DAS GRAVURAS: Flg. 1) — Macrobiotus eielinpe, spec. nov. femea adulta, face ventral. Flg. 2) — Faringe do Macrobiotus eve- linae, spec. nov. Fig. 3) — Garras da 4. a pata direita de Macrobiotus evt linae, spec. nov. ; face ventral. Fig. 4) — Ovo de Macrobiotus evelinae; a: vista geral; b: saliências e escul- tura da casca ovular. 19 3 8 O. Pinto — Raças cie Ramphasloi Monilis 55 Contribuição ao conhecimento das reiaç geographicas das raças de RcWiphaStOS monilis Müller (1) por OLIVERIO UNTO (Trab. do Museu Paulista O estudo do volumoso material de tucanos pertencentes d colleção ama- zônica de A. Olalla conduziu-me a investigar a questão das varie- dades geographicas de Ramphastos monilis Müller, suggerindo ao mesmo conclusões que merecem relatadas. Quando encarados á luz de exem- plares typicos, R. monilis Müll. e R. cuvieri Wagler são perfeitamente in- confundíveis. graças á difíerença cho- cante no colorido do bico. vermelho sanguinco no primeiro e negro retinto no ul.imo. Tão bem destacados se apresentam, que nenhum dos velhos observadores parece ter suspeitado de seu estreito parentesco, pelo que foi sempre dispensado qualquer confron- to entre ambos. Entretanto, não tar- dou que os progressos da exploração ornithologica viessem a fornecer, oriundos de zonas*" intermedias, exem- plares em que se misturam, em grão variavel, os caracteres d'aquellas duas formas, de modo a embaraçar seria- mente a acção do systematista. que ve- rifica serem ambas apenas raças de uma mesma especie. Deve ter sido E. Hartert (2) o pri- meiro a reconhecer explicitamente o fa- cto, tratando-se trinominalmente, á ma- (1 ) Em virtude da extraordinária demo- ra que chegam actualmente as publicações ex- trangeiras. só n estes dias, estando as linhas acima a caminho de impressão, pude travar conhecimento com o trabalho de Griscom & Greenway (Buli. Mus. Comp. Zool. vol. LXXXI), sobre as relações das formas de monilis. Xão era possível utilizal-as. Pois, no presente trabalho, cujas c< nelusões. como se verá, mais de uma vez entram em sensivel discordância com as daquelles au- tores. neira que cabe ás variedades geogra- phicas. Foi porém Zimrner quem en- carou a matéria mais directamente, ad- duzindo-lhe substanciosas observações e tecendo sobre ella instruetivos com- mentarios. ( 1 ) A umas e outros cor- robora eloquentemente o estudo do ma- terial que presentemente tenho em mãos, pi Ovavelmente mais variado e mais rico do que o que foi dado exa- minar áquelles dous observadores. De modo geral, e no que toca pelo menos ao colorido do bico, é permiti i- do dizer-se que os caracteres de monilis gradativamente se apagam á medida que se sobe a bacia amazônica, acaban- do iinalmente por cederem o logar aos de cuvieri, forma mais Occidental, cujas lindes attingem a vertente oriental da cordilheira andina. Xão ha porém parallelismo entre o domínio geographico de ambos n’um e no outro lado do Rio Amazonas, por- quanto o primeiro na margem septen- trional se extende muito mais para o oceidente do que na margem direita, como o attestam os exemplares de Olalla. E' assim que no norte, oito exem- plares da região de Itacoatiara (sete 9 ? de Itacoatiara, Lago do Serpa, Rio Atabany, Igarapé Ambá e um $ de Silves) coincidem exactamente em ter o bico de colorido vermelho san- guíneo, com mescla variavel de preto, emquanto que no sul, já no Rio Tapa- józ, as aves assumem feição nitida- mente diversa, escasseando quase in- teiramente exemplos comparáveis aos (2) Cf. Novit. Zooi., XXXII. p. 145-4 (1925). (1) Cf. Field Mus. Kai. Hisl., Zool Scr. XVII, p. 505 (1950) 56 Boletim Biologico (Xoy. Ser.) Voi. III. X.° 2 de Itacoatiara (na presente collecção apenas um S de Bom Jardim suppor- ta confronto com elles), e occorrendo. ao contrario, mesmo na margem di- reita, indivíduos que se não hesitaria em determinar como cuvieri, não fos- sem considerações de ordem geogra- phica. Um g de Piquiatuba (Junho 28. 1936 1 e uma 2 de Caxiricatuba (Julho 5, 1935), localidades ambas da margem oriental do Tapajóz, pos- suem bico perfeitamente preto, com vestigio apenas perceptível de mancha avermelhada na base da maxilla, par- ticularidade que é sabido apresentar- se frequentemente nos exemplos mais typicos de R. cuvieri, a ponto de ter servido de base á separação de uma supposta raça, sob o nome de R. inca Gould (1). A este proposito é util referir a presença da dita mancha na maxilla de uma 2 adulta do alto Rio Juruá (X.° 3463 do Museu Paulis- ta) (2), mais distincta até do que nos exemplares do Rio Tapajóz, acima mencionados. De Caxiricatuba exis- tem oito exemplares adultos, de am- bos os sexos, em que todas as gra- dações se observam no tocante á pre- sença de tons vermelhos no preto do bico, e entre duas 2 de Santarém, colleccionadas em setembro de 1920 por Garbe. uma tem o bico quase uni- fonnemente preto emquanto a outra tem-no decididamente mais claro na base, cuja tonalidade parece tendente antes ao alaranjado do que ao ver- melho. (1) RAMPHÂST OS INCA Gould. 1846, Proc. Zool Soc. London, XIV. p. 68: Chitnorê (Bolivia). (2) O Museu Paulista possúe ainda, da mesma procedência, tres g g e uma 2 , perfeitamente caracterizados. Um casal do Rio Arapiuns (Pará), que não pude localizar pelos mappas, apresenta manchas vermelhas na ma- xilla superior e têm perfeitos simila- res entre os de Caxiricatuba. Tem o bico intensa e uniformemen- te preto, filiando-se sem duvida possí- vel a cuvieri, os 7 g á e 2 2 2 da magnifica serie de exemplares adultos colleccionados por A. Olalla no Lago do Baptista, região situada ao oeste do Tapajóz e a leste do baixo Madei- ra, onde era de suppor-se a presença da raça, em face dos exemplares col- leccionados na zona por Xatterer e por Hoífmanns (1). Um S de Manacapurú (X.° 16829), do Museu Paulista, já foi por mim determinado como cuvieri, acto que deixam inabalado a lição contida nas series agora estudadas. Mais importantes do que os repa- ros acima alinhados são os que terei a fazer sobre uma pequena serie de exemplares do leste paraense, região a que a litteratura ornithologica habi- tuou-se a conhecer pelo nome de “Dis- tricto do Pará”. Procedem elles de logares proximos de Belém (Utinga. Murutucú) e foram adquiridos ao proprio colleccionador, o Snr. Fran- cisco de Queiroz Lima. antigo pre- parador do Museu Goeldi. Postos em confronto com as aves de Itacoatiara. elles differem ao primeiro lance de olhos pela côr do bico, muito mais claro do que n’aquelles antes alaran- jados do que vermelhos, com o preto restringido quase que tão somente á faixa ante-basal e aos bordos das ma- xillas. Taes caracteres correspondem prccisamente aos descriptos por Har- tert nas aves da Guiana Ingleza, que (1) Cf. Xo viu Zool, XVII, p. 396. 19 3 8 O. Pinto — Raças de Ramphastos Monilis 57 por isso foi separada sob o nome d; R. awrantiirpstris Hartert (1). Que não são fructo do tempo de conserva- ção prova-o um S adulto de Utinga. a respeito da côr de cujo bico, “encar- nado e amarellado”, o colleccionado, teve a feliz lembrança de nos minis- trar informações exactas. Dir-se-ia que a raça guianense, extendendo-se em longitude mais oriental que a for- ma tvpica. passaria a substituil-a no trecho mais baixo da bacia amazônica, extendendo-se também á região que lhe fica adjacente, a leste do Pará. Oppõe-se. entretanto, desde logo a esta conclusão o que nos informa Hellmayr sobre os exemplares caça- dos na mesma zona ( Igarapé- Assú) por Robert. os quaes, segundo as ex- pressões d'aquelle omithologo (2). concordavam com o typo de R. hac- materhyvchus Berl. & Hartert (3) do Rio Caura. em ter o bico de côr vermelha sanguinea carregada, o que vale pelo seu arrolamento sob a for- ma tvpica de R. monilis, uma vez ve- rificado que as aves da Guyana Fran- ceza apresentam o mesmo caracter, pas- sando o nome proposto para as aves da Venezuela á synonymia do da ave descripta por Müller. Ha no Museu Paulista um exem- plar de Robert, uriundo provavelmen- te de Igara])é-Assú (4). do mesmo lo- (1) Typo do Rio Esscquibo. col. por Ten- nant. Cf. NOVJT ZOOL., XXXII. p. 143-4 (1925). (2) Cf. Hcllmavr, NOVIT ZOOL., XII, p. 299 (1905). *3) Berlepsch & tlARTRT , NOVIT. ZOOL.. IX. p. 99 (1902). (4) Este nome não é bem legível no ro- tulo, mas parece confirmado pela coin- cidência da data de collecta (18-I\ -904 ) com a de permanência do collector no mencionado logar. te, portanto, dos estudados por Hel- lmayr; mas nada ouso inferir de seu exame, visto como a côr amarelladn do bico. em que domina mos tons es- curos, parece grandemente alterada pela antiguidade da peça. Em condi- ções analogas reputo uma $ de Mai- ritiba, caçada a 14 de Dezembro de 1907, cujo registro é aliás assaz in- teressante, em addicção ao aseada essencialmente na differença de colorido geral da plumagem, é hoje reconhecida por todos os autores, ou- tro tanto não acontece com P. c. *1) Ci. Proc. Biol. Soc. Wash-, XLV, p. 213 (1932). grayi, cujo unico caracter residiria verdadeiramente na configuração es- pecial da barbella. E’ verdade que durante muito tem- po a escassez de material entravou o progresso de nossos conhecimentos so- bre o assumpto, pcuco tendo podido adeantar os trabalhos de Salvado- ri (1). de Xaumburg (2) e Laub- mann (3 ) : mas já agora me parece possível tirar a seu respeito alguma - conclusões, utilizando os informe.- prestados pela litteratura, de par com os novos elementos objectivos de ob- servação. Contra a significação racial de grayi, o que equivale a dizer contra a sua validez, insurge-se terminante- mente o argumento geographico. que em qualquer hipothese não se con- forma com o velho eschema, abundan- do exemplos da coexistência, na mes- ma região, de aves com barbella arre- dondada ou delgada e pendente ( 1 ) . Exemplares de barbella larga e ar- redondada. com a forma typica da de nattcreri são frequentes no Rio Para- guay ; Mrss. E. Xaumburg cita um de Carandázinho, referido por Salvadori e descreve ella própria outro de Des- calvados (perto de Corumbá). O Museu Paulista, por sua vez, possú- de São Luiz de Caceres um S adulto (N.° 10.123), perfeitamente caracte- rizado. Por outro lado, o lóbo guiar pen- dulino é longe de ser privilegio de ave- da parte Occidental ; elle se encontra ameúde caracteristicamente presente (1) Cf. Rev. Ital. Orn.. III. pgs. 51-53 (1903). (2) Cf. Buli. Amer. Mus. Xat. Hist., LX, pgs. 64-5 (1930). (3) Cf. Wissens. Ergel.n. dets. Gran Cha- co-Expedit.. Voegel, p. 83 (1930). (1) D'eles seria o primeiro o proprio exemplar typico de grayi, cuja proce- dência. " Perú”, impugnada ontrora por Hellmayr, nada indica positivamen- te como errônea. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 I ) 3 g O. Pinto — Sobre as jacutingas de Matto Grosso CO em especimens oriundos da area cu- tróra attribuida privativamente ás aves de barbella arredondada. Pro- va-o a serie que possue o Museu Pau- lista da zona de Coxim, na qual, ao lado de quatro exemplares com bar- bella deste ultimo typo, existem dois em que o dito appendice é filiado ao primeiro, a saber um 2 (N.° 12.352) do Rio Piquiry e uma 9 de Coxim. Deante destes factos foi formu- lada a hypothese, annuida por Pe- ters (1), de representarem nattere- ri e (jrayi respectivamente o 2 e a 9 de uma mesma especie. Tal opinião entra todavia em conflicto com as informações dos autores, bastando mencionar que, dos exemplares attri- buidos pelo proprio Hellmayr (op. cit., p. 98) a grayi, dois são machos adultos e apenas um é femea. Macho é também o exemplar de grayi re- ferido por Laubmann, emquanto, por outro lado, é uma femea o especimem de Descalvados, noticiado por Xaum- burg. Mais eloquente ainda é, sobre o particular, a collecção do Museu Paulista, em que, a j'ulgar pela forma ( 1 ) Cf. Check-list of the Birds of the World, I T, p. 23, nota margin. (1934). da barbella, Iraveria cinco machos e uma femea de nattercri ao lado de um macho e uma" femea da grayi. Deante d’estes factos, no Catalogo de Aves do Brasil que tenho em cur- so de impressão, cheguei a tratar *iat- tcrcri e grayi como especies autôno- mas, ponto de -vasta que, deante dos novos exemplares que a recente excur- são a Matto-Grosso me poz deante dos olhes, me sinto disposto hoj'e a abandonar, concluindo pela nenhuma significação taxinomica da configura- ção do lóbo cutâneo da garganta. So • bre a interpretação que realmente me- recem as suas duas formas particu- lares que se suppunham característi- cas respectivamente de nattereri e de grayi faltam-me entretanto dados pa- ra decidir; é porém plausivel tradu- zam épocas no desenvolvimento indi- vidual das aves, tanto mais quanto não é raro encontrarem-se exemplos em que assumem aspecto intermediá- rio aos dous typos extremos, como suggerirá o exame das figuras cons- tantes da estampa annexa. Note-se ainda que no animal vivo, ou nas pel- les frescas, a barbella se apresenta sem- pre mais larga e ampla do que nas que experimentaram o retrahimento pela desecação. São Paulo, Março de 1938. •*» 62 Boletim Biologico (Nov. Ser.) Vol. III, N.° 2 Indicações sobre a orientação do Beija-Flor ( Agyrtrina sp .) e do Mergulhão ( Sula leocogaster Bodd) em relação ao ninho Notas de PAULO SAWAYA Livre-docente e «listente-cientiíico de Zoologia. (Trabalho do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo) ProL D». E. MARCUS Durante uma rapida estadia, em Sto. Amaro, em Janeiro deste ano, nos arredores desta Capital, á mar- gem da Represa Guarapiranga. me foi possivel observar um Beija-flôr no pe- ríodo da procriação do genero Agyr- trina. um dos que aqui ocorrem mais frequentemente. O animal havia nidi- ficado no terraço da residência. Como sóe acontecer com a maioria das aves desta familia (EULER 1900. pg. 72), o ninho era construído de paina amarelada, com a forma de cadinho, artisticamente enfeitado com pequenas folhas de samambaia e de compostas. Apresentava as seguintes medidas : comprimento total = 6 cms. ; diâmetro superior externo = 5 cms. ; diâmetro superior interno = 4,5 cms. ; fundo : 2 cms. ; espessura da parede = 0.5 cms. Prendia-se á haste de uma roseira ( Rosa canina) sómente por um dos ângulos, encostando-se á mesma por uma das faces longitudí- nalmente escavada por um sulco, gra- ças ao qual a adêrencía se tornava mais intima, dando assim maior esta- bilidade. A concha era circumdada por uma orla voltada para fóra, uma verdadeira pequena cornija, e ocupada por um unico filhote provido de re- miges e retrizes desenvolvidas e de olhos já abertos. A sua posição no ninho, com o peito voltado para a has- te e a cauda em sentido contrario ul- trapassando de cerca 1 cm. a orla re- ferida. permitia ao filhote expulsar os excrementos, o que fazia com relativa frequência. De fato, a cada 15 minu- tos o animalsínho ejaculava algumas go.as esbranquiçadas viscosas, que vi- nham cair no sólo do terraço, não ti- rando assim pela sua retenção, a re- conhecida elegancia da pequena e ar- tística habitação. O diminuto Beija flôr muito raramente fazia movimen- tos com a cabeça e com o bico. Duran- te um período de 4 horas em que foi possivel observá-lo, apenas duas vezes emitiu um pio bastante fraco. Na posição em que me achava, a cerca de 2 ms. de distancia do mesmo, pude verificar o comportamento da femea ocupada em cuidar do filhote,, e são cs resultado? desta minha obser- vação que pretendo resumir na pre- sente nota. Como é comum nas Trocliilidae.. (STRESEMANX 1934, p. 838) a construcção do ninho e o cuidado da prole são atinentes exclusivamente á femea. Vinha ela alimentar o filho de- pois de visitar as flores dos arredores, e o fazia introduzindo o bico profun- damente até o estomago. repetidas ve- zes. tal como é habito destas Aves (STRESEMANX, 1. c. p. 310). Pre- sentia-se a chegada da ave pelo seu “tirr-tirr-tírr" característico. Resolvi mudar a posição do ninho- afim de verificar a capacidade de orientação do animal. Coloquei-o, jun- tamente, com o filhote, a 20 cms. de distancia, á esquerda da posição nor- mal. A femea, voltando dentro de 45 minutos, dirigiu-se prímèiramente ao logar primitivo e depois bastante ex- citada, pelo que pude depreender dos seus movimentos mais agitados, foi en- contrar logo o filhote no novo local. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1 9 3 8 E. Marcus — Indic. sobre a orientação do Beija-flòr dando-lhe alimen.o. Repetida a des- locação uma segunda vez, a 40 cnis. de distancia para cima da primeira po- sicão. quasi junto ao teto do terraço, e mais uma terceira para a direita, a cerca de 60 cms. do logar habitual, vi que a femea sempre chegava dirigin- do-se primeiramente a este ultimo e depois, com lances rápidos do vôo para um e outro lado, até achar o filhote nos novos lugares, introduzindo-lhe alimento no bico largamente aberto. Xesse percurso entre o local antigo do ninho c as novas posições, o animal dava signaes nitidos de inquietação. A demora junto do pequeno Beija- flòi neste caso, era muito menor que das outras vezes quando ainda ne- nhuma alteração topográfica havia sido feita. Sem duvida, a presença de pessoa no terraço e as modificações introduzidas na posição do ninho vie- ram perturbar o animal no seu ritmo regular de vida. Tentando demons- trar. embora muito esquematicamente taes movimentos do animal, tracei o grafico anexo (Fig. 2), no qual A corresponde á situação normal do ni- nho, B, C e D ás localidades a 20. 40 e 60 cms. desta. Com o traço em zig- zag pretendi indicar a trajectoria do vôo do animal á procura do ninho. Um outro ponto que também mere- ceu a minha atenção foi o dos inter- valos em que o filhote recebia o ali mento. Xeste particular, foi possivel comparar o comportamento do Beija- flôr com o de um casal de Tico-ticos ( Zonotrichia capcnsis Müll.) que ha- via nidificado no beiral do mesmo ter- raço, um pouco mais para cima. con- tendo o seu ninho quatro filhotes já bastante crescidos. A comparação é tanto mais interessante quando se leva em conta, como é sabido, que as Tro- chilidac, como as Frmgillidae são ni- dicolas e os filhos pareciam ter sidc incubados quasi na mesma epoca. As Zonotrichia não se afastavam muito do ninho; pelo que pude observar o má- ximo que distanciavam era de cerca de 50 m. De 15 em 15 minutos ora o macho, ora a femea. vinham ter junto delles trazendo-lhes alimentação, ao passo que a Agyr trina, muito ao contrario, num espaço de quatro ho- ras veio ao ninho sómente tres vezes e durante a ausência não era visive! nas proximidades. Ainda comparativa- mente, seria de lembrar-se que o ninho N Fig. 2 - Grafico da topografia do ninho-A, posição normal; B,C,D-novas posições a 20,40 e 60 cms. da la. As Mexas indicam a direção pela qual a femea abandonava o ninho. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 L I Boletim Biologico (Xov. Ser.) Vol. III, X.° 2 cio Tico-tico tinha a forma de tigela, era construído de galhos de arbustos vários, ficando os filhotes completa- mente dentro dele de modo que. como verifiquei depois, os excrementos eram ali retidos, o que atraia uma certa quantidade de moscas. Sabe-se que algumas aves perdem completamente a orientação quanto á posição do ninho, uma vez este deslo- cado do seu logar normal. Pessoal- mente pude verificar este fáto em re- lação á Sula Icucogaster Bodd. duran- te a minha passagem pela Ilha do Fa- rol (grupo dos Alcatrazes a ca. de 20 milhas ao norte de Santos), em Xo- vembro de 1936. Xaqueia época os Mergulhões habitantes daquele massi- ço granítico, achavam-se em pleno pe- ríodo de procriação, alguns tendo o ninho já com filhotes e outros sómen- te com ovos. Certifiquei-me nessa oca- sião que a Sula Icucogaster pousava no ninho bastante raso construído de palha de capim com ca. 30 cm. de dia- metro, colocado imediatamente sobre o sólo, cobrindo os ovos com as pal- mouras. o que confirma a asserção de STRESEMANX (1. c. p. 393). A substituição dos ovos por pedras mais ou menos do mesmo tamanho ou a re- tirada deles, em nada alterava o com- portamento do animal em relação aos mesmos. Resolvi afastar o ninho dc sua posição normal, primeiramente a 2 m. depois a 1 e a 1/2 m., e com surpresa averiguei que o animal não mais distinguia o proprio ninho, mas sempre se dirigia para o primitivo lo- cal. Es’a cxperiencia foi realisada ao meio dia, com duas femeas dentre as muitas que nidificavam na ilha. O re- sultado foi sempre o mesmo, i.é as aves não procuravam os seus ninhos no novo lugar, mas continuavam des- cendo sobre o local onde elas presu- mivelmente tinham construído o seu ninho, embora este e os ovos já não mais aí se achassem. Infelizmcnte, por carência de tempo não me foi pos- sível confirmar tais resultados no dia seguinte e experimentar com as Sulns que possuíam filhotes (algumas um, outras dois) e que eram abundante.- na ilha. mas quero cre- que ntste caso o corportamento seria idêntico aos do Beija-flor aqui mencionado, tanto mais quanto, sendo o filhote das Sulidae completamente branco, é por isso mui- to bem distinguível do ninho, do solo e da vegetação circumjacente, bastan- te escuros. Xum ponto, porém, se no- ta ce-ta semelhança de comportamen- to entre a Sula leucogaster e a Agyr- trina. De ha muito se conhece o tem- peramento agressivo das Trochilidae (já mencionado por muitos outros AA. como BUFFOX 1835. p. 248; GOEL- DI 1894. p. 238; HEMPELMAXX & ZUR STRASSEX 1920, p. 348; FOXSECA 1923, p. 778). O mesmo se verifica, pelo menos no tempo da procriação, com a Sula referida. Ao aproximar-se alguém dos filhotes ou dos ovos, o animal procura agredir o intruso emitindo sons com a sua voz rouca característica, e estendendo o pescoço para se defender com o bico. E’ conhecida a sensibilidade das ave; que se alimentam de substancias moles. “ Weichfresser ”, (GROEB- BELS 1925, p. 509). Xidificando lon- ge do solo, as Trochilidae fazem o seu ninho de paina. lã. algodão, etc. e as- sim pro egeni os filhotes com parede espessa, do frio e dos ventos. Além deste fáto, já bem conhecido e que ocorre naturalmente com a Agyrtrina não seria demais lembrar que a zona de Sto. Amaro situada ao sul de S. Paulo é frequentemente batida por ventos. O nosso Beija-flòr soube res- guardar seu ninho deles e também da chuva, construindo-o dentro do átrio do terraço, proximo ao této e abriga- do por uma parede de 50 cms. que descia do telhado. Sobre este ponto, no entretanto, a Zonotrichia já aludi- da, embora nidificando em lugar mais elevado, não teve os mesmos cuida- dos de resguardar a sua prole das in- tempéries, pois o ninho se achava pro- cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1 9 3 8 E. Marcus — Indic. sobre a orientação do Beija-flõr 65 tegido apenas pelo beiral do telhado e por escassos ramos de trepadeira. A proteção dos quatros filhotes, á noi- te. se fazia pelos propries pais que se deitavam sobre eles, abrigando-os sob as asas, emquanto que a Agyrtrina, nessa ocasião, ficava pousada num ga- lho ao lado do ninho e deixando, por- tanto, o filhote completamente desco- berto. Ainda a respeito do ninho de- sejaria lembrar aqui que no exemplar obtido (Fig. 1) da Agyrtrina, os questão debatida entre os ornitologis- tas desde GOULD (1861, p. XXIV). Infelizmente, não pude demorar-mc mais tempo no local para continuar as minhas observações. Apenas tive oportunidade de a ele voltar 5 dias mais tarde. Encontrei vasio o ninho da Agyrtrina. Soube pelo creado da casa, que na manhã daquele dia o pe- quenino Beija-flõr havia abandonado o ninho, passando para um ramo fino de roseira e dali alçando o vôo tão f Ai> v ú} kr Fig. 1 . Agyrtrina sp. femea com o (ilhote no ninho fixo ao gaiho da roseira. (Des. C. Camargo, red. 1/4 t. nat.) adornos exteriores, folhas de Samam- baia e de Compostas se acham fixos pelos proprios fios de paina, os quais se entrelaçam em diversos sentidos por sobre as partes vegetais. A tracção fei- ta sobre uma destas revela que o ema- ranhado dos fios a segura fortemente. Creio que, no caso presente, a fixação não se dá nem por secreção especial do animal e nem por teia de aranha. bem quanto a mãe, sem um adextra- mento prévio. Visitei também o ni- nho do Tico-tico. Os filhotes haviam- no abandonado. Xo fundo da tijela. porém, via-se um deles morto, rodea- do pelos excrementos dos demais, como já foi dito. Nesta nota. o meu objétivo foi de registar o fato da orientação do Bei- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 66 Boletim Biologico (Xov. Ser.) Vol. III, X.° 2 ja-flôr em relação ao ninho com fi- lhote, e os resultados conseguidos com a experiencia se acham de pleno accordo com o apregoado desenvolvi- mento dos sentidos das T rochilidae. Desejaria com estas indicações incen- tivar a todos quantos tenham opor- tunidade e vivam mais em contacto com a natureza, a observação de aves tão interessantes. Ao demais, desde Des MURS (1855, p. 37) até BER- LIOZ (1934, p. 414). com escala por quasi todos os ornitologistas, princi- palmente os que se ocuparam de Bei- ja-flores, inclusive IHERIXG (1900, p. 252), se escreve que ainda muito ha de desconhecido na biologia das T rochilidae. SUMMARY A Humming-bird. gen. Agyrtrina, lias been observed in Sto. Amato, near S. Paulo, in Jan. 1938, with one young. The nest was small, round and cup- diaped. composed of soft vegetable woll and decorated outside with the involu- cres of composite plants and fern leaves, attached round the rim with vegeta- ble wool twist. At the removal of the nest for 20,40 and 60 cm, the Hum- mingbird carne in and always found the nest with the young. During this the bird showed very much excited. Same experiments with nests and eggs of Sida leucogastcr Bodd. from Ilha do Pharol (in Alcatrazes group) was made by the author, ande verified that the Sulidae were unable to find the nest with the eggs in the new places. A couple of Zonotrichia with four young ones were also observed. LITERATURA Beülioz, J.. 1934 — Contribution à 1'Étude biogéographique des Trochilidés du Brésil oriental. L'Oiseau et la Revue Fr. d’Ornith. n. 3. p. 414-424. Paris. Des Mürs, M. O., 1855 — Oiseau. De CASTELXAU F. : Animaux Xou- veaux, etc., 100 p. 20 t. Paris. Euler, C., 1900 — Descripção de ninhos e ovos das Aves do Brasil — Rev. Paul. v. 4, p. 9-148. S. Paulo. Fonseca, J. P., 1923 — Xotas br lcgieas sobre o sahy (Coereha chloropyga) Rev. Mus. Paulista, v. 13, p 777-779. S. Paulo. Gorxm. E. A.. 1894 — As Aves do Brasil. l. a parte, 312 p., Liv. Alves. Rio dc Janeiro. CASTELXAU, F.: Animaux Xou- Gocld. J.. 1861 — A monograph of the T rochilidae. — v. 1, CXXYII, 298 p. London. Groebbels, F.. 1925 — Untersuchungen an Vogelnestem. Journ. f. Ornith. v. 73, Jahrg., p. 505-513. Berlin. Hempelmann. F. & Zur Strassex, O., 1920 — Die Vogei. BREHM’s Tier- leben, v. 3, VIII + 472 p. Leipzig & Wien. Iheri.vg, H. v., 1900 — Catalogo critico- comparativo dos ninhos c ovos das Aves do Brasil. Rev. Mus. Paulista, v. 4, p. 191-317. S. Paulo. Stresemaxn. 1927-1934 — Aves — KÜ- KEXTHAL - KRUMBACH : Handb. d. Zool., v. 7, 2 Haelfte, XI + 899 p. Berlin & Leipzig. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1938 O. Pinto - Breves noções sobre a maneira de preparar e cons. aves 67 EREVES NOÇÕES SOBRE A MANEI RA DE PREPARAR E CONSERVAR AS AVES A frequência com que são pedidos ins- trucções sobre a maneira de preparar e colleccionar aves são a prova de que o as- sumpto vae adquirindo crescente interesse perante os amadores de nossa Natureza em geral e de nossos seres alados em par- ticular. Para satisfazer esta animadora curiosi- dade emprehendi tempos atraz publicar uma serie de artigos de vulgarização a que o de hoje naturalmente se prende, convindo lem- brar ainda uma vez que estas notas repre- sentam apenas o imprescindível na matéria e se limitam a expor a maneira de proce- der adaptada pessoalmente pelo autor. Os leigos, em geral, suppõem que a pre- servação dos especimens deve ser feita a custa de injecções de formalina, em nume- ro e volume proporcionados ao tamanho da peça. Tal processo, pode efíectivamente- .mumifical-os (embalsamal-os, na accepçâo corrente), mas só conduz a resultados de- ploráveis, tanto no aspecto como na dura- bilidade, e só deve ser usado como recurso provisorio, quando o exemplar, por qual- quer circumstancia, não possa ser imme- di atamente preparado. E' entretanto o que poderão fazer os amadores, deante de uma ave abatida no sertão, antes que ella possa ser preparada de modo conveniente, sup- primindo-lhe inteiramente as carnes e trdas as partes molles, de accordo com a technica que abaixo se expõe. Si a acção do f:r- mol se prolonga, porém, por mais de uns poucos dias, a taxidermização do exemplar é praticamente impossível e pode-se tel-o co- mo perdido. Só o frio artificial, este sim. pódc permittir a conservação satisfatória, durante um tempo por assim dizer indefi- nido. Deante de exemplares recem-collectados, antes de se lhes começar a escalpellação é conveniente substituir por um novo e algo- dão que se introduziu na garganta logo após a morte do animal. Também se cos- 50* br Por Oliverio Pinto tuma passar, com agulha fina, uma alça linha atravéz das narinas, operação que de- verá ser feita com cautela para não damni- ficar disposições interessantes, que apresen- tam em determinados casos; ella serve a principio para dependurar a peça ao abri- go das formigas e em bôa posição contra . accumulo de sangue nos vasos do pesccçu (o que acarreta frequentemente hemorrha- gias), depois para conseguir com maior fa- cilidade o desviramento da pelle invertida na escalpellação, e finalmente para com ella amarrar o bico, impedindo que elle venha a se conservar entreaberto ao cabo da prepa ração. Antes de escalpellar deve-se ainda fazer uma primeira toilette da plumagem, reti- rando-lhe as grandes manchas ou empas- tamentos occasionados pela sahida de san- gue ou de liquido atravez dos ferimentos recebidos. Isso se consegue lavando o lo- gar com esponja macia, levemente húmida (embebida em agua e depois bem expre- mida), tendo o cuidado de não attrital-a fortemente, mas sim insistir na operação, até que a mancha ou coalho tenha sido in- teiramente removido. Secca-se immediata • mente o local com gesso calcinado ( gesso de estuque de bôa qualidade), que se re- tirará varrendo-o com um pincel de gros- sura adequada, operação esta que se repe- tirá quantas vezes for necessário para qu. a substancia saia em forma de pó secco deixando as pennas perfeitamente enxut: E' manobra ás vezes trabalhosa e demora- da. mas absolutamente necessária para st terem peças correctas e aproveitáveis. Al guns práticos preferem deixal-a para de- pois de esfolada a pelle. temendo a necessi- dade, não de raro presente, de pratical-a novamente n'esta occasiâo. t A£ Uma vez prompta para escalpellar, a pe- ça é deitada sobre a mesa. deante do opera- dor, com o bico voltado para a sua esquer- da; faz-se-lhe então, com o canivete pro- 68 Boletim Biologico (Xov. Ser.) Vol. III, X.° 2 prio (escalpello ou bisturi), uma incisão desde o alto da barriga até o annus, procu- rando não cortar senão a pelle (para que não saiam as vísceras, difíicultando enor- memente a operação). Com uma pinça, ou mesmo com os dedos, si o porte do animal isso aconselhar, destaca-se do lado direito a pelle até chegar á raiza da coxa; pro- cura-se então a articulação do joelho (or- dinariamente facil de fazer preeminente que será seccionada com ura golpe de te- soura. (1). Fica assim a cõxa presa ao corpo, em- quanto a perna mantem-se presa á pelle e revestida de todos os seus musculos. Estes são removidos com facilidade arregaçando a pelle até o calcanhar (onde ella se pren- de solidamente) e cortando com a tesoura os tendões expostos. Uma vez limpo o osso da perna (tibia) pode ser logo en- rolado em pasta de algodão, em quantida- de bastante para dar a forma e o volume que tinha a perna com os seus musculos. Veste-se então a perna restaurada com a pelle que lhe pertence, previamente envene- nada com algumas pinceladas de sabão ar- senical (vide adeante). Operadores ha que preferem deixar o osso da perna exposto até a pelle ser inteiramente retirada. Faz-se a mesma operação no lado oppos- to e continua-se a destacar a pelle do cor- po, até o annus ; ahi, procedendo com a necessária cautela, torna-se necessário, se- parar a cauda do corpo, sem damnificar a pelle, o que se consegue passando a tesou- ra entre o osso que sustenta a base d'aquelie orgão e o resto da columna vertebral. Ha em todas as aves. no lado superior (dorsal) cia base da cauda uma glandula especial, que secreta o oleo com que o animal lustra e impermeabiliza as suas pennas. E’ necessá- rio sempre estirpal-a a canivete afim de que a gordura n'ella contida não venha ulte- riormente fluir, polluindo a plumagem e inutilizando ás vezes a peça. Xão ha geralmente diííiculdades em es- folar a pelie das costas e do peito (tendo o cuidado de não deixar rasgar-se a inci- são abdominal ) até a raiz das asas, onde se torna necessário certa perícia para des- tacal-a, até tornar visível o ponto em que. com um golpe de tes- ura sobre a articula- ção, o umesmo no osso (que não se deverá deixar estrondar), destacaremos aquelles membros. Uma vez isso feito continua-se a des- tacar a petle, virando-a cada vez mais pelo avesso, até descobrir o pescoço, que ordinariamente é muito facil de esfolar. Ha casos porém ( Surucuás, Pombos), cm que a pelle é ahi. mórmente nas axillas (sovacos), demasiadamente delica- da e ameaça romper-se a cada momento. Ao chegar á cabeça a operação deve conti- nuar-se pelo mesmo processo, até descobrir os canaes dos ouvidos (conductos auditi- v.s externos), onde a pelle deverá ser se- parada no ponto mais fundo que se possa; vêm em seguida os olhos que serão exte- riorizados dissecando cuidadosamente a pel- le com a ponta do bisturi, até que cila lhes fique presa apenas pela membrana fina e transparente (conjunctiva) que vae ao bor do das palpebras, de onde é facil desta- car-se. Os olhos, assim que se descubram, serão, cada um de uma vez, extrahidos, insinuando debaixo d’elles uma pequena espatula, ou mesmo a ponta romba da tesoura, e fazen- do-os saltar fóra, sem se romperem. O con- teúdo do craneo (miolos, na linguagem vul- gar) precisa ser também perfeitamente re- movido; é operação facil quando se faz uma abertura bastante grande na base da cabeça, tirando-lhe uma larga tampa, que poderá in- teressar ao mesmo tempo o céo da bocca. A operação é feita cortando o osso com o ca- nivete, ou senão com a ponta da tesoura Então procura-se retirar da caixa craneana tudo, de uma só vez, o que se consegue pro- curando destacar e puxar com a pinça as membranas (meninges) que protegem a mas- sa nervosa e estão ordinariamente colla- das á parede ossea. Resta ainda despirmos as asas de sua pelle, que vae pouco a pouco ficando pelo avesso e deixando os musculos a des- coberto. Quando se chega á região corres- pondente ao ante-braço e á mão verifica-se que as grandes pennas das asas (remiges) acham-se directamente soldadas, pela sua extremidade, ao osso, do qual é necessário então destacai-as, evitando ao mesmo tempo que sc desprendam da pelle com ésta ope- cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1938 O. Pinto - Brev es noções sobre a maneira de preparar e cons. av es 09 ração (o que ás vezes não se evita intei- ramente, quando as pernias são velhas e a muda se approxima). N'esta operr.,áo prestam enorme serviço as unhas do ope- rador, especialmente as dos pollegares, que agindo como goiva, conseguem fazer o que seria diííicfl e demorado obter com instru- mento. Retiram-se a seguir todas as carnes que forram os ossos, que deverão ficar tão limpos quanto possível. O esíolamento está então praticamente ter- minado tendo o operador a sua pelle comple- tamente virada pelo avesso e a plumagem protegida assim de contactos prejudiciaes. \em sempre é facil e ás vezes mesmo é im- possível despir a cabeça, como foi acima des cripto; ás vezes, como especialmente nos Pi- ca-pãos, a isso se oppõe o pescoço, fino de- mais para deixar a cabeça passar por den- tro d'elle. X’estes casos não ba outro meio senão abrir um pouco a pcile da nuca, fa- zendo-se um corte longitudinal, tão amplo quanto necessário para dissecar e exteriori- zar a cabeça atravez d’elle. E’ operação que se faz depois de desinvertida a pelle e seccio- nado o pescoço ao nivel da nuca; praticada correctamente, cosendo-se depois os bordos com agulha e linha finas, ella não deixa con- sequências visiveis. Antes de virar a pelle recem-csfolada prrt- cede-se ao seu envenenamento, besuntando-a abundantemente (tanto mais quanto maior a peça e mais grosso o tegumento) com sabão arsenical (1) diluido em quantidade não muito grande quantidade de agua, de manei- ra a adquirir a consistência de um leite gros- so. Enche-se cada orbita (cavidade em que fica o olho) com uma pelota de algodão, forram-se os ossos das asas com algodão ou estôpa em quantidade sufficiente e pratica-sc (1) A formula mais commumente usada é ainda a de Bécoeur: Arsênico em pó (acido arsênico) — 32 grs. Potassa (carbonato de potássio) — 12 grs. Agua — 32 grs. Sabão typo Marselha — 32 grs. Cal viva — -1 grs. Camphora — 1 grs. Dissolve-se primeiro o arsênico e a potassa na agua fervente, accrescentando-se depois o sabão, previamente ralado, addiciona-se por fim a cal e a camphora. então a desinversão (viragem pelo lado di- reito ou das pennas), manobra que é quase sempre facil, auxiliando-a grandemente a al- ça de fio passada previamente no bico que deve ser passado com esforço moderado, evi- tando que sua ponta venha ferir a pelle e rorapel-a. A pelle deve ser agora enchida, usando-sc para tal fim algodão de bòa qualidade e es- topa de juta (que é a que encontramos fa- cilmente em S. Paulo). Para solidez da preparação, convém antes dar consistência ao pescoço e ao corpo por meio de uma vareta de madeira, que se fa entrar pelo pescoço e prender solidamente no craneo em attitude apropriada, a mais corre- cta das quaes é aquella em que a ave fica com o bico direito para frente, em continua- ção ao eixo longitudinal do corpo. O modo de prender a vareta no craneo varia, a expe- riencia sendo d’el!e a verdadeira mestra ; o melhor mas não o mais rápido, é enrolar sua ponta em um pouco de estôpa. de modo a fazer uma pelota resistente, a qual, afeiçoa- da de modo conveniente, irá adaptar-se fir- memente á cavidade do craneo. A vareta, que será bastante longa para chegar até as proximidades do anus, não deve ser entre- tanto tão comprida que faça esticar o pesco- ço; é até preferível que este peeque antes por encolhido do que por espichado. Xas aves de pescoço muito longo, como garças ou cysnes, é de vantagem proceder de modo diverso, evitando a vareta e usando, em logar d 'ella, de uma espessa torcida de algodão ou estôpa, que garantirá resistência áquella parte do corpo, conservando-a po- rém flexivel. Pratica-se então o enchimento, começando pela garganta e pelo pescoço, onde se in- troduzirá com uma pinça de ramos longos e delgados quantidade de algodão sufficiente para dar á região o seu aspecto natural. Accrescenta-se ao depois mais algodão ou estôpa para dar também forma ao alto do peito; mas, para encher o corpo, e para se terem peças correctas é necessário proceder de outro modo, fazendo com a estôpa uma e>- pecie de manequim ou molde grosseiramente semelhante, em tamanho e forma, ao corpo ?ú Boletim Biologieo (Xov. Ser.) Vbl. III. X.° 2 esfolado do animal. E' operação que ao c<— bo de alguma pratica se faz com satisfatória precisão e rapidez. O molde de estôpa, que não deve ser muito duro nem demasiadamen- te molle, é envolvido em leve camada de al- godão (para isto é mister usar algodão em pasta ) e então introduzido dentro da pelle, o que dá immediatamente á preparação o as- pecto, que terá definitivamente, da ave mor- ta e extendida sobre o dprso. Pratica-se en- tão a coaptação dos bordos da incisão abdo- minal, fazendo de deànte para traz uma su- tura em zig-zag (enfiando sempre a agulha oelo lado de dentro da pelle) e puxando íi- ualmente o fio para fechar os pontos, que não é necessário rematar. Procede-se então ao arranjo final das asas e das peruas, pondo-as na posição em que deverá seccar. O ageitamento das asas aos lados do corpo, em sua posição natural é operação delicada que só com capricho e ti- rocinio se chegará fazer correctamente. Elias devem em geral descançar as suas pon- tas sobre a parte posterior do dorso, enco- brindo ás 'vezes a base da cauda. Aos prin- cipiantes costumam ellas ficar muito juntas do lado do peito, o que é grande defeito a corrigir, fazendo com que este fique sempre largamente a descoberto. Pessoalmente uso muitas vezes, de artifícios vários, para obri- gar ás asas a se manterem naturalmente lir- ines em posição adequada ; o mais facil é, antes de encher o animal, amarral-as por dentro uma á outra, de modo a manter en- tre as articulações do cotovello uma distan- cia proporcionada ao tamanho do animal. As pernas devem ser de preferencia esti- radas e cruzadas symetricamente ao nível dos tarsos que são então amarrados um ao outro. h"este logar é presa também a indispen- sável etiqueta ou rotulo, onde se registrará o sexo, o logar exacto da collecta, o dia e o nome do colleccionador, informes impres-. cindiveis, aos quaes se poderão accrescentar. no lado opposto, notas sobre a côr e o aspe- cto das partes que estejam sujeitas a se al- terarem progressivamente com a conservação da peça. De todos o sexo e a procedência çxacta são os dados, mais essenciaes, devendo haver o máximo cuidado em verificar o pri- meiro com toda a precisão. Como os orgãos que caracterizam anatomicamente os sexos são relativamente frágeis, é de bõa praxe examinat-os quanto antes, isto é, logo que o corpo seja destacado da pelle. Pratica-se para isso uma incisão que abra largamente o abdômen do lado esquerdo, e levanta-se em seguida com uma pinça toda a massa das vísceras, que deixarão a descoberto, na linha mediana e coliados á parede posterior da ca- vidade abdominal, os rins, e acima d’el!es os orgãos sexuas. Si o exemplar é macho ( 5 ). ver-se-ãò, symetricamente dispostos os dois testículos, como se fossem dois grãos, quase perfeitamente redondos e Instrosos, muito variaveis em tamanho conforme a es- tação do anno errr qne a ave foi abatida (quase imperceptíveis na época de repouso sexual, durante o cio podem attingir nos pas- sarinhos pequenos, o tamanho de um grão de hervilha otr de feijão). Si se trata de umafe- mea ( S ), como nas aves só ha um ovaria, o esquerdo, vêr-se-ha no lado correspondente um corpo irregular, formado pela agglomerc- ção de muitos pequenos globulos ou vesícu- las arredondadas, umas maiores, outras me- nores, que representam a gemma de futuros ovos. Taes são os processos usados para a pre- paração das aves que se destinem ao estuda technico. seja nos grandes museus, seja nas collecções particulares organizadas seb cjtnho scientifico. X 'essas condições os espe- cimens deverão ser guardados em caixas ou gavetas bem fechadas, onde ficarão ao abrigo do pó e da luz. estes dous inimigos das col- lecções. Operações supplementares serão indispen- sáveis quando se deseje conservar os exem- plares montados, isto é, armados e affeiçoa- dos, tanto quanto possivel, ás attitudes do animal em vida. O assumpto porém com- porta explanações mais vastas, que excede- riam ao escopo d'estas notas e ao espaço de que podem dispor. São Paulo, 15 de Março de 1938. (1) Xa lingua vulgar, pelo menos com re- ferencia aos gatlinaceos domésticos, o tarso é impropriamente chamada canella. a perna côxa e a verdadeira cóxa de so- bre-cõxa. Escusa dizer que os tres vo- cábulos são aqui usados no seu sentido exacto. 19 3 8 Afranio Amaral — Resumos Bibliográficos 71 RESUMOS BIBLIOGRÁFICOS Bert Cunxixgham : Bifurcação axial em serpentes. Sob o titulo de “Axial bifurcàtion in serpents”, acaba de ser publicado pela Duke University Press (Dur- ham, Xoríh Carolina. Estados Uni- dos,) um interessante estudo da dico- tomia em ofidios. E’ seu autor o dr. Bert Cunningham, que o apresenta como uma compilação histórica dos monstros de serpentes, portadores de esqueleto axial duplicado. Pela primeira vez, os estudiosos in- teressados no assunto podem encontrar um resumo de todos os dados disponí- veis sobre essa interessante anomalia em um grupo de repteis. A dicotomia da coluna vertebral po- de atingir no ofidios apenas a extre- midade anterior ou cabeça (dicefali- cos), a cabeça e a parte anterior do corpo, a extremidade porterior (bí- caudados. que são bastante raros) e as duas extremidades, o que é ainda mais raro. Xão se trata de um simples cata- logo, em que apenas se numerem os vários exemplares até agora regista- dos na literatura. Pelo contrario: seu autor apresenta descrições e comentá- rios de natureza histórica e sistemática sobre a importante matéria, cuja com- preensão procura tornar inteligível pela publicação de grande numero de gravuras (134), reproduzidas em excelente papel. Entre essas gravu- ras estão incluidas as 11 que constam do Vol. 15 da Revista do Museu Pau- lista (1926), em artigo do presente comentador. Para tomar o estudo ainda mais documentado, foram feitas radiografias de diversos especimens, de sorte a darem idea do carater e ex- tensão da dicotomia da coluna verte- bral. em casos duvidosos. A interessante monografia termina por dois indices: um. relativo aos trabalhos até agora publicados sobre o assunto ; outro, correspondente às des- crições apresentadas nesses trabalhos. (Preço 82.50). AFRANIO DO AMARAL PROFESSOR ALFONSO BOVERO Xesta homenagem que o Gube Zoo- logico do Brasil presta á memória do saudoso e inesquecível Prof. A. BO- VERO, tenho eu a inexcedivel honra de recordar neste ambiente amigo, quasi familiar, alguns traços de sua vida operosa, toda devotada em S. Paulo á construção do edifício da ciência anatómica. Mas para mim que fui seu aluno e intimo do seu labo- ratorio. esta oportunidade que se me oferece representa muito mais que a simples homenagem formalistica, e não é este aqui o caso, de uma sociedade a um de seus socios fundadores. E' na realidade um preito de profunda gra- tidão e amizade por aquele que foi o Guia. o Mestre e o Pa espiritual. *) Homenagem á memória do Prof. A. BOVERO, no Clube Zoologico do Brasil, sessão de 12-V-936. cm 1 SciELO 19 3 8 Paulo Sawaya — Proí. Alfonso Bovero Dele. nós os seus alunos, podemos dizer cheios de reconhecimento o que D’AXXUXZIO disse de VERDI : “ Ci nutrimo di lui come dei pane. Ci nutrimo di lui come dell'aria A personalidade do Prof. BOVE- RO se apresenta hoje aos nosscs olhos cheios de saudade, evocada na imagem de mestre emerito, de inves- tigador de rara tempera e de homem de coração. Mestre que foi da ciência anatómi- ca. não deixou recantos que não es- quadrinhasse como perito. Xão obs- tante as décadas e décadas de magis- tério, era e sabia ser o professor egré- gio, entusiasta e conciencioso, cuja grande preocupação consistia em trans- mitir aos alunos, da melhor maneira o- grandes e profundos conhecimen- tos de que dispunha. Xas suas subs- tanciosas lições, precavia-se da preo- cupação vã de trazer sempre novida- des, para dizer sómente o que mai- pudesse despertar o interesse dos dis- cípulos. Xunca se assentou no logar co- mum e reles dos repetidores banais, que traduzem, muitas vezes em sín- tese hem feita, as ultimas edições dos livros recem-chegados. Digeria os a- suntos de cada dia, escolhia, selécio- uava, procurava enfim atrair a aten- ção dos ouvintes. Lançava mão dos frutos sazonados de sua longa e inín terrupta experienria e os apresentava aos alunos com maestria. Ele. que po- dia discorrer com segurança e a qual- quer momento sobre qualquer ponto fie anatomia, nunca improvisou uma aula. feito este de que se gloriam mui- tos. E’ sabido de seus íntimos qu< mesmo a sua I a preleção, dada a 25 de Abril de 1914. logo após a sua chegada, não foi improvisada, apeznr de não ter um litro sequer para a- suas notas. Preparou-a revendo na mente os seus conhecimentos, em hora matinal no Jardim da Luz. A sua me- mória. excepcionalmente robusta, era realmente um invejável repositorio dc sabedoria. Xas suas preleções era um primor vê-lo passar do terreno, ás vezes ári- do da morfologia, para o da clinica e o da cirurgia, interessando os aluno- na disciplina que ele amou e a que dedicou toda a sua vida. Lembro-me ainda como se fôsse ho- je, uma tias suas aulas sobre a osteo logia. Tratava do omoplata. Fazia se- guir a descrição de comparações in- teressantíssimas com osso homologo do Bradypus e daí passava para outr< de um Carnívoro. Tresandava da mor- fologia pura para a morfologia funcio- nal. Estudava a atitude ortostatica dos animais, colimando na fisiologia da lo- comoção. E o que era mais curioso . não se contentava em mostrar copioso material, mas procurava demonstrar com seus proprios movimentos as mo dificações que tal ou tal posição to- mava nos animais de atitude erecta. BOVERO porém, não era sómente o mestre domo, mais e muito mais. o educador profundo, que fazia o am- biente impregnar-se de sua personali- dade. Aliando á sua vasta cultura, ri- ja tempera de carater e profunda ho- nestidade cientifica, estava destinado a modificar o meio, e porque não di- ze-lo, a fermar um ambiente. Personificava a seriedade e constân- cia no estudo, es as duas virtudes que foram sempre o apanagio da escola de St. IGXACIO. E o seu maior de séjó era que tais qualidades que jul- gava inherentes a todo verdadeiro in- vestigador. fossem observadas na dis- ciplina de sua predileção. Escrupuloso nos minimos pormeno- res, dia a dia ia fazendo seus discipu los compreenderem a belçza da verda- deira pesquisa, cientifica, da pesquisa feita com trabalho, com esforço, ho- nestamente. Só depois de muita inves- tigação, de muita -bibliografia, de acurada experienria, é que ele -e aba- lisava a tirar conclusão, a emittir um cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Boletim Biologico ( Nov. Ser.) Vol. III, X.° juizo. E si para os alunos muitas ve- zes com aquela sua maneira franca e aspera de falar, sob a qual encobria um grande coração, foi rijo na cri- tica, a tal o levaram o amor da ver- dade, a preocupação da responsabili- dade. a grande aspiração de formar cientistas bons e corretos. Instruía e educava. E o seu exemplo era a maior lição. Esse o Mestre. Mas para com o nosso Clube, do qual como já disse foi fundador, ou dizendo melhor, para com a Zoologia em geral é na sua vida de pesquisa- dor emérito que vamos encontrar re- lações mais estreitas. Logo que aqui chegou em 1914, naqueles tempos etn que a Zoologia entre nós apenas se li- mitava á sistemática, muito louvável em si mesma, pois era talvez o má- ximo que o meio poderia dar. iniciou ele os estudos da anatomia compara- tiva. Desfrutava São Paulo, naquela época, da primazia nos estudos zoolo- gicos principalmente sistemáticos e ecologicos. graças a HERMANN von IHERIXG, o inesquecível estudioso da nossa fauna, da nossa gente e da nossa terra. Von Ihering, na sua per- feita compreensão do meio. preparou ambiente propicio fazendo a colheita e guarda com extremado carinho das preciosíssimas coleções do Museu Pau- lista, ás quais BO\ ERO muitas vezes se referiu elogíosamente em seus tra- balhos. As vistas argutas de BOVERO vol- taram-se imediatamente para a nossa esplendida fáuna tropical. E surgiram logo trabalhos dos quais se salienta en- tre outros a “Cartillagine delia Plica semilunaris conjunctira. o terza pál- pebra nellLomo e negli mammiferi” publicada em 1919. Nessas pesquisas o grupo dos Mamíferos ocupa posição de destaque, estando representadas ai. á exeção dos Cetáceos e Sirenios, to- das as demais ordens, tantos dos Di- delfos como dos Monodelfos, sendo naturalmente mais numerosos os ca- racterísticos da nossa região. Neste campo em que foi maior o seu labor, o da pesquisa pura. creou ele uma ver- dadeira escola de nacionalismo são, investigando ele proprio e fazendo in- vestigar pelos seus alunos brasileiros, aspétos diversos da morfologia de nos- sos animais. Queria crear. como creou, um corpo de entusiasmados pela ciên- cia morfologica. E quando ele deixa- va o tema favorito por algum tempo, que era o da morfologia do crânio, a ele voltava novamente com essa frase significativa: “Volto mais uma vez, por uma particular forma de saudade, e pcderá não ser ainda a ultima, a tratar da anatomia do esqueleto do pa- ladar duro, do qual já me ocupei em varias ocasiões de 1900 em diante”(l). BOVERO tinha rcalmente a chamada “polarisação cerebral” para determi- nados estudos. Em grupos de pesqui- sas sobre anatomia humana e compa- rativa, suas ou de seus alunos, foi no- tável o que os francezes denominam “esprit de suite” sem o qual muitas vezes se estiolam as melhores inten- ções e mesmo penosas fadigas. Era particularidade toda sua. o “fazer tra- balhar”. Tinha a ciência da direcção, sabia estimular e manter o ritmo da producção ciêntifica dc seu laboratorio. Neste campo em que tivemos a ven- tura de o ter por guia. mestre e ami- go, nos foi dado acompanha-lo no aprendizado da pesquisa ciêntifica. a qual colimava numa admiração pro- funda, pela natureza extremamente bela da nossa terra. E ele, um encan- tado, um enamorado desta natureza, é que pacientemente, ás vezes aspera- mente, nos fazia abrir os olhos ante horizontes novos, dissipando-os da né- voa que os obnubilava. E como era belo e emocionante segui-lo nessa su- bida aos píncaros desconhecidos ! Co- mo sabia distinguir a beleza e como sabia afagar com a sua palavra o nosso animo, compensando o esforço da su- bida. E dentro daquela bondade todo co- em 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 19 3 8 Paulo Sawava — Prof. Alfonso Bovero /o ração, dentro daquele coração tão pro- fundamente humano, disfarçado sob a franqueza um tanto rude, estava sem- pre vigilante aquele olhar perspicaz que penetrava fundo, revelador de acentuado senso critico. E foi assim que nos ensinou a trabalhar, fazendo com que aprendessemos a ler o livro da ciência, e o que é mais, que o com- preendêssemos. Exigente, criticava fundamente, para que mais perfeita ficasse a obra. Aqui o traço essencial- mente “boveriano”. A sua critica vi- sava sempre um bem maior. Compre- endia o meio e sabia qual a sua prin- cipal missão. Xão abrogava nunca do direito de critica. E o fazia com razão porque para ele valem as palavras desse outro genio que é ÇAJAE: “La critica cientifica se justifica solamen- te entregando a cambio de un errei, una verdad”. ( 2 ) E a sua critica era fecunda porque trazia sempre algo de novo. A’s vezes feria, mas ensinava sempre. Xeste campo de sua atividade não sabemos distinguir o Mestre do Sá- bio. As duas personalidades se con- fundiam e podemos dizer, era o guia que aqui realisava aquelas façanhas comparáveis ás suas acensões aos Al- pes queridos. Alpinista que era, sabia ver do alto. Contemplava todo o horizonte de qual- quer assunto. Era uma biblioteca viva. E foi o maior incentivador do habito do manuseio bibliográfico entre nós. Aqui é notável o seu exemplo. Xão se limitou a enriquecer a biblioteca de seu Departamento, mas imediatamente pôs á disposição dos alunos e dos in- teressados a sua preciosa e invejável coleção particular, com os seus inúme- ros tratados e valiosissimas separatas. Cuidava dela com amor e fazia com que os seus frequentadores o imitas- sem. Ele mesmo o disse: “Xa minha mente, os meus livros, que são a mi- nha unica riqueza material, os meus alunQs, os meus colaboradores ime- diatos, que considero como parte de minha família, se enquadram para mim. euforicamente, num oásis de paz fecunda, onde realmente goso da vida, bemdizendo-a como que numa prece”. (3). Sempre jovem, o espirito de BO- YERO soube resistir ao tempo. Sua cultura imensa se alicerçava no gra- nito imperecível de uma cultura clás- sica solidíssima. Se necessário fôra um exemplo para mostrar o valer do ensino clássico para a formação dos cientistas, dos verdadeiros cientistas quero frizar, bastaria o do grande Mestre. O trato habitual do latim e a cultura aurida nos autores gregos, seus companheiros de juventude e ain- da amiges de cabeceira, deram-lhe esse descortino e esse entendimento admiravel das cousas e dos homens. Conhecia-os e sabia aquilatar valores. E não era só. A frescura juvenil do seu espirito ele a comunicava aos seus colaboradores. Xão obstante os seu- cabelos brancos, dele se póde dizer com CARDUCCI : “Vegli divin le cui tempia stellanti Lume d'eterna gioventú circondi” (4) E desapareceu o Mestre em pleno vigor da sua poderosa inteligência e do seu ope-o-o labor. E aqui foáutjs nós, os seus Ínti- mos. nós os seus amigos e os compa- nheiros do Clube Zoologico, guardan- do no coração repleto de saudade, transbordando de gratidão, o seu no- me aureolado da gloria perene que cir- cunda a fronte dos que foram e sou- beram ser BOXS. PAULO SAWAYA (Do Oepsrt. de Zoologia da Universidade de S. Paulo). (1) Anotações sobre a anatomia do pala- dar duro. — An. Fac. Meei S. Paulo. (2) CAJAL. S. R. y — Investigación Cientifica. (>.“ ed.. Madrid. 1923. pg. 18. (3) Oração pronunciada a 14-11-932. na homenagem da Associação dos Anti- gos Alunos da Fac. Med. S. Paulo. (41 Poesie di 0. CARDUCCI, Bologna, Zanichelli, 1908, pg. 549. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 O CENTENÁRIO DO GENERAL COUTO DE MAGALHÃES 3 * 3 . Esiampando a figura do General Couto de Magalhães, um século dec- corrido depois do seu nascimento, o Clube Zoologico do Brasil tem a sa- tisfação de prestar homenagem mere- cida á memória daquelle grande bra- sileiro. Personalidade vigorosa e multiface. a um só tempo político notável, bravo militar e intrépido sertanista. indus- trial e homem de negocios, scientista e homem de letras, foi acima de tudo grande patriota, como nol-o provam todos os actos que encheram a sua vida gloriosa de pioneiro. Político, inaugurou sua vida publi ca como Secretario de Estado e attin- giu rapidamente aos postos culminan- tes. como presidente successivamente de Minas. Goyaz, Pará e Matto-Gros- so, altas funcções em que deixou inva- riavelmente traços indeleveis de sua energia e clarividência. Militar, bastaria para consagral-o a sua acção decisiva na expulsão dos Paraguayos, que assolavam o Matto- Grosso depois da Guerra do Para- guay e. até então, zombavam alli im- punemente das forças destacadas para combatel-os. Como industrial revelou-se em nu- merosos emprehendimentos, já como administrador dos negocios públicos, levando a cabo com incrível tenacida- de o seu victorioso ensaio de navega- ção do Rio Araguaya, já como empre- zario particular, quando, digno emulo do grande Mauá, fizera extender os primeiros trilhos entre o valle do Pa- rahvba e a rica zona sul-mineira do Rio Verde (1881-1884). Como homem de sciencia, nos seus livros se revela entre os de melhor estofo, occupando-se ora de zoologia, ora de zoologia e geographia plíysica. ma muito principalmente de anthro- cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 19 3 8 Noticiário 77 pología e ethnograpliia. assumptos que versava com profundeza e sobre que nos deixou contribuições magistraes. Homem de lettras. estudante ainda, dava a lume mais de um trabalho lit- terario, revelando qualidades apreciá- veis de escriptor. qualidades que nunca desmentiu em sua futuras obras, não obstante o pouco tempo que a ellas The teriam permittido consagrar os múltiplos affazeres e as preoccupações de sua vida emprehendedora e acci dentada. Era o Dr. José Vieira Couto de Magalhães, filho de Minas-Geraes. onde nasceu em l.° de Novembro de 1837, na cidade de Diamantina. Des- cendia de familia oriunda de São Pau- lo e na capital paulista, em cuja Fa- culdade de Direito se doutorou, veio finalmente passar a maior parte de sua vida. até o seu fallecimento, em Setembro de 1898. Suas principaes obras são “Viagem ao Araguaya" “O Selvagem”. De ambas foram ti- radas numerosas edições, a ultima das quaes pela Cia. Editora Nacional, em data recente. Aureliano Leite, dedicou-lhe exc lente estudo biographico, que proferi i em conferencia (30 de Janeiro de 1936) e depois reuniu em elegante vo- lume intitulado “O Brigadeiro Couto de Magalhães” (Grafica Sauer, 1936. Rio de Janeiro). cm l 2 3 4 5 6 7 SClELO 11 12 13 14 15 16 17 78 Boletim Biologieo (Nov. Ser.) Vol. III, X.° 2 liilMWHIFII WTiT 77 Mj j. . k* > tyf p-. P- ss&í JADER PAULO DE CASTRO Com o desapparecimento do nosso pranteado consocio Jader Paulo de Castro, o Clube Zoologico do Brasil perdeu um dos seus mais enthusias- tas companheiros. Caçador emerito de macucos. foi file sempre o animador das excursões ao norte do”* Paraná, abarracando de preferencia nas margens do Tthagy. do Laranjinha, do Cinzas e, quanoo não podia ausentar-se por muitos dias, contentava-se em acampar á margem direita do Paranapanema. no Rancho Casanova. Finíssimo no trato e amigo inse- parável dos seus camaradas, sempre foi, por suas excepcionaes qualidades de organizador, escolhido para che- fiar as caravanas cynegeticas que de- mandavam o sertão, para as grandes caçadas e pescarias. Com o desapparecimento de Jader Paulo de Castro, que foi, por muitos annos, infatigável Chefe de Escripto- rio da Companhia Paulista de Estra- das de Ferro, perde o Clube Zoolo- gico do Brasil mais u mdos seus que- ridos socios, que fallece aos 63 annos de idade, na tarde de 6 de maio do anno passado, deixando profunda saudade nos corações daqudles qye tiveram a ventura de conhece-lo. LISTA DOS SOCIOS CONTRIBUIN- TES DO CLUBE ZOOLOGICO DO BRASIL Augustnho Horta — Rua Castro Al- ves n.° 327. Capital. Américo Brasiliense — Alameda Glettc n.° 20, Capital. Alfredo Martins Lino — Silva Jardim n.° 6, Capital. Alberto Guidoni — Rua A. n.° 54. Ca- pital. Antonio Leme de Oliveira Santos — Travessa Abolição n.° 12. Capital. Alessandro DelPAringa — Rua 15 de Novembro n.° 3. Capital. Antonio Alves de Lima. Dr. — Avenida Hygienopolis n.° 212, Capital. Antonio Lopes da Fonseca — Rua Dr. Arthur Motta n.° 248, Capital. Antonio Estanislau do Amaral — Rua Conselheiro Nebias n.° 782, Capital. Antonio Carini, Dr. — Rua dos Tym biras n.° 2. Capital. Antonio Mastrandéra — Rua Dr. Car- valho de Mendonça n.° 33. Capital. Arinos Geraldo Keyserling — Rua São Carlos do Pinhal n.° 47, Capital. Arlindo Botelho Coutinho — Rio Preto. Adolpho Martins Penha — Instituto Biologieo, Capital. Aristides de Azevedo Leão — Instituto Biologieo, Capital. Angclino D’ Angelo — Rua Pimenta Bueno n.° 5, Capital. Antenor Soares Gandra, Dr. — Rua Pamplona n.° 1834. Capital. Agenor Couto de Magalhães. Dr. — Rua Germane Buchard n.° 14. Capital. Alfredo Graziano — Tatuy. Augusto Ayrcsa Galvão — Rua Piauhy n.° 308, Capital. Américo Braga — Rua Maracanã n. 222, Capital. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 19 3 8 Noticiário 79 Alberto Mario Giachet — Departamen- to de Industr. Animal. Capital. Alcides Prado, Dr. — Instituto Biologi- co, Capital. Alberto Catani — Consulado Italiano. Capital. Alfredo Perillier — São Roque. Attala Euclides Elmor — Rua Traipu, 36, casa n.° 6. Capital. Alcíno Meirelles — Fazenda da Barra, Jat dinopclis. Afranio do Amaral. Dr. — Caixa Postal 63, Instituto Butantan, Capital. Antonio Ronna. Dr. — Rua Jaceguay n.° 3. Terreo, Andarahy, Rio de Janeiro. Afíonso M. Olalla — Caixa Postal n.° 60. Itacoatiara, Amazonas. Adolpho Hempel — Rua 1 tapicuru n. u 340. Capital. Adolpho Gaspari — Rua B. do Rio Bran- co n.° 4, Jundiahy. Antenor Gomes de Oliveira — Rua Sal- danha Marinho n.° 551. Rio Preto. Antonia Amaral Campos — Rua Cap. Messias n.° 35. Capital. Basilio Baffi — Ibirã. Benedicto Marques de Oliveira Filho Rua Santo Amaro n.° 46, Capital. Benedicto Silva — Rua Guiomar Rocha n.° 7. Capital. Carlos Amadeu de Camargo Andrade — Museu Paulista, Capital. Carlos Campos de Barros — \ alparaizo. Cio vis Dias Valente — Rua Senador Fei- jó n.° 30, Capital. Carlos Reis Magalhães — Rua da Qui- tanda n.° 96, Capital. Cari - Mastrandréa — Rua Bandeirantes n.° 72. Capital. Constantino Junqueira — Dep. de Tndus. Animal, Capital. Ca-emiro de Abreu Salles — Collectoria Estadual. Ihirá. Cicer Xciva. Dr. — Instit. Butantan. Capital. Cario-. Guimarães — Rua Albuquerque Lin- n.° 1.145. Capital. Clemcn-e Pereira. Dr. — Instit. Biologico, Capital. Caio Mr/racs Barros — Fazenda Bel- la Vi 1 . S. J dos Campos. Cláudio da Silva Camargo — Dep. de Indus. Animal, Capital. Carlos da Cunha Vieira — Museu Pau- lista. Carlos Alberto Nunes — Guaratinguetá Cap. Cândido Bravo — Rua Jaceguay n.° 73, Capital. Dionisio Figueiredo, Dr. — Valparaizo. Duilio Guidoni — Av. Celso Garcia n. c 570, Capital. Dante Vagnotti — Rua Augusta n. 0 539. Capital. Dorival Macedo — Caixa postal n.° 2.821. Capital. Estevan Alesso — Rua João Adolpho n/' 28. Capital. Emilio Aun — Ibirá. Eugênio Capuano — Rua Lafayete n. 8. Capital. Eulalio Pinto Cesar — Rua João Pessoa n.° 183, Piracicaba. Emilio D’Agostinho — Rua Cláudio n.° 34, Capital. Edmundo Krug — Rua José Bonifácio n.° 110. Capital. Eugênio Sarraceni — Rua P . Antonio Be- nedicto. 3 sobrado. Ernesto Marcus, Proi. — Caixa postal n.° 2.926. Capital. Emilio Palumbo — Rua Javai n.° 61. Ca- pital. Edmundo Navarro de Andrade. Dr. — Companhia Paulista — L. Badarp n.° 54. Capital. 0 Eurico Santos — Rua S José n. 5-, I. andar, Rio de Janeiro. f E-nest Breslau. Prof. — Av. Paulista n.° 117, Capital. Eduardo de Oliveira Piraja — Rua Jose Bonifácio n.° 233, Capital. Ednan Dias - Fazenda Paulicea - \ as- sununga. , , , Francisco Bergamin — Dep. de Inmi>. Animal, Capital. Fernando Tedeschi - Rua Bueno de An- drade n.° 409. Capital. F. Langc Morretes — Museu Paulista. Francisco Pedroso de Camargo — Rua Dr. Vieira de Carvalho n.° 150. 3.° andar, appartamento 3. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 80 Boletim Bíologícò (Xov. Ser.) Y'oí. III, N.° 2 | Flavio Rodrigues — Rua F. Julia n.° 25. Joaquim de Lima Pires — Rua São Vi- Capital. cente de Paula n.° 705, Capital. Florentino Sarraceni — Rua S. Caetano J. A. Figueiredo Pessoa — Fazenda São n.° 9, Capital. José, Araras. Felippe Lutfalla — Rua Oliveira Alves José Lara Vanini — Rua Conselheirr n.° 216, Capital. Xebias n.° 662, Capital. Frederico Lane — • Museu Paulista — J. Homem de Mello — Itatinga. Capital. José Pinto da Fonseca — Instituto Bio- Francisco Soares Xalin — Rua do Vi- Iogico, Capital. gário n.° 7, Jundiahy. José Aguilar — Rua dj Gazometro n.° Francisco Simaz — Rua General Ozorio 105, Capital. n.° 510, Capital. José Bueno Cavalheiro, Ibirá. Gertrud Siegel — Rua Arruda Alvim n.° José de Barros Saraiva — Rua Augusto 8, Capital. n.° 154, Capital. Genaro Esposito — Rua Affonso Pena José Leonardo Lima — Museu Paulista n.° 69, Capital. José Ricardo Alves Guimarães — Rua Giovanni D’Avino — Av. Celso Garcia Tajipurú n.° 165, Capital. j n P 35, Capital. José Elias de Paiva Filho — Ipanema. Gumercindo M. de Carvalho — Fazenda José Marcelino de Moraes Barros — Ruã da Barra, Itoby. Itapolis n.° 11. Capital. Gotthilí Schiler — Caixa postal n.° 267, João Calan Mojola — Jundiahy. Campinas. João de Souza Campos — Rua Bella Godofredo Pagliusi — Ibirá. Cintra n.° 1.768, Capital. Geovani Letico — Alam. B. de Limeira João Laraya — Al. Itú n.° 1.276, Ca- n.° 922, Capital. pital. Gustavo M. de Castro — Rua Sorocaba João Deocleciano Ramos. Dr. — Mira sol. n.° 50, Rio de Janeiro. E. S. Paulo. Genesio Pacheco. Dr. — Instituto Oswal- João de Camargo Barros — Caixa pos- do Cruz, Manguinhos. Rio de Janeiro. tal n. 0 54. Valparaizo. H. Zellibor — Rua Pinto Ferraz n.° 99, João Lane — Inspectoria da Malaria — Capital. CapitaL Heitor Soares de Macedo — Alto Pi- João Baptista Piovesan — Rua Theodoro menta. Sampaio n.° 955, Capital. Helio Fajardo da Silveira — Ibirá. João de Paiva Carvalho — Rua Viscon- Heitor Serapião — Valparaizo — caixa de de Ouro Preto, antigo 2, Capital. postal 314 — Araçatuba. João D'Avino — Av. Celso Garcia n.° Hildebrando Montenegro — Rua S. Vi- 55. Capital. cente de Paula n.° 638, Capital. Leonello Julio Cezar Adami — Rua Cláu- Hugo Scatena — Alto Pimenta — F dio Pinto n.° 18, Capital. F. X. 0. B. Lineu de Paula Machado, Dr. — Jockey Ivan Hauf — Rua Pinto Ferraz n.° 99, Club do Rio de Janeiro. Capital. Luiz Schimidt — Rua Padre José Ma- ítalo Rebucei — Rua Silva Telles n.° 7, ria n.° 39. Santo Amaro. casa 7, Capital. Lauro Travassos. Dr. — Caixa postal n.° Jacques Laghi — Rua da Quitanda n.° 926 — Rio de Janeiro. 14. Capital. J. A. Martins, Dr. — Praça Piauhy n.° Lauro Travassos Filho — Rua Marquez 6. Capital. de Itú n.° 71, Capital. Joaquim Libanio Leite Ribeiro — Al. Lo- Leoioldo Couto de Magalhães — Rua rena n.° 509, Capital. Libero Eadaró n.° 55, Capital. Jacomo Império — Rua General Carnei- Lu.z Tabarelli — Rua Jaraguá n.° 102. ro n.° 212, Capital. 1 Caiital. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1 9 3 8 Socios contribuintes do Club Zoologico do Brasil 81 Libanio Ribeiro do Valle, Dr. — Rua Guayanazes n.° 144. Capital. Lindolpho de Freitas — Granja Maria da Gloria, Trtmembé. Luiz Dovique — Rua B. do Rio Bran- co n.° 4, Capital. Luiz Chabassus Filho — Rua Hadock Lobo n.° 1.408. Capital. Mario Autuori — Instituto Biologico, Capital. Michel Pedro Sawaya — Rua Arthur de Azevedo n.° 176, Capital. Mario Maldonado, Dr. — Rua 15 de No- vembro n.° 4-A, Piracicaba. Manoel Joaquim Gonçalves — Rua de São Bento n.° 54. Capital. Milton Giancoli — Rua Washington Luiz n.° 29, Capital. Miguel Pinoni — Rua Domingos de Mo- raes n.° 102, Capital. Max de Barros Ehrardt. Dr. — Facul- dade de Medicina, Capital. Miguel Covello Junior, Dr. — Rua B. de Itapetininga n.° 10. Capital. Miguel Campos Silva — Rua do Vigá- rio n.° 1, Capital. Maurício Gonçalves Seabra — Rua Ja- guaribe n.° 742, Capital. Milton Piza, Dr. — Rua Conego Eugê- nio Leite n.° 133. Capital. Manoel Moraes Bueno — Rua Victorino Camillo n.° 131, Capital. Maria de Lourdes Canto — Rua Rego Freitas n.° 474, Capital. Xicolau Tcbechcrani — Rua I.eaes Pau- listanos n.° 288. Capital. Nicolino Mastopictro — Rua da Boa Vista n.° 40, Capital. Naur Martins. Dr. — Rua Quintino Bo- cayuva n.° 54, Capital. Nicolau Athanasoff. Dr. — Escola Agrí- cola de Piracicaba. Xoemia Sataiva dc Matos Cruz — Rua Áustria n.° 4, Capital. Olivcrio M. de Oliveira Pinto. Dr. - Museu Paulista. Odorico Machado de Souza — Facul- dade de Medicina. Capital. Oswaldo Monteiro Fleury — Rua 7 de Abril n.° 33. Capital. Oscar Cunha — Imigração. Capital. Oswaldo Carvalho e Sih-a, Dr. — Rua Prof. Cabrizzo n.° 338. Capital. Oreste Pagliusi — Ibirá. Orlando Penteado — * Rua Jandaia n. r 36, Capital. Orlando Martins Lino — Rua Silva Jar- dim n.° 6 — Capital. Pio Lourenço Corrêa — Araraquara. Padre D. José Wolfgand — Mosteiro de S. Bento, Capital. Paulo de Azevedo Antunes. Dr. — Instit de Hygiene — Av. Dr. Arnaldo n.° 5. CapitaL Pedro Franco — R. Dr. Carvalho de Mendonça n.° 33, Capital. Paulo Sawaya. Prof. — Caixa postal n.° 2.926. Capital. Paulo Plinio Prado — R. de São Ben- to n.° 19. Capital. Paulo de Toledo Artigas, Dr. — Al. Tie- tê n.° 50. Capital. Plinio de Barros Monteiro — Av. Bra- sil n.° 1.929. Capital. Pedro Gad. — Rua Senador Feijó n. c 205. Capital. Roque Chiavoni — Rua Paula Souza n.° 4. Capital. Raul Franco de Mello. Dr. — Av. Pau- lista n.° 54, Capital. Rodolpho v. Ihering. Dr. — Instituto Biologico, Capital. Renato de Barros Ehrardt — Rua Ati- baia n.° 56, Capital. Renato Locchi, Prof. — Rua Minas Ge- raes n.° 75, Capital. Renato Ferraz Guimarães Rua Frei “'Caneca' n.° 528. Capital. Rosina de Barros — Rua da Consolação n.° 113, sobrado. Capital. Raphael Garcia de Souza. Av. Tiraden- tes n.° 2. Capital. Raul Guimarães — T ravessa Grande Ho- tel n.° 2-B. Capital. Salvador Piza Junior. Dr. — Piracicaba. Sebastião Machado — Al. Rocha de Azevedo n.° 47, Capital. Santo Vendramini — Rua Pampkna n. f 289. Capital. Samuel B. Pessoa, Prof. — Faculdade Medicina, Capital. Salim Lutfalla — Rua Oliveira Alves n 1 218, Capital. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 82 Boletini Biologico ( Xov. Ser.) Vol. III, -X. 0 2 Sebastião Ribeiro do Valle Rua Guio mar Rocha h. e 9, Capital.' te n.° 233, Capital Thales Martins. Dr. — -Instituto Biolo- gico, Capital, i ' • • :,r 1 Thelesio Perdigão — Rua Visconde de Parnahyba n.° 286, Capital. Tito Monteiro de Carvalho e Silva — Rua Ferreira Penteado n.° 967, Capital. Tenente Cândido Bravo — Al. Rocha de Azevedo n.° 47, Capital. Vasco Galvão' Bueno — Drogaria Ba- ruel — Rua Direita n.° 1, Capital. Vicente Cortansio — Rua Rangel Pes- tana n.° 45, Juiídiahy. .(btTIJi. .11 1 I/. Victorio Areitio — Rua Bello Horizon- ".u MiEncviiuD Waldomiro Jafet — Rua Xavier Curado n.° 472, Capital. fiM iiH QÒ !! iU/1 - fitlj Walter Garbe — Museu Paujista.. Waldemar Fortes, Dr. — Ibirá. Walter Peters — Rua 25 de Março n.° 309, Capital. Walter Putz — Rua do Livramento n.° 10, Capital. Zeíeríno Vaz, Prof. — Rua Manoel da Xobrega n.° 72, Capital. ■b - /! - fsttnot) miopia >1 !jonr.IZ OlrtâM oi/i *XJ c liUtijíD .H 3 :i 1 n>|íaftirUí,V7 cuJl -nifl • ■>-■< -A, H ftiniW ■ 'cii ’*o ,çr \ãv « * • U. -d) eigniimtl euH ii •T !/ ,7') olm. 1 ! If ftifi. ilil/1 EtlilâD Jinqlí ii i ivbstttá jcuJP' \ > ' t * f '• Of ÍJ ,iln*vl3 íoviUF h ■ latirpO. fSoõib^síZ ob • iO ,1-miuí. «It-w O : Ji/t °.f| V* < ' iiriH -ris f í .//, iff ,ptbM >í) i IríiíIcO JinfifjH 'muH ) fi;ti — ^^nrinirj») jurtTj .BL*: .? K?nivÕ, üfj cu/ 1 — *j ! w! Jetrt yCj r r J I ’ «'tut í 2 3 4 5 6 7 SciELO 11 12 ]_ 3 14 15 16 17 Boletim Biológico ÓRGÃO OFICIAL DO CLUBE ZOOLÓGICO DO BRASIL E DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENTOMOLOGIA S, Paulo - Brasil Vol. III (Nova Série) OUTUBRO DE 1938 N.os 3/4 /^Artigos Originais REVISÃO DO GÊNERO PRAXITHEA Thomson, 1864 (Col. Cerambycidae)* Por Frederico Lane T rabalho do Museu Paulista Com estampas 1 e 2 INTRODUÇÃO Entre os cerambicideos da sub- faniiüa Tomeiüinac La cor d., 1869, figuram gêneros brasileiros c ujas espécies podem possivelmente ameaçar o desenvolvimento de cer- cas culturas arbóreas e arbustivas da São Paulo e do Rio. Assim, ” * Q t o da Fonseca focalizou n a reunião mensal de janeiro últi- mo, da Sociedade Brasileira de En- omologia, em interessante nota, o u [ploschema rotundicolle (Ser- v üle, 1834), como broca de la- v °ur a de “Tung”. Costa Lima seu catálogo cita cerca de uma duzia de plantas atacadas por êste mseto, entre as quais figuram algu- mas de grande importância econô- mica, como a laranjeira, o limoeiro, o pecegueiro, etc. O conhecido Coccoderus no- vempunctatus (Gerraar, 1824), também citado por CostaLima, parece menos nocivo, restringindo o seu ataque a vegetais de menor importância, como o ingazeiro, o jacaré, o monjoleiro, a Cassia fis- tula e o tamarindeiro. Bondar, 1915, também cita esta espécie como bróca do “flamboiant”. Do Psygmatoccrus wagleri P e r t y, 1828, nenhuma referência encontro no catálogo de Costa Lima, mas Bondar recentemen- te, 1937, publicou notas biológicas, elucidando os hábitos dêste interes- sante cerambicideo, como bróca da Schwartzia langsdorfi. <*) Êste trabalho é publicado pela Sociedade Brasileira de Entomologia. cm 1 2 3 4 5 6 7 SCÍELO, 11 12 ]_ 3 14 15 16 17 86 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série ) Vol. III 3/i — 1938 Do gênero Praxithea T h o m- s o n, 1864, Costa Lima cita a espécie derourei como broca da ameixeira, da goiabeira e do ma- rinheiro. Todas as observações até aqui reportadas para espécies dos gê- neros Diploschema, Psggmaiocerus , Coccoderus e Praxithea, mostram que estes cerambicideos são brocas da madeira viva, em pleno viço, e Bondar aventa a possibilidade de terem hábitos idênticos aos das espécies dos outros três géneros da sub-família: Torneutes, Spathopy- gus e Xenamhyx. Xèste caso, em apôio do atual arranjo sistemático, baseado apenas em caractéres mor- fológicos, teríamos um caráter bio- lógico constante. E’ oportuno salien- tar o enorme auxílio que trazem ao sistematista as pesquisas biológicas e ecológicas diminuindo a margem de artificialismos que, em vista de insuficiência de dados, é êle por vezes obrigado a criar. Por outro lado, a falta de trabalhos de siste- mática, ou a impossibilidade de obter os dados bibliográficos neces- sários ao estudo de determinado grupo, torna-se por vezes sério obs- táculo para os pesquisadores da nossa entomologia económica. Tendo em vista o interêsse que o grupo oferece e tomando em con- sideração as dificuldades apontadas acima, julguei oportuno ampliar o pequeno trabalho sôbre Praxithea, lido na Sociedade Brasileira de En- tomologia em sua reunião mensal de fevereiro último. Tive em mãos exemplares de todas as espécies até aqui conheci- das e descrevo mais adiante outras duas que considero nóvas. Sob o ponto de vista sistemá- tico, o último autor a tratar do gê- nero foi Lacordaire em 1869. Desejo externar os meus agra- decimentos aos seguintes amigos: a Frei Thomaz B o r g m e i e r, do Instituto de Biologia Vegetal do Rio de Janeiro, pela comparação de material, cópias de diagnoses e in- formações relativas aos exemplares da ex-coleção Melzer; ao Rev. Pe. J. M o u r e, C. M. F., do Colégio Claretiano de Curitiba, pelos tipos que permitiu incorporar ás coleções do Museu Paulista; ao Dr. Oscar Monte, da Secretaria de Agricul- tura de Minas Gerais, e ao Dr. Juan M. B o s q, do Insetário de Zoologia Agrícola de José C. Paz. Prov. de Buenos Aires, pelos exem- plares de P. derourei de procedên- cia argentina; ao colega de secção C a r 1 o s A. de Camargo An- drade, pela ilustração fotográfi- ca, que ficou toda a seu cargo. Thomson, J., 1864, Syst. Ceramb. pp. 254-255 e 456 (chave) ; Lacordaire, 1869, Gen. Col. 8, pp. 254-255 c 456 (chave) ; 6 Cabeça sub-horizontal, mais ou menos deprimida; a fronte sul- cada entre os tubérculos das an- tenas, declive para o clipeo; o vér- tice subplano; o labro pequeno, truncado no apicc e armado de cor- das longas; a região guiar lisa e mais ou menos rugosa; os processos jugulares obtusos; os palpos maxi- lares mais longos que os labiais; os olhos grosso-granulados, sinuosos na margem anterior, os lobos infe- riores grandes, os superiores mais ou menos afastados no vértice. Tubérculos das antenas com o bordo liso e mais ou menos espes- so; obliqua e profundamente recor- tados na frente, deixando perceber o nódulo basal do escapo; armados Praxithea Thomson, 1864. F. LANE — Revisão do Género Praxithea, etc. 87 internamente de um processo obtu- so mais ou menos pronunciado. Antenas mais longas que o corpo e adelgaçadas para o ápice; de 12 artículos; cilíndricas ou um tanto achatadas; os comprimentos relativos dos artículos variáveis nas diversas espécies. Protorax globoso, lateralmentc inerme, estreitado anterior e poste- riormente, superiormente convexo; com numerosas excrescencias lisas e lustrosas, os interstícios pubescen- tes; com ou sem desenhos caracte- rísticos; prosterno com um sulco transversal profundo e pubescente, em forma de meia lua, ou com o sulco cicatrizado e obsoleto. Escutelo com o ápice arredon- dado ou um tanto agudo, geralmen- te ascendente. Élitros alongados, subparalelos ou estreitados para os ápice, estes Juncados e bispinosos. Processo prosternal estreito, o Wesosternal mais largo, o intercoxal posterior agudo; o melasterno am- plo, os meta-episternos largos e es- treitados para o ápice. Abdômen com o primeiro seg- mento longo,. 2, 3 e 4 mais ou me- nos subiguais; o segmento terminal estreitado para o ápice e truncado no bordo apical. Pernas subiguais, relativamen- te curtas; os fêmures largos, espes- sos, um tanto comprimidos; as ti- ldas subcilindricas, os espinhos api- eais pequenos; tarsos com o tercei- ro articulo bilobado. 9 Diferencia-sc do macho pelo Comprimento das antenas, que nun- c á alcançam a extremidade dos éli- tros ; pela falta de desenhos caracte- rísticos no protorax, quando êstes existem no macho; pela falta do s ulco transversal do prosterno, íuando èste existe no macho; pelos élitros subparalelos, quando são es- treitados para os ápices no macho; e pelo último segmento abdominal, que é pouco ou nada estreitado para o ápice e largo-recortado no bordo distai. Exclui alguns caractéres diag- nósticos baseados sòbre machos, que figuram em T h omson e Lacordaire, especialmente com respeito às antenas, porque penso terem apenas valor especifico. Genotipo: Praxithea lhomsoni (Chabrillac, 1857) . CHAVE PARA AS E3FCCIES DO GÊXERO PHAX1THÈA ê S 1. Prosterno cora um profundo sulco transversal em forma de meia lua e densamente revesti- do de pilosidade flavescente. . 2 Prosterno com apenas uma ci- catriz alongada, indicativa do sulco 3 2. Côr castanho-avcrmelliada; es- cutelo com o bordo apical ar- redondados; élitros salpicados de pequenos tufos de pubescên- cia esbranquiçada, os espinhos apicais fortes, os suturais qua- si tão desenvolvidos quanto os externos derourei (C h a b r i II.) Côr parda carregada; escutelo de bordo apical mais agudo; éli- tros com pubescéncia uniforme griseo-flava, os espinhos apicais diminutos, os suturais quasi nulos borgmeieri sp. n. 3. Antenas achatadas; protorax sem desenhos nitidos; élitros fi- namente granulosos, a pubes- céncia uniforme, as chanfradu- ras elitrais obliquas, os espi- nhos desenvolvidos 4 Antenas cilíndricas; protora/x com desenhos esculpidos; éli- tros rugoso-granulosos, macu- lados de pubescéncia esbran- auiçada; as chanfraduras • eli- trais retas, os espinhos peque- nos thomsoni (Chabrill.). 88 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N .° 3 3/b — 1938 4. Côr castanho-avermelhada; sul- co frontal da cabeça pouco pro- fundo; élitros bastante estreita- dos para trás, com pubescên- cia uniforme flava e de cada lado, na mcLvde a£>ical, com duas pequenas manchas pouco distintas de côr mais clara; as chanfraduras elitrais obliquo- retas; a pubescência-inferior do corpo grisea mourei sp. n- Côr brúnea; sulco frontal pro- fundo; élitros moderadamente estreitados para os ápices, as chanfraduras obliquo-arredon- dadas; a pubescência inferior do corpo vermelho-desbotado javeti (C h a b r i 1 1.) 9 9 1 . Antenas achatadas 2 Antenas subcilindricas; élitros maculados de pubescência es- branquiçada thornsoni ( C h a b r i 1 1 .) 2. Espinhos apicais dos élitros pronunciados 3 Espinhos apicais dos élitros pouco desenvolvidos, os sutu- rais diminutos; o sulco frontal da cabeça raso; a côr de um pardo uniforme borgmeieri sp. n. 3. Élitros subparalelos; o sulco frontal da cabeça mais ou me- nos profundo 4 Élitros sensivelmente estreitados para os ápices; o sulco frontal raso; a pubescência dos élitros flava, com duas máculas pouco distintas de côr mais clara e si- tuadas na metade apic.' , l mourei sp. n. 4. Élitros salpicados de branco; as chanfraduras apicais subre- tas, os espinhos suturais pouco menores que os externos .... derourei (C h a b r i 1 1.) Élitros revestidos de pubescên- cia grisea uniforme; as chan- fraduras arredondadas, os es- pinhos suturais mais fracos. . javeli ( C h a b r i 1 1.1 Até aqui nada se tem escrito sôbre as fêmeas dêste gênero. Em vista da diagnose muito restrita de Chabrillac, para javeti, e de alguma dúvida quanto a 9 deter- minada por M e 1 z e r , os carac- téres da chave, para esta espécie, não pódem ser muito seguros. Praxithea thornsoni (Cha- brillac, 1857). Xestia thomsonii Chabrillac, 1857. Praxithea thomsonii (Chabril- lac, 1857), Thomson 1864. Est. I, A-C $ Tegumento da cabeça, dos três primeiros articulos das ante- nas e do protórax, negro; dos arti- culos 4-12 das antenas, do escutelo e das pernas, de um castanho es- curo; élitros de um castanho-aver- melhado. mais pálido em direção aos ápices. Cabeça revestida de pilosidade cerdosa de côr flava; pontuada, sub horizontal; a fronte com um sulco estreito entre os tubérculos das an- tenas, forte e abruptamente declive para o clipeo; o vértice subplano, obsoletamente pontuado; clipco um pouco côncavo e obliquo em dire- ção ao labro, a base subplana, o bordo anterior sinuoso; o labro pe- queno, truncado no ápice, armado de cerdas longas flavo-avermelha- das; genas pontuado-rugosas; men- to transversal, os bordos lisos, es- pessos, escavado e piloso no meio; sub-mento escavado, rugoso e es- parsamente piloso; região guiar lustrosa, lisa, com rugas Iransver- sáis espessas; processos jugulares desenvolvidos, largos, triangulares, levemente recurvos ao redor da base lateral das mandíbulas, pon- tuados e pilosos; palpos maxilares quasi do comprimento das mandí- bulas, os dois últimos segmentos subiguais. mais curtos que o ante- rior, o apical alargado distalmente e um pouco achatado; palpos la- biais mais curtos; mandíbulas for- 90 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. III N .° » 3/4 — 1938 nulosos, passando depois a ter ru- gosidades, mais obsoletas para os ápices; são maculados de curta pu- bescência, amarelada na base e de um branco puro no resto. Processo prosternal estreito, liso e lustroso; esparsamente pon- tuado e piloso, a pilosidade mais densa nos bordos laterais; no meio constrito, o ápice abrupta e per- pendicularmente caido para o me- sosterno. Processo mesoternal mais largo, no ápice, de cada lado, com um pequeno dente obtuso, o bordo anterior unido à ponta do metas- terno, que ó sensivelmente elevada. O processo intercoxal posterior muito estreito e sumido entre as coxas posteriores. Metasterno am- plo, com um fino sulco longitudi- nal mediano e com uma pequena fossa conligua ao processo intei co- xal posterior; metaepis ternos lar- gos, estreitados para o ápice. Abdómen com o l.° segmento o mais longo, um pouco liso no bordo distai; 2-3-1 com uma faixa lisa e lustrosa no meio do bordo dista’.- o 5." segmento estreitado para o ápi- ce e truncado no bordo distai. Me- sosterno, metasterno e abdómen com densa e longa pilosidade gri- sea. Pernas curtas, subiguais; os fê- mures achatados, um tanto largos, estreitados anterior e posteriormen- te, os anteriores mais encorpados; tíbias cilíndricas, subiguais aos res- pectivos fêmures; tarsos com os três primeiros artículos subiguais, o 3.° profundamente bilobado, a sóla com densa pubescência ama- rela, o 4.° artículo tão longo quan- to 1-3 em conjunto, as garras fortes. Compr. 41-50 mm., larg. umeral 10-12 mm. 9 Com os processos jugula- res um pouco mais curtos; as an- tenas apenas atingindo o nível do .bordo distai do terceiro seg- mento do abdómen; com o último artículo igual em comprimento ao anterior. Protórax sem desenho algum, mas bastante pontilhado de peque- nos tubérculos lustrosos, desiguais em tamanho, por vezes confluentes, e muito irregularmente dispostos. Élitros mais subparalelos, pou- co estreitados para o ápice. Abdómen com o último seg- mento muito pouco estreitado para o ápice e largo r recortado no bordo distai. Compr. 16-47 mm., larg. úme- ral 12 mm. Distribuição Geográfica; São Paulo, Rio Claro, 1922, Ex-col. Navarro de Andrade (9); Minas Gerais, Manhumirim, 15-XII- 1935, Coleção Z e 1 1 i b o r-H a u f f ( á ) ; Rio de Janeiro, Itatiaya, e Santa Catarina, Hansa Ilumboldt (ê,6 e 9 9). P r a x i I h e a j av et i (Chabril- lac, 1857) Estampa I, D e E Xeslia Javeli C h a b r i 1 1 a c in Thomson, 1857. Praxithea Javeti (Chabrillac, 1857) Lacordair e, 1869. Praxithea Javeti (Chabrillac, 1857) A u r i v i 1 1 i u s, 1912. Chabrillac na sua descri- ção apenas diferencia esla espécie de thomsoni pelos seguintes carac- teres: "antenas achatadas; prolo- rax mais curto muito tuberculado, ornado de pêlos amarelos, com dois tubérculos no meio; élitros muito obsoleta e finamente granulosos; chaufraduras posteriores oblíquas e os seus espinhos muito grandes. Parte inferior do corpo e pernas de um vermelho descorado. Brasil. Comprimento: 38 mm., larg.,9 mm.. Dedicada a M. Charles Javet. cm i SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. LANE — Revisão do Género Praxithca, etc. 91 Baseado em um único exem- plar da “Coleção M e 1 z e r” posso adiantar os seguintes caractéres pa- ra a fêmea desta espécie. 9 Brunea, revestida de pu- bescência amarela na cabeça, ante- nas, tórax, escutelo e estreita por- ção na base dos élitros; élitros (ex- ceto a base), lado inferior do corpo e pernas com pubescência grisea. Cabeça subborizontal, profun- damente sulcada entre os tubércu- los das antenas e os lobos superio- res dos olhos; o clípeo, no meio, e uma pequena região do vértice, on- de termina q sulco frontal, glubros; os tubérculos afastados, robustos, salientes sòbrc o plano geral da ca- beça, angulosos, com um recorte frontal largo e fundo, expondo os nódulos do l.° articulo das ante- nas; clipeo côncavo para a linha mediana; genas estreitas; processos jugulares largos, arqueados, os ápi- ces obtuso-angulosos; labro peque- no, bilobado, munido no centro de longas cerdas; mandíbulas fortes, externamente engrossadas c rugo- so-pontuadas, os pontos munidos de cerdas amarelas, o gume interno aplanado, bidentado e lustroso, o ápice agudo c curvado para a linha mediana. Olhos grossamente gra- nulados, volumosos, na margem an- terior fortemente sinuosos, a pos- terior subreta, os lobos inferiores grandes, globosos, os superiores pe- quenos, llargamente afastados no vértice. Antenas achatadas, relativamen- te curtas, apenas alcançando o hor- do posterior do segundo segmento abdominal; o escapo robusto, com pontuação grossa e cerdas esparsas, o bordo apical arredondado e lus- troso mais grosso para o ápice es- pecialmente o lado externo; o 2.° segmento diminuto, anelar, quasi inteiramente lustroso, apenas cer- doso na base com uma fosseta no bordo externo (que é declive) cor- respondente ao angulo do rebordo do escapo; o 3. articulo 1 2 / 3 vezes o comprimento do escapo, 4-8 sub- iguais ao escapo, 9-11 um pouco me- nores; 12.° artículo pequeno, -/ 3 do escapo em comprimento. Art. 3-11 dentados no ápice externo (os den- tes agudos) ; 3.° art. com duas pe- quenas fosselas apicais, 4-12 com escavações longitudinais rasas mas largas, da base à ponta, destituídas de pilosidade e separadas por um gume vivo. Antenas achatadas, o pi- losidade mais esparsa e pequena para o ápice. Protórax sub-globoso, mais lar- go que longo, a maior largura pró- ximo à base; no pronoto com uma carena mediana, estreita e sinuosa, principiando no bordo anterior e apagando-se antes do bordo poste- rior; com 2 tubérculos pequenos, um de cada lado da carena e mais pró- ximos do bordo anterior; a super- fície do pronoto com larga faixa mediana rugulosa c densamente re- vestida de pilosidade amarela; os lados do protórax asperamente ru- goso-coriaceos e quasi destituídos de pilosidade, os bordos postero-la- terais pilosos; o prosterno mais fi- namente rugoso, o sulco transvel- sal obsoleto, cicatrizado, o proster- no posteriormente triangulado bi- caloso e forte e abruptamente de- clive. Escutelo obliquamente ascen- dente, piloso no meio, a base e re- bordo lustrosos, o bordo apical uni- formemente arredondado (menor do que o escutelo da 9 de thomso- ni e mais arredondado). Élitros muito obsoleta e fina- mente pontuado-rugosos, quasi cin- co vezes o comprimento do prono- to, na base sub-retangulares, os úmeros arredondados, os lados pa- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 BOLETIM' BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. III .Y.°s' 3/4 — ÍÍJ.7S ralelos, próximo aos ápices deis- centes, uniformemente arredonda- dos nos bordos externos, as chan- fraduras obliquo-arredondadas, os espinhos fortes, oblíquos para a li- nha mediana e levemente curvados para baixo, os suturais mais curtos. A pilosidade dos élitros é fina e cin- zenta, com exceção de uma faixa basal. Cada élitro apresenta duas costelas quasi obsoletas, com início na base e tornando-se evanescentes antes dos ápices. Processo prosternal estreito, es- trangulado na base, alargado um pouco para o ápice, êste arredon- dado e recurvo para dentro; pro- cesso mesosternal com um V 2 diâ- metro de coxa média, os bordos obliquamente elevados, o bordo api- cal sub-reto e sob o ápice basal do metasterno, os cantos laterais do ápice prolongados de cada lado, para fóra, em dente forte encaixa- do em pequena concavidade da co- xa; processo intercoxal posterior profundo e agudo, sumido entre as coxas posteriores. Metasterno amplo, glabro na li- nha mediana, a ponta basal cônca- va, arredondada, no bordo poste- rior com uma profunda escavação na base das coxas posteriores. Me- ta-episternos largos, cuneiformes. Abdômen com os segmentos 1-4 subiguais, os bordos distais glabros e lustrosos, o 5.° segmento largp no ápice e chanfrado no meio. Pernas anteriores e médias sub- iguais, as posteriores um pouco mais longas; fêmures achatados, recurvos no bordo superior; tíbias subiguais aos respectivos fêmures, lineares, cilíndricas; tarsos com os artículos curtos, quasi subiguais, o 3.° profundamente bilobado, a sóla densamente amarelo-pilosa. Comprimento: 47 mm.; largu- ra úmeral: 12 mm. 1 exemplar 2 do Estado de (íoiãs, Vianópolis, XI. 1931, R. Spitz col., Melzer det. É com certo receio que descre- vo êste exemplar como a fêmea de javeti, aceitando a determinação de Melzer. As dimensões fogem bastante das que são dadas por Chabrillac. A diagnose origi- nal é tão omissa, que quasi me in- clino a considerar o exemplar em questão como uma espécie nova. Praxithea mourei, sp. n. Estampa I, F; Estampa n, A á Castanho avermelhado, qua- si negro na cabeça e protórax, cla- ro nas antenas, élitros e pernas; em cima revestido de pilosidade amarela; inferiormente no meso-e metasterno e nas faces inferiores dos fêmures médios e posteriores com pilosidade cinzento-amarela mais densa e longa. Cabeça sub horizontal, deprimi- da, toda revestida de densa pubes- cência amarela; sulcada na fronte, esta com quéda abrupta para o clí- peo, que é profundamente escavado abaixo dos tubérculos; o bordo an- terior reto; tubérculos das antenas rasos, oblusamente armados na fronte, entalhados na frente, dei- xando perceber o nódulo do esca- po; genas estreitas; mento liso, oblíquo; submento com duas eleva- ções rasas, densa e fortemente pon- tuadas; na parte apical, na base do mento, com pilosidade amarela; a região guiar lisa, levemente rugo- sa. Mandíbulas fortes, recurvas, su- periormente com uma quilha basal forte; o gume interno aplanado e bidentado, os dentes pequenos, a extremidade muito aguda e recurva para dentro, o gume e extremida- de lisas; exteriormente espessadas, pontuado-rugosas, revestidas de pi- em 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. LANÉ — Revisão do Gênero Úrnxitlièa. etc. 9." losidade amarela. Processos jugula- res obtusos. Palpos com os segmen- tos apicais achatados, chanfrados e alargados no ápice, os segmentos anteriores cônicos com o ápice obli- quamente cortado, os segmentos ba- sais geniculados; os maxilares mais longos que os labiais, com os três últimos segmentos decrescentes em comprimento; os labiais com o seg- mento apical mais longo que o an- terior. Olhos volumosos, grossamen- te granulados, na frente fortemente sinuosos, bem separados em cima e em baixo. Antenas mais longas que os éli- tros, de 12 artículos; o escapo gros- so, insensivelmente engrossado para o ápice; o 3.° articulo 1 Y» vezes mais longo que o escapo; 4-11 um pouco menores ou subiguais ao 3.° artículo, 3-12 achatados, 3-11 infe- riormente dentados em serra; os artículos basais mais robustos, to- dos gradualmente mais delgados para a extremidade da antena; o 3.° articulo na face inferior forte- mente quilhado no ápice; os se- guintes, na mesma face, com um gume mediano pronunciado de ba- se a ápice, as regiões laterais niti- damente marcadas por filetes, pla- nas, nos artículos apicais levemcn- te escavadas; os últimos cinco artí- culos subangulosos em cima; o 12.° articulo subagudo no ápice, do com- primento do escapo. Protórax globoso, convexo, mais largo do que longo, a sua maior largura próximo à base; o bordo anterior reto; o posterior subreto; os bordos laterais inermes, mais direitos que arredondados; o pronoto com a região central eleva- da mostrando uma calosidade ir- regular longitudinalmente alonga- da, glabra e lisa, e, de cada lado desta, uma calosidade menor, re- gular e arredondada, também gla- bra e lisa, diagonalmente a estas e para fóra, de cada lado, com unia depressão marcada; os bordos late- rais com pontuações muito grossas e confluentes, formando extensões irregulares de escavações mais ou menos profundas e quilhas retorci- das; o prosterno apenas pontuado- rugoso, a pilosidade mais longa, porém mais escassa e gríseo-ama- rela. Escutelo subquadrado, obliqua- mente ascendente, largo-arredonda- do no ápice, revestido de pubescèn- cia amarela. Élitros 4 y* vezes o comprimen- to do pronoto; nos úmeros mar- cadamente mais largos que o pro- tórax; estreitando-se para os ápi- ces, êstes obliquàmente truncados e biespinosos, os espinhos desenvol- vidos, os externos mais longos: a côr castanho-vermelha, mais ama- rela para os ápices; a pubescència mais curta e esparsa que no pro- noto. Abaixo dos úmeros com duas manchas mais claras, uma de cada lado, e na metade posterior com quatro manchas idênticas, duas de cada lado: os úmeros arredonda- dos, a base dos élitros elevada na região escutelar. Os élitros obsole- ta e finamente pontuados. Processo prosternal estreito, ca- renado lateralmente e no meio, o ápice clavado-arredondado, pon- tuado, piloso; processo mesosternal mais largo, com os bordos elevados, levemente depresso e expandido e recurvo no ápice, aí recoberto em diminuta estensão pela ponta do metasterno; processo intercoxal posterior agudo. Metasterno amplo, finamente pontuado, com uma linha mediana glabra. Episternos metatorácicos largos, um pouco estreitados para o ápice, êste arredondado. cm l SciELO' 11 12 13 14 15 16 17 94 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N .° * 3/4 — 1938 Abdómen não alcançando o ápice dos élitros, o último segmen- to largo e truncado no ápice, os bordos laterais oblíquos. Pernas subiguais; os fêmures inferiormente aplanados, os ante- riores bem mais espessos que os de- mais, os médios e posteriores acha- tados, aqueles levemente recurvos lateralmente; tíbias subcilíndricas, arcadas na base, especialmcnte as dianteiras, os dois espinhos apicais pequenos e bem separados, mais de- senvolvidos nas tíbias posteriores, que são também um pouco mais longas. Tarsos subiguais, regulares; o l. u segmento o mais longo; o 3.° fortemente bilobado; a pubescên- cia da sóla completa; garras tar- sais fortes recurvas para baixo e para dentro. Compr. 36 mm., larg. úmeral, 9.5 mm. o Difere do $ pelas antenas mais curtas que os élitros, pouco ultrapassando 4/6 dos mesmos; o 3.° articulo um pouco mais longo que o escapo e notavelmente mais longo que os seguintes. Os élitros subparalelos, estreitando-se pouco para os ápices. Os fêmures anterio- res apenas mais espessos que os demais. O último segmento do ab- dómen alarga-se para o ápice e é largamente recortado. O protórax pôde ser mais globoso e mais arre- dondado lateralmente, caráter tal- vez variável e pouco seguro. Compr., 30-39 mm., larg. úme- ral, 7-9.5 mm. II o l o t i p o á , A I o t i p o 9 , na coleção do Museu Paulista sob os números 22.922 e 22.923; 1 1 1 a r a t i p o 9 na coleção do Mu- seu Claretianos de Curitiba, Para- ná, sob o n.° 536. Locdlidad e-T i p o: Para- ná, Curitiba, janeiro de 1935, Cla- retianos leg. Tenho o prazer de dedicar es- ta espécie ao meu amigo e colabo- rador Pe. J. Moure, C.M.F. Praxithea derourei (Cha- brillac, 1857) Xestia De Rourei C h a b r i 1 1 a c in Thomson, 1857. Praxithea De Rourei (Chabril- lac, 1857) Aurivillius, 1869. Praxithea Derourei (C h a b r i 1 - lac , 1857) — Aurivillius, 1912. Elaphidion collarc Burmeistcr, 1865. Elaphidion collarc B ur m. — Au- rivillius, 1912 (Col. Cat.) Ilypermallus collaris (Burmeis- ter, 1S65) Lacorclairc, 1869. Praxithea collarc (Burmeistcr. 1865) Bruch, 1911. Estampa II, B-D E’ esta espécie a mais comum do gênero e frequente nas coleções entomológicas. A diagnose de B u r - m e i s t e r , 1865, traduzida abai- xo, caracteriza perfeitamente a es- pécie, dispensando qualquer redes- crição. O autor colocou com dúvi- da a espécie, que então descreveu como nóva, no gênero Elaphidion. “Castanho-vermelho fosco, com pi- losidade amarelo-cinzenta, densa na parte inferior do corpo, em ci- ma com rugas coriáceas espaçadas. Antenas fortes, os artículos em bai- xo com gume agudo e com os ápi- ces salientes. Cabeça pequena, pro- tórax curto e não alcançando a lar- gura dos úmeros, os lados arre- dondados, a superfície rudemente pontuada, desigual, nas partes es- cavadas com pilosidade eriçada amarelo-cinza, com dois pequenos tubérculos lisos antes do meio na cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 96 BOLETIM BIOLÓGICO (Nona Série) Vol. III .Y.°» 3/i 193S “bevelled’, esta margem lustrosa, o 3.° artículo marcadamente mais longo que os seguintes, a base es- treita, dorsalmente alargado de mo- do súbito depois do l.° terço, depois fechado para o ápice, inferiormen- te gradualmente alargado, insensi- velmente mais longo que o escapo; artículos 4-7 um pouco mais longos que o 3.", 8." mais curto que 4-7, ü-11 subiguais a 3.°, 12.° da metade do comprimento de 4-7 ; todos os ar- tículos diminuindo para a ponta em espessura e no desenvolvimento do dente. Protárax como em derourei, a maior largura próxima à base. Élitros subp arai elos, os úme- ros arredondados, cobertos por uma pubescència uniforme grísea, os ápices elegantemente arredondados, os espinhos apicais pouco desen- volvidos, os suturais pequenos e di- rigidos para a linha mediana, os ex- ternos maiores dirigidos j>ara den- tro e para baixo. Compr. 19 mm.; larg. úmeral 7 mm., conservada até quasi o ápice. Esculelo obliquamente ascen- dente, os bordos levemente espa- çados, todo revestido de pilosidade gríseo-amarela, muito mais trian- gular que em derourei. Processo prosternal muito fino e estreito, clavado, a ponta recurva para dentro, pontuado, piloso; pro- cesso mesosternal triangular, mais largo que o prosternal; o processo intercoxal posterior agudo. Metasterno amplo, com uma li- nha mediana glabra, gríseo-piloso, a pilosidade mais curta que em de- rourei, metepisternos relativamen- te largos, estreitando-se para o ápi- ce, na margem superior recurvos levemente no ápice. Pernas subiguais, os fémures largos, espessos, os bordos supe- riores recurvos, os inferiores apla- nados, a pilosidade nesse plano muito mais densa; os médios re- curvos, com a face do corpo, na ba- se e ápice mais estreitos, um pouco mais curtos que os outros. Tíbias dianteiras retas, mais grossas gra- dativamente para o ápice, do com- primento dos respectivos fêmures, o espinho apical em posição lateral e obsoleto; tíbias médias e poste- riores tortas, as médias um pouco mais curtas que os respectivos fê- mures; no ápice inferiormente qua- si tão pilosas como a sóla dos tar- sos. Tanto as médias como as pos- teriores finas na base e alargadas para o ápice. Tarsos anteriores com o l.° ar- tículo mais longo que o 3.°; os mé- dios e posteriores com o dobro comprimento do 3.°. O 3.° art. cm todos os tarsos profundamente lo- bado. Comprimento: 27 mm., largura umeral 7 mm. 2 Mais robusta; élitros subpara- lelos; os espinhos eli trais mais cur- tos; os palpos menos longos; as antenas pouco ultrapassando a me- tade dos élitros, mais largas que as do macho. Compr. 31 mm., larg., umeral, 8.5 mm. H o l o ti p o 3 e Al o tipo 2 nas coleções do Museu Paulista sob os números 22.924 e 22.925. Localidade Tipo : Estado de Goiás, Leopoldo Bulhões, novem- bro de 1935, R. S p i t z col. E’ com prazer que dedico esta espécie ao meu amigo Frei Tho- maz Borgmeier, O. F. M. ABSTRACT The author revises the genus Praxithea THOMSON, giving a redescription of P. t h o m s o ni cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 cm l LA, XE. REVISÃO DO GE XE RO PRAX1THEA, etc. Boi. Biol. 111, 3/t Estampa 1 Boi. Biol. 111, 3/'t Estampa 2 F. LAXE, REVISÃO DO GEXERO PRAXITHEA, etc F. LANE — Revisão do Gênero Praxithea, etc. 97 ( CHABR1LLAC ). A description of P. javeti ( CHABR1LLAC ) fol- lows, althought it is rather doubt- ful if the specimen considered should be taken as belonging to ja- veti . P. mo ur ei and P. bor- g m ei eri , spp. n. are described. P. co ll are ( BURM .) BRUCH, is a n. syn. ofP.derourei ( CHA - BR1LLAC) ; in AUR1VILLIUS, 1912, Col. Caí. pars 39, tíiis species ap- pears twice under Praxithea (p. 43) and under Elaphidion (p. 86). BURMEISTERS species was correctly put in the genus Pra- xithea by BRUCH, 1911, but the- re seems to be no advantage to keep it se par ate from P. d er o ur ei ( CHABRILLAC ). BIBLIOGRAFIA Aurivillius, Chr. — 1912-Col. Cat. Junk-Schenkling, pars 39 (Ce- rambycidae: Cerambycinae), W. Junk, Berlin, p. 43. Bondar, G. — 1915 — Bichos dani- nhos da fruticultura e arbori- cultura, ed. “Chacaras e Quin- tais”, São Paulo, 15-1T5. Bondar, G. — 1 9 3 7 — Arq. Inst. Biol. Veget. Rio de Janeiro, 3, 151-152. Bruch, C. — -1911— Cat. Sist. Col. Rep. Argentina, pars. S, Rev. Mus. 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S Fig. B — Praxithea derourei (Cha- brillac). $, vista ventral, mostrando o sulco transver- sal do prosterno. Fig. G — Praxithea derourei (Cha- hrillac). â Fig. D — Praxithea derourei (Cha- brillac) . 9 Fig. E — Praxithea borgmeieri, sp. n. á Fig. F — Praxithea borgmeieri, sp. n. 9 98 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N . os 3/// — 193H A BANDEIRA ANHANGUERA E SUA CONTRIBUIÇÃO Á ORNITOLOGIA DO RIO ARAGUAL4 * Por Ouverio M. de Oliveira Pinto T rabalho do Museu Paulista INTRODUÇÃO Ao leitor brasileiro seria dis- pensável, talvez, qualquer noticia sôbre o que foi a Bandeira Anlian- guera. Hermano R i b e i r o da Silva, cuja vocação de explo- rador e sertanista se tornara co- nhecida de todos através da deli- ciosa narrativa de sua primeira viagem aos “Sertões do Araguaia”, conseguira, em começos do ano passado, reunir os elementos ne- cessários para realizar uma nova entrada pelq nosso interior inde- vassado, alimentando o projeto de completar as observações que an- teriormente fizera no vale do gran- de rio, e, mais ainda, penetrar na região temida dos Chavantes, lo- calizada para oéste do Rio das Mortes. Era seu principal fito o pôr-se em contato com aquela tri- bu temida da selvícolas, cuja ín- dole indomável e invencível aver- são aos civilizados têm-se paten- teado, mais de uma vez, em episó- dios de trágica memória. Não queria, porém, limitar a isso o escopo de sua empresa; assen- tara que dessa vez haveria de co- lher da aventura os maiores resul- tados possíveis, aparelhando-se de pessoal e de meios para realizar pesquisas cientificas nos diferentes ramos. Assim foi que tive, também, o prazer de receber a sua visita c de colaborar nos seus projetos de ex- plorar, zoologicamente, a zona des- conhecida que tentava palmilhar, e de receber dele a agradável pro- messa de que todo o resultado da coleta reverteria em beneficio do Museu Paulista. Fez-me ainda ci- ente de que era sua idéia encarre- gar desta parte o Snr. W a 1 1 e r Garbe, antigo conhecedor do mister e até meu próprio compa- nheiro em excursões naturalisticas, escolha que não hesitei em aplau- dir, certo de que algum fruto a ex- pedição haveria de colher por êste lado. Sabe-se qual foi o doloroso epi- lògo da patriótica e arrojada em- presa; durante a viagem de regres- so, Hermano Ribeiro da Silva, cujo estado de saúde progressivamente se agravara, em consequência do paludismo adqui- rido potico antes, veio a falecer em pleno sertão, onde dir-se-ia lhe haver a sorte reservado a sepultu- ra mais digna de sua paixão de desbravador e aventureiro. Levara, todavia, a grata satis- fação de ter visto coroados, em (•) Êste trabalbo é publicado pelo Clube Zoológico do Brasil. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 ^O. PINTO — A Bandeira Anhanguera, ctc. 9Í> boa parte, os seus esforços, tendo conseguido penetrar com os seus destemerosos companheiros ate aos primeiros aldeiamentos indígenas, localizados na vertente oriental da Serra do Roncador, e obter valiosa cópia de documentos etnográficos, dos cpiais já têm sido publicados breves noticias, e de cujo estudo acurado advirá certamente ainda maior luz para o conhecimento das tribus alí residentes. Não fracassaram também, in- teiramente, as minhas previsões, no tocante aos resultados para a nossa zoologia. Apesar das dificuldades constantes e do carater itinerante da excursão, foi possível a G a r b e obter e preparar uma coleção de aves empalhadas, pequena em nú- mero de exemplares, mas nem por isso destituída de interesse, atenta a zona especial em que fòra reali- zada. Por decisão dos que receberam o espólio da “Bandeira”, veio a dita coleção a ser doada ao Museu Pau- lista, que a recebeu das mãos do próprio colecionador em começos do ano vigente, sendo assim cum- prido o desejo de Hermano. As breves noticias que se se- guem constituem pequena achega ao conhecimento avifaunístico de uma zona, que podemos dizer inex- plorada, mas significam, antes de tudo, uma pálida homenagem à me- mória do distinto e saudoso con- terrâneo, tão prematuramente rou- bado ao nosso convívio e ao pro- gresso de nossa cultura. CARACTERES AVIFAUNÍSTICOS GERAIS DA COLEÇÃO ESTUDADA Os exemplares da série, cujo número não excede à modesta soma de 131, correspondem, não obstan- te, a nada menos de 72 formas di- ferentes, representativas de outras tantas espécies. Provêm exclusiva- mente do Estado de Mato-Grosso e foram, em quasi sua totalidade, co- lecionados na região compreendida entre os rios Araguaia e das Mor- tes, exceptuados apenas alguns pou- cos, obtidos na margem ocidental ou esquerda dêste último rio, en- tre os dias 18 e 22 de outubro. Não é, pois, de admirar figurem entre êles fonnas inteiramente novas pa- ra o Rio Araguaia, cuja avifauna só foi praticameute estudada na mar- gem direita, de onde provieram to- dos os especimens da grande cole- ção, feita por B a e r em 1906, e mi- nuciosamente estudada pelo Dr. H. C . H e 1 1 m a y r , no vol. XV (1908) das Novitales Zoologicae, editadas pelo “Tring Muscum”. Só o grande Natterer pare- ce ter investigado ornitologicamen- te a margem esquerda daquela grande artéria fluvial, que, ainda assim, fóra por êle transposta em 'latitude sensivelmente mais meri- dional, aos 16.° aproximadamente, enquanto que a zona explorada pe- la “Bandeira” está quasi toda ela circunscrita entre os 30’ ao norte e ao sul do paralelo de 14°. Apesar do vulto relativamcnte pequeno do material trazido, o grande rio aparece, como era aliás licito esperar da extraordinária lar- gura do seu leito, como importante divisor avifaunístico, provando-se a ocorrência, em sua margem ociden- tal, de um certo número de formas, tidas como tipicamente matogros- senses, ou senão amazônicas, mas, em qualquer caso, inteiramente desconhecidas em sua margem di- reita, ou seja no Estado de Goiás. Estão nomeadamente neste caso Myrmotherula axillaris axillaris e Hijpocnemis maculicauda, formas cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 100 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.™ 3/4 — 1938 amazônico-matogrossenses, até ago- ra conhecidas em Mato-Grosso ape- nas das regiões do Rio Guaporé e do alto Paraguai (Vila-Bela, Cace- res, Cuiabá, etc.), a que pode acres- centar-se ainda Myrmoclerus atro- thorax melanura, também peculiar à essa porção mais ocidental do re- ferido Estado e à Bolivia, mas já verificada anteriormente na Cha- pada. Consideravelmente avultado é o número das que, pela sua distri- buição, não abrem margem a repa- ro especial, mas aparentemente es- tranhas à literatura ornitológica do Rio Araguaia, nele compreendido o Rio Tesouras, seu afluente pela margem direita, bem explorado pe- lo referido Snr. Baer. Uma de- las, todavia, Crocomorphus flavus inornatus, deve ser também nova para o Brasil central e merece ser salientada. E’ raça amazônica (Rio Juruá, Rio Tapajós), cuja descober- ta nessa latitude parece-me de todo surpreendente. A comparação do exemplar com outros de Santarén- localidade típica da raça, não deixa dúvida sôbre a determinação que lhe cabe. As restantes, que me pa- recem no referido caso, são: Totanus flavipes Tringa solitaria solitaria Cohimbigalina minuta minuta Tirica chiriri Eupetomena macroura macroura Anthoscenus longiroslris Megacerglc torquata torquata Chlorocergle aenea aenca Mo nas a nigrifrons nigrifrons Pteroglossns castanotis australis Dysithamnus mentalis affinis Melanopareia torquata rufescens Formicivora grisea grisea Pipra fasciicauda scarlalina Antilophia galcata Todirostrum lalirostre latirostre Elaenia caniceps caniceps Empidonomus varins varius Myiochanes cinereus pallescens Muscivora tyrannus tyrannus Troglodytes musculus musculus Turdus leucomelas ieucomelas Dacnis cayana paraguayensis Coereba chloropyga alleni Ateleodacnis speciosa speciosa Piranga flava saira Hemithraupis guira guira Schistochlamys melanopis olivinus Sporophila plúmbea plúmbea Zonotrichia capensis matutina Diucopis fasciata Icterus cayanensis valenciobuenoi G a r b e foi ainda bastante fe- liz em conseguir colecionar exem- plares de duas formas, eminente- mente características, e privativas do Araguaia, cuja descoberta se de- ve a Baer. Refiro-me a Paroaria baeri e Sakesphorus luctuosus ara- guayae, ambas descritas em 1908 por Hellmayr, e provavelmen- te até agora conhecidas apenas da margem direita, através dos primi- tivos exemplares. Não deixa de ser interessante verificar-se agora, que, apesar da sua restrita e singular distribuição, ambos ocorrem dum e doutro lado do rio. Merecedor por igual de menção particular é um outro pássaro, Knipolegus orcnocen- cis xinguensis, descrito originaria- mente do Rio Xingú, mas asinalado também no Araguaia pelo Dr. Hellmayr, através de exempla- res colecionados por Baer. Des- tas e das outras rejiresentadas na coleção de Baer, ler-se-á com proveito os instrutivos comentários que lhe dedicou o douto ornitólogo de Viena, no trabalho acima referi- do. Afóra as três supramenciona- das, são as seguintes as que, na re- ferida coleção, provieram do Ara- guaia ou do Tesouras: cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 O . PINTO — A Bandeira Anhanguera, etc. 101 Crypturelliis parvirostris Vropelia campestris Claravis pretiosa Vyctidromus albicollis derbyanm Anthracothorax nigricollis nigricollis Heliactin bilophum Trogonorus variegatus variegatus Chloroceryle americana mathewsi Lepidocolaptes angustirostris bivitlatus Synallaxis scutata scutata Taraba major major Thamnophilus punctatus pelzelni Tolmomyias flaviventris flaviventris Elaenia gaimardii gaimardii Myiozetetes cayanensis cayanensis Pyrocephalus rubinus nibinus Cnemotriccus fuscatus bimaculalus Cyanocorax cyanopogon Thryolhorus leucotis rufiventris Thryothoras genibarbis intercedens Vireo virescens chivi Baileuterus flaveolus Coryphospingus ciicullatus Um certo número, não referi- das na coleção de B a e r , contam- se, todavia, entre as mais espalha- das em Goiás e já haviam sido ob- tidas no Araguaia (margem direi- ta), por Natterer : ictinia piimblea Diopsittaca nobilis cumanensis Galbula rufoviridis rufoviridis Fluvicola pica albiventer Polioptila dumicola berlepschi Por fim, as cinco restantes de- vem ser das mais comuns na avi- fauna do rio, uma vez que figuram também tanto na coleção deBaer, como na de Natterer: Crypturelliis undulatns vermiculatus Agyrtrina fimbriata nigricauda Momotus momota pilcomajensis Thamnophilus doliatus dificilis Herpsilochnuis longirostris PONTOS DE PROCEDÊNCIA DOS ESPECIMENS E CONSIDERA- ÇÕES ECOLÓGICAS Não disponho de nenhum re- latório preciso sobre itinerário e as estações da “Bandeira”, em que foi colecionado o material em estudo*. Entretanto, pelas datas afixadas ao rótulo de cada exemplar e com au- xílio do mapa organizado pelo Snr. Arnaldo O. Nebias, mem- bro da expedição, é possível histo- riar de modo plenamente satisfató- rio a marcha dos trabalhos do co- lecionador, assim no que respeita às localidades em que foram coli- gidos os exemplares, como no to- cante ao tempo de permanência em cada uma delas. Assim é que a “Bandeira”, em sua viagem de pe- netração, atravessou o rio Araguaia no logar que denominaram Porto Anhanguera (a 14°.20\ aproximada- mente, de latitude sul), rumando a princípio para o noroeste (até o “Coricho da Saudade”, afluente do Araguaia) e depois francamente pa- ra o norte, num percurso de 54 qui- lómetros, até o Bio Cristalino, de onde foram trazidos os primeiros especimens (nos dias 25, 26, 27, 20 o 30 de agosto de 1937). E’ o rio Cristalino um pequeno afluente da margem esquerda do Araguaia, cuja fóz demora pouco ao norte da ponta meridional da Ilha do Bana- nal, ou sejam cêrca de cem quilô- metros acima da do Rio das Mor- tes. As formas nele colecionadas, abstraindo Paroaria baeri, são em regra largamente disseminadas nos campos do planalto centro-brasilei- ro ( Lepidocolaptes angustirostris bivittatus, Pyrocephalus rubinus ru- binus, Piranga flava saira) ou das estreitas matas ciliares que acom- panham os seus rios e regatos ( An - tilophia galeata). cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 102 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°* 3/4 — 193S t A segunda estação, “Lagôa do Aldeiamento” (dias 1, 7, 8, 9 de Se- tembro), de que a “Lagoa da Serra Azul” (3, 4, 5 e tí de setembro), si não for dela sinônimo, deve-lhe ser intimamente vizinha (por se inter- calarem às da primeira as datas a ela correspondentes), está situada a pequena distância do Rio Cristali- no (à sua margem esquerda) . Abs- tração feitas dos martins pescado- res (Megaceryle t. íorqimta, Chloro- ceryle americana mathewsi, Chloro- ceryle a. tienea), as formas dali tra- zidas ( Uropelia campestris, Herpsi- lochmus longirostris, Melanopareia torquata rufescens, Coryphospinyus c.ucullatiis, Hemilhraupis g. guira, Ateleodacnis s. speciosa ), corres- pondem às mesmas condições eco- lógicas do mencionado rio. A terceira estação (dias 11 a 15 de setembro), “Pontal da Serra Azul”, não apresenta ainda varian- te apreciável no tocante às espécies de lá trazidas, que, afóra um exem- plar migratório ( Tringa flavipes), são os mesmos elementos da avi- fauna dos campos por assim dizer ubíquos no interior do Brasil ( Uro- pelia campestris, Galbula r. rufo-vi- ridis, Thamnophilus dolialus difici- lis, Fhwicola pica albiventer, Schis- lochlamys melanopis olivina, Poli- optila dumicola berlepschi, Sporo- phila plúmbea). Dela é também o casal de Knipolegus orenocensis xinguensis, forma de distribuição aparentemente circunscrita à região do Xingú e do Araguaia (margem direita e esquerda), mas também tipicamente campestre. Só na quarta estação, margem direita do “Rio das Mortes” (de 21 de setembro a 4 de outubro) , as pe- ças obtidas atestam uma diferença notável de ambiente, ocorrendo ao lado das espécies campestres ba- nais, avultado número de formas peculiares à mata ( Sakespborus luctuosus araguayae, Dysithamnus af. affinis, Todirostrum l. latirostre, Pipra fasciicauda scarlatina, Thry- othorus albipectus rufiventris), al- gumas das quais ( Hypocnemoides maculicauda, Myrmolherula a. axi- laris, Myrmoderus atrothorax rne- lanura), até aqui só conhecidas da Amazônia, ou dos rios mais ociden- tais de Mato-Grosso (Rio Guaporé, alto Rio Paraguai, Rio Cuiabá) . Um curto estágio (18 a 22 de outubro) no lado ocidental do mes- mo rio, ponto mais remoto dos em que Garbe colecionou material, vieram-nos ainda alguns poucos elementos da fauna campestre do Brasil central ( Diucopis fasciula fasciata, Heliactin bilophum, Agyr- trina fimbriata nigricauda, Melano- pareia torquata rufescens, etc.) . Transposto o Rio das Mortes, o rumo norte-sul, que era observado, quasi que rigorosamente, desde o “Coricho da Saudade”, mudou francamente para este-oeste; mas, a partir do dia 22, quando se iniciou a fase mais árdua da jornada de penetração, instala-se um longo hia- to, que só se fecha uma quinzena depois, quando, já de retorno, volta Garbe a reunir espeeimens, no logar da fazenda ou sítio do velho Angelo Severo, situado jjró- ximo ao rio Araguaia, na encosta oriental da série de colinas que re- ceberam o batismo de “Serrote dos Paulistas”. Houve ai uma parada de quasi duas semanas ( de 7 a 20 de outu- bro), durante as quais parece se terem agravado todos os revezes, culminados com a morte de Her- mano da Silva eo virtual epílogo da expedição. Os exempla- res desta estação, rotulados às ve- zes simplesmente como do Rio Ara- guaia, não merecem naturalmente O. PINTO — .4 Bandeira Anhanguera, ele. 103 nenhum outro reparo além das con- siderações gerais anteriormente ex- pendidas, sòbre a avifauna do rio; èles compreendem um número pre- dominante de formas mais ou me- nos banais nas matas ciliares e nos cerrados do planalto central ( Cryp - turellus undulatus vermiculatus, Aratinga nobilis cumanensis, Tirica chiriri, Momotus momota pilcoma- jensis, Monasa nigrifrons, Taraba major major, Thamnophilus punc- latus pelzelni, Synallaxis s. scuta- ta, Elaenia c. caniceps, Vireo c. chi- vi, Coereba chloropyga alleni, Ba- sileuterus f. flaveolus, Cyanocorax cyanopogon, etc). Crocomorphus flavus inornatus, forma amazônica, de que já houve anteriormente re- ferência, pertence também a essa estação. Finalmente, dum último pouso, denominado “Travessão do Ara- guaia”, ha ainda, datados de 23 de novembro, uns raros espécimens ( Pteroglossus castanotis australis, Zonotrichia c. capensis), sem falar de dois ( Myiozetetes cayanensis cayanensis e Icterus cayanensis va- lenciobuenoi), cujo rótulo se per- deu e que por isso mantenho algu- ma dúvida sòbre a sua procedência, apesar de haver-me asseverado Garbe provirem do sítio de An- gelo Severo. Segue-se a lista sistemática de todas as formas coligidas. LISTA SISTEMÁTICA DAS ESPÉCIES Crypturellus undulatus vermicula- tus (T e m m .) : Fazenda An- gelo Severo, 2, Set. 10. Crypturellus parvirostris (W agl) : Rio das Mortes, margem direi- ta, 2 , Set. 21 . Ictinia plúmbea (G m e 1.) : Fa- zenda Angelo Severo, 9 , Set. 20 . Totanus flavipes (G m e 1.) : Pon- tal da Serra Azul, } e S de Set. 12. Tringa solitaria solitaria : (W i 1- son): Fazenda Angelo Seve- ro, 9, Nov. 19. Columbigalina minuta minuta : (L i n n.) : Rio das Mortes, marg. dir., 2 , Out. 2. Uropelia campestris (S p i x) : La- goa do Aldeiamento, 9, Set. 1; Lagoa da Serra Azul, 1 J de Set. 4 e 2 9 9 de Set. 3; Pon- tal da Serra Azul, 2 2 2 e 2 9 9 de Set. 11. Claravis pretiosa (Ferrari-Pe- r e z) : Rio das Mortes, marg. dir., 2, Set. 22. Diopsittaca nobilis cumanensis (L i c h t.) : Fazenda Angelo Severo, 2 2 2 de Nov. 12. Tirica chiriri (V i e i 1 1 .) : Fazen- da Angelo Severo, 2 2 2 de Nov. 12 e 15, 1 9 de Nov. 12 e 1 9 ? de Nov. A Jyctidromus albicollis derbyanus G o u 1 d : Rio das Mortes, marg. dir., 2 e 9 de Out. 2 e 4. Eupetomena macroura macroura ( G m e 1 . ) : Rio das Mortes, marg. dir., 9 ‘l de Set. 24. Agyrtrina fimbriata nigricauda (Elliot.): Rio das Mortes, marg. esq., 2, Out. 22. Anthracothorax nigricollis nigricol- lis ( V i e i 1 .) : Rio das Mortes, marg. dir., 2, Set. 25. 104 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N. os 3/4 — 1938 ,♦ Heliactin bilophum ( T e m m . ) : Rio das Mortes, marg. esq., 3 , Out. 18. Anthoscenus longirostris (Audeb. & Vi ei 11.): Fazenda Angelo Se- vero, 3 ?, Nov. 7. Trogonurus variegatus variegatus ( S p i x ) : Rio das Mortes, marg. dir., 3 , Set. 28. Megacergle torquata lorquata ( L i n n .) : Lagoa do Aldeia- mento, 3 e 9 respect. de Set. 9 e 8. Chloroceryle americana mathewsi Laubmann: Lagoa do Al- deiamento, 3 e 9 de Set. 9. Chloroceryle aenea aenea (Pal- ias): Lagoa do Aldeiamento, 3 , Set. 1 ; Lagoa da Serra Azul, 3 e 9 de Set. 5 e 8 respectiv. Momotus momota pilcomajensis Reichenow: Fazenda An- gelo Severo, á-e 9 de Nov. 10. Gálbula rufoviridis rufoviridis C a - ban. : Pontal da Serra Azul, á. Set. 14; Rio das Mortes, 3, Set. 21. Monasa nigrifrons nignfrons ( S p i x ) : Fazenda Angelo Se- vero, 9 , Nov. 10. Pteroglossus castanotis autralis Cassin: F azenda Angelo Se- vero, 3 , Nov. 23. Crocomorphus flavus inornatiis C h e r r i e : Fazenda Angelo Severo, 9 Nov. 19. Lepidocolaptes angustirosiris bivil- tatus (L i c h t.) : Rio Crista- lino, 3 Ag. 26. Synallaxis scutata scutata Sela- ter: Fazenda Angelo Severo, 9 , Nov. 15 . T ar aba major major ( V i e i 1 1 . ) : Fazenda Angelo Severo 3 , Nov. 8. Sakesphorus hictiiosus araguayae (Hellmayr): Rio das Mor- tes, 1 o , de Set. 28 e 3 99 de Set. 21, 23 e 30. Thamnophilus dolialus difficilis Hellmayr : Pontal da Serra Azul, 3 e 9 de Set. 15. Thamnophilus punctatus pelzeíni Hellmayr : Fazenda Ange- lo Severo, ?, Nov. 7. Dysithamnus mentalis affinis: Rio das Mortes, marg. dir., 9 do Set. 28 e 3 de Out. 3; Fazenda Angelo Severo. 3 . Nov 14 Myrmotherula axillaris axillarh (Vieill.): Rio das Mortes, marg. dir., 3 de Set. 27. 2 z 3 de Out. 1 e 4, 9 de Out. 4. Melanoparcia torquata rufescens VI ellmayr: Lagoa do Aldeia- mento, o . Set. 1 ; Rio das Mor- tes, marg. esq., 2 9 9 de. Out. 21 e 1 á de Out. 22. Herpsilochmus longirostris P el - v. e 1 n : Lagoa do Aldeiamento, 3 e 9 de Set. 8; Rio das Mor- tes, marg. dir., 3 ? de Set. 27 e 9 de Set. 25. Formicwora grisea grisea ( B o d - d a e r t ) : Fazenda Angelo Se- vero, á ? de Nov. 14. Hypocnemoides maculicauda (P e 1- z e 1 u) : Rio das Mortes, marg dir.. 3 e 9 de Set. 30, 3 de Set. 23 e s de Out. í Myrmeciza atrothorax melamira (Ménétriès): Rio das Mor- tes, marg. dir., 9 Set. 30. Pipra fasciicauda scarlatina Hell- mayr: Rio das Mortes, marg dir., 3 , Set. 24 . Anlilophia galeata ( L i c h t .) : Rio Cristalino, 3 , Ag. 29 Fluvicola pica albiventer ( S p i x ) : Pontal da Serra Azul, 3 , Sei 12 . O. PINTO — A Bandeira Ânhanguera, clc. 105 Knipolegus orenocensis xinguensix Berlcpsch : Poutal da Sei- ra Azul, $ de Set. 12 e 9 de Set. 14. Tolmomyas [laviventris (laviventris ( W i e d ) : Rio das Mortes, marg. esq., á de Out. 22. Todirostrum latiroslre laliroslre (Pelzeln): Rio das Mortes, inarg. dir., 2 S s de Set. 27 e 30, e 1 á de Out. 3. E laeni a gaimardii gaimardii (D’ Orbigny): Rio das Mortes, marg. dir., á , Set. 28. E l a e ni a caniceps caniceps (Swainson): Fazenda An- gelo Severo, $ de Nov. 12. Myiozetetes cayanensis cayariensi.i ( L i n n . ) : vale do Rio Ara- guaia, marg. esq., (data ? ) . Pyrocephalus rubiniis rubi n u s (B o d d .) : Rio Cristalino, 3 3 3 de Ag. 25, 27 e 30; Lagoa da Serra Azul, 3 de Set. 3; Lagoa do Aldeiamento, $ de Set. 7; Pontal da Serra Azul, a de Set. 14; Rio das Mortes, marg. dir., 3 juv., de Set. 23. Cnemotriccus fiiscatus bimaculatus (Lafresn. & D’0 r b.) : Rio das Mortes, marg. dir. 3 de Set. 22 e 9 de Out. 1. E m pi d o no m u s varius varias ( V i e i 1 1 .) : Rio das Mortes, marg. esq., 9, Out. 22. Myiochanes cinerais pallescens Hellmayr; Logoa da Serra Azul, í e 9 de Set. 6. Muscivora tyrannus ty r an nu s ( L i n n .) : Rio das Mortes, marg. dir., 9 , de Set. 21 . Gyanocorax cyanopogon (W i e d) : Rio das Mortes, marg. dir., 3 de Set. 28; Fazenda Angelo Se- vero, 3 de Nov. 20. Thryothorus leucotis rufiventris (Sclater): Rio das Mox-- les, marg. dir., 3 e ç de Set. 22. 1 3 di Sei 26 e. 1 9 de Out. 2. Thryolhoriis genibarbis intercedais Hellmayr: Rio das Mortes, marg. dir., 3 de Set. 26. Troglodytes miisculus mnsculus Nau m a u n : Travessão do Araguaia, $ de Nov. 23. T u r d ii s leucoinelas leucomelas V i e i 1 1 o t : Faz. Angelo Seve- ro, 9, de Nov. 7. Polioptila dumicola berlepschi H e 1 1 m . : Pontal da Serra Azul, <5 e 9 de Set. 15. Vier o virescens chivi (V i e i 1 1 o t) : Fazenda Angelo Severo, j , Nov. 12. Dacnis c ay una paraguayensis Chubb : Lagoa do Aldeia- mento, 3 de Set. 7. Coereba chloropyga alleni Lowc .- Lagoa do Aldeiamento, 3 ile Set. 7; Fazenda Angelo Severo, 4 de Nov. 14. liasileuterus flaveolus (Baird). Fazenda Angelo Severo, i de Nov. 7 e 2 9 9 de Nov. 1U e 15. Ateleudacnis s p e ci o s a speciosa (T e m m.) : Lagoa da Serra Azul, o de Set. 6. Piranga flava saira ( S p i x ) : Rio Cristalino, a de Ag. 25. Hemithraupis guira guira (L i n n.) : Lagoa da Serra Azul, 9 ?, Set. 6. Schistochlamys melanopis ulivimis (Sclater): Pontal da Serra Azul, 3 de Set. 14. Sporophila plúmbea plúmbea ( W i e d ) : Pontal da Sex-ra Azul, 2 á $ de Set. 12 e 14. 106 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III 3/4 — Í93S Zonothrichia capensis matutina ( L i c h t . ) : Faz. Angelo Seve- ro, 3 de Nov. 13; Travessão do Araguaia, 3 de Nov. 23. Diucopis fasciata ( L i c h t .) : Rio das Mortes, marg. esq., 2 , de Out. 18. Paroaria baeri Hellmayr : Rio Cristalino, 3 e $ de Ag. 30. Coryphospingus cucullatus ( M ü 1 - ler): Lagoa da Serra Azul, 2 de Set 4. Icterus cayanensis valencio-buenoi I h e r i n g : vale do Araguaia, marg. esq., sexo ? (data ?) . ARSTRACT In the present paper the author studies some aspects of the ornitho- logical fauna in the regions explo- red by the “Bandeira Anlianguéra”, and gives an annoted list of 72 spe- cies and varieties of birds caputu- red by that expedition. !•’ . LAXE — Notas sôbre Lamiideos, etc. 107 NOTAS SÔBRE LAMIIDEOS NEOTRóPICOS E DESCRIÇÃO DE ESPÉCIES NOVAS (Col. Lamiidae) * ii Iloplistoccrus purpureoviridis, sp. n. Est. III, A Roxo com reflexos esverdea- dos; as pernas e a parte inferior do corpo mais escuras; labro e pal- pos de um castanho-amarelo; man- díbulas negras. Cabeça finamente pontuado ru- gosa, com um fino sulco mediano do clípeo ao vértice; fronte larga, convexa; vértice com uma pequena depressão logo atrás dos tubérculos das antenas, tornando-se rugoso em direção ao pronoto; genas largas, entumescidas, rugosas; processos jugulares truncados; olhos peque- nos, finamente granulosos, profun- damente recortados na margem an- terior, os lobos inferiores e supe- riores apenas ligados por um file- te sem facetas oculares, os inferio- res com a margem reta contra os tubérculos das antenas e o resto do contorno aproximadamente semi- circular, os superiores afastados no vértice; tubérculos das antenas an- teriormente com um recorte obli- quo profundo e outro menos mar- cado na parte posterior, formando a confluência dos dois um dente superior dirigido para fora. por Frederico Lane T rabalho do Museu Paulista Com estampa 3 Antenas mais longas que o cor- po, o escapo robusto, fortemenle entumescido; os artículos 2, 3 e 4, espinhosos no ápice, o espinho do 3 o mais forte e desenvolvido, o do 2 o ainda bastante agudo, o do 4 o menor e um tanto obtuso; o 3 o ar- tículo um pouco menor em compri- mento que o escapo, os seguintes decrescentes, o último com um fer- rão terminal. Protorax mais largo que lon- go, o comprimento apenas ~/ 3 da largura; alargando-se um pouco para a base; transversalmcnte ru- goso-estriado, as rugas muito uni- das, longas e confluentes, deixan- do aparecer aqui e alí, nos inters- tícios, uma ou outra pontuação. Escutelo fortemente transver- sal, largo, obsoletamente estriado, os cantos arredondados, o bordo anterior levemente recurvo. Élitros 1 s / 4 vezes mais longos que largos (a largura tomada nos úmeros), alargando-se gradualmen- te para os ápices, êstes conjunta- mente arredondados; os úmeros bem marcados, retangulares; a ba- se, próximo ao escutelo, levemente elevada; os bordos externos emar- ginados, os suturáis fina e trans- versalmente estriados, pouco mar- í*i ftste trabalho é publicado pelo Clube Zoolgico do Brasil. 108 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Sério Vo/. III X.™ 3/4 — 1938 cados a não ser nos ápices; a su- perfície toda fina e uniformemente pontuada; na declividade apical ca- da élitro apresenta uma pequena depressão circular. Processo prosternal estreito en- tre as coxas, depois alargando-se até atingir um diâmetro de coxa, o bordo apical reto; processo mesos- ternal três vezes mais largo entre as coxas médias, o bordo arredon- dado. Metasterno largo, liso, convexo; meta-episternos levemente recur- vos, os bordos paralelos. Ültimo segmento do abdómen o dòbro mais longo que qualquer dos ?três anteriores e próximo à base na linha mediana com uma pequena fóvea. Fêmures clavados, os posterio- res um pouco mais longos; tibias subiguais, as anteriores no lado in- terno e perto do ápice levemente recortadas, as médias perto do ápi- ce e do lado externo com um re- corte profundo, as posteriores ape- nas alargadas. Comprimento: 10 mm.; largura unieral, 3 ^ mm. Holotipo 5 na Coleção Zel- libor-Hauff. Localidade tipo: . Estado de São Paulo, Indiana, 10. XI. 1935. Discussão taxonomica : Os caractéres desta espécie mostram ser ela afim de dives, Bates, 1875, descrita da Baía. A diagnose de Bates é um tanto omissa. A sua espécie apresenta no entanto os fêmures posteriores e o abdó- men vermelhos e a côr geral é ver- de, com reflexos purpurinos apenas nos élitros. Hoplistocerus hamatus (Cha- brillac, 1857) Estampa III, B-C Tive em mãos um casal de Ho- plistocerus, capturados juntos no Parque do Estado, 30-XI-1937, e pertencentes à coleção Zellibor- Hauff de São Paulo, que corres- pondem bem às 'descrições de ha- matus. O $ mede 9.5 mm. de com- primento por 4.5 mm., de largura umeral; a S 8 mm. por 3.5 mm. Aegoschema Aurivillius, 1923 Chr. Aurivillius, Col. Cat. Junk- Schenkling, pars 74, 1923, p. CIO. Syn.: Aegomorphus Thomson, 1860, Classif. Ceramb. p. 336. • Aegoschema cinereum, sp. n. Estampa I, D $ Tegumento castanho escu- ro, revestido de pubescência ciné- rea com ornamentações pardas. Cabeça larga, revestida de pu- bescència cinérea, no vértice com duas manchas longo-ováis, pardas, uma de cada lado e oblíquas para a escavação frontal; a fronte perpen- dicular, subquadrada, escavada en- ire os tubérculos das antenas; o vér- tice proeminente; com um fino sul- co longitudinal do clípeo ao vértice. Olhos profundamente recorta- dos na margem anterior, na poste- rior subretos, os lobos inferiores grandes, salientes, os superiores di- minutos. afastados no vértice. Antenas alcançando os ápices dos élitros, revestidas de fina pu- bescência cinzenta; os artículos 3-11 distalmente mais escuros; os artí- culos diminuindo em diâmetro da base ao ápice; o escapo robusto, mais curto que o 4 o articulo; o 2 o com um terço do comprimento do F. LANE — Notas sobre Lamiideos, etc. 109 escapo, subcònico; o 3 o 1 y* vezes o comprimento do escapo, subclava- do e com pequena escavação obso- leta no ápice; 4 o com 1 *4 vezes o comprimento do escapo, com duas escavações longitudinais no ápice, a superior quasi obsoleta; os artículos seguintes mais curtos, 5-6 subiguais, 7-11 decrescendo muito gradual- mente em comprimento. Tórax transversal, nas margens anterior e posterior com pontua- ções grossas e irregularmente dis postas, a margem anterior avan- çando levemente sôbre a cabeça, sensivelmente elevada; a posterior sub reta; com algumas pontuações menores na base súpero-posterior dos tubérculos lateráis, no meio do pronoto e atrás e lateralmente aos tubérculos pronotais. Pronoto calo- so, a calosidade da linha mediana tuberculiforme e situada mais pró- ximo da margem posterior; de ca- da lado com mais duas calosidades rasas, as anteriores revestidas de pubescência parda. Os tubérculos lateráis do protorax cônicos mas não agudos no ápice. Escutelo ascendente, estreitado para o ápice, êste arredondado; re- vestido de pilosidade grísea, a linha mediana glabra. Élitros convexos, estreitados para o ápice, 4 Mj vezes mais longos que o pronoto, os úmeros salientes; no dorso, de cada lado, com 5 ou 6 linhas de pontuação impressa, que se torna aos poucos mais esparsa e rala, quasi obsoleta nos ápices. La- teralmente as linhas são impreci- sas; as margens laterais dos élitros rebordeadas; os ápices lunulados. sem espinhos externos, as pontas saturais mais projetadas. Processo prosternal relativa- mente estreito, fortemente arquea- do entre as coxas, os bordos late- rais elevados; o processo mesoster- nal largo, subquadrado, o bordo an- terior sinuoso; processo intercoxal posterior agudo. Metasterno amplo, aplanado no meio. com um sulco mediano gla- bro; metepisternos longos, cunei- formes. Os processos e a região plana do metasterno com pubescèn- eia mais longa. Pernas robustas, uniformemen- te revestidas de pubescência curta e grísea; as anteriores curtas; as pos- teriores 1 V 2 vezes mais longas; as médias um pouco mais curtas que as posteriores. Os fêmures muito robustos, grossos, claviformes; os anteriores curtos; os médios e pos- teriores mais longos. Tíbias sub- jguais aos respectivos fêmures, re- vestidas além da pubescência. de cerdas esparsas; as anteriores for- temente alargadas para o ápice, in- feriormente com uma escavação longitudinal larga e entortada pa- ra a face interna do ápice; tíbias médias e posteriores gradual e mo- deradamente alargadas para o ápi- ce. as médias com um entalhe obli- quo subapical na face súpero-ex- terna; as posteriores sem entalhe. Tarsos curtos, com os artículos de- crescentes em tamanho, os anterio- res largos com os articulos estrei- tados para a base, os médios e os posteriores mais estreitos e qua- drangulares; a pubescência da sola flavodourada. Comprimento: 23 mm.; largu- ra u moral, 8.5 mm. Holotipo 9 na Coleção Z e l- libor-Hauff, de São Paulo. Localidade tipo: Estado de Minas Gerais, Manhumirim, 30. III 1937. Discussão taxonômica : — Esta espécie é afim de A. adsper- snm (Thomson) da qual dife- 110 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Serie) Vol. III N.os 3/4 — 193S rc pelos tubérculos laterais do tó- rax, que são apenas cônicos; pelos ápices dos élitros que são ajienas limados, mas mais salientes nos cantos suturais; ao passo que em adspersum dá-se o contrário, os cantos externos são formados em espinho e os suturais são apenas arredondados; pelo 5.° segmento do abdômen que é pequeno, curto e sem fóvea e no ápice o bordo é reto e pouco piloso; ao passo que em adspersum èsse segmento é longo, apresenta uma fóvea rasa na linha mediana e o ápice é truncado no meio do bordo e densamente pilo- so; finalmente pelas pernas muito mais robustas, principalmente no que diz respeito aos fêmures. fíydraschema fabulosum Thom- son, 1864 Tenho em mãos dois exempla- res £ <3, incorporados às coleções do Museu Paulista, que correspon- dem bem às descripações de Thomson e Lacordaire. Um foi coletado pelo snr. Cezar Worontzow na Cantareira (S. Paulo) em novembro de 1935; o outro, presenteado pelo Rev. Pe. J. M o u r e, é do Paraná, Rio Rarigui, 8-II-1938, F. Pereira leg. Ambos medem cerca de 20 mm. de com- primento por pouco mais de 2 mm. de largura umeral. Montesia, gen. n. Afim de Hydraschema T h o m- son, 1864, do qual se diferencia principalmcnte pela forma menos alongada; pela formação dos lóbos inferiores dos olhos, que se apre- sentam com o bordo posterior quasi em linha com o lóbo superior; pelo maior afastamente dos lóbos supe- riores no vértice; e pelos élitros ar- redondados para os ápices forman- do na sutura, de cada lado, um es- pinho mais destacado, porém me- nor. Em Hydraschema a forma é muito alongada e linear; os lóbos inferiores dos olhos extendem-se mais para o protorax, formando no bordo posterior uma sinuosi- dade forte entre o lóbo inferior e o superior; os lóbos superiores são bastante aproximados no vértice; os élitros estreitam-se gradualmen- te na região apical e os espinhos formam-se quasi sem solução de continuidade. Genotipo: a espécie abaixo descrita. Montesia leucostigma, sp. n. Estampa III, E Rufo-flava, com ornamenta- ções de pilosidade branca muito unida. Cabeça pontuada e revestida com pêlos griseos esparsos entre- meados com algumas cerdas fla- vas; fronte convexa, estreita, esca- vada entre as antenas; com um fino sulco glabro do clipeo ao vér- tice, mais marcado para o vértice, êste e as genas com pontuações impressas, grossas mas esparsas; nas genas a pontuação confluente; os processos jugulares truncados, as mandíbulas pequenas, com a base do lado externo escavada, os ápices negros, recurvos para dentro e bidentados; olhos salientes, forte- mente sinuosos no bordo anterior, o posterior quasi reto, os lobos in- feriores grandes, os superiores es- treitos, não muito aproximados no vértice; os tubérculos das antenas largamente separados. Antenas ultrapassando um pou- co os ápices dos élitros, revestidas de esparsa pubescência grisea e por baixo de cerdas muito esparsas, que F. LANE Molas sôbre Lamiideos, etc. 111 se estendem à parte de cima no es- capo e nos ápices dos articulos 2-10; a côr rufo-flava, com exceção dos artículos apicais mais escuros; o escapo longo, quasi alcançando o bordo posterior do protórax, en- grossando leve e gradualmente para o ápice; o 3.° articulo 2/5 do comprimento do escapo; os seguin- tes gradualmente decrescentes. Protórax cilíndrico com pon- tuação impressa, espaçada e regu- lar; inferiormente estreitado, a par- te anterior do pronoto um pouco elevada, o bordo levemente avan- çado sôbre a cabeça, o bordo pos- terior bisinuoso; revestido de pilo- sidade quasi imperceptível; na base do pronoto, unida ao bordo poste- rior na linha mediana, uma man- cha alongada, branca, de pêlos cur- tos muito unidos; de cada lado uma faixa branca, que não alcança no entanto o bordo anterior, mas que alarga-se para trás, onde termina o ângulo látero-posterior do pro- tórax. Escutelo finamente pontuado e piloso; ascendente e recurvo para o plano dos élitros; o ápice truncado. Élitros lineares, quasi cinco ve- zes o comprimento do pronoto; os úmeros retangulares; nos ápices levemente deiscentes e projetados em espinho; os bordos externos nos ápices arredondados; com Unhas longitudinais de pontuação impres- sa forte na base e pouco a pouco evanescente em direção aos ápices; cada élitro ornamentado com três linhas longitudinais brancas de pi- losidade muito fina e unida; a pri- meira começa na base entre o escu- telo e o úmero e não se extende senão a um quinto dos élitros; a segunda segue em continuação à primeira, ocupando aproximada- mente o terço central dos élitros; a terceira é lateral e tem inicio à al- tura do ponto terminal da primeira, prolongando-se além (Ta segunda, onde alarga-se com o aspecto de es- pada mourisca. Processo prosternal apenas mais estreito que o mesosternal; metasterno estreito, longo; mete- pisternos um pouco estreitados no ápice. O lado inferior do corpo apre- senta as seguintes ornamentações de pilosidade branca: uma peque- na mancha de cada lado do pros- terno, próximo às coxas anteriores; uma pequena faixa de cada lado no mesosterno; uma faixa longa ocupando todo o bordo inferior dos metepisternos e parte do metas- terno e manchas laterais em todos os segmentos abdominais, decres- centes para os segmentos posterio- res. Pernas posteriores longas, os ápices dos fêmures quasi alcançan- do o bordo distai do 3.° segmento do abdômen. Comprimento : 14.5 mm.; lar- gura umeral, 3 mm. IIolotipo 9 no Museu Paulista sob o n.° 22.926. Localidade tipo: Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Dr. Oscar Monte leg., 1938. ABSTRACT The author describes three new Lamiidae from Brasil: Hoplis- tocerus purpureoviridis, Aegosche- ma cinereum, spp. n., and Monte- sia leucostigma, gen. n. sp. n. Hoplistocerus hamatus (C ba- li r i 1 1 a c) is figured for the first time, and new localities are given for Hydraschema fabulosiim T h o m s o n. 112 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. III N. 3/'t — 193S EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS Fig. A — Hoplistòcerus purpii- reoviridis, sp. n $ Fig. B — Hoplistoceras hamatus (C h a b r i 1 1 a c) 5 Fig. C — Hoplistoceras hamatus (C h a b r i 1 1 a c) $ Fig. D — Aegoschema cinereum, sp. n $ Fig. E — Montesia leucostigma, sp. n $ % F. Lane, Xota sòbre Lamiideos, etc. Boi. fíiol. III, 3/i Estampa 3 J. DE.P. CARVALHO — Sóbrc um cachimbo de barro, etc. 113 SôBRE UM CACHIMBO DE BARRO DO LITORAL SUL DO ESTADO DE S. PAULO * Em setembro de 1936, durante uma viagem que realizámos pelo li- toral sul do E. de S. Paulo, procu- ramos visitar alguns sambaquis ou casqueiros, situados tanto na Ilha Comprida, como na de Cananéia. A pesar dos nossos esforços, não fo- nios bem sucedidos, talvez em vir- tude da pressa com que fomos for- çados a efetuar tais estudos. Em data de 3 de novembro do uiesmo ano, tivemos a satisfação de receber do naturalista snr. W a 1- domiro Bai Borodin, que dirigia a “Estação Biológica Julio Conceição ’, um magnifico exem- plar de cachimbo de barro, encon- trado no sopé do Morro de S. João, localizado ao sul da cidade de Ga- uaneia (Fig. 1). A pedido nosso, o snr. B o r o- d i n fazia contínuas observações nos monumentos arqueológicos da região. Solicitamos-lhe a fineza de percorrer as ostreiras e rebuscar as faldas dos morros do litoral sul, onde acreditavamos que a ação das enxurradas puzesse a descoberto al- guns fragmentos cerâmicos precio- sos da arte indígena. De fato. a de- dicação desse pesquisador apaixo- nado foi recompensada com o apa- recimento da peça que passamos a descrever e que se acha incorpo- rada à coleção etnográfica da Sec- Por JoÃo de Paiva Carvalho do Departamento de Indústria Animal. S. Paulo Com 3 figs. no texto cão Santista do “Clube Zoológico do Brasil”. O cachimbo era questão, fabri- cado com barro cozido, apresenta massa homogenea, de grão fino e tem os seguintes característicos: tipo angular, de porta-boquilha longa, fornilho circular, com o diâ- metro interno de 20 mm.; corpo do fornilho robusto, com espessura de 14 mm., formando na parte inferior o porta boquilha; chaminé circular, com diâmetro de 0,5 mm.; altura, na parte média externa do fornilho, 35 mm.; largura, na porção media- na externa, 25 mm., e face inferior plana. Essa peça acha-se ornamen- tada por uma grega contendo triân- gulos abertos, com extrema habili- dade. na massa plástica, a qual, no fornilho, têm a largura de 6 mm., e no corpo do mesmo possue 1 mm., a menos. Inegavelmente, o trabalho foi feito por um artista cuidadoso, que o executou com perfeição e em ótimas condições, como se pode avaliar pelo desenho que figura abaixo (Fig. 2). Somente dois anos após a des- coberta desse fragmento cerâmico é que deliberamos apresentá-lo aos estudiosos da matéria: não o fize- mos ha mais tempo porque era nosso desejo obter peças idênticas para confronto, tanto daquela pro- (*) Este trabalho é ' publicado pelo Clube Zoológico do Brasil. 114 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°* 3/U — 1938 Fig. 1 — Mapa da região de Cananéa J. DE.P. CARVALHO — Sobre um cachimbo de barro, etc, 115 veniência como de outros pontos do uma peça tão interessante, cujo mo- Estado. Não nos tendo sido possí- tivo ornamental nos parece comum vel examinar novamente e com nos cachimbos sul americanos. 19ÍT Fig. 2 — Cachimbo de barro encontrado em Cananéa. mais cuidado os repositórios ar- queológicos do litoral sul, pensa- mos que não devíamos conservar por mais tempo e sem divulgação, Resta-nos lembrar que basta um ligeiro confronto com o dese- nho da autoria do snr. Ismael E. Astarloa (Fig. 3), no trabalho hg BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N.°s 3/4 — 1938 do snr. Miiciades A. Vignati para nos convencermos de que a área de expansão dos cachimbos angulares sul-americanos é muito maior do que se supõe. O explêndido trabalho de Eric Boman sôbre os cachim- bos dos índios do Prata, coloca os artefactos da região sul do Brasil em confronto com os obtidos nas zonas norte e ocidental da Rep. Ar- gentina. E’ possível que o conceito e a distribuição que se fez de tais utensílios, no citado trabalho, seja sensivelmente alterado com a peça que ora descrevemos. Causou-nos justificada extra- nheza a ocorrência de tal peça no território sul do Estado, onde a arte cerâmica, alem de escassa, é sem- pre representada por exemplares de uma rusticidade característica. Não são comuns os cachimbos de barro nas estações funerárias dos indios que habitaram o nosso solo, em épocas pré e postcolom- bianas. É fora de duvida que, alem dos líquidos alcóolicos e das bebidas fdrmentadas, tão do -agrado dos nossos índios, o fumo parece não ter faltado de todo. É verdade que alguns grupos, como por exemplo os Parna-uats, Taqueteps e Ipôtu- arts, habitantes da região do Gi- Paraná, não cultivavam o fumo, sentindo grande aversão por êle, chegando a não tolerar que alguém lhes oferecesse um cigarro, que re- geitavam com visível repugnância (pg. 349). Outros índios do Brasil, como os Kepikiri-uats, habitantes do vale do rio Pimenta Bueno (E. do Mato Grosso), não usavam nem cigarros, nem cachimbos, utilizando-se do fumo sob a forma de rapé, admi- nistrado por meio de um longo ca- nudo perfurado que penetrava por uma das ventas, enquanto que, na outra extremidade, um comparsa soprava suavemente o pó pulveri- sado. (pag. 338). Em compensação, os Nhambi- quaras dos vales dos rios Buriti, Juruêna, Juhina, Ananas, Camara- rá. etc., do E. do Mato Grosso, eram grandes fumantes e confecciona- vam os seus cigarros com folhas de fumo que torravam em fogo lento, produto por êles próprios cultivado nas suas roças (pags. 323-325). Ainda hoje, os exploradores do nosso “hinterland” fazem referên- cias ao apreço em que é tido o fumo em rôlo, pelas tribus semi-civiliza- das com que se avistam. Com relação aos aborígenes do E. de S. Paulo, não cremos que se tenha verificado o mesmo que o snr. Roquett e-P i n t o constatou com os indios da Serra do Norte, isto é, que — “antes da entrada da Comissão Rondon, nenhum dos gru- pos conhecia o cachimbo”, pôsto que acreditamos terem êles dado preferência ao cigarro confeciona- do com a Nicotiana tabncum, en- contrada com frequência nos des- vãos das suas primitivas cabanas. Além do exemplar do cachim- bo a que nos referimos presente- mente, só tivemos contacto com um outro exemplar bastante tòsco, por nós encontrado em uma exeavação que procedemos, entre as estações de Pirituba e Taipas, no ramal da São Paulo Raihvay, que vai para Jundiaí. Êsse mesmo foi por nós rc- geitado porque, a pezar de se en- contrar entre louça bastante rús- tica e sofrivelmente ornamentada com incisões unguiculares, figurava ao lado de fragmentos de louça portuguesa e cerâmica suspeita, constituída por vasos evidentemen- te torneados com aparelhos já aper- feiçoados, circunstância que nos J. DE P. CARVALHO — Sôbre um cachimbo de barro etc. 117 obrigou a considerar todo o mate- rial como suspeito. Até agora, a estação funerária de Emas (Pirassununga), foi o re- positório mais importante de arte esmerado acabamento. O nosso pre- zado amigo Prof. R u y W. T i b i- r i ç á teve ocasião de reconstituir grande número de vasos utilisando- se de fragmentos que trouxemos Fig. 3 — Cachimbo angular sul-americano. Seg. Astarloa in Vignati. cerâmica que logramos examinar, dentro do território do Estado. Nela fomos encontrar os fragmentos de- senhados com um senso artístico superiormente elevado, alem de dessa importante necrópole. Nas diversas e extensas excavações que procedemos nesse lugar, nunca nos foi dado constatar a presença de cachimbos de barro, motivo pelo 118 BOLETIM BIOLÓGICO (Xo va Série ) Vol. III X.os 3/í — 1038 qual sempre foi êste utensílio con- siderado previlégio quasi que ex- clusivo dos clans que habitaram as regiões platense e sulina do Brasil. De fato, recentemente, o snr. Antonio Serrano, Diretor do Museu de Entre Rios, teve oca- sião de examinar nada menos de 600 exemplares que figuram na cu- leção Kern, de Porto Alegre, no Museu Julio de Castilhos, da mes- ma cidade, na Escola de Agrono- mia, de Pelotas, etc., todos de pro- veniência riograndense. üporlunamente, após novas e mais aprofundadas pesquisas, vol- veremos ao assunto, fazendo refe- rências a respeito da distribuição dos cachimbos de barros da regiãG sul do Brasil, uma vez que os dados que possuímos atualmente, ainda são bastante deficiêntes. ABSTRACT In the present paper an angu- lar clay smoking pipe, found in the neiglibourhood of Cananea (Est. de São Paulo), is described. This discovery brings new light on the geographical distribuition of this archeological indian utensil in South America. BIBLIOGRAFIA Boman, Eric. “Pipas de fumar de los indígenas de la Argentina” — An. do Mus. Hist. Nab, XXXV — B. Aires, 1927-1932. Bruzzone, Rodolfo Maldonado. “Notas arqueológicas. Breve resena deí material recogido tn Punta Lara (Prov. de Buenos Aires) ” — Notas preliminôres do Museu do Prata — I, fig. 3 — B. Ayres, 1931. Missão Rondou. Apontamentos so- bre os trabalhos realizados pela Com. de Linhas Telegrá- ficas, pgs. 349, 338, 323-325. Pinto, Roquete. Rondonia, 2. a ed. — pg. 246. Rio de Janeiro, 1919. Russoni, Carlos. “Investigaciunes arqueológicas en el sul de villa Lugano” (Capital Federal) — en GAEA. An. da Soc. Argen- tina de Estudos Geográficos — III, fig. 41-A — Buenos Aires, 1928. Serrano, Antonio. 1937 — “Archeo- logia Brasileira”. Rev. do Arch. Municipal de S. Paulo, 36. Tibiriçú, Ruij W. Revista do Ar- chivo Municipal de S. Paulo, 15, 16, 17. Vignati, Milciades A. “Una pipa an- gular de Punta Lara” — Notas do Museu do Prata, I, fig. 3 B. Ayres, 1935. C. M. BIEZAXKO — Apontamentos lepidopterológicos 119 APONTAMENTOS LEPIDOPTEROLÓGICOS * O catálogo de insetos que aqui apresento foi organizado sôbre apontamentos e coleções entomoló- gicas feitos durante a minha esta- dia em Osorio (Conceição do Ar- roio) no Rio Grande do Sul, duran- te o período compreendido de maio de 1934 a fins de janeiro de 1935. As espécies foram coletadas princi- palmente nos arredores de Osorio, nos campos, jardins, pomares e ca- naviais da Estação Experimental de Cana de Assucar, assim como nas matas, capoeiras e serras circunvi- zinhas; inclúo também algumas es- pécies observadas em Pinguela Santa-Marta, nos arredores de Gra- vatai, onde passei abril de 1934 e ainda em Porto-Alegre, onde per- maneci algumas semanas, em prin- cípios de 1934. Convém destacar a ocorrência do Euryades corethrus B o i s d. em Gravataí, do Metaman- dana dido wernickei R õ b., do Ca- ligo martia G o d t., do Megalura coresia G o d t. e do Hemerophanes nomius \V a 1 k em Osorio e da Vi- ctorina sleneles bipunctata Fru- h s t. em Palmares. Papilionidae Iphiclides protesilaus nigricornis S t g r. — É raro. Voa nos limi- tes das matas e pousa nos lu- gares húmidos dos caminhos e estradas. Osorio, Pinguela e.m 9, 10, 11, 12 de 1934. Pelo Eng.° Ceslau Maria oe Biezanko. Papilio lycophron lycophron H ü b n. — Comum. Voa nos la- ranjais. Foi muito abundante em setembro de 1934. Osorio, 9, 10 de 1934 e 1 de 1935. La- gartas sôbre Citrus aurantium L. e Citrus deliciosa R i s s o. Papilio thoas brasiliensis R. & J. — Comum. Voa nos laranjais e nas matas. Osorio, Pinguela, Palmares, 11, 12, de 1934 e 1, 1935. Lagartas sôbre Citrus au- rantium L. Papilio anchisiades capys Hüb n. — Muito abundante, consti- tuindo verdadeira praga dos laranjais naquela zona. As la- gartas durante o dia reunem-se em grande quantidade nos troncos das laranjeiras, ali- mentando-se geralmente nas primeiras horas da manhã e durante a noite. Quando se lhes tocam têm por hábito mostrar o osmeterio, exalando então um cheiro penetrante que lem- bra o do ácido butirico. No mo- mento em que se acham reuni- das nos troncos torna-se fácil colhê-las e destruí-las. Os ima- gos visitam as flores, gostando muito das de Zinnia elegans J a c q., das do Jasminum an- gustifolium Vahl., J. Gracile A d r. e das de outras espécies de Jasminum. Nas matas e ca- poeiras frequetam as flores de Lantana aculeata L. Observa- (*) Êste trabalho é publicado pelo Clube Zoológico do Brasil. 120 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°s 3/i — 1938 mos o aparecimento desta es- pécie em 1934, em Osorio, de 8 a 20 de setembro, encontramo- la também em outubro de 1934 e janeiro de 1935. Lagartas em novembro e dezembro, crisáli- das em dezembro. Battus eurybates G r a y. — Voa isoladamente nas capoeiras e nas matas. Osorio, 12 de 1934 e 1 de 1935. Battus polystictus polystictus Buli. — Não é comum. Voa nas cla- reiras das matas dos lugares elevados. Osorio, 1, 1935. Battus polydamas potydamas L. — Bastante comum. Aparece nas capoeiras, jardins e matas de Osorio e Pinguela. 9, 10 de 1934, 1 de 1935. Euryades corethrus B o i s d. Voa nos campos e prados sempre porém isoladamente. Gravatai em 4-1935. Pieridae Pereute swainsonii Gr a y. — Não é comum, frequentando os jar- dins dos arredores de Osorio. I- 1935. Pieris automate Burm. — Aparece isoladamente nas capoeiras ou pousada na areia húmida das estradas. Osorio, Pinguela, 10 e II- 1934. Hesperocharis marchali marchali G u ér. — Comum. Voa princi- palmente nas hortas e jardins. Osorio, 8, 9, 10, 11, 12-1934 e 1-1935. Lagartas sobre Brassica oleracea L., B oleracea bolrytis (L.) Moench, Cheiranthus an- nuus L., Tropaeolum majus L. e Medicago sativa L. Terias albula Cr. — Não é abun- dante. Voa nas hortas. Osorio, 10, 11-1934. Terias deva D o 1 d. & H e w. — Co- mum. Voa junto com o prece- dente. Osorio, 10, 11-1934. Terias elalhea f. plataea Fel d. — Voa junto com as precedentes, não sendo rara. Osorio, 10, 11- 1934. Phoebis cypris F. — Comum. Pousa em grupos na areia húmida dos caminhos e picadas. Visita de preferência as flores da Lantana aculeata L. e da Aris - tolochia ciliata H o o k. e as de Zinnia hy brida J a c q. dos jar- dins de Osorio. 10, 11, 12-1931 e 1-1935. Phoebis eubule eubule L. — Voa em grande número nos jardins de Osorio em 5, 6, 11, 12-1934. La- gartas sôbre as folhas da Cas- sia corymbosa L a m. Phoebis irite L. — É comum; voa nos jardins e capoeiras. Osorio, 5, 6, 9, 10-1934 e 1-1935, Phoebis philea L. — Não é muito comum. Voa nas capoeiras c matas dos lugares elevados. Osorio, 5, 6, S, 10-1934, 1-1935. Phoebis argante F. — Comum du- rante toda a primavera, verão e outono nas matas, capoeiras e jardins. Visita de preferência as flores da Aristolochia ciliata H o o k. Os machos pousafn na areia humedecida pelos esgo- tos. Osorio, 5, 6, 7, 10, 11-1934 e 1-1935. Aphrissa statira Cr. — Comum. Muito mais abundante do que o precedente com o qual vive pousado nos dias quentes da primavera e verão em nume- rosos grupos na areia húmida. Osorio, Pinguela, 10, 11, 12- 1934 e 1-1935. Cotias lesbia L. — Muito comum; voa nos jardins e campos de G. M. BIEZANKO — Apontamentos lepidoplerológicos 121 alfafa. Osorio, 5, 6, 10, 11, 12- 1934 e 1-1935. Lagartas sobre Medicago sativa L. Euploeidae Danaus erippus Cr. (Anosia id.) - Comum. Voa nos campos e jardins. Osorio, 5, 6, 10, 11-1931 e 1-1935. Lagartas sòbre Ascle- pias curassavica L. Ithomiidae Lycorella Iialia H ü b n. — Não é comum. Voa nos jardins. Oso- rio, 9, 10-1934. Acraeidae Actinole pyrrha F. — Voa em gran- de número nos lugares de ca- poeiras, frequentando de pre- ferência as flores da Acacia bo- nariensis G i 1 1. Osorio, 11, 12, 1934, 1-1935. Heliconiidae Heliconius phyllis phyllis F. — Não é muito abundante. Voa nas matas e gosta de pousar sòbre as flores de Lanterna aculeala L. e da Aristolochia ciliata Hook. Osorio, 5, 6, 12-1934 e 1-1935. Colaenis julia F. — É pouco co- mum. Voa nas matas, apare- cendo de quando em quando nos jardins onde procura as flores da Zinnia elegans J a c q. Osorio, 11, 12-1934 e 1-1935. Dione vanillae vanillae L. — Mui- to abundante no verão nas ma- tas e jardins; aparece também no inverno visitando flores de Eiicaliptns robusta S m i t h e E. globulus L a b i 1 1. Osorio, 5, 6, 7, 11, 12-1934 e 1-1935. Metamandana dido wernickei R õ 1). Raro. Vi poucos exemplares no outono visitando flores de Eucaliptus qlobulus L a b i 1 1. Osorio, 5, 6-1934. Nymphalidae Euptoieta claudia C. — É bastante comum nos campos e jardins. Palmares, 5-1934, Osorio, 5, 6, 11, 12-1934. Lagartas sòbre Vio- la odor ata L. e V. tricolor L. Phyciodes claudina Escb. — Co- mum nas matas e capoeiras; gosta de pousar na areia hú- mida. Osorio, 10, 11, 12-1934. Phyciodes yanthe F. — Comum nas matas, nas capoeiras e jardins. Osorio, 5, 6, 10, 11, 12-1934 e 1-1935. Phyciodes lansdorfi G o d t. — Não é comum. Voa nos limites das matas e perto dos caminhos; gosta de pousar nos lugares hú- midos das picadas. Osorio, 12- 1934 e 1-1935. Hypanartia lethe F. — Não é rara, embora não seja abundante. Gosta de pousar no esterco c nas fezes; visita também flores. Osorio, 12-1934 e 1-1935. Anartia amathea L. — Não é rara nas várzeas; de quando em quando aparece também nos jardins. Osorio, 5, 6, 7, 12-1934 e 1-1935. Cyntia carye llübn. — Muito co- mum. Gosta muito das flores de Zinnia elegans Jacq. e das de Scabiosa atropurpiirea L. Osorio, 8, 9, 10, 11, 12-1934, 1-1935. Pyrumeis virginiensis D r u r. — Muito abundante; voa junto com a precedente. Osorio, 5, 10, 11, 12-1934 e 1-1935. 122 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol III N . os 3/4 — 1938 Pijrameis myrinna D b 1 d. & H e w. — É pouco abundante embora apareça as vezes em maior nú- mero. Voa junto com as duas precedentes. Osorio, 5, 12-1934, 1-1935. Precis lavinia C. — Comum nos campos e jardins. Osorio, 5, 6, 7, 12-1934 e 1-1935. Victorina steneles bipunctata F r u h s t. — Rara. Capturei alguns exemplares nas capoei- ras de Palmares em 13-5-1934 e em Osorio em 24-5-1934. Victorina trayja Hiibn. ( Amphi - rene id.) — Não é comum. Voa nas matas, aparecendo de quando em quando nos jardins dos arredores de Osorio, em 11, 12-1934, 1-1935 e de Pinguela Santa Marta em 12-1934 e 1-1935. Ageronia epinome F e 1 d. — Não é abundante. Voa no interior ou nos limites das matas. Osorio, 11, 12-1934 e 1-1935. Didonis biblis F. — - É pouco abun- dante; voa nas matas e gosta de pousar sôbre estéreo. Oso- rio, 12-1934 e 1-1935. Eunica margarita G o d t. — Não é muito comum. Voa nas matas, aparecendo raramente nos jar- dins. Osorio, 12-1934 e 1-1935. Callicore meridionalis B a t. — Pou- co comum. Voa nas matas. Pousa sôbre o estéreo dos ca- minhos e picadas. Osorio, Pin- guela, 10, 11, 12-1934 e 1-1935. Callicore candrena II ü b n. — Mais abundante que a precedente com a qual aparece de parce- ria. Osorio, Pinguela, 10, 11, 12-1934 e 1-1935. Megalura coresia G o d t. — Muito rara, só vi e capturei 2 exem- plares, um em Osorio em 11- 1934 e outro em Pinguela San- ta Marta em 12-1934. Anaea stheno Pritt. — Não é co- mum. Pousa nos caminhos e picadas sôbre estéreo e fezes. Osorio, 12-1934 e 1-1935. Chlorippe kallina St gr. — Não é muito abundante. Voa nas ma- tas, pousando nos caminhos e picadas sôbre estéreo e fezes. Osorio, 8, 9, 12-1934 e 1-1935. Chlorippe seraphina Hiibn. — Voa junto com o precedente mas não é abundante. Osorio, Pin- guela, 9, 11, 12-1934 e 1-1935. Morphoidae Morpho catenarius catenarius Per- r y. — Voa na mata, aparecen- do de quando em quando nos jardins; não é abundante. Osorio, Pinguela 12.34; 1.35. Brassolidae Opsiphanes invirae II ü b n. — Não é abundante; voa principal- mente um pouco antes do pôr do sol. Porto Alegre 2, 3. 34; Osorio 10, 11.34; 1.35. Brassolis astyra astyra G o d t. — Não é muito abundante; voa ao pôr do sol. Osorio 12, 34; 1. 35. Caligo martya G o d t. — É raro; capturei alguns exemplares perto da estação Experimental. Osorio 12. 34; 1. 35. Eryphanes reevesii D b 1 d. & II e w. — Não é raro; voa nos matos e capoeiras, e até mesmo no centro da cidade. Osorio 12.34; 1.35. Uma vez vi na igreja em Osorio vários exemplares per- to do altar voando ao redor do padre durante toda a ceremô- G. M. BIEZANKO — Apontamentos lepidopterológicos 123 nia da missa tornando-se por- isso bastante importuna; veri- fiquei que foram lá atraídos pelo cheiro do vinho de con- sagrar. Satyridae Taggetis ypthima Hübn. — Não é muito abundante; voa nos lu- gares húmidos e sombreados dos matos. Osorio 11, 12.34; 1. 35. Pedaliodes phanias Hew. — Voa nos matos e pomares junto com o precedente. Osorio 11, 12.34. Lycaenidae Hemiargus cassius Cram. — É bastante comum nos jardins e capoeiras. Osorio 9, 10, 11, 12. 34. Hesperiidae Goniurus proteus L. — Comum, voa nos jardins e capoeiras. Osorio 12.34; 1.35. Pyrrhopyge charybdis D o u b 1 & Hew. — Não é raro; voa nos matos e capoeiras. Osorio 11 . 12.34; 1.35. Hylephila phylaeus D r u r y. — Co- mum nos jardins e campos de alfafa. Osorio 8, 9, 10, 11, 12. 34; 1.35. Leucochitonea pastor F e 1 d. — Co- mum nos campos e varzeas. Osorio 5, 6 . 12 . 34; 1 . 35. Sphingidae Herse cingulata F. — Não é raro. Voa ao anoitecer durante os meses de verão. Osorio, 1-1935. Lagartas bastante numerosas em novembro e dezembro so- bre Ipomea batatas Lam., a maioria delas porém parasita- da pelo Prolopanteles congre- gatus Say. Proloparce sexta paphus C. — Voa ao anoitecer, sendo atraído pe- las luzes. Osorio, 10, 11-1934 e 1-1935. Pseudosphinx tetrio L. — As la- gartas, abundantíssimas na PIu- meria rubra L., em dezembro e janeiro, deixam as vezes vá- rios galhos da planta completa- mente sem fòlhas. Crisálidas em janeiro. Erinnyis alope Drur y. — Não é muito abundante. A noite en- contra-se pousado perlo das lu- zes nas paredes das casas c postes de iluminação pública. Osorio, 11, 12-1934; 1-1935; Porto-Alegre 3-1934. Erinnyis ello L. — Muito abun- dante; voa ao anoitecer junta- mente com o precedente. Porto- 1 Alegre, 3 e 4-1934; Osorio, 6, 12-1934 e 1-1935. Erinnyis obscura obscura F. — Não é abundante; voa ao anoitecer em parceria com os dois pre- cedentes. Osorio, 12-1934 e 1- 1935. Pachylia syces syces Hübn. — Não é rara. Voa ao anoitecer e a noite, Osorio, 8, 12-1934. En- contram-se numerosas lagartas sôbre Ficus benjamina L. em junho e outubro; crisálidas em julho e novembro, imagos em agosto e dezembro. Xylophanes tersa L. — É bastante comum. Voa ao anoitecer, visi- tando de preferência as flores do Jasminum angustif olium Vahl. e J. gracile A d r. Oso- rio, 1-1935. Hemerophanes nomius Walk. Um exemplar encontrado em Oso- rio no dia 17-8-1934. 124 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°s 3/4 — 1938 Macroglossum tantalus tantalus L. Não é raro. Voa durante o dia nos jardins; gosta muito das flores de Zinnia hybrida J a c q., do Jasminum angusti- folium V a h 1., da Luhea iliva- ricata Mart. e da Bougainvil- lea spectabilis W i 1 1 d. Voa quer nos dias de sol, como tam- bém nos dias nublados ou mes- mo chuvosos, quando a chuva não é muito forte. Osorio, 12- 1934 e 1-1935. Macroglossum fadus C. — Não é raro; voa junto com o prece- dente. Osorio, 12-34, 1-1935. primavera durante a noite, atraida pela luz. Osorio, 9, 10- 1934. Citheronia mexicana G r o t e & R o b. — Voa isoladamente du- rante a noite e é atraida pela luz. Osorio, 9, 12-1934. Adelocephala subangulata H. — S c h á f f. — Não é muito co- mum; a noite chega atraída pela luz. Osorio, 1-1935. Adelocephala anthonilis. — Não é muito abundante; aparece a noite atraída pela luz. Osorio, 1-1935. Notodontidae Roserna zeiica S t o 1 1. — Cr. (= Rosema dorsalis Walk.). — Não é rara. Voa a noite, sendo atraida pela luz. Osorio, 11, 12- 1934. Lymantriidae Eloria spectra H ii b n. — E’ comum. Voa de dia nos capões, pica- das e caminhos da mata. Oso- rio, 12-1934 e 1-1935. Saturnüdae Molippa sabina W alk. — Não é muito comum; durante a noite chega atraida pela luz. Osorio, 10-1934. Automeris illustris W alk. — Pou- co comum; é atraída pela luz. Osorio, 10-1934. Rothschildia jacobaeae W a 1 k. — Não é comum; a noite é atraí- da pela luz. Osorio, 11-1934 e 1-1935. Ceratocampidae Eacles imperialis magnifica Walk • — Não é comum. Aparece na Noctuidae Agrotis ypsilon R o 1 1. — - Muito co- mum; voa a noite, na prima- vera, sendo atraida em abun- dância pela luz. Osorio, 8, 9, 10-1934. Agrotis ambrosioides M o r i t z. — Não é rara e é atraida pela luz. Osorio. 12-34, 1-35. Heliothis obsoleta F. (= H. armi- gera Hüb n.) — Comum nos jardins e campos de cebola. Osorio, 5, 6, 12-1934 e 1-1935. As lagaidas estragam os bulbos da cebola. Geometridae Oxydia disiichata G u é r. — Não é rara durante a noite, sendo fácil capturá-las próximo "(Ta luz. Osorio, 1-1935. Bronchelia fraternaria G u é n. — Não é rara. Voa a noite e chega atraida pela luz. Osorio, 10, 11, 12-1934. Bronchelia paellaria Guén. — Co- mum. Voa junto com a prece- dente. Osorio, 10, 11, 12-1934. C. M. BIEZANKO — Apontamentos lepidoplcrolúgicos i25 Panthera pardalaria Hüb n. — Co- mum nos jardins e matas. Oso- rio, 8, 9, 10, 11-1934. Glaucopidae Mucrocneme chrysitis G u é r. — (= M. iole B u 1 1.) — Não é rara. Chega atraida pela luz. Osorio, 10, 11-1934, 1-1935. Eurota gigantea St gr. — Encon- tra-se de dia nas s flores dos campos e das matas, a noite chega atraída pela luz. Osorio, 12-1934 e 1-1935. Charidea fasluosa Walk. — Voa durante o dia nos campos e jardins. Osorio, 8, 9, 12-1934. Arctiidae Opharus astur C r. (= Carales id. C r.) — Não é rara. Chega a noite atraída pela luz. Osorio, 12-1934 e 1-1935. Ecpantheria indecisa W a 1 k. — Muito comum, A noite é atraí- da pela luz, aparecendo as ve- zes em grande número nas pa- redes das casas e postes de ilu- minação. Osorio, 9, 10, 11, 12- 1934. ' Antarctia fusca Walk. — Comum a noite atraída pela luz. Oso- rio, 9, 10, 11, 12-1934. Lagartas sobre Ricinus communis L. Uterheisa ornatrix L. (=D e o p eia id.) — Muito comum nos cam- pos e jardins. Voa durante o dia, a noite chega atraída pela luz. Osorio, 7, 8, 9-1934. Lagar- tas vivendo nas vagens da Cro - talaria anagyroides H. B. K. e C. iisaramohensis E. G. B a c k. Pericopidae Daritis sacrifica Hübn. ( =Taxila crucifera Perty). — Não é rara; durante a noite chega atraida pela luz. Osorio, 9, 12- 1934 e 1-1935. Lagartas sòbre Senecio brasiliensis Less. Megalopygidae Megalopyge lanata S t o 1 1 — Cr. Não é muito comum. Osorio, 5, 9-1934. Lagartas sòbre Cilrus auranlium L. em outubro, no- vembro e dezembro. Psychidae Oiketicus kirbyi L a n d s-G u i 1 d. — Comum. Os machos chegam atraidos pela luz. Osorio, 5- 1934. Oiketicus geyeri B e r g. — Não é raro, embora menos abundante que o precedente. Osorio, 5, 6- 1934. Lagartas sòbre Cupressus sempervirens L. Cossidae Xyleutes slrigillata F e 1 d. — Não é raro no verão, sendo atraído pela luz. Osorio, 1-1935. Pyraustidae Diaphania nitidalis C r. — Comum. A noite chega atraida pela luz. Osorio 12-34; 1-1935. Lagartas sòbre Cucurbita pepo L. Pyralidae Py ralis farinalis L. — É comum. — As lagartas vivem nas sementes da Zea mais L., Triticum uul- gare L. e bulbos do Alium cepa L. Phycitidae Fundella pelluscens Z e 1 1. — Co- mum. As lagartas vivem nas vagens do Phaseohis vulgaris L. e Canavalia ensiformis D. C. / 126 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N . °s 3/4 — 193S Crambidae Diatraea saccharalis F. — Muito abundante. As lagartas vivem nos cólmos da Zea mais L. e Saccharum officinaríim L. As plantações de cana de assucar da Estação Experimental em Osorio, sofrem um grande ata- que desta espécie. As varieda- des mais atacadas foram as P. O. J. 27-27 e P. O. J. 213, menos atacadas as P. O. J. 36, P. O. J. 27-14, P. O. J. 27-25, P. O. J. 27-28, Formosa F. 4, Coim- batore 213 e Taquará. Mostra- ram-se muito, mais resistentes as variedades P-O. J. 161 e ca- na forrageira Kassoer. Gelechiidae Sitotroga cerealella O 1 i v. — Muito abundante. Causa grandes es- tragos no milho armazenado em espigas. Ataca também as sementes do trigo. Tineidae Tinea pelionella L. - — Comum nas casas. Osorio, 10, 11-1934. As lagartas causam consideráveis danos, alimentando-se de fa- zendas e roupas de lã e sêda. Tinea granella L. — Comum. Oso- rio, 10, 11-1934. Lagartas em se- mentes de trigo. ABSTRACT This paper is a contribuition to the knowledge of the Lepidoptera, in the State of Rio Grande do Sul. and deals with 107 species and va- rieties mostly found in Osorio {Conceição do Arroio) between May 19111 and January 1935. £ O. MONTE — Tingitideos neotrópicos 127 TINGITÍDEOS NEOTRÓPICOS 0 presente trabalho refere-se a estudos feitos pelo autor em di- versos exemplares de Tingitideos coletados em Belo Horizonte, e faz referências de interêsse a outros que lhe têm sido enviados para classificação. Aqui se prossegue em parte, o estudo de Tingitideos cole- tados em Belo Horizonte e cujos re- sultados anteriores já foram publi- cados em Rodriguésia. Neste traba- lho se descreve um novo gênero e duas novas espécies para a ciência. Desejamos agradecer a todos aque- les que nos têm enviado material para estudos e classificação. Todo o material botânico foi determina- do pelo Prof. Mello Barreto, a quem agradecemos. 1 — Eurypharsa quadrifenes- trata Bergroth A descrição desta espécie feita em Wiener Eut. Zeitung, p. 17, 1898, além de ser muito lacônica cita co- mo pátria, vagamente “Brasilia”. Posteriormente Bergroth com- completou sua descricão em Ann. Soc. Ent. Belg. t. LXII, p. 151, 1922, dando melhores característicos pa- ra a espécie, e depoisi disso nin- guém mais se referiu a ela. Um exemplar, Parque Jaba- quara, S. Paulo (Capital), 11-1938, J. G u é r i n, coletor. Por Oscar Monte Belo Horizonte, Minas Gerais Com 1 figura no texto 2 — Aepycysta undosa D r a- ke & Bondar. Coletamos sôbre uma espécie de capim, inúmeros espécimens na Fazenda da Baleia, em 25 de março. O tipo é da Baía, município de S. Ignez, coletado por Bondar; pos- teriormente Hambleton a cole- tou em Ubá, Minas. Bondar cole- tou seus exemplares em Ichnanthus leiocarpa K u n t h, uma gramínea. O nosso material botânico não apresentou elementos de classifica- ção. É o único representante do gé- nero na América do Sul. 3 — Tingis silvacata D r a k c. Depois da descrição original não mais se falou nesta espécie e foi ela descrita de um exemplar fêmea de Chapada, Mato Grosso. Temos abundantíssimo material co- letado em Davilla rugosa P o i r, uma Dileniácea, a qual é aqui co- nhecida por Cipó caboclo. Data da coleta 2-II-1938. 4 — Tingis colombiana Dra- k e. * Coletamos abundante material sôbre uma Bignoniácea, em 2-II- 1938. 0 tipo é de Sabanilla, Colôm- bia. (•) Êste trabalho é publicado pela So ciedade Brasileira de Entomologia. 128 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N. os 3/i — 1938 5 — Amblystira silvícola Dra- k e. Bem espalhada está a presente espécie. Drake a descreveu de Rio Machupo, Bolívia, e èste mesmo au- tor a cita depois nos seguintes lo- cais: Brasil, Rio Guaporé perto de Porto Príncipe, Amazonas; Entre Rios; Baia; e British Guiana, De- morara River. Coletado em Bigno- niácea em 27 de maio. 6 — Amblystira separata D r a- k e & Hambl. Coletado em Erythroxyliun, sp. e daqui já citada pelos autores. Caracas (G. V. Berthier, 5 exemplares) . Os nossos estudos não permitem separar esta espécie de Acanthocheila nigrescens Drake & B o n d a r. Em nossa coleção ni- grescens está representada por 12 espécimens paratipos enviados por Bondar.É provável que A. kaha- valu Kirkaldy, do Perú, sej a armigera, pois um dos característi- cos apresentado pelo autor é o nú- mero de espinhos pronotais, núme- ro êste muito variável em armigera, os exemplares da Venezuela pos- suem 10 espinhos. Leptotingis, n. gen. 7 — Amblystira fuscitarsis Champion. 2 exemplares de San Diego de los Banos, Fev., 12-1932, coletados pelo Dr. S. C. BrunereJ. A. O ter o. A espécie já é conhecida de Cuba, e. coletada em Camaguey. S . C . Bruner, leg. 8 — Amblystira pallipes (Stal) 10 exemplares de Nova Teuto- nia, S. Catarina, F r i t z P 1 a u- m a n n, leg. 9 — Acanthocheila túmida Drake. 5 exemplares. Parque Jabaqua- ra, S. Paulo (Capital), 15 de abril. J. Guérin, coletor. 10 — Acanthocheila armigera (Stal). Temos recebido de vários paí- ses esta espécie, pois sabido é que a sua área de dispersão é bem lon- ga. De S. Paulo (Jabaquara, 2-V- 1938, 10 espécimens) J. G uérin; de Nova Teutonia, S. Catarina (F. P 1 a u m a n n, fevereiro, 25 espé- cimens) ; San Juan, Formosa, Ar- gentina (Dr. Pedro Denier, 8- 12-1938, 3, exemplares) ; El Valle, Cabeça com espinhos curtos; rostro alcançando a sutura meso- metasternal e a abertura rostral muito larga atrás. Búcula fechada na frente. Antenas curtas e larga- mente separadas na base. Pronoto tricarinado, as carinas fortemente foliáceas e com aréolas largas, as laterais fortemente cur- vadas na base e a mediana nascen- do na base da porção triangular. Vesícula bem desenvolvida, larga e passando o ápice da cabeça, cobrin- do toda a parte anterior do pro- noto, salvo os lados; paranotas lar- gos e reflexos. Élitros curtos, um pouco mais largos do que o abdómen, ovais, muito largos na base e terminados em ponta fina e levantada no ápi- ce; área discoidal levantada abrup- tamente e limitada na parte supe- rior por uma nervura saliente; a área costal larga e fortemente re- flexa. Èste gênero está inteiramente ligado aos gêneros Dolichocysta c Corythaica, daquele se afasta pela presença de espinhos na caheça e pelo formato do paranota, e dêste pelo aspecto da vesícula, disposição da área discoidal e formato dos éli- 0. MONTE — Tingitideos neotrópicos 129 tros. As características acima apre- sentadas, distinguem perfeitamente este novo gênero dos dois acima citados. Tipo do gênero: Leptotingis umbrosa, n. sp. 11 — Leptotingis umbrosa, n. sp. Fosco, élitros, vesícula e para- noias com algumas nervuras pardo- escuras. Cabeça com dois curtos espinhos na parte frontal. Rostro alcançando a sutura meso-mctas- ternal. Búcula fechada na frente. Antenas claras, salvo o IV segmen- to que é fosco no ápice e com al- guns pêlos; o I segmento um pouco maior do que o II; o III três vezes maior que o IV; êste regula em ta- manho a soma dos dois primeiros. Corpo em baixo castanho escuro. Pernas longas e amareladas. Vesí- cula bem desenvolvida, um tanto larga, cobrindo a cabeça, com aréo- las foscas e avançando totalmente sôbre a parte discai do pronoto. O pronoto é mais ou menos achatado e o que dele se vê, com leve puntu- ração puntiforme, mas com a por- ção triangular tão grande quanto a parte discai e largamente reticula- da; tricarinado, as carinas forte- mente foliáceas, a mediana um pouco mais de duas vezes mais alta que as laterais e da mesma altura ou um pouco mais que a vesícula, com uma larga mancha escura no centro e formada com uma larga carreira de aréolas e do mesmo comprimento que a parte triangu- lar do pronoto; as laterais com uma só carreira de aréolas, fazendo uma forte curva ao nascer e depois se afastando fortemente, indo se inse- rir mais ou menos no meio da mar- gem externa da porção triangular. Paranota largo, ondulado, reflexo, triseriado na sua maioria, mas qua- driseriado na sua maior largura, e nesta parte com nervuras escuras. Élitros largamente reticulados; a área costal quasi vertical e bise- riada, com aréolas largas, estrei- tando-se para o ápice, onde apre- senta uma só carreira de aréolas; subcostal estreita, com as aréolas dispostas irregularmente, biseriada, as aréolas que formam a carreira de baixo mui pequenas, um pouco mais do que puntiformes, as supe- riores bem maiores, a irregularida- de é tal que se pode notar uma cé- lula grande para duas pequenas; a discoidal abruptamente levantada, um tanto fosca. O ápice levantado. Comprimento 2,15 mm.; lar- gura 1,12 mm. Holotipo (macho) e alotipo (fêmea) e 23 paratipos, coletados pelo autor em Richardia brasilien- sis Gomes, rubiácea vulgarmente conhecida por Poaia do campo, em 17-IV-1938, em Belo Hoirzonte, Mi- nas Gerais. 12 — Pleseobyrsa boliviana D r a k e. Um espécimen, Sur Yungas, Chulumani, Bolivia, IV-1931, Dr. Pedro Denier, coletor. O tipo é de Cochabamba. 13 — Planibgrsa montei D r a- ke & Hambl. A presente espécie foi estuda- da por nós em Rodriguesia n.° 8. como Planibgrsa ( Leptobgrsa ) splendida (Drake). De material en- viado por nós Drake fez nova espé- cie e cujos caracteres diferenciais de splendida se acham descritos em Rev. de Entomologia, vol. 8, p. 65. Podemos apresentar as seguintes medidas; de montei 5,50 mm., de splendida 4,01 mm. Medidas de material coletado por nós abran- gem de 4,01 a 5,50 mm. Recebe- mos de S. Paulo, material de mon- 130 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N . os 3/4 — 1938 lei, colecionado por J. G ué r i n, um pouco menores do que os de Minas Gerais e coletados no Parque Jabaquara, em 15-IV-1938. 14 — Leptobyrsa decora D r a- k e. Um exemplar de D a u 1 e, Equador. 25-VI-1938, apanhado em Citrus aurantiam pelo Dr. Fran- cisco Campos. O paratipo da espécie é do Equador, de Ber. San Pedro e Colasaico. lõ — Gargaphia costa-limai, n . sp . Fig. 1 Grande, alongada, clara, a ca- beça e o pronoto escuros, duas, três e às vezes mais, nervuras escuras na área costal. Cabeça com 5 espi- Fig. 1 — Gargaphia costa-limai, n. sp. nhos claros, o mediano e o par pos- terior bem longos, sendo o mediano tão longo quanto o primeiro seg- mento antenal, e o par frontal mui- to curto. Búcula esbranquiçada. Antenas longas, estreitas, com os dois primeiros segmentos ferrugi- neos, o terceiro amarelado e o quar- to escuro e todos com abundantes pêlos; o I segmento cheio, um pou- co curvado e três vezes maior que o II; o III quatro vezes maior que o IV, este maior que os dois primei- ros juntos. Rostro ferrugíneo, quasi alcançando a interrupção do sulco rostral. Pernas ferrugíneas. O pro- noto levemente convexo, com exu- dação esbranquiçada, escuro com o ápice da porção triangular claro e ai largamente reticulado, fortemen- te tricarinado, com carinas bem fo- liáceas, sôbre elas existem pêlos, uniseriadas e com aréolas largas, a mediana um pouco mais alta e as laterais paralelas e um pouco com declive para fora. Vesícula relativa- mente pouco desenvolvida, mais ou menos da mesma altura da carina mediana, um pouco comprimida lateralmente; paranotas largos, com aréolas largas, totalmente tri- seriado, salvo na base que é bise- riado, curvo, reflexo, a nervura externa ferrugínea e outras dêste mesmo colorido aí se encontram. O pronoto é um pouco mais estrei- tado na frente do que atrás. Élitros longos, largos, leve- mente abertos no ápice, um tanto reflexos e com margens serrea- das; área costal larga, quadrise- riada na frente e com 6 carreiras de aréolas na sua maior largura, notando-se nervuras escuras, trans- versal e longitudinalmente; subcos- tal totalmente biseriada; discoidal aberta e estreitada na base, alar- gando-se no ápice, com seis car- reiras de aréolas na sua parte mais larga e com uma nervura ferrugí- nea limitando-a pelo lado interno; na área suturai notam-se linhas ferrugíneas. 0. MONTE — Tingitideos neotrópicos 131 Comprimento 5,40 mm.; lar- gura 2,40 mm. Holotipo (macho) e alotipo (fêmea) e 40 paratipos coletados com o tipo sôbre Croton sp., em Belo Horizonte. * A presente espécie não se rela- ciona com qualquer outra espécie descrita e lhe é característica a área discoidal aberta, ainda não citada para qualquer outra. A espécie é dedicada ao Prof. Costa Lima, numa homenagem especial ao Mestre e Amigo. 16 — Gargaphia decorie D r a k e. Abundante material apanhado por nós, em Solanum sp., em 4-Y- 1938, em Belo Horizonte. Possui- mos 2 exemplares enviados por J . M. B o s q, de Missiones, Loreto, Argentina, IX-1935. 17 — Gargaphia lumüaUí (Mayr). Muitos exemplares coletado pelo Dr. Pedro Denier, em 6- VI-1938, em Presidente Roque' Saenz Pena (Chaco), e apanhadas em uma “enredadera”. Material abundante de Água Preta, Baía, co- letado em Cassia fístula, pelo Agr. P e dr i t o Silva, em 6-9-1938. 18 Leptodictija ochropa (Síal) . 2 exemplares de Belo Horizon- te, coletados em Taquarinha, no dia 4 de maio; 10 exemplares de Nova Teutonia, F . Plaumann, leg., 21-111-1938. / 19 — Leptodictga fuscocincta (Stal). Muitos exemplares de Belo Ho- rizonte, coletados em Taquaritinha, no dia 4 de maio; 12 exemplares de N. Teutonia, F. Plauman n, leg., 21-111-1938. 20 --- Leptodictga olyrae D r a k e. Muitos exemplares de Belo Ho- rizonte, coletados em Olgra latifo- lia, em 14 de agosto; em Lagoa Santa, também colhemos material na mesma planta; 2 exemplares do Rio de Janeiro, Inst. Biol. Vegetal, leg. 21 — Leptodictga leinahoni. (Kirkaldy) 6 exemplares dèste belíssimo Tingitídeo me foram enviados de Caranavi, N. Yungas, Bolívia, cole- tados pelo Dr. Pedro Denier, ÍV-1931 A espécie já é conhecida da Bolívia e do Perú. 22 — Leptocysta sexnebulosa (Stal). 8 exemplares de N. Teutonia, F. Plaumann, leg., 30-YII-1938; 1 exemplar Dr. P. D e n n i e r, leg., sem procedência; 2 espécimens de Vila Rica, Paraguai, F. Schade, leg. 23 - - Sphaerocysta influía (Stal). 6 exemplares de Puerto Tirol (Chaco), 10-IV-1936, Dr. P. De- nier, leg.; 1 exemplares de N. Teu- tonia, F. Plaumann, leg. 24 — Teleonemia moria (Stal) 7 exemplares de Água Preta, Baia, apanhados em Graviola ( Anona reliculuta ) . Agr. P. Silva, leg. 25 — Teleonemia scrupulosa (Stal). Muitos exemplares coletados em Li p pia brasiliensis (Herva ci- dreira), em 10-9-1938, em Água Pre- ta, Baia, Agr. P. Silva, coletor. . 132 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N.°* 3/4 — 1938 26 - Nyctotingis osborni D r a k e. Um casal de Água Preta, Baía, coletado em Bambú, pelo Agr. P e- d r i t o Silva, em 21-8-1938. Os exemplares que estão diante de mim, concordam com a diagno- se, entretanto noto que o primeiro segmento antenal é mais de duas vezes maior que o segundo; a área costal não possue 8-9 carreiras, mas 5-6 na sua maior largura; o compri- mento é 4,10 mm., em vez de 4,43 O tipo é de Chapada, Mato Grosso, uma fêmea; o alotipo, um macho é proveniente de Mera, Equador. ABSTRACT The author studies 26 species of Brasilian Tingitidae, describing a new genus ( Leptotingis gen. nov.) and two new species ( Leptotingis umbrosa sp. nov. and Gargaphia costa-limai sp. nov.). cm 1 SciELO, 11 12 13 14 15 16 17 L. 0. 1 . MENDES — Dysdercus das coleções, etc 133 d\sdercus das coleções do instituto oswaldo CRUZ (Rio DE JANEIRO) E DO INSTITUTO DE BIOLOGIA VEGETAL (RIO DE JANEIRO) * c*ven Dí l mOS abaixo » relação dos Írrn P l ül ' es , de Hysdercus ( Hemip - dn t [}l rrhoc °ridae) das colecões tif.o St i lU i°. 0swald ° Cruz e do íns- fornm G Vegetal, os quais ttw?« n P ° r nos Óbidos, para es- aos, respectivamente por inter- edio dos srs. dr. A. da Costa e Frei Thomaz Borg- e i e r; a ambos os nossos agrade- eimentos. ,»~ 0 ? ysdercus albofasciatus (Berg P?> r- >■ O. C 1 8 , sem de* ‘gnaçao de procedência. I. B. V. : i (?*• 1S99), Pelotas (Rio Grande ' í>ul), O. Soares col. IV. 1934; ; Cantareira (S. Paulo), S. Lo- pes col. III. 1936. (UíoR ysderci,s honestus Bloetc L, D — I- B. V. : 1 9, Campinas r °yaz) , Borgmeier et Lopes Co1 - XII. 1935. 1 / 1o Pysderetts longiroslris Stal p .0 I. O. C.: 1 ç , Angra dos ~ê eis ’ L. Trav.col. IX. 1930; 2 9, ".Q I '>f ra d °s Reis, L. T r a v. col. IV. Ç- r,’. * 5 > Angra- Jussaral, Trav- o ’ J x lticica col. 22. IX. 1935 (n. Snn ^ I U B. V. : 1 $ e 1 9 , Itatiaia, „ o 1- (Rio de Janeiro), S . Lopes f R • Cunha col . XII . 1933; 1 9 , ardini Botânico (Rio de Janeiro), . e n t col. X. 1935; 1 9, sem de- ^gttação de procedência. Por Luiz O. T, Mendes S. de Entomologia — Instituto Agronômico Cam ninas, São Paulo. Dysdercus maurus (Distant (1901) — I . O . C . i 3 o e 2 9 sem designação de procedência; 7 $ e 7 9 , Porta das Flores, Juiz de Fóra (Minas Gerais) , P e n i d o col . 2.X. 1936; I. B. V. : 1 9 (n. 3574), Rio de Janeiro, A. Puttemans col. X.1922; 1 3 (11. 3575) idem; 1 3 (n. 3576) idem; 1 3 (n. 3577) idem; 2 á e 1 9 , Rio de Janeiro, E d. Caldeira col. XII. 1928; 1 3, sem designação de procedência. Dysdercus mendesi Bloete (1937) — I . O . C . : 2 3 e 3 9 , sem designação de procedência; 1 á e 1 9 (n. 1034), Belo Horizonte (Mi- nas Gerais), O. Monte col. sôbre algodoeiro. Dysdercus ruficollis (L. 1764) — I. O. C. : 1 9 e 1 í e 1 9 (in copula), sem designação de proce- dência; col. 4. II. 1927; 1 9, Belo Horizonte (Minas Gerais), O. M onte col. sôbre algodoeiro; 1 9 . Angra dos Reis (Rio de Janeiro), L. Trav. col. V. 1928; 1 9 , idem, L. Trav. col. X.1928; 1 9 , Avaré (S. Paulo), J. C. N. Penido col. VIII. 1934; 1 3, Cambuquira (Minas Gerais), M. Penido col. III. 1932; 1 9 , M. Pereira (E. do Rio), T. Abreu col. 3. X. 1937; I. B. V. : 1 3 e 1 9 , Rio Grande V) Êste trabalho é publicado pela Sociedade Brasileira de Entomologia. 134 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série) Vol. III N.°* 3/4 _ jq3S do Sul, N. Fagundes col. X. 1927; 1 2, sòbre Coleus (?), Porto Alegre (Rio Grande do Sul), N. B. Fagundes col . VI . 1929 ; 1 2 , Itatiaia (Rio de Janeiro), D. Me n- dss col. IX. 1929; 12, Macaé (Rio de Janeiro), A. Pacifico col. XI. 1933; 1 2, Itatiaia (Rio de Ja- neiro) 800 m., S. Lopes&R. Cu- nha col. XII. 1933; 1 á el 2 , Rio de Janeiro, D. Mendes col. II. 1934; 1 2, Angra dos Reis (Rio de Janeiro), M. V e n t e 1 col. 11.1935; 1 3 e 1 ninfa 2 no 5.° instar, Jar- dim Botânico (Rio de Janeiro), D. Mendes, col. 28. X. 1937; 1 2, sem designação de procedência. Dysdercus rujicolis (L.) var. albomembranaceus Bloete (1931) — I. O. C.: 1 2 , S . da Bocaina, F. do Bonito, 25. XII. 1915; 1 2 , S. Paulo, H. S. L. col. 29. IX. 1931; 2 2 , Itatiaia, 19. VI. 1930; 1 á, Belo Horizonte (Minas Gerais), O. Monte col. sòbre algodoeiro; /. B. V.: 1 2 S. José dos Campos (S. Paulo), H. S. Lopes col. VII. 1933. Dysdercus ruficolis (L.) var. annulus (Fabr. 1803) — I. B. V.: 1 á , sem designação de procedên- cia. Dysdercus ruficollis (L.) var. clarki Distant (1902) — I. O. C .: 1 S , Angra dos Reis (Rio de Ja- neiro) , L . T . col . V . 1928 ; 3 3 , Angra dos Reis, L. T. col. VII. 1928; 1 á, Itatiaia, 19. VI. 1930; I. B. V. : 1 s el 2 , Jardim Botânico (Rio de Janeiro), D. Mendes, col. 28.X. 1937. Finalizando êste pequeno tra- balho, queremos chamar a atenção dos srs. entomologistas para o in- terêsse econômico do gênero trata- do, o que, aliás, anteriormente já o procuramos fazer, cm diversos trabalhos publicados sòbre o assun- to. Ao mesmo tempo, lembramos que têm havido e ainda ha grande confusão na identificação de muitas espécies do gênero, entre as quais, entre nós e fora do pais, Dysdercus ruficollis que, si de um lado é bas- tante abundante e apresenta vasta distribuição geográfica, de outro di- ficulta muito o estudo aos não ain- da com completo dominio sòbre o grupo, em virtude da grande va- riabilidade que apresenta, quer no colorido, como também no tama- nho e, às vezes, na forma geral do corpo. Porisso se explica a frequên- cia com que várias outras espécies têm sido erroneamente identifica- das como Dysdercus ruficollis, pelo fato de apresentarem algumas se- melhanças em determinada direção. Aproveitando ainda esta opor- tunidade, lançamos um apêlo aos srs. entomologistas e amadores, no sentido de ser-nos enviado mate- rial do grupo agora tratado, pois temos em andamento um trabalho algo mais minucioso que o presen- te, sendo nosso principal objetivo analizar diversos caracteres que julgamos, atualmente, serem de uti- lidade ao estudo dêsses insétos, com o fito de facilitar o trabalho de ou- tros, talvez com conhecimento me- nos aprofundados a respeito do grupo. Para nossos estudos, entre- tanto, não ha necessidade do ma- terial ser remetido já preparado, sendo mais expedito e seguro ser conservado em álcool a 70%, o que também em muito facilitará o tra- balho dos srs. colecionadores. ABSTRACT A list is given of the species of Dysdercus in the collections of the Instituto “Oswaldo Cruz” and Insti- tuto de Biologia Vegetal, both in Rio de Janeiro. The species of this genus have been recorded atta- cking the cotton bolls and dema- ging the fibres. S. T. PIZA JR. — Xovos opiliões do Brasil 135 NOVOS OPILIÕES DO BRASIL* Por S. de Toledo Piza Jr. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo Com 1 figura no texto e estampa 4 Gonyleptidae Gonyleptinae Gonyleptes perlatus n. sp. Est. 4, A S — 13 mrn . Femora: 5,5 - 11 - 9 - 11 mm. Tibiae: 4-8-5-11 mm. Articuli tarsales: 6-11-7-8. Margo anterior cephalothoricis tuberculis magnis binis in medio, nonnullis minoribus utrinque arma- tus. Tuber oculorum sat elevatum, spinis 2 divergentibus, validis, ins- tructum. Cephalothorax tuberculis parvulis binis necnon granulis pau- cis dispersis praeditus. Area I a sulco longitudinali secta, tubercu- lis 2 in medio, alteris minoribus sparsis; area II tuberculis binis in medio ordinis tuberculorum mino- rum, necnon tuberculis sparsis; area III tuberculis 2 validissimis, alteris parvis. Limbus lateralis gra- nulatus, ad marginem tuberculis inaequalibus seriatim ordinatis, posterioribus majoribus, rarissimis extra seriem, obtectus. Area IV et segmanta dorsalia libera serie tu- bercolorum magnorum praedita. Operculum anale granulatum. Seg- menta ventralia libera ordinen gra- nulorum singulam exhibentia. Area spiraculorum laevis. Coxae I-II or- dinibus granulorum 2 praeditae, III- IV dense granulosae. Palpi maxilla- res : trochanter super tuberculis spi- niferis 1-2 in medio, subter ad api- cem spinis binis — spina media ma- jore. munitus; femur subtus ordine spinarum minutarum, intus spina apicali armatum; patella inermis; tibia extus spinis 4-6 (prima et pae- nultima majoribus), intus 4 (1. et 3. !) instructa; tarsus spinis 6 ex- ternis (1. et 4 !) et 5 internis (1. et 4. !). Femora III leviter sinuosa, tuberculis parvis seriatim ordinatis praedita. Pedes IV : coxis extus tu- berculatis, apophyse apicali robus- ta, bifida, ramis retrorsum directis — dorsali recurvo et acumiato, ven- trali brevi et lato-intus dente mi- nutíssimo obtuso armatis; trochan- teribus latioribus quam longioribus, extus in medio apophyse dentifor- mi valida, intus tuberculis paucis- apicali majore-munitis; femoribus rectis, ad trientem basalem incras- satis, fortiler armatis; tibiis subtus tuberculis seriatis-internis majori- bus, praeditis. Castaneo-rufescens, coxis posti- cis dentioribus. Tubercula limbi la- teralis et segmentorum dorsalium (*) Êstc trabalho é publicado pela Sociedade Brasileira de Entomologia. 136 BOLETIM BIOLÓGICO (Xova Série) Vol. UI X.™ 3/4 — 1938 liberorum lutea. Coxae minutissime nigro-conspersae et dense luteo-ru- fescenti maciilatae. Pars anterior segmentorum ventralium 2.-p3. li- neis brevibus irregularisbusque transversis, nigris, plumam avis de- signantibus, ornata. Plabitat: Barra do Rio Ribeira de Iguape (S. Paulo, Brasil). Col . : F . Lane. Tipos: 2 machos na col. do A. Gomjleptes lanei n. sp. Est. 4, B-C 3 — 10 mm. Femora: 5-10-7-9 mm. Tibiae: 3-0-5-7 mm. 9 — 11-13-mm. Femora: 5-9, 5-7, 5-9, 5 mm. Tibiae: 4-7-5-7,5 mm. Articuli tarsales: 6-10/12-7-8 3 — Margo anterior cephalo- thoracis tuberculis prominenlibus 2 in medio, ordine granulorum utrinque praeditus. Tuber oculife- rum sat elevatum, paullo ante mé- dium cephalothoracis, spinis binis robustis, appropinquatis, modice divergentibus, instructum. Cephalo- thorax granulis nonnullis obtectus. Area I a sulco longitudinali in me- dio divisa. Areae 1 et II tuberculis humilibus 2 in medio ordinis tuber- culorum minorum, necnon tuber- culis plurimis utrinque ornatae. Area III tuberculis magnis 2 in me- dio, alteris utrinque. Limbus late- ralis parce granulatus, ordine tuber- culorum marginalium, quarum me- diis fortissimis, praeditus. Area IV et segmenta dorsalia libera ordine tuberculorum magnorum humilium praedita. Segmenta ventralia libera ordine granulorum minutorum. Operculum anale inerme. Coxae I- II granulis seriatis; III-IV irregula- riter grano losae. Segmenta ventra- lia 2. + 3. laevia. Palpi maxilla- res: trochanteribus tuberculis non- nullis dorsalibus, spinis binis ven- tralibus; femoribus subtus ordine spinarum parvarum, intus spina apicali gracili instructis; tibiis spi- nis externis 4 (1. et 4. !), internis 3 (1. et 2. !), armatis; tarsis spinis 5 externis (1. et 3. !) et 5 internis (1. et 3. !). Femora III leviter ar- cuata. Pedes IV: coxae extus tuber- culis prominentibus plurimis, apo- physe apicali brevi et paullo re- curva salientiam obtusam inferne prope apicem exhibente, armatae; trochanteres latiores quam longio- res, intus tuberculis magnis, extus apophyse tuberculari plus minusve in medio instrueti; femora pluri- dentata, dente infero mediano reli- quis majore; patellae crassae; ti- biae dentibus parvis praeditae. Castaneo-rufus, tuberculis area- rtini I-I1I in centro disci albi, coxis IV partim nigis. 9 — Tubercula arearum I-III minora et numerosiora; disci in parte confluentes; segmenta libera nigra, tuberculis parvulis interdum granularibus ornata. Habitat: Alecrim (Linha San- tos-Juquiá) (S. Paulo, Brasil) Col. : Kiju.Sakay (IX, 1937) Tipos: 1 3 e 4 9 9, no Labo- ratório do A. O nome da espécie é dado em homenagem a F . Lan e, do Museu Paulista, que me tem enviado mate- rial para estudo. Inhuma n. gen. Tuber oculorum spinis 2 arnia- tum. Areae I-III scuti dorsalis iner- mes, arça IV maris cornu robusto in medio praecbta, feminae inermis. S. T. PIZA JR. Xovos opiliões do Brasil 137 Area I a sulco longitudinali secta. Operculum anale et segmenta libe- ra dorsalia et ventralia inermia. Fe- mur palporum inerme. Tarsi antici articulis 6, reliqui plus quam 6. 1 ars terminalis tarsorum omnium 3-articulata. Tipo: a espécie seguinte. Inhuma pessoai n. sp. Fig. 1 S — 7 mm. 9 — 10 mm. Femora ( ô ) : 3, 5-5-4-S mm. Femora ( â ) : 3,5 5-4-5 mm. Articuli tarsorum: G-9-7-7. S — Margo anterior cephalo- tboracis in medio fortiter bidenta- bis. Tuber oculorum altum, trans- versum, spinis 2 armatum, trientem anteriorem cephalothoracis oecu- Pans. Sculum dorsale sulcis latis 4 divisum; sulci 2 anteriores sulco longitudinali conjuncti. Cephalo- thorax et areae I-II minute graiiu- latae, area III irregulariter tuber- culata, area IV serie tuberculorum necnon cornu validíssimo, conico, obtuso, retrorsum directo, obliquo seu horizontali, armata. Limbus la- leralis ordine granulorum magno- rum et granulis parvis obtectus. Se- Sroenta dorsalia libera ordinibus granulorum singulis ornata. Oper- culum anale parce granulatum. Co- xae granulis dentiformibus, in coxa 1 uiajoribus. Area spiraculorum Parce granulosa. Spiracula semilu- Rata. Segmenta ventralia libera or- dine granulorum parvulorum sin- gula. Femora omnia sinuosa. Pedes 1^ : Coxis extus granulosis, apophy- Se apicali externa brevi lataque, subtus granulis plus minusve seria- l>m ordinatis prope articulationem praeditis; trocbanteril)us subtus granulis parvulis, intus tuberculis nonnullis, extus apophyse brevi an- trorsum arcuata, instructis; femori- bus fortiter tuberculatis. prope ba- sin apophyse infero-interna crassa, ad apicem intus apophyse minore curva, subtus dentibus 2 — interno majore, armatis; patellis robustisi granulis dentiformibus inductis; ti- biis granulosis, extremitatem ver- sus levissime incrassatis, patellis duplo longioribus, dentibus apicali- bus inferioribus binis armatis; pro- tarsis subtus spinis apicalibus 2. Palpi: trochanteribus granulis non- nullis dorsalibus et ventralibus; fe- moribus subtus granulis 4 longitu- dinaliter ordinatis, tibiis intus spi- nis 3, extus 4, tarsis 4 ulrinque, armatis. 9 — Area IV scuti dorsalis inermis. Area III minute granulata. Apophysis apicabs externa coxa- rum posticarum parvula. Trochan- 138 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III JV. os 3/4 — 1938 teres et basis femorunn inermes. Granula segmentorum íiberorum dorsalium prominentia. Corpus castaneo-rufum, tenuis- sime fusco-conspersum. Cephalo- thorax plagis irregularibus dilutio- ribus in medio ornatus, marginibus lateralibus dgricans. Pedes I-III, chelae et p. pi cinerei, luteo-macu- lati. Extremitas femorum IVi paris, patellae et tibiae omnino fere ni- grae, luteo-maculatae, tibiae III-IV luteae. Habitat: Inhuma (Goiaz, Brasil) . Tipos: 5 $ $ e 5 2$ no La- boratório de Parasitologia da Fa- culdade de Medicina de S. Paulo e 2 J 3 e 2 9 } no Laboratório do A. O nome da espécie é dado em homenagem ao Prof. Samuel Pessoa, que me enviou o mate- rial para estudo. Pachylinae Discocyrlus areolatus n. sp. Est. 4, D S — 6 mm. Femora: 3-5-4-3,5 mm. Tibiae: 2-4-3-4 mm. Articuli tarsales: 6-10-7-7. Margo anterior cephalothora- cis granulis 3 utrinque ornatus. Ce- phalotorax parcissime granulatus. Tuber oculorum elevatissimum, plus minusve in medio cephalotho- racis, spinis binis validissimis, di- vergentibus, armatus. Areae I, II et III (III indistincte) a sulco media- no sectis, area IV integra. Areae I, II et III granulis areolatis complu- rimis, III necnon tuberculis 2 eleva- tis, IV granulis areolatis in seriem singulam ordinatis, V et segmenta dorsalia libera ordine granulorum magnorum, praedita. Limbus late- ralis granulatus, postice tuberculis nonnullis inductus. Operculum ana- le granulatum. Segmenta ventralia libera ordine granulorum parvo- rum. Coxae I-III granulis seriatis, IV granulis minutissimis dispersis, ornatae. Area spiraculorum parcis- sime granulosa. Palpi: trochanteres tuberculis spiniferis parvulis dorsa- liter 2 et ventraliter 2 (interno mul- to robustiore), instructi; femora spina basilari inferiore, altera api- cali interna; tibiae extus spinis 4 (1. et 3. !), intus spinis 4 (1. et 3. !) armatae, tarsi spinis externis 4 (1. et 2. !), internis 3 (1. et 2. !). Pars apicalis segmenti primi chela- rum tuberculis parvis, prominenti- bus 2 posterioribus et 2 lateralibus externis. Femora I et II vix, III et IV evidenter arcuata. Pedes IV: co- xae extus granulosae, apopliyse api- cali retrorsum obliquiter directa, extremitate curva, intus apophyse robusta, spatulata, praeditae; tro- chanteres multo longiores quam Ia- tiores, apophyse basilari externa, altera minore interna et mediana leviter rccurvis, dente apicali in- terno parvo et protuberantiis api- calibus dorsalibus binis, externa multo majore, muniti; femora, pa- tellae et tibiae fortiter armata. Ti- biae III femoribus crassiores, sub- tus ordine dentium versus apiceni sensim majorum. Castaneo-rufus, tenuissime ni- gro conspersus, areis granulorum fulvis, chelis luteo fictis, pedibus I-III dense cinereis, albo-lutescenti ornatis. Habitat: Ipiranga (S. Paulo, Brasil). Col. : J . Lima Junior. Tipo: 1 8 na col. do A. S. T. PIZA JR. — Novos opiliões do Brasil 139 Discocyrtus invalidus n. sp. Est. 4, E á — 5 mm. Femora: 2-4-3-S mm. Tibiae: 2-3-2, 5-4 mm. Articuli tarsales: 6-8-7-7 Cephalothorax sub laevis, mar- gine anteriore ordine granulorum minutissimorum ornatus. Tumulus oculiferus non multo elevatus, spi- nis binis gracilibus, verticalibus et Parallelis necnon granulis nonnul- lis minutis praeditus. Sulci scuti dorsalis sat lati, primo et secundo sulco lato longitudinali conjunctis. Area I granulis parvis sparsis, area II ordine granulorum parvulorum e t granulis nonnullis extra ordinem, area III granulis parvulis seriatim nrdinatis et spinis 2 fragilissimis, area IV ordine granulorum paullo niajorum, area V et segmenta dor- salia libera ordine granulorum nrassiorum, obtecta. Limbus latera- lis ordine granulorum. Operculum anale granulatum. Segmenta ven- tralia libera ordine granulorum. Area spiraculorum granulis paucis tenuisque praedita. Coxae I ordine granulorum acutorum, II ordinibus Innis et III ordinibus nonnullis gra- nulorum minorum, IV granulis mi- nutis sparsis. Palpi: trochanteres spinis ventralibus 2, interna majo- re; femora spina basilari inferiore altera apicali interna; patellae iner- tes; tibiae spinis externis 3 (2. !), internis 3-4 (1. et 3. !) ; tarsi spl- nis 4 externis et 3 internis; unguis tarsorum robusto. Femora I, III et IV pias minusve arcuata, II recta. Pedes IV: coxae granulosae, apo- physibus bifidis 2, una apicali ex- terna altera interna latiore arma- tae; trochanteres vix longiores guam latiores, apophysibus 2 inter- nis, altera perparvula basilari ex- terna; femora tuberculis dentifor- mibus compluribus seriatim ordi- natis, basi apophyse dorsali brevi et dente minuto infero interno ins- tructa; patellae tibiaeque granu- losae. Castaneo-uniformis. Habitat: Matão (S. Paulo, Brasil) . Col. : R. L. Araújo, 1936. Goniosominae Leitaoius iguapensis n. sp. Est. 4, P á — 9 mm. Longitudo pedum: 43/54-103/ 138-64/79-83/99 mm. Longitudo femorum: 14/18-29/ 42-20/25-25/30 mm. Articuli tarsales: 11-22/23-10/ 12-14/15. Margo anterior cephalothoracis inermis. Tuber oculiferum humile, granulis paucissimis seu haud gra- nulatum, tuberculis 2 sat remotis instructum. Cephalothorax granu- lis nonnullis sparsis. Sulci scuti dorsalis sat lati. Areae omnes sulco longitudinali divisae. Areae I et II granulis nonnullis remotissimis. Area III spinis 2 necnon granulis rarissimis quorum 2 symetricis prope sulcum IVum praedita. Area IV ordine transversali granulorum remotissimorum in medio et gra- nulis minoribus irregulariter dis- persis seu ordine granulorum tan- tum instructa. Segmenta dorsalia libera granulis 2 sat remotis. Lim- bus lateralis irregulariter granulo- sus. Spinae angulares areae IVae granulares, spinae angulares seg- mentorum dorsalium liberorum proeminentes seu tuberculiformes. Operculum anale parce minute-gra- 140 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°* 3 4 — 193S nulatum. Coxae I-III ordine granu- lorum piliferorum praeditae. Coxa IV cum area stigníatica minute gra- nulata. Segmenta ventralia libera ordine granulorum. Palpi: trochan- teres dorsaliter spine 1 in medio, 1 seu 2 minoribus internis subapica- libus, ventraliter spina apicali for- tíssima in medio, altera minuta ex- terna armati; femora subtus ordine spinarum validaram et gracilium, intum spina fortíssima armata; pa- tellae inermes; tibiae intus spinis robustis 4 (1. et 3. !), extus tubér- culo 1 et spinis 4 quarum 3. reli- quis multo majore, 4. in parte ante- riore spinae 3ae implantata, prae- ditae; tarsi spinis 3-3, internis ma- joribus. Femora pedum omnia re- cta. Pedes IV. coxis extus tubercu- lis parvulis et apophyse parva, ex- tremitate acuta et recurva, intus dentibus binis inaequalilms arma- tis; trochanteribus longioribus quam latioribus, apophyse basilari brevi et lata, dente apicali interno, altero dorsali introrsum directo, instructis; femoribus ordinibus bi- nis parallelis dentium inaequali- mn, versus apicem gradatim mino- rum, necnon spinis 2 apicalibus, in- terna majore, armatis. Femora Illii paris apicalibus et serie singula dentium parvulorum versus api- cem sensim majorum dimidium distalem occupante instructa. Corpus castaneo-virescens, sul- cis omnibus luteis. Tubercula gra- nulaque in maculis luteis posita. Cephalotborax luteo maculatus, v luteo post tumulum ocularem or- natus. Limbus lateralis nigro-vires- cens, fortiter luteo-maculatus. Spi- nae areae lllae castaneo-nigrae. Pars Iveulralis corporis castaneo- dilutior. Pedes castanèi, plus mi- nusve castaneo-maculati, femori- bus, patellis et tibiis posticis fere ni- gris. Femora III-IV et tibiae anulo claro ad apicem. Clielae virides, luteo-maculatae. Palpi nigro-viri- des. viridi-maculati. Habitat: Barra do Rio Ribeira de Iguapc (S. Paulo, Brasil). Col.: F. Lane. Tipos: 2 S $ na coleção do A. Mitogoniella mutila n. sp. Kst. 4, G 2 — 7 mm. Femora: 8-19-14-18 mm. Tibiae: 6-?-8-? mm. Articuli tarsales: ? ãlargo anterior cephalothoracis inermis, laevis. Tuber oculorum la- tum, in medio sat elevatum, spinis 2 obtusis, appropinquatis, divergen- tibus armatum. Cephalothorax gra- nulis prominentibus parce ornatus. Areae I-II granulis nonnullis pro- minentibus. Area III praeter granu- lis spinis 2 conicis, leviter retror- sum directis, armata. Area IV se- rie granulorum, spinis 2 brevibus, rhombis, ad ângulos praedita. Lim- bus lateralis sat latus. irregularitcr granulosus. Area I a sulco 2.° in partes duas valde remotas secta. Area II in partes 3 divisa : parte me- dia inter partes duas areae primae. partibus lateralibus triangularibus. Sulci 2. et 3. parte subcontigui. Sulci 3. et 4. sulcis binis. longitu- dinalibus, arcuatis, inter spinas areae lllae sitis, conjunctis. Seg- menta dorsalia libera ordine granu- lorum, spinis angularibus validis instructa. Spinae segmenti primi fortissimae, segmenti secundi paul- lo minores. Operculum anale pro- minenter granulatum. Segmenta ventralia libera laevia. Area spira- culorum laevis, margine posteriore serie granulorum ornato. Coxae 1 ordinibus 2 granulorum; coxae S. T. PIZA JR. — ■ Xovas opiliões do Brasil 141 II et III ordine singula granulo- ruxn; coxae IV granulis parvulis sparsis. Palpi fortissimi, trochante- ribus superne granulo singulo. in- ferne spina valida mediana et gra- nulo párvulo apicali externo inu- nitis; femoribus spina basilari forti. ordine granulorum ventrali et spina apicali interna fortíssima armatis: patellis inermibus; tibiis dentibus internis 5 (1. et 3. !), externis 6-7 (3. ab apice!) armatis; tarsis spinis 3 internis et 3 externis, unguibus longis instructis. í'emora recta, or- dinibus granulorum ornata. Coxae IV extus granulis nonnullis et dente apicali minuto; trochanteres lon- giores quam latiores. Corpus castaneo-rufescens, sul- cis granulisque luteis, margine lim- bi lateralis et segmentis dorsalibus liberis castaneo-nigris, arca IV viri- di-nigra, palpibus brunneo-nigro marmoratis. Habitat: Cantareira (S. Paulo, Brasil) . Col. : C. Worontzo \v. Leg. : Prof. Samuel Pes- soa, da Faculdade de Medicina de S. Paulo. Tipo: 1 9 no Laboratório do A. Cosmetidae Cosmetinae (*) Cynorla worontzowi u. sp. Est. 4, H-I 3S ' III et IV punctis albis parvulis, or- natae. Area V postiço line» alba in- terrupta. Habitat: Rio Parauari (Ama- zonas, Brasil). Col. : C . Worontzow. Leg. : Prof. Samuel Pes- soa. Eupaecilaema megaypsilon n. sp. Est. 4, L 3 — 6 mm. Femora: 6-11-9-11 mm. Tibiae: 4-10-5-7 mm. Articuli tarsales: 7/8-14/17-8/ 9-9. Margo anterior cephalotbora- cis laevis, in medio et ad ângulos fortiter prominens. Cephalothorax granulis tenuissimis obtectus. Tu- ber oculiferum latum et humile, granulis paucis minutissimis prope oculos praeditum. Corpus totum laeve. Areae I et III tuberculis par- vis binis armatae. Limbus lateralis tenuiter granulatus. Area V et seg- menta dorsalia libera ordine granu- lorum dentiformium. Operculum anale granulatum. Segmenta ven- tralia libera ordine granulorum parvulorum remotorum. Coxae I granulosae, III dimidio apicali den- tibus lateralibus parvis, IV multo tenuiter granulosae. Area spiracu- loruin tenuissimc sparsim granu- lata. Pars globosa articuli primi chelarum marginibus externis et posterioribus granulis dentiformi- bus armata. Femora omnia recta, granulis seriatis praedita. Pedes IV: coxae extus granulis parvis, su- perne dente lato, rbombo, ad api- cem instructae; trochanteres gra- nulis nonnullis externis et dente párvulo apicali praediti; femora. inferne, intus, tuberculis dentifor- mibus, in medio majoribus, seria- tim ordinatis. munita. Coreaceus, castaneus, Y albo, magno, ramis sat latis, lineam al- bam extremitatibus interruptam sulci Illii attingente, ornatus. Ra- mus impar Yi a punctis binis in area IVa continuatus. Corous nec- non punctis albis ornatum. Femora lineis irregulariter sinuosis longitu- dinaliter ornata. 9 — differt femoribus poste- rioribus tuberculis dentiformibus liaud instructis. Habitat: Inhuma (Gayaz, Bra- sil). Tipos: 1 3 e 1 2 no Labora- tório do A. Discosomaticinae Grxjne reticulata n. sp. Est. 4, M Femora: 5-9/10-8,5/10-23/25 mm. Tibiae; 3-7-5-20/25 mm. Articuli tarsales: 8-13/10-9/10- 9/10. Margo anterior cephalothora- cis salientiis 3, fortibus, praeditus. fumulus oculiferus humillimus, in medio excavatus. Sulci scuti dorsa- lis indistincti. Areae I-III linea lon- gitudinali tenuissima in medio di- visae. Area 1 tuberculis 2 parvulis, area III spinis 2 conicis, acutis, pa- rallelis et subverticalibus armatae. Cephalolhorax et areae omnes te- nuiter et dense granulosae, albo- reticulatac. Tumulus oculiferus mi- nute granulosus. Limbus lateralis et segmenta dorsalia libera ordine granulorum. Segmenta vcntralia libera ordine granulorum tenuissi- S. T. PIZA JR. — ■ Novos opiliões do Brasil 145 morum ornata. Operculum auale minutissime et sparse granulatum. Coxae I ordinibus 2 granulorum dentiformium, II granulis seriatis, III praeter granulis seriatis, alteris dentiformibus marginalibus — pos- terioribus majoribus et numerosio- ribus, IV et area spiracolorum gra- nulis minutis et sparsis, ornalae. Pars globosa articuli primi chela- ruin eoriacca, granulis dorsalibus paucis minutis, marginibus omni- bus granulis aculis, praedita, gra- nulis posterioribus majoribus. Pal- pi: trochanteres patellis multo bre- viores, ])arte apicali fortiter amplia- ti, tuberculis binis, interno majore, subtus muniti; femora longiora quam laliora, triangulariter ain- pliata, subtus ordine tuberculorum, extus tuberculis dispersis, intus spina apicali, armata; jiatellae gra- nulosae, versus apicem leviter am- pliatae, dimidio femoruin longio- res; tibiae lemoribus multo logio- res, granulosae, extus ampliatae, carinis minute-spinulosae, spinis 2 apicalibus subtus armatae; tarsi graciles, apicem versus attenuati, patellis evidenter breviores, subtus dentibus 2 infcrnis et 4 externis ar- inati; unguis validus, dimidium tarsi superans. Femora onmia gra- nulis parvulis seriatis praedita, I, II et III subrecta, IV recta. Pedes IV coxae extus granulis paucis, ad apicem majoribus; trochanteres praeter granulis minutis, granulo apicali interno prominenti. Brunneus, albo-rcticulatus, area oculorum et basi spinarum areae Illae nigris. Habitat: Inhuma (Goiás, Bra- sil). Tipos: 1 í no Laboratório do A. e outro na Faculdade de Medi- cina de S. Paulo. Stygnidae Stygninae Metastygnellus multispinosus n. sp. Est. 4, N 2 — 5,5 mm. Femora: 2-5-3-4,5 mm. Tibiae: 2-3-2-3 mm. Articuli tarsales: 6-12-6-7. Margo anterior cepbalothora- c.is ordine granulorum acutorum utrinque praeditus. Cephalothorax laevis, eminentia cônica spina brevi ante oculos munita in medio insíru- r.lus. Areae I et II ordine granulo- rum acutorum. Area III ordine sin- gula vel dupla granulorum necnon spinis 2 conicis, brevitus, divergen- tibus, leviter reclinis, in medio ar- mata. Limbus lateralis cum granu- lis seriatis. Area IV et segmenta dorsalia libera spinis 2 crescentibus in medio ordinis spinarum mino- rum armata. Segmentum anale dor- sale grosse granulatum; segmenium anale venlrale granulis aculis par- vulis obtectum. Segmenta ventralia libera granulis compluribus, minu- tis, in seriem dispositis. Coxae I et II granulis seriatis. III. IV et area spiraculorum granulis sparsis prae- ditae. Pars globosa articuli li che- larum superne granulis 2 postice munita. Palpi: coxis superne spina parvula subbasilari, inferne spine majore subapicqli praeditisj tro- chanteribus granulis nonnullis su- pra et subtus ornatis; lemoribus ei patellis inermibus: tibns spinis 5 utrinque inslructis (l.° et paenulti- mo!); tarsis subglobnlosis, utrin- que spinulosis; unguis tarso paullo longior. Femora omnia plus minus- ve arcuata, granulis seriatis ornata. Pedes IV: coxis granulis magnis, a])opbjse apicali externa parva ar- matis; trochanteribus paullo lon- 146 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vai. III. N . °s 3/4- — 1938 gioribus quam latioribus, granulis paucis et apophyse apicali interna parva instructis; femoribus ver- sus apicem sensim grassioribus, granulis inferioribus ultimís denti- formibus; patellis granulis apicali- bus denliformibus. Castaneo-uniformis, spinis are- ae Illae dentioribus. Habitat: Inhuma (Goiás, Bra- sil). Col.: C. Worontzow. Leg. : Prof . Samuel Pes- soa. Tipos: 4 2 2 no Laboratório do A. ABSTRACT 13 new species and one new ge- nus of Phalangida are described in tliis paper. EXPLICAÇÃO DAS FIGURAS Estampa 4 Fig. A — Gomjleptes perlalus 8 ” B — ” lanei . . $ ” C — ” ” . . $• D — Discocyrtus areolatus 8 E — ” invalidus 8 F — Leitaoius iguapensis 8 G — Mitogoniella mutila 8 ” H — Cynorta worontzowi ? ” I — " ” 4 ” J — Eucynorta amazônica 8 ” K — Eucynortella pauper S ” L — Eupaecilaema mega- ypsilon 8 ” M — Gryne reticulata ... 8 ” N — Metastygnellus mul- tispinosus 2 cm 1 10 11 12 13 14 15 16 ' A. CARINI — Contribuição ao conhecimento, etc. 1J7 CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DAS “ OPALIN 1D AE ” DOS BATRÁQUIOS DO BRASIL* II — Nota: GÊNERO “ZELLERIELLA” Pelo Dr. A. Carini Laboratório Paulista de Biologia — S. Paulo Com 9 figuras no texto Desde vários anos venho estu- dando as Zelerielas parasitas da ampola retal dos batráquios do Brasil, tendo encontrado êstes cilia- dos nos seguintes: Leplodaclylus ocellatus, L. pentadactylus, L. gra- cilis, L. lyphonius, L. mistaceus, Paludicola signifera, Engystoma ovale, Bufo mantias, Ceratophrix americana e C. dorsata. Agradeço ao Dr. Adolpho Lutz, do Ins- tituto Oswaldo Cruz, a determina- ção dos batráquios com que traba- lhei. E’ curioso mencionar que, até agora, nunca encontrei Zelerielas nas rãs pertencentes ao gênero Hyla, apezar de ter examinado cen- tenas e centenas de exemplares das seguintes espécies: Hyla rubra, H. nebulosa, H. faber. H. leucophyl- lata, H. polytaenia, H. raddiana, H. fuscovaria, H. nasica e II. microps. Nas hilas ao contrário, encon- trei frequentemente ciliados do gê- nero Opalina, tendo descrito algu- mas novas espécies em uma pri- meira nota. O exame de milhares de prepa- rações convenceu-me que as Zele- rielas encontradas nos batráquios mencionados pertencem a várias espécies e que cada batráquio, de acordo com seus hábitos tem, por assim dizer, suas próprias Zelerie- las, havendo, porém, naturalmentc, Zelerielas que podem ser encontra- das em mais de uma espécie de batráquios. Enquanto é facil esta suposição da multiplicidade das espécies, di- fícil entretanto é fornecer a prova certa, pois que as diversas Zelerie- las assemelham-se muitíssimo entre si e a separação das diversas espé- cies encontra grandes dificuldades. Poucas são aquelas Zelerielas, que possuem caractéres morfoló- gicos especiais permitindo caracte- rizá-las e separá-las com seguran- ça das outras. Sempre que encontrei Zelerie- las nestas condições, não hesitei em descrevê-las como espécies novas. Na grande maioria dos casos, quando se procura classificar as diversas espécies, esbarra-se em se- rias dificuldades devido ao fato de- (•) Êste trabalho é publicado pelo Clube Zoologico do Brasil). 148 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. III N .° s 3/4 — 1938 a mesma Zeleriela poder apresen- tar normalmente certas variações no seu tamanho c forma, de acordo com a fase do desenvolvimento, na qual ela se encontra; assim, na mesma espécie, as formas recem- saidas dos cistos, as recemforma- das em consequência de repetidas e rapidas divisões longitudinais, ou aquelas em via de encistamento, podem apresentar entre si, apre- ciáveis diferenças. A forma do corpo do ciliado é susceptível de modificações; assim uma Zeleriela cuja forma normal é oval, quando acaba de dividir-se, guarda, ainda por um certo tempo, tio lado que estava em contato com a Zeleriela irmã, uma linha rela ou côncava ou convexa, resultando, então, em lugar de forma oval nor- mal, um contorno irregular. 0 protoplasma pode, também, apresentar aspeto um tanto vai*ia- do conforme o estado de nutrição, a idade da Zeleriela e sob a influ- ência de outras condições. Um observador que não levasse na devida conta èste polimorfismo natural das Zelerielas, cairia facil- mente no engano de basear a crea- ção de novas espécies sòbre peque- nas diferenças morfológicas aci- dentais. Convém ainda acrescentar que o embaraço do pesquizador au- menta quando no mesmo hatráquio encontram-se, ao mesmo tempo, as- sociadas varias espécies semelhan- tes de Zelerielas, pois que, nestas condições, torna-se ainda mais difí- cil reconhecer com segurança as formas que pertencem a uma espé- cie ou a outra. Mesmo, tomando em considera- ção outros caractéres, — tais como o número dos cromosomas nuclea- res, e o número e a distância entre si das fileiras ciliares, — o proble- ma da classificação das Zelerielas ainda permanece de difícil resolu- ção. Compreende-se, pois, como mesmo uma observação bem cuida- dosa e exames comparativos repe- tidos das Zelerielas, encontradas em muitas rãs da mesma espécie, nem sempre permitem caracterizar as diversas Zelerielas. E’ possível que no futuro as infestações experimentais, em ba- tráquios creados nos laboratórios, fornecerão dados que facilitarão a classificação destes ciliados. Os da- dos atuais, baseados quasi exclusi- vamente sòbre caractéres morfoló- gicos, tornam incerta a classifica- ção da maior parte das Zelerielas. O material que estudei é con- siderável e consta de milhares de preparações, (a fresco entre lamina e laminula e após colorações pelas hematoxilinas de E h r 1 i c h, W e i- gert, Dobell e Heidenhein, precedidas de fixação em Bouin ou Schaudin) obtidas de cen- tenas e centenas de batráquios sa- crificados no laboratório. Considerando a massa do ma- terial estudado e as longas horas de observação ao microscópio, os resultados colhidos foram escassos; consegui, é verdade, identificar al- gumas espécies novas de Zelerielas c foi me dado observar, pela pri- meira vez, o interessante fenômeno do parasitismo de amebas, inva- dindo o corpo destes ciliados. Não dispondo agora mais de tempo para continuar, como seria meu desejo, estas pesquizas, julgo oportuno deixar consignado nestas notas o que tenho encontrado, re- sumindo minhas observações mes- mo incompletas, na esperança que estes apontamentos possam ser úteis, mais tarde, a quem quizer continuar estas observações. A. CARINI — Contribuição ao conhecimento, etc. 149 ZELERIELAS ENCONTRADAS EM LEPTODACTYLUS OCELLATUS Examinei nas diversas esta- ções, durante vários anos, cente- nas e centenas destas rãs, todas pro- cedentes do Estado de São Paulo. Desde os primeiros exames no- tei a variedade de tamanho e forma que apresentam as Zelerielas, ten- do tido logo a impressão que não podiam pertencer todas à única espécie até então descrita nesta rã: Zelleriella brasiliensis, mas que de- viam forçosamente existir várias espécies. A classificação esbarra nas di- ficuldades mencionadas ha pouco; mesmo reconhecendo estas dificul- dades, tentarei a descrição das principais formas que encontrei em Eeplodactylus ocellatus. Além de algumas Zelerielas que parecem pertencer a boas es- pécies, que são descritas aqui em seguida, lenho encontrado outras com formas particulares (cuneifor- me, caudata, excavata etc.) de classificação incerta. E’ inútil as- sinalar que, conhecida a facilidade com a qual as Zelerielas podem apresentar variações acidentais na morfologia, foram tomadas em con- siderações só aquelas formas que nas preparações ocorriam com cer- ta constância e frequência. As vezes as Zelerielas encon- tradas em um Leptodactylus apre- sentam-se todas do mesmo tipo, ou- tras vezes de permeio com algumas ovais, aparecem outras de tipo di- ferente. Não tendo dados suficientes para afirmar que estes tipos cor- respondem a novas espécies e não sabendo também si elas podem ser identificadas a espécies já descritas em batráquios afins, de outros pai- zes, limitar-me-ei a dar uma curta descrição da morfologia destas for- mas especiais. Si mais tarde for provado que se trata de fato de espécies novas, o adjetivo escolhi- do para indicar a forma poderá servir como nome da espécie. Zelleriella brasiliensis Pinto, 1918. Em ordem de data é a primeira Zeleriela encontrada nesta rã. Foi descrita em 1918 por Pinto. M e t c a 1 f, em 1923 diz que tinha já observado esta espécie em rãs provenientes da Argentina e a tinha batizado como Z. argentina. Cordero, em 1928 a encon- trou no Uruguai. Pinto, a descreve com a for- ma de uma pêra, tendo na parte anterior uma pequena saliência, que se dirige sempre para um dos lados. A parte posterior termina em ponta mais ou menos romba e às vezes um tanto desviada para um dos lados. Os exemplares médios medem 40 p de comprimento por 22 p de largura, as formas maiores, 115 p de comprimento por 10-12 p ( ?) de largura. M e t c a 1 f, dá como dimensões médias 130 p de comprimento por 28 p dè largura. Os núcleos em re- pouso médem 15 x 10 p O intervalo das linhas ciliares é na parte ante- rior de 1,9 p , no meio de 2,3 p e na parte posterior de 2,7 p . Ha quatro grossos chromozo- mas. Encontramos muitas vezes no Leptodactylus, Zelerielas que po- dem ser referidas a esta espécie, tendo notado que elas às vezes con- têm amebas, idênticas as que fo- ram vistas nas preparações de Cordero por Reichenow! 150 BOLETIM BIOLÓGICO (Xo va Série) Vol. III X.™ 3/// — 1938 Zelleriella magna, Metcalf, 1923 Fig. 1 Encontrei esta Zeleriela com bastantq frequência nos exempla- res do gênero Leptodactylus exa- minados e às vezes em grande nú- mero. A forma é geralmente elíptica, com o eixo longitudinal duas ou três vezes maior que o transversal. A extremidade anterior é regu- larmente arredondada, ao passo que na posterior notam-se irregula- ridades. Nos indivíduos bem desenvol- vidos, e talvez em fases que prece- dem a divisão binária, observam-se formas largas, quasi arredondadas. Em alguns casos notam-se indiví- duos relativamente pequenos, que pelas dimensões poderiam ser con- siderados como pertencentes à es- pecie Zelleriella brasiliensis, mas quasi sempre a maioria dos indiví- duos atinge dimensões muito maio- res, chegando a 200-250 p de com- primento por 90 — 100 p de lar- gura. são situados quasi constantemente mais perto da extremidade ante- rior. Nos núcleos notam-se alguns chromozomas massiços e outros menores. As endosferulas são bastaate grossas. Estas formas são bem pareci- das com Z. magna, já descrita por Metcalf de Leptodactylus typho- nius, rã de hábitos terrestres. Provisoriamente as duas Zel- rielas, a do L. ocellatus e a do L. lypboniiis, podem ser consideradas como pertencentes à mesma espé- cie. Zelleriella cormicopia Carini, 1933 Fig. 2 Esta Zeleriela foi por nós des- crita em 1933. Foi assim denominada por que tem a forma de um “corno da abundância 5 ' (*) sendo o corpo achatado , recurvado, com a extre- midade anterior larga, dilatada como uma cometa. *3 mm © © Fig. 1 — Zelleriella magna Metcalf, 1923. Os dois núcleos arredondados, com cerca de 30 p de diâmetro, Os exemplares maiores medem em media 180-220 p de compri- (*) Metcalf, distingue as formas do gênero OPALINA, em ANGUSTAE ou alongadas e LATAE ou arredondadas. A mesma divisão pode ser adotada para o gênero Zelleriella; as espécies comucópia, cornucopioide e corniola, pertencem pois ao grupo ANGUSTAE. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 A. CARINI — Contribuição ao conhecimento, etc. 151 mento, tendo a extremidade ante- ctijlus entre centenas de examina- ri or a largura de 75-100 p . dos. Fig. 2 — Zelleriella cormicopia Carini, 1933 Os núcleos vcsiculósos, arre- dondados medem 20-22 p de diâ- metro.. Damos aqui em seguida alguns desenhos que permitem melhor ava- liar as diferenças entre esta espé- cie de Zelleriella e outras seme- lhantes descritas neste trabalho. Encontramos algumas destas Zelerielas contendo amebas com os mesmos caracteres das descritas na Z. brasiliensis. A Z. cornucopia foi encontra- da depois também em L. pentada- ctijlns. Zelleriella corniola Carini, 1938 Fig. 3 Esta Zeleriela foi encontrada só em dois exemplares de Lcptoda- O corpo ligeiramente achatado é de forma alongada e recurvada. A extremidade anterior, mais larga. Fig- 3 — Zelleriella corniola Carini, 1938 152 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vo/. III N.°*> 3/i — 193S vae gradualmente diminuindo até acabar em ponta fina, resultando uma forma que lembra um chifre de boi. Às vezes a parte posterior apresenta uma segunda torsão em outra direção, com aspeto de letra S. Esta espécie mede de 70-90 p de comprimento, sendo a largura, medida onde se acham os núcleos de 12-16 p. . As formas em divisão longitudinal, são mais largas, che- gando até 30 p de largura. Os dois núcleos, colocados um pouco obliquamente, um após o outro, acham-se entre o têrço ante- rior e o têrço médio do corpo, são ligeiramente ovais, vesiculósos e medem 8-10 p de diâmetro. A cromatina acha-se geralmen- te disposta sôbre a parede interna da membrana nuclear. Entre a extremidade anterior do ciliado e o primeiro núcleo ha uma distância de cerca de 10-15 p O espaço que separa um núcleo do outro, é pequeno (cerca de 5 g ). A princípio julguei que pudes- se tratar-se de formas novas, jo- vens de Z. cornucópia, mas um exa- me mais atento convenceu-me que são duas espécies diferentes. Zelleriela foliacea n. sp. Fig. 4 Esta Zeleriela tem um contor- no irregularmente arredondado, tendo uma espessura muito fina, apresentando o aspeto de uma la- minula ou uma fôlha. Fig. 4 — Zelleriella foliacea n. sp. A. CARINI — Contribuição ao conhecimento, etc. 153 Ela apresenta às vezes rugas que aparecem como estrias que atravessam o corpo do ciliado. Nas preparações nem sempre o corpo aparece hem distendido, notando- se às vezes que uma parte do corpo está virada. Assemelha-se um tanto à Zel- leriella leptodactili, descrita por Me t ca lí do Leptodactylus albi- Uibris, que apresenta, porém, di- mensões hem menores. Na nossa espécie a maioria dos exemplares mede 200 p de diâ- metro, não sendo raras as formas que atingem e mesmo superam 300 p. E’ pois uma das maiores, si não a maior das Zelleriellas conhe- cidas. Os núcleos arredondados me- dem cerca de 25 p de diâmetro, vendo-se vários grossos cromozo- mas (oito talvez). Zelleriella truncala n. sp. Fig. 5 As Zelerielas com esta forma foram encontradas raramente, en- tretanto, o seu aspeto é às vezes hem caraterístico. A extremidade anterior apresenta um contorno ar- redondado, enquanto a posterior parece ter sofrido um corte nitido transversal. Às vezes as Zelerielas têm a forma de um semi circulo. Em re- lação com a extremidade posterior, o protoplasma parece rarefeito, vacuolar. Estas formas medem geral- mente de 80-150 p de comprimento por 15-65 p de largura. Os núcleos, situados na parte central, são vesiculares, arredon- dados, com 10-12 p de diâmetro. Quasi sempre junto com estas formas, encontram-se outras regu- larmente ovais. A Z. truncata foi encontrada também no Lept. typhonius. Fig. 5 — Zelleriella truncata n. sp. Forma cornucopioide Fig. 6 Em dois exemplares de Lcplo- dactylus ocellatus, encontramos uma Zeleriela muito parecida com a Z. cornucópia, sendo porém mais comprida e mais fina. O corpo me- de entre 250 e 300 p de compri- mento por 60-80 p de largura má- xima. A largura medida na altura dos núcleos é apenas de 20-25 p . O corpo do ciliado na extremi- dade anterior é dilatado, mas não tanto quanto na Z. cornucópia, e ai apresenta sua largura máxima; em seguida o corpo afina-se para aca- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 ' 154 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série) Vol. 111 N.os 3/4 — 1938 Fig. 6 — Forma cornucopioide bar em ponta fina. Os dois núcleos estão situados no terço anterior. Entre a extremidade anterior e o primeiro núcleo, ha geralmente uma distância de cerca 50 p . Os dois núcleos são ovais ou arredondados de 15-18 p de diâme- tro, com membrana nuclear evi- dente e contendo vários blocos de cromatina. Entre os dois núcleos ha um espaço de apenas 10-15 p . O pouco material disponível não nos permitiu decidir com cer- teza se se trata de uma nova espé- cie ou si estas formas pertencem também à Z. cormicopia. Forma cuneala Fig. 7 Podem ser encontradas com certa frequência Zelerielas com o aspecto de cunha de permeio com outras formas; quando raras, po- dem ser facilmente interpretadas como forma de passagem. Temos porém observado raros casos nos quais a quasi totalidade das Zelerielas presentes nas prepa- rações, apresentam esta forma. A figura aqui reproduzida, é de um desses casos. A extremidade anterior do cor- po é larga, e cortada um tanto obli- quamente. O corpo geralmente nao é reto, mas um pouco recurvado. As dimensões variam muito; medimos 10 exemplares dos meno- res aos maiores, obtendo as seguin- tes dimensões em micra: 30 x 9 — 42 x 21 — 60 x 25 — 80 x 40 — 100 x 45 — 136 x 55 — 155 x 60 — 200 x 75. A. CARINI Contribuição ao conhecimento, etc 155 Fig. 7 — Forma cuneata Os núcleos são redondos com Um diâmetro de 10 g . Em uma das preparações, on- de estas formas eram numerosas, notavam-se também quistos redon- dos (20// de diâmetro) com núcleo de 6 n de diâmetro e várias Zele- rielas pequenas, mononucleares. Bufo mnrinus por U n t i que a des- creveu com o nome de Z. artigasi. Forma caudata Fig. 8 Em algumas preparações ob- servamos a presença de Zelerielas de forma um tanto irregular e apresentando frequentemente na extremidade posterior um pequeno prolongamento, conforme é indica- do nas figuras. Estas Zelerielas medem de 80 a 100 g podendo as maiores chegar a 150 fi de comprimento, por 50-80 g de largura. Uma Zeleriela com morfologia semelhante foi encontrada em Fig. 8 — Forma caudata cm l SciELO 156 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N. 3/4 — 1938 Forma excavala Fig. 9 Exemplares de Zelleriella com forma um tanto especial, foram às vezes encontrados em Leptodacty- lus. Característica destas formas é apresentar no corpo, de um lado, na metade posterior, uma espécie de chanfradura semi-circular como si um pedaço tivesse sido retirado com um picotador. \ A 0 . O Fig. 9 — Forma excavala Estas Zelerielas têm geralmen- te dimensões entre 50-100 g de com- primento por 30-50 n de largura. Em uma próxima nota serão publicadas as especies de Zelleriel- la encontradas em outros batrá- quios brasileiros. ABSTRACT The present paper is a revi- sion of the genus Zelleriella (Proto- zoa) inhabiting Leptodactylus ocel- latus new species and new forms are descnbed. BIBLIOGRAFIA CARINI, A. 1933 — Sur une nou- velle Zelleriella (Z. falcata n. sp.) de rintestin d’une grc- nouille. — Ann, de Paras. Hum. et Comp., 1933, XI, 3. — Arch. de Biol. 1933, n. 172, p. 61 . CARINI, A. — 1933 — Sur une nouvelle Zelleriella, Z. cornuco- pia n. sp.) du Leptodactylus ocellatus. — Ann. de Paras. Hum. et Comp., 1933, XI, 301. — Arch. de Biol. 1933, n. 172, p. 116. CARINI A. — 1933 — Ann. de Paras. Hum. et Comp. 1933, XI. 301. — Arch. de Biol. 1933, n. 176, p. 116. CARINI, A. — 1937 — Contribui- tion á 1’étude des “OPALINI- DAE” des batraciens du Brésil. “GENRE OPALINA”. Ann. de Paras. Hum. et Comp. 1937, XV. 46-57. — Arch. de Biol. 1937, n. 198, pag. 86. CARINI, A. — 1938 — Zelleriella corniola n. sp. do Leptodacty- lus ocellatus. Arch. de Biol. 1938, n. 210. CORDERO, Ergasto H. — 1928 — Protozoários parasitos de al- gunos animales dei Uruguay. 1928, IV. Reunion de la Soc. Arg. de Pat. Reg. dei Norte. Santiago dei Estero. p. 586. METCALF — 1923 — The opahned ciliate infusorians. Smithso- nian Inst. U. S. Nat. Museum. Bulletin 120. PINTO, C. — 1918 — Contribuição para o conhecimento dos cilia- dos parasitos. Mem. do Inst. Os- waldo Cruz, 1918. T. X. pag. 196. REICHNOW E CARINI. — 1935 - Infecções de Amebas em Zelle- riellas. Arch. de Biol. 1935. n. 186, pag. 52. UNTI, OVÍDIO — 1935 — Nova es- pécie de Zelleriella (Z. artiga- si) parasita do Bufo marinus. — Rev. de Biol. e Hyg. 1935, VI, p. 39. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Observações sôbrc, etc. 157 OBSERVAÇÕES SÔBRE O CICLO EVOLUTIVO DE POROCEPHALUS CLAVATUS, ESPECIALMEM TE SÔBRE O SEU TROPISMO EM COBAIAS* O interesse médico apresenta- do pelo parasitismo do homem por larvas de Pentastomida é incontes- tável, especialmente no caso do gê- nero Linguatula F r õ h 1 i c h, de que existe observação já referi- da do Brasil por Faria e Tra- vassos (1). Mais raros são os ca- sos de parasitismo por larvas do gênero Porocephalus H u m b o 1 d t, dos quais, entretanto, ba refe- rencias na Bibliografia moderna (2 e 3). Seria interessante saber até que ponto coincidem as localiza- ções das larvas de Porocephalus em parasitismo no homem com as ob- servadas em animais. Nas duas ob- servações de casos humanos, cuja bibliografia foi acima citada, a lo- calização na serosa peritoneal foi a observada, o que coincide em par- te com o que se observa em animais de laboratório. Como, porém, o tropismo é muito acentuado nas in- festações experimentais, seria de todo interesse saber si no homem tem logar o mesmo! tactismo. No Brasil, onde não raro os ofídios são parasitados por Porocephalus, não se deve perder de vista a hipótese de uma possível contaminação de Por Flavio da Fonseca Trabalho do Instituto de Butantan Com 9 figuras no texto alimentos com fezes de cobras, úni- co modo pelo qual a infestação pode ser adquirida pelo homem. O aproveitamento de ofídios para ali- mentação, como refere M a n u w a (2), o que, aliás, não se observa no Brasil, onde è generalizada entre o povo a crença do perigo oferecido pela carne de cobra, não apresenta relação alguma direta com o ciclo evolutivo do parasita. Perigo po- derá haver durante o manuseio dos ofídios e consequente contamina- ção com fezes que apresentam ovos, o que poderá acontecer durante o preparo culinário de um ofídio. O pessoal que por dever de ofício li- nos museus, jardins zoologicos. etc., ou os “camelots”, que não ra- ro os trazem sôbre o corpo, como elemento de atração do público, es- tão, evidentemente mais arriscados a contrair a infestação. Aproveitando o abundante ma- terial de Porocephalus clavatus Wyman, 1845 (Fig. 9 (5) obtido de um exemplar de Lachesis mula (L.), N.° 1121, capturado em Pedra Corrida, Estado de Minas Gerais, e remetido a èste Instituto, instituí- mos uma série de experiências de infestação de animais de laborató- (') Êste trabalho é publicado pelo Clube Zoologico do Brasil. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 158 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III Nfi s 3/4 — 1938 rio que nos conduziram a algumas verificações aproveitáveis. LOodo-i Fig. 1 — Ovo de Porocephalus clavatus NVyman. Fig. 2 — Embrião do mesmo. Ratos malhados. — Dois ralos da criação do Instituto, Nos. 1215 e 121G, foram infestados a 20.11.36 com ovos embrionados expulsos com as fezes havia quatro dias, mis- turados ao alimento (Figs. 1 e 2). Ao cabo de tres mêses notava-se grande aumento do volume do ab- dómen, como mostra a fotografia N.° 3, tirada 104 dias após a infes- tação do rato 1215, na qual se pode comparar a diferença notada entre o rato infestado, à direita, e um rato normal. O rato N.° 1215 morreu a 24.3. 37, apresentando grande número de larvas nas serosas de todas as vis- ceras abdominais e toráxicas. bem como ascite e hidrotorax. O rato N.° 1216 morreu a 30.5. 37, apresentando aspeto idêntico das serosas, bem como derrame sanguinolento nas cavidades abdo- minal e toráxica. Fato curioso, que não encon- tramos registado na literatura com- pulsada, é o de se encontrarem larvas cm grande abundância em plena espessura do tecido testicu- lar, determinando grande aumento do volume do órgão. O fato é tanto mais interessante, quanto é êste o único órgão cujo parênquima é pa- rasitado, sendo as larvas encontra- das apenas sôbre a serosa que re- veste os orgãos restantes. Ratos brancos. — Dois ratos brancos da criação do laboratório. Nos. 1222 e 1223, foram infestados a 24.11.36 com fezes do mesmo exemplar de Lachesis muta, datan- do de oito dias. Sacrificados respe- ctivamenle a 17 e a 22.2.37 apre- sentaram infestação idêntica aos precedentes, mostrando as Figs. 5 e 9 (3) um aspeto geral das cavidades toráxica e abdominal do rato 1223, a Fig. 6 o aspeto dos órgãos toráxi- cos, vendo-se as larvas sôbre a pleu- ra e sôbre o pericárdio; a Fig. 7 mostra o aspeto do testículo cujo parênquima se acha completamen- te tomado pelas larvas. A Fig. 6 (4) mostra o aspeto das serosas do N.° 1222 invadidas pelas larvas. Camondongos. — Dois camon- dongos brancos foram infestados a 20.11.36 com fezes da mesma ori- gem, datando de quatro dias, tendo um deles, o de N.° 1217, morrido a 7.12.36, não tendo sido vistas lar- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Observações sôbre, etc. 159 Fig. 3 — Rato parasitado por P. clavatus Wyman, comparado com um rato nor- mal, mostrando grande distensã o do abdômen pelos parasitas. Fig. 4 — Camondongo branco infestado, apresentando distensão abdominal. vas à necroscopia. O de N.° 1218, sacrificado a 17.3.37, apresentou larvas nas pleuras parietal e visual, no mesentêrio, nos testículos, bem como uma sub cutanea. Duas lar- vas abcedaram no perítonio. Dois camondongos brancos, Nos. 1224 e 1225, foram infestados com fezes de Lachesis 1121, da- tando de oito dias. O de N.° 1225 morreu a 4.1.37, nada revelando a necropsia. 0 de N.° 1224 apresen- tava forte infestação ao ser sacrifi- cado a 7.4.37, inclusive testicular, tendo sido encontradas algumas larvas livres na cavidade perito- nial. A Fig. 4 mostra o aspeto do abdômen distendido pelo acúmulo dc larvas nas serosas. Ratazana ( Epimys norwcyi- cus). — Ratazana N.° 1241 alimen- tada a 8.0.3/ com fezes provenien- tes de uma Bothrops jararaca (1232) por sua vez infestada a 22.2.37 com larvas provenientes do rato 1223. Sacrificada, foram en- contradas algumas larvas nas se- rosas das visceras abdominais. Cobaias (Cavia porcellns). — Duas cobaias, Nos. 1220 e 1221, am- bas $ á, foram infestadas a 20.11. 36 com ovos expulsos havia quatro cm l SciELO ICO BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série) Vo/. III N . os V'i — 1938 ■ÜfS! 2«S\ O Vi! c Fig. 5 — Rato branco, com P. clavatus, Wyman localizados nas serosas e no pa- rênquima testicular. «lias pela Lachesis mula 1121. A de N.° 1220 foi sacrificada a 23.2.37, revelando a necropsia infestação pouco intensa c localizada exclusi- vamente no testículo. A de N.° 1221, sacrificada mais tarde, a 7.4.37, apresentava, ao contrário infesta- ção intensissima, com larvas com- pletamente desenvolvidas, mas, curiosamente, localizadas também exclusivamente no testículo c epi- dídimo, cujo aumento de volume era notável, como se podia verifi- car tanto em vida do animal (Fig. 8), como após a necropsia (Fig. 9 (2). A localização testicular e epi- dimal parece ser a única observada em cobaias, sendo, provavelmente, esta a razão pela tpial foi S t i 1 e s levado a negar a possibilidade de infestação deste cavideo (4). Duas outras cobaias & s , Nos. 1226 e 1227, infestadas a 24.11.37 com fezes eliminadas havia oito «lias, não apresentavam parasitis- mo quando foram sacrificadas a 30.4.37. Gato 1232 £ . — Infestado a 8.3.37 com fezes de jararaca 1232 nada apresentou ao ser sacrificada a 19.7.37. Gato 1242 $ . — Infestado a 9.3.37 com o mesmo material tam- bém nada revelou a 19.7.37. Gato 1248-A £ . — Infestado com o mesmo material na mesma data igualmente não se mostrou pa- rasitado a 19.7.37. Coelho domestico 1237. — In- festado a 8.3.37 não apresentou Porocephahis a 2.6.37. Cão jovem $ 1238. — Recebeu ovos de Porocephahis da Jararaca 1232 a 9.3.37; a 30.3 morreu de pneumonia sem apresentar parasi- lismo. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Observações sobre, etc. Fig. 6 — P. clavalus Wyman, sòbre a pleura e o pericárdio do mesmo rato da figura 2. Cão adulto s 1239. — Inocu- lado na mesma data com o mesmo material não revelou infestação a 21.7.37. Didelphys paraguatjensis 1240. — Infestado a 19.3.37 com fezes de jararaca 1232 não apresentou parasitas a 19.7.37. Didelphys paraguayensis 1284 3. — Infestado a 22.10.37 com ovos de Porocephalus de jararaca 1253 — prejudicada, morta a 4.11. 37. Marmosa sp. 1352. — Infestada com ovos de Porocephalus de cobra 1235 a 22.10.37 — negativo. Didelphys aurita 1553. — In- festada com ovos de Porocephalus de cobra 1235. Prejudicada por ter morrido acidentalmente. Canis sp. 1532 — negativo e 1533 (jovens), infestados a 5.11.37 cm l SciELO 1G2 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.o s 3/4 — 1938 Cobaio infestado por P. clavatus Wyman, mostrando a localizaçao testi- cular do parasito; comparar c om a figura 9 (2), do mesmo animal após necropsia. Fig. 8 SciELO Fig. 7 — Testículo esquerdo do rato da figura 2. F. DA FONSECA — Observações sôbre, etc. 163 com fezes de cobra 1235 com ovos de Porocephalus. Canis sp. 1554. — Infestado a 5.11.37 com fezes de cobra 1235 com ovos de Porocephalus — pre- judicado, morto a 26.11.37. Columba livia domestica 1249. — Infestada com fezes de jararaca 1232 com ovos de Porocephalus a 9.3.37, não apresentou parasitismo a 19.7.37. Tupinambis tegirixim. — Infes- tado com ovos embrionados de 7 J o- rocephahis não apresentou parasi- tas quando examinado a 2.2.38. Fig. 9 Rato (1), cobaio (2), ratos (3,4) parasitados por P. clavatus Wyman; (5) — parasitos adultos. 164 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vot. III N.™ 3/4 — 1938 Verificações em ofídios E S P É C I E S Material Data inoc. Data exame RESULTADO S Bothrops 99 jararaca ” 1231 Rato 1222 17. 2.37 6. 3.37 negativo 99 ” 1232 1223 22. 2.37 8. 3.37 5 adultos 99 ” 1233 1223 22. 2.37 . 3.37 2 larvas no peritônio 99 ” 1234 1223 22. 2.37 30. 3.37 larvas de 1 cm. no 99 ” 1235 99 99 99 22. 1.38 pulmão. Grande infec- ção pulmonar, adultos no pulmão e lar- 99 99 ’’ 1243 ” 1244 Fezes raca jara- 1232 99 8. 3.37 99 30. 3.37 17. 3.37 vas no peritônio. negativo » 99 " 1245 99 99 6. 4.37 » Crotalus terrificus ” 1246 » » 15. 4.37 f* 99 ” 1247 99 99 6. 5.37 99 Bothrops jararaca 1264 Rato 1215 24. 3.37 24. 4.37 99 99 1265 M 99 25. 4.37 99 Bothrops atrox ” ” 1266 99 99 26. 4.37 larvas no pulmão e peri- B. Jararacussu ” ” 1267 99 99 11. 8.37 tônio. negativo Crotalus 99 terrificus ” 1268 99 99 3. 4.37 2 larvas no torax pouco 99 ” 1269 99 »» 17. 5.37 abaixo do pulmão, negativo Bothrops 99 jararaca ” 1333 Rato 1216 31. 5.37 4. 7.37 99 99 ” 1335 ” » 7. 6.37 larvas na pleura* e no 99 ” 1336 99 99 9. 6.37 peritônio. larva no tecido peritra- Crotalus 99 terrificus ” 1337 99 99 27. 6.37 queal e no peritônio. larvas na pleura e peri- 99 ” 1338 J» 99 » tônio. 99 Bothrops 99 jararaca ” 1543 Rato 1515(1) 12.10.37 26.10.37 negativo 99 ” 1567 99 1565(1) 27.10.37 27. 1.38 99 99 ” 1568 99 ” (1) 27.10.37 21. 3.38 um exemplar jovem no pulmão. 1) Ratazanas silvestres, Nectomys squamipes Brants, com infestação natural por larvas de Porocephalus sp., provavelmente clavatus. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Observações sòbre, ctc. 165 Conclusões Ovos embrionados de Poroce- phalus clavatus expulsos com as fezes havia 4-8 dias, infestaram ra- tos brancos e malhados, Epimys norwegiciis, Mus musculus allnnus e Cavia porcellus. Gatos e cães, coe- lho, Didelphys paraguayensis, Di- delphys auiita, Marmosa sp., Cer- docyon thous azarae (cão do ma- to), Columba livia domestica e Tu- pinambis leguixim, não apresenta- ram infestação consequente à in- gestão de ovos embrionados. A localização das larvas limi- ta-se às serosas toráxicas e abdo- minais, o único parènquima de ór- gão afetado sendo o testicular. Em Cavia porcellus não é ob- servada a localização nas serosas, mostrando as larvas tropismo ex- clusivo para o testículo e o epidi- dimo. Larvas de Porocephalus clava- tus, obtidas por infestação experi- mental de ratos brancos, prosse- guiram o desenvolvimento quando administradas a Bothrops jararaca, Bothrops alrox e Crotalus terrífi- cas. ABSTRACT Embryonated eggs of Poroce- phalus clavatus expelled witli the teces 4-8 days ago, infested white and speckled rats, Epimys norwe- gicus, Mus musculus albinas and Cavia porcellus. Cats and dogs, rab- bits, Didelphys paraguayensis, Di- delphys aurita, Marmosa sp., Cer- docyon thous azarae, Columba li- via domestica and Tupinambis le- guixim, did not show infestation in consequence of thc ingestion of em- bryonated eggs. The larvae of Porocephalus cla- upon the thoraxic and abdominal serouses, being the testicular the unique parenchym of an ihyòlved organ. In Cavia porcellus the larvaé were not slated upon the serouses, showing tropism exclusively for the testicle and the epidydimus. The larvae of Porocephalus cla- vatus obtained by experimental in- festation of white rats continued developing after ingestion by B. ja- raraca, B. atrox and Crotalus ter- rificus. BIBLIOGRAFIA 1 . F a r i a, J. G. & T r a v a s s o s, L. — Brasil-Médico 27 ( 12) :31. 1913. 2. Manuwa, S. L. A. — West African Méd. Journ. 8(3) :15. 1935. 3. Eli is, M. — West African Med. Journ. 9(2) :41.1937. 4. S tiles, C h. W, — Inaugural Dissertation der Philosophis- che Fakultãt der Universitát Leipzig. Leipzig, 1891. 166 . , BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III Nfis 3/4 — 193S OBSERVAÇÃO DE UMA FASE DO CICLO EVOLUTIVO DE CUTEREBRA APICALIS Guérin (Diptera. Oestridae) * A raridade de publicações so- bre o parasitismo de roedores por Oestridae sul-americanos, perten- centes aos generos Cuterebra e Ro- genhofera, leva-nos a descrever uma das fases do ciclo evolutivo que nos foi dada acompanhar em Cuterebra apicalis Guérin, a mais frequente das espécies desses dois generos. L u t z, na sua monografia de 1917 (1), ao citar a espécie de que nos ocupamos, não faz referência ao prazo exigido pelo parasita pa- ra completar as diferentes fases do seu ciclo evolutivo, o qual parece até agora ignorado. A 24. IV. 37 tivemos oportuni- dade de receber um rato silvestre da espécie Oryzomys eliurius Wagner, que apresentava duas larvas de um Oestridae já em fase final do parasitismo, ambas locali- zadas subcutaneamente dos lados de um dos membros posteriores (Fig. 1). Ao cabo de dois dias as larvas abandonaram o hospedeiro, sendo recolhidas a um frasco contendo terra, na qual logo penetraram al- guns centímetros em profundidade. A 28. IV. 37 já haviam pupado. Deixadas à temperatura am- biente, humedecida a terra de dias a dias, saiu o primeiro adulto a 19. Vin. 37 e o segundo a 13. IX. 37. Por Flavio da Fonseca Trabalho do Instituto Butantan Durou, portanto, a fase de pu- pa 113 dias para um dos exempla- res e 125 dias para o segundo. Fig. 1 — Oryzomys eliurius parasitado por larvas de Cutereba apicalis. O primeiro adulto obtido foi mantido vivo de 19. VIII a 4. IX, na esperança de que houvesse diversi- dade sexual e reunidos os dois exemplares tivesse lugar fecunda- (*) Este trabalho é publicado pela Bode dade Brasileira de Entomologia. F. DA /FONSECA — Observação de uma fase, etc. 167 ção, podendo talvez ser observada postura. A morte espontânea do l.° adulto interrompeu, porém, a ex- periência. Observação interessante foi feita a propósito do modo de alçar vóo nesta espécie. Para fazê-lo, põe o díptero preliminarmente em vi- bração com ruido característico e perceptível de longe, as álulas, ex- tremamente desenvolvidas nesta espécie, demonstrando existência de músculos especialmente encar- regados de movimentá-las indepen- dentemente da ação sôbre as azas. Só depois de vibrarem as álulas por 10 a 20 segundos, alçava o inseto vóo dentro do vidro em que se achava relido. Resumo A fase de pupa de dois exem- plares de Cuterebra apicalis Gué- r i n, capturados sôbre o rato sil- vestre Onjzomys eliirius Wag- ner na fase de larva, durou res- pectivamente 113 e 125 dias. Antes de alçar vóo, Cuterebra apicalis põe em vibração com ruido caraterístico as álulas, que pare- cem funcionar como um motor de arranque. Bibliografia Lutz, A. — Mem. Inst. Oswaldo Cruz 9(1) :94. 1917. 1G8 BOLETIM BIOLÓGICO (Mova Série) Vol. III X.os 3/4 _ 1933 ESPÉCIES DE AMBLYOPINUS PARASITAS DE MUKIDEUS E DIDELFIDEOS EM S. PAULO (COLEOPTERA. STAPHYLENIDAE) * Por Flavio da Fonseca Trabalho do Instituto de Butantan Dos Coleoptera Staphylinidae do gênero Amblyopinus S o 1 s k y, 1875 parasitas de murídeos e didelfídeos só foram até hoje des- critos do Brasil quatro espécies, todas no Sul do país, nos estados do Rio de Janeiro, Sta. Catarina e Rio Grande do Sul. Estes curiosos coleoptcros le- vam provavelmente vida apenas parafagisiica, mas por isso mesmo que se alimentam de detritos, não é impossível que sirvam de hospe- deiros intermediários a algum hel- minto parasita de ratos, gambás ou cuicas, mesmo porque alguns têm, de preferência, localização peria- nal, ingerindo certamente detritos fecais e com èles ovos de vermes. Em consequência de numero- sos exames parasitológicos prati- cados em ratos silvestres e em di- delfideos capturados em São Paulo, foi-nos possível colecionar vários lotes de Amblyopimis, os quais ao serem estudados, revelaram perten- cer todos a espécies já conhecidas e assinaladas no Brasil, bem estu- dadas por Costa Lima em dois trabalhos, um em que descreve uma espécie nova (1) e outro em que faz a revisão das espécies sul- americanas dos gêneros Amblyopi- mis e Eilrabius (2). E’ interessante deixar consig- nada a ocorrência de todas as qua- tro espécies até hoje descritas do Brasil em area relativamente mui- to restrita, em uma mesma mata do Horto Florestal, na Serra da Canta- reira, nas imediações da cidade de São Paulo, Estado onde ainda não havia sido assinalada a presença de representantes do gênero, salvo nos trabalhos de Costa Lima, ao qual havíamos enviado material de A. travassosi C. L i m a, capturado em Butantan, Estado de São Paulo, e cm uma comunicação de Lutz à Sociedade Científica de São Paulo, em 1908, segundo refere Costa Lima. E’ também curiosa a observa- ção que fizemos da ocorrência de duas espécies sòbre um mesmo exemplar do camondongo Thapto- mys nigrita Lichtenst., no qual foram capturados A. travassosi C. Lima e /l. Longus F r a n z. A revisão das espécies sul-ame- ricanas feita por Costa Lima torna facil a determinação das es- pécies brasileiras, dada a documen- tação gráfica que apresenta, bem como a chave para espécies. Quanto a esta última, deve, porém, ser feito um reparo: A. longus F ranz, 1930 não apre- (*) Êste trabalho é publicado pela Socie dade Brasileira de Entomologia. cm 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Espécies de Amblgopiiuis, etc. 1G9 senta fileira cerrada de cerdas cur- tas no bordo lateral do pronoto, não podendo, portanto, a espécie entrar no item 4 da chave proposta. O material que capturámos con- corda plenamente com a descrição original de Franz (3), explican- do-se o lapso por não dispor C o s- t a L i m a de material dessa espé- cie ao elaborar o seu trabalho. São as seguintes as referências da literatura sobre a captura das espécies por nós até agora colligi- das: Espécie Hospedeiros Localidade | Data Autor i A. gahami Rato? 1 La Plata-Argentina 1901 |: T'auvel FAÜVEL, Neetomys squamipes Terezopolis-Brasil 1927 C . Lima 1901. Oxymycterus rufus Hansa-Brasil 1930 'Franz Monodelphys opossum Serra de Itatiaia 1923 jNotman A. henseli Cuica ? ? C. Lima K O B B E, Didelphys sp. R. G. Sul ou R. Janeiro 1911 [Kobbe 1911 Metachirus opossum Serra dos Órgãos 1930 Franz , * Rato silvestre Angra dos Reis 1936 C. Lima ' c Didelphys aurita Xijuca (Rio de Janeiro) 1936 C. Lima Rato? Sta. Catarina 1915 C. Lima A. travassosi Rato Est. Rio de Janeiro 1927 C. Lima C. LIMA, Rato silvestre Butantan, S. P. 1927 C. Lima 1927 1 A. longus Oxymycterus rufus Sta. Catarina 1930 Franz F R A N Z, 1630 l 170 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III iV.os 3/í — 1938 O material coligido e identificado pelo autor distribuia-se pelos seguintes hospedeiros: N.o f 1 |N.o de ESPÉCIE HOSPEDEIRO do LOCALIDADE DATA exem- i i .. j. _ :• Estame | piares ♦ | *1 1 A. longus TI aptomys nigTita Horto Florestal 4.11.37 2 LICHTENST. (1574) Serra d. Cantareira S. Paulo A. travassosi 7 ’ ( ” ) M 99 1 99 Oxymycterus judex THOMAS ( 258) 3utantan 7. 4.33 2 S. Paulo 99 Rato sp. ( 314) ** 5. 7.33 2 A. gahami Nectomys squamipes (1515) Serra da Cantareira 18. 9.37 1 BRANTS S. Paulo 99 Nectomys squamipes (1540) *• 6.10.37 1 BRANTS 99 Nectomys squamipes (1551) 15.10.37 1 BRANTS 99 Nectomys squamipes (1552) 99 99 3 BRANTS - A. henseli IMdelphys aurita (1372) - 28. 6.37 3 1* 99 99 (1380) H í. 7.37 : 1 Ha, portanto, um novo hospe- deiro para A. longus, o camondon- go negro de cauda curta, que cami- nha sob a folhagem seca dos matos, Thaptomijs nigrita Lichtens- t e i n, e outro para A. travassosi, Oxymycterus judex Thomas, sendo de notar a constância do hos- pedeiro para A. gahami, Nectomys squamipes B r a n t s, a grande ratazana das florestas, e a quasi exclusiva especificidade de A. hen- seli para Didelphyidae. A T. C. S. Morrison- S c o 1 1, do Museo Britânico, agra- decemos a identificação de dois dos hospedeiros. Resumo Em uma mesma mata no Es- tado de São Paulo, foram captura- das as quatro espécies do genero Amblyopmus Solsky até hoje atribuídas ao Brasil, a saber: Ã. gahami F a u v e 1, 1901, A. hen- seli Kobbe, 1911, A. iravassosi Costa Lima, 1927 e A. longus Franz, 1930. Para A. travassosi e A. longus é descrito um novo hospedeiro. Zusammenf assung In einem Wald des Staates São Paulo wurden die vier bis jetzt in cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — - Espécies de Amblyopinus, ctc. 171 Brasilien festgestellten Arten der Gattung Amblyopinus S o I s k y gefunden. Es sind folgende: A. ga- hami F a u v e 1, 1901, A. henseli Kobbe, 1911 A. trauassosi Cos- ta Lima, 1927 und A. longus F r a n z, 1930. Für A. trauassosi und A. longus 'wird ein neuer Wirt beschrieben. Bibliografia 1 . Cosia Lima, A. da — Scien- cia Médica 5(7) : 380. 1927. 2. CostaLima, A. da — Mem. Inst. Oswaldo Cruz 3/(1) :55. 1936. 3. Franz, El li — Senkenber- giana 12(1) :71 .1930. 1-72. BOLETIM BIOLÓGICO (Xoaa Série) Vol. III X.os s/’t — 103S NOTAS DE ACAREOLOGIA * i As referências até hoje feitas ã ocorrência desta espécie no Bra- sil, provinham da sua confusão com um acariano muito dissemina- do, parasita habitual de galináceos, Liponissus bursa (BERLESE ) , que o povo conhece com o nome de “piolho de galinha”. Isto mesmo frizámos em trabalho anterior, ao descrevermos a única espécie do mesmo género até agora conhecida do Brasil, Dermanyssus brasiliensis Fons., 1937 (1). Sòbre o encontro de Dcrma- nyssus gallinae em outros paises da América do Sul não possuímos dados seguros, embora E w i n g (2) a tenha como ocorrente em todos os Estados da União Americana. Em 1937, o dr. José Reis, chefe da Secção de Ornitopatologia no Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, de São Paulo, enviou-nos para determinação uma espécie de Dermanyssas por êle capturada sòbre pintassilgo da Ve- nezuela ( Spimis cuculatus) . Pouco mais tarde efetuou nova captura sòbre canarios ( Cerinus canarius ) fornecendo-nos igualmente o ma- terial, tratando-se em embos os ca- sos de pássaros de criação nacional. O exame da espécie em ques- tão revelou tratar-se de Dermanys- Por Flavio da Fonseca Trabalho do Instituto de Butantan sus gallinae (D e g e e r) , para- sita habitual de gallináceos na Eu- ropa e na América do Norte. E’ curioso deixar consignado que esta espécie não foi ainda en- contrada em gallinaceos da mesma região de onde a estamos assina- lando, parecendo só agora estar se adaptando, embora certamente já muitas vezes tenha sido importada sem que se tenha aclimatado. Bibliografia 1 . Fonseca, F. da — Memó- rias do Ins. Butantan 10:51. 1936, 2. Ewing, H. E. — Proc. Ent. Soc. Wash. 38(3) :47.1936. ABSTRACT Reports of Derrnanyssus galli- nae D e g e e r in Brazil were made on account of its confusion with a very disscminated acarian, usual parasite of fowls, Liponissus bursa (Berlese), the tropical fowl mite. The same fact has been stres- sed by us in an earlier paper, whcn we- described the unique Brazilian species of the same genus known up to the presenU L) . brasiliensis Fons., 1937. (’) Este trabalho é publicado pelo Clube Zoológico do Brasil. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 F. DA FONSECA — Notas de Acareologia 173 About lhe occurrence of Der- manyssus gallinae in otlier coun- tries of Soulli América, we do nol possess reliable data, although Ewing considers it a common species, which occurs in all States of the Union. In 1937, dr. J o s é R e i s, head of the Section of Ornitopathology of the Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, in São Paulo, sent us a species of Dermanyssus, "hicli he caught on a “pintassilgo” of Venezuela ( Spinus cuculatus ) , for identification. Soon after tliat Ee caught new material on canaries ( Cerinus canarius), and sent it to us; in hotli cases the hirds were hred in Brazil. The examination of llie species under investigation showed that.it was a Dermanyssus gallinae (D e- geer), usual parasite of fowls in Europe and North America. It isi a curious fact tliat this species lias not heen found yet on fowls in the same region, where we stated tliis one, and it seems that it is only now adapting itself, although it certainly lias been im- ported several times, without being acclimated. 174 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. UI N.<* 3/4 — 1938 Divulgação Científica O C. Z. B. E UM JARDIM ZOOLÓGICO EM S. PAULO Por G. Pereira do Instituto Biológico. S. Paulo A presente nota tem por fim cha- mar a atenção dos Snrs. sócios do Clube Zoológico para a possibilidade •de se montar em S. Paulo um Jardim Zoológico. Sendo um assunto que diz muito de perto com as atividades dêste Clu- be, peço licença para apresentar aos colegas alguns argumentos que, pen- so serem suficientemente razoáveis para nos levar a manifestar nosso apôio a essa idéia. Deixaremos de lado o aspecto pu- ramente recreativo do Jardim, por nos parecer secundário, embora não desprezível em cidade como esta, onde é opinião geral que as diversões po- pulares ainda não estão absolutamen- te em excesso. Das vantagens de ordem cultu- ral, convém ressaltar em primeiro lu- gar, a possibilidade de os apaixonados da caça terem um local adequado para efetuar ou confirmar seus conheci- mentos sôbre as espécies que mais lhes interessam, principalmente no que diz respeito a seus hábitos e par- ticularidades diversas. Do ponto de vista didático, a transformação do ensino da Zoologia em uma atividade amena, onde os alu- nos dos vários graus de ensino te- riam a oportunidade de efetuar suas próprias observações sôbre os bichos mais típicos, de modo a formarem um conceito mais orgânico do mundo animal; pensamos que seria êste um processo mais eficaz para despertar nas gerações novas um amor mais bem fundamentado por nossas cousas. Sob o aspecto da ciência pura, é desnecessário encarecer as vantagens da reunião de um material vivo, man- tido em condições as mais próximas das naturais, permitindo aos pesqui- zadores dos mais variados ramos da biologia o esclarecimento de um sem número de dúvidas e problemas que de outro modo só podem ser aborda- dos fragmentariamente, ao sabor do acaso. Quanto às aplicações práticas, ressaltam logo os estudos que permi- tirão o aproveitamento das espécies de valor econômico reconhecido, afo- ra as hibridações, hoje praticadas mais largamente devido ao apareci- mento de técnicas especiais; os pro- dutos de origem animal poderiam ser beneficiados largamente pelas expe- riências possíveis sómente em insti- tuições dessa ordem. Do ponto de vista do custo de uma obra dessa envergadura, é pre- ciso não alimentar ilusões sôbre os recursos a empregar nos primeiros <’) Nota lida em sessão do C. Z. B., em fins de 1937. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Divulgação Cientifica 175 tempos, caso se pense em organizar obra séria e duradoura ; entretanto, um Jardi m Zoológico convenientemente ° n entado, em nosso clima, iria se tor- nar em breve tempo um lugar ideal Para a criação das mais interessantes es pécies animais e, sabido o ótimo P re ço que estas alcançam com facili- r ade, o Jardim começaria em breve a Te múnerar o capital nele empatado, Podendo mesmo vir a se tornar uma ei nprêsa francamente lucrativa, a exe mplo de outras que florescem em outras terras. ANTA. tÍA' - crpfo dos originais do livro “Fáuna Na ordem dos ungulados, a anta Cu Pa o primeiro lugar não só por ser niais corpulento dos animais sil- e stres nacionais, mas também devi- I a Sua força. É, de fato, o maior ma- 'fero da fáuna brasileira. Ser ^ or essas razões, deveria a anta r niais protegida contra a sanha dos açadores insaciáveis, que não se con- ontarn com matá-la no tempo da per lss ão, mas o fazem também no da P oariação, por méro passatempo, ou 111 o pretexto de dar carne aos cães Mestrados. O tapir vai assim se extinguindo e as regiões de mataria onde outrora ani frequentes os seus trilhos esca- Pensando que êstes argumentos estão de acordo com o espírito da letra a) do artigo l.° dos “Objetivos So- ciais” do Clube Zoológico do Brasil : “contribuir para o exato conhecimen- to científico da fáuna brasiliense, re- presentada por todos os seus grupos, dêsde os protozoários até os metazoá- rios mais complexos, e encarada sob todos os aspetos, puros ou aplicados”, peço licença para propor que o Clube manifeste ao Sr. Prefeito Municipal da Capital, os seus aplausos e apôio pela projetada creação do Jardim Zoológico de São Paulo. TAPIR Brasileira”, a ser publicado brevemente) Por Agenor Couto de Magalhães Chefe do Serviço de Caça e Pesca do Estado de São Paulo vados, e ele mesmo já é raro de ver a se banhar, pela manhã ou ã tardi- nha, nas curvas tranquilas dos rios solitários. Hoje em dia êsse soberbo animal, inofensivo e docil, vai-se afastando, perdendo-se nos confins dos últimos redutos florestais, até chegar tempo em que só em museus de história na- tural o encontraremos, empalhado, como raridade histórica e documento de um povo que não soube ter leis para a preservação das espécies alta- mente representativas do cenário da terra indígena, partes integrantes da admirável paisagem tropical brasileira ! Essa incúria que se alastra, como 176 BOLETIM BIOLÓGICO (Xo va Série) Vol. 111 N.os 3/4 1038 certas dermatoscs, pelo Brasil afora, algum dia terá fim, c oxalá com tem- po de se salvar pelo menos uma par- te com que se possa refazer a popula- ção silvestre, tarefa aliás bastante di- fícil. Bem sei que me vou tornando demasiadamente sediço nessas cons- tantes digressões, que insensivelmente vou fazendo, mas não tenho grande, culpa em fazê-las, porque sou arras- tado pelo amor que voto a esta terra e pela responsabilidade que me cabe como estudioso dêsses problemas. Pugnarei sempre pela defesa dês- se patrimônio inestimável, que jaz à míngua de quem o defenda. A pala- vra falada perde logo o som, mas a que se escreve fica e terá cada vez mais éco e oportunidade de ser lida e lembrada. . . Os tupis chamavam a anta de Tapira-caaiuara ou Tapira-caapora. que significava boi do mato. E’ a designação mais próxima que en- contravam para a anta. A anta já ocupou uma área geo- gráfica considerável; achava-se dis- tribuída fartamente pela América do Sul toda. Do Amazonas ao Prata * dos Andes ao Atlântico, encontrava se êsse belo animal. É rústica mas facilmente domes- ticável, pois em qualquer lugar estè bem. bastando que haja água para se banhar e um sitio sombrio para dor mir durante o dia quando faz calor Em liberdade dá preferência às ma- tas sombrias, pouco batidas pelos ca- çadores, onde haja água abundante, bréjos e várzeas. É excessivamente arisca, valendo-se do ouvido e do faio apurados para fugir ao menor ruido Prefere pastar à noite, hora em que abandona a mata e sái para as cla- reiras e brejais, as várgens alcatifa- das de gramíneas, milharais ou arro- zais. Alimenta-se também de frutos silvestres, folhas de arbustos e exce- pcionalmente de cascas de árvore. A anta é frequentemente perse- guida pela onça pintada ou pela can- gussú. Esses felinos encontram nos barreiros um lugar seguro para as emboscadas que lhe fazem. A onça atira-se à anta e quasi sempre lhe monta nas costas. Atingida de surpre- za pelo vigoroso inimigo, corre deses- peradamente pela mata e mete-se pelo carreador afora, na esperança de des- montar o felino de encontro a um galho ou árvore que se atravesse no caminho. O tronco providencial do carrea- dor ou a água do rio são a defêsa com que conta êsse grande paquiderme sul-americano nas agressões impre- vistas. Procura com frequência os “bar- beiros”, para lamber o sal terroso das exeavações. Nesses lugares encontra também com muita frequência a mor- te, na traiçoeira armadilha de espin- garda. na tocáia do caçador ou no as- falto inesperado da onça pintada que ronda sempre. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Divulgação Cientifica Constitúe uma necessidade im- prescindível, para a anta, quando em °ativeiro, um banho de lama, preser- v ahvo natural contra as moléstias do couro, que a atacam comumente. Em liberdade, êsse ^paquiderme «abe procurar êsses lamaçais, com pouca água estagnada, e daí ser pre- ílso , nos parques e jardins zoológi- ç p s > proporcionar-lhe êsse meio de de- ^êsa, afim de evitar-lhe as erupções cutâneas, que tenho observado com frequência quando lhe falta água e terra onde ele próprio, por instinto. Procura preservar-se dêsses males. Muito embora tenha a anta espe- cial preferência pelos banhados e rios, 1130 é aí que ela repousa nas horas de calor; procura os espigões, muitas v ezes distantes das calhas fluviais, *netendo-se pelas touças de taquarís °u no emaranhado de alguma galha- 'la espessa, deita-se de barriga para baixo, cabeça por entre as pernas dianteiras, cochilando e movendo as urelhas repetidas vezes para afugen- tar as moscas e motucas que nelas sentam. É notável a mobilidade da^ °relhas escuras e debruadas de bran- co e do focinho do animal, denotando a constante vigilância que desenvolve Para apanhar todo ruido, assim como todo e qualquer cheiro que lhe chegue a sensibilíssima pituitária. Nas caçadas a anta desenvolv* toda a sua prodigiosa energia para se Ver livre da matilha, porém muito Pouco pode fazer. Si é forçada a procurar um terre- n ° paludoso, é facilmente cercada pela cachorrada furiosa, que lhe atassalha a parte trazeira, muito embora lhe dê a cuação sempre sentada. Si, na corrida, o tapir vem dos terrenos altos para o rio, é de pronto a travessado pela bala do caçador que se posta à beira do carreiro trilhado, P°r onde ele desce. Si, ainda, a caça- da é praticada n’água, o animal é logo ferido pelo tiro certeiro ou laçado pe- los caçadores, que em sucessivas in- vestidas conseguem alcançá-lo. A anta, graças ao seu couro gros- so e resistente, afronta com destemor qualquer matagal sujo e agressivo; resiste também a ferimentos profun- dos e por isso o caçador bem avisado alveja-a nos pontos mortais, chama- dos, na gíria venatória, de “vazio”, “volta do apá”, etc. Ha duas espécies bem distintas dêsses tapírides brasileiros: uma, es- cura, com as bordas das orelhas bran- cas, e outra, de pelagem cinzenta, bem maior que a precedente. Os machos ordinariamente sâo menores que as fêmeas, atingindo dois metros de comprimento por um e pou- co de altura. Os olhos são pequenos em ambas as espécies brasileiras ; a» orelhas e rudimento de crina também não diferem. O nariz dêsse mamífero constitúe uma singularidade na fáuna neotrópica: projéta-se, em cône, da pequena tromba excessivamente mó- vel e com a extremidade humide- cida; um rudimento de cauda curta dobra-se na convexidade da parte tra- zeira; crina curta na parte superior do pescoço; as patas dianteiras são providas de quatro dedos, com fortes unhas envolventes, e as trazeiras têm apenas três dedos. Uma dessas espécies é conhecida pelos caçadores pelo nóme de “sapa- teira” por ter os cascos mais alonga- dos, em forma de bico de sapato. Essas duas espécies foram classi- ficadas respectivamente como Tapirus americanus e Tapirus raulinus. A fór- mula dentária é esta : incisivos — 6 x 6; caninos — 1 x 1 e molares — 7x6. Já nos referimos à côr geral do ani- mal, porém podemos acrescentar al- guns pormenores: a anta cinzenta tem a pelagem denegrida na parte inferior cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 178 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.<* 3/4 — I93S das pernas, barriga e queixo esbran- quicados; pêlos mais escuros na parte superior da cabeça e fio do lombo. As fêmeas párem uma vez por. ano uma única cria, durando dôze me- ses a gestação. Os filhotes são muito interessan- tes pelas riscas e sináis brancos lon- gitudinais da pelagem, quando nos primeiros meses de idade, asseme- lhando-se àquelas listas que ornamen- tam os flancos das pacas. A anta, quando seriamente asse- diada, emite um silvo agudo. PROTEÇÃO Á FAUNA E Á FLORA Sempre novo, o velho tema de proteção á fauna e á flora volta con- tinuamente à preocupação dos govêr- nos que sensatamente cuidam dos seus parques e de suas reservas florestais. Multiplicam-se os códigos e os regu- lamentos. Constituem-se- sociedades especializadas com o fim precípuo de incrementar tal proteção. O serviço de informações se desenvolve inten- samente entre govêrnos de países di- versos, mas ligados pelo laço comum do interêsse de preservar a sua ri- queza agrícola. E’ o que acabamos de ver na II Conferência Internacional de Proteção à Fauna e à Flora da África, realizada a 25, 26 e 27 de maio último em Londres (*) com a parti- cipação dos delegados dos paises que possuem interêsses naquele continen- te. Todos os assuntos debatidos /íessa conferência são de importância para nós que habitamos um pais que pela sua posição geográfica, pela sua ex- tensão, e mesmo pela sua fauna e fló- Por Paülo Sawaya do Departamento de Zoologia da Fac. de Sc e Letr. da Universidade de S. Paulo. ra muitos pontos de contacto apresen- ta com a África. E’ curioso notar que a referida II Conferência se revestiu do carater de reunião preparatória para certamen de maior vulto a realizar-se em 1939. A primeira reunião congênere verifi- cou-se em 1933, e as suas resoluções foram ratificadas pelos paises que dela participaram com exceção ainda da Italia e Portugal. Nesta segunda conferência, o ob- jeto principal foi a troca de informa- ção e discussão sôbre os preparativos da próxima de 1939. A ela compare- ceram os delegados dos govêrnos da União Sul Africana, da Bélgica, da Gran-Bretanha, da Irlanda, do Egito,, da França, da Italia, de Portugal, e da Holanda. Os relatórios versaram sôbre: 1) creação e manutenção de parques de reserva, e 2) troca de in- formações sôbre os meios de prote- ção da fauna e da flóra. (•) Nature (London), v. 141, n. 3.579, p. 1.024/5, junho 1938. Divulgação Cienlífica 179 Muito interessante foi a relação feita pelo sr. M. C. W a t e r da África do Sul, propugnando se incentivasse o interesse público na proteção dos ani- mais selvagens. Aqui está um ponto que muito de perto nos tóca, pois, o fator educativo deve ser levado em primeira linha para despertar no pú- blico o amor pelos animais e pelas plantas. Neste particular são natural- mente de grande valia as publicações populares de vulgarização, os artigos nos jornais, nas revistas, as locuções pelo radio, os cursos e conferências so- bre a vida dos animais e das plantas, etc. Por outro lado, Wafer chamou a atenção dos membros da assembléia sôbre as vantagens das Conferências Internacionais, pois teem a particula- ridade de chamar a atenção dos govér- nos para os assuntos alí desenvolvi- dos. Exemplificou o fato observado em relação à Zêbra montanheza (Hip- potogris zebra) a qual lentamente foi se escasseando nas regiões do sul da África; o govêrno adquiriu terras em várias regiões, constituiu parques de reserva e conseguiu manter e pre- servar os rebanhos restantes. W i 1 1 i a m Gowers, delega- do para as Colônias do Reino Unido, lembrou as vantagens da manu- tenção de reservas florestais e res- pectiva caça, restringindo-se a possi- bilidade de nelas habitarem os nati- yos. Sôbre esta restrição aguardar-se- a o pronunciamento da próxima con- ferência. No momento porém, salien- tou as precauções a serem tomadas antes de se demarcarem as áreas de reserva. Citou os parques já instala- dos com bons resultados em Tangani- ba, Nyassaland, Kenya, Nigéria e Sierra Leone. Aqui entre nós são muito dignos de menção os trabalhos não pouco ár- duos de Hermann von Ihe- r i n g, quando procurou e feliz- mente conseguiu estabelecer a chama- da estação biológica do Alto da Ser- ra. Alí se encontra hoje uma reserva florestal e consequentemente de ani- mais, de valor inestimável. Não fosse o grande zoológo ter vencido a tarefa penosa e hoje não teríamos esse gran- de parque. O nosso Jaraguá, infeliz- mente, não teve esta boa sorte. A mi- neração primeiramente, e depois a de- vastação de suas matas, mostram-nos,, nos dias que correm, o aspeto desola- do de uma região inhóspita para os nossos animais. O delegado de Portugal trouxe sugestões de grande relêvo para nós: 1) exame do hábito de circundar os animais com o fôgo, com o propósito de caça; 2) modificação da agricultu- ra nómade nativa, fator de dizimação frequente de importantes extensões de matas .Sôbre o primeiro ponto ao que me parece ainda não foi tomada aqui medida prática de profilaxia dês- te mal. Parece mesmo que um dos elementos de maior pêso no empobre- cimento da nossa fauna vem a ser as queimadas dos nossos campos e ma- tas, muito embora sem o fito princi- pal da caça, como o fazem os nossos índios, mas para o plantio. Qualquer medida tendente a diminuir este mal, como seja o replantío das florestas, ainda está longe de produzir os efei- tos desejados. Sôbre o segundo nada ha feito, não obstante se deva reco- nhecer que o nosso indígena é fator ponderável de dizimação da fauna. Lembro aqui os relatórios da expedi- ção Hermano Ribeiro da Silva, nos quais sempre se men- cionou a ausência completa de caça em muitas regiões percorridas pela expedição. Finalmente, o delegado já citado da África do Sul, emitiu as seguintes conclusões que foram acatadas pela Conferência: a) necessidade de troca de informações entre os diversos paí- ses interessados na África relatando 180 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. Ill ,V.«s 3/i — 1938 as moléstias contagiosas ou infeccio- sas de importância para preservação da fauna e flóra; b) permuta entre tais governos de listas de pessoas co- nhecidas como persistentemente in- fratoras dos regulamentos de caça. • Embora tais medidas se destinem à observância pelos paises africanos, deveriam elas ser objeto de medita- ção da nossa parte e ao Clube Zooló- gico em particular, pela sua comissão executiva, cTepois de seu estudo, sem dúvida, caberia pô-las em prática pe- los meios ao seu alcance. Assim, por exemplo, parece-me não sem oportuni- dade no momento em que se cogita da elaboração do novo Código de Caça e Pesca, houvesse no Boletim Bioló- gico uma secção destinada ao seu es- tudo. Por outro lado, esta mesma sec- ção poderia encarregar-se de elaborar em cada número, uma resenha dás medidas de proteção à fauna e à flo- ra tomadas pelos outros paises e que possam apresentar interesse para o nosso. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Notas de Amadorismo 181 Notas de Amadorismo AVISO AOS SÓCIOS DO C. Z. B. Tendo sido encerrada a estação fie caça do presente ano, a gerência do Clube Zoológico do Brasil lembra aos seus sócios caçadores, que obtive- íam a licença especial para caçar aní mais daninhos, a grande responsabi- lidade por êles assumida, não só em relação ac Clube, mas, principalmen te com o Serviço de Caça e Pesca do Departamento de Indústria Animal. E preciso não esquecer que a li- cença para caçar animais daninhos n» período de veda à caça, só foi conce- dida a título de experiência, tendo em vista o fato do C. Z. B. ser uma so ciedade de caráter técnico, já reco- nhecida de utilidade pública pelos po- deres competentes, e apresentando interessante acervo de serviços pres Udos durante seus seis anos de exis- têucia. So em vista dessas credenciais é que o C. Z. B. obteve tal concessão, que oferece a seus sócios a feliz opor tunidade de se tornarem verdadeiros colaboradores das autoridades encar regadas da proteção à fauna, o que será feito dentro do mais elevado es- pirito de leal cooperação. Para mais amplas informações, pessoalmente, às segundas, quartas e sextas, das 19 às 22 horas, à Travessa da Abolição, 12, São Paulo; pelo te- lefone 2-2695 ; por carta, para Caixa Postal, 362. 30 de setembro de 1938. CIRCULAR ENVL4DA PELO C. Z. B. AOS CAÇADORES DO ESTADO DE S. PAULO O “Clube Zoológico do Brasil” y em lembrar-lhe que a atual situação de desentendimento entre caçadores, Pescadores e autoridades encarrega- das da execução das leis de caça e pesca não deve mais continuar. Os caçadores e pescadores se queixam da lei, alegando que ela trás complicações, cujas vantagens nem sempre são evidentes. As autoridades competentes lu- tam contra êsse ambiente de mal estar e são injustamente apontadas como responsáveis pela situação. Por outro lado, a caça dimfnue, dia a dia, em consequência da falta de 182 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III -V. os 3/4 — 1938 ajustamento entre os requisitos de proteção à caça e os dispositivos le- gais para êsse fim existentes. Ora, o “Clube Zoológico do Bra- sil’’ está empenhado em coordenar êsses interesses em conflito, para o que já conta com a vontade de acer- tar das autoridades competentes, pre- cisando apenas do apôio de todos os interessados, na caça e na pesca, que devem se inscrever no quadro social do Clube para assim poderem coope- rar inteligentemente na solução de tão importante problema. Algumas das vantagens que os sócios já têm: 1. Recebem gratuitamente o “Boletim Bio- lógico”, revista com excelentes traba- lhos e informações sôbre Zoologia. 2. Recebem gratuitamente uma licença para caça ou para pesca. 3. De acordo com o regulamento, podem enviar observações originais sôbre caça ou pesca para o Clube Zoológico, que resolverá sôbre a sua publicação no “Bo- letim Biológico”. 4. Podem fazer consultas sôbre assuntos zoológicos, que os técnicos do Clube res- ponderão com toda a prestesa. 5. Autorização especial para os sócios do “Clube Zoológico do Brasil”, mediante uma taxa de 10$000, poderem caçar, nas épocas proibidas, os mamíferos e algu- mas aves predadoras ou de qualquer modo danosas da nossa fáuna, sob pa- lavra de não usarem indevidamente tal permissão. 6. Registro pelo Clube das armas de caça de seus sócios, sem aumento de des- pêsa. Vantagens em vias de obtenção: a) Melhoria das leis existentes sôbre caça e pesca. b) Incremento do estudo da alimentação e procreação dos animais que servem para a caça, afim de resultar maior rendi- mento venatório para os caçadores. c) Repovoamento com boa caça das ma- tas e campos que já estão abandonados pelos caçadores. Cada sócio contribuinte pagará apenas 5S000 por mês. O senhor tem um dever a cum- prir: — Inscrever-se como sócio do “Clube Zoológico do Brasil” e obri- gar os seus amigos a fazer o mesmo. Com os cordiais cumprimentos de Dr. Clemente Pereira, Gerente. OS ANUVIAIS PREDADORES E A CAÇA - “Penso que o Estatuto de Caça e Pesca foi instituído para proteger todas as espécies da nossa fauna, in- clusive o homem; mas quem toma a si a tarefa de estudar seriamente as Por Dr. Adolph Hempel do Instituto Biológico. S. Paulo suas cláusulas verá que certas clas- ses ou espécies são favorecidas e ou- tras prejudicadas. Um editorial em “Field and Stream” de julho de 1937, diz: “as Notas de Amadorismo 183 leis de caça devem ser cumpridas, roas não devem conter cláusulas que não possam ser executadas, ou que ir- ritem o caçador sem trazer qualquer benefício para a caça”. São palavras úitndas pela experiência na aplicação das leis de caça na América do Nor- te; e são igualmente apropriadas para descrever a situação atual da caça, do eacador e do fazendeiro ou sitiante, no Estado de São Paulo, depois da vigência do regime de regulamentação da caça durante dois lustros. Pelo nosso código, o lobo e o ja- caré são protegidos. Quem que» - ma- tar uma capivara que está destruin- do o seu arrozal, precisa munir-se, previamente, de uma licença especial para êste fim, assim como é também necessário uma licença especial para tnatar um porco do mato que está es- ttagando a roça de milho, ou uma °nça que está matando bezerros e po- tros. Falo de experiência própria, como caçador e criador. O caçador paga a taxa ou impos- to de caça referente a um certo ano. A estação da caça de pena abre em 15 de abril, si a abertura não fôr pror- rogada para maio ou junho; mas si o caçador esperar até abril para pagai a licença, êle só pode fazê-lo com mul- ta. Depois de pagar o imposto da caça o caçador deve munir-se de uma licença de porte de arma ou armas de caça, a qual serve até o dia 31 de de- zembro do ano em que fôr concedida. Porém, si por qualquer motivo, o ca- çador fôr encontrado com uma arma de fogo, mesmo estando esta desarma- da e embrulhada em papel, pelos fis- cais ou inspetores de caça, êstes con- fiscam a arma, como aprendí por ex- periência própria, e como aconteceu quando um viajante de Uberaba quiz embarcar com uma arma de fogo que nm amigo ha^ia encomendado que *he trouxesse de São Paulo. Ora, a onça ataca a criação du- rante todos os mêses do ano; as capi- varas e os porcos do mato invadem as roças de arroz e milho nos mêses de dezembro, janeiro, fevereiro, mar- ço e abril; mas si o lavrador tomar as medidas necessárias p jra proteger a sua propriedade, êle expõe-se ao ve- xame de ser multado e terá a sua ar- ma confiscada, apezar de possuir uma licença para o porte de arma de caça e apezar de ter o tribunal declarado que todo o cidadão tem o direito de proteger a sua propriedade. Há pouco tempo, em uma roda de caçadores no interior do Estado, fala- va-se que: “agora que pagamos para caçar, quasi não ha caça; e mesmo é difícil ou impossível criar galinhas. Não ha caça e nem frangos para co- mer. Antigamente havia abundância de caça e os terreiros estavam cheios de frangos. Hoje é necessário fechar as galinhas nos galinheiros, pois to- das as que dormem nas laranjeiras desaparecem”. Aqui está, meus senho- res, a situação. O exercício do esporte da caça é regulado por lei. O caça- dor só pode procurar alguma caça du- rante cêrca de quatro meses ao ano, ao passo que o lobo, o grachaím, o cachorro do mato, o mão pelada, o gambá, as aves de rapina e outros predadores, caçam durante o ano todo. Para êles a época de caça não está fechada. Com o atual regime es- tamos criando caça para os preda- dores. De nada vale estabelecermos uma época de repouso para a caça en- quanto não restringirmos a atividade das aves de rapina e dos predadores. O “Field and Stream” no edito- rial acima referido, diz: “Si só fôsse preciso ter uma época fechada, para a caça e uma limitação do número de peças que pode ser abatido, para au- mentar a nossa caça de pena, todo o país estaria inundado de marrecos e outras aves de arribação”. Na mesma revista de maio de 1937, diz, copiando cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 184 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N . os 3/4 — 1938 do “North Dakota Outdoors” : “Pode um lavrador ter esperança de criar um bando de perus quando ha um bando de raposas e de coiotes insta- lados na colina perto da sua proprie- dade espreitando a oportunidade de assaltar as aves? Se isto íôr possível, então as marrecas podem chocar os seus ovos quando os bandos de cor- vos estão esperando nas copas das árvores para uma oportunidade de roubar o ninho logo que a marreca o deixe; — mas do contrário, não. Pelo exposto vemos que os nos- sos amigos do norte do continente também têm os seus problemas a re- solver. Lá são os marrecos, os perús e outras aves que estão sendo dizima- dos pelos predadores e pelas aves de rapina. Aqui são as perdizes e codor- nas, os inambús e urús que nidificam no chão, que estão sendo destruídos pelos predadores, enquanto as aves de rapina não respeitam qualquer es- pécie de caça. Ültimamente tem se dito que o grachaím emigrou dos Estados do Sul e está invadindo os campos do nosso Estado, destruindo a caça na sua pas- sagem. Trouxe um exemplar de gra- chaim, apanhado na minha fazenda no município de Bofete. É já o segundo exemplar que lá foi morto; pois estas raposas têm lá dizimado gansos, perús e galinhas. É um animal grande, maior do que o cachorro do mato, muito li- geiro, com o crâneo achatado e com- prido. Procura o galinheiro, de prefe- rência, na madrugada, quando os ga- los estão cantando. É este o “Canis brasiliensis” Schinz, o qual estende o seu "habitat” até a República Argen- tina e Patagônia. Êle começou a au- mentar depois que foi regulamentada a caça em nosso Estado; e agora, com a cessação da caça durante cêrca de oTíõ meses no ano, pôde êle criar os seus filhos socegadamente, protegido pela lei; e se não encontrar mais per- dizes ou codornas nos campos, pro- cura as - capoeiras e os galinheiros para saciar a sua fome. Quando a caça es- tava aberta durante o ano todo, os caçadores matavam os animais pre- dadores que encontravam; e os pró- prios cães os destruíam juntamente com os filhotes. É esta a situação em que nos en- contramos hoje, senhores. A caça di- zimada, não pela espingarda do caça- dor, mas pelas garras da ave de rapi- na e pelos dentes db predador; pois é fácil verificar a abundância de ga- viões que há nos campos no interior do Estado ; e mal uma perdiz ou uma codorna salta, logo é perseguida por uma destas aves de rapina. Qual é o remédio para sanar este grande mal? • Em primeiro lugar, devem os guardas campestres, os fiscais e os inspetores de caça ser caçadores exí- mios, para poderem dar caça aos pre- dadores de toda a classe e durante todo o ano. Devem êles fazer respei- tar as leis de caça, mas devem facili- tar os meios para poder o lavrador proteger-se das capivaras, dos porcos do mato e das onças que atacam as roças ou a criação. Em segundo lugar, deve haver uma época ou épocas de caça mais longas, não para a caça de perdizes e codornas nos campos, mas para outra caça de pena, como pombos legítimos, jacús, etc.; e para a caça de pêlo, veados, paca, etc., cuja época de pro- criação coincide, mais ou menos, com o nosso inverno, a estação da caça de perdizes. Em terceiro lugar, devem ser constituídos prêmios para cada gra- chaím ou cachorro do mato ou outro predador que fôr morto, para incenti- var a caça dêstes animais nocivos. A caça dêstes predadores deve ser feita, de preferência, a tiro ou por meio de armadilhas, mundéus ou chi- Notas de Amadorismo queirós. Só em casos excepcionais deve ser o veneno empregado para êste fim, para evitar a destruição em massa de outros habitantes dos campos e das matas, especialmente das aves insetí- 'oras, como tem acontecido nos Esta- dos Unidos da América. Lá, em diver- sos estados do oeste, durante alguns a nos, foi empregada isca venenosa pa- to exterminar as diversas espécies e classes de predadores existentes nos campos e nas matas. O resultado foi a erradicação, quasi por completo, de todas as classes de animais naquela f egião ; e agora também se nota a mor- to de grandes florestas de pinheiros, provocada pelo besouro do pinheiro. u ma espécie indígena, que se desen- volveu desmesuradamente devido à au- sência dos seus inimigos naturais, no- tadamente das aves insetívoras. A ver- dade é que o veneno foi empregado contra os predadores da classe mand- ato, como lobos, raposas, gambás, etc., mas as aves também procuravam a lsc a mortífera, distribuída em larga e sca1a, e com resultado desastroso. O cel. A. J. MacNab, em “Field a ud Stream”, de outubro do ano pas- sado, refere: “É a opinião de muitas Pessoas — e concordo com esta opi- nião — que a matança das aves insetí- voras com a carne envenenada, distri- buída para destruir animais predado- res, destruiu o equilíbrio da natureza a tal ponto, que foi possível para o besouro do pinheiro, um inseto nati- vo, mas que só nos últimos anos tor- nou-se uma ameaça, proliferar e de- vastas áreas extensas de matas. Nas florestas nacionais, as quais visitei durante o ano passado, o besouro do pinheiro destruiu mais árvores duran- te os últimos anos, do que todos os in- cêndios nas florestas daquela região nos últimos cincoenta anos”. Aqui ve- mos senhores, o resultado desas- troso do emprego de veneno em larga escala para dar combate aos animais predadores. Em quarto lugar, deve-se procu- rar conservar o “habitat” natural dos animais de caça, tanto de pena como de pêlo, no campo e na floresta: e, se preciso fôr, estabelecer zonas de refú- gio onde será proibido, em absoluto, o exercício da caça. Nessas zonas ou áreas reservadas, a caça será protegida contra os predadores, ela encontrará alimento em abundância, proliferará e servirá para povoar as áreas circun- vizinhas ; desta forma, contribuirá para aumentar e conservar a fáuna indíge- na em seu “habitat” natural. RELATO DE VLiGEM AO SUL DE MATO GROSSO Por Nicolau Tebecherani do Clube Zoológico do Brasil RELATO DE VIAGEM — Na qualidade de caçador amador. LOCALIZAÇÃO — Estado de Mato Grosso — parte Sul. ZONA — Partindo de Campo Grande, — em di- cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 186 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série ) Vol. III iV.«s 3/i — I93S reção a Ponta Porã, com derivação para Bela Vista, — compreendendo assim: Entre-Rios, Boliche. Sêco, Serrote, — Fazenda Gabinete, — Maracajú, — Rios Brilhante e Sta. Gertrudes, — Fazenda Carrapatos, — Fazenda Mustarda, — Coqueiral, — Fazenda Vira-Mão e Campo Grande. INFORMAÇÕES — Na certeza de que êste relato possa in- teressar aos que demandam aquelas paragens, todos os que assim o fi- zerem, irão encontrar, antes de mais nada, um povo excessivamente hos- pitaleiro e essencialmente gentil e obsequiador. Os campos c as matas, são perfeitamente limpos e acessíveis. A caça é abun- dante e, a variedade é enorme. Uma vez feito êste resumo, e, an- tes de iniciar o Relato de minha viá- gem, devo confessar que ha muitos anos alimentava o desejo de visitar o Estado de Mato Grosso, afim de lá ca- çar, pois que, sentia-me atraido pelas narrações dos que lá já haviam esta- do, hesitando, porém, em fazê-lo por fatores diversos. Entrementes, tive a felicidade de travar conhecimento e depois relações de amizade e cordiali- dade com o muito ilustre Dr. Cle- mente Pereira, dd. Gerente do Clube Zoológico do Brasil, que me animou fortemente para que eu reali- zasse o desejo enorme de ir caçar na- quele Estado. As palavras e os ensi- namentos claros e precisos dêste se- nhor, perfeito conhecedor das coisas brasileiras, calaram fundo em meu es- pírito e, facilitado dêste modo, resolvi essa viagem. E assim, em companhia dos ami gos José Leonardo de Lima, funcionário do Museu Paulista, A b i b José e Jorge Gebara, indus- triais paulistas, todos sócios do Clube Zoológico do Brasil, partimos de São Paulo a 21 de agosto p. p., com destino a Campo Grande, interrompendo a nos- sa viagem duas vezes: a l. a em Baurú, afim de lá nos juntarmos a mais dois companheiros que viriam de Itápolis e que eram os srs. Salim Iamim e dr. Orlando Cremocoldi. A 2. a interrupção se deu em Campo Grande, onde deveriamos esperar a nossa baga- gem. Como nesta cidade matogrossen- se, a nossa bagagem não chegára com o trem em que viajámos, tivemos neces- sidade de permanecer lá durante dois dias. Essa espera, longe de nos ente- diar, veiu, pelo contrário, favorecer os nossos prognósticos, porquanto, em Campo Grqnde, tivemos a oportunida- de de travar as melhores relações de amizade com o povo daquela cidade. Assim é que, atendendo a uma medida de ordem superior, o meu primeiro cuidado nesta cidade foi o de me apre- sentar ao comando da Nona Região Militar, a cujo Comandante da Praça apresentei os demais companheiros, afim de nos munirmos dos respectivos salvo-condutos, que nos facultassem a introdução no interior daquele Estado. Isto feito, e, enquanto esperavamos pela bagagem, fui apresentàdo, bem Notas de Amadorismo 187 Çomo meus companheiros, às pessoas influentes da cidade, e, aos comercian- tes de Tá. Até aqui, a minha impressão de viágem, sob o ponto de vista topográ- fico, foi além de minhas espectativas. ^’ão sabia se havia de admirar mais o engenho do homem, ou, a obra da na- tureza. No primeiro caso, salienta-se em ininha retina a formidável ponte metá- lica que atravessa o Rio Paraná e que serve de divisa aos Estados de São Paulo e Mato Grosso, bem assim, a la- voura imensa que se expande de lado a lado de todo o curso da Estrada de cuidados e trabalhos para aquilo em que a terra lhe é propícia, como seja : exloração da madeira, vacarias e seus subprodutos, etc. No segundo caso, a obra da natu- reza dotou êste país de paiságens verdadeiramente estonteantes, dando margem para os mais belos quadros que se possa imaginar, já quanto às suas matas, já quanto aos seus cam- pos eternamente verdes, já quanto aos seus rios caudalosos e de uma sinuo- sidade admirável. Não sendo dotado de espírito for- te para a literatura, e, não desejando massar muito àqueles que necessita- Partida do rio Cachoeira , erro - E as fazendas modelares, cujas -''cdes e casas de colonos perfeitamente «‘linhadas e tratadas, denotam um per- eito cuidado e ótima organização. st °, em território paulista! Já ao en- trar mos em território matogrossen- Se > o homem, então, amolda os seus rem apenas das coisas referentes à caça, passo a enumerar o que foi a nossa estadia na zona compreendida no resumo acima. Uma vez chegada e desembaraça- da toda nossa bagagem, e, munidos não sómente dos salvo-condutos, como 188 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vai. III N.°s 3/4 _ 193S também de inúmeras apresentações a fazendeiros daquelas redondezas, pu- zemo-nos em marcha no dia 25 de agosto p. p. com destino a Entre-Rios. Percorremos 9 léguas de estrada, no alto de um caminhão que já ia abarro- tado pela bagagem e ainda os 5 cães de caça, passando por Boliche Séco, um aglomerado de casas toscas, um pequeno armazém e casa de pasto, onde descançamos um pouco. Logo, em seguida puzemo-nos em marcha, dirigindo-nos para a Fazenda Gabine- te, onde, por informação de pessoas de Serrote, deveriamos encontrar gran- de quantidade de caça. Nesta nos- sa caminhada, atravessamos campos enormes, eivados de perdizes, porisso que ouviamos constantemente o seu piar. Empolgado pelo chamado daque- las aves, pedi que parássemos o ca- minhão, e indiquei aos companheiros os diversos sentidos em que êles se de- veriam dirigir. E, assim fizeram. Esta rápida parada, apenas serviu para ex- perimentarmos as nossas armas, pois, que para isso já estavamos anciosos. Estamos chegando à Fazenda Ga- binete, de propriedade do sr. Anto- nio Barbosa. É uma ótima estân- cia. Dotada de bôas águas, terreno perfeitamente plano, ótima casa de moradia e de bôas casas para empre- gados e respectivo administrador. É preciso dizer que para aqui viémosjjor mera casualidade, porquanto não fazia parte do nosso roteiro de caça. Em uma de nossas paradas na Estrada, encontrámo-nos, isto é, passou por nós um senhor, irmão do atual proprietá- rio da Fazenda acima, que nos infor- mou e pôz mesmo à nossa disposição a fazenda de seu irmão, porque lá en- contraríamos o suficiente para passar- mos uma bôa temporada caçando per- dizes e codornas, que havia em quan- tidade. Chegando à Fazenda acima, fomos recebidos pelo administrador que, de- pois de preenchidas as medidas pro- tocoláres e alguma palestra, indicou- nos onde poderíamos acampar e ficar à vontade. E assim fizemos. No dia seguinte, muito cedo, cada um de nós tomou o seu rumo. Fez-se uma bôa colheita, porquanto, ao regressar, ao todo, pudemos contar umas 3 dúzias de perdizes e algumas codornas. Eu, apezar de haver feito e cumprido tam- bém com a minha tarefa, não fui dos mais felizes, porque o lugar escolhido por mim era constituído por uma bai- xada pantanosa, e, além da improprie- dade do terreno que dificultava a mi- nha ação, fui atacado por um enxame de marimbondos, que não pude perce- ber num arbusto. E, si é verdade que picada de marimbondo purifica o san- gue, de acordo com a lenda do cabo- clo, o meu sangue, nêsse caso deve ter ficado bem puro. Nesta Fazenda, a perspectiva de caça era muito bôa, porém, a nossa ansiedade em conhecer novas regiões, fez com que, de novo, levantássemos acampamento, rumando para Maraca- já. Tínhamos conseguido por especial favor, uma apresentação para o Pre- feito de Maracajú. O pequeno distrito desta cidade, dista da Fazenda Gabi- nete 12 léguas mais ou menos. Em meio desta nova marcha foi que expe- rimentei uma grande sensação, pela primeira vez em minha vida de caça- dor. Nesta parada, cada um de nós saiu para um lado à procura de perdi- zes, porquanto o lugar parecia bom. E, assim, à distância de uns 150 metros fora da estrada, enquanto os cães fare- javam nos rastros de perdizes, vi, sur- preendido, que de uma masséga saí- ram alguns veados, espantados com a minha aproximação, saindo cada um para um lado. Eu, ainda que estarre- cido pelo inopinado do acontecimento, porquanto, de maneira nenhuma espe- rava por um fato dessa natureza, Notas de Amadorismo 189 "icompanhei na pontaria a corrida de Um dêles e, na ocasião propícia atirei, sem contudo estar preparado para esse genero de caça, pois, o chumbo conti- do no cartucho era n. 6, impróprio para matar veado. Assim mesmo, consegui guma coisa de interessante, fossem dadas algumas pancadas na cabine onde se achava o “chauffeur”. E, isto, foi, evidentemente feito. Após as pan- cadas e consequente parada do cami- nhão, ouvi alguns disparos, sem que Travessia do rio Brilhante, em balsa acertar na cabeça do animal, que caiu 'mediatamente. Possuído de comoção *" ao mesmo tempo de contentamento, f ui até o lugar onde o animal havia caído, para me certificar que, de fato, ele havia sido atingido pela carga. Chamei imediatamente pelos compa- nheiros, que acudiram e me ajudaram 1 arrastar o veado até o caminhão. l J roseguindo nossa viágem, depois de "ma légua, mais ou menos, avistei "'ais alguns veados. Antes de tudo, devo dizer que entre nós existia uma combinação para em qualquer momen- to propício, em que se avistasse al- «ntretanto soubesse o que é que êles estavam atirando. Saindo depressa do caminhão e perguntando sôbre o que cies estavam atirando, responderam- me que eram alguns veados galheiros que estavam numa colinazinha ha uns 70 metros, mais ou menos. É preciso que eu diga, também, aqui, que devi- do a uma pisadura ocasionada pela minha bota, eu estava nesse momento com o pé em condições de não poder correr, nem de fazer movimentos bruscos e rápidos. Assim sendo, procu- rei um lugar adequado para fazer pon- taria sôbre um deles. Isto feito, e, 190 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N.°* 3/t — 193S como o galheiro estacionasse no lugar onde se encontrava, fiz mira e fogo, tendo apanhado o animal numa das patas trazeiras, quebrando-a, e alguns bagos de chumbo se localizaram pelo corpo. O veado, um tanto atônito, dei- tou e levantou de novo para correr numa distância de 100 metros, mais ou menos, com a pata trazeira levantada e balançando por estar quebrada e não poder apoiá-lo no chão. Os nossos com- panheiros sairam no encalço do ani- mal, correndo quanto podiam ; o nosso “chauffeur”, um paraguaio de nome A u r e 1 i a n o, e mais odr. Orlando correram mais proximamente. Eu, não podia fazer o mesmo, devido minha machucadura no pé. O veado, depois de correr uns 100 metros acima, caiu novamente, aí, já sendo alcançado de perto pelo paraguaio, que corria tanto quanto o veado. Ao se aproximarem, o veado tornou a levantar paia cair uns 15 metros mais além. E, não levantou mais, porque nesta situação, e, afim de evitar ao pobre animal maior sofri- mento, foi abatido pelo dr.Orlando. Seguimos novameute nossa viágem, rumo à Santa Gertrudes, que fica en- tre a Fazenda Gabinete e Maracajá. Aqui, neste pequeno lugar banhado pelo Rio Santa Gertrudes, existe uma casa de pasto, onde mandamos prepa- rar uma refeição. Enquanto, se prepa- rava o almoço saímos pelos campos e mandiocais, e, neste interim o sr. Lima e o “chauffeur” ficaram ti- rando a pele do veado galheiro. Em nossa saída pelas redondezas dêste lu- gar, alguns de nossos companheiros voltaram com alguns pares de perdi- zes. Em meio do almoço que já havia- mos começado ha pouco, apareceu um oficial do Exército, que se dirigia para Ponta Porã. Parando, chegou-se até nós e depois de uma rápida palestra e, antes que o mesmo se retirasse lhe oferecemos algumas perdizes que êle Na Fazenda Nina, rio Santa Gertrudes Notas de Amadorismo 191 aceitou de bom grado. Convidamô-lo para tomar uma cerveja, depois do que, em virtude de sua grande pressa, despediu-se de nós seguindo sua via- gem, rumo àquela cidade que serve de divisa entre o Brasil e o Paraguai. Daí nós voltando para a cidade, porque na mesma, se realizavam na ocasião al- guns festejos, entre os quais: carreiras de animais e de grande importância, atraindo gente dos lugares mais dis- tantes. Aqui, no Rio Cachoeira, abar- No retiro da Fazenda Viramão ha pouco chegou um piquete de sol- dados do Exército, que também se di- rigiam para a mesma cidade divisó- ria. Êstes, também, fizeram uma breve parada, durante a qual, tiramos algumas fotografias como lembrança do encontro. Depois de uma breve pa- lestra com éles, seguimos para Maraca- jú. Chegando a esta cidadezinha, apre- sentámo-nos ao prefeito local, que nos recebeu com toda cordialidade, pron- tificando-se a vir comnosco até o Rio Cachoeira, que passa por uma fazen- do distante de Maracajú 3 quilôme- tros. Aqui, o prefeito, sr. J o ã o Cân- dido, pessoa de fino trato e elevado espírito de educação, despediu-se de racámos e arrumámos todos os nossos apetrechos para as caçadas. Alguns dos companheiros saíram pelas redon- dezas, e, como os campos haviam sido queimados, não havia possibilidade de se encontrar caça, de natureza nenhu- ma. Enquanto, os companheiros pro- curavam qualquer coisa pelas redonde- zas, eu, e o companheiro Lima, fi- cámos no acampamento, extirpando e limpando as aves e peças necessárias para o Instituto Biológico de S. Paulo. No dia seguinte, como a expecta- tiva não era promissora, levantamos o acampamento, rumo à Fazenda Car- rapatos. Apezar de sua denominação, esta fazenda não tinha os carrapa- 192 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N.os 3/i — 1938 tos que o seu nóme sugere natu- ralmente, sendo, pelo contrário, uma propriedade limpa, cujas terras, perfei- tamente acessíveis, pertencem ao sr. Faustino de Moraes, adminis- trada pelo sr. A d o 1 p h o I u 1 e, pessoas também educadíssimas e so- bretudo de um espírito obsequiador à toda prova. Antes, porém, de chegarmos à Fa- zenda Carrapatos, tivemos de atraves- sar o Rio Brilhante e, como a balsa que faz a travessia dêsse rio, não su- portasse o pêso integral do caminhão e mais a carga que êle trazia, tivemos de descarregá-lo para que pudesse pas- sar sem novidade. Assim, passaram caminhão, carga, cães e os companhei- ros, e, enquanto isto se procedia, al- guns sairam pelas redondezas, conse- guindo matar algumas perdizes. Um nosso companheiro, sr. A b i b José nestas imediações, conseguiu abater um belíssimo exemplar para o Museu Paulista, que também trouxemos. Em caminho para a Fazenda Carrapatos, o sr. Jorge G e b a r a foi infeliz ao procurar abater um belíssimo galhei- ro, errando a pontaria. Chegámos a Fazenda Carrapatos. Aqui, fomos recebidos pelo adminis- trador sr. A d o 1 p h o I u 1 e, que gentilmente nos cedeu um galpão de madeira, coberto de zinco, para acam- parmos. Nesta fazenda, além de haver- mos caçado bastante e conseguido bons especimens para o Museu- e vís- ceras para o Instituto Biológico de S. Paulo, deu-se um fato bastante inte- ressante e que pode ser resumido as- sim : O amigo Jorge Gebara, procurando alguma caça, deu com uma codorna que um dos cães não demorou em amarrar e fazer levantar. Esta, era uma destas codornas chamadas “bura- queiras”. No seu vôo foi atirada por aquele nosso companheiro que, entre- tanto, não acertou no alvo. A codorna, pousou novamente, indo esconder-se como é seu costume, e, conforme o seu apelido indica, em um buraco. Ora, o sr. Gebara, tinha a certeza de que ela deveria le% r antar de novo, e, neste ponto insistiu. Vendo que a mesma não levantava, procurou-a por toda a parte com bastante curiosidade. Foi, então, que, sem esperar, viu que a co- dorna havia entrado em um buraco, no interior do qualMssta procurou se esconder, indo cair na boca de um tatú “peludo” que lá se achava. Nêste caso. o sr. Gebara, achando bastante interessante o fato matou o tatú e, re- tirando-o do buraco o mesmo tinha na boca a codorna que êle tanto procura- va, já esmagz^la. Na Fazenda Carrapatos, permane- cemos por mais dois dias, rumando de- pois para a Fazenda Mustarda. Em caminho para esta fazenda, deparámos com mais alguns veados galheiros que procurámos abater. Desta tarefa, ficou incumbido o nosso amigo José Lima que tomou todas as precau- ções para ver coroado de êxito o seu trabalho. E. foi assim, que tomou po- sição, apoiando a arma em cima de um arame de cêrca, meio bambo. O veado achando interessante essa posi- ção. porque nunca havia visto atirar daquele geito, ficou olhando, olhando, sem se mecher do lugar. O Lima implicado com o olhar do veado e, ven- do que ele não se mechia, apezar de já haver atirado 4 vezes, deu mais um tiro que foi passar raspando no ani- mal e. foi então que êle resolveu fugir, de rabo erguido. Em seguida, fomos para Coquei- ral. pequena vilazinha, onde pudemos colher algumas informações sôbre as redondezas. Tendo um patrício me in- formado que na Fazenda Vira-Mão, de propriedade do sr. O 1 i v i o d e Oli- veira Ba r b o s a, poderiamos en- contrar uma grande quantidade de caça e assim nos divertir um pouco. As- sim sendo, e, depois de um breve des- Notas de Amadorismo 193 canço em Coqueiral, rumamos para a referida fazenda, onde nos rèéeberam muito bem o seu proprietário e seu fi- lho Generoso, ambos de eleva- do espirito de educação e amabilidade. Chegamos nesta fazenda já ao escure- cer e armamos as nossas barracas. Nessa mesma tarde, alguns compa- nheiros, enquanto, armávamos as bar- racas, percorreram as redondezas, vol- tando com algumas perdizes. o “chauffeur” foi à procura dos vea- dos que havíamos visto, fazendo al- guns disparos. Chamando atenção do já amigo Generoso, êste seguiu para aquelas imediações e, munido de um mosquetão, conseguiu divisar e fa- zer mira sôbre um dos veados abaten- do-o com aquela arma; feito isto, trou- xeram o animal para o abarracamento. Nestas lagoas, consegui algumas peças juntamente com os companheiros, que Fim de cacada na Fazenda Viramão No dia seguinte, o filho do fazen- deiro sr. Generoso, eu. Lima e A b i b José, fomos à procura de algumas lagoas lá existentes afim de ver se podíamos caçar alguma coisa interessante. Em caminho para lá, dê- mos com um bando de veados, que en- tretanto, fugiram de longe sem poder- mos siquer atirar. Chegando a uma das primeiras lagoas, logo à chegada, consegui abater uma Garça Real e al- gumas marrécas. Logo mais adiante. eram de utilidade para o fim a que nos destinamos, ber\ assim, alguma caça. Em nossa volta, o sr. O 1 i v i o Barbosa, nos ofereceu um lauto almoço que decorreu no meio da maior cordialidade, depois do que, procurou cercar-nos de todo cuidado e necessá- rio conforto, o que nos deixou verda- deiramente sensibilizados pela maneira fidalga e elevação de sentimentos. Finalizando, devo dizer que esta minha primeira viagem ao Estado de cm l SciELO 194 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Sévie) Vol. III N. 3/4 — 1938 Mato Grosso, serviu não somente para matar a minha grande curiosidade, como também, serviu de lição, ensi- namentos dos quais procurarei tirar o maior proveito possível para futuras caçadas, cujas épocas, naturalmente variarei, porquanto, o melhor tempo para caçada dessa natureza, são os me- ses de junho e julho, quando o calor não é intenso como nos meses de agos- to e setembro, época em que lá esti- vemos. Regressámos a São Paulo no dia 7 de setembro, encantados com essa viágem àquela hospitaleira terra de Mato Grosso, prometendo a nós mes- mos voltar, se fôr possível, para o pró- ximo ano, com a vantágem, de já co- nhecermos as parágens, costumes e lu- gares adequados e apropriados. RESULTADOS TÉCNICOS DA VIAGEM AO SUL DE MATO GROSSO * Tenho a honra de passar às vossas mãos conforme pedido de V. S., o re- latório referente a viágem realizada ao sul do Estado de Mato Grosso, no pe- ríodo de 23 de agosto a 5 de setembro do corrente ano, na qual, sob minha orientação, tomaram parte alguns ca- çadores de São Paulo, sócios do Clube Zoológico do Brasil, prontificando-se a colher material helmintológico para o Instituto Biológico de São Paulo. Devido à pouca prática dos excur- sionistas, o resultado não poude preen- cher formalmente a bôa vontade e in- teresse da responsabilidade assumida, porquanto foi curta a permanência na- quela zona, não sendo possível obter o resultado almejado. Contudo serviu de experiência, pois que poderão eles nas futuras viá- gens, uma vez bem orientadas e orga- Por José Leonardo Lima Taxidermista-modelador do Museu Paulista. nizadas, assumirem uma responsabili- dade maior e com avultado êxito. Na qualidade de funcionário do Museu Paulista, fui incumbido de aproveitar as aves e mamíferos que fossem abatidos e bem como prepará- los, serviço êste que me impediu quasi que intciramente, de me preocupar com outras cousas, motivo pelo qual. minha responsabilidade foi grande Incluso a êste relatório envio uma lista do material coligido e entregue a V. S. com os devidos nómes científi- cos para a boa marcha dos trabalhos técnicos dêsse Instituto. Esperando dessa maneira, ter-me desempenhado a contento, aproveito- me do ensejo para apresentar-vos os protestos de minha mais alta estima e consideração. i (•) Descrita no artigo anterior a êste. Notas de Amadorismo 195 Lista do material coligido no Estado de Mato Grosso para o Instituto Biológico do Estado de S. Paulo Vidros contendo intestinos de aves 1 Vidro com intestino de Guacho? (Cacicus haemorrhous apha- nes) 1 JJ 99 99 99 Curiango (Podager nacunda) 3 99 99 99 99 Codorna buraqueira (Nothura minor) 2 99 99 99 99 Galito (Alectrurus tricolor) 1 99 99 99 99 Pica-páu carijó (Chrysoptilus melano- chloros nattereri) 5 99 99 99 99 Tucano-assú (Ramphastos toco) 1 99 99 99 99 Seriema (Cariama cristata) 1 99 99 99 99 Socó-boi (Tigrisoma lineatum marmo- ratum) 1 99 99 99 99 Quéro-quéro (Belenopterus chilensis lampronotus) 7 99 99 99 99 Codorna (Nothura maculosa) 2 99 99 99 99 Rolinha (Columbigallina talp. talpa- coti) 3 99 99 99 99 Rolinha cascavél (Scardafella squama- ta squamata) 4 99 99 99 99 Pintasilgo do bréjo (Pseudoleistes guirahuro) 1 99 99 99 99 Pomba do Ar (Columba rufina sylves- tris) 1 99 99 99 99 Saná-côcá (Thamnophilus doliatus ra- diatus) 1 99 99 99 99 Pica-páu cabeça vermelha (Phloeoce- astes robustus) 1 99 99 99 99 (Pyrocephalus rubinus) 1 99 99 99 -3 9 Urubú de cabeça vermelha (Cathartes aura ruficolis) 1 99 99 99 99 Gavião Carancho (Polyborus plancus brasiliensis) ? 99 T) 99 99 Ema, Avestruz (Rhea americana in- termedia) 6 99 99 99 99 (Leistes militaris superciliaris) 4 • 99 99 99 99 (Geobates poecilopterus) 32 99 99 99 99 Perdizes (Rhynchotus rufescens ru- fescens) Além dos vidros já mencionados, há 7 pequenos tubos com vermes, malófagas, etc. 196 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III N .° s 3/4 — 1938 AS ATIVIDADES DO CLUBE ZOOLÓGICO DO BRASIL EM DEFESA DE NOSSO PATRIMÔNIO FAUNÍSTICO Com a devida vénia, transcreve- mos alguns trechos de uma entrevista publicada pela “Folha da Manhã”, em 24 de julho dêste ano. Disse o nosso entrevistado: — “O Clube Zoológico do Brasil, no desenvolvimento de seu programa de ação, está desempenhando o papel muito interessante, para o nosso meio, de coordenador das justas exigências das autoridades estaduais, encarrega- das da execução da lei de caça e pes- ca, de um lado, e das aspirações dos caçadores e pescadores conscientes, de outro lado, sem perder de vista as ne- cessidades legítimas dc proteção re- queridas pelo nosso patrimônio fau- nístico”. — “Para citar, apenas, um exem- plo entre muitos, vejamos o mais re cente: queixavam-se os caçadores do* campos da zona sul do Estado, de que, com a proibição absoluta da caça du- rante oito meses do ano, a caça de pena tendia sem dúvida a aumentar; entretanto, durante êsse tempo de re- pouso, aumentavam também os ani- mais predadores e, como estes se alimentavam principalmente à custa da caça de pena, esta acabava em úl- tima análise por ficar reduzida, uma vez que era destruída, alternadamen te, pelos caçadores e pelos animai^ daninhos. As autoridades encarrega- das de fazer cumprir a lei de caça « pesca, pela própria natureza de seu serviço, ficavam inhibidas de fazer concessões nesse terreno, pois havia grande dificuldade em evitar os abu- sos. Ora, o Clube Zoológico se pron- tificou a tornai -se fiador do compor tamento de seus associados perante o Departamento de Indústria Animal, flo caso dêste Departamento concor- dar em conceder aos associados do Clube, que a desejem, autorização es- pecial para caçar animais daninhos durante todo o ano. O referido Depar- tamento, atendendo às finalidades que pretende atingir o Clube Zoológico dc Brasil, associação inteiramente devo- tada ao estudo da nossa fáuna e à di- fusão do gosto pela natureza em nos- so meio, agremiação de zoólogos pro- fissionais e amadores da Zoologia que sentem a realidade de nossos proble- mas e que uniram inteligentemente seus esforços para a obtenção dos re- sultados almejados, não teve dúvidas em deferir o pedido do Clube Zooló- gico, a título de experiência”. — “O traço mais interessante da concessão obtida pelo Clube Zoológi- co, a meu ver, foram as bases em que ela foi colocada: a substituição das garantias fornecidas exclusivamente pela vigilância oficial, que, atendendo à nossa vastidão geográfica e ao re duzido corpo de funcionários , para êsse fim designado, tem que ser ne- cessariamente insuficiente, pela cola- boração com os sócios caçadores do Clube Zoológico, o que apresentará, sem dúvida, maiores resultado* práti- cos. Realmente, os sócios do Clube Zoológico assinam um compromisso, sob palavra, de não usar Indevidamen- te a licença especial obtida; quem nào fõr capaz de cumprir a palavra empenhada será considerado indigno de pertencer ao Clube Zoológico e portanto eliminado de seu quadro so ciai. Assim, cada caçador consciencio- Notas de Amadorismo 197 so, automaticamente, será um vigilan- te da conduta de seus companheiros, para que a medida possa continuar em execução. Outro aspecto muito importante desta medida será o de, pela exclusão dos elementos possivelmente faltoso-», fazer com que possamos ficar, em curto prazo de tempo, com uma rela- ção bem exata dos verdadeiros caça- dores, daqueles homens realmente ca- pazes de, estando armados, resistir a tentação de matar, por simples selva - geria, uma caça encontrada durante a estação proibida. O caçador que abater animais ua- ninhos procurará sempre verificar j conteúdo do estômago desses animais, para deste modo ser possível consoli- dar, devidamente, o conceito oe ant- mal daninho em nosso meio". E encerrando a palestra que ao * concedera, afirmou o dr. Clemente Pe- reira : — “ Veritica-se, por estas intor- .nações, a grande vantagem que tra l o Clube Zoológico do Brasil, associan- do os técnicos da Zoologia com os amadores em geral”. AOS SÓCIOS DO CLUBE ZOOLÓGICO DO BRASIL O Clube Zoológico do Brasil, prosseguindo na sua campanha . em pról de um melhor conhecimento e de um maior incentivo à proteção da fauna brasileira, reconhecendo que os animais predadores desempenham apreciável papel na devastação da caça, sugeiu ao Departamento de In- dústria Animal da Secretaria da Agri- cultura a possibilidade de os sócios do Clube Zoológico poderem ter uma autorização especial para a caça des- ses predadores. O Departamento de Indústria Animal, demonstrando a mais eleva- da compreensão do assunto, dispoz-se a tentar uma experiência nesse senti- do com o Clube Zoológico do Brasil, atendendo não só aos altos propósitos com que seus estatutos e programa de trabalho encaram os problemas relativos á nossa fauna como ainda ao seu passado, todo êle devotado ao melhor conhecimento e proteção dos nossos animais. Êste acordo coloca o Clube Zoo- lógico do Brasil na situação de fia- dor, perante o Departamento de In- dústria Animal, da conduta de seus associados que pretenderem caçar ani- mais nocivos. Por outro lado, o mes- mo acordo constitúe uma interessante tentativa de colocar o exercício da caça em um nível mais elevado quan- to ao seu policiamento, pelo reconhe- cimento de uma elite de caçadores conscientes, capazes de cooperar leal- mente com as autoridades competen- tes na defesa eficaz de nosso patri- mônio faunístico. O sócio do Clube Zoológico do Brasil que não tendo sido autuado por infração do Código de Caça e Pesca, se interessar 'pela concessão acima re- ferida pagara uma taxa anual de . . . 10$000 ao C. Z. B„ que a aplicará cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 198 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) VoL .lII A\<* 5/4 — 1938 integralmente na publicação do “Bo- letim Biológico” e assinará o seguin- te compromisso: Sob minha palavra não usa- rei indevidamente a autorização especial que, atravez do C. Z. B., o Departamento de Indústria Animal houve por bem me con- ceder, limitando-me a matar, no período de proibição da caça, ape- nas os animais nocivos que cons- tam da lista anexa. Devido à delicadeza do com- promisso assumido pelo C. Z. B., reconheço que, caso as autorida- des competentes provem ao C. Z. B. alguma transgressão feita por mim às disposições de caça ■em vigor, seja com toda justiça cassada minha caderneta ou au- torização, considerando-me ao mesmo tempo automaticamente excluido do quadro social do C. Z. B. Procurarei sempre verificar o conteúdo do estômago dos ani- mais daninhos abatidos, guardan- do amostras para serem estudadas pelos técnicos do C. Z. B. S. Paulo. . . de de 1938. Assinatura do caçador. C. Z. B. 199 C. Z. B. ATAS DAS SESSÕES EM 1938 Sessão ordinária de 5 de janeiro de 1938 Na sessão ordinária de janeiro, no salão nobre da Secretaria da Agricultu- ra, foram eleitos membros da Comissão Executiva da Secção Central do Clube Zoológico do Brasil, os seguintes consó- cios: Olivério Mario de Oliveira Pinto, Zeferino Vaz, Afránio do Amaral, Cle- mente Pereira, Adolph ■ Hempel. A. Cou- ta de Magalhães, J. de Paiva Carvalho e Raul de Mello, os quais, de acordo com os estatutos da Sociedade, escolheram para gerente o associado snr. Clemente Pe- reira, sendo designados para o cargo de editores, os snrs. Olivério Pinto e Zefe- rino Vaz, figurando os demais como cor- respondentes. O ex-gerente, snr. Agenor Couto de Magalhães, que, com abnegação exerceu o cargo durante três anos consecutivos, expôz a situação atual em que se encon- tra a Sociedade, lembrando a conveniên- cia de serem definitivamente incorpora- dos ao Clube os bens imóveis doados por alguns consócios c situados na Represa Nova de Santo Amaro, nesta Capital, no Parque da Estrela, no Rio de Janeiro e na cidade de Ubatuba. Apelou, também, o snr. Couto de Magalhães para a nova Comissão Executiva, no sentido de serem designados alguns consócios para cola- borar no plano de ereação de um Par- que de Reserva de Caça, cuja instalação está sendo objeto de minucioso estudo, por parte do Departamento de Indústria Animal. Ficou também deliberado que se dis- cutirá, na próxima reunião, as bases ne- cessárias para que S. Paulo possua, den- tro em bréve, o seu Jardim Zoológico, cuja finalidade científica c alcance re- creativo não é preciso mais encarecer. Para a constituição do próximo “Bo- letim Biológico”, orgão oficial da Socie- dade, o consócio Olivério Pinto já tem recebido originais de trabalhos a serem publicados, aguardando que lhe sejam encaminhadas outras colaborações para o mesmo fim. Sessão ordinária de 2 de fevereiro de 1938 Abrindo a sessão, o Snr. Dr. Clemen- te Pereira, gerente da Secção Central, comunicou que havia sido proposto para sócio, pelo Snr. Dr. Hildebrando Monte- negro, o Snr. Luiz Pisa de Sousa. Cedida a palavra ao Snr. Dr. Afranio do Amaral, êsse consócio fez longas re- ferência sôbre a Leimadophis poecilo- gyrus (“Jararaquinha do campo”), espé- cie não venenosa do Brasil, sôbre cuja biologia e distribuição geográfica dis- correu pormenorizadamente. Além dis- so, apresentou diversas novas sub-espé- cies geográficas e morfológicas da refe- rida espécie primitiva, frisando a ten- dência à especificação que se póde notar nas suas sub-espécies. A seguir foi dada a palavra ao con- sócio Snr. Dr. Ernst Marcus, que fez no- vas revelações sôbre a briozoofaur.a da Baia de Santos e apresentou duas esnécies novas, documentadas por magnificas pranchas coloridas. Uma das pranchas mais sensacionais foi a em que figuraram diversas larvas de briozoários, cujo tamanho natural não cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. III AV« .'t/í I93S 200 ultrapassa um quarto de milímetro e cuja beleza surpreendeu o auditório. O Dr. Paulo Sawaya, falando em se- guida, tratou de uma observação inte- ressante feita em Santo Amaro, junto à represa de Guarapiranga, referente à deslocação de um ninho de beija-flor, o que lhe permitiu concluir que ha um sen- tido nitido de orientação entre os Tro- O mesmo autor se referiu, a seguir, a uma excursão realizada na barra de Santos, salientando os magníficos resul- tados nela colhidos. Foi abundante a coleta de material zoológico, tendo sido obtida, com sucesso, a fecundação arti- ficial do ouriço do mar (Gen. Echinome- tra), que já vinha sendo tentada ha três anos seguidos. Sessão ordinária de 16 de março de 1938 Realizou-se cm data de 16 do corren- te, às 20,30 horas, no salão nobre da Se- cretaria da Agricultura, a reunião ordi- nária da Secção Central do Clube Zooló- gico do Brasil, correspondente ao cor- rente mês. O primeiro sócio inscrito foi o Dr. Oliverio Mario de Oliveira Pinto, que apresentou dois interessantes trabalhos. O primeiro, sob o titulo “Contribuição ao conhecimento das relações biogeo- gráficas das raças de Ramphastos moni- lís Miiller”, referiu-se a tucanos do Ama- zonas, remetidos ao Museu Paulista pelo colecionador Olalla, de Manaus. No se- gundo trabalho apresentado pelo mesmo consócio “Sòbre jacutingas de Mato Grosso, com referência à validez de Pi- pile cumanensis gravi (Pelz.)”, punha em confronto três raças de galináceos que habitam a America do Sul, mostran- do as diferenças existentes entre cada uma delas. Falou a seguir o Dr. Paulo Antunes, sòbre “Considerações sòbre fatos con- cernentes á febre amarela silvestre”. O iflutor fez um histórico detalhado das formas urbana e silvestre, tratando par- ticularmente desta última. Salientando que já havia sido dado um passo gigan- tesco no campo experimental, que visa esclarecer suficientemente a questão, ex- plicou o conferencista que o agente epi- demiológico ainda não era conhecido. Referindo-se longamente ao traba- lho desenvolvido pelos técnicos da Co- missão Rockfeller no Brasil, o Dr. An- tunes descreveu em que consistia o pro- cesso de viscerotomia, elucidando a questão da vacinação, respondendo a in- terpelações e pedidos de esclarecimentos da parte de vários consócios. Nada mais havendo a tratar, o Snr. Gerente referiu-se ás publicações no Bo- letim Biológico, pedindo que os sócios se manifestassem a respeito do número de separatas que interessa a cada um, pro- pondo que os autores de trabalhos ori- ginais recebam gratuitamente um deter- minado número de separatas. Sessão ordinária de 20 de abril de 1938 Na reunião da Secção Central do Clube Zoológico do Brasil, realizada em data de 20 do corrente no salão nobre da Secretaria da Agricultura, achavam-se inscritos diversos consócios que apresen- taram interessantíssimos trabalhos. Aberta a sessão, foi dada a palavra ao Prof. Ernst Marcus, o qual discorreu longamente sòbre briozoários perfurado- res de conchas. Explicando o maravi- lhoso trabalho realizado pelas colônias incrustantes desses animais, o autor re- feriu-se ao caso clássico observado, em 1854, em uma carapaça de Dolium, dando pormenores curiosissimos sòbre o meca- nismo fisico-quimico que promove a per- furação. Essa palestra foi profusamente ilus- trada por grande quantidade de esque- mas, e desenhos coloridos da briozoofau- na da Baia de Santos, sendo terminada pela apresentação de uma resenha deta- lhada de trabalhos publicados sòbre o assunto, por autores estrangeiros. Dada, em seguida, a palavra ao Prof. Paulo Sawaya, êste referiu-se á biologia de um parasito de baleia, capturado em 1936, em um baleóte que deu á costa na praia do Perequê, na Ilha de Santo Amaro. C. Z. B. 201 Analisando pontos curiosissimos da biologia desse crustáceo, que pertence ao grupo dos Amphipoda, o autor verificou que o especimen já havia sido minuciósa- mente descrito em 1834, lendo sido estu- dado em todos os seus detalhes, exceção feita do sistema muscular. O exemplar em apreço, que pertence ao gênero Ciamus, vae ser cuidadosa- mente descrito, nesse particular, em tra- balho que está preparando. Foram oferecidos à apreciação dos consócios diversos exemplares conserva- dos “in vitro” e inúmeras pranchas co- loridas. A seguir, falou o Dr. Afranio do Amaral que tratando de novo gênero de serpente opisthogiypha do Brasil, apre- sentou um trabalho altamente especiali- zado. O autor referiu-se longamente às três divisões principais da fauna herpe- tológica nacional, detendo-se nas formas que caracterizam os nossos colubrideos, «pie se relacionam com as espécies de vida subterrânea e as que são peculiares aos nossos viperideos e crotalideos. Exibindo desenhos e planchas, o con- ferencista discorreu pormenorizadamente sõbre um novo especimen, proveniente do norte do Paraná, incluído no gênero I.ioetherophis gen. nov. O Dr. Lauro Travassos Filho apre- sentou, a seguir, um interessante traba- lho intitulado “Contribuição ao conheci- mento dos Euchromiidae — IV. Gênero Cosmosoma Huebner, 1827”, os quais fa- zem parte de um grupo que encerra cer- ca de 150 espécies. Referindo-se à biologia dêsses Lepi- dopteros o autor exaltou particularidades interessantes da biologia dêsses insetos, apresentando uma rica e variada coleção, acompanhada de magníficos desenhos. Antes de ser encerrada a sessão, o Dr. Afranio do Amaral informou que haviam sido publicadas no órgão oficial do Instituto Butantan as últimas modifi- cações introduzidas nas Regras Interna- cionais de Nomenclatura Zoológica, c convidou os consócios para assistirem à palestra que realizará, no dia 23 do corrente, na Secção Santista do Clube Zoológico do Brasil, sõbre a biologia do Cangambá. Sessão ordinária de 4 de maio de 1938 Na reunião ordinária do Clube Zoo- lógico do Brasil, realizada no dia 4 do corente no salão nobre da Secretaria da Agricultura, à rua Anchieta n. 2, falaram diversos oradores inscritos na ordem do dia. Tratando da ocorrência do Derma- nyssus gallinae (De Geer) no Brasil o Snr. Dr. Flavio da Fonseca referiu-se a peculiaridades interessantes dêsse para- sito de aves encontrado em galinheiros e pombais. Estes acareanos, tão conhecidos dos criadores de aves, podem pertencer às fa- mílias Liponyssidae e Dermanyssidae e são representados por artrópodos que atacam também o homem, produzindo um eczema papuloso seguido de coceira in- suportável. O autor demonstrou «pie a espécie existente entre nós é a Liponyssus bur- sae, não sendo comum no Brasil o Der- manyssus. Referindo-se aos gêneros Agriotes e Melanotos. o Snr. Carlos A. de Camargo analisou detidamente cada um deles, fa- zendo notar que o primeiro é oriundo da América do Norte e do México, sendo o segundo da Sibéria. Depois de se referir à ocorrência dêsses elaterideos no Brasil, o autor exa- minou pormenorizadamente o trabalho do Snr. José de Campos Novaes e fez alusão à inclusão dêsses gêneros no ca- tálogo do Prof. Costa Lima. Apresentando exemplares montados em alfinetes entomológicos, o Snr. Ama- deu de Camargo fez longa demonstração dos caractcrislicos dêsses gêneros, refu- tando as afirmativas de sua presença en- tre nós e atribuindo à falta de bibliogra- fia suficiente o engano cm que incidiram os tratadistas que se ocuparam do assunto. Pretendendo desenvolver convenien- temente a parte esportiva do Clube, o consócio Snr. Dr. Flavio da Fonseca pro- poz que os sócios caçadores formassem um grupo para estudar as possibilidades de se montar um canil, onde os interes- sados pudessem encontrar matilhas per- feitamente adestradas e cuidar também do aperfeiçoamento da raça de cães na- cionais. Aceita imediatamente a proposta, fi- cou constituída uma comisão para se en- caregar dos primeiros estudos, marcan- do-se para o dia 10 do mês em curso a primeira reunião dos interessados. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Serie) Vol. UI 3/4 _ 1938 Sessão ordinária de 8 de junho de 1938 Beuniti-se no dia 8 do corrente às 21 horas na sala de leitura da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comér- cio de S. Paulo, gentilmente cedida para esse fim, o Clube Zoológico, tendo sido ilebatidos os seguintes assuntos: Dr. Paulo Sawaya falou sôbre a mi- gração das btdeias, apresentando os ma- pas de captura organizados pacientemen- te por Townsend, diretor do Aquário de Nova York, que teve ocasião de coorde- nar todos os dados registrados pelos na- vios baleeiros, desde mil setecentos e poucos até perto de nossos dias. De- monstra os roteiros das várias espécies, bem como a pasmosa devastação sofrida por êstes mamíferos, detendo-se parti- cularmenle sôbre os cetáceos que surgem no litoral brasileiro e sôbre a importân- cia que a indústria das baleias desempe- nhou em certa fase do nosso desenvolvi- mento econômico. Dr. Plinio de Barros Monteiro dis- corre sôbre uma introdução à oceanogra- fia, citando as principais grandes viagens de exploração do mar realizadas por al- guns paizes europeus e pelos norteameri- canos, bem como indicando algumas das' mais notáveis estações para o estudo da biologia marinha. Trata da origem da salinidade da água do mar, dos elementos banais e raros nela encontrados e de suas variações locais, que repercutem sôbre a distribuição das fauna e flora marinhas. Dr. Adolph Hempel aborda em se- guida alguns aspetos interessantíssimos da repercussão que está começando a ter a aplicação da lei que regula a caça em nosso Estado, citando alguns exemplos sugestivos e termina apresentando suges- tões para modificação da presente lei, que viriam corrigir as atuais anomalias. To- das as teses foram intensa e proveitosa- mente discutidas, principalmente, por seu carater prático a do Dr. Hempel, tendo ficado estabelecido que o gerente do- "Clube Zoológico” fizesse chegar às au- toridades competentes as sugestões do autor, para serem devidamente estuda- das no que diz respeito à sua aplicabili- dade. O trabalho do Dr. Adolpho Hem- pcl sái publicado no presente número, nas “Notas de Amadorismo”. Sessão ordinária de 6 de julho de 1938 O Clube Zoológico do Brasil, reali- zou em 6 de julho, no salão nobre da Secretaria da Agricultura, sua reunião mensal. Como as anteriores, despertou grande interésse e concorrência, tendo compa- recido elementos representativos do nosso meio cultural. Os trabalhos, que se prolongaram até tarde foram presididos pelo Snr. Clemen- te Pereira, gerente do Clube Zoológico, Deu inicio às palestras o prof E. Marcus, que, discorreu longamente sôbre “A pri- meira Loxomatida (bichinho colherifor- me) da América do Sul”. O orador des- tacou que se tratava de comunicação su- mamente interessante, pois que êste Brisoário é o primeiro solitário da costa atlântica da América do Sul. Vivem fi- xos sôbre animais que produzem crispa- ções nas águas e médem apenas 1/3 de milímetro. O prof. Marcus referiu-se também às relações, sob o ponto de vista zoo-geográ- fico, entre o Oceano índico e a Costa Atlântica do Sul, ponto que mereceu par- ticular atenção da numerosa assistência: Em seguida, usou da palavra, o Snr. Prof. Paulo Sawaya o qual falou sôbre a “2. a Conferência Internacional para a Proteção da Fauna e da Flora”, dizendo que essa conferência se reuniu em maio em Londres, com o comparecimento de todos os paizes. que têm colonias na Áfri- ca, além de outros. Passando a historiar os trabalhos dêsse Congresso, cuja im- portância resaltou. o prof. Sawaya Obser- vou que o delegado sul-africano chamou a atenção, na Conferência, para o desen- volvimento do interesse popular pelo co-' nhecimento dos animais. Referiu-se o orador também a outros úteis assuntos tratados, como a instala- ção de reservas florestais, com proibição de moradia de nativos nas regiões reser- vadas. Por sua vez, o representante dê Portugal, assinalou o máu hábito da quei- ma de campos e matas, cujas consequên- cias sôbre a fauna são lastimáveis. Após, usou da palavra o Dr. Victor C. Z. B. 503 da Silva Gordo, que se referiu' de forma interessante sôbre os indios chavantes, no que diz respeito â caça. Depois de tratar de outros assuntos relativos à vida desses temíveis selvicolas, terminou reba- tendo com energia as acusações infunda- das sôbre a destruição de aves. de que são êles acusados por observadores su- perficiais. A seguir, o Snr. João Paiva de Car- valho, discutiu observações feitas sôbre o Código de Caça e Pesca. Assinalou a dificuldade da inexistência de cláusulas do Código que irritem o caçador. Sali- entou em seguida, que o coiote revelou- se, nos Estados Unidos,- bom comeoor de insetos, afirmando ainda que a raposa mostrou-se menos ofensiva do que se pensava, com relação à caça. E, termi- nando as suas reflexões, discorreu sôbre a importância da queima dos campos, sô- bre o aumento do número dos caçadores e. finalmente, sôbre o desenvolvimento dos animais predadores. Falou logo após o Snr. Clemente Pe- reira, comunicando que o Departamento de Indústria Animal concedeu aos sócios do Clube Zoológico do Brasil autorização especial para caçar animais daninhos du- rante o periodo proibido da caça. Antes de findar a reunião, o Snr. An- tenor Gandra fez considerações sôbre a colaboração que é indispensável estabele- cer entre as sociedades de caça e tiro, o Clube Zoológico e o Departamento de In- dústria Animal, na obra de policiamento da caça e reeducação dos caçadores, pro- metendo trazer para a próxima reunião um trabalho mais completo sôbre o as- sunto. Ao encerrar os trabalhos, o Snr. Cle- mente Pereira comunicou que, por acôr- do feito com a Sociedade Brasileira de Entomologia, o “Boletim Biológico”, ór- gão oficial do Clube, passará a ser tam- bém órgão oficial daquela instituição ci- entifica. Este acôrdo está publicado no presente número, a pag. Sessão ordinária de 6 de agosto de 1938 Na reunião de 3 do corrente, realiza- da no salão nobre da Secretaria da Agri- cultura, foram apresentados os seguintes trabalhos: F. Lane — Notas sôbre Lamiideos neotrópicos e descrição de espécies novas ÍCol.: Lamiidae) II — O tutor depois de fezer considerações gerais, sôbre a ocur- rência dêste grupo restrito, descreve e discute 3 novas espécies da região neotró- pica: Hoplistocerus purpureoviridis, As- goschema cinereum e Ilydraschema Ieu- costigma. spp. n., sendo os dois primeiros da coleção Zelliber-Hauff. de S. Paulo, e o último da coleção do Museu Paulista, onde se encontra registrado o tipo sob número 22. 92G. Drs. J. R. A. Guimarães e F. Berga- min — Sôbre um novo Mixosporídeo pa- rasita de peixe de água doce; Myxobolus kudoi n. sp. Os autores descrevem o en- contro dêste protozoário em um peque- no peixe de couro, no qual determina a formação de pequenos tumores brancos, visíveis externamente. Os peixes parasi- tados provinham da cachoeira de Emas, no Rio Mogi-Guassú. Prof. E. Marcus — .Sôbre Tardigrados do lago Titicaca. — Em 1917, uma co- missão ingleza teve oportunidade de co- lher lodo do lago Titicaca, na Bolivia, tendo sido seu material de tardigrados en- viado ao prof. Murr, de Strasburgo, de onde voltou recentemente para ser estu- dado em S. Paulo pelo Prof. Marcus. O autor teceu as mais interessantes consi- derações sôbre a distribuição deste notá- vel grupo zoológico, fazendo ver que o material boliviano, apezar das condições tão peculiares em que é encontrado, não contribuiu com nenhuma forma ainda desconhecida para a ciência. Refere-se ao conhecimento relativo que se tem dêste grupo, do qual, das 192 espécies conheci- das de terra e água doce, no mundo. 48 já foram encontradas na América do Sul, fazendo com que este continente já es- teja relativamente bem representado, nó que diz respeito ao número de espécies existentes. C. A. de Camargo — Uma viagem á cachoeira Dourada. O autor fez as me- lhores referências acerca desta grande ca- choeira, que fica sôbre o rio Parnaiba, nas proximidades de Santa Ritd, Goiáz. Indicou a maneira dela ser atingida com facilidade, atravéz de Uberabinha, e daí em diante por estrada de rodagem. Falou sôbre o grande rendimento de péscá nesse lugar e sôbre sua salubridade, que o tornam um verdadeiro paraizo do ama- dor de pescarias. Sua palestra foi ilus- trada còm um mapa e fotografias do lu- gar. cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 204 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N.™ 3/i — 193S Sessão ordinária de 14 de setembro de 1938 Realizou-se no dia 14 do corrente a reunião mensal do Clube Zoológico do Brasil, sob a gerência do Snr. Dr. Cle- mente Pereira, tendo sido tratados os se- guintes assuntos: Dr. Oliverio M. de O. Pinto — Apre- sentou uma relação das aves colhidas pela Bandeira Anhanguera, tendo antes feito referências elogiosas aos moços que em- preenderam a nobre tarefa tão desagra- davelmente terminada. O Snr. João de Paiva Carvalho propoz que os associados permanecessem um minuto em silêncio, como homenagem ao Snr. Hermano Ri- beiro da Silva, malogrado chefe daquela expedição, o que foi feito. O Dr. Oliverio proseguiu na exposi- ção, citando as pesquizas anteriores em regiões vizinhas c pondo em relevo o in- terêsse do presente material, que vem acentuar o papel do rio Araguaia como divisor faunístico. Dr. E. Marcus — Apresentou os re- sultados do estudo de uma coleção de Briozoários da ilha de São Sebastião, ofer- tada pelo Snr. João de Paiva Carvalho. Consta de 19 espécies, das quais 3 ainda não assinaladas em Santos, sendo que uma, nova para a ciência, será denomi- nada Zolloporella carvalhoi; das outras duas uma jà tinha sido encontrada na Baía e mar carábico, outra, anteriormen- te descrita pelo autor da ilha de Santa Helena; esta última, como outras espécies do litoral paulista, apoiando as hipóteses de uma ligação anterior transatlântica, pela primeira vez lançada por H. von Ihering. Dr. Sawaya — Trata da distribuição das fibras musculares lisas e estriadas nos diferentes grupos animais, fazendo resal- tar que a musculatura lisa é comum no tubo gastro-intestinal dos vertebrados, si bem que certos peixes, como os dos ge- nêros Cobitis, Tinca, etc., possuam-na es- triada. O músculo fechador das valvas dos moluscos do gênero Pecten são mis-' tos. Refere o engano de Bronstein sôbre a existência de fibras estriadas no tubo digestivo de Briozoários, o que não foi confirmado pelos trabalhos do casal .Mar- cus, com o emprego da técnica mais acurada. Dr. C. Pereira — Refere o resultado do exame de um bucho de veado abatido pelo Snr. João Migliari, com resultado ne- gativo para folhas de plantas úteis. O material foi entregue para estudo mais detalhado ao Snr. J. Toledo. Em seguida, o gerente comunica aos associados que êstes, de hoje em diante, poderão conseguir o registro de suas ar- mas de caça por intermédio do Clube Zoológico do Brasil, vantagem essa que poupa tempo e trabalho aos sócios do Clube. Sessão ordinária de 5 de outubro de 1938 Na sessão mensal do Clube Zoológi- co do Brasil, realizada a 5 de outubro, âs 20,30 horas, no salão nobre da Secretaria da Agricultura, sob a gerência do Dr. Clemente Pereira, foi observada a seguin- te-ordem do dia: Nicolau Tebecherani. — “Viagem ao Sul de Mato Grosso”. — O autor fez um relato permenorizado da caçada realiza- da êste ano no Estado de Mato Grosso, a qual teve, além da finalidade esportiva, o grande mérito de ter sido feita em co- laboração com duas instituições cientifi- cas oficiais, o Museu Paulista e o Institu- to Biológico de S. Paulo, às quais foram entregues, respectivamente, o material de aves e de helmintologia colhido naqtie'a região do pais. Prof. E. Marcus — “Observações sô- bre o gênero Alcyonidium. com descrição de nova espécie A. hauffi”. — O Prof. Marcus, ao estudar interessante material de Briozoários, oferecido ao Departamen- to de Zoologia da nossa Universidade pelo estabelecimento Natural-cientifico H. Zellibor & I. Hauff, desta Capital, te- ve oportunidade de encontrar duas notá- veis espécies do gênero Alcyonidium, das quas uma nova para a ciência: A. hauffi. Sendo espécie marinha, da baia de Santos, seu crescimento lem- bra, entretanto, o de certos Briozoários de água doce, apresentando caracteres anatómicos que o separam facilmente das 23 outras espécies do gênero. Êste gê- nero era tido por habitante das altas la- N C. Z. B. 205 titudes, mas já foi possível encontrar nele 3 espécies na baia de Santos. Uma espécie do nosso litoral recobre o substra- to âs pressas, extensivamente, com indi- víduos muito simples, desprovidos de in- testinos. Por ocasião da renovação pe- riódica do intestino, observa-se uma in- versão na polaridade do animal, surgin- do os novos tentáculos no fundo do pe- queno estojo. Lauro Travassos Filho. — “Alguns dados sôbre a “lagarta de pausinhos”, Oiketicus kirbyi (Lands-Guilding, 1827), Lepidoptera, Psychidae”. — Foram apre- sentados alguns exemplares desta curiosa borboleta, onde o macho é normal, mas as fêmeas não possum azas, permanecen- do enclausuradas na casca da última mu- da de pele, dentro do casulo, que é for- mado por gravetos amarrados com sèda. Os hábitos deste inseto, que às vezes ad- quire importância econômica, sugerem alguns problemas interessantes de biolo- gia, que o autor está presentememe ten- tando desvendar. O gerente abordou em seguida alguns aspetos atuais do amadorismo, expondo as considerações encaminhadas às autorida- des competentes, no que diz respeito á caça das aves de arribação e dos veados, nas zonas agrícolas. A seguir, esclareceu certas coiiínsões que têm surgido a propósito do combale aos animais daninhos, fazendo ver que a concessão feita aos associados do Clube, pelas autoridades competentes, continua de pé, não tendo surgido lato novo al- gum capaz de modificar a situação atual. NOTICIÁRIO ALFRED PÉRILLIER O Clube Zoológico do Brasil tem sofrido, nos últimos tempos, a perda irreparável de alguns dos seus mais conspícuos associados, para sempre roubados do nosso convívio social. Dentre êles, figura o nome do sr. Alfred Périllier, francês de nascimento, que veio para o Brasil ainda muito jovem, tendo labutado co- nosco durante cerca de quarenta anos. sendo uma das figuras mais salientes da Colônia Francesa, desta Capital. Como agente do “Comité des As- sureurs Maritimes”, de Paris, mani- festou sempre uma atividade verda- deiramente surpreendente, revelando- se um completo “home d’affaires”, em toda a extensão da palavra. Alfred Périllier seduzia a tantos quantos dele se aproximavam, pela sua figura excessivamente amá- vel e trato acolhedor. “Causeur” dos mais atraentes, discorria sóbre tudo e sôbre todos, com aquela luminosa fle- xibilidade intelectual que tanto o ca- racterizava. Foi um grande apologista de jo- gos esportivos, tendo o seu nome fi- gurado entre os fundadores do “Ra- cing Club”, de França e do Clube Es- péria, de São Paulo. Possuia inúme- ras medalhas e prêmios, levantados em memoráveis competições atléticas realizadas não somente nesta cidade, como na do Rio de Janeiro e em di- versos Estados do Norte do Brasil. Sua paixão pela cinegética torná- ra-o um dos melhores atiradores exis- tentes entre nós, sendo maravilhosa a sua coleção de armas de caça, cuida- dosamente tratadas e onde figuravam verdadeiras jóias de arte. das mais reputadas marcas. Como naturalista-amador, tor- nou-se particularmente notável pe- las interessantes observações que cos- em 1 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 200 BOLETIM BIOLÓGICO (Sova Série) Vol. III ,V.« 3"t 1938 tumava realizar a respeito da postura dêste ou daqúele representante da nossa avifauna e de particularidades biológicas curiosíssimas de alguns dos nossos mamíferos. Sua modéstia nunca permitiu que êle entregasse trabalho algum de di- vulgação ao nosso “Boletim Biológi- co”, mau grado as reiteradas promes- sas que fazia nesse sentido. Ingressou, expontaneamente, nas hostes do Clube Zoológico do Brasil. Interessou-se sobremodo pela divul- gação de alguns dos trabalhos realiza- dos em uma das nossas reuniões e, no dia imediato, pediu a inclusão do seu nome no nosso quadro social. Não é preciso dizer que foi recebido de braços abertos, nunca tendo dei- xado de emprestar o seu incondicio- nal apôio ao nosso Clube. A morte o colheu de surpreza, aos 73 anos de idade, vindo a falecer em consequência de um lamentável aci- dente. Encerrou a sua bela carreira de batalhador infatigável, deixando aos seus pósteros um explêndido exemplo de honestidade e intrepidez. O Clube Zoológico do Brasil, atravéz das colunas do seu órgão ofi- cial. presta-lhe esta derradeira e sin- cera homenagem. João de Paiva Carvalho. JULIO CONCEIÇÃO Foi com imenso pesar que, em •data de 10 de setembro p. p., a socie- dade paulistana recebeu a infausta noticia do falecimento, em Santos, da veneranda figura de J u 1 i o Con- ceição. São raríssimas as manifestações unânimes de sentimento, provocadas com tanta intensidade, como as que deram motivo o desaparecimento dês- se varão ilustre, cuja existência pre- ciosa sempre esteve voltada para o bem e para as cousas da nossa terra. Aos seus funerais compareceram centenas de pessoas, de todas as con- dições sociais, mergulhadas no mais sentido recolhimento de que é capaz um grande e indescritível pesar! Na sua câmara mortuária havia uma po- pulação inteira, sucumbida de dôr; lá fora, ao sol mortiço da tarde expiran- te. arrulhavam lugubremente aqueles alígeros columbideos que êle, com tan- ta bondade, acariciava todos os dias. As próprias flores do seu maravilhoso jardim pendiam desconsoladas como si uma grande lágrima pesasse em cada corola ... Seja-nos permitido lembrar o quanto a esta espontânea e natural de- monstração de pesar se associaram e ainda agora compartilham os mem- bros do Clube Zoológico do Brasil, sobremaneira abatidos ante a irreme- diável ausência do grande e sincero amigo que acabavam de perder. Todos os que se haviam habitua- do a admirar o .conjunto formoso de qualidades que nele tão notavelmen- te se encarnava, sabiam que pouco tempo de vida lhe restava; havia, po- rém. uma esperança febrilmente aca- lentada de que aquela centelha fulgu- rante se mantivesse acêsa por mais alguns anos, afim de que o seu bri- lho incomparável pudesse dar, ainda, ao nosso país, um pouco mais daque- le contagioso calor patriótico que foi, ♦alvez. o traço luminoso mais cara- cterístico da sua fecunda existência. Iníelizmente assim não aconteceu. A morte o colheu inesperadamente, co- brindo de luto uma cidade inteira, que tanto o amava, justamente no momento em que ela se preparava alegremente para celebrar os festejos imponentes do seu glorioso centená- rio. . . Santos perdeu, em J u 1 i o Con- ceição, um amigo sincero, cujó maior prazer consistia em ser útil áo seu semelhante ; todos os que o conhc- C. Z. B. 207 ceram sabem que êle se havia imposto a sublime tarefa de fazer o bem, sem alarde, dando a todos nós uma soma considerável de tão nobres exemplos, em tão curta existência! Desde que chegára a Santos, em 1885, em plena e radiosa juventude, impuzera-se ao conceito dos seus com- panheiros, pelo seu talento, pela re- tidão do seu nobre cafater, por uma acendrada veneração pelo passado e um respeito profundo pelos seus maio- res, qualidades que dignificaram sem- pre a sua mocidade inteira. Vindo de Piracicaba, onde nas- cera a 12 de março de 1864, trouxe para o torrão de Braz Cubas aquelas peregrinas qualidades que herdára dos barões de Serra Negra. Julio Conceição profligava ininferruptamente contra a assustado- ra obliteração moral que, a seu modo de ver, se observava em toda a parte lnsurgia-se contra a inópia pretenciosa e levantava-se contra a indignidade fecenina que via campear, sem frêio e sem medida, em certas repartições públicas. Era um espírito puro, im- pregnado de sadias idéias, pérola sem mácula, perdida no meio do charco imundo em que se sentia a vasa no- jenta querendo sobrepor-se a todo o custo . . . Não tem conta as associações de beneficência e as instituições filan- trópicas que se ergueram sob o influ- xo do seu magnânimo coração. Conservador, por convicção, abra- çou com ardór a causa abolicionista, tornando-se um dos maiores susten- táculos da campanha emancipadora. Nunca ninguém soube ao certo o que êle dispendeu em sacrifício pessoal e o que distribuiu fartamente da' sua própria bolsa, para conseguir pugnar pela libertação total dos escravos. O mesmo aconteceu quando, diante das proporções calamitosas assumidas pela epidemia de febre amarela que asso- lou Santos e Peruíbe. Correu êle, pessoalmente, em auxílio das popula- ções pobres, levando-lhes roupas, ví- veres, dinheiro e o seu conforto mo- ral. Nunca ninguém conhecerá per- feitamente a extensão da sua bonda- de, porque o benefício que êle hoje derramava a mãos cheias, era por êle próprio esquecido no dia imediato. Por ser um espírito adiantado, sofreu sempre a, oposição daqueles que não gozavam da faculdade de po- der compreendê-lo. Tentou instalar, em Santos, um forno crematório, ado- tando um processo original por meio de gazes, idealizado pelo dr. Bueno de Andrade, mas não logrou obter resultado à vista da oposição do cléro. Procurou agremiar os pobres pesca- dores em associações de classe e foi seriamente embaraçado no seu fouvá- vel intento por elementos alienígenas que exploravam o trabalho exaustivo do nacional. À frente da Sociedade Protetora de Animais de Santos e São Vicente, realizou prodígios, mau gra- do r i trabalho aleivoso com que pre- tenderam solapar a sua obra. visando ridicularizá-lo. Entretanto, os marcos luminosos por êle solidamente assen- tados no solo pátrio aí estão, inapaga- veis e insubstituíveis. Quer na orien- tação imprimida quando à frente da administração da Santa Casa de Mi- sericórdia. de Santos* quer no cum- primento fiel das disposições constan- tes do testamento de João Otá- vio dos Santos, relativamente k construção do Instituto Da. F.scoi Instica Rosa, mostrou-se êle de um-' operosidade inexcedível. Ainda nos últimos anos de vida, quando seria razoável esperar que a sua edade avançada, agravada pela hemiplegia que tanto o martirizava, contribuíssem para torná-lo um desi- ludido e um inútil, revelava-se Júlio Conceição de um dinamismo im- pressionante. Foi nesses derradeiros cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 208 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vot. 111 N.™ 3/4 — 1938 I anos que o seu entusiasmo se mostrou mais vibrante, tendo a sua atividade contribuido para a instalação da Sec- ção Santista do Clube Zoológico do Brasil, da Estação Biológica Julio Conceição, de Iguape e, ultimamente, do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, instituições a que deu sempre o melhor dos seus esforços. Fora do nosso porto marítimo en- contram-se, também, os traços gigan- tescos da sua passagem. Autor anô- nimo de grandes realisações e de obras de benemerência, deixou êle em São Paulo esse monumento grandioso que é o Instituto Pasteur, fundado em 1905 em colaboração com I g n a c i o Wallace da Gama Cochra- n e e outros companheiros. São in contáveis as suas doações feitas ao Museu do Ipiranga, algumas de valot extraordinário. Não podia ver uma moeda rara, um quadro célebre ou um objeto antigo que não se lembrasse do imponente estabelecimento que a r senta sôbre a colina histórica. Julio Conceição, dentro da sua incomparável simplicidade, possuía um temperamento vigoroso, próprio dos homens de ação. Seus pensamen- tos não eram apenas lançados ao pa- pel com o objetivo de integrar meros jogos intelectuais; sua capacidade de trabalho não se limitava a desperdício de palavras vans. Pelo contrário, êle mesmo coordenava, dispunha cuida- dosamente as - pedras dos edifícios que construía e representava o seu pró- prio papel, dentro do plano traçado. Foi assim que, certa vez, depois de ter ouvido uma demonstração me- diante a qual havia necessidade de se dar início à organização do Museu Zoológico da Secção Santista do Clu- be Zoológico do Brasil, Julio C o n c e i ç ã o concordou com todas as providências propostas nêsse sentido e propoz as emendas que julgou acer tadas. No dia imediato, apareceram na séde daquele Clube quatro grandes armários, carpinteiros e vidraceiros, prontos para a adaptação dos móveis destinados a abrigar as coleções ja existentes. De outra feita, havendo sido lem- brada a conveniência de ser formada uma biblioteca especializada, no mes- mo Clube, Julio Conceição quiz saber de quantas obras era ela constituída. Nessa ocasião, figuravam nas estantes do C. Z. B.. apenas 42 volumes! No outro dia, um emprega- do entregava ao Clube cêrca de doze trabalhos, com a promessa de que, oportunamente, seriam enviadas ou- tras obras. A promessa foi religiosa- mente cumprida dias após. Tal procedimento pareceu-nos, desjde logo, absolutamente extranho e incompatível com a mentalidade tórva da época atual, onde cada qual só tra- ta do seu interêsse mais imediato ou obedece a paixões mais de momento, sem ter a preocupação de lembrar-se de interêsses superiores nem aspirar a elevar-se a uma atmosfera onde pre- dominam sentimentos mais elevados. Não o conhecíamos perfeitamen- te bem e até o último momento em que com êle convivemos, tivemos re- velações verdadeiramente surpreen- dentes! Enquanto respirou, J u 1 i o Con- ceição foi o paladino mais galhar- do e mais tenaz que pugnou desteme- rosamente pela elevação da nossa cul- tura zoológica. Seu amor pela Histó- ria Natural não tinha limites. Tanto se entusiasmava com os problemas da geologia, como pelos da etnografia e da paleontologia. De tudo quanto delineou ou ten- tou realizar, alguma cousa ha de cris- talizar e ficar. Sua grande modéstia culminou no desejo tocante de fazer repousar os seus restos mortais no cemitério do Saboó, necrópole que êle creou com 1 G. Z. B. 209 outros companheiros durante a epide- mia da febre amarela e onde costu- mam ser sepultados os humildes e os indigentes ! Ainda é muito cedo para que se avalie a falta que Julio Concei- ção vai fazer. Muita lágrima escal- dante correrá pela face macilenta de algumas centenas de criaturas infeli- zes sem que o seu lenço amigo possa enxugá-las. As valas dos arredores de Santos se povoarão de anofeles peri- gosos porque os “Lebistes” não mais serão nelas colocados pela sua mão inteligente. Até mesmo os cães esfo- meados que perambulam pela Praia Grande sentirão a falta do pão velho que êle. lhes administrava quasi todos os domingos. Mas, Julio Conceição não morreu por completo! Sua memória paira, como um halo luminosos sôbre as nossas cabeças: sua sombra bondo- sa perpassa entre nós, retemperando as nossas lorças combalidas pela sur- preza brutal do seu inesperado desa- parecimento. Seu exemplo nos conta- minará, por certo e, da campa silen- ciosa e nostálgica em que repousam os seus ossos, algo de incompreensí- vel se despreenderá para depositar em nossas mãos trêmulas de comoção, aquela flexível espada de combate que êle soube sempre manejar com tanta maestria, em pról do Bem e do Belo. Julio Conceição não mor- reu por completo ! Suas ações aí es- tão, palpitantes, para nos induzir a alargar novas fronteiras espirituais, dilatando as linhas bisonhas e atro- fiadas do nosso egoismo feroz. João de Paiva Carvalho. ANTONIO ESTANISLAU DO AMARAL Com o desaparecimento de An- tonio Estanislau do Ama- ral, o Clube Zoológico do Brasil perde uma das suas mais representa- tivas figuras e a sociedade paulistana um dos seus mais caros valores. No seu dinamismo construtivo, na sua energia serena e máscula, na sua inquebrantável disposição para realizar obras duradouras e inolvidá- veis, vivendo a plantar os soberbos jequitibás, as formidáveis perobeiras e outros gigantescos representantes da floresta brasileira, êsse homem bem era a encarnação do bandeirante ho- dierno. Fervoroso amigo da natureza, sempre foi um devotado defensor do patrimônio faunístico indígena, dedi- cando-se com verdadeiro carinho aos estudos relacionados com a silvicul- tura. Os pássaros, os mamíferos, os peixes e até os insetos eram objeto da sua atenção constante e do seu es- tudo paciente sôbre seus hábitos e utilidades. Foi, realmente, um grande amigo da zoologia e também um te- naz estudioso da botânica. Um gran- de homem, enfim, que, por sua ex- cessiva modéstia, não apareceu no seu tempo. O Clube Zoológico do Brasil está de luto. Os seus amigos sentem esse estranho vazio que causa o desapare- cimento brusco desses admiráveis es- teios que amparam todas as iniciati- vas boas e patrióticas, Em Jundiai, na sua bela e aprazí- vel Fazenda Itaguaçú, onde, em filei- ras intermináveis, se alinham as nos- sas principais essencias, êle as percor- ria diariamente, examinando-as e co- lhendo, obscura e anônimamente, o prêmio do seu trabalho ingente de semear, plantar e colher os frutos das enormes árvores amigas que agora, tristes, deixam cair miríades de lágri- mas, de todos os matizes, que forram o chão por onde tantas vezes êle pas- sou. Elas jámais verão o seu bondoso amigo, que desapareceu para sempre, cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 210 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. UI N . os 3/4 — 1938 mas lá ficarão a testemunhar, no so- luçar silencioso da galharia imensurá- vel, as saudades imorredomas do pa- trono querido. Agenor Couto de Magalhães. ACORDO ENTRE O C. Z. B. E A S. B. E., SÔBRE A UTILIZAÇÃO DO “BOLETIM BIOLÓGICO” À reunião da Diretoria da Socie- dade Brasileira de Entomologia, rea- lizada em 25 de junho de 1938, com- pareceu o dr. Clemente Pereira, Ge- rente do Clube Zoológico do Brasil, para oferecer, em nome dêsse Clube, a possibilidade do “Boletim Biológi- co”. órgão oficial do Clube Zoológico do Brasil, tornar-se. também, órgão oficial da Sociedade Brasileira de En- tomologia. Depois de amplos entendimentos, chegou-se, em princípio, a um acordo segundo o qual, a titulo de experiên- cia, a utilização em comum da cita- da Revista implica um simples e leal colaboração das duas entidades cien- tificas. sem que, no entanto, se esta- beleçam entre elas quaisquer rela- ções de dependência, tendo em vista, única e exclusivamente, o benefício da imprensa científica nacional, pois o “Boletim Biológico”, revista que já conta 12 anos de existência, ficará, em consequência deste acordo, sensi- velmente mais forte e prestigiada. O “Boletim Biológico” passa a ser, pois, órgão oficial do Clube Zoo- lógico do Brasil e da Sociedade Brasi- leira de Entomologia, o que, pratica- mente, será conseguido pelo fato das duas entidades cientificas se encarre garem da publicação da citada revis- ta. sendo as despêsas distribuídas conforme o número de páginas ocupa- do e a quantidade de exemplares de- sejado por cada sociedade, inclusive as respectivas separata de artigos. Em virtude dêste acordo, toda a matéria a publicar-se no “Boletim Biológico” chegará a êle somente atravéz das entidades científicas acor- dantes, sendo cada uma delas respon- sável, técnica e financeiramente, pelos trabalhos que apresentarem à publi- cação. Cada trabalho será publicado sempre com a indicação de sua proce- dência, respeitada rigorosamente a ordem de entrega para a publicação. Quando uma das associações não tiver trabalhos a publicar, limitar-se-á a comprar pelo preço de custo o nú- mero' de exemplares dos fascículos de que necessita. Êste acordo será considerado au- tomáticamente desfeito, desde que uma das entidades científicas deixar de existir ou, então, desde que uma delas passe dois anos consecutivos sem se utilizar do “Boletim Bológi- co” para as suas publicações. O presente acordo fica aberto à adesão de outras associações cientifi- cas já existentes em São Paulo ou que, porventura, venham a ser fundadas. São Paulo, l.° de agosto de 1938. Pelo Clube Zoológico do Brasil: . Clemente Pereira, Gerente. Pela Sociedade Brasileira de En- tomologia : J. Pinto da Fonseca, Presidente. C. Z. B. 21 í CORRESPONDÊNCIA S. Paulo, 27 de junho dc 1938. Snr. Dr. Paulo de Lima Corrêa DD. Diretor Superintendente do Deoar- tnmento de Indústria Animal. Capital. Tenho a honra de passar a vossas rnãos o recorte de um jornal trazendo os interessantes reparos feitos pelo Dr. Adolph Hempel. na última sessão do Clube Zoológico do Brasil, sôbre unta fa- lha dc que padece a atual lei de proteção à caça de campo. É o que diz respeito á impunidade com que os animais preda- dores dizimam a caça durante o ano todo. Sendo uma das finalidades lo Clube Zoológico do Brasil “coadjuvar as auto r idades estaduais na campanha em prol da proteção da nossa fauna”, peço vénia para sugerir, ao menos como experiên- cia. j or alguns anos, o seguinte: Aos sócios do Clube Zoológico do Rrasil, que já têm licença de caça, seja dada uma autorização especial para po- derem caçar rias épocas proibida?, o? ma- míferos e aves predadoras, ou de qual- quer modo danosos de nossa fauii.i. sob palavra dc não usarem indevidamente tal permissão. Ás pessoas que forem inca- pazes de cumprir a palavra empenhada, isto é, que não tiverem idoneidade moral, ser-lhes-á cassada a caderneta, perdendo o direito a tirar novas, ao mesmo tempo que serão cxcluidos do quadro social do Clube Zoológico do Brasil. Como provavelmente não será muito grande o número de pessoas que queiram aceitar uma responsabilidade moral de tal monta, aqueles que a aceitassem pas- sariam a ser automaticamente ótimos au- xiliares gratuitos da fiscalização da caça. Certo que esta sugestão seja, em seu espirito, bem compreendida por V. Excia., aguardo, caso ela seja viável, uma medi- da oficial que permita, por processo tão simples, a diferenciação nitida de uma verdadeira elite de caçadores, capazes de colaborarem em nivel elevado com a Secção de Caça e Pesca do Departamento de Indústria Animal. Grato pela alenção reitero-vos os pro- testos de minha distinta consideração. Dr. Clemente Pereira Gerente. S. Paulo. 3 de agosto de 1938. Exmo. Sr. Diretor Geral da Secretaria da Agricul- tura. Nesta. Saudações. O “Clube Zoológico do Brasil”, so- ciedade fundada ha 6 anos em S. Paulo, com o fim de incentivar o estudo e o gos- to pela nossa fauna, servindo como que de prolongamento da ação dos poderes públicos nesse sector, comporlou-se de tal modo que foi considerado de utilidade pública por ato de 24 de julho de 1933. Sua ação tem se desenvolvido com toda regularidade não só através das sessões mensais que realiza no salão no- bre da Secretaria da Agricultura, para êsse fim gentilmente cedido, como tam- bém pela publicação do “Boletim Bioló- gico”, revista contendo secções de arti- gos originais, divulgação cientifica e no- tas de amadorismo. Infelizmente, a deficiência em recur- sos financeiros por parte do Clube Zoo- lógico tem impedido não só a regularida- de da publicação de sua revista, como também de se dar maior desenvolvimento, às suas várias secções. Ora, considerando que as secções de divulgação cientifica e dc notas de ama- dorismo, quando bem desenvolvidas, exer- ceriam um apreciável papel educativo . junto ao nosso homem do interior, prin- cipalmente do nosso fazendeiro, toma- mos a liberdade dc lembrar a V. Excia. a conveniência dessa Secretaria coadjuvar - os nossos esforços tomando, para esse fim, 100 assinaturas anuais do “Boletim Bio- lógico”, ao preço de 30S000 cada uma, para distribuição entre os interessados. Com êsse intuito e, para vosso governo,^ cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 212 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série) Vol. III S/4 — 193H pedimos seja ouvido o parecer do Snr. Diretor da Secção de Publicidade Agríco- la, que se pronunciará a respeito. Apresento-vos os protestos da mais alta estima e distinta consideração. DR. CLEMENTE PEREIRA Gerente do Clube Zoológico do Brasil. São Paulo, 27 de setembro de 1938. C/N.° 222. Snr. Gerente do Clube Zoológico do Brasil. Caixa Postal n.° 302. CAPITAI. Com referência ao seu requerimento de 3 de agosto último, comunico a Vossa Senhoria que esta Diretoria resolveu to- mar 50 assinaturas do “Boletim Biológi- co”, pelo preço de 1:500$000, desde que essa associação se comprometa a fornecer pelo menos 6 facículos anuais. Prevaleço-me do ensejo para apre- sentar-lhe os meus protestos de distinta consideração. Diretor de Publicidade Agricola Exmo. Snr. Secretário da Justiça e Negócios do Interior. O “Clube Zoológico do Brasil”, so- ciedade fundada há 6 anos nesta Capital com o fito de incentivar o estudo e o gosto pela nossa fauna, reunindo os zoólogos profissionais dos institutos de pesquisa e aplicação prática oficiais e particulares, bem como grande número de amadores em geral da Zoologia, foi considerado de utilidade pública por alo de 24 de julho de 1938. Desde então edita uma revista, o “Boletim Biológico”, com secções de ar- tigos originais, divulgação cientifica e notas de amadorismo, que tem prestado apreciável serviço em nosso meio. O “Clube Zoológico do Brasil” re- quer a V. Excia. autorização para impri- mir o seu “Boletim Biológico”, publica- ção trimestral, nas oficinas do “Diário Oficial”, comprometendo-se a dar o pa- pel e os clichês e a pagar, adiantadamen- te, o preço orçado para a mão de obra. Dada a finalidade a que se destina a concessão pedida e ao fato dela não acar- retar onus para o Estado, esperamos que V. Excia. se digne atender nosso pedido e autorize a Imprensa Oficial a executar a publicação, nas condições propostas. Apresento-vos os protestos da mais alta estima e distinta consideração. DR. CLEMENTE PEREIRA Gerente do Clube Zoológico do Brasil. São Paulo, 4 de agosto de 1938. Snr. Gerente do Clube Zoológico do Brasil. (Caixa Postal n.° 362) São Paulo. Com referência ao oficio datado de 4 de agosto último, tenho a honra de co- municar a V. S. que, nesta data, é a Im- prensa Oficial autorizada a publicar a revista “Boletim Biológico”, dêsse Clube, até o fim do corrente exercício. Atenciosas saudações. (A. BARRETO DO AMARAL) Diretor do Expediente. Exmo. Snr. Diretor Superintendente do Departamen- to de Indústria Animal. O Clube Zoológico do Brasil, consi- derando que por ura esquecimento das autoridades federais não foi prevista para o Estado de S. Paulo a abertura da esta- ção de caça das aves de arribação, que não procriam aqui, toma a liberdade de solicitar a êsse Departamento a atenção para tal fato, que vem colocar os nossos caçadores em situação de desvantagem cm face dos colegas dos Estados visinhos Realmente, a caça racional dessas aves não empobrece nossa fauna, e como sua estação não coincide com a das caças de campo e de mata, isto iria permitir mais larga atividade dos caçadores, em zonas diferentes, fazendo portanto com que o descanso necessário à caça não force o caçador a uma inatividade tão prolongada. Certo da benévola atenção, aproveito a oportunidade para reiterar-vos os pro- testos da mais alta estima e elevada con- sideração. DR. CLEMENTE PEREIRA Gerente do Clube Zoológico do Brasil. C. Z. B. 213 Exmo. Snr. Diretor Superintendente do Departamen- to de Indústria Animal. Constituindo os veados, nas zonas agrícolas, animais verdadeiramente dani- nhos, em virtude dos estragos que oca- sionam nas plantações, está o “Clube Zoológico do Brasil” empenhado em de- monstrar objetivamente êste fato, para poderem êles ser incluídos na lista dos animais daninhos. Entretanto, como esta demonstração, que só pode ser baseada no estudo do conteúdo dos bucbos, é por natureza len- ta, e como se avolumam as queixas con- tra as depredações cousadas por êstes animais nas plantações, o C. Z. B. toma a liberdade de solicitar a êsse departa- mento a inclusão provisória dos veados entre os animais daninhos, ao menos nos municípios de atividades agrícolas, para assim poderem os sócios do C. Z. B. continuar seu inquérito acerca da nocivi- dade dos mesmos. Certo da benévola atenção, aproveito a oportunidade para apresentar- vos os protestos da mais alta estima e conside- ração. DR. CLEMENTE PEREIRA Gerente do Clube Zoológico do Brasil. S. Paulo, 5 de outubro de 1938. BALANÇO GERAL DO C. Z. B. DURANTE 0 ANO DE 1937 GERÊNCIA DO DR. AGENOR COUTO DE MAGALHAES Janeiro: Compra de um arquivo Nascimento Assinatura caixa postal Impressos feitos na Tip. Brésser Idem, idem Licenças de caça, pagas Pequenas despesas Fevereiro: Confeccionamento de boletins Fornecimento de 1 quadro Licenças de caça, pagas Pequenas despesas Março: Pequenas despesas Abril: Pequenas despesas Licenças pagas, em março Idem, em abril Maio: Pequenas despesas Junho: Pequenas despesas 70$000 30*000 120*000 28*000 9905800 130$000 9101000 5$000 445$200 105$000 110*000 1485000 106*000 1:368*800 1:465*200 315*100 364*000 132*200 111*000 cm l SciELO 11 12 13 14 15 16 17 214 BOLETIM BIOLÓGICO ( Nova Série) Vol. III .V.°a 3/4 — 1938 Julho: Pequenas despesas Agosto: Pequenas despesas Setembro: Assinatura caixa postal Confeccionamento de boletins Pequenas despesas Outubro : Pequenas despesas Novembro : Compra de uma estante Despesa de sêlos para correspondência du- rante o ano Pequenas despesas Dezembro: Despesa dè bonde durante o ano Pequenas despesas Total despendido durante o ano de 1937 DEMONSTRAÇÃO DA Operação Saldo em caixa no ano de 1936 Mensalidades arrecadadas Pagamentos feitos durante o ano Balanço SOMA S. E. ou O. Saldo em caixa que passa para o ano de 1938 (Um conto trezentos e dezoito mil e 78$009 87$500 30$000 1:600$000 94$000 1:724$000 75SOOO 280$000 348$200 131S500 759$700 36$400 135$000 171S400 6:651$900 RECEITA E DESPESA Deve Haver 65$000 7 :905$000 6:651$900 1:318$100 7 :970$000 7:9705000 1:318$100 cem réis). LISTA DOS SÓCIOS DO C. Z. B. ATÉ 30-10-938 Abib José Kairalla — R. Leais Paulis- tanos, 199 — Capital. Abilio de Mattos — R. Campos Mello, 300 — Santos. Achilles Greco, (Dr.) — R. das Palmei- ras, 27 — Capital. Adalberto Callsen — R. Riachuelo, 49 — Santos. Adão Mazini — - R. Jorge Dronsfiéld, — Capital. Adolfo Gaspare — - Av. Olavo Guimarães, 1-A — Capital. 215 C ; Z. B. Adotpho Amaral Mendonça — Arara- quara. Adolpho H empei, (Dr.) — R. Itapicurú, 3-10 — Capital. Adolpho Martins Penha, (Dr.) — insti- tuto Biológico — Capital. Adriano M. Costa — R. do Comércio, 48 — Santos. Afonso M. Olalla — Caixa Postal, 00 — Itacoatiara — Amazonas. Afonso Rigol — R. Borges Figueiredo, 1001 — Capital. Afranio do Amaral (Dr.) — R. São Luiz, 137 — Capital. Agenor Couto de Magalhães (Dr.) — R- Germaine Burchard, 230 — Capital. Agenor Narciso de Andrade — R- Ran- gel Pestana, 101 — Santos. Agostinho Horta — R. Castro Alves, 327 — Capital. Agostinho Pereira Pinto Junior — San- tos. Alberto Callsen — Av. Conselheiro Né- hias, 677 — Santos. Alberto Catani — Consulado Raliano — Capital. Alberto Guidoni — R. A, 54 — Capital. Alberto Moura Ribeiro (Dr) — R. Flo- riano Peixoto, 309 — Santos. Alberto Serrão Coelho de Sampaio Ju- nior — R. 11 de Agosto, 66 — Ca- pital. Albo Genovesi — R. Libero Badaró 561, l.° Andar, sala, 28 - — Capital. Al do Princi — R. dos Raliano, 288. — Capital. Alcides Lafranchi (Dr.) — Jaboticabal. Alcides Prado (Dr.) — Instituto Butan- tan — Capital. Alcino Meirelles — Fazenda de Barra — Jardinópolis. Alessandro DelPAringa — R. 15 de No- vembro, 49 — Capital. Alexandre Alves Peixoto — R. Rangel Pestana, 101 — Santos. Alexandre E. Dias de Moraes R. To- lentino Figueira, 82 Santos. Alexandre Kostinkoff — R- General Ca- mara, 261 — Santos. Alfredo Amaral Rocha — Santos. Alfredo Graziano — Tatuí. Álvaro Coutinho Aguirre (Dr.) — R. Ma- ta Machado, s/n. — Rio de Janeiro. Álvaro de Carvalho Franco (Dr.) — Re- partição do Saneamento — Santos. Álvaro da Cunha Parente — Pr. Viscon- de Maná, 29 — Santos. Álvaro da Silva Braga (Dr ) — R. Ama- dor Bueno, 90 — Santos. Álvaro Mendes Guimarães — Pr. Iguate- mí Martins, 60 — Santos. Álvaro Rosmann Carvalhaes — Av. Al- mirante Cockrane, 7 — Santos. Amadeu Antonio Cogo — R. Mato Grosso, 46 — São Caetano. Amadeu Bertolami — R. Paula Souza, 293 — Capital. Amadeu Pederzoli — R. 15 de Novem- bro, 130-2.° andar — Capital. Amazonas Duarte (Dr.) — Pr. Visconde Mauá, 29 — Santos. Américo Braga (Dr.) — R. Maracanã, 222 Rio de Janeiro. Américo Delvechio — R. Tormisuti, 31 — Santo André. Américo Favas — R. General Carneiro, 58 — Capital. Américo Tessarolo — R. Anhanguera, 323 — • Capital. Anastacio Agria Filho — R. Lobo Viana, 28 — Santos. Angelino D’Angelo — R. Pimenta Bueno, 5 — Capital. Angelo Lopes — R. Vitória, 222 — Ca- pital. Angelo Sparapani — R. Benjamin Cons- tant, 171, 2.°, sobreloja, s. 24 — Ca- pital. Aniello Moretta — R. José Bonifácio. 191 — Capital. Angelo Gomes de Oliveira — R. Salda- nha Marinho, 551 — Rio Preto. Antenor Soares Gandra (Dr.) — R. Fer- nando de Albuquerque, 122 — Ca- pital. Antonio Alves de Lima (Dr.) — Av. Hi- gienópolis, 212 — Capital. Antonio Amaral Campos — R. Capitão Messias, 35 — Capital. 216 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. UI N .° s 3/4 — 1938 Antonio Bortulelto — B. Mendes Junior, 10 — Capital. Antonio Braga — Drogaria Baruel — Capital. Antonio Carini (Dr.) — R. São Luiz, 161 — Capital. Antonio Carlos da Fonseca — R. Miran- da Azevedo, 109 — Capital. Antonio de Oliveira Braga — R. Barão de Ijuí, 8 — Capital. Antonio Fernandes Guimarães — São Vi- cente. Antonio Fonseca Junior — Al. Lacerda Franco, 404 — Capital. Antonio Godoy Moreira — R. 7 de Se- tembro, 58 — Santos. Antonio Imperatori — R. Itobi, 48 — Ca- pital. Antonio Leme de Oliveira Santos — Tra- vessa Abolição, 12 — Capital. Antonio Lopes da Fonseca — R. Artur Mota, 248 — Capital. Antonio Lopes Ferreira — R. Senador Feijó, 415 — Santos. Antonio Maria Maduro — Travessa João Cardoso, 42 — Santos. Antonio Mastrandréa — R. Dr. Carvalho de Mendonça, 33 — Capital. Antonio Mendes de Sá — R. Duarte Cha- ves, 183 — Capital. Antonio Molina — R. dos Estudantes, 529 — Capital. Antonio Monica — R. Frei Caneca, 538 — Capital. Antonio Pacheco e Silva — R. S. Bento, 368 — Capital. Antonio Rodrigues Vi 11a — R. Amador Bueno, 49 — Santos. Antonio Ronna (Dr.) — R. Uruguai, 322 — Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Antonio Tabarelli — Pr. Azevedo Junior, 20 — Santos. Arinos Geraldo Kesserling (Dr.) — R. São Carlos do Pinhal, 322 — Capital. Arlindo Botelho Coutinho — Rio Preto. Armando Lopes Rodrigues — - R. São Leo- po'do, 12 — Capital. Armando de Moraes Bastos — R. da Boa Vista, 57 — Capital. Ary Freire — Boa Esperança. Augusto Ayrosa Galvão (Dr.) — R. Piaui, 308 — Capital. Augusto Batalha — R. São Leopoldo, 143 — Santos. Augusto Domingues Maia — R. Rangel Pestana, 101 — Santos. B. Castro Simões (Dr.) — Isolamento — Santos. Benedicto José Rodrigues — R. Vitória, 222 — Capital. Benedicto Marques de Oliveira Filho — R. Santo Amaro, 46 — Capital. Benedicto Pereira Nogueira (Dr.) — R. Rio Grande do Norte — Santos. Benedicto Silva — R. Guiomar Rocha, 7 — Capital. Benjamin Pereira de Almeida — R. Xa- vier de Toledo, 16 — Capital. Brasil Thaumaturgo — R. Fei Gaspar, 4 — Santos. Brasilino Bento Ainorim — R. 15 de No- vembro, 22 e 24 — Santos. Brasilino f ranço — R. Azevedo Sodré, 162 — Santos. Caetano Tramonti — R. Scuvero, 257 — Capital. Caio de Moraes Barros (Dr.) — Fazenda Bela Vista, S. José dos Campos. Caio Maracajá — R. do Comércio, 52 — Santos. Camillo Gaspar de Almeida (Dr.) — 11. João Pinheiro, 123 — Capital. Cândido Bravo, (Cap.) — R. Jaceguai, 73 — Capital. Cândido Hercules Florence (Dr.) — Ins- tituto Biológico — Capital. Carlos Alberto Nunes (Dr.) — Guaratin- guetá. Carlos Campos Barros — Valparaizo. Carlos da Cunha Vieira — Museu Pau- lista — S. Paulo. Carlos Guimarães — R. Albuquerque Lins, 1145 — Capital. Carlos Mastrandréa — R. Bandeirante, 72 — Capital. Carlos Pedro Rilter von Kouh — R. Ge- neral Carneiro, 150 — Santo Amaro. Carlos Reis Magalhães — R. da Quitan- da, 96 — Capital. C. Z. B. 217 Casemiro de Abreu Salles — Ibirá. Celso Rocha Freitas Neiva — R. do Co- ' mércio, 49 — Santos. Cezar Augusto de Castro Rios (Dr.) — R. Amador Bueno, 50 — Santos. Clemente Pereira (Dr.) — Instituto Bio- lógico. — Capital. Constantino de Menezes — Pr. da Repú- blica, 60 — Santos. Constantino Junqueira — Departamento de Indústria Animal — Capital. Constantino Lanela — R. Frei Vida!, 230 — Santos. Coriolano Burgo Sobrinho (Dr.) — Av. Conselheiro Nébias, 697 — Santos. Cosimo de Donato — R. Assunção, 191 — Capital. Cyro Ferreira de Campos (Dr.) — R. Ma- ranhão, 670 — Capital. Dante Justino — R. do Seminário, 87 — Capital. Dante Vagnotti — R. Augusta, 539 — Ca- pital. Darwim Araújo (Dr.) — Pr. Ramos de Azevedo, 18, 2.° andar — Capital. David V. de Almeida (Dr.) — R. D. Pe- dro II, 54, 2." andar — Santos. Davidson Muniz — Pr. Rui Barbosa, 14 — Santos. Diogo Álvaro Salles — R. Cidade de Toledo, 20 — Santos. Dionisio Figueiredo — Valparaizo. Domingos Greceo — R. Barra Funda, 279 — Capital. Dorival Macedo Cardoso (Dr.) — R. da Gloria, 852 — Capital. Duilio Guidoni — Av. Celso Garcia, 570 ■ — Capital. Durval Ferreira — • R. Caiubi, 63 — Santos. Edgar Barbosa — R. Conselheiro Sarai- va, 83 — Capital. Kdgard Perdigão — Alfândega — Santos. Edmundo Amaral (Dr.) — Pr. Visconde Mauã, 29 — Santos. Ednan Dias — Fazenda Paulicéia — Vas- sununga. Eduardo A. Bahia de Abreu (Dr.) — R. José Bonifácio, 31 — Santos. Eduardo de Oliveira Pirajá (Dr.) — R. José Bonifácio, 233 — Capital. Emilio Aun — Ibirá. Emilio D’Agostino — R. Cláudio, 34 — Capital. Emilio Guerra — R. Teodoro Sampaio, 1953 — Capital. Emilio Palumbo — R. Javai, 61 — Ca- pital. Emilio Salvietti — R. Maria Marcolina, 235-B — Capital. Erica Ritter von Kouh — R. General Car- neiro, 150 — Santo Amaro. Ernesto Balelli — Araraquara. Ernesto Gianotti — R. Chavantes, 67 — Capital. Ernesto Rocco — R. General Couto de Magalhães, 62 — Santo André. E. Marcus (Dr.) — R. Sorocaba, 13 — Capital. Eugênio Capuano — R. Lafaiete, 8 — Capital. Eugênio Saraceni — R. P. Antonio Be- nedicto, 3, sobrado — Capital. Eulalio Pinto Cezar — R. João Pessoa, 183 — Piracicaba. Eurico Leme Ramos — R. Frederico Stei- del, 175 — Capital. Eurico R. Guimarães, (Dr.) — Arara- quara. Eurico Santos — R. São José, 52, 1.” an- dar, Redação d’“0 Campo" — Rio. Esculápio Cezar de Paiva, Com. — R. Eu- clides da Cunha, 83 — Santos. Estevam Alesso — R. João Adolfo, 28 — Capital. Evaristo Aranha Rezende — R. José Bo- nifácio, 23. — S. Vicente. Evaristo Ghianato — R. General Flores, 538. — Capital. Fausto Saddi — R. 1). Pedro II, 54 — Santos. Felippe Lutfalla — - R. Oliveira Alves. 216 — Capital. Fernando Tcdcschi — R. Bueno de An- drade, 409 — Capital. Fioravante Bertuccioli — R. Mazzini, 374 — Capital. 218 BOLETIM BIOLÓGICO (Xo va Série ) Vol. 111 X.Q* 3/4 — 1938 Fiorav.ante Mazzoni — lí. Oratório, 285 — Capital. Flavio de Moura Ribeiro (Dr.) — R. D. Pedro II, 54 — Santos. Flavio da Fonseca, (Dr.) — R. Itãpolis, 10 — Capital. Flavio Rodrigues — R. Voluntários da Pá- tria, 5tíõ — Capital. Florentino Saraceni — R. São Caetano, 9 — Capital. Floriano Moreira — R. 15 de Novembro, 104 — Capital. Francisco E. Martins dos Santos (Dr.) — R. do Comércio, 81 — Santos. Francisco Bergamin (Dr.) — Departa- mento de Indústria Animal — Ca- pital. Francisco Cafuoco — ■ R. Conselheiro Ra- malho, 734 — Capital. Francisco da Cunha Lima — R. de São Bento, 368 — Capital. Francisco Gaspare — R. Mato Grosso, 40 — Capital. Francisco José Leitão — Piracicaba. Francisco Magy — R. Ipiranga, 554 — Capital. Francisco Pedroso de Camargo (Dr.) - — R. Vieira de Carvalho, 150 — Capital. Francisco Simaz - — lí. General Ozorio, 510 — Capital. Francisco Soares Nalin — R. do Vigá- rio, 7 — Jndiai. Francisco Soares Pinto — R. 25 de Mar- ço, 1002 — Capital. Francisco Sprovieri — R. Libero Badará, 642 — Capital. Francisco Vechia — R. Major Diogo, 539 — Capital. Francisco Vera Cruz — Sorocaba. Francisco Lane — Museu Paulista. — Capital. F. Lange de Morretes — Museu Paulista. — Capital. Frederico Sandal — R. 15 de Novembro, 126 — Santos. Gaspar Cardinal i — lí. Timburibá, 16 — Capital. Gastão Wilson F razão — R. do Comércio, 108 — Santos. Genaro Esposito — R. Afonso Pena, 377 — Capital. Genesio Pacheco (Dr.) — Instituto Os- valdo Cruz — Rio de Janeiro. Geovanni D’Avino — - Av. Celso Garcia, 35 — Capital. Getrud Siegel — R. Arruda Alvim, 8 — Capital. Giovanni Letico — Al. Barão de Limeira, 922 — Capital. Godofredo Pagliusi — Ibirá. Guerra Junior (Dr.) — R. D. Pedro II, 54 — Santos. Guido Reginato — Aricanduva. Guilherme Pereira de Almeida Junior — R. Xavier de Toledo, 16 — Capital. Guilherme Wendel (Dr.) — Av. Almiran- te Cockrane, 52 — Santos. Gumercindo M. de Carvalho — Fazenda da Barra — Itobi. Gustavo M. de Oliveira Castro (Dr.) — lí. Sorocaba, 50 — Rio. H. Zellibor — It. Pinto F’erraz, 99 — Ca- pital. Heitor Serapião — Caixa Postal, 314 — Araçatuba. Heitor Soares de Macedo — Alto Pimen- ta — E. F. N. do Brasil. Helcomides Costa — It. do Comércio, 52; — Santos. Hélio Fajardo da Silveira, (Dr.) — Ibirá. Henrique Gonçalves Queiroz — R. Vise. do Rio Branco, 4 — Santos. Hercules Bertacin — R. Borges, 227 — Santos. Hildebrando Montencgro (Dr.) — R. São Vicente de Paula, 638 — Capital. Hugo Molena — R. Gel. Olímpio da Sil- veira, 310 — Capital. Hugo Scatena — Alto Pimenta — E. F. N. do Brasil. Ignacio Ferreira — Av. Itaquera — Ari- canduva. Ralo Rebucei — R. Silva Teles, 7 casa, 7 — Capital. Ivan Castanhos — lí. 15 de Novembro, 21, l.° andar — Santos. SciELO C. Z. B. 219 Ivan Hauff — R. Pinto Ferraz, 99-A — Capital. Ivan Ramos doa Santos — R. Marechal Deodoro, 68 — Capital. Jvo de Azevedo Marques — Pr. da Repú- blica, 19 — Santos. J. A. Figueiredo Pessoa — Fazenda São José — Araras. J. A. Martins (Dr.) — Pr. Piaui, 6 — Ca- pital. Jacomo Império — R. Gel. Carneiro, 212. — Santo Amaro. Jacques Laghi — R. da Quitanda, 126 — Capital. -T. Fernandes Pontes — Av. Siqueira Campos, 662 — Santos. J. Homem de Mello — Itatinga. Jayme Gonçalves (Dr.) — Av. Bartolo- meu de Gusmão, 16 — Santos. Jayme Paino — R. Jorge Tibiriçá, 28 — Santos. J. Lacaz de Moraes (Dr.) — R. Riachue- lo, 49 — Santos. João Baptista Piovesan — lí. Teodoro Sampaio, 955 — Capital. João Cafuoco — R. Conselheiro Raraa- lho, 734 — Capital. João Calau Mojola — Planaltos. João Carlos de Azevedo (Dr.) — R. Ria- chuelo, 49 — Santos. João Carrara — R. Glicério, 807 — Ca- pital. João Christo — Santo Amaro. João de Camargo Barros (Dr.) — Caixa Postal, 54 — Valparaizo. João de Paiva Carvalho (Dr.) — Depar- tamento de Indústria Animal — Ca- pital. João de Souza Campos (Dr.) — R. Bela Cintra, 1768 — Capital. João Deocleciano Ramos — Mirasol. João Freire de Oliveira — R. Sitio Rio Baixo, 20 — Capital. João Gironi — R. Julio de Castilhos, 77 — ■ Capital. João Guimarães Junior — - Av. Almirante Cochrane, 12 — Santos. João Machado Borba — Reprêza Nova, Eldorado — Capital. João Migliari — R. Manoel Carvalho, 35 — Capital. João Montanari — R. Voluntários da Pá- tria, 144 — Capital. João Pacheco Fernandes — Banco do Brasil — Santos. João S. Solrerlni — R. Canindé, 46 — Capital. João Vieira de Medeiros — R. Butantan, 150 — Capital. Jorge Fortine — R. do Pará, 33 — Ca- pital. Joél Aguiar (Prof.) — Departamento de Indústria Animal — Capital. Joaquim Antonio Siqueira — R. Parnaiba — Capital. Joaquim Barbosa — Trav. Manoel Borba, 166 — Santo Amaro. Joaquim de Lima Pires — R. São Vicente de Paula, 705 — Capital. Joaquim de Mello Menezes — R. 15 de Novembro, 149 — - Santos. Joaquim Francisco Rego — R. Parnaiba, 103 — Santos. Joaquim Guerra — • R. Barueri — Ca- pital. Joaquim Lemos Junior — R. Adolfo As- sis, 106 — Santos. Joaquim Libanio Leite Ribeiro (Dr.) — Al. Lorena, 509 — Capital. Jorge Varella — Saneamento, C. P„ 260. — Santos. Jorge Rosman — Itanhaen — E. F. S. — Santos. José Aguilar — R. do Gazômetro, 105 — Capital. José Álvaro de Barros Pimentel — R. do Comércio, 54 — Santos. José Brasil de Moraes — R. Irmã Caroli- na, 340 — Capital. José Bueno Cavalheiro — Ibirá. José Carlos de Azevedo Junior, (Dr.) — Santos. José Caruzo — R. Conselheiro Ramalho, 715 — Capital. José Cerqueira Dias de Moraes — R. To- lentino Figueira, 82 — Santos. José Christo — Palheiro, Município de Santo Amaro — Capital. 220 BOLETIM BIOLÓGICO (Nova Série) Vol. 111 N . os 3/i — 1038 José de- Barros Saraiva — R. Augusta, 134 — Capital. José. de . Castro — B. Carlos Gomes, 136 — Santos. José de Castro Miranda — B. 15 de No- vembro, 123 — Santos. José de- Oliveira Lopes — B. Bangel Pes- tana, 101 — Santos. José Dias de Moraes (Dr.) — B. Tolen- tino Figueira, 82 - — Santos. José Elias Paiva Filho — Ipanema. José Império — R. Gel. Carneiro, 212 — , Santo Amaro — Capital. José Juliani — Alfândega. — Santos José Lafani — R. Venceslau Brás, 4 — Capital. José Lara Vanini — B. Conselheiro Né- bias, 662 — Capital. José Leonardo Lima — R. Brigadeiro Galvão, 682 — Capital. José Luiz Antunes — R. General Câmara, 12 — Santos. José Luiz de Mendonça — R. D. Pedro II, 54 — Santos. José Luiz Ritto — R. São Leopoldo, 35 — Santos. José Martins Cariellas — R. 15 de Novem- bro, 127 — Capital. José Montanari — R. Couto de Magalhães, 8 — Capital. José Neiva — R. Prost. de Souza, 7 — Santos. José Neves de Souza Pacheco, (Dr.) — - R. Augusta, 518 — Capital. José Oliva — R. 15 de Novembro, 130 — Capital. José Oscar Cintrão — R. Silva Jardim, 154 — Santos. José Pacheco — R. Sitio Rio Abaixo, 20 — Capital. José Pinto — R. Clélia, 2180 — Capital. José Pinto Blandi — R. Amador Bueno, 104 — Santos. José Pinto da Fonseca (Dr.) — Instituto Biológico — Capital. José Pires Velloso — R. Vitória, 240 — Capital. José Procopio de Araújo — R. do Comér- cio, 26 — Santos. José Reis (Dr.) — Instituto Biológico — Capital. José Ribeiro de Araújo — R. Rangel Pes- tana, 101 - — Santos. ■ José Ricardo Alves Guimarães (Dr.) — R. Tagipurú, 165 — Capital. José Rubens de Macedo Soares (Dr.) — Iguape. José R. Fracarolli — R. Cidade de Tole- do, 22 — Santos. José Thomaz — R. Cipriano Barata, 1749 — Capital. Júlio de Araújo Franco — R. João Otá- vio, 55 — Santos. Júlio Silvio (Dr.) — Av. Espanha, 17 — Capital. Lauro Travassos (Dr.) — Instituto Os- valdo Cruz — Rio. Lauro Travassos Filho (Dr.) — Instituto Biológico — Capital. Leonello Julio Cesar Adami — R. Taraan- daré, 591 — Capital. Leonidas Gallo — R. 15 de Novembro, 130 — Capital. Leopoldo Couto de Magalhães — R. Li- bero Badaró, 196 — Capital. Letacio Caiuby — R. Bela Cintra, 356 — Capital. Lindolpho de Freitas — Tremembé. Lindolpho Pontes — Iguape. Lindolpho Rocha Guimarães — Faculda- de de Medicina — Capital. Lineu de Paula Machado (Dr.) — Jockey- Clube — Rio. Lineu Ibaiara Gonçalves (Dr.) — Jorge Washington, 23 — Santos. Lucio Martins Rodrigues (Dr.) — R. Cam- pos Sales, 554 — Capital. Ludwig Schaf — R. Florêncio de Abreu, 102 — Capital. Ludwig Schwedes — R. Libero Badaró, 318 — Capital. I.uiz Antonio Giglio — R. Teodoro Sam- paio, 972, casa 23 — Capital. Luiz Domingos Peroni — Av. Brig. Luiz Antonio, 383 — Capital. Luiz Dovique — R. Barão do Rio Bran- co, 4 — Jundiai. C. Z. B. 221 I-uiz Longli — R. Silva Pinto, 108 Ca- pital. Luiz Piza de Souza — R. Cons. Crispi- niano, 74 — Capital. i,uií! Shmidt — R. Padre Maria, 39 — Santo Amaro — Capital. Lpiz Tabarelli — R. Jaraguá, 102 — Ca- pita’. Luiz Tolezano — Av. Independência, 12 — Capital. Malachias de Freitas (Prof.) — R. Mato Grosso, 58 — Santos. Manoel Carvalho de SanPAnna — R. L. Pereira Barreto, 161 — Capital. Manoel Duarte de Mello — R. Lemos Martins. 22 — Capital. Manoel Joaquim de Mello (Dr.) — Insti- tuto Biológico — Capital. Manoel Joaquim Gonçalves — R. de São Bento, 54 — Capital. Manoel Martins Fernandes — R. José Bo- nifácio, 191 — Capital. Manoel Ribeiro de Araújo (Dr.) — R. Li- bero Badaró, 452 — Capital. Mareio Christe — Santo Amaro — Ca- pital. Marcos Keutenedjian — Al. Santos, 891 — Capital. Marildo Pires Domingues (Dr.) — R. Ale- xandre Herculano, 101 — Santos. Mario Arantes — Pr. dos Andradas — Santos. Maria de Lourdes Canto — R. Rego Frei- tas, 474 — Capital. Mario Autuori (Dr.) — Instituto Bioló- gico — Capital. Mario Gonçalves Teixeira — Parnaiba. Mario Maldonado (Dr.) — R. 15 de No- vembro, 4 — Piracicaba. Mathias Louvas — Al. Barão de Limeira, 1208 — Capital. Maurício Gonçalves Seabra — R. Jagua- ribe, 742 — Capital. Max de Barros Erhart (Dr.) — Fac. de Medicina Veterinária — Capital. Merrame Adura (Dr.) — Instituto Ri gico — Capital. Miguel Campos Silvan — R. do Vigário. 1 — Jnndiai. Miguel Covcllo (Dr.) — R. Barão de Ita- petininga, 50 — Capital. Miguel Dozzo — R. Silva Leme, 3 — Ca- pital. Michel Pedro Sawaya (Dr.) — R. Artur Azevedo, 17G — Capital. Miguel Pinoni — R. Domingos de Mo- raes, 102 — Capital. Miguel Rosa da Silva — R. Leme Mar- tins, 6 — Capital. Milton Gioncoli — R. Irmã Carolina, 73. — Capital. Milton Piza, (Dr.) — R. Cônego Eugênio Leite, 133 — Capital. Modesto Lazo Monteiro — R. Maestro Cardim, 126 — Capital. Naur Martins (Dr.) — R. Quintino Bo- caiuva, 54 — Capital. Nello Salvietti — R. Maria Marcolina, 235 — Capital. Nelson Azevedo Marques (Dr.) — AI. Santos, 442 — Capital. Nelson Planet (Dr.) — Instituto Biológi- co — Capital. Nelson Rangel (Dr.) — R. Senador Feijó. 118 — Santos. Newton F. da Sil\'a — R. Rangel Pesta- na, 101 — Santos. Newton J. de Lima Azevedo — Pr. Mare- chal Deodoro, 314 — Capital. Nieolau Athanasoff (Dr.) — Escola Agrí- cola — Piracicaba. Nieolau da Silva Gordo (Dr.) — R. Maes- tro Cardim, 925 — Capital. Nieolau Gago Lourenço — R. São Lou- renço, 77 — Santos. Nieolau Tebecherani — R. Leais Paulis- tanos, 288 — Capital. Nicolino Mastropriero — R. Galvão Bue- no, 782 — Capita 1 . Noemia Saraiva de Matos Cruz, (Prof. a ) R. Áustria, 4 — Capital. O. P. Lima — - R. Lopes Trovão, 7 - — San- tos. Octaviano Cegai — R. Teodoro Sampaio, 1953 — Capital. Odilon Aguiar de Souza — R. Cristiano Viana, 69 — Capital. 222 BOLETIM BIOLÓGICO (Xova Série) Vol. III N.o s 3/4 — 193S Odorieo Machado de Souza (Dr.) — Fac. de Medicina — Capital. Olderico Migliari — R. Oriente, 75 — Capital. Olegario Corrêa — Av. Celso Garcia, 810 — Capital. Oliverio M. de Oliveira Pinto (Dr.) — Museu Paulista — Capital. U resto Pagliusi — Ibirá. Orlando Esteves — Av. Bartolomeu de Gusmão, 192 — Santos. Orlando Martins Lino — R. Silva Jar- dim, 6 — Capital. Orlando Penteado — R. Jandaia, 36 — Capital. Oscar Bastos Montenegro — Av. Washin- gton Luis, 448 — Santos. Oscar Cunha — R. Anchieta, 2, 3.° andar — Capital. Oscar Meirelles da Silva — Prefeitura Municipal — São Vicente. Oscario R. Branco — R. Bartolomeu de Gusmão, 192 — Santos. Oswaldo Carvalho e Silva (Dr.) — R. Prof. Cabrizzo, 338 — Rio. Oswaldo Monteiro Fleury — R. 7 de Abril, 33 — Capital. Ozorio de Souza Leite (Dr.) — R. D. Pe- dro II, 54 — Santos. Padre D. José Wolfgand — Mosteiro São Bento — Capital. Tascoal Montanari — R. Tenente Pena. 201 — Capital. Paulo de Azevedo Antunés (Dr.) — ■ Av. Dr. Arnaldo, 5 — Capital. Paulo de Toledo Artigas, (Dr.) — R. Es- tados Unidos, 2241 — Capital. Paulo Klemig — Av. Cons. Nébias, 577 — Santos. Paulo Plinio Prado Silva — R. S. Bento, 197 — Capital. Paulo R. Arruda — Caixa Postal, 2501. — Capital. Paulo Sawaya (Dr.) — Ay. Brig. Luiz Antonio, 3005, casa 2, Capital. Pedro Christe — Itain — Santo Amaro. Pedro Azevedo (Dr.) — Fortaleza — Ceará. Pedro Franco — R. General Flores, 91 — Capital. Pedro Gad (Dr.) — R. Senador Feijó, 205, 6.° andar — Capital. Pedro Gruber Schreiner — R. Rangel Pestana, 101 — Santos. Pedro Pinheiro de Moraes — R. Viscon- de do Rio Branco, 4 — Santos. Pedro Martinelli — R. Dronsfield, 155 — Capital. Pedro Montanari — R. dos Italianos, 55. — Capital. Perfecto Lancia — R. Frei Vidal, 230 — Santos . Pérsio Martins — Av. Bartolomeu de Gusmão, 90 — Santos. Peter da Silva Prado — R. 15 de Novem- bro, 157 — Santos. Pio Lourenço Corrêa — Araraquara. Plinio de Barros Monteiro (Dr.) — Av. Brasil, 1929 — Capital. Flinio Rodrigues Dias — Av. João Dias, 90 — Santo Amaro. Plinio Schmidt — R. Senador Flaque, 263 — Santo Amaro. Publio delia Casa — R. Alvares Penteado, 33 — Capital. Racco Fel ice — R. Silveira Campos, 346. — Capital. Ramiro Bezerra da Rocha, (Dr.) — R. Xavier Pinheiro, 136 — Santos. Raphael Alberti — R. Spartaco, 508 — Capital. Raphael de Souza Garcia — R. Capitão Macedo, 80 — Capital. Raul Franco de Mello (Dr.) — Av. Pau- lista. 1919 — Capital. Raul Jordão de Magalhães — Av. Cons. Nébias — Santos. Renato Barberi — R. Libero Badaró, 561, l.° andar, sala 28 — Capital. Renato de Barros Erhart (Dr.) — R. São Luiz, 79 — Capital. Renato Ferraz Guimarães — R. Frei Ca- neca, 528 — Capital. Renato Locchi (Dr.) — Fac. de Medi- cina - — • Capital. Benzo Bertello — Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 3175 — Capital. C. Z. B. 223 Rezidoro Moracci — R. Galileu, 20 — Capital. Ricardo Augusto da Silva — R. Teodoro Sampaio, 1953 — Capital. Ricardo N. Orfila — Jardim Zoológico de Buenos Aires — Casila. 2. Ricardo Machade Alonso — Av. Rodri- gues Alves, 348 — Santos. Rodolpho von Ihering . — Instituto Bioló- gico — Capital. Roberto Cerri — R. Direita. 185 — Ca- pital. Roque José Lioi — R. Clélia, 2180 — Capital. Romeu Cuoculo Sobrinho (Dr.) — Insti- tuto Biológico — Capital. Romeu de Paula (Dr.) — R. Libero Ba- daró. 19(3, salas, 6-7 — Capital. Rosina de Barros (Dra.) — Rr. Rego Freitas. 435 — Capital. Sabino Camargo Moraes — Ribeirão Bo- nito. Saint Clair Martins Perroni — Av. Brig. Luiz Antonio. 383 — Capital. Salin Lu t fali a — R. Oliveira Alves, 218 — Capital. Salvador Caruzo (Dr.) — R. 11 de Agos- to, 13 — Capital. Salvador de Toledo Piza Junior. (Dr.) — Escola Agrícola Luiz Queiroz — Pi- racicaba. Samuel Augusto Leitão de Moura (Dr.) — R. Vise. Tavares. 31 — Santos. Samuel B. Pessoa (Dr.) — Fac. de Me- dicina — Capital. Sanai Manjo — R. D. Pedro II — Santos. Santo Vendramini — R. Pamplona. 289 — Capital. Sebastião Ribeiro do Valle li. Guiomar Roçhn. 9 — Capital. Sesfilio Fioreíli — Av. Rangel Pestana, 237 — Capital. Severino Salgado — R. Joaquim Tavora, 404 — Santos. Sidney Galvão Felix — Trav. Campos Sa- les. 374 — Capital. Sylvio de Breyne Hiland — Av. Ana Cos- ta, 139 — Santos. Sylvio de Campos Lndemberg (Dr.) — R. Gabriel dos Santos. 370 — Ca- pital. Tácito de Carvalho e Silva — R. Ferreira Penteado, 957 — Campinas. Teleuterio Brick — R. Xavier de Toledo, 1, 3.° andar — Capital. Thales Martins (Dr.) — Av. Paulista, 1945 — Capital. Thelezio Perdigão (Dr.) — R. Vise. de Parnaiba, 286 — Capital. Tliomaz Seppe — Pensão Paulista — Guarujá. Ulysses Bochini — Auto Estrada, 199 — Santo Amaro. Urbano Foloni — Bariri. Vasco Galvão Bueno — Drogaria Baruel — R. Direita, 1 — Capital. Ventura Rodrigues — R. Comendador Martins, 82 — Santos. Vicente Cortansio — R. Rangel Pestana. 45 — Jundiai. Vicente Petrassi — R. Anastácio. 59 — Capital. Victorio Areitio — R. Belo Horizonte. 233 — Capital. Victorio Caminutti — R. Cel. Oliveira Li- ma, 224 — Capital. Waldemar Dias Martins (Cap.) — Av. Cons. Rodrigues Alves, 340 — Santos. Waldemar Ferreira de Almeida (Dr.) Instituto Biológico — Capital. Waldemar Fortes (Dr.) — Ibirá. Waldomiro Jafet — R. Xavier Curado, 472 — Capital. Walter Peters — R. 25 de Março, 1147 — Capital. Willi Grobe — R. Joaquim Lopes Aranha n. 4 — Capital. Zeferino Vaz, (Dr.) — Fac. de Medicina Veterinária — Capital. NOTA: — Com a intenção de tornar sua lista de sócios e respectivos endereços o mais correto possível, a gerência roga aos seus 453 consócios o obséquio de co- municar as inexatidões encontradas, bem como as mudanças de endereço. 224. BOLETIM BIOLÓGICO