BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Série BOTÂNICA GOVERNO DO BRASIL Presidência da República Presidente - Fernando Henrique Cardoso Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Ministro - Ronaldo Mota Sardenberg Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq Presidente - Evando Mirra de Paula e Silva Museu Paraense Emílio Goeidi - MPEG Diretor - Peter Mann de Toledo Diretor Adjunto de Pesquisa - David C. Oren Diretor Adjunto de Difusão Científica - Antonio Carlos Lobo Soares Comissão de Editoração - MPEG Presidente - Lourdes Gonçalves Furtado Editor-Associado - Pedro Luiz Braga Lisboa Equipe Editorial - Lais Zumero, Socorro Menezes, Iraneide Silva, Elminda Santana Editoração Eletrônica - Hailton Santos CONSELHO CIENTÍFICO Consultores Ana Maria Giulietti - USP Carlos Toledo Rizzini - Jardim Botânico do Rio de Janeiro Dana Griffin III - University of Florida Enrique Forero - New York Botanical Garden Fernando Roberto Martins - UNICAMP Chillean T. Prance - Royal Botanic Garden Hermógenes Leitão Filho ^ UNICAMP João Peres Chimelo - IPT Nanuza L. Menezes - Instituto de Biociências - USP Ortrud Monika Barth - Fundação Oswaldo Cruz Paulo B. Cavalcante - Museu Paraense Emílio Goeidi Therezinha Sant’Anna Melhém - Instituto de Botânica de São Paulo Warwick E. Kerr - Universidade Federal de Uberlândia William A. Rodrigues - Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia © Direitos de Cópia/Copyrighl 1999 por/by MCT/CNPq/Museu Goeidi 17 FEV EEQO I 'SciELO / DOAÇAO ISSN 0077-2216 Ministério da Ciência e Tecnologia Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Série BOTÂNICA Vol. 13(2) Belém - Pará ãJ'' Dezembro de 1997 X MCT/CNPq MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Parque Zoobotânico - Av. Magalhães Barata, 376 - São Braz Campus de Pesquisa - Av. Perimetral - Guamá Caixa Postal: 399 -Fones: Parque (091) 249-1233, Campus (09 1 ) 246-9777 - Fax: (091) 249-0466 CEP 66040-170 - Belém - Pará - Brasil O Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia foi fundado em 1 894 por Emílio Goeldi e o seu Tomo í surgiu em 1 896. O atual Boletim é sucedâneo daquele. The Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia was founded in 1 894, by Emilio Goeldi, and the first volume was issued in 1 896. The present Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi is the successor to this publication. Accrcditcd with the International Association l'or Plant Taxonomy (lAPT) for the purpose of rcgistration of all ncw plant nanies cm SciELO 10 11 12 13 14 15 CDD: 588.0918115 A FAMÍLIA SPLACHNOBRYACEAE (BRYOPHYTA) NO ESTADO DO PARÁ Regina C. L. Lisboa^ AnnaL. Ilkiu-Borges^ RESUMO - É apresentada a distribuição de Splachnobryaceae no estado do Pará, uma nova família de Bryophyta, aqui representada pela espécie Splachnobryum obtusum (Brid.) C. Midi. Dados sobre a morfologia da família e descrição da espécie-tipo, com fotomicrografias e comentários ecológicos, estão incluídos. PALAVRAS-CHAVE: Splachnobryaceae, Bryophyta, Ambiente perturbado. Área urbana. ABSTRACT - The distribution ofthe family Splachnobryaceae to the State of Pará, where is represented by onespecie, Splachnobryum obtusum (Brid.) C. Midi. , is presented. Description and morphological comments are given to the family and type-specie, with photomicrographs. KEY WORDS: Splachnobryaceae, Bryophyta, Disturbed environment, Urban area. ’ PR-MCT/CNPq. Museu Paraense Emílio Goeldi - Dept° de Botânica. Pesquisadora. Caixa Postal 399, Cep 66040-170, Belém-PA. ^ PR-MCT/CNPq. Museu Paraense Emílio Goeldi - Dept“ de Botânica. Bolsista. Caixa Postal 399, Cep 66040-170, Belém-PA. 103 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 INTRODUÇÃO Splachnobryaceae é uma família monotípica de musgos (Bryophyta), criada por Koponen (1981), com a remoção do gênero Splachnobryum C. Müll. de Pottiaceae. Esse mesmo gênero já havia pertencido anterior- mente à família Splachnaceae. Splachnobryum obtusum (Brid.) C. Müll., a única espécie represen- tante da família no Brasil, foi citada pela primeira vez para o país por Lisboa & Yano (1987), para o estado do Amazonas, ainda pertencendo à família Pottiaceae. Em Yano (1989), a espécie é citada já na família Splachnaceae. Em Yano (1995), S. obtusum é colocada dentro da família Splachnobryaceae, sendo referida para os estados do Acre, Alagoas, Ceará, Ilha de Fernando de Noronha, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo. Lisboa & Ilkiu-Borges (1995), a citam pela primeira vez para o estado do Pará, destacando-a como uma das espécies que apresentaram maior adaptação a condições adversas, dentro da área urbana do município de Belém. Este trabalho tem como objetivos apresentar a distribuição da espécie no estado do Pará e, através de fotomicrografias, contribuir para o conhecimento morfológico, facilitando sua identificação. MATERIAL E MÉTODOS O material botânico para o presente estudo é proveniente de coletas realizadas na área urbana de Belém (Lisboa & Ilkiu-Borges 1 995) e na área urbana do município de Anajás, ilha de Marajó, no período de 1991 a 1995, totalizando aproximadamente 1.200 amostras. A coleta e a preparação do material botânico foram feitas de acordo com as técnicas usuais apresentadas em Yano (1984) e Lisboa (1993). A bibliografia utilizada para identificação foi Florschütz (1964) e Koponen (1981, 1994). 104 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 A família Splachnobryaceae (Bryophyta) no Estado do Pará As fotomicrografias foram tiradas em microscópio binocular Nikon, a partir de lâminas semi-permanentes, preparadas com uma solução aquosa de glicerina a 30% e vedadas com esmalte incolor. Todas as amostras referidas estão incorporadas à coleção de briófitas do Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). RESULTADOS E CONCLUSÕES A família Splachnobryaceae, representada no estado do Pará pela espécie Splachnobryum obtusum (Brid.) C. Müll., foi coletada abundan- temente dentro da área urbana de Belém e na área urbana da cidade de Anajás, Ilha de Marajó. Esta família caracteriza-se, segundo Koponen (1981), pela ausência de paráfises no perigônio, o perístoma composto principalmente de endóstoma, presença de ânulus, caliptra com células na base arranjadas espiralmente, ausência de tecido condutor nos filídios e usualmente no caulídio e pêlos incolores de mucilagem, originados das grandes células basais no caulídio. O arquegônio solitário e lateral e a ausência de uma hipófise são caracteres comuns com a família Splachnaceae. Pottiaceae apresenta arquegônio caracteristicamente acrocárpico, perístoma haplolepídeo e células do filídio papilosas. Essas diferenças morfológicas nos órgãos vegetativos e reprodutivos justificaram, para Koponen (1981), a criação da família monotípica Splachnobryaceae, cujo único gênero, Splachnobryum, possui duas espécies para o neotrópico, de acordo com Delgadillo et al. (1995), das quais apenas S. obtusum ocorre no Brasil: Splachnobryum obtusum (Brid.) C. Müll., Verh. Zool.-Bot. Ges. Wien 19; 504. 1869 (Eiguras 1-2). Basiônimo: Weisia obtusa Brid., Muscol. Recent. Suppl. 1: 118. 1809. Localidade-tipo: Hispaniola (Haiti). 105 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi, Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Descrição: Plantas muito pequenas, maioria menor que 5mm de altura, desenvolvendo em tufos frouxos, verde-amarelados a avermelhados; filídios oblongo-lingulados, 0,6-1 (-1,4) X 0,4-0, 5 mm, ápice obtuso, margens crenuladas na região superior, inteiras para a inferior, células da lâmina lisas, curto-retangulares acima, mais curtas em uma fileira na margem, hexagonais (romboidais) na região mediana e longo-retangula- res abaixo, costa única, terminando 3-4 células abaixo do ápice; esporófito não visto, mas descrito em Koponen (1994). Comentários: S. obtusum ocorre exclusiva e freqüentemente na área urbana de Belém, até nas ruas mais movimentadas, sujeitas a tráfego intenso e todo tipo de atividade humana, habitando muros, calçadas, valas, em locais expostos a temperaturas e luminosidade altas. Em coletas realizadas em Reservas Florestais ao redor de Belém, e em áreas com vegetação mais ou menos ou totalmente preservada dentro do estado do Pará, S. obtusum não foi encontrada. Na Ilha de Marajó foi coletada, também, apenas em área urbana. Sempre ocorrendo sobre substratos como pedras, muros e paredes. Essas observações levaram Lisboa & Ilkiu- Borges (1995) a concluírem que a presença de S. obtusum pode ser uma indicação de ambiente perturbado. Segundo Koponen (1994), a espécie distribui-se desde o México até o norte da América do Sul e Ilhas Ocidentais, estados da Geórgia, Flórida e Louisiana, além do Hawai. No Brasil, como referido anteriormente, S. obtusum ocorra nos estados do Amazonas, Acre, Alagoas, Ceará, Ilha de Fernando de Noronha, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo (Lisboa & Yano 1987; Lisboa & Ilkiu-Borges 1995; Vital et al.,\99\ \ Vital & Visnadi 1994; Yano 1989 e 1995). Material Examinado: Brasil, estado do Pará: município de Belém, Bairro Cidade Velha, Rua Tomázia Perdigão, sobre pedra em frente ao Palácio Lauro Sodré, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Cavalcante 176 c 177, 12.x. 1993; idem, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Cavalcante 108 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 A família Splachnobryaceae (Bryophyla) no Eslado do Pará 181, 12.x. 1993; idem. Rua 16 de novembro, sobre calçada, A. L. Ilkiu- Borges & F. Ilkiu-Borges 291 e 292, 6. XII. 1993; idem. Rua de Óbidos, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges íS:F. Ilkiu-Borges 287 e 293, 6. XII. 1993; idem. Rua Ângelo Custódio, sobre calçada molhada, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 294, 6. XII. 1993; idem. Praça da República, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Cavalcante 304, 6. XII. 1993; idem. Bairro Batista Campos, Rua Apinajés, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges &F. Ilkiu-Borges 326, 17.11.1994; idem. Rua Conselheiro Furtado, sobre saída de esgoto, A. L Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 327, 17.11.1994; idem. Bairro do Marco, Tv. do Chaco, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 344 e 348, 22.11.1994; idem, Tv. Curuzu, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 359 e 363, 22.11.1994; idem, Av. Almirante Barroso, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 366, 367, 368, 369 e 370, 22.11.1994; idem, Tv. Mauriti, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 372 e 373, 22.11. 1994; idem, sobre terra, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 374 e 375, 22.11.1994; idem. Passagem Cristina, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & F. Ilkiu-Borges 377, 22.11. 1994; idem, sobre monte de terra, A. L. Ilkiu- Borges & F. Ilkiu-Borges 380, 22.11.1994; idem. Rua Angustura, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 397, 3. III. 1994; idem, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 403, 3. III. 1994; idem, Av. F de Dezembro, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 410 e 41 1 , 3. III. 1994; idem, Pass. São Pedro, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 419, 4. III. 1994; idem, sobre saída de esgoto, A. L. Ilkiu- Borges & M. C. Silva 420, 4. III. 1994; idem, Av. P de dezembro, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 428 e 432, 4. III. 1994; idem, Tv. Pirajá, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Cavalcante 449, 21.111.1994; idem. Bairro Pedreira, Tv. Estrela, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M .C. Silva 450 e 451, 7. IV. 1994; idem. Rua Humaitá, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 455, 456, 457 e 458, 7. IV. 1994; idem. Rua Marquês de Herval, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges 109 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 & M. C. Silva 461, 463, 464 e 466, 7. IV. 19934; idem, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 462 e 465, 7. IV. 1994; idem, Av. Pedro Miranda, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges &M. C. Silva 470, 472 e 474, 7. IV. 1994; idem, sobre pátio (cimentado) de casa, A .L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 475, 7. IV. 1994; idem, Tv. Vileta, sobre calçada, A. L. Ilkiu- Borges & M. C. Silva 478, 486 e 487, 7. IV. 1994; idem, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 482,7. IV. 1994; idem, Tv. Mauriti, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 488 e 489, 7. IV. 1994; idem, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 493, 495 e 496, 7. IV. 1994; idem. Bairro Matinha, Pass. Só Vendo, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges &M. C. Silva 500, 14. IV. 1994; idem, Pass. Lameira, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 503, 14. IV. 1994; idem. Rua Antônio Barreto, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 509, 14. IV. 1994; idem, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 511, 14. IV. 1994; idem. Bairro reduto, Av. Diogo Móia, sobre vala, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 521, 14. IV. 1994; idem. Bairro Val-de-Cans, Conj. Residencial ENASA, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 525, 17. V. 1994; idem. Bairro Souza, Pass. Elieser Levy, sobre muro, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 543, 17. V. 1994; idem. Bairro Acampamento, Rua Barão do Triunfo, sobre vala, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 586, 25. V. 1994; idem, bairro Telégrafo, Rua Luiz Bentes, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 591, 25. V. 1994; idem, Rua Frederico Scheneippe, sobre calçada, A. L. Ilkiu-Borges & M. C. Silva 592, 25. V. 1994; Ilha de Marajó, município de Anajás, Rio Mocoões, sobre muro residencial. Rua Barão do Rio Branco, U. Maciel 2166, III. 1994; idem, sobre solo do jardim da residência de hóspedes da prefeitura, U. Maciel 2167, III. 1994; idem, sobre muro do cais de arrimo, frente da cidade, U. Maciel 2168 e 2169, III. 1994; idem, sobre muro da praça do mercado municipal, U. Maciel 2176, III. 1994; idem, sobre calçada da praça do mercado municipal, U. Maciel 2177, III. 1994; idem, sobre pedra nos arredores da cidade, U. Maciel 2182, III. 1994. 110 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 A família Splachnobryaceae (Bryophyta) no Estado do Pará REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELGADILLO, M.; BELLO, B. & CÁRDENAS, S.A. 1995. Latmoss, a catalogue of Neotropical mosses. Monogr. Systematic Bot. Mo. Bot. Gdn., 56: 1-192. FLORSCHÜTZ, P.A. 1964. The Mosses of Suriname. Leiden, E. J. Brill, part 1, 271p. KOPONEN, A. 1981. Splachnobryaceae, a new moss family. Ann. Bot. Fennici, 18: 123-132. KOPONEN, A. 1994. Splachnobryaceae. Mem. N. Y. Bot. Gdn., 69: 444-445. LISBOA, R.C.L. 1993. Musgos acrocárpicos do estado de Rondônia. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 272p. (Coleção Adolfo Ducke). LISBOA, R.C.L. & YANO, O. 1987. Novas ocorrências de briófitas na Amazônia brasileira. Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 3(2): 141-156. LISBOA, R.C.L. & ILKIU-BORGES, A.L. 1995. Diversidade das briófitas de Belém (PA) e seu potencial como indicadoras de poluição. Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 11(2): 199-225. VITAL, D.M., GIANCOTTI, C. &PURSELL, R.A. 1991. The Bryoflora of Fernando de Noronha, Brasil. Trop. Bryology 4: 23-24. VITAL, D.M. & VISNADI, S.R. 1994. Bryophytes of Rio Branco Municipality, Acre, Brazil. Trop. Bryology 9: 69-74. YANO, O. 1989. An additional checklist of Brazilian bryophytes. J. Hattori Bot. Lab. 66: 371-434. YANO, O. 1995. A new additional annotated checklist of Brazilian bryophytes. J. Hattori Bot. Lab. 78: 137-182. YANO, O. 1984. Briófitas. In: FIDALGO, O. & BONONI, V.L.R. (Coords.). Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo, Instituto de Botânica, 62p. (Manual, 4). Recebido em: 09.11.96 Aprovado em: 02.04.97 111 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 CHLORELLACEAE (CHLOROPHYCEAE, CHLOROCOCCALES) DO LAGO ÁGUA PRETA, MUNICÍPIO DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ^ Regina Célia Viana Martins-Da-Silva^ RESUMO - O inventário florístico da família Chlorellaceae do lago Agua Preta, parte do complexo de abastecimento de água do município de Belém, PA, foi efetuado a partir de quatro coletas, no período de outubro de 1992 a agosto de 1993. Os resultados mostraram que a família Chlorellaceae está representada por 12 táxons: Ankistrodesmus hsrmtdúKomárek, A.bibraianus (Reinsch) Korsikov, A. fusiformis Corda sensu Korsikov, A. gracilis (Reinsch) Korsikov, A. spivalis (Turner) Lemmermann, Kirchneriellacontorta (Schmidlee) Bohlin, K. dianae (Bohlin) Comas, K. obesa (W. West) Schmidle, Monoraphidium irregulare (G.M.Smith) Komárková-Legnerová, M . mirabile (West & West) Pankow, Tetraedron caudatum (Corda) Hansgirg e T. minimum (A. Braun) Hansgirg. PALAVRAS-CHAVE: Algas, Amazônia, Fitoplâncton, Chlorellaceae. ABSTRACT - An inventory of the Chlorellaceae was made in lake Água Preta. This lake is the main component of the water reservoir of Belém in Pará State. The inventory was based on four samples collected during one year, from October 1992 to August 1993. The Chlorellaceae family is represented by 12 taxa: Ankistrodesmus bernardii Komárek, A.bibraianus (Reinsch) Korsikov, A. fusiformis Corda sensu Korsikov, A. gracilis (Reinsch) Korsikov, A. sp\xd\\& (Turncr) Lemmermann, Kirchneriellacontorta (Schmidlee) Bohlin, K. dianae (Bohlin) Comas, K. obesa (W. West) ' Parte da DLssertação de Mestrado - UFPa/MPEG. ^ Lab. de Botânica, Embrapa Amazônia Oriental. Caixa Postal 48, CEP 66017-970. Belém-PA. 113 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi, Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 Schmidle, Monoraphidium irregulare (G.M.Smith) Komárková-Legnerová. M. mirabile (West& West) Pankow, Tetraedroncaudatum (Corda) Hansgirg e T. minimum (A. Braun) Hansgirg. KEY WORDS: Algae, Amazônia, Fitoplankton, Chlorellaceae. INTRODUÇÃO O primeiro levantamento sobre a ordem Chlorococcales no Estado do Pará foi realizado por Kammerer (1938), que apresentou uma listagem com 68 táxons infra-genéricos descritos, tendo ilustrado 19 deles; dentre esses, descreveu como novos uma espécie, sete variedades e duas formas. O segundo levantamento sobre a referida ordem no Estado foi realizado por Martins-Da-Silva (1994), no qual inventariou 46 táxons infra- genéricos, tendo apresentado descrição, ilustração, distribuição geográfica no Estado do Pará e comentários para cada táxon estudado. Há outros levantamentos de fitoplâncton realizados no Pará, porém não são especí- ficos para as Chlorococcales, mas referem-se a seus representantes e tornam-se taxonomicamente importantes na medida que ilustram e descre- vem alguns táxons dessa ordem. Esses levantamentos encontram-se nos trabalhos de Grõnblad (1945), Thomasson (1971, 1977), Uherkovich (1976, 1981) e Huszar (1994). O Estado do Pará é muito rico em ambientes limnéticos e pouco se conhece, ainda, sobre suas algas. Este trabalho teve como objetivo o estudo da família Chlorellaceae no lago Água Preta, visando a contribuir para o aumento do conhecimento do fitoplâncton dessa região. ÁREA DE ESTUDO Atualmente, a captação, o tratamento e a distribuição da água em Belém são efetuados pela Companhia de Saneamento do Pará (COS ANPA) , 114 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Chlorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Agua Preta... cuja represa é formada por dois grandes lagos, o Bolonha e o Água Preta, que ocupam, respectivamente, áreas de 1.790.000m^ e 7.199.500m^. O lago Água Preta possui capacidade de 10,55 x lO^m^, sendo o principal lago que serve como abastecedor de água ao munieípio de Belém (COSANPA 1981) Segundo Dias (1991), a área estudada localiza-se no quadrante a 48°11’00” e 48°13’48'’W e 1°21’32'’ e r24’54'’ Sul, no Estado do Pará, município de Belém (Figura la). Este estudo foi desenvolvido no lago Água Preta, maior lago do complexo de abasteeimento de água da cidade de Belém (Figura Ib). Segundo a classifieação de Kõppen (1948), o clima é do tipo Af tropical chuvoso, com temperatura superior a 18°C, sendo a média anual de 25,7 °C. A média dos meses mais quentes chega a 26,5 °C e a dos meses mais frios, a 25°C. O índiee pluviométrico é bastante elevado, chegando a atingir a 2.200mm/ano nos meses mais chuvosos; e no período onde não há grande intensidade de precipitação, alcança 30mm de altura. O lago Água Preta encontra-se sobre sedimentos do Quaternário Antigo e Recente, oriundos do Grupo Barreiras, o qual é formado por sedimentos arenosos e argilosos de origem continental (Moreira 1966; Ackermann 1969). A cobertura vegetal é caracterizada por floresta densa de terra firme, floresta de terra firme aberta, floresta de várzea, capoeira de terra firme e áreas cultivadas (IDESP 1979). MATERIAL E MÉTODOS Foram realizadas quatro coletas ao longo de um ano: em 28 de outubro de 1992, no início do período chuvoso; em 4 de fevereiro de 1993, 115 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Figura la - Localização do lago Água Preta na cidade de Belém, (adaptado de BRASIL, 1976 e SECTAM, 1992). 116 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 quando as chuvas são abundantes; em 3 de junho de 1993, final da época chuvosa e em 30 de agosto de 1993, quando o índice pluviométrico apresenta-se baixo. As amostras foram coletadas com rede de malha de 45/xm de abertura. Foram também obtidas amostras de algas, através de espremido de macrófitas do gênero Salvinia, existentes no local. O metafíton fora coletado, passando-se somente o recipiente de plástico da rede na massa d’ água superficial. O material recolhido foi tratado segundo Bicudo & Bicudo (1970). As amostras referidas neste trabalho encontram-se depositadas no Herbário lAN, da Embrapa Amazônia Oriental. A coleção recebeu os seguintes números de registro, para cada amostra, de acordo com o período de coleta: lAN 174.083 (28/10/92), lAN 174.084 (04/02/93), lAN 174.085 (03/06/93) e lAN 174.086 (30/08/93). De acordo com os dados obtidos durante as observações ao micros- cópio, mensurações e desenhos, foi realizada a identificação taxonômica, baseada em Kómarek & Fott (1983), subsidiada por: Kammerer (1938); Komárková-Legnerová (1969); Kovácik (1975); Comas (1980, 1984); Tell & Mosto (1982); Sant’Anna & Martins (1982); Komárek (1983); Hindák (1984); Sant’Anna (1984) e Nogueira (1991). As formas celulares usadas na descrição das células foram padroni- zadas de acordo com Stearn (1983). O padrão a, usado na descrição e comentário de Ankistrodesmus bibraianus (Reinsch) Korsikov e A. gracilis (Reinsch) Korsikov, foi calculado de acordo com Komárková- Legnerová (1969). 118 Clilorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Agua Preta... TRATAMENTO TAXONÔMICO la. Indivíduo solitário 2 2a. Célula fusiforme adelgaçada para os ápices aciculares 3 3a. Célula sigmóide, ápices ocupando planos diferentes Monoraphidium irregulare 3b. Célula arqueada, ápices ocupando o mesmo plano M. mirabile 2b. Célula pentagonal ou tetraédrica com ângulos arredondados 4 4a. Célula pentagonal com processos e incisão profunda Tetraedron caudatum 4b. Célula tetraédrica sem processos e sem incisão T. minimum Ib. Indivíduos coloniais 5 5a. Células totalmente envolvidas por mucilagem 6 6a. Células cilíndricas torcidas, sem pirenóide Kirchneriella contorta 6b. Células lunadas com ou sem pirenóide 7 7a. Células com ápices afilados, pirenó ides presentes .... K. dianae 7b. Células com ápices arredondados, pirenóides ausentes K. obesa 5b. Células não envolvidas por mucilagem 8 8a. Células lunadas 9 9a. Células largas (3-4,5 /xm) A. bibraianus 9b. Células estreitas (1,8-2, 7 /xm) A. gracilis 8b. Células fusiformes 10 10a. Células fusiformes retas dispostas cruciadamente A. fusiformis 10b. Células fusiformes espiraladas ou arcuadas 11 lla. Células espiraladas A. spiralis llb. Células arcuadas A. bernardii 119 cm Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Bot. 13(2), 1997 Ankistwdesrnus bernardii Komárek.Nova Hedw., 37: 138/176, pl. 25, fig. 65. 1983 (Figuras 2-4). 120 Chlorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Água Preta... Colônia circular ou alongada; 4-64 células fusiformes, sigmóides ou arcuadas, adelgaçando-se gradualmente para os ápices; 37-65,5 x 1,6-2 /xm; dispostas irregularmente; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Lago Batata - Oriximiná (Huszar, 1994) COMENTÁRIO: De acordo com Komárek & ¥oii{\9%2i) Ankistrodesmus bernarda Kom. apresenta morfologia muito próxima a A. densus Kors. do qual difere apenas pelas células mais estreitas (1-2 [xm) no primeiro táxon do que no segundo (3-5 /um). A. bernarda Kom. lembra, ainda, A. spiraüs (Turner) Lemm., que também foi encontrado na área de estudo. Os dois foram separados pela largura celular e pelo arranjo no centro da colônia; A. bernarda tem 1-2 ^m de largura e as células levemente entrelaçadas, e A. spiraüs apresenta 2-3 fxm de largura, com células entrelaçadas densamente através de suas hélices. Segundo Comas (1984), A. bernardii Kom. é muito abundante em Cuba e parece ter sua distribuição geográfica nos trópicos e subtrópicos. Franceschini (1992), ao estudar as algas continentais de Porto Alegre, refere-se ao táxon em questão, como sendo de regiões tropicais. Ankistrodesmus bibraianus (Reinsch) Korsikov. Protococcineae, 302, fig. 265. 1953 (Figuras 5-6). BASIÔNIMO: Selenastrum bibraianum Reinsch, Abh. Naturhist. Ges. Nürnberg, 3 (2): 64, pl. 4, fig. 2a-2b. 1867. Colônia irregular; 4-8-32 células lunadas, adelgaçando-se gradual- mente para os ápices; 12-17 /xm de diâmetro; 3-4,5 /am de largura, distância entre os ápices 8-10 /xm, parâmetro a= 12-17 /xm; dispostas com região convexa voltada para o interior da colônia; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. 121 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Figuras 5-6 - Ankistrodesmus bibraianus (Reinsch) Kors. 5a-6a. Uma célula da colônia. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Fazenda Taperinha - Santarém (Kammerer 1938; Grõnblad 1945, como Selenastrum bibraianum Reinsch); lagos Jurucuí e Maicá - Santarém (Thomasson 1971, como Selenastrum bibraianum Reinsch); Região de Nhamundá - Terra Santa (Thomasson 1977). COMENTÁRIO: Komárková-Legnerová (1969) ú&íinQ Ankistrodesmus bibraianus (Reinsch) Kors. apresentando células largas, medindo 18- 27-38 X 2,5-4, 5-6,5 ^m e parâmetro a= 2-13-18 fxm, e A. gracilis (Reinsch) Kors. como tendo células estreitas que medem 20-31-44 x 1 ,4- 3-6 /xm e parâmetro a= 6-18-34 gm. Komárek & Fott (1983) diferenciam as duas espécies em questão através das seguintes medidas: para a primeira, 18-38 x (2,5) 4, 5-6,4 gm e, para a segunda, 20-44 x l,4-3-(6) ^m. 122 Chlorellaceae (Clilorophyceae, Chlorococcales) do lago Água Preta... Baseando-se no parâmetro a, considerado por Komárková-Legnerová (1969), e na largura, de acordo com a última autora citada e Komárek & Fott (1983), os indivíduos estudados enquadram-se em A. bibraianus (Reinsch) Kors., uma vez que apresentaram parâmetro a, variando entre 12-17 fim e largura celular 3-4,5 fim. O ápice das células variou nas populações analisadas. Foram observados indivíduos com ápices bem afilados e outros ligeiramente arredondados. Ankistrodesmus fusiformis Corda sensu Korsikov. Protococcineae, 300, fig. 263. 1953 (Figuras 7-8). Colônia com 2-4-8 células fusiformes, retas, estreitas, adelgaçando- se gradualmente para os ápices; 42-58,5 x 1, 9-3,0 fim; dispostas cruciadamente; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. CVJ-t- t\l-L- Figuras 7-8 - Ankistrodesmus fusiformis Corda sensu Kors. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Rio Tapajós - Santarém (Uherkovich 1976). COMENTÁRIO: A morfologia das células (fusiforme e reta, adelgaçando- se lentamente para os ápices) e o arranjo destas em cruz, na colônia, são 123 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 características que separam Anidstrodesmus Jusiforrnis Corda sensu Kors. das demais espécies do gênero. Os indivíduos analisados apresentaram-se todos com as células retas, característica que não deixa dúvida quanto a sua identifieação taxonômica. Ankistrodesmus gracilis (Reinsch) Korsikov. Protococcinea, 305. 1953 (Figura 9). BASIÔNIMO: Selenastrum gracile Reinsch, Abh. Naturhist. Ges. Nürnberg, 3 (2): 65, pl. 4, fig. 3a-3b. 1867. Figura 9 - Ankistrotesrnus gracilis (Reinsch) Kors. Colônia circular; 4-8 células lunadas, estreitas, adelgaçando-se gradualmente para os ápices; 30-45 x 1,8-2, 7 /xm e parâmetro a= 15-28 ixm; dispostas com região convexa voltada para o interior da eolônia; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Fazenda Taperinha- Santarém (Kammerer 1938; Grõnblad 1945, como Selenastrum gracile Reinschj. 124 Chlorellaceae (Chlorophyceae. Chlorococcales) do lago Agua Preta... S ÍIBLIOrtCA Ç' 5 b:- 3 i 9ri COMENTÁRIO: Ankistrodesmus gracilis (Reinsch) Kors. é uma espés próxima a A. bibraianus (Reinsch) Kors., que segundo Komárková- Legnerová (1969) separam-se devido a primeira apresentar colônias se desfazendo com muita facilidade, as células com dimensões de 20-31-44 X 1,4-3, 6 /xme parâmetro a = 6- 1 8-34 /xm; enquanto que a segunda espécie forma colônias estáveis e as células medem 18-27-28 x 2, 5-4, 5-6, 5 /xm e parâmetro a= 2-13-18 /xm. Nas populações analisadas, desprezou-se a primeira característica em questão por não se ter trabalhado com culturas destes indivíduos; e utilizaram-se apenas a largura e o parâmetro a para identificar os espécimes como A. gracilis (Reinsch) Kors., visto que exibem as dimensões destes dois parâmetros de acordo com os limites encontrados por Komárková-Legnerová (1969) e a largura enquadrou-se nos valores indicados por Komárek & Fott (1983) para o referido táxon. Ankistrodesmus spiralis (Turner) Lemmermann. Arch. Hydrobiol., 4: 176. 1908 (Figura 10). BASIÔNIMO: Raphidium spirale Turner, K. svenska Vetenskakad. Handl., 25 (5): 155, fig. 20, 26. 1892. Colônia alongada; 4-8 células fusiformes, helicoidais na região mediana (1-2 voltas), adelgaçando-se gradualmente para os ápices, 60-75 X 2, 2-2, 8 /xm; entrelaçadas densamente na porção mediana; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Fazenda Taperinha - Santarém (Kammerer 1938; Grõnblad 1945). COMENTÁRIO: Komárek & Fott (1983) separam Ankistrodesmus spiralis (Turner) Lemm. das demais espécies do gênero pela morfologia celular helicoidal com ápices agudos e o arranjo das células na colônia, entrelaçadas através das espirais na região mediana. 125 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 II Figura 10 - Ankistrotesmiis spiralis (Turner) Leinm. As colônias analisadas neste trabalho foram muito semelhantes ao material estudado por Sant’Anna (1984) e apresentaram-se, no máximo, com oito células, unidas na região mediana por 1-2 voltas; o que facilitou o reconhecimento do táxon. Kirchneriella contorta (Schmidle) Bohlin var. elongata (G.M. Smith) Komárek. Árch. HydrobioL, 56 (2): 256. 1979. Suplemento (Figura 11). BASIÒNIMO: Kirchneriella ellongata G. M. Smith, Buli. Torrey bot. Club, 43: 473, pl. 24, fig. 7. 1916. Colônia arredondada, 45-75,8 /xm de diâmetro; 4-8 células cilíndricas, torcidas, 1-2 voltas, 2-2,5 /xm de largura, altura da hélice 5, 8-7, 9 /xm; dispostas irregularmente em mucilagem; cloroplastídio único, parietal sem pirenóide. 126 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Chlorellaceae (Clilorophyceae. Chlorococcales) do lago Agua Preta... Figura 11 - Kirchneriella contorta (Schmidle) Bohl. var. elongata (G. M. Smith) Kom.; a. duas células da colônia. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Primeiro registro da ocorrência da variedade. COMENTÁRIO: Para Komárek & Fott (1983) existem três variedades de Kirchneriella contorta (Schm.) Bohlin além da típica da espécie: K. contorta (Schm.) Bohlin var. gracillima (Bohlin) Chodat, K. contorta (Schm.) Bohlin var. elegans (Playfair) Kom. e K. contorta (Schm.) Bohlin var. elongata (G.M. Smith) Kom.. Kirchneriella contorta (Schm.) var. elongata (G.M. Smith) Kom. difere das demais espécies do gênero por possuir células helicoidais. O primeiro registro de sua ocorrência no Brasil foi feito por Nogueira (1991). Kirchneriella dianae (Bohlin) Comas. Acta bot. Cubana, 2: ?. 1980. (Figura 12) BASIÔNIMO: Kirchneriella limaris (Kirchner) Mobius var. dianae Bohlin K. svenska. Vetush. - Akad. Handl., Afd. 3, 27 (7): 3-47. 1897. 127 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Colônia arredondada, 47,5-64,5 /um; 4-32 células; lunadas, 9-11,5 x 5, 9-8,0 ^m, incisão em U alcançando quase metade da altura celular, ápices afilados, voltados para o exterior da colônia, 3, 3-4, 5 (im de distância entre os ápices; dispostas irregularmente em mucilagem; cloroplastídio único, parietal, um pirenóide. Figura 12 - Kirchneriella dianae (Bohiin) Comas; a. uma célula da colônia. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ; Primeiro registro da ocorrência da espécie. 128 Chlorellaceae (Chlorophyceae. Chlorococcales) do lago Água Preta... COMENTÁRIO: Kirchneriella dianae (Bohlin) Comas foi original- mente descrita como uma variedade de K. lunaris (Kirchner) Mõbius e depois elevada à categoria de espécie por Comas (1980). Esse autor separa K. dianae (Bohlin) Comas de K. lunaris (Kirchner) Mõbius devido à primeira apresentar contorno das células ovoides, com os ápices voltados para o exterior da colônia, e à segunda por ter contorno de suas células arredondadas, arranjadas irregularmente na colônia. Kirchneriella obesa (W. West) Schmidle. Ber. Nat. Ges. Ereiburg, 87: 16. 1893 (Eiguras 13-14). BASIÔNIMO: Selenastrum obesum W. West, Jl. R. Microsc. Soc., 12:734, pl. 10, fig. 50-52. 1892. Colônia arredondada, 30-62,5 /xm de diâmetro; 4-16 células lunadas, quase circulares, 8-11,5 /xm de diâmetro; incisão mediana em forma de U em até 2/3 de sua altura; ápices arredondados, dispostas irregularmente em mucilagem; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174,084. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Primeiro registro da ocorrência da espécie. COMENTÁRIO: Nas populações estudadas, observou-se ausência de pirenóides nas células, que foi relatada para esta espécie por Tell & Mosto (1982), Komárek (1983) e Hindák (1984). Porém, sua presença foi registrada nos estudos de Sant’Anna & Martins (1982), Comas (1984), Sant’Anna (1984) e Bittencourt-Oliveira (1990). Hindák (1984) evidenciou a importância taxonômica da presença ou ausência de pirenóides no gênero em questão; elaborou uma chave de identificação onde essa característica está separando o gênero em dois grupos, ou seja, as espécies que possuem e as que não possuem pirenóides, posicionou K. obesa (W. West) Schm. no segundo grupo. 129 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Bot. 13(2), 1997 Figuras 13-14 - Kirchneriella obesa (W. West) Schmidle. 13a. uma célula da colônia. Marvan et al. (1984) propuseram que fossem excluídas do gênero, as espécies que não possuem pirenóides, mantendo K. obesa (W. West) Schm. pela presença dessa estrutura. Diante de tais divergências, há necessidade de estudos mais aprofundados que venham esclarecer o posicionamento taxonômico das espécies deste gênero; no presente, preferiu-se que os espécimes encontrados fossem identificados como K. obesa (W. West) Schm. por possuírem as células lunadas quase circulares e a incisão em U. cm SciELO Chlorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Agua Preta... Monoraphidium irregulare (G.M. Smith) Komárkóvá-Legnerová. Stud. Phycol., 106-107, pl. 19. 1969 (Figura 15). BASIÔNIMO: Dactylococcopsis irregularis G. M. Smith, Ark. Bot., 17: 6, fig. 26-28. 1922. Célula solitária, fusiforme, sigmóide, perfazendo 1-2 voltas, adelga- çando-se gradualmente para os ápices aciculares; 45-75 x 3-4,5 fim; ocupando diferentes planos; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.084; lAN 174.085. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Lago Batata - Oriximiná (Huszar 1994). COMENTÁRIO: Monoraphidium irregulare (G.M. Smith) Kom.-Leg. lembra M. contortum (Thurner) Kom.-Leg.; do qual difere pelo compri- mento e o número de voltas que a célula faz ao longo de sua extensão. O primeiro táxon referido apresenta 1-2 voltas ao longo de seu corpo e o E Figura 15 - Monoraphidium irregulare (G. M. Smith) Kom.-Leg. 131 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 comprimento varia de 40-72 /xm, enquanto o segundo faz de 0,5- 1 ,5 voltas e mede 5-40 jum de comprimento. Os indivíduos analisados apresentaram extensão superior ao limite métrico fixado por Komárková-Legnerová (1969) e Komárek & Fott (1983). Foram registrados, por Huszar (1994), para o Estado do Pará, indivíduos com dimensões eelulares bem menores que os limites apresen- tados pelos autores referidos acima. Monoraphidium mirabile (West & West) Pankow. Algen. der Ostee. III. Plank. ?. 1976 (Figura 16). Célula solitária, fusiforme, arqueada, adelgaçando-se gradualmente para os ápices aciculares; 70-95 x 2, 5-3, 5 /xm; ocupando o mesmo plano; cloroplastídio único, parietal, sem pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁEICA NO ESTADO DO PARÁ: Primeiro registro da ocorrência da espécie. COMENTÁRIO: Monoraphidium mirabile (West & West) Pankow apresen- ta morfologia próxima a M. indicum Hindák do qual difere pelas dimensões: o primeiro apresenta comprimento celular bem menor (60-155 x 2-5,5 /xm), enquanto que o comprimento do segundo varia de 120-260 /xm X 3-5 /xm (Komárek & Fott 1983). Os espécimes ilustrados por esses autores apresentam-se com e sem pirenóides. Nos exemplares examinados neste trabalho não foram obser- vadas as referidas estruturas. Tetraedron caudatwn (Corda) Hansgirg. Hedwigia, 27: 131. 1888 (Figura 17). BASIÔNIMO: Astericiiim caudatwn Corda, Alm. Carlsbad., 9: 238, pl. 1. fig. 2. 1839. 132 Chlorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Água Preta... Figura 16 - Monoraphidium mirabile (West & West) Pankow. Célula isolada, achatada, pentagonal; 4, 5-7, 5 x 3-7 pm; ângulos arredondados, terminados em um processo com 2,5-4 pm de comprimento; lados côncavos, incisão profunda; parede celular lisa; cloroplastídio único, parietal, um pirenóide. AMOSTRAS EXAMINADAS: lAN 174.083; lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Lago Jurucuí - Santarém (Thomasson 1971); região de Nhamundá - Terra Santa (Thomasson 1977). COMENTÁRIO: Tetraedron caudatum (Corda) Hansgirg é uma espécie bem delimitada dentro do gênero. Seus cinco ângulos providos de processos e a presença de uma incisão profunda o diferenciam das demais espécies do gênero (Kovácik 1975). A forma da célula, bem como a incisão em um dos lados se mantiveram constantes cm todos os espécimes analisados, porém, o comprimento dos processos variou mesmo em indivíduos que apresentavam as mesmas dimensões celulares. 133 ( 1 SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 lO Figura 17 - Tetraêdron caudatum (Corda) Hansgirg. Assim, como os resultados apresentados por Sant’Anna (1984) e Nogueira (1991) trabalhando, respectivamente, com material de São Paulo e Rio de Janeiro, as amostras analisadas neste trabalho apresenta- ram-se muito pobres em número de indivíduos. Tetraedron minimum (A. Braun) Hansgirg. Hedwigia, 27; 131. 1888 (Figura 18). BASIÔNIMO: Polyedríum minimum A. Braun, Alg. unicell. 94, 1855. Célula isolada, tetraédrica, quase plana; 7-12,5 /xm de lado; ângulos arredondados; margens côncavas; cloroplastídio único, parietal, um pirenóide. AMOSTRA EXAMINADA: lAN 174.086. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA NO ESTADO DO PARÁ: Lago Batata - Oriximiná (Huszar 1994). COMENTÁRIO: Tetraedron minimum (A. Braun) Hansgirg caracteriza- se pela célula tetraédrica quase plana e pela presença de pequenas papilas nos ângulos (Kovácik 1975) as quais, segundo Nogueira (1991), podem também estar ausentes. 134 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Chlorellaceae (Chlorophyceae, Chlorococcales) do lago Água Preta... Figura 18 - Tetraêdron minimum (A. Braun) Hansgirg. A quantidade de indivíduos encontrada nas amostras apresentou-se sempre muito reduzida e todos com a forma celular tetraédrica e com papilas ausentes. O táxon, em questão, foi registrado para o Pará, no lago Batata (Oriximiná) por Huszar (1994) porém com limites métricos inferiores (4, 5-5, 5 /xm) aos encontrados (7-12 /xm). CONCLUSÕES A família Chlorellaceae, no lago Água Preta, está representada por 12 espécies: Ankistrodesmus bernardii KoméiXtk, A. bibraianus (Reinsch) Korsikov, A. fusiformis Corda sensu Korsikov, A. gracilis (Reinsch) Korsikov, A. spiralis (Turner) Lemmermann, Kirchneriella conforta (Schmidlee) Bohlin, K. dianae (Bohlin) Comas, K. obesa (W. West) Schmidle, Monoraphidium irregidare (G.M.Smith) Komárková- Legnerová, M. mirabile (West & West) Pankow, Tetraedron caudatum (Corda) Hansgirg e T. minimum (A, Braun) Hansgirg. O gênero Ankistrodesmus, com cinco espécies, foi o que, qualitativamente, melhor se fez representar, seguido de Kirchneriella (3 espécies), Monoraphidium (2) e Tetraedron (2 espécies). 135 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Kirchneriella obesa (W.West) Schmidle é um táxon cujas descri- ções, em literatura, ainda divergem quanto à presença de pirenóides. Torna-se de fundamental importância um estudo mais minucioso para que se chegue a um esclarecimento quanto à presença dessa estrutura, pois a tendência atual é excluir da ordem Chlorococcales os táxons que não possuem pirenóides. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Carlos Eduardo de Mattos Bicudo (Instituto de Botânica de São Paulo) e à Dra. Ermelinda Maria De-Lamonica-Freire (Universidade Federal de Mato Grosso) pela orientação durante a execução da Disserta- ção de Mestrado. À M. Sc. Ina de Souza Nogueira (Universidade Federal de Goiás) , pela leitura crítica da parte taxonômica da referida Dissertação . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKERMANN, F.L. 1969. Esboço para a geologia entre a cidade de Belém-Rio Gurupi e Atlântico - Rio Guamá. Belém, Imprensa Universitária do Pará, 79p. BICUDO, C.E. M.& BICUDO, R.M.T. 1970. Algas de águas continentais brasileiras. São Paulo, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de ciências, 286p . BITTENCOURT-OLIVEIRA, M. C. 1990. 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Belém, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, Dissertação de Mestrado. 137 SciELO 10 11 12 13 14 15 16 cm Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 MOREIRA, E. 1966. Belém e suas expressões geográficas. Belém, Imprensa Universitária,. 174p. NOGUEIRA, I. S. 1991 Chlorococcales sensu lato (Chlorophyceae) do Município do Rio de Janeiro e arredores, Brasil: inventário e considerações taxonômicas . Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado. PROJEO RADAMBRASIL. 1976. DNPM. (Levantamento de Recursos Naturais, 1). Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional de Produção Mineral. Brasil. SANT’ANNA, C.L. 1984. Chlorococcales (Chlorophyceae) do Estado de São Paulo, Brasil. Vaduz, J. Cramer, 348p. (Bibliotheca Phycologica, 67). SANT’ANNA, C.L.& MARTINS, D.V. 1982. Chlorococcales (Chlorophyceae) dos lagos Cristalino e São Sebastião, Amazonas, Brasil; Taxonomia e aspectos limnológicos. Rev. Bras. Bot., São Paulo, 5:67-82. SECTAM. 1992. 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Recebido em: 17.09.96 Aprovado em: 22.10.97 138 CDD 582.16 583.25 ANATOMIA COMPARADA DO LENHO DE QUATRO ESPÉCIES DE GUAREA ALLAMAND EX LINNAEUS DA ZONA DA MATA MINEIRA E DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Maria Rohane de Linia^ Eido Antônio Monteiro da Silva^ Antônio Lelis Pinheiro^ Pedro L. B. Lisboa^ RESUMO - O objetivo deste trabalho é caracterizar microscopicamente o lenho de quatro espécies de Guaxes. Allainand ex Linnaeus (Meliaceae) da Zona da Mata mineira fGuarea guidonia (L.) Sleiimer, Guarea kunthiana Adr. Jussieu, Guarea pendula Ramalho, Pinheiro et Pennington: Guarea macrophylla siibsp. tuberculata (Vellozo) Pennington) e compará-lo com espécies que ocorrem na Amazônia brasileira (G. guidonia, G. kunthiana e G. macrophylla, sendo que esta última com a subespécie pachycarpa (C DeCandolle) Pennington. Foram examinadas amostras de madeiras obtidas de xilotecas de várias instituições de pesquisa do país, todas com material de herbário comprobatório registrado, cuja identificação taxonômica foi acatada. As observações anatômicas foram realizadas em cortes histológicos, obtidos segundo as técnicas usuais em anatomia da madeira. São apresentadas descrições das características anatômicas detalhadas do lenho de ’ Professor Assistente da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Av. Perimetral s/n, 66.040-170, Belém, Pará. ^ Professor Titular da Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, MG. ^ Professor Assistente da Universidade Federal de Viçosa, 36.570-000, Viçosa, MG, PR-MCT/CNPq. Museu Paraense Emílio Goeldi - Pesquisador Titular. Caixa Postal, 399. Cep 66040-170. Belém-PA. 139 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 cada uma das espécies e subespécies estudadas, bem como as comparações feitas entre indivíduos da mesma espécie, procedentes das diferentes regiões. Foi observada uma grande semelhança entre as espécies estudadas. Estas apresentam um padrão genérico bem definido, em termos de distribui- ção, arranjo e percentual das estruturas que compõem o xilema secundário. As variações encontradas são principalmente de caráter quantitativo e são comuns a todas as espécies e a todos os indivíduos observados. Não foram encontradas diferenças marcantes que caracterizassem individualmente as espécies ou subespécies estudadas. PALAVRAS-CHAVE: Anatomia de madeira. Madeiras tropicais, Guarea spp. ABSTRA CT - The purpose ofthis project was to characterize microscopically the wood from four species o/ Guarea Allamand ex Linnaeus (Meliaceae), from the Atlantic Coastal Forest of Minas Gerais, Brazil [G. guidonia (L.) Sleumer, G. kunthiana Adr. Jussieu, G. pendula Ramalho, Pinheiro et Pennington, G. macrophylla tuberculata (Vellozo) Pennington] and to compare it with samples from the Brazilian Amazon [G. guidonia, G. kunthiana and G. macrophylla, this last species being represented by the subspecies pachycarpa fC. DeCandolle) Pennington]. Wood samples from the collections of various research institutes were examined, all having herbarium voucher specimens with authoritative botanical identifications. Anatomical observations were made on histological sections made according to standard methodologies. Detailed anatomical descriptions are given of thexylem characteristics ofeach ofthe species and subspecies studied, as well as comparisons made among individuais ofthe same species that carne from the two geographical regions. In all, a great similarity among the studied species was observed. These species present a generic pattern that is well defined, in terms ofthe distribution, arrangement and composition ofthe structures the make up the secondary xylem. The variation that traí found is mostly ofa quantitative nature and is common to all the species and individuais studied. No rnarked differences were detected that could be used to characterize any ofthe studied species or subspecies. KEY WORDS: Wood anatomy. Tropical woods, Meliaceae, Guarea spp. 140 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand INTRODUÇÃO A família Meliaceae é predominantemente tropical (Girardi 1975) estando representada por oito gêneros nas florestas naturais da América do Sul: Cabralea, Carapa, Cedrela, Eluttheri, Guarea, Swietenia, Riiagea e Trichilia (Pennington 1981). Das 200 espécies do gênero, apenas, 23 ocorrem na Amazônia brasileira e 4 na Zona da Mata mineira (Pennington & Styles 1975). Este estudo analisa as características anatômicas microscópicas das madeiras de quatro espécies do gênero Guarea Allamand ex Linnaeus, ocorrentes na Zona da Mata mineira e na Amazônia brasileira. As espécies da Zona da Mata mineira são Guarea guidonia (L.) Sleumer, Guarea kunthiana Adr. Jussieu, Guarea pendula Ramalho, Pinheiro et Pennington; Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vellozo) Pennington. As espécies G. guidonia, G. kunthiana e G. macrophylla também ocorrem na Amazônia, sendo que esta última com a subespécie. pachy carpa (C. de Candolle) Pennington. O objetivo é identificar quais das características microscópicas são de importância taxonômica, bem como utilizar os dados qualitativo e quantitativo da anatomia da madeira, para comparação entre as três espécies existentes nas duas regiões. O objetivo é fornecer informações para futuros estudos sobre filogenia, taxonomia, desenvolvimento e regeneração dessas espécies, como contri- buição à utilização das espécies como matéria prima para fins econômicos . MATERIAL E MÉTODOS Material As amostras de madeira das quatro espécies do gênero Guarea estudadas têm material botânico registrado em herbário, cuja identificação foi aceita, sendo apenas trocados os nomes científicos pela sinonímia em uso, dada por Pennington (1981). 141 j 1 SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 De cada espécie, foram estudados de um a três espécimes, de acordo com a disponibilidade de material, listados a seguir: Guarea guidonia (L.) Sleumer MINAS GERAIS; DENDw 21461, Pedra do Anta-Entre Rios. Col. Antônio Lelis Pinheiro, em 02.01.84. Identificado por Humberto de S. Barreto, confirmado porT.D. Pennington. DEND 1847. PARÁ; lANw 2999, entre Estreito e Marabá. Col. J. M. Pires e N. Rosa, 13.630, em 15.09.70. IAN-140.519 (Guarea rusbigi). Guarea kunthiana Adr. Juss. MINAS GERAIS: DENDw 23991, Viçosa, Campo do Paraíso. Col. Antonio Lelis Pinheiro, em 02.01.84. Identificado por Humberto S. Barreiros, confirmado por T. D. Pennington. DEND 1846; AMAZO- NAS: MGw 13061, Rio Negro, Rio Janapari, estirão Tacuera. Col. M. R. Santos, 52; em 18.02.1977. MG-55.573 (G. grandifoliola C. DC.). Guarea pendula Ramalho, Pinheiro et Pennington. sp. nov. MINAS GERAIS: DENDw 2398, Viçosa, Mata da Silvicultura, Universidade Eederal de Viçosa. Col. Antônio Lelis Pinheiro, em 28.07.89, identificado por Antonio Lelis Pinheiro, confirmado por T. D. Pennington. DEND 1853. Guarea macrophylla subsp. pachy carpa (C. DeCandolle) Pennington PARÁ: MGw 3761, Fazenda Guaripé, a 22 km da Cidade de Tucuruí. Col. N. A. Rosa, 3675, em 27.05.1980. Solo úmido, mata virgem, árvore de 15 m de altura por 1 m. de circunferência, material estéril. MG-73.688 (G. subsessiliflora C.DC.); lANw 2991, Carajás, 142 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Altamand Serra Buritirana, Rio Itacaiúnas. Col. J. M. Pires s/n, em agosto de 1970. IAN-129018 (G. guedesii); RONDÔNIA: MGw 39351, Estrada da Alvo- rada do Oeste - Costa Marques, km 90. Col. M.G. Silva, M.R. Santos, C.R. Silva, s/n, em 06.07. 1983. Mata de terra-firme, inventário florestal. Número de registro de herbário não encontrado (G. macrophylla Vahl.); Guarea macrophylla subsp. tuberculata (Vellozo) Pennington MINAS GERAIS: DENDw 2148, Viçosa, Mata da Prefeitura. Col. Antônio Lelis Pinheiro, em 02.01.84. Identificado por Humberto S. Barreiro, confirmado por T.D. Pennington. DEND 1848. As siglas das xilotecas que doaram o material para o estudo são: lANw - Instituto Agronômico do Norte (atual Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental/EMBRAPA), Belém-PA; DENDw - Setor de Dendrologia do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa; MG. MGw Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém-PA. Métodos Corpos de Prova Foram preparados dois corpos de prova das espécies Guarea guidonia e G. kunthiana respectivamente, da região amazônica e da Zona da Mata mineira e três corpos de prova de Guarea macrophylla SMhsvp.pachicarpa procedente da Amazônia. Com relação às espécies Guarea macrophylla subsp. tuberculata e Guarea pendula (tipo), estudou-se apenas um indivíduo, coletado na Zona da Mata mineira. Cortes Histológicos Os cortes histológicos foram confeccionados, obedecendo as técni- cas padronizadas para a anatomia da madeira. Os corpos de prova foram 143 1 SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 submetidos ao cozimento por aproximadamente 1 hora e 30 minutos e destes foram obtidos cortes histológicos, orientados nos planos transversal e longitudinal. Deste último, foram obtidos os cortes tangenciais e radiais, sempre utilizando um micrótomo de deslise. Os cortes foram clarificados em hipoclorito de sódio a 1 % , e corados em uma mistura hidroalcoólica de safranina e azul-de-astra; durante a passagem pela série alcoólica, para a desidratação alguns cortes foram conservados ao natural, para a observação de inclusões e obstruções celulares. Material Macerado Para a dissociação das células do xilema, o material foi macerado em uma solução de ácido acético glacial e peróxido de oxigênio a 120 vol., na proporção de 1 : 1 , e submetido a uma temperatura de 60°C, durante 24 horas; em seguida, foi lavado em água corrente e corado com safranina. De cada indivíduo, foram montadas 15 lâminas temporárias, em glicerina e água (50%). Contagens, Medições e Fotografias Todas es estruturas foram contadas, mensuradas e fotografadas em microscópio Zeiss-Docuval, utilizando, para as medições, um tambor micrométrico. Todas as medições (25 em média) e contagens foram feitas em 25 campos e, para todos os valores, foram obtidos média, valor máximo, valor mínimo, desvio padrão e o coeficiente de variação, segundo as normas reeomendadas por lawa Committee (1989). Descrições Todas as amostras foram descritas detalhadamente, de acordo com as normas recomendadas pela International Association of Wood Anatomists 144 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea AUamand (lAWA Committee 1989). Para as observações de inclusões, como cristais, grãos semelhantes a amido e sílica, foi utilizada a luz polarizada. RESULTADOS E DISCUSSÕES Descrição anatômica do lenho das espécies de Guarea estudadas Guarea guidonia Vasos em distribuição difusa, pouco numerosos, em média 9/mm^ (3-26), com 34% de solitários e 66% de múltiplos, em cadeia radial de 2-5 células, raros em grupamento dendrítico; os solitários apresentam a secção variando de oval a angular, vazios, pequenos a médios, com diâmetro igual a 128,8/xm, em média (Figura la); placas de perfuração simples, predominantemente transversal nos vasos de maior diâmetro e inclinada nos vasos mais estreitos; pontoações intervasculares alternas, poligonais, todas diminutas (menor que Imm); elementos vasculares, variando de curtos a extremamente longos, de comprimento médio igual a 761,7jum, esses geralmente pouco evidenciados, em virtude do pequeno comprimen- to em uma ou ambas as extremidades (Figuras 3f, g). Parênquima axial paratraqueal aliforme confluente, chegando a formar faixas com mais de três células, em alguns pontos (Figura la), do tipo seriado com 3-8 células por série. não-estratificados, em média 12/mm, 34% sãounisseriados e 66% são bisseriados, do tipo misto, com porções unisseriadas e porções bisseriadas, (Figura Ib), homocelulares, de células procumbentes, na maioria, havendo, porém, alguns heterocelulares, com células quadradas nas extremidades, todos com menos de 1 mm de altura, sendo que os unisseriados têm, em média, 276,9/un de comprimento e os bisseriados, 397,3p.m; o comprimento em número de células desses mesmos raios varia de 5-23 células nos unisseriados e 6-36 células nos bisseriados; pontoações raio-vasculares semelhantes às intervasculares, ou seja, alternas e diminutas. 145 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Bal. Mus, Puni. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2). 1997 Figuras 1-2; [) Gimrea guiclonia: la. cone transversal (50x); Ib. corte tangeneial (5üx); Ic. corte radial (50x); Id. corte transversal destacando traqueoidc vascular/tr ( 130x). 2) Gimreii kunthiana: 2a. corte transversal (50x); 2b. corte radial destacando pontuações radio- vasculares (420x). 146 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand Fibras, na maioria, não-septadas, com comprimento médio igual a 1773, 8/xm, parede sempre mais espessa (em média 0,7/mi) que o lume (0,9/im, em média) e diâmetro médio igual a 2,3^m. Fibrotraqueídes presentes, com comprimento médio igual a 1321, 0/xm, distinguíveis das fibras por apresentarem-se um pouco mais curtos, menos fusiformes; a espessura das paredes tem, em média, 0,7^m, sendo que o diâmetro do lume apresenta-se, em média, com 2,5ixm e o diâmetro médio total é igual a 3,9p,m. São mais difíceis de distinguir das fibras do que nas outras espécies, podendo ser interpretados como fibras mais delgadas. Traqueóides vasculares presentes em proporções variadas (Figura 3e) entre os indiví- duos observados, que podem ser apenas terminações de vasos. Cristais prismáticos presentes em células septadas do parênquima axial, formando poucas fileiras de tamanhos variados (2-15 cristais por fileira); no espécime de procedência amazônica, são encontrados em menor quantidade. Guarea kunthiana Vasos solitários (20%) e múltiplos (80%), em grupamento radial de 2-4 células, muito raros em grupos dendríticos, distribuídos de maneira difusa (Figura 2a), poucos a numerosos, apresentando, em média, 9/mni^ (4-17/mm2); os solitários, com secção transversal de oval à angular, com diâmetro tangencial médio igual a 127,3/im, vão de extremamente pequenos a médios; placas de perfuração simples, transversal nos mais largos e oblíqua nos mais estreitos; elementos de vaso de comprimento médio igual a 530,7/xm, de um apêndice a outro, portanto, variando de muito curtos a muito longos (Figura 4b); pontoações intervasculares alternas e escalar iformes no mesmo elemento de vaso, sendo que, na maioria, são apenas alternas poligonais, diminutas, todas com menos de Imm de diâmetro. Parênquima axial paratraqueal aliforme confluente, com presença de raros aliformes não-confluentes (Figura 2a), de aletas que variam de estreitas a mais largas; do tipo seriado com 3-8 células por série, 147 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Figuras 3-4: 3) Giiarea guidonia, material macerado: 3a. fibra libriforme (300x); 3b. fibra libriforme com pontuações areoladas (300x); 3c-3d. fibrotraqueídes (342); 4) Guarea kunthiana, material macerado: 4a-4b. elementos de vaso largos (342x). 148 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea AUamand em média quatro por série. Raios não-estratificados, 70% de unisseriados e 30 % de bisseriados, chegando a 90 % em um dos indivíduos observados , homogêneos, de células procumbentes, todos com menos de 1 mm de altura, sendo que a média está em 338,5;um de altura para os unisseriados e 169,7/xm, para os bisseriados, a altura, em número de células, varia de 3-30células porraio, numerosos, em média 10 raios/mm linear; pontoações raiovasculares (Figura 2b) também alternas e diminutas como as intervasculares. Fibras predominantemente não-septadas, sendo muito raras as septadas, com presença de poucas e minúsculas pontoações areoladas, havendo, também, fibras com pontoações simples, com média igual a 1434,4/11111 de comprimento; apresentando lume com diâmetro médio igual a 0,9/xm e parede com espessura média de 0,7/um. Fibrotraqueídes presentes, com comprimento médio igual a 607,2/iim, apesar de difíceis de distinguir das fibras, são mais curtos e mais delgados que aquelas, com o lume ocupando até 80% do diâmetro total da estrutura, com média igual a 2,0/xm, espessura média da parede igual a 0,5/xm e diâmetro total médio igual a 3,0/xm. Traqueóides presentes ou ausentes e podem ser vasculares ou apenas terminações de vasos . Cristais prismáticos raros em células septadas do parênquima axial. Máculas medulares presentes. Guarea macrophylla subsp. tuberculata Vasos em distribuição difusa, com 22% de solitários e 78% de múltiplos, em grupamento radial de 2-4 células e alguns grupos dendríticos com até cinco células; secção transversal, variando de pouco angular à perfeitamente oval, vazios (Figura 5a); variando de pequenos a médios, com diâmetro tangencial médio igual a 122, 3^m; pouco numerosos a numerosos (4-18/mm^), em média 8/mm^; elementos vasculares, varian- do de curtos a muito longo, com comprimento médio igual a 727,9/um; de apêndices curtos e bem-formados, ou ausentes nos elementos de vaso de 149 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emilio Goeldt, ser. Boi. 13(2), 1997 Figuras 5-6; 5) Gucirea macrophytla subsp. tiiberculata: 5a. corte transversal com mácula medular (50x); 5b. corte tangencial (50x); 6) Guarea macrophyUci subsp. pachyairpa: 6a. corte transversal com mácula medular (50x); 6b. corte radial (50x). cm SciELO Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea AUamand maior diâmetro, ou confundindo-se com a inclinação das placas de perfuração dos elementos de vaso mais estreitos . Pontoações intcrvasculares areoladas alternas, de forma poligonal diminutas, todas com menos de 1 /xm de diâmetro , alguns poucos elementos de vaso apresentam pontoações alternas e escalariformes. Parênquima axial paratraqueal aliforme conflu- ente (Figura 5a), do tipo seriado, com 5-10 células por série (em média 7 células). Raios não-estratificados, em média 11/mm linear (8-14/mm), em maioria heterogêneos com células quadradas nas extremidades e procumbentes em todo o corpo do raio e alguns homogêneos constituídos apenas de células procumbentes, quase exclusivamente unisseriados (89%), sendo muito raros os bisseriados (11%), todos com porções unisseriadas, na maioria baixos, quase todos com menos de Imm de altura, é raro os bisseriados apresentarem altura acima de 1 mm, tendo, portanto, altura média de 490,9/im para os unisseriados e 533,8/im de altura média para os bisseriados; pontoações raio-vasculares iguais às intcrvasculares, diminutas, alternas e poligonais. Fibras septadas, na maioria, com comprimento médio de 1598, 4/xm, de paredes com espessura média igual a 0,7/xm e abertura de lume igual a 0,7/xm. Fibrotraqueídes presentes, alguns muito semelhante às fibras, porém um pouco mais curtos, outros apresentando espessamento espiralado na parede celular (Figuras 7a, b); em média 1395,2/xm de comprimento, e mais delgados com parede igual a 0,6/xm e lume com 1 ,8/xm, sendo o diâmetro total, em média, de 3,0jiim. Cristais prismáticos em células septadas do parênquima axial, com poucas fileiras de 2-10 cristais. Máculas medulares presentes. Guarea macrophylla subsp. pachy carpa Vasos solitários (Figura 6a), correspondendo a 37 % do total por mm^ e 63% de múltiplos, cm grupamento radial, alguns em grupamento dendrítico, com 2-4 células por grupo, em distribuição difusa, pequenos amédios, com diâmetro tangencial médio de 138,7/xm, vazios, com placas 151 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Figuras 7-8; 7) Gimrea macrophylla subsp. tuberculata, material macerado: 7a. fibrotraqueíde com espessamento espiralado (430x); 7b. fibrotraqueíde (342x); 7c. fibra libriforme (342x); 8) Guarea macrophylla subsp. pachycarpa: 8a. traqueóide (342x); 8b. fibrotraqueíde (342x); 8c-8i. elementos de vaso de dimensões variadas (342x). SciELO cm Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand de perfuração do tipo simples, perpendiculares nos elementos de vaso mais largos e oblíquas nos mais estreitos, apêndices curtos e bem-formados, ou ausentes, em uma ou em ambas as extremidades do elemento vascular, ou confundindo-se com a inclinação da parede terminal dos elementos mais estreitos (Figura 8c); o comprimento médio dos elementos de vaso é igual a 625, O^m; pontoações intervasculares areoladas, diminutas, alternas e escalariformes no mesmo elemento de vaso, também ocorrendo apenas alternas de forma poligonal. Parênquima axial paratraqueal confluente de aletas finas a médias (Figura 6a) do tipo seriado, com 4-8 células por série. Raios, em média, 11/mm linear, com 47% de unisseriados e 53% de bisseriados, não-estratificados, com menos de Immde altura, na maioria, tendo como altura média 172, 9^m para os unisseriados e 454, 7^m para os bisseriados e a altura em número de células varia de 3-5 1 e 5-52 células por altura, respectivamente; homocelulares de células procumbentes (Figura 6b), na maioria, com raros heterocelulares, formados por células quadradas nas extremidades e procumbentes no corpo do raio; pontoações raiovasculares alternas não-poligonais, porém diminutas como as intervasculares; em um dos indivíduos, foram encontrados corpúsculos semelhantes a grãos de sílica nas células dos raios, pois não apresentaram birrefrigência em luz polarizada, e em outros, as células dos raios apresentaram conteúdo de aspecto óleo-resinoso. Fibras septadas e não- septadas de igual predominância, com pontoações simples e areoladas presentes e comprimento médio igual a 1551,5/im, paredes variando de médias a espessas, chegando a alcançar o dobro do volume ocupado pelo lume, espessura média igual a 0,7/xm, enquanto a largura média do lume é de 0,7^m, conferindo um diâmetro total médio de 2,2/xm. Fibrotraqueídes também difíceis de distinguir das fibras, com o lume (2,0jLim) mais largo que a espessura das paredes (0,5/xm), dando um diâmetro total médio igual a 2,0mm; mais curto que as fibras, comprimento médio igual a 865,5/xm. Traqueóides presentes em pequena quantidade, não se caracterizando como vasicêntricos nem como vasculares, provavelmente sejam tampões 153 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Bot. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 terminais de vasos . Cristais prismáticos em células septadas do parênquima axial, de raros a abundantes, formando fileiras de 3-30 cristais. Máculas medulares presentes em todos os indivíduos observados. Guarea pendula Vasos de secção oval a angular, em distribuição difusa, de poucos a numerosos (5-21/mm^), em média 1 1/mm^, com 41 % de solitários e 59% de múltiplos em grupamento radial de 2-5 células, predominando os múltiplos de duas células (Figura 9a), havendo, também, os agrupados em padrão dendrítico; vazios, de muito pequenos a médios, com diâmetro médio igual a 100, Omm; placas de perfuração simples, transversal nos elementos de vaso de maior diâmetro, tornando-se inclinada nos mais estreitos; os elementos de vaso variam de muito curtos a muito longos, com média igual a 621,8^m de comprimento, de apêndices muito curtos e bem-defmidos até ausentes nos elementos vasculares mais largos (Figura 9g), sendo que nos mais estreitos se confundem com a inclinação das placas de perfuração; pontoações intervasculares areoladas, diminu- tas, alternas e escalar iformes, ocorrendo no mesmo vaso, ou apenas alternas de forma poligonal. Parênquima axial paratraqueal aliforme confluente , com rara ocorrência de aliformes não-confluentes (Figura 9a) , do tipo seriado com 4-8 células por série, em média com cinco células por série. Raios não-estratificados, em média 11/mm linear, predominante- mente unisseriados (81%), com ocorrência de poucos mistos com porções unisseriadas e bisseriadas (13%), homocelulares, na maioria, com ocor- rência de heterocelulares no mesmo indivíduo (Figura 9b); todos com menos de Imm de altura, em média 404, 3mm para os unisseriados e 425,8/im para os bisseriados, a altura em número de células varia de 6-27 células por raio; pontoações raio-vasculares semelhantes às intervasculares, alternas, poligonais e diminutas. Fibras não-septadas, sendo muito raras as septadas, com comprimento médio igual a 1518, 4jam, de paredes 154 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 espessas (1 ,8/xm, em média) e lume estreito (em média 0,3/^"^ de largura). Fibrotraqueídes presentes, distinguíveis das fibras por se apresentarem mais curtos, menos fusiformes, com paredes mais delgadas, sendo a média da espessura igual a 1 ,5;im e lumes mais largos com média igual a 1 ,7^m. Traqueóides presentes, podendo ser do tipo vascular ou apenas como terminações de vasos. Cristais prismáticos em células septadas do parênquima axial, abundantes e formando longas fileiras (10-45 cristais, por fileira). Máculas medulares não encontradas. Considerações sobre a estrutura anatômica do lenho das espécies estudadas As espécies analisadas neste estudo apresentam um remarcado grau de similaridade, o que torna a identificação do gênero facilitada na observação macroscópica de caracteres como porosidade, grupamento e arranjo de vasos, distribuição de parênquima axial e raios. Na análise microscópica os vasos, geralmente têm distribuição difusa, de contorno tangencial, variando de oval à angular, com ocorrên- cia de solitários e múltiplos, predominando os múltiplos, em grupamento radial de 2-5 células por grupo, principalmente em G. kunthiana e G. macrophylla subsp. tuberculata, que apresentam o maior número de vasos múltiplos/mm^ (Tabela 1). Quanto ao diâmetro tangencial, os vasos variam de pequenos a médios, sendo que o mínimo foi registrado em um indivíduo de G. kunthiana, coletado na Zona da Mata mineira, e o máximo em G. guidonia, coletada na região amazônica. A freqüência varia de poucos a numerosos, sendo G. macrophylla subsp. pachy carpa com menor freqüência e G. pendula, com maior freqüência de vasos/mm^. O comprimento dos elementos de vaso varia de muito curto a extremamente longo e essa variação ocorre, inclusive, dentro do mesmo indivíduo, o que confere à maioria dos espécimes observados um alto desvio padrão entre os valores obtidos. As placas de perfuração são do tipo 156 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand simples, em todos os indivíduos analisados, com inclinação que varia de oblíqua a perpendicular, independente da espécie ou procedência; o mesmo se dá com as pontoações das paredes laterais dos vasos que são do tipo alternas, podendo, ou não, apresentarem forma poligonal e, às vezes, alternas e escalariformes no mesmo elemento de vaso, o que parece, também, não estar relacionado com a espécie e, ou, procedência. As observações a respeito da porosidade e dos vasos, em geral, confirma o descrito por Metcalfe & Chalk (1957), quanto às características da anatomia da madeira da família Meliaceae, e o descrito por Kribs (1930), a respeito do gênero Guarea. Tabela 1 - Caracteres diferenciais dos elementos de vaso, raios, fibras e fibrotraqueídes nas espécies de Guarea (Elem. de vaso = elemento de vaso; Freq. = frequência; Sol = solitários; Mult. = múltiplos; Diam. = diâmetro; Uniss. = unisseriados; Biss. = bisseriados; Fibrotraq. = fibrotraqueídes; Comp. = comprimento; 1. G. macrophylla subsp. tuberculata; 2. G. tnacrophylla mhsç. pachy carpa). Eleni. dc Vaso Raios Fibras Fibrot Espécies Frcq. Sol. Mult. Comp. Diamet. Frcq. Uniss. Biss. Comp. Comp. mm^ (%) (%) fim mm2 (%) (%) /xm G. guidonia 3(9)26 34 66 761,7 128,8 8(12)15 34 66 1773,8 1321,0 G. kunthiana 4(9)17 20 80 530,7 127,3 6(10)15 70 30 1434,4 607,2 G. macrophyllaX 2(6)14 37 63 625 138,7 7(11)19 87 53 1551,5 865,5 G. macrophylla! 4(8)18 22 78 727,9 122,3 8(11)14 47 11 1598,4 1395,2 G. pendula 5(11)21 41 59 621,8 100,0 7(11)24 89 13 1518,4 685,2 O parênquima axial tem distribuição muito uniforme, sempre paratraqucal aliforme confluente, em todos os espécimes observados, com aletas que variam de muito estreitas (2-3 células de largura) até bem mais largas (mais de cinco células na largura); seriado, em todos os indivíduos, com 3-8 células por série. Presença de cristais prismáticos em células septadas do parênquima axial, formando cadeias curtas (2-6 cristais por 157 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 cadeia) ou longas (10-42 cristais, por cadeia), exceto em G. kunthiana, onde são completamente ausentes no espécime da Zona da Mata e muito raros no indivíduo da mesma espécie coletado na Amazônia. Os raios não são estratificados, com quantidade média por espécie variando de 10-12 raios/mm (Tabela 1), em todos os indivíduos observa- dos, uni e bisseriados, sendo que a maioria dos bisseriados apresentam porções unisseriadas no centro ou nas extremidades; nos indivíduos coletados na Zona da Mata mineira, as espécies G. pendula e G. macrophylla subsp. tuberculata foram as que apresentaram menor quantidade de raios bisseriados por milímetro linear. Dentre os de origem amazônica, apenas G. kunthiana pode ser considerada de raios exclusivamente unisseriados, pois estes foram registrados apenas como 9% do total de raios, porém a mesma espécie coletada na Zona da Mata mineira apresenta 35 % do total de raios como bisseriados e 65% de raios unisseriados. Quanto à altura, em média, todas as espécies estudadas apresentam raios com menos de 1 milímetro e em todas as espécies a altura média dos bisseriados é maior que a dos unisseriados, exceto em G. kunthiana, onde o quadro se inverte, em virtude da escassez de raios bisseriados no indivíduo de procedência amazônica. Em todas as espécies, predomina o tipo homogêneo, formado de células procumbentes; somente G. pendula e G. guidonia apresentam alguns raios heterogêneos, com células quadradas apenas na fileira das margens, embora, no mesmo indivíduo, predomine o tipo homogêneo. As pontoações raio-vasculares são semelhantes às intervasculares, ou seja, minúsculas e alternas, em todos os indivíduos e em todas as espécies estudadas. Em G. macrophylla subsp. pachy carpa, dois indivíduos apresentam corpos semelhantes a grãos de sílica inclusos nas células dos raios e um indivíduo apresenta impregnação de conteúdo com aspecto óleo-resinoso. As fibras libriformes apresentam-se septadas ou não, predominando as não-septadas, exceto em um indivíduo de G. macrophylla subsp. pachy carpa e em G. macrophylla subsp. tuberculata, onde a situação se 158 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand inverte, havendo a dominância de fibras septadas sobre as não-septadas. O comprimento varia de médio a longo (Tabela 1). A parede, na maioria das vezes é mais espessa que o lume. As pontoações da parede das fibras são do tipo simples e areoladas, embora muito escassas e minúsculas. Os fibrotraqueídes estão presentes em todos os indivíduos observa- dos, sendo dificilmente distinguíveis das fibras, pois muitas destas podem apresentar pontoações areoladas e minúsculas; talvez seja por isso que Kribs (1930) e Metcalfe & Chalk (1957) refiram-se a fibras com pontoações areoladas e nunca à presença de fibrotraqueídes. Quanto ao comprimento, esses são mais curtos que as fibras (Tabela 1), têm paredes da mesma espessura que estas, ou mais delgadas, mas o diâmetro do lume predomina sobre a espessura das paredes. Em G. guidonia, os fibrotraqueídes são ainda mais difíceis de distinguir das fibras, têm, em média, o mesmo comprimento, porém não diferem muito em diâmetro, e a relação parede-lume é a mesma das fibras, o que permite que sejam interpretados como fibras mais delgadas. Foi verificada a presença de traqueóides em todas as espécies e indivíduos analisados, variando muito a quantidade de indivíduo para indivíduo, exceto em G. macrophylla subsp. tuberculata, em que não foram encontrados no material macerado. Em todas as espécies observadas, foram registradas máculas medu- lares em pelo menos um indivíduo, independente da procedência; apenas em G. pendula, não houve nenhum registro, mas, apesar da amostra desta ser de apenas um indivíduo, esta era procedente de material tipo. Considerações sobre a anatomia das espécies estudadas em relação com as diferentes procedências Neste estudo verificou-se que não há alterações significativas na anatomia da madeira dos indivíduos das duas regiões. As diferenças apresentam pouca ou nenhuma interferência no padrão microscópico do 159 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. J3(2), 1997 gênero, que é determinado muito mais pela herança do que influenciado pelo ambiente. Existem evidências experimentais de que num único estoque gené- tico oriundo de dois locais diferentes, os grupamentos de vaso são maiores onde o ambiente é mais seco (Bissing 1982). Porém, a manutenção do padrão genérico micróscopico se repete ao se analisar a quantidade de vasos/mm^, por região e pela média nas espécies estudadas. Todas apresentam um percentual de vasos múltiplos maior que de vasos solitários (Figura 10). A quantidade total de vasos/mm^, por espécie, varia de 6,3 - 12 vasos/mm^. Nas espécies coletadas na Zona da Mata, essa quantidade varia de 7,6 - 1 1 ,6 e, para as de procedência amazônica, a variação é de 6,3-12,4 vasos/mm^. A maior média de vasos por mm^ foi obtida em G. guidonia, procedente da Amazônia, igual a 12 vasos/mm^ (Figura 11), porém, a diferença desta para o indivíduo da mesma espécie, coletado na Zona da Mata mineira, consiste, basicamente, na quantidade de vasos múltiplos, já que na quantidade de vasos solitários, a variação é mínima. G. kunthiana também apresenta uma pequena variação na quantidade de total de vasos/mm^, porém, a variação ocorre tanto em solitários quanto em múltiplos, ou seja, o indivíduo coletado na Zona da Mata é mais poroso que o indivíduo coletado na Amazônia. G. macrophylla^xxhs^. tuberculata, da Zona da Mata mineira, apresentou maior quantidade de vasos/mm^ que G. macrophylla subsp. pachy carpa, sendo que o maior aumento foi observado, também, na quantidade de vasos múltiplos. Pesquisando o efeito de fatores ecológicos sobre as características dos vasos, Baas et al. (1983) constataram que a presença de mais de 80% de vasos múltiplos é uma característica comum entre espécies de ambien- tes áridos, principalmentc entre as de hábito arbustivo. Carlquist (1988) diz que vasos múltiplos em grupamento radial, pelo menos teoricamente, oferecem ao sistema de condução o recurso de formar novas rotas de condução, no caso de falência do vaso iniciahnentc formado. 160 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Altamand Figura 10 - Ocorrência (%) de vasos solitários (sol.) e múltiplos (mult.) em amostras de Guarea da Zona da Mata Mineira (Z. Mata) e Amazônia (Amaz). 12 10 r,-!' ...A.,»', I ZONA DA MATA AMAZÔNIA 0. guldonia 0. kunihiana 0. macrophylla Figura 1 1 - Freqüência média de vasos por milímetro quadrado (mm^) nas amostras de Guarea da Zona da Mata Mineira e da Amazônia. 161 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Bot. 13(2), 1997 No caso de Guarea, como se pode perceber, há realmente uma pequena variação, tanto no número de vaso/mm^, quanto na proporção solitários e múltiplos, que parece ocorrer muito mais de indivíduo para indivíduo que de região para região; o padrão genérico com maior quantidade de vasos múltiplos do que solitários é mantido e os pequenos aumentos que ocorrem, parecem que independem da procedência. Quanto ao diâmetro tangencial dos vasos, entre os indivíduos procedentes da Amazônia, há mais uniformidade do que entre os indiví- duos da Zona da Mata, sendo os primeiros, em média, um pouco maior que os últimos (Figura 12). Entre os espécimes de origem amazônica, as diferenças existentes são muito poucas (130, 7-138, 8;u.m) e mesmo entre os indivíduos da Zona da Mata mineira, nos quais a uniformidade é menor, a diferença não parece significante (100,0-122,2/xm); os mais estreitos foram encontrados em G. pendula e os mais largos, em G. macrophylla subsp. tuberculata. Comparando o diâmetro tangencial médio das espé- cies estudadas, sem considerar a procedência, o maior diâmetro foi registrado em G. macrophylla subsp. pachy carpa e o menor, registrado em G. pendula. 140 120 100 80 G. guidonla G. kuníhiana G. macrophylla o ZONA DA MATA III AMAZÔNIA Figura 12 - Diâmetro (/xm) do.s vasos nas amostras de Guarea da Zona da Mata Mineira e da Amazônia. 162 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Atlamand Bissing (1982) diz que a dimensão dos vasos está sensivelmente relacionada com a ecologia e que embora existam componentes fortemente herdáveis, existe, também, uma grande margem para a plasticidade fenotípica. Nas espécies abordadas por este estudo, pode-se perceber uma grande variação do diâmetro de vasos dentro da mesma amostra, mas percebe-se, também, uma uniformidade entre os valores das médias entre os indivíduos, de onde se pode deduzir que mesmo a variação encontrada no diâmetro dos vasos dentro de cada amostra é a mesma para todas as amostras, ou seja, todos os indivíduos e todas as espécies observadas apresentam a mesma variação interna, no que diz respeito ao diâmetro dos vasos, independente da região em que foram coletadas. O comprimento dos elementos de vaso varia mais de uma espécie para outra, do que de região para região (Figura 1 3) . Em ambas as regiões , G. guidonia apresenta o maior comprimento para os elementos de vaso e G. o menor comprimento. Entre as subespécies G. macrophylla s\xh?,p.tuberculata e G. macrophylla subsp. pachy carpa, a diferença é mais acentuada, sendo que os mais longos foram registrados em G. macrophylla subsp. tuberculata. O que determina o comprimento dos elementos de vaso são as iniciais cambiais fusiformes e o crescimento intrusivo (apesar de ser bem menor nos elementos de vaso, do que nos elementos inperfurados que os acompanham), que ocorrem durante a maturação das células derivadas (Carlquist 1988). Tal fato leva a deduzir que o comprimento dos elementos de vaso está sujeito às pressões ambientais exercidas sobre o processo de diferenciação celular. Mesmo estando sujeito a variações provocadas pelo meio ambiente, a herança e o aspecto evolutivo podem ser mais determinantes do comprimento do elemento de vaso que a possível plasticidade fenotípica (Carlquist 1988). Os raios, quanto à freqüência, apresentam variações bem maiores do que os vasos. Não existe um padrão de uniformidade bem-definido (Figura 14). A maioria dos indivíduos ocorrentes na Zona da Mata 163 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 G. guidonia G. kutahiana G. macrophylla 0 ZONA DA MATA llll AMAZÔNIA Figura 13 - Comprimento (/xm) médio dos elementos de vaso em amostras da Zona da Mata Mineira e Amazônia. llll ZONA DA MATA □ AMAZÔNIA Figura 14 - Freqüência de raios por milímetro linear nas amostras de Guarea da Zona da Mata Mineira e da Amazônia. 164 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand apresenta maior quantidade de raios unisseriados do que de raios bisseriados, apenas em G. guidonia a situação se inverte. Na região amazônica, apenas G. kunthiana se assemelha às procedentes da Zona da Mata, que apresentam mais raios unisseriados do que bisseriados. No que diz respeito à quantidade de raios/mm e ao percentual de unisseriados e bisseriados, G. guidonia não difere de uma região para outra e se assemelha mais à G. macrophylla subsp. pachy carpa do que à G. macrophylla subsp. tuherculata (Figura 15). UNISS. Z. MATA UNISS. AMAZÔNIA BISSER. Z. NUTA BISSER. AMAZÔNIA O G. guidonia I G. macrophylla Figura 15 - Ocorrência ( %) de raios unisseriados (uniss.) e bisseriados (bisser.) nas amostras de Guarea da Zona da Mata Mineira e da Amazônia. As espécies estudadas apresentam raios bisseriados mais altos que os unisseriados, exceto G. pendula, em que a situação se inverte. Em G. kunthiana, a diferença é muito pequena; o espécime dessa espécie coletado na região amazônica foi considerado possuidor de raios exclusi- vamentc unisseriados, pois a quantidade raios bisseriados encontrada nesse indivíduo (9%) é insuficiente para a amostragem preestabelecida (lawa Committee 1989). Os indivíduos da Zona da Mata apresentam raios mais altos que os indivíduos procedentes da Amazônia, porém, comparando a altura de raios uni e bisseriados, estes últimos são bem mais 165 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 altos que os unisseriados nos indivíduos procedentes da Amazônia. Quanto à altura em número de células, a comparação entre uni e bisseriados se repete, com a ressalva de que, na Zona da Mata as células são menores e em maior número que na Amazônia. Mais uma vez, por não se ter dados seguros e completos sobre a procedência das amostras, as interpretações a respeito das variações existentes, entre os raios nos indivíduos e nas espécies, ficam prejudicadas, principalmente por serem os raios muito sujeitos ao pedomorfismo. Para uma análise mais segura, é necessário conhecer, rigorosamente, a localização da amostra na árvore, pois, segundo Carlquist (1988), os raios variam em dimensões, composi- ção celular e até em tipos, de acordo com a localização da amostra (se da raiz, de galhos, com a altura no tronco, se mais próxima ou mais distante da medula), consistindo um sensível indicador de pedomorfismo. Os fibrotraqueídes apresentam uma variação de comprimento muito maior que as fibras, tanto de espécie para espécie, como de região para região. G. guidonia tem as fibras e os fibrotraqueídes mais difíceis de distinguir um dos outros e, na Amazônia, praticamente, não diferem no que diz respeito ao comprimento. Na Zona da Mata, a diferença é bem perceptível, pois os fibrotraqueídes têm comprimento inferior a 1000/xm. Outra espécie que apresenta fibrotraqueídes com comprimento acima de 1000/xm é G. macrophylla subsp. tubercidata, de ocorrência exclusiva na Zona da Mata, e a diferença de comprimento com as fibras é muito pequena (pouco mais que 200/xm). A espécie que menos difere no comprimento, tanto de fibras quanto de fibrotraqueídes, de uma região para a outra, é G. kunthiana-, vale lembrar que em G. macrophylla, além das diferenças de procedência, tratam-se de subespécies diferentes. A diferença básica entre fibras e fibrotraqueídes reside na espessura da parede celular. Na Amazônia, todas as espécies têm fibras muito densas de parede sempre mais espessa que o espaço ocupado pelo lume, principalmente em G. guidonia, em que a espessura da parede ultrapassa o diâmetro do lume em mais de 50% . 166 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand Como já foi mencionado anteriormente, a diferença básica entre fibras e fibrotraqueídes, observada neste estudo, consiste no comprimento (fibras são mais longas) e na relação parede-lume, em que o diâmetro total pouco varia, porém, os fibrotraqueídes têm paredes mais delgadas e os lumes são mais amplos do que nas fibras. Em G. guidonia, em que a situação é menos definida, apesar da dúvida, tem-se o seguinte quadro; a) na Amazônia, não existe diferença entre o comprimento desses elementos, porém o lume é sempre maior que a porção ocupada pelas paredes no diâmetro, que foi definida como fibrotraqueídes; b) na Zona da Mata, onde as fibras têm quase o dobro do comprimento dos fibrotraqueídes, as paredes dessas são mais espessas que o espaço ocupado pelo lume. Como os fibrotraqueídes são formas de transição entre traqueóides e fibras libriformes (Carlquist 1988), vale registrar sua presença, considerando a eficiência e a segurança no processo de condução, já mencionadas anteriormente como valor adaptativo; Carlquist (1984) afirma que tais estruturas, mesmo não sendo próprias para a condução, podem funcionar como um sistema condutor subsidiário para um desvio do fluxo, no caso de falência de vasos solitários ou agrupados, para um outro vaso ou grupo de vasos nas proximidades . Nesse mesmo trabalho, o autor considera parte da família Meliaceae como portadora de fibras e parte como portadora de fibrotraqueídes. CONCLUSÕES Para um estudo sobre as condições ecológicas das espécies, é necessário uma quantidade maior de material, que permita um número maior de repetições, com amostras de procedência, condições pedológicas e climáticas do local de coleta bem-detmidas. - O lenho de Guarea é muito semelhante entre as espécies estudadas, obedecendo um padrão genérico muito bem-definido, em termos de porcentagem, distribuição c arranjo de tecidos e estruturas que o compõem. 167 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 - As variações nas dimensões de determinados tipos de células são comuns a todas as espécies e os indivíduos analisados, levando a um valor médio bem-uniforme entre os indivíduos e mesmo entre as espécies. - Não foram encontradas diferenças marcantes que caracterizem, individualmente, nenhuma das espécies ou subespécie apresentadas. As diferenças encontradas podem ser atribuídas muito mais a características individuais do que específicas ou mesmo regionais. - O lenho das espécies de Guarea, abordadas neste trabalho, apresenta estruturas bem-especializadas, associadas a estruturas em tran- sição, como os fibrotraqueídes, os quais parecem estar correlacionados com a manutenção de um sistema condutivo eficiente e seguro, para a sobrevivência dessas espécies em regiões de climas bem variados, como as regiões tropicais e subtropicais do planeta. AGRADECIMENTOS À Diretoria da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará e ao corpo docente da Universidade Federal de Viçosa, em especial aos professores Eido Antônio Monteiro da Silva (orientador da tese que originou este trabalho); Moacyr Maestri, Antônio Lelis Pinheiro e Fernando Henrique A. Vale, pelas idéias, sugestões e correções; Rosy Mary Isaías, pelo auxílio nas medições, cálculo das porcentagens de tecidos; sugestões e correções do texto; à professora Aristéa Alves Azevêdo, correções e sugestões; aos funcionários do Setor de Dendrologia da mesma universi- dade, em especial ao Sr. Arlindo Rodrigues e ao Sr. Fernando, pelo preparo do material para estudos anatômicos; Assíria Nóbrega, pela ajuda na descrição do material; à Carmen Regina Marcati, pelo empréstimo de literatura. 168 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Anatomia comparada do lenho de quatro espécies de Guarea Allamand REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAAS, P.; WERKER, E. & FAHN, A. 1983. 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Terra firme forests are also composed of secondary forests, biit human impacts have been less and possess more tree species with a higher wood density than the várzea counterparts because latewoods are formed during the dry season. Without human intervention, the forest biomass of the várzea exceeds that of the terra firme. However, it is reduced to less than one-third when strongly disturbed. It was alsofound that the wood density was closely related to the brightness contrast between early and latewoods, and in general, the várzea species with a low wood density had a small brightness contrast. FacuKy of Integrated Arts & Sciences, Hiroshima University, Higashi-Hiroshima, Hiroshima 739- 8521 , Japan. Depariment of Geography, School of Humanities and Social Sciences, Millersville University, Millersville, FA 17551-0302, U.S. A. PR-MCT/CNFq. Museu Paraense Emílio Goeldi. Depto. de Botânica. Caixa Postal, 399, Cep 66.017- 970. Beléni-PA. 171 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Btil. Mus. Paru. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 KEY WORDS: Amazon estuary. Várzea forest. Terra firme forest, Açaí palm (Euterpe oleracea Mart.), Tree-ring. RESUMO - As características sobre manejo, estrutura florestal, biomassa, e anéis de crescimento foram comparadas nas matas da várzea e terra firme da região das Ilhas de Abaetetuba, estuário amazônico. As matas de várzea são inundadas duas vezes ao dia, durante todo o ano, Estas matas foram alteradas profundamente pelas ações humanas. A alteração mais recente está ocorrendo pelo manejo/cultivo da palmeira açaí (Euterpe ole- racea Mart.). Aqui, o número de árvores e o número de espécies .são restri- tas por causa das condições ecológicas e intervenção humana. As matas de terra firme são também compostas de matas secundárias, mas o impac- to humano tem sido restrito e contém um número maior de espécies de ár- vores com madeiras de alta densidade que a várzea. A longa estação seca é responsável pela maior ocorrência de madeiras densas. Sem a inter- venção humana, a biomassa da mata da várzea supera a da terra firme. Constatamos que a densidade de madeira está relacionada ao contraste de brilho entre a madeira nova (earlywood) e madeira madura (latewood). Em geral, as espécies de várzea com madeiras de baixa densidade demon- stra um contraste de brilho reduzido. PALAVRAS-CHAVE: Estuário Amazônico, Oorestade várzea, floresta de terra-firme, palmeira de açaí {Euterpe oleracea Mart.), Anéis de crescimento. INTRODUCTION About 3% of forests in Amazônia are called várzea forests (Goulding 1993). The tidal flooded forest lines the low-Iying terrain around the mouth of the Amazon, and is inundated twice a day when the fresh water is pushed back with the incoming tide. In contrast, forests standing 7-8m above the floodlands are not influenced by the tidal activity. These terra firme forests are usually found in the interior of the islands. 172 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Characterizciiion and ntilization of várzea and terra firme forests in lhe Amazon estuary Most people live along the numerous channels that drain the estuary, since transportation and communication are effected mostly through waterways. The recent growth of Belém’s population, now surpassing 1.5 million, and the expansion of its economic influence are changing the way local people manage their resources. Exploitation of forest Products is accelerating, and cash crops such as açaí palm {Euterpe oleracea Mart.) are mass produced to increase income (Brabo 1979; Anderson 1990). Following repeated cycles of clearing and regrowth, current vegetation is made up mostly of secondary forests. Although the area under açaí cultivation is still limited, there is an urgent need to examine the forest biomass so that appropriate management practices and policies can be established (SUDAM/PNUD 1994; Fearnside et al. 1990). The purpose of this study is to compare the várzea and terra firme forests in the Amazon estuary under different management patterns and moisture conditions. RESEARCH AREA The study area is located to the Southwest of Bélem (Figure 1). The Ilhas de Abaetetuba (shaded area) are formed by olocene sediments transported by Rio Pará, that drains the Southern estuary of the Amazon, and by Rio Tocantins, that originates on the Brazilian Highlands. The width of the várzea forest, found along the drainage channels, varies between 100-3, 500m. The area is inundated twice a day throughout the year. The diurnal tidal changes along the Rio Maracapucu Mirí, near Abaetetuba, is shown in Figure 2. Twice a month, during the spring tides, fresh water covers the forest floor to a depth of 30cm or more for a period of up to three hours. However, the seasonal changes in water levei are not as large as in the iniddle Amazon, where it reaches 7 to 13m (Sioli 1984). The range decreases in its lower cour.se. The seasonal difference between March and September is about 2m at Abaetetuba. 173 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mu.i. Para. Emílio Goeldi. sér. Bot. 13(2), 1997 49W 49t)0'w 0 10 km 1 I I I I I Figure 1 - Research area (Ilhas de Abaetetuba). Black circie in lhe lower figure is lhe location of várzea quadrais, and black iriangle is lhe location of terra firme quadrais. The várzea is shown as a black shade. 174 Characterizotion and iililizatiaii of várzea and terra firme forests in tlie Ainazan esliiary Figure 2 - Diurnal fluctuation ot' walcr deptii at Rio Maracapucu Mirí during Sep.j lo 4, 1993. The area from eastern Pará to the Guianas is one of the rainiest regions of Latin America. Annual precipitation averages 2,400mm in Belém, and it exceeds 3,500mm in some places (Nimer 1972). However, there is a major variation between the wet and dry seasons. This influences the annual tree ring formation in the terra firme forest that adjoins the várzea forest (SUDAM/DRN 1981). In várzeas, on the other hand, trees are not influenced by seasonal changes in rainfall. Tbe species and structures are different from those of terra firme forest (Ayres 1993). STUDY METHODS Fieldwork was carried out in the várzea and terra firme forests of the Ilhas de Abaetetuba during 1993 and 1994. Four várzea quadrats were established along the Rio Maracapucu Mirí, and another four quadrats were demarcated in a terra firme forest along the Rio Maracapucu, about four kilometers away from the várzea quadrats (Figure 1 ). The size of each quadrat was 400nF. In selecting the sites for várzea quadrats, consideration was given to include açaí under diíferent treatments. 175 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mu.t. Para. Emílio Goeldi, .•iér. Bot. 13(2), 1997 The number of trees in each species was counted, and the tree height and diameter at breast height (DBH) of all the trees whose DBH was larger than 5cm were measured in each of the three várzea (VZl to VZ3), and terra firme (TFl to TF3) quadrats. Stem disks at a height of I .Om were collected from the remaining quadrats (VZ4 and TF4). Disks for stem analysis were collected from 7 species by felling the main stem and cutting at intervals of 1.0 to 2.0m. They were polished on both sides using a sandpaper (#40 and #100) attached to a grinder. The ring widths of major and minor axes were measured by a measurescope (Nikon, MM22) within an accuracy of 0.001 mm, and the average was taken as the ring width for each year. The wood density of I I várzea and 13 terra firme species was measured with an electronic densimeter (Mirage Trading, EW120SG), after drying the disks at a temperature of 90°C for 72 hours in a drying oven (Yamato, DV400). In order to evaluate the tree-ring characterisitcs in two forests with different water conditions, the reflected brightness spectrum of the surface of tree disks was measured. A photograph was taken through a microscope, where a CCD camera (Tokyo Electronic Industry, CS5510) was mounted. The image was printed by a color video printer (Mitsubishi, SCT-CPlOOO), after processing with an image analysis software (NEXUS, QubeQOOO). The reflected brightness of radial direction in each tree-ring was measured, and the brightness was divided into 256 stages from 0 to 255 in each of the three components; R, G and B. RESULTS AND DISCUSSION Forest Characteristics The açaí palm is widely cultivatcd/managed in várzea forests. Although the açaí agroforest is commonly located around the dwellings along rivers, its area is limited (0.5-3.0ha). Açaí commonly occurs in 176 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Characteriztttion and iililizatian of várzea and lerra firme fore.it.i in lhe Amaion esluary association with other trees, which are either planted or occur naturally. The palni is raised by protecting the naturally regenerating ones or by planting the seedlings. Açaí is a multi-stemmed palm. For maximum production, each clump is pruned to have no more than 4-6 inature stems (10-15m in height), aged 3-10 years. After reaching peak production, old trunks are removed to promote the growth of juveniles. The palm hearts {palmito) and the fruit are harvested for sale (Pollak et al. 1995). Palm hearts are processed for export and the fruit is marketed in the region. The açaí fruit juice, called vinho do açaí, obtained by macerating and sieving the mesocarp, constitutes one of the main components of the diet of the regional population. As such, it has become the most important cash crop in the Amazon estuary. In the açaí agroforests, therefore, most competing species or branches are removed. The human impact can be estimated by counting the number of açaí clumps. For example, quadrat VZl shows a limited impact since the number of clumps is only 1 1 in an area of dOOm^, whereas VZ2 with 42 clumps indicates a médium impact, and VZ3 with 83 clumps exhibits a strong impact. Other tree population in each of those quadrats numbered 87 in VZl, 55 in VZ2, and 38 in VZ3, respectively. Terra firme forests are used mainly as sites for manioc {Manihot utilissima) swiddens. The tubers, processed into manioc flour, are destined mainly for domestic use (Moran 1995). The number of trees felled and area cleared are small, in contrast to the várzea forests, since manioc is not cultivated by every family and the crop is produced only to meet household needs. Since ecological conditions are not favorable, açaí is not raised in the terra íirme. Tree age was counted from the stem disks of 41 trees at VZ4 (total number of trees = 56), and from the disks of 55 trees at TF4 (total number of trees = 80). Since the relationship between tree age and radius had a large correlation coefficient in each quadrat, tree age was 177 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Biil. Mus. Para. Einília Goeldi, sér. Boi. 13(2). 1997 estimated in the other quadrats, and the trees were sorted by tree age classes. On the average, the percentage of trees older than 30 years was 3.3% on the várzea and 5.6% on terra firme quadrats. It is believed that the trees in these quadrats are about the same age. Forest Structure In the várzea quadrats, the number of tree species are less than 10/400m^, and about one half is composed by a single tree species (Pterocarpus amazonicus), while in the terra firme quadrats, the number of tree species is larger, i.e., 27 species in TF2, and the population is dispersed into several species (Figure 3). This suggests that the high water table, poor drainage, and frequent floods in the várzea severely limit the number of species (Anderson 1988). Further, there is an inverse relationship between the number of açaí and other trees. As management increases, açaí population increases, while other trees decline in number. The counterpart of açaí palm in the terra firme forests is inajá {Maximiliana maripa), a palm which reaches less than 20m in height. Trees are taller than those in the várzea forests, and the canopy reaches 30m. Figure 4 offers a comparison of tree population in each height class in 6 quadrats. There is no tree taller than 25m in the várzea, and they seem to appear uniformly in each height class. In the terra firme, however, trees can be divided into two classes; those less than lOin and those above lOm. The result shows that the differences in human impacts affect the number of shrubs and Juvenile trees near the forest Iloor. Forest Biomass Disks for stem analysis were collected from 4 várzea and 3 terra firme trees. They are (1) Pachira aciiaticci, (2) Vatairea ^nianensis, (3) Pterocarpus amazonicus, (4) Virola sitrinamensis (várzea tree species). 178 Number of Individuais Churaclerizíitinn and utilizatiaii of várzea and lena firme forests in lhe Ainazon estuary 60 50 40- 10 - / m TF3 TF2 TF1 VZ3 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 VZ1 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Tree Species VZ1 : 1 Pterocarpus amazonicus, 2 Pachira acuatica, 3 Vatairea guianensis, 4 Virola surinamensis, 5 Avicennia nítida, 6 Mangrfera indica, 7 Uargaritaria nobilis, 8 Caryocar villosum VZ2: 1 Pterocarpus amazonicus, 2 Pachira acuatica, 3 Vatairea guianensis, 4 Uangifera indica, 5 Symphonia gloulifera, 6 Avicennia nitida, 7 Duroia macrophylla, 8 Virola surinamensis, 9 Uargaritaria nobilis, 10 Zygia sp. VZ3: 1 Pterocarpus amazonicus, 2 Hevea brasiliensis, 3 Virola surinamensis, 4 Pachira acuatica, 5 Pentaclethra macroloba, 6 Uargaritaria nobilis TF1 : 1 Vochysia vismiaefolia, 2 Coupia glabra, 3 Gustavia augusta, 4 Triplaris surinamensis, 5 Eschweilera amazônica, 6 Tapirira guianensis, 7 Emmotum tagifolium, 8 Uanilkara amazônica, 9 Acacia polyphyla, 10 Apeiba burchelli, 11 Aspidosperma eteatum, MDuguettia caulitiora, 13 Duroia macrophylla, 14 Iryanthera sagotiana, 15 Sagotia racemosa, 16 Sterculia speciosa, 17 Sterculia elata, 18 Buchenauia sp,, 19 Undefined (Jeneira), 20 Erísma uncinatum TF2: 1 Hymenaea intermedia, 2 Vochysia vismiaefolia, 3 Triplaris surinamensis, 4 Gustavia augusta, 5 Platonia insignis, 6 Eschweilera amazônica, 7 Uanilkara amazônica, 8 Clidemia hirta, 9 Poragueiba guianensis, 10 Ormosia coutinhoi, 11 Svrartzia racemosa, 12 Erisma uncinatum, 13 Acacia polyphyila, 14 Pachira acuatica, Didymopanax morototoni, 16 Duguettia cauTritora, 17 Duroia macrophylla, 18 Goupia glabra, 19 Guarea kunthiana, 20 Uora paraensis, 21 Simaruba amara, 22 Sterculia pilosa, 23 Tapirira guianensis, 24 Tovomita cephalostigma, 25 Vouacapoua americana, 26 Sterculia elata, 27 Buchenauia sp. TF3: 1 Eschweilera amazônica, 2 Vochysia vismiaefolia, 3 Uyrcia falax, 4 Duguettia cauliflora, 5 Undefined (Cama), 6 Triplaris surinamensis, 7 Hymenaea intermedia, 8 Humiria balaamitera, 9 Pachira acuatica, 10 Gustavia augusta, 1 1 Duguettia tiagelaris, 12 Britoa acida, 13 Guarea kunthiana, 14 Iryanthera sagotiana, 15 Pipthecetiobium decandrum, 16 Simaruba amara, 17 L/ndeffnsflf (Azuizínho), 18 Clidemia hirta Figure 3 - Number of individuais of each Iree species in várzea and lerra firme quadrais. 179 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2). 1997 (5) Goiipia glahra, (6) Triplaris siirinamensis and (7) Vochysia vismiaefolia (terra firme tree species). All of them are representative tree species from each forest. Figure 5 is a vertical section of P. acuatica, a várzea tree, and of T. surinamensis, a terra firme tree. The vertical axis represents the height in which the disks were collected, and the horizontal one is the location of tree-ring boundaries (dotted lines: estimated tree-ring boundaries). The basal portion of P. acuatica is wider, and the stem shows a long slope, while T. surinamensis has a more vertical growth to that of a thickening one. It is believed that the várzea species support the biomass by broadening the basal growth, since they grow mostly on a clay surface where inundation is frequent. Number of Individuais Figure 4 - Number ol irec.s in eucli Iteiglii eluss m three várzea and three lena tirine quadral.s. 180 Cluimcleriziirioii aiul ulilizalioii <>f várzea and terra firme forests iii lhe Amazoii e.tltiarv 181 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Biil. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. liol. 13(2). 1997 The stem volume was calculated from tree-ring width data of each disk by using the integration formula of solid revolution. Then, the annual wood volume was added to understand the growth rate (Figure 6). In the várzea, wood volume of P. acuatica predominates, and the volume of the other three species is about half. It is not possible to directly compare the volume because tree ages are different. However, the growth rate of P. amazonicits is apparently larger. Rodrigues (1989) describes that this species grows faster and becomes the canopy layer in várzea forests, while the other species, such as, P. acuatica and V. surinamensis are found in the intermediate layer. Therefore, it is believed that P .amazonicits continues growing but the growth of the other species will reach the limit. These species were ranked as the top four in the number of individuais (P. amazonicits: 104/1200m2, P. acuatica: 21/1200m^, V. guianensis: 15/1200m2, V. surinamensis: 12/1200m^). Similar results are found for the terra firme species. T. surinamensis, a canopy species, has a high growth rate and exceeds the other two species. V. vismiaefolia is also one of the canopy species and has the largest population (51/1200m^). The wood growth is still small because it is a 15 year-old trees. However, its growth rate is comparable to T. surinamensis. Next, the forest biomass was compared in the 6 quadrats. Referring to Higuchi et al. (1994), the following equations were used to estimate the biomass: (1) In(FW)= -2.4768+2.230 1 ln(D) +0.65181n(H) (5==20cm). Here, FW: fresh weight, In: natural log. D: DBH, H: tree height. The FW of each quadrat was calculated by substituting DBH and height data of all the individuais in the quadrat. Then, the FW was converted to dry weight from the description of Higuchi et al. that the dry weight represented about 60.4% of FW. The result is shown in Figure 7. The difference among three terra firme quadrats is small, while the biomass in várzea quadrats varies 182 Cliaracteiizalion and utilization oj várzea and lerra firme forexi.i in lhe Amaznn estuary widely from 20.43t/400m2 at VZI to Ó.OltMOOm^ at VZ3. It is thought that this was brought about by the different degrees of human intervention related to the cultivation of açaí palm. The várzea which is strongly disturbed has a small dry weight, while the várzea with small human impact has a larger dry weight than that of terra firme. However, the biomass of palms is excluded in this estimate. If the palm biomass is included, the total biomass of disturbed quadrats such as VZ2 and VZ3 will be close to VZl . Year Figure 6 - Accumulalcd steiii wood volume ol four vár/ea specie.s (upperj and Uiree terra lirme specie.s (lower). 183 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli. sér. Bot. 13(2), 1997 \ várzea Terra Firme - — — - VZ1 VZ2 VZ3 TF1 TF2 TF3 Quadrate (400m^) l'igure 7 - Coinparison of forcst biomass (dry wcight; ton) uinong tlirce vár/ea and ihrcc lena fimie quadrais. Tree-ring Characteristies A comparative study of tree-ring characterisites, as they appeared in the reflected brightness spectrum in early and latewood boundaries, was carried out to better understand the above difference. Figure 8 shows an example of reflected brightness in a radial direction within a tree-ring of representativo tree species in each forest type, i.e., Pterocarpiis amazoniciis for the várzea, and Triplaris surinamensis for the terra firme. Along the vertical axis, brightness varies from stage 255 (brightest color) to stage 0 (darkest color). In the case of P. amazonicus, the latewood width is narrow (about 10%), and the decrease in brightness is small in all three components (R, G, B). In the brightness curve of T. surinamensis, the latewood width is larger (latewood ratio: 40%), and all three components decrease in valuc compared to tho.se of the earlywood. Although várzea forest trees are subject to a limited water stress, the counterparts in the terra firme forest slow down the cambial activity during lhe dry season and the latewood is characterized by a small 184 Characterizcilion and utilization of várzea and terra firme forests in the Amaz.on estuarv small proportion of tracheal element. Early and latewood boundaries are formed here, and the boundaries appear in the brightness contrast. This difference appeared in the wood density as well. The mean wood density of 1 1 várzea species was 0.61g/cm^ while that of 13 terra firme species was 0.70g/cm^. Pterocarpus amazonicus Figure 8 - Reflected brightness spectrum within a tree-ring of várzea species {Pterocarpus amazonicus, upper) and terra firme species {Triplaris surinamensis, lower). Next, the brightness index (BI) of trees was compared. Peak brightness (PB) and bottom brightness (BB) were calculated by averaging three components. Then, the BI was calculated from the equation: BI = (PB - BB)/PB. The difference was divided by PB to non-dimensionalize the absolute value of color stage. The BI was calculated in 1 1 várzea tree species at VZ4, and 13 terra firme tree !85 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Bot. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 species at TF4. After measuring the brightness curves of at least 20 tree rings for one species, the average was defined as the BI peculiar to that species. Figure 9 shows the relationship between the BI and wood density. It is found that tree species with a large BI has a high wood density, while those with a small BI has a low wood density. The latter relationship is particularly marked in várzea forests, where species like P. amazoniciis and P. acuatica, have a density less than 0.40g/cm^. Obviously, there are exceptions. For example, várzea species like, Pentaclethra macroloba, Giiarea kunthiana, Genipa americana, Duroia macrophylla, Margaritaria nohilis, and Mora paraensis show high values in both BI and wood density, with values comparable to those of terra firme species. According to Rodrigues (1989), the reddish colored wood of P. macroloba, G. kunthiana, G. americana, and M. nobilis are resistant to insects and thus are employed in the local cabinetry and furniture industries. The same author also notes the slow growth rate of foregoing species. Trees with red color are common on the terra firme, and their growth is likewise slow, but an adequate explanation does not exist for their presence on the várzea. The presence of these anomalous species on the várzea cannot be adequately explained in terms of a highly aquatic environment alone. Further studies are needed from different angles. Early and latewoods can be easily distinguished in the tree rings of terra firme species, e.g., T. surinamensis with a wood density of 0.79g/cm^. Analogous to tree rings of conifers, where earlywood is whitish and latewood brownish, tropical uplands' counterparts can be separated by color shades. The densities, on the other hand, varies between 0.60 and 0.88g/cm^. Tree rings of várzea species are difficult to distinguish on the basis of color shades alone. No obvious tree-ring color differences exist. This fact implies that density differences between early and latewoods are small, and most species have a low density. Consequently, it is possible to argue that the wood quality of most várzea species is not suitable lor construction and firewood. 186 Characíerization and urilization of várzea and terra firme forests in the Aniazon estuary 0.30 0.40 Brightness Index Figure 9 - Relationship bctween brightness index and wood density of 1 1 várzea (upper) and 13 terra firme species (lower). CONCLUSIONS The forest structure, biomass, and tree-ring characteristics of várzea and terra firme forests were compared in this study. The following results were found: (1) The Amazon estuary is one of the rainiest regions of Latin America, yet there is a dry season between August to December, when a 300mm water déficit develops on an annual basis. Therefore, unlike the frequently inundated várzea forests, the terra firme forests are influenced by the seasonal moisture déficit. 187 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi Mus. Paru. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2). 1997 (2) In várzea forests, açaí palms are frequently managed. In such areas the number of trees and species are limited. Likewise, tree height differences are small. On the terra firme, the forests are divided into two height classes and the canopy layer is taller than that of the várzea forest. In areas under limited human impact, the variations in aboveground biomass between várzea and terra firme quadrats are negligible. This results from the fact that although the várzea forest has a low average tree height and a low wood density, the growth rates of várzea species are as large as those of terra firme. However, once the forest is managed for açaí cultivation, the biomass is reduced to less than one third. (3) Terra firme species have a large brightness contrast between early and latewood boundaries. This is related to the high wood density caused by the dry season moisture deficiency. Várzea forest species have a low wood density, since the water stress is limited by the frequent tidal inundations. An adequate amount of nutrients is transported from upriver portions and deposited on the várzea, especially during the rainy season spring tides (Souza 1990). The process is different on the terra firme forests characterized by an ordinal process of litter decomposition through micro organisms. This suggests, among other variables, a necessity to place greater emphasis on root depth and soil nutrient dynamics, as well as hydrochemistry, for a better understanding of forest growth. Várzea forest management practices have changed drastically after the 1970s, as a result of the collapse of traditional agriculture (Hiraoka 1995). Currently, the major source of income production for most of the inhabitants is the açaí palm, while for others is the manufacture of ceramic products like tile and bricks. In the former case, açaí is managed through thinning of forests, while in the latter, firewood is obtained by felling the várzea forest. Várzea forests are 188 Churacterization and utilization of várzea and terra firme forests in lhe Amazon estuary limited in area and species, but they are subject to continued cutting, despite their limited energy output, since they are found along rivers where access and transport are facilitated. This study points to a need of a future research where the focus would be on wood consumption by the local inhabitants. In combination with the biomass data obtained in the present study, an assessment of consumption and forest biomass production can be made. ACKNOWLEDGEMENTS The authors are grateful to Professor José Carvalho de Moraes, Federal University of Pará, for the climatic data. We would also like to acknowledge the financial assistance provided by the Association for Promotion of International Cooperation, the Ford Foundation, and the Heinz Foundation. REFERENCES ANDERSON, A.B. 1990. Extraction and forest managcment by rural inhabitants in the Amazon estuary. hv. ANDERSON, A.B. {eà.) Alternatives to deforestation: steps toward suslainahle use of the Amazon rain forest. New York, Columbia University Press, p.65- 85. ANDERSON, A.B. 1988. Use and management of native forests dominated by açaí palm (Euterpe oleracea Mart.) in the Amazon estuary. Im BALICK, M.J. (ed.), The palm - tree of life: hiology, utilization. and conservation. New York, New York Botanical Garden, p. 144-154. (Advances in Economic Botany, 6). AYRES, J.M. 1993. As matas de várzea do Mamirauá, médio Rio Solimoes. Tefé, Sociedade Civil Mamirauá, p. 123. BRABO, M.J.C. 1979. Palmiteiros de Muaná - estudo sobre o processo de produção no bencficiamento do açaizeiro. Boi. Mus. Para. 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Recebido em: 06.06.97 Aprovado em: 06.02.98 190 CDD: 5X1.6340981 152 581.981 152()(XX) ALGUMAS NOTAS ADICIONAIS SOBRE O EMPREGO DE PLANTAS E OUTROS PRODUTOS COM HNS TERAPÊUTICOS PELA POPULAÇÃO CABOCLA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA, PA, BRASIL' Maria Christina de Mello Amorozo^ RESUMO - Estas notas têm a finalidade de complementar um estudo sobre o uso terapêutico de plantas e outros produtos pelos caboclos'^ de duas vilas do município de Barcarena, PA. Cerca de 40 espécies de plantascom algum tipo de uso terapêutico foram registradas. Aí vias de administração mais comuns dos remédios, ingredientes não vegetais utilizados nas preparações, e certos procedimentos empregados na cura, como "puxação" e “ben- zeção ”, são comentados brevemente. PALAVRAS-CHAVE: Amazônia, Barcarena, medicinais. Medicina popular. Elnobotânica, Plantas ABSTRACT - These notes are intended to complenient a survey of the therapeutic use of plants and otlier produets by caboclo people from two neighboring villages in Barcarena, PA, Brazil. About 40 plant species with therapeutic use were recorded. The preferred aplication routes for medicines, ingredients other than plants utilized in the therapeutic preparations and certain procediires employed in healing processes, so as "puxação ” and "benzeção ” are briefly commented. KEY WORDS; Amazon, Barcarena, Ethnobotany, Medicinal Plants, Folk Medicine. Artigo originalmcnte publicado no Boletim do Museu Parueuse Emílio Goehli. série Botânica, volume 9(2), 1993, ora reeditado, por dcci.süo da Comissão de Editoração Científica e da autora, pelos erros gráficos da primeira versão. UNESP. Instituto de Biociências. Depto. de Ecologia. Caixa Postal 199. CEP 13.306-900, Rio Claro- SP. Os caboclos amazônicos resultam da mestiçagem entre índios e portugueses, nos séculos XVI e XVll, e afiicanos no século XVIll (Parker 1985). 191 SciELO 10 11 12 13 14 15 16 cm Boi. Mu.k. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2). 1997 INTRODUÇÃO As presentes notas constituem uma complementação de um levantamento botânico e ecológico das plantas usadas com fins terapêu- ticos, realizado em duas vilas do município de Barcarena, Pará (Amorozo & Gély 1988). A Vila de Itupanema e a Vila Nova do Piry ficam a uma distância de duas horas de barco de Belém (Figura 1). O município era tradicionalmente ocupado por famílias de caboclos cuja economia se baseava principalmente em fruticultura (fruteiras nativas como cupuaçu, castanha-do-pará, bacuri, açaí, etc.), roças (de man- dioca, sobretudo), pesca, extração de produtos vegetais (inclusive plantas medicinais) e em pequena medida a caça. Com a instalação do Complexo Industrial Albrás-Alunorte para processamento da bauxita e da alumina, grandes extensões de terra foram desapropriadas e muitas famílias desalojadas de seus “sítios”. A Vila Nova foi um dos aglomera- dos que surgiu depois da desapropriação, cada família recebendo aí, a título de indenização por suas terras, um terreno de lOm x 60m, e o direito a participar de uma roça comunitária. Os habitantes da Vila de Itupanema tiveram melhor sorte, pois puderam conservar seus sítios,"^ porém as radicais mudanças trazidas pela construção e funcionamento do Complexo estão introduzindo modificações muito significativas na vida destas pessoas, que cada vez mais vão abandonando o trabalho autônomo em suas propriedades (quando as conservam), para empregar- se em serviços não qualificados na indústria (ver Amorozo & Gély 1988, para maiores informações). MÉTODOS Nesta etapa da pesquisa, o trabalho de campo foi realizado em set- embro de 1987 e julho de 1988. '* o sítio é uma área de cerca de 1 hectare, com predominância de árvores, especialmentc frutíferas. 192 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos cm 2 3 SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Figura 1 - Localização da área de estudo. BoL Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 Foi empregada a técnica de observação participante e de entrevis- tas. Levantaram-se dados junto a 22 informantes sobre a utilização de plantas e outros produtos para o tratamento de diversos males. Foram feitas excursões de coleta a matas, sítios e praias de várzea na compan- hia dos informantes, que selecionavam as plantas e indicavam seu uso. As espécies coletadas foram herborizadas e identificadas e se encontram no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG) em Belém (PA). RESULTADOS E DISCUSSÃO Novas plantas com usos terapêuticos O Apêndice 1 traz as plantas e os produtos vegetais com uso ter- apêutico que ainda não haviam sido registrados na primeira fase do trabalho. Às cerca de 240 espécies já compiladas (ver Apêndice 1 e 2 em Amorozo & Gély 1988), foram acrescentadas mais 40. Este número, bastante expressivo no total, só vem confirmar a idéia que se fazia a respeito do conhecimento e utilização da flora por caboclos amazônicos e não deve ser muito diferente da quantidade de plantas utilizadas com este fim em outras regiões amazônicas. Doenças e vias de administração dos remédios A Tabela 1 mostra o número de plantas citadas,^ o número médio de receitas por informante e as vias de administração de remédios mais usadas para as doenças e/ou sintomas comumente reconhecidos pelos informantes. Não se descrimina se as receitas são iguais, citadas por informante distintos, ou se são diferentes, citadas por um mesmo infor- mante, ou vários. Estas plantas estão listadas nos Apêndices I e 2 em Amorozo & Gély (1988) e no Apêndice I deste trabalho. 194 Tabela 1 - Doenças e vias de administração dos remédios. Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos c3 Q..- o '5. S <« ^ ro — ^ — in — in — fN ' cn ri cs -- -- -- cs" -i — " — sS . I cs I I I ) cs cs^ rr < " cs" rí — " ’ ^ CS^ vo r<“j lO oo r^. rr , fsj — — —T -J" çvf ^ ^ ^ çvf — *■ — I ! I I — I I I I I — I lllllvDooll—llllllllll I I I I I I I 1 I ÜJ r~ r“. Tf m o^ cr 0^ "O CS cr r-j — Tj- ' r<-, cs — — cs — — e fe-i-S a. u D O iS Is o ç Q 00 cr — — I t 'TfTtrr iino^oooovDssocsoNr-oo — cs ir~oomcs I I |TffrTtTfo^ ONONTi-cs»ri-^r'OONcrooovocso^ioONO'Or' — oocroNONr^Tí-r>tr)oo iTíCScscs cscs^ cs— — cs — — — — — — ^ rfvocr — o — >r>oocSlncs^lrr>'lnoovrlTl■o^Oooooo'0’ I v£> oo vo \D CO o. C i-u o 5 ía.s-j 4 i .§55 ililQ-SlooooDtÈ^Í-íS 195 Inchaço Picada de animais venenosos Ectoparasitas (carrapatos, carapanãs, bernes) dípteros hematófagos. Boi. Mu.'!. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 A via externa, através de banhos e fricções corporais (e às vezes pincelagem da garganta e gargarejo no caso de dor ou inflamação local), é muito utilizada para os sintomas gripais, somando mais de 52% das recomendações de uso. Nestes banhos, entra uma profusão de plantas diferentes, combinadas não só segundo a necessidade, mas também con- forme a disponibilidade ou facilidade de acesso a elas. A via externa é extremamente importante no caso de dores de cabeça. Cerca de 79% das receitas com esta indicação são ministradas deste modo, através de banhos na cabeça ou aplicações tópicas na fonte do paciente. Houve ainda receitas que recomendavam cheirar mucura- caá (Petiveria alliacea L.) ou cânfora (Hyptis suaveolens Point.), duas espécies com odor muito ativo. Já havia sido observada a predileção dos caboclos pelo uso de ban- hos, inclusive dissolvendo comprimidos na água dos banhos ao invés de tomá-los contra dor de cabeça e gripe (Amorozo & Gély 1988: 63). O emprego maciço desta forma de administração no caso de dores de cabeça leva a pensar que deve existir uma razão para este procedimento, que não seja apenas a de otimizar a performance terapêutica dos compo- nentes da preparação. Dores de cabeça e febre foram citadas às vezes como tendo causas “não naturais” (ver Maués 1977); a febre em crianças pode ser sintoma de “quebranto” ou “olhado de uiara”; em adultos, febre, dor de cabeça e mal-estar podem ser sintomas de “mau-olhado”, “olhado de uiara”, ”tra- balho” feito por pajé.^ Os banhos são usados indiscriminadamente, não importa a etiologia do sintoma. É interessante que, à via externa tópica para se atingir uma dor localizada na cabeça, contrapõe-se preferencialmente a via oral para atingir males localizados em outros órgãos internos: distúrbios do aparelho digestivo (73% das menções), e vermes (92%), problemas do Todas estas "doenças” são causadas por interferência acidental ou deliberada de uma terceira pessoa, ou entidade sobrenatural. 196 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... fígado (92%), problemas de rins e coração (100%) e aparelho genital feminino (71%). O fato de a via oral ser inexpressiva para o tratamento de dores de cabeça, enquanto é importante para o tratamento de órgãos localizados no tronco, talvez esteja ligado a uma concepção cabocla da organização interna do corpo humano e das vias de acesso e comunicação com o meio externo, reconhecidas para cada órgão. Infelizmente, estas questões não chegaram a ser abordadas durante o curto período de esta- dia no campo. Os problemas de pele, quaisquer que sejam, são quase que unica- mente tratados por via tópica (95%), embora possa ser reconhecido que eles são a expressão de problemas internos; do mesmo modo, tratamen- tos externos são empregados contra o reumatismo (83%) e a “rasgadura” (80%). A via externa foi a única mencionada para o tratamento de infestações por ectoparasitas, tendo sido também a via de administração preferencial no caso de picada de animais peçonhentos (79%). Ingredientes não vegetais utilizados na composição de receitas A Tabela 2 traz os produtos de origem animal mais usados na medicina popular em Barcarena. Os informantes reportaram que os itens derivados de animais silvestres (como a banha de várias espécies) vêm se tornando escassos, devido tanto ao desmatamento na área, para a construção do Complexo Industrial, quanto à proibição à caça imposta pela Albrás nas áreas transformadas em “reserva”. Produtos como cachaça e álcool são muito empregados como veículo para as macerações de plantas usadas topicamente para reuma- tismo, “doença que entorta”, sintomas gripais. Remédios para reumatismo preparados com cachaça e plantas, por exemplo, mururé ^ Para explicação dos termos usados na designação de doenças, ver lista explicativa no fim do artigo. 197 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Búl. Mus. Para. Eitiílio Goeldi. sér. Bot. 13(2), 1997 (Brosimum acutifolium Hub.), marapuama (Ptychopetalum olacoides Benth.) ou gengibre (Zengiber officinale Rose.) podem ser também ingeridos. Tabela 2 - Produtos de origem animal com usos curativos em Baracarena. Produto Finalidade do uso Modo de usar Banha de arraia “doença que entorta” a) Com cipó-pucá {Cissus sicyoides L.), tabaco (Nicotiana tabacimi L.), arruda (Ruta graveolens L.), catinga-de-mulata (Aeollantiius suaveolens Spreng) e cedro (Cedrela odoraia L.). Acrescentar urina para amornar. Fazer “puxação”. asma b) Tomar com chá dc catinga-de-mulata, japana (Eupatorium ayapana Ventcn.) ou arruda. Banha de boto macho ou fêmea “esipla” 7 Banha de galinha “esipla” c) Com pirarucu (Bryophyllum calicinum Salisb.) ou ganha-aqui-ganha-acolá {Bryophytwn sp). Passar. gripe d) Com andiroba (Carapa guyanensis Aubl.) ou sebo de holanda. “Fomentar” a garganta. asma e) Com mel de abelha ou óleo doce. Tomar Banha de jibóia asma Mesma receita que b) Banha de macaco reumatismo 0 Passar no local. Banha de preguiça-real reumatismo g) Com banha de tartaruga ou tracajá e alho. Passar no local. Banha de tartaruga “esipla” asma reumatismo h) Com malvarisco {Piper marginatum Jacq.). Colocar sobre o local. Mesma receita que b) Verg) Banha dc sucuriju asma Mesma receita que b) “Casa” de tananga (espécie de formiga) asma i) Com carucaá (Cordia niultispicalu Chain.); tomar. 198 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... Tabela 2 - Produtos de origem animal com usos curativos em Baracarena. (continuação). Produto Finalidade do uso Modo de usar Cupim e “casa” de cupim (espécie miudinha) Fel de paca “doença que entorta” Fezes velhas de cachorro sarampo que “pega” na garganta Leite de peito diarréia dor de ouvidos Mel de abelhas asma gripe fortalecer reumatismo sarampo ‘Miolo” de boto para cachorro ficar bom de caçada j) Com laranja-da-terra {Citrus aurantiwn L.), casca de mangueira (Mangifera indica L.), jutaí- mirim (Pterocapus amazonicus), faramacani (Cactaceae), apii (Dorstenia asaroicles Gard.), pampulha (Hibiscus rosa-sinensis L.), guaribinha (Polypodium decuinanutn Willd). Tomar como lambedor, com açúcar. k) Fricção com copaíba {Copaifera spp), cipó-pucá, cravo (Tagetes cf. erecta L.), catinga-dc-mulata, óleo elétrico (Piper callosum Ruiz et Pac.). 1 ) Torrar e moer; com mel de abelha, pincelar a garganta e tomar chá de sabugueiro (Satnbuctis nigra L.). “carne crescida” nos olhos e outros problemas m) Tomar com murta-cabeluda (Myrcia bracteata (Ricb) D.C.). Pode .ser substituído por vinho. Para diarréia de quebranto, tomar com alfazema, alecrim e erva-doce. n) Pingar nos ouvidos, com trevo-roxo {Scutellaria sp.) ou catinga-de-mulata. o) Pingar nos olhos, com gapuí {Martinella obovata (HBK) Bur. et K. schm.). p) Tomar com cebola-berrante, ou gemada e carucaá. q) Entra na composição de quase todas as receitas de xarope ou lambedor. Ver por exemplo apií e carucaá. Apêndice 2 em Amorozo & Gély (1988). r) Tomar, com várias plantas. Ver amapá. Apêndice 2 cm Amorozo & Gély (1988). Com cachaça e gengibre. Tomar. Vcrl) s) t) Colocar sal c areia no miolo; colocar a ponta de uma agulha no miolo, e misturar na comida do cachorro só o qiic vier com a agulha senão ele poderá ficar louco. O cachorro ficará bom caçador, porque o boto c muito mariscador. 199 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeídi, sér. Boi. 13(2), 1997 Tabela 2 - Produtos de origem animal com usos curativos em Baracarena. (continuação). Produto Finalidade do uso Modo de usar Pelo de porco picada de arraia, u) Defumar, com borra de café. preto tucandeira (espécie de formiga) Pelo de prcguiça-real piolho de galinha v) Defumar o galinheiro. Urina “doença que entorta” Ver a) gripe w) Tomar, com limão, alho e mel de abelha. É preferível urina de criança, mas se não houver, tomar a própria, colocando açúcar. “olho ruim” x) Lavar a cabeça e o rosto. Alimentos, como leite e leite condensado, são tomados juntamente com o mastruz (Chenopocliiim ambrosioides L.) ou caxinguba (Ficus insípida Willd.) contra vermes. Talvez o leite ajude a atenuar o efeito tóxico destas plantas. As gemadas podem ser ingeridas com plantas contra males que atacam os pulmões, além de serem usadas em receitas para fortalecer. Também para fortalecer, usa-se canela, chocolate, tutano, até topica- mente, dependendo da região do corpo que se quer fortalecer. Contra pedra nos rins, uma informante recomenda tomar um chá com canarana {Costas cf. spicatus SW.), quebra-pedra {Phyllantiius sp.) e abacate {Persea americana Mill.), ao qual se acrescente três pregos na brasa. Para “dar cor” em uma pessoa anêmica, uma outra moradora recomenda passar o suco do jenipapo (Genipa americana L.) em uma peneira, esquentar um pedaço de ferro até ficar bem vermelho c colocá- lo dentro do suco que o paciente irá tomar. Produtos encontrados em farmácias, como cânfora, sebo de holanda, arnica, óleo-elétrico, enxofre, pílulas de Jalapa, Específico 200 Algunuis notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... Pessoa, e remédios comuns como Emplastro Sabiá, Vick-Vaporub, San- ador, Gelol, Fimatosan, Biotônico Fontoura, e Emulsão Scott, comprimidos anti-gripais e anti-piréticos, além de injeções de Benzeta- cyl, foram mencionados para os mais diversos fins, nem sempre condizentes com suas prescrições originais. Em alguns casos, quando os sintomas de uma doença se prolon- gam por muito tempo sem que se alcance um alívio com remédios mais comuns, observou- se que se inicia um processo de experimentação em que é válido tentar de tudo, e que pode correr paralelamente a tratamen- tos indicados por médicos ou outras pessoas abalizadas. Uma senhora que já sofria há muitos meses de uma espécie de eczema nos pés, rela- tou que, após tomar e passar vários remédios (tanto caseiros como “de médico”), sem melhora, resolveu experimentar passar óleo queimado de carro nas pernas. A mulher de um informante, que havia ficado imobili- zado por causa de um derrame cerebral, contou que estava tentando várias receitas para friccionar as pernas do marido; assim, ela vinha usando a banha de vários animais, conforme a disponibilidade dos produtos, desde a banha do carneiro (que tinha apresentado os melhores resultados), até a de jacaré, sucuriju, guariba, tutano de veado, óleo do “bichinho” do caroço de tucumã e banho com poraquê fervido, que ainda não havia usado pela dificuldade de se obter o material. Até min- hoca frita com azeite já havia experimentado para friccionar as pernas do marido, porque “minhoca é bicho mole, quando a perna fica dura assim...” "Puxar" e "Benzer” A “puxação” e a "benzeção” são dois dos procedimentos mais uti- lizados para o tratamento de vários males entre os habitantes de Itupanema e Vila Nova. Embora não se tenha feito um levantamento sistemático entre os especialistas sobre suas atribuições e 201 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 procedimentos, em conversas, alguns dos informantes declararam que sabiam “puxar” e "benzer”, e fizeram alguns comentários a respeito, que são transcritos a seguir, com um intuito apenas ilustrativo. Estas duas atividades são geralmente exercidas por um mesmo indivíduo, mas não necessariamente. A “puxação” enfeixa tipos de mas- sagem cuja finalidade é tratar de diversos problemas; dores de coluna ou dos membros, “ajeitar” ossos quebrados ou deslocados, desmentidura, “rasgadura”, espinhela, “peito aberto”. O “puxador” pode passar previa- mente no local a ser “puxado”, a banha de algum animal ou sebo de holanda, para auxiliar a tarefa. Os remédios serão receitados conforme o problema tratado. As “puxadeiras”, assim como as parteiras, sabem reconhecer quando uma mulher está grávida, “puxando” sobre seu ven- tre entre o terceiro e quarto mês de gestação. Elas também sabem “endireitar o bebê na barriga da mãe”, mas geralmente não “assistem”, isto é, não fazem o parto. A “benzeção” é utilizada contra vários males, como quebranto, susto, diarréia, dor de cabeça, febre, “esipla”. Ela pode ser feita com água benta, vassourinha e orações tiradas de catecismos ou outros livros de oração. Parece ser consenso que saber benzer é um dom con- cedido por Deus, e deve ser desenvolvido pelo contemplado, sob pena de ele ficar gravemente enfermo. Os remédios também são prescritos de acordo com a necessidade. Uma benzedeira declarou que “os remé- dios vêm na cabeça da gente”, enquanto um senhor disse que pessoas mortas lhe apareciam em sonhos para ensinar remédios ou a forma de benzer. CONSIDERAÇÕES FINAIS A maneira como os caboclos utilizam as plantas e outros produtos na sua medicina está subordinada não apenas à procura de uma eficácia consagrada pela experiência de uso, mas também à maneira como eles 202 Algumas fiotas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos. . . percebem a etiologia das doenças e o modo de ação dos remédios, que por sua vez devem derivar, pelo menos em parte, do seu modo de entender a anatomia humana. Estudos mais aprofundados a respeito destas relações poderiam trazer contribuições interessantes para o entendimento do sistema ter- apêutico caboclo, um sistema basicamente sincrético, onde entram elementos da cultura indígena e portuguesa. O conhecimento assim alcançado, além do interesse puramente acadêmico, poderia trazer resultados práticos, ao fornecer uma base em que se alicerçasse a implantação de sistemas de saúde mais adaptados a cultura e as condições da região. AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq, pela concessão do Auxílio de Pesquisa 00401884/87 e ao Museu Paraense Emílio Goeldi, pelo suporte logís- tico; ao Sr. Nelson de Araújo Rosa, do Departamento de Botânica do Museu, pela identificação das plantas; a Dra. Elaine Elisabetsky, da UFPa, pela leitura crítica do manuscrito. A Eliane Pichara de Oliveira e Zuleica Castilho, pelo auxílio no campo. E sobretudo aos moradores de Itupanema e Vila Nova, pela amizade e disposição de ajudar. 203 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi. 13(2), 1997 LISTA EXPLICATIVA DE ALGUMAS DAS DOENÇAS CITADAS Bilida: excrescência branca sobre os olhos. Desmentidura: torção, luxação. “Doenças que entortam”: com sintomatologia variada, desde o “entortamento” em qualquer parte do corpo, tremor, enrolamento da língua e dificuldades para falar e engolir, até perda do controle motor dos membros, elas são causadas, segundo os caboclos, por exposição do corpo a mudanças bruscas de temperatura, de quente para frio. “Escorrimento de mulher”: corrimento vaginal. “Esipla”: os sintomas aparentes são vermelhidão na pele, inchação, inflamação, “quentura” e dor locais, febre e dor de cabeça. Corrupt- ela de erisipela. “Esipela” ou “esipelão” são variantes do termo; assim como a “esipla”, o “esipelão” pode se originar de problemas no sangue. Espinhela, “peito aberto”: alterações na região do apêndice xifóideo do esterno, causadas muitas vezes porque a pessoa carregou muito peso. “Força de sangue”: o estado em que se encontra o sangue (grosso, embolado, ou fraco) influencia a saúde em geral; as receitas são uti- lizadas para “equilibrar” o sangue (ver Fleming-Moran 1975: 38- 42). - “Marrudá” de sangue: diarréia com sangue. “Olho ruim”: problemas nos olhos. “Penamonia”: pneumonia. - “Rasgadura”, “Carne rasgada”: “carne que se abre por dentro, não precisa sair sangue”; pode ser causada por carregar peso. - “Vento caído”: doença que ataca crianças muito pequenas, com febre, diarréia e afundamento da moleira. 204 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... REFÊRNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMOROZO, M.C.M, & GÉLY, A. 1988. Uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas. Barcarena, PA, Brasil. Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Bot., Belém, 4( 1 ): 47-131. 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Nome vulgar Fam. Nome Científico n" de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada Modo de preparo e aplicação/posologia (1) Observações Outros usos Abutarana CLS Senna latifolia CA 295 H C E tumor "grelo” (broto) Pegar sebo de holanda, uma folha fresca, e o tumor "vem a furo” (G.F.W.) Meyer Irwin & Barneby colocar sobre o tumor. Agrião doenças do pulmão, Suco batido com mel de abelha e gema de Comprado no mercado “penamonia” ovo; tomar em jejum. Ver também erva-de- passarinho. Alecrim quebranto de lua e de Chá. Ou dar cru, com leite de peito. Comprado na farmácia ou gente, diarréia causada por quebranto (em crianças) “vento caído”. taberna. Pessoas bravas Chá. (geralmente adultos). Pegar menos de 25g, bater ou torrar (melhor “emperreadas”, com torrar), colocar em água e ferver. Pegar 1/2 1 “maus fluidos”. de água benta e colocar neste banho, para completar 1 1. Banhar a pessoa que está com mal-estar, que tem os fluidos maus, e dar sete batidas. Alfazema quebranto de lua e de Chá. Ou dar cru, com leite de peito. Comprada na farmácia gente, diarréia causada por quebranto (em crianças) “vento caído” Chá. Algodoeiro MLV Gossypium CA 282 a Q C expelir catarro folha Tirar o sumo e misturar com mel de abelha. A semente lhe foi dada por barbadense L. engordar folha Tomar sem ferver ou fervido. Tomar o sumo com leite, em jejum. uma pessoa de Belém impingem fruto Raspar e colocar o sumo sobre a impingem. Amansa ACA Lepidagathis sp. CA 301 H Q C amansar criança folha Esmigalhar em água e dar 3 banhos, uma vez por dia. Ameixeira MRT Eugenia ciimini (L.) CA 276 A Q C diarréia casca do tronco Ferver; tomar e fazer lavagem. Também fever Alimentar (fruto) Druce com casca de uxi e tomar. Ananá-curau<á BML A nanas .sp. CA 308 H Q c tirar chibança de criança folha Banho. Colocar na água e bater. - 207 cm 10 11 12 13 SciELO 17 If 19 20 21 22 23 24 25 26 27 29 30 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Apêndicel - Novas plantas e produtos vegetais com uso terapêutico na região de Barcarena (PA), Explicação das convenções e abreviações no fim do apêndice, (continuação). Nome vulgar Fam. Nome Científico n° de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada Modo de preparo e aplicação/posologia ( 1 ) Observações Outros usos Aninga-preta ARA Dteffenbackia cf. CA 274 H V/Q E/C “esipelão”, “esipla” folha Murchar no fogo ou ferver; ir molhando na seguine (L.) Schott. cachaça com cânfora e colocar sobre o local atingido. Ou simplesmente murchar a folha e colocar no local. Arraia-de- C E “marmdá” de sangue folha Banho de assento. Ferver com uma colher de pata sal e uma colher de vinagre branco. Árvore- gulosa CA 271 A C E abrir o apetite folha Enrolar e colocar no pescoço. Assacu EUP Hurci crepitím.s L. CA 314 A C/M E ferrada de arraia látex Assacu PPL Eryth ri na aimn.onica Krukoff CA 327 A C/M E ferrada de arraia látexí?) Barbalimão CNN Coniuirus perrottetH (DC) Planchon var. angustifolius Radth CA 318 A C E úlcera, gastrite, “escorrimento” de mulher casca do tronco Chá. Também bater a casca bem batida e colocar para ferver com duas colheres de Coca-Cola. Tomar para prender o intestino. Também banho de asseio. Quanto maior a árvore mais travosa é a casca. câncer casca do tronco Chá. Antes não se usava localmente ou folhas com este fim, agora se usa. coceira, “cavaquinho”. casca do tronco Banho. A água com a casca batida fica mucuim, berne na cabeça ou folhas da cor de sangue. Boldo problema de fígado Ferver com llor de mamão-macho (Carica papaya L.), galhinho de amor-crescido (Portulacu cf pilosa L.) e folha de sucuriju (2). Tomar. Comprado na farmácia “Bordo” CMP Venionia condensata Baker CA 312 a Q C fígado folha Ferver e tomar. Cacau STR Theobwma caccio L. * A Q/s C dor de cabeça de "mau fnita verde Unguento. Raspar a "gosma” da frutinha olhado” verde, colocar café em pó, sebo de holanda, um pouco de vick-vaponib, bater um pedacinho de alho, colocar tutano de boi. Rasgar um pedaço de folha de papel Abate (para enrolar cigarro), colocar na fonte da pessoa. baque, vermelhidão e banha de cacau Passar a banha no local e colocar em cima inchaço folha dc malvarisco-do-manso. Canarana-do- mato ZIN Cosíus cf. arabicus L. CA 31.“) C C E dor de rim folha Junto com vinagre-do-mato e pirarucu “esipla” folha {Bryophylluni ctilycinum Saüsb.). colocar sobre o local. 208 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... Apêndicel - Novas plantas e produtos vegetais com uso terapêutico na região de Barcarena (PA). Explicação das convenções e abreviações no fim do apêndice, (continuação). Nome vulgar Fam. Nome Científico 11 ° de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada Modo de preparo e aplicação/posologia (1) Observações Outros usos Capitiú ANN Annona montana Macf. CA 300 A V E dor folha Chá. Casca-doce OCH Ouratea .sp. CA 316 A C E garrafada de mulher casca do tronco Bater e colocar no sol. Misturar com outros ingredientes (não especificados). Também usada para defumações. E odorífica. Cipó- DSC Dioscorea martensis CA 269 C V E “curar” cachorro “batata” Cortar miudinho e colocar no tucupi da camaleão R. Knuth mandioca mole. Deixar passar uns 8 dias, dar banho nos cachorros e levá-los ao mato para caçar. Cipó-de- PIP Peperomia CA 264 C c E resfriado cipó inteiro Ferver para banho. Este cipó brota do formigueiro tracuá fnacrostachya (Vahl) de tracuá {Camponotus A. Dietr. femoratus (Fabr. 1804)), que fica geralmente sobre árvores. Existem outras espécies também chamadas cipó-de- tracuá pelo mesmo motivo. Cominho quebranto Chá. Juntar com folha de cidreira (Lippia alba N.E. Br.). Também benzer a criança. Comprado na farmácia. Cruatazeiro EUP Croton matourensis CA 283 A c E sapinho, ferida na boca resina Misturar com mel de abelha ou "mel rosado” (Aubl.) M. Arg. (comprado em farmácia) e passar 3 ou 4 vezes sobre o local, ou raspar a casca, espremer o sumo e colocar no local. Cupiúba CEL Goupia glabra Aubl. CA 266 A c E coluna casca do tronco Chá. S ecar ao sol , de.sprezar a parte de fora da casca. Cupiúba PPL Machaerium CA 325 A c E ferida apostemada “leite” ou casca Lavar a ferida com “leite” ou raspa da casca aureiflomm Ducke do tronco (sumo). Curimborana BIG Anemopaegma cf. CA 268 C c E febre casca do caule Raspar, colocar no álcool e passar no corpo chrysoleuciim (HBK) Saiidw todo. Erva-de- LOR Phythirusa paniciiiata CA 381 P s C doenças do pulmão, folha Suco com agrião, carucaá {Cordia pas.çarinho (HBK) Macbr. “penamonia”, multi.spicata Cham.), pimenta-de-lagarto tuberculose {Coccocypselum cí. íontamea H.B.K.), mel de abelha e gema de ovo. Tomar. a.sma folha Chá. Ferver três folha.s e tomar. * dor de dente folha Ferver e bochechar. Feijão FAB queimadura folha Sumo da folha no local. SciELO 209 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Apêndicel - Novas plantas e produtos vegetais com uso terapêutico na região de Barcarena (PA). Explicação das convenções e abreviações no fim do apêndice, (continuação). Nome vulgar Fam. Nome Científico n“ de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada Modo de preparo e aplicação/posologia (1) Observações Outros usos Jacaretaia RHM Gouania pyrifolia Reiss CA 323 C C E ferida, coceira, “cavaco” de criança “batata”, casca de caule Ralar a batata ou raspar o caule e colocar a “espuma” resultante sobre o local. Uma das informantes denominou esta planta curimborana. Jiboinha-do- mato MNS Cissampelos cf fasciculata Benth. CA 321 C C E/C “esipla” folha Colocar sobre o local. Também é usada a jibóia-de- planta (pintadinha) Juazeiro ver Casca-doce Jutaí-mirim PPL Pterocarpus amuzonicus CA 310 A V E asma casca do tronco Ferver uma panela com água. Colocar dentro a casca do cupim miudinho, juntamente com o cupim. Deixar amolecer bem e passar na peneira. Juntar: suco de fruta de laranja-da- terra (Cilrus auralium L.). casca da árvore de manga (Mangifera indica L.), casca de jutaí- mirim, um pedaço de jaramacaru (CAC). raiz de apii (Dorstenia a.saroides Gard.) batida, flor de pampulha (Hibiscus rosa-sinensis L.), rizoma de rabo-de-guariba (ou guaribinha) (Polypodium decunumum Willd.). Deixar ferver até ficar grosso e temperar com açúcar. Dar todos os dias. Louro-rosa LAU Aniba cí. parvipora CA 291 A T/S E/C banho de S. João folha, casca do Secar (a casca), juntar com raiz de patchuli f-iisca fortemente odorífíca. Colocara (Meiss) Mez tronco (Vetiveria zizanioides (L,.) I9ash.). raiz de No tempo dos pais da casca seca ao arataciú (Sagolia racemosa BailI). raspa do informante, usava-se para sol dentro do caule de cipó-luira (Guatteria scanden.s ficar feliz, dar sorte, ganhar álcool para Ducke), pataqueira (Conobea scoparioides dinheiro. fazer Benth.). Esfregar e deixar dentro d’água no perfume, sol, para “cozinhar”, por pelo menos umas 3 horas, depois coar. Fazer na véspera do dia de S. João. Levantar às 4h. da manhã, passar a fogueira e tomar o banho. Louro-rosa QIl Quiina pleridophylla CA 320 (Radth) Pires A C E ferida casca do tronco Banho. Raspar a ca.sca e utilizar para banhar a ferida. Muito travoso. Macaca-cipó, cipómacaca APO Odamadenia CA 298 fumigera Woods C C E “rasgadura”, “carne rasgada” látex Emplastro. Malva-rosa “doença que entorta” folha Chá. Com folha de cravo (Tagetes cf erecta). Comprada na feira, em Belém. folha de arruda (Ruta graveotens L.) e de catinga-de-mulata (AeoUandnis suaseolens Spreng). Ou com pluma (cl. Tanaceium vulgare L.), catinga-de-mulata, arruda e uns pingos de bálsamo. 210 Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins terapêuticos... Apêndicel - Novas plantas e produtos vegetais com uso terapêutico na região de Barcarena (PA). Explicação das convenções e abreviações no fim do apêndice, (continuação). Nome vulgar Fam. Nome Científico n® de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada^ Modo de preparo e aplicação/posologia (1) Observações Outros usos dor de coração folha ' Chá. Manacã-de- cutia ANN Dnguetia flagellaris Huber CA 273 A CIV E para cachorro caçar cutia lenho (por dentro da casca) Raspar, juntar cominho, uma ponta de malagueta e cachaça. Amarrar num paninho e colocar no “nariz” do cachorro. folha Socar, colocar na água e proceder como acima. Manacã-de- veado SOL Brunfelsia guianemis Benth CA 317 a C E reumatismo “batata” Raspar e colocar no álcool. Passar. "curar” cachorro para caçar veado “batata” Colocar a raspa com água no “nariz” do cachorro. Maniva-de- veado EUP Manihot cf. brachyloba Muell. Arg. CA 313 A C/V/Q E/C ferrada de bicho (aranha, tucandeira, cobra) "esipelão” folha Tirar o sumo e esfregar no local. Para picada de cobra, procede-se assim acrescentando pimenta e alho. Manuseada quebranto de criança quebranto de fome Ralar e fazer chá. Não pode dar crua. Chá com folha de pau-d’angola (Piper cf. alatipeticolaíum Yuncker), pau-siri e uma faixa de cigarro da casca de tauari (Couratari gnianerisis Aubl.). Fever tudo e beber. Comprada na farmácia. No dia seguinte, a criança estava boa do vômito e diarréia. Mão-aberta C "esipla” folha Colocar álcool e embrulhar o braço. Maracujá-de- planta PAS Pas.siflora edulis Sim.ç. CA 277 T Y Q c nervoso, abrir memória e coração folha Chá. Maracujá- melão malária folha Chá, com casca de carapanã (A.spidosperma auriculatum M.G.F.) ou uma colher de leite de amapá (Paratiancomia amapa (Huber) Ducke). Munguba A T E baque látex Misturar ao látex “peche” moído (breuzinho que se compra em loja de ferragem), fazer um emplastro e colocar sobre o local. Ou fazer emplasto com sumo de mastruz {Chetwpodium ambro.sioides L.). Padu a C para criança dormir folha Chá. Pará-pará BIG Jaracanda .sp. A C E piolho de galinha folha Fazer fumaça para acabar com os piolhos. Paricá eSL Schizolobium amazonicum Huberex Ducke CA 319 A C E diarréia casca do tronco Bater, fazer o chá e tomar. 211 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot. 13(2), 1997 Apêndicel - Novas plantas e produtos vegetais com uso terapêutico na região de Barcarena (PA)- Explicação das convenções e abreviações no fim do apêndice, (continuação). Nome vulgar Fam. Nome Científico n° de coleta Hábito Habitat Cult./ Esp. Uso local Parte da planta utilizada Modo de preparo e aplicação/posologia (1) Observações Outros usos Pau-siri quebranto de fome Ver manuseada. Comprar na farmácia e ralar. Fica semelhante a canela em pó. Possuri quebranto de criança Chá. Não pode dar cru. Comprado na farmácia - é cheiroso. Quiabo MLV Hibiscus sp. H R C para cabelo crescer depressa “baba” Passar. Rosa-da-sorte OXL Oxalis hedysarifolia Raddi CA 294 H S C/SE para dar sorte ? Banho de criança. Sete-sangrias EUP Euphorbia hirta L. CA 384 H Q/R E “bilida” látex Colocar na vista (nos olhos). Sucuriju CMP Mikania tindteyana DC CA 326 C S C inchaço, “esipla”, íngua no pescoço folha Murchar sobre brasas, colocar banha e passar no local. Tatajuba A T E purgante para estômago, vomitório látex Uxi HOU Endopleura uchi (Hub.) Cuatr. A T/S E/C diarréia casca do tronco Chá, com casca de ameixeira. Também lavagem, com casca de cajueiro (Anacardium occidentale L,); tirar as cascas na hora e fever. Fruto comestível. Vinagre>do- mato MLS Aciotis longifolia Triana CA 322 s.a. C E “esipla” folha Com canarana-do-mato e pirarucu, colocar sobre o local . Ou socar a folha e colocar sobre 0 local, com alcânfor (de farmácia) e cachaça. Gosto levemente ácido. Vindicá- pequeno vindicá-pajé ZIN Renealmia sp. CA 293 H Q C banho para felicidade folha Esfregar na água e deixar um pouco no sol . É bom fazer cedo; melhor fazer na hora de tomar. Esfregar na água, numa vasilha limpa, com mucuracaá {Petiveria alliiicea L.), cipo- alho {Pachyptera ailiacea (Lam.) Gcntry), japana-roxa ou branca {Pupíitoriuni ayapana Venten.) e deixar no sol. Para esta receita, o vindicá- pequeno é melhor do que o grande. Pode fazer o mesmo com vindicá grande. Folhas são fortemente odoríficas. 7 PIP Piper cyrtopodon C.D.C. CA 272 H c E pano branco folha Tirar o sumo e passar no local, com enxofre. 212 V Algumas notas adicionais sobre o emprego de plantas e outros produtos com fins lerapêutiçc^..§tH^iQjfj^j^ ^ ' Abreviações Família Hábito Habitat Cult./Esp. (Cultivada/Espontânea) Abreviações das A - árvore C - capoeira C - cultivada famílias a - arbusto T - mata de terra E - espontânea segundo Weber firme (1982) s.a - sub-arbusto V - várzea SE - sub-espontânea H - herbácea M - mata de várzea e terra firme C - cipó R - ruderal T - trepadiera Q - quintal P - parasita s - sítio (1) As plantas mencionadas nesta coluna, sem identificação, têm, na maior parte, entrada na tabela. Para conhecer outros usos, consultar os apêndices 1 e 2 em Amorozo & Gely (1988). (2) Há duas espécies identificadas com este nome e usadas pela comunidade {Boussingaiiltia sp. e Mikania lindleyana); para esta receita, não foi possível saber qual das duas é usada. 213 Impresso em Belém-PA por: cartopack Indústria gráfica Itda. Rod. A. Montenegro • Km 11 * Fone: 268-1200 66820-000 • Icoaraci • Belém • Pará BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI INSTRUÇÕES AOS AUTORES PARA PREPARAÇÃO DE MANUSCRITOS 1) O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi dedica-se à publicação de trabalhos de pesquisas científicas que se referem, direta ou indiretamente, à Amazônia, nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Lingüística, Botânica, Ciências da Terra e Zoologia. 2) Os manuscritos a serem submetidos devem ser enquadrados nas categorias de artigos originais, notas preliminares, artigos de revisão, resenhas bibliográficas ou comentários. 3) À Comissão de Editoração é reservado o direito de rejeitar ou encaminhar para revisão dos autores, os manuscritos submetidos que não cumprirem as orientações estabelecidas. 4) Os autores são responsáveis pelo conteúdo de seus trabalhos. Os manuscritos apresentados devem ser inéditos, não podendo ser simultaneamente apresentados a outro periódico. No caso de múltipla autoria, entende-se que há concordância de todos os autores em submeter o trabalho à publicação. A citação de comunicação de caráter pessoal, nos manuscritos, é de responsabilidade do autor. 5) A redação dos manuscristos deve ser, preferencialmente, em português, admitindo-se, contudo, manuscristos nos idiomas espanhol, inglês e francês. 6) O texto principal deve ser acompanhado de resumo, palavras-chave, “abstract”, “key words”, referências bibliográficas e, em separado, as tabelas e figuras com as legendas. 7) Palavras e letras a serem ingressas em negrito devem ser sublinhadas com dois traços e as impressas em grifo (itálico), com um só traço. 8) Os textos devem ser datilografados em papel tamanho A-4 ou similar, espaço duplo, tendo a margem esquerda 3 cm, evitando-se cortar palavras à direita. As posições das figuras e tabelas devem ser indicadas na margem. As páginas devem ser numeradas consecutivamente, independente das figuras e tabelas. 9) Os manuscritos devem ser entregues em quatro vias na forma definitiva, sendo uma original. 10) O título deve ser sucinto e direto e esclarecer o conteúdo do artigo, podendo ser completado por um subtítulo. O título corrente (resumo do título do artigo) deverá ser encaminhado em folha separada para que seja impresso no alto de cada página ímpar do artigo e não deverá ultrapassar 70 caracteres. 11) As referências bibliográficas e as citações no texto deverão seguir o “Guia para Apresentação de Manuscritos Submetidos à Publicação no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi" . 12) No artigo aparecerá a data do recebimento pelo Editor e a respectiva data de aprovação pela Comissão Editorial. 13) Os autores receberão, gratuitamente, 30 separatas de seu artigo c um fascículo completo. 14) Os manuscritos devem ser encaminhados com uma carta à Comissão de Editoração do Museu Paraense Emílio Goeldi-CNPq (Comissão de Editoração, Caixa Postal 399, 66040-170, Belém, Pará, Brasil). 15) Para maiores informações, consulte o “Guia para Apresentação de Manuscritos Submetidos à Publicação do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi" . CONTEÚDO Artigos originais A FAMÍLIA SPLACHNOBRYACEAE (BRYOPHYTA) NO ESTADO DO PARÁ Regina C. L. Lisboa, Anna L. Ilkiu-Borges ... 103-II1 CHLORELLACEAE (CHIX)ROPHYCEAE, CHLOROCOCCALES) DO LAGO ÁGUA PRETA, MUNICÍPIO DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ Regina Célia Viana Marlins-Da-Silva ... I4I-I66 ANATOMIA COMPARADA DO LENHO DE QUATRO ESPÉCIES DE GUAREA ALLAMAND EX LINNAEUS DA ZONA DA MATA MINEIRA E DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Maria Rohane de Lima, Eido Antônio Monteiro da Silva, Antônio Lelis Pinheiro, Pedro L. B. Lisboa ... I67-I97 CHARACTERIZATION AND UTILIZATION OF VÁRZEA AND TERRA FIRME FORESTS IN THE AMAZON ESTUARY Akio Tsuchiya, Mario Hiraoka, Carlos R. da Silva ... I7I-I90 ALGUMAS NOTAS ADICIONAIS SOBRE O EMPREGO DE PLANTAS E OUTROS PRODUTOS COM FINS TERAPÊUTICOS PELA POPULAÇÃO CABOCLA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA, PA, BRASIL Maria Christina de Mello Amorozo ... I9I-2I3 EM ACAO SciELÕ 10 11 12 13 14 15 16 cm