Julho de 2001 m a)í ÉJ! 1 » T 1 ' ! illi y i í [li 1 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Série BOTÂNICA GOVERNO DO BRASIL Presidência da República Presidente - Fernando Henrique Cardoso Ministério da Ciência e Tecnologia Ministro - Ronaldo Mota Sardenberg Museu Paraense Emílio Goeldi Diretor - Peter Mann de Toledo Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação - Ima Célia G. Vieira Coordenador de Comunicação e Extensão - Antonio Carlos L. Soares Comissão de Editoração Científica Presidente - Lourdes Gonçalves Furtado Editor Associado - Pedro Luiz Braga Lisboa Editor Chefe - Iraneide Silva Editor Assistente - Socorro Menezes Bolsistas - Andréa Pinheiro, R. Hailton Santos Assistente Técnico - Williams B. Cordovil CONSELHO CIENTÍFICO Consultores Ana Maria Giulietti - Universidade Estadual de Feira de Santana Dana Griffin III - University of Florida Enrique Forero - Instituto de Ciências Naturales/Universidad Nacional, Bogotá Fernando Roberto Martins - Universidade de Campinas Ghillean T. Prance - Royal Botanic Gardens João Peres Chimelo - Instituto de Pesquisas Tecnológicas Nanuza L. Menezes - Universidade de São Paulo/Instituto de Biociências Ortrud Monika Barth - Fundação Oswaldo Cruz Paulo B. Cavalcante - Museu Paraense Emílio Goeldi Therezinha SanPAnna Melhem - Instituto de Botânica de São Paulo Warwick E. Kerr - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia William A. Rodrigues - Universidade Federal do Paraná / 7 JUL. 2002 © Direitos de Cópia/Copyright 2002 por/by MCT/Museu Goeldi b DOAÇÃO ISSN 0077-2216 Ministério da Ciência e Tecnologia Museu Paraense Emílio Goeldi Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Série BOTÂNICA Vol. 17(1) Belém - Pará Julho de 2001 PR-MCT MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Parque Zoobotânico - Av. Magalhães Barata, 376 - São Brás Campus de Pesquisa - Av. Perimetral - Terra Firme Caixa Postal: 399 - Tels: Parque (91) 219-3300, Campus (91) 217-6000 - Fax: (91) 249-0466 CEP: 66040-170 - Belém - Pará - Brasil www. museu-goeldi.br O Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia foi fundado em 1894 por Emílio Goeldi e o seu Tomo I surgiu em 1896. O atual Boletim é sucedâneo daquele. The Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnographia was founded in 1894, by Emilio Goeldi, and the first volume was issued in 1896. The present Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi is the successor to this publication. Financiamento Accredited with the International Association for Plant Taxonomy (IAPT) for the purpose of registration of all ncw plant names CDD: 589.4104526323 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DE SETE IGARAPÉS DE TERRA-FIRME NO ESTADO DO AMAZONAS E SUA RELAÇÃO COM BATRACHOSPERMUM SPP. (BATRACHOSPERMACEAE, RHODOPHYTA) Domitila Pascoaloto 1 RESUMO - Este estudo teve por finalidade conhecer as espécies do gênero Batrachospermum e verificar as características físicas e químicas de sete segmentos de igarapés localizados em área de reserva florestal ( floresta úmida amazônica) nas proximidades de Manaus, estado do Amazonas (02°19'-03°08’S, 59°45’-60°05’W). As visitas foram mensais em dois dos igarapés, de maio de 1996 a abril de 1997. Os demais igarapés foram visitados duas vezes, uma no período “seco ” e outra no “chuvoso”, entre julho de 1996 e setembro de 1997. Foram avaliadas as seguintes variáveis ambientais: temperatura da água, concentração de oxigênio dissolvido, saturação de oxigênio, velocidade superficial da correnteza, cobertura do dossel, largura e profundidade do igarapé, pH, condutividade elétrica e turbidez. Os igarapés estudados foram bem oxigenados, apresentaram fluxos moderados, valores baixos de condutividade e turbidez, temperatura constantemente alta e pH bastante baixo. Foram identificadas três espécies, Batrachospermum capense Starmach ex Necchi & Kumano, B. cayennense Montagne e B. periplocum (Skuja) Necchi. Espécimes de B. cayennense foram encontrados durante todo o ano em um dos igarapés, e por 10 meses no outro. Nos pontos com duas visitas, a alga foi encontrada apenas no período “seco " em um dos igarapés e em ambos os períodos nos demais. B. capense e B. periplocum foram observadas apenas em um dos locais e estiveram presentes em ambos os períodos. 1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Laboratório de Química Ambiental. Caixa Postal 478. Cep. 6901 1-970. Manaus-AM. E-mail: domitila@inpa.gov.br 3 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 PALAVRAS-CHAVE: Igarapés, Variáveis físicas e químicas, Batrachospermum, Floresta úmida amazônica, Brasil. ABSTRACT - This study intended to know the Batrachospermum species and verify the physical and Chemical characteristics of seven stream segments with in forest reserves (Amazon rainy forest) near Manaus, Amazonas State ( 02 o 19'-03°08'S , 59°45’-60°05’W). Two streams were investigated monthly from May, 1 996 throughout April, 1997. The others streams were visited two times, one in the “dry ” period and other in the “rainy” one. The environmental variables analyzed were: water temperature, dissolved oxygen concentration, dissolved oxygen saturation, superficial current velocity, canopy cover, stream width and depth, pH, specific conductance and turbidity. The streams were well oxygenated, showed moderate flow, specific conductance and turbidity low values, high constant temperature and pH quite low. Three species were identified, Batrachospermum capense Starmach ex Necchi & Kumano, B. cayennense Montagne e B. periplocum (Skuja) Necchi. B. cayennense specimens were founded during all the year in one of the streams, and for 10 months in the other one. For the sites visited just for two times, the algae were found just in the “dry” period in one of the streams and in both periods in the other ones. Plants of B. capense and B. periplocum were found just in one of these points and were collected in both periods. KEY WORDS: Streams, Physical and Chemical variables, Batrachospermum, Amazon Rainy Forest, Brazil. INTRODUÇÃO “O riacho da floresta úmida amazônica é fundamentalmente dife- rente, em vários fatores ecológicos, daqueles de outras regiões e climas. Sua água é extremamente pobre em minerais solúveis, a radiação solar direta geralmente não atinge a superfície da água. A temperatura é extremamente constante. Plantas vivas estão quase sempre ausentes, a fauna é pobre e, mais propriamente, única. Essas características são mais evidentes na “ terra firme" da região amazônica central ” (Fittkau 1967: 97). 4 Características físicas e químicas cie sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas Vários fatores exercem influência sobre as características físicas e químicas das águas de rios e riachos (ou igarapés). Para o estudo das características limnológicas de um ambiente, é necessário levar-se em conta sua origem (Maier 1978). Na bacia amazônica a litologia dos substratos e regime de erosão exercem o controle fundamental da quí- mica das águas de superfície (Stallard & Edmond 1983). As águas que têm suas fontes na Amazônia Central refletem especialmente bem as condições extremas dessa região (Fittkau et al. 1975), apresentando em sua maioria uma pobreza pronunciada de sólidos inorgânicos dis- solvidos, além de pH extremamente baixo (< 4,5) (Sioli 1951; Brinkmann & Santos 1973; Furch et al. 1982). Comunidades vegetais bentônicas de ambientes lóticos consistem de várias espécies, geralmente dominadas por algas e briófitas (Holmes & Whitton 1981). Em riachos pequenos as algas bentônicas proporcionam a única fonte significativa de material orgânico autóctone, sobretudo quando as condições são desapropriadas para o estabelecimento de briófitas ou plantas aquáticas vasculares. Entre as algas, Batrachospermum (Batrachospermaceae, Rhodophyta) é um dos gêneros mais freqüentemente encontrados em riachos (igarapés) localizados em áreas florestais em geral (Sheath et al. 1989; Pascoaloto & Necchi 1990; Branco & Necchi 1996) e, desde o século XIX, esta tem sido a macroalga mais comumente citada para os igara- pés da região próxima a Manaus (Dickie 1881; Fittkau 1964; Fittkau et. al. 1975; Uherkovich & Franken 1980; Necchi 1990; Pascoaloto 1999). Entretanto, a maioria dos artigos foram oriundos de observa- ções aleatórias ou constituíram apenas de estudos taxonômicos, de maneira que muito pouco se sabe sobre os ambientes onde as comuni- dades foram observadas. Neste estudo foram avaliados alguns parâmetros físicos e químicos de trechos de sete igarapés de terra-firme localizados em área de reservas florestal, onde encontravam-se presentes plantas de 5 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Batrachospermum spp., a fim de conhecer as espécies ocorrentes e determinar as condições dos ambientes onde os espécimes foram encontrados. MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área amostrada Os locais avaliados neste estudo estão localizados nos municípios de Manaus e Rio Preto da Eva (Figura 1), com latitude 02°19'-03 o 08’S e longitude 59°45’-60°05’ W, entre as regiões central e periférica norte, segundo a divisão ecológica de Fittkau (1976). A região estudada pertence à Formação Alter do Chão (Período Terciário) (Schobbenhaus et al. 1984), e está incluída na Planície Amazônica, região do Baixo Platô Amazônico. Pontos de amostragem O estudo foi desenvolvido de maio/96 a setembro/97 em áreas de reservas florestais do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) do convênio Inpa/SI (Instituto Nacional de Pes- quisas da Amazônia/Smithsonian Institution), localizadas em uma reserva biológica (Reserva Adolpho Ducke) (Figura 1) e três fazendas (Dimona, Esteio e Porto Alegre) (Figuras 1-2). Foram selecionadas sete reservas (Adolpho Ducke, Cabo Frio, Dimona, Florestal, Gavião, "Km 41", Porto Alegre), e em cada uma foi amostrado um igarapé (Barro Branco, Cabo Frio, Dimona- 100, Florestal, Gaviãozinho, S-12 e Porto Alegre, respectivamente). A escolha da reserva foi feita com base na presença de, no mínimo, um igarapé que percorresse sua exten- são. A seleção dos pontos baseou-se na presença de espécimes de Batrachospermum spp. As reservas Adolpho Ducke (igarapé Barro Branco) e “Km 41” (igarapé Piscina) foram visitadas mensalmente, durante o período de maio/96 a abril/97. As demais reservas foram 6 Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas visitadas em duas ocasiões, uma no período seco (maio-outubro) e outra no chuvoso (novembro-abril). «o‘ Figura 1 - Localização das áreas de estudo (1= Reserva Ducke, 2 = Fazenda Porto Alegre, 3= Fazenda Esteio, 4 - Fazenda Dimona). 7 Boi. Mus. Pura. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Boa Vista Manaus m'\ Km 41 Figura 2 - Localização das reservas estudadas (1= "Km 41”, 2 = Gavião, 3= Florestal, 4= Cabo Frio, 5= Porto Alegre, 6= Dimona). Para cada ponto foi definida uma transeção permanente com 10 metros de extensão ao longo das margens (Holmes & Whitton 1981; Necchi & Pascoaloto 1993). Utilizou-se o comprimento e não a área devido à maior facilidade de relocalizar o trecho exato em épocas distintas. Os substratos dos igarapés estudados foram compostos por areia, macrófitas, raízes, troncos caídos, folhas e gravetos. 8 Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas Variáveis ambientais Foram avaliadas as seguintes variáveis ambientais: temperatura da água, velocidade superficial da correnteza, cobertura do dossel, lar- gura e profundidade do igarapé, concentração e saturação de oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica e turbidez da água. A tempera- tura foi medida com termômetro de mercúrio, graduado de 0 a 100°C, no ponto médio da transeção. A velocidade superficial da correnteza foi estimada medindo-se o tempo gasto para que uma bóia de pesca de isopor percorresse a extensão da transeção (Sheath et al. 1986; Pascoaloto & Necchi 1990). Foram feitas cinco medições e calculada a média. A abertura do dossel foi avaliada através de densiômetro Lemmon Forest Densiometer Model-C, foram feitas duas medições, uma no início e outra no final da transeção. A determinação da largura e profundidade dos locais foi realizada utilizando-se uma trena com marcação em milímetro, centímetro e metro. Em ambos os parâmetros foram feitas 10 medições em pontos equidistantes na transeção, calcu- lando-se as médias. As medidas de largura foram tomadas de margem a margem, enquanto que as de profundidade foram realizadas no ponto médio da correnteza. A água para determinação dos demais parâmetros foi coletada no ponto médio da transeção e as análises foram realizadas no laboratório de química ambiental da CPGC (Coordenadoria de Pesquisas em Geociências) do Inpa. A concentração de oxigênio dissolvido foi determinada segundo método de Winkler modificado (Golterman & Clymo 1970). O cálculo da saturação de oxigênio foi feito com base na tabela de Golterman et al. (1978). A medida do pH foi obtida atra- vés de pHmetro digital WWR, cat. 34100-608, a condutividade elétrica foi determinada com condutivímetro digital Jenway mod. 40 1 0 e a turbidez foi avaliada com uso de turbidímetro Polillab AP 100011. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi Mus. Para. Emílio Goelili, sér. Boi., 17(1). 2001 Macroalgas O material coletado foi levado para o laboratório e dividido em dois lotes, um sendo imediatamente fixado em solução formol: água destilada a 4%, e o outro mantido em geladeira por um período máximo de três dias para análise do material fresco. O material cole- tado foi analisado em microscópio binocular Kyowa SM-KE, acrescido de ocular micrometrada acoplada ao seu sistema óptico. A identificação das espécies foi feita segundo Necchi (1990). RESULTADOS Os resultados obtidos (valores mínimo, máximo, média e desvio padrão, mensal ou bianual, conforme a peridiocidade), para as variá- veis ambientais em cada local estão representados na Tabela 1. A oscilação anual da temperatura (diferença do maior para o menor valor observado) foi da ordem de 0,5 (S-12) a 1,0°C (Barro Branco), a velo- cidade da correnteza oscilou entre 1 1,77 (S-12) e 17,68 cm. s' 1 (Barro Branco), a largura do igarapé entre 0,65 (S-12) e 1,12 m (Barro Branco), a profundidade do igarapé entre 5,42 (S-12) e 14,88 cm (Barro Branco), a cobertura do dossel entre 9,46 (S-12) e 21,04% (Barro Branco), a concentração de oxigênio entre 4,91 (S-12) e 7,22 mg.H (S-12), a saturação de oxigênio dissolvido entre 59,44 (S-12) e 87,41 % (S-12), o pH entre 0,6 (S-12) e 0,7 (Barro Branco), a condu- tividade elétrica entre 10,29 (Barro Branco) e 20,83 (S-12) iiS.cnr 1 (Barro Branco), a turbidez entre 0,57 (Barro Branco) e 1,19 FTU (S - 12 ). Os resultados obtidos nos igarapés que foram visitados apenas em duas ocasiões (período seco e chuvoso), foram, em linhas gerais, con- dizentes com aqueles obtidos nos igarapés visitados mcnsalmente. Apenas os dados referentes à temperatura foram inferiores nos igara- pés Dimona-100 e Florestal, enquanto aqueles referentes à temperatura, condutividade elétrica, concentração e saturação de 10 Tabela 1 - Valores obtidos (valor mínimo, máximo, com média e desvio padrão quando n > 3) para as variáveis ambientais nos igarapés estudados (n= número de observações realizadas). Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas _ 04 CO © LO id O CO o o 04. Cs 04 O xd -H 91,01 ±3,5 Nj« CO O 04 O O SC SC 04 r- ■H 3 Oi cT of r- LO ■H © LO © co © 04 oi SC © rf 00 rf +1 04 04 -H • 1 r- oT +1 • cs 'd -H 04 1—^ -H M ^r 04 1 04^ CO 04^ LO VO 1 00 00 r- 1 04 1 r- 1 © 00^ ^ II . a O id id Ol rf 04 ^ rf — < 00 os ©_ cs CO 04 r- O d r- O CO cf © sd © rf r- rf) W 04 00 W 04 co sc s—^ © LO >w/ SC SC 04 II <2 c ©^ ©^ SC cs CO LO © LO co LO CO CO 10 rf CO ©^ © LO O W 04 04 00 CO 04 d LO cd rf* 00 O LO 0 co CO cs © r- LO LO 00" 0 00" 04 LO LO 3 ^ c/5 ro o 04 04 00 r- CO of 04 4,2 © CO rf 00 r^~ O í LO Oi co © © CO r^ LO 0 cs oi cs vjf UM W 04 04 ro 04 d CG LO 00 O 00 © LO O — 00 00 CS cO O cá _ C— 5 LO 04 cs 1 LO 00 0 LO 04" CO od CO LO CO LO LO of © O ™ 1 LO SC • d © r- 1 = O o 01 © sc vd oT Nd CO r^- oi CS 00~ Q w 04 r-> oT 00*' d 10 r- SC Nf 04^ 04^ 00 00 LO "d ^d sc of © 00 cf o LO 04 00 Oi CO Cs © 00 •c _ 04 | 1 04" 1 04 cd cs vd 1 ^ 04 1 |o SC 00 cd • co © II cá C ©_ 00 r^ cs 04 • © 1 04 00 IO CO of — • 00 00 LO sd 04 04 r^ 04 " CO nr rf* © id © ✓ — s Cs SC 00 LO LO 10 O 00 LO io 00 ©^ 0 ©^ 04 «O r^ °0 © co © 0 1 26,0 LO o +1 cO +1 "d SC °j> -H -2,76 CO 0 +1 CO LO 1 *d -H CS cO d 04 04 O +1 16,2c of +1 r-- © CO © +1 -6,67 04 cf -H of 00 of © O ^ CO 04 CO Nf< 04 LO 1 04 © cs 04 10 £ ii c »o XT LO 04 © cs CO co r- SC LO CS SC 00" 3 1 SC CS CO Cs s* © sO 00 © sd of 00" r- CQ w 04 v — ' rC 'w' O w CO co w 10 w cT s * -/ LO >w/ w ' -'—v O C/5 O J—, X 2 s 2 O CU E Velocidade da E u a CJ a ■ *0 v5 5 Saturação de oxigênio (% 11 ], | SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Boi.. 17(1), 2001 oxigênio dissolvido foram superiores no igarapé Gavião. O igarapé Gavião apresentou, também, largura superior àquela encontrada nos demais, enquanto os igarapés Dimona-100 e Porto Alegre apresenta- ram os menores valores para profundidade. Espécimes de Bat racho spermum foram encontrados durante todo o período. Foram identificadas três espécies para a região presente- mente estudada, B. capense Starmach ex Necchi & Kumano, B. cayennense Montagne e B. periplocum (Skuja) Necchi. Espécimes de B. cayennense foram observadas ao longo do ano (maio 96-abril 97) no igarapé Barro Branco e porlO meses (maio/96-fevereiro/97) no igarapé S- 12. A espécie também foi encontrada em ambas as coletas (período seco e chuvoso) nos igarapés Cabo Frio, Dimona-100, Florestal e Gaviãozinho, e apenas no período seco no igarapé Porto Alegre. Espécimes de B. capense e B. periplocum foram observados em ambas as coletas no igarapé Cabo Frio, em associação com espéci- mes de B. cayennense. DISCUSSÃO Os resultados obtidos para as variáveis ambientais foram, em linhas gerais, condizentes com aqueles registrados anteriormente para a região (Sioli 1951; Brinkmann & Santos, 1973; Furch et al. 1982; Campos 1993). Entretanto os dados atuais revelaram que a tempera- tura da água em igarapés pequenos (< 4 m de largura), que correm no interior da floresta, pode ser inferior a 24°C. Campos (1993) estudou por um período de 12 meses, em visitas mensais, as características hidroquímicas de 10 igarapés ao longo da rodovia BR- 174 (Manaus- Boa Vista), entre os quilômetros 0 e 112, onde os valores de tempera- tura da água apresentaram variação de 24,2 a 32,5°C. Os valores inferiores para temperatura da água registrados no atual estudo podem ser devidos ao fato das visitas terem ocorrido logo no início da manhã, ou dos igarapés presentemente avaliados apresentarem-se cobertos 12 Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas pelo dossel das árvores circundantes (cobertura do dossel > 67%), enquanto os trechos avaliados por Campos (1993) situaram-se às mar- gens da rodovia e consequentemente estiveram mais expostos à radiação solar direta, que é o fator que mais contribui para o aqueci- mento das águas de rios (Maier 1978). O limite superior para essa variável registrado por Campos (1993) corrobora com a segunda hipótese. Os igarapés estudados apresentaram fluxos moderados (12,0 - 29,0 cm.s* 1 ) e foram bem oxigenados (4,94 - 7,44 mg.H, saturação > 60%), condições essas que favorecem o aparecimento de plantas de Rhodophyta. Algas vermelhas de água doce podem ser encontradas em uma larga escala de concentrações de oxigênio, variando de 0,2 a 21 mg.l' 1 (Sheath & Hammbrook 1990), entretanto existe um leve aumento na freqüência de ocorrência de Rhodophyta em concentra- ções de O 2 mais elevadas (Sheath 1984). As rodófitas continentais estão geralmente limitadas às águas correntes ou, no mínimo, águas que estão em movimento, o que, provavelmente, está associado ao fato que o movimento da água é importante para providenciar uma boa aeração e portanto uma fonte abundante de oxigênio (Skuja 1938). Os igarapés avaliados neste estudo apresentaram valores extre- mamente baixos de pH, condutividade e turbidez, sugerindo águas quimicamente pobres (pouco mineralizadas), como, aliás, o são as demais águas já estudadas na região, principalmente aquelas localiza- das na bacia do Rio Negro (Brinkmann & Santos 1973; Furch et al. 1982; Campos 1993). A cobertura do dossel encontrada nos igarapés presentemente estudados foi elevada (>65%), chegando a ser >90% (igarapé S-12). Tal característica, além de ser um dos principais fatores responsáveis pela relativa estabilidade da temperatura da água observada ao longo do ano, impede a entrada de luz, limitando a flora aquática e, conse- quentemente, a biota local cm geral. Desta forma, as algas - uma das 13 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Poro. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1). 2001 principais fontes autotróficas presentes nos igarapés que se encontram na região, devem estar adaptadas a essas condições extremas (águas quimicamente pobres e pouca iluminação). O sucesso observado nos espécimes de Rhodophyta deve-se, provavelmente, à versatilidade de seu aparelho fotossintético. Assim, a capacidade de aclimatação cro- mática que ocorre nos representantes dessa Divisão (Sheath 1984; Kaczmarczyk & Sheath 1991) permite que as mesmas ocorram em locais onde a incidência de luz é bastante limitada. Os valores baixos de pH encontrados nas águas estudadas (< 4,5) também favorecem os espécimes de B at racho spermum, pois nessa região da escala de pH o carbono inorgânico disponível encontra-se, predominantemente, na forma de ácido carbônico (H 2 CO 3 ), forma utilizada pelas espécimes de Batrachospermum, que inclusive não são capazes de utilizar bicarbo- nato (HC 03 ‘), forma predominante de carbono inorgânico em pH mais elevados (Raven & Beardall 1981). A penetração e intensidade de luz em qualquer corpo d’água estão estreitamente relacionadas com a turbidez (Maitland 1990). Segundo Vanotte et al. (1980), nas previsões do Conceito do Contínuo Fluvial (CCF, do termo original RCC: “River Continuum Concept"), algas seriam esperadas na parte média da bacia (corpos d’ água menores que 6 a ordem), pois é nessa região que a vegetação circundante é mais aberta, as profundidades não são muito grandes e a água não é ainda muito turva, otimizando assim o crescimento algal. As condições encontradas nos igarapés presentemente avaliados, ou seja, valores baixos de turbidez e profundidade, associado aos recursos de adapta- ção fotocromática encontrada em Rhodophyta, permitiriam e favoreceriam o surgimento desse grupo nos locais. Os espécimes de Batrachospermum foram epifíticos, associados principalmente a raízes e galhos caídos. Quedas de árvores e galhos são comuns no interior da floresta, e quando essas quedas ocorrem com as árvores adjacentes ao igarapé, formam-se fontes de substrato em 14 Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas potencial para a fixação de plantas de Batrachospermwn. Os igarapés estudados apresentaram largura reduzida (em geral < 2,5 m). Esse fato, associado às quedas de árvore resultantes de processos naturais, geral- mente decorrentes de fenômenos atmosféricos (principalmente ventos e raios), favorece a formação de clareiras, onde, além de se encontra- rem substratos (galhos) em abundância, a cobertura oferecida pelo dossel das árvores sofre sensível redução, aumentando, assim, a radiação incidente. As condições encontradas nesses trechos favorece- riam a presença de Batrachospermwn, conforme foi observado por Fittkau (1964). Pascoaloto (1999), entretanto, observou espécimes de Batrachospermwn spp. em menos de 25% do total de clareiras obser- vadas, indicando que a ocorrência dessas espécies provavelmente se deve ao acaso, ainda que um maior número de substratos disponíveis aumente a probabilidade de fixação do carpósporo. Segundo Entwisle & Kraft (1984) o acaso é um dos principais responsáveis na distribui- ção das algas encontradas, pois algas vermelhas podem ser encontradas em meio a emaranhados de algas verdes, ou serem obser- vadas em uma coleta e não aparecerem mais no local. Os igarapés da Floresta Úmida Amazônica constituem um tipo de água na qual a biocenose foi formada não apenas pela temperatura constantemente alta e pouca luminosidade, mas também pelas condi- ções eletroliticamente pobres (Fijtkau 1964). O gênero Batrachospermwn apresenta características peculiares que lhe permi- tem ser bem-sucedido em locais aparentemente inóspitos para o crescimento algal, podendo, inclusive, ser encontrado em qualquer época do ano. Essa é, provavelmente, a principal razão para que apenas macroalgas pertencentes a esse gênero tenham sido observadas anteriormente. As condições químicas encontradas nos igarapés estão de acordo com outras já registradas na literatura mundial para Rhodophyta, entretanto o estudo realizado na região amazônica por Pascoaloto (1999) revelou que muitas vezes é preciso se caminhar 15 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. hus. Para. Emílio Goehli, sér. Boi.. 17(1), 2001 muito no igarapé para se encontrar plantas de Batrachospermum. Esse fato deve-se provavelmente ao histórico de vida desta alga, onde existe uma alternância de geração entre uma fase gametofítica ( Batrachospermum spp.) e outra carposporofítica (fase “Chantransia” de Batrachospermum spp.)- Em linhas gerais, quando o carpósporo que foi liberado na água encontra um substrato apropriado e as condi- ções locais são favoráveis, origina um novo gametófito. As condições físicas encontradas nos igarapés estudados reduziríam as possibilida- des de sucesso do desenvolvimento do carpósporo, pois esse depende de se fixar em um substrato numa região onde a luminosidade seja sufi- ciente e a velocidade não muito elevada; entretanto, uma vez que a população tenha se estabelecido, ela pode se manter estável ao longo do ano. CONCLUSÃO Os ambientes estudados podem ser identificados como igarapés com águas ácidas, bem oxigenadas, com fluxos moderados e ambien- tes sombreados; características essas favoráveis ao desenvolvimento de espécimes de algumas espécies de Batrachospermum. Essas condi- ções, associadas à ocorrência de substratos favoráveis, como troncos e galhos caídos em posições adequadas para a fixação dos carpósporos, foram as principais responsáveis pelo estabelecimento das comunida- des de B. capense, B. cayennense e B. periplocum, algumas podendo, inclusive, ser encontradas coexistindo num mesmo intervalo de igarapé. Novos estudos a serem desenvolvidos em igarapés que nascem e percorrem o interior da floresta, bem como em outros localizados em áreas desmatadas e/ou em diferentes regiões geológicas, são, entre- tanto, necessários para melhor estabelecer-se as relações entre as comunidades de Batrachospermum spp. e o meio no qual elas se encontram. Tratando-se de locais e comunidades pouco estudados, 16 Características física.': e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas existe, ainda, a possibilidade latente de se encontrar novas espécies, contribuindo, assim, também, para o estudo da sistemática desse grupo. AGRADECIMENTOS À Capes, aos funcionários do PDBFF, ao Inpa e aos pesquisado- res e funcionários da CPGC. À Antonia G.N. Pinto, M. Socorro Rocha e ao Dr. Bruce Rider Forsberg. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANCO, C.C.Z & NECCHI Jr, O. 1996. Distribution of stream macroalgae in the eastem Atlantic Rainforest of São Paulo State, southeastem Brazil. Hydrobiologia, 333: 139-150. BRINKMANN, W.L.F. & SANTOS, A. 1973. Natural waters in Amazônia. VI: Soluble calcium properties. Acta Amazôn. Manaus, 3 (2): 33-40. CAMPOS, Z.E.S. 1993. Parâmetros físico-químicos em igarapés de água ciara e preta ao longo da rodovia BR- 1 74 entre Manaus e Presidente Figueiredo - AM. 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Biol., 50 (1): 37-44. 18 Características físicas e químicas de sete igarapés de terra-firme no estado do Amazonas RAVEN, J.A. & BEARDALL, J. 1981. Carbon dioxide as the exogenous inorganic source for Batrachospenmtm and Lemanea. Br. Pliycol. J. Lond., 16 (2): 165 175. SCHOBBENHAUS, C; CAMPOS, D.A.; DERZE, G.R. & ASMUS, H.E. 1984. Geologia do Brasil. DNPM, 501 p. SHEATH, R.G. 1984. The Biology of Freshwater Red Algae. In: ROUND, F.E., CHAPMAN, D.J. (eds.). Progress in phycological research. v. 3. Bristol, Biopress, p. 89-157. SHEATH, R.G. & HAMBROOK, J.A. 1990. Freshwater ecology. In: COLE, K.M. & SHEATH, R.G. Biology of the Red Algae. Cambridge, Cambridge University, p. 423-453. SHEATH, R.G.; HAMILTON, P.B.; HAMBROOK, J.A. & COLE, K.M. 1989. Stream macroalgae of the eastem boreal forest region of North America. Can. J. Bot., 67: 3353-3562. SHEATH, R.G.; MORISON, M.O.; KORCH, J.E.; KACZMARCZYK, D. & COLE, K.M. 1986. Distribution of stream macroalgae in south-central Alaska. 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Costa Neto 3 ( RESUMO - Este estudo foi realizado na restinga do Crispim , situada no município de Marapanim, estado do Pará, enfocando aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes nas moitas. São apresentadas descrições sucintas das espécies, baseadas em alguns caracteres vegetativos. Com base nas descrições foi construída uma chave analítica para facilitar a identificação no campo, bem como a ilustração de um representante por família. As coletas botânicas compreenderam um período de 24 meses e os espécimes estão depositados no Herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi. Estudou- se um total de total de 40 espécies, distribuídas em 22 famílias. PALAVRAS-CHAVE: Taxonomia, Moitas, Restinga. 1 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Caixa Postal 399. Cep 66.040-170. Belém-PA. E-mails: dario@museu-goeldi.br; nazir@museu-goeldi.br 2 FCAP-Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Professor visitante. Av. Perimetral, 2501. Cep 66075-650. Belém-PA. E-mail: bira@museu-goeldi.br - 1 lEPA-lnstituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. Divisão de Botânica. Rod. JK, Km. 10, s/n. Fazendinha. Cep 68902-280. Macapá-AP. E-mail: salucosta@zipmail.com.br 21 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 ABSTRACT - The trees and slinibs oflhe dune vegetation at Crispim, in the municipality of Marapanim, Pará State, northem Brazil, include 40 species pertaining to 22 plant families. Succinct descriptions and a taxonomic key based on vegetative characteristics were made in order to facilitate field identifications. One representative species of each fatnily was ilhistrated. Field collections extended over 24 months, and the voucher specimens are deposited in the herbarium of the Emílio Goeldi Museum ofPará, in Belém, Brazil. KEY WORDS: Taxonomy, Dune vegetation, Shrubs. INTRODUÇÃO O conhecimento científico da vegetação de restinga do litoral do Pará compreende dois períodos distintos. O primeiro em que Pires (1973) e Braga (1979) a descrevem como pobre e medíocre, consti- tuída por cerca de 20 espécies vegetais. O segundo, mais recente, em que Santos & Rosário (1988), Bastos (1996), Costa Neto et al. (1996) e Amaral (1997) registram a ocorrência de mais de 200 espécies, con- tradizendo a baixa diversidade vegetal observada pelos investigadores da década de 70. A maioria dos estudos sobre o ecossistema de restinga no país refere-se à composição florística e estrutura das comunidades vege- tais. Do ponto de vista taxonômico, parcos são os trabalhos. A primeira obra relacionada a este tipo de vegetação é a Flora Ecológica das Restingas do Sul e Sudeste do Brasil, publicada em 22 volumes, cada um deles abordando'uma família (Pereira et al. 1984). Além dessa obra, destacam-se, mais recentemente, para as mesmas regiões, os trabalhos de Silva & Gallo (1984), Behar & Viegas (1992) e Yano & Costa (1994). No Pará, o único estudo taxonômico voltado para a vegetação de restinga é o de Vicente et al. (1999), que investiga as Turneraceae da 22 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... ilha de Algodoal-Pará. Neste estudo são realizadas descrições taxonô- micas e anatômicas dos táxons investigados, acompanhado de uma chave de identificação do mesmos. Em duas outras localidades no litoral nordeste paraense são men- cionadas as formações de moitas, nas ilhas de Maiandeua (Bastos 1988) e de Algodoal (Bastos 1996). Em termos comparativos a área aqui estudada apresenta maior semelhança com a de Maiandeua, tanto em termos fisionômicos quanto na composição florística. A formação vegetal que ocorre em Algodoal apresenta certas peculiaridades que a destaca das demais localidades, como a elevada densidade de herbá- ceas, o constante afloramento do lençol freático, a dominância de Byrsonima crassifolia e, a inexistência de Humiria balsamifera, espécie característica das moitas do Crispim e Maiandeua. Afora o litoral do Pará, só existe registro sobre as formações de moitas em ambiente de restinga, na região Sudeste do país, onde estão concentrados a maioria dos estudos (Pereira 1990 a,b; Andrade 1991; Ribas etal. 1993; Zaluar 1997; Montezuma 1997). Da listagem florís- tica apresentada nesses estudos, pouquíssimas espécies são aqui coincidentes, destacando-se geralmente Guapira opposita , Tapirira guianensis , Protium heptaphyllum, Humiria balsamifera e Myrcia multiflora, o que reforça o argumento da baixa similaridade florística entre restingas ao longo do litoral brasileiro (Araújo et al. 1984). O presente estudo visa a contribuir para o conhecimento taxonô- mico da vegetação de restinga do litoral paraense, com ênfase à comunidade arbustivo-arbórea ocorrente nas moitas da restinga do Crispim, Pará. MATERIAL E MÉTODOS A restinga do Crispim está localizada a 8 km da vila de Marudá, no município de Marapanim, no estado do Pará, entre as coordenadas 23 cm Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Bot„ 17(1), 2001 geográficas 47°40’24” e 47°38’00”W.GR. e 0 o 37’06” e 0°34’42”S (Figura 1). Este município, juntamente com outros que também limi- tam-se com o oceano Atlântico, integram a Zona Fisiográfica do Salgado, no litoral nordeste do Pará. Figura 1 - Localização da área de estudo. Restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). A vegetação compreende sete tipos de formações vegetais, deno- minadas de vegetação halófila, psamófila reptante, brejo herbáceo, vegetação de dunas interiores, campo entre dunas, campo de restinga e 24 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... mata de restinga (Costa-Neto et al. 1996). A formação de moitas, objeto deste estudo, denominada pelos autores supracitados como campo de restinga, está localizada nas áreas posteriores da restinga, aproximadamente a 1,5 km da linha de praia. Compõe-se de moitas de diferentes tamanhos, formadas, principalmente, por indivíduos arbus- tivos e arbóreos, intercaladas por vegetação herbácea ou espaços desnudos (Figura 2) 5 <>' ■ & J.2.’ '5-f.fv Figura 2 - Aspecto geral formação aberta de moitas, restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). Durante dois anos foram feitas coletas de material botânico da vegetação arbustiva e arbórea na formação vegetal em estudo, identi- ficando-se todo o material por comparação no herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG), onde encontra-se depositado. A descrição das espécies baseou-se exclusivamente em caracte- res vegetativos, como: tipo, consistência e forma da folha, forma do ápice e da base, filotaxia, indumento, estipulas e latescência. Uma chave analítica foi também elaborada, visando facilitar a identificação das espécies em campo, assim como a ilustração botânica de uma representante por família. 25 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Pura. Emílio Goeldi. sér. Bor., 17(1 ), 2001 RESULTADOS Chave Analítica das espécies arbustivo-arbóreas da formação aberta de moitas da restinga do Crispim-PA la. Plantas latescentes e/ou resiníferas 2 lb. Plantas sem essa característica 8 2a. Folhas compostas, exsudação aromática intensa Protium heptaphyllum 2b. Folhas simples, sem exsudação 3 3a. Folhas opostas ou alternas 4 3b. Folhas verticiladas Himatanthus articulatus 4a. Folhas alternas 5 4b. Folhas simplesmente opostas ou decussadas 7 5a. Folhas glabras 6 5b. Folhas com indumento estrigoso na base da nervura central.. Poutería ramiflora 6a. Folhas com estipulas Mabea pohliana 6b. Folhas sem estipulas Micropholis venulosa 7a. Folhas simplesmente opostas Tabemaemontana angulata 7b. Folhas decussadas Glycoxylon pedicellatim 8a. Folhas simples 9 8b. Folhas compostas 35 9a. Folhas com glândulas translúcidas 10 9b. Folhas sem glândulas translúcidas 15 10a. Folhas com coloração ferrugínea Myrcia cuprea 10b. Folhas sem coloração ferrugínea 1 1 1 la. Folhas simplesmente opostas Myrcia multiflora 1 lb. Folhas opostas decussadas 12 12a. Caules e ramos esfoliantes 13 12b. Caules e ramos não esfoliantes 14 13a. Folhas oblongo-lanceoladas, as maiores com cerca de 5 cm de comprimento e 2cm de largura; pecíolo curto com aproximadamente 0,2 cm de comprimento. Eugenia punicifolia 26 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... 13b. Folhas ovais-elípticas, as maiores com cerca de 6,5 cm de comprimento e 3 cm de largura, pecíolo longo com aproximadamente 0,5 cm de comprimento Eugenia biflora 14a. Ramos e folhas esbranquiçados; face superior da folha brilhante Myrcia fallax 14b. Ramos e folhas não esbranquiçados; face superior da folha opaca Myrcia speciosa 15a. Folhas com bordo serrilhado 16 15b. Folhas sem bordo serrilhado 18 16a. Folhas de 3,5-4,5 cm de comprimento e 1 ,5-2,5 cm de largura, ápice agudo, base obtusa Ouratea microdonta 16b. Folhas com o comprimento maior que 5 cm e largura superior à 3 cm, ápice acuminado, base aguda 17 17a. Margem das folhas com serrilhamento bastante evidente, ereto, folhas de 10-15 cm de comprimento Ouratea castaneaefolia 17b. Margem das folhas com serrilhamento pouco evidente, inclinado, folhas de 6-8 cm de comprimento Ouratea racemifornüs 18a. Folhas com ócrea Coccoloba ramosissima 18b. Folhas sem ócrea 19 19a. Folhas ferrugíneas Byrsonima crassifolia 19b. Folhas não ferrugíneas 20 20a. Ramos lenticelosos 20b. Ramos não lenticelosos 21a. Folhas com indumento 21b. Folhas glabras 22a. Folhas verticiladas 22b. Folhas alternas ou opostas 23a. Folhas alternas 23b. Folhas opostas 24a. Folhas com estipulas 24b. Folhas sem estipulas 25a. Folhas decussadas Chrysobalanus icaco 21 22 27 Ternstroemia punctata 23 24 25 Hirtella racemosa Vemonia arenaria ... Pagamea guianensis 25b. Folhas simplesmente opostas 26 27 Boi. Mus. Pura. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1), 2001 26a. Folhas oblongo-lanceoladas, com estipulas, ápice mucronado, base aguda Retiniphyllum schomburgkii 26b. Folhas obovadas, sem estipulas, ápice acuminado, base cuneada Guapira opposita 27a. Folhas alternas 28 27b. Folhas opostas 32 28a. Folhas com estipulas 29 28b. Folhas sem estipulas 30 29a. Ramos cobertos por formações escamiformes (ramenta), folhas ovais, base obtusa Erythroxylum micranthum 29b. Ramos sem ramenta, folhas obovadas-elípticas, base atenuada Alibertia myrciifolia 30a. Folhas obovadas, ápice retuso ou obtuso 31 30b. Folhas elípticas, ápice acuminado Heisteria ovala 3 la. Folhas de 6-8 cm de comprimento e 3-4 cm de largura, base atenuada Humiria balsamifera 31b. Folhas de 6-15 cm de comprimento e 5-8 cm de largura, base cuneada Anacardium occidentale 32a. Folhas simplesmente opostas 33 32b. Folhas decussadas 34 33a. Folhas oblongo-lanceoladas, 6-7 cm de comprimento e 4-5 cm de largura, base obtusa, estipulas axilares Cassipourea guianensis 33b. Folhas ovais, 7-8 cm de comprimento e 2-3 cm de largura, base cuneada, esti- pulas interpeciolares Psychotria barbiflora 34a. Folhas oblongo-elípticas, 10-12 cm de comprimento e 3-4,5 cm de largura, ápice acuminado Clusia columnaris 34b. Folhas obovadas-elípticas, 8-12 cm de comprimento e 5-8 cm de largura, ápice obtuso Clusia grandijlora 35a. Folhas bi-compostas Hymenolobium petraeum 35b. Folhas simplesmente compostas 36 36a. Folhas digitadas Bômbax longipedicellatum 36b. Folhas não digitadas 37 37a. Folhas , folíolos 6 Copaifera martii 28 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... 37b. Folhas imparipinadas, folíolos 5 ou 7 38 38a. Folíolos em número de 5 S imaba guianensis 38b. Folíolos em número de 7 39 39a. Folíolos oblongo-lanceolados, base aguda, caule com exsudato vermelho Swartzia laurifolia 39b. Folíolos oblongo-elípticos, base obtusa, ausência de exsudato vermelho no caule Tapirira guianensis Descrição Sucinta das Espécies ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L., Sp. Pl. 1: 383. 1753. Tipo: LT: Herb. Hermann 3: 50, No. 165 , (BM). Cassuvium pomiferum Lam., Encycl. 1(1): 22. 1783. Acajuba occidentale (L.) Gaertn. Fruct. Sem. Pl. 1: 192, t. 40. 1788. Anacardium microcarpum Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro, 3: 202. 1922. Nome vulgar: Caju Árvore de 3-5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, obovadas, coriáceas, sem estipulas, 6-15 cm de comprimento e 5-8 cm de largura, ápice obtuso e base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral 100, 15/X/1999. (MG) Tapirira guianensis Aubl., Hist. Pl.Guiane, 1:470, t. 188. 1775. Tipo: Joncquetia paniculata Willd., Sp. Pl., 2(1): 750. 1799. Comocladia tapaculo Kunth, Nov. Gen. Sp., 7: 18. 1824. 29 j | SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Boi., 17(1), 2001 Mauria multiflora C. Mart. ex Benth., Hooker's J. Bot. Kew Gard. Misc., 4: 14. 1852. Mauria subbijuga Mart. ex Benth., J. Bot. (Hooker), 4: 15. 1852. Odina francoana Netto, Ann. Sei. Nat., Bot., sér. 5, 5: 85-86, t. 9. 1866. Tapirira bijuga Hook. f. ex Marchand, Rev. Anacard. 162. 1869. Tapirira myriantha Triana & Planch., Ann. Sei. Nat., Bot., ser. 5 14: 295. 1872. 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Plumeria articulata Vahl, Eclog. Amer. 2: 20. 1798. Himatanthus rigida Willd. ex Roem. & Schult., Syst. Veg. 5: p. xiii, 221. 1819. cm 2 3 4 SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goehli. sér. Boi., 17(1), 2001 Nome vulgar: Sucuúba Árvore de 4-8 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, verti- ciladas, obovadas, coriáceas, glabras, sem estipulas, 8-12 cm de comprimento, 3-5 cm de largura, ápice obtuso, base atenuada. Material examinado: Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral 101, 15/X/1999. (MG) Tabernaemontana angulata Mart. ex Muell. Arg., Fl. Bras. 6(1): 72. 1860. Tipo: Martins s.n., Nov. 1819, Brazil: Para: Amazonas R, near Belem (Holotipo: M). Anacampta angulata (Mart. ex Müll . Arg.) Miers, Apocyn. S. Am. 65. 1878. Figura 4 - Himatanthus articulatus (Vahl) Woodson. 32 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Bonafousia angulata (Mart. ex Miill. Arg.) Boiteau & L. Allorge, Buli. Soc. Bot. France, Lett. Bot. 130(4-5): 339. 1983 [1984]. Bonafousia silvae Boiteau & L. Allorge, Buli. Soc. Bot. France, Lett. Bot. 130(4-5): 342-343, f.. 1983 [1984]. Nome vulgar: Grão de anta Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, lanceoladas, membranáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 6-10 cm de comprimento, 4-6 cm de largura, ápice acumi- nado, base obtusa. Material examinado: BRASIL, Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral 102, 15/X/1999. ( MG) ASTERACEAE Vernonia arenaria Mart. ex DC., Prodr. 5: 54. 1836. Vernonia sannentiana Gardner, London J. Bot. 5: 221. 1846. Lepidaploa arenaria (Mart. ex DC.) H. Rob. Proc. Biol. Soc. Wash. 103(2): 482.1990. Subarbusto de 1,5 m de altura. Ramos pilosos. Folhas simples, alternas, ovais, membranáceas, pubescentes em ambas as faces, sem estipulas, 2-2,5 cm de comprimento, 1,0- 1,5 cm de largura, ápice cur- tamente acuminado, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 945, 14/VI/1991. (MG) 33 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Bot., 17(1), 2001 Figura 5 - Vemonia arenaria Mart. ex DC. BOMBACACEAE Bômbax longipedicellatum Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro, 3: 210. 1922. Nome vulgar: Mungubinha Arbusto de aproximadamente 2m de altura. Ramos glabros. Folhas compostas, digitadas, folíolos de 6-8, obovadas-oblongo, car- táceos, sem estipulas, 8-12 cm de comprimento, 4-7cm de largura, ápice acuminado, base cuneada. 34 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Material examinado: BRASIL, Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral 103, 15/X/1999. (MG) N | A, r^i Figura 6 - Bômbax longipedicellatum Ducke. BURSERACEAE Protiwn heptaphyllum (Aubl.) March., Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist. Foren. Kjobenhavn. ser. 3 5: 54. 1873. Tipo: Icica hepíaphylla Aubl., Hist. Pl. Guiane. 337. 1775. Icica guianensis Aubl., Hist. Pl. Guiane. 1: 340 t. 131. 1775. Amyris ambrosiaca Mart. Reise I. 551; Linnea 5. 1830. Protiwn tacamahaca March. Bail. Adansonia. 7: 52. 1867-1868 35 cm 2 3 SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi Mus. Para. Emílio Goehli, sér. Boi.. 17(1). 2001 Figura 7 - Protium heptaphyllum (Aubl.) March. Nome vulgar: Breu Arbusto de 3-6 m de altura. Ramos glabros. Folhas compostas, alternas, folíolos 7, glabros, sem estipulas, lanceolados, cartáceos, 7,5-8, 5 cm de comprimento, 2,5-3,5 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1279, 21/XI/1992. (MG) 36 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... CHR Y SOB ALANACEAE Chrysobalanus icaco L., Sp. Pl. 1: 513. 1753. Prunus icaco Labat, Itin. Am. 3: 30. 1722. Sorbus aucuparia L., Sp. Pl. 1: 477. 1753. Chrysobalanus purpurais Mill., Gard. Dict. ed. 8. (2) . 1768. Chrysobalanus pellocarpus G. Mey., Prim. Fl. Esseq. 193. 1818. Chrysobalanus ellipticus Sol. ex Sabine, Trans. Hort. Soc. London. 5: 453. 1824. Chrysobalanus icaco var. ellipticus (Sol. ex Sabine) Hook. f., Trans. Hort. Soc. London. 5: 453. 1824. Chrysobalanus orbicularis Schum., Beskr. Guin. Pl. 232. 1827. Chrysobalanus icaco var. pellocarpus (G. Mey.) Hook. f., Fl. Bras. 14(2): 7. 1867. Chrysobalanus savannarum Britton, Buli. Torrey Bot. Club. 48(12): 331. 1921 [1922][1922]. Chrysobalanus interior Small, Manual. 645. 1933. Chrysobalanus icaco var. genuinus Stehle & Quentin, Fl. Guadeloupe. 2(3): 48. 1949. Nome vulgar: Ajirú; Ajurú Arbusto de aproximadamente 2 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, obovadas, coriáceas, glabras em ambas as faces, estipuladas, lenticelas, obovadas, 2-4 cm de comprimento, 2,5- 3 cm de largura, ápice obtuso, subcuneadas na base. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Costa Neto et al 28, 1 1/1 V/l 997. (MG) 37 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 £ o (M Figura 8 - Hirtella racemosa Lam. Hirtella racemosa Lam., Encycl. 3: 133. 1789. Tipo: HT: Lamarcks.n., no date, South America (P). Hirtella americana L. Sp. Pl. 1: 34. 1753. Tachibota guianensis Aubl. Hist. Pl. Guiane. Hist. Pl. Guiane. 1: 287. 1775. Salmasia guianensis (Aubl.) J.F. Gmel. Syst. Nat. ed. 3 2: 500. 1791. 38 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Hirtella hexandra Willd. ex Roem. & Schult., Syst. Veg. Ed. 9; 5: 274. 1819. Hirtella nemorosa Hoffmansegg ex Roemer & Schultes, Syst. Veg. 5: 274. 1819. Hirtella scandens Hoffmansegg ex Roemer & Schultes, Syst. Veg. 5: 274. 1819. Hirtella strigulosa Steud., Flora. 26: 761. 1843. Hirtella violacea Steud. Flora. 26: 761. 1843. Nome vulgar: Cariperana da restinga Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos pubérulos. Folhas simples, alternas, elípticas, coriáceas, pilosas, estipuladas, de 4-7 cm de com- primento, 3-4 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1080, 16/VI/1991. (MG) CLUSIACEAE Clusia columnaris Engl., Fl. Bras. 12(1): 432. 1858-79. Tipo: Spruce 1900, Jan-Aug 1852, Brazil (M). Nome vulgar: Cebola brava Arbusto de 1,5-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, oblongo-elípticas, coriáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 10-12 cm de comprimento, 3-4,5 cm de largura, ápice acuminado, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 637, 10/XII/1992. (MG) 39 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Clusia grandiflora Splitg. Fl. Bras. p.423. 1878. Tipo: Clusia rosea Jacq. Enum. Syst. Pl. 34. 1760. Clusia insignis Mart. Nov. Gen. Sp. Pl. 3: 64. 1829-32. Clusia petiolata Klotzsch ex Engl. Fl. Bras. XII. I. 425. 1888 Nome vulgar: Cebola brava Arbusto de 1,5-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, obovadas-elípticas, coriáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 8-12 cm de comprimento, 5-8 cm de largura, ápice obtuso, base cuneada. Figura 9 - Clusia grandiflora Splitg. 40 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1085, 16/VI/1991. (MG). Ibidem Bastos et al. 1249, 19/XI/1992. (MG) ERYTROXYLACEAE Erythroxylum micranthum Bong ex Peyr. Fl. Bras. 12(1): 164, pl. 30, f. 1. 1878. nonTipo: Spruce386, Nov 1849, Brazil (K)., isoTipo: Riedel 08, Nov 1828, Brazil (LE). holoTipo: Riedel 1537, Nov 1828, Brazil (LE). isoTipo: Riedel 1537, Nov 1828, Brazil (BR). Erythroxylum citrifolium A. St.-Hil., Fl. Bras. Merid. 2: 94. 1829. Figura 10 - Erythroxylum micranthum Bong ex Peyr. Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot.. 17(1), 2001 Nome vulgar: Cocarana Arbusto de 2,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, ovais, cartáceas, glabra em ambas as faces, estipuladas, 5-8 cm de comprimento e 2,5-3 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1572, 1 9/111/ 1 994 (MG). Ibidem Lobato et al. 192, 20/11/1986. (MG) EUPHORBIACEAE Mabea pohliana Muell. Arg., Prodr.l5(2): 1 152. Figura 1 1 - Mabea pohliana Muell. Arg. 42 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Nome vulgar: Taquari Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, ovais, cartáceas, glabra em ambas as faces, estipuladas, 4-7 cm de comprimento, 3, 5-4,0 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1009, I5/VI/1991 (MG). Ibidem Lobato et al. 220, 20/11/1986. (MG) HUMIRIACEAE Humiria balsamifera Aubl. Hist. Pl. Guiane. 1: 564-566, t. 225. 1775. Houmiri arenariwn Baill. Hist. Pl. 5:52-53, figs. 88-89. 1874. Humirium balsamiferum Benth. in Hook. Journ. Bot. Kew Miscel. 5:102. 1853. Houmiri balsamifera Aubl. Pl. Guian. 1: 564-566 pl. 225. 1775. Myrodendrum balsamiferum Raeuschel, Nom. Bot. (3 ed.) 156. 1797. Myrodendrum amplexicaule Willd. Sp. Pl. 2(2): 1171. 1800. Myrodendrum amplexicaule Spreng. Syst. veg. 2: 600. 1825. Humirium floribundum Mart. Nov. Gen. Sp. Pl. 2:143-145, pl. 199. 1827. - Bent. in Hook. Lond. Journ. Bot. 2:374. 1843. - Bebth. in Hook. Journ. Bot. Kew Misc. 5:100. 1853. Humirium montanum A. Juss. in St. Hill. Fl. Bras. Merid. 2:90. 1829. Humirium parvifolium A. Juss. in St. Hill, ibid.: 89. 1829. Humirium guianensis Benth. in Hook. London Journ. Bot. 2:374. 1843. - Hook. Journ. Bot. Kew Misc. 5:100. 1853. Humirium surinamense Miquel, Stirp. Surinam 86, pl. 24. 1850. 43 Boi. Mus. Para. Emílio Goelili, sér. Bot., 17(1), 2001 Humirium arenaríum Guil. in Baill. Adansonia, 1:208. 1860. Humirium multiflorum Mart. Spach Suites 17 in Pritz. Icon. Bot. Ind. 560. 1866. Humiria floribunda Mart. ex Urb. in Mart. Fl. Bras. 12(2): 438, pl. 92. 1877. - Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro 3:176. 1922. Myrodendron petiolatum Mart. ex Urb. in Mart. Fl. Bras. 12(2): 438. 1877. Humirium amplexicaule Mart. ex Urb., ibid.:440, as synonym. 1877. Humirium ellipticum Klotsch ex Urb., ibid.:438, as synonym. 1877. Humirium laurinum Klotsch ex Urb., ibid.:439, as synonym. 1877. Humirium subsessile Spruce ex Urb., ibid.: 439, as synonym. 1877. Humiria floribunda var guianensis (Benth.) Urb. in Mart. Fl. Bras. 12(2): 439. 1877. Hwniria floribunda var. laurina Urb. In Mart., ibid. Humiria floribunda var. montana (Juss.) Urb. in Mart., ibid.:438. 1877. Humiria floribunda var. parvifolia (Juss.) Urb. in Mart., ibidi. Humiria floribunda var. subsessilis Urb. in Mart., ibid.: 439. 1877. Humiria Cassiquiari Sussenguth & Bergdolt, Reperl. Sp. Nov. Fedde 39:16. 1935. Humiria savannarum Gleason in Buli. Torrey Club. 58:378. 1931. 44 SciELO 10 11 12 13 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas ... Humiria floribunda var. spathulata Gleason, Buli. Torrey Club. 58:374. 1931. Humiria pilosa Steyermark, Fieldiana, Bot. 28:270. 1952. Figura 12 - Humiria balsamifera Aubl. Nome vulgar: Umiri; Miri; Mirim Árvore de 2-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, obovadas, coriáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 6-8 cm de comprimento, 3-4 cm de largura, ápice retuso, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1189, 10/XII/1992. (MG) 45 Boi. Mus. Para. Emílio GoeUli, sér. Boi., 17(1), 2001 LEGUMINOSAE - CAES ALPINIOIDE AE Copaifera rnartii Hayne, Getreue Darstell. Gew. 10: t. 15. Copaifera rigida Benth. Fl. Bras. 15(2): 243. 1870. Copaiba martii (Hayne) Kuntze, Revis. Gen. Pl. 1: 172. 1891. Copaiba rigida (Benth.) Kuntze, Revis. Gen. Pl. 1: 172. 1891. Copaifera martii var. rigida (Benth.) Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro. 5: 128. 1930. Nome vulgar: Copaiba Arvoreta de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas compostas, alternas, estipuladas, paripinadas, folíolos em número de 6, ovais- elípticos, cartáceos, glabros em ambas as faces, 5-6 cm de compri- mento, 3-4 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. Figura 13 - Copaifera martii Hayne. 46 cm Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Lobato et al. 1069, 05/1 V/l 996 (MG). Ibidem Rosa et al. 3177, 14/VI/1979. (MG) Swartzia laurifolia Benth., J. Bot. (Hooker) 2(10): 87. 1840. Tipo: protologue "neighbourhood of Borba in Brazil, ...", [Riedel s.n.] Tounatea laurifolia (Benth.) Taub., Bot. Centralbl. 47: 391. 1891. Tunatea laurifolia (Benth.) Kuntze, Revis. Gen. Pl. 1:211. 1891. Swartzia stipulifera Harms, Verh. Bot. Vereins Prov. Brandenburg. 48: 168. 1907. Nome vulgar: Pitaíca Árvore de 4,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas bicompostas, alternas, apresentando sete folíolos oblongo-lanceolados, estipuladas, folíolos coriáceos, esparsadamente pubescentes, 7-8 cm de compri- mento e 4-6 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL, Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 104, 15/X/1999. (MG) LEGUMINOSA PAPILIONOIDEAE Hymenolobium petraeum Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro. 1(1): 36-37. 1915. Nome vulgar: Angelim-pedra Árvore de 3m de altura. Ramos glabros Folhas bi-compostas, alternas, pinadas, estipuladas, foliólulos cartáceos em número de 13, base do peciólulo esparsadamente estrigosos, foliólulos 47 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Bot., 17(1), 2001 oblongo-lanceolados, 4-4,5 cm de comprimento, 2-2,5 cm de lar- gura, ápice retuso e base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Lobato et al. 1012, 11/III/1995. (MG) MALPIGHIACEAE Byrsonima crassifolia (L.) Kunth in H.B.K., Nov. Gen. Sp. 5: 149. 1822. Tipo: LT: (LINN-588.8). LT (as Tipo) designated by Cuatrecas & Croat, Ann. Missouri Bot. Gard. 67: 872 (1979). Malpighia crassifolia L., Sp. Pl. 426. 1753. Byrsonima verbascifolia (L.) Rich. ex A. Juss., Ann. Mus. Natl. Hist. Nat. 18: 481. 1811. Byrsonima rhopalaefolia Kunth, Nov. Gen. Sp. 5: 148. 1821 [1822], Byrsonima ferruginea Kunth, Nov. Gen. Sp. 5: 151, t. 446. 1821 [1822], Nome vulgar: Muruci Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos pubérulos. Folhas simples, opostas, elípticas, coriáceas, pêlos ferrugíncos na face inferior, estipu- ladas, 6-10 cm de comprimento, 3-7 cm de largura, ápice acuminado, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1210, 1 0/XIl/l 992. (MG) 48 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Figura 14 - Byrsonima crassifolia (L.) KunthG. myrtaceae Eugenia punicifolia (Kunth) DC, Prodr. 3: 267. 1828. Tipo: Humboldt & Bonpland 273, no date, Venezuela (P). Myrtus punicaefolia H.B.K., Nov. Gen. & Sp. 6: 149. 1823. Eugenia subalterna Benth., Journ. Bot. Hook. 2: 320. 1840. Eugenia benthami Berg., Linnaea 27: 164. 1856. Eugenia pyrroclada Berg, Linnaea 27: 165. 1856. Eugenia pyrroclada a guianensis Berg, Linnaea 27: 165. 1856. Eugenia surinamensis Miq. ex Berg, Linnaea 27: 182. 1856. Eugenia vaga Berg, Linnaea 27: 166. 1856. 49 Boi. Mus. Pum. Emílio Goeltli, sér. Boi., 17(1 ), 2001 Eugenia vaga e rígida Berg, Mart. Fl. Bras. 14(1): 239. 1857. Eugenia vaga e pumila Berg, Linnaea 30: 681. 1861. Eugenia calycolpoides Griseb., Fl. Brit. W. Ind. 238. 1860 Nome vulgar: Pitanga Arbusto de 1-2,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, oblongo-lanceoladas, cartáceas, glabras, sem esti- pulas, 5, 5-6, 5 cm de comprimento, 2-2,5 cm de largura, ápice brevemente acuminado, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 997 , 15/VI/1991 (MG). Ibidem Lobato et al. 213,20/11/1986. (MG) Eugenia bijlora (L.) DC. , Prod. 3: 276. 1828. Myrtus bijlora L., Syst. Nat. ed. 10. 1056. 1759. Eugenia mini Aubl., Pl. Guiane Fr. 498. Pl. 197. 1775 Eugenia inundata var. acutifolia Berg, Fl. Bras. 14(1): 520. 1858. Eugenia meyeriana Berg, Fl. Bras. 14(1): 588, ex deser. 1859. Eugenia myríostigma Sagot, Ann. Sei. Nat. VI. 20: 194. 1885. Eugenia caurensis Steyerm., Fieldiana Bot. 28: 1010. 1957. Nome vulgar: Murtinha Arbusto de 1-2,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, decussadas, ovais-elípticas, cartáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 4-6,5 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice longamente acuminado, base obtusa. 50 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Figura 15 - Myrcia cuprea (Berg.) Kiaersk. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et ai 1250, 19/XI/I992 (MG). Ibidem Bastos et al. 1091, 16/VI/1991. (MG) Myrcia cuprea (Berg.) Kiaersk, Enum. Myrt. Bras. (1893) 95. Tipo: Poeppig 2937, May 1832, Brazil (W). Aulomyrcia cuprea Berg. Fl. Bras. 14(1): 77. 1857. Aulomyrcia chrysophylla Berg. Fl. Bras. 14(1): 125. 1857. Nome vulgar: Murtinha dourada Arbusto de 2,5 m de altura. Ramos pilosos. Folhas simples, opos- tas, ovais, cartáceas, pilosas pêlos ferrugíneos abundantes, sem estipulas, 5,5-10 cm de comprimento, 2, 8-4,0 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. 51 Boi. Mus. Para. Emílio Goehli, sér. Bot., 17(1), 2001 Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et ai 1253, 19/XI/1992 (MG). Ibidem Lobato et al. 211,20/11/1986. (MG) Myrcia fallax (Rich.) DC., Prodr.3: 244. 1828. Tipo: Leblond 114, 1792, French Guiana (G). Eugenia fallax Rich., Actes. Soc. Hist. Nat. Paris 1: 110. 1792. Myrtus bracteolaris Poir., Encycl. 4: 41 1. 1798. Myrcia acuminata (Kunth) DC. Prodr. 3: 256. 1828. Eugenia paniculiflora Steud. Flora 26: 762. 1843. Aulomyrcia wullschlaegeliana O. Berg, Linnaea. 27: 48. 1855. Myrcia acuminata var. genuina O. Berg, Linnaea 27: 94. 1855. Myrcia acuminata var. peruviana O. Berg, Linnaea 27: 94. 1855. Myrcia aguitensis Gleason, Buli. Torrey Bot. Club. 58: 409. 1931. Nome vulgar: Murta Arbusto de 1,5-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, obovadas-lanceoladas, cartáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 7,5-10 cm de comprimento, 2, 5-3, 5 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et ai 1288, 26/XI/1992 (MG). Ibidem Lobato et ai 219, 20/11/1986. (MG) Myrcia multiflora (Lam.) DC., Prodr. 3: 244. 1828. Tipo: protologue Cayenne, M. Stoupy s.n. Eugenia multiflora Lam. Encycl. 3: 302. 1789. 52 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Eugenia multiflora Lam., Encycl. 3: 302. 1789. Myrcia sphaerocarpa DC. Prodr. 3: 251. 1828. Aulomyrcia multiflora (Lam.) O. Berg, Linnaea 27: 47. 1855. Aulomyrcia sphaerocarpa (DC.) O. Berg, Linnaea 27: 51. 1855. Aulomyrcia laruotteana var. peruviana O. Berg, Fl. Bras. 14(1): 91. 1857. Aulomyrcia sphaerocarpa var. complicata O. Berg, Fl. Bras. 14(1): 86. 1857. Aulomyrcia multiflora var. grandifolia O. Berg, Linnaea 30: 660. 1861. Nome vulgar: Murta Arbusto de 2,5-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, ovais-elíptica, cartáceas, glabras em ambas as faces, sem esti- pulas, 3-3,5 cm de comprimento, 1,5-2 cm de largura, ápice longo- acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1298, 26/XI/1992. (MG) Myrcia speciosa (Amsh.) McVaugh, Mem. New York Bot. Gard. 118(2): 106. 1969. Aulomyrcia speciosa Amsh. Recueil Trav. Bot. Neerl. 42: 5. 1950. Nome vulgar: Murta Arbustos de 1,5-2, 5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, ovais, cartáceas, glabras em ambas as faces, sem 53 2 3 4 SciELO cm 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot.. 17(1), 2001 estipulas, 5,5-6,5 cm de comprimento, 3-4 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 105, 15/X/1999. (MG) NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz, Fl. Ilustr. Catar., Pt. 1, Nictaginac., 32 (1970). Bessera calycantha Vellozo, Fl. Flum. 147. 1825. Torrubia opposita Vell., Fl. Flumin. 3: 139. 1829. Pisonia olfersiana Link, Kl. & Otto, Icon. Pl. Rar. 1: 36. Pl. 15. 1841. Pisonia palicureoides Casar., Nov. Stirp. Brasil. Decades 8: 68. 1842. Pisonia florida Choisy, DC. Prodr. 13 b: 443. 1849. Pisonia nitida Martius ex Schmidi, F. Bras. 14. 2: 356. 1872. Pisonia acuminata Martius ex Schmidi, Fl. Brasil. 14. 2: 357. 1872. Nome vulgar: João mole Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos com extremidades pubérulas. Folhas simples, opostas, obovadas, membranáceas, nervura central pubérula, sem estipulas, 5-8 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice abruptamente curto acuminado, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 106, 1 5/X/ 1 999. (MG) 54 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Figura 16 - Guapira opposita (Vell.) Reitz. OCHNACEAE Ouratea castaneifolia (DC.) Engl., Fl. Bras. 1 2(2): 309. 1876. Tipo: St.Hilaire s.n., 1828, Brazil (G). Gomphia castaneifolia DC. Ann. Mus. Natl. Hist. Nat. 17: 417. 1811. Nome vulgar: Pau jacaré Arbusto dc 2-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, elíptica-ovais, cartáceas, glabras em ambas as faces, estipuladas, margem serrilhada, bastante proeminentes, 10-15 cm de compri- mento, 4-6 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. 55 Boi. Mus. Pura. Emílio Goeltli. sér. Bot.. 17(1), 2001 Figura 17 - Ouratea castaneifolia (DC.) Engl. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Lobato et al. 1038, 20/111/ 1995. (MG) Ouratea microdonta Benth., Hook. Kew Fourn. 3. 371. 1851. Tipo: Spriice 14534, no date, Brazil (B). Nome vulgar: Pau jacaré Arbusto de 2-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, oblongas, coriáceas, glabras em ambas as faces, estipuladas, 3,5- 4,5 cm de comprimento, 1,5-2, 5 cm de largura, ápice agudo, base obtusa. 56 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1283, 21/XI/1992 (MG). Ibidem Bastos et al. 1150, 10/XII/1992. (MG) Ouratea racemiformis Ule, Notizbl. Bot. Gart. Berlin, vi. 335 (1915). Tipo: Ule 7991, Jan 1909, Brazil (MG). Nome vulgar: Pau jacaré Arbusto de 2-4 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, elípticas-ovais, coriáceas, glabras em ambas as faces, estipuladas, margem ligeiramente serrilhada, 6-8 cm de comprimento, 4-5 cm de largura, ápice acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1 198, 10/XII/1992. (MG) OLACACEAE Heisteria ovata Benth., Hooker's J. Bot. KewGard. Misc. 3: 366. 1851. Tipo: Martins s.n., no date, Brazil (M). Heisteria subsessilis Benth., Hooker's J. Bot. Kew Gard. Misc. 3: 367. 1851. Heisteria rubricalyx S. Moore, Trans. Linn. Soc. London, Bot. 4(3): 337. 1895. Heisteria subsessilis Benth., Hooker's J. Bot. Kew Gard. Misc. 3: 367. 1851. Heisteria flexuosa Engl., Fl. Bras. 12(2): 17, pl. 4, f. 3. 1872. Heisteria micrantha Huber, Boi. Mus. Paraense Hist. Nat. 5: 340. 1909. 57 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1). 2001 Figura 18 - Heisteria ovala Benth. Heisteria vageleri Burret, Notizbl. Bot. Gart. Berlin-Dahlem, 9: 50. 1924. Heisteria krukovii A.C. Sm., Brittonia 2: 147. 1936. Heisteria surinamensis Amshoff, Recueil Trav. Bot. Neerl. 34:497. 1937. Arbusto de 2-3,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, elípticas, cartáceas, glabras em ambas as faces, sem estipu- las, 7-10 cm de comprimento, 3-4 cm de largura, ápice longo- acuminado, base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1069, 16/VI/1991. (MG) 58 10 11 12 13 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... POLY GONACEAE Coccoloba ramosissima Weed, Ann. Sc. Nat. ser. 3. 13. 258. (1849). Tipo: Blanchet 2421, 1836, Brazil (G-DC). Nome vulgar: Pajiuzinho Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, elípticas, subcoriáceas, glabras em ambas as faces, com ócreas, 4-6 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa com pequena reentrância. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. G. Davidse et al. 17888, 3-4/IV/1980. (MG) Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 RHIZOPHORACEAE Cassipourea guianensis Aubl., Hist. Pl. Guiane. 1: 529, t. 211. 1775. Tipo: British Honduras: Stann Creek District: collected in Acahual near Sarawee Pine Ridge, April 13, 1939, vernacular name "waterwood", Percy H. Genlle 2749 (HT: MICH) Legnotis elliptica Sw., Prodr. 84. 1788. Cassipourea elliptica (Sw.) Poir., Encycl., Suppl. 2: 131. 1811. Cassipourea macrodonta Standl., Publ. Field Columbian Mus., Bot. Ser. 4(8): 242. 1929. Cassipourea podantha Standl., Publ. Field Columbian Mus., Bot. Ser. 4(8): 241. 1929. Cassipourea belizensis Lundell, Buli. Torrey Bot. Club. 66(9): 598. 1939. 5 Figura 20 - Cassipourea guianensis Aubl. 60 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, oblongo-lanceoladas, cartáceas, glabras em ambas as faces, estipuladas, 6-7 cm de comprimento, 4-5 cm de largura, ápice acumi- nado, base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1271, 21/XI/1992 (MG). Ibidem Bastos et al. 1264, 20/XI/1992. (MG) RUBIACEAE Alibertia myrciifolia Schum., Fl. Bras. 6(6): 393. 1889. Tipo: Spruce 978, Brazil: Para (NY). Cordiera myrciifolia Spruce ex Schumann, Fl. Bras. 6(6): 393. 1889. Nome vulgar: Puruí Arbusto de 1, 5-2,0 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, obovadas-elípticas, cartáceas, glabras em ambas as faces, 7-8 cm de comprimento, 3-4 cm de largura, ápice longo-acuminado, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. G. Davidse et al. 17913, 05/IV/1980. (MG) Pagamea guianensis Aub\.,Hist. Pl.Guiane. 1: 113. 1775. Tipo: Aublet s.n . , no date, French Guiana, "au sommet de la montagne Serpent & a 1'habitation apellee Gallion" (Holotipo: BM). Psychotria macbridei Standl., Publ. Field Columbian Mus., Bot. Ser. 8(1): 68. 1930. 61 1, | SciELO Boi. Mus. Para. Emílio GoeUli, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 21 - Psychotria macbridei Standl. Arbusto de 2-3,5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas decussadas, lanceoladas, membranáceas, indumento estrigoso na região basal da nervura central, estipuladas, 7 cm de comprimento, 2,5 cm de largura, ápice acuminado, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1035, 15/VI/1991. (MG) Psychotria barbiflora DC, Prodr. 4: 509. 1830. Tipo: Salzmann s.n., 1830, Brazil: Bahia (G-DC). Psychotria villosa Ruiz & Pav., Fl. Peruv. 2: 59, t. 207, f.a. 1799. 62 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Arbusto de 1-2 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, ovais, membranáceas, glabras em ambas as faces, estipula- das, 7-8 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice longamente acuminado, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1025, 15/VI/1991. (MG) Retiniphyllum scliomburgkii (Benth.) Midi. Arg., Fl. Bras. 6(5): 12. 1881. Tipo: Schomburgk 179, no date, Guyana (G). Commianthus scliomburgkii Benth., J. Bot. (Hooker). 3: 223. 1841. Arbusto de 2,5 m de altura. Ramos pubescentes. Folhas simples, opostas, oblongo-lanceoladas, subcoriáceas, nervura central pubes- cente, estipulada, 6 cm de comprimento, 3 cm de largura, ápice mucronado e base aguda. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 107, 15/X/1999. (MG) SAPOTACEAE Pouteria ramijlora (Mart.) Radlk., Sitzungsber. Math.-Phys. Cl. Konigl. Bayer. Akad. Wiss. Munchen. 12: 333. 1882. Tipo. HT: Martins s.n., Aug 1818, Brazil: Minas Gerais: "inter vicum Contendas et praedium Tamandua, in deserto Prov. Minarum" (M). Labatia ramijlora Mart., Flora 21(2), Beibl. 2(4): 93. 1838. Labatia chrysophylloides Mart., Flora 21(2), Beibl. 2(4): 92. 1838. Lucuma chrysophylloides (Mart.) A. DC, Prodr. 8: 168. 1844. 63 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Paru. Emílio Goelcli, sér. Boi.. 17(1), 2001 Lucwna ramiflora (Mart.) A. DC., Prodr. 8: 168. 1844. Labatia elliplica Pohl ex Miq., Flora Brasiliensis 7: 75. 1863. Lucwna lateriflora Benth. ex Miq., Fl. Bras. 7: 83. 1863. Lucuma parviflora Benth. ex Miq., Fl. Bras. 7: 81, pl. 34. 1863. Pouteria chrysophylloides (Mart.) Radlk., Sitzungsber. Math.- Phys. Cl. Konigl. Bayer. Akad. Wiss. Munchen 12: 333. 1882. Pouteria lateriflora (Benth. ex Miq.) Radlk., Sitzungsber. Math.- Phys. Cl. Konigl. Bayer. Akad. Wiss. Munchen. 12: 333. 1882. Pouteria parviflora (Benth. ex Miq.) Radlk., Sitzungsber. Math.- Phys. Cl. Konigl. Bayer. Akad. Wiss. Munchen. 12: 333. 1882. Pseudocladia lateriflora (Benth. ex Miq.) Pierre, Not. Bot. 50. 1891. Microlwna parviflora (Benth. ex Miq.) Baill., Hist. Pl. 11: 290. 1891. Pouteria ramiflora var. grandifolia Kuntze, Revis. Gen. Pl. 3(2): 195. 1898. Pouteria ramiflora var. oblongifolia Kuntze, Revis. Gen. Pl. 3(2): 195. 1898. Lucuma ramiflora var. lanceolata Pierre, Buli. Soe. Bot. France. 57(Mem. 3):438.1910. Pouteria ovata A.C. Sm., Buli. Torrey Bot. Club. 61: 196. 1934. Paralabatia ramiflora (Mart.) Aubrév., Adansonia. 1: 173. 1962. Paralabatia pannflora (Benth. ex Miq.) Aubrév., Adansonia. 1: 173. 1962. Richardella parviflora (Benth. ex Miq.) Baehni, Boissera 1 1 : 97. 1965. 64 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas.. V íbiblioteca' CID o /■ iUU: Figura 22 - Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk. Nome vulgar: Abiurana Arbusto de 2 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alter- nas, semi-coriáceas, indumento estrigoso na base da nervura central, sem estipulas, 4,5-6 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice agudo, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 108, 15/X/1999. (MG) Glycoxylon pedicellatum Ducke, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro, 3. 235 (1922). Tipo: Ducke, MG 16676 s.n., Mar 1922, Brazil (B); Ducke, MG15961 s.n., 17 Jan 1916, Brazil (MG); LT: Ducke MG16676, Dec 1916, Brazil: Para: Nr. Gurupa (MG; ILT: G, K, P, R, US); LT designated by T. D. Pennington, Fl. Neotrop. 52: 659 (1990). 65 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Pura. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1), 2001 Pradosia pedicellata Ducke, Trop. Woods 71: 16. 1942. Pradosia schomburgkiana (ADC) Cronquist, Buli. Torrey Club 73: 311. 1946. Nome vulgar: Casca doce Arbusto de 2, 5-4, 5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, opostas, decussadas, obovadas-oblonga, coriáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 7, 5-8, 5 cm de comprimento, 3, 5-4, 5 cm de largura, ápice retuso, base cuneada. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 109, 15/X/1999. (MG) Micropholis venulosa (Martius & Eichler) Pierre, Not. Bot. 40. 1891. Sideroxylon venulosum Martius & Eichler, Fl. Bras. 7: 52, tab. 20, fig. 2, tab. 37, fig. 4. 1863. Tipo: Spruce 3506, no date, Brazil (C): IT: Spruce 3506, Jun 1854, Venezuelan-Columban frontier: R. Guainia: nr. mouth of R. Casiquiare (BM, BR, K, M, MO, NY, OXF, P, W). Lucuma venulosa Spruce ex Martius & Eichler, Fl bras. 7: 52. 1863. Micropholis calophylloides Pierre, Not. Bot. 40. 1891. Platyluma calophylloides (Pierre) Baillon, Hist. Pl. 11: 284. 1891. Meioluma guianensis Baillon. Hist. Pl. 11: 282. 1891. Sideroxylon calophylloides (Pierre) Engl., Nat. Pflanzenfam. 4(1): Nachtrag 276. 1897. Sideroxylon guianense (Baill.) Engl., Nat. Pflanzenfam. 4(1): Nachtrag 276. 1897. 66 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Micropholis mucronata Pierre, Symb. Antill. 5: 112. 1904. Micropholis rígida Pierre, Symb. Antill. 5: 125. 1904. Pouteria polyneura Baehni, Candollea 7: 133. 1936. Poutería venulosa (Martius & Eichler) Baehni, Candollea 9: 195. 1942. Poutería rivularis Baehni, Candollea 9: 208. 1942. Poutería flava Baehni, Candollea 18: 164, fig. 56. 1962. Poutería cataractae Baehni, Candollea 18: 168, fig. 57. 1962. Xantolis venulosa (Martius e Eichler) Baehni, Boissiera 1 1: 24. 1965. Nome vulgar: Abiurana Arbusto de 1,5-2, 5 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, alternas, ovais, coriáceas, glabras em ambas as faces, sem estipulas, 5, 5-6,5 cm de comprimento, 2-3 cm de largura, ápice acuminado, base obtusa. Material examinado: BRASIL. Pará: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1259, 20/XI/1992. (MG) SIMAROUBACEAE Simaba guianensis Aubl., Hist. Pl. Guiane. 1: 40, t. 153. 1775. Quassia cuspidata (Spruce ex Engl.) Noot. Blumea 21: 522. 1963. Tipo: Spruce 1751, Aug 1851, Brazil (B). Simaba cuspidata Spruce ex Engl., Fl. Bras. 12(2): 212. 1874. Arbusto de 1,5-2, 5 m de altura. Ramos glabros. Folhas compos- tas, alternas, 5-folioladas; folíolos lanceolados, glabros, cartáceos, 67 i, | SciELO Boi Mus. Para. Emílio Goeldi. sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 23 - Sintaba guianensis Aubl. sem estipulas, 5-7 cm de comprimento, 2-2,5 cm de largura, ápice acu- minado, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Pará. Marapanim, Restinga do Crispim. Amaral, 1 10, 15/X/1999. (MG) THEACEAE Temstroemia punctata Sw., Prodr. 81 (1788). Taonabo punctata Aubl. Guian. 1: 569, tab. 517 (1775). Tipo: Guiana, Aublet (BM7). 68 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... Figura 24 - Ternstroemia punctata Sw. Arbusto de 2-3 m de altura. Ramos glabros. Folhas simples, ver- ticiladas, elípticas, cartáceas, esparsadamente pubescentes, sem estipulas, 7-9 cm de comprimento, 3 cm de largura, ápice agudo, base atenuada. Material examinado: BRASIL. Para: Marapanim, Restinga do Crispim. Bastos et al. 1278, 21/XI/1992. (MG) 69 Boi. Mus. Para. Emílio Goehli, sér. Boi.. 17(1), 2001 CONSIDERAÇÕES FINAIS Clusia grandiflora, Chrysobalanus icaco, Humiria balsamifera e Myrcia cuprea são comuns nas moitas em início do processo de colonização, não sendo, entretanto, exclusivas destas. Em contrapar- tida, determinadas espécies como Alibertia myrciifolia, Pouteria ramiflora, Hirtella racemosa, Hymenolobium petraeum, Psychotria barbiflora, Retiniphyllwn schomburgkii, Simaba guianensis, Tapirira guianensis e Tabernaemontana angulata, ocorrem nas moitas mais desenvolvidas. Argumenta-se que conforme o desenvolvimento estru- tural das moitas, tornam-se mais favoráveis as condições micro- climáticas para o estabelecimento de novas espécies (Dau 1960; Andrade 1991). No ambiente de entre moitas, a vegetação herbácea é dominada, basicamente, por Cyperaceae, Xyridaceae, Eriocaulaceae, Melastomataceae e Poaceae, destacando-se Lagenocarpus rigidus, Rhynchospora barbata, Rhynchospora riparia, Xyris paraensis, Xyris jupicai, Syngonanthus fertilis, Syngonanthus tenuis, Comolia lythrarioides e Axanopus pubivaginatus. Em menor número, Stylosanthes angustifolia, Andropogon leucostachyus, Sauvagesia erecta, Polygala adenophora e Polygala apressa., Abolboda americana, Cuphea flava e Chamaecrista ramosa. A penúltima possui igualmente ocorrência na formação de Clusia em Carapebus- RJ, e a última na formação de Ericaceae, da mesma localidade (Henriques et al. 1986). Por entre as moitas, é comum a ocorrência de lianas, principalmente Doliocarpus spraguei, Tetracera willdenowiana (Dilleniaceae), Scleria cyperina (Cyperaceae), Smilax cf. campestris (Smilacaceae), Mandevilla hirsuta (Apocynaceae), Cassytha americana (Lauraceae), Galactia sp. (Leg. Pap.), entre outras. Alguns 70 Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas... autores destacam como dos mais comuns os gêneros Smilax e Mandevillas (Dau 1960; Henriques et al. 1986; Pereira 1990a; Andrade 1991; Bastos 1996). Nesses ambientes são freqüentes Bromeliaceae, como Aechmea tocantina e Arianas anassoides. As Pteridophytae estão representadas basicamente por Blechnum cerrulatum, Pteridium aquilinum, e Ceratopteris pterioides. Dentre as Orchidaceae ocorrem Catasetum discolor, Encyclia granítica e Sobralia liliastrum. No grupo das Araceae, figuram Anthurium sinuatum e A. pentaphyllum. AGRADECIMENTOS Ao técnico Luís Carlos Batista Lobato pelo serviço de campo e herbário e ao Elielson Rocha pelas ilustrações botânicas. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, D. D. 1997. Contribuição ao estudo das formações abertas de moitas do litoral paraense. Restinga do Crispim, município de Marapanim - Pará. Belém, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 170p. Dissertação de mestrado. ANDRADE, L.R.A. 1991. Análise da estrutura e composição específica das comunidades vegetais de moitas de restinga, Marica-RJ. Brasília, Universidade de Brasília, 94p. Dissertação de mestrado. ARAÚJO, D.S.D. & HENRIQUES, R.P.B. 1984. Análise llorística das restingas do Estado do Rio de Janeiro. In: LACERDA, L.D. et al. (orgs.). Restingas: origem, estrutura e processos. Niterói, CEUFF, p. 159-193. BASTOS, M.N.C. 1996. Caracterização das formações vegetais da restinga da Princesa, Ilha de Algodoal - Pará. Belém, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 249p. 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Mata primária de terra firme - mata próxima às campinas. Campo alagável - leito do furo do rio Tocantins, sujeito a cheias no período chuvoso. Capoeira - capoeira de 2-3 anos, em cima de uma roça em repouso. Margem do rio Tapajós - vegetação ribeirinha, com solo arenoso e afloramentos rochosos. Dentre os resultados encontrados, foram identificadas 52 espécies e uma variedade de briófitas, das quais três são novas ocorrências para o estado do Pará: Fissidens submarginatus Brucli, Cheilolejeunea clausa (Nees & Mont.) Schust. e Schusterolejeunea inundata (Spruce) Grolle. PALAVRAS-CHAVE: Brioflora, Briófitas, Musgos, Hepáticas, Rio Tapajós. ABSTRACT - São Luís do Tapajós is a small village placed in the riglit bank of Tapajós river where was carried out the study of bryophytes in different ecosystems: Campo dos Perdidos - white sand campina and dunes with abundance of bacaba palms; Campina without dunes - campina in the outskirts of buriti palm forest; Primary high forest on 1 MCT-Museu Paraense Emílio Gocldi. Coordenação de Botânica. Caixa Postal 399. Cep 66.040-170, Belém-PA. E-mails: regina@museu-goeldi,br;ilkiuborges@hotmail.com 75 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Boi., 17(1), 2001 terra firme - forest next the campina; Flooded field - creek bed of Tocantins river, subject to flood in the rain season ; Secondary forest - 2-3 years secondary forest on a rest cidtivated field; Bank of Tapajós river - bank vegetation on sand soil witli rock appearance. Among the residis there were identified 52 species and one variety ofbryophytes, of which tliree species are new occurrences to Pará State: Fissidens submarginatus Brnch, Cheilolejeunea clausa ( Nees & Mont.) Schust. and Schusterolejeiinea iniindata (Spruce) Grolle. KEY-WORDS: Bryoflora, Bryophytes, Mosses, Liverworts, Tapajós River. INTRODUÇÃO São Luís do Tapajós é um pequeno povoado situado na margem direita do rio Tapajós. Pertence ao município de Itaituba, na mesor- região do sudoeste paraense, 04°27’ 16”S e 56°14’50”W. Atualmente apresenta uma população de 509 habitantes (Santos et al. s.d.), que vivem principalmente da pesca, aliada a uma pequena agricultura e ao extrativismo, especialmente de frutos, como castanha-do-pará e bacaba. Não há na literatura, registro de estudos botânicos nessa área, especialmente de briófitas. Este trabalho tem como objetivo o estudo dos musgos e hepáticas que ocorrem em São Luís do Tapajós, como uma contribuição para o conhecimento da brioflora do estado do Pará. MATERIAL E MÉTODOS Foram realizadas coletas de briófitas em diferentes formações vegetais de São Luís do Tapajós: Campo dos Perdidos - É uma campina de areia branca com formação de dunas, distante cerca de 8km do povoado, localizada 76 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Briófitas de São Luís do Tapajós, município de Itaituba, com novas adições para o estado do Pará. geograficamente a 04°26’41,7”S e 056°13’00,2W” (Figura 1). Obser- vam-se ilhas de arbustos de espécies variadas, separadas por áreas de areia branca totalmente desnudas ou recobertas com liquens, especial- mente do gênero Cladonia, briófitas como Frullania nodulosa (Reinw., Blume & Nees) Nees e Campylopus surinamensis C. Müll. e espécies de ervas: Syngonanthus amapaensis Mold., S. idei Ruhl., Xyris longiceps Malm., Schizaea penmda Sw., Turnera idmifolia L. var. surinamensis, Anthurium atropurpureum Schultes, Rhyncospora cf. cephalotes (L.) Vaahl., entre outras (Figuras 2-3). De acordo com o mapa de ecoturismo da CPRM, Superintendên- cia Regional de Belém, o Campo dos Perdidos tem 1,5 x 5,9 km e está cercado por floresta tropical densa. Possui abundância de bacabeiras nativas. Campina sem dunas - Campina nos arredores de um igarapé com um buritizal, 04°26’29,4”S e 56°13' 16”W. É semelhante a ante- rior, diferindo, principalmente, por não apresentar dunas. Também possui abundância de liquens terrestres ( Cladonia sp. é o mais frequente), diretamente sobre a areia branca, o mesmo ocorrendo com o musgo Campylopus surinamensis C. Muell. Mata primária de terra firme, na trilha para Campo dos Per- didos - Mata localizada nas coordenadas 04°26’47,7”S e 56° 14’ 13,9”W, na trilha para o Campo dos Perdidos. Observa-se ocorrência de castanheira (Figura 4a). Campo alagável - Leito do furo do Paraná, denominado Baixa do Grupo, sujeito a cheias no período chuvoso (dezembro a maio), quando se torna um lago que separa duas capoeiras (coordenadas 04°27’26”S e 056°14’54,3”W), praticamente atrás do povoado. Tem aproximadamente 20 m de largura, entre duas capoeiras médias, com 6-15 m de altura, alguns espécimes chegando até 25 m. Este campo apresenta abundância do cipó tiririca (Sele ria pterota Presl.), com a 77 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio GoeUli. sér. Bot., 17(1). 2001 : ;• DUNAS i5tí926âb.i^j!K424W , -.l m mmi ■■ ■ ■ , VlÇ^BAo LUÍS DO TAPAJÓS [ 950MO4S / 583012W- UTM Figura I - Detalhe de uma imagem de radar mostrando a localização da vila de São Luís do Tapajós e o Campo dos Perdidos (Fonte: CPRM, Superintendência Regional de Belém). 78 Briófitas de São Luís do Tapajós, município de ltaituba, com novas adições para o estado do Pará. Figura 2 - Campo cios Perdidos, a) Vista geral de uma das dunas, b) Indivíduos de Syngonanthus sp. (Eriocaulaceae), diretamente sobre a areia branca, separando touceiras de arbustos, c) Cladonia sp. (líquen) e Axonopus sp. (Poaceae) no solo da campina. cm Boi. Mus. Pura. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 3 - Campo dos Perdidos, a) Palmeira de bacaba ( Oenocarpus bacaba Mart.). b) Touceira de caranã ( Mauritiella armata (Mart.) Burr.). presença rara a ocasional de outras ervas, como Panicum rudgei Roem & Schult., Desmodium canum (Gme.) Schinz. et Thellung, Davilla kunthii St. Hil. e Phenacospermum guianense Endl. Capoeira após o Campo alagável - Coordenadas 04°27’ 16,2”S e 56°14’50,r , W. Capoeira de 2-3 anos, formada em cima de uma roça de mandioca e milho deixada em repouso. E cercada por mata impac- tada, de onde se retiram palha de babaçu e inajá e com exemplares de castanheira. No período chuvoso transforma-se em uma ilha, pela cheia do leito do furo do Paraná. Margem do rio Tapajós, trecho onde está São Luís do Tapajós - Apresenta vegetação ribeirinha, sobre solo arenoso com afloramentos rochosos, sujeito a inundações no período chuvoso e cm SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot.. 17(1), 2001 formação de praias no verão (junho a novembro), o que torna a vege- tação muito especial. Apenas espécies adaptadas a esse ecossistema são capazes de sobreviver (Figuras 4b, 5a, b). A coleta de material foi feita de acordo com as técnicas descritas em Yano (1984a) e Lisboa (1993). Cada tufo, agrupamento, tapete ou almofada de briófita de uma mesma espécie foi considerado igual a uma ocorrência dessa espécie, conforme método de trabalho adotado desde Lisboa (1976). A identificação do material foi realizada através de bibliografia especializada, indicada nos trabalhos de Lisboa (1993) e Ilkiu-Borges (2000). Em muitos casos foi feita a comparação com material identifi- cado por especialistas, depositado no Herbário do Museu Goeldi (MG). Algumas espécies de Lejeuneaceae foram confirmadas pelo especialista da família, Dr. Rob S. Gradstein. Todo o material coletado está incorporado ao Herbário João Murça Pires, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG). RESULTADOS Foram identificadas 52 espécies e uma variedade de briófitas, em São Luís do Tapajós, relacionadas na tabela 1, com as formações vegetais onde foram coletadas e número de ocorrências. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES As espécies Fissidens submarginatus, Cheilolejeunea clausa e Schusterolejeunea inundata, estão sendo citadas pela primeira vez para o estado do Pará, o que comprova a importância desse tipo de levantamento para o conhecimento da flora da Amazônia. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1). 2001 Figura 4 - a) Detalhe do igarapé que corta um trecho da mata de terra firme, com raízes cobertas de briófitas, b) Afloramentos rochosos, com vegetação, da margem do rio Tapajós. 82 Briófitas de Sâo Luís do Tapajós, município de Itaituba, com novas adições para o estado do Pará. Figura 5 - Margem do Rio Tapajós, a) Ervas c arbustos pequenos, crescendo entre e sobre afloramentos rochosos, b) Afloramentos rochosos totalmente recobertos por Taxitlielium planum (Brid.) Mitt. 83 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Tabela 1 - Briófitas de São Luís do Tapajós, Itaituba, Pará. Família/espécie Formações vegetais a N°. Ocorrência CALYMPERACEAE (3 sp.) Cálymperes erositm C. Muell. C 2 Syrrhopodon simmondsii Steere Mlg 2 Syrrhopodon sp. MIg 1 DICRANACEAE (1 sp.) Campylopus surinamensis C. Muell. CP 3 FISSIDENTACEAE (2 sp.) Fissidens submarginatus Bruch C 1 Fissidens zollingeh Mont. c 1 HYPNACEAE (2 sp.) Isopterygium subbrevisetum (Hampe) Broth. c 1 Isopterygium tenerwn (Sw.) Mitt. c 2 JUBULACEAE ( 1 sp.) Frullania nodulosa (Reinw. Blume & Nees) Nees CP 2 LEJEUNEACEAE (26 sp.) Symbiezidium transversale (Swart.) Trev. MIg 1 Acrolejeunea torulosa (Lehm. & Lindenb.) Schiffn. CP; MRT 7 Aphanolejeunea sp C 1 Archilejeunea auberiana (Mont.) A. Evans C 1 Archilejeunea fuscescens (Hampe ex Lehm.) Fulf. MIg; MRT 2 Archilejeunea pamflora (Nees) Schiff. MRT 8 Caudalejeunea lehmanniana (Gott.) A. Evans C 1 Ceratolejeunea cornuta (Lindenb.) Schiff. C; MRT 3 Ceratolejeunea sp. MIg 1 Cheilolejeunea clausa (Nees & Mont.) R. M. Schust. MIg; MRT 5 Cheilolejeunea rigidula (Nees ex Mont.) R. M. Schust. C; MRT 5 Cheilolejeunea trifaria (Reinw., Blume & Nees) Mizut. MIg 1 Cheilolejeunea sp. C; MIg 2 Cololejeunea obliqua (Nees & Mont.) S. Arnell C 1 Cololejeunea surinamensis Tixier C 2 Colura tortifolia (Dum.) Dum. C 1 Lejeunea caespitosa Lindenb. ex Gott., Lindenb. & Nees C 2 Lejeunea fiava (Sw.) Nees C 1 Lejeunea laete-virens Nees & Mont. ex Mont. C 2 Lejeunea phyllobola Nees & Mont. C 1 Lejeunea sp. MIg 1 Leptolejeunea elliptica (Lehm. & Lindenb.) Schiffn. C 7 84 Briófitas de São Luís do Tapajós , município de Itaituba, com novas adições para o estado do Pará. Tabela 1 - Briófitas de São Luís do Tapajós, Itaituba, Pará. Família/espécie Formações vegetais a N°. Ocorrência Cont... Lopholejeunea subfusca (Nees) Schiffn. C 1 Schusterolejewiea inundata (Spruce) Grolle MRT 4 Trachylejeunea pandurantha (Spruce) Steph. MIg; MTF 3 Trachylejetmea sp. MTF 1 LEPIDOZIACEAE (3 sp.) Arachniopsis monodactyla (Spruce) R. M. Schust. MIg 2 Pteropsiella serrulata Spruce ex Steph. MIg 3 Zoopsidella integrifolia (Spruce) R. M. Schust. MIg 2 LEUCOBRYACEAE (5 sp.) Leucobryum albidum (Brid.) ex P. Beauv. Lindb. MIg 2 Octoblepliariim albidum Hedw. var. violascens C. Muell. CP; MRT; MTF 4 Octoblepharum cylindricum Mont. CP; MIg; MTF 3 Octoblepharum pellttcidum C. Muell. MIg 1 Octoblepharum pulvinatwn (Dozy & Molk.) Mitt. MTF 1 PLAGIOCHILACEAE (1 sp.) Plagiochila sp. C 1 PLAGIOTHECIACEAE ( 1 sp.) Pilosium chlorophyllum (Hornsch.) C. Muell. MTF I SEMATOPHYLLACEAE (6 sp.) Pterogonidium pulchellum (Hook.) C. Muell. MRT 1 Sematophyllum subpinnatum (Brid.) Britt. MRT 3 SematophyUum subsimplex (Hedw.) Mitt. MIg; MTF 2 Sematophyllum sp. MIg; MTF 4 Taxithelium planum (Brid.) Mitt. C; MRT 9 Trichosteleum intrícatum (Thér.) J. Florsch. MTF 1 a. Formações Vegetais: C - Capoeira; CP - Campo dos Perdidos (Campina); MIg - Margem do igarapé; MRT - Margem do Rio Tapajós; MTF - Mata de terra firme. Fissidens submarginatus (ilustrada em Lisboa 1993) estava cit- ada para o Amazonas (Griffin III 1979) e Rondônia (Lisboa 1993), como F. intermedius Muell. Clieilolejeunea clausa (Figura 6) havia sido referida para os esta- dos de Minas Gerais e Rio de Janeiro (Yano 1984b) e Pernambuco (Pôrto 1990). 85 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 SciELO Jo 2 3 5 6 11 12 13 14 15 z cm Briófitas de São Luís do Tapajós, município de Itaituba, com novas adições para o estado do Pará. Schusterolejeunea inundata (Figura 7) ocorria apenas no estado do Amazonas, segundo Yano (1984b). Observa-se na Tabela 1, vinte e seis espécies de Lejeuneaceae, para um total de 52 espécies e uma variedade de briófitas identifica- das, ou seja, 50% da brioflora de São Luís do Tapajós está representada pela família Lejeuneaceae. Dez famílias complementam os outros 50%, sendo que Sematophyllaceae, representada por seis espécies, é a segunda em diversidade. Na Amazônia, a predominância das famílias Lejeuneaceae e Sematophyllaceae é comum, como obser- vado por Gradstein (1994), que avalia que mais de 3 á das espécies de hepáticas de florestas pluviais de baixa altitude são hepáticas. Lisboa & Ilkiu-Borges (no prelo) encontraram para a Reserva Mocambo, uma mata de terra firme localizada nos arredores de Belém (PA), as famílias Lejeuneaceae e Sematophyllaceae como as mais representati- vas, tanto em número de espécies, como em número de ocorrências. Ilkiu-Borges (2000) relaciona 58 espécies e duas variedades de Lejeuneaceae, para a Estação Científica Ferreira Penna, localizada na Floresta Nacional de Caxiuanã, município de Melgaço (PA), supe- rando de longe qualquer outra família de hepática. Na Capoeira foram coletadas vinte e duas espécies; na margem do Igarapé, dezoito espécies; na margem do Rio Tapajós, onze espé- cies; na mata de terra firme, nove espécies. O local com o menor número de espécies foi o Campo dos Perdidos (apenas cinco), o que já era de se esperar, considerando as altas temperaturas e grande incidên- cia de raios solares que ocorrem nesse tipo de formação vegetal (campina de areia branca), onde apenas as espécies altamente adapta- das conseguem sobreviver, como Frullania nodulosa, Campylopus surinamensis, Acrolejeunea torulosa , Octoblepharum albidum var. violascens e O. cylindricum. Estas duas últimas espécies foram cole- tadas também na mata de terra firme. O. albidum var. violascens ainda 87 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 7 - Schusterolejeunea immdata. A) hábito; B) anfigastros; C) lóbulo; D) filídio; E) células centrais do filídio (Lisboa et al. 6841). 88 1, | SciELO Briófitas de São Luís do Tapajós, município de Itaituba, com novas adições para o estado do Pará. foi encontrada na margem do rio Tapajós, enquanto O. cylindricum ocorria também na margem do igarapé, comprovando que essas duas espécies possuem grande amplitude ecológica. A grande maioria das espécies (39), foram encontradas apenas em um tipo de formação vegetal. Deve ser considerado que, na mata de terra firme, a coleta de briófitas foi superficial, apenas poucos exemplares. Mas nos outros ecossistemas trabalhados, a coleta foi extensa, ou seja, o maior número possível das espécies presentes. Quanto ao número de ocorrências das espécies, as três mais freqüentes foram Taxithelium planum (9 ocorrências), Archilejeunea parviflora (8) e Leptolejeunea elliptica (7). Muitas espécies de briófitas crescem associadas a outras. Em São Luís do Tapajós, podem ser destacadas as associações observadas na margem do igarapé: no solo muito úmido, as espécies Arachniopsis monodactyla, Leucobryum albidum, Ptreopsiella serrulata e Syrrlwpodon simmondsii estavam misturadas. As espécies Arachniopsis monodactyla, Leucobryum albidum, Sematophyllum sp. e Trachylejeunea pandurantha, estavam juntas sobre raízes de uma árvore de Leguminosae, local também muito úmido, porque localizado bem na margem do igarapé. Sobre pedra dentro desse igarapé, estavam as espécies Syrrlwpodon simmondsii, Trachylejeunea pandurantha e Zoopsidella integrifolia. Na capoeira, sobre folhas vivas de uma Olacaceae, cresciam Aphanolejeunea sp., Cololejeunea obliqua, Cololejeunea surinamensis , Colura tortifolia e Leptolejeunea elliptica. Sobre um tronco podre, foi observada a associação de Ceratolejeunea comuta , Calymperes erosum, Cheilolejeunea sp. e Lejeunea laetevirens. Já na vegetação ribeirinha da margem do rio Tapajós, as espécies Archilejeunea parviflora, Pterogonidium pulchellum, Schusterolejeunea inundata e Sematophyllum subpinnatum apresentaram-se crescendo juntas sobre um cipó. 89 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 AGRADECIMENTOS Ao Dr. Rob S. Gradstein, da Universidade de Gõttingen, Alemanha, pela confirmação da identificação de algumas Lejeuneaceae, especialmente as novas ocorrências. Aos senhores Luiz Carlos Lobato (Técnico Laboratorista) e Carlos Alberto dos Santos Silva (Auxiliar Técnico da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi), pela identificação das plantas superiores e ajuda na coleta de briófitas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRADSTEIN, S.R. 1994. Lejeuneaceae: Ptychantheae, Brachiolejeunea. Flora Neotrop., 62: 1-216. GRIFFIN III, D. 1979. Guia preliminar para as briófitas freqiientes em Manaus e adjacências. Acta Amazon., 9(3): 1-67. Suplemento. ILKIU-BORGES, A.L. 2000. 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SANTOS, E.C.O.; JESUS, T.M.; BRABO, E; LOUREIRO, E.C.B.; MASCARENHAS, A.; WLIRICH, J.; CÂMARA, V.M. & CLEARY, D. (s.d.) Human Health in Riverside Amazon communities living in exposed and not exposed areas to mercury pollution from gold mining. Belém, Instituto Evandro Chagas, 23p. YANO, O. 1984a. Briófitas. In: FIDALGO, O. & BONONI, V.L.R. (coord.). Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo, Instituto de Botânica, 27-30. (Manual, 4) YANO, O. 1984b. Checklist of Brazilian Liverworts and Homworts. J. Hattori. Bot. Lab. 56: 481-548. Recebido em: 04. 1 1 .99 Aprovado em: 07. 1 1 .00 91 CDD: 583.32304497 ARQUITETURA FOLIOLAR DE SWARTZIA BRA CHYRA CHIS HARMS VAR. SNETHLA GEAE (DUCKE) DUCKE E SWARTZIA LAURIFOLIA BENTHAM (LEGUMINOSAE-PAPILIONOIDEAE), OCORRENTES NA RESTINGA DE ALGODOAL/ M AIANDEUA-PARÁ 1 Adalgisa da Silva Alvarez 2 3 Raimunda Conceição de Vilhena Potiguara 3 João Ubiratan Moreira Santos 4 RESUMO- Foi realizado um estudo da venação foliolar em duas espécies do gênero Swartzia (Leguminosae-Papilionoideae), que ocorrem em Algodoal-PA, considerando o aspecto da rede de nervuras, o padrão de venação, as terminações vasculares e morfologia dos folíolos. Estas características possibilitaram a separação entre ambos os taxa. PALAVRAS-CHAVE: Venação foliolar, Swartzia, Pará. ABSTRACT- Was realized a study ofthe venation leaflets in two species of the genus Swartzia (Leguminosae-Papilionoideae), that ocurrs in Algodoal-PA, considering the aspect ofthe net of the veins, venation 1 Parte da dissertação de mestrado da primeira autora, do curso de pós-graduação da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), Belém-PA. 2 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Bolsista. Caixa Postal 399. Cep 66.040-170, Belém-PA. E-mail: gisarez@bol.com.br 3 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Pesquisadora. Caixa Postal 399. Cep 66.040-170, Belém-PA. E-mail: raipoty@museu-goeldi.br 4 FCAP-Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Professor visitante. Av. Perimctral, 2501. Cep 66075-650. Belém-PA. E-mail: bira@museu-goeldi.br 93 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Boi., 17(1), 2001 patterns, veins termination, and morphology of lhe leaflets. These caracteristics could help to separate both taxa. KEY WORDS: Venation patterns, Swartzia , Pará. INTRODUÇÃO No litoral nordeste do Pará (PA), encontra-se uma considerável área de restinga representada por belas extensões de praias. Fazendo parte destas planícies arenosas litorâneas temos a ilha de Algodoal/ Maiandeua, considerada a primeira Área de Proteção Ambiental (APA), em ambiente costeiro do estado do Pará, de acordo com a Lei Estadual 5621. Neste ecossistema foram identificadas diversas famílias de acordo com levantamentos realizados por Santos & Rosário (1988), Bastos (1988) e Bastos (1996), entre estas, a família Leguminosae Adans, representada por 24 espécies distribuídas em três subfamílias: Papilionoideae, Caesalpinioideae, Mimosoideae. A subfamília Papilionoideae Kunth na restinga de Algodoal/Maiandeua apresentá 7 espécies, das quais selecionou-se Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke e Swartzia laurifolia Bentham para o estudo da anatomia vegetal. A venação foliolar é um mecanismo da anatomia vegetal, que auxilia na separação de espécies. Nesta área do conhecimento existem poucas referências principalmente para a família Leguminosae, entre estes citamos Carvalho (1967, 1970), Carvalho & Valente (1973) e Potiguara et al. (1991). Diante deste quadro este trabalho tem por obje- tivo estudar a morfologia e a arquitetura dos folíolos, contribuindo para a identificação das espécies do ecossistema restinga. 94 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... MATERIAL E MÉTODOS * Area de estudo O material foi coletado na região de restinga da ilha de Algodoal/ Maiandeua localizada no estado do Pará, município de Maracanã entre as coordenadas geográficas 00°35’03” a 00°38’29”de Latitude Sul e 47 0 31’54” a 47°34’57” de Longitude WGr, Algodoal 385 hect- ares e Maiandeua 1.993 hectares (Bastos 1996). Material Foram coletados 10 folíolos do terceiro, quarto e quinto nós respectivamente de cada uma das espécies em estudo. A identificação do material botânico foi realizada pelo pesquisa- dor Antônio Sérgio Lima da Silva, especialista na família Leguminosae, mediante comparação com exsicatas pertencentes ao herbário João Murça Pires do Museu Paraense Emílio Goeldi (MG) e encontram-se registradas neste Herbário com os seguintes números: Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke - MG 0149262 Swartzia laurifolia Bentham-MG 140349 Métodos Com o objetivo de identificar o padrão da rede de nervuras dos folíolos, realizou-se a técnica de diafanização, na qual folíolos inteiros e em pequenas secções foram imersos em uma solução aquosa de hidróxido de sódio (NaOH) a 5% aquoso (Arnott 1959), trocando-se a solução diariamente até a clarificação do material botânico. Ao final deste processo, lavou-se o material em água corrente para a retirada do excesso da solução básica. 95 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 A coloração da venação realizou-se em Safranina hidro-alcoólica aquosa, durante 2 horas (Johansen 1940), em seguida as lâminas foram passadas em série alcoólica e aceto-butílica crescente. A montagem dos folíolos inteiros diafanizados foi entre vidros de 2mm de espessura e para os detalhes das terminações vasculares, o material botânico foi montado entre lâmina e lamínula, ambas em bálsamo do Canadá. A classificação dos padrões de venação das espécies em estudo, esta de acordo com a versão de Felipe & Alencastro (1966) e Hickey (1973). Para determinar a natureza dos cristais utilizou-se o teste Cham- berlain (1938). Ilustrações As ilustrações do trabalho foram feitas de 2 maneiras: (1) nas ter- minações foram utilizadas o fotomicroscópio Zeiss em vários tamanhos; (2) para as fotos do folíolos inteiros as lâminas preparadas, foram usadas como negativo e colocadas em um ampliador fotográ- fico, cuja imagem foi impressa em papel fotográfico, seguindo-se a técnica usual para revelação de filme preto e branco. RESULTADOS Aspectos Morfológicos Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke. Arvoreta de cerca de 3m de altura aproximadamente com 12cm de diâmetro. Unifoliolada, pecíolo com 3 a 9mm de comprimento; esti- pulas caducas; cartáceas; 6 a 12cm de comprimento; 3 a 6,5cm de largura; lâmina oblongo-lanceoladas; base obtusa; ápice acuminado levemente mucronado; margem lisa; com tricomas simples na face ventral; glabra na face superior (Figura 1). 96 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... Figura 1 - Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke. Aspecto geral de um ramo com frutos. Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Swartzia laurifolia Bentham. Arbusto de cerca de 2 m de altura aproximadamente com 8 cm de diâmetro. Ramo com folhas alternas; imparipinadas; pecíolo ligeiramente canaliculado com 2 a 6 mm de comprimento; estipulas caducas; coriáceas; folíolos 5 jugas opostos; 4 a 12 cm de comprimento; 2 a 6 cm de largura; lâmina oblonga-elíptica; base obtusa; ápice agudo; mucronado; margem lisa; com tricomas simples na face ventral e face superior glabra exceto a nervura central que apresenta-se estrigosa e tomentosa na face inferior (Figura 2). Figura 2 - Swartzia laurifolia Bentham. Aspecto geral de um ramo com frutos. 98 2 3 4 5 6 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... Aspectos Anatômicos A arquitetura da rede de nervura em Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke e Swartzia laurifolia Bentham, revelou uma nervura primária ou principal proeminente que adelga-se em direção ao ápice nas duas espécies, observou-se ainda que as nervuras secundárias estão assimetricamente dispostas em relação a nervura principal, apresentando 10al2e8al0 pares de nervuras secundárias respectivamente, estas formam arcos sem, no entanto, tocarem a margem definindo o padrão broquidródomo (Figuras 3-4). Nestas figuras, mostra-se que entre as nervuras secundárias, ocorrem as nervuras peudo-secundárias, que partem da nervura principal porém ficam na metade do limbo. Quanto a organização do sistema vascular, a rede de nervuras mostrou-se bastante laxa em Swartzia brachyrachis var. snethlageae, possuindo uma nervura intramarginal que corre paralelamente a margem do folíolo, ligando as nervuras secundárias através das nervuras terciárias, formando auréolas e ramificando-se até a quinta grandeza (Figura 5A), enquanto a rede de nervuras em Swartzia laurifolia é densa (Figura 5C), apresentando nervuras terciárias axiais e laterais, as nervuras terciárias axiais ligam uma nervura primária a uma nervura secundária e as nervuras terciárias laterais ligam duas nervuras secundárias (Figura 4). Quanto as terminações vasculares foram encontradas os seguintes tipos: múltiplas em Swartzia brachyrachis var. snethlageae (Figura 5B) e simples e livres em Swartzia laurifolia (Figura 5D). Estas terminações são envolvidas, em ambas espécies, por uma bainha parenquimática, cujas as células contêm cristais isolados de oxalato de cálcio. 99 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figura 3 - Swartzia brachyrachis Harnis var. snethlageae (Ducke) Ducke. Padrão de venação do folíolo. Nervura Primária=NP; Nervura Pseudo-Secundaria= NPS; Nervura Secundária=NS. SciELO Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... Figura 4 - Swartzia laurifolia Bentham. Padrão de venação do folíolo. Nervura Primária=NP; Nervura Pseudo-secundária=NPS; Nervura Secu ndária=NS; Nervura Terciária Axial=NTA; Nervura Terciária Lateral=NTL. 101 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 5 - A-B Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke. A- Aspecto geral da rede de nervura (3mm); B-Detalhe das terminações vasculares (8mm). C-D. Swartzia laurifolia Bentham; C-Aspecto geral da rede de nervura (3mm); D-Detalhe das terminações vasculares (8mm). Bainha Parenquimática= BP; Cristais Priamáticos=CP; Nervura IntramarginaI=NI; Nervura Secundária=NS; Nervura Terciária=NT; Traqueídeo=TRA. 102 cm Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... A Tabela 1 apresenta uma análise dos principais caracteres mor- fológicos e anatômicos gerais e diferenciais encontrados entre as espécies. Tabela 1 - Aspectos morfológicos e do padrão de venação de duas espécies da restinga de Algodoal-Maiandeua: Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke e Swartzia laurifolia Bentham. Caracteres morfo-anatômicos Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke. Swartzia laurifolia Bentham Comprimento do folíolo 6 a 12cm 4 a 12cm Largura do folíolo 3 a 6,5cm 2 a 6cm Base/margem Obtusa/lisa Obtusa/lisa Textura do limbo Cartácea Coriácea Ápice Acuminado Mucronado Lâmina Oblonga-lanceolada Oblonga-elíptica Rede de Nervuras Laxa Densa Bainha Parenquimática Presente Presente Traqueídeos Múltiplos Simples e livres DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Em linhas gerais, o sistema vascular e a morfologia das espécies em estudo são semelhantes, como o padrão de venação do tipo broquidródomo, base e margem dos folíolos. Embora caracteres dife- renciais como o contorno da lâmina, consistência e hábito das espécies tenham sido observados. 103 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Hickey & Wolfe (1975) descreveram algumas espécies da família Leguminosae, como sendo também do tipo broquidródomo, permi- tindo-se verificar que este padrão de nervação é comum a esta família. Quanto a rede de nervuras, esta apresentou-se laxa em Swartzia brachyrachis Harms var. snethlageae (Ducke) Ducke e densa em Swartzia laurifolia Bentham, este caráter pode ser utilizado como diagnóstico de separação entre as espécies, auxiliando a taxonomia. O gênero Swartzia é bastante discutido pelos taxonomistas quanto a sua posição dentro da família Leguminosae. De acordo com Metcalfe & Chalk (1957) a presença de cristais é um caráter diferen- cial entre as três subfamílias, podendo estar isolados ou agrupados, estando geralmente isolados em Papilinoideae e Mimosoideae e agru- pados em Caesalpinioideae, estes autores relataram a existência de cristais isolados de oxalato de cálcio em algumas espécies do gênero Swartzia, o que foi verificado nas duas espécies, porém mais abundan- tes em Swartzia brachyrachis var. snethlageae. Apesar da ocorrência de uma bainha parenquimática em ambas espécies, nota-se que em Swartzia laurifolia esta é bastante evidenciada em todo o sistema vascular, enquanto que em Swartzia brachyrachis var. snethlageae esta bainha é mais pronunciada entre as terminações vasculares. Potiguara & Silva (1991) estudaram a venação foliolar de espécies de Acacia P. Mill e descreveram em A. lemquerensis a presença de uma bainha parenquimática semelhante, nas terminações vasculares. Os traqueídeos apresentaram-se múltiplos em Swartzia brachyrachis var. snethlageae e simples e livres em Swartzia laurifolia, este caráter pode ser utilizado como diagnóstico taxonômico. As características morfológicas e de venação foliolar existentes nas duas espécies permitiram a separação do taxon em estudo. 104 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Arquitetura foliolar de Swartzia Brachyrachis Harms Var. Snethlageae (Ducke)... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNOTT, H.J. 1959. Leaf clearings. Turtox News., 37 ( 8): 337-347. 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Bot., 7(8):605-618. SANTOS, J.U.M & ROSÁRIO, C.S. 1988. Levantamento da vegetação fixadora das dunas de Algodoal-PA. Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi., Sér. /lot., 4(1): 133- 151. Recebido em: 04.1 1.99 Aprovado em: 07.1 1.00 106 SciELO 10 11 12 13 CDD: 589.225098116 UREDINALES DO ESTADO DO AMAPÁ: GÊNERO PUCCINIA Helen M. P. Sotão 1 Joe F. Hennen 2 Maria Auxiliadora Cavalcante 3 RESUMO - Foi realizado um estudo de espécimes de Uredinales (ferrugem de plantas ) coletados no estado do Amapá, Brasil, no período de 1987- 994. Quinze espécies do gênero Puccinia foram identificadas: P arachidis Spegazzini var. ojfuscata (Arthur) Cummins, P bambusarum Arthur, P. claviformis Lagerheim, P. cnici-oleracei Persoon ex Desmazieres, P flavo-virens H. S. Jackson & Holway, P. heterospora Berkeley & Curtis, P. insueta Winter, P. lygodii Arthur, P minuta Dietel, P obliquo-septata Viennot-Bourgin, P. palicoureae Mains, P paraênsis Dietel, P. psidii Winter, P. solani-tristis P. Hennings, e P. thaliae Dietel. Apresenta-se uma lista das espécies com base nos hospedeiros, descrições morfológicas e ilustrações das espécies. Todas as espécies estão sendo reportadas pela primeira vez para o estado do Amapá. P. flavo-virens e P. minuta são novas citações para o Brasil. P. lygodii, P. obliquo-septata e P. palicoureae são novas referências para a Amazônia brasileira. PALAVRAS-CHAVE: Biodiversidade, Uredinales, Ferrugem de plantas, Brasil. 1 PR-MCT/Museu Paraense Emílio Goeldi - Coordenação de Botânica. Campus de Pesquisa. Caixa Postal 399. Cep. 66040-170, Belém-PA. E-mail: helen@museu-goeldi.br 2 Botanical Research Institut of Texas. 3747 Bellaire Circle. Forth Worth, TX, USA. 3 UFPE-Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências biológicas/ Departamento de Micologia. Cidade Universitária. Av. Prof. Moraes Rêgo, 1235. Cep. 50670-901, Recife-PE 107 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 ABSTRACT - During a study of the especimens ofUredinales (plant rusl fungi) collected during the period 1987-1994 in the State of Amapá, Brazil.fifteen species ofPuccinia were identijied: P. arachidis Spegazzini var. ojfuscata (Arthur) Cummins, P. bambusarum Arthur, P. claviformis Lagerheim, P. cnici-oleracei Persoon ex Desmazieres, P. flavo-virens H. S. Jackson & Holway, P. heterospora Berkeley & Curtis, P. insueta Winter, P. lygodii Arthur, P. minuta Dietel, P. obliquo-septata Viennot- Bourgin, P. palicoureae Mains, P. paraensis Dietel, P psidii Winter, P. solani-tristis P Hennings, and P. thaliae Dietel. A list based on hosts, morphological descriptions of rust species, and illustrations are provided. “All species are new records for the State of Amapá. P flavo- virens and P. minuta are new records for Brazil. P lygodii, P. obliquo- septata and P. palicoureae are new to Amazonian Brazil. KEY WORDS: Biodiversity, Uredinales, Rust Fungi, Brazil. INTRODUÇÃO Os fungos do gênero Puccinia estão classificados na família Pucciniaceae, da ordem Uredinales (ferrugem), da classe Basidiomycetes (Urediniomycetes) e subdivisão Basidiomycotina. Segundo Cummins & Hiratsuka (1983), Puccinia é um gênero que apresenta o maior número de espécies conhecidas, com cerca de 3.000 a 4.000 representantes. No Brasil foram registrados por Hennen et al. (1982), 274 espécies de Puccinia sem referências de Uredinales para o estado do Amapá. O estado do Amapá está localizado ao norte do Brasil, entre as latitudes 4 o 20’ 45” Norte e I o 13’ 30” Sul, longitude entre 49° 54’ 45” Leste e 54° 47’ 30” Oeste. Informações sobre clima, cobertura vegetal e relevo do estado do Amapá são citadas por Azevedo (1967). As primeiras referências de Uredinales para o estado do Amapá são de Hennen & Sotão (1996) onde estão descritas três novas espécies de Uredinales, Porotenus biporus, Prospodium amapaensis e Uredo 108 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia amapaensis, parasitando diferentes táxons da família Bignoniaceae. Hennen & Sotão (1997) descreveram uma nova variedade, Aecidium maprouneae (P. Hennings) var. noncrassatum sobre Maprounea sp. (Euphorbiaceae). Diorchidium amapaensis foi outra espécie nova descrita por Hennen et al. (1998), encontrada parasitando Geophila sp. da família Rubiaceae. O presente trabalho faz parte do projeto que objetiva realizar o levantamento das Uredinales do estado do Amapá, e representa o primeiro registro das espécies de Puccinia para a área. MATERIAL E MÉTODOS Os espécimes estudados foram coletados em diversas áreas do estado do Amapá, no período de 1987 a 1994, e encontram-se depositados no herbário João Murça Pires (MG) do Museu Paraense Emílio Goeldi, na Coordenação de Botânica. Na etapa de identificação das espécies de Uredinales, foram levados em consideração os hospedeiros e as microestruturas. Estas foram observadas a partir da preparação de lâminas semipermanentes de soros e esporos, montadas em solução de lactofenol e aquecidas. Para auxílio das identificações, utilizou-se bibliografias especializadas, Arthur (1922A, 1924); Cummins (1971, 1978); Cummins & Hiratsuka (1983); Dietel (1909); Hennen et al. (1982); Hennen & Sotão (1996); Hennen et al. (1998); Jackson (1931A, 1931B, 1931C); Sydow & Sydow (1923, 1924); Viégas (1945A), e estudos comparativos com espécimes depositados no herbário do Botanical Research Institute of Texas (BRIT), em Fort Worth, Texas, USA. As descrições das espécies foram baseadas no material identificado, em espécimes depositados no BRIT e em literatura. As modificações das descrições originais foram baseadas em observações detalhadas dos espécimes estudados. 109 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 As espécies estão apresentadas no trabalho na seguinte sequência: Nome teleomórfico do fungo, referência bibliográfica da descrição original, espécime tipo; sinônimos do teleomorfo; nome do anamorfo; sinônimos do anamorfo; descrição dos soros e esporos da espécie; espécime estudado, espécie do hospedeiro (família do hospedeiro), local e data de coleta, coletores, número de coleta, soro apresentado no espécime; comentários taxônomicos. Após as descrições de todas as espécies, é apresentada, na tabela 1, uma lista das espécies de Puccinia, por família e gêneros dos hospedeiros. As ilustrações das espécies foram feitas com o auxílio de fotomicroscópio. No lado direito da parte inferior de cada figura, existe uma barra que corresponde a 1 cm e nas legendas estão citadas as medidas em pm, equivalente à barra. GÊNERO PUCCINIA Persoon, Syn. Meth. Fung. p.225, 1801. Tipo: Puccinia graminis Persoon. Espermogônios tipo IV. Écios subepidérmicos em origem, erumpentes, geralmente com perídio; esporos catenulados ou originados em pedicelos, verrucosos ou algumas vezes equinulados, com vários poros de germinação. Uredínios subepidermal em origem, erumpente, com ou sem paráfises; urediniosporos catenulados ou pedicelados, verrucosos ou equinulados, com vários poros de germinação. Télios subepidermal em origem, erumpentes na maioria das espécies, coberto pela epiderme em algumas espécies e outras vezes divididos em lóculos por paráfises estromáticas; esporos pedicelados, geralmente com duas células probasidiais com um septo transversal, com variações em algumas espécies, ocasionalmente pode ter um a três ou quatro células por esporo, parede geralmente pigmentada, as vezes hialina, lisa ou esculturada, com um poro germinativo em cada célula, mas não diferenciado em algumas espécies. Metabasidios externos, morfologicamente diferentes dos probasidios. 110 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Literaturas com descrição do gênero: Cummins 1978; Cummins & Hiratsuka 1983. Comentários: Mais da metade de todas as espécies de ferrugens conhecidas pertencem ao gênero Puccinia, e muitas espécies ainda estão sendo descobertas. Este gênero é caracterizado principalmente por apresentar teliosporos pedicelados, com duas células e espermogônio do tipo IV. Vários outros gêneros de ferrugens podem produzir teliosporos pedicelados com duas células. No passado, alguns desses gêneros foram incluídos em Puccinia, mas agora estão incluídos em outros gêneros. Em algumas famílias de vegetais os télios do gênero Puccinia são extremamente raros ou desconhecidos. Alguns exemplos podem ser citados: 1. Na família Bignoniaceae, a ferrugem com teliosporos de duas células provavelmente pertence aos gêneros Propodium ou Porotenus. 2. Na família Leguminosae ( sensu lato), a ferrugem com teliosporos de duas células provavelmente seja dos gêneros: Soratea, Diorchidium, Dicheirinia, Dasyspora, e algumas poucas espécies de Puccinia como P. arachidis. 3. Na família Rosaceae, a ferrugem com teliosporos de duas células provavelmente pertence ao gênero Tranzschelia. 4. Na família Arecaceae (Palmae), o único gênero conhecido e que tem teliosporos com duas células é Cerradoa. 5. Nas samambaias é conhecida uma única espécie de Puccinia, P. lygodii, e outra ferrugem conhecida nesta família com teliosporos de duas células pertence ao gênero Desmella. Geralmente a relação de especificidade de hospedeiro auxilia na identificação de uma ferrugem pertencente ao gênero Puccinia. descrição das espécies 1. Puccinia arachidis Spegazzini var. offuscata (Arthur) Cummins. Mycotaxon 5:402. 1977. Tipo: sobre Zomia diphylla (Linnaeus) Persoon (Fabaceae), o mesmo de Puccinia offuscata Arthur. (Figuras 1-3). 111 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 =Puccinia offuscata Arthur., Buli. Torry Bot. Club 47:469. 1920. Tipo: sobre Zomia diphylla (Linnaeus) Persoon, Cuba, Herradura, 30 de Setembro de 1904, Baker-2143. Anamorfo: Uredo zorniae Dietel. Hedwigia 38:257. 1899. Tipo: sobre Zornia diphylla (Linnaeus) Persoon, Brasil, Rio de Janeiro, Copacabana, Junho de 1897, E. Ule-2296. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros redondos a oblongos, isolados ou agrupados, subepidermal em origem, cobertos por uma fina membrana, em forma de perídio, tornando-se erumpentes, pulverulentos, 0.5-1 mm transversalmente, marrom-escuro; esporos 17-27 x 17-20 pm, geralmente elipsóides ou obovóides, parede 1-2 pm de espessura, marrom, equinulada, 2, 3 ou 4 poros germinativos, geralmente 3, equatoriais. Télios anfígenos, predominantemente abaxiais, dispersos, subepidermal em origem, cedo expostos, 0.2- 0.3 mm transversalmente, castanho a marrom escuro, tornando-se cinza após germinação dos esporos; esporos (33-) 38-56 (-60) x (12)14-18 pm, geralmente elipsóides, oblongos ou obovados, arredondados ou pontiagudos no ápice, podendo ser constricto ou não na região do septo, predominantemente bicelulares, algumas vezes com 1, 3 ou 4 células, septos transversais, parede 0.7-0. 8 pm de espessura lateral, espessada no ápice, 2.5-4(-5) pm; amarelo ouro a marrom ou hialina, lisa, pedicelo hialino, curto, 35-65 pm de comprimento, geralmente quebradiço e colapsado. Espécime estudado: Sobre Zornia sp. (Fabaceae), Laranjal do Jari: 8 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-15, soro II. Comentários: No material da área de estudo não foi encontrado télio e teliosporos. Para complementar a descrição e ilustração da espécie, baseou-se em amostras coletadas no Brasil (São Paulo, 1983, Hennen 83-38-, Pará, 1978, Freire s/n), e na descrição de Hennen et al. (1987). 112 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Spegazzini (1884) descreveu Puccinia arachidis citando erroneamente a espécie tipo sobre Arachis hypogea Linnaeus (amendoim), mas Lindquist (1982) e Hennen etal. (1987), examinando o isotipo desta espécie, corrigiram a identificação do hospedeiro, que é uma espécie silvestre de Arachis sp. (Fabaceae), coletada no Paraguay - Caa-guazu, em Janeiro de 1882, por B. Balansa 3449. Arthur (1920) descreveu Puccinia offuscata e Arthur (1922B) citou Uredo zorniae Dietel como sinônimo de P. offuscata. Cummins (1977), colocou P. offuscata como uma variedade de P. arachidis [ P . arachidis Spegazzini var. offuscata (Arthur) Cummins], diferenciando esta nova variedade de P. arachidis Spegazzini var. arachidis por apresentar: urediniosporos com 2-4 poros germinativos, geralmente 3, teliosporos claros e hospedeiros em espécies do gênero Zornia e a variedade arachidis apresenta: urediniosporos geralmente com 2 poros germinativos, ocasionalmente 3 ou 4 poros, teliosporos amarelo claro a amarelo ouro ou marrom-claro, ocorrendo em espécies do gênero Arachis. A variedade offuscata tem distribuição geográfica conhecida para América do Sul, América Central e nos estados do Texas e Flórida nos Estados Unidos. Na África e Austrália ocorre outra espécie de ferrugem parasitando Zornia silvestre classificada como Puccinia zorniae McAlpine (Hennen et al. 1987). Doidge (1927) e Mayor & Viennot-Bourgin (1951) diferenciaram P. Zorniae de P ■ offuscata (P. arachidis var. offuscata ) devido esta ter urediniosporos com somente 2 poros germinativos, raramente 3 poros. Porém, esta é uma diferença citada por Cummins (1977) para separar as duas variedades de P. arachidis. Puccinia stylosanthes (P. Hennings) Viégas ( 1 945 B ) é outra espécie de Puccinia encontrada parasitando Stylosanthes sp. da família Fabaceae, que ocorre no Sul e Sudeste do Brasil. Esta ferrugem apresenta características morfológicas similares às dasespécies c variedades citadas neste comentário. 113 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Hennen et al. (1987) apresentam um histórico de P. arachidis, discutem sua taxonomia, ciclo de vida e evolução, enfatizando que é necessário que se estude as conexões e afinidades entre P. arachidis, P. zorniae e P. stylosanthes. 2. Puccinia bambusarum Arthur, Bot. Gaz. 65:467. 1918. Lectotipo: sobre Pariana sp. (Poaceae), Peru, Iquitos, Rio Amazonas, Julho de 1902, E. Ule-3161. O hospedeiro foi erroneamente identificado como Olyra sp. (Figuras 4-5). Anamorfo: Uredo olyrae P. Hennings, Hedwigia 43: 164. 1904. Tipo: o mesmo do teleomorfo. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros geralmente elípticos, isolados ou agrupados, subepidermal em origem, tardiamente erumpente, pulverulentos, 0.1 -0.7 mm transversalmente, amarelo claro, paráfise periféricas de morfologia variada; esporos (15)17-27 x ( 1 3-) 15-20 pm, elipsóides ou obovóides, parede 0.5- 1.5 pm de espessura, amarelo claro a hialino, equinulada, poros germinativos equatoriais, obscuros. Télios abaxiais, em manchas irregulares, soros geralmente semi-elípticos, isolados ou agrupados, subepidermal em origem, cedo expostos, 0.5- 1.5 mm transversalmente, marrom escuro; esporos (17-)20-29 x 1 3- 1 5(- 17) pm, geralmente elipsóides a obovóides, bicelulares, septo oblíquo, raramente longitudinal, parede (1-) 1.5-2 pm de espessura lateral, ápice levemente espessado, (1.5-)2-3 pm, amarelo claro ou marrom claro dourado, lisa, pedicelo hialino, delgado, longo, 70-90 pm de comprimento, geralmente quebradiço. Espécimes estudados: Sobre Pariana campestris Aublet (Poaceae), Macapá, Parque Zoobotânico: 6 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-02, 114 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia iwfc Figuras 1 - 3 - Puccinia arachidis var. offuscatta. 1 - Urcdiniosporos, foco médio (espécime J. Hennen 87-15). 2 - Mesmo campo da figura 1, com foco da superfície, evidenciando as equinulações da parede e poros de germinação. 3 - Tcliosporos (espécime J. Hennen 83-38, São Paulo). Barra = ca 12.5 pm. 115 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 soros II, III; 15 de Dezembro de 1992, H. Sotão 92.05.15, soros II, III; Sobre Pariana sp. (Poaceae), Macapá, Parque Zoobotânico: 6 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-07, soro II; 6 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-91, soros II, III; 4 de Julho de 1988, J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-485, soros II, III; 26 de Fevereiro de 1993, H. Sotão & N. Rosa 93.01.07, soros II, III; Santana, Curiaú: 24 de Julho de 1995, H. Sotão 95-227, soros II, III. Comentários: Hennen & Figueiredo (1981) reportaram que o hospedeiro de Uredo olyra é Pariana sp., não Olyra sp. como primeiramente foi referido por P. Hennings (1904), e nem Arundinaria sp. como reportado por Arthur (1918). Arthur (1918) tratou a espécie que ocorre em Olyra sp. como uma transferência para Uredo bambusarum P. Hennings que é um anamorfo de Puccinia obliquo- septata Viennot-Bourgin. Devido Arthur ter descrito o teleomorfo que estava presente no tipo de Uredo olyra que P. Hennings havia inspecionado, o nome Puccinia bambusarum é referido somente por Arthur e o lectotipo é o mesmo espécime de Uredo olyra. Os espécimes estudados neste trabalho apresentaram pequena variação nas medidas dos urediniosporos em relação à descrição original, que cita as seguintes medidas: 22-34 x 16-22 pm, porém não há referência do tipo de corantes ou clareadores utilizados nas observações originais. No presente trabalho, as lâminas foram montadas em lactofenol. Nas descrições originais do anamorfo e teleomorfo e em Cummins (1971) não foi referida a presença de paráfises, porém em todos os espécimes estudados e nas coleções depositadas nos herbários MG e BRIT, observou-se a presença de paráfise, surgindo então a necessidade de estudos mais detalhado do anamorfo para que seja definido o gênero ao qual pertence. Puccinia obliquo-septata foi outra espécie de Puccinia identificada parasitando espécimes da família Poaceae no estado do 116 cm Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Amapá. P. bambusarum difere-se de P. obliquo-septata por apresentar: uredínios sem paráfises periféricas e parede apical dos teliosporos pouco espessada (2-3 pm), enquanto que P. obliquo- septata apresenta: uredínios com paráfises periféricas e parede apical dos teliosporos bastante espessada (3-7 pm). Nos espécimes de P. bambusarum estudados, foi encontrado como micoparasita, uma espécie anamórfica de Ascomycete identifi- cada como Darluca sp. 3. Puccinia claviformis Lagerheim, Tromso Mus. Aarsh 17:53. 1895. Tipo: sobre Solanum sp. (Solanaceae), Suriname, data e coletor não reportada (Figura 6). =Dicaeoma claviformes (Lagerheim) Kuntze, Rev. Gen. 3(3):468. 1898. Tipo: o mesmo de P. claviformis. =Puccinia huallagensis P. Hennings, Hedwigia 43: 158. 1904. Tipo: sobre Solanum sp.. Peru, Cerro de Ponasa, Janeiro de 1902, E. Ule-3243. = Puccinia solanicola Mayor, Mem. Soc. Neuch. Sei. Nat. 5:505. 1913. Tipo: Um lectotipo precisa ser escolhido dos quatro espécimes listados por Mayor ( 1913 ) da Colômbia. Espermogônios, écios e Uredínios não são produzidos. Télios caulículos e anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas amareladas, soros circulares ou ovais, agregados ou isolados, subepidermal em origem, previamente exposto, compactos 0.2- 0.8 mm, marrom a marrom claro, tornando-se acinzentado no período de germinação; esporos 33-48 x 20-24 pm, oblongos a clavados, truncados, arredondados ou obtusos no ápice, arredondados ou comumente estreitos na base, bicelulares, septos transversais, com ou sem constricção nos septos, parede 1. 5-2.5 pm de espessura lateral, espessada no ápice, 4.5-7. 5 pm, marrom escura, lisa, pedicelo hialino, quebradiço, presença de raros mesosporos. 117 cm Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figuras 4 - 6 - Puccinia bambusarum. 4 - Urediniosporos (espécime J. Hennen 87- 02). 5 - Teliosporos (espécime J. Hennen 87-07). Barra = ca. 12.5 pm. Figura 6 - Teliosporos de Puccinia claviformis (espécime H. Sotão 91.02.19). Barra = ca. 13.3pm. 118 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Espécime estudado: Sobre Solanum sp. (Solanaceae), Ferreira Gomes: 26 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.19, soro III. Comentários: Para a nomenclatura e sinônimos de P. claviformis, seguiu-se Kern (1933). Neste trabalho, foram excluídos os sinônimos: Aecidium solanitum Schweinitz, em Berkeley & Curtis (1853); Puccinia solanita (Schweinitz) Arthur (1922C); Micropuccinia solanita (Schweinitz) Arthur (1922A); por serem nomen nudum, segundo o atual Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN). P. solani-tristis foi outra espécie de Puccinia identificada parasitando espécimes da família Solanaceae no estado do Amapá. P. claviformis difere-se de P. solani-tristis por apresentar: teliosporos maiores (33-48 x 20-24 pm); parede lateral mais espessada (1.5-3 pm); parede apical bastante espessada (7-12 pm); enquanto que P. solani- tristis apresenta: teliosporos menores (22-35 x 11-15 pm); parede lateral menos espessada (1-1.5 pm); parede apical não espessada ou pouco espessada (2-4 pm). Hennen et al. (1982) citam para o Brasil três espécies de Puccinia parasitando espécies de Solanum: P. claviformis, P. solani-tristis e P. substriata, as duas primeiras são microcíclicas, e P. substriata Ellis & Bartholomew (Erythea 1897, 5:47) é uma espécie macrocíclica heteroécios, com 0, 1, em Solanum e II, III em Poaceae. Kern (1933) apresenta uma chave de identificação e comentários de espécies de Puccinia microcíclicas em Solanum: P. solani, P. imitans, P. negeriana, P. pittieriana, P. aulica, P. solanacearum, P. claviformis, P. solani-tristis e P. incondita. 4. Puccinia cnici-oleracei Persoon ex Desmazieres, Catai. Pl. Omis. 24. 1823. Tipo: sobre Cnicus oleraceus Linnaeus = Cirsium oleraceae (Asteraceae), Norte da França (Figura 7). -Puccinia spilanthis P. Hennings (publicado como P- spilanthidis), EngleNs Bot. Jahrb. 15:14.1892. Tipo: sobre 119 SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Spilanthes salznianni De Candolle, Brasil, localidade e data não reportada, Martius-438. -Puccinia melampodii Dietel & Holway em Holway, Bot. Gaz. 24:32.1897. Tipo: sobre Melampodium divaricatum (Rich.) De Candolle, México, Cuernavaca, Morelos, 25 de Setembro de 1896, Holway s/n. =Puccinia synedrellae P. Hennings, Hedwigia 37:277 . 1898. Tipo: sobre Synedrella nodiflora Gaertner, Jamaica, Port Antonio, 21 de Fevereiro de 1893, Humphrey s/n. =Puccinia emiliae P. Hennings, Hedwigia 37:278. 1898. Tipo: sobre Emilia sagittata De Candolle, Jamaica, 3 de Abril de 1893, Humphrey s/n. -Puccinia acanthospermi P. Hennings, Hedwigia 41:296. 1902. Tipo: sobre Acanthospermum xanthioides De Candolle, Brasil, São Paulo, Horto Florestal, Janeiro de 1901, Puttemans-424. =Puccinia acanthospermi H. Sydow & P. Sydow, Ann. Mycol. 1:17. 1903. Tipo: sobre Acanthospermum xanthioides De Candolle, Venezuela, Caracas, data não reportada, Moritz s/n. -Puccinia eleutherantherae Dietel, Ann. Mycol. 7:354. 1909. Tipo: sobre Eleutheranthera ruderalis Schultz-Bipontius, Brasil, Pará, Belém, Parque do Museu Emílio Goeldi, Dezembro de 1907, Baker-s/n. -Puccinia spilanthicola Mayor, Mem. Soe. Neuchatel. Sei. Nat. 5:531. Tipo: sobre Spilanthes americana (Mutis) Hieronymus, Colombia, Antioquia, 31 de Julho de 1910, Mayor-248. Espermogônios, écios e Uredínios não são produzidos. Télios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros agrupados, geralmente em círculos confluentes, subepidermal em origem, posteriormente erumpentes, pequenos 0. 1-0.4 mm 120 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia transversalmente, marrom escuro, as vezes brilhantes, após a germinação dos esporos torna-se marrom claro; esporos (32-)37-50 (-55) x (13)15-20(-23) pm, geralmente alongados, ovóides a quase oblongo, bicelulares, septo transversal, parede da célula superior 1.5- 2.5 pm de espessura lateral, espessada no ápice 4-16 pm, parede da célula basal 1-2 pm, amarelo claro, lisa, um poro apical em cada célula, pedicelo hialino ou amarelado, 29-34 pm de comprimento. Espécimes estudados: Sobre Eleutheranthera ruderalis (Schweinitz) Schultz-Bipontius (Asteraceae), Mazagão: 27 Maio de 1992, H. Sotão 920103-, Santana: 25 de Fevereiro de 1993, H. Sotão & N. Rosa 930103. Sobre Emilia sonchifolia De Candolle (Asteraceae), Água Branca do Amaparí: 26 de Fevereiro de 1993, H. Sotão & N. Rosa 930110. Sobre Melampodium sp. (Asteraceae), Santana: Torrão do Maruanum, 27 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.26. Sobre Spilanthes sp. (Asteraceae), Mazagão: 30 de Julho de 1992, H. Sotão 92.02.11 A. Sobre Melampodium sp., Santana: Torrão do Maruanum, 27 de Dezembro de 1989, J. Hennen & H. Sotão 89-174. Comentários: Vários sinônimos foram encontrados na literatura para Puccinia cnici-oleracei, provavelmente devido Compositae ser uma grande e complexa família de plantas, apresentando distribuição geográfica e com várias espécies desta família susceptíveis ao parasitismo deste fungo. Neste trabalho estão citadas somente os sinônimos de Puccinia cnici-olercei, em que os espécimes tipos foram coletados na América do Sul, América Central e México. Os sinônimos cujo espécimes tipos foram coletados na Europa, Canadá e Estados Unidos, poderão ser encontrados em Cummins (1978). Cummins (1978) e Gallegos & Cummins (1981), apresentam separadamente as espécies Puccinia cnici-oleraei Persoon ex Desmazieres e Puccinia melampodii Dietel & Holway, diferenciando- as quanto a cor da parede dos esporos, medidas dos esporos e do 121 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 pedicelo. Hennen et al. (1982) acrescentaram P. melampodii aos sinônimos de P. cnici-oleracei. Eles apresentaram 83 espécies do gênero Puccinia (entre nomes válidos e sinônimos), parasitando hospedeiros da família Compositae, no Brasil. Na Amazônia, esta ferrugem é considerada de interesse econômico, por parasitar Spilanthes sp. (jambú). As folhas desta planta são muito utilizadas na culinária regional. 5. Puccinia heterospora Berkeley & Curtis, Jour. Linn. Soc. Bot. 10:356. 1869. Tipo: sobre Malvaceae indeterminada, Cuba, Charles Wright-283 (Figura 8). -Uromyces malvacearum Spegazzini, Anal. Soc. Ci. Argent. 12:72. 1881. Tipo: sobre Abutilon mendoncae E. G. Baker, Argentina, Sierra Chica, Janeiro de 1877, Hieronymous-s/n. =Uromyces malvicola Spegazzini, Anal. Soc. Ci. Argent. 17:94. 1884. Tipo: sobre Abutilon sp., Argentina, Guarapi, Julho de 1883, Spegazzini-3885. =Uromyces pavoniae Arthur, Buli. Torrey Club 31:1. 1904. Tipo: sobre Pavonia racemosa Linnaeus, Porto Rico, entre Mayaguez e Joyua, 1901, L. M. Undenvood-193. =Micropuccinia heterospora (Berkeley & Curtis) Arthur & Jackson, Buli. Torrey Club 48:41. 1921. Tipo: o mesmo de Puccinia heterospora. -Puccinia mikania-micranthae Viégas, Bragantia 5:37. 1945. Tipo: sobre Malvaceae indeterminada (identificada erroneamente como Mikania sp. - Compositae), Brasil, Paraíba, Guarabira, Dezembro de 1939, Josué Deslandes-586. Espermogônios, écios e Uredínios não são produzidos. Télios abaxiais, em manchas amareladas, soros semicirculares, dispersos ou agregados, ocasionalmente confluentes em grupos, subepidermal em 122 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 7 - 8 - Teliosporos de Puccinia cnici-oleracei (espécime H. Sotão 93.01 .03). Barra = ca. 12.5 pm. 8 - Teliosporos de Puccinia heterospora, M - mesosporos; SL - teliosporos bicelular de septo longitudinal (espécime H. Sotão 91.02.25). Barra = ca. 12.5 pm. 123 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 origem, cedo expostos, pulvinados, 1-2 mm, marrom escuro, algumas vezes claro após a germinação; esporos de morfologia variada, bicelulares: 16-27 x 16-26 pm, geralmente elipsóides a globosos, arredondados no ápice e na base, geralmente sem constrição na área do septo, raramente pouco constrito no septo, septos verticais, horizontais, oblíquos ou semioblíquos, parede 1-2 pm de espessura lateral, geralmente espessada no ápice (1.5-) 2-4.5 pm, marrom claro, lisa; unicelulares, mesosporos: 18-32 x 16-24 pm, globosos a obovóides, arredondados no ápice, arredondados ou estreitos na base, parede 1.5-3 pm de espessura lateral, geralmente muito engrossada no ápice, 5-7 pm, marrom claro, lisa; pedicelos hialinos, longos, quebradiços. Predominância de mesosporos. Espécime estudado: Sobre Wissadula sp (Malvaceae), Santana: 27 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.25, soro III. Comentários: Puccinia heterospora apresenta grande variedade na morfologia dos esporos, e é caracterizada pela predominância de mesosporos sobre os esporos bicelulares. Vários sinônimos de Puccinia heterospora foram encontrados em literatura, provavelmente devido sua ampla distribuição geográfica nas áreas quentes do globo e sua variada morfologia, onde os mesosporos sugerem espécies do gênero Uromyces. Neste trabalho estão citados somente os sinônimos em que os espécimes tipos foram coletados na América do Sul e América central. Os demais sinônimos podem ser consultados em Lindquist (1982), Jackson (1931B) e Arthur (1922A). Viégas (1945A) publicou Puccinia mikania-micranthae como uma nova espécie e citou como hospedeiro, Mikania micrantha H. B. K. (Compositae). J. Hennen examinando o espécime tipo de P. mikania-micranthae, obsçrvou que na excicata havia uma mistura de folhas de espécies de plantas das famílias Malvaceae e Compositae, porém somente em folhas de Malvaceae havia ferrugem, sendo esta P. heterospora. 124 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Hennen et al. (1982) citam os gêneros de Malvaceae que são hospedeiros desta ferrugem no Brasil: Abutilon, Gaya, Hibiscus, Pseudabutilon, Sida, Wissadula e em Tiliaceae o gênero Triumfetta. Uma comparação da morfologia telial de Puccinia arechavaletae, a qual parasita vários gêneros de Sapindaceae, e P. heterospora a qual parasita gêneros de Malvaceae, revelam que estas duas espécies microcíclicas são notoriamente similares. Ambas não produzem espermogônios, seus télios são geralmente abaxiais, isolados ou agrupados em grupos concêntricos, e de coloração marrom escuro ou tomando-se cinza após a germinação dos esporos. Seus teliosporos são na maioria ou quase inteiramente unicelulares (“mesosporos”), ambos os esporos, unicelulares como bicelulares são de formas e tamanhos muito variados, 15-24(-26) x (20-) 27-35(-45) pm, e de formas globosos, elipsóides, ou oblongos. Os esporos bicelulares podem ser arredondados no ápice e na base, sem constrição ou levemente constrito na área do septo, o qual é geralmente oblíquo, parede celular 1.5-2 (-3) pm de espessura lateral e 3-7 pm de espessura no ápice, castanho a marrom-canela, e lisa; pedicelos com (10-) 25-105 (-135) pm de comprimento e marrom canela claro ou hialino. P. heterospora esta correlacionada com Puccinia schedonnardi (Arthur, 1934), no entanto, não é conhecida espécie próxima com ciclo longo correlacionada à P. arechavaletae. 6. Puccinia jlavo-virens H. S. Jackson & Holway, em Jackson, Mycologia 18:142. 1926. Tipo: sobre Cyperus ferax L.C. Richard (Cyperaceae), Equador, Quito, 17 de Agosto de 1920, Holway -908 (Figuras 9-10). Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, em manchas irregulares, soros subcirculares ou elípticos, dispersos ou agrupados, subepidermal em origem, tardiamente expostos, 125 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 pulverulentos, 0.5-3 mm transversalmente, amarelo dourado; esporos 24-28 x 16-18 pm, elipsóides, parede 1-1.5 pm de espessura, hialino a sub-hialino, moderadamente equinulada, 2 a 3 poros germinativos equatoriais, obscuros. Télios anfígenos, em manchas irregulares, soros dispersos ou confluentes, subepidermicos, soros geralmente rodeando os Uredínios velhos, 1-5 mm, marrom escuro; esporos 36-48 x 12-16 pm, elipsóides, clavados ou cilíndricos, obtuso no ápice, base redonda ou estreita próximo ao pedicelo, raramente constrito no septo, bicelulares, septos transversais, parede 1-1.5 pm de espessura lateral, espessada no ápice 3-6 pm, amarelo-esverdeado, lisa, pedicelo com aproximadamente o mesmo comprimento do esporo, 24-28 pm, quebradiço. Espécimes estudados: Sobre Cyperus sp (Cyperaceae), Mazagão: Mazagão Novo, 1 1 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87- 112, soros II, III; 5 de Julho de 1988, J Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-495, soros II, III; Santana: Maruanum, 30 de Dezembro de 1989, J. Hennen & H. Sotão 89-180, soros II, III; sobre Cyperus dijfusus Vahl., Mazagão: Mazagão Novo, 26 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.22a, soros II, III; 27 de Julho de 1995, H. Sotão 95-242, soros II, III. Comentários: Puccinia flavo-virens, conhecida somente para o México e Equador (Gallegos & Cummins 1981), constitui neste trabalho a primeira referência para o Brasil. Hennen et al. (1982) citam cinco outras espécies de Puccinia e duas espécies de Uredo parasitando plantas do gênero Cyperus no Brasil: P. angustatoides R. E. Stone (P. angustata ), P. cyperi Arthur, P. cyperi-tagetiformis (P. Hennings) Kern, P. obvoluta Jackson & Holway, P. subcoronata P. Hennings, U. cypericola P. Hennings e U. nociviola Jackson & Holway. Puccinia abrepta Kern (1919) é uma espécie que também ocorre em Cyperus que é muito próxima de P. flavo-virens, mas difere desta por apresentar urediniosporos maiores e ausência de película cuticular encontrada ao redor dos poros germinativos de P. abrepta, a qual não é referida para o Brasil. 126 SciELO 10 11 12 13 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 9 - 10 - Puccinia Jlavo-virens. 9 - Urediniosporos (espécime J. Hennen, M Hennen & H. Sotão 88-495). Barra = ca 12.5 pin. 10 - Teliosporos (espécime J Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-495). Barra = ca 13.3 pm. SciELO Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 P. minuta Dietel é outra espécie de Puccinia encontrada parasitando espécie da família Cyperaceae no estado do Amapá, e P . flavo -vir ens difere-se desta por apresentar soros maiores, teliosporcs menores, obtusos no ápice, e parede amarelo esverdeado. Enquanto que em P. minuta os soros são menores, teliosporos maiores, arredondados no ápice e com parede marrom claro. 7. Puccinia insueta Winter, Hedwigia 26:27. 1887. Tipo: sobre Stigmaphyllon sp. (Malpighiaceae), Brasil, Santa Catarina, São Francisco, Abril de 1885, E. Ule-66 (Figuras 11-14). =Diorchidium insuetum Magnus, Ber. Deutsch. Bot. Ges. 9:192.1891. Tipo: o mesmo de Puccinia insueta. =Puccinia circinata Arthur, Am. Jour. Bot. 6:471. 1918. Tipo: sobre Stigmaphyllon sp., Guatemala, Gualan, Dept. Zacapa, 28 de Dezembro de 1905, Kellerman-5457. Anamorfo: Uredo circinata Schweinitz, em Berkeley & Curtis, Jour. Philadelphia Acad. Sei., 2:282. 1853. Tipo: sobre Stigmaphyllon sp., Suriname, Weigelt-s/n. =Uredo insueta Pennington, Annal. Soe. Cient. Argent. 53:268. 1902. Tipo: o mesmo citado para Puccinia insueta Winter. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, em manchas irregulares, soros subcirculares a elípticos, dispersos ou agrupados, subepidermal em origem, erumpentes, pulverulentos, 0.5- 1.5 mm transversalmente, amarelo a marrom claro; esporos (26-)28-38 x 22-31 pm, subglobosos a elipsóides, parede dupla, 3-6.5 pm de espessura lateral, alguns esporos espessados no ápice 4-9 pm, parede externa hialina e equinulada, intumesce em lactofenol ou água, parede interna amarela e lisa, poros germinativos obscuros. Télios anfígenos, em manchas irregulares, soros subcirculares a elípticas, dispersos ou Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 1 1 - 14 - Puccinia insueta. 1 1 - Urediniosporos, em foco médio (espécime J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-493). 12 - Mesmo campo da figura 1 1, com foco da superfície, evidenciando as equinulações da parede externa. 13 - Teliosporos em foco médio (espécime E.W. D. Holway 1067, Rio de Janeiro). 14 - Mesmo campo da figura 13, com foco da superfície, evidenciando a parede externa reticulada e poros de germinação. Barra = ca 12.5 pm. 129 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 agrupados, subepidermal em origem, erumpentes, pulverulentos, 0.5- 1 .5 mm transversalmente, marrom escuro a preto; esporos 35-47 x 24- 34 pm, elipsóides, extremidades arredondadas, levemente constrito no septo, bicelulares, septo transversal, parede dupla, 2-6.5 pm de espessura, geralmente uniforme, marrom claro a marrom escuro, parede externa densamente reticulada, parede interna lisa; pedicelo hialino, com inserção lateral, inflado no ápice 17-24.5 pm transversalmente, atenuado na base, quebradiço. Espécimes estudados: Sobre Stigmaphyllon sp. (Malpighiaceae), Macapá: 9 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-98, soro II; 5 de Julho de 1988, J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-493, soro II; Mazagão: 13 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-115, soro II. Comentários: No material do estado do Amapá só foram encontrados uredínios e urediniosporos. Para complementar a descrição da espécie, baseou-se na descrição original e em outra amostra coletada no Brasil (sobre Stigmaphillom tomentosum Jussieu, Rio de Janeiro: 24 de Agosto de 1921, E. W. D. Holway 1067). Após montagem de lâmina em lactofenol ou água, as paredes dos esporos intumescem gradualmente, o que justifica o fato de que a fotomicrografia que ilustra a espécie apresenta medidas maiores do que as citadas na descrição. Observou-se que o aquecimento da lâmina, também contribui para um maior intumescimento da parede dos esporos. Jorstad (1959) colocou Puccinia circinata Arthur em sinônimo de Puccinia insueta, sugerindo que sejam feitos estudos com Puccinia inflata Arthur, para verificar se também não é um sinônimo de P. insueta, pois lhe parece muito similar. Jackson (1931 A) ao se referir a Puccinia inflata Arthur, comenta que esta espécie não lhe parece distinta de Puccinia insueta, indicando uma avaliação dessas Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia espécies para que seja determinada as afinidades e limites que possam ser satisfatórios. Arthur (1906), na descrição original de Puccinia inflata sobre Stigmaphyllon períplocifolium (Desf.) Juss. (Cuba: 13 de Março de 1903, Holway), descreveu os espermogônios, os quais são desconhecidos para P. insueta. 8. Puccinia lygodii Arthur, Bull.Torrey Bot. Club. 51:55. 1924. Tipo: sobre Lygodium polymorphum (Cavanilles) Humboldt, Bonpland & Kunth (Schiziaceae), Brasil, Bahia, 28 de Maio de 1915, S.N. Rose & P.G. Russel-19664 a (Figuras 15-16). Anamorfo: Uredo lygodii Hariot, Jour. de Bot. 14:117. 1900. Tipo: sobre Lygodium sp. (Schiziaceae), Brasil, Pernambuco, data não reportada, M. Gardener-s/n. -Milesina lygodii H. Sydow, Mycologia 17:255. 1925. Tipo: sobre Lygodium sp., Suriname (British Guiana), Tumatumari, 1 1 de Julho de 1922, F. L. Stevens-54. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios abaxiais, em manchas irregulares, soros circulares, dispersos ou algumas vezes agregados, subepidermal em origem, posteriormente erumpentes, parcialmente recoberto pela epiderme, pulvinados, 0.3-0. 5 mm transversalmente, marrom, cobertos por uma fina membrana, em forma de perídio; esporos 24-31 x 16-23 pm, obovóides a elipsóides, parede 1-1.5 pm de espessura, amarelo dourado, equinulada, geralmente com áreas irregulares lisas nas laterais, poros germinativos indistintos, 2 ou 3 poros equatoriais, geralmente com uma cápsula cuticular. Télios não observados; teliosporos em uredínios, 22-33 x 19- 26 pm, globosos a oblongos, arredondados no ápice, sem constrição na região do septo, bicelulares, septo longitudinal, oblíquo ou transversal, parede 1-1.5 pm de espessura lateral, espessada no ápice 3-4 pm, hialina a amarelo claro, lisa, pedicelo hialino, quebradiço. 131 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figuras 15 - 16 - Puccinia lygodii. 15 - Uredmiosporos, foco médio (espécime J. Hennen & H. Sotão 87-113). 16 - Teliosporos (espécime J. Hennen 79-147, Maranhão). Barra = ca 10 pm. SciELO Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Espécimes estudados: Sobre Lygodium sp. (Schiziaceae), Mazagão: 13 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-113, soro II; Água Branca do Amaparí: 8 de Janeiro de 1990, J. Hennen & H. Sotão 90-30, soros II, III. Comentários: Os teliosporos no material estudado eram escassos e encontravam-se misturados aos urediniosporos. Para complementar a descrição e ilustração da espécie, foi utilizado amostra coletada no Brasil ( Hennen 79-147, São Luís-Maranhão). A descrição apresentada neste trabalho apresenta algumas modificações da original e que foram observadas com mais detalhes em espécimes depositados nos herbários BRIT e MG. A primeira referência desta ferrugem foi publicada por Hariot (1900) como Uredo lygodii baseado em uma coleção uredinial em Lygodium sp. procedente de Pernambuco, Brasil. Posteriormente Arthur (1922D) identificou erroneamente uma coleção uredinial em Lygodium procedente de Trinidad onde propôs uma nova combinação: “ Milesia blechni (Sydow) comb. nov. ( Melampsorella blechni Sydow, Ann. Myc. 1:537.1903. Uredo blechnii Dietel and Neg., Engler’s Botan. Jahrb. 22:358.1896”. Na mesma publicação, Arthur reportou uma coleção telial em Lygopodium polymorphum (Cav.) H.B.K. da Bahia, Brasil, como íí Desmella gymnogrammes (P. Hennings) Sydow”. Mais tarde, Arthur (1924) utilizou esta mesma espécime como base para a descrição telial de “ Puccinia lygodii (Hariot) comb. nov.” que ele transferiu de Uredo lygodii Hariot. Nesta época Arthur freqüentemente transferia os nomes anamorfos para gêneros teleomorfos, uma prática atualmente não permitida pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN), artigo 59. No entanto, como Arthur descreveu télios e indicou o espécime telial, o ICBN permite que se use os nomes de Arthur como novas espécies atribuídas somente para Arthur e com o tipo sendo esse espécime telial 133 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 indicado por Arthur como o citado acima. H. Sydow (1925) reportou esta ferrugem como “ Milesina lygodii Sydow n. sp.”, mas como ele não descreveu teliosporos do espécime, este nome portanto tomou-se sinônimo de Uredo lygodii Hariot. Faull (1932) reportou outras espécimes de P. lygodii procedente do Brasil-Rio de Janeiro e El Salvador, este último havia sido erroneamente reportado por Arthur (1925) como Milesia australis Arthur. Faull (1932) e Kem & Thuston (1943) citam que P. lygodii Arthur é uma espécie que precisa ser estudada, especialmente seu ciclo de vida, para que seja determinada se realmente é do gênero Puccinia. Esta espécie é a única do gênero Puccinia citada em literatura parasitando espécies da classe Filicopsida (samambaias), todas as outras espécies ocorrem em Angiospermae. Puccinia lygodii está sendo referida pela primeira vez para a Amazônia brasileira. 9. Puccinia minuta Dietel em Atkinson, G. F., Buli. Comell Univ. (science), 3:19. 1897. Tipo: sobre Carex verrucosa Muhlenberg (Cyperaceae), U.S.A., Alabama, Auburn, 29 de Agosto de 1891, Chiefly-2068 (Figuras 17-19). =Dicaeoma minutum (Dietel) Arthur, Res. Sei. Cong. Internat. Bot. Vienne p.344, 1900. Tipo: o mesmo de P. minuta Dietel. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, puntiformes, isolados, subepidermal em origem, tardiamente erumpentes, algumas vezes pulverulentos, 0.2-0. 5 mm transversalmente, marrom claro; esporos 24-36 x 20-30 pm, elipsóides a semiglobosos, parede 0.5-1.5(-2) pm, hialina a amarelo claro, equinulada. Télios abaxiais, puntiformes, isolados, subepidérmicos, não erumpentes, 0.2-0. 5 mm transversalmente, marrom escuro; esporos 43-72 x 14-29 pm, formas variadas, clavados-oblongos ou cuneados, arredondados no ápice, constrito no Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia septo, bicelulares, geralmente as células apicais são menores que as células basais, septo transversal, parede 1-1 .5(-2) pm de espessura lateral, espessada no ápice 4-7 pm, marrom claro, lisa, pedicelo mais claro que os esporos, 17-25 pm de comprimento, quebradiços. Espécimes estudados: Sobre Cyperaceae indeterminada, Macapá: 19 de Outubro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-54 , soros II, III; Santana: 6 de Julho de 1988, J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-513, soro II; Porto Grande: 7 de Julho de 1988, J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-519, soro II. Comentários: Foram observadas variações em relação à descrição original do espécime tipo. Os espécimes estudados, quando observados em lâminas montadas em lactofenol, apresentaram a parede dos urediniosporos mais claras e os teliosporos com medidas maiores do que as citadas na descrição original. Para uma melhor ilustração do teliosporos utilizou-se o espécime Hennen 77-284, coletado no estado do Pará. Puccinia flavo-virens Jackson & Holway é outra espécie referida neste trabalho que também foi encontrada parasitando espécie da família Cyperaceae. P. minuta difere-se desta por apresentar: soros menores, esporos maiores, teliosporos de ápice arredondado e parede marrom claro, enquanto que P. flavo-virens apresenta: soros maiores, esporos menores, teliosporos obtusos no ápice e parede amarelo esverdeado. Puccinia minuta Dietel representa a primeira citação para o Brasil. 10 . Puccinia obliquo-septata Viennot-Bourgin, Urediniana 5:219. 1 958. Tipo: sobre Olyra sp. (Poaceae-Gramineae), Brasil, Rio de Janeiro, Corcovado, 27 de Julho de 1913, A. Maublanc-s/n (Figuras 20-22). 135 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figuras 17 - 19 - Puccinia minuta. 17 - Urediniosporos, foco médio (espécime J. Hennen, M. Hennen & H. Sotão 88-513). 18 - Mesmo campo da figura 17, com foco da superfície, evidenciando as equinulações da parede. 19 - Teliosporos (espécime J. Hennen 77-284, Pará). Barra = ca 12.5 pm. cm SciELO Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 20 - 22 - Puccinia obliquo-septata. 20 - Urediniosporos, foco médio (espécime J. Hennen 87-35). 21 - Mesmo campo da figura 20, com foco da superfície evidenciando as equinulações da parede. 22 - Tcliosporos (espécime J. Hennen 87-35). Barra = ca 12.5 pm. 137 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., I7( l), 2001 Anamorfo: Uredo bambusarum P. Hennings, Hedwigia 35:255. 1896. Tipo: sobre Olyra sp. (erroneamente identificada como Bambusa sp.), Brasil, Santa Catarina, Blumenau, Agosto de 1888, E. Ule-866. =Uredo dentata Mains, Buli. Torrey Bot. Club 66:621. 1939. Tipo: sobre Olyra micrantha Humboldt, Bonpland & Kunth, Brasil, Rio de Janeiro, Gávea, 2 de Novembro de 1929, Agnes Chase-9981A. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros geralmente elípticos, isolados ou agrupados, subepidermal em origem, pulverulentos, 1-5 mm transversalmente, marrom claro, paráfises periféricas, cilíndricas, clavadas a capitadas, amarelo a castanho claro; esporos (22-)24-35 x 17-26 pm, elipsóides ou obovóides, parede 1- 2.5 pm de espessura, marrom claro, fortemente equinulada, 3 ou 4 poros germinativos, equatoriais. Télios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros geralmente elípticos, isolados ou agrupados, subepidermal em origem, previamente erumpente, compactos, 1-5 mm transversalmente, marrons; esporos de morfologia variada, geralmente bicelulares, algumas vezes com 1 ou 3 células, (22-)24-35 x 1 1-16 pm, elipsóides a obovóides, septo oblíquo, parede 0.5-1 pm de espessura lateral, espessada no ápice, 3-7 pm, amarelo ouro, lisa, pedicelo hialino ou amarelo, parede moderadamente espessada, geralmente colapsado, quebradiço. Espécime estudado: Sobre Olyra sp. (Poaceae), Laranjal do Jari: 10 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-35, soro II; Santana: 9 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-97, soros II, III. Comentários: P. Sydow & H. Sydow (1923-1924) citaram Uredo olyrae P. Hennings como sinônimo de Uredo bambusarum P. Hennings, porém esta espécie é o anamorfo de Puccinia bambusarum (ver comentários em Puccinia bambusarum). Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Os espécimes estudados apresentam pequenas variações de medidas em relação à descrição original, que cita as seguintes medidas: urediniosporos 25-35x 20-28 pm, parede 2-2.5 pm; teliosporos 25-40 x 12-22 pm, parede lateral 1-1.5 pm e no ápice 5-8 pm. Parasitando espécie de Poaceae também foi identificada P. bambusarum, que diferencia-se de P. obliquo- septata por apresentar uredínios sem paráfises periféricas e parede apical dos teliosporos pouco espessada (1-3 pm). Hennen et al. (1982), citam três espécies de Puccinia parasitando espécies de Olyra no Brasil: P. deformata Berkeley & Curtis, P. faceta Sydow, e P. obliquo-septata Viennot-Bourgin. Cummins (1971) diferencia P. obliquo-septata destas duas outras espécies por apresentar uredínios com paráfises. Esta é a primeira referência de P. obliquo-septata para a Amazônia. 11 .Puccinia palicoureae Mains, Carnegie Inst. Washington Publ. 461:102. 1935. Tipo: sobre Palicourea triphylla De Candolle (Rubiaceae), Belize ( British Honduras), Belize , 7 de Maio de 1931, H. H. Bartlett- 13091 (Figuras 23-25). Espermogônios e écios desconhecidos. Uredínios abaxiais, em manchas irregulares, soros agrupados, algumas vezes confluentes, subepidermal em origem, tardiamente expostos, pulverulentos, brilhantes, 0. 1-0.8 mm transversalmente, amarelos quando frescos, marrom claro quando secos; esporos 20-27 x 16-20 pm, elipsóides ou obovóides a subglobosos, parede l-1.5(-2) pm de espessura, hialina a amarelo claro, equinulada, geralmente com equinulações esparsadas com regiões lisas, poros germinativos obscuros, provavelmente 2, equatoriais. Télios abaxiais, misturados ou não com os Uredínios, agrupados, algumas vezes confluentes, subepidermal em origem, ceroso, 0.1 -0.7 mm transversalmente, esbranquiçados; esporos 24-33 x 139 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot.. 17(1), 2001 13-18 pm, oblongos a fusiformes, bicelulares, septos transversais, parede 0.5- 1(- 1.5) pm, uniforme, hialina ou amarelo claro, lisa, poros germinativos obscuros, pedicelo curto, quebradiço. Espécimes estudados: Sobre Palicourea guianensis Aubl. (Rubiaceae), Mazagão: 30 de Julho de 1992, H. Sotão & B. Santos 92.02.01, soros II, III; Amaparí, Serra do Navio: 21 de Maio de 1991, H. Sotão 91-04, soro III; sobre Palicourea sp. (Rubiaceae), Laranjal do Jari: 8 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-16, soro II; 12 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-38, soros II, III; J. Hennen 87-41, soro II; 14 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-51 , soro II; Macapá: 19 de Outubro de 1987, J. Hennen 87-52, soro II; Amaparí: 8 de Janeiro de 1 990, J. Hennen & H. Sotão 90-34, soro II. Comentários: Os teliosporos germinam sem período de dormência. A maioria dos teliosporos encontrados nos espécimes estudados já haviam germinado quando foram observados e estavam colapsados. Para a ilustração dos teliosporos utilizou-se o espécime Sotão 95-01, procedente do estado do Pará. Hennen et al. (1982) citam duas espécies de Puccinia sobre Palicourea para o Brasil: P.fallax e P. palicoureae. Mains (1935) e Cummins (1941) diferenciam estas espécies pela parede dos urediniosporos, que em P. palicoureae as equinulações da parede são maiores e apresentam áreas lisas (sem equinulações), enquanto que em P.fallax as equinulações da parede são menores e uniformes. Porém P. fallax ( P . fallaciosa Arthur) é um táxon que necessita ser descrito novamente para que seja um nome válido, devido ao fato de que Arthur ( 1 922 A), transferiu o nome anamorfo Uredo fallaciosa Arthur (Mycologia 7:323. 1915 - Tipo Stevens-774, Porto Rico, Maricao, 3 de Abril de 1913) para o gênero teleomorfo Puccinia sem descrever os télios. Os teliosporos foram reportados em uma coleção de Stevens-353, Porto Rico, Maricao, 23 de Março de 1913. Esta citação constitui a primeira referência para a Amazônia. Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 23 - 25 - Puccinia palicoureae. 23 - Urediniosporos, foco médio, (espécime Hennen 87-16). 24 - Mesmo campo da figura 23, com foco da superfície evidenciando as equinulações da parede e áreas lisas equatoriais. 25 - Teliosporos (espécime H. Sotão 95-01). Barra = ca 10 pm. 141 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1), 2001 12 . Puccinia paraensis Dietel, Ann. Mycol. 6: 96. 1908. Tipo: sobre Gouania pyrifolia Reiss (Rhamnaceae), Brasil, Pará, Belém, bairro do Marco, Dezembro de 1907, C. F. Baker-60 (Figuras 26-28). Espermogônios anfígenos, 0,1 -0,4 mm, pretos, com filamentos ostiolares. Écios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, superfície adaxial côncava, geralmente formam galhas, soros agrupados, algumas vezes confluentes, 1-2 mm transversalmente, marrom; esporos originados em pedicelos, 27-36 x 18-30 pm, obovóides a subglobosos, parede ( 1 -) 1 .5-2 pm, marrom claro, equinulada, com áreas lisas equatoriais, 2-3 poros germinativos. Uredínios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, não formam galhas, soros dispersos, 1-2 mm transversalmente, amarelo; esporos com a mesma morfologia dos eciosporos, algumas vezes misturados com os teliosporos. Télios abaxiais, em manchas irregulares, soros isolados ou agrupados, 1-2 mm transversalmente, branco; esporos, 30-47 x 20-25 pm, elipsóides a oblongos, arredondados no ápice e angulares na base, pouco constricto na região do septo, bicelulares, septo transversal, parede 0.5-1 pm, uniforme, hialina, lisa, pedicelo quebradiço. Espécimes estudadas: Sobre Gouania pyrifolia Reiss, (Rhamnaceaea), Amaparí: 6 de Janeiro de 1990, J. Hennen & H. Sotão 90-08, soros 0, 1, II, III; 90-17, soros I, II, III; Mazagão: 26 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.21, soros II, III; Mazagão: 30 de Julho de 1992, H. Sotão 92.02.06, soros 11,111; Macapá: 24 de Julho de 1995, H. Sotão 95-222, soros II, III; sobre Gouania sp., Amaparí: 20 de Setembro de 1994, H. Sotão 94.02.13, soros II, III; Mazagão: 22 de Setembro de 1994, H. Sotão 94.02.32, soros I,II, III; 27 de Julho de 1995, H. Sotão 95- 246, soros II, III. Comentários: Dietel (1909) republicou a diagnose de Puccinia paraensis publicada em 1908, mas em ambas publicações não Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 26 - 28 - Puccinia paraênsis. 26 - Urediniosporos (U) e teliosporos (T), foco médio (espécime J. Hennen & H. Sotão 90-63, Maranhão). 27 - Mesmo campo da Fgura 26, com foco da superfície evidenciando as equinulações da parede dos urediniosporos e áreas lisas equatoriais. 28 - Teliosporos (espécime J. Hennen & H. Sotão 90-63, Maranhão). Barra = ca 13.3 pm. 143 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 descreveu os espermogônios. Jackson (1931B) faz referência aos espermogônios que ocorrem entre os écios e são anfígenos. Os urediniosporos e os télios são abaxiais e dispersos. Viennot-Bourgin (1953) diz que os soros primários dos uredínios de P. paraènsis são écios uredinióides. Esta publicação tem muitas informações sobre a espécie, incluindo comparações e afinidades com outras espécies de Uredinales que ocorrem em Gouania. Hennen et al. (1982) citam para o Brasil três espécies de Puccinia parasitando Gouania: P. gouaniae Holway ( Ann. Myc. 3:21.1905), P. invaginata Arthur & Johnston (Mem. Torrey Club. 17:146. 1918, anamorfo Uredo gouaniae Ellis & Kelsey, Buli. 24:209.1897) e P. paraènsis Dietel. A característica morfológica mais evidente para diferenciar as três espécies é a parede dos teliosporos, pois P. gouaniae e P. invaginata apresentam paredes ornamentadas e pigmentadas. P. paraènsis tem parede lisa e hialina. Em P. gouaniae a parede dos teliosporos é tuberculada e em P. invaginata a parede é verrucosa. Esta espécie também é citada para a África sobre Gouania longipetata Hemsley (Viennot-Bourgin 1953). Para uma melhor ilustração utilizou-se o espécime J. Hennen & H. Sotão 90-63, procedente de São Luís, estado do Maranhão. 13 . Puccinia psidii Winter, Hedwigia 23:171. 1884. Tipo: sobre Psidium guajava Linnaeus, reportada como “ Psidium pomiferum ” (Myrtaceae), Brasil, Santa Catarina, São Francisco , Abril de 1884, E. Ule-14 (Figuras 29-31). =Puccinia jambosae P. Hennings, Hedwigia 41:105. 1902. Tipo: sobre Syzygiwn jambos (Linnaeus) Alston, reportada como “Jambosa vulgaris De Candolle”, Brasil, São Paulo, 7 de Maio de 1901, Putternans-223 . Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia =Puccinia cambucae Puttemans em Rangel, Arch. Mus. Nac. Rio de Janeiro 18:153. 1916. Tipo: sobre Marlieria edulis Niedenzu, Brasil, São Paulo, Maio de 1911, Puttemans-41 1 . =Puccinia brittoi Rangel, Arch. Mus. Nac. Rio de Janeiro 18:154. 1916. Tipo: sobr e Abbevillea moschalanthe Berg. (atualmente Campomanesia maschalantha Kiaersk), Brasil, Rio de Janeiro, Janeiro de 1914, E.S. Britto-1036. -Puccinia barbacensis Rangel, Arch. Mus. Nac. Rio de Janeiro 18:154. 1916. Tipo: sobre Myrtaceae indeterminada, Brasil, Minas Gerais, Barbacena, Março de 1911, Puttemans-296. =Puccinia grumixamae Rangel, Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro 2:69. 1918. Tipo: sobre Eugenia brasiliensis Lamarck, Brasil, Rio de Janeiro, Rangel-1515. =Puccinia eugeniae Rangel, Arch. Mus. Nac. Rio de Janeiro 16:154. 1916. Tipo: sobre Eugenia grandis Wight, Brasil, São Paulo, Abril de 1901, Puttemans-261. -Puccinia jambolana Rangel, Boi. Agr. São Paulo 21:37. 1920. Tipo: sobre Syzygium jambolanum De Candolle, reportado como Eugenia jambolana Lamarck, 1912, Rangel-s/n. =Puccinia camargoi Puttemans, Boi. Mus. Nac. Rio de Janeiro 6:3 14. 1930. Tipo: sobre Melaleuca leucodendri Linnaeus, Brasil, São Paulo, Campinas, Julho de 1930, F. C. Camargo-s/n. =Puccinia actinostemonis H.S. Jackson & Holway, em Jackson, Mycologia 23:466. 1931. Tipo: sobre Myrtaceae indeterminada (originalmente foi erroneamente reportada como Actinostemon sp., Euphorbiaceae), Brasil, São Paulo, 27 de Fevereiro de 1922, Holway- 1600. 145 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Boi., 17(1), 2001 Anamorfo: Caeoma eugeniarum Link, em Linnaeus, Systema Vegetabilium Plant 2:29. 1825. Tipo: Literatura não encontrada para consulta. =Uredo neurophila Spegazzini, Anal. Soc. Cient. Argentina, 17:122-123. 1884. Tipo: sobre Myrtaceae indeterminada, Paraguai, Villa Rica, Janeiro de 1882, Balansa-3466. ( Fungi Guaranitica pug. 1, número 143) =Puccinia neurophila (Spegazzini) Spegazzini, Revista Argentina Bot. 1:120. 1925. Télios não descritos. =Uredo flavidula Winter, Hedwigia 24:260. 1885. Tipo: sobre Myrtaceae indeterminada. Brasil, Santa Catarina, São Francisco, Setembro de 1884, E. Ule-41. =Uredo myrtacearum Pazschke, em Rabenhorst & Winter, Hedwigia 29:159. 1890. Tipo: sobre Eugenia sp., Brasil, Santa Catarina, Dezembro de 1883, E. Ule-10. =Uredo eugeniarum P. Hennings, Hedwigia 34:337. 1895. Lectotipo: sobre Eugenia sp., Brasil, Santa Catarina, Blumenau, data não reportada, Alfr. Moller-227. =Aecidium glaziovii P. Hennings, Hedwigia 36:216. 1897. Tipo: Myrtaceae indeterminada, Brasil, Rio de Janeiro, data não reportada, Glaziou-2062 1 . Identificado erroneamente como Aecidium. =Uredo pitanga Spegazzini, Anal. Mus. Nac. Buenos Aires 6:240. 1899. Tipo: sobre Stenocalyis pitanga Berg., Uruguai, Dezembro de 1881, J. Arechavaleta-s/n. =Uredo puttemansii P. Hennings, Hedwigia 41:106. 1902. Tipo: sobre Myrtaceae indeterminada, provavelmente Leucodendron sp.. Brasil, São Paulo, Puttemans-197. Reportada erroneamente como Acacia, Leguminosae. Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia =Uredo goeldiana P. Hennings, Hedwigia Beiblatt 42: 1 88. 1903. Tipo: sobre Eugenia sp., Brasil, Pará, Belém, 1883, Goeldi-s/n. =Uredo rochaei Puttemans, Revista Polytechnica de São Paulo 11:272. 1906. Tipo: sobre Myrciaria jaboticaba Berg, atualmente Myrcia jaboticabal Berg, Brasil, São Paulo, São Paulo, data não reportada, A. Rocha-s/n. =Uredo myrciae Mayor, Mem. Soe. Neuchatel. Sei. Nat. 5:590. 1913. Tipo: sobre Myrcia cf. acuminata (Humboldt, Bonpland & Kunth) De Candolle., Colombia, Medellin, data não reportada, Mayor-210. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredinios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros ovais ou oblongos, subepidermal em origem, algumas vezes tardiamente erumpentes, pulverulentos, 0.5- 1.5 mm transversalmente, amarelo- laranja quando fresco, tornando-se creme; esporos 15-27 x 14-19 pm, elipsóides a ovóides, parede, 1.5-2. 5 pm de espessura, hialina ou amarelo claro, uniformemente equinulada, poros germinativos obscuros. Télios não observados no material do Amapá; teliosporos em uredinios, 22-35 x 15-23 pm, elipsóides ou ovóides, redondos no ápice, estreitos ou esféricos na base, ligeiramente constrictos no septo, parede 1-1.5 pm de espessura, uniforme, marrom claro, pedicelo decíduo. Espécimes estudados: Sobre Myrcia sp. (Myrtaceae), Macapá: 19 de Setembro de 1994, H. Sotãio 94.02.01, soros II, (III); Porto Grande: 20 de Setembro de 1994, H. Sotão 94.02.06, soros II, (III); sobre Myrtaceae indeterminada, Macapá: 6 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-92, soros II (III); Mazagâo Novo: 12 de Dezembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-118, soros II (III); Porto Grande: 5 de Janeiro de 1990, J. Hennen & H. Sotão 90-06, soros II, (III). 147 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Comentários: Puccinia psidii é uma espécie nativa das regiões neotropicais, sendo referida da Flórida nos Estados Unidos da América até as províncias do nordeste da Argentina. Têm sido citados como hospedeiros desta ferrugem, pelo menos quatorze gêneros da família Myrtaceae, entre estes estão espécies dos gêneros Callistemen, a Eucalypíus, Melaleuca e Syzygium, nativos da Asia e Austrália que foram introduzidos no neotrópico. Esta ferrugem pode causar muitos danos às plantas cultivadas da família Myrtaceae como Eucalyptus , goiabeira ( Psidium ), jambeiro {Eugenia) e jabuticabeira {Eugenia). Quando frescas, as infecções são de cor amarelo-laranja, brilhante, devido a esporulação pulverulenta, e podem ocorrer nas folhas jovens, caules e frutos. Hennen et al. (1982) listam 23 nomes, entre anamorfo e teleomorfo, como sinônimos de Puccinia psidii. De acordo com o Código Internacional de Nomenclatura Botânica, os nomes anamorfos devem ser separados dos teleomorfos porque eles não são sinônimos de nomes teleomorfos, exceto quando uma descrição teleomorfica o incluiu em sua descrição original. Puccinia rompelli P. Magnus em Rich (Ann. Mycol. 5:29. 1907), foi listado nas quatro primeiras edições de Lindquist (1982) como um dos sinônimos de P. psidii, embora questionada a identificação do hospedeiro se era uma Myrtaceae. Neste trabalho foi excluído P. rompelli dos sinônimos, porque a parede dos teliosporos são mais engrossadas que em P. psidii e o hospedeiro provavelmente não seja Myrtaceae. A ferrugem das coleções em Campomanesia aurea Berg do Rio Grande do Sul (Lindquist & Costa Neto 1 963: 1 32) e de Santa Catarina (PUR-F 17736) foi reindentificada, como Phakopsora rossmanii Dianese et al. Figuras 29-31 - Puccinia psidii. 29 - Urediniosporos, foco médio (espécime J. Hcnnen & H. Sotão 87- 1 1 8). 30 - Mesmo campo da figura 29, com foco da superfície evidenciando as equinulações da parede. 31 - Teliosporos (t) e Urediniosporos (u) (espécime J. Hennen & M. Hennen 77-125, São Paulo). Barra = ca 12.5 pm. 149 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia cm Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Figueiredo et al. (1984) apresentam estudos desta ferrugem com referências de que o ciclo de vida desta espécie seja provavelmente autoécio, sem fase espermogonial (0) e com fase ecial de morfologia semelhante à fase uredinial. Os resultados obtidos dos experimentos utilizando inoculações cruzadas de diferentes gêneros de hospedeiros, indicaram que existem algumas especializações fisiológicas em várias populações. Os soros teliais dos espécimes estudados não são puros, estando sempre presentes urediniosporos e teliosporos. Uredo subneurophila Spegazzini, publicado em “Fungi Guaran. Pug. l”(em An. Soc. Cient. Argentina 17(3): 123. 1884 - espécie de número 144, Paraguay: Julho de 1883, Balansa 3800), foi reportado sobre Psidium sp. (Myrtaceae). Este é o basiônimo de Puccinia subneurophila (Spegazzini) Spegazzini, publicado em Rev. Argentina Bot. l( 2 /3): 120. 1925. Estes dois nomes foram erroneamente citados por P. Sydow & H. Sydow (1902-1904), Jackson (193 1B) e Lindquist (1982), como sinônimos de Puccinia psidii Winter. Uma excicata com um fragmento do isotipo de Uredo subneurophila depositado em PUR tem desenho ilustrando um grupo de esporos deste fungo feito por F.D. Kern em 6 de Março de 1903 e tem anotações feita por uma pessoa não especificada que diz: “not a rust” (não é ferrugem). O desenho mostra um sinêmio supraestomatal com longo rostro. Este raro tipo de soro caracteriza uma nova espécie de anamorfo, não nomeada para os gêneros de ferrugem, mas foi coletado por Hennen no estado de São Paulo, Brasil sobre uma espécie de Apocynaceae indeterminada. Uma comparação da ferrugem e dos hospedeiros destas coleções mostra que o hospedeiro de Uredo subneurophila está em Apocynaceae, não em Myrtaceae, e a ferrugem é a mesma espécie das coletadas em São Paulo. Portanto, neste trabalho U. subneurophila foi retirado dos sinônimos de P. psidii. Para uma melhor ilustração utilizou-se o espécime J. Hennen & M. Hennen 77-125, procedente do estado de São Paulo. Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia 1 4 . Puccinia solan i-tristis P. Hennings, Hedwigia 35:236. 1896. Tipo: sobre Solanum triste Jacquin (Solanaceae), Brasil, Rio de Janeiro, Teresópolis, Serra do Mar, Dezembro de 1886, Ule-556 (Figura 32). Espermogônios, écios e uredinios não são produzidos. Télios abaxiais, em manchas semicirculares, soros puntiformes, agrupados, subepidermal em origem, cerosos e compactos 1-4 mm transversalmente, marrom; esporos 22-35 x 11-15 pm, oblongos a elípticos, geralmente constricto na região do septo, bicelulares, septo transversal, parede, 1(-1.5) pm, geralmente uniforme, raramente espessada no ápice, 2-4 pm, amarelo, Claro, lisa, pedicelo, hialino, persistente ou quebradiço, mesosporos algumas vezes presentes (20- 25 x 12-15 pm). Espécimes estudados: Sobre Solanum sp. (Solanaceae), Laranjal do Jari: 13 de Abril de 1987, J. Hennen 87-43, soro III; 14 de Abril de 1987, J. Hennen 87-46, soro III; Macapá: 28 de Julho de 1995, H. Sotão 95-253, soro III. Comentários: Na descrição original, P. Hennings descreve urediniosporos de P. solani-tristis, entretanto P. Sydow & H. Sydow (1902-1904) comentam não ter observado urediniosporos no espécime tipo, mas dizem que há presença de mesosporos e que algumas células apicais dos teliosporos podem ser decíduas. Kern (1933) apresenta um estudo das espécies de Puccinia microcíclicas em Solanum, as quais estão referidas nos comentários de Puccinia claviformis. Nos comentários de Puccinia claviformis apresentados acima estão as comparações das espécies de Puccinia que parasitam o gênero Solanum no estado do Amapá. 15. Puccinia thaliae Dietel, Hedwigia 38:250. 1899. Tipo: sobre Thalia dealbata Fraser (Marantaceae), Brasil, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Março 1898, E. Ule-1044 (Figuras 33-35). 151 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1). 2001 -Puccinia cannae P. Hennings, Hedwigia 41:105. 1902. Tipo: sobre Canna sp. (Cannaceae), Brasil, São Paulo, São Paulo, Horto Botânico (atualmente Horto Florestal), 23 de Abril de 1901, Puttemans-208. Anamorfo: Uredo cannae Winter, Hedwigia 23:172. 1884. Tipo: sobre Canna sp. (Cannaceae), Brasil, Santa Catarina, São Francisco, 23 Abril de 1901, E. Ule-19. =Uredo ischnosyphonis P. Hennings, Hedwigia 43:164.1904. Tipo: sobre Ischnosyphon leucophaeus Schumann (Marantaceae), Brasil, Amazonas, Rio Jurua - Mirim, Setembro 1901, E. Ule-2695. =Dicaeoma cannae (Winter) Arthur, North Amer. Fl. 7(5):380. 1920. Tipo: o mesmo de Uredo cannae Winter. Espermogônios e écios desconhecidos. Uredinios anfígenos, predominantemente abaxiais, em manchas irregulares, soros dispersos ou agrupados, subepidermal em origem, posteriormente erumpentes, pulverulentos, 0.1 -0.5 mm transversalmente, amarelo claro; esporos 21-32 x 18-25 pm, ovóides a piriformes, parede 1 (- 1 .5) pm, hialina, equinulada. Télios abaxiais, em manchas irregulares, soros dispersos ou agrupados, algumas vezes ao redor dos uredinios, subepidermal em origem, não erumpentes, 0.2-0. 5 mm transversalmente, preto a marrom; esporos 35-53 x 13-22 pm, clavados a lineares, arredondados, truncados ou ponteagudos no ápice, atenuados na base, com ou sem constrição na região do septo, bicelulares, septo transversal, parede lateral 1-1.5 pm de espessura, espessada no ápice, 2-4 pm, parede da célula superior de coloração castanha, parede da célula inferior castanho claro, lisa, pedicelo curto, hialino, quebradiço. Espécimes estudados: Sobre Calathea sp. (Marantaceae), Mazagão Novo: 27 de Julho de 1995, H. Sotão 95-243, soro II (III); Ferreira Gomes: 25 de Junho de 1991, H. Sotão 91.02.20, soro III; Macapá: 07 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia de Dezembro de 1992, H. Sotão 920507, soro II; sobre Ischnosiphon leucophaeus (Poepp.) Kaern. (Marantaceae), Tracajatuba do Piriri: 02 de Agosto de 1992, H. Sotão 92.02.15, soro II. Sobre Canna indica Linnaeus (Cannaceae), Mazagão Novo: 13 de Novembro de 1987, J. Hennen & H. Sotão 87-119, soro II. Comentários: P. thaliae Dietel tem como hospedeiros espécies das famílias Cannaceae e Marantaceae (Hennen et ai, 1982), as quais têm distribuição geográfica referidas para índia, América Central e América do Sul. Neste trabalho apresenta-se sobre um novo hospedeiro para o Brasil, Calathea sp. (Marantaceae), o qual foi referido por Kern (1938) para Venezuela, Panamá e Porto Rico. P. Hennings (1902) foi quem descreveu pela primeira vez juntos os urediniosporos e teliosporos desta ferrugem, colocando Uredo cannae Winter (anamorfo) como sinônimo de P. cannae. Nos espécimes estudados houve variações das medidas dos esporos em relação às referidas na descrição original do espécime tipo, urediniosporos (28-40 x 20-25 mm), teliosporos (50-83 x 14- 21 mm) e parede apical dos teliosporos medindo 2-7 mm, as quais são maiores do que as apresentadas neste trabalho. Esta ferrugem é de interesse econômico por parasitar Canna, uma espécie ornamental bastante utilizada no Brasil AGRADECIMENTOS Ao Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto Edstadual de Pesquisa do Amapáe BRIT pelo apoio na realização deste trabalho. Aos parataxonomistas da Coordenação de Botânica do MPEG, pela identificação ou confirmação das plantas hospedeiras. 153 SciELO 11 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figuras 32 - 33 - Teliosporos de Puccima solani-tristis (espécime J. Hennen 87-43). Barra = ca 13.3 (Jin. 33 - Télio loculado com teliosporos de Puccinia thaliae (espécime H. Sotão 91.02.20). Barra = ca 12.5 pm. SciELO Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia Figuras 34 - 35 - Puccinia thaliae Dietel. 34 - Urediniosporos (espécime H. Sotão 95-243). 35 - Teliosporos (espécime H. Sotão 91.02.20). Barra = ca 12.5 pm. 155 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Tabela 1 - Lista das espécies de Puccinia identificadas para o estado do Amapá, por Família e Gênero dos Hospedeiros. Famílias dos Hospedeiros Uredinales/ N° Coletas Gêneros dos Hopedeiros ASTERACEAE P. cnici-oleracei 2 Eleutheranthera (COMPOSITAE) 1 Emilia 2 Melampodium 1 Spilhanthes CANNACEAE P. thaliae 1 Canna CYPERACEAE P. flavo-virens 5 Cyperus P. minuta 3 Indeterminada FABACEAE (LEGUMINOSAE) P arachidis var. ojfuscata 1 Zornia MALPIGHIACEAE P insueta 3 Stigmaphyllon MALVACEAE P. heterospora 1 Winssadula MARANTACEAE P thaliae 3 Calathea 1 Ischnosiphon MYRTACEAE P. psidii 2 Myrcia 3 Indeterminada POACEAE P. bambusarum 7 Pariana (GRAMINEAE) P obliquo-septata 2 Olyra RHAMNACEAE P. paraênsis 8 Gouania RUBIACEAE P. palicoureae 8 Palicourea SOLANACEAE P claviformis 1 Solanum P. solani-tristis 3 Solanum SCHIZEACEAE (PTERIDÓFITA) P. lygodii 2 Lygodium 156 2 3 4 SciELO cm 10 11 12 13 14 15 Uredinales do estado do Amapá: gênero Puccinia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTHUR, J.C. 1906. New SpeciesofUredineae V. Buli. TorreyBot. Club 33:513-522. ARTHUR, J.C. 1918. 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Recebido em: 04. 1 1 .99 Aprovado em: 07.1 1.00 159 SciELO 11 CDD: 581.526367 FITOSSOCIOLOGIA DAS FORMAÇÕES HERBÁCEAS DA RESTINGA DO CRISPIM, MARAPANIM-PA Salustiano Vilar da Costa Neto 1 Oberdan José Pereira 2 Maria de Nazaré do Carmo Bastos João Ubiratan Moreira dos Santos 4 Dário Dantas do Amaral 3 RESUMO - A caracterização estrutural das formações vegetais da restinga do Crispim, no município de Marapanim, estado do Pará, foram efetuados dois perfis perpendiculares à linha de praia, um no período chuvoso e outro no seco, ambos iniciando na praia e estendendo-se até o contato da última formação com a faixa de manguezal que a delimita. Ao longo desses perfis foram realizados levantamentos fitossociológicos e florísticos, em 100 parcelas de 1 m 2 , nos dois períodos, onde foram registrados o número e a cobertura percentual de cada espécie. Os resultados definiram três formações vegetais: halófila, localizada em região plana, logo após a zona de estirâncio, tendo como espécies dominantes Sesuvium portulacastrum L. e Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears.; psamófila reptante, 1 IEPA-Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. Centro de Pesquisas Zoobotânicas e Geológicas/Divisão de Botânica. Rod. JK, Km. 10, s/n. (Fazendinha). Cep68902-280, Macapá-AP. E-mail: salucosta@zipmail.com.br 2 UFES-Universidade Federal do Espírito Santo. Depto. de Biologia. Professor. Av. Flávia Abaurre 138/201 (Lourdes). Cep 29040-080, Vitória-ES. E-mail: oberdan@nutecnet.com.br 3 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Botânica. Pesquisador. Caixa Postal 399. Cep 66.040-170, Belém-PA. E-mails: nazir@museu-goeldi.br; dario@museu-goeldi.br 4 FCAP-Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Professor visitante. Av. Perimetral, 2501. Cep 66075-650, Belém-PA. E-mail: bira@museu-goeIdi.br 161 SciELO 11 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 situada nas primeiras cristas praiais, que tem como espécies dominantes Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. e Sporobolus virginicus (L.) Kunth.; e brejo herbáceo, que se encontra no reverso dos primeiros cordões arenosos, onde predominam Fimbristylis spadicea (L.) Vahl, Paspalum vaginatum Sw. e Sporobolus virginicus (L.) Kunth. PALAVRAS-CHAVE: Fitossociologia, Restinga, Vegetação costeira, Amazônia. ABSTRACT - In order to determine the structural characteristics of vegetation of the oceanic dunes of Crispim, Marapanim Municipality, Pará State. Northern Brazil, two planimetric profües xvere made along transect lines set perpendicular to the beachfront and running inland to the delimiting mangrove forest. One profde was made in the wet (rainy) season, and the other during the dry season. Phyto-sociological and floristic inventories were made along these profües, with the use of 100 quadrates of 1 m 2 in which the abundance and percentage contribution to the vegetation cover of each species. The results indicate that there are three vegetation formations. Halophyte the first is located on the flat surface just behind the tidal zone and Sesuvium portulacastrum L and Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears. Are the dominant species. The second formation is of decumbent psammophytes and is located on the first beach crests. Ipomoea imperati (Vahl.) Griseb. and Sporobolus virginicus (L.) Kunth. Are the dominant species. The third formation is of herbaceous swamp vegetation and is located immediately inland of the first sandy beach crests (swells). The predominant species are Fimbristylis spadicea (L.) Vahl., Paspalum vaginatum Sw. and Sporobolus virginicus (L.) Kunth. KEY WORDS: Phyto-sociological, Restinga, Coastal vegetation, Amazon. INTRODUÇÃO A costa brasileira estende-se do Oiapoque, no Amapá, na lati- tude 04°52’45” Norte, ao Arroio Chui, no Rio Grande do Sul, na longitude 33°45’ 10” Sul, num total de 8.728 km de extensão. Desta, 162 SciELO Filossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. aproximadamente 5.000 km são ocupados por restingas, tendo seu ponto setentrional no estado do Pará, mais precisamente em Salva- terra, na ilha de Marajó, a 0 o de latitude (Plano... 1995). As formações de restingas mais próximas à praia são as mais bem estudadas, tendo sido abordados, os aspectos fitossociológicos, como pode-se verificar nos trabalhos de Bastos (1988, 1996); Thomaz (1991); Pereira et al. (1992); Oliveira-Filho (1993); Thomaz & Mon- teiro (1993); Pereira (1995); Menezes (1996); Almeida & Araújo (1997) e Assunpção & Nascimento (1998). Outros autores vêm se dedicando ao estudo desta vegetação na região norte brasileira, destacando-se aqueles que tratam da classifi- cação das formações vegetais que compõem a restinga como Santos & Rosário (1988), Costa-Neto et al. (1995), Bastos etal. (1995) e Bastos (1996). Neste trabalho, foi analisada a estrutura da vegetação na faixa próxima a praia, assim como da possível existência de três comu- nidades distintas no cordão arenoso externo da restinga da praia do Crispim. MATERIAL E MÉTODOS A área estudada situa-se na praia do Crispim, na porção interna da baía de Marapanim, a 8 km da vila de Marudá, município de Mara- panim, no litoral nordeste do estado do Pará, entre as coordenadas geográficas 00°37’06” a 00°34’42”S e 47°40’24” a 47°38’00”W (Figura 1). Está localizada em uma zona de estuário dominado por marés, onde sofre processos que resultam em uma área de energia mista. Foram realizadas coletas de material botânico, após o período de maior intensidade pluviométrica (chuvoso), no mês de junho e no de 163 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli. sér. Bot., 17(1). 2001 menor intensidade (seco), no mês de novembro, obedecendo-se a metodologia convencional, ou seja, cada amostra foi composta de um ou mais ramos com flor e/ou fruto, que foram herborizados segundo técnicas habituais (Fidalgo & Bononi 1984). A similaridade florística foi utilizada na comparação entre as for- mações halófila e psamófila reptante e outros trabalhos que utilizaram levantamentos fitossociológicos, ao longo do litoral brasileiro. O índice utilizado foi de S(J)rensen (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). A área foi inventariada por meio do método de parcelas (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974), para obtenção dos parâmetros fitossociológicos de dominância e frequência absolutas e relativas e índice de valor de importância (Brower & Zar 1984). A densidade não foi calculada, em virtude da existência de plan- tas com hábitos estolonífero, rizomatoso ou touceira, impossibilitando assim a delimitação dos indivíduos e, conseqüentemente, sua quantificação. A obtenção dos dados de campo para cada uma das comunidades analisadas, foi realizada através do estabelecimento de uma linha base de 100 metros de comprimento, paralela à praia, na qual foram esco- lhidos cinco pontos, utilizando-se a tabela de números aleatórios. A partir destes, e perpendicularmente à base, foram lançadas 20 parcelas contíguas, tendo cada uma lm 2 , dispostas à esquerda e à direita da linha. Em cada quadrado foram anotados os seguintes dados: espécie, cobertura percentual das espécies e porcentagem de área com detritos e desnuda (sem vegetação). Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, - Marapanim-P A. Foi utilizado teste t para comparação estatísticas das médias das coberturas entre o período chuvoso e seco das formações psamófila repatente e brejo herbáceo, com auxílio do Programa ORIGEN. RESULTADOS E DISCUSSÃO Formação Halófila A formação halófila está situada logo após a zona de estirando, sobre pequenas elevações de até 30 cm de altura, sendo eventualmente lavada pela marés de equinócio, de sizígia e de tempestades, fato este também observado por Pereira et al. (1992) para um trecho de res- tinga, da porção frontal de dunas em Guarapari, no estado do Espírito Santo. Devido a sua proximidade com a praia, é a comunidade que está sujeita a uma maior influência do “spray” salino (Oosting 1945; Boyce 1954), com espécies adaptadas a altas salinidades, algumas vezes suculentas (Bernardi et al. 1987), apresentando órgãos resist- entes ao soterramento, sendo um primeiro obstáculo à movimentação de areia (Pfadenhauer 1978). Esta comunidade é referida para o Rio de Janeiro por Araújo & Henriques (1984) e por Pereira (1990) para o estado do Espírito Santo. Entretanto, Thomaz (1991); Almeida & Araújo (1997) e Menezes (1996), em virtude de não terem encontrado uma delimitação, com base florística e estrutural, aglutinam esta com a psamófila reptante, denominando-a de halófila/psamófila. Na estação chuvosa são observados nesta formação propágulos de espécies obrigatórias de manguezal, que são lançadas à praia pela preamar, chegando em determinados trechos, a uma fase inicial de desenvolvimento, entretanto, não atingem o estádio adulto, provavel- mente por não estarem em sedimentos apropriados, como referido por Schaeffer-Novelli (1987) e Adaime (1987). 165 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 1 - Localização da área da restinga do Crispim, município de Marapanim-PA. Na formação halófila no período chuvoso são encontradas ape- nas as espécies Sesuviwn portulacastrum L. (Aizoaceae), Sporobolus virginicus (L.) Kunth (Poaceae) e Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears (Amaranthaceae), tendo a primeira maior valor de importância (VI) (Tabela 1). Na estação seca nenhuma espécie esteve presente nas unidades amostrais, em virtude das marés de equinócio e sizígia, com amplitude máxima de 5,6 metros (DHN, 1993), que ocorreram no período de coleta, alterando a topografia da área e a estrutura da formação. Filossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. Tabela 1 - Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação halófila, no período chuvoso; ordenados de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim, Pará. DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = frequência absoluta; FR = freqüência relativa (%); VI = Valor de importância. Espécie DoA DoR FA FR VI 1 .Sesuvium portulacastrum 1,02 48,11 0,10 35,71 83,82 2. Sporobolus virginicus 0,69 32,55 0,08 28,57 61,12 3. Blutaparon portulacoides 0,41 19,34 0,10 35,71 55,05 Os valores e as posições obtidas para as espécies, em função dos valores de importância, são iguais às das famílias, pois estas estão rep- resentadas por uma única espécie. Sesuvium portulacastrum L. e Sporobolus virginicus (L.) Kunth aparecem na primeira e segunda posição respectivamente em relação ao valor de importância (VI) em função de suas dominâncias, e Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears aparece na terceira posição, embora com valor de freqüência, igual ao de Sesuvium portulacastrum L. O estudo comparativo entre a formação analisada, caracterizada como formação halófila e outros semelhantes do litoral brasileiro, torna-se difícil, uma vez que alguns autores como Thomaz (1991), Pereira et al. (1992) e Menezes (1996) tratam-na associada a formação psamófila reptante, e em seus estudos utilizam diferentes números de parcelas, o que influencia a análise em virtude de alterações na freqüência. Nos dez trechos analisados por Thomaz (1991) para o estado do Espírito Santo, Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears ocorre em sete destes, estando posicionado, segundo o índice de cobertura, na 5 a posição, para um total de 1 1 espécies por praia inventariada. 167 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Na primeira faixa do transecto analisado por Pereira (1995), para a restinga da Reserva Biológica de Comboio (ES), Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears está na 5 a posição em relação à freqüên- cia absoluta das sete espécies encontradas, enquanto que no estado do Rio de Janeiro, esta espécie divide a primeira posição com Ipomoea pes-caprae Roth. de num total de oito espécies (Almeida & Araújo 1997). A ausência de Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears em determinados trechos do litoral, parece estar associada à dinâmica de praia, principalmente onde ocorrem formações dunares (Pereira 1990 e Silva & Somner 1984). Este fato também foi observado por Bemadi et a/. (1987) que, estudando os efeitos da ressaca sobre esta espécie, nas dunas no estado do Rio Grande do Sul, constaram que a mesma e sujeita à destruição total ou parcial de sua população, recuperando-se após estes eventos. Formação Psamófila Reptante Localizada após a formação halófila, esta formação ocupa as primeiras cristas de praia (beach ridge), que variam de 1 a 3 m de altura, paralela à linha de costa, composta por espécies estoloníferas e rizomatosas, de rápido crescimento (Araújo & Henriques 1984), for- mando um emaranhado capaz de reter a areia deslocada pelo vento, atuando desta forma eficientemente na fixação destes cordões (Trindade 1982). Na formação psamófila reptante, no período chuvoso, foram amostradas nove espécies pertencentes às famílias Convolvulaceae, Poaceae e Fabaceae, com duas espécies cada uma, seguida das Asteraceae, Chrysobalanaceae e Cyperaceae, com uma espécie cada. No período seco foram amostradas seis espécies pertencentes às Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. Convolvulaceae e Poaceae, cada uma com duas espécies e Fabaceae e Asteraceae, ambas com uma única espécie . Em vários trechos do litoral brasileiro, na formação psamófila reptante, as famílias Poaceae e Fabaceae apresentam-se com um número maior de espécies (Thomaz 1991; Pereira et al. 1992; Oliveira-Filho 1993; Bastos 1996; Menezes 1996; Almeida & Araújo 1997; Assumpção 1998), enquanto para o Rio Grande do Sul, a família dominante é Asteraceae, seguida das Cyperaceae e Poaceae (Cordazzo & Seeliger 1987). Do período chuvoso para o seco foi observada uma pequena redução no número de famílias e, consequentemente, no número de espécies. Todavia, tal diferença específica não deve caracterizar sazonalidade, isto porque as espécies que ocorrem em um único período, são oriundas de outras formações vegetais, que invadem a área ocasionalmente mas, não se estabelecem. As famílias melhor representadas na formação psamófila reptante, nos dois períodos analisados, com relação ao valor de importância (VI), foram Convolvulaceae, Poaceae e Fabaceae (Figura 2). Os valores de importância de Convolvulaceae foram muito próximos, em ambos os períodos, com aproximadamente 50 % do total deste parâmetro. Na costa norte da Paraíba, as Convolvulaceae, segundo Oliveira Filho (1993) ocupam o segundo valor de dominância, considerando um transecto de 2.400 metros, dividido fisionomicamente em sete subtipos de vegetação, estando representada apenas nos dois primeiros. Menezes (1996), em um trecho do Rio de Janeiro, encontrou esta família como uma das mais bem representadas. Ainda, naquele estado, Almeida & Araújo (1997) e Assumpção (1998), para as restin- 169 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 gas de Jacarepiá e Grussaí/Iquipari, respectivamente citam as Convolvulaceae na segunda posição em dominância na formação halófila/psamófila. No Espírito Santo, Thomaz (1991) observou que esta família é importante na estrutura da comunidade, ocorrendo na primeira posição de acordo com o valor de cobertura (VC), em 40 % dos dez trechos estudados, e no restante, ocupa a segunda e terceira posições. Em mais três setores do litoral do Espírito Santo, junto à divisa dos municípios de Vila Velha e Guarapari, as Convolvulaceae ocupam a segunda posição com relação a dominância, nas áreas investigadas (Pereira et al. 1992). Pereira (1995), analisando um trecho da restinga de Comboios (ES), destaca duas formações halófila/psamófila e graminóide com arbusto, onde observou que as Convolvulaceae ocorrem sazonalmente com valores de dominância muito semelhantes em quatro períodos considerados, não chegando, entretanto, a ocupar as primeiras colo- cações com relação à dominância. Das famílias encontradas por Bastos (1996), nos períodos chu- voso e seco, Convovulaceae apresentou os maiores valores de dominância, ocupando a primeira colocação, isto deve-se ao hábito reptante com estolões de crescimento rápido, cobrindo uma grande área. Nas restingas a formação halófila/psamófila reptante apresenta Poaceae como a mais importante família com relação a dominância, Thomaz (1991), Pereira et al. (1992), Oliveira Filho (1993), Pereira (1995) e Assumpção (1998), exceto o trecho analisado por Menezes (1996) na restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro, onde ela aparece na quarta posição. Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. Com relação à Fabaceae, que na área de estudo atingiu a terceira posição em dominância, apenas nas praias de Carapebus e Carais, no Espirito Santo, segundo Thomaz (1991) e Pereira et al. (1992), ela aparece na mesma posição. Entretanto, está sempre presente, porém com valores menores de dominância, em diversas partes do litoral brasileiro (Thomaz 1991; Pereira 1995; Bastos 1996; Menezes 1996; Almeida & Araújo 1997 e Assumpção 1998). Quando comparados os períodos chuvoso e seco (Tabelas 2 e 3), constata-se que, no primeiro, o número de espécies é 33 % maior que no segundo, havendo uma tendência à diminuição significativa nos valores absolutos de dominância para Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. e Canavalia rosea (Sw.) DC. para o período seco, no entanto, não significativo para Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb. ( t = -0,76, a < 0,05, n = 100). Figura 2 - Famílias amostradas na formação Psamófila Reptante de acordo com a porcentagem dc valor de importância (VI), período chuvoso e seco. Restinga do Crispim, município de Marapanim-PA. 171 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 A Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. representa mais de 40% da dominância relativa, em ambos os períodos, mesmo com o período chuvoso apresentando maior número de espécies. Nos trabalhos realizados na restinga do estado do Rio de Janeiro por Menezes (1996), Almeida & Araújo (1997) e Assumpção (1998), Ipomoea imperati (Vahl.) Griseb. ocorreu como uma das mais domi- nantes, e mantém esta tendência em alguns pontos do litoral do Espírito Santo (Thomaz 1991). Por outro lado, em outros locais amos- trados na mesma região, os valores deste parâmetro podem ser muito inferiores aos das outras espécies, inclusive podem não estar presentes em determinadas áreas (Thomaz 1991; Pereira et al. 1992; Pereira, 1995). Oliveira Filho (1993), para o litoral da Paraíba e Bastos (1996), para o litoral do Pará, também registraram ausência desta espécie em suas amostragens. Comparando os valores de dominância para Sporobolus virginicus (L.) Kunth ao longo do litoral brasileiro, nota-se que esta espécie ocupa a primeira posição somente na costa norte da Paraíba (Oliveira Filho 1993). Os trabalhos de Menezes (1996), Almeida & Araújo (1997) e Assumpção (1998), para o Rio de Janeiro, apresentam valores menores em relação as demais espécies, assim como no estado do Espírito Santo, onde não chegou a ser detectada, em algumas áreas inventariadas (Thomaz 1991; Pereira et al. 1992; Pereira 1995), ocorrendo o mesmo para a restinga da Princesa (PA), onde Bastos (1996) não cita a espécie para a formação psamófila reptante. Analisando os trabalhos de Pereira et al. (1992), Oliveira Filho (1993), Pereira (1995), Menezes (1996), Almeida & Araújo (1997) e Assumpção (1998), Canavalia rosea (Sw.) DC. tende a apresentar uma cobertura inferior aquelas de Ipomoea imperati (Vahl) Griseb., Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb. e Sporobolus virginicus (L.) Kunth. Em alguns trechos do litoral do Espírito Santo, analisados por Thomaz Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. Tabela 2 - Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação psamófila reptante, no período chuvoso; de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim, Pará. DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = freqiiência absoluta; FR = freqüência relativa (%); VI = Valor de Importância. Espécies DoA DoR FA FR VI 1 .Ipomoea imperati 25,20 47,23 0,95 32,87 80,10 l.Sporobolus virginicus 9,47 17,75 0,61 21,11 38,86 3. Canavalia rosea 9,16 17,17 0,59 20,42 37,59 4. Ipomoea pes-caprae 5,57 10,44 0,43 14,88 25,32 S.Paspalum vaginatum 2,91 5,45 0,22 7,61 13,06 6 Ambrosia microcephala 0,88 1,65 0,06 2,08 3,73 l.Vigna luteola 0,10 0,19 0,01 0,35 0,54 S.Chrysobalanus icaco 0,05 0,09 0,01 0,35 0,44 9 .Fimbristylis spadicea 0,02 0,04 0,01 0,35 0,39 Tabela 3 - Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação psamófila reptante, no período seco; de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim, Pará. DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = freqüência absoluta; FR = freqüência relativa(%); VI = Valor de Importância. Espécies DoA DoR FA FR VI 1 .Ipomoea imperati 16,41 40,86 0,99 41,95 82,81 l.Sporobolus virginicus 12,36 30,78 0,58 24,58 55,36 3. Ipomoea pes-caprae 4,69 11,68 0,33 13,98 25,66 4. Canavalia rosea 4,30 10,71 0,30 12,71 23,42 5.Paspalum vaginatum 0,95 2,37 0,11 4,66 7,03 6.Ambrosia microcephala 1,45 3,61 0,05 2,12 5,73 173 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 (1991), ela ocupa a primeira posição, com relação a este parâmetro. Na restinga da praia da Princesa não está presente nas amostragens (Bastos 1996). Com relação a dominância de Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb., Ipomoea imperati (Vahl) Griseb., Sporobolus virginicus (L.) Kunth. e Canavalia rosea (Sw.) DC., em diversos pontos do litoral brasileiro, parece não existir um padrão de cobertura que reflita um gradiente latitudinal (Thomaz 1991; Pereira et al. 1992; Oliveira Filho 1993; Pereira 1995; Bastos 1996; Menezes 1996; Almeida & Araújo 1997 e Assumpção 1998). Este padrão, muitas vezes, não existe nem mesmo no litoral de um mesmo estado, como se observa em Thomaz (1991). A baixa freqüência e dominância das espécies Vigna luteola (Jacq.) Benth., Chrysobalanus icaco L. e Fimbristylis spadicea (L.) Vahl. É devido as espécies não serem adaptadas à esta formação, sendo encontradas apenas, em estádio juvenil ou de plântulas, não chegando a se estabelecerem no local. Formação Brejo Herbáceo No reverso da crista praial ocorre o brejo herbáceo, com densa cobertura por herbáceas, além de outras lenhosas que ocorrem de maneira esparsa, como Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub. e Chrysobalanus icaco L. Esta formação apresenta, no período de maior intensidade de chuvas, uma lâmina d’água de cerca de 10 cm acima do solo. O brejo herbáceo encontra-se entre duas faixas de manguezal, paralelas à linha de praia, tendo a primeira indivíduos com altura em torno de 2 m, e a outra em torno de 4 m, predominando fisionomica- mentc Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. A entrada de água salgada na restinga, atingindo o brejo herbáceo, é também mencionada por Barros et al. (1991) para a ilha do Cardoso Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. (SP), e por Bastos (1996) para a praia da Princesa (PA), havendo em ambas estabelecimento de indivíduos de Laguncularia racemosa (L.) Gaertn., com pouco desenvolvimento. Na formação brejo herbáceo a família mais importante, em relação ao número de espécie, é Cyperaceae, com cinco, seguida de Convolvulaceae, Fabaceae e Poaceae, com duas cada. Esta formação ocorre em vários trechos do litoral brasileiro, com predominância de Poaceae e Cyperaceae (Reitz 1961; Pfadenhauer 1978; Lacerda et al. 1986; Silva & Oliveira 1989; Araújo & Henriques 1984; Carmo & Lacerda 1984; Pinto et al. 1984; Pereira 1990; Waechter 1990, Barros et al. 1991 ; Sá 1992; Bastos et al. 1995; Bastos 1996). Martins (1998) analisa as Cyperaceae de uma restinga de Guara- pari (ES) e encontra, em 14 ambientes, 39 espécies, das quais 25 ocorrem no brejo herbáceo, sendo 15 exclusivas desta formação, o que corresponde a 38 % do total encontrado. Das espécies citadas para o brejo, quatro estão presentes nesta formação na restinga do Crispim (PA). No levantamento florístico do brejo herbáceo, incluindo as espé- cies amostradas e coletadas no entorno das parcelas, foram encontradas 16 espécies, a maioria herbáceas, com apenas duas lenho- sas. Destas, sete espécies ocorrem somente nesta formação. As famílias com representantes lenhosos são mencionadas para os brejos das restingas do Brasil como tendo poucas espécies, sendo Melastomataceae referida por Araújo & Henrique (1984); Pereira (1990); Pereira & Gomes (1994) e Pereira etal. (1998), e Leguminosae por Araújo & Henrique (1984) e Waechter (1990). 175 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Bastos (1996), inventariando um brejo herbáceo para a praia da Princesa na ilha de Algodoal (PA), encontrou 60 espécies. Destas, 12 ocorrem nesta formação na praia do Crispim. Nesta formação, as famílias com os maiores valores de importân- cia (VI), nos períodos chuvoso e seco, são Poaceae e Cyperaceae, que juntas contribuem com mais de 90 % da cobertura total da área amos- trada e, com 50 % do número de espécies inventariadas (Figura 3). Figura 3 - Famílias amostradas na formação Brejo Herbáceo de acordo com a porcentagem de valor de importância (VI), período chuvoso e seco. Restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). Os trabalhos de fitossociologia desta formação para o litoral brasileiro são escassos, sendo em sua maioria referentes à análise qualitativa, enquanto que os direcionados a resultados quantitativos ficam limitados aos estudos de Bastos (1996). 176 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. No brejo herbáceo, na ilha de Algodoal (PA), Cyperaceae e Poaceae ocupam a primeira e segunda posição, nos períodos chuvoso e seco, em relação ao valor de importância (VI) (Bastos 1996). Neste trabalho estas são também as famílias melhor representadas, havendo entretanto, uma inversão em suas posições. No que se refere ao valor de importância (VI) e ao número de espécies, as Leguminosae têm importante papel no brejo herbáceo, na ilha de Algodoal, considerando o período chuvoso, uma vez que no seco, esta família está representada por uma única espécie, mantendo porém a mesma posição (Bastos 1996). No Crispim, ela está represen- tada por Vigna luteola (Jacq.) Benth. em ambos períodos, e por Canavalia rosea (Sw.) DC. no seco, sendo que esta e pouco represen- tativa na estrutura da comunidade, considerando-se o valor de importância (VI) (Tabelas 4 e 5). Comparando os dois períodos, destacam-se como principais espécies desta formação, Fimbristylis spadicea (L.) Vahl., Paspalum vaginatum Sw. e Sporobolus virginicus (L.) Kunth, que apresentam uma tendência de aumento nos valores de dominância absoluta do período seco para o chuvoso (Tabelas 4, 5). Estas espécies foram amostradas por Bastos (1996) em Algodoal-PA, porém, apenas Paspalum vaginatum Sw. ocupa as primeiras posições de valor de importância (VI), em ambos os períodos. As espécies de Cyperaceae que ocorrem tanto no brejo herbáceo inventariado por Bastos (1996) como no local de estudo, apresentam valores de cobertura muito diferenciados, como Pycreus polystachyos (Rottb.) Beauv., que no Crispim apresenta 0,24 %, e em Algodoal 18,14 % de cobertura, muito embora estejam em áreas contígua. A presença no período seco de indivíduos jovens de Canavalia rosea (Sw.) DC., Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. e Chrysobalanus icaco L., espécies típicas da formação psamófila reptante, deve-se provavelmente, ao transporte para o brejo, de sementes, durante o período chuvoso. Estas germinam mas não se estabelecem.. 177 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Tabela 4 - Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação brejo herbáceo, no período chuvoso; de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = freqüência absoluta; FR = freqüência relativa (%); VI = Valor de Importância. Espécies DoA DoR FA FR VI 1 .Fimbristylis spadicea 26,66 36,08 0,77 21,63 57,71 2.Paspalum vaginatum 20,16 27,28 0,96 26,97 54,25 I.Sporobolus virginicus 20,41 27,62 0,84 23,60 51,22 A.Eleocharís geniculata 2,83 3,83 0,35 9,83 13,66 5. Cy perus ligularis 1,57 2,12 0,13 3,65 5,77 6.Blutaparon portulacoides 0,44 0,60 0,15 4,21 4,81 1 .Rhabdadenia biflora 0,29 0,39 0,12 3,37 3,76 8. Fimbristylis cymosa 0,65 0,88 0,09 2,53 3,41 9.Vigna luteola 0,47 0,64 0,08 2,25 2,89 10 .Pycreus polystachyos 0,18 0,24 0,03 0,84 1,08 1 1 .Sesuvium portulacastrum 0,22 0,30 0,02 0,56 0,86 12. Ipomoea pes-caprae 0,02 0,03 0,02 0,56 0,59 Similaridade Florística Comparando as listas florísticas oriundas de estudos fitossociológicos, por meio do índice de Sprensen, em diferentes estados litorâneos com a praia do Crispim (Tabela 6), detecta-se uma acentuada diminuição nos valores em relação as áreas do sul do país, sendo apenas similar a outra área no estado do ParáA maior similaridade, como era de se esperar, uma vez que fica mais próxima do local de estudo, foi com a restinga da praia da Princesa, na ilha de Algodoal-PA, com um índice de 56 %, mesmo tendo Bastos (1996) ressaltado que a formação halófila não ocorre no local.. Com um índice de 36 %, vem as restingas do estado do Espírito Santo. As da Paraíba, geograficamente mais próximas do Pará, 178 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA, Tabela 5 - Parâmetros fítossociológicos das espécies amostradas na formação brejo herbáceo, no período seco; de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = frequência absoluta; FR = frequência relativa (%); VI = Valor de Importância. Espécies DoA DoR FA FR VI 1 .Sporobolus virginicus 22,30 34,45 0,95 27,54 61,99 l.Fimbristylis spadicea 20,86 32,22 0,71 20,58 52,80 3.Paspalum vaginatum 15,71 24,27 0,93 26,96 51,23 A.Eleocharis geniculata 1,18 1,82 0,17 4,93 6,75 5.Ipomoea imperati 1,25 1,93 0,14 4,06 5,99 6.Rabdadenia biflora 0,25 0,39 0,13 3,77 4,16 7 .Blutaparon portulacoides 0,43 0,66 0,11 3,19 3,85 S.Cyperus ligularis 0,89 1,37 0,08 2,32 3,69 9 .Canavalia rosea 0,71 1,10 0,08 2,32 3,42 lO.Fimbristylis cymosa 0,61 0,94 0,05 1,45 2,39 1 1 Jpomoea pes-caprae 0,32 0,49 0,05 1,45 1,94 1 2 .Sesuvium portulacastrum 0,03 0,05 0,02 0,58 0,63 13 .Vigna luteola 0,15 0,23 0,01 0,29 0,52 14. Pycreus polysthachyos 0,03 0,05 0,01 0,29 0,34 \5.Chrysobalanus icaco 0,02 0,03 0,01 0,29 0,32 apresentaram índice de 25 %, isto deve-se ao fato do autor ter incluído nesta análise, espécies como Cereus fernambucensis Lem, Pilosocereus sp. e Jacquinia brasiliensis Mez., características da formação de pós-praia, definida por Pereira (1990). A baixa similaridade com o Rio Grande do Sul, deve-se a uma mudança acentuada na composição florística em relação ao norte do País, o que vem reforçar as observações de Cordazzo (1985) de que aquela região corresponde a uma zona de transição entre as zonas biogeográficas temperada e tropical.. 179 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Tabela 6 - Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas na formação brejo herbáceo, no período seco; de acordo com o valor de importância. Restinga do Crispim, município de Marapanim (PA). DoA = dominância absoluta; DoR = dominância relativa (%); FA = freqüência absoluta; FR = freqüência relativa (%); VI = Valor de Importância. Espécies DoA DoR FA FR VI 1 .Sporobolus virginicus 22,30 34,45 0,95 27,54 61,99 2.Fimbristylis spadicea 20,86 32,22 0,71 20,58 52,80 3.Paspalum vaginatum 15,71 24,27 0,93 26,96 51,23 A.Eleocharis geniculata 1,18 1,82 0,17 4,93 6,75 S.Ipomoea imperati 1,25 1,93 0,14 4,06 5,99 è.Rabdadenia biflora 0,25 0,39 0,13 3,77 4,16 7 .Blutaparon portulacoides 0,43 0,66 0,11 3,19 3,85 8. Cy perus ligularis 0,89 1,37 0,08 2,32 3,69 9.Canavalia rosea 0,71 1,10 0,08 2,32 3,42 lO.Fimbristylis cymosa 0,61 0,94 0,05 1,45 2,39 1 1 dpomoea pes-caprae 0,32 0,49 0,05 1,45 1,94 I l.Sesuvium portulacastrum 0,03 0,05 0,02 0,58 0,63 13 .Vigna luteola 0,15 0,23 0,01 0,29 0,52 14. Pycreus polysthachyos 0,03 0,05 0,01 0,29 0,34 \5.Chrysobalanus icaco 0,02 0,03 0,01 0,29 0,32 Tabela 7 - índices de Sorensen para a similaridade florística entre a Praia do Crispim (PA) e os levantamento fitossociológico nos estados do Pará (PA) - (Bastos 1996); Paraíba (PB) - (Oliveira-Filho 1993); Espírito Santo (ES) - (Thomaz 1991 e Pereira et al. 1992); Rio de Janeiro (RJ) - (Menezes 1996; Almeida & Araújo 1997 e Assunpção 1998); Santa Catarina (SC) - (Cordazzo & Costa 1989 e Santos et al. 1996) e Rio Grande do Sul (RS) - (Cordazzo & Sceliger 1987). ESTADOS PA PB ES RJ SC RS Praia do Crispim 0,56 0,25 0,36 0,24 0,18 0,10 180 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. CONCLUSÃO Na restinga do Crispim, no sentido mar-continente, entre as for- mações estudadas, a primeira é a halófila, encontrada após a zona de estirâncio, seguida da psamófila reptante, nas primeiras cristas praiais, e por último, no reverso das cristas praiais, o brejo herbáceo. Há um incremento no número de espécies por formação, a medida que elas se afastam da linha de praia. A formação halófila caracteriza-se pela presença de Blutaparon portulacoides (St. Hill.) Mears e Sesuvium portulacastrum L. A sua cobertura vegetal é parcial ou totalmente destruída durante as marés de equinócios, sizígias e tempestades. Na formação psamófila reptante predominam as espécies, Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb., lpomoea imperati (Vahl) Griseb., Canavalia rosea (Sw.) DC. e Ambrosia microcephala DC., e por isso consideradas como as espécies que a caracterizam. No brejo herbáceo são dominantes absolutas, com mais de 90 % de cobertura, as Poaceae e Cyperaceae, tendo a última a maior riqueza em espécies. Esta formação é caracterizada pelas espécies Cyperus ligularis L., Eleocharis geniculata (L.) Roem & Schult., Fimbristylis cymosa R. Br., Fimbristylis spadicea (L.) Vahl e Pycreus polystachyos (Rottb.) Beauv. Sporobolus virginicus (L.) Kunth. é uma espécie comum às três formações, com alto valor de freqüência e dominância em todas elas, sendo portanto uma espécie ubiqüa ou eurióica, não servindo como indicadora, para estas formações. A sazonalidade de espécies não foi observada entre os períodos seco e chuvoso, entretanto foi notado que ocorre alteração na cober- tura vegetal, de um período para outro. A pequena diferença na composição florística entre os períodos, é devida à presença de espécies ocasionais, provenientes de outros ambientes como plântulas e indivíduos jovens de espécies típicas de manguezais, ou mesmo de formações adjacentes. 181 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAIME, R.R. 1987. Estrutura, produção e transporte em um manguezal. SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DA COSTA SUL E SUDESTE BRASILEIRA, 1. Anais. Cananéia, ACIESP, 1:80-99. ALMEIDA, A.L. & ARAÚJO, D.S.D. 1997. Comunidades vegetais do cordão arenoso esterno da reserva ecológica estadual de Jacarepía, Saquarema, RJ. In: ABSALÃO, R.S. & ESTEVES, A.M. (eds.). Ecologia de praias arenosas do litoral brasileiro. Rio de Janeiro, IB/UFRJ, 47-63. ARAÚJO, D.S.D. & HENRIQUES, R.P.B. 1984. Análise florística das restingas do Estado do Rio de Janeiro. In: LACERDA, L.D. et al. (org.). Restingas: origem , estrutura e processos. Niterói, CEUFF, p. 159-193. 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(GRAMINEAE/POACEAE) NA RESTINGA DA PRAIA DA PRINCESA, APA DE ALGODOAL/MAIANDEUA, MARACANÃ, PARÁ, BRASIL 1 Antônio Elielson Sousa da Rocha 2 Maria de Nazaré do C. Bastos 3 João Ubiratan Moreira dos Santos 4 RESUMO - Na restinga da praia da Princesa, localizada na APA de Algodoal/Maiandeua, município de Maracanã, Pará, Brasil, foram identificadas cinco espécies do gênero Paspalum L.: P. arenarium Schrad., P maritimum Trin., P. millegrana Schrad., P. multicaule Poir e P. vaginatum. Para facilitar a identificação das mesmas foi elaborada uma chave dicotômica. Dados sobre distribuição geográfica e sinonímia, bem como ilustrações e comentários adicionais são apresentados. Dentre as espécies estudadas, algumas apresentam potencial forrageiro, como P. maritimum, P. millegrana, P. multicaule, e outras são fixadoras de dunas, como P. arenarium e P. vaginatum. PALAVRAS-CHAVE: Paspalum, Poaceae, Taxonomia, Restinga. 1 Parte da Dissertação de Mestrado em Biologia Vegetal Tropical do primeiro autor, pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará-FCAP. 2 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Bolsista. Caixa Postal 399. Cep. 66040-170, Belém-PA. e-mail: aelielson@bol.com.br 3 MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Botânica. Pesquisadora. Caixa Postal 399. Cep. 66040-170, Belém-PA. e-mail: nazir@museu-goeldi.br 4 FCAP-Faculdade de Ciências Agrárias do Pará. Professor Visitante. Av. Perimetral, 2501. Cep. 66077-530, Belém-PA. E-mail: bira@museu-goeldi.br 187 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 ABSTRACT - In the Coastal of Princesa Beach, in the Algodoal/ Maiandeua environmental protection area in the municipality of Maracanã, Pará, Brasil, were identified five species of the genus Paspalum L. (P. arenarium Schrad., P. maritimum Trin., P. millegrana Schrad., P. multicaule Poir. and P. vaginatum Sw.) Some species are forage plants for animais as P. maritimum, P. millegrana, P. multicaule and other are anchoring the dunes against erosion as P. arenarium and P vaginatum. Key for the species, illustrates and comments are presented. KEY WORDS: Paspalum, Poaceae, Taxonomy, Sandy Coastal. INTRODUÇÃO A restinga da praia da Princesa, localizada na APA de Algodoal/ Maiandeua, município de Maracanã, no litoral nordeste do Pará, Brasil, situa-se entre as coordenadas geográficas de 00°34’4” a 00°34’30”S e 47°31’05” a 47°34’12’W (Figura 1). O clima da região é tropical úmido, do tipo Awi, da classificação Kõppen. A temperatura é maior que 18 °C no mês mais frio, e a diferença entre o mês mais quente e o mais frio é menor que 9 °C (Santos & Rosário 1988). O solo, na ilha de Algodoal, está representado pelas seguintes unidades taxonômicas dominantes: Podzólico Amarelo, Pdzol Hidromórfico, Areia Quartzoza, Solo Aluvial, Solo Aluvial Sódico e Soloncchak Sódico (Amaral 1998). A ilha de Algodoal é constituída basicamente por vegetação de manguezal nas porções sul, centro e norte da ilha; campos hiper salinos (apicuns) no interior ou próximo aos manguezais, predominando vegetação herbácea e de restinga, cobrindo grande parte da planície arenosa na porção norte, nordeste e oeste da ilha, onde encontra-se a área de estudo. 188 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L ( Gramineae/poaceae ) na restinga da praia da princesa... A extensão da área é de aproximadamente 800 metros, desde a zona de preamar até o contato com o manguezal, fisionomicamente, esta área é composto por cinco formações vegetais distintas: psamófila reptante, brejo herbáceo, campo entre dunas, campo arbustivo aberto e mata de Myrtaceae (Bastos 1996). Para o litoral paraense os trabalhos sobre taxonomia são quase nulos; especificamente para a ilha de Algodoal, destacando-se o de Vicente et al. (1999) que tratam das espécies de Turneraceae A. P. De Candolle, representadas na ilha por 2 espécies, sendo este, pioneiro para região. Para família Poaceae são conhecidas apenas listas de espécies em trabalhos fitossociológicos, como: Santos & Rosário (1988) e Bastos (1996). A família Gramineae na restinga da praia da Princesa está representada pelos gêneros Eragrostis Wolf, Gymnopogon Beuav., Mesosetum Steud., Reimarochloa Hitchc., Sacciolepis Nash., Spartina Schreber, e Sporobolus R. Br., com uma espécie cada; Andropogon L. e Digitaria Haller, com 2 espécies cada; Axonopus Beauv. com 3 espécies; Panicum L., com 4 espécies e Paspalum L., com 5 espécies. O gênero Paspalum é um dos maiores da família, com cerca de 400 espécies distribuídas principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Economicamente é um dos mais importantes, devido seu potencial forrageiro e, ecologicamente, tem importância vital nas regiões de savanas (Coradin 1978). Na área de estudo o gênero está representado pelas espécies P. arenarium, P. maritimum, P. millegrana, P. multicaule, P. vaginatum. O objetivo deste trabalho é identificar e descrever as espécies do gênero paspalum existentes na restinga da praia da Princesa, Maracanã, Pará. Para complementar a identificação dos táxons são apresentadas ilustrações, sinonímia, distribuição geográfica, chave dicotômica e comentários adicionais. 189 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 4Z!35' Algodoal Area de Estudo % Vilas % V Fortalezinha Q \ Mocooca ESCALA l. 100.000 Figura 1 - Localização da área de estudo (restinga da praia da Princesa, APA de Algodoal/Maiandeua, Maracanã, Pará). 190 O Gênero Paspalum L (Gramineae/poaceae) na restinga cia praia da princesa... MATERIAL E MÉTODOS As coletas foram realizadas no período de um ano, iniciando-se em maio de 1998. Durante este período foram realizadas quatro viagens, em estações climáticas diferentes no ano: duas no período de maior intensidade pluviométrica e duas no período de menor inten- sidade. Em cada visita foi percorrida toda a faixa delimitada como área de estudo, no sentido mar/continente e, no sentido paralelo à praia, nas diversas formações vegetais. Os procedimentos para tratar o material coletado foram baseados em Filgueiras (1992). Além da coleta do material, foram consultados os Herbários do MG, IAN e IBGE. O material seco utilizado neste trabalho foi preparado em solução de amónia 70%, as espécies foram medidas e ilustradas com auxílio de lupa Zeiss, equipada com câmara clara. As partes analisadas foram a inflorescência e espigueta, abreviadas como (inf) e (esp), respectivamente, no material examinado. Os sinônimos adotados para as espécies em estudo são conforme referidos por Cremers & Hoff (1993) para Paspalum maritimum Trin. e P. millegrana Schrad.; bem como por Renvoize (1984) para Paspalum multicaule Poir. e Paspalum vaginatum Sw. TRATAMENTO TAXONÔMICO Paspalum L., Syst. Nat. Ed. 10, 2: 855, 1359. 1759. Sabsab Adans, Fam. 2:31, 599. 1763. Cleachne Roland., In Rottb., Act. Lit. Univ. Hain. 1: 285. 1778. Ceresia Pers., Syn. Pl. 1; 85. 1805. Paspalus Fliiggé, Mon. Paspalum 53. 1810. 191 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Reimaria Flüggé, Mon. Paspalum 213. 1810. Paspalanthium Desv., Opuse. 59. 1831. Anachyris Nees, Joum. Bot. Kew. Misc. 2:103. 1850. Maizilla Schlecht., Bot. Zeitung. 8: 601, 605. 1850. Cerea Schlecht., Bot. Zeitung. 12: 820. 1854. Cymatochloa Schlecht., Bot. Zeitung 12: 817, 812. 1854. Anachyrium Nees ex Steud., Syn. Pl. Gram. 33. 1854. Dimorphostachys Fournier, Compt. Rend. Acad. Sei. Paris 80: 441. 1875. Panicum Sect. Paspalus Aschers & Graebn., Syn. Mitteleur. Fl. 2: 67. 1898. Ervas anuais ou perenes, colmos eretos a decumbentes, cespitosas, estoloníferas ou rizomatosas; bainhas abertas; lígula membranácea com ou sem cílios; lâmina linear a linear-lanceolada, geralmente aplanada. Inflorescência de 1 a várias, axilar ou terminal, de 1 a vários racemos, raque filiforme a alada. Espiguetas subsésseis, solitárias ou aos pares, 2-4 fileiras, num lado do raque, plano- convexas, pouco côncavo-convexas ou desiguais biconvexas; primeira gluma geralmente ausente; segunda gluma, em geral mais curta que o lema estéril, membranácea, 3-5 nervada, semelhante ao lema estéril; lema fértil cartilaginoso a coriáceo e endurecido, com suas margens abraçando a pálea, ápice livre, semelhante a pálea mas, plano ou côncavo; lodículas 2; estames 3; estigmas 2, plumosos. 192 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 0 Gênero Paspalum L. (Gramineae/poaceae) na restinga da praia da princesa... Espécie-tipo: Paspalum dimidiatum L. Chave para a separação das espécies de Paspalum da restinga da praia da Princesa 1 - Inflorescência com 1 racemo por eixo 1. P. arenarium 1 - Inflorescência com dois ou mais racemos por eixo 2 - Segunda gluma 5-nervada, com nervura central suprimida ou inconspícua; lema estéril 5-nervado 2. P. vaginatum 2 - Segunda gluma 3-nervada, com nervura central presente, lema estéril, 2 ou 3- nervado 3 - Inflorescência com 2 racemos conjugados; espiguetas solitárias 3. P. multicaule 3 - Inflorescência com mais de dois racemos separados; espigueta aos pares 4 - Racemos com 2 fileiras de espiguetas; raque flexuosa, glabra; segunda gluma pubescente; lema estéril glabro 4. P. maritimum 4 - Racemos com 4 fileiras de espiguetas; raque flexuosa escabrosa e ciliada; segunda gluma e lema estéril glabros 5. P . millegrana 1. Paspalum arenarium Scharad. in Roem. & Schult., Mantissa 2: 172. 1824. Tipo. Brasil, Prince Maximilian (? LE,). (Figura 2). Erva perene, cespitosa, rizomas quase nulos, até 40 cm de alt.; colmos simples, suberetos a fortemente decumbentes, glabros, geniculados, estriados, com sulcos longitudinais; nós glabros; bainhas estriadas, carenadas, abrindo-se na parte superior, pilosas nas bordas, carena e terço superior, as terminais mais longas que os entrenós, as basais mais curtas e em tons violáceos, 3-4,5 cm de compr.; lígula membranácea com aproximadamente 4 mm de compr., arqueada; lâmina 3-12 cm de compr., 1-2 cm de larg., plana, linear-lanceolada, densamente pilosa, base carenada e ápice acuminado, pilosa na base posterior da lígula. Inflorescência terminal, racemosa, um racemo por eixo, 4-6 cm de compr.; raque glabra ou com poucos tricomas na base. Inflorescência 193 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goelili, sér. Boi., 17(1). 2001 axilar às vezes presente. Espiguetas aos pares, pediceladas, bisseriadas, obovadas, 1 ,5-1,7 mm de compr., 1-1,2 mm de larg., pedicelos pilosos, desiguais; segunda gluma 3-nervada, convexa, pubescente, maculada na superfície, do compr. da espigueta; lema estéril 2-nervado, plano, com a margem envolvendo o bordo do flósculo fértil, ligeiramente pubescentes entre as nervuras; flósculo fértil plano-convexo, brilhante, glabro 1,3-1, 5 mm de compr., 1-1,1 mm de larg.; lema e pálea coriáceos, verde-claros. Cariopse não observada. Distribuição Geográfica: Guianas e Brasil (Renvoize 1984). Material Examinado: BRASIL. Minas Gerais: Diamantina, Rodovia de Serro, Campo rupestre, 18-11-1993 (inf), F. O. Zuloaga et al. 4621 (IBGE). Pará: ilha de Marajó, Soure, praia, 21-11-1934 (inf), J.R. Swallen 4966 (MG); Vigia, campina da palha, 31-III-1980 (esp), G. Davidse et al. 176930 (MG); Boa Vista, margem rio Guamá (esp), D.C. Daly et al. 811 (MG); Colares, Sítio Horizonte, 29-IX-1954 (esp), G.A. Black 54-16885 (IAN); Maracanã, ilha de Algodoal, Restinga da praia da Princesa, campo entre dunas, 22-V-1994 (esp), M.N.C. Bastos et al. 1628 (MG). Paspalum arenarium é muito semelhante a P. nutans, o que tem causado equívocos de identificação, principalmente nas áreas de restinga onde ocorrem as duas espécies: P. arenarium ocorre em solo arenoso, enxuto e apresenta comumente apenas um racemo, enquanto P. nutans ocorre em solo arenoso úmido, com depressões, e apresenta de 2-4 racemos por eixo (Smith et al. 1982). Trata-se de uma espécie heliófita e seletiva xerófita, pouco comum na restinga da praia da Princesa, sendo encontrada sobre dunas de areia enxuta ou nas margens de lagos ou próximas ao brejo. Foram observados indivíduos de P. arenarium, em floração, entre os meses de junho a setembro. 194 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L. ( Gramineae/poaceae ) na restinga da praia da princesa... Figura 2 - Paspalum arenarium Scharad. ( M.N.C . Bastos et al. 1628). a: Hábito; b: Detalhe do racemo; c: Detalhe da raque; d: Segunda gluma em vista dorsal; e: Lema estéril em vista dorsal; f: Lema fértil em vista frontal; g: Pálea em vista frontal; li: Lígula; i: Flor. 195 Boi. Mus. Para. Emílio GoeUli, sér. Bot., 17(1), 2001 2. Paspalum vaginatum Sw., Prodr.: 21. 1788; Doell in Mart., Fl. Bras.: 2(2): 74. 1 877. Tipo. Jamaica, Sxvartz s.n. (Isótipo, S) (Figura 3). Paspalum didactylum Salzm. ex. Stend., Syn. Pl. Glum. 1:20. 1854. Erva perene, rizomatosa e estolonífera, 20-50 cm de alt. ; colmos eretos, ramificados, esverdeados; nós e entrenós glabros; bainhas 3- 5 cm de compr., 0,7-1 mm de larg., ligeiramente carenadas, glabras; lígula membranácea 0,4-1 mm de compr.; lâminas 2-5 cm de compr., 3-5 mm de larg., lineares, involutas, rígidas, glabras, com tricomas apenas na base por trás da lígula. Inflorescência solitária, terminal; racemos geralmente 2, 3-4 cm de compr., conjugados; raque glabra, ligeiramente flexuosa, plana, alada. Espiguetas subsésseis, dorsiventralmente comprimidas 2-2,2 mm de compr., 0,6-0, 8 mm de larg.; segunda gluma 5-nervada, com nervuras laterais próximas à margem, a mediana suprimida ou inconspícua; lema estéril do comprimento da espigueta, 5-nervado; flósculo fértil 2, 8-3, 2 mm de compr., brilhante, liso, elíptico, endurecido. Cariopse não observada. Distribuição Geográfica: Em todas as áreas tropicais, estendendo-se até as regiões subtropicais (Renvoize 1984). Material Examinado: GUIANA FRANCESA. Plage de Susini, 21- XII- 1986 (inf), G. Cremers 9518 (MG). BRASIL. Bahia: Ilhéus, praia de Ilhéus, 06-1-1980 (esp), T.S. Filgueiras 731 (IBGE). Pará: ilha do Mosqueiro, beira do rio, furo da Marinha, várzea, 1 7- VII- 197 1 (esp), J. Oliveira s/n (IAN); Bragança, ilha das Canelas, restinga, 1 7- VI- 1 995 (esp), J.U. Santos & L.C. Lobato 223 (MG); Curuçá, praia da Romana, 15-XII-1992 (esp), M.N.C. Bastos et al. 1331 (MG); Marapanim, Restinga do Crispim, psamófila reptante e brejo herbáceo, 1 1 -IV- 1997 (esp), S.V. Costa-Neto et al. 14 (MG); Maracanã, Fortalezinha, sobre dunas, 22-1-1994 (inf), L.C. Lobato 1567 (MG); ibidem, praia da 196 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L. ( Gramineae/poaceae ) na restinga da praia da princesa... Marieta, 07-IX-1994 (esp), M.N.C. Bastos et al. 1802 (MG); ilha de Algodoal, restinga da praia da Princesa, vegetando sobre primeiro cordão dunar em relação a praia, 25-VI-1998 (esp), A.E.S. Rocha 04 (MG); ibidem, no primeiro cordão dunar e brejo, 21-11-1994 (esp), M.N.C. Bastos et al. 1524 (MG); Por apresentar espigueta glabra, Paspalum vaginatum pode separar-se de alguns ecotipos de P. distichum, que são muito semelhantes, mas apresentam espiguetas pilosas (Renvoize 1998). Esta espécie possui ampla ocorrência na restinga da praia da Princesa. Suas populações estão fixadas principalmente no primeiro cordão dunar (Psamofila reptante), entremeadas com indivíduos de Ipomea pes-caprae Rottb (Convolvulaceae) e no brejo herbáceo, no período em que este encontra-se totalmente inundado, que vai de janeiro até meados de abril. Neste período, esta é a única espécie observada sobre a lâmina d'água. Observou-se que no período de estiagem, que vai de junho a novembro, os indivíduos de P. vaginatum encontram-se vigorosos, dominando as populações de I. pes-caprae, enquanto que no período chuvoso, ocorre o inverso, ou seja, as populações de P. vaginatum apresentam-se secas e dominadas por I. pes-caprae. Um fato interessante observado no período de chuva, é que as população das dunas encontram-se secas, evidenciando uma certa dormência, enquanto que no brejo são encontrados diversos indivíduos submersos, apenas com a inflorescência exposta. Paspalum vaginatum é tratada como invasora no litoral do Rio Grande do Sul, por aparecer crescendo abundantemente nas margens dos pântanos (Cordazzo 1985). Na restinga da Princesa, esta espécie predomina nas formações Psamófila reptante e brejo hebárceo. Foram observados indivíduos de P. vaginatum, em floração, entre os meses de janeiro a junho. 197 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 Figura 3 - Paspalum vaginatum Sw. (A.E.S. Rocha 04). a: Hábito; b: Detalhe do racemo; c: Detalhe da raque; d: Espigueta em vista lateral; c: Segunda gluma em vista dorsal; f: Lema estéril em vista dorsal; g: Lema fértil em vista frontal; h: Pálea cm vista frontal; i: Lígula; j: Flor. 198 cm 2 3 SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L. (Gramineae/poaceae) na restinga da praia da princesa... 3. Paspalum multicaule Poir. in Lam., Encycl., Suppl. 4: 309. 1816. Tipo. Brasil, Anon. (Holótipo, FI, n.v.). (Figura 4). Paspalum papillosum Spreng., Nov. Prov. Hal. 47. 1819; Syst.Veg. 1: 244. 1825. P. hortícola var. maritimum Salzm. ex. Doell in Mart., Fl. Bras. 2(2): 54. 1877. Erva anual, cespitosa. Colmos 5-40 cm de alt., eretos, ramificados desde a base; nós e entrenós glabros; bainhas fortemente carenadas, pilosas nas margens, estriadas, 3-7 cm de compr.; lígula 0,2-0, 4 mm de compr., membranácea; lâmina 3-6 cm de compr., 1,5-2, 5 mm de larg., linear, papiloso-híspida e pulverulenta em ambas as faces, com concentração de tricomas longos na base e face abaxial da nervura central. Inflorescência solitária, terminal; racemos 2, conjugados 2- 4,5 cm de compr.; raque escabrosa, ligeiramente flexuosa, alada, com as margens voltadas para cima, abraçando a espigueta. Espiguetas 1- 1,2 mm de compr., 0,8-1 mm de larg., suborbiculares, obtusas, solitárias em 2 fileiras, com uma espigueta no ápice, pediceladas, pedicelos escabrosos; segunda gluma tão larga quanto a espigueta, 3- nervada, esparsamente coberta por tricomas globulares inconspícuos; flósculo fértil tão largo quanto a espigueta, endurecido, liso, brilhante, glabro. Cariopse não observada. Distribuição Geográfica: Do México ao Brasil (Renvoize 1984). Material Examinado: BRASIL. Pará: São Miguel do Guamá, 17-IX- 1979 (esp), L. Coradin et al. 2105 (IBGE); Vigia, Campina da Palha, areia úmida, 10-VIII-1954 (esp), GA. Black 54-16730, (IAN); ibidem, Campina do Caimbé, 30-III- 1980 (inf), G. Davidse, et al 17639 (MG); Almerim, Monte Dourado, Bloco Caracuru, 4-VI-1986 (esp), M.S. Pires & N. T. Silva 1 133 (MG); Tucuruí, Remento, campina, 199 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 local úmido, 30-III- 1 98 1 (esp), N. Rosa et al. 4033 (MG); Marabá, Serra dos Carajás, Mina Norte, canga, 18-V-1987 (esp), M.N.C. Bastos et al. 464 (MG); Marapanim, praia do Crispim, campo de restinga, 15- IV- 1 99 1 (esp), M.N.C. Bastos et al. 1012 (MG); Maracanã, ilha de Algodoal, Restinga da praia da Princesa, campo entre dunas em locais úmidos e ligeiramente sombreados, 15-IX-1998 (esp), A.E.S. Rocha 16 (MG); ibidem, campo entre moitas, 1 1 -IV- 199 1 (esp), M.N.C. Bastos et al. 705 (MG). Paspalum multicaule é similar a P. clavuliferum Wright, tanto na morfologia como na distribuição geográfica, mas diferencia-se por apresentar racemos com 4 fileiras de espiguetas pilosas, enquanto P. clavuriferum apresenta 2 fileiras de espiguetas glabras (Renvoize 1998). Na restinga da praia da Princesa ocorre exclusivamente na formação campo entre dunas, em ambientes úmidos, com luz difusa. A espécie fornece forragem de boa qualidade, especialmente para gado eqüino (Corrêa 1926). Foram observados indivíduos de P. multicaule, em floração, entre os meses de junho a dezembro. 4. Paspalum maritimum Trin., Mém. Acad. St. Petersb. 6 Sei. Nat. 1:148. 1834; Doell in Martius, Fl. Bras.. 2(2): 47. 1877. Tipo. Brasil, Rieclel s/n. (isótipo, K). (Figura 5). Paspalum hirtigluma Steud., Syn. Pl. Glum. 1: 18. 1854. P. wullschlaegelii Mez, Bot. Jahrb. Engler56 (Beibl. 125): 10. 1921. P. abrahami Chase, Contr. U.S. Nat. Herb. 22: 480. 1922. Erva perene, reproduzindo-se por rizoma; rizomas robustos, 40-60 cm de compr.; colmos eretos ou ascendentes, cilíndricos, glabros, estriados, sub-comprimidos; nós marrom-escuros, glabros, 200 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 geniculados; bainhas até 10 cm de compr., estriadas, fortemente carenadas, abertas na parte superior, glabras, ápice com tufo de tricomas, margens membranáceas; lígula membranácea, glabra, lacerada, bastante pilosa na inserção; lâmina linear-lanceolada, base acanalada, cordada, margem escabrosa, ciliada, até 35 cm de compr., 1- 1,6 cm de larg., face abaxial glabra e adaxial pilosa, última lâmina reduzida ou suprimida, 3-10 cm de compr. Inflorescência com 3-6 racemos ascendentes, 5-8 cm de compr., pilosos na inserção, alternos ao eixo comum; raque flexuosa, glabra, estriada. Espiguetas marrom- claras, aos pares, pubescentes, pediceladas, 1,8-2 mm de compr., 1,1- 1,3 mm de larg., pedicelos desiguais em cada par; segunda gluma pilosa, paleácea, convexa, com manchas na superfície, 3-nervada, do comprimento da espigueta; lema estéril plano, glabro ou pouco piloso, 2-nervado, margens hialinas; flósculo fértil liso, brilhante, plano- convexo, obovado. Cariopse não observada. Distribuição Geográfica: América Central até o Brasil (Renvoize 1984). Material Examinado: BRASIL. Alagoas: Marechal Deodoro, APA de Santa Rita, praia do Saco da pedra, restinga, 17-V-1988 (esp), G.L. Esteves et al. 2090 (IBGE). Amazonas: Manaus, cabeceira do igarapé da cachoeira, alto do Turumã, terra-firme, 23-III- 1 955 (esp), R. Chagas 904 (MG). Pará: São Miguel do Guamá, ao longo da rodovia Belém-Brasília, 29-1-1980 (esp), Davidse et al. 17.51 1 (MG); Vigia, Campina do Caimbé, campo, 30-III- 1980 (esp), G. Davidse et al. 17634 (MG); Maracanã, Martins Pinheiro, campina do Mangaba, solo arenoso, 28-11-1975 (inf), L. Coradin 150 (IAN); ilha de Algodoal, restinga da praia da Princesa, sobre dunas altas próximo a praia, 19-VI-1991 (esp), M.N.C. Bastos et al. 849 (MG). Paspalum maritimum é encontrada no campo entre dunas, em solo arenoso, úmido. Na restinga da praia da Princesa tem ocorrência 202 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L. (Gramineae/poaceae) na restinga da praia da princesa... rara. Esta espécie vem sendo cultivada há bastante tempo em pastagens melhoradas no Brasil. Em testes realizados no Serviço de Agrostologia da Diretoria da Produção Animal foram aprovados com bons resultados, por tratar-se de planta com excelente crescimento e forrageira tenra (Smith et al. 1982). Silva et al. (1979) observaram P. maritimium vegetando na restinga onde o solo é arenoso-humoso, formando uma densa cobertura, impedindo o desenvolvimento de outras espécies. Indivíduos de P. maritimum, em floração, foram observados entre os meses de junho a setembro. 5. Paspalum millegrana Schrad. in Schult., Mant. 2:175. 1824. Chase Contr. U. S. Nat. Herb. 28: 207, fig. 126. (1929). Tipo. Brasil Príncipe Maximilian (? , LE). (Figura 6). P. lentiginososum Presl., Rei. Haenk. 1:218. 1830. P. vulnerans Salzm. ex Steud., Nom. Bot. Ed. 2. 2: 273. 1841. Paspalum densum sensu Doell in Mart., Fl. Bras. 2, pt. 2: 87. 1877. P. karwinskyii Fourn. Mexic. Pl. 2:8. 1886. P. underwoodii Nash., Buli. Torrey Club 30: 375. 1903. P. schreberíanum (Flüggé) Nash., N. Amer. Fl. 17. 190. 1912. Erva perene, cespitosa, robusta; colmos 100-200 cm de a 1 1 . , comprimidos, eretos, simples; nós e entrenós glabros; bainha glabra, cilíndrica; lígula 1-2 mm de compr., membranácea; lâminas 30-80 cm de compr., 1-2 cm de larg., conduplicadas na base, lineares, ascendentes a patentes, glabras a esparsamente pilosas, com tricomas por trás da lígula. Inflorescência de 6-25 racemos, 6-15 cm de compr., solitária, terminal, laxa; racemos separados, ascendentes a patentes, com uma espigueta no ápice; raque ligeiramente flexuosa, escabrosa, ciliada. Espiguetas aos pares em 4 fileiras, glabras 203 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 % í\\> rw/í Pi V, â \ Figura 5 - Pctspalum maritimum Trin. ( Bastos et ai 849). a: Hábito; b: Detalhe do racemo; c: Detalhe da raque; d: Espigueta em vista lateral; e; Segunda gluma em vista dorsal; f: Lema estéril em vista dorsal; g: Lema fértil em vista frontal; h: Pálea cm vista frontal; i: Lígula; j: Flor 204 cm 2 3 SciELO 10 11 12 13 14 15 O Gênero Paspalum L. (Gramineae/poaceae) na restinga da praia da princesa... obovado-suborbiculares, 2,2 mm de compr., 2 mm de larg.; primeira gluma ausente, segunda gluma e lema estéril semelhantes, 3-nervados, glabros; flósculo fértil pálido, endurecido. Cariopse não observada. Distribuição Geográfica: Do México ao Brasil (Davidse et al. 1994). Material Examinado: GUIANA FRANCESA. Dacanawa: Rio Rupunum, 20-VI-1989 (esp), P. Peterson 7553 (MG); Cayena, campo, 16-XI-1954 (esp), G.A. Black & D’Aege 54-18171 (IAN); BRASIL. Pará: Viseu, campo, 16-IV-1979 (esp), J Lima 68103 (MG); Igarapé- Açu, Fazenda Experimental da FCAP, Capoeira do urucu, 16-1-1996 (esp), F. P. Oliveira et al. 17 (MG); Moju, margem do Rio Moju, fábrica, 1913 (esp), A. Goeldi 14765 (MG); Maracanã, Martins Pinheiro, 6-IV-1982 (esp), Davidse etal. 1980 (IAN); ilha de Algodoal, restinga da praia da Princesa, ambiente alagado, campo entre dunas, 15- IX- 1999 (esp), A.E.S. Rocha 26 (MG). Erva heliófita e seletiva higrófita, ocorrendo nos campos úmidos e nos banhados (Smith et al. 1982). Na restinga da praia da Princesa possui raríssimos indivíduos vegetando nos campos entre dunas, em locais mais úmidos. Paspalum millegrana é citada por Sarahyba (1993) como espécie invasora vigorosa, de fácil penetração no interior das formações vegetais na APA de Massambaba, no Rio de Janeiro. Na Restinga da praia da Princesa, a mesma é de ocorrência raríssima. Segundo Smith et al (1982) esta espécie fornece forragem de qualidade regular. No Sul do país, na falta de melhor pastagem, é consumida por bois e cavalos, prefercncialmente as rebrotações após as queimadas. Foram observados indivíduos de P. millegrana, cm floração, entre os meses de junho a dezembro. 205 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 LU 0 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 Figura 6 - Paspalum millegrana Schrad. ( A.E.S . Rocha 26). a: Hábito; b: Detalhe do racemo; c: Detalhe da raque; d: Segunda gluma em vista dorsal; e: Lema estéril em vista dorsal; f: Lema fértil em vista dorsal; g: Lígula; h: Flor; i: Páleacm vista frontal. / mm O Gênero Paspalum L (Gramineae/poaceae) na restinga da praia da princesa... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, I.G. 1998. Caracterização dos solos de uma topossequência na Ilha de Maiandeua - PA. Belém, Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, 87 p. Dissertação de mestrado. BASTOS, M.N.C. 1996. Caracterização das formações vegetais da restinga da Princesa, Ilha de Algodoal - PA. Belém, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 249 p. Tese de doutorado. CORDAZZO, C.V. 1985. 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Recebido cm: 04. 1 1 .99 Aprovado em: 07.1 1.00 207 i ■ ■ ' .'/li. ■> ■ . > V . • ,, ■ ■ CDD: 582.1600981152 574.52642 PADRÕES FLORÍSTICOS E ESTRUTURAIS DE UMA CRONOSEQÜÊNCIA DE FLORESTAS NO MUNÍCIPIO DE SÃO FRANCISCO DO PARÁ, REGIÃO BRAGANTINA, PARÁ Aríete Silva de Almeida 1 Ima Célia Guimarães Vieira 1 RESUMO - Florestas sucessionais de 3, 6, 10, 20, 40, 70 anos e florestas ombrófilas densas de terra firme e igapó do município de São Francisco do Pará, estado do Pará, foram avaliadas com relação a estrutura e florística. Em dois sítios amostrais (cada tipo florestal) com 2 parcelas cada, de dimensão de 10m x 25m, foram mensurados indivíduos com DAP > 5 cm, com exceção da floresta de 3 anos, com DAP > 2cm. A maior densidade e a menor área basal e altura foram encontradas nas florestas secundárias jovens. O número de espécies lenhosas (DAP = 5 cm) por 1000 m 2 amostrados variou de 15 a 54 nas florestas sucessionais e 52 e 61 nas florestas de terra firme e igapó, respectivamente. As similaridades florística entre as florestas sucessionais segundo o índice de Stprensen foram inferiores a 50%. A maior biomassa foi encontrada na floresta de terra firme, com 209,25 t/ha. Em geral há grande potencial de regeneração florestal na Região Bragantina, mas o empobrecimento biótico é notório quando se trata de espécies nativas das florestas primárias. PALAVRAS-CHAVE: Floresta sucessional, Florística e estrutura, Amazônia. 1 MCT/Museu Paraense Emílio Goeldi. Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação. Caixa Postal 399. Cep 66040-170. E-mails: arlete@museu-goeldi.br; ima@museu-goeldi.br 209 Boi Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 ABSTRACT - Floristic inventories were made in successional forests of 3, 6, 10, 20, 40, and 70 years after cutting, as well as in undisturbed upland forests (terra firme) and flooding forests (igapó). Species composition, plant diversity, and forest struclure were determined for each forest type (DBH >5 cm). The highest plant densities and lhe lowest basal area and height were found in younger secondary forests. The number ofwoody species (DBH = 5 cm) per lOm x 25m ( 1000 m 2 > sample plot ranged from 15 to 54 in the successional forests and was 52 and 61 in terra firme and igapó forests, respectively. The SQrensen index of similanty among these forest types was less than 50%. The highest biomass was found in the terra firme forest (209.25 ton/ha ). We can conclude from this study that the Bragantina has the potential for forest regeneration, but there was an empowershiment of native tree species. KEY WORDS: Successions Forests, Forest Structure, Amazônia. INTRODUÇÃO A Amazônia tem tido bastante enfoque ultimamente, em níveis nacional e internacional. A maior parte desse interesse é devido às preocupações sobre sua devastação, com a conseqüente perda de recursos genéticos, bem como o papel do desmatamento e das queimadas nas mudanças globais do ambiente. Cerca de 95% dos desmatamentos na Amazônia tiveram como finalidade o uso agropecuário (Fearnside 1988). O processo colonizador impôs uma conhecida pressão de uso sobre o ecossistema natural, muito além da capacidade de suporte desses sistemas (Fearnside 1993), provocando um colapso estrutural e funcional dos mesmos (Vitousek 1984) e desenvolvendo apenas ecossistemas sucessionais em diversos estádios, muito mais empobrecidos, em número de espécies arbóreas nativas e alguns grupos de animais (Vieira 1996). 210 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... A ocupação agrícola ocorrida na Amazônia começou na Região Bragantina no nordeste paraense. Essa ocupação provocou na região uma considerável alteração no ecossistema primário e conseqiientemente perda de biodiversidade e alterações estruturais e funcionais. Hoje, verifica-se elevada fragmentação da paisagem. Esse processo de mudança de dinâmica da paisagem é representado por florestas secundárias em diferentes estádios sucessionais, fragmentos de florestas remanescentes e áreas de cultivo e pastagem (Alencar et al. 1996; Almeida 2000). A grande extensão de área de florestas secundárias existentes na Amazônia, aliada ao pouco conhecimento científico desse tipo de vegetação, justifica a necessidade de estudos que possam contribuir para determinar parâmetros para o seu manejo, assim como qualificar esse recurso em termos de volume de madeira, que pode ser aproveitado para diversas finalidades, até mesmo para usos mais nobres na indústria madeireira. Com isso, as florestas secundárias poderiam servir como uso alternativo da terra, diminuindo a pressão de desmatamento sobre as florestas primárias e proporcionando renda adicional aos produtores agrícolas. Nesse sentido, este trabalho objetiva analisar as características florísticas e estruturais de florestas remanescentes de terra firme e igapó no município de São Francisco do Pará, visando ao seu conhecimento ecológico, através da análise dos padrões de mudanças sucessionais que ocorrem após o uso para agricultura de roça e queima. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi desenvolvido no município de São Francisco do Pará (476,99 km 2 ) localizado na zona fisiográfica Bragantina, microrregião de Bragança e mesorregião Nordeste Paraense (Figura 1). Limita-se ao 211 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1), 2001 norte com os municípios de Terra Alta e Marapanim, a leste com Igarapé-Açú, sul e oeste com Castanhal. Apresenta uma densidade demográfica de 12,25 habitantes, por km 2 e uma população estimada em 1996 de 10.194 habitantes. Sua sede dista 67 km em linha reta de Belém, capital do estado do Pará e possui como coordenada geográfica da sede do município latitude -01° 10' 03" e longitude -47° 45' 08". Tem um clima tropical superúmido do tipo AM, natural da Amazônia (IDESP 1995). A cobertura vegetal atual predominante é de floresta secundária que substituíram a antiga cobertura de floresta densa dos baixos platôs. Ao longo dos cursos dos rios ainda encontram-se algumas matas ciliares preservadas (Almeida 2000). Concordante com a simplicidade da estrutura geológica, suas formas de relevo são caracterizadas por baixos blatôs, tabuleiros e várzeas, que fazem parte da unidade morfoestrutural do Planalto Rebaixado da Amazônia (Região Bragantina) (IDESP 1993). O principal acidente hidrográfico é o braço direito do rio Marapamin (faz limite com Castanhal) e rio Jambú-Açú (faz limite com Igarapé-Açú). Os solos do município são predominantemente o Latossolo Amarelo Textura Média (IDESP 1993). Coleta de dados De acordo com padrões observados no campo, foram selecionadas para a amostragem oito estádios sucessionais de florestas, duas floresta ombrófila densa ou floresta primária (terra firme e igapó) e seis florestas sucessionais (de 3, 6, 10, 20, 40 e 70 anos). Para se obter informações sobre o histórico das áreas, elaborou- se um questionário básico aplicado para 40 proprietários rurais. Levando-se em consideração a representatividade das áreas, bem como a disponibilidade das informações do histórico de uso em cada sítio de estudo, foram alocadas 2 parcelas, de 10 m x 25 m (250 m 2 ), 212 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... Figura 1 - Localização do município de São Francisco do Pará, Região Bragantina/PA. 213 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17(1). 2001 completando 500 m 2 amostradas por classe de floresta, totalizando 15 sítios e 32 parcelas. Devido a não existência de outros fragmentos de floresta ombrófila de terra firme, utilizou-se apenas 1 sítio de estudo (Granja Marathon) com 4 parcelas de 250 m 2 (Figura 2). Os inventários foram realizados no período de junho a agosto de 1999 (Figura 2). Em cada parcela foi medida altura total e Diâmetro Altura do Peito (DAP) para indivíduos com DAP > 5 cm, com exceção da floresta sucessional de 3 anos onde se considerou indivíduos de DAP > 2 cm. As parcelas foram localizadas aleatoriamente de forma que as mesmas estivessem em uma área bem representativa. Todos os indivíduos foram identificados em nível de espécies. Análise dos dados Os parâmetros calculados foram abundância relativa (AB. Rei), dominância relativa (Dm. Rei), freqüência relativa (FR. Rei), IVI (ind ha _1 ), área basal (m 2 ha* 1 ), índices de diversidade de Shannon- Wienner e Simpson, riqueza de espécies de indivíduos com DAP = 5 cm. A composição de espécies com DAP = 5 cm, foram comparadas usando uma matriz de similaridade do índice S(j>rensen, baseado na densidade relativa (Brower & Zar 1984). As distribuições de altura e diâmetro das espécies mais abundantes nas parcelas foram usadas para descrever as tendências sucessionais na comparação de espécies. A estimativa da biomassa aérea (t ha -1 ) foi calculada através de equações alométricas Y = ef' 3 ’ ll41+ h9438In(D) + 0,9719ln(h)] r 2 = 0,97, desenvolvidas por Brown & Lugo (1990) para florestas primárias e de equações alométricas In Y = - 2. 1 7 + 1 ,02 In (D 2 ) + 0,39 In (h) r 2 = 0,96, para as florestas sucessionais (Uhl et al. 1988). 214 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... Figura 2 - Exemplo da localização das parcelas amostrais e dimensionamento das parcelas de 10 x 25 m no município de São Francisco do Pará-PA. 215 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1). 2001 RESULTADOS E DISCUSSÕES ANÁLISE FLORÍSTICA DA VEGETAÇÃO Composição Florística Foram contabilizados 977 indivíduos, 195 espécies, 135 gêneros e 46 famílias, em 1,5 hectare de levantamento, considerando florestas sucessionais de 3, 6, 10, 20, 40 e 70 anos e florestas primárias remanescentes de terra firme e igapó (Anexo A). Através da análise de curvas espécie/área, para cada tipo de floresta, observa-se que, em geral, as mesmas tenderam a não estabilidade (Figura 3). O fato de não ocorrer uma estabilização nítida é devido a característica heterogênea das florestas, pois a cada nova comunidade em que a amostra é locada, ocorre o acréscimo de novas informações. No entanto, a aptidão à estabilização da curva indica um resultado satisfatório das amostras para o estudo. Analisando a tabela 1 na qual estão relacionadas todas as florestas sucessionais estudadas com maior IVI, observou-se que Abarema jupunba var. jupunba, Croton matourensis e Ocotea guianensis são espécies freqüentes em vários tipos de floresta estudada (3 a 70 anos). Na floresta de 70 anos, os maiores IVFs foram apresentados pelas espécies Ocotea guianensis, Croton matourensis, Abarema jupunba e Tapirira guianensis, constituindo 32,71% do total do IVI, ou seja, é um valor alto para um número reduzido de espécies. Diversidade A tabela 2 apresenta, para todos os estádios sucessionais, o número total de indivíduos, o número total de espécies e o índice de diversidade de Shannon-Weaner e o de Simpson. A floresta de terra 216 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... Tabela 1 - Parâmetros fitossociológicos: Número de indivíduo (Nx Ind.), Abundância relativa (AB. rei). Dominância relativa (Dm. rei), Frequência relativa (FR. rei). De acordo com as 4 espécies que apresentaram maior índice de Valor de Importância (IVI), no município de São Francisco do Pará-PA. Idade Espécie N°.Ind AB. rei Dm. rei FR. rei IVI 3 Cecropia palmata 11 14,47 40,31 7,14 61,93 Abarema jupunba var. jupunba 14 18,42 14,88 3,57 36,88 Myrcia sylvatica 9 11,84 10,17 10,71 32,73 Rollinia exsucca 7 9,21 3,77 10,71 23,70 6 Myrcia cuprea 21 22,83 17,48 5,56 45,86 Rollinia exsucca 10 10,87 12,04 5,56 28,47 Croton matourensis 8 8,70 10,18 8,33 27,20 Dipteryx odorala 8 8,70 11,40 5,56 25,65 10 Abarema jupunba var. jupunba 7 16,67 25,98 9,52 52,17 Connarus perrottetii var. angustifolius 6 14,29 10,53 14,29 39,10 Vismia guianensis 6 14,29 10,9 9,52 34,71 Ocotea guianensis 5 11,90 14,13 4,76 30,80 20 Croton matourensis 14 7,29 20,38 3,85 31,52 Tapirira guianensis 10 5,21 16,31 3,85 25,36 Virola sebifera 22 11,46 9,89 3,85 25,20 Myrcia fallax 19 9,90 9,33 3,85 23,07 40 Ocotea guianensis 31 16,76 11,15 4,29 32,19 Chamaecrista bahiae 16 8,65 9,28 1,43 19,35 Croton matourensis 10 5,41 8,28 4,29 17,97 Lacistema pubescens 18 9,73 3,22 4,29 17,24 70 Ocotea guianensis 11 6,79 18,07 4,05 28,91 Croton matourensis 25 15,43 7,09 2,70 25,23 Abarema jupunba var. jupunba 4 2,47 13,50 2,70 18,67 Tapirira guianensis 13 8,02 5,88 4,05 17,96 FTF Caryocar villosum 1 1,02 39,67 1,19 41,88 Protium pallidum 7 7,14 1,64 4,76 13,55 Aspidosperma sandwithianum 1 1,02 9,31 1,19 11,52 Campesiandra laurifolia 1 1,02 8,09 1,19 10,30 FI Macrolobium angustifolium 11 8.46 17.26 5.13 30.85 Pourouma mollis 12 9.23 8.39 3.85 21.47 Hieronyma Icixiflora 2 1.54 13.44 1.28 16.26 Tovomita brevistaminae 9 6.92 0.99 3.85 11.76 217 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1), 2001 b) 8 » l 8 9 500 750 1000 Área (m 2 ) •o 20 e | 10 •3 Z ü 500 750 1000 Área (m*) c) d) i. 20 500 750 1000 Área (m 2 ) 1 S 40 8 20 z o 500 750 Área (nv ) S 60 -O 40 8 g 20 Z 0 Área (m‘) ! 20 Z 0 500 750 Área (m 2 ) g) h) Xj ioo •8 80 c 60 Área (m 2 ) 8 ioo I 20 z o 500 750 Área (m 2 ) Figura 3 - Curva espécie-área para as amostragens realizadas nas idades das florestas sucessionais 3 (a), 6 (b), 10 (c), 20 (d), 40 (e), 70(0, floresta ombrófila densa terra firme (g) e floresta ombrófila densa de igapó (h), cm 4 parcelas de 1000 m 2 , no município de São Francisco do Pará-PA. 218 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... firme obteve de acordo com o índice de Shannon, diversidade de 3,49, o que a caracterizou como a de maior diversidade; e a menor diversidade foi obtida pela floresta sucessional de 3 anos, com índice de 2,50. Para Pires-0’Brien & 0’Brien (1995), a baixa diversidade é uma das características da vegetação de estádio inicial de sucessão. Dessa maneira, de acordo com os resultados obtidos através do índice de Simpson, a menor diversidade também se encontra na floresta sucessional de 3 anos. Segundo Knight (1975), os parâmetros para se considerar um alto índice de diversidade de Shannon-Wiener em florestas temperadas variam entre 2,00 a 3,00 e para as florestas tropicais variam entre 3,83 até 5,85. Comparando com o resultado dos índices de Shannon, verificou-se que somente a floresta de terra firme apresenta alto índice de diversidade (3,93). Vieira (1996), em Peixe-Boi/PA, encontrou o mesmo padrão para as florestas primárias (3,92 a 4,10). O resultado do índice de Shannon encontrado por Araújo (1998), nas florestas sucessionais de 6, 17 e 30 anos, foram de 2,69, 3,40 e 3,75, respectivamente. Os valores encontrados (Suemitsu 2000) nas florestas de 15, 25 e 30 anos, foram de 2,97, 3,50 e 3,90, respectivamente. Nesses trabalhos, verifica-se que há aumento gradual nos resultados em função das idades estudadas. Comparativamente aos dados obtidos neste trabalho, observa-se que a partir de 40 anos de idade, as florestas apresentam índices de Shannon-Wiener superiores a 3,00, enquanto que nos trabalhos citados, florestas sucessionais de 17 e 25 anos já apresentam índices de Shannon-Wiener maiores que 3,00. O índice de Simpson, que apresenta uma variação de (0 - 1), neste trabalho, para as florestas sucessionais foram 0,90 a 0,95 e é ligeiramente maior (0,96) na floresta primária (Tabela 2). Os valores encontrados por Vieira (1996) para as florestas sucessionais da mesma região variam de 0,91 a 0,96. 219 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 17( I ). 2001 Tabela 2 - Número de indivíduos, Número de espécies, índice de diversidade de Shanon-Weaner (H') e de Simpson (1-D) nas florestas sucessionais de 3 anos, 6 anos, 10 anos, 20 anos, 40 anos, 70 anos, floresta de Igapó (FI) e floresta de Terra Firme (FTF), no município de São Francisco do Pará-PA. Idade (anos) N° de Indivíduos 1 000 m 2 N° de Espécies 1000 m 2 índice de Diversidade SHANNON (H’) SIMPSON (1-D) 3 76 18 2,54 0,90 6 92 25 2,77 0,92 10 42 15 2,43 0,92 20 192 32 2,94 0,93 40 185 53 3,34 0,94 70 162 54 3.46 0,95 FI 130 52 3,59 0,96 FTF 98 61 3,93 0,98 Similaridade Os resultados do índice de S(])rensen indicaram para as florestas sucessionais de 3, 6, 10, 20, 40 e 70 anos similaridades florística abaixo de 50% (Tabela 3). O índice de similaridade entre a floresta sucessional de 70 anos e as de 20 e 40 anos atingem cerca de 30%, enquanto que as florestas sucessionais mais jovens, de 3 e 6 anos apresentam índice de similaridade de 42%. Vieira (1996), estudando as florestas sucessionais de 5, 10, 20 e 40 anos, sobre a sucessão de 8 ciclos de cultivo, obteve também valores de similaridades menores que 51%. Observa-se que a floresta sucessional de 20 anos, possui acima de 29% de similaridade em relação as florestas de 40 e 70 anos e acima de 40 % de similaridade em relação as floresta de 3, 6, e 10 anos, o que fica caracterizado que esse estádio sucessional tem componentes 220 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqüência de florestas... florísticos tanto de florestas em estádio inicial como de florestas mais avançadas. De acordo com esses resultados, é nítida a diferença florística entre a floresta de terra firme e as florestas sucessionais secundárias. Há apenas 23% de similaridade florística entre a floresta de igapó e a floresta de terra firme. Realmente são dois ecossistemas bastante diferentes com relação à composição florística, como mostra Suemitsu (2000), que obteve 45% de similaridade entre a floresta de igapó e terra firme. Tabela 3 - índice de similarida'de de S(J>rensen, calculado entre as idades das florestas sucessionais de 3 anos, 6 anos, 10 anos, 20 anos, 40 anos, 70 anos: floresta de Igapó (FI) e Floresta de Terra Firme (FTF ), no município de São Francisco do Pará-PA. Idade (anos) 3 6 10 20 40 70 FI FTF 3 6 0,42 — — — — — — 10 0,24 0,35 ... ... ... ... ... 20 0,40 0,42 0,46 ... ... ... 40 0,19 0,23 0,20 0,32 ... ... ... 70 0,16 0,20 0,23 0,30 0,29 — ... FI 0,00 0,00 0,02 0,04 0,14 0,13 ... FTF 0,00 0,00 0,04 0,08 0,15 0,10 0,23 Em geral, existem poucos componentes florísticos de igapó e de terra firme nas copoeiras avançadas - cerca de 10 % somente. Dessa maneira, a presença de fragmentos florestais próximos às capoeiras é fundamental para aumentar a diversidade das espécies nativas da floresta primária nos ecossistemas. 221 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi.. 17(1), 2001 ESTRUTURA DAS FLORESTAS Distribuição em Classes de Altura e Classes Diamétricas A figura 4 apresenta a distribuição dos indivíduos em classes de altura, onde as florestas sucessionais de 3, 6 e 10 anos apresentaram indivíduos na faixa entre 1 a 10 m, sendo que para a idade de 3 anos, foi obtido o maior número de indivíduos no intervalo de altura de 1 a 5 m, com 92%; enquanto que para a idade de 6 e 10 anos, obteve-se 68% e 77% respectivamente, distribuídos na faixa de 5 a 10 m. A idade de 20 anos obteve indivíduos com altura variando de 1 a 20 m, onde a maior freqüência ficou entre 5 e 10 m, com 70%; para a idade de 40 anos, o intervalo ficou de 1 a 35 m, onde a maioria dos indivíduos ficou na faixa de 5 a 20 m, com 90%; para a idade de 70 anos, a faixa de distribuição ficou entre 1 a 30 m, com a maior ocorrência de indivíduos entre 5 e 20 m, com 86%; para as florestas de terra firme e igapó, o intervalo de altura ficou de 1 a 35 m, onde a maior quantidade de indivíduos concentra-se na faixa de 5 a 20 m. A maioria dos indivíduos foi encontrada na primeira faixa de altura. Comparados a esses resultados, Araújo (1998) encontrou maior porcentagem de indivíduos nas primeiras classes de altura, assim como a ocorrência de menores números de classes nos estádios sucessionais mais jovens. Os gráficos da figura 4 mostraram claramente que nas florestas sucessionais de 3, 6, lü anos há apenas 2 classes de altura. Na floresta de 20 anos apareceram 4 classes de altura e nas de 40 e 70 anos e nas florestas primárias apareceram 7 a 8 classes de altura. De maneira geral, percebe-se que a floresta de 20 anos distingue-se do padrão encontrado pelas florestas anteriores e posteriores a ela, ou seja, apresenta-se numa posição intermediária entre as outras florestas. Observa-se também que o número de indivíduos encontrado nas 222 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronaseqüência de florestas... florestas de 3 a 10 anos, concentra-se de 1 a 10 m de altura, e nas outras florestas a concentração dos indivíduos é a partir de 10 m. Na figura 5, estão apresentados os números de indivíduos amostrados por classe diamétrica. Verificou-se uma concentração maior de indivíduos nas classes de diâmetro entre 5 e 10 cm de DAP. A floresta sucessional de 3 anos, obteve 92% de indivíduos na faixa de 2 a 5 cm. Segundo Martins (1991), uma população que está balanceada tende a apresentar uma série completa de classes de diâmetro que decresce geometricamente, apresentando um número maior de indivíduos jovens, bem como um número menor de indivíduos nas classes de diâmetros maiores. Analisando os gráficos apresentados na floresta ombrófda densa e sucessional secundária, verificou-se que a curva apresentada pelas classes de diâmetro em cada amostra tem a forma de um “J invertido”, corroborando, assim, com o estudo de Batista (1989), o qual afirma que a forma de “J invertido” está relacionada com a regeneração contínua. Knight (1975) atribui a forma invertida a espécies tolerantes. Os gráficos da figura 5 mostraram que nas florestas sucessionais de 3, 6, 10 anos, há apenas 2 classes de DAP. Na floresta de 20 anos, apareceram 4 classes de DAP; e nas de 40 e 70 anos e florestas primárias apareceram 7 a 9 classes de DAP, demonstrando que a floresta de 20 anos foge do padrão encontrado por outras florestas, assumindo uma posição intermediária. Esse comportamento também foi obtido nas classes de alturas. Área Basal A maior área basal ' foi encontrada na floresta de igapó, com 49,59 m 2 /ha; já a menor ocorreu na floresta de 3 anos (0,76 m 2 /ha). No entanto, os resultados apresentados pela floresta de terra firme, (com 223 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1), 2001 a) b) Altura ( m ) c) d) Altura ( m ) e) 0 r° % tu LI □ ca 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 *35 Altura ( m ) 40 Altura ( m ) g) UI 60 TJ ■" 40 ■3 c r— i o 20 T3 * . El LI □ nn cu 5-10 10- I' 15 - 20 20-25 25 -30 * 30 Altura (m) h) 40 o Ü 30 1 20 Í1 n ■o 10 * „ □ LJ LJ □ □ a 1-5 5-10 10- IS 15 -20 20-29 25 - 30 30 - 35 '35 Altura ( m I Figura 4 - Distribuição da altura em número de indivíduos amostrados com D AP 3 2 cm, para a floresta sucessional de 3 anos (a); DAP 3 5 cm para florestas sucessionais das idades de 6 (b), 10 (c), 20 (d), 40 (e), 70 anos (0, para floresta de terra firme (g) e floresta de igapó (h) em 4 parcelas de 1000m2 no município de São Francisco do Pará-PA. 224 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqiiência de florestas... a) b) 100 xo 3 "D > 60 E33S 5-10 >10 DAP (cm) c) d) 0 I □ % 6" il □ C □ . ,=, 10-15 IS -20 20 - 2 5 25 - Hl J0 - 3 5 3 5 -40 • 40 DAP (cm) 60 DAP (cm) g) h) ■8 20 S? □ □ C3 C=3 t=2 10 -15 15 - 20 20 - 25 25 -50 50- 55 <55 DAP ( cm ) Figura 5 - Distribuição diamétrica para indivíduos amostrados com DAP 3 2 cm, para a floresta sucessional de 3 anos (a) e DAP 3 5 cm, para florestas sucessionais das idades de 6 (b), 10 (c), 20 (d), 40 (e), 70 anos (0, para florestas de terra Firme (g), floresta de igapó (h) em 4 parcelas de 1000 m2, no município de São Francisco do Pará-PA. 225 Boi. Mus. Para. Emílio Goelcli, sér. Bot., 17(1), 2001 30,98 m 2 /ha, e 70 anos, com 28,20 m 2 /ha), permitem verificar uma proximidade desses valores, o que não acontece com a floresta de igapó, cujos resultados se distanciaram. Resultados desse tipo, onde a floresta de igapó apresenta-se superior à floresta de terra firme foi encontrado por Suemitsu (2000), que obteve para a floresta de igapó área basal, com 18,65 m 2 e floresta de terra firme, com 9,77 m 2 . Comparando os resultados da área basal das florestas sucessionais de 40, 20, 10 e 6 anos, que obtiveram 22,07, 12,92, 1,72 e 3,22 m 2 /ha, respectivamente, com o trabalho de Araújo (1998), onde a maior área basal ocorreu na floresta sucessional de 30 anos, com 35,01 m 2 /ha, seguido pela floresta sucessional de 17 anos, com 19,49 m 2 /ha e a floresta sucessional de 6 anos, com 19,29 m 2 /ha, observou-se que esses valores estão sempre maiores do que os valores encontrados neste estudo. Essa diferença pode estar relacionada com o ciclo de corte que vem ocorrendo na área de São Francisco do Pará, ao longo dos tempos, enquanto que as florestas sucessionais estudadas por Araújo sofreram menos ciclos de corte e queimada. Os baixos valores apresentados pela floresta sucessional de 10 anos (1,72 m 2 /ha, 5,80 t/ha) em relação à área basal e biomassa, deve- se ao fato de que uma das parcelas amostrais não apresentou nenhum indivíduo com DAP > 5cm. Este fato é frequentemente encontrado em áreas degradadas (Uhl et ai 1981; Uhl 1987; Nepstad et al. 1991 e Vieira 1996). Biomassa O resultado de biomassa obtido para floresta primária de terra firme foi de 209 t/ha, enquanto que para as capoeiras de 20 anos foi de 5 1 t/ha, capoeira de 10 anos foi de 5,80 t/ha e para a capoeira de 6 anos foi de 10,19 t/ha (Tabela 4). Em Rondônia, Alves et al. (1997), 226 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqiiência de florestas... obtiveram para floresta de terra firme, uma biomassa de 347 t/ha, para a idade de 18 anos, 143 t/ha, para a idade de 9 anos 90 t/ha, para a idade de 5 anos 38 t/ha. Em Peixe-Boi/PA, também na Zona Bragantina, Salomão (1994) encontrou para as florestas primárias e florestas secundárias de 20, 10 e 5 anos, 217,25, 81, 44 e 13 t/ha, respectivamente. Em geral, a biomassa estimada nesse trabalho obteve máximos valores para a floresta ombrófila densa de terra firme, mostrando uma relação com a idade da floresta (Tabela 4). Embora a biomassa geralmente aumente com a idade, no que se refere a acumulação, a mesma torna-se mais vagarosa e mais pesada (Alves et al. 1997). Comparando a biomassa apresentada pela floresta sucessional de 70 anos com a floresta de terra firme, a floresta sucessional de 70 anos, apresentou 67,50% da biomassa, dessa outra floresta (Tabela 4). Dessa forma, se a floresta sucessional de 70 anos for preservada, poderá até atingir a estrutura da floresta primária, corroborando com estudo de Saldarriaga et al. (1988), que estimou que 190 anos são necessários para que uma floresta sucessional alcance a área basal e volume da floresta primária. Constata-se, neste trabalho que baixos valores de biomassa, como foi colocado anteriormente, devem-se ao uso intenso da terra, que impossibilita uma recuperação imediata da área. Isso é comprovado pela degradação do solo na floresta sucessional de 10 anos, onde uma das parcelas não apresentou nenhum indivíduo > 5cm, e também os resultados das outras idades estudadas que apresentaram valores baixos. Vieira (1996) encontrou padrões semelhantes, estudando florestas sucessionais de 5 a 40 anos, onde houve um aumento na biomassa com a sucessão. 227 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Bot., 2001 Tabela 4 - Estrutura DAP médio, Altura média, Área basal, Biomassa e Média de Biomassa dos ambientes estudados de floresta sucessional de 3, 6, 10, 20, 40, 70 anos, floresta de Igapó (FI) e floresta de Terra Firme (FTF), no município de São Francisco do Pará-PA. Idade (anos) ESTRUTURA Área basal Altura máxima (m) DAP máximo (m) . , (m-7 ha) Biomassa ( t/ha) 3 6,50 7,50 0,76 2,07 6 8,60 12,10 3,22 10,19 10 9,50 11,20 1,72 5,80 20 17,00 23,50 12,92 51,92 40 35,50 42,50 22,07 112,06 70 26,00 47,10 28,20 141,41 FI 37,00 90,00 49,59 - FTF 39,00 125,10 30,98 209,25 MUDANÇAS SUCESSIONAIS NA CRONOSEQÜÊNCIA A cronosseqüência sugere que alguns parâmetros como diversidade de espécies e riqueza e densidade alcançam valores muito similares aos valores para florestas sucessionais em 70 anos. Tais padrões são similares aos observados em sucessões secundárias neotropicais (Saldarriaga 1988; Finegan 1996). A alta riqueza de espécies nas florestas secundárias mais velhas é devido à coexistência de espécies que demandam luz estabelecida cedo na sucessão e espécies tolerantes a sombra estabelecida nesse estágio sucessional (Denslow 1985). Por exemplo, nas florestas de 70 anos ocorrem espécies pioneiras como Lacistema pubescens, Abarema jupumba, Cecropia palinata, Croton matourensis, Guatteria poeppigiana, e Vismia guianensis, mostrando a longevidade dessas espécies. Por outro lado, espécies características de florestas maduras como Apeiba 228 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 Padrões florísticos e estruturais de uma cronoseqiiência de florestas... burchelii, Cordia scabrida, Cupania scrobiculata, Erisma uncinatum, Vochysia vismiaefolia, também estão presentes. Espécies de famílias como Sapotaceae, presentes em florestas primárias da região, são inexistentes ou pouco representadas em capoeiras, entretanto nesse trabalho, todas as espécies de Protium encontradas no levantamento ocorreram em florestas sucessionais de 70 anos. Por outro lado, os valores de área basal que podem estar associados com acumulação de biomassa e presença de árvores muito grandes foram muito mais baixos nas florestas secundárias novas do que nas florestas secundárias antigas. O número de espécies vegetais das capoeiras pode se aproximar ou ser até superior ao encontrado nas florestas primárias, apesar de ocorrer uma redução no número de espécies nativas (Vieira 1996, Uhl et al. 1988). Apesar disso, o ecossistema de capoeira funciona como o melhor sistema de recuperação de espécies vegetais originais da floresta, após a atividade antrópica. CONCLUSÕES As florestas sucessionais de 3, 6, 10, 20, 40 e 70 anos e florestas ombrófilas densas (terra firme e igapó), apresentam características estruturais e florísticas que as distinguem como estádios em diferentes etapas de desenvolvimento. O tempo sucessional da floresta resultou no aumento da riqueza e da diversidade florística. A similaridade florística entre as florestas de 20 anos e as outras florestas sucessionais está na faixa de 30-46% o que demonstra que esta floresta apresenta componentes tanto de florestas sucessionais mais jovens, como de florestas sucessionais mais velhas. 229 Boi. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Boi., 17(1). 2001 A floresta sucessional de 70 anos apresentou baixa similaridade com as florestas primárias; e mais alta similaridade com as florestas sucessionais mais jovens. Conclui-se que a similaridade é um parâmetro importante para se verificar a distribuição das espécies ao longo do processo sucessional. A floresta ombrófila densa é caracterizada pela sua alta diversidade florística e alta taxa de espécies raras. Em geral, as espécies apresentam IVFs sempre mais baixos, quando comparadas com as espécies das florestas sucessionais, o que está atribuído a diminuição de dominância durante o processo de sucessão. A vegetação secundária do município São Francisco do Pará, apresenta níveis inferiores de biomassa, riqueza e diversidade, comparados com várias outras florestas da região. Daí se conclui que esse fato pode estar relacionado ao ciclo de cortes e queimas que vem ocorrendo ao longo do tempo na região. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ALENCAR, A.A.C.; VIEIRA, F.C.G.; NEPSTED, D.C. & LEFEBRIVE, P. 1996. Análise multitemporal do uso do solo e mudanças da cobertura vegetal em antiga área agrícola da Amazônia Oriental. SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE SENSORIAMENTO REMOTO, 8. Anais. Salvador. ALMEIDA, A.S. 2000. 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U< I •“ 1 I I < i OS i — h i i i i i (N • I i VO CO i i i i I cs I I — H i i VO I — H I I CN i i i i i i i i i i i r*- i i i i • i * • * i i i i i i i i i i i > ■ ■ i • i i i i i i i i i I CO | i i i I I I 8 D D .5 3 03 C w O 03 03 03 03 W> 3 3 ‘o, 'o, S «u S j < 5 < 3 c c d rzJ rx rx g 2 3 ti x ^ 3 j<, -C .5 .55 o o- o, y c o «c u Q > I I 00 I I I O O Cd c3 T3 T3 a x> o o C/3 C/D 73 ü d >9 d) 2^225 j O CU tU t- -O X) S i- u. 3 o o o jz SZ cx a 3 D ^jjuujEww 236 Macherium cf froesii Rudd Leg. Pap. Macrolobium angustifolium (Benth) Cowan Caesalpiniaceae Manilkara huberi (Ducke) Standley Sapotaceae Maprounea guianensis Aubl Euphorbiaceae Maquira guianensis (Aubl) Hub Moraceae Padrões florísticos e estruturais de uma cronosequência de florestas... IL. i i l I I • i i i i i i i ^ i i i i i i i i i i i i i i i i i i i i ■ I i i i I CO i i I i I i i i • • i ' ' — < ro i — 1 i i i »n i i i i i i I I I i I CN I ■ — < I • I ' I 111111)11 d> cd d> d) s & o Ü o. 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Engl. Buseraceae Qualea albiflora Warm Vochysiaceae Padrões florísticos e estruturais de uma cronosequência de florestas... Pu i i i i i i i i ■ i m i i i • i CS i i i i i i i I I I ■ i CS i i i i • ' • ' ' 1 ' I I CS I I I I • I • I ' ' ' I I I I I I I I I I I I I I I I i i I CO i i I I u cs D cd cd cd Ò3 cd T3 O O O «4-1 ld çj c £ s E S CS Uh £ o u 3