CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO E TECNOLÓGICO ^,^ INSTITUTO NACIONAL DE PESOUlSAS DA AMAZÔNIA BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMfLIO GOELDI NOVA SÉRIE BELÉM — PARA — BRASIL BOTÂNICA N9 51 15. JUNHO. 1978 REVISÃO DO GÊNERO BANARA AUBL. (FLACOURTIACEAE) NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Maria Elisabeth van den Berg Museu Goeldl Orlandina Brito-Ohashi Museu Goeldl RESUMO; São estudadas as espécies de Banara Aubl. (Fla- courtiaceae) e sua distribuição na Amazônia Brasileira. Introdução O gênero Banara Aubl. (Flacourtiaceae) apresenta uma taxonomia bastante difícil, discutindo-se a inclusão dos gê- neros Hasseltia H.B.K. e Hasseltiopsis Sleumer dentro do mesmo. Algumas espécies e variedades tiveram suas posições revistas, tendo este trabalho o objetivo de esclarecer defini- tivamente a situação das espécies encontradas na Amazônia Brasileira e também oferecer uma sinonímia correta. Tratamento sistemático Banara Aublet PI. Gui. I: 547 — t. 217. 1775. Boca Vellozo Fl. Flum. 232. 1825; Ic. 5. t. 113. 1835. Ascra Schott in Sprengel Syst 4. Cuv. post. 407. 1827. Arvores ou arbustos com folhas mais ou menos dísticas, glanduloso-crenadas, inteiras, subsésseis ou pecioladas, ge- ralmente com 1 ou 2 glândulas na base da lâmina, estipulas pequenas, caducas. Inflorescências terminais ou axilares, cimosas (paniculiformes) . Flores com 3 (-4) sépalas e pé- talas sepalóides, persistentes após a ântese, até a frutifica- ção: numerosos estames livres; ovário unilocular. Fruto: cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 VAN DEN BERG & BRITO-OHASHl — REVISÃO DO GÊNERO... cápsula indeiscente apiculada (estilete persistente), lem- brando baga ou, com deiscência tardia e irregular, com uma única semente. Na Amazônia Brasileira este gênero, con- forme mostra o mapa anexo, é encontrado ao longo da calha do Amazonas e também em alguns altos rios como o Juruá, Purus, Madeira, Paru de Oeste e Oiapoque. É total a ausência de coletas para este gênero na bacia do rio Negro, embora numerosas expedições ali tenham co- letado plantas de outros gêneros de Flacourtiaceae como Lindackeria, Casearia e Ryania (até no Uaupés, alto rio Ne- gro) . CHAVE DE SEPARAÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES DA AMAZÔNIA BRASILEIRA 1 . Folhas caracteristicamente 3-nervadas na base; inflo- rescência axilares. 1. B. axilliflora 1 . Folhas peninérveas desde a base, inflorescências ter- minais. 2. Folhas coriáceas, brilhosas na face ventral, receptá- culo glabro. 2. B. nitida 2. Folhas cartáceas, opacas na face ventral; receptá- culo pubescente. 3. B. guianensis 1. Banara axilliflora Sleumer in Notizbl. Bot. Gart. Berlin 14: 48. 1938. Apresenta folhas membranáceas com acumem muito* pronunciado. Inflorescência tipicamente axilar, daí o seu nome. Frutos com cálice e corola adpressos. Restringe-se apenas à Amazônia Ocidental. MATERIAL ESTUDADO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BRASIL: Acre: “Vicinity of Tarauacá. Forest on terra firme’; 23-IX-1968: G. T. Prance et al. 7467 (MG). — 2 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; BOTANlCA, 51 Distribuição geográfica do gênero Banara na Amazônia Brasileira ^ — B. axiliiflora; ^ — B. guianensis; ^ — B. nitida 2. Banara nitida Spruce ex Benth. Journ. Proc. Linn. Soc. Bot. 5, (Supl. 2): 93. 1861. Espécie bem distinta por suas folhas coriáceas, brilho- sas na face ventral, e a presença de uma grande glândula (em forma de taça) na região próxima a base do limpo e ainda, seus frutos mais robustos em relação às outras espé- cies, o mesmo acontecendo com o resto do estilete que forma um apículo endurecido. É encontrada ao longo da calha do Amazonas, desde o Javarí até o Tapajós. MATERIAL ESTUDADO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BRASIL; Pará: Óbidos, várzea do Amazonas, 6-XII-1913: Ducke (MG 15.105, RB). — Rio Cuminamirim, mata de várzea; 28IX-1910: A. Ducke (MG 11239)'. Rio S. Manuel, a 150 km da foz, no limite do Pará com — 3 — 1 SciELO VAN DEN BERG & BRITO-OHASHI — REVISÃO DO GÊNERO... Mato Grosso do Norte, várzea alta; 3-1-1952; J. M. Pires 3751 (lAN). — Santarém, Ponta Negra, "muirajussara”; 1-III-1938; Humberto Bastos (RB 4942). — Rio Tapajós, S. Luiz; 4-XII-1919; A. Ducke (RB 12341). Amazonas : Esperança (boca do Javari) mata da terra firme; 29-X-1945; A. Ducke 1880 (MG, lAN). — Rio Solimões, embocadura do rio Purus, Anuri, beira do lago Daoca; 3-IV-1967; M. Silva 767 (MG). — Panará do Autaz-Mirim, Fazenda Santa Rosa; 24-VIII-1973; C. C. Berg et ai. P19726 (MG). — Rio Juruá, Fortaleza; XI-1901; Ule 5901 (MG). — Humaitá, “near Tres Casas, on varzea land"; 14-IX-10-X-1934; B. A. Krukoff 6274 (RB). Acre: Sena Madureira, “West of Rio Caeté, 12 km bove forest on terra firme"; 7-X-1968; G. T. Prance et ai. 7916 (MG). — “2-4 km West of Cruzeiro do Sul, disturbed varzea forest"; 22-X-1966; G. T. Prance et ai. 2757 (MG). 3. Banara guianensis Aubl. PI. Guian. 1:548. fig. 217. 1775. Banara moilis (Poepp. & EndI.) Tul. Ann. Sei. Nat. sér. 3, 7: 288. 1847. Kuhlia moilis Poepp. EndI. Nov. Gen. & Sp. 3; 74. fig. 2-5. 1845. B. guianensis Aublet var. moilis (Poepp. & EndI.) Eichier in Mart. Fl. Bras. 13, pt. 1 : 501. 1871. B. tulasnei Macbride Candollea 5 : 389. 1934. É a espécie de mais larga distribuição. Comumente conhecido como “farinha seca”. Apresenta folhas regular- mente serreadas e, na base do limbo ou no pecíolo, próximo a este, uma ou duas glândulas cupuliformes. Suas flores tem um diâmetro de 7-8mm (após a ântese) e os frutos al- cançam Imm de diâmetro, apresentando-se o apículo crasso e típico para essa espécie. MATERIAL ESTUDADO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA BRASIL: Pará: Belém, 20-X-1957; Edmundo Pereira 3325 (RB). — Idem, Hosp. Dom Freire; 11-1905; J. Huber (MG 6991). — Idem, vizinhan- ças da cidade, “andorinha”; IX-X-1961; J. M. Pires 51933 (RB). — Idem; 25-X-1945; J. M. Pires e G. A. Black 483 (lAN). — Idem; Rio Guamá; 19-V-1947; J. M. Pires e G. A. Black 1628 (lAN). — Idem, IPEAN; XII-1965: B. G. Schubert 2212 e 2216 (lAN). — Idem, IPEAN, mata do Marco, O 15; 1-11-1969; J. M. Pires 12035 (lAN). — Idem, “estrada In front of the lAN"; — 4 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI: BOTARJiSa, 51 2-III-1943; W. Andrew Archer 8256 (lAN). — Idem, “on lands of Irí Agronômico do Norte, 3 km w. of Administration Buildlng"; 19-1-1944; Antonio Silva 51 (lAN). — Idem, “South Forest of the lAN”; 8X11-1942; W. A. Archer 7948 (lAN). — Idem, IPEAN, mata do Cafezal; 25-1-1969; J. M. Pires 12016 (lAN). — Idem, EMBRAPA, reserva do Mocambo, beira da mata, 8-11-1977; R. Vilhena 113 (MG). — Idem, Idem, Reserva, Aurá; 25-X-1967; J. M. Pires e N. T. Silva 11406 (lAN). — Idem, Idem; 2-III-1968; J. M. Pires e N. T. Silva 11829 (lAN). — Idem, idem, idem. Quadra 241; 30-X-1968: J. M. Pires 14876 (lAN). — Idem, Idem, mata do Catu, capoei- ra;; 15-XII-1944; Ricardo de Lemos Fróes 20773 (lAN), — Idem, Idem, APEG; 30-111-1967; J. M. Pires & N. T. Silva 10388 (lAN). — Benevides, estrada para Mosqueiro junto ao igarapé Guajará, capoeira; 10-11-1966; P. Cavalcante 1444 (MG). — Ilha do Mosqueiro, capoeira à beira da es- trada; 29-111-1971; M. Silva 2684 (MG). — Estrada de Ferro de Bragança, capoeira de terra firme; 29-XI-1944; A. Ducke 1661 (MG). — Idem, Santa Izabel, capoeira, 12-1-1909; Pessoal do Museu (MG 10161). — Idem, Jar- dim Providência, descampado; 5-XII-1973; M. Nilce Souza 48 (MG). — Estrada Belém-Ananindeua, km 3, terra firme; 6-XII-1973; H. P. Bautista 14 (MG). — Castanhal, Apeú, beira da estrada, capoeira; 18-11-1961; P. Cavalcante 947 (MG). — Quatipuru, caminho para o campo do Ben- tevi; 11-IV-1963; W. Rodrigues 5181 (MG). — Igarapé-Açu, Martins Pi- nheiro, campina do Mangaba; 27-11-1975; L. Coradin 85 (MG; lAN). — Marajó, Pacoval, Teso; 9-IX-1896; J. Huber (MG 488a). — Acará, Jacare- quara. Tapera; 23-11-1966; M. Silva 573 (MG). — Rio Branco, Óbidos, Cas- nhal Grande; 2-VIII-1912; A. Ducke (MG 12126). — Faro, Boa Vista, capoeirão na mata da terra firme; 1-11-1910; A. Ducke (MG 10625). — Rio Paru de Oeste, Missão Tiriyó, arredores da Missão, 2o20'N — 55°45’W; 3-III-1970; P. Cavalcante 2584 (MG). — Rio Paru de Oeste; Missão Tiriyó, estrada para a aldeia Averi, (Missão Nova) 2°22'N - 55045 'W, capoeira; 24-11-1970; P. Cavalcante 2504 (MG). — Santarém, beira do Rio Maicá, Taperinha, capoeira de várzea; 4-11-1968; M. Silva 1351 (MG). — Bragança, a 8 km da sede, margem da estrada para os Campos de Baixo, serraria, capoeira; 24-11-1977; Ubirajara Nery Maciel e P. Bouças 9 (lAN). Acre : Seringal Monte Alegre, "about 40 miles south of Rio Bran- co"; 6-1-1944; J. T. Baldwín, Jr. 3157 (lAN). — “west of Rio Caete, 12 km’ above mouth", capoeira; 7-X-1968; G. T. Prance et al. 7923 (MG). — Cruzeiro do Sul, terreno alagado; 17-11-1976; L. R. Marinho 215 (lAN). Rondonia : “Vicinity of São Lourenço mines, 14 km N. of rio Ma- deira, above Mutumparaná, 65®6'W - 9°33'S; 26-XI-1968; G. T. Prance et al. 8873 (MG). Amapá : Rio Oiapoque, próximo à boca do Ingarai, mata virgem; 25-IX-1960; J. M. Pires 7754 (lAN). — 5 — SciELO 10 11 12 13 VAN DEN BERG & BRITO-OHASHI — REVISÃO DO GÊNERO., Conclusões e comentários Na Amazônia Brasileira são encontradas apenas três espécies do gênero Banara: B. guianensis, B. nitida e B. axi- liflora sendo que a última se concentra unicamente na parte ocidental da região. B. axiliflora é a espécie mais rara, apenas encontrada no alto rio Tarauacá (bacia do Juruá). Fora do Brasil é en- contrada também em Loreto (Peru) . Apenas B. guianensis está relativamente bem distribuí- da pela Bacia Amazônica, embora ausente na bacia do rio Negro. A variedade B. guianensis var. moilis deve ser conside- rada sinônimo, pois, não apresenta caracteres distintivos consistentes. A pilosidade e o número e tamanho de glân- dulas é muito variável inter e intra indivíauos o que invalida este “taxon”. Macbride (1941), considera o gênero Hasseltia HBK incluso em Banara Aublet. Porém, pelo menos as espécies de Hasseltia encontradas na Amazônia Brasileira não podem ser incluídas em Banara, razão pela qual continuamos incli- nadas a considerá-los dois gêneros distintos. Ainda Macbride (1941), fez uma nova combinação con- siderando Hasseltiopsis leucotbyrsa Sleumer sinônimo de Banara leucotbyrsa. Entretanto, trata-se na realidade de es- pécie de um outro gênero, a saber, Pleurantbodendron L.O. Williams. Agradecimentos Ao Dr. Sleumer, do Rijksherbarium (Leiden-Holanda) , pela revisão crítica e informações adicionais. Ao desenhis- ta Sr. Raphael Alvarez, do Museu Goeldi, pela execução do mapa. Ao Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido e ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro pela permissão de estudar material de seus herbários. — 6 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; BOTANICA, 51 SUMMARY This paper presents a study of the genus Banara Aublet (Flacourtiaceae) in Brazilian Amazónia. Three valid species are reported. There are not Banara collected in Rio Negro Basin, The inclusion of the genus Hasseltia HBK within Banara is discussed here. A map of phytogeographycal dis- tribution is included. Bibliografia citada MACBRIDE, J. FRANGIS 1941 — Flora of Peru. Pubis. Fields. Mus. Nat. Hist., Chicago, Bot. ser. 13 (7) : 27. WILLIS, V. C. 1973 — A dictionary of the flowering plants and ferns. 8 th. ed. rev. by H. K. Airy Shaw. Cambridge, University Press, Ixvi, 1245 p. (Aceito para publicação em 20/12/77) — 7 — 1 VAN DEN BERG & BRITO-OHASHI — REVISÃO DO GÊNERO... 1 LISTA DE COLETORES CITADOS 1 ARCHER, W. A. PIRES, J. M. 1 7848 — B. gulanensis 3751 — B. nitida 1 8256 — " 7754 — B. gulanensis 1 BALDWIN Jr., J. T. 12016 — ” ■ 1 3157 — B. gulanensis 12035 — ” ” 1 BASTOS. H. 14876 — ” " RB — 4942 — B. nítida 51933 — ” ” BAUTISTA, H. P. PIRES, J. M. et G. A. BLACK 1 14 — B. gulanensis 483 — B. gulanensis BERG, C. C. et al. 1628 — ” ’ P19726 — B. nítida PIRES, J. M. et N. T. SILVA CAVALCANTE, P. 10388 — B. gulanensis 947 — B. gulanensis 11406 — ■ " 1444 — ” 11829— — 2504 — ” PRANCE, G. T. et al. 2584 — ’ 2757 — B. nitida CORADIN. L. 7467 — B. axilliaflora 85 — B. gulanensis 7916 — B. nitida DUCKE, A. 7923 — B. gulanensis 1661 — B. gulanensis 8873 — " ” 1880 — B. nítida RODRIGUES, W. MG10.625 — B. gulanensis 5181 — B. gulanensis MG1 1.239 — B. nítida MG12.126 — B. gulanensis SCHUBERT, B. G. MG15.105 — B. nitida 2212 — B. gulanensis 1 RB 12.341 — ” 2216 — ” ” FRÓES, R. L. SILVA, A. 20773 — B. gulanensis 51 — B. gulanensis 1 HUBER, J. SILVA, M. 1 MG488a — B. gulanensis 753 — B. gulanensis 1 MG6991 — ' 767 — B. nitida 1 KRUKOFF, B. A. 1351 — " " 1 6274 — B. nitida 2684 — B. gulanensis 1 MACIEL, U. N. et P. BOUÇAS SOUZA, M. N. 1 9 — B. gulanensis 48 — B. gulanensis 1 MARINHO, L. R. ULE, E. 1 215 — B. gulanensis 5910 — B. nitida 1 PEREIRA, E. VILHENA, R. 1 3325 — B. gulanensis 113 — B. gulanensis 1 8 — 1 cm SciELO 10 11 12 13 14 15