ISSN 0077-2226 CONSELHO NACIONAL DE' DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO E TECNOLÓGICO INSTITUTO NACIONAL DE PESOUlSAS DA AMAZÔNIA BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI NOVA SÉRIE BELÉM — PARÁ — BRASIL BOTANICA N? 57 17, NOVEMBRO, 1982 ANATOMIA DAS MADEIRAS DE DUAS NOVAS ESPÉCIES DE IRYANTHERA: IRYANTHERA CAMPINAE W. RODR. E IRYANTHERA INPAE W. RODR. Pedro L. B. Lisboa Museu Goeldi RESUMO: Estudo anatômico-microscópico das madeiras de duas novas espécies de Iryanthera: I. campinac W. Rodr. e I. inpac W. Rodr. INTRODUÇÃO Até a alguns anos atrás as possibilidades comerciais das madeiras de Iryanthera não eram bem conhecidas, sendo seu uso restrito à confecção de caixas e carpintaria local (Record & Hess, 1949). Com a expansão do emprego des- sas madeiras na indústria de compensados ao lado das VIrola (Ucuúbas) houve um súbito interesse comercial por algumas espécies hoje bastante usadas para aquele fim. Isto nos levou a estudar a anatomia das duas novas espécies (1- campinae W. Rodr. e I. inpae W. Rodr.) descritas por Ro- drigues (1981 e 1982) com o intuito de elucidar a sua ana- tomia do lenho, visando contribuir para a identificação des- sas madeiras e situá-ias no futuro, dentro de um amplo estudo anatómico a nível de gênero. MATERIAL E MÉTODO As amostras de madeiras usadas na confecção de lâmi- nas estão depositadas nas xilotecas do INPA e do Museu Goeldi, com as seguintes informações : Iryanthera campinae W. Rodr.: Estado do Amazonas, estra- da Manaus-Caracaraf, Km 350. Arvore de 8m X lOcm de t LISBOA, P.L.B. — ANATOMIA DAS MADEIRAS... DAP, freqüente em campinas. Col. W- Rodrigues, J- M. Pires, J. Jangoux e N. A. Rosa, 10104. Holótipo INPA 81587. Iryanthera inpae W. Rodr.; Estado do Amazonas, estrada Manaus-Porto Velho, entre o trecho Castanho-Araçá. Árvore de 7m X 15cm de DAP. Col. M. F. da Silva et alii, 971. Holótipo INPA 100.000. Das amostras acima obteve-se cortes histológicos nos planos transversal, tangencial e radial. O material foi sub- metido à fervura durante duas horas e cortado em micrótomo R. Jung. Alguns cortes foram conservados ao natural, ou- tors, corados com safranina hidroalcoólica e montados com bálsamo de Canadá, entre lâmina e lamínula. Para a mace- ração de pequenas lascas, usou-se uma mistura de partes iguais de ácido acético e água oxigenada 120v. Os elemen- tos dissociados, foram corados com "Astrablau" e montados com glicerina, entre lâmina e lamínula. A teiminologia usada é aquela recomendada pela lAWA (1964) e a classificação dos elementos, quanto ao tamanho, foi feita de acordo com a tabela ABNT (1973) . DESCRIÇÃO ANATÓMICA Iryanthera campinae W. Rodr. (Est. I a e b) Vasos de secção circular a subcircular, às vezes ovala- da ou angular; parede mediana, variando de 4-8 í^m de espes- sura, em média 4.16 /^m, distribuição difusa; pequenos a mé- dios, de 70-120 aRI, em média 91 /^m de diâmetro tangencial, maioria entre 80-90 /tin (36%), alguns obst.-uídos por tilos; de pouco numerosos a numerosos, de 9-18 por mm’*, em média 13; geminados levemente predominantes (48%), so- litários (40%) e cadeias radiais de 3-4 vasos, às vezes aglomerados de até 7; placas de perfuração reticuladas a escalai iformes, estas com barras finas, espaçadas, às vezes — 2 — BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDl; BOTÂNICA, 57 bifurcadas, inclinadas: pontuações intervasculares areoladas, opostas, angulares a ovaladas, não guarnecidas, de 8-16 /xm de diâmetro, em média 11 Mm; elementos vasculares de cur- tos a extremamente longos, variando de 470-1330 /^m de comprimento, em média 982 /*m, mais freqüentes entre 890-1030 (32%), às vezes com apêndices tanto finos como grossos em um ou em ambos os lados, em geral achatados nas extremidades. Raios irregularmente dispostos, hetero- celulares, os multisseriado.s apresentam uma única fila de células marginais quadradas; bisseriados mais comuns (80%), unisseriados (8%) c trisseriados (2%); baixos, de 80-390 /^m de comprimento, em média 226 ju.m para os unisseriados e e para os multisseriados 230-1150 /-im, em média 689 /^m; al- tura em número de células varia de 2-16, em média 6 para os unisseriados e para os multisseriados 12-40, em média 21; número de raios por mm linear de 7-12, em média 10; raios fusionados (2%), em média 1000 j^m de altura; altura em número de células, em média 28; pontuações radiovas- culares maiores que as intervasculares de 12-36 í^m de diâ- metro, em média 23 (xm; tubos taniníferos presentes nos raios. Cristais rombóides frequentes nas células do parên- quima radial, visíveis nos 3 planos de cortes. Fibras de pa- rede menor que o lúmen, em média 4.8 /xm de espessura, elementos fibrosos de muito curtos a longos, variando de 1090-1950 /xm, em média 1429 /xm, não septados, pontuações areoladas presentes na parede radial. Parênquima axial apo- traqueal em linhas concêntricas espaçadas, mais ou menos uniformes, com até 6 células de largura, mais comum 2-3; parênquima paratraqueal escasso também presente Cama- das de crescimento indistintas. Iryanthera inpae W. Rodr. (Est. II a o b) Vasos de secção ovalada a circular, às vezes angular; parede mediana variando de 4-8 /xm de espessura, em média LISBOA. P.L.B. — ANATOMIA DAS MADEIRAS... 4.3 /itn, distribuição difusa; pequenos a médios, de 80-130 /tm de diâmetro tangencial, em média 100.4 /im, maioria en- tre 80-100 /tm (72%), freqüente obstrução por tilos; de pou- co numerosos a numerosos, de 8-17 p/ mm^, em média 11; germinados predominantes (58), solitários (29%), cadeias radiais do até 5 (13%), algumas vezes aglomerados de até 6 vasos; placas de perfuração escalariforme com as barras às vezes bifurcadas, assemelhando-se a reticuladas, inclina- das: pontuações intervasculares areoladas, opostas, angula- res a ovaladas, não guarnecidas, de 8-12 um de diâmetro, em média 8.6 /tm; elementos vasculares de muito longos a ex- tremamente longos, variando de 900-1520 /tm de comprimen- to, em média 1248 /tm, mais freqüente entre 1100-1300 /tm (44%), com apêndices tanto finos como grossos em um ou em ambos os lados. Raios irregularmente dispostos, hete- rocelulares, os multisseriados apresentam a margem unisse- riada menor que a multisseriada, compostos de células eretas e quadradas; bisseriados mais comuns (72%) e unis- seriados (23%), baixos, de 230-780 /tm, em média 416 /tm para os unisseriados e para os multisseriados 340-1060 /tm. em média 714 /tm; altura em número de células varia de 3-20, em média 8 para os unisseriados e para os multisseria- dos 8-35, em média 19; número de raios por mm linear 8-13. em média 10; pontuações radiovasculares maiores que as intervasculares, variando de 16-48 /tm de diâmetro, em média 28 /tm: tubos taniníferos presentes nos raios. Fibras de pa- rede menor que o lúmen, em média 4.8 /tm de espessura; elementos fibrosos de curtos a longos, variando de 1240-1840 /tm, em. média 1506 /tm, não septados, com pontuações areo- ladas presentes na parede radial. Traqueídeos presentes. Parênquima axial apotraqueal em linhas concêntricas espaça- das, ora mais próximas, ora mais afastadas, com até 5 célu- las de largura, mais comum 2-3. Também presente parên- quima paratraqueal escasso. Camadas de crescimento indis- tintas. — 4 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTÂNICA, 57 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES O interesse principal do trabalho é contribuir para a identificação das novas espécies, tendo em conta que foram usadas as amostras do lenho retiradas de árvores de onde proveio o tipo. Mas, apresentamos também uma compara- ção entre as duas madeiras sob o ponto de vista da anatomia do lenho. As espécies estudadas são diferenciadas anatomicamen- te pela presença, em Iryanthera campinae, de cristais rom- bóides nas células do parênquima radial, raios heterocelula- res com uma única fila de células marginais quadradas e presença de traqueídeos. Em Iryanthera inpae, os cristais estão ausentes, assim como os traqueídeos, os raios hetero- celulares apresentam a margem unisseriada composta de células eretas e quadradas. As placas de perfuração são predominantomente reticuladas em /. campinae e escalari- formes em /. inpae- As mensurações e contagens dos elementos do lenho entre as duas espécies mostram pequenas variações e são insuficientes para estabelecer uma precisa separação das mesmas. O trabalho dc Garrat (1933) sobre anatomia de Myristicaceae, enfoca o gênero Iryanthera de modo superfi- cial, porque o autor não dispunha, àquela altura, de farto material deste gênero, sendo portanto, insuficiente para fins comparativos. A análise dos caracteres anatômicos das duas espécies mostra um alto grau de semelhança, o que era esperado, visto haver homogeneidade na anatomia das madeiras mais a nível genérico do que a nível de outros taxa. AGRADECIMENTOS Ao Dr. William A. Rodrigues, do Departamento de Bo- tânica do INPA, pelas sugestões e colaboração na obtenção de amostras das madeiras estudadas. Ao Dr. João Murça Piros, do Museu Goeidi, pelas sugestões de redação. _ 5 — LISBOA. P.L.B. — ANATOMIA DAS MADEIRAS... SUMMARY The anatomy of wood samples of two new species of Iryantherc. is described (I. campinae W. Rodr. and /• inpae W. Rodr.). The herbarium vouchers deposited at INPA herbarium have been selected as holotypes by the author of the two new species. ' ■ ■■ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇAO Brasileira de Normas Técnicas 1973 —'Descrição dos Caracteres gerais e anatômicos macro e mi- croscópicos das madeiras de dicotilcdôncas brasileiras. Rio Janeiro, 18p. (mimeografadoj. GARRAT, G.A. 1933 — Systematic anatomy of the wood of Myristicaceae. Trop. woods, New Haven, 35: 6-48. INTERNATIONAL Association of wood Anatomists 1964 — Multilingual glossary of terms used in Anatomy Kankordia, Winterthur. p. 115-136. RECORD. S.J. & HESS, R.W. 1949 — Tinibers of the new world. New Haven, Yale Universlty Press. p. 399-400. RODRIGUES, W.A. 1981 — Nova Iryanthera Warb. (Myristicaceae) da Amazônia. Acta Amazon., Manaus, 11 (4): 852-854. 1982 — Duas novas espécies da flora amazônica Acta Amazon., Ma- naus, 12 (2): 295-300. (Aceito para publicação cm 04/10/82) Est. II — Iryanthera inpae W. Rodr.: a — Secção transversal (50x); b — Secção tangencial (50x). Est. I — Iryanthera campinae W. Rodr.: a — Secção transversal (50x): b — Secção tangencial [50x). LISBOA, Pedro L.B. — Anatomia das madeiras de duas novas espécies de Iryanthera: I. campinae W. Rodr. e I. inpae W. Rodr. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, Nova Série: Botânica, Belém, (57): 1-6, nov., 1902. il. RESUMO : Estudo anatômico-microscópico das madeiras do duas noc vas espécies dc Iryanthera : I. campinae W. Rodr. o I, Inpao W, Rodr. CDU 582.677.7 CDD 583.931 MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI t