i».". c : MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN 1944-1945 TOMO XVIII % * Sáo Paulo, Brasil Caixa Poatal 65 MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN 1944-1945 TOMO XVIII * São Paulo, Brasil Caixa Pottal 65 Ui . « I ÍNDICE Pág. 1. AXfAR.\L, T. P. do & ANDRADE. M. C dc — Portadores do bacilo de I.ocffler entre os escolares de São Paulo 1- 8 Diphtfria carríers amotig São Paulo school chUãren. 2. AXfARAU J. P. do &- SOUZA e SILVA, O. R. dc — Imunidade antidifté- rica na mãe c no recém-nascida Suas rdações com o ScbkJc test . . 9-20 Antídiphtheric inimunity in the motkcr and in thc nno-hom, and tis relolions to lho Scktck tfst. .L .\RA>:tES. T. P,.; KARMANN, G. h PTHR, O. G. — En-.-reso da rc-íSo de flo^ilarão especifica na dosagem do antíveneno crotilico 2J- 26 ylpplhabilily of Ike sponfic flocculalion reactUm for Iko in vilro titration of crotaVu anlivcnin. 4. BTER. O. G. — Estudo quantitatiro da reação dc H' •'idação entre o veneno e o antiveneno croiãlico 27- 32 ,d tpuontilaik-f sludy of fko floccutolion reactiem bftxeen the í-etiom ef Crota!us I. ternfirJS and tts specxfie cn/íírnm. 5. BIER. G. 3,- .\MARAL. J. P. do - - Dcrcnca icaraento do fa'.óaiuH) de Shwart.-man em coelhos m -diante a injeção vcr.csa dc giiecgcnio piao 33- 36 Tíemorrhagie reocfion at lhe lile of inlraeutaneous injeclion of hacte- ■ix! eslracts after intrat\‘r. > VÍ > > 2 > 2 > 2 I 1 1 1 1 1 1 9 ri 1 1 1 5 R J n 1 4 “A 1 1 1 .s 1 1 1 1 1 1 I 1 1 1 1 1 1 s H B 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 1 1 1 1 1 1 1 ll > 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4- 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 e rt C. §1 'u V e 5 X •0 «f CU a* £ k. 2. 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M b E e X 3 e bt b a k H « X c 2 2 C P b llf ^ g^ b k b a.t-^ 1 C X e bt b p > 3 H b e b iH 5-HS b s 'p 8 0 •P b P > k 3 H V S X e •p b p > 3 H b E k X 3 0 lí b > X 3 a-H * c p k 9 s g . iif s á 1 X 3 © P ^ b 3 P b > X 3 a.H g X 3 5 = p 3 2 & 3 b He X p b 2 p p b lll iP2 -;í| Ui 1 x 3 P 3 H O Jt b í b E J!?? 3 • d b^ b 2.«pâ k .3 3 p 0 2 8 “ 5 is 3 p-o ^ & p k Jt b í g |g| Ijt á:l2 g k O ‘c 3 .2'l 3 p b > X 3 mH 0 d b 1 b E «g.2 Igi is* g , O X 3 e 4-5 £5 53 V S X 3 4 CB P > H -4 = 9 « J i Cl £A£ 3 2 5 ^ 2 Sx S-â sá 8 ^ 2 4 g s = s 4.5 í ■54 M^ 9 2 E d tf una 4^1 isl ina /ii 3*2 .W c*$ X k i 3 1 1 + + 1 + 4 4- 4- 4- 4- 4- 4- + + 4- 4- 1 4 - 4 - 1 1 4 - 4- 4- 4- 4- 4- 4- 1 1 “T + 4- 4- 1 1 4 - 1 + -i- 4- 4- 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 1 + 1 1 1 1 1 4- 4- 1 1 1 4- ■ 4 - 1 1 4- 1 > 1 + 1 + 1 1 1 1 I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 - 1 1 1 4- 1 1 1 1 1 4 - 1 1 1 1 1 1 1 1 4- 1 1 1 4- 1 1 1 1 1 4- 1 1 1 1 1 1 1 > 7Í 1 + 1 + 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 - 1 1 1 4- 1 1 1 1 1 4 - 1 1 1 1 1 1 1 1 4- 1 1 I 4- 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 •1- + + + + ■f 1 4- 4 1 1 1 1 4- 4 - 1 4- 1 1 4 - 1 1 1 4- 1 1 1 1 4- 4 - 4- 4- 1 4- 4 - 4- 4 1 4- 4 - 1 4- 4 4- 4- 1 1 1 1 ( 1 1 4 - 4- 4- + 4 - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 i 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 1 1 1 1 1 » 1 1 1 1 1 1 > + + + + 4" + + 4- 4- 4- • 4 - 4 - 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4 - 4- 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4" 4- 4- 4- 4- 4 - 4- + + 4 - + + + + 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4- + 4- + + 4- 4- 4- 4 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4 - + 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4- 4- 4- 4 - 4- 4- 4- 4 - li 1“ 3 e 1-'^ ;|ll sS s . pç “ r " •3 = “ *• ^ »• «< “E i E O « 1Í3 E ■= 3 b e: •2 — J b X {* ^ & M :! § #^*cu 1 b Ijj O B Jf J 2 b 3 o • 5 b 8 2 — P M s<2 8 o b 5 . fl w IIj C b3 S P _Íb ^ i •a At 1 ■s. 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Kinneard (7) em estatisticas realizadas entre negros e brancos duma mesma região refere 90% '' de negros Schick negativos e somente €0% de brancos nas mesmas condições * imunitárias. Nelly e Ramon (8) em pretos do Congo Belga, constataram 95,7% de adultos e 78% de crianças com mais de 1/30 de unidade antitóxica, cifras estas ^ bem mais elevadas que as existentes para pessoas da mesma idade constituintes das populações brancas. t ■. Nossas estatisticas são bem resumidas com referência ao assunto. Dull e Ferreira (9) no Rio de Janeiro realizando a prova de Schick em 1217 pessoas de ambos os sexos e de diferentes idades, revelam 21,8% de Schick positivos, sendo que 12, 4% são enquadrados nos adultos. Em 1924, Borges Vieira (11), resumindo estatisticas de Castro Simões, Cavalcanti, B. Vieira de Almeid.a e a do Posto Experimental, assinala a por- centagem de Schick positivos nas diferentes idades, encontrando entre 12 e 15 anos 21,5%; não faz referenda, porém, ao test no adulto. Ulhoa Cintra (12), em trabalho correlato com o assunto, ainda em São Paulo, refere 28,2% de adultos Schick positivos. A cur\a de imunidade natural, bem conhedda hoje, se inicia no recém- nascido pela transmissão passi\‘a dos anticorpos da mãe ao filho através da pla- centa. Se até 1923 havia alguma dúdda sôbre a transmissão da imtmidade anti- diftérica na espécie humana por esta via, o trabalho de Kutner e Ratner (13) focalizando o assunto não deixa a menor dúvida sôbre a questão, demonstrando claramente esta transferênda de antitoxina em quantidades práticamente iguais. Interessante será registrar o recente trabalho de Sordelli (14), que leranta dúvidas sôbre a questão, anotando titulos bem diferentes. Esta imunidade inidal na vida da crianças, que se intensifica ainda pdo aleitamento ao seio materno e que se esgota no prazo, de mais ou menos um ano, é readquirida depois ativa e gradati\-amente até a idade adulta pelo contato suces- sivo com os germes causadores de infecções subdinicas, mas vacinantes. Apesar de estar fora de dúvida de que a infecção desempenha o principal papel no aparecimento da imunidade à difteria, devemos dtar outros fatores ainda não especificados; assim é que Hirszfelo (15) e outros crem na possibilidade de fatores hereditários na determinação do aparedmento dos chamados anticorpos "normais”. Xo caso particular da imunidade antidiftérica Hirszfeld pretendeu demonstrar a correlação existente entre a herança das hemaglutininas (tipos san- guineos) e da antitoxina diftérica (reação de Schick). SciELO, 2 Jandykk P. do Amaral Jc O. R. de Sovz.\ e Silva — Imunidade antidifté- rica na mãe c no recém-nascido 11 Entre nós Ulhoa Cixtra (12) em sua tese de doutoramento estuda êste assunto e confirmando as ideias de Hirszfeld conclui que o problema da consti- tuição sorológica” é de suma importância no aparecimento da imunidade antidifté- rica no adulto. Em nossa presente comunicação referiremos o resultado de 250 Schick tests realizados em adultos do se.xo feminino, puérperas. e em seus respectivos filhos. Se bem que em pequena escala, acreditamos poder tirar conclusões, naturalmente com reservas, sobre o índice imunitário das mães e dos recém-nascidos em nosso meio. — As verificações foram realizadas em puérperas e recém-nascidos da Maternidade do Hospital São Paulo, de acõrdo com a técnica abaLxo discrimi- nada. MÉTODOS Técnica do Schick test — A reação de Schick foi feita de acõrdo com a técnica usual, inoculando-se, com seringa graduada cm centésimos e agulha ade- quada, na derme da face anterior do antebraço, 0,1 cm3 de uma diluição de toxina diftcrica em solução tampão de borato, segundo Moloney, representando 1/50 de D.L.M.. A estabilidade da toxina foi continuadamente verificada não só em relação ao seu poder tóxico, como também qiunto ao seu poder de combinação com a antitoxina, visando os preceitos recomendados pela Comissão de estandar- dização biológica da Liga das Xações. O Schick test está baseado na particularidade de que uma determinada quan- tidade de antitoxina circulante, usualmcntc estabelecida como 1/30 ou 1/25 de unidade por cm3 de sòro, é suficiente para .salvaguardar a pessoa contra o risco de uma infecção diftérica. A técnica do Schidv test consiste na injeção intracutânca, na fase anterior do antebraço, de uma quantidade de toxina correspondendo a 1/50 da D.M.L. num volume de 0.1 cm3. Sendo o Schick test uma reação em que prevalece o fator quantitativo, importante se torna o uso de uma toxina acuradamente diluida e aferida, para que a reação tenha algum valor. .Assim é, que, tanto o diluente como a diluição devem obedecer a condições já estipuladas e tidas como impres- cindíveis. .A toxina usada foi por nós diluida em solução tampão de borato segundo a técnica de Molonej*. Cuidados especiais foram tomados com o peder tóxico e sua estabilidade e ainda com o poder de combinação da toxina com a antito.xina padrão, visando a técnica de estandardização da Comissão Biológica da Liga das Nações. Assim é, que, pelo preparo da solução de toxina em meio adequado, e pela observação das dosagens exigidas, pudemos observar a estabilidade pelo espaço 3 \ ScíELOIq 12 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIIl de mais ou menos 6 mêses da toxina padronizada, e ainda a porcentagem boa de reações que coincidiram com as dosagens diretas dos soros dos pacientes. Com o fito de distinguir a verdadeira reação produzida pela toxina de possíveis pseudo- reações, resultantes da irritação da pele por constituintes não tóxicos da cultura, foi injetada por via subcutânea, no braço oposto ao da prova, igual quantidade (0.1 cm3) da mesma toxina, mas inativada a 70° por 5 minutos. A leitura das reações foi feita durante o espaço de 4 dias, obedecendo ao seguinte critério : 1° — Reafão positkv — Xo braço em que foi inoculada a toxina, aparece, 24 a 36 horas após, uma área circunscrita de eritema no local da injeção, área essa ■que aumenta de intensidade em coloração, e de tamanho até o 4° e 5° dia para, a seguir, ir desaparecendo gradativamente. 2° — Reação negalhxt — Xeste caso há ausência de qualquer área vermelha ■ou de qualquer outra reação em ambos os braços. 3° — Pseudo-reação — Desenvolve-se igualmente em ambos os braços e nas primeiras 24 horas, uma zona vermelha circunscrita e mais azulada que desaparece com rapidez, tomando-se a pele normal no 3° ou 4° dia. 4° — Reação combinada — Esta reação é uma combinação da precoce pseudo- reação com o subseqüente desenvolvimento da verdadeira reação á toxina; esta última pode ser lida sem dificuldades no 4° ou 5° dia. 5° — Reação dutddosa — Foi considerada reação duridosa aquela que, não .apresentando em 3, 4, ou, eventualmente. 5 dias os característicos de uma reação positiva não era totalmente inexistente, parecendo assim uma reação positiva ■dissimulada. A falta de antitoxina foi indicada sòmente pelas reações positims e combi- nadas. Dosagem da antitoxina — As dosagens de antitoxina foram realizadas segundo a técnica usada para o Kellog test, misturando-se as partes iguais de diferentes onto de inoculação. Sempre que a reação testemunha apresentou-se nítida, os resultados foram computados, pois as cobaias não são passíveis de apresentar falsas reações. Quanto à colheita de sangue foi feita, no caso da mãe, por punção venosa nas veias mediana ou basilica do antebraço e no recém-nascido, da veia do cordão umbilical. As amostras de sangue foram recolhidas em tubo estéril e os soros separados quer após a retração natural do coágulo, quer por centrifugação. RESULTADOS E COMENTÁRIOS Pela inspeção do quadro I verifica-se que em 121 mães, 94 apresentam imu- nidade à difteria (Schick negativas) ; 20 são sensíveis à toxina, não tendo, por- tanto, imunidade suficiente, e 7 apresentam-se com reações duvidosas. Xos recém-nascidos nota-se que o número de Schick negativos é maior (105), 15 apresentando reação positiva típica e aparecendo ainda 3 reações duvidosas. Quadro I Relação entre as frotos de Schick na mãe e no recim-nascido Sckkk podttTM Schick Rr«<6c« duvidosas <âtipécas> Total Mãe 20 94 6 121 Recém- nascido 15 105 3 123 Ainda com relação às reações, queremos referir, cm destaque, reações atípicas 0.03 e < 0.06), e 3 reações negativas com teor imunitá- rio < 0.03. Devemos assinalar ainda 5 reações atípicas ou du\-idosas que se relacionavam os títulos limítrofes (> 0.03 < 0.06). Com referencia aos recem-nascidos, em 123 reações realizadas, 120 se mos- traram típicas, sendo que destas, 1 14 estão de acordo com as dosagens, sendo 101 negati\'as para soros de teor imunitário acima de 0.03, e 13 positivas para índices inferiores. Devemos referir ainda 2 reações Schick positi\'as relacionadas com índices imunitários bai.xos (> 0.03 < 0.06) e 3 negati\-as para dosagens inferiores a 0.03. .\ observação evidenciou ainda 3 reações atípicas ou duvidosas das quais 2 estão relacionadas em índices antitóxicos baixos (> 0.03 < 0.06) e uma com dosagem inferior a 0,03. Os dados que acabam de ser referidos, vem sumarizados no quadro II. Quadko II Rtlação entre a protn de Sckick e o teor imunitário do tôro Schick 4* cooi teor imumtirio <0.03 ReacSo Schide + com teor imoaitirio >0.03 _<0.06_ Rcaçío Schick — cooi teor inuoaitirio >0.03 RcaçSo Schick — coca teor imonitlrio <0.03 RcA< 0.03 <0.06 Rco^oco duTÍ* doto* ou att* picas com teor imumtirio <0.03 1 puérperas 14 4 80 3 5 106 recém- nascidos 13 m 101 0 O 1 123 Considerando apenas as reações típicas, encontramos nas puerperas, em 101 reações. 94 relacionadas com a dosagem de antitoxina do sôro e nos recém-nascidos em 120, 114 concordantes. No recém-nascido, pois. em 120 reações típicas, só 6 se apresentaram em divergência com o título imunitário, isto é, 4 reações que deveriam teòricamente ser positivas não se comportaram como tal e em 2 casos com reação positi\'a. o sôro revelou titulo > 0.03 < 0.06. Os resultados apresentados estão em contradição com os de vários autores que também estudaram a prova de Schick no recém-nascido (Kellogg (19) 16 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Friedberger e Heiu (20), Okell (21), Cooke e Sharma (22), entre outros) e que se referem à falta de sensibilidade da pele do recém-nasddo à toxina difté- rica, mesmo quando a antitoxina circulante está abaixo do mínimo determinado. SoRDELXi (14) em recente trabalho confirma igualmente esta tese num grupo de 13 recém-nascidos sem antitoxina circulante, acometidos de coriza diftérico, em 11 dos quais obser\-ou reação de Schick negativa. Não pretendemos infirmar teorias já pro\'adas e aceitas; limitar-nos-emos unicamente a ressaltar que, em nossas verificações as disparidades não se mostra- ram tão intensas quanto se poderia calcular em face dos dados anteriormente apresentados. -Assim é, que, em 17 recém-nascidos que deveriam apresentar rea- ção positira dada a ausência de antitoxina no sôro, 13 se comportaram de maneira regular e 4 entraram no número dos insensíveis à toxina. Assinalaremos ainda os vários resultados obtidos em relação á côr e à nacio- nalidade. De 110 puérperas cujos soros foram e.xaminados. 89 eram brancas. 15 •» pretas. 14 >> pardas e 2 ff amarelas. No que se refere à nacionalidade a grande maioria é de brasileiras (96) aparecendo 6 portuguesas, 4 talianas, 3 espanholas, 2 lituanas, 2 húngaras, 2 japonesas, 2 jugoslavas, 1 polonesa e 1 alemã. Embora o número de dados seja insuficiente para um julgamento estatístico, é interessante discriminar as 17 reações de Sch ck po5Íti\-as em relação à côr e á nacionalidade. Assim, em 89 puérperas brancas a reação de Skrhick foi positi\’a em 10, registrando-se 2 reações positivas cm pretas, num total de 15, 1 em amarela, num total de 2 e 2 em pardas, num total de 14. Quanto à nacionalidade houve 14 reações positivas brasileiras, num total de 96. 1 em húngara, num total de 2. 1 em japonesa, num total de 2 e 1 em italiana, num total de 4. Pelo exposto conclúe-se que foi impossível verificar qualquer correlação entre a positividade da reação de Schick e a raça ou a nacionalidade. Com relação á pro\-a de Schick no adulto, cm 121 reações praticadas, 20 foram positivas e 7 du\ndosas, sendo que destas, 5 como já foi anotado, correspon- diam a mulheres com títulos antitóxicos baixos. JANDYR.K P. DO Am.\r.\l &. O. R. DE SouzA E SiLVA — Imunidade antidiflé- rica na mãe c no recém-nascido 17 Podemos referir, pois, em nosso meio, uma porcentagem de 16,6 de Schick positivos para adultas, indice um pouco maior que o obtido por Dull e colabora- dores no Rio. de Janeiro. Consideremos, finalmente, a relação entre os títulos antitóxicos verificados na mãe e no reccm-nasddo, que vém resumidos no quadro III. O estudo comparativo foi realizado em 110 soros, tendo as dosagens \’ariado entre 0.033 e 5 unidades, pois, infelizmente, o material disponivel não permitiu dosagens mais acuradas. Quadso III Rfla(ão entre os títulos antitóxicos na mãe e no reccm-nascida UnkUdes < 0.03 >0.3 <0.06 > 0.06 <0.17 > 0.17 < 0.3 > 0.03 <3 >3 <5 Toul mães e recém- nascidos 17 21 3 2 54 2 99 Destes 110 soros, 99 apresentaram títulos antitóxicos pràticamente iguais na mãe e no recém-nascido. Xos 1 1 soros restantes, em 9 o titulo do sôro da veia do cordão (recém-nas- cido) é maior que o da mãe, em 2 aparecendo o caso inverso. Como, porém, o método empregado não permite uma aproximação maior dos resultados, não tendo êles s^ariado além dos limites de uma diluição para a imediata, é possível que as di'=cordáncias assinaladadas sejam muito pequenas. Se computarmos o total das 110 dosagens, verificamos que 17 soros de recém- nascidos e os soros de suas respecti^•as mães apresentam-se com titulo antitóxico alaixo de 0.03; ao que parece podemos julgar que a toda a mãe não imune cor- responde um recém-nascido susceptível ã difteria. Nesta ordem de ideias é que Sorrentino (23) propõe e estuda a \’acinação antidiftérica em gestantes Schick positU^as. .•\ análise do quadro III evidencia ainda que o maior número de títulos de soros se encontra na escala de dosagem entre 0.3 e 3 u. Para economia de espaço, omitimos a obser\-açâo minuciosa de cada caso cm particular, com a descrição da reação obsci^^ada e dos resultados de dosagem da antitoxina no sôro sanguíneo da puérpera e do recém-nascido, protocolos estes que se encontram arquivados, à disposição dos interessados, na Biblioteca do Instituto Butantan. 9 18 Memórias do Instituto Butantan Tomo XMII RESUMO E CONCLUSÕES Foram realizadas pro^^as de Schick em 123 puérperas e em seus filhos. Simültâneamente foi feita a dosagem da antitoxina circulante no sangue mãe e no sangue do cordão umbelical. Nos recém-nascidos foram encontradas 15 reações Schick positi\-as, 105 reações Schick negatiras e 3 reações duvidosas. Em 4 casos, nas mães, apareceram reações do tipo bolhoso, não apresentando as pacientes carater de anormalidade orgânica que pudesse ser ligada à sua etiolo- gi^- Nos filhos das citadas puérperas, a reação de Schick foi positira, com os característicos normais. Foram encontradas em 21 adultos reações evidenciando sensibilidade à pro- teína, sendo 6 de carater ligeiro. Nos recém-nascidos só em 6 casos foram veri- ficadas ligeiras reações no controle. Pela dosagem direta da antito.xina em 106 soros de puérperas e em 123 de recém-nascidos ficou verificado que 17 mães e 18 recém-nascidos possuíam menos de 0.03 de unidade de antitoxina circulante. No que se refere à pro\-a de Schick no adulto com relação ao teor imuni- tário, ficou demonstrado mais uma vez que ela é de importância desde que prati- cada com técnica perfeita. Quanto à pro^^a no recém-nascido, não tivemos dados que pudessem afirmar a insensibilidade da pele â toxina diftérica, pois em 13 soros sem poder antitóxico, seus pacientes reagiram bem â toxina e apenas em 4 com titulo antitóxico inferior a 0.03 a reação foi negati^-a. No recém-nascido, pois, uma reação de Schick positi\-a traduz, de uma maneira geral, falta de imunidade â difteria. A reciproca também foi observada. Parece-nos que as reações duvidosas ou atípicas estão geralmente em relação com os títulos imunitários limítrofes. Pela comparação entre o teor imunitário das mães e dos recém-nascidos pudemos obsei^ar títulos antitóxicos práticamente iguais. De um modo geral encontramos 16,6 de adultos susceptíveis á difteria em nosso meios, independen temer te da raça ou da nacionalidade das pacientes. A e.xistência de 11% de recém-nascidos com teor de antitoxina circulante abaixo de 0.03, isto é, susceptíveis á difteria justifica a inclusão desta afecção nas preocupações de diagnóstico diferencial nessa idade. Jandyr\ P. do Amar.\l Sí 0. R. de Souza e Silva — Imunidade antídifté- rica na mãe e no recém-nascido 19 BIBLIOGRAFIA 1. Abel. R. (1894). Deutsche Med. Woschr^ 20. 692. 2. Romer, P. H. (1909). Zeilscher. f. Immunilatsf^ 3, 208. 3. SchUk, B. (1913). MSnch. Med. Woschr., 60, 2608. 4. Keine, F. K. & Kroó, H. (1930). Deutsche Med. Woschr. 56, 46. 5. Grasset. E. & Perret-GentU, A. (1935). C. R. 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Friedberger, E. & lleim, Fr. (1929). Deutsche .Med. IVoschr., 55, 132. 21. Odell, C. C. (1932). Lancet, 1, 761, 815, 867. 22. Cooke, J. V. & Sharma, B. M. (1932). Amer. J. Dis. Children, 44, 40. 23. Sorrentino, G. (1931). Pediatria, 39. 849. (Rcccbwlo SkATA pqbitaiçio rtn de‘ado mediante injeção venosa no pombo), conclui que a concordância não é perfeita e que, por isso, a verificação de prccipitinas não pode ser utilizada para a dosagem exata dos soros antiofídicos* Do mesmo modo, Houssay & Xet.rete (3). afirmam não haver relação entre o poder precipitante e o poder neutralizante trabalhando com sóro antiofidico polivalente (anti- C. terrificus - B. alternata - B. ncttzincdn) c veneno de B. altemata. Mais recentemente (1935), Mallick (4), com o sistema sóro anti-cofrro-F.- russeUii mais veneno de cobra, chega também à conclusão de que a floculação. segundo Ramox, não pode ser usada para a aferição do antiveneno, embora não seja aparente, dos protocolos de suas experiências, porque se manifesta ele tão pessimisticamente acerca daquela possibilidade. À mesma conclusão chegam Ghosb & Kunda, cm 1940 (5), havendo, porém, estes autores, encontrado valores bastante próximos nas titulações feitas í»i viw (no pombo) e ín infro (floculação) do antiveneno Vipera russeüii. 1 SciELO, 14 22 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Nos últimos quatro anos, no Instituto Butantan, um de nós (J.B.A.), vem acumulando dados comparativos das dosagens in zii’o (por injeção venosa no pombo, segundo Vital Brazil) e in vitro (misturas de 1 cm3 de soro com quan- tidades variáveis de veneno) de numerosos antivenenos ofidicos preparados em cavalo, tendo chegado à definida impressão de que a precipitação especifica pode servir de guia seguro na aferição do sôro contra o veneno da cascavel neotrópica (CrotaJus tcrrificus terrificus), embora não o seja no caso do antiveneno botró- pico* No presente trabalho tais resultados são consubstanciados, estabelecendo-se com maior precisão as condições técnicas favoráveis à evidenciação do ótimo de precipitação, quer usando-se o método dito a (Deax & Webb), no qual dife- rentes quantidades de antígeno são adicionadas a uma dose fixa de anticorpo, quer o método inverso (p), segundo Ramox, tal como se usa para a dosagem m vitro da antitoxina diftérica e outras. MATERI.\L E MÉTODOS Antivenenos — Foram usados soros crotálicos monovalentes ou soros antiofi- dicos mistos (crotálico-botrópico), quer de sangria direta, quer purificados e con- centrados. Solução de veneno — As soluções de veneno foram preparadas a partir do veneno-padrão do Instituto (dessecado 5 dias a 37°C) e geralmente na concen- tração de 1 mg por ml. Como solvente (e também como diluente no preparo de soluções menos concentradas) usou-se soluto de cloreto de sódio a 0.85% tam- ponado com fosfatos a pH 7.4 e adicionado de mertiolato na proporção de 1:10000. Conservadas na geladeira a 4®C, tais soluções de veneno mantêm o seu titulo inalterável durante 15 dias, após o que começam a enfraquecer progressivamente. Técnica das reações de precipitação — A precipitação das misturas veneno- antiveneno foi estudada quer \-ariando o antígeno, segundo Dean & Webb (método a), quer \'ariando o anticorpo (método P), de acordo com o método de RAMceí. Em ambos os casos foi o volume final completado a 3 ml com água fisiológica e os tubos imersos em banho-maria a 50“, até 1 /3 da coluna liquida neles contida, de maneira a provocar a formação de correntes de convenção, que aceleram a formação de partículas e facilitam-lhes a visibilidade. O tempo total de obser- vação foi de 4-5 horas. Reproduzimos abaixo o protocolo seguido na pesquisa do ótimo de floculação, segundo Ramon e que permite a titulação de soros capazes de neutralizar por ml desde 0.1 até 2.5 mg de veneno (tab. 1). J. B. Arantes, G. Karmann i Orro G. Bier — Emprego da reação de Hoculação específica. 23 Tabeuv 1 Protocolo de dosagem feio método P (Ramon) Sol. TmeikO 1 mc^nl SÃTO N-»a 0.85 Í4 0o^ti 2.30 1.90 1.00 0 85 0.70 0.57 0.47 0.39 0.32 0.27 0.22 0.19 0.16 Ralio 0.35 280 120 65 22 70 1.84 0.40 200 68 22 100 1.81 0.60 130 45 12 140 1.S5 0 60 232 115 42 28 50 1.87 0.75 137 55 25 20 246 1.92 0.90 260 240 140 102 38 16 14 42 120 1.91 1.10 90 45 15 10 8 30 135 1.92 1.30 135 10 95 1 S6 1.60 250 180 10 60 1.88 1 90 22 38 135 1.90 \'c-se na tabela 2 que o antiveneno estudado se comporta como um sôro do tipo H no sentido de Bovd (6) e que os seus ótimos a e P pràticamente coinci- dem, as ratios G/A em ambos os casos \-ariando apenas de 1.86 a 1.92 para o ótimo a e de 1.81 a 1.92. no caso do ótimo p. Êste resultado, aliás baseado em floculações feitas com um único antiveneno, está em oposição ao ponto de vista e.xpendido recentemente (1944) por BovD & Tcrneix (7) de que os ótimos a e P jamais podem coincidir. ’ cm SciELO, 11 12 13 14 15 16 17 J. B. Ar.\ntes, G. K\iimann & Orro G. Bieh — Eníprêgo da reação de floculação especifica. 2ã Conhecido o fato que os ótimos a e P frequentemente cáem na zona de equivalência, fizemos algumas verificações dos sobrenadantes correspondentes a tais precipitados e pudemos realmente compro^^ar, mediante injeção venosa em camundongos, a inexistência de veneno livre. Esta verificação é consubstanciada pela concordância entre as dosagens in vk'o e in vitro de diferentes antivenenos crotálicos, tal como se pode ver na tabela 3. TABEl-^ 3 Concordância entre as dosagens in viro {fomboy e in vitro (Jtocuiofão) de diferentes anlhmcnos crotálicos Antiveneno Dottctm «n viro: qnmstidnde de Tcneno nentmlizadA por 1 ml de antiveneoo quADtidnde de veneno qne floctiln ótimameote com 1 ml de aotiveneno tu r«c'o Ritio tn t%tra mg mg C 30 0.10 0.92C) 0.93 0.92 0.92 0.96 0.94 1.09 0.82 C 29 2.10 1.78C) 1.2 1.64 1 3 C 17S 0.50 0.50 1.0 C 193 0.30 0.27C) l.I 0.27 C 011 0.40 0.35 1.1 C 016 0.45 0.41 1.1 C 006 0.30 0.20 1 5 C 014 0.25 0.27 0.93 C 015 0 45 0.41 1.1 324 0.50 0.41 1 2 424 (••) 0.60 0 62 0.97 (*) Do«afent irpetidAt com diferentes sotucões de venetm. (**) Sóro satiofidico mirto espu de neutrslitsr por ml, 0.6 de veneno crotilico e 1.2 de eeoeoo bo trópico. .•\ relação foi, na maioria das vezes, muito próximo de 1. só tendo havido um afastamento apreciável no caso dos soros C 29 e C 006. Tais desvios, que aliás são muito pequenos quando comparados, p. cx°, com os observados na dosagem do' sôro antidiftérico, não invadem o valor da floculação na dosagem dos soros anti-ofidicos, uma vez que esta indica a dose justamente neutralizada ã SciELO 3 11 12 13 14 26 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII por uni certo volume de sôro (Lo), ao passo que a dosagem in zivo indica um valor frequentemente intermediário entre Lo e L-j- (dai ser a ratio " ■ quase sempre superior a 1.0). CONCLUSÕES 1. A reação de floculação especifica observada entre o veneno e o anti- veneno crotàlico mostra ótimos o e P pràticamente coincidentes e que correspon- dem à zona de neutralização. 2. Comparando-se os resultados das dosagens í« vivo (método de Vital Brazil) e í« tntro (floculação) de uma série de antivenenos crotálicos, obteve-se uma ratio *° muito próxima de 1. Dai a conclusão de que a floculação io ritro especifica poderá seiv-ir como um guia seguro na aferição do antiveneno crotàlico. ABSTR.\CT 1. The optimal proportions ratios are verj* dose for the System Crotalui. tcrrificus venom-antivenin, when determined either by the alpha (Dean & Webb) or the beta methods (Ramon). 2. The comparativo titration of a series of Crotaius antivenins, by using the flocculation and pigeon methods, showed a ratio ver\- near to 1.0. ia Titro 3. The conclusion is drawn that the flocculation reaction is a reliable index for the tiration of the neutralizing potenc>’ of Crotalus antivenins. BIBLIOGRAFIA 1. Calmelte, A. & Massol, L. (1909). Les précipitines du sérum antivenitncux vis-à-vi» du venin de cobra. Ann. Insl. Pastfur, 23, IIS. 2. Vital Brasil (1914). La défense cootre rophidbme. Pocai-Weiss & Cia., São Paulo, a. pág. 246. 3. Housiay, B. A. Sr StgrtU, J. (1917). Propriedades precipitantes especificas de los sueros antiofidicos. Rex\ dei Inst. Bacteriológieo dei Dep, Sac. de Higiene, 1, 15-31. 4. Maliick, S. M. K. (1935). 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Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Arantes, Karmaxx & Bier (1) demonstraram que a reação de floculação observada entre o veneno de Crotalus t. terrificus (cascavel neotrópica) e o res- pectivo antiveneno deve ser considerada como uma reação antígeno-anticorpo especifica, em vista da estreita correlação in vivo - 1 « vitro por êles verificada, experimentando o veneno em relação a um grande número de partidas de antive- neno. Uma vez que os métodos quantitativos desenvolvidos para a dosagem das precipitinas (2) foram aplicados com sucesso ao estudo da reação toxina-antito- xina, quer no caso da toxina diftcrica (Pappexheimer & Robixsox, 1937), quer no caso da toxina escarlatinica (Hottle & Pappexheimer, 1941), pareceu-nos que tal técnica devera ser aplicada também ao sistema V-A crotálico. A intenção foi a de obter, assim, dados importantes para a avaliação da atividade imunológica do veneno jxiro, independentemente do seu isolamento, bem como para a deter- minação quantitativa do antiveneno. MATERIAL E MÉTODOS Solução de veneno — As soluções de veneno foram preparadas adicionando- se o veneno sêco padrão do Instituto, na proporção de 0,4Çfc, a um soluto hipertõnico de NaQ (1.5%), de acordo com a técnica aconselhada por Vital Brazil (5), a qual permite assegurar rápida e completa dissolução. Esta solução-mãe foi conser^-ada na geladeira sem adição de qualquer preser- vativo c usada dentro de 3 a 4 dias, no máximo, preparando-se diluições da mesma em soluto isotõnico de NaQ (0.9%) que, antes de serem usadas nas experiências de floculação, eram centrifugadas na câmara fria a 2000 r.p.m. durante meia hora. a fim de obter-se um sobrenadante perfeitamente límpido. 28 Memórias do Instituto Butantan Tomo XYHI Anlnvncnos — Foram usadas três partidas diferentes de antiveneno crotálico, sob a forma de sôro de cavalo hiperimune, não purificado, de sangria direta feita, no máximo, oito dias antes das experiências. O sôro, separado do coágulo por sifonagem, foi centrifugado no dia seguinte, deixado em repouso durante mais 24 a 48 horas em câmara fria e no\'amente centrifugado, a 2000 r.p.m. meia hora, no dia da experiência. As três partidas de antiveneno utilizadas, correspondentes aos ca\’alos de números 152, 190 e 188, neutralizavam respectivamente 0.22-0.40 e 0.54 mg de veneno de Crolalus t. tcrrificus per ml de antiveneno, sendo as dosagens feitas no pombo, pela via intravenosa, de acordo com o método de uso corrente no Instituto. Técnica das reações de {precipitação — De cada antiveneno determinou-se o ótimo de floculação, quer usando-se o método a (proporções ótimas, segundo De.\x & Webb), quer o método P (R.\mox). Xo primeiro caso, a 2 ml de sôro adicionaram-se quantidades \'ariáveis de veneno, igualando-se os volumes com água fisiológica: no segundo caso, a 2.5 ml de uma solução contendo 0.1 mg de veneno per ml, adicionaram-se quantidades \-ariáveis de sôro, igualando-se tam- bém os volumes finais com solução isotônica de XaQ. Os tubos foram imersos, então, em banho-maria a 50®C até uma altura correspondente a cêrea de 1/3 do seu conteúdo, fazendo-se leituras em intervalos repetidos, a fim de registrar o ótimo de floculação. Xas experiências quantitativas, a porções de 4-5 ml de sôro adicionaram-se quantidades variáveis de um soluto de veneno contendo 1 mg per ml, misturando-sc cuidadosamente o conteúdo dos tubos e deixando-se completar a precipitação durante a noite na geladeira. Determinação de nitrogênio nos precipitados — .Após centrifugação (na câmara fria) e decantação dos sobrenadantes. os precipitados foram desagregados e lavados três vezes com água fisiológica gelada, proccdcndo-sc á recentrifugação dos sobrenadantes, de acôrdo com a referência (6). .As análises foram feitas em duplicata, só se considerando satisfatórios os resultados compreendidos dentro de um érro de á: 3% ; ocasionalmente, quando os valores mais baixos não estiveram compreendidos dentro daquela variação, foram êles desprezados, computando-se apenas o valor superior. .As determinações de nitrogênio foram feitas pelo método mkro-Kjeldahl. segundo a técnica de Meeker & Wagxer, recebendo-se a amónia acarretada por uma corrente de vapor dágua em soluto saturado de ácido bórico e titulando-se diretamente com HG n/70. RESULTADOS Os resultados das determinações quantitativas feitas com três diferentes anti- venenos figuram nas tabelas 1, 2 e 3. Otto G. Bier — Estudo quantitativo da reação de floculação entre o ve- neno e o antiveneno crotàlico. 29 Tabela I Flocuiação quantitalh-a do sôro crotàlico 190 Quantidades crescentes de t^neno adicionadas a 4 ml de antiverteno. I Sol. rrneno I ZOK- p€T ml II N-reneao (*1 III N*pfecipiudo IV N-antiTeneno (III-II) V Ratio N-antirrn^ao >i«vencDo * 1.7 0.1273 1.420 1.292 10.1 ctilaçio: 1.8 0.1348 1.401 1.269 9.4 JO min. (*) Calculado da seguinte maneira; Cada ml do soluto de s^eneno empregado con- tinha, em realidade, 0.78 mg de veneno crú (descontando-se 12% de água contidos no vo neno padrão pulverulento). Sôbre a base do rendimento máximo de crotoxina obtido por Suitta & Fbaeskel- CosBAT (7) e que é de cèrca de 60%, pode-se calcular que 0.78 mg de veneno crú contem O.-lbS mg de crotoxina, ou sejam, 0.468: 6,23 = 0.07488 mg dc X-crotoxina. Tabela II Floculofão quoMtitathv do sôro crotàlico 188 Quantidades crescentes de tvneno adicionadas a 4 ml de antiveneno. I Sol. veneno 1 m« per ml II N - veneno III N*precip«tado IV N-anlireneno (111 - II) V Ratio N*anttveneno S*veneno (IV . II) VI ótimo de nocola^Io ml mg mg ft) Sio poll^k 1.1 0.0824 0.133 •er determina* do com exati* 1.2 0.0898 0.386 dSo. 1.3 0.0973 0 679 fi) 0.6 ml precipiudo N*«ntÍTrneoo Ratio Otímo de 1 mg per (III . U) N-reneno noenU^So ml K-antireoefio (IV - II) td\ mg mg mg q) 0.46 mg de reneoo para 2 0.8 0.0599 0.532 0.472 ml de t6ro. Ratio: 4.3. 0 9 0 0674 0.723 0.655 9.7 P) l.IJ mg de 1.0 0.0749 0 696 0.621 8.3 toro para 0.25 mg de Teneno. 1.1 0.0824 0 674 0.591 Ratio: 4.5. Tempo de fio- 1.2 0.0898 0.540 0.450 ctalaçio: 60 min. ii) Quantidades crescentes de feneno adicionadas a 5 ml de antiveneno 1.2 0.0898 0.856 0.766 8.5 1.3 0.0973 0.819 0.721 1.4 0.1048 0.647 0.542 1.5 0.1123 0.410 DISCUSSÃO Os dados quantitativos apresentados indicam que a floailação entre o veneno e o antiveneno crotálico, tal como acontece com a reação toxina-antito.xina di itérica, apresenta uma faixa mais ou menos estreita na qual o valor de X-precipitado passa por um máximo, decrescendo abruptamente abaixo ou acima desta zona ótima. A\-aliando-S€ em 60% o teor de veneno puro (crotoxina) contido no veneno crú (7) pode-se calcular o N correspondente ao veneno e, por subtração do X-precipitado, o X correspondente ao antiveneno. Verifica-se, assim, que a ratio X-antiveneno : X-veneno, no tubo correspon- dente ao máximo de N-precipitado ^•ariou, nos três soros experimentados, entre 9.7 c 11.7. Tomando-se, por exemplo, o \-alor 11 para tal relação, admitindo que o antiveneno é uma globulina de pêso molecular igual a 180.000 e que o precipitado formado entre veneno e antiveneno crotálico, no ponto de floculação ótima tem a mesma composição molecular que os precipitados nos sistemas to.xina- Otio G. Bikr — Estudo quantitativo da reação dc floculação entre o ve- neno e o antiveneno crotálico. 31 antitoxina diftcrica e o\-albuniina-antio\-albumina (de ca\-alo), chega-se à conclu- são dc que o peso molecular da crotoxina deve ser próximo de 33.000 ^ Ora, éstc é justamente o valor atribuído por Slotta & Forster (8), ao pêso molecular da crotoxina, calculado pelo teor de metionina. A uma ratio de 12 corresponderia um pêso molecular dc 30.000: segundo as determinações de Gralén & The Svedeberg (9), o pêso molecular da crotoxina é de 30.500. Quanto ao X correspondente ao antiveneno, atingiria, para os soros 190, 188 c 152, respecti\-amente os valores de 1.312-1.451 e 0.655 para 4 ml de sôro, ou seja de 328, 363 e 164 mg per ml, ^-alorcs que estão dc acôrdo com o poder ncutralizante dos soros correspontes e que permitem aferir a atividade do anti- veneno crotálico na base de cêrea de 600 n^ de X-antiveneno para a neutralização de 1 mg dc veneno bruto (ou 0.6 mg de crotoxina). As especulações teóricas expostas têm, porém, \*alor limitado, sendo necessário compro%'á-las à custa de dados quantitativos que permitam o cálculo direto da ratio de combinação entre o veneno e o antiveneno na zona de equira- lência. Estudos quantitativos com a crotoxina são também claramente indicados. RESUMO E COXCLUSOES 1 . O estudo quantitativo da reação de floculação entre o veneno e o antive- neno crotálico conduz a resultados semelhantes aos que se observam na reação toxina-antitoxina diftérica. 2. Os dados quantitativos apresentados não permitiram calcular a ratio de combinação entre o veneno e o antiveneno. .\\'aliando-se esta, porém, em função do pêso molecular da crotoxina, chega-se a interessantes conclusões sôbre a ativi- dade imunológka do veneno puro e do anti\‘cncpo, que são brevemente discutidas no texto. ABSTRACT 1 . The quantitative course of the reactions is «ry similar for Crotalus t. terrificus venom-antivenin and diphtheria toxin-antitoxin s)’stcms. 2. From the data obtained so far it was impossible to calculate the ratio X-anti\'cnin :N-vcnom in the prccipitate formed within the equiii^alence zone. However, when this ratio is determined on the basis of the molecular weight attributed to crotoxin, interesting conclusions may be drawn regarding the immu- nological activities of venom and antivenin which are briefly discussed in the texí. 5 32 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII BIBLIOGRAFIA 1. Arantfs, 1. B., Karmann, G. & Bier, O. G. (1W5). Elmprêgo da reação de flocula- ção específica na dosagem do anüveneno crotílíco. Memórias do Instituto Bu- lantan, 18, 172-177. 2. Heidilbcrger, M. (1939). Qnantitative absolute methods in study oi antigen-antibody reactiom. Bacteriological Rei\ 3, 49. 3. Papt-cnhcimer, A. M^ Jr. & Robinson, E. S. (1937). Quantitative study oi Ramon díphtheria flocculation reaction. J. Immunol^ 32, 291-300. 4. Hotile, G. A. & PappenheTmer, A. M^ Jr. (1941). quantitative Sttidy of the Scar- let Fever Toxin-.\ntitoxin Flocculation Reaction. J. exp. Med^ 74, 545-546. 5. Vital Brasil (1906). .■K defesa contra o Ophidismo. Pocai-Weiss & Cia., São Paulo, Cf. pág. 60. 5. Hcidelbcrger, M. & Kabat, E. A. (1938). (Themical studies on bacterial agglutination ; quantitative data on pneuroococcus R (Dawson S) - anti-R (S) systems. /. exp. Med., 67, 545-550. Alexander, H. E. £r Heidelberger. M. (1940). Chemi- cal studies on bacterial agglutination; agglutinin and precipitin content of antisera to Haemophilus influenaae, typc B. /. exp. Med., 71, 1-11. 7. Slolta, C. H. & Fraenkel-Conrat, H. L. (1939). Estudos quimicos sobre os veneno» ofidicos. 4. Purificação e cristalização do veneno da cobra Cascarei. Memórias do Instituto Butantan, 12, 505-512. 8. Slolta, C. H. & Forster, IV. (1939). Estudos quimicos sobre os venenos ofidicos. 5. Determinação qtuntitativa dos componentes que contem enxofre. .Memórias do Instituto Butantan, 12, 513-521. 9. GraUn, .V. 6r The Svedeberg. (1938). The molecular weight oi crotoxin. Biochem, 32, 1375-1377. (Rcctiwlo para paUicação cn marfo de 1945). cm SciELO, 11 12 13 14 15 16 17 DESENCADEAMENTO DO FENÔMENO DE SHWARTZMAN EM COELHOS MEDIANTE A INJEÇÃO VENOSA DE GLICOGÊNIO PURO roR OTTO G. BIER & J.\XDYR.-\ P. do AMARAL {Dos Laboratórios de Batteriologia e de ImuHologia, Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Dentre numerosas substâncias ensaiadas com o fim de provocar a baixa do teor de plaquetas sanguineas (goma acácia, amido solúvel, polisacárides extraidos do liquido hidático ou de extratos de Ascaris luinbriíoides, glicogenio), referem recentemente (1945) Rocha e Silva, Graxa & Porto (1) que o glicogenio atúa de maneira excepcional, ocasionando, já na dose de 5 mg per quilo, uma plaqueto- penia de cerca de 90^^, minutos após a injet^âo intravenosa em coelho. Pareceu-nos importante, do ponto de vista de elucidação do mecanismo do fenômeno de Shwartzman, verificar se tal reação podia ser desencadeada pela injeção intravenosa de glicogenio, tanto mais quanto, alem dos filtrados bacteria- nos e dos piecipitados especificos, somente se lograra observar o desencadeamento daquele fenômeno por meio de suspensões de agar (Sickles, 1931) ou de amido solúvel (Freuxd & Hosmer, 1935). PARTE EXPERIMENTAL Coelhos brancos depilados na véspera, ao nivel da região abdominal, foram injetados intradèrmicamente com 0.25 ml de “agar washings” de culturas de meningococo de 24 horas cm agar-sangue (adição de 10 ml de água fisiológica fenicada a 0.4% a cada garrafa de Roux de cultura, centrifugação enérgica). 24 horas após a preparação intradérmica, procedeu-se à injeção intravenosa desencadeante de extrato meningocócico (controle), bem como dc quantidades variáveis de glicogenio (de 10 a 300 mg per quilo). O glicogénio usado (1) foi extraido de figado e purificado por precipitações sucessiras com álcool ; dissolvido na proporção de 25% cm água distilada, a quente, prodiu uma solução quase perfeita, apenas com ligeira opalescénda. (1) CentilBcste ctiÍi4o p«U> Di. M. Rocva %. StLTA« de lD»tituto de S. Paulo, a quem aproveitamoa a oportuaidade para acradcccr. 1 34 >[emórías do Instituto Butantan Tomo XVHI Os resultados de uma série típica de experiências vêm resumidos na tabela 1. Tabela 1 Incidência da reação hemorrágica de SktcartjnnaH em coelhos pref^rados com extrato sneningocócico após injeção do mesmo extrato ou de quantidades variáveis de glicogêmo. Coelho X.» Sobstincia desencadeante Intensidade da reaçio bemorrifica Tempo de aparecimento da reaçio horas 191 Extrato meningo, Iml/kg -H-H- 3 172 • » -H-H- 3 121 Glicogênio, 300 mg/kg ■f ; : 1 3 194 ft — r-H- 1 232 •1 4-H-h 1 l&l Glicogênio, 100 mg/kg ‘-H-f 1 178 «* -H-H- 1 218 • * 'H i • 1 201 Glicogênio, 30 mg/kg .-H-H- 1 163 ** -H-H- 1 189 ê$ — — 143 Glicogênio, 10 mg/kg - — 50 $i — — 123 $$ — - DISCUSSÃO Pode-se ver na tabela 1 que em dose superior a 100 mg por quilo o glico- •gcnio desencadeou rapidamente (dentro de 1 hora) forte reação hemorrágica em :100^ dos .coelhos preparados de véspera mediante a injeção de 0.25 ml de extrato meningocócico. Na dose de 30 mg/kg houve forte reação hemorrágica, também .dentro de 1 hora, em 2 de 3 coelhos experimentados, ao passo que com 10 mg, o resultado foi sempre negativo. A potência desencadeante do glicogênio parece ser mais intensa do que .a verificada por Freum> & Hosmer com o amido solúvel que, na dose de 1 g (para cçelhos de 1 a 3 quilos), só produz lOOÇó de reações positivas nos coelhos Orro G. Bier & Jandyrk P. do Amar.\l — Desencadeamento do fenô- meno de Shwarizman em coeihos 35 de pêso superior a 2 quilos, sendo geralmente negativos os resultados obtidos nos animais de pêso compreendido entre 1 e 2 quilos. Fic. I NecrcMc bcmorrâcica íoIcdm c«n coelho preparado aediante a iajeçâo totradênaica de 0^5 ml de eatraio meaingoeócko, 48 horas apôs a injeção deameadeaate de 100 ipk de flieocénio por qail^ Em nossas e.xpcricncias usamos sempre coelhos de cerca dc 1 500 g, nos quais obtivemos pràticamcnte 100% dc reações dc Shwartzman intensa c ràpidamcntc positix^as, ate com 30 mg/kg de glicogênio. .X correlação entre a idade tio coelho e a cai>acidade de reagir verificada por Frecxd & Hosmer jwra o amido não se obsci^-a, pois, no caso do glicogênio. Possivelmente a ação plaquetoj>ênica do glicogênio, sendo superior à do amido, independe de fatores relacionados com a idade do animal. COXCLUS.^O O fenômeno de Shwartzman jKwIe ser desencadeado com impressionante rapidez e intensidade em coelhos prejarados pela injeção intradcmiica de extrato mcningocócico, mediante a injeção venosa de pequenas doses de glicogênio (ate 30 mg per quilo). É altamente sugcsti\-a a hipótese de que tal efeito provocado quer pelo glicogênio, quer pelo amido, deva ser atribuido à intensa ação plaque- topênica das referidas substâncias. 3 3G Memórias cio Instituto Butantan Tomo XVIII ABSTRACT The intrcxluction of glycogen into the blood stream of rabbits led to the development of rapid and severe hemorrhagiç necrosís in the skin at the site of injection of meningococxus extract. The reacting potenc)- of glycogen is verj* high (even 30 mg/kg produced intense hemorrhages in 2 of 3 rabbits) and the frequency of reactions did not var)’ with the weight of the rabbits. The hypothesis that this action of glycogen (and also of starch) may be due to a decrease of the circulating platelets is highly suggestive and deser\es further speculation. BIBLIOGRAFIA 1. Rocha e Siliv, ^í., Grana, A. & Porto. A. (1945). Inhibitoiy Effcct of Glycogen upon Anaphylactic Shock in the Rabbit. Proc. Soe. exp. biol. and mcd., 59, 57-61. 2. Skuxírizman, G. (1937). Phcnomenon of Local Skin Rcacti\-ity. Paul B. Hoeber, Inc., Xew York. 3. Sicklcs, G. (1931). Local skin rcaction obtaincd by intrarcnous injection of agar fol- lowing intracutaneous inoculation of meningococcus toxin. Journ. Immunol., 20, 169-172. . 4. Freund, J. & Hosmer, E. P. (1935). Hemorrhagiç Reaction at the Site of Injection of Toxins after intrarcnous Injectkm of Starch in young and adult Rabbits. Joum. Immunol., 29, 279-283. (Rcctbido para publicação cin abril de 1945). 4 SciELO, 11 12 13 14 ESTUDOS SÔBRE A QUIMIOTERAPIA DA INFECÇÃO MENINGO- CÓCICA EXPERIMENTAL DO CAMUNDONGO; DERIVADOS AMI- NADOS DA DIFENILSULFONA E SUBSTANCIAS ANTIBIÓTICAS DE ORIGEM MICROBIANA (PENICILINA E PIOCIANINA) roR E. BIOCCA, J. P. DO AMARAL & OTTO G. BIER (Do Laboratório de Bacteriologia, Instituto Bntantan, São Paulo, Brasil) Numerosos são os trabalhos que versam sôbre a ação da sulfanilamida e seus deri\-ados nas infecções meningocócicas humana e experimental. De particular importância, no tratamento das meningites humanas, c que a droga atinja no liquor uma concentração terapeuticamente suficiente, destacando-se por esta pro- priedade, aliada a uma ação bacteriostática intensa, a sulfadia 2 Ína. O uso associado das sulfas ao sõro específico é também assinalado como particularmente eficaz. Com o intuito de encontrar agentes terapêuticos mais \'antajosos do que os atualmente conhecidos, procedemos a algumas experiências na infecção meningo- cócea e.xpcrimental em camundongos, nas quais ensaiamos comparati\'amente a atividade quimioterápica de seis deri\'ados aminados da difenilsulfona, liem como de duas substâncias antibióticas produzidas por microorganismos (penicilina e piocianina). No que concerne às sulfonas, embora a 4-4’-diamino-difeniIsulfona tenha sido sintetizada em 1908 por From e Wittmann', só em 1937 foi ela experimentada em proras quimioterápicas por Bcttle e colaboradores. Logo a seguir foram ensaiados o de^i^'ado diacetilico (Rodilone), por Fourxeau e colaboradores (1937), e o formil-derivado (Formilone), por Nim, Bo\-et e Hamox, em 1938. Recentes estudos na quimioterapia da tuberculose vieram focalizar a impor- tância de certas sulfonas, tais como o Promin c o Diasone, que são derivados de bases de Schiff, pois provém da reação do grupo aminico da sulfona com aldeídos. Uma série de novos derivados da 4-nitro-4'-amino-difenilsulfona foi sinteti- zada por Mixgoja (4), sendo tais produtos ensaiados por um de nós (5) na toxoplasmose experimental e, menos extensi\'amente, na infecção pneumocócica do camundongo. Observámos, em tais ensaios, que os deris^ados contendo um H 1 SciELO) 14 38 >(enióría5 do Instituto Butantan Tomo XVHI amínico substituído por um radical alifático possuíam elevado ralor quimioterápico, aliado a uma toxidez relativamente baixa- Dentre os produtos estudados, os ma's ativos foram os acil-derivados, que possuíam o menor número de átomos de C na cadeia lateral e, portanto, entre êles, o formil-derivado. Nas experiências referidas no presente trabalho, propuzemo-nos a verificar: 1) si os derivados da série 4-4’-diamino-difenilsulfona eram mais ou menos ativos do que os correspondentes da série 4-nitro-4’-amino-difenilsulfona; 2) si também na infecção meningocócica o formil-derivado era mais ativo do que o acetil- deri\’ado, que possui um átomo de C a mais na cadeia lateral; 3) qual a atividade antimeningocócica do derivado tricloracetilico da 4-4’-diamino-difenilsulfona. Quanto aos agentes bioquimioterápicos, possui a penicilina, no tratamento das meningites, uma decidida vantagem sôbre a maioria dos derivados sulfani- lamidicos e sulfônicos, que é a de poder ser introduzida dirctamente no canal raqueano. A rápida eliminação que o organismo faz déste produto, não representa um inconveniente ponderável, em infecções de decurso tão rápido como as menin- gocócicas. Observações recentes (6) evidenciam a atividade antimeningocócica da penicilina na infecção experimental do camundongo. Nosso objetivo foi o de controlar estas pesquisas, usando diferentes amostras de meningococos e quan- tidades variáveis de penicilina. A piocianina, o pigmento azul da P. aeruginosa, apesar de muito bem conhe- cida sob o ponto de vista químico (N-metil-a-hidroxifenazina) tem sido pouco estudada sob o ponto de vista da sua atividade in vivo, não sendo de nosso conhe- cimento qualquer trabalho relacionado com o ensaio de sua atividade quimioterápica na infecção meningocócica experimental. MATERIAL E MÉTODOS Sulfonas — Das sulfonas ensaiadas quatro eram derivados da 4-4’-diamino- difenilsulfona (formil, acetil e tricloracetil-derivados, Diasone) e dois o eram da 4-nitro-4’-aminodifenilsulfona (formil e acetilderivados). Substâncias antibióticas — Foi usada a penicilina seca e-xistente no comércio para uso terapêutico, proveniente dos Laboratórios Parke, Da>ns & Co., de Detroit, Mich. Dissolvido o produto em água distilada esteril, foi o seu titulo (em uni- dades Oxford) reverificado, pelo método usual. A piocianina empregada foi purificada por recristalizações sucessivas, ten- do-sc a precaução de não expô-la excessiramente à luz depois de dissolvida, por se tratar de uma substância fotoquímicamente sensível. E. Biocca, J. P. do Amar.\l Jt Otto G. Bieh — Estudos sôbrc a quimio- terapia da infecção meningocócica 39 Técnica — A infecção experimental dos camundongos foi feita com diferen- tes amostras de meningococos da coleção do Instituto Butantan, usando-se sus- pensões em mucina, de acordo com a técnica já conhecida. O ensaio quimioterápico foi precedido da determinação da virulência da cultura de meningococo utilizada, sendo cada experiência acompanhada pelos indis- pensáveis controles, injetados com o mesmo número de D.L.M. que os animais tratados. A obsers*açãc dos camundongos foi feha durante quatro dias, considerando-se como não protegidos todos os mortos antes do 5.® dia da infecção e tomando-se em consideração apenas as provas, nas quais todos os controles morreram dentro daquele prazo. As sulfonas (e a sulfanilamida incluida para comparação) foram injetadas sob a forma de suspensão oleosa a 2.5^; a penicilina e a piocianina, em solução aquosa. EHias a três horas antes da injeção infetante, os camundongos (20 g. ± lO^í») receberam subeutaneamente 0.5 cm^ da suspensão oleosa da droga em exame. A suspensão de meningococos em mucina foi injetada por via intraperitoneal, na quantidade correspondente ao número de D.L.M. desejado. Quanto às diluições de penicilina, foram injetadas nas quantidades e segundo as modalidades indicadas na tabela 2. RESULTADOS As tabelas 1 e 2 resumem os resultados das e.\pericncias realizadas. Tabela 1 Acõo de diferentes sulfonas na infecção tneningocõcica experimental do camundongo. DROGA MEXI.NGOCOCO 39 TIPO III 1-10 DLM 10-100 DLM 100-1000 DLM XH.CO.H \/ SO, FORMILOXE 8/8 1/4 XH.CO.CHj XH-CO-CCIj /\ \/ SO, RODILOXE T/8 4/8 0/4 XO, SO, XH.CO.CHj /\ \/ ACETIL D 5/8 1/8 1/4 I I \/ SO, XH, SULFANHLAMIDA 3/8 2/8 2/-1 COXTROLES 0/16 0/8 0/8 O numerador indica o número de lobreriTentea e o denominador o total de animaii inoculadoa. cm 2 3 4 5 6 7SCÍELO, ;l1 12 13 14 15 16 17 E. Biocc\, J. P. DO Amaral & Orro G. Bieb — Estudos sobre a quimio- terapia da infecção meningocócica 41 Tabeu 2 PmUilinotfra^ da infecção meninçocàetca experimental no camundongo. Dote e Bâdo ’acinas, todas conservadas a 5°C até o momento do uso : VACINA I — Formolada, sem preservati%-o e de preparo recente — 3 meses; VACINA II — Formolada, sem preservativo e envelhecida — 18 mêses; N'.\CIN.\ III — Formolada, fenolada e de preparo recente — 4 mêses, sendo que um mês sem fenol; V.\CIN.\ IV — Formolada, fenolada e envelhecida — 19 mêses, sendo seis mêses sem e 13 com fenol; VACINA V Formolada, fenohda e envelhecida — 21 mêses, sendo 14 sem e 7 com fenol; \'ACINA VI — Morta e preserrada pelo sublimado a 1 :S.000, segundo BArros & Buca- CKABPi (33). De preparo recente — 3 mêses e usada coroo controle. As vacinações foram feitas em 319 indivíduos, em sua quase totalidade de- tentos recolhidos à Penitenciária do Estado, onde é obrigatória a vacinação T.A.B. (*). Tratava-se de indivíduos em ótimo estado de saúde e nutrição, (*) Agradecemos ao Prof. Flaminio Favero, Diretor da Penitenciária do Estado, todas as facilidades que nos foram concedidas. L. Nogueir.\ CvRRiJO. C D. Avila Pires Celso Brandão — Vacinação T.A.B. — Formação de aglutinina "O” no homem 47 a maioria dos quais já havia sido \-acinada anteriormente, há dois anos ou mais, com vacina formolada-fenolada de outra procedência. As técnicas utilizadas para o preparo do antigeno (alcoólico) e e.\ecução das pro%'as de aglutinação foram as mesmas usadas anteriormente (1 e 2). A \-acinaçâo foi feita pelas vias intradérm!ca e subcutânea. .As doses, sem- pre intercaladas de uma semana, foram de 0.10 — 0.15 e 0.20 ml no primeiro caso e de 0.5 — 1.0 e 1.5 ml no segundo. A pesquisa de aglutininas foi feita no sôro obtido imediatamente antes da primeira dose e uma semana após a terceira. RESULTADO E DISCUSSÃO A distribuição percentual do titulo de aglutinina “O”, antes e depois da s'acinação, consta do quadro da página seguinte. .A sua simples inspeção basta para dar uma ideia bem nitida da ação lesi\'a do fenol sóbre o antigeno “O”. Mais demonstratis^a, contudo, é a análise do gráfico que representa o titu- lo medio de aglutininas. \'erifica-se, ao analisá-lo, que a \'acina I provocou aumento de 9.4 vezes do titulo médio de aglutinina “O”. Tratava-se de uma vacina formolada, sem preseiA^ativo e de preparo recente. A \acina II, tam- bém formolada e sem preser\-ativo, jwrém envelhecida — 18 meses, ainda foi capaz de induzir um aumento de 6.3 vezes do titulo médio, o que revela uma ação desnaturante quase nula do formol, porquanto a alteração havida pode ser imputada apenas ao envelhecimento. A ação lesi^-a do feno] começa a ser evidenciada na vacina III. .Ainda que o seu preparo seja recente — 4 méscs, foi bastante um contato de 3 méses com o preservativo para que o seu v^alor antigênico sofresse uma luixa quase igual à ocasionada pelo envelhecimento de 18 méscs da \-acina II: — aumento do titulo médio de 6.3 vezes nesta e de 6.2 naquela. Mais se evidencia tal ação desnaturante quando o contato do preservativo com o produto é prolon- gado de muitos méscs. Assim é que na vacina I\', cm que o fenol exerceu a sua ação durante 13 méses, o titulo medio tomou-se apenas 2.6 vezes mais elevado, enquanto que. na vacina onde a sua ação se exerceu sòmcntc 7 mé- zes maior, o titulo medio aumentou de 4.5 vezes. Não deixa de ser, a seu turno, bem nitido o maior efeito lesivo ocasionado por 7 méses de contato com o feno! (vacina \’) quando comparado com o devido a apenas 3 méscs da ação (va- cina III) desse preservativo. Por outro lado, é interessante notar que o sublimado, u.sado para o pre- paro c preservação da vacina de contrólc (VI), denotou ser tão lesivo para o SciELO) 3 48 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII antigeno “O” como o fenol. Realmente, datando o preparo dessa \-acina de apenas 3 mêses, o tempo de ação do sublimado, nesse caso, foi igual ao do fe- nol no caso da s-acina III, sendo o aumento do titulo aglutinante médio — 6.7 vezes, observado em seguida à injeção da primeira, pràticamente o mesmo que o resultante do emprego da última, o que revela uma acentuada inferiori- dade antigênica da vacina controle em relação à s-acina I. Toma-se interessan- te salientar êste fato em virtude de ser o sublimado inócuo para o antigeno "Vi” e aconselhado para o preparo dêsse tipo de vacinas (34). título medio de aolutinina ‘©"antes e depois da VACINAÇÃO COM DIFERENTES VACINAS T. A. B. ANTES VACINA I FormoUcU, •em presenratÍTo e d« preparo recente — 3 mèfCf VACINA II — Forroolada, tem pre«ereatÍTO e enrelbecida — 18 »ê«e% VACINA III — FomoUda, fenolada e de preparo recente. Aç^ do fenol — S meies VACINA IV — Fonnoiada* fenolada e enTeIbcctda. Açio do fenol 13 mê»es VACINA V Formotada, fenolada e enrethecida. Açio do fenol — 7 inéies VACINA VI — SuUtmado. Preparo recente — 3 aèses. Os nossos resultados, além de confirmarem os de Spasskv e Darrenfeld, demonstrando não haver qualquer ação desnaturante do formol sóbre o antíge- no “O”, ainda ampliam os de Dennis e Berberian (em relação ao sublimado), que constataram a superioridade imunogénica “O” das \-acinas fomioladas (re- centes e sem preservativo), quando comparadas com várias outras (35 e 36). XOGlEIR.\ CORRIJO. C D. T.A.B. Avila Pires A Ceeso Brandão — — Formação de aglutinina “O” Vacinação no homem 49 •it s 1 1 1 C “ 1 1 ^ * i I = -3 í '2 Jí z ^ C C • e k; »ft V? r V V b < < I »- E = JS jj «n 2 .‘E Li S •— >> — •f — ti P? li f I c c C ~ ^ ^ t o V o ^ -s j -s £ - 2^-5 2 , 5 £ w ^ ^ -8 -3 n t% 1 1 ■3 -3 -g ^ 1 -5 -3 i i i g 1 I I 1 I i I ^ ^ ^ ^ ^ ^ o w ^ o o w 5 I I 'SciELO 15 50 Memórías do Instituto Butantan Tomo XVIII A ação lesiva do fenol era, de há muito, conhecida (37). Sôbre as \-acinas mortas pelo calor o sçu poder desnaturante parece ser mais intenso (25). Isto talvez seja devido a uma ação protetora exercida pelo formol. Realmente, o emprego desse agente parece ocasionar lun enrijedmento do corpo bacteriano, tomando-o muito resistente à ação posterior de numerosos agentes lesivos (38). Aliás, ésse enrijedmento da bactéria, dificultando a sua reabsorção pelo or- ganismo, parece explicar a ação menos tóxica das anavacinas quando inoculadas subcutáneamente. Tal hipótese foi formulada por Pfeifer, segundo relata Pattaxée (38). De fato, as endotoxinas das bactérias Gran-negati\‘as, que são de natureza glúcido-lipidica não são desinto-xicadas pelo formol, o que che- ga a constituir, segundo Boivin, um caráter distintivo das mesmas em relação ás toxinas verdadeiras, cuja natureza é protéica (39). Realmente, usando a via peritoneal para inoculação, em experiências não publicadas, não logramos observar qualquer diminuição da toxidez de uma ana- vacina tifica, quando comparada à de uma \-acina morta pelo calor, proveniente da mesma partida e contendo o mesmo número de germes por ml. .A dose mi- nima mortal foi a mesma ainda depois de 30 dias de desintoxicação a 37°C, tanto para o camondongo como para a cobaia. Tal resultado confirma a su- gestão de que a aparente desintoxicação das anavacinas esteja apenas ligada a uma maior dificuldade de reabsorção pelo organismo, quando dada subcutânea- mente. O enrijecimento da bactéria se processa rapidamente, em poucos mi- nutos, dispensando a prolongada desintoxicação a 37°C, de várias semanas, co- mumente usada, o que favorece um rápido preparo, em beneficio de uma esto- cagem menos prolongada. .-Miás. .-\LrvisATOS. quem primeiro usou a anava- cina tifica em larga escala, prolongava a desintoxicação apenas por 6 horas, neu- tralizando em seguida o e.xcesso de formol (40). Finalmente, deve ser salientado o fato de terem sido usadas, concomitante- mente, as vias subcutâneas e intradérmica (41), para todas as vacinas experi- mentadas nêste trabalo. Xenhuma diferença significativa foi verificada no comportamento das mes- mas, do ponto de vista da produção de aglutinina “O” para a E. typhosa. SUMARIO 1 . O titulo de aglutinina "O” para o bacilo tifico foi determinado no sóro de 319 detentos da Penitenciária do Estado, antes e depois de v-acinados. 2. A vacinação foi feita com seis diferentes vacinas T.A.B., tendo sido usa- das as vias subcutânea e intradérmica para todas elas. 3. .As vacinas, todas consen-adas a 5°C até o momento do uso, foram as seguintes : L. Nocleir.\ Cawujo, C. D. Avila Pires Jt Celso Brandão — Vacinação T.A.B. — Formação de aglutinina “O” no boraem õl a) Duas s-acinas formoladas, sendo uma de preparo recente e a outra envelhecida de 18 meses. b) Três A-acinas formoladas e fenoladas, que permaneceram sob a ação do fenol, respecti\-amente, 3, 7 e 13 meses. c) sexta \-acina, morta e presei^-ada pelo HgCIj, usada como controle. 4. Os resultados obtidos indicam que o formol não exerce qualquer ação le- six^a sóbre o antigeno “O” do bacilo tifico, pelo menos quanto à sua ca- pacidade de induzir, nos indivíduos >-acinados, a produção de aglutininas. 5. .A ação desnaturante, le\-ida ao envelhecimento, c muito pequena nas vaci- nas formoladas não adicionadas do preservativo. 6. O fenol, geralmente empregado como preser^^ativo, é altamente lesivo para o antigeno “O” do bacilo tifico. 7. O sublimado exerce ação tão fortemente lesiva como o fenol. 8. O comportamento das vias subcutânea e intradcrmica, quanto à produção de aglutininas, foi idêntico. .ABSTRACT 1 . The titer of E. typhosa “O" agglutinins has been determined on sera secured from 319 inmates of the State prison, before and after \-accination. 2. Subcutaneous and intradermal vaednation has been carried out with six diffcrent T.A.B. vaccines. 3. The vaccines, kept at 5®C until just before use, wcre the following: a) two formol “killed” vaccines, one of rccent preparation and the other aged for 18 months. b) three formol “killed” and phenol "preser^xd” vaccines aged respcc- tively 3, 7 and 13 months. c) one Hglj “killed” and "preserved”, used as control 4. The results seem to indicate that the formol does not denatures the E. typhosa "O” antigen. at least to the extend so as to interfere with “O” agglutinins prodixrtion in the %*accinated indidduals. 5. Only slight denaturation oceurs on aging by formol “killed” vaccines without “preservative”. 6. Phenol, generally emplo)-ed as a “preseni-ative” has a pronounced denaturing action on £. typhosa “O” antigen. 7. The action of HgCI* may be compared with that of phenol. 52 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII 8. Xo diíference ín the effectiveness of agglutinin production could be obsers-ed bv either route: subcutaneous or intradennallv. BIBLIOGRAFIA IS. Leme, J. S. ^í. & Corrijo, L. .V. (1943). Vacinação 1. Formação de aglu- tininas no homem resultante do emprego de vacina formolada. Mem. Inst. Butan- tan, 17. 111-115. Letne, J. S. M. & Corrijo, L. .V. (1943). Vacinação T.A.B. 2. Vacina formolada pela via intradermica. Mem. Inst. Butontan, 17, 1117-119. Felir, A. (1924). 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A determinação da hemoglobina no mesmo animal, em sangue colhido daquela maneira, comparada com a determinação em sangue obtido diretanicnte de um vaso responderia àquela pergunta, Porteriormente, considerando a pobreza da literatura a respeito e o interesse despertado pelas primeiras determinações, fui levado a estudar melhor o assunto. No presente trabalho, escolho um método para a determinação da hemoglo- bina nos ofídios, apresento os resultados obtidos, mostrando, além disso, a exis- tência de uma quantidade apreciável de hemoglobina inativa (não combinável ao oxigênio) no sangue destes vertebrados. MATERIAL E MÉTODOS Foram empregados exemplares adultos de Bothrops jararaca e de Phüodryas sp., recém-chegados ao serpentário dêste Instituto e ainda não usados até o momento para qualquer outro fim. Somente os animais aparentemente em boas condições de saúde foram utilizados. A colheita do sangue foi feita na cauda ou na aorta abdominal. a) Na cauda. Depois de bem la^-ada corta-se, com tesoura forte, um segmento da cauda, de 3-4 mm de diâmetro na superfície de corte. G)m o aninul em posição vertical, cabeça para dma, o sangue goteja facilmente. Terminada (*) Êste üabalho fot poMsbfliudo, em parte, graças à benemerência dos drs. A. Alvu F n.no e A. Rnzno Lima, por intermédio dos Fundos Universitirios de Pes-arian — éter (1:1) por 1-2 minutos. 2. Corar 1 minuto com o corante único Shorr 3. 3. Desidratar em álcoois (70% — 95% e absoluto) mergulhando a lâ- mina cêrca de 10 vezes em cada frasco. 4. Qarificar pelo xilol. 5. Montar em damar ou em balsamo do Canadá. O corante único recomendado por Shorr (Shorr 3 ou S 3) tem a se- guinte composição: Álcool etílico a 50% ICO cni^ Biebrich Scarlet (solúvel em ágna) 0.5 g Orange G 0,25 g Fast Green FCF 0,075 g Acido fosfotúngstico 0,5 g Acido fosfomolibdico 0,5 g Acido acético glacial 1.0 cm^ Êssc método é o último de uma série de modificações introduzidas por Shorr em seu método original (11, 12) e nele emprega corantes (Biebrich Scarlct e Fast Green FCF) da firma americana “National Aniline and Chemi- cal Company” em virtude da escassez dos produtos originalmente empregados (Ponceau de Xylidene e Licht Grün), que provinham da Alemanha. Nós em- pregamos o Biebrich Scarlet e o Licht Grün de Grübler, com bons resultados. Uma vez corada. e.xaminamos a lâmina ao microscópio para analisar a ci- tologia existente e fazer, quando se desejou, a contagem percentual dos diferen- tes tipos celulares, assim como avaliar a quantidade de leucócitos, hematias, mu- co e o tipo da flora microbiana encontrada. A diferenciação morfológica das células ^-aginais foi feita de acordo com o critério estabelecido por Papaxicolaou (4, 13). que nos pareceu melhor traduzir a realidade, por fugir á complicada Alvabo >LufcoxDES Silva — Citologia vaginal e seu craprúgo em gine- cologia endócrína. 79 variedade de tipos descrita por outros autores (14, 7). Quanto à interpreta- ção das propriedades corantes dos diversos elementos encontrados, seguimos os dados de Shorr (10); ao invés, porém, de denominarmos as células com cito- plasma corado em vermelho-alaranjado de células comificadas, chamamo-las de células acidófilas, reservando o termo "comificado” para as células cujas alte- rações morfológicas permitam essa qualificação. As células com citoiilasma co- rado cm verde pelo Licht Grün e que Shorr denomina de células não comifi- cadas. foram por nós denominadas de células basófilas, embora realmcnte se trate de elementos não coraifkados, c isso apenas para que houvesse harmonia de denominações. Baseados nesses dados, podemos, então, distinguir 3 tipos de células nos es f regaços vaginais, que, em virtude de sua situação num epitélio vaginal proli- ferado pela ação de substâncias estrogémeas, foram por Papanicolaou deno- minadas células basais, células intemiediárias e células superficiais. As células basais (outer basal cells), são as mais profundas, situadas próximo a túnica própria, e se caracterizam por serem de pequeno tamanho, núcleo vcsiculoso c muito grande cm relação ao tamanho da célula c com citoplasma sempre basofilo. As chamadas células basais internas (inner basal cells) não são encontradas em esfregaços e mesmo que o fossem não poderíam ser diferenciadas das cha- madas células basais externas (outer basal cells): tal divisão só é justificada em cortes de. epitélio. Entre as células basais Papasicolaou descreve, por tamliém apresentarem pequeno tamanho, as células de origem ccr\’ical ; estas células tém caracteres próprios e deverão ser reconhecidas, pois aparecem geralmente em esfregaços de epitélio \'aginal altamente proliferado, ao contrário das células basais tipicas que são encontradas em esfregaço de epitélio vaginal pouco ou nada proliferado. As células intermediárias se caracterizam, de um modo geral, por serem alon- gadas c apresentarem um núcleo comumente alongado e excêntrico; o seu cito- plasma é basófilo. podendo, todavia, ser acidófilo. As células superficiais são células chatas, de formato variável, núcleo veskruloso ou picnótico, citoplasma basófilo ou acidófilo. As células comificadas apresentam de característico a reabsorção ou fragmentação do núcleo, que poderá estar ausente nas células mais tipicas. Quando o epitélio vaginal está em repouso, isto é, não submetido a ação proliferadora das substâncias estrogénicas, éle é constituído unicamente por cé- lulas basais, dispostas em um número de camadas muito reduzido, em geral duas. L.^go, porém, que éle fique submetido a ação do hormônio folicular, o que se dá é, fundamentalmente, uma proliferação á custa das células liasais. À medida que o epitélio se espessa, as células mais superficiais \áo, a princi- pio. se alongando e posteriormente se achatando, de modo a diferenciar as cé- 5 80 Mcniórías do Instituto Butantan Tomo XVIIl lulas intermediárias e superficiais. A medida que essas células se vão afastan- do da camada basal toma-se cada vez mais dificil a sua nutrição e elas vão sendo sede de processos degenerativos, tais como picnose do núcleo, addofilia do citoplasma e comificação. Tais processos, juntamente com as modificações de tamanho das células, traduzem a ação das substâncias estrogênicas sôbre o epitélio vaginal. A ordem de aparecimento dessas modificações num epitélio sob ação de estrógenos nem sempre é a mesma e a importância dêsse fenômeno, assim como a do valor da sua maior ou menor intensidade, constitui objeto atual de nossas investigações. MATERIAL Procedemos a exames do flúido \'aginal em meninas, em fase comprovada- mente pré-puberal, em adolescentes tanto normais como com atraso da menarca ou com amenorréia primária, em mulheres adultas eumenorreicas, em casos de amenorréia secundária (pelo menos um deles acompanhado repetidamente du- rante o tratamento hormonal pelos estrógenos), em casos de menopausa e em al- guns casos de distúrbios menstrmis não especifkamente aqui mencionados. Nosso material é ainda escasso, pois compreende apenas 26 casos; tratan- do-se, porém, de casos bem selecionados, nos qtiais foi cxcluida a existência de qualquer infecção do trato genital susceptível de alterar os resultados, parece- nos licito tirar dêles conclusões. Desejamos, como já foi dito, relatar apenas o que o estudo do nosso ma- terial e os trabalhos de outros autores nos sugeriram em relação ao valor do método como meio de se avaliar a atividade orariana num dado caso. Poste- riormente, quando contarmos com maior número de casos, publicaremos dados estatisticos sôbre a freqüência do que será dito a seguir. RESULTADOS E COMENTÁRIOS Nos casos de ausência total de atividade o^^ariana, isto é, de meninas em fase comprovadamente prépuberal, em que não havia nem esboço de cararteres sexuais secundários e a genitália era infantil, obtivemos sempre aquilo que Papanicocaou chama de esfregaço vaginal de tipo atrófico. Achamos mais con- veniente denominar êste tipo de esfregaço, de esfregaço de epitélio vaginal cm repouso, isto é, não submetido a ação estrogênica e justificamos essa denomi- nação em virtude da insignificante excreção de estrógenos encontrada em me- ninas impúberes (15), bem como por ser a atividade estrogênica a única que repercute de modo indubitável sôbre o epitélio vaginal (16, 17, 18). A ação Alvabo Marcondes Silva — Citologia vaginal e seu emprègo em gine- cologia endócrína. 81 da progesterona sôbre êsse cpitélio ainda é discutida, poucas sendo as pesquisas até agora feitas para evidenciá-la (19). Xesse tipo de esfregaço \'aginal a quase totalidade das células encontradas é de tipo basal, havendo apenas uma ou outra célula intermediária ou superfi- cial com dtoplasma basófilo, rarissimamente addófilo. Há, também, regular- mente, um grande número de leucócitos e uma quantidade regular de muco (Figs. 2 e 3). Esfregaços >aginais désse tipo foram também encontrados na menopausa com vários anos de duração por Papanicolaou e Shobr (16)*, apenas com a diferença de, ao lado da abundànda de células basais, haverem aqueles autores encontrado um número relatisamentc maior de células intermediárias e superficiais do que o observado nos nossos casos de meninas em fase compro%-adamcnte prépuberal. Tais células eram, todavia, em número escasso e com citoplasma raramente aci- dófilo. Tinoco Cabral (34) tem o mérito de haver sido o primeiro a descrever esses esfregaços vaginais da menopausa. Em adolescentes ainda não menstruadas, mas cujos caracteres sexuais secun- dários estavam se desenvolvendo normalmentc e assim como nos primeiros anos da menopausa, isto é, em períodos de transição entre a ausência de atividade o\-ariana e a plena atividade ovariaiu da mulher adulta, o aspecto dos esfregaços \'aginais que obtivemos foi muito variável, dependendo do grau dessa atividade e da sua repercussão sôbre o epitélio %*aginal. Como a atividade ovariana é unu atividade cíclica, que se traduz por uma alternância de períodos cm que ora há aumento e ora diminuição na concentração de estrógenos do organismo, é possível que ela possa se realizar em níveis snbnormais, onde a menstruação ou não exista ou, se existir, se traduza apenas pelo aparecimento microscópico de hematias. Pelo menos, em relação à menopausa, é o que poude es-idenciar Papanicolaou (20, 16), que encontrou, por duas vezes, cm um caso de menopausa examinado diariamente durante seis méses, a transformação gradual do esfregaço de tipo atró- fico em um esfregaço de tipo folicular, seguido de um pequeno período em que apareciam eritrocitos c do retômo do esfregaço novamente ao tipo atrófico. É possível, num exame diário de tim grande número de casos, não só de menopausa mas também de adolescentes normais não menstruadas, descobrirmos cm que extensão tal ocorrência existe c assim contribuir para esclarecer alguns aspectos do fenômeno da menstnução. Dessas considerações se deduz que a citologia vaginal em tais periodos de transição não só é variável em relação ao nivel em que o ovário exerce a sua atividade, mas também, numa mesma paciente, em relação às variações por que passa essa atividade. Todavia, baseado num único exame, pudemos, de um modo geral. eiKontrar nesses periodos dois tipos de esfregaços vaginais, a que deno- minamos : 82 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI 1. Esf regaço de epitélio vaginal sob pequena ação estrogênica, em que as células epiteliais encontradas são, na grande maioria, ainda de tipo basal; em número pequeno e variável, de tipo intermediário e superficial, com citoplasma basóíilo e, mais raramente, acidófilo (Fig. 4). O número de leucócitos é variá- vel e. de um modo geral, tanto maior quanto menor fôr a porcentagem de células epiteliais superficiais existentes. A quantidade de muco é também variável e, nos casos de menopausa, os esf regaços vaginais dêste tipo contém com frequência um número maior ou menor de eritrocitos. 2. Esf regaço de epitélio vaginal sob moderada ação estrogênica, em que predominam de modo nitido as células epiteliais superficiais, em grande maioria com citoplasma basófilo e algumas vezes acidófilo. A picnose nuclear é rara. As células de tipo basal e intermediário, principalmente as primeiras, são encon- tradas em quantidade pequena e variável e os leucócitos, em geral, são abimdantes. Xão há eritrocitos e a quantidade de muco é \-ariável (Fig. 5). Os dois tipos de esfregaços mencionados representam, todavia, apenas dois pontos de referência, necessários num estudo descritivo como o que estamos fazendo, durante uma série crescente de modificações encontradas desde o esfre- gaço de epitélio vaginal em repouso até o esfregaço de epitélio vaginal sob franca ação estrogênica, encontrado na maior parte do ciclo menstrual da mulher adulta normal, como veremos mais tarde. Sempre os encontramos em nossos casos de adolescentes ainda não menstruadas, com exceção de um único, em que o esfregaço era nitidamente de tipo folictilar, revelando ação estrogênica normal, exatamente igtial à encontrada no meio do ciclo menstrual da mulher adulta normal ; neste caso, as mamas e a genitália eram bem desenvolvidas, havendo regular número de pêlos pubianos, e é de se pressupor que o ovário já estivesse desempenhando a sua função em nível normal e que essa nossa paciente estivesse já em vésperas da menarca, Não nos tendo sido possível acompanhar com exames repetidos êste caso, não podemos, porém, tirar conclusões a respeito déle. Os dois tipos descritos de esfregaços foram por nós também comumente encontrados em casos de amenorréia, tanto primária como secundária, e nos pri- meiros anos da menopausa. Papaxicolaou (21), baseado no exame da citologia vaginal, propôs para as amenorréias em geral uma classificação em 3 grupos : a) cm que o esfregaço vaginal é permanentemente atrófico, indicando ausência de atividade ovariana; b) em que o esfregaço vaginal é permanentemente de tipo intermediário entre o atrófico e o encontrado na mulher adulta normal, indicando atividade ovariana subnormal c uniforme e c) em que o esfregaço \’aginal revela a existência de modificações cíclicas e irregulares, imitando as que existem no ciclo menstrual normal e traduzindo uma atividade ovariana periódica, todavia, insu- ficiente para produzir a menstruação. Os casos dêste último grupo são em tudo análogos aos de menopausa um pouco atrás relatados, em que foram demonstradas Alvabo M\rcondes Silva — Citologia vaginal e seu emprego em gine- cologia endócrina. 83 varia(;ões periódicas no csfr^aço vaginal. Êste fato foi por nós também verifi- cado cm u’a mulher solteira de 35 anos de idade, que apresentava amenorreia secundária de 20 anos de duração e obesidade; de acordo com Papanicolaou, deve-se supor que o ovário de tal paciente estivesse fimcionando cm nível subnor- mal, provàvelmcnte sendo essa a causa da falta de menstruação. Em outro caso de amenorreia secundária, no qual fizemos exames repetidos da citologia vaginal, encontramos sempre esf regaços vaginais de tipo sob moderada ação estrogênica; este mesmo caso. sendo tratado posteriormente pelos estrógenos, apresentou, ao exame citológico do esfregaço vaginal, modificações caracteristicas de uma reação folicular, s^uidas, alguns dias após à 3a. injeção de 10.000 U. I. dc benzoato de estradiol, da eliminação de uma serosidade sanguinolenta. Neste caso havia con- comitantemente obesidade do chamado tipo ovariano, antecedentes de hipo e oligo- menorreia e esterilidade. Na mulher adulta eumcnorrcica é gcralmentc admitido que o aspecto do esfregaço \'agina1 varia periòdicamcnte. sendo cm número muito pequeno os auto- res que negam a existência dc tais variações. discussão entre os autores começa, entretanto, como já salientamos, quando se procura saber se tais variações periódi- cas apresentadas pelo epitélio vaginal c consequentemente refletidas no exame do fluido vaginal, estão ou não relacionadas com a função ciclica do ovário, como acontece com a mucosa uterina que indubitavelmente apresenta uma fase de pro- liferação e uma de secreção em cada ciclo menstrual normal. Nos casos cumenorreicos, que examinamos diàriamentc durante um a dois ciclos menstruais completos, constatamos sempre variações jieriódicas da citologia vaginal que, por se terem repetido com as mesmas características durante cada ciclo examinado e apresentado a mesma duração dele, consideramos correlatas à função cíclica do ovário. Expcrimcntalmentc tal correlação já foi demonstrada em macacas por Allex (25). .•\ nosso ver, a dificuldade encontrada pelos autores que não puderam inter- pretar essas variações, considerando-as pouco nitidas, de dificil interpretação e não permitindo p'ecisar o que rcalmente está se passando no ovário, decorre do uso dc métodos que não permitem uma boa diferenciação entre os elementos celu- lares, como é o caso do primitivo método dc Papanicolaou (4), gcralmentc empre- gado por todos e hoje substituído até mesmo pelo próprio autor (26, 27). Demos preferência ao método dc coloração de Shorr (10). que toma bem evidentes tais variações, corando o citoplasma dos elementos acidófilos (comificados, segundo o autor) cm vermelho-alaranjado e o dos basófilos (não comificados. segundo o autor) cm verde, mais intenso nos elementos mais jovens e mais pálido nos ele- mentos mais diferenciados. As rariações encontradas em nossos casos c cuja existência já mencionamos serão descritas pormenorizadamente mais adiante, no estudo dc cada fase do ciclo 9 SciELO) 14 84 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIll menstrual. O fato que nelas mais chama a atenqão é o aumento do número de células acidófilas que ocorre durante a chamada fase folicular; o número dessas células vai aumentando até atingir um valor máximo, mais ou menos no meio do ciclo menstrual, para em seguida decrescer até atingir a um valor mínimo na fase menstrual e no inicio da fase folicular seguinte. Tal fato tem sido encon- trado também por outros autores (13, 28, 14) e portanto repetidamente confir- mado. Papanicolaou (13) diz mesmo textualmente: “During the early part of the follicular phase both basophilic and acidophilic superficial type cells are well represented with the basophilic usually in the majority. As the follicular reaction approaches its peak, the superficial squamous cells become larger and more discret, while the acidophilic cells increase in number and often become predominant”. Para esse aumento do número de células acidófilas adotamos a sugestiva denominação de Papanicolaoü, que se vê no texto citado, e que é a de “reação folicular”. Durante a fase proliferati\'a ou pré-o\nilatória desse autor, o que há é uma típica reação folicular. Essa reação êle a interpreta como sendo conse- qüente a um aumento da quantidade de estrógenos cm ação sóbre o epitélio va- ginal. Elxperimentalmcnte ela tem sido induzida por injeções de estrógenos em casos de menopausa (16) e de amenorréia secundária, conforme relatamos um pouco atrás. Afim de documentar e demonstrar de uma maneira clara e objetiva as va- riações da citologia vaginal por nós encontradas, fizemos, durante os ciclos mens- truais normais que examinamos, a contagem diária dos elementos epiteliais com citoplasma basófilo e com citoplasma acidófilo, afim de estabelecer o seu valor percentual nas diferentes fases do delo. Tal procedimento já foi também em- pregado por outros autores (14, 28). O seguinte gráfico traduz nitidamente essas variações durante o delo menstrual normal de u’a mulher adulta cumonor- rcica, com intervalos de 28 dias entre as menstruações. A porcentagem de cé- lulas acidófilas é pequena tanto na fase menstrual, como nos dias subsequentes, a grande maioria dos elementos epiteliais existentes nessa ocasião apresentando dtoplasma basófilo. \ medida que decorrem os dias, o número de células aci- dófilas vai. de um modo geral, com pequenas osdlações diárias, aumentando até às proximidades do meio do delo menstrual, quando então apresenta um aumento mais ou menos súbito que, no caso em apreço, foi de 27 para 66% em 48 horas. O \'alor percentual das células acidófilas permanece nesse nivel máximo por alguns dias, com pequenas oscilações, e daí por diante vai, de um modo geral, através de grandes oscilações diárias, decrescendo, de sorte que na fase menstrual seguinte existem no\'amente poucas células com dtoplasma acidófilo. A reação folicular traduz o aumento da taxa de estrógenos que se dá du- rante o período de maturação folicular e o seu ápice, segundo Papanicolaoü, Altaro Marcondes Silva — Gtologia vaginal e seu emprego em gine- cologia endócrína. 85 traduz o momento em que a oiiTilação deve se dar. Por essa razão, é possível que o súbito aumento do número de células addófilas encontrado neste caso seja o reflexo de uma ruptura folicular recente, com consequente súbito aumento Citt So ciclo CaSrtco VarÍK««« arecendo. O número de leucócitos é muito \-ariávcl, tanto maior quanto mais próxima a fase menstrual (Fig. 9). 13 88 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVni É difídl estabelecer um marco de separação entre esta fase e a anterior, assim como é possível confundir-se um esfregaço feito nesta fase com outro feito no início da fase pré-o^’ulató^ia. Por esssa razão, às vezes, são necessá- rios 2 a 3 esfregaços consecutivos para se conseguir determinar a fase do ciclo. ^çâo dos andrógenos: A ação do hormônio andrt^ênico sôbre o epitélio \'aginal se exerce em sentido contrário ao das substâncias estrogênicas e, porisso, tem sido denominada de antiestrogênica. Tal ação foi pesquisada por vários autores (28), tendo ficado demonstrado que ela determina em mulheres adul- tas normais, a parada do fluxo menstrual e uma involução do epitélio vaginal que se toma atrófico; estas modificações segundo os referidos autores podem ser acompanhadas pelo exame da dtologia vaginal, onde se notará a transição gradual do esfregaço de epitélio vaginal sob franca ação estrogénica da mu- lher adulta normal para um esfregaço de epitélio vaginal em repouso ou sob ação estrogénica nula. A maneira pela qual os andrógenos exercem essa ação sóbre o epitélio va- ginal ainda é discutida; se bem que pareça que êles atuem diretamente sôbre o epitélio vaginal (29), é possível que a sua atividade se exerça inibindo a ação gonadotrópica da hipófise, dêsse modo diminuindo indiretamente o esti- mulo estrogênico sôbre o epitélio vaginal (30, 31). Ação do fator gonadotrópico: A ação da fração gonadotrópica da hipófise sóbre o epitélio vaginal se exerce através do ovário e é porisso idêntica à dos estrógenos; ela já foi demonstrada na espécie humana por Shorr e Papa- NICOLAOU (32). O exame da citologia vaginal, em virtude da simplicidade de sua técnica, pode ser utilizado rotineira e intensamente no estudo dos problemas concernen- tes à fisiologia e patologia ovariana, permitindo não só uma melhor compreensão das diversas ginecopatias endócrinas, como também uma terapêutica melhor o- rientada das mesmas. Assim, pelo seu estudo, nos é possível determinar o estado funcional dos ovários em casos de amenorréias. tanto primárias como sectmdárias, e de me- nopausa. A existência de variações dclicas nesses casos revela um ovário fun- cionante mas não em grau suficiente para que a menstruação se dé. A terapêutica estrogénica nesses casos poderá ser regulada pelo exame re- petido da citologia vaginal, evitando-se conseqüentemente o emprego de doses excessivas, superiores ás necessárias para a produção de uma reação folicular tipica, que, de per si, bastaria ao tratamento, como já foi demonstrado para a menopausa (16). Alv.\ro Mkrcokdes Silva — Citologia vaginal e seu emprègo em gine- cologia endócrína. 89 A terapêutica pelos hormônios gonadotrópicos também de muito se bene- ficiará sendo acompanhada pelo exame da citologia vaginal; a falta de respos- ta do ovário, no caso de uma glândula atrófica ou hipoplásica, assim como a in- suficiência da dose empregada, poderiam ser precocemente descobertas pelo não aparecimento das alterações de tipo folicular no esfregaço vaginal. Xo tratamento androgênico das ginecopatias será útil, através dos esfre- gaços \’aginais, determinar a dose necessária para induzir modificações atró- ficas no epitélio vaginal e assim evitar o emprêgo de doses excessivas. Do mes- mo modo, a castração radiológica poderá ser controlada e a^'aliada através das modificações que aparecerem na citologia vaginal. O método dos esfregaços vaginais tem ainda, ao que parece, uma grande aplicação como meio de testar na espécie humana as substâncias estimulantes ou inibidoras da estrogênese, à semelhança do que se faz para a tiróide dessecada, cm que se empregam casos de mixedema com metabolismo basal baixo. Xos problemas de esterilidade, êsse método pode ser usado para a deter- minação da época em que a ovulação se deve dar. D’Amour (33), em traba- lho recente, comparando diversos métodos utilizados para a determinação da época da ovulação, dá grande valor ao método dos esfregaços vaginais. No nosso entender o exame da citologia \aginal é um exame de real valor c com múltiplas aplicações, das quais citamos apenas as principais; de um modo geral, sempre que o estudo da função o\ariana se fizer necessário êsse método poderá ser utilizado para refletir, de modo fácil e mais ou menos seguro, as >ariações da taxa de substâncias estrogênicas, que, em última análise, traduzem fenômenos que ocorrem nos ovários durante o cklo menstrual e particularmcnte durante as diversas fases da vida sexual feminina. O exemplo mais recente de um tal estudo é o do emprêgo dos esfregaços vaginais com o fim de tradu- zir as alterações ciclicas da função o\'ariana para correlacioná-las com as alte- rações que se operam no psiquismo e interpretadas â luz da psicanálise (23, 24). SUMARIO Foram relatados os resultados obtidos com o exame da citologia vaginal humana durante o ano de 1943, na Seção de Endocrinologia do Instituto Butantan. Preliminarmente foi estudada a questão técnica, e então apresentada uma raodiíicação da pipeta utilizada por Papanicolaou. Os casos estudados foram os mais variados de modo a tomar possivel uma visão de conjunto. Foram feitos exames em meninas em fase comproradamen- fc prepuberal, em adolescentes, tanto normais como com atraso da menarca ou <^oni amenorréia primária, em mulheres adultas cumenorrékas, em casos de ame- 15 í 90 Memórías do Instituto Butantan Tomo XVHI norréia secundária, pelo menos um dêles acompanhado repetidamente durante o tratamento hormonal pelos estrógenos, em casos de menopausa e em alguns casos de distúrbios menstruais. Foi sugerida a classificação dos esfregaços vaginais encontrados em 4 ti- pos gerais: 1.®) esfregaços de epitélio vaginal em repouso, isto é, não subme- tido à ação estrogênica; 2.®) esfregaços de epitélio ^-aginal submetido a peque- na ação estrogênica; 3.®) esfregaços de epitélio \-aginal submetido a moderada ação estrogênica e 4.®) esfregaços de epitélio \-aginal sob franca ação estrc^ênica. Foram encontradas, confirmando os achados de Papanicolaou, Rubexstein e outros, modificações cíclicas da citologia vaginal durante o ciclo menstrual normal, tendo sido possível, por meio da contagem dos diferentes elementos celulares, tornar mais evidente a chamada reação folicular característica da épo- ca em que a ovulação deve se dar. Finalmente, com base nos resultados obtidos e no de outros autores, foram analisadas as possibilidades do método como meio de estudar a função o>'ariana e traduzir as variações da taxa de substâncias estrogênicas, durante o ciclo menstrual e as diversas fases da vida sexual feminina. ABSTRACT The results with the vaginal smear technic in patients from the “Seção de Endocrinologia do Instituto Butantan” are presented. The material was obtaincd by using a curved glass pipette, a slight modiíication of that of Papanicolaou, and stained by the Shorr’s method. The cases studied were of normal prepubcnal or adolesccnts girls, with delayed menarche or primary amenorrhea, adult eumenorrheic women, secondarj* amenorrhea or others disorders of the menstrual cycle and menopause. classification of the vaginal smears in four general types was suggested: 1 . ) smears from vaginal epithelium no submitted to estrogenic action, characte- rized by cells of the outer tiasal type and numerous leucocjtes: 2) smears from vaginal epithelium submitted to slight estrogenic action, characterized by an increasing number of cells of the intermediate and superficial types with baso- philic cytoplasm and vesiculous nucleus;- 3.) smears from vaginal epithelium submitted to moderate estrogenic action, characterized by a greater number of sui)erficial cells with still predominantly basophilic cjtoplasm and vesiculous nucleus, and, finally; 4.) smears from vaginal epithelium submitted to full estro- genic action, characterized by the greatest number of superficial cells with pre- dominantly acidophilic cjloplasm and pienotie nucleus and a few leucocytes. IG Álvaro Marcondes Silva — Citologia vaginal e seu emprego em gine- cologia endócrina. 91 In the adult eumenorrheic women, cj-clic modifications of the vaginal dtology "ere encountered, in agreement with the findings of Papanicolaou, Rl^bens- teín and othcrs. The so called follicular reaction was evidenced by counting the cells during all the cyde. The possibilitíes of the vaginal smear technics a method of stud>-ing the human o\-arian function through the variations in organic estrogenic leveis and tts action in vaginal epithelium were considered. BIBLIOGRAFIA 1. Stockard, C. R. âr PapanUolaou, G. -V. (1917). The existence of a typical oestnis cycle in the guinea pig with a study of its histological and physidogical changes. Amer. J. Anal^ 22, 225. 2. AUen. E. & Doisy, E. A. (1923). .An ovarían hormooe. Preliminary report oo its localization, extraction, portial purification and action, on test animais. /. Amer. med. Asj., 81, 819. 3. Di Paola, G. (1941). 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Modificações das células epiteliais da vagina humana na gravidez e na menopausa. Tese Fac. Med. Univ. S. Paulo. (Rcccòmío pm pobUcaçio etn desembro de 1944). i8 Mem. Inst. Butantan Álvaro Marcondks Silva — Citologia vaginal e sfu emprégo em ginecologia enilócrina VoL xviii — 1944-45 Fic. 1 Pipeta dc ridro. Xotar o orifick» de ncapamento. CbM pipette. Xote tbe opemnf (or air pa»«afe. lü SCÍELO3 13 Men. Inst. But^ntAn Ai-Varo Marcondes Silva — Citologia vaginal e seu emprégo em ginecologia endócrina VoL xviii — 19-*4-45 . Fig. 2 Ksfrcsaço de epitclio vasínal não »ubmetido à acão estrogcnica« obtido de menina ímpú* bere. Pode ser encontrado também nos últimos periodos da menopausa. X 50. Smear from vacina) eptthelium no submítted to estroftenic action, from .1 girl in the prepubcrtal State. It is aiso found in the last periods of menopause. Fic. 3 Esfregaço de epitélio vaginal não submetido ã ação estn^ênica, era maior aumento para se verificar as células basais. X ãOO. Smear from vaginal epithelium no submitted to estrogenic action in higber-power view, to sec the outcr basal ccUs. 20 Mcm. Inst. Butantan Álvaro Marcondes Silva — Citologia vaginal e seu emprêgo em ginecologia endócrina Voi. xvni — i9«-i5 Fic. 4 E»íreita«o de epitclio raciiul sob pequena aqjo e>trradas, trahase. Tbere is numerous leococytes. 1 SciELO ÍL^iicoxdes Silva — Citologia vaginal e seu emprego Mrm. Inst. Buuntan em ginecologia endõcrina Vol. XVIII — 19-M-«5 Fic. 10 trtclm a corc» ilas roicn>fo(acraria» aprrwntailat. O nútiKfo ao lado c o momo da fÍKura mkrololotrafia cormponlrntc. 0« número* J, 4. 5 c 7 Iradaicm o* 4 tipo* fcrai* de nfresao» eaxinait, a saber: 3 — E»frt*aço de eptlélio eaginal em repouso. 4 — Esfrecaco de eptlélio racinal suliiDelitla a pequena ação estronénira. í — Eíírega^o de eptlélio Tafinal submetido a moderada aqão esln«éniea. ' — Esfregado de epilélio raginal submetido a franca ação estrogénica. números 5, 7, 8 c 9 traduaem as modificações ciclicas da cilologia raginal durante o ciclo mrnslru.tl ooTToa]: 5 — Início da ía»c prc>orulatórtas 7 — Fim da fase prê^rulatôria oa ipkr da reaçôo íoltcular, indicando o momento cm <]oe a omlação dcire ac fiar. í — Fas« poat-ovulatóría. 9 — Faae prc-mcnstrual. O, * SciELO 10 11 12 13 14 15 16 cm ífc/aL.L.Tf SCÇAf. efeitos de um extrato pré-hipofisario sôbre as adrenais e o timo de camundongos infantis (♦) POR L. MILLER DE PAIVA (Z7o Laboratório de Endocrinologia do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Os estudos sóbre as correlações entre a adrenal, a hipófise e o timo, bem como os trabalhos recentes sôbre o hormônio corticotrópico (1-3), induziram-nos à revisão da atividade corticotrópica de um extrato de lobo anterior de hipófise bovina. O teste mais seguro para o hormônio em apreço é o da manutenção ou recuperação do pêso das adrenais de ratos hipofisoprivos (4) ; dada, porém, a dificuldade de se dispor de elevado número de animais nessas condições, procu- ramos verificar aquele efeito em camundongos infantis, já empregados, entre outros, por Jores (5), na pesquisa do referido hormônio no sangue de hiper- tensos. m.ateriae e Métodos Empregamos neste trabalho 331 camundongos infantis, repartidos cm 4 lotes: a) 100 machos e 78 fêmeas para a determinação do peso normal das adrenais ; b) 40 machos e 80 fémeas normais, tratados; c) 15 machos castrados e, íinalmente, d) 10 machos e 8 femêas castrados e adrenalectomizados. À exceção do primeiro lote, os demais foram tratados ou com sôro fisioló- gico ou com uma solução de extrato de lobo anterior de hipófise bovina, preparado neste Laboratório, de acordo com o método de Bates e Riddle (6) . Tal extrato, nsado como ponto de partida para a obtenção da prolactina, possui também consi- derável atividade corticotrópica. Os animais recebiam duas injeções subcutâneas diárias de 0.25 cm* durante 4 dias e, no 5.® dia, depois de pesados em jejum c sacrificados com éter, eram as ndrenais e o timo desembaraçados dos elementos conjuntivos e pesados em balança (*) Agradecemos i Diretoria do Instituto Butantan as facilidades concedidas e ao Dr. J- R. DO Vaux, pela orientação e estímulo durante o estágio que fizemos na Secão de En- 4ocnnologia do referido Itutituto. 1 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 102 Memórias do Instituto Butantan Tomo X\TII \ de torção. Os animais não operados pesaram à autópsia de 7 a 14 g e os opera- dos de 10 a 17 g, e isto por decorrer certo tempo, em média de 8 dias, entre a operação e o inicio do tratamento. Os camundongos adrenoprivos eram mantidos em boas condições numa dieta rica em cloreto de sódio. As doses do extrato correspondiam ao total individual de 10, 15 e 20 mg da preparação sêca. RESULTADOS E CONCLUSÕES Os pesos médios das adrenais e do timo nos diferentes grupos experimentais figuram na tabela 1. Tabela I Gro- pos Sexo CofKÜçOet N .• de aoi* mais Péso corp. m4d»o ((C* Tratamento P4so em mg. Adre" naís Timo A <í NonxuU lOO 9.8 Nihil 3.1 B 9 78 9 3 Nibil 3.9 C cf 30 10.7 Sdro fisioló|(i^o 3.7 32.6 D d 10 9.7 Extr. t. aateríor (15 mg) 4.3 10.1 E 9 ** 40 10.1 Sàto fisiológico 3.8 39 4 F 9 W 1081 Extr. 1. aiwerior (10 mg) 6.1 21.8 G 9 f* 10 8.9 . . . (is m{c) 5.1 8.9 (i 9 «• 10 9.8 . . „ (20 m«c) 5.3 12.1 1 O Costradot 7 14.7 Sóro fisiológico 4.0 43.1 J e Castrados e Adrenoprirot 5 10.8 .. — 61.0 K 0 Castrados 8 12.7 Extr. 1. anterior (15 mg) 7.1 17.1 L ê Castrados e AdreaoprÍTos 5 10.2 , . (15 mgi — 71.0 M 9 «* <• •• 4 10.0 Sôro fisiológico — 54.3 N 9 m *9 <• 4 12.0 ExU. I. uichor (15 41.3 Os resultados, nos grupos de camundongos normais, mostram que em 248 dêles, pesando em média 10 g, não tratados, ou, então, injetados com sôro fisio- lógico. as adrenais pesaram, em média, 3.6 mg e o timo 36 mg. Dos 50 camun- dongos normais, 10 machos e 40 fêmeas, com peso corporal médio de 9.6 g, tra- tados com extrato pré-hipofisário, as adrenais e o timo pesaram, respectivamente, 5 e 13 mg. Vê-se, pois, que o extrato empregado aumentou as adrenais e dimi- nuiu o timo dos animais tratados. No grupo de machos castrados os efeitos da corticotropina sóbre as adrenais foram ainda mais pronunciados. A diminuição do pêso do timo como conseqüência do tratamento não foi observada nos animais adrenalectomizados, o que se interpreta por não ser direta a ação da corticotropina sóbre o timo. 2 L. Miller de Paiva — Efeitos de um extrato pré-hipofisário sôbre as adrenais e o timo de camundongos infantis. 103 Para se aN^aliar o efeito do tratamento dos camundongos castrados e adreno- privos, reproduzimos na Tabela II a variação individual do pêso do timo. A dife- rença entre as médias registradas para os dois grupos, 61 ± 8 mg para os teste- munhas e 71 ±21 mg para os injetados com extrato, não é estatisticamente significativa. A corticotropina, por conseqüência, não modifica o peso do timo na ausência da supra-renal. Tabela II Camundongos castrados c adrcnalcctomizados No PíM) COfp. (K) TnUmetiio Píxo do (Imo (mg) ! 11 0.2Scm’ dc Bôro fisioldgico, 2 Tnet ao dia darante 4 dias. SI 3 11 .. 69 7 11 0 . 60 11 11 69 13 10 - S6 9 10 0.25cm3 Extr. 1. antehor 2 ▼esea ao dia doraolc 4 diat (Total 15 ibk). S4 U 10 • 94 13 10 «• 36 16 11 • 93 17 10 - 58 O fato da atrofia timica se obser\’ar nos camimdongos normais ou castra- dos, mas não nos adrenalectomizados, parece indicar que o extrato injetado atuou por intermédio da cortical da glândula supra-renal, como, aliás, já foi demons- trado em ratos infantis, entre outros, por Moon (7). Como já se conhece o efeito dos hormônios sexuais diminuindo o tamanho do timo (8), é provável tloe o aumento do hormônio cortical seja o responsável por aquela ação, suben- tendido que o hormônio cortical é tomado aqui na acepção de grupo dos hormô- t>ios esterólicos. Do que ficou exposto é lícito concluir que o extrato de lobo anterior de hipófise bovina empregado nestas experiências : a) aumentou até de 50% o pêso das adrenais de camundongos infantis dos dois sexos e até de 80^ o de machos Estrados; b) diminuiu o pêso do timo cm normais e castrados; c) não dimi- nuiu o pêso do timo nos adrenoprivos, o que parece indicar ser o efeito precedente tuediado pela córtex da adrenal. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 104 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVm RESUMO Foram estudados os efeitos de uma preparação de lobo anterior de hipófise borina sôbre as adrenais e o timo de camimdongos infantis, registrando-se hiper- trofia das adrenais e diminuição no tamanho do timo. Este último efeito não foi obser\'ado em animais adrenalectomizados, o que sugere ser êle indireto, mediado pela córtex supra-renal. ABSTRACT Hypertrophy of adrenais and reduction in size of thj-mus in infantile mice were observed following the treatment with an alkaline extract of bovine anterior hypophysis. The thjmiotrophic effect «•as not obtained in adrenalectomized animais, therefore being mediated through the adrenal córtex. The hypophyseal, adrenal and thj-mic relationships are discussed. BIBLIOGR-\FIA 1. Noble, R. âr CoHip, J. (1941). Augincntation of pituitary cortico-trophic cxtracts and effect on adrenais, thymus and prepucial glands of rat. Endocrinology, 29, 93-95. 2. Moon, H. & Crede, R. (1940). Effect of adrcnocorticotrophic hormone on the thymus of the rats. Proe. Soc. eip. Biol., 43, 44-46. 3. Houssay, B. Del CastiUo, E, B. & Pinto, A. (1941). Acdón de la suprarrenalecto- mia sobre el timo y los gânglios. Rev. Soc. arg. Biol., 17, 26-39. 4. Simfson, if.. Li, Choch & Evans, H. M. (1943). Bioassay of adrenocorticotrophic hormone. Endocrinology, 33, 261-268. 5. Jores, A. (1935). Dic Bedeutung der Hypophyse fõr die Entstehung des Hochdruckes, insbesondere der essentiellen Hypertonie. Klin, ^'schr., 15, 841-846. 6. Bates, R. IP. êr Riddle, O. (1935). The preparations oi prolactin. 7. Pharmacol., 55, 365-371. 7. Moon, H. (1940). Effect oi adrenocorticotropic hormone on the thymus of 4 days old rats. Proe. Soc. txp. Biol., 43, 42-44. S. Chiodi, //. (1940). The relationship between th thymus and the sexual organs. £»»• docrinolo,'"’. 26, 107-116. (Recebido para pnblicaçSo em norembro de 1944). 4 NOTAS OFIOLÓGICAS 18. A posição do gênero Rhadinaea em sistemática (Continuação), POR ALCIDES PRADO {Do Laboratório de Ofiologia e Zoologia Médica do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Depois de me referir em trabalho anterior às espécies do género Rhadinaea, Rh. affinis, Rh. poccüopogon e Rh. beui, passo a redescrever Rhadinaea occipi- talis (JAN), que, como as ciladas, parece enquadrar-se nêsse mesmo gênero, por seus caracteres gerais, dentários e hemipénicos. Esta espécie ocorre em quase todo o Brasil e países limítrofes. Rhadinaea occipilalis (Jan) in Arch. Zool. Anat. Phys. 2:267.1863. Dentes maxilares cérca de 16, aumentados gradativamente de tamanho de diante para trás, separados dos dois últimos, pouco desenvolvidos, por um curto inteiA-alo ; dentes mandibulares subiguais. Cabeça proporcionalmente alongada, não muito distinta do pescoço, com focinho arredondado; ôlho moderado, com pupila redonda. Corpo cilíndrico; escamas lisas, sem fossetas apicilares. Cauda moderada ou longa, com ponta «tfilada. Rostral mais larga do que alta, apenas visível de cima; internasais mais largas do que longas, porém mais curtas do que as prefrontais; prefrontais também mais largas do que longas ; frontal quase 2 vézes tão longa quanto larga, mais longa do que sua distância da extremidade do focinho, mais curta do que as parietais; estas últimas tão longas quanto sua distância das internasais; loreal um pouco mais longa do que alta ; 1 pré- e 2 postoculares ; 1 -{- 2 temporais; 8 supralabiais, eom 3*, 4* e 5* junto ao ôlho; 4 infralabiais em contacto com a mental anterior, que é geralmente mais curta do que a posterior. Escamas em 15. Ventrais 160 ® 194; anal dividida; subcaudais 55 a 81, pares. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 106 Memórias do Instituto Butantan Tomo XYIII Cauda aproximadamente entre um terço a um quinto do comprimento total. Pardo-olivácea, em cima, com duas séries de manchas arredondadas, negras, areola- das de claro e, por vêzes, confluentes sôbre o dorso; lados cinza-escuro; cabeça enegrecida, com um traço negro através dos olhos e uma estria dara, cantai, late- ralmente; partes inferiores branco-amareladas, ornada de um ponto negro sôbre cada uma das extremidades das ventrais; labiais, mentais e guiares, quase sem- pre portadoras de vermiculações negras. Hemipénis mais alongado do que em Rh. affinis e Rh. poecilopogon, capitato, não dividido, com cálices mais ou menos papilosos no ápice; sulco bífido; densa- mente crirado de espinhos na parte posterior, onde há três outros basilares, sendo um mais desenvolvido. RESUMO Nesta nota, redescreve-se a espéde Rhadinaea occipilalis (J--\N), que ocorre em quase todo o Brasil e países limítrofes. Por seus caracteres gerais, dentários e hemipênicos, parece a mesma enquadrar-se no gênero Rhadinaea, como as demais estudadas em trabalho anterior. .•\BSTR.\CT In this paper the species Rhadinaea occipitalis (J.AN) is redescribed. It occurs throughout Brazil and bordering countrics. By its general characteristics, dental and hemipenic, it seems possible to place it in the genus Rhadinaea, together with other ones studied in anterior papers. BIBLIOGR.\FIA Prado, A. (1943). Mctn. Inst. Butantan, 17, 11-16. (Eotrcfne para publicaçio cm 6 dc inar (0 de 1944). 2 Alcides Prado — Xolas Ofiológicas. 18. 107 Rhadinaea occipitalis (Jan) Etpí- cimes N‘o$. ProcedeocU e M fc. 90 E. V. A. Sobe. Labiais Ocula* res Compr.em mm u 3 Vi B * c o o ToUl Caoda SS57 S«nto André, S. Paolo . 9 15- 15-13 1S7 l.l 71/71 98 4 1 2 514 124 7Õ39 Casa Branca, S. Paolo , 9 15-15-13 191 li 6969 S 4 1 2 566 126 9119 Campo Limpo, S. Paulo . . 9 15-15-13 181 1/1 71.71 s 4 1 2 450 104 SS55 S. José Campos, S. Paulo . 9 15-15-15 194 11 68 68 8 4 1 2 587 131 93» Campinas, Goiás . . . . 9 15-15-15 1S6 1/1 74 74 8 4 1 2 551 138 1733 Pelotas, R. G. do Sul . 9 15-15-13 187 1 1 59 59 8 4 1 2 535 91 I41S Capital, S. Paolo . . . O* 15-15-13 175 >/l 81.81 8 4 1 2 42S 122 501 Terezioa, Ptaol .... 9 15-15-15 172 l/l 7171 S 4 1 2 320 80 1791 Pelotas, R. G. do Sul . 9 15-15-15 179 11 75 75 8 4 1 2 430 96 IM Anápolis, & Paulo . . . c? 15-15-15 175 1/1 77.77 8 4 1 2 515 129 007 Caçapaea, S. Paolo . . . 9 15-15-15 191 1.1 5355 7j« 4 1 2 572 110 U27 Dutantan, S. Paolo . . . d“ 15-15-13 176 11 6767 8 4 1 2 538 132 9996 Rocinha, S. Paolo . . . 9 15-15-15 177 1.1 7171 8 4 1 2 435 106 10021 Aimorés, S. Paolo . . . 9 15-15-15 181 11 7171 8 4 1 2 465 115 1021S Tambad, S. Paolo . . . 9 15-15-15 179 11 7171 S 4 1 2 569 154 1246 ? • Ceará . , í 15-15-13 169 1.1 6969 87 4 1 2 417 112 9633 Capital. S. Paulo . . . . 9 15-15-15 18U l/l 68,68 8 4 1 2 506 117 4306 Caçapava, S. Paolo . . , 9 15-15-15 194 11 6666 8 4 1 2 549 121 1403 7 , Bahia . , 9 15-15-15 160 11 7171 8 4 1 2 371 100 1404 ? , Bahia . , d“ 15-15-15 161 11 74 74 8 4 1 2 395 118 <873 Butaolao, S. Paolo . . , 9 15-15-15 185 11 73 73 8 4 1 2 231 53 06 Bntanlan, S. Paulo . . . 9 15-15-13 187 11 73,73 8 4 1 2 541 133 92Ô8 Roxo Rou, Paraná . . . 9 15-IS-15 184 11 69,69 8 4 1 2 475 114 569 Terexina, Paiol .... 9 15-15-15 173 11 75,75 8 4 1 2 428 115 8734 Campinas, Goiás . . . . 9 15-15-15 184 11 78,73 8 4 1 2 506 121 1241 Capital, S. Paulo ... cT 15-15-13 177 11 7373 8 4 1 2 421 107 6199 Capital, S. Paolo . . . 114 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 NOTAS OFIOLÓGICAS 19. Atractus da Colômbia, com a redescrição de três novas espécies. POR ALCIDES PRADO (Do Laboratório de Ofiologia e Zoologia Médica do Inslilulo Bulanlan, São Paulo, Brasil) De um lote de serpentes, enviado da Colômbia, em 1943, pelo revmo. Hermano Daniel, do Colégio de San José, de Medellin, duas espécies se destacaram, sendo as mesmas aqui redescritas. No mesmo ano, de outro lote, remetido pelo revmo. Hennano Niceforo Maria, do Instituto de La Salle, de Bogotá, foi possível des- crever-se mais uma como nova, que agora é aqui também redescrita. Atractus andinus Prado 9 — Fodnho arredondado. Rostral mais larga do que alta, pouco visível de cima; intemasais pequenas, tão largas quanto longas; prefrontais grandes, também tão largas quanto longas; frontal mais larga do que longa, mais curta do que sua distância da extremidade do focinho ; loreal 2 vezes tão longa quanto alta; 2 postoculares ; 1 -f- 2 temporais; 7 supralabiais, com 3* e 4* junto ao ôlho; 3 infralabiais em contacto com a mental. Escamas lisas, sem fossetas api- cilarcs, cm 17; ventrais 174; anal inteira; subcaudais 37/37. Pardacenta em cima, com u’a linha negra vertebral, orlada de manchas arre- dondadas, da mesma côr, em toda extensão, paravertebrais ; pontilhados negros paraventrais, formando como que uma listra longitudinal, de cada lado; cabeça enegrecida, porém desmaiada nas têmporas; lábios e partes inferiores manchados de pardo-negro. Comprimento total 287 mm; cauda 37 mm. Holotipo, adulto 9, sob o No. 231, na coleção do Colégio de San José, de Medellin, Colômbia. Procedência : Andes. Afim de Atractus maculatus (Günther), do qual se distingue pelo número de ventrais e subcaudais e pelo colorido geral. 1 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 110 Memórias do Instituto Butantan Tomo XMII Atractus sanguineiu Prado á — Fodnho arredondado. Rostral cêrca de 2 vêzes tão larga quanto alta, pouco visível de cima; internasais pequenas, tão largas quanto longas; prefrontais grandes, também tão largas quanto longas ; frontal pouco mais larga do que longa, mais curta do que sua distância da extremidade do focinho; loreal cêrca de 3 vêzes tão longa quanto alta ; 2 postoculares ; 1 -r 2 temporais ; 7 supralabiais, com 3“ e 4“ junto ao õlho: 3 infralabiais em contacto com a mental; Escamas lisas, sem fossetas apiedares, em 17; ventrais 179; anal inteira; subcaudais 43/43. Vennelho-sanguinea em cima, onde sõbre a linha mediana corre um traço negro, ladeado em toda extensão por manchas arredondadas da mesma côr, para- vertebrais; cabeça enegrecida; partes inferiores branco-amareladas, salpicadas de pardo-negro. Comprimento total 424 mm ; cauda 58 mm. Holotipo, adulto i , sob o No. 232, na coleção do Colégio de San José, de Medeilin, Colômbia. Procedência: Yarumal (N. de hledellin). Próxima à anterior, da qual se separa por um número ainda mais ele\'ado de ventrais e subcaudais, pelo alongamento da loreal e pelo colorido geral. Atractus wagleri Prado 9 — Focinho arredondado. Rostral pouco mais larga do que alta, apenas visivel de cima; internasais muito pequenas, tão largas quanto longas; prefrontais muito grandes, tão largas quanto longas; frontal tão larga quanto longa, pouco mais longa do que sua distância da extremidade do focinho; loreal 2 vezes tão longa quanto alta ; 2 postoculares ; 1 -j- 2 temporais ; 7 supralabiais, com a 3* e 4“ junto ao ôlho; 3 infralabiais cm contacto com a mental. Escamas lisas, sem fossetas apicilares em 17-17-17; ventrais 174; anal inteira; subcaudais 43/43. Avermelhada em cima, com fabcas transversais e irregulares sõbre o dorso, flanqueadas por outras menores, alternadas; cabeça enegrecida; ventre pardo- negro. Comprimento total 411 mm; cauda 56 mm. Holotipo, adulto 9 , sob o No. 228, no museu do Instituto de La Salle, de Bogotá, Colômbia. Procedência: Humbo (Boj^acá). .■\fim de Atractus sanguincus, do qual se distingue pelos seguintes caracteres: pela rostral que é pouco mais larga do que alta e não 2 vêzes tão larga quanto 2 Alcides Pa\DO — Xotas Ofiológicas. 19. 111 F. Prado Jr., A. Taborda & L. C. Taborda — Ensaios terapêuticos com alta; pela frontal que é tão larga quanto longa e não pouco mais larga do que longa; pela loreal que é 2 vêzes mais longa do que alta e não três vêzes; e, finalmente, pelas variações de colorido. O nome desta espécie foi dedicado à memória de Jean Wagleb, conhecido naturalista, e criador do gênero Atraclus. RESUMO Redescrevem-se os Atractus andinus Prado e Atracius tanguineus Prado, procedentes, respecti^-amente, de Andes e Yarumal, na Colômbia, e posteriormente Atractus wagleri Prado, próxima à segunda daquelas, e proveniente de Humbo (Boj-acá), no mesmo pais. ABSTRACT Atractus andinus Prado and Atractus sanguincus Prado, provenient respecti- vely from the Andes and Yarumal, in Colombia, are redescribed, followed by Atractus uxtgleri Prado, which resembles the latter and carne from Humbo (Boj-acá), in the same country. BIBLIOGRAFIA ^oulengcf, G. A. (1894). Cat. Sn. Brit. Mus., 2:306. Prado, A. (1944). Ciência (México), 5(4-5) :111. Prado, A. (1945). Géncia (México), 6(2) :61. (Rcccbi presença de bacilos Gram-negativos, morfologicamente idênticos â E. coli. A ad- ministração da penicilina foi suspensa, iniciando-se a aplicação de Anaseptil a 25% (uma empola diária). Em poucos dias a febre cedeu, desapareceu a supuração < a doente teve alta em 12 de abril. Exames de laboratório — Hemocultura (9-3-44) : negativa. Hemograma (9-3-44) : leucócitos por mm’ 13.900 mielocitos 0* neutrófilos metamielocitos 1' núcleo em bastonctes 31% . núcleo segmentado 44% eosinófilos 0% basófilos 0% linfocitos 14% mocxxntos 9% plasmodtos 1% 4 F. Prado Jr., A. Taborda & L. C. Taborda — Ensaios terapêuticos com a penicilina preparada no Instituto Butantan 119 Conclusões — Processo infeccioso agudo, inflamatório, ligeiramente exsuda- tivo, provavelmente da mucosa. Boa defesa. Não há caracteres hematológicos de especialidade de qualquer natureza (Laboratório de análises clinicas dos Drs. Fe- lipe de Vascoocellos e Gastão Rosenfeld). Cultura do f>ús (15-3-44) — Estafilococos. Cultura do pús (21-3-44) — Bacilos Gram-negativos morfologicamente seme- lhantes à E. colL Reações pela penicilina — Durante as transfusões continuas havia náuseas e, por vezes, vómitos. Gõsto metálico durante as aplicações na veia. Dór local nas apli- cações musculares. UNIDADES ADMINISTRADAS — 255 000 unidades Oxford em injeção e 6 000 unidades localmente. 3. Infecção por Staphylococcus aurcus — E. M., brasileira, 31 anos, branca, doméstica. Histórico — Periodo de gravidez normal. Constatado um granuloma no 2.® molar superior esquerdo no 5.® mês de gravidez. Em novembro de 1943, decorridos 5 dias Post parium, formou-se um abcesso no seio direito, acompanhado de febre. Aplicou ca- taplasmas de linhaça localmente e uma empola diária de Anaseptil durante 5 dias. O abcesso foi aberto, com salda de pús espesso, amarelado. Reaparecimento de novxM abcessos dos dois seios, que foram também abertos. Durante 30 dias a su- puração desses fócos continuou, acompanhada de elevação térmica, a despeito do tratamento pelo sulfamidica Tratamento — Suifanil\'acin, Pioloco e água oxigenada localmcnte. Um comprimido de Sulfadiazine de 4 em 4 horas (20 comprimidos). 9 empolas de Pioformine. For- mação de novos abcessos. Foram prescritos mais 20 comprimidos de Tiazamida. Durante 5 dias foi administrado 1 empola diária de Soluseptazine na veia. A su- puração dos fócos persbtia, acompanhada de febre. Glicemia de 2 g por ml. Apli- cação diária de 20 unidades de insulina em duas doses. Necroton. Saiu do hos- pital com 5 fócos supurati\x>s em ambos os seios. Inicio de erisipela na perna direita. Tomou mais 10 empolas de Soluseptazine e 20 comprimidos de Septazinc, sem resultado. Propidon. Febre atingindo por vézes 39®C Estado geral ruim. Grande prostaçãa Em 16 de fevereiro iniciou-se o tratamento pela penicilina localmcnte, suspen- dendo-se toda a medicação sulfamidica, O tratamento inicial consistiu em aplica- ção local de uma solução isotônica do sal de bário de penicilina, dosando 100 uni- dades Oxford por cm*. Irrigações continuas dos fócos supurativos (Carrel) du- rante 4 dias. Diminuição acentuada da supuração, que se tomou mais fluida. Desa- parecimento da febre. Como o processo evoluisse para a cura. a solução isotônica do sal de bário foi substituida por filtrado de cultivo de Penicillium notatum, do- sando 20 unidades Oxford por cm*. Desaparecimento completo da secreção e ten- dência á deatrízação. Inicio de erisipela na perna direita com elevação térmica. Aplicação da penicilina injetável na dose de 5000 unidades de 4 em 4 dias. Com 20000 imidades injetáveis e aplicação local do filtrado na perna, a temperatura baixou, regredindo os sintomas erisipelóides. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 120 Memórias do Instituto Butantan — Tomo XVIII Durante o tratamento pela penicilina continuou-se a administração de insulina. Em 10 de março suspendeu-se todo tratamento, pois o estado da paciente era botn, tendo desaparecido a glicosúria e cicatrizado os fócos. Extração do dente com gra- nuloma. A paciente ficou sob observação clúuca durante três meses, estando com- pletamente curada. Examfs de laboratório — A cultura do pús res'eloa o crescimento de cocos Gram-positisos, com comportamento biológico semelhante ao Stafhylococcus aureus. A hemocultura antes do tratamento pela pem'cilina foi negativa. Dosagem de glicose no sangue: 2 g por mil. Rea(ões Pela penicilina — Não apesentou. UNIDADES ADMINISTRADAS — 20'000 unidades Oxford em injeção e 45 000 unidades localmente. 4. Infecção estreptocócica — H. A. P., brasileiro, 31 anos, casado, branco, médico-veterinário. Histórico — Deu entrada no Hospital Oswaldo Cruz com uma inflamação do artelho médio do pê esquerda Pequena ulceração interdigital e fortes dores, que excediam qual- quer limite de suportabil idade. O artelho se apresentava escuro e o pé edemaciado com algumas placas vermelhas, luzidias e quentes. Temperatura inferior a e pulso filiforme, atingindo a ISO pulsações por minuto. Estado geral mim. Diagnóstico — Infecção estreptocócica do artelho (Dr. Quirino Pucca). Tratamento — Medicação contra a dôr, aplicando-se ao todo, 8 centigramos de morfina, para consegmr aliviar o paciente. Tonicardiacos e glicose a 50% na veia. Seis empolas de Anaseptil a 25% na veia, sem melhora. Líquido avermelhado, saindo do artelho. Como o estado do paciente se agravava, suspendeu-se a administração do sulfamí- dico e inidou-se a aplicação local da penidlina. Um filtrado de cultivo de P. no- tatum, dosando 20 unidades Oxford por cm*, foi aplicado localmente em compressas, renovadas cada 15 minutos, dia e noite. Decorridas 12 horas da aplicação local, notou-se a diminuição da dõr, pé menos edemaciado, melhoria do estado geral. Ini- ciou-se a aplicação do sal de bário por via parenteral, na dose de 10 000 unidades Oxford de 4 em 4 horas. Como o paciente se queixasse de dór nas aplicações por via muscular, passou-se a administrar a penicilina na veia, dissolvida em sõro gli- cosado hipertõnica Com a aplicação de 70000 unidades injetáveis e 15 200 local- mente o paciente teve alta do Hospital. Reações pela peniciliw — .4pós a segunda dose injetável de penicilina manifes- tou-se um surto de urticária, que cedeu com medicação pela adrenalina, cálcio e Necroton. Gôsto metálico nas injeções endovenosas. Rubor das faces. Dór nas aplicações intramusculares. UNIDADES .\DMINISTRADAS — 70 000 unidades Oxford em injeção e 15 200 unidades localmente. 5. M. M. C., brasileiro, 16 anos, solteiro, branco. Histórico — Queixava-se de cefaléias intensas, que cediam com analgésicos. Decorridos 4 dias apresentou edema inflamatório nas pálpebras do olho esquerdo. Diariamente apresentava febre. Internado no Hospital Municipal, em 25-1-44. Temperatura 6 F. Pbado Jr., a. Taborda & L. C. Tadorda — Ensaios terapêuticos com a penicilina preparada no Instituto Butantan 121 37J°C Radiografia: Opacidade dos seios frontais, cujos limites são indistintos, fa- zendo suspeitar de um processo de osteite peri-sinusal (Dr. Rafael de Lima F.®). Hemocultura negati\'a. ^loffnósiico — Sinusite frontal aguda — ostcomielite do frontal (Drs. A. Perella e Cassio M. Alves). tratamento — Durante oito dias tomou um comprimido e meio de Cibazol de 4 em 4 horas, dia e noite. Diariamente glicose na veia a SO^c e Kecroton- Vacina antistafilocõdca “ Pinheiros Transfusões de sangue. Radiografia em 9-2-44 : o estudo compara- ti%-o com a radiografia anterior demonstra agra^ação do processo de osteomielite do frontal, o qual, partindo dos limites do seio frontal esquerdo, atinge já a bossa frontal esquerda: observa-se um processo de osteoclasia, com perda da estrutura. Os limites externos e superiores do seio frontal acham-se desaparecidos (Dr. Ra- fael de Lima F.®). O paciente apresentava um tumor com flutuação na região frontal esquerda; abertura do seio frontal. Transfusões de sangue diariamente, glicose hipertõnica e curativos locais. Radiografia em 2Õ-2-44: não houve modificação do aspecto ra- diológico do processo de osteomielite frontal (Dr. Rafael de Lima F.®). Foi ini- ciado o tratamento pela penicilina pelo método de transfusão continua na veia. No 1.® dia foram administradas 90 000 U. Oxford, sendo 40 000 gõta a gõta na veia e 10 000 u. O. de 4 em 4 horas; localmente foram aplicadas 5 000 u.O. da solução do sal de bário. Nos trés dias subsequentes o paciente recebeu 40 000 unidades Oxford em 24 horas, sendo 12 000 aO. gõta a gõta na veia e 4 000 u.O. de 4 cm 4 horas. Foi aplicada diáriamente 2 400 u.O. localmcnte. Com quatro dias de tratamento, desaparecimento da supuração e da febre. Em 22-3-44, após a apli- cação de 403 000 u.O. por via parenteral e 31 400 u.O. localente, foi feita nova radiografia: o estudo comparativo com o exame anterior demonstra maior delimi- tação do processo destrutivo, o qual não se extendeu, sendo, entretanto, mais intenso (Dr. Rafael de Lima F.®). A dose de pem'cilina foi sendo reduzida até completar 30 dias de tratamenta Nos últimos dias a dose de penicilina administrada em 24 horas era de 10000 u.O. por via parenteral e 1 200 localmente. Radiografia em 3-4-44 ; o estudo comparativo com o exame anterior demonstra boa delimitação do processo e menor grau de des- truição nos bordos, notando-se zonas de neo- formação óssea, no centro da zona de destruição (Dr. Rafael de Lima F.®). Decorridos três dias após o término do tratamento pela penicilina, foi feita outra radiografia: o estudo comparativo com as radiografias anteriores demonstra evolução favorável, acentuando-se a reconstituição óssea e redução da zona de osteoclasia, restabclecendo-se a nitidez dos limites do seio frontal esquerdo (Dr. Rafael de Lima F.®). O paciente teve alu no hospi- tal, ficando cm observação, sem qualquer tratamento clínica Radiografia cm 24-4-44 ' o estudo comparativo com o exame anterior demonstra nítida reparação do tecido ósseo, sendo atualmente difícil estabelecer os primitivos limites da lesão, reduzida a uma zona de desmineralização discreta (Dr. Rafael de Lima F.®). O paciente ficou cm observação durante 9 meses, estando aparentemente curada Exames de laboratório — Reações de Wassermann, Kline e Kahn (1-2-44) ne- gativas. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 122 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Tipo sanguin^o — II (Moss). HemocuUuras (26-1- ; 10-3; 16-3) — negativas. Culturas do pús — Staphylococcus aureus. Hemogramas (Dr. Gustavo Fleury da Silveira F.®) : 13-2-44 17-3-944 29-3-44 13-4-44 hemoglobina . . eritrocilos leucócitos valor globular, segmentados . . neutrófilos bastonetes .... (metamielocitos. eosinófilos .... bâsófilos monocitos linfocitos 12.500 45% 1% 0% 4% 1% 1% 48% 67 % 5.010.000 9.S00 0.67 51% 1% 0% 11% 0% 1% 36% 73% 5.210.000 7.800 0.75 43 •/, 0 5 % 0% 6.5% 0.5 % 0.5% 49 ^ 75% 4.630.000 6.550 0.81 46%. 1% 0% 7% 1% 1% 44% Reações Pela penicilina — Dõr local nas aplicações intramusculares. Gôsto me- tálico nas aplicações na veia. UNIDADES ADMINISTRAD.AS — 563 000 unidades Oxford poc via pa- renteral e 44 000 unidades localmente da solução do sal de bário. 6. Infecção estafüocócica — A. C, italiana, 50 anos, viuva, branca, doméstica. Histórico — Deu entrada no Hospital N. S. Aparecida com abcesso no calcanhar e parte plantar do pé direito. Abertura dos abcessos e drenagem. Supuração intensa e difícil dcatrização. Temperatura atingida 38®C Há 5 meses teve nefrite c furun- culose. Diabética. Diagnóstico — Flegmão do pé direito. Tratamento — Curativos diários com éter e 20 unidades de insulina localmente. Três com- primidos diários de Cibazol durante 7 dias. 40 unidades de insulina diariamente por via parenteral. Radioterapia. Supuração intensa e perna edemaciada. Decor- ridos 30 dias de hospitalização, os fócos sépticos continuas-am ativos. Suspendeu-se a administração do sulfamidico e iniciou-se o tratamento locai pela penicilina, jun- tamente com a aplicação de insulina localmente e cm injeção. A penicilina foi apli- cada em compressas e irrigações dos fócos supurativos, usando-se, para isso, um filtrado de cultivo de Penicillium, dosando 30 unidades Oxford por cm*. Nos pri- meiros cinco dias de tratamento foram aplicadas localmente 5 000 unidades, cora di- minuição da supuração e da dõr, seguida da aplicação de mais 3 000 unidades diá- rias. Cora 30 dias de tratamento desapareceu completamcnte a supuração, cicatri- zando os fócos. A paciente teve alta cm 2-5-44. Exames de laboratório — Exame de urina (25-2-44) : 26-20 g de glicose por litro; (6-3-44): 33.10 g por litro. Exame de sangue (29-3-44): 2.80 g de glicose por mil. Exame de pis: Staphylococcus. UNIDADES ADMINISTRADAS — 100 000 unidades Oxford localmente. 8 F. Prado Jr., A. Taborda & L. C. Taborda — Ensaios leraiiêuticos co.n a penicilina preparada no Instituto Uutaniai. 123 COMENTÁRIOS Da análise dos casos clínicos por nós tratados com penicilina, vê-se que O' tempo de duração do tratamento variou de 4 a 30 dias, notando-se, logo às pr. meiras doses, melhoria dos sintomas mórbidos. Assim é que, no caso da infecção puerperal, a paciente já se encontrava em estado de colapso periférico, sem que se tivesse obtido qualquer resultado pela administração precóce de sulfami^ícos. Com a aplicação de 150000 unidades O.xford de penicilina, as primeiras 14 horas evidenciou-se acentuada melhora do estado geral da paciente. Pouco a pouco, com as doses elevadas, que a gravidade do caso requeria, a infecção foi sendo debelada. Após alguns dias de apirexia, foi obser\*ada nora elevação térmica, atribuída a uma basíte de decúbito, comprova radiológicamente, a qual cedeu com o tratamento pelo cálcio, extrato de fígado e vitamina C. Apesar de não ter sido realizada a hemocultura antes do tratamento pela penicilina, o que nesse caso seria de inestimável valor, tal falha não nos impede de apreciar a sua rápida ação na infecção, pois todos os recursos terapêuticos já se haviam esgotados. Após a administração de 286000 unidades de penicilina, a nosso pedido, foi realizada uma hemocultura, com resultado negativo, o que já era de prever, pois geralmente conseguem se hemoculturas negativas com 100000 unidades de penicilina. Qinicamente, foi diagnosticado pelo médico assistente como sendo um caso de septicemia puerperal. A administração da penicilina deve ser feita por um período bastante longo, até que o processo infeccioso mostre eridéneia de regressão e a temperatura haja voltado ao normal. Depois de vários dias de tratamento intenso, associado com a melhoria clínica, a dose da droga pode reduzir-se gradualmente até que os sinais clínicos sugiram que o paciente esteja capacitado para defender-se com seus recur- sos naturais; então suspende-se a sua administração (1). Quadro I reproduz a curva térmica referente ao caso citado, mostrando a dose grande de penicilina administrada nas primaras 24 horas, dada a natureza grave da infecção, para depois, pouco a pouco, ir diminuindo, á medida que a tempera- tura se normalizava. Num outro caso, uma infecção estaíilocócica consequente a um quisto hemá- tico supurado do ovário, a medicação sulfamidica falhou lamentavelmente. Recor- reu-se logo á penicilina e o seu êxito no combate à infecção não se fez esperar. O estado da paciente era grave, atingindo a temperatura, por vézes, a 40.3®C. Decidiu-se logo a aplicação da penicilina, iniciando-sc o tratamento com uma dose de 20000 unidades Oxford, dissolvidas em sôro glicosado isotônico, em transfusão contínua na veia. A temperatura que, no inicio da venoclise, era de 40.3°C, após 3 horas e meia, tempo que levou a aplicação gota a gota, caiu para 36.5°C, mantendo-se a doente em apirexia até o 7° dia de tratamento. Quando cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 124 Memórias do Instituto Butantan Tomo XYIII tudo demonstrava que o processo evoluía para a cura e já tencionávamos suspen- der a aplicação da penicilina, nova elevação térmica foi observada com reapareci- mento da supuração pelos drenos. Verificando a causa dêsse aparente insucesso da penidlinoterapia, constatou-se uma infecção secxmdária pelo E. coli, para a qual a penicilina não tem ação (2, 3). Quadro 1 DIAGNOSTICO; tndotnetrite - Taram.ttrilt fuerptral • ScpCictnia NOMEtKJÇ. IDADE; 22 oAOj MÉDICO: Ur Miltoi OliRto d* Qrruda UOxf. P E N 1 C I L I N A Bastaram alguns gramas de sulfamidico para que a infecção secundária fosse debelada, de vez que as condições gerais da paciente já haviam melhorado. A cultura do pús antes do tratamento revelou a presença de estafilococos e ausência de bacilos Gram-negativos, ao passo que, ao ressurgimento da supuração, encon- traram-se bacilos coli e ausência de cocos. 10 SciELOi'o 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm 126 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI A ação favorável da penicilina sobre a infecção é bem observada no Quadro II, em que se nota a queda da temperatura após a aplicação de 20000 unidades, gota a gota, na veia. Xas 10 primeiras horas a paciente recebeu 35 000 unidades de penicilina e no dia imediato 27000 unidades. Apesar da queda de temperatura verificada à primeira dose de penicilina, no dia seguinte nova eleração térmica se fez sentir, o que nos obrigou a administrar, no terceiro dia, 90000 unidades Oxford, sendo 30000 unidades em transfusão continua na veia e 10000 unidades de 4 em 4 horas. Em 7 dias de tratamento, uma infecção grave por estafilococos foi debelada com 255000 unidades Oxford de penicilina e 6000 unidades em apli- cação local pelos drenos. Uma das séries complicações da sinusite frontal é a osteomielite. de mortali- dade elevada, atingindo por vezes 80^. Todo tratamento clinico até agora tem falhado e, no dizer de Fürstenberg, a única esperança em tais casos reside na remoção radical do osso lesado. Entre nós, Gam.\ e Rezende Bakbosa (4) descrevem um caso de osteomielite do frontal, em que a intervenção de Fürstenberg foi praticada com sucesso, porém nem sempre isto acontece. Com a introdução da penicilina, tém-se conseguido melhores resultados na cura da osteomielite dos ossos da face. Williams e Nichols (5) apresentam dois casos, complicados com septicemia, curados pelas penicilinoterapia. Kirby e Hepp (6) relatam 5 casos de osteomielite dos ossos da face, tratados com bons resultados. dose de penicilina aplicada nesses casos é motivo de controvérsias. Kirby e Hepp, em dois pacientes tratados com pequenas doses durante poucos dias, observaram recidivas, as quais só puderam ser evitadas por um tratamento prolongado e com doses macissas como foi verificado cm 3 casos, que chegaram a receber um total de 754CXXX) u. O.xford. Num ponto quase todos estão de acórdo: em infecções graves é mister administrar a penicilina em transfusões continuas na veia. seguidas de doses fra- cionadas em intervalos regulares. Ótimos resultados foram conseguidos, aplicando 200000 u. 0. gôta a gôta na veia e 15000 u. 0. de 3 em 3 horas. O caso grave de osteomielite do frontal por nós referido, onde somente restava o recurso da inteixenção mutilante de Furstenlierg, cedeu com doses rclativamente pequenas de jienicilina. Tpmámos o cuidado de prolongar o tra- tamento durante 30 dias, reduzindo jxiuco a pouco a dose de penicilina em 24 horas. Diariamente a penicilina foi aplicada, parte em transfu.são continua na veia e parte cm doses fracionadas de 4 em 4 horas, por via intramuscular e endovenosa. No primeiro dia o paciente recelieu 40000 u- 0. em transfusão con- tinua e 10000 unidades por via venosa de 4 em 4 horas, com uma dosce de 90000 u. 0. em 24 horas. Nesse mesmo dia foram aplicadas 5000 u. 0. da solução do sal de liário localmentc na incisão operatória. Nos três dias subsequentes a dose 12 F. Prado Jr., A. Taborda & L. C. Taborda — Ensaios terapêuticos com a penicilina preparada no Instituto Butnntan 127 foi reduzida para 12000 u. 0. em transfusão continua e 4000 u. 0 de 4 em 4 horas. O total de unidades administrativas por via parenteral e local foi de 607 000 u. 0. em 30 dias de tratamento, sendo que, decorridos 9 meses, sob constante vigilância clinica, o paciente está aparentemente curado. Acreditamos que na penicilinoterapia o mais importante é o tempo de duração do tratamento e não tanto a quantidade de medicamento administrado em 24 horas. As recidi^-as conseqüentes a doses baixas talvez possam ser atribuidas ao curto tempo de tratamento. O caso relatado de infecção do artelho era de mau prognóstico, pois havia inicio de gangrena e o estado do paciente era grave. Logo ás primeiras aplica- ções locais de penicilina em compressas, as dôres cessaram e o estado geral do paciente melhorou. Decorridas 12 horas da aplicação local, iniciou-se a penicili- noterapia por via parenteral. Em 4 dias de tratamento com um total de 70000 u. 0. em injeção, a infecção foi debelada. Deixamos consignados nossos agradecimentos aos Drs. A. Luiz do Rego e Eugênio F. Marcondes F®, do Instituto Paulista, ao.s Drs. Milton Olinto de Arruda, Américo Armando Bruno, Renato Barbosa, A. Perella, do Hospital Municipal, pelo auxilio inestimável, que prestaram na realização do presente trabalho. RESUMO Apresentam os autores as observações clinicas de seis casos tratados e curados com a penicilina obtida e purificada no Instituto Butantan, sob a forma de sal de bário. Como a produção do sal fosse em pequena escala, a penicilina foi aplicada em casos selecionados, nos quais já haviam falhado outros tratamentos espedficos. As doses empregadas variaram entre 20000 e 588 00 u. Oxford- O insucesso aparente, verificado na cura de uma infecção estafilocócica, con- seqüente a um quisto hemático supurado do ovário, é atribuido á associação secun- dária da E. coli, contra a qual a penicilina é inoperante. Em aplicação local foi usado, quer o sal de bário em solução isotônica, dosando de 100 a 1000 u. Oxford por centimetro cúbico, quer o filtrado do cultivo de P. notatum, dosando de 20 a 30 u. 0. por cm^. O filtrado mostrou ser um potente antisséptico e excelente adjuvante do tratamento geral, por meio de inje- ções continuas na veia, seguidas de injeções venosas ou intramusculares, com intervalos de 4 horas, afim de manter uma concentração sanguinea adequada. Poucas ou nulas foram as reações produzidas pelo sal de bário. Nas apli- cações endovenosas, os pacientes queixavam-se de gõsto metálico e, por vêzes, náuseas. Nas aplicações pelas vias muscular e subcutânea, observaram-se reações dolorosas. Um caso de urticária foi verificado. 13 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 128 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII ABSTRACT 1. The clinicai results of six cases, treated ^-ith penicillin (Purified barium salt — Instituto Butantan) are described. 2. Due to the small amount o£ penicillin a\-ailable, only those cases ha ve been selected in which previous spedfic treatment failed. 3. The total dosage varied between 20000 and 588000 Oxford units (0. U.)- 4. The apparent failure of penicillin to cure a Slaphylococcus infection of hema- tic suppurated of the o\-ary, was due to a secondary E. coli infection of known penicillin ineffectiveness. 5. Filtrates of Pentcillium notatum cultures, 20 O-U., per ml, and Solutions of isotonic barium salt solution, 100 O. U. per ml, have also been used locally. The filtrate has proved a potent antiseptic and an excellent adjuvant in general treatment by intravenous dry infusion followed by intramuscular injections t\ery four hours. 6. Few, if any, reactions were noticed with the barium salt, when applied intra- venously. The patients comjJained of a metallic taste and sometimes nausea. Painful local reactions have been observed when the intramuscular and sub- cutaneous routes were used. One case of urticaria was observed. BIBLIOGRAFIA 1. Keefrr, C. S.; Blake, F. G.; Marshall, E. Jr.; Lochcood, J. S. & IFood, IV. B, Jr. (1943). Penicillin in the treatment of infections: a rejxMt of 500 cases. /. Amer. Med. Assn^ 122, 1217-1224. 2. Boolh, V. H. & Green, D. E. (1938). A wete«te eltptkas e eltptícA», que tiram i beiaiUte na* »olt»ç6ea cloretadas rm que hotnre bemóUte parcial. Mé> dias obtidas dos 10 casos (Tabela 1). ++ bemacias redondas; — bemacias fortemcnte elípticas; — — beaacias elípticas. ele\-ado (Fig. 2). Nas preparações a fresco, o número de eliptocitos era maior e mais uniforme. Nas lâminas a fresco ou cm esfregaços feitos com sangue formolado ,a eliptodtose era mais evidente, regular e de constatação mais segura do que nas preparações usuais (Fig. 9). Fonna ein naveta — Numerosos eliptocitos apresentavam-se com um aspeto de naveta. Essa forma é devida à depressão central ser redonda ou, quando é oval ,não acompanha totalmente a forma da hemácia, acarretando uma zona peri- férica mais espessa nas extremidades (Figs. 9, 5 e 6). cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Gastão Rosenfelo — Observações sôbre dez casos de eliptocitose (ova- locilose). 135 EsferocUos — Foram encontrados em todos os casos nas preparações formo- ladas, alguns esferodtos típicos (Figs. 7 e 8). lEm esf regaços feitos sem fixa- ção prévia, também foi notado um ligeiro grau de esferocitose, que aparecia nas partes mais delgadas do esfregaço, o que é lun artifício de técnica, pois nessas condições as hemácias tendem â forma redonda e perdem a depressão central (Figs. 1 e 3). Resistência dos eliptocitos — Os resultados da Tabela 2, representados m Gráfico 1, demonstram claramente que os eliptocitos resistem mais do que as hemácias redondas â hemólise nas soluções salinas hipotônicas. Os eritrocitos fortemente elípticos, quando se hemolisa\’am, conser\’avam a stia forma, ao passo -tes. The elliptocytes are more resistant than the round red cells in h)-potonic Solutions and microcjdosis occurs even when there is no anemia and the red cells are saturated with hemoglobin. BIBLIOGR.\FI.\ 1. Varela, M. E. (1911). Hematologia eliniea, 178 pp-, ilns. Buenos .Aires, El .Ateneo, p. 118. 2. Crus, JV. O. & Mello, R. P. (1910). Contribuição ao estudo da eÜptocitose. Mem. Insl. Onealdo Crus, 35. 125-133. 3. GÜHlher, H. (1928). Formprobleme an menschiichen Eothrors-ten. Folia haemal,, Lf:t 37. 383-117. 1. Terry, M. C„ Hollingszeorth, E. IV. £r Eugênio, V. (1932). Elliptical human erj-thro- cj-tes; report of 2 cases. Areh. Path., 13, 193-206. 5. IVyandt, //,, Baneroft, P. M. & lVinshif>, T. O. (1941), Elliptic erythrocytes in man. Areh. Int. Med., 68, 1043-1065. 6. IVintrobe, M. M. (1942). Clinieal hemalology, 792 pp., 171 ilus. Philadelphia, Lea & Febiger, pp. 65-67. (Recebido {«ra pubticaçio era abri] de 1945). 1U cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 140 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Fic. J (Fotomicro) Mesmo qoc a fig. 1 com efeito estereoscópico. 12 Fic. 4 (Fotímiicro) Mesmo que a fíg. 2 com efeito estereoscópico. Gastão RosesfeU) — Observações sôbre dez casos de eliplocilose (ova- locilose). Fic. 5 (Potomicro) Prrparacâo pcU doma tècníca, c«írcfa^ fixado e corado com ctmna. Afpecto cm naveta. Fic. 6 (Fotomicro) Mrrnio qoc a íif. $ com efeito cstereofcôptco. 142 Memórias cio Instituto Butantan Tomo XVIII Fic. 7 (Fotomicro) M»nu limina qoe a fig- 5. Nocam-st 2 csferócito». 14 Fio. 8 CFoComicro) Xltsmo qur a tig. 7 com efrilo cjtrrcoscopico. (Iastão Rosenfeld — Observações sõbre dez casos de eliplocilose (ova- locitose). 143 Fic. 9 (Fotomicro) Prrpara^ão a fimeo mtundo a Innica que acofiKlhamoa. Eliptociluie «em variações etn to«la a lâmina e a»peto em “naveta". lá cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 CRIAÇAO ARTIFICIAL DE AMBLYOMMA CAJEASESSE PARA O PREPARO DA VACINA CONTRA A FEBRE MACULOSA POR J. TRAVASSOS & A. VAU-EJO-FREIRE (Do Laboratório de Virus e Ri^juêtsias do Instituto Butantaii, São Paulo, Brasil) CONTEÚDO A — Introdução B — Considerações sobre as vacinas contra as riquétsioses C — O Amblyomma cajennense c o preparo da \-acina contra a febre maculosa pela técnica de Spencxr e Parker D — Pessoal e instolações. E — Amblyomma cajennense. Ciclo evolutivo e identificação F — Amblyomma cajennense. Criação artificial 1. Colheita das fémeas. Fecundação 2. Postura dos ovos 3. Fase larval — 1.* alimentação infetante 4. Fase ninfal — 2.* alimentação infetante 5. Fase adulta — .Mimentação estimulante G — Preparo da vacina 1. Trituração, desinto.xicação e purificação 2. Provas de esterilidade, inocuidade e capacidade antigéniva H — Aplicação da vacina 1. Doses 2. Reações 3. Resultados I — Bibliografia — INTRODUÇÃO Dilatam-se cada vez mais os limites geográficos da incidência da febre ma- culosa na América do Sul. Reconhecida pela primeira vez no Estado de São Paulo. Brasil, em 1929 (1,2) e aparentemente circunscrita a áreas suburbanas da Capitai, a febre maculosa foi nestes últimos anos continuamente identificada em outras regiões, não só do nosso Eaís, como do continente sulamericano. 1 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 146 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Xo Brasil, só no Estado de São Paulo, onde ela é melhor conhecida, várias centenas de casos fatais da doença foram obsers-ados em cêrca de 30 áreas dife- rentes e distanciadas umas das outras. Em muitas dessas áreas, novos casos são constatados anualmente e, em algumas delas, já foram encontrados vetores natu- ralmente infetados, o que permite considerá-las verdadeiros focos de infecção. X*o Estado de Minas Gerais, a febre maculosa foi diagnosticada nas mais ^•ariadas localidades e, ultimamente, no Estado do Rio de Janeiro, algtms casos foram reconhecidos em quatro zonas diferentes. À medida que se difundem os conhecimentos relativos ao diagnóstico desta riquetsiose, o número de casos aumenta nas estatísticas demógrafo-sanitárias. A larga disseminação dos vetores (carrapatos do gênero Amblyomma) responsá- veis p)ela propagação da infecção, faz com que grandes extensões territoriais se- jam consideradas focos potenciais da doença. Acentua-se, desta sorte, e cada vez mais, a importância desta grave infecção, que atinge principalmente o trabalhador rural. Certamente, com o tempo poderá assumir proporções de grande significação nacional e quiçá continental, não só quanto ao número de casos como quanto à extensão das áreas atingidas, dada a tendência natural à formação de novos núcleos de colonização agrícola-pastoril em regiões até então despovoadas. O número de casos até agora conhecidos não exprime a realidade do pro* blema. Mesmo no interior do Estado de São Paulo, onde a densidade de popula- ção rural é das maiores do Pais, grande é ainda o número de jjequenos núcleos praticamente à distância do controle direto dos set^nços de saúde pública. En- tretanto, vários casos de febre maculosa tém sido surpreendidos nestes últimos anos. Êstes. certamente passariam desapercebidos ou seriam rotulados sob ou- tras denomiijações, não fòra o contato cada vez nuior das nossas autoridades sanitárias com o trabalhador rural. O aparecimento de casos da doença entre trabalhadores recém-chegados a certas áreas até então aparentemente indenes, é que, pòr vézes, desperta a atenção e faz descobrir, por cuidadoso inquérito re- trospectivo, a incidência da doença, sem que tivesse sido anteriormente reconhe- cida e comunicada ás autoridades sanitárias. O combate aos carrapatos, medida altamente dispendiosa e somente aplicável a zonas de grande valor econômico, toma impraticável o seu emprégo na maioria das regiões atingidas. A \'acinação repetida constitui o meio mais prático de proteção direta do homem. A vacina preventiva c cada vez mais solicitada. Apesar de sua produção sempre crescente, a necessidade de proteger as populações dos focos cada vez mais numerosos não tem ultimamente permitido ao nosso Laboratório atender a 2 J. Travassos Jt A. Vallejo-Fkeibe Criação artificial de Amblyoiuma cajennense. 147 todos os pedidos de vacina, quer das autoridades sanitárias do nosso e dos outros Estados, quer de outros serviços médicos, ci\-is e militares ou diretamente de particulares, que já a procuram espontaneamente. O interesse ultimamente manifestado por investigadores de diversas institui- ções cientificas no sentido de conhecerem detalhes dos métodos de trabalho usados no Instituto Butantan para o preparo da ^•acina preventi^•a contra a febre ma- culosa e, principalmente, as técnicas de criação e manuseio de Ixodidas, induziu- nos a publicar êste artigo de divulgação (*). Descreveremos, assim, neste trabalho, as instalações, métodos e técnicas es- pedalizadas, que vimos aperfeiçoando e adaptando às nossas condições de tra- balho no decorrer dos últimos anos. .Alguma experiência adquirida no constante manuseio de Ixodidas, utilizando a técnica padrão de Spexcer-Pakker, permitiu-nos igualmente adotar na rotina modificações que julgamos proveitosas na e.xecução de certos detalhes técnicos. Elssas modificações referem-se aos métodos de criação dos Ixodidas e aos meios de proteção de que nos servimos para conseguir segurança e eficiência nos serviços. No intuito de tomar facilmente reproduzireis os diversos métodos utiliza- dos, objetivamos por meio de desenhos e fotografias todas as fases da técnica. Relataremos, igualmente, alguns dados sobre a biologia do Amblyomma ca- jcnnensc. desde que diretamente se relacionem com as diversas fases do prepa- ro da vacina. Detalhes mais completos sòbre a biologia deste I.xodida, atual- mente cn) estudo em nosso I.aboratório, serão oportunamente publicados. B — CONSIDERAÇÕES SÔBRE AS VACINAS CONTRA AS RIQUÉTSIOSES .Antes de definitivamente firmada a importância e significação etiológica das riquétsias, não foram satisfatórios os resultados das inúmeras tentativas feitas com o fim de serem obtidas vacinas preventivas contra as diversas doenças tifo- e.xantemáticas. .As vacinas preparadas com emulsões de órgãos de animais infetados, pobres em riquétsias, aquecidas ou tratadas por vários agentes quimicos. não se mostra- vam antigênicas. Só vacinas preparadas com vinis-tecido vivo, em doses sub- infetantes, ou com o emprtgo de amostras de pouca virulência, atenuadas por pro- cessos especiais (vacina de Blaxc e Laigret) revelaram-se eficientes. Essas va- cinas, de dificil controle, não são entretanto recomendáveis para aplicação gene- ralizada. (*) Elsta descrição, não é sinão uma simples adaptação do protocolo geral das técnicas empregadas no Instituto Butantan e obrigatoriamente feitas em cada seiviço. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 148 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVni 4 PlC. 1 UUtriWKâu iU frbrv nucu)u«a no K«tatU> ilc S&u 1'aulo. ftti uuvrmbro üc 1943. Críaçüo artificial de Amblyomma cajennense. Travassos Sí A. > allejo-Freire cm SciELO 1 lõO Memórias do Instituto Butantan — Tomo XYHI O uso de vacinas ricas em riquétsias, mortas por agentes quimicos, teve origem nas experiências de Rocha Lima (3), que deu, desde o inicio, signifi- cação etiológica à riquétsia. O achado de grandes massas desses elementos nos tecidos de piolhos infetados levou-o a utilizar material proveniente desses vetores para fins de imunização. Suas primeiras experiências mostraram o acêrto dessa orientação. ' Weigl (4,5,6), posteriormente, por meio de delicada técnica, conseguiu criar piolhos em grande número, infeta-los artificialmente e preparar uma va- cina fenolada, muito rica em riquétsias, dotada de eficiente valor antigênico. Spencer e Parker (7) utilizaram também triturados de Dennacentor an- dersoni previamente infetado, para obter uma vacina preventiva. Em consequência dêsses fatos ficou, pelo menos aparentemente, estabele- cida uma estreita relação quantitativa entre o número de riquétsias contidas em uma vacina e o seu valor vacinante. Nestes últimos anos, por meio de outros processos de obtenção de suspen- sões ricas em riquétsias, pôde-se preparar vacinas fenoladas eficientes. Aos métodos iniciais de Zixsser e colaboradores (8 a 13) (raspados peri- toneais de ratos tratados pelo benzol ou irradiados pelos raios X) juntaram-se os mais recentes de Castaneda (14), que obteve riquétsias, em grande número, de pulmão de animais inoculados por via réspiratória. Do mesmo modo, pelos métodos de cultura de riquétsias em tecidos, taml)ém foram obtidas emulsões antigênicas, ricas em riquétsias. Dêstes últimos destaca- se o de Cox (15), de cultivo na vitelina de embrião de galinha. Assim, por meio de três métodos são obtidos hoje antígenos ricos cm ri- quétsias para o preparo de vacinas preventivas contra doenças tifo-exantemá- ticas: a) por cultura de riquétsias nòs artrópodos s-etores; b) por cultura nos pulmões de animais inoculados por via respiratória; c c) por cultura na vitelina do embrião de galinha. O primeiro dêles é o presentemente adotado na rotina de nosso Laborató- rio para o preparo da \-acina contra a febre maculosa. Os dois outros estão ainda em estudos e observações experimentais. C — O AMBLYOMMA CAJES^ESSE E O PREPARO DA VACINA CONTRA A FEBRE MACULOSA PELA TÉCNICA DE SPENCER E PARKER Os caracteristicos clínicos e anátomo-patológicos, a alta mortalidade aliada a uma morbidade reduzida, a ocorrência em zonas rurais ou semi-rurais, a trans- missibilidade por Ixodidas, o comportamento experimental do agente infetante 6 J. Travassos & A, Vallejo-Freire Criação artificial de Amblyonima cajennense. 151 e, sobretudo, as provas de imunidade cruzada permitiram identificar o então cha- mado ‘‘tifo exantemático de São Paulo” à febre maculosa das Montanhas Ro- chosas. Êste fato possibilitou adotar entre nós as medidas profiláticas já ampla- mente estudadas e aplicadas por Spekcer e Parker nos Estados Unidos. Adap- tadas ao nosso meio, essas medidas foram aconselhadas por uma comissão no- nieada em novembro de 1933 pelo diretor do Departamento de Saúde do Estado e \nsavam o combate ao vetor — o carrapato — e a vacinação preventiva. Lemos Monteiro, em trabalho apresentado à S>a. Reunião da Sociedade •Argentina de Patologia Regional do Xorte, reunida em Mendoza nos primeiros dias de outubro de 1935 (16), relatou os métodos a serem usados na profila.xia racional e prática da infecção, dando à vacinação preventiva o principal papel. Aconselhou, para o preparo da vacina, a técnica de Spencer e Parker, consi- derando como problema inicial a ser resolvido, a criação em larga escala do Amblyomma cajennense. Com efeito. Lemos Monteiro demonstrou que o Am- hliomma cajennense, além de ser um ótimo vetor da infecção (17, 18, 19), os seus órgãos apresentam grande número de riquétsias com as quais se pode preparar uma \-acina do tipo americano. A infecção acidental e fatal de que foram vitimas esse e.\penmentador e o seu au.xiliar, Edison Dias, interrompeu bruscamente as suas atividades. Em janeiro de 1936, um de nós assumiu a direção dos seix-iços de febre maculosa do Instituto Butantan, tendo a preocupação inicial de criar o Atn- hlyonima cajennense em grande número, com o fim de preparar a \’acina pelo método mais aconselhável no momento, preparando para isso aparelhagem e ins- talações indispensáveis ao bom êxito do empreendimento e o mais possivel a co- berto de novos acidentes. Embora, na ocasião em que publicara aquèle trabalho a que nos referimos. Lemos Monteiro não tivesse ainda conseguido observar nenhum e.xemplar de Atnblyomtna cajennense naturalmente infetado, já hana informes clínicos de Piza. Meyer e Gomes sõbre a presença de carrapatos desta espécie, fixados em doentes de febre maculosa. O encontro de Atnblyomma striatuni naturalmente infetado, primeiramente por Salles Gomes (20) e posterionnente por Travassos (21 a 27), assim como os resultados concludentes de Monteiro e colaboradores sõbre a transmissão experimental da febre maculosa pela espécie Amblyomma cajennense e ampliados para as espécies Atnblyomma striatnm, Amblyomma brasiliensis e Amblyomma cooperi, firmaram de modo definitivo a transmissibilidade da febre maculosa entre nós por algumas espécies do gênero Amblyomma. Decorridos alguns anos de pesquisas intensivas com Ixodidas capturados em vários focos da doença cm São Paulo, pudemos encontrar ultimamente vários exemplares de Amblyomma cajennense naturalmcnte infetados. Êstes exames cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 152 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII positivos não só foram obtidos com exemplares adultos, como com larvas e nin- fas, estas últimas cuidadosamente estudadas e identificadas após a terminação do ciclo em laboratório. O fato de ter sido o Amblyomtna striatum o primeiro Ixodida encontrado naturalmente infetado em São Paulo, fez com que éle fosse focalizado como a espécie de escolha para o preparo da \-acina. Contudo, por ser o Atnblyomma cajennense mais abundante íw natiira, mais facilmente criado no laboratório e em seus órgãos ter sido endenciada a abundante reprodução de riquétsias, foi êste último o escolhido. Agora, os nossos recentes resultados positivos de infecção natural vêm mostrar quão acertada foi essa escolha. O estudo minucioso *as alimentadas G — > ninfas nâo atimenta«Uf H ~ ninfas alimentadas (-> alimentação em coelho ecdíse cm I, i'(SciELO, 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 J. Travassos 4 A. Vallejo-Fbeibe — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 159 Estas, novamente, procuram alimentar-se em um novo hospedeiro, antes de se transformarem (2.® metamorfose) na fase final de maturidade sexual, em carrapato adulto. Com a alimentação da fêmea, em um terceiro hospedeiro, inicia-se novo ciclo evolutivo. Como vemos por essas resumidas noções gerais sóbre o ciclo evolutivo do Amblyomma cajcnuensc, esta espécie vetora da febre maculosa, alem de exigir três hospedeiros para a sua evolução, faz todas as fases de sua metamorfose fora dos mesmos. Êste fato. aliado à indiferença com que ataca os diversos animais e mesmo o homem, permite que, uma vez infetado em qualquer de suas fases evoluti\’as, já na seguinte possa o Ixodida inocular o material infetante em outro animal ou. acidentalmente, ao homem. 2. Identificação. Incluimos aqui os caracteres genéricos e especificos de acordo com a descrição de Robixson (28) e que correspondem aos da espécie com que trabalhamos: Caracteres genéricos: “ 5feu$triata, isto é, sulco* anais «n tomo do anus de situação posterior ; geralmente ornados com manchas escuras e listras sõbrc fundo pálido; olhos c festões presentes. Palpos geralmente longos, o 2.® articulo mais longo do que o* demais. Os capitulos basais são de forma «riável. Os exemplares machos não possuem escudo» adanais, porém frequentemente têm placas ventrai». Es- piráculos subtriangulares ou em forma de virgula. Espécie tipo: Amblyomma cajennense (Fawiicivs)." Caracteres especificos : ",\ía(ho. Diatmôstico: Carrapato pequeno ou de tamanho médkx, com a ornamen- tação carateristica no escudo, formada por manchas ou listras \-crmclho-parda- centas sõbrc fundo pálido; sulco marginal continuo; sulco cerxkal curto e pro- fundo, sigmóide; patas de colorido pálido, coxa I com dois espinhos fortes, dos quais o externo roais longo e mais afilado; um espintio salieme e pontea- gudo nas coxas II e IV; espinho longo, robusto e afilado na coxa IV. ^ Fêmea. Diagnóstico: Esctxio triangular, arredondado anteriormente, com o ângulo posterior de largura moderada, ornado com manchas vermelho-pardacentas sóbre fundo pálido; sulco* cervicais curtos, profundos e sigmóides, numerosas pon- tuações de tamanho médio uniformememe distribuidas ; coxa I com dois es- 15 160 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII pinhos de ponus desiguais; coxas II e III com espinho saliente ponteagudo, coxa IV com um único espinho ciuio, rombo e arredondado, pouco mais longo do que largo; festões sempre com pequeno tubérculo no lado rentral, no ân- gulo póítero-intemo. " ric. $ ctjtnHttut, ^ . Eacwto. asp .1mbly«mma~). Robinson, em sua monografia “The genus Amblyomma” (28), ao des- crever a espéde Amblyomma cajennense (Fabricics. 1787) coloca a Amblyom- ma sculptum Berlese, 1888, em sinonimia. Entretanto recentemente Ron- delli (29) admite a possibilidade de ser Amblyomma sculpluin considerado es- pécie afim ou variedade de Atnblyomma cajennense. Sugere ainda Rondelli, dada a grande difusão desta última espécie, que o pequeno número de casos de febre maculosa em S. Paulo deva correr por conta da raridade relativa de A. sculp- tum ou de outra qualquer das pretensas espécies que revalida ou descreve e que poderiam ser os verdadeiros vetores da riquetsiose. Não nos parece estar a razão com Rondelli, pois ainda admitindo a multi- plicidade de espécies, as verificações de infecção e de transmissão até agora 16 J. Tr,\vassos & A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyointna cajennense. j01 feitas não só com outras espécies de Ixodidas do gênero Amblyomma (A. slria- tum, A. brasilicnsc e A. coopcri), como com espécies de outros gêneros, Dcrma- Fic. 6 Ambijomma njnmnst, 9. Face dorsal c rratral. a.p«to do rapiiulo. «pirictilo. COM» I a IV. urios I c IV (Meando Roíixiox -Tbc grnas Amtíyemma-). centor e Rhipiccphalus, são demonstrativas de que todas se infetam facilmente e transmitem com muita regularidade a iníec<;ão a animais. Do mesmo modo que 17 162 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Amblyomma cajennense, todas as demais espécies citadas acima transmitem a infecção de estágio a estágio de sua evolução. Desta sorte, parece-nos que pelo menos as espécies citadas do gênero Amblyomw.a, jarasitos dos animais de sangue quente, podem, quiçá indiferentemente, infetar-se e transmitir a riquétsia da febre Fic. 7 ExrfnpUrrs de Ambtycmmta ^ ^9» dorsAl e retilraL maculosa. Xão podemos, assim, aceitar a sugestão de Roxde li. que, confundindo um simples indice baixo de infecção natural do Amblyotmna cajcnncnse, tal como se dá também com o Dcrmaccntor amicrsonx nos Estados Unidos, sugere uma “imunidade” para essa espécie em relação à febre maculosa e empresta a uma suposta variedade caraterísticos especiais de infecciosidade e transmissibilidade. 18 J. Travassos & A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 163 Fic. 8 Atmihlycmm* c^jfnntnst, ^ • 7ac« dorsal e rcotraL 19 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 J. Travassos &. A. Vallejo-Freire — Criação artificial dc Amblyomma cajennense. 167 Os dados diferenciais utilizados por Rondelli para Justificar a \'alidade des- tas pretensas espécies, não nos parecem igualmente suficientes; acreditamos mesmo terem sido o resultado de estudos feitos em pequeno número de exemplares, todos conservados. A variação de dimensões entre Ixodidas da espécie Ambly- omma cajennense é muito grande, mesmo quando se examinam adultos provenien- tes de u’a mesma geração de ovos. Temos, por exemplo, largamente verificado que u’a maior ou menor sucção de sangue pelas ninfas de u’a mesma geração tem decish-a influência sôbre o tamanho do adulto correspondente, e naturalmente, sôbre o de partes de sua estrutura, como, por exemplo, o escudo que apresenta modificações de forma e tamanho provavelmente da mesma natureza das que ser- viram àquela autora para diferenciar as espécies mixtum, sculptum, tapiri e fini- thnum. Não cabem aqui argumentações mais extensas a êste respeito. Entretanto, para que não surjam futuras dúvidas sôbre a espécie com que trabalhamos, inclui- mos propositadamente a descrição dos caraterísticos principais, constantemente encontrados nas muitas gerações de Amblyomma cajennense conseguidas com a finalidade de preparar a vacina e oriundas de fêmeas colhidas em diferentes locais do Estado de São Paulo, inclusive em focos dc febre maculosa, onde tem sido encontrados Ixodidas naturalmente infetados. Os desenhos de exemplares adul- tos vistos pela face ventral e dorsal obtidos de Ixodidas vivos, são aqui incluídos com o fim de orientar e facilitar a sua identificação. F — AMBLYOMMA CAJE^WESSE — CRIAÇAO ARTIFICIAL 1 . Colheita das fêmeas. Fecundação. A criação artificial do Amblyomma cajennense c feita cm nosso laboratório a partir de exemplares adultos fémeos, obtidos anualmentc cm grande número nos meses de outubro a março em equinos soltos durante alguns dias cm pastagens. Êsses Ixodidas são colhidos somente quando bem alimentados, repletos de sangue. Abolimos ultimamente a prática de iniciar a criação a partir dc exemplares adultos capturados quando ainda não alimentados, tal como o faz Parker. Nos laboratórios de Montana, onde a sacina é preparada com o Dcnnacenlor andersoni, a criação artificial tem inicio, colhendo-se no campo, por meio de uma bandeira de flanela, grande número de exemplares na fase adulta, antes de se fi.xarcm no hospedeiro, portanto, quando as fêmeas ainda não foram fecundadas, nem ali- mentadas. A fecundação e alimentação se faz ao colocar êsses Ixodidas (machos e fémeas) cm coelhos, por meio de aparelho especial aplicado ao corpo do animal. 9 23 168 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Os coelhos utilizados para êste fim são previamente infetados. As larvas pro- venientes dos ovos das fêmeas alimentadas, já se mostram assim infetadas. A técnica por nós usada é vantajosa, não só sob o ponto de vista econômico (menor uso de animais de laboratório), como também pelo fato de se obter maior rendimento em fêmeas bem alimentadas e em estado satisfatório para uma per- feita evolução. Êste fato está principalmente ligado a dois fatores. Em primeiro lugar, apesar da ubiquidade de seu parasitismo, o Amblyomma cajcnnense não é, como no caso do Dermacentor andersoni, um carrapato de roedores, pelo contrá- rio. prefere na fase adulta animais de grande porte, especialmente equinos e mua- res, de modo que a alimentação em roedores (coelhos e cobaias) não é feita de maneira tão rendosa. Em segundo lugar, temos verificado que somente as fê- meas fecundadas alimentam-se de modo satisfatório, o que se processa melhor na natureza. Não trabalhando nesta etapa inicial com lar\-as já infetadas elimi- namos o perigo da manipulação do Ixodida na fase mais perigosa, que exige maiores cuidados técnicos dadas as suas pequenas dimensões. Constantes verificações feitas em carrapatos parasitando cavalos mostram que a alimentação dos exemplares adultos fêmeos faz-se mais ou menos rapida- mente, prolongando-se por 48-72 horas, desde que estejam elas preria ou con- comitantemente fecundadas. Os machos procuram em geral as fêmeas quando estas já estão fixadas ao hospedeiro. Somente as que não se mostram em con- tacto com o macho, podem permanecer fixadas ao cavalo durante vários dias, po- rém sem que aumentem de volume. Desde que fecundadas, se alimentam com- pleta e rapidamente. Verificamos que os exemplares fêmeos não se alimentam complctamente sem que esta condição seja preenchida e que, pelo contrário, a alimentação é sempre rápida e total após a fecundação, não se prolongando ge- ralmente além de 3 a 4 dias. As fêmeas deverão ser colhidas bem cheias para que desovem a contento. Teoricamente, deveriam ser utilizadas apenas aquelas que após farta alimentação se desprendem espontaneamente dos animais parasitados; na prática, porém, isto é inatingível, devendo-se colher os Ixodidas quando ainda fixos à pele dos ca\-alos. Várias pesadas de fêmeas colhidas dêste modo e que foram cuidadosamente obsers-adas quanto ao rendimento da desova, mostram que fêmeas pesando cêrea de 0.5 g já podem ser aproveitadas para início da criação. Deve-se dar prefe- rência. contudo, a fêmeas de maior pêso. Nas colheitas de grande número de fêmeas nos serviços de rotina, são mais frequentes as de pêso entre 0.75 g a 0.9 g, podendo algumas atingir a mais de 1 grama. Fi.xam-se, elas, de preferência, nas regiões mais vascularizadas, como, por exemplo, na parte inferior do animal, no pescoço ou principalmente na face in- terna e posterior das coxas, onde a epiderme é igualmente menos espêssa. J. Travassos & A. Yallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 169 A colheita de Ixodidas deverá ser cuidadosa. Qualquer lesão poderá ocasio- nar a morte da fêmea ou a não desova. São principalmente prejudiciais as fraturas do aparelho de sucção, o que pode facilmente acontecer quando se procura por meio de trações bruscas destacar carrapatos fortemente fLxados. As fêmeas quando bem alimentadas, sempre se destacam facilmente. Qual- quer auxiliar adquire a prática necessária ení pouco tempo, que consiste em fa- zer manobras suaves de tração no sentido oposto ao da penetração do hipostoma. Nas observações feitas no decorrer de 1939 sôbre 1.000 fêmeas cheias colhi- das por auxiliar inexperto, 94 exemplares (9.%) morreram sem ter iniciado a desova; já na criação de 1942, entre 5.548 exemplares colhidos só no mês de novembro, apenas 308 exemplares (5.5%) morreram ou não desovaram em con- sequência de defeitos na manobra da colheita. Eista diferença correu, sem dúvida, em parte por conta das precauções tomadas ao destacar os Ixodidas fixados aos cavalos. Seria possível eliminar estas últimas perdas, selecionando as fêmeas bem cheias e desprezando aquelas que ao exame no microscópio entomológico mos- trarem lesões do hipostômio. A época em que Amblyomma cajennense ê encontrado na fase adulta, inicia-se nos últimos dias de setembro e pode prolongar-se atê fins de março. As lar\-as, pelo contrário, são mais frequentes nos meses de maio e junho e as ninfas de julho atê setembro. Êsses limites não são, entretanto, fixos, pelo contrário, variam largamente nos diferentes localidades do território paulista, variação decorrente, sem dúvida, das diferenças climáticas das respectivas fegiões, principalmente das relacionadas com a temperatura e o grau higrométrico. Mas condições de trabalho de criação artificial de Ixodidas em nosso laboratório, êste delo se reproduz de maneira aproximada e atingimos a fase adulta dos Ixo- «lidas de nossa criação, quando mantidos à temperatura ambiente, quase sempre t>os primeiros dias de setembro. Os locais cm que Amblyomma cajennense é encontrado mais freqüente- *ncntc são aquêles nos quais abundam equinos e muares e onde, igualmente, são preenchidas certas exigências relati\-amentc ao tipo de vegetação, umidade e temperatura. Há no Estado de São Paulo algumas plantações de eucaliptos, que reunem maneira ideal, todas as condições propicias à manutenção e reprodução de Rrande quantidade de Ixodidas. Uma dessas plantações constitui foco bem estudado de febre maculosa e o local tem mesmo a denominação de "carra- I>atal”, tal a quantidade de Ixodidas, principalmente de Amblyomma cajennense, *Ii encontrada. Além da sombra relatisa proporcionada pelos eucaliptos que permite manter um estado higrométrico favorável, há abundante vegetação ras- 25 170 Mcxnóriíís do Instituto Butantan — Tomo XVIII teira e de arbustos, onde a desora das fêmeas faz-se satisfatoriamente ; por outro lado, o giande número de muares e equinos usados pelos cortadores de lenha para 0 transporte, serve de abundante repasto às exigências nutritivas dos carrapatos, de modo a facilitar o seu ciclo evolutivo. DISPOSITIVOS DE DUPLA PROTEÇÃO PAR.\ A CRIAÇAO DE IXODIDAS Após préria la\-ageni, seguida de secagem ao ventilador, cada exemplar fêmea é co- locado em um dispositivo especial que denominamos “ frasco de dupla proteção Este dispositivo serve para conter os carrapatos em todas as fases evolutivas c consta de 2 tubos, um menor, chamado “tubo de contenção”, no interior do qual são colocados os Ixodidas, e outro maior, servindo de continente do primeiro e denominado “tubo de proteção”. O “tubo de contenção” é ura cilindro de vidro, medindo 2.5 cm de diâmetro por cm de comprimento e aberto cm ambas as extremidades. Uma tampa de alimiinio perfei- tamente adaptável ao diâmetro deste tubo, mantém fixa numa das aberturas uma tela de organdi, de malhas suficientemente finas para não ivermitir a passagem das menores larvas. Esta peça de aluminio é perfurada no centro e fixa-se ao vidro — após adaptar o organdi — por meio de uma camada de parafina, que se aplica aquecida e fundida. A outra extre- midade do tubo de contenção é fechada por uma rolha de cortiça recoberta com gase. O tubo fechado deste modo permitirá a fácil aeração pelas aberturas superiores. A fémea desti- nada á criação deverá ser colocada sóbre a gase que cobre a rolha. Usamos os tubos de contenção assim preparados preferentemente aos fechados em unia extremidade e abertos na outra, porque as nossas verificações tém evidenciado um retarda- mento considerável do inicio da saída de larvas, quando são usados os tubos fechados co- muns. Acreditamos que o grau de umidade ótimo, agindo mais diretamente sóbre os ovos, facilite e mesmo ecclere a evolução. Q>locadas as fémeas nos “tubos de contenção”, estes são guardados no interior doS “tubos de proteção", que medem 9 cm de comprimento por 3.5 cm de diâmetro e são aber- tos somente em uma das extremidades. Néste tubo costumamos colocar uma base de areia de 2 a 2.5 cm de altura, que se molha frequentemente com água e é destinada a manter a umidade requerida pelo Ixodida. .A rolha de cortiça do “ tubo de contenção ” deve repousar na areia e a gase que envolve poderá assim permanecer úmida, transmitindo umidade ao Ixodida. A contínua evaporização da água da areia mantém no interior de todo o tubo de proteção um grau higrométrico ambiente ótimo. O “tubo de proteção” é obturado na parte superior por meio de um pedaço de organdi fixado nos bordos externos superiores do tubo por uma tira de esparadrapo. Êste disposi* tivo permite u’a maior segurança nas manipulações, bem como facilita a manutenção cons- tante da umidade indispensável á boa evolução do Ixodida; igualmente veda a passagem d< algum Ixodida. que por qualquer motivo possa transpor o obstáculo constituído pelo “tub® de contenção”. As indicações sóbre data e local da colheita, número de ordem do tubo, bem com® quaisquer outros informes, são anotados em ficha especial, onde se registram todos os dado* relativos á evoluçãa No esparadrapo que serve para fixar o pedaço de organdi, fica*^ •notado apenas o número de ordem correspondente á ficha. 26 J. Trvvassos & A. Vallejo-Freire — Criação artificial cie Amblyomma cajennense. 1 7 j Os frascos de dupla proteção acima descritos, contendo os Lxodidas, são sempre co- locados cm caixas especiais, qu; podem receber 42 frascos cada uma. Estas cai.xas são mantidas cm armários de capacidade para 2.100 tubos cada um. Fic. 10 Tubo de dupU prtMceio. com o Inbs de contenção (menor) e o de proteção (nuior). Apesar da dupla proteção oferecida pelos tubos, o armáro, que é de mrtal pera facilitar limpeza mais riRorosa. repousa cm uma bacia que contem solução carrapaticida. Esta riecaução impedirá, em caso de arídcnle. a pasraRcm de carrapatos do armário para o piso da sala. Todo este conjunto tem-se mostrado satisfatório para a segurança do trslalho c csUs precauções nos parecem de utilidade. MODIFICAÇÕES XOS .AP.ARELHOS CS.ADOS P.ARA .\ CRI.AÇAO DE IXODID.AS Todos os dados sobre detalhes do ciclo esolutivo do Amblyomma cajennensf incluidos néste trabalho, foram obtidos cm obsersações de lxodidas mantidos no nosso tubo padrão de “dupla proteção". Êste dispositivo parece-nos bastante prático c os resultados de sua aplicação, sem dúvida, são satisfatórios quando o solume da \acina a produzir não e grande. Si. entretanto, se cogita preparar sacina em maior volume, o que reejuer como ponto de lartida muitos milhares de fêmeas alimentadas e não se dispõe de muito (lessoal. é de todi 172 Mcniúrías do Instituto Butantan Tomo XVHI a com-eniência alterar as dimensões do aparelho de proteção e reunir cm um só vários “tubos de contenção”. Passamos ultimamente a trabalhar com lotes de 50 a 100 tubos de contenção, colocados em um cristalizador de aproximadamente 10 cm de altura. Xêste crisulizador, que exerce a função do tubo de proteção, coloca-se, igualmente, a base de areia um:xlecida até a altur.v Fic. II Armário com Ixodídat. de 2 cm. Os tubos contendo carrapatos são dispostos sôhre a areia com a parte fcchad-i pela rolha de cortiça \-ollada para baixo. Com organdi ã pros-a de larvas preso ao bordo superior do cristalizador por meio de esparadrapo, obtem-se a dupla proteção desejada. Para simplificar o trabalho, juntam-se no mesmo cristalizador somente Ixodidas da mesma fase evolutiva, colhidos num mesmo dia c nas mesmas condições de alimentação. Procedendo-sc dêste modo. pode-se prever com certa segurança, qual o momento propício para a alimentação de torlos os e.xcmplarcs contidos no mesmo aparelho de proteção, desd-i que sejam bem conhecidos os dados referentes aos períodos de tempo necessários à este lução do carrapato nas suas sárias fases. 28 J. TawAssos & A. Valxejo-Freike — Criação artiricial cie Amblyomma cajennense. 173 Oirtro dispositivo frequentemente utilizado é o constituido de um tubo contenedor (A) fechado na extremidade inferior com o tecido dc organdi (D) e na superoir com uma rolha de cxjrtiça perfurada no centro, de abertura igualmentc protegida com tecido à prova dc larvas (E). Este tubo, cilíndrico c idêntico ou pouco mais longo do que o tubo padrão de contenção e deverá ficar suspenso pela parte mediana por meio de uma rollia de cor- tiça, que se adapta à parte superior aberta de um outro tubo (B), dc diâmetro ligciramcmte maior do que o nosso tubo de proteção. No fundo deste tubo coloca-se também a indis- pensável areia umedecida (C). Fic. 12 Aparelho dc dopU proteção, conlenio 100 loliinhoe com carrapato». Os carrapatos mantidos no interitw do tul» cilindrico menor c. depositados s«>bre o organdi. ficam em ótimas condições de aeração e sofrem a influência benéfica tia livre pas- sagem da umidade através do tubo de contenção, sem que sejam umedecidos por contato direta Aconselhamos, entretanto, utilizar éste modélo somente quamio se estudam Ixodidas não infetados. Os inconvenientes que podemos apontar contra o uso generalizado drste dispositivo no manuseio de carrapatos infetados, são os seguintes: 1) fornece menor segurança do que o nosso tubo dc dupla proteção; éste, além da liarreira apresentada pelo organdi protetor do tubo dc contenção, apresenta novo obstáculo |>ara a saida dc Ixcnlidas, constituido jiclo tubo dc proteção, fechado com tecido á prova de lanas; 2) facilita na base do tubo de contenção o crescimento dc bolores que frequentemente interferem ta evolução normal dos oTOs dos carrapatos ou das lanas c ninfas cheias; éste crescimento se verifica á custa Jo material nutritivo constituido dc detritos, principalmentc plasnu sangüinet», que vem ade- 29 174 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHl rente aos carrapatos; 3) nas obsen-ações muito prolongadas pode acontecer que o organJi venha a se desfa 2 er devido a ação continuada da umidade e ao crescimento de bolores, acar- retando a queda dos Ixodidas no interior do tubo maior. A resistência do organdi poderá ser aumentada, embebendo-o de parafina antes de fixá-to ao tubo de contenção. Xota: QuaiKlo, nos cristal izadores de que fa- lamos. SC deseja colocar tubos abertos nas duas ex- tremidades. não devem eles ser deixados em contato direto com a areia úmida. Xesse caso. interca!a-sc entre a superfície da areia e a base dos tubos de contenção uma tela de metal inoxidável, sõbrc a qual devaão rej-ousar os tulinhos com os carrapatos. CAMARA-ESTUFA PARA IXODIDAS Colocados os tubos d; contenção com Ixo aparelho automático conectado a uma serie de resistências distribuídas em posição apro- priada no interior da câmara. O contrôle da umidatie ê feito por meio de um higrómetro registrador Zeiss. Um pequeno exaustor colocado na parte superior da câmara regula a a.eração de combinação com o aparelho regulador da temperatura. Xo interior da câmara, a temperatura não deve ir alêm de 26®C. Xossas experiências têm demonstrado, que a! temperaturas mais elevadas, si bem que apressem de alguns dias o ciclo evolutivo do ca."- rapato. po«lcm. por vêzes. trazer como consequência um menor rendimento da criação, dada a facilidade com que morrem os Ixodidas que permanecem muito tempo expostos a essas temperaturas, tomando-se necessário manter constante e meticulosa vigilância para evitar perdas desastrosas. .-\ possibilidade de se controlar atê certo ponto a eedise das larvas, ê, sem dúvida, maior importância, porquanto a colheita de carrapatos no campo pode ser feita somente durante um periodo de tempo relativamente reduzido. Si bem que as fêmeas cheias possain A — tnbo dc contcnçioí ^ “ tubo d« protr^o; C — arria umidcci^U; D-K — abertura protefttla cotn orsandí. 30 J. Travassos & A. \ allejo-Fbeire — Criação rrlificial clc .Xmbti/oinma cajenitense. 1 75 ser obtidas a partir do mês de setembro ate março, a grande maioria é encontrada no curto periodo de tempo que vai de 15 de dezembro a 30 de janeiro. Por vezes, em colheitas satisfatórias chegam ao laboratório num mesmo período de tempo mais de 2.000 fémeas cheias, colhidas cm idênticas circunstâncias. Ora, si todas per- manecessem nas mesmas condições de temperatura c umidade, as Iar\-as resultantes teriam de ser alimentadas na mesma ocasião, o que seria pouco prático, não só por e.xigir grande quantidade de pessoal técnico especializado c instalações mais amplas, como principalmente porque predsariamos contar, no mesmo momento, com grande núnwro de coelhos i>ara ali- m:ntar todas estas larvas, sem o que seriam perdülas muitas gerações de Ixodidas. Fio. 14 Cinura.«cura par» Ixodidas. 2. Postura dos ovos. Devemos considerar três períodos : 1. Periodo prévio à desova (protóqtiia). 2. Periodo próprio à desova (cotóquia). 3. Tempo decorrido entre o último dia de desova e a morte da fêmea (metatóquia). 31 176 Memórias do Inslituio Butantan — Tomo XVHI Período prez-io à desova (protóquia). la. Experiência: Temperatura ambiente do laix)ratório. Mantidas as fêmeas de Ainblyomtna cajennense à temperatura ambiente do laboratório, a deso\-a tem inicio 5 a 9 dias após a colheita. As fêmeas observadas nesta nossa 1.® experiên- cia foram todas colhidas quando ainda fixadas nos equinos. Os re- sultados seriam possivelmente dife- rentes, si fizéssemos a mesma obser- ração a partir de exemplares que espontaneamente se desprendem dos caValos após a alimentação. A varia- ção dos resultados, entretanto, seria insignificante, pois no momento em que procedemos à retirada das fê- meas cheias, elas estão muito próxi- mas a cair espontaneamente. As experiências levadas a têrmo nos anos de 1939, 1941-42 e 1942-43 confirmam os dados estal)elecidos pa- ra o periodo prévio à desova. Xa cria- Fic. 15 Amtblyomma cairmmftue, ç ebeta. Amblyoítnna cajennense, retiradas de ca- ção de 1939, por e.xemplo, fêmeas de ralos usados nos seniços do Instituto, constituindo três lotes separados, fci ram levadas ao lalwratório logo após a colheita, cobKadas no mesmo dia no tubos individuais de dupla proteção c mantidas à temperatura do lalx>ratóric Ao todo 301 fêmeas iniciaram a desora, ficando os três lotes usados nesti observação assim constituidos : 1. ° lote® 35 fêmeas, colhidas a 17-1-.39 2. ® lote; 114 fêmeas, colhidas a 14-2-39 3. ® lote: 152 fêmeas, colhidas a 1-3-39. 32 J. Travassos Jt A. Vallejo-Freihe — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 177 Os resultados obtidos foram os seguintes: Período prério á deoora (protóqnia) (temperatura ambiente) IHas J.* lote 2.* lote J.» lote Toul » 4 _ 6 6 1.99 5 21 2 36 59 19.60 6 9 87 34 130 43.18 7 5 21 24 50 16.61 8 — 4 47 51 16.94 9 — 5 5 1.66 Total 55 114 152 301 As médias das temperaturas registradas nos meses de janeiro, fevereiro e tnarço foram as seguintes: AleM^ mêdU terop. mÃx. média temp. min. ampntode média Miai ma abaolttta Mínima abaoJota janeiro 26.9 17.3 9.7 31.8 12.9 Icvcreiro . . . 28.9 17.3 11.6 31.9 15.4 março 28.3 17.5 10.8 33.1 15.4 AnaIisando*se separadamente os resultados das observações em cada lote, que correspondem a carrapatos colhidos em 3 meses diferentes, obsers’a-se que a desova se faz com menor oscilação do período prévio no lote correspondente ao més de fevereiro, quando entre os dias 5.® e 8.® todos os Ixodidas iniciaram a desova. Nos outros dois lotes, embora a maioria das fémeas tenha mantido o mesmo período de tempo para início da deso\-a, 5-8 dias, este, ainda que ra- ramente, foi por vezes mais precoce ou mais tardio. No conjunto verifica-se que 43.18% das fêmeas iniciou a deso%-a no 6.® dia. 2a. Experiência: Temperatura constante de 26.®C e umidade relativa de 90%. Para verificar qual o tempo decorrido entre a colheita e o inicio da postu- ra de ^émea de Amblyomma cajennense mantidas à temperatura constante e umidade controlada, destacamos um grupo de 464 fêmeas colhidas em condições idênticas às referidas na primeira e.Nj)eriên:ia, entre os dias 15-11 e 15-12. Os tubos de dupla proteção, contendo as fêmeas para desova, foram colocados cm uossa câmara de criação de Ixodidas, à temperatura de 26.°C e o grau de umi- 33 178 Memórias do Instituto Butanian Tomo XVIII dade relativo a 90%. Nessa obsen-ação, o período prévio ^•ariou entre 4 e 12' dias, como se pode ver no quadro abaixo: Periodo prévio á desora (ProCóqnia) tcmperatnra 26*C Dias N.* de txodklas % 4 3 O.&t 5 6 1.29 6 124 26.50 7 214 46.12 S 77 16.59 9 35 7.54 10 3 0.64 11 1 0.21 12 1 0.21 Total 404 COMP.\R.\ÇAO DOS RESULT.\DOS O gráfico comparativo dos resultados obtidos para o período prévio à de- sova nas condições das duas experiências (Fig. 16), evidencia que não houve diferença muito acentuada. À temperatura ambiente do laboratório, a curva de frequência percentual, além de ser semelhante e bem uniforme, antecede de um dia a que representa a de temperatura constante. As médias aritméticas são respectivamente = 6.3 e X» = 7.6 dias. 3a. Expericncta: Temperatura ambiente do laboratório. Uma outra observação mais rigorosamente conduzida foi feita ainda êste ano com 100 fémeas colhidas num mesmo dia em animais provenientes do mes- mo local, selecionados em peso e tamanhos mais ou menos idênticos e mantidas à temperatura ambiente do laboratório, sempre no tubo de dupla proteção Periodo prerio à deaora (proCiqvU) Temperatura ambiente- loicío da experiência eni 77 ^ 2^43 Dias N.* de carrapatos 5 6 6 28 7 38 8 8 9 19 10 1 Total 100 34 J. Travassos & A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 179 PCIIiOOO >KVIO * tCLOiio OC OVOS OC A CAjtMNCHSt à TCHPCRATURA 00 LAOORATÓRIO C à TCMRtIUTUIU COttSTAHTt (M*C) Fic. J6 As temperaturas obsers-adas durante o período da obser\ação foram as seguintes : Dia> Tetnp^attira máxima Temperatura minima Mn] ia 27 28.6 17.3 22.9 28 28.7 15.9 22.3 1 28.4 17.0 22. 7 2 28.2 15.5 21.9 3 26.9 15.0 20.9 4 28.0 14.5 21 .2 5 28.1 14.9 21.5 6 27.5 16.1 21.8 7 26.9 17.2 22.1 8 24.7 16 5 20.6 Xesta última experiénda a maioria das fêmeas (38.0ÇÓ) iniciou a postura depois de decorridos 7 dias da colheita. 33 180 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI É curioso notar que, selecionadas desta maneira, todas as 100 fêmeas te- nham iniciado a desora, o que raramente acontece quando não se usam exem- plares escolhidos. Fic. 1* Amh!y^mmta ftjcmtu-nsr, Ç em desova. \'ê-se, então, a julgar pelas rei)etidas exjiericncias feitas com diversos gru- ix)s de Ixodidas colhidos numa mesma ocasião, ([ue o período prévio à desova jx)r nós observado é aproximadamente a metade do verificado por Rohr (30) à temperatura ambiente (11 a 13 dias) e Lf.mos Monteiro à temperatura cons- tante de 28.°C (9 a 14 dias). Êste fato deve correr por conta das condi<:'’>es técnicas em que são mantidos os carrajiatos em nosso lalwratório. Xa fase inicial da criação, a umidade é mantida constante no interior dos tubos que contém os carrapatos, umedecendo-se com freqüéncia a areia coloca* da no tubo de proteção. Para esta manobra não se toma necessário retirar a gaze que protege a parte su|>erior do tubo de proteção, bastando fazer escorrer a água jielas paredes laterais internas do organdi. Período f'róprio à dcsoi-a (cotóqiiia) O período próprio à desova, isto é. o tempo decorrido entre o início e o fim da postura dos ovos. é maior do que o jieriodo prévio. A postura 36 J. Tb.\vassos & A. Vallejo- Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 181 prolongar-se por período de tempo variável entre 7 a 26 dias, quando as fêmeas permanecem à temperatura de 26.®C e de 10 a 32 dias, quando à temperatura do laboratório. la. Experiência: Temperatura e umidades constantes. O período próprio à deso^^a foi observado numa primeira experiência em 448 fêmeas da criação, iniciada com a colheita feita durante o mês de novem- bro de 1941, tendo-se tido o cuidado de retirar diariamente de junto de cada fêmea todos os ovos postos no dia anterior, juntando-se num tubo de contenção separado. ELsta observação, cujos resultados estão resumidos no quadro anexo, foi feita em carrapatos mantidos à temperatura constante de 26°C. p Tem criado prdprío 1 dnora (colóqoU) peratura 260C uatidade rclaiira 90% DUs X.* de txodidu % 7 1 0.22 8 2 0.45 9 lí 2.45 10 26 5.80 11 34 7.54 12 89 19.86 13 70 15.65 U 100 22.34 IS 61 13.61 16 19 4.24 17 9 2.45 18 3 0.66 19 3 0.66 20 4 0.89 21 1 0.22 22 9 2.45 23 — 24 3 0.66 25 2 0.45 26 1 0.22 Total 448 2a. Experiência: Temperatura ambiente do laboratório. O período de tempo necessário à desova do Atnblyomma cajennense pode ser maior quando as fêmeas são mantidas á temperatura do laboratório no mês de março. O quadro abaixo resume os resultados da experiência feita em um Çrupo de 100 Ixodidas, colhidos a 27-2-13: 37 182 Memórias do Instituto Butantan Tomo XYHI Período próprio á detora (cocóqtiia) Temperatura do labortôrio (março 1943) Dia> N.* de Ixodídas 'i 10 1 1.03 11 1 1.03 12 2 2.06 13 í 1.03 14 7 7.21 15 1 1.03 16 1 1.03 17 — — 18 3 3.09 19 5 5.15 20 2 2.06 21 1 1.03 22 o 2.06 23 6 6.18 24 13 13.40 25 17 17.43 26 14 14.44 27 7 7.21 28 3 3.09 29 — — 30 5 5.15 31 4 4.12 32 1 1.03 Totnl 97 As médias das temperaturas observadas durante o mês de março de 1943 foram as seguintes: Média temperaturas máximas 27 ” minimas ló.O^C Temperatura média 21.8°C ” máxima absoluta 30.4°C (dia 27) mínima " 11.3®C (dia 17) Amplitude média 11.6®C. Desta segunda experiência foram excluídos três exemplares, que morreram logo após a postura dos primeiros ovos. Êstes resultados se referem, pois, àque- las fêmeas, que deram uma desova satbfatória, isto é, pelo menos um volume de ovos correspondente à metade do máximo geralmente observado. É de inte- rêsse assinalar que todas as fêmeas, que deso\’aram somente durante 10 a 1^ 38 J. Tr.\vassos & A. Vallejo-Freibe — Criação artificial de Amblyoninta cajennense. 183 dias (eni número de 13), estavam mortas no último dia em que a desova foi verificada, tendo ha\-ido, assim, uma precoce interrupção da postura dos ovos devido à morte da fêmea. Todas as demais, cujo periodo de desova se pro- longou além de 16 dias, morreram somente decorridos alguns dias após o último em que houve desota, como, aliás, se verifica normalmente. Os ovos provenientes daquelas 13 fêmeas, cuja postura foi interrompida devido à morte, não evoluiram a contento, como veremos adiante, obtendo-se dêles somente uma ou outra larva, após decorrido o periodo prévio à eclosão. Ao contrário, todos os ovos oriundos das fêmeas cuja morte só foi verificada alguns dias após a desova final, evoluiram satisfatóriamente, obtendo-se da maioria dêles 100% de eclosões. Sem que ainda possamos afirmar de maneira definitiva, parece-nos que le- sões do capitulo das fémeas comprometendo a glândula de Gcné, acarretam a má lubrificação dos ovos, facilitando a posterior degeneração. COMPARAÇAO DOS RESULTADOS Comparando-se os resultados das duas observações anteriormente citadas, vê-se que é possivel apressar o periodo próprio ã desova das fêmeas de blyomma cajenneuse, mantendo-as a uma temperatura mais clct^ada do que a do laboratório (Fig. 18). A maioria dos Ixodidas mantidos na estufa a 26°C fez a postura dos ovos durante 7 a 19 dias (95%), ao passo que entre os que permanecem à tempera- tura ambiente do laboratório, 95% fizeram a desova do 7.® ao 30.® dia. N'a primeira e.xperiência, 13.7 dias representam a média (Xj) do periodo próprio à desora, enquanto que na segunda X foi igual a 23.3 dias. Há. desta sorte, uma abreviação prática de 10 dias no prazo necessário à postura, mostrando as cur\as de freqüência u’a melhor distribuição e uniformidade à temperatura constante do que à temperatura ambiente do laboratório. Esta curva até o 21.® dia foi bastante irregular, definindo-se somente após éste prazo. Êste fato fica bem evidenciado pela comparação das médias. temperatura constante a mé- dia quase coincide com o máximo de frequência, caraterística da curva normal de freqüência. A temperatura do laboratório, pelo contrário, a média distancia- se sensivelmente do máximo de freqüência, o que pode, sem dúHda. ser\’ir para confirmar o fato de, no primeiro caso, as condições biológicas terem sido real- mente mais favoráveis. Em ambas as condições, o período correspondente às deso>'as mais rápidas foi sensivelmente igual, isto é, as causas determinantes sôbre a fêmea em desoi^a agiram em {leriodos idênticos (morte da fêmea). Essa economia de alguns dias, somada à que pode ser feita nos demais períodos do ciclo evolutivo, traz vantagens apreciáveis, pois encurta o tempo de trabalho. 39 184 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII rtoiooo mÒMiD cc ocsov* ot « oucmcau â TtMnMTUM OO lAMIUTÔfK I â TCM^CIUTUM COMSTMTC (»*C) caraterísticas dos ovos de amblvomma cajewexse o número de ovos de uma postura atinge alguns milhares e geralmente são tanto mais numerosos, quanto maior é o tamanho da fémea. Xo quadro apresentando adiante damos os resultados de quatro posturas observadas cuida- dosamente, podendo-se apreciar o número de o%’Os postos diariamente, a\alia- dos por contagem direta. Tratando-se de experiência realizada em ambiente, cujas temperaturas foram mais regulares e inferiores às das experiências atrás citadas, a desova se processou durante maior número de dias, como é natural. A desova máxima diária obsersada corresponde á fêmea Xo. 4, no seu 5.® dia. com um total de 1.237 ovos. .As desovas em geral foram continuas para todas as fêmeas, com exceção da fêmea Xo. 3, que passou o seu 9.® dia sem deso\ar. A morte das fêmeas deu-se algum tempo após terminada a postura: duas delas 4, uma 5 e a outra 8 dias depois do término da desova. A fêmea de maior pêso (960 mg) deu uma postura de 9.830 ovos e a de menor pêso (750 mg), 5.773 ovos. Os ovos de Amblyomma cajennense em boas condições para a evolução são de forma ovoide e coloração pardacenta brilhante. Quando apresentam còr tendente para castanho escuro, quase negro, perdem aos poucos o brilho cara- terístico, tomam-se em pouco tempo menores e encarquilhados e não mais evo- 40 J. Tr-Wassos & A. Yallejo-Freire — Criação artificial de Amblyoinma cajennente. 185 luem até largas. Decorridos alguns dias após o inicio da postura, pode-se ob- sei^^ar no interior dos ovos a presença de pequena mancha de côr branca, que, com o correr dos dias, aumenta de tamanho, tornando-se por fim bem visível, mesmo à vista desarmada. Esta mancha é um indke prático da boa evolução dos ovos e da proximidade do inicio da eclosão. Segundo alguns autores, ela é constituída de guanina, produto de e.\creção dos tubos de Malpighi, que as laivas posteriormente eliminam, salpicando de branco as paredes do tulx) de contenção. AiíBL YOMMA CAJ ESSES SE Estudo da dfstna f efolufão dos ovos Colheita das fêmeas em 12-11-43 Pr»o cm li>ll>43 9^ mc 751 ra( 767 mg UO mc Tcmpcmtorat Fcraeaf Noc. 1 2 3 4 Máxifiu Mintfna 18—11 20 ovos - 23 23 19—11 149 — 69 21 23 20 20-11 103 — 195 95 23 22 21—11 128 19 193 391 23 21 22-11 338 318 656 533 23 21 23—11 882 708 221 1237 22.5 21 24—11 714 482 185 353 19.0 18 25—11 643 253 604 292 20.0 18.0 2«-ll 458 220 501 360 21 20.3 27—11 412 158 0 479 19 16 28—11 105 301 420 415 20 16 29-11 885 362 552 495 20 17 30-11 741 48 786 413 20 18 1 — 12 494 461 610 410 21 18 2-12 672 301 494 316 oo 20 3—12 344 213 344 225 21 19 4—12 318 41 179 185 20 19 5—12 228 219 252 243 21 19.5 6-12 359 266 290 289 22 20.0 7—12 248 176 249 236 22 21.0 8—12 201 159 209 142 22 21 9—12 283 213 V75 245 24.5 21 10—12 210 164 218 178 25.0 h 11 — 12 III 120 123 114 25 23 12-12 115 162 146 84 25 24 13—12 85 179 118 167 26 24 14—12 29 42 79 45 V6 25 15—12 4 111 54 41 25.5 24 16—12 0 51 26 24 25 24 17—12 0 3 21 33 25 23 18-12 0 0 0 10 22.5 20 19—12 0 0 0 0 21.0 19 20-12 0 0 0 0 20.0 20.0 21 — 12 0 + 0 0 20.0 19.5 22—12 + — -f + 20 18 Total ovos 9834 » 5753 8069 8071 22.2 20.38 Ditj de desoTi 28 27 29 30 41 186 Memórias do Instituto Butantaa Tomo XYIII 3. Fase larval — 1* alimentação infetante Eclosão dos ovos de Anblyõmma cajennense a) Período prh-io à eclosão. Terminada a desova, são necessários alguns dias para que os ovos sofram a eclosão e dêm origem às primeiras lar\-as ou neolarvas. A determinação desse periodo de tempo, que denominaremos período prérío à eclosão, foi feita em duas séries de observações realizadas com várias gerações de ovos de Amblyomma cajennense. A primeira, com ovos de Ixodidas mantidos à temperatura cons- tante de 26°C e umidade relativa de 90%, e a segunda cora gerações de ovos que permaneceram à temperatura ambiente do laboratório. O material utilizado constou de ovos das fêmeas usadas nas experiências anteriormente citadas, coletados diariamente num só tubo de contenção corres- pondente a cada fêmea. Os resultados serão, pois, relativos à evolução do con- junto de ovos da postura total de cada fêmea, isto ê, de ovos depositados du- rante todo o periodo próprio à desova; não se referem, portanto, ao prazo real necessário à evolução dos ovos da postura de um mesmo dia. Levamos somen- te aqui em consideração os resultados do conjunto, devido à sua direta impor- tância para os trabalhos da criação de Ixodidas destinados ao preparo da vacina. la. E.rperíênc!a: Temperatura e umidade constantes. Duzentas e vinte gerações de ovos mantidos à temperatura constante de 26®C foram observ’adas na primeira e.xperiência. O início da eclosão se proces- sou entre fins de dezembro e 15 de janeiro. O quadro anexo resume os resultados. 2a. Experiência: Temperatura ambiente do laboratório. Uma segunda experiência foi feita no corrente ano com 82 gerações de ovos provenientes da desova de fêmeas colhidas no mesmo dia, no mesmo local e man- tidas em idênticas condições à temperatura ambiente do laboratório. A desova começou nos primeiros dias de março, sendo o inicio da eclosão verificado entre fins de março e princípio de abril. Os resultados foram os se- guintes : 42 J. TR.4TASSOS & A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyoinma cajennense. 187 Periodo prério á cclosio (B) (A) Temperatura ambiente DUs Temperatura 26*C (março 1943) (A) (B) fV % X.* de fcra^õe» de oroe N.* de feraçSes de orot 13 3 _ 1.36 14 1 — 0.45 — 15 6 — 2.77 — 16 5 — 2.27 — 17 9 1 4.09 1.21 18 18 1 8.18 1.21 19 34 1 15.45 1.21 20 26 3 11.81 3.65 21 41 3 18.63 9.78 22 25 8 11.36 13.41 23 9 11 4.09 10.97 27 4 9 1 81 12.19 25 5 10 2.27 8.53 26 6 7 2 77 6.09 27 — 5 6.09 28 O 5 0.99 6.09 29 4 5 1.81 4.87 30 — 4 — 4.87 31 — 4 — 1.21 32 1 1 0.45 2.4i 33 8 O 3.68 1.21 34 2 i 0.99 — 35 í — 0.45 — 36 9 4.09 1.21 37 1 1 0 45 “ Total 220 82 As temperaturas registradas durante o período prévio à eclosão dos ovos utilizados nesta experiência foram as seguintes; tttarfo — média temperatura máxima 27.6°C temperatura máxima absoluta 28.4»C (em 27J) abril — média temperatura máxima 22.1®C temperatura máxima absoluta 28.4X (em 9.4) média temperatura minima 16°C temperatura mínima absoluta 11.2°C (em 17J) média temperatura minima 12J^C temperatura minima absoluta 7.9®C (em 28.4) 43 188 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII O gráfico comparativo destas duas experiências mostra que a distribuição da freqüência em ambas as cur\-as é bastante regular. KXlOOO ratvio A DCSOVA DC A. CAJCIMOISC à TCMPCRATURA 00 LABORATOAn E A TEMPERATURA CONSTARTE <* ■O A cur\-a que representa os resultados obtidos à temperatura constante é no seu conjunto mais normal do que a que representa os da temperatura ambiente do laboratório, mostrando, também neste caso, que o periodo préno à eclosão à temperatura constante precede de 4 dias o da temperatura ambiente do labo- ratório nos meses em que a experiência toi feita. média no primeiro caso foi de 21.7 dias (Xi) e no segundo 25.5 dias (Xs). b) Periodo próprio à eclosão. A eclosão obser\ada em ovos da postura total de uma fémea, isto é, de toda uma geração de ovos, quando mantidos á temperatura constante de 26®C e umidade relativa de 90% pode se prolongar durante 17 a 23 dias. Xa expe- riência à temperatura ambiente do laboratório, realizada no decorrer dos mese» de abril e maio de 1943, com as mesmas gerações de ovos utilizados na expe- riência anterior, verificou-se que o período próprio à desova foi consideravel- mente menor do que naquela cm que os ovos permaneceram à temperatura re- gular de 26°C. •U I J. TiuvASSos Si A. Vallejo- Freire — Criação artificial de Antblyontnm cajennense. 189 Período próprio á eclosào dot oroo Dias 7 8 9 10 11 12 1? 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Total (1) tempe- ratura do laboratório 2 6 5 14 14 19 12 5 O 79 (2) tempe- tura a 26*C 1 1 23 108 72 14 1 220 (1) Obterraçõo com aaxiUo do microteópio estomológico (2) Obserração á ri»ta desamuda A disparidade observada nos resultados destas duas experiências c apenas aparente ou, então, pelo menos neste caso, os resultados não são comparáveis. Ka segunda experiência, executada à temperatura de 26®C, para se julgar o mo- mento correspondente à saída total das larvas, foi levada em conta a separa- ção destas de seus detritos. Isto devido à mobilidade que apresentam as larvas a esta temperatura e à manifesta tendência que têm de subir pelas paredes do tubo de contenção logo após a eclosão, procurando alcançar a parte superior, onde então se agrupam. \’’eri ficamos, entretanto, que as larvas, mesmo alguns dias depois da eclosão dos ovos, continuam no fundo do tubo e só alguns dias depois se libertam, afastam os detritos e sobem a parede do tubo de contenção. O inicio e o fim da eclosão só poderão ser bem obsei^udos com auxilio do microscópio entomológico. A côr dos detritos é apenas um indice prático, porem não exato, do fim das eclosões. Uma obsei^ução mais cuidadosa de- monstra que a coloração amarelo clara, que apresentam os detritos livres das larvas, não é verificada imediatamente após a saída desta, mas, pelo contrário, só se toma evidente alguns dias depois da eclosão de todos os ovos. No lote de Ixodidas que permaneceu à temperatura ambiente, a observação foi realizada com o auxílio do microscópio entomológico, motivo pelo qual conseguimos sur- preender na maioria das vêzes, a saída das primeiras lai^-as alguns dias mais cedo do que quando observámos à %nsta desarmada. Com o fim de facilitar ainda mais o exame e tomá-lo mais rigoroso, espalhamos os ovos em placas de Petri nos últimos dias da eclosão, não só para verificar as últimas eclosões, como tam- bém para a^uliar o rendimento ou percentagem de ovos evoluídos satisfa- toriamente. Desta forma, os dados máximos le\'ados em conta na última experiência, sem dúvida mais exatos, diferem grandemente da experiência realizada no ano 45 190 Mcmórías do Instituto Butantan Tomo XMII anterior, cujos resultados evidentemente estão prejudicados. Uma nova expe- riência somente poderá ser feita no próximo ano, ao iniciarmos a criação e es- clarecerá então melhor a influência da temperatura, tomando comparáveb os resultados das observações. Percentagens de eclosões dos ovos de Ai-Myomma cajennenst A eclosão dos ovos, quando mantidos em boas condições, é quase sempre total. Contudo, podem ser verificadas posturas, nas quais só um reduzido nú- mero de ovos dão saída a larvas. Em geral, os ovos provenientes de fêmeas que morrem durante a postura, geram ovos que não evoluem satisfatoriamente. A mesma causa que acarreta a morte da fêmea deve ter influência sóbre a via- bilidade dos ovos. Acreditamos que as lesões ocasionadas pela retirada defei- tuosa das fêmeas, quando ainda fixas aos animais, acarretem igualmente o com- prometimento de certas glândulas que segregam substâncias impermeabilizadoras dos ovos, substâncias estas, que exercem uma função protetora contra a desse- cação durante a evolução normal até a eclosão das larvas. Quando a evolução dos ovos se faz satisfatoriamente, a eclosão se veri- fica em lOOÇi dos ovos. Assim, por exemplo, em ovos provenientes de 79 fê- meas mantidas à temperatura do laboratório, obtivemos as seguintes percenta- gens de eclosões, avaliadas por observação cuidadosa ao microscópio entomológico : 67 gerações de ovos tiveram eclosão total (100%) 2 3 2 2 1 o de 95 % dos ovos apro.ximadamente ” 90 % " 80 % ” 70% ” 40% ” 30% Total 79 A eclosão total pode ser praticamente julgada pelo aspecto dos detritos das membranas ou envoltórios dos ovos, depositados no fundo do tubo, junto com a fêmea já morta. Quando todos os detritos têm cór amarelo-creme e não são encontrados resíduos de coloração marron claro, êsíe caraterístico pode ser- vir de índice prático da eclosão de todos os ovos. As neolarvas se agrupan’ na maior parte na extremidade superior do tubo de contenção e, uma minoria, na periferia da extremidade inferior, no circulo de contato do tubo com a ro- lha de cortiça* coberta pelo organdi, e.xatamente onde é maior a umidade. 46 J. "niAVASSos & A. Vau-ejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 191 As neo!ar\-as provenientes de ovos de deso\-as incompletas não são apro- veitáveis para a limentação infetante. Mesmo as oriundas de posturas media- namente volumosas, não devem ser aproveitadas, pois a prática nos tem larga- mente demonstrado o constante inaproveitamento final, geralmente ocasionado por luna alimentação sempre defeituosa por parte destas neolarvas, mesmo quan- do colocadas a se alimentarem em momento propício. Coniiderações tôbre a evolução do An-blyomma cajenntnse até a fase de neolarvz Nas experiências anteriores, ao estudarmos a evolução da espécie Am- blyomma cajennense, mostrámos as acentuadas variações do número de dias ne- cessários à postura e eclosão dos ovos, verificadas entre diversas gerações de Ixodidas mantidos à temperatura do laboratório. O total de dias decorridos entre a colheita das fémeas alimentadas e o final da eclosão não foi, no entanto, muito variável. As varbções mais pronuncia- das verificadas nos resultados parciais corresponderam quase sempre aos exem- plares que não evoluiram a contento ou mesmo não deram saida a larvas, de modo que não forant computados entre as gerações que fizeram evolução completa. Entre as 79 gerações obser\adas, os dias requeridos para a completa evo- lução, desde a colheita das fémeas ate a saida de todas as larvas, variaram entre 64 e 80 dias; a grande maioria (91%) o fez entre o 67.° e 70.° dia. Colhidas as fémeas a 27 de fevereiro, a eclosão dos ovos csta\’a praticamente terminada entre os dias 5 e 8 de maio. ToUl d« di Tenpci M decorridos da collieiu das (rtcieas até eclos&o dos oros. ratura axabieatc do laboratório <27*2-43 a lS-5-43) No. dc dU« 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 71 75 76 77 78 79 80 Total .Vo. de grn^to 1 0 ] 19 26 19 8 1 0 2 0 0 1 0 0 0 1 79 I.» 1.26 24 05 S2.4I 24 05 10 12 1.26 2 53 1.26 1.26 Recumo esquemático da evolução até larva: Si esquematizarmos, para uma orientação prática, a evolução do Amblyomma cajennense no período que \-ai da colheita das fémeas cheias até a eclosão total dos ovos, lesmrdo em conta somente o dia em que maior percentagem de Ixo- didas completou a evolução correspondente a cada periodo. estudado, teremos 05 seguintes dados; 47 192 Memórias do Inslituto Butantan Tomo XVIII Esqoematixação da erolocão até a fase de larra Fase Postura E C 1 O s I n Total Periodo prévio Periodo pr^^prir Periodo prévK) Periodo pròprn Dias (Temperatura-laboraióno) t 25 23 12 (•> 67 Dias (Temperatura — 2$»C) 7 _ n 21 20 Cl 63 (*) A comparação entre os resultados obtidos à temperatura do laboratório c à tem- peratura de 2ó“C só é possível entre os dados da postura e do período prévio à eclosão, por- < 4 uanto pelas razões que explicamos atrás, não são comparáveis os números correspondentes ao período próprio à eclosão. Rendimento Todos os detalhes relativos à evoluqão dos Ixodidas que usamos nas ex- periências anteriores, podem ser analisados no quadro que inserimos no final deste capitulo. Vemos, desta sorte, que das 100 fêmeas colhidas obtivemos so- mente 79 gerações de lan-as em condições satisfatórias para se proceder à pri- meira alimentação infetante. Na experiência feita entre Ixodidas que permaneceram sob a influência da temperatura e umidade sempre variáveis do ambiente do laboratório, as per- das foram assim distribuidas : 1. Até o periodo próprio à desova — 18 gerações de ovos 2. Até a eclosão — 3 gerações. As 18 gerações de ovos inaproveitados eram provenientes da postura de fêmeas que morreram antes de conduida a desova. Três exemplares morreram depois de um único dia de desova e os 15 ou- tros quando já haviam desovado durante 10 a 15 dias. Em quase todos os casos de posturas parciais, os ovos nunca evoluem de maneira satisfatória; não são tão brilhantes, nem de dimensões tão grandes quanto os ovos normais, em poucos dias escurecem, desidratam-se rapidamen- te, não dando mais saida a neolarvas. Entre as gerações de ovos das fêmeas que desolaram satisfatoriamente, três não evoluiram a contento, tendo-se verificado a eclosão de apenas raros ovos (1 ou 2 dezenas no máximo). Correspondem éles às fémeas: No. 33, cujo periodo próprjo da desova foi de 23 dias; No. 43, com desova durante 25 dias, e No. 59, com o mesmo número de dias para o periodo de desova. 48 m Ê I I ( lí 1 ! i: i: i; H i; if is » 21 22 22 24 2 2« 77 2» 29 30 31 32 S3 34 SS 36 37 SS 30 40 41 42 43 44 43 46 47 4S 49 50 51 52 53 54 55 56 57 5S 50 60 61 62 63 64 65 66 67 6S 60 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 «0 61 62 63 84 65 66 67 68 69 00 91 92 93 94 66 96 97 98 99 lUO DO CICLO EVOLUXnO DO AMBLYOMMA CAJEXXEXSE ATÉ A FASE DA LARVA Observação de 100 gerações de ovos. Fêmeas colhidas a 27-2-43 Exf'eriência à temperatura ambiente ?■ ; J i 2 4 • .s 0 ^ sl 0 ■ :=l • w “ * .5 -S .5 *2 Ü ^ ■= i ii 27 23-4 22 6-5 21 24-4 27 5-5 14 — 30 28—4 23 8-5 S 26—4 25 .5-5 24 23-4 26 7—6 23 26-4 25 7-5 24 26-4 27 6-5 12 — ... 25 24-4 24 6-5 10 — 26 23-4 24 5-5 14 — — — 19 25-4 31 5ÍI5 31 23—4 18 5-5 ?4 26-4 27 9-5 Té 24-4 23 7-5 24 23—4 22 5-5 23-4 23 5-5 27 V3-4 22 7-5 22 22-4 27 5-5 23 3-5 S3 15-5 25 28-4 28 8-5 11 27 23-4 22 5-5 — 1 — 13 30 25-4 20 26 29-4 29 11-5 19 S2 1 2*— 4 17 6-5 a \ 28-4 28 íí S S ■i 5— 3 7-3 6— 3 6- 3 7- 3 6- 3 7- 3 6-3 8- 3 6-3 9- 3 4- 6- 3 7- 3 6—3 5- 3 6- 3 5- 3 8- 3 6- 3 5- 3 4- 3 7- 3 6- 3 8- 3 5- 3 6- 3 6-3 6-3 5-3 5-3 4- 3 8-3 8-3 5- 3 8-3 6- 3 6-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5—3 r-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 5-3 k-3 ►-3 U3 -3 >-3 —3 —3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 -3 6 8 7 16 6 7 6 9 7 6 5 8 7 9 6 7 7 7 6 6 5 9 9 6 9 7 7 7 7 6 6 6 9 9 6 6 7 8 6 6 6 7 6 7 6 6 9 8 6 5 5 7 9 6 9 9 8 1-4 I 28-3 » 5-3 5—1 1-4 I 30-3 1—4 I 30-3 20-3 31—3 19—3 30- 3 I 20-3 |2S-3^ 5-4 I 30-3 1-4 1-4 I 31-3 1-4 I 26-3 31- 3 I 31-3 19-3 -f 1-4 19-3*+ '-4 I 31-3 24-3 + S“4 I 31-3 1—4 5-4 5-4 1-4 26-3 + 31-3 31-3 4— 4 24-3 30- 3 1-4 5- 4 1—4 19- 3 + 5-4 1-4 1-4 31— 3 20- 3 1-4 20-3 + 5—4 1-4 31-3 31—3 30-3 30— 3 23- 3 + 31- 3 24- 3 1-4 26-3 20-3 + 31-3 31-3 4-4 1-4 20-3 + 1-4 20-3 + 24-3 '+<1 30- 3 1-4 1—4 1-4 1—4 31- 3 23-3 31-3 31—3 31-3 23-3 1-4 1-4 30-3 5-4 23-3 5-4 30- 3 23-3 31- 3 1-4 1—4 1—4 31-3 1—4 31 28 26 20 25 25 30 19 25 24 28 27 14 30 25 26 23 14 24 14 31 24 25 25 25 24 15 25 18 26 20 14 27 23 30 28 12 26 14 19 24 16 26 26 24 25 18 26 26 25 18 26 27 25 28 16 31 25 19 24 23 26 23 22 24 25-4 27- 4 22- 4 28- 4 25-4 27- 4 25-4 28- 4 24- 4 29- 4 21-1 25- 4 25- 4 26- 4 23- 4 26—4 26^4 24- 4 24- 4 29-4 25- 4 22^4 26- 4 25- 4 2-5 21—4 26— 4 23-4 26-4 29- 4 23^4 25-4 28—4 30- 4 23-4 23-4 22— 4 -4 25-4 28—4 23- 4 25-4 28-4 25— 4 28—4 23—4 30-4 23- 4 22—4 26- 4 26-4 25—4 30—4 1 — 5 24- 4 34 20 22 21 28 25 23 32 19 23 24 23 » 24 25 23 K 21 23 26 24 30 26 22 33 24 37 21 26 19 28 26 27 29 22 23 23 30 22 25 28 31 24 16 26 23 31 25 24 30 26 25 24 29 31 23 17 5- 5 6- 5 6- 5 8-5 5- 5 7- 5 6 -5 (•) 6- 5 7- 5 5- 5 8^5 7-5 6- 5 6- 5 7- 5 6I5 6-5 6-5 6-5 a 5- 5 8- 5 6- 5 11-5 5- 5 7 - 5 6- 5 6-5 7^5 8- 5 6- 5 7- 5 8- 5 7- 5 6-5 5-5 5- 5 6- 5 6-5 4— 5 6-5 6-6 6-5 6- 5 5 — 5 8- 5 3—5 7- 5 7 — 5 8- 5 7- 5 8- 5 8-5 8—5 10 12 13 13 12 12 14 13 12 10 100 100 *93 1 !» 100 100 100 100 100 100 100 90 100 100 100 100 100 95 100 — 12 100 67 — — — 12 100 69 12 100 73 14 100 68 — 13 9J 80 10 100 67 9 100 6H 14 100 68 — 10 100 70 10 ino 67 10 130 (i9 11 100 68 — . 12 100 6S 8 100 69 11 iro 67 13 100 70 12 100 69 10 100 69 13 100 68 11 100 râ — 10 100 68 12 100 68 10 100 6H 12 100 68 .. 11 100 68 13 100 67 12 100 70 11 100 68 9 30 73 •• 14 100 67 11 100 69 13 100 68 10 100 68 .... 8 100 69 — 15 100 70 — 11 100 68 9 100 69 8 100 70 12 7 100 80 67 69 13 100 68 13 100 67 13 100 67 11 100 68 8 100 68 11 100 66 11 100 68 10 ino m 11 100 68 8 100 68 12 70 67 8 30 70 10 100 64 15 100 69 11 100 68 12 80 69 12 100 68 9 70 70 7 40 69 14 90 G9 68 67 69 67 ra 69 67 » 67 67 67 71 69 67 67 69 67 76 70 (+) Morte da femea antes do inicio da denova + Intemiptáo da desora derido i morte da femea (*) E c losão de raros oros; dcscneração dos demaia J. Ta.vvAssos Jt A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma caiennense. 19õ Rendimento da criação em larga escala até a fase de larva Criação de 1938 — Xa criação de Amblyomma cajcnnensc iniciada em 1938 com a colheita de 1 .000 fêmeas cheias, perderam-se durante o período aqui con- siderado 231 gerações, ou seja, 23.10% do total. Morreram antes de iniciar a postura 94 fêmeas (9.4%), possivelmente devido às lesões provocadas na ocasião da colheita; as demais 137 (13.70%) gerações de ovos não aproveita- dos eram provenientes de posturas médias ou mesmo totais, que não evoluiram satisfatoriamente atê a fase de larva. Criação de 1943 — Para os trabalhos de produção da vacina iniciamos a criação de I.xodidas com a colheita de 5.548 fêmeas de Amblyomma cajcnnensc. Vejamos em resumo qual foi o rendimento atê o periodo de eclosão entre exem- plares mantidos até a fase de neolarvas à temperatura ambiente dq laboratório. 1. fêmeas mortas antes de iniciar a postura 308 ou 5.55% 2. gerações de ovos nas quais as lar\-as obtidas não estavam em boas condições ou somente em número reduzido 497 ou 8.95% Total de perdas atê eclosões dos ovos 805 ou 14.50% As restantes, ou sejam 4.743 gerações de ovos. deram praticamente eclo- são total dos ovos, isto é, 1(X)% de lar\-as aproveitáveis. 3. Fase larval — 1.* alimentação infetante. Alimentação das neolarvas Caraleristicas das lanas de A. cajcnnensc: Escudo — Comprimento 0.235, largura 0-336. Muito mais largo do que longo. Sulcos cetvicais rasos, longos e mais ou menos paralelos. Superfície lisa, Icvcmente cliagrinada, sem pon- tuação. Capitulo — Comprimento 0.18, largura O.IS. Base curta e larga, com pontas arredondadas dos lados. Superfície lisa, sem pontuações. Palpos lon- gos. com artículos 2 e 3 quase iguais, pelos finos e em pequeno número. Com- primento total dos artículos II e III cerca de 0.11. Hiposlômio — Curto e alargado na ponta. Dentição 2/2. Comprimento cerca de 0.066. (Cooley, R. .A. & Kohls. G. M. (31)). Perfodo de espera Processada a saida de todas as neolarv'as, denominação que se dá às lar- vas não alimentadas, estas sobem pelas paredes do tubo de contenção e se amon- ãl 196 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII toam próximo à abertura superior protegida pelo organdi. Decorridos alguns dias, só resta no fundo dos tubos detritos formados pelos envoltórios dos ovos. Após a eclosão, a côr desses detritos, que inicialmente é castanho pouco escuro, clareia aos poucos, apresentando a princípio coloração amarelo sujo e em pou- co tempo se transforma em amarelo quase canário. Nessa ocasião, as neolar- \-as, que ao sair dos ovos são claras e relativamente transparentes, já se apre- sentam bem mais escuras, o que provavelmente decorre de u’a maior quitini- zação, não só das patas, como do próprio corpo do carrapato. A intensidade dessa quitinização pode servir de índice prático para julgar qual o momento propício à alimentação. Quando a quitinização é verificada em 100% das neo- lai^as, a mobilidade destas é sempre acentuada e, si colocadas a se alimentarem em coelhos, o fazem de maneira constante, colhendo-se ao fim de 8 dias eleva- da percentagem de larvas cheias; o contrário, quando ainda restam muitas lar- vzs se quitinizarem, o rendimento em lar\-as cheias nunca é satisfatório. O exame da intensidade de quitinização das patas das larvas deverá ser feito com auxílio de uma lente de aumento médio, não sendo para isso neces- sário tirar o tubo de contenção do interior do tubo protetor. Orientando-nos dêste modo, temos obtido o máximo aproveitamento dos animais usados para a alimentação das lar\-as. Após repetidas experiências concluimos que o periodo de tempo que se deve dei-xar transcorrer entre o fim da eclosão e a alimentação das neolar^^as. que permanecem à temperatura ambiente do laboratório durante os meses de maio e junho, deve ser no minimo 32 dias. A escolha deve recair de preferên- cia no 38.° ao 40.° dia, mesmo quando, devido à espera prolongada, uma pe- quena parte das neolar\'as morra antes de chegado o momento de colocá-las nos coelhos. E’ sempre preferível agir assim, pois o rendimento obtido é sem- pre maior neste caso do que si colocarmos a se alimentarem lars'as quando ainda não aptas a picar. O periodo de espera pode ser prolongado satisfatoriamente, si as neolarvas forem mantidas à temperatura mais baixa (entre 14.° e 16.°C), o que retarda a atividade metabólica do Ixodida, enquanto se aguarda a possibilidade de pro- ceder à sua alimentação. Para esta última exigência possuímos uma geladeira especial, regulada â temperatura conveniente, na qual pode permanecer grande número de caLxas com vidros de proteção repletos de lar%'as, aguardando o momento da alimentação. 52 J. TawAssos & A. Vallejo-Fbeire — Criação ariificial de Amhlyomma cajennense. 197 Técnica para alimentar as neolarvas É com a alimentação das neolarvas que verdadeiramente se inicia a criação artificial dos Ixodidas. Esta fase é das mais delicadas, pois que de cada fêmea se obtêm em média 7.000 ovos e, ponanto, 7.000 larvas. Em consequência da quantidade e da diminuta dimensão destas, foi necessário aperfeiçoar uma téaiica que permitisse, não só bem aproveitar os animais que vão ser\'ir para alimentá-las, como também que fornecesse perfeita segurança durante o trabalho. Preparo dos coelhos Inoculação infctantc. — Coelhos de i)êso não inferior a 2.5 quilos são inocula- dos ix)r via peritoneal com virus da febre maculosa. Para estas inoculações utilizam-se 2*a 5 cnP de sangue dos coIkiíos que servem para manter as diferentes amostras de virus no laltoratório. jKir meio de passagens em série, feitas de cobaia a cobaia, jwr inoculação peritoneal. .\ sangria deverá, ser feita durante a reação febril do animal, preferivelmente no 2.° ou 3.° dia de reação ténnkra, (piando se deve verificar a esterilidade do sangue por semeadura em meios aeróbios e anaeró- bios. Quatro a cinco dias após a inoculação, os coelhos jxxlem ser preiiarados jiara o serviço de alimentação das larvas. 53 Colocarão dos saqninkos frotriorcs. — \crificada a predileto das larvas de cQjcuucm^ a se fixarem na orelha dos coelhos, onde se aliroenUm melhor e mais facilroente, resolvemos aproveitar esta circunstância para obter um alto rendimento. Cotn esta finalidade preparamos uma espécie de cartucho ou cilindro de organdi de dimensões que permitam conter com certa folga as orelhas dos coelhos (* (**) ). Êstes cilindros ou cartxKhos, após introdoaida a ore- lha no seu interior, são fixados na cabeça do coelho, em tomo da base da orelha por meio de esparadrapo. Com o fim de facilitar a adesão do esparadrapo, re- tirara-se os pêlos em tomo da inserção do pavilhão auricular por meio de mãquina de cortar cabelo, na- valha ou mesmo usando qualquer dcpilatório (a). A fixação do cilindro de organdi na base das orelhas do coelho deverã ser feita de modo a não dificultar a circulação sanguínea. Uma tira de esparadrapo de J,5 cm de largura deve prender inicialmente na ca- beça e de forma circular subir até atingir a base do cilindro, de modo que uma volta do esparadrapo se venha sobrepor ã metade superior da volta anterior, fechando-a por fim na base (b). Fixaçãò no interior das mesas de manipulação. Colocados os saquinhos protetores, os coelhos são levados ãs mesas (•*) de manipulação de Ixodi- das (c), onde podem ser fixados em bandejas apro- priadas, cuja parte mediana tem uma exeavação em forma de meio cilindro longittidinal, servindo para contc-los e imobiliaã-Ios por meio de fixadores arma- dos de faixas de pano. £stes fixadores podem mover- se longitudinalmente, deslisando sobre frisos dispos- tos paralclamente ao longo do meio cilindro exea- vado (d). Uma toalha branca, tendo no seu terço anterior um corte suficientemente grande para permitir a pas- sagem das orelhas do coelho, cobre todo o animaT e evita que durante a manobra de colocação das neo- larvas, estas possam vir a espalbar-se nos pêlos «lo coelho, acautelan«lo-nos, assim, contra a posMvcl dis- persão de Ixodidas (e, f). Colocação das neoUsrras. — Cada coelho adulto, de pêso não inferior a 2.5 quilos, pode servir para a alimentação infetante de larvas resultantes da desova de quatro femeas; em cada orelha sao colo- cadas em meuia 14.WU ncviarvas, isto c, o produto tíe uuas gerações de ovos úe Amoljomma catennense. Coelhos de pêso inferior, que geralmente não resistem a iotccçao, não suportam tao grande nume- ro üe neolarvas. ImobtiUaçao das neolarx-as. — Os tubos de con- tenção cneios ue neolarvas s^ retirados uo in»erior aos tubos ue proteçuo c ucpositados na oscsa ae tra- baioo oepois ue (•ermanecerem alguns minutos na geladeira, naturai que a temperatura amoiente uo «aooratorio, pnncipalmemc nos atas oc verão, a mo- oiituaue uas ncviarvas seja oastanic granuc, u que uiticuita o trauaino ae cvtoca-ias nas oictoas dos coe- iâM>s. l^ela açao uo ino itcain imooiiiradas, ticandu o manuseio. (*) Ressaltamos aqui a importância da escolha do tecido usado no preparo dêstes saquinho» ou car- tuchos. £ indispensável que as malhas do tecido não permitam a passagem das larvas, e não sejam tani- oem demasiado a|>cTtadas, de modo a diticuJtar a ac ração. ^ (**) Adiante descreveremos as mesas de ma- nipulação de Ixodidas. Fic. 20 cm Fic. 20 Dt^ribmtção. — A colocação dot Ixodidaj na parte intema do f^vilhão auríctibr. envolto pelo sa- quinho protetor de orcandi. é facilitada pelo uso de um funil de vidro ou mesmo um cartucho de papel; as neolarvas, primeiramente deposiudas no receptáculo do funil, são, com o auxilio de uma es- pátula fina, manejada com precaução, levadas para o interior do pavilhão auditivo do coelho (g). Terminada esU manobra, a abertura superior do saco protetor de organdi é fechada, dobrando-se a extremidade duas vères e obturando-a com espara- drapo (h). As neolarvas, que acidentalroente tenham caído na toalha, são facilmente visíveis e podem ser retiradas por meio do tubo coletor de carrapatos, ligado ao aparelho de váctso facilmente manuseado* pelo auxiliar (í). (Por ocasião da descrição dos deta- lhes técnicos acerca da colheita de larvas cheias des- creveremos o tubo ou aparelho de coleta). Esta úl- tima manobra é quase sempre desnecessária quanjo se usam fxodidas preriamente imobiliaados pela per- manência durante alguns minutos á baixa temperatura. Retirado o pano que cobre o coelho, este potie ser desamarrado e manuseado sem perigo, fora da mesa de proteção (j)- Prctrçia das oreikct dos eoctkas. — Os saqui- nhos contendo as larvas são protegidos contra as tentativas feitas peto coelho para retirã-Iot, por meio de um aparelho de couro, que permite o fácil areja- mento através de duas fendas laterais (k). As fendas laterais são igiulmente protegidas por meio de tela de arame fino. O aparelho protetor é constituido de um cilimlro de couro, medindo !£ cm de altura por 1 cm dc diâ- metro que permite conter as duas orelhas. A parte inferior do cilindro é fixada a uma faixa circular, também de couro, destinada a bem se adaptar ã ca- beça do animal, servindo de apoio ãs duas correias que a fixam abaixo do pescoço por meio de uma fivela que as ajusta perfeitamente. Desta mesma faixa circular parte posteriormente uma fila, tam- bém de couro, tendo na porção terminal um cinta com fivela para prender o aparelho ao corpo do coe- lb% atrás dos membros anteriores (k). Xa parte su- perior metliaoa da fita acima referida, existe um botão de pressão, cujo negativo está colocado no ci- lindro de couro, de imulo a poder fixá-lo no seu terço superior, dando ao mesmo tempo uma inclina- ção conveniente ã perfeita posição das orelhas sem prejudicar a circulação sanguínea. /VrMuméiM-M na biatéria. — Os coelhos com as orelhas assim protegtara os usados na manutenção das amostras de virus ou |>ara animais em exjicriéncia. Neste últimò caso usamos a ala direita do biotério nos dias j^ares e a estjuerda nos dias impares, de modo que jicla manhã de cada dia os animais vão jara um comjMrtimento limi», praticamente esterilizado com água quente c absoluta- mente séco. O encarregado do biotério, além da limjKza c da alimentação dos animais, deverá tirar diariamente, a {«rtir de 8 horas da manhã e após 2 horas da tarde, as temperaturas de todos os animais, no que é auxiliado jwr outros funcioná- rios, que nes.sa ocasião verificarão íjualquer anomalia notada, como, jwr exem- plo, presença de reações escrotais, escaras cutâneas, etc. Após a tomada das temperaturas, são elas. juntamente com os outros dados, registrados em livro de registro e nas fichas individuais até o momento cm que um dos assistentes da Seção, verificando o movimento geral, controlará as exjieriéncias e evcntualmente mandará rej)etir a tomada das tenqieraturas, de- terminará os animais a .sacrificar, suspenderá a observação de alguns, verifi- cará as lesões evidenciadas na necrópsia ou fará passagens de virus. 09 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 204 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Sala dos biotéríos A sala eni que estão dispostos os diversos coqjuntos de gaiolas tem dois exaustores, que esgotam o excesso de umidade e arejam o ambiente. Isto é principalmente necessário nos dias quentes de verão, em consequência da gran- de superficie de evajxjração das bacias e do grande número de animais alí contidos. .•\s paredes e o teto da sala de biotérios deverão ser preferivelmente la- drilhados ou pintados a óleo, de modo não só a facilitar a limpeza diária, como evitar o crescimento de cogumelos em consequência da umidade alí mantida. Xas experiências que requerem observações durante longos períodos de tempo, tanto as cobaias como os coelhos se ressentem da permanência muito prolongada no biotêrio; nesse caso precisamos intenir e reforçar a alimentação, juntando à ração diária alimentos frescos, óleo de fígado de peixe contendo vitaminas A e D. Fic. 22 Biotrrio*. É de toda conveniência que o local onde se encontram os biotérios para obser- ^•açoes dos animais durante longo período, fiíjuem situados de modo a i)emii- tir o isolamento, j)elo menos durante algumas horas do dia, protegendo-se o recinto j)or meio de parerles envidraçadas. CO J. Travassos át A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 205 A sala de controle geral está ao lado da sala dos biotérios e isolada desta por divisões de vidro. Todo o alimento dos animais é trazido ao interior do laboratório por meio de uma caixa metálica, que da sala dos biotérios se comunica com o exterior. Os animais sacrificados são logo após a necrópsia conduzidos a um tomo crematório, cuja porta se comunica com o interior da sala de biotérios. Um botão elétrico aciona um massarico alimentado a óleo, que, fundonando al- guns minutos, reduz a cinzas os animais ali colocados. .A. limpeza do forno para a retirada dos residuos é feita por uma outra porta, que está ligada ao lado externo do padlhão. Mesa de proteção para trabalhos com Ixodidas Esu mesa de proteção destina-se aos trabalhos de manipulação com Ixodidas infetados « foi espedalmente coostrukia para e\-iur o conuto direto do técnico com o material in- fetante. Elstá localizada na própria sala dos biotérios. Compõe-se esscncialmente de uma grande bacia de concreto armado, sustentada por uma coluna central, no interior da qual passam encanamentos para água quente e fria, esgotos, vácuo, gás, ar comprimido e cor- rente elétrica, necessários aos trabalhos. Xa parte superior, a bacia tem a forma de um retângulo e mede 2 metros de comprimento por 80 cm de largura; destina-se a conter 2 ban- dejas, que se encaixam em suportes fixados na parte inferior por meio de fortes hastes metálicas. Com éste dbpositivo as duas bandejas removi\-eis ficam perfeitamente isoladas do retângulo, que constitui as margens da bacia. Esta é cheia com uma solução concen- trada de liquido carrapaticida para impedir a passagem de quaisquer carrapatos da bacia I>ara a mesa propriamente dita. O retângulo tem em todo o seu contómo uma margem superior horizontal de 2S cm ; na extremidade é eia bem maior, servindo de mesa au.xiliar para depositar o material que deverá ser introduzido na câmara. Uma armação de madeira, de forma retangular é encaixada no concreto da bacia. Esta armação tem aproximadamente 20 cm de altura no sentido vertical e desde ésse ponto sai, por meio de caixilhos de vidro, ligar-se a um outro retângulo bem menor, situado na parte central e 40 cm mais alta Xéste segundo retângulo, há um exaustor, qiK permite retirar todo o \apor de ágtu acumulado no interior da mesa de proteção e que se deposita na parte interna dos vidros, dificultando a visão. .\ abertura onde funciona o exaustor deverá ser protegida por uma tela de malhas bem finas á prova de carrapatos. Xa parte lateral da base retangular de madeira há aberturas que permitem adaptar em armações especiais de metal, luvas brancas de cano longa O esquema que juntamos mostra os detalhes de construção da mesa, podendo-se obser- sar todos os dispositivos internos que facilitam o trabalho com carrapatos, trabalho éste. que poderá ser feito por dois grupos de dois homens, um técnico e um auxiliar, no mesmo momento, destinando-se uma das bandejas para cada grupo, ficando o auxiliar sempre na frente do técnico. O material usado no serviço, como sejam: tubos de contenção, tubos de proteçãa espa- radrapo. gaze, aparelhos para os coelhos, etc, bem como os animais já previamente ino- culados, é introduzido na mesa pelas aberturas terminais ou mesmo pelas laterais. O fe- 61 206 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII MESA DE PROTEÇÃO Escoio ^ dOem ric. 23 Eiqoema da mesa de protego. 62 J. TawAssos & A. Vallejo-Freihe — Criação artificial de Antblijomma cajennense. 207 chamento da mesa de trabalho se faz de maneira perfeita, ajustando as aberturas ou jane- las por meio de borboletas de pressãa Terminados os trabalhos diários, o interior da mesa é lasado ou com água quente ligada á torneira existente no interior ou com solução de cárrapaticida. Tubo de colheita de carrapatos O tubo de colheita destina-se a facilitar a coleta de Ixodidas nas fases de larva c ninfa, quer antes, quer depois da alimentação. O aparelho ou tubo de colheita de Ixodidas consta de um tubo cilíndrico de vidro com diâmetro igual ao dos tubos de contenção, anteriormente descrito. Êste tubara manipular adultos não alimentados. 6:i 208 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Abrindo-sc a torneira de vácuo, o aparelho de coleta está pronto para ser utilizado. Aproxima-se a parte aberta do tubo aos Ixodidas, que são então aspirados para o interior do tubo de contenção, onde ficam retidos pela proteção da tela de organdi. Quando os tubos estão sufjcientemente cheios (em média 150 larsas cheias) e desli- gado o vácuo, retira-se a rolha de borracha do aparelho, substituindo-a nosamente peta de cortiça. Destacando-se o esparadrapo, os tubos de contenção cheios de Ixodidas estão prontos para serem acondicionados nos tubos de proteção, numerados e colocados nas caixas que permanecem nos armários à temperatura ambiente do laboratório ou nas estufas até se ve- rificar a eedise. ESCflLfl l:l 1 f 4 » Fic. 25 Tubo de coleta de carrapatos. o vácuo utilizado para a manobra da colheita dos Ixodidas deverá ser ajustado, de modo a facilitar a cmrada de larvas ou de ninfas, vazias ou cheias, no tubo de contenção, sem pros-ocar correntes violentas, que podem lesar os Ixodidas, ocasionando perdas na cria- ção, perdas estas que são, %-ia de regra, tanto maiores, quanto maior for o tamanho do carrapato. N'a fase ninfal, por exemplo, a ausência destas precauções pode ser altamente prejudicial, acarretando a morte de grande parte dos exemplares, principalmentc quando se trabalha com metaninfas ou ninfas já alimentadas. Alimentação e colheita das larvas alimentadas Os coelhos, nos quais foram colocadas as larvas, j)ermanecem nos compar- timentos isolados do biotério durante vários dias, geralmente 8 a 10. Na rea- lidade, a alimentação de uma larva, isoladamente, do momento da fixação ao hospedeiro à queda espontânea, não demora tanto tempo, podendo ser feita de matieira completa em 3 a 4 dias. A desigualdade do momento de fixação das larvas se explica pela idade variável das neolarvas. A desova das fêmeas faz- sé por período de tempo que se prolonga por vezes até 26 dias, tendo as neo- larvas resultantes também idades variáveis. Quando, portanto, colocamos uma mesma geração de larvas a se alimentar, teremos variações muito grandes quan- €4 ■J. Tb.\vassos li A. \ allejo-F‘reire — Criação artificial de Ántblyontma cajennense. 209 to ao nioniento propicio à picada. Xão convem dilatar o i)razo de 8 a 10 dias, poríjue a alimentação das larvas só é util na fase de circulação sanguinea do virus; essa fase coincide com aquele espaço de tempo. Tendo-se em conta as precauções acima citadas, obtêm-se após êsse pra- zo: larvas totalmente alimentadas e já destacadas do hospedeiro, larvas em ali- mentação, ainda fixadas, e larvas não alimentadas e não fixadas. Estas, con- tudo, nem sempre são em larga percentagem, o que torna o processo útil para fins práticos. Quando os coelhos são de pequeno porte ou a quantidade de lanas muito elevada, pode acontecer que aqueles venham a morrer antes de decorridos os dias necessários à alimentação das lanas. Xeste caso, aquelas que forem en- contradas cheias serão imeliatamente retiradas e aproveitadas. Quando o coe- lho permanece vivo, a colheita é feita após sacrificio do animal por meio de Fic. 26 Abcrtur» A» uquinbot contrado u or.Ih». de coeibo* repleui de ixodidu ji alimetnado». pancada na cabeça. As orelhas, protegidas pelos saquinhos, são em seguida cor- tadas na base com tesouras abaixo do ponto de fixação do saquinho de organ- di, depois de retirado o aparelho protetor de couro. As orelhas, ainda envoltas pelo saquinho de organdi, são colocadas em bandejas numeradas que são condu- zidas à mesa de proteção. Os coelhos são imediatamente levados ao forno cre- matório. Os saquinhos são al)ertos um a um com tesoura sóbre folhas circulares de papel branco ou sóbre grandes cristalizadores. As larvas cheias estão quase sempre soltas, enquanto que aquelas ainda fixadas são retiradas, cuidadosamen- te, por meio de pequena espátula. Feita esta coleta, orelhas e pano de organdi são mergulhados na solução carrapaticida. que circunda a l«cia da mesa de ma- nipulação já descrita. 65 1 SciELO •210 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI As larvas cheias e coletadas são passadas em tamizes laradores, que cons- tam de três cilindros, cuja base de tela de malhas progressivamente menores permite a retirada de detritos, como sejam pêlos, lar\as mortas não alimentadas, etc. L'm jacto dágua facilita esta limpeza e ao mesmo tempo retira os detritos orgânicos, que. conforme temos verificado, podem permitir não só a colagem das laicas umas às outras, como também ser\em de meio para o crescimento de certos parasitas durante a permanência das metalarvas na estufa, à espera da ecdise. Uma vez bem lavadas, as larvas cheias são colhidas jx)r um aparelho especial de coleta, que. por meio de vácuo, permite reuni-las diretamente nos nossos tu- bos de contenção. Para facilitar a secagem, jxxle-se exjmr as larvas à corrente de ar de um ventilador ou deixá-las durante algum tempo na estufa a 37°C. Invadas e secas, as lar\as cheias são distribuidas nos tulx)s de contenção e guardadas nos tulxís de proteção, onde à temperatura ambiente ou na estufa para carrapatos, permanecem até ocorrer a primeira metamorfose com a ecdise das neoninfas. 4. Fase ninfal — 2.* alimentação infetante 1." metamerfose. Período prévio à ecdise das neoninfas Decorridos alguns dias. as metalarvas ou larvas alimentacbs transformam- se cm neoninfas. efetuando-se. desta forma, a primeira metamorfose, isto ê. a jKissagem da fase larval ou hexájwda jiara a fase ninfal ou octójxKla. O j.e- riixlo de temix> compreendido entre a colheita das larvas alimentadas e a saida das primeiras neoninfas denominamos periodo prévio à ecdise das neoninfas. Xo quadro seguinte vêm-se os resultados gloljais de experiências feitas com 7.000 metalarvas, corresponlendo à observação de 152 lotes diferentes, manti- dos em estufa com temperatura entre 30 e 329C. Os lotes de metalanas foram obtidos do seguinte modo: Entre as larvas cheias c espontaneamente desprendidas de orelhas de coe- lhos, foram selecionados ICO exemplares, que. após lavagem e secagem prévias, foram divididos em dois lotes de 50 e mantidos durante a experiêiKia nos tii- Ixjs padrão de contenção protegida. Um dos lotes foi inculsido em estufa re- gulada entre 30 e 32”C c o outro serviu para as experiências feitas à tempe- ratura ambiente do lal>oratório relatadas adiante. 1)6 J. Travassos & A. Vallejo-Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 211 À medida que se processou a ecdise das neoninfas, estas foram retiradas diariamente de junto das metalarAas e colocadas em outro tubo de dupla pro- teção, mantido á temperatura ambiente do laboratório. Os resultados aqui apresentados devem servir somente como indice prático de orientação, pois não se referem à evolução unitária. Com efeito, partindo de grande número de larvas alimentadas, não é praticável a anotação do mo- mento exato do final da alimentação de cada unidade isoladamente e da conse- quente queda espontânea do respectivo hospedeiro. As larvas permanecem 8 a 10 dias nas orelhas dos coelhos, podendo-se fixar, alimentar e desprender em prazos diferentes. Êstes resultados, portanto, se referem ao número de dias decorridos desde a colheita dos lotes de larvas até o dia em que se verifica a presença da pri- meira neoninfa nos tubos contendo 50 exemplares. A ecdise das primeiras metalarvas se verificou entre 5 e 15 dias após a colheita das metalarvas, à temperatura de 30 — 32®C. Na maioria dos lotes (91.4%) esta teve inicio entre o 7.® e 13.® dia. i.* Xlftam^rfcst: Periodo prério á ectfife das ocomofas. Tnaperatura 30 — 32*C Dias N." d* loit» % 5 5 3.3 6 2 1.3 7 21 13.8 8 21 1 .1 9 17 15.7 10 24 19.7 11 30 10.5 12 16 6.5 13 10 2.6 14 4 1.8 15 2 Total de lotes 152 A outra expericrKia com os lotes de larvas da mesma procedência que a dos utilizados na prova anterior, foi feita à temperatura A-ariável do ambiente do laboratório. Tratando-se de Ixodidas alimentados em meses diferentes, os resultandos são dados separadamente, pois a temperatura ambiente do laboratório variou de alguns graus em cada periodo: 67 212 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII i.* Mtiamorfose: Periodo prévio á ecdise d^s neoninfas. Temperatura ambiente do laboratério. Dias Colheita 19-MJ n-5-*3 22-6-43 7 1 M 1 9 2 1 1 4 11 4 12 6 13 4 14 6 15 4 16 5 17 3 18 — 19 2 20 0 21 6 22 8 23 7 24 10 25 5 26 1 27 2 28 6 20 2 30 7 31 5 32 9 33 3 34 8 35 1 Total de lotes 40 33 49 Iniciada a experiência com 152 lotes de metalarvas, somente em 122 foi ve- rificado início de eclosão. Xos demais 30 lotes as metalars-as não evoluiram, não sendo, porisso tomados em consideração. São particularmente significativos os resultados desta observação. Lars-as alimentadas em meses diferentes, durante os quais a temperatura ambiente do laboratório baixou progressivamente, mostraram um periodo prévio à eclosão das ninfas relacionado a essas \-ariações de temperatura. Nos meses mais frios, junho e julho, foi maior o número de dias decorridos até se verificar o inicio da eclosão das neoninfas. Nas colheitas feitas no mês de abril, o periodo pré- vio à primeira metamorfose foi de 7 dias para a metalar\a de evolução mais rápida é de 17 dias para as de evolução mais retardada. Nos lotes colhidos a 11 de maio, o periodo préno \-ariou entre 19 e 24 dias. enquanto que para 68 J. Tr.\vassos Jt A. Vallejo-Freihe — Criação artificial de Amblyomma cajennerue. 213 03 lotes de Ixodidas colhidos a 22 de junho íoram necessários 25 dias para se verificar a primeira eclosão de neoninfas nos diferentes lotes, sendo que em um dos tubos somente após 35 dias foram encontradas as primeiras neoninfas. Elm São Paulo, as temperaturas mais baixas do ano correspondem aos meses de junho, julho, atingindo a média das minimas 9-10'*C e a das má- ximas 21 — 22®C. Em maio e abril as médias são mais ele\'adas, havendo quase sempre uma diferença de mais ou menos 29C entre um mês e outro. No interior do laboratório as médias das minimas mostram-se sempre mais ele\'adas, 16°C para junho e julho, e as oscilações entre a máxima e a mínima nesse período não ultrapassaram 2®C. Essas oscilações, entretanto, foram maiores nos meses de maio e sobretudo de abril. 1.* metamorfose — Período próprio à ecdise das neoninfas ^ O ^Tmpo decorrido entre a ecdise da primeira neoninfa e a ecdise da úl- tima viável de cada lote, denominamos “periodo próprio à ecdise das neoninfas". À temperatura de 30 — 329C foram obtidos os seguintes resultados: !.• Metaii»orfo*e — Periodo próprio i ecdise dA« oeooiníes, Temperatare 30 — DUi 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Total dc lotes 1 13 la. Exp. O 13 12 4 1 3 52 11 2a. Exp. — — 7 10 12 — 1 50 3a. Exp. 7 8 20 9 10 — 2 6 — 50 Total 7 10 34 28 34 14 15 9 1 152 4.6 6.5 22.3 18.4 22.3 9.2 9.8 5.9 0.6 o tempo de ecdise oscilou, no conjunto de lotes observados nas três expe- riências, entre 6 e 14 dias. Levando-se em conta os resultados totais, pode- se considerar como mais frequente a demora de 8 a 12 dias para a ecdise com- pleta das neoninfas viáveis. As verificações feitas para a determinação do periodo próprio à ecdise das neoninfas à temperatura ambiente nos meses de junho e julho (médias das tem- peraturas máximas inferior a 18°C), eridenciaram precariedade de evolução, dando lugar à obtenção de ecdise satisfatória somente em pequeno número de lotes. Assim é que. partindo de 172 lotes de metalarvas que iniciaram ecdise. obtivemos apenas 23 lotes com evolução normal. £sses 23 lotes tiveram um período próprio de 12 a 18 dias. sendo que mais frequentemente de 17 dias. G9 214 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII Tomando em consideração o período necessário para ser obtida a la. me- tamorfose, isto é, desde o momento da colheita das metalar\as até a ecdise de todos os elementos viáveis, os resultados obsen-ados à temperatura de 30 — 32°C foram os seguintes: 1.» Metamorfose — Tetnperatura 30 — Í2*C Dias I .* Exp. 2.* Exp. 3.* Exp. Toul % 15 4 4 2.6 16 6 6 3.9 17 25 2 27 17.8 18 10 — 12 7.8 19 — 2 22 25 16.» 20 7 3 1 12 7 8 21 4 16 39 25.6 22 23 2 18 11.8 23 16 6 8 5.2 24 2 1 1 0.6 Total 52 50 50 152 Verifica-se, então, que nos diferentes lotes a ecdise completa \-ariou de 15 a 24 dias. Rendimento No que diz respeito ao rendimento, já mostramos como foi pequeno quan- do os Ixodidas foram mantidos à temperatura ambiente nos meses mais frios do ano. Ao contrário, foi particularmente elerado na criação feita à tempera- tura de 30^0; desta sorte, dos 152 lotes estudados observamos: 36 lotes com 1005» de eedises 41 »» 99 mais de 80 e menos de IOO5Í, de eedises 15 9f 99 99 60 8O5Ó 99 27 »> 99 99 40 (X)<^ 99 23 99 99 20 405Í 99 10 99 com menos de 2O5Í de eedises. Os resultados destas experiências demonstram que durante os meses frios, que coincidem com a la. metamorfose dos Ixodidas criados no loboratório, as temperaturas são desfavoráveis à evolução dos Ixodidas e que, pelo contrário, à temperatura de 30°C a evolução decorre de maneira satisfatória na quase to- 70 J. Trwassos & A. Vallejo-Freire — Criavão {'rlificial de Amblyonitna cajennense. 21Õ taüdade dos lotes de metalar\-as. Aconselliainos, entretanto, para criação em larga escala do Amblyomma cajcnncnsc na fase lar\o-ninfal. utilizar tempera- turas entre 22 — 28°C no máximo. .A pennanéncia a temperaturas mais ele- vadas não é aconselhável, pois é grande a monalidade verificada entre os exem- plares que sofrem a metamorfose nos primeiros dias e pcnnanecem à espera da evolução das metalarvas restantes. criação de Ixodidas em nosso Lalwratorio é rotineiramente feita entre 24 e 26°C, sempre que se deseja apressar a evolução da fase de larva para a de ninfa. Recomendamos, entretanto, manter constante ob.servação, para não prolongar desnecessariamente a permanência na estufa. E' mesmo indispensá- vel levar os lotes de carrapatos logo após a eedise da maioria das neoninfas jMra temiieraturas mais liaixas até o momento da alimentação ou proceder à retira- da diária das neoninfas ecloidas de junto das metalarvas mantendo-as a seguir a temperatura mais Iwi.xa (20"C ±). Esta sejaração facilmente se con- segue mediante o uso do aparelho adaptado para tralalhos com grandes quan- tidades de metalar\as. Modificaçees dos aparelhos para trabalhos com grande quantidade de metalarva: Para grandes (piantidades de larvas cheias utilizamos jwr vezes um disjxtsi- tivo. que pode conter 4O.C00 larvas ou mais. Este aitarelho, confeccionado sob os mesmos princípios de dupla proteção, permite colher as neoninfas diretamente j ! i í 1 J-] U-Zl Fic. 27 E«)iKfiu do apanlbo jar» crú(ia de ninfa» e adulto» em (rande quantnlade. A = Tutw de proteção; B = Tnl» de eonteneSo remoritel: C = Câmara para o dep.l»tto de txodída»; D = Caixa para a dupla proteção inferiitr: E = Areia umideeida; F = Te- eido de organdi â prora de carrapato»; G = Teta de araipe fino. em tubos de contenção à medida que se processa a ectlise. Evitamos, desta sorte, o uso do aparelho de vácuo, qtie. tiuando não manobrado com cuidado, iwde tra-er prejuízo aos carraixitos etn consequência do violento movimento a que são sub- 71 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 21G Meniórías do Instituto Butantan Tomo XVHI metidos. As neoninfas logo após a ecdise, orientadas pelo fototropismo positivo, passam do interior do aparelho, que pennanece ao abrigo da luz, para os tubi- nhos de contenção, situados na parte externa, sendo assim coletadas espontanea- mente nos tubinhos, que são substituídos à medida que contenham um número razoável de exemplares. A montagem do aparelho permite a fácil substituição dos tubos de contenção. Xas melhores condições, a retirada dos tubos de contenção é feita cada 24 horas depois de iniciar a ecdise dos primeiros exemplares. Os tulxjs de con- tenção que contém as neoninfas coletadas espontaneamente, isentas de pêlos ou outros detritos, são fechados, numerados e colocados nos tulxjs de proteção comuns, sob a camada de areia umidecida. onde então permanecem à espera do momento projucio à alimentação. Fic. 28 Aparelhos para criacâo dc ninfas e adoltos cm frande quantidade. A fotografia e o de.ara o exterior. Travassos & A. Vallejo-Freire Criação artificial de Amblyomma cajennense. 217 Para trabalhos a temperaturas mais elevadas, quando se deseja apressar a evolução dos Ixorimcnto 021, largura 0.14. (Coolej', R. A. & KohI.s, G. M.) (JI). Alimentação infetante das ninfas Período dc espera. Conto vimos anteriormente, a.s neotiinfas são colecio- nadas em nútncro ade<|itadn tios tubinhos tlc contenção e tiiantidas etn geral à temperatura do lalxiratório até decorrer o tempo de esjtera neces.sário à aliitien- tação.- Ainda aqui, do mesmo nimlo que jtara o caso das larvas, a quitinização das patas das neoninfas. avaliada pela cór pardacenta que aprcsetitam, é, sem dúvida, um bom indice i>ara avaliar o momento adequado à alimentação das ninfas. Quando a quitinização é verificada cm cérca de 100% das neoninfas, elas são co- locadas nos coelhos. Além disso, devemos tomar como ponto dc refêréticia a me- nor repleição das neoninfas que decorre do jejum a que são submetidas e que pode ser avaliada pelo seu menor diâmetro (as neoninfas se mostram mais chatas) c niaior transparência. .\ temperatura do lalviratório pode-se calcular eitt 30 — -10 dias ésse periodo de espera, sendo preferível, quatido se visa criação cm larga escala, pecar {tela discreta dilatação desse perioelo. a diminui-lo, pois os resultados percentuais dc rendimento são ligeiramente maiores. 73 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 218 .Meniórías do Instituto Butantan Tomo XYHI Técnica dc alimentação. — A técnica empregada para alimentar ninfas é, na rotina, a mesma usada para aIimenta(;ão de lar\as, isto é, são colocadas em orelhas de coelhos infetados e estas envoltas pelos saquinhos de organdi protegidos contra dilacerações pelo protetor de couro. Também outras técnicas podem ser empregadas, mas sem maiores vantagens sôbre as acima assinaladas. Assim, podem-se utilizar, por e.xemplo, coelhos depilados no tronco e abdomem, protegidos com uma camisa de organdi fixada nas extremidades com esparadrapo e. por cima desta uma tela de arame fino Fic. 29 Ninfa» de AmbljQmma fújenmciw. ajustada ao corjx) do animal. Êsse processo tem a vantagem de oferecer maior superficie à alimentação dos I.xodidas, que não se aglomerant tão intçp^menie como acontece quando são colocados nas orelhas. Este método, entretanto, afasta-se da técnica standard, necessita da confecção de novos ajiarelhos e. sobre- tudo, exige manipulação fóra da mesa de proteção, não sendo, jwrisso. adotado entre nós. Outro dispositivo que pode ser empregado é o usado para a alimentação de adultos (vide “Técnica de alimentação de adultos”). A manipulação das ninfas requer maiores cuidados do que a de larvas- Tratando-se de I.xodidas já infetados na fase lar\'a!, podem transmitir a infecção 74 J. TiiwAssos & A. Vallejo- Freire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 219 ao homem. Porisso, toda e qualquer manipulação deverá ser feita sempre nas mesas de proteção, com os auxiliares protegidos pelas lu\’as adequadas, obedecendo rigorosamente à técnica standard. Os coelhos utilizados para alimentação das ninfas são mantidos nos compar- timentos isolados do biotério pelo espaço de 8-10 dias, até a colheita das meta- ninfas. Colheita das nietaninfas. — As metaninfas (ninfas alimentadas) são colhi- das das orelhas dos coelhos de idêntico modo ao das larvas alimentadas. Os animais sacrificados por pancada na cabeça, são mantidos no biotério pelo espaço de 3-4 horas até se verificar a coagulação do sangue no animal. Cortam-se as orelhas pela base por meio de tesouras e, uma vez numeradas, são levadas em bandejas para a mesa de proteção, onde são manipuladas. Aber- tos os saquinhos de organdi, as ninfas são colecionadas em tamises laradores. As que ainda estiveram fi.xadas às orelhas são despregadas por meio de manobras delicadas com uma espátula. Após cuidadosa lavagem strf) jacto dágua corrente, são le%’adas a secar em estufa a 37°C ou mesmo com auxilio de ventiladores. Terminada esta fase, procede- se à distribuição nos tubos de proteção (50 a 70 para os pequenos e 2500 a 2000 nos grandes). Os recipientes de dupla proteção contendo as metaninfas são levados à estufa, onde são retidos até se verificar a 2a. metamorfose com a eedise dos adultos. 5. Fase adulta — Alimentação estimulante Periodo prévio i eedise de adultos Êste periodo é o que precede a segunda metamorfose, isto é, a passagem da fase de ninfa para a de adulto. Compreende o tempo que decorre entre o fim da alimentação das ninfas (metaninfas) até verificar-se em um lote a saida dos primeiros exemplares adultos. Os resultados obtidos nas verificações feitas com 50 lotes de metaninfas estão resumidos no quadro abaLxo. Foram estudados 2.500 exemplares, pois cada lote de metaninfas contou com 50 unidades. O periodo prévio à eedise ^•ariou entre 9 e 12 dias apenas. Na maioria dos lotes o inicio da eedise ocorreu no 11.® dia, quando em aproximadamente 44^ dos lotes se observou saida dos primeiros exemplares adultos. 75 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 220 Memórías do Instituto Butantan Tomo XVIII Período prédio à ecdiie Temperatura 30 — de adultos 32*C X.* de dias X.* de lotes % 5 13 26 6 23 46 7 9 18 s 4 8 9 1 2 Total 50 Período próprio i ecdise Temiieratara 30 — de adultos 32*C X.* de dias X.* de lotes s 9 8 16 10 17 34 11 22 44 12 3 6 Total 50 Período próprio à 2.* metamorfose Nas obser\’ações feitas com os mesmos lotes da experiência anterior pôde-sc concluir que o período próprio à ecdise de adultos mantidos em temperatura entre 30 e 32®C oscilou entre 5 e 9 dias. Em 23 lotes de Ixodidas a saída dos adultos se processou durante 6 dias. 2.* metamorfose Si computarmos todo o período de tempo necessário à verificação da 2a. metamorfose, isto é. o tempo decorrido entre a alimentação das metaninfas e a ecdise de todos os exemplares contidos em cada lote, verificamos que para a obten- ção da 2a. metamorfose são necessários de 14 a 19 dias, a maioria necessitando 16 e 17 dias para completa evolução, como se verifica no quadro abaixo. Xa prá- tica. portanto, os lotes de metaninfas devem permanecer 20 dias na estufa regulada entre 30 a 32®C para se obter a ecdise de Amblyoinma cajenncnse adultos. 2.* Metamorfose — Temperatura 30 — 320C X.* de dias X.* de lotes íi 14 1 2 15 6 12 16 21 42 17 12 24 18 5 10 19 5 10 Total 50 76 J. Tr.\vassos a a. Vallej o- Freire — Criação artificial de Ámblyomma cajennense. 221 Rendimento Os rendimentos encontrados neste lotes de Ixodidas foram bastante satisfatórios sob o ponto de vista prático, quando se utilizaram temperaturas variáveis entre 30 e 32®C. Precisamos, no entanto, novamente frizar aqui, que a estas temperaturas necessário se toma ir retirando os adultos de junto das outras ninfas ou detritos, pois não é conveniente mantê-los a estas temperaturas. A utilização dos aparelhos que pennitem a seiiaração natural dos exemplares que se vão libertando dos detritos, pennite obter de maneira simples esta separação diária. Em mais de 60^ dos Ixodidas observados nos diferentes lotes, o rendimento variou entre 80 e 90%, o que consideramos bastante satisfatório. Resumimos no quadro seguinte as percentagens obtidas quanto ao rendimento : Rendimento durante a 2.* meUmorfo*e. Temperatura 30 — 32*C N.» He lo(r« % Entre 30 e 50 3 6 > 50 e 60 2 4 » 60 e 70 5 10 > 70 e 80 7 14 » 80 e 90 29 58 » 90 e 100 4 8 50 100 A evolução de Amblyomtna cajennense no transcorrer da 2a. metamorfose pode ser muito mais demorada quando as metaninfas pennanecem à temperatura ambiente do laboratório até a eedise dos adultos. Em observações feitas com lotes de metaninfas colhidas na mesma ocasião das utilizadas na experiência anterior e procedentes dos mesmos coelhos, verificou-se um rendimento praticamente nulo, sendo minima a quantidade de adultos obtidos e a perda superior a 80%. Durante os meses mais frios do ano (junho, julho) obser\-ou-se um periodo prévio à eedise dos adultos rariável entre 23 e 60 dias, com grande irregularidade entre os diferentes lotes, sendo que na maioria os primeiros e.xemplares adultos foram vistos entre o 35 e o 45 dias após a colhe’ta das metaninfas. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 222 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Uma segunda experiência foi le^■ada a têrmo com outros 50 lotes de meta- larvas colhidas a 1 1 de outubro e observadas durante outubro e novembro. Foram os seguintes os resultados obtidos; Periodo prévio k cedite de adultos. Temperatura ambiente (Meses: outubro e ix>Temtro) N.* de dias N.* de lotes a 23 17 34 24 17 34 25 5 10 26 6 12 27 — — 28 2 4 29 1 2 30 1 2 Total 50 Período próprio à ecdise — Temperatura ambiente (Meses: outubro e oorembro) X." de dias X.* de lotes % 10 1 2 11 3 6 12 8 16 13 4 8 14 9 18 15 6 12 16 2 4 17 2 4 18 5 10 19 6 12 20 4 8 Total 50 Comparando êstes resultados com os obtidos nas experiências feitas à tem- peratura de 30 — 32^. verifica-se grande diferença no número de dias necessá- rios para a 2a. metamorfose. temperatura constante de 30 — 32®C, o período prévio à ecdise de adultos oscilou entre 9 e 12 dias, enquanto que nos lotes mantidos à temperatura ambiente do laboratório nos meses de outubro c novembro, o inicio da ecdise só foi verificado a partir do 23 dias da colheita das ninfas alimen- tadas. Para o periodo próprio à ecdise o mesmo se ohser\a. A 30 — 32°C. a mudança da j)ele se faz nos diversos lotes durante 5 a 9 dias, ao passo que nesta última experiência, entre 10 e 20 dias. Xos meses ile outubro e novembro a média das temperaturas má.ximas no laboratório foi de 25®C e a média das temperaturas minimas de 15°C. Conservação dos adultos destinados ao preparo da vacina medida que os e.xcmplares adultos de Amblyomma cajennensí se libertam do ensx)!- tório e.xterno da fase anterior de ninfa, desem ser coletados e conservados eonveniente- mente até o momento de ser utilizado no preparo da vacina. 78 J. Travassos & A. Valu^jo-Freire — Criação nrtificial cie Arnhlyomma cajennense. 223 Os Ixodidas adultos são cc!rtKluzam com o mesmo lote em uma segunda alimentação, na fase ninfal. Xa fase adulta é sempre aconselhável verificar a presença de riquétsias nos esfregaços feitos com os órgãos internos do carrajjato. liem como avaliar a virulência cjuc apresentam, o que poderá servir de indice prévio do valor antigê- nico provável das vacinas a serem preparadas com êsses Ixodidas. Os esfregaços jKira a pes<|uisa de riquétsias deverão ser corados jwr um dos métodos usuais para a coloração destes micr(M)rgauismos. LMtimamente temos com vantagem dado preferência ao de Machiavello. (jue fornece mais fácil - e raiiidamcntc bõas prqaraçws. .As ritpiétsias apresentam-se coradas em verme’hí). destacando-se facilmente no interior das células coradas em azid. Para controle de infecciosidade procede-se do seguinte modo: Ixodidas retirados dos lotes de carrajMtos adultos, que sofreram a alimentação estimulatUe e a seguir permaneceram 4 ou 5 dias à tem|>eratura ambiente do laixjratório. são dissecados jara a retirada do conteúdo dos órgãos internos. Km gral esteril, com o auxilio de areia de quartzo, faz-se uma fina trituração de mistura com solução fisiológica na proixirção de 1 enf* jxira cada l.xotlida utilizado; centrifu- ga-se jHjr alguns minutos para a retiratla do quartzo e detritos celulares não Ikmii desintegrados e utilÍ7.a-se o liquido sobrenadaute |)ara o preparo de diluições seriadas. Km colaias de cérca de .?00 g injeta-se. i)ela via sul)cutánea, 1 cm* das diluições acima de 1/1.000. usando-se duas cobaias para cada diluição. Para o prejwro das vacinas deve-se empregar lotes (jiiase sempre alta- mente protetoras (Spe.nter e P.arker). O jwso medio dos órgãos de um Ixodida isento da jxirte quitino.sa não ultrapassa em geral 0.01 g. poelos inves- 83 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 228 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI tigadores americanos que trabalam com o Dennacenlor andcrsor.i. Aqueles dire- tamente interessados nos pormenores poderão recorrer aos artigos originais rela- cionados com o assunto; alguns dos mais informativos estão incluidos nas refe- rências no fim dêste trabalho (32 a 34). A vacina quase sempre é elaborada em pequenos volumes e à medida que os exemplares adultos infetados vão sendo submetidos à alimentação estimulante. Habitualmente, preparamos partidas de 500 ou 1000 cm^. A maioria das elabora- ções é feita com volumes de meio litro. quantidade de Ixodidas pode variar entre 1 e 2 exemplares adultos para cada centimetro cúbico do produto final. O número de carrajjatos a ser usado poderá ser avaliado, quer pelo número de doses infetantes encontradas nas diluições do triturado dos Ixodidas do lote utilizado, (juer pelos resultados do valor antigê- nico das |)artidas elal)oradas, determinando-se, então, por experiências repetidas, qual a concentração mais adequada para obter, com regularidade, resultados satis- fatónos. Como norma orientadora pode-se utilizar um carrapato e um quarto ou um carrapato e meio ixira cada centimetro cúbico de vacina. É esta a mesma proiwr- ção u.sada nos lalwratórios de Hamilton e que tem. igualmente, dado Iwns resul- tados e de forma regular, quando se emprega o Amblyomma cajcnnensc. Para o prejxiro de uma partida de meio litro, emj)regamos quase sempre 750 Ixodidas vivos, machos e fêmeas, infetados, isto ê. um carrapato e meio para cada centimetro cúbico de vacina. 1. Trituração, desintoxicação e purificação Preparo dos carrapatos, desinfecção. — Selecionados e separados de detritos ou excreções, os carrapatos são colocados em contacto com solução salina formo- lada a 4%. durante alguns minutos. j>ara desinfeção rápida da parte externa. seguir são repetidamente lavados em água destilada ou mesmo água corrente e colocados em um provete, cobrindo-os com solução de mertiolato de sódio (1 : 1.000), em contacto com a qual devem os carraj)atos permanecer durante 48 horas à temjxjratura ambiente. .V seguir são lavados 2 ou 3 vezes com solução salina formolada a 0.4^ e fenicada a 1.6%. deixando-se escorrer bem todo o liquido, de modo a ficarem apenas úmidos : então, estão prontos para a trituração. Trituração. — .-\ trituração é feita em gral mecânico ou manual, no interior de uma mesa de câmara de proteção (*). com au.xilio de quartzo esteril ou, (*) .\ nic.ara a esintoxicação. Mantida na geladeira à tempera- tura não inferior a 5®C. a susjiensão jxxle ser conservada, sem inconveniente, durante algum tempo, à esi)era do momento ntais apropriado jara .eritoncal, o que é, desnecessário, pois que se trata de virus de jvassagens em coliaias, bem estudado. Quando as testemunhas não apresentarem um comportamento déste tipo, a prova deverá ser repetida. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 232 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI Os resultados são referidos da seguinte maneira, classificando-se as partidas de vacina em quatro graus diferentes: 1 . Vacina ótima — As 6 cobaias são totalniente prot^idas : não apresentam reação térmica durante o período de observação e, sacrificadas, não mostram lesões macroscópicas, caraterísticas da febre maculosa; 2. l'acina bôa — Somente uma cobaia tem reação térmica mais ou menos caraterística, morrendo ou não da infecção. As demais são totalmente protegidas; 3. Vacina regular — Duas entre as 6 coba'as reagem febril- mente, morrendo ou não da infecção, as restantes não têm elevação térmica, nem quando necropsiadas apresentam lesões evidentes de febre maculosa; 4. Vacina sem valor — Mais de duas reagem tèrmicamente de forma caraterística, morrendo da infecção ou apresentando à necropsia lesões caraterísticas. H — APLICAÇÃO DE VACINA. VACINAÇÃO 1 . Dosea As pessoas adultas devem receber três injeções de 2 cm^ pela via subcutânea. Crianças com menos de 10 anos recebem três doses de 1 cm*. É de todo conveniente repetir as vacinações com relativa frequência, prin- ■cipalmente entre indivíduos residentes em locais onde há constante aparecimento de casos de febre maculosa, em consequência da existência de abundante quanti- dade de carrapatos infetados. Nestes casos, a reracinação com 1 ou 2 doses deverá ser feita pelo menos anual — ou, melhor ainda, semestralmente. 2. Reações As reações observadas nas inúmeras pessoas \'acinadas com a \-acina prepa- rada em nosso laboratório nestes últimos anos são relati\'amente benignas, só raramente aparecem indivíduos com sensibilidade exagerada ao material vacinante. sem, no entanto, acarretar conseqüéncias maiores de molde a dificultar a v-acina- ção generalizada. Elias são de ordem local e geral. A reação local traduz-se por edema e eritema. mais ou menos acentuados, .ã reação geral acarreta febre, ge- ralmente pouco acentuada, e, raramente, calefrios e dores pelo corpo. 88 J. Trwassos & A. Vallejo-Fbeire — Criação artificial de Amblyomma cajennense. 233 3. Resultados O julgamento do valor preventivo para o homem, de uma vacina desta natureza, feito em focos, onde os casos aparecem com bastante irregularidade, é sempre dificil, principalmente quando ainda o tempo decorrido desde o inicio da campanha de vacinação preventira não permite esclarecer de modo decisivo até onde a vacinação foi efiaente. Os dados obtidos pela aplicação da vacina de Spencer e Parker, nos Estados Unidos e entre nós durante alguns anos são l)astante animadores, porém confirmam que proteção satisfatória só se obtem com vacinações repetidas (35,36). Nos serviços do laboratório desde a ocorrência dos casos fatais nas pessoas do Dr. Lemos Monteiro e seu auxiliar, Sr. Ediso.n Dias, não foram verifica- dos novos acidentes. .Acreditamos que realmente a vacinação e revacinação cons- tante dos técnicos tenham concorrido de maneira eficaz para éste fato. São fá- ceis de compreender as inúmeras ocasiões de infecção em trabalhos desta natureza, por mais rigorosas que sejam as precauções tomadas, em conseqücncia da inten- sidade do trabalho com a constante manipulação de material muito virulento. Todos os funcionários ocupados nos trabalhos de febre maculosa são vacinados pelo menos cada seis meses, recebendo três inoculações de 2 cm* cada, por oca- sião da vacinação semestral. I — BIBLIOGRAFIA 1. 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A maior sobrevida do rato infantil adrenoprivo cm dieta apropriada é de 10 dias. Segundo BcLBRtxo (1), jiatos adrenoprivos sobrevivem cm média aj)e- nas 11 horas. Herrick e ToR.sxvEtr (2) operaram pintos Leghorn e a sobrevida dos adrenoprivos totais, sem tratamento substitutivo, foi de 15 a 16 horas. Ersxt- xoxi (3) estudou Ixrm o problema nos batrãtiuios; a sobrevida dos sa]H)S ointrados bilateralmente foi. em média, de 14 dias, sendo m.aior no inverno c menor no verão. Estes datlos mostram o interesse da obscrv.ação do que jxxleria ocorrer nos ofidios. Pertenceriam esses vertebrados, quanto ao tenqw de sobrevida dcjxHs da ablação das adrenais, ao grupo das aves ou ao dos mamiferos e anfi- bios ? Xesta nota comunico os resultados observados depois da o]K;ração de 30 exemplares adultos de jwrelheiras (Pliilodryas, sp.) sendo 24 fémeas e 6 machos, recém-chegados a êste Instituto c cm condiqiles ajarentes de Ijoa saúde. Empre- guei essas colubrideas não peçonhentas, ao invés das crotalideas. uão só jK‘Ia maior facilidade de manejo mas. sobretudo, porque aquelas possuem adrenais mais cur- tas e menos afi’adas e jior isso mais facilmente extirpáveis. MÉTODO OPERATÓRIO .-\ anestesia é feita com éter, primeiro colocando o aninul num recipiente de vidro contendo algodão prèviamente cmliebido no anestésico que depois, no dccur.NO da intervenção, é ministrado por meio de uma jtequena máscara afunilada de folha de Flandres. Uma vez sob narcose a scrjicnte é distendida numa placa de cortiça e o nivcl das duas incisões látero-ventrais, uma superior jxira a adrenal cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 238 Memórías do Instituto Butantan Tomo XYHI direita e a outra inferior para a adrenal esquerda, estabelecido graças à contagem das placas ventrais a partir da cloaca. (*) Fotografias dc uma Parclbcira {Pkylodry^ sp.) fémea. A. Projeto cutânea das adreoais pela contagem das placas a partir da cloaca. A adrenal es* querda corresponde â xona delimitada pelas 35.* e 39.* e a direiU pelas 55.* e 59.* placas ventrais. (Nos machos a adrenal direita fica mais distai, ao nível da 45.* placa ventral). B. Incisões ventrais para mostrar a localização glandular. Aspecto das saturas Utero>ventrais depois de terminada a adrenalectomia (vista dorsal). Nos machos e nas fêmeas a projeção da adrenal esquerda corresponde à superficie cutânea delimitada pelas 35a. e 39a. placas ventrais, em geral ao nivel da 37a. placa; a adrenal direita corresponde ao nivel da 45a. para os machos e da 58a. placa ventral para as fêmeas. (Fig. 1 A). (*) Êste processo de localização visceral nos ofidios pela contagem das placas '\-en- trais e que não vi ainda descrito, deu bom resultado também na pancreatectomia dc jararacas. 2 José Ribeiro do Valle Sobrevida da Parelheira {Philodryas, sp) de- pois da adrenalectomia. 239 A assepsia é relativa. Incisão látero-ventral obliqua acompanhando a direção das costelas e separação das fibras musculares até a cavidade geral. A adrenal é identificável como um órgão esbranquiçado, alongado e próximo à gonada (^'ig. 1 B). Exteriorizados a glândula, os s-asos e tecidos adjacentes, isola-se com cuidado o órgão, ligam-se os pediculos anterior e posterior e suturam-se os ramús- culos venosos transversais que deixam a glândula para desembocarem ou na veia cava caudal (adrehal direita) ou na mesma veia cava ou na veia aferente renal (adrenal esquerda) (4). Em alguns exemplares, as veias adrenais eferentes são curtas e, então, o órgão se apresenta muito acolado ao tronco venoso. Nestas condições, o isola- mento e a extirpação glandulares, sem hemorragia, são bastante dificultados. De qualquer modo a veia cava e a veia eferente renal precisam ser poupadas. Os 2 ou 3 filetes arteriais, que irrigam a adrenal provenientes da aorta, ficam livres nas suas ramificações no processo de descolamento do tecido conjuntivo, não exi- gindo, por isso, ligadura particular. Rc{X)stos os ói^ãos na cavidade geral, faz-se a sutura com “cat-gut” do plano muscular e da pele (Fig. 1 C). Si a operação decorrer bem. as condições do animal no dia seguinte são satisfatórias. .■\ntes e depois da operação as parelheiras são mantidas em gaiolas teladas com vasilha de água e alguns camundongos para eventual alimentação espontânea. Seguindo o método que ficou descrito foi feita a adrenalectomia unilateral em 12 e a bilateral em 18 parelheiras (•) como base para o estudo preliminar do assunto. RESULTADOS Nestas experiências cuidei apenas da questão técnica e da sobrevida dos animais operados, deixando para estudos ulteriores o problema do metabolismo do sódio e do potássio e a influência do tratamento pelo homtônio cortical. Das 12 parelheiras adrenoprivas unilaterais, 5 sobreviveram mais de 20 dias e nas outras 7 a sobrevida média foi de 7 dias. Nas 18 parelheiras adrenopris^as totais, apenas 2 sobreviveram mais de 20 dias, respectivamente 32 e 45 dias, mas cm ambas a autópsia mostrou restos glandulares suspeitos no local da operação. A sobrevida média das restantes foi também de 7 dias. No grupo de adrenalectomizadas unilateralmente a maior sobre\nda observada foi de 80 dias, sendo a mortalidade de dentro dos 12 primeiros dias depois da interx-enção. No grupo de adrenopriras bilaterais a mortalidade em igual período foi de 835*^. Si forem excluidas deste último grupo as duas parelheiras nas quais eu observei, à autópsia, restos glandulares no local da operação, então a mortalidade dentro dos 12 primeiros dias sobe a 94 Dentro de 20 dias seria de 100%. (•) Agradeço ao meu antigo auxiliar Francisco Ribeiro Gomes a valiosa ajuda técnica prestada no decorrer dèste trabalho. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 240 Memórias do Instiluto Butantan Tomo XVIII Diante dos resultados observados e à semelhança do que ocorre nos outros vertebrados, a adrenal dos ofídios é também indispensável à vida. O período de sobrevida das parelheiras adrenoprivas bilaterais parece em tôrno de 12 dias. Outras experiências, no entanto, se fazem necessárias para conclusão definitis-a e melhor análise da questão abordada nesta nota. De qualquer modo. quanto ao tempo de sobrevida após a ablação das adrenais, os ofidios pertencem antes ao grupo dos mamíferos e anfíbios, com sobrevida de alguns dias, do que ao grupo das aves com sobrevida apenas de algumas horas. RESUMO Nesta nota é descrito um método de adrenalectomia dos ofidios e registrado o periodo de sobre^da de 30 exemplares adultos de Philodryas sp. sendo 12 operados unilateralmente e 18 adrenoprivos bilaterais. A mortalidade dentro dos 12 primeiros dias depois da operação foi de para o primeiro e de 83% para o segundo lote. Os ofidios. quanto ao tempo de sobrevida depois da ablação das adrenais, pertencem pois ao grupo dos mamíferos e dos anfíbios e não ao grupo das aves. ABSTRACT » A method of adrenalectomy in snakes, after localization of the glands by counting the ventral scales, is described and the sur\-ival time of 30 adult Philo- dryas sp.. 12 unilaterally and 18 bilaterally operatcd, was obser\'ed. The mortality in the control group was 58% within the first 12 days following the operation. .^fter total adrenalectomy and within the same period, the mortality was 83%. Excluding 2 animais on account of fragments of adrenal tissue at the site of the operation, 100% of the bilaterally adrenalectomized snakes died within 20 days. Ophidia belong therefore, as far as the survival time after adrenalectomy is concemed, not to birds but to mammalia and amphibia groups. BIBLIOGRAFIA 1 . 2 . 3 . 4. Bülbring, E. (1937). The standardiration of cortical extracts by lhe use of drakes. J. Physiol^ 89, 64-80. Hcrriek, E. H. & Torstifit. O. (1938). Sotne cffects of adrenalectomy in fowls. £>»- docrinology, 22, 469-473. Fustinoni, O. (1938). La supervi vencia de los sapos suprarrenalectomizados. Rn. Soc. Arg. fiíoL 14, 40-48. Jungueira. L. C. V. (1944). Nota sobre a morfologia das adrenais dos ofidios. Rrv. Bros. Biol., 4, 63-67. (Recebido para pabHca<Ío em 20 de janeiro de 194f). 4 NOTA SÔBRE A HEMATOLOGIA DOS OFÍDIOS ÍNDICES DE WINTROBE DA BOTHROPS JARARACA POR J. R. VALLE & J, LEAL PRADO (^Do Laboratório dc Endocrinologia do Instituto Butanton, São Paulo, Brasil) Em 1934, WiXTROBE (1) determinou as ^ariaçõe5 de tanunho e o teor de hemoglobina dos eritrocitos de vários vertebrados partindo do número de glóbulos vermelhos por mm^ de sangue, da taxa de hemoglobina em gramas por cento e da relação percentual plasmo-globular. Os valores, hoje conhecidos por indices de WiNTRCBE, expressam; 1.®) o volume médio da hematia em micra cúbicas chamado volume corpuscular médio (V.C.M.) ; 2.®) o teor de hemoglobina do eritrocito em micromicrogramas, ou hemoglobina corpuscular média (H.C.M.) e 3.®) a concentração média percentual de hemoglobina em cada glóbulo vermelho ou cencentração média de hemoglobina corpuscular (C.M.H.C.). Dentre os ofidios. examinou aquele autor o sangue de 2 Helcrodoti contortrix, 2 Eulanio sirlalis e 1 Xatrix sipedon, encontrando de 500 a 1390 mil hematias por mm^, 3.7 a 11.3 g % de hemoglobina, 13.3 a 37 ^ para a relação percentual plasmoglobular, 266 a 465 u* para o V.C.M., 74 a 131 mcromicrogramas jxira o teor de hemoglobina corpuscular c. finalmente, 28 a 31% para a concentração média de hemoglobina no glóbulo, sem a correção devida ao volume ocupado pelo núcleo. Xo decurso de experiências usando serpentes colubrídeas e crotalideas como material de estudo, tivemos ocasião de dosar a hemoglobina no sangue da jararaca e aproveitamos, então, a oportunidade para calcular aqueles indices e verificar si nestes vertebrados os valores encontrados apresentavam diferenças ligadas ao sexo. M.-\TERIAL lE MÉTODOS Elmpregamos 26 exemplares adultos de Bothrops jararaca, 12 machos e 14 fêmeas, em condições de saúde aparentemente boas e recém-chegados ao serpen- tário do Instituto. Dentro dos primeiros 10 dias de permanência no Laboratório colhia-se o sangue por punção da aorta, acessível depois de incisão \*entra1 na cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 242 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVni união do terço médio com o terço posterior do animal. Xão se empregou anes- tesia; a serpente era fixada com os devidos cuidados, distendida numa prancha de cortiça, e, depois da colheita, sacrificada por decapitação. O \’aso era alçado por meio de um fio de linha e a agulha introduzida contra a corrente sanguínea. G)lhiam-se de 2 a 3 cm^ de sangue, que eram transportados imediatamente para um tubo de vidro contendo oxalato de potássio na diluição final, após conveniente agitação, de 0.2 g *jc. Todos os exames foram feitos dentro dos tempos recomendados por OsGOOD, Haskixs * Trotm.an (2). a) Hematócríto. Utilizamos segmentos de 10 cm de pipetas usadas de 0.1 ml. .Aspira-se o sangue bem misturado até á altura aproximada de 7 cm e fecha-se o aparelho com uma laçada de borracha flexível que obtura simulta- neamente as duas extremidades. Depois de 45 minutos de centrifugação a 2500 r.p.m., a leitura é feita contra papel milimetrado e o resultado expresso em volume globular por cento. b) Hemoglobina. A determinação de hemoglobina foi feita a partir da dosagem do ferro total em 1 ml de sangue pelo processo de Pokder (3) ligeira- mente modificado. c) Contagem dos critrocitos. Foi feita a contagem em câmara de Buehkek com o sangue diluido a 1/200 ou 1/100 em solução de cloreto de sódio a 0.6 .\ contagem era direta ou indireta em cópia microfotográfica do retículo, seguin- do-se para i.sto. em linhas gerais, o processo descrito por Lid.k * Gcc.berg (4). d) Volume corpuscular medio. Conhecidos o número de eritrocitos por mm^ e a relação plasmo-globular é fácil calcular o volume eritrocítico médio. e) Hemoglobina corpuscular média. O teor de hemoglobina em gramas por cento e o número de glóbulos vermelhos no mesmo volume de sangue são os dados para se calcular o teor médio de hemoglobina corpuscular. f) Concentração tnédia percentual de hemoglobina corpuscular. É encon- trada multiplicando por 100 o teor de hemoglobina em gramas por cento e dividindo o produto pela relação plasmo-globular. O grau de dispersão dos ralorcs cm tôrno da média e o érro padrão foram calculados por meio das conhecidas fórmulas c r= \'-dVn-i e E = "/VouT RESULT.ADOS Os resultados obtidos vém sumariados na Tabela I e referidos conforme o sexo dos exemplares examinados. Xa última coluna horizontal figuram os valores médios gerais e o grau de dispersão de cada lun. A média geral para a relação 2 244 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII plasmo-globular foi de 24^o com um desvio de ^ 4.6^c. O teor de hemoglobina variou de 5.2 a 12.1 gramas sendo a média e o desvio de 7.9 — 1.7 g O número de glóbulos vermelhos nos dois sexos variou de 315 a 825 mil, sendo a média e o desvio de 566 zíz 128 mil eritrocitos por mm^ de sangue. Os valores para os indices de Wixtrobe foram : volume corpuscular médio, de 311 a 635 p*, média 449 i 86 u®; hemoglobina corpuscular média, de 112 a 225 yy. média 141 ^ 25vy; e concentração média de hemoglobina corpuscular de 26 a 39^, média 32 i 3 . 3 ^. COMENTÁRIOS Para facilidade de comparação damos na Tabela II as médias dos valores encontrados por Wixtrobe nos 5 exemplares de ofidios que estudou e aquelas que obtivemos nas 26 jararacas examinadas. TABELA 2 GHCPOS Hematr^ frito Hemogto* bina K •# Gl. vermelho* (milhares f por mm^ V.C.M. H.C.M. XV C .M.H.C.* *. Valores médios se- gundo os dados de Winlrobe 25.8 7.7 800 330 98 30 Valores médios en- contrados para a Dothrops jararaca 24.0 7.9 566 449 141 32 * Sem « correrão drviUa ao volume do núcleo. As médias que mais se afastam são as relativas ao número de glóbulos ver- melhos, ao volume corpuscular médio e á hemoglobina corpuscular média ; as duas últimas, conseqüentes da primeira. Em experiências anteriores. Leal Prado e Miller de Paiva (5) fizeram contagens de eritrocitos no sangue de 25 jararacas e de 10 parelheiras (Philodryas sp.) encontrando os extremos de 240 e 965 e a média de 516 mil glóbulos vermelhos por mm*, com um desvio padrão de 188 mil. Embora examinando exemplares de duas famílias distintas — crotalideas e colu- brideas — a média referida é mais próxima da encontrada no presente estudo do que da calculada a partir dos dados de Wi.xtrobe. A dosagem de hemoglobina feita de maneira sistemática, ao que nos consta, pela primeira vez nestes vertebrados, dado o interesse das observações registradas, constituirá trabalho a parte de um de nós. 4 J. R. Valle & J. Leal Prado — índices de Wintrobe da Bolhrops ja- raraca. •J45 Quanto à diferença das médias conforme o sexo vemos na Tabela I que ela é apreciável sómente em relação ao pêso dos animais. A média ponderai dos machos é bem inferior á registrada para as fémeas e a aplicação da conhecida fórmula m-mW* E- -f- E’- deu o resultado 3.4 que mostrou ser a diferença estatisticamente significatiA-a. O mesmo não acontece, porém, com os demais elementos da tabela. Em outras palavras, os valores e os indices registrados não são significativamente diferentes conforme o sexo dos animais e.xaminados. Mensurações preliminares, pelo processo da ocular micrométrica, em esfre- gaços corados pelo Leishman, de sangue de jararacas e parelheiras, deram para as hematias elípticas e nucleadas destes ofídios, as médias de 20 e 11 p respecti- A^amente para o maior e o menor diâmetros. A superfície de uma face do glóbulo, admitindo-se com Wintrobe que o eritrocito seja um pequeno cilindro, será de l72\i-2 e a espessura, dividindo o volume corpuscular médio de 449 p® pela sui^er- fície, de 2.6 p. Medindo o maior e o menor diâmetros do núcleo, considerada a sua espes- sura igual á do glóbulo, poude Wintrobe determinar o volume nuclear e deduzi-lo do volume globular, para então calcular a verdadeira concentração média de hemoglobina corpuscular. Si empregarmos a correção média de 5^, usada por Wintrobe nos ofídios que examinou, teremos para a C.M.H.C. na jararaca o A^alor de 37%. Como ficou bem assinalado pelo autor norte-americano, embora os A-alores e os indices hematológicos A-ariem muito entre os vertebrados, a concen- tração média de hemoglobina corpuscular é muito constante desde Cycloslomata até MaminaUa, inclusÍAe na sub-ordem Of'liidia estudada no presente trabalho com maior casuística. É claro que os A-alores numéricos mencionados têm mero caráter aproximativo, representando, no entanto, os primeiros dados jiara o estudo da hematologia, inclusive das propriedades da hemoglobina, e a compreensão da fisiologia da res- piração em tão importante grupo zoológico. RESUMO O sangue da Bolhrops jararaca, examinado em 26 exemplares adultos, 12 á e 14 9 , contém, em média, 566 mil hematias por mm® e 7.9 gramas de hemoglobina por cento. O volume globular em relação ao plasmático é de 24%. O volume médio de um eritrocito, a hemoglobina corpuscular média e a concentração média de hemoglobina corpuscular são. respectÍA-amente, 449 micra cúbicas, 141 micro- microgramas e 32%. Não se r^strou diferença estatisticamente significatÍA-a nestes A-alores, con- forme o sexo dos animais examinados. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 246 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII ABSTIL\CT Hematological data of Bothrops jararaca The blood of 26 B. jararaca, 12 males and 14 females, was examined. Red blood cells counts, hemoglobin concentration and hematocrit values were deter- mined and from these data, according to Wintrobe, the mean corpuscular volume (C.V.) in cubic microns, the mean corpuscular hemoglobin (C.H.) in micromi- crograms and the mean corpuscular hemoglobin concentration (C.C.) in percent, were calculated. The results are summarized in the table below, where the mean and the Standard denation are given. Groops Average bodjr wci^t ff llerootocrít % Hemoglo- Irin ff % R.B.C tbousand ^ mtn* C.V. u’ C.H. YY C.C. (•) % 12 ' ■' 145 ±'43 25 ± 4.6 8.1 ± 1.9 606 ± 155 434 ± 91 135 ± 22 31 ± 3.5 14 9 265 ± 120 24 ± 4.5 7.7 ± 1.4 530 ± 88 460 ± 75 145 ± 28 31 ± 3.2 26 c'? 209 ± 116 24 ± 4.6 7.9 ± 1.7 566 ± 128 449 ± 86 141 ± 25 32 ± 3.3 (*) Witbouth nudear correctioo. Although a statistical significant difference has been obser\-ed for the body weight depending on the sex, there is not such a correlation in regard to the hematological data here prcsented. BIBLIOGRAFIA 1. trintrobe, J/. M, (1934). Variations in súc and hemoglobin content oi erythrocj-tes in the blood of «rious vertebrates. Folia haematol^ 51, 32-50. 2. Osgood, E. E., Haskins, H. D. & Troltnan, F. E. (1931). Uniform System of hema- tologic methods for use with oxalated venous blood. J. Lab. clin. Mtd., 16. 476- 481. 3. Ponder, E. (1SM2). Relation between red blood cell density and corpuscular hemoglobin concentration. /. biol. 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Appro.xi- matelly 1 g of fresh glands are so secured. The, in a mortar ground glands, are then cxtracted w-ith 0.1 N HCl (1 ml/100 mg of glands) and filtered. The filtrate neutralized with 10% sodium acetate to congo red indicator. Heatcd for 5 minutes and filtered hot. The filtrate may be adjusted by dilution with distilled water to a 1% solution, i.e., the equi\-alcnt extract of 10 mg per ml. Control extracts of ovaries and liver of the same snakes were prejiared essentially by the same known method of Folin et al. (3). Concentrated and diluted extracts have been used for the assay. 2) Biological assay: The pressor activity of the extracts was assayed in dogs with complete abolition of all central nervous functions. This is obtained aceording to the method of G.^LVÃo and Pekeira (4) by injecting in the “cisterna magna”, under 50 cm Hg pressure, a 20% sodium chloride solution. Artificial respiration and hcating are used. The carotid artery is connectcd by rubber tubing to a Hg manometer and the extracts injected into the femoral vein. The action of the extracts upon the smooth musculature "in vitro” was studied with duodenal strips and uterine horns of adult rats. The smooth mus- cles were immersed in 50 ml of oxygenated Ringer-Locke solution, at 38°C. and their longitudinal contractions registered in the usual manner. cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 248 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVIII In both instances, for the pressor activity in dogs and the inhibitory eftect in rats, we tested also a known solution of adrenaline (*) as a basis tor the approximate quantitative bio-assay of the mentioned extracts. RESULTS The diluted extracts of the ophidian adrenals, injected intravenousiy, rose the blood pressure of dogs in all the experiments performed. The intensity and the duration of the effect were proportional to the amount administered (Fig. 1, A and C). In one instance the increase of the carotidean pressure, following the injection of 1 ml = 2 mg of adrenals, ^\•as as high as that induced by a dosis of 5 y of adrenaline (Fig. 1, C and E). This means, therefore, a hormonal concentration of 2.5 mg of adrenaline per gram of fresh tissue. However, in another test, a low concentration of 0.5 mg/g tvas obtained. Xone reaction followed the administration of the control extracts (see Fig. 1, B). An e.\ample of the inhibitorj- action of the extracts of adrenals of snakes ujwn the intestinal and uterine contractions is shown in fig. 2. A and B. A dosis of 0.5 ml = 10 mg of an adrenal e.xtract causes a fali of the duodcnal tonus as strong as that of 50 y of adrenaline (Fig. 2, A.). This is equis-alent concentration of 5 mg of adrenaline per gram of adrenal gland. We prefer, however, as more reliable, the approximate content determined by the dog method. Studies conceming the adrenin content of adrenals of mammals have been summarized by Bomskov (5). The average vallues reported are from 0.2 to 4.2 mg of adrenin per gram of adrenal tissue. As the \-alues above mentioned for the ophidian adrenals varied from 0.5 to 2.5 mg/g. it seems that the approximate adrenin concentration in adrenals of snakes can be compared with those data for mammals. CONXLUSIOX Extracts of adrenals of Bothrops jararaca increased the blood pressure of dogs with complete abolition of the central nervous activities and inhibited the spontaneous contractions “in \-itro” of duodenal and uterine strips of rats. These Peripherie actions, analogous to those observed after a known adrenaline solution, were not obtained with control extracts of ovaries and liver of the same donors. The approximate adrenin content of the adrenals of those ophidia was found to be 0.5 to 2.5 mg/g. This adrenin concentration in snake’s adrenals does not seem to be inferior to the known values for the same organs of mammals. (•) Adrenaline hydrochloride. Parke Davis & Co. 2 J J. R. Valle i A. Porto — A note on the adrenin conlenl of lhe adrc- nals of snakcs. 249 Fic. 1 Do|r. 18 Vk. Complete abolítion of the central nervou» activities folknrinj; the císternal injectton of 20% sodium chloríde under 50 cra Hk (Time intenrait 30*). A. 1 ml = I mg of an adrenal extract of B. jararaca, effecttve. B. 1 ml =: 1 mg of an orarian extract of B. jararaca, ioeffective. C. 2 ml = 2 mg of the $ame adrenal extractf as in A. D. and E. 3 y and 5 y adrenaline b^rochloride. Note the comparable responses in A and D, C aml £. RESUMO Extratos de adrenais de jararacas adultas, de anilx)s os sexos e sacrificadas por decapitação, elevam a pressão arterial do cão, com o sistema nervoso central destruido conforme a técnica de Galvão e Pereira, e iniliem as contrações espon- cm SciELO 200 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVni Fic. 2 l«ongttti<{inal spontancous contraction^ “in vitro" of duodcnum and uteruj» of an aduU ra:. (Time intcr>*als 5**). A. Inhihttion and fall of tonus of tbc duodenum followini; tbc additúm to thc nutrí* ti\-e fath of 0.5 ml = 10 nifc, 1 ml =: 20 mg of an adrenal cxtract of B. jararacc and of 50 y of adrcnaline bj-drochloridc. B. Inbihition of tb« uteríne contractions with 0.5 ml = 10 mg of tbc Minc adrenal cxtract a5 tn A. tâücas, “iii vitro", cio duodeno e do útero do rato. Estes efeitos periféricos, não observados coni extratos testemunhas de ovário ou de figado dos mesmos doadores, foram comi)arávcis aos obtidos (X)m uma solução de cloridrato de adrenalina. O teor das adrenais dos ofidios cm adrenalina seria de 0.5 a 2.5 mg por grama de glândula fresca. Esta concentração não parece, pois. inferior àquela referida por diferentes autores para os mesmos órgãos de niamifcros. KEFERENXES 1. Junqucha. L. C. (104-t). Xota sóbre a morfologia das adrenais cios ofidios. Rrz'. liras, fíiohqia. 4. 63-67. 2. I allc, J. R. (1945). Sobrtvida da parelhtira (PItilodryas sp) depois da adrcnaltctomia. Memórias do ínstDulo Butantan, in f>ress. 3. Fclin, O., Cannon, I! . B. & Denis. II. (1913). .-X ncw colorimctric metbod for tbc dctcrniinatk n of crpincphrir.e. J. Biol. Chem., 13. 477-483. •1. Gahvo, P. E. &■ Pereira. J. (1943). Estudo das condições para a compkla destruição de tcxlo o sistema nervoso central nos mamiferos. .-Irq. Inst. Biolói/ico São Paulo, 13. 1-8. í. Bomskov. C. (1939). 1, pp. 592-595. Methodik der Hormonforschung. Geor>j Thieme, Lei^ziit.. Vol. (Recrived for publication ín Januarr, 1915). 4 I NOTAS SÔBRE ALGUMAS DIFERENÇAS SEXUAIS NA FOLIDOSE DE BOTUROPS ALTERXATA D. & B.. 1854. E SUA VARIAÇÃO GEOGRÁFICA. (*) POR P. E. VAXZOLIXI e J. H. FERREIRA BRAXDAO (Do Laboratório d{ Parastlología do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Representam estas notas os primeiros resultados obtidos no decurso de pes- quisas sôbre as variações da folidose na Unitú {B. alternata), visando estabelecer de modo preciso esta face da questão do dimoríismo sexual, t)em como lançar alguma luz sôbre a sua importância na solução do problema mais árduo da esjíecia- ção. Em cuidadosa revisão da espécie Bothrops alternata, dá .^mar.^l (1934) grande ênfase às variações da folidose, contrapondo-as fortemente à diferenciação geográfica, segundo se depreende dos seguintes trechos do seu trabalho (pg. 172) : “A observação atenta dêsse Quadro I, jiarticularizada aos indivíduos de cada sexo dentro da mesma distribuição geográfica, dá margem às seguintes indi- cações : Ia. as v-ariações da folidose são mais acentuadas entre os indivíduos de sexo oposto na mesma localidade do que entre os do mesmo sexo em localidades di- versas ; 2a. não existe, por conseguinte, relação, pelo menos aparente, entre a dis- tribuição geográfica e as \-ariações da folidose nos exemplares, do mesmo sexo, de Bothrops alternata.” E mais adiante: (•) Desejamos consignar aqui os nossos agradecimentos ao Prof. Fl.svio d.k Foxsec.v, chefe da Seqão de Parasitoiogia do Instituto Butantan, onde foi realizado o presente tra- balho; ao Dr. Afranio do Amaral, pelo auxilio de sua valiosa experiência e cessão de dados bibliográficos; ao Dr. Clemente Pereira, do Instituto Biológico, a quem devemos inestimá- vel orienucão, apóio e encorajamento e, finalraente, ao Prof. Otto Btra, atual Diretor do Instituto Butantan, pelas facilidades de trabalho e estimulo que nos proporcionoa 1 V Tabela 1 Dorsais Am. O 0 O O d t P c-‘ P M n' M s" n* p 29.rj97 ± 0.SL5 1.403 33 r^.za i 0.217 14S7 27 I.4T5 4.72S 0.101 - - aP :9.4Õ0 ± (UTl ijsn 10 29,429 ± 0 j70 2495 7 0471 1597 05 1.65S 0.05 Pl’ ISjTI ± 025 « 0.905 14 26j38 ± 0420 0.629 12 2,033 5.792 0.001 - - MG SI.»»* ± o;m3 1.424 12 2S2100 ± OJOO 1500 6 3,167 4.964 0,001 - - C 32,100 ± 05:s 2.7f6 10 3a7ãO i 0.7Õ4 4.S44 8 1550 1564 05 1631 0,05 oRG S3J0S ± 0J46 1.SC4 13 29.167 ± 0,749 3567 6 4.141 5.434 0501 5153 0.05 Tabela 2 {‘'entrais Am. . O o d t P P ■M s.* n* •M n* p 174.121 ± 0569 10.666 33 168,779 - 0566 11.949 27 5543 5.037 0501 - - aP 173.000 ± 055 10,711 10 169.714 ± 1.123 9.906 7 5596 3,192 0.01 - - PP 179.714 ±0444 114*4 14 174546 ± O.SSS 10,474 13 4,969 3595 0.001 - - MG 174.667 ± 0.932 10.424 12 175537 ±1500 15567 6 07«) 0532 0.7 1.474 0.05 C 172500 ± 1.2M 16500 10 169575 ± 1.031 8551 9 4.125 2.27Ò 054 1,929 055 <>RG 17S565 ± l.OSj 13 929 13 171.'9)0 ± l.l."» 12.490 6 7595 4.0*2 0.001 - - Tabela 3 Sub-caudais .\m* X V cT d* d ‘ p P ■M n n' M »• n' p 36519 ± 0526 32 43.615 ± 0.109 3.126 26 7596 11.155 0,001 2,937 051 aP .16.444 ± 1,042 9.77S 9 415*6 ± 0,695 3539 7 7.942 5534 aooi 3.020 0.06 Pl’ 39.643 ± 0.693 6555 14 47,946 ± 0.517 3,474 13 8.203 9.004 aooi 1.997 0,05 MG 35500 ± 0.605 4596 12 44,150 ± 0,596 4.400 6 8,730 7«955 aooi - - C 38533 ±0.726 4.750 9 44575 ± 0532 2568 6 a043 9515 0,001 2.094 056 oRG 38508 ± 0581 4397 13 44533 ± 1539 7,767 6 6525 5^ 0,001 1 1.766 0.06 P. E. Vanzolini i J. H. Ferreira Brandão - Diferenças seuxais na folitluse de Bolhrops allentuta. 253 “O exame conjunto dêsse Quadro II com o Quadro I fornece mais estas indicações : la. as escamas dorsais rariam de 27 a 31 (excepcionalmente 32 ou 33) nos 5 6 e de 29 a 33 (e.xcepciona!mente 27 a 35) nas 9 5 ; 2a. os escudos ventrais variam de 165 a 177 (excepcionalmente 161 a 183) nos á <5 e de 170 a 183 (excepcionalmente 164 a 185) nas 9 9 ; 3a. os pares de escudos subcaudais \-ariam de 40 a 49 (excepcionalmente 38 a 50) nos 5 á e de 33 a 40 (excepcionalmente 31a 44) nas 9 9 .” Desde que a análise estatistica desses mesmos dados de .■Kmaral, feita à luz da Nova Sistemática, nos le\'ara a conclusões um tanto diversas, inclinando- nos a dar grande pêso à variação geográfica, resolvemos encarar êste problema do dimorfismo sexual na folidose de B. aitcrmta dentro de amostras o mais homogêneas possivel, afastando assim, em nossa análise, a influência da diferen- ciação geográfica. il.^TERI.AL E MÉTODOS Utilizamos os dados publicados por .Amaral (e que julgamos desnecessário rever), completados tanto quanto possivel por observações próprias. O material foi distribuido em amostras, seguindo um critério que teremos ocasião de discutir, com mais pormenores, em trabalho futuro. Por enquanto diremos que. depois de reunidos os exemplares segundo as características biogeográ ficas da sua região de origem (isto é, considerando além da proximidade geográfica, a semelhança de aspectos ecológicos) verificamos a propriedade dêsse agrupamento, tendo como base de comparação uma série de e.xemplarcs (amostra aP) de proveniência única (.Araucaria, Est. do Paraná). Consideramos, no presente tralialho, apenas aquelas amostras que nos parecem indubitavelmente homogêneas à luz dos nossos resultados atuais. Constam elas de um total de 142 exemplares, assim distribuídos. Amostra P — 33 fêmeas e 27 machos provenientes da zona leste do Estado do Paraná (.Araucaria, lialsa Nora, Campo Largo, Caraml)ei. Curitilia, lEntre Rios. Fernandes Pinheiro, I.apa, Palmeira, Ponte Grossa, Porto .Amazonas, Rio da Várzea. São José do Pinhais). Amostra aP — 10 fêmeas e 7 machos de .Araucária, Est. do Paraná (con- siderados também na amostra anterior). Amostra pP — Uma ninhada de 27 filhotes (13 machos e 14 fêmeas) de Palmeira. Est. do Paraná, não incluidos na amostra P. Amostra MG — 12 fêmeas e 6 machos do sul do Est. de Minas Gerais — (.Alfenas, Campanha. Carmo da Cachoeira, Caxambu, Fama. I^mliari, Nogueira. Três Pontas). cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 254 Memórias do Instituto Butantan Tomo XVHI .-imostra C — 10 fêmeas e 8 machos provenientes de Americana, Araras, Cordeiro, Cosmópolis, Desembargador Furtado, Enge- nheiro Coelho, José Paulino, Leme, Martim Francisco, Mogi Mirim. Remanso e Ressaca. .■imostra oKG — 13 fêmeas e 6 machos da zona oeste do Est. do Rio Grande do Sul — (Alegrete, Canabarro, Itaqui, João .Xrregui, Rosário, Saican, São Simão, Tigre, Tupari e Uruguaiana). O estudo conjunto das amostras P, aP e f