•SciELO cm 2 3 4 5 6 0 11 12 13 14 15 16 MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN 1949 TOMO XXII São Paulo, Brasil Caixa Postal 65 As “MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN" são destinadas ã publicação de trabalhos realizados no Instituto ou com a sua con- tribuição. Os trabalhos são dados à pulHicidade. separadamente, logo após a entrega e reunidos anualmente num Tolume. Serão fornecidas, a pedido, separatas dos trabalhos publicados nas “Memórias”, pedindo-se nesse caso o obséquio de enviar outras separatas, em permuta, para a Biblioteca do Instituto. Toda a correspondência editorial deve ser dirigida ao: I.VSTITUTO BUTANTAN Biblioteca Caixa postal 65 S. Paulo, BRASIU. ’ PEDE-SE PERMUTA EXCHANGE DESIRED. índice 1. BüCHERL, W. — Descrição do macho de itagulla symmetrica Bücherl, 1W9 1-10 Descriftion of lhe mole of Magulla symmelrica Bücherl, 1949. 2. BÜCHERL, W. & XAVAS, JOSÉ — Descrição dos machos das espedes de Tityus litisi Giltay. 19i8 c Tilytts cojiaius (Karsch. 1879) (Género Tilyus C L. Koch. 1&J6; subfam. Isometrinac Birola, 1917; fam. Bulhiáae. 1879) 11-24 Description of lhe males of lhe spectes of Tilyus lulsi Gillay, 1928 and Tilyus coslalus (,Karsch, 1879) (Genus Tilyus C. L. Koch, 1836; subfam. Isomelrínae Birula, 1917; fam. Bulhidae, 1879).. 3. AZEVEDO, M. P. — Mecanismo de acção anticoa.tulante do lalex de Ficus * glabrala K. B. K. 25-30 Mechanism of lhe anii-coagulanl aclion of lhe lalex from Ficus glabrala K. B. K. 4. AZEVEDO, M. P. & MARTIRAXI, I. — ,\cçâo proteolitica do \-cneno da » Bolhrops jararaca (Wied), I. Acção sobre hemoglobina e caseina .. 31-46 Proleolylic aclion of lhe tícnom of Bolhrops jarolaca (li'ied). l. Ahoul lhe aclion on hemoglobin and cosem. 5. MARTIILAXI, I. & AZEVEDO, M. P. — ,\cção proteolitica do s-eneno da Bolhrops jararaca (Wied). II. Acção sobre a gelatina 47-62 Proleolylic aclion of lhe venom of Bolhrops jararaca (IPied). II. Aboul lhe aclion on gelaline. 6. LEAO, .A. T. — Sobre dois batrãquios da Ilha dos .Alcatrazes 63-74 On fuv Balrachia from lhe Alcalrases Island. 7. HOXTER. G. & MUXGIOLI. R. — Estudos electroforéticos. I. Métodos e técnica 75-126 Electrophorelic sludies. I. Melhods and lechnie. 8. M.ACEDO, J. J. & VELLIXI, L. L. — O uso da nos-ocaina intravenosa como analgésico na colheita da linfa vacinica 127-138 The use of lhe iniravenous notvcaine as analgestc in lhe hartrsling of lhe lhe taccine lymph. 9. LEAO, .A. T. — Sobre dob batrãquios da Ilha da Queimada Qrande 139-150 On luro Balrachia frtrn lhe Queimada Grande Island. 10. HOGE, .A. R. — Xotas erpetológicas. 7. Fauna crpetológica da ilha da Queimada Grande 151-172 Soles on Ilerpelology. 7. Herpelologie fauna from lhe Queimada Grande Island. ScíELOIq 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm Mrm. Inst. Batantao, 22:1-10. XoT.® 1950. \V. BVCIIERL 1 DESCRIÇÃO DO MACHO DE MAGVLLA SVMMETRICA BÜCHERL. 1949 K* \VOLFG.\NG BÜCHERL (Trabalho que permitiram elaliorar uma chave distinta das três espécies, l^a.seada ainda em outros caracteres con.stantes e no colorido geral, só se baseavam em fémeas, jxirque tamliém na nossa espécie nova faltava o macho, tendo acontecido o mesmo a Simon e Keyserling. Realmente os machos das espécies o, cm 80 graus com a liaste. Existem sempre dois dentes apenas na margem interna da haste, sendo o apical o maior. Espinhos ■. Nos palpos não há nenhum espinho, como tamliem no primeiro par de pernas, excetuados os das apófises tibiais. Em todas as outras pernas só há espinhos nos metatarsos. No 2® metatarso 1 espinho vcntral apical ou nenhum ou apenas com uma cerda mais robusta cm logar do espinho. No 3® par 1 espinho ventral apical mediano (sobre o qual se flexiona o tarso), 2 espinhos laterais apicais (1 cm cada lado do mediano apical), entre os quais se flexiona o tarso e 1 lateral anterior, quase apical. 4® metatarso com 9 a 11 espinhos ao total, sendo sempre constantes e de posição fixa o vcntral mediano apical c os dois laterais aincais. Os outros ocupam sempre a metade apical, mas não obedecem a uma posição regular. Qucliceras com 11,12 ou 13 dcnticulos, muito bem enfileirados, na margem inferior, sendo os do meio os maiores. Cúspides em numero de 14 a 17, gcralmcntc 15 na parte anterior do labio e 60 a 75 nos lobos maxilares dos palpos. Olhos (vide fig. 3) formando 2 filas, sendo a primeira ligeiramente recurva ou quase reta e a segunda reta ou um tanto procuna. Ora os da primeira fila são iguais, ora os dois medianos são um tanto maiores do que os laterais anteriores. A distancia varia igualmcntc, sendo geralmcnte os laterais anteriores l»em mais perto dos medianos anteriores do que estes últimos entre si. Laterais anteriores c posteriores aproximadamente do mesmo tamanho, ora redondos ora um tanto oblíquos Medianos pos- em SciELO LO 11 12 13 14 15 16 DESCRIÇÃO DO MACHO DE ií.IGlLÍ.I SiUMETRICA BCCHERL teriores ora quase redondos. jxDreni, geralinente. oblongos e colocados bem junto aos olhos laterais posteriores A{>óftsc tibial — (vide íig. 2). Existem sempre duas apófises. ventral inferior é a maior, um tanto cur\a e annada de um espinho robusto no apice. -K lateral é bastante pequena, tenninando em ponta obtusa, sem espinho. Perto da liase interna desta apófise há um espinho robusto, longo. Orgào copulador — (vide fig. 1). .Alvéolo do tarso liastante fundo, de maneira a possibilitar o alojamento do “pecciolo”, da porção basal estreita do bulho e do primenro terço liasal da jiorção mediana, vestibular do mes- mo. Porção apical do bulbo ou êmbolo, do mesmo comprimento como a porção mediana, com transição lenta entre ambas, tenninando o êmliolo numa ponta bem aguda. Torção em 180 graus. COXCLCS.ÍO 1 . MagtiUa sytnmcirica Bücherl, fêmea, representa realmente um.a só espécie com o macho, ora descrito: a) por terem ambos as mesmas relações de dimensões tanto no compri- mento das pernas (o ultimo par é o ntais longo, depois vem o primeiro par, em seguida o segundo e p- p4]po coa boDio copuUdor. /‘g. 2 Utf*lU tymmttrie» nõchcHi Apófise t3ns]. i/epa/le iymmrlrK» BnclieTl Olbot. SíaguUa symmetrica Mcm. Injz. Batantac. 72 : 11 - 24 . Sor ” 1950 . \V. BÜCHERL & J. N.WA> II DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITVUS LUTZl GILTAV 1928 E TITYUS COSTATUS (KARSCH, 1879) (GÉNERO TITVUS C. L. KOCH. 1836; SUBFAM. ISOMETRISAE BIRULA, 1917; FAM. BUTHIDAE SIMON. 1879) POR WOLFGA.VG BCCHF.RL &■ JOSÉ XAVAS {Trabalho das Dkisão dc Zoologia do Instituto líutantan. São Paalo, Brasil) Giltay. em 1928, em “Aradinide;: Xouvcaux clu Brésil", Ann. Buli. Soc. Ent. Belgique, 68, descreveu a espécie Tityiis lutA, tendo como tipo uma fêmea capturada nos arredores de Cuialja, Mato Grosso. Tendo recebido nos últimos me.ses 3 escorpiões, enviados ao Instituto Bu- tantan pelos fornecedores de animais venenosos, e tendo verificado (|ue estes três exemplares, dos ertencem a espécie de Giltay, des- crevemos. a seguir, o macho desta espécie, até agora desconhecido, referindo-nos igualmente à fémea, que apresenta algumas (larticularidades morfológicas, não tomadas em consideração |X)r aquele autor. DESCRIÇ.ão DO M.XCIIO Procedência; .Xrarc. Estado de São Paulo; Presidente Epitácio (limites entre São Paulo e Mato Grosso). Comprimento total — 56 mm ; tronco — 22 mm ; cauda — 34 mm. Cefalotorax esairo. cór de couro, com u’a mancha triangular negra no pro- soma desfle o cômoro ocular atê a borda anterior. Face dorsal de tronco com manchas escuras cm fundo mais claro, apresentando o último tergito um triângulo nviis escuro na linlia mediana (vide prancha colorhla 2). Cauda amarelo ocráceo, mais escura nos trés últimos artículos e com as cristas dos segmentos Entregue para publiracio em 20 de iunho de 1949. i"? DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITYVS LVTZl E TÍTYVS COSTATVS IV e \ pardo escuras. Tibia dos palpos com uma grande mancha pardo escura a ocupar quase toda a área e com dedos castanho-avermelhados. Bordo anterior do cefalotorax quase reto, apenas ligeiramente bilobado e com ângulos laterais truncados. Cômoro ocular com largo sulco mediano, de aspecto liso, sendo os olhos separados entre si por um diâmetro e meio. Cristas superciliares levemente granulosas. Face ventral (vide prancha 1 ) de um amarelo sujo, mais ou menos uniforme e apenas ligeiramente mais escura nos segmentos distais da cauda. Pernas dorsalmente manchadas de negro e ventralmente de amarelo uniforme. Tegumento dorsal rugoso, com pontuações granulares irregulares. Tergitos I a VI densamente granulosos, com a crista mediana mais elevada na metade posterior das placas. Tergito VII com as cinco cristas granulosas habituais. Estemitos I a IV com uma fai.xa transversal, ao longo da borda posterior, amarelo clara, sendo a do III estemito apresentada por um triângulo mediano posterior (vide prancha 1), liso e brilhante. Pentes no macho de Avaré com 22 -j* 24 dentes, de lâmina intermediaria basilar nâo dilatada (no e.\emplar de Pres. Epitacio com 20 + 20 dentes). Cauda bastante robusta, sendo o IV e V segmento um pouco mais largo do que os tres precedentes, o quinto duas vezes mais longo do que o primeiro. Cristas medianas ventrais inferiores c laterais superiores granulosas, percor- rendo toda a extensão dos segmentos I a I\' (vide fig. 3). Cristas medianas dorsais granulosas, com os grânulos todos iguais, mesmo nos segmentos II a I\'. Cristas laterais acessórias completas no segmento I e presentes só na metade posterior do segmento II. Vesícula lisa e sem pêlos, com o espinho da base do ferrão pontiagudo e com dois grânulos dorsais. Femur e tibia dos palpos com as cristas granulosas bem acentuadas. Cristas medianas da face anterior da tibia com o dente bacilar bem maior. Mâo da largura da tibia ou apenas um nada mais larga, com 4 cristas dorsais distintas, sendo uma interrompida. Dedo movei con*. lobo basilar bem desenvohndo. Relação entre o compri- mento e largura da mão e do dedo movei : 5 :3 :7,5. Macho de .Avaré; — X® 26, vidro 79, da coleção do Instituto Butantan. Macho de Presidente Epitacio: — X° 28, do vidro 81. -ScíELOIq 12 13 Mcm. Iiut. BaUnUi. 21:11-24. XoT.® 1950. \V. BUCHERL 4 J. NAVAS IJ Comparação entre o exemplar de Giltay, de Cuiabá e o de Presidente Epitácio • (n.° 29, \-idro 81 ) : FÊMEA DE CILTAY 423 mm; tronco: 173 mm; cauda 25 mm. Triângulo denegrido na prozona a começar do cômoro ocular. Último tergito de colorido imifomie. Palpo e pernas com manchas escuras. Mão amarelo-ocrácea. Pentes com 21 dentes. E.XEMPLAJt DE PRESIDENTE EPITÁCIO 463 mm; trofKo: 163 mm; cauda 50 mm. Começa atrás do cômoro ocular, incluindo CT olhos. Último tergito com 1 triângulo mediana anterior, escuro e com 2 manchas late- rais escuras. Manchas escuras apenas dorsalmente, pre- valecendo o cdorido amarelo uniforme no lado ventral. Dorsalmentc com pequenas manchas pardas. Pentes com 22 dentes de um e 25 do outro lada Descrição do macho de Tilyus coslatus (vide prancha 4 e fig. 5) Macho — 53 mm; cauda 19 mm; tronco 34 mm. Ccfalotora.x marmorado de negro e testáceo. Tronco |iardo-escuro com as bordas dos tcrgitos denegridas. Cauda com os dois primeiros segmentos amare- lados; do terceiro ao quinto escurecendo progressiv^amente mais ate ao negro fosco no V sarnento. \'esicula vennelho escura, quase negra; ferrão na liasc avermelhado c na ponta denegrido. Patas fulvescentes, com manchas jiardo escuras, leves. Palpos amarelo escuros, prevalecendo o tom escuro. A mão liem amarela; dedos denegridos, com as pontas um tanto avermelhadas. Estemitos, pernas e maxilares pardo amarelados. Pentes amarelo pálidos (prancha 4). Borda anterior do cefalotorax em ângulo muito obtuso, formando quase uma reta, granulosa. Cômoro ocular com sulco finamente granuloso. Cristas superciliares curvas bem salientes c irregularmente granulosas. Parte posterior do cefalotorax com duas cristas curtas, subparalelas, levemente divergentes atrás. Tergitos densamente granulosos, com granulações mais grosseiras, formando arcos transversais, nos tergitos III a VI. Crista mediana acentuando-se pro- gressivamente nos tergitos posteriores, mas presente já do I ao ultimo tergito, mais fraca nos tres primeiros e Item visivel no III ao VII segmento. Neste a crista mediana ocupa quase dois terços anteriores; cristas laterais levemente curvas para fóra, quase completas e divergentes. Estemitos com granulação muito fina; I e II com borda posterior larga, amarela. TII com borda posterior cm fomia de triângulo mediano, liso, amarelo. Estemito IV com duas cristas paralelas, V com 4 cristas paralelas, granulosas. 1 * 14 DESCRIÇÃO DOS MACHOS DAS ESPECIES DE TITYVS LVTZl E TITYVS COSTATVS atingindo as duas medianas as bordas posteriores, enquanto que as laterais só se estendem sobre os dois terços anteriores da placa. Pentes com 17 dentes cm cada lado; a lamina basilar intennediaria não- dilatada. Cauda robusta, paralela, finamente granulosa. V segmento duas vezes mais longo ase dos dois (dimorfismo .se.xual entre os dois sexos). Dedo movei com 13 filas de grânulos no gume (fig. 5). Relação entre o comprimento e a brgura da mão e o comjirimento do dedo movei : — 5 :3.5 e 7 mm. Localidade: — Ilha de São Sebastião. Remetente: — Dona Helga Urban. Na coleção escorpiõnica do Instituto Butantan: — No. 499. frasco 245. DIFEREXÇ.AS MOKEOLÔGIC.XS E.NTRE .\ EÊME.\ E O M.\CHO r Ê M r. A Sem loho lAsilar entre 05 dedos da mão. M.io não muito mais larga do que a jor- cão liasal dos dedos junto*. Colorido da mão pardo escuro. MACHO Forte lobo basilar entre 05 dois dedos da mão. Mão do dobro da largura da' p cçâo basal dos dedos juntos. Mão amarela. RESIMO São descritos cotiio novos para a ciência os machos das espécies Tityus luta e eostatus. .Ambos apresentam os mestnos caracteres morfologicos espe- •SciELO 0 11 12 13 14 15 16 cm Mcm. In»«. Bnunui). w. bCcUERL & J. NAVAS 1% 22:11-24, Not.» 19S0. citicí^s das respetivas fêmeas, já conhecidas, de maneira que não persiste duvida de que estes machos realmente pertencem às fémeas das aludidas espécies. Ao mesmo tempo foram constatadas diferenças sexuais nos dois sexos em ambas as espédes. Em Tityus lutei o macho apresenta um lobo basilar na base interna dos dedos da mão e os dois últimos articulos da cauda são bem mais grossos, enquanto que os mesmos, na fémea, tém a mesma espessura em todo o percurso da cauda, afilaudo-se esta atrás. O macho de Tityus costatus apresenta igualmcntc um forte lobo Itasilar na mão ; a própria mão do macho é muito espessa, atingindo duas vezes a espessura da mão da fémea. A cauda, entretanto, é igtial em ambos os sexos. Há ainda uma diferença no colorido entre os dois sexos, cspecialmcnte na mão, que no macho se apresenta amarela e na fémea pardo escura. Xo lote de fémeas de Tityus lutei, existentes na coleção e.>corpiònica do Instituto Butantan. foram confrontadas igualmente fémeas provenientes de Pre- sidente Epitácio (Estado de São Paulo, Brasil) com a fémea-tij», descrita por Giltay e proveniente de Cuiabá (Mato Gros.so, Brasil), cnconirando-se ligeiras variações no colorido, prindialmente do último tergito c no numero de dentes nos pentes, que são de 21 no exemplar de Giltay e 22 a 23 no lote de Presi- dente Epitácio. Pelo confronto de mais exemplares de Tityus lutei pudemos inferir da x^ariação no numero de dentes nos pentes : no exemplar descrito por Giltay há a{)cnas 21 dentes; nas fémeas de Presidente Epitácio x’erificamos 22 a 23 dentes; no macho da mesma localidade apenas 20 dentes e num macho. j>roce«lcntc de .•\xaré, 22 e 24 dentes em ca« 0 . ^V. bCcuebl & J- NAVA5 23 Mnn. Intt. BnUntan, B:25-30, Xor.® 1950. M. P. A2E\'EDO 25 MEC-AXISMO DE ACÇ-^O AXTICO.\GULAXTE DO LATEX DE FICUS G LA B RATA H.B.K. FOR MURILO P. AZEVEDO (Do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) % t. bem conhecida 'dos nativos da America Central, a acção vermicida do láte.K de certas espécies de figueiras, por eles denominado “Leche de higueron”. Xo Brasil, Peckolt (1) realizou estudo quimico do láte.x oriundo das es- pécies F-icus silvestris St. Hilaire c Ficus doUaria Mart., obtendo desta última, uma substância cristalina, provavelmente um glicosidio, que denominou "dolia- rina”. Do mesmo láte.x obteve uma pepsina vegetal a qual deu o nome de “urostigma papaiotin”. Bouchut (2) trabalhando com o láte.x de Ficus carica L. encontrou um fermento digestivo cuja acção se faz sentir principalmentc sobre a fibrina. Desde então foram as pesquisas orientadas no sentido do aproveitamento do láte.x dessas plantas na terapêutica das parasitoses intestinais. Uma completa revisão histórica do assunto foi feita por Ansejo (3) ao estudar a atividade proteolítica do látex do Ficus f>umi!a L. Os trabalhos mais recentes, de Robbins (4,5) e Robbins e I..amson (6) estabelecem as condições ent que melhor se processa a actiridade proteolítica désses fermentos. Estudando o látex do Ficus laurifolia, verificou Robbins (4) que o prin- cípio ativo é uma substância de natureza proteica existente na proporção de 2l^c em peso do látex, precipitável pelo cloreto de mercúrio, sulfato de magnésio, acetona e álcool. Por precipitações e redissoluções sucessivas, conseguiu o prin- cipio ativo sob forma de um pó amarelado, ao qual deu o nome dc “Ficina”. Mostrou que ésse fermento assemelha-se à tripsina, já que o ótimo de concen- tração hidrogeniónica para sua actuação, está entre 4 e 8,5 sendo sua atividade enzimática destruída em pH abaixo de 4. Sugere também o autor a presença, na ficina, de dois princípios activos, um cuja acção seria matar o tecido vivo c outro digerí-lo. Para os estudos de proteólise usou a gelatina como substrato, verificando que em tal caso o pH ótimo de actuação é 5. Entregue para publicação em 27 de junho de 1W9. 26 MECANISMO DE ACÇAO ANTICOAGULANTE DO LATEX DE flCUS GLABRATA H. B. K. j As primeiras observações relativas à atividade anticoagulante dêsse fermento sõbre o sangue, foram realizadas entre nós por Cançado (♦*) (7) que. colocando látex de Ficus glabrata H.B.K. sôbre sangue total recentemente colhido deter- minava a sua incoagulabilidade. Sugeriu que tal fenômeno fosse decorrente da acção litica da enzima sis c Xa/a. F-stu^ndo comjarativamcnte a actividade proteolitica de vários venenos de serjientcs sobre a gclatita c fibrina. Noc Í6) .poude concluir que todos éles iiossuem .acção proteolitica S4‘)bre subs- tâncias albuminóides não oaguladas t)clo calor, actividade que explicaria a incoa- gulabilidadc do sangue de animais inoculados com veneno. \'ital Brazil c Rangel Pestana (7). empregando a téaiica de Xoc (6), classificaram uma serie de venenos, segundo a sua actividade proteolitica. verificando que a proteólise do sangue se processa na mesma ordetn de atividade que a proteólise da gelatina. Houssav e Xegrete (8) estudaram uma série de venenos, mostrando «juc c.sse poder proteolitico é grande, ao contrário do que afirmara Uunoy (5). o que puderam verificar jícIo aumento de substância proteica não cr)agulávcl do subs- Recebid.) para puNicação cm 27 de de IW. SciELO 3 11 12 13 14 32 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. trato, aumento dos ácidos aminados e do tempo de coagulação térmica. Mos- traram que tais venenos transformam a caseina tomando-a não precipitável pelo ácido tricloroacético e modificam a gelatina, liquefazendo-a e determinando a formação de ácidos aminados. Concluiram afirmando que as propriedades pro- teolitica, coagulante, aglutinante, tóxica e hemolitica dos venenos de serpentes, diferem umas das outras, pois variam dlversamente de acordo com a amostra de veneno, não são neutralizadas do mesmo modo pelos soros específicos e a destruição pelo calor não se faz de forma igual para todas elas. Taborda e Taborda (9). estudaram a hidrólise do caseinato de cálcio pelo veneno da Bothrops jararaca e a influência de vários fatores que interferem sõbre o fenômeno. Não obstante o número de trabalhos até hoje publicados sôbre o assunto, os nossos conhecimentos a respeito são ainda limitados, razão porque diz Zeller (10) haver necessidade de se acumularem dados quantitativos, comparando-se os resultados obtidos com as actividades biológicas correspondentes dos venenos. Em vista da importância crescente que o problema vem dia a dia assumindo devido á difusão do emprego dos venenos em terapêutica, resolvemos estudá-lo, procurando determinar os diferentes fatores que interferem com o fenómeno da proteólise, baseando-nos na formação de tirosina por acção do veneno sõbre substratos de hemoglobina e caseina. .MATERIAL E MÉTODOS Vcnctio: — Bothrops jararaca centrifugado e liofilizado imediatamente após a colheita. Eliminam-se assim as impurezas insolúveis. O veneno assim tratado torna-se mais solúvel e suas actividades proteolitica e tóxica aumentam compa- rativamente ao obtido pelo processo comum de secagem em estufa. Hemoglobina — O substrato de hemoglobina foi preparado do sangue de cavalos normais, de acôrdo com a técnica descrita por Anson (11). Caseina: — Solução a 27c de caseina Hammarsten tamponada com veronal e tindalizada. O método de estudo por nós empregado baseou-se no doseamento da tirosina formada pela proteólise que o veneno determina sôbre os substratos de caseina e hemoglobina. Para tanto, colocamos diferentes diluições de veneno em salina a 0,857» sôbre substratos de caseina e hemoglobina em diferentes pH e temperaturas, retirando-se em espaços de tempos diversos, “aliquots” de 2,5 ml que foram precipitados pelo ácido tricloroacético (5 ml de sol. 0,3 N). Após filtração, SciELO Mem. Inst. BaUntan, a:31-46, Xar» 1950. M. P. AZE\'EDO & I. MARTIRAXI 33 tomamos 2,5 ml do filtrado, juntamos 5 ml de soda 0.5 X, 1,5 ml do reativo do Folin e Ciocalteau (l2) e após 5 minutos para o máximo desenvolvimento de côr, fizemos a leitura no aparelho de Fischer, modelo A. C. filtro Xo 650 (vermelho). Tomamos como “Blank" a mistura dos mesmos elementos que entraram na composição de cada “aliquot”, precipitados imediatamente pelo ácido tricloroacético. Assim pois afastamos as causas de erro decorrentes da presença, nos “aliquots”, de substâncias cromogcnicas que não a tirosina, bem como da própria tirosina oriunda de possivel autohidrólise do substrato. resultados Procuramos inicialmente determinar a cur\-a padrão para o aparelho com que iamos trabalhar. Para tanto, colocamos em 6 tubos respecti\-amente : 0, 1, 2, 3, 4 c 5 ml de solução padrão de tirosina (•) completando os volumes a 5 ml com HCl a 0 X’ Juntamos a todos êles 10 ml de XaOH 0,5 X e 3 ml do reactivo de Folin e Ciocalteau ((•) **). .Após 5 minutos para o máximo desenvoh-imento de côr, procedemos á leitura Os resultados foram os seguintes (Quadro I); QUADRO I Tubo Xo. \'ol. da soL de tirosina HQ 0.2 X Miliequivalentes de tirosina Leitura 2 1,0 4.0 0,00016 16,5 3 2.0 3.0 0,00032 33,S 4 3,0 2.0 0,00048 48.5 5 4.0 1.0 0.00064 6S.0 6 5.0 0,0 0.00080 ■ 00 Estes dados colocados em gráfico (Gráfico Xo. 1) formam uma linha reta, o que vem demonstrar o grau de sensibilidade do aparelho e a precisão do método. Por outro lado, fica também demonstrado que a intensidade de côr desenvolvida é (•) A solução de tirosina foi í«iu em HQ 0,2 X contendo 0,0008 milicquiralcntcs, por 5 ml, ou seja 0,0112 mg de azoto da tirosina dosado pelo micro-Kjcldahl. (•») Empregamos sempre o reactiro de Folin e Gocalteau diluído no momento de ser usado, ao dobro de seu s-olume com ãgua distilada. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 34 ACÇAO PROIEOLITICA DO VENEXO DA BOTHROPS JAR.HR.IC.i. 1 diretamente proporcional à quantidade de tirosina presente na solução, havendo mesmo entre estes 2 valores, uma proporção linear. Milicqulvalcctes dc t.rosir.a X 10* Concentração de xeneno: — Estudamos inicialmeníe as variações dc gr;*u. dc- proteólise em função da concentração do veneno, mantendo fixos o pH e a temperatura de experiência. ■Adicionamos ao substrato de hemoglobina, lOO/, 200',', 300y, 400','. e 500'/, de veneno por ml de substrato, sendo o veneno diluido em sol. salina a 0.85yc. .'\pós 30 minutos em estufa a 34®C procedemos ao doseamento da tirosina de acordo com a técnica anteriorrr.ente descrita. \ coeno ftn y por ml dc snbftrato. Leitora apôs 30 m de actoação do reaeoo. Temperatura de experiência 37*C. Mm. In»t. Bnuntin. },f p_ AZEVEDO & I. MARTIRANI 35 «:.U-«6. Xov* >950. O Gráfico Xo. 2 apresenta os resultados de unia dessa-< e.xjicriências. Vemos por êle que os \-alores das leituras se tlispõem numa linha recta, mostrando a rela»;ão linear e.xistente entre concentração de veneno e grau «Ic proteólisc. . GRAFICO 1 Vcf)rtk> em y |%'r ml *ie •uí^tàto .*0 m óe 4 a rtnei»**, Trtnrvnar* tk Com o substrato de caseína o itKsmo fato sc verifica (Gráfico Xo. 3). Sendo entretanto a caseina. uma nadécula mais simples que a hemoglobina, a sua cisão é mais fácil c assim com a mesma quantidade «le veneno se obtenr uma proteólise maior. Por este motivo tralialhamos com ({uantidades menores dc veneno: de SOy a 200y por ml de substrato. Tempo dc atuação: — .-\ intensidade de proteólise é tamiiêm proporcional ao tempo em que o veneno atiia sóbre o substrato. Retirando-se “aliquots” jiara doseamento em tempos diversos, obtivemos- os seguintes resultados em sul>strato de hemoglobina (Quadro X.o II): SciELO 36 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. QUADRO II Concentração de veneno em y por ml de substrato L e i t u r a 30 min 60 min 90 min 120 min 180 min 100 3,5 /".O 7,5 8,5 13,5 200 11.5 15,0 16,5 20,0 27,0 300 17,5 22,0 26,0 30,0 35,0 400 25,0 32,0 38,0 42,0 51,5 500 32,5 36.5 45,0 53,0 66,0 Em qualquer das concentrações de veneno estudadas, o grau de proteólise aumentou em função do tempo (Gráfico Xo. 4). GRAFICO 4 t era minutos 1 — 100 Y de Tcncno por ml de substrato 2 — 200 y* " - 3 — 300 y* " 4 — 400 y" ** - -- 5 — 500 y -SciELO Meni. Inst. BnUntan, a:Jl-46, XoT.® 1950. M. P. AZE\'EDO i I. MARTIRANI 37 Colocando-sc em abcissas as concentrações de veneno e em ordenadas as leituras, \-amos obter cuiras que exprimem os vários graus de proteólise que as diferentes concentrações de veneno determinam num tempo dado (Gráfico No. 5). CKAFICO 5 VetKso on y por ml dc tobtrrato 1 — ApA* 30 m de atnacSo de reoctio 2— *t0ni* 3— '90m" 4— -120in" 5— •IMm* \'eri ficamos que tais \alores se dispõem cm rectas cuja inclinação sobre a linha das ordenadas \‘ai aumentando a medida que se consideram tempos maiores de actuação do veneno. Este facto se verifrea devido a ser o grau de proteólise diretamente propor- cional à raiz quadrada do tempo de actuação do veneno, como {Hidemos verificar pelos resultados obtidos. 38 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. I. O mesmo se verifica para com a caseina (Quadro No. III e Gráficos No. 6 e 7) sendo porém neste caso o grau de proteólise directamente proporcional ao tempo de actuação do veneno. GRAFICO 6 t exn mioutos 1 — SO Y de reneno por ml de snbstrato 2 — lOOy" • - -- 3 — ISOy •« — 200 y* ' - Mcm. Inst. BnunUn, a:Jl-46, Xo».* 1950. M. P. .\ZE\'EDO & I. MAKTIKANI 39 2 — * 60 n * J — * 90 m • 4 — * 120 m * 5 — * 1*0 m * QUADRO III Veneno em y por ml de substrato L e i t n r a 30 min 60 min 90 min 120 min 180 min 50 6.5 14 5 223 30,5 44.0 100 18.0 31.5 46.0 58.0 76.0 150 29,0 47.5 67.0 80.0 99.0 200 37^ 61.0 78.0 96.0 100.0 1 SciELO 40 ACCAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. L • Temperatura: — Fazendo-se actuar o veneno sôbre hemoglobina e caseína em temperaturas diversas, observam-se diferentes graus de proteólise. (Quadro n.o IV). Q U D R O IV Temperatura em ? C Leitura após 302 minutos Hemoglobina Caseína 25 °. 1.5 4.0 30 ° 3.5 11,0 35 °. 4,5 15,0 40 °. 3,0 19.0 50 ° 2.0 25,0 60 °. 0,0 17,0 A temperatura ótima de actuação do veneno está ao redor de 35®C para o substrato de hemoglobina e de S0®C para c de caseina (Quadro Xo. IV). Em qualquer das concentrações de veneno com que trabalhamos, o mesmo resultado se verificou (Gráficos Xo. 8 e 9). Temperatara 1 — 50 Y de rrneno pnr ml de fobstratc. 2 — lOOv 3 — 200 4 ScíELOiIq 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm 42 ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. I. Verificamos (Gráfico No. 10) que o pH ótimo p)ara atuação do veneno sôbre a caseina está ao redor de 10,0 com qualquer das concentrações em que foi empregado, inactivando-se em pH 12.0. pH ] — 50 Y Tencno por ml de substrato 2 — lOOy’ ' - -* J — 200 y DISCUSS.ÍO Os venenos ofidicos constituem um complexo de composição variável com a espécie considerada e onde se encontram substâncias responsáveis pelas suas acções tóxicas. Estas acções podem, segundo Kellawey (13), ser atribuídas á presença de: a) enzimas proteoliticas, b) fosfatidases e c) neuroto.xinas. A enzima ou enzimas proteoliticas são responsáveis pela acção hemorragipara desses venenos, bem como pela sua actividade hipotensora, devido provavelmente á hiotamina que libertam nos tecidos. A actividade proteolíticã do veneno de Bothrops jararaca se faz sentir sôbre proteínas mais ou menos complexas, cindindo as moléculas até a formação de ácidos amimados. Este facto se verifica tanto para a hemoglobina como para a Mem. Inst. BaUnUn. S;3I-46. Not.» 1950. I. MAinriRAXI & M. P. AZE\'EDO 43 caseína, uma vez que era ambos esses substratos se forma tirosina, base por nós empregada para o doseamento do grau de actividade Htica do veneno. Elsse grau de acth-idade depende de \-ários fatores a saber: a) Concentraç.io de veneno b) Tempo de actuação do veneno sôbre o substrato c) Temperatura em que se processa a reação d) pH do substrato Como se pode verificar pelos nossos resultados, há uma relação direta linear entre concentração de veneno c grau de protcólisc. Por outro lado, o grau de lisc é proporcional á raiz quadrada do tempo de actuação do veneno no caso de se trabalhar com hemoglobina e simplesmente ao tempo, quando o substrato é a caseina. Assim sendo, para temperatura e pH fixos, a reação se processa segundo a equação: L = K. C. V t para a hemoglobina c L = K. C. t para a caseina L = Leitura C = Concentração de veneno em y por ml de substrato t = Tempo de actuação do veneno K = Constante dependente da ati\ndade do veneno, do pH c tempera- tura do substrato. De acordo com os nossos resultados obtivemos para K os segumtes ^alores : 0,0093 para hemoglobina e 0,0(M9 para a caseina. Schutz (14) afirma que a quantidade de albumina hidrolizada até peptona pela pepsina num tempo dado, é proporcional á raiz quadrada da concentração de enzima. Outros autores, usando pepsina mais purificada, verificaram porém que a 5-elocidade da reação é dirctamente proporciona! á concentração de enzima o que, segundo Tauber (15) pode ser considerado fato geral entre as reações enzimáticas. Os nossos resultados demonstram essa acertira, permitindo dizer que a rcaeção do veneno sôbre caseina e hemoglobina segue essa regra geral. .\ veloddadc das rcacções enzimáticas aumenta com a temperatura até um ótimo, acima do qual há um decréscimo até que cessa inteiramente a actividade enzimática. Tais \-ariaçóes são segundo Arrhcnius (14) devidas á presença de duas espécies de moléculas em solução, as acti\-as e as inacti\-as, que se encontram em equilíbrio tautomérico. Esse fato foi também por nós verificado com relação á atividade do veneno. A proteólise da caseina c hemoglobina pelo veneno, aumentou com a temperatura até um ótimo após o qual descreceu, chegando á inacti\-açâo da actindade proteolitica. 1 SciELO 44 ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. L O mesmo se verifica com relação ao pH. Neste caso o ótimo é \'ariável de acordo com as condições de experiência, como substrato de actuação, origem da enzima, tampão emproado, etc. Dos fatos expostos, podemos concluir que a acção proteolítica do veneno de Bethrops jararaca se processa de acordo com as leis que regem as reacções enzimãticas. SUMÁRIO E CONCLUSÕES Os istudam a acção proteolitica do veneno da Bothrops jararaca tomando hemoglobina e caseina como substratos de actuação. Verificam a in- fluência da variação dos vários fatores que interferem com a reacção, tais como : concentração e tempo de actuação da enzima, pH e temperatura do substrato. Demonstram que a reacção se processa segundo a equação L=: K. C. para hemoglobina e L = K.C. t para a caseina. Concluem : 1) O veneno de B. jararaca exerce ação enzimática sôbre os substratos de hemoglobina e caseina, determinando a lise das moléculas até ácidos aminados. 2) Há uma relação linear entre concentração de veneno e grau de pro- teólise. 3) O grau de proteólise é proporcional á raiz quadrada do tempo de actuação do veneno, quando sôbre o substrato de hemoglobina e directamente ao tempo simplesmente, quando sôbre a caseina. 4) Há um ótimo de temperatura de actuação do veneno que é de 35°C para a hemoglobina e de 50°C para a caseina. 5) O pH ótimo de actuação de veneno sôbre a caseina é de 10.0. SUMMARY and CONCLUSIONS The authors study the proteoljiic action of Bothrops jararaca venom on hemoglobin and casein as substrates. They e.xamine the influence of the variation of various rcaction factors such as concentration and actuation time of the enzyme, pH and substrates temperature. They show that the reaction proceeds aceording the equation L = K. C.y'Y^ for hemoglobin and L = K.C.t in the case of casein, where "L” is the photometer reading, “C” the venom con- centration in i» per ml of substrate, "t” the time of actuation of venom and “K” a constant dependig on the activity of the venom and the temperature and pH of the substrate. Mcm. iMt. Bntantm, ZZ:3I-4<, XoT* I9S0. 45 1. MARTXILXNI * M. P. A2E\'EDO They conclade: 1) Bothrops jararaca venom exhibits an enzjinatic action on hemoglobin and casein snbstrates, splitting the molecules up to amino-acids. 2) There is a linear relationship between venom concentration and degree of proteolysis. 3) The degree of proteolysis in proportional to the square root of the time of actuation of the venom, when acting on hemoglobin substrate and to the time of actuation in the case of casein. 4) Tliere is a tempcrature optimum for the actuation of venom which lies at 35°C for hemt^obin and at 50®C for casein. 5) The optimum pH for the actuation of the venom on casein lies at 10,0. SUMMAIRE ET CONXLUSIONS Les auteurs ctudicnt laction protcoKiique du vcnin de Bothrops jararaca, en prenant ITicme^lobinc et b caséine commc des soustraits d’action. Ils éxa- minent dabort Tinfluence de la rariation de tous les divcrs facteurs qui pcuvent alterer la réaction tels que la concentration et tcmps dactuation de Ten/j-me pH et tempcrature du soustrait. Ils dcmontrent cnsuitc que cette réaction se dcve- loppe sclon Tequation L = K. C. VT" pour ITiémoglobinc et L = K.C.t. jwur la caséine. 1 ) Lc vénin de B. jararaca a une action cnzymatique sur les soustrait dTié* moglobine et de caséine, en décomposaiu Ictirs molécules jusqu a des acides aminés. 2) II y a une proportion linéairc entre la concentration du venin qu’il determine protéolyse. 3) Sur le soustrait dTiémt^lobine, ie dégré de protéolyse est proportionnel à la raonc carrée du tcmps d’action du vénin, tendis que sur la caséine il est directmcnt projwrtionnel au tcmps tout simplcmcnt. 4) II y a une température idéalc pour laction du vénin: cllc est de 35® pour ITiémoglobine ct de 50®C pour la caséine. 5) Lc pH idéalc pour Taction sur la caséine est de 10,0. BIBLIOGRAFIA 1. Fontana, F. — Trarté snr le vénin dc la vipere,' Flotcnce, 1781, Jaques, G. editeur. 2. Emery, dtado por Palmon, //. — Le venin des serpents. Paris, 1906. 2a. Leydlg, — ibiden. 2lx Rndtlfki — ibKkn. -SciELO 46 ACÇAO PROTEOLITICA DO VENENO DA BOTHROPS JARARACA. I. 3. Lacerda, J. 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E-sta característica enzimática do veneno da Bothrops jararaca tem permitido aos auteres estabelecer um paralelismo entre a actuaqão do veneno c da trombina no fenômeno da coagulação do sangue (11,12,13,14,15,16), acções semelhantes na dependência das concentrações de veneno usadas. A artividade proteolitica do veneno da Bothrops jararaca deve ser inherente ao veneno não necessitando de um factor complementar para ser revelada como acontece com as chamadas substâncias fibrinoliticas produzidas por certos es- trcptococos '(17,18,19,30,21,22,23,24), ou então como já reconheceu Loomis, George e Ryder (25), bem como .•\strup e Permin (26), a substância produzida pelos estreptococos seria um acti\-ador, uma “streptokinase”, lia vendo no sangue uma proenzima a "profibrínolisina”, sendo a “fibrinolisina” propriamente a enzima resultante. O veneno da Bothrops jararaca não seria nem uma proenzima nem uma “kinase" sua acção ê de uma enzima já constituida com pontos de identidade com a tripsina e com a papaina, constituindo assim uma enzima do tipo da« endopèptidases (27,28), isto é, enzimas que actuam sõbre substratos de alto peso molecular e mais especificamente sõbre as cadeias peptidicas termi- nais. bem como na® cadeias peptidicas centrais. MATERIAL E MÉTODOS A verificação da proteólise foi baseada na diminuição da viscosidade da gelatina. O s-iscosímetro empr^do foi do tipo Ostwald. .A gelatina usada foi Difeo solução a 6% em salina 0,9^ : Entregue para publicacáo em S de setembro de 1W9. 48 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. II. O veneno da Bothro/'s jararaca sêco, liofilizado com uma D.M.M. de 0,000040 para pombo de 250 g, foi empregado em solução recentemente pre- parada, usando como solvente do veneno a solução salina a 0,9^. A solução tampão empregada foi a de veronal. Os sistemas proteoHticos foram preparados da seguinte maneira: a) substrato testemunho — 20 ml da solução de gelatina a 6‘jc são adicio- nados de 25 ml da solução salina 0,9^ e 15 ml da solução tampão; misturar e medir a viscosidade de 20 ml desta mistura; b) substrato de proteólise — 20 ml da solução de gelatina a são adicionados de 25 ml de solução salina 0,9^ contendo o veneno dissolvido na concentração que se deseje actuar, completar para 60 ml juntando 15 ml da solução tampão, misturar e medir a viscosidade em 20 ml desta mistura: Tanto o sistema proteolítico como o testemunho, no estudo da temperatura, foram diluidos para 120 ml. O início da experiência foi sempre o momento da mistura final da gelatina seja com solução salina e solução tampão, seja com solução salina, veneno e solução tampão. A viscosidade foi medida em temperaturas controladas, as leituras iniciais aos 10 min. das misturas e subsequentemente de 20 em 20 min. até 60 min. das misturas. As leituras foram feitas em triplicata, registando-se as médias. Os pH foram controlados no potenciômetro. A viscosidade determinada foi a cinemática expressa em centistokes e calculada pela seguinte fórmula quando a temperatura da experiência foi de 37°C. Xa Xa 37“C Xc = = kt Xa = D.\kxt k=: D D 37°C X f Xc = viscosidade cinemática Xa = viscosidade absoluta da água a 37ÍC = 16,947 milipoies D = densidade da água a 37!C = 0,993 g/ ml I = tempos cm segundos, k = fator do aparelho. Xo plano de tralialho verificamos primeiramente, num determinado pH, 8,0 mantida constante a temperatura 37°C, se a diminuição da viscosidade do subs- trato pela acção do veneno da Bothrops jararaca era função da dóse do veneno empregado. Procurou-se ao mesmo tempo determinar um ótimo de concentração do veneno capaz de promover alterações bem evidentes na viscosidade. A seguir foi estudado o pH ótimo de atuação, utilizando a dóse ótima de veneno, mantendo a temperatura constaute, 37®C. 50 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARARACA. II. Daí então procurou-se saber qual a temperatura ótima de actuação empre- gando-se a dóse ótima. Depois então procurou-se verificar a proteólise em função da concentração do substrato. Para melhor clareza os resultados alem de serem expressos em centistokes são apresentados em percentagem de lise, considerando-se 0% de lise a veloci- dade de queda do testemunho diminuido da velocidade de queda da água disti- lada O cálculo é o seguinte: 100 (A' — B') A-a = A' • B-a = B' % de lise = A' \ = velocidade da queda do testemunho B = velocidade de queda da gelatina com veneno a = velocidade de queda da água. RESULTADOS 1) Viscosidade da solução de gelatina cm função dc doses crescentes de veneno. Temperatura constante de 37° C e pH constante de 5-5. O gráfico I representa a percentagem da solução de gelatina ás várias concentrações de veneno ao fim de 60 minutos. Escolhemos este tempo afim de eliminar as variações inevitáveis, apesar dos cuidados, que se apresentam no início das experiências, quando ainda não houve uma perfeita homogeinização do sistema. 2) Viscosidade da solução da gelatina em função do pH. Dose de veneno por ml de substrato 20 y (0,000020 g). Temperatura constante de 37°C. Mcm. lut. BaUntu, B:47-62, X-pe. They observed the proteolysis of the gelatin solution by the venom as a function of the venom concentration. pH. temperaturc and substrate conccn- tration. They conclude that under their e.xpcrimental conditions: 1) B. jararaca venom excerts a pronounced proteolytic action on a gelatin solution ; 2) There is a direct rclation between the proteolytic activity and low venom concentrations ; 3) The proteolytic activity increases from pH 5.0 to a maximum at pH 10,0, disappearing at pH 11,0; 4) The proteoh-tic activity increases with temperature from 35°C to a maximum at 45°C, disajipearing et 55®C. 5) The proteohnic activity is a function of the substrate concentration; 6) The proteoh-tic action of the venom on t\>e gelatin substrate fs direct and does not require any a complementarj* factor; 7) The method used is extraordinarily sensitive. ()0 ACÇAO PROTEOLITICA DO VEXEXO DA BOTHROPS JARAR.ÍCA. II. RESUME ET COXCLUSIOXS Les auteurs étudient lactivité protéolj-tique du vénin de la B. jararaca (W:ed) en utilizant comme soustrait une solution de gélatine. Ils employent la .méthode de la \nscosinietrie avec um appareil du type Ostwald. La protéolyse de la solution de gélatine par le vénin fut étudiée en fonction de la concentration de celuí-ci, du pH, de la température et de la concentration du delié de gélatine. Dans les conditions cxpérimentellcs utilizées ils ont aboutti aux conclusion suivantes. 1) Le vénin de B. jararaca (AVied) a une activité protéolj^tique accentuée sur une solution de gélatine. 2) II y a une rélative proportionnalité entre Tactivité protéoly tique et les faibles concentrations du vénin; 3) L’activité protéolytique du vénin croit progréssivement à partir du pll 5,0, en atteignant le “maximum” au pH 10,0 étant pratiquement nule au pH 11,0. 4) L’activité protéolj-tique du vénin croit progréssivement à partir de la température de 35°C, ayant son “maximum” a 45°C, et dimminuant sensible- ment à la température de 55°C. 5) L’activité protéolj-tique du vénin se rapporte toujours à la concentration du soustrait. 6) L’activité protéolj-tique du vénin sur le soustrait de gélatine est directe, n’éxigent pas la présense dun facteur complémentaire. 7) Le proceès emplojé a démontré une grande sensibilité. bibliografia 1. Houssay, B. 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LEAO (Trabalho da Secção de Zoologia Médica do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Prosseguindo no nosso programa de e.xcursões, fizemos uma viagem à Ilha dos Alcatrazes, situada a cerca de 50 milhas da barra de Santos e a mais ou menos 20 milhas da Ilha de São Sebastião, estando esta de permeio entre o litoral e a primeira. A viagem foi realizada entre II e 27 de feveriro de 1948, num liarco gentilmente posto à nossa disposição pela Escola de Pesca, da Secretaria da Agricultura. A Ilha dos .Alcatrazes não é haibtada, possue agua potável. . E’ comiileta- mente desprovida de praias, circundada por enonnes rochedos e recoberta por densa vegetação, especialmente nas depressões e encostas, servindo de abrigo seguro para os "mergulhões” (Sula Icucogaster), “gaivotas” (Larus sp.) e, principalmente, aos “alcatrazes” (Fregata mtnor) que ai nidificam. São vistas muitas palmeiras, bromelias, pitas, cactus, etc. Sofremos durante a estadia naquela ilha uma canicula surpreendente, pois a temperatura oscilava sempre em tomo de 39-42®C (Ma.\ima 44,5®C c minima 250C). Na Ilha dos Alcatrazes encontramos somente dois batráquios — uma Hyla e um Lcptodactylus — que constituem a razão destas notas. Lcptodactylus nanus Cabeça lanceolada, às vezes achatada dorso-ventralmente, pouco mais longa do que larga. Boca de hiato começando no bordo posterior do olho e anterior do t4impano. Focinho, saliente, com narinas na e.\tremidade do lòro. Canto rostral apenas perceptivel, arqueado. Lôro pouco e.\ca\ado. Timpano pouco profundo, circular, cerca da metade do diâmetro ocular; com uma prega supra- timpanica que, partindo do bordo posterior do olho se dirige em linha reta no sentido do comprimento e, ao alcançar o bordo posterior do timpano desvia Entregue para ptAlicação cm 5 de outubro de 1949. 2 3 4 5 6 7 - 1—1 11 12 13 14 15 16 64 SOBRE DOIS BATRAQCIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES bruscamente para baixo, formando um angulo obtuso e terminando na face superior do ante-braço. Olho saliente, com pupila horizontal, circular. Dentes vomerinos cm duas fileiras retas, transversais, bem posteriores às coanas, com cerca de 6-8 dentes em cada lado. Coanas pequenas, circulares, com abertura dirigida para fóra. Pré-maxilares em ponta intemamente, as quais não se tocam, com dentição uniforme, sendo mais ou menos 6 dentes em cada peça. Ma.xilares com dentição uniforme. Mandibula edentula. Lingua piriforme, pouco entalhada, livre posteriormente, às vezes com uma constricçâo na base, sendo, portanto, mais longa posteriormente. .A^parelho estemal do tipo arcifero; omo.stemo osseo, com dilatação terminal cartilaginosa, em forma de pá. Apare- lho hidoideo constituido por duas peças anteriores cartilaginosas, de concavidade para fóra, divergentes, portanto, e por duas peças ósseas divergentes, com dila- tação nas epifises e diafises, ligadas anteriormente por uma cartilagem. Dedos inteiramente livres, não fimbriados, com tubérculos sub-articulares bem desen- volvidos; calo metacarpal interno o\'al, inteiro; calo metacarpal externo maior, esferoide, inteiro; ultima falange normal: l.° artelho sem dilatação aparente; 2.®, 3.® c 4.® artelhos bem dilatados, espccialmcnte o 3.® e o 4.® que são pro^dos de discos achatados dorso-ventralmente e recur\-ados para cima; 5.® artelho com dilatação apenas perceptivel; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 2, 5, 3, 4; articulação tibio-tarsal alcançando o timpano. Disco ventral evidente. Corpo totalmcnte liso, com granulação bem evidente apenas na face posterior das còxas, às vezes algumas verrugas esparsas no 1/2 posterior do corpo. Estrias laterais frequentemente bem rugosas, dando mesmo a impressão de uma saliência uniforme. Tarso com face inferior rugosa. Coloração (álcool) : — Coloração de fundo variavel desde o bruneo quase negro ao marmoreo-rosado ou marron com tonalidades róseas; u’a mancha escura na cabeça, tocando as palpebras, em forma de cálice de pé bifido, que alcança a espadua; duas manchas ou estrias laterais que, partindo das espaduas seguem em linha reta e vão tocar as virilhas, ou, às vezes, se interrompem na altura do meio do urostilo; o resto do dorso e lados providos de pequenas manchas irregulares escuras, dando ao todo uma impressão marmórea; membros anteriores e posteriores tarjados de escuro dorsalmente; face inferior dos mem- bros pintalgada de marron ; abdômen al\'adio ; região guiar com sombra marron- clara ou escura; região loreal, canto rostral e focinho com tonalidade acinzentada. Coloração (vivos) : — Parte ventral do corpo e dos membros ah'adia. Dorso cinzento- esverdeado com reflexos azulados; região loreal mais escura; duas faixas laterais amarelo-avermelhadas ou bem escuras, com bordos amarelados que, partindo dos olhos vão até os membros posteriores; membros com faixas transversais (tarjas) escuras, dorsalmcnte. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. nntantan, 22:63-74, Xor.» 1950. A. T. LE,\0 65 Ha grande r-ariedadc na tonalidade das cores, havendo exemplares onde predominância do avermelhado ou rosado intenso ou mesmo bruneo quase negro ou ainda acinzentado. Ventre creme ou amarelado. • Voc: — Ti — Ti — Ti — Ti — ou Pi — Pi — Pi — Pi — que se repetem rapidamente, em cerca de 1 segundo. Hcü/ital: Vivem no chão, debaixo das folhas mortas ou em buracos, em sitios bem húmidos e sobreados. Nota: Encontramos no chão (buraco), a cerca de 25cm de profundidade u’a massa espumosa contendo ovos grandes, creme, sem pigmentação, que supo- mos pertencer a esta espccie. DISCUSSÃO Lutz (1926) descreveu uma especie de Lcptodactylus, L. trhilialus de matéria! colhido na mesma região que o L. tiaiuis, dando a seguinte descrição . “Esta especie c, sem du\-ida, muito Hzinha do L. nanus no tama- nho e na biologia, mas as differenças tanto do desenho como da coloração, e a falta de transiçao não permitte reuml-as. Foi encon- trada nas mesmas r^iões, mas em pontos differentes. O Irivitialus, obser\'ado vivo, mostra muita tendência a esconder-se durante o dia. A femea adulta mede cerca de 22mm cm comprimento. A lingua é livre atraz e os dentes vomerinos formam dois jicqucnos grupos rcctilineos com pequeno intcr\-alo. No dorso do tronco ha tres estrias longitudinais de côr ter- racota ou um pouco mais vermelhos. A dorso-mediana liinita-sc à metade posterior do dorso. .-\s laterais principiam sobre a pálpebra superior e terminam pouco antes da prega inguinal. Nos últimos 4mm a côr avermelhada vira em crême. .\ mesma côr apparece numa fita sinuosa que principia abai.\o do olho e acaba na raiz do braço. Passando por baixo do timpano, torna-se mais estreita. A côr terracota aparece também no lado dorsal do cotovelo e joelho. e.xtendendo-se sobre as partes vizinhas. Num exemplar menor a estria mediana ínrade também a metade anterior do dorso, tomando- se mais fina e interrompida. Tenho um exemplar do Alto da Serra de Cubatão e alguns de Campo Belo, encontrados dous debaixo de tionco de arvores der- rubadas e outros no capim. Não se conhece a voz”. 66 SOBRE DOIS BATRAQÜIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES Tinha razão Lutz ao considerar a sua especie muito vizinha de L. nanus, pois esta apresenta extensa variedade na tonalidade do seu colorido, especial- mente os jovens que mostram aquela coloração avermelhada das faixas laterais que talvez tenha sido uma das causas mais salientes no estabelecimento do L. triviHatus. Bertha Lutz (1947) assim se exprime sobre estas duas especies: “ Lcptodactylus nanus, including L. trizdttatiis, which is probably a colour^phase ” Temos mais de uma centena de exemplares, capturados todos num espaço de menos de 200™*, na Ilha dos Alcatrazes, nos quais são vistos os mais varia- dos tipos de tonalidade e desenho. Pode-se mesmo com certa facilidade separar 4 tipos diferentes: a) acinzentados, com máculas pouco visiveis ou mesmo ne- groides; b) os mesmos acima referidos, porém, com o tegumento notavelmente mais claro, cujas máculas aparecem com nitidez; c) em c se enquadram os representantes de o e b que jxissuem 2 faixas laterais claras; d)' exemplares pequenos, iguais aos precedentes tendo, todavia, as faixas laterais ávermelhadas ou róseas e que representa com notável semelhança o L. Irivittatus de Lutz. Não encontrando nenhum elemento que nos autorize proceder de modo con- trario, consideramos o L. trizittalus sinonimo de L. nanus, representando o primeiro, como bem pondera Bertha Lutz (loc. cit.), apenas uma fase de colorido do segundo que, aliás, possue todas as características de especie polimórfica. Hyla sp. Hyla de tamanho medio. Cabeça sub-ciicular, com comprimento c largura quase iguais. Boca com hiato começando na altura do bordo anterior do timpano. Focinho saliente, recurvado para cima, com as narinas na extremidade do lòro, havendo entre ambas um sulco. Canto rostral bem evidente, com lôro rcgulannentc exeavado. Timpano na superficie da pele, às vezes ligeiramente acima desta, circular, pouco menor que a metade de um diâmetro ocular longi- tudinal; uma prega supra-timpanica que começando no bordo posterior do olho arqueia-se levemente e vai tocar a face superior do ante-braço. Olho saliente, com pupila oval, horizontal. Dentes vomerinos em duas fileiras mais ou menos retas, quase se tocando, com 6-7 dentes em cada lado, situadas pouco antes do meio das coanas. Coanas ovoides, de tamanho relativo, de abertura francamente para fóra. Pré-maxilares em ponta intemamente, estas recur\adas para cima, com dentição uniforme, em 16 em cada fileira. Maxilares com dentição uniforme. Mandíbula edentula. Lingua semi-circular ou cordiforme, pouco entalhada e livre posteriormente. Aparelho estemal do tipo arei fero; omostemo cartilaginoso. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mem. Iiut. Batantan, J2;63-74. Not.® 1950. A. T. LEAO 67 com dilatação em forma de pá de ponta romba; xifistemo cartilaginoso, em forma de caradeira, de ponta quadrangular. Aparelho hioideo constituído por duas peças ósseas recur\-adas para dentro, ligadas anteriormente por uma cartilagem, com extremidades basais dilatadas e distais redondas e finas. Dedos inteira- mente livres, fimbriados, com tubérculos sub-articulares evidentes; calo meta- carpal interno pouco saliente, longo, fino, inteiro; calo metacarpal externo sa- liente, grande, dividido até o meio, de ponta externa mais longa que a interna; ultima falange dilatada, provida de disco adesivo bem desenvolvido, achatado no sentido dorso- ventral, recur\‘ado para cima; ordem de tamanho dos dedos: 1, 4, 2, 3. Artelhos palmados, fimbriados, com tubérculos sub-articulares evidentes; calo metatarsal interno saliente, ovoide, inteiro; calo metatarsal externo esferoide, bem menor que o interno (cerca de 1/4 do tamanho daquele), inteiro; 1.° e 2.® artelhos livres, 2.® e 3.® com membrana apenas até a 1.=* articulação, 3.® e 4.® e 4.® e 5.® com membrana até a 2.* articulação; ultima falange dilatada, provida de um disco adesivo bem desenvolvido, achatado dorso-ventralmente, recurvado para cima; ordem de tamanho dos artelhos: 1, 2, 3, 5, 4; articulação tibiotarsal alcançando o meio do lôro. Face dorsal do corjx) com granulações esparsas; cabeça com granulação mais intensa que o corpo, cspecialmente no topo desta; face dorsal dos membros igual ao corpx); face anterior dos membros inteira- mente lisa; face posterior das coxas, bem como toda a região ventral do corpo bem granulosa. Coloração (vivos) : Dorso creme, cinza ou bruneo (sem máculas) ; face anterior c posterior das coxas amarelo-citrino com pjequenas manchas transversais escuras. Coloração (álcool) : Coloração de fundo variando do creme ao bnineo, com toda a parte da cabeça anterior aos olhos sempre mais escura; às vezes uma barra reta, mais escura, interpalpebral ; flancos às vezes mais escuros que o dorso, formando como que uma barra dorsal clara; região ventral alvadia ao creme-jnlha ; femur transfaciado de marron, dorsalmente; tibia transfaciada só na face ventral; região dorsal do corpx), às vezes com máculas irregulares mar- rons; 05 exemplares de intensidade de coloração media dão, dorsalmente (corpo e membros) a nitida impressão de um fino reticulo; p)és finamente manchados de marron na face dorsal. Girinos:' Numa Bromeliaceae onde capturamos adultos, obtivemos dois girinos de mais ou menos 16mm de comprimento, cuja formula das laminas den- tarias, apjesar de mal conser\-ados, pudemos determinar como sendo 1 1 — 1 3 Vos: Kriii — Kriii — Knn — em tudo semelhante à voz da Hyla perpusilla da Ilha da Queimada Grande. 68 SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DOS ALCATRAZES Habitat: Vivem em Bromcliaceae terrestres, em cujas coleções dagua reali- zam o ciclo evolutivo. Distribuição geográfica: Ilha dos Alcatrazes, São Paulo, Brasil. Nota: A Hyla aqui tratada, bem como Hyla perpusilla da Ilha da Quei- mada Grande, objeto de outra publicação, faz parte do complexo Catharinae. Não tentamos a determinação da Hyla em questão pelas razões seguintes: a) a Dra. Bertha Lutz, do Museu Nacional, está fazendo um estudo de con- junto desse grupo e promete para breve a publicação de uma monografia; b) o nosso material foi, por aquela distinta anfibiologista, examinado e a quem cedemos alguns exemplares. Nada, pois, mais logico que esperar os seus re- sultados. RESUMO E’ relatado o encontro, na Ilha dos Alcatrazes, São Paulo, Brasil, de Lcptodactylus naitiis e de Hyla sp. (do grupo Catharinae). São oferecidas descrições e fotografias, bem como alguns dados sobre a biologia de ambas as especies. .'\pós o estudo do abundante material obtido chegou-se à conclusão que L. trivittatus Lutz, representa apenas fase de colorido de L. nanus. ABSTRACT In the Alcatrazes Island, State of São Paulo, Brazil, were caught L. nanus and Hyla sp. (of the complex Catharinae). Descriptions, photos, as well as some biological data of both species are given. BIBLIOGRAFIA 1. Luts, A. — Manguinhos, 10 de março de 1926. 2. Luís, B. — Copcia 4 : 242, 1947. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Medidas (m m) Nome: HYLA Compr. docoípo;.. Compr. da cabeça Larjcura da cabeça Compr. do fcmor Compr. da tíbia Compr. do pé á poota do t.o artelho: Menor di.Mancia entre as choanas: ^’P*Ço entre as narinas: DísL bord. anL narina i ponta do (oeinbo: DísL bordo posL caL carp. a ponta lo dedo:... DisL bordo po.t. narina ao bord. ant. ttmpano: Altura do limpano (transr.): Lariç. do tímpano (lo.-qçitod .): Diâmetro ocular (longitud.): DísL bordo ant. olho à ponta do focinhe: Espaço interorbital anterior : 963 19.4 8.0 7.8 9.4 10.8 13.7 1.8 1.8 0.7 8.1 5.8 1.1 1.1 2.4 I 3.5 I 4.1 »2 21,S 8.6 8.3 9J llj 14.2 1.8 1.8 0.8 5J 6.1 1.1 I.l 2.6 4.0 48 933 22.0 8.7 83 9.4 :i.s 14.4 1.9 1.7 0.7 5.4 63 13 13 2.6 4.1 43 948 23.0 8.8 88 9.7 12.0 14.2 1.9 2.0 0.7 &7 6.8 1.4 1.4 3.0 4.0 4.8 945 23,0 9.0 8.9 9.6 11.4 14.4 1.9 1.9 0.8 5.6 7.0 1.5 1.4 33 4.0 4.6 961 26.4 10.4 10.2 12.4 163 188 2.6 i.9 08 6.6 8.0 1.6 1.6 33 4.8 6.0 934 273 10.4 10,1 11.4 14.4 18.4 23 23 0.8 6.4 83 1.6 1.6 33 5.8 6.2 947 28,6 11.5 10,8 13.6 16.6 21,0 2.8 13 0,8 7,0 8,6 1.7 1.6 3.4 u,S 6.4 949 30.7 123 11.7 138 16,6 20.7 2.7 2,3 08 73 8.9 13 1.8 1.1 5.7 6.6 946 31,0 11.6 113 13.8 15.6 20.6 2.8 2.4 0,8 7.0 83 2.0 1.8 4.0 31 6.4 Nume; LEPTOD.ACTYLfS .SA.NUS y Compr. do corpo: Compr. da cab«^a: Larxura da cabcca: Compr. d> ícmur:..,,,.,.,,, Compr. da tíbia: Compr. do pe â ponta do 4.o artelho: •Menor disUnca en-re as choanaa: 3*paco entre as narinas:.,,.,. DísL bordo ant. narina i poota do tocinbo;... DisL bordo post. cal. carp. á |.onU 3.0 dedo:... DísL bordo post. nanna ao bord. ant. tímpano:.. Altura do tímpano (Iraosr.): Laix. do tímpano (lonxitud.): Diâmetro ocular articulas, como por e.\emplo em diluição infinita, a velocidade (v) é uma função da carg;! (q) e do SciELO 11 12 13 14 15 78 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS raio (r) da partícula, da força (H) do campo eléctrico, e da viscosidade (t^) do meio onde a particula caminha. q H V = (Fórmula 1.) 6ar T] Para partículas de forma desconhecida é melhor usar a seguinte fórmula : q H D V = (Fórmula 2.) k T onde D = constante de difusão da particula naquele meio T = temperatura ahsoluta (.° Kelvin) k = constante de Boltzmann. Estas fórmulas só podem ser aplicadas quando cada partícula se movimenta independente de outras particulas, num ambiente isento de outras cargas. A mobilidade (u) que significa a velocidade da partícula num campo eléctrico de força H=l, é V q D u = — = (Fórmula 3.) H k T A electroforese difere da iontoforese pelo fato de se caracterizar por uma mobilidade menor do que aquela calculada pela fórmula 3. A particula coloidal cujo movimento observamos na electroforese exerce uma atração sobre os dip>olos do solvente e sobre os ions de carga oposta que provém da dissociação das substâncias tampões e de outros sais presentes. A nuvem destes ions que cir- cundam a partícula carregada vai se movimentar na direção oposta e deste maneira diminuir a mobilidade, dependendo este efeito ralentador da fôrma e do tamanho da particula coloidal que forma o núcleo, e da concentração e carga — mas não da natureza química — destes ions na nuvem (Gouy). Quando a concentração dos outros ions é grande em comparação com a concentração do coloide nuclear, pode- mos calcular a força iônica (ji) pela fórmula de Lewis (Fórmula 4.) H = i 'i M : onde *i = concentração de cada espécie *i = valência de cada espécie de ions de ions cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Bntantmn, »;7S-126, Not.« 1950. G. HÕXTER 4 R. MUNGIOLI 79 Xas determinações electroforéticas é preciso indicar sempre a fôrça iônica (p) do meio usado, pois o valor numérico da mobilidade depende deste fator. O efeito ralentador desta nuvem iônica sobre a mobilidade da particula central pode ser calculada (segundo Gorin) á base das teorias de Helmholtz e de Freundiich e von Smoluchowski. Assim, o sistema "coloide + nuvem iônica” pode ser con- iiderado um condensador com uma camada formada pelo coloide central e outra pelos ions de carga oposta. A distância entre estas camadas é conhecida como a grossura da camada eléctrica dupla (Helmholtz) ; ela é infinita em diluição infinita e diminui com o aumento da concentração iônica quando a casca iônica se apro.xima cada vez mais do coloide nuclear. Segundo Freundlich c von Smo- luchwski, entretanto, esta casca iônica que forma a placa e.xterna do condensador não tem limites exteriores abruptos, mas continua estendendo-se através do liquido circundante. No lugar do condensador de Helmholtz podemos agora colocar uma particula carregada que se circunda de um campo eléctrico. O potencial deste campo é constituido pelo potencial electrocinético (Ç) que na ausência de sais é uma função da carga (q), do raio (r) da particula (presupostamente esférica) e da constante di-eléctrica (e) do solvente. q Ç = (Fórmula 5.) E r Combinando agora as fórmulas 1. e 3. e substituindo a carga (q) pelo \'alor da fórmula 5. vamos obter a mobilidade electroforética q u H 6 .X r ij 6 n n (Fórmula 6.) Esta fórmula corresponde àquela derivada por Debye e Hückel para uma particula esférica isolada de outros ions. Helmholtz calculou a seguinte equação. u = 4 .X n (Fórmula 7.) para uma particula cilindrica com o eixo na direção do campo eléctrico. Pode- mos generalizar estas fórmulas escrevendo P JSciELO. 11 12 13 14 15 16 1 so ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS X, E U = (Fórmula 8.) c n onde (C) é uma constante que depende da forma da partícula, mas não do seu tamanho. C = 4 :t para cilindros, e C = 6 -t para esferas. O potencial electrocinético depende somente da natureza da superfície da partícula, e a mobilidade fica assim independente do seu tamanho. A presença da núvem iônica vai modificar esta mobilidade por um fator que depende da grossura (d) da camada eléctrica dupla, ou, em outras palavras, da distância do centro eléctrico desta núvem. Podemos calcular o potencial electrocinético resultante (Ç®*) pela fórmula q q q d Ç = = (Fórmula 9.) R t r £(r-j-d) e r (r+d) Combinando agora u = q r com q=:Ç er( — 4-l)da fórmula 9. C r q R d \-amos obter (Fórmula 10.) Quando (d) fica grande, em soluções diluídas, a mobilidade se aproxima da fórmula 8. Xa derivação de Debye e Hückel X, E U = H + y.r ) 6 .T n relacionando (x) com (d) pela fórmula (Fórmula 11.) (Fórmula 12.) Para partículas grandes onde X r » 1 a grossura (d) fica independente do tamanho (r), um fato verificado experimentalmente por Abramson e por Mooney que observaram que a mobilidade num campo eléctrico de partículas esféricas de cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Bntantan. 22:75-126, Nor.® 1950. G. HOXTER & R. MUNGIOLI 81 uma emulsão cresce com um aumento do raio até atingir um \-alor limite acima do qual a mobilidade se toma independente do raio. A adição de sais nestas emulsões tende a igualar a mobilidade para particulas de todas as dimensões; o mesmo acontece quando as goticulas dá emulsão são cobertas com um filme de proteina. O valor de (d) pode ser calculado jiela fómiula. £ k T d- = 8 a N e - p (rórmula 13.) onde N = número de Avogadro e = carga do eléctron p = fôrça iônica Para o valor de (x) da fómiula de Debye e Hückel existe uma cxiiressão idêntica : 8 a X e • p X- = (Fómiula 14.) E k T Entretanto, a fómiula 14. só pode ser aplicada no caso da dissociação total. Assim, para soluções aquosas de sais monovalentes, a O.® C. c com (e) igual á constante di-eléctrica da água 1 3,06 — = X 10-* cm onde c = concentração molar. X y/c Para particulas esféricas podemos calcular o raio (r) pela fórmula k T r = (Fómiula 15.) 6xq D Um fator que ainda não foi considerado é a solvação das particulas pela aproximação e imobilização parcial de dipolos do solvente. Este fator vai influir sobre a medida da viscosidade (q) c diminui com a redução do potencial clectro- S2 ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS dnético (Ç), como por exemplo ao aproximar-se do ponto iso-eléctrico, ou com um aumento da força iônica (p) quando há substituição dos dipolos pelos ions de carga única. Pode-se deduzir que a mobilidade electroforética depende de inúmeros fa- tores e que as fórmulas citadas ser\-em apenas de base para a interpretação qualitativa das relações entre a constituição da superfície e o tamanho da partí- cula com o seu movimento num campo eléctrico. O único dado quantitativo tjue nós podemos obter com facilidades pelas observações electroforéticas é a mobilidade aparente ("a). “A = u — “R onde (“r) é o efeito ralentador da nuvem de ions e dipolos que circundam a particula. Este efeito deve desaparecer no ponto iso-eléctrico, e as determinações da mobilidade na região iso-eléctrica darão pro- vavelmente valores que se aproximam mais da fórmula calculada. Entretanto, a carga (q) é muito j)equena na região iso-eléctrica e o movimento é tão lento que as determinações podem ficar prejudicadas pelo tempo demorado de obser- vação. III) MÉTODO ELECTROFORÉTICO a) Descrição geral do aparelho O equipamento electroforético consiste essencialmente de uma célula transpa- rente, colocada entre dois pólos de um campo elétrico, e de um sistema óptico para a observação do movimento das substâncias na célula. Esta célula tem a forma de um tubo de “ü” e é de corte rectangular para permitir a observação e facilitar a eliminação do calor de Joule produzido pela passagem da corrente na solução. \’árias secções que deslizam sobre faces esmerilhadas subdividem a célula permitindo a separação e isolamento das várias partes. Estamos traba- lhando com 4 jogos de células: I — Célula micro de 2 ml, para uso analítico. II — Célula semimicro de 11 ml, para uso analítico e preparativo. III — Célula semimacro de 75 ml, para uso preparativo. IV — Célula macro de 150 ml, para uso preparativo. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 ricriA 1 Cclttla mxro Ficuia 2 Cclula fcniitnicro SciELOi'o 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm Mcm. Inst. Batanton, 22:75-126, Xor.® 1950. G. IIOXTER & R. ML*NGIOLI 85 b) Instalações tnccâiticas O aparelho é montado sobre dois trillios dc aço de 16 aii, coni um compri- mento de 6 m e uma distância de 20 cm entre os trilhos. A fonte de luz é uma lâmpada de 100 watt, tijK) H 4, com um arco de mercúrio de 1.5 x 25 mm. A lente “Sehlieren" de 10 cm tem uma distância local de 90 cm e forma o lado e.xterno de uma das janelas do termo^tato. os outros lados sendo consti- tuidos i)or vidros planos que não devem apresentar defeitos ópticos. Estas janelas têm que ser duplas jwra evitar seu embaçamento pela deix>sição da "humidade atmosférica. Conserva-se o esjiaço entre as partes da janela isento de vajxjr de agua i>ela passagem de ar seco ou por meio a de metal que se jxkIc mover verticalmente jwr meio de uma engre- nagem cônica e um eixo que jiassa em laixo da máquina fotográfica até outra engrenagem que liga com um motor ao lado esquerdo do vitlro fusco. O mesmo motor inflige um movimento horizontal ao plano do \-idro fosco c da chapa fotográfica, sincronizando assim os dois movimentos. A objetiva da máquina fotográfica é uma lente de 5 cm com uma distância focal dc 90 cm. Em frente -da objetiva hâ um fecho de sector, movido jwr um motor siiicroniz.ado, e um disco cf)m 6 alterturas diferentes que, segundo Longsworth, tem a vantagem de ■eliminar to p > y vamos obter tres curvas, com tres picos que correspondem ás tres divisas entre as soluções (a -}- P + y)] contra (“ + ?)> (“ + P) contra (a), e («) contra o tampão. Xo lado catódico do tubo, onde as proteínas vão fugir do catódio, existem as mesmas condições e as mesmas imagens. Para diferenciar as imagens, chamamos o lado anódico onde as proteínas caminham para cima, de lado ascendente (lado A), e o outro lado, de lado descendente (lado D). As duas imagens, entretanto, não são estritamente idênticas, pois si no lado ascendente as proteinas estão entrando no tampão, no lado descendente as proteinas vão caminhar para dentro da solução proteica que tem uma viscosidade e concentração iônica maior que o tampão, em virtude da contribuição dos ions proteicos. Xa preparação da so- lução proteica para a electroforese, a proteína é colocada em diálise contra a solução tampão até estaljelecimento de equilíbrio iônico entre as duas soluções. As concentrações electroliticas das duas soluções, entretanto, nunca são idênticas cm virtude do equilíbrio de Donnan. Com estas diferenças de concentração apa- recem outras divisas que não são provocadas por proteinas, e que devem ser eliminadas ou afastadas das divisas proteicas pela correção das concentrações electroliticas ou pela escolha de condições nas quais a diferença da velocidade de migração das divisas é bastante grande para permitir a separação entre as divisas proteicas e as outras. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mem. Inst. BoUnUn, S:"5-126, Xot.» 1930. G. HOXTER Sc R. MUXGIOLI 95 O afastamento lateral, na direção da migração, de cada pico de curva, da posição original da divisa inicial entre as duas soluções indica a mobilidade, e a área em baLxo da cur\-a mede a concentração daquela proteina que provocou a formação da respectiva divisa. O método de Longsworth é simples e rápido e pode ser aplicado para medir pequenas diferenças de concentração, pois a altura dos picos da curva pode \-ariar conforme a velocidade relativa entre a lâmina e a chapa. ■3 — ifétodo da escala de Lamm- Neste método não há fenda, nem lâmina, mas unicamente uma escala trans- parente que se coloca perto da célula no caminho dos raios que vêm da fonte de luz. A escala é fotografada através da célula, c as suas divisões vão sofrer desvios em virtude das diferentes refrações na célula. Comparando as divisões desviadas, como aparecem na fotografia, com as posições originais, regularmente espaçadas, da escala, temos uma medida da re fração em cada ponto da célula. Um gráfico destes desvios contra a altura da célula forma uma cur\a que repre- senta a posição das divisas e as concentrações das substâncias que provocaram estas diferenças. O método de Lamm fornece resultados quantitativos muito e.xatos e serve para observar divisas bem fracas onde as diferenças de concentração são peque- nas, mas o trabalho de avaliar as curvas ponto por ponto, a partir dos desvios sofridos pelas divisões da escala, é extremamenfe penoso e exige muito tempo. O maior inconveniente deste método, e também do de Longsworth, é o fato que a migração e a formação das divisas não podem ser observadas diretamente e que é preciso justapor -várias fotografias, tiradas de tempo em tempo, para jtoder apreciar o progresso da separação das fracções. Esta dificuldade foi comple- tamente eliminada pelo método de Philpot-Svensson. 4 — Método de Philpot-Svensson- O processo da formação das imagens neste método é puramente óptico, permitindo a obserração direta e continua do perfil electroforético sem a neces- sidade de movimentar lâminas ou chapas fotográficas. Ele se baseia numa com- binação das “Schlieren" de Toepler com um processo de Thouvert que Philpot tinha usado para observação das divisas que se formam na ultracentrifuga. Svensson adaptou o método de Philpot ás observações electroforéticas com a seguinte modificação: A imagem de Philpot representa uma área preta num fundo branco, emquanto Svensson obtem uma linha branca num fundo preto. Há ainda outra modificação que fornece uma linha preta num fundo branco. As respectivas vantagens destas modificações vão ser apontadas mais tarde. O 2 3 4 5 6 7 11 12 13 14 15 16 96 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS princípio geral do método é o seguinte: A faixa de luz depois de atravessar a célula, passa por uma fenda inclinada, colocada no lugar da lâmina horizontal de Longsworth, continuando p)ela objetiva da máquina fotográfica e por uma lente cilíndrica de eixo vertical que se encontra entre a objetiva e o vidro fosco. ô = a b dn dh e a área incluída entre a base e a curva de Gauss que representa as variações da concentração na divisa é ^ a b / ô dh = (na — ni ) Ficcha 15 Os raios que vão atravessar a célula nos lugares onde não existem dhnsas, não sofrem desvios e vão formar uma linha vertical no vidro fosco. Porém os raios que são desviados pela refração nas divisas vão atravessar a fenda inclinada num ponto mais baixo e lateralmente deslocado, passando pela lente cilíndrica num ponto mais afastado do eixo e sofrendo porisso uma inflexão maior» caindo á direita da linha dos raios normais da imagem no vidro fosco. Quanto maior a refração na célula, tanto mais a imagem do raio desviado se afastará da linha da base dos raios normais não desviados. A imagem representa assim uma linha base e uma curva que corresponde á curva obtida pelos outros pro- cessos. Os cálculos são os mesmos como antes. O desvio de cada ponto é cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Batantan, 22;/-5-126, XoT.® 1950. G. IIÕXTER & R. MUXGIOLl 97 A concentração de proteína que provocou esta diferença dos índices de refração é A constante de proporcionalidade (g) que no método de Longsworth de- pende das velocidades da lâmina e da chapa fotográfica, torna-se aqui uma função do ângulo (s) da fenda inclinada e do fator do aumento da máquina fotográfica que inclui agora a lente cilindrica. 1 g = m tg í (Fórmula 19.) m a b K tg ® Em geral, não há necessidade de determinar as constantes (m,a,b,) do aparelho porque as concentrações relativas dos componentes electroforcticos inte- ressam mais que as quantidades absolutas; estas podem então ser calculadas facilmente a partir da concentração proteica total que se determina por dosagens químicas, de preferência pelo Micro-Kjeldahl. O incremento especifico (K) é praticamente igual para todas as fracções proteicas do plasma, com exceção das lipo-proteinas. O valor médio de (K) para plasma humano é de 0,00185 por grama de proteina em cada 100 ml de solução para a linha D do espectro visível. A fenda inclinada tem uma forma especial, inventada por Svensson para formar linhas finas e nítidas. A al)ertura da fenda é variável entre 0 — 5 mm, como também o ângulo (0) da fenda com a vertical. FicrtA 16 98 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS Colocando uma lâmina inclinada no lugar da fenda inclinada de tal maneira que os raios desviados para baixo são interceptados por esta lâmina, nós vamos obter como imagem uma área escura cujos contornos correspondem á linha branca obtida pela fenda. Colocando um fio inclinado no lugar da lâmina, a imagem vai ser uma linha preta num fundo claro. Estas variações encontram aplicações em alguns casos, mas o resultado é independente do método de obtenção do perfil electroforético. O mais recomendado é o método da fenda inclinada se- gimdo Svensson que permite obter fotografias nítidas. Não há necessidade de usar chapas ou filmes, uma tira de papel fotográfico comum (Kodabromide) é suficiente, pois bastam alguns segundos de exposição durante os quais não há movimento perceptível do perfil electroforético. Láteína inclinada Feixia Inclinada Figura 17 2 3 4 5 6 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mem. Inst. Bntantan, 22:75-126, Xor.» 1950. 5 — Ajustamento do sistema óptica G. IIOXTER & R. MUXGIOLI 99 O sistema óptico deve ser construido do melhor material, com lentes bem corrigidas e com um mínimo de aberrações. O ajustamento do conjunto é muito importante e deve ser feito com todo o cuidado possível, obedecendo as seguintes recomendações gerais: 1) Retirar a célula do banho. Ajustar a posição da fonte de luz e da primeira fenda até formar uma imagem nítida de 25 mm de largura, no mínimo, no plano da segunda fenda. 2) Recolocar a célula, retirar a lente cifindrica e a fenda inclinada. .Ajustar a posição da objetiva da máquina fotográfica até formar uma imagem nítida da parte central da célula no vidro fosco. Recolocar a lente cilíndrica. 3) Colocar uma lâmina ou fenda horizontal no plano da fenda inclinada e ajustar a posição da lente cilíndrica até obter uma imagem nítida no vidro fosco. 4) Substituir a lâmina horizontal pela fenda inclinada e observar que a imagem forme uma linha vertical nitida. 5) Verificar a ausência de aberrações das lentes pelo seguinte processo: Aberrações horizontais Com a segimda fenda em posição horizontal e sem a lente cilíndrica, observar a imagem no vidro fosco de uma escala transparente de precisão que se coloca horizontalmente no lugar da célula no l)anho. As divergências das divisões da escala não devem exceder de 0,04 % em 30 mm. Aberrações verticais Com a segunda fenda em posição horizontal e bem aberta, c com a lente cilíndrica no lugar certo, obs^í-var a imagem no vidro fosco de uma escala transparente de precisão colocada , «rticalmcnte junto da segunda fenda, com as divisões paralelas ao eixo da lente cilíndrica. As divergências das divisões da escala não devem e.xceder de 0,05 % em 25 mm. 6 — Diferença entre lâmina e fenda. As imagens formadas pela fenda consistem de uma linha mais ou menos fina cuja grossura depende da abertura da fenda. O centro desta linha é sempre fixo e não depende do tempo de exf>osição. A lâmina dã como imagem uma área bem nitida, pois não há difraçâo na região da sombra, mas a posição dos contornos desla área varia com o tempo de e.xposição. Porisso é preferível. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 100 ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS ein geral, trabalhar com a imagem linear e reservar a aplicação da lâmina para os casos onde a análise de dois picos muito próximos exige maior nitidez do perfil electroforético. IV) TÉCXICA DO EXPERIMEXTO ELECTROFORÉTICO a) Preparo do material Para obter uma velocidade electrolorética constante é preciso evitar variações dos fatores que influenciam o movimento da proteina: a força do campo eléctrico, a viscosidade do meio, e a carga da proteina. Usamos nesta publicação a proteina como exemplo tipico de material que se presta para investigações electroforéticas, mas as mesmas indicações são válidas para trabalhos com outros coloides ou substâncias ionizáveis em geral. A carga da proteina depende do pH e para assegurar a constância do meio, a solução proteica é dialisada contra uma solução tamjão até estaljelecimento do equilíbrio iõnico. A mesma solução tampão é depois superposta na célula. O efeito de Donnan vai impedir um equilíbrio perfeito, mas este defeito pode ser corrigido parcialmente pela diluição da proteina dialisada com água distilada á razão de 0,05 ml de H^O para cada ml de solução, ou pelo uso de um tampão 1,08 vezes mais concentrado para o liquido de superposição. O pH da experiência é escolhido de tal maneira que todas as frações da mistura proteica caminham na mesma direção, mas com velocidades diferentes. Para substâncias labeis, usa-se o pH de maior estabili- dade. Pode mesmo haver casos onde se recomendam duas ou mais determinações electroforéticas em valores diferentes dc pH. A temperatura da experiência é geralmente entre 2 — 5.® C c tem que ser consen-ada constante durante toda a electroforese, com variações máximas de 1/10 de °C. Escolha-se de preferência aquela temperatura onde as variações de densidade das soluções são mínimas, para evitar correntes de convecção c mudanças de viscosidade. A escolha do tampão é muito importante pois a nitidez das curvas depende das condições nas divisas, onde as rariações de condutibilidade devem ser insignificantes comp>aradas á condutibilidade total. Isto significa que a concen- tração proteica deve ser bai.xa em relação á concentração iònica do tampão para que não haja grande diferença entre as condutibilidades da solução proteica e da solução tampão. Também, as mobilidades das proteínas e dos ions do tampão não devem ser muito diferentes. Os melhores resultados são obtidos com tampões cujo anion tem peso molecular elevado, para as e.xperiências na região alcalina das proteínas. Para as análises electroforéticas de plasmas e soros usa- mos um tampão de veronal sódico (di-etil-barbiturato de sódio) decinonnal com 0,71 % de oxalato de sódio e ácido di-etil-Taarbitúrico 0,02 normal, dando um cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcin. Tnst. Butantan, 22:75-126, Xot-.o 1950. C. HÕXTER & R. MUXGIOLI 101 pH de 8,6 e uma força iônica de 0,1. Xão se recomenda uma força iônica maior de 0.2 jiara evitar uma potência elevada na célula que nunca deve suportar mais de 5 watt. .\ concentração proteica que pelas razões acima indi- cadas deve ser a mais liai.xa possível, fica na dependência do sistema óptico. Para análises de plasma ou soro jielo método de Philpot-Svensson u.samos uina concentração em redor de 1,5^ de protejna. diluindo a solução dialisada com solução tampão até obter uma diferença de indice de refração entre jiroteina e tamiião de 0,0030 que indica 1 — 2 ^/c de proteína total na solução. Tendo o cuidado de eliminar ou afastar as fal-s-as divi.sas que nao são provocadas por proteínas, pode-se de.scobrir 0,05 mg de proteína {lor ml de solução. h) Diálisc A solução proteica que se tleseja submeter á clectroforc.se é colocada ntnri satiuinho de papel celofane e diali.sada contra um volume 50 vezes maior de solução tamiião que se troca por nova solução 6 — 8 vezes durante o temjxj de diálise. Xa temiieratura de 2 — 4”C c sem agitação, a diáli.se leva 3 — 4 dias. mas por meio de um agitador colocado dentro da proteina, este tempo potle ser encurtado jiara algumas horas apenas, esitccialmcntc quando a diálise se processa em tenuícratura ambiente. Xo caso de plasma, a solução tam])ão deve conter um anticoagulante jxtra evitar a desnaturação do fibrinogénio. O progresso da diálisc pode .ser acomiKinhado por medidas conductométricas até que a condutibilidade da solução proteica atinge um valor estável. .\ solução dialisada é então diluída com mais solução tamiião até o teor proteico desejado e centrifugada i>ara ficar límpida. c) Preparo da célula Damos em seguida a descrição detalhada do jtrocesso de enchimento da célula micro, que potle servir de base para tralalhos com as células maiores. É de suma importância que as indicações sejam seguidas com todo o rigor possível, pois o mínimo lapso pode inutilizar todo o material. A célula micro consiste nas seguintes partes: O fundo do tubo de “U", o centro do tulto de “U”, a parte superior do tulto de “U , o vaso anódico, e o vaso catódico, com os respectivos electródios. O seguinte esquema indica os passos a seguir : a) Passar vaselina ou outra graxa semi-sólida nas faces esmerilhadas do tubo de “U” até que cada face deslise com facilidade sobre a face ojwsta. Retirar o excesso de graxa, evitando a todo custo que se suje o canal interno do tubo de “U”. SciELO 11 12 13 14 15 16 SciELOi'o 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm Mem. Inst. BuUntan, 22:75-126, Xot.» 1950. G. IIÕXTER & R. MUXGIOLI 103 c) Deslisar o centro sobre o fundo para a esquerda até fechar os canais da parte do fundo. d) Retirar por meio de uma seringa com agulha comprida a solução pro- teica do canal esquerdo da parte central e lavar este canal 3 — 4 vezes com solução tampão até eliminar toda proteína, verificando o desaparecimento da espuma. Fiovea 21 Retirando proteina Fiorn 22 Lavando com lampJo e) Colocar a parte superior do tulx) de “U” em cima da parte central desviada, de tal maneira que os canais coincidem. Encher o canal esquerdo com solução tampão c o canal direito com a solução proteica até alguns milimctros acima das faces esmerilhadas, tendo o cuidado de eliminar todas as bolhas dc ar. Ficcka 23 Colocando parte saperior Ficuea 24 Enchendo com tampão 2 3 4 5 6 7 11 12 13 14 15 16 SciELOi'o 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L. cm Mcm. Tnst. Bntantan, 22:/5-I26. Xov.» 1950. G. nOXTER & R. MUXGIOLI 105 h) Fimiar a parte superior liem no centro com os parafusos e as molas e colocar os vasos electródicos, ligando seus tubos laterais á cabeça do tubo de “U” por meio de tubos de borracha flexível. i) Encher o ajiarelho com solução tampão até que esta transborde pela parte superior do tubo de "U”. Lembramos que tanto a solução proteica como a solução tamjião devem estar numa temperatura de 2 — 5°C no momento do seu uso. FicctA 28 EnchiTtdo coai Umpõo j) Inserir os electródios que consistem de folha de prata corrugada c soldada a um tubo de prata. Antes da exjieriéncia. os electródios são ativados por electrólise anndica durante alguns minutos, em solução de cloreto de potássio normal, usando um cátodo de carvão. Depois dc cada experiência invertem-se * SciELO .0 11 12 13 14 15 16 cm SciELOi'o 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm Mem. Inst. Bntantan, 22:75-126, Xov.® 1950. G. IIÜXTER & R, MUNGIOLI 107 l) Com um mínimo de agitação colocar o aparelho no banho, previamente esfriado até a temperatura da electroforese. Reajustar o nível da solução tampão nos dois lados do tubo de “ü”. m) Ligar os electródios na fonte de corrente contínua, com o cátodo ou pólo negativo do lado direito (lado da proteina). Esperar 10 — 15 minutos para que o aparelho atinja a temjMíraturri do banho. Acender a lâmpada de mercúrio e focalizar a parte central da célula, sem fendas e sem a lente cilíndrica. n) Deslizar por meio dos pistões, com movimento lento e regular, a parte central do tubo de “U” para o centro até e.stahelecer contacto com os canais do fundo e da jiarte superior. É e.xtremamente imiumante tiue esta manobra seja executada com um máximo de cuidado para evitar a mistura entre as soluções e o consequente desaparecimento das divisas. o) Levantar um pouco a lâmina horizontal móvel. Retirar com cuidado pelo canal esquerdo da cal)eça uma pequena quantidade de tampão ])or meio da seringa automática sincronizada, regulando o seu movimento jjelo interruptor no quadro de controle geral até que as divisas que e.stavam escoiulidas atrás das faces esmerilhadas aparecem no vidro fosco. Como as imagens estão invertidas, a divisa ascendente (lado anódico) vai aparecer cm cima. c a divisa descendente (lado catódico) em baixo. Ficitia 31 Retirando o tamplo p) Escolher o lado que se deseja observar e cobrir a imagem do outro lado por meio de uma máscara apropriada, colocada entre a fonte de luz e a lente “Sehlieren”. Abai.xar novamente a lâmina móvel, colocar a fenda incli- nada e a lente cilíndrica, e verificar que as janelas do banho não estejam emba- SciELO ]Qg ESTfDOS ELECTROFORÉTICOS qadas. Ajustar a posição da lâmpada, sem modificar a sua distância, até que a imagem no vidro fosco se mostre uniformemente iluminada. Ficv»a 34 Colocando o cbassis Ficviia 33 Observando p/vidro fosco r) Ligar a corrente nos electródios e pôr o relógio em funcionamento. s) Tirar fotografias do perfil electroforético que se desenvolve e registrar todos os dados importantes num protocolo, (^’eja modelo.) SciELO Ficva.! 32 Máscara da lente q) Observar e fotografar a curva inicial da divisa entre tampão e solução proteica. ScíELOIq 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm 110 ESTLDOS ELECTROFORtTlCOS Após 10 minutos Após 20 minutos Após 30 minutos Após 40 minutos Após 50 minutos Ap<.>s 60 minutos Após “0 minutos Após $0 minutos Após 90 minutos * Mcm. Inst. BuUuitan. 22 : 75 - 126 , Xot.» 1950 . G. UOXTER & R. MUXGIOU 111 PROTOCÓLO DE ELECTROFORESE Número. Nome. . . Material Caso clinico. Diálise Data do inicio Data do fim Condições Temperatura pH Tampão Força iónica... Volume posto V'olumc retirado Volume f.nal após diluição com tampão Índice de refração do tampão da solução. Condutibilidade do tampão da solução. Electroforese Inicio horas Fim horas- Distância da divisa inicial: Lado .\ Lado D Temperatura do banho Voltagem Amperagem. Fotografia 1) Minutos .Sistema .\nguIo Chassis. 2 ) ” " - - . d) " “ •• - Dist. I-ado .\ D ^ A D A D Medições adicionais Célula usada - Voltagem na célula. Observações .\rea transversal. Fator de aumento... Distância Mobilidade Cálculos Fracção .-^rea Responsável. . Concentração relativa P cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 112 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS V) AXALISE DAS OBSERVAÇÕES ELECTROFORÉTICAS a) Análise dos traçados A análise dos traçados oii perfis electroforéticos fornece dados que permi- tem calcular a quantidade relativa de cada componente da mistura proteica e á sua mobilidade no campo eléctrico. Quando as condições da electroforese são^ escolhidas com cuidado, a imagem do lado ascendente deve dar os mesmos valores que aquela do lado descendente. Xeste caso, recomenda-se analisar apenas o perfil da lado descendente. Onde não foi possivel eliminar diferenças maiores entre as duas imagens, recomendamos usar o lado ascendente para cal- cular as áreas, e o lado descendente para a determinação das mobilidades. As di.-screpâncias entre os dois lados servem para controlar as condições da e.\pe- riência. As electroforeses que dão menor erro e que são mais reproduzíveis são aquelas onde as .divergências entre o lado ascendente e o lado descendente foram eliminadas pelo acerto das concentrações relativas das soluções. Para o mesmo perfil, as constantes (m), (a), (b), e (9) são iguais, e (K) é praticamente a mesma para todas as frações do plasma; no caso de misturas desconhecidas, entretanto, é preciso determinar o incremento específico da refra- ção por análises químicas e refratométricas de cada fração. Para este fim retira-se uma parte da fração por meio da seringa sincronizada, submetendo o- êmbolo da seringa a um movimento lento e uniforme pelo motor. FictitA 37 Serioga sincronizada o liquido da seringa é então analisado por processos químicos para deduzir a concentração da substância (c). Determina-se em seguida a diferença da 1 SciELO Mem. Iiut. Butar.Un. 22:r5-12í, Xor.» 1950. C. IIOXTER & R. MUXGIOLI 113 refração antes e depois de uma diluição com volume igual de solução tampão. Si esta diferença fòr A n, teremos ^ (Fórmula 20.) No ca.so de plasma e de outros liquidos de refração conhecida é suficiente proceder á análise geométrica do traçado para determinar as concentrações rela- tivas dos componentes. b) Análise geome trica Esta é a parte mais trabalhosa e inais arbitrária da electroforese. Embora cada divisa forme um pico bem definido no perfil electroforctico, a avaliação da área em bai.xo deste pico encontia dificuldades quando se trata de subdividir a área total do perfil, que corresponde a várias divisas parcialmente super- postas, e designar aquela parte que pertence a cada divisa individual. Devemos lembrar que os contornos desta área individual têm uma fomia correspondente á curva de Gauss que tem dois parâmetros variáveis: a altura máxima e a largura da base. Teoricamente não há razão para que a curva seja simétrica em tomo da altura máxima, mas na prática encontramos quase sempre curvas simétricas. Passamos a indicar os vários métodos que têm sido usados para analisar os perfis. c) M elodo de Tiscliiis e Kabat Estes autores subdividem a área total por ordenadas que passam pelos pontos de inflecção da ciirva entre os picos. A área assim separada em baLxo de cada pico é determinada por planimetria. Medindo a área total pode-se calcular a porcentagem da cada fracção sobre o total, presumindo que o índice de refração é igual para todas as fracções. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 114 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS d) Método dc Pcdcrscn A área total é a soma das áreas individuais formadas pelas divisas. Cada divisa individual contribui com o seu perfil electroforético, formado por uma área cujos contornos correspondem á uma curva de Gauss. Pedersen subdivide assim a área total por várias curvas de Gauss simétricas onde as ordenadas máximas coincidem com os picos. A área em bai.xo de cada cui^a é determinada j)or planimetria como antes. e) Método dc Labhart A dificuldade do método de Pedersen reside na incerteza de desenhar uma curva de Gauss quando não se conhecem os parâmetros. Labhart inventou uni cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Bntantan, 22:75-126, Xov." 1950. G. HOXTER & R. MfXGIOLI 115 instrumento que utiliza a superposição óptica de cunas nonnais de Gauss. Uni diapositivo com curvas normais de várias alturas projeta a imagem destas curvas em cima de uma cópia ampliada do perfil electroforético. Por inclinação do diapositivo ao redor de um eixo que coincide com o bisector venical das cur\as pode-se variar a área e a base das cur\-as até encontrar aquela que melhor se adapta aos contornos do perfil. A altura da curva normal usada e o ângulo de inclinação do diapositivo permitem calcular a área, evitando assim o uso do planimetro. f) Método dc Ií'icdeiiiaiiii O método de Labhart é trabalhoso e exige um aparelho complicado com lentes sem aberrações, além de se basear na simetria das curvas. Lembrando que se deve esperar pequenas assimetrias nas cim-as de difusão de substâncias que não oliedecem os critérios de pureza indicados jxir Lamm, ^^’iedcmann usa um método engenhoso para avaliar as áreas num aparelho projetor que permite variar a ampliação da imagem sem diminuir a nitidez. Um diapositivo contém 16 curvas normais de Gauss, agrupadas em 4 gnipos dc alturas diferentes e bissectadas verticalmente para permitir a projeção dc metades de curvas normais sobre uma cópia ampliada do perfil electroforético. Pela variação do grau de aumento, tanto horizontal como vertical, da imagem fornecida pelo diapositivo pode-.se adaptar a curva aos contornos do perfil. A área total que é a soma * das duas metades em bai.xo de cada pico é dada pela fórmula. F F F = ( - -f - ) 5= Sc • -d (Fónmila 21.) F onde — indica a área *e F da metade esquerda e — aquela da metade direita da curva, sendo (s) uma íd distância marcada no diapositivo e cuja medida permite calcular o aumento da imagem. Os s^alores dc (F) são tirados de uma tabela ou de um gráfico. Este método é o mais preciso entre todos e permite descobrir divisas {>equenas que não aparecem no perfil á primeira vista quando o pico de sua fracção não se eleva acima dos contornos da cur\a. (Veja por exemplo a curva da fração o, na Figura 39.). A análise do perfil nas partes onde há super- SciELO 11 12 13 14 15 16 17 ]16 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS posição de duas ou mais cunas é um processo demorado que exige a extrapo- lação das curvas e a correção repetida de suas ordenadas cuja soma tem que dar a ordenada do perfil total em todos os pontos. Ficcka 3» Método de Wiedctrunn g) Nosso método Para evitar a possibilidade de erros ópticos na análise pelo método de Wiedemann que exige um aparelho projetor com lentes perfeitas, um diaposi- tivo com cuiras normais e uma tabela das áreas destas curvas, imaginamos um método puramente geométrico para analisar uma cópia ampliada do perfil electro- forético. O nosso processo se baseia na medida de dois parâmetros da curva de Gauss. Examinando a formação das cur\’as no perfil lembramos que elas representam as mudanças do indice de refração nas divisas. Uma divisa é uma discontinuidade onde duas fases de diferentes composições se tocam. To- mando como exemplo a divisa entre a fracção da albumina e a solução tampão onde a tensão inter-superficial é pequena demais para evitar a difusão das duas cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Bntantan, 22:75-126, Xor.® 1950. G. IIOXTER & R. MUXGIOLI 117 soluções em ambas as direções, 'podemos ver que as partículas de uma solução não vão formar uma frente única, mas vão se distribuir dentro da outra solução, conforme os caminhos traçados por cada partícula individual. Quanto mais longe da di%-isa que representa o grosso das partículas, menos ponículas da mesma fase vão ser encontradas e menor será a discontinuidade, menor a variação da composição c a diferença entre os índices de‘refração. Esta distribuição em tomo da divisa obedece á probabilidade estatística de encontrar uma partícula da primeira fase num detemiinado ponto dentro da segunda fase. Traçando um gráfico desta probabilidade, \'amos obter uma figura como a seguinte: Ficcia 40 onde a abcissa representa a distância a partir da divisa, e a ordenada o número de partículas (de albumina), em fracção porcentual da concentração na divisa, encontradas naquela distância. O mesmo se aplica âs particulas da fase 2 que avançaram para dentro da fase 1. Si a probabilidade de encontrar uma partí- cula num deteraúnado ponto fôr (p) e a probabilidade de encontrar nenhuma partícula da mesma fase fôr (q), a fórmula para o desvio padrão o da distri- buição é o = v^I p q onde (M) é o número total de particulas de uma fase dentro da outra. (M) é proporcional â diferença de composição entre as duas fases e indica assim a quantidade da albumina na fase 1, pois a presença da albumina é o único fator que diferencia a fase 2 da fase 1. (M) é também proporcional â área em bai.xo da curva total. A fórmula para a cuna de distribuição segundo Gauss é ff ■SciELO 0 11 12 13 14 15 16 1 118 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS — X- M ff 1 2 TT o (y 2 onde o coeficiente ( ) é o V 2 .T igual a ordenada máxima que é a altura (>•„) da curva. Neste caso, (M) é a área em baixo da curva. M dando ' _ o V 2 .1 M = y- o V 2 .-r = 2,506 o y- ( Fórmula 22 .) Conhecendo então os dois parâmetros o e yn,. podemos calcular a área pela fórmula indicada. A altura máxima (ym) de cada pico pode-se medir com precisão, mas para achar o parâmetro a temos que fazer uma aproximação baseada nos seguintes fatos': Consultando uma tabela das abcissas e ordenadas' da curva nonnal, verificamos que a abcissa é igual a o para um ponto cuja 0,2420 ordenada é q 3939 ordenada má.xima. Esta fracção corresponde aproxi- madamente a 60 % da altura (y„) da curva (valor exato: 60,66%). Basta assim medir a abcissa de um ponto da curva situada 2/5 aljaixo do pico. Este ponto corresponde também ao ponto de inflecção da curva normal, onde a tangente atinge um ângulo máximo com a base. Podemos calailar a orde- nada (yi) do ponto de inflecção pela fórmula (Fórmula 23.). ym yi = — = = 0,606 Vn, Ve cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 Mcm. Inst. Butaotan, Í2:75-126. Xot.® 1950. C. IIOXTER ít R. MUXGIOLI 119 Uma vez detenninado o valor de o e calculada a área pela fórmula 22. podemos traçar a cun-a inteira por meio da seguinte relação entre as alKissas e ordenadas de alguns pontos da curva nonnal. ABCISS.\ ORDEXADA 0 y« 0,5 a 0,8S5 y> 1.0 arámetro o pela fórmula 2 2 X — X J 1 o* = 2 In yi/ys onde Xi é a abeissa do ponto Pi e xs do ponto Pj. Vi e yo são as ordenadas correspondentes. Transfonnando em logaritmos comuns, vamos obter 2 2 X — X 2 1 •og yi/V; (Fórmula 24.) íelo 0 11 12 13 14 15 16 o’ = 0,217 120 ESTUDOS ELECTROFORÉTICOS A análise geométrica do perfil compreende, em resumo, os seguintes passos: 1. ®) Aumentar o perfil fotográfico por projeção ou com pantógrafo para obtei uma cópia ampliada. 2. ®) Marcar a linha da base e os contornos do perfil, usando a margem inferior no caso de linhas grossas. 3. ®) Indicar o ponto de origem, i.e. a posição inicial da divisa antes da passagem da corrente. 4. ®) Traçar linhas perpendiculares á linha da base através dos picos do perfil, indicando assim a posição das divisas que são discerníveis á primeira inspecção. 5. ®) Escolher dois pontos na parte mais avançada do perfil, determinar suas ordenadas e abcissas a partir da última ordenada máxima e calcular o pela fórmula 24. 6. ®) Marcar a base da cur\'a, (= 6,6 o) e observar si ela corresponde ao {xjnto mais avançado do perfil. Si isso não fôr o caso, um dos pontos escolhidos não faz parte da mesma curva e o contorno total não corres- ponde a uma única divisa njas a duas ou mais que estão parcialmente superpostas. Xeste caso pode-se usar a medida da metade da base real. do ponto mais avançado até o pé da primeira ordenada máxima, para calcular o e traçar então os contornos da primeira divisa pela tabela acima, deduzindo o valor de (Vn,) do ponto de inflecção. 7. ®) Traçar provisoriamente a outra metade da curva, tomando-a como simétrica em redor da ordenada máxima. verificação posterior da soma das alturas em vários pontos permite descobrir si alguma das curvas não foi simétrica e corrigir o desvio. S.®j Observar em que ponto a primeira curva se afasta do perfil e deter- minar a alxrissa deste ponto a partir da segunda ordenada máxima. Esta distância é a base da metade mais avançada da segunda curva. 9. °) Continuar desta maneira até analisar totlo o perfil, conferindo sempre a soma das alturas e marcar a diferença, onde houver, como nova ordenada, descobrindo assim as divisas escondidas. 10. ®) Calcular a área em baixo de cada curva pelas fórmulas indicadas e medir as distâncias das ordenadas máximas a partir do ponto de origem, para determinar a mobilidade, lembrando-se de dividir pelo fator de aumento linear da máquina fotográfica e da ampliação da cópia. h) Cálculo da uwbilidade aparente A mobilidade electroforética é definida como a velocidade num campo de força H — 1. Si (w) é o caminho percorrido no tempo (t), então ^íc^ 1 . Tnst. Butantan, a:75-126, XoT.® 1950. G. HOXTER & R. MUXGIOLI 121 w w e a mobilidade u A H t II O campo de força (H) é uma função da corrente: I onde I = corrente cm ami>crcs H = () =: área transversal da célula S k = condutibilidade especifica Assim vamos obter u — A w k O S " I t (Fórmula 25.) onde (w) é o caminho cm centiir.ctros percorrido jicla divisa cm (t) segundos, num meio de condutibilidade (k ) através de um tulio de secção transversal de (Q) cm- sob o impulso de uma corrente cléxrtrica de (I) anuiércs. Também, I = O k E S onde (E) é a voltagem por an na célula, dando \v u = A E t (Fórmula 26.) Ha. entretanto, certa dificuldade técnica cm medir a queda de potencial na célula e porisso preferimos usar a fórmula 25. embora ela exija conhecimento da condutibilidade. Esta pode ser determinada aparte, colocando uma célula de condutibilidade num banho da mesma temjieratura do experimento electroforético e usando o método de Kohlrausch para medir a condutibilidade com uma ponte de Wheatstone. alimentada por corrente alternada dc alta ciclagem. c que tem um alto-falante ou um ôlho eléctrico no lugar do galvanometro. (Figura 42). * -SciELO 0 11 12 13 14 15 16 ESTUDOS ELECTROFORÊTICOS Ficc»a 42 VI) RESUMO Nesta primeira parte do seu trabalho, os autores apresentam a teoria da electroforese de partículas coloidais. Eles explicam os métodos cm uso, dando detalhes da técnica e indicando os processos de análise das obsenações electro- foréticas. SUMMARY In this first part of their publication the authors present the theory of clectrophorcsis of colloidal particles. They explain the methoeit gebcn die Autoren einen Üljerblick über die Theorie der Elektrophorese von kolloidalen Teilcben. Sie crklãren die vcrfügbaren Methoden, zeigen Einzelheiten der Technik und der Analyse voi: clektrophoretischen Beobachtungen. LISTA DOS símbolos USADOS A = anípcrúiictro AG = agitador B = banho BV = bomba de vácuo C = constante da forma da partícula i SciELO 3 11 12 13 14 15 16 1 * Mem. Inst. Butastan, a:TS-126, Xov.® 1950. G. IIÕXTER & R. MUXCIOLI 123 CE = CG = D = E = EM = F = FL = FO = G = H = I = K = L = LC = LS = M = X = O = OT = P = Q R RC S ss T TG TL TR V VF Z céluia electroforética Chave geral da entrada de 110 volts, corrente alternada constante de difusão tensão em volts eixo do motor da lâmina hor.zontal área da fónnula de Wiedemann fendas e lâminas do sistema óptico motor do fecho da objetiva i geladeira do banho força do campo elétrico corrente era amperes incremento específico da refração lâmpada motor da lâmina e chapa lente “Schliercn” número de partículas número de .^vogadro objetiva tubo óptico ponto da curva de Gauss área da secção transversal da célula relógio retifícador da corrente diafragma da lâmpada motor da seringa sincronizada temperatura absoluta tcrmoregulador do banho transformador da lâmpada trilho do sistema óptico vollmetro vidro fosco lente cilíndrica lado A lado D lado ascendente da célula lado descendente da célula a b c d e f K h i i grossura da célula electroforética distância entre célula e fenda concentração grossura da camada eléctrica dupla de Hclmholtz carga do electron plano de contacto de duas soluções constante de proporcionalidade altura na célula espécie iônica relação entre o movimento da chapa e o movimento da l.imina * -SciELO 0 11 12 13 14 15 16 cm ESTUDOS ELECTROFORÊTICÜS i24 k m n P q r s t u V X y z a P Y 8 E X ’1 ■x P* rt Tnposium Monogra|rfi, New York, Chemical Catalog Company ine, 1926, vol. 3, pp. 132-144. 5. 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M.\CEDO 4 L. L. VELLINI (Dos Laboratórios de Virus e Riquétsias, e Vacinico do Instituto Butantan, S. Paulo, Brasil) O problema da anestesia nos lauoratorios de produção de \-acina jencriana tem sido relegado a plano secundário, sendo, no entretanto um preceito inele- gável, quer pela deshumanidade, quer pela reação do animal em detrimento de uma colheita asséptica e eficiente. O uso da novocaina intravenosa (1,2), trou.xe contiibuição de \’alor, mas, sempre foi objeto de precauções, evitar-se direta inoculação na corrente circula- tória (10). Xa ação inhibidora da atividade simpática ou bloqueio parcial do sistema (3,16) reside o efeito favorável no traumatismo. A concentração de 7 a 8 vezes mais nos tecidos inflamados que nos normais como resultado da vaso dilatação local (4), proporciona analgesia suficiente. O êxito alcançado na terapêutica humana (3,5,14,15,16) nos levou a em- pregá-la no laboratório de vacina jeneriana do Instituto Butantan. A vacina jeneriana de origem animal tem como tempo de evolução 5 dias completos, após preparo e conservação da \átela em local higiênico. O emprego de curetas de Volkmann ou de outro instrumento para a colheita da linfa, faz com que, pelà dor resultante do traumatismo operatório, o animal se debata constantemente em prejuizo do curso normal do trabalho. Para obviar esses inconveiiientes, aplicamos a novocaina intravcno.sa, cm vitelos, obtendo bons resultados, o que nos levou a publicar a presente memória, descrevendo a expe- riencia realizada. farmacologia, química e posologia (6) A novocaina sendo um dos modificadores do sistema nervoso periférico inhibe as terminações sensitivas (16). Entregue para publicação em 22 de novembro de 1ÇM9. f -SciELO 0 11 12 13 14 15 16 1 lOa o uso DA XOVOCAIXA IXTRAVEXOSA COMO AXALGESICO XA COLHEITA DA LIXFA VACIXICA Como anestésico sintético, sucedâneo da cocaina e pertencente ao 4° grupo- de Forneau, no qual o ácido amino-benzóico esterifica um amino-álcool dando o paramino-benzóil-dietil-aminoetanol, sob forma de cloridrato, recebe as seguin- tes designações: procaina, alocaina, etocaina, scurocaina e sincaina. XH. • \/ COO.CH2. X (C-H5)2 — HCl ' Apresenta-se sob forma de agulhas cristalinas incolores, sabor ligeiramente amargo, solúvel em seu pêso de água e em 30 partes de álcool, precipitando-se em meio alcalino. Xão provoca irritação nos tecidos nem hiperemia. E’ pouco tóxica, 8 vezes- menos que a cocaina, sendo seu efeito anestésico ai)enas 3 vezes menor. fOSOLOGIA Infiltração de 0.25 a 2Çí Troncular de 0.25 a 0,505í> Epidural 0,50^ Venosa (7) 0.004 mg por Kpv Intra-raqueana 0,010 mg por 5 quilos de pêso num . máximo de 0,100 mg total. (6). ^Iuschen, Rendei, Baker, calcularam a dcse venosa, em 0,004 mg por quilo de- j)eso vivo. TOXICID.VDE As reações tóxicas graves cu fatais são raras. Alguns autores (8,9,10) obser\aram no homem: a) Ligeiras contrações, convulsões, exaustão e cicitus, devido a hipersen- sibilidade e irritabilidade relacionadas com o sistema nervoso central. b) Paralisia do centro respiratório. Tratamento das reações tóxicas (7,10,11): item a) Administração de barbitúricos item b) Oxigenioterapia, estimulantes respiratórios e circulatórios. Metabolismo: O desdobramento da novocaina se faz no figado (12) e na corrente cir- culatória por ação de uma enzima (7), não sendo comprometida a função- hepática (13). Mcm. Inst. BnUntan. S:127-128. Xor.» 1950. J. J. MACEDO & L. L. VELLIXI 129 MATERIAL E MÉTODOS Xovocaina: Usamos um sal de procedência nacional (♦), quimicamente puro, diluido em ág^a distilada a com pH 4,4 e a 2,t)^ com pH 4,6, dis- tribuído em empolas de 20 ml, esterilizadas em autoclace 120.® 20 m. Aplicação: Após preparo do animal de acordo com a rotina do laboratório, injetamos na veia jugular, intermitentemente, quantidades variáveis conforme os- protocolos de obser 5 'ações (quadro e gráfico I. Fotografias 1-2-3 c 4). A atenuação do efeito analgésico sendo de lo a 25 minutos o importante na dose total usada é a quantidade injetada em relação ao tempo. A injeção sob a forma intermitente pennite o uso da solução mais con- centrada, com a vantagem de efeito analgésico mais rápido e sem qualquer inconveniente para o animal. Em nossas observações com as doses entre 0,004210 e 0,013630 mg por Kpv. e concentração de novocaina a 1% e 2,5fc não verificamos (jualqucr reação toxica, obtendo inteiro sucesso na analgesia. COMENTÁRIOS Empregando pela primeira vez a novocaina intravenosa, com o intuito de analgesia em vitelas submetidas a vacinação com vinis \‘acinico, obtivemos bons resultados entre os limites de 0,004210 a 0,013630 mg por Kpv das soluções a 1^0 c 2,5%, em injeção lenta mantida durante a inter\'cnção. O animal permanece quieto estando em condições de caminliar normalmentc logo após a operação. RESUMO E CONCLUSÕES 1) o emprego de novocaina c eficiente por injeção intravenosa lenta, no decurso das intervenções inoculadoras e de colheita, cm vitelas vacinadas com nrus vacínico, pois produz analgesia suficiente setn narcosc, o que representa grande vantagem. 2) A operação se processando entre 10 e 15 minutos e o declinio do efeito analgésico se iniciando depois dos 15 minutos, a relação entre o tempo c a quantidade de novocaina injetada justifica darmos os limites de 0.004 a 0,010 mg por quilo de pêso vivo, levando-se em consideração a suceptibilidade indi- vidual observada no acto da operação. (*) (*) Indústria Elpis Ltda. l?n o uso DA XOVOCAIXA INTRAVENOSA COMO ANALGÉSICO NA COLHEITA DA LINFA VACINICA 3) As soluções que a principio foram de 1% e, posteriormente. 2,^^o demonstraram a mesma eficiência, tendo, porém, a mais concentrada a ^-antagem de volume menor e efeito mais rápido. 4) O preço do sal, a facilidade no preparo, a estabilidade das soluções e a eficiência do método justificam o emprego da novocaina na rotina de colheita de linfa vacínica. 5) O uso da novocaina como analgésico pela via intravenosa em grandes animais, é indicado, para as pequenas operações. SUMMARY AND CONCLUSIONS (1) The use of novocaine by slow intravenous injection is efficient during the inocculation and scraping of calves vaccinated with cow-pox virus. 2) Sufficient analgesis is produced wnthout narcosis, thereby representing a g^eat advantage. 3) With the operation lasting 10-15 minutes and the analgesic effect declining after 15 minutes, the relation between the time and the amount of novocante injected justifies the Irmits of 0,004 to 0,010 mg per kg of live weight, taking into consideration the individual susceptibility observed during the operation. 4) The first Solutions at 1% and the later at 2,5% showed the same efficiency, with the more concentrated one having the advantage of smaller volume and swifter action. 5) The price of the salt, the facility in the preparation, the stability and efficiency justify the use of novocaine in the routine hàrvesting of vaccine lymph. 6) The intravenous use of novocaine as an analgesic in large animais is indicated for minor operations. ZUSAM.\IENFASSUNG 1) Eine langsame, intravenõse Injektion von Xovocain ist wirksam wãhrend der Ipfung und Ge^vinnung der I.ymphe von Kãlbem, die mit Pocken-Impfstoff behandelt werden. 2) Es entsteht eine ausreichende Schmerzstillung ohne Narkose, was von grossem Vorteil ist. 3) Da die Operation etwa 10-15 Minuten dauert und die schmerzstillende Wirkung nach 15 Minuten nachlãsst, so berechtigt die Beziehung zwischen der Zeit und der injizierten Novocain-Menge die Gabe von 0,004 bis 0,010 mg pro kg I.ebendgewicht. wenn man die individuelle Empfindlichkeit, wie sie bei der Operation beobachtet wird, in Betracht zieht. i SciELO 3 11 12 13 14 15 16 1 Mcm. Inst. Batantan» 22:127-138, Nor.» 1950. J. J. MACEDO & L. L. VELUNI 131 •1) Die urpsrünglichen Lõsungen von \Jo und die spãteren von 2,h^o haben dieseibe Wirkung, die stãrkere hat jedoch den Vorteil des geringeren Volumens und der schnelleren Wirkung. 5) Der Preis des Saizes, die. Leichtigkeit der Herstellung, seine Haltbarkeit und Wirksamkeit empfehlen den Gebrauch von Novocain bei Gcwinnung von Pocken-Lymphe. 6) Novocain, intravenõs, empfiehlt sich ais schmerzstillendes Mittel für grosse Tiere bei kleineren Operationen. BIBLIOGRAFIA 1. bier, A. — Munch. .\í(d. Wschr. 1:589, 1909. 2. Leriche, R. 6r Fontaine, R. — J. Chir. bntx. 34:537, 1935. 3. Gondon, R. A. — Applied intravenons procainc — Canadún Sítd. Assoe. J. 56 : 53-1-35, 1946. 4. Graubard, P. J. 6- Ritter, H. H. — Amer. J. Surgery 74 : 765, 1947. 5. Gordon, R. A. — Intra\-cnons no%x>ca!nc for an analgesia in bums — Canadian Med. Assoe. J. _ 49 : 478-181, 1543. 6. Solo, Mario — Farmacologia y terapêutica, cd. 2, Buenos Aires, EI .\tenco, 1941, t. 2. 7. Mushin, IV. IV. & Rendei, Baker, L. — Intrasrnons procainc — Laneet 1(15) : 619-24. 1949. 8. Mayer, E. — Toxic effects following thc use of local anestheties — J. Amer. .\íed. Assoe. 82 : 876-85, 1924. 9. Bieter, R. 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UittC«AMA% M M0V00 AO»^t«-0A 00 V»lwO »iso tM we»* •MO m Wm «•«• • «« *• Hm Mem. Inst. Butantan, 22:127 1 3S, Xov.* 1950, ^SciELO) 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm Mem. Inst. BatanUn, 22:139-150, Xov* 1950. A. T. LEAO 139 SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GRANDE POR ARISTOTERIS T. LE.\0 (Trabalho da Stcção de Zoologia Médica do Instituto Butantan, São Paulo. Brasil) No período compreendido entre 14 e 23 de abril de 1947 fizemos uma excursão à Ilha da Queimada Grande, situada a cerca de 40 milhas a S. O. da barra de Santos, no litoral do Estado de São Paulo. Uma segunda viagem foi realizada entre 22 de setembro e 6 de outubro do mesmo ano, sendo que desta vez permanecemos 3 dias numa ilhota próxima — a Ilha da Queimada Pequena — onde não encontramos nenhum batráquio. Ao que nos consta da Ilha da Queimada Grande só havia sido visitada, com finalidades zoologicas, por Amaral (1920) que lá esteve por duas vezes no mesmo ano. Quando de nossa primeira visita, já estavamos no 5.® dia de estadia c, apesar de insistentes pesquisas, não haviamos conseguido vislumbrar siquer um batráquio. No 6.® dia, porém, após pequena cliuva, fomos alertados por uma voz que assim podemos representar: Kríii — Kriii — Kríii — . Pusemo-nos imediatamente a campo e sem muita dificuldade fomos deparar com uma touceira de uma Bromeliaceac terrestre e de onde provinha o canto. Após um cerco cuidadoso (limpesa previa e circular do ambiente) cortamos as Bromeliaceac c aí conseguimos capturar adultos, jovens, girinos e certo numero de ovos, envol- tos em massa gelatinosa transparente, de uma Hyla. Durante a segunda excursão o coaxar desta Hyla era muito frequente e desta vez obtivemos dezenas de exemplares entre adultos, jovens, girinos e ovos. Na Ilha da Queimada Grande conseguimos obter duas especies de Anura: uma Hyla do complexo calltarinae, vivendo em Bromeliaceac terrestre que, gra- ças à gentileza da Dra. Bertha Lutz, que nos comunicou estar revendo o grupo, foi determinada como Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939. O outro é um Eleutherodactylus hinotatus tipico, apenas ligeiramente mais escuro que os do continente. Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939 .fVnuLTOs: Cabeça arredondada, pouco mais longa do que larga. Boca de hiato começando no bordo anterior do timpano. Canto rostral visivel, porém, muito pouco pronunciado, com lôro pouco exeavado. Focinho saliente, voltado Entregue para publicação em 13 de Dezembro de 1949. 140 SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GRANDE para cima. Tímpano saliente, pouco menor que o diâmetro ocular, com uma prega supra-timpanica que, começando no bordo posterior do olho, vai terminar mais ou menos na altura da face superior do ante-braço. Dentes vomerinos em dois grupos compactos, situados mais ou menos na altura equatorial das coanas. Estas relativamente grandes, de abertura antero-posterior inclinada para fora. Pré-maxilares em ponta internamente. Maxilares com dentição uniforme, faltando esta no 1/4 posterior. Mandíbula edentula. Lingua circular, pouco entalhada e livre posteriormente. Aparelho estemal do tipo arcifero, de omos- terno cartilaginoso, em forma de cone, de ponta romba; xifistemo cartilaginoso, pouco entalhado posteriormente. Dedos inteiramente livres, não fimbriados, com tubérculos sub-articulares bem evidentes, porém, não muito desenvolvidos; calo metacarpal externo maior que o interno, com imi sulco mediano ; calo metacarpal interno ovoide-alongado, inteiro; ordem de tamanho dos des do corpo, região • dorsal dos membros e posterior das coxas, região loreal, infratimpanica e infra- oailar, com granulação bem evidente; região abdominal com granulação fina; região guiar, anterior e ventral dos membros, bem como o topo da cabeça, lisas. Coloração : Região loreal, da ponta do focinho até mais ou menos o bordo jiostcrior dos olhos, de coloração escura-azulada ; região frontal até o meio dos olhos, creme com pontilhado escuro; prega-supra-timpanica com bordo inferior escuro; ponta do focinho com uma listra longitudinal clara; dorso de coloração- variavel, desde o marron-claro ao cinza-claro; u’a mancha escura, central, na altura da escapula ; duas manchas escuras paralelas, na altura da vertebra sacra ; ventre claro, alvadio ; bordos da mandibula manchados ou pintalgados de escuro ; região cscapular e guiar com manchas irregulares marron-escuras ; face inferior^ Mcm. Inst. BatanUn, 22:139-150, Nor.» 1950. A. T. LE.\0 143 dos braços al\-adia; face anterior posterior e dorsal dos braços e dos dedos marron-escuras e pintalgadas de claro; uma tarja mais escura no ante-braço; membros posteriores com tarjas escuras ; tarsos e artelhos escuros. Pragas latero- dorsais bem evidentes, iniciando no bordo posterior e superior dos timpanos e alcançando ou ultrapassando o meio do urostilo ; pregas dorso-laterais em numero de tres; a interna inicia na altura do timpano, recur^•a para o meio do corpo e alcança o meio do urostilo; a mediana iniciando na altura do bordo posterior da escapula e terminando mais ou menos na vertebra sacra ; a externa se inicia pouco atrás da ultima e termina mais ou menos na mesma altura ; tres estrias iniciando no bordo posterior da palpebra, inclinando para o centro do dorso e terminando mais ou menos na altura da escapula. Dimorfisvto sexual: Femeas bfcm mais desenvolvidas que os machos. RESUMO Na Ilha da Queimada Grande, situada a mais ou menos 40 milhas a S. O. da barra de Santos, no litoral do Estado de São Paulo, foram encontrados dois representantes dos Anura: uma Hyla do grupo Calharinae — Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939, vivendo em Bromeliaccae, onde realizam o delo vital, assim como Eleutherodactylus binotatus (Spix, 1824). Da primeira são fornecidos dados sobre os adultos, jovens, girinos e ovos e do ultimo uma descrição dos adultos. ABSTRACr In the Queimada Grande Island, State of São Paulo, Brazil, were obtained two representaitive of the Anura: One Hyla of the complex calharinae, Hyla perpusilla Lutz & Lutz, 1939 living in Bromeliaccae where they aceomplish their life history, as well as Eleutherodactylus binotatus (Spix, 1824). Data are given of the adults, juvenils, tadpoles and eggs of the former and, of the latter a description of the adults. BIBUOGRAFIA 1. Amaral, A. — Col. dos Trab. do Inst. Butantan, 2:49, 1918-1924. 2. Lutz, A. & Lutz, B. — An. Acad. Brasil, ci. 11:67, 1939. 144 SOBRE DOIS BATRAQUIOS DA ILHA DA QUEIMADA GIUVXDE * cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Mcm. Iiut. Butantan. 22:139-150, Xor.» 1950. A. T. LE.^O 145 Hyla pcrpiuilla Medidas dos Girinos 2.3S5 2326 2327 2331 2328 2329 2.330 9.0 10,0 11,0 83 11.6 12,0 113 Maior largura 43 63 8,0 6,0 7,0 5,0 5,4 Kspaço interorbital anterior 23 3,0 83 27 23 3,2 3.0 Espaço entre as narinas 1.8 1.7 1.6 13 1.4 1.4 Dist. bordo ant. olbo à ponta do focinho 23 23 2.7 2,1 27 27 23 Comprimento da cauda 133 15.0 23.0 15.7 22.0 12.6 IS.O Elcnthtroãúctylus binotAtns MEDIDAS K.o 1.129 1.126 1.135 1.149 1.137 1318 1.128 1.130 1.139 1.144 Compr. do ccrpo: 26,8 30.0 35.7 38.0 433 453 42U 225 520 58.6 Compr. da cabeça : 11.4 14,4 14.7 15.8 125 226 21,6 25,6 233 21,0 Largura da cabeça: 103 120 121 14,6 16.8 17.6 19.7 220 21,7 193 Compr. do femur: 13,0 153 19,0 19,8 213 24.S 25.3 24,7 26,9 24.3 Compr. da tibia: 143 16,9 19,8 193 233 273 273 324 293 263 Compr. do pc â ponta do 4^ artelho: 203 233 27,0 28,0 326 37,0 383 393 41.0 325 Menor distancia entre as cboanas; 23 20 22 3.0 4.0 43 20 25 53 4.7 Espaço entre as narina: 20 28 23 27 27 23 43 20 4,0 26 Dist. bordo ant. narina á ponta do focinho: 1.2 13 1,8 13 23 13 23 2,2 22 23 Dist. bordo post. calo carp. 4 ponta 3* dedo; 6.8 73 8.7 93 10,6 113 11.7 126 121 11,7 Dist. bordo post. narina ao bord. ant tímpano; .... 73 9,3 103 11,1 128 133 120 120 122 14,6 Altura do tímpano (transY.): 1.9 2,0 24 26 20 28 22 26 25 25 Larg. do timpano (loogitud.): 1.6 13 23 25 24 25 23 23 3,2 2,9 Diâmetro ocular (loogitud.) : 33 4,0 4.9 5.0 63 53 6.0 6,8 6.7 6,5 Dist. bordo ant. olho â ponta do focinho: 34 5.8 6,7 6.9 73 24 9,4 10,0 103 9,0 Espaço interorbital anterior: 53 53 27 6.4 7,6 7,6 9.2 10.0 9.7 24 Sexo; ? O ? Ç O _2_ Mem- Tnst. Butanfar». 22:139-150. Xot* 1950. Hylú f^rf‘usüla I>utx c Lutz, 1939. AduUcs. liba da Queimada Grande. Vista geral. * cm Ilha da Queimada Grande. Vista ptircial. //.vu fcrfxiiUa I.uls e l.uti, 1939 . .\ilultm sivus. .Vit.ir lim c.isil em ampieao sexuai. 2 3 4 5 6 7 SciELO ;li 12 13 14 15 16 17 Mcni. lust. Butanlan, 22:I2r-138, Nov.« 1950. llrla ffTtmsilIa I.iiti c l.uu. 1929. Gi'imc~, F. t, tm I5-IO-l'>4r. cm _ ^r«n. Inst. Butantan, 22:151-172. Xor.» 1950. A. R. HOGE 151 NOTAS ERPETOLÓGICAS 7. Fauna crpclológica da Ilha da Queimada Grande POR A. R. HOGE (Da Secção de Ofiohgia do Instituto Butantan- S. Paulo, Brasil) INTRODUÇÃO A primeira contribuição ao conhecimento da erpctofauna da ilha da Quei- mada Grande foi feita por Amaral nas Memórias do Instituto Butantan (Sec- ção de Ofiologia)”, na qual ele descreveu a espécie B. insularis. A segunda foi uma nota que publicamos em 19-16, nas “Memórias do Instituto Butantan”, na qual descrevemos uma nova espécie de Mabuya, M. macrorhyncha. Depois da publicação desta nota voltamos mais tres vezes ao mesmo local acompanhados, então, pelo biologista A. Teixeira I>cão e mais alguns serventes e técnicos do Instituto. Permanecemos cada vez cerca de 12 dias na Ilha. MATERIAL A coleção aqui estudada consiste cm exemplares todos capturados durante as exairsões acima mencionadas e compõem-se de duas espécies de ofídios, quatro de lacertílios, sendo que uma das serpentes e tres dos lacertilios são novos para esta ilha. Como nas primeiras viagens conseguimos quase exclusivamente exem- plares machos de M. macrorhyncha, resolvemos experimentar uma técnica de captura diferente à empregada anteriormente. A nova técnica consiste no seguinte: cercar com todo o pessoal disponível uma área de aproximadamente 20m de diâmetro e limpar o chão em volta; cm seguida, sempre limpando o terreno, reduzir a área central onde os animais se refugiam. Quando a área central estiver reduzida a alguns metros quadrados; só uma pessoa continua limpando enquanto que as outras ficam ao redor para capturar os exemplares que tentam fugir para fóra do cérco. Os exemplares são facilmente segurados no terreno descoberto onde não encontram esconderijo algum. Com esta técnica conseguimos capturar até 30 Mabuya macrorhyncha, 3 Hcmidactylus mabouta • e 1 Dipsas sp. num único cérco de 20m de diâmetro. Recebido para publicação em 20-5-1950. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 152 NOTAS ERPETOLOGICAS. 7. O resultado foi que além de dar uma idéia mais exata sôbre a densidade- das espécies, encontramos os dois sexos em perfeito equilibrio numérico, o que- não sucedeu com a técnica anterior onde se observou uma nítida predominância de machos. O material capturado foi distribuído para o respectivo estudo, da seguinte maneira: Anfíbios: A. Texeira Leão; Aranhas e Escolopcndras: W. Buecherl;. Diplopodos: O. Schubart. Todos, com excepqão do último, do Instituto- Butantan. Cl. REPTILIA Laur. 1768 Ord. S Q U A M A T A Oppel, 1811 Subo. S A U R I A Fam. GECKONIDAE Boul., 1883 Gen. Hemidactylus Oken, 1817 Hcniidactylns mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) Gecko mabouLi Moreau de Jonn's — Buli. Soc. Phdom. Paris 138. 1818. Hemidactylus mabouia Bianconi — Spec. zool. mosamb. Mém. Ac. Sei. Boíognal0:499. 1859. .Hemidactylus mabouia Loveridgc — Buli. Mus. Comp. zool. 98:167, 1947. Nenhum dos exemplares oferece características que os diferenciam dos- exemplares procedentes do continente. A maioria foi capturada dentre das- tufas de bromélias que desmanchavamos para a captura dos anfíbios. Alguns- foram encontrado; nas fendas das rochas apenas alguns metros acima do nivel do mar e outros durante os cercos feitos para estimar a densidade das diferentes espécies de vida do chão. Esta especie ainda não tinha sido registrada para a ilha da Queimada Grande (•). Fam. TEIDAE Gray, 1827 Gen. Colobodactylus Amaral, 1932 Colobodaclylus taunayi Amaral, 1932 Colobodactylus tauiiayi Amaral — Mem. Inst. But 7:70. íig. 41-45, 1932 (♦) Nas Mcm. Inst. Butantan 19:241, 1946, assinalamos a ocorrência de um Hemidactylus >I>. cio qual não tinliamos conseguido capturar ura exemplar. É esta espécie que agora deter- min. mos como //. mabouia. Mcm. Inst. Butantan, Z2:15I I72, Xov.* 1950. R. HOGE 153: Capturamos 26 exemplares desta espécie sendo 8 machos. A espécie em apreço era sómente conhecida pelos seus tipos e paratipos. Examinando os tipos que me foram cedidos para exame, por meu colega P. Vanzolini, do Departa- mento de Zoologia, notei que os de N.'’ 787 e 789 não eram Colobodactylus. Trata-se evidentemente de uma troca de número, pois os exemplares alem de- pertencer a gênero diferente, têm dimensões completamente contrárias às men- cionadas por Amaral. Talvez o meu colega, no decorrer da revisão que esta. fazendo na coleção de lacertilios dos Dep. de Zool., encontre os exemplares perdidos. O tipo é oriundo de Iguape, localidade situada no continente um pouco- mais ao sul do que a Ilha da Queimada Grande. Os exemplares da Ilha têm uma ou mais escamas intercaladas entre as guiares e ás vezes entre o segundo par de mentais; também a forma da frontal" é ligeiramente diferente. Trata-se porém a meu ver de meras variações indivi- duais que talvez sejam encontradas nos exemplares do continente quando se dispuzer de maior número de exemplares desta procedência. Fam. SCINCIDAE Cray, 1825 Gen. M a b u y a Fitz., 1826 Mabuya macrorhyncha Hoge, 1946 Mahuya macrorhyncha Hoge — Mem. Inst. But. 19:241, 1946. Descrição do Alotipo: Uma fêmea N.® 927, na coleção do Instituto- Butantan. Focinho ponteagudo; frenal anterior cm contacto com a 2.“ labial; supranasais não em contacto por trás da rostral; frontonasal tão longa quanto- larga em contacto com a frontal que é um pouco mais curta do que as fronto- parietais e interparietal juntos; prefronlais tão longas quanto largas, cm con- tacto por trás da frontonasal; frontal em contacto com a 2.“ supraocular sómente;. 4 supraoculares, a 1.* menor e a 2.® maior; 3.^ supraciliar maior; fronto- parietais em contacto por trás da interparietal; 2 pares de nucais; 7 supralabiais- (5.^ menor). Colorido como no hololipo. Comprimento do corpo 62 mm Comprimento da cauda 95 mm Distância do olho até o focinho 6 mm Membro posterior 22 mm Membro anterior 16 mm Comprimento da cabeça 11,6 mm Largura da cabeça 8 mm cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 154 XOTAS ERPETOLOGICAS. Redescrição de Mabuya tnacrorhyncha — Focinho alongado e ponteagudo; paljjehra inferior com um disco transparente, não diridido; f renal anterior em contacto com a 1.® e 2“ (excepcionalmcnte com a 2.® só.) supranasais larga- mente separadas; frontonasal tão longa quanto larga, em contacto ou não com a frontal; pre frontais tão longas quanto largas, geralmente separadas, excepcio- nalmcnte em contacto, separando a frontonasal da frontal; frontal um pouco mais curta do que as frontoparietais e inlerparietal juntas, em contacto sómente com a 2.“ supraocular; ás« vezes a 1.® supraocular está fundida com a 2.*; 4 supraoculares ; 4 ou 5 supraciliares iguais, ou 3.^ ou 4.* maior ; frontoparietais largamente em contacto, mais ou menos iguais em tamanho à intcrparietal ; 2 pares de nucais (exccpcionalmente 1 par) ; 7 a 8 supralabiais, 5.“ ou 6.® maior; depressão auricular menor do que o olho, escamas em 28-30 series sendo as laterais um pouco menores; cauda cerca de 1,1 vezes mais longa do que o corpo mais a cabeça. Comprimento máximo observado: 191 mm. Coloração : Bronzeada em cinta com uma lista lateral e.scura ptassando pelo olho e extendendo-se até a Itase da cauda, guarnecida por duas linlias claras marginais, sendo a inferior menos nítida. A linha superior, por sua vez é orlada por uma lista escura que no meio do cor|X) é quase confluente com a do lado oposto. Parte ventral cinzento- oliva clara. Fam. AMPHISBAENIDAE Gcn. Leposternon Waglcr, 1824 lefostcmon microcfphalum WaRler — in Spix. Serp. Bras. Spec. Sen-. 70, iig. 1824. LcPisJosIrmon microcephalutn Boulenger — Cit. Liz. Brit. iftu. :462. .Leposternon microceplmluin Burt & Burt-Trans. .-Xead. Scj. St. Loui». 28: 83, 1933. Todos os exemplares capturados são tipicos. Estando o Dr. \’anzolini fazendo uma revisão da Familia Amphisbacnidae, • entregamos todo os exemplares, afim de poder estudar as possíveis variações. Subord. SERPENTES Lin. 1758 Fam. DIPSADINAE Amaral Gcn. D i p s a s Laur. 1708 Dipsas albifrons cofiílhetroi subsp. n. (Fig. 13) Descrição do Ilololipo: N.® 11486 9, procedente da Ilha da Queimada • Grande, capturada pelo autor. Mcrn. Inst. BaunUn. 22:1S1-I72. Xor.* 1950. IIOCE 155 Corpo grosso, levemente achatado lateralmente; olho grande, porem menor do que em D. albifrons (Sau\-age) ; rostral tão larga quanto alta ou mais alta que larga, não visível de cima; sutura entre as inter-nasais menor do que o diâmetro do olho; frontal um pouco mais longa que larga, tão longa ou menor quanto à sua distância do focinho; menor que a sutura entre os parietais; supraocular mais larga posteriormente; loreal mais alta que longa, em contacto com as 2.^ 3.* e 4.^ supralabial ; 2 postoculares do lado esquerdo, superior muito maior, 3 do lado direito, os dois inferiores minúsculos; do lado esquerdo 1.® temporal fundida com a supralabial; do lado direito temporais 2-2; 8 supralabiais (4.* e 5.’^ entrando no olho); 12 infralabiais; 3 pares da infra- labiais em contacto por detrás da sinfisial; 3 pares de mentais, anterior mais longa do que larga; ventrais 159; subcaudais 77/77; anal simples; dorsais cm 17-15-15 séries longitudinais, com a ponta arredondada, não lanciforme como em D. albifrons albifrons, (Fig. 14); série vertebral aumentada. Coloração: marrom claro com faixas transversais levemente mais escuras do que a cor de fundo e pouco visiveis; ventre claro com umas leves nuvens marrom claro. O pequeno numero de exemplares disponiveis não permite estudar as variações na folidosc em relação com D. albifrons, porém parece que a nova espécie tem numero de ventrais c subcaudais menor do que a D. albifrons; cm D. albifrons cawlkeiroi as ventrais variam de 157 a 163 (9) e as sulKaudais entre 74 a 77 enquanto cm D. albifrons albifrons as ventrais \'ariam de 162 a ISO e as subcaudais 73 a 88 (9). Paraiipos X.® 11.489. 11.487, 3468, 1638, 11.486. Fam. CROTALIDAE Subf LACHESIXAE Gcn. Trimeresurus Trimrresurus insularts (.Xmaral, 1921) Lachesis insularis .\maral — .Vn. Mcm. Inst. But. (Ofjologia), 1:18-62. tabs. 3-4, !92I. Bothrops {nsularis Amaral — Mem. Inst. But. 4:114 rl 235- 1929. Botbropj insuliiris Klauber — BulL Zool. S. Diego 18: 1943. Quase todos os exemplares foram capturados nas arvores onde elas ficam â espera dos passarinhos dos quais elas se alimentam. A coloração muito clara da T. insularis muda rapidamente para o escuro quando transportada para S. Paulo. cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 156 XOTAS ERPETOLOGICAS. 7. Ord. T E S T u D I N A T A Oppel, 1811 Fam. CHELONIDAE Cray, 1825. Gen. Chelonia Brogniart, 1800 Chcloma mydas (L., 1758) Tetludo mydaí Linnaeus — Syst. Xat. 1: 197, 1758. Chelonia mydas Luederwaldt — Rev. Mus. Paul. 14:417, 1910. Não capturamos exemplares, porém obser\-amos muitos exemplares boiando na superfície ou imóveis pousados sobre os rochedos imersos á pouca distância da Ilha. Gen. C a r e t t a Rafin. 1814. Corel ta earelta (L., 1758) Testudo earelta Linnaeus — Syst. Xat. 1:197, 1758. Carelta earelta Refinesque — Specchio. Sc. Palermo 2: (9) 66, 1814. Também desta espécie observamos vários exemplares ao redor da ilha. D.\DOS BIOLÓGICOS E ECOLÓGICOS .\ ilha da Queimada Grande é um ilhote rochoso formado por rochas ar(}ucanas, situado por E. 24 32 X 146 42 ^\ . Greenwõch ao largo da costa de São Paulo, Brasil. Dista aproximadamente 40 milhas do porto brasileiro de Santos. Ela é recoberta por densa mata c no NE encontra-se um grande capinzal literalmente infestado pelas Mabuya (big. 7 c 8). Existe um antigo bananal nas margens de um pequeno corrego que, porem, somente tem agua durante alguns dias depois de fortes chu\-as. Atualmente a ilha é desabitada, sendo visitada ajienas duas vezes por ano pelos encarregados do reabastecimento do farol automático mantido na ilha pelo Ministério da Marinha. Antigamente tinlia um farolciro, porém, vários accidentes ofidicos e a impossibilidade dos moradores manterem animais domésticos devido ás picadas pela T. insularis, incitaram o Ministério da Marinha a transformar o farol em automático. As águas ao redor da ilha. estando extremamente ricas cm peixes comiveis de alta qualidade, são elas rcgulannente visitadas pelos pescadores, estes porem raramente descem na ilha devido ao perigo e ao medo (ainda aumentado pelas lendas) que lhes inspiram as cobras. .‘\ Queimada Grande é uma ilha continental, mesma formação geológica que a costa, separada por um mar de peíjuena profundidade, etc. Ela está situada na Zona AF. de Kõppen ou seja tropical úmida com temperatura do mes mais quente superior a 22c c do mes mais frio maior do que 18c. .X precipitação mensal maior de 60mm. * Mm. Inst. Batantan, 22:151-172. Xor.* 1950. A. R. HOCE 157 Nao temos dados específicos sobre as condições climatológicas da ilha- ^rem notamos que muitas vezes chovia no continente e na ilha da Queimada Pequena, mais pró.xima do continente, enquanto que na Queimada Grande o ceu permanecia limpo. Encontramos 6 espécies de repteis terrestres dos quais tres somente haviam sido assinalados ate hoje Tnmcrcsurus insubrís Amaral. Dipsas alhifrons Sauvage e Mobuya nu,crorhyncha Hoge. E.xaminando os e-xemplares de D albtfrons notamos, como já assinalamos, tratar-se não de Dipsas albifrons mas sim de uma subespécie nova. A povoação da ilha deve ter origem em cspccimes da fauna continental que alcançaram acidentalmente a ilha. Todavia a grande diferenciação que encontramos parece indicar que a introdução j.i é bastante antiga. Convem notar que dos 6 rciiteis terrestres, somente tres ocorrem também no continente sendo os outros tres restritos à ilha da Queimada Grande. Ilcuidactylus mabouia. Esta espécie nitidamente de hábitos noturnos e, ^ni duvida, de introdução relativamente recente, talvez na epoca da instalação do Faro . Encontra-se com relativa abundancia nas tufas de bromélias e nas fendas das rochas, descendo até o nivel do mar; também capturamos muitos ° densidade das Xão se encontram juntas grandes quantidades de mabouia como acontece no continetc onde se agrupa grande número na paredes iluminadas das habitações No continente ela se tomou antropõfila devido ás facilidades de alimentação que a iluminaçao lhe proporciona. f f 'ia mudança para hábitos diurnos lhe teria sido fayomvcl. porem esta mudança é fisiologicamente imiiossivel devido á grande ulntrabiltdade aos raios dos solares dos representantes desta familia (existe um.-i especie diuma. Lyejodadylus picturatus, espécie esta provida de uma firtissiina rsTT ° ^ O ex^ie do conteúdo estomacal revela que Ilcmidacixius utabonia se alimenta de lepidopteros. ortopteros e alguns coleopteros. km cativeiro ela eceita facilmente borboletas e baratas bem como lanas de Tenebrion. Colobodaclylus taunayi: Sem ser tão abundante quanto as M. macrorbyncha H. maboum, esta especie foi porem encontrada cm número relati^-amente grande e o momento esta especie era conhecida somente pelos seus tipos. Desde milhares de eaemplares de repteis das mesmas regiões onde ioiam encon- topo°w lüT * ^ “P'"'»'- lopoi.pos, mas em vao. SciELO LO 11 12 13 14 15 16 cm 158 NOTAS EKPETOLOGICXS. 7. Todos OS exemplares íoram encontrados durante os cercos. Xão sabemos qual a alimentação. £m cativeiro aceitavam moscas e pequenas larvas do Tenebrion. Mabuya tnacrorhyncha : Esta espécie é extremamente abundante e encontra-se principalmente no capinzal, existindo também no mato e nos rochedos, até o nivel do mar. Trata-se, como as demais representantes do gênero, de uma espécie par- ticularmente bem adaptada à vida ao sol, pigmentação forte da pele e pigmentação não menos importantes do peritônio e região neural. Ela se alimenta de insectos os mais variados. Em cativeiro alimenta-se muito bem com moscas, larvas e adultos de Tenebrion. Leposternon microcephalum. Todos os exemplares íoram encontrados durante esca\'ações, a uma profundidade de 10 a 60 cm. Dipsas aíbifrons cavalheiroi. Esta espécie parece bastante rara. Encontra-se principalmcnte na mata ao redor do pequeno corrego. Todos os exemplares com e.xcciKão de um, foram capturados nas árvores onde em geral elas estão pousadas numa forquilha, não fazendo nenhum esforço para fugir. Somente quando irritada ela achata a cabeça e dá botes sem jwrém tentar morder. Esta espécie como já se refeçiu Amaral, alimenta-se com lesmas (Vaginula?). Trimeresurus tnsularís: E’ uma Crotalinae com todas as características de uma adaptação à vida noturna, porém as condições peculiares da vida na Ilha da Queimada Grande (ausência de mamíferos e outros animais noturnos) a obrigou a uma vida diurna sob pena de extinção. O único alimento na ilha são os pequenos passarinhos que ali vivem em grande quantidade. Gcralmente a insularis é encontrada enrolada nos galhos das árvores, não na parte exposta ao sol, mas imediatamente em baixo das folhas. Desta maneira, além dc estar mais ou menos protegida dos raios diretos ela fica invisivel ao passarinho incauto que vem pousar nos galhos. Ela escolhe sempre ár\-ores fru- tíferas. Quando liá muito vento ela desce das arvores e se esconde nas fendas das rochas ou no pé das árvores. Na época da florescência das gramineas ela é encontrada enrolada nas hastes destas últimas. Todas as observações sobre a biologia desta cobra ja íoram descritas por .•Vmaral c por nós verificadas em várias ocasiões. presença de uma tendência a ter as subcaudais simples, indica uma ação da seleção natural, eliminando os exemplares menos aptos à vida arborícola? A persistência das mutações foi sem dúvida devido a insulação que impossibilitou o cruzamento com espccimens da costa. Talvez estes caracteres sejam recessivos que se manifestam pelas razões acima citadas. Um fato digno de nota é que a T. insularis quando transportada para S. Paulo muda rapidamente de côr, ficando mais escura. 832 826 834 835 805 823 809 981 822 821 804 808 819 830 825 831 816 994 812 .V Sexo Compr. corpo CofBpr. toUl cocapr. 1009 ê 51 110 9 957 s 48 64 8,6 965 s 57 147 9,7 1005 i 49 119 9,1 1003 s 50 129 9-1 s 47 151 8,3 1004 s 43 112 7,8 964 s 47 81 83 977 9 56 177 9,1 1009 9 45 117 8.0 960 9 57 115 93 952 9 48 115 8.5 961 9 39 66 7.4 962 9 45 111 8.4 1007 958 9 9 58 46 155 136 93 93 963 9 57 131 9.6 950 9 38 84 7-1 949 9 42 80 77 951 9 40 106 7,0 956 9 34 99 63 954 9 32 92 6.7 966 9 36 120 65 953 9 41 72 7.4 975 9 52 172 93 955 9 52 99 Habuya macrorhyncha Hoge Sexo Corpo Cauda N® Sexo Corpo Caixla mm. mm. 1 . mm. mm. S 41 46 817 } 39 33 9 63 5 1008 9 58.5 41.5 9 47 51.5 828 9 65 .51 9 31 18 824 9 61 74 ê > 64 36.5 60 4 818 820 i 9 60 60.5 64 43 ê 46 10 813 9 61.5 53 9 53 58 811 9 64 71 9 9 S 55 55 67 59 10 75 810 807 806 9 3 9 59 49.5 60 42 50 14 ê 30 11 814 3 48 P 9 59 6 942 3 40 37 32.5 2.5 829 3 54.5 7 9 61 67 1011 9 60.5 70 9 37 57 42.5 7 827 815 9 3 61 53 51 51 ê 60 6 833 9 50 11 ê 62 63.5 1 SciELO Comp. total 130 191 67 16S 125 116 177 124 82 79 178 75 77 ISO 67 99 160 140 155 159 165 80 127 79 105 167 155 130' 97 116 132 120 16S 105 162 77 167 113 85 75 122 148 114 121 169 180 176 176 115 140 168 65 75 81 177 110 136 115 103 65 158 74 138 160 82 82 131 85 125 170 174 175 129 91 115 149 172 159 137 136 Cauda Corpo X- Comp. total Cauda Corpo 60 70 916 100 33 cin 67 122 69 917 161 99 62 8 cm 59 918 67 15 cm £2 99 66 919 167 102 65 57 cm 68 920 137 85 52 47 cm 69 921 131 87 44 113 64 922 161 98 63 79 63 923 95 45 cmr 50 15 cm 66 924 153 85 68 11 cm 68 925 165 96 69 110 63 926 155 95 60 12 cm 63 927 157 95 62 16 cm 61 92S 100 112 68 929 180 115 65 6 cm ■ 61 930 160 97 63 39 cm 60 931 170 108 62 90 70 932 163 101 62 79 61 933 125 55 70 93 66 934 147 90 cm 57 95 70 935 165 95 70 8 cmr 72 936 78 28 cra 50 77 50 937 125 62 63 27 52 93í; 55 6 cm 59 41 cmr 61 100 C3 99 68 940 94 27 cm 67 83 67 941 125 71 54 63 67 943 102 54 48 •45. 52 970 164 100 64 58 58 971 • 158 92 66 84 38 972 145 77 68 52 64 974 142 80 62 98 70 976 89 40 cm 49 53 52 978 167 98 69 lÜOO 62 983 157 95 68 22 cm 55 985 163 35 cm 50 102 65 966 55 7 cmr 48 48 65 987 85 9 cm 63 18 cm 67 988 72 90 65 14 cmr 61 989 155 96 66 72 50 990 162 13 cm 67 00 66 991 80 81 58 50 64 995 139 97 63 62 59 996 160 47 48 101 65 997 95 73 72 67 113 998 145 105 67 106 70 999 172 29 cmr 66 110 66 1000 95 83 49 56 59 1002 132 12 cm 53 71 69 1913 65 90 65 104 64 1014 155 119 61 14 cm 51 1015 180 54 63 5 cm 70 1017 117 90 75 28 53 1018 165 15 cm 54 110 67 1019 69 61 62 39 cmr 71 1020 127 58 67 76 (0 1021 125 10 cm 63 46 cm 69 1022. 78 107 60 32 71 1023 167 98 76 15 cm 50 1025 165 25 cm 70 78 63 1026 95 100 61 71 67 1027 161 58 69 9-1 66 1028 127 99 61 24 cm 58 1029 160 95 74 10 cm 72 1030 166 54 cm 71 80 51 1031 125 90 54 20 cm 65 1032 144 35 cm 65 65 60 1033 103 939 163 103 67 110 64 105 70 65 64 5-C. 60 39 52 95 20 105 67 80 69 99 60 106 67 87 49 Uem. Inst. BaUntas. 22:151-172, Nor.» 1950. A. R. HOGE 163 RESUMO O autor fez o estudo sistemático e ecológico dos Répteis da Queimada Grande. Foram registrados 6 espécies de répteis terrestres e 2 marinhos. 3 espécies: Hemidaclylus ntabouia, Colobodactyhis taunayd e Lcposternon nticroccphclus, não tinham sido registrados ainda para esta ilha. O alotipo de ^f. macrorhyncha é descrito. Dipsas albifrons cavaUieiroi subsp. n. é descrita. .\BSTRACT A systematic and ecological study of a collection o£ reptiles from Queimada Grande Island is presented. Out of si.x different recorded reptile species, three are ne\s' for this Island. The M. macrorhyncha allotype is described. Dipsas albifrons cavalheiroi n. subsp. is described. ZUSAMMEXFASSUXG Verfasser untemimmt ein systematisches und oekologisches Studium ueber die Reptilien der Inscl ‘‘Queimada Grande”. Es wird das Vorkommcn scchs terrestrer Reptilien und zweier mariria auf dieser Insel aufgedcckt. Die drei ersten Arten: Hemidaclylus mabouia, Colobodactylus taunayi und Leptosicrnum microcephalus. wurden bishcr fucr dicse Insel noch nicht registriert. Der alotipe von M. macrorhyncha wird beschriclien. Dipsas albifrons ca- valheiroi n. subsii wird bcschrieben. BlBLlOCRAnA 1. Amaral, A. do — Anexos das Mcm. do Inst. Butantan (Ofiologu) 1, 1921 2. Amara], A. do — Mem. Inst. Bntantan 7, 19J2. 3. Amaral, A. do — Mem. Inst. Butantan 4, 1929. 4. Bianconi, J. J. — Specimina zoologia mosambicana — Mem. .dccad. Sei. Inst. Bologna 10. 1859. 5. Boulenger, Georges Alberi — Description of ncw genus of Geckos — Ann. and Ma- gaaine of Sat. Hislory 17, 1883. 6. Boulenger, Georges Albert — Catalogue of the lizards tn thc British ^^uscuIn 1', 2, 3. 1885-1887. 7. Boulenger, Georges Albert — Catalogue of the Chelonians, Rhytichocephalians and Crocodiles in the British Museum, London- 1889. 8. Boulenger, Georges Albert — Catalogue of the snakes in the British Museum 3, 1896. 9. 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BUCUERL m QUILÓPODOS DO PERU — II po« WOLFGAXG BÜCHERL (Divisão de Zoologia Medica do Instituto Butantan, São Paulo, Brasil) Eni 1942 recebemos, por intermédio de J. Sucoup, de Lima, Perú, 43 exemplares de Quilópodos, vindo este numero a constituir, então, o material mais copioso, jamais coletado de uma só vez naquele pais. Compõe-se esta cole<;ão dos seguintes gêneros, espécie e sub-espécies : • 1. Scolopcndra morsilans L., 1758 ” viridicorhis Newp., 1844 ” ” ntgra Bücherl, 1939 e 1946 ” arthrorhabdoides Rib., 1944 ” arinata amancalis Bücherl, 1943 ” angulata Xewp., 1844. 2. Cormocephatus bonacrius Att., 1928 ” impressus Por., 1876 ” andinus (Krpln)., 1903. 3. Rhoda calcarata Pocock, 1891 4. Olostigmus bürgeri .-Xtt., 1903 ” amazonac Cliamb., 1914. 5. Rhysida celcris (Humb. & Sauss)., 1914 6. Olocryptops ferrugincus sucoupi Bücherl, 1943. Os locais de capturas eram, segundo J. Sucoup, apenas dois: — La Merced, numa altitude de 700 metros, onde foi encontrada a S. morsilans, e Amancais, nos arredores de Lima, numa altitude de apenas 300 metros, onde foram capturados todos os outros exemplares. Trata-se, portanto, apenas de duas regiões muito restritas de Perú. O fato de se terem -encontrado nestes jiequenos areais Quilópodos de 6 gêneros diferentes com 13 espécies diversas, permite supór que a fauna quilopódica do Perú deve ser assaz abundante c rica em diferentes espécies. ErZregue para pubUcação cm 14 de Marco de 1950. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 174 QCIL6PODOS DO PERC. II. Esta suposição é agora continuada por uma nova coleção quilopódica de Perú, pequena em número, pois abrange apenas 25 exemplares, mas muito interessante quer sob o ponto de vista elucidativo da distribuição geográfica, quer sobre a capacidade de adaptação destes artrópodos aos mais diversos climas e ainda sobre a riqueza em espécies diferentes deste pequeno país. O professor Wolfgang Weyrauch, a cuja gentileza devemos esta segunda •coleção, a nós enviada para a determinação, em 20 de Agosto de 1949. Cole- cionou ele próoprio estes quilópodos, principalmente nos vales, nas encostas serranas e nos cinnes das regiões andinas, desde 200 a 4.000 metros de altura, ora em floresta húmidas, ora em estepes áridas e altas, batidas por ventos frios. Passamos agora a descrever esta nova coleção; 1. Scolopendra gigantea Tíxyrauchi, subsp. n. Colorido: Estemitos e pernas amarelos nos exemplares grandes, nos mais jovens (até 12 cm) os fémures, as tibias e os dois tarsos do último par de pernas muito verdes (cm material conser\'ado cm álcool a côr é azul), destacando- se nitidamente do amarelo dos artículos das outras pernas e mesmo do prefémur e da parte Iwsal do fémur do 21.® jar. .Antenas, placa cefálica. 1.® tergito, coxas das forcipulas e os últimos dois tergitos, inclusive o último prefémur e a porção basal do fémur cor de chocolate claro, bastante destacado do colorido dos outros tergitos, que apresentam um marrom "sujo", com a borda anterior geralmente bem enegrecida em cada tergito, como já foi descrito para 5". tin- dicomis nigra. Medidas: (Relação de 4 exemplares) a) Últimas pernas tão longas ou por 2-3 mm mais longas do que as antenas. b) .Antenas extendendo-se até o 6.® tergito. c) Xo 21.® par de pernas os prefêmures tão longos quanto os dois tarsos, o fémur um jwuco mais curto que o prefémur e a tíbia mais curta que o fémur. d) Medidas no exemplar — tipo: — comprimento (da placa cefálica até o último tergito) 122 mm; comprimento das antenas 34 c 32 mm; comprimento das últimas pernas 34 mm (prefemur-9; femur-8, 3; tibia-7 ; tarsos-9 mm). (Os outros 3 exemplares ora são menores ora maiores, sendo constantes as relações mesurais). Mcm. Inst. Bauntan, «:173-186. XoT.» 1950. W. BUCHERL 175 Placa cefálica com finos poros esparsos e com dois leves sulcos longitu- dinais, levemente divergentes, indo até à base das antenas, mas interrompidos atrás, perto da margem posterior, onde são limitados por uma rede transversal • de pequenos e leves sulcos (bem menores e mais delicados que em S- xáridicornisQ. Antenas geralinente com 17 artículos. Em muitos casos, entretanto, há num lado 17 ou 18, no outro 20 a 24 artículos (sob a lupa se vé, que neste caso se trata de uma anomalia, sendo os artículos muito pequenos). Os primeiros S’ ou 6 artículos basais se apresentam “nús’',isto é, sem pêlos, pelo lado dorsal; ventralmente os pêlos já são visíveis a partir da porção apical do 3.®, 4.® ou 5.® articulo. » Placas dentárias um nada mais largas que longas; com 4 dentes em cada placa, sendo os três internos unidos num bloco, de maneira que apenas o 4.® dente lateral fica isolado. Sulcos basais das placas (vide fig.l), formando um ângulo de IIO graus, mais ou menos e continuados nos dois lados por outros sulcos que, entretanto, mal atingem o sulco transversal mediano. Este pode ser inteiriço ou mais fraco ou mesmo bipartido no meio. Adiante, no meio do •coxostemum, um sulco longitudinal, leve, que atinge o meio das bases das placas dentarias mas que não se estende até o sulco horizontal. Portanto não há um «u 2 triângulos sulcais (\'ide fig. 1). Atrás dos dentes em bloco há cm cada placa uma depressão o\-al. nela um tubérculo, do qual nasce uma curta cerda. Penúltimo artículo do telopodíto dos segundos ma.\ilarcs com uma cerda robusta no canto .ipical incemo e no mesmo canto, mas no último artículo, perto cnias marrom escuro, nitidamente ilcst.icado do resto ,1o ironco que .se aiirc- ■senta num tdiváceo amarelo, mais claro ou e.scuro. Antenas sempre com 17 artiailos. dos quais os 6 Insais estã,. .sempre de.spro- vidos de pêlo.s que começam abruiitame.ite do sétimo em diante c apresentam um amarelo brilhante. (Fig. 5). Comprimento atê 90 mm. Placa cefálica tão Icnga quão larga, com dois sulcos longitudinais muito divergentes (fig. 5). Duas p’acas lasais lH;m visi- veis Os dois sulcos longitudinais >-ào até a altura dos olhos nos exemplares adultos, enquanto que nos filhotes somente atingem a metade jxisterior da SciELO 11 12 13 14 6 17 178 OLlLóPODOS DO PERC. II. ■>'»- Te..- . a '.o .» .e.i,„: ,Te„,e iilenre l,i|arlisterior arredondadas e ro.n I oepressao lonsptudinal no meio (fijç. 8). ' longa Co.xoplenra.s com apí-ndtce ,H)sterior l^mi saliente, cilindrico tennii^.ulo cm dois petpienos espinhos (iur n\ c„ • , , ^ imurico. tenmnaiulo ■úo nn„g,„,L „ ,„„L «>• C.™.po .......en.e r\r 7'""""';. '■“■ .ilna apmei„,ad,„,e„,c c„,„„ri„ ™„ o. '“'7 ' "..'.a .ncliann, „„ ',., 3'“; ,7 7 7 "t 7 n.ela,le <1„ co„,|.ri, * ,il,ia e o „7 17 ™ ’ * curto do Qiic o orimpirn r • . ^ l>ouco mais garra terminal.^ ' ' “ pequenas garrínluis ao lado da «'ollsans Weyraach, Li„,n. p„,-,. í»™í-(,V>«: Huanneo. ,,,„„a de 1.900 melros, Peni SciELO 11 12 13 14 6 17 Mem. liut. Batantan, 22:173-186. Xor* 1950. \V. BUCHERL 179 Uma fêmea, sob X® 594 da coleção quilopódica do Instituto Butanta, procedente de Acancay, Perú; capturada pelo Prof. Wolfgang Weyraucli numa zona árida, quase sem vegetação, numa altura de 2.500 metros, üm macho, sob X.° 595 da coleção do Instituto Butantan, capturado por W. Weyrauch em Sahuaj-aco, no vale Urubamba, com 800 metros de altitude, cm zona seca, quente, pobre em vegetação. Este exemplar apresenta já bifurcação dos dois sulcos longitudinais, para- medianos, do 1® e 2° tergito e mesmo os sulcos da placa cefálica são um ta.nto irregulares, com malhas. X® 10.037, da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch. Um exemplar jovem, capturado em Tingo Maria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 metros. 3. Cormoccphalui (C.) itnprcssus var. ncglectus (Chamb.), 1914 Trata-se de um único exemplar, semi-adulto, infelizmente não muito bem consei^-ado. Mesmo assim as partes morfológicas, especificamcnte importantes, permitem enquadrar perfeitamente este exemplar no grupo de C. impressus, isto é, 4 4 dentes nas placas dentárias; ápice do campo poroso das placas coxopleurais do último segmento do corpo sem apêndice protraído, mas apenas com dois espinhos diminutissimos. Campo poroso relativamcnte pequeno, não atingindo a margem superior. Última perna com prefemur, femur c tibia dorsalmente sulcados ; a garra terminal ventralmente em lâmina, quase tão longa quanto os dois tarsos juntos; prefemur com espinhos diminutissimos, dois no local do “espinho do canto” c um mediano, dorsal e mais 5 a 6 ventralmente cm 3 filas mal pronunciadas. Os sulcos 'rauch, numa altura de 3.000 metros. 5. Olostigmus rex Chamberlin, 1914 N® 10.030 da coleção do prof. W. WejTauch. Fêmea, por ele coletada nos arredores de Tingo Maria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 metros. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Mnn. Inst. BoUnUn. 12:17J-186, Xov* 1950. \V. BUCHERL 181 6. Otostigmus pococki Krãpelin, 1903 5 exemplares ao todo: — X° 10.129 da coleção do prof. W. Weyrauch, coletado em Divisória, na parte central da Cordilheira Azul, numa altitude de 1 . 500 metros. X° 596 da Coleção quilopódica do Instituto Butantan, procedente de Aco- mayo, perto de Iluanuco, colhido pelo prof. W. \Ve>Tauch numa altitude de 2.700 metros. X° 597 da coleção quilopódica do Instituto Butantan, com a mesma pro- cedência e o mesmo colecionador do exemplar precedente. X° 598 da coleção quilo{)ódica do Instituto Butantan, procedente de Iluanuco, duma altitude de 1 .900 mertos. X° 599 da coleção quilopódica do Instituto Butantan, procedente de Tingo Maria, ao longo do rio Iluallaga, com 670 metros de altitude. Os exemplares apresentam os seguintes característicos morfologicos, não mencionados pelo autor da espécie: — 2 esporões tarsais nos primeiros 6 pares de pernas e não apenas no 1®; tergitos da segunda metade do tronco além das 5 quilias rugosas, longitudinais, mais duas laterais, acessórias; sulcos basais das placas dentárias em ângulo obtuso e na área uma profunda e curta depressão mediana; estrmitos sem sulcos; em logar das 3 depressões anteriores existe apenas u’a maior, mesmo já nas pbcas .interiores. 7. Otostigmus amaconae Chamberlin, 1914 X° 10.039 da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch, colhido numa altitude de 3.800 metros, acima de Oiincheros, perto do rio Pampas, nos arredores de ••Xndahuiylas. Perú. X" 10. 127 da coleção do prof. W. Weyrauch, colhido em Machupicchu, ao longo do rio Unibamba, nos arredores dc Cuzeo, numa altitude de 2.100 metros. X® 600 da coleção quilojxxlica do In.stituto Butantan, com 7 exemplares, mach's e fémeas, colhidos pelo prof. W. Weyrauch cm Atocongo, jx:rto de Lima, numa altitude de 200 a 500 metros. 8. Rhysida ccleris (Humb. & Sauss.), 1870 X® 10.028 da coleção do prof. Wolfgang Weyrauch, coletado perto de T ngo ^faria, ao longo do rio Huallaga, numa altitude de 670 metros, Perú. 7 êmea. 9. Cryptops (T.) debilis, sp. n. Todo o corpo amarelo avermelhado, prevalecendo o vermelho na cabeça c no 1® segmento. Comprimento até 45 mm. Placa cefálica aproximadamente cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 ^fetn. Inst. Botaatan, 22:173-186, Nor.« 1950. BUCHERL 183 acima de Celendin (X. Perú) e um segundo exemplar, X° 602, colhido ao longo do rio Chinchipe, perto de San Ignacio, numa altitude de 800 metros. 11. Xcwportia longitarsis longitarsis (Xewp. 1845) X® 10.032, da coleção do prof. W. Wcyrauch, colhido perto de Tingo Maria, numa altitude de 670 metros, Perú. X® 603, da coleção quilopódica do Instituto Butantan, colhido pelo prof. W. WejTauch. em Huanuco, numa altitude de 1.900 metros, Perú. Ambos estes exemplares apresentam alguns caracteres diferenciais de N. l. longitarsis, como a ausência completa de sulcos longitudinais na placa cefálica. Xo exemplar de Tingo Maria os dois sulcos longitudinais do primeiro tergito vão apenas até a fossa circular, enquanto que no segundo exemplar sc estendem ainda além da mesma, como em /. longitarsis. Xos esternitos de ambos há apenas um sulco mediano, mas não os dois curtos posteriores de /. longitarsis. Os sulcos paramedianos dos tergitos existem desde o 2® até o 22® tergito, mas os dois laterais anteriores sc apresentam no e.\emplar X° 603 já desde o 3®, indo apenas até o 19® e no exemplar de Tingo Maria só existem desde o 10® até o 20“. Xos dois exemplares de Perú o prefémur, fémur e a tibia do último par de pernas apresentam aproximadamente o mesmo comprimento. O prefémur termina cm lâmina no lado ventral, apresentando 4 dentes relativa- mente grandes; o fémur tem 3 a 4 deniiculos muito pequenos no lado medial e a tibia ostenta no lado apical, vcntrahnentc, uma pequena apófise, dotada de um espinho robusto. CO.NCLUSÃO .'\s duas pequenas coleções de Quilópodos, uma enviada ao Instituto Butan- tan i>elo prof. Sucoup. de Lima, Perú, cm 1942, c, a segunda, provinda do prof. Wolfgang Weyrauch. igualmcntc de Lima, e enviada jjara o Instituto Butantan para a determinação dos exemplares, em 1949, revelam, enquanto for licito prejulgar à mão de material rclativamcnte pouco numeroso (68 exem- plares ao total), que a fauna quilopódica do Perú não é tão pobre cm csjjécies. Xo género Scolopcndra são assinaladas jnra aquele pais as seguintes espé- cies: — tnorsitans. z-iridicomis, arthrorhabdoides, armata, angulata c gigantea. Xo género Connocephalus existem i.s espécies bonacrius, impressus, andinus com algumas subespécies. O género Rhoda apresenta a espécie calcarata. Otostigmus está desdobrado nas seguintes espécies: — bürgeri, amaronar, re.r e pococki. Rhysida ccicris foi igualmente encontrada nas duas coleções. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 1S4 OUILÔPOIKJS DO PERC. II. Completamente nom para o Perú é a espécie debilis, subgênero Trigono- cryptops, havendo em toda a America do Sul apenas um outro representante único do gênero, o C. iheringi. Finalmente foi acentuada ainda a existência do gênero Otocryptops com a espécie O. fcrrugincus. RESUMO O presente trabalho se ocupa da fauna quilopódica de Perú, referindo em ordem sistemática as espédes e subespécies encontradas numa coleção coletada na região montanhosa dos Andes pelo prof. Wolfgang Weyrauch e enviada pelo mesmo ao Instituto Butantan, para a respectiva classificação. Foram encon- tradas as seguintes novidades sistemáticas: Scolopcndra gigantca wcyrauchi, subsp. n. CormoccphaUis aiidiiius nibrifrons, subsp. n. Cortnoccphalus imprcssus glabrus, subsp. n. Cryptops debilis, sp. n. ZUSAM MENFASSUXG Im Anschluss an die Chilopoden, dic ich 1942 durch H. Prof. Sucoup, aus Lima, Perú, erhielt, kann ich nun eintn zweiten Aufsatz über peruanische Chilopoden folgen lassen, da H. Prof. Wolfgang Weyrauch mir seine, 1949, im Andengebicte Pcnis gesammelten Chilopoden, zur Bestimmung übersandte. Unter dem letztercn Material befinden sich folgende Xeuheiten in s}*stemati.scher Hinsicht : Scolopcndra gigantca wcyrauchi, subsp. n. Connoccphalus andinus rubrifrons, subsp. n. Comtoccphalus imprcssus glabrus, subsp. n. Cryptops debilis, sp. n. Unter dem anderen, durch meinen ersten Aufsatz aus Peru schon bekannten Material, befinden sich folgende: 5". morsitans, gigantca, inridicornis, arthror- liabdoidcs, ^armata. angulata; C. bonacrius; Rhoda calcarata; Otostigmus bürgeri, atnaconac, rcx und pococki; Rhysida celcris; Otocryptops fcrrugincus. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 M«n. In*t. Batanta««. 22:173 1S6, Xor,* 1950. Mem. Inst. Batantan, a:IS7-19^ Nor.» 1950. W. BÜCHERL 187 QUILÓPODOS DA VENEZUELA (I) íOR WOLFG.^XG BÜCHERL (.Trabalho da Divisão de Zoologia iledica do Instituto Butantan, S. Paulo, Brasil) Pelos fins do ano de 1949 nos foi enviada uma pequena coleqão de quilópodos, coletados pelo prof. Dr. G. Marcuzzi, da Universidad Central de \>nezuela, Facultad de Ciências Fisicas e Matemáticas, de Caracas. Estes quilópodos são descritos neste trabalho. Ordem : — S C U T I G E R O M O R P H A Fam.; — PSELLIOPHORIDAE Genus: — Brasilophora Bücherl, 1939 1 . Brasilophora trimarmorata, sp. n. Colorido: — Cabeça e tergitos com larga faixa mediana, amarela, reta, a percorrer todas as placas dorsais até a borda posterior do último tergito. Na área posterior da cabeqa ela se trifurca, indo os dois ramos laterais em direqão aos olhos, onde tenninam nas bordas internas dos mesmos, enquanto- que a faixa mediana, mais larga, vem a terminar na fronte. Ao lado das carenas laterais dos tergitos, nos dois cantos redondos ante- riores, existe igualmente u a mancha amarela. Todo o resto, tanto da cabega como dos tergitos, é marrom escuro. Tam- bém as bordas externas dos estigmas, que se localizam no meio da faixa amarela, apresentam tonalidades escuras. Arca superior dos pleuritos, entre os tergitos e as coxas das pernas igual- mente marrom, com u’a mancha circular amarela, no meio. Coxas c estemitos amarelos, com as saliências e bordas em faixas enegrecidas. Prefêmures das pernas marrons, mas com tres grandes manchas amarelas, uma no começo, uma no meio e uma no fim do artículo. Fêmures igualmente Entregue para publicação em 13 de abril de 1950. SciELO 11 12 13 14 15 188 QUILôPODOS DA VENEZUELA. L com estas tres manchas (daí o nome " trímannoraia") amarelas em fundo marrom, sendo a mancha apical bem menor; tíbias marrons, tendo apenas u’a mancha amarela no ápice. Tarsos marrom claro. Medidas : — comprimento (desde a fronte até a borda do fim do tronco) : 34 mm. Antenas: — acima de 80 mm, tendo o flagellum primum 21 mm. Últimas pernas: — femur — 9,5 mm; tíbia — 12,5 mm; tarso — 23,5 mm; 2° tarso perto de 80 mm. Total: — perto de 120 mm. Flagellum primum com 54 a 58 artículos; todos bem mais longos do que largos, cobertos de numerosas cerdas, não dispostas em coroas. Além das cerdas existem nos primeiros 25 articulos, ao lado mediano, na ponta apical, 1-2 pequenos espinhos, às vezes em ordem alternada, isto é, ausentes num ou noutro articulo, de maneira que entre os 25 artículos basais, 14 apresentam estes espinhos. Flagellum seeundum também com a imensa maioria de articulos mais longos que largos. Taml)ém aqui não se podem contar “coroas” de cerdas. Alem do “nodus” jxjde haver “subnodi”. 2® par de pernas com l7-|-49 articulos nos dois tarsos respectivamente e com 3-f-3-j-2-|-0 acúleos nos ápices do prefêmur, fémur, da tíbia e do primeiro tarso respectivamente. 29 tarso provido de 28 “esti- lestes tarsais” (Tarsalzapfen), todos com as mesmas dimensões, curvados para a frente e presentes na face ventral dos artículos 14 a 42. Prefêmur, no lado ventral, provido de uma quilia longitudinal, co- berta de cerdas. Lateralmente, ao longo da mesma, já uma fila de cspiculas, duplas na área apical. .\s outras carenas longitudinais apenas com cerdas. Fêmur já com algumas filas longitudinais de espinhos e outras somente com cerdas. Tibiá e tarsos somente com filas de cerdas. 4® jar de pernas com 17-j-43 articulos tarsais e com 3-j-34-3-|-2 acúleos nos prefêmur, fêmur, na tíbia e no fim do 1. tarso e com 20 estiletes (dos articulos 14® ao 34®) no segundo tarso. Prefêmur com 2 a3 fileiras internas de espinhos; o resto cerdas; fêmures com 7 fileiras de espinhos; tibias com 4 fileiras de espinhos; todos os artículos do 1° tarso com 2 a 3 espinhos no ápice. 7® par de pernas com ll-f41 articulos nos dois tarsos e com 3-h34-3-^-2 acúleos e com 18 (do 16® ao 34°) estilites no segundo tarso. 3 Fileiras de espinhos no prefêmur, 7 no fêmur, 5 na tíbia e com 2 a3 espinhos apicais em todos os artículos do primeiro tarso. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Men. Tnst. Batantan. «:187-198. Sor.» 19S0. W. BUCIIESL 189 12” par de pernas com 10+41 artículos nos dois tarsos e com 3+3+3+2 acúleos. Sem estiletes tarsais. Com 3 fileiras de espinhos no pre- fêmur; 7 no fêmur, 5 na tíbia e com 2 a 3 espinhos apicais em todos os artículos do primeiro tarso. Ultimo par de pernas com 13 artículos no primeiro tarso e numerosís- simos no segundo, apresentando também os artículos basais do segundo tarso espinhos apicais. Placa cefálica sem espículas e apenas com poucas e diminutas cerdas; piimeiros tcrgitos já com algumas espículas e cerdas, aumentando tanto as •espículas como as cerdas nos tergitos seguintes. Xas bordas laterais o primeiro tergito só apresenta cerdas; 2? tergito já com algumas pequenas espículas no dorso, também na faixa amarela, tendo cada espicula uma cerda longa do lado. Carenas só com cerdas; ai^nas nos cantos posteriores há um comego de espículas, ainda muito pequenas. Do 3® ao último tergito aumenta o número de espículas, tanto na área mediana como nas carenas laterais, dimi- nuindo. entretanto, as dimensões das cerdas. As espiculas das carenas vêm a fonnar verdadeiras serrilhas (vide fig-l). Gonópodos das fêmeas: — (vide fig. 2) I..ados externos do pro-mes-c metartron formando duas paralelas; lados externos do mes-e metartron apro- ximadamente do mesmo comprimento, sendo cada um duas vezes mais longo do que a sutura mediana do proartron e tres vezes mais longo do que a base do proartron. Em repouso esta cavidade forma um oval muito oblon- go, tocando-sc quase os feixes de pêlos no ápice interno do mesartron. Bordos internos do mes-e metartron lisos. Gonópodos apenas com cerdas, sem espiculas. Tipo: — Fêmea, N* 695 da colegão de Maraizzi, Caracas. Venezuela. Procedência: — Rancho Grande, Venezuela. Paratipo: — X® 40. da colcgão dos Scutigcromorpha do Instituto Butantan, procedente do local-tipo. .\ presente espécie nova é indubitavelmente do gênero Brasilophora Bü- cherl, 1939, pois apresenta 2 acúleos no fim do primeiro tarso já desde o s^undo par de pernas como também cúspides no segundo tarso das pernas 1 a 8, todas do mesmo tamanho e sem serem alternadas. Seus últimos tergitos têm as carenas laterais serrilhadas, com cerdas na base de cada es- picula. Brasilophora trimarmorata, sp.n., distingue-se, entretanto, facilmente das duas espécies. Br. margaritata e Br. paulista Bücherl, 1939, pelos sintelo- poditos gonopódicos das fémeas, como se pode \-cr da seguinte comparação: — cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 190 QIILÔPODOS DA VENEZUELA. I. Drasilophora margaritata Brasilophora paulista Brasilophora tri- niarmorala Mes-c metartron do mes- Pro-mes-e metartra d o ^íes-c metartra do mesmo mo comprimento; proar- mesmo comprimento ; comprimento ; proartron tron apenas pouco mais ca\-idade mesartral qua- 2 vezes mais curto que curto que o mesartron; se 2 veres mais longa’ o mesartron ; casidadj cas-idade mesartral mais mais larga que longr. que larga. mesartral pelo menos 3 vezes mais longa que larga. Tergitos castanhos, com Tergitos castanhos, com Tergitos marrom, com lar- faixa mediana averme- faixa mediana amarela. ga faixa amarela ; nos lhada ; pernas amarelas. Pernas escuras com 3 cantos anteriores igual- enfurnadas. manchas amarelas . mente u’a manchinha amarela. Pernas com manchas amarelas. Ordem : — SCOLOPENDROMORPHA Genus ; Fam.: — SCOLOPE.XDRIDAE Subfani.: — SCOLOPEXDRIXAE - CORMOCEPHALUS Xe^vport. 1844 et 1845 2. Cormocephalus impressus impressus Porat, 1876 Uma fêmea adulta, procedente de Rancho Grande, Venezuela c com o X.° 1847. Um filhote, também de Rancho Grande, com o X.° 215. .'\mbos na coleção do prof. Marcuzzi, Caracas. Subfam.; — OTOSTIGMIXAE 3. Otostigmus pccocki Krãpelin, 1903 11 e.xemplares, procedentes de Rancho Grande, Venezuela, sendo os dos N°s 1249, 1300, 921, 549 e um sem numero, da coleção do prof. Marcuzzi, Caracas c os de X“ 606. 607 e 608 da coleção quilopódica do Instituto Bu- tantan. A confrontação morfológica destes c.xemplarcs com O. pococki oferece as seguintes discordâncias: — cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 * cm Mem. Inst. Bstanta**. 22:187*193, Xcr* 1950. W. BUCHERL 191 O. pococki Estes exemplares Cabeca e 1* tergito azul -amarelados ; Inteiramentc ollváceo, pres^alecendo ou todo o resto azu! esverdeado. o verde ou o azul ou o roxo. 2 artículos basais das antenas sem Somente cs dois primeiros sem pelos. pêlos. Tergitos sulcados e carenados desde o Desde o 3® apenas 2 sulcos curtos an- quinto até ao vigésimo e 21'*. teriores; desde o 4® ou 5® também com 2 sulquinbos leves posteriores ; desde o 7® ou 8® com sulcos comple- tos, reforçados sempre na frente e atrás e no meio tão leves que se tor- nam quase imperceptíveis em muitos tergitos. Carenas laterais somente no 21®; nos 13 tergitos anteriores as bordas bterais são eles-adas, simulando muito imperfeitatnente “ pseudo care- nas ". Só com espiculas e rugas, mas sem quilias. 21* tergito ainda com 3 quilias enruga- ■As 6 cas-idades são nítidas ate ao 20® das. nos dois terços ameriores. Es- estemito (vide fig. 3), sendo as 2 da teriftos com 3 candades anteriores e linha mediana as mais profundas. As 3 posteriores; as anteriores cJácngar. 6 se encontram numa depressão as posteriores redondas; cs estemitos grande. posteriores ccnfhiem as tres znttriores. 21” estemito sem depressão. Com depressão na segunda metade (fig. 3). 1® par de pernas com 2; 2” .to 19® par 1® ao 3® ou 4® par. cem 2; dai ao 20’ com 1 esporão tarsal. com 1 esporão tarsal. Estas diferenças morfológicas são realmcnte bem significativas; ainda mais. porque elas se manifestam em todos os 11 exemplares de Rancho Grande ([ue. do outro lado. mostram uma surpreendente concordância mor- fológica entre si. Entretanto, ha também caracteres morfologicos comuns entre a espécie de Krãpelin e estes exemplares e nós julgamos estes de natureza relevente. Assim, desde o 5° tergito há nas duas formas 1 quilia mediana; desde o 7*^ tergito surgem ao lado desta quilia mediana n»ais duas quilias laterais, entre os dois sulcos paramedianos e desde o 11° ou 12° surgem mais duas quilias colaterais, ao lado dos sulcos paramedianos. de maneira que existem, ao todo. 5 quilias. Além disso apresentam os tergitos espiculas e rugas granuladas. SciELO 11 12 13 14 15 16 17 192 QCILÔPODOS DA VENEZUELA. I. yo As 6 concavidades dos estemitos também são, em suma, concordantes, si bem que estas não oferecem caracter específico, muito seguro, porque existem muitas outras espécies deste gênero com 6 ca\-idades. Assim não nos aventuramos a designar uma espécie ou raça própria para estes 1 1 indivíduos de Rancho Grande. Seriam necessários mais exem- plares. talvez em melhor estado de conservação, para se poder ver com cer- teza os sexos. Xos presentes, apesar de cuidadosa preparação, não conse- guimos isolar nem testículos, nem ovários, pois intemamente só existia uma massa indistinta. Caracteres sexuais externos, como apófises, com feixes de pêlos, no lado interno dos prefêmures do último par de pernas, também não temos encontrado em nenhum e.xemplar. .•\s ' espécies .americanas do gênero Olosligiiiiis atingem hoje perto de 35. Entre estas as seguintes apresentam um nitido parentesco morfológico, expresso : 1° pelas 6 cavidades redondas, pequenas nos estemitos; j or 1 ou 3 ou 5 quílias nos tergitos. com todas as transições, isto é. pode existir apenas itma quilia mediana. Ao lado desta pode ha- ver apenas começo de duas quílias laterais, ainda dentro da área dos dois sulcos (O. scabricauda e inermis), ou as duas laterais já estão complctamente evoluídas, tão longas quanto a mediana (O. denticulatus c casus). Finalmente, pode haver, ao lado das duas quílias laterais, além dos dois sulcos, mais duas quilias, uma em cada lado, ou incom- pletas (htermis) ou nitidamente desenvolvidas {pococki e oceid entalis). jxir apresentarem uma área nos tergitos, não lisa, mas desfeita em inúmeras "mguinhas”, como que granuladas, havendo numerosas espículas. pelo dimorfismo se.xual entre machos e fêmeas, já quase descrito para todas as especies e a manifestar-se da seguinte maneira: os machos apresentam no lado interno dos prefêmures do último par de j)eraas um apêndice, mais ou menos articulado, truncado na ponta distai, onde há uma diminuta depressão, coberta de um feixe de cerdas louras. Este aj)êndice ora é do mesmo comprimento do prefêmur (O. silvestrii, scabricauda, clazHfcr), ora é um pouco mais curto (O. insignis), ora está apenas indicado ( O. pococki). Finalmente foram descritas ainda espécies, onde está inteiramente ausente (O. rcx, spteulifer, denticulatus, inennis, casus, oceidentalis e suitus), fazendo-se necessária, sem mais nada, uma revisão cuidadosa destas últimas espé- cies, para afastar a dúvida de que os poucos exemplares conhecidos (às vezes apenas um) não sejam representantes exclusiramente do sexo feminino. 3° 40 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 BÜCHERL B:ISM98, Xoy.» 1950. As espécies em questão são as seguintes: — O. pocochi Krpln.- 1903 Guiana brasileira; O. insignis Krpla, 1903 Ecuador; O. silvestrii Krpln., 1903 Ecuador; O. scabricauda (H. &S., 1870) Brasil, Colômbia, Guatemala; O. rex Chamb., 1914 i Brasil central c norte; O. spiculifer Poc., 1893 Ilha de St \'incent; O. denSiculatut Poc., 1896 México; O. tncrmií Por., 1876 .\rgentina, Venezuela, Colômbia; O. casus Chamb., 1914 Brasil, Mato Grosso, rio Madeira ; O. occidfnlalis Mein., 1886 . . O. suitus Chamb-, 1914 Brasil, Mato Grosso, rio Madeira. 193 Passando estas 11 espécies por uma análise mais acurada, chega-se às seguintes conclusões: — o) O. occidentalis e svtius foram descritos apenas sumariantente e de uma maneira muito imj)eríeita, precisando scr revistos à mão de novo ma- terial, da mesma procedência. Suilus sinônimo com casus? b) O. insignis e silvestrii formam certamente apenas uma espécie, talvez com 2 ou 3 raças. c) O. rex não é outra coisa, como já afirmara C. Verhoeff, senão a fêmea de O. scabricauda, do qual, aliás, muito dificilmente se poderão separar morfologicamente as fêmeas de sfnculifcr e denlieulatus. d) Olostigmus inermis deverá igualmente ser revisto mais de perto, segundo as zonas geográficas. Foi ele assinalado na .-Xegentina, depois na Venezuela e, finalmente, na Colombia; portanto em locais bastante distantes, pelo menos quanto à Argentina. Morfologicamente há igualmcnte ^•ariações assinaladas, principalmente quanto aos 2 esporões no fim do primeiro tarso que podem estar presentes apenas nos primeiros 4 pares ou em 18 pares. Quanto às quilias dos tergitos há uma mediana, realmente bem saliente. Ao lado desta há rugas longitudinais, espiculadas, em número de 2 em cada lado da quilia, de maneira que ao todo seriam 5 elevações, mais ou menos nitidas. Já vimos que pococki apresenta 5 quilias nitidas, espiculadas; mas apenas 2 esporões tarsais somente no 1° par de j^rmas. Os e.xcmplares. entre- tanto, de Rancho Grande, Venezuela e que nos deram ocasião a estas insinuaçõe.s de ordem morfológica, já apresentam 2 esporões tarsais nos primeiros 3 a 4 pares de pernas, como alguns e.xemplarcs de íncr/mr. Em alguns indivíduos as quilias laterais também são mais débeis; no último tergito, finalmente, não há nestes e.xemplares as 3 quilias, assinaladas no tipo de O. pococki, mas apena.<; espículas como em inermis. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 194 QfILóPODOS DA VENEZUELA. 1. Não se incorreria, portanto, em erro muito grave, si se pretendesse reunir as duas espécies: O. pococki e inermis, numa só espécie, sendo a pocockt apenas o macho de iucnnis. com precedência do nome de inermis. Ou, então, poderia esta espécie ser subdividida em raças geográficas, designando-se igual- mente uma raça venezuelana. Estas considerações serão certamente resolvidas praticamente, após uma comparação de maior número de exemplares. Por ora, apesar das divergências morfológicas entre os individuos de Rancho Grande com pococki, as conside- ramos como pertencendo a esta espécie. Fam. CRYPTOPIDAE Subfam.: — SCOLOPOCRYPTOPISAE (jenus: — Otocryptops Haase, 1886 4. Otocryptops mclanostomus (Xewp., 1845) 5 exemplares, de Rancho Grande, \'cnczuela, tendo sido um incorporado à coleção quilopódica do Instituto Butantan, sob o N° 605. 5. Otocryptops fcrnirjinctis fcrruginciis (L., 1767) 1 exemplar, de Rancho Grande, Vetiezuela, na coleção do prof. Marcuzzi, sob o N° 949. Genus: — ?íc7i’portia Gervais, 1&47. 6. Xcivportia pusilla Poc.. 1893 6 exemplares, de Rancho Grande, \'enczuela, sendo 2 na coleção do prof. Marcur.zi, cm Caracas (N- 1C96 e 7-49) e 4 na coleção quilopodica do Instituto Butantan, sob o N“ 609. Medidas: — comprimento total até 34 mm. Última pema-prefemur 2,5 mm: fêmur 2,4 mm ; tibia 2.2 mm ; tarso 1 1,2 mm; tarso 2 7,0 mm. Placa cefálica totalmentc sem sulcos. Primeiro tergito com sulco anular, mas sem sulcos longitudinais. Tergites 4-20 com 2 sulcos longitudinais colaterais Mem. Inst. Batantan. 1í:I8M98. Nor.» 1950. W. BUCHERL 195 e 2-21 com 2 sulcos medianos. Quília mediana dos tergitos bastante indistinta. Estemitos com sulco mediano, sem atingir as bordas anterior e posterior e ainda 2 sulcos laterais anteriores que \-ão apenàs até a metade de cada placa. Tibias somente com esporão lateral; tarsos sem esporões. Apêndice coxopleura! muito agudo, cônico, terminando num espinho. Poros grandes, atingindo na frente quase a margem do tergito. Xo canto posterior um espinho muito pe- queno. Prefêmur das últimas pernas com 4 a 5 espinhos ventrais; fêmur com 1 a 2 espinhos mediais, pequenos. Antenas com 17 articulos; segundo tarso das últimas pernas com 10 a 16 articulos, geralmente com 10. 7. Ncivportia longitarsis longitarsis (Xewp., 1845) 4 exemplares, de El Funquito, Rancho Grande, Venezuela, ficando o de 5-49 na coleção do prof. Marcuzzi, Caracas, e os outros na coleção quilopódica do Instituto Butantan. sob o X® 610. Os 4 exemplares apresentam diferenças morfológicas relevantes de N. /. longitarsis, de maneira que preferimos fornecer a descrição dos mesmos: — Medidas: — comprimento total, até 40; placa cefálica e 1® tergito- 2,0 mm; antenas- 1,8 mm: última j)ema: prefêmur- 1,2 mm; fêmur- 1,1 mm; tibla- 1,0 mm; tarso 1- 0,6 mm; tarso 2- 1,5 mm. Placa cefálica lisa. brilhante, esparsamente pontuada, com dois sulcos pos- teriores, muito curtos e divergentes (fig. 4). Antenas com 17 artículos, não atingindo a borda posterior do 1® tergito. Os 3 artículos basais esparsamente pilosos Coxostemum forcipular na margem anterior bilobado. Primeiro tergito com fossa anular e bem no meio uma cavidade nítida, semi-circular (fig. 4). Com 2 sulcos longitudinais até a fossa (não em sua frente). Tergitos 2-22 com dois sulcos longitudinais e sulcos laterais, anteriores do 3® ao 20“ tergito. Do 6® ao 20° uma quilia mediana que não atinge as bordas anterior e posterior. Coxostemum sem sulcos longitudinais ou trans^•crsais. Estemitos com sulco mediano, abre^ado em frente e atrás e na segunda metade do corpo com dois sulcos laterais anteriores. Último estemito sem sulco ou depressão; atrás tmn- cado. Pernas com cerdas finas; tibias só com esporão lateral; os dois tarsos cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 196 QUILÔPODOS DA , VENEZUEUiV I. nitidamentf divididos, mas sem esporão. Tarsos nitidamente divididos, sem esporão. Apêndices coxopleurais longos, cilindricos, terminando em ponta (fig. 5). Poros muito grandes, mas relativamente pouco numerosos, não atingindo os tergitos nem a borda posterior (fig. 5). Pre fêmur último com 4 espinhos ventrais grandes; sem outros espinhos: fêmur com 2 espinhos mediais, menores; tibia sem espinhos, segundo tarso apenas com 6 artículos. Ha diferenças nitidas entre estes exemplares e a espécie, N. longitarsis, longilarsis. Esta última apresenta os dois sulcos da placa cefálica, indo até a metade, enquanto que nos exemplares de Rancho Grande ocupam apenas a quarta parte posterior; no primeiro tergito não há em /. longitarsis a depressão atrás da fossa e os dois sulcos se estendem ainda além desta; a área porosa é grande, atingindo os poros na frente as margens do tergito; no último prefêmur existem, além dos espinhos ventrais, grandes, duas fileiras de pequenos espinhos menores. Quanto ao resto há concordância entre os individuos da Venezuela e a N. l. longitarsis, razão porque os agrupamos nesta espécie. SUMÁRIO Uma pequena coleção de quilópodos, vindos da Venezuela e coletados em Rancho Grande e enviados ao Instituto pelo prof. Marcuzzí, é descrita, contendo as seguintes espécies: — Brasilophora trimarmorata sp. n. ; Connocephalus iwpressus; Otostigmus pococki; Otocryptops melanostomus ; Otocryptops ferrugineus ferrugineus; Nctvportia pusilla; Nnvportia longitarsis longitarsis. ABSTRACT This pafier is a report on centipeds taken in the locality “Rancho Grande ’, Venezuela by Prof. Dr. Marcuzzi, Caracas. The following species are lislened : — Brasilophora trimarmoratg sp. n. ; Connocephalus impressvs; Otostigmus pococki; Otocryptops melanostomus; cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Mem. Inst. BnUsUn, W. bCXHERL 197 B:187-198, XoT.* 1950. Otocryptops ferrugincus ferrugineus; Ncwportia pusilia; Nczcporlia longitarsis longitarsis. ZUS.\MMEXFASSUXG Eine kleine Chilopodensammlung des H. Prof. Dr. Marcuzzi, aus Caracas, Venezuela, wird beschrieben. Fast alie Tiere stamnien aus der Nãhe von Rancho Grande. Folgende Arten bcfandcn sich darunter: — Brasilophora Irimarutorata sp. n. Coniwcephalus impressusj Olosligtnus pococki; Otocryptops viclanostomus; Otocryptops ferrugincus ferrugincus; ' Ncwportia pusilia; Ncwportia longitarsis longitarsis. Von den schon bekanntcn Arten wurden die Exeniplare von O. pococki, N. pusilia und N. l. longitarsis vollstãndig beschrieben, da sie von den genannten Arten niorphologisch schr abweichcn und sich dcshalb nicht genau einreihen lassen. SciELO 11 12 13 14 15 Mim- Inít. Betada-. 22:199-204. ítor.» 1950. J. P. DO AMARAL 4 M. B. ESTEVES 199 AXTIGEXOS DE SALMOXELA EM BACILO FLEXXER II (* *) POR JAXDYRA P. DO AMARAL & MARIA B. ESTEVES (Laboratorio de Bacteriologia do Instituto Bulantan. S. Paulo, Brasil.) Xa família das Enterobacteriaceas ao lado dos caracteres bioquímicos, a composição antigênica é de essencial ralor na diferenciação dos gêneros, espécies c tipos. Xão muito raramente, porém, tém sido encontrados antigenos inespecíficos em géneros de bactérias perfeitamente identificados por suãs propriedades bio- químicas c sorológicas básicas. Lembraremos os trabalhos de Banforth (1), estudando raças de E. coli aglutináveis pelo anti-sóro de Shigella aikalcsccns; White (2) c Waaler (3), obser\-ando aglutinações de salmonclas por soros ^isentcricos e vice-versa; Peluffo, Edwards e Brunner (4), referindo amostras de paracolis com antigenos flagelares de SalmoncUa. Entre nós, Taunay e colaboradores (5) publicam, em 1948, obser\-ações de amostra Flexner II que possue cm seu soma o antigeno IX de Scdtnonella. Queremos refenr cm destaque o trabalho de Bomstein, S., Saphra, 1. e Daniels, J. B. (6) que, estudando a presença dos antigenos VT e XIII em Shigella paradysenteriac do "gruiio Y” (bacilo de Hiss) falam da possibilidade destes antigenos serem característicos dessa espécie. Esta questão é levantada pelo fato de terem aqueles autores verificado a ocorrência dos antigenos VI e XIII em 14 de 16 cepas de “Fle.xner Y” e.xperimentadas. Referem ainda como característica a inc.xisténcia de tais antigenos cm 2 cepas de Shigella sonnei e cm 5 de Sh. paradysenteriae hão ijcrtcnrentes ao grupo . Xossa. comunicação estuda a presença dos antigenos VI e XIII de Salmo' nella em uma cepa com todos os caracteres essenciais do Bacilo Flexner II. Esta cultura foi estudada a pedido do dr. M. Murgel que a isolou das fezes de uma creança, cuja ficha clinica é a seguinte: RfcebMo para puWicação em 23 de maio de 19S0. (•) Trabalho apresenudo na III» Reunião ConjunU das Sociedades de Biologia do Brasil. Bahia, Agosto, 1949. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 200 AXTIGEXOS DE SALMONEU,\ EM BACILO FLEXXER. II. Hospital Santa Cruz. V. Y. 6 anos — Brasileiro. Procedente de Itaquera e internado em 1-4-948 em estado de onconsciência e com rigidés da nuca. Até às 17 horas do dia da internação, conforme informação do pai, nada de anormal fora notado. Nesta tarde, o menino apresentou estado convulsivo, sendo levado ao Hospital onde deu entrada às 21 horas. A creança faleceu antes das 24 horas deste mesmo dia. Retirado o liquor por punção lombar e centrifugado, com seu sedimento foi feita uma preparação que, corada pelo método de Gram, revelou ao exame microscópico hastonetes gram-negativos. Infelizmente. não foi feita cultura deste material. Das fezes foi isolado germe gram-negativo, o qual foi enviado ao Instituto Butantan para identificação. Estudos sobre a cepa em questão: Bacilo Flexner N° 38 Bacilos gram-negativos. Imóveis. Propriedades bioquímicas: fermenta a maltosc, glicose e manita sem formação de gás; não ataca a lactose e a glicerina. Não produz indol, nem liquefaz a gelatina. Não ataca a ureia (S.V-) ; não produz aldeido fórmico (Stem-), nem H^S. O quadro 6 especifica o total das reações bioquímicas. Propriedades antigcnicas — Aglutina os sôros Flexner totais, e em parti- cular o sóro específico para Fle.xner II como mostra o quadro 1 : Quadro 1 Títulos aglutinantes da cepa Flexner Nf 3S para sôros Flexner Soro aotr Aotigeoo Tttnlo Flexner I (nâo absorvido) S.O m 5.120 Flexner II (nlo absorvido) N.O SS 5.120 Fl^xi.er Y (nâo absorvido) ÜM 38 3.560 Flexner fator 11. puro (*) (absorvido) N.O 38 &40 A aglutinação rápida, em placa, da cepa 38 com um sóro polivalente anti-salmonela, levou-nos a estudar os antigenos responsáveis pela reação. Experimentados numerosos antisoros somáticos e flagelares, verificou-se agluti- nação apienas com os sôros somáticos VI e XHI.XXHI. O quadro 2 mostra o titulo das dosagens pelo métoS — — — Glicerina Qu.vwto 7 Titulos aglutinanies obtidos com a cepa 38 recem-isolada, envelhecida e após passagem em camundongo. AMOSTRA FLEXXER 3S Re€^m4iol ada Cootenrada em cultura cerca de 1 aoo Rejuvenescida por pattageoa em camundongos AnUiteoos: EI. 11 S. VI s. .xin EL II S. VI S. Xlll El. II S. VI S. XIII Títulos aglatinaates: 5 120 1.260 2.560 5.120 50 50 5 120 540 1.260 SciELO 11 12 13 14 15 16 17 204 AXTIGEXOS DE SALMOXELA EM BACILO FLEXXER. n. HESUMO Foi demonstrada a presença dos antígenos VI e XIII de salmonelas em uma cultura com os caracteres essenciais de Shigella paradyscnteriae II. Tais antígenos VI e XIII, bem mais lábeis qúe os antígenos major para Flexner II, parecem estar condicionados á virulência do germe. ABSTRACT Salmonella antigens VI and XIII were identified in a strain which presented essential characters of Shigella paradyscnteriae II. These antigens VI and XIII, much more labil than the antigens major of Flexner II, seem to depend on the virulence of the strain. BIBLIOGRAFIA Bamborih, J. — J. of Hygicne 34:69-80, 1934. White, P. B. — J. of Path. & Bact. 32:85-94, 1929. tVaaler. E. — Monograph. Oslo, 1935. Peluffo, C. A.; Eãuxtrds, P. R. & Bruner, D. IK. — J. Inf. Dis. 70:185-192, 1942. Taunay, A. E. et colab. — O Hospital 33:211, 1948. Bemslnn, S.; Saphra, I. & Daniels, J. B. — J. of Iimnunology 42:401, 1941. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Mem. Inst. Batantao. a:205-212, Nor.» 1950. J. P. DO AMARAL 4 A. A. AGUIAR 205 REAÇÕES DA PRECIPITINA EM ALGUNS CULICIDAS (* *) POR JAXDYR.-V P. DO AMAR.\L & ARACY A. AGUIAR (Do Laboratorio de Bacteriologia do Instituto Butantan e Servifo da Profilaxia da Malária, S. Paulo, Brasil) No estudo dos mosquitos hematófagos as pro\'as de precipitina apresentam interesse, pois indicam a preferência, ou mesmo a exclusividade de certas espécies cm sugar êste ou aquele animal, ou mesmo o homem, minúcias de importância para os trabalhos epidemiológicos cm geral. Nas pesquisas do ser\’iqo de malária este teste é usado com muita frequên- cia pois selecionando as fêmeas que se alimentam de sangue humano estabelece a base para os estudos da transmissão c profilaxia da moléstia. A técnica classicamente usada, a que se encontra descrita em quase todos os trabalhos sóbre o assunto, insiste sôbre estes detalhes: “Selecionam-se sómente fêmeas engorgitadas rcccntementc c com abdômen cheio e vermelho indicando terem se alimentado há pouco tempo. Os cspccimcns são capturados pela manhã oátando desta maneira o mais possível a digestão do sangue. Logo após a coleta cada cspecimcn c amassado em um papel de filtro, devida- mente fichado, c enviado ao laboratório para que se processem as reações’.’ (1). Esta técnica tão simples a primeira vista apresenta algumas' dificuldades para o nosso meio pois a mutilação do mosquito necessitando ser feita no momento da captura, as mais das vezes cm lugares distante do laboratório central, traz como consequência prejuízo para certos estudos entomológicos que só poderão ser realizados nos laboratórios centrais. Tendo em vista esta questão, seria interessante a captura do mosquito nas zonas a estudar e a remessa íntegra dos mesmos ao laboratório central. Tentando uma idéia sôbre êste detalhe resolvemos verificar, se era possível a realização das pro\'as de precipitinas com mosquitos conservados integros durante um prazo de tempo razoável para serem remetidos ao laboratório, mesmo se cap)turados à distância e desta maneira estudados sob outros aspectos antes de serem inutilizados para as pro^^as. Entregue para pt^Iicação em 23 de maio de 1950. (•) Trabalho apresentado á Sociedade de Biologia, em reunião de 12-4-1950. SciELO 11 12 13 14 17 206 KEAÇOES DA PRECIPITIXA EM ALGUNS CULICIDAS \'eri ficamos ainda da possibilidade do mosquito ser conserv^ado vivo durante um tempo mais ou menos longo após o repasto, sem prejudicar a positividade do teste, demonstrando a proteina humana mesmo depois de digerida. Esta é a finalidade da presente comunicação. Parte c.rficritiiental : Foram criados no laboratório (Serviço de Profilaxia da Malária; Labora- tório de Entomologia) e alimentados com sangue humano exclusivamente, fêmeas de mosquitos que são mortas 12 horas após o repasto. Selecionam-se as engorgitadas. Divididas em 20 lotes serviam para as provas de precipitinas em intervalos de tempo variáveis a saber; 12-24-48-72 horas — 10-20-30-35-40-45 dias e 3-4-5-6-7-8-9-10-11-12 meses. Os mosquitos devidamente fichados foram conservados íntegros só sendo triturados no dia da prova em tubo com 0,5 cm’ de solução fisiológica. Este triturado depois do permanecer 1 hora à temperatura ambiente era passado em papel de filtro obtendo-se então um liquido absolutamente transparente. As reações foram efetuadas em tubos de 0,5 x 4 cm com partes iguais do antigeno e do sôro anti-humano (0,05 -f- 0,05). O sôro empregado foi preparado por nós (Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan) cm coelhos, aos quais foram injetados por via endove- nosa uma média de 18 cm’ de sóro humano em 10 injeções, iniciando-se com 0,1 c terminando-sc com 4 cm’ e intervaladas de 3 dias. O menor titulo de sóro aproveitado foi de 1 :20.000. O sóro era colocado na parte inferior do tudo e o antigeno cuidadosamente escorrido pelas paredes do mesmo de maneira a se formar uma zona de união c na *. c]uito« znortns 12 horas após o rrpasto e conscrirados accoí e iotricros até ura ano. Tiao 2 — Rcaçâo onde se nota uma lona d« tnrTaçIo acima do arwl, que aparcc« com o aumento de rida do mosquito apôs o repasto. SciELO 11 12 13 14 15