ISSN 0073 - 9901 MIBUAH GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENAÇÃO DOS INSTITUTOS DE PESQUISA INSTITUTO BUTANTAN SÃO PAULO, SP - BRASIL Memórias do Instituto Butantan VOLUME 53 NÚMERO 1, 1991 As "MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN" têm por finalidade a apre¬ sentação de trabalhos originais que contribuam para o progresso nos campos das Ciências Biológicas, Médicas e Químicas, elaborados por especialistas nacionais e estrangeiros. São publicadas sob a orientação da Comissão Editorial, sendo que os con¬ ceitos emitidos são de inteira responsabilidade dos autores. The "MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN" are the vehicle of com- munication for original papers written by national and foreign specialists who contribute to the progress of Biological, Medicai and Chemical Sciences. They are published under the direction of the Editorial Board which assu¬ mes no responsability for statements and opinions advanced by contributors. Diretor do Instituto Butantan Dr. Willy Beçak Comissão Editorial Henrique Moisés Canter — Presidente Adolpho Brunner Júnior — Membros Olga Bohomoletz Henriques Raymond Zelmk Sylvia Lucas Denise Maria Mariotti — Bibliotecária Indexado/lndexed: Biosis Data Base, Current Contents, Index Medicus. Periodicidade: irregular Permuta/Exchange: são feitas entre entidades governamentais, com publicações congêneres, mediante consulta prévia. Exchanges with similar publications can be settled with academic and governmental institutions through prior mutual agreement. Endereço/Address. Instituto Butantan — Biblioteca. Av. Vital Brasil, 1.500 05504 — São Paulo, SP — Brasil Telefone/Telephone: (011) 813-7222 — R. 129 — Telex: (011) 83325 BUTA-BR Telefax: (011)815-1505 1, | SciELO Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Saúde Coordenação dos Institutos de Pesquisa Instituto Butantan — São Paulo — SP — Brasil MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN Volume 53, número 1, 1991 São Paulo, SP — Brasil 1991 * cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 MEMÓRIAS do INSTITUTO BUTANTAN. (Secretaria de Estado da Saúde) São Paulo, SP — Brasil, 1918 — 1990, 52 (1-3, supl.) Em apenso, a partir de 1990, 52 (3): BOLETIM DE BIOTECNOLOGIA 1991, 53 (1, ISSNÓ073-9901 MIBUAH CDD 614.07205 Solicita-se permuta/Exchange desired SciELO 10 11 12 13 14 Mem. Inst. Butantan 53 (1), 1991 SUMARIO/CONTENTS The influence of three different drying procedures on some enzymatic activities of three Viperidae snake venoms. A influência de três diferentes processos de secagem em algumas atividades enzimáticas de três venenos da serpente Viperidae. Jürg MEIER, Christoph ADLER, Paul HÒSSLE, Rosário Lo CASCIO 119 Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae) Color patterns, distribution, and possible mimicry in Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae) Otávio A.V. MARQUES, Giuseppe PUORTO . 127 Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura) Two small species of Hyla from the Atlantic Forest of the São Paulo State (Amphibia, Anura) José P. POMBAL JR., Marcelo GORDO . 135 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 Mem. Inst. Butantán 53 (1): 119-126, 1991 THE INFLUENCE OF THREE DIFFERENT DRYING PROCEDURES ON SOME ENZYMATIC ACTIVITIES OF THREE VIPERIDAE SNAKE VENOMS Jürg MEIER Christoph ADLER Paul HÕSSLE and Rosário LO CASCIO ABSTRACT: Some enzymatic activities of lyophilized, sun-dried and vacuumdried venoms of copperhead (Agkistrodon contortrix), saw- scaled viper (Echis carinatus sochureki) and lancehead (Bothrops atrox) snakes were determined and compared to the respective fresh venoms. It has been shown that none of the drying procedures has a general advantage over the others. It is concluded that the drying procedure used may influence the enzymatic activities of snake venoms to a differ- ent extent. It may be worthwhile to take the drying procedure into con- sideration, if snake venoms are used as enzyme source, since it may influence the yield of the enzyme to be purified. KEYWORDS: Snake venoms; drying procedures; enzyme activities. INTRODUCTION It is known that dried snake venoms retain many of their biological activities over long periods of time 6 ' 8 ' 9 ' 10 ' 12 . Although this has never been demonstrat- ed it is often said that lyophilized venoms are more stable than desiccator-dried venoms 11 . Low temperature Processing and drying, however, are more complex scientifically and technologically than other drying procedures and the physico- chemical changes which can take place during freeze-concentration and subse- quent drying may be prominent 3 ' 4 . Thus, in this study the influence of lyophili- zation, vacuum-desiccation and sun-dryng on some enzymatic activities from venoms of the broad-banded copperhead (Agkistrodon contortrix iaticinctus), the Pentapharm Ltd., CH-4002 Basel, Switzerland Recebido para publicação ern 25.6.1990 e aceito em 17.10.1990 119 SciELO 0 11 12 13 14 15 MEIER, J.; ADLER, C.; HÕSSLE, P.; LO CASCIO, R. The influence of three different dryíng proce- dures on some enzymatic activities of three Viperidae snake venoms. Mem. Inst. Butantan, 53( 1) 119-126, 1991. saw-scaled viper 0 %) Subatrate for plasma kaJlikrein mU/mg V«nom Subatrate for plaamin mU/mg Vanom Subatrate for thrombin mU/mg B Subatrate for urokinaae mU/mg V*nom D Subatrate for glandular kallikrein mU/mg Venom Fig. 2. Enzyme activities of Agkistrodon contortrix venom. With the exception of the L- amino acid oxidase determination, where every drying procedure leads to a significant activity decrease, all other differences are not significant with this venom. 124 SciELO 10 11 12 13 14 15 16 cm MEIER, J.; ADLER, C.; HÕSSLE, P.; LO CASCIO, R. The influence of three different drying proce- dures on some enzymatic activities of three Viperidae snake venoms. Mem. Inst. Butantan, 53(1) 119-126, 1991. Activity of L -amino acid oxydase Perc«ntag« (Fr*«h vnom • XX) %) Substrate for thrombin mU/mg V*rx>m B Substrate for plasma kallikrein mU/mg Vsnom Substrate for urokinase mU/mg Venom D 8ubstrate for plasmin mU/mg Vsnom _ no enzymatic •ctivities detectable Substrate for glandular kallikrein mU/mg Vefwm w%wfá'/íí. Fig. 3. Enzyme activities of Bothrops atrox venom. In comparison to fresh venom, sun- drying leads to a significant activity decrease of L-amino acid oxidase (A) and on the throm¬ bin (B) and urokinase (D) substrates, respectively. 125 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 MEIER, J.; ADLER, C.; HÔSSLE, P.; LO CASCIO, R. The influence of three different drying proce- dures on some enzymatic activities of three Viperidae snake venoms. Mem. Inst. Butantan, 53( 1 i 119-126, 1991. Activity of í.-amino acid oxydase P*rc«ntag« (FrMh y*nom • XX) %) Substrato for thrombin mU/mg V*nom B Subatrate for plasma kallikrein mU/mg Vanom Substrate for urokinase mU/mg Vanom D Substrate for plasmin mU/mg V*nom Substrate for glandular kallikrein mU/mg V«nom Fig. 4. Enzyme activities of Echis carinatus venom. The significant increase in activity ob- served with the thrombin (B), urokinase (D) and plasmin (E) substrates, respectively after drying, suggests the presence of one or more very labile inhibitors. Vacuum-drying seems to be the best drying procedure, in respect of enzyme activity as measured with the sub¬ strate for glandular kallikrein. 126 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 Mem. Inst. Butantan 53 (11:127-134, 1991 PADRÕES CROMÁTICOS, DISTRIBUIÇÃO E POSSÍVEL MIMETISMO EM ERYTHROLAMPRÚS AESCULAPII (SERPENTES , COLUBRIDAE) Otávio Augusto Vuolo MARQUES* Giuseppe PUORTO** RESUMO: São reconhecidos nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil diferentes padrões cromáticos da serpente-coral Erythrolamprus aesculapii. Tais padrões foram aqui agrupados de acordo com a dispo¬ sição de anéis coloridos ao longo do corpo, sendo possível perceber que diferentes grupos possuem distribuição geográfica distinta. Suge¬ rimos, neste trabalho, que a distribuição geográfica desses grupos es¬ teja relacionada à convergência mimética com as serpentes altamente venenosas do gênero Micrurus. UNITERMOS: Erythrolamprus aesculapii; Micrurus; serpente- coral; distribuição geográfica; mimetismo. INTRODUÇÃO As tentativas para explicar a similaridade do padrão de colorido, em diferentes espécies de serpentes corais, têm sido assunto controverso. Inicialmente, Wal- lace (15> referiu-se a esse fenômeno como um mecanismo de defesa, de acordo com a teoria mimética de Bates ,2) . Numerosas objeções à existência de mime¬ tismo nesses répteis têm sido formuladas por vários autores: alguns sugeriram que o padrão de serpente-coral seria procríptico e não de advertência e a seme¬ lhança entre diferentes espécies seria o resultado de convergência evolutiva ,31 . Outra objeção é que algumas espécies de corais seriam noturnas, dessa manei¬ ra, a sua cor de advertência não teria valor, não podendo servir como modelo para outras espécies ,3 ' 8 ' 16) . Uma terceira objeção diz respeito à pretensa di¬ versidade de distribuição geográfica entre as diferentes espécies de corais (3 ’ 8) . Greene e McDiarmid l7) sintetizam várias evidências sobre serpentes-corais e contestam as objeções acima citadas. A coincidência de distribuição geográfica, * Bolsista FEDIB — Instituto Butantan. Pós-graduando do Depto. de Ecologia Geral — Instituto de Biociências — USP. * * Seção de Herpetologia. Instituto Butantan. Recebido para publicação em 05.10.1990 e aceito em 22.1.1991 127 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. com alguns exemplos mencionados por esses autores, parece ser um forte argu¬ mento a favor do mimetismo. Pough (10) faz uma revisão crítica de mimetismo em corais e outros répteis, adicionando argumentos favoráveis ao mimetismo entre serpentes. Além da semelhança do padrão de colorido, existem comportamen¬ tos característicos comuns a algumas espécies de corais, que incluem movimen¬ tos de cauda (4 ' 5 ' 6 ' 121 , indicando que o mimetismo não estaria restrito apenas à coloração mas também a aspectos comportamentais. 0 objetivo do presente trabalho é analisar diversos padrões cromáticos em E. aesculapii no sudeste do Brasil e tentar relacioná-los àqueles de espécies simpá- tricas de Micrurus, adicionando argumentos à sugestão de um complexo mimé- tico neste grupo de serpentes l10 ' 12 > 16) . MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados exemplares de E. aesculapii da coleção herpetológica do Ins¬ tituto Butantan (São Paulo — SP), do Museu de História Natural "Capão da lm- buia" (Curitiba — PR) e da Fundação Ezequiel Dias de Belo Horizonte (MG), que constituem uma amostra, principalmente das regiões sudeste e sul do Brasil. Não foram aproveitados os espécimes cujo padrão de coloração estivesse muito alte¬ rado devido à conservação em álcool. Foram analisados 306 espécimes (jovens e adultos de ambos os sexos) observando-se o padrão de disposição e confor¬ mação dos anéis. Foi analisada a folidose de cada exemplar, com objetivo de verificar se indivíduos com diferentes padrões cromáticos constituem uma mes¬ ma espécie. Paralelamente, foi realizado um levantamento das espécies do gê¬ nero Micrurus das regiões sudeste, centro-oeste e sul do Brasil, sendo também observado o padrão de disposição e conformação de anéis destas. Para isto foi utilizado o material da coleção do IB e MHN "Capão da Imbuia". Além disso, observamos — em animais cativos — alguns aspectos do com¬ portamento defensivo de E. aesculapii e de Micrurus spp. RESULTADOS GRUPOS CROMÁTICOS DO PADRÃO DORSAL De acordo com a disposição e conformação dos anéis coloridos em E. aescu¬ lapii é possível o arranjo dos indivíduos examinados em dois grupos distintos: GRUPO I — Seqüência de dois anéis pretos separados por um branco (DÍA- DES), tendo cada um dos pretos contato com o vermelho (Figuras 1 a e 2). Den¬ tre o material examinado 184 espécimes pertencem a esse grupo, os quais foram coletados predominantemente no interior do continente (154 indivíduos) e o res¬ tante (30 indivíduos) em regiões litorâneas (Figura 5). GRUPO II — Difere do anterior por possuir estreitos anéis brancos adicionais interpostos entre os pretos e os vermelhos; alguns espécimes apresentam fusão parcial dos anéis pretos na região dorsal e outros possuem essos anéis inteira¬ mente fundidos (Figuras 1b, 1c, 1d). Dentre o material examinado 122 pertencem a esse grupo e todos foram coletados em regiões próximas do litoral (Figura 5). ASPECTOS COMPORTAMENTAIS Quando perturbados com toques, ou aproximação brusca do observador, tanto indivíduos do grupo I como do grupo II, de E. aesculapii, enrodilham-se e reali¬ zam movimentos com a cauda, espiralada (Figura 2). 0 achatamento do corpo 128 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 MARQUES, 0. A, V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. também foi observado em alguns espécimes de ambos os grupos. ( M. frontalis, M. lemniscatus e M. corallinus, ao serem perturbados, achatam o corpo, enrodilham-se e exibem a cauda parcialmente espiralada (Figura 4) — este últi¬ mo comportamento foi menos evidente e raramente observado em M. corallinus.) DISCUSSÃO Diversos autores admitem que serpentes com veneno, possivelmente letal aos seus predadores, não poderiam servir de modelo mimético, já que estes últimos, morrendo no primeiro contato, não chegariam a adquirir aversão por experiência desagradável 1161 . Dessa maneira, faria sentido admitir que tanto as espécies al¬ tamente venenosas quanto as inofensivas seriam mímicas de uma espécie me¬ dianamente venenosa* 161 . 0 gênero Erythrolamprus, geralmente opistóglifo 11 - n) , provavelmente pode infligir mordidas dolorosas em seus predadores, sendo tam¬ bém caracterizado como medianamente venenoso* 7 ' 9 ' 16) . Logo, essa espécie de serpente poderia ser considerada modelo para as espécies de Micrurus alta¬ mente venenosas e outras espécies não venenosas, como Simophis rhinostoma, hipótese proposta por Mertens e difundida por Wickler* 16 *. Todavia, Smith* 13 ' 141 mostra em seus experimentos, realizados com pássaros predadores potenciais de répteis, que o padrão cromático das corais é evitado inatamente por esses predadores. A partir desses experimentos pode ser considerada a possibilidade de determinados predadores poderem distinguir, inatamente, as diferentes es¬ pécies de corais, através do padrão de diposição de anéis coloridos ao longo do corpo. Desse modo, esses predadores poderiam também reconhecer aquelas que são letais e que devem ser evitadas. A distinção desses padrões poderia ser tam¬ bém por aprendizado, no caso de predadores observarem a experiência fatal de outros* 71 . Com base nessas considerações, seria plausível as Micrurus constituí¬ rem modelo para as Erythrolamprus. Além disso, Greene e McDiarmid* 71 forne¬ cem evidências de que o encontro entre Micrurus e seus predadores nem sempre resulta fatal para estes últimos, o que reforçaria a hipótese de Micrurus como modelo em certos complexos miméticos. Essa hipótese, em que Micrurus serviria como modelo, estaria mais coerente com a distribuição geográfica observada no presente trabalho. De fato, o ma¬ peamento (Figuras 5 e 6) demonstra que no interior do continente só ocorrem indivíduos de Erythrolamprus do grupo I — anéis escuros em díades (Figuras 1 a e 2) — simpátricos com espécies de Micrurus com anéis em tríades (M. frontalis e M. lemniscatus — Figura 4) e anéis únicos (M. corallinus — Figura 3). Nenhu¬ ma dessas espécies de Micrurus parece copiar o padrão de Erythrolamprus — que têm anéis em díades. De acordo com certos autores (7), poder-se-ia admitir que as Erythrolamprus do grupo I (Figuras la e 2) seriam um padrão intermediᬠrio entre tríade e anel único. Ou, ainda, que devido à ausência dos anéis brancos estreitos entre os pretos e vermelhos, esses indivíduos do grupo I assemelhar- -se-iam às Micrurus que possuem o padrão de anéis em tríades. Serpentes com este último padrão (M. frontalis e M. lemniscatus — Figura 4) parecem ocorrer no interior com mais freqüência que as de anel único (M. corallinus — Figura 3), pois 88% das espécies de Micrurus, recebidas do interior do Estado de São Paulo, pelo Instituto Butantan durante o período de 1984 a 1988, possuem tríades. Em regiões próximas do litoral, E. aesculapii do grupo II (Figuras 1b, 1c, 1 d) são simpátricas com M. corallinus (Figura 3) que é a espécie de Micrurus mais abundante nessas regiões (além de M. decoratus, espécie aparentemente rara e com distribuição mais restrita). Os indivíduos do grupo II (Figuras 1b, Ice 1 d) apresentam sempre anéis brancos estreitos, interpostos entre os pretos e ver- SciELO MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. melhos, alguns com tendência à fusão dos anéis pretos.(Figuras 1c e 1 d), imi¬ tando portanto o padrão de M. corallinus (Figura 3). Considerando válida a hipó¬ tese de que certos predadores reconheceriam os diferentes padrões de disposição de anéis, seria pertinente supor, ainda, que houvesse pressão seletiva favorável aos mímicos mais parecidos ao presumível modelo — M. corallinus. 0 mesmo poderia ser válido em relação aos indivíduos do grupo I, que imitariam outras es¬ pécies de Mlcrurus (com tríades), o que poderia explicar o baixo número de indi¬ víduos de Erythrolamprus desse grupo oriundos da região litorânea, entre o material examinado. Complementando dados de outros autores 14 ' b ' 6 . 12 >, observamos que alguns espécimes de E. aesculapii (independentemente dos padrões cromáticos) reali¬ zam movimentos com a cauda, bem como o achatamento do corpo. Esses com¬ portamentos também são observados em M. corallinus (observação pessoal). 0 movimento de cauda em Erythrolamprus assemelha-se àquele realizado por M. frontal /s' 4 . 12) , que exibe a cauda parcialmente espiralada, comportamento inter¬ pretado como um modo de despistar o predador (Figuras 2 e 4). Portanto, além da semelhança entre o padrão de coloração de E. aesculapii e diversas espécies de Micrurus no Sudeste brasileiro, certos padrões comportamentais também pa¬ recem estar envolvidos no mimetismo dessas corais' 121 . CONCLUSÃO Os dados obtidos e analisados neste trabalho sugerem que E. aesculapii, da Região Sudeste brasileira, mimetiza certas espécies de Micrurus, sendo essa se¬ melhança mais acentuada na região oriental (Mata Atlântica), onde esse colubrí- deo se assemelha a M. corallinus. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Ivan Sazima pelo incentivo, sugestões e também pela leitura crítica do manuscrito. A Euclydes Marques pelas sugestões e críticas durante a elaboração do mesmo. A Miguel T. Rodrigues por algumas sugestões. A Marília Becker Angeli e Marília Seelaender pela versão em inglês. A Paulo E. Vanzolini pelas sugestões bibliográficas. Aos companheiros do M.H.N. Capão da Imbuia, por permitirem o exame do material deste museu, bem como o apoio e ajuda durante nossa estada no Estado do Paraná. Somos gratos também a todos aque¬ les colegas da Seção de Flerpetologia do I.B. que direta ou indiretamente nos ajudaram durante a execução deste trabalho. ABSTRACT : Various color patterns of the false coral snake, Erythrolam¬ prus aesculapii have been described in the Southern, Southeastern and Central Western regions of Brazil. Such patterns are here grouped accordingly to the disposition of the colored rings along the body, which permits to establish a cleary defined geographic distribution for each group. We sugnest that the geographic distribution of color pattern groups is related to mimicry of Erythrolamprus to some species of the highly venomous snake Micrurus. KEYWORDS: Erythrolamprus aesculapii; Micrurus; coral snake; geogra¬ phic distribution; mimicry. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AMARAL, A. do. Serpentes do Brasil. 2 ed. São Paulo, Ed. Melhoramentos / Ed. Univ. São Paulo, 1978. 130 cm MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e posstvel mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. 2. BATES, H.W. Contributions to an insect fauna of Amazon valley, lepidoptera: Helico- nidae. Trans. Linn. Soc. Lond, 23. 495-566, 1862. 3. BRATTSTROM, B.H. The coral snake "mimic" problem and protective coloration. Evo- lution, 9: 217-219, 1955. 4. CARPENTER, C.C. & FERGUSON, G.W. Variation and evolution of stereotyped beha- viour in reptiles. In: GANS & TINKLE. Biology of the reptiles; Ecology and Beha- viour A. 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Habits of five Brazilian species of snakes with coral-snake pat- tern, including a summary of their defensive tatics. (NO PRELO) 13. SMITH, S.M. Innate recognition of coral snake pattern by a possible avian predator. Science, 187: 759-760, 1975. 14. SMITH, S.M. Coral-snake pattern recognition and stimilus generalisation by naive great kiskadees (Aves: Tyrannidae). Nature, 265: 535-536, 1977. 15. WALLACE, A.R. Mimicry and other protective resemblance among animais. The West- minster. Foreign Quarterly Review. New Series, 32: 1-43, 1870. 16. WICKLER, W. Mimicry in plants and animais. London, Weidenfeld and Nicolson, 1968. 131 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythroiamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. FIG. 1 FIG. 2 FIG. 3 FIG. 4 Fig. 1. Padrões cromáticos de E. aesculapii : a — GRUPO l/b,c,d — GRUPO II. Fig. 2. E. aesculapii (Valinhos — SP), com padrão cromático do grupo I, realizando movi¬ mento com a cauda espiralada; note o corpo achatado dorso-ventralmente (Foto I. Sazima) Fig. 3. M. corallinus (Florianópolis — SC), mostrando o padrão de anel preto único e a cauda espiralada. Fig. 4. M. frontalis (Votorantim — SP) realizando movimento com a cauda e mostrando o padrão de anéis pretos em tríades; note cabeça parcialmente abrigada. 132 cm SciELO MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G, Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:127-134, 1991. 55° 45° Fig. 5. Distribuição dos padrões cromáticos de E. aesculapii, no sul, sudeste e centro- -oeste brasileiros. 133 cm 2 3 SciELO 0 11 12 13 14 15 16 MARQUES, 0. A. V. & PU0RT0, G. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythroíamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Mem. Inst. Butantan, 53 (1): 127-134, 1991. M. frontalis e M. lemniscatus ANEL ÚNICO — M. corallinus (baixa freqüência) ANEL ÚNICO — M. corallinus (alta freqüência) Fig. 6. Distribuição dos padrões cromáticos de Micrurus no sul, sudeste e centro-oeste brasileiros. 134 Mem. Inst. Butantan 53 (11:135-144, 1991 DUAS NOVAS ESPECIES DE HYLA DA FLORESTA ATLÂNTICA NO ESTADO DE SÃO PAULO (AMPHIBIA, ANURA) José P. POMBAL JR. Marcelo GORDO RESUMO: São descritas duas novas espécies de Hyla, da Estação Eco¬ lógica da Juréia-ltatins, Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Hyla llttoralis, sp. n. e Hyla jureia, sp. n., são membros dos grupos cathari- nae e rizibilis, respectiva mente. UNITERMOS: Hyla llttoralis, sp. n.; Hyla jureia, sp. n.; Sudeste do Brasil. INTRODUÇÃO Durante o levantamento das espécies de anfíbios anuros na Estação Ecológi¬ ca da Juréia-ltatins, litoral sul do Estado de São Paulo, tivemos a oportunidade de observar e coletar indivíduos de duas espécies, do complexo cathannae ("sen- su" Lutz 11 ) e do grupo rizibilis ("sensu” Andrade e Cardoso 2 ), que julgamos no¬ vas e passamos a descrever. PROCEDIMENTO As abreviaturas das coleções aqui citadas são: MNRJ (Museu Nacional, Rio de Janeiro), WCAB (Coleção Werner C.A. Bokermann, São Paulo) e ZUEC (Mu¬ seu de História Natural da Universidade Estadual de Campinas). Os exemplares adultos das novas espécies foram coletados manualmente, du¬ rante à noite e à luz de lanternas, dentro de mata. As desovas foram obtidas a partir da captura de casais em amplexo, mantidos em sacos plásticos com água e vegetação. O girino descrito foi mantido em aquário a partir da desova. As me¬ didas, em milímetros, dos adultos e girino, foram tomadas com paquímetro e dos ovos com ocular micrométrica. Departamento de Zoologia. IB. Universidade Estadual de Campinas. 13081 — Campinas-SP. Brasil Recebido para publicação em 11.12.90 e aceito em 22.1.91. 135 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. Descrição: Hyla littoralis, sp. n. Diagnose — Espécie de Hyla de pequeno porte (cr cr26,7 a 29,6; ÇÇ 38,3 a 39,9); pertencente ao complexo catharinae: saco vocal subgular; duas linhas brancas abaixo de cada olho; coxas barradas de preto sobre fundo branco. Holótipo — ZUEC 8892, macho adulto proveniente do vale do Rio Verde, Es¬ tação Ecológica da Juréia-ltatins, Município de Iguape, Estado de São Paulo, Brasil (aprox. 24° 30'S, 47° 15'W), coletado entre 3 e 7. ix. 1988 por José P. Pom¬ bal Jr. e Marcelo Gordo. Parátipos — Todos os parátipos coletados juntamente com o holótipo, a sa¬ ber: MNRJ 14199, 14200, 14201, uma fêmea e dois machos, respectivamen¬ te; WCAB 49658-49660, uma fêmea e dois machos, respectivamente; ZUEC 8876, 8893, 8894, 8882-8891, 8880 onze machos e três fêmeas, respecti¬ vamente. Descrição do holótipo — Porte esbelto (figura 1); comprimento da cabeça (10,9) pouco maior que 1 13 do comprimento total (28,9) largura da cabeça pou¬ co menor que seu comprimento. Focinho em vista dorsal e lateral ligeiramente protuberante (figuras 3a e 3b); narinas salientes, localizadas na extremidade do focinho. Canto rostral evidente e ligeiramente côncavo. Olhos grandes, salien¬ tes; espaço interocular (2,4) menos de 1/4 da largura da cabeça (10,9). Tímpa¬ no ligeiramente ovalado. Saco vocal subgular pouco desenvolvido. Dentes vomerinos em duas séries separadas entre as coanas, que são elípticas. Língua oval livre nos bordos laterais e posterior, ligeiramente entalhada na porção pos¬ terior. Mãos com membrana interdigital reduzida (figura 3c); disco adesivo do primeiro dedo menor que os demais, os quais são pouco menores que o tímpa¬ no; um calo subarticular em cada dedo, sendo o do quarto dedo o maior. Calos metacarpais desenvolvidos, o mais externo dividido. O comprimento conjunto do fêmur e tíbia, pouco maior que o comprimento total. Discos adesivos dos ar¬ telhos (Figura 3d) de tamanho semelhante ao dos dedos; os discos do quarto e quinto artelhos são maiores que os restantes. Membrana interdigital pouco de¬ senvolvida entre o primeiro e segundo artelho; nos demais atinge cerca de 2/3 do comprimento dos artelhos. Calos subarticulares e metatarsais desenvolvidos. Pele do ventre granulosa; dorso e flancos cobertos por tubérculos. Medidas do holótipo — Comprimento total 28,9; comprimento da cabeça 10,9; largura da cabeça 9,0; diâmetro do olho 3,6; espaço interocular 2,4; dis¬ tância olho-narina 3,0; diâmetro do tímpano 1,5; comprimento da coxa 15,0; comprimento da tíbia 16,5; comprimento do pé 12,8. Coloração em vida — Coloração dorsal com desenho (Figura 1 ) castanho es¬ curo sobre fundo castanho claro, faixa interocular marrom escura, que pode ser interrompida; abaixo dos olhos duas linhas brancas; iris acobreada com vermi- culado preto; partes ocultas das coxas barradas de preto em fundo branco ou levemente esverdeado; ventre creme salpicado de marrom escuro. Os animais quando estão vocalizando podem apresentar tonalidades amareladas. Similarmen¬ te a algumas espécies do grupo rubra, mudanças para tonalidades amareladas durante a vocalização (Fladdad e Sasima 9 ), talvez sejam frequentes em Hyla do grupo catharinae e rizibilis uma vez que, além desta espécie, já observamos esta tonalidade em Hyla rizibilis Bokermann e em Hyla hiemalis Haddad e Pombal. Variação — A série-tipo apresenta variação nas dimensões, no número e for¬ ma das calosidades das mãos e dos pés e na forma do desenho dorsal. Ocorre dimorfismo sexual no tamanho, sendo as fêmeas muito maiores que os machos. Biologia — Hyla littoralis, sp. n., foi observada vocalizando de setembro a abril, sendo a época de maior atividade de vocalizações entre dezembro e janeiro. 136 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 111:135-144, 1991. Reproduz-se no interior de mata, em poças permanentes de água parada com fundo lodoso e grande quantidade de matéria orgânica, ou riachos semi- permanentes de fundo arenoso, com pouca correnteza e presença de poças pe¬ quenas ao longo do leito, onde há acúmulo de matéria orgânica. Nas noites de maior atividade de vocalização, machos vocalizando foram encontrados em ria¬ chos da água corrente e também em poças permanentes na região de restinga. Como sítios de vocalização são utilizados pequenos ramos ou folhas entre 60 e 1 70 cm acima do solo, podendo estar sobre a água ou afastado até cerca de dois metros de distância. Hyla llttoralis, sp. n., começa a vocalizar antes do oca¬ so a, aproximadamente, 6 metros de distância da água. À medida que a noite se aproxima, os indivíduos se deslocam para as proximidades da água. Fêmeas ovadas foram vistas aproximando-se dos machos por volta das 21:00h..0 am¬ plexo é axilar. As desovas formam massas gelatinosas próximas à superfície da água, presas a ramos e folhas submersas. Durante o dia foram encontrados al¬ guns indivíduos em repouso entre o folhedo no chão da mata, próximos aos sí¬ tios de vocalização. Não observamos Hyla littoralis, sp. n., acima de 200m de altitude. Desova — Em setembro de 1989 obtivemos, em laboratório, duas desovas de dois casais de Hyla llttoralis, sp. n.. Uma das desovas continha 398 ovos e outra 701. Os ovos mediam entre 1,1 e 1,5 mm de diâmetro e eram pretos. Girino — Um girino no estágio 37 da tabela de Gosner 7 , com 19,6 mm de comprimento total, possui o corpo (12,3) oval em vista dorsal (Fig. 4a) e leve¬ mente comprimido dorsoventralmente (Fig. 4b); narinas situadas superiormen¬ te, entre os olhos e o focinho; olhos dorso laterais, seu diâmetro menos da metade do espaço interocular (3,3); espiráculo do lado esquerdo, abaixo da linha media¬ na e na parte posterior do corpo; tubo externo reduzido; altura máxima da cauda pouco maior que a altura máxima do corpo; nadadeira caudal superior mais lar¬ ga que a inferior; cauda lanceolada terminando em ponta arredondada; boca (Fig. 4c) ântero-ventral, com papilas labiais à sua volta, exceto na porção anterior do lábio superior; lábio superior com duas fileiras de dentículos córneos, sendo a interna interrompida na região mediana; lábio inferior com três fileiras contínuas de dentículos córneos. Etimologia — 0 epíteto específico littoralis faz referência ao fato da série-tipo ter sido coletada em região litorânea. Comparações com outras espécies — Hyla angrensis B. Lutz parece similar a Hyla littoralis, sp. n., a julgar pela descrição original (B. Lutz 10 ). Conhecemos dois síntipos (MNRJ 2018 e MNRJ 2512), provenientes do município de Angra dos Reis, litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro. Todavia, não sabemos o sexo destes exemplares ou, mesmo, se são adultos, o que prejudica uma compara¬ ção com nova espécie. Desta forma, preferimos descrever como nova esta po¬ pulação do litoral Sul do Estado de São Paulo, até que exemplares adicionais, provenientes de Angra dos Reis, possam esclarecer o status de Hyla angrensis B. Lutz e Hyla littoralis, sp. n.. Hyla littoralis, sp. n., é prontamente separada de Hyla humilis B. Lutz e Hyla carnevallii Carasmachi e Kisteumacher pelo maior tamanho (principalmente das fêmeas). Difere de Hyla trapicheiroi B. Lutz pelo maior desenvolvimento dos dis¬ cos adesivos e pelo formato da mancha interocular. De Hyla albicans Bokermann difere pelo padrão de coloração mais escuro e pelo canto rostral menos cônca¬ vo. Pode também ser separada prontamente de Hyla flavoquttata A Lutz e B. Lutz e Hyla heyeri Weygoldt pela ausência de coloração alaranjada nas partes ocultas das coxas. A comparação com Hyla catharinae Boulenger é prejudicada, uma vez que.o nome da localidade tipo ("Sierra do Catharina”) não está associado 137 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. a nenhum nome atual de localidade, de maneira que é difícil aplicar o nome ca- tharinae a qualquer população conhecida. Somente a comparação dos tipos de Boulenger com material proveniente de localidades do Estado de Santa Catarina poderá esclarecer o problema. Hyla jureia, sp. n. Diagnose — Espécie de Hyla de pequeno porte; machos e fêmeas de tama¬ nho semelhante (crcr 29,0 a 30,0; 9 9 32,3 e 33,6); pertencente ao grupo rizibilis (saco vocal lateralizado); comprimento da coxa e da tíbia juntos maior que o comprimento total; mancha interocular com ápice voltado para trás. Holótipo — ZUEC 8875, macho adulto proveniente do alto do maciço da Es¬ tação Ecológica da Juréia-ltatins (aprox. 24° 30'S, 47° 15'W; 300m alt.), mu¬ nicípio de Iguape, Estado de São Paulo, coletado entre 3 e 7. ix. 1989 por Marcelo Gordo. Parátipos — MNRJ 14202, 14203 (dois machos); ZUEC 8863, 8864, 8865, 8868, 8869, 8870, 8872 (uma fêmea e seis machos, respectivamente) coleta¬ dos no mesmo local e pelo mesmo coletor que o holótipo em 20 de fevereiro de 1990; ZUEC 8896 (fêmea) e WCAB 49662-49663 (uma fêmea e um macho, respectivamente) coletados no mesmo local que o holótipo em 6 de novembro de 1988 por C. Strüssmann; WCAB 49661, macho coletado na mesma ocasião que o holótipo. Descrição do holótipo — Porte esbelto; comprimento da cabeça (10,4) mais que 1/3 do comprimento total (29,3); cabeça pouco mais comprida (10,4) que larga (9,5). Focinho em vista dorsal e lateral levemente acuminado (Figura 5a e 5b); narinas salientes e próximas à extremidade do focinho. Canto rostral evi¬ dente; região loreal côncova. Olhos salientes; espaço interocular (2,7) pouco me¬ nor que o diâmetro do olho (3,3). Tímpano ovalado, seu maior diâmetro mais que a metade do espaço interocular. Prega supratimpânica evidente. Saco vocal lateralizado, subgular e pouco desenvolvido. Dentes vomerinos em duas séries separadas entre as coanas; coanas elípticas. Língua livre nos bordos laterais e posterior, levemente entalhada na porção posterior. Mãos com membranas in¬ terdigitais vestigiais (Figura 5c); disco adesivo do 1 0 dedo menor que os demais, o disco adesivo do 3 o dedo é aproximadamente do mesmo tamanho que o tím¬ pano. Um calo subarticular em cada dedo, sendo o do quarto dedo o maior. Ca¬ los metacarpais pouco desenvolvidos. O comprimento conjunto da coxa (20,3) e da tíbia (16,1) maior que o comprimento total. Discos adesivos dos artelhos menores que os dos dedos; membrana interdigital entre o 1 0 e 2° artelhos pou¬ co desenvolvida (Figura 5d), entre os demais é bem desenvolvida; calos subarti- culares desenvolvidos, o do 1 °, 2 o e 3 o artelhos de tamanho semelhante; calo metatarsal pouco desenvolvido. Pele do ventre granulosa. Pequenos tubérculos na cabeça (Figuras 5a e 5b). Medidas do holótipo — Comprimento total 29,3; comprimento da cabeça 10,4; largura da cabeça 9,5; diâmetro do olho 3,3; espaço interocular 2,7; dis¬ tância olho-narina 3,3; diâmetro do tímpano 1,6; comprimento da coxa 20,3; comprimento da tíbia 16,1; comprimento do pé 13,0. Coloração do holótipo — Em álcool, a coloração dorsal é castanho-escuro com desenhos enegrecidos, pouco nítidos; região inguinal esbranquiçada com desenhos pretos; coxas com três barras pretas; ventre esbranquiçado salpicado de marrom-escuro. Variação — A série-tipo apresenta variação nas dimensões e no número e for¬ ma das calosidades das mãos e pés. As fêmeas são pouco maiores que os machos. 138 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 POMBAL JR, J. P. & GORDO, M, Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. Biologia — Encontramos Hyla jureia, sp. n., em atividade reprodutiva, em um riacho de água corrente com fundo pedregoso no interior de mata de galeria em campo de altitude, a aproximadamente 300m de altitude. Em visitas mensais, esta espécie foi observada em três ocasiões: 6.11.1988, 11.11.1989 e 20.2.1990. Vocalizam entre 10 e 50 cm de altura em pequenos ramos e folhas sobre o riacho. Aparentemente, preferem ramos que tenham uma das extremi¬ dades dentro da água. Observamos interações físicas, entre machos (figura 2), em disputas territoriais por sítios de canto. Os machos começam a vocalizar de¬ pois do ocaso; fêmeas ovadas foram vistas por volta das 21:00h.. As desovas são depositadas próximas à superfície, formando massas aderidas aos ramos par¬ cialmente submersos. Desova — Obtivemos uma desova, em laboratório, entre 16 e 20.2.1990. Continha 120 ovos de coloração enegrecida, que mediam entre 1,3 e 1,4mm de diâmetro. Etimologia — O epíteto específico jureia é um nome em aposição, do Tupi (juré + eia), que significa “maré alta que lava as pedras", sendo ao mesmo tempo parte do nome do local de coleta, Estação Ecológica da Juréia-ltatins. Comparações com outras espécies — Hyla jureia, sp. n., difere de H. ob- triangulata B. Lutz pelo menor tamanho das fêmeas; de H. rizibilis Bokermann, H. brieni De Witte e H. luizotavioi Caramaschi e Kisteumacher pelo maior tama¬ nho dos machos e pela cabeça mais larga; difere de Hyla ranki Andrade e Cardo¬ so pela mancha interocular mais desenvolvida, além do maior tamanho; de H. hiemalis Haddad e Pombal-Jr., pelas pernas maiores, mancha interocular maior e prega inguinal menos desenvolvida. Comentários — Mantivemos uma atitude conservadora e não incluímos Hyla littoralis, sp. n. e Hyla jureia, sp. n., no gênero Ololygon Fitz., como proposto por Fouquette e Delahoussaye 6 para as espécies dos grupos rubra, catharinae, rizibilis, perpusillae rostrata, com base em morfologia de espermatozóides. A mor¬ fologia de espermatozóides representa um critério questionável para a sistemáti¬ ca, dado o seu alto grau de variabilidade individual 1 e a probabilidade de agrupamento artificial das espécies 8 . Além disso, a utilização do nome genérico Ololygon apresenta problemas de ordem nomenclatural, uma vez que, pela anᬠlise da lista de sinonímia do gênero Hyla apresentada por Duellman 5 , o gênero Scinax Wagler, 1830 teria prioridade sobre Ololygon Fitzinger, 1843. A espécie- -tipo de Scinax é Hyla aurata Wied, a qual, segundo Bokermann 4 , pertence ao grupo rubra\ a espécie-tipo de Ololygon é Hyla strigilata Spix. Vale ressaltar que H. strigilata é um nome que atualmente não pode ser atribuído a nenhuma popu¬ lação conhecida 3 , não sendo, portanto, possível reconhecer a espécie-tipo do gênero Ololygon. AGRADECIMENTOS Werner C. A. Bokermann, Adão J. Cardoso, Célio F. B. Fladdad e Ivan Sazima pela leitura e sugestões ao manuscrito. Werner C. A. Bokermann e Ulisses Cara¬ maschi pelo empréstimo de material. Erich A. Fischer, Wagner A. Fischer, Fran¬ cisco A. M. Gimenez, Célio F. B. Fladdad, L. Patrícia C. Morellato, Éllen C. P. Pombal pela ajuda no trabalho de campo. Christine Strüssmann pela ajuda no campo e no laboratório. Jaime Somera pelas ilustrações dos adultos e Adalberto Geraldini pelo desenho do girino. À SEMA« ao IBAMA pelo apoio logístico e pela autorização para trabalhar na Estação Ecológia da Juréia-ltatins; à CAPES pelo auxílio PICD a J. P. Pombal-Jr. (PG em Zoologia, UNESP — “Campus de Rio Claro") e CNPq pela bolsa a M. Gordo. 139 cm SciELO 0 11 12 13 14 15 16 POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. ABSTRACT: Two small species of Hyla, from the Atlantic Forest at the Southern portion of the State of São Paulo, Southeastern Brazil, are described as new. Hyla littoralis, sp. n., and Hyla jureia, sp. n., are al- lied to the catharlnae and rízlbills groups, respectively. KEYWORDS: Hyla littoralis, sp. n.; Hyla jureia, sp. n. Brazil. Southeastern REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALMEIDA, C.G. & CARDOSO, A. J. 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Machos adultos de Hyla jureia, sp. n., em disputa territorial durante atividade re¬ produtiva. 141 cm POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. a i—--- 5 mm Fig. 3. Holótipo de Hyla llttoralis, sp. n. Cabeça em vista dorsal (a) e lateral (b); mão (c) e pé (d) em vista ventral. 142 SciELO POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura), Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. Fig. 4. Girino de Hyla llttorahs, sp. n. (19,6 mm de comprimento-total). Vista dorsal (a) e lateral (b); detalhe da boca (c). 143 cm POMBAL JR, J. P. & GORDO, M. Duas novas espécies de Hyla da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo (Amphibia, Anura). Mem. Inst. Butantan, 53 (11:135-144, 1991. Fig. 5. Holótipo de Hyla jureia, sp. n.. Cabeça em vista dorsal (a) e lateral (b); mão (c) e pé (d) em vista ventral. 144 '10 11 12 13 14 15 16 COMPOSIÇÃO, FOTOLITO E IMPRESSÃO IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SAIMESP Rua da Mooca, 1921 — Fone: 291 -3344 Vendas, ramais: 257 e 325 Telex: 011 34557 DOSP Caixa Postal: 8231 São Pàulo C.G.C. (M.F.) N.° 48.066.047/0001-84 N0V0 TEMPO TRABALHO [DESENVOLVIMENTO SciELO INSTRUÇÕES AOS AUTORES 1. Somente serão aceitos trabalhos inéditos c que se destinem cxclusivamentc à revista. K proibida a reprodução com fins lucrativos. Os artigos de revisão serão publicados a convite da Comissão Editorial. 2. Os trabalhos deverão ser redigidos em português, inglês ou francês, datilografados prcferencialmente em mᬠquina elétrica, em espaço duplo em 3 (três) vias, cm papel formato ofício e numerados no ângulo superior direi¬ to. 3. No preparo do original será observada, sempre que possível, a seguinte estrutura: Página de rosto: título do arti¬ go, nomc(s) do(s) autor(cs) e filiação científica Texto: introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusões, agradecimentos e referência bibliográfica. Material de referência: resumos (em português e inglês); unitermos (palavras ou expressões que identificam o conteúdo do artigo; devem ser incluídas até um limite máxi¬ mo de três, em português e inglês). 4. As referências bibliográficas deverão ser ordenadas alfabeticamente e numeradas. Exemplqs: Para livros: autor, título, edição, local de publicação, editor, ano, páginas. 7. B1ER, O. Microbiologia e imunologia. 24.ed. São Paulo, Melhoramentos, 1983. 1234p. Para artigos: autor, título do artigo, título do periódico, volume, página inicial c final, ano. 8. MACHADO, J.C. & SILVEIRA F.°, J.F. Obtenção experimental da pancreatite hemorrágica aguda no tão por veneno escorpiônico. Mem. Inst. Ilutantan, 40/41: 1-9, 1976/77. As citações no texto devem ser por números-índices correspondentes às respectivas referências bibliográficas. Exemplos: ... método derivado de simplificação de armadilha de Disney 1 ,.. segundo vários autores 2 - 3,4 5. As ilustrações (fotos, tabelas, gráficos etc.) deverão ser originais e acompanhadas de legendas explicativas. As le¬ gendas serão numeradas e reunidas em folha à parte. Os desenhos deverão ser a nanquim e as fotografias bem nítidas, trazendo no verso o nome do autor c a indicação numérica da ordem a ser obedecida no texto. As ilustra¬ ções deverão ser organizadas de modo a permitir sua reprodução dentro da mancha da revista (22 x 12,5cm). 6. Os artigos deverão conter no máximo 6 (seis) ilustrações (branco e preto). De cada trabalho serão impressas 50 (cinqücnta) separatas, sendo 10 para a Biblioteca do Instituto e 40 para os autores. 7. Os textos originais não serão devolvidos e os originais das ilustrações estarão à disposição dos autores. 1NSTRUCTIONS TO AUTHORS 6 . 17. Manuscripts submitted to the Editorial Board should be unpublished texts and should not be under considera- tion for publication elsewhcrc. Reproduction for commercial purposes is not allowcd The Editorial Board will plan the publication of revision articles. The original and two copies of papers should be typcwritten in Portugucse, English or French, double spaeed, on typing paper (31 x 21cm). Pages should be numbered consecutively at the upper rigjit corncr. The following strueture should be considered in the preparation of the manuscript: Title page: with artitle ti- tlc, name of author(s), professional address. Text: with introduction, material and mcthods. results, discus- sion, conclusions, acknowledgmcnts, rcfcrences, abstraets (in Portugucse and English), and keywords. A maxímal number of 03 keywords should be included in Portugucse and English. Rcfcrences in alphabetical order should be numbered consecutively. Examplcs: Books 7. BIER, O. Microbiologia e imunologia. 24.ed. São Paulo, Melhoramentos, 1985. 1234p. Articles 8. MACHADO, J.C. & SILVEIRA F.°, J.F. Obtenção experimental da pancreatite hemorrágica aguda no cão por veneno escorpiônico. Mem. Inst. Butantan, 40/41: 1-9, 1976/77. Citations in the text should be identified by the reference number. Examplcs: ... método derivado de simplificação de armadilha de Disney 1 ... segundo vários autores 2 - 3 - 4 Illustrations (photographs, tablcs, figures etc.) should be the originais and legends should be submitted typcw¬ ritten on a separate shect. Line-drawings should be with China ink and photographs must be of top quality. On the back of each figure or photograph the name of the author(s) should be lighly written and the number indi- cating the sequente in the text. 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