MEMÓRIAS INSTITUTO BUTANTAN 1930 T O M O V São Paulo, Brasil Caixa Postal, 63 MEMÓRIAS DO INSTITUTO BUTANTAN 1930 TOMO V São Paulo, Brasil Caixa Postai, 65 ÍNDICE r*o. J. Lemos Monteiro e Raul Godinho - Do preparo da lytnpha vac- cinica 3 J. Lemos Monteiro - Sobre o phenomeno de d'Hércllc. O bacteriophago nas polpas vaccinicas glyceri nadas. Considerações sobre a natureza do phenomeno 25 J. Lemos Monteiro - Estudos sobre a febre amarclla. Modernos conhecimentos sobre a infecção experimental 40 J. Lemos Monteiro e J. Travassos - Diagnostico sorologico da febre amarella. Sobre a reacção de fixação do complemento 171 Aeranio do Amaral - Campanhas anti-ophidicas 193 Afranio do Amaral - Regras internacionaes de nomenclatura zoologica 233 SciELO 6 17 DO PREPARO DA LYMPHA VACCINICA PO* J. LEMOS MONTEIRO e RAUL GODINHO Capitulo I Do preparo da lympha vacdnica E' facto incontestável que o meio seguro de se evitar a variola consiste na vaccinação, instituída por E. JENNER, como consequência das suas observações sobre o poder immunizante do Cmv-pox em relação ao Small-pox. O methodo primitivo desse eminente scientista e bcmfeitor da humanidade vem-se aperfeiçoando constantemente com o decorrer dos annos. Hoje é de pra- tica corrente o emprego da vaccina animal, con-pox, obtida por passagens succcs- sivas do virus vaccinico de vitello a vitcllo, e preparada, para fins prophylacticos, por institutos especializados. Na qualidade de toda lympha vaccinica deve predominar sempre a mais rigo- rosa pureza, ao par de uma actividade constante. Producto biologico de indiscu- tível importância social, a vaccina é preparada e empregada sob controle do Estado na maioria dos paízes adiantados, quasi todos obedientes a preceitos codi- ficados por uma sub-commissáo especial mantida junto á Commissão dc Hygiene da Liga das Nações. Por isto mesmo, cila deve estar sempre presente ás cogita- ções dos nossos sanitaristas e homens de laboratorio. por merecedora de crite- rioso estudo que venha estabelecer de vez normas orientadoras para a sua estan- dardização em nosso meio. O presente trabalho constitue apenas um pequeno ensaio para o estabeleci- mento das normas do preparo industrial da lympha vaccinica entre nós, pois estas de certo virão, a seu tempo e com a collaboraçào de todos os especialistas, uni- formizar o processo da producção da vaccina contra a variola nos differentes es- tabelecimentos officiaes do paiz. Nesta nossa contribuição mostraremos apenas, sem detalhes desnecessários, a pratica corrente usada no Instituto Butantan para a producção da polpa vaccinica, assim como as technicas de purificação da lympha que vimos empregando desde 1927, quando um de nós foi encarregado da reor- ganização e da chefia do serviço. 3 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí A Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Installações. O serviço de vaccina animal do Instituto é uma dependencia da sua Secção de Virus e acha-se installada em pavilhões especiaes e adaptados ao seu fim. Em um pavilhão central acha-se installado o grande laboratorio industrial para o tratamento da polpa, com os differentes apparelhos necessários para o seu preparo, conservação e acondicionamento. Annexo, encontra-se um labora- torio bacteriológico para as pesquizas e controle das differentes partidas prepa- radas quanto á sua pureza e actividade do virus. Em pavilhão ao fundo estão installadas outras dependencias relacionadas com os animaes necessários: sala com baias para os vitellos em observação; sala com baias para os vitellos vaccinados; sala com balança para pesagem dos ani- maes; sala para *'toilette” dos vitellos )raspagem e preparo) ; sala para a vacci- nação e colheita da polpa, tendo 2 mesas apropriadas á contensão dos animaes e outras installações necessárias (agua esterilizada, etc.) ; sala com apparelhos de esterilização do material (autoclave, forno Pasteur e apparelho para esterilização da agua); sala-bioterio, para os pequenos animaes vaccinados (coelhos) e os utilizados para as verificações das polpas, e, finalmente, salas para o deposito do material e forragem. Este pavilhão tem um largo corredor central, communi- cando com as varias dependencias assignaladas. Esta installaçáo é provisória, pois os pavilhões foram adaptados ao seu fim actual, estando já organizado um projecto para a installaçáo dos serviços con- junctamente com a Secção de Virus, onde o laboratorio de vaccina animal ficará materialmente melhor apparelhado. Escolha dos animaes. Hoje é de pratica corrente o emprego da vaccina animal, cow-pox, obtida por passagens successivas do virus vaccinico de vitello a vitello. Os vitellos destinados á vaccinação são recebidos cm lotes de 6 a 12 animaes, escolhendo-se animaes com um peso de 80 a 150 kilos e de apparcncia sadia. Uma vez chegados ao Instituto, ficam sob as vistas da secção de medicina vete- rinária, onde são submettidos a differentes provas para a confirmação do seu estado hygido, permanecendo em observação durante um certo numero de dias. Entre as provas a que são submettidos, figuram a inoculação da tuberculina, para elucidação da tuberculose, c exames acurados e repetidos quanto á possibilidade da febre aphtosa. Só depois de se obter resultado negativo em todos estes exames é que os vitellos são recolhidos á Secção para serem utilizados. Primeiros cuidados hyirienicos. Recolhidos á sala destinada aos vitellos em observação, antes de vaccinados, são elles submettidos a um prévio e cuidadoso tratamento durante 2 a 3 dias. Em primeiro logar, todo o pello do corpo é cortado com uma machina electrica especial; depois, os vitellos são submettidos a lavagens diarias de todo o corpo, com agua, sabão e escova, sendo-lhes então registados os pesos e as temperaturas. 4 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 5 Os vitellos que tenham, principalmente na região a ser vaccinada, muitos carrapatos, o que se observa commummente nos nossos rebanhos, são submettidos, ainda quando sob as vistas da secção de veterinária, a banhos carrapaticidas, sendo então necessário augmentar o seu tempo de observação e de lavagens dia- rias, afim de que desappareçam os traços do antiséptico utilizado e a reacção cutanea por elle determinada. Raspagem do vitello. Na tarde da vespera da vaccinaçào, os vitellos a serem vaccinados, geral- mente em numero de 2 ou 3, são levados a uma sala especial onde lhes é ras- pada toda a região thoraco-abdominal, que depois é convenientemente lavada. Vaccinaçào dos vitellos. Levados para a sala destinada á vaccinaçào e colheita, os vitellos raspados na vespera são collocados em mesas apropriadas, lavando-sc convenientemente a região com agua esterilizada e sabão especial e neutro. Esta lavagem é feita com escova e repetida varias vezes, sendo todo o sabão finalmente removido com agua esterilizada. Depois de enxuto todo o campo com toalhas estercis, procedc-sc á escarificaçáo da região a ser vaccinada. Usa-se um estilete especial ou um vac- cinostylo commum, fazendo-se escarificações lineares, no sentido longitudinal, dc cerca de 10 a 15 cm. de comprimento e separadas umas das outras por cerca dc 0,5 a 1 cm. Escarif içada toda a região, com toalhas esterilizadas cnxuga-sc todo o sangue que por ventura tenha surgido das escarificações. Feito isto, o operador passa, com a mão protegida por luva de borracha, a polpa-semente sobre toda a região. Cerca de 20 a 30 cc. dc polpa, conforme o porte do animal, são sufficientes para cada vitello. Esta technica de vaccinaçào que adoptámos depois de termos já ensaiado as demais usadas, parece-nos a mais pratica, por sua rapidez c resultados. Escolha da semente. Para a vaccinaçào dos vitellos, a polpa-semente deve possuir certas quali- dades principalmente relativas á actividadc do virus. Utilizamos a bovo-vaccina, oriunda de partidas cuja evolução no vitello se mostrou perfeita c normal e que foram separadas e tratadas para esse fim espe- cial. Estas polpas são geralmente addicionadas de 3 partes de seu peso de gly- cerina e empregadas depois de. pelo menos, 6 mezes de permanência no frigo a -8.®C. As bovo-vaccinás são usadas desde que tenham soffrido menos de 4 pas- sagens de vitello a vitello. Além desta, usamos a lapino-vaccina como semente. Para este fim c também para a exaltação da actividade do virus e sua purificação indirecta, depois de 3 a 4 passagens em vitello, fazemos uma no coelho. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí 6 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Os coelhos são vaccinados pelo mesmo processo, fazendo-se, no dorso depi- lado, as escarificações transversaes. Só são utilizadas como semente as polpas dos animaes em que a evolução vaccinica se apresenta de um modo normal. Período de evolução da vaccina no vitello. Depois de vaccinados e de retidos na mesa durante uns 15 minutos, os vitel- los, protegido o campo vaccinado com pannos esterilizados especiaes, são trans- portados para as baias da sala a elles destinada. A temperatura é tomada 2 vezes ao dia, pela manhã e á tarde, sendo mantida uma permanente vigilância dos animaes, ao par da limpeza e hygiene das baias, cujo ambiente se conserva em meia luz e isento de moscas. Como alimentação, dá-se, além do farello, capim cortado á machina, evitan- do-se, assim, sujar o leito da baia. No 2.° e 4.° dias após a vaccinação, os vitellos são collocados na mesa para exame da evolução das pustulas. Nesses dias, lava-se com agua esterilizada a região vaccinada, e, depois de enxuta, sobre ella passa-se glycerina, com um pincel especial. Os campos protectores são trocados diariamente e mesmo 2 vezes ao dia, se sujos ou molhados. Importante seria se se pudesse manter de pé, durante os 5 dias de evolução da vaccina, os vitellos. Imaginámos para isto um dispositivo especial que não deu os resultados esperados, em virtude de serem muito baixas as baias já existentes, tendo resolvido reserval-o para ensaio nas nossas futuras installações. Colheita da polpa. E’ feita geralmente no 5.“ dia após a vaccinação. O vitello é collocado na mesa c a região lavada varias vezes com agua esterilizada, sabão e escova. Se a rcacção inflammatoria local é muito intensa, após a ultima lavagem applica-se sobre toda a região um soluto de verde brilhante a I 50.000. Este ahi permanece durante uns 15 minutos e depois é retirado com novas lavagens de agua esteri- lizada. Se a evolução vaccinica é normal, não se observando edema ou reacção local intensa, dispensamos o uso do verde brilhante. Uma vez lavado o vitello e enxuto com toalhas esterilizadas, protege-se o campo vaccinado com pannos especiaes esterilizados. Em seguida, o operador, munido de luvas esterilizadas, procede á colheita da polpa, que é recolhida num recipiente especial, esterilizado e previamente tarado. A colheita é feita com uma cureta de Volkmann, a começar da zona inferior para a superior, evitando que a polpa venha com excesso de sangue. Terminada a colheita, o recipiente contendo a polpa é levado para o laboratorio, e sobre a zona sangrenta do vitello applica-se um pó antiséptico e seccativo, para diminuir o soffrimento do animal. 6 J. L. Monteiro c R. Godinho — Lympha vaccinica 7 Necropsia do ritello. Cada vitello recebe um numero annual de ordem e também um numero mensal no casco da mão direita, sendo em seguida enviado para o matadouro municipal, onde o seu dono o faz abater. Acompanhando o animal segue um cartão contendo o seu numero de ordem e o numero no casco da mão direita. Depois de abatido, o vitello é necropsiado pelos veterinários do matadouro municipal, que devolvem ao Instituto o resultado da necropsia com a informação sobre se o animal foi considerado bom para o consumo. Só depois de observadas estas precauções é que a polpa fornecida pelo vi- tello respectivo poderá ser utilizada. Pesagem, glveerinização e 1.* trituração da polpa. A polpa colhida é immediatamente levada para o laboratorio, onde é pesada. Em seguida é addicionada de glycerina pura neutra (usamos actualmente com bons resultados a glycerina Schering) na proporção de 3 a 4 partes, conforme certas condições e o seu fim posterior. Com uma espatula especial a polpa 6 emulsionada na glycerina c soffre uma primeira trituração, grossa, no apparelho de Felix. Esta trituração grossa tem por fim tornar mais intimo o contacto da glycerina com a polpa, que é então reco- lhida num frasco, convenientemente rotulada (n.° de ordem, data da colheita, quantidade) e levada para o apparelho frigorifico, onde é mantida cm tempera- tura de -S*C. Todas as partidas, registadas cm livro e fichas adequadas, são cons- tantemente mantidas nessa temperatura. Secunda trituração, tamiiação e extraeçáo do excesso dc ar. Depois de permanecer no frigo por espaço dc tempo superior a 4 mezes (gc- ralmentc acima de 6 mezes) a polpa soffre uma 2. m trituração, fina, no appare- lho de Felix, sendo cm seguida passada num tamis dc malha estreita. A lympha tamisada 6 collocada numa proveta e levada para um apparelho de vacuo onde soffre extraeçáo do excesso de ar. A extraeçáo, por nós instituída, do excesso de ar que augmenta cm virtude da tamisaçáo, é de grande vantagem, principalmente para a conservação dc uma reacçào favoravel ao virus durante a longa permanência da polpa no frigo. Retirado o material do apparelho de vacuo, remove-se a espuma da super- fície contendo detrictos e pcllos que passaram pelo tamis e colloca-se a polpa num frasco, convenientemente rotulado (n.° de ordem, data da 2.' trituração e tami- sação e quantidade em cc.), levando-se novamente para o frigo. Somente depois de um mez pelo menos desta ultima operação é que se ini- ciam as pesquisas bacteriológicas e a verificação da actividade do virus. Pesquisas bacteriológicas. As pesquisas bacteriológicas que se procedem nas differentes partidas pre- paradas teem por fim a verificação da presença de germes pathogenicos, prin- cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí 8 Memórias do Instituto Butaman — Tomo V cipalmente do bacillo do tétano, nas polpas e a observação do seu grau de con- taminação, isto é, se o numero de micro-organismos associados, mesmo não pa- thogenicos, não ultrapassa o limite de tolerância. Para a verificação de anaeróbios e principalmente do bacillo tetânico, a pol- pa é semeada em vários tubos contendo caldo glycosado anaerobio. Os tubos per- manecem durante 10 dias na estufa a 37°; se se nota formação de gaz, inocula- se então 1 cc. da cultura em cobaia para a completa eliminação da hypothese da presença daquelle germe. A contagem de micro-organismos é feita em placas com gelose commum e a verificação da presença de outros germes pathogenicos é dada pela inoculação de 0,5 a 1 cc. da polpa em cobaia de 400 gr. de peso. Os resultados destas verificações indicarão a marcha a seguir: se a polpa se encontra em condição de ser diluida e distribuída, ou se deverá ser submet- tida aos processos de purificação, que estudaremos no capitulo seguinte. Verificação da actividade do virus. Para a verificação da actividade do virus nas differentes partidas prepara- das usamos o coelho, fazendo escarificações em 3 regiões differentes do dorso com a polpa diluida a 1/10, 1/100 e 1/1000. Uma polpa convenientemente activa deve produzir pustulas, ao longo da escarificação, até nesta ultima diluição. Mais commummente, porém, usamos para esta dosagem o methodo de Gins, da escarificação na comea da cobaia. Geralmente as polpas que preparamos pro- duzem a ceratite vaccinica typica em diluição ás vezes superior a 1/100.000. Estas polpas poderão ser diluídas com 20 ou mais por cento de agua destillada antes de serem distribuídas. Esta diluição facilita, por outro lado, o enchimento dos tubos capillares. Segundo o methodo de Gins, a polpa que determina uma ceratite vaccinica na diluição de 1/5000 deve dar na pratica 100 % de resultados positivos cm pri- mo-vaccinados. Todas as partidas preparadas pelo Instituto apresentam, ao sahirem, uma actividade igual ou geralmente superior á considerada favoravel, segundo o mè- thodo de Gins. Enchimento dos tubos, fechamento e emballagem. Preenchidas as necessárias condições de pureza bacteriana e de actividade co Gins positivo em diluição superior a 1 por 10.000, a polpa é diluida com 20 % de agua destillada ou physiologica, podendo ser distribuída nos tubos capillares ou em bisnagas para uso collectivo (100 doses). A distribuição nos tubos capillares é feita numa caixa de vidro, cujo interior é impregnado de vapores de ether, protegendo-se, assim, a polpa contra as con- taminações da poeira do ambiente e da excessiva proximidade do operador. 8 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaecinica 9 O processo de enchimento é o utilizado pelo antigo Instituto Vaccinogenico de S. Paulo. Os maços de tubos esterilizados, em numero de 500, abertos em am- bas as extremidades, são introduzidos num "bico de mamadeira" de borracha e esterilizado, cuja extremidade fina termina por um tubo de vidro, onde se liga o vacuo. A outra extremidade dos tubos é mergulhada na polpa contida num re- cipiente esterilizado. Uma vez cheios os tubos, são suas extremidades fechadas ao maçarico, e, em seguida, acondicionados em blócos de madeira, contendo 10 tubinhos ou 10 doses da vaccina, que são reunidos em enveloppes contendo 5 ou 30 blocos de madeira, respectivamente com 50 ou 300 doses individuaes. Além deste acondicionamento em tubos capillares, a polpa é também distri- buída em pequenas bisnagas contendo 100 doses e que são geralmente fornecidas ás autoridades sanitarias para a vaccinaçáo em collectividades (collegios, quar- téis, etc.). Capitulo II Technicas de purificação usadas no Instituto Butantan A preoccupaçáo dos experimentadores que se dedicam ao estudo do virus vaccinico c ao preparo da lympha immunizante, orienta-se de preferencia para a obtenção de um produeto onde o virus activo apparcça cm estado de maior pureza, isto é, isento, se possível, de micro-organismos associados ou pathogenicos, os quacs quasi sempre se reconhecem como responsáveis pelos accidcntes sobrevin- dos ao uso da vaccina animal. Assim é que, á polpa bruta, oriunda da raspagem das pustulas desenvolvidas no vitello vaccinado, se addiciona geralmentc uma pro- porção conveniente de glyccrina pura e neutra, collocando-se, em seguida, a mis- tura em temperatura abaixo de 0 o durante vários mezes. Nesta temperatura a acção da glycerina não se mostra prejudicial ao virus, o mesmo não acontecendo com os germes estranhos, por ventura associados, os quaes diminuem de numero com o decorrer do tempo. In felizmente esta depuração da polpa glycerinada é muitas vezes insufficiente para a obtenção de um produeto com a pureza neces- sária a uso generalizado como o da vaccina, principalmente cm occasiõcs de emer- gencia, quando se é obrigado a lançar mão até de polpas reccm-colhidas. Diante desta circunstancia foram propostos differentes methodos para a purificação das polpas vaccinicas glycerinadas. Estes se baseam, principalmcnte, na acção de certos antisépticos voláteis ou outras substancias chimicas, que, actuando de dif- ferentes maneiras sobre a polpa, agem sobre os germes estranhos, destruindo-os ou diminuindo-lhes o numero, sem manifestar acção nociva, sináo ás vezes muito fraca, sobre o proprio virus. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí 10 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Processos de purificação das polpas vaccinicas Sem entrar na discussão de todos os processos estudados e empregados para a purificação das polpas glycerinadas, mencionaremos apenas os que lograram maior repercussão e dos quaes alguns já foram utilizados na pratica. Em 1895 foi nomeada pelo governo da Prússia uma commissáo com o fim especial de estudar os meios de purificação da vaccina; desde então começou a ser bem conhecida a flora da vaccina, graças, principalmente, aos trabalhos de Kirchner, Green, Sacquepée, Hallier, Zum, Keber, etc., para só citar os mais antigos. Esses investigadores foram os primeiros a orientar os processos de pu- rificação da vaccina para as differenças encontradas na resistência do vinis e dos germes de associação aos agentes chimicos e physicos, o que tornava possível a eliminação dos elementos estranhos da lympha sem prejuízo da actividade do principio immunizante. Processos chimicos. Entre os methodos de purificação por meio de agentes chimicos, foi talvez o do emprego da glycerina um dos primeiros utilizados, a partir de 1886, pelo Real Instituto Vaccinico de Berlim, depois de verificadas as vantagens do seu poder microbicida por Feiler c posteriormente por Kirchner. Essa verificação da acção reductora da glycerina, que se exerce lentamente e durante longo prazo, tem sido confirmada e aproveitada universalmente, ainda em nossos dias, por todos os la- boratórios vaccinicos. Tomarkin e Sercbrenikoff procuraram verificar se porventura os cffeitos ob- servados com a glycerina também seriam produzidos pela vaselina e pela lanolina e concluiram pela insufficicncia do poder germicida destas duas substancias. Outros agentes chimicos tiveram, a seu tempo, applicação experimental visando o mesmo objectivo: o sublimado corrosivo, o iodo, o cyaneto de potássio, o acido acético, a ammonea, o chloreto de sodio. o álcool e ainda a bile, a saponina c o taurocholato de sodio, todos elles, porém, destruindo concomitantemente o vinis vaccinico em maior ou menor espaço de tempo. Entre os agentes purificadores diversas essên- cias lograram despertar a attenção dos investigadores. A essencia de cravo foi applicada á polpa vaccinica, segundo o methodo de Blaxall, por Dcgive e Antoine, mas, embora eliminasse todos os germes, prejudicava consideravelmente o virus; a essencia de giroffle foi estudada, entre outros, por M. J. Antoine, D. de Blasi, M. Belin e Marcei, segundo o citado methodo de Blaxall, mas não logrou também melhor resultado. Do mesmo modo foram ensaiados a antiformina. o toluol e o quinosol, cuja acção pouco intensa e sem applicação na pratica foi posta em evi- dencia pelos trabalhos de Fomet, Carini e Seiffert e Hune, respectivamente. Melhor acceitas e de resultados incontestavelmente evidentes foram as subs- tancias corantes, dentre as quaes se destaca o verde brilhante que, em diluições fracas, agiria sobre os germes associados respeitando o virus, facto que. segundo 10 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 11 as experiencias de Tyler (de Nova York) e de um de nós, se observa quando a polpa assim tratada é mantida em temperatura abaixo de 0 o . O seu emprego é, hoje em dia, corrente na America do Norte. Ainda entre os corantes foram ensaiados o azul de methyleno por Tappeiner c a eosina, bem como o vermelho neutro por Friedberger e Yamamoto. Na lista das substancias voláteis, de mais recente experimentação, encon- tra-se o ether sulfurico que, em 1913, foi aproveitado em Berlim com satisfactorios resultados, segundo as publicações de Fornet. A mesma technica foi mais tarde repetida por Noguchi e depois por Barbará em Buenos-Aires, não conseguindo este ultimo A. esterilização absoluta da polpa vaccinica. nem mesmo depois de 30 dias de contacto com o ether, além de ter observado sensível diminuição da actividade do viros, em opposiçáo ao effeito annunciado por Fornet. A conclusões iguaes ás de Barbará chegou Edna Harde, no seu trabalho publicado nos "Annalcs de 1’Institut Pasteur" em Julho de 1916. Dignas de elevado apreço são as experiencias de Tanner de Abreu, feitas entre nós em 1916, concluindo, por sua vez, que "em relação ao vinis vaccinico é evidente, nos resultados de todas as experiencias, a notável attenuação soffrida por influencia do ether sulfurico”. Preconizada por L. Camus, a chlorethyla não sahiu do domínio experimental. Melhor sorte teve o chloroformio proposto por Grccn, e usado, sob a forma de vapores durante certo tempo, também no nosso antigo Instituto Vaccinogenico. Ainda em relação aos antisépticos é indispensável uma menção especial ao phenol. officialmente empregado nos Estados Unidos, por determinação do “Hy- gienic Laboratory" de Washington, e cuja addição, já feita em outros paizes c experimentada certa vez no Rio de Janeiro com resultado negativo, não se rc- commenda cm nosso meio e clima, visto como as polpas assim tratadas devem ser constantemente mantidas cm temperatura abaixo de 0’, mesmo após a sahida do Instituto, para que a actividade do vinis não soffra rcducção cm prazo relativa- mente curto. Processos physicos. Embora em menor numero do que os processos chimicos de purificação da vaccina, não são, todavia, os meios physicos de inferior relevo e importância, tanto que de longa data vèm sendo também ensaiados. Procurando proteger as pustulas vaccinicas por meio da occlusão, visava Paul, em 1898, a preservação contra os agentes estranhos, embora ao mesmo passo prejudicasse a evolução normal da vaccina. Santori. em 1904, tentou a pressão de 450 atmospheras sobre o virus vacci- nico e verificou também os effeitos que a trituração da polpa exercia sobre sua ulterior contaminação. Centrifugação e sedimentação foram processos tentados, na AUemanha ainda, sem resultado aprcciavel. II cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí 12 . Memórias do Instituto Butantan — Tomo V A influencia de differentes especies de raios luminosos tem sido aproveitada fartamente como meio de purificação. De referencia ao frio, nenhuma duvida existe mais para a sua geral acceitaçào, muito embora a longa permanência da polpa em baixa temperatura não seja sufficiente para determinar por si só uma baixa sensível e satisfactoria do teor da sua flora microbiana. Mais pratico e usado nos Estados Unidos é o processo de purificação da polpa glycerinada por meio do aquecimento descontinuo a 37°, durante 1 ou 2 horas, por alguns dias, até que o numero de germes estranhos fique reduzido a um limite tolerável. Por este processo, ensaiado já com resultados favoráveis por um de nós, favorece-se a acção antiséptica da glycerina sobre os germes de contami- nação sem se provocar, com a observância rigorosa da technica, reducção consi- derável da actividade do virus (Figs. A e B). Processos biologicos. Em todo caso, quer os processos chimicos de purificação da polpa glyceri- nada, quer os processos physicos indicados, não representam o ideal que se deve collimar, e que seria a producçáo facil e fornecimento abundante do virus puro, isto é, isento de quaesquer germes de contaminação. Dahi as tentativas para a cultura do virus in vitro e in vivo. A obtenção do virus puro, in vivo, é possível e realizável pelos processos de Noguchi (vaccina testicular) e de Levaditi (neuro-vaccina). Numerosas são, na verdade, as contribuições ao estudo do virus obtido por inoculação e multipli- cação no testículo de certos animaes, assim como no cerebro de coelhos. Todavia, na pratica, a vaccina testicular, pelas difficuldades technicas do preparo, não teve acceitaçào generalizada; de seu lado, a neuro-vaccina, apresenta, além deste, outros inconvenientes que a não recommendariam ao uso prophylactico. Em relação á cultura in vitro, citaremos apenas as primitivas tentativas feitas, principalmcnte por Fornet e os trabalhos relativamente recentes de Carrel e seus collaboradores, do Instituto Rockefcllcr. Os resultados de Carrel são sobremodo interessantes: este illustre scientista, por meio de uma technica especial, obteve a multiplicação do virus cm culturas, in vitro , de ccllulas embryonarias, acredi- tando que com um embryão de gallinha se poderá obter cultura pura do virus, em quantidade igual á fornecida por um vitello. Este processo, que representa um grande aperfeiçoamento no preparo da vaccina e no estudo do virus, encerra, como facilmente se comprehende, difficuldades technicas á sua industrialização, pois exige installações especiaes nos laboratorios produetores da lympha. Processos physico-chimicos. Mais pratico, portanto, seria o aproveitamento do virus obtido segundo o me- thodo commummente usado, vaccina animal, mas separado, por processos adequa- dos. dos detrictos cellulares e germes estranhos existentes na polpa. Entre estes processos o mais recommendavel seria o da filtração em velas especiaes. pois que o virus vaccinico é filtravel. SciELO 11 12 13 14 15 16 17 12 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 13 Hugh K. Ward, do Departamento de Bacteriologia e Immunologia, Harvard University Medicai School, Boston, obteve a filtração do virus, suspenso em caldo hormonio, através da vela Berkefeld V e, mais recentemente, Hidetake Yaoi e Hisao Kasai, fazendo, preliminarmente, a passagem, através da vela, de uma di- luição acida de clara de ovo, de mistura com o virus, conseguiram a filtração deste. Devemos ainda lembrar que estes dois autores japonezes já haviam em- pregado, na purificação da vaccina. o methodo de adsorpção pelo kaolin. Sendo o processo, que descrevemos para a obtenção do virus vaccinico puro, baseado na sua filtrabilidade, sob certas condições, através de velas diatomaceas, faremos a seguir algumas considerações a respeito de experiencias realizadas neste Instituto e que constituiram objecto de um trabalho apresentado por um de nós ao V Congresso Brasileiro de Hygiene, reunido recentemente em Recife. Vários são os factores que influem sobre a passagem do virus vaccinico através dos filtros: natureza e composição da vela, porosidade, carga electrica da vela, do virus e do meio, poder de adsorpção, intensidade da pressão, tempera- tura, etc. No decurso de nossas pesquisas, verificamos que, suspenso em caldo glyco- sado a 1 % (pH— 8,0), o virus atravessa com facilidade as velas Mandler (regu- lar) de 6 lbs. de pressão. A filtração do virus se dará também, mas com certa difficuldade, se a suspensão for feita cm caldo commum e não se dará absolu- tamente quando cm agua physiologica. Os pormenores tcchnicos das experiencias que realizamos e seus resultados constam do trabalho citado. Estes resultados experimentaes evidenciaram a possibilidade do emprego do virus puro, filtrado, dependendo apenas do estudo de certas particularidades tcch- nicas que tornariam possível o seu aproveitamento industrial para o fim de pro- phylaxia collectiva. Mostraremos, a seguir, as experiencias que realizámos, com este fim, indi- cando primeiramente, cm linhas geracs, a technica para a producção da polpa bruta. Producção e colheita da polpa vaccinica O vitello é vaccinado com uma semente escolhida c cujo virus se revele sufficientemcntc activo (Gins positivo em diluição superior a 1/50.000), de accordo com todos os cuidados technicos usuacs, já descriptos no capitulo I. No 5.° dia depois da vaccinaçào, estando bem desenvolvidas as pustulas, e não se notando reacção inflammatoria local intensa ou edema, procede-sc á co- lheita da polpa. A polpa a ser empregada para a filtração, é escolhida entre as pustulas de desenvolvimento mais perfeito e normal e collocada num recipiente especial, es- terilizado e previamente tarado. 13 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 lí 14 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Retirada a quantidade necessária para a partida a ser preparada pela filtra- ção, continua-se a colheita da polpa que deverá ser glycerinada e manipulada segundo o methodo habitual para a producção da vaccina animal. A polpa bruta, separada e contida no recipiente especial, é levada para o laboratorio, onde se iniciam immediatamente os differentes tempos para a obten- ção do virus puro, filtrado. Filtração do virus Preparo da emulsão. Colhida a polpa, é ella pesada e suspensa em caldo glycosado a l '/ c (pH=S,0) na proporção de 10 grs. para 100 de vehiculo. A addiçáo do caldo é feita aos poucos e á medida que se tritura num gral. O emprego do caldo glycosado, na reacçáo de pH=8,0, mostrou-se o mais adequado, conforme se verifica pelas experiencias do nosso citado trabalho e pelas de Hidetake e Kasai sobre a relação entre a concentração do ionte hydrogenio e a filtrabilidade do virus vaccinico. A concentração da suspensão da polpa pode ser reduzida de 10 Cc, pois, con- forme veremos adeante, os resultados que obtivemos com o emprego do virus filtrado, nesta proporção, permittem sua maior diluição para emprego na vac- cinaçáo. Para se evitar esta nova manipulação do producto, julgamos sufficicnte, com as polpas bastante activas, a sua mistura na proporção de 5 grs. para 100 de caldo glycosado. Centrifugação. Preparada a suspensão, é ella centrifugada durante certo tempo. As partí- culas solidas, detrictos cellulares, etc., reunem-se no fundo e o liquido é decantado e collocado cm provetas especiaes afim de soffrer a filtração. Verifica-se então a reacçáo do liquido, a qual, sendo diversa, se trata de reajustar para o mesmo ponto que a do caldo primitivo, isto é, pH-=8,0, representando isto uma medida da maxima importância para que se consiga a filtração com a devida rapidez. E’ desnecessário dizer que todo o material, tubos centrifugadores, provetas, etc. devem ser convenientemente esterilizados. Filtração e distribuição. Usamos, como foi descripto nas experiencias do nosso citado trabalho, a vela Mandler (regular) de 6 Ibs. de pressão. A vela introduzida na proveta contendo a emulsão é ligada a um apparelho (frasco) que recebe o filtrado, ligado, por sua vez, a um apparelho de vacuo. A filtração é feita com a pressão negativa de 30 a 40 cm. de Hg. Uma vez terminada a filtração, a distribuição se faz pelo processo usual em tacs casos. Distribuído em empolas, o liquido é semeado nos meios habituaes de laboratorio, aerobios e anaeróbios, para a verificação de sua esterilidade em relação aos germes estranhos cultiváveis nesses meios. 14 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 15 Capitulo 111 Applicaçáo do virus filtrado na pratica Para o emprego na pratica da vaccinação, era indispensável verificar as con- dições em que o virus filtrado se conservaria melhor, o tempo de duração da sua actividade. concentração óptima, etc. Com este fim o virus foi distribuído, em quantidades de 1 ou 2 cc. em tubos longos (como os usados para cultura de leptospira» e esterilizados. Os tubos dis- tribuídos foram separados em differentes lotes, tratando-se cada um, sob varias condições, da seguinte maneira: 1 - Os tubos contendo o virus foram submettidos á extracçào do excesso de ar por meio do vacuo, sendo immediatamentc fechados no maçarico: 1. ° lote, conservado na temperatura do laboratorio; 2. ° lote, conservado na "frigidaire" a 5°C.; 3. ® lote, conservado no ''frigo'' a -8®C. II - Os tubos não soffreram a previa extracçào do ar e foram apenas, depois da distribuição, fechados ao maçarico. 4. ° lote, conservado na temperatura do laboratorio; 5. ® lote, conservado na “frigidaire" a 5®C.; 6. ® lote, conservado no “frigo" a -8®C. A actividade do virus antes e depois da filtração foi verificada pelos metho- dos de Gins e Groth, o mesmo acontecendo com o filtrado, mantido nas dif- ferentes condições acima assignaladas c no fim de 1, 2 e 6 mezes. Os resultados colhidos quanto á actividade do virus filtrado confirmaram os anteriormente obti- dos e assignalados no nosso citado trabalho (Figs. C c D). Quanto á conservação do virus filtrado, verificámos ser desnecessária a cx- tracção do excesso de ar. bastando que as empolas distribuídas sejam immcdia- tamente fechadas ao maçarico. Quanto á temperatura óptima para a conservação do filtrado activo, os resul- tados foram mais favoráveis com os lotes de empolas mantidos em temperatura abaixo de CTC. Com os lotes conservados na "frigidaire”, á temperatura de 5®C., os resultados foram também muito favoráveis; o virus manteve sua actividade, mesmo no fim de 6 mezes (tempo máximo até agora verificado), quando conser- vado a -8^C. Com os lotes de empolas conservados na temperatura do laboratorio, a veri- ficação feita depois de um mez mostra grande redueçáo da actividade do virus: Gins positivo apenas até a diluição de 1/100. emquanto que, neste prazo, o virus. 15 16 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V mantido nas condições óptimas assignaladas acima, se mostrou activo, por este methodo de dosagem, em diluição superior a 1/5.000. Pode-se ter a certeza de que o vinis puro filtrado, mantido no laboratorio em temperatura abaixo de 0°C. e em temperatura também favoravel (5°C.) após sua sahida para os serviços de prophylaxia, poderá ser utilizado com vantagem e efficiencia dentro de um prazo superior a dois mezes. Emprego do virus puro como semente e na pratica. Para a verificação da actividade do virus puro, filtrado e dos resultados da sua utilização como semente, servimo-nos de um vitello, vaccinando-o, em uma zona do ventre, com o virus filtrado e, em outra zona, com a suspensão do virus não filtrada. As duas zonas, de cerca de 10 cm 1 cada uma, foram escarificadas, e os virus, na dose de 1 cc., foram esfregados na respectiva zona. estando o ope- rador com luva de borracha. Em ambas as regiões as pustulas se desenvolveram: com o virus não fil- trado (fig. 1), notou-se reacçáo local mais intensa, ao passo que com o virus filtrado (fig. 2), não se observou reacçáo inflammatoria e as pustulas, embora menores, se mostraram mais typicas. Outro vitello foi vaccinado igualmente com o virus filtrado, conservado em condições favoráveis (abaixo de 0°C.) durante 2 mezes. A pustulação mostrou-se bem característica, não se observando reacção inflammatoria (fig 3). Ainda outro vitello foi vaccinado cxclusivamente com o virus puro e filtrado (fig. 4), já para uso industrial da vaccina, com excellente resultado de desenvol- vimento das pustulas e rendimento da polpa. Dcante destes resultados experimentaes e da applicaçáo do virus no vitello, tratámos primeiro de verificar a immunidade conferida pelo virus filtrado em re- lação á lympha commum e vice-versa, em experiencias cruzadas, em coelhos, e vitellos, para em seguida iniciarmos o emprego do nosso virus filtrado, puro, na vaccinaçáo anti-variolica. Essa immunidade provocada pelo virus filtrado em relação á polpa vaccinica commum ficou bem demonstrada, tanto sob o ponto de vista experimental, por meio das citadas observações em coelhos e vitellos, resumidas nos quadros I (A e B) e II (A e B), como sob o ponto de vista pratico, em resultado da vaccinaçáo de pessoas, tendo igualmente sido verificado que a vaccina commum confere immunidade em relação ao virus filtrado. Para a applicaçáo pratica, o virus filtrado é distribuído em empolas de 0,5 cc., de modo a se tomar facil sua utilização. Essa quantidade é sufficiente para a vaccinaçáo de, pelo menos 5 pessoas, porquanto as empolas contêm geralmente um excesso de producto. Antes de se proceder á vaccinaçáo, é aconselhável fazer-se uma applicaçáo previa de ether sobre a região a ser escarificada e isto para se reduzirem as probabilidades de infecções secundarias. Em seguida se deposita uma pequena SciELO 11 12 13 14 15 16 17 16 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 17 gotta do liquido contido na empola em dois pontos sufficientemente separados (região deltoidiana de preferencia ou outro qualquer ponto que se escolha). Faz-se então a escarificaçáo do tegumento segundo os methodos usuaes, tendo-se sempre o cuidado de evitar o apparecimento de sangue. Resultados clinicos. Até agora praticamos com o virus filtrado 53 vaccinações em pessoas, adultos e creanças, residentes em Butantan e proximidades. Os resultados são resumidos no quadro junto. Quanto á evolução das pustulas, não se observa a reacção local, muitas vezes intensa, como commummente. As pustulas são bem formadas e cercadas por uma ligeira areola pouco avermelhada. As figuras 5 e 6, mostram o aspecto das pus- tulas vaccinicas desenvolvidas, sendo que em 2 observações se pode ver o aspecto da cicatrizaçào após 3 mezes. Pelas vaccinações já praticadas, verifica-se um resultado de 100 % de casos positivos em primo-vaccinados; em 19 revaccinados, 7 tiveram a vaccina pro- priamente dita, 1 1 tiveram reacção de immunidade c cm 1 o resultado é des- conhecido. Para confirmação experimental da immunidade conferida pelo vinis vaccinico puro e filtrado, praticamos, como vimos, algum tempo depois, a inoculação da vaccina commum cm 5 creanças que haviam sido primo-vaccinadas com o filtrado e em todas ellas observámos reacção de immunidade typica, o mesmo acontecendo tanto no coelho como no vitello anteriormente vaccinados com o virus puro, filtrado. Devemos assignalar ainda que todos os indivíduos por este meio vaccinados apresentam um processo especial de cicatriz das pustulas, que não deixa senão uma imperceptível mancha com tendência franca ao completo apagamento (Figs. 7 e 8). Resta-nos, agora, verificar a duração da immunidade conferida pelo emprego do virus filtrado; isto será feito mediante repetição da prova, annualmcntc, cm todas as pessoas por nós ha pouco immunizadas. RESUMO E CONCLUSÕES No presente trabalho são assignalados em conjuncto: a) o processo de preparo industrial da vaccina animal; b) os methodos de purificação da lympha vaccinica. Sobre estes pontos são descriptas, de preferencia, as technicas empregadas no serviço de vaccina animal da Secção de Virus do Instituto Butantan e, como contribuição original, o methodo empregado para a obtenção do virus vaccinico 17 18 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V puro por^meio da filtração, assim como o resultado do seu emprego na prophy- laxia da varíola, chegando ás seguintes conclusões: 1. - E' possível obter-se, por meio da filtração sob certas condições, o virus vaccinico em estado de pureza e em quantidades apreciáveis; 2. - Esse virus assim obtido é passivel de applicação, com real vantagem, na prophylaxia da varíola; 3. - E' evidente a immunidade que elle determina, nas creanças vaccinadas, em relação a uma posterior vaccinação com a polpa vaccinica commum, o mesmo acontecendo sob o ponto de vista experimental com a vaccinação de coelhos, co- baias e vitellos; 4. - A cicatriz consequente á vaccinação com o virus puro, filtrado, é pouco perceptível, não deprimida e não deformante da esthetica da região. ABSTRACT AND CONCLUSIONS This paper deals with a) the process of industrial production of the small-pox vaccinc; b) the methods of purification of the vaccine lymph. In this regard the various tcchnics used at the Instituto Butantan are described together with the purification of the vaccine virus by means of filtration, the conclusions reachcd at by the authors as to the practical application of the purified virus in the pre- vention of small-pox being the following: 1. It is possible to obtain, by means of filtration under proper conditions, the vaccine virus entircly pure and in fairly large amounts; 2. The virus thus obtained may bc applied to the prevention of small-pox with a dccided advantagc over the common vaccine; 3. The immunity brought about in children by the purified virus may bc demonstrated by the negative “take” of a further application of the common vaccine. This may also be experimentally observed in rabbits, guinea-pigs and calves; 4. The scar resulting from the application of the filtered virus is leveled, undefacing and hardly perceptible. 18 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 19 Observações experimentaes sobre o valor immunizante do vinis filtrado em relação á lympha commum e vice-versa L Vitellos A. Immunizaçáo com a vaccina commum e ulterior inoculação do virus filtrado N.o Vacciaa anda Data da vâccinaçio RESULTADO Viras asado Data da ioaculaçlo RESULTADO 1930 Polpa n.o 4618 15-11-30 Positivo : evolufSo normal da vaccina ; | colheita: 20-11-30. Filtrado da polpa n.o 4659 14- V-30 Negativo: nenhum desenvolvimento. B. Immunizaçáo com o virus filtrado c ulterior inoculação da vaccina commum K.s Viras asado Data da InocnlagAo RESULTADO V *“!“ asada Data da sacei oa^io RESULTADO 17 (1930 Filtrado da polpa ti.» 4653 30 - IV - 30 Positivo : evoluclo trpica e »em reacçAo 1 »ipa inllammatoria ; co- n.o 4618 lheita em 5- IV - 30. 14- V-30 Negativo: nenhum desenvolvimento. A. 11. Coelhos Immunizaçáo com a vaccina commum c ulterior inoculação do virus filtrado N.o Vacciaa asada Dilâ di Vira» RESULTADO vaccluaglo usado Data da luoculagAo RESULTADO 4 I9T0 Polpa n.o 4602 ! _ „ . , Filtrado ... Positivo: desenvol- , . 25-111-30 . , da polpa vimenlo normal. n.° 4653 7- V-30 Negativo: nenhum desenvolvimento. B. Immunizaçáo com o virus filtrado c ulterior inoculação da vaccina commum N.o Virus osado Data da iaoculatio RESULTADO Vacciaa i_ Data da vaeciaaçio RESULTADO 10 (1930 Filtrado da polpa n.o 4653 14 -IV -30 Positivo: desenvol- vimento typico. Polpa n.o 4618 I9-IV-30 Negativo: nenhum desenvolvimento. 19 20 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V III. Observações clinicas A. Indivíduos primo-inoculados com o virus puro filtrado c ultcriormentc immunizados com a vaccina commum Nome Idade (annos) Residência Inoculação do viros filtrado (data) Resultado Emprego da vaccina commum (data) Resultado R. K. F.o 3 Butantan 12- XII - 1929 Positivo 17-111-1930 Negativo : R- de immunidade L. R. 6 »* n ” w *1 J. M. A. 1,6 »* 14- XII -1929 n Tf w J. N. 8 Pinheiro* r 8 n n M n A. R. " W t» - »» B. Indivíduos immunizados com a vaccina commum ha menos de 2 annos c ultcriormentc inoculados com o virus puro filtrado Nome Idade (annos) Retideaeia Inoculação do virns filtrado (data) Revoltado R. K. 35 Butantan 12 - XII - 1929 Negativo : R. de inmunidadc A. F. 28 r» t* tf L. P. 40 f* 14 - XII - 1929 tf M. D. C. 29 w •t T» J. A. 8 Pinheiro*. ( Escola Butantan) 12-11-1930 tt P. O. 7 M *» 20 J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica 21 SERVIÇO SANITARIO DE S. PAULO V A R I O L_ A Observações de primo- e revaccinados com o viras puro e filtrado Virns RESULTADO H.o Data NOME Idade Primo- Revac- Primo- ft C V A c C 1 •> A Ç A o omtnçOEs (ialdaes) Taaiiifc cinado paro filtrado Vicdu Ysccl íi: ;m :243. 1913-1914. 26. H ard, H. K. — J. Exper. Med. L(l) :3t .1929. 23 SciELO 6 17 J. L. Mosteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica Mem. Inst- Butantan Vol. V. 1930 Fig. C. Verificação da actividade da lympha em diffcrentes meios, pelo methodo de Groth: a) i esquerda — lympha nlo filtrada b) i direita — lympha liltrada I — em agua phj riologica II em caldo commum III — em caldo gtycosado SciELO J. L. Monteiro e R. Godinho — Lympha vaccinica Alem- Inst. Butantan Vol. V. 1930 Fig. D. Ampliação da zona III (o e frl da Fig. C, relativa á verificação, pelo methodo de Groth, da actividade da lympha, não filtrada ou filtrada e suspensa em caldo glycosado SciELO SciELO ^ 2 3 5 6 7 12 13 14 15 16 17 L cm SciELO ^ 2 3 5 6 7 12 13 14 15 16 17 z cm SOBRE O PHENOMENO DE D HÉRELLE O BACTERIOPHAGO NAS POLPAS VACCINICAS GLYCERINADAS. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA DO PHENOMENO J. LEMOS MONTEIRO SciELO SOBRE O PHENOMENO DE DHÉRELLE O BACTERIOPHAGO NAS POLPAS VACCINICAS GLYCERINADAS. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NATUREZA DO PHENOMENO (*) POR J. LEMOS MONTEIRO Poucos são os trabalhos que se referem a pesquizas de princípios lyticos, com os característicos do bactcriophago, nas polpas vaccinicas glycerinadas. Twort, em 1915, semeando a lympha vaccinica cm tubos de gelose, verificou, após 24 horas a 37°, areas de aspecto aquoso e observou que, nas culturas onde se desenvolviam os micrococcos, as colonias destes tomavam-sc vitreas e trans- parentes. Uma cultura pura de micrococco, isolado da lympha, tocada com um fragmento da colonia transparente, tomava este aspecto, sendo logo toda invadida. Este principio transparente, mesmo diluido a 1 por 1.000.000 cm solução physiologica, atravessa facilmente os filtros finos de porcelana, sendo uma gotta do filtrado, espalhada n’um tubo de gelose, sufficicntc para tornal-a imprópria á cultura do micrococco. Se este for semeado, logo que começa a dcscnvolver-sc, a cultura mostra pontos transparentes, que se estendem por toda a supcrficic do meio, dependendo a intensidade do phenomeno da diluição do material original. Este estado ou doença dos micrococcos, como o chamou Twort, pode ser transmittido cm serie, n'um numero infinito de gerações, sempre á custa dos micrococcos. Esta observação de Twort 6 anterior á primeira communicaçáo de d’Hcrelle !*obrc o phenomeno da bacteriophagia. D’Hérelle, baseando-se na própria dcscripçáo de Twort, não identifica a veri- ficação deste com o phenomeno que descreve pela primeira vez dois annos depois. Assignala d Hérellc que no phenomeno de Twort "não se traía de uma lyse, dissolução de uma bactéria”, ha uma fragmentação dos coccos, tratando-sc, pois, de um phenomeno de bacterioclasia. Diz mais que na bacteriophagia o que se produz é uma dissolução total do corpo microbiano, sem nenhum residuo. (•) Trabalho entregue para publicação em agosto de 1929. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 28 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V E' surprehendente o facto de não serem bastante numerosos os trabalhos referentes a pesquisas, segundo a technica de d’HérelIe, do bacteriophago nas polpas vaccinicas. Somente Gratia, tendo isolado de uma polpa vaccinica um bacteriophago para o estaphylococco, cita pesquisas que fez a respeito e pelas quaes procura mostrar a identidade do phenomeno de d Hérelle com o de Twort. Segundo d'Hérelle, porém, a verificação de Gratia mostra sómente que na polpa vaccinica podem ser encontrados os dois princípios que provocam os phe- nomenos da bacterioclasia e o da bacteriophagia. Sabemos que na polpa vaccinica, ao lado de elementos cellulares e do vinis, se encontra associada uma flora microbiana, impossivel de ser evitada e na qual predominam os coccos (micrococcos e estaphylococcos). Por outro lado, durante o periodo de evolução das pustulas, 5 dias geral- mente, é quasi que impossivel evitar a contaminação fecal do campo vaccinado do vitello (região thoraco-abdominal). E antes da colheita, por maiores que sejam os cuidados (lavagens repetidas com agua esterilizada, sabão e escova e agua esterilizada pura, por fim) é razoavel acreditar-se na persistência dessa contaminação da polpa, principalmente por elementos, como o bacteriophago, por ventura existente nas fezes do vitello. Isto porque a existência deste princi- pio, quando verificada em culturas e em condições que não falam muito a favor da hypothese invocada por d’Hérelle - de um virus autonomo parasita das bacté- rias, - tem sido explicada pela contaminação por este "virus’’ cujo habitat prin- cipal é o intestino do homem e dos animaes e que é dotado de grande ubiquidade, capaz de atravessar a parede intestinal e infectar os orgams (razão porque pode ser encontrado em productos de origem organica, no sangue, em exudatos etc.) e existente nas aguas dos rios, nos esgotos, na terra, c em tudo que fôr suscep- tível de soffrer, directa ou indircctamente, a contaminação fecal. O modo de acção de princípios lyticos porventura existentes nas polpas vac- cinicas, nos daria indicações valiosas para o conhecimento de sua natureza e origem. Como pesquisas preliminares procurámos verificar a existência do bacterio- phago no conteúdo intestinal dos vitellos normaes c vaccinados. Resumiremos, a seguir estes resultados, apezar de já publicados alhures. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomcno de d’Hcrelle 29 Capitulo I O bacteriophago no intestino dos vitellos normaes e vaccinados E' relativamente facil a verificação da presença do bacteriophago no intes- tino do homem e dos animaes normaes. No homem, essa presença se assignala desde o 4.° dia após o nascimento (Vedrenne, Suranyi et Kramer), coincidindo com o apparecimento da flora microbiana. Nos indivíduos normaes, geralmente o principio lytico tem preferencia para o bacillo coli, hospede habitual do intes- tino, podendo aquelle principio agir também sobre outros germes, saprophytas e pathogenos, para os quaes o conteúdo intestinal se toma um habitat favoravel. Entre os germes pathogenos a acção tem-se estudado principalmente em rela- ção aos bacillos dysentericos, typhico, paratyphicos, etc. Nos animaes e aves, a acção do phago existente no conteúdo intestinal se exerce mais facilmente sobre os dysentericos, typhicos e paratyphicos (d-Hérelle). Nas verificações feitas em 6 bovinos, d'Hórcl!c nos mostra os resultados seguintes: no l.°, vivendo numa fazenda onde havia typhose aviaria, encontrou um bacteriophago para o bacillo dyscnterico Hiss (-j — j — [-) c bacillo gallinarum (+) 1 no 2.°, nas mesmas condições o phago encontrado mostrou-se activo para o bacillo coli 1-), dyscnterico Shiga (-; — f-)» Flexner (+), Hiss (+) c gal- linarum (-f- J-) ; no 3.°, vivendo cm região indemne de doenças cpizooticas, o phago mostrou-se activo para o bacillo coli (+), Shiga (+- J-) e Flexner (+-f); no 4.°, nas condições do anterior, para o Shiga (-j — p) somente; no 5.°, para o coli (-f-f), Shiga (-F4-+), Flexner (-f-f), Hiss (-f) c paratyphico B (-f-f); e no 6.°, o phago existente mostrou-se activo para o coli (-}-) e Flexner (+)• O autor diz possuir, alem destes, outros 42 exemplos comparáveis. Suas verifi- cações foram feitas sobre o b. coli, b. dysentericos (typos Shiga, Flexner c Hiss), b. typhico e paratyphicos A e B. b. do "barbonc” e b. gallinarum. Verificações feitas em vitellos não são assignaladas por d‘Hércllc e outros. Nossas pesquisas foram feitas em 8 vitellos normaes do serviço de vaccina animal do Instituto, n’um dos quaes a verificação foi repetida com material ob- tido 24 horas após a vaccinaçáo, depois da polpa ter sido colhida e, mais tarde, com o material retirado directamente do recto, por occasião da necropsia do vitcllo. A verificação da acção do principio lytico foi feita em relação aos germes do grupo coli-typhico-dysenterico e a estaphylococcos isolados de polpas vacci- nicas, ou de origem humana. Em virtude dos resultados já assignalados por outros autores, referentes á acção dos phagos isolados do conteúdo intestinal dos animaes e suas preferencias para os germes do grupo coli-typhico-dysenterico, e também pelos nossos resul- tados nos 8 animaes examinados, julgamos desnecessário, para o fim que tinha- mos em vista, augmentar o numero de verificações. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 30 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Tcchnica adoptada Com uma espatula esterilizada retiram-se cerca de 20 grs. de fezes recen- temente emittidas pelo vitello, escolhendo-se uma parte central e que não tenha soffrido contacto com o exterior e colloca-se n’uma placa esterilizada. Em se- guida, este material é introduzido n’um balão contendo 100 c.c. de caldo commum e levado para a estufa a 37°, onde se conserva durante 24 horas. No fim deste tempo, o caldo turvo com a cultura obtida é filtrado em papel grosso, fino e por fim em vela Chamberland L5, sob uma pressão negativa de 30 a 40 cm. de mercúrio. Com o filtrado obtido, fazem-se as verificações da sua acção lytica em re- lação ás differentes especies microbianas. Para avaliar, até certo limite, a acti- vidade do principio lytico, porventura existente no filtrado, para cada typ° micro- biano, tomamos 4 tubos com 9 c.c. de caldo commum (reacção pH«=*7,6). No !.• collocamos I gotta do filtrado; no 2.°, 10 gottas; no 3.°, 2 c.c., e no 4.”, teste- munha, não é collocado o filtrado. Em seguida, juntamos para cada tubo 1 c.c. de cultura em caldo, de 18 a 24 horas, da especie microbiana a ser verificada. Os tubos são agitados, apresentando-se, conforme o germe usado, mais ou menos opalescentes; depois, são levados para a estufa a 37°. Após 24 horas, faz-se a verificação dos resultados, observando-se o aspecto das culturas comparativamente ao tubo testemunha. Neste tubo, testemunha, costumamos semear uma alça apenas da cultura, em vez de 1 c.c. como nos outros 3 tubos da verificação propriamente; desta forma é muito grande a differcnça de quantidade de germes no tubo testemunha e nos com o filtrado e mais evidente se mostrará a acção deste sobre a emulsão micro- biana; também se saberá se o meio é bastante favoravel para o germe em apreço, partindo-se de menor quantidade de semente ou se é lysogeno, facto que melhor pode ser evidenciado nestas condições. Uma vez verificado o resultado no caldo (turvação ou dissolução mais ou menos completa), retira-se de cada tubo uma alça carregada e passa-se em estria, sobre um tubo com gelose inclinada, que receberá o numero correspondente. Os tubos de gelose são levados e conservados na estufa a 37® durante outras 24 horas, depois do que se verifica a existência, ao longo da estria praticada, de colonias atypicas, influenciadas pelo bacteriophago e que são características do phenomeno de d'Hérelle. Depois desta verificação em meio solido é que se pode ter ideia da existência ou não de um phago na cultura, pois muitas vezes, embora turvo o meio liquido, só esta verificação põe em evidencia a existência do principio lytico. Quando este é muito activo, além da dissolução dos germes no caldo, não se observa desenvolvimento de colonias. mesmo atypicas. na estria em gelose, no tubo cor- respondente a f gotta do filtrado; quando de actividade pequena, no tubo com 2 cc. do filtrado e turvo em caldo, se verificam na gelose raras "plages" ou raras franjas características. Entre estes 2 extremos vèem-se os aspectos decorrentes cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Q U A I) H O J. L. Monteiro — Phenomeno de d’Hérelle 31 II. Coll couiniu- nlor 13 0 o o o o + o o o o 2 U- = = 2 o o o c o o o o o o II. para- lyphlco 11-3 = o o o o o o o o c o -■H. • s * < O o o o o o o o o o o O -|| “* “< o o o o o o o o o o o * b >* C *3 M P4 . b -r o T + o o + + -f + + + + + + 4 . T o * « -I! 2 %r. O + + + o + o + o o o - 1 - JZ . S-w 5 s O o o o o o o o o o o f i Z ° u cri JS C. N O o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o "ÕL — - — • ã s o o o o o o o o o o o £ c. n ** ~ - " o o o o o o o o o o o JE r tu o o o o o o o o o c o JS a - P' c o o o o o o o o o o la ã 5 o o o o o o o o o o o JS _ & n P o o o o o o o o o o o P o o o o o o o o o o o N.o do vltello 00 S s s o r** r* h* 35 I e H • .r « =“ JS s« if — " 2 — m If íji *3 <• tn > — «1 7 SciELO 11 12 13 14 32 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V das diversas actividades e proporções do bacteriophago por ventura existente. No tubo testemunha, a estria em gelose deve ter sempre o aspecto de uma cul- tura normal. Resultados. Os resultados verificados com o material de 8 vitellos estão resumidos no quadro annexo. A actividade assignalada no quadro é a correspondente ao 2.° tubo, com 10 gottas do filtrado, após a verificação em gelose. Os signaes significam: -f: cultura ao longo da estria em gelose, notando-se raras zonas claras e co- lônias atypicas; -j — idem, observando-se numerosas zonas claras e colonias atypicas; -j — i — {- : cultura interrompida ao longo da estria, com largos espaços claros com colonias atypicas; H — I — i — {- : estria quasi toda clara, observando-se apenas raras colonias aty- picas, influenciadas; — | — J — j — J- : não se observa colonia alguma, ficando toda a estria clara e o meio com apparencia de esteril; 0: cultura em estria, de aspecto normal, semelhante ao tubo testemunha. Os typos microbianos sobre os quaes foi pesquisada a acção dos filtrados foram representados por germes do grupo coli-typhico-dysenterico (b. dysenterico Shiga 980, da collecção, e Flexner 2, b. typhico Amparo, b. paratyphico A 145, b. paratyphico B 3, b. coli communis 14 e coli communior 13) e coccos (estaphyl. 45E1, 45E2, 45E3, 46EI, 46E2, 46E3, 38EI, 38E2, isolados de polpas vaccinicas e estaphyl. Sta. Casa 1 e M.C., de origem humana). Destes resultados experimentaes verifica-se que, n'um dos vitellos, o de n. # 54, antes de ser vaccinado, isto é, no estado normal, se encontra no conteúdo intestinal um principio lytico cuja actividade se manifesta unicamente para o ba- cillo dysenterico, typo Flexner 2 da collecção. Realizámos 2 passagens em serie sobre este typo microbiano e, embora a exaltação do principio lytico não se accen- tuasse muito, apresenta elle todos os característicos do bacteriophago. Este vitello foi escarificado na região thoraco-abdominal com o virus vaccinico, para o serviço de vaccina animal e 24 horas depois é de novo pesquisado o bacteriophago nas fezes. Encontra-se um principio idêntico ao verificado anteriormente. Após 10 dias da vaccinação e 5 da colheita da polpa, a pesquisa é repetida e o resultado ainda é idêntico, parecendo, porém, ter havido uma diminuição da actividade do phago em relação ao germe. Por fim, 15 dias após a vaccinação e 10 da colheita da polpa, o animal é sacrificado, por exigencia do serviço de vaccina. Durante 8 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phcnomcno de d'Hérelle 33 a necropsia, é feita a colheita do material directamente do recto, depois de sec- cionada a parede intestinal, com todos os cuidados de asepsia. Neste material, com a mesma technica já descripta, se nota agora que o principio lytico existente deixa de agir sobre o b. dysenterico Flexner 2, para agir sobre o b. dysenterico Shiga 980, embora sua actividade não seja muito accentuada. Nos outros vitellos normaes, apenas com uma excepção, se encontram prin- cípios lyticos que agem sobre germes pertencentes ao grupo coli-typho-dysente- rico, de preferencia para os typos Shiga e Flexner. Em nenhum foi encontrado um bacteriophago que agisse sobre os coccos, quer isolados de polpas vaccinas, quer de origem humana. Quanto ao numero de especies microbianas estudadas, pode-se allegar talvez que, se maior fosse o numero de typos de coccos (estaphylococcos, micrococcos, etc.), possível seria encontrar algum sobre o qual a influencia se manifestaria. No entanto, o numero de representantes do grupo coli-typhico-dysenterico foi ainda mais reduzido do que o de coccos e mesmo assim um ou outro typo daquelle grupo, e ás vezes mais de um, se mostrou influenciado pelo phago exis- tente no conteúdo intestinal do animal. A polpa vaccinica do vitello 18, recebe o numero 4538; do vitello 31, o numero 4545; do vitello 54, o numero 4568 e do vitello 55, o numero 4569. Nestas polpas, assim como em outras em differentes períodos de permanência no frigo, são feitas pesquisas relativas á presença do bacteriophago e sua acção, e os resultados serão dados a seguir. Capitulo II O bacteriophago nas polpas vaccinicas glvccrinadas Veremos agora os resultados obtidos com as pesquisas praticadas nas polpas vaccinicas glycerinadas, cm differentes períodos de permanência no frigo de -5* a -8°C., algumas provenientes de vitellos cm cujas fezes esta verificação havia também sido feita. Technica adoptada. A polpa vaccinica, depois de colhida e pesada, é geralmente addicionada de 3 a 4 partes do seu peso de glycerina pura, neutra (Schering). Depois de emul- sionada com uma espatula é collocada no apparelho triturador, onde soffre uma primeira trituração grossa que toma mais intimo o contacto da glycerina; em seguida, a polpa é levada para um apparelho ‘‘frigo" onde é mantida n‘uma tempe- ratura que oscilla entre -5 o e -8'C. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 34 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Para a pesquisa do bacteriophago na polpa vaccinica tomamos I c.c. da emul- são glycerinada e semeamos em 100 c.c. de caldo commum. Incubação a 37° durante 24 ou 48 horas (* (•*) ). No fim deste tempo o caldo apresenta-se turvo em virtude do desenvolvi- mento dos germes contidos na polpa semeada; a cultura é filtrada em papel e em vela Chamberland L2 ou L5, sob pressão negativa de 30 a 40 cm. de mercúrio. Com o filtrado fazem-se as verificações da sua acção lytica em relação a culturas recentes das differentes especies microbianas. Para cada germe tomam-se 4 tubos com 9 c.c. de caldo commum (pH=»7,6) ; no l.°, colloca-se 1 gotta de filtrado, no 2.°, 10 gottas, no 3.°, 2 c.c. e no 4.°, que servirá de testemunha, não se junta o filtrado. Addiciona-se em seguida, 1 c.c. da emulsão microbiana (cultura em caldo de 18 a 24 horas). Os tubos são agi- tados e levados para a estufa a 37°, durante 24 horas. No tubo testemunha costumamos também semear apenas 1 alça da cultura em caldo, em vez de 1 cc. como nos outros 3, sendo, por isso, considerável a differença de quantidade de germes nestes em relação áquelle. Esta technica tem a vantagem de mais seguramente evidenciar a possível acção lytica do fil- trado; mostra também se o meio é favoravel ao desenvolvimento da cultura, partindo de menor porção de germes e dá ainda indicações sobre se a cultura é ou não lysogena, facto que assim melhor se revela. Verificado o resultado no caldo, uma alça carregada de cada tubo é passada cm estria sobre a gelose inclinada em outro tubo que receberá o numero corres- pondente. Os tubos de gelose são levados para a estufa a 37° durante 24 horas, verifi- cando-se então o aspecto da cultura desenvolvida ao largo da estria (aspecto nor- mal, existência de "plages” ou zonas claras, colonias atypicas, influenciadas, etc.) e que nos dará informações sobre a existência e actividade do principio, de ac- cordo com as varias proporções do filtrado ajuntado em relação ao germe cm apreço. Só depois desta verificação cm meio solido é que se pode ter uma ideia da existência ou não de um phago na cultura, pois muitas vezes, embora turvo o caldo, é ella que vem evidenciar o phenomeno. Parte experimental. 1. Polpa n .* 4569 (proveniente do vitello 55 (•*), semeada immediatamente após a colheita e addição de glycerina e de ter soffrido uma primeira trituração grossa. (•) N'uma polpa semeada em baláo que permaneceu 10 dias a 37*, verificámos o mesmo resultado observado após 48 horas apenas. (•*) Antes da colheita da polpa, após a lavagem, havendo reacção inflammatoria local um pouco intensa, faz-se agir, sobre a zona vaccinada, uma solução de verde bri- lhante a 1 : 50.000, durante 10 minutos. O corante é eliminado por varias lavagens com agua esterilizada e o campo ó enxuto, procedendo-se a colheita. SciELO 11 12 13 14 15 10 J. L. Monteiro — Phenomeno de d’Hérelle 35 A acção lytica do filtrado da cultura é verificada em relação aos germes abaixo assignalados, sendo o resultado indicado observado no tubo onde se addi- cionaram 10 gottas do filtrado: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45EI L L -4- ri- -F ri- 45E2 T 0 45E3 T 0 46E1 T 0 4-5E2 T 0 46E3 T 0 38E1 T 0 38E2 T 0 47E1 T 0 B. dys. Shiga SPO T 0 B. dys. Flexner 2 T 0 B. tvphico Amparo T 0 B. paratyphico A 145 ... . T 0 B. paratyphico B 3 T 0 B. coli communis 14 .... T 0 B. coli communior 13 ... • T 0 Os signaes com que assignalamos os resultados com 10 gottas do filtrado (2.® tubo) têm a seguinte significação: T - turvaçáo (como no tubo testemunha) ; L - lyse ou dissolução apenas perceptível; LL - lyse ou dissolução incompleta; LLL - lyse ou dissolução completa. + • cultura ao longo da estria, notando-sc raras zonas claras e colonias atypicas; ri — f- - idem, observando-se numerosas zonas claras e colonias atypicas; ri--rri- - cultura interrompida ao longo da estria, com largos %spaços claros com colonias atypicas; ri — ! — j — f- - estria quasi toda clara, observando-se apenas raras colonias aty- picas influenciadas; -fri— f -fri- - não se observa colonia alguma, ficando toda a estria clara e o meio com a apparencia de esteril; 0 - cultura em estria, de aspecto normal, semelhante ao tubo testemunha. Esta polpa é proveniente do vitello n.® 55 em cujo conteúdo intestinal se encontrou um bacteriophago activo (-* — r) para o bacillo dysenterico Flexner 2. II cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 36 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Verifica-se, pelo resultado acima, que ella possue, depois de emulsionada em glycerina e antes de ter permanecido no frigo, um principio lytico que age sobre um dos typos de estaphylococcos empregados (estaphl. 45E1), não tendo acção sobre os outros e sobre os germes do grupo coli-typhico-dysenterico. II. Polpa n.° 4545 (proveniente do vitello 31). Colheita, addição de gly- cerina, primeira trituração grossa e collocação no frigo em 21/5/928. Parte da cultura é filtrada após 48 horas e o restante após 10 dias de per- manência a 37°. Resultado da acção do filtrado da cultura de 4S horas: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphvl. 45E1 T 0 45E2 T 0 45E3 T 4- 4- 4ÔE1 T 0 46E2 T 0 46E3 LLL *+■ 4“ + + ., Sta. Casa i (*) . . . T 0 B. dys. Shiga 980 T 0 B. dys. Flexner 2 T 0 B. typhico Amparo T 0 B. paratyphico A 145 . . . . T 0 B. paratyphico B 3 T 0 B. coli communis 14 .... T 0 B. coli communior 13 ... . T 0 Esta polpa provém do vitello n.° 31 em cujo conteúdo intestinal foi verificada a presença de um bacteriophago para o bacillo dysenterico Shiga 980 (-r++)- Pelo resultado acima vè-se que ella contém um bacteriophago activo para 2 dos typos de . estaphylococcos verificados (45E3, isolado desta própria polpa e 46E3) para o qual a actividade é maior, não mostrando acção sobre os outros, mesmo d’ella também isolados (45E1 e 45E2), nem sobre os germes do grupo coli-typhico-dysenterico. Os 3 tubos da verificação sobre o estaphylococcos 46E3 são filtrados e, fa- zendo-se 3 passagens em serie sobre este germe, nota-se a exaltação da activi- dade do filtrado após cada passagem. O resultado da actividade após a primeira passagem pode ser verificado pela photographia da fig. 1. (•) De origem humana. 12 SciELO 11 12 13 14 15 J. L. Monteiro — Phenomeno de d’HéreUe 37 Resultado da acção do filtrado da cultura após 10 dias de estufa a 37°: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45E1 T 0 „ 45E2 T 0 „ 45E3 T -r + „ 46E1 T 0 „ 46E2 T 0 „ 4»iE3 T -r + + „ Sta. Casa 1 (•) . . . T 0 B. dys. Shiga 980 T 0 B. dys. Flexner 2 T 0 B. typhico Amparo T 0 B. paratyphico A 145 . . . . T 0 B. paratyphico B 3 T 0 B. coli communis 14 .... T 0 B. coli communior 13 ... . T 0 Verifica-se assim que, após 10 dias, o principio lytico existente é semelhante ao observado após 48 horas, parecendo apenas que sua actividade tenha dimi- nuído um pouco. Com este phago realizamos também 3 passagens sobre o estaph. 46E3, sendo que sua exaltação, após as passagens, foi menos accentuada do que com o fil- trado de 48 horas. III. Polpa n.° 4568 (proveniente do vitello 54). Colheita, addiçáo de gly- cerina, primeira trituração grossa e coJlocaçáo no frigo em 17/7/928. Semeada para a pesquisa do bactcriophago após 2 mezes de permanência no frigo. Verificação da acção lytica do filtrado da cultura após 24 horas. No conteúdo intestinal do vitello 54 que forneceu esta polpa foram feitas varias verificações quanto á presença do bacteriophago cm relação aos mesmos germes do grupo coli-typhico-dys. e alguns dos estaphylococcos agora verificados. Antes da vaccinaçáo do vitello, verificou-se a presença de um principio ly- tico para o b. dysenterico Flexner 2, somente; principio lytico idêntico verifica-se 24 horas e 10 dias após a vaccinaçáo (actividade menor agora), ao passo que, 15 dias após a vaccinaçáo, este principio passa a agir sobre o b. dysenterico Shiga 980. (•) De origem humana. 13 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 38 Memórias do Instituto Butaman — Tomo V Typos microbianos sobre os quaes foi verificada a acção e resultado obtido: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45E1 .... T + T »» 45E2 . . . . T 0 45E3 . . . . L 4" -r -r + *» 46E1 .... T 0 r* 46E2 .... T 0 46E3 . . . . L + + + + r* 38E1 .... T 0 38E2 . . . . T -f 47E1 .... T 0 52E1 .... T 0 56E1 .... T 0 »* Sta. Casa 1 • T 0 M. C. * . . T 0 97 [•) . . . T 0 98 *) . . . T 0 »* 152 • . . . T 0 M 153 •) . . . T 4- 4- M 184 [*) . . . T 0 B. dysenterico Shiga 980 T 0 B. dys. Flexner . . . * T 0 B. typhico Amparo . . T 0 B. paratyphico A 145 . T 0 B. paratyphico B 3 . . . T 0 B. coli communis 14 . T 0 B. coli communior 13 . T 0 Pelo quadro acima vè-sc que, após 2 mezes de permanência no frigo, na polpa proveniente deste vitello, não se constata a presença de phago para esses germes e sim para vários dos estaphylococcos examinados, um dellcs de origem humana (var. citrcus , de um caso de furunculose) . IV. Polpa n.° 4538 (proveniente do vitello 18). Colheita, addição de gly- cerina, primeira trituração grossa e collocação no frigo em 20/3/928. Semeada em caldo na proporção de 1 por 100, para pesquisa do bacterio- phago, após 3 mezes e 20 dias. Cultura a 37° durante 48 horas. (•) Isolados de casos diversos de origem humana. 14 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomeno de d'Hérelle 39 Resultado da verificação da acção lytica do filtrado sobre differentes typos microbianos: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45E1 L + 4-4- „ 45E2 L 4-4-4- „ 45E3 LL 4-4-4- „ 46E1 L 4-4- 46E2 T + ., 46E3 L LL t -h 38EI T 0 38E2 LL + * (••) r + -f „ Sta. Casa 1 • . T 0 B. dys. Shiga 980. . . . T 0 B. dys. Flexner 2. . . . T 0 B. typhico Amparo . . . T 0 B. paratyphico A 145 . . T 0 B. paratyphico B 3 . . . T 0 B. coli communis 14. . . T 0 B. coli communior 13 . . T 1 No conteúdo intestinal do vitello 18, que forneceu esta polpa foi verificada a presença de um bacteriophago activo para o b. dyscnterico FIcxncr 2 (++). Vè-se que na polpa glyccrinada, colhida deste vitello, após ter permanecido mais de 3 mezes a -8°C-, não se constata phago para os germes do grupo coli- typhico-dysenterico, mas sim para diversos estaphylococcos empregados, com cx- cepção de 2 apenas (um, typo Sta. Casa, isolado de um caso de phlcgmào da coxa e outro typo 38E1, isolado da própria polpa). Os outros typos de estaphy- lococcos são oriundos de polpas vaccinicas, sendo o 38E2 da polpa homologa (••). As photographias das figuras 2, 3 c 4 mostram os resultados obtidos com o principio lytico da polpa n.” 4538 cm relação aos estaphylococcos sobre os quaes mostrou acção, sendo apenas vistos os resultados da verificação cm gelose nos tubos aos quaes se juntaram, respectivamente, 10 gottas e 2 c.c. do filtrado, com- parativamente com o tubo testemunha. V. Polpa n.“ 4512 colhida em 27 9 927. Depois de submettida ás diversas phases do preparo, soffreu a 2.* trituração fina. tamisação e extraeção do excesso (•) De origem humana. (••) Os numeros dados aos estaphylococcos isolados de polpas correspondem aos dois algarismos finaes da polpa donde provém, sendo os seus dois primeiros algarismos 0 numero 45. Assim o estaphylococco 38E1 provem da polpa n.* 4538; o cstaphylococco 45E| provem da polpa 4545 e assim por diante. 15 40 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V de ar, sendo conservada no frigo, para experiencias sobre o tempo de duração da actividade do vinis. Em 27/8/928, isto é. 1 1 mezes após a permanência no frigo, é semeada na proporção de I c.c. de polpa para 100 de caldo commum, para a pesquisa do bac- teriophago. Incubação a 37° durante 48 horas; filtração em Chamberland L2 e verificação da acção lytica do filtrado sobre os germes constantes do quadro abaixo, com os respectivos resultados: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45E1 . . . L 0 ,. 45E2. . . T 0 „ 45E3 . . . L + + + „ 46E1. . . T 0 46E2. . . T 0 ,. 46E3 . . . T + + „ 38E1 . . . T 0 „ 38E2 . . . T 0 „ 47E1 . . . T + 52E1 . . . T 0 „ 56E1. . . T 0 Sta. Casa 1 (•) L 0 ,. M. C. (•' . LLL T + T + „ 97 (•) . . T 0 „ 98 (•) . . T 0 „ 152 <•) . . T 0 „ 153 (•) . . LL ++ + „ 184 (•) . . T + -r B. dys. Shiga 980. . T 0 B. dys. Flexner 2. . T 0 B. typhico Amparo . T 0 B. paratyphico A 145 T 0 B. paratyphico B 3 . T 0 B. coli communis 14 T 0 B. coli communior 13 T 0 Verifica-se assim que, mesmo após quasi 1 anno de permanência a -8°C, nesta polpa, apenas com a cultura de pequena quantidade em caldo durante 43 horas e filtração, se evidencia um principio lytico capaz de agir sobre culturas recentes de diversos typos de estaphylococcos, vários de origem humana, o qual não manifesta acção sobre germes do grupo coli-typhico-dysenterico. A activi- dade da polpa vaccinica 4512, verificado mais ou menos nesta occasião (18/8/28), segundo o methodo de Gins, dá uma reacção positiva (J — [-) até a diluição de (*) (*) De origem humana. 16 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomeno de d'Hirelle 41 I 10.000. O numero de germes por c.c. de polpa bruta glycerinada (portanto, não diluída; é de 120.000. No quadro acima observa-se que, ás vezes, pela simples inspecção do resul- tado em caldo pode-se pensar na dissolução, lyse, das bactérias e que é indis- pensável, para se ter a certeza da acção bacteriophagica, proceder-se a verifi- cação em gelose. VI. Polpa n.° 4545 (2.* verificação) após 110 dias de permanência no frigo. Os resultados da verificação da acção Iytica do filtrado constam do quadro seguinte: Cultura de Resultado no caldo Verificação em gelose Estaphyl. 45E1 T + + „ 45E2 T 0 „ 45E3 T + + + 46E1 T 0 „ 46E2 T 0 „ 46E3 T 0 „ 38EI T 0 „ 38E2 T + + 47EI T 0 „ 52E1 T 0 „ 56EI T 0 „ Sta. Casa 1 (•) . . . T 0 M. C. (*) T 0 n 97 (•) T 0 » 98 (*) I T 0 152 (•» ] T 0 „ 153 f) T 0 184 (•) T 0 B. dys. Shiga 980 T 0 B. dys. Flcxner 2 | T 0 B. typhico Amparo T 0 B. para typhico A 145 . . . T 0 B. paratyphico B 3 T 0 B. coli communis 14 T 0 B. coli communior 13 ... . | T 0 Esta polpa é proveniente de um vitello cm cujo conteúdo intestinal se evi- denciou um bacteriophago para o b. dysenterico Shiga 980 (-f~f-f). No fim dc 16 dias de permanência no frigo a acção do phago n'ella existente está indicada na expcricncia II. Agora, depois de 110 dias dc permanência a -8°C, esta acção differe um pouco da verificada n'aquella occasiáo, como se pode ver comparando 05 2 resultados. Com 16 dias, actua sobre os typos 45E3 (isolado da própria (•) De origem humana. 17 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 42 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V polpa) e 46E3; com 110 dias, age sobre os typos 45E1 e 45E3 (isolados da pró- pria polpa) e sobre o 38E2. Em ambas as occasiões, agiu sobre o estaphylococ- co 45E3; com 16 dias, deixou de agir sobre o 45E1 e com 110 dias deixou de ter acção sobre o estaphylococco 46E3. Este facto é interessante e mostra que modificações do meio, operadas du- rante o periodo de permanência no frigo, devem ter influído na elaboração e mo- dificação da actividade do principio da lyse transmissível. Antes de passar á discussão destes resultados experimentaes, devemos dizer que todos os germes empregados nestas experiencias soffreram, antes da sua utilização, numerosas repicagens em caldo commum e gelose inclinada, dando sempre culturas de aspecto normal. Sómente 2 typos se mostravam lysogenos e foram logo eliminados das verificações: um de origem humana (Estaphyl. 183) e outro isolado de uma polpa vaccinica (Estaphyl. 52E2). Capitulo III Discussão e considerações sobre a natureza do phenomeno Verificamos, nas pesquisas preliminares, que no conteúdo intestinal dos vi- tellos normaes se encontra um bacteriophago que age sobre germes do grupo co- li-typhico-dysenterico e que em nenhuma occasião manifestou acção sobre os coccos (estaphylococcos). Vemos agora que, nas polpas vaccinicas glycerinadas, em differentes períodos de permanência no frigo (de 16 dias e II mezes) e mes- mo immediatamente após a colheita e addiçáo de glycerina, se evidencia facil- mente, pela technica que descrevemos, a presença de princípios lyticos que so- mente agem sobre os estaphylococcos e que em nenhuma occasião manifesta- ram acção sobre os germes do grupo coli-typhico-dysenterico, mesmo quando as polpas de onde foram isolados eram provenientes de vitellos em cujo conteúdo intestinal haviamos previamente verificado a presença de um bacteriophago pa- ra germes deste ultimo grupo. Acceitando-sc a hypothesc de d'Hérelle, é muito razoavel, como assignalá- mos no inicio deste trabalho, pensar-se n'uma contaminação fecal da polpa vac- cinica, onde se deveria encontrar um protobio semelhante ao existente no con- teúdo intestinal do vitello. Mesmo na hypothese de uma adaptação do virus ao novo meio (impossível pela experiencia I), a natureza de um organismo preformado e parasita, como quer d'Hérelle, não pode receber o apoio destes nossos resultados experimentaes. Sabemos que quanto mais simples é o ser vivo, maior é a sua faculdade de adaptação e, como consequência, maior a sua variabilidade. Segundo d’Hérclle, 18 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomeno de d’HérelIe 43 o bacteriophago ( Protobio bacteriophagus, syn. Bactcriophagum intestinalc) pos- sue estes attributos. alem de outros que sáo apanagio dos seres vivos. Nesta hy- pothese, podendo adaptar-se ao novo meio (polpa glycerinada) e agir sobre ger- mes nelle contidos, o "vírus” nào deveria perder seus caracteres originaes, quan- do em condições propicias. Por isto, em contacto novamente com germes do gru- po coli-typhico-dysenterico, para os quaes agia antes desta adaptação a germes de natureza differente (estaphylococcos), deveria evidenciar sua acção primitiva. Acceitando-se a possibilidade de uma contaminação fecal, sempre tão facil e lembrada em estudos sobre o bacteriophago, devemos admittir então que este "virus", proveniente do intestino do vitello, se tenha inactivado ou morrido na polpa vaccinica glycerinada, mesmo na recemcolhida, surgindo outro de natureza e modo de acção differentes. E’ evidente a existência de uma certa relação entre o bacteriophago isolado e os germes existentes no meio, quer normalmente, quer sob determinadas cir- cunstancias, e na sua elaboração a influencia da flora microbiana é incontestá- vel, não sendo dcsrazoavel acreditar-se no papel da concorrência vital entre as varias especies e outras "influencias”, tanto do meio, como dos germes. Nestas condições, se poderia considerar o "virus" bacteriophago como um elemento oriundo dos proprios germes, cuja formação seria provocada por “in- fluencias” que se encontram no conteúdo intestinal dos animaes, na polpa vacci- nica glycerinada. na agua dos rios, nos esgotos, na terra, etc., onde este principio lytico tem sido verificado. Se os resultados experimentaes assignalados não autorizam, por si sõs, esta dedueçáo sobre a natureza do phenomeno, parece-nos ser cila pcrfcitamcntc ac- ccitavel tendo-se em conta também os trabalhos experimentaes de grande nume- ro de autores. N'uma revisão da já vasta bibliographia sobre a bacteriophagia c das dif- ferentes hypotheses propostas para a explicação do phenomeno, um facto rcsalta quasi sempre: as características vitaes do principio lytico, postas cm evidencia principalmcnte por d'Hérelle. Por outro lado. se recordarmos os estudos sobre o metabolismo bactcriano, tanto no organismo animal, como in vitro, sobre as mutações que podem soffrcr as bactérias em differentes condições, sobre o phenomeno da dissociação micro- biana. tão bem estudado por P. Hadlcy, se juntarmos a todos estes estudos os do nosso eminente patrício Antonio Fontes, sobre as phases da evolução do ba- cillo de Koch e sobre o cyclo vital das bactérias c tantos outros, veremos quão complexa é a cyclogcnia bacteriana c qual a importância que devem merecer cm nossos dias novos capitulos da bacteriologia relacionados com a biologia dos micro-organismos. O phenomeno da bacteriophagia ou da Iyse transmissível deve ser também collocado entre os que se relacionam com a biologia microbiana. Das differentes theorias propostas para a explicação do phenomeno de d’Hérellc, as chamadas Mtogcnas, isto é, para as quaes o principio lytico é oriundo da própria cellula 19 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 44 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V bacteriana e theorias defendidas, sob differentes modalidades, por Twort, Ka- beshima, Bordet, Ciuca e Renau, Wollman etc., tomaram em nossos dias a theo- ria parasitaria de difficil sustentação. Juntem-se a isso os trabalhos de Bumet, verificando uma coordenação en- tre a capacidade de absorpção de agglutininas de certos microorganismos e o que se poderia chamar sua capacidade de absorpção phagica, falando a favor de uma independencia biologica das partículas bacteriophagicas em contradicçào com a uni- dade biologica da theoria de d’Hérelle; também em contraposição a esta unidade biologica, a descoberta de Koser relativa a um bacteriophago para uma especie thermophila, agindo a uma temperatura que destroe a maioria dos germes não esporulados e a de Elder e Tanner, com o seu bacteriophago psychophilico, agin- do na temperatura de 4°C. Estes factos e muitos outros que poderiam ser citados, mostram que o ba- cteriophago está em relação com a cultura onde se desenvolve, e por isto, com a flora microbiana, como assignalamos em nosso trabalho. As pesquisas, referentes á presença do bacteriophago em culturas de dif- ferentes germes, de Bail, Otto e Munter, Lemos Monteiro e outros; as de Hadley, Klimak e Kiescwetter, mostrando que o agente lytico pode ser gerado n’um tubo de caldo unicamente por uma serie de culturas e filtrações successivas; as de Bõguet, sobre a influencia da variação da pressão osmotica entre as colloides microbianas e do meio, tendo-se em conta os phenomenos de adsorpção e ten- são superficial, na elaboração phenomeno lytico, etc., todas cilas apoiam esse modo de ver. A cellula microbiana não deve mais ser considerada como uma unidade vital, mas sim constituída por um conjuncto de unidades vitaes que, para certos ger- mes e sob certas condições ou "influencias", se multiplicariam neste estado pri- mordial, invisível, da matéria viva. Nestas condições, poder-se-ia admittir a hy- pothesc de que a bacteriophagia seria a manifestação da multiplicação destas formas invisíveis do proprio germe, assim surgindo sob certas condições c capa- zes, quando em contacto com formas normacs c visíveis, de transmittir a estas a mesma propriedade. A relação existente entre o bacteriophago especifico e a cultura onde se desenvolve, suggerindo que o protoplasmo do agente se continua com o da cel- lula microbiana, serviu a Hadley para formular sua interessante theoria para a explicação do phenomeno. Segundo esta theoria, que Hadley denomina de "ho- mogamica da acção bactcriophagica", ambos os elementos, principio lytico e bacté- ria sensivel, são componentes necessários a um mechanismo de reproducção que muitas, senão todas, as bactérias possuem. Em summa, as controvérsias existentes sobre o assumpto não repousam no reconhecimento de factos estabelecidos, mas na sua interpretação e não dimi- nuem o valor do incomparável trabalho de d'Hérelle. 20 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomeno de d’Hérelle 45 CONCLUSÕES I. No conteúdo intestinal de vitellos normaes encontra-se quasi sempre um bacteriophago, cuja acçáo se manifesta para germes do grupo coli-typhico-dysen- terico. II. A acção deste principio lytico em nenhuma occasião se manifestou so- bre os coccos (estaphylococcos), quer isolados de polpas vaccinicas, quer de ori- gem humana. III. Nas polpas vaccinicas glycerinadas mantidas a -8°C. desde alguns dias até quasi um anno, encontra-se um “bacteriophago” cuja acção se manifesta pa- ra os coccos (estaphylococcos), quer isolados de polpas vaccinicas, quer de ori- gem humana. IV. Em nenhuma occasião sua acção se manifestou sobre germes do grupo coli-typhico-dysenterico, mesmo quando a polpa vaccinica é oriunda de vitello em cujo intestino se encontra um principio lytico agindo sobre germes deste grupo. V. E’ evidente a existência de uma relação entre o principio lytico isolado c a flora microbiana predominante do meio. RESUMO J. Lemos Monteiro (Instituto Rutantan. Sào Paulo). — Sobre o phenomeno de d'Hérelle. O hartrriophacn na« pol- pas \arriniras gtyrerinada*; considerações sobre a natureza do phenomeno. O autor fez a pesquisa de princípios lyticos com os caractcristicos do bacte- riophago nas polpas vaccinicas glycerinadas em differentes períodos de perma- nência do frigo a -8"C (de II dias a quasi I anno), indicando a tcchnica de que se serviu. Muitas das polpas verificadas eram oriundas de vitellos em cujo conteúdo intestinal idênticas pesquisas haviam sido feitas e são também descriptas. A acção dos phagos existentes nas polpas glycerinadas foi verificada cm re- lação a germes do grupo coli-typhico-dysenterico c a differentes amostras de cs- taphylococcos. Ao contrario do que acontece com o principio lytico existente nas fezes do v 'teIlo, o verificado nas polpas vaccinicas glycerinadas manifesta acção sobre os estaphylococcos e em nenhuma occasião sobre os germes do grupo coli-typhico- dysenterico, mesmo na recem-colhida. Sabe-se como é difficil, impossível mesmo, por maiores que sejam os cui- dados, evitar a contaminação fecal do campo vaccinado do vitello. Pela hypothc- 21 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 46 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V se de d’Hérelle para a explicação do phenomeno, isto é, de um "virus” parasita das bactérias, este elemento existente no conteúdo intestinal do vitello deveria ser encontrado nas polpas vaccinicas e agir sobre os mesmos germes para os quaes agia anteriormente. Isto também porque, segundo os defensores desta theo- ria parasitaria, o bacteriophago é dotado de grande ubiquidade, podendo ser en- contrado em tudo que fòr capaz de soffrer directa ou indirectamente a contami- nação fecal. O A. verificou que assim não acontece; o bacteriophago encontrado nas polpas vaccinicas sempre mostrou acção sobre os estaphylococcos, isolado de polpas ou de origem humana, e em nenhuma occasião agiu sobre os germes do grupo coli-typhico-dysenterico, mesmo quando oriundas de vitellos em cujo con- teúdo intestinal havia verificado a existência de principio Iytico para germes deste ultimo grupo. Em virtude dos resultados experimentaes deste e de outros traba- lhos e dos de numerosos experimentadores, o A. mostra uma hypothese que lhe parece razoavel para a explicação de tão interessante phenomeno, que conside- ra ligado á biologia e cyclogenia microbianas. ABSTRACT Lytic principies bearing bacteriophage characteristics werc found in the glyccrin-vaccin lymph as kcpt in the ice-box at -8°C for a period varying from 1 1 days to I year. Several batches of the lymph werc obtaincd from calves on whose intestinal contcnts the scarch for the bacteriophage was also made, in both cases the action of the phage being investigatcd in regard to staphylococci and gcrms of the coli-typhoid-dysentery group. The lytic principie found in the vaccin lymph, evcn from a reccnt batch, acts on staphylococci but not on the coli-typhoid-dysentery group, whilst that found in the faeces of calves shows a reverse action. It is known how difficult it is to avoid fecal contamination of the vaccinated region of a calf in spitc of any precautions that may be taken in this regard. Should the phage be acceptcd as a parasite of bactéria, in the light of d’Hércllc's explanation, then the clement found in the calfs intestinal content ought to be also found in the vaccin lymph and thus keep its original lytic action on the germs under the same conditions, inasmuch as, in the light of that theory, the bacteriophage is quite ubiquitous, as it uses to occur in any object or place liable of contamination by faeces. This. however, is not the case since the phage found in the vaccin lymph always shows its action on staphylococci of any origin. whilst it never acts on germs of the coli-typhoid-dysentery group even though the lymph proceeds from calves in whose faeces the lytic principie for the latter germs has been found. The phenomenon seems rather to be related to a special fcature of the bactéria cycle life. 22 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L. Monteiro — Phenomeno de d'Hérelle 47 REFERENCIAS Béguet — Arch. Insr. Pasteur d'Algéri e V(l):25.1927. Iturnel (F. M.) — British J. Exp. Path. VIII: 121. 1927. Eldcr ( A . L.) and Tanner (F. M'.) — J. Inf. Diseascs XLIII(5) :40J. 1928. Fontes (/4.) _ Mem. Inst. Oswaldo Cru i XVIII ( I) . 1925. Gratia (^.) _ p r0 c. Exp. Biol. & Mcd. XVIII :2I7. 1921 — C. R. Soc. Biologic LXXXV: 25.1921. Hadley (P.) _ j. i nf . Diseascs XL(1).1927 — Ib. XLII(4) . 1928. Ucrellc (P. d’) — Lc bactériophagc ct son comportcmcnr. 2èmc. édilion, 1926. Hérelle et Eliawa — C. R. Soc. Biologic LXXXV :70l . 1921. Koser ( S .) — J. Inf. Diseases XLI(5) :365. 1927. Twort — Lancet 11:124.1915. 23 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. L Monteiro — Phenomeno de d‘Hérelle Men» Inst. ButantAO Vo i. V. 1930 SciELO 11 12 13 14 J. L. jMonteiro — Phenomeno dc d'Hêrelle Mem. tiut. Butantin Vol. V. 1930 SciELO 11 12 13 14 15 ESTUDOS SOBRE A FEBRE AMARELLA MODERNOS CONHECIMENTOS SOBRE A INFECÇÃO EXPERIMENTAL POR J. LEMOS MONTEIRO (Con 44 trcphicei t IO grararat no Itxte) SciELO 11 12 13 14 15 16 17 SUMMARIO Introducção. Cap. I • O virus da febre amarella. I - Animes sensíveis á infecção. II - Virus americano. Parle experimental. III - Vinis africano. Parte experimental. IV - Identidade dos virus africano e rmericano. V - Conservação e propriedades do virus da febre amarella. 1. * - Contensão e inoculação de Macacus rhrstis. 2. ® - Conservação do virus ia luttara. 3. * - Conservação do virus secco. 4. ° - Resistência do virus. 5. * - Resistência á acção de antisépticos sob certas condições. 6. * - Filtrabilidadc do virus. 7. ® - Passagem do virus através da pcllc. VI - Virus neurotropico c sensibilidade do camondongo. Cap. II . Transmissores e vehiculadores do virus araarillico. I - Transmissão pelo /irdes aegypti. II - Transmissão por outros mosquitos além do Aêdes aegypti. III - Transmissão pelas feres de Aêdes infectados. IV' - Possibilidade da passagem do virus de mosquito a mosquito e infecção do /ledes macho. V' • Experiências com percevejos. Transmissão do virus da febre amarella pelas fezes de percevejos, Cimex lectuUrius, infectados. VI . Possibilidade da existência de depositários do virus amarillico entre os animaes domésticos, a) experiências com o cachorro; b ) experiên- cias com os gatos. Cap. III . Anatomia e histologia pathologiea da febre amarella experimental. Cap. IV - Immunologia na febre amarella. I • Vaccina amarilliea. 1. ® - Technica de Hindle. 2. ® - Technica de Aragão. 3. ® • Vaccina chloroformada. II - Sõro anti-amarillico. III - Diagnostico da febre amarella. 1. ® - Desvio do complemento. 2. ® - Diminuição da alexina. 3. ® • Modificações da coagulação sanguinca. 4. ® - Reacção de agglutinação não especifica. Cap. V - Associações microbianas e biotropismo de certos microorganismos no de- curso da febre amarella humana e experimental. I - Considerações geracs. II - Bacillas hepalo-dyitrophicans Kuczynski. III - Verificações de Costa Cruz sobre o germe de Kuczynski. IV - Pesquisas de microorganismos no sangue de Macacos rhesus infectados com o virus amarillico e de outros animaes inoculados. 1. ® - Corynebaeterium R44s. 2. ® - Corynebaeterium Cls. Resumo e conclusões geraes. Bibliographia. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 ESTUDOS SOBRE A FEBRE AMARELLA MODERNOS CONHECIMENTOS SOBRE A INFECÇÃO EXPERIMENTAL POR J. LEMOS MONTEIRO INTRODUCÇÀO A protobiologia, assim podendo denominar-se o ramo da bacteriologia que estuda os virus chamados filtráveis, vem, nestes últimos annos, alargando consi- deravelmente os seus horizontes. Embora o conceito da filtrabilidade deva ser encarado de um modo relativo, grande tem sido o progresso obtido no conhecimento desses elementos filtráveis, responsáveis por numerosas infecções, tanto dos animaes, como dos vegetaes. Isto se deve ás contribuições surgidas cm differentes paizes e que se iniciaram, prin- cipalmente, em 1908, depois dos trabalhos de Landstciner c Popper sobre a polio- niyelite, quando estes pesquisadores conseguiram infectar macacos com emulsão de medulla de um caso humano c demonstraram a natureza filtravel do virus; esses trabalhos foram confirmados mais tarde por Flcxner e Lcwis. Continuaram «s contribuições sobre o assumpto com os trabalhos de Rous sobre o sarcoma da gallinha e sua natureza filtravel; os de Flcxner e Noguchi ainda sobre a polio- myclite; os de Rocha Lima e os de Noguchi sobre a verruga peruana e febre de Oroya; os de Straus e Loewe e os de Levaditi, Harvicr e Nicolau sobre a cncc- phalite epidemica; os de McKinlcy c Holden, mostrando a identidade do virus da enccphalite com o do herpes; os de d’Hcrelle. sobre o bactcriophago, dando origem a numerosas e valiosas contribuições, c, finalmentc, culminaram em nossos dias, com os estudos de Stokes, Baucr c Hudson sobre a febre amarclla. Por todos estes trabalhos e outros que poderiam ser lembrados, assim como pelas contribuições a que deram origem, a technica do estudo dos virus vem-sc aperfeiçoando sob o ponto de vista experimental. Grande numero de virus 6 já, com relativa facilidade, manejado c conservado nos laboratorios e, assim, são estudadas suas propriedades, sua pathogenicidade e as reacções que provoca cm organismos sensíveis. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 5-1 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Embora a natureza destes protobios continue ainda no terreno das hypothe- ses, não devemos estar muito longe de vel-a elucidada, sendo possível que então sejam modificadas muitas das nossas theorias fundamentaes da vida e da evo- lução (McKinley). No que diz respeito a febre amarella, o descobrimento do seu agente etiolo- gico de ha muito vem pondo á prova a dedicação e perspicácia dos experimen- tadores. Como causa do terrível typho amarillico, tem sido incriminado grande numero de microorganismos, de natureza diversa, que, apenas por momentos, preoccu- param a attençáo e interesse dos estudiosos. Todos, desde o Cryptococcus xanthogenicus, de Domingos Freire, até a Lep - tospira icteroides, de Noguchi, tèm tido vida ephemera, não podendo manter-se, deante de novos factos experimentaes, no pedestal a que foram elevados pelos seus descobridores e enthusiastas dos primeiros tempos. Com a febre amarella é justo attribuir-se o facto, em grande parte, a não ter sido conhecido, até ha pouco, um animal de laboratorío sensível ao mal e que, inoculado e infectado, revelasse lesões histo-pathologicas semelhantes ás que se encontram na doença humana. Isto somente aconteceu em fins de 1927, quando Stokes, Bauer e Hudson, membros da commissào americana que estudava a febre amarella na África, pu- blicaram os resultados das suas investigações. A estes scientistas devemos, não somente o conhecimento da sensibilidade de certos simios asiaticos ( Macacus rhesus e sinicus ) á infecção, quando inoculados com sangue de doentes ou picados por mosquitos (Acdes aegypti) infectados, como também a demonstração da fil- trabilidade do agente etiologico quando no sangue dos animaes infectados (*). Já assignalámos cm outra occasiáo que, na historia da febre amarella, os dois factos culminantes por suas consequências praticas, foram a descoberta do egente transmissor da infecção e a de um animal de laboratorío sensível ao virus. A theoria da transmissibilidade da febre amarella por meio do mosquito, for- mulada em 1881, por Carlos J. Finlay, comprovada experimentalmente, alguns (*) Este facto não diminue o valor dos trabalhos dos investigadores anteriores e principalmente os do mallogrado sabio japonez, os quaes tão justa repercussão alcan- çaram. Em publicação mais recente, Sawyer, Kitchen, Frobisher e Lloyd assignalaram, entre os casos diagnosticados como febre amarella na ultima epidemia do Rio de Ja- neiro, a presença da icterícia leptospirica (doença de Weil ) , comprovada pelo isola- mento da Leptospira por Müller e Tilden, do sangue de dois doentes e pela demons- tração que aquelles autores fizeram do poder protector do sòro de duas pessoas, positivo em relação á Leptospira e negativo em relação ao virus amarillico. A Leptospira icte- roides, isolada por Noguchi, cuja identidade com a Leptospira ictero-hemorrhagiae é hoje geralmente acceita, não seria, segundo esses autores, um simples agente secundário no decurso da febre amarella. mas responsável por uma forma de icterícia infectuosa cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiho — Febre amarella experimentai 55 annos depois, por Walter Reed. James Carrol, Jesse Lazear e Aristide Agramonte, e já sustentada entre nós por E. Ribas, A. Lutz. P. Barreto e pela commissáo do Instituto Pasteur. forneceu bases solidas e scientificas á verdadeira prophylaxia do mal, tomando possíveis e victoriosas as memoráveis campanhas de Gorgas, Emilio Ribas, Oswaldo Cruz e, ainda recentemente, a de Clementino Fraga. O descobrimento feito por Stokes, Bauer e Hudson. da sensibilidade do ma- caco asiatico, Macacus rhesus, ao mal, collocou a febre amarella no dominio ver- dadeiramente experimental, trazendo-nos também a esperança de que seja com- pletamente dominada em futuro não remoto. A administração sanitaria do Estado, mantendo as suas tradições na defesa da saúde publica, facilitou ao Instituto Butantan todo o material e installaçôes necessárias para que, durante o ultimo surto de febre amarella na Capital Fe- deral, fosse o problema estudado entre nós, não só quanto ao seu lado pratico, relativo ao estudo e preparo da vaccina preventiva e do sôro curativo, como quanto ao seu aspecto scientifico, á luz dos recentes trabalhos da commissáo americana na África. Para este fim foram cncommendados 100 exemplares dc Macacus rhesus, cuja primeira remessa chegou ao Instituto em fevereiro de 1929. Destes animacs, em virtude de mortes occorridas durante a viagem, ou por outros motivos, somente foram aproveitados 82. Posteriormente, em princípios do corrente anno, recebemos uma nova partida dc 25 macacos utilizáveis. Os que estão familiarizados com os estudos expcrimcntaes da febre amarella, hão de reconhecer quão reduzido é este numero dc animacs para as pesquisas sobre tão importante problema, onde cada verificação nos apresenta novos as- P«ctos. particularidades outras, carecedoras também de investigação e capazes de mostrar sem demora differentes faces a desafiar solução, sendo por isso neces- sários abundantes animaes de experimentação e numerosos investigadores espe- cializados. (doença de Veil), muitas vezes fatal e cujo apparecimento pode coincidir com o da febre amarella typica. de que cm geral não se distingue clinicamentc. Entre nós. Toledo Piza e L. Salles Comes conseguiram diagnosticar a doença de Veil em dois casos, um dos quaes, considerado suspeito de febre amarella, teve o diag- nostico confirmado retrospectivamente pela pesquisa da leptospira cm material (rim) conservado da necropsia. Assim sendo, as verificações de Noguchi passam a ter certa importância epidemio- logica, pois que, em futuras epidemias suspeitas de febre amarella, a existência das duas formas de icterícia, uma devida ao virus da febre amarella e outra á Leptospira, deverá ser tomada em consideração, somente a primeira exigindo as medidas de pro- phylaxia em relação aos mosquitos. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 56 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V' Com o presente trabalho mostraremos os resultados experimentaes a que chegamos, estudando o problema sob alguns dos seus aspectos, com os Macacus rhesus importados pelo Instituto. Faremos sobre os pontos de maior interesse uma resenha do que se conhece sobre a febre amarella experimental, encarada á luz das modernas acquisições, c mostraremos, de preferencia, os resultados e as deducções das nossas pesquisas pessoaes realizadas no Butantan e que, em parte, serviram de assumpto a tra- balhos já publicados e de communicações á 4.* Conferencia Sul-Americana de Microbiologia, Hygiene e Pathologia (reunida no Rio de Janeiro em julho de 1929), á Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo e á Sociedade de Biologia de S. Paulo. No final indicaremos a bibliographia das principaes contribuições referentes á febre amarella. principalmente sob o ponto de vista experimental, além daquellas sobre as quaes fizemos referendas no decorrer do nosso trabalho, e isto com o intuito de servir aos estudiosos que se interessarem pelo problema. Capitulo 1 O vinis da febre amarella 1 - Animaes sensíveis á infecção O trabalho fundamental, que assignala uma nova phase no estudo da febre amarella foi publicado em 28 de janeiro de 1928 no "Journal of the American Medicai Association" por Stokes, Bauer e Hudson, sob o titulo "The transmission of yellow fever to Macacus rhesus. Prcliminary note". Pouco depois, em março, os mesmos autores publicam sobre seus estudos no "American Journal of Tropical Medicine”, um trabalho mais pormenorizado e intitulado “Experimental trans- mission of yellow fever to laboratory animais”. Estas contribuições, ao par do seu valor historico e scientifico e da impor- tância de suas consequências praticas, nos trazem também á lembrança o nome de um dos seus autores, Adrían Stokes, morto de infecção amarillica, contra- hida durante as experiencias em seu laboratorio, em Lagos. A sciencia e a hu- manidade deploram ainda a morte dos eminentes scientistas H. Noguchi, W. A. Young e P. A. Lewis, também victimados pela febre amarella, no decurso de trabalhos experimentaes. Stokes, Bauer e Hudson, membros da Fundação Rockefcller, no desempenho de sua commissão para o estudo da febre amarella na África Occidental, ini- ciaram os trabalhos numa epidemia em Larteh, na Costa de Ouro. Inocularam 6 Macacus sinicus (maio de 1927) com sangue de doentes. Cinco dos animaes tiveram febre e morreram e um não apresentou signaes de infecção. 8 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 57 Sub-inoculações foram praticadas em tres outros macacos da mesma especie, dos quaes dois tiveram apenas febre e o terceiro mostrou-se refractario. Mais tarde (junho de 1927), fizeram experiencias com outro macaco asiatico, o Macacus rhesus, verificando que era muito sensivel. Um rhcsus, inoculado com sangue de um caso benigno, morreu em 5 dias, mostrando-se positivas também as sub-inoculações. Conseguiram, com esta especie, 30 passagens da infecção de macaco a macaco pela inoculação do sangue ou do sôro. Com uma excepçáo apenas, a infecção foi sempre fatal. Ao mesmo tempo. 22 outros rhesus foram infectados, sendo transmittida a infecção de um a outro animal, por meio de picadas de Aêdes aegypti. Os mosquitos, depois de picarem os rhesus no l.° ou 2* dia de febre, tornavam-se infectantes cm seguida a um certo periodo de incu- bação (que os autores verificaram não chegar até o 16.® dia) c assim perma- neciam emquanto tinham vida. Verificaram que o chimpanzé e outros macacos africanos, assim como as co- baias e outros animaes de Iaboratorio, eram refractarios á infecção. A primeira confirmação destes resultados experimentaes devemos a Mathis, Sellards e Laigret, que conseguiram transmittir a febre amarella ao Macacus rhesus, por meio da picada de um Acdcs infectado, ou pela inoculação de sangue de um caso benigno occorrido em Dakar, na pessoa de um syrio de 17 annos. O vinis, assim isolado, foi mantido na África, por passagens de macaco a macaco, por Sellards e Hindlc durante tres mezes e transportado á Europa. A conferencia sobre a febre amarella reunida cm Dakar (23 de abril a I dc tnaio de 1928). sob a oresidencia dc Lasnct. encareceu, entre outros pontos importantes, a sensibilidade do Macacus rhesus á febre amarella. Com o apparecimcnto dos primeiros casos de febre amarella no Rio dc Ja- neiro. Henrique Aragáo, do Instituto Oswaldo Cruz, apresentou, na sessão dc 19 de junho dc 1928, da Sociedade dc Medicina c Cirurgia do Rio de Janeiro, os pri- meiros resultados dc suas verificações, confirmando os trabalhos americanos, mos- trando a sensibilidade do Macacus rhesus ao viras responsável pelo surto epidê- mico do Rio de Janeiro (viras americano) c verificando lambem a sensibilidade do Macacus cynomolgus. Nestes primeiros ensaios, o pesquisador patricio inoculou tres rhesus com sangue de doentes: dois com sangue do 2.® para o 3.® dia c o terceiro com sangue do 3.® para o 4.® dia da infecção. Nenhum se infectou. Inoculou depois um Ma- cacos rhesus e um Macacus cynomolgus com sangue de um caso benigno, colhido do I.® para o 2.® dia da doença. Ambos morreram; o primeiro no 5.® dia e o outro no 7.° dia após a inoculação. Os symptomas e as verificações histo-patho- logicas confirmavam a infecção amarillica dos animaes, c eram semelhantes ás observadas na África. Em relação ao viras americano, a sensibilidade do Macacus rhesus foi ainda confirmada entre nós por A. Marques da Cunha e Julio Muniz. no Rio; por N. C. Davis e A. VT. Burke, na Bahia, e por nós. cm S. Paulo. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 58 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V O virus responsável pela febre atnarella na África e representado por suas duas principaes amostras, isoladas respectivamente por Stokes, Bauer e Hudson e por Mathis, Sellards e Laigret, tem sido estudado, não só naquelle continente, como também na Europa e na America. A sensibilidade dos rhesus tem recebido confirmação, entre outros, com os trabalhos de A. W. Sellards e E. Hindle; A. Pettit, G. Stefanopoulo e C. Aguessy; A. Pettit, G. Stefanopoulo e C. Kolochine; E. Marchoux; J. E. Dinger; os dos experimentadores do Instituto Rockefeller, em Nova York e na Bahia; os de H. Aragáo, Marques da Cunha e Julio Muniz, no Rio, e os nossos, em S. Paulo. Consideram-se ainda sensíveis ao virus amarillico o Macacus sinicus e tam- bém, de accordo com novos trabalhos de Davis e Shannon, um simio sul-ameri- cano, o Cebus macrocephalus, embora os rhesus, pela sua maior sensibilidade, continuem a ser os animaes preferidos para os estudos experimentaes. Davis também conseguiu infectar o Saimiri sciureus com o virus amarillico, tanto pela inoculação de sangue, como pela picada de mosquitos infectados. Alguns dos ani- maes morrem e apresentam lesões, inclusive necrose hepatica, parecidas com as da infecção humana e experimental do rhesus. Verificou a possibilidade do virus passar também pelo Ateleus ater, embora não se verifique necrose no figado dos animaes sacrificados. Quanto ao Lagothrix lagotrica, de 12 exemplares estudados, somente 3 reagiram com elevação de temperatura á inoculação do virus. Apenas em um caso conseguiu transferir novamente o virus para o rhesus. Os sôros destes animaes experimentados manifestam uma acção protectora em relação ao virus amarillico. Pesquisando a sensibilidade de quatro differentes especies de macacos afri- canos ( Cercopithecus tantalus, Cercocebus torquatus, Erythroccbus patas e Cer- copithecus mora), Bauer e Mahaffy verificaram que os animaes não succumbiam á infecção, embora pudessem conservar o virus durante um certo numero de dias, transmittindo-o mesmo aos mosquitos (conforme experiencias com os dois pri- meiros) que infectariam o rhesus, ou apenas pela inoculação do sangue como com o Erythrocebus patas. Com o Cercopithecus mora não conseguiram a rein- fecçáo nem mesmo pela injecçào de sangue. Theiler publicou seus resultados experimentaes, segundo os quaes os camon- dongos brancos são susceptíveis ao virus da febre amarella, que pode ser trans- mittido indefinidamente do cerebro de um camondongo infectado a um camon- dongo normal. Confirmámos os trabalhos de Theiler sobre ser o virus amarillico neurotropico para o camondongo como relataremos, opportunamente, em capitulo especial. Estudando a possibilidade de depositários do virus amarillico entre os ani- maes domésticos, verificámos que gatos inoculados manifestam, ás vezes, sympto- mas pelos quaes se poderia crer na sua sensibilidade (reacção febril depois de certo periodo de incubação, tristeza, inappetencia. phenomenos de paresia, etc.), embora não succumbissem á infecção. Durante o periodo febril, o virus do gato poude ser transmittido ao rhesus, determinando neste uma typica infecção amarillica. 10 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiro — Febre arxirella experimental 59 Embora não possamos ainda affirmar. com segurança, que os gatos sejam sensíveis ao virus, todavia procuraremos mostrar os resultados experimentaes obtidos sobre este caso particular, quando tratarmos especialmente dos deposi- tários de virus. Os resultados que alcançámos com o gato, assim como os obtidos com o cão, mostram que, mesmo em animaes morphologicamente afastados do .Macacus, o virus pode persistir durante um certo numero de dias, como acontece cm generos mais proximos ( Cercopithecus , Cercocebus, Erythtoccbus) , como vimos acima, á luz das observações de Bauer e Mahaffy. Pelas verificações dos que trabalharam com os dois virus, africano e ame- ricano, é evidente, principalmente pelas experiencias de immunidadc cruzada e pelas lesões histo-pathologicas observadas nos animaes, a identidade dos dois virus, embora se apresentem differenças no seu comportamento em relação á infecção experimental. Faremos, por isto, um estudo separado do comportamento experimental desses virus, cm relação ao .Macacas rhesus, mostrando de preferencia os resultados da nossa observação pessoal. II • Virus americano E’ esta denominação que se tem applicado ao virus responsável pela febre amarella no Brasil, onde tem sido estudado com cuidado. Como vimos, esse virus foi primeiro isolado e estudado por H. Aragão, que verificou ser menos pathogeno para o .Macacus rhesus que o virus isolado na África. Aragão posteriormente inoculou sangue de 21 doentes de febre amarella cm 26 .Macacas rhesus c um Macacus cynomolgus. Cinco dos doentes já ultra- passavam as 72 horas da infecção e os resultados da inoculação foram negativos. Com os 16 macacos restantes os resultados foram variaveis: 4 tiveram infecção mortal, noutros a inoculação foi seguida de symptomas febris mais ou menos ty- picos, que os immunizaram cm relação a posterior injccçào do virus. Alguns succumbiram, quando injcctados com a nova dose. Em um caso, o sangue colhido 36 horas apõs o inicio da febre de um doente (que falleccu) c injcctado cm ma- caco cm 2 dias seguidos, causou a morte do animal, cmquanto que o sangue co- lhido desse mesmo doente apenas depois de 10 horas do inicio da febre c inocu- lado noutro macaco, produziu somente oscillaçáo febril atypica, de que resultou, cm todo caso. immunidadc em relação a nova inoculação do virus. As 4 infecções mortaes cm macacos, foram devidas á injecção de sangue oriundo, cm tres, de casos benignos e, numa somente, de um caso grave fatal. Aragão verificou também a sensibilidade do .Macacus speciosus, inoculado com emulsão de fígado de um rhesus infectado com o virus americano e assig- nalou que a infecção experimental não é sempre mortal com este virus, que pode mais facilmente ser isolado de casos benignos da doença. II cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 60 Memórias do Instituto Butactan — Tomo V Marques da Cunha e Julio Muniz, estudando também o virus americano, fi- zeram verificações interessantes. Um Macacus rhesus que inocularam com sangue do 2.” dia de um caso benigno, morreu no fim de 12 dias, com symptomas e lesões histo-pathologicas typicas. Um segundo macaco, inoculado com material deste, foi sacrificado no 8.° dia, apresentando temperatura sub-normal e symptomas da infecção; pelo exame histo-pathologico, porém, não se verificou traço de necrose no figado, degeneração gordurosa ou infiltração polymorphonuclear. Outro, ino- culado com material do segundo rhesus, apresentou de novo symptomas e lesões typicas. Os autores fizeram 8 passagens, e assignalaram que, para se saber si o ani- mal apresentava ou não febre, era necessário que se conhecesse previamente a temperatura normal de cada um, visto que esta apresenta grande variação indi- vidual. Observaram que rhesus inoculados com material que continha segura- mente o virus, conforme verificação feita por meio de passagens, e sacrificados antes da queda final da temperatura, podiam não apresentar as lesões caracte- rísticas no figado, pelo que, muitas vezes, seria difficil reconhecer o virus brasi- leiro apenas pelo exame desse orgam. Notaram ainda estes autores o facto, por nós também verificado, de que a infecção apresentava algumas vezes uma incu- bação longa, de 10 dias, e que outras vezes os rhesus succumbiam sem apresentar nenhuma elevação da temperatura. Davis e Burke, estudando o virus americano, na Bahia, accentuaram que elle exigia o cuidado especial de manutenção por passagens de macaco a macaco, necessitando-se para isto de abundancia de animaes. Este comportamento do virus americano, sua menor pathogenicidade para o Macacus rhesus em relação ao virus africano e a evolução atypica que ás vezes determina, pudemos verificar com a amostra que conseguimos isolar em S. Paulo, de um doente vindo do Rio de Janeiro já em periodo de incubação do mal, e in- ternado para observação no Hospital do Isolamento, onde teve o 1.® dia de febre, podendo assim ser acompanhado durante toda a evolução. 1’arte experimental. O caso assim estudado foi o de um húngaro que viera de um fóco então existente no Rio de Janeiro, acompanhando uma sua irmã doente que depois fal- leceu de febre amarella no Hospital do Isolamento desta Capital. Foi elle internado, para observação e para os effeitos de vigilância, no dia 1 -II- 1 929. Tratava-se do doente n.° 41, 1. C, de 40 annos, branco. Nos dois primeiros dias de observação no hospital apresentou temperatura e pulso normaes. Em 3-1 1- 1 929, pela madrugada a temperatura se elevou, continuando a infecção cli- nicamente característica e fallecendo o doente na manhã de 12-11-1929. O sangue deste doente, colhido no 1.® dia da febre, foi-nos immcdiatamente remettido pelo medico interno do hospital, dr. J. de Toledo Piza, e conservado em nosso laboratorio num frigo “Nizer” na temperatura 8®C. abaixo de 0. 12 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monieibo — Febre amarella experimental 61 Esteve assim congelado durante 18 dias até a chegada dos nossos primeiros Macacas rhcsus (Fig. 1). Recebemos diariamente sangue deste doente, sendo que com o colhido nos tres primeiros dias de febre foram inoculados os macacos, cujas observações são em seguida resumidas: Macacas rhesas N.® 1 <19291 Graphico 1 I.* - Macacus rhcsus 1. Inoculado com 2 cc. de sangue, via sub-cutanea. do dia do doente 41, em 21*11-1929. O graphico 1 mostra a evolução da infecção deste macaco: depois de S dias, a temperatura attingiu 40*. voltando ao normal no dia seguinte, e apresentando. 13 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 62 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V consecutivamente, ascensão para 40" .2 e queda brusca, até que, em 6-III-29, ama- nheceu com a temperatura de 35° ,5 e com os symptomas da infecção amarillica experimental (Fig. 2). Na manhã desse dia, o animal foi sacrificado, 13 dias de- pois da inoculação. A verificação histo-pathologica confirmou a infecção. Uma emulsão de figado foi inoculada no rhesas 8. 2. ° - Macacus rhcsus 2. Inoculado por via peritoneal em 21-11-1929 com 1 cc. de sangue do 1.® dia do mesmo doente. Durante muitos dias de observação, o rhesus não denotou symptomas typicos, embora, em certos dias, sua temperatura tivesse attingido 40", parecendo pois, ter resistido á infecção. Em 27-111-1929 foi inoculado com o vinis africano activo (2 cc. de sangue do rhcsus 9), tendo resistido também a esta inoculação, conforme se evidenciou durante um longo periodo de observação. O rhesus 2, embora não tenha tido uma infecção monal como consequência da inoculação do sangue do doente, mostrou-se immunizado em relação a nova inoculação do virus africano. 3. ° - Macacus rhcsus 3. Inoculado em 21-11-1929 com 2 cc. de sangue, injec- ção subcutânea, do 2.° dia de febre do mesmo doente. Não apresentou symptomas clinicos que denunciassem a infecção, pelo que em 27-111-1929 foi inoculado com o virus africano (2 cc. de sangue do rhcsus 9). Como consequência desta 2.* ino- culação, verificou-se uma infecção característica, de que resultou a morte do rhesus no 7.® dia. Assim, pois, a inoculação primitiva não determinou infecção, nem mesmo ligeira como no rhcsus 2, nem a consequente immunidade em relação ao virus africano. 4. ® - Macacus rhesus 4. Inoculado em 21-II-I929, por via peritoneal, com 2 cc. de sangue, colhido no 2.® dia de febre do mesmo doente, não apresentou reac- ção febril ou signaes clinicos característicos; em 27-1 II- 1929 foi inoculado com o virus africano (2 cc. de sangue do rhesus 9). Como consequência desta inoculação o rhesus apresentou, 6 dias depois, reacçào febril, que perdurou durante tres dias, para voltar á media normal, resistindo o animal durante uma observação de vários meses. O graphico 2, mostra a curva thermica deste rhesus como consequência das inoculações recebidas, até depois do primeiro mês de observação.- 5. ® - Macacus rhesus õ. Inoculado em 1 -II 1-1929 com 3 cc. de sangue do 3.® dia addicionado com o restante de sangue dos 1.® e 2.® dias de febre do mesmo doente. O sangue dos 3 primeiros dias, pois, foi misturado em 10 cc. de agua physiologica e inoculado no peritoneo do macaco. A temperatura do rhesus attingiu algumas vezes a 40° mas não mostrou a curva característica da infecção. No fim de 22 dias da inoculação apresentou-se triste, com symptomas que faziam suspeitar a infecção e a temperatura começou 14 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 Macjfui rhtiui ( 1028) 64 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V a descer (graphico 3). Amanheceu morto na gaiola na noite de 25 para 26-111- 1929, ou 25 dias depois da inoculação. Pela necropsia, os organs (figado principalmente) apresentam o aspecto que se costuma observar na infecção experimental. 6.° - Macacus rhesus 8. Inoculado em 7-1II-1929 com emulsão de figado do Macacus rhesus 1, para nova passagem do virus americano (S. Paulo). Macacus rhesus N.* 5 (1929) T 44 *c 43* 42* 40* 39 • 33 • 37 * 36 • 3Õ» 34 • Ut_ JJ_ .1 Graphico 3 Ao ser inoculado o rhesus, em virtude de se ter debatido muito para a cap- tura, apresentou 39", 6. No dia seguinte a temperatura foi de 38° e 38°, 5, assim se mantendo no 3." dia; no 4.” dia, á tarde, subiu a 39°, 4, depois desceu e se man- teve em media normal ou pouco abaixo. Em 18-111-1929 desceu a 37® para se elevar no dia seguinte a 38®; em 20-111-1929 começou a descer, accentuando-se esse declínio em 21-111-1929, quando chegou a 35® á tarde (graphico 4), apre- sentando o animal os symptomas característicos da infecção. Estava então triste, não se alimentando e mal podendo supportar-se em pé. Este estado accentuou-se (Fig. 3), sendo o animal sacrificado e necropsiado. Pela necropsia se verificou 16 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 65 o aspecto semelhante ao observado na infecção experimental, o que foi confir- mado pelo exame histo-pathologico. Um pedaço de figado deste animal foi emulsionado e inoculado no rhesus 14 para nova passagem do nosso virus. Macacas rhesus N.* 8 (1929) 7.* - Macacus rhesus 14. Inoculado em 21-111-1929 com emulsão de figado do rhesus 8. No 3.® dia após a inoculação, a temperatura subiu além de 40®, attin- gindo 41* na tarde do dia immediato. .Manteve-se em ascensão alguns dias, com oscillações tendentes a voltar dias após i media mais ou menos normal, como se y ê no graphico 5. tomado durante um mês de observação. 17 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 66 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V No fim de mais de 2 meses, mantendo-se a temperatura sempre na media normal, o macaco foi inoculado, em 30-V-1929, com o vinis africano. Como con- sequência desta inoculação, a temperatura não se alterou da media normal, resis- tindo o animal e mostrando-se, pois, immunizado em relação a este vinis activo. Em virtude deste comportamento do vinis americano, que estudámos, resol- vémos não insistir nas passagens em macacos, visto não ser muito elevado o numero dos que podíamos dispôr, necessários para outras pesquisas que tínhamos em vista realizar com o vinis africano, para o qual os rhesus se mostravam mais sensíveis. Isto estava de accordo com as observações feitas no Rio de Janeiro e na Bahia, em viras isolados nesses logares. Macacus rhesus N.* 14 (1929) Craphico 5 111 • Vírus africano Foi isolado pela primeira vez por Stokes, Bauer e Hudson e depois por Ma- this, Sellards e Laigret, constituindo essas duas amostras as principacs com que se vem realizando a grande maioria dos estudos experimentaes a respeito da febre amarclla. O comportamento experimental destas duas amostras é idêntico: vêm sendo mantidas, por passagens successivas de macaco a macaco, nos differentes labora- tórios que se têm occupado do assumpto. Como é sabido, o virus (sangue ou 18 J. Lê-mos Monteiro — Febre amarella experimental 67 fígado), secco e mantido em cenas condições, retem sua actividade por vários meses e assim o seu estudo e conservação se tornam mais fáceis e economicos. Em relação á virulência do virus, não se observa uma relação entre a infec- ção humana c a do macaco. O virus africano, que se mostra tão infcctante para o macaco, foi isolado de um caso benigno de infecção humana; o mesmo facto verificou Aragão em re- lação ao virus americano. .Macaca* rhesas N.® 6 (1929) .Macacas rhesas N.® 9 (19291 MtS tLu-í.0 T-44 * c 43' X 42' 41 40' 39' 38' 37 « 38 ' 33* 1£L BT-IB rfR 'V3ME3 ir- ■■■■■■ ■ n :■■■■■■ iti i i ii ll **'1 = 1 IMF ii IA £ Ti Craphico A DJOl. do virus, no sangue ou no figado dos rhesas infectados, varia sob a influencia de causas numerosas, ainda não perfeitamente estabelecidas, entre as quacs sobresae a questão da receptividade, condicionada por factores indivi- duaes. Stokes, Baucr e Hudson conseguiram infectar macacos com 0,00001 cc. 19 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 68 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V de sangue e, em algumas experiencias, Hindle obteve infecção com 0,000001 gr. de figado infectante. A marcha seguida pela infecção resultante das amostras do virus africano já é bem conhecida; a inoculação delias no macaco rhesus determina a infecção em prazos mais ou menos longos, e apresenta a característica evolução clinica. Assim é que se observa geralmente, após a inoculação, um período de incubação que dura de 2 a 6 dias, quando a temperatura sóbe além de 40', permanece ele- Macacas rhesus N.* 12 (1929) Macacus rhesus N.® 16 (1929) vtl Março . T.= 44 • c 43< 42* 41* 40* 39.® 38* 37* 36." 35 • 34 • .• 1L J± . Craphico 9 vada entre I e 4 dias, cahindo depois bruscamente. Occorrem então o collapso e a morte do animal. Quando elle resiste á infecção, restabelecendo-se, a tempe- ratura, em vez de declinar para a sub-normal, desce apenas até a media normal e ahi se mantém. 20 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos .Monteiro — Febre amarella experimental 69 .Mostraremos, a seguir, os resultados das inoculações feitas por nós com o vírus africano, e que melhor poderão ser verificados pelos graphicos inclusos neste trabalho. Parte experimental. A amostra que estudámos, da raça Asibi, isolada em Lagos, Nigéria, é pro- veniente do Instituto Rockefeller de Nova York c foi-nos cedida pelo dr. Henrique i Macacas rhesus N.* 38 (1929) Macacas rhesus N.* 26 (1929) /Vagão, do Instituto Oswaldo Crux. O material que nos forneceu este distincto mestre c amigo consistiu cm sangue e figado seccos, conservados no vacuo, cm baixa temperatura, e por clle colhidos do seu rhesus 198. Posteriormente, dellc obtivemos sangue secco proveniente do seu rhesus 373. 21 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 70 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V No nosso laboratorio o primeiro material foi mantido a -8°C. No fim de 107 dias de sua colheita, o tubo que continha o sangue foi aberto e o material, depois de convenientemente diluido, inoculado num rhesus. As experiencias seguintes mostram as differentes passagens que realizámos com este virus, e os seus resultados experimentaes em condições differentes. Macacus rhesus N.* 44 (1929) Graphico 12 Macacus rhesus N.° 62 (1929) Graphico 13 1.® - Macacus rhesus 6. Inoculado em 1-1II-1929 com sangue secco diluido do rhesus -198 (Aragão) depois de 107 dias de conservação no vacuo e em baixa temperatura. Teve uma infecção clinicamente característica (graphico 6 e fig. 4) e morreu no fim de 6 dias. A necropsia revelou o aspecto commummente encontrado na infecção experimental e o estudo histo-pathologico confirmou-a. 22 J. Lemos Monteibo — Febre amarella experimental 71 2.® - .Vacaras rhesus 9. Inoculado em 7-I1I-1929, no peritonio, com 2 cc. de sangue do rhesus 6, colhido do coração durante a necropsia. Evolução typica da infecção (graphico 7 e fig. 5) e morte no fim de 7 dias. 3* - .Vacaras rhesus 12. Inoculado em 21-111-1929 com 0,01 gr. de sangue secco do rhesus 9, colhido no 4.® dia da infecção deste. Macacos rhesus N.® 66 (1929) Macacas rhesus N.® 69 (1929) Evolução typica da infecção (graphico 8) e morte durante a noite do 4.® para o 5.® dia. 4.® - .Vacaras rhesus 16. Inoculado em 27-III- 1929 com 2 cc. de sangue do rhesus 9, depois de ter permanecido em congelação durante 13 dias. Evoluyão característica (graphico 9) c morte em 8 dias. 23 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 72 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 5. ° - Macacus rhesus 26. Inoculado em 22-IV-1929, no peritonio, com sangue secco diluído do rhesus 6, colhido no 2.° dia da reacção febril. Evolução typica da infecção (graphico 10) e morte em 5 dias. 6. ° - Macacus rhesus 38. Inoculado em I9-VI-1929 com o vinis secco e con- servado hn 2 meses. Macacos rhesus N.* 80 (19291 Macacus rhesus N.* 40 (1929) Evolução característica da infecção e morte em 9 dias (graphico 11). 7.” - Macacus rhesus 44. Inoculado em 10-V1I-1929 com sangue secco diluído do rhesus 35, que resistiu á infecção, sendo o sangue colhido no 2.° dia de reacção febril e 4.° da inoculação. Evolução característica da infecção (graphico 12 e figs. 6 e 7) e morte em 7 dias. 24 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 73 8. ® - Macacas rhesus 62. Inoculado no peritonio em l-VIIl-1929 com sangue secco do rhesus 38 (colhido em 25-VI-1929). O graphico 13 mostra a curva da infecção deste rhesus, que morreu em 5 dias. 9. ® - .Macacas rhesus 66. Inoculado no peritonio, em 22-VIII-1929, com emul- são de fígado secco do rhesus 62, colhido em 6-VI1I-1929. Evolução característica da infecção (graphico 14) c morte em 8 dias. 10. ® - Macacus rhesus 69. Inoculado no peritonio, em 30-VI1I-1929, com emulsão de fígado fresco do rhesus 66. Evolução característica da infecção (graphico 15) e morte em 5 dias. .Macacas rhesus N.* (1929) 11. ® - Macacus rhesus 80. Inoculado em I9-X-I929. no peritonio, com sangue secco diluído do rhesus 66, colhido no I.® e 2.® dias de reacção febril, cm 27 e 28-VIII-29. Evolução rapida da infecção, por ter sido elevada a dose, visto o animal ser de grande porte. O graphico 16 mostra esta evolução. Morte em 3 dias. 12. ® - Macacas rhesus 40. Inoculado cm 28-V1-I929, por via sub-cutanca, com emulsão de fígado fresco do rhesus 38. O graphico 17 mostra a curva thcrmica do animal, que amanheceu morto na gaiola no 5.® dia depois da inoculação. 23 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 74 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Nos casos assignalados a infecção teve sempre evolução fatal, confirmada pela necropsia e pelos exames histopathologicos feitos no nosso laboratorio pelo dr. J. B. Arantes. Verificámos que, mesmo com o virus africano e em certas circunstancias, a infecção pode não ser fatal. O animal apresenta reacção febril característica e, no fim de alguns dias, a temperatura, em vez de cahir para a sub-normal, man- tem-se na media normal. Outras vezes não se observa a reacção febril e o animal nada apresenta de anormal. Em todos estes casos, porém, a inoculação posterior do virus fresco, seguramente activo, fica sem effeito, o que mostra a resistência adquirida pelo animal em virtude da primeira inoculação. Sem duvida, Macacas rhesus N.* 32 (1929) » ■ — * Graphico 19 este phenomeno de immunidade deve decorrer do poder antigenico da primeira injecçáo que fora apenas capaz de determinar uma infecção ligeira, clinicamente inapparente. Este facto foi observado com os seguintes ensaios: 13.® - Macacus rhesus 13. Inoculado cm 21-111-1929 com figado secco do rhesus 198 (Aragão), colhido em I2-XI-1928. O macaco apresentou reacção pouco acccntuada e restabeleceu-se. E' provável que tenha havido attenuaçáo grande do virus depois deste prazo de mais de 4 meses, pois, segundo vimos, o mesmo com 107 dias se mostrou muito activo (experiencia !.*, rhesus 6). Em 4-V-1929, foi inoculado com o virus africano fresco e resistiu á infecção, mostrando-se pois immunizado. 26 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 J. Lemos Monteiro — Febre amarellx experimental 75 14. ® - Macacas rhesus 27. Inoculado em 27-IV-I929, por via sub-cutanea. com emulsão de figado do rhesus 26. Depois de 3 dias de incubação, a temperatura subiu além de 40°, parecendo o evoluir característico da infecção. A queda, porém, deu-se mais lentamente e a temperatura manteve-se, com uma oscillaçáo, na media normal. O graphico 18 mostra a curva da reacção deste macaco durante um mês de observação. Em 17-VI1-1929 o rhesus foi inoculado com o virus (emul- são de figado do rhesus 44), mostrando-se immunizado em relação á infecção. 15. ® - Macacus rhesus 32. Inoculado em 9-V-1929, via peritoneal, com 0,1 gr. de sangue secco do rhesus 9, colhido no 1.® dia de temperatura elevada. Depois Macacus rhesus N.® 35 (1929) Graphico 20 de 15 dias de incubação, o rhesus apresentou reacção febril que durou alguns dias, em seguida aos quaes voltou ao normal. O graphico 19 mostra a curva du- rante o primeiro mês de observação. Em 17-VI1-1929 foi inoculado com o virus activo, fresco, mostrando-se immunizado. 16.® - Macacus rhesus 35. Inoculado em 30-V-1929 com sangue secco do rhesus 3, depois de 2 meses de conservação. No 3.® dia a temperatura subiu além de 40°, attingindo 41®, 3 no 4.® dia. Depois de mais 2 dias de reacção e volta á temperatura normal, observou-se novamente um periodo de reacção por vários dias c retomo ao normal. O graphico 20 mostra as reacções sobrevindas durante I mês de observação. Em 17-VII-1929 foi inoculado com o virus activo fresco (san- gue do rhesus 44), resistindo á inoculação. 27 76 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 17.° - Macacus rhesus 41. Inoculado em 8-VI1-1929 com sangue e figado do rhesus 38, depois de ter permanecido durante 10 dias, não congelado, somente na geladeira. Não apresentou reacção thermica característica; em 30-VI1I-1929 foi inoculado com vinis activo fresco t emulsão de figado do rhesus 66), mos- trando-se immunizado. Macacus rhesus N.* 101 (1930) Graphico 22 Macacus rhesus N.® 102 (1930) 18.® - Macacus rhesus 46. Inoculado em 13-VII-1929, por via sub-cutanea, com 5 cc. de sangue desfibrínado do rhesus 44, colhido nesse dia durante a reacção febril. Este rhesus não apresentou reacção febril durante longa observa- ção; em 30-VIII-1929 foi inoculado com vinis activo fresco (emulsão de figado do rhesus 66), que não occasionou também reacção característica. O graphico 21 mostra a curva thermica do macaco até 20 dias após a 2.® inoculação, indicando 2N J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 77 sua immunidade, devida, provavelmente, a uma infecção benigna, inapparente, que resultou da 1.* inoculação, feita com o sangue de um macaco, cuja doença teve evolução typica, fatal. 19.° - Macacus rhesus 67. Inoculado em 22-V1II-1929 com vinis secco, san- gue do rhesus 44. colhido na necropsia e conservado durante mais de um mès. Macacus rhesus N.* 105 (1930) Macacus rhesus N.° 108 (1930) Não apresentou também reacção thermica, mostrando-se porém immunizado em relação a uma nova inoculação do virus activo. Com os macacos do 2.° lote que recebémos no inicio do corrente anno, reali- zamos mais algumas passagens, não só para a conservação do virus, como para novas pesquisas. Estas passagens assim podem ser resumidas: 29 cm 2 3 ISciELO D 11 12 13 14 15 16 78 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 20. ° - Macacus rhesus 101. Inoculado em 27-VI-1930 com o virus (sangue seccol conservado ha 48 dias. Evolução característica da infecção e morte no fim de 5 dias (graphico 22). 21. ° - Macacus rhesus 102. Inoculado em 2-VII-1930 com emulsão de figado do rhesus 101. Evolução característica da infecção e morte em 5 dias (gra- phico 23). Macacus rhesus N.® 109 (1930) Macacus rhesus N.® 1 10 (1930) Graphico 27 22. ® - Macacus rhesus 105. Inoculado em 17-VII-1930 com sangue secco do rhesus 102, conservado desde 9-VII-I930. Evolução característica da infecção e morte em 5 dias (graphico 24). 23. ® - Macacus rhesus 108. Inoculado em 22-V11-1930 com 2 cc. de sangue do rhesus 105. Infecção característica com evolução rapida e morte em 3 dias (graphico 25). 30 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 79 24. ° - Macacus rhesus 109. Inoculado em 25-VII-1930 com 2 cc. de sangue do rhesus 106 (em experiencia) colhido em periodo de reacção febril. Infecção característica, morte em 4 dias (graphico 26). 25. ° - Macacus rhesus 110. Inoculado em 26-VII-1930 com emulsão de fí- gado do rhesus 106. Infecção característica e morte em 3 dias (graphico 27). ■Macaca* rhesus N.* 118 (19301 Graphico 28 Macacus rhesus N.* 119 (1930) Graphico 29 26. ° - Macacus rhesus 118. Inoculado em 5-VIII-1930 com emulsão de cere- bro do camondongo branco 3 (virus da 3.* passagem no camondongo), por via peritoneal. Evolução característica da infecção e morte no 5.° dia (graphico 28). 27. ® - Macacas rhesus 119. Inoculado em 9-VI 1 1- 1 930 com sangue do rhesus 118, colhido em reacção febril. Evolução característica da infecção e morte em 4 dias (graphico 29). 31 80 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 28. ® - Macacus rhesus 122. Inoculado em 13-V1II-I930 com sangue do rhe- sus 119, colhido do coração durante a necropsia. Evolução typica e morte em 8 dias (graphico 30). 29. ® - Macacus rhesus 124. Inoculado em 2 1-Vll 1-1930 com emulsão de fi- gado do rhesus 122. Infecção amarillica característica e morte em 5 dias (gra- phico 31). .Macacus rhesus N.° 122 (1930) Macacus rhesus N.* 124 (1930) Graphico 31 As passagens estão sendo continuadas. Nesta 2.* serie de inoculações, dois macacos até agora resistiram á inocu- lação virulenta: 30." - Macacus rhesus 103. Inoculado em 8-VII-1930 com pequena porção de emulsão de figado do rhesus 102. Não teve reacção febril que passasse de 39",6 32 81 v J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental (no 4.® dia), permanecendo em estado apparentemente normal; mostrou-se immu- nizado em relação ao virus activo, inoculado no fim de 20 dias. Depois de quasi 2 meses de observação, foi sangrado a branco para o aproveitamento do sôro em estudos sorologicos. A reacção do desvio de complemento, praticada então, foi fortemente positiva, conforme mostraremos juntamente com diversas outras reac- Ções, em capitulo áparte. 31.° - Macacus rhesus 112. Inoculado em 29-VU-1930 com 1 cc. de sangue do rhesus 109, colhido do coração durante a necropsia. Este animal mostrou-se, posteriormente, também immunizado em relação á nova injecçáo de virus, resul- tando fortemente positiva a reacção do desvio de complemento praticada com o seu sôro. IV - Identidade dos virus africano e americano Aragáo mostrou, em primeiro logar, a identidade do virus responsável pelo surto epidemico do Rio de Janeiro com o virus africano, por meio de experiên- cias de immunização cruzada. Davis chegou também á conclusão de que, immunologicamente, as amostras africana e brasileira do virus da febre amarella são idênticas. Pelas nossas experiencias acima descriptas a identidade dos dois virus ficou : gualmente estabelecida. Os rhesus que resistiram á infecção com o virus ame- ricano mostraram-se immunizados em relação ao africano, com uma excepção apenas. Também o Macacus rhesus 10, inoculado em 1 5-III- 1 929 com 1 cc. da vaccina Preparada com material do rhesus 1 (virus americano), segundo a tcchnica de Aragáo, mostrou-se immunizado em relação ao virus activo africano inoculado 12 dias depois. A menor sensibilidade dos rhesus ao virus americano deve ser attribuida ao facto de, por motivos desconhecidos, não se ter ainda conseguido obter uma amostra perfeitamente adaptavel a estes animaes, apezar do grande esforço dis- Pendido neste sentido, principalmente, por Davis e Burke, na Bahia e por Aragáo, no Rio de Janeiro. Outra confirmação da identidade dos dois virus é fornecida pelos estudos sorologicos realizados já por differentes autores c pelo facto de um antigeno, pre- parado com figado de animal victimado pelo virus africano, mostrar sensibilidade em relação á infecção no nosso continente, traduzida pela reacção do desvio do complemento com sôros de convalescentes e de pessoas naturalmente immunizadas, segundo as verificações de Frobisher e as nossas realizadas em collaboraçáo com J- Travassos. V' - Conservação e propriedades do virus da febre amarella Ao contrario do que occorre no homem, onde somente se apresenta nos tres Primeiros dias da infecção, desapparecendo do sangue nos dias immediatos e não 33 82 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V sendo também encontrado nos orgams, o virus amarillico apparece no sangue dos rhcsus inoculados desde o 2.° dia e talvez antes, mas principalmente depois que se inicia a reacção febril e perdura durante todo o tempo da infecção, sendo também encontrado nos orgams. Nestas condições, o seu meio de conservação ideal é o organismo destes ani- maes sensíveis, cujo sangue e orgams conservados sob certas condições se cos- tumam utilizar durante um tempo determinado. Vejamos, pois, os methodos de conservação do virus. 1.* - Contensão e inoculação do .Macacos rhesus. O manejo dos Macacus rhesus é relativamente facil, exigindo apenas uma certa pratica do pessoal encarregado. Varias technicas têm sido propostas para o manejo destes animaes, quando infectados principalmente, afim de que se reduzam ao minimo os riscos que cor- rem os experimentadores e seus auxiliares. Os animaes são mantidos em gaiolas especiaes, de preferencia fechadas la- teralmente, para evitar que se agitem muito á approximação de qualquer pes- soa. As temperaturas devem ser tomadas duas vezes ao dia, pela manhã e á tarde, evitando-se que o animal se debata muito, o que faria, por si só, elevar a temperatura. Para evitar estes inconvenientes, imaginámos uma pinça especial, curta e curva na parte que prende o animal e com longos cabos, em forma de tezoura (Fig. 8). Si o animal está em gaiola fechada nos lados, retira-se primeiro da parte anterior (com tela) a bandeja de cerca de 10 cm. de altura que é livre e apenas presa por um gancho lateral. Pela abertura formada, que não deixa sahir o ma- caco, introduz-se a pinça e prende-se o animal pelas costas. Feito isto, abre-se a porta da gaiola, dando-se sahida ao animal preso pela pinça. Levando-se o macaco de encontro ao chão, pode-se facilmente segural-o pela cabeça e, soltan- do-se a pinça, retel-o com uma só mão, sendo apenas necessário manter-lhe os dois braços virados para as costas. Com a mão livre, o auxiliar segura as pernas, podendo então o operador fazer a inoculação desejada ou ser tomada a tempe- ratura rectal. Si a gaiola for aberta, de grades, a pinça é passada através destas e o ani- mal é mantido preso, podendo ser tomada a temperatura através das grades, sem necessidade de se retirar o animal. Para as sangrias, no coração de preferencia, o animal é mantido deitado numa taboa, com os braços amarrados para traz e as pernas presas em furos apropriados da taboa. As sangrias, necropsias e inoculações de material virulento devem ser feitas com o máximo cuidado. O operador deve usar luvas de borracha e tomar todas as precauções para evitar dispersão do material infectante, o que poderia ter funestas consequências. 34 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 83 Os animaes infectados são mantidos isolados e em installações adequadas, ao abrigo de mosquitos e insectos hematophagos. 2.* - Conservação do vinis in natura. O vinis pode conservar-se no sangue ou no orgam (figado) in natura durante um certo numero de dias. Sawyer, LIoyd e Kitchen verificaram que o virus pode conservar-se no san- gue coagulado ou no citratado durante 30, e mesmo 35 dias, se for mantido no refrigerador de I o a 4“C. Segundo estes autores, no sangue glycerinado (partes iguaes), o virus ainda é activo no fim de 60 dias, embora dilate o periodo de incubação da infecção; em 100 dias. já não infecta, mas immuniza o macaco. Com o figado congelado, a -12"C., estes autores verificaram que a actividade do virus se manifestava ainda ao cabo de 30 dias. Quando congelado, no sangue, segundo verificámos, o virus americano se conservou activo até 18 dias, agindo depois como vaccina. Idêntico resultado já havia obtido Hindle. 2-* - Conservação do virus secco. Seccando o sangue ou figado que o contém, o virus amarillico melhor se conserva, podendo resistir por muitos meses. Hindle acredita que a conservação Por este meio seja quasi indefinida. Verificámos, com o virus africano que Aragão nos cedeu, a sua actividade, nestas condições, depois de 107 dias. Esta resistência, também verificada com outros virus já estudados, muito facilita sua manutenção nos laboratorios, tornando-a mais economica, pois é sobremodo elevado o preço dos animaes sensíveis necessários para as passagens constantes. O sangue, desfibrinado ou não, ou o figado cortado em finas fatias é collo- cado em capsulas de Petri largas e levado para um seccador de vacuo, contendo a cido sulfurico ou chloreto de cálcio, sendo que empregamos somente o acido sulfurico. Estabelecido o vacuo, geralmente a seccagem é completa e perfeita no fim 24 horas, se a camada do material for fina e convenientemente disposta; não ha em nosso meio, necessidades do apparelho ser mantido nesse tempo em baixa temperatura. Retirado o material do apparelho, o sangue ou figado seccos são destacados c °m espatula especial, com o maior cuidado para evitar que qualquer partícula Fossa ser lançada fora e contaminar o operador. O virus secco é então collocado efn tubos fortes, esterilizados, previamente estrangulados numa estremidade; faz-se 0 vacuo nesses tubos, depois do que elles são fechados ao maçarico em o nivel d ° estrangulamento e, em seguida, parafinados para maior garantia e conservados n ° frigo em temperatura abaixo de 0*. 35 84 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 4.* - Resistência do virus. O estudo da resistência do virus da febre amarella aos agentes physicos e chimicos ainda não foi feito de um modo completo. Sabe-se que é pouco resistente ao calor, que o destróe a 56°, e também aos agentes chimicos. O formol, o phenol e a glycerina o attenuam e destróem, o mesmo acontecendo com o chloroformio puro, segundo verificámos. Esta acção dos antisépticos se manifesta mais rapidamente na temperatura ambiente ou em temperatura que não seja muito próxima á óptima para conservação do virus, caso em que sua attenuação é mais prolongada. 5.* - Resistência á acção dos antisépticos sob certas condições. E’ facto conhecido que certos virus (o vaccinico, por exemplo) mantidos sob certas condições, de temperatura principalmente, apresentam maior resistência á acção de certos antisépticos. O virus vaccinico, numa polpa glycerinada, mesmo addicionada de certa pro- porção de phenol, capaz de prejudicar outros microorganismos, conserva sua acti- vidade por um tempo relativamente longo, se é mantido em condições óptimas de temperatura (abaixo de 0®C.). .Muitos laboratorios, principalmente nos Esta- dos Unidos, empregam uma vaccina glycerinada e phenolada. O mesmo acontece com o verde brilhante, também usado na purificação da polpa vaccinica e que age, como já verificamos, sobre as bactérias associadas, respeitando o virus, na- quellas condições. Se, porem, taes condições óptimas não são mantidas (simples conservação da polpa durante algumas semanas na temperatura do laboratorio), o virus é perturbado cm sua actividade e mesmo destruído. Dahi, a necessidade de serem as vaccinas phenoladas utilizadas no mais breve prazo possível depois da sua sahida do laboratorio, o que as torna impróprias para uso entre nós. Por isto, a verificação da resistência do virus amarillico, quando conservado sob certas condições oprimas, seria, a nosso vêr, de grande interesse. Para esta pesquisa, o material virulento (figado especialmente) de um ani- mal infectado com o virus africano e sacrificado no período pre-agonico, foi co- lhido asepticamente, pesado e triturado finamente num gral com areia. Separada uma parte para a experiência em vista, foi ella addicionada com 5 vezes o seu peso de agua distillada phenolada a 5 °/«o e formolada a 2 Voo- Depois de bem emul- sionado e collocado num balão, permaneceu o material em maceração na Frigi- daire a 2®C. (condições favoráveis) durante 7 dias, ou na estufa a 37° (condições desfavoráveis), durante o mesmo prazo. No fim deste periodo de maceração, du- rante o qual soffreu agitações diarias, o material foi filtrado em funil com 4 dobras de gaze, distribuído em empolas que foram immediatamente fechadas á lampada, para isolar do ar athmospherico, sendo em seguida levadas para a Frigi- daire onde foram conservadas. As nossas verificações foram feitas com o virus de 3 rhesus, todos com in- fecção clinicamente typica e com confirmação histo-pathologica. 36 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 85 Resumiremos os resultados obtidos: a) Material proveniente do Macacus rhesus 6 permaneceu, depois de phe- nolado e formolado, em maceração na temperatura de 2°C. durante 6 dias e, nas mesmas condições, outros 2 depois de empolado, ao total 8 dias após a colheita. Foi inoculado na dose de lcc. no rhesus 11, que morreu no fim de 8 dias, não apresentando reacção thermica, como se vê do graphico 32. b) No fim de mais 8 dias (as empolas sempre conservadas a 2°C.) ou sejam 16 dias após a colheita, o mesmo material na dose de lcc. também foi inoculado Macacas rhesus N.* 1 1 (1929) .Macacus rhesus N.* 15 (1929) no Macacus rhesus 15 que, por sua vez, morreu no fim de 1 1 /i dias, não apre- sentando também reacção febril, a não ser cm um dia, quando a temperatura •ttingiu a 40", como se vê do graphico 33. c) Emulsão de figado deste macaco ( rhesus 15) foi inoculada no Macacus r besas 20. Este teve uma evolução typica da infecção amarillica experimental, c omo se vê no graphico 34. morrendo cm 4 J/J dias. Verificou-se assim que o v ' r us, mesmo sob a acção dos antisépticos, porem mantido em condições favo- r *veis. continuava activo no fim de 16 dias. provocando uma infecção inapparente, 37 86 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V' sem reacção febril. Todavia a sua virulência se exaltou novamente com a pas- sagem feita. d) Material proveniente de outro Macacus rhesus (n.* 3), preparado e con- servado como foi assignalado, foi inoculado na dose de 1 cc. no Macacus rhesus 28, depois de decorridos 27 dias da colheita. Este animal não apresentou reacção thermica característica, embora a febre nos primeiros dias tivesse attingido 40 a . No fim de 33 dias após a inoculação, apresentou-se triste, não se alimentando. No dia seguinte amanheceu moribundo, sendo sacrificado e necropsiado. O exame anatomico e histo-pathologico confirmou ter havido infecção pelo virus. e ) Material proveniente de outro Macacus rhe- sus (n.° 16) e tratado nas mesmas condições, tendo soffrido, porem, maceração durante 7 dias na estufa a 37", depois empolado e conservado na Frigidaire a 2"C. foi, decorridos 25 dias da colheita, inoculado no Macacus rhesus 29. Este macaco nada apresentou de anormal e continua vivo. Os 2 rhesus 28 e 29 foram inoculados no mesmo dia. No fim de 20 dias, como nada apresentassem de anormal, soffreram uma 2.* inoculação de sangue desfibrinado do rhesus 33 que havia sido inoculado com material avirulento e que não se mostrou infec- tado, como se verificou também pelo resultado da inoculação de um rhesus testemunha feita na mesma occasião. Verifica-se assim que o virus, mesmo tratado por certos antisépticos, segundo o modo que acaba de ser assignalado, porém mantido em condições óptimas ou favoráveis de temperatura, pode não morrer e ainda determinar infecção inapparente, (comprovada por passagem, no fim de 16 dias), mesmo no fim de 27 dias. Isto não aconteceu no fim de 25 dias, com o virus nas mesmas condições, desde que houve uma permanência durante alguns dias na temperatura de 37". 6.* - Filtrabilidadc do virus amarillien. Em seu trabalho fundamental, Stokes, Bauer e Hudson verificaram que no sangue dos animaes infectados, o virus atravessava as velas Berkfeld V e N e o filtro de asbestos de Seitz, não atravessando a vela W. Quando no organismo do mosquito, o virus não atravessa estas velas, o que poderia fazer pensar numa qualquer modificação da sua morphologia. pelo menos quanto ao tamanho, du- rante sua evolução no insecto vehiculador. Acreditamos porém que se trata de differenças physico-chimicas de meio, que facilitam ou impedem a retenção do K acacus rhesus N.* 20 (1929) 38 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 87 vírus pelas velas. Emulsionando mosquitos infectados em meios especiaes. caldo glycosado (pH=8) ou em extractos de orgams, é provável que o virus atravesse os filtros, da mesma forma que o faz quando no sangue e orgams dos animaes. Autorizam este modo de ver as nossas experiencias feitas com R. Godinho sobre a filtrabilidade do virus vaccinico. Esta supposição foi em parte confirmada re- centemente por Sawyer e Frobisher que verificaram a filtrabilidade do virus quando em mosquitos, fazendo a emulsão dos insectos em sôro de macaco normal em vez de em solução physiologica. Nestas condições o virus atravessa as velas Berkfeld N, como acontece quando no sangue dos macacos infectados. Em trabalho recente, Bauer e Mahaffy assignalaram que o virus amarillico, tanto no sangue, como nos mosquitos infectados, é filtravel através das velas Berkfeld de todos os graus e também a de Chamberland L2. Verificaram que o virus é pouco resistente, quando em solução physiologica a 0,9 por 100 (o que é discutível), solução de Locke e Ringer, caldo hormonico ou agua distillada, e que a addição de sôro normal de macaco, na proporção a 10 r ' c ou mais, reduz o effeito viricida destes meios. T* - Passagem do virus através da pelle e mucosas. Entre os pontos assignalados e discutidos na conferencia sobre a febre ama- fella cm Dakar (23 de abril a l.° de maio de 1928) figura a possibilidade do virus amarillico, contido no sangue dos doentes no periodo infectante ou dos rhc- sus infectados, atravessar a pelle. Marchoux. trabalhando com o virus de Sellards, não conseguiu a infecção do macaco collocando o virus sobre a pelle intacta; conseguiu, porem, a infecção depositando o material na superfície da pelle, depois de escarificada, ou na con- junctiva do animal. Bauer e Hudson também fizeram experiencias nesse sentido. Tomaram 3 r hcsus e os infectaram, collocando sangue virulento, respectivamente sobre a Pelle intacta, raspada a navalha e escarificada. Uma segunda experiencia, sem escarificaçáo, foi negativa, o que attribuiram a uma concentração insufficiente do virus, pois que, repetida com virus activo, deu resultado positivo. Depositaram uma gotta de sangue virulento na conjunctiva de um macaco, e 0.5 cc. na bocca de ü m outro; nenhum dos dois se infectou. Com emulsão de mosquitos infectados, depositada sobre a pelle, só verificaram a infecção quando a superfície havia sido anteriormente escarificada. Aragão e Costa Lima verificaram ser possível a infecção de rhesus, através da pelle e da mucosa ocular intactas, por meio do virus eliminado nas fezes por Mosquitos infectados. Por todos estes factos, está demonstrada a possibilidade do virus da febre a niarella atravessar a pelle e a mucosa ocular, mesmo intactas. E’ provável ter s, do este o mechanismo da infecção de illustres bacteriologistas no decurso das suas experiencias. Apezar dos cuidados de que se cercaram, não se deve eliminar a possibilidade de se terem infectado com material virulento desse modo ou então 39 88 Memórias do Instituto Butaman — Tomo V por meio do vinis depositado com as fezes de algum insecto hematophago não estudado ainda. Muitas incógnitas ainda estão desafiando solução por parte dos investigado- res, no que diz respeito aos vários aspectos do problema da transmissibilidade da febre amarella. VI • Virus amarillieo nenrotropico e sensibilidade do camondontto Theiler, em publicações recentes, mostrou os resultados bastante interessan- tes de suas investigações relativamente á sensibilidade do camondongo branco ao virus amarillieo. Empregando uma technica semelhante á usada por Andervont no estudo do virus herpetico e seu comportamento nos camondongos, poude Theiler verificar a sensibilidade desses animaes ao virus amarillieo, quando inoculado por via cerebral. Desde novembro de 1928, quando iniciou seus estudos, até janeiro de 1930, durante um período de 14 meses, Theiler praticou 75 passagens do virus de ca- mondongo a camondongo, pela inoculação cerebral de pequena quantidade de emulsão de cerebro do animal infectado, morto ou sacrificado já no período final da infecção. Os camondongos não apresentavam qualquer symptoma característico; no dia em que a infecção se approximava do período final, observava-se perda da actividade do animal; nesse dia, ou no seguinte, seu estado aggravava-se e obser- vava-se muitas vezes paralysia dos membros posteriores e morte dentro de pouco tempo. Theiler verificou um augmento da virulência do virus depois de algumas pas- sagens: até a 5.®, a morte se dava no 7.® ou 8.® dia; da 5.® passagem em diante, a virulência augmentava gradativamente, sendo que, na 20.® passagem, o período da evolução da infecção era de 6 ou 7 dias; na 30.*, reduzia-se a 6 dias geral- mente; e, nas ultimas passagens, esse período era de 5 dias, pois então os ani- maes inoculados já haviam morrido ou estavam prestes a morrer. Em relação ás differentes vias de infecção dos camondongos, a de resultados mais constantes foi a via intra-cerebral. A injecção cerebral do camondongo exige cuidados technicos espcciaes. Para a infecção basta uma quantidade minima do material virulento: apenas 0,05 a 0,02 de cc. ou menos da emulsão, preparada com um cerebro infectante em 5 cc. de agua physiologica. Depois de alguma pratica das inoculações cerebraes em camondongos, estes resistem perfeitamente ao traumatismo; se isto não acontece, a morte dar-se-á immediatamente ou dentro de pouco tempo. As vias intra-ocular e intra-espinhal podem ser usadas, porém apresentam maiores difficuldades technicas. os resultados são inconstantes, e. quando a in- fecção se processa, a evolução é mais longa do que pela via cerebral; por via intra-cutanea, muscular ou testicular, os resultados são negativos, porém um certo numero dos animaes mostra-se immunizado em relação á infecção cerebral. 40 J. Lemos .Monteiro — Febre amaiellx experimenta! 89 Por via peritoneal, Theiler verificou a sensibilidade do joven camondongo, desde o nascer até duas semanas de idade, sendo a infecção de 1 a 5 dias mais longa do que nos testemunhas infectados por via cerebral, porém o virus mantem a mesma distribuição que por esta ultima via, sendo já encontrado no cerebro do joven camondongo 24 horas após a inoculação. O virus torna-se neurotropico para o camondongo, no qual pode ser encon- trado no cerebro, medulla, nervo sciatico e glandula supra-renal, e ausente, ou apenas em proporções minimas, no sangue, figado, baço, rim e testículos. A pas- Sa gem do virus pelo systema nervoso é centrifuga. Theiler verificou que a medulla é já infectante no 3.” dia após a inoculação cerebral, ao passo que o nervo sciatico e supra renal só o são no 5." dia. O virus amarillico neurotropico do camondongo conserva-se, segundo ainda as verificações de Theiler, durante 160 dias quando mantido a -8®C., havendo uma diminuição progressiva da virulência; em agua glycerinada a 50 % e na tempe- ratura de 2 a 4°C., durante 58 dias; em agua physiologica e nesta temperatura, o virus mostrou-se activo depois de 53 dias e não em 100 dias. Um facto interessante em relação ao virus do camondongo reside na attc- nuaçào de sua actividade para o Macacus rhesus depois de algumas passagens. Theiler fez as seguintes verificações neste sentido: 1. * - Virus do camondongo, da 3.* passagem, inoculado em Macacus rhesus determinou infecção experimental característica e morte do animal em 5 dias; 2. ® - Virus da 29.* passagem, sendo inoculado, apenas provocou no rhesus temperatura no 6.” e 7.® dias; o animal resiste e mostra-se immunizado em relação a nova inoculação virulenta feita no 22.® dia; 3. ® - Virus da 42.® passagem não determinou reacçào febril, nem outro symp- toma até o 47.® dia, quando o animal se apresentou doente, amanhecendo morto no dia seguinte. O exame histo-pathologico mostrou lesões discretas, com inclu- sões intranucleares nas cellulas hepaticas. Theiler verificou a acção do sôro immune e do sõro de convalescente sobre 0 virus, empregando este após centrifugação da emulsão e contacto com o sôro durante 20 minutos a 2 horas, seguindo-se a inoculação intra-cerebral. Em resumo verificou esse pesquisador: com o sôro immune, de 10 animaes •njectados 2 morreram e 8 resistiram á infecção; 12 testemunhas (com sôro normal) injectados, todos morreram. Com o sôro de convalescentes, excluídos animaes que morreram antes do 3.® dia, de 5 injectados 4 foram protegidos e I morreu, após um período de incubação mais longo. Nestas verificações tem certa importância a technica do preparo da emulsão virulenta, que deve ser centrifugada, não tendo influencia sobre os resultados o •empo de contacto do virus com o sôro, antes da inoculação. Em relação á ana- ,0 mia e histologia pathologica, Theiler verificou poucas lesões macroscópicas. Não se observou icterícia, sendo commummente encontrados signaes de hemor- ragia no estomago. As lesões histológicas observadas no cerebro eram as de uma 41 90 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V encephalite: proliferação do endothelio vascular e infiltração perivascular de cel- lulas mononucleares. Muito características são as alterações nucleares das cellulas ganglionares semelhantes ás observadas nas cellulas do figado dos rhesus infec- tados e descriptas por M. Torres. Parte experimental. Logo que tivemos conhecimento da primeira nota publicada por Theiler, pro- curámos verificar os seus resultados, quanto á sensibilidade do camondongo branco ao virus amarillico. O nosso primeiro camondongo foi inoculado em 8-VII-1930 com uma emulsão de figado de um rhesus infectado e necropsiado nesse dia. Inoculámos 3 camon- dongos com 0,02 cc. da emulsão e apenas 1 não succumbiu em poucos minutos. Este morreu na noite do 6.° para o 7.® dia, sendo inoculados 3 novos camondon- gos com emulsão do cerebro. Ainda desta vez, apenas 1 resistiu ao traumatismo da injecçáo e conseguimos a 2.* passagem do virus no camondongo, cuja infecção durou 10 dias. Para a 3.® passagem já a nossa technica era melhor. O unico camondongo inoculado teve a infecção cuja evolução foi também de 10 dias. Para as inoculações cerebraes no camondongo empregámos uma seringa gra- duada em centésimos de cc., como as usadas para injecçáo de tuberculina, c mu- nida de uma agulha fina. e com a curva de apenas 2 millimetros. A emulsão foi feita de modo a sc ter um cerebro em cerca de 5 cc. de solução physiologica, tendo sido o orgam triturado num gral e a agua addicionada aos poucos. Prepa- rada a seringa com a emulsão, o camondongo foi anesthesiado pelo ether. A ino- culação foi então feita, sendo a pelle e o osso atravessados facilmente, tendo-se o cuidado de virar a agulha para cima, em direcção á parede interna do osso, logo que se sentia que este fora atravessado. Isto diminue a compressão exercida directamente sobre o cerebro e os animaes resistem facilmente á injecçáo. A quantidade do liquido injectada deve ser pequena, não superior a 0,05 cc. Geral- mente inoculámos 0,01 a 0,02 cc.. Com o virus da 3.® passagem no camondongo, foram inoculados: 1 Macacus rhesus, 2 novos camondongos brancos, 1 coelho e 1 cobaia. O rhesus, inoculado por via peritoneal, teve uma infecção amarillica carac- terística, morrendo em 5 dias, tendo sido feita nova passagem do virus para outro rhesus. Os 2 camondongos inoculados para a 4.® passagem tiveram uma infecção de 7 dias. O coelho e a cobaia, também inoculados por via cerebral, nada de anor- mal apresentaram durante longa observação. Os camondongos (2) inoculados para a 5.® passagem morreram também em 7 dias; o da 6.® passagem também em 7 dias, o mesmo acontecendo com o da S.® passagem. Com o virus da 4." passagem, além de camondongos brancos foram inocu- lados um gato e um ratinho do campo. Este ultimo morreu em 3 dias, sendo 42 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 91 feita passagem para um camondongo branco que resistiu á infecção. O gato nada apparentemente demonstrou de anormal. Com sangue do rhesus infectado com virus da 3.* passagem em camondongo, foram inoculados, além de novo rhesus, um gato e um ratinho do campo. Aquelle nada apresentou de anormal e este amanheceu morto no 2° dia. A causa da morte foi tida como acciden- tal, sendo o cerebro conservado em agua glycerinada a 50 ^ó. Em virtude do resultado obtido com outro ratinho da mesma especie inoculado com o virus, da 4.* passagem, resolvemos inocular o material conservado depois de 4 dias num camondongo branco. Este teve infecção apparentemente semelhante á obtida com o virus, morrendo em 5 dias. Novo camondongo, porém, inoculado para passagem, resistiu á infecção. As passagens que até agora realizámos com o virus e alguns pormenores experimentaes poderão ser resumidos no eschema junto, onde não incluímos as experiências accessorias, como inoculação de gatos, rato do campo, coelho e cobaia, °ias somente camondongos brancos e também o rhesus para confirmação da in- fecção daquelles pelo virus amarillico: 43 92 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Camondongo branco t Inoculação cerebral com virus amarilico emulsào de figado do rhesus 102 em 8-VII-1930. Amanheceu morto em 16-VH-1930. I Camondongo branco 2 Inoculação cerebral com emulsão de cerebro do camondongo branco 1 em 16-V11-1930. Em 26-V1I-1930 apresentou-se mal: phenomenos de paralysia dos membros posteriores, movimentos giratórios para a esquerda e excessiva coceira após qualquer excitação, perdurando uns 15 minutos. Foi sacrificado nesse dia. I Camondongo branco 3 Inoculação cerebral com emulsão de cerebro do camondongo branco 2 em 2Ô-VII-1930. Em 5-V1II-1930 apresentou-se triste, arrepiado com paralysia dos membros posteriores, sendo sacrificado. I I t t Camondongo branco 4 Inocul. cerebral com emul- são cerebro camondongo branco 3 em 5-V1II-1930. Em 1 l-VIII-1930 iniciou-se a paralysia dos membros posteriores. Em 12-VI1I- 1930 amanheceu morto. Camondongo branco 6 Inocul. cerebral com emul- são cerebros camondon- gos brancos 4 e 5 em 12-VII1-1930. Amanheceu morto em 19-VIII-1930. í Camondongo branco 10 Inocul. cerebral com emul- são cerebro camondongo branco 6 em 19-VIII-1930. Paralysia dos membros posteriores em 26-VIII- 1930. sendo sacrificado á tarde desse dia. I Camondongo branco 12 Inocul. cerebral com emul- são cerebro do camon- dongo branco 10 em 26-VIII-1930. Camondongo branco 5 Inocul. cerebral com emul- são cerebro camondongo branco 3 em 5-VI1I-1930. Evolução e morte, como para o camondongo bran- co 4. J Camondongo branco 7 Inocul. cerebral com emul- são cerebros camondon- gos brancos 4 e 5 em I2-VII1-1930. Macacas rhesus 118 Inocul. peritoneal com emulsão cerebro do ca- mondongo branco 3 em 5-VI1J-I930. Em 9-VIII-I930. com reacção febril, foi sangrado. Em 10-VIII-1930 amanheceu morto na gaiola. I Macacus rhesus 119 Inocul. peritoneal com 2cc. de sangue do rhesus 118 em9-YTII-1930. Eml3-VI!l- 1930 já em hypothermia foi sacrificado e necropsiado. 44 J. Lemos Monteiro — Febre amarclla experimental 93 O eschema acima mostra-nos que o symptoma clinico, geralmente observado nos camondongos, é a paralysia dos membros posteriores, que precede á morte do animal; disto podem dar uma idéa as figuras 9 e 10. A primeira passagem que obtivemos, teve uma evolução de 8 dias; as 2.* e 3.» de 10 dias; as 4.*, 5.*, 6.* de 7 dias. Com o vinis da 3.* passagem em camondongo infectámos um rhesus, sendo a infecção confirmada, não só pelo exame histo-pathologico, como pela passagem para novo macaco (graphicos 28, 29, 30 e 31). As passagens do vinis em camondongos estão sendo continuadas. As veri- ficações histo-pathologicas já feitas em cones de cerebros de alguns dos animaes confirmam as de Theiler em relação ás lesões de encephalite e inclusões intra- nucleares semelhantes ás estudadas por Torres. Iniciámos igualmente, com o nosso vinis neurotropico para o camondongo, uma serie de pesquisas, cujos resultados serão dados em trabalhos posteriores. Do que deixámos assignalado acima sobre as verificações por nós feitas até agora, em confirmação dos trabalhos de Theiler, se pode concluir pela sensibili- dade do camondongo branco ao vinis amarillico quando inoculado por via cerebral, c pela possibilidade de manter-se o vinis nesse animal por passagens successivas de cerebro a cerebro, sendo que o vinis da 3.* passagem ainda é capaz de pro- vocar no Macacus rhesus uma infecção amarillica característica. Capitulo II Transmissores e vehiculadores do vinis amarillico !•* - Transmissão do vírus pelos mosquitos Acdes aegypti. A theoria da transmissibilidade da febre amarclla pelos mosquitos Aêdcs (Stegomyia) aegypti foi novamente confirmada no que diz respeito á infecção experimental do Macacus rhesus. Bauer e Hudson verificaram que, depois de ingerido pelo mosquito, o vinis necessita de um certo periodo de tempo para que possa ser por elle transmittido a outro animal. Esse periodo de incubação do vinis no mosquito 6 gcralmente de 12 dias, sendo provável poder ser elle menor em certas condições, de tempe- ^tura principalmente. Aragão e Costa Lima descreveram algumas experiencias sobre a transmissão do virus pela picada, tomando precauções para evitar a possibilidade da infecção Pelas fezes dos mosquitos. Depois de experiencias negativas com a picada após 4 e 6 dias, obtiveram um resultado positivo com mosquitos infectados 4 dias a ntes. Embora não conseguissem esclarecer definitivamente a questão, parece lue. dependendo de futuras verificações, se pode admittir a possibilidade de os 45 94 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V mosquitos se tomarem infectantes antes daquelle período, acceito geralmente como limite minimo, de accordo com os trabalhos antigos. O mosquito, uma vez infectado, continua infectante durante toda a sua vida. As experiencias de transmissão experimental do viras americano foram feitas entre nós principalmente por Aragão, no Rio, e Davis e Shannon, na Bahia. A quantidade do viras no Aèdes infectado é bastante grande. Aragão e Costa Lima tomaram 3 mosquitos infectados, emulsionaram-nos em 10 cc. de agua dis- tillada e depois levaram esta diluição até 1.000.000, conseguindo ainda assim obter a infecção do Macacus rhesus. A transmissão hereditária do viras pelos A. aegypti não é provável, de accor- do com verificações feitas, entre outros, por C. B. Philip. 2.* - Transmissão por outros mosquitos alem do Aèdes aegypti. Bauer procurou verificar a possibilidade da transmissão do viras por outras especies de mosquitos pertencentes ao genero Aèdes e a diversos outros, com- mummente encontrados na África. Verificou que o Aèdes luteocephalus e o Aedes apicoannulatus transmittem o viras da febre amarella da mesma forma que o Aèdes aegypti. Com um lote de Erctmopotides chrysogaster infectado transmittiu a infecção a um rhesus normal; com outro lote dos mesmos mosquitos já não aconteceu tal. conseguindo somente infectar rhesus quando os inoculou com emulsão de mos- quitos. A infecção assim determinada teve uma incubação mais longa, de 10 dias, mas as lesões histo-pathologicas foram idênticas ás que se observam na febre amarella experimental. Não deixa, pois, de ser possível a infecção e transmissibilidade do viras por mosquitos pertencentes a outros generos além do Aèdes. Mais provavelmente deverão agir apenas como possíveis vehiculadores do viras, transmittindo-o pelas fezes, como acontece com o Aèdes aegypti e outros hcmatophagos, taes como o percevejo. Mais recentemente, Davis c Shannon publicaram os seus resultados obtidos na Bahia: conseguiram a transmissão do viras de macaco a macaco pela picada do Aèdes ( Ochlerolatus ) scapularis; com o Aèdes ( Ochlerolatus ) serratus, provo- caram a infecção pela injecçào da emulsão de mosquitos e com o Aèdes ( Tae - niorrhynchus) taeniorrynchus, nas mesmas condições, uma infecção benigna. Com o Culex quinquefasciatus (C. fatigans), tanto a picada como a inoculação dos mos- quitos infectados não provoca a infecção, mas alguns dos macacos mostraram-se relativamente immunizados cm relação a inoculação posterior do viras activo. Acreditamos que, conforme acontece com outros insectos hematophagos (o percevejo, por exemplo), muitos mosquitos, além do Aèdes, sejam possíveis ve- hiculadores do viras, eliminando-o com as fezes, que, assim seriam infectantes. A infecção por esse mechanismo, embora possivel, deve ser provavelmente rara cm condições naturaes. 4ò J. Lemos .Monteiro — Febre amarella experimental 95 3.* - Transmissão pelas fezes de mosquitos ( Ardes aegyptií infectados. Aragão e Costa Lima verificaram que as dejecções dos mosquitos infectam quando elles já são infectantes pelas suas picadas. Como pode acontecer com as picadas, as dejecções nem sempre determinam a morte, mas sim a infecção, quer benigna, quer grave. Verificaram estes scientistas patrícios que as dejecções de mosquitos infec- tados, depositadas sobre a pelle ou na conjunctiva ocular, intactas, também in- fectam o Macacus rhesus; observaram ainda que os excreta se mostravam infec- tantes depois de 5 e 7 dias da picada do mosquito em animal doente, acreditando que isto possa dar-se até mais cedo. Aragão e Costa Lima, lançando mão de uma technica especial e delicada, verificaram ainda que a haemolympha colhida na camara pericardica de mosquitos infectados é também infectante. ao contrario do que Hindle havia concluído de suas experiencias. Assim, pois, antes de chegar ás glandulas salivares e poder ser transmittido pela picada, o vinis do tubo digestivo passa para a cavidade celomica do mosquito. *•* - Possibilidades da passagem do virus de mosquito a mosquito e infecção do Ardes macho. Numa serie de experiencias interessantes e de grande valor pelas suas con- sequências praticas, Aragão c Costa Lima verificaram ainda ser possível a infcc- Çào de Aédes machos, addicionando um pouco de mel a sangue desfibrinado de um rhesus infectado e dando-lhes a mistura como alimento. A emulsão de mos- quitos assim alimentados, feita no fim de 12 dias, provocou a infecção num rhesus normal. Observaram ainda, ao cabo de alguns dias, a infecção adquirida por AèJrs fachos normaes, collocados numa pequena gaiola de vidro com femeas infecta- das, porquanto, emulsionados os machos e inoculados num rhesus, lhe provocaram * infecção typica amarillica. Também femeas normaes collocadas cm gaiola con- tudo machos infectados, acabaram por se infectar c foram capazes de transmittir 0 virus ao Macacus rhesus. Assim se evidencia a possibilidade da passagem do virus de mosquito a mos- quito, sem necessidade da passagem pelo homem, o que é de grande importância s °b o ponto de vista epidemiologico. - Experiencias com percevejos. Transmissão do virus da febre amarella pelas fezes de percevejos infectados. Desde que iniciámos os nossos estudos experimentaes sobre a febre ama- re *ia. entre os problemas que tínhamos em vista verificar, estava o da possibili- te da transmissão experimental do virus por outros intermediários, além do aegypti. Esta possibilidade se justificava por certos factos epidcmiologicos Muitas vezes observados em surtos de febre amarella. Entre os possíveis vehi- 47 96 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V culadores do vírus, chamou-nos a attenção, em primeiro lugar, o percevejo da cama, Cimex lectularius. Estes hemipteros sugadores de sangue tèm sido respon- sabilizados pela transmissão dos agentes etiologicos de varias enfermidades; essa transmissão, por via de regra, se faz por meio das fezes dos insectos infectados, quando depositadas sobre a pelle ou mucosas de animaes ou indivíduos sãos. Pareceu-nos, pois, de grande importância verificar si o virus da febre ama- relia poderia também atravessar o tubo gastro-intestinal do percevejo, tornando seus excreta infectantes; isto, principalmente porque se sabe que esse virus pode atravessar a pelle e as mucosas. Desde que fosse verificado o facto, os perce- vejos se tomariam também dignos dos cuidados da prophylaxia amarillica. A picada de um percevejo dura geralmente uns 3 minutos e é acompanhada por phenomenos reaccionarios, muitas vezes violentos, variaveis segundo a sus- ceptibilidade individual. Após a picada, observa-se commummente, no homem, uma papula esbranquiçada de 2 millimetros de diâmetro, envolvida por uma zona de vaso-dilatação de 15 millimetros (Brumpt). Muitas vezes, depois de alimentado, o percevejo defeca no lugar da picada ou em suas proximidades, facto esse verificado frequentemente nas nossas expe- riências. Na hypothese de um percevejo ter picado um doente nos tres primeiros dias da infecção, poderia dar-se o seguinte: muitos dias depois, em uma nova alimen- tação, feita em individuo são, o percevejo poderia, uma vez cheio, depositar o virus com as fezes cmittidas: esse vinis teria facilidade em penetrar através da pelle em virtude das condições reaccionarias locaes, occasionadas pela própria picada, e sobretudo, pelo facto de poder o material depositado ser esfregado pela própria pcssôa ao coçar-se por causa da irritação sentida. Além da possibilidade assignalada que tornaria mais provável a infecção, a simples existência de ex- creta infectantes no leito de uma pessôa não eliminaria de todo tal possibilidade. Para a verificação experimental destes factos fizemos uma serie de experiencias que descrevemos a seguir: Em 27-VI-1929 dois percevejos ( Cimex lectularius) (•) foram alimentados no Macacus rhesus 38, que estava infectado e em periodo de reacçáo febril. A evolução da infecção do rhesus 38 foi a que se vè no graphico 11. Depois de cheios, os insectos foram retirados e collocados num pequeno tubo esterilizado. No fim de 24 horas, depois de removidos os percevejos para outro tubo, as fezes por elles depositadas, facilmente visíveis nas paredes do tubinho, foram emulsio- (•) Informou-nos, posteriormente, o distincto collega dr. Ccsar Pinto da existên- cia de outra especie de percevejo de cama commum na Capital Federal; trata-se do Cimex hemipterus. Os percevejos que utilizámos nas experiencias foram oriundos, no inicio, de pe- quena colheita feita no albergue nocturno e depois com insectos creados no laboratorio. Ignorando, na occasiio, a existência dessa outra especie entre nós, não procuramos fazer, por intermédio de especialistas no assumpto, a identificação rigorosa da especie por nós utilizada, o que, em todo caso, é de interesse secundário. 48 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 97 nadas em agua physiologica e a emulsão inoculada num rhesus normal. Isto foi repetido no fim de 12, 22 e 35 dias depois da picada infectante. Tendo morrido nm dos insectos no 28.° dia, foi todo elle emulsionado e juntamente inoculado. Neste periodo de tempo os percevejos foram alimentados por 2 vezes em macacos normaes. Experiência I. - Em 28-VI-1929, isto é, no dia seguinte á alimentação infec- ^ -g z s-|^l c s ««us-s C _es i . 3 z: — T*^ -c * > - g * i w i -i=l + = = s E °® J u o -r O * c-õ^c-ã ■o _ «■O «. - - « i •= -2í 5 ff g té 5 ~ = x £ L= ■= SJ O O X O s = SSs ü*r ü--=^ e 2 l= • S ,Js w 3! 2 H = *■> ° e 3 5 3 5 a = = : > ~_“3 C -o -3 O • ~3 . ■®-Ss 'S = = ■ J I 1 J5 « « > o m £ = - — T3- — O çf o *15 rz X I S 2 S.3-S i •3 w b| 3 -= N s i 2 % J_ t/5 — O ? S - 0 S •5-“ _2 i/ x li: V O : S <5 «S » — 2 • = 3 » • C i " O 3=5 = Ei «n 5 * ZI ^ E • 8*- 8J « = sã — -r. x — -> í 2“ "3 É^*\2 $2S > -= c *" T i§55 W ííu-r 0 O •§■2 2 5 : = as = Jd 60 J. Lemos Mosteiro — Febre amarella experimental 109 Interessantes também foram os resultados das semeaduras feitas com o san- gue do gato I, colhido no 12.° dia, durante a reacção febril. Em meios anaeróbios •caldo glycosado com pedaços de musculo cardíaco no fundo do tubo), obteve-se cultura pura de um Corynebacterium, dotado de propriedades interessantes e que Macacus rhesus N.° 109 (1930) Graphico 42 Macacus rhesus N.* 1 10 (1930) s crá descripto em capitulo especial. A este germe denominamos Corynebacterium indicando sua origem (sangue do gato I). Experiência II. - Em 5-VII-I930 foi o gato 2 inoculado, por via sub-cutanea, c °tn 2 cc. de sangue do Macacus rhesus 102, infectado com o vinis amarillico e 5an grado em reacção febril. Ao contrario do anterior, este gato não apresentou re *cçào febril; apezar disto, durante um certo numero de dias (em 17, 18 e 19- 61 110 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V VTI-1930), correspondentes aos 12.°, 13.° e 14.® dias após a inoculação, elle se mostrou com aspecto de doente, triste, sempre deitado e sem se alimentar, vol- tando mais tarde ao normal. O aspecto de doente reappareceu, sem reacção febril, decorridos 28 dias da inoculação (em 2-V111-1930), estado que se accentuou em 4-V11 1-1930, quando se notou paresia do membro posterior direito e hypothermia (35®, 5) pela manhã. Em vista destes symptomas, parecia que o gato succumbiria, de sorte que resolvémos esperar o exito fatal. Isto, porém, não occorreu, pois á tarde a temperatura era já de 38®, 5 e, dentro de mais alguns dias, o gato read- quiriu seu aspecto normal. O gato 2 foi sangrado no 4.® e no 30.® dias após a inoculação, sendo com seu sangue inoculados respectivamente os Macacus rhesus 104 e 116. Os resultados destas inoculações foram os seguintes: Macacus rhesus 104 - Inoculado em 9-VI1-1930 com 4 cc. de sangue do gato 2. Nada de anormal apresentou. Decorridos 20 dias, em 29-V11-1930, foi inocu- lado com o virus activo (2 cc. de sangue do rhesus 109). Como consequência desta inoculação, nenhuma reacção apresentou, mostrando-se immunizado em relação ao virus. Macacus rhesus 116 - Inoculado em 4-V1II-1930 com 5 cc. de sangue do gato 2. Não apresentou reacção febril. A reacção do desvio de complemento praticada em 1 8-VI 1 1- 1 930, com o seu sôro foi positiva (-} — j — [-) e, em 26-VI1I- 1930, inoculado com o virus activo (emulsão de figado do rhesus 124), não apre- sentou reacção, mostrando-se também immunizado. Outras experiências: Também em 5-VU-1930 foi inoculado o gato 3, por via cerebral, com 0,5 cc. de sangue do rhesus 102, infectado pelo virus amarillico e sangrado em reacção febril. Por esta via o gato nada de anormal apparente- mente apresentou, tanto em relação á temperatura, como ao seu aspecto. Por este motivo e pela escassez de animaes, não foram praticadas reinoculações. Em 9-VIII-1930 foi inoculado o gato 7, por via peritoneal com 5 cc. de san- gue do Macacus rhesus 118, infectado com virus amarillico neurotropico e da 3.* passagem pelo camondongo branco. Este gato apresentou evidentes signaes de doente; desde o 2.® dia apresentou-se triste, não se alimentando, apenas bebendo agua repetidas vezes e com ligeira paresia dos membros posteriores. Este es- tado perdurou nos dias seguintes, e sua temperatura manteve-se mais baixa que a media geralmente observada nestes animaes. Somente em 16-VIII-I930 come- çou a alimentar-se e o seu estado a melhorar até a volta ao normal. O gato 8, alimentado com figado de rhesus que succumbira da infecção ama- rillica, não apresentou reacção ou outro symptoma anormal, o mesmo acontecendo com o gato 9, inoculado com emulsão de cerebro dos camondongos brancos 4 e 5 (da 4.® passagem do virus por este animal). Estas experiencias. assim como outras realizadas com gatinhos recemnascidos (de I. 6 e mais dias de idade), estão sendo continuadas c deverão ser relatadas em posterior publicação, se puderem ser proseguidas. 62 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 111 Discussão: As experiencias acima descriptas e seus resultados parecem in- dicar que o virus amarillico inoculado num animal domestico, que não lhe é sen- sível, o cachorro, pode persistir em seu organismo, sendo capaz de, transferido novamente para um animal sensível, o Macacus rhesus, provocar neste uma reac- Ção thermica como se observa na infecção experimental; pode produzir também immunidade em relação a nova inoculação de virus seguramente activo. A reacção lhermica mais ou menos característica como consequência da inoculação do sangue do cachorro assim tratado pode não existir, porém o rhesus com elle inoculado a Presenta uma immunidade em relação a uma posterior inoculação do virus feita directamente. Em todo caso, estes resultados preliminares permittem, em relação ao cão, 8 supposição de que este animal possa ser depositário do virus da febre amarella, durante um certo numero de dias. Mais interessantes foram os resultados obtidos com o gato. Embora nenhum dos nossos animaes inoculados tenha succumbido á injecção do virus amarillico, 8lguns apresentaram symptomas clínicos e reacção febril (depois de certo periodo de incubação), em virtude dos quaes se poderia acreditar em sua sensibilidade *o virus. Este persistiu no organismo do gato, sendo capaz de, no 12.° dia, provocar uma infecção amarillica característica quando transferido para o Macacus rhesus, ou a immunidade deste macaco, quando inoculado nelle depois de decorridos 30 dias de sua permanência no gato. O virus poude ainda ser transportado de gato a gato e depois provocar, quando passado para o rhesus, a immunidade deste, manifestada pela reacção do desvio de complemento c pela resistência a uma nova inoculação do virus •ctivo. Recentemente, Bauer e Mahaffy publicaram os resultados das tentativas que fizeram para infectar, com o virus amarillico, certas especies de macacos afri- canos, quer pela injecção de sangue de um rhesus infectado, quer pela picada de Aedes aegypti infectados. Suas experiencias foram feitas com quatro espe- cies differentes: Cercopithecus tantalus, Ccrcopithccus mona, Cercoccbus torqua- ,u * e Erythrocebus palas. Nenhum dos animaes succumbiu á infecção, mas, durante um certo numero de dias, o virus persistiu no sangue de todos, excepto no do Cercopithecus mona e poude ser transferido novamente ao rhesus pela injecção de sangue. Duas das especies, Cercopithecus tantalus e Cercoccbus torquatus, foram capazes de transmittir a infecção a mosquitos normaes. Embora não effcctuassemos experiencias com mosquitos, os nossos resultados dc infecções experimentaes approximam-se dos obtidos por Bauer e Mahaffy, apezar de realizadas as nossas experiencias com animaes domésticos (com o gato sobretudo» morphologicamente muito afastados dos macacos. A este respeito e principalmente por terem sido feitas com animaes de hábitos domésticos, podendo provavelmente ser picados por mosquitos de casa, as nossas 63 112 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V experiências apresentam resultados de certa importância no problema da epide- miologia da febre amarella, como facilmente se comprehende: os animaes do- mésticos, o gato sobretudo, poderiam, nesse caso, desempenhar algum papel na propagação do typho amarillico, quer conservando o virus activo e podendo trans- mittil-o, por intermédio dos mosquitos, a pessoas sensíveis, quer transmittindo-o já attenuado e contribuir, assim, para a immunização das pessoas. Na primeira hypothese, os animaes domésticos concorreriam, embora indirec- tamente, para a propagação de epidemias, ao lado de outros factores já perfei- tamente estabelecidos; na segunda, o virus attenuado, de que poderiam ser de- positários durante certo tempo, concorreria para a paulatina immunização dos naturaes dos paizes de endemicidade amarillica. Este mechanismo poderá ser também realizado por outros prováveis depositários do virus, entre os quaes, e principalmente, o proprio homem nas suas infecções muitas vezes inapparentes. A' luz das nossas experiencias, não podemos, por emquanto, concluir pela sensibilidade do gato ao virus amarillico adaptado ao Macacus rhesus, embora tenhamos base para consideral-o como um possível depositário do virus durante certo tempo. E’ bem verdade, porém, que as reacções e symptomas sobrevindos em alguns gatos por nós inoculados indicam que as experiencias e estudos com esses animaes merecem ser continuados. E' possível que o virus, pelas passagens successivas nos rhesus, tenha per- dido sua virulência cm relação a estes felinos c mesmo para o proprio homem, pois isso acontece com o virus amarillico neurotropico que, depois de diversas passagens pelo camondongo branco, perde sua virulência para o Macacus rhesus. Nestas condições, julgamos que estes estudos devem ser repetidos em zonas onde ainda persista o mal, praticando-se, porém, a inoculação do sangue de doentes em gatos oriundos de zonas indemnes e, pois, não possivelmente immunizados. E’ interessante notar que estes factos talvez permittam explicar, sinão con- firmar, certas observações feitas pelo povo do nordeste do Brasil, de os surtos epidêmicos de febre amarella coincidirem ás vezes com uma curiosa mortalidade de gatos e ratos. Ainda recentemente, tivemos opportunidade de receber, em nosso laboratorio, a visita do Dr. J. de Barros Barreto, secretario do Departamento Nacional de Saúde Publica, e mostrar-lhe os resultados das nossas experiencias acima relata- das. Interessando-se vivamente por ellas, contou-nos esse distincto collega que o Departamento tivera conhecimento de uma pequena epidemia occorrida no in- terior de Pernambuco e precedida de uma mortandade de gatos e ratos, que foi attribuida á peste. No entanto, a necropsia de dois casos fataes veiu mostrar que se tratava de febre amarella. Assignalamos esta interessantíssima observação para justificar, não somente o nosso modo de ver quanto á significação dos nossos resultados, mas ainda a necessidade de se estudar o assumpto em melhores condições experimentaes. 64 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 113 Capitulo III Anatomia e histologia pathologica da febre amarella experimental A pathologia da febre amarella experimental no Macacas rhesus foi estudada primeiramente por Paul Hudson, e, em seguida a elle, por numerosos autores, que sobre o assumpto apresentam valiosas contribuições. Entre nós, este estudo vem merecendo especialmente a attenção dos patho- logistas do Instituto Oswaldo Cruz, destacando-se os trabalhos e verificações de Margarinos Torres. Em S. Paulo têm tratado do assumpto o prof. Rocha Lima e os drs. J. Meyer e J. B. Arantes. Pela histologia pathologica, que apresenta o máximo interesse na febre ama- relia, verifica-se, nos rhesus infectados com o virus, uma serie de alterações e lesões que correspondem ao chamado "signal de Rocha Lima”, característico da mfecção amarillica humana. Não entraremos em detalhes c commentarios sobre a pathologia da febre a ntarclla experimental e suas modernas aequisições, assumpto fóra da nossa al- Çada e para o qual nos falta a necessária competência. As verificações anatomo- c histo-pathologicas dos nossos macacos infectados f°ram feitas, no Butantan, por J. B. Arantes, nosso distincto companheiro de trabalho. O nosso material foi enviado ao professor Rocha Lima, cm cujo laboratorio também foi estudado pelo eminente mestre e pelo Dr. J. R. Meyer. Esse estudo do material que enviámos c referentes aos rhesus infectados com fezes de perce- Ve jos, confirmou, de maneira evidente, a infecção e os nossos resultados expe- ^mentaes já descriptos. A respeito de histologia pathologica limitar-nos-emos, pois, a transcrever os Multados obtidos pelo dr. Juvenal Meyer, com o material de rhesus inoculado c °m fezes de percevejos infectados. Macacus rhesus 33 - Foi inoculado com o virus africano e serviu para a in- ação de 2 percevejos que nelle sugaram durante a reacção febril. Resultado do exame histo-pathologico feito pelo dr. J. R. Meyer: Exame n.° 261 •'I Jterial: pedaços de figado, rim e baço de um Macacus rhesus registado no Ins- tituto Butantan sob o n.® 38. Laudo histo-pathologico h» 'Wdo: A estruetura do orgão está bastante alterada. Grande numero de cellulas acha-se reduzido a restos granulosos corados em roseo pela eosina. Outros 65 114 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V elementos apresentam vacuolos e um protoplasma intensamente corado pela eosina, de fôrma ameboide. Os núcleos estão alterados em muitas cellulas. No seu interior, ao lado do nucleolo, vèem-se, ás vezes, pequenas massas irre- gulares coradas em roseo. Espalhados irregularmente pelo parenchyma vè- em-se pequenos grupos de leucocytos neutrophilos. Baço: Nota-se na polpa vermelha que fica na peripheria do baço, intensa hype- remia dos seios venosos. Os seios sanguíneos dessa porção desappareceram por completo devido á presença de um material corado homogeneamente em roseo. Na mesma porção e junto a esse material vèem-se as cellulas reti- culares do orgáo e um certo numero de pequenos focos de leucocytos neu- trophilos. Bem visíveis, os corpúsculos de Malpighi mostram, as mais das vezes, um centro formado por cellulas grandes e claras contendo de permeio abundante quantidade de restos de chromatina sob forma de grânulos. Rim: Glomerulos poupados. Tubulos tortuosos em sua maioria atapetados por cellulas tomadas de inchação turva. Tubulos collectores conteem raros cy- lindros corados homogeneamente em azul muito pallido. Diagnostico : Inclusões oxy-chromaticas do núcleo. Infiltração leucocytaria do fígado. Infiltração leucocytaria do baço. Macacus rhesus 43 • Inoculado com fezes cmittidas e accumuladas do 2.° ao 12." dias após a alimentação infectante de 2 percevejos no rhesus 38. Resultado do exame histo-pathologico feito pelo dr. Juvenal R. Meyer: Exame n* 273 Material: pedaços de coração, figado, rim e baço de Macacus rhesus registado sob o n.° 43 no Instituto Butantan. Laudo histo-pathologico Coração: Praticamente normal. Figado: As cellulas hepaticas em sua grande maioria estão bastante alteradas, sendo que na maior parte se apresentam muito vacuolisadas. Na parte peripherica dos lobulos pouco se distinguem os espaços portaes. As veias centraes são mais visíveis e apresentam a seu redor uma pequena porção de cellulas hepaticas que. alem da vacuolisação produzida pelo accu- mulo de gorduras, nada mais mostram digno de reparos. Para fóra dessa porção, ao lado dos elementos vacuolisados vèem-se restos de cellulas, desprovidas de núcleo e com protoplasma fortemente corado etn roseo homogeneo. 66 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 115 Entre esses elementos que ás vezes não mais se collocam com a disposição normal, em cordões, vèem-se numerosos polymorphonucleares. Bim : Além de vários tubulos contomeados revestidos por cellulas tomadas de dege- neração parenchymatosa, nada se encontra que mereça reparos. Baço: Polpa vermelha mostra-se extremamente hyperemiada. Os corpúsculos de Malpighi em sua maioria estão providos de centros germinativos e occasio- nalmente exhibem, na sua parte externa, pequenos fócos compostos de cel- lulas tendo em seu protoplasma numerosas granulações de chromatina appa- rentemente phagocytada. diagnostico: 1 - Necroses extensas com desagregação de cellulas hepaticas e de leu- cocytos neutrophilos. II - Alguns núcleos contendo substancia oxychromatica. Macacus rhcsus 49 - Inoculado com sangue do rhesus 43 e sangrado em Periodo de reacção febril. Exame histo-pathologico feito pelo dr. Juvenal R. Meyer: Exame n.° 274 Material: pedaços de figado, baço e rim de um Macacus rhcsus, registado no Ins- tituto Butantan sob o n.” 49. Laudo histo-pathologico ligado: Acha-se muito alterada a estruetura trabeculada dos acinos. As cellulas hepaticas ás mais das vezes estão dissociadas de modo a não mais formarem cordões contínuos. Assim, dispostas isoladamente, estas cellulas mostram res- tos de protoplasma, corados fortemente cm roseo, ora sob a fôrma de ele- mentos arredondados, ora sob forma de material granuloso. Nos logares cm que as cellulas estão mais conservadas, vèem-se vacuolos no interior do pro- toplasma. Os núcleos em sua maioria estão tomados de chromatolyse pelo que se apresentam muito pallidamente corados. Em toda a extensão do pa- renchyma, depara-se franca infiltração por leucocytos neutrophilos. h- lrn ■ Glomerulos praticamente normaes. Os tubulos contomeados apresentam um revestimento formado por cellulas tumefeitas e turvas. Muitas dessas cellulas apenas mostram uma ligeira sombra azulada na pane correspondente ao nú- cleo. Nos tubulos collectores vèem-se, com relativa frequência, diversos cy- lindros de aspecto hyalino e algumas cellulas arredondadas. f ‘aço: Chama attençáo a intensa hyperemia que se encontra em toda a polpa vermelha. Os seios estão totalmente occupados por uma substancia hyalina e rosea em cujo interior além dos restos das cellulas primitivas se vêcm nu- 67 116 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V merosos leucocytos neutrophilos. Nos corpúsculos de Malpighi encontram-se centros claros contendo, alguns, grande numero de granulações phagocytadas no interior das cellulas de aspecto endothelial. Nesses corpúsculos ás vezes se depara pequena quantidade de um pigmento castanho amarellado. Diagnostico : Dissociação das cellulas hepaticas. Necroses salpicadas do figado. Infiltração leucocytaria diffusa do parenchyma hepático por leucocytos neutrophilos. Macacus rhcsus 53 - Inoculado com emulsão de figado do rhesus 43. Exame histo-pathologico feito pelo dr. Juvenal R. Meyer. Exame n.° 279 Material: pedaços de figado. baço e rim de um .Macacus rhesus registado sob n.° 53 no Instituto Butantan. Laudo histo-pathologico Figado: Apenas se mostram mais conservadas as cellulas hepaticas que ficam na visinhança immediata das veias centraes e dos espaços de Kieman. As tra- béculas que se extendem entre essas duas partes dos lobulos, mostram-se formadas por elementos com limites pouco nítidos, protoplasma vacuolizado ou carregado de grânulos vermelhos. Muitos destes elementos não apresen- tam núcleos. Entre as cellulas assim alteradas encontram-se numerosos po- lynucleares. As cellulas da zona peripherica apresentam grande quantidade de gordura. Nos núcleos das cellulas hepaticas encontram-se raras inclusões oxychromaticas. Baco: Os seios da polpa vermelha são bem visíveis devido á considerável espes- sidáo das paredes que os formam. Em seu interior vêem-se alguns elemen- tos mononucleados e em suas paredes um numero muito grande de polynu- cleares. Os corpúsculos de Malpighi são pequenos e raramente dotados de pequenos centros claros, contendo restos de chromatina. Rim: Nos tubulos contomeados vèem-se cellulas grandes de protoplasma tume- feito e turvo. Os demais canaliculos ora apresentam um material granuloso, corado em roseo, dentro de sua cavidade, ora cylindros hyalinos. Diagnostico : 1 - Necroses em grande quantidade na zona intermediana deixando apenas, em torno á veia central e espaços inter-lobulares, uma del- gada camada de cellulas de aspecto normal c contendo gordura. 2 - Estcatose predominando na parte peripherica. 3 - Grande quantidade de leucocytos em desagregação na zona imermedi*- 68 J. Lemos Monteiro — Febre amareUa experimental 117 Estes resultados, como se vê, confirmam os nossos resultados experimentaes 'elativos á infectuosidade das fezes de percevejos que haviam picado um rhesus infectado, e são assignalados apenas por se referirem a assumpto que julgamos de importância. Capitulo IV Immunologia da febre amarella Numerosos são os problemas, relacionados a phenomenos de immunidade, que Poderão ser estudados na febre amarella e que nos proporcionam indicações e resultados do maior interesse ao serem encarados sob o ponto de vista estricta- niente scientifico; pelo seu lado pratico também, no que diz respeito ao diagnos- hco, esses resultados e indicações nos fornecem armas valiosas para o combate do terrivel typho amarillico. E’ um facto muito conhecido que um ataque de febre amarella confere, Seralmente, ao indivíduo uma immunidade permanente cm relação á infecção. Em seu trabalho fundamental sobre a febre amarella experimental, Stokes, Bauer e Hudson verificaram que pequenas porções de sôro de convalescentes, Hiestno 0,1 cc., eram capazes de proteger os animaes contra doses mortaes de sangue virulento e contra a picada de mosquitos infectados. Este facto serviu a Aragáo para elucidar ou confirmar diagnósticos de casos duvidosos, bem como a Theiller e Sellards para mostrar a identidade dos virus •mericano e africano. Desde que se descobriu um animal sensível ao virus e no qual se reproduzia tx Pcrimentalmente o seu modo de agir, procuraram os pesquisadores tirar deste facto o melhor partido possível em beneficio da humanidade, preparando uma v *ccina preventiva da moléstia. Verificado o facto de que o virus se multiplica no organismo do animal até ' Ua morte e que é encontrado nos orgams, foram estes utilizados para esse fim. I - Yaccina amarillica *• ‘ Tethnica dc Hindle. De accordo com as dircctrizes seguidas para o preparo de vaccinas contra Cer tas epizootias, Hindle preparou sua vaccina contra a febre amarella utilizando f*?ado e baço de macacos infectados. Dois são os typos da vaccina de Hindle: Urn a fazendo a attenuação do virus com formol e outra com glycerina e phenol. A vaccina formolada é preparada pela trituração do figado e baço de um •ninial que tenha morrido da infecção; emulsiona-se a pasta formada em 5 vezes 0 seu peso de agua physiologica addicionada a formol até se obter uma concen- ,ra çào a 1 */ t0 , depois do que a emulsão é filtrada em gaze. «9 118 Memórias do Instituto Butar.tan — Tomo V Para a vaccina glycerinada e phenolada, o figado e baço são cortados em pequenos pedaços e lavados em agua physiologica; depois de triturados é a pasta addicionada a 4 vezes o seu peso de uma mistura de: glycerina - 600 cc., phenol t 5 % - 100 cc. e agua distillada - 100 cc. A mistura é agitada, filtrada em panno, mantida uma semana na temperatura do Iaboratorio e depois na geladeira. Para o preparo da vaccina. Hindle empregava figado que continha 10.000 doses mortaes por gramma. Mais tarde recommendou o emprego do dobro de formol usado a principio. Com estas vaccinas, principalmente com a preparada pela segunda technica, o autor obteve resultados favoráveis quanto á protecção dos macacos em relação ao virus activo. Verificou que a immunidade conferida pela vaccina dura ao mí- nimo 4 Zi meses. Hindle acredita que a protecção conferida pela vaccina seja também devida a uma immunidade tissular, pois verificou que o figado e baço de animaes restabelecidos da infecção, retirados e lavados em solução de Ringer para eliminar-se todo o sangue, também são capazes de vaccinar contra a infecção. Verificou ainda que, em animaes hyperimmunizados com doses repetidas de emulsão de figado. a inoculação de uma grande dose de figado virulento foi se- guida de morte rapida. em 48 horas, facto que elle attribue a um typo especial de anaphylaxia. 2.* - Technica de Aragão. Antes de conhecer os trabalhos e resultados de Hindle, Aragão já havia ini- ciado o preparo de uma vaccina. utilizando também orgams de rhesus infectados e empregando uma technica semelhante á que usa para o preparo da vaccina contra a espirochetose das gallinhas (por meio de vapores de formol». Depois começou a preparar uma vaccina formolada a 2 •/*«. e phenolada a 5 °/oo» q uc lhe deu bons resultados experimentaes e que começou a ser empregada no homem. A technica para o preparo desta vaccina é em suas linhas geraes a seguinte: quando o animal infectado entra na phase de hypothermia, é sacrificado. Os orgams são immcdiatamente retirados com a maxima asepsia, usando-se no pre- paro da vaccina o figado, rins, baço e cerebro que são collocados cm placas grandes de Petri. Desde que são reconhecidos perfeitamente sadios, são lavados em agua physiologica. enxutos em papel de filtro esteril e pesados. Em seguida são cortados em pequenos fragmentos que são collocados em um gral com areia lavada, esteril, sendo então cuidadosamente esmagados. Feito isto, addicionam-se para uma parte de orgam 5 de agua distillada esterilizada formolada a 2 */ 00 e phenolada a 5 # /o-„ agitando-se e descollando-se o material até se obter uma emulsão fina c homogenea. que é filtrada em 4 folhas de gaze e recebida em um balão esteril. Permanece durante 5 dias na geladeira a 8°C-, verificando-se sua esterilidade por semeadura e inoculação de 0,5 cc. em 2 cobaias. Estando esteril- é a vaccina distribuída em empolas de 2 cc. e semeada novamente. Si a esteri- lidade é perfeita e se as cobaias permanecem sadias decorrido o prazo de til® mês, a vaccina é considerada prompta para o emprego no homem. 70 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 119 Julga Aragâo que a dose melhor para a vaccinaçào do homem é de 4 cc. em uma só vez, ou em duas injecções com 10 dias de intervallo. Mais tarde, para tomar mais activas as propriedades antigenicas da vaccina, Aragâo passou a empregar, para uma parte de orgams 4 de vehiculo e para cada 2 litros de vaccina addicionava ainda 50 cc. de sangue desfibrinado e formolado colhido em rhesus doentes em differentes estados da infecção amarillica. Os resultados experimentaes obtidos com a vaccina foram os mais satisfac- torios. E' ainda cedo para se formar um juizo definitivo sobre seus resultados °a prophylaxia amarillica, embora sejam elles animadores em algumas estatísticas já publicadas. Preparamos diversas partidas da vaccina amarillica segundo a technica de Aragâo e pudemos verificar os seus resultados favoráveis na protecção de ma- cacos em relação a doses seguramente mortaes do virus. Também uma partida Preparada segundo esta technica e que soffreu, além disso, maceração durante ' dias na estufa a 37°, conservou suas propriedades antigenicas. 2-* - Vaccina chloroformada. Em virtude das nossas observações quanto a resistência do virus, mantido em condições óptimas de temperatura, á acção dos antisépticos, procurámos ve- rificar a acção que sobre elle exercia o chloroformio puro, naquellas mesmas condições, visto ter sido já utilizado por Kelser no preparo da sua vaccina contra a peste bovina (rinder-pest). Kelser c seus collaboradorcs verificaram que o virus da rinder-pest em tal vaccina morre promptamente, sem prejuizo do produeto, podendo ser usada immediatamcnte após o preparo e conscrvando-sc bastante ■ctiva pelo menos durante um anno. Como a vaccina preparada apenas com o Sangue dos animaes, não tem valor immunizantc (o que só se observa quando preparada com os orgams: gânglios lymphaticos, baço, fígado), acredita Kelser Rue o principio activo da vaccina não seja somente o virus morto, mas também um sub-produeto da reacção entre o tecido e o virus. ou o proprio virus da rinder- P«t. modificado de alguma maneira especial pela actividade dos tecidos solidos. Esta supposição parece de accordo com o que Hindle chama immuniJaJc tis- * u lar , em relação á febre amarella. Rodier verificou que quando a vaccina de Kelser é preparada com tecidos a ltamente virulentos determina uma immunidade segura dos animaes sensíveis a Penas com uma injecçâo de 20 cc. para os carabús em relação á infecção expe- r 'mental e que, com a metade desta dose, pode ser protegido o gado susceptível á infecção. No preparo da nossa vaccina chloroformada contra a febre amarella. esta- belecemos a technica simples que descrevemos a seguir: a) Colher asepticamente os orgams (somente figado e baço) de um Macacus rf, esus infectado com evolução característica e sacrificado em periodo de hypo- ^ermia. Pesar e collocar os orgams em grandes placas de Petri esterilizadas; 71 120 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V b ) Mergulhar em solução de phenol a 5 % durante 15 minutos; c) Lavar, pelo menos duas vezes, em agua physiologica esteril; d) Cortar em pequenos pedaços e triturar cuidadosamente em um gral com areia lavada e esterilizada; e) Addicionar 5 partes de agua physiologica em relação ao peso e emul- sionar bem; /) Filtrar em um funil com 4 folhas de gaze c verificar o volume obtido; g) Collocar a emulsão em um frasco com rolha esmerilhada, evitando que molhe o gargalo; h) Addicionar chloroformio na proporção de l %; i) Fechar o frasco e collocar num apparelho agitador que funccionará du- rante duas horas; j) Retirar e deixar o frasco durante o resto do dia e a noite na frigidaire; k) No dia seguinte, agitar o frasco, filtrar o liquido novamente em gaze num apparelho para distribuição; l ) Distribuir em empolas de 2 cc., agitando de vez em quando o apparelho; m) Verificar a esterilidade do producto pela semeadura em meios aerobios e anaeróbios e sua pathogenicidade pela inoculação de 0,5 cc. em cobaia; n) Verificar seu poder immunizante na dose de 1 cc. para o Macacas rhesus em relação ao virus activo inoculado 15 a 20 dias mais tarde. No estudo desta vaccina verificamos que o chloroformio puro tem acção des- truidora sobre o virus amarillico, mesmo quando mantido em condições favorá- veis de temperatura (2® C.), no fim de muito pouco tempo, sendo também evi- dente a acção immunizante da vaccina. Resumamos algumas das nossas verificações: Macacus rhesus 30. — Inoculado, em 30-1V-1929, com 1 cc. de vaccina chlo- roformada (partida 6) preparada com material do rhesus 26, depois de 3 dias do preparo. O animal não apresenta reacçào alguma como consequência da in- jecçào. No fim de quasi 3 meses é inoculado com o virus africano activo ( fíga- do do rhesus 44), mostrando-se immunizado. O rhesus 30 havia recebido antes desta injecçáo uma outra de sangue de um rhesus, que não se mostrou posteriormente infectado. Macacus rhesus 50. - Inoculado em 18-V1I-1929 com 1 cc. de vaccina chlo- roformada (partida 9) preparada na vespera (tendo pois 24 horas apenas) com material do rhesus 44. O macaco nada apresentou clinicamente de anormal, em- bora tenha tido, no fim de muitos dias, pequenas reacções febris passageiras. Em 22-X-1929 foi inoculado com o virus activo (emulsão de figado do rhesus 80); nada apresentou de anormal, mostrando-se immunizado. Vè-se pois, que a acção do chloroformio sobre o vinis é rapida, mesmo em 24 horas, e que a vaccina preparada segundo a technica indicada apresenta evi- dente poder antigenico. 72 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 121 Em todo caso, não ha vantagem em se utilizar, no homem, producto muito recentemente preparado; isto não acontece porque somente depois das varias verificações a que são submettidas as differentes partidas da vaccina é que se Poderão dar por concluídas; no fim de um mês pelo menos, é que a vaccina po- derá ser entregue ao consumo. Nesse prazo, mais efficaz se manifestará a acção do chloroformio e aconse- lhamos que, depois de distribuídas, as empolas sejam conservadas durante uma semana pelo menos na temperatura do laboratorio, num armario, e depois na geladeira. Assignalamos esta technica que em nossas mãos deu bons resultados expe- rimentaes, para que possa ser estudada por outros e para que sejam verificadas suas possíveis vantagens praticas. II - Soro anti-amarillico Pettit, Stefanopoulo e Frasey começaram a preparar o sôro anti-amarillico 'noculando animaes com doses grandes de emulsão de figado de rhcsus infecta- dos com o virus amarillico. Fizeram as experiencias cm 2 cavallos. duas especics de “baboons" ipapio e hamadryas) e um Cercopiihecus. Em outro trabalho, os autores mostraram os resultados obtidos em 10 ma- ncos, com o emprego do sôro dos animaes assim tratados: 5 inoculados com o ^ro de "baboons" e 5 com sôro de cavallo. Em duas experiencias o sôro foi 'njectado um dia antes da dose do virus; nas outras o sôro foi dado no mesmo dia que o virus, no dia seguinte e 3 dias depois, sendo as injecções repetidas P° r 3 ou 4 dias. Nenhum dos animaes se infectou e todos resistiram a uma ^gunda inoculação de virus feita 14 dias depois da primeira. De dois rhesus : noculados com o virus, como testemunhas, um morreu e o outro se rcstabele- Ceu de um grave ataque da infecção. Sinval Lins não verificou resultados curativos apreciáveis com o sôro de c °nvalescentes, o mesmo acontecendo com o sôro de cavallo, immunizado pelo ^ r - H. Aragão com repetidas injecções de virus da febre amarella (sangue c fi- ?»do de macacos infectados). Fizemos também a immunizaçáo de um cavallo. inoculando-o repetidas vezes com doses crescentes de virus amarillico. Este cavallo recebeu 9 inoculações no espaço de 2 meses, sendo sangrado uma vez. Nada poderemos dizer sobre o valor deste sôro, mesmo sob o ponto de vista ^Perimental, para a verificação dos resultados de Pettit e seus collaboradores, P° r nos terem escasseado os animaes necessários. Em todo caso, deante dos resultados já obtidos no Rio. o sôro anti-amarillico a, é agora não desperta grandes esperanças para o tratamento da febre amarella. 73 122 Memórias do Instituto Butar.tan — Tomo V III - Diasrnostico da febre amarella Se o diagnostico post-mortem da febre amarella não apresenta grandes dif- ficuldades, graças principalmente ás publicações de Rocha Lima. o mesmo não acontece com o diagnostico intra-vitam, principalmente no inicio de epidemias e nos casos benignos ou frustros, que são em geral clinicamente de difficil reco- nhecimento, porque geralmente terminam pela cura e, assim, não permittem a confirmação histo-pathologica. O estabelecimento de um diagnostico seguro, nas condições assignaladas, é de grande importância para a prophylaxia efficaz do mal. Na phase actual do estudo da febre amarella, este aspecto do problema tam- bém realisou os mais notáveis progressos quanto á sua solução. Mostraremos, de um modo resumido, os methodos ultimamente estudados para o diagnostico immunologico da febre amarella humana e experimental. I.* - Desrio do complemento. Desde que iniciou seus estudos sobre a febre amarella, Aragão procurou esta- belecer um methodo de desvio do complemento para o fim de diagnostico. To- mou como antigeno sôro de amarellento nos primeiros dias da infecção e extrac- tos phenoiados de figado de rhesus infectado. Nenhum resultado apreciável obte- ve. o mesmo acontecendo com Arèa Leão, que usou extractos glycerinados. Moses obteve resultados mais apreciáveis com o auxilio de coctoantigenos contendo vinis c, lançando mão de uma technica que permitte avaliar o resul- tado da hemolyse e da precipitação, concluiu que é possível, deste modo, veri- ficar a presença de precipitinas c de anticorpos fixadores do complemento no sôro de doentes de febre amarella; que os anticorpos fixadores do complemento são encontrados desde o 3.“ até o 24.° dias, formando-se com mais intensidade nos primeiros dias (5.° c 6.° dia) e diminuindo em seguida até desapparecer; que estes anticorpos são ausentes no sôro de indivíduos não infectados pela febre amarella e também não são postos em evidencia nos doentes, quando o coctoan- tigeno é preparado com orgam normal. Joaquim Travassos, neste Instituto, não obteve resultados favoráveis com o emprego dos cocto-antigenos, preparados segundo a technica de Kraus e Takaki- Frobisher. por meio de uma reacçáo de desvio de complemento, obteve re- sultados mais apreciáveis, usando como antigeno o figado de rhesus infectado, tratado a principio, por um soluto de NaCl a 9 r í; este soluto, no fim de algum tempo, foi diluido com agua distillada para chegar á concentração physiologica. Segundo este autor, o methodo descripto offerece um meio para se identificarem, pelo menos em porcentagem util, os convalescentes de febre amarella. Pesquisas pessoaes com J. Travassos Hindle havia já verificado que o melhor meio de se obter o vinis do figado era o de se provocar a cytolyse. Para isto o figado é triturado e addicionado com 74 \ J. Lemos MosteíRO — Febre amarella experimental 123 soluto de NaCl a 9 'T , ficando algumas horas na geladeira, depois do que se junta agua distillada para se ter uma concentração de NaCl a 9 .A mudança brusca da pressão osmotica, rompendo as cellulas, liberta o virus em maior quan- tidade e a sua actividade não é diminuída. Baseados nesse facto, preparamos eu e J. Travassos, um antigeno com o qual realizámos uma serie de ensaios, cujos resultados foram os mais animadores; esses ensaies constituem objecto de um trabalho que publicámos e. por isto, ape- n as serão aqui resumidos. Antigeno : Logo que se inicia a queda da temperatura de um macaco infectado, eüe é sacrificado; seu figado é pesado e cortado em pequenos pedaços, que são lavados varias vezes em agua physiologica. Os fragmentos são, então, collocados num gral e finamente triturados com areia esteril. Para cada gramma de orgam junta-se 1 cc. de um soluto hypertonico, esterilizado, de chloreto de sodio. de titulo conhecido (usamos a 10 'r). Mistura-se bem, colloca-se num frasco com folha esmerilhada e contendo pérolas de vidro e deixa-se no frigo durante 24 boras. Junta-se, então, agua distillada esteril em quantidade sufficiente para que, Adicionada á emulsão hypertonica. tome physiologico o soluto, isto é, com uma c oncentraçáo final de NaCl correspondente a 8,5 V . A quantidade de agua ne- cessária é addicionada rapidamente á emulsão do figado preparada na vespera. Agita-se energicamente o frasco durante uma hora. Centrifuga-se ou filtra-se a emulsão em papel e depois em vela Mandler, de 14 libras de pressão. O fil- •fado obtido, de côr amarellada, é distribuído asepticamente cm empolas; verifi- ca-se sua esterilidade e conserva-se no "frigo". Esse filtrado constitue o anti- quo para a rcacção. Estudando as propriedades do antigeno assim preparado, verificámos que, n a dose de 0,2 cc. e em face de 2 unidades complementares, cllc é desprovido de acção anti-complementar; também, nessa dose. é desprovido de acção hemo- 'Vtica. isoladamente ou em presença de um sóro. Verificámos que 0,05 era a dose minima de antigeno, necessária para que. Cni presença de 0.2 de sôro e de 2 unidades complementares, produzisse completa fixação do complemento, sendo a leitura feita 10 minutos depois do apparecimento 'k hemolyse total no tubo testemunha do sôro. Em face deste antigeno os soros específicos só precipitam quando usados os elementos em partes iguaes. condição que deve ser observada ao se proceder 8 feacçáo. Posteriormente verificámos que os antigenos preparados segundo a tcchnica *cima. porem apenas filtrados em papel e phenolados a 0.3 T são mais activos, F°dendo ser usados com vantagem. Sôro a examinar: Verificámos em nossos ensaios, que alguns soros, mesmo *<}üecidos a 55“ em banho-maria, eram dotados de propriedades anti-complemen- * ar cs; outros produziam hemolyse, ora rapida (de 10 a 15 minutos», ora demorada, 0 Çue poderia correr por conta de hemolysinas naturaes que contivessem. 75 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 124 t Entretanto, estas hemolysinas não exercem grande influencia na reacção, segundo a technica que adoptamos, pois que, em alguns sôros cujas testemunhas se hemolysavam rapidamente com uma ou duas unidades complementares, tivemos resultados francos de fixação de complemento, usando 3 ou 4 unidades comple- mentares. Complemento : São sangradas 3 cobaias machos, e o sôro, separado e conser- vado no frigo por 24 horas, é dosado principalmente em presença do antigeno e de um soro certamente negativo, de preferencia de um estrangeiro recemchegado ao paiz. A technica que adoptamos, permitte avaliar, em face do sôro, a maior ou menor contribuição deste no phenomeno da hemolyse. Na dose de 0,2, o nosso antigeno accelera a acção da alexina, mas. em pre- sença de um sôro, mesmo negativo, elle contribue para a formação de um com- plexo que fixa ligeiramente o complemento; dahi a necessidade de se empregar a technica que descreveremos adiante. Systcma hemolytico : A hemolysina empregada é a de coelho, anti-carneiro, usando-se 3 a 4 unidades hemolyticas. Os giobulos vermelhos são lavados e diluídos a 5 %. Technica da reacção : No nosso trabalho com J. Travassos, sobre este as- sumpto, estudámos pormenorizadamente a technica e os motivos da sua adopção, razão por que não serão aqui reproduzidos. Em rapidas palavras, a technica da reacção é a seguinte: a uma quantidade igual do sôro a ser examinado (0,2 cc.) c de antigeno (0,2 cc.) addicionam-se quantidades crescentes de complemento. Estas quantidades de complemento são avaliadas por unidades e a distribuição é feita de maneira a se ter uma serie crescente em unidades complementares. A cada tubo da reacção deve corresponder um testemunha do sôro, ambos com idêntica quantidade de unidades complementares. O volume é completado para 1,5 cc. com agua physiologica c os tubos são incubados em banho-maria a 37°-38®, durante I /i hora, na 1.* phase da reacção, podendo esta incubação ser feita durante 4 a 5 horas na temperatura do laboratorio ou por uma noite na geladeira a 8°-I0°C. As hematias, sensibilizadas com 3 a 4 unidades hemolyticas, são addicio- nadas na 2.* phase da reacção. em volume de 1 cc., seguindo-se nova incubação. A leitura da reacção se fará cerca de 10 minutos depois que o tubo teste- munha do sôro respectivo, correspondente em unidades complementares, apre- sente hemolyse completa, o mesmo acontecendo com um testemunha geral da serie, dosado também por unidades complementares, para o que se tomará utn sôro certamente negativo, de preferencia de um estrangeiro recemchegado ao paiz- 76 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 125 Figurada a hypothese da unidade complementar ser 0,3 o eschema abaixo dará uma idéa da reacção: Sóro a dotar Antigeao Complemento a 1/2* Unidade» complemen- Qaantidade Um A(an ptajr- liologlca k • a Globnlot a 5» • 3 a 4 unidade» hemol) ticat n Reacção 02 0,2 1 1 0.3 0.8 rz 1 cc. < 1 • de sôro 1 0.2 — 1 02 1,0 « 1 cc. Reacção 0.2 02 2 í 0.6 0,5 5 1 cc. D T. de sôro 0,2 — 1 0.6 0,7 1 cc f— Reacção 0.2 02 3 i 0,9 0,2 rz .Q 1 cc. QJ *• de sôro 02 — 1 0.9 0,4 z 1 cc. -J Reacção 0.2 0.2 4 { 1.2 ri U 1 cc. T. de sôro 0.2 — 1.2 o.t 1 cc. etc. etc. etc etc. etc. etc. ” etc Leitura da reacção A leitura da reacção é feita cerca de 10 minutos depois que o testemunha *<> sôro respectivo apresenta hemolyse completa. Com esta pratica conseguimos ®fastar os ligeiros impedimentos da hemolyse, que são observados, principalmente, n °s tubos que contêm uma ou duas unidades complementares. A leitura realizada 24 horas após. sendo os tubos conservados no frigo, corresponde á feita na vés- pera, principalmcnte nos tubos de menores unidades complementares. Para avaliação da intensidade da reacção tomamos como norma o resultado d° 2.° tubo em diante, isto é. os resultados com 2, 3, 4 c 5 unidades complemen- tes, no caso de o sôro não mostrar impedimento. Nos sôros impedientes, o r esultado corresponde á differença de gráu de hemolyse; neste caso, só são tomadas em consideração as grandes differenças entre os tubos testemunha do *ôro e da reacção propriamente dita c a leitura 6 feita após Yi hora de incubação, tompo em que é avaliada a unidade complementar. Na segunda serie das nossas experiencias, somente empregámos esta tcch- n, ca para os sôros dotados de propriedades anti-complementares. Para os outros, a technica foi a geralmente usada na reacção de fixação, tomando-se doses dc- Cr escentes de sôros (0,2; 0,1 e 0,05 cc.), quantidade fixa de antigeno (0,2 cc.) e duas unidades complementares. Resultados experimentaes Praticamos a reacção com sôros de doentes c convalescentes de febre ama- tolla, de Macacus rhesus infectados e immunizados, com sôros de doentes de 0u, ras infecções, de indivíduos normaes residentes ou não em zonas onde a febre 77 12õ Memórias do Instituto Butantan — Tomo V amarella tem existido e, finalmente, com sôros de estrangeiros recemchegados ao paiz. Os quadros abaixo resumem os resultados experimentaes que obtivemos e que poderão melhor ser apreciados no trabalho sobre o "Diagnostico sorologico da febre amarella", também publicado em outra parte destas .Memórias: 1. Na febre amarella humana: Soroí de Posit. fracos Posit- fortes Suspeitos, diagnostico não confirmado 3 0 I No de resultado po- sitivo. a necroscopia revelou impaludismo. Febre amarella diag- nostico clinico 1 1 2 9 0 Convalescentes 0 i 4 Após 4 a 20 mezes da infecção i 3 II 11. Na febre amarella experimental: MACACUS RHESUS Total Negativos % Positivos fracos ■* Positivos fortes % Normaes. . . . j 3 3 100 0 0 o o Apôs 3 a 5 dias 12 7 583 5 41,6 0 0 Após 6 a 9 dias 8 3 37.5 4 50,0 1 123 Após10a30dias 26 0 0 3 113 23 88.4 Após 31 a 70 dias 5 0 0 0 0 5 100 Mais de 1 anno 11 2 18.1 5 45.4 4 36,3 Positivos fracos : reacção 4- Positivos fortes : reacção -r- e + + + 4- e *r + -t* H III. Com soros de pessoas residentes em zona endemica do mal (Bahia). Os resultados obtidos com o estudo de 67 soros de pessoas normaes, resi- dentes em Salvador, são aqui resumidos: Negativos % Positivos fracos % Positivos fortes 34 50,7 13 19.4 20 29,8 IV. Com sôros de estrangeiros recemchegados ao paiz. Foram examinados 20 soros de Lithuanos e Japonezes que 24 horas antes haviam desembarcado em Santos. Em todos o resultado da reacção foi negativo. 78 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 127 V. Com soros de doentes de outras infecções: Soro, de doente, de N reativos Po,itimarella do figado e em um doente de malaria dentre vários examinados. L. Salles Gomes a verificou em soros de doentes de typho exanthematico, em 3 casos estudados: no 1.*, com reacção de Weil-Felix positiva a 1/800, observou ausência completa de alexina; no 2.° convalescente, com Weil-Felix positiva a 1/10.000, ausência parcial e no 3.°, com Weil-Felix positiva a 1/200, o teor da alexina mostrava-se normal. Mesmo assim, a reacção de Costa Cruz, constitue um elemento de grande valor para o diagnostico da febre amarella durante a evolução da infecção. 3-* - Modificações da coagulação sanguínea. J. Vellard e M. Vianna verificaram que o poder coagulante do sôro não apresenta modificações particulares no decurso da febre amarella, e que, pelo contrario, a coagulabilidade do plasma é diminuída. Já accentuada no 2.° dia, esta diminuição progride até o 7.* e 8.” dias, para depois voltar rapidamente ao oormal, durante a convalescença. A estas interessantes modificações da coagulação sanguínea, os autores não 'ucontram equivalentes cm outros estados morbidos, acreditando poderem ser ellas utilizadas para o diagnostico precoce da febre amarella. *•* - Diagnostico bacterio-immunologieo. Reacção de agglutinação não especifica. Baseados no facto, hoje admittido, da existência do "biotropismo" de certos Pcrmes, no decurso de algumas affccçòcs c infecções, principalmente devidas aos rirus filtráveis, procurámos verificar se na febre amarella, tanto humana, como ç *Perimental, não se encontraria algum microorganismo que se comportasse, para com a infecção, como o Proteus XI9 em relação ao typho exanthematico, segundo 0 testemunho da reacção de Weil-Felix. Esse microorganismo poderia ser, então, •Proveitado com fins de diagnostico, se o seu comportamento assim o autorizasse. Nossas pesquisas sobre este ponto foram iniciadas no laboratorio de Henrique ^ r *gão, no Instituto Oswaldo Cruz e depois continuadas em S. Paulo. Sobre e »as apresentámos um trabalho pormenorizado á 4.* Conferencia Sul Americana ^ Microbiologia. Hygienc e Pathologia, reunida em julho do anno passado no * io de Janeiro. As pesquisas foram feitas em relação a germes da flora microbiana intes- ,In al e urinaria de casos clínicos e de infecção experimental em Macacus rhesus. microorganismos assim isolados pudemos verificar que os do genero Cory- ne bacterium apresentam maior interesse, não mostrando os representantes do ^Po coli-typhico-dysenterico, entre os quacs o Proteus XI 9, nenhuma relação ,ni munologica dotada de certa especificidade. Um typo microbiano isolado de caso clinico occorrido no Hospital de Isola- ^'nto de São Paulo, onde poude ser acompanhado durante toda a evolução do 81 130 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V mal. foi estudado mais particularmente. Esse typo microbiano que recebeu o numero FH4 e que denominámos Corynebacterium paraicteroides, mostrou evi- dentes relações com a infecção, tanto humana, como experimental, sendo agglu- tinado no titulo de até 1 por 1280 e com elevada porcentagem, pelos sòros dos doentes depois do 3.° dia de temperatura, pelos de convalescentes e pelos de animaes infectados e immunizados em relação ao vinis. A technica da reacçào, os detalhes dos resultados obtidos e as considerações que a respeito fizémos constam do trabalho referido. Infelizmente, estas propriedades do typo microbiano estudado diminuem com a repetição das repicagens, sendo, por isto, muitas vezes difficil a interpretação dos resultados da reacção. Verificámos este facto em culturas datando de mais de 3 meses. Além dos elementos já assignalados, de que hoje se dispõe, para firmar-se o diagnostico da febre amarella, de accordo com exames de laboratorio, é de grande vantagem também, na occasião de epidemias, o isolamento de typos mi- crobianos semelhantes ao que descrevémos e que poderão igualmente, verificada a especificidade de suas propriedades agglutinantes em relação a sôros de conva- lescentes ou da infecção experimental, ser utilizados para o diagnostico bacterio- immunologico da febre amarella, segundo a reacção por nós assignalada. Frobisher, mais recentemente, mostrou os resultados de reacções de agglu- tinaçào que praticou com soros de doentes e convalescentes, empregando germes isolados de fezes de macacos infectados, assim como typos do grupo coli-typhico- dysenterico. entre os quaes o Proieus XI9 e o Proteus X2. Verificou frequente- mente a agglutinaçáo, não havendo, porém, especificidade com qualquer destes typos. Aos mesmos resultados havíamos chegado com o estudo de typos micro- bianos semelhantes áquelles e com um Proteus X]9. Todavia, esse autor não encaminhou suas pesquisas para outros grupos de micro-organismos (principal - mente o Corynebacterium) . passíveis também de ser isolados dos doentes e dos rhcsus infectados, conforme succedeu com o typo microbiano cujas relações iffl' munologicas estudámos. Capitulo V Associações microbianas e biotropismo de certos microorganismos no decurso da febre amarella humana e experimental I - Considerações geraes No decurso das doenças infectuosas. vários são os factores occasionaes o < mais ou menos constantes, que contribuem para a sua pathogenia, ao lado ngente etiologico. Alguns delles são inherentes ao organismo infectado: s ceptibilidade, gráu de resistência, etc; outros dependem das condições do mei® 82 J. Lemos Monteiro — Febre amarclla experimental 131 e ainda outros são elementos super-ajuntados. Entre estes últimos, merecem at- •er.ção especial as infecções secundarias ou sub-infecções, cujo estudo, muitas vezes, apresenta grande interesse scientifico. Justamente essa questão de associações microbianas, em nossos dias, occupa lugar de destaque, principalmente por causa do interesse provocado pelos estudos J obre o metabolismo microbiano e das relações das bactérias entre si e com o meio onde vivem. Neste particular são bem conhecidos os phenomenos designa- dos pelas expressões de symbiose, quando um germe favorece o desenvolvimen- to de outro ou quando ambos são beneficiados, se juntos; metabiose, quando a acção de um é seguida pela de outro microorganismo, e antibiose ou antagonismo, guando a acção de um é prejudicial ao outro. Como o mechanismo intimo destas relações não é ainda perfeitamente conhecido, VT. L. Holman julga ser mais con- veniente empregarem-se os termos “associação", para indicar o phenomeno de um modo geral, e “synergismo”, introduzido por Kammerer, para a relação en- tre dois ou mais microorganismos, podendo o synergismo ser benefico ou anta- gônico. E’ já vastíssima a literatura sobre o "synergismo" bacteriano. quer encarado sob o ponto de vista experimental, quer em referencia á flora microbiana do °rganismo animal. No caso das doenças infectuosas, estas noções estão intimamente ligadas ao biotropismo” de Milian, no qual podemos enquadrar as “infecções de sahida", de Nicolle. Na verdade, podemos acceitar a existência de um polymicrobismo latente no Or ganismo animal e conceber as doenças infectuosas como resultantes de uma concorrência biologica, da qual resulta quasi sempre o triumpho de uma cspecic, preexistente ou invasora, embora outras possam deixar acccntuados vestígios de Su a acção (Jausion, Pecker e Mcersemanni. Varias são as causas, physicas, chimicas e biológicas que, promovendo no Or ganismo um estado de anergia, são capazes de provocar a manifestação deste Polymicrobismo latente, constituído por agentes visiveis c ultra-visivcis. Entre as de natureza biologica. que mais nos interessam no momento, deve- collocar os virus chamados filtráveis. São, na verdade, bem conhecidas c estudadas as infecções secundarias ou, generalizando mais, o “biotropismo" de certos germes, verificado em infecções c *usadas por virus filtráveis. Citemos alguns exemplos: sob a influencia do virus 'k influenza, desencadeia-se principalmente a acção de germes provocadores de Pneumopathias (estreptococcos. pneumococcos, bacillo de Pfeiffer); também, Como consequências, póde manifestar-se o virus da encephalite epidêmica. O virus da varíola e da vaccina facilita a acção de estaphylococcos e estrep- ,0 coccos; bem como, no caso do ultimo, e em certas circunstancias, segundo al- autores, a de outro virus, o da encephalite post-vaccinica. assumpto que 83 132 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V ultimamente vem preoccupando a attenção dos experimentadores, de vários paizes da Europa sobretudo. A’s vezes se observa a predominância de determinado grupo de germes ou mesmo de determinada especie, como consequência da influencia do i’irus invasor. Na peste porcina, sob a influencia de um vinis, entram em campo cocco-bacillos, pasteurella, por muito tempo tidos como verdadeira causa da infecção. No hog-cholera, facto semelhante occorre com predominância de uma salmo- nella, como germe de sahida. O mesmo facto pudemos verificar, juntamente com J. B. Arantes, em relação á rinder-pest (peste bovina), por occasião da epizootia em S. Paulo, em 1920. Alguns autores, baseados em idéas modernas concernentes ás fôrmas filtrá- veis das bactérias, chegam a admittir a hypothese, ainda um pouco ousada, de que os virus provocadores não sejam mais do que formas filtráveis e invisíveis dos microbios cujo biotropismo põem em evidencia sob uma forma visivel. Grandes progressos precisam ser ainda realizados, com o estabelecimento de novos methodos experimentaes, para que se possa chegar á perfeita interpretação e explicação de factos experimentaes, apparentemente em desaccordo com noções classicas. Assim se poderá dizer dos trabalhos de Bronislava Fejgin sobre o typho exanthematico e das relações do virus com o Proteus X/9 e a Rickettsia prowazeki, os de Friedberger sobre a febre typhoide; os referentes á possível relação do virus da verruga peruana e febre de Oroya com a bartonclla de Noguchi, etc. A este respeito é justo mencionar um trabalho de Mayer (Martin) e Kikuth (VFalter) do Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo, referente á etiologia da verruga peruana e febre de Oroya; nesse trabalho elles approximam as bar- tonellas ás inclusões cellulares características encontradas nos nodulos da verruga; essas inclusões estariam em connexào etiologica com o mal, representando uma forma do virus que determina a formação tumoral. Os autores citados não podem assegurar se estas inclusões serão o primeiro estagio da evolução das bartonellas livres ou se as próprias bartonellas terão penetrado nos angioblastos, multipli- cando-se ahi. Esta evolução dos nossos conhecimentos sobre a biologia microbiana impõe-sc também em vista dos modernos estudos realizados por Hadley sobre a dissociação microbiana, dos trabalhos de Fontes sobre as differentes phases da evolução das bactérias, e. finalmente, dos recentes estudos sobre as formas filtráveis das bac- térias. Por todos esses motivos é que julgamos ser interessante verificar se, entre os microorganismos da flora microbiana intestinal e urinaria, existiria, na febre amarella humana e experimental, algum que de qualquer maneira pudesse mostrar relações com a infecção pelo facto de ter o seu biotropismo exaltado sob a influ- encia do virus invasor; seria preciso então que elle se comportasse como 0 Proteus X/9 cm relação ao typho exanthematico, conforme o testemunho da reac- cáo de Weil-Felix. 84 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 133 Ao lado do interesse scientifico destes estudos, cuja importância o prof. J. C. G. Ledingham salientou em discussão na Royal Society, de Londres, este seu ultimo aspecto nos traria indicações de caracter pratico, merecedoras de verifi- cação. As pesquisas que realizámos sobre a flora microbiana intestinal e urinaria, Por terem sido já publicadas com seus pormenores e resultados, não serão repro- duzidas novamente. Transcreveremos apenas as conclusões desse trabalho, que foram as seguintes: I - Em nossos dias. deve merecer maior cuidado, o estudo da flora micro- biana de todo o organismo no decurso das doenças infectuosas e outros estados morbidos. II - Na febre amarella podem ser isolados, nestas condições, microorganis- mos que apresentam certa relação immunologica com a infecção. III - No decurso da febre amarella, tanto humana como experimental, os mi- croorganismos do grupo dos Corynebacterium apresentam maior interesse pelo facto de serem mais evidentes e constantes as suas relações immunologicas com a infecção, em virtude do provável “biotropismo” por elles manifestado sob a 'nflucncia do vírus invasor. IV - Um representante deste grupo, isolado de um caso clinicamente ty- Pico e com confirmação histo-pathologica, soffreu de um modo constante a influ- e ncia dos soros de doentes seguramente attingidos do mal, de convalescentes c de Macacus rhesus experimentalmente infectados ou immunizados, não sendo in- fluenciado pelos sôros normaes e, sõmente em proporção minima e inconstante- mente, pelos de doentes de outras infecções. V • Entre os principaes característicos desse germe destaca-se a modificação de suas propriedades biológicas de accordo com o meio em que é artificialmentc mantido, assim como o poder lytico in vitro de suas culturas e filtrados cm rc- '*Çào ás hematias humanas e do Macacus rhesus (acção hcmolytica). VI - A acção manifestada pelo Corynebacterium isolado c evidenciada pela facção de agglutinaçào, poderá servir como elemento accessorio para o diagnos- ,ic o da febre amarella humana e experimental. VII - Esta propriedade agglutinante pode-se alterar com a idade e repicagens Su ccessivas cm meios artificiacs, donde a conveniência de a cultura ser relati- 'amente recente. VIII - Sómente o estudo de numerosos casos, com o isolamento de novos typos microbianos semelhantes, e outras pesquisas, determinarão com exactidào 0 Papel porventura desempenhado por este microorganismo no desenrolar da in- ação pelo vírus amarillico, assim como a natureza da reacçáo com clle mani- atada e a importância que poderá ter o seu emprego com o fim de diagnostico. No presente trabalho descreveremos, porém, as pesquisas que realizámos *°bre a possível existência de microorganismos no sangue de .Macacas rhesus 85 134 ■Memórias do Instituto Butantan — Tomo V infectados com o vinis, pesquisas a que fomos conduzidos depois de conhecer os trabalhos do professor Kuczynski sobre a etiologia da febre amarella. Antes, porém, resumiremos os resultados desse autor, assim como os de Costa Cruz, sobre o assumpto. II • Bacillus hepato-dystrophicans Kuczynski Kuczynski e sua collaboradora Hohenadel publicaram, em princípios do anno passado, os resultados das suas investigações referentes á etiologia e pathogenia da febre amarella, trabalho que logrou grande repercussão, taes as suas conclu- sões sobre o assumpto. Assim é que conseguiram, empregando meios culturaes especiaes semelhantes ao que haviam usado para a cultura de Bartonellas e Rickettsias, o isolamento, tanto na febre amarella humana, como na experimental, de um microorganismo que denominaram Bacillus hepato-dystrophicans e que julgam ser o agente etio- logico da infecção. Conseguiram cultival-o, quer fosse do sangue, quer dos orgams dos animaes infectados e o descreveram como um pequenino germe, de forma variavel, geral- mente coccoide, que se apresenta ás vezes como finos bacillos de formas irre- gulares. A cultura é a principio Gram negativa; mais tarde, principalmente nas culturas velhas, esta propriedade é variavel. Affirmam os autores que uma amostra do germe, n.° 312, isolada da 11.* pas- sagem, após 19 dias de permanência na estufa a 37", e inoculada num Macacus rhesus, determinou a infecção e morte do animal em 13 dias, com as lesões carac- terísticas. As passagens subsequentes da cultura em macaco não determinaram a infecção, porém a immunidade em relação ao sangue virulento. Os autores, mais tarde, conseguiram isolar amostra mais virulenta com a qual prepararam uma vaccina que disseram ter protegido o macaco contra a infecção experimental. Assignalaram também que a cultura modifica suas propriedades nos meios artificiaes. Considerando o Bacillus hepato-dystrophicans como o agente etiologico da fe- bre amarella, alem da sua forma de viras, Kuczynski mostra o seu modo de pen- sar referente á pathogenia do mal. Kuczynski foi convidado a vir ao Brasil para fazer a demonstração dos seus resultados e estudar o mal em nosso meio. Chegado ao Rio de Janeiro, em com- panhia de sua collaboradora, durante muito tempo guardou suas culturas, não as fornecendo para estudo e confirmação, mesmo aos technicos do Instituto Oswaldo Cruz, onde havia organizado o seu laboratorio. Na capital Federal, perante a Academia de Medicina e na 4.* Conferencia Sul-Americana de Microbiologia. Hygiene e Pathologia, fez a exposição dos seus resultados e das suas theorias a respeito do palpitante assumpto. Nessa occasião solicitamos a Kuczynski as suas culturas para nossos estudos em S. Paulo, porém não fomos, neste intento, mais felizes que os collegas dc 86 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 135 Manguinhos. Só mais tarde, de accordo com os desejos do director do Instituto Oswaldo Cruz, o prof. Kuczynski accedeu em fornecer culturas do seu germe a Costa Cruz, illustre assistente daquelle Instituto. 111 - Verificações de Costa Cruz sobre o bacillo de Kuczynski Costa Cruz communicou á Sociedade Brasileira de Biologia, os primeiros resultados dos seus estudos bacteriológicos sobre as culturas que lhe foram for- necidas. Pelo seu interesse, resumiremos os resultados a que chegou Costa Cruz e °.ue foram os seguintes: Morphologia do germe: - Amostra 645 do Bacillus hepato-dystrophicans. Apre- senta-se em geral como pequenos bastonetes de 1 a 3 micra de comprimento, por 0,3 a 0,7 de micron de largura. Immoveis, não produzem esporos, coram-se fa- cilmente pelas cores básicas da anilina, retém bem o Gram; em meios menos favoráveis são Gram-duvidosos. Nos esfregaços, encontram-se isolados ou em pe- quenas agglomerações, ás vezes em pequenas cadeias de 3 elementos, podendo ®cr confundidos com formas bacillares longas. Formas ramificadas em V e Y não são raras. Culturas: Não se desenvolvem em aerobiose nos meios habituaes (caldo simples, caldo sôro, gelose ascite sangue, sóro coagulado, sôro de leite, meio de Noguchi com c sem hemoglobina). Nos meios de Kuczynski, com orgam, desen- volvem-se bem em 2 ou 3 dias: filamentos numerosos nascem do orgam, lem- brando cogumelos. Nesses meios, mas privados de orgam, só se observa desen- volvimento se a semeadura é muito abundante; a parte turva de 2 ou 3 cm. da 5 cmentc augmenta e ganha profundidade. Em anaerobiose, a amostra desenvol- ve-se em todos os meios. O meio de escolha é o caldo glycosado acido, em anaerobiose, com pH pro- *imo a 6,4. Ha turvaçào entre 24 e 48 horas e grande deposito no fundo. A tem- Peratura óptima é 37", no meio de escolha; também se desenvolve a 26° (tem- Peratura do laboratorio), porém mais lentamente. A 20° não se desenvolve. Em gelose glycosada a 1 % (pH— 6,4), em camada alta, o desenvolvimento se faz a, é 1 cm. da superfície, turvando o meio. Na superfície, não ha proliferação. Em rocios para fermentação de assucares (agua peptonada Martin- pH — 6,4, assu- ntes a 1 %), observa-se fermentação intensa da glycose, glycerina e galactose fcom producção de acido e gazes». Em presença da maltose. mannita, arabinose, ra ffinose, inulina, dextrina, lactose ou saccharose, o desenvolvimento é lento, sendo difficil dizer-se se houve, mesmo no fim de 20 dias, leve acidificaçáo dos roeios. Não coagula o leite e não liquefaz a gelatina. Resistência ao calor : Não resiste a 55” durante meia hora. Em 20 minutos a, nda ha germes vivos, podendo proliferar com repicagens abundantes (1,5 cc.). Ô7 136 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Filtrabilidade : Em velas Chamberland F, pressão de 40 cm., os germes ficam retidos e estereis as semeaduras. Poder pathogenico: O germe não se mostrou pathogeno para o camondongo, cobaia, coelho e Macacus rhesus. Propriedades antigenicas: Em agua physiologica é agglutinado com sôros hu- manos, tanto normaes, como de convalescentes de febre amarella, ao titulo de 1/20 ou 1/40. Com sòro de 2 rhesus hyperimmunizados não houve agglutinação mesmo a 1/20. Dois rhesus inoculados, um com 5 cc. de cultura de 5 dias em caldo simples e outro com 10 cc. de cultura abundante em caldo acido, contendo hemoglobina de coelho, não apresentaram alterações de saúde. Decorridos 20 dias, o 1“ foi inoculado com 2 cc. de sangue do rhesus 14, colhido no 1.® dia da febre (virus amarillico) e o 2.® com I cc. do mesmo sangue. Ambos succumbiram de infecção amarillica, typica do ponto de vista clinico e histo-pathologico. Conclusão: As propriedades encontradas no Bacillus hepato-dystrophicans Kuczynski, amostra 645, não autorizam concluir que haja uma relação etiologica entre esta bactéria e a febre amarella. Trata-se de um bacillo diphteroide, parente muito proximo do Corynebacterium lymphophilutn Torrey, 1916 (J. of Med. Res. 1916, vol. 34 p.655), da qual não se distingue pela fermentação dos assucares. IV - Pesquisas de microorganismos no sangue de Macacus rhesus infectados com o vinis amarillico Depois que tivemos conhecimento pessoal dos trabalhos do prof. Kuczynski, por ouvir sua exposição feita por occasiáo dos congressos commemorativos do Centenário da Academia Nacional de Medicina em julho do anno passado, resol- vémos iniciar a pesquisa de microorganismos no sangue dos nossos macacos ex- perimentalmente infectados com o virus. Os nossos primeiros resultados foram resumidos numa ligeira nota que anne- xamos ao nosso trabalho publicado nos “Archivos de Hygiene”. Mostrámos nella ter isolado do sangue de um rhesus infectado um germe que muito se asseme- lhava ao descripto por Kuczynski e que classificámos como um Corynebacterium. Escrevémos então: "Continuando nossas pesquisas relativas á presença de microorganismos na corrente circulatória de rhesus experimental infectado pelo “virus” amarillico, fi- zemos ultimamente algumas observações que julgamos de interesse assignalar. Como meios culturaes. alem dos commummente usados, empregamos agora um meio preparado segundo a formula indicada pelo prof. Kuczynski. De algumas experiências realizadas tivemos até agora somente um resultado positivo. 88 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 137 Sangue do coração do rhesus 44, colhido durante um período de reacção fe- bril, é semeado nos differentes meios. No fim de 4 dias, somente nos tubos com 0 novo meio cultural, se observa ao microscopio a presença de microorganismos. Nas preparações coradas pelo methodo de Gram e Giemsa, verificam-se pequenos bacillos ou melhor coccobacillos e elementos coccoides, Gram positivos, reunidos geralmente em grupos. Nas primeiras repicagens para o mesmo meio, assim como para gelose-sôro e gelose sangue, o germe mantem mais ou menos o mesmo *specto morphologico. Já na 3.* sub-cultura, tanto em meio original, como nos °utros assignalados e também no caldo glycosado, se verificam, alem dos ele- mentos coccoides, bastonetes Gram positivo, com a disposição e outros caracte- risticos morphologicos do grupo Corynebacterium. A adaptação do germe aos meios que não sejam o original se faz com diffi- culdade. Ella está sendo continuada e também estudadas as differentes proprie- dades do microorganismo. Um estudo minucioso a respeito deste germe, assim como das outras pesqui- 585 realizadas com o mesmo fim em outros rhesus infectados, será objecto de ,r abalho posterior. Em todo caso, o facto do isolamento de germes com o aspecto de "Coryne- bactcrium”, do sangue de rhesus infectado vem corroborar a nossa conclusão de rçue “estes microorganismos têm provavelmente o seu "biotropismo” exaltado sob 8 influencia do virus amarillico e que somente a continuação dos estudos nos in- dicará a sua verdadeira influencia no processo morbido amarillico". Por esta descripçào summaria, verifica-se que o germe que isolámos do rhc- Su s 44, embora fosse um Corynebacterium, segundo confirmação de pesquisas Posteriores, apresenta algumas differenças biológicas com o isolado por Kuczynski e estudado por Costa Cruz. A principal differença é que o germe de Kuczynski n *o se cultiva, absolutamente, em meios aerobios. O mesmo parecia acontecer c ®m o germe que estudámos; porém, como assignalámos. com difficuldade con- íc guimos sua adaptação aos meios que não fossem o original. Assim é que, em Relose-sangue a nossa amostra se cultiva cm aerobiosc, com relativa facilidade, 0 niesmo acontecendo com o meio gelose-sangue-glycosado e gclose-sangue-cho- c ®late. Dado o interesse despertado pela verificação de Corynebacterium na febre 8r narella, em seguida áquella nossa descripçào de um typo isolado da flora intes- bnal de um amarellento e possuidor de certa relação immunologica com a infec- to humana c experimental, e em resultado das observações feitas sobre o germe Kuczynski pelo nosso estimado collega Costa Cruz, parece-nos necessário dar- 11,05 os resultados das pesquisas que realizámos de microorganismos no sangue rhesus experimentalmente infectados com o virus, assim como em outros ani- a,8 's inoculados. 89 138 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Technica empregada. As semeaduras foram feitas com sangue de 4 Macacas rhesus experimental- mente infectados com o vinis amarillieo. Foram usados os rhesus nos. 43, 44, 53 e 62, cuja historia clinica já foi feita em outra parte deste trabalho. O sangue colhido por puncção cardíaca, com todos os cuidados de asepsia, foi immediatamente distribuído em tubos contendo os vários meios culturaes. Além dos meios commummente usados em bacteriologia (meios communs, com sôro. ascite e glycosados) empregámos meios especiaes preparados segundo a for- mula indicada pelo prof. Kuczynski na sua communicação á 4.* Conferencia Sul- Americana (meios com e sem orgam). As culturas foram mantidas na estufa a 37° e examinadas constantemente para a verificação da presença de microorga- nismos por ventura desenvolvidos. Resultados. Com o sangue de dois rhesus (53 e 62) observou-se o desenvolvimento de germes que não apresentavam os característicos do descripto por Kuczynski. Num observou-se o desenvolvimento, mesmo em meio não especial, de uma bactéria Gram positiva e noutro (alem de outros elementos), de um germe Gram negativo, este com os característicos de uma Pasteurella. Estes dois rhesus estavam em hy- pothermia e, provavelmente, já teria havido invasão microbiana do sangue. O mesmo se verificou com orgams (figado) colhidos na necropsia e também semea- dos nos meios. Com sangue, colhido em período de reacçáo febril, do rhesus 43 não se obser- vou desenvolvimento microbiano. Com o do rhesus 44, colhido em período de reacção febril, observou-se no fim de alguns dias e nos meios especiaes somente, a proliferação de um micro- organismo que, pelos seus caracteres morphologicos e culturaes. se approximava do descripto por Kuczynski, merecendo, por isto, um estudo mais accurado. Faremos a seguir a descripçáo das principaes características morphologicas e biológicas deste germe, que denominámos R44s, c sua classificação. Posteriormente, a pesquisa de micro-organismos foi praticada com sangue, colhido cm reacção febril, de 3 outros rhesus infectados com o virus, sendo nega- tivos os resultados das culturas. 1.* - Corjncbacterium Rtts. Isolamento. Em 15-VII-1929 foi sangrado, por puncção cardíaca, o rhesus 44, na occasiáo em que a temperatura estava a 40°, sendo o sangue immediatamente semeado nos differentes meios. Em I7-VII-1929 foi o animal sacrificado, por se achar n» phase hypothermica; por occasiáo da necropsia semeou-se ainda o sangue do co- ração e figado. No dia seguinte, como resultado desta segunda semeadura. 90 J. Lemos Monteiro — Febre amaiella experimental 133 observou-se em todos os tubos o desenvolvimento microbiano de um bacillo Gram negativo, provavelmente germe de invasão. O resultado da cultura da primeira semeadura, em 15-Y r Il-1929, quando o animal estava em reacçáo thermica. despertou maior interesse. Em 20-VI1-1929, examinadas as culturas, verificou-se nos meios de Kuczynski, e m esfregaços corados pelo methodo de Gram, a presença exclusiva de microor- ganismos muito pequenos, coccoides ou cocco-bacillos Gram positivos, reunidos geralmente em grupos, vendo-se alguns elementos isolados. Nas sub-culturas verificou-se que o germe não se desenvolvia facilmente nos meios communs em aerobiose. O seu desenvolvimento se dava no meio de Kuczynski, com o mesmo aspecto de elementos coccoides. Observou-se também que $e desenvolvia nos meios com sôro, gelose sôro em aerobiose, mas com dif- iculdade, formando inducto quasi que invisível; ainda assim desenvolvia-se um pouco melhor em meio com sangue, isto é, na gelose-sangue. Em meios líquidos (caldo sôro), observou-se no fim de alguns dias uma turvação ligeira e deposito; em caldo glycosado também se notou ligeira turvação e deposito viscoso no fim de alguns dias. Em qualquer destes meios e em aerobiose foi difficil a conser- vação do germe. Esta dificuldade foi, porém, menor em gelose-sangue onde era a bactéria mais facilmente mantida quando resemeada semanalmente, ou cada 15 dias. o mesmo acontecendo com gelose-sangue-glycosada c gelose-san- Sue-chocolate. 2-* - Descripção do Corynebaetcrium Rl Ir. O germe em questão apresenta um grande pleomorphismo, de modo que seu •specto morphologico differe segundo o meio em que vegeta. Em meios com ascite (de Kuczynski c gelose ascite i apresenta-se como pe- quenos elementos coccoides, não se observando, sinào muito raramente, elementos bacillares. Estes pequeninos elementos coccoides são geralmcnte reunidos em lassas onde se apresentam como numerosos pontos. São Gram positivos, não re $istindo porém a uma descoloração muito intensa. Lembram também o aspecto das Rickettsias, quando coradas pelo azul de Loeffler. Em gelose-sangue, porém, o seu aspecto já é outro: apresenta-se como ba- cillos, geralmente pequenos, Gram positivos, com pontos mais escuros. Notam-se ^«mentos finos em uma das extremidades e largos na outra, piriformes, ou em (°nna de halteres e tomando disposição varia, em “palissade ”, em V, etc. Colorindo-se pelo methodo de Ncisser, verificam-se granulações metachro- ‘fiaticas numerosas, com tamanho e disposição que acompanham o corpo bacillar. •'lesmo pelo Giemsa e azul de Loeffler estas granulações se evidenciam, co- r *ndo-se mais intensamente. Tem-se a impressão de que. nos meios com ascite, só se córam estas granu- ’*Çòes; dahi a forma coccoide dos elementos, e em razão de se confundirem os Cor Pos bacillares na massa dos elementos. 91 MO Memórias do Instituto Butantsn — Tomo V Acção sobre os assacares. Em meio agua-sôro. usando como indicador o vermelho phenol, verificámos a acção do germe em relação a alguns assucares. Os resultados constam do qua- dro abaixo: ASSUCAR RESULTADO NO FIM DE Dl FFERENTES DIAS NA ESTUFA A 57» 24 horas 48 horas 3 dias 4 dias s dias 7 dia» 12 dias 15 dias 1 Maltose . . 2 Glycose . . 3 Levulose . 4 Saccharose 5 Lactose . . + ' + + + - 1 “ 1 v + 1 1 -rC -rC — tC — Legenda i — nio acidifica •+• acidifica -r acidifica ligeiramente — C acidifica e coagula o adro. Verifica-se pelo quadro acima que o R44s não fermenta a maltose nem a lactose mesmo no fim de 15 dias a 37°; a glycose começa a ser fermentada ao cabo de 48 horas e, depois de 5 dias. observa-se, além da fermentação, a coagu- lação do sôro; a levulose é fermentada em 24 horas e a saccharose somente no fim de 12 dias. Não fizemos ainda a verificação em relação a outros hydrocar- bonados. Classificação. Com os elementos já mencionados classificamos o nosso R44s como um Co- ryncbactcrium. Quanto á especie, encontramos difficuldade em filial-o a alguma já descripta e do nosso conhecimento. Pelo seu aspecto morphologico e cultural em certos meios verifica-se que se pode approximar ao microorganismo semelhante a Rickcttsia (RickettsiaAike organism) descripto por A. W. Sellards como agente etiologico da “tsutsu-gamushi", ou febre das enchentes do Japão, transmittida por certas especies de percevejos, conhecidos naquelle paiz pelo nome vulgar de “akamushi", infecção que se assemelha com o typho exanthematico e com a febre das montanhas rochosas, as quaes se differenciam principalmente pelo compor- tamento experimental do virus em relação ás cobaias. Como differenças mais notáveis entre o nosso e o microorganismo descripto por Sellards. verifica-se ser o ultimo Gram negativo (no nosso, isto acontece se se prolongar a descoloração pelo álcool) e ter apenas 2 granulações collocadas geralmente uma em cada polo. Em relação aos assucares, o comportamento do que isolamos está descripto no quadro acima; o descripto por Sellards fermenta a glycose, maltose e dextrina com formação de acido (sem gaz) e não modifica a lactose e saccharose. 92 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 141 Somente um estudo mais detalhado do germe que isolámos poderá permittir s ua verdadeira collocaçáo systematica. Apresenta elementos essenciaes para sua classificação entre os Corynebacterium ; por outro lado, não são poucas as suas características (em certos meios culturaes) que o approximam das Rickettsia, de accordo com descripções de diversos autores. Nestas condições, para o momento, designaremos o nosso microorganismo Por Corynebacterium R44s, que indica sua origem (sangue do rhesus 44». Pathogenicidade. A pathogenicidade do Corynebacterium R44s foi verificada em relação á cobaia, ao coelho e ao Macacus rhesus. Cobaia 475 inoculada com 2 cc. de cultura em caldo glycosado (proveniente da 3.* sub-cultura em gelose-sangue) de 3 dias; inoculação sub-cutanea em 30- ^ II- 1 929. Esta cobaia não apresentou reacçáo febril, porém morreu na manhã de 16-VIII-I929. Na necropsia observaram-se phenomenos congestivos nos orgams, ligado principalmente. Os orgams, examinados pelo dr. J. R. Meyer, "não apresentavam alterações histo-pathologicas dignas de reparo". Cobaia 342 - Inoculada em 30-VI 1-1929 com a mesma cultura que a anterior, Porém por via peritoneal, não mostrou alteração thermica até 3-VIH-1929; nessa °ccasiào apresentou parcsia c temperatura de 35\2, sendo sacrificada e necrop- Sl *da nesse dia. Pela necropsia notou-se: figado congestionado, baço de aspecto normal; su- Pfa-renaes de coloração amarella, não congestas, talvez ligeiramente augmen- l *das. Vesícula biliar cheia. Bexiga cheia; a urina não continha albumina. Sangue do coração e exudato peritoneal, semeados em meios communs, não deram Altura. Pelo exame directo no exudato peritoneal não se observaram germes. Estudados também pelo dr. J. R. Meyer, os orgams desta cobaia, “em nu- merosos cortes examinados, não apresentavam lesões importantes; apenas no Pulmão se vè generalizado processo congestivo e nos rins, bem como no figado, ^generaçào parcnchymatosa dos epithelios". 0 sangue do coração destas 2 cobaias, retirado durante a necropsia, foi se- cado em differentes meios communs, não se obtendo culturas. Coelho 446 - Inoculado como as cobaias, porém na veia (2 cc.) também em ^Vl M929, nada apresentou de anormal durante longa observação. Macacus rhesus 59 - Inoculado com a cultura do R44s em caldo glycosado * Proveniente da 3.* sub-cultura em gelose sangue» de 48 horas. Inoculação sub- ^tanea de 5 cc. em 29-V1I-1929. Como se vê do graphico 44, o rhesus não apresentou reacçáo febril durante u m mês de observação; passado esse tempo, em 30-VIII-1929 foi inoculado com vir us amarillico (emulsão de figado do rhesus 66». seguramente activo e com ,ç stemunha positivo ( rhesus 69). 93 Miicacus rhesus Gruphico 44 J. Le.v.os Montetro — Febre amarella experimental 143 Depois de 4 dias de incubação o macaco apresentou uma infecção amarillica; a temperatura attingiu 40®,6 em 4-X-1929; cahiu a 38’. 7 no dia seguinte e depois se manteve em media normal, resistindo o macaco á infecção. Macacus rhesus 71 - Inoculado em I2-1X-1929 com emulsão de um tubo de cultura do Corynebacterium R44s em gelose ascite (2.* sub-cultura neste meio, tendo vindo da gelose-sangue;. Emulsão em 5 cc. de agua physiologica e ino- culação intra-peritoneal. O rhesus não apresentou reacçào febril nem qualquer symptoma anormal. Em 22-X-I929 foi inoculado com o vinis (emulsão de figado do rhesus 80). Como consequência desta inoculação, verificou-se depois de vários dias pequena elevação thermica até 40° e volta ao normal, resistindo o macaco á infecção. Macacus rhesus 72 - Inoculado em 12-IX-1929 com emulsão de um tubo de cultura de 24 horas do Corynebacterium R44s em gelose-sangue, onde vem sof- rendo repetidas repicagens. Emulsão em 5 cc. de agua physiologica e inoculação Peritoneal. No 2.° dia a temperatura attingiu 40 .2 e voltou ao normal, onde per- maneceu por vários dias, no fim dos quaes tornou a attingir 40®. Verificaram-se voltas da temperatura ao normal e varias ascensões além de 40®, permanecendo Porém o animal sem outros signaes quaesquer de infecção. Em 22-X-1929 foi inoculado com o virus amarillico (emulsão de figado do r hcsLs 80;, tendo tido apenas reacçào febril acima de 40". No 4." dia da inocu- kçâo a temperatura voltou á media normal e ahi permaneceu. Como se vè por estes resultados, o R44s apresenta certa pathogenicidade para os animaes de laboratorio. Duas cobaias, inoculadas com cultura ainda recente, succumbiram á injecçáo. Para o coelho o germe não se mostrou pathogeno. Em r cIaçào ao Macacus rhesus o mesmo se poderia dizer; apenas a cultura cm gelose- sangue, meio aerobio que se mostrou mais favoravel ao seu desenvolvimento, determinou reacçào febril do animal, reacçào que nada de característico apre- sentou em relação á infecção amarillica. Propriedades antijtenieas e relações eom a febre amarella. De grande importância seria o verificar se o Corynebacterium isolado apre- sentava, nas culturas em meios artificiaes. qualquer relação com a febre amarella experimental; isto se poderia observar pela sua acção antigenica em relação ao virus, manifestada pela protecção dos rhesus inoculados anteriormente com elles, ° u pela agglutinação soffrida sob a acção de sôros de convalescentes ou de ma- ncos immunizados. Quanto ao primeiro aspecto da questão, verificámos, como se vê acima, que '"n rhesus, o n.° 59. inoculado com a cultura em caldo glycosado, não se mostrou '"imunizado em relação ao virus, tendo tido infecção amarillica, caracterizada Pela curva thermica, embora não mortal. Outros dois rhesus também foram inoculados com cultura; o de n.® 71, com Altura em gelose-ascite e o de n.® 72, com cultura em gelose-sangue; ambos re- 95 144 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V sistiram a uma segunda inoculação do virus, podendo-se dizer que apenas tiveram uma infecção ligeira. Náo acreditamos numa relação verdadeiramente especifica do germe em relação á infecção experimental, pois, além de o ultimo virus ino- culado poder estar attenuado, náo se usou testemunha por falta de macacos nor- maes na occasiáo (o que inoculámos com esse fim foi dos primeiros já usados e se mostrou refractario). Além disto, obtivemos idêntico resultado com a inoculação da cultura do outro Corynebacterium que isolámos das fezes de um doente. Esse germe mostrou relações immunologicas com a infecção, soffrendo agglutinações em titulos ele- vados, com os sòros de convalescentes e de macacos immunizados, como já assig- nalámos em paginas anteriores. Dos resultados obtidos com este germe. FH4, ( Corynebacterium paraicte- roides ) descrevemos o seguinte: Macacas rhcsus 60 - Inoculado por via sub-cutanea, em 29-VII-1929, com 5 cc. de cultura em caldo glycosado, de 48 horas, do Corynebacterium FH4 (cul- tura após 5 meses do isolamento). Não apresentou reacçáo febril, nem outro symptoma qualquer e em 30-VIII-1929 foi inoculado com o virus amarillico (emul- são de figado do rhesus 66) seguramente activo, com testemunha positivo ( rhe - sus 69). No 4.° dia após esta inoculação, a temperatura esteve a 39°,6 e 39°,8; no dia seguinte, 39°,9 e 39'\3, mantendo-se depois em media normal ao nivel de 39° durante longa observação. Assim, pois, o rhcsus parece ter tido uma infecção benigna cm relação ao virus activo, resistindo á sua acção. Resultado mais ou menos semelhante obtivemos com outro rhesus (n.° 19) oue recebeu varias inoculações do FH4 (de cultura mais recente) entre as quacs a 2.* determinou reacçáo febril; o animal resistiu a uma inoculação do virus amarillico. feita mais de 3 meses depois. Estes resultados e os que descrevemos a seguir, nos autorizam a explicar o facto como devido a um poder antigenico náo especifico destes germes ( Coryne- bacterium ), os quaes tèm, possivelmente, seu biotropismo exaltado, como já accen- tuámos, por influencia do virus invasor, motivo pelo qual agiriam augmentando a resistência do animal em relação ao virus. Agglutinaçáo - E' difficil proceder-se a esta reacçáo com o Corynebacterium R44s, visto não ser muito abundante o crescimento do germe nos meios mais adequados para isto. Náo utilizámos a gelose-sangue ou gelose-sôro, porque estes elementos alterariam as propriedades do germe nas repicagens, e não for- neceriam portanto indicações seguras. Em caldo glycosado, embora o desenvol- vimento fosse muito escasso, seria o meio mais adequado para se obterem as emulsões microbianas e este já havíamos utilizado com outro Corynebacterium (FH4). Assim, para a pratica da reacçáo lançámos mão das culturas em caldo gly- cosado, centrifugadas, sendo a emulsão dos germes feita em agua distillada e a dos sôros em agua physiologica a 8 4 / w . de modo a se ter uma concentração final 96 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 145 de NaCl de 4 , mais favoravel para se obter emulsões estáveis, não auto- •gglutinaveis. Verificámos que o germe apresenta agglutinação em relação a certos sôros e que esta propriedade se modifica com as repicagens, desapparecendo no fim de certo tempo. Por algumas reacções, que praticámos juntamente com J. Tra- '■assos, verificámos que de vários sôros examinados, apenas dois, de convalescen- tes. agglutinavam a emulsão; os outros, tanto de doentes (sôros já antigos), como de Macacus rhesus immunizados, não soffreram acção alguma. A agglutinação manifestada não se manteve nos dias seguintes, após novas fepicagens mesmo com o sôro com o qual era a principio observada. Assim, o r esu!tado com um destes sôros, foi o seguinte em 3 verificações: Em 1 -V 1 1 1- 1 929 titulo de agglutinação 1/640 (+- f) Em 4-VIII-1929 „ „ „ 1/640 (++) Em 14-V1U-1929 1/20 (++) A pesquisa de anticorpos fixadores do complemento com antigeno preparado c °m o Corynebacierium R44s, foi negativa. V - Pesquisas em outros animaes inoculados com o virus Em outros animaes, alem do Macacus rhesus, também inoculados com o virus ^sangue de rhesus infectados) foram feitas algumas verificações no tocante ao ,s olamento de microorganismo na corrente circulatória. Dentre estes animaes, considerados refractarios ao virus, as pesquisas foram fe >tas em um cão, 3 gatos e 3 cobaias. Com o cão e as cobaias, que nenhuma rcacçáo apresentaram em consequen- Cl * da inoculação do virus, as semeaduras foram feitas com sangue colhido por Puncçáo cardíaca depois de decorridos 7 e 20 dias da inoculação, sendo constan- le, tiente negativos os resultados da cultura, em meios, tanto aerobios, como anae- r °bios. Resultado negativo obtivémos tambem em 2 gatos. No terceiro gato exami- n *do (gato I) e que teve reacçáo febril, sendo a puneçáo cardíaca praticada nesta 0<:ca siào (12* dia), o resultado da cultura foi positivo. Effectivamente, decor- adas 48 horas de estufa a 37°, observou-se, somente em caldo glycosado anaeróbio tubos contendo ao fundo pequenos pedaços de musculo cardíaco e a superfície COtI > uma camada de oleo de vaselina) o desenvolvimento de cultura, com turvaçào 1 deposito no fim de alguns dias. O interesse deste resultado reside em que a cultura pura obtida era de um Microorganismo que. por seus caracteres morphologicos e tinctoriaes, se identi- ‘ lc *va facilmente a um Corynebacterium. Esse germe designamos por Corynebac- lrr 'um G I s, para indicar sua origem (sangue do gato 1), como já havíamos feito Corn o isolado do rhesus 44. 97 146 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Coryncbacicrium G 1 s - Não faremos, no entanto, uma descripção minuciosa deste microorganismo, porque seu estudo está ainda em andamento, devendo ser objecto de um trabalho posterior. Apenas assignalaremos algumas das suas ca- racterísticas principaes. O Coryncbacterium G 1 s somente se desenvolve em meios anaeróbios, de preferencia glycosados. Em gelose sangue, simples e glycosada, em aerobiose, o desenvolvimento, mesmo depois de 2 repicagens, é nullo, não sendo possível, mesmo com o auxilio de uma lente, verificar a presença de colonias. Não conse- guimos, por enquanto, a adaptação do germe neste meio, conforme aconteceu com o anteriormente estudado. O Corynebacicrium G 1 s é Gram-positivo. não resistindo, porém, a uma descoloração muito intensa. Corado pelo Giemsa, azul de Loeffler ou pelo Neisser, cada bacillo revela a presença de 2 granulações metachromaticas em situação polar, approximando-se neste aspecto ao microorganismo já citado e descripto por Sellards. Este aspecto é o que se observa na cultura em caldo glycosado anaerobio original; nas das sub-culturas subsequentes, o aspecto é idêntico, apenas as gra- nulações parecem um pouco menores. 1‘athojrcnicidade e relação com a febre amarella. Uma cultura em caldo glycosado da 6.* repicagem foi inoculada, por diffc- rentes vias, em cobaias, coelhos e gato, na dose de 1 a 3 cc„ e num Macacus rhesus, por via peritoneal, na dose de 5 cc. Em resultado destas inoculações os animaes nada apresentaram de anormal (reacçào febril ou outro symptoma), podendo-se concluir pela não pathogenici- dade do Coryncbacterium nas condições experimentaes descriptas. Suas relações com a febre amarella não se evidenciaram, pelo menos a julgar pelo resultado do unico rhesus inoculado. Este (Macacus rhesus 113) foi inoculado com aquelle germe em 30-7-30 e. 3té o momento, decorridos mais de 30 dias, nenhum signal denotou da infecção- &S J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 147 Nestas condições, julgamos acertado no momento conservar a conclusão, já emittida em trabalho anterior, de que esses typos de Corynebactcrium apresentam um provável "biotropismo” sob a influencia do virus amarillico. Somente novos estudos, baseados nas idéas modernas sobre a dissociação nticrobiana e differentes phases da evolução das bactérias, poderão um dia es- tabelecer definitivamente o verdadeiro papel representado pelos corynebacterios °u, mais particularmente, por algum dos seus representantes no decurso do typho amarillico; esses novos estudos poderão também, o que é mais provável, mostrar que esses microorganismos são meros saprophytas existentes no organismo e cujo biotropismo” se exaltou sob a influencia do virus; isto viria esclarecer as rela- ções immunologicas, que podem ser observadas entre elles e a infecção, relações ^sas que seriam de natureza não especifica e devidas a formação de anticorpos collateraes por elles provocada. SUMMARIO E CONCLUSÕES GERAES Na introducçào mostramos a importância que apresenta em nossos dias a pfotobiologia (assim podendo denominar-se o ramo da bacteriologia que estuda 05 virus chamados filtráveis) e os progressos realizados nestes últimos annos no fstudo destes elementos. No que diz respeito á febre amarella. a verificação de Stokes, Baucr e ^udson, referente á natureza do agente etiologico, assim como á sensibilidade de Urtl simio asiatico á infecção, representa um novo passo no estudo dos virus, cons- •'hiindo também um dos factos culminantes na historia da febre amarella que, c °nio consequência, entrou para o terreno verdadeiramente experimental. Explicamos os motivos da realização dos nossos estudos em Butantan, accrcs- Ce ntando que faremos uma resenha das modernas contribuições á febre amarella ^Perimental, consequentes aos estudos fundamentaes da commissào americana na África, e que assignalaremos de preferencia as pesquisas pessoacs que rea- támos sobre o assumpto. O trabalho é dividido em 5 capítulos: O 1 trata do virus da febre amarella; o II. dos transmissores e vehiculadores w ° virus; o III, da anatomia e histologia pathologica na infecção experimental; o da immunologia da febre amarella e. finalmente, o V, das associações micro- l8 nas e biotropismo de certos germes no decurso da infecção humana e experi- mental. I. O capitulo I é dividido em varias partes, nas quaes são estudados os virus ^ericano, africano, sua identidade, conservação e propriedades e o virus arnaril- c ° neurotropico. 99 148 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Em relação ao virus americano, verifica-se, pelas experiencias descriptas, o isolamento do virus responsável pela febre amarella no Brasil; esse virus foi isolado em S. Paulo de um doente vindo do Rio de Janeiro já no periodo de in- cubação do mal. Este virus poude resistir activo, determinando a infecção, depois de ter permanecido em congelação a -S C. durante 18 dias. Os rhesus apresentaram menor sensibilidade ao virus americano; o periodo de incubação é geralmente mais longo e a infecção pode evoluir, ás vezes, sem elevação thermica. Dois rhesus foram inoculados com sangue do doente, colhido no 1.® dia de febre. Um dos animaes teve a infecção amarillica, conseguindo-se 3 passagens do virus de macaco a macaco, entre as quaes a segunda também foi mortal; o outro rhesus teve uma infecção benigna, mostrando-se immunizado em relação ao virus africano inoculado posteriormente. Dois rhesus foram inoculados com sangue do doente, colhido no 2.® dia de febre, um resistiu a uma segunda inoculação do virus africano, mostrando-se immunizado; o outro não. Um rhesus inoculado com uma mistura de sangue do doente, colhido nos l.°, 2.° e 3.° dias, apresentou uma infecção atypica, sem ele- vação de temperatura. Outro facto que se observa nos resultados experimentaes obtidos é a iden- tidade dos virus responsáveis pela febre amarella entre nós e na África. Os rhe- sus que resistiram á infecção com o virus americano mostraram-se, com uma excepçáo apenas, immunizados em relação ao virus africano, seguramente activo inoculado posteriormente. O virus africano estudado foi o da raça Asibi, proveniente de Lagos, Nigéria. O seu comportamento experimental foi estudado em numerosas passagens de macaco a macaco, quer usando o material fresco, in natura, quer depois de seceo e conservado cm condições óptimas. Resultados mais seguros na infecção experimental foram conseguidos com * inoculação de sangue fresco, colhido no periodo de reacção febril do macaco in- fectado, e com a inoculação de emulsão de fígado, colhido após o animal ter sido sacrificado em periodo de hypothermía. A actividade do virus pode apresentar variações decorrentes de diversos factores, entre os quaes também se deve col* locar a sensibilidade individual dos animaes. O virus sccco, convenientemente obtido e conservado, manteve sua actividade por mais de 3 meses, e determinou, no fim deste prazo, a infecção com evolução característica. Por motivos vários, o virus pode-se attenuar e, neste caso, apenas determin* f reacção febril, quando inoculado; outras vezes, essa reacção pode não existir» sendo a infecção inapparente, porém o animal se mostra immunizado em relaçá® a uma segunda inoculação de virus seguramente activo. Para o estudo do virus amarillico, indicamos a technica empregada par* a contcnsão, inoculação e sangrias dos Macacus rhesus, assim como os mei para a conservação do virus in natura e do virus secco no vacuo. 100 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 149 Uma parte de interesse nos estudos realizados sobre as propriedades do virus, t a que se refere á sua resistência á acção dos antisépticos. Mostramos em por- menor as experiencias realizadas; nellas evidenciamos que o virus africano (figado de rhesus infectado) mesmo emulsionado em agua phenolada a 5 Voo e formolada a “ Voo* porém mantido em condições óptimas ou próximas de temperatura (2°C), é capaz de. mesmo no fim de 27 dias. determinar a infecção com evolução clinica inapparente (comprovada com passagem positiva no fim de 16 dias). A permanência em condições desfavoráveis de temperatura durante certo tempo destróe o virus, embora a emulsão conserve suas propriedades antigenicas. O facto de não se ter conseguido a filtrabilidade do virus, quando no orga- nismo do mosquito, attribuimos ás condições de meio em que as experiencias foram realizadas por outros autores. Se as emulsões dos insectos infectados forem feitas em meios favoráveis, diminuindo os phenomenos physico-chimicos que acarretam a retenção do elemento activo, os resultados serão provavelmente favoráveis, e mostramos os resultados que a respeito obtiveram posteriormente outros pesquisadores. Assignalamos os ensaios realizados por differentes autores, que mostram a Possibilidade da passagem do virus através da pelle e das mucosas, mesmo intactas. Estudamos, por fim. o virus neurotropico para o camondongo branco, confir- mando so trabalhos de Theiler. Mostramos a este respeito as passagens que con- seguimos fazer até o momento, tendo observado também a infecção amarillica d o Macacus rhesus pela inoculação do virus depois da 3.* passagem pelo cerebro fo camondongo branco. II. Em seguida são estudados os transmissores e vchiculadores do virus ama- r 'Hico, sendo o assumpto encarado sob differentes aspectos. Assignalamos a con- firmação, sob o ponto de vista experimental, da transmissibilidade do virus pela Picada do Aédcs aegypti. As modernas aequisições scientificas sobre a trans- missibilidade do virus são revistas: a possibilidade da transmissão do virus por °utras espccies de Acdes, além do aegypti e por mosquitos de outros generos Segundo as verificações de Bauer e os mais recentes resultados obtidos por Davis e Shannon; os trabalhos de Aragào c Costa Lima, pelos quaes se verifica a pos- sibilidade de o virus ser vehiculado pelas fezes de Aedes aegypti infectados, da Passagem do virus de mosquito a mosquito e da infecção do Aedes macho. Mostramos depois os resultados das nossas experiencias quanto á possibili- dade de o virus amarillico ser vehiculado pelas fezes de percevejos ( Cimcx lectu- hrtus)' Com effeito. verificamos que percevejos alimentados em rhesus infectados e em periodo de reacção febril, eliminam, depois de alguns dias, o virus pelas fezes, que se tornam infectantes e determinam a infecção experimental caracteris- ,Ic a. quando inoculadas em rhesus normaes. O tempo de eliminação do virus pelas k*es dos percevejos não deve ser superior a 15 dias, c depende de certas con- dões. como o tamanho do insecto, a quantidade de sangue infectante ingerida, e,c -; deve perdurar, provavelmente, durante todo o tempo em que houver elimi- 101 150 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V nação dos productos oriundos da alimentação. O viras não soffre evolução no organismo do percevejo, nem se multiplica nelle; apenas resiste na sua passagem pelo tubo gastro-intestinal, sendo o insecto, pois, um mero vehiculador. Sabendo-se que o percevejo, depois de cheio, geralmente defeca no lugar da picada ou em suas proximidades, esta possível vehiculação do viras tem impor- tância epidemiologica. Na hypothese de a alimentação anterior ter sido num indi- víduo doente, em período propicio, o percevejo poderá depositar, por occasião de uma picada em indivíduo são, fezes que seriam virulentas. O viras, então, atra- vessaria a pelle, principalmente estando esta irritada como consequência da pica- da; isto poderia ainda ser facilitado pelo facto de poder o material ser esfregado pela própria pessôa ao coçar-se por causa do prurido. As experiencias descriptas faliam a favor dessa possibilidade. Um rhesus normal foi inoculado com emulsão de fezes de percevejos, reu- nidas do 2° ao 12.° dia após a picada infectante num Macacus rhesus em período de reacçáo febril. A infecção teve evolução clinica característica e confirmação histo-patholo- gica. Passagens positivas foram conseguidas pela inoculação de sangue, colhido em período febril, e de emulsão de figado do macaco assim infectado. A’s vezes pode não existir a infecção clinicamente typica, porém os animaes inoculados com as dejecções emittidas dentro do prazo em que estas poderiam conter o viras mostram-se immunizados em relação a uma segunda inoculação de viras activo. Deantc destas verificações experimentaes é justo que os serviços de prophy* laxia amarillica não se descuidem destes insectos (Cimex lectularius ) , por ven- tura existentes nas habitações de onde são removidos doentes de febre amarella. E' possível que, por este mechanismo, outros hematophagos também possam vehicular o viras amarillico. Tal facto que verificamos, assim como os observados por Aragáo e Costa Lima (de que as fezes do Aèdes são também infectantes e que o viras se pode transmittir directamente de mosquito a mosquito) vem explicar certos casos da epidemiologia da febre amarella, até então inexplicáveis. Mostramos depois o resultado das pesquisas preliminares, que realizamos para a verificação da possibilidade da existência de depositários do viras entre os animaes domésticos. As experiencias foram feitas com o cão e, embora não autorizem conclusões definitivas, fazem suppor que durante um certo numero de dias esse animal pode ser um depositário do viras amarillico. As experiencias com gatos foram mais interessantes sob este ponto de vista- De um destes animaes, inoculado com o viras e que apresentou reacção febril e outros symptomas, colhemos sangue no 12° dia, obtendo, pela sua inoculação no Macacus rhesus, uma infecção amarillica característica. Segundo indicam as provas de immunizaçào dos rhesus inoculados com o san- gue de gatos, depois de decorridos 30 dias, é provável que o viras possa persistir no organismo destes felinos por período superior a este prazo. 102 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 151 Assignalamos os resultados semelhantes sob certos pontos de vista, obtidos por Bauer e Mahaffy, com a inoculação de certos macacos africanos. Accentuamos a importância que, sob o ponto de vista epidemiologico da febre amarella, possam ter os resultados experimentaes obtidos e a necessidade do Proseguimento destes estudos sob outras condições. III. Em relação á anatomia e histologia pathologica, nos limitamos a trans- crever os laudos dos exames histo-pathologicos, praticados pelo dr. Juvenal R. Meyer, em material de rhesus inoculados com fezes de percevejos infectados. Estes laudos confirmam a infecção amarillica assim obtida e, portanto, os resul- tados experimentaes que assignalamos no capitulo anterior. IV. Depois são estudados vários aspectos do problema da immunologia da febre amarella. De inicio mostramos a importância destes estudos, não só sob 0 ponto de vista scientifico, como também do ponto de vista pratico, no que diz respeito ao diagnostico da infecção e preparo de elementos com que se poderá combater o mal. A respeito da vaccinaçào preventiva, estudamos as differentes technicas para o preparo da vaccina: technica de Hindle, technica de Aragáo c a technica que empregamos. Como consequência de estudos experimentaes e pelos resultados obtidos no Preparo da vaccina contra outros virus ( rinder-pest ), empregamos o chloroformio como elemento para a attenuaçào ou destruição do virus nas emulsões vaccinicas. A technica para o preparo da vaccina amarillica, segundo o methodo que Preconizamos, é dada em todos os seus pormenores. Mostramos ainda os resul- tados experimentaes que obtivemos e pelos quaes se evidencia a innocuidade da v accina e o poder protector dos rhesus em relação ao virus amarillico segura- mente activo. Referimo-nos ao sôro anti-amarillico de Pettit e seus collaboradores, assim como ao que obtivemos pela immunização de um cavallo, não depositando, en- tretanto, grandes esperanças nesse meio therapeutico. Em relação ao diagnostico da febre amarella mostramos a importância de Poder ser elle estabelecido com segurança ainda em vida do doente, principal- mente no inicio das epidemias e nas formas frustras do mal, quando apresenta Cinicamente grandes difficuldades. Dos methodos de laboratorio que surgiram como consequência dos modernos estudos assignalamos, em primeiro lugar, as rcacções baseadas no desvio do com- plemento. Mostramos a nova technica que estudamos juntamente com J. Travasos, nosso companheiro de trabalho e cujos resultados são os mais animadores possi- v eis. Este methodo se baseia no emprego de um antigeno amarillico (fígado de Macaco infectado, tratado sob certas condições) de grande especificidade, e pela feitura da reacção praticada com um numero crescente de unidades complemen- tes comparada com a do testemunha do sôro, com numero idêntico de unidades c °rnplementares, quando os sôros são dotados de propriedades anti-complemcntares. 103 152 Memórias do Instituto Butantan — Tonto V Pelos resultados obtidos, a reacção poderá servir para o diagnostico da in- fecção, tanto humana, como experimental, mas principalmente para a verificação dos convalescentes e dos rhesus immunizados. Outra vantagem, decorrente dos estudos praticados com soros de naturaes do paiz, residentes em zonas onde o mal tem surgido, e de extrangeiros recemchegados e sensiveis, é que poderá fornecer indicações sobre as pessoas naturalmente immunizadas e as que não o são, ser- vindo, portanto, para seleccionar os indivíduos que necessitam da vaccinaçáo pre- ventiva contra a febre amarella. Os sôros dos nacionaes normaes e residentes em zonas onde o mal é endê- mico (Bahia), apresentam, na proporção de quasi 50 anticorpos fixadores do complemento, ao passo que os de extrangeiros recemchegados dão resultados sempre negativos. Por conseguinte, o estabelecimento do diagnostico, pelo desvio do comple- mento. no primeiro grupo, deve ser cercado de certas reservas, conforme, aliás, também deve acontecer quando se recorre á prova do poder protector dos sôros em relação á infecção experimental, porquanto aquelles soros se mostram capazes de proteger o Macacus rhesus, desde que sejam também dotados de anticorpos fixadores. Assignalamos, em seguida, a reacção de Costa Cruz, baseada na dosagem da slexina, que é diminuída na febre amarella em evolução; as modificações da coagulação sanguínea estudadas por Vellard e Vianna e finalmente a reacção que estudamos, baseada na agglutinaçào não especifica, manifestada por certo Coryncbactcrium em relação aos sôros de doentes, convalescentes e de Macacus rhesus experimentalmente infectados. V. No capitulo V estudamos uma face interessante do problema da febre ama- rella, que trata das associações microbianas e do biotropismo de certos germes sob a influencia do vinis amarillico. O assumpto é tratado de um modo geral á luz dos conhecimentos modernos sobre os phenomenos de dissociação micro- biana, mutações e formas filtráveis das bactérias. De um modo mais especial e em virtude das experiencias pessoaes, estudamos o problema das associações mi- crobianas e o biotropismo dos Coryncbactcrium sob a influencia do virus, facto que provoca no organismo a formação de anticorpos collateraes, que podem ser evidenciados. Mostramos depois os resultados obtidos por Kuczynski, e as verificações de Costa Cruz relativas ao Bacillus hcpato-dystrophicans, considerado um Coryncbac- terium. Finalmente, descrevemos nossos resultados experimentaes sobre a pesquis* de microorganismo no sangue dos Macacus rhesus infectados e de outros animaes inoculados. Assim é que conseguimos isolar dois typos de Corynebacterium, cujos caracteres e propriedades são estudados; pelo comportamento experimental 104 J. Lemos Monteiro — Febre amarclla experimental 153 destes germes apenas confirmamos nossa conclusão anterior de que microorga- nismos desse grupo poderão ter o seu biotropismo exaltado sob a influencia do virus amarillico. • m Concluindo este trabalho sobre os modernos conhecimentos a respeito da febre amarella experimental e os estudos que realizamos em Butantan desde Principios de 1929, desejamos expressar o nosso agradecimento a todos os com- panheiros de trabalho no Instituto, particularmente a J. B. Arantes, J. Travassos e R. Godinho, pelo constante auxilio que nos prestaram, e a J. R. Meyer, do Ins- tituto Biologico. Ainda todo o nosso reconhecimento aos prezados mestres prof. H. da Rocha Lima e H. de B. Aragão, a cujo saber e experiencia muitas vezes recorremos e, muito especialmente a Afranio do Amaral que, facilitando as nossas pesquisas c om o material e apparelhamento necessários, assim como pelos seus conselhos e orientação, vem cumprindo também um dos pontos capitaes da sua actual e Proveitosa administração em Butantan: o estudo dos problemas relacionados com a pathologia humana e que mais de perto interessam a nossa nosologia. 105 1Í4 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V “ESTUDOS SOBRE A FEBRE AMARELLA Modernos conhecimentos sobre a infecção experimental” br J. LEMOS MONTEIRO S U M M A R Y Introduction Chapter I The yellow fever Tirus I • Susceptible animais. II - The American virus (experimental part). III - The African virus (experimental part). IV - Identity of the African and American viruses. V - Preservation and properties of the yellow fever virus. 1 - Contention and inoculation of Macacos rhesus. 2 - Preservation of the virus in na t ura. 3 - Preservation of the dried virus. 4 - Virus resistance. 5 - Its resistance to the action of antiseptic under certain conditions. 6 • Virus fiitrability. 7 - Virus penetration through the skin. V'I - Neurotropic yellow fever virus and mouse sensitiveness. Chapter II Hosts and carriers of the yellow fever virus I - Transmission by Aêdes aegypti. II - Transmission by others mosquitoes than Aêdes aegypti. III - Transmission by the faeces of infected Aêdes. IV - Possibility of the virus transfer from mosquito to mosquito and infection of male Aêdes. V • Experiments with bed-bugs. Transmission of the yellow fever virus by the faeces of infected bed-bugs, Cimex lectularius. VI - Possibility of the existence of carriers of the yellow fever virus among domestií animais: a) experiments with the dog; b) experiments with the cat. Chapter III PatholoRical histology of experimental yellow fever Chapter IV Immunity in yellow fever I - Yellow fever vaccine. 1 - Hindie’s technic. 2 - Aragão’s technic. 3 - Chloroform vaccine. II - Anti-yellow fever serum. 106 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 155 III . Biological reactions. 1 - Complement fixation. 2 • Alexine reductíon. 3 • Changes in blood coagulation. 4 - Non-specific agglutination. Chapter V Bacterial associations and biotropism of some microorganismo in lhe course of human and experimental yellow fever I - General considerations. II - Bacillas hepato-dystrophicans Kuczynski. III - Costa Cruz verifications about Kuczynski's gcrm. IV - Microorganisms in the blood of .Macacos rhesus infected with yellow fever viras and of other animais inoculated with it. 1 - Corynebacterium R44s. 2 - Corynebacterium G I s. Abstract and general conclusions Bibliography ABSTRACT AND CONCLUSIONS The A. first shows the importancc bomc nowadays by protobiology, that ^ r *nch of bacteriology dcaling with the filterable viroses. This is shown by the Pfogress recently made in the study of these organisms, especially in regard to yellow fever as provcn by the work done by Stokcs, Bauer and Hudson concem- ,n g the nature of its etiological factor and the susceptibility of an Asiatic monkey ,0 it. Both of these facts represem importam steps in the history of yellow fever v hich has definitely cntered into the experimental stage. This monograph based on various experimental investigations made at the Instituto Butantan begins with a revision of many recent observations on experi- mental yellow fever as derived from the fundamental work done by the American Commission in VTest África. The present contribution is divided into 5 chapters: ehapter I dealing with the yellow fever viros; chapter II, with hosts and carriers °I the viros; chapter III. with the pathological fcature of experimental yellow ^ cv er; chapter IV, with immunity in yellow fever; chapter V, with bacterial as sociation and biotropism of certain germs isolated in the course of the disease, human and experimental. I - The first chapter is divided into several sections in which the characters °1 the viros, of both the African and the American strains, are discussed together v, *h their identity, properties and means of preservation. The American strain the one responsible for the late epidemics of yellow fever in Rio. whence a 107 156 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V patient in the incubation period of the disease came to São Paulo. The virus isolated from this patient, after having been kept in ice box at -8°C. for 18 days, caused the infection of a rhesus monkey. However, upon inoculation. specimens of Macacus rhesus proved to be less sensitive to the American virus, than to the African, thç incubation period of the former in general being longer and the infection induced by it sometimes developing no feve r . Of two monkeys inoculated with that patient’s blood taken on the first day of fever, one developed a typical infection which enabled three successive transfers of the virus from monkey to monkey, the second transfer also being fatal, whilst the other developed a mild infection and resisted a later inocula- tion of the African virus. Of two rhesus inoculated with human blood taken on the second day of fever. one resisted a further inoculation with the African virus, thus showing to have become immune, whilst the other did not resist it. A rhesus inoculated with a mixture of blood taken from the same patient on his first, second and third days of fever, developed an atypical infection characterized by absence cf fever. With only one exception all the rhesus injected with the American strain resisted further inoculations with the highly virulent African strain, a fact which confirms the identity of these two strains. The action of the African strain (Asibi strain), isolated in Lagos, Nigéria, was investigated, through numerous transfere from monkey to monkey, by using virulent material either fresh or dried and preserved under optimal conditions. Best results were secured in the attempts to experimentally reproduce the infect- ion by using either fresh blood taken in the couree of the febrile period froffl an infected monkey or an emulsion of liver taken from a monkey killed during the latest or hypothermic period of infection. Several facts appear to influence the activity of the virus, and there seem to exist some individual variations in the susceptibility of the rhesus to the virus. The dried virus, if conveniently prepared. was active after three months of preservation, then being still able to cause a typical infection. The activity of the virus becomes attenuated under various conditions so as to cause but s febrile reaction on inoculation; sometimes, however, this reaction does not appear (non-apparent infection) but the monkey becomcs immune to a further inocula- tion of the active virus. The A. describes the technic he used in holding, injecting and bleeding the rhesus monkeys as well as in preserving the virus both in natura and after des- sication in the vacuum. In the light of the experiments made. the resistance of the virus to antisepties is very interesting: an emulsion made in water with the liver of a rhesus infected with the African strain plus 0.5^ phenol and 0.2 'e formalin and kept under optimal or nearly optimal conditions (2°C.), was able. even at the end of 27 days, to bring about the infection, clinically non-apparent. 108 J. Lemos Mosteiro — Febre amarella experimental 157 >'et proved by a positive transfer of the virus to another monkey, this being inoculated with the 16 day-old liver emulsion. Keeping the virus for some time under unfavourable temperature conditions * s detrimental to the maintenance of its virulence but not to the retention of its antigenic power. The unfilterability of the virus when this is found in the body of the mosquito Síems to be due to some improper conditions under which the various investi- Bators have tried the experiment. That the virus is filterable while in the mos- quito is anticipated, provided that some precautions be taken to diminish the influence of the physico-chemical phenomena responsible for the retention of the 'irus by the candle. In this connexion the results obtained by Bauer and Mahaffy are quoted as compared with those obtained by the A. in the filtration of the cow pox virus (vaccine virus) when found in a proper médium such as glucose broth, pH— 8.0. The penetrability of the virus through the normal skin and the uiucous membranes confirms what has been demonstrated in this respect by nu- u^erous experiments conducted by previous investigators. Finally, Theiler’s experiments on white mice are confirmed by the successful inoculation of rhcsus with the neurotropic virus from the 3rd. transfer through mice. II - In the second chapter, concerning hosts and carriers of the yellow fever virus, the transmission by the sting of the Aèdes aegypti is cited, while °ther fcatures of our newer knowledge of the virus propagation in nature are also reviewed, special reference being made to the following topics: transmission °f the virus both by species of Aèdes besides aegypti and by mosquitocs of other Kcnera as verified by Bauer and still more rccently by Davis and Shannon; pos- aibility of the virus being carried by the faeces of infectcd Aèdes aegypti or ^ e ing transferred from mosquito to mosquito and even from a female mosquito ,0 a male as found by Aragão and Costa Lima. Several experiments are described in detail to show the possibility of the v 'rus also being carried by the faeces of bed-bugs ( Cimex lectularius) . Bed-bugs fed on monkeys infected with yellow fevcr during the fcbrile period, a few days 'ater begin eliminating the virus with their faeces; these become so virulent as *° cause a typical infection when experimentally injected into normal rhesus. The period of the virus elimination by the bed-bug faeces scems not to last over *5 days and depend upon such conditions as the insect size, amount of infectcd blood sucked etc.; it is very likely to last only so long as the excretion of the 'ufected faeces goes on. Anyway, the virus appears not to undergo any evolution n °r to multiply in the bed-bug body, but it resists passing through the intestines this insect. For this reason it is assumed that the bed-bug may serve as a c *rrier to the virus. Indeed, it is known that after its feeding the bed-bug usually 'acretes on the site of its sting or near it so as to represem a rôle of certain : mportance in the epidemiology of yellow fever. Should the previous feeding of 109 158 Memórias do Instituto Butar.tan — Tomo V a bed-bug be made on a yellow fever patient during the septicaemic period, the faeces excreted by it while feeding on another person may then leave the virus on the site of the Iatter sting. In the light of the experiments made, this mecha- nism explains how the virus may penetrate into the system after Crossing the skin, an action which seems to be favoured both by the irritation caused by the sting itself and by the scratching made by the patient. A normal rhesus, inoculated with an emulsion of bed-bug faeces. secured from the 2d to the 12th day following the bug feeding on another infected and feverish rhesus, developed a typical infection confirmed after death by the pre- sence of specific histological lesions. Successful transfers were also obtained afterwards through the inoculation of both the blood taken in the febrile period snd the emulsion of the liver of this monkey. Sometimes the infection does not follow a typical couree, yet the animais which have been inoculated with faeces probably contaminated with the virus, show immunity to further inoculation with the active virus. It is necessary to bear in mind all these observations at the time of epidemics of yellow fever, and include into its prophylaxis the destruction of any bed-bugs which may be found in the houses whence patients of yellow fever have been removed. It is possible that other blood-sucking insects will carry the virus in the same way as describcd for the bed-bug. Anyhow, this fact togethcr with those observed by Aragão and Costa Lima in regard to both the infectiveness of the Aédes faeces and the direct transmissibleness of the virus from mosquito to mosquito, may explain certain features in the epidemiology of yellow fever which have been found rather puzzling. Various attempts were made to discover carriere of the virus among domestic animais. From some preliminary experiments made on the dog it seems indicated to assume that this animal may keep the virus in its body for at least a few days. Experiments made on cats proved to be still more interesting. Blood taken from a cat on the I2th day of a febrile infection as brought about by the inocu- lation of active virus, caused a typical yellow fever infection in a normal rhesus. Furthermore. the virus may keep in the body of the cats for over one month as shown by the immune reactions bome by monkeys inoculated with cats blood taken 30 days after the infection. These results although based upon observa- tions made on domestic animais, morphologically unrelated to the simia, seem to corroborate those obtained by Bauer and Mahaffy with the inoculation of certain African monkeys. In víew of the importance of the ròle played by all these animais in the epidemiology of yellow fever it seems advisable to continue with these investi* gations to throw further light on the mechanism of the preservation and trans- mission of the yellow fever virus under natural conditions. 110 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 159 111 - In regard to the pathological feature of experimental yellow fever, as shoun in the third chapter only the histological lesions found in monkeys inocu- lated with virulent faeces of infected bed-bugs, were examined by Dr. J. R. Meyer, *hose protocols confirmed the infection and thus the diagnosis made and the conclusions reached at, in the course of this study. IV’ - The fourth chapter concerns various immunological aspects of yellow fever which were also investigated with a view to finding some new method seientifically sound and easy to apply, that might, on the one hand, be efficacious in combating the disease and, on the other hand, help in the establishment of its diagnosis. In connexion with the prophylaxis of yellow fever by means of vaccines, an analysis is made of the various technics used in their preparation such as Hindle’s, Aragão's and the Author's. Based on various observr.tions on the vinis resistance •o antiseptics and also on one of the methods of preparation of rinder-pest vac- ine, chloroform was used as a means of attenuating or rather destroying the v 'irus in the vaccine. The technic employed in the preparation of the chloroform vaccine is given in detail as well as the results obtained by its application show* ing it to be innocuous and capable to protect a rhcsus monkey against a funher inoculation with the active vinis. Reference is made to the anti-yellow fever serum as prepared by Pcttit and his co-workers and by the A. who. however, does not trust much its efficacy. As regards the diagnosis, it is most importam that it be definitely established v hile the patient is still alive especially in the beginning of epidcmics and also in cases of the mild form of the infection. Since clinicai diagnosis of thesc cases is virtually impracticable. various methods have been tried to solve the problem. Among the laboratory methods developcd in the course of the late epidcmics °f yellow fever, complemcnt fixation seems to be one of the most trustworthy. This method was applied by the A., in collaboration with J. Travassos, with the most successful results. It is based in the use of a specific antigen prepared from livers secured from infected monkeys and triturated under spccial physical c onditions. From the results obtained. the complemcnt fixation test seems to serve as a safe method to be applied in the diagnosis of yellow fever either hunian or experimental and most particularly in the discovery of persons conval- escing from, or rhesus monkeys recently immunized against, the infection. The *era of normal natives living in cities like Bahia where yellow fever has been more or less endemic for some time show complemcnt fixing antibodies in a Proportion as high as 50 %, whilst those of newly arrived foreigners give nega- *' v e results in all cases. This fact indicates that the application of the complemcnt ^úcation reaction in places where yellow fever is endemic must be resortcd to v, th certain precautions to avoid errors. No doubt even the proof based on the Protecting power of the serum in regard to the experimental infection is liable 111 160 Memórias do Instituto Butar.un — Tomo V of misleading results in endemic centers because those sera which may protect the rhesus usually bear complement fixing antibodies. Other laboratory methods applicable to the diagnosis are reviewed: the de- termination of the alexine which is lowered in the course of yellow fever, as found by Costa Cruz; the modifications in the blood coagulation, as investigated by Vellard and Vianna and, finally, the non-specific agglutination of a Coryne- bacterium in presence of serum from either convalescents or rhesus experimen- tally infected. V - The fifth chapter concerns another interesting feature of yellow fever, e.g., the bacterial association and the biotropism of certain gerais in presence of the yellow fever virus. This subject is dealt with in the light of our newer knowledge of the evolution of bactéria, their dissociation, mutation and filterable stage, particularly emphasizing the ròle played by the Corynebacteria under the influence of the virus, a fact that brings about the presence of collateral anti- bodies in the blood. Kuczynskis investigations on his Bacillus hepato-dystrophicans are discussed, quoting Costa Cruz’ view who regards this germ as a Corynebacterium. Finally, various experiments are described about the presence of microor- ganisms in the blood of infected monkeys (Macacas rhesus) and other animais experimentally inoculated with the virus. Two types of bactéria were thus isolated and proved to belong in the genus Corynebacterium; their behaviour confirmed the previous observation conceraing the biotropism exaltation of these germs under the influence of the yellow fever virus. 112 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimenta! 161 B1BLIOGRAPH1A Esta bibliographia encerra referencias a numerosas publicações, posteriores, não somente aos trabalhos fundamentaes de Stokes, Bauer e Hudson, mas tam- b*tn, em parte, ás próprias pesquisas discutidas no texto. Deste modo ficará facilitada a tarefa daquclles que desejarem fazer estudos sobre a febre amarella c *perimental á luz dos modernos conhecimentos. 1- Agramonte, A. — Consideraciones acerca dei agente etiologico en Ia fiebre amarilla. Sciencia Medica VI (6). 1928. 2. Aragão, H. de B. — Observações sobre a febre amarella no Brasil. Brasil Medico XLIK27) . 1928. 2. Aragão, H. de B. — Etiologia da febre amarella. Folha Medica 1X(!8).1928. Aragão, H. de B. — Relatorio a respeito de algumas pesquisas sobre a febre ama- rella. Suppl. Mem. Inst. Osvaldo Cruz (21.1928. 5- Aragão, H. de B. — Récherches sur la fièvre jaune. C. R. Soc. Biologie XCIX(30). 1928. *• Aragão, H. de B. — Possibilidade da infecção de Ac des aegypti machos com virus da febre amarella. C. R. Soc. Biol. C1I (29) . 1929. Brasil Medico XLIIM24» . 1929. '• Aragão, H. de B. — Sobre a transmissão do virus da febre amarella pelas fezes de mosquitos infectados. Brasil Medico XLIIK24) .1929. Aragão, H. de B. — Possibilidade da propagação directa da febre amarella de ste- gomyia a Acdes aegypti sem intervenção do homem. Brasil Medico XLIIt (31 ) . 1929 et C. R. Soc. Biol. CIK29) . 1929. *• Aragão, H. de B. — Modernas aequisições sobre a febre amarella experimental. Arch. de Hygiene III(2).1929. Aragão, H. de B. — Yellow fever virus: transmission of Brazilian strains to Atacu- cus rhesas and Macacus cynomolgus: preliminary report. J. A. M. A. XCII(7).1929. **• Aragão, H. de B. — Infecção do Acdes aegypti macho e possibilidade da propa- gação da febre amarella de Stegomyia a Stegomyia sem passagem pelo homem. Suppl. Mem. Inst. Osvaldo Cruz (91.1929. *2 Aragão e Costa Uma — Sobre a transmissão da febre amarella pelas fezes de mosquitos infectados. SuppL Mem. Inst. Osvaldo Cruz (81.1929. Aragão e Costa Uma — Sobre a infecção de Macacus rhesas pela deposição de fezes de mosquitos infectados sobre a pelle ou na conjunctiva ocular integras. Suppl. Mem. Inst. Osvaldo Cruz (91.1929, C. R. Soc. BioL C!((29l.l929 et Rev. Med. Cir. do Brasil XXXVII ( 10) . 1929. 113 162 Memórias do Instituto Butaman — Tomo V 14. Aragão e Cosia Lima — Sobre o tempo necessário para que Stegomyias infectados excretem fezes virulentas. Suppl. Mem. Inst. Oswaldo Cruz (9». 1929, Rev. Med. Cir. do Brasil XXXVII ( 10) . 1929 et C. R. Soc. Biol. CII (29) . 1929. 15. Aragão e Costa Uma — Sobre o poder infectante da haemolymphi de mosquitos contaminados com o vírus da febre amarella. Suppl. Mem. Inst. Oswaldo Cruz (10). 1929. 16. Aragão e Cosia Lima — Novas experiencias sobre a febre amarella. Mem. Inst. Oswaldo Cruz XXIII (2) . 1930. 17. Aragão, H. de B. et Cosia Lima, A. da — Nouvelles expériences sur la fièvre jaune. Quantité de virus chez le moustique. C. R. Soc. Biol. CIV(20> . 1930. 18. Araújo, E. de — O problema da etiologia da febre amarella (Estudo analyticol. Brasil Medico XLIK29) .1928. 19. Barbosa, P. — Pequena historia da febre amarella no Brasil. Arch. de Hygiene 111(1). 1929. 20. Barreio, ]. de B. — Notas epidemiologicas sobre a febre amarella. Arch. de Hy- giene III (1). 1929. 21. Barreto, J. de B. c Peryassú, A. Gonçalves — Da aspersão de insecticidas na pro- phylaxia da febre amarella. Brasil Medico XL1IK13) .1929 et Arch. de Hygiene 111(1). 1929. 22. Barreio, J. de B. — Febre amarella, difficuldade da campanha. Arch. de Hygiene 111(1 1.1929. 23. Barroso, S. — A febre amarella no oeste africano. Brasil Medico XLII(37) . 1928. 24. Barroso, S. — Febre amarella. Pontos controversos. Brasil Medico XL1I(44| .1928. 25. Barroso, S. — Febre amarella. Pontos controversos. 11. Brasil Medico XLIK45t. 1928. 26. Barroso, S. — O problema da febre amarella no Brasil. Brasil Medico XL1II (21 >- 1929. 27. Barroso, S. — O problema da febre amarella no Brasil. A lição dos factos. Brasil Medico XLI1K 17) . 1929. 28. Bauer, J. H. and Hudson, N. P. — Passage of the virus of yellow fever through the skin. Amer. J. Trop. Med. VIII (5> . 1928. 29. Bauer, J. H. and Hud»on, N. P. — The incubation period of yellow fever in the mosquito. J. Exp. Med. XLV1IKD.I928. 30. Bauer, J. H. — The transmission of yellow fever by mosquitoes other than Acdes aegypti. Amer. J. Trop. Med. VIII (4». 1928. 31. Bauer, ]. H. and Mahaffy, A. F. — The susceptibility of African monkeys to yello»' fever. Amer. J. Hyg. XII (I). 1930. 32. Bauer, J. H. and Mahaffy, A. F. — Studies on the filtrability of yellow fever virus. Amer. J. Hyg. XII (1). 1930. 33. Bauvallei, H. — Index stegomyia et fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique. XXI (4K 1928. 34. Becuwkes, H., Bauer, J. H. and Mahaffy, A. F. — Yellow fever endemicity in \Fes* África with special reference to protection tests. Amer. J. Trop. Med. X(5).l930- 35. Beunokes, H. — Recent studies in yellow fever. Nota apresentada á Conferenci* sobre a febre amarella em Dakar < 21-1 V a 1-V-1928L 36. Buchanan, G. S. — La fièvre jaune dans 1‘Afrique occidentale britanique. BuH- Off. Intern. Hyg. Publ. XX(6).1928. 37. Bunau, V. P. — La verdunisation dans Ia lutte contre la fièvre jaune. C. R. Acad- Sc. CLXXX VI 1(22 (.1928. 38. Caldas, M. — II. A febre amarella. A Tribuna Medica XXX1II(6> . 1929. 39. Cannel, O. E. — Myocardial degenerations in yellow fever. Amer. J. Path. I* (5) .1928. 114 J. Lemos Monteiro — Febre amarella experimental 1G3 <0. Carbonell, M. V. — E! problema de la fiebre amarilla. Semana Medica XXXV<37). 1928. 4L Cazanove, F. — La fièvre jaune des enfants. Buli. Soc. Path. Exotique XXII (3). 1929. 42. Cazanove, F. — Le diagnostic prophylactique et les symptómes dans les premières phases de la fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique XXII(6> . 1929. 43. Cazanove, F. — Etudes sur la fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique XXII (9). 1929 44. Chagas, C. — Sur la récente cruption de la fièvre jaune à Rio de Janeiro. Buli. Off. Intem. Hyg. Publ. XX(10).1928. 45. Chagas, C. — La fièvre jaune. Recherches expérimentales effectuées à 1’Institute Oswaldo Cruz (Conferenciai. Buli. Soc. Path. Exotique XXII (6> . 1929. 46. Chagas, E. — Syndrome surrénal dans la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX(34). 1928. 47. Costa Cruz, J. da — Teneur du sé rum en alexine dans la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. Cl (24). 1929. 46. Costa Cruz, J. da — Diagnostic de la fièvre jaune par le dosage de 1’alexine. C. R. Soc. Biol. Cl (24). 1929. Costa Cruz, J. da — Sobre a etiologia da febre amarella (B. hepato-dystrophicans, Kuczynskj, 1929). Communicação á Soc. Bras. Biol. (Sessão 25-IX-1929), Rev. Med. Cir. do Brasil XXXVII (10). 1929 et C. R. Soc. Biol. CIK31 ) . 1929. '0- Costa Cruz, J. da — Diagnostico sorologico da febre amarella. Folha Medica XÜ3). 1929. 'I- Costa Cruz, J. da — O diagnostico da febre amarella pela dosagem da alexina. Brasil Medico XLIV(8».1930 et Mem. Inst. Oswaldo Cruz XXIIK3) . 1930. Costa Cruz, ]. da — Sur un cas curieux de fièvre jaune au point de vuc du diag- nostic par le dosage de 1'alexine. C. R. Soc. Biol. ClV(20i . 1930. Cou-dry, E. V. and Kitchen, S. F. — Intranuclear inclusions in yellow fever. Amer. J. Hyg. XI(2) .1930. *4- Cunha, A. Al. da e Muniz, J. — Notas sobre a febre amarella. Suppl. Mem. Inst. ^ Oswaldo Cruz (2). 1928. '6. Cunha, A. Al. da e Aluniz, J. — Transmission de la fièvre 'jaune au Macacus rhe- sus. C. R. Soc. Biol. XCIX(34» . 1928. Cunha, A. M. da e .Muniz, ]. — La fièvre jaune et Leptospira icteroides. C. R. Soc. Biol. XC1XI34) . 1928. Cunha, A. Af. da e Muniz, J. — Note about experimental yellow fever. Suppl. Mem. Inst. Oswaldo Cruz (5). 1929. Cunha, A. Al. da e Muniz, J. — Note sur la fièvre jaune expérimentale. C. R. Soc. Biol. O ( II > .1929. Cunnigham, J. — A new technique for handling infected monkeys. Indian J. Med. Res. XVI(4) .1929. Davis, N. C. — Studies on South American yellow fever. II. Immunity of recovered monkeys to African vinis. J. Exp. Med. XLIX(6) . 1929. F 4- Davis, N. C. — Susceptibility of Capuchin (Ccbusi monkeys to yellow fever virus. f Amer. J. Hyg. XI (2). 1930. f ' 2 Davis, N. C. and Burke, A. W. — Studies on South American yellow fever. I. The strains of virus in use at yellow fever laboratory in Bahia. Brazil. J. Exp. Med. XL!X(6> . 1929. ^ Davis, A’. C. and Shannon, R. C. — Studies on South American yellow fever. III. Transmission of the virus to Brazilian monkeys. Preliminary observations. J. Exp. Med. LO). 1929. 113 164 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 64. Davis, S. C. and Shannon, R. C. — Studies on yellow fever in South America. IV. Transmission experiments with Aêdes aegypti. J. Exp. Med. L(6).1929. 65. Davis, N. C. and Shannon, R. C. — Studies on yellow fever in South America. V. Transmission experimcnts with certain species of Culex and Aêdes. J. Exp. Med. L(6) . 1929. 66. Davis, N. C. and Shannon, R. C. — The location of yellow fever virus in infected mosquitoes and the possibility of hereditary transmission. Amer. J. Hyg. XI (21.1930. 67. Davis, N. C. — The transmission of yellow fever. Experiments with the “woolly monkey” ( Lagothrix lagotricha Humboldti, the “spider monkey" (Atelus ater Cuvicrl, and the “squirrel monkey" ( Saimiri scireus Linnaeus). J. Exp. Med. LI (5). 1930. 68. Dinger, J. E. — Experimentelle Untersuchungen über Gelbfieber. Archiv f.Schiff* Trop-Hyg. XXXIII (3) . 1929. 69. Dinger, ]. E., Schüffner, H'. A. P., Snijders, E. P. & Swellengrebel, S. H. — Yellow fever research in Holland. Nederl. Tijdschr. v. Geneesck. LXXIIK38-51) .1929. 70. Ferrari, A. — A urologia na febre amarella. (Estudos realizados no Hospital de São Sebastião). Brasil Medico XLIIK20) . 1929. 71. Ferrari, A. — Tratamento da febre amarella. Brasil Medico XLI II ( 24 > .1929. 72. Fialho, A. — Contribuição ao estudo da anatomia pathologica da febre amarel!*- Arch. de Hygiene 111(11.1929. 73. Fialho, A. — Diagnostico anatomo-pathologico da febre amarella. Jornal dos Clíni- cos IX( 13) .1928. 74. Fialho, A., Bicalho, N. e Pacheco, G. — Doseamento dos lipoides no figado humano no curso da febre amarella. Brasil Medico XLII<49) .1928. 75. Fonseca, O. da — Febre amarella e mosquito. Sciencia Medica VI( 11 1.1928. 76. Fonseca F.', O. da — Estado actual da questão da etiologia da febre amarell*- Folha Medica IX (2). 1928. 77. Fraga, C. — The yellow fever epidemic at Rio de Janeiro. League of Nation* Monthly Epidemiol. Rep. VI!(10).1928 et Public Health Rep. XLIIK47) . 192» 78. Fraga, C. — Sobre o surto epidemico da febre amarella no Rio de Janeiro. Boi- Off. Sanit. Panamericano VIK121.1928. 79. Fraga, C. — O surto de febre amarella no Rio de Janeiro. Rev. Med. Cir. do Bra- sil XXXVI (8). 1928. 80. Fraga, C. — Quelques notes sur 1’ípidémie de ficvre jaunc à Rio de Janeiro. 1928- Buli. Acad. Med. CK21.1929. 81. Fraga, C. — Febre amarella no Norte do Brasil c remuneração dos profissionao* da Saude Publica. Arch. de Hygiene III (11.1929. SZ Frobisher Jr., M. — The complement fixation test in yellow fever. Reprinted fro!° the Proc. Soc. for Exp. Biol. & Med. XXVI. 1929. 83. Frobisher Jr., M. — Properties of yellow fever virus. Amer. J. Hyg. XI (2) . 19-? 1 84. Hanson, H. — Observations on the age and sex incidence of deaths and recoverie* in the yellow fever epidemic in the departmcnt of Lamb3yeque, Pcrú, in 1921 Amer. J. Trop. Med. IX(41.1929. 85. Hindle, E. — Filterable viruses. Proc. Royal Soc. Med. XXII. 1929 (Section Trof Dis. and Parasit. :27-30). 86. Hindle, E. — A yellow fever vaccine. Brit. Med. J. 1(35181.1928. 87. Hindle, E. — An experimental study of yellow fever. Trans. Royal Soc. Trop. M*^ & Hyg. XXIK51.1929. 88. Hindle, E. — The duration of yellow fever immunity. Lancet CCXIIK5557) . 19^ 89. Hndle, E., and Findlay, G. M. — The electrical change of yellow fever virus. B* 1 ’ J. Exp. Path. XI (2) .1930. 116 J. Lemos .Monteiro — Febre amarella experimental 165 90. Hoffmann, W'. H. — The anatomical diagnosis of yellow fever J. Trop. Med. & Hyg. XXXI (1). 1928. 91. Hoffmann, W. H. — Die Leber beim afrikanischem Gelbfieber. Virchows Arch. f. Path. Anat. u. Physiol. CCLXVI(3) . 1928. 92. Hoffmann, H’. H. — Die stille Feiung beim Gelbfieber. .Munch. Med. Woch. LXXV (15). 1928. 93. Hoffmann, W. H. — Hl diagnostico histopatologico de la fiebre amarilla. Sciencia Medica VI (4). 1928. 94. Hoffmann, W\ H. — The diagnosis of endemic yellow fever. Amer. J. Trop. Med. VIII (6). 1928. 95. Hoffmann, H’. H. — Einschlusse in den Leberkernen beim menschlichen Gelbfieber. Archiv. f.Schiffs Trop. -Hyg. XXXII! (8) .1929. 96. Hoffmann, H\ H. — On the nature of the inclusion bodies in yellow fever. Med. J. & Record CXXX1<6) .1930. 97. Hoffmann, H". H. und Jahnel, F. — Nachforschungen nach der Gelbfieberspirochãtc Noguchis in Organen von an afrikanischen Gelbfieber verstorhenen Menschen. Munch. Med. Woch. LXXV(50l . 1928. 98. Hoffmann, W. H — Über die Aetiologie des Gelbfiebers. Berichte der kaiserlich deutsch Akad. Naturf. zu Halle V( 17). 1929. 99. Hoffmann, B\ H. — Die immunitãtsverhãltnisse beim Gelbfieber und ihr Einflutz auf die Epidemiologie. Sep. Immunilãr, Allcrgie und Infektionskrankheiten 1(12). 1929. 100. Hoffmann, W. H. — African yellow fever. Med. J. & Record CXXVIII(4) . 1928. 101. Hudson, N. P. — The pathology of experimental yellow fever in the Macacus rhe - sus. I. Gross pathology. II. Microscopic pathology. III. Comparison with the pathology of yellow fever in man. Amer. J. Path. 1V(5).1928. 102. Hudson, N. P., Philip, C. B. and Davis, G. E. — Protcction tests with serum of persons recovered from yellow fever in the Western Heraisphere and West África. Additional report. Amer. J. Trop. Med. IX(4).1929. 103. Hudson, N. P., Baaer, J. H. and Philip, C. B. — Protcction tests with serum of per- sons recovered from yellow fever in the Western Hcmisphere and West África. Amer. J. Trop. Med. IX (1). 1929. 1°4. Jakob, A., Fialho, A., e Villela, E. L. — Alterações do systema nervoso na febre amarella. Nota previa. Brasil Medico XLII (33) . 1928. 105. Jungmann, P. — Zur Klinik des Gelbfiebers. Ein Beitrag zur Pathologie der Leber. Klin. Woch. VIII (1). 1929. '06. Klotz, O. and Simpson, W. — Jaundicc and the liver lesions in West African yel- low fever. Amer. J. Trop. Med. VII (5) . 1927. 107. Klotz, O. and Simpson, W. — The spleen in West African yellow fever. Amer. J. Path. III (5). 1927. 1°8. Klotz, O. and Bell, T. H. — The identity of yellow fever lesions in África and America. Amer. J. Trop. Med. X<5).1930. 109. Kuczynski, At. H. — A propos de la note de Costa Cruz sur 1‘étiologie de la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. C1K3D.1929. HO. Kaczynski, Af. H. and Hohcnadel, B. — Untersuchungcn zur Atiologie und pathoge- nese des Gelbfiebers. Klinische Woch. VIII ( 1 -2 » . 1929. 1 1 1 - Kuczynski, Al. H. and Hohenadtl, B — The aetiology of yellow fever. Lancet CCXVIII (5552). 1930. *12. Kuczynski, M. H., Hohcnadel, B. e MacClure, Ed. — Experiências em antigas cul- turas do Bacillus hepato-dystrophicans. Klinische Woch. VIII (41 ) . 1929. 117 166 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 1 13. Kuczynski , AI. H., Hohenadel, B. e MacClure, Ed. — A febre amarella em macacos americanos. Klinische VToch. VIII < 42 ► .1929. 114. Kuczynski, M. H. and Hohemadel, B. — Investigations into the etiology of yellow fever with special reference to the problem of insect-borne diseases. Trop. Med. & Hyg. XXIII (5). 1930. 115. Kuczynski, Al. H. — Recherches sur 1'étiologie et la pathogénèse de Ia fièvre jaune. Presse Médicale XXXVII (29) .1929. 116. Lacorte, J. G. e Villela, G. G. — O liquido cephalo-racheano na febre amarelU- Suppl. Mem. Inst. Oswaldo Cruz (2). 1928 et C. R. Soc. Biol. XCIX(34) . 1928. 117. Lasn-t, A. — Compte rendu des cas de fièvre jaune observes en Afrique occiden- tale írançaise du Juillet 1926 à Février 1927. Buli. Acad. Méd. XCVII(14) . 1927 118. Lasnet, A. — Note sur la fièvre jcune au Sénégal en 1927. Buli. Acad. Med. C (27). 1928. 119. Legendre, J. — La fièvre jaune peut-elle s’étendre à tous les pays à Stegomyia? Presse Médicale XXXVII (28) .1929. 120. Legcr, AI. — Etat actuel de nos connaissances sur répidémiologie de la fièvre jaune. J. Méd. de Bordeux CV(24).I928. 121. l.e Gac, P. — L'excitation amarile. Buli. Soc. Path. Exotique XXII (8 * .1929. 122. Lewis, Paul A. — The survival of yellow fever vinis in cultures. J. Exp. Med. LIKD.1930. 123. Lins, S. L. — Contribuição ao estudo clinico da febre amarella. Arch. de Hygiene III (I). 1929. 124. Lins, S. L. — A febre amarella atravez um século de observação clinica e orien- tação scientifica. Confer. na Soc. Med. Cir. S. Paulo. Brasil Medico XLIV(9-10). 1930. 125. Lintz, A. c Parreiras, D. — Aspectos epidemiologicos e prophylacticos da campanha de febre amarella no Estado do Rio. Folha Medica X(23).1929. 126. Marchoux, E. — L’hommc est moins sensible que le Macacus rhesus au virus de la fièvre jaune. C. R. Acad. Sc. CLXXXVIH4) . 1928. 127. Marchoux, E. — La fièvre jaune et la sensibilité du Macacus rhesus. Ann. Inst Pasteur XLIIK6) . 1929. 128. Mathis, C., Sellards, A. W. & Laigret, J. — Sensibilité du Macacus rhesus au viru* de la ficvre jaune. C. R. Acad. Sc. CLXXXVK9) . 1928. 129. Mello, A. da S. — O problema da immunidade na febre amarella. Brasil Medico XLII(39) .1928. 130. Mello, A. da S. — Questões de epidemiologia no actual surto de febre amarella- Brasil Medico XLIK4I ) .1928 et XLIK48) .1928. 131. Meyer, ]. R. e Castro, G. O. — Inclusões nucleares acidophilas na febre ama- rella experimental. S. Paulo Medico III(I).1930. 132. Moignic, Le — Une conférence sur la fièvre jaune (Dakar, 23-28 avril 1928) Presse Médicale XXXVI (59) . 1928. 133. Moncorvo, F.* — Diagnostico differencial da febre amarella na infanda. Brasil Medico XLIIÍ44) . 1928. 134. Monteiro, J. Lemos — Sobre a transmissão do virus da febre amarella pelas fezes de percevejos infectados. Nota preliminar. Communicação á Soc. Med. e Cir. d* S. Paulo (Sessão I5-VHI-1929), Brasil Medico XLIIK35) . 1929 et Boi. Soc. Med Cir. S. Paulo XTIK6 e 7). 1929. 135. Monteiro, J. Lemos — Contribuição ao estudo da flora microbiana na febre am** relia e suas relações immunologicas com a infecção humana e experimental. Sobr* a possibilidade de um diagnostico bacteriológico da febre amarella. ( Apresentado á 4.* Conferencia Sul-Americana de Microb., Hyg. e Path. Rio. Julho 1929)- Arch. de Hygiene III (2). 1929. 118 J. Lemos Mosteiro — Febre amarella experimenul 167 136. Monteiro , J. Lemos — Notas e observações sobre a febre amarella experimental. (Trabalho apresentado á 4.* Conferencia Sul-Americana de Microb., Hyg. e Path. Rio, VII-I929). Arch de Hygiene 111(21.1929. 137. Monteiro, J. Lemos — Estudos sobre a febre amarella. Sobre a possibilidade de um diagnostico bacteriológico da febre amarella. Brasil Medico XLIII( 19) . 1929. 138. Monteiro, J. Lemos — 1. Comportamento experimental do virus da febre amarella. 2. Resistência do virus anurillico á acção de antisépticos sob certas condições. 3. Transmissão do virus amarillico pelas fezes de percevejos, Cimex lectularius, infectados. 4. Possibilidade da existência de depositários do virus amarillico entre os animaes domésticos. 5. Sobre uma nova technica pera o preparo da vac- cina amarillica. 6. Pesquises de microorganismos no sangue de Macacus rhesus infectado com o virus amarillico. (Notas apresente das á Soc. de Biologia de S. Paulo, sessão de 11-111-1930). 139. Monteiro, J. Lemos — A febre amarella á luz das modernas aequisições experi- mentaes (Communicação á Soc. de Med. e Cir. de S. Paulo, sessão de 2-V-1930). 140. Monteiro, J. Lemos — Virus amarillico neurotropico. Com. 6.* reunião da Soc. Arg. Path. Reg. do Norte. 141. Monteiro, ]. Lemos — Sobrevivência do virus amcrillico no organismo de certos animaes domésticos. Com. 6.* reunião da Soc. Arg. Path. Reg. do Norte. *42. Monteiro, J. Lemos e Travassos, ]. — Diagnostico sõrologico da febre amarella. Sobre a reacção da fixação do complemento na febre amarella; seus resultados e valor pratico. Brasil Medico XLIVt 1 1) . 1930. 143. Moses, A. — Reacçòes sôrologicos na febre amarella. Arch. de Hygiene III (I). 1929. 144. Nicolas, Ch. — A propos d’unc épidémic de dengue compliquée d’ictère. La dengue serait-elle une fièvre amarylle attenuée? Buli. Soc. Path. Exotique XX!(9).I928. 145. Oliveira, M'. — Prophylaxia da febre amarella no Estado de S. Paulo, Brasil. Arch. de Hygiene 111(2). 1929. 146. Otero, F. — Fiebre amarilla. Su diagnostico differencial. La Semana Medica XXXVI (26). 1929. *47. Otero, F. — Fiebre amarilla. Exposicion analítica de los sintomas en relacion con el diagnostico respectivo. La Semana Medica XXXVI (23). 1929. *48. Otero, F. — Fiebre amarilla. Su anatomia patológica. La Semana Medica XXXVI (30). 1929. *49. Pani, Af. — Sobre a febre amarella no México. Rev. Hyg. e Saúde Publica III (5). 1929. *50. Parreiras, D. — Algumas observações sobre a vaccina amarillica de Aragão. Scien- cia Medica VII (8). 1929. *51. penido, ]. C. S. — Observações sobre alguns elementos da urina na febre amarella. Suppl. Mem. Inst. Oswaldo Cruz (2). 1928. 152. Penna, O. e Figueiredo, B. de — Contribuição ao estudo da histo-pathologia do fí- gado na febre amarella. Folha Medica X(20).1929. *53. Penna, O. e Figueiredo, B. de — Diagnostico histo-pathologico da febre amarella pelas tesões de Councilman. Brasil Medico XLIII(51 ) . 1929. *54. Pereira, J. R. — Etiologia e prophylaxia da febre amarella 70 annos atraz. Ann. Paul. Med. 4 Cirurgia XX(7).!929. *55. Pettit, A. — Virus de Ia fièvre jaune. Paris Medicai XVIIK4I). 1928. *56. Pettit, A. et Stefanopoulo, G. — Absence d’anticorps pour les Spirochètes ictéro- genes et voisins, dans 1c sang des sujets atteints de fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XC!X(22> . 1928. *57. Pettit, A. et Stefanopoulo, G. — Le virus de Ia f.evre jaune. Buli. Acad. Méd. C(32) . 1928. 119 168 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 158. Pettit, A. et Stefanopoulo, G. — Réceptivité de divers singes pour le virus amaril. C. R. Soe. Biol. CII (31 1.1929. 159. Pettit, ,4. et Stefanopoulo, G. — Infections expérimentales inapparentes provoquées par le virus amaril chez les singes réceptifs. C. R. Soc. Biol. CIK33) .1929. 160. Pettit, A., Stefanopoulo, G. et Aguessy, C. — Le virus de la íièvre jaune. C. R- Soc. Biol. XCIX (22). 1928. 161. Pettit, A., Stefanopoulo, G. et Frase y, 1’. — Pouvoirs préventií et curatif du sérura anti-amaryllique. C. R. Soc. Biol. XCIX (28 ). 1928. 162. Pettit, A., Stefanopoulo, G. et Frasey, V. — Sê rum anti-amaryllique. C. R. Soc. Biol. XC1X(25) . 1928. 163. Pettit, A., Stefanopoulo, G. et Kolochine, C. — Sur la réceptivité des singes au virus de Ia fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX (22 ). 1928. 164. Pettit, A., Stefanopoulo, G. et Koloniche, C. — Conservation du virus amaril. Buli. Acad. Méd. CII(29).1929. 165. Pettit, A., Roubaud, E. ct Stefanopoulo, G. — Fièvre jaune des singes consecutive aux piqúres par Stegomias de Tunisie, de Java et Cuba. C. R. Soc. Biol. ClV (151.1930. 166. Fhchat, J. — Note sur l'urine de sujets atteints de fièvre jaune. Buli. Acad. Méd. Cl (12). 1929. 167. Philip, C. B. — Possibility of hereditary transmission of yellow fever virus by Aêdes aegypti. J. Exp. Med. L(6).1929. 168. Philip, C. B. — Studies on transmission of experimental yellow fever by mos- quitoes other than Aêdes. Amer. J. Trop. Med. X(l).1930. 169. Ravina, A. — L'etat actuel du problème étiologique de la fièvre jaune. Presse Médicale XXXV1(63) .1928. 170. Rezende, C. — Febre amarella. Pontos controversos. Brasil Medico XLII(50l . 1928. 171. Regendanz, R. — Resumo dos resultados das pesquisas sobre a febre amarella- Rev. Med. Germano-ibero-americana (7). 1929. 172. Ribeiro, L. — Une épidémie de fièvre jaune à Rio de Janeiro. Presse Médicale XXX VI (102). 1928. 173. Rocha Lima, H. — O diagnostico post-mortal da febre amarella. Folha Medica IX (18). 1928. 174. Rocha Lima, H. — Refutação do artigo de O. Penha e B. Figueiredo na “Fotb* Medica” sobre a contribuição brasileira para o conhecimento da pathologia da febre amarella. Sciencia Medica VII (9). 1929. 175. Roubaud, E. — Recherches biologiques sur le moustique de la fièvre jaune, Aêdes argenteus Poiret. Facteurs d’incrtie et influences réactivantes du developpement- Les oeufs durables et leur importance dans le rajeunissement du cycle évolutif- Ann. Inst. Pasteur XLIII(9> .1929. 176. Saltes Gomes, L. — Pesquisas em torno de alguns casos de febre amarella. Arch- de Hygiene III (2). 1929. 177. Santos, J. — Notas em torno de alguns casos de febre amarella. Brasil Medico XLI1 (42) .1928. 178. Sautet, J. — A propos de 1'emploi des hypochlorites dans la lutte contre la fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique XX1IK21 . 1930. 179. Sawyer, H'. A., Lloyd, W. D. M. and Kitchen, S. F. — The preservation of yello* fever virus. J. Exp. Med. L(l).1929. 180. Sauyer, H’. A. and Frobisher, M. — The filtrability of yellow fever virus as ex>*' ting in the mosquito. J. Exp. Med. L<6).1929. 120 J. Lemos Monteiro — Febre amareila experimental 169 181. Sawyer, H'. A., Kitchen, S. F., Frobisher, Jr., M. and Lloyd, M'. — The relationship of yellow fever oi the Western hemisphere to that oi África and to leptospiral jaundice. J. Exp. Med. LI (3). 1930. 182. Seidl, C. — O surto de febre amareila no Rio de Janeiro. Rev. Med. Cir. do Brasil XXXVI. 1928. 183. Sellards, A. W. — La Iutte contre la fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique XXI ( I ) . 1928. 184. Sellards, A. W. — The cultivation of treponemata from the blood of normal mon- keys (Alacacus rhesus ) and from blood of monkeys infected vi th yellow fever. Proc. Nat. Acad. Sc. XVI (3). 1930. 185. Sellards, A. IV. — Observations on yellow fever. Southern Med. J. XXIII (2) . 1930. 186. Sellards, A. M’. and Hindle, E. — The preservation of yellow fever virus. Brit. Med. J. 1.(3512). 1928. 187. Sellards et Laigret — Sensibilité du Macacas rhesus au virus de la fièvre jaune. C. R. Acad. Sc. CLXXXVI(9).1928. 188. Sellards, A. H\ — The cultivation oi a Rickettsia-like micro-organism from tsutsu- gamushi disease. Amer. J. Trop. Med. 111(61.1923. 189. Snijders, E. P. — Beitrag zur Klinik und pathologischen Anatomie des Celbfieber. Archiv f.Schiffs Trop.-Hyg. XXXIII (3) . 1929. 190. Sorel, E. — La fièvre jaune chez les indigènes à Dakar en 1927. Buli. Soc. Path. Exotique XXI (7). 1928. 191. Stefanopoulo, G. — Sur les rapports étiologiques de la dengue et de la fièvre jaune. Buli. Soc. Path. Exotique XXII(7) .1929. 192. Stokes, A., Bauer, J. H. and Hudson, S. P. — Experimental transmission of yellow fever to laboratory animais. Amer. J. Trop. Med. VIII (2). 1928. 193. Stokes, A., Bauer, J. H. and Hudson, N. P. — The transmission oi yellow fever to Macacus rhesus: preliminary note. J. A. M. A. XC(4).1928. 194. Sorel, F. et Armstrong — Désinfection des immcubles de Dakar à la suite de Tépi- demie de fièvre jaune de 1927. Buli. Soc. Path. Exotique XXI (9). 1928. *95. Theiler, Al. and Sellards, A. M’. — The immunological relationship oi yellow fever as it occurs in West África and in South America. Ann. Trop. Med. & Parasit. XXII (4). 1928. 196. Theiler, Af. — Susceptibility of white mice to the virus of yellow fever. Science LXXI( 1840). 1930. 197. Theiler, Al. — Studies on the action of yellow fever virus in mice. Ann. Trop. Med. & Parasit. XXIV(2) . 1930. 198. Toledo Piza, J. — A campanha da febre amareila no Brasil. Brasil Medico XLI1 (34) . 1928. 199. Torres, C. Af. — Sobre a “necrose salpicada" do figado na febre amareila. Scien- cia Medica VI (8). 1928. 2*X). Torres, C. AI. — Sobre a degeneração oxychromatica da cellula hcpatica como le- são característica na infecção experimental pelo virus brasileiro da febre amareila. Brasil Medico XLII (36). 1928. ®1- Torres, C. AI. — Sur 1’importance de la dégénéresccnce oxychromatique des cellu- les du foie chez Macacus rhesus inocule avec le virus brésilien de la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX(34) . 1928. 202. Torres, C. Al. — Inclusions nucléaires acidophiles (dégénérescence oxychromatique) dans le foie du Macacus rhesus inoculé avec le virus brésilien de la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX(30) . 1928. ^93- Torres, C. Al. — Inclusions intranucléaires et nécrobiose chez Alacacus rhesus ino- culé avec le virus de la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX(34) . 1928. 121 170 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 204. Torres, C. M. — Dégénérescence oxychromatique dans !e foie de Alocaras rhesus et Af. cynomolgus, acompagnant les lésions typiques de la íièvre jaune experi- mentale; son absence dans le foie de singes non inocules. C. R. Soc. Biol. XC1X (34) .1928. 205. Torres, C. Af. — Sur la dégénérescence oxychromatique du foie chez des singes inoculés avec le virus de fiévre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIXi34) .1928. 206. Torres, C. Af. — Inclusões nucleares acidophilas (degeneração oxychromatica I r.3 febre amarella experimental. Sciencia Medica VT(9).192S. 207. Torres, C. Af. — Etude, par le procede de Goodpastore et la réaction de Feulgen, des inclusions nucleares de la fièvre jaune experimentale. C. R. Soc. Biol. C(lD- 1929. 208. Torres, C. Af. — Sur les inclusions nucléaires dans la fièvre jaune expérimentale (virus brésilien et africain). C. R. Soc. Biol. CI(24).1929. 209. Torres, C. Af. — Alterations nucléaires des cellules du foie chez les singes inocu- lés avec le virus brésilien et africain de la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. Cl (24). 1929. 210. Torres, C. Af. — Altérations du nucléole des cellules du foie dans Ia fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. CU (28). 1929. 211. Torres, C. Af. — Morphologie des inclusions hepatiques dans la fièvre jaune. C- R. Soc. Biol. CU (29). 1929. 212. Torres, C. Af. — fntranuclear inclusions in experimental yellow fever. Suppl. Menu Inst. Osu-aldo Cruz (6). 1929. 213. Torres, C. Af. et Azevedo, A. P. — Lésions des surrénales dans la fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. XCIX(34) . 1928. 214. Vellard, J. — Modificações da coagulação sanguínea na febre amarella. Brasil Medico XLIII (21 1.1929. 215. Vellard, /. et Vianna, Af. — Modifications de la coagulation du sangue dans 1* fièvre jaune. C. R. Soc. Biol. Cf (24). 1929. 216. Vellard, J. et Vianna, Af. — Modifications de la coagulation sanguine dans la fièvre jaune; leur importance pour le diagnostic précoce. C. R. Acad. Sc. CLXXXVfH (22). 1929. 217. Vianna Jr., A. — Considerações sobre a etiologia e prophylaxia da febre amarelU- Brasil Medico XLIK21) . 1928. 218. Vogei, W. de — Les expériences de transmission de la fièvre jaune â ITnstitut Colonial d’Amsterdam. Buli. Off. Intern. Hyg. Publ. XXfI(2) .1930. 219. White, J. H. — Epidemiologia da febre amarella. A Folha Medica IX. 1928. 220 — Résultats de Ia conférence de la fièvre jaune ã Dakar (23- IV à l-V-1928). Buli. Off. Intern. Hyg. Publ. XX(6).1928. Kelser, R. A. com a collaboraçào de S. Youngberg e T. Topado — An improvei vaccine for immunization against rinder-pest. J. Amer. Vet. Med. Assn. 27 Na segunda parte deste trabalho (2.* notai, discutimos o valor desta prova, em virtude dos resultados obtidos com soros de indivíduos naturalmente (?) immuni* zados (residentes em zonas endemicas do ma! i e possuidores de anti-corpos fixadores do complemento. 4 J. L- .Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorologico da febre amarella 175 *e encontra principalmente no figado, este organt deveria ser o escolhido para o preparo do antigeno. Em pesquisas preliminares empregamos os antigenos salinos phenolados, formolados e chloroformados. usados nos solutos vaccinantes. sem que obtivés- semos qualquer resultado animador, o que vem confirmar as verificações de Aragào e outros. Usámos, de idêntico modo, o sangue do macaco infectado, co- lhido em franca reacção febril, com os mesmos resultados. Passámos aos cocto- antigenos, ultimamente aconselhados por Moses, preparados conforme a technica descripta por Krause e Takaki, mas, a despeito de termos obtido fixações ligeiras com os sôros específicos, os resultados finaes não foram apreciáveis. Tratando-se de uma doença de agente etiologico desconhecido, que se inclue na classe dos virus filtráveis, procurámos entre as suas similares uma em que a prova da fixação do complemento tivesse dado melhores resultados para termos, assim, elementos de orientação em nossos estudos preliminares. No particular, chamaram-nos a attenção as pesquisas de Ciuca. na febre aphtosa, demonstrando Çue um bom antigeno era conseguido pela maceração séptica do cpithelio das 'esiculas, cujo poder altamente infectuoso já tinha sido provado pelas pesquisas d e Vallée, Carré e Rinjard. Por tal processo tratava-se de obter as substancias advindas da desintegração cellular por um processo de autolyse e. talvez mesmo, unia modificação do estado colloidal das proteínas que, segundo Ciuca, offere- ceriam desta maneira menor embaraço á reacção de fixação do complemento do que quando em suas primitivas condições. Essas vantagens, no entanto, a nosso ver, eram algo embaraçadas pela presença e cultivo de germes dc nenhuma cclaçào com o mal e cuja actividade biologica seria aproveitada na desintegração •issular, indo formar antigenos outros, que agiriam sob a influencia de determi- nados sôros e em condições especiaes. Obteríamos, desse modo, antigenos col- lateraes de que nos faliam Schultz. Bullock e Lawrcnce. As investigações de Hindlc (2), mostrando que se póde obter uma maior quantidade de virus dos figados de animaes infectados provocando-sc o rompi- mento cellular por differença de pressão osmotica, deu-nos orientação para a •echnica do preparo de um antigeno, que teria provavelmente as qualidades esson- ciaes do de Ciuca. com a vantagem de reduzir as affinidades collateracs. A desin- ,e graçào cellular. realizada assim por um processo physico-chimico, permittiria °bter em solução o contéudo cellular e com elle a substancia antigenica. Frobisher Jor., com orientação idêntica, conseguira já resultados animadores. Technica para o preparo do antigeno Para o preparo do antigeno procedemos do seguinte modo: figado de Ma- Ca cus rhesas infectado pelo virus africano (amostra da raça Asibi), colhido por ^asiào da necropsia realizada logo após a queda da temperatura e sacrifício d ° animal, é pesado, cortado em pequenas fatias de 2 a 3 millimetros dc espes- *Ura e lavado em agua physiologica renovada por varias vezes. A ultima porção 5 176 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V da agua de lavagem é decantada e os fragmentos do orgam sáo collocados em um almofariz e triturados com areia esteril. Para cada gramma de figado addiciona-se 1 cc. de uma solução esterilizada hypertonica e de titulo conhecido de chloreto de sodio (usamos a 10 mistura-se bem e deixa-se 24 horas no frigo em um frasco com rolha de esmeril, esterilizado e contendo pérolas de vidro. Junta-se, então, agua destillada esterilizada em quantidade tal, que reduza a 8,5 por mil a concentração final do chloreto de sodio no soluto salino empregado. Junta-se a quantidade dc agua á emulsão de figado rapidamente e agita-se o frasco o mais energicamente possivel por espaço de I hora. Centrifuga-se ou filtra-se em papel e depois em vela Mandler, de 14 libras de pressão. O filtrado, que guarda uma côr amarellada, é distribuído asepticamente em empolas estereis, e, semeado em meios aerobios e anaeróbios, deve mostrar-se completamente desprovido de germes, constituindo o antigeno, que é conservado no frigo. Ensaios preliminares Procurando verificar a acção anti-complementar desse antigeno, observámos que elle é totalmente desprovido dessa propriedade desde a dose de 0,5 cc., em face de 2 unidades complementares. Nessa mesma quantidade é desprovido de acção hemolytica, isoladamente ou cm face de um sôro. Em um primeiro ensaio experimentámos o antigeno assim preparado na dose de 0,2 cc. com um sôro de convalescente de febre amarella, com um de um rhesus que resistiu á infecção e um outro humano, dc indivíduo normal c que sempre residiu em zona indemne do mal. Em face de 2 unidades complementares, os 2 primeiros soros ensaiados fixaram o complemento; o do indivíduo normal, immediatamente após a hemolyse do testemunha do sôro, mostrou uma fixação ligeira e 3 minutos após já estava totalmcntc hemolysado. Esse primeiro ensaio estimulou-nos a proseguir nas pesquisas, pelo que desde logo procurámos esta- belecer a unidade antigenica. Para isso, ensaiámos com o sôro de P. F. N.. con- valescente de febre amarella, cujo resultado anterior fora perfeitamente satis- factorio: verificámos que 0.05 cc. era a dóse minima de antigeno necessária para que, cm face de 2 unidades complementares, houvesse completa fixação do complemento, a leitura sendo feita 10 minutos após o apparecimento dc hemoly** total no testemunha do sôro. Procurando, em seguida, outras propriedades desse mesmo sôro em face do antigeno. notámos o phenomeno da precipitação, sómente no tubo em que os dois elementos se encontravam em partes iguaes, emquanto que nos demais, com dós* 5 menores de antigeno, nada observámos. Com o sôro normal, testemunha, con- servados os elementos na mesma quantidade, nenhum precipitado foi verificado, mostrando-se o liquido perfeitamente claro. Esses ensaios levaram-nos a usar em nossos estudos o sôro a examinar e o antigeno, em partes eguaes. ó J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorotogico da febre amarella 177 Outros elementos da reaeção Os vários outros elementos constantes da reaeção foram assim preparados: Sòro a examinar - Os primeiros sòros que examinámos, de doentes e rhesus infectados pelo virus africano, vinham sendo conservados em empolas e no frigo; muitos delles mesmo aquecidos a 55° mostraram-se anti-complementares. Os de- mais sôros, colhidos quando já estavamos em trabalho sobre o assumpto e quando não eram utilizados logo no dia immediato, soffriam um aquecimento prévio de 15 minutos a 55°. No dia em que praticavamos as reacções, todos os sôros eram aquecidos. Em alguns desses sôros notamos uma hemolyse rapida, já perfeita- mente visível em 10-15 minutos. Em outros, ao contrario, era tardia, indo até 30 minutos e mais. Essas differenças devem correr por conta das hemolysinas natu- r aes anti-carneiro que aquelles podem conter. Pensamos, entretanto, que ellas não exercem grande influencia na reaeção propriamente dita, pois em alguns sôros, cujo testemunha hemolysava rapidamente com uma e duas unidades comple- mentares, tivemos resultados francos de fixação, usando tres e mesmo quatro uni- dades complementares. A quantidade de sôro usada nas reacções foi a de 0.2 cc. Complemento - Tres cobaias (machos) eram sangradas na tarde da vespera. Coagulado o sangue, separava-se o sôro, centrifugava-sc c guardava-sc no frigo *lé a manhã seguinte, quando era dosado. A dosagem do complemento é assumpto c »pital nas reacções de fixação. Já é da pratica corrente fazer-se a dosagem em face do antigeno em dóse idêntica á que se vae usar na reaeção. Aconteceu, Porem, que o nosso antigeno accclerava a acção da alexina e. de outro lado, c ontribuia para a formação de um complexo que fixava ligeiramente o comple- mento, quando em presença de um sôro negativo. Dahi a necessidade de se dosar 0 complemento em face do antigeno e de um sôro negativo, escolhendo-se de pre- ferencia os de extrangeiros, recentemente chegados ao paiz. Entre esses se se- lecionam os que, por si sós. não accelerem demasiadamente o phenomeno da hemolyse. Usámos como unidade complementar a menor quantidade de comple- mento necessária para se obter a hemolyse completa dos globulos em meia hora, em face de um sôro negativo, do antigeno e de 3 a 4 unidades hcmolyticas. Systema hemolytico - A hemolysina empregada foi a de coelho anti-carneiro, üs *da na dóse de tres a quatro unidades hemolyticas. Os globulos de carneiro Cr *m lavados varias vezes e diluídos a 5^1. Technica da reaeção Sabida que é a possível fallibilidadc deste mcthodo sorologico nas doenças Afectuosas e dada a difficuldade de sua realização em virtude da serie de elemen- de maior ou menor variabilidade, com que o pesquisador tem de lidar, somente ''Pois de estabelecida a uniformidade da technica se poderiam colher ensinamentos Uf eis ao diagnostico. Foi o que procuramos fazer, adoptando, após vários ensaios, 7 178 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V a technica que passamos a expòr, por ser, não só a mais adaptavel ás condições do material com que iniciámos as nossas pesquisas (soros velhos, conservados no frigo), como também constante em os seus resultados. E’ superponivel á technica de Mclntosh Fields para os sôros anti-complementares e basea-se nos mesmos princípios do methodo de Browning e McKenzie, Calmette e Massol, etc. Entre os inconvenientes dessa technica contam-se o uso de maior quantidade de sóro e de complemento, e ainda a difficuldade na leitura quando se trabalha com muitos sôros a um só tempo. No nosso caso, porém, estas desvantagens tor- nam-se nullas, por isso que as duas primeiras são perfeitamente sanaveis, o mesmo acontecendo quanto á difficuldade na leitura, pois poucas seriam as vezes em que teríamos de examinar muitos sôros a um só tempo. Por outro lado, as vantagens que nos poderiam advir de seu caracter estrictamente quantitativo e da possibili- dade de examinar sôros providos de propriedades anti-complementares, como era o nosso caso, superavam os obstáculos por ventura esperados. Eis porque a adop- tamos. A technica consiste no seguinte: a uma mesma quantidade de sôro a exa- minar (0,2 cc.) e de antigeno (0,2 cc.). addicionam-se quantidades crescentes de complemento, avaliadas por unidades e completa-se o volume para 1,5 cc. com agua physiologica, pondo-se os tubos em banho maria a 37°-38° durante 1 /i hora. A cada tubo da reacção deve corresponder um testemunha do sôro, com idêntica quantidade de unidades complementares. O tempo de incubação da primeira phase tem uma certa importância no resultado final da reacção. As nossas observações demonstraram que elle deve ser de 1 */$ - 2 horas a 37°, de 3 a 4 horas á tempe- ratura ambiente e de uma noite a 10° (na geladeira). As hematias, sensibilizadas com 3 a 4 unidades hemolyticas, são addicionadas, na segunda phase da reacção, num volume de 1 cc., seguindo-se nova incubação. Concomitantemente fazem-se tubos testemunhas com sôros seguramente negativos e positivos, obedecendo o mesmo critério de numero crescente de unidades- com- plementares. A leitura immediata da reacção deverá fazer-se 10 minutos depois que os testemunhas preparados com os sôros negativos apresentarem hemolyse completa. Os testemunhas dos sôros a examinar (sem antigeno), orientarão o technico sobre a capacidade anti-complementar do sôro e sobre a possibilidade de poder ou não ser realizada a leitura no tempo indicado acima, devendo, de accordo com a marcha da reacção, ser prolongado o periodo de incubação. De qualquer modo, deve fazer-se uma leitura tardia, isto é, 24 horas depois e quando os tubos são conser- vados na geladeira. Para a avaliação da intensidade da reacção, tomamos como norma o compor- tamento do segundo tubo em deante, isto é, o resultado de 2, 3, 4 e 5 unidades complementares, no caso de o sôro não mostrar impedimento. Nos sôros anti-com- plementares. o resultado nos é dado por differença do grau de hemolyse e só de- verão ser tomadas em consideração as grandes differenças, entre os tubos teste- 8 J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorologico da febre amarclla 179 munhas do sôro e da reacçáo propriamente dita, sendo a leitura feita após meia hora de incubação. O eschema seguinte, figurada a hypothese de a unidade complementar ser 0.3 cc., dará uma idéa da reacção: Corapirmento % ^ « _« n n c diluído % «■31= TUBO EI s: %» u c < n — • "Ec -1 p X n m c k ■ 5 si « = -r * |ü<*E 1 m C o v D c S 5~ "5 rs rs ê*U rc Tubo reacção . 0.2 0.2 i 0.3 0.8 I 1 cc. is Ü Test. sôro . . 0.2 — 0.3 1.0 1 1 cc. U 3 o E Tubo reacçáo . 02 0.2 2 0.6 0.5 rs «D 1 cc. ■3Ü c X Test. sôro . . 0-2 — 0.6 0.7 i 1 cc. 3 Ç* Tubo reacçáo . 02 0.2 3 0.9 0.2 98 rs 1 cc. o o" 3 Test. sôro . . 0.2 — 0.9 0.4 O 1 cc. JSS rs Tubo reacçáo . 0.2 0.2 4 >•2 — M 1 cc. -c 3 Test. sôro . . 0.2 — 1.2 0.1 rs 1 cc. jSS etc. etc. etc ' etc. etc. etc. Uma serie idêntica será feita para os testemunhas, positivo e negativo, da rt *cçào. Para o primeiro, poderá ser empregado um sôro de convalescentes de f tbre amarclla ou de um rhesus immunizado; para o segundo, devem ser prefe- r 'dos os de extrangeiros recentemente chegados ao paiz. Resultado» experimentar» Praticamos a reacção com sôros de doentes e convalescentes de febre ama- e ha, de Macacus rhesus infectados e immunizados, de doentes de outras infec- de indivíduos normaes, residentes ou não em zonas onde a febre amarclla ,tTr > existido e, finalmente, com sôros de extrangeiros recentemente chegados ao Paiz. 9 180 Memórias do Instituto Buuntan — Tomo V O quadro abaixo resume os resultados e percentagens até agora obtidos: Sôros de Resultados Observações PoSitíVOS Secativos Casos de febre amarella e convalescentes 81.8 18.1 O o-> Ce sôros examinados (oi reduzido (11). Outros se mostram anti-comple- men tares. Rhesus infectados e immuni- zados 95.8 4,1 Nos rbesBi infectados a reacçio mostra- se positiva desde o quarto dia. Doentes de outras infecções . 143 85,4 Febre typhoide (com Widal positivo): doentes tebris (com \Tidal negativo); typho ezantheraatico (Weil-Feliz posi- tivo) e syphilis fWassermann positivo). Nacionaes normaes residen- tes ou não em zonas onde tem havido febre ama- rella (•) 28,9 71.0 Residentes em S- Pauio. alguns tendo vívido no norte do paiz; de pessoas residentes na Bahia. Extrangeiros recem-chegados ao paiz 0 100 Lithuanos e japoneses chegados em Santos na vespera da colheita do sangue. A simples vista do quadro acima dá-nos uma idéa da especificidade e sefl* sibilidade da reacção e da possibilidade das indicações que poderá fornecer. Quando iniciámos os nossos estudos sobre a fixação do complemento n* febre amarclla, já declinava francamente o surto epidemico verificado na capit»! do paiz e, por isto. poucos foram os sôros conseguidos para a nossa reacção. O* que tinham sidos guardados no frigo, mostravam-se na maioria anticomplcmen- tarcs. motivo por que 9 desses sôros foram inutilizados. Como não pudemos dispo f de sôros colhidos em dias seguidos durante a evolução do mal. não conseguimo* determinar em relação á infecção humana, desde quando a reacção começa * mostrar-se positiva. A quasi totalidade de sôros de amarellcntos, por nós es*' minados, provinha de convalescentes e nos havia sido fornecida pelo dr. H* Aragão. No que diz respeito á febre amarclla experimental, tivemos opportunidade de examinar sôros de 25 rhesus, tendo sido possível acompanhar a evolução d* reacção. Somente após o 4.® dia é que se puderam obter fixações do compl*" mento, de pequena intensidade, augmentando gradativamente no 6.® e no 10.® di*- (•) Para o estudo destes sôros, muito devemos á gentileza do Dr. Eduardo Aratil?- director do Instit. Oswatdo Cruz da Bahia, que nos enviou 100 sôros de pessoas r**£ dentes em Salvador. Neste numero estão incluídos sôros de extrangeiros, geralmen portugueses, porém residentes ha annos na capital bahiana. Não foram ainda tod estudados, o que está sendo feito, de modo que a estatística publicada poderá ser aM*| rada em futuras publicações. Sôros de nacionaes residentes em zona indemne, colhiá de pessoas que nunca sahiram de S. Paulo, foram todos negativos. 10 J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorologico da febre amarella 181 O graphico abaixo dá uma idéa da marcha da reacçào na infecção experi- mental. | DIAS 1 2 3*56 7 8 9 10 20 30 40 50 60 70 1 | Pctiliva intensa Positiva ^ _ / fraca _ f ^•gaiiva — ' Nos doentes de outras infecções, cuja percentagem de resultados positivos se elevou a 14,5 devemos levar em conta que se tratava, na maioria, de nacio- naes. Com effeito, é possível que alguns nacionaes cujo sôro foi ensaiado, apre- sentassem relativa immunidade pelo facto de talvez terem residido em antigos focos da infecção. Isto é tanto mais verdade quanto ficou apurado que, entre as Pessoas ainda residentes em zonas endcmicas, a percentagem de positivos se ele- v ou a quasi 30 %. De 20 sôros de extrangeiros examinados, lithuanos c japoneses, recemche- fcados ao paiz (24 horas antes), não obtivemos nenhum resultado positivo. Frobisher Jor. (3). trabalhando sob os auspícios da Fundação Rockefcller de New York e baseado, como nós, na observação de Hindlc, preparou o seu anti- Keno salino, provocando, pela differença de pressão osmotica. a ruptura das cél- ulas hcpaticas contendo o virus. Os seus resultados concordam com os que obtí- amos. Pelos resultados acima descriptos, verifica-se que a reacçào apresenta espe- cificidade em relação á febre amarella humana c experimental, mostrando tam- pem a identidade dos virus africano e americano. Ella poderá servir igualmcnte P»ra a verificação da immunidade de pessôas, principalmente nacionaes, resi- dentes em zonas onde o mal tenha existido. Para maior facilidade de preparação do antigeno pelos laboratorios não es- pecializados, pensamos que poderia ser utilizado o material secco e conservado n ° vacuo e no frigo. As nossas experiencias realizadas com antigeno salino de figado secco, pre- gado sob a mesma technica descripta acima, demonstram essa possibilidade, se kem que os resultados sejam muito inferiores. II cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 182 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V SEGUNDA NOTA Na nota anterior, que já havia sido publicada (I), mostrámos a possibilidade da pesquisa de anticorpos fixadores do complemento, na febre amarella humana t na experimental do Macacus rhesus. Para isso se faz mister o uso de um anti- geno salino adequado, cujo preparo é baseado nas observações de Hindle (2). que demonstrou que se póde obter uma maior quantidade de virus dos figados de animaes infectados provocando-se o rompimento cellular por differença de pressão osmotica. Esse antigeno mostra-se desprovido de acção anti-complementar desde a dóse de 0,5 cc. em presença de 2 unidades complementares, bem como de acção he- molytica, isoladamente ou em face de um sôro. Como tivéssemos trabalhado com sòros antigos, conservados em empolas no frigo, mostrando-se muitos delles com elevado poder anti-complementar, fomos obrigados a usar uma technica (a de Mclntosh Fields) que nos permittiu fazer as leituras com segurança. Os resultados das reacções effectuadas até então, com sòros diversos, foram dados em resumo na nota anterior e concordavam com os de Frobisher Jor. (3) que os expoz cm um trabalho publicado antes do nosso. Agora daremos os resultados dos ensaios que realizámos posteriormente. Além de pequenas modificações de technica. tivemos a opportunidade de estudar mais alguns sòros de indivíduos que tiveram febre amarella no ultimo surto epidemico do Rio de Janeiro, e de proceder um maior numero de verificações, seja no decurso da infecção experimental do Macacus rhesus, seja em sòros de nacionacs residentes em localidades como a Bahia, onde a febre amarella parece existir endemicamente. Emfim, effectuámos algumas provas de protecção do rheso* com sòros que nos deram resultados positivos, conforme exporemos em seguida- Noras verificações sobre o preparo do antigeno São as seguintes as observações realizadas: a) Segundo fez Frobisher Jor., pode-se empregar uma solução hypertonic* de chloreto de sodio a 8.5 %, o que tem a vantagem de facilitar o calculo; b) As nossas experiências demonstraram que não ha maior vantagem em f**' trar o antigeno em vela, mas sim em passal-o simplesmente em papel fíl tr ° juntando-lhe phenol e guardando-o no frigo : assim cllc se conserva bem, mo 5 " tra-se mais activo, permittindo a obtenção de resultados muito nítidos, o que de'* correr por conta de uma maior riqueza em virus; c) Na escolha do material para o preparo do antigeno, deve-se dar pref^ rencia a figados (de rhesus) que se mostrem mais attingidos, com a côr camurt* disseminada por todo o orgão, convindo sacrificar-se o animal logo após a qué3* da temperatura e retirar do coração a maior quantidade possivel de sangue p ar * que o figado fique bastante exsangue; 12 J. L. Monteiro e J. Travas soí — Diagnostico sorologico da febre amarella 183 d) Os antigenos preparados com fígados seccos, conservados no vacuo e no frigo, são muito menos activos; e) As tentativas que realizámos de extracção da substancia antigenica pelo álcool, ether, etc., têm a desvantagem de imprimir ao antigeno a propriedade polytropica, apresentando, concomitantemente, affinidades para os anticorpos lipoi- dophilos dos sôros dos syphiliticos. Techniea da reacção Como nesta nova serie tivéssemos empregado sòros mais recentes, empregá- mos a techniea geralmente usada nessa ordem de pesquisa, isto é, quantidades fixas de antigeno (0,2) e de complemento, em face de dóses decrescentes de sôro a estudar (0,2-0, 1-0,05 cc.). O complemento, previamente dosado na manhã do dia em que praticavamos as reacções, em presença do antigeno, era usado na dóse correspondente a 2 unidades complementares. Os sôros a pesquisar soffriam um prévio aquecimento a 55° antes de serem utilizados na reacção. Para testemunhar o poder anti-complemcntar do sôro. usámos a dóse de 0,4 cc.. A hcmolysina era empregada na dóse de 3 a 4 uni- dades e as hematias de carneiro, em suspensão a 5 %. Volume total de 2.5 cc.. A 1.* incubação durava I 1/2 a 2 horas e a segunda, apenas 1/2 hora. Fize- mos sempre uma leitura immediata e uma outra após uma noite na geleira, de sorte que os resultados expostos neste trabalho são baseados sempre na ultima leitura. Os sôros que se mostraram anti-complemcntarcs foram posteriormente en- saiados segundo a techniea que expusémos em nossa 1.* nota. Damos a seguir os resultados obtidos com sôros diversos, empregando um antigeno preparado com as modificações acima. Por elles se poderá ter idéa do valor pratico do mcthodo e, para que isto melhor se evidencie, os sôros são se- parados em differentes grupos, de accordo com sua procedência. Resultados obtidos na febre amarella humana Conforme assignalámos no I.* trabalho, quando iniciámos os nossos estudos sobre a fixação do complemento na febre amarella já declinava francamente o surto epidemico verificado na Capital do paiz e, por isto, poucos foram os sôros que conseguimos estudar. Os que tinham sido guardados no frigo, quasi todos em diminuta quantidade, mostraram-se. na maioria, francamente anti-complemen- tares. motivo por que 9 dentre elles foram regeitados. Como não conseguimos soros colhidos em dias seguidos durante a evolução do mal, não poude ser determinado, em relação á infecção humana, o período em que a reacção começa a apresentar resultados positivos nos casos confirmados 13 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 184 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V da moléstia. A quasi totalidade dos sôros examinados provinha de convalescen- tes e de pessoas immunes; as amostras do 1.® grupo foram-nos enviadas pelo Dr. Henrique Aragão. do Instituto Oswaldo Cruz e as do 2.° foram colhidas por pessoa indicada pelo Dr. J. Barros Barreto, do Departamento Nacional de Saúde Publica. A estes distinctos collegas apresentamos aqui nossos agradecimentos. O quadro abaixo resume os resultados obtidos: Sôros de Negativo* Positivos fracos Positivo* fortes Suspeitos, diagnostico nào confirmado 3 0 1 , No de resultado positivo, a necToscopia revelou im- paludismo- Febre amarella diagnostico clinico) 1 2 0 Convalescentes 0 1 4 Após 4 a 20 mezes da in- fecção 1 3 11 Resultados na febre amarella experimental do .Macacus rhesus Em nosso trabalho anterior demos os resultados obtidos na febre amarella experimental, segundo estudo feito em 25 rhesus no periodo de infecção e já im- munizados. Verificámos que os anticorpos fixadores do complemento se mostram cm maior quantidade do 10.® dia após a inoculação do vinis, perdurando poste- riormente pelo menos até o 70.® dia (periodo da pesquisa). Nesta nova serie de ensaios tivemos a opportunidade de realizar maior nu mero de verificações, estudando sôros de rhesus em varias phases da evolução da doença c de rhesus immunizados, datando de mais de 12 mezes a infecção de alguns. O quadro abaixo resume os resultados até agora obtidos: Macaeus rhesus Total Negativos °/o Positivos fracos °/o Positivos fortes o/o Normaes 3 3 100 0 0 0 0 Após 3 a 5 dias .... 12 7 58,3 5 41.6 0 0 Após 6 a 9 dias. . . . 8 3 37.5 4 50,0 1 12.5 Após 10 a 30 dias . . . 2ó 0 0 3 11.5 ! 23 88.4 Após 31 a 70 dias . . . 5 0 0 o ° 5 100.0 Mais de 1 anno .... 11 2 18.1 5 4M| 4 36,3 Positivos fraco*: >eac(io + e — f- Poaitivo* forte* : reacçio -r+-f e — 14 cm 'SciELO 0 11 12 13 14 15 16 J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico soroiogico da fetre amarella 165 Ainda por estes resultados se verifica que, na infecção experimental, a reacção se póde mostrar positiva desde o 4.® dia após a inoculação do vinis. Tudo faz crer que os anticorpos fixadores do complemento augmentam. até um certo limite, no organismo do animal, permanecendo, na convalescença e nos im- niunizados, por largo espaço de tempo e provavelmente decrescendo em seguida. Do 10.” dia em deante os anticorpos fixadores do complemento já são em grande numero, mas depois de 1 anno parece que vão desapparecendo, apresen- tando alguns animaes rcacções negativas ou fracamente positivas. Resultados cora sôros dc pessoas residentes na Bahia Para o estudo da reacção em material proveniente de indivíduos normaes, de logares onde a febre amarella tem existido mais ou menos endemicamcnte, obtivemos por especial gentileza do director do Instituto Oswaldo Cruz da Bahia. Dr. Eduardo Araújo, a quem somos muito gratos pelo auxilio prestado, vários so- r os de pessoas residentes em Salvador, capital daquelle Estado. Em nossa primeira nota apresentámos os resultados percentuaes de alguns (20» desses sôros já examinados por aquella occasiào. Agóra damos um estudo completo desses sòros, num total de 67: Negativos o o Positivos traços °/o Positivos fortes o/o 34 50,7 | 13 19,4 20 29,8 Por idade foram os seguintes os resultados percentuaes: IDADES Negativos 0/0 Positivos frteos e/o Positivo* fortes e/o De 12 a 20 annos. . 8 11,9 1 1,5 2 3.0 De 21 a 30 annos. . 15 22.4 8 11.9 10 14.9 De 31 a 70 annos. . » 16.4 4 64) 8 11.9 ^)e accordo com o sexo, os resultados foram os s eguintes: SEXO Negativos •/. Positivo» fracos °/o Positivos fortes e/o Masculino 18 26,8 5 7,5 ü 16.4 Feminino 16 23,9 8 11.9 13.4 Resultados com sõros de pc«soas residentes em São Paulo Do Instituto Bacteriológico obtivemos vários sôros de indivíduos aqui resi- ste* e remettidos áquelle estabelecimento para nelles ser praticada a reacção ^'assermann, cujos resultados nos foram juntamente enviados. Procedémos * facção de fixação do complemento com antigeno amarillico nesses sôros e 15 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 186 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V ainda em muitos outros que conseguimos de pessoas que habitam São Paulo muitos annos, tendo, entretanto, algumas delias passado temporadas no Rio Janeiro. Não pudemos fazer um inquérito satisfactorio de todos, motivo por qu damos aqui somente os resultados obtidos: SOROS Negativos °/o Positivos fracos °/o Positivos fortes o/o Soros c Wassermann + + + + . ; 7 87.5 1 124 0 0 Soros c/ Wassermann negativo 16 80,0 3 15,0 1 5.0 Diversos 19 79,1 3 125 2 84 Média 42 822 7 134 3 4.5 Resultados com sòros de estrangeiros recem-chegados ao paiz De 20 sòros extrangeiros examinados, lithuanos e japoneses, recemchegad ao paiz (24 horas antes), não obtivemos nenhum resultado positivo. Resultados com sõros de outras infecções Com o intuito de estudar a especificidade do antigeno amarillico, realizáfl varias provas em sòros de doentes de febre typhoide, de typho exanthematico de outras doenças febris. O quadro abaixo dá os resultados que obtivemos: Soros de doentes de Negativos Positivos fracos Positivos fortes Febre typhoide . . . . . 18 0 2 Typho exanthematico . . . 5 1 0 Doenças febris. . . . . . 13 1 2 Os commentarios que fizemos em nosso primeiro trabalho cabem aqui a explicação da percentagem, embora pequena, de resultados positiyos com de pessoas residentes em S. Paulo e de doentes de outras infecções: taes tados explicar-se-iam pelo facto de algumas destas pessoas terem, possiveln residido em zonas onde a febre amarella haja existido endemicamente, ap de que não nos foi possível confirmar esta suspeita que se justifica, em caso, pelos resultados com os sòros das pessoas residentes na Bahia. CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO ANTIGENO E DOS ANTICORPOS AMARILLICOS Hadjopoulos e Burbank (4) consideram um antigeno como composto í ‘ i | moléculas dissimilares: a molécula immunogenica, isto é, fracção productof* anticorpos e a molécula immunophilica ou fracção reactora aos anticorpos- 16 cm 'SciELO 0 11 12 13 14 15 16 J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorologico da febre amarella 187 mer (5), do mesmo modo, julga necessário discutir o papel de um antigeno sob dois aspectos: em relação á producçáo de anticorpos e em relação á inter-reacção com anticorpos in vitro no que diz com a fixação do complemento. No caso presente, directamente só poderemos estudar a qualidade antigenica do nosso soluto in vitro, isto é, em relação aos anticorpos fixadores do comple- mento ou. como diria Burbank, á sua fracçáo immunophilica, por isso que, sendo o nosso antigeno um soluto chimicamente complexo, onde proteínas, lipoides, hy- dratos de carbono, etc. formam compostos indefinidos ou ainda não estudados, não poderiamos saber a qual destes está ligado o papel de antigeno. Se, com effeito, injectarmos em animaes de especies differentes, em dóses crescentes, o soluto antigenico e, após o preparo do animal, procurarmos no sôro anticorpos fixadores, usando como antigeno o mesmo soluto, é forçoso que os encontrare- mos, por isso que os complexos proteino-lipoidicos, lipoides livres, e outros, por si sós, independentemente da substancia especifica, são capazes de provocar a formação de anticorpos. Não resta duvida de que o sôro de cavallo inoculado com o viras (fígado), que goza, de accordo com as verificações de Pcttit e seus collaboradores (6), de poder protector para o rhesus, contém anticorpos fixadores do complemento, como se pode verificar no quadro abaixo: Testemunhas do soro: Reacç-lo : Soros asti-aaarillico do Unidade* complementam Unidade* complementam 2 í 4 •J 3 4 5 Instituto Pasteur. . . + 1 — I — I — + + + + + | + - Instituto Butantan . . — — — — — — * — | — + n- ) + +| + Mas, como poderemos affirmar que esses anticorpos fixadores do comple- mento são específicos para a porção immunogenica do antigeno, se como anti- geno na reacção usamos o mesmo complexo chimico que foi inoculado no animal? Os anticorpos fixadores poderiam ser específicos, tanto para o virus propriamente dito, como para os complexos proteino-lipoides do figado. lndirectamentc, porém, podemos ter a prova de que o nosso antigeno possúc a fracçáo immunogenica: com effeito, dos rhesus, inoculados com figados que nos serviram para o preparo do antigeno, alguns ficaram infectados c morreram de febre amarella, outros resistiram á infecção e apresentaram em seu sôro quanti- dade apreciável de anticorpos que fixam o complemento em face de um antigeno preparado com o figado de rhesus infectado, mas que não o fixam em face de um antigeno preparado com figado de rhesus normal, conforme as verificações também de Frobisher Jor. Por outro lado, sabe-se que os sôros de rhesus immuni- zados e os de convalescentes de febre amarella gozam da propriedade de proteger os animaes sensíveis contra o virus e. pelas verificações por nós realizadas, esses sôros possuem, em regular quantidade, anticorpos fixadores do complemento. Isso não quer dizer, entretanto, que o poder de protecção corra só por conta dos anticorpos fixadores do complemento, mas que estes dois anticorpos podem exis- 17 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 188 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V tir concomitantemente, sobretudo no período de convalescença, podendo perdurar por período mais ou menos longo, sendo os últimos (os fixadores do complemento) mais facilmente eliminados, conforme as nossas investigações nesse sentido. O antigeno contém seguramente o vinis amarillico, conforme se demonstra pela inoculação do figado, de que foi preparado, em Macacus rhesus. Um dos antigenos com que realizámos a maioria das reacções deste trabalho, provinha do rhesus 102, cujo vinis fora utilizado para inoculação do rhesus 105, que teve in- fecção característica e morte em 5 dias, sendo transferido para o rhesus 108 que também morreu em 5 dias, após infecção typica, e. assim por diante, através de outras passagens; o rhesus 103, inoculado com dose muito reduzida de uma emul- são de figado do mesmo rhesus 102, teve apenas reacção febril, resistindo á in- fecção, mas a reacção praticada então com o seu sòro (apenas 0,05 cc.) deu resultado fortemente positivo (-Ç--J — | — }-). Por outro lado, poder-se-ia provar indirectamentc a existência da fracçào immunogenica no antigeno, pela prova de protecção dos sòros contendo anticorpos fixadores do complemento em relação á infecção experimental. O quadro abaixo mostra esta verificação por nós realizada e o resultado obtido: Prova de protecção do Macacas rhesus cora sôros contendo anticorpos fixadores do complemento Soro de Rrtoltado» da rcacçio Aaimati de prova P. F. N., conva- lescente de fe- bre amarella. + + + + Rhesus 107, inocul. c/ 2cc. de soro P. F. N., em 21-7-30; inocul. c/ ] virus 2cc. sangue do rhesus 105 . em 22-7-30. Nada de anormal apre- sentou. 0. A. P. Guima- rães, normal, re- sidente na Bahia. + + + + Rhesus 120, inocul. em 12-8-30 c / 2cc. de soro 0. A. P. O.; em 13-8-30 inocul. c/ virus (2cc. de sangue rhesus 119 . Nada de anormal apre- sentou. J. Magalhães, normal, residen- te na Bahia. Rhesus 121, inocul. em 12-8-30 d 2cc. de soro J. M.: em 13-8-30 inocul. c virus 2cc. sangue do rhesus 119. Nada de anormal apresentou. Tettcmantui Resaludot da protccçlo Rhesus 108. ino- cul. em 22-7-30 c/ virus 2cc. sangue do rhe- sus 105 . Morte em 25-7-30 c/ le- sões typicas. Rhesus 122. ino- cul. em 13-8-30 c / virus 2cc. sangue do rhe- sus 119 . Evolu- ção característi- ca, hypothermia, sacrificado em 21-8-30. apresen- tando lesões ty- picas. Positivo Positivo Positivo Indirectamente, pois, poderemos provar que no nosso antigeno existe a frac- çào immunogenica. Para o estudo da fracção immunophilica basta verificar os resultados d* s reacções nos sôros dos rhesus immunizados, das pessoas convalescentes e d* s 18 J. L. Monteiro e J. Travassos — Diagnostico sorologico da febre amarella 189 immunes i febre amarella. A percentagem elevada de resultados positivos dis- pensa-nos qualquer commentario. Tratando-se, contudo, de um antigeno chimicamente complexo, não podemos assegurar que este se fixa unicamente ao anticorpo especifico amarillico, por ven- tura existente nos sôros humanos. A prova realizada nos sôros de extrangeiros recentemente chegados ao paiz que. como se sabe, são os mais sujeitos á infec- ção, dá-nos margem, entretanto, para julgarmos que o antigeno possue certa es- pecificidade. DISCUSSÃO E SUMMARIO As considerações feitas no inicio da nossa I.* nota mostram a importância que apresenta o estabelecimento de um diagnostico sõrologico da febre amarella Para a confirmação do diagnostico clinico, nos casos em que este apresenta dif- ficuldades, como acontece no principio das epidemias, nos casos benignos, formas frustras, etc.. Assignalamos também as pesquisas que, nesta nova phase do estudo da febre amarella. foram feitas por differentes pesquisadores. Os resultados obtidos com a reacção de fixação do complemento, com sôros de pessoas convalescentes de febre amarella e de immunes, com sôros de rhesus nos vários períodos da infecção, bem demonstram a possibilidade de um diag- nostico post-infecçáo, muitas vezes necessário para comprovar a suspeita de um caso que se revele por uma forma clinica frustra ou susceptível dc confusão com °utros estados morbidos. A prova de protecção realizada cm rhesus é dispendiosa e muitas vezes inaccessivel entre nós, por falta dc animaes cm abundancia. A reacção de fixação do complemento sendo positiva no decurso ou depois dc uma infecção suspeita clinicamente poderá ser discutida, quando se tratar de u m nacional residente ou tendo residido em zona cm que a febre amarella é en- dêmica. Tratando-se, porém, de um extrangeiro rccentcmentc chegado ao paiz e provindo de região indemne, o resultado positivo parece revelar seguramente a infecção. Como referimos no decorrer deste trabalho, o antigeno que usamos deve a Presentar em sua molécula as fracçôes immunogenica e immunophilica, o que 'he empresta valor de especificidade, mas não podemos assegurar que nos sôros humanos não existam outros anticorpos, além do especifico ao virus, capazes por s ua vez de, em presença deste, fixarem o complemento. As provas dc protecção realizadas nos rhesus com sôros de nacionaes que apresentavam um resultado ^rtemente positivo, alem dos resultados sempre negativos da reacção em sôros tJe extrangeiros recentemente chegados ao paiz, falam, entretanto, a favor de ü ma certa especificidade desses anticorpos. Essas mesmas provas vém mostrar também ha causa de erro na prova de protecção: tratando-se de um doente, na cionaI e oriundo de fóco endemico, cila perde o valor, do mesmo modo que a Prova de fixação do complemento. 19 cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 190 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V CONCLUSÕES I. A infecção amarillica. tanto humana como experimental, depois de certo período da evolução, na convalescença e nos immunizados, pode ser diagnosti- cada por uma reacçáo baseada na fixação do complemento. II. Para esta reacçáo o antigeno será preparado com figado de rhesus in- fectado, tratado por processo especial que liberte a maior quantidade possível do virus. Este antigeno apresenta especificidade e sensibilidade na infecção, tanto humana como experimental. III. Os sôros de nacionaes residentes em zonas onde o mal é endemico, em proporção de quasi 50 contêm anticorpos fixadores do complemento, o que não acontece com os sôros de extrangeiros recemchegados ao paiz. IV. Conforme se passa com os sôros de convalescentes, os sôros de nacio- naes contendo anticorpos fixadores do complemento (reacçáo com -( — j — 1 — [-). são capazes de proteger o Macacus rhesus em relação á infecção experimental. V. Tratando-se de sôros de nacionaes oriundos de zonas de endemia ama- rillica, este facto poderá falsear os resultados da reacção quanto ao diagnostico post-infecçáo, o que também se dará com a simples prova de protecção do rhesus pelo sôro de convalescente. CONCLUSIONS I. The diagnosis of yellow fever, both human and experimental may be based on the complement fixation reaction made in the course of the infection, in the convalescence and after complete recovery. II. The antigen for this reaction must be prepared from the liver taken from infected rhesus monkeys and ground in a way that may set frce as mucb virus as possible. The antigen thus prepared shows both specificity and sensiti- veness to the infection. III. The sera of natives living in places where the disease is endemic sho»' complement-fixing antibodies in about 50 % of the cases, whilst those of newly arrived foreigners give negative results. IV. The sera of natives containing complement-fixing antibodies (-j — | — reactions), like those of convalescents, afford the rhesus protection against yellow fever. V. This indeed may mislead one in the interpretation of the results, should the reaction be made on material from persons living in the endemic zone, but the rhesus protection test made with convalescenfs serum will act likewise. 20 CAMPANHAS ANTI-OPHIDICAS PO» AFRAMO DO AMARAL CAMPANHAS ANTI - 0 PHI DIGAS PO 8 AFRANIO DO AMARAL (*) SERPENTES VENENOSAS Ames de tratar propriamente de campanhas anti-ophidicas, parece-me razoá- vel que eu diga algumas palavras sobre o conceito scientifico de serpentes ve- nenosas. Aqui cumpre distinguir entre o critério especulativo e o pratico. Do Ponto de vista physiologico e anatomico, venenosos sáo quasi todos os ophidios, Porquanto possuem glandulas que secretam productos capazes de exercer toxici- dade sobre esta ou aquella especie animal. No entanto, do ponto de vista medico e hygienico, só se devem considerar venenosas aquellas serpentes que, por possuí- am abundante secreção e serem dotadas de apparelho inoculador cm ligação com ' glandula de veneno, são capazes de injectar facilmente este producto nos tecidos *nimaes. Estão neste caso os ophidios pertencentes á serie dos protcróglyphos °u á dos solenóglyphos, a primeira das quaes se caracteriza pela presença de dentes maxillares anteriores (presas) chanfrados ou mais ou menos perfurados (Fig. 1), e a segunda, pelo encurtamento do osso maxillar que, alem disso, é ^ovel perpendicularmcnte em relação ao cctoptcrygoide e ligado de cada lado a ti ma grande presa tubular, cujo canal communica com o dueto excretor de ve- ne no (Fig. 2). A serie proteróglypha é representada no Brasil apenas pelas chamadas “Co- ^as coraes verdadeiras”, as quaes, todavia, por não serem propensas a picar c Por viverem rarissimamente na superfície do solo, não constituem problema para 0 hygienista. A serie solenóglypha corresponde em nosso meio á familia das Crotalideas, 41 quaes se distinguem das demais pela presença de dois orificios de cada lado focinho: um anterior que é a narina e outro posterior que é a fosseta lacrimal ,p ig. 3). Sestas condições, para a immediata distincçâo dos ophidios não vcnc- (•) Os dados constantes deste trabalho foram usados, em grande parte, na con- vencia que, sobre o assumpto, realiiei perante o V Congresso Brasileiro de Hygienc. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 196 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V nosos e venenosos é da maxima importância a observação desses dois orifícios I faciaes, porquanto nenhum outro grupo de ophidios, alem das Crotalideas, ncm\ mesmo o das “ Corães venenosas", os apresenta. As Crotalideas, divididas em duas subfamilias (Crotalineas e Lachesineasl.l estão até agora representadas no nosso território por tres generos, subdivididos | pelas dezeseis especies seguintes: I. Genero Crotalus Linneu, representado por uma só especie no Brasil: 1. C. terrificus ( Laurentiusi, a Cascavel, abundantíssima em todas a*| zonas seccas ou altas do pais. II. Genero Lachcsis Dai din, que é monotypico, isto é, possue uma unica| especie : 2. L. muta (Linneu), a Surucucu, encontradiça nas mattas do centro, littoral (do Rio para o norte) e valle do Amazonas e Paraguay. E' esta a ser- 1 pente solenóglypha que attinge maior comprimento em todo o mundo ( pelo menos | tres metros). III. Genero Bothrops M’agler, cujas especies podem ser assim discrimina- das, pela ordem de sua abundancia e importância medica ou cconomica: 3. B. jararaca (Wied), a Jararaca, muitó commum desde a Bahia e o planalto central até o extremo sul, onde habita os campos e logares relativa- mente planos. 4. B. atrox (Linneu), a Caissaca, abundante desde São Paulo, Min* 5 Geraes e Matto Grosso até o extremo norte, onde substitue a Jararaca. 5. B. jararacussu Lacerda, a Jararacussú, encontrada em logares baixo* | e húmidos, frequentemente á margem de rios e banhados. 6. B. altcrnata Duméril & Bibron, a Urutu, que é própria da zon* I central e meridional, onde vive em logares seccos ou pedregosos, preferindo * [ chamada zona de terra vermelha. 7. B. ncuwiedii Wagler, a Jararaca pintada, distribuída desde o R ,fl Grande do Sul e Matto Grosso até o nordeste, onde substitue a Urutu, pois tato* | bem occorre em logares seccos ou mesmo semi-aridos e pedregosos. 8. B. cotiara (Gomes), a Cotiara. que se encontra desde a região d*l Serra do Mar no sudeste de Minas, e de São Paulo para o sul, especialme ntf I no Paraná e Santa Catharina. 9. B. bilincata (Mied), a Surucucu de patioba, própria do norte Rio de Janeiro até a região nordestina e o valle do Amazonas. 10. B. itapctiningac (Boulenger), a Cotiarinha, especie própria do > í '| terior de São Paulo (Fig. 13). 11. B ■ castelnaudi Duméril & Bibron, a Jararaca cinzenta, relati' 1 I mente rara mesmo nos valles do Amazonas e Paraguay e no planalto centr*' , | donde 6 originaria (Fig. 14). cm 'SciELO 0 11 12 13 14 15 16 A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas 197 12. B. insularis (Amaral), a Jararaca ilhoa, restricta á Ilha da Quei- mada Grande no littoral de Sáo Paulo (Fig. 15). 13. B. erythromelas Amaral, a Jararaca da secca, até agora assignalada apenas na zona secca do nordeste (Bahia até Ceará) (Fig. 16». 14. B. iglesiasi Amaral, oriunda do sertão do Piauhy (Fig. 17). 15. B. pirajai Amaral, procedente da região meridional da Bahia (Fig. 18). 16. B. neglecta Amaral, também originaria da Bahia (Fig. 19). TRATAMENTOS EMPÍRICOS E’ sabido que, especialmente entre a classe baixa, muita gente ainda acre- dita que mordedura de cobra passa com remedios caseiros, cuja base é em via de regra o álcool ou o kerozene. Assim, tanto no Brasil, como nos demais países *mericanos. é frequente se verem pessoas, picadas por serpentes, procurar bcbc- r *gens com base de álcool, sendo que nos Estados Unidos, em virtude da lei secca, muitos pretos se fazem propositalmente picar por cobras não venenosas só para •crem direito a uma dose de whiskey de que sentem tanta falta... No entanto, mcperiencias realizadas com todo o rigor scicntifico tôm demonstrado que o álcool, longe de curar ou siquer facilitar a cura, pelo contrario a difficulta, porque a Principio favorece a absorpçáo do veneno e, mais tarde, cm resultado da baixa da pressão sanguínea, retarda a rcacção do organismo c a eliminação do toxico. No que diz com o kerozene, os effeitos observados ainda sáo mais preju- diciaes. Alem de não ter acção qualquer benefica sobre o envenenamento, o kc- tozene, ingerido nas doses que o povo emprega, complica os symptomas, porque Por si só produz uma intoxicação aguda, com destruição do sangue e degeneração do figado. Ha dois annos, tive ensejo de soccorrer a um trabalhador, rccemchegado 'fe Portugal, que, ao ser picado por uma cascavel nos arredores da cidade de São Paulo, foi obrigado a ingerir cerca de meia garrafa de kerozene que lhe •^ministraram os companheiros de trabalho. Apezar da applicaçáo intensiva do *ntivcneno especifico (sôro anti-crotalico), esse paciente não poude reagir, vindo * fallecer no dia seguinte com todos os symptomas de envenenamento pelo kcro- * en e. Ainda ha pouco tempo, tive sob observação uma franzina menina de 7 *nnos, residente á margem da estrada de São Paulo a Itú c que, depois de um c °Pioso almoço, se viu, em certo domingo, picada por uma cascavel que foi morta e trazida ao Instituto para identificação. Ao examinar o ophidio, dei pela falta do Cre pitaculum (chocalho) e, ao ser notificado da morte da doente, apezar do tra- ^ento especifico, tratei de averiguar o que os parentes da victima haviam feito Coni esse appendice. Fui então informado de que o mesmo havia sido triturado e Posto em um copo de kerozene que foi dado a beber á desventurada criança. cm SciELO 11 12 13 14 15 16 17 198 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Logo depois deste caso, observei um outro de um menino de 12 annos de idade residente em um velho sitio alem do Ypiranga, no município de São Paulo, o qual fora mordido por uma cascavel no momento em que estava trabalhando na roça. Soccorrido pelo pai que conseguiu matar a serpente causadora do accidente, recebeu essa criança, como medicação de urgência, uma "boa dose" de cachaça com alho grande, na crença de ter ingerido um antídoto efficaz. Não havendo naturalmente o remedio produzido o effeito desejado, foi a victima, já em estado grave, trazida ao Instituto Butantan pelo proprio pai que, ao ser inquirido sobre o accidente e a medicação usada, declarou que administrara a pinga com alho, só não tendo augmentado a dose para um copo, por se ter o offendido recusado a ingerir mais, devido aos vomitos que provocava. Para fazer face ao envene- namento dessa criança foram necessárias 9 empolas de sôro anti-crotalico injec- tadas por via sub-cutanea, intravenosa e intraperitoneal, de mistura com cerca de meio litro de agua physiologica com adrenalina, seguido de estrychnina e ca- feína. A minha primeira experiencia com tratamentos dessa natureza passou-se ha cerca de nove annos, quando tive conhecimento de um caso de envenenamento ophidico cuja unica 'medicação" consistira em couro de jacaré administrado com "pinga e oleo de candeia". Bem se vê que, enquanto perdurar tamanha ignorân- cia entre o povo, ha de ser moroso o progresso que poderemos fazer em nossas campanhas de prophylaxia. No sul do Brasil, nos pontos em que a instrucçá® está mais disseminada, e nos Estados Unidos, onde todos procuram aprender par* melhorar e enriquecer, os resultados da campanha anti-ophidica têm sido pr°" porcionacs ao adiantamento do meio. COMBATE AO OPH1D1SMO No combate ao ophidismo estão comprehendidas varias medidas, todas cor- relatas e interdependentes, mas que devem ser postas em execução gradativa e systematicamente afim de se assegurar o completo exito da campanha: 1. * Determinação das especies de serpentes venenosas de importância m** dica c estudo de sua distribuição geographica. 2. * Captura systematica de taes serpentes, vivas. 3. * Pesquisa dos phenomenos physiologicos e immunologicos dos veneno*- 4. * Preparo de antivenenos (sôros anti-peçonhentos) de accordo com ° 5 typos mais importantes de peçonha, e emprego de meios mechanicos comp'*” mentares de defesa contra as picadas. 5. * Organização de estatística sobre ophidismo e sobre o resultado da app' 1 cação de antivenenos no tratamento de picadas. 6 A. do Amaral — Campanhas anti-o phidicas 199 Infelizmente, os únicos países que tèm seguido consistentemente essa orien- tação na lucta contra os ophidios venenosos, tèm sido o Brasil e os Estados Unidos. Entre nós, graças á visão de Vital Brazil que cedo se deu conta da importância do problema do ophidismo para as populações ruraes do país, creou-se no Insti- tuto Butantan, sob a sua orientação, uma organização capaz de levar avante a patriótica campanha que tão assignalados resultados tem produzido, conforme vou tentar demonstrar neste trabalho, repetindo muito embora alguns factos sobe- jamente conhecidos. Nos Estados Unidos, em resultado da crescente actividade do Antivenin Institute of America, cuja organização, bastante vasta e elastica, tem permittido um ataque á questão nos diversos pontos de sua immensa zona rural, os fructos colhidos tèm sido tantos e tão importantes, que permittem espe- rar-se para breve a completa eliminação do ophidismo como factor de mortalidade. Aqui, como ali, a campanha tem sido orientada nos modelos por mim acima apontados, já estando em franca execução, entre nós ha mais de 25 annos, e na America do Norte ha apenas tres annos, as medidas referentes ao estudo e á captura de serpentes venenosas e as pesquisas sobre venenos e preparo de anti- venenos. Quanto á ultima medida indicada e que se refere á organização de estatísticas sobre o ophidismo e sobre o resultado do tratamento especifico, o Instituto Butantan tem delia, cm vezes varias, cogitado, conforme publicações feitas por alguns de seus membros. De seu lado, o Antivenin Institute of America »caba de demonstrar, no numero 2, vol. 111 do seu "Bulletin ', o surprchendcnte e rápido successo da actividade que se vem exercendo naquelle país amigo. O OPHIDISMO NO BRASIL Vejamos, em primeiro logar, como no particular se tem exercido a actividade do Instituto Butantan, á luz dos annexos graphicos, referentes á entrada de ser- pentes, englobadamente ou por especies e grupos, á producçào de antivenenos e * mortalidade por picadas. a) Entrada» de serpentes O Instituto prepara actualmente e em larga escala os seguintes antivenenos °Phidicos (sflros contra picada de serpentes) para distribuição, sobretudo á zona rttr »l do sul do Brasil: 1. Antiveneno crotalico (sôro anti-crotalico) monovalente, contra a nossa es- teie de Cascavel, Crotalus tcrrificus ( Laurentius). 2. Antiveneno bothropico (sôro anti-bothropico) monovalente, contra a Jara- ,,c *i Bothrops jararaca ( Wied ) . 3. Antiveneno bothropico (sôro anti-bothropico) polyvalente, contra as espe- res mais communs de Bothrops brasileiras, isto é. a Jararaca ou Bothrops jara- 0(9 (^’ied). a Caissaca ou Bothrops atrox (Linneu), a Jararacussú ou Bothrops 7 QUADRO DEMONSTRATIVO DAS QUADRO SERPENTES RECEBIDAS I I PELO INSTITUTO BUTANTAN DE 1901 A 1929 ESPECIES O C| Cs Os > C; Cs 11 £ § Os n Os o Cs C| Cs ■**» I 2 5 > Cs vr» •»* O >c 5 *•> r>* •»* Cs 00 Cs O o< ci Cs Cl Cs C| C| o. C) Cl c CN O »o Cl Os 'O Cl Os K. Cl o 1 i ^ ! Si O» Cl £ T otaes 1 — C. terríficas (Laurenti.) — — — — — 120 380 960 955 1 .258 1.30! 1.732 1.305 1.636 1.463 1.12! 1.616 1.96 2.002 2.428 2.33' 2.477 2.396 2.187 2.08C 2.37: 3.262 4.627 5.209 47.198 2 — fí- jararaca (Wied) .... — — — — — 46 251 39S 35C 46: 682 1.032 913 1.013 1.198 1.612 1.72: I.65Í 2.64Í 4.477 3.75Í 5.587 4 690 3.161 4.226 5.701 4.417 5.751 7.579 63.340 3 — B. aüemata D. Designações vulgares: Jararacussu e Jararacussú verdadeiro. Esta especie é ainda conhecida pelos nomes de Jararacussú cabeça de sapo, Jararacussú malha de sapo, Jararacussú cabeça de patrona. Patrona, no Nordeste e especialmente na Bahia; Jararacussú tapete, Surucucú tapete. Cobra tapete. Tapete, Urutú. Urutú dourado, Urutú preto, Urutú amarello, Urutú estrella e Surucucú dourado, na região sudestina e especialmente nas zonas baixas dos Estados do Rio e Minas e no chamado "Norte" (Leste) de São Paulo, zona da Estrada de Ferro Central do Brasil. (*) A respeito da significação e distribuição da maioria destes nomes vulgares no Brasil consulte-se: — Amaral, Afranio do — Nomes vulgares de ophidios do Brasil- Boletim do Museu Nacional II (2). 1926. 10 cm SciELO LO 11 12 13 14 15 16 A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas 203 F. Nome scientifico: Bothrops alternata Duméril & Bibron (F!f. 9) Designações vulgares: Urutu, Cruzeiro ou Cruzeira e Cotiara ou Coatiara. Jararaca rabo de porco (extremo sul do Brasil) e Jararaca de agosto (região da Lagoa dos Patos). G. Nome scientifico: Bothrops ncuwicdii VCagler em milligrs. Crotalus tmificus . . . 0.1 33 fíothrops jararaca . . . 0.2 66 fí. jararacassu .... 1.0 330 fí. altemata 0.5 165 fí. ncuwicdii 0.1 33 fí. atrox 0.3 99 fí. cofiara 0.4 120 Por esse quadro também se verifica que, sendo cxtrahido de serpentes em condições mais ou menos normaes, o veneno perde cerca de 2/3 de seu peso ao ser descccado, ou, em outros termos, a parte solida (parte activa) representa ap- proximadamente 1/3 do total do veneno. Este resultado, todavia, se modifica com a repetição das extracções de ve- neno dos mesmos exemplares, porquanto, então, não somente se reduz a media de produeçáo por indivíduo (e especie, consequentemente), mas ainda o veneno fica menos concentrado, passando a parte solida a representar apenas 1/4 ou 1/5 do peso total do veneno, conforme se verifica pelos seguintes quadros, ba- seados em algumas dezenas de milhares de extracções dentre as registadas na Secção de Ophiologia do Instituto no periodo de 1912 a 1930: 26 A. DO Amaral — Campanhas anti-ophidicas 219 Producção de Teneno pelas especies mais communs do Brasil (Veneno liquido) No. d* extracçSes Volume tm c. c. j Media em e. c. por eiemplar Crotalus tenificus . . . 28-527 3.001 0,10 Bothrops jararaca . . . 43.823 4.1933 0.09 B. jararaeussu 2.044 895,4 0,43 B. altemata 2.514 588.6 033 B. neuwiedii 3.418 3223 0,09 B. atrox 2.761 6003 0,21 B. cotiara 968 12435 0,13 Producção de veneno pelas especies mais communs do Brasil (Veneno deseccado) No. de extracçftes Volume cm c. C- Media em millgr*. por exemplar Crotalus terrificus . . . 12.755 297,099 23 mgr. Bothrops jararaca . . . 29375 686.022 22 mgr. B. jararaeussu 506 52,870 104 mgr. B. altemata 1.251 58,757 47 mgr. B. neuwiedii 1.408 29.664 21 mgr. B. atrox 1.012 48.544 47 mgr. B. cotiara 1328 33352 27 mgr. A analyse dos dados constantes destes quadros, alem de reforçar as infor- mações, exaradas em paginas anteriores, sobre a grande toxicidade do veneno da cascavel, sobre a frequência das picadas por esta especie e pela jararaca c sobre a gravidade do envenenamento causado pela jararacussú, urutú e jararaca pintada, vem justificar cabalmente a praxe adoptada pelo Instituto Butantan de não expor a consumo sinão antivenenos (sóros anti-peçonhentos) ophidicos de poder antitoxico relativamente elevado. Na verdade, diante dos elementos esta- tísticos representados neste trabalho, não se poderia justificar, no tratamento de accidcntcs ophidicos, o emprego de sóros cujo poder antitoxico fosse inferior aos seguintes valores: 8 millgrs. de veneno de cascavel por 10 cc., para o anti-crota- lico; 15 millgrs. de veneno de jararaca por 10 cc., para o anti-bothropico; 4 millgrs. de veneno de cascavel X 10 millgrs. de veneno de jararaca por 10 cc., para o anti-o phidico. g) Frequência das picadas pelas regiões do corpo Analysando-se os 3595 boletins de nccidentes ophidicos, recebidos pelo Ins- tituto Butantan no periodo de 1902 a 1929, os quaes dão uma idéa apenas appro- ximada da frequência das picadas entre nós, porque é sabido que a maioria das 27 220 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V pessoas chamadas a tratal-as. deixam, por esquecimento ou negligencia, de com- munical-as ao Instituto, pode-se ter, ainda assim, uma idéa da distribuição das picadas pelas varias regiões do corpo. Pondo-se á margem 569 casos de picadas assignaladas em animaes. observa-se, pela analyse dos restantes 3026 casos, todos humanos, que nelles as picadas se distribuiram do seguinte modo: Casos humanos de picadas por serpentes venenosas, tratados por soros específicos, segundo boletins recebidos pelo Instituto Butantan Rfi Jo oftendida Numero Modo de injectar o sõro Preparado o ponto onde se vae fazer a injecçáo, trata-se de levantar, com a mão esquerda, a pelle, de modo a formar uma dobra ou cone. em cuja base se implanta uma das agulhas que acompanham a seringa (e que devem também ter sido esterilizadas), depois de retirado o pequeno fio metallico que lhe garante o funccionamcnto. A agulha deve atravessar completamente a pelle (fig. 24), o que se verifica pela impressão que dá, de estar já com a ponta livre e dentro do tecido sub-cu- taneo. Retiram-se então as bolhas de ar que porventura tenham ficado no inte- rior da seringa, a qual então se liga á agulha implantada, injectando-se o sôro por um movimento de propulsão lento do embolo. Se a seringa não tem a capacidade sufficiente para injectar de uma só vez toda a dose do sôro, deve-se, ao terminar a injecçáo da primeira quantidade se- parar a seringa da agulha e conservar esta implantada para evitar nova picada, inteiramente desnecessária. Separada a seringa, trata-se de adaptar a ella a outra agulha esterilizada e proceder ao seu enchimento com nova quantidade de sôro, findo o que se passa a ligar á agulha já implantada, e assim successivamente 32 A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas 225 l) Cuidado com a seringa Depois de occupada, a seringa deve ser cuidadosamente lavada em agua, sfim de serem removidos os traços de sòro porventura depositados em suas pa- redes, os quaes, pelo deseccamento, poderiam inutilizal-a completamcnte. m) Cuidados com o paciente Terminada a injecçâo, o paciente deve ser deixado na cama, no mais com- pleto repouso, evitando-se qualquer causa de excitação. Se a dose injectada é sufflciente e feita cm tempo opportuno, as melhoras apresentam-se dentro de 3 a 6 horas. Se, porém, não for sufficicnte, nem admi- nistrada bastante cedo, é necessário repetir-se a injecçâo cada 3 ou 6 horas até que se complete a dose necessária á cura do caso. Nos accidentes determinados pela cascavel acontece ás vezes que os phe- nomenos de intoxicação, depois de cederem apparentemente sob a influencia do tratamento, a ponto de darem ao paciente a impressão de cura completa, sobre- vêm novamente, com certa intensidade e podem determinar a morte, caso não se faça logo nova injecçâo de sôro. E’, pois, necessário, nos envenenamentos de typo crotalico, prolongar a observação por 3 semanas no minimo, ou então admi- nistrar, logo no começo, uma grande dose de sôro. Enquanto estiver sob a influencia da intoxicação, a pessoa picada deve ser mantida em dieta liquida, constituída por leite, caldos, café, chá. Do segundo para o terceiro dia, caso já tenha melhorado, o paciente deve tomar um purgativo salino brando, como sulfato dc sodio ou citrato de magnésio. n) Instrucções sobre os sõros Embora os antivenenos entregues ao consumo pelo Instituto Butantan sejam geralmente concentrados, é frequente formar-sc um pequeno precipitado que se deposita sobre a parede ou fundo das empolas. Esse precipitado não indica al- teração do produeto e representa a parte que não possue ef feito therapeutico, de sorte que é preferivel não agitar as empolas antes de ser extravasado o seu conteúdo. Conservados cm empolas intactas, ao abrigo da lu; e cm logar fresco, os sôros, mantêm suas propriedades curativas por muitos annos, tendo-sc verificado no Instituto que, mesmo depois de 12 annos, ainda podem ser empregados. Por esse motivo c que não se acceitam em devolução os antivenenos entregues ao consumo publico. 33 226 Memórias do instituto Butantan — Tomo V O OPHIDISMO NA AMERICA DO NORTE E CENTRAL Até o nnno de 1925 nada se havia feito em matéria de prophylaxia contra o ophidismo na America do Norte, nem tão pouco na America Central. De esta- tísticas a unica que até então se havia organizado fòra a de P. Willson (2), pu- blicada já ha muitos annos e baseada no estudo de 740 casos de picadas de que havia noticia na literatura medica norte-americana. Esse trabalho quasi nenhum facto novo trouxe á luz, por se ter baseado inteiramente em casos pregressos e por não haver o seu auctor travado conhecimento directo com a questão. a) Accidentes ophidicos Nos Estados Unidos, o problema ophidico, que já existia antes da guerra mundial, aggravou-sc cnormemente em consequência delia, cm virtude de haver o governo norte-americano iniciado forte campanha junto aos agricultores do sul e do oeste para que intensificassem as suas culturas, afim de proverem ao abas- tecimento, assim das tropas enviadas para a Europa, como da própria população do país, tornando-o independente da producção estrangeira, permittindo-lhe ficar, como se diz ali, “self-sufficicnt“. Em resultado disto, as serpentes, que até então habitavam principalmcntc os desertos do sudoeste ou as zonas baixas do sudeste c do centro, começaram a invadir as plantações cm busca de alimento mais facil c abundante, constituído de roedores. Logo depois, cm consequência do adensa- mento da população rural, começou a augmentar o numero dos casos de picada. Outro factor que tem contribuído para a importância do problema foi a existência de inúmeros campos de concentração do exercito na região do Rio Grande, por toda a fronteira com o México, de sorte que até os soldados tôm contribuído também com o seu quinhão para a picada dos ophidios. Durante os trabalhos que realizei na America do Norte, tive ensejo de viajar extensamente pelos Estados Unidos c pela America Central e procurei colher dados sobre o ophidismo, directamente, dos hospitacs, das sociedades medicas, dos serviços de estatística vital dos vários Estados c das associações recreativas c de vida ao ar livre. Em relação á America Central, bem pouco pude apurar com exactidào sobre a importância do ophidismo e isto devido ao grande atrazo em que permanece aquella parte do globo, podendo, porém, dizer que, com o inicio dos serviços ali e com a installaçáo de um serpentário e estação experi- mental em Honduras, os casos de picada tèm apparecido em numero sempre crescente, graças sobretudo ao interesse tomado na questão pelas companhias interessadas no desenvolvimento agrícola daquella região e entre as quaes merece destaque especial a United Fruit Co. Nos Estados Unidos, já isto não aconteceu, porquanto, em resultado de meus estudos, comecei a publicar desde 1927 estatísticas sobre o numero approximado de accidentes ophidicos ali occorridos e sobre a mortalidade delles resultante. 34 A. DO Amaral — Campanhas anti-ophidicas 227 A respeito pode-se dizer, em resumo, que naquelle país o numero de accidentes ophidicos deve orçar por mais de 3.000 casos annualmente, com uma mortalidade que varia de accordo com as diversas zonas. Assim é que a letalidade sóbe apenas a 10 % na nordeste, no centro-oeste e no noroeste, ao passo que attinge 25 % no sudeste e 35 % no sudoeste, especialmente no Texas e no Novo México. Esta variação da mortalidade é devida á diversidade de especies de ophidios cau- sadoras de accidentes. Effectivamente, occorrem lá especies de tamanhos os mais differentes, desde a diminuta Cascavel de Willard (Crotalus n-illardi) que apenas alcança 2 palmos de comprimento, até a descommunal Cascavel da Florida que chega a attingir 2 metros e 70 cm.. Ha ainda a considerar no caso a quantidade de veneno secretado pelas varias especies e o seu relativo valor toxico. Conforme mostrei em trabalhos ali publicados (3), só no Texas pudemos obter dados sobre 150 casos de picadas por serpentes venenosas, cm resultado da actividade desenvolvida durante o primeiro anno de nossa campanha, isto é, de julho de 1926 a junho de 1927. Por esses dados se verifica que para mais de 50 % dos casos observados naquelle Estado provinham do districto de Santo Antonio (onde o Antivcnin Institutc of America, por mim fundado, mantém a sua estação ou laboratorio mais cfficientc) c dos condados vizinhos, situados na região centro-meridional do Texas, o que vem mostrar que, com o desenvolvimento do serviço e com a disseminação das noticias sobre a actividade exercida pelo labo- ratorio local, o numero de accidentes communicados pelo menos duplicará futu- ramente. Não será de admirar que, em breve, se venha a ter noticia de uns 300 casos de ophidismo registados annualmente só no Estado do Texas, ultrapassando- se, assim, as cifras observadas no Estado de São Paulo. As conclusões geraes do trabalho que então publiquei a respeito foram as seguintes: 1. Casos de picadas por serpentes occorrem cm todos os pontos do Texas, nos districtos áridos assim como nos campos cultivados, dentro de mattas como na proximidade de corregos e pantanos. nos trechos incultos como dentro das cidades e até no interior das casas. 2. A cascavel concorre com a grande maioria das picadas. 3. A população do Estado parece não estar ainda acostumada a usar sapatos nem tão pouco perneiras e, por isso, as extremidades inferiores são attingidas pela maioria das picadas. 4. Picadas das extremidades superiores são sobretudo frequentes em crianças. b) Serpente» solenoglypha» norte-americana» Segundo a revisão que fiz dos ophidios solenoglyphos norte-americanos (4), as Crotalideas estão nos Estados Unidos representadas pelas duas subfamilias Lachesineas e Crotalineas e por tres generos, subdivididos cm 15 especies a saber: 35 228 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V I. Genero Agkistrodon Beauvois: 1. /4. mokasen Beauvois Nome vulgar: Copperhead. 2. A. piscivorus (Lacépède) Nome vulgar: Cotton-mouth Moccasin. II. Genero Sistrurus Garman: 3. S. catenatus (Rafinesque) e suas raças. Nome vulgar: Massasauga. 4. S. miliarius (Linneu) Nome vulgar: Pygmy rattlcr. III. Genero Crotalus Linneu: 5. C. adamantcus Beauvois Nome vulgar: Eastem diamond-back rattlcr. 6. C. atrox Baird & Girard Nome vulgar: Western diamond-back rattlcr. 7. C. cevastes Hallowell Nome vulgar: Sidewinder. 8. C. conflucntus Say e suas raças. Nome vulgar: Prairie rattler. 9. C. cxsul Garman Nome vulgar: Red rattler. 10. C. horridus Linneu Nome vulgar: Timber rattler. 11. C. lepidus (Kennicott) Nome vulgar: Green rattler. 12. C. molossus Baird & Girard Nome vulgar: Black-tail rattler. 36 A. do Amabal — Campanhas anti-ophidicas 229 13. C. tigris Kennicott Nome vulgar: Tiger rattler. 14. C. triseriatus (Wagler) Nome vulgar: Spotted rattler. 15. C. willardi Meck Nome vulgar: \C'illard’s rattler. c) Producção de venenos por espeeies De accordo com os estudos por mim feitos no laboratorio central do Anti- venin Institute of America, as Crotalideas norte-americanas secretam maior quan- tidade de veneno do que as brasileiras, embora, esta vantagem seja compensada pela menor toxicidade dessa secreção naqucllas serpentes. Comparando os dados obtidos ali, no decurso de meus trabalhos, verifiquei que a parte solida dos ve- nenos americanos representam de 1/3 a 1/4 do peso total, conforme se depre- hende do quadro C. QUADRO C Quantidade media do veneno speretada pelas Crotalideas nearcticas Evptcimc* Especimes Espécimes Especitnes jovem adultos velhos **ccpcionact Liquido Secco Liquido Secco Liquido Secco 1 Liquido Secco c- c. Kr*- c c. tn- C.C. Cr*. c.c. S'S- Agkistrodon mokasen. 0.M 0.040 0.18 0.050 0.21 0.060 0.26 0.075 Agkistrodon pi sei vo ms 0.32 0.090 0.42 0.120 02)3 0.150 1.05 0.300 Crotalus adamanteus. 0.84 0.240 14)5 0.300 2.10 0.600 2.65 0.750 Crotalus atrox . . . - 1 0.30 0.04 0.090 0.40 0.120 0.80 0.240 200 0.600 Crotalus errastes . . 0.012 0.06 0.018 Crotalus confluentus . 0.18 0.050 0.120 0.32 0.090 Crotalus exsul . . . 0.36 0.72 0.240 1.35 0.450 1.65 0.550 Crotalus horridus . . 0.21 0.060 0.32 0.090 0.63 0.180 Crotalus lepidus . . 0.1 0.03 Crotalus mitchellli . 0.18 0.060 0.30 0.100 0.48 0.160 0.80 0.265 Crotalus molossus 0.60 0.180 Crotalus oreganus. . 0.14 0.040 0.23 0.065 0.32 0.090 0.44 0.125 Crotalus tigris . . . 0.18 0.060 Sistmrus miliarius . 0.08 0.02 De referencia á especie Crotalus adamanteus (cascavel da Florida) pode-se dizer que exemplares bem desenvolvidos e conservados em boas condições che- gam a secretar maior quantidade de veneno do que a que se acha assignalada no quadro acima, o mesmo acontecendo ás vezes com certos exemplares de Cro- talus atrox (cascavel do Texas). Na verdade, segundo verificação feita no in- 37 230 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V vemo de 1929, pelo Sr. R. E. Stadelman. technico do Antivenin Institute of America (in Buli. Antivenin Institute of America 111.1:29.1929), a primeira es- pecie chega a secretar 4 cc. de veneno liquido, correspondentes a 864 millgrs. de veneno secco e a segunda produz ás vezes quasi 2 cc. de veneno liquido, cor- respondentes a cerca de 600 millgrs. de veneno solido. d) Estatísticas recentes E’-me grato assignalar agora que, em resultado da intensiva campanha que o Antivenin Institute of America tem emprehendido com o auxilio de elementos officiaes e de grande numero de associações scientificas e organizações finan- ceiras, no sentido de reduzir o problema ophidico a suas devidas proporções, a mortalidade se está a reduzir rapidamente, conforme eu verifiquei pessoalmente nos Estados Unidos, á luz dos dados que acabam de ser publicados (5) por R. H. Hutchison, Secretario daquelle Instituto. Essa estatística veiu mostrar que, durante o anno de 1928, o Antivenin Ins- titute conseguiu communicação de 607 casos de- envenenamento ophidico occor- ridos nos Estados Unidos e trouxe á luz vários factos bastante interessantes, cujo resumo parece ser digno de divulgação. Assim é que, em mais de dois terços, isto é, em 451, dos casos publicados, foi verificada a especie de serpente que determinou o accidente. Nesses, a discriminação das especies foi a seguinte, pela ordem de frequência relativa: 1. A. mokasen 171 casos 2. C. atrox 100 casos 3. A. piscivorus 43 casos 4. C. horridus 43 casos 5. C. conflucntus conflucntus •. . . 37 casos 6. C. conflucntus oreganus 27 casos 7. S. miliarius 18 casos 8. C. adamanteus 12 casos 9. C. cerastcs 5 casos 10. S. catcnatus 2 casos O estudo da distribuição desses casos de ophidismo pelos vários Estados da União norte-americana revela que a grande maioria delles provém de centros re- lativamente populosos, onde naturalmente já se fez sentir mais intensamente a campanha desenvolvida pelos membros do Antivenin Institute e pelas associações que estão com elle philanthropicamente cooperando, o que está a corroborar a affirmação, por mim feita em pagina anterior, de que, com o desenvolvimento do serviço, se virá a ter noticia de um numero pelo menos duplo, sinão triplo, de casos occorridos naquellc pais. Elle também revela que, na distribuição dos accidentes, o Estado de Texas, onde por signal se encontra a estação ou labora- 38 A. do Amaral — Campanhas anli-ophidicas 231 torio mais activo do Instituto, occupa o primeiro logar, com 163 casos; o Estado de Alabama, o segundo logar, com 49 casos; o Estado de Pennsyl vania, o terceiro logar, com 42 casos; o Estado de Geórgia, o quarto logar, com 31 casos; o Estado de Califórnia, o quinto logar, com 30 casos; o Estado de Florida, o sexto logar, com 28 casos; o Estado de Virgínia, o sétimo logar, com 24 casos; o Estado de North Carolina, o oitavo logar, com 23 casos e, assim por diante, em ordem de- crescente, os demais Estados, inclusive Vermont, Delauare, Wisconsin, Iowa, North Dakota, Oregon e Washington, de cada um dos quaes o Instituto conseguiu apenas communicação de um caso. Reunidos os Estados por grupos, chega-se á conclusão de que para o total de 607 casos a região do sudeste e do Golfo do México concorreu com 249 accidentcs; a do centro-oeste e sudoeste, com 222 accidentes; a do Atlântico norte, com 91 accidentes e a das Montanhas Rochosas e da costa do Pacifico, com 45 casos, o que vem justificar a maior actividade exercida pelo Instituto no sul e no sudoeste da União americana. A estatística revela também que os accidentes, virtualmentc inexistentes no mès de fevereiro, começam progressivamente a augmentar em março, attingindo o apice da curva de incidência em julho, isto é, em pleno verão, e diminuindo depois gradualmcntc até os meses do inverno. Alem disso, cila mostra que mais de 50 % dos accidentes foram observados em pessoas de menos de 20 annos de idade; que os indivíduos de sexo masculino foram victimas cm cerca de 69 % de vezes, ao passo que os de sexo feminino o foram cm cerca de 31 %; que a picada attingiu os membros inferiores, especialmcntc os pés, em 57,8 dos casos, os membros superiores, sobretudo as mãos, cm 41 Çí dos casos, a cabeça e o tronco, apenas cm 3 e 2 casos, rcspcctivamente. Quanto ao tratamento, as communicações recebidas pelo Antivenin Institute no anno de 1928 revelam que entre 433 casos medicados com o antiveneno es- pecifico (sôro polyvalente), só occorrcram 13 mortes, o que dá uma mortalidade de 3 r / c . Esta cifra fala bem claro do rápido successo da campanha anti-ophidica realizada nos Estados Unidos da America do Norte, onde, cm apenas 2 annos de trabalho, já se conseguiu um resultado que se pode comparar com vantagem áquelle obtido pelo Instituto Butantan, para a zona centro-meridional do Brasil, em um periodo muito mais longo, segundo se vê no quadro IX acima exarado. Vem a proposito narrar que, nos Estados Unidos como no Brasil, a campanha anti-ophidica tem seus tropeços, embora muito menos frequentes lá do que cá. A maior difficuldadc que ali temos encontrado é oriunda da crença generalizada de que o álcool tem effeito curativo sobre a picada, não sendo, pois, de admirar que, por isto ou sináo pelo desejo de burlar a lei secca, muita gente se embria- gue em seguida a accidentes ophidicos c, assim, fique em condições de não poder procurar um hospital ou buscar immcdiatamcntc uma injccçâo de antiveneno. Ao demais, existem ali pessoas e algumas de regular cultura que ainda acreditam que o permanganato de potássio possuc effeito neutralizante sobre a peçonha. Ha até uma firma que expõe á venda sob a denominação de " Anti-vcnom" ou 39 232 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V “Snake-bite kit” um remedio cuja base é o permanganato. Ainda recentemente, um ex-conservador (“keeper”) - que a nossa imprensa, ao noticiar o facto, em sua costumeira projecção de coisas estrangeiras, transformou logo em "doutor e actual director" do Jardim Zoologico de Nova York - vendo-se picado por uma Cascavel, C. horridus, quando caçava em fins da primavera passada, tratou de se injectar com esse tal remedio ‘'Anti-venom" e só procurou o hospital para receber o devido tratamento especifico depois de ter feito uma enorme caminhada e quando já era tarde demais para que o sôro manifestasse seu effeito curativo. Apezar de alguns óbices desta natureza, o emprego do antiveneno vai-se generalizando ali, graças aos meios de propaganda de que o Instituto lança mão, aos recursos materiaes do país e ao manifesto desejo de grande parte da popu- lação de experimentar tudo quanto é novo e recommendado pela sciencia. (Trabalho da Secção de Ophiologia do Instituto Butantan, terminado em setembro de 1930). BIBLIOGRAPHIA (1) Brazil, V. — Contribuição ao estudo do veneno ophidico, in Collcctanea Inst. Bu- tantan 1:12.1906.1901-1917; La Défense contre 1'Ophidisme M2.1914. (2) Willson, P. — Snake poisoning in the United States, in Arch. Int. Mcd. 1:516.1908. (3) Amaral, A. do — The snake-bite problem in the United States and in Central Ame- rica, in Buli. Antiv. Inst. America 1(2) :31 . 1927; The anti-snake-bite campaign in Texas and in the sub-tropical United States, in loc. cit. 1(3) :77. 1927. (4) Amaral, /l. do — Notes on Nearctic poisonous snakes and treatment of their bites, in Buli. Antiv. Inst. America 1(3) :61 .1927; Key to the rattlesnakcs of the gcnus Crotalus Linné, 1758, in loc. cit. 111(1) :4. 1929. (5) Hutchison, R. H. — On the incidence of snake poisoning in the United States and the results of the newer methods of treatment, in Buli. Antiv. Inst. America III (2) :43. 1929. 40 A. do Amaral — Campanhas anli-ophidicas Mem. Inst. Vol. \ _5erie prole roglyphà Família. E lò. pldcVS App&relho de veneno Cork transverso da, presa, no terço superior BuUnton 1930 A. DO Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mem. Inst. Butantan Vol. V. 1930 Serie solen ogjy pha. Fam i I i a Cx 0 1 cX 1 l (j. òc Apparelh.0 de veneno Coríe transverso da pre^a. rvo Terço 5u penor F;g.2. A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mem. Inst. BulinHn Vol. V. 1930 Cl 05 aciaes de ser typo dfc família, C rotaJi d&e Typo das demais j" Fig-3 A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mem. Intt. Butantan VÕT V. 1930 P‘8- 0 - Jararaca. Bothrops jararaca (U'ied). Fig. 7 - Caissaca. Bothrops atrox (Linneu). Fig. 8 - Jararacussú. Bothrops jararacussu Lacerda. SciELO 0 12 cm SciELOo 2 3 5 6 11 12 13 14 15 16 L cm A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas ■Mem. Imt. Butanlan Vol. V. I93U Fig. 12 - Surucucu dc patioba. Bothrops bilincata (Wied). Fig. 13 - Cotiarinha. Bothrops itapetiningae (Boulenger). SciELO 10 11 12 13 Fig. 15 - Jararaca ilhoa. Bothrops insularis (Amaral). A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mcm ■ : ntan Vol. V. 1930 Fig. 14 - Jararaca cinzenta. Bothrops castelnaudi D. & B. cm A. DO Amarai — Campanhas anti-ophidicas Mem. Inst. Butantan Vo!. V. 1990 Fig. 16 - Jararaca do sertão. Bothrops erythromelas Amaral. Fig. 17 - Bothrops iglesiasi Amaral Fig. 19 - Bothrops neglecta Amaral A. do Amaral — Campanhas anti-ophidicas Fig. 18 - Bothrops pirajai Amaral Mem. Inst. Butantan Vol. V. IMO cm A. DO Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mem. Inst. Butantan Vol. V. 1930 cm do Amaral — Campanhas anti-ophidicas Mem. Insl. Butantan Vol. V. 1930 Fig- 22 - Enchendo a seringa Fig. 23 - Injectando o soro SciELO 10 11 12 13 REGRAS INTERNACIONAES DE NOMENCLATURA ZOOLOGICA TRADUCÇiO PARA O PORTUGUÊS POR AFRAMO DO AMARAL 1» EDIÇÃO REGRAS INTERNACIONAES DE NOMENCLATURA ZOOLOGICA TRADUCÇÃO PARA O PORTUGUÊS POR AFRANIO DO AMARAL Oirector do Instituto BuUstan e do Antreenin Institute oi America JUSTIFICAÇÃO Ha muitos annos se vem fazendo sentir nos meios sciemificos do Brasil c de Portugal a necessidade duma edição portuguesa das Regras Internacionaes de Nomenclatura Zoologica, obrigados como se vèem os technicos dos dois pafses ao manuseio constante de edições em linguas estrangeiras, com cujas particula- ridades nem sempre têm elles a ventura de estar familiarizados. A crescente contribuição, oriunda de Portugal e especialmente do Brasil, ao progresso da zoologia em geral e da zoologia medica cm particular, justifica por sem duvida o esforço que resolvi fazer ao traduzir aquellas Regras para nossa lingua. Na verdade, deste assumpto já me venho occupando ha alguns annos. Assim é que. em 1925 e 1926. publiquei, na Revista do Museu Paulista, varias notas sobre Questões de Nomenclatura Ophiologica, para justificar a passagem, para a synonymia, de algumas especies de ophidios consideradas até então como va- lidas. Também em 1925 o Harvard Institute for Tropical Biology and Medicine reuniu no volume II de suas ‘'Contributions" uma serie de artigos meus, em alguns dos quaes tratava eu de repôr em seus devidos termos outras questões attinentes á nomenclatura de ophidios neotropicos. Ao ter conhecimento desses trabalhos que estavam a revelar um provável interesse por este assumpto em nosso meio, o secretario da Commissão Interna- cional de Nomenclatura Zoologica e membro do Instituto Nacional de Saúde de Washington, Prof. Charles W. Stiles, me convidou, em fins de 1927. a traduzir para o português o importante Codigo. que tão precioso auxilio tem prestado a quantos trabalham em systematica zoologica. Parece-me desnecessário encarecer a necessidade da introducçáo de um Co- digo dessa natureza em nossa lingua, porquanto ao nosso meio é perfeitamente applicavel a opinião, expressa por aquella Commissão, de que se pode com segu- 3 236 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V rança asseverar que relativamente poucos zoologos, ao começarem a sua carreira profissional, fazem uma idéa, perfunctoria que seja, das questões de nomencla- tura, devido especialmente a que não se exige ainda, em nossos Collegios ou Faculdades, qualquer conhecimento de grammatica zoologica por parte daquelles que se candidatam a um diploma scientifico. Por isso mesmo, é de esperar que a presente edição receba benevolo acolhimento da parte dos zoologos brasileiros e portugueses, cujas suggestões serão tomadas no devido apreço para a progres- siva melhora do trabalho em futuras tiragens. São Paulo, setembro de 1930 4 REGRAS INTERNACIONAES DE NOMENCLATURA ZOOLOGICA REGRAS E RECOMMENDAÇOES CONSIDERAÇÕES CERAES Artigo 1 - A nomenclatura zoologica é independente da nomenclatura bota- nica no sentido de que o nome de um animal não se rejeita simplesmente por ser idêntico ao nome de uma planta. Si, todavia, um organismo é transferido do reino vegetal para o animal, seus nomes botânicos devem ser acceitos em nomen- clatura zoologica com seu valor botânico original; e si um organismo é trans- ferido do reino animal para o vegetal, seus nomes retém o valor zoologico. Recommendaçáo - Faz-se bem em evitar a introducçio em zoologia de nomes gene- ricos já em uso em botanica. Artigo 2 - A designação scientifica de animaes é uninominal para subge- neros e todos os grupos mais altos, binominal para especies e trinominal para subespecies. Vide Opiniões Nos. 19, 20, 24, 35, 43, 46, ÍO, 54. Artigo 3 - Como nomes scientificos de animaes se devem usar palavras que sejam latinas ou latinizadas, ou então consideradas e tratadas como taes, no caso de não serem de origem classica. NOMES DE FAMÍLIAS E SUBFAMILIAS Artigo 4-0 nome de uma familia se forma pela addição da terminação idac e o de uma subfamilia pela addição de inae, á raiz do nome de seu genero typo. Artigo 5-0 nome de uma familia ou subfamilia deve ser mudado quando se troca o nome de seu genero typo. 5 238 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V NOMES GENERICOS E SUBGENERICOS Artigo 6 - Os nomes genericos e subgenericos estão sujeitos ás mesmas regras e recommendações e, do ponto de vista da nomenclatura, são coordenados, isto é, possuem o mesmo valor. Vide Opinião No. 72. Artigo 7 - Um nome generico toma-se subgenerico, quando o genero cor- respondente passa a subgenero, e vice-versa. Artigo 8 - Um nome generico deve consistir de uma só palavra, simples ou composta, escripta com letra maiuscula inicial e empregada como substantivo no nominativo singular. Exemplos: Canis, Perca, Ceratodus, Hymenolepis- Recommendação - Certos grupos biologicos, propostos dístinctamente como grupos collectivos c não como unidades systematicas, podem ser tratados por conveniência como si fossem generos, mas sem requererem especie typo. Exemplos: Agamodistomum, Amphistomulum, Agamofilaria, Agamomermis, Sparganum. Vide Opinião No. 44. Recommendações - As seguintes palavras podem ser usadas como nomes genericos: a) Substantivos gregos, com os quaes se devem seguir as regras de transcripçâo latina [transliteraçào (vide Appendice F) ]. Exemplos: Ancylus, Amphibola, Aplysia, Pompholyx, Physa, Cylichna. b) Vocábulos gregos compostos, nos quaes o attributivo deve preceder a palavra principal. Exemplos: Stenogyra, Pleurobranchus, Tylodina, Cyclostomum, Sarcoeyslis, Pelodytes, Hydrophilas, Rhizobius. Isto, todavia, não exclue vocábulos formados á maneira de Hippopotamas, isto é, vocábulos em que o attributivo segue a palavra principal. Exemplos: Philydrus, Biorhiza. c) Substantivos latinos. Exemplos: Ancilla, Aurícula, Dolium, Harpa, Oliva. Ad- jcctivos ( Prasina ) e participios passados I Productus) não são recommendados. d) Vocábulos latinos compostos. Exemplos: Stiligcr, Dolabrifer, Semifusus. e) Derivados gregos ou latinos que exprimam diminuição, comparação, semelhança, ou posse. Exemplos: Dolium, Doliolum ; Strongylus, Eustrongylus; Umax, Limacella, Limada, Limacina, Umacites, Umacula ; Lingula, Lingulella, Lingulepis, Ungulina, Lin- gulops, Lingulopsis; Xeomenia, Proneomenia; Buteo, Archibuteo; Gordius, Paragordius, Polygordius. f - Nomes mythologicos ou heroicos. Exemplos: O siris, Venus, Brisinga, Velleda, Crimora. Si não forem latinos, taes nomes devem receber uma terminação latina (Ae- girus, Gõndulia). g) Nomes proprios usados pelos antigos. Exemplos: Cleópatra, Belisarius, Me- iania. h) Patronymicos modernos, aos quaes se junta uma terminação que denote dedi' catoria : o. Nomes que acabam por uma consoante, recebem a terminação ius, ia, ou ium. Exemplos: Selysius, Lamarckia, Kõllikeria, Mülleria, Stalia, Krayeria, Ibanezia. (J. Nomes que acabam pelas vogaes e, i, o, u, ou y, recebem a terminação us, a ou um. Exemplos: Blainvillea, Wyvillea, Cavolinia, Fatioa, Bernaya, Quoya, Schulzea- y. Nomes que acabam por a, recebem a terminação ia. Exemplo: Danaia. 6 A. do Amaral — Regras internacionacs dc nomenclatura zoologica 239 3. Em nomes genericos formados de patronymicos, omittem-sc as partículas que não estejam ligadas com o nome, mas retêm-se os artigos. Exemplos: Blainvillea, Bencdenia, Chiajea, Laccpcdea, Dumcrilia. (• Com patronymicos que consistam de dois vocábulos, apenas um destes se usa na formação de um nome generico. Exemplos: Selysius, Targionia, Edwardsia, Du- thiersia. {. O uso dc substantivos proprios na formação de nomes genericos compostos c objectavel. Exemplos: Eugrimmia, Buchiceras, Heromorpha, Mõbiusispongia. i) Nomes de navios que se devem considerar como mythologicos (Frgu) ou como patronymicos modernos. Exemplos: Blakca, Hirondellca , Challengeria. j) Nomes barbaros, isto é, de origem não classica. Exemplos: Vanikoro, Chilosa. Taes palavras podem receber uma terminação latina. Exemplos: Yctus, Fossarus. k) Palavras formadas por combinação arbitraria de letras. Exemplos: Ncda, Clan- culus, Salifa , Torix. l) Nomes formados por anagramma. Exemplos: Dacclo, Verlusia, Linospa. Artigo 9 - Si um genero é dividido cm subgeneros, o nome do subgencro typico deve ser o mesmo que o do genero (vide Art. 25). Artigo 10 - Quando se deseja citar o nome dc um subgencro, colloca-sc esse nome entre parentheses depois do generico c antes do especifico. Exemplos: Vcnessa ( Pyramcis ) cardui. NOMES ESPECÍFICOS E SUBESPECIF1COS Artigo 11 - Os nomes específicos c subespecificos estão sujeitos ás mesmas regras c recommendações e, do ponto dc vista da nomenclatura, são coordenados, isto 6, possuem o mesmo valor. Artigo 12 - Um nome especifico toma-se subespecifico, quando a especie correspondente passa a subespecie, e vier versa. Artigo 13 - Embora substantivos específicos derivados de nomes de pessoas se possam escrever com letra maiuscula inicial, todos os demais nomes especí- ficos devem ser escriptos com minuscula inicial. Exemplos: Rhizostoma Cuvieri ou Rh. cuvieri, Francolinus Lucani ou F. lucani , Hypoderma Diana ou H. diana, Laophontc Mohammcd ou L. mohammcd, (Estrus ovis, Corvus corax. Artigo 14 - São nomes específicos: a) Adjectivos que grammaticalmente devem concordar com o nome gene- rico. Exemplo: Felis marmorata. b) Substantivos no nominativo em apposiçáo ao nome generico. Exemplo Felis leo. c) Substantivos no genitivo. Exemplos: rosae, sturionis, antillarum, galliae , sancti-pauli, sanctac-helcnae. 7 240 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Si o nome é escolhido como dedicatória a uma ou mais pessoas, forma-se o genitivo de accordo com as regras de declinação latina desde que o nome tenha sido empregado e declinado em latim. Exemplos: plinii, aristotclis, victoris, an- tonii, clisabethac, pciri (nome dado). Si o nome é um patronymico moderno, forma-se sempre o genitivo pela addição, ao nome exacto e completo, de i si a pessoa for homem ou de ac si a pessoa for mulher, mesmo que o nome tenha uma forma latina; colloca-se no plural si a dedicatória comprehende varias pessoas do mesmo nome. Exemplos: cuvicri, mõbiusi, nunezi, mcrianac, sarasinorum, bosi (não bovis), salmoni (não salmonis). Recommendação - O melhor nome especifico c um adjectivo latino, curto, cupho- nico c de facil pronuncia. Vocábulos gregos latinizados ou barbaros podem, todavia, ser usados. Exemplos: gymnocephalus, echinococcus , ziczac, aguti, hoactli, urubitinga. E’ bom evitar-se a introducção dos nomes typicus c typus para designar especies ou subespccies novas, porquanto tacs nomes são sempre capazes de produzir confusão futura. \'idc Opiniões Nos. 8, 50, 64. Artigo 15-0 emprego de nomes proprios compostos que indiquem dedi- catória, ou de vocábulos compostos que indiquem comparação com um objecto simples não representa excepçáo ao Art. 2. Nestes casos, os dois vocábulos que compõem o nome especifico são escriptos como uma só palavra com ou sem hyphen. Exemplos: Sanctac-Catharinac ou sanctaecatharinae, jan-maycni ou janmaycni, cornu-pastoris ou cornupastoris, cor-anguinum ou coranguinum, cedo- nulli ou cedonulli. Expressões como rudis planusquc não são admissíveis como nomes específicos. Vide Opinião No. 50. Artigo 16 - Nomes geographicos devem ser empregados como substantivos no genitivo, ou collocados em forma adjectiva. Exemplos: sancti-pauli, sanctae- -hclcnac, cdtvardiensis, diemenensis, mageUanicus, burdigalcnsis, vindobonensis. Recommendação - Nomes geographicos usados pelos romanos ou escriptores latinos da edade media devem ser adoptados de preferencia a formas mais recentes. Palavras como bordcausiacus e viennensis são más, todavia não devem ser rejeitadas por isso. Artigo 17 - Si se deseja citar o nome subespecifico, deve-se escrever tal nome immediatamente após o especifico, sem a interposição de qualquer signa! de pontuação. Exemplo: Rana cscalcnta mar mor ata Hallowell, mas não Rana csculenta ( marmorata ) ou Rana marmorata Hallowell. Artigo 18 - A notação de hybridos pode-se fazer de varias maneiras; em todos os casos o nome do pai precede o da mãi, com ou sem os symbolos do sexo: a) Os nomes dos dois pais são unidos pelo signal de multiplicação (X). Exemplo: Capra hircus X Ovis aries ç e Capra hircus X Ovis aries são for- mas igualmente boas. 8 A. do Amaral — Regras internacionaes dc nomenclatura zoologica 241 b) Podem-se também citar hybridos sob forma de fracção, ficando o pai como numerador e a mãi como denominador. Exemplo : ~ . Este segundo methodo é preferível, tanto mais quanto permitte a citação da pessoa que primeiro publicou a forma hybrida como tal. Exemplo: Brrnlc,accnüJr "“ s Rabé. c) A forma de fracção também é preferivel quando um dos pais é hybrido. Exemplo: Tc — ’ • Todavia, para o ultimo caso se podem usar pa- rentheses- Exemplo: ( Tctrao tetrix X Tctrao urogallus) X Gallus gallus. d) Quando os pais do hybrido não são conhecidos como taes [pais], o hy- brido recebe provisoriamente o nome especifico como si fosse uma verdadeira especie e não um hybrido; todavia, o nome generico é precedido pelo signal dc multiplicação. Exemplo: X Coregonus dolosus Fatio. FORMAÇÃO, DERIVAÇÃO E ORTHOGRAPHIA DE NOMES ZOOLOGICOS Artigo 19 - A orthographia original de um nome deve ser conservada a menos que deixe transparecer um erro de transcripção, um lapsus calami ou um erro typographico. Vide Opiniões Nos. 8, 26, 27. 29, 34, 36, 41, 60, 61, 63, 70. Rccommcndaçáo - Na graphia dc nomes scicntificos é aconsclhavcl o uso dc carac- teres differentes dos empregados no texto. Exemplo: Rana esculenia [itálicos] Linncu, 1758, vive na Europa. Artigo 20 - Na formação de nomes derivados de linguas cm que se usa o alphabeto latino, deve-se conservar exactamente a graphia original, inclusive signaes diacriticos. Exemplos: Sclysius , Lamarckia, Kiillikcria, Müllcria, Stulia. Krpycria, Ibanczia, mõbiusi, mediei, cijieki, spitzbcrgensis, islandicus, paraguay- ensis, patagonicus, barbadensis, fàrõcnsis. Recommendafõcs - Os prefixos sub e pseudo devem ser usados somente com ad- jectivos e substantivos, sub com vocábulos latinos, pseudo com vocábulos gregos c não devem appareccr ligados a nomes proprios. Exemplos: subviridis, subchclatus, Pseu- dacanthus, Pseudophis, Pseudomys. Palavras como sub-wilsoni e pseudo-graleloupana não são recommendadas. As terminações oides e ides só devem ser empregadas em combinação com sub- stantivos gregos ou latinos; não o devem em combinação com nomes proprios. Nomes geographicos e patronymicos dc países que não têm orthographia reconhe- cida ou que não usam o alphabeto latino, devem ser transcriptos para o latim de accordo com as regras adoptadas pela Sociedade Gcographica de Paris. (Vide Appcndicc G). Na crcaçáo de novas designações baseadas cm nomes proprios de pessoas, escriptos algumas vezes com ã, õ ou ü, outras vezes com ae, oe e ue, recommcnda-se que os auctores adoptem ae, oe c ue. Exemplo muelleri dc preferencia a mülleri. 9 242 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V NOME DE AUCTOR Artigo 21-0 auctor de um nome scientifico é aquella pessoa que primeiro publica o nome ligado a uma indicação, definição, ou descripção, a menos que esteja claro no texto da publicação que alguma outra pessoa é responsável por tal nome e sua indicação, definição, ou descripção. Artigo 22 - Desejando-se citar, o nome do auctor deve seguir o nome scien- tifico sem interposição dc qualquer signal de pontuação; outras citações que se desejem (data, sp. n., emend., sensu stricto, etc.) devem seguir o nome do auctor, ficando delle separadas por virgula ou parentheses. Exemplos: Primatcs Linneu, 1758, ou Primatcs Linneu (1758). Rccommcndaçào - Na abreviação do nome do auctor de uma designação seienti- fica, o escriptor andará bem si seguir a lista dc abreviaturas publicada pelo Museu Zoologico de Berlim O. Artigo 23 - Quando se transfere uma especie para um genero differente do original ou se combina o nome especifico com qualquer nome generico diffe- rente daquelle com que o primeiro foi publicado originalmente, deve-se reter na notação, mas collocar entre parentheses, o nome do auctor de tal designação es- pecifica. Exemplos: Tacnia lata Linneu, 1758, e Dibothriocephalus latas (Lin- neu, 1758); Fasciola hcpatica Linneu, 1758, c Distoma hcpaticum (Linneu, 1758). Desejando-sc citar o auctor da nova combinação, escreve-se-lhe o nome depois dos parentheses. Exemplo: Limnatis nilotica (Savigny, 1820) .Moquin-Tandon, 1826. Artigo 24 - Quando se divide uma especie, as especies restrictas a que estava ligado o nome especifico original da especie primitiva, podem receber uma notação que indique, tanto o nome do auctor original, quanto o do revisor. Exemplo: Tacnia solium Linneu, partim. Goczc. LEI DE PRIORIDADE Artigo 25-0 nome valido de um genero ou especie só pode ser aquellc sob que um genero ou especie foi primeiro designado, contanto que: a) Tal nome tenha sido publicado e acompanhado de uma indicação, ou definição, ou descripção; e b) O auctor tenha applicado os principios de nomenclatura binaria. Vide Opiniões Nos. I, 2. 4, 5, 9. 10, 12, 13, 15-17, 19-21, 24, 28, 37-40, 4*>, 49-54. 5*5-59, 65-67, 73-78, 84. 85, 87, 88, 90. (D Liste der Autoren zoologischer Art-und Gattungsnamen zusammengestcllt vott den Zoologen des Museum für Naturkundc in Berlin. Bcrlin, 2. vcrmehrtc Auflagc, 8*. 189*5. 10 A. do Amaral — Regras internacionaes de nomenclatura zoologica 243 NOTA DO TRADUCTOR: Devo frisar aqui que a redacção deste ar- tigo 25, sobre a lei de prioridade, foi modificada e ampliada pelo Congresso Internacional de Zoologia reunido em Budapest, Hungria, de 4 a 9 de se- tembro de 1927. Com as modificações introduzidas, conforme recommendação unanime da Commissáo Internacional de Nomenclatura Zoologica, este ar- tigo 25 ficou assim redigido: Ártico 25-0 nome valido de um genero ou especie só pode ser aquelle sob que um genero ou especie foi primeiro designado, contanto que: a) tal nome (antes de 1.* de janeiro de 1931) tenha sido publicado c acompanhado de uma indicação, ou definição, ou descripçào; e b) o auctor tenha applicado os princípios de nomenclatura binaria. c) Todavia, qualquer nome generico ou especifico publicado após 31 de dezembro de 1930 só terá caracter de aproveitabilidade (e, portanto, também de validez) á luz das Regras, si for, e somente depois que for, publicado, (1) com um resumo de caracteres (ou diagnose; ou definição; ou descripçào condensada) que differencie ou distinga o genero ou a especie, de outro genero ou especie; (2) ou com uma clara citação bibliographica de tal resumo dc carac- teres (ou diagnose; ou definição; ou descripção condensada). Ainda mais, (3) tratando-se de um nome generico, com a designação definida c clara da especie typo (ou genotypo; ou autogenotypo; ou orthotypo). Outrosim. a alludida Commissáo adoptou ainda a seguinte resolução: a) pede-se a qualquer auctor que, ao publicar um nome como novo, declare positivamente que elle é novo, que faça esta declaração apenas em uma publicação (isto é, na primeira), e que não junte a data ao nome no momento de sua primeira publicação. b) pede-se a qualquer auctor que, ao citar um nome generico, espe- cifico, ou subespecifico, indique pelo menos uma vez o do auctor e o anno da publicação do nome citado, ou uma indicação bibliographica completa. APPLICAÇÂO DA LEI DE PRIORIDADE Artigo 26 - A decima edição do Systcma Xaturae de Linneu (1758) é o trabalho que iniciou a applicaçáo geral consistente da nomenclatura binaria em zoologia. Portanto, a data 1758 é acceita como ponto de partida da nomenclatura zoologica e da Lei de Prioridade. Vide Opiniões Nos. 3, 12. 13, 15, 16, 51, 52. Artigo 27 - A Lei de Prioridade prevalece e por consequência o mais an- tigo nome aproveitável se retém: a) Quando se designa qualquer parte de um animal antes do proprio animal; b) Quando se designa qualquer phase evolutiva antes do adulto; c) Quando os dois sexos de um animal se tèm considerado como especies distinctas ou mesmo como pertencentes a generos differentes; 1 244 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V d) Quando um animal representa uma successão regular de gerações disse- melhantes que se têm considerado como pertencentes a especies distinctas ou mesmo a generos differentes. Vide Opiniões Nos. 44, 48. Ártico 28 - Um genero formado pela fusão de dois ou mais generos ou subgeneros recebe o nome valido mais velho, generico ou subgenerico, de seus componentes. Si os nomes tiverem a mesma data, prevalecerá o escolhido pelo primeiro revisor. A mesma regra é applicavel quando se unem duas ou mais especies ou sub- especies para formar uma só especie ou subespecie. Recommcndação - Na ausência de quaiqutr revisão previa, recommenda-se o esta- belecimento da precedencia pelo seguinte processo: a) Um nome generico acompanhado de especificação de um typo tem precedencia a um nome sem tal especificação. Si todos os generos tiverem, ou nenhum tiver, typos especificados, dá-se preferencia áqueile nome generico cuja diagnose for a mais apro- priada. b) Um nome especifico acompanhado de descripção e gravura tem preferencia a outro acompanhado só de diagnose, ou só de gravura. c) Em igualdade de condições, deve-se preferir aquelle nome que apparece pri- meiro na publicação (precedencia de paginai. Vide Opinião No. 40. Artigo 29 - Si se divide um genero em dois ou mais generos restrictos, o nome valido deve ser retido para um dos generos restrictos. Si um typo tiver sido estabelecido originalmente para tal genero, retém-se o nome generico para o genero restricto que contenha esse typo. Recommcndação - Para facilitar a citação, recommenda-se que, quando se tomar uma especie mais antiga como typo de um genero novo, se combine realmente o nome delia com o novo nome generico que se citarã também com o nome antigo do genero. Exemplo: Gilbertella Eigcnmann, 1903, Smithsonian Misc. Coll., v.45, p.147, typos Gil- bertella alata . (Vide Opi- nião No. 7)- b) Si, na publicação original de um genero, o termo typicus ou typus for usado como um novo nome especifico para uma das especies, este será tomado como "typo por designação original ". 12 A. do Amaral — Regras internacionaes de nomenclatura zoologica 245 c) Um genero proposto com uma só especie original toma essa especie como typo (Generos monotypicos). (Vide Opiniões 6, 9, 22, 30, 42, 47). d) Si um genero, sem typo originalmente designado (como em a) ou indi- cado (como em b), contém entre suas especies originaes uma que possua com o caracter especifico ou subespecifico o nome generico, seja elle valido ou syno- nymo, tal especie ou subespecie se torna ipso facto typo do genero (Typo por tautonymia absoluta). (Vide Opiniões Nos. 16, 33, 35). II. Casos em que o typo generico não é acceito apenas por motivo da pu- blicação original: e) Excluem-se de consideração as seguintes especies na determinação de typos de generos (Vide Opiniões Nos. 14, 32, 35, 56): a. Especies que não estavam incluídas sob o nome generico por occasiáo da publicação original. p. Especies que eram especies inquirendac no ponto de vista do auctor do nome generico, por occasiáo da publicação. y. Especies que o auctor ligou em duvida ao proprio genero por elle creado. f) Caso um nome generico sem typo originalmente designado seja pro- posto como substituto para outro nome generico, com ou sem typo, o typo de qualquer dos dois, uma vez estabelecido, toma-se ipso facto typo do outro. (Vide Opiniões Nos. 9, 46). g) Si um auctor, ao publicar um genero com mais de uma especie valida, deixa de designar (como em a), ou de indicar teomo em b e J) o typo. este pode ser escolhido por qualquer auctor subsequente e tal designação não está sujeita a mudança (Typo por designação subsequente). (Vide Opiniões Nos. 6, 9, 10, 32, 56). O sentido da expressão "escolher o typo" deve ser tomado ao pé da letra. Menção de uma especie como illustraçâo ou exemplo de um genero, não con- stitue selecçáo de um typo. III. Rccommcndacões - Na escolha de typos por designação subsequente, os auc- tores farão bem em seguir as seguintes recommendaçôes: h) Em caso de gçneros linneanos, escolher como typo a especie mais commum ou a medicinal (Regra linneana, 1751). i) Si um genero sem typo designado contém entre as suas especies originaes uma que possua como designação especifica ou subespecifica, quer valida, quer synonyma, um nome que seja virtualmente o mesmo que o generico, ou da mesma origem ou da mesma significação que elle, a escolha deve recahir em tal especie no acto da desig- nação do typo, a menos que tal escolha seja fortemente conrraindicada por outros fac- tores (Typo por tautonymia virtual). Exemplos: Bos taurus, Equus caballus, Ovis aries. Scombcr scombrus, Sphaerostoma globiporum ; contraindicada em Dipetalonema (com- parar com a especie Filaria dipetala, de que apenas foi descripto um sexo, baseado cm um exemplar e não estudado minuciosamente). j) Si o genero contém especies exóticas e não exóticas no ponto de vista do auctor original, a escolha do typo deve recahir em especie não exótica. 13 246 Memórias do Instituto Butantan — "tomo V k) Si algumas das especies originaes tiverem sido depois classificadas em outros generos, deve-se dar preferencia ás especies que houverem permanecido no genero ori- gina! (Typo por eliminação). l) Especies baseadas em exemplares sexualmente maduros devem ter precedencia a especies baseadas em formas larvarias ou immaturas. m) Dar preferencia a especies designadas pelos nomes communis, vulgaris, medi- cinalis ou officinalis. n) Dar preferencia á especie mais bem descripta, figurada, ou conhecida, ou mais facilmente obtenível ou áquella de que se pode obter um exemplar typo. o) Dar preferencia a uma especie pertencente a um grupo que contenha um nu- mero tão grande quanto possível de especies (Regra de De Candolle). p) Em generos parasitados escolher, si possível, uma especie que occorra no ho- mem ou algum animal usado como alimento, ou em alguma especie hospedeira muito commum e espalhada. q) Em igualdade de condições, preferir uma especie que o auctor do genero tenha realmcnte estudado quando, ou antes que, propôs o genero. r) Tratando-se de escriptores que costumavam collocar como cabeça (“chef de file”) uma certa especie principal ou typica e descrever as demais por meio de citação comparativa com cila, a escolha do typo deve recahir na alludida especie. s) Tratando-se de auctores que adoptavam a “regra da primeira especie” como critério para a fixação dos typos genericos, as primeiras especies por elles designadas devem ser tomadas como typos dos respectivos generos. t) Em igualdade de condições, deve prevalecer a precedencia de pagina na es- colha do typo. Artigo 31 - A divisão de uma especie em duas ou mais especies restrictas está sujeita ás mesmas regras que a divisão de um genero. Mas um nome espe- cifico que indubitavelmente se baseie em um erro de identificação, não pode ser retido para a especie mal determinada mesmo que ella seja mais tarde collocada em genero differente. Exemplo: Tacnia pectinata Goeze, 1782— Cittotaenia pcctinata (Goeze), porém a especie erroneamente determinada por Zeder, 1800, como “Tacnia pcctinata Goeze '— Andrya rhopalocephala (Riehm); a especie de Zeder não recebe o nome de Andrya pcctinata (Zeder). Vide Opinião No. 13. REJEIÇÃO DE NOMES Artigo 32 - Um nome generico ou especifico, uma vez publicado, não pode ser rejeitado por motivo de falta de propriedade, nem mesmo por seu auctor. Exemplos: Nomes como Polyodon, Apys, albus . etc., uma vez publicados, não devem ser rejeitados pela allegaçáo de que indicam caracteres contradictorios aos apresentados pelos animaes assim denominados. Artigo 33 - Um nome deve ser rejeitado por causa de tautonymia, isto é, por serem idênticos ao nome generico o nome especifico ou o subespecifico. Exemplos: Trutta trutta, Apns apus apus. 14 A. do Amaral — Regras inlcrnacionaes de nomenclatura zoologica 247 Artigo 34 - Um nome generico deve ser rejeitado como homonymo quando houver sido previamente usado para algum outro genero u) de animaes. Exemplo: Trichina Owen, 1835, nematoide, é rejeitado como homonymo de Trichina Meigen, 1830, insecto. Vide Opiniões Nos. 12, 29, 83. CODIGO DE ETH1CA Sem se arrogar a arbitro de pontos de ethica geral, a Commissáo está persuadida de que ha uma face deste assumpto sobre que ella é competente para falar, c, assim, a respeito suggere ao Congresso a adopeão da seguinte resolução: Considerando que - a experiencia tem demonstrado que auctores não raramente pu- blicam por inadvertência, como novas designações de generos ou espccies, nomes que estão preoccupados, e Considerando que - a experiencia tem demonstrado que outros auctores, ao desco- brirem tal homonymia, têm publicado novos nomes para substituir aqueltes homonymos, Fica resolvido que - quando algum zoologo notar que o nome generico ou especi- fico publicado por qualquer auctor vivo como novo é realmcntc um homonymo c, pois, inaproveitavel á luz dos artigos 34 e 36 das Regras de Nomenclatura, sua acção no caso deve ser, do ponto de vista da ethica profissional, notificar ao alludido auctor os factos encontrados c dar-lhe ensejo amplo de propor um nome em substituição. O Além de revistas c “nomenclatorcs” cspcciacs sobre vários grupos, as seguintes publicações são de grande utilidade para os auctores. porque indicam si um dado nome subgcncrico, generico ou supergenerico, está preoccupado e, assim, sua consulta antes da crcaçáo de novos nomes evitará muita confusão c futura mudança de designações: — C. D. Sherborn. Index animalium sive index nominum quac ab A. D. 1758, genc- ribus et speciebus animalium imposita sunt. Societatibus eruditorum adjuvantibus a Cario Davis Sherborn confectus. Sectio I a kalcndis januariis, 1758, usque ad finem dcccm- bris, 1800. Cantabrigiae, 1902, 8*. A continuação sobre 1801-1850 está agora apparecendo cm partes. — S. H. Scudoer. Nomenclator zoologicus. Lista alphabetica de todos os nomes ge- néricos que têm sido empregados por naturalistas para animaes recentes e fosseis desde os tempos mais remotos até o fim do anno de 1879. Em 2 partes: I. Lista supplementar. II. Index universal. Washington, 1882, 8*. — C. O. Waterhouse. Index zoologicus. Lista alphabetica de generos e subgeneros propostos para uso em zoologia e citados no Zoological Record, 1880-1900 e 1901-1910, juntamente com outros nomes não incluídos no Nomenclator Zoologicus de S. H. Scud- der. Compilado ••• por Charles 0»en Waterhouse e editado por David Sharp. Londres, 1902 e 1912, 8*. — The Zoological Record, XXXVIII let seq. I. Contém citações de literatura zoolo- gica relativa sobretudo ao anno de 1901 ( et seq.). Londres, 1902 [et seq.), 8 o . índice de nomes de novos generos e subgeneros. — Register zum zoologischer Anzeiger. Publicado por J. V. Carus, Annos 1-10(1878- 1887), 11-15(1888-1892), 16-20(1893-1897», 21-25(1898-1902). Lipsia, 1889, 1893, 1899, 1903, 8*. — Nomenclator animalium generum et subgenerum. Está agora (1926 et seq.) sendo publicado em partes pela Preussische Akademie der Wissenschaften zu Bcrlin. 15 248 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Artigo 35 - Um nome especifico deve ser rejeitado como homonymo quando tiver sido previamente usado para alguma outra especie ou subespecie do mesmo genero. Exemplo: Taenia ovilla Rivolta, 1878 (n. sp.) é rejeitado como homo- nymo de T. ovilla Gmelin, 1790. Quando, por consequência da união de dois generos, dois animaes diffe- rentes, que possuam o mesmo nome especifico ou subespecifico, são incluídos em um genero, o nome especifico ou subespecifico mais recente deve ser rejei- tado como homonymo. Nomes específicos da mesma origem e significação serão considerados ho- monymos si se distinguirem entre si apenas pelas seguintes differenças: a) Uso de ac, oe e c, como caeruleus, coeruleus, ceraleus; ei, i e y, como chiropus, cheiropus; c e k como microdon, mikrodon. b) Aspiração ou não aspiração de uma consoante, como oxyryncus, ox y- rhyncus- c) Presença ou ausência de um c antes de f, como autumnalis, auctumnalis. d) Consoante simples ou geminada: litoralis, littoralis. e) Terminações ensis e iensis em nomes geographicos, como timorensis, timoriensis. Artigo 36 - Homonymos rejeitados não podem ser usados. Synonymos re- jeitados podem ser usados de novo no caso de restauração de grupos erronea- mente suppressos. Exemplo: Taenia giardi Moniez, 1879 foi suppresso como sy- nonymo de Taenia ovilla Rivolta, 1878; mais tarde foi descoberto que Taenia ovilla estava preoccupado ( Taenia ovilla Gmelin, 1790). Taenia ovilla, 1878, é suppresso como homonymo e não pode ser mais usado; considerado “natimorto ", não pode ser revivido mesmo que a especie seja collocada em outro genero (Thy- sanosoma). Taenia giardi, 1879, que foi suppresso como synonymo, torna-se va- lido cm resultado da suppressáo do homonymo Taenia ovilla Rivolta. Rccommcndaçôcs - E' conveniente evitar a introducçio de novos nomes genéricos que diffiram de nomes genéricos já cm uso pela terminação ou por uma pequena varia- ção na orthographia que possa determinar confusão. Todavia, uma vez introduzidos, taes nomes não devem ser rejeitados por essa razão. Exemplos: Picus, Pica; Polyodus, Po - lyodon, Polyodonta, Polyodontas, Polyodontus; Macrodon, Microdon. A mesma recommendação applica-se a novos nomes específicos em qualquer ge- nero. Exemplos: nccator, nccatrix; furcigera, furcifera; rhopalocephala, rhopalioccphala. Si dois ou mais adjectivos são derivados da radical de um nome geographico, não é aconselhável usar mais de um delles como nome especifico no mesmo genero, mas. uma vez introduzidos, não se devem rejeitar por essa razão. Exemplos: hispanas, his- panicus; moluccensis, moluccanus ; sinensis, sinicas, chinensis; ceylonicus, zeylanicus- Esta recommendação applica-se também a outras palavras derivadas da mes- ma radical e distinctas entre si apenas pela terminação ou por uma simples mudanç* na orthographia. 16 A. do Amaral — Regras internacionaes de nomenclatura ;oologica 249 SUSPENSÃO DAS RECRAS EM CERTOS CASOS Fica resolvido:- Que, por este documento, se confere poder plenário á Commissão Internacional sobre Nomenclatura Zoologica, para, em nome deste Congresso, suspender as Regras quando applicadas em um caso dado qualquer, desde que, em seu julgamento, da estricta applicação das Regras resulte clara- mente maior confusão do que uniformidade, com a condição, todavia, dc que, durante pelo menos um anno, se dè noticia em duas ou mais das seguintes pu- blicações, Bulletin de la Societé Zoologique de France, Monitore Zoologico, Na- ture: Science (N. Y.) e Zoologischer Anzeiger; de que se está considerando a pos- sibilidade da suspensão das Regras applicadas a tal caso, tomando-se assim possível a zoologos, principalmente especialistas no grupo em jogo, apresentarem argumentos a favor ou contra a suspensão em estudo; e também com a condição de que a votação na Commissão resulte unanime em favor da suspensão; e final- mente com a condição de que, si da alludida votação resultar uma maioria de dois terços da Commissão completa, mas não unanimidade a favor da suspensão, a Commissão fique desde logo auctorizada a submetter os factos á consideração do primeiro Congresso Internacional; Fica resolvido:- Que, no caso de uma questão ser affecta ao Congresso, nas condições acima descriptas, com uma maioria de dois terços da Commissão em favor da suspensão, mas sem um voto unanime, caberá ao Presidente da Secção de Nomenclatura nomear um conselho especial de 3 membros, dos quaes dois pertencentes á Commissão (um que tenha votado de um modo e outro que o tenha feito de modo opposto na questão) e o terceiro um ex-membro da Com- missão que não tenha expresso em publico sua opinião sobre o caso; c que este conselho especial deverá rever os factos apresentados e seu rclatorio, adoptado por maioria ou por unanimidade, será final e inappellavcl no que concerne ao Congresso; Fica resolvido:- Que a auctoridade precitada trate, na primeira occasião e especialmente, de questões de nomes de phases lanarias e da transferencia de nomes de um genero para outro; e Fica resolvido:- Que o Congresso não somente approva inteiramente o plano que foi iniciado pela Commissão, de tratar com comitês especiaes a respeito de determinados grupos em qualquer caso, mas ainda auctoriza e instrue a Com- missão a continuar e desenvolver essa orientação. Vide Opiniões Nos. 76, 80, 82, 89, 90. APPENDICE A. - E' muito desejável que a proposta de cada novo grupo systematico seja acom- panhada de uma diagnose, tanto individual quanto differencial, do grupo, em inglês, francês, alemão, italiano, ou latim. 17 250 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Esta diagnose deve declinar o nome do museu em que o exemplar typo foi depo- sitado e dar o numero (catalogo do museu) do referido exemplar. Recommenda-se que nas descripções publicadas de uma nova especie ou subes- pecie, se designe e rotule como typo apenas um exemplar, ficando como paratypos os demais exemplares examinados pelo auctor na mesma occasião. B. • Em publicações feitas em outras linguas que não o inglês, francês, alemão, italiano, ou latim, é desejável que a explicação das gravuras appareça traduzida em uma destas linguas. C. - O systema métrico de pesos e medidas e o thermometro centígrado de Celsius são adoptados como padrão. O micron (0,001 mm.), representado pela letra grega u, é adoptado como unidade de medida em trabalhos de microscopio. D. - A indicação de augmento ou de redueçáo, tão necessária á comprehensão de uma illustração, deve ser expressa antes em algarismos do que pela menção do systema de lentes usado. E. - A indicação de augmento ou redueçáo de um objecto é geralmente linear. Usa-sc o signal de multiplicação para augmento e o de fracção para redueçáo. Exem- plos: x 50 indica que o objecto está augmentado £0 vezes. ' M significa que elle está reduzido 50 vezes. Si se deseja especificar que o augmento é em linha, superficie, ou massa, deve-se representar assim: X 50' para indicar augmento numa dimensão; X 502 para indicar augmento em area; x 50» para indicar augmento cm volume. F. - Transliteração de palavras gregas - A seguinte lista indica a maneira por que se devem translitcrar palavras gregas: € C 1 = c final V = a > i = th i K c ( = X P r= r V r= y CU = ae au = au Cl = i cr = eu W • oi = oe final Of = um final oç = us ou = u 77 ng 7X = nch 7* = nc b = rh < — he (í-áXtos) Hyal ea, c não Hyalaea (rcif^i-rj) Pirena, e não Pirir.a (jrcipçn;) Pirenc, e não Pirene (r>;(Vs) Terftys, e não Tefys (jSoAíov) Balia, e não Balea (ínroKpíjvij) Hippocrena, e não Hippocftrenes (ítw) .Vénus, Xcnophora (jTTípòr) Pterum (i/3ó*) Hybolithus, e não Hibolites (Aiproios) Limnaea, e não Limnea (■yAov*ó?) Glaucus (\nAos) Chilostomum. e não Cheilostcma (tipos) Eiirus (««cu) Dioeca, Dendroeca, e não Dioica, Dendroica («ÇxV irior) Ephippium, e não Ephippion (õpÇ>oAn«) Euomphalus, e não Euomphalos (ÀoiTj/pior) Luterium, e não Loterium (âyyaptía) Angaria, e não Aggaria ( permanece sem um typo designado. O typo valido de Chaemepelia Swainson é Columba passerina Linneu, designada por Gray em 1841. [<*) Nota escripta por Stcjneger (membro da Commissão): ao ser re- digida a Opinião 31, o auctor não tinha visto a segunda edição dos Generos de Aves de Gray, publicada em 1841, nem os documentos apresentados na occasião tratavam claramente da questão c. porisso, lhe escapou que Colum- bina slrepitans Spix fora designada por Gray cm 1841, p.75, como typo de Columbina. Este acto de Gray é indubitavelmente valido c, portanto, o typo de Columbina é C. strepitans Spix. Em vista deste facto trazido ao conheci- mento da Commissão pelo Sr. W. E. Clyde Todd, a Opinião 31 fica aqui mudada de accordo com elle c será submettida aos membros para a devida approvrçào. Allcn, 1911, Science, 336, designou griseola Spix como typo de Co- lumbina Spix, 1825]. 32. Typo do genero Sphex. - De accordo com os argumentos apresentados, sabu- losa é o typo de Sphex Linneu, 1758. 33. Typo do genero Rutilus Rafinesque, 1820. - Cyprinus rutilus é o typo de Rutilus Rafinesque, 1820. Rutilus plargyrus é o typo de Plargyrus Rafinesque, 1820. 34. jEshna vs. ^Eschna. - Desde que a publicação original não evidencia a de- rivação da palavra, a graphia original .JZshna deve ser conservada. 35. Typos de generos de auctores binários mas não binominaes. - Na determinação do typo dc um genero, a selccção deve limitar-se is especies incluidas no nome genérico por occasião dc sua publicação original, tivessem ou não ellas sido designadas bino- minalmente. Si, todavia, um nome genérico é proposto distinctamente como substituto para outro nome generico anterior, as especies deste devem ser tomadas cm consideração. 36. Emenda de Trioxocera, Dioxocera e Pentoxocera. - A Commissão é de pa- recer que a publicação original de Trioxocera, Dioxocera e Pentoxocera evidencia a pre- sença dc ura erro dc transcripçáo (ou transliteraçáo) e que estes nomes devem ser emendados para Triozocera, Dioxocera c Pentoxocera. 37. Devem acceitar-se os generos da "Ornithologia " de Brisson, 1760? - Os no- mes genericos de aves usados por Brisson ( 1760) são aproveitáveis sob o Codigo. 38. Situação dos nomes latinos em Tunstall, 1771. - Os nomes latinos usados na Ornithologia Britannica de Tunstall, 1761, são aproveitáveis desde que sejam identifi- 23 cm 7 SCÍELO) 2.1 12 13 14 15 16 17 256 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V caveis por meio das referencias que fez de bibliographia, paginas e illustrações, ou pelas citações de nomes ingleses de Pennant, 1768, ou de nomes franceses de Brisson, 1760. 39. Situação dos nomes latinos em Cuvier, 1800. - Os nomes latinos dos quadros systematicos usados por Cuvier, 1800 (Leçons d’anatomie comparée), são aproveitáveis desde que sejam identificáveis por meio das citações bibliographicas constantes da pa- gina xix da Introducção. 40. Salmo eriox vs. S. trutta e S. fario; Eniochus acuminatus vs. H. macro- lepidotus. - Diante dos argumentos apresentados, não é necessário substituir fario ou trutta por eriox; a selecção de macrolepidotus por Cuvier (18171 tem precedencia sobre a selecção de acuminatus por Jordan & Seale, 1908. 41. Athlennes vs. Ablennes. - Desde que a publicação original revela um evi- dente lapsus calami, o nome Athlennes deve ser correcto para Ablennes. 42. Typo de Carapus Rafinesque, 1810. - Carapus Rafinesque, 1810, é monotypico, typo Gymnctus acus Linneu. 43. Situação de generos cujas especies typo estão citadas sem descripção addi • cional. - Os caracteres attribuidos a Teleogmus, Isoplata, Alloderma, e Aphobetoideus abrangem os generos c as especies typo, e os nomes genericos específicos respectivos estão publicados no sentido do Codigo. 44. Leptocephalus vs. Conger. - Lcptocephalus Gronovius, 1763, e Gmelin, 1789, typo morrisii, tem precedencia a qualquer nome generico posterior, pelo qual se tenha designado a phase adulta deste animal. [Cf. Opinião 89]. 45. Typo de Syngnathus Linneu, 1758. - Até onde se pode julgar pelos argu- mentos apresentados, o typo de Syngnathus Linneu, 1758, não foi jamais claramente designado c não ha objecção a que se designe como tal a especie acus Linneu, em obser- vância ao costume e conveniência geraes. 46. Situação de generos publicados originalmente sem designação clara de alguma especie. - Em generos publicados sem menção nominal de qualquer especie, nenhuma especie é aproveitável como genotypo, a menos que possa ser reconhecida pela publi- cação gencrica original; si apenas uma especie está em jogo, a descripção genérica é equivalente á publicação de “X-us albus, n.g., n.sp.,”; si varias especies são referidas, mas não mencionadas pelo nome, uma delias deve ser tomada como typo; si (como em Aclastus Foerster, 1868) na publicação original do gencro não ha evidencia de quantas especies estão em jogo, esse genero contém todas as especies do mundo que possam caber na descripção generica conforme foi publicado originalmentc, e a primeira es- pecie publicada em ligação com o genero (como Aclastus rufipes Ashmead, 1902) ipso facto torna-se typo. 47. Carcharias, Carcharhinus e Carch arodon. - Carcharias Rafinesque, 1810, é monotypico, typo Carcharias taurus Rafinesque. 48. Situação de certos nomes genericos de aves publicados por Brehm in /sis, 1828 e 1830. - Desde que os nomes de Brehm, 1828 e 1830 dependem exclusivamente de designações vernáculas, elles são nomina nuda e não merecem citação. 49. Siphonophora asclepi ADiFOLii vs. Nectarophora asclepiaiws. - Diante dos dados apresentados, asclepiadifolii Thomas, 1879, é preferível a asclepiadis Cowen, 1895. 50. Aphis aqlilegiae flava vs. Aphis trirhoda. - Desde que o nome Aphis aqui- legiae flava KittelI, 1827, é multinominal e inaproveitavel sob o Codigo, Aphis trirhoda VTalker, 1849, é o nome correcto para esta especie. 24 i A. do Amaral — Regras intcrnacionacs de nomenclatura zoologica 257 51. Devem acceitar-se os nomes do Museam Calonnianum, 1797? - O Museum Calonnianum, 1797, nâo é acceitavel como base para qualquer trabalho nomenclatorial. 52. Semotilus corporalis vs. Semotilus blllaris. - Diante dos argumentos apre- sentados, corporalis tem prioridade sobre bullaris. Nào é possível á Commissão exarar uma opinião sobre a pergunta: Que constitue uma descripçáo adequada? A citação da localidade typo de uma especie nào é sufficiente para estabelecer um nome á luz do Ari. 25a do Codigo. Si são apresentados caracteres específicos em additamento á localidade typo, esta se torna uma parte da descripçáo e deve ser considerada como um elemento importante na determinação da identidade da cspecie. 53. Halica.mpus koilomatodon vs. Halicampus crayi. - O nome especifico grayi Kaup, 1856 tem prioridade sobre koilomatodon Bleeker, “cerca de 1865”. 54. Phoxinus Rafinesquc vs. Phoxinus Agassiz. - Os generos Dobula, Phoxinus e Alburnus foram creação de Rafinesque, 1820. Jordan & Evermann, 1896, allegam que Phoxinus Agassiz, 1835, é idêntico a Phoxinus Rafinesque 1820, e, portanto, proclamam ter reconhecido Phoxinus 1820. Esta allegaçáo deve ser considerada correcta até que se prove o contrario e Cyprinus phoxinus fica como typo de Phoxinus 1820 c de Pho- xinus 1835. Si se allega que Alburnus 1820 é idêntico a Alburnus 1840, Cyprinus al- burnus torna-se typo de Alburnus 1820. 55. Typo do genero Ondatra Link. - Diante dos argumentos apresentados, zibe- thicus i o typo de Ondatra Link. 56. Typo de Filaria Mueller, 1787. - Mueller (1787, pp. 64 e 70) cita, visivel- mente por erro, a mesma gravura (estampa 9, fig. 1) de Redi para Ascaris renalis Gmel. e Filaria martis de Gmel.. Gmelin (1790a, pp.3032 c 3040) conservou este lapso. Rudolphi (1809a, p.69l reconheceu e corrigiu o erro e. desde então. Filaria martis tem sido consistentemente distinguida de Ascaris renalis, nào havendo actualmentc motivo para não se reconhecer a correcçâo do lapso de Mueller por parte de Rudolphi. Assim sendo, F. martis fica como typo de Filaria e Filaria nào é mudada para Dioctophyme, Dioctophyma ou Eustrongylus. 57. Somes oriundos do “ Iter Palaestinum" de Hasselquist, 1757, e da traducçào de 1762, são insustentáveis. - O “Iter Palaestinum” foi publicado antes de 1758 e edi- tado, em relação á sua nomenclatura, por Linneu. A traducçào alemã por Gadebusch, publicada em 1762, nào confere validez aos nomes publicados na edição original de 1757. 58. Esox, Luctus e Belone. - “Considerando-se com severidade”, nem Rafinesque (1810, Caratteri, p.59), nem Cuvier (1817, p.183» designou o typo de Esox Linneu, 1758; Jordan 5: Gilbcrt, 1882, p.352, escolheram Esox lucius Linneu como typo de Esox. 59. Data de Amphimerus. - O nome do trematoide Amphimerus Barker não data do apparecimento das separatas (“tirés à part”l, mas do tempo da publicação dos Stu- dies from the Zoological Laboratory, The University of Nebraska, No. 103. 60. Salmo iridia vs. Salmo irideus. - Salmo iridia é evidentemente um lapsus calami ou um erro typographico c pode ser emendado para Salmo irideus. 61. Emenda de Chaemepelia para Chamaepelia. - A palavra Chaemepelia Swain- son, 1827, deve ser emendada para Chamaepelia. 62. Espeeies typo de outros generos não estão excluídas de consideração na se- lecfdo do typo de um genero. - Desde que o Artigo 30 não exclue de consideração as espeeies typo de outros generos na selecçáo do typo de um genero dado, as seguintes espeeies typo, designados por Cray, são, em face dos dados apresentados, os typos va- lidos dos seguintes generos: Fulmarus, typo Procellaria glacialis; Thalasseus, typo Sterna 258 .Memórias do Instituto Butantan — Tomo V cantiaca; Herodias, typo Ardea garzetta; Catharista, typo V altar aura; Morphnus, typo Falco urubitinga; Helinaia, typo MotacUla vermivora. 63. Leuciscus hakuensis vs. Leuciscus hakonensis. - Leuciscus hakuensis deve ser correcto para Lcuciscus hakoncnsis, em virtude de ter occorrido com o primeiro, seja um lapsus calami, seja um erro typographico. 64. Letras seriadas taes como a, b, c, etc. não são acceitaveis como nomes espe- cíficos. - Letras seriadas como a, b, c, etc., não se devem considerar como verdadeiros nomes específicos. 65. Caso de um genero baseado em especie erroneamente determinada. - Si um auctor designa uma certa espccie como gcnotypo, deve-se presumir que sua determinação da espccie esteja correcta; si se apresenta um caso em que pareça que um auctor baseou o seu genero sobre determinados exemplares, ao invés de o fazer sobre uma especie, seria bom submettcr-sc o caso, com todos os pormenores, á Commissão. Presentemente é difficil estabelecer-se uma regra geral para taes casos. 66. Nomes de N ematoideos e Gordiaceos collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os seguintes nomes de Nematoda e Gordiacea são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: Ancylostoma, Ascaris, Dracunculus, Gnatho- storna. Necator , Strongyloides, Trichostrongylus, Goidius, e Paragordius. 67. Cento e dois nomes de Aves collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os cento e dois nomes seguintes de aves são por este meio collocados na Lista Offi- cial de Nomes Genericos: Acryllium, .JCchmophorus, JEgithina, AZgotheles, JEpyornis, Aix, Alauda, Anas, Apaloderma , Aptcnodytes, Apteryx, Aramas, Ardea, Astrapia, Astu - rina, Aulacorhynchus, Balaeniceps, Batrachostomus, Brotogeris, Bubo, Barhinus, Cai- rina, Campephaga, Capito , Cathartes, Ccntrocercus, Cephalopterus, Cereopsis, Chauna, Chrysolophus, Cicinnurus, Circuit as, Clamator, Coccyzus, Coereba, Colaptes, Colluri- cincla, Coturnix, Crotophaga, Diomedea, Dromas, Ectopistes, Egretta, Elanus, Eurylai- mus, Eurynorhynchus, Eurypyga, Falmaras, Gallinago, Gampsonyx, Goura, Gypaitus, Haematopus, Haliaeetus, Haliastur, Heliornis, Ibidorhyncha, Jynx, Lanius , Leistes, .Mj- nucodia, Musophaga, Neophron, Notornis, Numida, Nictea, CEdicncmus, Opisthocomus, Oriolus, Pachycephala, Pandion, Parotia, Parus, Pezoporus, Phaêthon, Pharomachras, Phoenicopterus, Platalea, Platycercus, Polyplectron, Porzana, Psittacus, Psophia, Ptero- glossus, Ptiloris, Rallus, Recurvirostra, Sericulus, Sitta, Sphenorynchus, Spindalis, Stri- gops, Struthio, Sturnclla, Sturnus, Sarnia, Syrrhaptes, Tachyphonas, Thamnophilus, Trichoglossus, Uratelornis, Vireo. 68. Especies typo de Pleuronectes Linnca, 1758. - Fleming, 1828, 196, não de- signa o typo de Pleuronectes. 69. Especie typo de Sparus Linneu, 1758. - Fleming, 1828, 211, não designa o typo de Sparus. 70. Caso de Libellula americana L., 1758, vs. Libellula americanus Drury, 1773. - Em virtude de scr Libellula americanas Drury, 1773 um lapsus calami evidente em logar de Gryllus americanus, este lapso deve ser correcto e o nome especifico no caso, americanus 1773, não está invalidado por Libellula americana 1758. 71. Interpretação da expressão “Especies ty picas” na Synopsis de H 'estwood, 1840. - As especies citrdas por Westwood, 1840 ("An Introduction to the Modern Clas- sification of Insects”, Vol. 2, Synopsis, paginação separada, pags. 1 a 158», como "especies typicas”, devem ser acceitas como designações claras de genotypos para os generos respectivos. Quanto ao facto de uma determinada especie considerada repre- sentar ou não o gcnotypo valido, isto depende de dois factores: primeiro, de si a es- 26 A. do Amaral — Regras internacionaes de nomenclatura zoologica 259 pecie era aproveitável como genotypo; segundo, de si a sua designação em 1840 era precedida por qualquer outra denominação. 72. Formulas zoologicas de Herrera. - As designações de animaes de accordo com o systema proposto por Herrera, no caso submettido a consideração, são formulas e não nomes. Portanto, ellas não têm valor em nomenclatura c, assim, não estão sujeitas a consideração sob a Lei de Prioridade. Nenhum auctor é obrigado a citar essas de- signações em qualquer quadro de synonymia, indice ou outras listas de nomes. 73. Cinco nomes genéricos de Crinoideos, oitenta e seis nomes genericos de Crustáceos e oito nomes genericos de Acarinos, collocados na Lista Official de Somes Genericos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: CRINOIDEA: Antedon, Bathycrinus, Holopus, Metacrinus, Rhizocrinus. CRUSTACEA: Acanthocyclus, Actaea, Actaeomorpha, Actumnus, Arcania, Archias, Are - naeus, Atzrgatis, Atergatopsis, Banareia, Bathynectes, Bellia, Benthochascon, Caphyra, Carpilius, Carpilodes, Carpoporus, Carupa, Chlorodopsis, Coenophthalmus, Corysto.des, Cryptocnemus, Cyclodius, Cymo, Dacryopilumnus, Daira, Deckenia, Domecia, Ebalia, Ep.lobocera, Epimelus, Erimacrus, Erimetopus, Euphylax, Farus, Gecarcinucus, Hepa- tella, Heterolithadia, Heteronucia, Heterozius , Hydrothelphusa, lliacantha, Iphiculus, Iphis, Ixa, Leucosilia, Lissocarcinus, Lithadla, Lupocyclus, Merocryptus, Myrodes, Sucia, Sursia, Sursilia, Onychomorpha, Oreophorus, Osachila, Parasyclois, Parathelphusa, Pa - rathranites, Parilia, Pariphiculus, Persephona, Phlyxia, Pirimela, Platymera, Podoph- thalmus, Polybius, Portumnus, Potamocarcinus, Potamonautes, Pseudophilyra, Pseudo - thelphusa, Randalia, Scylla, Speloeophorus, Sphaerocarcinus, Telmessus, Thalamita, Thalamitoides, Thalamonyx, Tios, Trachycarcinus, Trichodactylus, Trichopeltarion, Vai- divia. ACARINA: Amblyomma, Argas, Dermacentor, Haemaphysalis, Hyalomma, Ixodes, Rhipicentor, Rhipicephalus. 74. Lista de Somina Conscrvanda de Apstein, 1915. - A Commissio não tem po- deres para adoptar cm bloco a lista proposta de Nomina Conscrvanda de Apstein, mas está prompta a considerar separadamente nomes que lhe forem apresentados com provas razoavelmente completas. 75. Vinte c sete nomes genericos de Protozoários, Vermes, Peixes, Repteis e Mammiferos incluídos na Lista Official de Somes Zoologicos. - Os vinte e sete nomes genericos seguintes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Zoologicos, com as espccies typo dadas no corpo desta Opinião: PROTOZOA: Volvox. VERMES: Hirudo, Lumbricus. PISCES: Ammodytes, Anarhichas, Athcrina, Fistularia, Mugil, My- xine, Trachinus, Uranoscopus, Xiphias. REPTIL! A: Draco. MAMMALIA: Balaena, Bos, Castor, Delphinus, Erinaceus, Hippopotamus, Hystrix, Monodon, Moschus, Ovis, Phoca, Sus, Taipa, Ursus. 76. Situação de Pyrosoma vs. Monophora; Ctclosalpa vs. Holothuria; Salpa vs. Dacysa; Doliolum, Appendicularia e Fritillaria. - O Secretario está auctorizado e aconselhado a insistir sobre o seguinte:- casos apresentados em busca de opinião devem ser acompanhados de dados razoavelmente completos que permittam uma con- sideração justa dos pontos em jogo. Pyrosoma 1804 tem prioridade sobre Monophora 1804. Cyclosalpa 1827 não é invalidado por Holothuria 1758 (typo physalis ), que, todavia, invalida Physalia 1801. O uso actual de Holothuria (typo fabulosa) cm re- lação a echinodermas não está de accordo com as Regras, mas é aconselhável que os auctores usem Physalia 1801 para o siphonophoro português e Holothuria 1791 como genero do “pepino marinho” t“sea cucumber"), até que se resolvam possivelmente suspender as Regras nestes dois casos. Como a apresentação dos casos de Salpa, Ap- pendieularia. Doliolum e Fritillaria é incompleta e contem erros, estes casos ficam 260 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V lançados na lista indefinidamente, mas sem juizo formado; as Regras devem ser im- postas nestes casos, a menos que fique demonstrado que de sua applicação resulta maior confusão do que uniformidade' [Cf. Opiniões 77 e 80], 77. Trinta e cinco nomes genericos de Protozoários, Celenterados, Trematodeos, Cestoidcos, Cirripedios, Tunicados e Peixes, coüocados na Lista Official de Nomes Ge- néricos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: PROTOZOA: Arcella. COELENTERATA:: Hydra. TREMATODA: Hemiurus, Schistosoma. CESTODA: Anoplocephala, Hymenolepis, Moniezia, Stilesia, Thysanosoma. CIRRIPEDIA: Lcpas. TUNICATA: Pyrosoma. PISCES: Acipenser, Callionymus, Chi- maera. Clupea, Coryphaena, Cottus, Cyclopterus, Cyprinas, Diodon, Gadus, Gasterosteus, Gobins, Lophius, Mormyrus, Mullus, Muraena, Osmerns, Perca, Salmo, Scomber, Scor- paena, Silurus, Syngnathas, Zeus. 78. Caso de Dermacentor andersoni vs. Dermacentor venustus. - Diante dos argumentos apresentados, a Commissáo é de opinião que Dermacentor venustus procede de Marx in Neumann, 1897, exemplar typo - No. 122 da Collecçáo Marx (Museu Na- cional dos Estados Unidos) colhido de Ovis aries, Texas, e que Dermacentor andersoni provém de Stiles, 1908, holotypo No. 9467 U. S. P. H. & M. H.S. (Serviço da Saude Publica e do Hospital de Marinha dos Estados Unidos), oriundo de Woodman, Montana. 79. Caso do “Système des Animaux sans Vertibres” de Lamarck, 1801a. - “Con- siderando-se com severidade", o “Système des Animaux sans Vertèbrcs” de Lamarck, 1801a, não deve ser acceito como designação de especies typ°- 80. Suspensão das Regras no caso de Holothuria e Physalia. - Ficam por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos o genero de Echinodermas Ho- lothuria Linn., 1767, restr. Bruguicre, 1791, typo H. tremula 1767= H. tubulosa 1790, e o genero de Siphonophoros Physalia Lamarck 1801, typo P. pelagica 1801= Holothuria physalis 1758. 81. Genotypo de CiMEX, Acanthia, Clinocoris e Klinophilos. - Diante dos ar- gumentos apresentados á Commissáo, o percevejo commum da Europa, Cimex lectu- larius, é o genotypo de Cimex 1758, Acanthia 1775, Clinocoris 1829 e Klinophilos 1899 ( Clinophilus 1903) e a sua designação technica apropriada sob as Regras é Cimex lec- tnlarius. Cimex Linn., 1758, typo C. lectularius, é por este modo collocado na Lista Official de Nomes Genericos. 82. Suspensão das Regras para Musca Linneu, 1758a, typo M. domestica. - Por força dos poderes conferidos á Commissáo pelo 9.° Congresso Internacional de Zoologia para suspender as Regras em qualquer caso determinado, quando, a juizo seu, da ap- plicaçáo restricta das Regras resulte claramcnte maior confusão do que uniformidade, o Artigo 30 fica aqui suspenso em relação a Musca Linneu. 1758; e Musca domestica Linneu, 1758, passa a ser designado como typo de Musca, sem opinião preformada em relação a outros casos. 83. Acanthiza pyrrhopygia 1'igors c Horsfield, 1827, vs. Acanthiza pyrrho- pycia Gould, 1848. - A Regra de Homonymos tem por principio que qualquer nome idêntico, regularmente publicado, de data posterior c “nati-morto e não pode ser revi- vido”. Acanthiza pyrrhopygia Vigors e Horsfield, 1827, invalida Acanthiza pyrrhopygia Gould, 1848. 84. Nomes de Trematodeos, Cestoidcos e Acantocephalos collocados na Lista Official dc Nomes Genericos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: TREMATODA : Dicrocoelium, Fasciola, Gastrodiscus, Hetcrophyes. CESTODA: Dawainea, Dipylidium, Echinococcus, Taenia. ACANTHOCE- PHALA: Gigantorhynchus. 28 A. do Amaral — Regras inlernacionaes de nomenclatura zoologica 261 85. Noventa e oito nomes genericos de Crustáceos collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: CRUSTACEA: Acmaeopleura, Asthenognathus, Bathyplax, Camp- tandrium, Camptoplax, Catoptrus, Ceratoplax, Chasmagnathus, Chasmocarcinus, Clis- tocoeloma, Cyrtograpsus , Dissodactylus, Durckheimia, Epixanthus, Euchirograpsus, Eu- crate, Eucratodes, Eucratopsis, Euryetisus, Euryplax, Eurytium, Fabia, Galene, Geryon, Glyptograpsus, Glyptoplax, Gomeza, Goneplax, Halimede, Helice, Hephthopelta, Hexapus, Holometopus, Holothuriophilus, Homalaspis, Lachnopodus, Leptodius, Liagore, Libystes, Liomera, Lipaesthesius, Litocheira, Lophopanopeus, Lophopilumnus, Lybia, Melybia, .Me- tasesarma, Metopocarcinus, Micropanope, Notonyx, Oediplax, Ommatocarcinus, Opistho- pus, Orphnoxanthus, Panoplax, Paragalene, Parapanope, Parapleirophrycoidcs, Paraxan - thus, Percnon, Perigrapsus, Pilumnoides, Pilumnus, Pinnaxodes, Pinnixa, Pinnotherelia, Pinnothcres, Planes, Platychirograpsus, Platy pilumnus, Platyxanthus, Polydectus, Prio- noplax, Pseudocarcinus, Pseudopinnixa, Pseudorhombila, Psopheticus, Ptychognathus, Pyxidognathus, Rhithropanopeus, Rhizopa, Ruppellioides, Sarmatium, Scalopidia, Sclero- plax, Speocarcinus, Sphaerozius, Tetraxanthas, Tetrias, Thaumastoplax, Utica, V ar una, Xanthasia, Xanthodius, Xenophthalmodes, Xenophthalmus, Zosimus, Zosymodes. 86. Conulinus von Martens, 1895. - O nome gencrico Conulinus von Martcns, 1895, toma como typo Buliminus ( Conulinus ) conulus Rv., e não é necessariamente in- validado pelo nome Conulina Bronn. 87. Situação de paginas de prova em nomenclatura. - Paginas de prova de im- pressor não constituem publicação e, portanto, não têm valor debaixo das Regras Inter- nacionaes de Nomenclatura Zoologica. 88. Otarion diffractum vs. Cyphaspis burmeisteri. - O nome de uma espccie não se desqualifica, simplesmente porque o auctor incluiu em sua concepção partes de corpo de mais de uma espccie. O nome de um genero baseado cm tal especie é, por- tanto, aproveitável. Otarion diffractum Zenker é valido. Atarion deve ser preferido a Cyphaspis; e C. burmeisteri Barr. é synonymo de O. diffractum. 89. Suspensão das Regras no caso de Gronow 1763, Commerson 1803, Gesellschaft Schauplatz 1775 a 1781, Catesby 1771, Browne 1789, Valmont de Bomare 17*58 a 1775. - Em virtude de suspensão das regras cm qualquer caso em que tal suspensão possa ser considerada necessária de accordo com a interpretação adoptada, agora e mais tarde, pela Commissão, declaram-se os seguintes trabalhos ou publicações eliminados de con- sideração no que concerne aos seus nomes systematicos e segundo as respectivas datas: Gronow 1763, Commerson 1803, Gesellschaft Schauplatz 1775 a 1781, Catesby 1771, Browne 1789, Valmont de Bomare 1768 a 1775. 90. Relatório sobte dezeseis nomes genericos de Mammiferos para os quaes se solicitou suspensão das Regras. - Nenhum dos dezeseis nomes recebeu voto unanime para suspensão: por consequência, a Commissão não tem poderes para suspender as Regras em relação a elles. Seis nomes (a saber Cercopithecus, Gazella, Hippotragus, Lagidium, Nycteris e Manatus) receberam a maioria de dois terços ou mais para sus- pensão e, pois, devem ser levados á decisão final de um comitê especial de tres membros, a ser nomeado pelo Presidente da secção de nomenclatura do proximo Congresso Inter- nacional. Dez nomes (a saber: Echidna, Anthropopithecus, Coelogenys, Chiromys, Da - sypus, Dicotyles, Galeopithecus, Hapale, Rhytina c Simia l deixaram de receber na vo- tação a maioria de dois terços para a suspensão e, pois, a Lei de Prioridade não se applica em taes casos. <*> 1*) NOTA DO TRADUCTOR: Veja-se a respeito a recente monogra- phia publicada pelo Secretario da Commissão Internacional de Nomencla- tura Zoologica, Dr. Ch. VTardell Stiles com a collaboraçáo de M. B. Orleman in Hygienic Laboratory Bulletin No. 145 (U. S. Public Health Service). 262 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V 91. Trinta c cinco nomes genéricos de Mammiferos collocados na Lista Official de Nomes Genéricos. - Os seguintes nomes sio por este modo collocados na Lista Of- ficial de Nomes Genericos: Alces, Arricola, Ateies, Bison, Bradypus, Canis, Capra, Ce- bus, Cervus, Choloepus, Condylura, Cricetus, Crocidura, Cystophora, Dasyprocta, Didel- phis, Ercthizon, Felis, Guio, Halichoerus, Lepus, Lynx, Mus, Myrmecophaga, Nasua, Ovibos, Phyllostomus, Procyon, Putorius, Rangifer, Rhinolophus, Rupicapra, Sciurus, Sorcx, Vespertilio. 92. Dczeseis nomes genericos de Peixes, Amphibios e Repteis collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: PISCES: Blennius, Echeneis, Esox, Ophidion. AM- PHIBIA: Cryptobranchus, Desmognathus, Siren. REPTILIA: Alligator, Calamaria, Che- lydra, Crotalas, Dermochelys, Eremias, Lacerta, Mabuya, Phrynosoma. 93. Doze nomes genericos de Peixes collocados na Lista Official por força de Suspensão das Regras. - Os seguintes 12 nomes genericos de peixes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos, de accordo com o Poder Plenário para Suspensão das Regras: Conger Cuv., 1817 {Muraena conger L.); Coregonus Linn., 1758 ( Salmo lavaretus L.); Eleotris Bloch & Schneider, 1801 (gyrinus Cuv. & Vai.); Epir.e- phclus Bloch, 1792 ( marginalis Bloch); Gymnothorax Bloch, 1795 (reticularis Bloch i; Malapterurus Lacépcde, 1803 ( Silurus electricus L.) ; Mustelus Linck, 1790 ( Squalus mustelus L. 1= Mustelus laei’is] ) ; Polynemus Linn., 1758 ( paradisacus L.); Sciacna Linn., 1758 ( umbra L-= Cheilodipterus aquila Lacép. segundo restr. de Cuvier, 1815»; Serranus Cuv. ( Perca cabrilla L. > ; Stolephorus Lacép., 1803 (commersonianus Lacép.); Teuthis Linn., 1766 ( javus L.). Os nomes agora correntes não devem ser abandonados a menos que haja razões indiscutíveis para sua mudança. 94. 1'inte e dois nomes de Molluscos e Tunicados collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os seguintes nomes são por este modo collocados na Lista Official de Nomes Genericos: MOLLITSCA: Anodonta, Argonauta, Buccinum, Calyptraea, Co- lumbella, Dentaliam, Helix, Limax, Mactra, Mya, Mytilus, Ostrea, Physa, Sepia, Sphae- rium, Succinea, Tcredo. TUNICATA: Botryllus, Clavelina, Diazona, Distaptia, Molgula. 95. Dois nomes genericos de Protozoários collocados na Lista Official de Nomes Genericos. - Os seguintes nomes são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos - PROTOZOA: Endamoeba, Trypanosoma. 96. Muscum Boltenianum. - A Commissáo acceita o Museum Boltenianum 1798 como sendo aproveitável do ponto de vista nomcnclatorial á luz das Regras Internacio- naes. 97. O Tentamen de Hübner, 1806 creou gêneros monotypicos? - O Tentamen de Hübner, 1806 foi sem duvida preparado essencialmente como um manuscripto multíplice, ou como uma pagina de prova (Vide Opinião No. 87), para exame e critica por um grupo restricto de peritos, isto é. em Lepidoptera, e não para distribuição geral como um registo em zoologia. Por consequência, c discutível a conclusão de que foi publi- cada em 1806. Mesmo que se admitta como premissa sua publicação em 1806, é discu- tível que os binomios nelle contidos se devam interpretar como nomes genericos ligados a específicos. Mesmo que se admitta que taes binomios representam combinações de nomes genericos com específicos, elles são essencialmente nomina nuda (tendo-se em vista a data que trazem), desde que os auctores, que não possuem informações esoté- ricas a seu respeito, não podem interpretal-os definitivamente sem consultarem a lite- ratura mais recente. Si publicados mais tarde com dados mais positivos, esses nomes passam a ser aproveitáveis na data de sua republicação. 30 A. do Amaral — Regras internacionaes de nomenclatura zoologica 263 98. - Brauer e Bergenstamm. - Interpretando-se com rigor, Brauer e Bergenstamm (1889-1894) não fixaram os typos para os nomes genericos mais antigos, excepto nos casos em que affirmam claramente que a especie mencionada é o typo do genero. 99. Endamoeba Leidy, 1879 vs. Entamoeba Casagrandi e Barbagallo, 1895. - Enta- moeba 1895, com blattae como typo por designação subsequente (1912), é absolutamente synonyma de Endamoeba Leidy, 1879a, p.300, tvpo blattae, e invalida Entamoeba 1895, typo por designação subsequente (1913): hominis=coli. 100. Suspensão das Regras, Spirifer e Syringothyris. - Em virtude de Suspensão das Regras, Anomia striata Martin fica estabelecido como genotypo de Spirifer Sowerby, 1816, e Syringothyris typa VPinchell ( = Spirifer carteri Hall) fica estabelecido como genotypo de Syringothyris U'inchell, 1863. 101. Situação nomenclatorial de Danilewsky - “Contribution â Vétude de la micro- biosc malarique ’’ in Annales de VInstitut Pasteur, 1891, Vol. 5, paginas 758-782. - As designações technicas latinas, usadas por Danilewsky, 1891, Annales de 1’Institut Pas- teur, Vol. 5 (12), pp. 758-782, não estão sujeitas a citação sob a Lei de Prioridade á luz da alludida publicação. 102. Proteocephala Blainville, 1828, vs. Proteocephalus Weinland, 1S58. - Um nome generico (exemplo Proteocephalus, 1858) não é invalidado pela publicação an- terior de um nome idêntico ou semelhante de collocaçào systematica mais elevada (exemplo Proteocephala, 1828). Si Tacnia ambígua (tp. de Proteocephalus, 1858) c congenerico de ocetlata (tp. de Ichthyotaenia, 1894), Ichthyotaenia é um synonymo sub- jectivo de Proteocephalus. 103. O nome generico Grus, typo Ardea crus. - O typo de Grus Palias, 1767, c Ardeu grus Linn., 1758, por tautonymia absoluta. Grus é por este modo collocado na Lista Official de Nomes Genericos. 104. Cincoenta e sete nomes genericos collocados na Lista Official. - Os seguintes 57 nomes genericos, com cspecies typo citadas, são por este modo collocados na Lista Official de Nomes Genericos: PROTOZOA: Bursaria, Eimeria, Laverania, Plasmodium, Sarcocystis. CESTODA: Ligula. NEMATODA: Filaria, Heterodera, Rhabditis, Stron- gylus, Syngamus. OLIGOCHAETA: Enchytraeus. HIRUD1NEA: llaemadipsa, Umnatis. CRUSTACEA: Armadillidium, Astacus, Câncer, Diaptomus, Gammarus, Homarus, Re- phrops, Oniscus, Pandalus, Pcnaeus, Porcellio. X1PHOSURA: Limulus. SC0RP10N1- DEA: Scorpio. ARANEAE ou ARANEIDA: Avicularia, Dcndryphantes, Dysdera, Latro- dectus, Segestr.a. ACARINA: Cheyletus, Chorioptes, Dcmodex, Dermanyssus, Glyci- phagus, Polydesmus, Psoroptes, Rhizoglyphus, Trombidium. THYSANURA: Lepisma. COLLEMBOLA: Podura. ORTHOPTERA: Blatta, Ectobius, Gryllus, Periplaneta. ANO- PLURA: Pediculus, Phthirus. HEM1PTERA: Anthocoris, Rabis, Rotonecta, Reduvius, Triatoma. DERMAPTERA: Forficula. SUCTOR1A s. SIPHONAPTERA s. APHANI- PTERA: Pulex. MAMMALIA: Cercopithecus. 105. Romes de Crustáceos por Dybowski (1926), suppressos. - Fica resolvido que novos nomes publicados no trabalho de Dybowski, “Synoptisches Verzeichnis mit kurzer Besprechung der Gattungcn und Arten dieser Abtcilung der Baikalflohkrebsc" (Bul. internat. Acad. polonaise d. Sei. et d. Lettres, 1926, No. l-2b, jan.-fev., pp.l-77), são por este meio suppressos, de accordo com Suspensão das Regras, por isso que a appli- cação das Regras para sua acceitação “resultará evidentemente em maior confusão do que uniformidade”. 106. O typo de Oestrus Linn., 1758, é O. ovts. - O typo de Oestrus Linn., 1758, é O. ovis (Art. 30g). A designação de Oestrus equi Fabr. por Latreille como typo de 31 264 Memórias do Instituto Butantan — Tomo V Oestrus não é valido (Art. 30g>. Os 5 seguintes nomes de generos de Dipteros são por este meio collocados na Lista Official de Nomes Genericos: Cephenemyia (typo trompe ), Gasterophilas (typo equi de Clark, synonymo de intestinalis de Geer), Hypoderma (typo bovis ) , Oedemagena (typo tarandi I, e Oestrus ( typo ovis ). 107. Echinocvamus fusillus vs. Echinocyamus minutus. - O caso de Echino- cyamus pusillus vs. Echinocyamus minutus é objecto de duas interpretações diame- tralmente oppostas. Baseando-se no principio de que um nome em uso corrente não deve ser supplantado por um anterior mas raramente adoptado, ou por um nome não adoptado, a menos que o argumento seja ambiguo e que as premissas não estejam su- jeitas a differenças de opinião, a Commissão, tendo em vista a situação algo incerta de minutus, é de Opinião que pusillus 1776 não deve ser suppresso por minutus 1774. 108. Suspensão das Regras para Gazella 1816. - De accordo com a Suspensão das Regras, Gazella Blainville, 1816, especie typo Capra dorcas Linn., 1758a, é adoptada de preferencia a Oryx, e por este modo é collocada na Lista Official de Nomes Genericos. 109. Suspensão das Regras para Hippotragus 1846. - De accordo com a Suspensão das Regras (si for preciso», Hippotragus Sundevall, 1846, especie typo Antílope leuco- phaea Palias, 1776, é adoptada de preferencia a Egocerus Desmarest, 1822, e a Ozanna Reichenbach, 1845 (não Aegoceros Palias, 1811), sendo por este modo collocada na Lista Official de Nomes Genericos. 110. Suspensão das Regras para Lagidium 1833. - De accordo com a Suspensão das Regras, Lagidium Meyen, 1833, especie typo Lagidium peruanum Meyen, é adoptado de preferencia a Viscaccia Oken, 1816, genotypo " Lepus chilensis Molina", e por este modo é collocada na Lista Official de Nomes Genericos. 111. Suspensão das Regras para Nycteris 1795. - De accordo com a Suspensão das Regras, Nycteris Cuvier & Geoffroy, 1795, especie typo Vespertilio hispidus Schre- ber, 1774, i adoptado de preferencia a Petalia Cray, 1838, genotypo Sycteria javanica Geoffroy, e é por este modo collocada na Lista Official de Nomes Genericos. 112. Não foi acceita a Suspensão para Manatus 1772 vs. Trichechus 1758. - Não foi acceita a Suspensão das Regras para o caso de Manatus Brünnich, 1772, especie typo Trichechus manatus Linn., 1758a, localidade typo Antilhas, versus Trichechus Linn., 1758a, monotypo T. manatus; por consequência, o nome Trichechus é applicado ao peixe-boi em vez de ã morsa. Trichechus Linn., 1758a, typo T. manatus, é por este modo collocado na Lista Official de Nomes Genericos. 113. Sarcoptes Latreille, 1802, typo scabiei, collocado na Lista Official. - Sar- coptes Latreille data de 1802, em vez de 1804 ou 1806, como é frequentemente citado. Foi originalmentc monotypico, contendo somente Acarus scabiei. A designação, feita em 1810, do typo de Acarus passerinus é invalida de accordo com o Artigo 30c e 30ea. A acceitação de Acarus scabiei como especie typo de Acarus é invalidada pelo Artigo 30g, donde Acarus siro (syn. farinae ) é o typo de Acarus. Sarcoptes Latr., 1802, typo sca- biei é por este modo collocado na Lista Official de Nomes Genericos. 114. De accordo com a Suspensão, Símia, Símia satyrus e Pithecus são sup- pressos. - De accordo com a Suspensão das Regras os nomes Simia, Simia satyrus, e Pithecus são por este modo suppressos, baseando-se em que sua retenção, de accordo com as Regras, produzirá maior confusão do que uniformidade. 32