ISSN 0365-4508 Nunquam aliud natura, aliud sapienta dicit Juvenal, 14, 321 In silvis academi quoerere rerum, Quamquam Socraticis madet sermonibus Ladisl. Netto, exHor VOL. LXI RIO DE JANEIRO Julho/Setembro 2003 ARQUIVOS DO MUSEU NACIONAL VOLUME 61 NÚMERO 3 JULHO/SETEMBRO 2003 RIO DE JANEIRO Arq. Mus. Nac. Rio de Janeiro v.61 n.3 p. 149-212 jul./set.2003 ISSN 0365-4508 Universidade Federal do Rio de Janeiro Reitor - Aloísio Teixeira Museu Nacional Diretor - Sérgio Alex K. Azevedo Editor Geral - Célia Ricci Editores de Área - Alexander Wilhelm Armin Kellner, Cátia Antunes de Mello Patiu, Ciro Alexandre Ávila, Débora de Oliveira Pires, Gabriel Luiz Figueira Mejdalani, Izabel Cristina Alves Dias, João Alves de Oliveira, Marcus Antônio Rezende Maia, Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira, Miguel Angel Monné Barrios, Paulo Secchin Young, Ulisses Caramaschi, Vânia Gonçalves Lourenço Esteves, Vera Maria Mediria da Fonseca Consultores Científicos - André Pierre Prous-Poirier (Universidade Federal de Minas Gerais), Cigliano Maria Marta (Universidad Nacional La Plata), David G. Reid (The Natural History Museum), David John Nicholas Hind (Royal Botanic Gardens, Kew), Fábio Lang da Silveira (Universidade de São Paulo), François M. Catzeflis (Institut des Sciences de TÉvolution), Gustavo Gabriel Politis (Universidad Nacional dei Centro), John G. Maisey (Americam Museum of Natural History), Jorge Carlos Delia Favera (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), J. Van Remsen (Louisiana State University), Maria Antonieta da Conceição Rodrigues (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Maria Carlota Amaral Paixão Rosa (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Maria Helena Paiva Henriques (Universidade de Coimbra), Miguel Trefaut Rodrigues (Universidade de São Paulo), Miriam Lemle (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Paulo A. D. DeBlasis (Universidade de São Paulo), Philippe Taquet (Museum National d'Histoire Naturelle), Rosana Moreira da Rocha (Universidade Federal do Paraná), Suzanne K. Fish (University of Arizona), W. Ronald Heyer (Smithsonian Institution) Bibliotecária - Vera de Figueiredo Barbosa Diagramação e arte-final - Célia Ricci, Lia Ribeiro Indexação - Biological Abstracts, ISI - Thomson Scientific, UlriclTs International Periodicals Directory, Zoological Record, NISC Colorado, Periódica Tiragem -1000 exemplares Impressão - Gráfica da UFRJ MUSEU NACIONAL - Universidade Federal do Rio de Janeiro Quinta da Boa Vista, São Cristóvão; 20940-040 Rio de Janeiro, RJ - Brasil htpp:// acd.ufrj.br/~museuhp/publ.htm E-mail: mnbib@acd.ufrj.br Arquivos do Museu Nacional - vol.l (1876) - Rio de Janeiro: Museu Nacional. Trimestral Até o v.59, periodicidade irregular ISSN 0365-4508 1. Ciências Naturais - Periódicos. I. Museu Nacional (Brasil). CDD 500.1 jfrjfj} Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.151-164, jul./set.2003 ISSN 0365-4508 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS . 12 (Com 96 figuras) ELSIE FRANKLIN GUIMARAES 1 2 3 CLAUDIA BARBIERI FERREIRA MENDONÇA 3 4 VÂNIA GONÇALVES-ESTEVES 4 5 JORGE FONTELLA PEREIRA 4 5 RESUMO: Este trabalho é parte de um estudo mais amplo sobre a revisão taxonômica de Schultesia Mart. Foram analisados os grãos de pólen de 17 espécies: S. angustifolia Griseb., S. aptera Cham., S. australis Griseb., S. bahiensis E.F.Guim., S. benthaniana Klotzsch., S. brachyptera Cham. & Schltdl., S. crenuliflora Mart., S. doniana Progel, S. gracilis Mart., S. guianensis (Aubl.) Malme var. guianensis, S. guianensis var. latifolia (Mart. ex Progel) E.F.Guim., S. heterophylla Miq., S. lisianthoides (Griseb.) Hemsl., S. minensis E.F.Guim., S. pachyphylla Griseb., S. pohliana Progel e S. sucreana E.F.Guim. O material polínico foi retirado de exsicatas de herbários, tendo sido posteriormente acetolisados, medidos, descritos e ilustrados sob microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura. Os resultados obtidos mostram que os táxons de Schultesia estudados possuem grãos de pólen médios ou grandes reunidos em tétrades tetraédricas, calimadas, de tamanho médio ou grande, de contorno subtriangular, 3-hemicolporadas ou 3-anaporadas (apenas em S. pachyphylla), sexina heterobrocada. Os grãos de pólen formadores das tétrades são médios ou grandes, triangulares quando o conjunto é observado em vista lateral. As aberturas (cólporos) são melhor observadas quando a tétrade se encontra em vista lateral; cada grão de pólen possui 3 hemicolpos que, na maioria das espécies, são circundados por margem ampla, côncava, com margem pequena em S. heterophylla ou sem margem em S. lisianthoides, S. sucreana. Quando porados (S. pachyphylla), os três poros ficam localizados no polo distai (anaporados). Pode- se concluir que os grãos de pólen das espécies de Schultesia apresentaram certa semelhança mostrando ser um gênero palinologicamente homogêneo. Apenas as tétrades de S. pachyphylla foram diferentes pela presença de poros no pólo distai e retículo com outro tipo de organização. As demais espécies foram agrupadas segundo a presença ou a ausência de margem na abertura. Palavras-chave: Palinotaxonomia, Schultesia, Gentianaceae. ABSTRACT: Palynotaxonomy of the species of the Schultesia mart. Gentianaceae Juss. This work is part of a more comprehensive study of taxonomic review of Schultesia Mart. Pollen grains of 17 species have been analyzed: S. angustifolia Griseb., S. aptera Cham., S. australis Griseb., S. bahiensis E.F.Guim., S. benthaniana Klotzsch., S. brachyptera Cham & Schltdl., S. crenuliflora Mart., S. doniana Progel, S. gracilis Mart., S. guianensis (Aubl.) Malme var. guianensis, S. guianensis var. latifolia (Mart ex Progel) E.F.Guim., S. heterophylla Miq., S. lisianthoides (Griseb) Hemsl., S. minensis E.F.Guim., S. pachyphylla Griseb., S. pohliana Progel and S. sucreana E.F.Guim. Polliniferous material was obtained from herbaria, it was acetolized, measured, described and illustrated by light microscopy and scanning light electronic microscopy. The results reveal that the taxa of Schultesia, which have been studied have pollen grains médium or large size in tetrahedral tetrads, médium or large, calymnate, with an sub¬ triangular outline, 3-hemicolporate or 3-anaporate (only in S. pachyphylla), heterobrochate sexine. The pollen grains, which form the tetrads, are médium or large, triangular when the entire group is observed by side view. The apertures (colporate) are better observed when the tetrad is in side view, each pollen grain has 3-hemicolpi, which in most species are surrounded, by a broad concave psilate margo, small in S. heterophylla or without it in S. lisianthoides and S. sucreana. When there are pores (S. pachyphylla), they are located in the distai pole (anaporate). It can be concluded that pollen grains of Schultesia species presented some similarity among them indicating that the genus is palynologically homogeneous. Only in S. pachyphylla the tetrads were different because there are pores in the distai pole and the reticulum has another type of organization. The other species were grouped on the presence or absence of an apertural margo. Key words: Palinotaxonomy, Schultesia, Gentianaceae. 1 Submetido em 06 de maio de 2002. Aceito em 09 de setembro de 2002. 2 Parte da Tese de Doutorado de E.F.Guimarães. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Botânica, Museu Nacional/UFRJ. 3 Museu Nacional/UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Botânica. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Botânica. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 5 E-mail: vesteves@acd.ufrj.br. 152 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, V.GONÇALVES-ESTEVES & J.F.PEREIRA INTRODUÇÃO A família Gentianaceae Juss. pertence à suciasse Asteridae, ordem Gentianales (CRONQUIST, 1981), possui ca. 75 gêneros, aproximadamente 1100 espécies com distribuição nas regiões temperada, subtropical e tropical. O gênero Schultesia Mart. possui 20 espécies e duas variedades, todas de hábito herbáceo e são encontradas nas Américas, África e Madagascar. As primeiras referências às características dos grãos de pólen do gênero surgiram no trabalho de HUMBOLDT, BONPLAND & KUNTH (1819) que trataram de Erythraea jorullensis H.B.K., atualmente Schultesia guianensis (Aubl.) Malme e mencionaram apenas que a espécie apresentava “polline flavido”. MARTIUS (1827) descreveu, superficialmente, os grãos de pólen de três espécies (Schultesia gracilis Mart., S. stenophylla Mart. e S. crenuliflora Mart.) e resumiu as características polínicas na diagnose do gênero, acrescentando, ainda, que as espécies eram providas de grande quantidade de grãos de pólen. GRISEBACH (1836, 1839) estudou as Gentianaceae, descrevendo os grãos de pólen, de forma sucinta, nas sete tribos do seu sistema, colocando Schultesia na tribo II Chloreae Griseb., por conter “pólen simples, 3-costado ou 3-4-globoso”. PROGEL (1865) tratou da palinologia da família descrevendo o grão de pólen Schultesia como “trigloboso”. GILG (1895) tratou da taxonomia do grupo considerando os grãos de pólen como caráter importante e definitivo para dividir as Gentianaceae em duas subfamílias: Gentianoideae e Menyanthoideae. A primeira caracterizada por conter grãos de pólen em mônades ou tétrades, arredondados, oblongos, ovóides e a segunda, por apresentar-se palinologicamente distinta, foi atualmente desmembrada das Gentianaceae e passou a constituir uma família independente, Menyanthaceae Durmotier nom. conserv. (CRONQUIST, 1981). LOEFGREN (1917) traduziu a chave analítica de GILG (1895) para as tribos e gêneros das Gentianaceae e Schultesia ficou inserido na tribo Helieae (Mart.) Gilg por apresentar os grãos de pólen em tétrades com exina finamente verrucosa, com verrugas dispostas em fileiras. WAGENITZ (1964) concordando com GILG (1895) sobre a importância da palinologia na taxonomia da família Gentianaceae, utilizou os grãos de pólen como caráter básico para a divisão das tribos. ELIAS & ROBYNS (1975), quando estudaram as espécies de Gentianaceae do Panamá, descreveram o pólen de Schultesia com base em S. guianensis (Aubl.) Malme, S. heterophylla Miq. e S. lisianthoides (Griseb.) Hemsl. Diferentes tipos polínicos foram descritos por NILSSON (1970) ao estudar a palinotaxonomia de Gentianaceae com objetivo de delimitar Lisianthus s.l. e as possíveis relações deste com outros gêneros da família. O autor descreveu 15 tipos polínicos de algumas espécies subordinadas a diferentes gêneros. MAGUIRE (1981), em seu estudo sobre a taxonomia do gênero, ilustrou Schultesia guianensis com fotografias em microscopia eletrônica de varredura, sem, no entanto, descrever os grãos de pólen das quatro espécies de Schultesia citadas para a região. MAKINO (1991) estudou os grãos de pólen das espécies ocorrentes no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, SP, caracterizando os de três espécies dos gêneros Centaurium Hill., Irlbachia Mart. e Schultesia (Gentianaceae). ROUBIK 85 MORENO (1991), tratando da flora do Barro Colorado, descreveram os grãos de pólen de seis espécies de Gentianaceae e, dentre elas, Schultesia lisianthoides. O presente trabalho é parte de um estudo mais abrangente sobre a revisão taxonômica de Schultesia e, assim procurou-se analisar os grãos de pólen de 17 táxons. Com os resultados obtidos pretende-se caracterizar morfopolinicamente Schultesia objetivando oferecer maiores informações sobre o gênero e, deste modo, subsidiar a resolução dos problemas taxonômicos, bem como, auxiliar a Paleopalinologia, Aeropalinologia, a Melissopalinologia e a Biologia da reprodução. MATERIAL E MÉTODOS O material botânico utilizado foi proveniente de coletas realizadas no Brasil e em outros países. Foram retiradas anteras férteis de flores em antese e/ou botões florais bem desenvolvidos de exsicatas depositadas nos seguintes Herbários, indicados, de acordo com HOLMGREN, HOLMGREN 8 s BAINETT (1990), pelas siglas ALCB, CEN, HRB, HUEFS, IPA, MBM, NY, PACA, R, RB, S, SP, TEPB, UB, UC, UPCB. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 153 Sempre que possível procurou-se analisar as tétrades de três espécimens de um mesmo táxon sendo um destes escolhido como padrão (indicado no material examinado por um asterisco), para as mensurações, descrições e ilustrações polínicas. Para o estudo em microscópio de luz, o material polínico foi preparado segundo o método acetolítico de ERTDMAN (1952), enquanto que para a obtenção das eletromicrografias em microscopia eletrônica de varredura (Zeiss DSM 960) utilizou-se material polínico não acetolisado, espalhado sobre “stubs” previamente recobertos por fita de carbono dupla-face e, em seguida, recoberto por uma fina camada de ouro paládio (ca. três minutos). Do material padrão foram mensurados vinte e cinco grãos de pólen em tétrades, em vista apical: (DJ diâmetro 1 da tétrade; (DJ diâmetro 2 da tétrade. Todas as medidas dos diâmetros da tétrade tanto em vista apical quanto em vista lateral seguiram o preconizado por MODESTO & MELHEM (1982). Tratamentos estatísticos foram efetuados calculando-se a média aritmética (x ), o desvio padrão da amostra (s), o desvio padrão da média (s x - ), o coeficiente de variabilidade (CV%) e o intervalo de confiança a 95% (VIEIRA, 1981). Para as medidas dos demais caracteres: vista lateral da tétrade, diâmetro equatorial em vista polar do grão de pólen formador da tétrade (DEVP), lado do apocolpo (LA), aberturas, exina, diâmetros dos grãos de pólen e das tétrades dos materiais de comparação, foi calculada a média aritmética de dez medidas. A terminologia adotada e as descrições polínicas seguiram os critérios de PUNT et al. (1999), levando-se em consideração o tamanho, a forma, o número de aberturas e o padrão de ornamentação da sexina; a denominação da área polar e o tamanho da abertura estão de acordo com a classificação estabelecida por FAEGRI & IVERSEN (1966) para o índice da área polar. Material examinado Schultesia angustifolia Griseb. BRASIL - BAHIA: basin of the upper S. Francisco River 43°13’W, 13° 10’S, 18/IV/1980, Harley e outros, 21482 (RB); MARANHÃO: Loreto, Ilha de Balsas, 19/ IV/1962, Eiten e Eiten 4333 (SP); PIAUÍ: 1883, Neto 47 (R)*. S. aptera Cham. BRASIL - SÃO PAULO: Pouso Alegre, 10/1/1908, Luederwaldt 266 (SP)*; Butantã, 28/111/1919, Hoehne 3123 (SP). S. australis Griseb. BRASIL-PARANÁ: São Mateus do Sul, Vila SanfAna, 8/11/1966, Hatschbach e outros. 13776 (MBM); Tabatinga, 7/IV/1958, Hatschbach 4518 (UPCB); RIO GRANDE DO SUL: Lagoa dos Quadros, P.Torres, 21/11/1950, Rambo s.n. (PACA)*. S. bahiensis E.F.Guim. BRASIL-BAHIA: Mucugê, ao longo Rio Preto, 9/XI/1988, Kral 75746 e Wanderley 1637 (RB, SP)*; Mucugê, 3/XII/1986, Arouck e outros 411 (RB). S. benthamiana Klotzsch. BRASIL - BAHIA: Formosa, 18/IV/1989, Mendonça e outros 1426 (SP)*; RORAIMA: Fazenda Quixabeira, 15/X/1977, Coradin e Cordeiro 690 (CEN). S. brachyptera Cham. & Schltdl. BRASIL - BAHIA: Mucuri, Nova Viçosa, 20/V/1980, Mattos Silva e outros 774 (RB)*; MARANHÃO: Perizes, 6/VII/ 1954, Black e outros 54-16570 (IPA). S. crenuliflora Mart. BRASIL - BAHIA: Mucugê, Guiné, 27/X/1997, Ferreira e Veronesse 1207 (HRB)*; Palmeiras, Pai Inácio, 19/XI/1983, Queiroz 771 (HUEFS). S. doniana Progel. BRASIL - ALAGOAS: Maceió, Cavalo Russo, 21/VIII/1987, Lyra-Lemos e outros s.n. (MAC); PIAUÍ: 26/VI/ 1999, Alencar e outros 651 (TEPB). S. gracilis Mart. BRASIL - MINAS GERAIS: Conselheiro Mata, 26/IV/2000, Guimarães M- 27 (RB); Gouveia, Roda D’Água, 26/IV/2000, Brandão 29408 (RB); SÃO PAULO: Santa Rita do Passa Quatro, 2/V/1948, Brade e Araújo 18922 (RB)*. S. guianensis (Aubl.) Malme var. guianensis. BRASIL - GOIÁS: Pirenópolis, 17/IV/1998, Guimarães e outros G1641 (RB)*; MINAS GERAIS: Santana do Riacho km 107, 25/IV/2000, Guimarães M-1668 (RB); PERNAMBUCO: Dois Irmãos, 26/X/1998, Costa e Silva 1542 (RB). S. guianenses var. latifolia (Mart. ex Progel) E.F.Guim. BRASIL - RIO DE JANEIRO: Carapebus, 2/X/1999, Guimarães RJ-1659 e Miguel 529 (RB); SÃO PAULO: Estrada Rio Santos, 22/VII/1964, Hoehne 5799 (SP)*. S. heterophylla Miq. BRASIL - MINAS GERAIS: Ituiutaba, 18/11/1949, Macedo 1693 (RB)*; MATO GROSSO DO SUL: Corumbá, 29/IV/ 1996, Pott 3153 (UPCB); PARAGUAI: Sierra de Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 154 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, Y. GONÇALVES-ES TEVES & J.EPEREIRA Amambay, 1.1907-1908, Hassler 10865 (RB). S. lisianthoides (Griseb.) Hemsl. HONDURAS: All Pines, 15/111/1931, Schipp 743 (S); PANAMÁ - Los Santos, 24/XII/1966, Burch e outros, 1227 (UC); VENEZUELA - San Juan de los Morros, 3/1/1939, Alston 6032 (NY)*. S. minensis E.F.Guim. BRASIL - MINAS GERAIS: Diamantina, near Rio Jequeti, 15/111/1970, Irwin e outros, 27561 (UB). S. pachyphylla Griseb. BRASIL - BAHIA: Serra do Sincorá, Rio Cumbuca, 3km S of Mucugê, 4/ 11/1974, Harley 15915 (RB)*; Abaira, Distrito de Catolés, Serra da Brenha, 4/IV/1991, Ganev 42 (HUEFS); Rio das Contas, Pico das Almas, 24/ III/1996, Batista e outros 3814 (ALCB). S. pohliana Progel. VENEZUELA - Orinoco: along road from Sanariapo to Puerto Ayacucho, 11 /XI/ 1953, Maguire e outros, 36145 (NY); BRASIL - MATO GROSSO: Serra do Roncador, 60km from Xavantina, 6/VI/1966, Hunt 5828 (SP)*. S. sucreana E.F.Guim. BRASIL-PIAUÍ: Piracuruca, Sete Cidades, 8/X/1973, Sucre 10325 (RB)*. RESULTADOS Os táxons de Schultesia estudados apresentaram grãos de pólen em tétrades tetraédricas (Figs.l, 9, 25, 43), de tamanho médio a grande (Tab.l), calimadas, de contorno subtriangular (Figs.33, 89, 93), 3-hemicolporadas ou 3-anaporadas (apenas em S. pachyphylla), sexina heterobrocada. As tétrades podem ser encontradas em três posições: vista apical (Figs.33, 55, 65), vista basal (Figs.l, 43, 73) e vista lateral (Figs.5, 28, 62, 75). Os grãos de pólen formadores das tétrades são médios ou grandes (Tab.2), triangulares quando o conjunto é observado em vista lateral (Figs.7, 19, 68). As aberturas (cólporos) são melhor observadas TABELA 1 Medidas (em pm) dos diâmetros I e II das tétrades de espécies de Schultesia (n= 25) ESPÉCIES Faixa de Variação Diâmetro I X ± Sx s CV % I.C. 95% Faixa de Variação Diâmetro II x ± ££ s CV % I.C. 95% S. angustifolia 70,0-77,2 73,3+0,3 1,5 2,0 72,7-73,9 75,0-82,5 77,8±0,4 2,1 2,7 77,9-78,6 S. aptera 65,0-71,2 69,4+0,4 1,9 2,7 68,6-70,2 71,2-75,0 72,9+0,2 1,2 1,7 72,4-73,4 S. australis 65,0-67,5 66,3+0,2 1,1 1,5 65,9-66,7 66,2-71,2 68,6+0,3 1,4 2,1 68,0-69,2 S. bahiensis 68,7-75,0 71,3+0,3 1,5 2,1 70,7-71,9 70,0-75,0 72,8+0,3 1,8 2,5 72,1-73,6 S. benthaniana 72,5-77,5 74,2+0,3 1,8 2,4 73,4-74,9 72,5-77,5 74,7+0,4 1,9 2,5 73,9-75,5 S. brachyptera 62,5-70,0 66,2+0,4 2,0 3,0 65,4-67,0 67,5-72,5 69,7+0,3 1,4 2,1 69,1,70,3 S. crenuliflora 60,0-70,0 65,1+0,4 2,1 3,2 64,3-66,0 65,0-70,0 68,9+0,3 1,8 2,6 68,2-69,7 S. doniana 58,7-62,5 61,3+0,2 1,2 2,0 60,8-61,8 63,7-67,5 65,4+0,2 1,0 1,5 64,9-65,8 S. gracilis 70,0-73,7 71,3+0,2 1,3 1,8 70,8-71,8 71,2-75,0 73,4±0,2 1,3 1,8 72,9-73,9 S guianensisvetr ■ gukmensis 61,2-66,2 63,2+0,3 1,4 2,2 62,6-63,8 60,0-67,5 65,2+0,4 2,0 3,0 64,3-66,0 S. guianensis var. latifolia 67,5-73,7 69,8+0,4 2,0 2,8 69,0-70,6 72,5-80,0 74,8±0,4 2,3 3,1 73,9-75,7 S. heterophylla 60,0-72,5 66,1+0,7 3,4 5,2 64,7-67,5 65,0-72,5 68,4+0,5 2,5 3,6 67,3-69,4 S. lisianthoides 41,2-45,0 42,4+0,2 1,2 2,6 41,9-42,9 40,0-45,0 42,8±0,2 1,2 2,8 42,3-43,3 S. minensis 68,7-72,5 70,4+0,2 1,4 1,9 69,8-70,9 73,7-80,0 77,1+0,3 1,7 2,2 76,4-77,8 S. pachyphylla 77,5-85,0 80,1+0,4 2,0 2,5 79,4-81,0 75,0-87,5 79,4±0,4 2,4 3,0 78,4-80,4 S. pohliana 68,7-75,0 72,7±0,3 1,7 2,4 71,9-73,4 77,5-85,0 80,5±0,4 2,0 2,5 79,7-81,4 S. sucreana 37,5-40,0 38,7±0,2 0,9 2,4 38,3-39,1 38,7-41,2 39,7+0,1 0,6 1,5 39,5-39,9 (x) média aritmética; (S-) desvio-padrão da média, (s) desvio-padrão da amostra; (CV) coeficiente de variabilidade; (I.C.) intervalo de confiança. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 155 TABELA 2 Medidas (em pm) dos grãos de pólen das tétrades de espécies de Schultesia: vista polar (diâmetro equatorial e lado do apocolpo) e vista lateral (n=10) Espécies Diâmetro Equatorial Faixa de variação x Lado do Apocolpo Faixa de variação x IAP Vista lateral Faixa de variação X S. angustifolia 42,5-45,0 44,3 13,7-15,0 14,2 0,32 77,5-82,5 80,4 S. aptera 40,0-45,5 42,9 16,2-18,7 16,9 0,39 66,2-90,0 88,3 S. australis 38,7-42,5 40,7 20,0-22,5 20,8 0,51 67,5-72,5 69,8 S. bahiensis 41,2-46,2 44,1 22,5-25,0 22,9 0,51 72,5-80,0 76,6 S. benthaniana 45,0-50,0 48,1 25,0-27,5 25,6 0,53 77,5-80,0 78,9 S. brachyptera 40,0-45,0 43,1 17,5-20,0 18,7 0,43 70,0-77,5 71,8 S. crenuliflora 38,7-43,7 41,0 25,0-30,0 26,6 0,64 70,0-75,0 73,5 S. doniana 37,5-41,2 39,2 17,5-22,5 20,4 0,52 65,0-67,5 66,8 S. gracilis 46,2-50,0 48,8 22,5-26,2 24,2 0,49 77,5-82,5 80,4 S. guianensis var. latifolia 42,5-50,0 46,6 25,0-27,5 26,0 0,55 80,0-86,2 82,4 S. guianensis var. guianensis 37,5-42,5 39,8 22,5-25,0 23,8 0,59 65,0-67,5 66,0 S. heterophylla 38,7-42,5 40,7 23,7-27,5 26,1 0,64 75,0-81,2 78,3 S. lisianthoides 25,0-30,0 27,7 15,0-16,2 15,6 0,56 42,5-45,0 43,6 S. minensis 42,5-47,5 45,2 25,0-27,5 26,2 0,57 77,5-81,2 80,5 S. pachyphylla 50,0-56,2 53,5 11,2-12,5 12,0 0,22 77,5-81,2 79,3 S. pohliana 42,5-50,0 47,1 17,5-20,0 18,4 0,39 78,7-85,0 82,5 S. sucreana 25,0-27,5 26,2 12,5-15,0 14,2 0,54 40,0-45,0 41,6 (IAP) índice da área polar; (x) média aritmética. quando a tétrade se encontra em vista lateral; cada grão de pólen possui 3 hemicolpos e 3 endoaberturas que, na maioria das espécies, são circundadas por margem ampla, côncava (Figs.7, 28, 88), por margem pequena em S. heterophylla (Fig.63) ou sem margem em S. lisianthoides, S. sucreana (Figs.71, 94); os colpos são curtos, de difícil mensuração na maioria dos táxons, com endoabertura lolongada, lalongada em S. guianenses var. latifolia, S. heterophylla e S. lisianthoides ou circular apenas em S. doniana (Tab.3). Quando porados (S. pachyphylla) , os três poros (Fig.78) ficam localizados no polo distai (anaporados). A exina é constituída por retículos amplos, lúmens de contorno irregular, ornamentados em S. australis, S. brachyptera, S. doniana, S. guianensis var. guianensis, S. lisianthoides, S. pachyphylla e S. sucreana (Figs.l, 29, 40, 52, 66, 83) ou sem ornamentação; muros sinuosos, retos em S. benthamiana, S. guianensis var. guianensis e S. guianensis var. latifolia, estreitos. Nos pontos de interseção dos muros as columelas são maiores lembrando exina retipilada o que também foi observado em MEV (Fig.6). Em S. lisianthoides e S. sucreana o tamanho das malhas é consideravelmente menor na região de interseção dos grãos de pólen; em S. pachyphylla esta região é bem delimitada, profunda e escabrada, o retículo tem lúmens alongados, com organização semelhante a estria formando um “anel” de ornamentação ficando a área apertural psilada, numa depressão (Figs. 80, 81, 84). A sexina mostrou-se mais espessa que a nexina em todos os táxons estudados (Tab.3). Durante o tratamento acetolítico alguns muros quebraram-se dando a impressão de que a exina apresentava elementos isolados (Fig.63). Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 156 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, Y.GONÇALYES-ESTEYES & J.F.PEREIRA Schultesia sucreana e S. lisianthoides foram os táxons que apresentaram os menores valores do intervalo de confiança enquanto S. pachyphylla apresentou os maiores (Tab.l). As tétrades dos espécimens usados como comparação dos respectivos materiais padrões mantiveram-se, na maioria, dentro das faixas de variação e/ou dos limites do intervalo de confiança (Tab.4). Apenas as tétrades dos materiais de comparação de S. brachyptera e S. doniana não se enquadraram nos valores do material padrão. Em alguns casos, apenas um dos diâmetros da tétrade ficou fora dos limites encontrados no material padrão (S. angustifolia, S. crenuliflora, S. gracilis, S. guianensis var. latifolia e S. lisianthoides) . Em S. sucreana, não foram encontrados outros espécimens férteis para se estabelecer a comparação dos resultados. Os resultados encontrados podem ser sumariados conforme abaixo apresentados: Tipo 1- grãos de pólen 3-anaporados, lúmens do retículo organizados como estrias • S. pachyphylla Tipo 2- grãos de pólen 3-hemicolporados, lúmens do retículo de forma variável mas não em estrias. • com margem - margem ampla - margem pequena • sem margem psilada maioria dos táxons maioria dos táxons S. heterophylla S. lisianthoides, S. sucreana TABELA 3 Média (em fim) da medidas das aberturas e das camadas da exina dos grãos de pólen de espécies de Schultesia (n= 10) Espécies Colpo compr. larg. Endoabertura compr. larg. Margem espessura exina total Exina sexina n exina S. angustifolia 15,1 10,4 7,5 5,4 4,0 4,8 3,7 1,1 S. aptera 17,5 10,7 8,0 7,7 5,0 4,6 3,4 1,2 S. australis 10,0 3,0 5,1 4,8 4,8 5,2 4,2 1,0 S. bahiensis - - 7,0 5,2 4,5 5,2 4,1 1,1 S. benthaniana 6,6 6,2 5,2 5,0 5,0 5,8 4,8 1,0 S. brachyptera - - 5,1 4,7 4,7 5,3 4,3 1,0 S. crenuliflora 12,5 10,0 7,0 5,5 5,5 4,2 3,2 1,0 S. doniana - - 6,0 6,0 5,0 5,5 4,5 1,0 S. gracilis - - 7,0 5,2 5,2 4,9 3,9 1,0 S. guianensis var. guianensis - - 8,7 7,2 4,4 4,6 3,8 0,8 S. guianensis var. latifolia 10,6 4,0 4,4 6,7 4,5 5,4 4,2 1,2 S. heterophylla - - 4,7 5,7 4,0 5,6 4,2 1,4 S. lisianthoides 10,5 3,3 4,8 5,8 - 2,3 1,4 0,9 S. minensis - - 9,0 5,2 4,6 5,3 4,3 1,0 S. pachyphylla - - 7,9 8,0 1,1 5,9 4,5 1,4 S. pohliana 17,5 7,6 11,2 8,2 4,5 5,9 4,3 1,6 S. sucreana - - - - - 2,8 1,9 0,9 (compr.) comprimento, (larg.) largura. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 157 TABELA 4 Médias (em fim) dos diâmetros I e II (Dl e DII) das tétrades e do grão de pólen do material de comparação de espécies de Schultesia (n=10) Espécies S. angustifolia Eilen 4333 Harley 21482 S. aptera Hoehne3123 Luederwaldt 266 S. australis Hatschbach 13776 Maguire 3318 S. bahiensis Arouck 411 Kral 75646 S. benthaniana Coradin 690 S. brachyptera Black 54 S. crenuliflora Queiroz 771 S. doniana Alencar 651 Lyra-Lemos S. graciiis Brandão 29408 Guimarães M-27 S. guianensis var. guianensis Melo 2002 Costa e Silva 1542 S. guianensis var. latifolia Guimarães S9 Guimarães 1654 S. heterophylla Pott 3153 Hassler 10865 S. lisianthoides Schipp 743 S. pachyphylla Guedes 3814 S. pohliana Maguire 36013 Dl DII DEVP Lado do Apocolpo 73,0 78,7 43,6 13,9 71,3 74,2 43,3 13,8 71,1 74,2 44,3 17,2 70,8 74,7 42,2 16,8 66,5 69,3 41,8 20,9 66,6 69,5 44,1 20,7 73,0 71,1 44,1 22,8 70,8 72,9 44,2 23,7 72,7 75,2 46,4 26,0 76,0 77,7 50,6 18,8 67,0 72,7 45,0 26,6 65,5 70,6 41,6 20,4 66,0 69,4 42,6 18,9 72,9 76,5 44,2 23,0 72,5 75,0 45,2 21,5 63,5 64,5 44,2 23,7 63,2 65,5 43,8 18,8 72,7 76,6 43,5 22,5 74,5 79,7 49,2 27,7 63,6 66,8 40,0 15,0 63,0 66,2 41,4 17,0 43,6 45,5 30,7 8,8 79,6 84,1 56,2 11,7 71,9 78,8 47,0 18,4 (DEVP) diâmetro equatorial em vista polar. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.151-164, jul./set.2003 158 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, V.GONÇALVES-ESTEVES & J.EPEREIRA Fotomicrografias das tétrades de Schultesia. S. angustifolia: fig. 1- vista apical, corte óptico; figs.2-3- vista lateral mostrando a área apertural psilada; fig.4- detalhe da superfície. S. aptera: fig.5- corte óptico, vista lateral; figs.6-7- análise de L.O, vista lateral; fig.8- detalhe da estrutura evidenciando as camadas da exina. S. australis : fig.9- vista basal, em corte óptico; fig. 10- vista apical; fig. 11- detalhe da superfície; figs. 12-15- vista lateral mostrando a área apertural psilada. S. bahiensis: fig. 16- vista apical; fig. 17- vista basal; fig. 18- tétrade quase em vista basal evidenciando a área apertural psilada; fig. 19- vista lateral; fig.20- detalhe da superfície. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 159 e '*'* v * ▲. gr' - « '.r 3\ | /Jg 10j.im* > fl* 24 Fotomicrografias das tétrades de Schultesia. S. benthaniana : fig.21- vista apical; figs.22-23- vista lateral evidenciando a área apertural psilada. S. brachyptera: fig.24- vista basal, corte óptico; fig.25- vista apical; figs.26-28- vista lateral evidenciando a área apertural psilada; fig.29- detalhe da superfície. S. crenuliflora: fig.30- vista apical; fig.31-32- vista lateral evidenciando a área apertural psilada. S. doniana: fig.33- corte óptico, vista apical; figs.34-35- análise de L.O., vista apical; fig.36- superfície, vista apical; fig.37- detalhe do ponto de contacto entre três grãos de pólen formadores da tétrade; figs.38-39- vista lateral evidenciando a área apertural psilada; fig.40- detalhe da superfície. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 160 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, Y. GONÇALVES-ES TEVES & J.EPEREIRA Fotomicrografias das tétrades de Schultesia. S. gracilis: figs.41-42- vista apical; fig.43- vista basal; fig.44- corte óptico, vista lateral; figs.45-46- análise de L.O., vista lateral; fig.47- vista lateral evidenciando a área apertural psilada. S. guianensis var. guianensis: fig.48- vista apical evidenciando a área apertural psilada; fig.49- corte óptico, vista lateral; figs.50-51- análise de L.O., vista lateral; fig.52- detalhe da superfície e da área apertural psilada. S. guianensis var. latifolia: fig.53- corte óptico, vista apical; figs.54-55- análise de L.O, vista apical; fig.56- superfície, vista apical; fig.57- vista basal mostrando a interseção entre os grãos de pólen formadores da tétrade; figs.58-59- vista lateral evidenciando a área apertural psilada; fig.60- detalhe da superfície. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 161 Fotomicrografias das tétrades de Schultesia. S. heterophylla: fig.61- vista basal, corte óptico; fig.62- corte óptico, vista lateral; fig.63-64- análise de L.O, evidenciando a área apertural psilada pequena, vista lateral. S. lisianthoides: fig.65- vista apical; fig.66- detalhe da superfície na vista apical, região do apocolpo; fig.67- vista basal evidenciando a região de união dos grãos de pólen; fig.68- corte óptico, vista lateral; figs.69-70- análise de L.O., vista lateral; fig.71- superfície, evidenciando a ausência de área apertural psilada, vista lateral. S. minensis: fig.72- corte óptico, vista basal; figs.73-74- análise de L.O., vista basal; fig.75- vista lateral evidenciando a área apertural psilada; fig.76- detalhe da superfície. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 151-164, jul./set.2003 162 E.F.GUIMARAES, C.B.EMENDONÇA, V.GONÇALVES-ESTEVES & J.EPEREIRA Fotomicrografias das tétrades de Schultesia. S. pachyphylla : fig.77- corte óptico, vista apical; figs.78-79- grão de pólen evidenciando os 3 poros no polo distai, vista apical; fig.80- vista basal mostrando a região bem delimitada de união dos grãos de pólen; fig.81- detalhe de um dos pólens formadores da tétrade mostrando a área apertural; figs.82-83- detalhe da região de união entre os grãos de pólen; fig.84- vista lateral mostrando os grãos de pólen da tétrade. S. pohliana: fig.85- detalhe da vista basal na região de união dos grãos de pólen; fig.86- corte óptico, vista lateral; figs.87-88- detalhe da área apertural psilada, vista lateral. S. sucreana. fig.89- vista apical, corte óptico; figs.90-92- análise de L.O., vista apical, corte óptico; fig.93- vista basal, corte óptico; fig.94- corte óptico, vista lateral; figs.95-96- superfície e ausência de área apertural psilada, vista lateral. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.151-164, jul./set.2003 PALINOTAXONOMIA DE ESPÉCIES DE SCHULTESIA MART. GENTIANACEAE JUSS. 163 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Foram poucos os trabalhos que trataram de espécies brasileiras de Schultesia e, na sua maioria, apresentaram dados muito superficiais. Estudos como os de GILG (1895), LOEFGREN (1917), WAGENITZ (1964) e MAGUIRE (1981) servem para evidenciar a importância da palinologia na taxonomia de Gentianaceae, pois esses autores utilizaram as características polínicas para a divisão da família em subfamílias e tribos. No presente estudo foram analisados, palinologicamente, 17 táxons coletados em diversas regiões brasileiras e estrangeiras. Todos os táxons foram caracterizados por possuírem os grãos de pólen reunidos em tétrades calimadas. As diferenças observadas foram na ornamentação, na presença ou não de área apertural nítida e a ocorrência de tétrades anaporadas apenas em S. pachyphylla. ELIAS & ROBYNS (1975) estudaram taxonômica e palinologicamente quatro espécies de Schultesia do Panamá. Nesse trabalho, os autores descreveram os grãos de pólen de S. guianensis, S. heterophylla e S. lisianthoides como tétrades tetraédricas e comentaram, ainda, a similaridade de Schultesia com Coutoubea Aubl. (C. spicata Aubl.), que apresentavam grãos de pólen também em tétrades tetraédricas. ELIAS & ROBYNS (1975) consideraram que em S. guianensis a exina possuía columelas consideravelmente conspícuas, que em S. heterophylla as tétrades eram romboidais e que em S. lisianthoides os pólens diferiam, consistentemente, daqueles das demais espécies por apresentarem tétrades pequenas e um padrão reticulado mais fino. Os grãos de pólen destas espécies foram analisados no presente estudo e não foram observadas as diferenças assinaladas para S. guianensis e S. heterophylla, porém S. lisianthoides e S. sucreana apresentaram os menores valores do intervalo de confiança. MAKINO (1991) descreveu as tétrades de Schultesia gracilis e os resultados encontrados pela autora também foram observados neste estudo, exceto no que se refere à posição das aberturas que, segundo MAKINO (1991), está em vista apical. ROUBIK & MORENO (1991) estudaram os grãos de pólen de espécies de Gentianaceae, da flora do Barro Colorado e, dentre elas, apenas Schultesia lisianthoides faz parte do presente estudo. Confrontando as informações aqui encontradas com as dos autores, pode-se concluir que as características foram muito semelhantes, divergindo apenas na ornamentação da sexina que, para os autores, é intectada, baculada. Com base nos resultados encontrados e o confronto com os da bibliografia citada, pôde-se concluir que os grãos de pólen das espécies de Schultesia apresentaram certa semelhança mostrando ser um gênero palinologicamente homogêneo. Apenas as tétrades de S. pachyphylla foram diferentes pela presença de poros no pólo distai e retículo alongado, com organização semelhante a estria formando um “anel”. As demais espécies diferiram pela presença ou ausência de margem na abertura. AGRADECIMENTOS Ao Departamento de Metalurgia da Pontifícia Universidade Católica - Rio de Janeiro (PUC-Rio), na pessoa da técnica M.Sc. Maria de Fátima Silva Lopes (in memorian ), pelo uso do microscópio eletrônico de varredura e pela boa vontade sempre demonstrada. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio a E.F.Guimarães, V.Gonçalves-Esteves e J.Fontella Pereira, através de Bolsa de Produtividade; à Coordenação de Apoio ao Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela Bolsa de Doutorado concedida a C.B.F.Mendonça; à Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) (Proc. n° E-26/172.045/1999), pelo auxílio concedido ao laboratório de Palinologia do Museu Nacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRONQUIST, A., 1981 - An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University Press. 1262p. ELIAS, S.T. & ROBYNS, A., 1975 - Gentianaceae. In: WOODSON JR., R.E. & SCHERY, R.W. (Eds.) Flora of Panamã. Annals of the Missouri Botanical Garden, St. Louis, 62:61-101. ERDTMAN, G., 1952 - Pollen morphology and plant taxonomy - Angiosperms. Stockholm: Almqvisit & Wiksell. 539p. 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SEREJO 3 ABSTRACT: Monoliropus enodis sp.nov. is described based on specimens collected from Guanabara Bay, Brazil. It can be distinguished from the other species of the genus mainly by the totally smooth body and a distai pointed process on article 3 of maxilliped palp. This new species represents a new record of this genus for the Atlantic Ocean. A key and geographic distribution of Monoliropus species are provided. Key words: Monoliropus, new species, Brazil, Protellidae. RESUMO: Nova espécie de Monoliropus Mayer, 1903 (Amphipoda, Protellidae) da Baía de Guanabara, RJ, Brasil. Monoliropus enodis sp.nov. é descrita com base em espécimes proveniente da Baía de Guanabara, Brasil. Diferenciada das outras espécies do gênero principalmente por apresentar o corpo totalmente liso e um processo distai no artículo 3 do palpo do maxilípede. Esta nova espécie representa um novo registro desse gênero para o oceano Atlântico. Uma chave de identificação e a distribuição geográfica das espécies de Monoliropus são apresentadas. Palavras-chave: Monoliropus, espécie nova, Brasil, Protellidae. INTRODUCTION The genus Monoliropus Mayer, 1903 comprises three species: M. agilis Mayer, 1903, M. falcimanus Mayer, 1904, and M. tener Arimoto, 1968. The distribution of Monoliropus, based mainly on records of original descriptions, were restricted to the Indo-Pacific (MAYER, 1903; 1904; ARIMOTO; 1968; 1976). Monoliropus was described initially as a monotypic genus within Caprellidae (MAYER, 1903). LAUBITZ (1993) revised the Caprellidea classification, dividing this taxon in eight families; Monoliropus was allocated within the Protellidae. Fourteen species of caprellids distributed in six genera within five families are known from the Brazilian fauna: Caprellidae ( Caprella , six spp.), Caprellinoididae ( Falotritella, one sp.), Pariambidae (Hemiaegina, one sp.; Paracaprella, three spp.), Phtisicidae (Phtisica, two spp.), and Protellidae ( Orthoprotella, one sp.) (SEREJO, 1997; 1998; WAKABARA & SEREJO, 1998). The new species represents a new record of this genus not only from the Brazilian coast but also from the Atlantic Ocean. Although caprellids are commonly found clinging on different biological substrates, the new species was collected from a sand bottom of a shelter beach in Guanabara Bay. The geographic distribution and a key for the Monoliropus species are given. Systematics Family Protellidae McCain, 1970 Diagnosis - Antenna 2 with flagellum 2- articulate, spines at distai portion. Mandible with incisor 5-toothed; left lacinia 5-toothed, right lacinia complexly toothed or serrate; setal row with 2 setae on right mandible and 3 setae on left mandible; molar and molar flake present; palp 3-articulate, usually with 1+x+y+l apical setae. Maxilla 1 with 7 dentate spiniform setae on outer lobe; palp with few spines. Maxilliped outer plate larger than inner; inner plate apex with plumose setae and 1(?) spine. Lower lip with inner lobes conspicuous. Gnathopod 1 propodus triangular, setose, dactyl margin scalloped; palm defined by single spine, serrate. Pereopods 3-4 greatly reduced; pereopod 5 usually normal but small; pereopods 6-7 may have spines on 1 Submitted on November 4, 2002. Accepted on May 28, 2003. 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Zoologia. CCS - Bloco A, Ilha do Fundão, 21940-590, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: mcrayol@ig.com.br. 3 Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Invertebrados. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: csserejo@acd.ufrj.br. 166 M.C.RAYOL & C.S.SEREJO propodus. Abdômen unsegmented; appendages present; genital papillae well developed (emended from LAUBITZ, 1993). Genus Monoliropus Mayer, 1903 Diagnosis - Flagellum of antenna 2, 2-articulate. Pereopods 3 and 4, 1-articulate. Pereopod 5, 6- articulate. Male abdômen with a pair of appendages bi-articulate and a pair of lobes; female with a pair of lobes (from ARIMOTO, 1976). Type species - Monoliropus agilis Mayer, 1903 (by monotypy). Monoliropus enodis sp. nov. (Figs.1-3) Material examined - Praia da Urca, Guanabara Bay, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, holotype, lcf , 5.6mm, P.Paiva and M.C.Rayol colls., 05/XII/2001, from a sandy bottom (5-7m), MNRJ 16695. Paratypes, same locality, 36c? and 309 , MNRJ 16696. Etymology - the name of the species refers to the smooth body (from the Latin enodis, without knots, smooth). Diagnosis - Body smooth. Article 3 of maxilliped palp with distinct process. Male gnathopod 2 palm straight, with two processes, one medial and conical, and other distai and obtuse. Description - Holotype: s. top scale near center of frontal region), and obliqúe infraorbital dark gray bar below lower jaw through chin (fs. anterior infraorbital dark gray stripe through lower jaw). Easily distinguished from R. omatus and R. atratus by having anal fin pointed and long in male, tip reaching vertical through caudal-fin base (t>s. rounded and short, tip reaching caudal peduncle), and dorsal-fin origin in a vertical between base of sixth and eighth anal-fin rays (r»s. posterior to anal-fin base). Description - Morphometric data of holotype and four paratypes are given in table 1. Largest examined specimen, female, 21.7mm SL. Dorsal profile slightly convex between snout and dorsal-fin base end, approximately straight on caudal peduncle. Ventral profile slightly convex from lower jaw to end of anal- fin base, nearly straight on caudal peduncle. Body slender, cylindrical, body depth approximately equal to body width. Greatest body depth on vertical through pelvic-fm base. Jaws short, snout blunt. Tip of dorsal fin rounded. Tip of anal fin pointed and long in male, reaching caudal-fin base, and rounded and short in female. Caudal fin elliptical. Pectoral fin elliptical, tip not reaching pelvic-fin base. Pelvic fin short, tip reaching between anus and urogenital papilla in male, and not reaching anus in female. Dorsal-fin origin in vertical between base of sixth and eighth anal-fin rays. Dorsal-fin rays 7-8, anal-fin rays 9-10, caudal-fin rays 21- 23, pelvic-fin rays 7, pectoral-fin rays 14. TABLE 1 Morphometric data of Rivulus romeri sp.nov. HOLOTYPE MCP 29751 d UFRJ 5447 cf PARATYPES MCP UFRJ 29752 9 5447 9 UFRJ 5448 9 SL (mm) 19.0 19.9 21.7 20.9 20.6 In percents of standard length Body depth 21.2 21.1 19.5 23.1 21.3 Caudal peduncle depth 13.9 15.0 13.6 14.5 14.5 Predorsal length 74.5 72.3 72.6 73.9 75.8 Prepelvic length 56.0 54.3 54.0 56.7 55.7 Length of dorsal-fin base 9.5 10.3 9.0 9.0 9.7 Length of anal-fin base 16.1 16.5 15.1 13.5 14.0 Caudal-fin length 36.6 - 37.3 40.5 - Pectoral-fin length 21.6 - 18.4 19.9 19.9 Pelvic-fin length 10.1 10.0 8.8 8.5 9.3 Head length 24.8 25.2 22.9 25.4 25.2 Head depth 18.0 17.9 17.0 19.0 17.8 Head width 20.6 20.8 21.0 21.8 21.6 In percents of head length Snout length 11.4 12.9 14.9 12.8 11.6 Lower jaw length 18.6 20.3 21.6 21.1 18.7 Eye diameter 39.1 33.6 38.8 34.3 35.1 Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.175-178, jul./set.2003 A NEW MINIATURE RIVULINE FISH FROM THE UPPER NEGRO RIVER BASIN, NORTHERN BRAZIL 177 Scales large, cycloid. Body and head entirely scaled, except on chin. Scales restricted to caudal-fin base; no scales on dorsal and anal fins. Frontal squamation (Fig.2) with top scale just posterior to rostral neuromast; scales arranged transversally, without distinctive central scale. Longitudinal series of scales 29-30, transverse series of scales 7, scale rows around caudal peduncle 12. Contact organs absent. Supraorbital neuromasts 3+3. Rostral cartilage broad, its width about 80% of length. Basihyal (Fig.3) long, narrow, greatest width about 30% of length; basihyal cartilage short in length, about 20% of total basihyal length. Five branchiostegal rays. No teeth on second pharyngobranchial. First epibranchial slightly bent. First hypobranchial medially bifid. Gill- rakers of first branchial arch 1+6. No vomerine teeth. Interhyal not ossified. Ventral process of posttemporal absent. Dorsal-fin origin between neural spines of vertebrae 17-19. Dorsal and ventral hypural plates separated by interspace. Epipleural ribs not bifid. Total vertebrae 29. Coloration in life - d : Side of body light metallic yellowish green with three horizontal rows of red dots between humeral region and caudal peduncle end, the dorsalmost row on lateral line scales, the ventralmost row with smaller and paler dots; interrupted row of red dots along scale series just above lateral line; sometimes wide dark gray stripe between posterior edge of orbit and flank above pelvic-fin base; laterodorsal portion of flank with obliqúe brown blotches. Dark gray obliqúe preorbital stripe just below lower jaw through chin. Unpaired fins dark reddish orange. Pectoral fin hyaline. Pelvic fin yellow. 9 : Side of body light brown above midline, white below midline; wide dark gray stripe between posterior edge of orbit and flank above pelvic-fin base; laterodorsal portion of flank with obliqúe brown bars. Dark gray obliqúe preorbital stripe just below lower jaw through chin. Unpaired fins hyaline with brown spots; dark gray distai stripe on anal fin. Paired fins hyaline. Distribution - Known only from the type locality, small stream tributary to Igarapé Iauiari, upper Negro river drainage, Amazonian basin, Brazil. Etymology - The name is in honor of Uwe Rõmer, the first collector of the new species. DISCUSSION Rivulus romeri sp.nov. seems to be more closely related to R. atratus and R. ornatus, two widespread Amazonian species, by all the three species sharing frontal scales arranged transversally (Fig.2), with small scale just posterior to rostral neuromast with all borders free (Fig.2), and an obliqúe infraorbital bar below lower jaw through chin (Fig.l), features not present in other species of Rivulus, in which that infraorbital bar is absent, frontal scales are circularly arranged, and the scale with all borders free is placed near the center of the frontal region ( e.g ., HOEDEMAN, 1958), as occurring in most other rivulines (COSTA, 1998). The pointed and long anal fin of the male R. romeri sp.nov. strongly contrasts with the short and rounded fin in other congeners. Although long pointed male anal fin is a condition rather frequent among some rivulid genera (Pterolebias Garman, 1895, Moema Costa, 1989, Aphyolebias Costa, 1998), Rivulus Rivulus romeri sp.nov.: fig.l- drawing based on photos of live male paratype about 20mm SL. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.175-178, jul./ago.2003 178 WJ.E.M.COSTA gransabanae Lasso, Taphorn &Thomerson, 1992 is the only other species of the genus exhibiting a similar anal fin morphology. However, R. gransabanae does not possess those putative apomorphic features shared by R. romeri sp.nov., tsc ron Rivulus romeri sp.nov.: fig.2- frontal squamation and cephalic laterosensory system. (ann) anterior nostril, (asn) anterior supraorbital neuromasts, (pan) parietal neuromast, (pon) posterior nostril, (psn) posterior supraorbital neuromasts, (ron) rostral neuromast, (tsc) top scale. Rivulus romeri sp.nov.: fig.3- basihyal, dorsal view. Larger stippling indicates cartilage. Scale bar = lmm. R. atratus and R. ornatus. In addition, the basihyal of R. romeri sp.nov. is extremely long and narrow (Fig.3), contrasting with the broad basihyal of all other species of the genus examined, probably constituting an autapomorphy. Rivulus romeri sp.nov. is the smaller species of the genus, the largest specimen examined with 21.7mm SL. This species was maintained in aquaria and specimens did not surpass this size (U.Rõmer, Bielefeld, Germany, person. commun.). All other species of Rivulus reach at least about 30mm SL, thus miniaturization in R. romeri sp.nov. constitutes a unique event within the genus. ACKNOWLEDGEMENTS Thanks are due to U.Rõmer for making available the type series of the new species. This study was supported by Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq- MCT) and Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). LITERATURE CITED COSTA, W.J.E.M., 1995 - Pearl Killifishes, the Cynolebiatinae: Systematics and Biogeography of a Neotropical Annual Fish Subfamily (Cyprinodontiformes: Rivulidae). Neptune City: TFH. 128p. COSTA, W.J.E.M., 1998 - Phylogeny and classification of Rivulidae revisited: evolution of annualism and miniaturization in rivulid fishes (Cyprinodontiformes: Aplocheiloidei). Journal of Comparative Biology, Ribeirão Preto, 3:33-92. COSTA, W.J.E.M., 2001 - The neotropical annual fish genus Cynolebias (Cyprinodontiformes: Rivulidae): phylogenetic relationships, taxonomic revision and biogeography. Ichthyological Exploration of Freshwaters, München, 12:333-383. 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M. COSTA 2 4 RESUMO: Trichomycterus candidus (Ribeiro, 1949), descrita originalmente em Eremophilus Humboldt, 1805, é redescrita com base no exame dos tipos e material recém-coletado. A espécie é diagnosticada com base em quatro autapomorfias: placa interopercular de odontódeos com projeção dorsal alongada, cabeça reduzida, ausência de nadadeiras pélvicas e padrão de colorido apresentando pintas arredondadas castanho-escuro muito pequenas. A nova combinação T. candidus é proposta com base no seu relacionamento próximo a um ciado de Trichomycterus do sudeste do Brasil, com o qual compartilha quatro sinapomorfias (extremidade do ceratohial posterior reduzida, processo póstero- ventral do ceratohial posterior ausente ou vestigial, projeção posterior da placa opercular de odontódeos com altura reduzida, padrão de colorido com pintas arredondadas castanho-escuro, sobre o corpo castanho-claro) . Trichomycterus candidus compartilha com E. mutisii apenas a ausência de nadadeiras pélvicas, mas não o padrão apomórfico de poros do sistema sensorial recentemente estabelecido para o gênero. Palavras-chave: Teleostei; Siluriformes; Trichomycteridae; Trichomycterus; Eremophilus candidus; Taxonomia; Brasil. ABSTRACT: Validity, phylogenetic relationships and redescription of Eremophilus candidus Ribeiro, 1949 (Teleostei, Siluriformes, Trichomycteridae). Trichomycterus candidus (Ribeiro, 1949), originally described in Eremophilus Humboldt, 1805, is redescribed based on the examination of recently collected specimens and type material. The species is diagnosed based on four autapomorphies: enlarged dorsal projection of interopercular patch of odontodes, lack of pelvic fins and girdle, head small and color pattern presenting very small dark brown round spots. The new combination for T candidus is proposed on the basis of its close relationships with a clade of Trichomycterus from southeastern Brazil, with which it shares four synapomorphies (posterior ceratohyal tip reduced in depth, ventro-posterior process of the posterior ceratohyal absent or vestigial, smaller depth of the posterior projection of opercular patch of odontodes, and color pattern presenting dark brown round spots). Trichomycterus candidus shares with E. mutisii the absence of pelvic fins and girdle, but not the apomorphic pattern of sensorial pores recently established for Eremophilus. Key words: Teleostei; Siluriformes; Trichomycteridae; Trichomycterus; Eremophilus candidus; Taxonomy; Brazil. INTRODUÇÃO Trichomycteridae é um grupo de bagres neotropicais altamente diversificado tanto na morfologia quanto nos hábitos. Há cerca de 200 espécies em 35 gêneros, além de muitos táxons ainda não descritos. Sua distribuição é ampla, estendendo-se desde a Costa Rica à Patagônia. O gênero Eremophilus Humboldt, 1805 foi criado para incluir E. mutisii Humboldt, 1805, de Bogotá, Colômbia, sem nadadeiras pélvicas. O gênero permaneceu monotípico até a descrição de E. candidus Ribeiro, 1949 e E. camposi Ribeiro, 1957, que foram incluídas no gênero Eremophilus com base apenas na ausência de nadadeiras pélvicas (RIBEIRO, 1949, 1957). Enquanto E. camposi foi transferida para Listrura Pinna, 1988 - subfamília Glanapteryginae (PINNA, 1988), não houve uma reavaliação sobre a posição taxonômica de E. candidus, apesar de ter sido sugerida proximamente relacionada a espécies de Trichomycterus Valenciennes, 1833 do sudeste do Brasil (PINNA, 1989). Eremophilus foi redefinido por um padrão apomórfico de distribuição de poros cefálicos do sistema látero-naso sensorial (ARRATIA & HUAQUÍN, 1995), mas essa condição 1 Submetido em 13 de julho de 2001. Aceito em 03 de setembro de 2002. Suporte financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). 2 Museu Nacional/UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Zoologia. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Laboratório de Ictiologia Geral e Aplicada. Caixa Postal 68049, Rio de Janeiro, 21944-970, RJ, Brasil. 3 E-mail: anaisbarbosa@yahoo.com.br. 4 E-mail: wcosta@acd.ufij.br. 180 M.A.BARBOSA & WJ.E.M.COSTA ocorre apenas em E. mutisii e não em E. candidus. Por outro lado, E. candidus compartilha uma série de sinapomorfias com espécies de um grupo de Trichomycterus Valenciennes, 1833 do sudeste do Brasil, denominado informalmente complexo T. brasüiensis, justificando assim sua transferência de Eremophüus para Trichomycterus. Trichomycterus, o gênero mais diversificado da família, com aproximadamente 100 espécies nominais e ampla distribuição geográfica, é diagnosticado apenas por características plesiomórficas. O complexo Trichomycterus brasüiensis é composto por quatro espécies: Trichomycterus brasüiensis Lütken, 1874, Trichomycterus mimonha Costa, 1992, Trichomycterus mirissumba Costa, 1992 e Trichomycterus vermiculatus (Eigenmann, 1918) (COSTA, 1992; BARBOSA, 2000). Os objetivos deste trabalho são redescrever detalhadamente E. candidus, estabelecendo-se a identidade da espécie, e discutir as possíveis relações de parentesco entre E. candidus e as espécies de Trichomycterus do sudeste do Brasil. MÉTODOS E MATERIAL Medidas e contagens seguiram COSTA (1992), com inclusão de algumas novas medidas: comprimento do primeiro raio peitoral, distância entre os poros supra-orbitais seis, distância entre o poro supra- orbital seis e o olho e exclusão da medida do comprimento da boca. As medidas são apresentadas como percentagens do comprimento padrão (CP), exceto para as medidas de estruturas cefálicas expressas como percentagens do comprimento da cabeça. Comparações com outras espécies foram feitas utilizando apenas indivíduos acima de 50,0mm de CP. Identificação de poros sensoriais seguiu ARRATIA & HUAQUÍN (1995). Medidas de ossos foram expressas em percentuais baseadas em uma outra medida do mesmo osso (BARBOSA, 2000). Observações osteológicas foram feitas em espécimes diafanizados e corados, para osso e cartilagem, segundo o método de TAYLOR & VAN DYKE (1985). Abreviaturas utilizadas: (MNRJ) Museu Nacional-Rio de Janeiro; (MUSM) Museo de Historia Natural de la Universidad Mayor de San Marcos, Lima, Perú; (MZUSP) Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo; (UFRJ) Laboratório de Ictiologia Geral e Aplicada, Universidade Federal do Rio de Janeiro; (ex) exemplares. Material usado para comparação (o número de exemplares diafanizados encontra-se entre parênteses): Eremophüus mutisii - MZUSP 35409 (1) ex; Trichomycterus albinotatus - UFRJ 547, 14 ex, UFRJ 593, 4 ex, UFRJ 594, 1 ex, UFRJ 4657, 10 (4) ex; Trichomycterus altematus - UFRJ 080, 7 ex; UFRJ 556 (1) ex; Trichomycterus areolatus - MZUSP 36959, 4 (1) ex; Trichomycterus auroguttatus - UFRJ 610, 3 ex, UFRJ 611, 5 ex, UFRJ 640, 2 ex, UFRJ 721, 9 ex, UFRJ 4562 (3) ex, UFRJ 3365, 6 ex, UFRJ 4556 (1) ex, UFRJ 4101, 9 ex, UFRJ 4558 (1) ex; Trichomycterus concolor- MZUSP 42206 (1) ex; Trichomycterus florensis - UFRJ 646 (1) ex, UFRJ 595, 10 ex; Trichomycterus hasemani- USNM 319677 (2) ex; Trichomycterus immaculatus - UFRJ 082, 5 ex, UFRJ 557 (1) ex, UFRJ 609, 3 ex; Trichomycterus itatiayae - UFRJ 597, 2 ex, UFRJ 662, 5 ex, UFRJ 4552 (2) ex, UFRJ 677, 10 (1) ex, UFRJ 705, 7 (1) ex; Trichomycterus longibarbatus - UFRJ 1141, 1 ex; Trichomycterus reinhardti- UFRJ 580, 4 ex, UFRJ 644 (1) ex, UFRJ 568 (1) ex, UFRJ 1144, 5 ex, UFRJ 4553 (2) ex, UFRJ 1309, 6 ex, UFRJ 4555 (1) ex; Trichomycterus sp. - MUSM 1702 (1) ex, Trichomycterus travassosi -UFRJ 596, 10 ex, UFRJ 4554 (3) ex, UFRJ 4563 (1) ex; Trichomycterus variegatus - UFRJ 584, 9 ex, UFRJ 585 (2) ex, Trichomycteruszonatus-UFRJ 1133, 3 ex, UFRJ 4551 (2) ex, UFRJ 4447 (1) ex, UFRJ 1136, 22 ex, UFRJ 4549 (5) ex, UFRJ 1138, 6 ex, UFRJ 4548 (1) ex, UFRJ 1140, 6 ex, UFRJ 1934, 7 ex. Trichomycterus candidus (Ribeiro, 1949) nova comb. (Fig.l) Eremophüus candidus Ribeiro, 1949 Material examinado BRASIL - MINAS GERAIS: pequeno córrego que deságua no ribeirão Espírito Santo [afluente do Rio Claro, que deságua no rio Sapucaí, afluente do rio Grande], Município de Conceição da Aparecida (21°06’S, 46°12W), holótipo - MNRJ 5209, 64mm CP, J.C.M.Carvalho e C.Lako cols., X/1947; parátipos - MNRJ 11762, 14 ex, 41,0-50,3mm CP; coletados junto com o holótipo. BRASIL - MINAS GERAIS: Fazenda Renascença, Conceição da Aparecida, MNRJ 5356, 21 ex, 24,8-50,7mm CP, J.C.M.Carvalho e A.L.de Castro cols., XI/1948; riacho Cuiabá, afluente do rio Grande, bacia do rio Paraná, a 4,lkm de Conceição da Aparecida, UFRJ 4926, 31 ex, 27,1- 54,7mm CP, UFRJ 4928, 5 ex diafanizados, D.Almeida, M.P.Gonçalves e M.A.Barbosa cols., 24/X/1999. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 VALIDADE, RELAÇÕES FILOGENÉTICAS E REDESCRIÇÃO DE EREMOPHILUS CANDIDUS RIBEIRO, 1949... 181 Fig.l- Trichomyctenis candidus (Ribeiro, 1949) nov.comb., UFRJ 4926, 54,7mm CP, rio Cuiabá, Conceição da Aparecida, MG, Brasil. Diagnose - Semelhante a T. brasiliensis, T. mimonha, T. mirissumba e T. vermiculatus por possuir a extremidade do ceratohial posterior do arco hióide reduzida, variando de 2,3-6,5% do comprimento do ramo esquerdo do arco hióide (r>s. 7,6-21,5%); processo póstero-ventral do ceratohial posterior do arco hióide ausente ou vestigial, atingindo no máximo 1,7% do comprimento do ramo esquerdo do arco hióide (r>s. 2,6-9,0%); projeção posterior da placa opercular de odontódeos com altura reduzida, variando entre 44,0-73,7% do comprimento da base da sua projeção dorsal (r>s. 81,5-128,1%); padrão de colorido apresentando pintas arredondadas castanho-escuro sobre o corpo amarelo, bege ou castanho (r>s. nunca um padrão de colorido similar). Se distingüe de todas as outras espécies de Trichomyctenis por apresentar os seguintes caracteres: projeção dorsal da placa interopercular de odontódeos alongada, com comprimento variando entre 49,7-57,2% (r»s. comprimento dorsal abaixo de 45,8%); comprimento reduzido da cabeça, abaixo de 15,8% do CP ( vs . comprimento acima de 15,9% do CP); ausência de nadadeiras pélvicas (r>s. presença); corpo castanho-claro coberto por pintas arredondadas castanho-escuro muito pequenas e distintas (r>s. corpo amarelo, bege ou castanho com pintas arredondadas grandes ou pequenas, castanho-escuro ao cinza-chumbo). Descrição - Dados morfométricos na tabela 1. Cabeça aproximadamente elíptica ou trapezoidal, em vista dorsal. Focinho ligeiramente arredondado. Bordas laterais da cabeça retas ou levemente convexas. Olho situado na metade anterior da cabeça. Ponta do barbilhão nasal atingindo entre a metade da placa opercular de odontódeos e um pouco antes da extremidade posterior dessa placa. Extremidade do barbilhão maxilar e rictal estendendo-se até a extremidade anterior da placa opercular. Nadadeira peitoral com seis raios (i+5); filamento reduzido, 4,1-5,9% do comprimento da nadadeira. Nadadeira dorsal com 11 raios (iv+7), tendo sua origem numa vertical que passa sobre o centro da 22 a ou 23 a vértebra. Nadadeira anal com oito ou nove raios, normalmente nove (iv+5), localizada abaixo da nadadeira dorsal, tendo sua origem em uma vertical que passa sobre o centro da 25 a ou 26 a vértebra e pelo 6 o ou 7 o raio da dorsal. Nadadeira pélvica ausente. Nadadeira caudal com borda distai subtruncada, com 13 raios principais (6+7). Raios procorrentes dorsais de 16 a 19 e raios procorrentes ventrais de 16 a 18. Trinta e oito ou 39 vértebras. Treze a 15 costelas. Oito raios branquiostegais. Cintura pélvica ausente. Suspensório bem desenvolvido apresentando placa interopercular de odontódeos com projeção dorsal (pd) alongada, com o comprimento variando de 49,7-57,2% do comprimento dorsal do osso (Figs.2-3). Quadrado com comprimento dorsal da projeção posterior (cdpp) reduzido, variando de 22,0-29,9% do comprimento ventral do osso (Figs.2, 4). Nove pares de poros sensoriais: três pares supraorbitais (sl, s3, s6), dois pares infraorbitais (ilO, ill - redução dos pares il, i3), um par preopercular, três pares da linha lateral ( Ll, L2 e L3). Poro sensorial supraorbital S6 muito mais próximo do olho que do seu simétrico (Fig.5). Colorido - Região lateral do corpo castanho-claro coberta por pintas arredondadas muito pequenas e distintas castanho-escuro. As pintas se aglutinam para formar duas linhas longitudinais muito finas: uma na região média superior do corpo e outra mais acima, quase na região dorsal. As linhas se originam na cabeça e terminam após a nadadeira dorsal, mas a linha lateral média Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 182 M.A.BARBOSA & WJ.E.M.COSTA 2 cpd pd Fig.2- Suspensório e aparelho opercular de Trichomyctenis candidus (Ribeiro, 1949) lado esquerdo: (H) hiomandíbula, (M) metapterigóide, (Q) quadrado, (PI) placa interopercular de odontódeos, (PO) placa opercular de odontódeos, (PR) preopérculo. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens; fig.3- Placa interopercular de odontódeos, lado esquerdo: (a) Trichomyctenis candidus, (b) Trichomycterus mirissumba Costa, 1992. (pd) projeção dorsal, (cp) comprimento da placa interopercular, (cpd) comprimento da projeção dorsal. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens. Escala = lmm. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 VALIDADE, RELAÇÕES FILOGENÉTICAS E REDESCRIÇÃO DE EREMOPHILUS CANDIDUS RIBEIRO, 1949... 183 muitas vezes se estende até a nadadeira caudal. Região dorsal do corpo castanho-claro com pintas arredondadas marrom-escuro agrupadas, conferindo um padrão mais escuro à região. Região ventral do corpo homogeneamente castanho-claro. Região dorsal da cabeça com pintas arredondadas marrom- escuro que quase sempre se aglutinam, apresentando manchas escuras, principalmente entre e após os olhos e entre as narinas. Região ventral da cabeça castanho-claro, exceto na área da placa interopercular e lábios, que apresenta cromatóforos castanho-escuro espalhados. Nadadeira dorsal com cromatóforos castanho- escuro homogeneamente espalhados na base e nos raios. Nadadeira peitoral e anal com base esbranquiçada, raios pigmentados de castanho-claro e transparentes nas bordas. Nadadeira caudal com pequenas pintas castanho-escuro na base, mas apenas cromatóforos homogeneamente espalhados nos raios. Barbilhões nasais pigmentados por cromatóforos marrom-escuro nas bases, mas ao longo do comprimento esses cromatóforos formam duas linhas longitudinais laterais marrom-escuro, até aproximadamente metade do seu comprimento. A partir daí são pigmentados de marrom apenas na região dorsal, sendo castanho-claro na região ventral e transparentes nas extremidades. Barbilhões maxilares e rictais castanho-claro. DISCUSSÃO Trichomycterus candidus foi originalmente incluído em Eremophilus apenas por não possuir nadadeiras pélvicas, único caráter até então utilizado para distinguir Trichomycterus de Eremophilus (HUMBOLDT & VALENCIENNES, 1833; CUVIER 86 VALENCIENNES, 1846; EIGENMANN, 1918). ARRATIA (1998) redefiniu Eremophilus por um padrão apomórfico de distribuição de poros cefálicos do sistema sensorial, sem contudo examinar Eremophilus candidus. Trichomycterus candidus não apresenta o padrão de distribuição de poros cefálicos descrito para Eremophilus (dois pares de poros supraorbitais - s3 e s6, quatro pares infraorbitais - il, i3, ilO e i 11, um par preopercular, dois pares da linha lateral - LI e L2), mas a distribuição encontrada nas espécies de Trichomycterus do sudeste do Brasil (três pares de poros supraorbitais - sl, s3 e s6, dois pares infraorbitais - ilO e il 1, com redução dos pares de poros il e i3, um par preopercular, três pares da linha lateral - Ll, L2 e L3) (Fig.5). Além disso, T. candidus possui os quatro caracteres derivados compartilhados pelas espécies do complexo T. brasiliensis : 1 - extremidade do ceratohial posterior do arco hióide (acp) reduzida, com dimensões variando de 2,3-6,5% do comprimento do seu ramo esquerdo (Figs.6, 7); 2 - processo póstero-ventral (pv) do ceratohial posterior do arco hióide ausente ou vestigial, com dimensões variando de 0,0-1,7% do comprimento do ramo esquerdo do arco hióide (Figs. 6, 7); 3 - projeção posterior da placa opercular de odontódeos (app) com a altura reduzida, variando de 44,0-73,7 % do comprimento da base da projeção dorsal (cbpd) (Figs.2, 8); 4 - padrão de colorido (Fig. 1) com pintas arredondadas distintas, castanho-escuro a cinza-chumbo, sobre o corpo de cor amarelo, castanho-claro ou castanho-escuro até o cinza- chumbo (BARBOSA, 2000). A validade de Trichomycterus candidus pode ser demonstrada com base em quatro caracteres exclusivos: placa interopercular de odontódeos robusta com projeção dorsal (pd) alongada e comprimento variando de 49,7-57,2% do comprimento dorsal da placa; cabeça reduzida, com comprimento entre 14,7-15,7% de CP; ausência de nadadeiras pélvicas; corpo castanho- claro, coberto por pintas arredondadas muito pequenas e distintas castanho-escuro. A placa interopercular de odontódeos da maioria dos Trichomycterus possui a projeção dorsal reduzida, com valores entre 36,0-48,5% do comprimento dorsal da placa. Isto inclui as espécies do complexo T. brasiliensis, que apresentam valores entre 31,0-46,2%. Em T. candidus, a placa interopercular é bastante robusta, com projeção dorsal alongada, quando comparada com os outros representantes do gênero (Figs.2, 3). O caráter cabeça alongada, com comprimento variando entre 16,0-24,4% do CP, foi encontrado em todos os Trichomycterus e parece representar um caráter plesiomórfico para o gênero. A condição oposta, cabeça reduzida, com comprimento de 14,7-15,7% do CP, encontrada em T. candidus, foi considerada uma condição apomórfica (Tabela 1). Nadadeiras pélvicas estão presentes na maioria dos Trichomycteridae, mas a perda dessas nadadeiras aconteceu independentemente pelo menos três vezes, em Eremophilus mutisii, da Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.179-188, jul./set.2003 184 M.A.BARBOSA & WJ.E.M.COSTA subfamília Trichomycterinae, em Listrura camposi, da subfamília Glanapteryginae, e em Miuroglanis platycephalus, da subfamília Tridentinae (PINNA, 1989). Nadadeiras pélvicas podem ocasionalmente estar ausentes em alguns espécimens de Ituglanis parahybae (COSTA & BOCKMANN, 1993). Não existem registros de ausência de nadadeiras pélvicas entre os Trichomycterus do sudeste do Brasil, mas Trichomycterus catamarcensis Fernández & Vari, 2000, da Província de Catamarca, Argentina, recentemente descrito, não possui nadadeiras pélvicas (FERNÁNDEZ & VARI, 2000). Trichomycterus candidus foi descrito anteriormente como Eremophilus apenas por não possuir nadadeiras pélvicas, mas compartilha quatro sinapomorfias com as espécies do complexo T. brasiliensis. A ausência de nadadeiras pélvicas constitui um caráter derivado de T. candidus. A maioria dos Trichomycteridae apresenta padrão de colorido em que o corpo é homogeneamente coberto por cromatóforos amarelo-claro a castanho-claro, podendo ou não apresentar manchas escuras espalhadas. Grande parte dos Trichomycterus do sudeste do TABELA 1 Dados morfométricos (mm) de Trichomycterus candidus (Ribeiro, 1949) MNRJ 5209 - holótipo MNRJ 5209 UFRJ 4926 UFRJ 4926 UFRJ 4926 COMPRIMENTO PADRÃO (mm) 60,5 54,7 53,3 47,80 altura do corpo 12,3 14,4 13,9 13,5 altura do pedúnculo caudal 11,4 11,9 11,1 11,6 largura do corpo 6,8 7,7 8,0 7,1 £ largura do pedúnculo caudal 2,5 4,4 3,8 3,7 o comprimento da base da dorsal 10,9 10,4 10,1 9,6 9 Pu comprimento da base da anal 9,1 7,8 8,5 8,3 8 Z comprimento da pélvica - - - - w S distância entre as bases das pélvicas - - - - E CL, s comprimento da peitoral 9,3 9,3 8,6 8,9 O O comprimento do primeiro raio da peitoral 10,1 9,9 8,9 9,4 comprimento pré-dorsal 66,2 64,8 65,2 63,0 comprimento pré-pélvico - - - - comprimento da cabeça 15,7 14,8 14,7 16,1 ípr altura da cabeça 49,1 61,4 55,9 45,4 < § largura da cabeça 75,8 81,1 83,7 72,1 distância interorbital 27,9 32,3 28,3 26,6 O g distância interporos s6 11,0 9,8 10,8 9,9 1 distância entre o poro s6 e o olho 6,6 7,7 5,9 6,1 Pd § fp distância pré-orbital 36,0 44,3 45,0 41,6 K S n diâmetro do olho 7,2 6,9 5,6 6,5 O comprimento da placa interopercular de odontódeos 26,0 29,0 26,8 25,7 Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 VALIDADE, RELAÇÕES FILOGENÉTICAS E REDESCRIÇÃO DE EREMOPHILUS CANDIDUS RIBEIRO, 1949... 185 Fig.4- Quadrado, lado esquerdo: (a) Trichomycterus brasiliensis Lütken, 1874, (b) Trichomycterus candidus (Ribeiro, 1949). (pp) projeção posterior, (cdpp) comprimento dorsal da projeção posterior. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens; fig.5- Neurocrânio. Distribuição de poros dos canais sensoriais do sistema da linha lateral de Trichomycterus candidus, vista dorsal: (MT) mesetmóide, (MX) maxila, (PM) pré-maxila, (ilO-11) poros posteriores do canal infraorbital, (LI -3) poros da linha lateral, (prep) poro do canal preopercular, (s 1, s3, sõ) poros do canal supraorbital. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens. Escala = lmm. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 186 M.A.BARBOSA & WJ.E.M.COSTA acp Fig.6- Arco hióide de Trichomyctemscandidus (Ribeiro, 1949), vista ventral: (CA) ceratohial anterior, (CP) ceratohial posterior, (H) hipohial, (RB) raios branquiostegais, (U) urohial. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens; fig.7- Ramo esquerdo do arco hióide, vista ventral: (a) Trichomyctems mimonha Costa, 1992, (b) Trichomyctems itatiayae Ribeiro, 1912. Raios branquiostegais não representados, (pv) processo póstero-ventral, (acp) altura da extremidade distai do ceratohial posterior. Áreas com pontos representam ossos e áreas com círculos representam cartilagens; fig.8- Placa opercular de odontódeos, lado esquerdo, (a) Trichomyctems mimonha, (b) Trichomyctems zanatus (Eigenmann, 1918). (pd) projeção dorsal, (pp) projeção posterior, (pv) projeção ventral, (app) altura da projeção posterior, (cbpd) comprimento da base da projeção dorsal. Áreas com pontos representam ossos. Escala = lmm. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p. 179-188, jul./set.2003 VALIDADE, RELAÇÕES FILOGENÉTICAS E REDESCRIÇÃO DE EREMOPHILUS CANDIDUS RIBEIRO, 1949... 187 Brasil apresenta essa condição, mas em alguns casos as manchas formam pequenas e grossas faixas transversais, semelhante a tabuleiro de xadrez. Ambos os casos parecem representar uma condição plesiomórfica encontrada em Trichomyctems. Nas espécies do complexo T. brasiliensis o corpo é amarelo-claro a castanho- escuro, coberto por pintas arredondadas distintas ou coalescentes marrom-claro, marrom-escuro até o cinza-chumbo, enquanto que em T. candidus o corpo apresenta-se castanho-claro coberto por pintas arredondadas, muito pequenas e distintas, castanho-escuro (Fig.l). A condição apresentada pelas espécies do complexo T. brasiliensis parece ser derivada quando comparada aos demais Trichomyctems e a condição apresentada por T. candidus é exclusiva, quando comparada às espécies do complexo T. brasiliensis. Além desses caracteres existem outros que, combinados, podem ser diagnósticos para T. candidus. Tais condições isoladamente podem ocorrer em espécies fora ou mesmo dentro do complexo T. brasiliensis e serão provavelmente úteis para criar hipóteses de relacionamento entre T. candidus e os outros Trichomyctems da região Sudeste. Projeção posterior do quadrado reduzida, com comprimento variando entre 22,0-29,9% do comprimento ventral do osso é encontrada em T. candidus. Nas espécies do complexo T. brasiliensis o comprimento da projeção posterior do quadrado varia de 34,8-53,8% e entre os demais Trichomyctems da região Sudeste de 30,1-44,0%, com uma única exceção, T. reinhardti, com redução da projeção posterior do quadrado, apresentando valor muito próximo dos encontrados para T. candidus (25,8%). Não está claro se esse caráter - redução da projeção posterior do quadrado -, é plesiomórfico ou derivado, o que sugere a necessidade de uma filogenia do gênero Trichomyctems para se esclarecer a relação de parentesco entre as espécies (BARBOSA, 2000). A altura do pedúnculo caudal em T. candidus é reduzida, variando de 10,0-11,9% do CP, enquanto que nas espécies do complexo T. brasiliensis essa altura varia de 12,2-14,7% do CP. Entretanto esse caráter é bastante variável entre os demais Trichomyctems, tanto da região sudeste quanto fora dela, apresentando amplitude entre 8,0-16,5% do CP. Não está claro qual é a condição plesiomórfica ou derivada com relação a esse caráter (ARRATIA, 1983; ARRATIA & MENU-MARQUE, 1984; COSTA, 1992; PINNA, 1992; BARBOSA, 2000). Número reduzido de raios na nadadeira peitoral (seis raios) é encontrado em T. candidus. Entre as espécies do complexo T. brasiliensis apenas T. mimonha possui seis raios na nadadeira peitoral, enquanto que T. brasiliensis, T. mirissumba e T. vermiculatus apresentam sete. Além deles apenas T. reinhardti apresenta condição semelhante, com seis ou sete raios na nadadeira peitoral. Os demais Trichomyctems apresentam oito ou nove raios (ARRATIA, 1983; ARRATIA & MENU MARQUE, 1984; COSTA, 1992; PINNA, 1992; BARBOSA, 2000). Número elevado de raios na nadadeira peitoral parece ser a condição plesiomórfica para Trichomyctems e o número reduzido apresentado por T. candidus e T. mimonha, a condição derivada. Essa condição sugere relacionamento próximo entre T. candidus e T. mimonha (do complexo T. brasiliensis) e reforça a hipótese de que T. reinhardti é grupo-irmão das espécies do complexo T. brasiliensis (BARBOSA, 2000). Além disso, essa condição também demonstra a distância filogenética entre T. candidus e E. mutisii, que possui oito ou nove raios na nadadeira peitoral (VALENCIENNES in HUMBOLDT, 1833; EIGENMANN, 1918). A distribuição de poros sensoriais dos Trichomyctems da região sudeste apresenta o padrão básico de 11 pares de poros, sendo três pares supraorbitais - sl, s3 e s6, quatro pares infraorbitais - il, i3, ilO e i 11, um par preopercular - prep, três pares da linha lateral - Ll, L2 e L3) (BARBOSA, 2000). Trichomyctems mirissumba e T. vermiculatus, do complexo T. brasiliensis, apresentam o padrão básico de distribuição de poros dos Trichomyctems do sudeste (11 pares), mas T. brasiliensis e T. mimonha possuem apenas nove pares, com redução dos pares infraorbitais il e i3. Trichomyctems candidus apresenta distribuição semelhante a T. brasiliensis e T. mimonha, o que sugere um relacionamento próximo entre essas três espécies. Essa distribuição corrobora a ausência de relacionamento próximo entre T. candidus e E. mutisii, que possui distribuição diferente dos seus nove pares de poros (dois pares de poros supraorbitais - s3 e s6, quatro pares infraorbitais - il, i3, ilO e i 11, um par preopercular, dois pares da linha lateral - Ll e L2) (ARRATIA & HUAQUÍN, 1995; ARRATIA, 1998; BARBOSA, 2000). Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.179-188, jul./set.2003 188 M.A.BARBOSA & WJ.E.M.COSTA Os caracteres analisados demonstram que T. candidus está mais relacionado às espécies do complexo T. brasüiensis, com quem compartilha pelo menos quatro caracteres derivados, do que com Eremophilus mutisii, com quem compartilha apenas a ausência de nadadeiras pélvicas, e que T. mimonha parece ser o grupo- irmão de T. candidus. AGRADECIMENTOS A E.Araújo (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), pelas fotos e sugestões; a F. Autran (UFRJ) pelo apoio com as imagens; a D.Almeida e M.P.Gonçalves (UFRJ), pelo apoio nas coletas em Conceição da Aparecida, MG; a D.Belote, R.D’Arrigo, R.Cunha, S.Lima, U.Rodriguez e outros colegas do Laboratório de Ictiologia Geral e Aplicada (UFRJ), pelas discussões enriquecedoras; a R.Campos da Paz (UFRJ) e P.Brito (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), pelas sugestões e críticas valiosas; a G. Muricy (MNRJ), pelas críticas ao manuscrito; a G.W.Nunan, P.A.Buckup (MNRJ) e a O.Oyakawa (MZUSP), pelo empréstimo de material e pela hospitalidade na visita às instituições; a S.R.Bastos Neves e C.Neves (algenas, MG), pelo apoio logístico na coleta em Conceição da Aparecida; ao Sesc-Pantanal, pelo microscópio Leica com câmara clara, onde parte do trabalho foi executado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRATIA, G., 1983 — Trichomycterus chungarensis n.sp. and Trichomycterus laucaensis n.sp. (Pisces, Siluriformes, Trichomycteridae) from the High Andean Range. Studies on the Neotropical Fauna and Environment, Lisse, 18:65-87 ARRATIA, G., 1998 - Silvinichthys, a new genus of trichomycterid catfishes from the Argentinian Andes, with redescription of Trichomycterus nigricans. Ichthyological Exploration of Freshwaters, München, 9(4):47-370. ARRATIA, G. & HUAQUÍN L., 1995 - Morphology of the lateral line system of the skin of diplomystid and certain primitive loricarioid catfishes and systematic and ecological considerations. Bonner Zoologische Monographien, Bonn, 36:1-110. ARRATIA, G. & MENU-MARQUE S., 1984 - New catfishes of genus Trichomycterus from the High Andes of South America (Pisces: Siluriformes) with remarks on distribution and ecology. Zoologische Jahrbücher, Abteilung für Systematik, Ôkologie und Geographie der Tiere, Berlin, 111:493-520. 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Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.179-188, jul./set.2003 wmmnraTmnnrT l nnnigttiiMififinnni Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.189-194, jul./set.2003 ISSN 0365-4508 NOVA ESPÉCIE DO GRUPO DE HYLA CIRCUMDATA (COPE, 1870) DO SUL DA BAHIA, BRASIL (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE) 1 2 3 (Com 8 figuras) MARCELO FELGUEIRAS NAPOLI 2 3 BRUNO VERGUEIRO SILVA PIMENTA 4 RESUMO: Uma nova espécie pertencente ao grupo de Hyla circumdata é descrita para o sul da Bahia, Brasil, proveniente de áreas de Floresta Atlântica do Município de Una, representando o registro mais setentrional do grupo. A espécie é caracterizada pelo tamanho mediano, coloração dorsal castanho-escuro sem faixas transversais evidentes e ausência de barramento transversal castanho-escuro nos flancos e nas superfícies anterior e posterior das coxas. São apresentados dados de história natural e a descrição da vocalização de anúncio. Palavras-chave: Amphibia; Anura; Hylidae; Hyla lucianae sp.nov.; Taxonomia; Vocalização, Floresta Atlântica. ABSTRACT: New species of the Hyla circumdata group from Southern Bahia, Brazil (Amphibia, Anura, Hylidae). A new species of the Hyla circumdata group is described from Southern Bahia, Brazil, inhabiting rain forests located in the Municipality of Una, and represents the northernmost record for the species group. The species is characterized by the médium size, dorsal ground color dark brown, without well marked transverse dark brown stripes, and absence of transverse dark brown bars on flanks and anterior and posterior surfaces of thighs. Natural history observations and description of advertisement call are provided. Key-words: Amphibia; Anura; Hylidae; Hyla lucianae sp.nov.; Taxonomy; Advertisement call; Atlantic Rain Forest. INTRODUÇÃO CARAMASCHI, NAPOLI & BERNARDES (2001) relacionaram para o grupo de Hyla circumdata onze espécies, distribuídas principalmente em regiões serranas providas de córregos de montanha em ambiente de Floresta Atlântica e matas ciliares nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, onde constam: H. astartea Bokermann, 1967, H. carvalhoi Peixoto, 1981, H. circumdata (Cope, 1870), H. gouveai Peixoto & Cruz, 1992, H. hylax Heyer, 1985, H. ibitipoca Caramaschi & Feio, 1990, H. izecksohni Jim & Caramaschi, 1979, H. luctuosa Pombal & Haddad, 1993, H. nanuzae Bokermann & Sazima, 1974, H. ravida Caramaschi, Napoli & Bernardes, 2001 e H. sazimai Cardoso & Andrade, 1983 [1982]. A inclusão do grupo de H. circumdata no grupo de H. pulchella proposta por DUELLMAN, DE LA RIVA 85 WILD (1997) não foi adotada. A integridade dos referidos grupos foi mantida com base nas conclusões de NAPOLI (2000) e GARCIA et dl. ( 2001 ), onde foram listadas diferenças em padrões de colorido, desenho, morfologia externa, história natural e caracteres osteológicos. Investigações realizadas em fragmentos de Mata Atlântica na região de Una, sul do Estado da Bahia, no âmbito do projeto “Abordagens ecológicas e instrumentos econômicos para o estabelecimento do Corredor do Descobrimento: uma estratégia para reverter o processo de fragmentação florestal na Mata Atlântica do sul da Bahia” (PROBIO/MMA), permitiram a coleção de várias espécies de anuros, dentre essas uma forma inédita pertencente ao grupo de Hyla circumdata, cuja descrição é o objetivo do presente trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O material-tipo encontra-se depositado no Museu Nacional - Rio de Janeiro (MNRJ). Espécimes adicionais examinados encontram-se relacionados em CARAMASCHI, NAPOLI 85 BERNARDES (2001). 1 Submetido em 04 de outubro de 2002. Aceito em 06 de junho de 2003. 2 Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biologia, Departamento de Zoologia. Rua Barão de Geremoabo, 40170-290, Salvador, BA, Brasil. E-mail: napoh@ufba.br. 3 Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Vertebrados. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 Museu Nacional/UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Zoologia. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 190 M.F.NAPOLI & B.V.S.PIMENTA Nove caracteres morfométricos seguem DUELLMAN (1970): comprimento rostro-cloacal (CRC), comprimento da cabeça (CC), largura da cabeça (LC), diâmetro do olho (DO), distância interorbital (DIO), largura da pálpebra superior (LPS), distância internasal (DIN), diâmetro do tímpano (DT) e comprimento da tíbia (CTB); comprimento da coxa (CCX) segue HEYER et al. (1990). Outras cinco mensurações são: distância olho-narina (DON): distância entre o bordo anterior da abertura orbital e a margem posterior da narina; distância narina-ponta do focinho (DNF): distância entre a margem anterior da narina e a ponta do focinho; diâmetro do disco do terceiro dedo (DD3); comprimento do pé (CP): distância entre o calcanhar e a ponta do quarto artelho; diâmetro do disco do quarto artelho (DA4). A fórmula da palmatura das mãos e pés segue SAVAGE & HEYER (1967) e MYERS & DUELLMAN (1982). Vocalizações foram registradas no gravador SONY DAT TCD-D8 e microfone SENNHEISER ME66. As gravações foram analisadas pelo software Avisoft- SASLab Light for Windows, versão 3.74. Os sons foram digitalizados em 8,0kHz e os sonogramas foram produzidos utilizando-se 256 pontos, sobreposição 93,75%, frame 100%, Flap Top. RESULTADOS Hyla lucianae sp.nov. (Figs.1-5) Holótipo - BRASIL: BAHIA: Município de Una, Reserva Biológica (REBIO) de Una (15°10’S, 39°04W, 30m de altitude), MNRJ 29276, d adulto (Fig.l), D.L.Silvano e B.V.S.Pimenta cols., 25/IX/ 2001. Parátipo - BRASIL: BAHIA: Município de Una, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Ecoparque de Una (15°10’S, 39°04’W, 60m de altitude), MNRJ 29676, d adulto, B.V.S.Pimenta e P.H.C.Cordeiro cols., 27/V/2002. Diagnose - A espécie é diagnosticada pela seguinte combinação de caracteres: (1) tamanho mediano para o grupo (CRC em machos 47,6- 49,2mm); (2) superfícies anterior e posterior das coxas imaculadas, de colorido castanho-escuro em preservativo e arroxeado em vida; (3) flancos imaculados; (4) em preservativo, colorido dorsal castanho-escuro, com faixas transversais castanho-escuro ausentes ou pouco evidentes; (5) cabeça mais comprida que larga, sua largura aproximadamente 2,8 vezes menor que o comprimento total; (6) comprimento total menor que a soma dos comprimentos da coxa com a tíbia; (7) machos adultos com fendas vocais. Hyla lucianae sp.nov., holótipo (MNRJ 29276): fig.l- vista dorsal, CRC 47,6mm. Comparações com outras espécies - Hyla lucianae sp.nov. distingue-se de H. astartea, H. carvalhoi, H. circumdata, H. gouveai, H. hylax, H. ibitipoca, H. izecksohni, H. luctuosa, H. ravida e H. sazimai por apresentar as superfícies anterior e posterior das coxas e flancos desprovidas de faixas transversais castanho-escuro. Hyla lucianae sp.nov. apresenta tamanho menor (CRC em machos 47,6-49,2mm) que H. carvalhoi, H. circumdata, H. gouveai e H. luctuosa (CRC combinado em machos 55,2- 71,6mm) e maior que H. astartea, H. nanuzae, H. ibitipoca e H. sazimai (CRC combinado em machos 30,2-42,5mm). Em preservativo, o colorido dorsal de fundo de H. lucianae sp.nov. é castanho-escuro, com desenho dorsal ausente ou pouco nítido [H. ibitipoca, de cor creme, com desenho dorsal pouco evidente e com manchas liquenáceas; H. sazimai, cor de palha muito claro, intensamente salpicado por pequenos pontos de cor castanho-escuro, onde somam-se retículos muito finos que formam poliedros irregulares interligados; H. carvalhoi e H. gouveai, dorso imaculado, variando do castanho-acinzentado ao castanho-arroxeado; H. nanuzae, castanho-médio a claro, com tons Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.189-194, jul./set.2003 NOVA ESPÉCIE DO GRUPO HYLA CIRCUMDATA (COPE, 1870) DO SUL DA BAHIA, BRASIL 191 alaranjados e sem padrão de faixas transversais castanho-escuro). O colorido das faces internas das coxas tende ao arroxeado em vida em H. lucianae sp.nov., distinguindo-a de H. nanuzae e H. ibitipoca, que o apresenta variando do alaranjado ao vermelho-salmão. Fendas vocais presentes em machos adultos de H. lucianae sp.nov., ausentes em machos de H. izecksohni. Hyla lucianae sp.nov. apresenta largura da cabeça menor que H. ravida (CRC/LC em machos 2,8 e 2,5-2,6, respectivamente). Hyla lucianae sp.nov. apresenta comprimento da coxa menor que H. izecksohni (CCX/CRC em machos 0,51-0,52 e 0,53-0,55, respectivamente). A Soma do comprimento da coxa com o da tíbia é maior que o comprimento total em H. lucianae sp.nov. e igual ou menor em H. ibitipoca. Descrição do holótipo - Tamanho mediano para o grupo (CRC 47,6mm). Cabeça mais comprida que larga, sua largura cabendo cerca de 2,8 vezes no comprimento total. Distância internasal menor que a distância olho-narina e menor que o diâmetro do olho, este último maior que a distância olho-narina. Focinho truncado em vistas dorsal e lateral (Figs.2-3); canto rostral distinto; região loreal oblíqua, côncava; tímpano distinto, circular, de tamanho médio (DT/CRC 0,06), seu bordo superior parcialmente encoberto por uma prega supra-timpânica moderadamente desenvolvida; diâmetro do olho 1,8 vezes maior que o diâmetro do tímpano; região internasal sulcada; dentes vomerianos em duas fileiras angulares entre as coanas; fendas vocais bem desenvolvidas; língua ovóide. Antebraço hipertrofiado, com fraca prega longitudinal crenulada. Disco adesivo do dedo III e do artelho IV aproximadamente de mesma largura (Fig.4). Dedos com tubérculos subarticulares arredondados, sendo o tubérculo distai do dedo IV bífido. Tubérculos supranumerários presentes, pouco pronunciados; prega longitudinal entre o pré-pólex e o dedo I distinta, mas pouco visível devido à maneira como foi fixado o espécime. Pré- pólex desenvolvido, simples (não bífido), terminando em acúleo pontiagudo. Fórmula palmar, 12 1/2-2 1/2 II 1 1/2 - 2 III 2 1/3 - 2 IV. Coxa pouco mais robusta que a tíbia, aproximadamente de mesmo comprimento. Soma dos comprimentos da coxa com a tíbia maior que o comprimento total. Tarso (Fig.5) com fraca prega dérmica longitudinal não crenulada; calcanhar com apêndice calcâneo vestigial (Fig.l); Hyla lucianae sp.nov., holótipo (MNRJ 29276): fig.2- vista dorsal da cabeça; fig.3- vista lateral da cabeça; fig.4- palma da mão; fig.5- planta do pé. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.189-194, jul./set.2003 192 M.F.NAPOLI & B.V.S.PIMENTA tubérculos subarticulares arredondados; tubérculos supranumerários ausentes; tubérculo metatarsal interno ovóide; tubérculo metatarsal externo pouco evidente. Fórmula plantar, I 1 + - 1 2/3 II 1 - 2 III 1 - 2 IV 2 - 1 V. Ventre e superfícies ventrais das coxas e tórax, aureolados; superfícies ventrais dos braços, tarsos, pernas e região guiar, lisas. Colorido do holótipo em vida - Dorso castanho- avermelhado, mais escuro na cabeça e gradativamente mais claro até a região da cloaca. Uma faixa vertebral castanho-escuro da ponta do focinho até a região sacral. Flancos de cor creme. Região dorsal dos membros castanho- claro, com barras transversais castanho-escuro. Superfícies anterior, superior e posterior das coxas, dedos, artelhos, membranas interdigitais e região cloacal, castanho-claro. Região superior das coxas com barras transversais castanho- escuro. Superfícies ventrais branco-amarelado. íris acobreada, com desenhos negros e marginada de auréola azul-escuro. Colorido do holótipo em preservativo - Superfícies dorsais castanho-escuro. Dorso sem as faixas transversais castanho-escuro típicas do grupo de Hyla circumdata. Uma faixa vertebral castanho- escuro da ponta do focinho até aproximadamente a região sacral. Região loreal imaculada e de mesma coloração que a cor de fundo dorsal. Canto rostral sem faixas ou manchas que o delimitem inferiormente. Flancos imaculados, com colorido que vai do castanho-escuro dorsal à cor creme ventral. Braço esquerdo com duas barras castanho- escuro muito finas e pouco visíveis, sobre castanho de mesma tonalidade que a cor dorsal; braço direito, antebraços e mãos imaculados, de coloração idêntica à cor de fundo dorsal. Membros posteriores com a mesma coloração de fundo que a dorsal. Superfícies anterior e posterior das coxas, imaculadas; superfície superior com faixas transversais castanho-escuro, porém pouco nítidas. Perna com cinco faixas transversais castanho-escuro. Superfície dorsal do pé imaculada. Superfícies ventrais creme; região guiar com margem levemente melanizada. Medidas do holótipo (mm) - CRC 47,6; CC 17,7; LC 17,2; DIN 3,2; DON 4,8; DO 5,4; LPS 4,4; DIO 5,6; DT 3,0; OCX 24,6; CTB 24,4; CP 32,5; DNF 2,8; DD3 2,5; DA4 2,5. Variação - O parátipo (MNRJ 29676) apresenta quatro faixas transversais castanho-escuro na região sacral do dorso, embora pouco contrastadas da cor dorsal de fundo, cinco a seis faixas transversais na face superior da coxa e comprimento total maior que do holótipo, porém com menor desenvolvimento do pré-pólex. Medidas do parátipo (mm): CRC 49,2; CC 18,3; LC 17,4; DIN 3,4; DON 5,6; DO 5,6; LPS 4,4; DIO 5,6; DT 3,2; CCX 25,7; CTB 26,2; CP 35,3; DNF 2,8; DD3 2,4; DA4 2,0. Fórmulas palmar e plantar, respectivamente: 12 1/2-2 1/2 II 1 1/2 -3 _ III 2 - 2 IV; I 1 + - 2- II 1 - 2 III 1 - 2 IV 2 - 1 V. Um espécime juvenil (MNRJ 29277), coletado junto com o holótipo, provavelmente se trata de Hyla lucianae sp.nov. e apresenta coloração dorsal geral castanho-claro, com algumas zonas dorsais pigmentadas de castanho mais escuro formando um “Z”, além de possuir as faces anterior e posterior das coxas imaculadas. Etimologia - O nome da espécie homenageia a herpetóloga Luciana Barreto Nascimento (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG), em reconhecimento a sua dedicação na formação de novos profissionais no campo da Zoologia. Vocalização - A vocalização de anúncio do holótipo, gravada no campo, é constituída por notas multipulsionadas, que podem ser emitidas em conjuntos de até 11 notas por vez (Fig.6). A duração de cada canto depende do número de notas emitidas e varia de 0,16s, em uma única nota, a 7,64s em 11 notas. A nota inicial difere das demais por não formar grupos de pulsos (Fig.7). Quando emitida isoladamente, é constituída de 15 a 23 pulsos (£ = 17,85; s=3,07; n=7), com duração de 0,16-0,28s (£ =0,21; s=0,04; n=7) e freqüência dominante entre 1,25 kHz (£ =1,29; s=0,03; n=7) e 2,59 kHz (£ =2,39; s=0,10; n=7). Quando emitida em conjuntos de três ou mais notas, é constituída de 33 a 44 pulsos (£ =38,7; s=3,43; n=10), com duração de 0,26-0,37s (£ =0,33; s=0,03; n=10) e freqüência dominante entre 1,25 kHz (£=1,28; s=0,19; n=10) e 2,71 kHz (£=2,57; s=0,13; n=10). A segunda nota é aquela com menor número de pulsos (xT =29,5; s=4,17; n=10) (Fig.7). As notas que se seguem à nota inicial têm os pulsos agrupados (2 a 11 pulsos por grupo), onde o número de grupos, os intervalos entre os pulsos e a duração das notas aumentam gradativamente durante a emissão do canto; o número de pulsos presentes nos grupos iniciais de cada nota é maior que nos grupos finais, existindo freqüentemente pulsos isolados entre os grupos (Fig.8). A freqüência dominante é semelhante entre as notas, variando de 1,25 a 2,78 kHz. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.189-194, jul./set.2003 NOVA ESPÉCIE DO GRUPO HYLA CIRCUMDATA (COPE, 1870) DO SUL DA BAHIA, BRASIL 193 Cantos de anúncio de Hyla lucianae sp.nov., holótipo (MNRJ 29276), Reserva Biológica de Una, Bahia, 20h36min, 25/IX/ 2001 - fig.6- sonograma: canto composto por onze notas; fig.7- oscilograma: detalhe das duas primeiras notas do canto da figura 6; fig.8- detalhe da oitava nota do canto da figura 6. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.189-194, jul./set.2003 194 M.F.NAPOLI & B.V.S.PIMENTA História natural - Os fragmentos de mata da REBIO de Una e da RPPN Ecoparque de Una são contíguos, sendo separados apenas pelo rio Maruim, de águas rápidas e profundas, leito pedregoso e cerca de oito a dez metros de largura. São matas primárias, com dossel contínuo e grande abundância de lianas e epífitas. O holótipo foi capturado enquanto vocalizava no interior de uma bromélia, a l,8m de altura do solo, próximo a um pequeno riacho e a uma poça temporária no interior da mata. O parátipo foi capturado sobre um cipó fino, a cerca de 2,0m de altura do solo, próximo a poça temporária praticamente seca. Apesar do pequeno número de exemplares coligidos, a espécie parece ser abundante no local, pois era possível ouvir vários machos vocalizando no interior de bromélias situadas em árvores de grande porte, entre 6,0 e 12,0m do solo, sempre próximos a corpos d’água nas porções mais fechadas da mata. Distribuição geográfica - Conhecida apenas para a localidade-tipo. É o registro mais setentrional conhecido para o grupo de H. circumdata dentro do Domínio Tropical Atlântico (AETSÁBER, 1977). AGRADECIMENTOS A Débora L. Silvano (Belo Horizonte, MG) e Paulo H.C. Cordeiro (Rio de Janeiro, RJ) pelo auxílio nas atividades de campo; a Jomar G. Jardim (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC), pela disponibilização dos dados fitofisionômicos; ao Dr. Ulisses Caramaschi (MNRJ), pela fotografia do holótipo; ao Desenhista Paulo Roberto Nascimento (MNRJ), pelas ilustrações a nanquim; ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela permissão para estudos na área sob sua administração; ao Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB), pela autorização para estudos em sua propriedade Este trabalho é resultado do sub-projeto “Abordagens Ecológicas e Instrumentos Econômicos para o Estabelecimento do Corredor do Descobrimento: uma Estratégia para Reverter a Fragmentação Florestal da Mata Atlântica no Sul da Bahia”, financiado pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira/Ministério do Meio Ambiente (PROBIO/MMA), Center for Applied Biodiversity Science/Conservation International (CABS/CI), Banco Mundial e coordenado pelo Instituto de Estudos Sócio- Ambientais do Sul da Bahia (IESB). 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Palavras-chave: Amphibia; Anura; Microhylidae; Chiasmocleis; Taxonomia; Floresta Atlântica. ABSTRACT: Two new species of Chiasmocleis Méhely, 1904 from the Atlantic Rain Forest of Southern Bahia, Brazil (Amphibia, Anura, Microhylidae) Two new species of the genus Chiasmocleis from the Atlantic Rain Forest of Southern Bahia, Brazil, are described. Both species belong to the group characterized by well-developed webbing on feet, composed until now by C. capixaba and C. leucosticta. Information on the habits of the new species and on the distribution of the genus in the biome are presented and discussed. Key words: Amphibia; Anura; Microhylidae; Chiasmocleis; Taxonomy; Atlantic Rain Forest. INTRODUÇÃO Atualmente, são reconhecidas cinco espécies do gênero Chiasmocleis Méhely, 1904 para a região da Mata Atlântica do Brasil, distribuídas de Santa Catarina até o sul da Bahia: C. leucosticta (Boulenger, 1888), C. schubarti Bokermann, 1952, C. atlantica Cruz, Caramaschi & Izecksohn, 1997, C. capixaba Cruz, Caramaschi & Izecksohn, 1997 e C. carvalhoi Cruz, Caramaschi & Izecksohn, 1997 (CRUZ, CARAMASCHI & IZECKSOHN, 1997; VAN SLUYS, 1998; PIMENTA, CRUZ & DIXO, 2002; PIMENTA & SILVANO, 2002). Uma sexta espécie, C. alagoanas Cruz, Caramaschi & Freire, 1999, também do bioma da Mata Atlântica, é conhecida para o Estado de Alagoas (CRUZ, CARAMASCHI & FREIRE, 1999). Essas espécies foram subdivididas em dois grupos morfologicamente distintos, sendo que o primeiro envolve formas com membranas interdigitais bem desenvolvidas entre os artelhos (C. capixaba e C. leucosticta) e o segundo é composto por formas sem membranas ou com membranas apenas vestigiais (C. alagoanus, C. atlantica, C. carvalhoi e C. schubarti) (CRUZ, CARAMASCHI & IZECKSOHN, 1997; CRUZ, CARAMASCHI & FREIRE, 1999). Durante amostragens nas matas da região de Camamu, Estado da Bahia, foram obtidos exemplares de duas novas espécies de Chiasmocleis afins de C. capixaba e C. leucosticta, descritas neste trabalho. MATERIAL E MÉTODOS Tipos e material adicional examinado depositados na coleção do Museu Nacional - Rio de Janeiro, RJ (MNRJ), referidos em CRUZ, CARAMASCHI & IZECKSOHN (1997), VAN SLUYS (1998), CRUZ, CARAMASCHI & FREIRE (1999), PIMENTA, CRUZ & DIXO (2002) e PIMENTA & SILVANO (2002). Medidas utilizadas, em milímetros (mm): comprimento rostro-anal (CRA), comprimento da cabeça (CC), largura da cabeça (LC), distância internasal (DIN), distância narina-olho (DNO), diâmetro do olho (DO), largura da pálpebra superior (LPS), distância interorbital (DIO), comprimento da coxa (OCX), comprimento da tíbia (CT) e comprimento do tarso-pé (CTP). RESULTADOS Chiasmocleis cordeiroi sp.nov. (Figs.1-5) Holótipo - BRASIL, BAHIA: Município de Camamu, 1 Submetido em 27 de março de 2003. Aceito em 06 de junho de 2003. 2 Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Vertebrados. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 3 Museu Nacional/UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas/Zoologia, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 196 U.CARAMASCHI & B.V.S.PIMENTA Projeto de Assentamento Zumbi dos Palmares (14°02’S, 39°09W, 120m de altitude), MNRJ 29931 (Fig. 1), d adulto, B.V.S.Pimenta e P.H.C.Cordeiro cols., 13/XII/2000. Parátipo - Coletado com o holótipo: MNRJ 29932, d adulto. Diagnose - Espécie de tamanho médio para o gênero (CRA em machos, 20,2-22,lmm), afim de C. capixaba e C. leucosticta, caracterizada por: (1) corpo ovóide; (2) focinho curto, arredondado em vistas dorsal e lateral; (3) mão sem membranas interdigitais, pé extensivamente palmado; (4) dedos e artelhos sem discos, extensivamente fimbriados nas partes livres; (5) dedos robustos, marginados por uma fileira de espinhos, com espinhos apicais e fímbrias providas de poucos espinhos dérmicos laterais; (6) dedos I, II e III espessados; (7) artelhos com espinhos apenas apicais, com fímbrias providas de numerosos espinhos dérmicos laterais; (8) superfícies dorsal e ventral do corpo e membros com poucos espinhos dérmicos pequenos, uniformemente distribuídos; (9) em preservativo, dorso castanho-escuro uniforme; (10) face posterior das coxas com uma tênue linha branca longitudinal; (11) ventre finamente marmoreado de cor creme-claro sobre fundo castanho, região guiar castanho-escuro acinzentado. Descrição - Tamanho médio para o gênero; corpo ovóide; cabeça curta, pouco mais larga que longa; narinas situadas na extremidade do focinho, não protuberantes, orientadas anterolateralmente; focinho curto, arredondado em vistas dorsal e lateral (Figs.2-3); distância internasal cerca de 88% do diâmetro do olho, que por sua vez corresponde a 93% da distância narina-olho; canto rostral arredondado; região loreal ligeiramente côncava; lábio superior com espinhos dérmicos espaçados; olhos pequenos, pouco protuberantes; largura da pálpebra superior cerca de 25% da distância interorbital; região interorbital plana; ausência de cristas craniais e prega occipital; prega pós-orbital presente; tímpano ausente; maxila ligeiramente projetada sobre a mandíbula; mandíbula com margem anterior truncada, trilobada; língua grande, ovóide; coanas pequenas, arredondadas, bem separadas; saco vocal pequeno, subgular. Membros anteriores esguios, antebraço sem cristas ou tubérculos. Mão (Fig.4) sem membranas interdigitais; dedos robustos, sem discos, com espinhos apicais e extensivamente fimbriados; vários espinhos dérmicos dispostos sobre uma linha clara entre os dedos e as fímbrias; fímbrias com poucos espinhos laterais; dedos em ordem de comprimento I 3 4 ROGÉRIO P. BASTOS 2 4 RESUMO: Vocalizações de duas espécies de anuros ocorrentes no sul do Brasil são descritas: os cantos de anúncio de Hyla semilineata Spix, 1824 e de Hyla werneri Cochran, 1952 e um canto de encontro de Hyla semilineata. Palavras-chave: Anura, Hylidae, vocalização, Hyla semilineata, Hyla werneri, sul do Brasil. ABSTRACT: Vocalizations of two species of anurans from Southern Brazil (Amphibia, Hylidae). Vocalizations of two species of anurans occurring in Southern Brazil are described: the advertisement calls of Hyla semilineata Spix, 1824 and Hyla werneri Cochran, 1952, and an encounter call of Hyla semilineata. Key words: Anura, Hylidae, vocalization, Hyla semilineata, Hyla werneri, Southern Brazil. INTRODUÇÃO A comunicação em anfíbios anuros é baseada principalmente na emissão das vocalizações pelos machos (DUELLMAN & TRUEB, 1986). As vocalizações desempenham funções na atração de fêmeas, reconhecimento específico e territorialidade e causam interferência acústica intra- e interespecífica (BASTOS & HADDAD, 1996; WOLLERMAN, 1999; ROESLI & REYER, 2000). O fato das vocalizações serem importantes mecanismos de isolamento reprodutivo tem contribuído recentemente para o aumento de trabalhos taxonômicos envolvendo a descrição de vocalizações ( e.g ., POMBAL JR., BASTOS 86 HADDAD, 1995; POMBAL JR., HADDAD 86 KASAHARA, 1995; HADDAD 86 POMBAL, 1998; GARCIA, CARAMASCHI 86 KW ET, 2001). No sul do Brasil, particularmente no Estado do Paraná, existe grande carência de informações taxonõmicas, zoogeográficas e/ou ecológicas de anuros (MACHADO et dl., 1999). Apesar de existirem ampliações de distribuição geográfica, descrições de algumas espécies e duas listas comentadas das espécies do norte do Paraná {e.g., BOKERMANN, 1965; IZECKSOHN, 1993; LANGONE 86 SEGALLA, 1996; POMBAL JR., WISTUBA 86 BORNSCHEIN, 1998; MACHADO et al, 1999; BERNARDE 86 MACHADO, 2000; CASTANHO 86 HADDAD, 2000; LINGNAU, 2000; MACHADO 86 CONTE 2001; MACHADO 86 HADDAD, 2001), poucos trabalhos envolveram a descrição das vocalizações dos anuros. Somente CASTANHO 86 HADDAD (2000) apresentaram o sonograma de Eleutherodactylus sambaqui Castanho 86 Haddad, 2000, até agora restrito à localidade-tipo em Guaraqueçaba, litoral do Paraná. No presente trabalho descrevemos a vocalização de duas espécies de anuros ocorrentes na região litorânea do Estado do Paraná, no Município de Morretes: Hyla semilineata Spix, 1824 e Hyla werneri Cochran, 1952. MATERIAL E MÉTODOS Trabalhos de campo foram realizados em poças temporárias associadas a cultivo de arroz na Estação II do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR; 25°26’59”S, 48°52’09”W), Município de Morretes, Estado do Paraná, entre janeiro e abril de 2002. Vocalizações foram gravadas com microfone Sony ECM acoplado a gravador DAT TCD-D100. Temperatura do ar e horário foram medidos com termômetro e relógio digitais, respectivamente. 1 Submetido em 04 de novembro de 2002. Aceito em 24 de junho de 2003. 2 Universidade Federal de Goiás, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia Geral. Caixa Postal 131, Goiânia, 74001-970, GO, Brasil. 3 Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 4 Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 204 R.LINGNAU & R.RBASTOS Vocalizações de Hyla semilineata foram digitalizadas com freqüência de entrada de 12kHz e as de H. werneri com 16kHz, ambas com resolução de 16 bits em computador PC Pentium. Os sonogramas foram confeccionados no programa Avisoft-SASLab Light com FFT (256 pontos), Overlap (87,5%) e Windotu (Fiat Top). A freqüência dominante dos cantos foi obtida através do programa Cool Edit 96 com FFT 1024. Uma fita DAT contendo 10 cantos de anúncio de Hyla semilineata foi reproduzida, com auxílio de um gravador, para um macho cantor coespecífico. A terminologia utilizada na descrição dos cantos segue DUELLMAN & TRUEB (1986), GERHARDT (1998) e GERHARDT 86 HUBER (2002). Espécimes examinados e indivíduos gravados estão depositados na coleção de anfíbios do Museu Nacional - Rio de Janeiro (MNRJ). As gravações estão depositadas na Coleção de Arquivos Sonoros do Laboratório de Comportamento Animal, Universidade Federal de Goiás. RESULTADOS Hyla semilineata Spix, 1824 Machos (n=2) vocalizaram a cerca de l,5m de altura do substrato, em bambus à margem de uma poça temporária de cultivo de arroz. Dois cantos distintos puderam ser diferenciados. A primeira vocalização pode ser definida como canto de anúncio (Fig.l, Tab.l), pois era a mais freqüentemente ouvida. É constituída de duas a três notas pulsionadas; a duração média do canto é de 151±29ms e das notas de 48±llms. O número médio de pulsos por nota foi de 11+8 e a duração média de cada pulso de 3,8+0,5ms. A freqüência dominante média foi de 1013,6+189,4Hz. A segunda vocalização pode ser considerada como um tipo de canto de encontro (Fig.2, Tab.l), pois foi emitida após playbacks do canto de anúncio (N=2 playbacks). Apresenta estrutura harmônica, sendo constituída por uma nota com duração média de 49±10ms. A freqüência dominante corresponde à freqüência fundamental, sendo sua média de 1071,2+263,6Hz. Hyla werneri Cochran, 1952 Machos (n=15) vocalizaram formando coro sobre a vegetação rasteira e arbustiva até a altura aproximada de 50cm. O canto de anúncio (Fig.3, Tab.l) é constituído, em média, por 4,2 +1,8 notas pulsionadas. A duração média do canto foi de 538,9;+279,9ms, sendo a duração média de cada nota de 23±4ms. O número médio de pulsos por nota foi de 4,2±1,8. A freqüência dominante média foi de 6755,7+845,1Hz. COMENTÁRIOS As vocalizações de Hyla semilineata e de H. werneri, espécies que até recentemente não eram consideradas plenas (SILVEIRA 86 CARAMASCHI, 1989; POMBAL JR. 86 BASTOS, 1998), foram descritas pela primeira vez. A vocalização de anúncio de Hyla werneri é diferente das vocalizações de espécies próximas, tais como Hyla decipiens (ABRUNHOSA, WOGEL 8& POMBAL JR., 2001) e H. meridiana (POMBAL JR. 86 BASTOS, 1998), reforçando sua distinção específica. Hyla werneri pertence ao grupo de H. microcephala, que não possui uma proposta filogenética satisfatória (POMBAL JR. 86 BASTOS, 1998). As características acústicas podem ser utilizadas em análises filogenéticas juntamente com outras informações para gerar hipóteses sobre a história evolutiva de um grupo (GERHARDT, 1998). Hyla semilineata era considerada sinônimo de H. geographica. Porém, SILVEIRA 86 CARAM ASCHI (1989), comparando a morfologia dos adultos, sugeriram a distinção dos indivíduos ocorrentes na costa do Brasil, de Alagoas a Santa Catarina, como H. semilineata. Mais recentemente, diferenças encontradas entre os girinos de H. geographica e H. semilineata corroboraram a existência das duas espécies (D’HEURSEL 8& DE SÁ, 1999). Os cantos de anúncio de H. geographica são altamente variáveis (DUELLMAN, 1973; MÁRQUEZ, DE LA RIVA 86 BOSCH, 1993). DUELLMAN (1973) relatou a existência de Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.203-207, jul./set.2003 VOCALIZAÇÕES DE ANUROS DO SUL DO BRASIL 205 e Tempo (s) Hyla semilineata Spix, 1824 (MNRJ 29764, temperatura do ar 23,2°C): fig. 1- sonograma do canto de anúncio, fig.2- sonograma do canto de encontro. Tempo (s) Fig.3- Sonograma do canto de anúncio de Hyla tuemeri (MNRJ 30401, temperatura do ar 23,7°C) Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.203-207, jul./set.2003 206 R.LINGNAU & R.P.BASTOS TABELA 1 Amplitude dos parâmetros acústicos das vocalizações de Hyla semilineata Spix, 1824 e Hyla werneri Cochran, 1952 Parâmetros acústicos Hyla semilineata Hyla iverneri Tipo de vocalização Canto de anúncio Canto de encontro Canto de anúncio Duração do canto (ms) 105 - 187 38 - 57 20 - 1770 Número de notas 2 - 3 1 1 - 12 Duração das notas (ms) 18 - 92 38 - 57 13 - 40 Pulsos por nota 3 - 19 - 3 - 10 Duração dos pulsos (ms) 3 - 5 - 3 - 7 Freqüência dominante (Hz) 865 - 1235 672 - 1382 6330 - 7410 N (cantos analisados/J gravados) 5/1 5/1 75/15 cantos longos e curtos, embora alguns indivíduos emitam somente um desses dois tipos. MÁRQUEZ, DE LA RIVA & BOSCH (1993) afirmam que os cantos encontrados na Bolívia correspondem ao canto curto descrito por DUELLMAN (1973). O canto de anúncio (Fig.l) de H. semilineata é similar (por ser constituído por pulsos) ao canto publicado por MÁRQUEZ, DE LA RIVA & BOSCH (1993) para H. geographica. Todavia, o canto de encontro (Fig.2) é diferente dos cantos longos registrados por DUELLMAN (1973), indicando que não há equivalência entre essas vocalizações. Os valores médios para a freqüência dominante do canto de anúncio de H. semilineata foram menores que os valores apresentados por DUELLMAN (1973) e MÁRQUEZ, DE LA RIVA & BOSCH (1993) para H. geographica. Assim, a análise dos cantos de anúncio e de encontro de H. semilineata também corrobora a sua distinção de H. geographica. Exemplares examinados Hyla semilineata - MNRJ 29763 - 29764. Hyla werneri - MNRJ 29761 - 29762, 29766, 30388 - 30402. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. José P. Pombal Jr. (MNRJ) pela identificação de exemplares de Hyla semilineata e Hyla werneri. Ao mestrando Rafael Costa (UFRJ) e a Carina Merkle Lingnau pelo auxílio no campo. Aos doutorandos Lorena D. Guimarães (UFG) e Reginaldo A. Machado (UFPR) pela leitura do manuscrito e sugestões apresentadas. Ao Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) de Morretes pela permissão de trabalho na área de estudo. À Fundação de Apoio à Pesquisa (FUNAPE/UFG) pelo apoio financeiro (Proc. n° 69.127). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRUNHOSA, P.A.; WOGEL, H. & POMBAL JR., J.P., 2001 - Vocalização de quatro espécies de anuros do Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil (Amphibia, Hylidae, Leptodactylidae). Boletim do Museu Nacional, Nova Série, Zoologia, Rio de Janeiro (472): 1-12. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v.61, n.3, p.203-207, jul./set.2003 VOCALIZAÇÕES DE ANUROS DO SUL DO BRASIL 207 BASTOS, R.P. & HADDAD, C.F.B., 1996 - Breeding activity of the neotropical treefrog Hyla elegans (Anura, Hylidae). Journal of Herpetology, Lawrence, 30(3):355-360. 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Os manuscritos podem ser encaminhados em português ou inglês (outro idioma ficará a critério da Comissão Editorial). Os termos estrangeiros no texto deverão ser grafados em itálico. 3- Os textos deverão ser precedidos de identificação do autor (nome e instituição de vínculo com endereço completo). 4- Deverão constar Resumo e Abstract, juntamente com título e palavras-chave em português e inglês. 5- As ilustrações, designadas no texto como figura (Fig.l, Fig.2, etc.), deverão conter escalas com as unidades abreviadas (legendas à parte). Quando digitalizadas, deverão ser salvas individualmente em arquivos com a extensão JPG/JPEG (inclusive quando apresentadas em pranchas). 6 - As citações no texto devem ser indicadas pelo sistema autor-data que compreende o sobrenome do(s) autor(es), em caixa alta, seguido do ano de publicação do documento, separado por vírgula e entre parêntese. Ex.: (PEREIRA, 1996). 7- As referências bibliográficas (adaptadas das normas da ABNT) deverão ser apresentadas no final do texto, em ordem alfabética única dos autores. Livro: LIMA, D.A., 1982 - Present-day forest refuges in Northeastern Brazil. In: PRANCE, G.T. (Ed.) Biological diversification in the tropics. New York: Columbia University Press, p.245-251. Periódico: MORA, O.A., SIMÕES, M.J. & SASSO, W.S., 1987 - Aspectos ultra-estruturais dos fibroblastos durante a regressão da cauda dos girinos. Revista Brasileira de Biolo¬ gia, Rio de Janeiro, 47(4):615-618, figs.1-2. Trabalhos apresentados em encontros científicos: VENTURA, P.E.C., 1985 - Avifauna de Morro Azul do Tinguá, Miguel Pereira, Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 12., Campinas. Resumos..., Campinas: Universidade Estadual de Campinas, p.273. Documentos disponíveis na internet: POMERANCE, R., 1999 - Coral mortality, and global climate change. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 1999. 8 - Serão fornecidos ao(s) autor(es) 50 (cinqüenta) exemplares por artigo. 9- A correspondência editorial e os artigos deverão ser enviados para: Comissão de Publicações Museu Nacional/UFRJ Quinta da Boa Vista, São Cristóvão 20940-040 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Tels.: (0xx21) 2567 6316 / 2568 8262 - ramal 203 E-mail: INSTRUCTIONS TO AUTHORS The authors are totally responsible for the content of the texts 1 - The MUSEU NACIONAL/UFRJ publishes reports of original scientific research in the field of Natural and Anthropological Sciences in the following publications: Arquivos do Museu Nacional (ISSN 0365-4508); Publicações Avulsas do Museu Nacional (ISSN 0100-6304); Relatório Anual do Museu Nacional (ISSN 0557-0689); Boletim do Museu Nacional , Nova Série - Antropologia (ISSN 0080-3189), Botânica (ISSN 0080-3197), Geologia (ISSN 0080- 3200) and Zoologia (ISSN 0080-312X); Série Livros (ISBN 85-7427). All are indexed in the following data base: BIOSES, Zoological Record, Ulrich’s International Periodicals Directory, Biological Abstracts, Periódica and C.A.B.International. 2- The manuscript must be submitted in three high-quality copies, printed on one side of A4 paper, double-spaced, font Times New Roman (12), together with an electronic version (Word for Windows) not formatted. The manuscripts can be submitted in Portuguese or English (for other languages consult the Editorial Board). All foreign expressions have to be italicized. 3- The text has to be preceded by the Identification of the author (name, institutional affiliation, and complete address). 4- An abstract followed by the title and key works in both languages have to be provided in English and Portuguese. 5- All illustrations, designated in the text as figure (Fig.l, Fig.2, etc.), must have scale bars. Titles or captions must be typed apart. When digitalized, they shoul be in format JPG/JPEG. 6- All citations must indicate author and year of publication, with the author(s’) last name(s) in upper case followed by the publications date of the cited document, separated by a comma and in brackets; i.e.: (PEREIRA, 1996). 7- The references must be presented at the end of the text in alphabetical order, as follows (adapted from the ABTN regulations): Books/ chapters in books: LIMA, D.A., 1982 - Present-day forest refuges in Northeastern Brazil. In: PRANCE, G.T. (Ed.) Biological diversification in the tropics. New York: Columbia University Press, p.245-251. Periodicals : MORA, O.A.; SIMÕES, M.J. & SASSO, W.S., 1987 - Aspectos ultra-estruturais dos fibroblastos durante a regressão da cauda dos girinos. Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, 47(4):615-618, figs.1-2. Papers published in scientific meetings : VENTURA, P.E.C., 1985 - Avifauna de Morro Azul do Tinguá, Miguel Pereira, Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 12., Campinas. Resumos..., Campinas: Universidade Estadual de Campinas, p.273. Documents obtained at the internet: POMERANCE, R., 1999 - Coral mortality, and global climate change. Available: . Capturedon 18abr. 1999. 8- A total of 50 (fifty) copies, per article, are offered free of charge for the author(s). 9- All correspondence and manuscripts must be sent to the following address: Comissão de Publicações Museu Nacional/UFRJ Quinta da Boa Vista, São Cristóvão 20940-040 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Tels.: (0xx21) 2567 6316 / 2568 8262 ramal 203 E-mail: SOCIEDADE DOS AMIGOS DO MUSEU NACIONAL A Sociedade dos Amigos do Museu Nacional (SAMN) é uma instituição sem fins lucrativos. Fundada em 13 de janeiro de 1937 por professores do Museu Nacional, em 23 de dezembro de 1966 foi reconhecida como de utilidade pública pela Lei Estadual n°1200. Os objetivos da SAMN ligam-se ao enriquecimento da cultura nacional - incentivar o ensino das Ciências Naturais e Antropológicas através de visitas, cursos, concursos, etc.; enriquecer as coleções científicas do Museu Nacional; promover expedições científicas e atividades técnico-científicas no país; incentivar o respeito ao índio e a suas manifestações culturais, à natureza e à preservação de suas riquezas e, finalmente, promover atividades esporti¬ vas, recreativas e sociais. A atual Diretoria da SAMN está trabalhando no sentido de revitalizar a Sociedade, objetivando, inclusive, maior integração com as escolas que visitam o Museu Nacional. Com vistas a promover essa integração, está sendo lançada uma campanha de adesões, de caráter permanente. A filiação à SAMN poderá ser feita por fax (ficha de inscrição abaixo) ou on line (ficha de inscrição na homepage). O valor da anuidade para 2003 é R$35,00 (pessoa física) e 1 salário mínimo nacional (pessoa jurídica). Endereço Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Telefones (21) 2568 8262 / 2567 6316, ramais: 221, 245, 209. Fax: ramal: 232 Flomepage www.samnhp.hpg.com.br E-mail amigos@mn.ufrj.br NOME: . ENDEREÇO:. . CEP: TELEFONE:.CELULAR: E-MAIL:. HOMEPAGE:. NASCIMENTO: ././.CPF/CNPJ/CGC: . ID/ÓRGÃO EXP.:. ATIVIDADES:. Envie cópia desta ficha por fax: (21) 2568 8262 / 2567 6316 ramal 232, ou faça sua filiação pela homepage: www.samnhp.hpg.com.br. MUSEU NACIONAL Universidade Federal do Rio de Janeiro Quinta da Boa Vista, São Cristóvão 20940-040 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Impresso com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES Programa PROAP/2003 Impresso na Gráfica da UFRJ Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.61, n.3, jul./set.2003 ISSN 0365-4508 SUMÁRIO Botânica E.F.GUIMARÃES, C.B.F.MENDONÇA, V.GONÇALVES-ESTEVES SC J.F.PEREIRA. Palinotaxonomia de espécies de Schultesia Mart. Gentianaceae Juss.151 Zoologia M.C.RAYOL SC C.S.SEREJO. A new species of MonoliropusMayer, 1903 (Amphipoda, Caprellidea) from Guanabara Bay, RJ, Brazil.165 C.M.A.SANTOS SC C.V.ASS1S-PUJOL. Espécie nova de Rhammatocerus Saussure, 1861 do Estado do Rio de Janeiro, Brasil (Caelifera, Acrididae, Gomphocerinae, Scyllinini).171 W.J.E.M.COSTA. A new miniature Rivuline fish from the upper Negro River Basin, northern Brazil (Teleostei, Cypridontiformes, Rivulidae).175 M.A.BARBOSA SC W.J.E.M.COSTA. Validade, relações filogenéticas e redescrição de Eremophilus candidus Ribeiro, 1949 (Teleostei, Siluriformes, Trichomycteridae) .179 M.F.NAPOLI SC B.V.S.PIMENTA. Nova espécie do grupo de Hyla circumdata (Cope, 1870) do sul da Bahia, Brasil (Amphibia, Anura, Hylidae).189 U.CARAMASCHI SC B.V.S.PIMENTA. Duas novas espécies de Chiasmocleis Méhely, 1904 da Mata Atlântica do sul da Bahia, Brasil (Amphibia, Anura, Microhylidae).195 R.LINGNAU SC R.P.BASTOS. Vocalizações de duas espécies de anuros do sul do Brasil (Amphibia, Hylidae).203