THE UNIVERSITY OF ILLINOIS LIBRARY 5 OO WZ ARQUIVOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA VOLUME II (Com uma figura no texto e XI estampas) LISBOA MCMXV Composto e impresso na tipografia «A Editora Limitada» — Largo do Conde Barão, 50 — Lisboa ÍNDICE 500 L.& % ci v.z I. — A. Benedicenti e S. Rebello — Sôbre a fixação directa dos metais por substâncias proteicas 1 II. — P. J. da Cunha — Sur la transformation des fractions continues illimitées en déterminants infinis 11 III. — E. Andréa — Sur les conditions d’équilibre relatif d’une masse fluide ... 21 IV. — Antonio Xavier Pereira Coutinho — Catalogi Herbarii Gorgonei Universitatis Olisiponensis Supplementum 27 V. — Alfredo Schiappa Monteiro — Sur une inégalité 61 VI. — Alfredo Schiappa Monteiro — Sur 1’application de 1’hyperboloíde à une mappe du quatrième ordre comme surface auxiliaire 63 VII. — Balthazar Osorio — Uma propriedade singular de uma bactéria lumi- nosa. (Segunda nota). (Estampas MI) 67 VIII. — A. Benedicenti e S. Rebello — Sôbre algumas propriedades das metalo- albuminas 77 IX. — F. Mattoso Santos — Notas de anatomia comparada. Esqueleto cefálico dos Peixes Teleósteos. (Estampas III-XI) 91 X. — F. Adolfo Coelho — A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 165 XI. — Alfredo Schiappa Monteiro — Note sur la ligne de striction de l’hy- perboloíde 209 XII. — Alfredo Schiappa Monteiro — Sur la démonstration géométrique d’une propriété de la normale aux coniques à centre 225 XIII. — J. Leite de Vasconcellos — Três anos de latim na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1911-1912, 1912-1913, 1913-1914) 233 Digitized by the Internet Archive in 2017 with funding from University of Illinois Urbana-Champaign https://archive.org/details/arquivodaunivers2191univ SOBRE A FIXAÇÃO DIRECTA DOS METAIS POR SUBSTÂNCIAS PROTEICAS POR A. BENEDICENTI S. REBELLO Professor de Farmacologia da Universidade de Génova Professor de Farmacologia da Universidade de Lisboa Para estudar as modificações das propriedades magnéticas dos metais em contacto com colóides proteicos não dialisados (soro de sangue, albu- mina de ovo), servindo-nos para isso do método já descrito em uma outra publicação 0) executámos uma primeira série de experiências partindo dos elementos metálicos puros (2) e não já dos sais metálicos, pois que nestes últimos haveria que considerar, alêm da acção do catião sobre o colóide, também a acção importante e complexa do anião. Para estas primeiras pesquisas, agitámos soro de sangue com ferro puríssimo (Kahlbaum) porfirizado e ainda de novo longamente reduzido pelo hidrogénio no laboratório. A agitação da mistura foi realizada em tubo completamente cheio de líquido, evitando assim a acção que o ar subdividido debaixo da forma de espuma exerceria fácilmente sobre o metal dividido em finas partículas. É fácil constatar pela análise que, pro- cedendo desta maneira, uma certa quantidade do metal é imediatamente fixada pelo soro e que, por outro lado, êste apresenta modificações das suas propriedades, se desnatura, perdendo, pelo menos em parte, a pro- priedade de se putrefazer e de coagular pelo calor. A primeira ideia que pode ocorrer é que o pó metálico esteja retido mecanicamente em suspensão como acontece com outros pós inertes (carvão, azul ultramarino, talco, etc.); mas o facto é que o soro agitado com ferro, filtrado e centrifugado longamente, constitui uma solução lim- (*) (*) A. Benedicenti, Ueber die Verbindungen der Proteine mit Metallsalzen. Biock. Zeitschr. 63, 276, 1914. (a) A. Benedicenti und S. Rebello Alves, Ueber die direkte Fixierung von Metal- len durch Proteinsubstanzen. Id. Id. 65, 107, 1914. 2 A. Benedicenti e 5. Rebello pidíssima na qual nem com as mais fortes ampliações é possível demons- trar a presença de grânulos metálicos. Ainda se poderia pensar que o Fe fixado se encontrasse em estado coloidal, estabilizado assim sob a forma de pequeníssimos grânulos. Sabe-se, de facto, que por divisão mecânica de algumas substâncias sólidas se pode obter uma dissolução parcial e algumas vezes uma sus- pensão parcial sob a forma de hidrosol. As experiências de Mengarini- -Traube 0), Scarpa, etc. já demonstraram que, de lâminas metálicas poli- díssimas, deixadas por muito tempo dentro de água distilada e no vácuo, se podem destacar espontâneamente partículas coloidais. Nas condições em que êsses experimentadores se colocaram, era necessário um tempo bastante longo (alguns meses); mas não seria ilógico pensar que, pela agitação e pelo estado físico do pó metálico, se destacassem mais rápida- mente as partículas coloidais que iriam sendo fixadas sucessivamente pela solução proteica (soro), agindo esta como estabilizadora. Poderia, portanto, suceder o mesmo que nas experiências de Lewis e Waumslei (2), os quais, agitando Pb pulverizado com solutos de cauchu em benzol contendo sulfureto de carbono, viram que o soluto se corava pela for- mação de sulfureto de chumbo e que êste, sendo estabilizado pelo soluto de cauchu à medida que se ia formando, permanecia no estado coloidaL Mas o facto é que, nas nossas experiências, o exame ultra-microscó- pico do soro tratado pelo Fe nunca demonstrou essa hipótese. Raríssi- mas ou de todo ausentes se verificaram as partículas coloidais no campo ultra-microscópico e estas quási sempre imóveis: não poderemos, por- tanto, falar de ferro ou de hidrato de ferro coloidais a menos que se estivesse em presença de um colóide amicrónico. Excluídas as hipóteses físicas até aqui consideradas, pode pensar-se que o Fe seja fixado quimicamente pelo soro e, mais exactamente, pelos gases que êsse soro contenha. Que o ferro metálico seja atacado fácil- mente pelos gases do ar, e especialmente pelo CO2, em determinadas condições, é cousa sabida e ainda demonstrada fácilmente pelas seguintes experiências : a) Encha-se um tubo (de + 30 cc.) com água de condutibilidade privada, por ebu- lição em copo de lena, dos gases que eventualmente possa conter; juntem-se-lhe 2 gra- mas de ferro em pó finíssimo e agite-se por algumas horas o tubo fechado sem admitir O Mengarini-Traube, Atti R. Accad. Lincei, 1910. (2) Lewis and Waumsley }Journ. Soc. Chem. Ind. 31, 1912. Sobre a fixação directa dos metais por substâncias proteicas 3 a presença de ar : o líquido decantado, depois de alguns minutos de repouso e forte- mente centrifugado, não revela nenhum vestígio de Fe. b) Encha-se outro tubo de igual capacidade com água de condutibilidade libertada de gases pela ebulição e saturada, a frio, de oxigénio feito borbulhar através dela; junte-se-lhe idêntica quantidade de ferro e agite-se pelo mesmo tempo. A análise de- monstra vestígios muito duvidosos de Fe. c) Um terceiro tubo contendo água distilada comum (com vestígios de cloretos e de sulfatos) é sujeito à mesma adição de metal e à mesma agitação. A análise demonstra evidentes vestígios de Fe. d) Em um último tubo contendo água de condutibilidade privada de gases mas saturada de anidrido carbónico e agitada, nas condições anteriores, com o ferro, — a análise demonstra notável quantidade de Fe fixado. Uma análise quantitativa pelo mé- todo de Ripper e Schwarzer deu, nestas condições : Ferro fixado 0.028 % Se mesmo teoricamente podemos admitir que o Fe’-ião reage com o OH'-ião da água para formar um hidrato, é certo que êsse fenómeno é des- prezível nas condições da nossa experiência pois que a análise não de- monstra vestígio de ferro no tubo a). Bem diverso é o caso com o CCV-ião do ácido carbónico, pois que então se forma um carbonato ferroso como as características proprieda- des da solução o demonstraram. O líquido contido no tubo d) é, de fa- cto, incolor e transparente; mas, apenas se destapa o tubo, forma-se, à su- perfície em contacto com o ar, uma turvação e o líquido cora-se de ver- de. A reacção vai alastrando lentamente, de cima para baixo ao longo das paredes do tubo, dando uma coloração verde mais intensa e depois um precipitado vermelho-tijolo constituído por sesquióxido de ferro hidra- tado que se vai juntando no fundo do tubo. A formação do precipitado é acelerada pela presença de H2O2; em presença de um colóide (p. ex. a goma arábica), a coloração vermelha não deixa de aparecer à superfície mas alastra muito lentamente sem que chegue a formar precipitado, o que deve talvez atribuir-se a que o hidrato de sesquióxido de ferro, à medida que se vai formando, vai sendo adsorvido ou fixado pelo colóide em forma solúvel. Os mesmos resultados se obteem quando se agita a água de condu- tibilidade com o cobalto metálico em lugar do Fe. De facto a água de condutibilidade na qual borbulhou o CO2 dissolve notáveis quantidades de cobalto e toma uma cor rósea mais ou menos intensa. E, se em vez de água na qual o CO2 esteja fisicamente dissolvido, nós empregamos, para a agitar com o Fe ou o Co (ou, podêmo-lo acrescentar, muitos outros metais), um soluto aquoso de álcali-carbonatos fácilmente dissociáveis, — obtemos idêntico resultado. 4 A. Benedicenti e S. Rebello Ora, apesar do estado em que o ácido carbónico e os álcali-carbonatos se encontram no soro nada ter que ver com o estado em que se encon- tram em um simples soluto aquoso, todavia não é inteiramente impossível admitir-se que uma parte do Fe, pelo menos, se combine com o ácido carbónico e os carbonatos do soro, segundo a maneira já dita. De facto, baseando-nos sobre as pesquisas feitas para determinar a [H'] (concentração dos H‘-iões) do soro e a constante de dissociação do ácido carbónico do sangue, concluiremos que 8.2 % do ácido carbónico total estaria li- vre (isto é: fisicamente dissolvido) emquanto 91.8 % estaria combinado com os álcalis minerais sob a forma de bicarbonato, do qual 73.4 % es- taria no estado de bicarbonato-ião (HCXV) e 18.4 % sob a forma de bi- carbonato não dissociado. A importância que estes bicarbonatos alcalinos solúveis e difusíveis teem para a combinação das substâncias proteicas com os sais dos me- tais pesados é grandíssima segundo as recentes experiências de Heard 0). Dessas experiências se conclui que a precipitação das proteínas por meio dêstes sais metálicos deve ser considerada como reacção entre metal e carbonato alcalino solúvel, de maneira que, libertado por diálise o suspen- sóide proteico dos seus sais difusíveis (carbonatos alcalinos), a precipi- tação com os sais de metais pesados deixa de realizar-se. Tor- nava-se, portanto, oportuno determinar a fixação do Fe pelo soro libertado dos seus sais difusíveis por diálise prolongada, assim como privá-lo dos gases contidos, sabendo-se, pelos trabalhos de Pflueger, que a dissociação do ácido carbónico no soro é mais completa do que em um simples soluto de bicarbonatos e que não pára até todo o bicarbonato ter pas- sado ao estado de carbonato fixo não dissociável no vá- cuo. Foi até esta observação que fez pensar na existência de substâncias ácidas no soro (substâncias sub-ácidas de Jacquet) a cuja presença se deveria esta completa dissociação. O aparelho usado nas nossas experiências consta (v. figura) de um tubo A herméticamente fechado nas suas extremidades por duas torneiras C e D. Esta última torneira (D) tem no macho uma cavidade N na qual se coloca uma quantidade determinada do pó metálico que deve ser agitado com o sôro. Posta a torneira na posição indicada na figura, aspira-se o ar, com a trompa de mercúrio até 760mm. Tendo-se retirado assim todo o ar contido, dá-se meia volta à torneira D , de maneira a isolar a cavidade N do resto do aparelho. Depois de destacado da trom- TO m>0 O Heard, Journ. ofPhysiol. 46, 104. Sobre a fixação directa dos metais por substâncias proteicas 5 pa, enche-se então o tubo A com o sôro até meia altura da esfera O e de novo o aparelho é ligado à trompa para se fazer o vácuo. Feita a aspiração dos gases do sôro, fe- cha-se a torneira €, coloca-se D na primitiva posição e vira-se o tubo de maneira que o metal contido em N vá misturar-se com o sôro. Em duas pesquisas com sôro normal e com sôro privado dos seus gases, com quan- tidades idênticas de material e idêntica agitação, obtiveram-se os seguintes resultados : Fe fixado pelo sôro normal 0.016 % » » » » privado de gases a 760mm 0.014 % Estes números, assim como os outros abaixo mencionados, nada teem de absoluto, mas apenas teem valores comparativos. Parece estabelecido que vários factores tais como: duração da agitação, temperatura, qualidade do sôro, diluição, etc. possam exercer uma grande influência sobre a quantidade de Fe fixada. Sobre estes problemas as pesquisas estão sendo continuadas no Instituto de Farmacologia da R. Universidade de Génova. Dos resultados analíticos mencionados e de outros números análogos, por concisão omitidos, podemos concluir que se estabelece no sôro um equilíbrio químico tal que, contráriamente ao que sucede em um soluto aquoso, o Fe não reage com os álcali-carbonatos do sôro. Bem diverso é o comportar-se do sôro onde se fez borbulhar o CO2, como o demonstram as seguintes experiências: Em dois tubos de igual capacidade foram colocadas iguais quantidades de sôro (30cc.) e de ferro em pó (1 gr.). Em um dêles fez-se passar através do sôro, por 1 minuto, uma fraca corrente de CO2, tendo sido, depois disso, submetidos ambos a idêntica agitação. Os líquidos fil- trados e centrifugados, inteiramente límpidos, foram submetidos a análise. Os resultados foram os seguintes : Fe fixado pelo sôro normal 0.014 % » » » » tratado por CO2 0.026 % Podemos concluir que o ácido carbónico fisicamente dissolvido na água ou no sôro se comporta análogamente com o Fe. Todavia não de- vemos esquecer que o fenómeno, neste caso, pode ser mais complicado do que à primeira vista parece. Como se sabe, no caso considerado, a passagem do CO2 no sôro origina um aumento dos álcalis difusíveis que provêm dos álcali-albuminatos presentes não difusíveis. Qual seja a natureza do estado e a acção exercida sobre o Fe pelos álcali-carbonatos assim formados só por uma exacta indagação as poderemos verificar; e simultâneamente deveremos entrar em conta com a tensão superficial do 6 A. Benedicenti e 5. Rebello CO2, do Na, assim como do Carbonato-ião difusível, de maneira a con- siderar todas as circunstâncias que podem fazer variar a marcha da expe- riência. Devemos igualmente fazer notar aqui que os mesmos resultados são obtidos empregando, em lugar do soro, um soluto de albumina de ovo. Este soluto é preparado dissolvendo uma clara de ovo em 200cc. de água de condutibilidade que tenha sido préviamente privada de gases por ebu- lição e coberta com óleo de parafina antes do arrefecimento. Trabalhando-se sempre com líquidos privados de ar e agitando-se o soluto límpido de albumina com ferro pulverizado, observa-se que uma porção verdadeiramente considerável de metal é retida e que essa porção é igual quer a albumina tenha ou não tenha sido privada pelo vácuo do ácido carbónico dissociado nela dissolvido. Os resultados destas pesqui- sas aqui trazidos apenas como base comparativa referem-se a um mesmo soluto de albumina que foi agitado em tubos cheios por tempo igual e com iguais quantidades de ferro. Fe fixado Soluto de albumina (26 cc.) em água privada de gases 0.002 % O mesmo soluto (27 cc.) tratado pelo CO2 0.007 % Uma outra pesquisa realizada em análogas condições, pondo em presença iguais quantidades de metal, um soluto albuminoso mais concentrado e usando um mais longo período de agitação, deu, para o soluto privado de gases e para o soluto normal, os se- guintes resultados : Fe fixado Sol. albumina em água de condutibilidade 0.018 % » » id. id. privado de gases a 760 mm 0.016 % Sobre outra circunstância queremos ainda chamar a atenção: não é só o Fe que pode ser fixado desta maneira pelo sôro ou pela ovo-albumina, mas ainda muitos outros metais. E essa fixação em quantidade não des- prezível faz-se com os referidos colóides não só no estado de fina por- firização do metal, mas ainda quando o metal se encontre em grossos fragmentos. Já Schadee van der Does (*) observara modificações na coagulabili- dade da albumina agitada por muito tempo com a prata; nós verificámos que o cobre, o chumbo, o níquel, e o próprio cobalto dificilmente atacá- vel pelos ácidos, são fixáveis pelo sôro e pela ovo-albumina. O Schadee van der Does, Zeitschr. f. physiol. Chem. 24, 351, 1897. Sobre a fixação directa dos metais por substâncias proteicas 7 A diferença entre os diversos metais debaixo dêste ponto de vista, o comportamento de dois ou mais metais simultâneamente postos em con- tacto com os colóides fixadores, a influência da concentração dos solutos proteicos, o limite de saturação e outros problemas semelhantes estão sendo estudados por U. Rocei 0) assim como os dados quantitativos e os resultados obtidos nas experiências com albuminas dialisadas e pri- vadas de sais (albuminas de Pauli). Emquanto o ferro metálico dissolvido na água em presença do ácido carbónico dá todas as suas reacções características, o ferro fixado pelo soro ou pela ovo-albumina está parcialmente (para usar uma expressão de MacCallum) mascarado. Tratando êsses líquidos (ferro-sôro, ferro-al- bumina) pelo hidrogénio sulfurado, não se observa, ao princípio, nenhuma reacção; mas, depois de um tempo apreciável, aparece a reacção até que o líquido pela formação de sulfureto de ferro se cora de castanho. Esta acção de massa do reagente pode ser comprovada quando em lugar do ácido sulfídrico se empregue o sulfureto de amónio. As reacções características do Fe com o ferri- e o ferro-cianeto de potássio faltam inteiramente com o ferro-sôro e a ferro-albumina. Sobre as propriedades magnéticas dos metais ligados às substâncias proteicas — ponto de partida destas pesquisas — por agora nada podemos dizer de exacto; apesar disso, nós apresentamos aqui os dados analíti- cos de uma experiência da qual se pode concluir que, pelo menos em parte, não há variação sensível. 2 gramas de ovo-albumina secada ao ar e finamente pulverizada foram dissolvidos em 30 cc. de água distilada. A dissolução foi quási total e o líquido centrifugado e filtrado apresentava-se inteiramente incolor e transparente. Êste líquido albuminoso foi dividido em duas partes iguais, das quais uma foi agitada por 10 horas com cobalto em pó tomando então esta uma evidente coloração castanho-amarelada. A susceptibilidade magnética dos dois líquidos era a seguinte : Sol. de albumina normal — 526.106 Sol. de cobalto-albumina — 450.106 Não devemos deixar de recordar que a agitação prolongada de um soluto albu- minoso faz precipitar, ainda que muito ténuemente, uma parte do mesmo, de maneira que o pêso específico do soluto sofre uma variação não insignificante. Em pesquisas posteriores a realizar sôbre as propriedades magnéticas das Metalo- -proteínas serão comparadas as modificações sofridas pelas mesmas substâncias proteicas (*) (*) U. Rocei, Giorn. delVAccad. di Medie, di Torino, lxxvii, 7-8, 1914. 8 A. Benedicenti e 5. Rebello agitadas quer na presença de metais quer na de quartzo em pó: as variações encontradas assim como as numerosas pesquisas feitas com o Fe e muitos outros metais serão então publicadas. Apresenta-se agora insistentemente o problema do modo pelo qual advêm a fixação dos metais finamente pulverizados quando agitados com a albumina ou com o soro. Estando excluída, como já dissemos, a pos- sibilidade de tratar-se de um fenómeno de suspensão ou de uma trans- formação em estado coloidal e tendo-se também demonstrado que o soro e a ovo-albumina apresentam ainda no vácuo a propriedade de fixar os metais, poder-se-ia então pensar na acção de outros aniões e particular- mente na do Cl-ião. Das pesquisas iniciadas por Rocei, parece poder-se concluir que as substâncias proteicas dialisadas por 7 e 8 dias apresen- tam a propriedade de fixar os metais aparentemente na mesma propor- ção que as não dialisadas e assim se demonstra como muito improvável a acção daqueles aniões. i Devemos nós então admitir uma simples dissolução de um dado me- tal no soro ou na albumina, análoga à que se pode observar, em certas circunstâncias, na água e nos ácidos fracos? Beutel, por exemplo, de- monstrou que o ouro finamente dividido se dissolve fácilmente em um so- luto de ferricianeto de potássio... qui donnent le moyen d’obtenir les deux termes de la # ième réduite quand on a déjà formé les précédentes. (D àQ + a , K 12 P. J. da Cunha De ces formules on déduit la relation fondamentale An An — 1 n — 1 aí a2 • • • an # _1 ’ et on en conclut que la fraction continue est equivalente à la série di dy d2 ^ 2 ^3 ^1 ^2 ^3 ^4 (2) £0 H 1 Bx BxB2 B2B3 B3B, « — 1 ai ü2 a3 * * ' an + <_,) + Les fractions continues + Cy a\ c\ C2d2 | 1 | ^2 cn-icna, c„ b. + oü clt c2t cn9"' sont des nombres non nuls fixés à volonté, sont éga- lement équivalentes à la fraction continue (1). En choisissant les cn de façon que 1’on ait a\ai an et en posant , Qq — f Q\ — j Q2 dy d2 ou, en général, Qn Cn^n & 1 , 2 , 3 , * • •) , la fraction continue est ramenée à la forme principale (3) Qo “+ I Qi la somme des n + 1 premiers termes de la série qui, étant convergente, répresente 1’inverse de celle-ci, peut se mettre sous Ia forme 0) ou, ce qui revient au même, (5) (— ir ai a2 1 <+1 *0 al 1 0 0 «. 1 0 0 ao 1 même, 1 1 al ■ ■ • • a n — 1 n „n + l «0 1 ao ■ . . a n — 2 — 1 1 0 ... ag ai 1 0 ... o ao (J) Voir Sur la division des séries, par P. J. da Cunha — Arquivos da Universidade de Lisboa — Vol. I, p. 15. 14 P. J. da Cunha Appliquons ce résultat au problème qui nous occupe. L’inverse de la fraction continue (3) est évidemment (6) 1 | k + Nn , ... désignant les numérateurs des réduites delafra- ction continue qui résulte de (3) en y faisant qQ = 0. Alors, le déterminant infini (8) est remplacé, dans ce cas, par celui-ci: (9) kn , oü 1’on a (13) k > 2 , est satisfaite. (l) Voir Sur la division des séries. 2 18 P. J. da Cunha De même, le déterminant infini (9) sera équivalent à la fraction con- tinue 1 I 1 I 1 I (14) T-L + TJ-+ +— 1 -+>•■• . \ en étant (18) k>2 6 — Si nous avions considéré les fractions continues (d et (19) a, a , + h + + — ^+--- , bx b. au lieu de (3) et (14), respectivement, nous serions tombés sur des résul- tats analogues. Comme la série (3) serait remplacée par la série (2), et la série (14) par Sur la transformation des fmctions continues illimitées en déterminants infinis 19 la même série (2) sans le terme initial £0, nous trouverions, au lieu du dé- terminant infini (8): A a, A dl di) h a\ a2 a3 A U0 ° — ^0 BxB2 b2b3 °0 h 1 a , A “x a2 h U0 o :> B\ B2 °o K 0 1 ax Bx A) K 0 0 1 et au lieu du déterminant infini (9): bx CLn 2 A di) drt h d2 d3 d 4 h ax / / UX b2b3 / / ux B3Bt b'3b[ í/j • • • bx a x dl) 2 A d2 d3 A ax b[b'2 1 b'2b'3 °\ bx 0 dx d2 h , . a X b 'x B2 °í 0 0 dx B\ désignant, en général, le numérateur de la nihme réduite de la fraction continue (19). Les conditions (10 et (11) seraient remplacées par celles-ci: B n — 1 n + 1 +x) (B2 + x)(C2 + x) dl... (3) oü pour les points intérieurs à 1’ellipsoTde on doit prendre la limite infé- , rieure égale à zero. Soit T la masse de Pellipsoide, ou aura et., en faisant, ou aura de (3) W =í T=jkABC? d\ 7r[' /(/l2 + >.) (B° -f- X) (C‘ + >) z 2 dv àw y 2 1 ÒA * B r-L. A e)v ÒA T-j-- A à* ÒB T-l— . C ÒC + r] 2x Sur les conditions d’ equilibre relatif d’ une masse fluide 23 et en substituant dans les conditions (1) nous aurons, faites toutes rédu- ctions 2 = p2 — po2 ou aura ÒV ÒA (eo2 — a2) J'* oo pó (p2 — a 2p rfp e» (p2 - a2) / (p2 - a2) (p2 - b-‘) (P2 - à) Soit encore, introduisant la fonction pu, Rx — l/p2 — a 2 — l/pw — et Rx — — \/ p2 — ô2 — — - 1/ ~pu — ei Rs — l/p2 — c2 — l /p# — es ou aura 2p rfp = p'u du 2 V7 (p2 — a2) (p2 — é2) (p2 — c-) = ~ p'u (x) Darwin, On the pear shaped figure of equilibrium of a rotating mass of liquid, 1902. P. T. R. S., pag. 316. (2) Poincaré, Figures d’équilibre d’une masse fluide, 1902, G. Villars. 24 E. Andréa et — 2 du RS oü 5 réprésente la fonction adjointe des fonctions de Lamé. On obtiendra également ÒW 7 ÒW 7 B— = --R2°S2° C— = --Rs°Ss° dB 3 ÒC 3 et les conditions (4) et (5) se changent dans les suivantes oü l’on a sup- primé pour simplifier 1’indice supérieur (S Si — Ri Si T ~ RS Rs Ss — Rí Si (6) Cette forme est due à H. Poincaré que 1’obtient par d’autres considé- rations. Une solution évidente est R2 = Rs ce qui donne 1’ellipsoide de Maclaurin. La condition relative à 1’ellipsoide de Jacobi est obtenue par H. Poincaré par des considérations directes mais nous allons 1’obtenir en transformant 1’antérieure. Pour cela, écrivons 1’égalité (6) sous la forme Ss Si ~ft~~Ri et, en remarquant que Ri — /?2 Rs , R2 2 — Rs2 = c2 — b 2 Si _ du Ri~b Jo RS le premier membre de (7) donnera j?3 R» J_\ 3 ruRS — RS RS) 0 RS du — Sur les conditions d’équilibre relatif d’ une masse fluide 25 (c2-b2) f u 5 dü — A (s.2 U2\ A RJ 5 V ; 7^4 le second membre de (7) dorme 1 \ — fliSifc2 — 62) RJ / RJ et 1’égalité (7) se transforme, en supprimant les facteurs c2 — b2e Ri, dans la suivante 3 c RiSi JSi = ~0T OU Ri Si Ri Si 3 _ 5 qui est 1’expression cherchée. CATALOGI HERBARII GORGONEI Universitatis Olisiponensis SUPPLEMENTUM AUCTOR \ ANTÓNIO XAVIER PEREIRA COUTINHO Bot. in Univ. Olisip. Profess. Hortique Botanici Direct. ADVERTÊNCIA Depois de impresso o meu Catálogo do Herbário de Cabo Verde, da Universidade de Lisboa, adquiri, por troca, o Herbário da Missão de Es- tudos Agrícolas a Cabo Verde, missão dirigida pelo meu antigo discípu- lo, no Instituto Superior de Agronomia, o Agrónomo Mário Miller Pinto de Lemos, tão prematuramente falecido naquele Arquipélago, e que teve como auxiliar o Agricultor-diplomado Sr. Alfredo da Costa Andrade. Os exemplares dêste Herbário, que foram colhidos em 1908, nas Ilhas de S. Tiago e do Fogo, são todos muito bem preparados e encontram-se em óptimo estado de conservação; somam a totalidade de 223, provenientes 122 da Ilha de S. Tiago e 101 da Ilha do Fogo. Encorporei êste Herbário no nosso Herbário de Cabo Verde e simul- tâneamente também umas plantas cabo-verdeanas do Sr. major Cardoso, agora recebidas, e algumas do Herbário de Lowe, que ainda foram encon- tradas no Herbário Geral. Esta encorporação traz um aumento de 55 es- pécies e 7 variedades, não marcadas no meu primeiro Catálogo, e acres- centa a 144 espécies, já ali inscritas, numerosas localidades novas, quási sempre em ilhas diversas do Arquipélago. Para facilitar a comparação do Catálogo com o Suplemento, adoptei neste último, quando a espécie figura nos dois, a numeração correspon- dente ao primeiro, onde assim rápidamente se encontrará a indicação das 28 António Xavier Pereira Coutinho localidades já representadas no Herbário e a bibliografia. Nas espécies novas para o Herbário continuei a numeração do primitivo Catálogo, que terminara no n.° 311 e vai agora até ao n.° 366, fazendo seguir ao nome dessas espécies — e só dessas, para evitar repetições escusadas — as refe- rências bibliográficas. « Lisboa, 18 de Dezembro de 1914. António Xavier Pereira Coutinho PTERIDOPHYTA Polypodiaceae 1. Nephrodium parasiticum (L.), Bak. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 93). 2. Nephrodium crenatum (Forsk.), Bak. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 47). 8. Adiantum Capillus-Veneris, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 67). 312. Pellaea viridis (Forsk.), Prantl e Diels in Engl. und Prantl Die Natürl. Pflanzenf. (4) 1-4 pag. 269; P. hastata , Lk. ex Carruthers in Catai. Afr. Pl. Welw. (2) 1-2 pag. 267 (non Thunb.). In Cova da Figueira Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 73). 11. Actiniopteris radiata (Kõnig.), Lk. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 94). 12. Pteris longifolia, L. Quoque ad Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 77), et in Ins. Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 88). Ophioglossaceae 313. Ophioglossum reticulatum, L. Sp. Pl. (3) pag. 1518; Webb Spic. Gorg. (4) pag. 192; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. (5) pag. 132; Carruthers in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-2 pag. 279. In Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe). C) A. Engler und K. Prantl — Die Natürlichen Pflanzenfamilien, I-IV. Leipzig, 1887- 1911. (2) Catalogue of the African Plants Collected by Dr. Friedrich Welwitschii in 1853-61, I-II. London, 1896-1901. (8) C. Linnaei — Species Plantarum (Editio tertia). Vindobonae, 1764. (4) P. Baker Webb — Spicilegia Gorgonea (in J. D. hooker et G. Bentham — Niger Flora). London, 1849. (6) J. A. Schmidt — Beitrãge zur Flora der Cap Verdischen Inseln. Heidelberg, 1852. 30 António Xavier Pereira Coutinho Equisetaceae 14. Equisetum ramosissimum, Desf. Var. sub verticillatum, A. Br. Var. quoque in Ins. S. Jacobi, ad Trindade (Herb. M. Agr., n. 125). PHANEROGAMAE MONOCOTYLEDONES Gramineae 314. Andropogon halepensis (L.), Brot. Fl. Lusit. (*) I pag. 89; P. Cout. Fl. de Port. (2) pag. 65; Sorghum halepense, Pers. ex Wk. et Lge. Prodr. Fl. Hisp. (3) I pag. 48. In Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 34). 27. Panicum commutatum, Nees. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 86). 30 Panicum nudiglume, Hochst. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 23). 315. Tricholaena Teneriffae (L. fil.), Pari. in Webb et Berth. Hist. Nat. Canar. (4), III, pag. 245; Durand et Schinz Consp. Fl. Afr. (5) V pag. 770; Tmicrantha, Schrad. e Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 153; Saccharum Teneriffae, L. fil. ex Webb Spic. Gorg. pag. 189. In Cerrado Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 91). 34. Setaria verticillata (L.), P. Beauv. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 40). 36. Pennisetum ciliare (L), Lk. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 22). 37. Pennisetum lanuginosum, Hochst. (P. Cout. n. 37 pro parte). 0) F. d’A. Brotero — Flora Lusitanica, I-II. Olisipone, 1804. (2) A. X. Pereira Coutinho — A Flora de Portugal ( Plantas vasculares ), Lisboa, 1913. (3) M. Willkomm et J. Lange — Prodomus Florae Hispanicae, I-III. Stuttgartiae, 1870- 1880. (4) P. B. Webb et S. Berth elot — H isto ire Naturelle des lies Canaries : 2ème Partie — Phytographia Canariensis, I-III, Paris, 1836-1850. (6) Th. Durand et Hans Schinz — Conspectus Florae Africae, I et IV — Bruxelles, 1895-1898. Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 31 In Ins. S. Antonii, ad Ribeira da Garça (Cardoso); in Ins. S. Jacobi (Barjona). Species duas valde próximas sub n. 37 in Catalogo meo Herbarii Gorgonei junxi; ad verum P. lanuginosum, Hochst. — vide A. Richard Tentamen Florae Abyss. R) pag. 385 — supra indicata specimina solum pertinent; reliqua etspecimina altera a me nuper observata in sequente includenda. 316. Pennisetum Myurus, Pari. in Webb Spic. Gorg. pag. 183; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 138; Steud. Syn. Glumac. (2) I pag. 107. In Ins. S. Antonii, ad Caminho do Paul (Cardoso); in Ins S. Nicolai (Herb. Lowe; Cardoso); prope Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 32); ad Cerrado in Ins. Fogoi (Herb. M. Agr. n. 85). 38. Pennisetnm ciliatum, Pari. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Os Órgãos (Herb. Lowe) et ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 100). Observ. — Hujus generi Penniseti species quatuor in Insulis Gorgoneis adhuc cognitae clave sequente analytica facile separandae: Setae involucri interiores plumoso-lanuginosae vel plumoso-sublanuginosae ; spica plerumque rufescens: Spiculae 3-2 intra involucrum pedicellatae, pedicello lanuginoso; setae plu- moso-lanuginosae P. lanuginosum . Spicula intra involucrum solitaria e sessilis; setae plumoso-sublanugino- sae P. Myurus. Setae involucri interiores plumosi; spica plerumque pallida: Spiculae 3-2 intra involucrum subsessiles; culmi glabri; spica interdum ru- fescens P. ciliare. Spicula solitaria intra involucrum et sessilis; culmi ad nodos pubescenti- tomentosi ; spica pallida P. ciliatum. 39. Aristida adscensionis, L. Var. canariensis (Willd.), Durand et Schinz Consp. FI. Afr. V pag. 770; A. vul- garis Trin. et Rupr. var. in Walpers Ann. Bot. (3) III pag. 743. Var. in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 37). Specimina omnia a me in Catalogo Herb. Gorgonei enumerata ad var. coerules- centem respondent. 46. Chloris radiata (L.), Sw. Quoque ad Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 11), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 38). O A. Richard — Tentamen Florae Abyssinicae, I-II. Paris, 1848. (2) E. G. Steudel — Synopsis Plantamm Glumacearum , I-II. Stuttgartiae, 1855. (8) G.G. Walpers — Annales Botanices Systematicae , I-VII. Lipsiae, 1848-1868. 32 António Xavier Pereira Coutinho 48. Eleusine indica (L.), Gaertn. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 93). 50. Dactylotenium aegyptium (L), Willd. In Ins. Fogoi quoque, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 57). 51. Eragrostis pulchella, Parlat. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 33). 53. Erogrostis megastachya (Koel.), Lk. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 12). 317. Eragrostis poaeoides, P. Beauv. Agrostogr. pag. 71; Steud. Syn. Glumac. I pag. 263; Wk. et Lge. Prodr. Fl. Hisp. I pag. 83; P. Cout. Fl. de Port. pag. 85. In Cerrado Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 92). Cyperaceae 318. Kylünga monocephala, Rottb. Descr. et Ic. 13 tab. 4 fig. 4; Steud. Syn. Glumac. II pag. 67; Rendle in Catai. Afr. Pl. Welw. II-l pag. 105; C. B. Clarke in Fl. Trop. Afr. R) VIII pag. 272; P. Cout. Fl. de Port. pag. 103. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 126). 319. Cyperus alopecuroides, Rottb. Descr. et Ic. 38 tab. 8 fig. 2; Webb. Spic. Gorg. pag. 182; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 161; Steud. Syn. Glumac. II pag. 13; Juncei las alopecuroides, C. B. Clarke in Hook. Fl. Brit. Ind. VI pag. 595; C. B. Clarke in Fl. Trop. Afr. VIII pag. 307. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 33). 59. Cyperus esculentus, L. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de 5. Filipe (Herb. M. Agr., n. 101). Commelinaceae 65. Commelina benghalensis, L. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 72). Cannaceae 71. Canna indica, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 46). DICOTYLEDONES Urticaceae 320. Fleurya aestuans (L.), Gaudich. in Freyc. Bot. Voy. Uran. pag. 496; Wed- 0) Flora of Tropical África, 1-IX. London, 1868-1913. Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 33 deli. in D C. Prodr. (x) XVI-1 pag. 71 (var. «); Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-4 pag. 988; Urtica aestuans, L. Sp. Pl. pag. 1397. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 71). 73. Forskohlea procridifolia, Webb. Quoque in Ins. Fogoi, prope Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 8). Polygonaceâe 321. Rumex heterophyllus, K.-F. Schultz Prodr. Fl. Starg. Suppl. I pag. 21 ; Rouy Fl. de Fr. XII (2) pag. 74; R. máximos, Schreb. ex Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 178 (non Gmel.). Circa Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 110). 322. Rumex vesicarius, L. Sp. Pl. pag. 479; Webb et Berth. Hist. Nat. Canar. III pag. 216; Bss. Fl. Orient. (3) IV pag. 1017; Baker and Wright in Fl. Trop. Afr. VI-1 pag. 117. In Tarrafal Ins. S. Antonii (Herb. Lowe). 75. Polygonum serrulatum, Lag. Quoque circa Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 111). Chenopodiaceae 78. Chenopodium murale, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 96), et Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 4). Amarantaceae 79. Amarantus caudatus, L. Quoque in Monte Leão Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 27). 80. Amarantus spinosus, L. Quoque in Ins. Fogoi, prope Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 20). 81. Amarantus viridis, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 94). 82. Amarantus polygamus, L. (*) (*) De Candolle — Prodromus Systematis Naturalis Regni Vegetabilis, I-XVII. Pa- risiis, 1824-1873. (2) G. Rouy — Flore de France, XII. Paris, 1910. (3) Ed. Boissier — Flora Orientalis, I-V. Basileae, 1867-1888. 3 34 António Xavier Pereira Coutinho . Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 24). 83. Aerva javanica (Burm.), Juss. Quoque in Tarrafal Ins. S. /Intonii (Herb. Lowe); in Ins. S. Jacobi (Herb. Lowe), ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 81); circa Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr.. n. 80). 84. Achyranthes aspera, L. «. genuina p. argentea (Lam.), Bss. a. ad Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 98). p. quoque in Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 82), et in Cerrado Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 39). Specimina omnia in Catalogo meo Herb. Gorgonei enumerata ad p pertinent. Aizoaceae 91. Mollugo nudicaulis, Lam. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 96). Caryophyllaceae 95. Paronychia illecebroides (Chr. Sm.), Webb. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 62). 98. Polyarpaea Gayi, Webb. p. halimoides, Webb. p. quoque in maritimis prope Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 7). Menispermaceae 101. Cocculus Leaeba (Delile), DC. Quoque in Ins. S. Jacobi (Herb. Lowe), ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 69). Papaveraceae 103. Argemone mexicana, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 117). Cruciferae 105. Lobularia marítima (L.), Desv. p. canariensis (DC.). p. quoque in Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe). Catalogi Herbarii Gorgonei Sapplementum 35 108. Diplotaxis Vogelii (Webb), P. Cout. 3. glauca (Schmidt), P. Cout.; Sinapidendron glaucum, Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 267; Walpers Ann. Bot. (x) VII pag. 150; Sinapidendron Vogelii var. glaucum, Lowe in Herb. 3. in Ins. Brava, ad Feijã da Agua (Herb. Lowe) ; in Ins. Fogoi, ad Cova da Fi- gueira (Herb. M. Agr., n. 65). 109. Nasturtium officinale, R. Br. Var. parvifolium, Peterm. ; P. Cout. Fl. de Port. pag. 266. Var. in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 78). Ad hanc varietatem specimen optime respondet. Capparidaceae 323. Cleome viscosa, L. Sp. Pl. pag. 938; Oliver in Fl. Trop. Afr. I pag. 80; Po- lanisia viscosa, DC. Prodr. I pag. 242. In Ins. S. Jacobi (Barjona) ; ad Patim in Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 53). Pétala ut in sicco videtur albida; reliqua cum descriptionibus exacte convenit. 111. Pedicellaria pentaphylla (L.), Schrank. Quoque in Ins. Fogoi circa Vila de S . Filipe (Herb. M. Agr., n. 25). Resedaceae 324. Caylusea canescens (L.), St.-Hil. Mém. Resed. pag. 30; Webb Spic. Gorg. pag. 101; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 270; Oliver in Fl. Trop. Afr. I pag. 102. Prope Trindade in Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 14). Leguminosae Leguminosae-Mimosoideae 116. Acacia albida, Delile. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 24). 117. Acacia farnesiana (Mill.), Willd. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 97). 120. Desmanthus virgatus, Willd. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 73). 0) G. G. Walpers — Annales Botanices Systematicae, I-VII. Lipsiae, 1848-1868. 36 António Xavier Pereira Çoutinho 325. Dichrostachys nutans, Benth. in Hook. Journ. Bot. IV pag. 353; Webb Spic. Gorg. pag. 127; Oliver in Fl. Trop. Afr. II pag. 333; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 308: Cailliea Dichrostachys, Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I (x) pag. 240; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 341. In Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 48). Leguminosae-Caesalpinioideae 123. Cassia occidentalis, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 18), et in Daca- Balaio Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 59). 326. Cassia Tora, L. Sp. Pl. pag. 538; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 339; Oliver in Fl. Trop. Afr. II pag. 275; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 292. Circa Vila de S. Filipe in Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 28). 124. Cassia obovata, Collad. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 17). 125. Cassia bicapsularis, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 15). 127. Parkinsonia aculeata, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 89), et in Ins. Brava (Cardoso). 327. Caesalpinia Bonducella (L), Flaming in Asiat. Res. XI pag. 159; Baker in Hook. Fl. Brit. Ind. II (2) pag. 254; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 289; Guilandina Bonduct Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 336 (non L). In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 37). Legu minosae-Papilionatae 129. Crotalaria retusa, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 6). 328. Crotalaria goreensis, Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 165; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 28; Baker f. The Afric. Spec. of Crotal. (3) pag. 413. b. macrostipula (Steud. in Pl. Schimp. Abyss. Sect. II n. 78), Baker f. 1. c.; Exsic. in Herb. Afr. Welw. nn. 1692 et 1693. F) J. A. Guillemin, S. Perrottet et A. Richard — Florae Senegambiae Tentamen , I. Pa- risiis, 1830-1833. (2) J. D. Hooker— The Flora of British índia , II. London, 1879. (8) Ed. G. Baker — The African Species of Crotalaria (in Linnean Societyys Journal Botany, XLII — July 1914). Catalogi Herbaríi Gorgonei Supplementum 37 b. in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 54). 130. Crotalaria senegalensis, Bacle. Var. sanguinolenta , Chiov. in Ann. Ist. Roma VIII pag. 339; Baker f. The Afric. Sp. of Crotal. pag. 338. Var. in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 13), et in Ins. Fo- goi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 76). Corolla lutea vexillo ad nervos praecipue sanguíneo. Specimina altera in Cata- logo meo enumerata jam fructifera et varietate indeterminabilia. 329. Indigofera cordifolia, Roth Nov. Spec. pag. 357; DC. Prodr. II pag. 222; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 72. Circa Vila de 5. Filipe Ins. Fogoi (Herb. Lowe; Herb. M. Agr., n. 79). Folia in forma gorgonea etiam superne piloso-cana. 138. Indigofera viscosa, Lam. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 51). 139. Indigofera parviflora, Heyne. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 51). 330. Indigofera hirsuta, L. Sp. Pl. pag. 1062; Webb Spic. Gorg. pag. 120; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 326; Baker in Fl. Trop. Afr. pag. 88. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 48). 140. Indigofera Anil, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 95), et prope Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 77). 142. Tephrosia anthylloides, Hochst. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 98), et in Ins. Fogoi ad Montado Real (Herb. M. Agr., n. 49). 331. Tephrosia gorgonea, P. Cout. (an n. sp.?). Annua (?), a basi ramosa, late diffusa, ramis patulis 7-10 cm. longis, pilis parum densis subpatentibus albidis vestitis; foliis 2 basilaribus 1-foliatis, reliquis 3-5-folia- tis inferioribus longe superioribus breviter petiolatis (petiolo in inf. 3,5 cm. in sup. 1 cm. longo), petiolo et praecipue petiolulis villosis; stipulis lanceolato-linearibus, 5 mm. circa longis; foliolis oblongo-linearibus (terminali 2-3 cm. longo, 4,5 mm. lato), conspicue petiolulatis, basi subcuneatis, apice mucronulatis, superne viridibus glabrescentibus, inferne adpresse pilosis cinerascentibus, nervis secundariis nume- rosis tenuibusque obliqúe parallelis hinc inde lateraliter anastomosantibus; floribus (2-3 axillaribus?) breviter pedunculatis; calyce albo-piloso, 3,5-4 mm. longo, den- tibus subaequalibus (vel inferiore paulo longiore), setaceis, tubum subduplo exce- dentibus; corolla purpurascenti, calyce longiore (ut videtur duplo circa, sed ejus fragmentum solum vidi); stylo incurvo, glabro, stigmate piloso; pedunculis fructi- feris 2-3 axillaribus, erectis, brevibus (3-5 mm. longis), robustis; leguminibus 20-24x4,5-5 mm., leviter arcuatis vel subrectis, fulvescentibus, torulosis, 6-8-sper- 38 António Xavier Pereira Coutinho mis, breviter adpresseque pilosis, margine utrinque prominenti-incrassato, apice subrotundato-rostratis. An T. subtriflorae et T. anthylloidi affinis ? Sed indumento et praecipue legumine valde distincta. Specimen unicum et jam fructiferum vidi. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 50). 332. Tephrosia bracteolata, Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 194; Webb Spic. Gorg. pag. 121; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 327; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 116; Cracca bracteolata, O. Kze. ex Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 221. In Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 52); in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 55). Forma minor, foliolis 2-6 jugis, sed reliqua (foliolorum et florum magnitudine, etc.) ad typum conformis. 333. Sesbania grandiflora (L), Pers. Syn. II pag. 316; Baker in Hook. Fl. Brit. Ind. II pag. 115; Agati grandiflora, Desv. e DC. Prodr. II pag. 266; Hook. and Benth. Fl. Nigrit. (x) pag. 301; Aeschynomene grandiflora, L. Sp. Pl. pag. 1060; Roxb. Fl. Ind. (2) III pag. 330. Forma coccinea (L), Bak. 1. c. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 3). Ex índia introducta. 334. Sesbania leptocarpa, DC. Prodr. II pag. 265; Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 199; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 135. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 106); ad Cova da Figueira Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 36). 144. Zornia diphylla, Pers. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 52). 335. Fabricia nummulariaefolia (L.), O. Ktze. Rev. Gen. Pl. I pag. 181; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 246; Alysicarpus nummularifolius, DC. Prodr. II pag. 353; A. vaginalis, DC. 1. c.; Webb Spic. Gorg. pag. 122 (sub Mysicarpo, erro- re); Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 332; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 170. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 47). 145. Desmodium spirale, DC. Quoque ad Ribeira Grande Ins. S. Antonii (Herb. Lowe), et ad Patim Ins. Fo- goi (Herb. M. Agr., n. 32). 146. Clitoria Ternatea, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 44). 0) J. D. Hooker and G. Bentham — Flora Nigritiana (in Niger Flora). London, 1848. (2) W. Roxburgh — Flora indica , I-III. Serampore, 1832. Catalogi Herbaríi Gorgonei Supplementum 39 336. Canavalia ensiformis (L), DC Prodr. II pag. 404; Baker in Fl. Trop. Afr. II pag. 190; Canavali incurva, P. Thouars ex Hiern Catai. Afr. PI. Welw. 1-1 pag. 254. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 122). 148. Cajanus indicus, Spreng. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 85). 149. Rhynchosia mínima, DC. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 101), et in Ins. Fogoi ad Montado Real (Herb. M. Agr., n. 46). 152. Lablab vulgaris, Savi. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 86). 153. Dolichos uniflorus, Lam. Quoque in Ins. Fogoi, ad Patim (Herb. M. Agr., n. 35). Oxalidaceae 154. Oxalis corniculata, L. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 70). Zygophyllaceae 157. Zygophyllum simplex, L. Quoque ad littora prope Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 82). 159. Tribulus cistoides, L. Quoque in Ins. Brava (Herb. Lowe), et in Ins. Fogoi prope Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 21). Rutaceae 161. Citrus medica, L. b. Limon, L. b. quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi culta (Herb. M. Agr., n. 75). Meliaceae 337. Melia Azedarach, L. Sp. Pl. pag. 550; DC. Prodr. I pag. 621;Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 299; Oliver in Fl. Trop. Afr. I pag. 332; P. Cout. Fl. de Port. pag. 380. Subsponte ut videtur in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 121), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 42). Variat foliolis breviter serratis (Exsic. ex Ins. S. Jacobi) vel profunde inciso- serratis (Exsic. ex Ins. Fogoi). 40 Antônio Xavier Pereira Coutinho Polygalaceae 163. Polygala erioptera, DC. Quoque ad Tarrafal Ins. S. Antonii (Herb. Lowe), et in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 107). Euphorbiaceae 164. Phyllanthus maderaspatensis, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 2). 166. Phyllanthus rotundifolius, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 61), et in Ins. Fo- goi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 50). 168. Ricinus communis, L. Var. benguelensis, Muell.-Arg. Var. quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 90). 170. Euphorbia hirta, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 5), et in Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 19). 171. Euphorbia aegyptiaca, Bss. Quoque in Ins. Fogoi, ad Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 97). Anacardiaceae 175. Mangifera indica, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Trindade (Herb. M. Agr., n. 1 18). Sapindaceae 179. Cardiospermum Halicacabum, L. Quoque in Ins. Fogoi, ad Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 100). 338. Cardiospermum microcarpum, H. B. et Kunth Nov. Gen. Am. 5 pag. 104; DC. Prodr. I pag. 601; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 300; Baker in FL Trop. Afr. I pag. 418. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 116). Specimen fructiferum optimum. Rhamnaceae 180. Zizyphus Jujuba (L.), Lam. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 23). Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 41 Z. Jujuba (L.), Lam. (1789) non Miller (1768 et 1771); Z. mauritiana, Lam. Enc. III pag. 319, ut videtur nomen est princeps (vide Thellung/7. Advent deMontpel. 0) pag. 370-371 in nota). Z. Jujuba Mill = Z. vulgaris Lam. Tiliaceae 181. Corchorus trilocularis, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 9). 339. Corchorus tridens, L. Mant. pag. 566; DC. Prodr. I pag. 505; Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 89; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 101 ; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 294; Masters in Fl. Trop. Afr. I pag. 264. Ad Patim Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 54). 183. Triumfetta neglecta, Wight et W.-Arnott. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 60). 340. Grewia villosa, Willd. Nov. Act. Nat. Cur. 1813 pag. 205; DC. Prodr. I pag. 512; Masters in Fl. Trop. Afr. I pag. 249; G. corylifolia , Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 95 tab. XX; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 295; G. echi- nulata, Del. ex Webb Spic. Gorg. pag. 114. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 19). Malvaceae 184. Abutilon glaucum (Cav.), Sweet. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Trindade (Herb. M. Agr., n. 51), et in Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 15). 185. Wissadula periplocifolia (L.), Thw. Quoque in Ins. S. Jocobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 21). 186. Malva parviflora, L. b. microcarpa (Desf.); P. Cout. Fl. de Port. pag. 401 ; M. microcarpa, Desf. Cat. Hort. Paris edit. 1 pag. 144; Wk. et Lge. Prodr. Fl. Hisp. III pag. 579. b. in Monte Leão , prope Trindade, Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 28). 187. Malvastrum spicatum (L.), A. Gray. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 38). 188. Sida urens, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 36). Forma exilis, annua (specimen floriferum et fructiferum). 190. Sida acuta, Burm. (*) (*) A. Thellung — La Flore Adventice de Montpellier — Cherbourg, 1912. 42 António Xavier Pereira Coutinho Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr.; n. 1), et Ins. Fogoi ín Cerrado (Herb. M. Agr., n. 56). 192. Sida cordifolia, L. a. typica, P. Cout. a. in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 91), et in Daca-Balaio Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 61). 341. Thespesia populnea (L), Corr. Ann. Mus. IX pag. 290; DC. Prodr. I pag. 456; Masters in Fl. Trop. Afr. I pag. 209. Circa Vila de 5. Filipe in Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 2). 195. Gossypium barbadense, L. b. maritimum (Todaro), Hiern. b. quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 40), et in Ins. Fogoi prope Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 14). 342. Urena lobata, L. Sp. PI. pag. 974; DC. Prodr. I pag. 441; Masters in Fl. Trop. Afr. I pag. 189; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-1 pag. 67; U. obtusata, Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 48; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 283. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 120). Sterculiaceae 196. Melhania ovata (Cav.), Bss. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 9). 197. Waltheria americana, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, prope Trindade (Herb. M. Agr., n. 113). 343. Sterculia cordifolia, Cav. Diss. V tab. 144 fig. 2; DC. Prodr. I pag. 483; Guill. et Perrot. Fl. Sen. Tent. I pag. 79 tab. XV; Masters in Fl. Trop. Afr. I pag. 217. In Ins. S. Jacobi ? (Barjona). Lythraceae 344. Âmmania senegalensis, Lam. Tabl. Encycl. et Méthod. I pag. 311 n. 1553 tab. 77 fig. 2; Hiern in Fl. Trop. Afr. pag. 477; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-2 pag. 373. Var. auriculata (Willd.), Hiern 1. c. Var. in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 59). Specimen optimum. Myrtaceae 345. Jambosa vulgaris, DC. Prodr. III pag. 286; Eugenia Jambos, L. Sp. Pl. pag. 672; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-2 pag. 361. Lusit .Jambo. In Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 70). Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 43 Umbelliferae 205. Foeniculum vulgare, Mill. b. piperitum (Sweet.), P. Cout. b. quoque in Ins. S. Jacobi, ad Monte Leão prope Trindade (Herb. M. Agr., n. 30). 346. Anethum graveolens, L. Sp. Pl. pag. 377; Wk. et Lge. Prodr. FI. Hisp. III pag. 40; P. Cout. Fl. de Port. pag. 453; Peacedanam graveolens, Benth. et Hook. ex Hiern in FI. Trop. Afr. III pag. 19. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 105). 206. Tornabenea hirta, Schmidt. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Trindade (Herb. M. Agr., n. 31). 207. Tornabenea Bischoffii, Schmidt. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 92), et in Cova da Figueira Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 64). Specimine primo foliis basilaribus solum constante, et inflorescentia secundi in- cipiente, utrumque mihi parum dubium. Primulaceae 208. Samolus Valerandi, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 58). Sapotaceae 347. Sideroxylon marginatum (Dsne.); Sapota marginata, Dsne. in Webb Spic. Gorg. pag. 169 tab. XIII; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 251. In Ins. Fogoi (Herb. Lowe). Apocynaceae 214. Lochnera rosea (L), Rchb. ex Stapf in Fl. Trop. Afr. IV-1 pag. 118; P. Cout. Herb. Gorg. Catai. n. 214 sub Vinca rosea, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 12), et in Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 130). 215. Nerium Oleander, L. Quoque prope Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 3). Asclepiadaceae 218. Calotropis procera, Ait. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 124). 44 António Xavier Pereira Coutinho Convolvulaceae 220. Evolvulus alsinoides, L. Quoque in Ins. S. Jocobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 102), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 43). 348. Quamoclit vulgaris, Choisy in DC. Prodr. IX pag. 336; Bot. Mag. R) tab. 244; Baker and Rendle in Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 128; Hiern in Catai. Afr. PI. Welw. 1-3 pag. 743. In Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 84). 222. Ipomaea hispida (Vahl), Roem. et Sch. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 99), et in Ins. Fogoi (Herb. Lowe). Polymorpha, foliis angustioribus vel latioribus basi cordatis vel subhastatis. 223. Ipomaea purpurea (L), Roth. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 25). 349. Ipomaea pilosa, Sweet. Hort. Brit. ed. 1 pag. 289; Baker and Rendle Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 161 ; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw, 1-3 pag. 735. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 20), et in Patim Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 74). 350. Ipomaea repens, Lam. Illustr. I pag. 467; Baker and Rendle in Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 172; /. asarifolia, Roem. et Schult. Syst. Veget. IV pag. 251 ; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 230; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 738. In Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 17). 224. Ipomaea Pes-Caprae (L), Roth. Lusit. Legação de rocha. Quoque in Ins. S. Antonii, ad Caminho do Paul (Cardoso, n. 320). 225. Ipomaea Batatas (L.), Poir. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 123). 226. Ipomaea leucantha, Webb. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 63). 227. Ipomaea cairica (L.), Sweet. Quoque ad Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 119). 351. Ipomaea digitata, L. Sp. Pl. pag. 228; Baker and Rendle in Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 189; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 740; Batatas paniculata, Choisy in DC. Prodr. IX pag. 339; Webb Spic. Gorg. pag. 151; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 233. (l) W. Curtis — The Botanical Magazine, VII. London, 1794. Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 45 In Ins. S. Antonii (Cardoso). 228. Ipomaea dubia, P. Cout. (ad ínterim); /. spec., P. Cout. in Herb. Gorg. Catai. Scandens, basi parum pilosa reliqua glabra; foliis reniformi-cordatis vel corda- tis (4-5,5 X 4,5-5 cm.), sinu late aperto, apice longe acutis, integris vel subtrilobatis lobis lateralibus rotundatis medioque acuminato, petiolo limbum subaequante; pedunculis brevibus (1-3 cm.), plerumque bifloris, pedicellis calyce brevioribus, ro- bustis; bracteis parvis, caducis; sepalis ovato-oblongis (7-4 mm.), late scarioso-mar- ginatis, obtusis, demum subaequalibus; corolla campanulato-infundibuliformi, gla- bra, ut videtur purpurascente et mediocri; capsula globosa, glabra, 1 cm. circa dia- metro, valvis membranaceis, seminibus longe denseque albo-pilosis. Var. eriocar- pae Rendle /. digitatae (Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 190) vel potius /. hiernianae Ren- dle (1. c. pag. 188) ut videtur valde affinis; sed specimina supra descripta et nunc observata incompleta sunt et species mihi dubia. Quoque ad Ponta do Sol (Cardoso) in Ins. S. Antonii (Cardoso, n. 20). 229. Merremia aegyptia (L.). Quoque ad Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 74), et in Ins. Fogoi ad Daca-Balaio (Herb. M. Agr., n. 60). Boraginaceae 352. Coldenia procutnbens, L. Sp. Pl. pag. 182; Baker and Wright Fl.Trop. Afr. IV-2 pag. 28; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 717. In Ins. S. Nicolai (Cardoso). Specimina eodem collectore ad Bissau in província guineensi lusitana detecta etiam vidi. 230. Heliotropium erosum, Lehm. Quoque in Ins. Salis (Cardoso, n. 8). 231. Heliotropium hispidum (Forsk.), Webb. Lusit. Flor de viuva (ex Cardoso). Quoque in Ins. S. Antonii ad Ribeira Fria (Cardoso, n. 217), in Ins. S. Nicolai (Cardoso), in Ins. Boa Vista (Cardoso), et in Ins. Fogoi circa Vila de 5. Filipe (Herb. M. Agr., n. 18). Praecedenti valde simile et fructibus praecipue separandum. Fructus in H. his- pido conspicue alatus, 2-partibilis, albidus, parum rugosus; in Tf. eroso apterus, 4-partibilis, fulvus et rugosior. 232. Trichodesma africanutn (L.), R. Br. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 80), et in Ins. Fo- goi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 99). 46 Antônio Xavier Pereira Coutinho Verbenaceae 353. Verbena officinalis, L. Sp. Pl. pag. 29; Webb Spic. Gorg. pag. 161 ; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 224; P. Cout. Fl. de Port. pag. 505. In Monte Leão ad Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 39). 234. Lantana Camara, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Flerb. M. Agr., n. 68). Labiatae 235. Ocimum basilicum, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Flerb. M. Agr., n. 108), et in Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 31). 354. Ocimum viride, Willd. Enum. pag. 629; Benth. in DC. Prodr. IX pag. 34; Baker in Fl. Trop. Afr. V pag. 337; Hiern in Catai. Afr. PI. Welw. 1-4 pag. 849. In Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 84). Probabiliter Ocimum n. 163 in Webb Spic. Gorg. et n. 190 in Schmidt Beitr. FL Cap Verd. Ins., sub O. suavi enumeratum, huic referendum. 236. Mentha sativa, L. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 76) ? Specimen hoc ex Ins. S. Jacobi et alterum ex Ins. S. Antonii, a me visa, certe ad eamdem speciem et verosimiliter ad M. salivam Schmidt (an L. ?) pertinent. Speci- mina mea omnia floribus carent ideoque dubia; forsan pro forma hybrida habenda. 237. Satureja Forbesii (Benth.), Briq. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Monte Leão prope Trindade (Herb. M. Agr., n. 35), et in Ins. Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 89). 238. Sal via aegyptiaca, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 103), et in Mon- tado Real Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 45). 241. Leucas martinicensis (Swartz), R. Br. Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 14). 243. Lavandula rotundifolia, Benth. Quoque in Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe), in Ins. S. Jacobi ad Trindade (Herb. M. Agr., n. 29), et in Ins Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 90). Solanaceae 247. Nicandra physaloides (L.), Gaertn. Quoque in Ins. Fogoi, ad Cerrado (Herb. M. Agr., nn. 83 et 102), et ad Patim (Herb. M. Agr., n. 44). Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 47 248. Withania somnifera (L.), Dun. Quoque circa Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 16). 355. Physalis angulata, L. Sp. Pl. pag. 262; Dun. in DC. Prodr. XIII- 1 pag. 448; Wright in Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 248. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 8). 249. Capsicum frutescens, L. Lusit. Malagueta (ex Cardoso). Quoque in Ins. S. Antonii (Cardoso), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 41). 251. Solanum Lycopersicum, L. b. cerasiforme (Dun.); P. Cout. Fl. de Port. pag. 536; Lycopersicum cerasiforme, Dun. in DC. Prodr. XIII- 1 pag. 26; Webb Spic. Gorg. pag. 162; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 338. b. lusit. Camacho (ex Cardoso). b. in montibus ad Ribeira do Paul Ins. S. Antonii (Cardoso, n. 70); in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 83). 253. Solanum nigrum, L. Lusit. Uva de Santa Maria (ex Cardoso). Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 57), et in Ins. Fogoi ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 69). 256. Solanum fuscatum, L. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 88), et in Ins. Fo- goi ad littora prope Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 12). 356. Solanum Melongena, L. Sp. PI. pag. 266; Wright in Fl. Trop. Afr. IV-2 pag. 242; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 748. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 45). 257. Datura Metei, L. Quoque in Vila de 5. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 5). 259. Datura Stramonium, L. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 4), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 34). 261. Nicotiana glauca, Grahm. Quoque in Ins S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 87), et in Ins. Fogoi circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 6). Scrophulariaceae 262. Celsia betonicaefolia, Desf. Quoque ad Cova da Figueira Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 66). 263. Elatinoides dichondraefolia (Benth.), Wettst. 48 António Xavier Pereira Coutinho Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 104), et in Ins. Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 87). 264. Elatinoides Brunneri (Benth.), Wettst. a. vera (Webb). a. quoque in Ins. Brava (Cardoso). 267. Campylanthus glaber, Benth. a. genuínas. a. quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 13). Pedaliaceae 270. Sesamum radiatum, Schum. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 55). Acanthaceae 273. Peristrophe bicalyculata (Vahl), Nees. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 22). Plantaginaceae 275. Plantago major, L. Var. asiatica (L.), Dsne. Var. quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr, n. 42). Rubiaceae 357. Oldenlandia aspera (Heyne), DC. Prodr. IV pag. 248; J. D. Hooker Fl. Brit. Ind. III P) pag. 68; O. strumosa, Hiern in Fl. Trop. Afr. III pag. 58; hedyotis aspera, Roth ex Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 213. In Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 79), et in Ins. Fogoi circa Vila de S Filipe (Herb. M. Agr., n. 95). 278. Borreria verticillata (L.), G. F. H. Mey. Quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 53), et in Ins. Fogoi ad Patim (Herb. M. Agr., n. 11). Cucurbitaceae 358. Citrullus Colocynthis (L), Schrad. in Eckl. etZeyh. Enum. pag. 279; Webb. Spic. Gorg. pag. 128; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 272; Hooker in Fl. P) J. D. Hooker — The Flora of British índia, III. London, 1882. Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 49 Trop. Afr. II pag. 548; Cogniaux in DC. Monogr. Phanerog. (x) III pag. 510. Ad littora circa Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., nn. 26 et 81). 281. Momordica Charantia, L. Var. abbreviata, Ser. Var. quoque in Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 63). Gompositae 284. Vernonia cinerea (L.). Less. Quoque in Tarmfal Ins. S. Antonii (Herb. Lowe). 359. Vernonia pauciflora (Willd.), Less. in Linnaea pag. 292; DC. Prodr. V pag. 61; Oliver and Hiern in Fl. Trop. Afr. III pag. 283. In Ins. S. Antonii, ad Os Órgãos (Herb. Lowe). 285. Ageratum conyzoides, L. Quoque in Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe), in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 7), et in Ins. Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 58). 286. Nidorella varia (Webb), Schmidt. Quoque in Ins. Fogoi (Herb. Lowe, sub N. Vogelii Lowe). 287. Nidorella Forbesii, Lowe (ubi?) in Herb. absque discriptione; N. Steetzii, P. Cout. Herb. Gorg. Catai. n. 287 (non Schmidt); Erigemm variam forma major, Webb Spic. Gorg. pag. 134. Suffruticosa (vel fruticosa?), erecta, ramis dense pubescentibus; foliis ovatis vel ovato-oblongis (4-6 X 2-3,5 cm.), basi in petiolum brevem attenuatis, margine irre- gulariter dentato-serratis dentibus apiculatis, apice obtusis vel obtusiusculis, utrin- que pubescentibus, glandulosis, obscure viridibus; capitulis parvis, pedicellatis, pe- dicellis pubescentibus, in panicula corymboso-cymosa densa vel densiuscula nu- merose dispositis; involucri bracteis linearibus, acutis, dorso pubescentibus margine scariosis; ligulis brevissimis 2-3-dentatis, discum haud superantibus; receptaculum punctulatum; achaeniis oblongis, compressis, piloso-sericeis, pappo albido-rufes- cente. A N. Steetzii, cui ut videtur affinis, differt foliis latioribus obtusis vel obtu- siusculis obcure viridibus et utrinque pubescentibus, bracteis involucri dorso pu- bescentibus, etc. Quoque in Ins. S. Nicolai (Cardoso), ad Caminho da Caldeira (Herb. Lowe). 288. Conyza crispa (Pourr.). Quoque in Ins. S. Jacobi circa Trindade (Herb. M. Agr., n. 112), et in Ins. Fogoi ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 71). (l) A. Cogniaux — Cucurbitacées {in Al. et C. De Candolle Monographiae Phanero- gamarum, III). Parisis, 1881. 4 50 António Xavier Pereira Coutinho 360. Filago spathulata, Presl. Delic. Prag. pag. 93: Wk. et Lge. Prodr. Fl. Hisp. II pag. 54; Batt. et Trabut Fl. Anal. et Synop. de 1’Algér. et de la Tun. (x) pag. 177; P. Cout. Fl. de Port. pag. 617. Var. micropodioides (Lge.), Batt. et Trabut 1. c.; P. Cout. 1. c.; F. micropodioides, Lge. in Wk. et Lge. 1. c. pag. 55. Lusit. Goivo branco . Var. in humidiusculis Ins. S. Antonii (Cardoso). 293. Gnaphalium luteo-album, L. Lusit. Macella branca (ex Cardoso). Quoque in Ins. S. Jacobi, ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 66). 294. Pegolettia senegalensis, Cass. Quoque in Ins. Boa Vista (Cardoso). 361. Odontospermum Daltoni, Webb Spic. Gorg. pag. 140; Schmidt Beitr. FL Cap Verd. Ins. pag. 193; J. Henriq. in Boi. Soc. Brot. XIII (2) pag. 148. In Ins. S. Nicolai (Cardoso); in Porto da Furna Ins. Brava (Herb. Lowe). 362. Acanthospermum hispidum, DC. Prodr. V pag. 522. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 65); circa Vila de S. Filipe Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 29). Species americana («ex Brasiliae sabulosis maritimis») in Ins. Gorgoneis ut vi- detur nunc diffusa. 363. Ambrosia marítima, L. Sp. Pl. pag. 1401; Bss. Fl. Orient. III pag. 252; Wk. et Lge. Prodr. Fl. Hisp. II pag. 274; Oliver and Hiern Fl. Trop. Afr. pag. 371. Var. senegalensis (DC.); A. senegalensis f DC. Prodr. V pag. 525; Oliver and Hiern 1. c. pag. 371; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 574. Var. ad Praia Ins. S. Jacobi (Cardoso— Jun. 1892). 364. Eclypta alba (L.), Hassk. Pl. Jav. Rar. pag. 528; Oliver and Hiern in Fl. Trop. Afr. III pag. 373; E. erecta, L. Mant. II pag. 286; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 575. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 41). 365. Sclerocarpus africanus, Jacq. Ic. Pl. Rar. II pag. 17 tab. 176; Webb Spic. Gorg. pag. 142; Schmidt Beitr. Fl. Cap Verd. Ins. pag. 196; Oliver and Hiern FL Trop. Afr. III pag. 374; Hiern. Catai. Afr. PL Welw. 1-3 pag. 575. Ad Patim, in Ins. Fogoi (Herb. M. Agr., n. 75). 298. Tagetes patula, L. (4) Battandier [et Trabut — Flore Analytique et Synoptique de VAlgérie et de la Tuni- sie— Alger, 1902. (2) J. Henriques — Enumeração das plantas colhidas nas Ilhas de Cabo Verde por J. A. Cardoso Junior (in Boletim da Sociedade Broteriana, XIII). Coimbra, 1896. Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 51 Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 16), et in Ins. Fogoi ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 67). 299. Blainvillea Gayana, Cass. Quoque circa Thomé Pires in Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe), in Ins. S. Jacobi ad Praia (Herb. Lowe) et ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 64), in Ins. Fogoi ad Cerrado (Herb. M. Agr., n. 27). 301. Bidens bipinnatus, L. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 30). 366. Emilia sagittata (Vahl), DC. Prodr. VI pag. 302; Oliver and Hiern in Fl. Trop. Afr. III pag. 405; E. flammea, Cass. in Dict. Sc. Nat. XIV pag. 406; Hiern in Catai. Afr. Pl. Welw. 1-3 pag. 595. In Vale da Trindade Ins. S. Jacobi (Herb. M. Agr., n. 115). 303. Centaurea melitensis, L. Quoque in Ins. S. Nicolai (Cardoso), prope Cachaça (Herb. Lowe). 306. Launaea goreensis (Lam.), Hoffm. Quoque in Ins. Fogoi, circa Vila de S. Filipe (Herb. M. Agr., n. 78). 307. Launaea nudicaulis (L.), Hook. f. Quoque in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 56), et in Ins. Brava (Herb. Lowe). 308. Launaea picridioides (Webb). Quoque prope Thomé Pires in Ins. S. Nicolai (Herb. Lowe). 309. Sonchus oleraceus, L. a. triangularis, Wallr. a. quoque in Ins. S. Nicolai (Cardoso), in Ins. S. Jacobi ad Vale da Trindade (Herb. M. Agr., n. 10), in Ins. Fogoi ad Cova da Figueira (Herb. M. Agr., n. 62). INDEX SPEGIERUM, VARIETATUM ET SYNONYMORUM Pag. Abutilon glaucum (Cav.), Sweet 41 Acacia albida, Delile 35 farnesiana (Mill.), Willd. 35 Acanthospermum hispidum, DC. 50 Achyranthes aspera, L 34 a. genuina 34 3. argentea (Lam.), Bss 34 Actionepteris radiata (Kõnig.), Lk 29 Adiantum Capillus-Veneris, L 29 Aerva javanica (Burm.), Juss 34 Aeschynomene gmndiflora, L 38 Agati grandiflora, Desv 38 Ageratum conyzoides, L 49 Alyssicarpus nummularifolius, DC 38 vaginalis, DC 38 Amarantus caudatus, L 33 polygamus, L 33 spinosus, L 33 viridis, L. 33 Ambrosia marítima, L 50 var. senegalensis (DC.) 50 senegalensis, DC 50 Ammania senegalensis, Lam 42 var. auriculata (Willd.), Hiern 42 Andropogon halepensis (L.), Brot 30 Anethum graveolens, L 43 Argemone mexicana, L 34 Aristida adscensionis, L 31 var. canariensis (Willd.), Durand et Schinz 31 vulgaris, Trin. et Rupr. var 31 Batatas paniculata, Choisy 44 Bidens bipinnatus, L 51 Blainvillea Gayana, Cass 51 Borreria verticillata, G. F. H. Mey 48 Caesalpinia Bonducella (L.), Flaming 36 Cailliea Dichrostachys, Guill. et Perrot 36 Catalogi Herbaríi Gorgonei Supplementum 53 Cajanus indicus, Spreng 39 Calotropis procera, Ait 43 Campylanthus glaber, Benth 48 a. genuinus 48 Canavalia ensiformis (L.), DC 39 Canavali incurva, P. Thouars 39 Canna indica, L 32 Capsicum frutescens, L 47 Cardiospermum Halicacabum, L 40 microcarpum, H. B. et Kunth 40 Cassia bicapsularis, L 36 obovata, Collad 36 occidentalis, L 36 Tora, L 36 Caylusea canescens (L.). St.-Hill 35 Celsia betonicaefolia, Desf 47 Centaurea melitensis, L 51 Chenopodium murale. L 33 Chloris radiata (L.), Sw. 31 Citrullus Colocynthis (L.), Schrad 48 Citrus medica, L 39 b. Limon, L. 39 Cleome viscosa, L 35 Clitoria Ternatea, L 38 Cocculus Leaeba (Delile), DC 34 Coldenia procumbens, L 45 Commelina benghalensis, L 32 Conyza crispa (Pourr.) 49 Corchorus tridens, L 41 trilocularis, L. 41 Cracca bracteolata, O. Kze 38 Crotalaria goreensis, Guill. et Perrot 36 b. macrostipula (Steud.), Bak. f 36 retusa, L 36 senegalensis, Bacle 37 var. sanguinolenta, Chiov 37 Cyperus alopecuroides, Rottb 32 esculentus, L 32 Dactylotenium aegyptium (L.), Willd 32 Datura Metei, L 47 Stramonium, L 47 Desmanthus virgatus, Willd 35 Desmodium spirale, DC 38 54 António Xavier Pereira Coutinho Dichrostachys nutans, Benth 36 Diplotaxis Vogelii (Webb), P. Cout 35 0. glauca (Schmidt), P. Cout 35 Dolichos uniflorus, Lam 39 Eclypta alba (L.), Hassk 50 erecta, L 50 Elatinoides Brunneri (Benth.), Wettst 48 a. vera (Webb) 48 dichrondraefolia (Benth.), Wettst 47 Eleusine indica (L.), Gaertn 32 Emilia sagittata (Vahl), DC 51 Equisetum ramosissimum, Desf 30 var. subverticillatum, A. Br 30 Eragrostis megastachya (Koel.), Lk 32 poaeoides, P. Beauv 32 pulchella, Parlat 32 Erigeron varium , forma major ; Webb 49 Eugenia Jambos, L 42 Euphorbia aegyptiaca, Bss 40 hirta, L 40 Evolvulus alsinoides, L 44 Fabricia nummulariaefolia (L.), O. Kze 38 Filago spathulata, Presl 50 var. micropodioides (Lge.), Batt. et Trabut 50 Fleurya aestuans (L.), Gaudich 32 Foeniculum vulgare. Mill 43 b. piperitum (Sweet.) 43 Forskohlea procridifolia, Webb 33 Gnaphalium luteo-album, L 50 Gossypium barbadense, L 42 b. maritimum (Todaro), Hiern 42 Grewia corylifolia , Guill. et Perrot 41 echinulata, Del 41 villosa, Willd 41 Guillandina Bonduc, Schmidt 36 Hedyotis aspera, Roth 48 Heliotropium erosum, Lehm 45 hispidum (Forsk.), Webb 45 Indigofera Anil, L 37 cordifolia, Roth 37 hirsuta, L 37 parviflora, Heyne 37 viscosa, Lam 37 Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 55 Ipomaea asarifolia, Roem. et Schult 44 Batatas (L), Poir 44 cairica (L.), Sweet 44 digitata, L 44 — — dubia, P. Cout 45 hispida (Vahl), Roem. et Sch 44 leucantha, Webb 44 Pes-Caprae, L 44 pilosa, Sweet 44 purpurea (L.), Roth 44 repens, Lam 44 spec. P. Cout 45 Jambosa vulgaris, DC 42 Juncellus alopecuroides, C. B. Clarke 32 Kyllinga monocephala, Rottb 32 Lablab vulgaris, Savi 39 Lantana Camara, L 46 Launaea goreensis (Lam.), Hoffm 51 nudicaulis (L.), Hook. f 51 picridioides (Webb) 51 Lavandula rotundifolia, Benth 46 Leucas martinicensis (Swartz), R. Br 46 Lobularia marítima (L.), Desv 34 0. canariensis (DC.) 34 Loehnera rosea (L.), Rchb 43 Lycopersicum cerasiforme, Dun 47 Malva parviflora, L 41 b. microcarpa (Desf.) 41 microcarpa , Desf 41 Malvastrum spicatum (L.), A. Oray 41 Mangifera indica, L 40 Melhania ovata (Cav.), Bss 42 Melia Azedarach, L 39 Mentha sativa, L 46 Merremia aegyptia (L.) 45 Mollugo nudicaulis, Lam 34 Momordica Charantia. L 49 var. abbreviata, Ser 49 Nasturtium officinale, R. Br 35 var. parvifolium, Peterm * 35 Nephrodium crenatum (Forsk.), Bak 29 parasiticum (L.), Bak 29 Nerium Oleander, L 43 56 António Xavier Pereira Coutinho Nicandra physaloides (L.), Gaertn 46 Nicotiana glauca, Grahm 47 Nidorella Forbesii, Lowe 49 Steetziiy P. Cout 49 varia (Webb), Schmidt 49 Vogeliiy Lowe 49 Ocimum basilicum, L 46 viride, Willd 46 Odontospermum Daltoni, Webb 50 Oldenlandia aspera (Heyne), DC 48 strumosa , Hiern 48 Ophioglossum reticulatum, L 29 Oxalis corniculata, L 39 Panicum commutatum, Nees 30 nudiglume, Hochst 30 Parkinsonia aculeata, L 36 Paronychia illecebroides (Chr. Sm.), Webb 34 Pedicellaria pentaphylla (L.), Schrank 35 Pegolettia senegalensis, Cass 50 Pellaea viridis (Forsk.), Prantl 29 hastata, Lk 29 Pennisetum ciliare (L.), Lk 30 ciliatum, Pari 31 lanuginosum, Hochst 30 Myurus, Pari. 31 Peristrophe bicalyculata (Vahl), Nees 48 Pencedanum graveolens , Benth. et Hook 43 Phyllanthus maderaspatensis, L 40 rotundifolius, L 40 Physalis angulata, L. 47 Plantago major, L 48 var. asiatica (L), Dsne 48 Polycarpaea Gayi, Webb 34 3. halimoides, Webb 34 Polygala erioptera, DC 40 Polygonum serrulatum, Lag 33 Pteris longifolia, L 29 Quamoclit vulgaris, Choisy 44 Rhynchosia minima, DC 39 Ricinus communis, L 40 var. benguelensis, Muell.-Arg 40 Rumex heterophyllus, K. F. Schultz 33 maximus, Schreb 33 Catalogi Herbarii Gorgonei Supplementum 57 vesicarius, L 33 Sacchamin Teneriffae, L. fil 30 Salvia aegyptiaca, L 46 Samolus Valerandi, L 43 Sapota marginata , Dsne 43 Satureja Forbesii (Benth.), Briq 46 Sclerocarpus africanus, Jacq 50 Sesamum radiatum, Schum 48 Sesbania grandiflora (L.), Pers 38 leptocarpa, DC 38 Setaria verticillata (L.), P. Beauv 30 Sida acuta, Burm. 41 cordifolia, L 42 a. typica, P. Cout 42 urens, L 41 Sideroxylon marginatum (Dsne.) 43 Sinapidendron glaucum , Schmidt 35 Vogeliiy Webb 35 var. glaucum , Lowe 35 Solanum fuscatum, L 47 Lycopersicum, L 47 b. cerasiforme (Dun.) 47 Melongena, L 47 nigrum, L 47 Sonchus oleraceus, L 51 a. triangularis, Wallr 51 Sorghum halepense, Pers 30 Sterculia cordifolia, Cav 42 Tagetes patula, L 50 Tephrosia anthylloides, Hochst 37 bracteolata, Guill. et Perrot 38 gorgonea, P. Cout 37 Thespesia populnea (L.), Corr 42 Tornabenea Bischoffii, Schmidt 43 hirta, Schmidt 43 Tribulus cistoides, L 39 Trichodesma africanum (L.), R. Br 45 Tricholaena micrantha, Schrad 30 Teneriffae (L. fil.), Pari 30 Triumfetta neglecta, Wight et Arnott 41 Urena lobata, L 42 obtusata , Guill. et Perrot 42 Urtica aestuans, L 33 58 António Xavier Pereira Coutinho Waltheria americana, L 42 Wissadula periplocifolia (L.), Thw 41 Withania somnifera, (L.), Dun 47 Verbena officinalis, L 46 Vernonia cinerea (L.), Less 49 pauciflora (Willd.), Less 49 Vinca rosea , L 43 Zizyphus Jujuba (L.), Lam 40 Zornia diphylla, Pers 38 Zygophyllum simplex, L 39 INDEX NOMINUM LUSITANORUM Pag. Camacho 47 Flôr de viuva 45 Goivo branco 50 Jambo 42 Legação de rocha 44 Macela branca 50 Malagueta 47 Uva de Santa Maria 47 SUR UNE INÉGAL1TÉ PAR LE general ALFREDO SCHIAPPA MONTEIRO Ancien Professeur à Ia Faculté des Sciences Nous nous proposons cTétablir le théorème suivant: Étant donnés n nombres xx , x2 , x3 ... xn , si Von considere les n sommes, déterminées par ces nombres, groupés n-1 à n-1 , on a: (1) • • (*2 + x3 "í "T xn_l + xn) (xx + x3 4 f- xn) • • • (xt + x2 + +xn- 1) > \fl — l]nxl x2 • • • xn_x xn Par un théorème connu (*), on peut écrire : *2 + *3^ )rxn-l+xn n — 1 n— 1 > \J x2 X3...Xn_lXn *i + *3H hxa_txn n — 1 > \J xt X3...xn_l xn X\ -f* *2 ln- 1 n — 1 > \J Xx (l) C’est le théorème de Cauchy. On peut consulter, à ce propos, son Cours d* Ana- lyse (1821) p. 457; Correspondance mathématique de Quetelet (1828) p. 169 et les Nou- velles annales de mathématique (1842) p. 368. Voy. Journal de Sciencias Mathématiques et Astronômicas (1881) t. III, p. 117. 62 Alfredo Schiappa Monteiro En multipliant membre à membre ces n inégalités, on a : (x2 + *3 + • • • 4- xn_ 1 -f- xn) 4- X3 -| f- xn _ t + xn) • • • [n-\r • • • (*i 4- *2 -f \-xn-\) >-<1 JC2 JC3 ... JC„_| Telle est 1’inégalité, que nous voulions signaler. Remarque . — Si l’on désigne par k la somme des n nombres positifs considérés, cette inégalité devient: (2) • • • (k — jCj) (k — x2) (k — *3) • • • (k — xn) f>[n — í]nx1x2x3 • • • xn En particulier, si Pon suppose k = \ , « = 3 , on a: (1 — ^) (l-*a) ('-*3)>23xix2x3 On trouve ainsi cette inégalité comme cas particulier^de (2),£répon- dant à la question proposé, au n.e 1554, par Mr. Walstenhalme, dans les Nouvelles Annales de Mathématique 1885 p. 535. SUR L’ APPLICATION DE UHYPERBOLOIDE À UNE NAPPE DU QUATRIÈME ORDRE COMME SURFACE AUXILIAIRE par le général ALFREDO SCHIAPPA MONTEIRO Ancien Professeur à la Faculté des Sciences La question que nous nous proposons de résoudre, à 1’aide de cet hyperboloide, a été énoncée par Poncelet de la manière suivante: « Etant données deux sections coniques quelco tiques (S), (S'), sur un plan (P), déterminer la suíte des centres et des plans de projection tels, que ces sections coniques soient représentées par deux cercles ». Une question analogue, ainsi que la démonstration du príncipe, qui en est la conséquence, a été proposée dans le tome VII des Annales de Mathématiques ; et Brianchon a aussi étudié antérieurement ce príncipe, sans s’occuper de la démonstration, dans le dixième cahier du Journal de VÈcole Polytechnique. Poncelet supposait que 1’analyse devait naturellement conduire, dans tous les cas, pour la courbe, lieux des centres auxiliaires de projection, à une équation du 12e degré, décomposable en facteurs du 2e degré re- présentant autant de cercles, mais inséparables d’une manière purement rationelle (1818). À fin de procéder avec ordre, nous présenterons d’abord le résultat des notables recherches faites par Poncelet sur cette question, ou la so- lution énoncée par ce grand géométre, dans le théorème suivant: « Tous les points de V espace, qui sont susceptibles de projecter à la fois, suivant des cercles, deux sections coniques quelconques (S), (S'), situées sur un même plan (P), sont distribués sur autant de cercles déterminés qu’il y a des cordes idéales communes aux deux courbes proposées. Ces cercles sont situés dans des plans respectivement perpendiculaires sur le milieu de chacune de ces cordes, ils ont précisement ces milieux pour centres, et pour diamètres respectif la partie interceptée par chaque corde idéale dans les sections coniques supplémentaires des proposées, qui correspondent à cette même corde. Enfin , le plan de projection , qui donne à chaque fois 64 Alfredo Schiappa Monteiro des sections circulaires, est parallèle à celui qui passe par la corde idéale et par le centre de projection considéré en particulier. Obs. — Comme on le voit, le problème n’aura solution que si Ies coniques (S), (S') ont des cordes idéales communes. Nous nous sommes occupé de cette même question ou problème, en 1887 synthétiquement et analytiquement, avec tout développement; mais nous n’avons pas publié notre solution, que nous présentons maintenant par une voie analytique, que nous rendrons aussi courte que possible. Pour cela, nous supposerons que 1’une des coniques est une ellipse (S) et 1’autre un cercle (C), ce qui ne particularise nullement 1’état de la question; puisque d’ailleurs tous les cas peuvent se réduire à celui-ci, à 1’aide de la projection centrale. Comme il y a une infinité de plans, qui, passant par les cordes idéa- les communes de (S) et (C) et par le centre de projection V, sont paral- lèles aux plans de projection, qui donnent des sections circulaires, nous pouvons aussi considérer ceux de ces plans, qui sont perpendiculaires au plan (P) de ces deux courbes: ce qui répond bien à la question propo- sée sans restriction. Cela étant, prenons les demi-axes O A — a et OB = b de 1’ellipse (S), pour axes des x et des y; et la perpendiculaire OZ à ces axes pour axe des z. Soient h et k les coordonnées du centre c du cercle (C), dont le rayon est r. D’après cela, le lieu des sommets v des cones qui , sfappuyant sur la conique (S), sont coupés suivant des cercles par des plans perpendicu- laires au plan (P) de cette courbe est la surface donnée par Véquation: a2b2 (a2y2 + b2x 2) z2 — (a4y2 + b4x2) (b2x2 + a2y2 — a2b2) = o (1) Le lieu des sommets v, des cones, qui sfappuient sur le cercle (C), et qui se trouvent en des conditions analogues, aura pour équation: z2 — (y — k)2 — (x — h)2 + r2 = o (2) En considérant dans 1’ellipse (S) et dans le cercle (C) des couples de diamètres parallèles entre eux, les couples de diamètres respectivement conjugués de ceux-ci se couperont sur une conique (H), passant par les Sur Vapplication de V Hyperboloide à une nappe du quatrième ordre 65 centres O et c des coniques données, laquelle représentera les milieux des cordes de ces coniques , pamllèles au premier couple de diamètres , et 1’équation de cette courbe sera: {a2 — b 2) xy — a2hy — b2kx —o (3) équation qui représente aussi une surface cylindrique perpendiculaire au plan (P). La première surface (1) peut se nommer hyperbeloide à une nappe du quatrième ordre (*); la deuxième (2) est, comme on sait, un hyperboloide à une nappe de révolution et la troisième (3) une surface cylindrique hy- perbolique, ayant pour trace Vhyperbole équilatère d’ Apollonius. Cest 1’intersection de ces trois surfaces, qui donne les sommets com- muns des cones demandés. Déterminés ainsi analytiquement ces sommets, on aura les cercles, qui représentent les autres positions des sommets relatives à des plans de projection obliqúes par rapport au plan (P). Si le cercle (C) était remplacé par autre ellipse (S'), la seconde sur- face (2) serait de même remplacée par un autre hyperboloide à une nappe du quatrième ordre , et la troisième surface (3) aurait alors pour trace une autre conique lieu des points de rencontre des couples de diamètres des ellipses (S), (S'), conjugués respectivement de couples de diamètres de celles - ci parallèles entre eux, et cette conique passera aussi par O et c, centres des faisceaux homographiques générateurs de cette courbe. Nous croyons que Poncelet ne connaíssait pas 1’ordre de cette courbe. Obs. — Comme on le voit, la surface (2) se réduit à un hyperboloide de révolution à une nappe , lorsque 1’ellipse de gorge (S) devient un cercle. L’hyperboloíde auxiliaire (1) aura aussi un ellipsoide du quatrième or- dre pour surface supplémentaire, ayant pour équation a2b2 ( a2y 2 + b2x2) z2 + (a4y2 + b4x2) ( a2y 2 + b2x2 — a2b2) —o (4) Dans ce cas particulier, cet ellipsoide deviendra la sphère supplémen- taire de cet hyperboloide de révolution. ( 1 ) Nous croyons que cette surface n’est pas encore connue. 5 UMA PROPRIEDADE SINGULAR DE UMA BACTÉRIA LUMINOSA (Segunda nota) (i) por BALTHAZAR OSORIO Professor da Faculdade de Sciências (Estampas I - II) Empreendemos a continuação do estudo relativo ao líquido fosfo- rescente que existe num peixe, o Malacocephalus laevis, Lowe, e damos nesta nota o resultado das nossas últimas investigações. Procurámos repetir e precisar as experiências relativas à alteração do papel fotográfico que referimos anteriormente 0). Em todas elas, tanto nas iniciais, como nas que realisámos há pouco, (*) (*) Para completa inteligência do que vai ler-se julgamos necessária a transcrição da nota que foi publicada nos Comptes rendus des séances de la Société de Biologie de Paris. T. LXXII pag. 432 (Séance du 16 Mars 1912). Une propriété singulière d’une bactérie phosphorescente (Première note) — Note de B. Osorio présentée par H. Coutière. A nota é a seguinte : Les pêcheurs de Cezimbra (Portugal) emploient depuis longtemps un procédé origi- nal pour prendre les poissons. Ils prennent un exemplaire du Malacocephalus laevis , Lowe, poisson rare dans tou- tes les mers, mais très commun dans ce lieu ; ils lui compriment 1’abdomen, faisant sor- tir par le pore anal un liquide peut-être excrémentiel, jaune, épais, trouble et phosphores- cent à Pobscurité (il y brille d’une lumière bleu ciei), ils le répandent sur un morceau de tissu musculaire, adhérent à la peau d’un squale, Scillium canicula, Cuv., Pristiurus Arte di Risso, par exemple, en le frictionnant avec un organe papillaire du Malacocephalus , oü sorte le liquide. La phosphorescence s’y communique et se conserve bien pendant des heures ; au dire des pêcheurs, elle se ravive s’ils plongent dans la mer le fragment de squale préparé ainsi, et qu’ils appelent candil. Ils coupent le candil en petits morceaux qu’ils attachent aux lignes de pêche, les poissons s’y prennent aux hameçons attirés par la lumière, suivant l’opinion des pê- cheurs. J’ai puisé à la mer et j’ai rempli d’eau un tube de verre, oü j’ai versé quelques peti- tes gouttes du liquide phosphorescent. L’eau prit une phosphorescence bleu-claire, visible à la distance de quelques mètres. II s’agit d’une bactérie lumineuse suspendue dans le liquide, et qui le rend phospho- 68 Balthazar Osorio Usámos do papel de bromureto de prata, marca Kodak (bromure ve- lours). Durante 15 horas, 5 horas e meia, 1 hora, 1 minuto, 30 segundos e 15 segundos expusemos à luz emanada do líquido obtido do peixe dissolvido em água do mar e nas condições que foram mencionadas, (Vid. nota) o papel fotográfico. Revelando-o, encontrámo-lo sempre for- temente impressionado, excepto na experiência que durou apenas 15 se- gundos, e em que notámos que a alteração não era muito grande, embora sensível. (Vid. Estampa I.) Devemos acrescentar que a quantidade de substância fosforescente empregada foi sempre diminuta. Procedemos a experiências fotográficas doutra índole. Colocámos num chassis um cliché obtido pelo processo comum, sobre- posto a papel fotográfico, como se quiséssemos alcançar um positivo. Colocámo-lo num recinto onde não podia entrar nenhuma luz, quer natu- ral, quer artificial. Em frente do chassis dispusemos recipientes contendo o líquido fosforescente, eis o resultado de duas experiências: 1. a — Dois tubos destinados a culturas microbianas, contendo água do mar em que se dissolveu uma pequena quantidade de líquido prove- niente de Malacocephalus laevis. Uma exposição de cinco minutos foi suficiente para alcançar um positivo nítido (Vid. Estampa II fig. 1). 2. a — Uma campânula de vidro contendo 250cc de água do mar, e em que foi dissolvida uma pequena quantidade de líquido fosforescente foi rescent. Ses caractéres ne sont pas entièrement déterminés et il me faut encore faire des cultures, etc., pour pouvoir fixer quelques caractéres intéressants ; mais je crois qu’il sera utile de signaler déjà une de ses propriétes les plus curieuses. La lumière émise par la bactérie décompose les seis d’argent, impressione le papier photographique. Pour le démontrer j’ai mis mon tube contenant de 1’eau lumineuse dans une con- cavité ouverte dans un morceau de bois, et tapissée de papier photographique. Extérieu- remente le bois fut convert de papier noir. J’ai fait mon expérience la nuit, et de mon mieux, pour éviter toute action de quel- que lumière que ce füt. Après quelques heures d’exposition j’ai développé le papier con- tenu dans la concavité susdite, il était tout à fait noir comme s’il avait été exposé à la lumière directe du soleil. Je crois donc à Texistence d’un fait nouveau concernant les bactéries lumineuses. Une note ultérieure complétera cette étude, que je poursuis depuis quelque temps déjà. Pour le moment, se limite ma communication aux faits précédemment exposés et à Pe- xistence de radiations photochimiques émanant des bactéries suspendues dans le liquide provenant du Malacocephalus laevis, Lowe. Uma propriedade singular de uma bactéria luminosa 69 colocada em frente de um outro clichê e nas mesmas condições da expe- riência anterior. A exposição foi de 7 minutos, o positivo alcançado apre- senta igualmente uma grande nitidez (V. Estampa II fig. 2). Procedemos ainda a outra experiência. Num recinto aonde não pene- trava nenhuma espécie de luz senão a que temos mencionado fizemos incidir sobre uma moeda de prata a luz emitida pelo líquido fosforescente, contido num recipiente de vidro; em frente da moeda colocámos uma máquina fotográfica, e procurámos fotografar a moeda, o que realmente conseguimos. Todavia, embora o resultado alcançado fosse positivo, jul- gamos, porém, necessárias novas experiências para obtermos uma prova em melhores condições do que aquela que obtivemos. Um dos pontos do nosso estudo que mais nos importava esclarecer era o da proveniência do líquido luminoso. A princípio julgámos que êle existia na parte terminal do tubo digestivo, e pensámos que as bactérias luminosas encontrando no recto meio favorável ao seu desenvolvimento, aí se multiplicassem e vivessem, sendo expulsas em suspensão num líquido excrementício quando se premia a região abdominal. A circunstância que nos levava a admitir esta hipótese era vermos surdir na papila anal o líquido luminoso a que temos aludido; mas por ocasião das nossas últi- mas experiências tivemos ensejo de dissecar alguns exemplares de Mala- cocephalus laevis , que obtivemos com abundância, e notámos o seguinte : a existência de um receptáculo especial, de um reservatório, com paredes próprias, e independente do aparelho digestivo, sendo todavia atravessado pelo recto; é nesse reservatório que o líquido luminoso está contido; tem uma forma próximamente lenticular, com um centímetro de diâmetro, pouco mais ou menos e é coberto pelo peritoneu. Comunica com o exterior por meio de uma fenda longitudinal que existe nos tecidos que formam a papila anal e abre-se muito próximo da sua extremidade. O receptáculo ou reservatório contendo o líquido amarelado, fosfo- rescente, só se pode ver abrindo largamente o abdômen, paralelamente à linha média, três a quatro milímetros distante dela. Posto a descoberto o intestino, vê-se por cima e em volta do recto, que exteriormente vai ter- minar na papila anal, a saliência arredondada a que acabamos de nos re- ferir coberta por um tecido, prateado de aspecto, apresentando pontuações negras, o peritoneu, como já dissemos, que revestindo-a se prolonga por grande parte de cavidade onde se encontram alojadas as vísceras. Abrindo com uma tesoura de dissecção ou com a ponta de um escal- pelo o reservatório aludido, vê-se surdir um líquido amarelo citrino, es- 70 Balthazar Osorío pesso, muito semelhante pelo seu aspecto à substância vitelina. O líquido enche por completo ou quási completamente a cavidade em que está alo- jado, sobretudo quando se não têem feito pressões sobre o abdômen, que o obriguem a extravasar-se e a ser expelido para o exterior. Aberto o reservatório, e esvaziado todo o líquido, lavada a cavidade em que está encerrado, nota-se dentro dela, a existência de duas massas de uma substância transparente, com o aspecto da gelatina e que ficam so- brepostas, respectivamente às duas depressões profundamente negras que se reconhecem exteriormente na região abdominal do Malacocephalus laevis , e que vem nitidamente indicadas na estampa do livro do notável naturalista Dr. A. Günther Deep-Sea Fishes 0). O aspecto esquemático dessa cavidade ou reservatório em que o lí- quido está contido e o dos dois corpos ou massas transparentes que nele existem é êste Para terminar com a enumeração dos caractéres que pertencem à substância luminosa devemos dizer ainda, que nem sempre tem a cor amarelo citrino, que apresenta cores diferentes, conforme é extraída de peixes que têem sido pescados há mais ou menos tempo; apresentando- -se também, em virtude desta circunstância, menos ou mais fluida. É lí- quida e amarelada, quando colhida de aqueles que se tiraram do mar há poucas horas, mas tem a cor da grêda, ou de tijolo, tendo então perdido em grande parte a fluidez, quando é extraída de indivíduos que estão mortos há muito. Êste facto é importante, porque quando tem decorrido um certo tempo desde a morte do animal até ao momento em que se pretende colher o líquido, parece que se dão fenómenos que profundamente o alteram e modificam, e a tal ponto, que não pode fazer-se sair do reservatório. Quisemos obter o líquido luminoso tirando-o de um exemplar que ti- nha sido pescado havia mais de 24 horas, e empregámos para êsse fim o processo que seguimos sempre, isto é, premir entre dois dedos o abdô- men perto da papila anal, mas não o pudemos alcançar, tinha mudado de côr e perdido por completo a fluidez. Julgamos necessária esta advertência a todos aqueles que quiserem repetir as nossas experiências ou porventura intentar outras de índole diversa. Mas prossigamos na exposição relativa às particularidades de estrutura 0) Challenger Report., t. XXII, pag. 148. PI. XXXIX — fig. B. Uma propriedade singular de uma bactéria luminosa 71 que se encontram no reservatório destinado a conter o líquido lumi- noso. Tiradas ou afastadas as duas massas da substância de aspecto gela- tinoso, e a que acima nos referimos, encontra-se por debaixo (indo da cavidade interna do abdômen para o exterior), a pele adelgaçada, trans- parente, coberta de pontuações negras, que se podem ver com facilidade, olhando para a luz através dela, e completamente desprovida de escamas, nas regiões que têem a forma OA,e que se apresentam luminosas nos exemplares vistos às escuras. d Será hipótese muito arrojada supor que as massas gelatinosas trans- parentes, que apontamos, e que têem a forma lenticular, que estão por detrás da pele, interposta a ela e à substância luminosa, desempenham um papel semelhante à da lente de uma lanterna, e que é destinada a ampli- ficar o poder da luz que tem dentro? É lícito supor, que outros peixes que vivem nas regiões profundas dos oceanos, e que apresentam na região abdominal caracteres semelhan- tes aos que apresenta o Malacocephalus laevis , transportem substâncias luminosas destinadas ao mesmo fim. A um dêstes peixes terei talvez de referir-me numa outra memória que estou preparando. d Qual será o emprêgo ou uso que faz o Malacocephalus laevis da sub- stância luminosa que contêm? Pode imaginar-se, sem que o facto deva provocar estranheza, que o animal se serve dela para o mesmo fim para que a empregam os pescadores. Estes lançam ao mar o anzol e o candily colocado a pequena distância dêle, preso à mesma linha de pesca, espe- rando que a luz emanada do candil atraia os peixes à isca que no an- zol está colocada. É pelo menos êste o motivo da sua colocação e do seu uso. O Malacocephalus laevis que é carnívoro, 0) e que vive numa profun- didade que a luz solar não atinge, naturalmente, quando deseja apode- rar-se de algum dos animais de que se sustenta, lança na água, esvaziando o reservatório a que nos referimos, o líquido que vai iluminar assim uma área mais ou menos vasta do oceano, conservando-se êle, porém, numa região escura das águas, donde possa assaltar rápidamente os animais que pela luz são atraídos. (2) (*) (*) Tivemos ocasião, como já dissemos, de dissecar alguns dêstes peixes, de abrir- -lhes e de examinar-lhes o conteúdo do estômago, reconhecendo que se alimentam de outros animais, mas principalmente de crustáceos. (2) A profundidade a que vivem estes peixes, ou para direr melhor aquela em que 72 Balthazar Osorio Um dos pontos dêste estudo que muito nos interessava, e que pro- curámos esclarecer, era determinar qual a natureza da substância de que provinha a luz, qual a índole de substância luminosa. Ao iniciarmos as nossas experiências tivemos logo a ideia de que a fosforescência manifestada no líquido a que nos referimos provinha de uma bactéria nele suspensa; e expusemos, na primeira nota publicada, esta afirmação que os factos observados primeiramente nos permitiram con- jecturar. Procurámos verificar a existência de uma bactéria pelos seguintes pro- cessos: Deitámos sobre lâminas de vidro gotas de líquido preparado pelo mesmo processo que empregámos para as experiências fotográficas. De- pois, deixámo-lo evaporar lentamente cobrindo as lâminas, imediatamente à deposição das gotas, com pequenos reservatórios de vidro, que evitavam a queda de qualquer poeira ou de quaisquer organismos da atmosfera, sobre a preparação. Outras vezes fizemos evaporar o líquido passando rá- pidamente as lâminas de vidro, em que tinha sido deposto, sobre a chama de uma lâmpada de álcool. Uma vez obtida a evaporação notámos que adherente ao vidro ficava uma mancha mais ou menos extensa e mais ou menos transparente. Mergulhámos então as preparações assim alcançadas em três líquidos corantes diversos, a saber: uma solução de azul de metilena em álcool absoluto e água fénica a cinco por cento; uma solução saturada de tio- nina, em álcool de 90° com água fénica a um por cento; uma solução de fucsina e ácido fénico em álcool a 90° Por vezes os reagentes corantes que empregámos foram diluídos em água destilada e esterilizada, ou diminuímos o tempo de imersão neles, por as preparações tomarem uma cor demasiadamente intensa; todavia, em geral, não excedemos dez minutos de imersão: depois de lavadas e postas a secar ao abrigo das poeiras, montámos algumas dezenas de pre- parações que obtivemos em duas épocas diversas de experiências. Observámos com o microscópico de Zeiss empregando a objectiva de imersão e as oculares 2 e 4 do mesmo construtor. Verificámos que em todas as preparações, coradas com qualquer dos segundo Günther (Chal. Report.), foi colhido o exemplar que êle menciona, é de 350 pés. Os pescadores de Cezimbra indicam, porém, uma profundidade maior, pois dizem que para o colherem precisam lançar ao mar 10 linhas de pesca; ora cada linha tem 20 bra- ças e cada braça calcula-se que tem 2 metros de comprimento, portanto 10X20X2 = = 400 metros. Uma propriedade singular de uma bactéria luminosa 73 reagentes que acima foram mencionados, existiam bactérias, em quanti- dade maior ou menor, mas sempre com os mesmos caracteres que va- mos indicar. Mas devemos antes advertir de que o reagente fucsina, é de todos o mais desfavorável^ pela intensidade da cor que apresenta a parte precipi- tada, mascarando por vezes as bactérias, e por êste motivo preferimos servirmo-nos da tionina ou do azul de metilena que empregaremos, sem- pre, para o futuro. A bactéria apresenta a forma navicular, ou em naveta (en navette) como costumam dizer os bacteriologistas franceses, sendo adelgaçadas as suas extremidades. No centro um espaço claro fácilmente distinto do resto intensamente colorido. As dimensões são as seguintes, obtidas com uma objectiva de imersão de Zeiss e uma ocular 2 do mesmo oculista, 1, 6 p a 2, 6 p de comprimento e aproximadamente metade de largura. Por estes caracteres julgamos estar em presença de uma bactéria não descrita, e julgamo-la nova para a sciência ou pelo menos pouco conhecida. Aproxima-se, porém, por alguns dos caracteres do Bacillus phospho - rescens , descrito por Fischer, e encontrado por êle na água do mar das índias et sur des poissons ou tfautres anlmaux tnarins morts. 0) Notemos já a circunstância em que Fischer encontrou êste bacilo, bem diversa daquela em que nós encontrámos o nosso, num órgão interno, num líquido contido num reservatório. Notemos ainda o facto relativo à cor da luz emitida. O bacillus de Fischer dá luz branca, um pouco azulada (La lumière blanche, un peu bleuâtre); (2) emquanto a nossa bactéria dá uma luz azul, classificada como tal, pelas diversas pessoas que viram os tubos em que ela existia em suspensão na água. Essa cor azul pode comparar-se à que apresen- tam muitos corpos no princípio da combustão, poderá assemelhar-se à luz manifestada pelo óxido de carbono quando arde. Um outro carácter aproxima talvez ainda as duas bactérias, a nossa e a descrita por Fischer, mas transcrevamos textualmente para vermos se são ou não justificadas as nossas dúvidas: Les bâtonnets mesurent en moyenne de 1,15 y a 1,75 p de long et ont une largeur deux à trols fols molndre n' ont jamais montré de s pores à leur intérieur, mais seule- ment des vacuoles ne prenant pas la matlère colorante (3). O E. Macé — Traité pratique de Bactériologie, pag. 993. — Edit. de 1901. (3) E. Macé. Loc. cit. pag. 994. O Loc. cit. pag. 993. 74 Balthazar Osorio A maneira como está redigido êste período deixa-nos dúvida sôbre se o Bacillus phosphorescens de Fischer, apresenta um ou mais vacúolos. A nossa bactéria apresenta um só vacúolo. (Vid. Estampa I). 0) As condições de temperatura em que vive a bactéria que estudámos devem ser bem diversas, pois existe normalmente num reservatório de um peixe que se mantêm a uma profundidade considerável, emquanto a bactéria descrita por Fischer, foi encontrada na água, naturalmente nas suas camadas mais superficiais, e nos tecidos externos dos peixes e de outros animais marinhos. Mas há um carácter principal, que extrema duma maneira completa a nossa bactéria; são as suas dimensões, como se pode ver, aproximan- do-as. As nossas medidas foram tiradas empregando uma objectiva de imer- são de Zeiss V12 e a ocular micrométrica 18 do mesmo autor. Não nos esquecemos de proceder à cultura das bactérias, mas não damos por emquanto a êste respeito, senão indicações sumárias, apenas aquelas que justificam a atenção que nos mereceu êste ponto dos nossos estudos. Na primeira série de experiências semeámos a bactéria em 5 tubos de gelose, em 4 de batata glicerinada e em 5 de gelatina. O nosso fim era ver durante quanto tempo se conservava a luz emitida. No dia se- guinte todos os tubos semeados apresentavam fenómenos mais ou me- nos intensos de fosforescência, a luz atenuando-se nuns pontos, reavi- vava-se noutros. Os tubos aonde a fosforescência persistiu por mais tempo foi nos da gelatina e em seguida nos que continham gelose. Na segunda série de experiências a que procedemos, introduzindo por meio de picada a bactéria na gelatina, em virtude da temperatura do meio ambiente, devido à época do ano, a gelatina que nos foi fornecida estava liquefeita, ou para dizer melhor, bastante fluida, de maneira que nos pare- ceu mais fluida em seguida à sementeira, mas será a meu ver uma expe- riência a repetir com outras. Não podemos, portanto, dizer com segurança se a bactéria a que aludimos liquefaz ou não a gelatina. Procurei saber se o líquido que se apresentava luminoso era radioacti- (*) (*) Agradecemos neste logar ao distintíssimo bacteriologista Professor Aníbal Bet- tencourt a fotografia da bactéria que acompanha êste trabalho e que êle obteve com a mais comprovada competência. Uma propriedade singular de uma bactéria luminosa 75 vo. Empreguei para êsse fim um electroscópio que préviamente havia carregado. Aproximei de um dos polos a papila anal de um peixe cujo reservatório de bactérias continha o líquido luminoso e o electroscópio descarregou-se rápidamente, vendo-se com clareza, aproximarem-se com rapidez, as duas folhas de alumínio. Duvidando se a descarga seria devida à substância luminosa ou se poderia atribuir-se aos tecidos orgânicos do peixe, esvaziei o reservatório a que me referi e notei que aproximando o peixe do electroscópio, êste não era descarregado. Aproximei do electroscópio um tubo contendo água do mar e em dissolução o líquido luminoso, emfim um tubo preparado nas mesmas condições, como se com êle fôssemos empreender o estudo da sua acção sobre o papel fotográfico ; nestas condições observei que o electroscópio se descarregava também, mas lentamente. Destas experiências concluo que é radioactivo o líquido extraído do Malacocephalus laevis. Uma outra série de experiências visou o estudo do espectro da luz emanada das bactérias. Com êste intento coloquei um tubo, contendo o líquido luminoso preparado como ficou dito, sobre a fenda do colimador de um espectroscópio, tendo-me préviamente defendido da acção de quais- quer raios luminosos que não proviessem da luz a analisar. Para isso vedei de uma maneira completa a entrada à luz solar, e para que os raios luminosos provenientes da vela que iluminava a escala e eram reflectidos pelas paredes, não pertubassem o resultado das minhas observações, en- volvi toda a extremidade do colimador, assim como o tubo, em muitas vol- tas de um tecido negro. Tinha tido, alêm desta, outra precaução; havia forrado externamente o tubo com papel, deixando apenas uma pequena parte de vidro a descoberto, uma estreita faixa de um milímetro de lar- gura e dois centímetros de comprimento por onde passavam os raios lu- minosos. Como a luz emitida pelas bactérias era fraca para percorrer o tubo e para atravessar a lente interposta, abri bastante a fenda do coli- mador. Observando nestas circunstâncias reconheci que o espectro é contínuo, sem nenhuma risca, bastante extenso, ficando compreendido entre as ris- cas B e F de Fraunhofer. Êste carácter servirá ainda para distinguir a bactéria de que nos temos ocupado. Se é nova para a sciência como os factos precedentemente expostos nos levam a crer, denominá-la-hemos Bacillus malacocephali, por ter sido encontrada no Malacocephalus laevis , Lowe. Alguns factos, e da mais alta importância, ficam ainda por elucidar. 76 Balthazar Osorio d Quando, quer dizer, em que época da vida, a bactéria se introduz nos te- cidos do peixe? i Reagem êstes à acção das bactérias e origina-se a cavidade em que estão alojadas? — para uma série de metalo-albuminas diversas, diferindo apenas entre si pelo ele- mento metálico empregado na sua preparação. Já Schmidt (4, 5, 6 e 7) demonstrara com as Hitze e as Alkali-pràzi - pitin que a desnaturação das albuminas do soro pelo calor e, eventual- mente, a sua redissolução pela NaOH lhes conferia modificações obser- váveis usando-as como antigénio e confrontando-as, por meio do soro precipitante obtido, com as albuminas não desnaturadas (nativas). Cha- pchev (8) demonstrou ainda que esta reacção, usada em polícia sanitária e em medicina legal para a determinação específica das carnes cozinhadas, se tornava ainda mais sensível desnaturando, pela técnica de Schmidt, não já o soro do sangue mas o suco ou o extracto muscular da espécie dese- jada e usando-o como antigénio. Era, portanto, sabido que uma violenta acção tal como a coagulação térmica e subseqüente redissolução da sub- stância proteica pela NaOH não destroem quanto de fundamentalmente específico nela pode existir como antigénio : alguma cousa de análogo ao que se passa com as termo-precipitinas de Ascoli sob o ponto de vista da termo-resistência dos precipitinogénios. Porém sabíamos igualmente que os soros precipitantes obtidos com essas albuminas desnaturadas eram relativamente mais activos para a albumina desnaturada que servira para a sua preparação do que para a albumina nativa. As metalo-albuminas de que nos servimos foram preparadas agitando o metal puro (Kahlbaum) em pó finíssimo (embora já tivéssemos verifi- cado (2) a fixação do metal mesmo em grânulos grossos), durante 10 ho- ras, em tubos de ± 30 cc. cheios ou quási com o soluto de ôvo-albumi- na. Este foi preparado, nas experiências iniciais, por dissolução de clara de ovo fresco em soluto de NaCl a 8 % 0. Não influindo a presença do Cl'-ião, à temperatura ambiente, senão de uma maneira perfeitamente des- prezível sobre o elemento metálico (3), podemos assim ter a certeza de que todo o metal fixado pelo soluto proteico se achava realmente naquele estado de combinação por nós designado como «metalo-albumi- na». Contudo, nas experiências subsequentes, partimos ou de pesos Sobre algumas propriedades das metalo-albuminas 79 conhecidos de ôvo-albumina secada a 37o 0u mesmo de clara de ovo fresca dissolvida em água destilada, sendo depois o soluto centrifugado e filtrado até à limpidez. E, só depois da agitação com o metal, juntámos ao soluto límpido da metalo-albumina o volume do soluto concentrado de NaCl necessário para a isotonia. Todos os solutos empregados eram estéreis. Os animais escolhidos para as nossas experiências foram os coelhos. A via de inoculação foi a intravenosa. A dose de albumina variou entre 1-2 claras de ovo fresco (ou 4 a 7.5 gramas de ôvo-albumina seca) em soluto de NaCl a 8 %o ou em água destilada até perfazer o volume de 45 a 100 cc. Os animais foram injectados 1 ou 2 vezes, tardando a even- tual 2.a injecção 4-7 dias. As sangrias foram realizadas 6 a 10 dias de- pois da última inoculação, ficando os animais privados de alimentação nas 24 horas precedentes. A técnica seguida para a reacção das precipitinas foi a de Uhlenhut, determinando por ensaios preliminares as diluições de albumina conve- nientes para avaliar cada soro em reacção zonal. As testemunhas neces- sárias foram sempre estabelecidas. SÉRIE A Experiência n.° 1: Animal inoculado com 2 injecções de Ni-albumina Quadro N.o 1 S. precipit. Sol. de alb. a Ni-alb. Alb. nativa » 1:1000 + + + + + 1:5000 + + + _| 1_ » 1:10000 + + + + 1:20000 + + + 1:40000 + » 1:60000 + + ± * 1:80000 + + » 1:100000 + + Sol. NaCl — — Sol. NaCl 1:1000 — — S. coelho norm. 1:1000 — — S. coelho norm. 1:10000 — — 80 A. Benedicenti e 5. Rebello na dose total de 3 claras de ovo = 140 cc. de soluto. Sangria 7 dias de- pois da última injecção. A análise revelou Ni no fígado. Experiência np 2: Injecção de 80 cc. de Co-albumina; sangria ao 7.o dia. A análise demonstrou Co no fígado e no conteúdo intestinal. Prova do soro: Quadro N.o 2 Sol. alb. a Co-alb. Alb. nativa 1:1000 + + + + 1:5000 + + + ± 1:10000 + ± + 1:20000 + + 1:40000 + + 1:60000 + + Testemunhas — — Experiência n.° 3: Injecção de 80 cc. de Co-Ni- albumina; sangria ao 9.o dia. A análise demonstrou Ni no fígado e Co no conteúdo intestinal. Prova do soro: Quadro N.o 3 Sol. alb. a Co-Ni-alb. Alb. nativa 1:500 + + + + 1:1000 H — h + + 1:5000 + + + 1:10000 + ± + 1:20000 + + 1:30000 + + 1:40000 + + 1:60000 + + Testemunhas — — As experiências n.° 4, 5 e 6 realizadas com soro de coelhos inocula- dos respectivamente com Fe-albumina, Hg-albumina e Sb-albumina, não tendo fornecido resultados mais demonstrativos do que as antecedentes, Sobre algumas propriedades das metalo-albuminas 81 por concisão omitimos a publicação dos seus protocolos. Apenas a ex- periência n.° 7 merece uma especial referência. Experiência n. o 7: — Injecção de 80 cc. de Cu-albumina ; sangria ao 6.° dia. O Cu foi encontrado no fígado, no intestino e no conteúdo in- testinal. Prova do soro: Quadro N.o 4 Sol. alb. a Cu-alb. Ni-alb. Co-alb. Fe-alb. Alb. nativa 1:50 + + + + 4 + + + + + + 1:100 + + + + + 1:500 + + + + + 1:1000 + + + + + 1:2000 ± ± ± ± ± 1:5000 ± ± — ± ± Testemunhas — — — — — Dêste l.o grupo de experiências podemos concluir que o emprêgo de uma metalo-albumina como antigénio não permite obter soros precipitan- tes particularmente mais específicos para essas albuminas do que para a albumina nativa ou para outra metalo-albumina qualquer. SÉRIE B Preparados, por injecção de solutos de ôvo-albumina nativa, soros pre- cipitantes para essa albumina, depois de avaliada a sua riqueza em preci- pitinas, confrontámos a actividade dêsses soros para solutos de albumina nativa e para solutos da mesma albumina depois de agitados por 10-20 ho- ras com os metais, nas condições já referidas. Quadro N.o 5 Sol. a Alb. nat. Hg-alb. Fe-alb. Cu-alb. Co-alb. Ni-alb Fe-Cu- Ni-Co-alb. 1:40 + + + + + + ± ± ± ± 1:100 + + + ± ± ± — ± 1:200 + + ± — — — — — 1:400 + — — — — — — 6 82 A. Benedicenti e 5. Rebello Os resultados de várias experiências estão expostos sucintamente nos quadros 5, 6, 7 e 8. Quadro N.o 6 Tempo Sol. a Alb. nat. Hg-alb. Fe-alb. Cu-alb. Co-alb. Ni-alb. Fe-Cu- Ni-Co-alb. 10' 1:40 + + + + — — — — — 20' » + + + + + ± — — — — 60' » + + + + + ± — — ± — 120' » + + + + + ± + — — + ± Quadro N.o 7 Tempo Sol. a Alb. nat. Pb-alb. Fe-alb. Ni-alb. Cu-alb. Co-alb. 2' 1:200 + + + ± ± — — — 10' + + + + + + ± + ± — — 20' + + + + + + + + ± + — — 30' * + + + + + + + + + + — — Com o mesmo soro, as três metaloalbuminas precipitáveis do quadro anterior (Pb, Fe e Ni), depois de aquecidas a 100°, deram os resultados seguintes : Quadro N.o 7 bis Tempo Sol. a Pb-alb. 100o Fe-alb. 100o Ni-alb. 100o 20' 1:200 — — — 2 h. » — — — 24 h. » — — — Quadro N.o 8 Sol. a Alb. nat. Hg-alb. Fe-alb. Cu-alb. Co-alb. Ni-alb. Al-alb. Sb-alb. Cr-alb. Se-alb. Si-alb. 1:32000 + + + + + + + + + + + + + 1:160000 + ± — ± — — ± — — — + — 1:320000 + ± — Sobre algumas propriedades das metalo-albuminas 83 É notável a diferença de comportamento entre a albumina nativa e a mesma albumina desnaturada pela fixação do metal. Devemos fazer notar que a diversa riqueza em precipitinogénios se não pode explicar pela diminuição de concentração proteica sofrida pelos solutos agitados com o metal apesar da sua subsequente parcial flocula- ção 0), centrifugação e filtração, pois que — 1.°, nas concentrações míni- mas de albumina nativa a reacção precipitante é mais intensa que nas concentrações máximas das metalo-albuminas estudadas; 2.°, metais cujo contacto com os solutos proteicos em água fisiológica provocam (como o Hg) máxima floculação agitatória dão origem a metalo-albuminas das mais precipitáveis ; 3.°, o emprêgo de solutos em água destilada cuja flo- culação agitatória é práticamente nula (e, portanto, a riqueza proteica do soluto nativo inicial é mantida através das manipulações) permite obter resultados análogos (v. quadros 7 e 8) aos que obtivéramos antes. Estas últimas experiências demonstram, alêm do que se queria provar, que solutos de metalo-albuminas, incoaguláveis pelo calor mesmo à tem- peratura da ebulição, podem ainda reagir positivamente com as precipiti- nas de um soro específico para a albumina nativa. O confronto entre as experiências da série a) e as da série b) parece-nos interessante. Desprezando pequenas variações, podemos concluir que a inoculação in- travenosa de diferentes metalo-albuminas provoca o aparecimento de precipitinas para a albumina nativa, para a metalo-albumina injectada e para as outras metalo-albuminas experimentadas — sem especificidade muito mais notável para elementos de um destes três grupos considera- dos. Por outro lado, resulta evidentemente das experiências realizadas que as precipitinas originadas pela inoculação de albumina nativa demons- tram maior especificidade para essa albumina do que para as metalo- -albuminas e que, dentro dêste último grupo, a reacção varia de intensi- dade conforme o elemento metálico fixado sem que dependa do facto bruto da maior ou menor fixabilidade do metal. E, de facto, pudemos observar que metais muito fixáveis (tais como Co, Fe, Cu) alteram a sen- sibilidade às precipitinas em uma ordem que não está de acordo com a sua ordem de fixação e que o Ni e o Cr, por exemplo, menos fixáveis do que qualquer daqueles três elementos podem alterar esta precipitabilidade (*) (*) Esta parcial coagulação agitatória é um fenómeno acessório interessante : quási nula em presença do soluto de ôvo-albumina em água destilada é, pelo contrário, consi- derável nos solutos contendo NaCl, variável (em aspecto, intensidade, densidade dos flocos, etc.), com o elemento metálico e com a concentração do líquido em electrólitos, assim como com a quantidade de ar contido no tubo em que se faz a agitação. 84 A. Benedicenti e S. Rebello mais profundamente de que o Fe e o Cu. Contudo não devemos esque- cer que as metalo-albuminas mais ricas de precipitinogénios parecem ser igualmente, entre as ensaiadas, em geral, aquelas (como a Hg- e a Pb- albumina) que menor quantidade de metal podem conter. ik que devemos atribuir o diverso comportamento das precipitinas nativas (*) para com as metalo-albuminas e para com as albuminas nati- vas e, ao mesmo tempo, a que atribuir o idêntico comportamento dessas proteínas nativas e dessas metalo-proteínas como antigénio? i Serão porventura idênticos os grupos de scisão hidrolítica em que é desmembrada a molécula proteica heteróloga (metalo-desnaturada ou na- tiva) introduzida na circulação e, por consequência, êsses grupos origi- nariam necessáriamente idênticos anticorpos? A desnaturação da metalo- -albumina não alteraria então o seu comportamento em face dos fenómenos da digestão parentérica... iOu a diversidade do comportamento que nos interessa poderá ser interpretada como consequência da simples agitação com os metais, muitos dos quais reduzidos pelo hidrogénio, agindo estes como catalisadores (9) hidrolisantes e podendo, portanto, scindir o edifí- cio proteico? Se assim fosse e os grupos de scisão fossem análogos aos da digestão parentérica, ou fácilmente neles transformáveis, uma parte do nosso problema estaria imediatamente esclarecida. Compreender-se-ia muito bem como a proteína metalo-desnaturada e a nativa se equivalessem como antigénios, apesar da sua notável diferença como reagente às pre- cipitinas nativas; mas a identidade do comportamento das duas espécies proteicas para com as metalo-precipitinas ficaria sempre por explicar. t Ou a metalo-albumina circulando em contacto do plasma perderia, an- tes ou depois de se desmembrar, uma parte ou a totalidade do seu me- tal que porventura se deslocaria para se fixar às substâncias proteicas do sangue ou dos tecidos animais que para êle tenham maior afinidade? Ulteriores pesquisas poderão talvez esclarecer o problema interessante que tão de perto se relaciona com as afinidades medicamentosas e com a electividade de fixação. Desde já podemos apenas afirmar que a albu- mina nativa e as diversas metalo-albuminas se não comportam idêntica- mente tanto na digestibilidade péptica como na tríptica e que a agitação com os metais não só torna incoaguláveis os solutos proteicos mas ainda lhes modifica sensivelmente a viscosidade, lhes aumenta a tensão super- ficial, lhes reduz o ângulo de rotação à luz polarizada e lhes modifica a 0) Designamos assim as precipitinas dos soros preparados por inoculação de albu- minas nativas. Sobre algumas propriedades das metalo-albuminas 85 condutibilidade eléctrica, alterando-lhes, para mais , a concentração hidro- geniónica. De outros trabalhos nossos ainda não terminados, podemos concluir também, pelo menos para a Cu-albumina, que, nas primeiras 24 horas, a quási totalidade da ô\ ^o-albumina é eliminada por via renal e pri- vada do metal que lhe estivera ligado. Procurámos ainda saber se a acção do calor podia destruir nessas al- buminas desnaturadas aqueles precipitinogénios já diminuídos de número pela fixação do metal. De facto, o simples aquecimento a 100° das Pb-, Ni- e Fe-albuminas (v. quadro n.° 7 bis) torna-as imprecipitáveis. Mas julgá- mos vantajoso estudar com mais minúcias a influência do aquecimento. Para isso aquecemos em banho-maria por 10 minutos, a determinadas temperaturas, quantidades iguais de metalo-albumina. O quadro seguinte mostra os resultados obtidos com o soro precipitante sobre a Fe-albu- mina. 86 A. Benedicenti e 5. Rebello JS o cs + + + + + + + + + +1 1 1 + JS + + es + + + + + + +1 1 1 + + + co + + +1 + + + +1 1 1 + o + + + + + +1 1 1 ajuBjjdpaid ojos op baojçJ o ~£ c S o vo O o r^‘ ò CO c« CN o c3 CN artrobranquial, mais pequeno que o l.°, junta-se à sínfise do l.° e 2° basibranquial; nos Esox, Art., é menos comprido que o l.°; nos Salmo , Art., largo, como o l.o, mas mais curto. Nos Anguilla, L, rudimentar como o l.° Os artrobran- quiais dos dois ramos do 2.° arco branquial das Alosa, Cuv. juntam-se atrás do l.° basibranquial. Basibranquial — No Bacalhau o 2.° basibranquial (Est. XI — 2.° b. b.), mais largo adiante, estreita na base de duas apófises que se prolongam para os lados e para trás e termina em pequeno prolongamento lamelar. Na Carpa semelhante ao l.°; a extremidade posterior livre move-se no anel articular do 3° arco. Nos Perca , Art., a extremidade livre do 2.° basibranquial, menos curto que o l.o, escorrega entre os 3.0S artrobranquiais. O 2.° basibranquial dos Salmo , Art., soldado ao l.° e êste ao basihial formam peça média única a que se juntam os dois l.os pares de arcos branquiais; a extremidade desta peça move-se livremente entre os ramos do 3.° par de arcos branquiais. Nos Trutta, Duh., ha 2.® basibranquial e igualmente no Esox, Art., o dêste é como o l.o, comprido, bem desenvolvido e coberto por peças dentárias. O 2.° basibranquial do Pimelodus , Lac., está situado entre os ramos do 4.o par de arcos branquiais e apresenta lâmina vertical saliente. Nos Alosa, o 2.° basibranquial tem a forma e disposição do l.°; nos An- guilla, L, é placa óssea pequena, colocada entre o 2.° e 3.° par de arcos branquiais. 3.° Arco branquial Estilobranquial — No Bacalhau (Est. XI — f. S.) e na Carpa O estilo- branquial do 3.° arco está modificado, como o do 2.°, em faríngeo supe- rior, com dentes naquele, sem dentes no segundo dêstes Peixes. Nos Cobitis, Art., o 2.o e o 3.° arco teem estilobranquial comum; nos Salmo, Art., o 3.° estilobranquial reune também as extremidades do 3.° e 4.0 arcos branquiais, é cónico e dirigido para diante. O 3.° estilo branquial dos Alosa, Cuv., é comprido, delgado, com apófise pela qual se liga à do 2.0 epibranquial, mas tem uma parte livre muito delgada que escorrega sobre o 2.® estilobranquial. Nos Esox, os estilobranquiais do 3.° arco são faríngeos; o mesmo nos Rhombus, Kl., mas os faríngeos superiores dês- tes são colocados longitudinalmente na base do crânio a que os suspen- dem músculos e articulam-se, de um e outro lado, com a extremidade su- perior do 3.o e 4.o arcos branquiais. Nos Anguilla, L, o estilofaríngeo é peça transversal única que reune o 3.° e 4 o arcos. 152 F. Mattozo Santos Epibranquial — No Bacalhau o 3.° epibranquial (Est. XI — e. b. (III) ) tem a extremidade superior larga e é dilatado em baixo por crista larga trian- gular, fina, virada para cima. Na Carpa o 3.° é semelhante ao 2 o epibranquial. Nos Perca , Art., Trlgla, Art., e vários outros acanthoptera é curto, delgado, e com apófise longa posterior; nos Esox, Art., é maior do que o 2.°, e tem, na extremidade, apófise larga; o do Salmo , Art. e Trutta, Duh. tem como os que o precedem apófise posterior. No epibranquial do 3.° arco nos Alosa, Cuv. a porção articular prolonga-se em estilete longo, delgado, que se move sobre os epibranquiais precedentes. Ceratobranquial (Est. XI — c. b., (III) ). Os ceratobranquiais do 3.° arco são semelhantes ao dos outros arcos. Nos Aulostoma, Lac., como o do arco anterior e do seguinte não se reunem aos respectivos epibranquiais. Artrobranquial — No Bacalhau (Est. XI — a. b., (III)) muito mais curto e de forma diferente do dos outros arcos: largo no bordo por que se arti- cula ao ceratobranquial correspondente, estreita a seguir gradualmente, to- mando forma triangular, cujo vértice se alonga em ponta, encurvada para trás e dirigida para dentro. Na Carpa, como nos Perca , o artrobranquial do 3.° arco articula-se atrás com o ceratobranquial do mesmo arco, adelgaça depois, dirige-se para a parte posterior, curva-se e inclina-se ao encontro do simétrico do lado oposto a formar anel em que entra a extremidade livre do 2.o basi- branquial. Nos Trlgla, Art., Uranoscopus, L, e Lophius, Art., é como os dos ou- tros arcos: nos primeiros largo e chato; nos segundos delgado. Nos Silu- rus, L., nos Salmo , Art., os artrobranquiais do 3.° arco são aproximados pela base que se junta à sínfise dos dois basibranquiais; destacam-se adiante da linha de conjugação, avançam e formam apófise que dá apêgo a músculos e ligamentos. Já disse que os artrobranquiais do 3.° arco dos Alosa , Cuv., se juntam por detrás do 2. o basibranquial. Nos Gadus, Art., o 3.° artrobranquial tem apófise descendente e forma anel com o simé- trico. Este artrobranquial das Angiiilla, L, é rudimentar. Basibranquial — É reduzido o número de Peixes em que há mais de dois basibranquiais. Nos Salmo, Art., e nos Trutta, Duh., há três. Naquê- les o 3.° basibranquial junta-se sólidamente aos faríngeos inferiores. Nos Alosa, Cuv., em que também há três, o 3.o vai do 3.° arco branquial ao 4.o para se colocar entre os ramos dêste, avançar entre os faríngeos infe- riores, mesmo ultrapassá-los; da face inferior nasce lâmina longitudinal saliente. Notas de anatomia comparada 153 4.o Arco branquial Estilobranquial — No Bacalhau (Est. XI — f. S.) e na Carpa as condi- ções do estilobranquial do 4° arco são as mesmas que as do 2. o e 3.° Nos Cobitis, Art., o estilobranquial do 4.° arco é comum com o do do 3.° Nos Alosa, Cuv., o estilobranquial do 4 o arco é o epibranquial e o estilobranquial do 3.° Nos Esox, Art., é o 2. o faríngeo superior; nos Trutta , Duh., êste estilobranquial é igualmente faríngeo, mas como nos Salmo , Art., é um só, o correspondente ao 4. o arco branquial, e, como já referi, nos Silurus , L, os estilobranquiais dos quatro arcos estão repre- sentados por placa oval faríngica superior. Nos Rhombus, Kl., e Anguilla , Cuv., a mesma disposição que no 3.° arco branquial. Epibranquial — No Bacalhau (Est. XI — e. b. (IV) ) é em forquilha, os ra- mos chatos, e um, o mais comprido, virado para dentro, o outro para cima. Na -Carpa mais largo do que o 3.°, mas aproximadamente do mesmo comprimento, com aresta saliente dirigida de fora para dentro, no bordo póstero-superior. O 4.o epibranquial dos Trigla , Art., e Perca, Art., é ar- queado ou dobrado em esquadro, com ângulo saliente em forma de apó- fise. Nos Salmo, Art., e Trutta, Duh., é o mais curto dos epibranquiais, tem atrás lâmina angulosa. Nos Alosa, Cuv., o 4.o epibranquial tem forma singular, é larga placa romboidal com orifício redondo, do que resultam conexões particulares. Assim, articula-se: pelo ângulo ínfero-posterior, com o ceratobranquial correspondente; pelo ângulo posterior e superior do mes- mo lado, com o faríngeo inferior e pelo ângulo ínfero-anterior prende-se por cartilagem articular ao epibranquial do arco precedente. Aos epibranquiais do 4.o arco dos Muraena, Art., soldam-se os faríngeos superiores e infe- riores, ao passo que os epibranquiais dos outros arcos ficam separados e como suspensos nos tecidos moles. Ceratobranquial — Como nos outros arcos, salvo diferenças no com- primento. Artrobranquial — No Bacalhau e na Carpa simples ligamento prende o ceratobranquial de um lado ao do outro, mas as extremidades dêstes segmentos ficam afastadas. O artrobranquial dos dois ramos do 4.° arco branquial dos Lophius , Art., liga-se o de um lado ao do outro, ao passo que nos outros três pri- meiros arcos não se prendem nem directamente nem por meio de basi- branquiais, que não existem. Nos Silurus, L, o artrobranquial do 3.° arco é comum ao 4.o, como já referi. Cartilagem ou ossículo representa o 4° ar- trobranquial dos Gadus, Art. 154 F. Mattozo Santos Basibranquial — Ainda mais raro que três é haver quatro basibran- quiais. Existe nos Salmo , Art., 4.° basibranquial que se une à peça média de conjugação, 3.° basibranquial do 3.° arco e dos faríngeos inferiores; é estreito e avança em ponta livre para trás, no ângulo reintrante dos fa- ríngeos inferiores. 5.o Arco branquial ou faríngeos inferiores. 0) No Bacalhau (Est. V — 45; Est. XI — f. i. (V)), os faríngeos superiores são estreitos, lanceolados, com a extremidade cortada a direito e vi- rada para cima; teem a face interna coberta de denticulações arredon- dadas. Na Carpa (Est. X, f. 29), grandes fortes, curvados em arco, paralelos aos últimos arcos branquiais, aproximam-se pela extremidade anterior, a superior prende-se por músculos à base do crânio. A porção média, mais espessa que o resto, forma ângulo saliente interior que suporta dentes fa- ríngicos (id. — d, d), que se opõem à superfície triturante na base do crâ- nio. Na base do processo faríngico (v. Basioccipital) aloja-se placa de substância pétrea, larga, chata, triangular, servindo de dente faríngico su- perior, contra a qual vem bater os dos faríngeos inferiores. Estes últimos são na Carpa (id. — d, d) quatro, algumas vezes cinco: os três ou quatro posteriores e superiores são de coroa chata e sulcada transversalmente; o anterior e inferior arredondado, com sulcos radiando da base de pe- quena ponta no centro da coroa (id. — a). Os dentes dos faríngeos inferiores dos Cyprinidae são no entretanto variáveis na forma e número; assim vão de doze no Cyprinus nasus, L, a dois ou três no Cobitis fossilis, L. A coroa ora é chata, ora arredon- dada, ora em ponta um pouco adunca, sulcada ou denticulada; ora os dentes são comprimidos, uns com a superfície triturante oval, outros, cortantes. Nos Pomacentridae, Labridae, Embiotocidae e Chromidae , os dois farín- geos inferiores soldam-se em peça única (pharyngognatha, Gunter) com a superfície superior eriçada de dentes, na maior parte, esfregando contra su- perfície semelhante da base do crânio, oposta nos Labridae a duas placas ósseas igualmente com dentes colocados contra as extremidades supe- riores dos últimos arcos branquiais. Nos Muraena, Art., os faríngeos infe- 0) É arco branquial incompleto, reduzido ao segmento ceratobranquial sempre bas- tante modificado. Notas de anatomia comparada 155 riores formam dois arcos muito mais fortes do que os arcos branquiais; sobem até o osso situado sob a base do crânio ao qual se juntam, assim como à extremidade superior dos arcos branquiais. O tipo, porém, dos faríngeos inferiores são os dos Anguilla, Cuv.: dois arcos, inferiormente aproximados pela extremidade anterior, no ân- gulo reintrante que apresentam atrás os dois últimos arcos branquiais, sobem ao longo do bordo posterior dêstes arcos, afastando-se um do ou- tro, não indo além do segmento inferior. Nos physostoma ( Malcicopterygia abdominalia) os faríngeos inferiores são simples e não fouciformes. Os faríngeos inferiores dos physoclista subbrachealia são separados e nos TELEOCEPHALIA ACANTHOPTERA, OUtra divisão d0S PHYSOCLISTAS, São COa- lescentes num grupo inteiro desta divisão, grupo que compreende as famí- lias Chromidae, Embiotecidae, Pomacentridae e Labridae (pharyngognatha). Nos HEMiBRANCHEA (Fistalariidae e Macrorhamphosidae) , os faríngeos inferiores, como os arcos branquiais, são reduzidos ou abortados. * * * O crânio dos teleostea está, como se depreende do exposto, entre quatro complexos ósseos: naso-maxilar , peri-orbitário , palato-quadrado e opercular. Tanto os ossos do crânio como os da face e região opercu- lar foram atrás individual e isoladamente descritos; vou, porém, por exame em conjunto, indicar a sua posição relativa em esqueleto cefálico de te- leostea, que chamarei típico, por corresponder à mais frequente compo- sição, em número e conexões, das respectivas peças ósseas, sem deixar de apontar alguma divergência que possa dificultar identificações. (a) Crânio — As narinas e os olhos estão em cavidades exteriores do crâ- nio; o labirinto do ouvido em cavidades laterais internas; o encéfalo na grande cavidade central. Na parte póstero-inferior o osso ímpar que li- mita o crânio e por faceta que exclusivamente lhe pertence o articula com a 1 a vértebra, é o basioccipital (2) 0). (*) (*) Os números entre parêntesis referem-se aos das Estampas. 156 F. Mattozo Santos Ao lado do basioccipital veem dois pares de ossos: um par atrás, são os exoccipitais (3); outro par adiante, são os paraoccipitais (5). Nos exoccipitais há em muitas formas duas facetas pequenas que concorrem com facetas articulares da l.a vértebra para a articulação da cabeça à co- luna vertebral. O osso ímpar sôbre o basioccipital (2) e entre os paraoccipitais (5) é o supraoccipital (4), o qual se prolonga quási sempre para diante, en- tre dois ossos laterais que se lhe seguem (parietais) (10). Por vezes, pela união dêstes ossos, o supraoccipital termina no bordo posterior dêles; em alguns, pouquíssimos casos, como que empurrado para diante, deixa de existir sôbre o basioccipital, encontra-se atrás dos paraoccipitais, en- tre o par de ossos laterais seguintes a estes (os parietais) (10): — tem po- sição interparietal. Os ossos adiante dos paraoccipitais (5), um de cada lado do crânio, são os parietais (10), quási sempre látero-superiores, algumas vezes uni- dos anteriormente ao supraoccipital (4). Os parietais faltam em alguns teleostea, na família dos Siluridae , p. e. No ângulo póstero-superior do crânio, ao lado dos parietais, entre es- tes os paraoccipitais (5) e os exoccipitais (3) está o mastoídeo (8), osso par. O osso seguinte, também par, é o escamosal (9), o qual, ordinária- mente pequeno é, comtudo, muito desenvolvido em algumas formas (Ga- dus)y noutras não existe (Exox, Cyprinus, Anguilla , etc.), pelo menos como osso distinto: coalesce ao mastoídeo. O osso adiante do supraoccipital (4), formando a parte súpero-anterior da abóbada do crânio, é o frontal (13), osso ora ímpar ora par. Lateral- mente ao frontal, o par de ossos que formam o pilar posterior da órbita são os postfrontais (12), os quais concorrem para a articulação do hio- mandibular (28), e o outro par de ossos anteriores que forma o pilar, também anterior, da abóbada, são os prefrontais (15), os quais teem no bordo inferior faceta articular para o palatino (19) e frequentemente, além desta, outra para o l.° orbitário (18). O osso ímpar que na parte anterior do crânio se continua ao frontal é o etmóide (16); o que está por baixo dêle, outro osso ímpar, o vómer (14). Estes dois ossos são, em alguns Feixes, ligados verticalmente; for- mam assim septo à cavidade das narinas, colocadas lateralmente. Por ve- zes etmóide e vómer fundem-se em osso único (Conger, Anguilla ). O osso que para trás se segue ao vómer (14) e que se estende ao longo da linha média da base do crânio até o basioccipital (2), é o basis - fenóide (6), osso geralmente em forma de tala, sôbre o qual adiante as- senta o septo orbitário, as mais das vezes membranoso. Notas de anatomia comparada 157 Ao lado do basisfenóide, adiante dos exoccipitais (3) e do basioccipi- tal (2), o osso par indo juntar-se por sutura ao postfrontal respectivo (12) e que forma, com o que lhe corresponde, faceta para a articulação do hio- mandibular (28), é o alisfenóide (7), no qual há entalhe ou buraco para a passagem dos dois últimos ramos do 5.° par. Adiante do alisfenóide (7), a peça óssea que de cada lado do crânio se articula com êste, com o prefrontal (15) e com o frontal (13) é o orbi- tosfenóide (11). Entre os dois orbitosfenóides passam: em cima, os nervos olfativos; em baixo, os nervos ópticos. Por baixo ou adiante do orbitosfenóide (11) está o entosfenóide (20), osso ímpar, implantado as mais das vezes por simples lâmina ou haste ós- sea sobre o basisfenóide (6); bifurca-se em cima para se unir ora ao alisfe- nóide (7), ora ao orbitosfenóide (11); outras vezes fica suspenso na mem- brana inter-orbitária que liga estes ossos. Em alguns teleostea não existe entosfenóide, mas noutros (Cyprinus e Silunis), é muito volumoso, une-se não só ao basisfenóide (6) e orbitosfenóide (11), mas ao frontal (13) e prefrontal (15). A forma mais geral do entosfenóide é em Y. Há comumente no crânio dos teleostea, na parte posterior do occi- pucio, cinco pontas salientes que se prolongam por vezes em arestas ou cristas, tanto para diante como para trás. Uma destas arestas ou cristas é ímpar e média, crista occipital, pertence ao supraoccipital (4) e prossegue em muitas formas: para diante, sobre a linha média do frontal (13), ou a sutura dos frontais, quando pares; para trás, sobre a sutura dos paraocci- pitais (5). A esta crista sucedem-se, posteriormente as apófises espino- sas das vértebras, as primeiras das quais se lhe prendem por liga- mentos. Duas outras cristas, uma de cada lado da crista occipital, formam cristas intermédias, cristas paraoccipitais , que dêstes ossos se prolongam para diante sobre os parietais (10) e algumas vezes sobre o lado corres- pondente do frontal (13), ou o frontal correspondente, quando êste osso é par. A esta extremidade saliente prende-se o ramo do lado de cima do osso superior da cintura escapular. Emfim, outras duas arestas ou cristas, igualmente uma de cada lado e exteriormente às cristas paraoccipitais, cristas mastoídeas , prolongam-se: para diante, sobre os postfrontais (12) e os lados do frontal (13); para trás, sobre o escamosal (9). À extremidade posterior desta crista, que per- tence ao mastoídeo (8), prende-se o 2.° ramo do suprascapular. Dela proe- mina ordináriamente porção que forma apófise post-orbitária do postfron- tal (12) e é por baixo desta crista, em cavidade aberta sob o mastoídeo (8) 158 F. Mattozo Santos é o prefrontal (15), que vem prender-se posteriormente o complexo (Hio- mandibular). Não são constantes no desenvolvimento, nem até na existência, estas arestas ou cristas. De uma e outra cousa depende a forma diversa do crânio dos teleostea. Nos de corpo comprimido, dorso alto, erguendo-se muito acima da linha da cabeça, a crista occipital é também muito alta e as laterais pro- porcionalmente; nos teleostea de cabeça achatada e corpo arredondado, as cristas são abatidas, reduzem-se a arestas só sensíveis no occipúcio e de diante para trás. Nos crânios largos e chatos as cristas paraoccipitais e mastoídeas formam ordináriamente bordos laterais. Que alguns ossos proeminem, se encurtem ou alonguem, se estreitem ou alarguem, se afastem, se suturem mais ou menos íntimamente, ou coa- lesçam, resultarão formas de crânios diversíssimas, extraordinárias até, sem que a disposição relativa dos ossos que os formam deixe de ser, com raras excepções, aproximadamente a mesma. Os ossos que constituem a caixa craniana deixam livre no interior es- paços ou cavidades. A principal destas cavidades é onde se aloja o cére- bro, cavidade central do crânio , da qual formam a abóbada os paraocci- pitais (5), o supraoccipital (4), os parietais (10) e a parte posterior dos frontais (13); as paredes laterais, os mastoídeos (18) e os postfrontais (12); a parede anterior, os orbistofenóides (11); o pavimento inferior, os alisfenóides (7) e os ramos superiores do entosfenóide (10'). Esta cavi- dade continua-a posteriormente canal que cercam completamente os exoc- cipitais (3) e que forma a cavidade posterior do crânio. Outra cavidade, cavidade média do crânio , limita-a: adiante, espinha transversa do orbitosfenóide (11), atrás outra espinha que se estende sob a face interna do alisfenóide (7) e o postfrontal (12); estas duas espinhas reünem-se posteriormente. No fundo da cavidade média, por detrás da parte bifurcada do entosfenóide (10), algumas vezes, como na Carpa, por detrás da reunião dos orbitosfenóides (11), há abertura de canal que se prolonga posteriormente sob a cavidade média e a posterior, cercado: superior e lateralmente, por lâmina do alisfenóide (7); inferiormente pelo basisfe- nóide (6) e terminando em infundíbulo no basioccipital (2). A cavidade média aloja adiante a glandula pituitária, passam por ela artérias para o crânio. Esta cavidade nem sempre existe; falta no Bacalhau, p. e. Salvo em alguns teleostea, tais como os Cyprinidae e Siluridae} nos quais limitam a cavidade anterior do crânio paredes ósseas, pela união dos orbitosfenóides (11) com grande entosfenóide (10), paredes que só dei- Notas de anatomia comparada 159 xam livres orifícios para a passagem de nervos e vasos, em geral a cavi- dade anterior do crânio dos teleostea é representada no esqueleto por grande buraco, tendo lateralmente os orbitosfenóides (11), em cima os frontais (13) e por baixo a bifurcação do entosfenóide (10'). Entre a cavidade média e a posterior estão as cavidades óticas ou au- ditivas, consistindo em duas grandes excavações abaixo da cavidade cen- tral do crânio, prolongadas aos lados da cavidade posterior, cercadas pelos alisfenóides (7), os exoccipitais (3) e o basioccipital (2); alojam os sacos que contêm os grandes otolitos e em diversos afundamentos ou concavidades que existem nos ângulos látero-posteriores do crânio, esten- dendo-se pelos paraoccipitais (5), pelos mastoídeos (8), pelos exoccipitais (3) e mesmo pelos parietais (10), postfrontais (12) e alisfenóides (7), aco- modam-se os canais semi-circulares. (*>) Naso-maxilar — Adiante do frontal (13), atrás dos ossos da queixada superior, estão os turbinais (46), um de cada lado. Ossos pouco cons- tantes, em geral finos, são considerados ossos acessórios. Cobrem a cavi- dade das narinas. Na parte anterior do crânio adiante do etmóide(ló), há superiormente dois arcos ósseos, em geral, um posterior, maxilar { 18), outro anterior, pre- maxilar (17). Estes dois arcos ósseos, ora independentes ora articulados um com o outro, são comumente compostos cada um por dois segmentos, divididos na linha média onde são mais ou menos afastados ou mais ou menos fixamente unidos. Ordináriamente só o premaxilar tem dentes e forma exclusivamente o bordo da queixada superior; ora ambos teem dentes. As dimensões e posição relativa dos dois maxilares são muito variá- veis: ora o maxilar é grande, ora reduzido a simples vestígio, ora em vez de dois segmentos formam-no várias peças ósseas. Do mesmo modo os premaxilares, ora, em vez de formarem sós o bordo anterior da queixada superior, são reduzidos e estão entre os dois segmen- tos do maxilar constituindo verdadeiros intermaxilares, ora, atrofiados, o bordo da queixada superior é formado só pelos maxilares ora, pelo con- trário, alongam-se muito entrando na constituição do beque de certos Peixes. A forma do premaxilar tradu-la a configuração do focinho dos Peixes. Por baixo da queixada superior, o osso do bordo da queixada infe- 160 F. Mattozo Santos rior é o maxilar inferior ou mandibular, formado comumente por dois segmentos, cada um composto por três ossos articulados entre si : o an- terior, que se liga ao congénere do lado oposto, é o dentário (22), ao qual se segue para trás, o articular (23), que termina adiante em ponta que se crava em chanfro angular do dentário; o mais posterior o angular { 24). Em algumas formas maxilares, premaxilares e maxilares inferiores ou mandibulares nenhum tem dentes. (C) Peri-orbitário — Lateralmente à parte anterior do crânio, cadeia de três a sete ossos cercam por baixo a órbita, infraorbitários ou suborbitários. Por vezes muito desenvolvidos cobrem grande superfície como em quási todos os Loricata, apesar de nestes serem apenas três. O l.° infraorbitário (18'), em algumas formas, prolonga-se para diante em ponta que vai alêm da bôca, como nos Trigla; outras vezes unindo-se, ao congénere, formam, os dois, focinho comprido, ponteagudo. Em regra, os infraorbitários de- crescem do l.o, anterior, ao último, o mais posterior. Também sobre a órbita podem encontrar-se ossos semelhantes aos infraorbitários, muitíssimo menos frequentes, os supraorbitários (Esocidae e Cyprinidae) que se articulam com o frontal (13). (éL) Palato-quadrado — A série de ossos adiante, dos lados e para baixo do crânio, atrás dos maxilares é o que denominei complexo palato-qua- drado. Compõe-no ordináriamente sete ossos. Em cima e adiante, o que se articula por simples faceta com o pre- frontal e de maneira muito móvel com o maxilar é o palatino (19), osso que por vezes tem dentes. Se esta é a disposição típica dêste osso, mo- difica-se por vezes bastante, só pelas suas conexões com os outros ele- mentos dêste complexo poderá chegar a determinar-se. Detrás do palatino, osso estreito e arqueado, que forma o bordo ex- terno dêste arco ósseo, é o pterigoídeo (21). O que está atrás do palatino (19), pouco espesso, chato, formando a parte média e interna dêste sistema, é o ento pterigoídeo (20), o qual se ar- ticula por baixo com o pterigoídeo (21). A seguir inferiormente ao entopterigoídeo (20), detrás do pterigoí- Notas de anatomia comparada 161 deo (21) está o quadrado (25), o qual se articula adiante com o pterigoí- deo e no ângulo inferior tem faceta para articulação da mandíbula. Preenche o espaço entre o quadrado (25) e o entopterigoídeo (20) adiante (e ainda outro osso dêste complexo, o hiomandibular (28)), peça óssea colocada por cima do quadrado, o metapterigoídeo (27). Articulado em fosseta em cuja formação entram postfrontal (15), mas- toídeo (8) e alisfenóide (7) e colocado acima do metapterigoídeo (27), está o hiomandibular (28). Por baixo do metapterigoídeo (27), coberto em parte pelo quadrado (25) , há osso particular aos Peixes, o simpléctico (26); a êle, ao metapte- rigoídeo e ao hiomandibular (28) prende-se o estilohial (38). Estes ossos, que formam placa ou arcada óssea adiante e aos lados do crânio, são, na maioria dos teleostea, geralmente no número indicado e com as posições referidas, mas aparecem, comtudo, divergências e algu- mas bastante grandes dêste tipo. Assim, esta arcada tem umas vezes ponto de apoio no basisfenóide (6); outras o metapterigoídeo (27) e simpléctico (26) não tocam no hiomandibular (28). Casos há em que, por alonga- mento do prefrontal (15), o palatino só se articula com o vómer (14) e é o pterigoídeo (21), muito grande, que se articula com apófise do pre- frontal (15). Pelo que respeita ao número dêstes ossos, em alguns teleostea entre o quadrado (25), preso neste caso à parte inferior do hiomandibular (28), e o vómer (14), há apenas um osso estreito que deve ter-se como repre- sentando o palatino, o pterigoídeo, o metapterigoídeo e o quadrado. To- dos os ossos desta arcada podem reduzir-se, não existir mesmo, de modo a na sua maior parte, senão na totalidade, não ser ossificada. (e) Opercular — O osso que cerca o bordo posterior e o ângulo da placa óssea formada pelo sistema palato-quadrado, osso geralmente em forma de esquadro, é o preopercular (31). Detrás do bordo montante do preopercular, o osso que se move so- bre êste como porta nos gonzos e se articula por fosseta a tubérculo convexo do hiomandibular (23), é o opercular (29). Sob o bordo posterior e inferior do opercular está o subopercular (30); adiante desta peça óssea sob o bordo inferior do opercular (31) e detrás da maxila inferior, há o interopercular (32), o qual se prende ao hióide no ponto de ligação do estilohial (38). li 162 F. Mattozo Santos É raro que estas três peças da porção móvel do opérculo: opercular, subopercular e interopercular não existam nos teleostea. Só nos Silu- ridae falta o subopercular. De resto, podem variar muito tais ossos na forma e dimensões, no todo, ou uns relativamente às dos outros, mas conservam, sem profundas diferenças, as posições relativas. Ossos muito menos frequentes encontram-se ainda, na cabeça dos Peixes. Assim na mandíbula, na face interna do articular (23), aparece so- bre o angular (24) osso pequeno o suprangular e, na placa interna do articular, lamela óssea, esplenial ou espleniais. Estes ossos juntos aos supmorbitários ; aos supratemporais, — dois ou três ossos ligando a apófise occipital do crânio à apófise mastoídea no espaço limitado pelo suprascapular, o mastoídeo e o escapular — ; a osso cilíndrico colocado entre o maxilar e os ramos montantes do premaxilar e a outro osso arredondado que aparece na articulação do maxilar com o vómer, são ossos acessórios do crânio, representando ossificações es- peciais, em geral dependentes do dermoesqueleto, algumas, como as úl- timas, limitadas a relativamente pequeno número de formas (Cyprinidae) , sem representantes, nem equivalentes na grandíssima maioria dos teleos- tea. No entretanto, encontram-se, uns ou outros dêstes ossos, em formas comuns de Peixes. Os números das figuras nas Estampas IV a IX correspondem aos os- sos seguintes: 2 — Basioccipital 3 — Exoccipital 4 — Supraoccipital 5 — Paraoccipital (Epiótico) 6 — Basisfenóide 7 — Alisfenóide (Grandes azas do esfenói- de; Proótico) 8 — Mastoídeo 9 — Escamosal (Petrosal) 10 — Parietal 10'— Entosfenóide 1 1 — Orbitosfenóide (Aza orbitária) 12 — Post-frontal 13 — Frontal 14 — Vómer 15 — Prefrontal 16 — Etmóide 17 — Premaxilar (Intermaxilar) 18 — Maxilar (Maxilar superior) 18' — Preorbitário 19 — Palatino 20 — Entopterigoídeo (Pterigoídeo interno) 21 — Pterigoídeo (Transverso) 22 — Dentário 23 — Articular 24 — Angular 24'— Urohial 25 — Quadrado (Hipotimpânico; Jugal) 26 — Simpléctico (Mesotimpânico) 27 — Metapterigoídeo (Timpanal ; Pretimpâ- nico) 28 — Hiomandibular (Temporal; Epitimpâ- nico) 29 — Opercular 30 — Subopercular 31 — Preopercular 32 — Interopercular 33 I > Artrohiais (Pequenas peças laterais) 35 — Bashial 36 — Ceratohial ) ir% . , . . x 37 - Epihial { (0ra"deS peÇaS latera,S) 38 — Estilohial 39 \ 4Q j Basibranquiais 41 — Artrobranquial 42 — Ceratobranquial 43 — Epibranquial 44 — Estilobranquial (Faríngeos superio- res) 45 — Faríngeos inferiores 46 — Turbinai (Nasal) 47 — Ossos acessórios 48 — Branquiostegais 1 rquivos da Universidade de Lisboa — Vol. II. Estampa III Fig. 1 Fig. 2 \ Fig. 3 Fig. 5 Figuras esquemáticas Arquivos da Universidade de Lisboa — Vol. II. Estampa IV Cabeça de Gadus morrhua, Arquivos da Universidade de Lisboa — Vol. II. Estampa V Cabeça de Gadus morrhua, L. (Parte dos ossos foram levantados para ser visivel o aparelho branquial) Estampa VI Vol II. Arquivos da Universidade de Lisboa - Cabeça de Cyprinus Carpio, Arquivos da Universidade de Lisboa - Vol. II. Estampa VII Fig. 14 Fig. 14-a Fig. 15 Fig. 12 Fig. 10 Fig. 17 Fig. 16 Fig. 13 Estampa VIII {rq uivos da Universidade de Lisboa — Vol. II. Fig. 20 1 rq uivos da Universidade de Lisboa - Vol. II. Estampa IX Fig. 23 Fig. 25 Fig. 26 Fig. 24 Arquivos da Universidade de Lisboa - Vol. II. Estampa X Fig. 27 Fig. 28 Fig. 29 Arquivos da Universidade de Lisboa — 14?/. II. Estampa XI « 4 ti E Esqueleto branquial de Gadus morrhuay A HISTÓRIA DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS NA SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO MORAL POR F. ADOLFO COELHO Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa O estudo que se insere aqui é a segunda parte de uma memória ou como lhe queiram chamar, intitulada: Exercícios corporais e desenvolvi- mento moral , cuja primeira parte As doutrinas foi publicada no Boletim da Direcção Geral da Instrução Pública , vol. IV, fase. IV, 1905, (Lisboa, Imprensa Nacional) e estava já escrita quando aquele Boletim suspendeu a impressão. Fizemos alguns acrescentes à primitiva forma, sem nada al- terar de essencial. Se tivéssemos tempo presentemente refundiríamos êsse estudo que, por nos parecer possuir certo interêsse, damos a lume. Fá- cil é de ver que não pretendemos fazer uma história da gimnástica e seu ensino, para o que careceríamos de estudo muito mais amplo do que o que fazemos do assunto, já por outros tratado com mais ou menos lar- gueza. Essa rápida revista foi feita no intuito que indica o título e como parte da obra total, em que lhe damos a epígrafe de Os factos (a seguir As doutrinas). Muitas considerações, aqui omitidas, reservamo-las para a parte da teoria, muito insuficientemente elaborada pelos autores que figu- ram na parte de As doutrinas. Nos livros de Rein e Koch, citados nessa parte, há referência ao argu- mento histórico a favor dos exercícios corporais para o desenvolvimento moral, mas êsse ponto é aí tratado de modo muito escasso. Vamos averiguar se a história justifica a ideia da existência de uma correlação entre o desenvolvimento físico, obtido pelos exercícios corpo- rais, e a energia moral. Dividiu-se em três períodos a história da gimnástica, a que limitaremos as nossas considerações, ou, melhor, consideram-se nessa gimnástica três 166 F. Adolfo Coelho tipos distintos: o estético — Grécia antiga; o militar — Roma antiga e Idade Média; o scientífico — tempos modernos. Como todas as divisões em períodos que se buscam caracterizar por um fenómeno, um aspecto exclusivo, tem essa naturalmente apenas valor aproximativo — indica-nos uma tendência predominante. Sem dúvida os filósofos apontam na história grega o momento esté- tico como capital. A arte imprime ali o seu cunho a todas as formas da vida. O próprio estado grego, como observou Hegel, era uma obra de arte. Nas concepções morais da filosofia helénica aproximam-se e fundem-se as ideias do belo e do bem — o ideal do grego era a calocagathia (de kalós kai agathós , belo e bem). Mas a gimnástica grega no período ante- rior ao da sua degeneração, foi elemento de educação de homens que de- fenderam valentemente a sua pátria, deram à literatura, à arquitectura e à escultura modelos eternos, fundaram a sciência e a filosofia. A educação grega nesse período criava homens completos. O poeta Schiller nas suas admiráveis Cartas sobre a educação estética do homem notou o carácter complexo do grego, que se acha de novo nas grandes individualidades do Renascimento e o carácter fragmentado, especializado do homem moderno. A gimnástica era um meio de desenvol- ver a beleza do corpo e a energia do espírito. A estatuária grega inspi- rou-se nas formas, posições e movimentos dos gimnastas, tomando-as como expressão de estados internos. Não devemos esquecer, porém, que já na antiguidade grega se buscou dar base scientífica aos exercícios físicos, ocupando o primeiro lugar nesse domínio o grande Hipócrates (460 — c. 370 a. Chr.), a que se segue Ga- leno na importância (c. 131 — c. 201 da era cristã). Em Roma, antes da influência profunda que nela exerceu a Grécia, sem fazer desaparecer por completo as suas feições fundamentais, o elemento estético tem importância muito secundária. Os deuses apresentam cará- cter abstracto — só por imitação da Grécia é que revestem as belas for- mas humanas que descreveram os poetas e imprimiram ao mármore e ao bronze os estatuários gregos. O culto não é uma obra da arte como na- quele país. Ao monótono tripúdio dos sálios falta a beleza das variadas dansas gregas, de que saiu o teatro. As virtudes distintivas do romano eram, segundo Cícero, a gravidade, a constância, a grandeza de ânimo, a probidade, a fé; mas comocionavam-no pouco, nos antigos tempos, as coisas belas; não considerava honesto, ao contrário dos gregos, «exer- cer, como diz Tácito, as artes recreativas». Cantar, dansar, que para o grego eram actos sérios, religiosos, sociais, não se afiguravam tais aos romanos. Macróbio diz expressamente que Catão não julgava «o canto A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 167 próprio de homem sério.» Ainda no tempo do império as personagens graves, que tinham gosto pela dansa, só a executavam privatissime. Em tudo o espírito romano se revelava prático, utilitário, muito menos do ponto de vista da utilidade individual que do da utilidade do Estado, por- que o dominava o egoísmo colectivo. Fazer forte a república, alargar o seu domínio, vencendo os seus inimigos, era o fito dos filhos da «impe- riosa cidade», como lhe chamou S. Agostinho. Os exercícios físicos reduziam-se, por isso, primitivamente a três gru- pos principais — aos jogos infantis e ainda de adolescentes e de adultos que se encontram mais ou menos por toda a parte, e que não estavam sujeitos a nenhuma regularização; aos que exigiam os trabalhos agrícolas, julgados honrosos, emquanto se tinha supremo desprêzo polos ofícios manuais propriamente ditos, e aos exercícios destinados a educar o sol- dado e constituídos numa verdadeira gimnástica especial e característica e a única regularizada, que durante séculos, deu vigor a todos os que se alistavam nas famosas legiões de Roma. Na Idade Média os exercícios físicos teem também predominantemente por fim preparar para a luta, para a guerra; mas aparecem-nos ainda como simples recreio; tem pois igualmente carácter militar a gimnástica principal dêsse período. Nos tempos modernos, depois que o valor militar, pela invenção das armas de fogo e seu aperfeiçoamento, perdeu muito da feição pessoal, o que levou à queda completa da cavalaria mediévica, surgem outros moti- vos, que muitas vezes se combinam com os dominantes nos períodos anteriores, para conservar ou renovar os exercícios físicos. É principal- mente a sciência e em especial a higiene que recomenda tais exercícios, como necessários para o desenvolvimento normal, saúde e robustez do corpo, com relação a todos os órgãos, aparelhos e sistemas que o consti- tuem. Cumpre sem dúvida à higiene regular êsses exercícios; mas esta sciência, que ministra as indispensáveis normas para o gozo de uma vida sã e longa, não pode responder à pregunta: para que serve a vida? A pretenção enunciada algumas vezes por médicos de que à sua sciência compete a direcção das sociedades ou (o que na essência é equivalente) a direcção da educação, baseia-se sobre singulares confusões. É às sciên- cias morais e sociais e especialmente à ética que cabe responder àquela pregunta: para que serve a vida? A própria pedagogia, a sciência da edu- cação, não pode por si indicar êsse fim — recebe relativamente a êle os ditames da ética. Muito menos o podem fazer a medicina e a higiene que buscam restaurar, fortificar a saúde, prolongar a vida e que sairiam do seu domínio se dissessem ao homem que deve, quando seja necessário, 168 F. Adolfo Coelho sacrificar a saúde e até a vida pela pátria ou pela humanidade. Com- preende-se que um mesmo homem pode cultivar a medicina e a ética, a sociologia e a filosofia, do que há até famosos exemplos; mas convêm marcar a cada sciência os seus limites. II Não é só no programa ideal da educação platónica que figura a gim- nástica ao lado do que êle designava por música. Na prática da educa- ção ateniense (que considero particularmente neste esboço), a paidéia (instrução, educação geral), no bom tempo, compreendia necessáriamente a gimnástica com a instrução literária e musical (canto, execução na cítara ou lira.) Os exercícios físicos que encontramos em uso no período ático apa- recem-nos já indicados ou descritos precisamente nos mais antigos mo- numentos da literatura helénica e em geral das literaturas europeias — as Epopeias homéricas , que remontam, emquanto aos seus principais ele- mentos, aos séculos ix e viu antes da era cristã: exceptua-se apenas dês- ses exercícios a equitação, pois os heróis homéricos não cavalgavam; havia, porém, entre êles bons nadadores, como Ulisses e de bons dansa- rinos fazem também êsses poemas menção, como os feácios, cujos pés se agitavam com a rapidez do relâmpago. No canto xxiii da Ilíada descrevem-se os jogos fúnebres junto do tú- mulo de Pátroclo, nos quais se disputavam os belos prémios oferecidos por Aquiles: bacias, trípodes, corséis, mulas (êsses animais serviam para atrelar a carros), touros de soberba fronte, graciosas cativas e ferro al- vinitente. Os jogos homéricos preenchem o programma gimnástico oficial que achamos de novo em vigor nos tempos posteriores: a carreira de carros, o pugilato, a luta corpo a corpo, a carreira a pé, o salto, o arre- mêço do disco, o tiro do arco, o lance do dardo. O salto, o arremêço do disco e do dardo, a corrida e a luta constitui- ram o que veiu a chamar-se o pentathlon (cinco jogos), a luta corpo a corpo combinada com o pugilato formou o pancration. Chamava-se palestra, segundo Grassberger, um espaço particularmente disposto para os rapazes abaixo de 18 anos, em que praticavam sob a direcção do pedótriba os exercícios de fôrça e agilidade, que formavam parte importante da paidéia. O gimnásio, segundo o mesmo autor, servia mais especialmente para os efébos , adolescentes de cêrca de 18 a 20 anos, que se preparavam para o serviço militar. íam também ali homens A historia dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 169 já feitos, que desejavam não perder os sãos hábitos da adolescência e os atletas de profissão. Cedo, porém, os dois termos confundiram-se no sentido e chamou-se indiferentemente palestra ou gimnásio todo lugar em que se cultivavam os diversos exercícios que tinham por fim desenvolver, fortalecer o corpo, dar aos movimentos agilidade e graça. Alêm dos exercícios mencionados havia ainda outros, como o mane- jar a picareta, jogar a péla (o que se fazia de diversas maneiras — já Nau- sica, na Odisseia, livro VI, aparece jogando a péla com as companhei- ras). Antes de entrar na efébia já os adolescentes começavam a exercer-se na equitação e na arte militar. A palavra palestra deriva de pále, luta corpo a corpo ; gimnástica de gymnós, nu, porque os exercícios gimnásticos se faziam em estado de com- pleta nudez. E nus os rapazinhos atenienses do mesmo bairro iam em boa ordem, ainda que a neve lhe caísse nas costas, para a escola de gra- mática e música, e ali aprendiam a cantar algum velho hino, como o de Lâmprocles que começava : A terrível Palas que subverte as cidades, se- gundo refere Aristófanes, nas Nuvens . Foi Pisístrato quem instituiu os concursos de gimnástica nas festas ate- nienses chamadas Panatenaicas. Comquanto o pugilato e o pancrácio fos- sem mais próprios para atletas já formados do que para adolescentes, ha- via nessas festas para as crianças um prémio de pancrácio e outro de pugilato. No pugilato simples dos adolescentes envolviam-se as mãos e ante-braços com simples tiras de lã, emquanto os atletas empregavam ti- ras de coiro, reforçadas com bolas de chumbo, que faziam saltar o sangue do nariz do adversário. A ideia de puro desinterêsse material, de culto do belo, andava ligada em geral aos jogos gimnásticos. Aos prémios sumptuosos de que nos fala a Ilíada correspondem distinções puramente honoríficas em Atenas, salvo pelo que respeita à atlética, que veiu a ser profissão perigosa, mas bem paga. Na Odisseia, Ulisses, que primeiro hesitava em competir com os feaces, receoso da fadiga em que a sua última travessia o deixara, afigura-se a êles não um homem entendido nas lutas, mas um capitão de navio preocupado, acima de tudo, de mercadorias e ganho. Quando Xer- xes tentava passar o desfiladeiro das Termópilas, dos trezentos espar- tanos comandados por Leónidas, com alguns téspios muito esquecidos pela história, uns faziam jogos gínicos, outros pintavam os cabelos, pre- parando-se para a morte. O grande rei não entendeu nada daquele heroísmo e achou simplesmente ridículos os guardas do desfiladeiro. Quando Xerxes chegou a Histiea, alguns trânsfugas da Arcádia disseram- 170 F. Adolfo Coelho -lhe que os gregos estavam celebrando a festa olímpica com jogos gim- násticos e carreiras de carros. Um dos persas presentes, conta-nos Heró- doto, preguntou então: «íE que prémio disputam êles?» Os árcades res- ponderam: «Uma coroa de oliveira». Ouvindo isto, o persa Tritantequemo soltou uma palavra generosa, que lhe valeu o apôdo de cobarde, da parte do grande rei : « t Contra que homens, ó Mardónio, nos levas tu ? Contra homens que lutam não pela riqueza, mas pela honra». Queria significar que os gregos eram inimigos de temer. Das partes da gimnástica grega, o pugilato e a luta corpo a corpo fo- ram já objecto de críticas dos antigos, sobretudo na forma por que eram praticados pelos atletas, homens contra os quais choveram as censuras dos filósofos e os epigramas dos poetas. Emquanto, porém, a educação teve verdadeiramente em mira a caloca- gatia, emquanto ela foi guiada por aspiração idealística, e a modéstia, a castidade, a sobriedade, a energia, o respeito pelos maiores o amor da verdade, o senso estético eram as primeiras qualidades que a família e os mestres desenvolveram nas almas juvenis, Atenas foi grande. No famoso diálogo do Justo e do Injusto, nas Nuvens de Aristófanes, descreve o poeta essa antiga educação, como lhe chama, que fez, diz, os homens de Maratona, e a educação nova, efeminada, lasciva. Agora en- sinavam-se as crianças a envolverem-se cedo em vestidos; os jovens to- mavam banhos quentes, passando o dia a palrar nos estabelecimentos em que se davam esses banhos ou na praça pública, emquanto os gimnásios estavam vazios. Sem dúvida Aristófanes, como geralmente fazem os poe- tas e moralistas, generaliza exageradamente; mas outros testemunhos con- firmam a decadência da gimnástica e de todo o sistema da educação grega, que, principalmente sob a acção dos sofistas e depois dos filólogos e po- limatas alexandrinos, experimenta transformação profunda. Submetidos aos romanos a partir de 146 antes da nossa era, os gre- gos continuaram a cultivar as artes, as letras, as sciências; de entre êles saem numerosos mestres que se espalham pelo império romano ociden- tal; mas a gimnástica decai nos próprios países helénicos em que flo- rescera, como instituição desnecessária a um povo que não procurava já energia para se opor ao jugo estranho; com ela a orquéstrica e a música perdem a alta significação que tiveram outro tempo e reduzem-se a coisas de hábito, distracção e ostentação. Filóstrato o Médio (houve três sofistas dêsse nome no período impe- rial), que floresceu de c. 222 a 249 da nossa era, escreveu uma obra inti- tulada o Gimnastikós com que tentou ressuscitar o gôsto pelos exercícios gínicos e deu seguras indicações para a sua prática a uma geração dege- A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 171 nerada pelo luxo e a libertinagem. Dessa obra foi descoberto pelo grego Minas há alguns anos um manuscrito completo, fonte preciosa para o conhecimento da gimnástica helénica. A atlética, degeneração da gimnástica educativa, que desde cedo tinha o aplauso da multidão, a qual já o poeta filósofo Xenófanes de Colofâ- nia, no século vi, antes da nossa era, dizia não ter utilidade para o Es- tado, a atlética no período da decadência e sujeição helénica continuou a gozar grande favor. Platão e Aristóteles tinham mostrado os graves in- convenientes do desenvolvimento exclusivo e exagerado da fôrça física, que levava por fim a uma perda precoce dessa fôrça que se queria assim cultivar, e ao embotamento da inteligência e do senso moral. No século u da nossa era, o médico famoso Galeno disse que a vida do atleta se pas- sava num círculo de actos que se reduziam a comer, beber, dormir e re- volver-se na areia e lama, vida semelhante à do porco; impelido a correr excessivamente, a fazer grandes esforços corporais, o atleta tinha a alma afogada no lodo da carne e na massa do sangue, não possuía beleza cor- poral nem saúde, apresentava o corpo desfigurado por deslocações e mutilações e, comquanto capaz de exibir certos actos de fôrça, não tinha na realidade resistência contra o frio, o calor e a doença. A atlética era todavia uma profissão e uma profissão rendosa, como na península ibérica veiu a ser o toureio. Eurípides, o grande trágico do v século antes da nossa era, fora destinado por seus pais, gente pobre, à atlética, que êle foi um dos que mais enérgicamente condenaram. A atlética que fazia dos que a cultivavam homens de aparência anti-estética excitou o entusiasmo do povo de maior senso estético que tem havido no mundo; poetas gloriosos escreveram odes triunfais para celebrar as vitórias alcançadas nos jogos olímpicos, píticos, ístmicos e nemeicos pe- los cultores daquela arte, sôbre os quais aliás, também, choviam os epi- gramas. O poeta epigramático Lucílio, por exemplo, disse de Stratofon que Ulisses foi reconhecido pelo cão ao cabo de vinte anos de ausência, mas êsse atleta, depois de quatro anos de pugilato não podia ser reco- nhecido pela gente da sua cidade, e ainda menos pelos cães e que se se visse ao espelho diria: «Por certo êste não é Stratofon.» No ano 394 depois do nascimento de Cristo foram celebrados pela última vez os jogos olímpicos, 293 olimpíadas depois que, segundo a tradição, foram fundados e Corebo neles alcançou a coroa da vitória. A unidade do mundo helénico recebia o último golpe do cristianismo triun- fante. A atlética, degeneração da gimnástica que fora elemento integrante da educação dos grandes espíritos da Grécia, deixa de ter existência ofi- cial. 172 F. Adolfo Coelho 111 A instrução escolar entre os romanos limitou-se a princípio ao que se chamava e chamamos ainda as primeiras letras (primae litterae) — a escrever, ler e contar. Foi, segundo Plutarco, escritor bem informado, um liberto chamado Espúrio Carvílio o primeiro que abriu em Roma uma es- cola de gramática, pelo que parece devermos entender um ensino lite- rário, já superior ao das primeiras letras, como se fazia na Grécia e mais ou menos modelado pelo ensino grego. Isso ter-se-ia dado por 260 antes da nossa era. Todavia Lívio Andronico, grego feito prisioneiro na tomada de Tarento em 272 foi, segundo os dados que mais seguros pos- suímos relativamente à literatura entre os romanos, o primeiro que entre estes escreveu obras literárias propriamente ditas, traduções ou arranjos de originais gregos, como a Odisseia , obras dramáticas e ainda compo- sições originais. A sua primeira peça teatral foi representada em 240, a sua ode a Juno Regina escrita em 207. Apesar da oposição dos patriotas ferrenhos, como Catão o Antigo ou Censor (234-149), a literatura grega desde então ganha entusiastas em Roma e acha imitadores em número lentamente crescente. Um novo sistema de educação, imitado da helénica, vai ali criando raízes de cada vez mais fundas, comquanto modificando- -se sob a acção das tendências particulares do espírito romano. Professo- res de origem grega espalham-se para ensinar por todo o império roma- no, facto que se observa em a nossa península através de testemunhos que decorrem já do i século antes, da nossa era. A palavra latina humanitas , humanidade, entre os seus diversos sen- tidos, veiu a ter o de educação, instrução ou cultura geral e a traduzir a grega paidéia. O escritor Aulo Gela (n século da era cristã) afirma expli- cítamente a correspondência de sentidos do termo grego e do termo la- tino. Mas a humanitas romana excluía do seu quadro a gimnásticaf parte integrante nos bons tempos, pelo menos, da paidéia grega; o mesmo se dá com a música própriamente dita (canto, execução em instrumentos). Essa exclusão explica-se pela natureza mesma, já definida, do espírito romano e pelo facto de que a gimnástica como a música não formavam já parte orgânica da educação helénica na época de decadência em que esta se introduziu em Roma. Já só por si a nudez dos gimnastas repugnava ao romano grave e solene, como o próprio Cícero deixa ver em formais pa- lavras. A literatura com outras disciplinas do quadro das sete artes ou o qua- A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 173 dro destas completo (gramática = literatura, retórica, dialética, aritmética, geometria e música = teoria musical) constituíram a humanitas, em que principalmente foram importantes a literatura e a retórica, porque a edu- cação romana mirava acima de tudo a formar oradores. Os teóricos dessa educação distinguiram na humanitas a eloquentia} a capacidade de bem se exprimir pela palavra, falando e ainda escrevendo, e a eruditioy os co- nhecimentos, isto é, para empregar termos do nosso tempo, um lado for- mal e um lado real na educação, que os gregos não tinham distinguido na paidéia , em que, noutra direcção, consideravam o aspecto físico e o aspecto mental , na sua relação interna, na sua unidade superior. Vimos já noutro estudo, qual foi a posição do grande legislador pe- dagógico do império romano, Quintiliano, pelo que respeitava aos exer- cícios corporais. Sem dúvida em Roma e noutras muitas cidades do império, ainda fora dos países gregos, houve gimnásios e palestras; mas parece que neles era muito maior o número dos espectadores que o dos que se exercita- vam. A atlética e a acrobática eram sobretudo espectáculos de profissio- nais oferecidos aos romanos ociosos. Mas, se fora da educação militar, os exercícios físicos não constituíam parte integrante, regular, da educação, como durante muitos séculos con- tinuou a suceder na Europa e como sucede ainda hoje em muitos países da nossa civilização, ao contrário do que se dera na antiga paidéia helé- nica, praticavam em verdade os romanos exercícios dessa natureza, como já deixei indicado. Refiro-me aos jogos de crianças, de adolescentes e de adultos que aparecem por assim dizer em toda a parte onde há homens (não esqueçamos que já os animais teem jogos de movimento) e de cuja existência não poderíamos duvidar, ainda quando não possuíssemos do facto provas abundantes que a erudição tem coligido cuidadosamente nos textos e monumentos plásticos da antiguidade. Essa matéria foi estudada pelos eruditos dos séculos xvi e xvn e entre outros do século xix ocupa- ram-se dela Marquardt nas suas Antiguidades privadas dos romanos (em allemão) e Becq de Fouquières no livro Les jeux des anciens. Os fi- lólogos compreenderam, felizmente, que a história, por exemplo, do jogo da péla, não era assunto banal, mas sim de alta importância, apesar do juízo vulgar sôbre investigações dessa natureza. Catão, que, comquanto se mostrasse contrário à invasão do helenismo em Roma, se deixou influenciar por êle, ensinou o filho a fazer uma sé- rie de exercícios — a corrida, o salto, o jogo da péla, a natação, a equita- ção. E quási podemos afirmar que não houve rapazes em Roma e nas outras partes do império que não praticassem aqueles três primeiros exer- 174 F. Adolfo Coelho cicios e que muitos dêles nadaram nos rios e no mar (os de Roma nada- vam muito no Tibre, como nos afirmam textos) e se entregavam à equi- tação. Os mais pequenos, como nós todos fizemos, cavalgavam em paus e canas, ao que alude graciosamente a poesia, puxavam carrinhos, faziam representar scenas várias aos seus bonecos, impeliam o troco (arco) com a clavis adunca , exercitando-se assim na corrida e na atenção, jogar o ri- cochete com seixos à beira dos rios e do mar, fazer girar o pião (turbo) , marchar em andas (grallae), jogar a cabra-cega, eram, entre outras mais, diversões do rapazio romano. Dos diversos jogos de movimento conhecidos dos romanos, os mais prezados foram os de péla. Havia, no tempo do império, cinco espécies diversas de pélas: pequena, média, grande, muito grande e cheia de ar, a que correspondiam talvez na ordem respectiva os nomes: pila, trigon ou pila trigonalis, pila paganica, harpastum (por ventura o mesmo que pila arenceria) e follis. Crianças e velhos jogavam esta última péla, como nos diz Marcial: Ite procul, juvenes, mitis mihi convenit aetas. Folie decet pueros ludere, folie senes. Jogava-se a péla com raqueta, como vemos da Ars amandi de Ovídio: Reticuloque pilae leves funduntur aperto. Manílio fala da «péla fugidia» que se volve rápidamente com a planta do pé, compensando o ofício das mãos: llle pilam celeri fugientem reddere planta, Et pedibus pensare manus Êsse jogo era o antepassado do foot-ball. A paixão pelo jogo da péla levou à construção dos sphaeristeria (es- feristérios), lugares cobertos e muitas vezes aquecidos, anexos às casas particulares, e a edifícios públicos, como termas e gimnásios. Chamava-se sphaerista o que ali jogava, com a raqueta, o antepassado dos nossos lawn-tenistas. Plínio o Moço fala, numa de suas cartas de Espurina, que tendo já completado setenta e sete anos de idade, se entregava com grande regu- laridade a exercícios físicos e intelectuais e se distinguia por muitas qua- lidades amáveis; conservava o antigo vigor do ouvido e da vista, o corpo ágil e vivo, de modo que da velhice só tinha a prudência. Dava cada dia longos passeios, alternados com repouso, trabalhos de espírito, conver- A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 175 sações. Antes do banho quotidiano, passeava nu ao sol, se não havia vento, e depois entregava-se com entusiasmo a um prolongado jôgo de péla. Tinham ainda os romanos vários jogos, diversões, espectáculos, em que mais ou menos se exerciam as forças físicas, como a caça, combates navais simulados (naumaquias) lutas com animais (amfiteatros) , a alguns dos quais aludem inscrições peninsulares, como uma do Algarve, em que se fala de um certamen barcarum (regata). Falaremos de um jôgo particu- larmente célebre. O Ludus Trojae era sem dúvida antigo, mas aparece mencionado pela primeira vez no tempo de Sula, restaurador da aristocracia. Foi celebrado frequentes vezes por César e os primeiros cinco imperadores, segundo toda a aparência por causa da pretendida origem troiana da família Júlia. Todavia Klausen mostrou, com alta probabilidade, que o nome do jôgo nada tinha que ver com Tróia, a cidade de Príamo, emquanto à sua ori- gem, que vê no antigo latim traare mover-se; só tarde quando se supôs relação do jôgo com Tróia se alongou a primeira sílaba. Já Séneca na tragédia Troianas faz exercitar o jôgo na época troiana. Depois dos pri- meiros cinco imperadores deixa de ser mencionado e parece ser posto fora de uso, de modo que já no tempo de Suetónio se confundia com a pyrrhica , que era inteiramente diferente. Consistia aquele jôgo numa ma- nobra que executavam rapazes armados, a cavalo, ordenados em turmas. Os rapazes eram maiores e menores , os primeiros de menos de 17 anos de idade e os segundos de menos de 11. Eram escolhidos em famílias de distinção, sobretudo senatoriais (até os filhos do imperador eram fre- quentemente do número) divididos em turmas, e exercidos por bom mes- tre, que, ao que parece, os guiava ou conduzia ao jôgo. (*) Goebel (1852) escreveu uma memória sobre o assunto. (2) Uma parte dos exercícios a que as famílias habituavam os seus filhos tinha na Roma republicana um ponto de mira — iniciar a sua educação militar. Depois da queda da rialeza e da organização da república, os roma- nos foram levados à invenção dessa forte unidade tática composta com todas as armas, munida de todos os recursos que lhe permitiam operar só, mas dispostos de modo que com outra ou com outros pudesse fun- F) Na Eneida de Virgílio há uma descrição do Ludus troianus (V. v p. 545 e seg.). (2) Ludwig Friedlander, Sittengerochichtc Roms, 7/(1867), p. 184. 176 F. Adolfo Coelho dir-se numa unidade superior, à qual se deu o nome de legião. Flávio Vegécio Renato que entre 384 e 395 escreveu um Epitoma rei militaris, dedicado a Teodósio I, falando da legião em campanha diz que era uma cidade em marcha e um escritor recente observa que podem inverter-se esses termos e dizer-se, com verdade não menor, que a cidade não era mais do que uma legião aumentada. Na cidade romana, com efeito tudo é militar. O recenseamento tem por fim fixar as listas dos recrutas; os ci- dadãos são classificados pelo seu armamento e lugar que ocupam no combate. Ninguém pode exercer uma função pública sem ter dez anos de serviço militar. Os próprios corpos públicos teem nomes tirados dos graus da hierarquia militar. Os oficiais administrativos são oficiais saídos do exército que continuam nos serviços civis a carreira, o cursus honorum que leva ao cargo supremo, ao consulado, a que está inerente o co- mando dos exércitos. Os cidadãos que pagavam imposto e podiam fazer as despesas do seu armamento e equipamento eram os soldados, obriga- dos todos a servir dez anos na cavalaria ou dezasseis na infantaria, até à idade de quarenta e seis anos; mas eram licenciados depois das campa- nhas. Dos 46 aos 60 anos formavam ainda o exército para defesa das praças. Esta organização manteve-se, sem modificações essenciais, até ao fim do ii século antes de Cristo. Em tais condições a educação do povo romano devia ser predominan- temente militar e a gimnástica, elemento indispensável dela, havia de ter toda a feição também militar. É sobretudo pela obra já citada de Vegécio, que se diz ter sido traduzida para português pelo infante D. Pedro, filho de D. João 1, que podemos ver em que consistia essa gimnástica militar. Vegécio escrevia, sem dúvida, quando esta se achava em decadência, mas êle apresenta-se apenas como um compilador, e serviu-se de trabalhos de diversas épocas anteriores sôbre o assunto, como os de Catão o Antigo, Celso, (médico que escreveu sôbre milícia no tempo de Tibério), Trajano, Adriano, etc. Eis os exercícios mencionados por aquele compilador: 1 — Passo militar, carreira e salto. 2 — Natação. 3 — Combate contra uma estaca espetada no chão, com seis pés acima do solo, indo os recrutas armados com escudos de vime, de pêso duplo dos usados na guerra e uns paus duas vezes mais pesados que as espa- das (análogo ao jogo da quintaine dos franceses, ao nosso estafermo). 4 — Exercício para ferir com a ponta e não com o gume (non caesim sed punctim). 5 — Esgrima. A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 177 6 — Arremêço de dardos, etc. 7 — Exercício no uso das frechas. 8 — Arremêço de pedras. 9 — Exercício com bolas de chumbo (plumbatae). 10 — Salto por cima do cavalo, indo o soldado primeiro desarmado, depois pesadamente armado. 1 1 — Levar pesos. Desde o fim do n século antes de Cristo a organização do exército começou a experimentar modificações, a primeira das quais, ainda no pe- ríodo republicano, foi a substituição por um exército permanente, em que se alistaram os cidadãos pobres, que não pagavam imposto e recebiam soldo e demais colhiam parte proporcional da presa e concessões de ter- ras nas colónias militares. O serviço na milícia, até então dever de todo o cidadão rico que fazia as despesas pessoais na guerra e tinha o mais alto interêsse na sua própria educação militar, pois lhes abria o cursus honorum na vida civil, êsse serviço torna-se coisa mercenária, profissão em que se mira ao lucro. No período imperial, ao lado dos cidadãos ro- manos, que em princípio deviam constituir a legião, começa-se por admi- tir nela os bárbaros sujeitos a Roma, que desta tinham recebido o direito de cidade. Entretanto as velhas famílias patrícias e com elas o velho espí- rito romano iam-se extinguindo; as que ficavam cediam à pressão dos tempos; a carreira militar deixou de abrir as portas dos cargos civis, que não podiam mais ser coroados pela suprema magistratura, privilégio do imperador; êste concedia êsses cargos como graças, a quem o seu arbí- trio lhe indicava. Muitos que logravam o favor imperial vieram a começar a carreira militar por comandos para que não tinham preparação. E toda- via os jovens romanos foram sentindo de cada vez mais repugnância por essa carreira, que, dada a dispersão dos corpos de exército, tornados per- manentes, pelas diversas partes do império, os afastava da metrópole, onde se acumulavam os meios de gozo, apesar dos acampamentos reunirem muitos dêsses meios. Os bárbaros romanizados acabaram por preponderar nas legiões, em que Marco Aurélio em 167-168 da nossa era se viu já obrigado a admitir escravos, gladiadores e até salteadores para opor à invasão do império pelos bárbaros danubianos. As tropas romanas foram empregadas em trabalhos públicos sem dú- vida muito importantes; construiram pontes, aquedutos, as ruínas de muitos dos quais excitam ainda hoje a nossa admiração, mas deixaram de praticar aqueles exercícios que os aguerriam e tornariam capazes de impedir que os bárbaros se precipitassem sobre o império. Na marcha 12 178 F. Adolfo Coelho irresistível da decadência militar, Caracala (211-217) dispensa os senado- res do serviço militar; Galieno (259-268), proibe-lhes entrarem nesse serviço; Diocleciano (284-305) estende a dispensa aos decuriões das ci- dades provinciais. O exército passa a ser recrutado na escória da popu- lação provincial e a admitir nas suas fileiras bárbaros de todas as prove- niências, gente sem educação militar. O exército romano deixou de corresponder ao seu nome que quer di- zer exercitado , de exercere. A decadência completa da gimnástica militar, outrora condição das vitórias e grandeza de Roma, está em perfeita cor- respondência com a degradação, a desorganização do exército. Desde os tempos mais remotos da cidade até Graciano (375-383) a in- fantaria romana usara capacete e coiraça, mas reduzidos ou suprimidos os exercícios cujo quadro nos apresenta Vegécio, os soldados tornaram-se incapazes de suportar o pêso dessas armas e expuseram-se assim a ser fácilmente derrotados pelos bárbaros do norte. Não pode duvidar-se de que a gimnástica estética dos gregos e a mili- tar dos romanos representassem um papel importante na educação que fizeram tão notáveis na história êsses dois povos, combinando-se nessa educação longo tempo na justa medida com os elementos mentais e a decadência de cada um dêsses tipos de gimnástica, apropriado ao génio de cada um dêsses povos, marchou paralelamente com a decadência geral de um e de outro, causa e efeito dela ao mesmo tempo. A história mos- tra-nos aqui a inseparabilidade dos diversos factores da educação e por- tanto da prosperidade ou da desgraça de um povo: só por abstracção os separamos. IV Gregos e romanos tiveram de combater contra povos diversos que os primeiros chamaram bárbaros e os segundos, incluídos na designação por aqueles, imitaram depois, dando o nome a todos os outros povos, excepto os gregos. Também os bárbaros tinham exercícios físicos para se desenvolverem, fortalecerem e aguerrirem. Da educação dos persas, que ameaçaram submergir a Grécia, sob Xerxes, numa enorme onda hu- mana, escreve Heródoto que consistia em ensinar os filhos a andar a ca- valo, arremeçar a frecha e dizer a verdade. Falarei de dois outros povos que interessam particularmente à nossa história: os lusitanos, a que étni- camente estamos ligados, pois constituíam a base da população de uma A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 179 grande parte do que veiu a ser Portugal e os germanos, de que al- gumas tribus vieram estabelecer-se no território a que dêmos este nome. Todos sabem que dois séculos foram necessários para submissão in- teira dos antigos hispanos ao domínio de Roma, que não recuou ante o emprêgo de nenhum meio, desde a força dos seus bem disciplinados exércitos até às mais vis traições. Espírito exaltado de independência, energia intensa na acção belicosa, desprêzo do perigo e da morte cara- cterizavam os nossos antepassados peninsulares anteriormente à era cris- tã; mas mais tarde em vários momentos históricos tais predicados distin- guiram os seus descendentes, já caldeados com o elemento invasor ger- mânico, e ainda com o neoberbérico e árabe. Em verdade aquelas quali- dades encontram-se em muitos povos de cultura inferior. Não pode duvi- dar-se de que em nossos antepassados os exercícios físicos concorres- sem para os desenvolver e fortalecer moralmente. Um viajante grego, filósofo e orador, impelido ao nosso ocidente pelo amor do saber, cêrca do ano 90 antes de Cristo, estudou aqui os costumes dos lusitanos e em geral de todos os povos, sobretudo das re- giões montanhosas, da facha ocidental da península até às Astúrias e Cantábria. Chamava-se êle Posidónio e era natural de Apamea, na Síria. O livro em que registou as suas observações perdeu-se; mas o geógrafo Estrabão aproveitou-as, ainda que só parcialmente, no seu tratado. O que êste reproduziu permite-nos afirmar, apesar de algumas contradições, de que talvez Estrabão seja só o culpado, que Posidónio viu bem, pois os monumentos, pelo que respeita ao armamento dos lusitanos, e os costu- mes tradicionais, assim como outros textos confirmam em grande parte as notícias do viajante grego. Segundo êsse viajante, aqueles nossos antepassados, (e nessa designa- ção podem compreender-se todos os povos aludidos do nosso ocidente) aqueciam-se em estufas, esfregavam-se com azeite e uma espécie de almo- faças e banhavam-se em seguimento na água fria. Era uma forma rudi- mentar do banho romano e do que hoje se chama banho irlandês. Ali- mentavam-se com grande sobriedade. Celebravam jogos gimnásticos, ho- plíticos, isto é, praticados por guerreiros pesadamente armados, e jogos hípicos, isto é, a cavalo; exerciam-se no pugilato e na carreira, simulando escaramuças e batalhas campais. Na descrição do funeral de Viriato, que vem na Ibéria do historiador Apiano, há particularidades que concordam com essa notícia. Os lusitanos dansavam e nas suas dansas davam saltos ao desafio sobre quem saltaria mais alto e cairia mais graciosamente no chão, de 180 F. Adolfo Coelho joelhos. A agilidade, a destreza, a rapidez dos seus movimentos é expres- samente notada por Posidónio. O desprêzo da vida, manifestado tantas vezes pelos antigos povos pe- ninsulares, e em cuja determinação entravam sem dúvida factores de di- versas naturezas, tais como conceitos religiosos, é-nos exemplificado pelo facto, entre outros, de que, quando em 206, Scipião, que ia em breve ser o vencedor de Zama, celebrava jogos em honra de seu tio e de seu pai, mortos na campanha da Hispânia contra os cartagineses, achou entre os celtiberos, que fizera aliados seus, guerreiros que combatiam uns com os outros até se matarem. Nos torneios da Idade Média reproduziram-se actos análogos. De César, Tácito e Pompónio Mela sabemos que os antigos germa- nos deixavam crescer os filhos mal vestidos até apresentarem aqueles for- tes membros, pés rápidos e grandes corpos que eram o pasmo dos ro- manos. Cedo se habituavam a manejar as armas. «Se tivesse nascido na Germânia, diz Séneca, ainda na puerícia, teria aprendido a brandir a leve lança.» Os germanos banhavam-se todos os dias de inverno em água quen- te, por causa do frio, mas nadavam nos seus rios, de preferência sem dú- vida na estação quente. Exaltavam a coragem em continuadas guerras, em que corriam alegremente à morte. «Prostrou-os a morte, não o terror (mors obruit illos, non timor )» disse dos francos Sidónio Apolinário. O único espectáculo dos germanos, alêm das solemnidades religiosas, era a dansa guerreira: jovens exercidos saltavam nus no meio de espa- das e de lanças ameaçadoras. O exercício tinha feito dêsse jôgo, diz um escritor, uma arte e dessa arte um ornamento, cuja única recompensa era o prazer dos espectadores. Como diz Tácito, a equitação era entre os teucteros, uma das mais poderosas divisões dos germanos, o jôgo da infância, a emulação d^, mo- cidade e o último exercício dos velhos. Podemos ainda atribuir aos antigos germanos, entre os seus exercí- cios físicos, o salto, a luta, o arremêço do dardo e da pedra. Tácito traça um quadro dos costumes dos germanos como crítica indirecta dos degenerados romanos do seu tempo e um escritor cristão da época das invasões bárbaras, Salviano de Marselha, opõe as virtudes dêsses pagãos aos vícios dos romanos (em que entravam os povos ro- manizados), feitos cristãos: «Entre os bárbaros pudicos somos impudi- cos; digo ainda mais: os próprios bárbaros ofendem-se com as nossas impurezas.» Aos vícios evidentes dos bárbaros opunham as suas virtu- A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 181 des: os saxões eram cruéis, mas honrados; os francos mentirosos, mas hospitaleiros; os godos heréticos, mas castos. O vício predominante dos germanos, ao contrário da sobriedade dos antigos gregos e romanos, que aliás vieram a apresentar grandes gastró- nomos na classe rica, do período imperial, êsse vicio era a intemperança, resultante em grande parte do clima, mas as más consequências dêle eram combatidas pela contínua actividade e as aludidas virtudes. V Como se vê da nossa curta notícia do que pode chamar-se a gimnás- tica dos bárbaros — lusitanos e germanos — tinha ela carácter eminente- mente militar: não nos causará pois a menor extranheza encontrarmos na Idade Média, herdeira do mundo romano e bárbaro, ou antes fusão dos dois, sob a acção da hierarquia católica, uma gimnástica com aquele mesmo carácter. Tem-se dado a lume opiniões muito singulares, acêrca dos exercícios físicos e em geral de todos os cuidados do corpo na Idade Média. Expli- ca-se isso por generalização da ideia de uma influência muito profunda produzida pelas aspirações ascéticas e místicas dêsse período. «Um maníaco asqueroso, sórdido, macilento, sem conhecimentos, sem patriotismo, sem afeições naturais, que passou a vida em prolongada ro- tina de tortura atrós e inútil de si mesmo, a tremer ante os fantasmas horríveis do seu cérebro delirante, tornou-se o ideal de nações que ti- nham conhecido os escritos de Platão e de Cícero e as vidas de Sócra- tes e Catão.» Essas palavras em que o ilustre historiador inglês Lecky nos pinta o asceta típico carecem todavia de uma correcção: a Idade Mé- dia admirou e santificou aquele maníaco anti-humano, anti-social, aquele egoísta que abandonava o mundo para alcançar o céu, mas dominavam nela ao lado da aspiração pelo reino dos céus, a aspiração pelos gozos terrenos com não menor, senão com maior força — buscou conciliar as duas e a própria Igreja, que condenava o mundo e a carne, esforçou-se também por ser senhora do mundo e da carne e tornou rendosas para ela as coisas da vida, que eram o pecado, e fez um negócio da salvação. E nos próprios cenóbios tinham à larga cabimento os actos pecaminosos. Num canto rumeano, que tem paralelos noutros países, construi-se um palácio, encerrando viva nas paredes dêle uma rapariga, que assim perde a vida, para assegurar longa duração ao edifício e prosperidade a seu 182 F. Adolfo Coelho dóno. Alguns pensavam que a Igreja exigiria da vida social e mundana igual sacrifício para solidez da sua construção; felizmente essa vida não se deixou apertar sempre nas pedras e argamassa do misticismo e mani- festoü-se ao ar livre em numerosos produtos. Michelet afirmou que durante os mil anos daquele período não se to- mara sequer um banho ! Há pouco ainda vi repetida essa afirmação no relatório de um estabelecimento de educação muito importante — o In- stituto Perkins de Boston (1902). Todavia quantos documentos há a pro- testar contra tais palavras do célebre escritor francês, que a paixão levou a substituir muitas vezes uma história imaginada à história real. «Os nos- sos pais, diz Léon Gautier, fundando-se em textos franceses da Idade Média, adoravam a água, tinham paixão pelos banhos, usavam dêles mais do que nós.» Não direi tanto pelo que respeita à nossa península e em especial a Portugal; mas é certo que durante aquele período em que muitos só vêem trevas do espírito e sordidez dos corpos, houve aqui uso mais ou menos espalhado dos banhos. Como se sabe, entre os romanos as administrações das cidades ti- nham o maior cuidado pelos edifícios dos banhos. Em Lisboa, por exem- plo, descobriram-se ruínas de dois edifícios de termas romanos, que fo- ram convenientemente estudados, e um dos quais ficava num espaço da presente rua da Prata à da Madalena, outro onde é a rua das Pedras Negras. Êsses edifícios dos romanos puderam ainda ser aproveitados mais ou menos largo tempo na Idade Média. Havia-os até junto das mi- nas (em que trabalhava gente de ínfima espécie, em parte condenados a trabalhos públicos), como prova a célebre tábua de bronze achada na mina de Aljustrel, que contêm prescrições minuciosas. É um erro supor que os bárbaros e particularmente os vândalos que invadiram a península no princípio do v século da nossa era arruinassem as cidades romanas e em geral as construções dos romanos; por exemplo, Mérida, no mo- mento da invasão árabe (710), conservava de pé seus sumptuosos edifícios e excitou a admiração da gente invasora, como se vê do testemunho dos seus historiadores. Os verdadeiros vândalos foram os cristãos nos tempos da reconquista e posteriores. Na África romana passaram também os vân- dalos, ficaram os berberes, dominados pelo árabe conquistador, decorre- ram os séculos de abandono, com as vicissitudes atmosféricas, mas o maior estrago nas construções romanas foi feito pelos civilizados france- ses, depois da conquista da Argélia, segundo a confissão de um dos seus arqueólogos. Há alguns anos tomei banhos num estabelecimento termal, em Alange, na província de Badajoz, a três léguas de Mérida, no qual há A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 183 duas grandes piscinias romanas, bem conservadas e que provávelmente não deixaram nunca de ser aproveitadas. Os nossos rios e mares convidavam ao banho e à natação, sobretudo no estio. Há textos que provam que assim sucedia na Idade Média como depois. Na vida de S. Lioba, escrita cêrca de 865, conta-se que um es- panhol, numa época que se coloca por 772, se banhara nas águas do Ebro em má estação, de que lhe resultou ser acometido de convulsões. O cruzado inglês, que deixou uma narração da tomada de Lisboa por Afonso Henriques, narração aproveitada por Alexandre Herculano, rela- tando a sua viagem pela costa de Espanha e Portugal, diz ter visto gente tomando banhos do mar na Foz do Douro, o que se fazia para cura de doenças, mas era emfim tomar banho. Possuo provas do apro- veitamento, também para banhos, de águas termais no período medieval entre nós. Num documento de Ordoho III e sua mulher Urraca (ano 915) há re- ferência a banhos estabelecidos no rio Douro, em Zamora (balneos nos- tros in flumen Durio in Camora). Parece que êsses banhos tinham sido estabelecidos por Afonso III (vid. Revue hispanique, X, 384). «Idem retinio mihi et mei successoribus... balnea de villa et de ter- mino de Castromarim, et ballenationem. Foral de Castro Marim, dado por Afonso III, 1277. Leges, p. 734. Foral de Balneo (Banho — Vallado — Vi- seu). Foral de Afonso 1 — 1152, Leges , p. 379.» O grande orientalista, já falecido, Max Mtiller referiu num interessante ensaio sôbre Costumes e usos, escrito em 1865 que «Dante ficava sema- nas sem mudar de roupa.» Não sei em que texto se fundou o tão eru- dito investigador para nos transmitir essa notícia, de que alguém concluiu que Dante não vestia roupa lavada. A verdade é que os textos medievais permitem afirmar que a lavagem da roupa era acto frequente e que havia a profissão de lavadeira. Numa composição do nosso D. Dinis lê-se: Levantou-se a velida, levantou-se alva, e vai lavar camisas em no alto. Vai-las lavar alva. Levantou-se a louçana, levantou-se alva, e vai lavar delgadas em no alto. Vai-las lavar alva. 184 F. Adolfo Coelho Num texto do Cancioneiro do Vaticano diz-se: Quantas sabedes amar amigo, treides comig’ ao mar de Vigo e banhar-nos-hemos nas ondas. Treides comig’ ao mar de Vigo e veremo-lo meu amigo e banhar-nos-hemos nas ondas. Quantas sabedes amar amado, treide-vos mig’ ao mar levado e banhar-nos-hemos nas ondas. Treides migo ao mar levado e veremo-lo meu amado e banhar-nos-hemos nas ondas. C. Vat. 888. (Martin Codax). Essa é a lição de D. Carolina Michaêlis, Canc. Ajud., 11, 928 «ut viri cum mulieribus balneum non celebrent; ut viri cum mulieribus non laven- tur* são velhas disposições eclesiásticas medievais, que lembra a doutís- sima editora do Cancioneiro da Ajuda. Naquele bárbaro episódio do assassínio de Maria Teles pelo seu ma- rido o infante D. João, na Crónica de D. Fernando por Fernão Lopes, lê-se que, quando o assassino chegou às casas onde pousava a infeliz : «uma mulher que havia de lavar roupa destrancou as portas e abriu-as de todo.» O coudel-mor, numa carta escrita a Henrique de Almeida em 1477, das cortes de Montemor-o-Novo, queixa-se entre outras coisas de que: real de sabam nam lava camisa (*) Não exageremos, porem, o aceio da Idade Média. Os hábitos higiéni- cos dos romanos e bárbaros romanizados tomaram-se excepção entre os seus descendentes combinados com germanos, e, na península hispânica, (9 «Está provado que os banhos eram na Idade Média entre as instituições mais populares as mais essenciais, que não havia cidade por mais pequena que fôsse que não tivesse as suas estufas e que foi ao contrário o Renascimento que deixou pouco a pouco cair em desuso os hábitos de limpeza da Idade Média para lhes substituir negligência que ia até à mais repugnante sordidez.» Godefroid Kurtk, Qu’est-ce que le moyen-âge? {Science et Rãigion). Paris, s. d., p. 27-28, que cita Lecoy de la Marche, La Société au XIII siecle (Paris, 1880) e C. Eulart, Manuel d* archêologie françaisey t. II. p. 95. Pelo que res- peita aos banhos na Alemanha em tempos passados há uma obra muito considerável de Alfred Martin, Deutsches Badewesen in vergangen Tagen (Jena, 1906, 448 páginas, com gravuras. Vid. o art. dêsse autor em Die Umschau XI Jahrgang (1907) n.o 8. A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 185 com árabes e novos berberes (no sangue ibero havia já sem dúvida ele- mento berbere de antiga data). Todos sabem que Marrocos não é preci- samente um modêlo de limpeza. As grandes pestes da Idade Média e sé- culo xvi bastam por si para fazer ideia da imundície das povoações e do pouco cuidado do aceio pessoal. Todavia a teoria de que lavar-se era impureza, pois se devia tratar únicamente da salvação da alma e não do corpo pertencia só aos ascetas descritos por Lecky. Alguns santos con- denaram também os exercícios físicos, mas não foram ouvidos, pois acha- mos êsses exercícios mais ou menos em voga, segundo os lugares e cir- cunstâncias, no período medieval. As escolas públicas do império romano serviram em parte de mo- dêlo às escolas eclesiásticas medievais: o curriculum dos estudos gerais consistia do trivimm (gramática, retórica e dialética) e do quadrivirum (aritmética, geometria, música e astronomia), comquanto a gramática, isto é o estudo do latim, fosse o mais importante, e o resto reduzido na maior parte dos casos a noções ligeiras e muitas vezes puramente acidentais, com excepção da música prática por causa do canto da igreja: os exer- cícios físicos eram naturalmente excluídos dessa instrução escolar, dada nos conventos, catedrais e colegiadas, como demais já o tinham sido da humanitas dos romanos. As crianças teem sempre os seus jogos tradi- cionais, como o povo; mas é a nobreza que durante a Idade Média pra- tica com mais regularidade os exercícios físicos, parte integrante da edu- cação do cavaleiro. Não esqueçamos, todavia, que muitos dos próprios membros das classes eclesiásticas se exerciam nos jogos de movimento e que a equitação correspondia a uma necessidade quási universal, dada a carência de outros meios de transporte. A mesura — a moderação, a cortesia, o sen — senso, juízo ponderado; o prez — preço, valor eram virtudes fundamentais do cavaleiro que vemos também atribuir às damas a quem dirigem os seus versos os nossos trovadores dos séculos xiii e xiv, incluindo D. Dinis, todos os quais trasladam para as coisas de amor a terminologia da cavalaria e do feudalismo. O germe da cavalaria es- tava na entrega solene das armas do joven germano , que já Tácito men- ciona no seu tratado acima aludido. A instituição da cavalaria é pois de origem bárbara; um traço a se- para nitidamente, como bem nota um dos seus historiadores, Léon Gau- tier, da velha milícia romana: o romano era soldado em nome de um dever cívico imprescrevível; o cavaleiro aceitava livremente entrar na car- reira das armas — tanto mais obrigado ficava a defender a pátria, a de- fender o senhor, por quem prestava juramento de preito e homenagem — toda a sua honra ficava empenhada e da honra deriva a lialdade , outra 186 F. Adolfo Coelho virtude do cavaleiro. O acto de ser armado cavaleiro em Zamora pelos fi- dalgos do seu partido consagrou o jóven Afonso Henriques para a em- presa de constituir um reino. Entendeu a lialdade (o que era frequente naquele tempo) de modo restrito — lialdade para os seus , e fez brecha nessa virtude contra os inimigos. Cumpria ao cavaleiro saber servir-se bem das armas que lhe eram entregues, preparar-se com a maior probabilidade de êxito para a vida de luta a que se consagrava perante Deus e os homens. O cavaleiro comba- tia os inimigos da sua pátria, do seu senhor terreno e os inimigos da Igreja e de Deus, da sua pátria e do seu Senhor celestes. Os Evangelhos diziam: Nemo potest duobus dominis servire; mas êle servia, numa conci- liação suprema, os dois senhores. A doutrina estrita da Igreja achara só um caminho para o céu: a renúncia do mundo, que na prática a mesma Igreja queria empolgar em seu proveito temporal: mas agora, com a ca- valaria, surgia outro caminho — o caminho do mundo, das armas, da guerra, da conquista de bens terrenos, da glória, da força e da coragem; coberta ainda com uma aparência de ascetismo à beira do qual se levan- tavam os cenóbios dos freires cavaleiros, e também os castelos de cujas janelas se debruçavam damas e donzelas para escutarem os cantos de amor dos cavaleiros trovadores. A Igreja consagrava a cavalaria, mas esta, na realidade, representava, em face dela, um movimento emancipador, um movimento para a vida, um renascimento possível da vida antiga, combi- nado com um princípio de individualidade, que fazia derivar da vontade pessoal obrigações que na antiguidade eram impostas pelo egoísmo co- lectivo. Esse foi o princípio introduzido no mundo medieval pelos germa- nos, como muito bem viram notáveis pensadores, digam o que disserem contra êsse modo de ver vários intérpretes, que creio maus, da história dêsse período. Compreende-se bem que o cavaleiro que aspirava ao duplo prémio das honras, da glória na terra, e da salvação, da glória no céu, forcejasse por adquirir todas as manhas (era o termo consagrado entre nós) que o tornassem digno do seu nome; e que aqueles que viam no seu filho um futuro cavaleiro cuidassem da educação dêle nesse sentido. Ao lado do sistema da educação eclesiástica, desenvolveu-se, pois, um sistema de educação cavaleiresca, mais ou menos nitidamente definido, segundo as circunstâncias, mas em que a parte dos exercícios corporais , — uma nova fase de gimnástica essencialmente militar — teve grande importância. O ca- valeiro recebia na família, na sociedade em que vivia educação religiosa e moral, constituída por exemplos, preceitos, leituras feitas por êle pró- prio ou por outrem, pela audição de composições poéticas cantadas A história dos exercícios físicos na sua relaçào com o desenvolvimento moral 187 (lírica) ou recitadas (epopeia) ou representadas (drama), o que era mais raro e veiu mais tarde. A educação literária, como a entendemos, era rara entre os nobres na mais alta Idade Média (menos rara a partir do século xiii); muitos dos trovadores e troveiros aristocratas que poetaram não sabiam ler nem escrever; outros escreveram as suas composições. Não está pro- vado e há até fortes razões para não crer que os nossos reis anteriores a D. Dinis soubessem escrever — êste rei foi em Portugal o primeiro que assinou o seu nome e declara expressamente que o faz pela sua mão. Não deve causar isso admiração: sabemos que no clero para que foram sobretudo destinadas as escolas durante muitos séculos, havia muitos in- divíduos, até bispos, analfabetos. Ainda D. Duarte, que permitiu que homens bons fossem juízes, comquanto não soubessem ler nem escrever, diz: «Os moços de boa linhagem e criados em tal casa que se possa fa- zer, devem ser ensinados logo de começo a ler e a escrever e falar latim, continuando bons livros per latim e linguagem, de bom encaminhamento per vida virtuosa; a ponto que digam semelhante leitura nem muito con- vir a homens de tal estado, minha tençam é que, pois todos almas ver- dadeiramente somos obrigados crer que havemos, muito principalmente nos convêm trabalhar com a mercê do Senhor per salvaçam delas, o que muito se faz com sua graça per o estudo de bons livros, e boa conversa- çam ; esso medes os livros de moral philosophia, que som de muitas ma- neiras, pera darem ensinança de bons costumes, e siguimento das virtu- des devam ser vistos e ensinados e bem ensinadas todalas cousas a ella pertencentes; e os da ensinança da guerra, com as crônicas aprovadas, é muito pertencente leitura para os senhores e cavalleiros e seus filhos, de que se tiram bons e grandes exempros e sabedorias que muito prestam com a graça do Senhor aos tempos da necessidade.» Vê-se por êsse passo que ao tempo em que foi escrito não só era preciso aconselhar a cultura literária aos fidalgos, porque estes a descu- ravam, mas porque havia até quem a julgasse desnecessária para êles. Ainda mais tarde, João Rodrigues de Sá, Sá de Miranda e Luís de Ca- mões se queixaram da nudez de espírito dos nobres. No velho poema francês de Godefroi de Bouillon diz-se dos filhos dos cavaleiros que curam mais dos exercícios e recreios físicos que dos estudos literários (clergie) e ofícios da Igreja: Et si lor fist savoir cPoisaus et cTescremie De cembiax, d’envaie Et de corre un cheval par une praerie. II i metent lor cure, moult plus qu’à clergie. 188 F. Adolfo Coelho Muitos outros textos poderiam citar-se provando que o que se dava em Portugal se reproduzia nos outros países da Europa, em menor ou maior grau. Bastará um: «Juro, dizia um nobre inglês do tempo de Hen- rique III, que preferiria que meu filho fôsse enforcado a que aprendesse letras. Porque convêm aos filhos dos nobres soprar uma trompa de caça sonoramente, caçar com habilidade e levar e trenar elegantemente um fal- cão. Mas o estudo das letras deve ser deixado aos filhos dos rústicos.» O nosso rei D. Duarte, sem dúvida o homem de maior saber geral do seu tempo neste reino, não tivera estudos regulares, sendo sómente «gra- mático, e algum tanto lógico, como diz Rui de Pina»; o seu saber viera- -Ihe «não por decurso de escolas, mas por continuar de estudar, e ler por bons livros.» Tanto maior respeito devemos a êsse monarca pelo seu autodidatismo, pelos esforços por se elevar, como se elevou, moral e intelectualmente, tanto acima do nível dos nobres do seu tempo. A fôrça bruta e o que se chamou a coragem física, que, como teremos oca- sião de ver noutro lugar, faltava por fim a D. Duarte, eram o que mais se admirava nos cavaleiros, junto com certas habilidades (manhas) e ma- neiras que temperavam exteriormente essa rudez e constituiram uma parte grande da cortesia. Em toda a Idade Média achamos como núcleo dos exercícios corporais a corrida, o salto, o arremêço de pedra, pau ou peça de ferro (entre nós — arremêço da barra), o arremêço de dardo ou frecha, (por meio do arco ou da bésta), a luta corpo a corpo, isto é, o reflexo do pentathlon dos gregos, não como uma cópia ou tradição exclusiva da gimnástica heléni- ca, mas como um resultado de tradição comum e de necessidades seme- lhantes. Junte-se a equitação, a esgrima (de espada, lança, pau) que se aplicava não só na guerra, mas ainda nas justas e torneios, tidos na conta de diversões, de espectáculos, apesar dos seus graves perigos; o jôgo do tavolado e a natação, e teremos feito a lista dos exercícios físicos mais importantes daquele período, a que devem juntar-se a caça, exercício complexo, e alguns jogos físicos de carácter mais recreativo, como o jôgo da péla, o da bola, que tinham variadas formas, e a dansa, as canas, as touradas. O povo compartilhava mais ou menos êsses exercícios e diver- sões, que em grande parte eram, porém, considerados como próprios, so- bretudo dos nobres. Estes olhavam como plebeus os exercícios que con- sistiam em ferir a distância, como o arremêço da frecha, por não se ma- nifestar neles a coragem pessoal. Temos livros sôbre a história dêsses exercícios, dos esportes ou des- portoSy como entre nós se dizia, nos principais povos da Europa — far- -se-ia um bastante interessante relativo ao nosso país; proponho-me A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 189 apenas dar aqui algumas rápidas notícias históricas em relação com o meu assunto principal. O monge de Silos diz-nos que Fernando I de Leão e Castela, que rei- nou de 1037 a 1055, mandou instruir os seus filhos e filhas nas artes libe- rais e, logo que a idade o permitiu, exercitar os filhos, segundo o costume espanhol , na equitação, no manejo das armas e na caça. Pedro Alfonso (Petrus Alphonsus), judeu natural de Huesca (Aragão), baptizado em 1106, escreve na sua Disciplina clericalis: «Probitates (ma- nhas) hae sunt; equitare, natare, sagittare (arremeçar setas), certibus cer- tare (pugilato) — aucupare (caçar de altaneria), scacis ludere (jogar o xa- drez), versificare». Essas sete manhas dos cavaleiros formavam paralelo às sete artes liberais dos clérigos. Temos alusões diversas aos exercícios referidos nos textos portu- gueses anteriores ao século xv; mas, pelo que respeita ao período medié- vico, são dêste século os textos mais numerosos e mais importantes em todos os sentidos que possuímos neste domínio. Os exercícios que constituem o que particularmente chamamos a gim- nástica militar medieval não foram executados com igual intensidade du- rante o período a que me estou referindo; essa intensidade dependia na- turalmente das preocupações de cada época. No primeiro século da nossa monarquia, quando os partidários de Afonso Henriques e os homens de armas de Sancho I tiveram, aqueles que firmar a independência de Portu- gal contra o reino de Leão e Castela, estes de continuar as conquistas das terras sob o domínio mussulmano, a exercitação gimnástica devia ser in- cessante. A velha Crónica chamada dos godos refere que quando os exércitos de D. Afonso I e do rei de Leão e Castela se acharam acampa- dos em frente um do outro, com frequência os homens do rei de Portu- gal saíam a praticar jogos de armas « quod populares Bafurdium dicunt » Bufurdar ou bafurdar é o termo que em a Idade Média designa entre nós de modo geral todo combate simulado, quer singular, quer colectivo; dêsse verbo deriva o substantivo bafárdio , bafordoy acção de bafordar. A palavra veiu-nos talvez do francês, em que achamos o velho verbo, behourder, bouhourder, latinizado burdeare , etc., o qual, segundo Littré, foi formado de behourt, nome de uma lança: behourder significou pois primeiramente manejar a lançaf a arma por excelência da justa e do tor- neio. Voltaire empregou o termo behourdis , sinónimo de torneio ; o nosso Sá de Miranda usou ainda o verbo bafordar. Bafárdio , bafordoy designa também o simples jogo do tavolado, muito antigo entre nós, que consis- tia em arremeçar, indo a cavalo, umas lanças curtas ou dardos contra um quadro de madeira e era pois uma forma muito atenuada do verdadeiro 190 F. Adolfo Coelho bafúrdio. Em breve falarei de outra forma também atenuada do mesmo, a que aliás já fiz referência — as canas. Em os nossos Cancioneiros dos séculos xin e xiv há alusões aos exercícios referidos. Assim D. Lopo Lias numa de suas canções satíricas contra uns certos cavaleiros que andavam sempre mal guisados (mal ves- tidos e em cavalos mal aparelhados) refere-se ao bafordar no tavolado (que não deve confundir com tavolagem , jogo de dados): Ayres Moniz, o Zevrom, leixade o selegom e tornade-o albardar; andaredes melhor ca na sela rengedor: andaredes i mui bem e non vos rengerá porém. Tolhede-Ih’o peitoral, apertade-lh’o atafal e non vos rengerá porém, andaredes i mui bem. Andaredes i melhor ca na sela rengedor. Podedes en bafordar e o tavolado britar. Andaredes i mui bem e non vos rengerá porém. Andaredes i melhor ca na sela rengedor. Numa interessante canção em que D. Afonso X de Castela, avô de D. Dinis, põe a falar um amante da vida do mar, canção admirávelmente restituída por D. Carolina Michaêlis de Vasconcelos, há, entre outras, a seguinte estrofe: Nem de lançar a tavMado pagado non sõo, se Deus m’ampar, oimais, nen de bafordar. O andar de noufarmado, sen grado o faço et o roldar. Ca mais me pago do mar que de seer cavaleiro, ca eu foi já marinheiro, e quero-m’oimais guardar do alacran encontrar • que me foi [picar] primeiro. A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 191 Durante os séculos xm e xiv a gimnástica cavaleiresca não desaparece nunca, mas há variantes grandes de intensidade, épocas de forte depres- são. Com o Mestre de Avis surge, porém, um momento de intensa vida para êsses exercícios. Tratava-se de levantar uma nação que os erros po- líticos e a decadência militar, apesar de notáveis progressos económicos, tinham levado ao perigo iminente de ser absorvida na monarquia caste- lhana, e tentava-se logo provar a sua energia, dar-lhe nova importância, criando-lhe um domínio ultramarino. Os exercícios corporais, e especial- mente os de gimnástica militar foram considerados pelos promotores dêsse renascimento da nação como um instrumento indispensável para realizar as sonhadas emprêsas. Dois factos, acima de todos, provam a importância que D. João I e seu sucessor D. Duarte atribuíam aos exercícios físicos: o primeiro es- creveu um Livro de monteria, que figurava no Catálogo conservado da biblioteca de D. Duarte com a designação «que compilou o virtuoso rei D. João», e o seu filho e sucessor deixou-nos um Livro da ensinança de bem cavalgar toda sella , «o qual começou em sendo infante», livro a que já me referi. Da obra de D. João I existe um apógrafo na Biblioteca Nacio- nal de Lisboa; da de D. Duarte há duas edições feitas sobre o manus- crito único da Biblioteca Nacional de Paris. Esta última obra estende o seu domínio também ao ensino do reger e ferir de lança, do justar, de ferir de espada, da caça de monteria. Refere-se ainda D. Duarte aos torneios, ao jogo das canas, ao lançar a barra, ao salto a pés juntos, «marchas de força, ligeirice e braçaria», e um capítulo inteiro da sua Ensinança trata: «Dos erros da luyta breve- mente escritos», isto é, dos ardis usados na luta corpo a corpo. Dêle se conclui que havia mestres dêsse jogo, que o rei teve em muita conta e que se praticava em estado de nudez (por ventura só da cinta para cima, como se faz ainda hoje em diversos países) ou vestido.» Não tenham al- guns (diz o autor a respeito dêsse jogo) que não é manha pera usar grandes senhores, por que bem meu senhor El-Rei, cuja alma Deus haja, usou delia muito bem, e os príncipes, capitães, e bons homens d’armas que eram, foram nela tão avantajados que poucos seus iguais se pode- riam achar de qualquer estado; e os de minha corte, quando eu dela me prezava e a usava, eram tão bons lutadores, que nem pensava que seus iguais em casa dalgum príncipe se achassem.» D. Duarte faz o elogio dêsse jogo, buscando pôr em relêvo as vantagens que lhe julga ine- rentes. Fernão Lopes diz, na Crónica de D. Pedro l, dum escudeiro (a po- sição de escudeiro era grau para cavaleiro): «era homem de prol, estre- 192 F. Adolfo Coelho mado em assinadas bondades, grande justador e cavalgador, grande monteiro e caçador, lutador e travador de grandes ligeirices e de todalas manhas que se a bons homens requerem... tangia e cantava.» Sem dúvida realizava o que foi o ideal da educação do nobre no seu tempo e ainda nos imediatos. Da educação física do rei D. Duarte dá curta informação Rui de Pina, que em verdade não faz mais que enfeixar as notícias que o próprio mo- narca nos deixou nas suas obras e muito especialmente na Ensinança de bem cavalgar: «foi homem desenvolto e costumado em todalas boas manhas, que no campo, na Corte, na paz e na guerra a um perfeito Prín- cipe se requerem: cavalgou ambolas sellas, de brida e de gineta, melhor que nenhum do seu tempo... prezou-se em sendo mancebo de bom lui- tador, e asi o foi, e folgou muito com os que em seu tempo bem o fa- ziam; foi caçador e monteiro, sem mingua nem quebra do despacho e aviamento.» Em geral a educação pela gimnástica militar começava cedo. Do conde D. Duarte de Meneses diz o cronista Gomes Eanes de Azurara: «E se- gundo entender dos homens nem se desenfadava tanto em outra cousa, como nos feitos de cavalaria, como aqueles que quási do berço, usaram o ofício das armas.» Foi de curta duração essa época de intensa cultura física pela gim- nástica militar, que andou íntimamente ligada ao espírito cavaleiresco do Mestre de Avis, seus partidários e seus filhos. Liam-se com entusiasmo os livros da Távola Redonda e dos seus heróis os próprios D. João I e o Condestável D. Nuno Álvares Pereira tomavam os nomes para se fazerem designar; êles e os cavaleiros que os acompanhavam nas suas emprêsas queriam ter dêsses heróis as qualidades tanto morais como físicas. É o próprio D. Duarte quem nos dá conta da decadência daquela gimnástica. Num dos últimos capítulos da Ensinança , diz o rei que via os cava- leiros e escudeiros mui minguados daquelas manhas de força, ligeirice e braçaria que em esta terra muito avantajadamente sabiam e usavam de fazer, não prestando ditos nem conselhos que êle lhes apresentava sobre essa matéria; constrangidos a exercê-las, pouca satisfação lhes davam. A causa dessa decadência atribui-a D. Duarte à «mingua de vontade que delas hão, porque tanto costumarom a fala das mulheres, e poserom to- das as suas tenções em grâo desejo em se trabalharem de bem trazer (trajar), calçar, jugar a pela, cantarem, e dançarem por lhes seguirem as vontades que mostram principalmente destas manhas, que de todas as outras leixarom a maior parte.» A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 193 Também no capítulo sobre a luta, o rei se queixa de ver abandonado êsse jogo. Quer êle explicar essa falta de gosto pelos exercícios físicos e depois de apresentar uma razão geral — as vicissitudes do mundo, cujas causas não são fáceis de saber, enuncia uma particular: Emquanto praticava esses exercícios, era imitado pelos de grande estado que se achavam mais próximos dêle e o seu exemplo seguido pelos de menor gradação ; mas deixando o monarca por grandes ocupações de os usar foi imitado por todos. «Do enxempro dos senhores e dos príncipes, diz êle, toda casa ou reino filham grande enxempro em semelhante, e esso medes em no seguimento das virtudes.» E lembra como prova que por imitação das virtudes de seu pai e das suas os principais de sua casa e todos os outros do reino «fezeram grão melhoramento em leixarem maus costumes e acrescentarem em virtudes.» Essa explicação não basta todavia. De facto tinham-se dado modifica- ções muito consideráveis na vida portuguesa e especialmente na corte. As vitórias alcançadas sôbre Castela e depois em África haviam, como muitas vezes sucede, em circunstâncias análogas, trazido uma relaxação da vontade, fortemente tensa antes para as alcançar. A corte portuguesa e à imitação dela, casas dos nobres tinham introduzido o hábito de fes- tas sumptuosas, que, adoçando os costumes, distraíam todavia da rude gimnástica militar. Como D. Duarte indica, as mulheres agradavam-se das maneiras e prendas que os cavaleiros exibiam nas salas, de os ver jogar a péla, cantarem e dansarem com elegância em vez de manejarem a lança ou espada nas justas ou torneios, matarem em perigosa montaria um urso, animal ainda então frequente em as nossas matas, um touro bravo ou um javali. Em verdade a D. João I parecera, por certo, não haver perigo nessas manhas de sala, conciliáveis com os severos exercícios da gimnástica ca- valeiresca, pois que no seu Livro de monteria acha ser «bom remedio para o cansaço do entendimento» «ver a sala mui bem guarnida de mui ricos panos e outros: ver muitas donas e donzellas mui ricamente vesti- das, e também cavaleiros como escudeiros, que todos parassem mentes senon em tomar prazer...; ouvir os mui doces tangeres que fazem os instrumentos... tomar üa formosa dona ou donzella pela mão e dançar com ella.» O jogo da péla, que a D. Duarte parecia, a julgar do lugar em que o menciona, pouco próprio do cavaleiro, é recomendado por seu pai na mesma obra. Pode pensar-se que a decadência da gimnástica de que se queixa o au- tor do livro da Ensinança de bem cavalgar teve quinhão nas causas dos nossos desastres em África, que afligiram o tão curto reinado de D. Duarte. 13 194 F. Adolfo Coelho Causas gerais actuavam para produzir a decadência profunda da gim- nástica militar mediévica: a introdução das armas de fogo, a morte da ca- valaria, ligada íntimamente a êsse facto e a outros, que os historiadores teem posto em relêvo, como a organização das monarquias absolutas. Sabe-se bem como entre nós D. João II deu o último golpe na importân- cia da nobreza. O enérgico filho de D. Afonso V fora ainda fortemente educado nas manhas do bom cavaleiro e nas artes de paz, a que a no- breza se fora afeiçoando. Dêle diz Rui de Pina que «foi singular caval- gador, especialmente de gineta, destro, braceiro, bom dançador, e com gracioso despejo, bem desenvolto em todalas danças. Foi grande mon- teiro, mas muito maior caçador d’altanaria, a que era mui incrinado, e pera que sempre teve muitas e mui singulares aves, e bons caçadores.» O moço de escrevaninha de D. João II, o poeta e cronista Garcia de Rezende, lembra na sua Miscelânea a transformação operada nos cos- tumes: Os Portugueses soiam ser nas armas mui destrados Depois foram tam polidos, tão ricos, tão atilados, tão doces e tão luzidos e tão cheios desmaltados, cabelleiras e tingidos. Não se devem, porém, tomar à letra essas e outras queixas e sátiras que fariam supor que Portugal já não tinha guerreiros. As vitórias de Afonso V em África, os novos feitos ali praticados no reinado de D. Ma- nuel, as conquistas na índia supõem necessáriamente a existência de combatentes exercidos; mas temos todas as razões para crer que a gim- nástica, de que a cavalaria tirava a sua força, deixou de ser praticada com regularidade, se modificara mais ou menos considerávelmente, sem ser substituída por sistema melhor. Na comédia de Vilhalpandos , de Sá de Miranda, que põe a scena em Roma, há o seguinte diálogo, em que a personagem que dá nome à peça expõe os meios por que julga agradar a certa dama: Vilhalpandos. Quebrarei dez lanças darmas no canto daquela casa. Milvo. Um Roldão! Vilhalp. Lançar-me-hei em terra e erguer-me-hei armado de ponto em branco. Milvo. Quem fez nunca tal? A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 195 Vilhalp. Saltarei em um cavallo sem pôr pé na estribeira. Milvo. Ligeireza! Vilhalp. Bafordarei por cima daquela torre. Milvo. Galantarias ! Vilhalp. Correrei a cavallo em pé na sella. i Quereria o nosso poeta e dramaturgo referir-se a exercícios que se praticavam no seu tempo entre nós? VI Vimos já que o primeiro italiano que escreveu sobre educação na cor- rente do Renascimento, Paolo Vergerio, recomendava os exercícios físi- cos, todavia ainda bastante no espírito da Idade Média, pois para êle o fim dêsses exercícios não é a formação do homem , como em Montaigne, mas do guerreiro. Vergerio foi conhecido em Portugal ainda no século xv, em que escreveu o seu tratado: cita-o o erudito Gomes Eanes d’Azurara. D. Duarte e o infante D. Pedro, com as suas leituras e traduções dos anti- gos preludiam o renascimento clássico. Angelo Policiano, um dos mais cé- lebres mestres dêsse movimento em Itália, correspondeu-se com D. João II. Diversos portugueses estudavam então naquela península, centro de ad- miração pela sua cultura das artes e letras. Francisco Sá de Miranda no primeiro quartel do século xvi informava-se nos próprios lugares dessa cultura e vinha depois iniciar Portugal em a nova corrente poética. Aires Barbosa e os Gouveias na França e na Península, promoviam a renova- ção filológica. Já disse que a Política de Aristóteles era citada em côrtes entre nós na segunda metade do século xv. Pelos escritos dos antigos reconheceram os homens do Renascimento toda a importância dos exercícios físicos, e, comquanto Quintiliano, que, teve grande influência nos educadores daquele período, quási não desse atenção, como vimos, a êsses exercícios, sucedeu o contrário com parte dêsses educadores. Conhecemos já a posição de Vives relativamente ao assunto. André de Gouveia parece não ter atribuído pêso ao aspecto físico da educação; pelo menos no seu programa de estudos e estatutos da Es- cola aquitânica (de Bordéus) e no Estatuto do Colégio das Artes de Coim- bra não há palavra sôbre êsse ponto; e todavia aquela escola denomi- nava-se gimnásio. Já na Itália, no fim do primeiro quartel do século xv, um educador, tornado justamente célebre, Vittore dos Rambaldoni, ou, como é mais conhecido, Vittorino de Feltre (nascido neste lugar em 1378 e fa- 196 F. Adolfo Coelho lecido em 1446) dirigiu a Giocosa, estabelecimento de educação fundado pelo duque de Mântua, substituído depois por uma casa de maiores di- mensões, em que sob a influência das ideias da antiguidade, o desenvol- vimento e fortalecimento corpóreo dos educandos tinha importante lugar. Os jogos ali praticados são os que, pouco mais ou menos, constituíam a gimnástica helénica e a cavaleiresca, salvo a forma especial que tivessem: carreira, arremêço de frechas, manejo do arco, luta corpo a corpo, esgri- ma de espada, péla, equitação, natação, caça, pesca e simulação de bata- lhas. .Os educandos expunham-se ao sol e ao calor para se endurecer e eram levados insistentemente a desenvolver pelos jogos os sentimentos sociais. Comquanto essa prática gimnástica tivesse ainda muito a feição militar, como a teoria de Vergerio, a sua regularização escolar em ligação com os exercícios intelectuais e a instrução moral eram uma verdadeira novidade depois da decadência da velha educação helénica. Os elemen- tos da nova educação achavam-se, alêm disso, mais íntimamente ligados, pois eram ministrados sob uma só direcção. Vittorino não teve infelizmente imitadores, tão zelosos e célebres como êle. Os teóricos da educação, no Renascimento italiano, recomenda- vam em geral, porém, como já tinha feito Vergerio, os exercícios corpo- rais: assim Francisco Filelfo (1398-1481) no seu plano de educação intro- duz êsses exercícios: corrida, salto, luta, dansa, pantomima, esgrima, péla; Mapheus Vegius (1406-1468) nos seus Libri VI de liberomm eda- catione et eorum Claris moribus quer que os educandos se acostumem ao frio, tenham hábitos de sobriedade, e alternem os mais novos o estudo com os jogos, os adolescentes com a gimnástica, e diversões, tudo a horas determinadas. Os exercícios recomendados por Vegius são a equitação, manejo do arco, arremêço de frecha, manejo da funda, luta, mas não à maneira dos atletas; péla, marcha. Passando à França, encontramos ali François Rabelais (1483-1553) que nos apresenta o seu herói Gargantua jogando a péla, impelida pela mão ou pelo pé (como o moderno foot-ball), exercendo-se nos jogos milita- res e cavaleirescos ; equitação (de diversas formas, como sem estribos, sem rédeas), esgrima com várias armas, arremêço do dardo, da barra, da pedra, manejo da bésta; luta, salto, corrida, natação, ascensão de montes, etc. Êsses exercícios físicos alternavam com os intelectuais. Conhecemos já o pensar de Michel Montaigne sobre a matéria, e vi- mos, na parte sobre As Doutrinas, como êle exprimiu admirávelmente a ideia da relação entre o cuidado do corpo e o do espírito. Poder-se-iam reunir muitos outros testemunhos italianos e franceses a favor dos exercícios corporais, provenientes do século xvi, e juntar- A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 197 -lhes diversos de igual natureza e da mesma época, provenientes da In- glaterra e da Alemanha. Relativamente ao último país mencionarei as pa- lavras de Lutero (1483-1546) e as de Zwingli (1484-1531), dois grandes promotores da Reforma. O primeiro queria que a música e os jogos ca- valeirescos, a esgrima e a luta (Ritterspiel — Fechten und Ringen) fizes- sem parte dos elementos da educação; o segundo indica os seguintes exercícios com o mesmo fim: correr, saltar, arremeçar pedra, lutar, es- grimir. Os educadores teóricos e práticos do Renascimento estão de acordo em que se continuem a reproduzir os exercícios que tinham constituído a gimnástica medieval, a gimnástica cavaleiresca, como se vê das indica- ções que acabo de dar. Sem dúvida, alêm do poder da tradição viva, de costumes que exigiam muito largo tempo para transformar-se, contribuiu para aquele facto a concordância geral que havia entre os exercícios me- diévicos, e a gimnástica estética dos gregos e a militar dos romanos. Alguns autores do Renascimento apresentam já apreciações fisiológi- cas do valor dos exercícios a que já se referem. A. Mosso reproduziu al- guns extractos muito interessantes nesse sentido, como noutros, de uma obra de Paolo Cortese, intitulada De Cardinalatu , impressa em 1510. Iniciava-se a fase scientífica da gimnástica. Para o progresso dela era ne- cessária uma revisão histórica séria da gimnástica dos antigos e da medie- val. O italiano Girolamo Mercuriale empenhou-se na primeira parte da tarefa — o estudo da gimnástica dos antigos, e deu a lume em 1569, e em 2* edi- ção, mais completa, em 1577, a sua obra De arte gymnastica Libri , em que, ao lado de considerações teóricas, há o resultado de investigações históricas nos autores gregos e romanos e nos monumentos, muitos dos quais são reproduzidos. Mercuriale não se ocupou só da gimnástica edu- cativa dos gregos, da gimnástica militar, mas de outros vários exercícios, como as formas diversas do jogo da péla, os exercícios dos antigos fu- nâmbulos (ou acrobatas), trepadores de corda, etc. A história dos exercícios físicos em Portugal nos séculos xvi, xvii e xviii resume-se em poucas palavras: dissolução da gimnástica militar me- diévica; persistência, sob formas modificadas, da equitação, sobre que se escreveram tratados nos séculos xvii e xviii, e da esgrima, de que pelo meio do século xvi havia quatro escolas públicas e muitos mestres par- ticulares em Lisboa; conservação do uso de vários jogos tradicionais, principalmente pelo povo, mas sem desenvolvimento ou aperfeiçoamento de suas formas, antes em vários casos com degradação. Pararei aqui ape- nas nalguns pontos especiais. Os torneios foram substituídos pelo jogo das canas, que histórica- 198 F. Adolfo Coelho mente entronca no velho ludus troianus, de modo que o padre António Vieira pôde escrever: «O troia a que nós chamamos canas»; vemo-lo men- cionado por Duarte António Pereira Rêgo, na sua Instmçam da Ca - vallaria de brida, impressa em Coimbra: expõe êle as regras dêsse jôgo, como as entendia para o seu tempo e trata ainda do jôgo das alcanzias, singelas, como dobradas, e de quadrilhas; fala também de matilhas, candieiros, estafermo, barquinha, etc. O jôgo das canas fazia-se a cavalo e os que nele entravam arremeçavam uns contra os outros, primeiramente canas, que vieram a encher-se, numa extremidade, com areia, para me- lhor se arremeçarem; mas Rêgo prefere que sejam varas de salgueiro ou castanho, direitas e não muito leves e nos pés cortadas redondas e sem bicos. No jôgo das alcanzias, os cavaleiros arremeçavam, uns contra os outros, bolas de barro ocas, cheias de flores, cinzas, etc. O jogo da argolinha era uma forma de cavalhadas, que ainda hoje ressurge aqui e ali, em que um cavaleiro à desfilada buscava enfiar e le- var na ponta da lança uma argolinha pendente de uma corda. A lança foi substituída por uma simples vara ou cana e vi praticarem esse jôgo ra- pazes correndo a pé; últimamente vi velocipedistas enfiarem a argolinha. As diversas formas dos jogos da bola e da péla estacionaram ou de- generaram entre nós e por isso nos voltam agora com desenvolvimentos novos e nomes ingleses. O jôgo da bola era tão prezado no comêço do século xvi que D. Ma- nuel impôs pesada multa a quem o jogasse ao domingo ou dia de festa antes da missa, assim como a todo o oficial mecânico ou homem de tra- balho que na corte ou em Lisboa o jogasse em qualquer outro dia (al- vará de 8 de julho de 1521). O jôgo da choca consistia (e consiste) em pôr em movimento uma bola ou péla, batendo-lhe com uma vara grossa, de cêrca de dois palmos de comprimento, chamada aléo, contra uma baliza. Temos alusões à choca e ao aléo dêsde o século xvi. São parentes dêsse jôgo o francês la crosse e soule à la crosse , que transplantado a In- glaterra há séculos, se desenvolveu no do cricket. Conserva-se entre os nos- sos rapazes uma forma grosseira da choca, chamada sarrabulho, e que con- siste em fazer saltar de uma cova no chão para outra uma pedra, em que se bate com um pau. O golf dos escoceses é uma forma aperfeiçoada do mesmo jôgo. O jôgo da péla tinha entre nós variedades (como já entre os romanos), algumas das quais vieram até nosso tempo: assim eu vi jogar e joguei na minha infância a péla ao chão, cujos saltos se contam e a que se ligava a rima: «Rei, rei, quantos anos viverei, etc.»; a péla à parede, a péla à mão, que A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 199 um jogador atira a outro com a mão e êste recebe na palma, impelindo-o contra o primeiro, jôgo que se aperfeiçoou com o emprêgo de uma pá ou de uma raqueta e na França se desenvolveu no jôgo da palma ou péla, (jeu de la paume), origem, hoje fora de contestação do lawn-tennis dos ingleses. Não conheço prova de antiguidade entre nós da péla ao pé, de que achamos uso entre os romanos e que por isso podemos pensar se pro- pagou neste país pela Idade Média; com o nome de soule, choule ou cholle foi êsse jôgo muito exercido em França nesse período e nele está a origem do moderno foot-ball, que nos veiu da Inglaterra. O padre Manuel Bernardes, em a Nova Floresta mostra-nos o quadro da efeminação da fidalguia do fim do século xvii em Portugal: «As es- padas longas degeneraram em cotos, e os capacetes se trocaram em pe- rucas; já o pente, em vez de se fincar na barba ensanguentada, se finca publicamente na cabeleira alvejando com polvilhos. Cheiram os homens a mulheres; não a Marte, mas a Venus. Quem havia de imitar ao grande Albuquerque prendendo a barba ao cinto, se já não há povos de cintos nem de barbas? Quem haveria de sair aos leões em África, se é mais gostoso estar no camarote, em Lisboa, gracejando com os farçantes e atirando-lhes já com chistes, já com dobrões? Ou como se haviam de adestrar em ambas as selas, andando pelas ruas, bamboleando nas seges?» Na Espanha, cuja história, desde a constituição da monarquia portu- guesa, nunca deixou de apresentar paralelos mais ou menos próximos à nossa, as coisas passam-se de modo semelhante na essência. Madame d’Aulnoy, na narração da sua viagem naquele país, em 1679, mostra-nos que a educação das crianças da chamada melhor sociedade era miserá- velmente descurada. Desde o momento em que eram destinadas à espada (uma parte dos nobres entrava na vida eclesiástica) não lhes ensinavam nem latim nem história, nem as levavam ao conhecimento do mundo pe- las viagens, nem sequer as exercitavam nas armas nem na equitação. Em Madrid não existia escola para os exercícios físicos dos jovens. Pas- seavam e cortejavam as damas. Os filhos dos nobres ricos amancebavam-se aos doze ou treze anos e casavam-se aos dezasseis ou dezassete, ficando senhores do seu proceder, e persistindo na sua estupenda ignorância, ape- sar do que lhes eram mais tarde confiados cargos públicos de grave responsabilidade. A mulher não valia mais e «muitas vezes pessoas de capacidade consumada serão submetidas a êsses dois animais que lhes dão por superiores.» As touradas, a grande paixão da fidalguia espanhola e portuguesa nos séculos xvn e xviii, eram incapazes de dar vigor físico e contribuir 200 F. Adolfo Coelho para a energia moral como o poderiam fazer bem entendidos exercícios corporais. Procuravam-se só sensações fortes , lances em que se gastava uma energia de momento, em vez de se manifestar uma robustez sólida e não esgotável de súbito. Acresce que o número dos amadores ou pro- fissionais que toureiam foi sempre relativamente muito limitado, com- quanto seja e tenha sido mais ou menos numeroso o dos entusiastas que assistem a touradas apenas como espectadores. Ainda quando o toureio tivesse particular virtude como meio de desenvolvimento físico, aprovei- taria pois a muito poucos. Abstenho-me aqui de preciar o valor ético e a significação nacional dessa chamada diversão, herdeira dos jogos circen- ses dos romanos, o que farei noutro lugar. Emquanto os jogos tradicionais de movimento tinham chegado entre nós a uma completa decadência pelos fins do século xviii, e na França eram abandonados pelas classes chamadas superiores, mas tinham ainda assim muito mais vigor que em Portugal, eram êsses jogos adoptados na Inglaterra pela aristocracia e convertidos em jogos nacionais. Voltaire, tendo assistido em Greenwich, à beira do Tamisa, em 1727 a corridas de cavalos e corridas a pé em que entravam rapazes e raparigas, muitas das quais eram «fort belles; toutes étaient bien faites» escreveu: «Je me crus transporté aux jeux olympiques.» Em Portugal como na França e ainda em quási toda a restante Eu- ropa, os jogos tradicionais ficaram sendo o privilégio dos que não tinham ou poucos mais divertimentos tinham: o povo, e sobretudo a gente das aldeias e as crianças. Naturalmente nenhum plano, nenhuma concepção pedagógica claramente consciente dominara essa tradição: mas sim a força inerente do hábito, a necessidade fundamental do movimento e sobre- tudo o movimento na forma do jogo, o processo de repetição que consti- tuíam a educação do povo pelo povo, como em geral a sua vida, apenas modificado pelos numerosos factores da renovação social, no seu aspe- cto externo. O povo e principalmente o povo dos campos tinha demais o trabalho manual e agrícola ao ar livre para o fortalecer. A influência deletéria da fábrica, a emigração crescente dos campos para as cidades havia de diminuir o benefício da influência dos jogos tradicionais e do trabalho manual e agrícola. «Estala a Revolução, diz J. J. Jusserand (no seu excelente livro Les Sports e Jeux (Vexercice dans Vancienne France, a que devo várias notí- cias aqui aproveitadas); a Europa está ligada contra a França e a França está dividida. Num ponto do seu território todavia está, felizmente, unida; é a fronteira. Dirigem-se para ali recrutas moços, mal armados, mal far- dados. Anima-os o entusiasmo : a pátria está em perigo e exigia corpos A história dos exercícios físicos na sua relação com o desenvolvimento moral 201 sólidos, bem dispostos, habituados à vida activa, ao movimento, às in- tempéries. Mostra a experiência — uma das mais duras experiências que jámais algum povo fez — que a raça ficou realmente robusta e ágil. A matéria prima, o soldado, é excelente.» Um historiador do império (na Histoire générale dirigida por E. Lavisse) diz das tropas do imperador: «Nenhuma geração pereceu mais robusta, com melhor têmpera para as lutas da vida da guerra.» A história militar de Portugal nos últimos séculos oferece também grandes ensinos. No meio da decadência profunda do país, quando pre- cisávamos de generais estrangeiros para comandar as nossas tropas, tí- nhamos soldados para combater os holandeses no Brasil, os espanhóis em Portugal, os revoltosos da índia, e mais tarde para opor a êsses tão admirados regimentos de Bonaparte. Ninguém ignora que papel os nos- sos soldados representaram na guerra peninsular. = '»+ q’2) (17) g [A (A'~ Cp1) + B ( B' - C V)]2 D’ailleurs si nous considérons le cas oü le plan (12) est tangent le long de Va, on aura <18) et (19) En effet, si 1’équation (12) représente un plan sécant quelconque, pas- sant par V, les génératrices, suivant lesquelles il coupe la surface conique (S), auront pour équations x — _a aA'C — òbW a2 A'2 -f- b2 B'2 — c2 Cn y (20) a9A,9 + b9B2 y — — b WC-aAW a2A'2 + b2B,2-c2C'2 z (21) a9A'9 + b9B9 et y ^ a A1 C -f~ bB' Va9 A'2 + b2B'2 — c2C 2 y (22) a9A/9 + b9B9 y — — b bB'C,Jr a A • / a2 A'2 + b2B'2 — c2C 2 y (23) a2A,2+b2B<2 12 Alfredo Schiappa Monteiro et lorsque ce plan deviendra tangent, ces deux génératrices coincidéront, et, par suite, on a a2A'2 + b2B'2 — c2C'2—o (24) OU u \/ c2 C'2 - (25) d’oü b a2 A' c2 C 2 (26) b 2 B’ y — • — z y c2 C (27) ou 3 bW cK12 — a?A'^ _ ’ = q= Z c 2 C (28) qui sont les équations de la génératrice de contact, qui, coincidant avec Va, donnera , a2 A ' P =~~~à ' ~c (29) ô2 B' q c2 O (30) et 1’équation du plan tangent respectif sera p' . q' 1 7Z~° a 2 b 2 c2 (31) Autrement. — Le plan donné par Péquation (12), passant par la généra- trice de la surface conique (S), étant sécant, représentons par je=/7iz (32) y = Q i* (33) les équations de 1’autre génératrice d’intersection Va, et on aura 1’équa- tion de condition A'pi + B'gi + C' = o (34) qui retranchée de 1’équation (16) donne A' p'—p t (35) Note sur la ligne de striction de V hyperboloide 213 Or, à cause de 1’équation (2), on aura b2p'2 + a2q2 — b2p\2 + a2qi2= — d ou b2 % p'Arpx q’~ qi fl2 q’-\- qx p‘ — px et par conséquent A' __ b2 ' prjr pí B’ a 2 q’-rqx (36) (37) (38) lorsqu’on aura p'—pi et <7 — <71, ou lorsque le plan (12) deviendra tangent à la surface conique (S), on obtiendra B1 a2 * q' (39) et, de la combinaison de cette équation avec 1’équation (16), on déduira les équations (18) et (19) ou (29) et (30). Donc, etc. En substituant en (17) les valeurs de A, B! et C', il vient ou ou et de même f t = * 6* W~ b*Bp'Y (1 + Pn + qn ) g [ b 2 ( a 2 + c 2) Apf+ a 2 (ó2 + c 2) Bq' ]2 f , 9 = [à* (a2 + c2) Ap’+ a2 Q b 2 + ^2) Bq'Y g (A {cPAq* — b2Bp')2 (1 + p'2 -+* qn) ' tgO=z± b 2 (a2 + f2) V + a 2 (62 -r f2) Bq' c 2 (a2 v/TT^+T"2 b 2 (a2+^2) ^V'4- a 2 (62 + f2) Bq1’ c 2 (aM?"— b2Bp") \/\+p"*+q"* (40) (41) (42) (43) en prenant pour origine des angles les plans normaux (V et (ti) le long des génératrices Va et Vb de la surface conique (S). Le plan (11) passant par les génératrices Va et Vb, on a Ap'+Bq'+C=o (15) Ap"+Bq"+ C=o (44) Si maintenant, dans les équations (35) et (38), on fait A— A, B — B, pi=p", qi = q", il vient A q'— q" B p'—p]} (45) 214 Alfredo Schiappa Monteiro OU et ou Ap + Bq'=Ap"+ Bq"= — C A __b% p'+p" B a2 q’+q" a2Aq"— b~Bp"= — (a2Aq'~ b2Bp') Donc 1’obliquité 0' sera aussi donnée par la formule (46) (47) (48) /o.0, = _ 62(«2 + rWM-a2(é2 + rW' Uq) c2 (a2 Aq' — b2Bp)' 4 / 1 + p'12 + í"2 4 — Maintenant nous allons voir comment nous obtenons en fonction de a, b, c, p', q' et 0' les valeurs des coefficients A, B et C de Péquation (11), qui représentera les plans polaires correspondants. La formule (42) dorme. ± cl (a2Aq — b2Bp) \/ 1 + p"2 + q'! tgB = = b2(a2 + c2)Ap'+ a2 (b* + à)Bq ' (50) OU [a2c2q'\Jí +//2+ q'2 tgQ q= b2 (a2 + c2) p']A = b2c2p' \J 1 + //2 + q'2 tgQ±a2 (, b 2 + c2)q'} B (51) et en éliminant B entre cette équation et 1’équation (15), on aura d’oü ^ [p’ ~4~ p2 4- qn tge =F b2 (a? + c2) p' b2c2p' \jl + p'2 + q2tgQ ± a2(b2+ c2)q' ^ ^ b2c2pr s/l + p12 + qn tg* ± a\b2 + f2) q ’ [( a2q 12 -j- b2p'2) \/l + pn + q'2 tgb ± (< a 2 — b 2) p]q} mais pour le point a 1’équation (2) donne p^_ , q^__ J_ a 2 £2 c2 OU aV2+ b2p'* = ~ c‘ donc b2 c1 p' tA 4- p'2 4- g'2 ■ /jr. o ± a2 (/r -{- r) q' ç, a2 é2 v/íT^+7 • te- 8 ± r2 (a2 — 62) p!q' (52) (53) (54) (55) A = (56) Note sur la ligne de striction de V hyperboldide 215 En substituant cette valeur de A en (51), on a a2 âg' \/ \ -\- p'2 + q'2 . tg.0 + b2{a2-{-c2)p' c a? b2 \/l -f- p12 + qn . tg. 9 ± c 2 (a2 — b2) p'q' Cela étant, Féquation (11) deviendra [b2c2p} \/ \ + p'2 + q ’2 . tg. 9 ± a2 (62 + £2) <7'] jc + [a2c2q} \/ 1 + p'2 + q'2 . tg.^T- b 2 (a2 + £2) /?'] = [a2£2 \/ 1 -\- p{ 2 q' 2 . tg.Q±c2(a2 — b2)p’ q]z (57) (58) qui représentera l’un ou 1’autre des deux plans polaires (p), (p}), passant par la génératrice Va, suivant qu’on prend les signes supérieures ou in- férieurs. Cela posé, soient ct- = my (60) $ = ny (59) les équaiions d’une génératrice VI des surfaces coniques demandées; et, puisque les plans tangents le Iong des génératrices Va et Vb de la surface conique (S), lesquelles déterminent son plan polaire, doivent se couper suivant cette droite, on aura et *+4-í3=47 . 2" a + T7Í3=— y b 2 â (61) (62) et en supprimant les accents de x\ y\ 7! et x", y", z", il vient ou P T — v=—z b2* c2 2- ■ y a 2 b 2 m — X (63) (64) Or, les équation (11) et (64) étant égales, on aura A — m 4 > B=n et C=— 1 d 2 b 2 216 Alfredo Schiappa Monteiro donc m = — A et b 2 n^B c2 et en substituant A et B par leurs valeurs en (56) et (57) les équations des polaires VI et Ví des plans (p), (p')> en fonction de a, b, c,p', q 1 et®, seront et, par suite, ^ af ' b2 c2 p’\]\-\- p'2 + qn » tg. 6 ± a2(b2-j-^) <7r v C 2 a3 62 /l +/?'2 + ?'3 . & 8 ± c2 (a3 - 62) p‘ ’q’ 7 p ô2 aVV \J \ -f- p'2 -|- ^2 , tg. o =f a2 (a2-f- f2) p' , a2 é2 /l+p^ + tf'8 . 4?-. 6 ± c2(a — ô3) p'q' 7 a_ a^ _ 62 c3p' /l +p'2 + 9'2 . b 2 c2q b 2 -y-Z = 0 (68) qui représentera le plan normal (n) Les équations (65), (66) et (67) de la polaire respective deviendront _ b2 + c2 a2 + c a b2-\-c a2-{-c ar - • y í-y ' (69) c1 b“ , b2 c*qr (70) . «V Q r2 b4p' H (71) cr — Note sur la ligne de stríction de V hyperboloide 217 et Télimination de p et q' entre les équations (54), (69) et (70) donne ou aG (62 + f2)2 . 72 ■ be (a2-f c 2)2 . JL c8 (a2 — b2)2 a 2 c8(a2— b2)2 £2 c2 (72) b 1 (a2 + c2)24 • 4 + «4 (ô2 + c2)24 • 4 - ^ («2 - 4 • 4=" (73) a2 c2 62 c2 a2 b2 Telle est, donc, 1’équation de la surface coniqne (C0), qui coupe Phyper- boloide (H) suivant sa ligne de striction. En remplaçant <*, P, y par x, y, z, on aura Péquation (1) donnée par Mr. Charles. Observation — Nous pouvons aussi déduire directement Péquation de cette surface conique, comme nous allons voir. 6 — Les équations des plans tangents (s), (s) à la surface conique (S) le long des génératrices Va et Vb étant (n.o 3) (74) (75) * — rrri (59) P = /r/ (60) les équations de leur intersection Ví, seront , yp _ z' 7 a2 b 2 c2 x"a. , y" 3 z" 7 b 2 c2 Dans ces équations nous considérons comme variables x', y', z', y", z" (en supprimant les accents) nous aurons Péquation (61) (62) et x", (76) qui sera évidemment celle du plan polaire du point I, ou de la droite VI. 218 Alfredo Schiappa Monteiro Ce plan étant, par exemple, normal à le long de la généra- trice Va, ou perpendiculaire au plan tangent respectif, on doit avoir la relation a a 2 b 2 b 2 c2 (77) OU (78) or, 1’équation (76) du plan polaire donne OLX’ ■ py TZ' —0 (79) a2b2 ' V ' b-c2 donc a — _ b‘‘ + e a2 — b 2 a‘ «y (69) et semblablement p= a2 + c2 a 2 — b 2 b * ■ ^ y (70) Uélimination de p' et q' entre les équations (54) (69) et (70) donnera de même 1’équation (73). Autrement. — Pour que les plans tangents (s) et (s’J ayent pour inter- section la droite VI, on doit avoir les relations c2m ~c? r I cn , p + ^ro- 1 —O (80) c-m a 2 p"+^-q"-\=o (81) Maintenant faisons passer par la génératrice Va un plan normal à (S) Ax + By + Cz = o (11) lequel doit satisfaire à la condition Ap'+Brf+C=o (15) Note sar la ligne de striction de V hyperboldide 219 pour contenir cette génératrice, et à la condition q'- C~o « (82) a2 b2 pour être normal à (S) le long de cette même génératrice. Alors les équations (15) et (82) donnent b2ArC 2 . q? ç a 2 - b2 c2p 1 • — C a2 - b 2 c2q' (83) (84) donc 1’équation (11) du plan normal (n) deviendra b2-\-c2 a 2 a2 + c2 b 2 a2 — b2 c2p’ a2-b 2 c2q'y (68) En considérant comme variables x', y', z' 1’équation (80) deviendra c2m . rn x+-^ry-z (85) qui sera Téquation du plan polaire (p) ou (p), qui se confond mainte- nant avec le plan normal (n). Ainsi les équations (68) et (85), étant égales, il vient par la comparai- son des coefficients b2-\-c2 a4 m — • a2 — b2 c^p' ... (86) et a2 -\-c2 N a2 - b 2 c*q' ... (87) donc b2 -f c2 a 4 # = - 1 • 7 a2-b2 àp’ ' ... (69) et 0 a2-\-c 2 b± p = — — • 7 a2— ô2 àq' ... (70) d’oü nous déduirons, comme précedemment, 1’équation (73) (0 Cest le numérateur de la formule (42), qui donne la valeur de tg. 0. 220 Alfredo Schiappa Monteiro RECHERCHES SUR L’HYPERBOLOÍDE DE RÉVOLUTION 7 — Comme on sait étant a = b> on aura Thyperboloide de révolution (H)r\ et en représentant par r le rayon dn cercle de gorge, et par 5 le y rapport — > 1’équation de cette surface, et de celle de son cone asymptote (S)r seront. a2 + J32 = r2 + s2y2 (88) et x2+y2 = s2z2 (2)r en portant ces valeurs dans les équations (58), (65) et (66) on aura 1’équa- tion (p'tg. 0±^'\/l+52)^ + ( Qtg- 9 =F p'\J \ + 5 2)j/ = s2tg. ®Xz... (58) qui sera celle des plans diamètraux parallèles aux plans tangents, dont Pobliquité est 0, et les équations “=('■- «5)r mt qui seront celles des respectifs diamètres conjugués à ces plans diamé- traux, ou de leurs polaires. Eéquation (67) deviendra aussi p'tg. o db q' /l -f-s2 Ví + S2 (67) r Eélimination de p et q entre les deux équations (65),., (66) r et 1’équa- tion P'* + rf* = S' (54) r qui résulte de 1’équation (54), donne 1’équation a2 4- Ê2— s2fe2 2 tg*o ‘ (89) Note sur la ligne de striction de V hyperboloide 221 laquelle représente une surface conique de révolution (Co)r9 concentrique à la surface conique asymptote (S)r, coupant les génératrices rectilignes des deux systèmes de 1’hyperbolõide aux points oü Tobliquité 0 des plans tangents respectifs est donnée. Ainsi en combinant les équations (88) et (89) nous auront les équa- tions «2+ S r 1 +s2 (90) et lesquelles représentent le lieii géomètrique des points des génératrices des deux systèmes oii Uobliquité 0 des plans tangents est donnée. Ce lieu géométrique sera donc composé de deux parallèles 00 et (n1) équidistants du cercle de gorge (g), ainsi qu’il était facile de prévoir. 8 = Dans le point de recontre \r de deux génératrices de systèmes différents, le plan tangent aura, par rapport à chaque génératrice, des obli- quités égales et de sens opposés. En effet, les formules (42) et (49) pour a = b — r deviennent tg. 0 ~ qr ' C (42) r Aq — Bp' tg.6'=± t/l+53 C (49) r S Aq'-Bp ’ et par suite tg.Q = — tg.Q' 9 — Pour Q = o les équations (90) et (91) deviennent a 2 + (32 — ^2 (Q2) 7 = 0 (93) d’oü il résulte que le cercle de gorge (g) de Vhyperboldide de révolution sera la ligne de striction dans les deux systèmes de génératrices. Dans ce cas, 1’équation (58) deviendra. qx — py = o (94) 222 Alfredo Schiappa Monteiro qui représente le plan normal à la surface conique (S)r le long de la gé- nératrice Var ayant pour équations x~p'z y = qz et alors dans les équations (65) et (66), étant évidemment y = o, 1’équa- tion (67) donne P=— T* (67)r Q ce qui montre, comme on sait, que le plan normal et sa polaire se cou- pent orthogonalement, cette droite décrivant le plan xy, ou le plan du cercle de gorge. 10 — Uintersection des plans des parallèles fa) et (nr) de 1’hyperbo- lo'ide (H)x avec le cone asymptote (S)r étant les parallèles («) et («') de celui-ci, donnés par les équations x2+y2= rHg.H 1+s2 (95) z2=c2^ l+s2 (96) et la distance <3 du point central d’une génératrice de (H)r au point de cette droite oü les plans tangents ont une obliquité donnée 0, étant égale à la longueur de la génératrice parallèle de (S)r depuis le sommet jusqu’aux parallèles (w) et (w') on aura à = ± \J x2 Jry2jrz2 = ±c.tg.® (97) On voit donc que la distance da point central d' une génératrice recti - ligne de Uhyperboloide de révolution aux points de cette droite , ou les plans tangents ont une obliquité donnée , est proportionnelle à la tangente trigo no métrique de cette obliquité. Étant 0=45°, la distance <3 deviendra le paramètre k des génératrices et on aura k = ±c (98) d’oü il résulte que le paramètre k des génératrices dans Vhyperboldide de révolution est égal au demi-axe non-transverse de cette surface. Note sua la ligne de striction de Vhyperboloide 223 11 — Si dans une surface gaúche nous considérons une génératrice rectiligne quelconque G, ainsi que la génératrice rectiligne, qui lui est infi- niment voisine, nous pouvons évidemment prendre une droite telle, que les hyperboloides de raccordement le long de la génératrice G, déterminé par ces trois droites, soient de révolution. Les centres de ces hyperboloides seront donc sur la normale au point central de la génératrice G, ou sur le plan tangent à 1’infini, et tous les demi-axes non-transverses seront égaux au paramètre K de cette généra- trice, considérée sur la surface gaúche. D’après cela, 1’équation (97) montre tout de suite que la tangente tri- gonometrique de Vobliquité da plan tangent en un point d1 une génératrice rectiligne d’ une surface gaúche est proportionnelie à la distance de ce point au point central de cette génératrice. 0) De même nous pouvons aussi énnoncer d’autres théorèmes relatifs aux surfaces gaúches recourant aux hyperboloides de révolution avec lesqueles raccordent tout le long d’une génératrice rectiligne quelconque. Observation. — II est clair que nous pouvons aussi arriver directe- ment à cette étude de 1’hyperboloíde de révolution d’une manière très fa- cile. 12. — Passons maintenant à déterminer la surface conique envéloppe des plans diamètraux parallèles aux plans tangents d’obliquité donnée 9, ou la surface conique polaire (Cp)r du cone (C0)r par rapport au cone (S)r. En ordonnant Téquation (58) par rapport à p' et q\ on a (. xtg . 9 q= y \J 1 + s2)//+( ytg. 9 ± x\/í + s2) q — sHg. OXz.. (99) En représentant par x—p\z (32) y=qiz (33) les équations d’une autre génératrice du cône ( S)r , Téquation des plans diamètraux, passant par cette droite, étant ordonnée par rapport à/?i et <71, sera (xtg.9+y \J \ + 52)/?i + ( ytgfi 1 + s*)q\=s2tg.Q.Xz . (100) (*) Voy. Traité de géométrie descríptive de Mr. Jules de La Gournerie, no 622 (1862). 224 Alfredo Schiappa Monteiro Maintenant on peut substituer à 1’une des équations (99) ou (100), à la seconde, par exemple, 1’équation (p'— pi)(xtg.0+y\/ 1 + s2)+(<7 — qi)(ytg.O±x\/l+s2)=o (101) obtenue en retranchant ces équations membre à membre; mais étant p'2 + q'2=pi2 + qi2 = S2 (36) on a P±PL=_J!fj!L (37) q'+q i p'—P' et par suite (p,+pi)(.ytg.Q±x\f\+s2) — (q'+qi)(xtg.Qqpy\/\ + s2)=o (102) Si Pon fait diminuer (p — pi) et (q — qi) les deux couples de plans diamétraux se raprocheront indéfiniment et leurs intersections s’aproche- ront d’une limite, qui est la génératrice de la surface conique enveloppe demandée, ou la caracteristique de cette enveloppe; et pour cette limite 1’équation (102) deviendra ( ytg.Q^=-xSj p'— ( jc^.9h=j;\/h~52)^ — o (103) En éliminant les paramètres p' et q' entre les équations (99), (36) et (103), on aura pour équation de 1’envéloppe demandée x2 + y2 ^.2<> + l+s2 (104) qui représente une surface conique de révolution (Cp)n qui sera la surface conique polaire demandée. SUR LA DÉMONSTRATION GÉOMÉTRIQUE DTJNE PROPRIÉTÉ DE LA NORMALE AUX CONIQUES À CENTRE par ALFREDO SCHIAPPA MONTEIRO Professeur à la Faculté des Sciences Cette question a étée proposée par 1’illustre mathématicien Mr. Bari- sien 0); mais seulement pour le cas oü la conique est une ellipse, sous 1’enoncé suivant: «O/z sait que si la normale eti M à une ellipse r encontre les axes en N et N', on a MN X MN' NN12 = const.e et désirait une démonstration géométrique de ce rapport.» Nous allons d’abord prouver, d’une manière générale, que cette pro- priété a également lieu dans Phyperbole, et que nous pouvons remplacer cet énoncé par le suivant: La normale MNN' à une conique à centre , en un point quelconque M de cette courbe, rencontrant les axes aux points N et N' donne le suivant rapport entre ses trois segments MN, MN' et NN' MNXMN' NN12 const.6 Soit, donc, O le centre de la conique considérée, ayant pour axe semio- focal et axe asemiofocal respectivement les segments ^4i>42 =2 a et BvBi — 'Iby et pour distance semiofocale le segment F%F\ = 2 c; la normale MNN' au point M de cette courbe coupant le premier et le second axe respectivement aux points N et N'. De ce point M abaissons les perpen- diculaires MP et MQ sur ces axes et dont les pieds sont P et Q. C) Voy. L’ Intermédiaire des Mathématiciens} T. XXI, 1914, p. 100. 15 226 Alfredo Schiappa Monteiro Les triangles MNP et N'MP étant semblables donnent: MN NP _ NP MN1 Q M OP mais NP est la sous-normale S„ = ± — • OP, donc n a 2 MN MN' b 2 ,e — = const. a2 (D (2) le signe supérieur correspondant à Pellipse et 1’inférieur à 1’hyperbole. Tel est le rapport constant, qui existe entre les segments MN et MN 1 dans ces coniques et considéré dans la géométrie cinématique. Cela étant, Tégalité (1) donne MN =± b* MN = a2 (3> MN' q= MN a2 + b2 MN' + MN a2 =f b2 V/ et, en multipliant ces égalités membre à membre, on a MNXMN1 h a2b2 NN12 F (4) ce qui démontre la propriété commune aux coniques à centre, par rap- port à leur normale MNN1 en un point quelconque M. Maintenant passons à présenter la démonstration, tout à fait géométri- que, de la question proposée, mais autant pour 1’ellipse que pour Thyper- bole; comme nous venons de dire. Considérons la tangente T1MT2 au point M de la conique considé- rée, et qui coupe les axes A1A2 et B1B2 respectivement aux points 71 et 72. Traçons les perpendiculaires F1P1, F2P2 et O To, abaissées des deux points focaux F1JF2 et du centre O, sur cette tangente, dont les pieds sont respectivement A, A et 7o: les deux premiers se trouvant, comme on sait, sur le cercle principal de ces coniques. Soit OM' = b' le demi- diamètre conjugué au demi-diamètre OM = o', et qui coupe la normale considérée au point Oo et les rayons vecteurs FiM et F2M aux points Sur la démonstration géométrique d* une propriété 227 N'i et A/2, déterminant sur ces vecteurs les segments MNi et MN2 égaux au demi-axe a. Enfin, des points N et N1 abaissons les deux couples de perpendi- culaires A/M, N'N'i et A/M, MM2, sur les mêmes vecteurs, F1M1 et F2M2, lesquelles les coupent respectivement aux couples de points M, N'i et M, N'2. Pour abréger, posons: FiPi=pi, E2P2 — — /?2, OT0 — O0M =po, OOo — q, FiM — ài, F2M— Ô2, MN= n, MN ' = ri, MNí = MN2 = m, MN'i = MN'2 =n’i, MTi = — ti, M Ti = Í2. Cela étant, on a 2 /70 = /7l + /72 et, en vertu de la comparaison des triangles semblables F1MP1 et F2MP2 , il vient. pi h_ pz ^2 et puisqu’on a synthétiquement on a pip2 — àzb2 Pí=b\/i et p2 (5) d’oü Po = (6) mais po est la hauteur du parallélogramme OMO\M\ construit sur les deux demi-diamètres conjugués OM = o' et OAí' = 6', relative à ce demi- diamètre, donc \/ ^2 — b] (7) 228 Alfredo Schiappa Monteiro Les deux couples de triangles semblables FiMN, OP2F2 et F1MP1, MN'N'i donnent n — — p2 = — * /m2 = — ti (10) a a V o, et n[~ — a = ^-kU Á — (11) pi b V b D’après cela, on a ^=±4 (2) n’ a 2 n.n'=bl2 = ^2 (12) n'^n=-^-b'= 4v/^ (31) ab ab y donc MXM' , «2ô2 Ae /iylv AW'- = ± ,*• -COnSt- (14) Q. e. d. REMARQUE _ /N. En désignant par 9 1’angle F2MF1 formé par les rayons vecteurs F2M et FiM, égal à 1’angle PiOA formé par les rayons OPi et OP2 du cercle principal (O), on a d’oü cp pi_ p7_ b b_ 2 $1 \J $^2 b' (15) cp , b 2 m=ncos • — = ± — 2 a (16) 1 I cp n\= ticos • — —a (17) ri 1 =f tu. = ( n 1 + ri)cos • — =— a (18) Sur la démonstmtion geométrique d’ une propriété 229 Ces égalités, comme on le voit, montrent très élementairement et par voie géométrique que les projections des troís segments MN, MN' et NN' de la normale MNN', eti un point quelco tique M d’ une conique à centre , compris entre ce point d'incidence et les axes, sont constantes. La première projection m est égale au demi-paramètre p des coniques à centre; et la deuxième ri 1, égale au demi-axe semiofocal a , représente respectivement la grandeur des segments constants MNi et MN 2 des vecteurs FiM et F2M, dont les extrémités 7V'i et N 2 engendrent deux conchoídes de Jerabek. Le segmeut OoM = OTo=po peut aussi se considérer comme la pro- jection de ces segments, égaux au demi-axe a , sur la normale, et alors, par cette voie, on aura po = a cos ab ab b' (6) pob] = ab (8) Cette égalité exprime très aisément et par voie géométrique que Vaire du parallélogramme construit sur deux demi-diamètres conjugués, d’une conique à centre , est égale à Vaire du rectangle dc ses demi-axes. Ce qui dé- montrele lerThéorème d’Apollonius pources coniques. Le2èmeThéorèrne de ce grand géomètre peut aussi se démontrer par cette voie, pour ces coniques. D’après cela, on aura n\ a 2 (19) et par suite. m.n'i = ± b2... mn\ (m + flV)2 ~d~ (20) (21) II en résulte que le rapport entre les grandeurs constantes des projec- tions des trois segments variables considérés , de la normale à la conique à centre , sur ses rayons vecteurs , est égal au rapport constant entre ces mêmes segments variables. Comme 1’illustre mathématicien M. Balitrand a aussi démontré, suivant un autre chemin, pour résoudre indirectement la question proposée, rela- tive au cas oü la conique considérée est une ellipse 0). (*) (*) Voy. L’ Intermédieure des Mathématiciens, T. XXI, 1914, p. 208. 230 Alfredo Schiappa Monteiro Les rapports (8), (10) et (11) donnent po.n—b2... (22) pori—a2 (23) d’oü il résulte la démonstration géomètrique très simple du théorème suivant: Dans les coniques à centre , le produit des segments déterminés sur la normale par un axe et le diamètre conjugue, égale le carré de Vautre demi-axe. Comine il est facile de voir, nous pouvons encore démontrer d’autres théorèmes à 1’aide des égalités établies ci-dessus. Considérons maintenant les triangles semblables MTiN et MN' Ti, lesquels donnent titi=nrí (24) et, d’après Pégalité (14), on a 1’égalité t1t2 = b'2= :^2 (25) qui exprime géomètriquement que le produit des deux segments d’une tangente à une conique à centre, compris entre le point de contact et les deux axes, est égal au carré du demi-diamètre parallèle à cette tangente, ou égal au rectangle des deux rayons vecteurs, qui aboutissent au point de contact de cette même tangente. Ce théorème se trouve démontré géométriquement, mais seulement pour le cas oü la conique considérée est une ellipse, en considérant pour cela les diamètres conjugués comme la projection de deux diamètres rec- tangulaires de son cercle principal: puis les auteurs font dériver par la similitude des triangles indiquée ci-dessus, le théorème relatif à la normale de cette ellipse (x); et que nous démontrons directement et géométrique- ment d’une manière générale au moyen de 1’égatité (12) pour les coniques à centre. Partons, donc, du cas particulier oü la conique considérée est une el- lipse engendrée cinématiquement par un point M d’un segment de droite (*) (*) Voy. N. A. 1847, page 131. Sur la demonstmtion geométrique (Vutie propriété 231 de longueur constante H1H2 ou KK, dont les extrémités Hi ou K et fÍ2 ou K glissent respectivement sur les deux axes rectangulaires OKxNMiTi et NKOT2H2. Le point M étant situé aux distances HiM = b et MH 2 =a, ou KM — b et K*M — ay de ces extrémités; les axes étant égaux à 2a ti 2b: et on verra qu’en partant de ce cas particulier, on peut aisément arriver aux mêmes príncipes communs aux coniques à centre. Les centres instantanés derotation des deux segments considérés H1H2 et KK seront respectivement les rencontres H et K des couples de per- pendiculaires HiH, H2H et KK, KK, élevées sur ces axes aux extrémi- tés Hi , H2 et Ki, K de ces mêmes segments. D’après cela, la droite HMK, qui joint ces deux centres instantanés de rotation H et K, sera la normale au point M de 1’ellipse engendrée, et qui coupe respectivement Paxe semiofocal et 1’axe asemiofocal aux points N et N'. Cela étant, la similitude des triangles MHH2 et MNHiy ou des trian- gles MKK 2 et MNK donne MH=KM=^-n (26) b et la similitude des triangles MHHi et MN'H2 , ou des triangles MKK et MN'K donne ri (27) a Par la division membre à membre de ces égalités, on a le rapport (2) Le cercle décrit sur le segment T1T2 de la tangente à Pellipse en Mf comme diamètre, coupera la normale MNN'i en ce point, aux points H et K, et évidemment passera par le centre O de Pellipse, et on aura d’oü MH2 = KM2 = tit2=nn' = bh2 (28) ÃtH=KM = b' (29) Comme on le voit, le diamètre T1MT2 de ce cercle étant perpendicu- laire à la corde HK, divise Pare qu’elle sous-tend en deux parties égales, 232 Alfredo Schiappa Monteiro d’oü il résulte que 1’axe semiofocal de cette ellipse est la bissectrice de 1’angle HOh (, déterminé par les deux cordes OH et O/C; lesquelles repré- senteront les asymptotes d’une hyperboíe, oü la corde HK de ce cercle correspond au segment de la tangente à cette hyperboíe au point M , com- pris entre les asymptotes: puisqu’il est le point milieu de ce segment. Ainsi cette hyperboíe aura pour demi-diamètre réel le demi-diamètre OM—a' de Tellipse et pour demi-diamètre idéal le rayon OM 1 équipol- lent au demi-segment MH, et égal au demi-diamètre OM' = b', de cette ellipse, conjugué au premier OM. 11 résulte de lá que la tangente T1MT2 au point M d’une de ces coni- ques se confondra avec la normale MNN 1 à 1’autre et vice-versâ : ee qui montre qu’elles sont homobisemiofocales. Dans le cas de 1’hyperbole, le cercle décrit sur le segment T1T2 de la tangente au point M, comme diamètre, coupe idéalement la normale MNN' aux points Hi et Ki, dont les demi-cordes sont MHi et MKl égaux aux tangentes réelles menées au point M à ce cercle. Les segments OH et O/C, déterminés sur les asymptotes de 1’hyperbole par une tangente 7i 72, sont respectivement égaux à la somme ou à la dif- férence des demi-axes de cette ellipse, son homobisemiofocale, relative- ment à ce point M: puisque ces segments sont respectivement égaux à H1H2 et /C1/C2, comme les diagonales des rectangles OH1HH2 et OKiKK*. Obs. — Cette propriété conduit aisément à déterminer les axes de ces coniques, étant donnés deux de leurs diamètres conjugués. On voit, donc, qu’en suivant ce chemin, on pourra aussi arriver ai- sément à établir géométriquement des propriétés communes aux coniques à centre. TRÊS ANOS DE LATIM NA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA (1911-1912, 1912-1913, 1913-1914) por J. LEITE DE VASCONCELLOS Professor da mesma Faculdade Antes de ser, como actualmente sou, Professor do grupo de Filologia Romanica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fui Profes- sor do grupo de Filologia classica, e nessa qualidade regi a cadeira de Lingoa e Literatura latinas durante três anos escolares. A’ semelhança do que tenho feito a proposito de outros cursos meus, aqui vou publicar 0 elenco do meu ensino. Na lição inaugural (6 de Novembro de 1911) tratei da importância do Latim , e ela corre impressa, com esse titulo, Lisboa, 1911. Cada aluno recebeu de mim um exemplar. Os assuntos das restantes lições poderei agrupá-los metodicamente assim: I, Textos ; II, Lingoa ; III, História da Literatura. Especificarei cada parte. 1 — Textos Traduziram-se na aula os seguintes textos, acompanhados do indis- pensável comentário glotologico, estilístico, literário, historico, geográfico e etnográfico, para se entenderem cabalmente: No l.° ano poesias de Catulo, na ed. de G. Bonino, Carmina selecta, Torim, 1913 0); no 2.0 ano poesias de Tibulo, na ed. de C. Pascal, Elegie scelte, Torim, 1889, e a Germania de Tácito, ed. de H. Goelzer, Paris, 1889; no 3.° ano o liv. I das Epistulae de Horacio (2), e uns tantos capitu- (9 Tive também presente a de G. Friedrich, Catulli Veronensis liber ; Leipzig & Ber- lim, 1908. (2) Os alunos serviram-se de várias edd.; eu servi-me da de A. Kiessling, Berlim, 1889, e tive presentes também as de H. Schütz, Berlim 1883, e Krüger (10.a), Leipzig 1882. 234 J. Leite de Vasconcellos los da obra de Salustio intitulada De bello Iugurthino , ed. de F. Antoine, Paris, 1913. a) Amostras da natureza do comentário literário, historico, geográfico e etnográfico: — nomes dos meses, e sua etimologia: Martius, Aprilis , Maias , Iunius, os primeiros quatro meses do ano de Romulo; Qaintilis (depois Iulius , em honra de Julio Cesar), o 5.°, Sextilis (depois Augustas , em honra de Augusto), o 6.°, September, October, November, December, designados também pelo número de ordem; Ianuarius, de Ianus; Februarius, o mês da purificação, relacionado com februare «purificar»; — divisões do mês (calendae, etc.), e do dia (mane, ad meridiem, de meridie , suprema); horas. — importância religiosa das encruzilhadas, a proposito de Trivia, no carme 34 de Catulo: cf. Religiões da Lusitania, III, 595; significação de trivium e quadrivium , e da acepção que estas duas palavras tomaram na Pedagogia medieval; — nomes de ventos: Auster , Aquilo , Septentrio = B ore as = Bopsaç, Favo- nius, Corus = Caurus, Subsolanus, Vulturnus , Circius = Cercius, Zephy- rus ~ zscpupoç, Africus. Alguns d’estes nomes conservam-se em português: vid. sobre o assunto Lições de Philologia Portug ., Porto, 1911, p. 427- 432, e um artigo de O. de Pratt in Re v. Lusitana , XVII, 198; — a Idade de ouro; — equivalência de divindades romanas a divindades gregas, e atributos de umas e outras (Mitologia e Religião): Venus «graça» O ’A zú;} Saturnus O Kp&voç, Neptunus <>* noasiàwv; — a festa das Saturnais; — conceito do Inferno nos Romanos, a proposito de uma elegia de Tibulo; — a cor vermelha nas superstições, a proposito de outro passo de Tibulo ; — epítetos de nomes geográficos: minax Adriaticum (Hadriaticum), Rhodus nobilis, Cytorus buxifer, fera Ibéria (Hiberia), tauriformis Aufi- dus; e de nomes étnicos: prófugas Scythes , bellicosus Cantaber. A regra é não juntar imediatamente o adjectivo ao nome proprio ( Capua , urbs opulentissima) , mas os poetas juntam-no freqüentemente: vid. Madvig, Gram . Lat., § 300, obs. 4; — Saetabis, na Hispania, a proposito de um carme de Catulo. Textos an- tigos referentes a esta cidade, hoje «Játiva»: vid. Hübner, Monum. linguae Ibericae, p. 239; Três anos de latim 235 — o Nostrum mare; — louvores que cada povo concede á terra natal, a proposito da Ger - mania , cap. 2: tristem cultu aspectuque , /z/s/ £«/ patria sit. Todos acham bela a sua terra: «Lisboa é linda, mas a Gralheira...». Diz uma cantiga popular: «Não ha terra como a minha || No reino de Portugal». E em sentido mais geral diz um provérbio: «Quem o feio ama, bonito lhe pa- rece»; — avidez que os Romanos tinham de conhecer as tribus barbaras: Ca- tulo, carm. 9; cf. Cesar, De bello Gallico , III, 7; e Benoist, coment. a Ca- tulo, pag. 385; — divindades germânicas, e nomes dos dias da semana nas lingoas germânicas e romanicas: Tuesday, Lanes y Jeudi; — a lingoa panonica, sua existência e seu desaparecimento: Diefenbach, Origines Europ., p. 75; — uso da ortiga nas prescrições dos médicos antigos (Celso); — comidas dos Romanos (ientaculum, prandiam, cena; vesperna). O rei do festim ou rex mensae . Costumes portugueses: Trad. pop. de Por- tugal, p. 235 e 236; — coroa e suas especies; acepção de corona , falando-se de um grupo de pessoas. Explicação da coroa dos padres: cf. Re v. Lusitanaf IX, 181; — descrição e desenho de um scriniam; — cantos guerreiros nos antigos; — castigos antigos; — a roca. Sua tradição nos costumes modernos; rocas artísticas do Museu Etnologico; cf. Portagalia , II, 638, ss. (Natividade). Cantigas po- pulares e rifões da roca. Obras aconselhadas: Dictionnaire des anüqaités de Rich; Lexique des anüqaités de Cagnat & Goyau ; Atlas antiquas de Justus Perthes ; Dict. d’hist. et géogr. de Bouillet; Companion to Latin stadies de Sandys. b) Amostras da natureza do comentário estilístico: — modo de indicar um número indeterminado: milibas trecentis em Catulo, carm. 9; hendecasyllabos trecentos , carm. 12; cf. Horacio, Satir ., II, 3, 115-116; — figura etimológica: pugnam pugnaref occidione occidi; cf. Madvig, Gram. Lat.f § 223, c, obs. 4; — sinonimia: pontas = «profundeza do abismo», pelagus — mxa.^ (uso poético e literário por mare)> saiam — adxo; «agitação das vagas», Oceanas = ’nxeaw$ (nome divino do mar que cerca 236 J. Leite de Vasconcellos a terra), mannor (metafora poética), altum (adj. substan- tivado); com mare cfr. al. Meer, gaulês more (em Aremo - rica), gr. Vcpí-w;, filho de Poseidon. — Obras elementares sobre o assunto: Petit traité des synonymes latins de Meiss- ner (trad. fr.), Namur, 1894; / sinonimi latini de Fava, Mi- lão, 1910 (Hoepli); — os olhos tidos na Literatura como tipo de valor e preciosidade: ni te pias oculis meis amarem (Catulo). Cfr. em portug. : «custou os olhos da cara», «amar como o lume dos olhos»; em hesp. : «valer una cosa un ojo de la cara», «costar una cosa un ojo ó los ojos de la cara». c) Comecei a dar algum desenvolvimento ao estudo etimologico das palavras, e consagrei-lhe bastante ‘tempo no l.° ano 0); mas para logo afrouxei, porque a mór parte dos alunos não sabiam suficiente gramatica, nem suficiente léxico, para poderem acompanhar com proveito êsse es- tudo, e entendi que era melhor insistir na tradução e na gramatica. A’s vezes o comentário serviu de pretexto para lições magistrais (no- menclatura adopíada na Lei das Faculdades): vid. as partes 11 e III do presente escrito. O conhecimento dos textos supramencionados foi ampliado com o seguinte: todos os exercícios escritos na aula consistiram em retroversões de textos de Cicero e Cesar, que na lição imediata a cada exercicio se corrigiram segundo o original, e se explicaram gramaticalmente, de modo que os alunos ficassem com uma ideia do estilo d’aqueles dois autores, que são os maiores clássicos latinos; marquei, para se fazerem em casa, traduções de vários trechos, diferentes dos que se estudaram na aula, e dos que serviram para as retroversões: três odes de Horacio (I, 2 e 21; II, 12); dois capítulos de Aulo Gelio (I, 19 e 24), e creio que também uma poesia de Ovidio (não me lembro bem, e perdi a nota, se a tomei); man- dei estudar de cór a ode horaciana do Fons Bandusiae , e, se não me en- gano, também a do Fauno (III, 18); dei muitos exercícios na pedra sôbre certos pontos de sintaxe e de estilo, exercícios que foram igualmente re- troversões de textos clássicos; finalmente mandei traduzir em latim nu- merosos trechos dos Exercidos do Sr. Epifanio Dias. 0) Obras modernas sôbre o assunto: Bréal, Dict. étymologique latin, Paris, 1886 Walde, Lateinisches etymologisches Wõrterbuch, Heidelberg, 1910. Três anos de latim 237 II — Lingoa Relação do latim com outros dialectos itálicos; Le parler de Préneste d’après les inscriptions por A. Ernout, Paris, 1905. Latim literário e latim vulgar. O latim no conjunto das lingoas indo-europeias. Revisão da gramatica latina. Obras aconselhadas: Madvig, Gramat. Lat. , trad. de Epifanio Dias; Valmaggi, Gmmmatica latina (Hoepli); Epifa- nio Dias, Gmmmatica portuguesa. Alguns pontos foram estudados de modo especial;: — classificação dos sons, e pronúncia do latim; rotacismo; Ablaut; ortografia 0). — prosodia, e sua importância para o estudo da metrificação; — pluralia tantum: não só nomes comuns ( castra , sata), também nomes geográficos ( Athenae , Pompei , Thebae , Philaey Gadesy Alpes , Sy- racusae) e religiosos ( Inferi f Manes , Lares , Le mures, Larvae); — flexões verbais: temas, etc.; — formação de palavras (2): nomes deminutivos (oculus <> al. Auge, gr. «|», é propriamente deminutivo; -c-ulu, -un-culu-); onomatopéia (pipiare = pi-pi-are); — uso dos casos; genetivo de exclamação. Cfr. w toü ôaúuaroç e o que dizem A. Dráger, Historische Syntax der latein. Sprache , t. II, 2.e ed., Leipzig 1878, p. 494, e G. Friedrich, no comentário de Catulo (IX, 5), pg. 117-118 da edição que a cima citei. Em português temos também, de algum modo comparável a isto, «ai de mim» (e outras expressões do mesmo tipo). — classificação das orações; — modos e tempos; — emprêgo do superlativo. Algo de métrica latina. Cfr.: Plessis, Métrique grecque et latine (Klincksieck); L. Müller, Métrica dei Greci e dei Romani, trad. ital. (Hoepli); W. Christ, Metrik der Griechen u. Rõmer , Leipzig 1879. O Obras aconselhadas: Breviário da pronúncia do latim de Gonçalves Guimarães, 1913; Phonétique historique da latin de Niedermann, trad. fr. (Klincksieck); Manuel d’ orthographe latine de F. Antoine (id.); Fonologia latina de Consoli (Hoepli). Vid. também Seelmann, Die Aussprache des Latein, Hilbronn, 1885. (2) Vid.: Teórica dei suoni e delle forme delia ling. latina de Schweizer-Sidler, trad. ital., Torim, 1871 ; Handbuch der lateinischen Laut- und Formenlehre de Sommer, Hei- delberg, 1902. 238 J. Leite de Vasconcellos Processos de fazer uma edição crítica: a proposito de Catulo, cujas mais antigas edições são do sec. xv. Uma das mais célebres edições d’ele é a que fez o nosso Aquiles Estaço (Achilles Statius) em 1566 (aldina), de que eu possuo um exemplar, e de que ha outro na Biblioteca da Aca- demia das Sciencias de Lisboa com uma dedicatória autógrafa a André de Rèsende O). Modo de designar os códices, por letras : T = codex Thuaneus, por ter pertencido a um literato francês, sec. xvi-xvn, Jacques -Auguste de Thou; V = codex Veronensis ; O = codex Oxoniensis (de Oxford); G = codex Sangermanensis (de Saint-Germain des Prés, Paris), etc. Notas críticas ao carme 50 (variantes): v. 1, GO ociosi ; v. 5, O illos; v. 10, GO somnos; v. 14, GO ad. — Erros gráficos que podem dar-se num copista: in animis por mammis (i. é, in = m, ni = m, faltando os pontos). — Leia-se sobre o assunto a Introduction à la critique des textes latins de Lindsay, trad. fr. (Klincksieck). Noções gerais de Estilística latina. — Obras aconselhadas, e de que em parte me servi na minha exposição: Phraséologie latine de Meissner, trad. fr. (Klincksieck); Stylistique latine de Berger, trad. fr. (id.); Stilistica latina de Gustarelli, Liorne, 1905. Vid. também: Les caracteres de la langue la- tine de Weise, trad. fr. (Klincksieck); Étude de la période latine de Labbé, Paris, 1891. III — História da literatura Quadro sumário da Literatura romana: ante-classica (primitiva; arcaica), classica propriamente dita, e post-classica. Influência grega. Literatura ro- mana, e literatura latina. Caracteres do povo romano revelados na sua literatura. Relações d’esta com os factos históricos. Alguns pontos foram tratados mais desenvolvidamente (como também aconteceu na gramatica), ou foram dados aos alunos para assuntos de exercícios: — literatura dramatica (fabula palliat a, praetexta, to gata, contaminata); — a eloqüencia e a retórica em Roma; — sentimento poético de Catulo, e costumes romanos revelados nas poesias d’ele; — biografia de Horacio; lirismo horaciano e lirismo grego; conheci- C) Os exemplares da edição de Aquiles Estaço são muito raros. Três anos de latim 239 mento da vida romana deduzido da leitura do liv. 1 das Epistulae de Horacio ; — fases literárias da vida de Ovidio, e Ovidio na literatura da idade média; — ideia da Naturalis Historia de Plinio num dos seus livros; — vida de Aulo Gelio; — o que é a Historia Augusta; ed. de Tropea; — poesia popular romana: cantos de amor (Horacio, Sat., I, 5,15; cf. Rev. Lusit.y V, 309); canções do berço (cfr. Rev. Lusit., X, 4); fórmulas nos jogos infantis, Horacio, Epist.y I, i, 59 ss. ; canções dos camponeses, Tibulo, I, i, 49-50. — Cfr. Teuffel, Histoire de la Littérat. rorti. (trad. fr.), t. I, § 11, nota 2; — letras latinas na Lusitania: Cornelio Boco, sec. i, e carmina epigra- phica , de várias épocas (cf. Religiões da Lusitania , III, 187-188); sec. v, Orosio (talvez de Braga), Idacio (Límico), bispo de Aquae Flaviae; sec. vi, S. Martinho de Dume, Pascasio, Apringio; sec. vi-vn, João Biclarense; sec. vii, S. Frutuoso; sec. viu, Isidoro Pacense. Obras aconselhadas: Hist. de la Littérat. rom ., de Teuffel, trad. fr.; Hist. abrégée de la Littérat. rom. de Bender, trad. fr. (Klincksieck); Leçons de Littérat. rom. de Lallier & Antoine; Litteratura romana de Ramorino (Hoepli); La Grande Encyclopédie. A melhor obra que conheço sobre o assunto é a Geschichte der rõmischen Literatur de Schanz, mas essa não está traduzida, que eu saiba, em lingoa mais acessível. * Está claro que neste rápido indiculo não menciono tudo quanto na aula se tratou; menciono apenas o principal. Não só seria aqui descabida a minúcia, mas até ha cousas que, ocorrendo á mente do professor na ocasião da lição, — e a que ele se refere, ou como ilustração do assunto, ou para instrução geral e educação dos alunos, — depois lhe escapam completamente. Para concluir, devo acrescentar que, apesar da boa vontade do profes- sor, e do empenho que mostrou de, em vez de palavriado, dar aos alunos noções uteis e variadas, estes, com raras excepções, aproveitaram pouco, pela sua falta de preparação liceal 0), pela nenhuma assiduidade da maioria 0) A falta de preparação liceal resulta de causas complexas, entre as quais a defi- ciência dos programas no que respeita a lingoas, e a especie de horror (incompreensí- vel!) que muitos professores tem á gramatica. 240 J. Leite de Vasconcellos cPeles 0), e finalmente, por não completarem em casa com estudo aturado as doutrinas exibidas ou anunciadas na aula (2). Os nossos estudantes to- mam muitas notas (quando tomam !), todavia não adquirem livros, nem lêem os que as bibliotecas lhes facultam. Falo, já se vê, do geral. Ora, indo os alunos, quando saem da Faculdade, exercer o magistério nos liceus, como poderão ensinar com consciência, e bem encaminhar os seus futuros discípulos, se não forem providos de solidos e extensos conhecimentos? O É necessário voltar em parte ao sistema antigo : freqüencia obrigatória, livros de texto obrigatorio quando puder ser, lições obrigatórias e sujeitas a valores, exames pelo ano adiante, etc. Sem isto, digam o que disserem os teoricos e os utopistas, andaremos para trás. A Lei que em 1910 reformou a instrução pública inspirou-se em nobres prin- cípios de liberdade, que são muito respeitáveis, mas os estudantes portugueses (falo sempre com restrições) entendem que «liberdade» quer dizer «cabulice». (2) Os nossos estudantes tem a noção erradíssima de que só devem fixar na me- mória o que o professor diz na sua cadeira. Em lições curtas (geralmente de menos de uma hora, porque os alunos nem sempre entram logo que se toca para a aula), e não numerosas (a escacez do número legal é ainda aumentada pelas férias que os proprios alunos, a seu talante, prolongam por três vezes cada ano !), que é que um professor póde ensinar, se os alunos não consultarem em casa expositores? O professor apresenta ideias gerais e factos sumários, ensina métodos, orienta, aconselha livros; compete depois a quem o escuta prosseguir sozinho, e com afan, no caminho que assim lhe foi indicado. — Costumo sempre tratar com seriedade tudo aquilo de que me encarrego. Falando pois do modo como falo neste escrito, mostro que tomo a peito o bem dos alunos. Nem eu desejo que eles vejam outra coüsa nas minhas palavras. Portugal precisa muito de in- strução. Todos os bons patriotas devem clamar por ela. Nota. — A revisão das provas tipográficas d’este artigo foi feita pelo auctor, que adoptou nele a ortografia de que usa. ARQUIVOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA f- <->-/ A ' -V ^ VOLUME II (Com uma figura no texto e XI estampas) LISBOA MCMXV