CURVO SEMMEDO

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M E M O R I A L

DE VÁRIOS SIMPLICES

Que da índia Oriental,d a America, e de outras par¬ tes do mundo vem ao noíTo Reino para reme- dio de muitas doenças, no qual íc acharàõ as virtudes de cada hú, e o modo com

que íe devem uíar.

1 \ ; ^ ,

A índia, e de outras partes da Europa vem para efte Reynf® muiíos remedios de íirgularcs viuudes, contendas, e anexâs a diff rentes pedias , raizes, pàos, k mentes, c frutos; roas porque nem das deenças para que ostaes remedios fci vem, nem do mo* do com que le devem applicar, haja algum rote iro impreffo que oenfine; daqui procede» que rendo munas pefloas em luas caías os ditos remedios, e padecendo varias enfermidades* quefaciU mente fc podiaó curar com dles, por falta de noticia dos pieíti* mos que tem os ditos rerredios, íicaõ fem utilidade algumaf e os doentes fem íaude * efta coníideraçao , e fentimento incitou a minha curíoGdade , e o zelo do bem commum, pan> que a cuílo de grandes diligeo* cias bafcaffc naõ a algumas pefloas, que afliftiraõ na Índia , e outras terras do mun§ do; mas defeobrifle vários papeis manuíeritos, para que informandomede hun^e ou* tros, foubefle com fundamento as virtudes das fobreditai pedras, pàcs? rai$e$, e fru« tos, e fizefle eíle Memorial em foccorro da natureza humana; fe por cite ferviço que faço ao bem publico naõ merecer agradecimento, naómerecerey reptehençaõ , c fema derem, acabarey de entender que ha homens taõ ingratos , e dc animo taôdepravadog que fazem por rnslnh, o que os meninos fazem por innocenciajfiiamaó o leite » s mor¬ dem o peito, que os íuftentou*

Os lemedios que vem da índia Oriental, e de outras partes, ou fejaô pedras, páor*oflbs£ frutas, (ementes, ou raizes, fs daó moidos* ou roçados em agua cormrma, outros os daõ niiíluradoscm agua de arroz, a que os naturaes daquelks terras chamaõ Ambatacanja;aU guns os daó em çumo de limaógaikgot eaqudks quefedaõ para as febres, fe bebem á entrada, e àdefpedida delias.

A txperiencia dos Mouros , e Gentios da Afia, foy a rneítr^quedeo o conhecimento paia o uío dostaesr médios. Também a txperiencia de alguns curioíos tem moftrado grandes proveito* , que muitas vez :s refulcaõ. das f u is operaÇoens , naõ encontrando a$ germes evacuaçocns da Medicinatde que os Panditos, que afliítem naqudlas terras, també ufaõ ddde o principio das enfermidades com qualquer defearga procedente, naõ dilatan¬ do tempo em os applicar : e n< íla forma curaõ as mais agudas , c malignas doenças, reguw lendo o tempo da íangria, purga, ajuda, ou vomitorio para o tempo do cordea'l,de manci- raque fenaõappliquetudonomeíinoinftante , nem le encontre hum remédio com ou¬ tro, antes faça cada hum o feu efieito livremente,

Muitos Médicos, t outras pefloas que o naõ íaõ, tem para fi que os bczoarticos * c re* médios que vem da índia, e de outras terras, nem fazem em Portugal as melmas maravi* lhas ,1 que fazem ns índia, e nas terras em que fecrearaõ, aflim pela differença do clima, como porque quando chegaõ cá, naõ temaqudle vigor, que tinhaõ nas terras em q naf* ceraõ. A cfta duvida rcípondo , que todos os íimpliccs coníervao as virtude?', com que Deos ocreou, em quanto no corpo dos taes fimplices naõ entra corrupção. Vemos, c t xperimentarnos^uc dos fimplices, que vem das Conquiílas para as boticas do noflo Rey-* no,fe Ía2em muitos remedios compoftos, etornaõ para as mef mas Conquiílas para fer vi¬ ço dos enfermos, e fazem os mdmos bor s iffwicos, quçfizcraé em Portugal vindo de

A diver-

2

MEMORIAL

diveríbs climas i e hndo muitos fimplices das boticas mais íugekos à corrupção, quê nenhum dos bezoaituos da índia, que cem duraçaõ muito mais larga 3 e perdurivd, ISFmfa ta homem curi To, que poderá moftrar muitos remedios, que vieraõ da Indta ha mais detiirttaannos, queeftaó hoje com asmefmas viitudesscom que vieraó daquellc Eftado , c fazem os mefmos bons cfíeitos em Portugal, que faziaõ na índia.

Iftoíuppofto como verdade experimentada, iremos tratando de cada hum desfimpli- ces com rclaçaó individual de fuas virtudes, começando p la pedra Bazar, que he a mais conhecida, e uíada , aflim em Portugal, como em todo o mundo.

PEDRA BAZAR SIMPLEZ.

Regimento , e virtudes da Pedra Bazar Simplez > ou natural , que nafcenos buchos de huns animaes muy femdhantes aos cabritmhos .

PRimeiramente he neccfíario examinar com grande cuidando fe a Pedra Bazar hc ver- dadeira , ou falta, porque, fe he verdadeira , obra cxcellentes efteitos, com cal condi¬ ção, que fe deve dar em quantidade de vinte e quatro grãos de cada vcz^orque^iando íó* menaeties, ou quatro grãos, como coftumaó dar ós barbeiros, que faô os Médicos da gente ordinaria, nenhum cíícito faz, pela pouca quantidade ern que a daó, e deftc modo íica o retnedi j infamado, a vida doente perdida , e o dinheiro mal gaftado^e naõ íucj cederia aflim, fe a pedra foíle verdadeira , eadeílcm na qu antidade fobredit*.

He ncceíTtrio que os Médicos principiantes advirtaó duas couías muito importantes, A prim; ira, que a dita pedra íe deve mifturar com cinco , ou íeis onças de agua c ommua cozida com efcorcioneira, ou com papoulas, ou com cardo fanto , porque os que daõ adi-, la pedra mifturada corn aguas deftilíadas , erraô o alvo em claro, p Ias razoens que os cu* riofos pòdem ver minha Polyanthtud a terceira imprtíTacín#. z. cap, i$o. foi. 67 A Icgundá coufs, que devem advertir os que derem a dua pedra, he, que a anftureoi Com cinco, ou ftis onças de agua comua cozida com qualquer das coufas fobreditas; por¬ que os que a daõ mifturada com duas colheres dc agua, como fazemos barbeiros, também erraô o alvo, porque taõ pouca quantidade de agua naó he vehicuío baftante para levar a pedra aos lugares diftantes aonde ha de fervir; mas mifturando-a com grande quantida¬ de de agua , faz muito bons efteitos nasancias do coraçaó, nos vàgados, nas faltas de ref* piraçaõ,eem todas as febres agudas 9 e malignas, dando*a a qualquer hora que a neceííi- dade o pedir, e fobre fangnas.

N as íuppreflbens altas da ourina tem a pedra B4zar, fendo verdadeira^ grande virtude, com tal condiç-õ, que antes dc a applicar, faç -*õ tomar ao doente hum vomitorio dc ires onças de 3gua Ben:dióh, ou dc íeis grãos de Tartaio emetico, ou dcmeya oitava de ca* pairofa branca, íangrando*o ao outro dia nos braços quatro veze s, ao outro dia tres.eao outro outras tres, porque como efte cafo hc taõ perígoíò, e aprcftádo, he neccfíârio faze¬ rem fe os rc médios com grande brevidade 9 porque 1c naõ ouririaõ ate o íeptimo dia, or¬ dinariamente monem:e por efta razaõ requeiro da parte dc Dcos aos Médicos principian¬ tes, que comecem inlallivelmente a curadas fupprefFoe ns, fejaõ altas, ou baixas, por vo- mítorios, e fangrias repetidas nos braços; porque cfte coníeiho fe funda na experiencia de cincocnta eoito annos,e nas muitas fuppreftbcns que curey felizmente por efteeftvlrt corno os curiofos podem ver nammha Polyanthea terceira imptcüàò trat.z.cap. 83/0/. 448. n. 37. u/f, acLfô, aonde achas àõ nomeados os doentes que curey defupprefíoens por cíte ettylo citando alguns dclles ungidos quando me chamàraõ.

Permita l -me haver feito efta digreííaô, porque me obriga o zelo da vida dos próxi¬ mos, a dar cfte ardo taõ importante aos prefcntcs,e futuros Médicos.

Tornando ao propoíito da pedra Bazar, digo, que depois de dados os vomitorios , e fángrLs altas , que faô remedios pieciUmente neceftarios para curar as fuppreflocns da ourina , fe da. a a tal pedra em quantidade de vime e quatro, ou de quarenta giãos mif- turados com oito onças de agua quentr, que primeiro ieja cozida com humâ onça de fào de favtira íeca , e em falta delle , Com meya onça de croca marinha, e em falta defta Com duas oitavas de erva íapinha, e melhor que tudo, com meya onça de erva chamada virga aurta. Finaimente ferve a pedra Bazar, applicada iia dita quantidade, para

taci-

DE VARIO S SIMPL1CES. 3

facilitar à camara aos dureyros, com tal condição que o doente a tome feis dias fuccefli vos eftando em jejum, mifturada com hüa oytava de cremores de Tartaro verdadeyros , deía* tando tudo em hum quartilho dc agua cozida com borragens, ou ameyxas. Digo, cremo¬ res de Tartaro verdadeyros, porque hoje vem de fora do Reyno muytos falíificadoscom pedra hume,& em lugar de facilitarem a camara, a impedirão Os que porém quizerem li- vrarfe dcfle eícrupulo, tomem, em lugar dos cremores deTartaro, hüa oytava de farro de yinho branco feyto em íubtiliflimo, & experimentarão grande facilidade na camara.

PEDRA CORDEAL COMPOSTA.

Regimento , & virtudes das pedras Cor deães compoftas.

EStas pedras não faõ creadas pela natureza nas entranhas de alguns animaes, mas faÔ compoftas por artificio j conftão de vários ingredientes, todos efeolhidos,6c dotados dc grandes virtudes cardiacas , & bezoarticas; daqui procede , que o artifice , que faz eftas pedras compoftas, hehum Religiofo da Companhia de JESUS, morador na índia, que as fórma mayores, ou menores, conforme as quer fazer : eftas taes pedras fendo feytas peias mãos defte Religiofo , tem virtudes fingulares para curar a$ enfermidades leguintes.

Nas febres malignas, & ardentes , quando o enfermo eft? ver com grandes andas , íe lhe darão 24. grãos pulverizados com íeis onças de agua comniua cozida com efcorcioncyra, ou com papoulas , ou com cereijas negras , porque tomando a neíta quantidade mitiga a quentura, ÔC a fecura,queafebre cauía,& f$z que a malignidade não commetta o coração, antes o defende, conforta, & nlegra:& fe o doente, ou peia grande fraqueza, ou pela muyta velhice appetecer vinho , le lhe daráò 24. grãos da dita pedra desfeytos em duas colheres de vinho gencrofo : nem pareça aos Médicos novatos que lie erro , ou temeridade dar efta pedra em vinho, porque graviffimos Authores o permutem, quando a fraqueza he muyto grande, por fer o vinho generofo promptiflimo rcmedío em reparar as forças, 8c alentar o coração, quando eftá muyto desfalecido.

A qualquer tempo que a melancolia apertar com os doentes , ou com os faõs, tenhão fe« bre, ou a não tenhão , fe póde dar a pedra na quantidade fobredita , fenão ouver febre , em vinho exce!lente;& íe a ou ver, em agua cozida com efcorcioneyra, ou com borragés.

Tomada a dita pedra em agua cozida com hutna oytava de raiz de contrayerva, ou dc ferpentaria virginiana, ou em falta deftas raizes , cozida com cardo fanco, he remedio effi- caz contra todo o genero de peçonha, affim bebida, como procedida de mordedura de vi- bora , de lacràos, de aranha , ou de outros animaes venenofos \ & íe applicará a dita pedra íobre a mordedura.

Tomada em vinho em jejum, preferva das doenças, que procederem doar corrupto. Cura por modo de milagre aos leproíos , ( nao eftando ainda confirmados ) com tanto que fe tome dous mezes fuccefíivosem jejum, mifturando 2 4. grãos delia com outros 24» de anrimonio diaphoretico calcinado quatro vezes , & reverberado duas horas com fogo forrifíimo, dando tudo em meyo quartilho de agua commua levemente cozida com flor da arvore buxo, por fer adita flor muyto purificativado íangue íalgado, & dos foros morda¬ zes, 8c corrofivos.

Para as pe fidas nujyto efquentadas do fígado íe tomao 24. grãos da dita pedra, por íem; pode dous mezes, em jejum, em meyo quartilho de agua cozida com a raiz da brafiica ma» ri na, ou do vimal, porque qudquer deftas ervas tem dficaciííima virtude para temperara quentura do fígado, & entranhas.

Tornada a dita pedra , por quarenta dias em jejum , em meyo quartilho de agua cozida com hüa mao chea de folhas de cípinheyro alvar ,a que chamamos Rhamno, 8c com lima¬ do ras de ofio de veado, mata infallivelmenteas lombrigas, & cura as comichões, & coftras, ou boftelasdo corpo.

Tomando por feis dias continuos em jejum 24 grãos do deita pedra cm quatro onças de vinho do Rhtm, ou branco, em que ouveífe eftado deinfuíãohüa oytava de da raiz da butua , ou de pào da faveyra feca , ou da erva chamada fapinho , ourinãrá o doente , 6c fe livrará da fuppreflao da ourina, por mais que íeja rebelde, com tanto que tenha tomado no primeyrodia hum vomitorio de feis grãos deTartaro emetico^ou de nes onças de

A 2 agua

MEMORIAL

agua Bsnedièta , 8c íeis fangrias nos braços por dous dias fucceflivos.

Confeflb ingenuamente , que depois que ( por mercê de Deos , 6c boa fortuna do^ doentes ) inventey o meu Bezoartico chamado Gurviano contra as febres malignas , bexi¬ gas, doenças venenofas, não ufey mais de pedra Bazar , porque fuppoílo tenho muyto bom concey to delia , fendo verdadeyra, ofFerecem-fe-meajgumas duvidas , & razoes muy forçoías para a não ufar , porque vejo que da índia vem cada anno arrobas , 8c arrobas dei- las; & he moralmente impoílivel que tanta quantidade de pedras fejaó verdadeyrasjôc alèm deita razaõ , me confia de peíloas fidedignas , que eftiverão na índia muytos annos , que nem todos os animaes , em que as taes pedras íe criaò , as tem , & quando algum tem duas, he milagre: logo razão tenho para não ufar delias, íalvo me confiar certamente que íaõ verdadeyras.

E no que pertence ás pedras cordeaes compoftas , fe meofferece outra grande , 8c muy jufiificada deíconfiança para não ufar delias, & he , que os meímos Religioíos da Compa¬ nhia de J ESUS, que em Goa as fazem verdadeyras, & merecedoras de tod3 a eftimação, fe queyxão que íe falíificaõ, 6c fe eípalhão por todo o mundo com o decorofo nome de fe¬ rem feytas pelos meímos Padres : 6c prouvera a Deos que ouvefie taes falfificadores; mas tarnbem em Lisboa ha quem falfifica as taes pedras ,& as faz tão parecidas , 6t íeme- lhantes com as verdadeyras , que não fe conhece o engano, & falfidade delias, íenão depois que íe partem a!gumas,& feacha que íaõ feytas de barro de que fe faz a louça branca, a que chamão greda : á vifta pois deites enganos , & falfidades razão tenho para não uiar das pe¬ dras cordeaes compofias, laivo me confia certamente que faó feytas pelos Padres da Com¬ panhia de Goa , aonde fe fazem verdadeyras , por fer fegredo que foy do Padre Gaípar Antonio86í por íua morte pafibu ao Padrejorge Ungarete,6c hoje paflou a outroReligio- ío, Boticários todos da meíma Companhia, & grandes artifices na Árte Pharmaceutica.

Por me tirar pois deitas du vidas, 8c embaraços da minha confciencia, ufo fempre nas fe¬ bres malignas , & nas bexigas , 6c aonde vejo ancias do coraçaõ , do meu Bezoartico , de cujas virtudes, 8c maravilhoíos proveytos eftou certo , não pelo que tenho viíto , ex¬ perimentado no difcurfo de yo. annos; mas pelas noticias que de todo o Reyno ,6c iuas Conquiítas me tem vindo por cartas gratulatorias , que tenho guardadas para moítrar aos que duvidarem da minha verdade.

Os que com o meu Bezoartico quizerem fazer curas i quepareçao miíagrofas, devem advertir tres couf»s muyto neceflarias. Aprimeyra, que o Bezoartico feja verdadeyra- mente meu . 8c nãofalfificado, como hoje íe vende muyto neíta Corte, 6c em todo o Rey* no, 8c fuasConquiftâs debayxodo meu nome, íem lhes fazer efcrupulo enganar aos*do- entes em matéria tão importante como he a íaude, vendendo hum remedio falfificado com o nomede verdadeyro, fazendo deite modo dous furtos , hum do dinheyro que devem jreílituir, 6c outro das vidas que não tem reftituição, A fegunda , que o tal Bezoartico , fe fe der em pò, íe em quantidade de meya oytava para cada vez;& fe íe der mifturado com cozimento de efcorcioneyra*& pevides de cidra , (como cuo dou ) fedeytem tres oyta- va$ delle em cada ineya canada do tal cozimento, 6c de oyto em oy to horas íe ao doente hum a discara de íeis onças , porque os que derem menos quantidade,ou o derem huma vez no dia, costio alguns o dão, não farão grandes curas; he neceííario continuallo todos os dias duas, ou tres vezes, em quanto o doente tiver ancias, ou fymptomas malignos. A ter» ceyra , que fe applique, tanto que o Medico vir algum final da febre fer perniciofa, & ma¬ ligna, fem d pera r que os doentes eftcjao agonizando, como muytos fazem; donde fe fegué dous grandes dam nos : o prjoieyro he, morrerem os doentes , porque lhes acudiraõ tarde com o jemedio, que lhes podena íalvara vida,fe foíleapplicado a tempo : o fegundo he in¬ famar o remedio, 6c ficarem os parentes dos mortos atemorizados para o naõ quererem to¬ mar em outras occaíiões, por mais perigofos que íe vejaò.

. Pedra de Porco EJftim natural , & fucu virtudes.

A Pedra de Porco Efpim verdadeyra, he hum dos melhores antídotos, que vetn da In* ^ V día para remedio da íaude, como íe deyxa ver aflim pelos bons eífeytos que faz, como pelo muyto dinhcyro que va!, porque qualquer pedra do tamanho de huma azeytona pe¬ quena, cu fia ao menos cem mil reis.

Entre as virtudes que a dica pedra tem , 'a principal he ,íer grande antídoto das febres

mali ,

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DE VÁRIOS SIMPLICES:' J

malignas , de forte que depois do meu Bezoartico Curviano , de nenhum outro remedío tenho vift(7 tanta utilidade como da tal pedra. Oíinal deelíaíerbem fina, 6c verdadeyra he, que metendo-a em agua hum quarto de hora, a faz amargoíiffima , & tanto mais amar- gofa a fizer , tanto moftra que he mais fina , &excellente. A quantidade quefe da tal sgua,faõ tres,ou quatro colheres para cada vez, advertindo que a tal agua íe deve dar pu¬ xa , /em lhe mifturarem outra agua, como erradamente fazem alguns bai beyros,& a gente xude, dando por razaõque he quente, 6c que para lhe moderar a quentura ,& o amargor, a deftemperaõ com outra agua ; & não advertem eftes pobres homens , cegos na luz do jmeyo dia, que ao pafib que lhe abatem o grande amargor, lhe enfraquecem, & tirão a vir* tude ;& que quando os doentes podiaó íal vara vida, 6c vencer a febre , ie tomaílem a dita água pura, 6t com toda a fua virtude , 8c amargor , fe achão enganados , & preíos com os grilhões da morte.Não façoeftas advertências para os Mcdicos doutos, 6c expe/ imétados, laço-a para os principiantes,& para os Girurgiões, que curão em terras aonde não ha Me¬ dico , & para as pefloas leygas , êc ignorantes de Medicina , porque eftas como conhecem asconíás fuperficialmente,& íó p la caíca , cuydão que fe derem a dita agua pura , & com todo oícu amargor, que mataráõ aos doentes, ou lhes augnmtai áó a febre , & por eíta ra- saõa deftemperaõ, lhe tirão a virtude , do mefmo modo que a tirarião , os q ue tiraílem o amargor à quinaquina: & agora faberão a razão porque faõ c*õ prohibi ios os doces >6c cs azedos aos quetomaõ quinaquina , ou agua de Inglaterra; porque coma a virtude d& quinaquina confifte no amargor, quem lho tirar, ou rebater com muyca quantidade de do* ce, ou de azedo, a deytou a perder. DiíTe, muy ta quantidade de doce, ou de azedo;porque le o doce for tãó pouco como humaazeytona,ou como huma avelaa, nenhum dam no faz, porque para o fazer era neceflario que o doce, ou azedo foliem tantos que rebateflem , ou apagaíkm o amargor da quinaquina; mas como fendo o doce pouco o não rebate, não pode fazer damno,como me conft<* por mil experiencias ; porque os permitto àquelles doentes, que eftãocoftumadosa nao beber agua fem doce. Vejaõos cunoíos a miftha Púíjanihea terce y ra impreflaô íobre efte ponto tratt.z. eap . 1 05 .foi. yyo. mm zz.

N em íó he efte o erro que fazem os que deftemperaõ a agua de Porco Efpim, pai a lhe ti~ rar o amargor, 6c quentura;outro commettem muyto peyor,& he, que levados do ruftico medo, de que a agua de Porco Elpim he quente, não fe atrevem a dar mais que huma co¬ lher deila para cada vez, fem advertirem que tão pouca quantidade he pequeno remedio para vencer huma doença tão venenoía,comohe huma ftbre maligna : eu nunca dou me¬ nos de quatro colheres para cada vez ; ôc tive alguns doentes , para quem fuy chamado fe- tando ungidos, & agonizando por caulade febres malignas , a quem dey tres onças da dita agua, Sc com dia os livrey da morte.

H um caio deíles obfervey em cafa de Manoel de Caftro Guimarães , Eícrivaõ do De¬ feni bargo do Paço. Outro cafo luccedeo com Dona Antonia Mauricia, Religiofa de San¬ ta Clara, para quem fuy chamado eftando com o feirro na garganta , 8c com o officio da a- goma rezado, & dando lhe por meu confdho quatro colheres de agua de Porco Bípirn, mifturada com cinco onças do meu Bezoartico, efeapou da morte, & vive hoje por mercê de Deos, Sc beneficio deite remedío. Naó refiro outros muy tos cafos felizmente fuccedi- dos com a aguade Porco Efpim ciada em mayor quantidade , 6c mifturada com o meu Be¬ zoartico, por naó enfadar aos Leytores; por tanto digo, que nas febres malignas , 6c ancias do coraçaõ fe devem darao menos tres colheres de cada vez, fem ler deftemperada.

Nos íoíuços,ou fejaò procedidos da febre fer maligna, ou de ventofidaíes , obra a dita agua efteytos maraviíhofos, de que pudera allegar ínnumeraveis exemplos , lenaõ temèra enfadar.

Nosaccidentes uterinos he a agua de Porco Efpim remedio taõ efficaz, que parece di« vino, como me confta por alguns calos, a que meachey prefejite, em os quaes dey tres on¬ ças da dita agua,& obrou effey tos maraviíhofos.

Nas dores de cólica, a que os Naturaesda índia chamaõ Mordexim, obra também a ditá agua prefentaneos proveytos.

N as dores, Sc pontadas caufadas de frio fe tomaõ duas onças de agua de macella , em que a pedra de Porco Efpim eftivefle de infuíaõíeis Ave Marias, & obra por modo de encanta* mento.

Finalmente fe a Medicina temefpadas de mais demarca, que fejaõ capazes dc reíiftir^ contender, & vencer as febres malignas, faõ íó a pedra de Porco Efpim» éco meu Bezoar*

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6 M E MO R IA t

tico Curviano ] porque de todos os mais remedios \ de que o pòvò èfaz grande efti ms çaõj faço eu taõ pouco caío, como da Jama da rua. Ifto diz hum Medico ,quefobie yo.arlnòs de experiencia, tz 79. de idade, tem livrado da morte com eftes dous remedios a infinitos doentes, que por cauía de febres malignasj&de veneno que lhes derao para os matar , eí» tavão expirando, como os curioíos podem ver na minha Polyanthea da terceyra impreflaõ ácfol. 6f 4. atè 662, aonde acharàõ nomeadas as peíToas* que tirey da fepulcura com osdi* tos remedios, & podem ler teftemunhas deita verdade.

Dente de Porco Efiim , & fu as virtudes.

ROçado 0 dente de Porco Eípim em pedra de fular, ou feyto em fubtiliflimo , teih grande virtude contra as febres , contra as dores de cólica, 8 1 dores de pecUaj he grã-, de çoncraveneno, 6c faz grande provey to nasdores, & torceduras da barriga.

Pedra de Cananor , & fuas virtudes *

A Pedra de Cananor, ou he verde como limos do rio,ou amarella como enxofre, ambas faõ boas.ÕC de ambas ufao os Médicos*, mas a verde fe eftima mais. De qualquer del¬ tas pedras moidas , ou iuladas muyto íubtilmence , fe faz com agua da fonte humaagua chamada de Cananor, ou de pedra fria: defta agua fe ufa geralmeme em todas as febres , & he muyto bom cordeal, mas lerá muyto mais fingular, fe a agua, em que a tal pedra íe pre¬ parar , forprimeyro ferrada com ouro virgem, & deite modo ufando-ledella por algumas manhãs em jejum, heexcellente para os doentes eíquentados do figado, Sc para os quepa* decem amargores de boca , osquaes ordinariamente procedem de grandiffima quentura das entranhas , 8c do figado , ou de comerem muyta quantidade de doces , porque fe con¬ vertem em cólera.

Também fe uía delia para a ínflammação dos olhos, fetn fer ferrada, 3c para a inflam ma- çaõ da garganta, & boca, gargarejando com ella ; defta agua fe coftuma dar meyo quarti¬ lho para cada vez, 6c íc pode repetir duas vezes 00 dia , ou na declinação da febre, ou algu¬ mas horas antes de entrar ; refrefea muyto , 8c adoça a acrimonia dos humores , por certa virtude occulta abforbente , abranda os incêndios do figado , õt entranhas naturaes , com manifefto alivio dos enfermos.

Se as amendoadas, q íedão aos que não podem dormir por caufado grande incêndio das febres5ou pelos vapores, que havião de conciliar o íomno, íubirern muyto quéces ao cere- bro, fe fizerem na dica agua de Cananor, terão os queaflim as tomarem , conhecido alivio. He máravílhofa para curar as iârericias , tomada nove dias em jejum , 8c mifturada com a agua que deytar de íi huma clara de ovo frefeo bem batido.

Ouvido do Peyxe Boy, & fuas virtudes .

O Ouvido do Peyxe Boy tem grandes virtudes j as que atè efte tempo íabemos, 6c de que fe tem experiencia, laò, que aproveyta muyto para curar os dqueruamentos qualidade gailica, cura as camaras de toda a íorte, principalmente as de langue , grande alivio nas dores de pedra, 8c da bexiga , faz deytar as areas dos rins : applicafe moído em íubtiiifTimo, em quantidade de vinte 6c quatro grãos, em agua cozida com raiz de Ononis, chamada Rilha Boy , ou Reatora Àratri , ou com a virgaaurea , que íao muyto próprias para deytar a pedra ,6c arca, tomada duas vezes cada dia. Se fedei paraardores daourina, ou queyxasdosnns, fe dará em agua deftiilada de fiorde favas ; 8c Se íe der pira osefquen» tamentos galiicos, íe dará cm agua hem cozida corn falia das hortas , conunuando-fe quin¬ ze, ou vinte dias em jejum.

Pedra Candar,&fàas virtudes.

Á Pedra Candar, chamada vuígarmente pedra Quadrada , porque verdadeyramente o JLX he, tem o feytio de hum dado,& tem cor de ferro,& he muyto pelada ; trazem a dos confins da Tartarea os Jogues, os quaes dízern que tem muytas virtudes, 6c por cfta razão a furão, 8c pendurão ao pefcoço cahida íobre os peytos, chegada à carne.

Serve

DE VA RIOS SIMPLIC ES. 7

Serve efta pedra, atada ao muículo da perna dquerda, para facilitar o parro, eftandoa mulher em termos de parir , porque a txperi . ncia tsro moftrado, que apphcada nefts e fi¬ tado obra o que le deieja* £ nj caio que cita diligencia naõ ba (te, esfregarão a dita pe¬ dra, mcyo quai tode hora, com, huma onça de oleo de gergelim quente, e o dara® a beb r a mulher, e log^parira, edeitarà as pareas, e a criança fcm rifeo, nem perigo da mãy; advertindo, que tanto que a mulher p rir , e deitar a criança , e as pareas, fc tireiogo logo a dita pedra, porque íea dcix rem ficar atada muito tempo fahirà a madre fòra da ku lugar, e as.encranhas todas, como cu vi, c obiervey em huma mulhe rna ruadas Ga» veas, a qual eftando muito apertada iem poder parir $ fe apphcou a dita pedra, e por¬ que íe ddcuidaraõ de a tirar tanto que pm >, fáhio a madre íòra do leu lugar, cfoy necefíario applitallaem fímapara que a madre fe recolhe (Te.

E porque algumas mulheres fàõ melíndroias, e inimigas de tomar remedies peia boca9 baitaià que com o oleo de gergelim, cm que íe esfregou a dita pedra hum quarto dc ha» ra, íe estreguc todo o ventre , e embigo à roda, com a mefma condição , que tanto que a mulher parir, fe alimpe muito b:m o azeite.

Serve a agua da 1 ua infufaõ , ou cm que cftiver fafpada qualquer migalha da dita pe¬ dra, beb, da por tempo de hummez, para curar os fluxos de langue das almorrcimas* por mais copiolos, e teymoíos, que lejaõ, com duas condiçoc nà; a primeira, que o doente nem b ba vinho, nem coma iguarias adubadas com cfpeciarias\juemes: a íegunda, que a agua em que fe fizer a infufaõ , feja primeiro cozida com huim mãochca de erva po« liga no, chamada dos Herbolarios erva andorinha.

Heexcdlcnte para curar fas vertigens, e defmayos, com tal condição, que íe deite de infulaó por tempo de duas horas, ou íe esfregue tempo dc vinte Ave Marias em tres on¬ ças de agua de cerejas negras , ou em agua ordinaria* em que primeiro fe cozeík leve- mente meya oitava de mangerom* Quem tomar eíle remedio por vinte dias lucceífi-: vos, conhecera grande ajivio. He boa para a melancolia, deitada de infufaõ em agua de borragens, ou de erva cidreira.

Para as dores de cabeça fe b bem alguns dias em jejum duas onças de agua dc cardo fanco, em que a dita pedra eftivefle duss horas de infulaó*

Nas pontadas , nas cólicas , nas dores de ventre , c nos Pleurizes, tem a dita pedra pro^ digioíajvirtude, fe deitada de infufaõ, ou ròç^da em quatro onças de agua dcftillada das cabeças dc macdla , a derem a beber aos que tiverem qualquer queixa deitas. Nem faça medo sos Médicos me d rolos o lera agua da macella quente, para deixarem de a appii- Cf»i j porque Euítachio Rudio,que foy Lente de Prima em Padua,e Galeno que foy Orᬠculo da Medidn?, louva® por ioberano rçcnedio para os Pleurizes, infhmmaçocns inter¬ nas a tal agua ainda fcm ter ajudada da virtude da pedra Candar, quanto melhor ferá acompanhada com cila f Galeno lib . medicam 30. e Eítachio hb.

Fleuritide, mihifoL 173.

Nas dores de pedra, e difficuldadcs deourinar, ebra < fTeitcS admiráveis, com tal con¬ dição, que o doente tenha tomado primeiro hum vomi torio de agua Benedita , ou de Tartaio ecnetico , e algumas fangrias nos braços; e feita efta preparaçaõ , le roçara a pe¬ dra por hum quarto de hora em quatro onças de vinho do Rhim , fe o h uver, c em lua fslts, em vinho branco, ajuntando a eíle vinho huma onça de çurrio de limaó azedo, e íeo doente naõ quizer tomar o remedio em vinho, o torne em agua commua3cm que te tenha cozido meya oitava da raiz da butua, ou de Emente da bardana,ou dacfteva»

Atando efta pedra íobre o emb go , taz recolher as tripas aos quebrados, fc m embargo de qoe eu eníino outro remedio muito mais experimentado para recolher as tripas, que le achar a no livro das minhas Obfervaçoens Latinas, e Portuguczas, na Obf. ^i.pag.z$% & 253,

Para os que tem 0 fangue pizado,ou coalhado por caufa de alguma quèda, ou pancada, o adelgaça outi a vez , e o faz capaz para que fe continue a circulaçaõ pnncipaimeote ie atai pedra for reçada em fc is cnças dc agua cozida com duas oitavas de raizes de vinct* toxico, ou folhas de cerfolio, aque ajuntem humefcrupulode eíperma ccti.

Quem beber por leis mezes agua ievemente cozida com huma ma® chea de flor de ver» bafee , na qual agua depois de coada roçarem a pedra Candar, expeament^râ uiaiavi® lholos cffeitos nosbocios,e alporcas.

Tema dita pedra grande daminio fobre a melancolia, roçando*a em agua de borragês,

Para

s MEMORIAL

Para cs que oui inaõ ianguej, fc daõ cinco onças de agua de tanchagem, etn que k roí çcu cila pedra»

Para afihma, roçada em agua de bofta de boy deílülada etn Mayo, he gran Je remedio^

pedra da cabeça da Cobra de P ate , a que vulgar mente cbamad Pedra de

CHombaça , Virtudes que tem te como feapplica.

ESta pedra he gerada m cabeça das cobras, que fe criaõ nos bofques da P ha de Pate cem muitas virtudes; mas a que excede atodas, he em faciiitaro parto, acmda-a aomufculo da perna efquerda , quando a mulher eíti ver apertada* em termos de parir, porque certamentc parira logo* mas he neceflano advertir * que cancoquea mulher dei¬ tar a criança, easpareas* íe tire logo logo a pedrs, porque de outra íorte fatura a ma- dfe fora de feu lugar.

Moída muito íubtilmente , e dando defte o pezo de vinte grãos de trigo em tres onças de vinho branco, ou em íeis onças de agua cozida com alfavaca dc cobra, ou com ineya oitava da femente das carapetas da eíte va, mitiga muito as dores de pedra, eafaz lan ;ar.

N as fuppreíToens altas da ourina tem muita virtude, com tai condição que antes de i darem , come o doente logol »go no primeiro dia da íupprcílaó hum vomitorin de tres onças de agua Bcnsdiéta, ou dousefcrupulos ds vkriolo branco formado em piíulas ; ou íeis gãrosde Taruro emético.

Serve para as dores de cólica , e para toda a forta de feòre,e para toda a mordedura de bichos peçonhentos, aflim tomada por dentro, como appiicado o delia í jòíc a morde¬ dura.

Serve, tomada em vinho, ou em agua cozida com ícmente de biínaga fparaQ$acci- dentes uterino^ E finalmtnte ferve contra toda a peçonha, ou veneno, que pur erro, ou maiicia íc deu pela boca , e tem as mefmas virtudes, que ieattribuemà pedia Bzar verdadeira.

Caetano de Mello deCaflro* que foy Vifo-Rcy da índia, tem atai pedra, quehere* donda.cchea decícamas corno calca de pinha. Certifica o dito Senhor Viib-Rey, que para facilitar o parto, tem prefentanea virtude, como lhe contta por mil expcnencias.

Pedra Safira, e fu as virtudes.

SÊndoa pedra fira prefeitífiima, temquafi milagrofa virtude para fazer abiiros olhos aos doentes , que por caufa de bexigas os tem caõ inchados * que os nao podem ebrir : tnas esficg ndo a dita inchaçaõ com a dita pedra, por tempo de quarenta Ave Marias, infalli elmente os abrem; couía que he muito necdfari^, para que pelo muito tempo de eílarcn fechados, fe naò gere alguma ne vos, como muitas veies íuocede.

Nos antraze^e arbunculos peíHknciatS,obra efeitos maravilhoíos, rc çando-oscom a dita pedra; porque faz exhal r o venero, Como fe fofie f umo por huma chaminé ; affim o certificáo Vanhelmontsj Gurynerc, e outros Doutores gravifiimos*

Pedra de Cobra de Dio} e fuas virtudes .

EStas pedras naô faó naturacs, hb artificiaes, c huma família uníca de Gentios daque!- la Cidade tem o fegredo , c f az toda a quantidade ddlas, q fe cfpalhaõ pelo mundo. A principal vntude dcílas pedras he contra as mordeduras des bichos peçonhentos; poíla fobrèa mordedura ccm advertência, que fe naõ tiver fangue,fe farà na mefma mor¬ dedura com o bico de hum alfinete, para pegsr apedra, a qual fe deixa eílar pegada stè cahir por II , depois íe deita em leite , ouaguarofada,e fe alimpará, ou enxugará, muyto bem, e íe hade repetir a pofluraern quanto pegir, e tanto que naõ pegar, eila acabada a cura,e he final infailivcl dc ter tirado todo o veneno.

Também ierve, feita em pò,e bebida , para a dor de cólica; epofta nas bexigas, tam¬ bém obriga a íahir , ou inchar com prdleza. Nem falta Author grave que nas febres malignas,em que houver pintas, as manda picar ,e pôr lubre a picada as ditas pedras,pçU grande virtude, que tem de chamar para tora o veneno, e mahgnidade.

Ddla

DE VÁRIOS SIM P L ICES.

9

De ita pedra renho vifto msravilhofos c ff ei tos poíla íobre as mordeduras de aranha, ou de quadquer bichos venenoíos, porque chupa, e attrahe para fi todo o vemno,e he cou- fadigna de adtniraçaõ ver como desfaz as inchaçoens procedidas das mordediuas vene* nofs?, por mais grandes, c disformes quelejaõ, Jem que haja defearga alguma, nem deí- pejo manifefti por íangrias, camaras vomitos, fuor, nem ourina , por onde a inchaçaôfe dcsfizeíír. H- porém de advertir, que tanto que a afta \ edia cahir, íe deite logo logo em hum pouco uc leite de mui her, ou qualquer outro, porque naó le deitando, fica o veneno dentro na tal pedr?, e rebenta feita em pedaços.

A hum criado do Doutor Franciíco Rcbaílo Freire, mordeo hum bicho de taõ vene- nolaiqualidadr,quc em menos de huma hora lhe inchou o braço taõ disformement:3, que fc y nectíTario rafgarlbe a mangi dogibaópara lho dcfpirem , e eftando o pobre lacayo com inf port VlÍs ancias, c ddmayos, íe lhe applicou a dita pedra , c brcvemencc dtfiti- choute ficou ísõ. A huma filha de hum livreiro, morador naj-ya Nova, mordeo huma ara* nh à em o rcfto,e inchou de tal force que ninguém a conhecia, e tendo noticia que eu ti¬ nha efta pedra* ma pcdío,e pondolha definchou, e (arou em breves horas, O meímo bom eflfeico defta pedra tenho vifto cm varias mordeduras de aranha, Efhme-fe muito a tal pedra; porque ccrciffimamente aproveita nas mordeduras venenolas, nem atè efte dia faltou em fazer efte proveito a todos, que fe valcraõ dclb* Com tal condição, que feja verdadeira, porque a malijia, e ambiçaõ dos homens a falcificaó hoje»

Pedra Pauzari> e fuas virtudes.

EStas pedras vem de Babylonia onde fe criaó, e faõ raras. Pauzarí quer dizer, liza* a cor he de azeironas d’El va, e feitio, mas h mayor.

Pofta íobre os rins tem vittude tfficaciflima para quebrar a pedra, e tirar a dor em breves horas; para a íuppreflaõ baixa , pofta íobre a bexiga, he muito eftimada de todos os Príncipes da Afia. '

Erva do Paraguay, e fua virtude ;

DAsIndiasdeCeftella vem a Cadiz huma erva , chamada Paraguay, da cjual erva deita huma pouc ■*, quanta feja hum pugillo,em quatro onças de agua bem quentef e depois que agua tiver recebido t m fi a virtude da erva, fe coará , é íe dará ao doente huma chicara.e com ella alimpará bítnoeftomago por vomito com grande fuavidade, c brandura. Obra cffcitos maravilhe los ecn t das as doenças, que procederem do eftomago*

Caranguejo de Aynao , efuas virtudes .

TEm tal qualidade o lodo, ou baza do mar das terras de Aynao da Província China, Ilha vizinha dcM .cào, que o caranguejo que íe mete naquelíe lodo , íe conve te totalmente cm huma dura pedra , c fe enchem , c unem todas as partes delk„ corno íe foííe huma coufa lavrada , e engaftada pela natureza; o que íuccede em muy breve efpaço, por que cs que fe metem n.fta baza, ou lodo, logoficaõ immovei$;o que fe com os olhos, cm quanto a marè vaza.

O mate, ou baia defta pr?yade Aynaõ tem a? mefmas virtudes que o caranguejo; po« rem nem toda a praya faz cfta converfaõ de caranguejo em pedra^ fe naõ huma parte defta Ilha, que he a em que vive o S. FrancifcoXavier.

Moidà cfta pedra com vmagr:, e appiicandoa muitas vezes no dia, desfazer todo d genero de mch&çoens,e carnofidades duras, e bcrniis carnolas.

Huma oitava de pefo deftc caranguejo feito cm fubtilifíimo, e mifturado com íeís onças de agua tomada duas vezes cada dia , cura por modo dc milagre as camaras de farçgue, e os j uxos, repetindo efte remedio cinco,\ou íeis dias.

Huma oitava dcfte caranguejo de Aynaõ, feito em pò, e mifturado com agua roíadag’ e çurno de limão gallego, ferve p. rr todo o gmero de febres com abafamentos A mcíma quantidade tomada cm bom vinho, íer ve para as camaras foltas.

A xnefma quantidade botada em agua deftiilada de cerejas negras, ou era agu^cozída com raizes dc valcriana agreftc,tcm grandiflima virtude para curar os accidentes ds gotta *"“'’** . . ' coral 3

10

MEMORIAL

coral, conunuâft lo fe muitos dias, depois do doente bem purgado.

Moída em agua cura aefquinencia , untando a garganta com eila p3rfòra,e guga« rejando muitas vezes com a tal agua*

Moida a tal pedra com vinagre* c untando o antraz, ou apoftema, faz maravilhofo efc*

feito. _ .

Moida em agua íc a todo o genero de febres* no principio, e dcclinaçao dellasj

com tâõ bom effeite, e melhor que a pedra Biz* r.

Moida com bom vinho ferve para cólicas , e mordexins , nas quacs doenças obra ma*

ravàlhas.

Moida com agua rofada, ou ordínaria lançando-a nos oíhoâ doLrofos.e iníiamma® dos, os curamaravi hoíamente.

Os Naturaes daqudía liba, onde fe achaõ as pedras dos caranguejos de Ay naõ , le cu- raõcom cilas em todo o genero dc achaques j c os mcfmos eífeitos fazem em todas at mais partes como a expericncia tem moítrade»

t * . . . v . ' , . " < ^ * i -.

Vente de peixe mulher virgem % e fuas virtudes .

SErve para eftancar os fluxos dc íangue da boca poftoíobrc o peito, e para eftan» car o fluxos baixos, poíb peia parte baixa.

Serve trazido atado no braço dquerdc,ch. gado à carne, cõtra o ar*acci jcces*e vagados

Coftella de peixe mulher virgem 3 e fuas virtudes .

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SErve, preparada era agua , e b bida, para as febres , c para as dores de Pieunzes poncadasjecftupores , advertindo que naõ fendo virgem, naõ tem virtude.

Priap õ) ou genital do c avalio marinho, e fuas virtudes*

D Ando a beber meya oitava do do p>iapo do cavallo marinho mifturadoconi feis onç s de agua commua cozida com hum pao defaveira feo* ou com duasoita* vas de raiz de Eroca Marinha, ou com cafcas de rabãos, provocamuitoaourinafuppn-» mida, com duas condiçoens : a primeira, que o doente tenha tomado primeiro que tud© hum vomrtorio dc feis grãos de Tartaro emetico , ou duas onças ds agua Benediâa» fangrando-fe ao outro dia quatro vez^s nos braços, eaoutrodia tres, coblervandoeites coníelhos certamente ourinatà muito o doente*

He remedio eítupendo para os pleurizes, e camaras dc fangue, como fe tem íabido por innumeraveisexperierciaS, com t f condição , que fe dará para cada vez meya oitava do dito po miíturado para os Pieurizcs em agua cozida com flores de papoulas, ou com a caf* ca da raiz de bardana ; e para c miaras em agua cozida com alquitira, repetindo*fe cite lemcdio tres vezes cada dia, afleguro he grande remedio.

i.

PriapOy ou genital do Fe a do .

T Em maravilhoía virtude para as camaras de fangue, e para as pontadas do Pleuriz^ dando meya oitava do feu pò,miíturado com agua cozida com papoulas , continu*; andoo tres, ou quatro dias peia manfaâa em jejum, c às noites tres horas antes dcccar*

Vente ãe cavallo marinho 5 e fuas virtudes .

OPò fubtiliflimo defte dente tem grande virtude para fupprdToens da ourina ; coqi tal condição que fc dará para cada vez buma oitava delle miíturado meyo quar* tüho de agua cozida com raiz deelpargo, ou com raiz dc rilha boy , chamada dos latinos Ononis, ou Remora aratri, ou com pao de virga aurca: aproveita muito para as febres, da* do na meíma quantidade, mifturado na agua das tiíanas, trazido junto da carne, tem c< rta qualidade occulta cantra o ar* Eíte dente tem as mefmas virtudes, que o dente de Epgala pofto íobre as cadeiras , aprove ta muito para as aímorrdmas,cftanca o fanguc.de qual quer parte que fahir por modo de milagre: hum anel feito defte denic^ufp.ndeofangue das aimomimas* e tira as dores delias em menos de huma hora- Dentt

« V.

1 1

DE VÁRIOS SIMPLICES.

Dente de dentro da boca do Elefante , e fuas virtudes .

SErve para toda a efpccie de febre, para as dores dc cofiado, para as dores de rbeu® matifim , s preparando-o também em forma que fe cubra coai a maíía, ou polme do úuitc preparado cm agua y e le for rofada, íci á melhor, mas deve fer morna.

Unha dograo Bejla> e Juas virtudes,

OGraõ Bcfta he hum animal, que na Üngua dos Etíopes Mouros íe chama Nbumbo c na lingua Portugueza vai o mefnio que animal fermoío. A fua fôrma hedehunt perfeito cavallo em tudo menos: fua cauda tem muy pouco pello, c o cafco he fendido como unha ôt cabra; ordinariamente naquclles contornos faõ manchados como Tigres; algun$5que laó raros, de cor caftanho claro. \

as unhas do efquerdo íaõ as que tem virtudes; as outras, fendo do mefmo animal, naõ tem lerventia , e muitas vezes íedà qualquer das ditas unhas, ou vende, c fendo do mcfmo animal não tem prcftimo; e tem a circunftanciade que hade fertiradaa unha fem fer metida no fogo, nem em agua quente, porque perde a virtude.

O animal he lugeito a accidentts repetidos fe tem tal ioftinfto , que aflím como fe ameaç»do do accidente , mete a unha do pc efquerdo no ouvido, e affim lhe pafla logo a força delir.

Serve a unha do grão befta, trazendo-a junto à carne nomufculodobraçodquerdo.ou ao pefcoço , c ain la fobre o peito, ou no dedo da maõ eíquerda, engaftoada em ouro, de forte que a unha toque na carne; ferve contra os accidentes de gotea coral, e vagados, e contra o ar. Preparada em agua, e bebida ferve contra o veneno* e contra as febres termittentes.

Noi accidentes de, afthma fe darà hum efcrupulo de da dita unha raifturado cotn huma chicara de agua deçereijas negras; por quanto a afthtm he hum accidente|dcgotts corai do befCjCom diz Vanelmoncios Afthma eft caducam pulmonu*

Ojfos do efpmbaço da Cobra Zuchi B ou Zuichh e fuas virtudes.

E M Angola íe ci iaó humas cobras , aqueos naturaeschamãoZuch», que quer dizer cufpidora ; efta quando íe perfeguidados que a querem matar, cíguicha da boca hum cuípinho caô delgado, c taó alvo, que em qualquer parte que cahe, a faz log i muito branca, e para deitar o tal cuípinho crgueocollo, e enche o papo, e deita ocufpinho aos olhos de quem a perfegue,e íelhc naõ acodem logo com o leite, penetra o feu veneno pelos olhos de forte, que os cega, e muitas vezes os mata.

Sem embargo poièai da dita cobra ter efta maldade, pozlhc Deos nos oílbsdo feu cfpb nhaço huma grande virtude, que fecaõ, ecuraó as alporcas, com tal cond çaõ,que o do* ente os traga ao pcícoço junto da carne port^mpode hum a n no.

Para fe tirarem eftes oflbs , depois de morta a cobra, fe enterra, e como paíTaô quinze diasapodrece a carne, e com facilidade fedefpegsô, e fe aíimpaó muito bem de algu® ma carne, íc lhe ficou pegada, c íeguardaó; c quando quizerem appltcallos a algum do® ente defta enfermidade, ou q tenhao dores de garganta, fe infiaò em hum fio dc Tttroz » « pcnduiaõ ao pefcoço a modode huma gatgancilhs. Muitas íaóaspdíoasquetcm vifto® e experimentado a grande virtude deftes oflbs para as foòreditas enfermidades

Dentes de Engalane fuas virtudes .

F* M Angola fe criaó huns anienaes da corpulência de hum porco, na boca deftes íe v chaõ dous dentes fortes á maneira dc dentes de porco javali; faõ do comprimento de 1 ü \ almo, pouco mais, ou menos, o deftes dentes tem grandiflima virtude para rebater as íebres malignas, e naõ falta quem dig^.qiK he melhor que a pedra Bazar verdadeiraifaz madurar, e abrir os apoftemas, elciceníos, applicando-o fobre ellesem forma dc polme ircs,ou quatro vezes cada dia:ajuda muito a fahirem as bexigas , e os íarampãos;conftaé de muito íal volátil , e por iffo nos Plcuizes faz tão boens effeitos como o dente de porco montcz.com tal condiçaõ,quc fe de de cada vez meya oitavado leapóiubtiliffiaiomiftu-

12

MEMORIAL

rado com huma onça dc lambedor dc papoulas morno, bebendolhe cm fima meyo quar* olho dc agua colida com flores de papoulas, e com eaícas de raizde Bir Jana. Podo aílc- gurar com a experi nciadç 58 .annos,que nos Pleurizes he grande remedio, com tal con¬ dição, que feapplique duas , ou ues vezes cada dia ate que o doent acabe de íarar. No meu Pecúlio reveio hum grande remedio para Pkurizes, no capitulo, Pkuíizes.

Raiz da CManica , t fuas virtudes.

ESti rauhe degrandiffisnaeftimaçaó.aífim por fer c eada entre o ouro no Reyno dc Manica, donde tornou o nome, como tambem por fuas admkaveis virtudes.

Serve eíta raiz para febres, dando íe bem moida em quantidade de hum eíciupulo mif- turada com íeis onças de tifana: da-íe no principio do frio , do meímo modo que fe a agua de Inglaterra ; c fe a febre entrar fem írio, ie dar á do meímo modo no fi*a da fe¬ bre para fazer íuar.

He admiravel contravencnr, porque 0 rebate efficazmente.

Serve parrtpda a forte de fraqueza do cítomago, para coníervar o comer nelle , dc forte que fe naõ vomite.

Serve para desfizer as ventofidades procedidas de cauía fria.

Serve para quem tem faflio , tomada duas horas ante* dc comer , porque conforta o eftomago, excita a vontade de comer, e hegran ie remedio para impedir os vomitos.

Serve para feridas frefcac, moida com agu*, de modo que fique como pokne, applican- do-o cada vinte e quatro horas, enchendo o vaò da ferida com elle, e bíevementc ficará o doente Ííó.

Serve para chagas podres moida do meímo modo, e applicada á chaga em lugar dc unguento j cifto Ie fará huma vez cada dia , e Íarara em breve tempo, fem necefluar dc omra cura , ou remedio humano.

Também a dita Manica he hum remedio, ou antídoto muy efficaz contra herpes, mo» etido-íe , e pondo fe os pós fobre aferida, c applicando-fe também da parte dc fimaÇ para que os herpes lubsto, nem vaõ por diante.

Serve para dor de cólica chamada ms terras da índia, xetingofa, roçada em pedra com çumo de limaõ, e lançada por ajuda.

HL grande contrapcçonha , moida fubtilíffimamence , e dada abeb r com çumo dc Simsõgallego»

Serve para mal de Loanda moida , e dada com agua, c untando com aquelle polme as gengivas muitas vtzes no dia , farai á o enfermo maravilhofamcnie,

Serve da mcfma forte moida, c applicado o dito polme na face , e na cova do dentei que doer, porque tira de ted ) a dor dellc.

S rvepara dor dc ouvidos, moendo-a edm agua aquentada em huma colher de pra- M, e lançando tres , ou quatro gottas no ouvido faõ primeiro , c depois no que tiver a dor.

Pcfloas fi Íedigna?sqiieeftivers5 na índia affi» maò que o defta raiz fubtiliffimamen- te pulverizado , e mifturado com o que for ncceflario de agua roíada , para fazer hum polme , barrando a tefta, e fontes da cabeça com elle, abranda muito as ditas dores.

Serve para cít incar os fluxos de fangue , ou I ja tomada pelaboca mifturada em agua de tmchagem, ou íeja deitada por ajuda.

Peflba houve tsõ confiada , que fe atreveoa diier que o fubtiliflimo deita raiz, to¬ mado muitos dias em jejum com xarop* de hera terreílre, ou de ungula cabalins, curava certamente as chagas do bofe; eu lhe naõ dou inteiro credito, mas em doença, em que a certeza da morte ( por cauía da chaga do bofe ) he infallivel, naõ duvidaria eu dc fazer o remedio, porque fe naõ aproveitar, naõ fara damno.

Para as feridas frefeas com langue , enchendo o Vaò da ferida com o fino defta raiz* ecurando-as abertas, obr3taõ maravilhoíamente como o oleo de ouro.

Finalmente he a raiz da M níaca remedio fupsetao para rebater todo o g nero de ve¬ neno; advei tindo, que fe tenha grande cuidado, e cautela, que quem tomar eíta raiz, naõ toque qualquer genero dcoleo, ou azeite, parque iníalliveimcnte fe con verterá m ve¬ neno prefentaneo.

DE VÁRIOS SIMPL1CES.

Raiz da Madre de Deos , e fuas v tríades»

Vinte grãos da [ ó defta r?Áz mifturados cora quatro onças dc agua cozida cotn o páo da fa veira feca, ou com bua? rnclho dc fulhasdc ceifciio, provoca a ounna fuppri- u ioa, Sa s e o defta »aiz para todo o gcnero dc febre * principal mente para a$ que en¬ trarem cora frio, dando-íe duas vezes cada dia : para grandes dores dc cabeça fc appü- cao polme defta raiz feito cora çumoddimr.õgdlego nas capelfadasdos olhos, e nas fontes; te* ve efta i aiz para inflarnra^çocns do bofe , comohcí* Pcnpneutnonia; contra quaeíqucr outras inflâainnaçoens interiores ; hesita raiz muito cordcal, c icíiítc ao ve* neno das febres malignas, e as mordeduras das cobras vcnenoías.

Raiz do Cyfoy e fuas virtudes .

AEfte raiz, a quem os Poriuguezes chamaõ Cy pò, chama o Gentio da America Piei* quanhaque he omefmo, que dizer pica de caó: ha duas fortes de Cypò, hum he man» groflo , mJs branco , emais forte, outro he mais delgado, mais cícuro,e mais be¬ nigno no obrar ; ambas eftas raizes tem virtude taõ maravilhofa para curar camaras de langue, que ranflimas vezes fâl taõ com ocfEito defejado, advertindo, que sstaes raizes tem virtude de provocar vomito, a branca o provoca com mais violência, o remédio para que o naó provoque, he deitallas vinte e quatro horas dcinfuhõ em vinagre forte ; a quantidade que íe dc dc qualquer deftas raizes, he de dous cíciupulosatè hum» citava, toma«fe em caldo de gallinha, c fe repete quatro, ou feis dias»

Raiz de SoIorf e fuas virtudes

ESra raiz com as outras fobreditas* também he de fíngukr eftlmaçaõ; uía*fe delia part toda a efpecie dc febres, e ponudas, e para o veneno, e para dores Nephritícas* Também ferve tomando bochechas, para alimpar a lingua giofla, e para abrira vontade dc comer, quando o enfermo tem faftio, levando algumas bochechas para baixo*

Raiz de Calumhây efuas virtudes

ESta raiz ferve para todas gs febres moída com sgua por quafi hum quarto de horaj e fe beberá peia manhã , e à tarde , e ainda que íeja mais quantidade de quartilho*} nao impoua,epara febres, e frios fc moerá cora çumo de limaô galiego.

Sa ve para mordcchim , e para dores dc cólica, c indigeftoens doeftomago; fe forem de frio, fe dará com vinho; e íe forem de quentura i fe dàrà em agua pela manhã em je* jura, ou a toda a hora que a nectffidadc o pedir.

N as íupprefibens de ourina, alc*$, ou b aixas , he remedio que obraeffeitos maravilho* fos, com tal condição s que o doente tenha tomado primeiro hum, ou dous vomitorios de fds grãos de Tsstar© ecneticop u de meya oitava de caparroía branca, ou de duâs onças de fígua Benediéta , e fe tenha íangrado depois tiiflo oito vezes nos braços. Da-feopò dcfte remedio em agua cozida cornos pàos dafaveira íeca,ou com raizes dc efpargo.

Serve para camaras moida cora çumo de limaõ galicgO)?edt (temperada com aguaa fe untai à a barriga com o polme defta raiz pela manhãa,e á tarde.

Serve para mulher que efti ver de parto, ainda que dleja mortal, £ lha darão moida coro vinho, e lançara a criança, sinda que efteja morta.

Serve para mordedura de todos os bichos pcçonhentos,moida com agua, c fenaõ hou* ver tempo de fe moer, tome-fe hum pedaço, e maftigus íe,eenguiir o çumo, e fe deita® rádtlle na mordedura, e fe for muito refinada peçonha, fe dará a alguma pefíba adiu rgi' para que a maftiguc, e tendo-a na boca.

Serve para toda a peçonha que fe der no comer, ou beber moida com agua^e fe não houver t mpo para iffo , tome hum pedaço na boca,e mattigue-o* levando o çumo , ou cuípa para baixo.

Serve para quem tomar Anfiaõ mifturado com azeite, porque fe então converte o dito Anfiaõ em refinado veneno : ku unico remedio hc dar ao doente huro pouco de defta

B m*

,+ MEMORIAL

•raiz tnifturado com sgua. Também he grande remedio esfregar os dentes com o deita raiz. Anfiaó be o nicírno que O pio,' com > diz o Doutor Framciko Rqbdlo h$cy~ re> que foy Fifico ii ó no Eítado da In lia , e D. Rafael Blutcâú no primei o como do feu Vocabu ario Portuga z , e Latino foL 375* coL 1,

Serve para uzagre do niei mo modo, tazendo primeiro lavftíorio.

Serve para provocar o fanguc meníal, com tal condição, quqa mulher a quera fastm o dito langue, tome o co dias etn jejum quatro onças da agua » em que tenhaõ cozi io

meya oitava do da dita raiz*

Serve para quem tivef dor de dentes, metendo na cova do dente hum pedacinhodek' ta raiz, tirará a dor*.

Serve para eryíipela , moida corn çtimo de limão gallego, unrando com cila o lugar que tiver a dor, ou inchaçacq n õ havmdo fibre, ie pod..rá b ber em agua.

Serve para quem for tocadodoar, moída com çtuno de lira^ó galiego* para fe untar. Serve para a peííoa , que cíltvei com vcntofidadçs , mòids com vinho , e í forem le quentura , com agua , c le beberá. Masurçms, e quartas t«!õ rebeldes, que k naõ uraô com a quinaquim, obra maravilhofos eftúos, tomando-a cinco, ou feis dias.

. * . 1 . ' è - . ' . j

Serpentaria virginiana , efúas virtudes.

ESta erva naõ he nafeida na Inuia Os icnt^l , m is he natural das índias de Caftelb;

be grande comraveneno , e grande defenllvo das f bres malignas, e íoccorre às doenças vcncnolas. Tem eítupenda virtude, e hc o ma yor remedio que tem o mundo para vencer o mortal veneno das mordeduras da cobra de Csfcavel, a que os Iuglczes chama® Rattic InaR.es.

Raiz de Sapuche , & fuas virtudes .

ESta raiz também he de grande eftumçaõ , e heo mais finocontraV^neno rara as i cobras que íe tem ddcuberto : quando mícecfta planta , as cobras lhe coftumao tirar a folh^ ppr inítinfto natural, para que k nao conheça; mas por iífo meíaio he co nhecida: atada ao braço chegada â carne, cílálivie quem a aouxer ( sindique durma na charneca) delht tocar bicho peçonhento.

Heexcelknte antidoto contra todo o veneno de bichos, c contra os outros venenos: preparada em agua , e bebida , cura aos enf rmosde dores do eílomsgo: r bebida pdas manbâs em jejum detíaz codas as cbftrueçoen^ e ajudaacirculaçàó do Lngue.

Raiz dejoao Lopes Pinbeiro7e fuas virtudes .

TT Integfãosdcq ò jeftaraiz, dados cm meya chicara de agua commua, he admirável \ remedio para as febres terças, e quartas.

Se vc preparada era agua , e bebida , contra Febres ; e preparada em fubt.il, para as feridas frefeas com o íangue , tazendo cura abei ta^e para as caneladas íreíeas , cobrin¬ do as com os pos.

Ser ve para as pontadâs , moída , e cniílurada com vinho, untando com o tal poime a pontada* a cura bem.

Serve, preparada etn agu^, e bebida, para desfazer as opilaçoens do ventre fendo con- tinu d e para as obílrucç ení do eftomago.

Serve, preparada cm agua, e tomada cm bochechas repeti ias, para dor de dentes; faz c Afeitos milagrofos naquellas peíloas a quem mordeo huma caílads víboras que ha na índia taó ve ncooías, que fe terem a alguma peíloa, logo cabe por tem amorteci» da, e dcírnayada 3 de íorte que naó pode fallar , nem fe pode mover , nem tem acçaõ alguma de vivente $ cujounico remedio, ccíperançade vidaconíiftee n faze lhe liuma pequena ferida no alto da cabeça Co vo huma lanceta, ou alfinete, de íorte que faça foi* gue , c d itando huma migalha daquelle na tal ferida, logo de iihproyiR falia o ho* metú, e fica livre do perigo.

Raiz.

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DE VÁRIOS SI MPLICES.

R<0/£ da Butua} chamada parreira brava , e fiias virtudes .

ESta raiz tomou o nome do Reino da Butua onde fe cria, chama-íe aftim nos Rios , deScnaemre o Gcnao > entre os Postuguczes íe chama Parreira brava, cu Raú cteButua.

Serve o deita raiz, mifturado com ngoa commua, para beberem as pefíbas,que tive¬ rem algum apoftema, ou abíceilo inte, ior, porque fc o tas apoftema , ou abfceífo for no¬ vo, eeftiver ainda no principio, orefoivuá, e desfará em poucos dias j masíeforjr velho, ou tiver matéria , o fará abrir, e rebentar, e deitar foia toda a matéria por íima, ou por baixo, pela camara, ou pela ourioa.

Também o da dica raiz mifturado com vinagre deftêperado de modo que fique era forma de polnic, apphcado fobre os apoltemas, ou abfceflcs exteriores, os rdòlvc,cdcf- faZ, com ta/condiçaõ, que feapplique (etc f ou oito dias fuccefli vos* aflsm oobíervcy muitas vezes, principaimentc na mulher de Manoel de Araújo» morando junto da Igreja da Annunciada : tinha a dita mulher huma perna inchada com taõexceííiva deformida¬ de, que a todos pareceo impoffivel efeapar da morte, e applicando fobre a indução© polme deita raiz, farou dentro dc leis dias» (em ncceffitar de outro remedio.

Serve para o Pleuriz , dando a beber o dtllacm agua quente, que primeiro fej$ cozida com papoulas, ou com cevada. Tarabem feunta # ou esfrega a pontada com o polme da tal raiz, porque faz rdolvcr , c deícoalhar o langue , que por citar reprezado cgroílo, fenaó pode circular, e porque fe naõ circula , íc azeda , e por íe azedar » faz st dor, e pontada do Pleuriz.

Serve para pancadas , e quedas , dando a beb r meya oitava do leu mifturado com agua cozida como husma raiz de tormentilla, chamada vulgarmente folda, ou pentaíilaõj, untando por alguns dias a parte dolorofa com o polme da dita raiz9 Serve para eíquiqenaa, ou garrotilho , dando a beber o feu cozimento * fazendo com clíe gargarifmos, e untando a garganta com o feu polme.

Serve para fazer datar asparias, dando a beber a agua cm que for cozida 9 também facilita o parto, e bz deitar as molas com facilidade.

Serve para deíiochar toda a forte de tumor, untando por oito dias g parte com o di¬ to polme.

Serve psraeryíipelas bem cozida em agua commua, applicando.a muitas vezes no dia em panos picados mornos* com condição que os naó deixem fecar.

Serve para todaachag?, ou ínfhmmaçaõ do figado cozida em agua commua , lavan^ do a parte queixofa repetidas vezes com o tal cozimento: advertindo que quandoíe quizer cozer, fe terá em lafquinhás miúdas, ou fe machucará, p&raiargarmelhorna »gua a fu a grande virtude.

Serve para curar hérnias ventofas, aquofas , e carnofas applicando-fe fobre a parte queixofa o cozimento da dita raiz quente, reperndoJe muitas vezes no dia pannos enfo-j pados na dita agua quente, porque logo mi !gaador,eainflammaçaóo Goofeflò que cila raiz tem grande virtude para curar hemias; mas o mayorremedio que le fabe depois queDeoscreou o mundo, para hernits, he oleo verdadeiro de canela» comoopodeià certificar ô Doutor Mathias Mendes Ouvidor da Alfandega. Naõ hc menos eíficaz par& fis quebraduraso oleo das gemas de ovos, de que poílb apontar muitos exemplos.

Serve para dores de dentes o cozimento defta raiz, tomando-o na boca, ou metendo nai cova do dente o po defta raiz , mifturado com agua da Rainha de Hungria , dc que te® nho vifto maravtlhofos proveitos.

.* Serve para dores de cabeça , c de xaqueca , mifturando-fc o da tal raiz com agua rolada, ou de murta, c barrar toda ateftade orelha a orelha com efte polme.

Serve para curaras dores de cólica , e de barriga que procederem de ventofidades f cu de caufa fria; bebendo o cozimento da dita raiz, e untando o ventre com o teu polme.»

S L-rve para desfazer asinchaçoens do buço, e da barriga, tomando em vinte manhãas hum efcrupulc do feu pofubtiliffimo , mifturado com duas onças de bom vinho branco agua Ío,e faz ndo comefte iemedio algum exercido, le o doente o puder faZer.

Serve p?ra curar as camar s, principalmemeas de langue, bebendo o teu po mifturado com agua dc ranchâgem,ou com agua commua cozida cõalquitira, ufandodcfte remedij por cinco ,gou íeis dias fucccffivos pela manhã, çà noite. LuiiScrraô Piraçncei, Cob

B z mograff

16

MEMORIAL

inografo mor do Reyno,pò ic fer teftemunha defta verdade, pois cftando elte íem efpe- ranças de remedio hum mo , f jfou de carmras com o defta raiz» O me imo admirável proveito vi em huim mulher moradora à Bia Viíla na rua chamada o Poço das ca boas j tinha a dita mulher camaras taõ deíenfVea das , e antigas, que (uípeicou lhe tmhaô dado algum feitiç ) 9 que a fofte matando lentfamente , e tomando efta raiz cm íeis dias depois d mil remedios baldados, farou por modo de milagre.

Serve para as dores deeílomago , c para azedumes da bocas bebendo a agua em que for cozida , rnifturando o feu pòcom a ourina do me faio doente, e untando o eftomago eom o polme da dita raiz feito com a fu a ou s ina.

Serve para as carnoíi jades, bebendo por muitos dias a agüa da fua infufaõ,e firia- gandoo cano com ella.

S*rvs para todas as iupprefloens daourina* dando a beber ao doente a agua que for levemente cozida com a tal raiz , mas carn tal con liçaô que antes de ufar defta agua» tome o primeiro dia hum vomitorio detres onças de agua BeneJiâu, ou feisgrãos de Tarcaro emetico % e nos dous dias leguintes tome íeisUngrias nos braços, e no terceiro comece o doente a tomar a tal agua , ;c conhcceràô o muito que me devem por lhes daç cfte confelho.

Serve para as purgaç oens da ma ire de qualquer cor que lejao,b bendo por 30. dias em jejum, noite leis onçrs da agua da fua infufaõ , a que ajuntem doze grã >s de íubal da dita raiz. Toda a cafa do Senhor de Aguas bedaS póde fer teftemunha delt* ¥erd ide , porque eftando na dita cala hu na criada que havia nove annos padecia a dica purgaç *5, que a nenhum remedio obedecia, com efta raiz farou.

Serve a agua deita raiz, tomada por vinte dias em jejum* psra provocar a conjunção às mulheres, que por faln defta delcarga padecem mil achaques; mas he neceflano íaJ zer com o tal remedio exercício de huma hora. Tofiia-fe trinta dias meya oitava do defta raiz em caldo de grãos pardos.

Hum R.digio!o,cujo nome naó me lembra, eftando taõ íufFocado com flatos , que naó podia rdpirar, íó com o defta raiz livrou delíes, e da morte.

Serve para abafamentos, e flatos melancólicos, dando a beber a agua da dita raiz.

Serve para caneladas, untando*as com o polme da d s ta raiz.

Serve para curar feridas frefeas, lançando nelhs o íiniílimo da diu raiz.

Serve contra o garrotilho , eelquinencia , untando toda a garganta com 0 polme que fe faz da raiz da Butua pulverizada fubtilmente, e mifturada com vinagre

Serve o cozimento defta raiz pata curar fogo falvagem , e leicenços, lavando-fc rnuy-J tas noites com elle.

Serve em falta do meu Bezoarticü , para rebater toda a forte dc veneno ; e he grande remedio para os speftados , com tal condiç 6 que fe deve beber o feu cozimento # e un¬ tar a parte ffendidacom o polme da dita raiz.

Serve contra to las as mordeduras de caõ danado, e bichos peçonhentos, bebendo-fe â agua da fu a infufaõ, untando a mordeduracotia o feu polme.

^ G Doutor Franciíco Roballo Freyrc, Cavalleiro profeíío da Ordem de S nriago, e íifiçomór no Eftado da índia , certifica que dera em tres dias iucceili vos o cozimento delta raiz a huma mulher, que tinha na região da madre humainchaç õ fl umonofa,quc fe naó pode curar em larges tempos, e com 0 cozimento da raiz da Butua íe madurou o apoftema, rebentou, e deitou muito humor, e ficou faã.

Ssrve para curar alófcericia, ehe paraiílbo rnayor remedio que tern o mundo.

Serve para curar os dquentamentos, tomando nove dias hum efcrupoío5 m iíturado co outro eíçrupulo de Terebentina , feita em pirolas. De meya onça de raiz da Butu?i festa em laíquinhas miúdas, e outra meya onça de centaurea raenor,levemcnts cozidas em hüa canada de água ordinaria , fe fazem cinco ajudas , que aproveitaô mu^to nas febres in- termntauesi e naó duvido que eftas íaó as ajudas taõ afamadas de Pedro Caitdlo.

Raiz Divina, e fuas virtudes .

ESta raiz naíce em Portugal, em hum lugar vizinho a Cetuval, a que chama ó Troy t:

naó fabemosque haja Author que eferevefle dclia;porém acxperiencia dos b.. m cf feitos que obra em algumas enfermidades» íaõas máisqualiâcadmefteaiuuhas das loas

vir tu-

DE VÁRIOS SÍMPLICES. t?

%

virtudes. adita raiz inclinante aquente, por cuja caufa fe haó deve vfar deila to cozida, mas com hunia moderada fervura, de forte que coma dü^s canadas dc asua coza numa^ oi ava da dita raiz Içvcmente machucada: deíopila muito as vess ? provoca a conjunção das mulheres , c aproveita nas inchaçocns do veture das mulheres que ma ifíé ii hydropicas naõ duvido tenha outras muitas virtudes 9 queo tctnpòhá defeoí brindo j rii is por ora fatio naquellas, de que tensos experiência» Ghama-íeeílá raiz Divina peios íeusgrandes preftitnosó

Unguente de Bicuivat e fuás virtudes, r

DO Rio dc Joeiro, e algumas vezes do Paràsvem a Portugal dentro dc huns canudos o unguento chamado Bicuivo , o qüd k faz da fetnente$ ou fruto de huma arvore chamada Becoybeira. G flita por repetidas experiências (cr o dito unguemo, remédio ef« fiesciffimo para curar dores, e pontadas em qualquer parte que cftejaó, com tal condiçaõ que procedaõ de caufa fria: na fraqueza de nerVos, ou encolhimento dellcs, por mais que o doente cílcja tolhidotc aleijado, taz o dito unguento maraviihoío proveito, t fc nâquei* Iss parte « houver algum tumor* dureza , ou incbaçaõ,a desfaz cm breves dias, porem neceílario advertir duas couías muito importantes, para queodito unguento fsça o pro^ veito defejàdo. A primeira* que a fomentaçaõ íè íaça com grande cautela, e refguardo doer, porque abe muito os poros: afegunds, que a caufa da doença proceda deirialda^ de: a terceira que a parte quaxofe fc esfregue com o cal unguento moderadamente queo » te, unto tempo, quanto parecer quebaíh paraqac a virtude do rs medio pen» tre dentro* Em falta deíie unguento ferve com a mdma cfficacia o da mefmn femente esfie^ gaüdo a parte ofFcndidi com dle quente.

tMáçtá de Leao y e fuas virtudes

ASfim como fio bucho de algumas vacas fe gera butm miçaa do tamanho de hümi laranja pequena também no bucho dc alguns Leoens fe cria hums bola, ou maçàa do tamanho de hum ovo ; cft.t bola roçsdacmagus* ou vsflho,ou hum pouco de Jelladado ài mulheres que naõ podem parir # no melmo iniiunte parem s diitaõ as

paieas, e provoca iffieazmcote a conjunçgõ d©s mezes,

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(JH açãado Elefante , e fuas virtudesl

NOs buchos dos &3 Jantes muito velhos fe achaô muitas veies hutnastmçlsj otí bolas tamanha? como hum ovo degallinha, defta pedra, ou maçãa fe tem achado que he tao boa como a mais cxcellentc pedra bazar que v.ni da índia, he verdade que amarga muito quando fe toma, e efte he hum grande final de cila fer boa ; aquantidi»* dc cm que fe toma feõ de io grãos atè a 6 toraa*íc mifeorada com quatro onças de agua de cardo fanto, ou de papoulas, eíe abafa o doente muito bem para fuar^aprovei* ta rmiito para as dores de barriga, ptra as febt es, para dores dc cofiado* abre as opiiggoeng do fígado*

Triaga Br afilie ay e fuas virtudes d

NOCoIlegio dos Reltgiofos da Companhia dc JESUS da Bahhjfefaz huma Tria2 ga chamada RrafílicaíCom polia de varias plantas raizes, ervas, frutos, e outras què nafeem rir Brafil * dotadas de taõ excedentes virtudes, q cada hua íò per fi pode fer vir em lugaf de Trj g* magna^pois com algumas das raizef*de que fe compoem díe Antidoto, fe curaõ no B; afil dc qualquer pcçonha,e mordedura vcnenofa,conr»o também outras enrí fermidades, com maftigallasj c a experiência tem moftrado9que íenaò he melhor que a Triaga m*pns, nao inferior a dlsiporquc hc efficaciffimaeôtra todo o veneno (excep« to os cor roíi vos) como hc o folimaõ, e rofalgar , aioda que contra t lhes dado logo o pezo de huma até d tias oitavas * ajuda aos dei^r fora por vomito; e depoiácoó leite 3 t com amendoadas í m que mifturcm muciiagcns dc marmelo, ficaõ feguros.S* rvs contra qualquer bebida venenofa, e contrS as mordeduras dc animae# peçonhentos, tomando pé«*' h boca o pezo hum» oitava até duss em vinbp|Çaldot ou m outro qualquer liçor^c ifl@

B 2

MEMORIAL

de quatro era quatro haras, atè que o doente fc finta aliviado , wHandplfcc também cora ella os pulíosj nariz, ecoraçaõ» c pofta 03 mordedura a modo dpçmplaftrç*dtstèka

cm vinho. . n

Serve para qualquer dor intrjnfcca, como dc eftomtgo » voúntos, conca, natos, epon» salas* principalmeme fc forem caufadas de frio: para lombrigas, t qualquer humor cor- íupt-o, que fe gçrs nos inteftinos» he bom remçdk>,e para eítancar camaras, para dores âc rjn&, bexiga , area , c pedra # porque be diurética, e faz ourinar, tomando a miado mey& oitava cm agua cosida com cerfolip, ou cora raiz de dpargo, ou de rilhaboy.

Serve para qualquer achaque da cabeça cauíado de intemperança fria, como parlcfi?» epilepfia, apoplexia, melancolia, applicando juntamente os remédios geraes, qus os Me« d ices fabem*

fie boa para a putrefação do arj> contra as doenças epidêmicas: nas febres malignas teip tnoftrado grande cfficacia tomando logo huma oitava com. agua de Cardo iantôí ou de dcorcioneira trc$ vezes 00 dia»

O mdmo proveito faz nas bexigas, e farampao* ajudando-as a fabjr pari fòra. t He experimentado remedio paraafufFocaçaõdamadre,convulfa&, fiatos, dores, reten¬ ção dos menftruos, paraopilaçaôds madre, para facilitar o parto, -expelliraf parcas ,Cor* roborar a madre depois do parto; c fioalmeote para quaíi todas as doenças das mulheres* $erve cambem para as crianças que tem febres , cólicas , e outras enfermidades caula* das das lombrigas; c para outras muitas doenças.

Oleo do Elefante , e fuas virtudes*

AS canelas", t mios do Elefante depois dc tirada a carne fe pendurao cõtn o offopat# baixo, e pondo- as ao Sob e dtílcs offos que fao efponjofos defti!!fi,cu íaz hum oleo que fe apara em hum vazo limpo , c fc guarda em vazo de vidro bem fechado, e fe eftiou como remedio efpecifico, e admiravel paraaftllma, e faltas de refpiraçaô; applica-fe quente ao peito- esfregando*o cora brandiu a por tempo de vinte Ave Marias^porque dei¬ te modo coraraunique melhor a iua virtude; tarabem aproveita muito esfregando com alie a parte em que eftiver alguma dor de cauía fria, advertindo , que quando fe apphcar cftc oleo, feja cora grande, rsfguardo do ar trio, porque he muito penetrativo*

Cobra de Cafcavel , efmsvirtuies «

Nâs terras do Brafil fe criaô h 11 mas cobras tao venenofas,que mordendo em qualqueí pane do corpo, communícaõ repentinamente huma qualidade ta 6 peftikrae ao Can¬ gue, que o adelgaça, e faz íahir do corpo com tal fúria, que íahe pelos ouvidos, peia bo- Ca, pelo nariz, pelos olhos, pelo cano da ourina, atè efgotar , e morrer a pefiba mordida, Chama*fe eíb cobra naquellas terras Xenninga , centre cs Ingleses fe chama Ratthe* JnaKes. Tem na cabeça hum caloavd, que a natureza lhe creoo, para que vindo tangen¬ do fe ouça de longe, e tenha a gente tempo para fugir. Efte cafcavel trazido ao pefcoço^ affirmaô os nàturass d&qutlla texfa, que tern virtude de preíemr de acddcnte dc gotta coral, e de vagados. E íobre tudo faz milagres cra prdervar as mulheres de aceidentef da madre, coíbo fc obfervQU por muitas vezes -em humafobrinha de Franciícol Ferreira Nobre, e em outras muitas mulheres, que naõ tiomeyo por efcuSar enfado.

O remedio com que efeapaõ da morte as pefloas mordidas por efta venenofifiiraa cobra he tomar huma oitava de de upicorneda Ave chamada Inhume9pu Ánhume^ou huma oitava de da raiz de fefpcntafia virginiana e em falta deites remedies, pòde tomar hum pouco de tftercodc homem acabado de íahir do corpo, ecaõ tem outro remedio eftg veneno»

Maga a da Fdcâ^e fuas virtudes*

NOsbochos.de algumas vacas fe' criao fmas bolas redondas como lafanjasiqui fao ãè cor parda muito leves, e por dentro cftaõ cheas de cabellos : eftab»Iá,ou maçãa roçada com agua atè que faça hum pohne, dado por alguns dias aos caraarentos , os alivia muito. He remedio q raras vezes faihb como me conftapar mthu| íXgsricnchs Htas

cm çamaras de que naq havia cfperança, v N ^ " ' “*

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DE VÁRIOS SIMPLÍCES.

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Raiz de Joao Pires , chamada entre os Médicos Efula%

e fuás virtudes

NAcafca dcífa ria íe cncerrao grandes virmdcs.com tanto qucíejabem prcparàdt uazi ia primeiro cious dias de infufaõ em vinagre branco:a primeira virtude defte remedio hc para purgar os humores groííos , para os hydropicos t para paralíticos , cal- porquentos : a quantidade em que fc he cic quinze grãos ate vinte e quatro, eaos robuftoêf meya oitava , cm forma de pílulas : os curioíos podem ver as muitas doença^ que Manim Ruíiando, Mwdico dos Principes Palatinos, curou com & Eíula*

Pedra que fe cria dentro mfã da vaca , e fuas virtudes

D Entro no fel de algumas vacas íecriaõhumas pedras raõamarellas como he o aça^ fraõ; cilas taes pedras tem grande virtude para curar a Icterícia , com tal condição*,*5 que o doente efteja primeiro bem evacuado: tomaó-fe vinte grãos da cal pedra pulve* tiz ada, quinze dias em jejum, mifturando-a com íeis onças de agua cozida com folhas ác morangos, ou com raizes de giama.

Em minha caía tenho hum remedio , ou fegredo tao efficaz para curar a tôcricía, que fendo eu Medico ha cincoenta e oito annos , ainda naõ achey outro taõ certo como eíle8 c o tenho em minha rafa a fim de tirar a occafiaõ a algun Boticários pouco eferu* paleios, para que oaõ vendaò o tal remedio, dizeiido, que lho revcley, como dizem hoje muitos, que eu lhes revcley o meu Rezoamco * c outros remédios que inventou a minha cqriuíidade, e que ninguém fabe coma faõ compoíf nem os ingredientes que entraõ m fabrica delies: e lem embargo diílb , raras laõ as boticas, aonde íe peça o Bezoarticodo Çuryo, e outros legredot mais , que naô digaõ que o tem* (em fazer eícrupulo dos graves damnosjque íç leguem de vender os reaicdios adulterados per vetdadeiros*

Pm de Largis j e fuas virtudes,

 Arvore chamada Largis he pequena como hum peflegueyro l as foâs folhas ftô coradas, cria íc nos confins da Pcrfia junto a Turquia , íaô poucas 0 t muy raras ss duas arvores. ^ ^

Á principal virtude da esfea defta arvore he contra a Iftericia , trazida no pdcoçof junto a carnes naõ íe toma cozida, nem preparada em agua* como fe tem introduzido^ Da caíca dcíla arvore chamada Largis, com rriz de lofna , e uvas p a fiadas íefaz hutn quaíi divino xarope para lélericias , como íc pòdc ver na minha Pílyanthta ds terceira impre flaó trat, %, cAp. éf-fol. 360. n. 1 3. E4e xarope, Ctn. que entra Largis, he taõ efficaz para a Iéfcricia, como hc a qumaquina para as cezocns?e como he a falia parrilha,e o azou¬ gue paraogalHco. O modo com que íe faz o dito xarope para a lâerieia^e a quantidade cm que íe toma, acharaó os curioíos no lugar citado da minha P&lyawkêá,

Eíla calca de pào chamado Largis, cura os olhos ramelofos, húmidos , é inflammf Jos* deitando hum •eicropulo delia de infufaõ em duas onças de agua rofada,

* Pao Coka j t fitas wriuãeü

ES te pào m língua do Gentio, fe chama DangyaCatengà, outros lhe chama5Catu2 bia ; o nome de pào Cobra lhe deraó os Poi tuguezes, por ícr 0 mais efficai remedio Gu mundo para as mordeduras das cobras mais veneooías»

Serve o deite páo lulado, ou moido muito fubtilmente, para remedio das grandes febres, dando-o a beberem agua , euntandô com o leu polme ocorpo: ferve para qual-, quer dor quente^oii íria^u inchaçaó, 00 gotta, untando co o feu polme a parte doloraifr. Dizem os natüraçs daqucllas terras* que cita raiz fe deve colher no minguante o 2 Lua* tomando a raiz que fica para a parte do nafeente* porque a do pocnte,tn& teUi virtude, ans tes dizem que he prejudicial#

Do defta raiz fe pode dar meya oitava mifiuradà com agua.

Applica-dccom grande utilidade íobre as pontadas, tomaedp*? cambem pelabcca,

. * Na

20

MEMORIAL

r

Na inchação das pernas fax o cal polmc coníideraVd provei teu

Opò defta mz mifturado cora agtu em qüc tiverÈm coxid^aerva AnagalliJ a que chamamos Marugem,ou mifturado com cípirito dc vmho alc&nforado,cura por modo dc encantamento as Eryíipelas, tal condição que fe applique morno, c naó k deixe íecar*

Nas parlefus íe pòde dar pela boca a agua em que for íuUdaríh rasx, untando tam¬ bém a parte paralítica com o feu polmc muitas vezes no d ia»

Nas doies dc cftomago fax maravilhofo proveito o tal poSmejá bebido, untando-o comelle» doente houve , que eftando dcfcfpcrado com dores de eftomsgo, o untou com o polme da tal raiz * 6 porque o doente molhou a mão no dito polmc para esfregar com dieo lugar da dor, naó melhorou delia , mas tendo amaõ cõmgotta,fe tirou a gotta* nem a teve mais cm íua vida.

Nas feridas obra maravilhofoscfícitos: deitandolhes os ditos pòs ferve efte para do*

I es da madre, ou feja bebido, ou fcj« untando o pentem com eile , alimpa os rins de areas*

Gontrayerva , e fuas virtudes *

1 Ás índias de Gaftclla fe cria huma erva a que os nacuraesdaquella terra chimaô Gontrayerva, na ling,ua Portugueza vai o mcfmo que contraveneno; he admiravel antídoto, ©u íeja para rebater o veneno das mordeduras dc bichos peçonhentos , ou feja parafvcncer o veneno, que roaliciolamcnte íe deo para matar a alguém. Para as febres malignas he remedio quafi Divino , nem até efte tempo fe tem achado outro mais pode- rofo do que cfta raiz , como confta aíüm pelo que dizem delia os grandes Hcrbolarios^ como pelas muitas febres maligniffimas, que eu Joaõ Curvo Seramedo tenho curado etn tantas doenças que naó tem numero, os quacs eílavaó agonizando quando fuy chama¬ do para os curar» e dandolhes eu o Cordcal Bozoartico Curviano, que he fegredo, e in* Tento meu, e em cuja compoíiçaõ entra a dita Gontrayerva, eícaparàõ quafi todos , domo os curiofos poder áõ examinar dos mefmoi doentes quaíi reíufeitados com o dito B.zoar* tico, cujos nomes acharàõ apontados na minha FolyanthçA da terceira impreflaóno trat* %. cap . io6. deíde a folha 57 1. atè 579.

Ajuda a vir a conjunção mental, com tal condição que fe tome nove dias èm jejuai em quantidade de huma oitava feita em pò5 emifturadacom mCyo quartilho de caldo de grãos pardos. Em certo homem muito perfeguido de accidentes dc pedra tem feito maravilhas a dita raiz, dando huma oitava delia mifturada com meya oitava de bom almifcar , desfazendo eftas duas coutas em mcyo quartilho de agua cozida, c bc rn ef- premida com a erva chamada alfavaca dc cobra, ou com a raiz da erva chamada Ono^ nis» ou íemoraaratrijqueemPortuguezíc chama rilha boy«

^ Árvore Angélica , e fuas virtudes «

ESta Arvore fe cria no Cçrtaó, gu matos das terras da Amencaicujosfrutosíaóra* manhos como huma ameixa pequena j he fama publica, e conftantequc opòdt ftss frutos mata infalivelmente as lombrigas: tem admiravel virtude para as febres malig¬ nas, como confta , pois fc mandou huma pouca ao Senhor Rty D. Pedro ÍE por grande contravencno»

tMeriganga , e fuas virtudes .

HE huma pedra âítificiofa, que hum Gentio enfinou a fazer % hum Rèligiofo da Cpmpanhi* de JESUS, em Goa,' onde íeconíerva a receita delia: ferve concrá os cltiílicidios , para o fcirrho doí moribundos, e para os que cftaò taó apertados da gar¬ ganta, que naó pódem enguiir; conforta muito o eftomago# He boa para íciatica, e tem tantas virtudes para outras doenças $ que íe fazem incríveis; a quantidade cm que fc applica íaó de quatro grãos, atè íeis cm mel de abelhas* ou cm marmelada*

Artequím 5 e fuas virtudes J'

ARtcquim he hüa fruta Comprida^do tamanho dc hüa grande ameixa faragoçans, quatro quinas j efta fruta fe criaem cercas fíVorcs longe da Indi*tc íç traz a dia por

nego-

21

DE VÁRIOS SIMPLICES.

negocio para fazer tinta ama relia , c em muitos íeculos fc foube, que tivefíè outros .prcítimos atè que Deos compadecido d;>5 novas doenças que os homens padecem, per- Uuttio que íe de.fcobriffcm novos semedios com que fecuraíTem. Muitos exemplos pu- dc* a ailegar em conímmçaõ deita verdade, baile por rodos o Artequir;, do qual íc def- cubti o que cora a lepra, e a todas as cómiche ens deíefperadas, fero ier neceílano tomaiia pela boca, o que fe foube caíualmente , porque vindo huma embarcaçaõ carregada de Amquinç, le deitou algumas noit s hum kproío pafi geiro.que vinha na mcfma em bar» caçaõ encoítado íobre os iacoscheyos de Artequins , e dentro de poucos dias fe achou perfeitamente faó: cu lenho eíta fruta para a mjítrar aos cm iofos»

Pào Qumato , c fuas virtudes *

R Alado em fubtiliílimo , e dado a beber em agua, he gradde contrapeçonha * c contra mordeduras venenoías.

/ 4; V',- - . . v ' i.V '• ' . . . ; i 4 ;■ •'

Raiz de Monguz^efuas virtudes.

K- - / - ~ ' ' ' ' \ f

ESta raiz tomou o nome de hum animalejo, que tera a fóima , e corpo de hum feraô cite coítuma pelejar com es cobras, e tanto que íe fente ferido larga a peleja, evay buicar araiz, e maítigandc*a volta a continuar abriga, e affimfecura, e defende da a mordeduras da sobra atè que a mata, e o Manguz fica íalvandoa vida nefta forma.

Serve moida em agua, e bebida , e poita íobre a mordedura contra todas as fcrkiasds bichos peçonhentos»

Serve na tnefrna fôrma, bebida em pequena porçaô, contra toda a outra efpecie de veneno, e contra as febres , e dores Nephriticas ; e fatà muito melhor os kuseffeitos* fe feder a beber depois que o doente tiver tomado tres onças de agua Benedíèta , on íeis grãos de Tartaro emetico.

Serve, trazida no braço junto á carne, para defenfivo dos bichos peçonhentos, e pre« parada em azeite ícm íal, íei ve para curar inflammaçoens, e boftclas da cabeça®

0 ?

Coce de Maldiva) e fuas virtudes

ESte coco nafee no fundo do mar tem a fórrm de rim, e nafeem fââ arvore dons peJ gados, a cafca negra, e o miolo com a caíquínha parda; he branco como o coco que ic cume , ou de branco parap»rdo; da cafca íc fazem púcaros como barquinhas, com pés, e azas de prata para beber , porque he grande cotacravcneno, eos Mouros , e Gen¬ tios da Afia fazem deiles giande dlimaçaõ : a onça deite coco tem mais de dobrado va¬ lor ds pedra Bazar.

Ser ve preparado em agua , e bebido , contra todo o veneno, e para as febres , e para vencofidadcs melancólicas , e para as obtirucçocns;e hc admiravei cordeal paraasbexi^ gas.

Tem virtude para abforber os humores venenofos , e circular o fangue,ukndo ddlc; ç&mbem faz grandes efkitos nas febres malignas, e nas febres procedidas de Plcurizes*

Coquinho de Melinde , ou Macoma% e fuas virtudes ,

HE fruto de huma arvore chamada Macomeira, e tem huma cafca muito dura, que fe mo coita íe naô com ferra, he muy felpuda , e dentro tem o coquinho como coco de comer.

Appiica-fe centra as ventofidades bebido em agui. Também fe ufa delle na tnefma forma contra os flatos, c para abater a cólera, e confortar o cftomago resfriado , ouie« Jhxado.

Raiz de Miihomens) e fuas virtudes .

Ri i.fecflãrgiz no interior do Certaõ do Brafil , c fe applica contra toda a efpecie j de veneno, eíendo de bichos peçonhentos, bcbendo;í preparada em sgua, e pondo os pos da raiz na ferida.

Serve

22

MEMORIAL

r

Serve, b?b;da m mefma fôrma, contra febres malignas, contra mfl imoi^çoens do figa* do, e bofe; e os pos preparados 5 e lançados nas chagas dagrangiena, he rernedi > ej^cl- icme,e curativo , } oíb t&mbema raiz da parte para onde querem que na<3 corra agran» grena ; e ufa fe ddia para toda a enfermidade; e por ter univcríal a fus virtude > lhe deraó o nome de Mii* homens.

Dado opò defta raiz em huma onça de agua ardente curs prefentaneaméte as dons de cólica, tem virtude vonmiva,e por efta razaó cura muitas doenças com grande felicidade Provoca vomitos, e por eftc caminho aproveita em muitas enfermidades.

Raiz de Tambuape , e fuas virtudes.

NAfce na Bahia, e tem grande virtude contra veneno; preparada, e bebida em agu» íerve contra as dores de tftomago, e lombrigas

Batatas do Campo y fuas virtudes ;

EStas Batítas naó feachaõ fenaò no interior do Certaõ do Brafil, aonde também íe criaôa Tambuape, e Mil*hooiens,c teó rara?.

A fua virtude naõ hc outra mais que hum finiffitno contraveneno para as mordeduras de bichos peçonhentos, tomando a barata picparada com agua, e pondo-a na ferida.

Fava de Meltnie , e fuas virtudes .

HEfxcellente remedio ( preparada cm agua, ou em vinho, e bebida) contra o mor3 dexim, c contra dores de cftomago , e do ventre. Também ác applica para ventofi* dadesjcpara quartans*

Raiz do Queijo, e fuas virtudes .

HE efta raiz muito quente , c por iffo íe applica às enfermidades , que procedem frio. Efta raiz íe ha de dc moer em fubtiÍiítimo,ou roçar em huma pedra çumo dc 1 maõgallegojou com qualquer outro, de forte que fique hum polme muito liquido,e deftepolme fe deitaõ cinco , ou feis gottas nos lagrimacs dos olhos í o qual remedio obra maraviihofos effcicos nos accidentes de gotta coral, porque repentinamente tira o accidcnte, e entra o enfermo cm leu prefeito juízo, corno certamante mc confta

Serve o defta raiz, mifturado com huma gottas de çunio de limaõazèdo, para o ar; mashi de deitarfe dentro nos olhos, no mefmo dia que der o accideme > porquedefta forte nem itá o mal por diante, nem tornará a dar mais vezes.

Do me fmo modo fe applica o da dita raiz para todo o genero de peçonha, aílim co¬ mo mordedura de cobra, ou de outros quaeíquer bichos peçonhentos, untando com o polme da tal sa z a parte onde o bicho mordeo, fendo que o principal remedio he, tomar o tsl pela boca mifturado com meyo quaitslho de agua roíada, ou deeícorcioneira: e íea peífoa , a quem mordèraõos taes bichos , eftivertsô dcfacordada que pareçr morta, façab lhe tres,ou quatro terraftçaduras entre as fobrancelhas, ou na molheira; e íe deitar fanguc, untem-o muito bem fobre a mordedura , e como favor Divino tornará em fi, e viv irá.

Serve mais para aíTombrados, e endemoninhados, e aeftes fe applica para que fe odetnonio, porque nsõ ha de eíperar que fe lhe deite em os olhos qu atro vezes.

Serve o poírne defta raiz , leito com çumo de limaõ aZedo , e deitado nos lagrimaei, para defpemros bêbados.

Serve também para madurar, e fazer vir a furo osapoftemas,untando«fe aqueila parte que quizerem que arrebente, com o polme da dita raiz.

Serve para a dor de enxaqueca , feita a raizern , e tomada peia venta contraria onde efta a dor, como te toma o tabaco.

Serve para fazer vir a regra ás mulheres , e para os accidentes da madre , chamados uterinos, a que as mulheres ignorantemenre dizem que lhes fubioa madreagarg >nta , é que as aíioga»

)

Sc

2}

DE VÁRIOS SÍMPLICES.

.

Seromopòdefta raiz mifturarem ou-rotanro Jc gcngib e, c meterem hutna pou¬ ca «kíia imftura pelas ventas do doente qu- rerrniio I \rr, , inhriKvdoK-ntc acordando fomho.e elpiriarà; e fe nem acordar , nem eípirrar, he final dc morre»

S ccorrc grandemente á íuc.llas pcítaas, a quem íe deo algum veneno, pondolbe o

da tal raiz nos olhes com çumo de liaiaõ, edadhe cambem a beber hutna pouca quanti¬ dade ddh.

Ap?oveita muito aos cansaremos , com tal condição, que naõ fe applique no prmiei- resdiâs das camara*, porque as pòckcftancar logo, e naõ he figuro reptem logo os hu- meu es, mas convem deixar d<dcarrrgai a natureza.

Sobre todas as virtudes da rau do Queijo, a que leva» palma, he que acorda aos doentes, que tem modorra, ou fomno taó profundo, que fentem as ve mofas ía? j oias; nc quai cafo o fubtil da raiz do Queijo, mitlurado com cantas gottas de limaó aze¬ de, que fique hum poime, deitado tile nos bgnmaes dos olhos, os acorda de íorte que fic^õ capazei de íe confcfiar , c fazer teílamcuno ; m is porque nem em todas as terras fc achará a raiz do Queijo, quero, em foccorro dos que tiverem íbmnos p ía diílimos, em* íinsrlhes outro rtmedio facii , com que certa , e iníalhvcl alente acordmàõ, e naõ po¬ dei àõ tornar a dormir, fem tomarem amendoadas. O remédio, he, dar ao doente por tres dias em jejum quatro onças de infufaó dos trocifcos de Alan Jal»ccad i por papel mataboraó. Os que quizerem certificarfe da quaíi milagroía virtude que dle remedio teui para vencer todas as modorras, eafFedlos foporoios, ve jaó a fuinha Polymthe* da terceira impreflaó trat.z.cap* iç.pag.ioç. num. 14. aonde ucharàõ nomeados os doentes que depois de tilarem ungidos, epianteados por cauia de modorrasinvenciveis, livrey da mcrtecom ofobredito remedi «

Peço pdas Ghsgas de Ghriílo a todos osJMedicos que neô defprezesn aeíle remedio porque no d feurfo dc cinco ntae oitoannos ainda naõachey outro taóefficazpara ven» ecr as modorras como he a dita intuíaõ.

Raiz de Ginfaoy e fu as virtudes .

ESta raiz vem da China , e íe faz delia grande eflimaçao; tem virtude Contra febres agudas , e querem que feja tomada cozida com franga©, para aqudles enfermos que ciízó nos últimos paroxifmoí.

Masarazaódiz, q tomada pequena porçaõ em agua da fonte, e bebida no mdmo cal» do <1e frangaõ,ou franga, he admiravd remedio para qualquer enfermo proítrado, desfale¬ cido, ou esfalfado. Ajuda muito aos faílientqs, porque lhes excita o appetite de comer*

Raiz de ejfttoçuaqmm , e fuas virtudes.

0

ESta rsiz fe cria na cofta de Moçambique defronte das Ilhas de Qtrrimba; he fin« guiar, porque as fuas virtudes íaò de conta£l .

Trazida ao pefcoço cahida fobreacarneipseferva de toda a eryíipda na can,edetod<* o genero de malefícios , e doar, e íuípende aeryfípda, poftada parte paraondenaé querem que corra.

Aranhas do Peru , e (uas virtudes

NO Peru, ou índias de Caíldla ha hum as aranhas muito grandes * taÕ venenofas, e peçonhenta*, que em breves hoi ás mataò as peífoasaqucm mordem. Oremedio mais certo, einfallivel, que fe tera achado contra hum veneno tao preíentanco, he untar s mordedura cinco, ou íeis vezes Cada dia com o leite que deitar de fi humafolhl de figueira daquellas terras, cortando-a com huma faca. Digo, figueira daqudías terr ; $■ porque fendo as taes figueiras muy femelhantes, e pareci hs com as de PortugaI,diíFc* iem com tudo, em que as de Portugal perdem as folhas tanto que chega 0 inverno, mas as do Peru as confcrvaõ verdes todo o anno ; o que fem duvida foy ahiffima providencia de Deos; porque como o leite das fuas folhas he o total remedio das taes mordeduras, quiz Deos que todo o anno as houvefle para foccorro dos homens, e remedio das dicas mordeduras.

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MEMORIAL

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Pão de Angariarifua [emente, e fuas virtudes*

ESta arvore (e cria em o R yno de Angolas o páo da dita arvore, e os frutos, que íaõ hüs caroços compri jos como caroços cie tamarasftemgrandiffima virtude para pro¬ vocar a ourinâ , e para desfazer a pedra dos rins, c da b. xiga; alimpa todas as difficulJa, des, e humores feculentos, que fe criaônas fpbreditas partes, deitando-os peias ourmas. Tem muita virtude na cura das hydropdias, de qualquer caíta^e condição que fejaõ.

O modo de uíar deite pâo, ou frutos para que façso o bem que fe pertende, he o fe* guinte. Duas oitavas deíte páo limadc, ou feito lasquinhas rniudas, fe deitaráôetn huma panela de barro com huma canada de agua da f me, c fe deixaraó citar de iofuí&S por tempo de vinte c qu tro horas, no no fim das quacs te fervera de modo, que de quatro quartilhos fiquem tres , c deita agua coada daraõ ao doente mcyo quartilho etn jejum, e outro ao Sol pofto , naõ comendo nem bebendo coufa alguma, menos que tsnhaõ paf- fado tres horas ; advertindo, que para cite remédio faZcr os grandes proveitos que coft tu ma ms íupprcítoens de ourina , deve o doente ter tomado primeiro dous vomitonos dg Tarcaro «metico, ou de caparroi* branca, fsngrandode no íeguinte dia quatro vezes, c no terceiro tres ; porque cfte cato he taôpcrigoio, ciutn.maric * que fe lhe naõ aco¬ dem com grande p.rcffa , mata dentro de oito > ou nove dias. Eír tenho butna grata ie crença , e experiência dos vomitorios de Tartaro emetico , ou de vitriolo branco para remedio das fupprcfíocns ; ou fejaõ altas-, oubaxas, que os anteponho» e ufo primeira que as fangrUs* Advirto, que feeft? remédio falhar, que eu tenho hum fegredotaõ ma* ravilhofo, que tornatcy o dinheiro , que me derem por elk, ic demro.de quatro dias na5 fizer o effeito delejsdo ; mas com tal condiç 6 , que o doente tome prmeiro que tudo o$ vomitorios de Tartaro emetico, ou de Quimilio, e oito fangrm nos braços osquequi* 2erem certificarfe da verdade, e virtude do dico remédio, vejíóa minha Polytmhta da? terceira imprefiaórra*. z, cafj, 8 \fol, 488. àznum, 57. «tè 49. aonde achar&ô nameadasas pefioas queeftando ungidas, e tidas por incuráveis, livrey dc fupreíToens «lias por mercê de Deos, e beneficio do meu fegrcdOe

Do Unicorne que a Ave Inhuma, ou Anhuma tem na te fia , t do efporaõ triangu *

lar que tem no encontro das azas , e fuas virtudes .

N As lagoas , e Rio Saó Francifco das CapitaniasdoBiafil andaõhumas aves, a quem os Natur.cs chamaõ Anhuma , ou ln huma, tem as ditas a ves m teita hum corno delgado, da grofiura de hum bordaôde &rpa,c do comprimento de quafi hum pal mo; e nos ncontros dasazaS tem hum etporaõ triangular do comprimento de hum dedo taõ duro como fc fora hum oílo: cífces efporocns, e corno da tefU da dita ave tc m íharsvi* lhofa virtude bezoartsca contra todo 0 veneno, e contra coda a malignidade d >s huroo* res, efcumando-os por fuorde dentro para fòra , corri tanto, que te deve dar hum eferupa* lo do dito típorr õ, ou corno feito etn pó, millurado com quatro, ou cinco onças de agua de cardo tanto, ou deefeorcion fira.

He remedio muito celebrado naõ contra todos os venenos, mas he infallivel reme* dio para os mordidos da cobra deCaícavel, cujo veneno he taò refinado, e aóUvo, que no mcfmo inítante cm que a dita cobra mordeo em qualquer paste, faz fahir todo o lan¬ gue do corpo, aflim pela boca, como pelos olhos, p los ouvidos, pelo cano da ourina, pelo nariz, pelas unhas, e pelo trazeiro ;aífim o moítraõ asexperi ncías de Guilherme Pifaó lib. 3, hiftor, natnr , fett. z. de Avibus fol.gi. Soubeste ds grande virtude do unicorne da ave Inhuma, porque bebendo naqucilas lagoas vários bichos venenofos , o inílmcto natural enfinou aos animaes que vivem naqudies contornos, que fe ajuntaflem todos aopèda» queüe rio, c naõ bebe fiem (em que aave Inhuma metefie primeiro alua ponta, eef- poraó das azas na dita lagoa, mas depois que a mete, bebem todos confiadamenre, fem que corraó perigo.

E fe algum dia acontecer que a cobra de Cafcavel(que he venenofiílima) morder algüa ptfioa, c naõ tiver o unicorne, ou efporaõ das 'azas da íobredita ave inhuma, po ctomar hum pouco dc pòda raiz da ferpentaria virginianâ,que na opinião tjc Roberto Bode , e de outros Authorcs graves, he o m lyox dc tode sos antídotos contra eftas,c outras morde¬ duras

DE VÁRIOS SIMPLICES.

25

duras vcnenofss ; e na falta de qualquer deftcs dous anddotos , íc pòde tomar hum pouco dc eíb rco frefco da mefma pefiba mordida, porque fem embargo de que he remedio hor* rorofo, he admiravel, como tem molhado a experiencia dos que Foraõ mordidos dadiu Cobra , ou de qualquer outro bicho peçonhento*

Jamvarandim y e fu as virtudesi

NA Bahia i em Pernambuco nafeem humas raizes delgadas \ c compridas ] què oi naturaes daquellas terras charnaó Jamvarandim^ cuja virtude hc milagroíifliraa contra todas as mordeduras deanimaes venenofos , pizando-a ,ou verde ,ou feca , c pon- doa lobre a parte mordida; provoca muchiflimo as ourinas ; faz cufpir muito mafcaíido-a| he grande contra veneno, e tem outras infinitas virtudes , que pouco a pouco fevaõdcfg cobrindo com 0 tempo*

Da tinta negra , qué vem da China , c hamadâ Dolanqüim ? que foçando-à levemente com agua commua ,faz huma tinta muito mais excedente que aquella 5 com que eferevemos em Portugal %

DA China vem para a índia humas taíhadinhas negras , eftrcitas, e chatas, do comprí^ mento dc hum dedo, das quaes humas ía© douradas, e outras naô; cujo preftxmd ordinariamente he para íervirem de tinta para eíerever ; porém tem outra fervenria tao, admiravel , que todo o dinheiro do Mundo he pouco para fe pagar; porque quando os olhos fe esbugaihaõ , de íorte que parece querem rebenrar , e faltar fora do rofto, faz a cal^ «inta hum cffeito taõeftupéndo, emilagrofo, como cu vi em huma filha de Caetano da Mello deGaftro Vifo-Rey da índia. Deu a efta menina huma dor taõ repentina em á olho direito , que de improviío inchou , e íe fez tamanho como huma laranja , e quando iodos cemiaõ que o olho rebentafíe * pela grandeza a que tinha crefcido a inchaçaõ , fulou huma migalha da dita talhadinha em hum didai de agua da fonte $ e com efta agua^ ou polme negro íe untou a palpebra decima, e dc baixo ; e foy couíacomo dcencanto»' porque cm duas horas íe desfez ainchaçaó, ca vermelhidão, e farou por modo demilari gre. He iuperior remedio para eftancar todos os fluxos dc fangue do peito , mifturando-a em agua dc tanchagem , de íorte que fique a agua bem preta , c grofla como polrnet Et i fuy teftemunha deíte fucceflb , e da brevidade com que luccedco na inchaçaõ do olho|

Raiz da Maranga > e pao da mefma arvore , que tem femelhante vir¬ tude como tem a fu a cafca ,

SÊrve parâ curar todas as fèridas penetrantes* ou ícjaõ de armas 9 de balas ] ap^ plicada na fórma feguinte*

Farfeha em muito fino , e defte formará huma mecha * corno fe ufa na Cirur*f gia , e molhada efta com a faliva , fe pulverizará deftes pòs , e fc meterá nas feridas ; po-| rèm advirta-fe que a mecha ha de íer do tamanho , s comprimento da meíma ferida , pa^ ra que a penetre toda , c pelo contrario fe íolaparà , porque tem tal virtude , que logo fe-í cha ; e em cada cura fe irá diminuindo a mecha i dando lugar a que crefça a carne ; e corra efta cura fe efeufaõ outros medicamentos ; c ainda que a ferida tenha langue piZado, nací ha miftef mais medicamento que os melmos pòs , os quaes confomem , e efpalhaõ todo^ o langue pizado que tiver a ferida ; e ainda que fe ja penetrante * c no perto , depois delia fechada ha mifter lambedorcs * nem mais remédios.

Serve mais para curar toda a chaga velha, e rebelde, ainda que haja mifter cauteri¬ zada, applicando*íe à chaga os pòs da dita cafca, e todas as vezes qtie curar, íe la¬ vará a chagt com agua morna* e depois pulverizará muito bem com os ditos pòs ; e também cortaô todos os lábios da chaga, e earne podre* que fica como cauterizada» dando alguma moleftia com o ardor , que naõ dura mais que meya hora*

He também efficaz remedie paracurfos de langue, tomando a cafca cozida com ira frangaó recheado com ella , e lem ial , nem tempero algum , fe darà 0 caldo a beber ao> enferma pela manhãa em jejum, e de tarde , c brcvemente lararà*

Q Tami:

MEMORIAL

Também beproveitofa a dita cura para dor de olhos; e ainda que fcja com granda detrimento do enfermo pelo grande ardor que caufa, aproveita muito appücada na forma feguinte* Mandaráó maftigar a cafca por qualquer peffoade manhãa em jejum an¬ tes de lavar a boca, c depois de bem maüigada, apefioa que a maftigou, bafejará com a lua boca nos olhos do enfermo repetidas vexes , e continuando todos os dias com efta cura , brevemente íentirá melhoria»

Tem propriedade a raiz , e pao defta arvore para affugemar todas as cobras , e vibo* ras , e quem a trouxer comíigo eílá ifento de que o offend*õ os tacs bichos , porque em lhes dando o faro 5 ou cheiro daquella arvore , logo fogem.

Para as cutiladas abertas fe applicaõ os meímos pòs com acautela que fica dito, cal¬ cando bem a ferida , para que os pòs cheguem ao fundo ddla ; porque ficando alguma parte a que os pòs naõ cheguem, folapsuálogodetal maneira que lerá ncceffario tornai a abrir a ferida , por fer tal a íua virtude , que logo cria carne nova , com que fe une , e fecha a ferida.

Raiz das febres , que vem do Canari, e fuas virtudes*

Hamao os Portuguezes a efta raiz, Raiz Prefta , e hoje por devoçaò fe chama Raiz j de Noíía Senhora das Febres, eaflim íerve para todo o gênero delias, que padece o corpo humano , mas para a maligna tem mais efficacia , e a fara em breve tempo fem algum outro medicamento ; porém íe ha de advertir , que fe o enfermo eftiver abundam? te de langue , depois de tomada a dita raiz ti es vezes, fica huma fcbreíinha lenta, final de haver langue demafiado nasveas, e aífim depois de tomada portres dias ccnnnuosj he bom tomar algumas íángriaê, e depois alguma purga conforme o temperamento do fogeito ; e fe a quizer efeufar, continue com amefmaraiz, eterá perfeita faude; mas fe a febre proceder de abundancia de humores, fem duvida fe ddpedc fócomapri* meiravez que fe toma a dita raiz; mas firmpre he nectflario tomaíla cres vezes ao me* nos ; e aífim lendo malignas , ou tctçãs iirnpiices , ou dobres , cu continuas , ou quartãsj infalliveknente fe deípediráõ ; advertindo, que íc houver obftrucçoens grandes, co* mo do baço , ou da boca do eftomago inchada, tomada a raiz aflím p^ra fe tirarem as Fe-; bres, depois hc neceííario preparar ao doeme com xaropes aperientes, e depois difíò algumas apozerms de raizes frefeas comcoufas purgativas, a fim de ficar o fogcilobom mais perfeita íaude-, e mais ifento de tornar a adoecer.

Advirta-íc ; que íeefta raiz fe der para quartans, deve fer depois delias continuarení dous, ou tres mez.es s que he quando o humor de que ellas procedem , cftará cozido t c íe as quartans forem dobres , ou vierem todos os dias , que hc final de muita carga de humor corrupto, ncfte fe dará a raiz repetidas vezes em vários dias, porque deftc modo fe tem vifto com cila admiráveis eífeitos.

A quantidade que fe de cada vez , he hum pedaço còmo meyo palmo l naõ íendo a raiz muito groílà , nem muito delgada ; efta he a quantidade ordinaria para qualquer fo- geito , que virá a pezar oitava e meya ; e citando o doente no principio da enfermidade,’ cm o qual tempo naò faltaõ íorças , ainda que pareça ao doente citar fraquiífimo , como fuecede nas malignas, em que íe poftraõ, ao que parece, as forças, havendo-as em o corpo baftantes , íe podem dar até duas oitavas por cada vez , para obrar bem.

Moe-lc a dita raiz muito bem em pedra , eftando primeiro por algum tempo de mo¬ lho cm outra agua ,c aífim femoa em agua de beber; ou feoíogeito eftiver muito fᬠcil em evacuar fl íe moa em a terceira agua , em que lavaõ arroz , e aífim moida , c muito bem encorporada íe desfará em quatro onças de agua; mas havendo íede, fgja a fuffi- ciente , com que a natureza íe (atisfaça , e depois dc lançada a raiz moida com efta agua ' íc paliará rnanlarneme para outra porçolana duas , ou tres vezes , para que fe bote íóra alguma parte da raiz que naõ ficou bem moida.

O tempo ordinário hedalla pela manhãa, como outra qualquer medicina ; mas a ex¬ periência tem moftrado que dada quando a cczaõ quer comrçar a declinar, em tanta agua como eílá dito , conforme a fede do enfermo, faz prodigiofos effeitos ; dic heo melhor tempo para o leu bom íuccefio.

Também fe pode dar efta raiz, eíangrar nomefmodia, íendo neceííario; cotn adver* tencir? , q dande-íe a raiz pela manhã, lerá a fangria às nove horas, ou de tarde ; advertin- do também , que fe a raiz tiver obrado muito, ncfte caio naõ convem a fangria no mdmo

DE VÁRIOS SIMFLICES. ^

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porque he final de muito humor; mas defcançmdo o dcente , íe tornará a dar a fineíma raia em menos quantidade, c femprc dapiimeira ves ie dará mais* que he ate duas oitavas , e as mais vezes íe huma oitava»

O regimento de quem toma efta raiz , hc o commum cm todas asdcençss: nospiin» cipios dietas commuas : e os Portugueses podem comer fiangrãos pequenos cosidos.

Hc também exccllente efta raiz para aquejla doença, cm que a língua íefaz negra* ou amardla*

V - 4

' * ' ■' V ;

Raiz das Apoftmas , e fitas virtudes.

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SErve para refolver toda a forte de apoílemas , affim fimplices l como compoftos , in» teriores, e exteriores , c para toda a íorte dc naíeidas, mulas, e carbúnculos ; íervÈ também para pizaduras de fangue, por caufa de quedas, ou pancadas.

Serve para Pleuriz , e toda a forte de pontadas de fangue , e para todos cftes achaques fe applica naíórma feguinte. Tomar- íe*ha eífa raiz, e íe fará em migalhas quantidade de duas onças pouco mais, ou menos, e fe botará a cozer cm huma panelinha nova* que nao tenha azeite , ou gordura alguma , e ficando a agua defte cozimento da cor de vinho sinto , fe deitará huma pouca de farinha dc arroz , e fe cozerá atè que fique em ponto de amendoada , e íe dará a beber ao enfermo , que padecer qualquer dos achaques acima apontados, tres vezes no dia , pela manhãa , ao meyo dia , e de tarde ; e e li a fari»; nha fe manda deitar a refpeito do muito afeo que tem a raiz ; e quun puder bçber o co« íimento aflim mefmo , ie pode efeufar a farinha ; e na agua que o c nfenno beber , íe dei- taràó humas migalhas deita raiz a modo dc mfuíaõ : e íe o apoftema » ou outra qualquet naíeida eÜivcr ainda em langue, fe rcfolverá era termo de vinte e quatro horas, e íc cftiver na matéria feita , fe refolveià em termo de tres , ou quatro dias ; e ainda que íe refolva com efta brevidade, bom hc continuar dousannos, quando menos hum , e a ra* Zaõ hc , porque torne a acudir o humor ao mefmo lugar , ou a outra parte : e advir4 ta-fc também que depois de fc refoiver o apoílema , ou outra qualquer nafeida, darao duas íangrias nos pès ao enfermo , e huma purga refreícativa , para que dcfpcçatodoo humor , e malignidade , que a raiz tiver arrancado da parte donde tinha o apoitema.j Serve também para o baço, dado na forma fobredita.

Raiz \do Ar , e fuas virtudes,

MOida com 3guat e depois de morna íe untará o corpo da pçffoa que tivéro ar£ e também fe fará huma manilha , ou braçal de alguns pedsços, e fe atará nobra^ ço , ou cm outra qualquer parte do corpo , e trazendo-a comíigo tira a tortura que o ar faz na peflea.

Serve também para febres, moida com tanta quantidade de agua que bafte para k^ vartodo o corpo naíórma cfe.csfregaçaõ, c depois debem lavado íecubrirá muito betii com roupa baíhnte, c fuando ddpede logo a febre.

Arvore Quiri ato ? e fuas virtudes

ESta arvore, aqualchamaò Quiriato, ou por outro nome Fucamena, hepequenaj as fuas folhas faõ do tamanho dc hum palmo , dc mediana largura , e creípas a mo* do de folhas de Cajueiro.- arai z deita arvore tem particular virtude para tirar dores de cabeça , ou ao menos para as moderar ; delia fulada com agua fc faz hum palme , que ftpplicado fobre a teíla, e fontes da cabeça faz bem ao que tem dores dc cabeça, com tal condição , que cfte polmc ie repetirá muitas vezes, naó confentindo que fc leque.

Oleo de Alambre , e fuas virtudes .

COm razaô íe pode chamar ede oleo o mais excdlentc cpobaHamo por toda a Eu* iopa, porque leva ventagem a todas as outras medicinas no curar o mal doar, e outros grandes achaques : cbamava-le no tempo antigo o Oieo Santo*

Tomado o dito oleo no tempo de pçíte , todas as manhãas , c noites , feis gottas , ç um i Ç i tando

M MEMORIAL

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tando asvcntãs donarii cocp elle, naõ co nfente pegarfe veneno dos ares maos; c ío qu« eftiver tocado defte mal a fc lhe a beber cm agua dc cardo íante , dc hum atè dous efcrupulos*

Quem íefentir cora grandes fraquezas perigofas da Cabeça, como he o ar , parslyííaj gotta coral, &c. tome pelas manbãas cm jejum oitogottai deite oleo em agua cozida com betonica , ou com alfazema , ou mangerona. Também feitos huns bolinhos dc aflu. car , mifturado com bumas pingas deite oleo, tem a mdma virtude. 1L lendo caía que huma pcííoaclteja tocada ücltes males do ar , de paralyfia , ou de outras grandes enfer¬ midades, naõ ba remedio melhor que tomar duas pingas defte oleo. Untando comeile as ventas , fontes da cabeça , e ajunta do cachaço t«ãra logo os ditos males, c fe cobra o entendimento , e movimento cimo dõintes. Deitadas humas pingas defte oleo fobre as brazas, c tomar eíte fuma pelos narizes , livra aos que eftaõ tocados do dito mal.

Tomadas algumas pingas defte oleo em aguadcfalfa* alimpa a via das ourinas, co-1 mo de pedra , e outras miinundícias.

Sara os membros encolhidos , as veas, e membros apoderados da cambra , untando-os com cfte oleo, mifturando alguns unguentes pertencentes a iíTo.

Hum efcrupulo , ou meyo defte oleo , tomado em agua de as temifia , applica o parto às prenhadas.

Também cura os corrimentos frios da cabeça, e alenta ai ourinas.

Untando com cfte oleo as ventas , e o coraçaó, tira as grandes dores da madre; co¬ mo também feitos huns bolinhos deaflucar mifturado com efte oleo, c tomado alga-’ pias vezes.

Também he bom para grandes fraquezas , e ancias do coraçaõ.

Naõ fortifica as forças do coraçaõ, fenaõ também as aguas * e o fígado, c teui grandes forças para fazer digerir o ccmcr do cftomago.

Tomadas tres pingas defte oleo em agua de cardo fanto, Jogo pouco antes quedèo paroxiímo, ou antes que queiraó vir as maleitas , e fuando muito bem fobte iftojfara* c as tira logo.

Hc bom para catarro, c corrimentos.

He bom para dor de dentes cauíadas de conimentos, tomado em agua de tsncha* jgcm , e gargarejando com elle.

Hc bom para tericia, tomado em agua cozida com folhas de morangos, oucomrair de grama. 1

Hc bom para a cólica , tomado hum efcrupulo , ou naeyo era caldo de gallinhs.

Para dores da madre, tomadas fetc, ou oito pingas em agua de herva ddi eira, ou dc Eor de laranja.

Para fazer deitaras pareas, quando naõ querem fahir , tomar fete, ou oito pingas cm agua de artemifia , ou dc fabina.

Para o raenftruo que naõ quer vir, tomar íete, ou oito pingas em agua de herva cíd dreira, ou cm agua cozida com ar remitia , ou com herva niontãn

Serve para os que cofpetn , ou vomitaô íanguc, tomando tres pingas em agua Cozi¬ da com folhas de íalfa bem pizada.

Serve aos que lhes foge o lume dos olhos J cficaô como atordoados , e tira o empa^ charnent ■> das aguas.

t Fortifica muicoavifta, tomando por muitos dias em jejum hurrça chicara de agua cozida afogo lento com meya onç3 de raizes dc vakriana, deitando quatro pingas do dito oleo cm cada chicara da dita agua. A quantidade que fe por cada vez deite oleo, he de quatro , feis , fere , ou dez gottas , conforme a comprciçaõ , e forças do doente.

Eftes iaõ osremedios, que mais ordinariamente nos mandaô da índia, e dc outras terras do Mundo , e de que ternos algumas noticias ; mas porque todas ísõ em confufo8 c pouco feguras, trabdhey por examinar os verdadeiros prcftursos dos ditos fimpliccs*' para que com melhor fegurãnçà podcficríios ufar delles ; queira Dcosque oscffcitos fe^ jaõ bcws» como he o ddejoque tenho do geral aproveitamento.

DE VÁRIOS SIMPLICES.

29

Oleo Tranqttillo j fuas virtudes ? e qualidades .

HE hum efpecifico remcdio para todas as cfquinenciaá, c coda a dor J c inflaroma® çaõ dc garganta , e as faz abrandar dentro de hum quarto de hora , fomentando a garganta com clle mornc. Abranda , capplaca as dores , e todos os tumores, que cauíaõ infiammaçaó. He maravil jioío para a infiammaçaó dos olhos, pondo-fc em tiras de panno á noite quando fe vay deitar: he muito bom para toda a cafta de chagas, appiicado lobre fio* de panno : hc fingular , e incita a quem naõ pode dormir appiicado nas fontes? he maravilhòío para as almorrcimas, e f z aplacar as dores delias, c defeca as fuas hu¬ midades, esfregando com hum bocadinho de aigodaõ molhado no dito oleo morno: he tambem feberano para todas as cólicas ventofas , e beliolas, ou enchimento do eftoroago, c para toda acafta de dor de ventre , applicando-o morno íobre o ventre , fazendo huma iomentaçaõ como nas elquincncias , e tomando huma ajuda purgativa , e carminativa, jijuntandoihe mcya onça do dito oleo : também o loavaraõ para os Pleurizes , c fluxo de fangue , c do ventre , fazendo huma ajuda de caldo de gallinha , ou cabeça de carneiro, lançandolhe dentro huma onça do dito oleo. He admiravd para as dores de cabeça , fa¬ zendo huma liga , a qual enchereis de miolo de paõ de centeyo amaçado , ou miftwrada coro o dito oleo, e pofta íobre a tefta: tem outras muitas mais virtudes, quenaô pu; blico por naõ fer enfadonho aos leitores*

Ponta da Abbada, e fuas virtudes.

SErveo defta ponta tomado em quantidade de meya oitava para matar lombriga^ com talcondjçaõ, que fe tome cinco dias em jejum desfeito com agua cozida de grama, oudecodeço: a agua em que efta ponta efti ver metida hum quarto de hora, be¬ bida alegra o coraçaó,c modera a lede : paraefquinencias, e para asparotidas, hc grande remcdio untar as taes partes com o polmc que fe fiz r com efta ponta , upetindo efta dili¬ gencia muitos dias: os que padecem palpitações decoraçaõ, conhecem grande alivio bebendo a agua que eftiver quarto dc hora dentro de hum copo da ponta da Abada*

Raiz da Minhaminha , ou Quiminha , e fuas virtudes,

TEm efta raiz taõ prefcntanca virtude contra veneno , que iguala , ou excede ao pao Cobra , o que experimentou hu Cif urgiaõ eftrangeiro, chamado Monfieur Eftru- que : deu rofalgar a duas gallinhas, e depois que tíveraõ o rofalgar noeftomago, cahi- raõ como mortas , e dando a huma delias a Minhaminha mifturada ccrn agua, c dando á ©utra o pao Cobra com animo de experimentar qual deftas raizes tinha mais virtude contra o veneno, obfervou que ambas efeaparaõ da morte*

Outro Cirurgião FlamcngOjChamado Alexandre, quiz examinar a virtude da Minha- minha , e para ifio deu hum pouco de folimaõ a hum cachorro , e depois de cahido deu a beber ao caõ a agua em que tinha falado a Minhaminha , c íe levantou, como fe naò tivera tomado a tal peçonha. Efta arvore nafee nas partes da Embaça, he huma mata pequena, que naõ faz tronco \ mas cria humas vergontinhas delgadas que naíccm da iaiz, docomprimentode hum covado pouco mais, ou menos ; a folha he pequena , cfaz tres pontas: tem efta raiz huma qualidade taõ rara, que íc com cila lhe mifturarern ou¬ tras raizes, ficaõfem força , nem viriudealgutiu, porque a Minhaminha lha chupa toda, c por illo lhe chamaõ Minhaminha , porque na lingua de Angola Minhaminha, quec dizer engole , porque engole a virtude das outras \ ou porque engole o veneno que acha no eftomago, e o faz deitar fóra, e le o naõ acha, naõ faz mal*

Raiz de Mutututu y e fuas virtudes .

As terras de Angola ha hüas arvores a que os Gentios chamaô Mutututu , faõ as di- tas arvores muito parecidas com o noíío Medronheiro , afiím nas folhas , como rios frutoSjfem embargo que os taes frutos,nem íc comem, nem tem goftojporém a raiz defta arvore tem grandiflima virtude para eryfipclas, c inflammaçoens dosteíUculos, e de

; " C 5 outras

30

MEMORIAL

noras partrs : íulada em pc jra com agua ordinaria ate Fazer pòlmf i e spplicado morno fobre s eryíípela , e parte infljmmada, ou dolorofa, lhe fa? grandiflimo proveito , com íal condtçaô, que naó íc deixe Ice ir o dito polme, antes continue o dito remédio eu» quanto a ooença o pedir : muitos ulaõ deite polme para moderar as dores de gotta quen* íe do polrnc íobredito ic fazem ajudas maravilhoías para as camaras de fangus, ouüu^ tras muito quentes.

•A* v 1 f?

Bucho da Ema , efuas virtudes .

NO$ matos do Maranhaõ, e no graõ Pará íe criaô, e vivem humas aves , a que cba« mao Ema , cujo corpo, e grandeza h e mayor que o mayor Perum : a fumea, ou membrana interior do bucho delta ave tem grande virtude para confortar ocítomago, e desfazer a pedra da bexiga # e fazer ominar, dando huma oitava do tal bucho feito em pòs midurado com meyo quartilho de vinho do Rhim , ou ecn meyo quartilho de agua cozida com mcya onça dc Virga aurca , ou dc Frcca marinha, ou de cerfolio ; mas he ncceflario que o doente tenha primeiro que tudo tomado hum vormtono de íeis grãos de Tarcaro emetico , ou de meya oitava de caparroU branca , e íe tenha fangrado nos braços noves vezes dentro de tres dias : os que com eíla precifa picparaçao derem eítfi[ reiqedio, cqníeguiràó maravilhoíos proveitos nas luppreíloens daourina.

* f . * 1

Pao do Muhamgo y e fuas virtudes,

OMubamgo he huma arvore agrcltc , cuja cafea hc branca , a folha de huma parte he branca , e dc outra verde comoafoiha doalemo, hc compridinha* equaíi de tres dedos de largo \ cheira efte pao muito , ja quando ellà florido , e alguém entra pela mato onde ellà adita arvore, deita de íi hum cheiiO dehcioíiílimo : o pào deita arvore he branco ; a raiz roçada de forte que faça hum polrnc , tem grande preítimo para as par¬ us paralíticas offendidas do ar, untando-as com elle quente, bebendo também deite polrnc couía de meya colher j também fe a beber aos que tem camaras dc frio , e fe dekaó ajudas delle para o tnefmo intento. ,

Feita cila raiz cm , e tomado como tabaco faz efpirrar tanto , ou mais que a feva» dilha, e ufadp deite modo aproveita muito às mulheres, quando eftàó aííakadas com os accidemes da madre. Eíle pào naó falta no mato da Embaça , de Cafange , e em ou- iras partes»

"i i. _ ,• 1 v. " ; . 1

st.. Linguas de S. Paulo , e fuas virtudes ;

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Stas pedras, que verdadeiramente tem o feitio de huma lingua de paffaro, e íaã a pardas de cor de azeitonas de Eivas, achaó*(e nas terras de Malta-, rem grande virtude contra as febres malignas, e quacíquer outras , porque feiras em iubtiiiíEmo mitigaõ muito odemaíiado calor das febres , aliviaõ as andas, e algumas vezei provo-' caõ fuor \ ãttribuem-lhe muitas pefloas grande virtude contra o veneno , porque coníta de algumas experiências, que dando-le veneno em certa iguaria de que comeraõ quatro pefloas , eftiveraõ todas quaíi mortas , e acodindolhcs com o deitas pedras , eícaparaõ: o que eu poílò certificar como ttftemunha de viíta, he, queeítando huma mulher un-; gida poroccafiaó de huma febre maligniííima , taó vifinha da morte, e taõ dcfacorda- da, que deitando-felhe ventofas farpidas com golpes bem profundos , naó as fentro ; ne(4 te aperto lhe dey o meu cordeal, a que ajuntey o de duas linguas delias, que lhe mandey de minha caía , c no mefmo dia capou da morte. Bfta mulher eítavaemeafa de Fu cunhado Manoel Pereira, morador á Boa Viíta, junto ao patcodasgakgas. Eh tas pedras fe achaõ tambem na praya deCaíomdama no Rcyno de Angola: também íc achaõ outras | edras na.mefim praya redondas do tamanho dos grãos dc bico de Por¬ tugal, tilas í ò pretas, como laô as pedras da cobra de Dio, e tem a melma virtude que as de Dio, porque poflas fobre as mordeduras de qualquer bicho venenofo chit* paõ cm fi o vensno: chamaõ*fc citas taes pedras, Olho de vibora.

DE VÁRIOS SIMPLICES. »

Pao §luifeco y e fuas virtudes*

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DO Reyno dc Bangucl a vem hum pào , chamado Quifeco , o polme dcfte pâo ap* plicado fobre a tc ita abranda muito as dores dc cabeça: a meftna Virtude cem ©

| ao chamado QtfiCongc.

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Herva ffuitumbata y e fuas virtudes *

A Raiz defta herva tem virtude taó efficaz para fuípender as camafas ; que havendo alguns doentes que as tiveraó cinco, e íeis meZes f fem haver remédio com que fe eftancaflcm , com o f ò defta raiz tomado huma , ou duas vezes pararaõ de íorte que foy neceflario deitarlhes ajudas para fararem : o modo com que fe uía defta raiz he fulan- do-a em huma pedra com agua até fazer polme dc mediana groílura , c entsó fc hujna colher dcfte polme mifturado com Matete frio. Efta herva he mifito conhecida naquel- Jas terras, e ha tanta abundancia delia , qucacomem os porcos, hcalaftuda pelochaó, a fua folha he pequena , e redonda , deita huma flor pequena , e branca*

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Orelha de Onça y e fuas virtudes é

NA Bahia em huma terra chamada Cachoeira nafee huma herva , a que os Naturae$ chamaõ Orelha dc Onça , a raiz defta herva he chea de nòs , como hc a raiz do Cy- , com difterença , que os nos iaõ mayorcs , e mais groflos que os do Cy : certifica^ jaó-me algumas pefloas dignas de credito, que a tal raiz, Orelha de Onça , tetngran* diflima virtude para focconer aos toftigofos , e impicmaticos , com tal condiçaó , que fe tome muitos dias feita em fubtiliflimo , mifturado com duas onças de aflucar rofado velho , ou com cremor de cevada : na afthma faz grande proveito , camo tenho obfer- yado em hum menino , morador na Rua Nova, que citava deiamparado.

Peço muito aos Leitores queirao ponderar asfeguintes razoem com animo defapaixonado y porque entendo dar ao fentença a meu favor*

HE coftumc muito ulado na Corte de Pariz, e em outras Cortes, o Cidades gran* des do Mundo, que todas as pefloas que fabem algum remedio tfficazpara curar alguma doença rebelde , manda 5 fixar vários papeis nas ruas , e praças mais publicas das ditas Cidades , dando nclles noticias , que fulano morador etn tal rua tem cfte , ou aqueN le ren edio para curar tal doença , e naã contentes com efta diligencia , mandaò impri¬ mir muitos i «m que daõ conta dos remédios que tem , e os repartem com as pefloas qu® cncontraõ pelas ruas , pertendendo deftc modo que em poucos dias f ibaõ todos aonde podem achar íoccorfo para as doenças taõ rebeldes , que íenaó rendem aos remedios ordinários.

Eftc arbitrio taõ proveitofo para o bem commum deícjey muitas vezes pòr em exe¬ cução , e dar noticia a toda cfta Corte , e Reyno dos particulares remedios , que com incaníavel eftudo alcancey no difeurío de cincoe.nta eoito annos, para que os doentes fe aprovcitaíTcm dclles ; reprimi porém o til dcíejo até efte tempo , por faber que nelle fe naó faz obra alguma , por mais boa , e proveitofa que íej a , que a malicia , c o amargo- fo fel da inveja o naó converta cm veneno , juigandoa finiftramente : agora porém que nem as derraeçoens, nem os vários juízos , que fe haõ de fazer fobre efte meu intento* poderàóenccndcrcm mim o fogo da cólera, porque naõ tenho mais que cinzas a que me reduzirão os meus oitenta c oito annos , me refolvo a manifeftar ao Mundo que eu preparo alguns remedios, com que tenho livrado da morte a muitos doentes , que efta- yaó defamparados, e deixados ao arbitrio danatuieza; c porque me confta que muitas pefloas padecem doenças, que ou tiraõ a vida ,ou duraõ muitos annos , íepodcriaõ cu-’ jar, ic uvcflcm noticia que em minha cafa tenho para ellas remedio, efegredos parti* culares, quero apontallos aqui para que os Senhores Médicos, com quem puder mais o amor Divino, que a def&ftejçaõ humana ? ufçmddles, quando as medicinas ordina- lias naó aprovcitjrem?

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MEMÓRIA L

As doenças para quem fervem os taes remedios ? fad asfeguintes ,

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PAra al porcas, para febres malignas, ou b.xigas , para.gotta cota!, para flux js di íanguc , para luppreíloens altas da ouiina, para cezocns intermitentes, para accí** cientes uterinos , para almorrcimas9 para íeccar o icite, para vágados, paia lombrigas» c final meme preparo huina maffa , chamada Curviana, de grande virtude para as do¬ enças abaixo declaradas*

E começando pelo remedio das lombrigas, digo , que rariffimas vezes deixa dc deitar fora toda abicharia, que houver no corpo , tomando dous eícrupulos do duo remedio ires dias íuceeffivos , ou cm íubftancsa , ou em infufaõ de duas onças de agua commua»

A maíla Cru viana fc em forma dc pílulas em quantidade de huma oitava. Provoca efficazmcntc a conjunção mental, com tal condiçaô , que íe tome doze dias alternados, bebendolhe, paliadas duas horas, mêyo quartilho de caldo de grãos pardos, temperado com dezrais deaçafraó, e quinze grãos de defemcnte de falia, ou meyo quartilho agua cozida com herva mqntãa.

< A dita maíla defopüa muito as veas , 'ébm condiçaõ , que a cada oitava delia ajuntem’ hum efcrupulo de crocus martis aperitivo , e íe continue quinze dias* A dita mafia alivii muito aos afthmaticos, com talcotidiçâô, que paliadas duas horas, beba o doente hum* chicara de agua bem quente, cozida com cabeças de herva hyflbpoj ourres onças de agua chamada de milBores deítiliada em Mayo ; toma-fc leis vezes em dias alternados.’ Alimpa o eítomago de cruezas, e humores vilcolos , e fetoma íeis vezes em diasakcrna*, dos. Cura melhor que algum outro remedio as durezas > e opilaçoens do baço, os caro«J ços dos peitos das mulheres , e as alporcas , com tanto que fc tomem da tal maiía quatro efcrupulos , fegundo a ordem , que eníino na Polyanthea trat. 3. cap, 4 >pag. jyz, num . 84, Para as dores dc cabeça que procederem por cauia do eítomago, comomuius vezes procedem , obra a dita maíla maraviShoíos proveitos, com tanto que feteme c nco ve¬ zes cm dias alternados, bebendolhe em cima quatro onças de agua cozida com folhas dc cardo fanto.

Os que quizerem laber fe os fobreditos remedios íaô taô proveitofo* como eu digo* podem informar íe das mefmas pefíbas a quem curey com c lies , e ficarão ddenganados,* que na inculcaque faço delles, tem mais parte a compaixaô dos males alheyos , que» delvanecimento , ou ambiçaõ da fama , ou interefie proprio.

Os doentes que curey de alporcas antigas, fe achai ao nomeados no livro das minha Obíervaçoens Portuguezas na Obferv . j»p*g» 5?. e na Obferv. 8 z.pag, 480. e na Obftrvi c ie achai Àõ também outros nomeados no meu Pecuiio , quando filio na.' alporcas. s

Os que curey dc febres malignas com o roeu Bezoartico Curviano, faõ tantos , que naô tem numero , fallo fomente em trinta doentes , para osquaes mc chamaraõ depois de eílarem ungidos, e defamparados , e todos livraraõ da morte por roerce de Deos,c beneficio do dito Bezoartico , e fe acharão nomeados mPoijanthea da terceira imprcf- faõ notrat.z. cap. 10 5. pag. 57 1. do num.j. atè o ^^.-44.

Os que curey de accidcntcs de gorra corai , em que entrou hum que os tinha heredi-; tarios , fe acharàó nomeados na Poljanths* trat.z. cap.q. pag . 68. até 70. »

Os que curey de fluxos de fangue fe acharàó nomeados no trat, 3. até yft

Os que curey de fuppreffoens altas daourina, fe acharaó noditohvro cap.S$.pagj 448. do num. 37. até 49. J

Aos Senhores Medico» , a que parecer que fiz ferviço à Republica em lhe dar noticia dfe alguns remedios fecrecos, deque os doentes íenaò aproveitavaó, por lhes faltar » conhecimento delles , peço queiraó fazer o mefmo , dando noticia dos grandes remedios que íoub rem , e faraó niflo huma obra de muito merecimento para com Dcos. Naõ di^ go que revelem a manufaftura dos leus fegredos , em quanto forem vivos , que também eu naõ revelo a manufactura dos meus ; mas digo que dem noticia delles para utilidade publica , que iíio he o que eu faço , e devem fazer todos em favor dos enfermos.

Finis s Laus Deo , Firginique SVlatri,

DOS SIMPLICES QUE SE CONTEM

nefte Memorial.

A pedra Bazar fimpkz, efuas virtudes , pag. 2.

Da pedra Bazar compofta f e fuas virtudes , pag* 3.

Da pedra de Porco Eípím na¬ tural # e fuas virtudes , pag. 4.

Do dente de Porcò Eipim , e íuas/virtudesj pag. 6. . *

Do ouvido do peixe Roy , e fuas virtudes, pag. 6.

Da pedra de Cananor , e fuas virtudes , ibid*

Da pedra Candar , e fuas virtudes , ibid.

Da pedra da cabeça da Cobra de Pate, ou de Motnbaça , e luas virtudes , pag.

Da pedra de Cobra de D*o , e fuas vircude s, pag. 8.

Da pedra Safira, e fuas virtudes , ibid.

Da pedra Pauzari , e fuas virtudes , pag. 9.

D \ pedra do Paraguay, e fuas virtudes, ibid.

DoCuangüijo de Aynaõ-, c fuas virtudes, ibid .

Do dente de Peixe mulher, e fuas virtu? des, pag. ro.

Da coíklla de Peixe mulher virgem, c fuas virtudes, ibid.

Do priapo , ou genital do Veado , p. 10.

Dopriapo, ou genital do cavalio marinho, e fuas virtudes, ibid .

Do dente deCavallo marinho, e fuas vir¬ tudes, p. 10.

Do dente de dentro da boca do Elefante^ e fuas virtudes , p. 1 1 .

Da tinha do graô B.dh, e fuas virtudes, ibid.

Dos oíTosdoefpínhaço da Cobra Zuchi, c luas virtudes, ibid.

Do d tnte de Engala , e fuas virtudes ytbid%

Da raiz di Manica , e luss virtudes, j . iz.

Da rai 1 da Madre deDeosi e fuas virtudes» pag. 1 3.

Da raiz uo Cypò , e luas virtudes , ibid .

Da raiz de Soior ,e fuas vutudes %ibid.

D** raiz da Calumba » c fuas virtudes , ibid.

Da Scrpentaria virgíniana; e fuas virtudes» pag. 14.

Da raiz de Sapuche , e fuas virtudes , ibid * Da raiz de Joaõ Loj:cs Pinheiro, e fuas vir-J tudís^ibid.

Da raiz d». Butua * e fuas virtudes , p. ry»

Da raiz Divina , e fuas virtudes , p. 16.

Do unguento de Bicuiva , c fuas virtude^ psg.17.

Da rl "1 íaga Braíilica , é fuas virtudes, ibid. Da Maçáa do Leso, e luas virtudes, p.

Di Miçãa do Elefante, c fuas virtudes,

ibid%

Do oleo de Elefante, e fuas virtudes, p. i8.' Da cobra de Cafcavcl , c fuas virtudes , ibid Da maçáa da vaca , e fuas virtudes , ibid .

Da raiz de Joaõ Pires chamada Efula , e fuas virtudes , p. 19.

Da psdra que íccria dentro ao fel da vacíg c iuas virtudes, p. 19.

Do pào de Largis,t luas virtudes, ibid.

Do pào Cobra , e fuas virtudes , ibid*

Da raiz da Contrayerva, c fuas virtudes* pag. ao.

Da arvore Angélica , e funs virtudes, p.aos Da Mcriganga , e luas virtudes , p.20.

Do Arlequim , e fuas virtudes , p. ao.

Do pào Quiriato, e luas virtudes, p.ar.

Da raiz de MonguZ , c (uas virtudes , ibid* Do coco de Maidiva, eíuas virtudes, ibidi Do coquinho de Melinde , e fuas virtudes* ibid.

Da raiz Mil-horaens , e íuai virtudes,

ibid.

Da raiz de Tambuape, c fuas virtudes,

pag. i%.

Das batatas do campo , e fuas virtudes, ibid*

Da fava de Melinde, e fuas virtudes, ibid, 13a raiz do Queijo, e fuas virtudes, ibid* Da raizdeGmfaó, e fuas virtudes , p. 23. Da raiz de MoçuaQuim . e iuas vtftudcs. ibid.

índice:-

Dí3S aranhas do Peru , e fuas virtudes, ibid. Po pao angaria ri e fuas virtudes, p. 24. Dounicorne datefta da avelnhuma, edo eíporao que tem no encontro das azas , c fuas virtudes , ibid .

Da raiz Javarandim , e fuas virtudes , p. 2j. Da tinta negra , que vem da China, e íuas virtudes , ibid.

Da raiz, e pao da Maranga, e fuas virtudes,

ibid» '

Da raiz das febres, é fuas virtudes , p.26. Da raiz dos Apoítemas , e íuas virtudes , p.

27*

Da rsiz do Ar , e fuas virtudes , ibid.

Pa arvore QuinaVo , c fuas virtudes , ibid . Do oko de Alambre , e luas virtudes , ibid.

Do oleo Tranquillo ] e íuas virtudes * pi 19^ Da ponta da Abada , e fuas virtudes 1 p. 29,

Da raiz da Minhaminha , c fuas virtudes*

ibid ê

Da raiz dc Mutututu , e fuas virtudes, ibid. Do bucho da Ema , e í uas virtudes , p. go*' Do pao do Mubango , e fuas virtudes, ibid. Da pedra, chamada Lingua de S. Paulo, e íuas virtudes , ibid.

Do pao Quiíeco, e íuas virtudes, p. gi.

Da erva Quitumbata , e fuas virtudes , ibid 1

Da erva Orelha de Onça, e fuas virtudes, tbid.

Remedios do invento do Author, efegre-, dos íeüs particulares que clíe prepara , c doença* para que lervcm, p. 31.632.

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