ar RARY RELER NO E OS ELI RO RO VE VV LM REU 3 Di qu a —. PST Aa va e nb Gibson: ny MZ : E BOLETIM DO MUSEU PARAENSE (MUSEU GCELDI) BOLETIM MUSEU PARAENSE HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA (MUSEU GCELDI) ASSES E 2/4 TOMO II E ASCICULOS> 1-4) 1900— 1902 o PARÁ-—BRazIL TYPOGRAPHIA DE ALFREDO SILVA & Comp. (Fasc. 1 e 2) E DO Ixstiruro Lauro Sopré (Fasc. 3—4). 1902 ENDICE, DO TOMO III PARTE ADMINISTRATIVA: I) Relatorio (1897) apresentado ao Ex.”º Sr. Dr. José Paes de Carvalho, Governador do Es- tado do Pará, pelo Director do Museu Pa- EERNDCE sc AREA cos Ts OS ra ao do Sonata II) Apontamentos sobre o movimento do Museu Paraense no anno de 1898, pelo Dr. Huber. III; Relatorio (1899) apresentado ao Ex.”º Sr. Dr. José Paes de Carvalho, Governador do Es- tado do Pará, pelo Director do Museu Pa- raense. o IV) Relatorio resumido da viagem “de exploração ao rio Tapajós e à região de Monte-Ale- gre, pelo Dr. Frederico Katzer. Es Ma tr. “Karl von Kraatz-Koschlau— necrologio. VI) Relatorio (1900) apresentado ao Ex.”º Sr. Dr. Paes de Carvalho, Governador do Estado do Pará, pelo Director do Museu..... PARTE SCIENTÍIFICA: A) zooLOGIA 1; Dous myriapodos notaveis do Brazil, por H. Broelemann (com tres figuras no texto). II) Dois roedores notaveis da familia dos Ratos do Brazil, pelo Dr. Emilio A. Geeldi (com tres estampas, A HI) A Piraíiba (gigantesco Siluroideo do Amazo- nas), pelo Dr. Emilio A. Goeldi (com duas estampas) La EA Eh dE dE E E RE A RE IV) Trabalhos do pessoal do Museu Paraense en- tre 1894 e 1900, publicados originalmente em revistas estrangeiras e agora vertidos pela primeira vez para a lingua portugueza PAGS. ÇA, 99104 I05— 134 134—165 245254 255 24 65—ZI 166— 179 Iô1—IQ94 I65—231 Indice 1) O primeiro exemplar authentico de uma ge- nuina doninha do Brazil, pelo Dr. Emilio A Goeldi 1) Sobre a nidificação do Cassicus per FSICUS (Japim), da Cassidix oryzivora (Graúna), do Gymnomystax melanicterus (Aritauá) e do Todirostrum maculatum a pelo Dr, Emilio A. Greldi. : À 11) Sobre a nidificação do Nyctibius jamaicen- sis, Urutão, e Sclerurus umbretta, Vira-fo- lha, pelo Dr. Emilio A. Geeldi. ça IV) Resultados ornithologicos de uma viagem de naturalistas á costa da Guyana meridi- onal, pele Dr. Emilio 4 Geldi V) Lista das aves indicadas como provenientes da Amazonia nos 27 volumes do «Catalo- gue of Birds of British Museum» de Lon- dres (1874-1898), pelos Drs. E. A. Geeldi e Gottinecd Masgmann ecc VI) Maravilhas da natureza na ilha de Marajó, pelo'Dr. Emiho A Gel. VII) Lagartos do Brazil, pelo Dr. E. A. Geeldi. VIII) As especies paraenses do Genero Euglossa Eatr. por A. Ducke: PR ORE) e O B) BOTANICA 1) Duas Sapotaceas novas do Horto botanico pa- taense, “pelo: Dr: do Ehúber a duas es- tampas). Materiaes para a Flora amazonica. III) Fetos do Amazonas inferior e de algumas regi- ões limitrophes, colleccionados pelo Dr. J. Huber e determinados pelo Dr. Hermann Christ de Basiléa (Suissa). III) Apontamentos sobre o caucho amazonico, pe- lo» Dido Eúbers e gm RO IV) Fungi paraenses, por P. Hennings. V) Materiaes para a flora amazonica. IV) Quatro novas especies amazonicas do genero Guta- rea (Meliaceae), por C. de Candolle. ..... VI) Noticia sobre as Jatuaubas (Guarea spec.), pe- lo Dr: J. Huber. soe e pe VII) Sobre os materiaes do ninho do Japú (Ostinops decumanus) pelo Dr. J. Huber (com uma estampa). VIII) Observações sobre as arvores “de borracha da região amazonica, pelo Dr.) Huber IX) Materiaes para a flora amazonica. V) Plantas vasculares colligidas ou observadas na re- VE PLACAS a TI Min (o Ra ão: So O “o,45 ds “lento. 6 LOS 208 203210 210217 21/—231 276327 370399 199—560 561-— 545 60o—64 7297 231237 237/—240 241244 320342 Indice gião dos furos de Breves em 1900 e Igor, DelorEno okiabers sos mato ste Diga 100—446 X, Contribuição à geographia physica dos furos de Breves e da parte occidental de Marajó, pelo Dr. J. Huber (com dois mappas e cin- | CO CSEIA DAS) 2 Saio a era sJf nuuelo a nec 60:09 447—498 C) GEOGRAPIHIA E ETHNOGRAPHIA I) Carta de Gustav Wallis dirigida a D. S. Fer- | reira Penna sobre o Rio Branco.......... 88—94 II) Carta sobre costumes e crenças dos Indios do Purús, dirigida a D. S. Ferreira Penna, por Manoel Urbano da Encarnação....... 94—97 BIBLIOGRAPHIA — 580—605 Bayern, Therese Princessin von n. 43-—Berlepsch, H. von e Har- tert, Ernst, n. 24---Bertoni, A. de Winkelried, n. 19-—Boulenger, G. O. 39-Brandes, G. e Schoenichein, W. 32 Buscalioni, L. q—Busca- lioni L. & Huber, J. 46-—Christ, H. 65-—Cope. E. D. 26-Ducke, A. 48-—Engler, A. 60-—Forel, A. 49—Fredrikson, A. Th.53—Gadow, Hars 31-Geldi, E. A. ro, 23, 27, 20; 30, 38, 40, 41-—Geeldi, E. A. & Hag- mann, G. 28-Goodfellow, W. 25—Gough, Lewis, Henry 44—Hagmanr, G. 15, 18, 20, 35-Hennings, G. 66-Huber, J.3, 4,5, 62, 63, 64— Ihering, H. von 1— Kerr, J. Graham 36, 372-—Kraatz-Koschlau & Hu- ber 2-Lindman, C. A. M. 56, 57, 58, 59—Malme, G. O. A. 52, 54, 55 — Martina, G. 6r— Mathis, Constant 8-Merriam, C. Hart 16-—Nehr- korn, A. 21-Oates, W. 22-Pector, Désiré 13-Pilger, R. si—Platz- mann 11-—Ranke, J. 14—Riffarth, H. 42-Sampson, Lilian, V. 34— Steinen, K. von den 12—Thomas, Oldfield 17—Ule, E. 47-—Wasmann, E. 45, 5o—Wiedersheim, R. 33. ILLUSTRAÇÕES IJ) Chrysophyllum excelsum nov. spec. «Sorva do DER O Coe RS, E ST acres TR SE 58 Il) Lucuma (Vitellaria) macrocarpa nov. spec. E CUNE Cxandes: so fr cas é o Ê 58 E Eismamps beeviceps sl cuutsT. 166 IV) Mesomys ecaudatus, um roedor esquecido du- Indice rante mejo-seculo. 74 Si 1 ui V) Mesomys ecaudatus e gi MM cos). Ee Da! do VT) Piratinga pirá- aiba Geeldi (Pirail ja). 21 So a DE VOMEA » » » (adulto e juv.). ME Drs Karl yon-Kraatz-K oschlame rs IX) Materiaes do ninho do Japú (Ostinops decuma- MAUS). o ma O So ado É iqe bio E NR X) Fazenda Livramento (Fig:.1). Arvores inclina- das por effeito do vento de RT prai: Cabo. Magoary-(1. de Marajó. Ma XI) O Rio Arary (Fig. 3). Principio de enchente na foz do Rio. Magoarisinho (Fig. 4) (Ma- TAPO as ph jo eai vol co ça Paso q de ER XII) Parte de um « pirito do estabelecimento, muitas das queixas actuaes sobre- tudo do pessoal administrativo subalterno desappareceriam e bastante ganharia com toda certeza a disciplina. A residencia directorial continua na casa n.º 40 (IV da nossa planta) sita à rua q de Janeiro e com accesso interno aos fundos do Museu. Faz parte dos predios e terrenos, que pertencem ao Sr. coronel Silva Santos (6 parcellas). Soffreu algumas modificações e melhoramentos internos e externos, estes ultimos sobretudo dizendo respeito à drenagem das aguas pluviaes, postulado hygienico. Cada vez mais convicto estou, que o Museu estadual com a sua área e as suas dependen- cias muito deve desejar a continuação até lá dos exgotos municipaes, que dizem-me pararam perto da Igreja de Naza- reth. Quero crer que este meu pedido, formulado e assás re- petido nos meus relatorios anteriores, como o outro relativa- mente ao melhoramento da estrada da Independencia, sejam finalmente attendidos pela Intendencia Municipal; que ella faça desapparecer do quarteirão museal a parte de insalubri- dade, que possa ter sua origem na ausencia de ligação com os exgotos publicos e simultaneamente tambem o discrepante contraste que eu já tantas vezes disse existir em relação ao Museu de portas-a-dentro e portas-a-fóra ou entre o do Es- tado e o da exclusiva competencia do municipio. Quanto às casas n.º 123 e 125 sitas à estrada da Cons- tituição, hoje Gentil Bittencourt, continuam ellas a ser possui- das por particulares, não tendo sido applicado a ellas até agora a desapropriação por lei, na qual ellas estão compre- hendidas. Relativamente ao Museu, propriamente dito, houve uma unica modificação maior digna de especial menção. Desde muito fazia-se desagradavelmente sentir a falta de espaço na anterior officina taxidermica (n.º 2 da nossa planta). Aucto- risado pelo antecessor de V. Ex? que numa visita ao esta- belecimento se convenceu pessoalmente da alludida difficul- dade, combinei com a directoria das Obras Publicas a cons- trucção de um chalet com um andar, de pedra e tijolos, melhor do que o corpo das officinas existentes. Fez-se o plano, mas faltou a verba necessaria. Entretanto a falta de espaço cada vez mais se fazia sentir, de sorte que resolvi executar, a custa do Museu, uma construcção mais ligeira de madeira, em estylo de barracão. Esta puxada ficou prompta em me- nos de 2 mezes. Um pouco mais larga que o corpo das an- tigas officinas, deu duas espaçosas salas e um quarto menor central, servindo uma para a taxidermia, outra para os mis- 6 Relatorio de 1897 teres do preparador de botanica. Tem luz electrica para os frequentes casos de prolongár-se o serviço até a noite. Quanto a luz electrica, fornecida pela Companhia Urbana, secção de electricidade, houve durante o anno relatorial au- gmento para as novas oficinas, por um lado, reforma radi- cal da primitiva installação, por outro. Responsabilisando-se a directoria do Museu pelo primeiro, julgou dever oppor-se todavia ao pagamento das despesas com a renovação da ins- tallação. Parece que a referida secção da Companhia Urbana deixou cahir aquella descabida pretenção, em todos os casos assaz manca quanto a seu fundamento juridico e tendo aliás sido satisfactorio o ultimo funccionamento da installação re- novada e melhorado tambem o material (lampadas), conside- ramos liquidado o incidente. Relativamente ao edificio propriamente dito do Museu, como às dependencias, foram dados os cuidados mais neces- sarios para a sua conservação. Esta constituira assumpto de constante attenção e exigirá maiores despesas com o cresci- mento das dependencias e a incorporação dos predios ja ou ainda não alugados ao Museu, mas todos comprehendidos na desapropriação. Peço que os meios sejam dados para poder tratar da conservação e successiva adaptação com o zelo e esmero devidos. ; EF a falta de espaço, de dia a dia crescente o peior dos males que actualmente nos opprime. Todo o espaço existente no edificio está aproveitadissimo até o ultimo canto, não ex- ceptuando os proprios corredores. Se sereno fosse o aspecto dos dias vindouros para o Brasil e prospero o seu proximo futuro, de maneira que sem receio e acanhamento podesse- mos pronunciar todos os desideratum relativos ao estabeleci- mento, cuja direcção me é confiada, francamente diria: que o Museu Paraense precisa antes de tudo de um segundo edificio igual ao existente. Jardim Zoologico Prospero sempre o estado deste annexo do Museu Pa- raense, que de especial sympathia gosa por parte do publico. Ja no relatorio anterior dissemos que esta indicação do gosto popular parecia-nos digna de ser acompanhada até um certo ponto e assim continuou-se tambem durante este anno a acti- var as obras anteriormente mencionadas e apenas principia- Relatorio de 1897 das, como uma ou outra modernamente concebida. Entre as primeiras devemos em primeiro lugar mencionar o edificio dos animaes carnivoros, que durante este anno relatorial re- cebeu o engradamento de ferro (parede lateral e tecto, além das paredes separatorias internas) para as duas alas e as tor- res lateraes e bem assim encanamento d'agua e exgoto para cada separação de jaula. O acabamento desta obra oppoz-nos dificuldades das mais sérias, e frustadas foram todas as nos- sas previsões quanto ao tempo necessario e custo provavel e a fortes exigencias a um e outro respeito vio-se sujeita a nossa paciencia, que por vezes esteve prestes a exgotar-se. Emfim esta prompto para receber seus inquilinos este nota- vel edificio, cuja historia nos causou não poucos desgostos e momentos amargos— tantos, que faltar-nos-ia força e pacien- cia para uma repetição de semelhante commettimento. Numa das vistosas torres lateraes ganharam os simios uma residen- cia esthetica e que lhes proporciona as necessarias condições de espaço e arranjo interno para poderem desenvolver e os- tentar ao publico a sua mestria na arte gymnastica. À outra torre é habitada pelas araras, adornos da aviaria das mattas amazonicas e que tambem somente agora podem apresen- tar-se aos olhos do visitante com todas as vantagens quanto à brilhante plumagem e à graça dos seus movimentos no ar e nos paus seculares, que tanto nós lhes admiramos no es- tado de liberdade incoacta. Como uma téla produzida por mão de mestre, perde ou ganha no seu effeito conforme as condições mais ou menos idoneas de luz, collocação e moldu- ra, estas obras de arte da natureza tambem necessitavam de um modo apropriado de exposição. Acompanhamos no Pará esta justisssma tendencia, que se nota nos estabelecimentos congeneres do Velho Mundo. Em ambas as alas intermedia- rias entre a grande jaula central das onças e as torres late- raes, crearam-se grande numero de confortaveis habitações para animaes carnivoros menores e outros quadrupedes que exigem precauções especiaes, devido ao costume de cavar, roer e desertar. Completou-se tambem em relação às obras de engrada- mento o importante e original terrario para grandes reptis, a que alludi no relatorio anterior. Outra vez principiamos a res- pirar, quando tambem alliviados deste pesadello tão oppres- sor relativamente a sua execução pratica. Hoje presta ex- cellentes serviços, que nos consolam da fadiga causada e firmemente creio que não ha visitante do Jardim Zoologico annexo ao Museu Paraense, que não tenha expressões de 8 | Relatorio de 1897 pleno e indíviso louvor acerca destes dous capitaes melho- ramentos. Inteiramente novo em concepção e execução é a grande casa para aves de rapina, que hoje se vê no lugar dos dous canteiros centraes, visiveis no quadrante ajardinado sito ao lado direito do viveiro (h). Veja-se a nossa planta annexa. Desde muito faltava esta construcção, indispensavel tanto para a liberdade de locomoção e a hygiene dos inquilinos, como necessaria para um optimo de visibilidade para o visitante. Nada mais triste e contrario as leis da natureza que engaio- lar os soberanos do ar, como a magestosa Harpyia e o va- lente Urubú-rei em compartimentos estreitos, onde as dimen- sões acanhadas nem uma vez lhes permittissem extender in- teiramente as suas pcderosas azas. «Nobiesse oblige» diz o proverbio. Resolveu-se construir um pavilhão alto e espaçoso, de circumferencia em fórma de polygono regular e tecto abobadado, com feição de cupula. E obra ligeira, com engra- damento de acapú e tela de arame pelos lados, cobertura de zinco e alicerce de pedra e tijollo. Vantajosamente se apre- senta o aspecto deste novissimo accrescimo do Jardim Zoo- logico e optimos serviços vae desde já prestando, visto que as condições do espaço permittem reunir maior numero de rapineiros, dos quaes antes cada um exigia acondicionamento isolado em pequeno viveiro separado. A offerta generosa de novas Antas exigio certas modifi- cações no respectivo cercado b (veja-se a planta), que con- sistiam em cerca divisoria e construcção de mais um grande tanque cimentado. Originando-se um inconveniente hygienico pela estagnação das aguas pluviaes no lago central do cer- cado dos veados p (da nossa planta), houve necessidade de dessecal-o e de drenar não somente aquelle cercado, como os outros do lado esquerdo (n, 1, 1), ligando-o com o novo exgoto principal interno da area do Museu. Não se encetou ainda a prolongação dos cercados para a parte posterior, que da para a rua da Constituição (veja a planta), e a adaptação desta area para os fins do Jardim Zoo- logico. Não somente não houve os meios precisos para esta tarefa, como ainda não se fez sentir propriamente uma ne- cessidade imperiosa. E embora concorde que aquella parte posterior não é bonita no seu estado actual, devo comtudo ponderar, que não se pode fazer tudo de uma vez, sobretudo com recursos limitados como são os do Museu. Não quero deixar de mencionar que S. Ex.? o Sr. Governador por oc- castão da primeira visita ao estabelecimento garantio espon- .— Relatorio de 189% 9 taneamente o auxilio do governo estadual para melhorar es- tes fundos do Museu, mormente de munil-o com aquillo que deve ser uma aspiração logica e natural do museu: uma es- tação modesta ou parada, propria do Museu, da estrada de ferro de Bragança. Sobre o movimento havido no Jardim Zoologico orienta a synopse dos inventarios mensaes. Existiam em: Em 1.º de Janeiro (1897) 394 individuos representando 127 especies » 1.º » Fevereiro » 445 » » 128 » » 1.º » Março » 422 » » E27 » > 8.9.» Abril » 422 » » 127 » » 1.º » Maio » 419 » » 126 » » I.º » Junho » 421 » » 129 » » 1.º » Julho >» 422 » » 130 » » 1.º » Agosto > 433 » » 130 » » 1.º >» Setembro > 415 » » I32 » » 1.º » Outubro > 415 » » 132 » » 1.º » Novembro » 414 » » ELSON » 1.º » Dezembro » 412 » » 129 » » 1.º » Janeiro (1898) 412 » » 129 » Uma comparação do inventario dos diversos mezes deste anno relatorial com a respectiva synopse do relatorio ante- rior para 1896, dá um resultado que pode talvez causar al- guma estranhesa e julgo ser dever meu apontar insistente- mente para a verdadeira causa deste phenomeno e evitar assim interpretações erroneas e menos justas para com a boa vontade e o zelo da directoria. Consiste na circumstancia de ter ficado numericamente quasi estacionario o inventario deste annexo do Museu Paraense e de ter falhado um augmento proporcional, na duplicação do inventario de 1895 e na tri- plicação approximada, quanto aos individuos. (Relatorio de 1896, pag. 11). À causa deste phenomeno que sinceramente lastimamos, reside quasi e exclusivamente na insufficiencia dos meios orçamentarios decretados. Estes meios teriam sido, não o negamos, regulares em tempos normaes; mas nos tristes dias que atravessamos, neste periodo de inaudita e quer nos parecer desproporcional e não assas motivada — depreciação do meio circulante, a situação do Jardim Zoologico tornou-se assas precaria, pelo facto da carestia ascendente dos viveres e generos alimenticios, com a sua fatal marcha inversa a queda do cambio. Milho, arroz, feijão, carne, peixe, pão su- biram pelo menos um terço do anno anterior, não falando de outros generos usados nos estabelecimentos congeneres, onde a differença foi mais sensivel ainda. Tendo encarecido 10 Relatorio de 1897 o sustento de um determinado quantum de animaes vivos por causas alheias à esphera das nossas faculdades e poderes administrativos, tendo tambem custado mais a conducção das obras encetadas neste annexo e acima descriminadas do que tinhamos previsto no nosso esboço orçamentario, permane- cendo por outro lado rijos e inalteraveis os moldes orçamen- tarios decretados, forçosamente devia cessar aquelle principal symptoma de desenvolvimento e de progresso—a tendencia para o augmento numerico. Conformando-nos com a situação fatal, não nos restava outro remedio senão tratar pelo menos de conservar o statu quo. Foi o que fizemos e um desapai- xonado exame desta nossa argumentação é o que desejamos por parte daquelles que mais theoricos que praticos, querem sempre e por toda parte ver um maximo de resultados com um minimo de recursos. Se eu digo que me repugna a idéa de diminuir a ração diaria dos nossos animaes, creio que me acompanharão todos os homens de bom senso. Estou inteiramente no terreno do preceito biblico que diz: «o justo se compadece do seu gado » e não cogito em remover-me jamais deste terreno. Aquelles que ainda não tiverem comprehendido e adivi- nhado onde nós pretendemos chegar com o Jardim Zoolo- gico, ou que julgarem e temerem que dominados por uma cega febre de progresso e de augmento sem alvo bem de- finido, queremos augmentar illimitadamente este annexo do Museu Estadual, respondemos calmamente que erram. Tran- quillisem-se; temos alvo e fim bem definidos diante dos olhos. Estes acham-se claramente expressos no espirito da creação e organisação do Museu Paraense, cujo programma de traba- lho culmina nas duas palavras: « Natureza amazonica». À re- presentação condigna portanto da «Fauna amazonica», em exemplares vivos das suas formas mais caracteristicas e sa- hentes, eis fielmente applicada a regra geral ao caso espe- cial, e definido com nitidez o programma do annexo em ques- tão; eis satisfactoriamente circumscripto, pela viva força da letra da sua lei basica, o seu terreno. É não tenham medo: as proprias dimensões da área do Museu Estadual, disponi- vel para os fins deste annexo, apressam-se em oppôr uma barreira invencivel a uma tendencia eventual de augmentar illimitadamente o Jardim Zoologico do nosso Museu. Perten- ceria tambem ao reino das utopias theoricas, a esperança de poder-se reunir jamais simultaneamente a collecção completa dos animaes amazonicos que devem entrar nesta cathegoria; a perfeição da série nunca sera absoluta, mas sempre relativa TA Ma VAR 7 Relatorio de 1897 11 e só successivamente nos poderemos approximar do alvo de- sejado. Mas restringirmos o numero de animaes, emquanto até hoje familias inteiras ainda não tiveram sua representa- ção neste annexo, parar em meio caminho, seria desviar-nos do programma e do destino deste annexo, seria falseal-os. À propria magestade do original obriga-nos a um esforço maximo do nosso commettimento de apresentar aos olhos do publico uma copia condigna e ninguem me contestara que seria pessimo serviço prestado à reputação de uberdade da natureza amazonica, se não tivessemos a efferecer ao visitante de fóra cousa melhor do que umas miserandas caricaturas minusculas de Jardim Zoologico e Horto Botanico. Houve novamente durante este anno relatorial diversas entradas em animaes, dignas de especial menção, na maioria, em forma de doações. Entre estas destacaremos nominal- mente as seguintes: Dr. José Paes de Carvalho: 1 Anta grande, 1 Maracajá e 1 Macaco barrigudo. Dr. Augusto Olympio: 1 Lepidosiren em alcool. Senador M. F. Machado: 1 Lepidosiren em alcool. Pereira & Irmãos: 1 Anta viva (Rio Pauhiny). Commandante Caldas: 2 Maquiçapas vivos (A. Chuva). Major Antonio M. Cardoso Barata: 1 Palamedea viva (Monte Alegre). Major Lourenço Valente do Couto: 1 Lepidosiren vivo. Sr. Eduardo Pontet: 1 Anta viva. Dr. Olympio Chermont: 1 Ema viva. Sr. E. Cmok: .rAnta viva. Professor Ferro e Silva: 1 Chironectes minima. Dr. Vicente C. de Miranda: 2 Lepidosirens em alcool, ja- caré-assús vivos, etc. Dr. Guilherme de Mello: 1 Nyctipithecus trivirgatus, vivo. Sr. João Gualberto da Costa: 1 Lontra do rio Jary, viva. Em perdas maiores e assas sensiveis temos a lamentar a morte da onça vermelha, que num mesmo dia morreu com uma irara, um maracaja e 2 coatis, ao que parece, em con- sequencia de um pedaço de carne que nos foi enviado gra- tuitamente. "Estamos resolvidos a modificar o actual systema de le- treiros no Jardim Zoologico, substituindo-os por taboletas esmaltadas com inscripções pretas sobre campo branco en- carregando da sua execução uma fabrica que se occupe desta 12 Relatorio de 1897 especialidade. E” não somente um postulado esthetico, como tambem um allivio em tempo e seguramente ainda uma eco- nomia material. Entre as numerosas referencias lisongeiras a este annexo, que da imprensa extrangeira e nacional chegaram ao nosso conhecimento, destacam-se por seu peso e valor intrinseco as pronunciadas pelo periodico «Zoologischer Grarten» de Fran- ckfurt a. M. (Allemanha), orgam dos estabelecimentos conge- neres de além mar, pelos «Proceedings of Zoological Socie- ty> em Londres (Inglaterra) e pelo periodico «Ibis» orgam da «British Ornithologists' Union» (Londres). Horto Botanico Dentro dos limites dos meios postos a disposição deste segundo annexo do Museu Estadoal, o Horto Botanico esfor- çou-se fielmente em acompanhar com constantes melhora- mentos a marcha progressiva do Jardim Zoologico. Debaixo da zelosa direcção do Dr. J. Huber, chefe da secção botanica, prospéra visivelmente e cada vez mais im- põe-se a attenção do publico tanto pelo lado esthetico, como pelo lado da utilidade scientifica e pratica. Quanto ao primeiro não ha quem não tenha elogios pelo positivo embellezamento sobretudo relativo a frente do esta- belecimento contra a estrada da Independencia, como pela boa ordem e o asseio que por toda parte se nota. Os natu- ralistas inglezes, que recentemente honraram o Museu Pa- raense com a sua visita, pronunciaram-se, depois da sua volta à patria, na imprensa scientifica nos termos mais encomiasticos sobre a surprehendente belleza do Horto como sympathica moldura para o nosso templo da sciencia. A sua utilidade scientifica resulta primeiramente da expo- sição de exemplares vivos de representantes notaveis da flora amazonica, convenientemente determinados e providos com os seus letreiros. Com poucas horas de intelligente exame deste annexo, lucra o visitante em conhecimentos positivos acerca da flora patria mais do que pela leitura de todo um manual de botanica, caso houvesse tal manual com especial referencia à flora amazonica. Em segundo lugar é o Horto Botanico directamente o campo experimental para a secção botanica do Museu, resolvendo-se até problemas importantes Relatorio de 1897 13 e interessantes ao mesmo tempo de morphologia e physiolo- gia vegetaes. Quanta cousa nova não ha aqui para desen- terrar ! Multilateral é tambem a utilidade pratica deste annexo. Um vasto campo de actividade abre-se, por exemplo, com a acclimatação de vegetaes, provenientes uns da zona das mat- tas, outros da zona dos campos ou ainda da dos lagos e mar- gens de rios. Uns poderão interessar quer à sciencia pela cir- cumstancia de serem novos, quer à jardinagem ornamental, por serem dotados de bellas folhas, bonitas flôóres e cresci- mento peculiar, outros à industria, outros a medicina phar- maceutica, outros à agricultura e sylvicultura, sciencia esta infelizmente tão mal encaminhada por todo o Brasil. Ampla occasião de tornar-se praticamente util, tem o Horto final- mente pela necessidade que lhe provem da organisação do Museu, de fornecer a forragem, verdura e fructas para o con- sumo do annexo-irmão, do Jardim Zoologico, que com seus 450 animaes precisa quotidianamente de quantidades bem con- sideraveis destas cousas. Não podendo ser emprehendida a adaptação dos terrenos visinhos (designados na nossa planta com 1, II, III, IV) antes que por desapropriação o Museu Estadoal fosse de facto dono e proprietario do solo destes, ficaram naturalmente acanha- das até hoje as dimensões do Horto Botanico, especialmente em relação a collocação daquelles vegetaes que não toleram frequentes baldeações de um lugar para outro. Comtudo tra- tou-se com bastante zelo e previdencia da plantação de ar- vores fructiferas e vegetaes de ornamentação, do augmento de sementeiras e viveiros, para não ser surprehendido pela nova situação da posse effectiva do solo que um proximo futuro, esperamos nos ha de trazer. Cresceu e augmentou durante este anno o numero dos vegetaes scientificamente classificados, cultivados no Horto Botanico, e providos do competente letreiro. Muitas e muitas outra vez foram as plantas, que em estado vivo foram tra- zidas pelo chefe da secção botanica e o seu preparador de excursões nos arredores da capital e de viagens e expedições mais longinquas. Conforme o relatorio seccional, é esta a lista dos vegetaes cultivados no Horto: Relatorio de 1897 LISTAS DAS PLANTAS DO HORTO BOTANICO . (DEZEMBRO 18097) po ; EM I. CRYPTOGAMAS Fam. Selaginellaceas. De 1. Selaginella Emiliana. Ra do Rr a » Willdenovii Bak. Ri Rs Ea » Uma esp. não determinada. | Em Fam. Hymenophyllaceas. A een nanesV tiara DE, Fam. Cyatheaceas. É | q Eva ; 5 E e blechnoides Hook. ' » Uma esp. não determinada, «Avenca grande ». Fam. Polypodiaceas. 5 7. Adiantum Acthiopicum L. | E: Ladiantum > esp. não determinadas. AR 10. ÁAsplentum serratum L. by És 11. Gymnogramme calomelanos KIf. “1º 2 o Memionçttos palmas | rbd 13. Nephrodium molle R. Br. RR I4. > subobligquatum Bak. BR 15. Nephrolepis cordifolia Presl. = ESTO. » exaltata Schott. | - a 17. Polypodium aureum L. co & 18. » decumanuwm Wild. NA? coa 19. > Cayennense Desv. “+ E 20. » lycopodioides L. | RR PI LEXISNCOM A A: BRA Bor » Victoriana. var As Sta Worm Relatorio de 1897 15 II. PHANEROGAMAS A. GYMNOSPERMAS. Fam. Cycadaceas. 2 24. Cncascircimaldis L. » spec. Fam. Coniferas. 25. Araucaria brasiliensis Lamb. «Pinheiro». 26. Retinospora juniperoides. ps Thuja occidentatis L. Fam. Gnetaceas. 28. Gnetum spec. «Ituã». B. ANGIOPERMAS. I. Monocotyledoneas Fam. Alismaceas. 20. Sagittaria montevidensis Cham. et. Schlecht. Fam. Amarylidaceas. - dgave americana 1. forma marginata. - Amarylilis spec. - Crinum amabile Don. » undulatum «Açucena d'agua». » Spec. - Curculigo capitulata O. Kuntze. Fourcrowa gigantea Vent. «Pita, Crauatas. rPolyanthes tuberosa, L. « Angelica». - Pancratium guyanense Ker-Gawl. 16 Relatorio de 1897 Fam. Araceas. - Alocasia indica Schott. > » var: metallica. Schott. . » Sedenii hort. - Anthurium crystallinum Lind. et Andre. » cymatophyllum (2) «Rabo de tatu ». >» nymphaeifolimm C. Koch. et Bouche. » Ortgiesir hort. » regale Lind. » Rudgeanum Schott. - Caladium bicolor Vent. divers. var. - Dieffendachia picta Schott. « Aninga para». » » var: Bauser Engl. > » eburnea. > Seguine Schott. - Dracontiwum asperum C. Koch. «Taja de co- bra E - Monstera pertusa (L.) De Vriese. «Tracua ».' - Philodendrum squamiferum Poepp. var: aceri- Jerwm. - Philodendrwum divers. spec. à Pistia'stratiotes |. «Murúre». «Spathiphyllum cannaeforme (Curt.) Engler. - Syngonium Vellostianum Schott. - Xanthosoma Linden: Engl. » Majasffa Schott var: dlandum Engl. Fam. Bromeliaceas. . Ananas sativa Lindl. « Ananá». > » var: Porteana. » » » variegata. . Bilbergia Leopoldir Morr. » pyramidalis Lindl. » specrosa-Thp: Crypbtanthus zonatus [Vis] Deer. . Pitcairnia corallina Lindl. et André. - Tillandsia Andreana Morr. » bulbosa Hook. » Jfragrans Andr. Vriesea pscttacina Lindl. » splendens Lem. EU ira eli Relatorio de 1897 Í Fam. Butomaceas. 75. Hydrocleis nymphozdes Buchenau. Fam. Cannaceas. 6. Canna glauca L. 7a >» ndo kh. 8. >» > divers. formas hybridas. Fam. Commelynaceas. 79. Commelyna virginica L. «Maria molle». 80. Zebrina pendula Schnizl. 81. Rhoeo discolor Hance. Fam. Cyclanthaceas. 82. Carludovica divergens Drude. | 83. » spec. 84. Cyclanthus bipartitus Poit., Fam. Dioscoreaceas. 85. Dioscorea discolor Hort. 86. » brasiliensis Willd. «Carã roxo». Fam. Gramineas. 87. Andropogon bicornis IL. «Sapé, capim vassoura». 88. » ceriferus? «Capim de cheiro». 89. Arundo Donax L. forma variegata. go. Coix lacrima L. «Lagrima de Nossa Senhora ». 91. Guadua angustifolia Kunth? « Tabóca». 92. Panicum spec. «Taboquinha ». Fam. Haemodoraceas. "93. Xiphidiwm album Aubl. Fam. Iridaceas. 94. Eleutherime plicata Herb. 2—(Bor.. DO MUS PARAENSE) Há e “dg Ee E pe . VE no, ot á po 4 = ” RE RA t aa nar Ad ni tra a DEM PR Rà 2 q sc o Its sd 18. IOI. OB: IO3. IO4. IOS. 106. LOg- 108. 109. To. 1 QU TR DIGA 113. II4. T's PRO: EL. TO: IIQ. 120. 2; 2o:; E ÇR 124. 1Zs» 126: 184" À A o o TA Pra Da: o a SO ne Ve > TIE Lo MESA RR Sa, ; Sae do e REV" AR Ba F Relatorio de 1897 Fam. Liliaceas. - Aloe vera L. Cordyline terminalis Kunth. Dracaena umbraculifera Jacq. «Phormium tenax Forst. - Sansevteria guineensis Willd. Yucca gloriosa L. Fam. Maranthaceas. Calathea Bachemiana Morr. » Macoyana Morr. » ornata Kche. «Jacunda». Ischnosiphon ovatus Kcke. Marantha arundinacea L. « Ararúta». Thalia geniculata L. « Arumã-râna». Fam. Musaceas. Heliconia psvttacorum L. f. Musa saprentiuwm L. «Bananeira». Ravenala guzanensis Endl. «Pacova sororóca». Fam. Orchidaceas. Angraecum eburnewm Thouars. Aspasia epidendroides Lindl. Brassavola Martiana Lindl. Brassia Lanceana Lindl. > Lawrenceana Lindl. » maculata R. Br. Bulbophwyllum Lobbiz Lindl. Catasetum Bungerothii Randii. >» Christyanum Rchb. f. Sd ciliatwm Barb. Rodr. > Gnomus Linden et. Rchb. f. » macrocarpum Rich. » pulchrum. » saccatum Lindl. » div. espec. não determinadas. Cattleya Alexandrae. | > Bowringiana Veitch. Relatorio de 1897 19 127. Cattleya Brymeriana Rchb. 128. » Forbessi Lindl. 120. » guttata Jindl 130. » intermedia (xraham. 13 to » labiata autumnalis. 132 » » var. Eldorado Lindl. Eos » » Eldorado subvar. Wallisii Hort. Lind. 134. » >» Eldorado subvar. alba. RS > » Eldorado subvar. virginalis rosea. 136. >» » var. Craskelliana. VEZ » lobata Lindl. 138. » Loddigesii Lindl. 139. » > var. Harrisoniae Lindl. 140. » Schilleriana Rchb. I41. > Skinneri Lindl. 142. » superba Lindl. T43+; » velutina Rchb. 144. Chysis bractescens Lindl. 145. » Limminghes Lindl. et Rchb. 146. Cirrhopetalum Medusae Lindl. 147. Coelogyne fuscescens Lindl. 148. » speciosa Lindl. 149. Cycnoches Egertonianwm Batem. 150 » Loddigesir Lindl. 151. Cymbsdium pendulum Swartz. 152. Cypripedium flartwegii Rchb. 153 » bellatulum Rechb. 154 >» Rothschildianum Rchb. 155. Cyrtopodium Andersonii R. Br. 156 » punctatwm Lindl. 157. Dendrobium chrysanthwm Lindl 158 » chrysotoxwum Lindl. 150. » crassienode Rchb. subvar. Bar- berianum. 160. Dendrobium cucumeratwm. 161. >» Findleyanwm Parish et Rchn. 162. » Jformoswm Roxb. 163. » fenkemnsit Wallich. 164. » moschatwm Wallich. 165 » mobile Lindl. 166. » Parishii Rchb. 207: » Phalaemnopsis Fitzger. Schroederianum. 168. » Prerardii Roxb. 169. » specroswm Smith. Hillhi. Relatorio de 1897 - Dendrobium thwyrsaflorwm hort. «Epidendrum aurantiacum Batem. » ciloa re: > cochleatum L. » oncidioides Lindl. » Randianum Yindl. - Eulophidium maculatwm (Lindl.) Pfitz. «. Galeandra Devoniana Schomb. -Gongora maculata Lindl. «.Grobya Amherstiae Lindl. lgeloa ampeps Limdi. » “Dayasa ixchb. » grandis Lindl » » tenebrosa. MINNIE Ei, MULA ARA » o superbiens Eimndl. » Lycaste aromatica Lindl. - Maxillaria rufescens Lindl. - Miltonia cuneata Lindl. > spectabdilis Jindl. » > Moreliana. » Regnelli Rchb. » Rodeus? - Mormodes aurea. - Mystacidium distichum Phitz. - Odontoglossum citrosmum Jindl. - Oncidium Bauweri Lindl. » Cebolleta Sw. » Lanceanum Lindl. «Orelha de burro». » iridifolium H. B. K. > phymatochilum Lindl. >» carthagimense Swartz. - Pelexia spec. À Phalaenopsis amabdilis Blume. » Esmeralda Rchb. - Pholidota imbricata Linds. - Platyclinis filiformis Benth. - Pleurothallis div. espec. - Polyrrhiza spec. mMenanthera coccinem EouE - Rodriguezia Lindemni Cogn. » secunda H. B. K. -Saccolabium ampullaceum Lindl -Sarcanthus paniculatus Lindl. Es Pao PETS Ei ea > DAVA AV AV DA NV a OO CO CO GO CO CO O GO 241. - Desmoncus spec. «Jassitára». - Euterpe oleracea Mart. « Assai». ON CA DU BO Relatorio de 1897 ZA «Schomburgkia crispa Lindl. - Sobralia pumila. > lutca. » macrantha Jindl. » sessites Emdl. > 2 especies não determinadas. - Sophronitis cernua Lindl «Stanhopea eburnea Lindl. » Randiana -Stauropsis lissochiloides Benth. Trichocentrum tigrinum Lindl. et. Rchb. f. » spec. Vanda teres Lindl. Vanilla plamifolia Andr. «Bauntiha». » palmarum Jindl. » 2 especies não determinadas. Lygopetalum rostratum Hook. » Wailessanum Rchb. Fam. Palmaceas. A recatuwtescens-Bory. Astrocaryum Jauary Mart. «Jauary ». >» Murwmauwurai Mart. « Murumurú ». » Tucuma Mart. « Tucumã». Attalea-excelsa Mart. «Urucury»>. » speciosa Mart. « Uau-assh >. Bactris littoralis Barb. Rodr. (2) « Marajaá». Cocos nwcifera 1. «Coqueiro da India». » Syagrus Drude «Pererêéma». Copernicia cerifera Mart. «Carnaúba». Geonoma gracilis Wendl. » spec. Guslzelma speciosa Mart. « Pupunha». - Iriartea exorrhiza Mart. « Pachiúba ». - Mauritia flexuosa L. £ «Mirity>. - Maximiliana regia Mart. «Inaja». Oenocarpus Bataua Mart. « Pataua ». » distichus Mart. «Bacaba». - Pinanga Kullii Blume. 22 Relatorio de 1897 ! ” ANE ANDES EN IN) 9) ON ON ENS SEIS] 1) 1) 273 274. dO WHO Ir . Fam. Pandanaceas. -. Pandanus Veitchis Lem. Fam. Pontederiaceas. «.Fichornia azurea Kth. » crassipes (Mart.) Solms. «Murureé». Fam. Zingiberaceas. « Álpinia vittata Bull. . Costus discoloyr Roscoe. » diversas especies não determinadas. - Hedychium coronarium Koen. «Borboleta». » Gardnerianum Wall. (Renealmia exaltata L. f. » Spec. - Lingiber officimale Roscoe. «Gengibre». II. DICOTYLEDONEAS CHORIPETALAS Fam: Amarantaceas: Amarantas paniculatus L. > gangeticus |. var. melancholicus. » > Li: var tricolor. » virados 1. «Carirú de soldado». . Celosia cristata L. «Crista de gallo». «. Gombphrena globosa L. Fam. Anacadiaceas. - Anacardiwum occidentale L. «Cajueiro». - Mangifera indica L. «Sgondias dulcis Forst. «Cajá manga ». » lutea L. «Caja mirim, Tapereba ». Fam. Anonaceas. Anona obtusiflora Tussac. « Atta». Duguetia Marcgraviana Mart. « Biriba ». Relatorio de 1897 28 Fam. Balsaminaceas. 275. Impatiens balsamina L. « Melindro ». Fam. PR | 276. Boussingaultia baselloides H. B. K. Fam. Begoniaceas. 277. Begonia maculata Raddi. 278. » rex Putgewys.-div.ivar. 270. » umbraculifera. 280. » 6 especies não determinadas. Fam. Bixaceas. 281. Bixa ovrellana L. «Urucú». Fam. Bombaceas. 282. Ceida pentandra L. Gaert. «» spec. Po rirestva bBleo SHB Rj DE. RR 294. Rhspósalis cassytha Gaert. 20 Es a pachyptera Pfeifr. 94 Relatorio de 1897 OG: 304. 305. 306. 307. 3068. 300. Fam. Capparidaceas. «. Cleome aculeata L. Hams'Caricacçeas; - Carica Papagya L..« Mamão». Fam. Caryocaraceas. . Caryocar glabrum Pers. «Piquiaá-rána». Fam. Caryophyllaceas. - Dianthus Caryobhyllus L. «Cravo da India». e Fam. Combretaceas. «. Combretum voseum. Terminalia Catappa L. « Amendoeira». Cars Crassulaceas: - Bryophyllum calycinum Salisb. «Folha de fortuna, folha de pirarucú ». Fam. Dilleniaceas. Dillenia indica L. Fam. Erythroxylaceas. Erythroxylon Coca Lam. «Cóca, Ipaduús. Fam. Euphorbiaceas. Acalypha Wilkesiana Seem. Codiacum variegatum (1.) Blume div. var. «Cro- ton ». Conceveiba guianensis Aubl. Euphorbia Tirucalli L. «Arvore de S. Sebastião». Hevea brasiliensis (H. B. K.) Muell. Arg. «Serin- gueira branca ». DO [eb | Relatorio de 1897 Jatropha Curcas L. «Pião de purga». Manthoté Glazioviz Muell. Arg. « Maniçoba ». » palmata (Vell.) Muell. Arg. «Macacheira, Mandioca doce». Manihot utilissima Pohl. «Maniva». Pedilanthwus retusus Benth. «Sapatinho». 315. Phyllanthus nivruri L. «Herva pombinha». - Sapium biglandulosum (Aubl) Muell. Arg. «Cu- rupitá >». Fam. Guttiferas. Calophyllum brasiliense Camb. «Jacareúba». -Mammea americana L. «Abricôs». 319. Platonia insigmnis Mart. «Bacury». - Rheedia macrofhylla Planch. et. Triana. « Bacury- pary >. - Symphonia globulifera L. f «Anani da varzea». Fam. Humiriaceas. «Saccoglottis Uchi Hub. «Uchi>. Fam. Laureacas. Cinnamomum zeylanicum Breyn «Canella». - Persea gratissima Gaert. « Abacate». Fam. Lecythidaceas. - Lecythis lanceolata Poir. «Sapucaya ». > Spec. Curupita guianensis Aubl. «Castanha de ma- caco ». Fam. Leguminosas. e EA - aí 3 328. Andira inermis H. B. K. « Morcegueira». » retusa H. B. K. «Uchi-rána». - Caesalpinia pulcherrima Sw. - Cassia alata L. «Mata pasto». » faséuosa Willd. »— flexuosaL. » occidentalis L. « Majerioba ». — (BOL. DO MUS. PARAENSE) 26 335 336. 337. 338. 339. 340. pa Bus: 343- 344. 345- 346. 347. 3468. 349. 350. 351. 352. S99 354 TA 356. E Jo ÃO 356. 399» 360. 361. 362. 363. id Bo pi a a Relatorio de 1897 Centrosema brasilianum 1. » Plumieri Benth. Crotalaria maypurensis H. B. K. cagar: Desmodium asperum Desv. «Carrapicho». Dimorphandra macrocarpa Ol. Dioclea lasiocarpa Mart « Mucunã». Entada polystachya DC. «Cipó da beira mar». Indigofera Anil. 1. «Anil, Indigo». Mimosa pudica L. «Malicia de mulher». » sensitiva L. Mucuna urens DC. «Olho de boi». Neptunia oleracea Lour. «Juquiri manso». Phaseolus longepedunculatus Mart. » semierectus L. Pithecolobium Saman Benth. > spec. Tamarindus indica L. «Tamarindo». Vigna lutea (Sw.) A. Gray. «Batata rana». Vouapa acaciacfolia (Benth. Baill. «Arapary». Fam: Loranthaceas. Oryctanthus vrujficaulis Poepp. et Endl. «Herva de passarinho ». Phtirusa pyrifolia H. B. K. Struthanthus nigricans Eichl. Fam. Lythraceas. Lawsonia inermis 1. «Reseda ». Lagerstroemia indica L. «Loucura». Fam. Malpighiaceas. Stigmaphyllum rotundifoliwum Juss. Fam. Malvaceas. Gossypium barbadense L. « Algodão». Hibiscus esculentus I. «Quiabo, Quingombo». » Jfurcellatus Desrouss. « Algodão bravo». » mutabilis IL. «Amor dos homens». Relatorio de 18917 DO =] - Hibiscus Rosa sinensis L. div. var. «Papoulha, Graxa ». 65. Hibiscus sabdariffa L. «NVinagreira, Azedinha ». » schizopetalus. :. Urena lobata L. Fam. Marcgraviaceas. - Marcgravia umbellata L. Fam. Melastomaceas. - Miconia ciliata DC. >» minwtiflora DC. Pterolepis trichotoma (Rottb.) Cogn. - Rhynchanthera grandiflora (Aubl) DC. « Tococa guianensis Aubl. Fam. Meliaceas. - Melia Azedarach L. «Lyrio». - Carapa guianensis Aubl. « Andiróba», - Cedrela fissidis Nell? «Cedro». - Swietenia Mahagoni L. « Mahagonti». Fam. Moracaes. - Artocarpus cencisa Forst. «Arvore de pão, fructa de pão ». - Cecropia palmata Willd. «Imbaúba». - Dorstentia 2 especies não determinadas » « Ficus carica TJ. «Figueiro». » sect. Urostigma, a especies não determi- nadas. -. Morus alba L. « Amoreira». Fam. Myrtaceas. - Britoa acida Berg. «Araçá do Pará». . Jambosa aquea (Roxb.) DC. «Jambo». - Myrciaria cauliflora Berg. «Jaboticaba». - Psidium pomiferum L. «Goiaba». - Punica granatum L. «Romão». 405. 406. 407. 408. Relatorio de 1897 - Stenocalyx brasiliensis Berg. «Grumixâmas». >» Michelii Berg. «Pitanga». » spec. «Grinja». Fam. Nyctaginaceas. 2. Bougainvillea spectabilis Willd. 3. Mirabdilis dichotoma L. «Bôa noite». Fam. Nymphaeaceas. - Nymphaea dentata Schun. >» cansibarensis Casp. Fam. Ochnaceas. »Sauvagesta erecta L. 397. Owratea spec. «Pao de serra». Fam. Oxalidaceas. - Averrhoa Bilimbií IL. «Bilimbir, Limão de Cayena». Fam. Papaveraceas. . Argemone mexicana L. «Cardo santo». Fam. Passifioraceas. . Passiflora macrocarpa Mart. « Maracuja-assu». Passiflora q especies não determinadas. Fam. Phytolaccaceas. Petiveria alliacea 1. «Mucura-caa». Fam. Piperaceas. Peperomia arifolia Mig. » spec. Piper asperifolium Ruiz et Pavon. ea: à - fu srs: Pe) EA “Relatorio dia 1897 Fam. Piperaceas. Edo alo. 4. “Potomorbhe peltata Miq. « Mavarisco». Piper 2 especies não determinadas. Fam. Polygonaceas. aro Antigonum FeRraRs Eoale et Arn. Ee, Portulacaceas. - Portulaca oleracea L. « Baldroega ». RRMne o » vo pilosa E. «Amor crescido». 5. Talinum patens Willd. «Carirú». Fam. Proteaceas. - Grevillea robusta A, Cunn. Fam. Rhizophoraceas. - Rhizophora Mangle L. « Mangue». Fam. Rosaceas. - Eriobotrya japonica L. « Ameixeira da India». - Licania macrophylla Klotzsch « Anauera». - Moquilea wtilis Hook. f. «Caripé». - tosa diversas especies e variedades. ne bus spec. Fam. Rutaceas. — 423. Citrus aurantium L. «Laranja da China». — 424. >» Limonum Risso «Limão». q 425. >» vulgaris Risso «Laranja da terra». SM “Re Monnieria trifolia L. « Alfavaca da cobra». Rai. Rae exotica L. “Jasmim laranja ». “Relatorio de 1 ; Sterculiaceas, x 420. Theobroma Cacao L. Mao VEa » grandiflorum (W.) K. Schum. assú>. Fam. Tiliaceas. mM , Y a 1. Apeiba Teibourbow Aubl. «Pente de macaco, , Pão, o de, jansaço ». | : Fam. Turneráceas: 432. Turnera melochoides Camb. Fam. Urticaceas. - 433. Pellionia Daveauana N. E. Br. E 434. > pabé hr NE | De: Fam. Vitaceas. 435. Cissus discolor Vent. SO do Cesomondes des 437. Vitis vinifera L. «Vinha». III. DICOTYLEDONEAS GAMOPETALAS Fam. Acanthaceas. PP alii Me E DE Coem. form. argyroneura. - Mackaya bella Harv. é Rad Pachiystachys coccinea Nees. - Sanchezia nobilis Hook. -Strobilanthus Dyerianus. Thunbergia spec. Fam. Apocynaceas. mo 445. Hancornia speciosa Gom. pd “a Relatorio de 1897 SE 446. Lochnera rosea (L.) Rchb. «Bôa noite». 447. Nerium Oleander L. 448. Plumiera alba L. «Jasmim de Cayena». 4409. >» phagedaenica Mart. « Sucuúba». 450. » spec. «Sucuúba ». 451. Tabernacmontana flavicamns Roem. et Schulth. es >» 2 especies não determinadas. 453. Fam. Asclepiadaceas. 454. Asclepias curassavica I. «Margaridinha, official de sala ». 455. Sarcostemma pallidum. Fourn. É 460. Fam. Bignoniaceas. Bt rescemeta Cugote Li nodosa Lam. Fam. Campanulaceas. Isotoma longiflora Presl. Fam. Caprifoliaceas. - Lonicera spec. «Madresilva ». - Sambucus nigra L. «Sabugueiro». Fam. Compostas. -. dcanthospermum xanthioides DC. -. Bidens bipinnatus L. - Dahlia variadilis W. Desf. «Dahlia». - Elephantopus scaber L. «Lingua de vacca». - Emilia sonchifolia. - Melampodiwm spec. - Micania amara W. var. Guaco. «Cipó catinga». “470. Pectis elongata H B. K. «Cuminho eo “agi. Wulfjia stemogtossa Cas, DC: Tambcrana>. Ren7o Zimnniaclesagms jag Fam. Convolvulaceas. “473. Ibomoea cissotdes Griseb. Eus 474. » digitata var: septem-partita Meissner. das: >» umbellata Meyer. o 476. » spec. não determinadas. 477. Jacquemontia tammnifolia Griseb. 478. Quamoclit vulgaris Choisy. Fam. Cucurbitaceas. Gurania spec. - Helmontia spec. | - LEuffa cylindrica (L.) Roem. «Boucha». Fam. Gentianaceas. seb. Fam. Gesneraceas. 483. Codonanthe gracilis (Mart). Hanst. 484. Corytholoma spec. 485. Episcria cupreata Hanst. 486. 487.) Episcia 3 esp. não determinadas. 488. | Fam. Hydrophyllaceas. 489. Hydrolea spinosa L. «Carqueja ». , Fam. Labiatas. 490. Coleus scutellarioides. Benth. «Cóleus». 491. 492. 493. 494. 495- 196. 497. Relatorio de 1897 33 Fam. Oleaceas. Jasminum azoricum Lt. » officinale L. «Jasmin gallego». > Sambac Ai. » spec. «Jasmin bougary ». Fam. Plumbaginaceas. Plumbago capemnsis Thunb. » OPC de scandens L. «João de Mello, Louco, Queimadeira ». Fam. Rubiaceas. - Alibertia spec. «Purui» - Borreria latifolia DC. - Coffea arabica L. «Cafeeiro». - Gardenia florida L. «Flor do general». -Genipa americana L. «(Genipapeiro». - Hemidiodia ocymifolia (Willd.) Schum. eirora elba dl. » coccinea IL. «Ixora vermelha». » odorata Hook. «Jasmin inglez>. > stricta Roxb. «Jasmin vermelho ». - Randia formosa (Jacq.) Schum. «Estrella do norte, Açucena». - Randia Stanleyana. Fam. Sapotaceas. Achras sapota L. «Sapotilheiro». Chrysophyllum Cainito L. «Cainito». » spec. Lucuma Caimito Roem. et Schulth. « Abiu». » lastocarpa A. DC. « Abiu-rana». > rivicoa Gaertn. «Cutitiribá». » spec. «Cutitiribã grande». Fam. Scrophularinaceas. - Mimusofs spec. «Massaranduba ». - Brunfelsia Hopeana (Hook.) Benth. «Manaca». 34 Relatorio de 1897 519. Capraria biflora 1. «Cha de Marajó». 520. Mlerpestss' spec. - RE LENTA COUT A CEEE | RIM 22. » diffusa (L). Wettst. «Mata-cana, Dou- radinha ». 7 3. Scoparia dulcis L. «Vassourinha». 524. Torenia Fournier: Linden. « Amor perfeito». Fam. Verbenaceas. 5. Clerodendron squamatwm Cham. 26. >» Thomsonae Balf. 7. Lantana canescens Kunth. «Herva cidreira». 28. Petraca volwbildis Jag. «Viuvinha». O. Taligalia campestras: Aubl var: siunicea dE « Mendóca ». 530. Vitex multiflora? «Tarumã». 531 » rufescens luss. «Tarumas». A morte subita do bem conhecido horticultor e especia- lista em Orchidéas, o Sr. Eduardo Rand, cidadão norte-ame- ricano, frustou a realisação testamentaria de uma promessa espontanea feita em vida pelo mesmo botanico ao Dr. Huber, a intenção de legar ao Museu Paraense a importante collecção de sua propriedade de Orchideas vivas. Assim mesmo não que- rendo o nosso estabelecimento de todo abandonar a rara ou antes unica occasião de obter uma quasi perfeita serie de Or- chidéas, resolveu-se, depois de obtida a devida autorisação do governo, adquirir por compra pelo menos uma collecção das mais notaveis Orchidéas proprias do valle amazonico. Ainda está pendente a respectiva negociação. Pessoal O quadro do pessoal do Museu Paraense e dos seus annexos acha-se actualmente composto da seguinte ma- neira: Director: — Dr. Phil. Emilio Augusto Goeldi. Relatorio de IS97 35 A) Museu Pessoal scientifico: —a) Chefe da secção zoologica —-o Di- rector. 6) Auxiliar de zoologia — Candidatus phil. Hermann Meerwarth. c) Chefe da secção botanica — Dr. phil. Jacques Huber. d) Chefe da secção geologica — Dr. phil. Friedrich Katzer. c) Chefe da secção ethnographica — Provisoriamente o Director. Pessoal administrativo: — a) Sub-director — Dr. Raymundo Martins da Silva Porto. 6) 1.º Preparador de zoologia (entomologia com funcções de meteorologista) — Ernst Clément. c) 2.º Preparador de zoologia (ta- xidermia) — Joseph Schôn- mann. d) 3.º Preparador de zoologia (ta- xidermia) — João Baptista de Sa. e) Preparador de botanica — Ma- noel Pinto de Lima Guedes. J) Preparador de zoologia — Francisco Honorato de Bé- renger Monteiro. 2) Desenhista lithographo — Er- nst Lohse. h) Porteiro — Balbino Anesio de Araujo. 7) Continuo — José Lopes Freire. Serventes do Museu —1) Paulino José de Paiva. k) Luiz Antonio dos Santos. “!) Candido José da Silva. m) José Antonio dos Santos. B) Annexos Jardim Zoologico: —a) Guarda do Jardim — Joaquim Nu- nes de Queiroz. 36 Relatorio de 1897 6) Serventes do Jardim -— Leocadio Freire de Moraes e Olyntho Pe- . reira de Oliveira. | Horto Botanico:—c) Jardineiro — Manoel dos Santos Lima. d) Ajudante do jardineiro — Antonio Joaquim Cerqueira. ec) Horteleiro — Francisco José Rabello. J) Ajudante do horteleiro — Izidoro Garcia Salgado. Conta assim o corpo scientifico do Museu propriamente dito 4 pessoas, o pessoal administrativo 13 pessoas, os annexos contam juntos q pessoas, ao todo 26 pessoas. No pessoal scientifico tambem n'este anno de 1897 não houve alterações. Entre os contractos renovou-se o do auxiliar da 1.º secção. Durante o exercicio futuro de 1898 deverão ser renovados mais os dos chefes das secções geologica e bota- nica e bem assim o do Director do Museu. Agradeço aos meus collegas, em nome do (Governo estadual, como no meu pro- prio de chefe do estabelecimento, o zelo indefesso com que se houveram, fazendo progredir as respectivas secções e par- tilhando commigo e com o Sub-director a ardua e penosa, mas bella tarefa de patentear o valor e importancia do esta- belecimento como alavanca da instrucção publica e como cen- tro scientifico para a exploração methodica da natureza ama- zonica. Não foi provido ainda o lugar de chefe da 4* secção, de ethnographia e anthropologia, apezar de previsto até no or- camento findo, prova de que a Directoria nunca perdeu de vista a organisação completa do corpo scintifico, como ella se acha definida no regulamento. Tambem não faltaram as- pirantes habilitados para o cargo, pois em consequencia dos. passos dados pela Directoria em principio deste anno para um competente elemento, offereceram-se dous especialistas, entre os quaes não era facil a escolha. A razão pela qual, apezar deste facto, permaneceu vago o mencionado lugar, consistiu na comprehensão compartilhada tanto pelo (Groverno Estadual, como pela Directoria, que os vencimentos previstos não eram sufficientes na actual con- junctura para contractar um especialista. Esta comprehensão, de par com a convicção, que os outros especialistas do Museu, anteriormente vindos como chefes das tres secções restantes, foram mui sensivelmente prejudicados pela carestia da vida e necessariamente seriam, pela manifesta insufficiencia dos Relatorio de IS91 Sto el meios, forçados a repatriar-se rescindindo os seus contractos, foi origem da ordem verbal do Governo para esta Directoria, de estudar de mais perto esta questão e apresentar um pro- jecto e base de vencimentos, que salvasse tão dedicados e experimentados profissionaes de uma posição social humilia- dora, inversa áquella que os representantes da sciencia en- contram nos paizes adiantados da Europa, America do Norte e colonias transmarinas dependentes de povos civilizados. Effeito salutar trará estamos certos, esta ordem, producto de esmerada cultura intellectual e summa equidade pois ella prevê e evita um dos mais perigosos recifes para a prospe- ridade do Museu Estadual. No quadro administrativo advogo, por iguaes razões de equidade, a equiparação dos vencimentos do Sub-director para com os de um chefe de secção. Relativamente aos - preparadores de zoologia devo igualmente insistir que lhes seja abonado um melhoramento de situação pecuniaria, de alguma forma proporcional a calamitosa differença que en- contram na comparação dos vencimentos cridos e obtidos. O primeiro preparador de zoologia o Sr. Luiz Tschimperli repatriou-se em Ágosto, depois de findo o seu contracto. Veio substituil-o ainda no mesmo mez o Sr. Joseph Schôn- mann, suisso, antes auxiliar taxidermico na Escola Polytech- nica de Ziúrich. Por motivos de saude alterada, que a juizo medico, tornou inevitavel urgente repatriação, desligou-se do Museu quasi ao mesmo tempo o Sr. Gustav Kiisthardt, 2.º preparador de zoologia voltando para a sua patria (Darmstadt, Allemanha). O Governo mitigou-lhe consideravelmente o seu infortunio, facilitando-lhe a volta com passagem. Veio por contra em 7 de Julho o Sr. Ernst Clément, cidadão allemão, contractado para servir como preparador de zoologia, espe- cialmente para o ramo da entomologia, encarregando-se simultancamente das funcções de meteorologista. Comparando-se esta exposição, com o que eu disse no meu relatorio do anno anterior (1896), vê-se que falhou o meu calculo, admittindo 4 preparadores de zoologia (sendo 3 para o serviço taxidermico e 1 para O serviço entomologico), devido a retirada dos dous moços mencionados, occurrencia que eu não podia prever. Entraram dous e sahiram dous, de maneira que o total ficou o mesmo. Tendo sido esque- cido no ultimo esboço de orçamento, por um lastimavel acaso, o ajudante de preparador de zoologia, João Baptista de Sá, nomeou-se-o interinamente para um dos dous luga- res ainda não preenchidos, com os mesmos vencimentos que EE Ed SE a Ro OR E Rs De NC RREO ai pai > | Ea RR EE e: E EA (E IE US ECT e A! 38 Relatorio de 1897 lhe competiam no seu posto de ajudante. Subsiste todavia a necessidade de 3 preparadores para o serviço taxidermico, convindo preencher com um elemento habilitado e conhece- dor d'esta profissão a lacuna existente. Aqui é a occasião de levar ao conhecimento do (Governo, que veio o momento para remunerar d'ora em diante, de alguma forma, os ser- viços que já vae prestando o Sr. Rodolpho de S. Rodrigues, moço intelligente, que durante este anno relatorial appren- deu, como voluntario gratuito, na officina taxidermica. Este meio consistiria na sua nomeação interina para segundo ajudante de preparador de zoologia. Continua satisfactoriamente nas funcções de preparador de botanica o Sr. Manoel Pinto de Lima Guedes. Como candidato ao lugar antes vago de preparador de geologia apresentou-se o Sr. Francisco Honorato de Beranger Mon- teiro. Não o conhecendo pessoalmente, mais sendo nos afh- ançado como moço de qualidades recommendaveis, consenti em propol-o para a nomeação da qual, esperamos, se mos- trará digno. Devidamente autorisado pelo Groverno, contractei conforme as minhas explicações contidas no relatorio anterior (pag. 21), um desenhista lithographo para o Museu Paraense na pessoa do Sr. Ernst Lohse, cidadão allemão antes empregado artistico da bem acreditada casa de lithographia, C. Wiegandt, em Belem. São de sua lavra as bellas estampas relativas ao Enoplocerus armillatus (Boletim do Museu Paraense tom. II, fasc. 1), bastantes para recommendar as suas habilitações profissionaes. O porteiro” Sr. Balbino Anezio de Araujo, obteve um auxiliar, na forma por mim apontada em relatorio anterior (pag 21), nomeando-se para continuo o Sr. José Lopes Frei- re, em “exercicio desde 1º de Janeiro. Era igualmente uma necessidade esta, de ter a directoria quem podesse ser encarregado dos diarios recados e com- missões na cidade e ajudar na fiscalisação dos serventes do Museu e dos annexos. Ainda uma vez insisto na urgencia que ha em encontrar moradia de serviço para porteiro e continuo, conforme expressa determinação do regulamento e a vantagem que resultaria da prompta desapropriação da casa (venda) n.º 43 da travessa g de Janeiro. Mais uma morte temos a registrar este anno entre os serventes do Museu propriamente dito. Morreu no dia 10 de Julho repentinamente João Baptista Alves de Souza, na- tural do Ceará, um dos antigos. Escreve-me no seu relato- Relatorio de 1897 39 rio, o chefe da secção de geologia, que este veterano dei- xou sensivel lacuna, por ter-se iniciado satisfactoriamente em diversos trabalhos materiaes inherentes ao serviço mineralo- gico. Era um bom velho, fiel cumpridor das suas obriga- ções. Quanto aos demais serventes, é a frequente mudança a nossa principal queixa e constante difficuldade. Tal é a nota dominante tambem relativamente ao pessoal dos dous an- nexos. Innumeros os aborrecimentos que tivemos de aguen- tar de novo durante este anno provenientes da inconstan- cia, infidelidade, negligencia e relaxamento d'este pessoal subalterno, infelizmente muito desmoralisado por via de re- gra pelo alcoolismo. Ha todavia excepções honrosas, entre as quaes o velho Manoel dos Santos Lima, o nosso zeloso * jardineiro, merece uma palavra de animação. Mobilia Em mobilias maiores foram adquiridas durante o anno relatorial: 2 Grandes armarios-carteira polidos de exposição com grande numero de gavetas interiores para a secção de mi- neralogia e geologia. 6 Armarios grandes não polidos, dos quaes tres para a collecção de couros e pelles em duplicata, collocados no corredor da parte do Museu, reservada aos laboratorios e tres outros para estes mesmos laboratorios. 1 armario polido para o gabinete do Director, destinado para guardar manuscriptos e documentos. 1 relogio de parede para a sala da Bibliotheca, (trazido da Suissa pelo preparador de zoologia J. Schónmann). Diversas mezas de trabalho e um filtro. Com estes melhoramentos lucrou em primeira linha a secção de mineralogia e geologia, que, collocada na sala esquerda da frente, obteve mobilia apropriada de exposição, podendo ceder as antigas e novas vitrines que antes lá es- tavam provisoriamente, ao ramo entomologico da primeira secção. A entomologia emigrou de uma vez, installando-se na sala contigua à varanda, onde antes era o gabinete de trabalho do Director. Devido aos esforços do chefe da sec- ção geologica a coordenação da respectiva collecção, nova e representando quasi exclusivamente o resultado das suas proprias viagens e excurções, fez-se em tempo muito curto, + e dá ge ad AT ER Pr tala MD DD ad EA E O 1 CCT RSA c É eae, E tir ra mu E ÇÃo EA, ER IE A ; : Ts da ; : É: 40 “Relatorio de 1897 E: podendo ser aberta à exposição publica já em fins de Ju- nho de 1897. Esta fausta occurrencia na vida do Museu Es-- tadual foi assumpto de sympathicas referencias por parte da É imprensa diaria. Preciso porém frisar que no seu relatorio q seccional o referido chefe lamenta «a calamitosa falta de es-. a paço», que com a affluencia de novo material, que resulta de cada viagem, vae rapidamente crescendo. E' o mal, de que soffrem tambem todas as outras secções, mal que se tornará chronico, até que o Museu receba outro novo edi- ficio, identico ao actual. Agora é a secção botanica, que durante o anno vindouro deve finalmente ser considerada com conveniente mobilia de exposição. Emquanto este postulado não fôr realizado, não poderemos franqueal-a. Por conveniencia de serviço tivemos de fechar interminamente tambem a sala de entomologia, esperando todavia que ella podera ser reaberta em 1898, reorganisada completamente e dotada de visiveis melhora- mentos interiores e .exteriores. Ja no meu anterior relatorio (pag. 8) communiquei a necessidade que ha de adquirir um bom regulador para o edificio central. A collossal baixa do cambio porém fez com que resolvessemos transferir para tempos melhores a encom- menda de tão util melhoramento disciplinar e contentar-nos por ora com um bom relogio de parede para a sala da bibliotheca. Material de conservação Tambem durante o anno relatorial houve não poucos melhoramentos relativos a este ramo administrativo. Vieram de diversos pontos da Europa, quer directamente de fabricas, quer trazidos pelos novos preparadores, remessas de turfa, de papel para plantas, olhos de vidro, alfinetes e letreiros - entomologicos bem como o necessario para substituir o gasto que forçosamente ha com o constante trabalho e uzo dos utensílios taxidermicos. | Comprou-se na praça o alcool necessario para a conser- vação e augmentaram-se os barris de expedição. Tornou-se necessario mandar vir algumas boas armas de caça; adqui- rimos uma excellente espingarda de 3 canos, novissimo sys- tema Sauer (Suhl, Allemanha) e 2 floberts, systema Martini. Veio-nos tambem uma remessa de 8 caixões com drogas Relatorio de 1 897 41 chimicas da fabrica Dr. Robert Muenck de Berlim e muitos objectos menores de que carece um Museu em completo andamento. Muito necessario nos é uma proxima encommenda de vidros e boccaes para as collecções alcoolicas bem como de pedras lithographicas e utensilios para montar a instrumen- tagem indispensavel para a meza de trabalho do desenhador lithographo. Para o Jardim Zoologico vamos precisar de mais tela de arame, como de letreiros esmaltados. Instrumentos scientificos Dos instrumentos enumerados no meu relatorio anterior como desiderata, foram adquiridos durante este exercicio os seguintes: | 1) diversos apparelhos para a geologia pratica. 2) instrumentagem para a determinação da posição geo- graphica. | 3) camara de projecção e de augmento com luz artificial, para conferencias. 4) apparelho photographico, modelo Shaw de Londres, formato 13X 18 cm. para viagens. Registro n'esta occasião os excellentes e desinteressados serviços prestados à Directoria do Museu pelos Srs. Prof. Dr. Peter Vogel, lente de astronomia na Academia Militar em Munich (Bavieira,) o bem conhecido astronomo da celebre expedição von den Steinen ao Xingu, e Prof. Dr. Giovanni Barbieri, lente de photographia na Eschola Polytechnica em Zurich (Suissa), que foram merecedores da nossa maxima gratidão pelo extremo cuidado na fiscalisação dos menciona- dos instrumentos. Ainda nos faltam certos instrumentos, cuja acquisição devera ser feita em futuros exercicios. Não posso deixar de accentuar aqui o singularissimo facto que o Museu Paraense paga desde a sua fundação até hoje na Alfandega de Belem os mesmos direitos pelo seu material de conservação e ins- trumentos scientificos importados do estrangeiro, como qual- quer negociante importador particular. Tem de pagar direitos aduaneiros para a tela de arame e pertences para c Jardim Zoologico, como para a naphtalina necessaria para a conser- vação dos trabalhos de penna dos indios e a das caixas com insectos e pelles de aves, como até para as estampas, por 4—(BOL- DO MUS PARAENSE) oiatorTo de 1897 ventura executadas na Europa—estampas estas destinadas ao «Boletim do Museu Paraense», que não se vende, mas que se dá generosamente à muitas e muitas escolas superiores e autoridades do Brasil inteiro. Paga por tudo. Não tenciono entrar em longa apreciação d'esta praxe absurda e deveras censuravel debaixo do ponto de vista dos interesses culturaes do Brasil. Limito-me apenas a apontar para ella, ousando esperar que os Exmos Srs. Senadores e Deputados tomem posição no Congresso Nacional contra esta monstruosidade offensiva ao. bom senso commum. Não quero advogar uma vantagem ex- clusiva para o Museu Paraense, pelo contrario, desejo o seu usufructo para todos os estabelecimentos congeneres em especial e todos os Institutos e Escolas de ensino superior em geral. Bibliotheca Desenvolve-se proporcionalmente aos meios postos à sua disposição, meios estes que não foram de todo sufficientes durante o exercicio findo, uma vez por causa da verba di- minuta, e em segundo lugar por causa do cambio baixo. Conta ella hoje approximadamente 1.200 volumes. Queixa-se o chefe da secção geologica da pobreza ostentada ainda pela litteratura relativa à sua especialidade, argumentando que não pode realisar certos estudos e investigações, sem a acquisição de certas obras, monographias e revistas que nos faltam ainda. Lacunas sensiveis deploram tambem as outras secções. Cito, por exemplo, em relação a litteratura zoologica a falta da collecção dos «Proceedings of Zoological Society » de Londres, preciosa obra que nos é necessaria, como diver- sas outras, pelo muito que contém sobre a fauna amazonica. Publicações Durante o anno relatorial sahiram dous grossos fascículos do «Boletim do Museu Paraense», os numeros 1 e 2 do segundo tomo, o primeiro em Maio, o segundo em Outubro. Com a paginação successiva empregada para cada tomo, vão, até a pag. 256. Contém 11 estampas, das quaes executadas. no Pará 8, na Allemanha 3. Já entrou no prélo o terceiro DA deh cad o in Relatorio de 1897 43 numero do segundo tomo, não menos substancial e tambem ja ha muito material para o quarto numero, com o qual fin- dará o tomo. Ha quem admire a nossa fertilidade litteraria. Ella é o nosso legitimo orgulho, a melhor arma que pussutmos no certamen scientífico nacional e internacional. Poderiamos re- produzir cartas de scientistas de além-mar, nas quaes se diz francamente, que o nosso «Boletim » forçou-os, pela primeira vez, à leitura de uma publicação em lingua portuguesa. Não descançaremos nos nossos esforços de manter o « Boletim » no alto conceito em que é tido por toda a parte, convencidos “como somos que elle constitue uma gloria imperecivel para os creditos do Estado do Para. | Fomos obrigados a elevar a tiragem de 1.000 exemplares que era no principio, a 1.500, tal é a procura do nosso orgão de publicidade. E” remettido o «Boletim do Museu Paraense » dentro do Brasil (fóra do Estado do Pará) para 222 escolas superiores, magistrados, scientistas, literatos, etc., etc. Erraria alias, quem pensasse, que o «Boletim » represen- tasse o total da nossa actividade litteraria. Este nosso orgão menor de publicação não comporta senão aproximadamente um terço da somma de trabalhos da lavra do nosso corpo scientifico. Ha uma superproducção honrosa, cujo excesso é logicamente levado para os paizes, onde ha grandes revistas e periodicos para esta ou aquella especialidade. Assim vão constantemente trabalhos nossos maiores ou menores para a Inglaterra, a Allemanha, a França, a Austria, a Suissa redi- gidos nas respectivas linguas. Está se preparando a primeira das « Memorias do Museu Paraense», para a qual estão quasi concluídas as estampas que a devem acompanhar. Sera redigida esta primeira me- moria pelo Director do Museu e versará sobre assumpto antes mal cultivado de zoologia. Projectadas estão ainda di- vérsas outras, faltando apenas o tempo necessario e de vez em quando o «nervus rerum ». Conferencias Organisada em 1896 a «Sociedade Zeladora do Museu Paraense», que se compromette pelos seus estatutos a fo- mentar especialmente este lado prommettedor da organisação do Museu, houve durante o anno relatorial mais duas conferen- 44 Relatorio de 1897 cias scientificas. Na primeira o Director do Museu tratou da «Lenda amazonica do «cauré», considerada à luz da scien-. cia», e o Dr. J. Huber das differenças entre «Plantas para- siticas e plantas epiphyticas». Na segunda os mesmos con- ferentistas oraram, o primeiro sobre o notavel peixe amazo- nico «JLepidosiren paradoxa», podendo mostrar a selecta assemblea, honrada com a presença de S. Ex. o Sr. Gover- “nador, um exemplar vivo do raro Dipnoo; o segundo «Sobre os nossos actuaes conhecimentos acerca das especies de se- ringueiras na Amazonia». Summulas d'estas conferencias ja entraram ou devem entrar no «Boletim do Museu Paraense». Com desvanecimento o podemos dizer: a frequencia d'estas | conferencias é superior a nossa espectativa. Conseguimos despertar o interesse para a nossa causa e converter em calor o gelo do indifferentismo, que nos difficultou no principio a obra civilisadora. Expedições, viagens e excursões Além de innumeras excursões menores nos arredores da cidade de Belem, executaram-se durante o anno relatorial as seguintes viagens e expedições maiores: a) Pelo pessoal reunido da 1.º e 2º secções ao alto rio Capim (Junho — Julho). 6) Pelo auxiliar de zoologia a «Dunas», no cabo de Magoary (Marajó), (Agosto — Setembro). c) Pelo preparador de botanica ao rio Arary (Marajo) (Junho — Julho). d) Pelo chefe da secção botanica ao Ceara (Setembro — Outubro). c) Pelo chefe da secção geologica ao rio Tapajós e ar- redores de Monte-Alegre (Serra de Ereré e Serra Itaanajury) (Setembro — Novembro. Instructivas e fructiferas em resultados scientificos e col- lecções foram todas estas emprezas, entre as quaes diversas assumiram caracter de verdadeira expedição, como aquella ao alto Capim e a do chefe da 3º secção ao Tapajós e Monte-Alegre. (Para esta ultima o Governo Estadual deu um credito extraordinario de cinco contos de réis, attento ao fim pratico da missão). Estes materiaes serão successivamente elaborados e apro- veitados em publicações futuras, constituindo semelhante ela- Relatorio de 1897 45 boração assumpto de intensiva occupação durante mezes. A época de chuva, que esta batendo as portas, nos proporcio- nará talvez o tempo necessario para estas pesquizas. Os valiosos fructos scientificos d'estas expedições longin- quas e em partes penosas e arriscadas, não foram infeliz- mente alcançados senão mediante o preço e tributo de alte- ração de saude mais ou menos graves. Nós, que participamos na viagem ao alto Capim, voltamos todos doentes de febres, das quaes não conseguimos livrar- nos nas primeiras semanas depois da nossa volta ao Para. Obtivemos do (roverno Estadual a permissão de restabelecer- nos fóra do Estado; deixei o chefe da secção botanica no Ceará continuando eu viagem até o Rio de Janeiro, onde somente depois de mezes consegui as melhoras esperadas, no clima saluberrimo da Serra dos Orgãos; o preparador de zoologia 1. Tschimperli, levou febres ainda para a Suissa. Escreve-me o Dr. Katzer, que voltou esta vez sem contratempos relativos a saude, da viagem ao Amazonas e tambem o auxiliar de zoologia voltou do cabo de Magoary melhor do que estava na ida. Sinto-me compeilido pela minha consciencia a externar aqui um voto de sincera gratidão ao Sr. Dr. Vicente Cher- mont de Miranda, pelos extraordinarios serviços que nos prestou na viagem ao alto Capim e a hospitalidade cava- lheira, com que sempre costuma receber os emissarios do Museu. Donativos No anno de 1894 tivemos 20 donativos diversos, no anno de 1895 já 103, no anno de 1896 finalmente 155. Durante este anno relatorial subiu o algarismo dos donativos diversos a 197. Com maximo prazer publicamos por extenso a lista dos doadores por ordem chronologica: Dr. Bento Miranda. Sr. Francisco (romes de Amorim. Dr. Guilherme L. de Mello. Tenente-coronel Aureliano Guedes. Dr. José Ferreira Teixeira, (chefe de segurança). Conego João F. A. Muniz. Tenente-coronel Pedro da Cunha. Sr. Raymundo, (Mercado). Sr. Felippe A. Carvalho Junior. D. Theodora Sodré. NEN Dr. Figenmann. Rr Sr. Belém Costa. . | | Senador Francisco Machado (Obidos). Dr. Augusto Olympio. Commandante Caldas. | he LER Dr. Pontes de Carvalho. E E D. Romana Bentes. Ai Sr. Abel Chermont. | Es Sr. J. J. Guerreiro. BR Tenente-coronel Francisco de Mendonça Tuna ae DSHa Dr. Lauro Sodré. hs Pr Sr. B. B. de Araujo Mindello Ngoe a Sr. Carmelino Farias. Desembargador Gentil Bittencourt. Rev. Padre Cabrolie. o Sr. Antonio Candido. or, JD; Beckman,. Sr. RR. 'SHermann: Barão de Marajó. Sr. Hyppolito Autran. Srs. Pereira & Irmãos. - Dr. Albertô Vieira Braga (Manãos). Sr. Leonidas R. da Silva Castro. Desembargador João Hozannh de Oliveira. E, Suzana. Ramos. Sr Sianitanels. Sr. Braga. | Sr. Bernardo Ozorio. Er dra Major Antonio M. Cardoso Barata (Monte- Alegre). SAE Dr. Lobão. , 384 i a var t 4 Sr. Manoel Herculano de Araujo. “A a PA Pharmaceutico Pedro de Aragão. | 97 E Sr. Manoel Antonio. | “e D. Leocadia. BRR Sr. Salustiano Francisco de Souza. «Sa fe Sr. Eugenio Meyer (Rio de Janeiro). o Sr. Gustav. Kisthardt. AE Sr. Rodolpho R. Pampolha. : ae D. Dondon. “UA Sr. Raymundo Nonnato de Oliveira. E Dr. Joaquim Franco de Sa, (Itaituba). | o D. Rosita Feitosa. RR Sr. Lucio Casemiro das Mercez. Sr. Benjamin Ajuricaba Brandão. Sr. Bohain, Chimico. Professor (Grama. Major I.. Valente do Couto. Sr. Manocl Lavareda da Rocha. Sr. Eduardo Pontet. Sr. Bernardo Ferreira Lima. Srs. Cunha Oliveira & Cr D. Marcianna. '- D. Leopoldina. “Dr. Olympio Leite Chermont. Engenheiro Paul Je-Cointe (Obidos). Se Cmok. Sr. Manoel N. Amorim. Sr. Hastlett. Capitão Sabino H. da Luz. Barão Sigmond v. Paumgartten, (Vigia). Melchior Rodrigues Coelho (Vizeu). Professor Ferro é Silva. “* Sr. Manoel Henrique do Nascimento. Dr. Vicente Chermont de Miranda. Sr. Manoel Baena. “Sr. Manoel Sant'Anna Palheta. Sr. Cassiano Secundo (Alemquer). Sr. Antonio F. Penna. Professor José Damaso de Oliveira. Sr. Dionisio Alves da Silva. D. Maria G. Cardoso. ' Dr. J. Paes de Carvalho. Sr. Henrique de La Rocque Junior. Sr. Pedro Francisco das Neves. Coronel José Fernandes Penna. Padre Angelico Pereira de Araujo. Sr. João Gualberto da Costa. Sr. Edgar Chermont. Dr. J. Jonas Montenegro. Dr. Manoel Smothness Pó (Cametá). Dr. Emilio A. Goeldi. Dr. Bach. (Museu de La Plata). Sr. Joaquim José da Motta. Sr. Joaquim Campos. D. Eliza Maria da Costa. Sr. Camillo José Dias.- pe 48 Relatorio de 1897 Sr. Jose J. Cardoso. Sr. Manoel José Braga (Apehú). Sr. Antonio Caetano da Silva. Sr. Romão dos Santos Braga. Commandante Christiano A. Pimenta Bueno. Sr. Manoel Demetrio de Souza Lobo. Commandante Bernardino P. Souza Gomes. Coronel Bento José da Silva Santos. Coronel José Ayres Watrin. Sr. Wenceslau Martins. D:Carolma JHrazão. Dr: EuciorEde: Amaral. Sr. Claudio dos Santos Coimbra. Dr. Guilherme Studart (Ceara). D.: Luiza Bisctoni. Sr. João Malaquias de Vasconcellos. Sr Erancisco Salles: St. Luiz Travassos da Rosa. St. Luiz de Souza. Sr. Aureliano Eirado. D. Maria Magdalena. Sr. Pedro Liborio de Almeida. Sr. Fileto Severino de Miranda. Sr. Francisco Domingos dos Santos. Commandante Martins da Costa. D. Adelina Fernandes. Sr. Stephens. Major Candido Francelino dos Reis. Sr. Possidonio de Oliveira. Sr. Jose Fortes de Carvalho. Sr. Eduardo Rand. Sr. Joaquim (G. Gonçalves Vianna. D. Alice Sampaio. Dr. Fernandes Bello (Mazagão). Sr. Romualdo Pinheiro de Abreu. Capitão Lourenço A. Lopes de Azevedo. Engenheiro Frederico Martin. Sera sempre com infinito prazer que levamos ao conhe- cimento do governo o tão rapidamente crescente numero de offertas espontaneas, archivando com o cuidado devido os nomes individuaes de cada um d'aquelles que em boa hora se lembraram d'este bemfazejo modo de contribuir para o engrandecimento do Museu o qual por sua vez não tem Relatorio de 1897 49 outro fim, senão engrandecer o Estado, enaltecendo a mages- tade da sua natureza. Accrescimos nas collecções Do progresso qualitativo e quantitativo havido nas collec- ções convencem-se certamente todos aquelles visitantes, que costumam frequentar a exposição em intervallos regulares. Muito mais impressionaria porém, se dispozessemos das ne- cessarias condições de espaço. Faltando-me esta vez os dados estatisticos para uma synopse mathematicamente exacta, devo limitar-me a mencionar onde e em que sentido as collecções tiveram seu principal incremento. Relativamente à secção zoologica posso dizer, que o serviço taxidermico forneceu numerosissimos specimens per- tencentes as classes superiores de Vertebrados, Mammiferos e Aves, sendo naturalmente maior o numero relativo a es- tas ultimas. A regra observada é de montar os specimens que representam novas especies para as vitrines de exposi- ção, ou que completam um grupo ou que apresentam melhor estado do que os exemplares anteriores; o resto é incorpo- rado as collecções conservadas em estado de pelles. Aprom- ptou-se em mammiferos maiores a magnifica onça preta ma- rajoara presente do Dr. J. B. Ferreira Penna e fallecida no Jardim Zoologico em 1895, outrosim a onça pintada, ultima- mente fallecida— ambas peças que deram bastante trabalho. Cresceu satisfactoriamente a collecção dos Reptis, dos Am- phibios e notoriamente a dos Peixes, sendo esta ultima, como já escrevi no relatorio anterior, objeto da minha principal preoccupação actual. Com a vinda do Sr. E. Clément ganhou a entomologia finalmente um elemento, que é chamado para destinar sua quasi exclusiva actividade e attenção a este ramo zoologico e vi e observei, que este preparador não perde o seu tempo e trabalha activamente no augmento das series de insectos das diversas ordens. O accressimo nume- rico aqui havido admiraria certamente quando comparado com a proporção do tempo empregado. Volto à secção botamica, onde o indefesso labor e zelo do seu chefe não ficou atraz na pacifica concurrencia, que lhe faz a primeira secção, aliás com um pessoal bastante mais numeroso. A vista d'olhos cresce o herbario, que hoje ja constitue uma preciosidade com as suas séries provenientes 50 ma de 1897 de regiões tão interessantes como diversos pontos da Guya- na Brasileira, da Ilha de Marajó, do alto Capim, dos arredo- res de Belem e do Ceara. Cresce tambem a collecção de fructas e sementes, cortes de caule e troncos e com bem comprehensivel impaciencia espera o meu dedicado collega o momento onde espaço e mobiiia lhe permittirão finalmente expôr tambem a sua secção ao publico, dotada então das necessarias condições estheticas exteriores. Incansavel verdadeiramente em reunir materiaes é o chefe da terceira secção, de mineralogia e geologia. Obstam não somente condições de espaço como até de proprio peso à possibilidade de expôr tudo simultaneamente na respectiva sala, o que o collega conseguiu dentro de dous annos in- completos sobretudo nas suas viagens, de sorte que caixões cheios de amostras de rochas e blocos inteiros são guardados nos quartos e corredores dos baixos do actual edificio. O inconveniente que vae n'isto não escaparã a observação de quem quer que seja; mas que outro recurso nos sobra senão o de aguardar restgnadamente a volta de melhores tempos mais propícios a comettimentos scientificos e com elles a vinda de um segundo edificio parallelo nos terrenos conti- guos? A collecção mineralogica e geologica exposta, toda nova, arranjada com gosto esthetico e com palpavel compe- tencia profissional ao mesmo tempo, representa de facto se- não uma fracção de escolha do material que a secção possue e obedece ao mesmo plano e tendencia scientificas, que cul- minam na exploração do valle amazonico, que já acima caracterisamos tratando das outras secções, e de programma de trabalho suz generis do Museu Paraense. Houve e continúa a haver tambem accrescimos conside- raveis na quarta secção, a de ethnographia, archeologia e anthropologia. Merece entre estes menção nominal a “bella collecção de armas, banquinhos e outras obras de madeira de uso entre os Indios do Tapajós, doada pelo Exmº Sr. Sena- dor Lauro Sodré, ex-governador do Para, antes da sua ida para o Rio de Janeiro. À quarta secção, tão interessante como importante, resente-se não sómente tambem da falta de espaço, como ainda—somos os primeiros a dizel-o—da ausen- cia d'aquelle cunho de carinho e desvelo no seu arranjo ex- terior, que um chefe proprio da secção certamente lhe im- primira. O Director do Museu, seu chefe provisorio, dirigindo ao mesmo tempo a complexa secção zoologica, não o pode fazer, como bem queria, por ser sobrecarregado de tra- balho. “Relatorio de 1897 Frequencia publica Nos algarismos attingidos pela frequencia publica, nos dous dias de exposição, vae uma farta e inabalavel prova da prosperidade do Museu Paraense. Conservam-se na mesma altura, como no anno anterior (pag. 33 do relatorio para 1896), na media nas quintas-feiras entre 50 a 150 pessoas e nos domingos entre 800 e 1.500 pessoas. Ora, poderia alguem dizer que a enchente primitiva fosse devida principalmente ao «encanto da novidade». Mas este «encanto da novidade » já não pode fornecer a verdadeira explicação, hoje depois de passados dous annos desde a abertura do Museu no seu ac- tual edificio. Outra explicação licita é esta que o Museu Estadoal creou raiz e adquirio positiva sympathia por parte do povo, havendo entre os visitantes muitos frequentadores regulares e assiduos, que logicamente consideramos como «causa efficiente» da surprehendente constancia numerica. Vimos ultimamente communicação official acerca da frequencia publica do Museu Nacional do Rio de Janeiro e por ella nos . convencemos que o Museu Paraense tem tanta frequencia numa semana e com dous dias de exposição, como o refe- rido estabelecimento congenere na Capital Federal n'um mez e com tres dias de exposição. Com esta comparação não pre- tendemos absolutamente molestar o referido estabelecimento: julgamos apenas assistir-nos o direito para semelhante con- “fronto n'uma questão na verdade exterior, mas de grande importancia ao nosso ver. Eis as anotações exactas, feitas pelo rio do Museu e os guardas encarregados da vigia, relativas à frequencia havida n'este anno relatorial: EnsJaneiro ELOI) creo aa 4.861 visitantes picBiereréiro Sa SS 5.548 3 » Março PR o ES SE PRE, ERC 7 6 /3 » » Abril MET Red cipio E 9.233 » » Maio EO SMA NE 9.714 » e Junho DEN TE Sa a o oo a 6.3 25 » » Julho Ive ASTOR O de 3 217 » » Agosto DE a fase de 6.940 » E DIC LETNIANO! RS 2x Pp gas a o sa 5.062 » » Outubro aU 27 A da 7.267 » DN OVEMDEO 2 A eai as de 35757 » » A Plezembros pics ha cr ts 6.074 » 52 Relatorio de 1897 Poucos dias depois de ter assumido o governo do Esta- do, 'S. Ex.2:o Sr. Dr. Paes de Carvalho, Governador “eleito: honrou o Museu Paraense com uma demorada visita, interes- . sando-se por tudo e retirando-se com expressões de plena satisfação. Em 16 de Outubro foi o estabelecimento visitado por S. Ex. o Sr. Governador do visinho estado do Amazonas, constando-me pela imprensa, ter obtido S. Ex.º igual opinião favoravel do nosso Instituto, apezar de não ter encontrado a maioria do pessoal scientifico, ausente infelizmente da Ca- pital de Belem n'aquelle momento, uns por motivos de saude alterada e outros por motivos de serviço no interior do Estado. Orçamentos A) O orçamento de 1897 O orçamento decretado para o exercicio financeiro de Ju- lho de 1897 a Julho de 1898 foi insufficiente. Penoso nos é dizer, que-a estreiteza dos meios pecuniarios gera o inconveniente de termos de adiar compromissos de um exercicio para o seguinte e que não se pode entrar no novo, sem ver esta ou aquella verba de antemão penhorada. Afflictiva a colli- são de deveres, que resulta do desenvolvimento e da ex- pansão do Museu, prescriptos pela sua lei basica por um lado e da necessidade de equilibrar despezas, tendentes a crescer em virtude de factores de força maior, com meios parcos, com limites inexoravelmente rigidos. Frustrados ainda uma vez ficaram os nossos esforços de alcançar o equilibrio mediante a mais severa economia. A inaudita baixa do cam- bio com a competente alta havida tanto nos preços dos generos, dos materiaes e dos salarios para a mão de obra, prejudicou-nos de modo muito sensivel na verba para o Jardim Zoologico-—tanto em relação ao sustento dos animaes, como em relação à continuação das obras encetadas, aug- mento da officina taxidermica, etc. — na de viagens e excur- sões, na da bibliotheca, na de publicações. Intutivo, outro sim, é que o Museu não pode descuidar da conservação do edificio e dos seus annexos e que com o augmento do seu terreno e dos seus predios, são precisos recursos pro- porcionalmente maiores. Relatorio de 1897 53 B) O novo orçamento para 1898 Não tenciono entrar em discussão detalhada sobre a altura das diversas verbas, que deverão compor o novo orçamento. Nas linhas que agora mesmo escrevi em relação ac exerci- cio de 1897, tanto como no decurso dos capitulos d'este meu relatorio actual, acham-se claramente demonstrados os deffei- tos orçamentarios que havia, como são tambem nitidamente indicadas as melhoras e modificações que devem ser consi- deradas no exercicio vindouro. São estes os meios, calculados em marcos, isto é, sobre base de ouro, que julgo necessarios em 1898 para o Museu Paraense: A Museu: “a), Verba: pessoal... .2% é po I10.400 bi) Verba material: Sm sço 87.000 197.400 marcos B) Annexos a) Jardim Zoologico....... 18.000 bitEtorto: Botaniçõ. =. eretoseio 12.000 30.000 marcos Orçamento total ..... 227.400 marcos Estão n'esta reflectida synopse, comprehendidas e sanadas todas as lacunas e defeitos para os quaes apontamos como principalmente carecendo de prompto saneamento nas paginas d'este meu relatorio menos a verba destinada exclusivamente a continuação da desapropriação dos terrenos e predios vi- sinhos conforme a lei e que ao meu ver, deveria ser para este exercicio de 40.000 marcos. Encerro aqui, confiando que o Congresso habilite o Go- verno Estadoal na patriotica tarefa de dotar o Museu Pa- raense com os recursos necessarios para que este possa con- tinuar a sua existencia honrosa e proveitosa para os creditos do Estado e da Amazonia. Novo quanto a sua origem, o Museu é todavia já hoje um utilissimo estabelecimento, que goza da incontestavel sympathia publica no interior e que rapidamente collocou-se a frente no trabalho de séria propa- ganda no exterior: é a repartição do Estado que possue a rede de relações internacionaes mais extensa sobre todo o globo! SCIEÊENTIFICA: “Duas Sapotaceas novas do Horto Botanico Paraense Pelo Dr. J. HUBER (COM 2 ESTAMPAS) a “ Entre as arvores fructiferas existentes no terreno actual do Museu Paraense (antiga rocinha Silva Santos), e ainda plantadas pelo antigo proprietario, se acha um numero avul-. tado de especies pertencendo a familia das Sapotaceas. N'ellas “occupa o primeiro lugar, ao menos pelo numero de individuos, o « macrophyllum Sw. S. Baturité: PirZ ie » glaucescens EKlotzsch. Cunany Guyana bras. 10. 1895. Planta formosissima, caracterisada pelo seu rhizoma longamente ras- teiro, seus talos solitarios, seus galhos pouco numerosos, suas pinnulas obtusas, grandes, muito glaucas na face inferior e bordadas de grandes soros pretos muito espaçados. 135. Adiantum tetraphyllum Sw. Baturité. o. 1897. *1113. Lindsaya Guyanensis Dry. Cunany. 10. 1895. V “114. Pteris (Doryopteris) pedata L. var. Huberi n. var. Typo multo major, stipite 20 cm. longo fronde 15 cm. longa 25 cm. lata, latissime deltoidea, pinnato-hastata, lobis haud ad cos- Materines para a flora Amazomeca 63 tam principalem incisis, lobis simplicibus elon- gato-acutis, infimis brevibus deorsum versis, secundis longissimis patentibus, tertiis et quar- tis iterum diminutis, terminali elongato. Muito particular pelos seus lobulos simples, não entalhados. Pode- ria se dizer uma combinação do ?. sagittaefolia Radd. ou mais ainda do P. hastata Raddi com ?. pedata L. Talvez uma boa especie. Hab. Serra de Baturité viII/1897. N 65. x RA freros aquilima É. dv caudaia L. S. Baturite. 139. Blechnum occidentale L. S. Baturite. 264. Asplenium serratum L. S. Baturité. 123: » obtusifolium L. S. Baturite. 265. » auriculatum Sw. S. Baturité. L26- > formosum Wild. S. Baturite. 138. Diplazium Shepherdi (Spreng.)S. Baturite. 139. Aspidium macrophyllum Sw. S. Baturité. Exemplar com estipite e rachis bruno polido. 751. Asp. subqgquinguefidum (Hook.) Cunany e Rio Capim. 265. 4sp. subobliguatwm (Hook.) Rio Capim. 137. » Caripense (Hook.) S. Baturité. 567 » tetragonum (Hook.) Rio Maraca (Guy. brasil.) 9. 1895. 120. Phegopteris crenata (Sw.) S. Baturité. 1076. Meniscium serratum Cav. Cunany. Muito grande, assemelhando-se ao M. Andreanum Sordiro. 66. Polypodiwm piloselloides L. Para. 10.1895. Vernac. «Samambaia ». 121. Polypodium lycopodioides Sw. Para. S. Baturite. 266. Polypodium vaccinifolium L., Fisch. S. Baturité, epiphyta sobre os cafeeiros. 119. Polypodium lanceolatum L. v. elongatum (Gymnogramme elongata Hook.) S. Baturité so- bre os cafeeiros. 120. Polypodium gyroflexum n. sp. 4 P, lanceolato differt rhizomate brevi, vix repente, radices multos valde tomento- 64 Materiaes para a flora Amaxzonica sos prehensibiles emittente, foliis nudis coes- pitoso-fasciculatis numeris subsessilibus suc- culentis coriaceis 12 cm. longis 1 !/, ad 2 cm. latis versus basin decurrentibus acumi- natis, costa nitida valde prominente, folio plicato incurvato-gyroflexo grosse crenato-re- pando, soris magnis marginalibus rotundatis brunneis, receptaculo versus paginem inferio- rem immerso foveam formante. Mais largo que ?. lanceolatum, rhizoma como de um Antro- phyum, frondes numerosas, fasciculadas, quasi sessis, absolutamente destituidas das escamas peltadas de ?. lanceolatwm, fortemente crenu- ladas carnosas, curvadas em semi-circulo, muito agudas; soros margi- naes. Sub-especie de 2. lanceolatum. Hab. Serra de Baturité, epiphyta nos cafeeiros IX 1897. 33. Polypodium elasticum Richard. S. Baturite. DD: > aureum 1. S. Baturité, sobre os cafeeiros. 1065. Polypodium sphemnodes Kze. Counany. 3/0. >» sororium H. B. K. Baturité. 1261. Vottaria limeava Sw. Bata. 12 Foo 894. Teniopsis furcata Fee. Rio Capim. 223. Acrostichwumn sorbifolium L. v. Yafurense (Martius). S. Baturité. 116. Gleichenia dichotoma (Willd.) S. Baturite. 124. 127. Aneimia Phyllitides Sw. S. Baturité. 131. 606. Lygodium venustum Sw. S. Baturité. Rio Maraca. 786. 1034. Lygodium volubile Sw. Counany. Vernac. « Avenca ». 117. Lycopodium cernuum L. S. Baturité. 141. Selaginella erythropus Spring. S. Baturité. Os exemplares desta planta são em parte muito adiantadas e em palha, em parte muito novos, de 5 cm. de comprimento a fronde não sendo desenvolvida, formando um pequeno triangulo com lobulos obtu- sos, cujas pequenas folhas ainda são imbricadas em massa compacta, de côr encarnada muito viva na visinhança do estipite. Basilea, 5 de Novembro 1898 ». Dous Miyriapodos notaveis do Brazil 65 HI DOUS MYRIAPODOS NOTAVEIS DO BRAZIL NOTAS MYRIAPODOLOGICAS Por H. BROLEMANN, de Pariz ( MEMBRO DA SOCIEDADE ENTOMOLOGICA DE FRANÇA). É J. POLYDESMUS (ODONTOTROPIS) CLARAZIANUS HUMB. ET SAUSSURE 1869. Estabelecida em 1869 (Myriapoda nova americana, Revue et Magazin Zoolog., Abril 1869) pelos Srs. Humbert et Saus- sure, esta grande especie de myriapodo ** foi novamente des- cripta sobre um exemplar do sexo feminino em 1872 (Mis- sion scientifique au Mexique et dans "PAmérique centrale — Vime partie, seconde section: Ftudes sur les Myriapodes, Paris 1872) pelos mesmos autores, que d'ella deram uma excellente figura integral, acompanhada de dous desenhos com pormenores systematicos (Pl. II, fig. 4). Descripção e * NoTA — Por circumstancias alheias à nossa vontade —e entre as quaes a ausencia do Pará de um de nós por dilatado tempo não constituio uma das me- nores —tardou a publicação d'este interessante pequeno trabalho, cujo original é redigido em lingua franceza. D'isto pedimos desculpa ao Sr. H. Brólemann, pro- vecto especialista do grupo dos Myriapodos, tão pouco estudado ainda. ** Polydesmus Clarazianus já foi uma vez objecto de uma breve noticia no Boletim do Museu Paraense, no artigo do Dr. E. A. Goeldi, intitulado «Os my- riapodos do Brazil», Tom. I, pag. 166, achando agora plena confirmação por parte de authorisado especialista uma supposição com insistencia pronunciada já em Dezembro de 1894. — Descripta esta especie originalmente como oriunda da Republica Argentina não foi citada então na lista das formas brasilicas, onde ella deve ser intercalada hoje, e logo em primeiro lugar, attenta ás suas gigantescas dimensões não sómente, como tambem por motivos systematicos. A REDACÇÃO. 66 Douwus Miyriapodos notaveis do Brazil desenhos, executados com o cuidado e a precisão pro- prias dos trabalhos d'estes dous sabios de Genebra, são suf- ficientes para permittir a identificação d'este magnifico Po- lydesmideo; no estado actual, porém, da sciencia é for- çoso considerar incompleta toda e qualquer descripção que não venha acompanhada de uma figura orientando sobre os orgãos de reproducção do macho, isto é, das pattas copula- torias. De facto, se no caso presente, um desenho e uma des- cripção nos bastaram para reconhecer uma especie notavel ja por suas dimensões avantajadas, não acontece o mesmo, quando se trata de formas de dimensões medianas ou peque- nas, cujos pormenores de esculptura ou de colorido variam pouco de mais ou não são sufficientemente salientes, e por vezes até não são bastante constantes para constituirem bons caracteres distinctivos. N'estas circumstancias devemos com toda a razão agra- decer ao Dr. Emilio A. Goeldi, sabio Director do Museu Pa- raense (cuja amabilidade para com os especialistas é tão noto- ria que não precisa de novos encomios), de ter nos fornecido ensejo de preencher a lacuna scientifica deixada por aquelles supra-mencionados myriapodologistas suissos. Eis os caracteres do macho: As coxas do segundo par de pattas são providas de uma ponta romba, curta e robusta, sem outros caracteres salien- tes. As pattas copulatorias, das quaes publicamos 3 figuras, ligam-se ao typo das pattas de Platyrhachus. As coxas [han- ches| (H) são curtas e largas; as bolsas tracheanas (poches tracheennes) (p. t.) são bastante curtas, divergentes, dobradas deante da extremidade; os freios tracheanos | brides trachéen- nes] (b. t.) são assaz desenvolvidos, grudados porém não sol- dados sobre a linha mediana. À margem superior das coxas, é acompanhada, pelo lado anterior, de um dente triangular, robusto e agudo, e bem assim de uma série obliqua de cer- das compridas e longas. Na peça, que se acha sobre a coxa, reconhecemos o femur (F.), normalmente desenvolvido. hir- suto pelo seu lado posterior e fracamente estriado pelo lado anterior; a tibia (T.) não dividida, cortada de pregas obli- quas pelo seu lado externo; e finalmente o tarso (ta.) diffe- renciado em folliolos. Estes folliolos possuem aqui disposição e forma especiaes; elles são laminares, largos e muito cur- tos; o folliolo anterior (A.), que leva a fenda seminal, é re- baixado sobre a frente e a sua extremidade é arredondada; Dos dous folliolos posteriores (B. e C.=folliolos secundarios Dous Myriapodos notaveis do Brazal 67 ambos), um, externo, é truncado, o outro, interno, termina-se em longo dente estreito, triangular. O especimen-typo, uma femea, provém da Republica Ar- gentina (de onde?), e aquelles individuos, que nos foram submettidos, vieram da Colonia Alpina, Theresopolis (Estado do Rio de Janeiro; Serra dos Orgãos, Dezembro de 1897); factos estes, que ensinam, que a area de distribuição geogra- phica desta bella especie deve ser muito extensa. Os Srs. Humbert e Saussure, fiando-se nos pormenores dos tegumentos externos, observam (l. c. 1872), que o sub- genero Odontotropis, do qual o O. Clarazianus é o unico re- presentante, approxima-se por um lado aos Oxyurus (os 68 Dous Myriapodos notaveis do Brazil nossos Lefptodesmus), sem duvida por causa da forma conica do ultimo escudo, e por outra parte aos .SZexonia (os nossos Platyrhachus). O estudo das pattas copulatorias parece re- solver nitidamente a questão em favor d'esta ultima maneira de encarar as cousas. De facto sabemos, que o caracter es- sencial dos Leptodesmus consiste em ter a tibia dividida em dous galhos (Brólemann, Annales de la Soc. Entomol. France 1898). Ora nada de parecido aqui; a tibia é simples, como no caso dos Platyrhachus, pois não se pode considerar as pregas da tibia como principios de divisão, ainda menos como vestigios de sutura. Pelo contrario o tarso acha-se differen- ciado em folliolo secundario postero-inferior — inteiramente como nos Platyrhachus. Todavia a estructura lamellar e curta destes folliolos do tarso é de tal modo particular, que pre- ferimos nada mudar por emquanto na nomenclatura dos Srs. Humbert e Saussure: conservamos a sua sub-divisão Odonto- tropis, reservando-nos para ver se precisa eleval-a ao grau de genero novo ou de collocal-a em genero ja conhecido, para quando a fauna do Brazil tiver sido melhor estudada. Figuras: 1.) freios e bolsas tracheanas. — II) Femur, tibia e tarsus. — III) Uma patta copulatoria vista de perfil (externa). II) TRIGONIULUS GOÉSII PORAT 1876. (Porat. Bih. K. Svensk. Vet, Akad, FHandl, IV, Nro 7) Bibliographia: Pocock, Journal Lin. Soc. Zoolog. XXIV, 1893 Dous Myriapodos notaveis do Brazal 69 (1); *) Webers Reise in Niederl. Ost. Indien. 1894. (2) Attems. Abhandl. Senckenberg. naturf. Ge- selischaft XXIII, 3, 1897 (*); Semon's Zoolog. Forschungsreise in Australien & dem Malay. Archip, lena, 1898 (*). Synonymia: Sgzrobdolus Goésu Porat 1. c. 1876 (4) — Anna- les Soc. Entomol. Belgique NX XAE 1888 (*) Pocack, Journal Bombay Nat. Hist. Soc. 1892 (7); Annal. Mus. Civic. Stor. Nat. Genova XXXIII, 1893 (8); Brólemann, Mem. Soc. Zoolog. France VIII, ESG (o) Spirobolus Domimicae Pocock. Annals und Magaz. nat Eis To POLE, 1888 (10), Spirobolus phranus Pocock. Journ. Lin. Soc. Zoolog. XXI, -1887 (11). ? Spirobolus punctiplenus Karsch, Zeitsch. ges Naturwiss. LIV, 1881 (12), ? Spirobolus punctidives Karsch, ibid. (13). 2? Spirobolus Sanctac-Luciae Bollman, Proc. Use Na. Mus. XII, 1899 14), Spirobolus rugosus Voges, Zeitsch. Wis- senschaft. Zoo- logie XXXI, LATO ME Non syn.: Sgiwobolus fhramus Karsch = Trigoniulus phra- | pus: E) py 390904 Esta especie é, com Orthomorpha gracilis, o Diplopodo mais disseminado sobre o globo, facto este que explica a longa *) Os numeros correspondem aos que acompanham as diversas localidades. **) O Spirobolus phranus Karsch foi posto em synonymia com o Trigoniu- lus Gogsii por Pocock, porém mantido como especie valida por Attems. Ú Dous Myriapodos notaveis do Brazil e complicada synonymia precedente. As localidades onde elle foi colleccionado são as seguintes: o | Indias Orientaes: Java (3 * 5 6); Sumatra (2 6 12) Bor- Ee) neo (º 8); Ilha Saleyer (2); Flores (2); E Timor (2 12); Banda (12); Celebes (2); A Amboina (12); Saigon (13); Birmania e (8 15); King's Island e Owen lElamd "o (11): Madras (7). = Sechelles: Ile de la Digue (º). (e E Antilhas: La Dominique (1º); Haiti (1); St. Bar- = thelemy (5); St. Lucie (14), La Marti- : nique. Ea Finalmente o Dr. E. Goeldi colleccionou em Maio de 1898 numerosos exmplares debaixo de troncos podres de ar- vores no Jardim Botanico do Museu Paraense, no Para. Elle faz a seguinte observação, bastante interessante e digna de ser referida: Quando o animal se quebra, o liquido que sahe, tinge os dedos de encarnado; estas manchas não largam se não com difficuldade; o liquido em questão produz sobre a pelle uma sensação de queimadura e exhala um cheiro pro- nunciado de acido sulphydrico. * O mencionado liquido é o mesmo que o que gotteja das glandulas lateraes do corpo, cuja abertura, conhecida com o nome technico de «poro repugnatario », se acha de cada lado dos somites, do sexto (ou quinto) ao penultimo. Accrescentamos que esta secreção da 7. Goésu tinge inteiramente o alcool em bruno-vermelho. Alias esta particularidade não é monopolio exclusivo da es- pecie de que tratamos; ella se encontra geralmente em to-. dos os lulides e Spirobolides, em grau ora mais ora menos * NoTA — Convém lembrar, que já em 1894 no trabalho do Dr. E. Goeldi « Os myriapodos do Brazil» fallou-se do forte cheiro de amendoas amargas ou de acido prussico, exhalado por uma secreção fornecida pelos « foramina repugnato- ria» do gigantesco Polydesmus Clarazianus (Bol. M, P. Tom. I, pag. 166 seq.) da Serra dos Orgãos. — Faltando na ennumeração então feita — tanto o Polydes- mus Clarazianus, como o Trigoniulus Goeésii, elevar-se-hia, accrescentando-se ainda mais 2 formas ultimamente lembradas por H. v Ihering (Revista do Mu- seu Paulista Tom. I, pag. 243) o total dos Chilognathos brasilicos à 64 especies. PENA TSE Dous Myriapodos notaveis do Brazal ra accentuado, tornando-se especialmente notavel n'uma especie europea, o Blaniulus guttulatus Bosc, que communica ao al- cool, quando n'elle submergido em estado fresco, uma inten- sidade de colorido, que certamente não é proporcional à exiguidade das dimensões do animal. Semelhante faculdade de tingir o liquido ambiente perde-se pouco a pouco com o tempo, especialmente quando se tem o cuidado de renovar o alcool (cf. Verhoeff. Archiv. fir Naturg. I, 2, 1898, pag. 148). Esta secreção é a unica arma offensiva que nós conhe- cemos nos Diplopodos, ella deve, porém ser efficaz a julgar pelo effeito que produz sobre a epiderme humana. Obser- vamos n'estes animaes ainda, como meio de defesa, a facul- dade bastante distribuida, de enroscar-se em disco ou spiral mais ou menos apertados. Tal faculdade, de par com a es- pessura de sua armação chitinosa, deve protegel-os contra muitas investidas e aggressões. Finalmente devemos lembrar, que estes Arthropodos, de lentos movimentos, conservam, quando retirados dos seus escondrijos e pegados, uma immo- bilidade perfeita — circumstancia que, secundada por um colo- rido geral pouco vistoso e a semelhança que lhes provém n'este estado com raizes, detritos de folhas seccas e residuos vegetaes em decomposição, particulas de terra e do humus no meio do qual vivem, lhes permitte não poucas vezes de iludir a vigilancia dos seus inimigos. Paris, 16 de Setembro 1898. Ta Apontamentos sobre o Caucho amazonico IV APONTAMENTOS SOBRE O CAUCHO AMAZÔNICO Pelo Dr. J. HUBER Na producção e exportação da gomma elastica da região amazonica um papel bastante importante é occupado por uma marca especial, bem conhecida no Pará sob o nome peruano de «caucho». O caucho é exportado sob duas formas: em pranchas («planchas» em espanhol «Slabs» em inglez) e em pedaços de sernambiy («sernambillo» dos Peruanos). Aquel- las são productos de coagulação artificial e consistem de pe- daços chatos de 5 palmos mais ou menos de comprimento sobre a metade de largura e do peso de 4 arrobas mais ou menos. À côr dellas é exteriormente preta, no centro ama- rellada ou cinzenta, ficando mais escura com o tempo; o cheiro é desagradavel, bastante differente do cheiro da bor- racha defumada. As pranchas de caucho contém grande quan- tidade de liquido que acha-se principalmente localisado numa infinidade de pequenas cavidades de forma um pouco achatada. Esta circumstancia concorre muito a depreciar o caucho em comparação com a borracha defumada. O sey- namby de caucho, resultado da dessiccação natural do latex, apparece no commercio em pedaços de diversas formas e ta- manhos, muitas vezes tambem em parallelepipedos tendo o peso das pranchas. Elle se distingue facilmente das pranchas pela estructura que mostra elle composto de fragmentos, pel- les ou lagrimas ou de fios mais ou menos compridos, unidos em uma massa bastante solida de cheiro geralmente menos desagradavel e mais secca que o caucho em pranchas. Por isso o sernamby de caucho, ao contrario de que acontece com o sernamby de borracha, em relação com a borracha defumada tem mais valor commercial que as pranchas. Para julgar da importancia commercial do caucho, durante os ultimos annos, basta considerar os seguintes quadros que mostram as sommas (em kilogrammas) de exportação de caucho em relação com a exportação total da gomma elas- tica durante os annos de 1896-1898 e no primeiro semestre onico v Mu Apontamentos sobre o Caucho ama de 1899, para o territorio amazonico. ! Em falta de uma es- tatistica official, as tabellas foram organisadas segundo as estatisticas mensaes publicadas na secção commercial da ?yo- vincia do Pa rá : 216. | OLBtLO! cctgrtScz 0% | 69SbEr Lage cuRa PA AR r6S'ogI'z A A Ro Ro) bhotlo'z BE | So408 og6'goS 1 St |NEroot gSt'goo! 1 g'12x ElQ'TOS gzS'0S6 Le | ta0:60€ ggSghr'i LZg | BOroue LSg'610 1 o'61)| Gear SZe Sbg'go6:1 2'or pbSrOLI PSE tod bS | gbtb'6gr gag'fir'€ Q bfh'ooz bhbizSz E tas ; “AB tod] owonvo úULUIOA “7 -U90I0] | Op ovôvgrodxa 12301 OpbmirOdxa ** OIQUIIZIC] "OIQUIDAO N ** oIquino *"OIQUIDJIS ** ojsoBy .... oupnf ... "oqunf “ot seo P A OTUTA "e aqy “Ro OO NBT ** OJIDIDADYT ** oxourf wogv) -UO010d 1 comp [8909 ovôvyIodxa IZ9'944'1 Sg6'fog'1z UySoS1 boot Ig'z ** OIQUIDZIC 196'£€ rIg'Lbe'z **OIQUIDAO NT 6gb:gt glv'Sto'z *** OIQUINO 6lz'gI1 tog'bgg'1 * **OIQUIDJIS g1t:06 61Z'Z9Ia **** ojsody gv6:4z1 S16'big “ECT, Egg'ggz trg gg6 Ride iai 6tz'bSi 676'f16 “es Si SATA orS'Igr I91º0g9f"1 RES qe (eh ia S99'4S1 btoorz'z OTA L1S'6€z 9S6'bbb:€ ** OJIDIOAD goz' 49 abroS6'1 “*** Oxgue( otonvo agi 29H op ovôvyrodxa ae 968T letada ão d'esta nota a tabella de 1899 ainda fo ! Depois da conclus ” semestre. pela somma do 2 6—(BOL. DO MUS. PARAENSE) oNaco A + Apontamentos sobre o Caucho ama (4 Va "01 LE OR : ia Ee MaRiDe ais à GR QJJSOTUOS LOI'IZO'I Sgg-94S:41 E enniio ozo6£oz | t6SE6bbr bi NES 9º1 OP VUILIOS Egt' SEL ERA cSscas A E Mod a ce oqunf bgz'Stz RECO To | nino cê oteW o£bgof Gp Ao E pio 1/0'69S ce dbee ujemmsça OSILIN L6g'1S€ Papete E *** OXDIDAD Sigoti Po SE (ooo Tr AR PR ox voTIseTo owonvo Z0W . RULULOS VP op ovóvjiodxa 6681 [2909 ovôvyao dx 96:89 Lvb'bg6'1 rob'go6'1z SAS g99'tL vovLhz's * ** OIQUIAZIC Viga rd o; bicizhe * **OIQUIDAON SE oS6:04 mo Eráuito e * “e OIqUINO FA Error L94'S99'1 "= QrquIaJas ot/ Sto'fo 66SroO 2 FM OJSOBY o'tz | ogSolz EMC togarr |rems * oumf PQua ate di GOMA EM Se oqunf O'02 | intro CONOR | OIL IN ot OSe:66i aro auiiro oprSantimo [UqY gr | gtt'oof REIS QT | RT OdIVIN (94 Gzo1Sz oLo'66z £ “A DITOTAAD po oZ6'10T [AO 7/4 | oJtoue( uadvy omonvo dn 29W -U9010d | Op ovduyrodxa 8681 EPP TT RR PR AT SD AD TRE RT E E RP [2109 ovôryrodxm da gomma elastica. A porcentagem muito elevada na primeira metade de 1899 provem do facto, que as principaes chegadas de caucho tem lugar no inverno, D'estas tabellas se evidencia que o caucho tem occupado, nos tres annos de 1896-1898, uma média de 8,8 % na expor- tação amazonica > quando os rios estão abertos a navegação até uma grande dis- Apontamentos sobre o Caucho amazonico Ro tancia. Entretanto se vê que a exportação do caucho durante este periodo (primeiro semestre de 1899) excede, em cifra abso- luta, a exportação dos dois semestres do anno precedente e fica pouco inferior à somma do anno de 1897. À seguinte tabella da as sommas de exportação de caucho dos portos da Amazonia, que exportam directamente para a Europa ou para a America do Norte. 1899 | 1896 1897 1898 | 1.º Semestre | - - de Belem E) (end ”- Fator = 4 = a = Exportação j PRA ES RR AO od; rea e EU deh 887.397 USO 25 772.626 782.982 a Iuntos 67.201 | 439.453 | 444:345 63.051 | 1.776.671 | 2.073.276-|-1-964.447 | 2.039.020 Para todos estes quadros, a quantidade indicada do cau- cho é certamente inferior à realidade, porque uma grande parte do Sernamby de caucho entra, nas estatisticas, na cate- goria de Sernamby de borracha, tendo approximadamente o mesmo valor commercial. Como meio de comparação e talvez como estatistica mais completa, apezar de summaria, dou o seguinte quadro que me foi gentilmente cedido pelo Sr. Cmok, chefe d'uma das mais importantes casas exportadas d'esta praça. Gomma elastica entrada nos portos de Pará e Manáos | Borracha Caucho Julho 1895 — Junho 1896......... 19.076 tons. 1.754 PH TÕOO = a IRS esardriro dt 19.982 » 1.945 | EDS O A TEA S AS Sh eo Egg2m 1.827 | RR O GO ME PODA TOGO PLA se 2286211 45 2.671 | Não ha muitos annos que quasi todo o caucho vinha do territorio peruano e era principalmente exportado do porto de Iquitos quer directamente, quer por intermedio das pra- “6 Apontamentos sobre o Cancho amaxonico ças do Pará e de Manãos. Quasi todos os affluentes peruanos do Amazonas tem fornecido caucho. A extracção começou em 1882 mais ou menos pelos affluentes menores do Rio Maraúon, principalmente o Tigre, Morona, Pastaza, etc. Se- gundo me disseram, o lugar de Pebas, na margem esquerda do Amazonas, era tambem uma das primeiras localidades onde se produzia caucho. De 1885 até 1897, o Ucayali era o centro principal da producção do caucho. Das terras visi- nhas d'este rio, os caucheros penetraram pouco a pouco nos seus affluentes ate os mais remotos, como no Cepaua e Mis- hagua (affluentes do Urubamba), passando de la pelos vara- deros (extensões de terra firme entre as nascentes de diffe- rentes rios) nos affluentes do Rio Madre de Dios e no Rio Orton, onde ja em 1896, existia a casa commercial de Suarez e Fiscarrald que exportava quantias avultadas para Iquitos (até 8.000 arrobas por anno, só do Rio Manu).: De 1892 até 1896 o Javary forneceu grandes quantidades de caucho. Com a ex- tracção activa e pouco escrupulosa (como veremos mais adian- te, as arvores são derrubadas para tirar d'ellas o latex), os ricos cauchaes do Ucayali, do Javary e dos affluentes do Beni foram cada vez mais exgottados e os caucheros se vi- ram na necessidade de procurar um outro campo para a sua actividade. O anno 1896 marca uma nova phase na producção do caucho. E n'esse anno mais ou menos que começou a im- migração dos caucheros peruanos na bacia superior dos rios Jurua e Purus, o que teve por consequencia não só uma dis- locação do centro da producção na direcção do nascente, mas tambem um desvio da corrente de exportação que tinha-se feito quasi exclusivamente pelo Rio Ucayali e que depois d'esta nova phase, se faz principalmente pelo Purus e Juruá. Apezar de ser produzida em territorio peruano, a maior parte d'este caucho é transportada agora, não mais para O porto de Iquitos, mas directamente rio abaixo até Manãos ou Pará. Só uma parte relativamente pequena do caucho do alto Juruá é transportada ainda pelos numerosos varaderos até os affluentes do Ucayali, de onde segue em lanchas até Iquitos. Dos 3.000 caucheros que nos fins de 1898, segundo informações fidedignas, trabalhavam no alto Juruá, 600-800 sómente transportavam o producto do seu trabalho pelos va- raderos, entre os quaes o do Amoya (afluente do Juruá) 1 Cf. Fred. J. Hessel n'um artigo publicado na « India Rubber world », may I, 1899, p. 207. Apontamentos sobre o Caucho amaxonico Ui ao Cayana (affluente do Tamoyo, que é affluente do Ucayal) é o mais frequentado e pode ser atravessado pelos carrega- dores em 6 horas. Além d'este caucho, o mercado de Iquitos recebeu, em 1898, o producto dos caucheros espalhados nos afluentes do Ucayali mesmo, principalmente no Cepaua e no Tapiche, no Jaquirana e em diversos afluentes septentrionaes do Amazonas, como no Rio Tigre, Pastaza, Itaya, Nanay e Napo. Interessante é a seguinte comparação das quantidades de caucho, que foram exportadas de Iquitos e directamente do Jurua, rio abaixo. Exp. de Iquitos Exp. do Juruá directamente 1805/96. 5/5.» | 1529 tons, 199 tons. LOGO/97 me sua ES Ad O? 287...» NOO O Ser aierene 1,043 +» | 730» we foto) fo o NR 990 » | 562 >» D'este quadro se vê, como no periodo de 1896-1898, a producção e a exportação directa do Jurua cresceram rapi- damente, emquanto a exportação pelo porto de Iquitos baixou pouco a pouco. Quasi ao mesmo tempo que nas nascentes do Purús e Juruá, se descobriram: cauchaes em outros rios amazonicos. Na bacia superior do Rio Madeira o caucho era conhecido ha muitos annos. No Tapajoz, Xingu, e Tocantins, a desco- berta é mais recente. Entre os afíluentes septentrionaes do Amazonas, o Trombetas fornece caucho ja diversos annos e outros rios como Içá e Rio Negro começam a exportar tambem pequenas quantidades. Actualmente quasi não ha um rio ama- zonico que não forneça caucho, em quantidades mais ou menos avultadas. Considerando a grande importancia do caucho na pro- ducção da gomma elastica da Amazonia e do Novo Mundo em geral, deve se admirar que até agora a arvore que for- nece este producto, não fosse scientificamente estudada e que a respeito de sua classificação não existissem senão supposições e conjecturas em parte totalmente infundadas. Assim se en- contra, no livro geralmente estimado de E. Chapel, « Le caout- chouc et la gutta-percha » (Paris 1892), o trecho seguinte sobre as arvores productores do caucho (pag. 142): «Si Pon péneé- tre dans PE'at péruvien par le Solimões, on trouve encore des Heveas aux environs de Loreto et dans un faible péri- “8 Apontamentos sobre o Caucho amazonico metre; mais en s'enfonçant dans Pintérieur, on s'aperçoit que les arbres à caoutchouc présentent des caractéres bien diffé- rents de ceux de la vallée de "Amazone. Sur les bords du Maranon et de ses afiluents: "Ucayali, le Napo, le Javary, le Macapa, etc., les vegetaux producteurs sont le Cameraria latifolia et VFHancornia speciosa. Ces deux espéces sont de proportions moindres que les Heveas. ...». Estas informações que parecem ser emprestadas a uma relação de viagem de Olivier Ordinaire (publicada no Bull. de la Soc. de géogr. commerciale de Paris t. VIII pag. 1885/86) e que passaram em diversos outros livros tratando do mesmo assumpto (cf. Th. Seeligmann : «Le Caoutchouc et la Gutta-percha », Paris 1896 pags. 42 e 78), são absolutamente infundadas e devem dar uma idéa completamente erronea das arvores productores do caucho. (Quem conhece tão pouco a distribuição geographica dos vegetaes supra citados, deve saber que a Cameraria la- tifolia é um arbusto das Antilhas e que a Fancornia speciosa é uma arvore pequena dos campos arenosos do Brazil oriental e central. Ora todos os caucheros são unanimes em declarar que o caucho (assim se chama não só o producto mas a ar- vore mesma), é uma arvore de grande tamanho e cresce só na matta, que alias cobre toda a vasta região onde se acha o jcaúcho: * Visto a area muito extensa e a multiplicidade das espe- cies do genero /fevea, podia se imaginar facilmente, que o caucho era produzido por especies ainda não conhecidas d'esse genero. Esta hypothese era tanto mais plausivel, que segundo a analogia dos afluentes septentrionaes do Amazonas, onde o naturalista inglez Spruce descobriu nada menos de 5 es- pecies novas de Z/evea e isto sómente no Rio Negro e no Uaupés, induziu forçosamente a admittir um numero elevado de especies d'este genero nos affluentes meridionaes, onde como se sabe a producção da borracha é muito mais activa que na região do Rio Negro. Esta hypothese que eu mesmo estava disposto a acceitar no princípio e que implicitamente se acha tambem exprimida n'um artigo do Prof. Warburg (Tropenpflanzer II 1898, pags. 266 e 267) é tambem insusten- tavel. Além das asserções dos caucheros que attribuem ao caucho folhas inteiras e não trifoliadas, basta considerar que actualmente o caucho nos vem de diversas localidades, onde 1 Quanto ás Heveas que segundo a obra franceza se encontrariam só até os arredores de Loreto, é necessario constatar que nas beiras do Rio Ucayali e até o Rio Huallaga se acham ainda ao menos 3 differentes especies do genero Hevea. Apontamentos sobre o Caucho amaxonico 9 se produz tambem borracha e que o caucho das proveniencias mais diversas tem sempre as mesmas propriedades que permit- tem distinguil-o a primeira vista da borracha. Além d'isto não se comprehende porque a arvore de caucho seria sempre der- rubada para a extracção do leite se ella não fosse de outra natureza que as seringueiras. N'uma viagem que emprehendi no fim de 1898, em com- panhia do meu amigo e compatriota Dr. Ed. Marmier, para estudar a vegetação dos afiluentes superiores do Amazonas e entre elles principalmente do Rio Ucayali, tive a occasião de ver as arvores que fornecem o caucho. Entretanto não é tão facil como se imagina de vel-as de perto. Chegando a Iquitos, no centro primitivo da exportação do caucho, é preciso ir ainda bem longe para avistar a pri- meira arvore de caucho e não duvido que muitos navega- vam o Ucayali inteiro sem verem uma unica arvore de caucho. Antes de tudo as arvores de caucho geralmente não crescem senão em terrenos interiores, afastados das planícies de allu- vião dos grandes rios; além d'isto em quasi todas as regiões caucheras de accesso relativamente facil as arvores adultas são exterminadas e não ficam senão pés novos. A primeira arvore de caucho adulta foi encontrada por nós no Cerro de Canchahuaya, systema de collinas que attin- gem a margem direita do Rio Ucayali pouco acima de Sa- rayacu. All, a mais de um dia pelo interior se acham an- tigos «Cauchales» explorados ha 10 annos pelos Indios de Canchahuaya que na nossa excursão nos serviram de guias. À arvore mais velha que nós encontramos, contava com cer- teza mais de 20, talvez mesmo 30 annos e tinha um diametro de 50 cm. mais ou menos, o que constitue para os caucheros o limite inferior da grossura que permitte uma extracção rendosa pelo processo em uso. Um galho cahido no chão permittiu logo reconhecer na arvore uma Artocarpacea. No mesmo dia encontramos diversas arvores mais novas que ape- zar de não apresentar flôóres nem fructos não deixaram ne- nhuma duvida, que se tratava de uma Castilloa. Mais tarde, na região entre o Ucayali e o Huallaga encontramos diver- sas arvores de caucho sempre isoladas. Pelo exame mais demorado das partes vegetativas (folhas e caules) que foram colleccionadas e conservadas parte em estado secco, parte no alcool, verificou-se depois, que era im- possivel separar especificamente a nossa planta da Castilloa elastica, arvore productora da gomma elastica no Mexico, na America central, na Columbia e no Equador. Esta identifi- 80 Apontamentos sobre o Caucho amazonico cação fundada unicamente nas partes vegetativas, poderia pa- recer um pouco duvidosa, tanto mais que as informações so- bre estas são em parte contradictorias (cf. Tropenpflanzer II N.º 12 pag. 372 sobre as raizes, e Rapport de A. Goditoys Lebeuf pag. 3 sobre as folhas) mas ella foi confirmada por diversas circumstancias que eram todas à favor da minha identificação. | Procurando saber se tinha diversas qualidades de caucho, encontrei as opiniões mais desencontradas. Muitos caucheros falam dum caucho blanco e dum caucho negro, outros não reconhecem estas duas qualidades, e me aconteceu mesmo numa excursão que pelos meus companheiros a mesma ar- vore foi designada como caucho blanco na ida e como cau- cho negro na volta. Quasi todos os caucheros distinguem os Masateros: são arvores que dão um latex particularmente grosso e rico em gomma, ellas se acham principalmente nos logares onde cresce uma Bambusacea, chamada Paca. Se- gundo as melhores informações entretanto todas estas dis- tincções tem por fundamento apenas certas variações devidas ao terreno, sem que se trate de diversas especies. Uma vez classificada a arvore de caucho dos caucheros peruanos, me ficaram ainda certas duvidas se o caucho dos rios exclusivamente brasileiros e principalmente o do Tocan- tins, era da mesma especie. Estas duvidas, que eram certa- mente legitimas, visto o que se sabia até aqui sobre a area geographica da Castilloa elastica, foram ultimamente resolvi- das de uma maneira satisfactoria. Na occasião da viagem do meu collega Dr. Buscalioni ao Rio Tocantins, recommendei a elle de contribuir à solução d'este problema, colleccionando amostras de caucho, quanto possivel com flôres e fructos. Ape- zar que este ultimo deszderatum não poude ser satisfeito, visto a impossibilidade de conseguir as partes da arvore em questão, era possivel de verificar com certeza, que, nas partes vege- tativas, não ha differença entre o caucho do Ucayali e o do Rio Tocantins. Este facto permitte a conclusão que nas re- giões intermediarias o caucho é tambem a Castilloa elastica, em outros termos, que a Castilloa elastica é disseminada so- bre a maior parte da região amazonica. Digo a maior parte, 1 Mr. Poisson, colleccionador da casa A. Godfroy Lebeuf, que já tinha visto exemplares de Castilloa originarios do Mexico, me afiançou que os galhos trazidos do Ucayali pertencem a C. elastica. Quando mostrei a figura do fructo da Castilloa elastica, publicada no Tropenpflanzer do Nov. 1898, á diversos caucheros perua- nos, elles reconheceram sempre o fructo do caucho. Apontamentos sobre o Caucho amazonico 81 porque ha sempre alguns districtos, onde o caucho ainda não foi descoberto e onde ha pouca probabilidade que elle se achasse ainda. Estes districtos são por exemplo toda a ilha de Marajó e as terras entre o Tocantins e o (Oceano, assim como o curso inferior e as planícies de alluvião de todos os affluentes maio- res do Amazonas. E' provavel que tambem todas as regiões campestres, como p. e. os campos geraes entre o baixo Ama- zonas e a serra de Tumuc-Humac, sejam completamente des- tituidas de arvores de caucho. * Apezar de o caucho se achar as vezes em companhia de Seringueiras (no Cerro de Canchahuaya encontramos ao lado do caucho diversos exem- plares da tal «Seringueira amarela » ou « Xirihga amarilla », como ella é chamada pelos Peruanos), a area occupada por elle é distincta da das Seringueiras e se extende em geral sobre as terras mais elevadas que pertencem a terra firme. Com a descoberta da Castilloa elastica na região amazo- nica, a area conhecida d'esta arvore fica bastante augmen- tada. Ainda em 1898 o Prof. Warburg de Berlim, uma das auctoridades reconhecidas no assumpto das plantas tropicaes de uso industrial, escreveu n'um artigo interessante da revista « Tropenpflanzer » (1898, pag. 337), tratando da Castilla : «Mesmo na parte septentrional do Perú a arvore se acha, segundo dizem, mas ella parece apenas ser explorada. E” no- tavel que ao sul da Columbia ella se ache sómente nas ver- tentes pacificas dos Andes». Desta opinião, que era a mais espalhada até agora, diverge um pouco a informação contida n'uma annotação do Mr. God- froy-Lebeuf para a traducção do Relatorio apresentado ao Marquez de Salisbury por Mr. Henry Nevill Dering (Cf. Semaine horticole do 4/INI 1869 pag. 88): «Il est bon d'a- jouter que le Castilloa se rencontre en masse énorme dans toutes le republiques de "Amérique centrale. Il est également repandu en Colombie, Equateur, Zaut Amazone, Orénoque et dans tout le Venezuela». A area geographica da Castilloa elastica estende-se assim do Mexico sobre toda a America central e a parte septentrional da America do Sul (com ex- cepção talvez das (Guyanas), até uma linha que pode-se tirar do Rio Inambari (affluente do Madre de Dios, cerca de 13º de lat. Sul) ao pé dos Andes (cf. Fred. Hessel. in «The Indian ! Entretanto é conhecido que o Trombetas é rico em arvores de caucho. 82 Apontamentos sobre o Caucho amazonico Rubber World» May 1899), até o alto Ztacayunas, (afluente do Rio Tocantins cerca de 6º de lat. Sul), ci Condreanil Em seguida vou dar uma descripção das partes vegeta- tivas da arvore de caucho segundo as observações que me foi possivel fazer na região cauchera mesma e mais tarde sobre os materiaes conservados no Museu Paraense. O caucho é uma arvore de floresta virgem, chegando a uma altura de 20 metros mais ou menos, de tronco direito e formando uma copa relativamente pequena. Transcrevo a seguinte nota, sobre uma d'estas arvores: « Tronco de gros- sura media (diametro cerca de 30 cm.), com casca ligeira- mente verrugosa, marcada de anneis transversaes ainda bem distinctos, com fendas longitudinaes pouco fundas. Sapopemas (aletas em espanhol), começando a 1 m. de altura do tronco, arredondadas e annelladas. As raizes principaes se extendem na superficie da terra a uma distancia de muitos metros. O latex corre com abundancia e se coagula depressa, mas é preciso fazer entalhos bastante profundos ». Arvores mais grossas com um metro de diametro e maior numero de aletas (até 5) se encontram nos districtos ainda não explorados. As arvores novas se reconhecem facilmente pela sua ramificação regular e pela circumstancia que os galhos cahem com o crescimento do tronco e deixam cicatrizes re-. dondas de beiras elevadas; a cada uma d'estas cicatrizes cor-. responde tambem uma linha annular em volta do tronco, a marca de inserção das estipulas. Só quando a arvore tem chegado a uma certa altura apparecem os galhos definitivos que tem de formar a copa. Uma particularidade digna de nota é que o tronco e os galhos do caucho mostram sempre uma cavidade no centro, correspondendo a medulla. Nas ar- vores novas as folhas são maiores que nas arvores velhas, de maneira que as dimensões d'ellas variam de 20 cm. de com- primento sobre 7 de largura nas arvores adultas, até 40 cm. de comprimento sobre 16 de largura nas arvores novas. Fixa- das n'um petiolo curto (1-1,5 cm.), ellas são de forma oblonga, nitidamente acuminadas, na base arredondadas e ligeiramente decurrentes no peciolo, ou um pouco emarginadas cordiformes. A nervura principal e as numerosas nervuras secundarias são proeminentes na face inferior da folha. As ultimas são pa- rallelas, ligeiramente flexuosas e formam anastomosas incur- vando-se perto da beira da folha. Os espaços entre as nervuras 1 Voyage a Itaboca e Itacayuna. Paris 1898. E” evidente que toda a pro- ducção da gomma elastica no antigo areal não chega à producção do caucho amazonico. Apontamentos sobre o Caucho amaxonico 83 secundarias são atravessados pelas nervuras tertiarias mais finas e quasi imperceptiveis na face superior, que se dissol- vem n'uma rede de nervuras ainda mais finas. Molles e velludas na face inferior, os limbos são asperos na face superior. Esta asperidade da face superior provem de pellos unicellulares semelhantes aos da face inferior, porem mais espalhados, curtos e rigidos. À respeito da folha reinam certas divergen- cias, nas descripções dos autores. Emquanto que geralmente a face superior se descreve como lisa e luzida, Godefroy Le- beuf, numa annotação da sua traducção do Relatorio de Henry Nevill Dering, diz o seguinte: Ces feuwslles. sont nom pas lísses, mais velues et rugueuses. A margem da folha pa- rece finamente dentada por causa de pequenos tufos de pellos regularmente distribuidos. Os mesmos pellos de côr de ocre mais ou menos clara, cobrem os peciolos, os galhos novos e as estipulas que envolvem o grelo. Citei todos estes caracte- res vegetativos da arvore de caucho que parecem talvez um pouco mesquinhos, para dar todos os elementos que podem permittir reconhecer a arvore sem ter precisão de flôres ou de fructos. Aquellas, que eu não tive occasião de estudar, ap- parecem no verão; ellas são reunidas em inflorescencias mais ou menos disciformes ou semiglobosas de sexo differente. Da inflorescencia femea se desenvolve um fructo collectivo semi- globoso e tuberculoso; cada tuberculo corresponde a um fru- cto parcial e contém uma semente elliptica e achatada. Segundo dizem os caucheros, os fructos do caucho são muito procura- dos pelos passaros e macacos. Não consegui ver a extracção do caucho, como ella se faz nos districtos agora em exploração. Entretanto me deixei explicar diversas vezes o processo pelos caucheros mesmo, de maneira que posso em seguida dar um idéa bastante exacta do modo da extracção como ella se faz no alto Amazonas e, segundo as poucas informações que tenho, tambem nas outras partes da Amazonia, onde ha producção de caucho. Como no Panamá, na Columbia e no Equador, a extracção do caucho no Amazonas se faz de uma maneira muito sum- maria, e consiste na derrubada da arvore e na extracção de todo o latex que ella contém. Parece aliás, segundo dizem, que foram caucheros columbianos e equatorianos que ensina- ram este methodo de extracção aos peruanos. Como no alto Amazonas os terrenos onde se acham ainda cauchaes, são terras devolutas do governo ou muitas vezes mesmo em li- tigio entre diversas nações, como acontece com as cabeceiras do Javary, Juruá e do Purús, os patrões que querem empre- S4 Apontamentos sobre o Caucho amazonico hender uma exploração de caucho, não se inquietam senão em achar um cauchal bastante rico para exploral- o até ex- gotal-o completamente, quando é preciso ir mais longe. Não é aqui o lugar para tratar demoradamente do systema do approveitamento dos braços humanos pelos patrões. Basta dizer que os feones (é assim que se chamam os caucheros que têm de fazer o trabalho manual da extracção), são na maior parte indios ou mestiços e que elles se acham n'um grao de dependencia dos patrões que não differe muito da escravatura. Quando uma expedição de caucheros sob a con- ducção do patrão ou do seu encarregado chega no districto a explorar, o pessoal se divide, segundo a frequencia das ar- vores de caucho, em grupos mais pequenos. Lá onde se re- cetam ataques de indios bravos, os caucheros ficam ao menos em numero de dois n'um lugar. Quando o numero das arvo- res é grande, todo o pessoal pode ter um acampamento commum. Para a extracção de uma arvore não precisa senão de um trabalhador, quando não se trata de um pão exce- pcionalmente grande. Primeiro se limpa a terra toda ao redor da arvore, e entre as aletas se fazem pequenas covas com paredes bem calçadas com o pé, onde se collocam tigelas de ferro estanhado. Isto feito, o cauchero entalha a arvore com entalhos obliquos de 1,55 m.a 1 m. de altura, convergendo em gotteiras de barro que são dispostas nos intervallos das aletas e exgotam o latex nas tigelas. Em menos de 24 horas as tigelas são cheias e se tiram. O latex que ainda sahe dos entalhos corre nas covas e se coagula espontaneamente, for- mando Sernamby. Agora se derruba a arvore, e isto de tal maneira que ella se corta a 1 m.— 1,5 m. de altura e fica sus- pensa de um lado sobre a parte inferior do tronco, do outro lado sobre os galhos maiores. Ao longo do tronco se fazem agora, em distancias de uma braça mais ou menos, entalhos circulares penetrando na casca até o liber. O latex que corre com abundancia de cada um destes entalhos, é colligido em tigelas dispostas da mesma forma que aquellas entre as aletas. Todo o latex recolhido nas tigelas é derramado n'um balde, emquanto que o resto fica adherente a arvore ou cahe ainda nas cavidades occupadas anteriormente pelas tigelas, se deixa coagular no ar e constitue Sernamby. Uma arvore adulta dá na média um balde de leite, isto é 14 galões ou 56 litros. Esta quantidade de leite corresponde a 20 kilos de caucho em f/ancha, e como uma Slancha é geralmente de 4 arrobas (60 kilos, uma carga de homem) é preciso derrubar 3 arvores para fabricar uma S/ancha. Ha entretanto arvores de tamanho O? Apontamentos sobre o Caucho amazonico 8: excepcional, que fornecem muito mais latex. Assim ouvi dum cauchero digno de confiança, que um dos seus $cones voltou uma vez d'uma excursão dizendo que tinha descoberto a «ma- dre del caucho». Era uma arvore de caucho de dimensões extraordinarias, que o indio supersticioso não ousara matar, por ser «la madre del caucho ». Quando finalmente uma turma de trabalhadores chegou a derrubar o colosso, elle não deu menos de 7 arrobas, isto é 105 Kilos de caucho. A coagulação do leite e o fabrico das planchas se faz da maneira seguinte: Cava-se na terra argilosa que serve quasi sempre de substratum às arvores de caucho, uma fossa rectan- gular de um metro mais ou menos de comprimento e de meio metro de largura, calça-se bem as paredes e atraves- sam-se no fundo dois cipós cujas extremidades sahem da fossa e servem para tirar a S/ancha fóra da cavidade. Depois derra- ma-se o latex na fossa que se cobre geralmente com algumas folhas de palmeiras para evitar o accesso das aguas de chuva. A coagulação se faz geralmente com uma dissolução de sa- bão ou com a seiva d'um cipó chamado « Vetilla ». Segundo a descripção dos caucheros a «Vetilla» poderia ser uma Con- volvulacea como a Sachacamote /Camote — Batata (Ipomoea Batatas), Sacha silvestre) que é citada geralmente como em- pregada na preparação da gomma de Castilloa na America central. O nome de Sachacamote não era familiar aos cauche- ros que tive a occasião de consultar. Quando tirada da fossa, a plancha ainda é muito grossa, ella tem muitas cavidades cheias de liquido; só depois de algum tempo este liquido sahe em parte e a flancha fica mais chata. Mas sempre as 4/an- chas de caucho contém uma grande proporção d'agua e de outras impurezas o que causa a depredação d'ellas. Estes inconvenientes não são tão grandes no «Sernamby de caucho» cujo preço é quasi egual ao do Sernamby de borracha. Primitivamente o Sernamby de caucho era só um producto accidental na fabricação das f/anchas. Todo o leite que não era colhido em tigelas e se derramava no chão fica- va adherente ao tronco e tambem aos galhos (onde geral- mente era tirado por meio de incisões em espiral), deixava-se seccar no ar e o caucho produzido d'esta maneira se tirava depois em forma de pelles ou de lagrimas ou de fios com- pridos e se reunia em pelotas ou em pedaços de diversos tamanhos. D'este tempo a producção do Sernamby tem au- gmentado muito à custa das Slanchas, principalmente nos lu- gares onde um transporte por terra aconselhava a preparar um producto secco. S6 Apontamentos sobre o Caucho amazonico Muitos caucheros preparam agora só Sernamby, deixando seccar o latex em camadas. Não sei se já se experimentou a defumação com o latex de Castilloa. E' claro que a forma da exploração que se applica actual- mente às Castilloas na região amazonica, apezar de dar gran- des lucros momentaneos, deve ser prejudicial a riqueza do paiz, fazendo desapparecer pouco a pouco a fonte de um producto de alto valor. Uma arvore de caucho, uma vez der- rubada, não grela mais, e d'este momento em deante não pode mais produzir semente, como por exemplo a seringueira, que apezar de ser enfraquecida pela extracção do leite, não deixa por isso de produzir as suas sementes, de maneira que num seringal em exploração se pode ver quasi sempre porção de arvores novas que substituirão os individuos que morrem tal- vez mais depressa por causa da extracção activa. E' verdade que os caucheros dizem que no lugar d'uma arvore de caucho derrubada nascem sempre outras. Isto pode ser justo quando a arvore se derruba no momento de ter fructos maduros; as sementes acham n'este caso talvez mais facilidade de germinar e de se desenvolver em arvores. Mas posto que isto seja assim, O caso se apresentará talvez uma por cem vezes e a disseminação ao longe será sempre pre- judicada. Os caucheros dizem tambem, que n'uma região onde elles exploravam caucho ha 10 ou 15 ou 20 annos atraz, a exploração pode se começar de novo, porque as arvores que n'aquelle tempo eram pequenas e não valiam a pena de ex- ploração são agora grandes e valem a extracção. Élles ci- tam como exemplo os Rios Pastaza, Morona, etc. onde tira- ram caucho ha 20 annos e onde agora tem de novo arvores adultas e cauchaes em exploração. Me parece entretanto, que este calculo não será justo para a repetição do mesmo processo porque é claro que as arvores novas hão de ficar sempre mais ralas por causa do numero inferior dos individuos adultos e productores de sementes. No Ucayali tenho visto um cau- chal que foi explorado em 1888 e onde depois de 10 annos de completo abandono se achou apenas uma ou outra arvore, que teria dado um producto valendo a pena da extracção. Será sempre dificil para um governo como o do Perú ou do Brazil, exercer uma fiscalisação n'estas industrias extractivas limitadas quasi exclusivamente aos districtos de difficilimo accesso, mas talvez não seria inopportuno procurar meios de proteger esta arvore preciosa ao menos nas regiões onde pode-se exercer alguma fiscalisação. A seringueira, que quasi sempre é propriedade particular, não precisa d'esta protecção Apontamentos sobre o Caucho amazomico ST porque os particulares cuidarão de si mesmo, para que as arvores que constituem o principal valor dos seus terrenos, não desappareçam, mas pelo contrario augmentem. Para a Castilloa se trataria em primeiro lugar de delimitar certos dis- trictos, onde não se podessem tocar nas arvores de caucho sem consentimento e fiscalisação do Estado. Depois poderia se experimentar, nas partes mais rica sem Castilloas, fazer plantações e estabelecer um verdadeiro serviço florestal, como elle existe nos paizes europeus e na America do Norte. Tratando-se em primeiro lugar de uma arvore com pro- ducto de alto valor commercial, é certo que este serviço po- deria em pouco tempo indemnisar as suas despezas, podendo depois extender successivamente a sua acção sobre os outros constituintes da floresta. SS Miscellaneas menores MISCELLANEAS MENORES Carta de Gustav Wallis dirigida a D. S. Ferreira Penna sobre o Rio Branco *) Estimadissimo Senhor — Em cumprimento d'uma promessa feita a V. S: a respeito d'algumas noticias sobre a minha viagem no Rio Branco, devo antes de tudo pedir desculpa por não tel-o feito ha mais tempo. Espero que V. S.: achará justificavel, allegar como razão d'esta tardança a intenção de deixar primeiro amadurecer mais, com o andar do tempo, tanto a experiencia como as observações feitas na viagem. NoTA. — As duas cartas, que ahi seguem, ainda fazem parte do espolio lit- terario do mallogrado D. S. Ferreira Penna; ainda esta vez devemos a posse dos respectivos originaes, bem como a autorisação de approveital-os, onde bem nos parecesse, á gentileza do nosso amigo José Verissimo, hoje no Rio do Janeiro. A primeira carta, tratando de uma exploração do Rio Branco, foi dirigida a F. Penna do Forte de São Joaquim em 23 de Maio de 1863 por Gustav Wallis, botanico de origem allemã, assaz conhecido na litteratura botanica como col- leccionador zeloso e intrepido viajante. Se não nos enganamos elle veio, ha meio seculo quasi, ao Sul do Brazil, por motivos e com intenções semelhantes áquellas que levaram o venerando dr. Fritz Miiller a immigrar da sua patria então à braços com commoções politicas (durante a celebre éra de 1848) e a estabelecer-se, como simples colono, em Blumenau, na então Provincia de Santa Catharina. Foram, ao que sei de fonte bôa, collegas e amigos unidos pelo mesmo laço espiritual do enthusiasmo pelas obras da natureza, como tambem companheiros nas dificuldades e infortunios da vida material. Nunca, porém, vimos biographia d'alguma forma detalhada de Gustav Wallis, faltando-nos portanto informações sobre as cicumstancias exteriores da sua vinda as regiões amazonicas, o itinerario e a duração das viagens ahi realisadas. A segunda carta, em capa sobrescripta (em lapis) com os dizeres: « Festas, Historias (do Diluvio), casamentos, baptisados e enterros dos Indios do Purús (Amazonas). Notas dadas por Manoel Urbano da Encarnação, em 1883, a pe- dido de D. S. Ferreira Penna » é datada de Canutamá, no Rio Purús, em 24 de Agosto de 1882. Grande importancia não attribuiremos á estas duas cartas; comtudo não deixam de ser interessantes e dignas de serem conhecidas, apezer de sua redacção defeituosa, aliás perfeitamente explicavel por ser a primeira de um estrangeiro, e a segunda de um lavrador, mais familiar com o manejo do machado e do remo, do que da penna de escrever. Evitamos outros retoques além dos estrictamente necessarios. A REDACÇÃO. Mescellaneas Menores s9 Era o mez de Dezembro, quando eu parti, o melhor tempo para a subida no Rio Branco, por então ainda ali reinar a vasante, a qual como é conhecido, tem outro periodo e ca- racter differentes do Amazonas, do Rio Negro e dos demais confluentes d'este rio real. Depois de acabada a vasante do Amazonas, o Rio Branco ainda continua 4-5 mezes inteiros a vasar. Disto comtudo não se conclue que a enchente se realise em circumstancias semelhantes à do Amazonas; ao contrario, ella além de cahir em outro tempo, tem uma duração muito mais limitada. Por emquanto nos vemos o cyclo hydrographico annual comple- tar-se por uma vasante muito mais prolongada. As aguas va- sam pela força da attracção das do Rio Negro, que igualmente vão decrescendo no fim de Junho e assim por diante até meiados de Março ou por mais tempo ainda. Em meiado de Abril cahem as primeiras chuvas, desde muito então ja es- peradas e o rio enche a passos rapidos. Outro caracter do Rio Branco se revela na grande baixa a que fica reduzido na vasante, e nas praias, que sem conta se acham espalhadas no leito e tantas que as vezes apparece mais arêa do que agua. O decrescimo do rio importa nas partes superiores em 32 palmos, como verifiquei na fazenda do Capitão Bento Ferreira Marques Brazil, junto ao forte São Joaquim. A correnteza no tempo da vasante não excede de uma milha por hora, crescendo proporcionalmente com as aguas até que venha a ter no maximo provavelmente tres milhas por hora. ()s repiquetes observam-se mais frequente- mente do que em qualquer outro affluente de primeira ou se- gunda ordem. (O) curso do rio é ao contrario dos outros tri- butarios do Amazonas, pouco sujeito a sinuosidades. Longo e direito descortina-se a vista e muitas vezes vae-se perder no horizonte. Pelo facto de formarem-se apparentemente di- versos horizontes, segue-se que a largura do rio deve ser um tanto consideravel; ella importa em 200-300 braças. Pelo mappa do rio que tirei desde a bocca até a missão de Por- to Alegre (5 dias de viagem acima do forte São Joaquim), V. S.* encontrara melhores informações tanto a respeito do rumo, como do aspecto exterior em estado de vasante. Di- rei aqui somente que o rumo geralmente esta comprehen- dido (seguindo-se rio acima) entre 300º OF e 30º E, e que o maior arco circumscripto importa em 80º; porém isto sómente na emboccadura, onde às aguas n'uma grande e descommunal volta se unem às do Rio Negro. O rumo para o lado de É nunca excedeo de 70º assim como o de OE 7 (BOL. DO MUS PARAENSE) 90 Miscellaneas menores de 220º, deixando portanto a agulha a jogar nos demais SO, As beiras são em grande parte baixas e sujeitas a innunda- ções nas grandes enchentes. Não obstante isto é para admirar a escassez de população em toda a extensão do rio e adequa- damente fallando, só se encontra na grande altura de São Joaquim e suas immediações, isto é, 150 leguas acima, um nucleo de moradores que consiste em fazendeiros, vaquei- ros e soldados com as suas respectivas familias. Algumas pes- soas (estas em pequeno numero), vivem do producto das suas roças. Ainda convém dizer e isto causará admiração a V. Sa que a agua do Rio Branco não é propriamente branca, mas sim de um verde impuro ou antes de côr indefinida, tornando-se a medida que vão crescendo as aguas, mais e mais barrenta igualando-se então quasi com as do Amazonas. Quer me pa- recer que deram-lhe este nome pelo facto da agua não ser preta como a do Rio Negro e outros affluentes. Porém é muito para notar, que nenhum dos tributarios dos que eu pude ob- servar, conduz agua preta que tanto occorre na zona equa- torial. Segundo dizem, ha nas cabeceiras um ou mais afluentes pretos. Em geral mostram-se todas de uma pureza admiravel, brancas e cristallinas. Ha tres ou quatro igarapes d'esta natureza no alto Rio Branco que appelidaram com o nome de « Aguas boas» o que de alguma forma não deixa de occasionar confusão. Ha tão grande fartura no Rio Branco, tanto nas proprias aguas, como nas mattas, no campo e nos lagos, que se deve estranhar com razão o não encontrar lá mais numerosa po- pulação do que a actual. Existem e especialmente nas partes inferiores, não poucos pontos os quaes pela altura e uberdade do solo se prestariam optimamente para domicilios humanos e por toda a extensão do rio não ha Indios bravios que possam inquietar habitação ou nucleo qualquer. Qual sera portanto a ra- zão que n'um percurso de 150 leguas apenas se encontra 300 habitantes e estes, como ja vimos, quasi todos nas immediações do forte de São Joaquim ou a fallar mais acertadamente, acima das cachoeiras? Eu não sei explical-a. A terra é sadia e não as- solada por febres ou outras molestias semelhantes, que tanto costumam reinar em toda parte, aonde ha rios. E” devido em grande parte este favoravel estado aos frequentes ventos, que são proprios ao Rio Branco, girando do NE para SO por tanto sempre para baixo e mui raros são os casos em que ha vento no sentido contrario. Por essa razão a navegação para cima não pode ser feita a vela, mas sim sempre e com tanto mais proveito para baixo. Miscellaneas menores 91 Nos mezes de verão (Setembro até Abril) os ventos sopram com uma vehemencia espantosa e incessante, dia e noite, tanto que nos campos se encontram as arvores pendentes e crescidas com a sua copa para o Sul e mesmo a muitas não e permittido formar bôa copa, senão unilateral. O vento não só purifica o ar, como tambem torna-se um poderoso destruidor de uma multidão de insectos incommodos. Por essa mesma razão faltam por exemplo Carapanas. Piuns e uma pequena especie de Mucuim, que ha no inverno, não chegam a ser pra- ga. À navegação effectua-se, não obstante a grande baixa por todo o anno, tanto para cima como para baixo, tornando-se preciso na vasante um pratico para guiar a embarcação por entre as pedras das cachoeiras, as quaes se acham n'uma altura de 100 leguas. A principal cachoeira é formada por extensas pedras de granito, que atravessam o rio d'uma para a outra margem e não permitte senão à montarias o subir sem descar- regar. Porém é pequena a distancia, que obriga ao transporte da carga por terra, importando em 50 braças mais ou menos. Seguindo abaixo, não ha este incommodo de desembarque. Toda a navegação no Rio Branco é feita quasi só pelas barcas, que conduzem gado para a capital da provincia ou de certas pessoas, que venham em procura de ovos de tar- taruga e de peixe. Greneros do matto não ha e forma por- tanto além do gado a extracção dos ovos e a pesca a unica renda do rio. Parece em verdade que a Providencia na dis- tribuição dos thesouros naturaes tinha contrabalançado as fal- tas de um ou outro artigo nas diversas partes d'esta provincia abençoada! E” verdade que não ha generos sylvestres, o que é para extranhar certamente, porém —e sem querer fallar de pedras e metaes preciosos, que dizem existirem no curso superior — que riqueza nas proprias aguas! A incrivel abun- dancia das tartarugas, tracajas e dos peixes torna-se um verdadeiro deposito e isso tanto mais, quanto as margens do rio são quasi despovoadas. Subindo em pessoa, tive a melhor prova disto. Não acostumado a me demorar nas mi- nhas viagens com a procura de viveres animaes e portanto me prevenindo com carne secca etc. eu vi toda esta provisão no termo da longa viagem não só intacta, mas ainda havia no fundo da canôa tartarugas, restando das muitas, que sem- pre em passagem apanharam, livremente com as mãos e sem jamais para isso usarem de flecha. Não seria improprio ou mal acertado, embora que a primeira vista pareça, se o governo — uma vez, que não ha moradores no Rio Branco — decidisse a cessação das colheitas de ovos por pessoas vin- 92 Viscelaneas Menores das de fóra. Seria isso talvez incentivo para maior numero de gente ali se estabelecer, ou pelo menos um meio de prevenir a destruição e os grandes estragos, que bastantes vezes e escandalosamente se vão praticando com a desovação. Um paiz com tanta uberdade de certo não precisa recorrer a manteiga de ovos, para illuminar a casa! Faltando os generos do matto, ou quero antes dizer por ainda não se conhecer os productos de quasi nenhum dos tri- butarios do Rio Branco, consegue-se, que não haja regatões, que vão ter com os indios, como os vemos no Rio Madeira, Rio Negro e outros. Todos os indios são trabalhadores, so- brios, de bôa indole, accessiveis à civilisação, e não consta existirem ociosos ou antropophagos no grande territorio, que percorre o Rio Branco. Às principaes tribus pertencem aos Uapixanas, aos Macusis (Macuxis) e aos Pauixanas. São até hoje só os fazendeiros que chamam os indios ao trabalho e à civilisação, transportando o gado para Manãos. Não desce barca alguma que não leve alguns d'estes indios. A falta de gente (branca) tambem é devido ao não apparecer entre outros generos maior quantidade de Moira-pinima, de pau de rainha, assim como de crystal. As mencionadas madeiras são incontestavelmente as mais preciosas, as mais estimadas, não so para exportação como tambem para o proprio paiz. Acima do forte São Joaquim não ha morador algum, o rio entretanto tem mais capacidade, tornando-se até navega- vel talvez mesmo para barcas a vapor, ate a missão Porto Alegre, onde ha cachoeiras. A situação da fortaleza é opti- mamente escolhida no ponto em que o rio Tacutú se une ao Rio Branco, na margem esquerda do primeiro, por dominar os dois rios n'uma só vista e por estar livre pela parte pos- terior. À reunião d'estes dois rios apresenta um magnifico as- pecto. Ambos parecem de igual largura e mesmo as suas côres não offerecem grande diversidade. O ponto geographico do forte é 3º, 1' 46” N. O Tacutú é o maior confluente do Rio Branco e até parece formar uma raiz d'este. Um objecto mui essencial e de grande importancia não só para o Rio Branco, como tambem para a provincia, é a criação do gado. E” conhecida, que os bosques naturaes diminuem mais e mais emquanto na subida ha campos que dão optimo pasto à innumeros rebanhos de gado vaccum e cavallar. E” d'esta ma- neira, que o territorio assemelha-se às diversas possessões limi- trophes, 4 Guyana hollandeza, britannica e em parte à Guyana hespanhola. Ha, portanto, alguma razão para a expressão Miscellaneas menores 99 «Guyana brazileira », referindo-se às partes banhadas pelo Rio Branco e seus tributarios. Em geral temos entretanto tão pouco conhecimento sobre esta parte da possessão brazileira, que igualmente poderia ser chamada « Terra incognita »; expressão favorita, para encher lacunas nos mappas! Apezar dos grandes e extensos campos, sufficientemente regados por riachos e lagos, pode se dizer, que toda criação de gado ainda jaz na infancia, e pelo que parece, haverá em dias não mui remotos falta de gado na capital, em vista de que o augmento não corresponderá ao desenvolvimento d'esta. Seria bom e opportuno, que o governo lançasse os - olhos n'este ponto importantissimo de animar e garantir com os meios apropriados, não só no Rio Branco, como em todo ponto da provincia, idoneo para a criação e d'onde pode ser importado o gado com proveito. Basta dizer, que todo o gado do Rio Branco não excederá à 10.000 cabeças pertencen- tes em iguaes partes, às fazendas nacionaes (de São Marcos e São Bento) e à particulares. Ora, compare-se estes alga- rismos com os da ilha de Marajó, onde um só fazendeiro pos- sue mais e a qual não será mais apropriada para a criação do gado vaccum. Ha dois inconvenientes grandes e irreme- diaveis na criação do gado. Primeiramente o não permittir o clima da zona equatorial tão favoravel desenvolvimento, como nas provincias do Sul e mesmo de Minas (reraes. E” lamen- tavel a existencia de muitas onças que annualmente levam um não pequeno numero de rezes, assim como de cavallos. Caso o governo garantisse um premio por cada onça morta, de certo que pelo menos na fazenda nacional diminui- ria-se o numero d'estas mortiferas feras. Ha occasiões de ca- hirem no espaço d'uma semana até 8 cabeças grandes nas garras de onças. Tanto mais favoravel nós vemos desenvolver-se o contin- gente de Diana e sem contestação alguma é a caça do Rio Branco a mais rica, a mais variada, que se possa encontrar em parte alguma. Qual não foi a minha surpresa, em achar aqui tantos veados, porcos, antas, capivaras, mutuns, araras, patos, marrecas etc. Parece em verdade, que estes animaes ão-se propagando a custa do gado, desprezando as onças a preza, que mais arisca lhes foge. Estes dados, poucos e mesquinhos como são, facilitarão a V. 52 o formar alguma idéa sobre o Rio Branco, rio em que se segue 20, 30 dias acima até o forte São Joaquim, onde actualmente me acho, occupando-me com a exploração ve- getal, a qual eu pretendo estender até Pirará ou a fronteira 94 Miscellaneas menores da Guyana ingleza. Se forem desejadas mais algumas infor- mações, de bom grado as darei, à medida das minhas forças — logo que terei o gozo de apresentar-me de novo em pessôa à V. Sº, Sou com especial estima e consideração De V. Sº Obrmo e Att.º criado GUSTAVO: WAMNEIS; Horticultor botanico Forte São Joaquim, 23 de Maio de 1863. dll Sr. Domingos Soares Ferreira Penna -— Pará. E] Carta sobre costumes e crenças dos Indios do Purús, dirigida q DS. Ferreira Penna Por MANOEL URBANO DA ENCARNAÇÃO Os selvagens fazem muitas festas, porém, ha uma no anno que são obrigados a fazer e onde contam as historias antigas conforme as tribus. Festa de annos Depois de todo preparado, tratam de convidar as outras tribus, e reunidos todos começam a tocar os instrumentos. Nºisto fazem um silencio e um dos chefes diz que vae contar as historias antigas. Diluvio Ha muito tempo houve signaes no sol que ficava escuro e ao mesmo tempo encarnado. Acontecia o mesmo com a lua. De noite ouviam-se muitos tropeis e batidos pelos paus, gran- des estrondos que pareciam ser ora debaixo da terra, ora no Miscelaneas menores 95 céu. Os animaes espantados corriam d'uma parte para outra, os que eram ferozes ficavam mansos se alguem se approxi- mava. Durou isto um mez pouco mais ou menos. Depois ou- viram-se grandes estrondos que partiam de todos os lados, parecia que a terra estava se desfazendo, viram uma escuri- dão do céu à terra que trazia vento e grande chuva. Com este movimento já morria muita gente de susto, a agua cres- ceu com uma velocidade espantosa matando muita gente, só escapou Safará, Uaçu, suas mulheres e algumas pessõas; os paus altos ficaram só com os ramos de fóra; sustentavam-se com folhas e que estas ficaram doces. Depois que baixaram as aguas trataram de fazer suas jangadas com medo de novo acontecimento, mas vendo que não havia mais nada deixa- ram as jangadas à tribu Paumary que até hoje ainda as usa. Dando por terminada a historia começa o chefe a seguinte: Conta que em outro tempo o dia ficou feito noite e durante este tempo ouviram muito barulho. Mas não sabiam qual o motivo: uns diziam que o sol se tinha acabado, outros que ti- nha ido illuminar outros povos. Foi escurecendo das dez para as onze horas do dia, porém pouco durou; às quatro horas da tarde pouco mais ou menos parecia que 1a amanhecendo tornando a escurecer novamente. () dia seguinte esteve no seu natural. Entra outro e conta a historia do urary ou herva- dura: Os antigos reparavam no gavião real quando ia procurar a preza: primeiramente arranhava a arvore da hervadura, el- les então vendo isto tambem esfregavam lá a ponta das flexas na occasião de irem para as caçadas. Reparavam que as ca- ças que flexavam ficavam repentinamente enfraquecidas; re- conhecendo, que faziam grande vantagem tratavam de engros- sar mais, raspando e cosinhando a casca da hervadura. Vendo que matavam com mais rapidez, engrossavam ainda mais e desta forma descobriram o meio de preparar. Findas as histo- rias é que dançam tanto os homens como as mulheres e gas- tam com esses festejos tres dias. As historias que contam por essa occasião são muitas. Casamentos Os casamentos tem muitas ceremonias, porém, só fallo das ultimas. Amarram uma maqueira muito comprida e fazem sentar o noivo e a noiva de costas um para o outro. Vem uma velha aconselhar a noiva ensinando como é a vida de cazada; 96 Miscelaneas menores o mesmo faz com o noivo um velho. Depois duas velhas exa- minam se a noiva sabe fazer balaio, panella, toupe, abano, tacy e outras obras pertencentes a mulher; outros dois ve- lhos examinam se-o noivo sabe fazer arcos, flexas, saraba- tanas, panacú, curahy, etc. Acabado isto fazem sentar a noiva direito e puxam-lhe os dedos das mãos e dos pés, põem um panellão d'agua junto della e vem uma porção de mulheres com o seu raminho na mão dançando ao redor, mettendo o ramo n'agua e sacudindo na noiva; a esse tempo já os ou- tros estão dançando, em seguida enxugam bem o corpo da rapariga, enfeitam-n'a de pennachos e levam para a casa da festa. La chegados elles põem os braços d'ella por cima dos hombros do noivo e outros fazem grande alarido em signal de alegria. Quando acabam destes festejos o pae e a mãe não têm mais poder nas filhas. As que não tem a felicidade de se casar dão o nome de maiçáque quer dizer solteira. Baptismo Tambem o baptismo é festejado. Depois de tudo prepa- rado juntam as crianças que têm de ser baptisadas pelo maio- ral de sua religião, ao qual dão o nome de Mendy, Joi- matê ou Carimandê, e furam-lhe os beiços; os padrinhos levam uma lambada com os braços suspensos em paga do baptismo. Em seguida tratam-se por Uçairy que significa compadre. Além d'estas ainda ha outras ceremonias. Ha tambem pelo inverno, e em certo dia marcado, ou- tro festejo. Fazem uma reunião, os homens tocam os tourês grandes. O som é rouco, e n'esta reunião guardam um grande silencio ouvindo-se apenas o som dos toures. O sustento d'el- les, n'esse dia, é peixe. Pegam na cana dos braços dos homens mais notaveis, já fallecidos, que houve entre elles, e salta um dos chefes no meio do salão fazendo todos os gestos d'essa pessõa quando viva, dizendo: «Este foi quem venceu tal guerra!» «Este foi quem nos ensinou a fazer tal couza!» E tudo quanto fazia quando vivo. Acabado isto entra ou- tro dizendo da mesma forma o que fazia o fallecido. Este fes- tejo só é feito aos homens mais notaveis que houve entre el- les. Depois de acabada a festa, guardam os ossos dentro d'um panellão dependurado. Miscellaneas menores 97 Enterro Quando morre qualquer um d'elles ha grande choradeira entre grandes e pequenos. O choro é cantado. Depois fazem uma sepultura redonda e enterram o defuncto sentado acom- panhado de enorme choradeira. Uma vez enterrado ainda choram sobre a sepultura e passados dois dias levam algum sustento para o finado. Ainda ha outras ceremonias e historias que deixo de mencionar, devido a grande occupação que tenho. Rio Purús — Canutama, 24 de Agosto de 1882. MANOEL URBANO DA ENCARNAÇÃO. No | + ger a BOLETIM RISE PARAENSE HISTORIA NATURAL E ETHNOGRAPHIA PARTE ADMINISTRATIVA Apontamentos sobre o movimento do Museu Paraense no anno de 1896 *) Edificios e terrenos do Museu - A desapropriação dos terrenos situados entre o Museu e a travessa 9 de Janeiro, resolvida pela lei n.º 499 de 15 de maio de 1897, foi encetada no anno relatorial, mas ainda não levada a effeito, visto a opposição pertinaz do proprietario da rocinha n.º 24 (estrada da Independencia), cuja acquisição era o primeiro passo a dar. A questão ainda está pendente dos respectivos tribunaes. Pessoal Eis o quadro do pessoal do Museu e dos seus annexos, no fim do anno relatorial: Director: Dr. phil. Emilio Augusto Goeldi. *) Na ausencia do Director houve sómente um esboço de Relatorio muito resumido relativo ao exercicio de 1898. PaSC,; 2" VOL. HI EOL: DO MUS. PARAENSE) EE pa so A) Museu Pessoal scientifico: a) Chefe da secção zoologica: o Director. ES 6) Auxiliar de zoologia: Cand. phil. Hermann Meerwartt Chefe da secção botanica: Dr. phil. Jacob Huber. Ee Chefe da secção geologica: Vago. E Chefe da secção clans Epa: Provisoriamente o rector. Pessoal administrativo: Es EA: Sub-director: Enchadtl Raymundo ? Macins E Siiacé Porto 1.º Preparador de zoologia (taxidermia, com funcções meteorologista): Joseph Schônmam. | E 1.º Preparador ajuganie de zoologia Ga do Baptista de Sa. Rodolpho de S. Rodriguez. “Preparador de botanica: Manoel Pinto de Lima Guea Preparador de geologia: Vago. Desenhista lithographo: Ernest Lohse. Porteiro: Balbino Anesio de Araujo. - Continuo: Euphrosino dd de Mello. ' Serventes do Museu: de EE Miranda. B) Annexos. “Jardim zoologico: Guarda do jardim: Olyntho eee je Oliveira. | Serventes: Leocadio Freire. de Moraes e Antonio E larmino Pedroza. . io E Horto botanico Jardineiro: 1 andei ES Santos Lima. Horteleiro: Francisco José Rabello. Ajudantes: a rancisco Ras y adpette e Amaro E: fi A? ' x” p , e Eq EUR FND q — Apontamentos sobre o movimento, etc. 101 es sd Ss É Ed | E E Em comparação com a correspondente enumeração no cá ge ER citodo do anno passado notam-se algumas vagas, a mais | e “sensivel das quaes é sem duvida a do chefe da secção geo- "logica, que, chamado a um posto de honra na exploração — sejientífica da sua patria, exonerou-se do seu cargo no Museu, “que elle exerceu durante 2 E; annos com tanta proficiência. “Duas vezes o Museu foi privado da presença do seu Director, — que por motivos de saude alterada, foi primeiro para o sul -— da Republica (janeiro- oiço), depois para a Europa (desde | — outubro). Ad E ES PIN primeira vez foi substituido, na direcção scientifica do E — Museu, “pelo chefe da secção geologica; a segunda vez, pelo E; — chefe da secção botanica. - À Mobilia e material de conservação E gs Mobiias adquiridas: Um grande armario-carteira polido, pese com vitrinas para a exposição de productos vegetaes e ga- a — vetas para a collecção de fructos, sementes e outros productos eg etaes em estado secco. dE += Instrumentos scientificos . es ; o. serviço meteorologico foi completado por um Saro- “metro: registrador de Richard Freêres, de Paris, que está func- “ cionando. desde o mez de Junho do anno relatorial. — A — instramentagem para a determinação da posição geographica, Es ; a - mencionada no Relatorio de 1897, compõe-se dos seguintes E Êo “instrumentos: Um Zheodolitho (Universalreisetheodolith), um á “chronometro (fabricado pela Deutsche Preaecisions-Uhrenfa- brik Urania de Miúnchen e registrado pelo Observatorio As- | “tronomico da mesma cidade) e uma dussola. TRE ge RE cima “Re DER nisições maiores não se fizeram. Continuaram. as a assignaturas de numerosas revistas scientificas e diversas “, obras de maior vulto que apparecem por fasciculos. Avultado a numero . de publicações periodicas nos vêm em troca do 102 Apontamentos sobre o movimento, etc. « Boletim ». Do espolio do Sr. Eduardo Rand recebemos alguns livros e brochuras sobre botanica. Publicações Appareceram durante o anno de 1898 dois fasciculos do Boletim do Museu Paraense, nº 3 e 4 do segundo vo- lume, que agora está concluido com 514 paginas de texto e muitas estampas. Expedições e viagens Foram executadas as seguintes excursões pelo pessoal scientifico do Museu: 1) pelo auxiliar de zoologia (acompanhado do preparador da mesma secção) ao Cabo Magoary, Marajó (VII-IX 1898). 2) pelo chefe da secção botanica, ao Alto Amazonas e aos rios Ucayali e Iluallaga (IX-XII 1898). 3) pelo auxiliar de zoologia ao Rio Maracanã (fim de X 1808). 4) pelo mesmo (acompanhado do preparador) ao Alto Rio Acara (credito extraordinario do governo estadoal) (XI-XII 1898). Accrescimos nas collecções A Secção zoologica augmentou consideravelmente as suas collecções, principalmente quanto aos passaros e mammiferos, que foram em maior numero trazidos das excursões. — À collecção de cobras foi posta em condições a ser bem apre- ciada pelo publico. Uma série de mammiferos (Onça, Ta- manduás, Veados, Antas) e de peixes maiores que foram empalhados durante este anno, ainda não pode ser exposta ao publico, 207 causa da falta absoluta de espaço. Fez-se um | catalago da collecção ornithologica, o qual evidencia (até o mez de julho de 1898) o numero de 1.101 individuos, re- presentando 326 especies, As collecções botamicas lucraram principalmente com a excursão do chefe da secção ao Alto Amazonas. O «Her- bario Amazonico » conta agora mais de 1.600 exemplares, re- Apontamentos sobre o movimento, etc. 103 presentando um numero quasi igual de especies. O « Herbario geral» que comprehende as plantas colligidas fóra da região amazonica, contém actualmente 327 especies. — Com a acqui- sição d'um armario, a secção botanica acha-se emfim na pos- sibilidade de dar agasalho à collecção de fructos, sementes, “resinas e outros productos vegetaes em estado secco. ÂAnnexos A) Jardim Zoologico Obras e modificações: Foi construido um novo viveiro de dois compartimentos, para passaros aquaticos menores. Ren 2 - metros de altura, 15- m. de largura, e 4-m. de fundo, engradamento de acapú e tela de arame, cobertura de zinco e tanques cimentados. —Os dois viveiros grandes dos passaros aquaticos e dos mutuns foram cobertos de tela “de arame para evitar as fugas e impossibilitar o accesso dos urubus que costumavam roubar uma grande parte dos ali- mentos destinados a estes passaros. Os antigos rotulos de zinco foram substituídos por let- treiros de ferro esmaltado, encommendados na Allemanha. Synopse do movimento de animaes durante o anno de 1898: 1 de Janeiro 412 individuos, representando 129 especies 1 » “Fevereiro 410 » » I25 » 1. » Março 409 » » I25 » E Abril 401 » » 124 » I » Maio 399 » » LES » 1 » Junho 409 » » II8 » 15,0» Julho 3 98 » » IIÓ » I » ÀÁgosto 419 » » 123 » I » Setembro 470 at é > 128 » E -» Outubro 445 » > E » Tt » Novembro 439 > » 129 » | ». Dezembro 424 » >» 124 > I » Janeiro 1899 432 » » 122 » B) Horto Botanico Obras: As latadas na parte anterior do jardim foram ligadas por 16 prateleiras para acondicionar as plantas em bg “vasos, principalmente as rdias Bromeliaceas ES ceas. ES RS PE sc a - Acquisições: No começo do anno adquiriu-se uma portante collecção de Orchideas, Bromeliaceas, Palmeira - provenientes do espolio do conhecido. horticultor Sr. Ed Rand, pela quantia de 2:0008000 (credito extraordinas governo estadoal). Uma collecção menor de plantas « Or mentaes foi comprada no mez de setembro, por. 30080€ No fundo da dest de Manoel Alvez da, Cruz foi c “(duas especies de seringueiras e manicobas) E experi “cias physiologicas. ça ) ” Donativos Como sempre, foi em primeiro lugar o Jardim Zool gico, o alvo de numerosos donativos. Entretanto o num destes (145), foi menor que no anno anterior t Elia Frequencia publica Eis o * quadro da frequencia publica durante o ai de 1898: | de Dies cd 4 3 + Janeiro... 8.808 visitantes Fevereiro Ea 5.870 » 6.929 . pe 8.006 “Oo GUS : 10.129 Talho 24 sea e e 7.214 Agosto cs ASen Re 5.983 - Sefermlbro é cnaai Coe a 6.153 Outubro . Pei a deiES en RR A e) Novembro.... Es 6.236 Dezembro). 4 1; egos Sicredi: as Aa 84.372 31/XII— 1898. ENA e é | t+ di E Substituindo o Director: Ta pe DRE phil. JACQUES HUBER, e. Chefe a: secção. botanica. o é je: RELATORIO APRESENTADO AO EXM. SR. DR. PAES DE CAR- CC VALHO, GOVERNADOR DO ESTADO DO PARÁ, PELO DI- e D+ RECTOR DO MUSEU PARAENSE DE HISTORIA NATURAL e E ETHNOGRAPHIA. ANNO DE 1899. pe fxro Sr. Dr. Governador, e - EAR Eato a honra de entregar-vos, com este officio de . A Sgt “transmissão, o Relatorio sobre o Museu Paraense de Historia OA Rs * Natural e Ethnographia, relativo ao anno civil de 1.º de — Ee EE: - janeiro de 1899 a 1.º de janeiro de 1990. E" o setimo de= a se Cria documentos enviados ao po Magistrado | Ny : E e caracter Elen na A RE para onde parti em 10 de ç — outubro. “de 1898, deixando, conforme o Regulamento, a o Rs “direcção. scientifica em mãos do chefe da secção botanica, ai: Re ra: + ad “cabendo a administrativa ao Subdirector. Acommettido de = A uma grave doença na Suissa e hostilmente recebido, pelo a E — Tigor do clima, do meu paiz natal, o meu organismo, mais a acostumado ja à zona tropical do Brazil por uma residencia aa Re Ió annos e debilitado mesmo por excessivo trabalho, só É Rss oraes dos meus caes À e com os documentos e anno- - tações que constam do nosso archivo. Cabe-me agradecer a V. Exc. as manifestas provas de interesse e de apoio, pessoaes e officiaes, com que honrastes Eae estabelecimento a tambem durante A o anno relatorial transacto. | Saúde e E raternidade. oa a LE O director do Museu Paraense, DR. phil. EMILIO A. GOELDI. A 106 Relatorio de 1899 Eldificios e terrenos do Museu A desapropriação, que forma a materia da lei estadoal n.º 4099, de 15 de maio de 1897, só teve o seu principio durante o exercicio findo, passando metade de 1897 e todo o anno de 1898 sem um passo para diante, por motivos que não conheço. No momento actual o estado é o seguinte: não se conformando o proprietario da rocinha n.º 24, na Estrada da Independencia, com a avaliação dos peritos do Governo, levantou um litígio que infelizmente ainda hoje continua perante a Relação. Dest'arte acha-se embaraçada a prompta acquisição da parcella n.º 1 do nosso mappa, que acompanha o Relatorio de 1896 (Boletim do Museu Paraense, Tom. 1, Fasc. 3, pag. 258), circumstancia que não pouco atrapalha sobre- tudo a organisação do Horto Botanico, necessitando esta muito o terreno, ao passo que a casa -de moradia ahi sita, velha, anti-hygienica e prestes a cahir, deverá ser abandonada. Soffre de defeitos insanaveis e será preciso arrazal-a. Mais feliz foi o Museu com as parcellas II e IV a, à, c, d, que foram acceitas pelo Governo ao preço da offerta, cordata e razoavel. Compraram-se ao Sr. Coronel Silva Santos todos estes terrenos, com os predios r'elles contidos, pela somma de 32 contos de réis ouro, entrando o nosso estabe- lecimento na posse definitiva em 22 de setembro d'este anno. Registra o Museu Paraense com prazer este facto nos seus annaes! Bem encaminhadas reputamos igualmente as negociações relativas à rocinha n.º 6, sita nos fundos do Museu, Estrada Gentil Bittencourt, nº. 123. O actual proprietario veiu ultima- mente offerecel-a ao (roverno, por preço que parece não excluir uma proxima compra e ha fundada esperança que esta possa ser referida, como facto consummado, no proximo Relatorio. Fica para desapropriar, por um lado a parcella 1, pequeno predio [taberna] e quintal, outr'ora do Sr. João Miran- da, (hoje herança do Sr. Antonio Souza) n.º 43 da travessa g de Janeiro. Sabendo nós porém, que o respectivo proprie- tario acceitou a avaliação por parte do Governo e que o actual tambem se conforma com ella, não esperando mais outra cousa que o necessario passo decisivo official, julgamos dever recommendar, que a realisação se faça com a possivel brevidade. Ella será facil agora, visto tratar-se de importancia á -. +. NR EUA PODRE q Mi 4 A: é q E E Relatorio de 1899 107% relativamente pequena. Pena seria se, por mais demora, a conjunctura viesse a complicar-se. Iica, por outro lado, a rocinha e predio pertencentes à viuva e orphãos Costa, (parcella v da nossa planta), n.º 125 da Estrada Gentil Bittencourt. Acham-se apenas entaboladas as primeiras nego- ciações, havendo todavia esperança de que o Governo obtenha tambem aqui uma solução satisfactoria. Assim, das dez parcellas de que trata a Lei de 15 de maio de 1897, que esta vigorando ja ha bem 2 1/2 annos, a desapropriação foi executada relativamente à quarta d'ellas (II, IV a, O, c, d); em adiantada phase de solução amigavel póde-se dizer que ella se acha em relação a mais duas parcellas (II e IV), de decisão do tribunal depende o litígio acerca da parcella 1 e, onde a desapropriação ainda se acha nos seus primeiros passos iniciaes, é na parcella V (n.º 125 da Estrada Gentil Bittencourt). Como nos Relatorios anteriores, volto a declarar que, mesmo realisada uma vez a desapropriação toda relativa à area entre o Museu e a travessa 9 de Janeiro, o estabele- cimento com os seus dous annexos soffre com as ja acanha- * dissimas dimensões, tendo chegado ha muito a ser insuppor- tavel a falta de espaço, quer em relação aos edificios, quer em relação aos terrenos. Nota-se esta falta especialmente no Horto Botanico quanto aos terrenos, nas oficinas de prepa- ração e no proprio Museu quanto aos edificios, além da insufficiencia cada vez mais sensivel de moradias para o pes- soal de serviço. Faz dous annos já, que escrevi, que o Museu Paraense precisava antes de tudo de um segundo edificio, Er ou maior do que o existente (Relatorio de 1897, pag. 10). De facto, as quatro secções, cada qual querendo crescer e estender-se, não o podem mais, sem prejudicarem-se mutua- mente. Não ha exagero algum, se digo que a secção de zoologia por si só encheria depressa todo o espaço dispo- nivel nas salas de exposição, repartido hoje em zoologia, botanica, geologia e ethnographia, caso lhe coubesse seme- lhante felicidade. Mais ou menos o mesmo me dizem os meus collegas, chefes das respectivas outras secções. Não ha duvida que, n'um segundo edificio igual ao existente, contendo o novo sómente salas de exposição e ficando o actual para os laboratorios seccionaes, bibliotheca e administração, não haveria vacuo perceptivel desde o principio. Se aquellas minhas palavras escriptas ha dois annos atraz demonstram que a falta de lugar ja se accentuava então, comprehende-se que esta toca hoje as raias de uma 108 Relatorio de 1899 E ? RR verdadeira calamidade, que clama ser eliminada num futuro pro-. ximo pois representa. gravissimo obstaculo para o progresso . do estabelecimento. Deixo aqui mais uma vez demonstrada | Ses a urgente necessidade de dotar-se o Museu Paraense com uma área edificada antes maior, mas nunca menor do que a actual. Digo expressamente «área edificada», em a «edificio» por diversas razões. . Por um lado a epocha não é, parece-me, RR que. animam o espirito publico para emprehender obras novas grandiosas e monumentaes; este animo poderá tardar longos annos e annos seguramente decorreriam tambem entre prin- cipio e acabamento de um novo predio; ora, o Museu precisa de lugar desde ja, não podendo esperar, a menos que se não queira condemnal-o a ficar estacionario em critica phase de crescimento juvenil. - Seduetora sera sempre a imagem e idéa de um grande edificio monumental novo. Por outro lado, porém, pergunto- me, se tal novo edificio, admittida em hypothese a sua exis- -tencia desde já, seria realmente o melhor dos alvitres possiveis no caso vertente, ou se não seria preferivel o «systema de . pavilhões», a subdivisão predial, attentas às particularidades | do clima equatorial. Quer-me parecer que predios menores, levantados do. chão, accessiveis por todos os lados ao ar e ao sol, devem ser mais indicados do ponto de vista de uma hygiene archi- tectonica local, sã e racional, do que pesados colossos, onde as garantias de absoluta salubridade se me afiguram assaz problematicas. Julgo dever dizer, que n'esta digressão descortina: -se um meio perfeitamente visivel de sahirmos da dificuldade supra - mencionada. Obtendo, com o tempo, cada uma das «secções » que actualmente compõem o Museu, seu pavilhão proprio, surgindo aqui um «Instituto Botanico », acolá um «Instituto - Mineralogico-Geologico», e mais um «Instituto Ethnogra- phico», de bom grado sacrificaria eu a idéa de um unico . edificio monumental novo. Esta possibilidade seria offerecida | pela acquisição do quarteirão todo, entre a travessa OR de. Janeiro e a travessa 22 de Junho. Ouso, portanto lembrar ao Governo estadoal e ao Con- gresso a convemencia de estudar a desapropriação da drea | comprehendida entre o Museu e à travessa 22 de Junho por um lado, Estradas da Independencia e Gentil Ee por outro. Entre os predios existentes na nova área, que ora Fear é qa Es CERA E ES SAO de 1899 109 “aconselho submetter à desapropriação por utilidade publica, “ha um que, novo ainda, de consideraveis dimensões e solida construcção, ao que me pareceu por occasião de um exame “que o proprietario gentilmente me facilitou, se prestaria tal qual como esta ou com poucas alterações interiores, para um “dos Institutos acima mencionados. E' a residencia do Sr. Dr. - Almeida Pernambuco. — Esta casa recebendo, por exemplo, a secção de botanica, talvez cumulativamente com a de mineralogia-geologia, viria já eficazmente aliviar o actual edificio do Museu, no qual permancceriam a secção de zoologia e a de ethnographia, esta emquanto não tiver tambem pavilhão proprio para ella. O espaço, que a botanica e mineralogia occupam actualmente nas salas de exposição, corresponde a toda a ala esquerda N “do actual edificio (Relatorio 1895, pag. 4, Boletim do Museu “Paraense, Tom. II, Fasciculo 1). es et)ntTO predio, nº da Estrada da Independencia, viria " sanar, em grande parte pelo menos, a actual calamitosa falta “—— de moradias de serviço para o pessoal dd Museu, que con- — forme o espirito da sua lei basica, só conhece internos. - Occorre-me n'esta occasião a idéa, que talvez o Governo — assim ganharia simultaneamente lugar para um edificio escolar, “de cuja falta se resente ainda completamente o bairro de — Nazareth. A visinhança de um estabelecimento de ensino “publico não teria nada. de incommodativo para o Museu, “suas dependencias e annexos, pois é instituto congenere, ' trabalhando com outros meios para o mesmo fim: a instrucção popular. Es No Museu Paraense ha muita falta d'agua. Sente-se diariamente na horta, no Horto Botanico, no Jardim Zoologico, horas inteiras as pias nos laboratorios não dão uma gotta, “prejudicando o trabalho e nas dependencias e moradias de - serviço deixou ha muito de haver o quantum indispensavel “do precioso líquido para as mais comesinhas necessidades da — vida domestica. E” defeito que precisa ser remediado com — maxima brevidade, tanto mais que, com o alargamento do | estabelecimento, a prorogação do actual estado deveria for- çosamente ser funesta. O Museu Paraense precisa de um reservatorio proprio, de posição central e de capacidade cal- - culada sobre o ulterior consumo presumivel quando o quar- — teirão todo tiver sido adaptado aos fins do estabelecimento. -— Para activar este inadiavel melhoramento peço desde ja ao — Governo estadoal a auctorisação. Parece que os esgottos muni- 2a Cipaes vão estender-se finalmente pela Estrada da Indepen- y 1 7, a , LM O a? | DU RUDE SA Dra SER AOS v tu A ) y er > tout PU 110 Relatorio de 1899 dencia fóra, até a altura do largo de São Braz, interessando tambem a frente do Museu Paraense. Os nossos esgottos internos já estão à espera d'isto, faz annos. Poderá ser feita a: ligação a qualquer hora, contando nós que os esgottos geraes funccionem satisfactoriamente fazendo jus às esperanças que o publico em geral, e nós em especial, temos o direito de nutrir a seu respeito. Uma vez feitos os esgottos geraes, não seria demais se finalmente tambem viesse o calçamento da mesma rua, por nós já apontado por diversas vezes como palpitante necessi- | dade em anteriores missivas. No edificio do Museu o grande terraço de vidro na frente não approvou infelizmente, apparecendo hoje as conse- quencias dos erros technicos commettidos pelo contractante (casa Manoel Pedro): trabalho inexacto e madeiramento fraco . demais em proporção com o peso dos vidros. Torna-se necessaria a substituição do telhado de madeira de acapú por outro de ferro, que d'esta vez vamos encom- mendar na Europa em estabelecimento que saiba dar conta do recado. Jardim Zoologico Sobre o movimento havido n'este annexo orienta a se- guinte synopse dos inventarios mensaes. Lista dos animaes do Jardim Zoologico no anno de Er Jndividuos Especies Em. ade janemmo fi 432 122 > o TA AReVEreIrOsA 2 426 123 SE RAD EMBARGO E tea 421 I24 » Eos ADDED E de eu add 401 124 » ESSA Maio oe O (a E e 375 124 » RE) Junho Sa CE 359 IZo po qo so, pio çãA e 373 18 dpvid ds o MAGO SEON NA ao 373 121 » > 1º 5 “Setembro sai. 340 IIê pasto (DUDE é dos 341 II9 » 4.º » Novembro.... 461 II5 >» co Dezembro qa 517 II7 Entre os animaes dignos de menção nominal temos actualmente: Mammiferos: a onça pintada (E elis onça) já adulta, a onça vermelha (Felis concolor), de meia idade — uma Relatorio de 1899 th! guariba (Mycetes belzebul), de Marajó —um uacary vermelho (Brachyurus rubicundus), rarissimo, proveniente do Alto Ama- zonas —, um sagui branco (FHapale argentata), não menos raro-—o mocô do Ceara (Cavia rupestris)—a cutia preta (Dasyprocta fuliginosa) — e mais duas especies amazonicas de cutias (D. croconota e prynolopha) —tres guaxinins (Procyon cancrivorus) —-um jupará (Cercoleptes caudidolvulus), — um tamandua bandeira (Myrmecophaga); ves: duas Harpyias (gavião real), (Harpyia destructor) — dois gaviões-japacanim (Urubutinga zonura)-— um casal de cauré (Falco rufigula- ris) —o téu-téu da savanna (Oedicremus bistriatus) — dois matirões (Nycticorax violaceus), —o pato de Cayenna (Sar- kidiornis carunculata), do qual temos 15 exemplares — um marrecão (Chenalopex jubatus) etc. * Peixes: Dous exemplares vivos do notavel peixe dipnoo (Lepidosiren paradoxa), ambos provenientes de Obidos. Quem tem conhecimento da materia sabe, que com toda certeza não ha actualmente outro Jardim Zoologico do mundo, que possua simultaneamente preciosidades como o Uacary, o Sagui branco, a-Harpyia, o Lepidosiren. Com satisfacção registramos um successo ainda não mencionado na litteratura zoologica—a reproducção do porco do mato maior, da «queixada» (Dicotyles labiatus.) De uma bella manada de exemplares que temos, um casal criou um par de filhinhos, engraçadas creaturinhas, hoje já crescidas. Outro phenomeno. deveras curioso é um casal de «passarões» (Tantalus loculatar), que actualmente já tem prompto o seu ninho de gravetos, e por seus energicos protestos contra intrusos e ultra-curiosos, deixa bem entrever a sua intenção de querer criar. Encontrei algumas lacunas sensiveis no costumado inventario: tivemos de lamentar a perda de onças pintadas, de diversos maracajas-assu (Felis pardalis) um gato mourisco (Felis jacarundi), alguns macacos de valor, a ema, a seriema, o anacã (Deroptyus accipitrinus). Tive o desgosto de desco- brir tambem graves irregularidades no fornecimento de carne para o Jardim Zoologico: certo açougueiro, evidentemente acobertado por um guarda infiel anterior, foi bastante mise- ravel de fornecer carne não somente de ma qualidade, mas ao mesmo tempo prejudicada no peso, por conter ossos além da metade, podres por via de regra. O facto é tanto mais escandaloso, que o Museu, comprando a carne à 500 réis ouro, o kilo, em virtude de contracto com a Companhia Pastoril, paga relativamente mais do que um particular, de tis “Relatorio de 1899 RE Sata Ea onde deriva o incontestavel direito de ser servido pelo menos tão bem como qualquer particular. Merece ser esti. gmatisada semelhante vil acção, por que a causa da successiva perda de alguns dos nossos mais valiosos carniceiros não deverá ser procurada senão n'este desalmado procedimento. Accrescimo consideravel no inventario, sobretudo em aves aquaticas, veiu novamente do Cabo Maguary (Marajó), para onde dous preparadores foram enviados especialmente . com a missão de adquirir animaes vivos para o Jardim. Zoologico do Museu Paraense. Horto Botanico Augmentou o inventario d'este annexo, do qual deu adequada-idéa a bella lista, publicada pelo Dr. J. Huber, no Relatorio de 1897 (pag. 20-43), trabalho de valor scientifico e de utilidade publica e digno de ser consultado pelos ami- gos da natureza. Importante collecção de plantas vivas inte- ressantes, algumas das quaes novidades para a sciencia botanica, trouxe o mesmo collega da sua viagem ao Alto. Amazonas (Ucayali e Huallaga). Agora mesmo percorre, em missão scientifica, a costa paraense, conhecida com o appellido de Salgado. O « Palmetum amazonicum » conta hoje já além de 50 especies de palmeiras indigenas. Os esforços, antes muitas vezes frustrados, de criar a magestosa « Victoria regia», (conhecida com o nome local de «aguapé de forno», mas extincta hoje nos arredores immediatos da cidade. de Belem), promettem agora ser finalmente coroados de successo, julgando-se descoberto o enigma biologico. E Collecções scientificas Não tenho-à mão esta vez dados estatísticos que possam orientar exactamente sobre o accrescimo numerico havido nas collecções de cada uma das quatro secções. Entretanto estes accrescimos existem e são inteiramente satisfactorios, posso | garantil-lo com boa consciencia. Na secção de zoologia E se = botanica sobretudo são elles patentes à primeira vista. Estão-se preparando catalagos das diversas collecções, sendo o da parte ornithologica do Museu provavelmente + o mais | Relatorio de 1899 “adiantado nesta hora e em phase de receber os retoques “finaes para ulterior publicação. Não se organisou ainda o catalago dos reptis, por mera falta de tempo; por contra equivale a um catalago provisorio ja o nosso trabalho relativo “à collecção de peixes amazonicos (Boletim do Museu Pa- raense, Tom. II, pag. 443 — 489). | Facto digno de nota nos nossos Annaes constitue a “abertura da secção botanica, bem arranjada tanto do ponto de vista scientifico, como do esthetico, e da sala entomolo- gica, fracção esta da secção de zoologia, que nos annos “anteriores não tinha sido franqueada à visitação publica. Ra —Biblkiotheca e “ Tem havido acquisições litterarias mais ou menos impor- “tantes, umas por compra, outras por permutação contra as nossas publicações e outras ainda por doação directa dos “ auctores, — De interesse especial para a segunda secção foi, por » sos exemplo, a serie completa de « Iust's botanische Tahrbiicher >, “obra importante em muitos volumes. Vieram-nos tambem todos os volumes do «Internationales Archiv fr Ethno- “graphie», » que contêm trabalhos relativos à America. — Bom — numero de livros e revistas periodicas mandou-se encadernar, sahindo todavia a encadernação nem muito boa, nem muito barata. — Fazendo-se sentir já ha tempos para cá a necessidade de um catalago da nossa Bibliotheca, resolveu-se organisal-o proximamente; será tarefa para a epocha chuvosa, que ja bate à porta. sa Publicações - eduardo o pessoal scientiífico no Pará, quasi sómente “ao chefe da secção botanica durante a maior parte do anno “ findo, natural é que não fosse favoravel esta conjunctura - para activar publicações. Entretanto acha-se em phase adian- “tada de impressão o primeiro numero do Tomo III do Bole- “tm do Museu Paraense e questão de poucas semanas = “sômente será para elle sahir do prélo. Além disto o anno Can -+êoo não decorreu, sem que se dessem passos significa- 114 Relatorio de 1899 tivos no sentido de preparar materiaes, adiantar manus- criptos, executar estampas para diversas publicações maiores e menores, que poderão entrar no prélo n'um proximo futuro. Esta se organisando, por especial desejo do Exec. Sr. Dr. Governador do Estado, uma edição collectiva, em lingua portugueza de trabalhos scientificos dos funccionarios do Museu Paraense desde 1894 até hoje, não contidos no « Bole- tim > e publicados GA ins em outras linguas e revistas extrangeiras. | Da impressão foi cnRie dL pelo Director a casa editora R. Friedlânder & Sohn de Berlim (Allemanha) e quanto à traducção pediu-se os bons officios do illustrado naturalista o Sr. Professor Barboza du Bocage, do Museu de Lisbôa. Infelizmente o apparecimento da peste em Portugal veiu atrazar uma prompta realisação do projecto. Além de diversas estampas ja promptas para futuros fasciculos do «Boletim», promptas tambem ja se acham as | estampas para as duas primeiras Memorias do Musew Para- ensc,— (estampas estas com legitimo orgulho o dizemos, apromptadas totalmente no proprio Museu, com a unica excep- ção da tiragem) — que se não sobrevier qualquer empecilho imprevisto, com toda probabilidade sahirão agora em 1900. Outrosim acha-se em estado de ser encetada a impressão | da primeira decada do Arboretum amazonicum, nova obra. ilustrada, de que trata o nosso officio n.º 431 de 5 de se- tembro de 1898 e a respectiva auctorisação do (roverno Estadoal, n.º 2.188 datada de 19 de setembro de 1898 abaixo transcriptos, e de cuja redacção esta incumbido o Dr. Huber, chefe da secção botanica. «Belem, 5 de Setembro de 1898. Fixo Sy. Governador do Estado, O Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia pretende encetar a publicação de uma obra iconographica de . maior vulto, destinada ao mesmo tempo tanto a fins scien- tificos como à divulgação de conhecimentos positivos sobre os vegetaes economicamente importantes da região amazo- nica, conforme o seguinte projecto detalhado: = 1.º) SB) 3.º) 4.º) Relatorio de 1899 115 A obra terá o titulo collectivo Avyboretwm “Amazonicum. Iconographia dos mais importantes vegetaes indigenas e cultivados da região ama- zonica. Serão admittidos principalmente os seguintes elementos na composição da obra: —a) Reproducções fieis e caracteristicas de arvores indigenas economicamen- te importantes, como arvores fructi- feras, madeiras de construcção, arvo- res servindo para a industria extra- ctiva, etc. — b) Arvores indigenas que apresentem um interesse scientifico, principal- mente as que ainda não se acham figuradas em obras scientíficas. — DUBLA 6 setar piora pasa MEI io ia 9. E SUISSA: ciseuait cousa SGA a tp a a 61 Trindade. O. ci cias Dre De US 3 Uriguayã A si PGs Nes cet Ta 3 Venezuela; 2. = Soares EE E 3 499 S Acham-se completamente esgotados do Tomo 1 o Fas-. ciculo primeiro, e do Tomo 11 o Fasciculo segundo, sendo . hoje difficillimo já arranjar uma collecção completa do « Bole-. tim do Museu Paraense». e Significativo triumpho alcançou o nosso estabelecimento pela decisão do Ministerio da Industria e Viação que, pelo | Aviso nº 208 de o de julho de 1898, determinou que as publicações do Museu Paraense gozem de isenção da taxa | postal em todo o territorio da União. Mobilia Fizeram-se dous armarios para a secção botanica e actual- | mente estão se preparando dous outros para a sala da Biblio- | | theca, uma vitrina maior para a sala de zoologia (igual às. quatro existentes), uma mesa de trabalho e um armario . menor para os instrumentos de uso da taxa auxiliar da 1.º secção. Edo Material de conservação e Veiu da Europa uma encommenda maior de utensilios para o serviço taxidermico: arames, tintas, ferramenta, etc. . Acha-se já na alfandega do Pará, prompta para ser ge chada, uma outra de 11 caixões com vidros, fornecidos. Pora uma fabrica em Illmenau (Thiiringen, Allemanha), bem como e duas tendas de campanha, destinadas as expedições scién- a da | QU) Relatorio de 1899 | tificas ao interior. Simultaneamente devem sahir por estes dias da alfandega as cortinas, confeccionadas em Paris, para todas as vitrinas de exposição no Museu. Por muito necessarias, fizeram-se ja as seguintes encom- mendas: olhos de vidro para o serviço taxidermico, um banco de carpinteiro e um torno para madeira e metal, além de diversas outras ferramentas para o mesmo ramo de serviço; alfinetes para a entomologia; barris de acapú para expedições; aquarios para peixes, drogas chimicas para o serviço photo- graphico e dos laboratorios seccionaes. Instrumentos scientificos Houve acqusições novas para a instrumentagem meteoro- logica e geographica, sob nossas instrucções escolhidas e trazidas pelo chefe da secção geologica, o Sr. Dr. von Kraatz- Koschlau. Entre ellas são as mais salientes: um segundo “barometro de estação, systema Fuess de Berlim, um segundo chronometro, diversos thermometros e um globo celeste. Da Europa trouxemos outrosim certos instrumentos indispensa- veis para a pesca planctonica, pois já veiu o tempo em que se devera encetar o estudo do microcosmo amazonico, ter- reno incognito até agora. Nºesta occasião devo tornar a occupar-me com um facto ja apontado por mim no meu ultimo Relatorio (anno de 1897) como verdadeiro absurdo em materia de economia social. Escrevi então: «Não posso deixar de accentuar aqui o singularissimo facto de o Museu Paraense pagar, desde a sua fundação até hoje, na Alfandega de Belem os mesmos direitos pelo seu material de conservação e instrumentos scientificos importa- dos do estrangeiro, como qualquer negociante importador particular. Tem de pagar direitos aduaneiros pela tela de arame e pertences para o Jardim Zoologico, como pela “naphtalina necessaria à conservação dos trabalhos de penna dos indios e a das caixas com insectos e pelles de aves, como até pelas estampas, . porventura executadas na Eu- ropa — estampas estas destinadas ao «Boletim do Museu Pa- raense», que não se vende, mas que se daã generosamente a muitas e muitas escolas superiores e autoridades do Brasil inteiro. Paga por tudo. 194 Relatorio de 1899 «Não tenciono entrar em longa apreciação d'esta praxe absurda e deveras censuravel debaixo do ponto de vista dos interesses culturaes do Brasil. : | « Limito-me apenas a apontal-a, Gusto esperar que os Ex.mos Srs. Senadores e Deputados tomem posição no Con- gresso Nacional contra esta monstruosidade offensiva ao bom | senso commum. Não quero advogar uma vantagem exclusiva para o Museu Paraense, pelo contrario, desejo o seu usufru- cto para todos os estabelecimentos congeneres-em especial, e todos os Institutos e Escolas de ensino superior em geral». Ora, quando por motivos de saude alterada, na Capital Federal estive em fins de 1898, consegui convencer alguns dos Srs. Deputados ao Congresso Nacional das dimensões do absurdo e obtive a promessa de que elles iam se interessar pela eliminação de semelhante defeito administrativo. De facto encontrei, mezes depois, na nova « Tarifa das Alfandegas» o. paragrapho 35, do theor seguinte: «Será concedida isenção de direitos de consumo: Ao material escolar, fornecimentos de livros e reactivos feitos aos Museus da União e dos Esta- dos e as escolas superiores. Artigo 5.º: Se concederá tambem isenção do expediente de 10 %». Foi curto porém o meu jubilo, porque descobri, com minha não pequena surpresa, que o artigo 4.º vinha logo paralysar o effeito da vantagem, enumerando «as mercado- rias» do $ 35 entre aquellas, para as quaes «é necessaria ordem do Ministro da Fazenda». Ulterior experiencia vein. logo provar, quanto era fundada infelizmente a minha suspeita | da nullidade da pretendida vantagem: Por officio n.º 430 de 2 de setembro de 1898 requereu esta Directoria, por inter- medio do Governo Estadoal, emfim, pelos tramites e forma-. lidades legaes, ao Ministerio da Fazenda no Rio de Janeiro, despacho livre para uma caixa, vinda da Allemanha, com estampas para o «Boletim do Museu Paraense», dando. todos os esclarecimentos desejáveis no caso e enviando o proprio Boletim para facilitar a decisão. Pois nunca obtivemos resposta, não veiu até hoje a respectiva decisão—e claro é que o Museu Paraense resolveu finalmente retirar as ditas - estampas da Alfandega, antes de vel-as apodrecidas, pagando, como de costume ntefior com o dinheiro do Estado do Pará direitos à União, para esta deixar entrar as illustrações destinadas ao nosso «Boletim», publicação que é generosa- mente e gratuitamente distribuida por todo o Brasil! |. Donde a conclusão logica que a tal vantagem do 5 asda Relatorio de 1899 125 « Tarifa da Alfandega » deixa de existir para o Museu Paraen- se. Provado é que, com a condição do recurso ao Ministro da Fazenda, poderão lucrar talvez o Museu Nacional no Rio de Janeiro e o Museu Paulista, em São Paulo, ambos proximos da séde do respectivo Ministerio, mas ao Museu do Pará não attinge realmente raio algum do pretendido beneficio; fica para nós unicamente a problematica consolação de ver a mila- grosa imagem da clemencia legislativa — impressa no papel. Para que o Museu Paraense possa gozar do usufrucio dos 35 da «Tarifa da Alfandega» é preciso, que seja dis- pensado do recurso ao Ministro da Fazenda, e que o Inspector da Alfandega de Belem seja investido da competencia plena, para representar os interesses fiscaes da União em todas as emergencias que se possam dar na vinda de objectos do estrangeiro para o mesmo Museu. E' visto, que o livre des- pacho de outros artigos (como machinismos agricolos etc.), im- portados por particulares ja não depende senão de mera requisição ao Inspector da Alfandega; por que não seria - admissivel estender a mesma medida aos materiaes, drogas, livros, estampas do Museu Paraense? Francamente não vemos nenhuma possibilidade de damno que possa provir aos inte- resses fiscaes de uma prompta adopção da medida que ora propomos com plena consciencia de advogar um postulado do bom senso commum. Que se diria de um homem que, tendo certa quantia no bolso esquerdo da calça e mudando-a para o bolso da direita, gritasse bem alto e aos quatro ventos, que era possuidor do dODrO es Pois bem, o Estado, submettendo à contribuição aduaneira o que elle importa para suas proprias necessidades, não faz cousa muito diversa. Nem procede o argumento de que assim é preciso por causa da «estatistica», porque com tal praxe precisamente se falseia a estatistica, lançando no Credito posto que pertence a rubrica opposta do Debito. De qualquer lado que se encare esta praxe deveras absurda, ella não deixará de ser um — erro deploravel de economia nacional. Serviço meteorologico Prosegue com regularidade, ficando a cargo de um dos preparadores debaixo da fiscalisação constante do pessoal scientifico. Instalado em Agosto de 1896, ja temos uma - serie ininterrompida de 3 1/2 annos de tres observações Lo ARE Saes 126 Relatorio de 1899 diarias, constituindo o melhor material até agora | existente sobre o clima do Para. Sabemos que este material merece o maximo interesse dos circulos scientificos da Europa. Alias é elle com empenho procurado já pela imprensa local e aproveitado, tambem regularmente, pela Repartição de ., Hygiene Publica, utilisando as nossas observações no serviço demographico. — Do nosso amigo, o Sr. Dr. Alvaro de Oli- veira, digno Director dos Telegraphos Nacionaes, obtivemos recentemente o consentimento para aproveitarmos o cabo telegraphico em todos os casos onde a ligação com o Obser- vatorio Astronomico da Capital Federal fôr desejavel no interesse de certas questões scientificas, como é por exemplo o conhecimento exacto do tempo, na determinação da lon- gitude geographica. Ha muito projectamos erigir, em ponto idoneo, uma torre de madeira um pouco elevada, para observatorio, visto luctar- mos com a crescente difficuldade, creada pela alta e densa vegetação arborea, de não podermos abranger, de um lance |. de olhos, superficie sufficiente da abobada celeste, como é. necessario para uma justa appreciação das nuvens, do regi- men dos ventos. Como até agora, seremos nós mesmos os architectos, esperando dar conta da projectada modesta construcção*de madeira, que será uma especie de copia diminuta da Torre Eiffel. j 1 ” b o +“ Ca ad ' ” nó 2 1 a 3 > sta t * E he o p 4 ' b 1 l 1d ! 4 Ed E” nt 4 ( k X ) * [UMA Ag ne”. q 1 : bu ) 4 ad cd dh IA art a E A AY TA 1 |. A DRE, RREO Ao OT RNA a A ML A DS AVR 1 Ja PRDNPCH vê q pe , E Es 4 o, at fu o Rai j X Mb tm e e Ta qo Viagens e excursões | E pes EM dd ati Di TREO a , Fóra das numerosas excursões menores nos arredores da cidade de Belém, onde a mata tende a diminuir em es-. cala deveras espantosa, houve durante o anno de 1899 as seguintes viagens maiores: € - a) pelo chefe da secção botanica, a Santarém. 6) pelo encarregado da officina photographica, a Obidos. c) pelos preparadores de zoologia e botanica, ao Cabo Magoary (Marajó). d) pelos chefes das secções de potanica -e geologia à costa do Salgado. | Farta messe de productos da natureza costuma ser tra- zida de taes viagens, além de observações e estudos uteis e aproveitaveis quer do ponto de vista scientifico, quer do. ponto de vista pratico. + dO Relatorio de 1899 ! DO = Frequencia publica Não ficou a frequencia publica abaixo da dos annos anteriores. Foi a seguinte, conforme exactas annotações feitas “pelo Porteiro e os guardas encarregados da vigia nos dias “de exposição: Em Janeiro (1899).......... s.160 visitantes DE PEV eTEICO Ses eo OS a e 6.952» » Março E SIS sê 8.840 » >» Abril is GDS 7.063 > » Maio 239 Pe Sette vaio ie JE 6.529 >» » Junho AO GO A RS 8.698 > ass -» Julho PR ad e ros 6.092 » ” » Agosto ESA CR AR CR geo SE “7.680 » DE SCE MLO= =50 aê sinapiniça são 6.198 » DES CMRDÇO SAS Sos ao a 6.283 » DAN GVEIDROS Sul mao eg cepes 5.789 » »---Dezembro: »' 4 sas 3.883 » Total: =. 79.167 “Embora em geral satisfactoria a disciplina do publico visitante, não deixa de apparecer de vez em quando um recalcitrante, (geralmente pessõas do povo), que não póde deixar de instigar com a inseparavel bengala os animaes nos cercados, viveiros e gaiolas, infringindo o regulamento “da casa e maltratando o pessoal encarregado da vigia. Pen- samos que, introduzindo um distinctivo exterior para este nosso pessoal — cousa que não havia até agora — diminuiremos efficazmente taes scenas desagradaveis. Donativos — O algarismo dos donativos em 1899 foi de 72. Publica- mos, como nos annos anteriores, a lista dos doadores por ordem chronologica : Sr. Josino Cardoso Monteiro, (Alemquer ). Coronel J. A. Watrin. É Sr. Euphrosino Pereira de Mello. e Sr. José €C. de-Abreu. 128 Relatorio de 1899 Sr. Francisco Lopes da Costa Freire. Dr. José Paes de Carvalho. Dr. Francisco Miranda. Sr. Carlos Rego. Sr. Aureliano Eirado, Dr. Guilherme L. de Mello. Sr. João Mouraille. Sr. Sigismund von Paumgartten. Sr. Francisco de Paula Pinto. Sr. José Pinto dos Reis. Sr. Manfredo Lamberg. q Dona Catharina de Lyra Castro. Dr. Antonio Chermont. Conego Jeronymo Jose de Oliveira. Alferes Felippe H. de Abreu. Monsenhor João F. Andrade Muniz. Sr. João Pragana. Sr. Pedro Felix Bandeira. Dr. Lobão Junior. Dr. Antonio do O' d'Almeida. Sr. Elias Francisco Rodrigues. Sr. Angelo Pellerano. Sr. Oliveira Pinto. Sr. José Kizewsski. Dona Leocadia. | Coronel Frederico (Gama Costa. Dona Sophia Miller. Senador Antonio José de Lemos. Dr. Henrique Santa Rosa. Sr. Antonio L. Rodrigues de Souza. Dr. Jacques Huber. Sr. Manoel €. OD RanerqHE Costa, Dr. Numa Pinto. Sr. Fernando Haase. Dona Esmeralda C. Grossmann. Desembargador Gentil Bittencourt. Sr. Carios F. Autran. Sr. Adolpho C. de Souza. Sr. João P. Corrêa, (Breves). Sr. Romualdo de Seixas. Dona Romana Silva. Sr. Anacleto Pamplona. Sr. José de Miranda Pombo. Sr. Paul Lecointe, (Obidos). Relatorio de 1899 129 Sr. A. Loyola. Sr. Francisco Ribeiro Tavares. Sr. Pedro Anselmo de Lima. Sr. Melezio Rodrigues. Intendencia 1 Municipal do Moju. Dr. Lauro Sodre. Sr. Wagenknecht. Dr. Justo Chermont. Sr. Gonçalo de Souza Lima Se o total numerico dos donativos d'esta vez não foi tão satisfactorio como nos exercicios anteriores, por outro lado registramos diversos presentes de alto valor intrinseco, sobre- sahindo entre elles uma Harpyia viva, um Lepidosiren vivo, do Sr. P. Lecointe, de Obidos; um Lepidosiren pequeno, morto, do Arary (Marajó), pelo Sr. tenente-coronel Aureliano - Guedes, além de diversos objectos ethnographicos offerecidos pelo Sr. Dr. Paes de Carvalho, Governador. Pessoal E' o seguinte o quadro actual do pessoal do' Museu Paraense e dos seus annexos: Director: Dr. phil. Emilio Augusto Goeldi. A) Museu Pessoal scientifico: a) Chefe da secção zoologica: o Director. b) Auxiliar de zoologia: Dr. phil. Gottfried Hagmann. c) Chefe da secção botanica: Dr. phil. Jacques Huber. d) Chefe da secção geologica: Dr. phil. Karl von Kraatz- —— Koschlau. e) Chefe da secção ethnographica: provisoriamente o Director. Pessoal administrativo: «) Sub-director: Bacharel Raymundo Martins da Silva Porto. 130 | Relatorio de 1899 E k b) 1.º Preparador de zoologia (taxidermia, com funcções de meteorologista): Joseph Schónmam. ds c) 2º Preparador de zoologia (entomologia): Adoipraa Ducke. d) Ajudante do preparador de zoologia : João Baptista de Sa. É c) Ajudante do preparador de zoologia: Rodolpho de Siqueira Rodriguez. /) Preparador de botanica: Manoel Pinto de Lima Guedes. | 2) Desenhista-lithographo: Ernesto Lohse. h) Porteiro: Balbino Anezio de Araujo. 7) Continuo: Alfredo Domingos de Paiva Ozorio. Serventes do Museu: 7) Honorato Pereira de Oliveira. k) Antonio Pinheiro da Costa. !) Candido José da Silva. 7) Claudomiro Clarindo Carneiro. B) Annexos Jardim zoologico: a) (ruarda do jardim: José Barboza Freire de Albuquerque. Serventes do mesmo jardim: 4) Rodolpho (Gromes Carneiro. c) Caetano Botelho Pimentel. Horto botanico: | ; d) Jardineiro: Joaquim Lopes de Araujo. e) Horteleiro: Francisco José Rabello. Ajudantes: es J)-Pedro Monteiro de Lyra. sa £) Manoel da Silva. | é Conta assim o pessoal scientifico, do Museu propriamente dito 4 pessõas, o pessoal administrativo 13 pessõas, os dois | annexos juntos contam 7 pessôas —ao todo 24 pessõas. — No. pessoal scientifico houve o seguinte movimento: demsse do-se em abril d'este anno o sr. Hermann Meerwarth, cand. phil., que se retirou para a Allemanha, (o seu contracto estava % Relatorio de 1899 181 para findar em junho), contractou o Director, então na Eu- * ropa, os serviços do Sr. Dr. phil. Gottfried Hagmann, cidadão suisso, antes assistente de zoologia na Universidade de Strassburgo (Alsacia). Nascido, por assim dizer no officio — é filho do Director do Jardim Zoologico em Basiléa (Suissa) — e havendo feito estudos profissionaes em regra, promette a sua personalidade bons serviços no novo cargo, tanto no terreno scientifico, como na superintendencia do respectivo annexo. Veiu ao Parã ha pouco, —em principios de novembro de 1899-—em companhia do Director do Museu. Na mesma occasião veiu tambem o Sr. Dr. Karl von Kraatz-Koschlau, chefe da secção de geologia e mineralogia, preenchendo a vaga deixada pelo seu antecessor, o Sr. Dr. Friedrich Katzer, hoje na Bosnia. O Sr. Dr. von Kraatz e profissional de reputação feita. Durante o semestre d'inverno substituiu, na Universidade de Basilea (Suissa) o lente cathe- dratico de geologia e petrographia, e quando o Museu Para- ense o convidou, a Eschola Polytechnica de Karlsruhe ((Grão- Ducado de Baden) o tinha chamado como professor da mesma cadeira. Cidadão allemão, acha-se com licença do “Ministerio do seu paiz. Esperamos que o provecto especialista, que tem uma respeitavel serie de publicações suas, não estara arrependido de ter annuido ao chamado do Museu Paraense. Por uma singular fatalidade frustraram-se novamente as “tentativas da Directoria em achar especialista idoneo para dirigir a 4.º secção, de ethnographia, anthropologia e archeo- logia amazonicas. O Sr. Dr. Franz Bauer, discipulo do pro- fessor Ranke em Munich (Allemanha), que nós tinhamos em vista, resignou no ultimo momento ainda, por motivos de saúde alterada. Tanto o professor Ranke em Munich, como o professor Virchow em Berlim, porém, offereceram-nos, por occasião da visita do Congresso dos Anthropologistas em Berna, os seus bons officios em procurar outra pessõa idonea para o posto em questão. Em vez de Matthias Zisl, que dizem ter morrido em Humaytá (Alto Amazonas) pouco tempo depois de ter se separado do Museu Paraense, contractou a Directoria os serviços do Sr. Adolpho Ducke, cidadão austriaco, para o cargo de preparador entomologico da primeira secção. Veio em Junho d'este anno. Possue as habilitações necessarias e tem mesmo publicado alguns estudos sobre Hymenopteros, insectos de sua predilecção. No quadro administrativo a feição dominante continua a ser infelizmente sentida em relação ao pessoal subalterno, a EFE (zor - DO MUS. PARAENSE) 132 - Relatorio de 1899. o contra-dança interminavel, as frequentes substituições e des- pedidas etc., etc. Tal qual, como nos annos anteriores, como ja mais uma vez tive de registrar nos meus Relatorios. E” um. mal notorio, que seriamente prejudica o estabelecimento, sobre- | tudo os dous annexos, que são para os “respectivos. chefes. AR uma fonte de desgostos diarios causados pela preguiça, má | vontade e o relaxamento dos serventes e ajudantes... Ha | muito reconhecemos que a causa principal d'este phenomeno reside na exiguidade, ou antes, diremos, na positiva insuffici- encia dos vencimentos. º Como póde, por exemplo, o Museu esperar jamais achar serventes de jardineiros absoluta ou mesmo relativamente bons, offerecendo 4% diarios, quando qualquer empregado, de igual categoria, obtem 6% no serviço da Intendencia? Entretanto o Museu exige um dia de trabalho pleno, presença nos - domingos e dias santos e coparticipação na vigia nocturna, - quando no serviço da Intendencia — todo o mundo sabe a tolerancia lata na prestação do expediente diario. A insufficiencia de vencimentos é notoria para O pessoal E do quadro administrativo, aqui em maior, acolá em menor grau. Este pessoal tem, em virtude do regulamento, uma. vida muito acorrentada, estando de serviço no Museu e nos . seus annexos dia e noite, domingos e dias feriados. Qual e por exemplo, a outra repartição estadoal, para a qual o domingo significa verdadeiro dia de trabalho, da mesma fórma como acontece no Museu por ser dia de exposição? Entretanto ha por exemplo os porteiros da Secretaria do (Governo, da. Secretaria do Senado, da Secretaria da Camara dos Deputa-. dos, do Tribunal de Justiça, do Thesouro, da Recebedoria, da Instrucção Publica, de Segurança Publica, do Diario. Oficial, todos elles com vencimentos maiores que os do. Museu, embora que não haja entre elles algum com o mesmo trabalho, a mesma somma de responsabilidade. E” um para-. doxo, para o qual pede-me o porteiro do Museu chamar . a benevola attenção do (Governo, na esperança de obter igual peso, igual medida. | De equidade seria tambem alguma melhora na sorte dos preparadores, especialmente dos da 1.º secção de zoologia. A taxidermia é uma arte, que não se aprende senão com | longos annos de tirocinio e o Museu Paraense não póde esperar achar elementos com as necessarias habilitações pro: | fissionaes, senão acompanhando de alguma forma a coneur- rencia internacional. % No meu esboço de orçamento futuro interprete as mi- e EA s Relatorio de 1899 133 nhas idéas sobre a forma de regularisar a mencionada difficul- “dade de um modo justiceiro e equitativo. Seria para mim, francamente dito, summamente penoso o não annuimento às % justas esperanças do pessoal administrativo — esperanças que “são tambem minhas, por eu achar-me firmemente convencido, - - que elias constituem a «conditio sine qua non», para eu en- contrar gente disposta ao trabalho e capaz de acompanhar os interesses do Museu Paraense. Embora absolutamente não fosse superfluo um segundo auxiliar scientiífico da 1.º secção de zoologia, como era pre- visto nos orçamentos anteriores desistirei comtudo, por ora, em favor da Secção Botanica, que com a crescente somma - de trabalho proveniente da superintendencia do Horto Bo- = tanico, e o augmento da superficie d'este annexo, bem “precisa já de um auxiliar do chefe, com conhecimentos pro- “fissionaes e scientificos — de um «Inspector do Horto », o qual ja foi previsto como uma necessidade provavel com o desen- volvimento d'este annexo em officio meu datado de 20 de julho de 1895, voltando eu novamente a tratar d'esta questão em meu relatorio de 1896 (Boletim do Museu Paraense, Tom. HW, n.º 3, pag. 272). Tenho pessõa idonea em vista para E este cargo. 2 Orçamento O nosso esboço do orçamento futuro para 1900 — esboço no qual procuramos remediar alguns dos principaes males apontados no correr do presente relatorio — importa, quanto “— à verba «pessoal», em 44:6408000, ouro. 8 — Para a verba «material» (expediente e mais despezas) é precisa a somma de 40 contos, ouro, tomando por base uma movimentação normal. — Outrosim torna-se necessario prever a continuação da desapropriação dos terrenos -visinhos, destinando talvez uma somma de 30 contos, ouro, para este ffm especial. Entramos no anno de 1900 e ao mesmo tempo trans- "pomos o limiar de um novo seculo. A humanidade toda, o mundo inteiro reveste-se de um ar festival. A geração actual prepara-se para celebrar com a maxima solemnidade este acon- “tecimento, a cuja repetição só podera assistir, na media, cada terceira geração. Tal momento convida naturalmente a con- — jecturas sobre o futuro por um lado, a um retrospecto sobre oO passádo por outro, porque significa, pelo menos arithmeti- ei api PAPA: iv “ota 134. Relatorio resumido sobre os resultados, etc. camente, um importante traço separativo de eras na historia do genero humano. Se elle representa simultaneamente dis- tincta linha divisoria na historia cultural, dirão aquelles que vierem depois de nós. Como as cousas se nos afiguram actualmente, parece que o seculo XIX é caracterisado essen- cialmente pelas grandes descobertas e invenções e pelo phenomenal desenvolvimento do cyclo que abrange as scien- cias que uns chamam as «exactas», outros as «naturaes» 1o sentido o mais largo da noção. Provavel é que o desen- volvimento das sciencias naturaes continue em grau não menor no seculo XX. O Brazil não podera furtar-se a ser attingido tambem por esta festiva commoção universal, tanto mais que elle tem ainda as suas razões particulares de celebrar a data. E o Museu Paraense, que é uma creatura genuina do espirito que acabamos de frizar como feição dominante do seculo ora findo, e representa solida columna dos creditos do Estado, espera receber dos Poderes Publicos os recursos necessarios para uma honrosa existencia e proporcionaes ao seu progresso. HI RELATORIO RESUMIDO SOBRE OS RESULTADOS GEOLOGICOS PRATICOS DA VIAGEM DE EXPLORAÇÃO AO RIO TAPAJÓS E Á REGIÃO DE MONTE-ALEGRE, FEITA POR ORDEM DG EX.mº SR. GOVERNADOR DO ESTADO DR. JOSÉ PAES DE CARVALHO, DE SETEMBRO A NOVEMBRO DE 1897 Pelo Dr. FREDERICO KATZER CHEFE DA SECÇÃO MINERALOGICA E GEOLOGICA DO MUSEU PARAENSE Sy. Governador, Vossa Excellencia teve a bondade de conceder-me, por offi- cio de 2 de setembro d'este anno, um credito especial para esta viagem, com a recommendação de considerar especialmente, além da investigação puramente scientifica, os resultados geologicos praticos que possam ser obtidos na região do Tapajós e no districto de Monte-Alegre. Nºeste sentido posso submetter à apreciação de Vossa Excellencia uma série de resultados bem fundamentados, em- Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 135 quanto no sentido puramente scientifico não me foi dado attingir completamente ao fim que eu me tinha proposto, não tanto por causa da indisposição physica que me accom- metteu em Itaituba, como pela impossibilidade de obter n'este lugar, no verão, o numero necessario de auxiliares, —apezar dos muitos serviços que me foram prestados pela municipa- lidade e por varios particulares. Fazer uma viagem de occa- sião, rio acima, n'um barco commerciante, o que às vezes é possivel, não é de valor algum para o geologo, pois este deve ter ao seu dispor a embarcação para poder mandal-a parar onde julgue necessario e sem ser obrigado a certo tempo de demora. Segundo a minha convicção quaesquer explorações geologicas exactas nos rios da immensa região amazonica só podiam ser executadas em pouco tempo, se houvesse à livre disposição do geologo uma lancha a vapor com bastante pessoal auxiliar e com canôas bastante fortes. Muito mais completamente do que me foi possivel no rio Tapajós, consegui preencher os limites que me propuz na exploração da região de Monte-Alegre. Cumpre-me expressar a Vossa Excellencia os meus mais sinceros agradecimentos pelas recommendações que se dignou dar-me para as municipalidades de Itaituba, Aveiro e Monte- Alegre, e é-me grato mencionar especialmente os seguintes cavalheiros que me prestaram o seu amavel auxilio: o Sr. José Joaquim Moraes Sarmento, deputado do Estado, inten- dente; o representante delle, Sr. Leopoldo Augusto de Moraes e o digno irmão d'este, coronel Bento Candido de Moraes em Itaituba; assim como os Srs. datonio Vieira da Costa, depu- tado do Estado, Antonio M. C€. Barata, inspector das colonias, e coronel /oaguim José da Costa, intendente em Monte-Alegre. Os trabalhos com as collecções consideraveis que pude fazer, e com as numerosas observações levarão algum tempo, e tenciono dal-os ao conhecimento do mundo scientifico em algumas publicações. No curto relatorio que segue, tenho o prazer de submetter a Vossa Excellencia, conforme o seu “desejo, só informações orientadoras sobre os principaes resul- tados geologicos praticos das minhas explorações; — a expo- “sição mais extensa e a fundamentação dos mesmos devem ficar reservadas para os trabalhos scientificos especiaes. Ss Saúde e fraternidade. Para, 20 de dezembro de 1897. DR. FREDERICO KATZER, Chefe da secção mineraiogica e geologica do Museu Paraense. 136 Relatorio resumido sobre os resultados, ete. I-Baixo Tapajós - Ea A constituição geologica geral das margens do rio Tapa- E. jós até a cachoeira do Apuby. ja foi explorada nos annos de | ag 1870-1871 pelas expedições Morgan, debaixo da direcção do prof. Ch. F. Fartt. Ha alguns pormenores a accrescentar ea + interpretação de certos factos geologicos a alterar; mas em geral fica correcto o quadro, que desde as cachoeiras acima de Itaituba até Aveiro se estendem depositos do systema carbonifero, que d'ahi para baixo são cobertos por depositos = mais recentes. pes à) A POSSIBILIDADE DE ENCONTRAR DEPOSITOS DE CARVÃO e RD DE PEDRA NO RIO TAPAJÓS = a E' um erro lamentavel, que na região amazonica e espe- a cialmente no Estado do Pará ja mais de uma vez despertou - = esperanças irrealisaveis, identificar-se a extensão do systema carbonifero com a existencia de carvão de pedra. São estas duas questões zmiciramente diferentes, no que não se pode deixar de insistir com bastante força e seriedade. A designa- ção de «formação carbonifera» (terrain bituminifére ou car- bonifére, carboniferous system, Steinkohlen-Formation) pro- vem do primeiro periodo do desenvolvimento da sciencia - geologica (principio d'este seculo), quando ainda se julgava que cada formação continha sómente certas rochas e que por + isso o carvão de pedra só se achava e se devia achar na formação carbonifera. Ha dezenas de annos que esta idéa 2 a esta abandonada, desde que depositos de carvão de pedra foram tambem encontrados em formações mais recentes e desde que se sabe que o systema carbonifero inteiro póde consistir em depositos maritimos sem conter vestigio algum | de carvão de pedra. N'ºeste ultimo facto não se póde insistir de mais no Estado do Pará, pois todas as rochas estratificadas do terreno carbo- . nifero até agora conhecidas no territorio do Estado são de. origem maritima, e é muito improvavel que n'elles possam ser descobertas camadas de hulha. Ercde Posto isto, deve-se porém observar que, no rio Tapajós | acima de Itaituba, as circumstancias são um pouco mais favo- Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 137 raveis, por consistirem alli os depositos carboniferos de dois andares, dos quaes o inferior é construido principalmente de bancos de gres que mostram fraca inclinação ao Norte, em- quanto o andar superior consiste sômente de cal de origem maritima. Esta cal é um deposito do mar profundo neocar- bonico, emquanto o grés representa com certeza formações de agua pouco profunda e talvez, na sua parte inferior, for- mações da costa, nas quaes não é absolutamente impossivel encontrar jasidas de carvão de pedra. Pelos perfis naturaes que existem, esta supposição não nos parece muito provavel. Mas estes perfis mostram-nos camadas de grés que alternam com camadas de calcareo carbonifero, com Pyoductus, e diz-se que nos schistos intermediarios do grés foram encontrados restos de Lcfpidodendron (eu, apezar da busca mais assidua, não encontrei vestigio algum de petrificados). E' tambem evidente a analogia que apresentam estes depositos carboni- feros da região amazonica com os territorios do mesmo syste- ma, onde camadas arenosas contendo carvão de pedra alter- nam com camadas de calcareo do andar carbonifero superior, com Productus e Fusulina: na bacia do Donetz na Russia, na provincia de Shantung na China e no oeste da America do Norte. Tudo isto ao menos deixa apparecer fundada uma experiencia para conhecer mais de perto as circumstancias geologicas da base das rochas à superficie. Esta experiencia que do ponto de vista scientifico seria em todo o caso interessantissima, deveria ser feita entre o Paredão e Barreirinha, abrindo um ou alguns furos de soz- dagem (trou de sondage, Bohrloch). O tempo para proce- der-se a ella será de setembro a dezembro, quando a agua do Tapajós esta em seu mais baixo nivel, e os pontos onde os furos hão de ser feitos devem ser determinados por um prévio exame geologico mais exacto do que me foi possivel fazer na minha viagem de orientação. As circumstancias naturaes, aliás, terão grande influencia na escolha destes pontos. A empreza será bastante dispendiosa, mesmo se, como é provavel, não houver necessidade de grande profundidade das sondagens. Na minha opinião a execução das sondagens deveria, mediante concurrencia, ser confiada a um emprei- teiro com uma remuneração determinada, para o que será necessario fixar primeiro os pontos em que as sondagens devessem ser feitas. * Repito, expressamente, mais uma vez que só se trataria de uma experiencia, da qual, quanto à existencia de depositos Ra e ae e» POR; 1358 Relatorio resumido sobre os resultados, etc. de carvão, deve-se antes esperar um resultado negativo do que positivo. Esta experiencia, porém, tem uma razão de ser e não seria uma empreza mineira tão cega, encetada sem consideração profissional alguma, como infelizmente ainda as ha muitas em todo o mundo (não sómente no Estado do Para). Seria tambem de grande importancia e poderia contar com o grato reconhecimento do mundo scientifico, porque pelas sondagens bem dirigidas seriam creados descobertos artificires proprios a substituir a grande falta de lugares descobertos naturaes. Assim seria-nos facultado um golpe de vista muito instructivo para a composição geologica da base d'essas camadas de calcareo e grés que apparecem à superficie do terreno carbonifero do Tapajós, e teriamos dados concretos para a boa comprehensão de todo o systema car- bonifero ao sul do rio Amazonas. rincipalmente por este motivo a questão de uma sonda- gem profunda na visinhança do Paredão, acima de Itaituba, seria de grande importancia scientifica, o que talvez possa induzir o Estado a auxiliar o concessionario particular na execução. O modo d'este auxilio seria determinado pelo poder legislativo, e é um ponto sobre o qual por emquanto não posso expressar opinião. Signaes positivos da existencia de depositos de carvão de pedra no terreno carbonifero do rio Tapajós não encon- trei em parte alguma do territorio por mim explorado. Infe- lizmente a minha saude alterada não me permittiu esta vez fazer a excursão projectada de Aveiro ao rio Cupary e subir este rio, que tem a fama de ser muito rico em mi- neraes, dizendo-se até que ha alli carvão de pedra que appa- rece à superficie. Mas numerosas amostras de rochas do: Cupary que, acompanhando pedidos de informações ou como donativos valiosos, passaram por minhas mãos e de que uma parte se acha na collecção do Museu Paraense, me induzem a duvidar da riqueza mineralogica do rio Cupary. O que d'alh me foi remettido como carvão de pedra ou signal de hulha, não é senão um schisto preto aluminoso e bituminoso, que em parte se dissolveu, formando uina massa argilosa molle preta, que seccando tornou-se outra vez compacta. Compre- hende-se que a olhos não experimentados isto possa, à pri- meira vista, parecer carvão de pedra, mas infelizmente não tem nada que ver com carvão. O mesmo acontece com as amostras que recebi do Itapa- cura-assu, emquanto no Piracaná, que percorri, nem apparece o schisto preto aluminoso que causou a lenda da existencia q Relutorio resumido sobre os resultados, etc. 139 de carvão. Talvez diabases escuras preto-verdes ou diorites “fossem aqui tomadas por carvão. Deve-se, pois, constatar que até hoje em todo o territorio do mo Tapajós a existencia de carvão mão Jor demonstrada com certeza nem em um unico caso e que quaesquer affirma- ções de pessõas não profissionaes em sentido contrario são devidas a mal entendidos. d)- SUPPOSTOS DEPOSITOS DE OURO NO BAIXO TAPAJÓS O mundo inteiro esta actualmente na porfia da busca de ouro; é, pois, muito natural, que esta tambem no Estado do Para se tenha tornado mais viva. Digamos, antes de tudo, que a probabilidade de descobrir alluviões auriferas é muito maior no curso superior dos rios do que no curso inferior, onde, em consequencia da grande extensão dos sedimentos, o ouro que houver fica distribuido sobre espaços muito gran- des, de maneira que não se pode falar mais em alluviões auriferas. A descoberta de ouro em veios, geralmente de filões de quartzo aurifero, por via de regra é tambem ligada à regiões montanhosas do curso superior dos rios. A's pessõas que se interessam por emprezas mineiras no territorio ama- zonico, podemos pois dar o bom conselho de procurar no curso superior dos rios, onde ha maior probabilidade de tira- rem algum resultado dos seus esforços. Mas as difficuldades de transpôr as cachoeiras, que em quasi todos os rios da região amazonica dividem o curso superior do inferior, a falta de trabalhadores que acima das cachoeiras é ainda maior do que abaixo d'ellas, e todas as mais circumstancias difficeis, parecem impedir, mesmo as pessôas mais emprehendedoras, de proceder a uma procura systematica dos depositos de mineraes aproveitaveis acima das cachoeiras. Parece que sem- pre esperam uma descoberta accidental de minas ricas nos districtos onde ha communicações relativamente faceis, jul- gando que n'um paiz tão pouco aproveitado e mineralogica- mente quasi intacto, como o é com effeito o Estado do Para, deve ser facil achar os thesouros mineraes e pouco trabalhoso extrahil-os. E” um grande erro que, se houvesse maior interesse por estas emprezas, ja teria engulido muito da fortuna nacional sem utilidade alguma. Dizia-se que na região do curso inferior do Tapajós havia ouro no rio Itapacura-assu, perto de Miritituba (em 140 Relatorio resumido sobre os resultados, ete. frente de Itaituba) e no rio Cupary. Emquanto à primeira. SAR e à ultima d'estas localidades, estes dizeres baseiam-se unica- mente em lendas; perto de Miritituba um francez, que se diz E «mineralogista », pretende ter descoberto ouro. : Estes ultimos lugares eu inspeccionei detidamente e sub- à metti-os a um exame. Trata-se aqui sómente de accumula- | a ções de areia e pedras arredondadas na margem do rio. | Tapajós, que consistem principalmente em fragmentos de crystaes de quartzo, pedaços de silex, calhaus de quartzo e E hyalina, de agata, jaspe, opala e hydrophane, e mais fosseis, 1 que todos provém do calcareo carbonifero que mais acima do á rio apparece à superficie. Ha além d'isso areia, cuja qualidade á demonstra que provem de rochas archaicas e productos de É = . =Ê decomposição argilosos com calhaus de calcareo. Nove expe- a riencias de lavagem que fiz com este material (as minas de ; ouro do «mineralogista» francez!) não deram nem um ves- + E tigio de ouro livre. Trouxe tambem amostras para serem < analysadas. — Parece certo que n'este-caso a existencia dem aa accumulações de calhaus e areia, em que predomina o quartzo, na margem do rio, foi julgada sufficiente para affirmar de : modo pouco consciencioso a existencia de alluviões de ouro. Sobre a construcção geologica do rio Itapacurá-assú (que . Hartt chama o Uatapucurá) não estou bastante bem orientado E de visu proprio. Este rio, como se suppõe, desce do planalto entre” o Tapajós So Xingu, e é possivel que no seu curso superior, rico em cachoeiras, penetre até as rochas archaicas a fundamentaes, talvez desnudando assim filões contendo ouro Ê e causando a sua dissolução em alluviões. De todas as amos- e tras, porém, que eu vi, nenhuma indica que assim seja na realidade. O mineral que se suppunha conter ouro é uma pyrite de ferro, que apparece em concreções do tamanho de A um punho ou em grãos e que provem do schisto preto, já E: mencionado acima. Segundo uma experiencia feita por mim, esta pyrite não contém ouro, mas só um fraco vestígio de prata. Mas mesmo se fosse uma pyrite aurifera relativamente rica em ouro, o seu valor mineiro ficaria abaixo do limite da renda que aqui se deve exigir, principalmente porque não existe em grandes massas. O rio Cupary, perto de Aveiro, é, segundo a lenda, muito rico em ouro. Mas “parece-me que a lenda se apoia apenas. em experiencias de lavagem de ouro feitas ha tempos, não em resultados positivos realmente obtidos. Tudo que até agora me foi entregue do rio Cupary como contendo ouro, não é senão uma pyrite de ferro, que n'uma experiencia a que a Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 141 “submetti não mostrou o menor vestigio de ouro. Ainda não tive tempo para fazer uma analyse mais exacta. Emquanto à renda de exploração, podemos, aliás, só repetir o que dis- semos sobre o Itapacurá. Sobre a base dos conhecimentos que até hoje temos da constituição geologica da região do baixo Tapajós, podemos apenas constatar, que não ha m'esta região depositos de ouro conhecidos que possam, com alguma probabilidade, ser explo- rados lucrativamente. ” c) DEPOSITOS DE MINERIOS DE FERRO NO BAIXO TAPAJÓS “O mesmo «mineralogista» francez, que em Itaituba se tornou conhecido pela descoberta dos depositos de ouro que não existem, tambem chamou a attenção de alguns habitan- tes para os depositos de minerios de ferro que disse haver na margem direita do Tapajós perto de Miritituba. Póde ser que se referisse às camadas intermediarias muito ferruginosas do «gres do Pará» que se mostra em largas extensões da praia acima de Miritituba e às vezes entra no rio em blocos gigan- tescos. Este gres, a pedra de construcção e antigamente a pedra de calçamento do Pará, assim como a unica pedra de uso em toda a região amazonica, que mede alguns centos de milheiros de kilometros quadrados, sempre contem hematite em menor ou maior quantidade e por isso constitue um ver- dadeiro minerio de ferro, mas a quantidade de ferro que contém é tão pequena, que actualmente não tem, e provavelmente ainda por seculos não tera, nenhum valor metallurgico pratico. Nos lugares designados no baixo Tapajós, assim como em muitos outros pontos da região do baixo Amazonas, algu- mas camadas do grés mostram grão muito fino ou tornam-se argilosas, predominando o cimento hematitico a tal" ponto que se desenvolve um ferro oligisto fino, arenoso, geralmente um pouco micaceo. Mas este no caso mais favoravel só póde ser considerado um minerio de ferro de qualidade média, ao que accresce não existir geralmente em quantidades bastante grandes para uma exploração continuada. Além destes, encontram-se no baixo Tapajós, assim como quasi sempre no curso inferior dos afíluentes do Amazonas, ainda outros minerios de ferro, consistindo em limonites cas- tanhas e, desenvolvidas d'estas por perda de agua, hematites vermelhas. 142 Relatorio resumido sobre os resultados, etc. Às limonites são de qualidades differentes; do hydroxido de ferro quasi puro e da stilpnosiderite preta até o grés ochraceo, pouco limonitico. A mais frequente é a limonite argi- losa em grandes quantidades massiças, densas ou terrosas, tambem em grandes bolas com estructura de cascas sobre- postas; depois o minerio impuro arenoso em grandes globos com superficie da apparencia de escorias, que muitas vezes esta transformada em hematite; depois depositos extensos compostos algumas vezes de camadas finas ochrosas e outras | vezes de camadas de limonite pura; e finalmente massas terrosas de ocre. Tanto no Tapajós como em quasi toda a parte no se na varzea e nos campos de inundação do baixo Amazonas, a quantidade destes minerios é muito consideravel e a sua exploração facil. Mas como se trata geralmente de formações da superficie que só em casos muito raros tem maior grossura, a- exploração mineira deveria por assim dizer ser ambulante. O valor d'estes minerios é muito inconstante, contendo elles de 20 a 80 % de hydroxido de ferro, prevalecendo as porcentagens baixas, e nas circumstancias actuaes são elles certamente pobres demais para serem utilisados, metallurgi- camente, para a producção de ferro. Poderiam ser aproveitados para a fabricação de tintas mineraes; mas em vista dos preços baixos d'estes productos e do custo elevado do trabalho no interior, não ha por muitos annos probabilidade alguma de ser este ramo de industria mineral introduzido no Estado do Pará, sendo certo que não podera deixar lucro. Os minerios de ferro não representam, pois, debaixo das circumstancias actuaes, nenhum valor mineiro apreciavel. d) SUPPOSTOS DEPOSITOS DE PETROLEO NO BAIXO TAPAJÓS Em Itaituba homens intelligentes indicaram-me os rios Itapacurásinho na margem direita e Piracanan na margem esquerda do Tapajós como localidades onde alguem affirma ter descoberto fontes de petroleo. Por este motivo eu fiz um exame especial d'estes dois rios que, cerca de 10 kilometros ao Norte de Itaituba, desemboccam no Tapajós. A bocca do Piracanan fica defronte da parte septentrio- nal da Ilha grande do Piracanan e bem marcada pelos roche- dos que se elevam na margem septentrional e por um banco "o | É E. 3 PRA RAS o Nr 4 gm EEN bis a Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 143 de areia que da margem sul se extende muito para dentro do rio. Estes dois impecilios tornam a entrada do rio muito estreita. Os rochedos, que consistem em «grês do Pa- ra» e conglomerado, continuam por alguma distancia e consti- tuem toda esta parte alta e ondulada da margem do rio. A direcção do rio é geralmente para o sudoeste. Cerca de 3 kilometros da bocca forma um pequeno lago com uma ilha na sua parte sul e ao sahir d'este lago toma uma direcção mais para o oeste. À margem septentrional do lago é bas- tante alta, mas tão coberta de vegetação que não se pôde ver a sua constituição geologica. Os blocos de diorite e diabase que jazem por aqui, provavelmente foram trazidos pela força da agua. Mais acima o rio é accompanhado por igarapé e as partes lodosas e quasi seccas no seu proprio leito tornaram impossivel à nossa canôa ir mais adiante. No ponto extremo a que subimos — cerca de 7 kilometros da bocca — achei no tjuco nodulos de silex e tambem fragmentos de grês e cal- careo como nas margens do Tapajós. Em dois pontos da mar- “gem sul e em alguns pontos da margem norte, penetrei no matto quanto pude, e só em dois lugares encontrei blocos avulsos das rochas mencionadas, mas nenhum de outras. Creio por isso que todo este districto tambem pertence ao systema carbonifero e que a sua constituição geral não differe essen- cialmente da que mostram as partes descobertas no rio Ta- pajós e seus affiuentes ao Sul de Itaituba. Qualquer signal positivo que indicasse a existencia de depositos de petroleo, não encontrei em parte. alguma. Mas como a idéa que justamente neste lugar existia petroleo foi externada por um homem que é considerado profissional, só posso suppôr que tomou por indícios da existencia de petroleo certas aguas estagnadas que ha na margem pantanosa entre a bocca do Piracanan e a Ponta de Mangal, contendo ocre e sobrecarregadas de restos vegetaes em estado de putrefacção e por isso pretas. Tirei ahi amostras em tres logares. Às pelliculas de ocre sobre a agua não são gordurentas e a côr preta de algumas bacias e correntes tem a sua causa nas folhas e galhos accumulados no fundo e não n'uma crosta nadando à superficie da agua. Estes indicios, por isso, não podem ser considerados como devidos à existencia de petroleo. Ainda mais desenganado fiquei no rio Itapacurá-mirim. Este rio, mesmo na estação secca, é bastante fundo até muito em cima, mas as suas margens são baixas e em grande parte cobertas com tijuco (igapó), mostrando até na região da 144 Relatorio resumido sobre os resultados, etc. terra firme feição pantanosa a tal ponto, que não se pódem | obter indícios sobre a construcção geologica do fundo. Ate cerca de 10 kilometros da bocca para cima, tudo | que se vê n'um ou outro logar consiste em pedaços de quartzo . arredondados isolados, que podem provir de um conglome-. rado que se encontra frequentemente no territorio do Tapajós: na base da coberta recente do systema carbonifero; na falta, porem, de logares descobertos, isto não se pode affirmar como certo. Não ha absolutamente indício algum da existencia de petroleo, e nem posso explicar-me como poude originar-se a idéa de que o houvesse. Com relação à supposta existencia de petroleo no dis- tricto do rio Cupary, perto de Aveiro não posso decidir nada, visto que não visitei essa localidade. Mas depois das expe- riencias acima expostas não tenho confiança alguma n'esta supposição, e antes creio que aqui tambem se trata de certos indícios exteriores prematuramente interpretados. Devo ainda observar que, mesmo no caso de serem descobertos indícios - positivos da existencia de depositos de petroleo, o seu valor industrial só podera ser averiguado procedendo- -se a sonda-. gens bastante dispendiosas. : e) CALCAREO E GRÉS NA REGIÃO DO BAIXO TAPAJÓS No seu curso inferior, das cachoeiras para baixo, o Ta- pajôós possue um thesouro, que porem é pouco proprio para = enriquecer o seu dono repentinamente: - os vastos depositos de calcareo. Pertencem elles ao systema carbonifero e estão sendo utilisados em modesta escala, principalmente perto do Bom Jardim, para construcções. Este calcareo é quasi sempre denso, de côr cinzento-amarella até narda, quasi preta, e vê-se à superficie por grandes extensões desde Paredão para baixo, formando bancos de o,5 a 2 metros de grossura. Em muitos logares estas extensões são interrompidas por outras rochas estratificadas que cobrem o calcareo, como por exemplo logo. perto de Itaituba e em toda a parte correspondente da outra margem; mas ha abundancia de sitios onde a pedra de cal. apparece à superficie e onde ha todas as condições para faci- . litar a sua extracção e transporte. Na sua maior parte este calcareo é muito proprio para o. preparo de cal branca, pois contém 96 jo de carbonato de cal. Certas camadas de Bom dam contém quantidade con- MANDEI DI O AP Pr RES as E aaa ) n . e, t Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 145 sideravel de silicatos de aluminia, prestando-se assim direeta- mente para a fabricação de cal hydraulica e, fazendo-se as addições necessarias, de cimento Portland. As analyses em apoio destes dados publicarei mais tarde. Para iniciar, pois, a industria de cal e cimento no rio Tapajós, no districto de Itaituba, ha o material bruto em grande abundancia; mas o estado sanitario d'esta região, que só pode ser melhorado por meios rigorosos e bastante dis- pendiosos, parece antes recommendar o transporte do mate- rial, de um modo barato, até a região sadia de Santarem, onde poderão ser estabelecidas as fabricas. O grés, que se encontra com muita frequencia na mar- gem do Tapajós, principalmente acima de Itaituba, em grande parte é muito proprio para ser utilisado na industria de obras de pedra. Alguns bancos de grã fina, faceis de trabalhar, poderão prestar-se tambem a obras de esculptura. — Estas “observações só se referem ao grés livre de mica; o grês da Goyana e das cachoeiras, que em geral é bem estraficado, mas contém mica em palhetas finas, não tem a consistencia necessaria para os fins indicados. “J) OBSERVAÇÕES SOBRE O ESTADO SANITARIO DA REGIÃO DO ; — BAIXO TAPAJÓS O baixo Tapajós é uma das regiões onde grassam as febres. Especialmente nas localidades situadas no fundo do valle, immediatamente à margem do rio, os effeitos das sezões são terriveis. De qualquer maneira que se pense sobre “a theoria das causas de molestias epidemicas, na base dos: factos uma cousa não se póde contestar: que a má alimenta- ção e a ma agua contribuem mais do que qualquer outra cousa para propagar as epidemias de febres e augmentar os seus effeitos.. Para mim não ha duvida alguma que o estado “Sanitario de muitas localidades mal afamadas por causa das febres havia de melhorar immediatamente se a alimentação uniforme de peixe e farinha, que é o que se come um dia sim outro sim, fosse substituida por uma alimentação racional, por comida nutritiva e variada, e se o uso pasmosamente immediato da agua do rio—no verão muitas vezes estagnada — fosse abandonado, proporcionando-se aos habitantes uma boa agua potavel. A questão de agua é Esse IA: entretanto, quando se 146 — Relatorio resumido sobre os resultados, etc. trata de obter uma boa agua potavel procede-se, sem conse- lho geologico. Sem conhecimento exacto das bases geologicas do regimen das aguas de uma região qualquer, na solução de questões de agua nunca se irá alem de uma phase pro- visoria experimental. A solução definitiva geologica de ques- tões de abastecimento de agua não é facil, exigindo, alem do conhecimento detalhado da construcção geologica. do terreno, estudo aturado das condições hydrographicas, sem perder de vista as exigencias technicas, e na falta de perfis naturaes bastantes só pode ser attingida por meio de sondas e poços. Em Itaituba, que pelo grande augmento do seu com- mercio cresce de dia em dia em importancia e tamanho, apezar da triste reputação que tem por causa do seu mão estado sanitario, prestei alguma attenção à questão da agua potavel. Infelizmente em toda a villa ha só um poço, que alem disso não tem a profundidade necessaria para se: pode- rem fazer observações exactas sobre as alterações do nivel da sua agua. Esta agua esta cheia de impurezas e é de qua- lidade pessima. Sempre consegui constatar, por medições re- petidas do nivel, feitas com o aneroide, n'este poço, no rio Tapajós e no igarapé ao oeste da villa, que ha uma inclina- ção do nivel das aguas subterraneas e por isso uma corrente destas aguas do planalto occidental para o Tapajós. Por isso não esta excluida a possibilidade de obter-se uma boa agua potavel, fazendo poços em um lugar proprio, ainda a deter- minar, nos campos ao oeste da villa. A fundamentação mais completa d'esta possibilidade exige ainda alguns calculos e exames que até agora não pude concluir. Mas observo desde ja que, se as pessoas competentes de Itaituba desejarem occupar-se com esta questão sanitaria, que é de tanta importancia, deve-se em todo o caso fazer um poço de ensaio para obter dados certos sobre os movimentos, a qualidade e a quantidade da agua. Como o custo d'estes tra- balhos preliminares não sera excessivo e, no caso de um bom resultado, será extraordinario o beneficio para a villa, este assumpto só póde ser muito recommendado à attenção de progressista conselho municipal da villa de Itaituba. da DRDS a Ca a e Dl ai, a ca =» É PRO Do E = PRO NR PD O, Es TRA Lot Sp O W io ee ih Da ÁGEIS dá ta ad 7 a e Mo Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 147 II-A região de Monte-Alegre Ha algumas dezenas de annos que os arredores de Monte-Alegre gosam da reputação de uma região riquissima em depositos mineraes aproveitaveis, e especialmente nos ultimos annos não tem deixado de occupar a attenção publica a questão da existencia de suppostos depositos de carvão de pedra perto de Ereré. Deve-se reconhecer que o concessio- “nario, por sua grande habilidade, ha annos mantém no Estado do Pará o interesse pelas emprezas mineiras, o que póde-se- lhe contar como não pequeno merecimento. E”, porém, muito a lamentar que por pessoas que são dilettantes em geologia pratica, elle fosse, de um modo injustificavel, inteiramente mal aconselhado e assim impedido de occupar o seu espirito - emprehendedor tão apreciavel com outros ramos que pro- mettem melhor resultado. Um erro arraigado de quasi todos os empreiteiros mi- neiros, não só no Brazil como no mundo inteiro, é a maneira irracional com que se dá começo ás excavações. Estas são “geralmente principiadas sem exame algum do terreno, na base de uma supposição, de uma lenda, ou de affirmações de pessoas que, apezar de saberem que as suas habilitações são inteiramente insufficientes, são bastante inconscienciosas para se arvorarem em juizes competentes; e só quando as experiencias dispendiosas attingem a dimensões que as fazem approximar-se de uma exploração mineira regular, e comtudo não mostram vestigio algum de resultados,— só então, infe- lizmente, procura-se um profissional merecedor de confiança, sempre porém ainda com a esperança que approvará os tra- balhos tão irreflectidamente feitos e que poderá realisar os “resultados excessivos que se esperava. Não conseguindo isto, como acontece na maioria dos casos, imputa-se-lhe antes quaesquer motivos menos dignos pelo seu parecer negativo, do que se reconhece que procedeu-se com demasiada con- fiança e imprudencia. Mas assim não se salva o dinheiro que custou a experiencia inutil. Proteger os cidadãos contra perdas tão desnecessarias, proporcionando-lhes conselhos authenticos, é certamente uma” das tarefas gratas da administração do Estado. Não duvido que fosse esta consideração, junta ao desejo de obter informações mais amplas sobre a constituição geo- logica da região de Monte-Alegre, abençoada a mais de um 4— (BOL. DO MUS. PARAENSE) TR IRS O PRETOS seca E e RR N* a - ; “po E Remo o > + É. 148 Relatorio resumido sobre os resultados, etc. titulo e conhecida como saudavel, — que induziu V. Ex? a. recommendar-me especialmente o exame d'esta região. Folgo pois, em submetter-lhe, no que segue, um relatorio resumido | sobre os resultados que poude obter. a) OS SUPPOSTOS DEPOSITOS DE CARVÃO DE PEDRA NA REGIÃO DE MONTE-ALEGRE, ESPECIALMENTE PERTO DE ERERÉÊ. A construcção geologica da região de Monte-Alegre ja no setimo decennio d'este seculo constituiu o assumpto das investigações dos geologos das expedições Mor gan e da Com- missão geologica do Brazil, e temos sobre estas investigações as communicações de Ch. F. Hartt e H. H. Suuth. Por ellas a construcção geologica da região foi, cm geral, correctamente reconhecida. Nos pormenores tornam-se necessarias algumas rectificações, mas a interpretação diversa, a que me levaram as minhas pesquizas, não tem importancia decisiva na questão da supposta existencia de depositos de carvão perto de Erere. Menciono isto especialmente para provar que os resultados obtidos por geologos profissionaes nos annos de setenta ja forneciam à pessoas intelligentes informações muito bastantes para as preservar contra illusões como a que conduziu a uma empreza tão balda de esperanças como é a excavação do poço perto de Erere. A aldeia de Ereré é situada a cerca de dez jEilomicirad ao noroeste de Monte-Alegre, ao pé da serra pittoresca, cujas massas enormes de grês, às vezes de contornos exqui- sitos, sobresahem núas, em muitos logares, da escassa co- berta vegetal. Este massiço da serra é de formação recente em comparação com a base, que é uma planicie desnu- dada, raspada, de idade indubitavelmente medio-devonica. Esta base devonica vê-se à superficie em dois terços do ca- minho para Monte-Alegre e em largas extensões nos campos ao norte; em todas as pequenas elevações ella apparece des- coberta. Z7. Smith em 1876 julgou poder distinguir quatorze differentes camadas n'este terreno devonico, como expõe /Zarti num artigo que deixou e que proximamente será impresso no Boletim do Museu Paraense. O estabelecimento de qua- torze camadas por .Sauith assenta infelizmente em falsas sup- posições, mas o facto de toda a região ao redor do Ereré É Relatorio resumido sobre os resultados, etc. 149 pertencer ao devoniano medio não soffre com isso a menor alteração. A rocha predominante é um grês ora duro quartzitico, ora mais molle e schistoso, cujo cimento mais ou menos fer- ruginoso apparece geralmente hematitico e assim da ao grés uma côr avermelhada. Menos frequente do que este grês é o schisto preto ou verde-pardo que se encontra principalmente na propria aldeia do Ereré n'uma zona larga que se estende de leste em direcção para o nordeste. O declive pre- dominante d'estas rochas é para o sudeste com angulos fra- cos, mas, em consequencia de muitas deslocações e nivelações, não ha perfil algum completamente desenvolvido por extensão bastante, e a falta de fosseis, que são rarissimos, excepto em certos estratos de grês, torna ainda mais dificil deslindar a constituição complicada do terreno. Parece entretanto certo que os schistos pretos e verde-pardos são mais antigos do que o grêés e pertencem ao devonio medio inferior. E” n'esta zona de schistos ao sudeste da aldeia, que se excavou um grande poço quadrado com seis metros por “face que agora esta quasi cheio d'agua. No outeiro achamos em cima schistos argilosos pretos, ou em palhetas finas fer- ruginosas que se estão decompondo com a acção atmospherica, ou em grandes placas em parte folhadas. Estes schistos na maior parte são ricos em pyrite de ferro e em productos da sua decomposição e por isso podem -ser designados como schistos aluminosos. Mais para baixo no outeiro, encontram-se restos de grés molle e quartzitico com alguns vestigios de petrificações, das quaes foi-nos possivel determinar as seguintes: Spirifer Pedroanus Kartt, Vitulina pustulosa Hall, um fra- gmento de uma Chonetes e um petrefacto em forma de talo, que talvez seja um pedunculo de crinoide. Em vista disto não póde haver duvida que, quando se fez a excavação, encontrou-se primeiro o grês do Ereré con- tendo petrefactos e depois, debaixo do grés, o schisto preto aluminoso. Nos arredores a posição dos estratos é em toda a parte horizontal ou com fraca inclinação para sudeste ou noroeste, e no campo de inundação ao norte do poço, en muitos logares é facil convencer-se que os schistos pretos constituem a base do grés e por isso são mais antigos do que este, que por seus petrefactos é caracterisado como per- tencente indubitavelmente ao devonio medio. As deslocações a que o terreno esteve sujeito consistem principalmente em saltos verticaes e horizontaes sem dobras, e não se pôde pensar que em parte alguma haja dobras até completo vira- 150 Relatorio resumido sobre os resultados, etc. mento que collocasse o tecto em baixo e a base em cima. Tambem não se póde pensar em falhas horizontaes, em vista da constituição geologica,— de maneira que se pôde affirmar . com absoluta certeza que o poço perto do Ereré em toda a sua profundidade (que se diz ser de 21 metros), atravessou apenas rochas medio-devonicas e talvez mais antigas. Agora compare-se com estes factos o perfil do mesmo poço que foi confeccionado para a exposição de Chicago e que com posição perfeitamente horizontal dos estratos, da a seguinte série de camadas: Em cima (+ metro: Terra de vegetação com schistos friaveis. 4 metros: Schistos argilosos com fosseis mal conservados. . s metros: Schistos duros com Posidonomya, Groniatites, Turritella, Orthoccras, etc.! metros: Schistos betuminosos, em parte com plantas fosseis. 6 metros: Grés duro com concreções de pyrite de ferro e com qualquer encravado. metros: Camadas carboniferas!! (39 bo Em baixo A segunda e a terceira camadas de cima correspondem ao grês de Erere, que só contém os petrefactos ja acima mencionados e pertence indubitavelmente ao devonio medio. As tres camadas inferiores correspondem aos schistos pretos, e são estes que se pretende serem os cardoniferos que, com. posição horizontal dos estratos, ficam debaixo de deposto medio-devonicos qruzto mais antigos ! Confesso que me é difficil acreditar em ignorancia tão . absoluta das mais elementares noções estratigraphicas, e que facilmente se poderia apresentar a idéa que no caso d'esse perfil de poço se trata simplesmente de enganar o publico. Accresce a isto que amostras dos schistos pretos que formam a base, na exposição de Chicago foram expostas como amos- tras de camadas carboniferas e talvez até como carvão de Ereré, e que n'um mappa alli exposto (topographicamente mal executado e inteiramente incorrecto) todo o terreno ao norte do Ereré foi designado como «grande bacia carboni- . 1 ] ] v | drvts US PP o ici ton tced do inid doidos do A. PART Ro Sa Pim ESTRITA, o DS Po a se E Relatorio resumido sobre os resultados, ete. 151 fera»!-—E aqui apresenta-se involuntariamente a questão, se tudo isto foi feito unicamente por ignorancia? — Não póde ser o meu fim tratar mais a miudo d'estas cou- sas que são muito proprias a induzir o publico em erros (tendo o proprio concessionario sido a sua victima); e creio que chamando apenas a attenção para a falta total de toda a habilitação profissional que ellas demonstram, tenho feito o necessario para que no lugar competente sejam tiradas as consequencias. Observo ainda que esta incapacidade profissional se mos- tra tambem em outros assumptos. No campo ao norte e leste do Ereré conhecem-se alguns lugares que têm a fama de morrer nelles muito gado, sem causa visivel. Attribue-se a morte do gado a um ( Mo- nographias brazileiras Vol. 11), Rio de Janeiro 189 , pag. 109. “p fes A Piraida RR —isto tenho verificado da maneira a mais completa — ao ponto de, entre as pessoas do povo, nem todos estarem mesmo convencidos de que o «filhote» seja realmente a propria” Pi- raiba de menos idade e menores dimensões! Pessoas de todo o respeito e dignas de inteira fé, com. as quaes tive occasião de conversar sobre este assumpto (ci- tarei entre ellas por exemplo, o ex-Inspector do Thezouro, Sr. Bernardino Pinto Marques) ja manifestaram a supposição de. que talvez a « Piramutába » fôsse a phase inicial para «filhote» e Piraiba. Semelhante opinião é explicavel pela semelhança notavel que existe entre a « Piramutába » e o «filhote », porém ella não deixa de ser erronea, porque a Piramutaba é de facto uma boa especie (Platystoma Vaillantii Cuv. et Val.),* em todas as phases do seu crescimento perfeitamente separavel dos ditos Siluroideos, alias realmente parecidos à primeira | vista. ? Em summa, podemos affiançar que, nem entre as pessoas cultas do Pará, nem entre os pescadores indigenas, encontra- mos uma unica, que fôsse capaz de fazer-nos uma descripção exacta da pequena Piraiba, do comprimento de palmo ape- nas, ou de explicar por que signaes se poderia distinguir a Piramutaba da Piraiba de igual tamanho. Entregue assim aos meus proprios esforços, mas com a firme resolução de esclarecer, custasse o que custasse, toda a historia do desenvolvimento do peixe em questão e não perdendo a esperança de descobrir, mais dias, menos dias, eu mesmo, aquillo que o povo d'aqui não conhecia — a pequena Piraiba durante os primeiros mezes de vida—tive eu de principiar os meus estudos, forçosamente, com o material a minha disposição: «filhotes» de diversos tamanhos e Piraibas adultas. a - Pesquizas cuidadosas ensinaram-me depois de tempo rela- tivamente curto, que o peixe, attenta a configuração da den-. 1 Goeldi « Primeira contribuição », etc. Bol. Mus. Par. Vol. II, par 476, Estampa fig. 3. 2 Cuidado de não confundir a Piramutába do povo do Pará com a Piramu- tana piramuta de Kner e outros (figura em Steindachner Flussfische Taf. IV), ' que ainda é outro peixe. : | DATSUN PT SS Ra Reà e, es ST Ta a de eua Rica ia = ea - eSPERES Rco A Piraiba 185 tadura, não podia entrar em outra parte do systema, senão no genero Piratinga, creado pelo ichthyologista hollandez Bleeker em 1863,” autor de incontestaveis merecimentos em relação a systematica dos Siluroideos. ? Além do Bagrus reticulatus, que foi descripto em 1855 pelo Prof. Dr. Rud. Kner, 3 de Vienna sobre um eta plad (3) de tres pés de comprimento, trazido por J. Natterer do Rio Madeira, e, como se vê pela nota 2 ficou escolhido por Bleeker para servir de typo ao novo genero, juntaram-se, no correr do tempo, ainda mais duas especies: Ziratinga goliath + (Kner), igualmente da região amazonica, a «Dourada» dos naturaes do paiz e ?. filamentosa * Lichtenstein, problematico - Siluroideo, descripto como proveniente do Brazil, mas de modo tão summario e insufficiente, que todos os autores pos- teriores até hoje fallam d'elle em termos que bem deixam ver as suas duvidas; haja vista Griúnther, no Catalogo dos Peixes do Museu Britannico, Vol. v, pag. 112 e Ch. Eigen- mann, loc. cit. pag. 195. Além do exemplar original, que ape- nas media NOVE POLLEGADAS, e ficou, ao que parece, depo- sitado em Berlim, nunca houve mais outros specimens, tanto que nem Griinther, nem Eigenmann, nem Steindachner, nem qualquer outro ichthyologista moderno teve occasião de ver “esta especie, que elles conhecem unicamente pela descripção. Embora Kner, apoiado em nota manuscripta de Natterer, refira que a Ziratimga reticulata tem indifferentemente no Rio Madeira os dois nomes de Zialiba e Prratinga, eu pude convencer-me cabalmente que a Piraiba do Pará não é identica à Piratinga reticulata.* Não é por causa da pelle 1 «Systema Silurorum revisum » auctore Petro Bleeker, em « Nederlandsch Tijdschrift voor de Dierkunde », Amsterdam 1863, pag. 99. 2 Phalanx 6. Ariobagri. Piratinga Blkr. Caput scuto cute vestitum, crista interparietali os inter-spinosum non attin- gente. Dentes vomero-palatini in vittam transversam indivisam vel tripartitam dis-- positi. Cirri carnosi mediocres. Spina dorsalis edentula in filum producta. Adiposa anali mon vel paulo longior. B. 12. Cutis reticulato-venosa. Spec. typ. Piratinga reticulata == Bagrus reticulatus. Kner. (Rio Branco, Rio Madeira. 3 Ichthyologische Beitrige Wien. 1858. 2“ Abteilung pag. 6 e seg. 4 Kner loc. cit. pag. 9. 5 Lichtenstein in Wiedemann's Zoolog. Magazin 1, part. 3, 60. 6 R. Spruce, n'um interessante artigo publicado em 1867 no «Journal of Linnean Society, London Vol. 1x, sobre as « Migrações dos Insectos e de outros animaes na America Equatorial» tambem menciona uma Ziraiba do Rio Negro, -citando-a, ao lado do « Uaracú » (Leporinus fasciatus et spec. aff.) como exemplo de um peixe, cuja carne é de melhor qualidade em exemplares encontrados no-Rio 186 A Piraiba reticulada (Taf. 1, fig. 1 do referido auctor), porque esta, afi- nal de contas, tambem se observa tanto na Dourada como na Piraiba paraense; são outros caracteres: olhos de tamanho mediocre, — espinho da barbatana dorsal prolongando-se em filamento, — espinho da barbatana peitoral denticulado pelo lado interior — os raios branchiostegiaes em numero de 12 — tudo isto, além de muitos outros signaes, nos permitte declarar positivamente, que a Piraiba do Rio Madeira, descripta pelo , mencionado auctor com taes caracteres, é peixe diverso do nosso, apezar de não termos visto jamais nem o exemplar original, nem figura delle. Da Prratinga goliath, da popular Dourada, possuimos descripçção minuciosa e uma bella estampa de Steindachner, " tanto material e tantas observações proprias, que a possibi- lidade de uma eventual confusão com a Piraiba é de antemão regeitada. Dourada e Piraiba são parentes proximos, primos- irmãos, mas são peixes diversos, como alias qualquer pescador d'aqui bem o sabe. & Da 3º especie, da tal Prratinga jfilamentosa Licht., fran- camente nunca senti a necessidade de occupar-me muito. Especie de alcaide systematico, — Impossivel de reconhecer-se pela descripção original, no dizer unanime dos especialistas da materia, quem é que me faria disto uma accusação? Via- jar de proposito para Berlim? Seria uma desarazoada expe- ctativa. Alias dizia-se propositalmente na descripção original, que o caracter essencial da especie (justamente aquelle que foi escolhido para formar o nome especifico) residia na cir- cumstancia de attingirem as barbas maxillares o triplo do comprimento de todo o corpo. Ora, dos innumeros «filhotes » e Piraibas, que durante todo o anno são vendidos no mercado de Belém,--dos muitos exemplares que, durante os ultimos sete annos passaram pelas minhas proprias mãos, nenhum jamais deu direito de julgar, que se tratava de Piratinga Negro, do que em individuos vindos de outros pontos da Amazonia: ...«the large Pirahyba is another (example), the latter being so luscious that it is difficult to know, when one has had enough of it, whereas the same or a very closely species of the Amazon is often scarcely edible. » (pag. 365). Este trecho é sufficiente para demonstrar que a Prraiba do Rio Negro tambem não póde ser identica à do Pará. 1 Beitráge zur Kenntniss der Flussfische Siidamerikas 111. (1881). Wien. pag. I e seg. Est. III. Piratinga pird-aiba Goeldi. | s2iraibas adult, | Tilhotes juv. é inê A Piraiba 187 filamentosa Licht., — pelo simples facto de serem todos zdo filamentosos, no modo de entender do auctor. Diziamos acima, que, à vista da dentatura da Piraiba, não podia haver duvida de pertencer ella ao genero Piratinga. N'este genero (e preciso é que se saiba que a dentatura constitue criterio de alta importancia na systematica dos Si- luroideos) ella é caracterisada por duas fitas palatinas, uma anterior, outra posterior, de moderada largura. Veja-se Stein- dachner, Piratinga goliath, Est. III e Eigenmann. pag. 199, fig. 43 e comparem-se as figuras 4 e 5 da nossa estampa. A fita anterior, inter-maxillar, é ininterrompida e composta de uma multidão de dentes aguçados, recurvados, relativa- mente maiores, ao passo que bastante mais finos e menores são os dentes da segunda fita posterior, esta lateralmente dividida por uma separação em forma de V. A differença no calibre e numero dos dentes da fita inter-maxillar anterior, accentuada ainda em «filhotes» de medio tamanho (fig. 5), vae-se tornando cada vez mais apagada com a idade do peixe (fig. 4). Foi sobretudo a excellente e minuciosa descripção que Steindachner deu, em 1881, da nossa Dourada (Piratinga Go- lath) nas «Denkschriften der K. K. Akademie der Wissen- schaften zu Wien» (exemplar de 58 !/, centimetros, oriundo do Para), que me facilitou uma cabal orientação sobre as especies d'este genero e ainda hoje devo dizer, que não co- metti erro algum, insistindo que os caracteres da Piraiba não coincidiam com os de nenhuma das especies descriptas e que portanto era preciso dar-lhe um novo nome. Assim procedi e não dependia de demorada meditação a tarefa do como devia ser composto o tal novo nome. «Piratinga» tinha de ser devido aos caracteres genericos e «Piraiba» parecia-me de- signação especifica perfeitamente indicada por motivos faceis de adivinhar. E este nome ha de ficar na sciencia, porque aqui n'estas linhas vae pela primeira vez uma descripção da «Piraiba» paraense, conforme as exigencias da ichthyologia na sua phase actual. 188 “A Prraiba Minucioso exame foi feito da «Piraiba» e do «filhote» e adeante vão algumas tabellas e synopses, pelas quaes o bene- volo leitor se poderá informar acerca dos pormenores os mais subtis na confrontação das feições exteriores da Piraiba com outras especies do genero Prratinga e proximos parentes como Dourada, Piramutaba, etc. Uma cousa jfoi desde logo averiguada: o facto da vreducção no comprimento das barbas inter-maxillares com o augmento da idade. Chegando num «filhote» relativamente pequeno a attingir a altura da bar- batana adiposa (fig. 3), num «filhote» mais crescido apenas excede metade do corpo (fig. 4) e na Piraiba adulta (fig. 1, fig. 4) são de tal modo atrophiadas ja estas barbas, que não passam muito além do apparelho branchial. Isto não deixa de projectar uma luz assaz singular sobre o valor do com- primento das barbas como criterio systematico para a distin-. ção dos nossos Siluroideos sul-americanos e justifica uma forte dose de scepticismo acerca da solidez do actual edificio scien-. tifico, ao menos n'este particular. Entretanto uma, questão principiava a intrigar-me cada vez mais: a de saber qual seria a configuração da Piraiba bem nova, pequenina, e por que razão era tão difficil obtel-a. De Jacto só obtive, até hoje, dois unicos exemplares e estes sómente dentro das ultimas semanas desde a minha volta da Europa. Ambos trouxe-nos o Dr. G. Hagmann, nosso auxi- liar de zoologia que, em obediencia a uma minha recom- mendação especial de prestar a maxima attenção a este problema, já tendo- -me antes trazido exemplares pequenos de Piramutába de uma” excursão ao Rio Aramã, na Ilha de Marajó, descobriu-os ha dias (fev. 1901), entre muitos outros Siluroideos parentes, no mercado de peixes de Belém. Infeliz- mente ja não era mais possivel reproduzir aqui uma estampa ora em via de preparação acerca do habitus da Piraiba na sua primeira phase de vida. Daremos essa estampa como sup- plemento n'um proximo numero d'este Boletim. - Entre Piramutabas, Douradas, Mandis, etc., das mesmas dimensões reconheci as pequenas Piraibas com facilidade pelos caracteres da cabeça, da barbatana adiposa e outros, mas ao mesmo tempo cahi, por assim dizer, das nuvens, vendo estas pequenas Piraibas munidas de umas barbas inter-maxillares phenomenalmente compridas, chegando a medir duas e tres vezes o comprimento do corpo. Immediatamente reli a des- cripção de Lichtenstein (copiada por todos os auctores pos- teriores), do seu unico exemplar de: Piratinga (Pimelodus Jilamentosa e logo pude convencer-me, que o segredo estava E “A Piraida 189 esclarecido: a pequena Piraiba tinha sido vista e descripta “bor Lichtenstein, com caracteres diagnosticos vllusorios, que “não podiam ser aproveitados para uma determinação especifica e que deste erro provinha a impossibilidade de reconhecer-se, mediante a mesma deficiente descripção primitiva, não só a Piraiba adulta, como até o «filhote» de medio tamanho. "* Manda a lealdade scientifica dizer, que o supra-mencio- nado Dr. Bleeker quiz elevar o Prmelodus jfilamentosus de Lichtenstein como typo ao grão de um genero novo deno- minado Malacobagrus, com os caracteres seguintes: Caput depressum. Crista “interparietalis vix conspicua. Maxilla supe- rior valde prominens. Dentes palato numerosissimi. Nares tu- bulatse. Cirri supramaxillares corpore multo longiores. Spince omnes flexiles. Adiposa anali eequalis. Spec. typ. Malacobagrus filamentosus = Pimelodus filamentosus Licht.: Ja o Dr. Giún- ther no Catalogo dos Peixes do Museu Britannico fez sentir a dificuldade pratica em separar os generos Malacobagrus e Piratinga, abandonando o primeiro e não acceitando senão o segundo. De facto os caracteres indicados na diagnose acima quadram todos tambem para os representantes do ge- nero “Piratinga, e áquelle unico: «cirri supramaxillares corpore multo longiores» ja vimos que não se lhe póde attribuir im- portancia generica, quando nem como distinctivo especifico pôde mais ser reconhecido. O Prof. Eigenmann (pag. 194), por outro lado, incluiu o P. filamentosus Licht. no genero Brachyplatystoma, creado igualmente por Bleeker (Phalanx 5, Sorubimes) com a Pira- mutaba (B. vaillanti) como typo, collocando este genero entre Nemurogians e Duopalatinus. (Nº 142). Todavia já pelo ponto de. interrogação «= vaillantii ?» no titulo deixa patente não possuir certeza, se o tal P. filamentosus Licht. (o que acabamos de demonstrar ser a Piraiba muito pequena) é ou não identico à Piramutába. Pelo que ficou dito acima, esta amplamente provado que «Piramutába » e « Piraiba » não são identicas. | Grande importancia porém reveste aquillo que o Prof. ! Systema Silurorum revisum pag. 100. o a MD RE A E pa 190 A Piraiba Eigenmann escreve summariamente acerca de P. filamentosus, pelo facto de se ver claramente por ahi, que va grandiosa collecção de peixes amazonicos, do Prof. Louis Agassiz, não eram representados nem o P. filamentosus Lacht. (o «filhote » bem pequeno), nem a P. firaiba (a Piraiba adulta), esca- pando assim, por um dos mais singulares acasos, à attenção do eximio ichthyologista, o Siluroide, o maior e ao mesmo tempo um dos mais importantes sob o ponto de vista eco- nomico, da bacia amazonica. ! MEDIDAS E PORMENORES SOBRE UMA PIRAIBA ADULTA (EXEMPL. D, MONTADO, DO MUSEU PARAENSE, OBTIDO EM JUNHO DE 1898 NA PRAÇA DO MERCADO DE BELÉM): FORMULA: [557 EPA ça | AA é Re Ud RAD | (a T+6 | tio [o (1-6) 2 | Comprimento desde o focinho até o principio dar dorsal; scr Ro tea pass Comprimento desde o principio da dorsal até a ponta superior da caudal........ T33 26 E Comprimento-total = soa TONS “Largura superior: dadorsali 4 sd ama Eq So Liroura da adiposa Ze CR EF e Fharounra ida anabo sec o re E 15 -— 1600 “Distancia do fim da dorsal até principio da ACApoSaY + a Pp na ALSO Crane DO cia 49— 50M, | Distancia do fim da adiposa até principio da Catidhalis too audi rp reta Rae E DO TOR | Distancia da projecção da dorsal da inserção da cpeitoraf. a co senao ns PARAR AoA e roca | Distancia da peitoral até a ventral........ e Lo 1! Goeldi, «Primeira contribuição, etc. ». Bol, Mus. Par. II, pag. 446. Pelo prefacio do Prof. Eigenmann ao seu livro acerca dos « Nematognathi » vê-se dis- tinctamente, que este auctor dispunha de facto, na elaboração, do producto da co- lheita grandiosa do Prof. L. Agassiz feita no Brazil. A Piraiba 191 ( Distancia da ventral até a anal........... 47 E | Distancia. interorbital. .. 2... .20.....00.: ye. Desde o focinho até o ffm do processo occi- | EEE e Eloa AO pese SO ars É 80 09 PR Re | Desde o focinho até a fenda branchial (bor- ERPRESERICIRSOE [oo e dee ca Der cl onça e e 7 Aê Comprimento da cabeça até a ponta do operculo no comprimento do corpo *. 43:192=-quasi 5! Comprimento da cabeça até o espinho occipital no com- primento do corpo...... 48: 192 — exactamente 4! Maior altura do corpo no comprimento do corpo... 30:192=6,4. Comprimento do focinho no comprimento da cabeça (até ponta opercular)... 25:43= 1,72. Largura da parte frontal no comprimento da cabeça... 13:43=3,3. Ratio DR ti a caca O O Comprimento da fenda buccal no comprimento da cabeça 13:43 | Maior largura da cabeça (es- tendida) no comprimento dacabeca sia, Ao GO 43 ==3,25. Altura da cabeça abaixo da ponta do processo occipi- tal no comprimento da ca- ERG A PRAS A. Diametro longitudinal do olho no comprimento da cabeça 17:43=25,3! '- O mesmo, contando a cabe- ça até a ponta occipital. 1,7:48— 2814. | Qo do ' Maior circumferencia do corpo (antes da dorsal) = 100" Circumferencia do mesmo antes da adiposa... e Va Circumferencia no meio do pedunculo caudal. =27" Circumferencia da cabeça na região do espi- ERON GERIDA Do oo sp Sto o ego gm o a vio ESSO | I N. B.— A maioria d'estas medidas está, quanto ao methodo, em confor- midade com as indicadas por Steindachner (« Beitrige, etc.») na descripção da Dourada. (loc. cit. 1881). A Piraiba / | Lv os Db. [nisto he e pe leio e as Tor T RUI UT SEQIET | 24 ç Ca'ç SÇ + Ss Ssç E pop TOR ae Pd a PO 045 é é Pa: q E! ad] pt ST LI vi |" oprjou “remmarpueui ey ep ojuauridwos | St + Gg +t ct + 2'y ER e ssa RA ua o DAP NORA DO CEE Gia é é S sei PA UA S1 | ENA! €r |" opeyow Srejjixew ejy cp Rad E'o 1 vs sy € E-fa € t Prece tec eee cce" "+ *selouejuos eIndIvT Ei | 26 6 dia 91 g1 vz gz To [SS Sai si as uTTo mB ITOS O JUS ULITAtrOS) fiz bb ç el EI SI g1 91 €€r | |**oqurDo; ojoui apsop sejpourjuos ordoud ce ç o DR e vi SC 61 g1 Sgr |erttte**""* sm Op SsoWjo SOp vIUrIsIC 9:9 g'€1 EI g€ ZE 6€ 6t 6t ob |t*r*** pamo vu eprpow 'oquiDos Op “SIT ob S*g 6 Se Ez Siga tao z gr |rtrtree*** ejoor PpURISIp 'oquidos OP “Sie T GRE 9'9, 6 S'oz S61 oz Sz bz Stz |*****"soxoLIojur “Ieu sejod “quo ep “Sie Zi s'g 91 of gz gz g€ SE Gg |*** soxorraysod seulieu sejod -qeo vp 'BreT o“4 g11 SI SE qe L€ 9v Ly tp osiho vin ais deco Reyes Rio QUO OT q RIsBIE NE TeST CANO pa Aa [81] “gh zv Eb 45 vg cS |* aepnoxado oquidso ojad vôsqro ep vindreT 68 é é é é S'gt é é é *******-TeydidDdo ejuod v 9je viageo “duos 84 S“gI Sg1 St opus iobh vs Ele otoS | |* repmoxodo ejuod e 9je váaquo oyuawiidwuos ae cl Z 81 Le nSiZA oz tz E6I |'****>* oquros Op urSILUL E 9J% OMJO "ISIC ob 8'9 9'9 Eira S'oz IZ S'gz Ghz L'€z |" oquro vp woZrew ep orur O aje Ojo JSId Sra ÃÇA des dei OE o SE PI do UN TI Meia 1 FE A mod 0] Es CS eccccno ronco nossa. *[eyrquoxogur LOUIS mf oa [né ET fio a aa Jet-ral, es PRE PR o O SAIDO Dea Rs dE LN O DD DR SORTE a (A 8 Fo aa auf Er Ea va UIUL 1 | / ur Gi an E 91 no (o! cuco oo. on ton 0 0 4 4 ojuswirdwos) ' oYTo | d Ci a o] q V quand VOPINOA | ALONTIA E | | | | SvVLINdAV SvagIvHIdA | q vd MM A Piraiba 193 Ex. E | RATIONES Ex. a Ex B/|Ex. C/Ex. D|Ex. E Diametro longitudinal do olho na distancia interorbital.. 9 9::[=119 dd 57: o Le co Ola Diametro longitudinal na dis- tancia até o meio da mar- | | gem do focinho.........| 13 I4 I4 EE 12 134 Diametro longitudinal na dis- tancia até a margem do fo- | cinho (linha recta)...... Irà | I112/ 101| 101| I0 | 10% Diametro longitudinal no com- | primento da cabeça (até a | ponta do osso opercular..| 291! 293| 2811 26 ty 8) jd “Nestas tabellas o especialista. encontra farto material d'onde extrahir caracteres especificos para a Piraiba. Podemos completar o quadro, apontando mais alguns traços característicos do nosso gigantesco Siluroideo amazo- nico, mórmente em comparação com a Dourada, seu proximo parente. Comparando a bella estampa dada por Steindachner (loc. cit. II) d'esta ultima com as nossas estampas relativas à Piraíiba, facilmente se percebe, por exemplo em relação aos contornos geraes, que a Piraiba é mais alta e mais redonda (basta ver a altura do corpo em frente da barbatana natatoria dorsal), que a linha lateral é singularmente bem pronunciada e saliente, que a barbatana caudal é menor e não tão profun- damente recortada, etc. Quanto à cabeça, nota-se que a da Piraiba é mais larga e mais redonda do que a da Dourada - com o seu rosto quasi feito a modo de bico de pato (Fig. 4); no perfil a cabeça da Dourada apresenta-se sensivelmente mais achatada. Sendo a margem inter-maxillar na Dourada mais ponteaguda, comprehensivel é que tambem as duas fitas de dentes inter-maxillares apresentem um angulo mais estreito na Dourada, mais aberto na Piraiba (nossas figuras 4 e 5; Steindachner III loc. cit.). O colorido no «filhote» minimo e de medio tamanho é o bronze prateado commum à maioria dos Siluroides. A Pirarba adulta, entretanto, assume parcialmente uns tons roxos, verdes e azulados difficeis de descrever e nem a nossa figura 4 da estampa «Novos peixes da Amazonia» (Bol. Museu Par. Vol. II, pag. 488) da uma idéa de todo fiel d'este com- . o 4 194 “A Piraiba plexo colorido, tendo infelizmente ficado bastante abaixo da nossa espectativa e inferior ao original o trabalho lithogra- phico, d'esta vez longe de satisfazer-nos, embora tenha sido executado em afamado estabelecimento da Allemanha, que alias nos forneceu anteriormente não poucas estampas real- mente boas. E” preciso que se diga que, na tal estampa «No- vos peixes da Amazonia», houve esquecimento da pedra com os contornos, erro technico tão manifesto, que à primei- ra vista é notado por quem tem a minima experiencia d'es- tas cousas. EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS | (4 ESTAMPA I Fig. 1— Vista lateral photographica, de uma Piraiba adulta de perto de 2 metros de comprimento. (Exemplar D da tabella). Fig. 2 — Filhote já bastante crescido. (Figura reduzida). Fig. 3 — Filhote menor do que o da fig. 2. (De 1/, metro approx.). Fig. 4 — Bocca entreaberta de uma Piraiba adulta, vista de baixo, para de- monstrar as duas fitas de dentes intermaxillares, anterior e posterior. (Reduzida). Fig. 5 —Bocca de um Filhote de medio tamanho, nas mesmas condições. ESTAMPA II Fig. 1 — Vista dorsal Fig. = 0) » Fig. Ri A » Nota-se a reducção successiva das barbas do « filhote » pequeno para a Pi- raiba adulta. - Fig. 4 — Vista dorsal da cabeça de uma Piraiba velha (reduzida). | Consul- te-se tambem a estampa « Novos peixes da Amazonia », fig. 4, do Bol. Mus. Par. Vol. 11, pag. 488). Dos mesmos tres individuos da estampa anterior (na mesma escala). Pará, abril I9o1. O primeiro exemplar de uma doninha do Braz 195 HI TRABALHOS DO PESSOAL DO MUSEU PARAENSE ENTRE 1894 E 1900, PUBLICADOS ORIGINALMENTE EM REVISTAS EXTRANGEIRAS E AGORA VERTIDOS PELA PRIMEIRA VEZ PARA A LINGUA PORTUGUEZA. * O primeiro exemplar authentico de uma genuina doninha do Brazil * Pelo Dr. EMILIO A. GOELDI DIRECTOR DO MUSEU DO PARÁ - O distincto mammalogista norte-americano €C. Hart Mer- riam escreveu na sua importante Memoria — .Synopse das do- ninhas da America do Norte (no n.º 11 da «Fauna Norte Ame- “ricana», Washington 1896) pag. 27: «Em 1813 um naturalista 1 Extrahido dos « Zoologische Tahrbiicher » (redactor Prof. Dr. I W. Spen- gel; editor Gustav Fischer) Jena, Vol. x, 1897. * NOTA.— Desde muito se fazia sentir a falta de uma collecção dos trabalhos -que, publicados por diversos funccionarios scientificos do Museu em revistas espe- cialistas do extrangeiro, não tinham ainda sido vertidos para o idioma nacional. E” evidente que, em these, o interesse individual dos autores coincide, nesse terreno, com a utilidade publica, pois não ha negar que trabalhos versando sobre pontos da historia natural do Brazil teriam de, mais cedo ou mais tarde, entrar tambem no dominio intellectual do paiz. Tantos, porém, eram os affazeres que nos assoberbavam, que nos não pare- cia Judicioso cuidar d'aquillo que, já feito de uma maneira, pertencia, por assim dizer, ao passado, roubando um tempo já tão escasso que mal dava para se atten- der ás innumeras questões novas que tinhamos deante de nós, não obstante a orientação, distribuição do trabalho e maxima actividade com que sempre agiu o pessoal do estabelecimento. 7— (BOL. DO MUS. PARAENSE) “tuno e de harmonia com as vistas d'aquelle benemerito Governador, encarregar a -hende-se que, na presente edição, não nos foi possivel reproduzir as estampas e 196 O primeiro exemplar de uma doninha do Brazil E SA russo, o Sr. SEWASTIANOFTF, deu o nome de Mustela brasilien- sis a uma doninha levada a S. Petersburgo pelo capitão A. J. Krusenstern depois da sua viagem à volta do mundo. Dis- se-se que o animal veio do Brazil, porem não se indicou nenhuma localidade determinada. EE Nas numerosas publicações que desde então appareceram. sobre os mammiferos do Brazil e dos territorios adjacentes, nenhuma doninha se menciona como habitando aquelle paiz; e as especies descriptas das montanhas do occidente differem . tanto da brasiliensis de SEWASTIANOFF, que é quasi certo que o animal referido não veio do Brazil. A descripção origi- nal (incluindo as medidas) concorda em todos os sentidos com o Putorius frenatus de LICHTENSTEIN do Valle do Mexico, indicando que os dois animaes são identicos ». Realmente a litteratura zoologica não cita casos de do- ninhas encontradas no Brazil. Nem NATTERER, nem BUR- MEISTER, nem o principe DE WiIED, nem qualquer dos es- - pecialistas posteriores se refere a ellas; e assim se explica como é que eu mesmo ignorava a existencia de uma doninha brazileira na minha pequena obra Mammijeros do Brazil. Ne- nhum museu do novo ou do velho Mundo possue um exem- plar, cuja proveniencia do Brazil fosse positivamente caran- tida, succedendo então que a supra-citada duvida de C. Merriam sobre a authenticidade do exemplar de Petersburgo era per-- feitamente legitima. Alem d'isso, como se conclue dos bellos Diversas vezes, porém, o Ex.”º Sr. Dr. Paes de Carvalho, quando Gover- | nador do Estado, manifestára vivo desejo de ver realisada semelhante idéa, fran- queando mesmo os meios financeiros que fossem precisos além do quadro restricto das verbas do Museu no orçamento, para a publicação desses trabalhos em volume especial. Por occasião da viagem do Director do Museu á Europa, pareceu-lhe oppor- casa editora R. Friedlinder & Sobn, de Berlim, da traducção e impressão. Parece que aquella casa encontrou difficuldade, e não pequena. em obter um | traductor que satisfizesse o duplo ponto de vista do conhecimento amplo dos diver- sos idiomas e da materia scientifica sobre que versavam os escriptos. Isso retardou, mão grado nosso, o andamento do trabalho desde 1898 até o presente, achando-se porém, felizmente, a esta hora já bastante adeantado. Todavia, não querendo esperar mais para impressão em um só volume, julgamos acertado principiar a publicar, desde já, no « Boletim » do Museu a parte cuja traducção está prompta. São quatro artigos do Dr. Emilio A. Goeldi, um escripto em allemão (1897) e os tres restantes em inglez (1896-1897). Compre- figuras que acompanham os trabalhos originaes. | Pará, 25 de março de 1901. A REDACÇÃO O primeiro exemplar de uma doninha do Brazil 19% Mm escriptos do especialista dinamarquez HERLUF WINGE, não se encontraram fosseis de doninhas, mas só de martas, nas explo- rações paleontologicas de Lund nas grutas calcareas da Lagõa Santa (Minas Geraes, no sul do Brazil), não devendo portanto causar especie a falta d'essa pequena forma animal na fauna actual do Brazil. Ao contrario d'isso, na metade septentrional do conti- nente americano as doninhas estão mui largamente represen- tadas, como podemos verifical-o na citada e bem desenvolvida monographia de Merriam. Ahi se acham, para o norte do is- thmo de Panamá, nada menos de vinte e duas especies e sub-especies, que estão naturalmente classificadas e divididas em dois grandes grupos, um boreal e outro austral, segundo os seus caracteres craneanos. Alguns d'elles approximain-se da zona sub-tropical: ha mesmo uma especie que se estende desde Costa Rica até ao Norte da America do Sul (7. ajjinis GRAY); e uma outra, 2. Zryopicalis MERRIAM, habita os arre- dores de Vera-cruz e outras localidades do Mexico tropical. Da citada dissertação, assim como da totalidade do ma- terial litterario e das collecções dos museus, resulta todavia o facto clarissimo, que a população d'estas especies apresenta o seu maximo de densidade nas partes septentrionaes da America do Norte, que diminue com a approximação da zona tropical, e que os seus mais avançados peões não pas- saram alem da faixa septentrional da America do Sul. O exemplar original de 2. ajtmis descripto em 1874 por GRAY proveio de Nova Granada (Columbia), emquanto que o exem- plar observado por MERRIAM é originario de S. José de Costa-Rica. Até hoje nada pude saber dos exemplares extra- brazileiros de doninhas da America do Sul,” quer da actuali- dade, quer dos periodos anteriores. MERRIAM tambem la- menta um tal estado de coisas nas palavras seguintes: «HF muito para lastimar que os specimens das doninhas da Ame- rica do Sul não estejam disponiveis para o estudo compara- tivo com as especies da America do Norte» (ob. c. pag. 7). Eu fiquei, por consequencia, muito surprehendido quando no anno passado (no meiado de novembro de 1895) um conhecido me forneceu uma doninha ainda viva dos arrabaldes da capital do Para, (districto florestal do Marco da Legoa), d'onde foi trazida por uns trabalhadores. Ella foi sem duvida 1 Por consequencia tenho duvidas sobre as especies e sobre as fontes litte- rarias a que MERRIAM se refere na passagem citada sobre «especies descriptas das “montanhas do occidente ». 198 O primeiro exemplar de uma doninha do Brazil machucada no momento de ser apanhada, porque mostrava a região sacral paralysada e arrastava-se com difficuldade sobre as pernas trazeiras. Todavia alimentou-se e viveu alguns dias, não me sendo permittido o prazer de a vêr curada e livre de perigo. Esta doninha, agora embalsamada, possue o pello de uma côr que eu não conheço em nenhuma outra especie, e que em parte alguma vi descripta. Emquanto que o lado superior é de um bruno magnifico, o lado abdominal é côr de ocre, ! tendo comtudo exactamente na linha mediana (medio ventre) uma faixa com a côr bruna do dorso, que se estende do meio do pescoço até o pubis. A parte interior das pernas tem pelo contrario a mesma côr do ventre, talvez um pouco mais clara. ? E systematicamente importante, que os tons claros da parte inferior da cabeça só formam um ligeiro arco para cima entre os cantos da bocca e os olhos, sem o que teria nas formas o typo physionomico tão característico das doninhas norte-americanas. As côres do peito e do dorso estão, em poucas palavras, distinctamente separadas por uma linha longitudinal, que passa por debaixo das orelhas, muito especialmente na cabeça onde as duas partes adjacentes se encontram n'essa linha. No pescoço o amarello é sensivelmente mais carregado. Entre- tanto o caracter original, que só por si seria bastante bello, e que torna para mim esta doninha perfeitamente distincta entre todas as outras já descriptas do antigo e do novo mundo, consiste incontestavelmente na faixa escura que a marca longitudinalmente no medio ventre. As dimensões do corpo estão claramente indhendas nas linhas seguintes: Comprimento total 52,2 (no cadaver 49,4"). Comprimento sem a cauda 32,2m (no cadaver 29"), Cabeça até à raiz das orelhas 587m, Circumferencia do pescoço abaixo das orelhas 126 mm, Circumferencia do corpo (região inguinal) 162%, Largura da cabeça (margem anterior das orelhas) 39 "m 1 À parte inferior da cabeça tem côres muito mais claras — branco puxando para o amarello — que domina sobretudo nos lados do focinho. O amarello do lado abdominal assemelha-se mais ou menos ao das manchas do pescoço da Ga- lictis barbara. 2 E estende-se para baixo quasi até as articulações do pulso e do artelho. ', + 7 nda PECAS ET fu POP TI q ' Eca ana od e + AA dia adia RA > 0 ad Mo) e go E A, ENS OO E RD) O primeiro exemplar de uma dominha do Brazil 199 Suppondo que as medidas publicadas por LEUNIS-LU- 'DWIG representam em regra um typo medio, o nosso animal entraria, pelas suas dimensões, entre a «» com uma duzia de ninhos n'uma arvore alta, perto de duas das mais frequentadas ruas d'este arrabalde e apenas a uns sessenta passos de distancia do nosso Museu. Os ninhos em forma de sacco do Cassicus persicas são, comparados com os do Ostinops decumanos, mais curtos e mais cylindricos. Os dous specimens que eu trouxe do Amapa, em 1895, têm apenas o comprimento de 40 a 42, e a largura de 12M na parte superior, e 15 na inferior. A abertura tem a forma de estribo, e esta situada no alto: mede 15” de com- primento por uns ro” de largura. O material d'estes ninhos em fôrma de saccos consiste exclusivamente em fibras seccas das folhas da palmeira-assahy (Euterpe oleracea), que são tecidas pela ave n'uma trama de muita resistencia, de modo a ser quasi impossivel rasgal-o. E" de todos conhecido aqui o facto de serem as folhas de assahy o material usualmente empregado na Amazonia. Isto torna-se especialmente interessante para os naturalistas que se lembrarem de que o habitat do Cassicus persicus se estende para o sul até à Bahia, isto é, até uma região onde não ha a palmeira-assahy. Sabemos, pela descripção fornecida pelo principe Max. de Wied-Neuwied (Beitr. III p. 1230), que o material empre- gado por esta ave na zona costeira da Bahia consiste em fios de TZiullandsia («Barba de velho»), e em semelhantes fibras da Bromelia. Isto concorda inteiramente com as minhas obser- vações no Brazil meridional sobre o Ostinofs decumanus e o - Cassicus hoemorrhous. As fibras da Tillandsia são mais macias e de uma côr pardacenta emquanto que as das folhas de assahy são mais rigidas e côr de palha; de tal modo que os ninhos de Cassicus de origem desconhecida podem certamente revelar pelos seus materiaes se vieram do Norte ou do Sul do Brazil. A vida e o crescimento d'estas fibras de Tillandsia nem sempre são interrompidos pelo seu emprego nos ninhos: vi muitas vezes exemplos d'estas Bromelias crescendo em taes circumstancias. O principe de Wied não obteve ovos de Cassicus persicus. Se elles foram apanhados mais recentemente, não posso eu : dizel-o com as obras de que disponho. Esses ovos são de um amarello-avermelhado muito pallido, cobertos quasi regular- mente de signaes e pontos de tinta-neutra clara, em duas ade dd dos Cabides Edi e A E, te 1 x 'y fis hs er ' E PET REPRESA NA Lite PPA ] , | - É ; É tu doi Poda Da Ti ii de A cade f o i 4: hà b dt ra h "= Sobre a nidificação do Cassicus persicus, etc. 205 camadas de differente intensidade. As dimensões de dois ovos da (Guyana são:—1) grande eixo 25,5", eixo transv. Ig"; 2) grande eixo 27,5”m, transv. 18mm, Em uma carta datada de 12 de setembro de 1896, o Dr. Sclater diz-me: — «Fomos recentemente informados de que o Cassidix oryzivora é parasita do Cassicus persicus — como o Molothrus. Sabeis qualquer coisa a este respeito?» Ora, de facto sei alguma coisa d'este assumpto, e até publiquei ha alguns annos algumas observações sobre elle. * E mui sabido no Sul do Brazil que o Molothrus bona- riensis põe os seus ovos nos ninhos das outras aves, especial- mente nos do Zonotrichia pileata. O Cassidix oryzivora, seu parente mais corpulento, põe os ovos nos ninhos das aves de proporções semelhantes às suas, especialmente nos do Ostinops decumanus, e provavelmente tambem nos do Cassicus he- “morrhous. A respeito do Ostinofps não ha absolutamente duvida alguma; eu mesmo o verifiquei, e na minha collecção de aves da Serra dos Orgãos (Rio de Janeiro) estão specimens de ovos de Cassidix tirados por minhas proprias mãos de ninhos de Ostinops. Vi os ovos de ambos juntos n'um mesmo ninho, “e muitas vezes criarem-se fllhotes de Cassidix ao lado dos. seus irmãos de cauda amarella. O pequeno Molothrus tem, entre outros, o nome popular de «Parasita»; o Cassidix ory- zivora é chamado «Melro» no Rio de Janeiro, e no Norte do Brazil «Graúna» (abreviação das palavras Tupys «gui- ra Una» — passaro negro). ? Quando cheguei ao Para, fiquei surprehendido por ouvir de muitas pessoas que a «(Grraúna» tem o costume de pôr os ovos no ninho do «Japiim» (Cassius persicus). Tive assim uma interessante confirmação das minhas proprias ob- servações no Rio de Janeiro, e cheguei à conclusão de que o Cassidix oryzivora é parasita em toda a parte, escolhendo para os seus ovos no Norte e no Sul do Brazil os ninhos das respectivas especies de Cassicus que teem um, volume cor- respondente ao seu. O Cassidix oryzivora é assim um exemplo notavel da adaptação de uma ave com habitos de cuco às differentes variações locaes da fauna; estabelece um frisante parallelo com o Cassius persicus, que muda o material do À I No meu pequeno livro « Aves do Brazil», Rio de Janeiro, escripto em “1892 e publicado em 1894. 2 Todo o cuidado é pouco a respeito dos nomes populares. O mesmo nome — « Graúna » por exemplo — é usado no Brazil meridional para o 42hobus-chopi, e na Ilha de Marajó para o Amblycercus solitarius. Pac as a, N e AT RAS a CA add NS ra ALE in Ss = gu Ea E ] FrEa PINA E AS Rdni! DR > Ê PR SS ár ee RR Sae a . . Ê E sr apa TEA Cia F e F é SE 206 Sobre a nidificação do Cassicus persicus, ete. ninho de accordo com a diversidade das plantas em diffe- rentes latitudes. ! Posso ajuntar que o Cassicus dersicus fazia a postura quando estivemos em Counany, entre 11 e 26 de outubro de 1895, e que a eclosão se fez durante a nossa residencia em Amapá, desde 26 de outubro até 11 de novembro. A postura da Guyana meridional coincide com a do Pará. Sabemos pelo Principe de Wied (ob. cit. p. 1240), que elle viu, em geral, pelos fins de dezembro, filhotes nos ninhos que encon- trou no Rio Belmonte, na Bahia. Uma pequena antecedencia na epocha das posturas nas regiões septentrionaes, comparada com a dos estados meridionaes do Brazil, parece-me ser um phenomeno que em geral prevalece, e do qual tenho numero- sos exemplos. ; 2. Gymnomystax melanicterus. O. esplendido Icterideo, preto e amarello como o Oriolo, Gymmnomystax amelanicterus, chamado « Aritauá» aqui na baixa Amazonia, é um ornamento real da região dos campos de Marajó e da Guyana meridional, onde estes districtos são cortados de rios. Campos humidos e praias lodosas, alterna- damente cobertos e descobertos pelas mares, eis o sitio favo- rito d'esta ave interessante e de encantadora apparencia. Elle é muito confiado e aprecia muito as habitações humanas nidi- ficando regularmente na visinhança immediata das fazendas. O seu caracter recorda-me muito mais o dos « Vira-bostas » (Molothrus) que o dos Trupials e o dos Cassiques; frequenta 1 Exactamente como o material usado pelo Cassicus persicus nos seus ni- nhos na Bahia e no sul é differente do que elle emprega no Pará, assim tambem differe o que o Ostinops decumanus emprega respectivamente nestas duas regiões. Eu verifiquei que no Brazil meridional o Ostinops emprega exclusivamente a « Barba de velho» ( Tillandsia usneoides) e que estes ninhos são de côr parda- centa. No Amazonas o material de que elle usa, compõe-se: — 1) de uns pellos negros, muito semelhantes a crinas de cavallo, ou raizes longas e delicadas (que analyses botanicas no Museu do Pará demonstraram ser de um lichen muito inte- ressante, mas cuja determinação systematica não se poude verificar ainda); 2) de raizes seccas e molles de certas orchideas de côr amarellada. Como a proporção dºestas duas substancias é quasi de dois para um, e como | um Jichen negro semelhante a raizes é o que mais predomina, o aspecto geral destes ninhos em forma de sacco no norte do Brazil é o de um tom escuro, con- trastando sensivelmente com os ninhos acinzentados tecidos de Zillandsia do sul do Brazil. Sobre a nidificação do Cassicus persicus, etc. 207 as fazendas, onde a miudo se occupa com o estrume do chão, permanecendo alli durante quartos de hora, tal qual o estor- ninho europeu. Disseram-me ha pouco tempo que a quantidade d'elles augmenta com o desenvolvimento da criação de gado e a seguem de perto, surgindo em logares onde ainda não tinham sido vistos, como por exemplo no Municipio de Mazagão e no canal septentrional do estuario do Amazonas. Quando vôa grita cwwrég-krég ; quando está de bom humôr ou poisado perto do ninho, emite um canto semelhante a ting-ting-wrég-wrég-gri-gri; é, em poucas palavras, uma ave que não póde passar desapercebida aos visitantes das fazendas de Marajó, porque se torna conhecida tanto pela apparencia como pela voz. O Dr. Sclater escreve no vol. x1 do «Catalogue of birds in the British Museum» p. 361:— «Este typo notavel tem sido muitas vezes reunido às Ageleinee. Porem o seu culmen ligeiramente recurvado e o mesorhinio lineiforme justificam segundo julgo, a sua classificação nas Ieterineas, com as quaes se assemelham no estylo da plumagem, e tambem, creio eu, nos habitos e no modo de nidificar ». Como não encontrei nada publicado sobre a nidificação do Gymmnomystax, e como o Dr. Sclater teve a bondade de me informar da ausencia de quaesquer observações authenticas a este respeito, eu fiz todos os esforços possiveis para preencher esta lacuna. Fallando francamente, eu durante muito tempo fui da mesma opinião no tocante à posição correcta do Gymnomys- “tax. Fiquei porém um tanto na duvida, quando observei o seu modo de vida semelhante ao do estorninho ou do o- lothrus; e os resultados das minhas observações nos ultimos dois annos, quanto à nidificação d'esta ave, indicam a posição anomala e mesmo excepcional do Gymmnomystax no grupo Icterineo. Possuo dois ninhos do « Aritaua» ambos da ilha de Marajó. O primeiro foi presente de um amigo, e apanhado em dezembro de 1895 nas suas grandes fazendas; o segundo apa- nhei-o eu proprio durante uma recente viagem à mesma loca- lidade, Cabo Magoary, em agosto e setembro de 1896. Estes ninhos são abertos e têm a forma de um alguidar, semelhando o de certos tordos, e differindo essencialmente dos saccos do Óstinofps e do Cassicus, taes como eu o conheço, e de outras construcções das Icterineas que se veem estampa- das em muitas obras de ornithologia. O seu material consiste de folhas de herva, inteiras ou rasgadas longitudinalmente, 208 Sobre a nidificação do Cassicus persicus, etc. raizes finas e fragmentos de pequenas trepadeiras. * Não ha forro macio. | - O segundo ninho, que eu proprio apanhei na Fazenda Livramento, estava na bifurcação de um ramo, e bem escon- dido na folhagem da copa de uma «morcegueira> (Andira sp. inc.) a uns 8 ou 107 do chão. À arvore não distava mais do que trinta passos dos edificios centraes da referida fazenda, no terreiro e no meio de um continuo vai-vem de homens, cavallos e gado bovino. Comtudo o « Aritauá» é muito pru- dente na visinhança do seu ninho, e quando se julga obser- vado, não se approxima d'elle facilmente. A descoberta d'este ninho é devida só a uma espera paciente, por algumas horas, num canto occulto. A: respeito dos ovos da Gymnomystax, fui um tanto infeliz. Os ovos, que me foram enviados conjunctamente com o primeiro ninho, chegaram quebrados, e não pudéram ser medidos. Os fragmentos mostram comtudo uma superficie branco-azulada, com grandes manchas escuras e irregulares; dão-me idéa de alguma semelhança, em menores dimensões, com o ovo figurado por Thienemann como do Zcterus crista-. tus (Abbildungen von Vogeleiern, pl. XXXvil fig. 7). O. segundo ninho continha no dia da minha chegada a Livra- mento (28 de agosto) tres filhotes, com que me não impor- Quinze dias depois, quando voltei a este local, achei o ninho vasio e os passaros ausentes. 3. Todirostrum maculatum. Parece que desde o Principe Maximiliano de Wied nin- guem mais escreveu sobre os habitos da postura de qualquer membro do genero Todirostrum, que pertence aos typos me- nores das Platyrhynchinae sub-familia das Tyranninse. O prin- cipe escreve (Beitr. III p. 967) a respeito do ninho do 7. poliocephalum :— «Um tal ninho, que achamos na visinhança do rio Parahyba n'uma alta arvore de Gameleira (Ficus) — e que foi-me affirmado ser esta ave o seu architecto — era 1 As raizes finas com nodulos delicados, que se vêm perfeitamente na pho- tograpbia, e que representam uma parte importante n'este ninho, são as da inte- ressante planta aquatica, Marsilia polycarpa, Hooker et Grev., sendo os nodulos macro-sporangia. A trepadeira empregada em ambos os ninhos é uma das Cucur- bitaceas. Devo esta informação ao meu collega, Dr. J. Huber, botanico do Museu do Pará. — E. A. G. Sobre a nidificação do Cassicus persicus, etc. 209 construido de lã vegetal, com a forma ellipsoidal, fechado pela parte de cima, e tendo na frente uma abertura muito pe- quena para a entrada da ave; elle figurará nas Gravuras da minha Historia Natural do Brazil». O Todirostrum maculatum — ave vulgar, e hospede diario dos jardins do Pará — é muito conhecido por todos sob o nome trivial de «Ferreirinho». Rara sera a hora do dia em que se não ouça o canto característico d'este passarinho, que esta sempre bulindo no meio da folhagem sombria das arvores de fructa. O seu canto póde ser imitado por meio das syllabas tst-tsirida-tsiridi-tsi-tsi, e compara-se ao mesmo tempo com o som produzido, quando se dá corda a um relogio. Em fevereiro de 1896 descobri um ninho no jardim do nosso Museu, a dez passos apenas de distancia do edificio. Estava perto da extremidade de um pequeno ramo de um pe de abio (Lucuma caimito) a uma altura de sete metros pouco mais ou menos, e muito bem escondido, porém collocado mais para o centro do que para o lado de fóra da copa da arvore. O ninho, é construido em forma de sacco, tendo a entrada por um buraco lateral, pequeno e circular, guarnecido de uma tampa protectora. O material consiste essencialmente de fibras de folhas de palmeiras (coqueiro e «inaja») e peda- cinhos de palha. Muitas d'estas fibras pendem negligente- mente até a uma distancia egual ao comprimento do ninho, que se pode chamar muito grande comparado com a peque- nez da ave, certamente um dos typos mais miudos dos Ty- rannideos. À parte superior, com a ligação ao ramo, tem a forma de um chifre alongado. Observando que o «Ferreirinho» estava chocando, resol- vi-me a apanhar o ninho e o seu conteudo em 22 de fevereiro. Obtive o macho, a femea e os ovos, dois, que ainda estavam frescos. Os ovos mediam: — 1) 16mm no grande eixo e 11,1 MM no transv.; 2) 16,5”"m no eixo maior e 11,5 no transv. O ponto de intersecção dos dois eixos estava a 6"m de distancia do polo chato. A côr do fundo é o branco puro, que toma porém um pallido tom rosado por ter um grande numero de pequenas e delicadas pintas côr de rosa. São miudos e frageis, porém bem proporcionados às dimensões da graciosa avesinha, “genuino Tyranno liliputiano, com uma estria branca, Julgo que esta era a segunda postura, e que a primeira, E Parece que esta promessa ficou sem cumprimento, porque no meu exem- plar das Gravuras não ha estampa que se refira ao citado ninho. 210 Sobre a mdificação do Nyctibius jamarcensis, etc. correspondente aos mezes de setembro a novembro, escapou provavelmente à minha attenção. Nunca vi no Para outra especie do Zodirostrum senão o 7. maculatum; achei porém na ilha de Marajó outra que se distingue facilmente por ser inteiramente amarella na parte inferior. Julgo que seja o Zodirostrum cinereum, figurado por Spix (Av. Brazil. pr. IX fig. 2) sob o nome Zodus me- lanocephalus. Outubro, 1896. II Sobre a Nidificação do Nyctibius jamaicensis, Urutáo e Sclerurus umbretta, Vira-folha E Pelo Dr. EMILIO A. GOELDI, C. M.2Z.sS. DIRECTOR DO MUSEU DO PARÁ 1. Nyctibius jamaicensis. A historia da vida dos gigantescos Caprimulgos que formam a sub-familia dos Nyctibineos não está ainda suffi- cientemente esclarecida. Mesmo em 1892 o Sr. Hartert, es- crevendo a parte do utilissimo «Catalogue of Birds in the British Museum» que se refere a familia Caprimulgida, observou que «muito pouco se sabe a respeito dos seus ha- . bitos ». A sub-familia consiste em um unico genero, com seis especies, todas neotropicaes (Nycitius bracteatus, N. leucof- terus, N. jamaicensis, N. longicaudatus, N. ethereus e N. grandis). D'estas seis especies encontrei no Brazil só tres, que são: Nyctibius jamaicensis e N. ethereus nos estados da costa meridional (Rio de Janeiro), e N. grandis na região do Amazonas (Marajó) e nos limites da Guyana (Counany, Amapa). O Sr. Hartert, que eu julgo bem informado sobre . todas as publicações ornithologicas, antigas e novas, cita notas 1 Extrahido de Zhe 7bis de julho de 1896. Sobre a midificação do Nyctibius jamarcensis, etc. 211 sómente sobre a nidificação do N. ethereus e do N. grandis; outra auctoridade é, segundo parece, Kcenig-Warthausen, no «Journal fúr Orthinologie» de 1868. Infelizmente eu não possuo esta obra. Thienemann, no seu trabalho «Fortpflanzungsgeschichte der gesammten Vógel» (1845-56), representa, na estampa XLII fig. 20, o que elle chama um ovo da N. athereus, porém o volume do texto, que deveria dar-nos algumas in- formações sobre a authenticidade d'aquelle objecto, nunca foi publicado, segundo creio. Burmeister, no seu «Systema- tische Uebersicht> (1856, vol. II pag. 375), escreve que elle recebeu um ovo da NY. grandis de Beske, um colleccionador que então vivia em Nova Friburgo (Serra dos Orgãos, Rio de Janeiro). Este ovo foi descripto no «Journal fir Ornitho- logie» de Cabanis (vol. 1 pag.-169); mas Burmeister confes- sou-me depois pessoalmente as suas duvidas sobre muitas identificações feitas por Beske * e, no estado actual da questão, julgo que não ha certeza alguma sobre se o referido ovo era realmente da NY. gvandis ou de qualquer outra especie de Nyctibius. Burmeister (Th. Bras. II pag. 375) diz que estes ovos da N. grandis — dando-nos assim a entender que havia pelo menos dois — estavam collocados no ôco de um tronco aberto, “sem mais preparação. Tratando do N. cornutus (= N. jamai- censis), o mesmo escriptor diz (00. cit. pag. 377) O seguinte: «Conta-se que esta ave não constrõôe ninho, porém fixa os seus ovos aos troncos das arvores por meio de um fluido viscoso, e que os filhotes ficam em cima da metade fixa da casca do ovo até que possam voar. Porém o amigo de Azara, Noseda, achou o verdadeiro ninho no buraco d'uma arvore, com dois ovos salpicados de castanho ». Como acima disse, en- contrei o NY. jamainensis e o N. ethereus no sul do Brazil, sendo aquelle, que é uma pequenina especie, muito mais com- mum do que este: pelo menos assim succedia na Serra dos Orgãos. Na minha propria collecção, feita na Colonia Alpina, perto de Theresopolis, durante os annos 1891-94, 0 N.amai- censis é representado por uma meia duzia de specimens, e Z Isto me recorda o que escrevi sobre a Didelphys alboguttata (P. Z. S. 1894, pag. 466). Eu convenci tambem a Burmeister de que elle tinha misturado muitas lagartas e borboletas alcançadas em Nova Friburgo, que elle identificou sob a auctoridade de Beske, descrevendo-as e estampando-as na sua obra « Lépi- doptéres de la République Argentine». s—(zoL. DO MUS. PARAENSE) o N. ethereus por um apenas. Ambas as especies são mais ou menos russas, porem facilmente distinguíveis, e não no perigo de confusão sobre a sua classificação. Em certos mezes ouve-se na Colonia Alpina, durante a noite inteira, gritar o N. jamaicensis, a que os naturaes do. paiz chamam «Urutão», como aliás a todas as especies do “grupo. O seu «» de Sharpe e Wyatt. Vimos tambem garças nocturnas, socôs e pavões do Pará (Lurytyga helias); por toda a parte se ouvia o pequeno «Anú» (Crotophaga Ami) nas tabocas e jardins por detraz da aldeia. Um rapaz trouxe-nos quatro ovos de Cassicus persicus. “Resultados ornithologicos de uma viagem, etc. 221 Em 14 de outubro visitamos outra floresta situada mais a oeste da aldeia de Cunany. Ahi descobrimos em poucos minutos uma fructeira, onde observamos um continuo vai-vem de muitas boas aves, pequenas e grandes. Jogo caçamos o Rhamphastos em ythrorh ynchus, o grande «Tucano de peito branco », dois exemplares de Monasa nigra, o «Tangurú- pará», um picapau novo para nós, Celeus elegans, similar à forma do Pará, C. jumana; Tityra cayana, e um «Surucuá » de peito amarello (Trogon), infelizmente em mau estado. Voltando a casa tive o grande prazer de encontrar um raro Formicario de um negro d'ardosia, com uma risca branca sobre os -olhos (Zypocnemis lewcophrays).* De manhã e de “tarde ouviamos sempre nas florestas visinhas o grito estri- dulo d'uma especie de « Aracuã» (Ortalis) e o som singular do jacamim (Psophia): Os caçadores indigenas disseram-me que esse era o «Jacamim de costas cinzentas» isto é Psophua crepitans, representado no Para pela especie de azas casta- nhas (P. obscura). No dia seguinte fomos caçar de novo na visinhança do «Igarapé de Hollanda». Alem do Tucano de peito branco, Tityra cayana, e da Monasa migra, que vimos frequentemente, encontramos por toda a parte o «Cri-cri-ó» (Lathria cine- racea), uma ave muita nossa conhecida como uma das mais salientes figuras nas humidas florestas de «igapó» do Pará e da baixa Amazonia. O seu nome indigena é onomatopaico, porem o seu grito estridente seria melhor imitado pelas syl- labas Ju-hu-qui-guiu! (Observamos tambem diversos peque- nos Piprideos (Cluromacheris e Pipra), um Bucco de vo- lume mediano (parecia ser B. tamatia) num tronco secco; bandos da Pipira vulgar do Para (Rhamphocelus jacapa). Caçamos um adulto da Zctimea plumbea e muitos « Tanguru- para» (Monasa migra) apezar da lenda Amazonica que o - reputa encantado, e recommenda não matal-o, porque, se o caçador o tenta fazer, será infeliz, e provavelmente a espin- garda rebentara! Obtivemos um membro dos Formicarides muito interessante (Mirmeciza cinnamomea), que nunca en- contramos no Pará: uma ave côr de chocolate escuro, com a “1 Um exemplar d'esta especie foi identificado pelo Dr. Sclater para mim e aproveito esta occasião para observar que estou muito obrigado à este ornithologista pelo seu constante auxilio na classificação e na verificação dos materiaes e das col- lecções feitas no Brazil —E. A. G. 2 O Dr. Sharpe (B. M. C. xxII. p. 281) reuniu esta especie com a Ps. viridis, porém não estou de forma alguma convencido de que isto seja correcto. E E CARE, 222 Resultados ormithologicos de uma viagem, etc. garganta e o peito negros, marginados de branco, e tendo duas filas de manchas de amarello claro debaixo das azas. Achamos esta linda ave perto do chão n'um dos mais escuros e intrincados recantos da floresta. Observamos n'algumas laranjeiras dos jardins uma ma- gnifica Coreda, ainda não completamente azul. O meu caçador paraense, que me accompanhou n'esta excursão, fez-me n'esta mesma tarde uma agradavel surpreza com o presente de um specimen do Falco rujfigularis,* a celebre «Cauaré» do povo Amazonico, que attribue a este elegantissimo e rapido fal- cão muitas qualidades extraordinarias, que referirei n'outra occasião. Voltando no dia seguinteea mesma localidade fiz quanto pude para apanhar um exemplar da Ara hyacinthina, mas ainda sem resultado, porque estas aves intelligentes, embora gritem altissimo quando estão sosinhas e sem observador, con- servam-se perfeitamente quietas quando roem os fructos du- ros nalguma arvore gigantesca. Por outro lado, fiquei um tanto indemnisado por ter occasião de ver os graciosos exer- cicios da Chiromacheris gutturosa. Esta dança é quasi a mes- ma da Chiroxiplia caudata, que ja observei e descrevi. Ao longo do rio vi tambem alguns specimens do abutre com- mum, Cathartes foetens; gostei muito de ouvir quasi todas as manhãs e tardes o canto do «Uru» (Odontophorus guya- mensis), a perdiz da Amazonia, representada no Brazil meri- dional pelo O. dentatus, chamado «Capoeira». O filho de um dos nossos visinhos trouxe de uma caçada um specimen do « Aracuã» ( Ortalis motmot), e um d'um grande Zinamas, designado pelos indigenas «Inhambu-serra> e pelo meu ca- çador paraense «Inhambu-toro ». No aspecto geral e nas es- camas em forma de serra da face posterior do tarso elle pa- rece-se com o 7. solitarius, e não duvido que este exemplar pertencesse a essa especie; infelizmente os specimens estavam em muito mau estado para poder-se aproveitar as pelles. Todas as noites ouvi caprimulgos ao redor da aldeia: o pio era o do Nyctidromus guyanensis. Os dias 17 e 18 de outubro foram dedicados a uma exploração no lago «do Tralhoto», que se vê indicado em todos os mappas geographicos, mas cujas extensão e situação exactas são desconhecidas dos proprios habitantes do Cunany. Não entrarei na descripção minuciosa d'esta difficil jornada 1 [ 7. albigularis, Sharpe, B. M.C. I. pag. 401. Porém cf. Gurney, 7b7s de 1882, pag. 159 sobre este nome. —P. L. S.] f =» aa À ; a pá v à, ' ) A + indi io DÊ paid dd cd À ci SA A O a + Resultados ornithologicos de uma viagem, ete. 223 atravez de florestas e savannas, porque ha muito pouco a dizer sob o ponto de vista ornithologico. Depois de uma mar- cha terrivel de mais de oito horas por pessimas picadas e atravez de savannas litteralmente ardentes sob o sol quente da Guyana, chegamos ao mysterioso lago e, embora derrea- dos, não resistimos ao exame immediato d'esta maravilhosa bacia de agua dôce. E um verdadeiro Eldorado para um caçador. Nunca encontrei logar em que os animaes mostras- sem uma tão completa ausencia de medo do homem, n'um verdadeiro estado paradisiaco, como aqui, à beira d'este des- conhecido lago no meio da floresta, que é provavelmente o mais meridional de uma serie de lagos semelhantes, distribui- dos na região inexplorada, entre as boccas dos rios Cunany e Cassiporê. As Aráras azues poisavam a cada instante, em bandos de quatro a seis, nas magestosas palmeiras-mirity da margem opposta. Vimol-as chocando em buracos d'estes tron- “cos altos, onde a ave desde longe é trahida por sua enorme cauda, para a qual o buraco não offerece naturalmente es- paço bastante. Um grande numero de papagaios e periquitos estavam tambem chocando em logares semelhantes: aquelles, como as Araras, nos buracos dos troncos das palmeiras; estes principalmente nas covas dos ninhos das formigas brancas. Cegonhas, garças, arirambas e mergulhões, animavam a vege- tação de um modo surprehendente e maravilhoso. Além d'es- tas aves aquaticas havia um numero incrivel de ciganas, pom- bos e aves mais pequenas de diversas especies, emquanto que os guaribas e os macaquinhos-de-cheiro olhavam espantados para as nossas canôas. Em menos de uma hora tinhamos uma boa collecção e foi-nos realmente difficil escolher o que se devia reservar para a sciencia, e o que se devia mandar para a cosinha. Para o primeiro fim escolhi, depois de alguma reflexão, cinco spe- cimens de Agamia agam, uma garça magnifica muito visinha da nossa européa Árdea furfurca, porém colorida ainda com maior riqueza, e especialmente notavel pelas maravilhosas pennas da cabeça e pelo bico enormemente comprido. Tinha- mos entre os exemplares d'esta especie trez adultos machos, uma femea, e um pequeno macho —todos caçados n'um quarto de hora. Separei tambem dois bellos typos de Plotus anhin- £2, que mostravam nuanças interessantes de plumagem, alguns de Phalacrocorax brasthanus, e dois ou trez de Gal- bula viridis, que encontrei pousados com toda a confiança perto da cabana primitiva de um pescador de pirarucú. Mui- tas das Aráras azues e varias boas aves aquaticas tinham 224 Resultados ornithologicos de uma viagem, ete. Epner sido roubadas pelos jacarés que, em grande numero, habita- vam o idyllico lago. Até alta noite toda a nossa gente, capaz . “de ajudar no serviço taxidermico, esteve muito occupada. Como um grande numero de pelles ficavam incompletas, ex- perimentei a applicação do acido salicylico nas partes carnu- das das azas e das pernas e, devo dizel-o, com excellentes. resultados. Todas estas pelles chegaram perfeitamente con- servadas a Cunany no dia seguinte, e foram acabadas de. preparar com vagar a 19 e 20 de outubro. j A differença entre o grito do Rhamphastos erythrorhyn- chus e os do R. ariel e do R. discolorus é extraordinaria: é particularmente suave, quasi melodioso, e póde ser soffrivel-. mente interpretrado pelas syllabas Ziwu-tiw-fii-fai-fi. O tucano | de peito branco limita-se as margens dos rios e às florestas: humidas de «igapó»; não será encontrado nos logares distan- tes da agua. A Monasa migra, o «Tangurú-pará», canta ho- tui, ho-tiii, continuamente. Os dias 21 e 22 de outubro foram empregados n'uma exploração do curso superior do rio Cunany. Foi uma viagem de canôa realmente fecunda e instructiva, que nos deixou uma impressão profunda da riqueza da flora e da fauna d'esta região, assim como da belleza da paizagem. Aqui a agua, em vez de barrenta e suja, é clara e transparente; em logar de deslísar imperceptivelmente, salta garrula sobre as nume- rosas cascatas formadas pelas barreiras de granitito, que interceptam o leito do rio, e que formam, à medida que avançamos, obstaculos cada vez mais graves à navegação, Distingue- se facilmente uma ee ço de bonitos peixes de agua dôce, taes como «matupirys> e «acaras» nadando em redor e por debaixo da canôa; a PRC magestosa floresta de ambas as margens echôa com as vozes das mais bellas, interessantes e raras aves. : se Aqui encontramos muitos urubus de cabeça amarella (Cathartes wrubitinga) e muitas especies de grandes e pe- . quenas aves de preza, como Zctinia e outros falcões. Em algumas das arvores gigantescas, taes como as «Sumaú- mas», observamos grupos encantadores de tucanos ( Rham- phastos vitellimus), que aqui são mais abundantes que o À, erythrorhynchaus de peito branco; papagaios (como o C/yay- sotis Jarinosa, o «Moleiro» que é muito commum); Ostinops. e pombos de diversas especies, algumas vezes reunidos a gruas des ou pequenas familias de guaribas. De Ostinofs notâmos um bando talvez de mais de trinta ou quarenta individuos. Tivemos tambem occasião de verificar 225 aqui muitas vezes a intelligencia d'estas aves Cassicinas em escolherem, para as suas colonias de ninhos pendentes, as extremidades dos ramos vigorosamente defendidas por gran- des vespeiras. No Brazil, como na Guyana, os habitantes con- tam que estas aves, quando atacadas, vôam intencionalmente sobre a vespeira, afim de dirigir a ira dos seus alliados sobre o Inimigo commum, seja elle homem ou animal carnivoro. Os Ostinops, quando em grupo e de bom humôr, cantam de um modo brilhante, só comparavel ao toque das campainhas das cabras ouvido nos Alpes da Suissa. As araras azues foram vistas muitas vezes voando sobre o rio de uma para outra margem. Ao longo do rio notamos entre as aves aquaticas uma pequena Zringa, a mesma que já citamos, geralmente em grupos de dois a quatro, fugindo à approximação da nossa canõa, com um melodioso Z-fz, Ji-fi. Ora uma garça branca (A. candidissima), ora uma garça azul (4. coerulea), e de “tempos a tempos uma Ibis escarlate //b1s rubra) eram encon- tradas. Os arirâmbas, o grande Ceryle torquata, foram com- panheiros constantes, geralmente poisados n'algum ramo sa- liente, e sendo os primeiros a dar o signal de alarme com o seu grito estridente, 47ch, kreh, kreh. Estimei muito notar aqui, além das quatro especies de Ceryle espalhadas por todo o Brazil, uma quinta especie, embora pouco commum, o Ceryle inda (sive bicolor). As duas andorinhas ja mencionadas — Tachycineta albr- ventris e Atlticora fasciata —são muitos frequentes. Algumas vezes se vêem ao mesmo tempo individuos de ambas as es- pecies; porém em geral viamos primeiro uma, e momentos depois a outra. Segundo julguei, a Atticora fasciata procura logares especiaes, onde haja praias elevadas ou bancos de terra altos. N'esses logares os bancos eram cheios de pe- quenos buracos, provavelmente feitos pelas arirâmbas e pelas andorinhas das praias. * '* Depois de um dia de navegação rio acima, chegámos à «Cachoeira Rasa» uma barreira granitica de patamares successivos estendendo-se por quasi um kilometro, e portanto um obstaculo serio para uma canôa. Aqui está a ultima resi- dencia humana, e o limite entre o curso conhecido e o inex- plorado do Cunany superior. Não estando sufficientemente preparado para uma exploração além d'esta cascata, tive de TI Estou convicto de que a Atticora fasciata estava alli chocando, e n'aquella estação. Vide a « Monograph of the Hirundinidoe » de Sharpe e Wyatt, pag. 495. 226 Resultados ormithologicos de uma viagem, etc. parar ahi, e fui obrigado a retroceder no dia seguinte. Porém este logar muito interessante forneceu-nos na mesma tarde muitas aves novas para nós. Dois pombos —a magnifica Co- tumba speciosa, talvez a mais brilhante das especies sul-ame- ricanas, e a Columba rujfina — eram alli numerosissimos. Descendo o rio na manhã seguinte, fiquei encantado com um bando de Deroptyus accipitrinus, o papagaio de colleira. chamado «Anacã» uma das formas mais exquisitas dos psit- tacineos do Novo-Mundo, lembrando o Kakatua australiano. Tudo é aberração n'esta ave, até o seu grito, que é um vigo- roso fid-kid-hrd-gria-giii-giir, differente do de todos os outros papagaios neo-tropicaes. Julgo que é esta a primeira vez que se aponta esta especie nas costas da (Guyana meridional, N'uma outra cascata, logar realmente notavel pelas Podosto- maceas, especialmente pela esplendida Mouwrera fRuviatilas, colleccionamos exemplares de Zuryfyga helias e de Aramus scolopaceus. Em 24 de outubro, o vapor « Ajudante» largou do nosso quartel-general do norte, Cunany, e trouxe-nos a Amapa de- pois de uma viagem um pouco agitada costa abaixo. Em Amapá passámos outros quinze dias. As minhas recordações d'esta região pantanosa, infeliz e pestilente, são muito desa- gradaveis. Hebres malignas atacaram os meus companheiros um a um; de todos'seis só eu tive a felicidade de não ser atacado. Embora a maior parte d'elles recuperasse a saude a pouco e pouco até ao fim da nossa estada, eu fiquei seria- mente embaraçado na execução do nosso programma, e as minhas investigações zoologicas soffreram tambem. Lamento-o tanto mais, quanto esta região é interessante sob o ponto de vista ornithologico, podendo chamar-se muito rica de aves aquaticas. A aldeia de Amapa esta distante da costa uns 70 a 80 kilometros, e situada sobre a margem direita do «Igarapé do Campo», um afluente do «Amapa pequeno» e n'um logar, que foi, como descobrimos, um antigo cemiterio dos Indios. Em frente está o rio, com a largura pelo menos de 30m porém sempre impraticavel, mesmo para canôas, durante a maior parte do dia; de ambos os lados, à direita e à esquerda, extendem-se interminaveis florestas de «siriuba» misturadas com «aningas», quentes, pantanosas, e habitadas por myria- des de mosquitos furiosamente aggressivos. Por detraz da. aldeia extende-se por um kilometro ou dois uma floresta secca, | onde se poderiam fazer collecções resoaveis se os mosquitos fossem menos numerosos, e se os caminhos não estivessem à PRENDA TT ' 7! A E a ENE DT ra fan La dC he 4 + RR Resultados ornithologicos de uma viagem, etc. 227 semeados de armadilhas de tiro para apanhar as cutias e pacas. A entrada desta floresta é um pouco menos densa, e tem o nome mais promettedor de «bosque ». * Todos os dias, de manhã e à tarde, eu visitava o «bosque» e a contigua borda da mata. Observei regularmente e collec- cionei alli exemplares de Zbycter chimachima, Asturina ma- guarostris, Chrysotis amazonica, Brotogerys virescens, Bucco tamatia, Galbula viridis, Ceophleus lineatus, Chrysoptilus punciigula, Celeus favus, Dendrobates sp. ind., Saliator su- percihiaris, Turdus albiventris, T. gymnophtalmus, Thryopla- lus lewcotis, Thamnophilus doliatus, Attila thamnopluloides, Formicivora grisea, e Glyphorhynchus cuneatus. Vi tambem a delicada Polzopíila bujfoni, Lathria cineracea, e um Tro- gon de peito amarello, sem apanhar-lhes as bôas pelles. Entre as presas favoritas dos caçadores indigenas E aves, notei muitas vezes o Rhamphastos erythrorhynchus e Ortalis motmot. Todas as noites, especialmente nas de luar, se ouvia o grito do Nyctidromus guyanensis nas estradas em redor da aldeia, e o do Nyctibiws grandis no siriubal. Fallaram-me uma vez de alguns specimens de Vancllus cayennensis, que esta- vam n'uma plantação muito perto da aldeia. À unica especie viva inteiramente nova para mim foi o Zurdus gymnophtal- mus. Eu nunca tinha visto antes o «Tordo de olhos pella- dos» e duvido que elle tenha sido observado em qualquer região ao sul de Trinidad e Cayenna. O espaço pellado em redor dos olhos é amarello em vida; é impossivel confun- dir este tordo assim caracterisado com qualquer outra especie neotropical. A todo o instante, ainda durante as horas mais quentes do dia, vi e ouvi, nas laranjeiras da aldeia, grande numero de aves communs, que se encontram no Para nas mesmas circumstancias, taes como a Zilyra cayana, Todirostrum ma- culatum, Myiodynastes audax, Empidonomus varius, Myopa- tis senufusca, Myozetetes sulphureus, M. similis, Tanagra epis- copus e Rhamphocelus jacapa. Nas palmeiras assahy, nas bananeiras e nas siriubas ao longo do rio, poisavam a .Sge7- moplala albigularis, emittindo o seu melodioso f-j-fi, e um ou mais individuos do Ostinofus decumanus; alem de bandos do sempre buliçoso e cantador Cassicus persicus, de que havia uma colonia numerosa n'uma alta siriuba perto do porto. De tempos a tempos via bandos do Brotogerys virescens, o so- ciabilisssmo «Periquito estrella» tão vulgar em toda a baixa Amazonia e na (Guyana meridional. Comtudo a ave que g— (BOL. DO MUS. PARAENSE) 228 Resultados ormithologicos de uma viagem, etc. mais me interessou foi o Pachynus brachywrus, um papagaio de rabo curto, verde e corpulento, do qual vi (a 30 de ou- tubro) um bando de uns vinte individuos poisados n'uma siriúba. Infelizmente só apanhei um exemplar d'esta especie, que não se acha nas visinhanças do Pará, como o sei muito bem depois de tres annos de residencia. De manhã e de tarde ouvimos muitas vezes na visinha «aninga» o canto da «Saracura» — um Aramides, prova- velmente 4. chiricote—e durante as horas da maré baixa passeavam sempre no lodo de ambas as margens garças brancas e guaras, alem do abutre commum, o «Urubu» (Ca- thartes Jfetens). Entre as andorinhas observamos Progne chalibea e P. tapera na aldeia. e Tachycineta albiventris no rio. A 4 e 5 de novembro fizemos uma excursão altamente interessante ao «Lago grande do Amapa». Largando da al- deia de Amapa, de manhã, n'um grande bóte, tranformado ad hoc numa «igaritê» do Amazonas, entramos no «Rio dos Bagres» e atravessamos o vasto lago durante essa mesma tarde. Guaras, Mergulhões (Phalacrocorax brasilzensis), Cararas (Plotus anhinga) e garças azues e brancas, eram numerosos a beira do rio. Eram abundantissimas duas pequenas aves aquaticas, que formavam nuvens de milhares de individuos. Uma d'ellas era um pequeno Maçarico (segundo julgo Zrimga amanutilla), o outro uma pequena mas linda Tarambola das praias (certamente Lgialitis semipalmata). Darei uma idea da sua multidão dizendo que apanhamos cento e oitenta e dois individuos destas duas especies só com sete tiros, além do numero dos feridos que escapuliram. Maçaricos, tarambolas e leite, foram os nossos unicos artigos de dieta durante estes dois dias. | Atravessando o lago, que é excessivamente baixo, e semeado de recentes ilhas de cannarana, ficamos surprehen- didos do numero incrivel de patos bravos (Dendrocygna discolor, * D. viduata, e Cairina moschata) que vimos. Gar- ças brancas havia alli aos bandos; e as garças azues, Colhe- reiros (Platalea ajaja) e « Magoaris» (AÁrdea cocor) eram por. nós «espantados a cada momento. Além d'estes levantavam-se bandos de trinta a quarenta guarás de toda a qualidade de 1 Tenho materiaes para uma noticia especial sobre a nidificação do D. disco- lor ; julgo que a sua publicação será de interesse para os ornithologistas, porque a distincção especifica do D. discolor e do D. autumnalis só se tornará certa, pela elucidação de toda a historia da vida de ambas as especies. — E. A. G. “ Resultados ornithologicos de uma vagem, etc. 229 plumagens, andando os adultos e inteiramente vermelhos, em geral, separados dos mais novos e de plumagem escura. As margens do lago eram guarnecidas por uma larga grinalda de lyrios aquaticos (Nymphea rudgeana), habitada por muitas familias de Parra jacana. Não foi facil passar com o bóte atravez d'esta cinta de folhas, e foram precisos todos os nossos esforços unidos, durante horas de trabalho, para avançarmos uma distancia directa de poucos kilometros. Era quasi noite quando chegamos ao sitio de um dos nossos guias e barqueiros: dois ranchos cobertos de folhas de palmeiras. Impressiou-nos a semelhança da paizagem ao redor d'este «sitio» com a da região dos campos nas partes orien- tal e septentrional da ilha de Marajó, e com os caracteres physicos do interior da Mexiana, taes como os descreveu Wallace. As aves offerecem numerosas semelhanças de pa- rentesco. Milhares de patos bravos voavam a alturas differen- tes sobre as nossas cabeças, procurando voltar aos caniçaes das margens do lago. Alternando com os patos bravos, passa- ram bandos do grande «Passarão» (Zantalus loculator), de Guaras e Colhereiros, collocando-se geralmente estes dois em forma de cone. O Pato bravo almiscarado (Carina moschata) é vulgar n'esta região; no tempo da muda, «desaza», até specimens adultos são frequentemente apanhados pelos va- queiros, que gostam de empregar os cães n'este serviço. Do mesmo modo elles obteem, durante o chõco, lotes de pequenos Dendrocygna e de Querquedula brasiliensis, chamada « Ana- nahy» tanto no Pará como em Marajó. Fui informado de que o «Flamingo» (Phenicopterus ignipalhiatus) é frequente na região dos pantanos e dos lagos da Guyana meridional, especialmente no Cabo do Norte, entre a bocca do Araguary e Maracá, e que elle chóca alli; porém durante a minha resi- dencia em Amapa não observei um só. Nos caniçaes obtive Donacobius atricapillus, aqui chama- “do «Batuquira», e muitos exemplares de Mimantofus mexi- canmus, Totanus melanoleucus, T. flavipes, e Charadrius vir- gumants, aves aquaticas bem vindas à nossa collecção. As gaivotas não eram muito numerosas nem representadas por muitas especies diversas, porém trouxe d'este logar um spe- cimen da Sterna aranea. Gostei muito de encontrar nos baixos campos de herva por detraz do «sitio» o esplendido Lezstes guyanensis com o seu brilhante peitoril carmezim: elle é chamado «Tém-tém do Espirito Santo» ou «Policia Ingleza», igualmente, em toda a baixa Amazonia. No mesmo logar observei o vulgar 230 Resultados ormithologicos de wma viagem, etc. « Vira-bosta » (Molothrus atro-mitens), e a elegante e encan- tadora Pomba-dos-campos (Uropelia campestris). A Zenaida maculosa abundava nas raras arvores, baixas e deprimidas, como é de regra na região dos campos. Observâmos tambem Chamepehia talpacoti, Leptoptila rufaxilla, Arundinicola leu- cocephala, Gymnonmystax melanicterus, e uma ave de rapina, diurna, de abdomen branco e cabeça escura, que era, julgo , Tachytriorchas albicaudatus. O Lago Grande do Amapa é decerto uma região esplen- dida para a ornithologia, porém as dificuldades da vida são ali enormes. Ao voltar do lago no dia seguinte, cacei, perto da bocca no rio dos Bagres, dois individuos do Ageleus icte- rocephalus, um bello Icterideo com o corpo negro e a cabeça amarella, que até agora eu só encontrara na costa Atlantica de Marajó, porém em parte alguma ao redor do Para. Araras só vi uma vez em Amapá — um casal voando sobre a aldeia na manhã de 7 de novembro. Mas o nu- mero de papagaios amazonicos (Chrysotis amazonica) que passavam, duas vezes por dia, sobre a aldeia é inacreditavel. De manhã elles vinham das florestas de siriúba da bocca do rio Amapa. Famintos como estavam, poisavam em pequenos grupos nas arvores altas do já citado bosque, onde sempre os vi. Porém elles procuravam certamente as arvores de fructa espalhadas nas florestas do curso superior do rio. Todos os. individuos que eu cacei tinham, n'quella occasião, o papo cheio de uma massa azulada e polposa, que reconhecemos facilmente como formada pelo pericarpo das fructas do Umiry (Humirium foribundum). De tarde elles voltavam em direc- ção contraria, procurando os logares de pouso na siriúba. Entre as 5 e as 6 da tarde era muitas vezes impossivel con- versar-se na aldeia, emquanto as nuvens de papagaios não desapparecessem. Se um papagaio é capaz de fazer um ala- rido infernal, imagine-se o que farão ondas ininterruptas de centos e milhares d'estes gritadores! A nossa collecção e estas paginas, que foram escriptas conforme o seu estudo e segundo as minhas notas de campo, podem dar uma soffrivel idéa do caracter ornithologico d'esta parte da Guyana meridional, que não tinha sido até agora visitada por naturalista algum. De Cunany eu trouxe para o Para 50 pelles de aves representando 30 especies, e de Amapá 63 pelles representando 42 especies — formando o to- tal de 113 individuos e 72 especies. Porém não posso olhar para estes resultados, relativa- mente felizes, sem uma profunda tristeza. O mancebo que teve Fungi paraenses 231 a parte principal em preparal-os, — Max Tanner, meu conter- raneo e taxidermista do Museu do Pará -—morreu dos effeitos da febre do Amapá a 14 de novembro de 1895, a bordo do nosso vapor « Ajudante », quando estavamos justamente à vista da cidade do Para. Outubro 1896. IV FUNGI PARAENSES (1) Por P. HENNINGS 1 Ustilaginaceae. Mykosyrinx Cissi (D. €C.) G. Beck. Pará, nos galhos de Cissus sicyoides. Maio 1896 n.º 7. Uredinaceae. Puccinia Huber: P. Henn. n. sp. Maculis striiformibus, atris, soris amphigenis, “striiformibus saepe confluentibus, primo epider- mide pallida tectis dein erumpentibus cinnamo- meis; uredosporis subglobosis, late ellipsoideis 1 NOTA.— O seguinte trabalho constitue a primeira parte d'uma lista de cogumelos do Pará que está se publicando na « Hedwigia », [cf. Vol. XXXIX p. 76-80. 1900] conceituado periodico allemão tratando especialmente das cryptoga- mas. Os cogumelos citados foram colligidos pelo pessoal da secção botanica do Museu Goeldi e determinados pelo habil mycologo do Museu botanico de Berlim, actualmente uma das primeiras auctoridades na mycologia dos paizes tropicaes. Muito pouco se conhece ainda da flora mycologica do Pará e não me consta que se tenha publicado outra lista de cogumelos paraenses senão uma contida no Hooker's Journal of Botany and Kew Garden Miscellany Vol. WI p. 14-18 (1851), onde o Rev. M. /. Berkeley, nas suas Decadas of Fungi (Dc. XXXI), trata dos cogumelos colligidos pelo illustre explorador da flora amazonica, Richard Spruce, nos arredores do Pará, em Caripi e em Tanaú. N'este trabalho acham-se enumerados vinte cogumelos, comprehendendo cinco especies novas para a sciencia. Não será inopportuno reproduzir aqui a lista d'estes cogumelos, tanto mais que o « Hookers Journal of Botany » já é uma raridade bibliographica : DO OM) BM) Fungi paraenses vel ovoideis, flavis vel laete brunneis 18-24 X 15 — 21, episporio aculeato; teleutosporis late ellipsoideis vel ovoideis apice rotundato-obtusis incrassatis, medio 1 septatis paulo constrictis, brunneis 27 — 33 X20— 25 u, episporio brunneo laevi, pedicello flavo-brunneolo, brevi, crasso 18-25 X 5-8 u persistente. Pará, no Horto botanico, sobre as folhas vivas de Panicum ovali- folium. 1896 n.º 3. Esta especie é completamente differente das numerosas especies descriptas como existentes sobre os Panicum., principalmente do Pucci- nia goyazensis P. Henn., ?. Panici Diet., ?. emaculata Schw., 2. virgata Ell. et Ev., etc. Polyporaceae. “A Polystictus trichomallus Berk. et Mont. Cent. VI. Ho as. | Peraí cisandino, Igapó da beira do Rio Janayacu (Huallaga), sobre e os troncos podres. Po) SM Perisporiaceae. Meliola paraensis P. Henn. n. sp. Mycelio hypophyllo vix conspicuo, hyphis sparsis, paucis atrobrunneis, septatis 4—6 u cras-. sis, hyphopodiis singularibus ovoideis 3 septatis 12— 14 X8 u; peritheciis sparsis vel subgrega- ris subglobosis atris 100— 120 u diametro, ap- pendiculis paucis, atrobrunneis, filiformibus apice obtusis 150 -— 180 X 46 u; ascis ellipsoideis 2 — 3-sporis 23— 26 X 16 — 19 u; sporis cylindraceis, utrinque obtusis, 4 septatis paulo constrictis, atro- | brunneis, 20-—24X9— II u. uh PARA PD PUTA POSTA e ATE Pao AÁgaricus Campanella Batsch, Marasmius inoderma Berk. n. sp., Schizo- phyllum commune Fries, S. umbrinum Berk. n. sp. Polyporus sanguineus Fr., Trametes hydnoides Fr., Stereum galecttii Berk. n. sp., Mypolyssus Montagnei Berk., Dictyonema membranaceum Ag., Hypochnus nigrocinctus Ehrenb,, Z. albocinctus Mont., Peziza cinerea Batsch, 2. herpotricha n. sp., Phacidium den- tatum Kze., Hypoxylon obovatum Mont., ZH. Leprieurii Mont., Thamnomyces Chamissonis Ehrenb., Micropeltis applanata Mont., Depazea Mappa Berk. n. sp, Sphaeronema epicecidium Berk. J. HUBER. Fung? paraenses 233 Pará, no Horto botanico, sobre as folhas de Vitex spec. (Tarumá). Junho 1899. N.º 13. Esta especie se distingue pelo mycelio muito pouco desenvolvido, assim como pelos perithecios pequenos e munidos de poucos appendices. Meliola amphitricha Fries Elench. Fung. II. p. 109. Pará, sobre diversas folhas coriaceas. Set. 1898. N.º 4. Hypocreaceae. Claviceps pallida (Wint.) P. Henn. var. Orthocladae P. Henn. n. var. Mycelio sclerotoideo in germine parasítico eumque plus minusve destruente, subgloboso gyroso compressoque, flavido; stromatibus gre- gariis (4-—09) ca. 2—3 mm longis, stipitatis, saepe basi confluentibus; stipite basi bulboso, tereti vel late compresso, flavido, villoso, 1— 2 mm longo latoque; capitulis perithecigeris he- “misphaericis, subtus excavatis, supra pallide fla- vis, ab ostiolis prominulis obscurioribus punctu- latis 1— 2 mm latis; peritheciis stipatis oblonge ovoideis; ascis cylindraceis, apice rotundato 1n- crassatis, tunicatis, basi attenuatis, 8-sporis 150 — 180X3 u; sporis filiformibus, hyalinis, pluri- guttulatis ca. 0,5 u crassis. Pará, sobre os ovarios de Orthoclada spec. des. 1899. N.º 18. Esta variedade differe da forma typica que se acha sobre Zuziola (distribuida em Rabenhorst-Winter, Fungi europ. N.º 3.549), pelo ta- manho do stroma, e tambem pelo talo felpudo do mesmo. Talvez seria melhor considerar este cogumelo como especie distincta, tanto mais que as differenças parecem ser maiores que entre CI. furpurea (Fr.) e Cl. microcephala (Wallr.). Os stromas se desenvolvem dos sclerotios sobre a planta viva. Cordicefps olivaceo-virescens P. Henn. n. sp. Stromatibus carnosis, clavatis, olivaceo-vires- centibus, 4— 5 cem altis; stipite basi vel medio furcato, subtereti, interdum contorto, 3— 31. em longo, 14—2 mm crasso; clavula fusoidea vel cylindracea, apice apiculata vel obtusa 11—.2 cm longa, 2—3 mm crasse; peritheciis semiim- mersis, punctiformibus, atris ovoideis ca. 200 X EMEA TR UR AA A ORE Fung párgenses = e e es 150 u; ascis cylindraceis, apice rotundato-in- crassatis, tunicatis, basi subattenuatis ca. 120 — 160X314-—4 wu; sporis filiformibus pluriseptu- latis ca. 0,3 =510,5 crassis. Pará, na matta, sobre o chão. Junho 1896. N.º 5. Infelizmente não pode-se mais verificar, embora seja muito pro- vavel, se este cogumelo cresce sobre certas larvas enterradas. A especie differe das especies conhecidas pela côr do stroma, que é d'um verde olivaceo exquisito. Dothideaceae. RES Phyllachora Huberi P. Henn. n. sp. Stromatibus hypophyllis in maculis flavidulis, rotundatis vel irregulariter explanatis, tenue crustaceis, atris, opacis 3— 11 mm diametro, interdum confluentibus, ostiolis latis subpulvina- tis; peritheciis immersis gregariis, subglobosis, intus pallidis; ascis clavatis apice rotundatis, basi attenuato-stipitatis 8 sporis, 5so-— 65X 16— 20 q; sporis distichis vel oblique monostichis, ovoideis vel subfusoideis, hyalinis, intus granulatis, 14 — 18X 8—10 u. Breves (Pará), sobre as folhas dos pés novos de Zevea brasiliensis (Seringueira). Julho 1899. NE" n6: Caso tomasse maior extensão, este areia poderia constituir um certo perigo para esta importantissima arvore. Até agora ainda não se conhecia nenhum cogumelo parasita da seringueira. Auerswaldia Guiliclmae P. Henn. n. sp. Stromatibus amphigenis gregariis, rotundato, vel oblongo-pulvinatis saepe 2 —7 confertis con- fluentibusque, 1 — 11 mm diametro, atro-carbo- naceis, opacis vel subnitentibus, minute ostiolatis, dein longitudinaliter erumpentibus, rugulosis, lo- culis paucis, subglobosis; ascis clavatis saepe. late clavatis, vertice obtuse rotundatis, basi valde attenuato-stipitatis curvulis 8 sporis, 100—130 X 18— 30 wu; sporis distichis, interdum oblique monostichis fusoideis, utrinque acutis, primo hya- linis 2 guttulatis dein olivaceo-brunneis 17 — 19 X 9—12 u. Fungi paraenses . 235 Pará, sobre as folhas vivas de Guizlielma speciosa (Pupunha). Junho 1899. N.º 10. Esta especie approxima-se em todo caso da 4. rimosa Speg., dis- tinguindo-se porém pelos stromas menores que apparecem dos dois lados da folha, pelos ascos largos claviformes, pelos sporos menores, fusoideos, olivaceos contendo duas gottas. Ella é completamente diffe- rente da 4. Chamaeropsis (Cooke) Sacc., assim como da 4, galmicola Speg quer pelos stromas, quer pela fórma dos sporos. Pleosporaceae. Leptosphaeria saccharicola P. Henn. n. sp. Maculis pallidis exaridis, brunneo-cinctis, ob- longis; peritheciis sparsis vel gregariis, minutis punctiformibus, membranaceis, atris, hemisphae- ricis vel subglobosis vix papillatis, 100-— 120 u diametro; ascis clavatis, curvulis, vertice rotunda- tis, basi attenuatis curvatis 45— 55X I12— I5 4; 8 sporis distichis, fusoideis utrinque acutiuscu- ls, primo hyalinis 4—s guttulatis, dein laete brunneis 3-—4 septatis, paulo constrictis 15 — I9X4 u. Pará, sobre as folhas de Saccharum officinarum L. (canna de assucar). Julho 1986. N.º 2. Os perithecios muito pequenos são pouco numerosos e se acham na face inferior das folhas, no meio de manchas brancas bordadas de pardo. Esta especie differe da Z. tucumanensis Speg. que apparece nos caules, assim como da Z, Spegazzinii Sacc et Syd. que não formam manchas, pelos ascos, sporos etc. muito menores, Z. Sacchari, Breda, observada nas folhas da canna de assucar em Java, parece tambem ser differente pelos sporos maiores de 3 cellulas, mas não existe diagnose completa dºesta especie. Xylariaceae. Thamnomyces rostratus Mont. Syll. Crypt. No. 7or. Pará, sobre madeiras podres. Agosto 1899. N.º 20. Hysteriaceae. Tryblidiella Loranthi P. Hemn. n. sp. Peritheciis erumpentibus, laxe gregariis vel sparsis, oblonge subfusoideis, utrinque acutius- culis, atris vel atro-olivaceis, 1— 11 mm longis, 236 Fungi paraenses o,5—0o,8 mm latis, labiis involutis clausis, trans- verse striatis, disco brunneo vel flavo; ascis cla- vatis apice rotundatis, basi attenuatis, 8 sporis, p. spor. 180200 X 15-18 wu; paraphysibus copiosis superantibus filiformibus, apice vix in- crassatis, 3—-4 u crassis; sporis monostichis, oblongis vel subfusoideis, rectis vel curvulis, utrinque obtusis vel acutiusculis 24— 35X 13 — 18 u, primo hyalinis, medio 1 septatis, plu- riguttulatis, dein 3 —s5 septatis, atro castaneis, septis constrictis. Pará, jardim botanico, sobre os galhos de div. Loranthaceas 1896. N.º 8. A especie é proximo parente da 7. Steigeri (Duby) Rehm, da qual ella se distingue bem, assim como das outras especies, segundo as descripções. As beiras ficam bem enroladas e fechadas, de forma que o disco ápparece só quando se faz um corte nos stromas. Sphaeropsidaceae. Septoria Spigeliae P. Henn. n. sp. Maculis subrotundatis, fuscis, exaridis, linea atrobrunnea cinctis; peritheciis sparsis, minutis, punctiformibus, atris, poro pertusis ca. 7o— go u diametro; conidiis filiformibus, utrinque acutis, medio 1 septatis dein 3 septatis, rectis vel cur- vatis 1I9— 24 X 0,7 — 0,9 u. Pará. Jardim botanico, sobre as folhas vivas de Spigelia anthelmia INS Cd Leptostromataceae. Melasmia Loranth: P. Henn. n. sp. Stromatibus epiphyllis, adnatis, gregariis, su- borbicularibus pulvinatis, angulatis, applanatis, atris, opacis 0,5 -—o,9 mm diametro, peritheciis immersis, punctiformibus; conidiis filiformi-fusoi- deis utrinque acutis, curvulis vel flexuosis, con-. tinuis hyalinis 28— 30X 21—3 u. Pará, jardim botanico, sobre folhas de Loranthaceas 1896, N.º 8 a. EURO a ses ad > ., “ Materiaes para a flora Amazonica 237 Melanconiaceae. Glocosporium affine Sacc. Mich. I. p. 129. Pará, sobre as folhas de Oncidium altissimum, vindo do Rio Tocantins, Junho 1899. N.º 14. As agglomerações de conídios são muito pouco desenvolvidas, Pestalozzia Palmarum Cooke. Grev. t. 86. f. 3. Pará. jardim botanico, sobre as folhas de Livistonia Chinensis, Junho 1899. N.º 12. V MATERIAES PARA A FLORA AMAZÔNICA IV. QUATRO NOVAS ESPECIES AMAZONICAS DO GENERO GUAREA (MELIACEZ) Por C. DE CANDOLLE (Genebra) Guarea L. Sectio Euguarea C. DC. - G. costulata sp. nov., Foliis 4-s-jugis, foliolis oppositis brevissime petiolulatis basi acutis apice breviter et obtuse acuminatis, ad nervum centralem utrin- que parce pilosulis caeterum glabris, superio- ribus oblongo-ellipticis inferioribus minoribus ellipticis rhachi petiolulisque et petiolo parce pi- losulis, paniculis simplicibus quam folia multo brevioribus adultis brevissime pedunculatis spi- catim cymuligeris, cymulis 1-floris, capsulis e 'basi stipitiformi breviter subtetragono-oblongis glabris longitudinaliter et praesertim in stipite costulatis 4-locularibus. Arama, beira do rio (n.º 1883) J. Huber legit. /atuaunda preta incolarum. Ramuli glabri in sicco pallido-rubescentes. Folia cum petiolis ad 20" longa. Foliola in e PRE USE E a a 4 = Ea, 7 é 2 = a 7; e i bo! - : Po + ” Err 238 Materaes para a flora Amazonica > sicco firmo-membranacea minute et inconspicue pellucido-punctulata, superiora ad 16 m longa et . ad 5? lata nervis secundariis patule adscen- dentibus subrectis utrinque ro-12, inferiora 10M longa et 5m lata. Petioluli vix 3 "m longi. Pe-. tiolus 44" longus. Panicula hornotina, post anthesin 18 et fructifera 8" longa. Capsula. cum stipite suo 3” longa medio 2” lata. 2. G. subsessiliflora. sp. nov., foliis sat longe petiolatis 4- S-jugis, foliolis oppositis breviter petiolulatis e basi cuneata oblongis apice obtusiuscule cuspi- datis utrinque glabris rhachi petioloque teretibus glabris, paniculis forentibus subsessilibus glabris - petiolos cequantibus vel paullo superantibus spi- catim cymuligeris cymulis 1-floris floribus bre- vissime pedicellatis, calice extus puberulo 4-den- . tato dentibus rotundatis apice brevissime apicu- latis hirtellsque, petalis oblongis apice acutis extus puberulis tubo ovato cylindrico margine brevissima crenulato antheris lineari-oblongis, ovario gynophorum glabrum superante breviter et adpresse pubescente, stilo glabro ovarium superante, loculis 2-ovulatis. Para, Una (n.º 1.244) M. Guedes legit. Ramuli glabri in sicco pallide rubescentes. Folia cum petiolis circiter 36” longa. Foliola in sicco membranacea pellucido-punctulata, su- periora 18 4" longa et ad 6 lata nervis se- cundariis subrectis tenuibus utrinque 10-12, in- feriora gradatim minora infima magis ellíptica fere g = longa-et 3-1 ita” Petiohh cd longi. Petiolus 11” longus. Panicula hornotina, fere et basi cymuligera. Alabastra oblonga. Florum pedicelli fere 17m longi. Petala 4 in cestivatione valvata, in sicco rubescentia et subcoriacea, 87m longa 2mm lata. Tubus 6 mm longus glaber. Antherse 8 lineari-oblonga gla- bree paullo infra medium dorso affixce 1” lon- gae. Stigma orbiculare carnosum, adultum e tubo brevissime exsertum. Ovula in loculis superpo- sita. 6. polyphyllaria, forma foliis ad 8-jugis, pa- “Soda Materiaes para a flora Amaxzonica 239 nicula fructifera quam folium fere triplo brevio- re, capsulis junioribus oblongo-obovatis adpresse pilosis.— /atuauba incolarum. Pará, sitio do Dr. Lobão Junior, no Marco da Legoa; (n.º. 91) J. Huber legit. ES. G. odorata sp. nov., foliis modice petiolatis 4-jugis glabris foliolis oppositis longiuscule petiolulatis basi acutis apice breviter obtusiuscule cuspidatis su- perioribus majoribus subobovato oblongis infimis multo minoribus ellipticis, paniculis brevissime pedunculatis simplicibus pendulis folia fere ze- quantibus spicatim cymuligeris glabris cymulis 3-floris, floribus breviter pedicellatis, calice gla- bro 4-dentato dentibus rotundatis, petalis 4 extus adpresse minute puberulis anguste oblon- gis apice breviter obtusiuscule acuminatis, tubo glabro cylindrico apice subcampanulato margine Es integro, antheris ellipticis e tubo paullo exsertis, gynophoro apice toruloso, ovario gynophorum cequante adpresse hirsuto, stilo fere glabro quam ovarium paullo longiore. Cerro de Canchahuaya (Rio Ucayali), na bei- ra dum riacho (n.º 1.463) J. Huber legat. Arbuscula floribus albis fragrantibus. Ramuli glabri elenticellosi in sicco atro-rubescentes. Folia cum petiolis circiter 22” longa. Foliola in sicco firma opaca pellucido-punctata, supe- riora ad 23" longa et ad 7” lata, media ad 16m longa et ad 6 lata et magis elliptica, inffma circiter go” longa et 4” lata. Petioluli “fere ad 1”, petiolus 6 =, pedunculus 1” longã, florum pedicelli 1m=m longi. Alabastra oblonga. Petala in aestivatione valvata fere 8=m longa vix 14$mm lata in sicco rubescentia. Tubus 7 =m longus. Anthere 8 glabra dorso infra medium affixoe 1 "mm. longe. Ovarium 4-loculare. Stilus teres. Stigma orbiculare carnosum. Species G. Mikanianae C. DC. affinis. pe 4 G. Guedesii sp. nov., foliis 6 -jugis, foliolis oppositis pe- tiolulatis supra glabris subtus ad nervum cen- tralem petiolulosque adpresse pilosulis et dein 240 Materiaes para a flora Amazonica utrinque glabris basi acutis apice acute vel obtu- stuscule cuspidatis, superioribus subobovato- oblongis inferioribus minoribus oblongo-elliptiis, rhachi parce adpresse pilosula dein glabra, pa- niculis simplicibus folia subsequantibus spicatim cymuligeris cymulis 1-raro-2-floris, floribus bre- vissime pedicellatis calice extus parce puberulo 4-dentato dentibus ovato-rotundis apice apicu- latis, petalis oblongis apice breviter acuminatis extus adpressa puberulis, tubo cylindrico glabro margina leviter crenulata, antheris ellipticis, ova- rio gynophorum glabrum superante adpresse hirsuto, stilo glabro. Para, Una (n.º 1.240 a Manoel Guedes lecta). Ramuli glabri in sicco pallide fuscescentes. Foliac um petiolis circiter 26" longis. Foliola in sicco membranacea minuta pellucido-punctu- lata, superiora ad 18“ longa et ad 5" lata, nervis secundariis patule adscendentibus subre- ctis utrinque 10 infma 104" longa 4 4M lata. Petioluli 5 =m, petioli 7-11 ", pedunculi ad :6 mm longi. Bracteae ovato-acuta extus adpresse pu- berulae à mm.longae. Pedicell + mm longi. Petala 4 ad -8 “mn Jonga 27" Jata, Tabus 6 TE loneus Antherae 8 glabrae cum tubi denticulis obtusis alternee paullo supra basin dorso affixce. Ovarium conoideum 4-loculare, loculis 2-ovulatis, ovulis superpositis. Stilus ovarium aequans. Stigma or- biculare carnosum. Fa ? - h 4 4 e gb Noticia sobre as Jatuaubas 241 VI Noticia sobre as Jatuaubas (Guarea spec.) COM UMA CHAVE ANALYTICA PARA A DETERMINAÇÃO DAS ESPECIES AMAZONICAS Pelo Dr. J. HUBER As especies do genero Guarea (Meliaceas) são conhe- cidas no Pará sob o nome de /atuauwda. * Entre ellas a Guarea trichilioides é a mais conhecida, sendo tambem cultivada em diversos paizes da America tropical. Encontrei esta especie em diversos pontos da região littoral do Estado do Para, em Amapá, em Bragança e nos arredores de Belem (Igarapé Una). Segundo a «Flora brasiliensis», ella se encontra até o Sul do Brazil e se chamaria Caynboatá; segundo Spruce tam- bem Zio de sabão. O illustre Director do Jardim botanico do Rio de Janeiro cita, no seu Zlortus fluminensis, os nomes de Carrapeta, Bilreiro ou Marinheiro. No Pará só ouvi, até agora, o nome de Jatuauba ou Jataubda. Emquanto a Guarea trichilioides, quando adulta, é uma 1 O nome tupy de /atwauda é pouco conhecido na litteratura botanica: não se acha na «Flora brasiliensis » de Martius, nem nas outras obras de botanica que conheço, tratando do Brasil. Entretanto parece ser um nome bastante usado pela população indigena. No seu libello « Plantarum nomina tupi» o celebre Mar- tius dá a seguinte citação: « Jatuauba (Amazonas) fructus uvae ad instar in race- mis, radix purgans contra sterilitatem mulierum praescribitur: Cerqueira », jun- tando as seguintes palavras: « An cucurbitacea? Forsan Anguria musacea Mart, Mss». Segundo o meu ver, a descripção de Cerqueira póde referir-se muito bem a uma especie de Guarea, tanto mais que o uso medicinal da raiz e da casca das Guareas, é identico. Segundo Martius, na mesma obra citada, o nome de Utuauva é dado, no Estado de S. Paulo, a uma Guarea. A parte essencial dos dois nomes parece por conseguinte ser a palavra Zua-uba ou tua-uva. A significação desta palavra seria, tambem segundo Martius: ardor sanguinis, por contracção de tuguy (sangue) e uba (arvore), o que me parece muito provavel, visto o uso medicinal desta planta como succedaneo da ergotina, uso que é, segundo communi- cação do Dr. L. Lobão Junior, bastante geral entre os indios. Esta explicação se torna ainda mais evidente pelo facto de, segundo Martius, o nome de Utud-póca (póca, de poc = rebentar, estalar) ser dado à Guarea spiciflora St. Hil. nos Esta- dos do Rio e de S. Paulo. (Cf. tambem Zuau-póca = Trichilia glabra (?) (Manso), Ztó ou Jitó =— Guarea (Marcgrav), Ituá = Gnetum spec.). 249 Noticia sobre as Jatuaubas arvore muito frondosa de tamanho regular, propria para ala- medas, as outras especies do genero, e especialmente as descriptas no artigo precedente, são arbustos ou arvores de tamanho menor, geralmente pouco ramificadas. As grandes folhas paripennadas das /atuaubas mostram uma particula- ridade bem rara, que permitte logo reconhecel-as como pertencentes ao genero Guarea. Ellas são quasi sempre ter- minadas por uns foliolos rudimentares formando uma especie de grêlo terminal. Observei ultimamente no G. trichilioides o facto surprehendente que este grêlo pode-se desenvolver depois de mezes em um novo segmento de folha, e isto mesmo depois da queda dos foliolos infertores. Temos por conseguinte aqui um caso notabilissimo de desenvolvimento periodico d'uma folha, caso que approxima estas folhas dos verdadeiros galhos. As flores esbranquiçadas ou roseas das /atuaubas são | geralmente reunidas em paniculas mais ou menos racemifor- mes, às vezes bastante compridas. São tetrameras ou penta- meras, com um calice pequeno e quatro ou cinco petalas alongadas. Os estames (em numero de oito ou dez) são, como na maior parte das Meliaceas, concrescentes n'um tubo, sendo as antheras fixadas interiormente à parte superior d'este tubo. O ovario é superposto a um disco carnoso e contem, em cada um dos seus quatro ou cinco loculos, um ovulo unico ou dois ovulos superpostos. O fructo é uma capsula lenhosa, mais ou menos pyriforme, lisa /G. trichilivides) ou tubercu- lada (G. multiflora) ou munida de saliencias longitudinaes | (CG. costulata, subsessihfiora, etc.); ella é loculicida, deixando ver, na maturidade, as sementes d'um bruno-avermelhado muito brilhante e vistoso. Ate aqui só tres especies do genero Guarea eram co- nhecidas como existentes na região do baixo Amazonas (Estado do Para), duas das quaes, a G. trichshioides L. e a G. multiflora A. Juss. são caracterisadas pelas paniculas ra- mificadas na parte inferior, emquanto que a terceira (G. pa- raensis C. DC.) tem, como a maior parte das especies, uma: panicula racemiforme. Com as especies novas descriptas no artigo precedente, o numero total das especies paraenses fica dobrado. À Guarea costulata C. DC. é um arbusto que cresce com bastante abun-. dancia à margem do Rio Arama, a Oeste de Marajó, onde ella. é chamada /atuauba preta. * No mesmo lugar se conhecem 1 Provavelmente por causa do seu fructo preto. O nome especifico de cos- tulata foi dado a nossa planta por causa das costas proeminentes do fructo. E Noticia sobre as Jatuanhas 243 mais duas qualidades, a /atuauta branca e a /. vermelha cuja iden- tificação especifica entretanto não me foi possivel estabelecer. A Guarea subsessilifiora C. DC. var. polyphyllaria foi primeiro encontrada por mim no Marco da Legoa, onde o distincto medico paraense Dr. L. Lobão Junior chamou pri- meiro a minha attenção sobre esta planta como uma das plantas medicinaes mais efficazes das nossas mattas. * O typo d'esta especie foi descoberto pelo meu preparador Sr. M. Gue- des perto da olaria Una, e achado ultimamente por nós no Marco da Legoa. Esta especie tem flores roseo-vermelhas * quasi sessis, as vezes reunidas em pseudo-verticillos. A Guarea Guedesit C. DC. é tambem uma descoberta do nosso activo ajudante, em cuja honra foi baptisada. Ella se distingue facilmente da especie precedente pelas inflores- - cencias mais compridas e mais finas. — À Guarea odorata C. DC. emfim é um arbusto do Alto Amazonas (Rio Ucayali), notavel pelas inflorescencias muito compridas, as flores relativamente pequenas e muito cheirosas. O genero Guarea tem uma distribuição bastante larga em toda a America tropical, onde conta actualmente não menos de oitenta e quatro especies. Ha tres especies africa- nas que entretanto parecem mostrar differenças bastante im- portantes para constituir uma secção particular do genero. Às especies americanas tem geralmente uma distribuição l- mitada e muitas vezes ellas são localisadas numa area bas-- tante pequena, facto que parece provar que o genero se acha ainda n'um periodo de differenciação activa. E” digno de nota que as tres especies que tem areas mais extensas (G. filifor- mis, G. trichilioides L., G. Kunthuana A. Juss.) são differen- ciadas cada uma em tres variedades distinctas nas differentes subdivisões das suas areas. O maior numero de especies compete à sub-região brasileira (isto quer dizer o Brasil com excepção do valle amazonico), onde se conhecem até agora trinta especies. À sub-região amazonica contem dezenove especies, o Paraguay cinco, a Guiana sete, as Antilhas cinco, a Columbia e Venezuela sete (pertencendo duas a secção Ruagea), a America central tres, o Mexico quatro. A tabella seguinte, sem ter a pretenção de dar uma idéa exacta do grão de parentesco entre as especies do ge- nero, é organisada no intuito de facilitar a determinação das especies amazonicas até hoje conhecidas. » O Sr. Dr. Lobão publicará em breve as suas observações clinicas acerca desta planta medicinal de grande importancia. bre as Jatuaunhas Ca SO Not 244 ] / "SZADI/INPIG PITRAGD SAPOS PIS PULISSLRIAQ SIJNSÁDI : QUO, 9DOÁSO PIUN ONJystod eUm|n eyso onb rzay -J99 IsenD P Opep Wo) ow pz.evyjtydiçoç BULIOY V.LOZ/1/2SSPSGUE *L) 9 VAOHIJISSISQUE *L) DIVJNASOO "L) OP SOJINI] SO OIGOS SOJUDI9I SAQÍLAISTO x S2UÁLIN "Qqr'o DAOIIIUNAR "£) "9WoL "Da 'D vjooftiuo "2 OXSSN OM IDA 'D 229n4FS O SEUÁvIAN "IA 'D 2202dP20d *5 (novíedura) na “ddoog sisgogossvw *1) "OIBON OW “DA "O V7vIp9pad *1) vande( *IA "9 vIDapis “O seuÁrIN BOLUNICIN 4 'SSDÍ "NV vUDIYguns 1) vueIno) soduen “IA “O vppads *2) “jeávon "DA 'D Ppv4opo 1) ted "DA "O 2282pong) “O PL "O "O vIvpidsno “o SOPITO "DA "O StsuapaDA 1) (uti) exe "IA 'D vIvpngso? 1) 4 BICA ea 0) DAORÍ2grssasqns *1) BUM ie ; : eruozeury À ssnf “y veorliquy “5 SeUÁrIN “DA 'D Vuvisoulou. 1) vIvd ssnf “y vrozliggnm *1) "dom "IowYy *T sapromayoiaz 0) » mimo joia ta 0,8! vo) mala foros! avo joio (gi mo yo ias slin da alimTa o qro mi apreço faia "SoQjus seu 919]9A ougIl xao sepnoiuea TI aiqrajo ae Tetimi éra aro 0 pro tapa (niiol a io o tania mn DIOS quim Sorte ie To Taça das sia (o “eIqueio onbumgn “eynorg « « vo! aqu mi pes toi bot o ADA SODA NEAR O STO OOSN] SO AI Pe: SIJQUS “BJEpIONQUS spa ejoro:T "S9JPI[IXe SIOJITOS SIJNUCI UI oepnoueg “T TSUWB)UId soIOjH 'Q OB EMA MAN CUT LS LS BL O Ono cos OUlOs 06 6) Or6i a * (vumnsira UINIICAO ) sajuooseu 919/94 ougil xo aejnouea 6! remessa asas rece sanar as core 2002 SITPINdNS UUNI(O) Coe PE AR « = « « | ““eBnl-z voy Dejnao-z I[n90] IvAo | é * soar jdtsqns sepnoruva “*saquenhbor tnt(os dies ? uma e|S UNICA) “e... o... .... .a. rec + *** “-sojuenbor tWnTprwuIp tjoj “oesowrr ovpnoruea SE ao Ren Pi qem Sigla (a fuer jeto, nie to aa dao 0 O oa O TETO asa iSSaS SSDTTA TITS: DENTE cc... sn$uo] ágio z *,* 4 lo 00» 8 e jsia 000 am ... * sajuvxodns [PA soquenb *** *-snBUO] qm E-Z XI |-ItUNDE osmgo oorde ejoroy p-ovqus wnr(oj aeyejnounpod "ec *** + pyeprdsno onboynoe oguo] sstde vjorjo] J1oj1A91q “sooijdiwIs arjnoruea é esc. ... 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Tardou a confecção d este retrato, e este uma vez feito, surgiram imprevistas difficuldades relativamen- te à impressão do «Boletim»,—-difficuldades, contra- tempos, miserias —para cuja descripção não é aqui o lugar apropriado. São os seguintes os traços biographicos princi- paes do illustre morto, elaborados com o auxilio de al- & gumas notas que gentilmente nos foram fornecidas k por um membro da familia: Ê + á % J + | | pe ze E + = CRETA y AGUAS 15 246 Dr. von hraatz va Necraloqio s Karl Alexander vm Kraatz-Koschlau nasceu em Schwedt */O. no dia 24 de fevereiro de 1868, filho de Sua Excellencia o general von Kraatz, alto funcci- onario militar da Prussia. Recebeu a primeira ins- trucção no Gymnasio de Stettin, mas devido a diversas mudanças do seu pae de um centro militar para ou- tro, frequentou successivamente a « Ritter akademie» em Brandenburg */H.,em 1880 0 Gymnasio de Glue- ckstadt, em 1882 a «Ritter akademié em Rossleben E: Unstrutt. Foi aqui que em 1888 Karl von Kraatz prestou exame de madureza, dirigindo-se depois para a uni- versidade de Freiburg '/B., onde, segundo as vistas paternas, encetou o estudo juridico. Não lhe agradan- do, porem, a jurisprudencia, abandonou-a depois de dous semestres, passando ao estudo das sciencias naturaes. Posteriormente mudou-se para a Univer- sidade de Munich (Baviera), onde em 1892 fez os exames de doutor em philosophia, apresentando uma these sobre um assumpto de chimica. (<«Beitraege zur Kenntniss der Rechtsweinsseure und ihrer Salze.») In auguraldissertation der Universitat Muenchen 1892) N'esse intervallo tinha feito uma viagem à Bosnia, occupando-se com investigações geologicas sobre as rochas d'aquelle paiz, hoje ocupado pela Austria. Significativo facto para julgar das habilitações dojovem von Kraatz é, fora de duvida, que n aquelle mesmo anno 1892 o professor Rosenbusch em Hei- delberg, auctoridade universalmente conhecida em petrographia e mineralogia,o escolheu para seu assis- tente no instituto mineralogico d aquella Universi- dade. Em Heidelberg ficou até 1897, realisando toda- via durante estes annos uma demoradA viagem sci- entifica à Hespanha e Portugal, em companhia de um geologo sueco, Dr. von Hackmann. Assim pu- blicou em 1894 um trabalho «sobre a estructura geologica da Serra de Monchique na Provincia de Algarve (Sul de Portugal)» e por estas viagens na peninsula Iberica comprehende-se que o Dr. von Kraatz, uma intelligencia viva e feliz, facilmente se familiarisou com o idioma portuguez, circumstancia E Dr. com hraatz va Necrologio 24 que mais tarde devia lhe ser de grande vantagem, por motivos que o leitor facilmente adevinha. Quando em 1897 para 1898 0 professor Stuhlmann da Escola Polytechnica de Karlsruhe (Grão Ducado de Baden) fez uma viagem á China, o Dr. Karl von Kra- atz foi escolhido para substituil-o na cadeira de mi- neralogia. Ao mesmo tempo habilitou-se na Univer- sidade de Halle */S. como «Privat-Dozent» para os mesmos ramos scientificos. Ainda uma vez quando em 1898 o professor Schmidt, lente cathedratico de mineralogia e geologia na Universidade de Basi- lea (Suissa', teve necessidade de ausentar-se, para, em consequencia de honroso chamado do governo hollandez, proceder ãorganisação deum serviço geolo- gico na Ilha de Java, convidou-se o Dr. Karl von Kra- atz para substituil-o na qualidade de professor interi- no. Achava-se então o autor d'estas linhas em 1899 em Berna (Suissa), quando conhecidos e amigos cha- maram-lhe a attenção sobre o Dr. Karl von Kraatz, como pessoa idonea para O lugar então vago de che- fe da secção geologica e mineralogica. do Museu no Pará. Tudo que ouvimos do seu caracter e das suas habilitações era altamente lisongeiro e as impres- sões pessoaes d elle recebidas em algumas entrevistas não lhe foram menos favoraveis. Sentimo-nos viva- mente satisfeito ao perceber n elle a vontade de accei- tar o referido posto, pois todos os indícios pareciam augurar uma optima acquisição. Todavia fomos para com elle da maxima franqueza e lealdade, não escon- dendo nem o risco pessoal inherente à residencia na cidade equatorial da foz do Amazonas, principalmen- te paraum recemchegado, nem dissimulando algumas dificuldades que, como nós previmos com certeza mathematica, ia-lhe certa gente crear no seu posto, movida por motivos menos confessaveis. Encontramol-o prompto e decidido. Combina- mos fazer a viagem juntos—eramos tres do Museu Paraense—em outubro de 1899, via Genova. Em grata recordação ficar-nos-á, a nós sobrevi- ventes, esta placidatravessia do Atlantico a bordo do 248 Dr. von Kraatz va Necrologra «Rio Amazonas», da Ligure Brasiliana, e bem vezes surge no nosso espirito o vulto sympathico do Dr. Karl von Kraatz. Noseunovo posto o Dr. v.Kraatz orientou-se com surprehendente facilidade, como tambem rapidamen- te se familiarisou com o novo ambiente e meio social. Principiou a trabalhar com o zelo e persistencia de um homem que tem plena consciencia do valor do tempo. Tenaz excursionista, fazia innumeros estudos nos arredores da cidade e apenas chegado em casa mettia-se na elaboração dos materiaes colligidos, pois possuia o fogo sagrado da sciencia. E o trabalho rendia-lhe de um modo realmente extraordinario. Em viagens maiores chegou a fazer: A primeira, em companhia do chefe da secção botanica, á região do Salgado, tendo por fim a visi- ta das localidades, onde se acha a descoberto,a forma- ção cretacea encontrada por Ferreira Penna e summa- riamente descripta por Derby (Pirabas etc.) Volta pelo Rio Guamá. Outra, com o mesmo botanico e o auxiliar da se- cção de zoologia, ao Rio Aramã em Marajó. Diversas eram as publicações que elle Jestama preparando, tanto em relação aos resultados obtidos nas mencionadas viagens, como a respeito de vari- ados outros assumptos com quea sua vivaintelligen- ciaachou tempo de se occupar simultaneamente. Quiz elaborar o copioso material metereologico que o Mu- seu reuniu no correr dos annos, desde 1895 para ca, mas não chegou além dos estudos preparatorios rela- tivos a um ou dois dos elementos climatericos. Redi- giu um interessante trabalho «Acerca da modificação na linha de contornos da costa paraense, devido á sublevação lenta, durante o ultimo periodo geolo- gico» reunindo bella serie: de factos como” prozas 1 Dr. von hraatz Va Necrologro 24º) de sua doutrina; *) Foi o auctor d'estas linhas quem pessoalmente levou esse manuscripto para a Europa, por occasião da nossa segunda missão em março de 1900, mas infelizmente certo periodico allemão engulio-o, perdeu-o ou cousa que o valha, sem lhe dar a promettida e, juntamos logo, merecida publici- dade. O unico trabalho que realmente chegou a ser publicado, porque o Museu tomou a si a iniciativa por completo e não se utilisou n'este caso de favo- res, que nem sempre taes são—foi o bello e substan- cioso«Zwischen Ocean und Guamd» (Entre o Ocea- noeo Guamá.)—Segunda das «Memorias» do nosso Museu. Achava-me na Europa, cheio de esperanças de ter deixado o meu collega não somente bem inici- ado no serviço, como tambem já mais ou menos acclimatado, quando recebi pelo telegrapho a conster- madora moticia que.o, Dr. Karl von Kraatz tinha morrido no dia 18 de maio de 1900, de febre amarel- la. Coube a mim, que não dispunha de outros dados, senão de quatro palavras, o tristissimo dever de le- var o sentido n'ellas contido ao conhecimento dos paes. Nem 6 mezes completos tinha passado no Pará, quando a perfida molestia ceifou esta esperançosa e promettedora existencia, na flor da idade, pois não contava mais de 32 annos. O Dr. Karl von Kraatz, de sympathicas maneiras e de um solido saber, era entretanto inteiramente modesto e isento de arrogancia, facil de satisfazer e “ O mesmo phenomeno de sublevação foi recentemente des- cripto pelo Professor John Branner, lente de geologia em Stanford University, California, (—nosso presado Membro Honorario —) relativamente a certos pontos do litoral de Pernambuco | Pedras Pretas. | ((Geology of Northeast Brazil,” pag. 59-60 e fig. Pl. oem «Bulletin ofthe Geological Society of America», vol 13, febr. 1902) 250 Dr. con kraatz Fa Necrologio de contentar, agradavel como companheiro tanto em viagens como na prosa da vida diaria, leal e dedi- cado como collega. A sua cortezia sempre digna, trazia o cunho característico da sinceridade, porque fazia parte da sua natureza, da sua contextura moral, contrastando assim vantajosamente com aquelle ver- niz ôco de meras formalidades, cerimonias e barre- tadas baratas, que tanto se encontra n esta vida com falso rotulo. Era um distincto scientista, perfeito fi- dalgo e cavalheiro no sentido pleno da palavra, na mesma pessoa e ao mesmo tempo. 19) Foi a sepultura N.º 2244, «do cemitenio des as bel, no: Pará, que receveu os restos-mortaes do mos: so inolvidavel collega. Quantas vezes não tinha pas- sado por lá em pleno vigor, nas suas excursões, pre- occupado com o estudo do solo e sub-solo d'esta ca- pital, para cujo. conhecimento. scientifico mais ida que qualquer outro contribuiu! Pois a poucas cente- nas de metros da localidade onde elle tomou aquel- la vista photographica que serviu de base para à estampa V da supracitada «Memoria,p—lá devia se abrir para elle a ultima residencia! Que coincidencia singular! Impenetravel mms terio da Vontade Divina! E propria tal conjunctura para nos lembrarmos da exclamação de Linneo: « Neque enim omnia Deus humanis oculis no- ta fecit....illa arcana non promisciue, non omnibus patent! reducia in enteriora sacrario elausa Sua involuta veritas in alto latet!» Graças à intervenção do Sr. Dr. Augusto Monte- negro, Governador do Estado, resolveu o Conselho Municipal de Bélem, em sessão do dia 4 de dezem- Dr. con hraatz va Necrologuo 951 bro de 1901, conceder gratuita perpetuidade da se- pultura do Dr. Karl von Kraatz.* O Museu agradece este acto de merecida consideração em nome da fa- milia do finado, como no do instituto, dos seus col- legas e amigos. Dous entes queridos já conta o nosso estabeleci- mento lá fóra, de onde não ha regresso para os so- breviventes, senão com lagrimas nos olhos! O nome Kraatz tem bom som nas sciencias na- turaes por mais um motivo: sabem os entomologos, que excellente conhecedor dos coleopteros e descri- ptor de tantas novas especies tem egual nome: é tio do nosso pranteado Dr. Karl von Kraatz, que parti- lhava da mesma predilecção para estes insectos, não descuidando de colleccionar quantos lhe cahiam nas mãos nos passeios e excursões. Embora de pouca duração, a actividade do Dr. Karl von Kraatz aqui no Pará, e comparavel apenas a uma passagem rapida, todavia deixou indeleveis documentos de seu trabalho, da sua competencia profissional e da sua intuição verdadeiramente ge- nial. Se arrojadas podem apparecer por vezes certas opiniões e conclusões nos seus escriptos, elle pos- suia innegavelmente um preparo scientifico de pri- ! Refere «A PROVINCIA DO PARÁ) em seu numero correspon- dente ao dia 5 de dezembro de 19or: «Em sua sessão de hontem, o Conselho Municipal appro- vou uma resolução, elaborada pelas 1º. e 3º. commissões perma- nentes, concedendo, sem onus algum, a perpetuidade da sepultu- ra em que, no cemiterio de Santa Izabel, está inhumado o cada- ver do dr. Karl von Kraatz Koschlau, ex-chefe da secção de mi- neralogia no museu Geeldi. Essa resolução constitue a solução dada pelo Conselho ao offi- cio em que o secretario de Estado da Justiça, Interior e Instru- cção Publica solicitou do sr. senador intendente de Belém aquelle favor, como reconhecimento dos poderes municipaes pelos servi- ços que, à sciencia em geral, e ao Pará em particular, prestou aquelle distincto naturalista.» 252 Dr. von Kraatz Va Necrologio meira ordem. E' tal qual nós o conheciamos, nada ha que impede dê affiançar que, se tivesse podido viver e permanecer no seu ultimo cargo por tempo mais dilatado, d'elle o conhecimento da geologia e da geographia physica do valle amazonico poderia ter esperado efficaz auxilio e importante ampliação. Para, abril, rgoa. DR. GCELDI SYNOPSE DAS PUBLICAÇÕES SCIENTIFICAS DO DR. VON KRAATZ-KOSCHLAU, ORgANISADA GENTILMEN- TE PELO SNR. DR. PROFESSOR SCHMIDT, DA UNIVERSI- DADE DE BASILEA, SUISSA. 1892—Beitraege zur Kenntniss der Rechtsweinssure und ihrer Salze.— Inaugural — Dissertation der Universitet Muenchen. 1893—Neues Wulfitvorkommen.—Bericht diabos die 26.-ste Versammlung des oberrheinischen ge- olog. Vereins. 1894—Der geologische Bau der Serra de Monchique in der Provinz Algarve, Sued-Portugal. —Ver- handl. des naturhist.-mediz. Vereins zu Hei- delbere NF. Vol Veiros: Krystallographische Beziehungen im perio- dischen System der Elemente. Ibidem, Vols pag 170. 1890—Beitrag zur Bildungsgeschichte der Goldla- gerstatten. . Ibidem Vol 5 Heit 4. Tambem em:Zeitschrift fuer praktische Geologie, Vol.06. 1890—Note on the formation of gold-ore. Americ. Geolog. 18: 1890—Der Hornblerdebasalt von Mitlechtern im Odenwald.-Notizblatt des Vereins fuer Erdkur- Dr. von Kraatz Va Necrologio 253 de banimstadis qte Folge; Heli 17. 1890—Gyps von Klein-Schoeppenstedt bei Brauns- chweig,-Mittheilungen aus dem Roemer-Muse- um Hildesheim, Nro. 4. 1890—Gyps von Girgenti. —Zeitschrift fuer Krystal- lographie. Vol.27. 1897—Em collaboração com V. Hackmann: Der Ela- eolith-syenit der Serra de Monchique, seine Gang- & Contactgeteine. —Tschermak s Mine- ralos de Petrogtaphischs Mittheilungen. Vol. TO; 1897—Die Ziegelthone von Braunschweig. —Zeits- chrift fuer prakt Geologie. Vol. 5. 1897—Ueber mikroskopische Mineralien aus Steinsa- lz.=-Verhandl. der Gesellschaft deutscher Na- turforscher&ZErzte. 69. Vers. zu Braunschwe- ig. 2—ter Teil. 1897—Die Barytvorkommen des Oden waldes— Ha- bilitationsschrift, Halle. 1897—Manganspath von Beckenrod im Odenwald. —Notizblatt des Vereins fuer Erdkunde, Dar- mastadt, 4, te Folae. Eletft 18. 1897—Zirkon, Anatas und Gyps aus Porphyrthon von Halle. —Neues Jahrbuch fuer Mineralogie, Geol. & Palaont; Vol. 1897—Guembelit alsV ersteinerungsmittel. —T'scher- mak's mineralog. & petrog. Mitteil. Vol.17— 1897—Glacialstudien aus der Umgebung von Halle. —Neues Jahrbuch fuer Mineralogie, Geolog.& Baleont: Vol! 2: 1898—Em collaboração com Lothar Woehler. :Die natuerlichen Foerbungen der Mineralien. —Vor- leufige Mitteilung aus dem chem. Laborat. & dem mineralog. Institut der techinischen Ho- chschule zu Karlsruhe. —Chemiker—Zeitung. Mot do: 1899—Bericht ueber diein Baden vom Herbst 1897 bis November 1898 beobeachteten Erdbeben.— Verhandl. des naturw. Vereins zu Karlrsuhe. Vols To: 254 Dr. con Kraatz 3a Necrologio 1899—Com Lothar Woehler: Die natuerlichen Faerb- ungen der Mineralien, | & 1 I.—Tschermak's mineral. & petrog/Nitiheilingen VVolad Hett 4 unds. 1900—Em collaboração com J. Huber: Zwischen Oce- an und Guamá. Beitrag zur Kenntniss des Sta- ates Pará. | Memorias do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia. Il. INVESTIGAÇÕES CRYSTALLOGRAPHICAS EM TRABA- LHOS DE OUTROS AUTORES 1891—Krystallform der O — Chlor — a — m — Nitro benzolsulfonsaure. Dargestellt von A. Claus & C. Mann. —Liebig's Annalen der Chemie. 1894—Krystallform einiger organischer Verbidun- gen.—Aus Engler und Bauer: Die Reduk- tionsprodukte des a — Methylpyridyiketons etc.—Bericht der deurschen chem. Gesell. Voliag) 1897—Krystallographische Untersuchungen der sym- metrischen aa—Dimethylglutarsseuren. Dar- gestellt von Auwers & Thorpe-—Annalen der Chemie: REFERAT 1898— Petermann's geograph. Mittheilungen. Heft.8. E E EN E Relatorio de 1900 So) 0 RECATORIO APRESENTADO ÃO EXM.º SR. DR. PÃES DE CARVALHO, GOVERNADOR DO ESTADO DO PARÁ, PELO BIRBETOR DO MUSEU PARAENSE DE HISTORIA NATU- RAL E EPTINOGRAPHIA, REFERENTE. AO ANNO DE 1900. Ex” Sr. Dr. Governador. Com o presente officio tenho a honra de passar ás vossas mãos o incluso Relatorio dos trabalhos do Mu- seu Paraense de Historia Natural e Ethnographia duran- te o exercicio de 1900. E' este o oitavo documento d'esta natureza que diri- jo ao primeiro magistrado do Estado, o quarto e ultimo a V. Ex.“ endereçado no periodo governamental que ora termina. Subsistindo as razões que levaram V. Ex.º a encar- regar-me de uma commissão na Europa em fins de 1898, para lá voltei, passando pelo Rio de Janeiro, em março de 1900. Partindo deixei, conforme preceitua o Regula- mento vigente, na direcção scientifica o Dr. J. Huber, como mais antigo chefe de secção, cabendo a parte ad- ministrativa ao Sub-Director-Secretario. Havendo infelizmente, fallecido-o chefe da secção de geologia, e tendo-se já anteriormente resolvido envi- ae tambem a Europa-o Dr. J. Huber, por assim convir aos interesses do estabelecimento, concordei em ser a direcção confiada interinamente ao Dr. G. Hagmann, au- xiliar da 1.º secção, que nella permaneceu desde julho até dezembro do anno p. p., época em que regressei da Suissa, via Rió de Janeiro. Acham-se no incluso Relatorio consignadas as im- pressões geraes que me foi possivel apanhar quanto ao estado e andamento do Museu nos poucos dias desde que reassumi o meu cargo, completando-as, já por informa- ções oraes e alguns dados escriptos fornecidos pelos me- us collegas, já pelos assentamentos e correspondencia official, constantes do archivo do estabecimento.: V. Ex.º me permittirá transcrever aqui um trecho da carta particular que, sob data de 6 de outubro de 1900, dirigiu-me V. Ex.º para a Suissa, e no qual se lia: 256 Relatorio de 1900 « Está proximo a terminar o meu mandato e sin- to não ter feito pelo Museu tudo quanto desejavamos, * V. Ex.º e eu.. Diversas causas, entre ellas o caso deles maior de sua ausencia prolongada na Suissa, demoraram o desenvolvimento d'esse importante estabelecimento de Iinstrucção e progresso que muito honra a V. Ex.* e ag Para. Tendo de passar a administração à T.º delleverel TO Pp. f., quero fazel-o com um Relatorio circumstanciado de todos os serviços e pedir-lhe que mande entregar-me um resumo de relatorio expondo os progressos já conse- guidos e o que convem aconselhar e propor para que o meu successor tome na devida consideração. Estou certo que ao Muzeu não faltará o apoio do futuro Governa- dor. » Estas linhas, Ex.”º Snr., contêm duas cousas que são para mim da mais alta importancia. A primeira equivale quasi a uma justificação de não haverdes feito mais em pról do Museu, por motivos de força maior. V. Ex." não precisava absolutamente de tal affirmação somente explicavel por um excesso de escru- pulo ou modestia: do quatriennio da vossa criteriosa admi- nistração ficam sobejas provas da mais significativa be- nevolencia que ao Museu haveis sempre dispensado, quer como Governador, quer como particular. Como Gover- no, ahi estão as Leis para a desappropriação ja iniciada e quasi completa quanto aos terrenos contiguos ao lado es- querdo do Museu; ahi está a autorisação para a publica- ção de duas e importantes novas obras; isto para não fal- lar das missões da maxima importancia e confiança de que vos dignastes encarregar-nos na Europa, as quaes bem patente deixam o vantajoso conceito que tormaes do peso e influencia que esta instituição possa ter na dis- cussão de questões scientificas referentes a este Estado, moermente quando debatidas perante o fôro internacional. A segunda é uma fausta perspectiva para o futuro Museu durante a nova era governamental que vai ser iniciada dentro em breves dias, perspectiva sobremanei- ra valiosa pela sua origem, e que consideramos um se- guro penhor para a uniformidade de vistas e estabilida- de administrativa d'esta Instituição. Saúde e Fraternidade. Belem, 31 de janeiro de todi O director do Museu Paraense DR. phal; EMPRO: AsBoRLD Nel Ox — Relatorio de 1900 Edificios e Terrenos do Museu No cumprimento da Lei de desappropriação por uti- lidade publica, decretada a 15 de maio de 1899, sob o n.º 499, deu-se, durante o periodo que ora finda, mais um passo para a frente com a acquisição da rocinha n.º 123, sita nos fundos do Museu, à estrada Dez. Gentil Bitten- court, e assignalada com o n.º VI no mappa appenso ao meu Relatorio referente ao exercicio de 1896. Quanto á rocinha com frente para a estrada da In- dependencia n.º 24, e accentuada no dito mappa de 1896 com o n.º I, parece que vai tambem o Museu entrar fi- nalmente em effectiva posse della, após um prolongado litigio judicialmente sustentado pelo proprietario contra o Governo do Estado. A casa contida nesta não tem já valor algum, mas os terrenos são-nos muito necessarios para a ampliação do Horto Botanico. Uma fuxada que existia junto à venda n.º III, do sr. João Miranda, à travessa 9 de Janeiro n.º 34, foi, por ameaçar ruina, demolida, e igual sorte terá talvez bre- vemente a antiga vaccaria IV? , entre o Horto e a resi dencia do Director. Resta assim ainda por desappropriar, da area abran- gida pela Lei n.º 499, apenas a rocinha n.º IX, á estra- da Gentil Bittencourt n.º 125, pertencente à viuva e or- phams Maia. Nos meus relatorios anteriores deixei já bastante- mente demonstrado o embaraço, cada vez maior, em que nos vemos pela falta de espaço no edificio central para a exposição das collecções scientificas de maneira ap- propriada e conveniente. Longe tambem de satisfazer as necessidades, nas condições em que se acham, estão a habitação devéras primitiva e pobre dos preparadores e serventes e a casa do Director. Aquella consta apenas de uma antiga co- cheira, e esta, de ligeira construcção, foi sem duvida improvisada para curta e temporaria residencia de pe- quena familia, e não para morada effectiva, cujas mais rudimentares exigencias lhe faltam. Urge remediar, o quanto antes, ao menos a estes males, e o correctivo deve vir inadiavelmente dentro do exercicio entrante de 1901, pois que funestas podem ser 258 Relatorio de 1900 em todos os sentidos, as consequencias de uma tardan- ça mais prolongada. Esses melhoramentos não são senão os principaes, que, pelo seu. caracter imperioso; figuram em primei linha; diversos outros, porem, fazem-se necessarios e pa- ra a execução destes aguardamos, de ha muito tempo, ser devidamente habilitados. Vem a pello declarar aqui, mais uma vez, que, reco- nhecida como é a insufficiencia da area abraçada pela Lei n.º 499, deve ser igualmente declarada de utilidade publica a area conprehendida entre o Museu ea tra- vessa 22 de Junho, e abplicada assim a desappropria- ção a todo o resto do quarteirão. A obtenção do predio da esquina tornou-se já para nós de uma necessidade imprescindivel pois emquanto não sahirem do actual edificio central ao menos duas se- cções está materialmente tolhida a possibilidade de qual- quer accrescimo, não só a essas mesmas secções, como tambem às outras duas restantes. Agradavel surpresa encontrei, à minha volta da Eu- ropa, na frente do Museu, portas a fóra: o lagedo lateral na estrada da Independencia, desde Nazareth até São Braz, o que não deixa de trazer alguma vantagem ao es- tabelecimento. Infelizmente porem a rua continta ainda em estado de não permittir o transito de vehiculos. Jardim Zoologico Sobre o movimento effectuado neste annexo do Mu- seu, bastará dar aqui, como temos feito desde o primer pio, um resumo de inventarios que costumamos fazer mensalmente, dos quaes se verifica que existiam em principio de cada mez os animaes seguintes: Em 1 de janeiro rr8 especies, representadas por sro individuos » Hr >fevereirolirzo » » » 504 » » ir, *> março IIS » » » 495 » Dto» april ITO » » E ) » > DL po nao 107 » » » 506 > po Si > junio 107 » » » 491 » »4 7/4» julho TOS » 2 » 401 » » IT » agosto 102 2» ” » 444 » > VI » setembro, 09 » 2 DAS » DUAL 240ULUDTO DR DO » » » 448 » » 1 » novembro 98 » » >» 430 » » 1 » dezembro 100 » » » 481 » Relatorio de 1900 259 Em verdade esses algarismos, comparados com os do anno anterior, não demonstram grandes augmentos, mas força é confessar que as circumstancias actuaes po- sitivamente não convidam a largas expansões. Em compensação houve, no correr do anno, profun- da reforma na disposição interna desta divisão. Como houvesse falta de compartimentos adaptados à reclusão de chelonios terrestres e fluviaes, foram cons- truidos 5 cercados novos, com tanques cimentados, em seguida e na mesma direcção dos cercados q, o, m e k do mappa de 1897. Melhoramento importante houve tam- bem no viveiro h, que recebeu de ambos os lados espa- çosos e altos pavilhões para macacos e mammiferos me- nores. O corpo central do antigo gallinheiro, que data- va ainda do tempo da compra do terreno do Museu ao seu anterior proprietario, foi de tal maneira modificado que delle já não resta, póde-se dizer, senão a forma e dimensões geraes. As cobertas dos cercados que eram de palha de ubussú foram substituídas por folhas de zin- co. Foram concertados, não só o gradeado do corredor central, como tambem os tanques, esgotos e encanamen- tos. Boas modificações operaram-se tambem na mages- tosa jaula grande das féras (a), a nossa mais importante construcção, e nos viveiros e e f em que, por exemplo, mudou-se o segundo (f) para uma elegante voliere com capacidade para uma multidão de pequenas aves. - À iniciativa e aos intelligentes esforços do Dr. Hagmann muito deve já o modesto Jardim Zoologico, e não posso furtar-me ao desejo de consignar-lhe aqui os meus mais francos elogios que elle, mais do que nenhum outro dos meus auxiliares até hoje, tem-se feito credor, pela quantidade de trabalho visivel que tem conseguido effectuar em tão pouco tempo, não obstante a escassez dos meios. A vista dos boatos pessimistas espalhados por al- guns mal intencionados que vaticinaram tremendo cata- clysma para o estabelecimento como consequencia inevi- tavel da eliminação de duas pessoas do serviço do Mu- seu, o nosso leal companheiro póde hoje exclamar com certo Pd poeta: « Ubi sunt qui ante nos in hoc mun- do fuere? ; O dim Zoologico continúa a possuir raridades in- vejadas mesmo por estabelecimentos muito maiores de 260) Relatorio de 1900 alem-mar. “São, por exemplo, entre as aves, as Quas Harpyias, e O Lepidosiren emtreros peixes; merecendo espe - cial menção entre os mammiferos, o Sahui branco ( Ha- pale argentata ). Com praser registramos que, pela segunda vez, con- seguimos a reproducção do porco do mato maior, a quei- xada ( Dicotyles labiatus). Horto Botanico Emulo digno, este annexo tem acompanhado pari passu O desenvolvimento do precedente. Para constatar OS não poucos progressos aqui realisados, basta uma sim- ples comparação do aspecto actual com o que apresen- tava o anno passado. ' Entretanto a casual ausenciada nosso presado collega chefe da. secção botanica, priva- nos de trazer aqui pormenores sobre a movimento has vido neste instructivo e sympathico annexo do Museu Estadoal. Melhoramento de ha muito desejado era a substitui- ção dos lettreiros escriptos 4 mão e continuamente estra- gados pelas intemperies, por lettreiros esmaltados, como se fez no Jardim Zoologico. Acontecimento de grande satisfação para nós foi o facto de terem sido finalmente coroadas de successo as experiencias relativas à cultura da Victoria regia, con- seguindo-se que das muitas obtidas, uma viesse a flores- cer no lago. Ha grande desejo de possuirmos para o Horto Bota- nico um pedaço de genuina mata virgem nas immedia- ções da cidade—no Marco da Legua, por exemplo—para proceder-se a experiencias referentes a certas plantas que evidentemente, exigem o estado: de plena liberdadesda natureza para o seu crescimento e bem-estar. Paizes con- siderados modelos em assumptos coloniaes, como por exemplo a Ilha de Java, já puzeram em pratica semelhan- te idea no afamado Horto Botanico de Buitenzorg e pa- rece-nos que não andariamos mal avisados imitando-os em tal assumpto, tanto mais que, nisso, tudo ha a ganhar e-nada.a perder Relatorio de 1900 261 Collecções Scientificas Attento a que, desde a época da reorganisação do Museu, (Boletim do Museu Paraense, vol, 1. pag. 10a 22, 1894) não foi mais publicado um inventario completo, mas somente fragmentos nos nossos Relatorios posteri- ores aquella data, achamos a proposito dar aqui um resu- mo orientador do assumpto. Principiando pela secção zoologica temos: | —Vertebrados existentes em 1 de janeiro de 1901 a)—Montados, nos armarios das salas de exposição: Mammiferos so especies em 100 individuos Aves 260 » » 4060 » Reptis IS » » 20 » Peixes 4 » » 6 » Amphibios I » » I » 330 » » 5 / Í » b) —Pelles, para serem armadas: Mammiferos 50 especies em 270 individuos Aves 330 » » 1000 » 380 » TZ /0 » c)—Em alcool: Mammiferos 30 especies em 230 individuos Reptis 90 » » 420 » Amphibios 20 » » 35 » Peixes Igo » » 900 » 330 » » 1585 » Total: 3442 individuos vertebrados, abrangendo 1040 especies, 2—(BOL, DO MUS, PARAENSE) 262 Relatorio de 1900 Il. —Invertebrados existentes em 1 de janeiro de 1901 a)—Collecção scientifica: Insectos 1759 especies em 5371 individuos Myriapodes 1 » » 23 » Arachnidos 5 » » II » Crustaceos IO » » 40 » 1785 » » 5445 » b)—Collecção de exposição: Insectos 176 especies em 874 individuos Myriapodes I » ) ig » Arachnidos 8 » ) II » Crustaceos 1 » » 5 » 489 » » 903 » Total: 6348 individuos invertebrados, abrangendo 2274 especies Wl. —Varia zoologica (dentes, chifres) etc. e Coljecção conchyliologica, orçando em cerca de 650 objectos representativos de 150 especies, Recapitulação: I. Vertebrados | 1040 especies, 3442 individuos 1. Invertebrados 2274 » 6348 » II. Varia zoologica 150 » 050 » Total= 3464 » 10440 » Confrontando com o estado das cousas em 1894, O inventario do Museu, só em relação à secção de zoolo- gia, revela-se quasi vinte vezes maior do que n aquella época, mesmo sem incluir os animaes vivos do Jardim Zoologico! Quanto à collecção entomologica acho de utilidade dar mais alguns detalhes alem dos algarismos acima exarados. Assim é que podemos subdividil-a da manei- ra seguinte: Relatorio de 1900 205 Collecção scientifica || Coilecção de exposição | TOTAL | ESPÉCIES INDIVIDVOS ESPECIES | INDIVIDTOS ESPECIES INDIVIDUOS Coleopteros 606 1697 116 201 722 1898 | Hymenopteros 417 1828 108 285 525 2113 | | Lepidopteros 438 1241 | 172 271 óIo I5I2 Dipteros 70 foto | I2 I5 32 IO5 Neuropteros 22 70 | I5 25 47 95 Orthopteros 100 | I98 34 43 134 241 | Hemipteros 106 247 | I9 34 125 281 SOMMA HE EA: 6) Ba | 2235 | 6245 | Quanto á secção botanica, o inventario em 1 de ja- neiro de 1901 apresenta o seguinte: | —Herbario amazonico: 3757 exemplares, representando 1704 especies (das quaes estão classificadas 945, e por classificar 759.) ||. —Varia botanica a) Fructas e sementes: especies 160; exemplares 306 b) Madeiras » 153 » 189 c) Resinas » I5 » 21 d) Raizes » — ) IO e) Cascas » 26 » 28 Ff) Cipós » 37 » 4 £) Fibras vegetaes » 26 » 30 h) Plantas em alcool » — » 204 1) Gomma elastica » — » 31 Perfazendo ao todo 2345 especies de plantas, representadas por 4416 individuos e amostras. 264 Relatorio de 1900 Na secção de ethnographia, archeologia, etc. en- contramos: Armas: ARCOS: Ps sa NA ON 30 flexas nb dd 440 JAMICAS, due gera o age q DO maças me + rua I4 CArCAZES qua” fodme or e 8 garaDatamas. ce 8, etc, ou cerca de 558 Instrumentos de musica, signaes etc... 22 Remos . Las boss Ea EA E CRE 16 Enfeites de pennas, missanesas, etc; E 9o Utensilios decusoldomesticonr 35 Machadoside pedra e. E 60 Louça menor (dos quaes 200 fragmentos) DO Mascarás" eds oa ho OR 28 Louça maior (urnas, igacabas, etc). -.» 1. 8o Fangas dt. LAP Ckso ist pese IRS RES I7 Em objectos de ethnographia de recente datarende origem baixo-amazonica temos 50 cuias; apetrechos de pesca 10; paneiros, cestas, etc. 15; ao todo 75 exempla- res. Assim consta o total desta secção de 1310 especimens (contagem que não póde ser muito rigorosa, sobretudo em relação aos fragmentos de louça). Resta-nos somente dizer quanto às collecções da se- cção de geologia, mineralogia e paleontologia. Nella se encontram 2100 especimens, representativos de 798 es- pectes:. Recapitulando, verificamos existirem nas quatro se- cções: a) 1º) Zoologia— especies 3464, individuos 10440 2º) Botanica » 2325 » 4416 3º, Ethnographia » 400 » I310 4º) Geologia » 798 » 2100 Total: » 6987 » 18266 Existem portanto no Museu paraense actualmente 18.266 objectos que representam perto de sete mil especies Relatorio de 1900 265 diversas de productos da natureza amazonica, etc., de- vendo ser bem frizado que ainda assim nestes algaris- mos não entram os animaes e as plantas vivos existen- tes nos dois annexos, Horto Botanico e Jardim Zoologico. A organisação dos catalogos, aliás prevista pelo Re- gulamento — (cap. I, art. 9, 2.º) — continúa a merecer, necessariamente, toda a nossa attenção. Não devendo el- les, porem, constar de mera enumeração de objectos mas sim de uma relação desenvolvida e annotada de uti- lidade e valor duradouros, requerem longo e aturado tra- balho. Já no Boletim do Museu—N.º 4, Tom. 11—corres- pondente ao mez de dezembro de 1898, tivemos occasião de apresentar, pelo nosso trabalho intitulado— Voto Fam. Bubonidae. Subfam: Buboninae: 19 39. Scops brasilianus Para, I. Mexiana, Alto Amaz AO. », ustus Alto Amaz: 20. 41. -». ciisgtaius Pariato Ecuador WML 42. Speotyto cunicularia Val. Tambo, Peru 3. Glaucidium ferox Peru, Bolivia Subfam: Syrniinac. 21 44. Syrnium superciliare Para W. 45. » perspicillatum R. Amaz. marg. esq. PASSERIFORMES PASSERES COLIOMORPHAE Cat. Br. M: Vol, III Fam. Corvidae Subfam: Corvinae. 46. Cyanocorax diesingi. Bolívia, R. Madeira à o » violaceus R. Javary 19) 9) 24 Lista das Aves Amazonicas 281 CICHLOMORPHAE Cat. Br. M. Vol. Fam. Turdidae 48. la Na) NI 152 URSS nd) NERD nO nf NS nO pl Cafe — . NT e ly 9 Subfam: Turdinae. Turdus maranonicus Alto Amaz. Peru phaeopygus Pará, Chamicuros, Peru, » Amaz. Turdus leucomelas R. Ucayali, Peru, Amaz, Rio Negro Turdus fumigatus Pará, Alto Amaz »7 » » 2» hauxwelli Iquitos rufiventer Bolivia Merula serrana alto Amaz. leucops Chamicuros nrigricebs Centr..Peru Catharus mentalis Bolivia (E) Fam. Timeliidas Cat. Br.M. Vol. VT Subfam: Troglodytinae. Campylorhynchus hypostictus R. Ucavali 2» » » variegatus Amazonia unicolor Bolivia uia OBRA leucotis R. Ucayali Thryothorus genibarbis Bolivia » 2» amazonicus alto Amaz, Saravacu griseipectus alto Amaz. Nauta Troglodytes musculus Pará » rufulus NXeberos Henicornia leucosticta Sarayacu Cyphorinus modulatus Chamicuros » salvini Rio Napo Microcerculus albigularis Saravacu » » bicolor Saravacu marginatus Chamicuros. Pebas 282 Lista das Aves Amazonicas Subfam: Miminae. 73. Mimus lividus alto Amaz 74. Myiadectes ralloides Yungas e Subfam: Vireoninae. Vireo calidris Chamicuros » Jlavoviridis R. Napo >» chiot Para Hylophilus rubrifrons baixo Amaz. 9) à “1 ==] CO TESE 27 79. » semicinereus Pará So. Vireolanius leucotis R. Negro, R. Huallaga EO) 28 -81. Cycorhis albiventris Pará, Amaz. 82. » guianensis Brazil (N-E) Fam. Hirundinidae Catidir Subfam: Hirundininae 83. Cotile ripbaria Nauta 29 84. Tachycineta albiventris Pará, Pebas Jo 85. Hirundo EyilerriPara 31 86. Progne purpurea Pará, Manãos O OM » chalybea Pará, I. Mexiana, Xeberos, alto Amaz. SS. Progne tapera Yquitos, R. Tocantins, ao R. Ucavyal 89. Atticora fasciata alto R. Ucayali alto Amaz, R. Negro go. Atticora melanoleuca Forte do Principe, R. Madeira 33 91. Atticora cyanoleuca Pará. Nauta Lista das Aves Amazonicas 283 Subfam Psalidoprocninae 34 92. Stelgidopterix ruficollis Pará. R. Ucayali. R. A) 36 y Napo. Yquitos Fam. Mniotiltidae 93. Parula pitiayunt ? Amazonia? 94. Dendroeca aestiva Yquitos. Sarayacu 95. » siriata R. Negro. Sarayacu 90. Geothlyvpis aeguinoctialis |. Mexiana 97. » velata Val. Urubamba 98. Granatellus pelzelni R. Madeira 99. Basileuterus Jlaveolus Govyaz 100. » auricapillus IOI. » uropvgialis Sarayacu, Santa Cruz (Peruv, Amaz.) 102. Myodioctes canadensis Sarayacu 103. Polioptila parvirostris Chamicuros 104. Anthus rufus Pará, I. Mexiana,R. Amaz. W. Fam. Coerebidae Cat. B. M.Vol. XT Subfam: Diglossinae 105. Diglossa sittoides Yungas 100. » mystacalis Yungas Subfam Dacnidinae 107. Hemidacnis albiventris Sarayacu. Xeberos 108. Dacnis cayana Pará, Chamicuros 109. Dacnis angelica Pebas .R. Ucavyali TÊo: » egregia R. Napo 40 41 42 MESA LTO. ») Lista das Aves Amazonicas Haviventris Ucayali. Pebas. Yquitos. Saravacu - Dacnis pulcherrima Sarayacu ») ») analis Ucayali plumbea Yquitos Subfam Coerebinae Chlorophanes spiza R. Napo, Sarayacu, Yqui- tos. Coereba cyanea baixo Amaz, Ega » >» caerulea Para, Santarem, Pebas, Uca- vali. nitida Pebas. Xeberos. Ega. Ucayali Certhiola mexicana Saravacu chloropyga Pará 1. Mexiana Fam. Tanagridae 121 202. Subfam Procniatinae . Procnias tersa Sarayacu, Ecuad. Subfam Euphoniinae Chlorophonia longipenmis Saravacu, Ecuad. 123. Euphonia xanthogastra R. Napo Yquitos I24. 125. 126. pos 126. 129. minuta Sarayacu Nauta alto Ucayali violacea baixo Amaz melaniura Manãos. Yquitos. Ucayali rufiventris alto Amaz. R. Negro cayana baixo Amaz chrysopasta Ucayali. Napo. R. Ne- gro. 43 44 Lista das Aves Amazonicas 285 Subfam: Tanagrinae. Tanagrella iridina. alto Amazonas. Yquitos. Javary. Ucayali etc. » calophrys. alto Amaz. Ucavali. Chlorochrysa calliparia. R. Napo. Saravacu. » fhoenicotis R. Napo. Sarayacu. Calliste tatao. R. Negro. » geni. R. Napo. Pebas. Sarayacu. » schrankt. alto Amazonas. » punctata. Rio Negro. » xanthogastra alto Amaz. R. Napo. » gramminea baixo Amaz. » rufigularis Saravacu. » pulchra R. Napo. Sarayacu. » icterocephala R. Napo. » cayana R. Negro. » gyroloides alto Amaz. R. Napo. » albertinae R. Madeira. » Jflaviventris Manãos. » boliviana R. Capim. alto Amaz. Uca- vali. » nigricincta R. Ucayali. Sarayacu. Ec- uad. » cyancicollis R. Napo. Sarayacu. » taylori R. Napo. » melanotis R. Napo. » parzudakii R. Napo. » chrysotis alto Amaz. R. Napo. » argentea Urubamba. Iridornis jelskit Yungas. 5. Buthraupis cucullata Saravacu. » chloronota Saravyacu. Compsocoma sumptuosa Pará. Amaz. Tanagra episcopus Pará. » coelestis R. Napo. Yquitos. Sarayacu Tanagra palmarum 1. Mexiana. R. Napo. etc. Rhamphocoelus dorsalis alto Amaz. ? » » nigrigularis alto Amaz. Yqui- tos. Manáãos. » » Jacapa Pará. I. Mexiana. Amaz. Calochaetes coccineus R. Napo. 2 48 49 50 el. 4) 0) 53 54 2 IS4. I85. 180. 187. 188. 189. 190. I9I. 192. 193. 194. 195. I90. 197. Lista das Aves Amazonicas Pyranga aestiva R. Napo. Saravacu. » rubra Sarayacu. Ecuad. Phoenicothraupis rhodinolaema alto Amaz. Lanio atricapillus R. Napo. » — versicolor R. Javary. Tachyphonus melaleucus. Pará. R. Tocant. » phoeniceus alto Amaz. Xeberos. » cristatus Pará. alto Amaz. » surinamensis Pará. alto Amaz. » rufiventris alto Amaz. R. Napo. Ucavyali. Eucometis penicillata Pará. I. Mexiana. alto Amaz. » albicollis Govaz. Nemosia pileata |. Mexiana. Araguary. baixo Amaz. » flavicollis Ucayali. » peruana alto Amaz. Pebas. Sarayacu. Thlypopsis amazonum baixo Ucayali. Pebas. Nauta. » chrysopis Sarayacu. Ecuad. » ruficebs Yungas. Subfam: Pitylinae. Chlorospingus calophrys Yungas. Microspingus trifasciatus Yungas. Buarremon torquatus Yungas. » brunneinucha R. Napo. » castaneiceps R. Napo. » rufinucha Yungas. » comptus Ecuador. (E) » fulviceps Yungas. Arremon silens R. Capim. W. » flavirostris Cameta. » devillii CGovaz. » spectabilis R. Napo. Conothraupis speculigera alto Amaz. Ucayali. Psittospiza elegans Yungas. pi. 60 61 64 Fam: 200. 207. 208. 209. 210. 911. 212. A EU 214 215. 216. 217. 218. 219. 220. 2921. 222. Lista das Ares Amazonicas 2817 -. Saltator magnus Pará. » superciliaris Mexiana. alto Amaz. Lamprospiza melanolenca baixo Amaz. Cissopis leveriana Ucavyali. Saravacu. Ecuad. - Pitylus grossus R. Javarv. Pebas. » erythromelas R. Capim. W. » viridis Pará. » humeralis R. Napo. Saravacu. Ecuad. lcteridae. Subfam: Cassicinae. Clypeicterus oseryi alto Amaz. Pebas. Huallaga Sarayacu. Ocyalus latirostris alto Amaz. Yquitos. Nauta Gymnostinops bifasciatus baixo Amaz. » » juracarium Manãos. Saravacu. Ostinofps decumanus alto Amaz. » viridis Pará. alto Amaz. » atrovirens Yungas. » angustifrons alto Amaz. alto Ucayali - Cassicus persicus Pará. I. Mexiana alto Amaz. » chrysonotus Yungas. » albirostris Rio Claro. Goyaz. » haemorrhous Rio Claro. Goyaz. » affinis Pará. Sarayacu. Ecuad. Amblycercus solitarius alto Ucavali. Pebas. Yquitos. Cassidix oryzivora Pará. Manãos. Pebas Subfam: Agelaeinae. Dolichonyx oryzivorus R. Javarv. Molothrus bonariensis Rio Claro. 006 08 69 Lista das Aves Amazonicas Soa. » atronitens 1. Mexiana. 224. » badius Yungas. 225. Agelaeus cyanopus Para? Araguay. 226. » rcterocephalus Pebas. Chamicuros. 22%. Leistes guianensis Amazonia. Mexiana. Ma- deira. Subfam: Icterinae. 228. Gymnomystax melanicterus Amaz. Yquitos. 229. Icterus pyrrhopterus Yungas. 30. » chrysocephalus Amazonia. Ucayali. ee » cavanensis Marajó. Peruv. Amaz. 232 » tibialis Rio Claro. Goyaz. EE » hawxwelli Chamicuros. 234 » xanthornus alto Rio Negro. 235 » croconotus alto Amazonas. Subfam: Quiscalinae. 230. Lampropsar tanagrinus Manãos. Javary. U- cavali. Fam:Fringillidae. Cat. Br. M. Vol. XII.) Subfam: Coccothraustinae. 237. Hedymeles ludovicianus Sarayacu. Ecuad. 238. Guiraca cyanea Borba. Madeira. Ucayali. Nauta. Sarayacu. Ecuad. 239. Oryzoborus torridus Pará. alto Amaz. 240. » crassirostris alto Amaz. 241. Spermophila hypolenca Pará. 242 » grisea R. Amaz. 243. » telasco Val. Tambo. “7 na sa Are ISRRS “1 NT) “J “ 8o ST Lista das Aves Amazonas 289 244. » castaneiventris alto Amaz. Pe- bas. Nauta. 245. » minuta Pará. 240. » lineata Pará. I. Mexiana. 247. » guttur turalis Pará. 248. » ocellata Ucavali. Nauta Yquitos, 249. » linceola I. Mexiana Amaz. Tocan, 250. » luctuosa Xeberos. Saryacu. Ec- uad. 251. Catamblyrhynchus diadema Saravacu. Ecuad. 252. Volatinia jacarini Pará, Manãos. Guia, Subfam: Fringillinae. 253. Sycalis flaveola Pará. Rio Claro. Goyaz. 254. » colombiana Manãos, 255 » pelzelni Pará, 250. » arvensis Yungas, ET. » minor |, Mexiana, Subfam: Emberizinac. 258. Proospiza hypochondriaca Yungas. 250. » cinerea Govaz. 260 » torquata Yungas. 267. Ammodromus manimbe 1. Mexiana. 202. » » peruanus Ucayali. Nauta. Sa- rayacu. Fcuad. 263. Embernagra olivascens Yungas. 264. Emberizoides herbicola I. Mexiana. 265. Phrygilus saturatus Yungas. 266. Phrygilus fruticeti Yungas. 267. Xenospingus concolor Val. Tambo. 268. Coryphospingus cristatus Pará. Yungas. 269. Schistospiza griseocristata Yurgas. 270. Paroaria larvata Rio Claro. Govaz. STE. » gularis 1. Mexiana. Pebas. W. 290 Fam: O) k “) ERR “1 DV NINA 2 O oo oo J(c 0) (09) JT o 199 OO 00 DOOM DV NA 2 19 49 o : 300. 301. —1 tQ k OA pe o iy O 001 2 m rm ad Lista das Aves Amazonicas Tyrannidae. (Cat. Brat. M. Vol. XP VS) Subfam : Taeniopterinae. Myiotheretes striaticollis Yungas. Taenioptera velata 1. Mexiana. Pará. W. Ochthodiaeta fusco-rufus Yungas. Ochthoeca leucophrys Yungas. » cetrinijrons KR. Napo. » pulchella Yungas. » rufibectoralis Yungas. » thoracica Yungas. Mecocerculus leucophrys Yungas. » sbtctopieras RR. Napo: Ochthornis littoralis Yquitos. R. Javary. Sa- rayacu. Fluvicola albiventris IJ. Mexiana. Pebas. Arundinicola leucocephala Rio Claro. Pebas. Cnipolegus aterrimus Yungas. » unicolor Pebas. » pusillus baixo Amaz. W. Muscipipra vetula Rio Claro. Goyaz. Copurus colonus Sarayacu. Muscisaxicola Ffluviatilis Ucayali. Nauta. Subfam : Platyrhynchinae. Platyrhynchus senex Sarayacu. Ecuad. Platyrhynchus coronatus Sarayacu. Ecuad. Todirostrum chrysocrotaphum alto Ucayali. » nigriceps Rio Napo. » calopterum R. Napo. Sarayacu. Ecuad. » guttatum. Pebas. » maculatum Pará I. Mexiana. W. » signatum Pebas. Yquitos. » picatum R. Napo. Sarayacu. » capitale R. Napo. Sarayacu. Euscarthmus zosterops Borba. 86 306. S7 210. fofo] 314. Gas Su lv ly lo lyu ly B) to 4 ORI No = O. Lista das Aves Amazonicas 291 » latirostris R. Napo, Nauta. Cha- micuros. Caenotriccus ruficeps Sarayacu. Ecuad. Lophotriccus spicifer Ucayali. Yquitos. etc. » squamicristatus alto Amaz. Colopterus galeatius Pará. Capim baixo Amaz. Stigmatura budytoides R. Ucayali. Serphophaga albogrisea Sarayacu. Chamicu- TOS. » hypoleuca baixo R,. Ucayali, » subflava Pará. W. Anaeretes parulus Yungas. » flavirostris Yungas, Subfam: Elaineinae, Mionectes striaticollis Yungas. » oleagineus Pará. Pebas. Borba Guia. Leptopogon superciliaris R. Napo. » godmanni Sarayacu. Ecuad. » amaurocephalus Nauta. Capsiempis flaveola I. Mexiana. W. Myiopatis semifusca I. Mexiana. Pará. Ornithion inerme Sarayacu. Ecuad. » pusillum Pará. Mexiana. Napo. Ucavyali. Tyrannulus elatus Amazonia. Pebas. Tyranniscus gracilipes. Pará. R. Negro. Pe- bas. » bolivianus. Yungas. » chrysops. Sarayacu, Ecuad. - Elainea pagana. Pará. Pebas. ) gigas. R. Napo. Sarayácu, Ecuad. » albiceps. Val. Tambo. Sovaz. Ucavyali. » gaimard:. Borba. Pebas. » Ffavivertex alto Ucayali. » ruficebs. Amazonia. » obscura. Yungas. - Legatus albicollis. Pará. Saravácu. 98 34 99 : 100 : TOT HOM: - 103 104 108 ONT O AS) GUS USO St AS) GS; na E Lista das Aves Amazomicas Sublegatus plathyrhynchus. I. Mexiana. Go- vaz. Myiozetetes cayennensis. Pará. W. ») similis. Para. » texensis. Pebas. Sarayácu. Ec. » sulphiurews. Chamicuros. Sarayácu Ec. » luteiventris. R. Napo. Sarayácu. Ec. Rhynchocyclus aequinoctialis. R. Napo. Sara- yacu. E. » fulvipeciis. Sarayácu. E. » sulbhurescens. R. Madeira. Xeberas » megacephalus. Pará. » poliocephalus. Pará. Pebas. » virnidiceps: Pebas. » ruficâuda. Pará. Chamicuros. Pitangus sulphuratus. Pará. Mexiana. Pebas. » lector. Para. Mexiana. Yquitos. » parvus. Baixo Amaz. Sirystes stbitator. Rio Claro, Gogaz » albocinereus, Sarayacu, Ec, Yquitos. Myiodynastes nobiiis. Sarayácu, Ec. ) » audax. Manãos, Yquitos. » » solitarius. Para. Sarayacu Ee Subfam : Tyranninae - Megarhynchus pitangua. I. Mexiana Yqui- tos. Goyaz. Muscivora regia Pará. Pebas. Chamicuros. Hirundinea ferruginea. Rio Içanna, N. Br, Baixo Amaz, » belticosa. R. Claro, Vumngas, Cnipodectes minor. Chamicuros, Myiobius barbatus. Amaz. Sarayacu. Fc. » villosus Rro Napo: Yungas; » ervthriirus Para. R. Capim: “Naus tos: IR Napos » rufescens NY al Lamos 109 TITO JF F TI2 II3 ITA II5 II6 364. » 305. » 300. 7» 367. ” Lista das Aves Amazonicas “293 phoenicurwus. R. Napo. Sarayácu. Ec. subochraceus. Yungas. naevius. Para. cryptoxantheus. Sarayácu. Ec. 368. Pyrocephalus rubineus. Pebas. R. Ucayali. Sarayácu. Fc; » obscurus. Val. Tambo. Empidochanes arenaceus. Mexiana. Yquitos. Cont » 27 Myioc Miva je PS O poa pis AO) Sa [RL (DE (URLS (9 (o a q (Sa fa GOTO GN SI 97 97 RU OMNI 199 149 1499 los 199 (O Sha | = QN Y y NOS NINA [9] 22 GO GO OO 00 OO OB) No Do 9 2» Tyra Oo OO O o) ty) DR Empidonax bimaculatus. Pebas. » oliva Yquitos. opus ardesiacus. Yungas. virens. Sarayácu. brachytarsus I. Mexiana. “hanes nigrescens. Sarayácu. Ec. rchus tyrannus. Sarayácu. Perú. feroz. Pará I. Mexiana. Alto Amaz. nigriceps. Sarayácu. Ec. Yquitos. tricolor. R. Tocantins W. atriceps. Yungas. Empidonomus varius. Amazonas. Pebas. » aurantio-atro- cristatus. Govaz. Ucavyali. Tyrannus pipiri. Nauta. Sarayácu. Perú. an Pará. I. Mexiana. Yquitos. nnus albogularis. Goyaz. To Miloulus ivrannus. Para. E. Mexiana. Guia. Fam : Pipridae. ado. Chio 380. Xeno Subfam: Piprinae ropipo holochlora. Sarayácu. Ec. 390. Cera bipo atronitens. R. Içanna. R. Negro Baixo Amaz. topipra cornuta. R. Negro. » rracunda. R. Napo. 392. Cirrhopipra filicauda. Manãos. R. Napo. 4 (8o! DO MUS. PARXENSE 294 BIG IIS IIQ 393. 394. 905: 390. 397. 398. 399. 400. 405. 400. 407. 408. 409. ATO. ATE AI2. US. AIM. 415. 4IO. “MirA AIS. AIO. 420. Lesta das Aves Amazonicas » heierocerca. Amazonia. Masius coronulatus Sarayácu. Ec. Metopothrix aurantiacus. Baixo Ucayali. Sa- miria. Pipra flavicollis R. Negro. Manãos. Amazonas. Sarayácu. Fc. » fasciata. Alto Rio Ucayali. » rubricapilia.. (sovaz. Boa. Nquitos » “aurveapilia: Para. Pebas: R:Napo » « leúcocillas Para. Ega. R. Napo Es Ucayali. » tsidort. Satayacu Ee, » cevanocapilla. Ega. R. Napo. “Pes Amaz. » natbterers Borba » , virescens. R. Negro. Xeberos. Chamis curos. Neopipbo cinnamomea. Chamicuros. Sara- vaca. JE Machaeropterus regulus. Rio Claro. Goyaz. » » striolatus. R. Ucavyali. R. Na- po. Pebas. » » tyrocephalus. R. Ucayali. » ) deliero sis: Sana Eres Chiroxiphia pareola. Pará. Goyaz. Yungas. E » regina. R. Javary. Alto Amam » ) caudata. Rio Claro. Goyaz. Helicura militaris. Rio Claro. Goyaz. Chiromachaeris manacus. Pará. Pebas. Sa- rayacu. Ec. » » gutturosa. Rio Claro. Goyaz. Subfam : Ptilochiorinae Ptilochlorus squamata. R. Napo? Heteropelma wallacii. Pará. » amazonum.R. Ucayali. Sarayácu.Cha- micuros. Fc. Schiffornis major. Nauta. Samiria. » rifa: R: Amam: Rolicaro: EO pps 9 VI o À) mM Fam : o ty [na 8) So) + + NG as AS RE o OU TASO) OC Lasta das Aves Amazonicas 295 Heterocercus lineatus. Alto Amaz. » Havivertex. R. Negro. Chamicuros. ) aurantitvertex. Sarayácu. Ec. Cotingidae. Subfam. Tityrinae Tityra cayana. Pará. R. Ucayali. Yquitos etc. » semifasciata. Pará. R. Ucayali. Yqui- tos. Hadrostomus homochrows. Saravácu. Ec. » minor. Para. Yquitos. Samiria. Pachyrhamphus cinereus. Pará. Mexiana. » » cinnamomeus. Alto Ucavyali. ) » rufus. Sarayácu. Ec. » ) niger. Pará. Pebas. Nauta. Napo. » » polychropterius. Mexiana. » » atricapillus. Perú. Amaz. Napo. Subfam. Lipauginae Chirocylla uropygialis. Yungas. Lathria cinerea. Pará. Sarayacu. Ec. Lathria subalaris. R. Napo. Alto Amaz, Sara- vacu. Ec. Aulia hybophyrrha. FA SE Lipaugus simplex. Baixo R. Ucayali. Sara- vact. Re. Subfam. Attilinae Attila spadiceus. Yquitos. » ) citriniventris. Alto Perú. Amaz. » tfhamnophiloides. Mexiana. Alto Amaz 296 130 at ED EN 0. MN 459. 400. 401. 402. Lista das Aves Amazonicas Casiornisrubra. Govaz. . Phoenicocercus carnifex. Pará. Manãos. » migricollis. Pebas: Xeberos cio hRupicola croceca: Guia, R. Negro. » peruviana. Yungas. Subfam : Cotinginae Phibalura flavirostris. Rio Claro. Goyaz. Ampelion cucullatus. Rio Claro. ) arcuatus. Yungas. Pipreola viridis. Yungas. ) formosa. R. Napo. ) frontalis. Yungas. ) sclateri. R. Napo. Sarayácu. Cotinga cayana. R. Napo. Sarayácu. » maynana. R. Ucayali. R. Napo. Pe- bas etc. Yquitos. » porphyrolaema. R.Ucayali. Samiria. Sarayácu. Ec. Xipholena lamellipennsi. Pará. Jodopleura- isabellae. Para. Tocantins. Ps: bas. Xeberos. Subfam. Gymnoderinae Haematoderus militaris. Baixo Amaz. Querula cruenta. R. Ucayali. Chamicuros. Sarayácu Fc. Cephalopterus ornatus.R. Javary. Alto Amaz. Yungas. Gymnoderus foetidus. Manãos. Sarayácu. Ec. Fam : Phytotomidae. 403. Phytotoma angustirostris, Yungas. Lista das Aves Amazonicas 297 Fam : Dendrocolaptidae. Ep doca PE A Subfam. Furnariinae 4604. Furnarius albigularis. Yudgas. 405. » leucopus. Pebas. 400. » minor. R. Madeira. Nauta. Yquitos. 407. » torridus. Ucavali. Santa Cruz. 134 408. » pileatus. Santarem. CEE Ss 469. Upucerthia excelsior. Yungas. 470. Cinclodes fuscus. Yungas. 471. Lochmias sororia. Sarayácu. Subfam. Synallaxinae 472. Leptasthenura fuliginiceps. Yungas. 473. Synallaxis frontalis. Rio Claro. Goyaz. A74. » moesta. Sarayácu. Fc. 135 475. » albescens. Pará. Pebas. Yquitos. Nauta 136 470. » guianensis. Pará. Rio Negro. 477. ») propingua. Ucavali. Napo. Yquitos. Do AjS. » cinnamomea. 1. Mexiana. Tocantins. 479. ) mustelina. Pebas. Sarayácu. 480. » vulpina. R. Ucayali. Yquitos. ASI. » Kollari. Rio Branco. 138 482. Synallaxis rutilans. Pará. Alto Amaz. 483. ) hyposticta. Pebas. Saravácu. Ec. 484. Siphornis rufipennis. Yungas. 485. » albiceps. Yungas. Subfam. Philydorinae 480. Pseudocolaptes boissoneauti. Yungas. 139 437. Berlepschia rikeri. Santarem. 488. Automolus striaticeps. Yungas. Saravácu. Ec. 4839. » subulatus. R$ Napo. Saravácu. Ec. 298 140 I4I 143 144 504. Sos. 500. Lesta das Aves Amazonicas » ochrolaemus. Saravácu. Ec. Alto Rio Ucayali. Chamicuros. » turdinus. Manãos. » melanopezus. R. Napo. Sarayácu. Ec. » dorsatlis-. varayacu. vEc. » sclateri. Para. R. Napo. Chamiciaiies Philydor rufus. Goyaz- Rio Claro. » erythropterus. R. Napo. Sarayáceu. Ec. Nauta. » pyrrhodes. - R. Madeira. Pebas Ma Napo. » ruficaudatus. Sarayácu. Ec. » er vthr ocercus. Pará. Manáãos. Ancistrops strigilatus. Nauta. Chamicuros. Sarayácu, Ec. Anabazenops. temporalis. Yungas. Xenops genibarbis. Pará. R. Negro. Ucayali. Nauta. » rutilus. Nauta. Sarayácu. Ec. Subfam. Sclerurinae Sclerurus mexicanus.R. Capim. Sarayácu. Ec. » caudac utus. R. Capim. » brunneus. Sarayácu. Ec. Yquitos. Subfam. Dendrocolaptinae Sittosomus olivaceus. R. Ucayali. » stictolaemus. Amazonas. Margarornis squamigera. Yungas. » brunnescens. R. Napo. Glyphorhynchus cuneatus. Pará. Alto Amaz. Dendrornis rostripallens. Manãos. Ega. Nau- TAsEie: » evtont: Para. Capim. Santarenao Borba. » pardalotus. Manãos. 149 150 9) DAVA NT ONANHANH CE=a LD SD nO (RT | URSS pl DIS PATO [AO 4 Pas | ASS) NH NJ o Ay COINIT Fam: ON t) No a ly O m Lista das Aves Amazonicas 299 » ocellata. Pebas. Yquitos. Xebe- TOS etc. » sita. Pará. » multiguttata. Borba. R. Napo. Ucavyali. Dendroplex picus. Pará. Mexiana. Rio Claro. Dendrexetastes devillii. Yquitos. Samiria. Xiphocolaptes albicollis. Rio Claro. » fromeropirhynchis. Sarayácu. Ec. Yungas. Picolaptes fuscicapillus. Sarayácu. Ec. » layardi. Pará. Nasica longirostris. Rio Negro. Samiria. Rio Napo. - Xiphorhynchustrochilirostris. Sarayácu. Amaz. (Monte-Alegre) Wall. » pusillus. R. Napo. Dendrocincla longicauda. Manáos. Ega. » fuliginosa. Pará. » olivacea. Rio Napo. Yquitos. Sarayácu. Fc. » turdina. Amazonas. » merula. Borba. Chamicuros. Dendrocolaptes picumnius. Rio Claro. » validus. Ucavali. Chamicuros. » certhia. Pará. Ega. » concolor. Borba. » radiolatus. Yquitos. Chami- curos. Saravácu. Fc. Formicariidae Subfam. Thamnophilinae Cymbilanius lineatus. Pebas. Ega. Yquitos. Nauta. Rio Napo. Thamnophilus wnduliger. Rio Ucayal. Xe- beros etc. » severus. Rio Claro. » fuliginosus. Amazonia. 154 155 156 158 159 Lista das » 7 7» » » » » » » » » P/4 P/d »7 » ” 7» D74 » » 2» » 2 » Áves Amazonicas transandeanus. Sarayácu. Ec. melanurus. Rio Ucayali. Rio Napo. Samiria. borbae. Borba. major. Para. Lleuconotus. Rio Ucayali. Rio Javari. Napo. acthiops. R. Napo. Sarayacu. Ec. luctuosus. Tocantins. Wall. tschudit. Borba. Yquitos. plumbeus. Rio. Ucayali. Sami- ria. Pebas. cinereo-niger. Rio Negro. nigro-cinereus. Pará. Mexiana. Tocantins. stellaris. Amazonia. murinus. Rio Negro. Xeberos, Chamicuros. capitalis. R. Napo. Yquitos ete. simplex. Pará. Baixo Amaz. cinereinucha. Rio Negro. amazonicus. Pará. Capim. Alto Amazonas. cirrhatus. Rio Negro. loreto-yacuensis. Loreto-yacu. Ucavyali. aspersiventris. Yungas. doliatus. Pará. Marajó. nigricristatus. Nauta. Ucayali. Pebas. palliatus. Pará. Rio Claro. puncticeps. Yungas. Sarayácu. Thamnistes aequatorialis. Rio Napo. Sara- VAC.. E Pyrgoptila maculipenis. Yquitos. Sarayácu. Pebas e Ec. » margaritata. Xeberos.Chamicuros. Neoctantes nger. Rio Negro. Saravácu. Dysithamnus “encostictus. Rio Napo. 2 » schistaceus. Yquitos Pebas. Sa- miria. ardesiacus. Yquitos. Rio Napo. 160 572. Ui 163 164 165 574. Lista das Aves Amazonicas 301 » plumbeus. Baixo Amazonas. » subplumbeus. Yquitos. Sara- vácu. Thamnomanes glaucus. Yquitos. Xeberos. Ucayali. Rio Napo. Subfam. Formicariinae Myrmotherula pyomaea. Rio Napo. Pebas. Sarayácu. Fc. » surinamensis. Alto Ucayali. » spodionota. Sarayácu. Ec. » haematonota. Chamicuros. Sa- to Uciaya. » tyrrhonota. Rio Negro. » erythrura. Rio Napo Sara- vacus Ec. » ornata. Rio Nos Sarayácu. Fc. » hauxwelli. Rio Capim. Nauta. RE quitos etc. R. Napo. » axillaris. Rio Capim. » nmebgena.Pehas. Xeberos. Yquitos. » menetriesi. Rio Amazonas. » longipennis. Rio Capim. Napo. Javary. » cinereiventris. Rio Negro. Bor- ba: Napo, etc. Herpsilochmus atricapillus. Govaz. » frater. Sarayácu. Fc. Formicivora grisea. Pará. Tocantins. » caudata. Rio Napo. » consobrina. Sarayácu. Ec. » quixensis. Rio Napo., Nauta. Sarayácu. » bicolor. Rio Madeira. Terenura humeralis. Sarayácu. Ec. - Rhamphocaenus melanurus. Rio Capim. » albiventris.. 'Sarayãácu. Ec Santa Cruz. 302 168 169 Lista das Aves Amazonicas » cinereiventris. Sarayacu. Be. » collaras. Rio Nesro: Cercomacra cinerascens: -Ucayali) ANG Pebas. » napensis. Rio Napo. Saraya- Cn EicE » tyrannina. Pará. Rio Negro. » carbonaria. Rio Branco. Pyriglena Lencoptera. Rio Claro. » atra. Para. » serva. Rio Napo. Pebas. Ucayali. Sarayácu. Ec. Percnostola funebris. Rio. Negro. Nauta. » minor. Rio Negro. » jortis. Pebas. Sarayacu: Ee Heterocnemis leucostigma. Xeberos. Sara- vacu Ses » argentata. Yquitos. Soretoyácu Chamicuros. Myrmeciza atrothorax. Rio Negro. Samiria. Chamicuros. » pelzelns. Rio. Nesro. » hemimelaena. Huallaga. Chami- curos. Sarayácu. Hlypocnemis cantator. Rio Javary. Pebas. Ega. Ucayali. » Javescens. Rio Negro. » hypoxantha. Sarayácu. Ec. » poecilonota. Pará. » lepidonota. Yquitos. Rio Napo. » schistacea. Rio Javary. » leucophrys. R. Napo. R. Javary. » myiotherina. Xeberos. Rio Napo Chamicuros. » lugubris. Borba. » melanura. Alto Rio Ucayali. » melanopogon. Ilha Mexiana. Rio Javary etc. » maculicauda. Nauta. » hemileuca. Baixo Rio Ucayali. » naevia. Rio Javary. Yquitos. Hypocnemis theresae. Ucayali. Napo. Xebe- TOS Br: E 4 030. Dal. 632 033. 639. Lasta das Aves Amazonicas 303 » stellata. Sarayácu. Fc. Pithys albifrons. Rio Negro. Sarayácu. Fc. » leucaspis. Rio Negro. Chamicuros. » lunulata. Sarayácu. Ee. Gymnopithys rufigula. Manãos. » melanosticta. Sarayácu. Ec. » gymnops. Baixo Rio Amazonas. Rhopoterpe torquata. Saravácu. Fc. Phlogopsis nigromaculata. Pará. Ucavali. Napo. » bowmani. Baixo Rio Amazonas. » trivittata. Alto Rio Amazonas. » erythoptera. Sarayácu. Fc. Formicarius nigrifrons. Sarayé ac Be; Chas micuros. » analis. Yquitos. Sarayácu P.e Fc. » CRLSSGLIsS PATA, Subfam. Grallariinae Chamaeza olivacea. Yungas. » nobilis. Chamicuros. Sarayacu. Ec. Thamnocharis dignissima. Sarayácu. Fc. Grallaria squamigera. Yungas. » regulus. Sarayácu. Ec. » varia. Pará. » nuchalis. Rio Napo. » erythrotis. Yungas. » brevicauda. Pebas. Chamicuros. Sarayácu. Ex. » Jfulviventris. R. Napo. Sarayácu.Ec. » macularia. Loretoyacu. Yquitos. Grallaricula fAavirostris. Rio Napo. Sara- yaácu. Ec. Fam: Conopophagidae 657. Conopophaga aurita. R. Napo. 058. » melanogastra. Borba. 304 176 17S 179 050. 000, (OGIA Fam: 002, 6003. 004. 605. 666. 007 R 008. 000. V7O: Oo Lasta das Aves 2» peru Amazonicas Lana, Sarayacu. Eca Napo. ardesiaca. R: Napo. 'Yungasi Corythopis anthoides. Pará. Chamicuros. Sa- Pteroptochidae rayácu. Scytalopus sylvestris. Yungas. analis. R. Napo. 4 Liosceles » erithacus. thoracicus. Rio Madeira. Saravácu. Ec. PICARIAE (Cat. Br. M. Vol. XVI.) TROCHILI TROCHILI SERRIROSTRES Tleltobirio AUS: Rhamphodon nacvius. Rio Claro. Hemistephania ludoviciae. Yungas. rectirostris. Sarayácu. Ec. johannae. Alto Amaz. Glancis hirsuta. Pará. Manãos. R. Javary. R. 2” 2» Pará. Guia. Pebas. Napo. etc. - Chlorostilbon pucherani. Pará ? » 4 42 7 2» ” melanorhynchius.Sarayácu. Ec. prasinus. Pebas. Nauta. Napo. Thalurania pps htora. R. Napo. watertoni. Baixo Amaz. (perto da fanniae. bocca.') a Ec. nigrofasciata. R. Napo. R. Tigre. tschudii. Javary. Pebas. Guia. Ucavyali. Yungas. I$1 183 184 Lista das Aves Amazonicas 305 » furcatoides. Pará. Ilha Mexiana. - Lampornis violicanda. Pará. Mexiana. Santa- rem. Alto Amazonas. » grammineus. |. Mexiana. - Petasophora serrirostris. Goyvaz. » rolata. Yungas. » cyanotis. Yungas. » delphinae. Saravácu. Ec. Chrysolampis moschitus. Pará. TROCHILI INTERMEDI! Pterophanes temminckii. Yungas. Helianthea lutetiae. Saravácu. Ec. » vrolifera. Yungas. . Bourcieria inca. Yungas. - Lampropygia columbiana. Saravácu. Ec. » boliviana. Yungas. Lesbia gouldi Saravácu. Fc. Metallura tyrianthina. R. Napo. Sarayácu. Fc. » smaragdinicollis. Yungas. Heliangelus amethysticollis. Yungas. » strophianis. Saravácu. Ec. Heliotrypha viola. R. Napo. Adelomyia melanogenys. R. Napo. » rnornata. Yungas. Phlogophilus hemilencurus. R. Napo ? Polytmus leucorrhous. R. Negro. Xeberos. Alto Amaz. Agyriria viridiceps. Sarayácu. Fc. » bartletti. Ucavali. » Alleni. Yungas. Agyrtria vir idissima. Pará. Mexiana. » Huviatilis. s. Ucavali. Pebas. Yquitos. Napo. Leucibpus chlorocercus. Ucavali. Nauta.Y qui- tos. Pebas. Amagzilia riefferi. Sarayácu. Fc. Flor icola longirostris. Napo. Yquitos. Pebas. Encephala grayi. Saravácu. Ec. 306 Lista das Aves Amazonicas 185 713 » caerulea. Pará. Pebas. Yquidos: TIA. » hypocyanea. R. Negro. S6 715. Flylocharis sapbphirina. Pará. Pebas. Sarayá- | Co. e: gh nie » cyanea. Yquitos. 717. Chrysuronia oenone. R. Napo. Pebas. Sarayá- n. Ec. FIO. » neera. Pebas. Yungas. TROCHILI LAEVIROSTRES 719. Eutoxeres heterura. Sarayácu. Fc. 720 » condaminii. Sarayácu. Ec. 721. Threnetes cervinicauda. Napo. Pebas. Chami- curos. oo » fraseri-Sarayácu. Ec. 187 723. Phaetornis superciliosus. Pará. Pebas. Napo. Yquitos. TOA. » bolivianus. Yungas. os. » hispidus. Pebas. Yquitos. 726. » syrmatophorus. R. Napo. Sarayá- CU. Es PEN E » eurynome. Rio Claro. 726: » bourcieri. Pebas. Sarayácu. Ec. 729. » philippii. Fonteboa. Alto Amaz. 730. Pygmornis striigularis. Napo. Sarayácu. Ec. Chyavetas. 188 731 » fygmaeus Para. 730. » nigricinctus.Alto R. Nagro. Pebas. bet Camprlopteris largipennis.Cobati R. Negro. I89 734. » obscurus. Pará. Pebas. Sara- yacu. Ec. 195» » villavicencio. Sarayácu. Ec. 190 730. Eupetomena macrura. 1. Mexiana. 7137. Aphantochroa hyposticta. S. Antonio: "Bem ris (sr » gularis. Napo. Chyavetas. 739. Urochroa bougueri. R. Napo. Sarayácu. Ec. 740. Clytolaema rubinea. Rio Claro. 741. » aurescens. Sarayácu. Ec. Pebas. Ega. | mf 9) Heliodoxa leadbeateri. Yungas. I91 745. Lista das Aves Amazonicas 307 holaema schreibersi. Pebas. Sarayácu. Ec. Hylonympha macrocerca. Amazonas? Florisuga mellivora. Pará. R. Negro. Pebas. Topaza prra. R. Negro. Rhamphomicron ruficeps. Yungas. Rio rum petro ATO. Amaz. Eriocnemis smaragdinipectus. Sarayácu. Ec. » nigrivestis. Sarayácu. Ec. » russata. R. Napo. » assimilis. Yungas. Panoplites matthewsi. Alto Amaz. Spathura addae. Yungas. Calliphlox amethystina. Sarayácu. Ec. Alto Amaz. » mitchelli. Sarayácu. Fc. Acestrura mulsanti. Pebas. Yungas. Lophornis ornatus. Amazonas. » gouldi. Para. » regulus. Yungas. » verreanxi. Pebas. Yquitos. Prymnacantha langsdorffi. Pebas. Xeberos. R. Napo. Heliactin cornuta. Goyaz. CORACIAE (Cat Br. M. Vot-XVIE; Fam. Cypselidae. 193 704. 705. 706. 94 TO. Subífam, Cypselinae Panyptila cayanensis. Pará. Santarem. Claudia squamata. Xeberos. Subfam. Chaeturinae Chaetura gonaris. Alto Amazonas. » fumosa. Pará. Santarem. 308 Lista das Aves Amazonicas 195 190 197 198 Rio, 705. » poliura. Para. Xeberos. Chamicuros. 709. » sclateri. Chamicuros. Fam. Caprimulgidae Subfam. Caprimulginae 770. Caprimulgus rufus. Para. Pa. » mgrescens. Para. Rio Nesno: Sarayácu. Ec. ço: » parvulus. Xeberos. ineo » * ocellatas. sarayaçu. BE; 774. Stenopsis longirostris. Yungas. 7175. Nyctidromus albicollis. Para. Ilha Mexiana. Pebas. Govaz. 776. Elydropsalis furcifera. Forte do Principe: FATE » climacocercus. Tocantins. Pebas. Ucayali. 778. Macropsalis segmentata. Yungas. 7179. Chordeiles acutipennis. Manãos. Rio Branco. 780. » fruinosus. Val. Tambo. FOI: » rupestris. Pará. Pebas.. Y quitas Ucayali. 782. Podager Nacunda. Capim. Pebas. 783. Luroc E semitorquatus. Pará. - Subfam. Nyctibiinae 784. Nyctibius bracteatus. Sarayácu. Ec. 785. » jamaicensis. Yquitos. Sarayácu. Ec. 786. » longicaudatus. Sarayácu. Ec. sie » grandis. Alto Rio Ucayali. Sara- wacu. He Fam. Steatornithidae 788. Steatornis caripensis. Sarayácu. Fc. 209 Lista das Aves Amazonicas j HALCYONES Fam. Alcedinidae Subfam. Alcedininae 309 789. Ceryle torquata. Pará. Ilha Mexiana. Pebas. não. >» amazona. Pará. Tocantins. Pebas. Nauta. or. >» americana. Pará. Tocantins. Pebas. Napo. RD > cabanisi. Val. -Tambo. 703. cd inda. Pará. Mexiana. Sarayácu. Ec. ROMS superciliosa. Mexiana. Pebas. Fam. Momotidae € 795. Urospatha martit. Saravácu, Ec. 796. Prionirhynchus platyrhynchas. Sarayácu. Ec. 797. Momotus momota. Pará. Manãos. 798. » bartletti. Alto Rio Ucayali. 799. Momotus nattererti. Yquitos. Chamicuros. S00. » aequatorialis. Archidona. So1. Baryphthengus ruficapillus. Pará. TROGONES Fam. Trogonidae 2. Pharomacrus antistensis. Sarayácu. Ec. S03. » auriceps. Sarayácu. Ec. 804. » pavoninus. Manãos. Ucavali. 805. Trogon personatus. Yungas. 5-—| BOL DO MUS, PARAENSE, Sarayácu. Ec. Lasta das Aves Amazonicas 210 806 » cottaris. elquitos. Ucayali Baixo Amazonas. 807. » atricollis. -Manaos.. . Borba. * Chamil CurOS. ELE: 211 808. » viridis. Baixo Amazonas. Yquitos. Napo. Sarayácu. Ec. 309. » ramonianus. Yquitos. Ucayali. Napo. 810 » variegatus. Rio Negro. Yungsas,. S11 » bolivianus. Yquitos. Rio Napo. Peru. ? Amazonas. 212 819 » melanurus. Para. Manãos. Javari; Naápo. etc: PICARIAE (Cat. Br. M. Vol. XVIII). SCANSORES Fam. Picidae , Subfam. Picinae 913. Colaptes campestris. Rio Claro. Goyaz. S14. Hypoxanthus atriceps. Yungas. 815. Chloronerpes capistratus. Manãos. Sarayá- ei. Be: 916. Chloronerpes ervthropsis. Boa. en rÊ » leucolaemus. Sarayácu. Ec. DT Ó TO. » Navigula. Pará. Sarayácu. Ec. Chamicuros. 819. » rubiginosus. Yungas. 320. Chrysoptilus mariae. Chamicuros. 821 » guttatus. Pebas. Alto Rio Ucavali 822. Melanerpes cruentatus. Rio Negro. Ucayali. Sarayácu. Ec. DIA 823: ) rubrifrons. Pará. Manãos. 324. » Havifrons. Rio Claro. 825. Dendrobates fumigates. Yungas. 820. » nigriceps. Rio Napo. Lista das Aves Amazonicas St » tephrodops. Ilha Mexiana. » agilis. Yquitos. » ruficeps. Pará. Tocantins (Wall). » affinis. Rio Claro. » haematostigma. Yquitos. Xebe- ros. Rio Napo. etc. Celeus ochraceus. até o Tapajós, » elegans. Brazil N. ) jumana. Pará. Capim. Rio Negro. » citreopigius. Yquitos. Sarayácu, Ec, » undatus. Pará. ) grammicus. Ucavali. Alto Amazonas. Sarayácu. Ec. » spectabilis. Sarayácu. Fc. Cerchneipicus torquatus. Manãos. » occidentalis. Ucayali. Samiria. Crocomorphus Jflavus. Pará. Sarayácu. Ec, Samiria. Campophilus rubricollis. Saravácu. Ec. » trachelopyrus. Pará. Capim. Yungas. » melanoleucus. Tocantins. (Wall) Taquitos, etc. ) haematogaster. Rosario. Ec. Ceofphloeus lineatus. Para. Mexiana. Sarayá- Bu De. Subfam. Picumninae Picumnus rufiventris. Rio Napo. Sarayácu. Ec. e Pebas. » castelnaui. Rio Napo. Ucayali. Yqui- tos. Nauta. » Leucogaster. Rio Branco. » sagittatus. Goyaz. Tocantins. » nebulosus. Urubamba. » albosquamatus. Yungas. » lafresnayit. Sarayácu. Ec. ) aurifrons. Borba. Rio Madeira. » borbae. Borba. Ucayali. » Havifrons. Sarayácu. Ec. » wallacit, Alto Amazonas. 9) À) 9) 9) Sli o) AV) 2 Lista das Aves Amazonicas Fam. Capitonidae (Cat. Br. Mus. Vol. XIX. 858. Capito aurovirens. Ucayali. Yquitos. Nauta. 359. » punctatus. Napo. Javary. Yquitos. Sa- rayácu. Ec. 800. » auratus. Rio Negro. Pebas. Ega. 801. » richardsoni. Rio Napo. Sarayácu.. Ec. 362. » aurantiicollis. Rio. Javary. Rio Uical yali. Sarayácu. Ec. 803. » versicolor. Yungas. Urubamba. 804. » bourcieri. Rio Napo. Sarayácu. Ec. Fam. Rhamphastidae 505. Rhamphastos toco. Para. Ilha Mexiana. 800. » erythorhynchus. Pará. Rio Ne- gro. 807. » cuvieri. Rio. Negro. Ucayali. Sarayácu. Ec. 808. » culminatus. Alto Amazonas. Yungas. 809. » osculans. Rio Negro. 370. » ardel: Pafas 371 » vitellinus. Baixo Amaz. (Wall). 872. Rhamphastos dicolorus. Rio Claro. 873. Andigena cucullatus. Yungas. 874. » nigrirostris. Rio. Napo. 875. Pteroglossus aracari. Baixo Amazonas. 870 » wiedi. Rio Capim. Para. lol! » Pluricinctus. Napo. Rio Negro. 378. » castanotis. Manãos. Rio Negro. Baixo Amazonas. Samiria. etc. 379. » bitorquatus. Pará. Baixo. Ama- zonas. 380. » sturmt. Rio Madeira. 'o6 À RR » Havirostris. Rio Napo. Rio Ja- vary. Ega. Xeberos etc. 852 » azarac. Rio. Negro. 236 883. 884. 885. 880. 837. Lista das Aves Amazonicas 313 » humboldti. Ucayali. Rio Java- ry. Nauta ect. » inscriptus. Pará. Baixo. Ama- zonas. » viridis. Baixo Amaz. Manãos. » didymus. Alto Amazonas. » beauharnaisi. Alto Amazonas. Chamicuros. 8883. Selenidera gouldi. Pará: Baixo Amazonas. 88o. 890. Sgr. 892. 893 894. 395. » langsdorffi. Ega. Chamicuros. » reinwardti. Napo. Alto Amazo- nas. Sarayácu. Ec. » nattereri. Baixo. Amazonas. » piperivora. Baixo. Amazonas ? - Aulacorhamphus derbianus. Archidona. Yun- gas. » haematopygius. Sarayácu. Ec. » cacruleicinctus. Yungas. Fam. Galbulidae Subfam. Galbulinae Urogalba paradisea. Baixo Amaz. Manãos. » amazonum. Ega. Alto Amazonas. Galbula viridis. Baixo Amazonas. » rufo-viridis. Tocantins. (W). Rio Claro: Galbula tombacea. Alto Amazonas. Rio Ja- vary. Nauta. Pebas. » — fastazae. Mapoto. (Rio Pastaza). » albirostris. Manáãos. Guia. Yquitos. Xeberos. Rio Napo. » cyaneicollis. Pará. Capim. Rio Ma- deira. » leucogastra. Rio Negro. Guia. » chalcothorax. Rio Napo. Sarayácu, Ec. Pebas. 314 Lista das Aves Amazonicas 39. (SO) 40 249 906 Brachygalba lugubris. Tocantins. (W). Pebas, 907. » fulviventris. Rio Napo. Sara- yacu. Ec. 908. » albigularis. Rio Javary. 909: (ralbaleyrhynchus: Leucotis. Pebas. Ucaçaka Yquitos etc: giro. Jacamerops grandis. Baixo Amazonas. Ma- nãos. Rio Napo. Fam. Bucconidae 911. Bucco collaris. Baixo Amazonas. Yquitos. Sarayacu. Be. 912. » macrorhynchus. Baixo Amazonas. 913. » dysont. Rio Napo. Álio Amazonas. Rar ravaçu. Be. did. »-hyperhynchas. Para. Chamicuros: 915. >» OR. ao QTO!» 0d rec rres Pam 917. » gficatus. Huallaga. Samiria. Sarayácu. Ec. 918. >» macrodaciylus. Sarayacu: Eee Pena Loretoyacu. 919. >. tamatia; Rio Capim: Rio Negro: 920. » fpulmentum. Chamicuros. Sarayácu. Ec. 991. o maculatussNio Claro: 909: "| Pehacmri. Tumngas: 92% D ustriolatus: Yungas Sarayacu JEG 024 Pa Madrabus SAT avec ud: 925. Malacoptila fusca. Baixo Amazonas. Rio Ne- gro. Chyavetas. 926. » rufa. Pará. Alto Amazonas. Oo » torquata. Rio Claro. Goyaz. 928. » fulvigularis. Yungas. 929. Micromonacha tanceolata. Sarayácu. Ec. 930. Nonnula rubecula. Para? 931. » cineracea. Rio Javarv. 932. » ruficapilla. Alto Ucayali. Samiria. 933. » brunnea. Rio. Napo. Sarayácu. Ee. 934. Monacha nigra. Baixo Amazonas. 935. » Jlavirostris. Sarayácu. Ec. Chyavetas 250 930. 937. Lista das Aves Amazonicas 315 » morpheus. Baixo Amazonas. (Wall.) » peruana. Ega. Chamituros. - Sara- are BG. » nigrifrons. Tocantins. (Wall.) Pe- bas. Yquitos etc. Chelidoptera tenebrosa. Pará. Rio Negro. Yquitos. Xeberos. » brasiliensis. Rio Claro. COCCYGES Fam. Cuculidae 941. 942. 253 943 944. 945. 254 940 255 948 Subfam. Cuculinae Coccyzus melanocoryphus. Pebas. Yquitos. » erythrophthalmus. Chamicuros. Subfam. Phoenicophainae - Piaya cayana. Pará. Rio Negro. Rio Claro. Eecbas: Yquitos. etc. melanogastra. Borba. Rio Negro. Sara- yácu. Equador. minuta. Pebas. Sarayvácu. Equador. Subfam. Neomorphinae - Neomorphus geoffroyvi. Pará. 947. » pucherani. Pebas. Subfam Diplopterinae - Diplopierus naevius. Pará. Ilha Mexiana. Rio Claro: 316 Lista das Aves Amazonicas 949. Dromococcyx phasianellus. Araguay. 950. » pavoninus. Arimani. (R. Purús). Subfam. Crotophaginae 951. Crotophaga major. Rio Capim) Ucagali Santa Cruz. 952. » ani Para. Ilha Mexiana. Rio Claro Yquitos. 053. » sulcirostris. Val Rambo; 954. Guira guira. Para. Ilha Mexiana. PSITTACI (Cat. Br. Mus. Volt XX) Fam. Psittacidae Subfam. Conurinae 955. Anodorhynchus hyacinthinus. Rio Tapajós. Amazonas. 956. Ara ararauna. Ilha Mexiana. Sarayácu. Ec. 957. » caninde. Amazonas. 958. » macao. Sarayácu. Equador. 959. » chloroptera. Sarayácu. Equador. 960. >» severa. Pebas. Javary. Ucayali. Sarayá- cu. Equador. 961. » macavuanna. Borba. Sarayácu. Equador. 962. »- mobihis. Para. 963. » hahni. Rio Branco. 904. Conurus guarouba. Para. 905. » sotstitratis: Rio Branco. 960. » auricapillus. Alto Amazonas. 967. » weddellit. Sarayácu. Equador. 908. » leucophthalmus. Pará. Pebas. Yqui- tos. 909. » callogenys. Santa Cruz. Saraya- cu. Equador. 266 268 Lista das Aves Amazonicas 31% 970. Conurus aeruginosus. Alto Rio Negro. 971 . 7 aureus. Para. Mexiana. 972. Pyrrhura cruentata. Rio Amazonas. 973 974 975 970 2 Ti 978 979 980. 981 982. Cio brotogerys' tirica. Riu Claro. 984 985. 980. 987. 988. 989. 990. 991. 992. re 994. ode 990. 997. é 2 . » a 2 . » 2» picta. Rio Amazonas. (Pará)? luciana. Chamicuros. Chyavetas. melanura. Guia. Rio Tocantins. Pebas. souancei. Rio Napo. Sarayacu. Fc. Nauta. berlepschi. Chyavetas. molinae. Tilotilo. pertata: Rio Capim. Para. rhodogaster. Borba. VPsiiacula sclateriRão Javary. Yquitos. Sa- » » » » » » » » 2» » tayacu. Ec. passerina. Rio Ciaro. ERASSIGOSETIS. Nauta. virescens. Para. Ilha Mexiana. Pe- bas. Yquitos. devillei. Nauta. Yquitos. Sarayá- eu. Ec. gustavi. Tuanfué. (Alto Huallaga). tuipara. Pará. Rio Amazonas. chrysosema. Rio Madeira. but. Nawtas: Yquitos:hPebas. Rio Javary. Subfam. Pioninae Chrysotis inornata. Pará. Tocantins. (Wall). Chamicuros. Sarayácu. mercenaria. Rio Napo. amazonica. Rio Napo. Sarayácu. Ec. Chamicuros. ochrocephala. Sarayácu. Ec. nattereri. Rio Mamoré,(perto do R. Madeira). diademata. Alto Amazonas, salvini. Rio Negro. É 318 Lasta das Aves Amazonicas 269 998. » festiva. Pará Ucayali. 999. » chloronota. Yquitos. 1000. Pachynus brachyurus. Yquitos. Manãos. 7o 1001. Pionus menstruus. Tocantins. (Wall). Java- Try. Sarayácu. Ec. tQ 1002.) <<») coralitmas Saragacã Be: 1003. » tumultuosus. Tilotilo. 1004. » seniloides. Sarayácu. Ec. 1005. » chalcopterus. Sarayácu. Fc. 271 1006. » Tuscus. dama! 272 1007. Deroptyus accipitrinus. Para? Sarayácu. Ec. 1008. Pionopsittacus melanotis. Tilotilo. 1009. » barrabandi. Ega. Loretoyacu. Sarayácu. Rio Napo. Ec. 273 Io10. Gypopsittacus vulturinus. Pará. Amazonas. 274 1011. Urochroma purpurata. Rio Capim. LOPO. » surda. Rão Claro. 1013: » hueti. Sarayácu. Xeberos. Cha- micuros. 1014. Caica melanocephala. Rio Negro. Io15. ) ' pallida. Chamicuros. Sarayacu) ES 275 1016. .» leucogaster. Pará. IÓI7. =» Dxanthomenra «Rio Javary: COLUMBAE (Cat. Br. Mus. Vol. XXL,) Fam. Columbidae. Subfam. Columbinae 276 1018. Columba speciosa. Pará. Sarayácu. PUT TOLO: » rufina. Pará. Ilha Mexiana. 1020. » albilinea. Tilotilo. 278 1021. » plumbea. Rio Capim. Santa Cruz. Sarayácu. Fc. 280 281 2892 285 Fam. 1022. 1023. 1024. 1025. 1026. 1027. 1028. 1029. 1030. Rag TF. SA Fam 10353 1034. 1035. 1030. tos: Lista das Aves Amazonicas 39 Peristeridae Subfam. Zenaidinae Zenaida auriculata. Pará. Ilha Mexiana. Subfam. Peristerinae Chamaepelia passerina. Pará. Borba. Sara- yácu, Ec. » minuta. Xeberos. » talpacoti. Pará, Peristera cinerea. Pará. Rio Capim. Ucavyali. Subfam. Geotrygoninae Leptoptila rufaxilla. Pará. Ilha Mexiana. » megalura. Tilotilo. Osculatia safpphirina. Sarayácu. Fc. Geotrygon montana. Pará. Rio Negro. Cha- micuros. » erythropareia. Rosario. Ec. » frenata. Tilotilo. GALLINAE (Cat. Br. Mus. Vol. XXIT. -. Phasianidae Eupsychortyx sonnini. Forte do Rio Branco. Odontophorus guianensis. Rio Capim. Ma- nãos. » capueira. Rio Claro. » melanonotus. Rio Napo. » stellatus. Borba. Rio Napo. Chvavetas. 320) Lista das Aves Amazonicas Fam. Cracidas 1038. Crax alector. Rio Negro. Manãos. 1039. » Jasciolátus: ate Para. 1040. >» finima. Districio do. Para: 1041. » globulosa. Samíria. Rio Amazonas. 1042. Nothocrax urumutum. Rio Negro. Sarayá- GR 1043. Mitua mitu. Pará. Rio Tapajós. Rio Madeira. TI044.. » -tomentosa. Rio Negro. 1045. » salotns. Sarayaca. Be. 1046. Penelope superciliaris. Pará. Rio Capim. 1047. » Sclatera: “Eiotilo: 1048. » boliviana. Yquitos. Saravácu. Yu- rimaguas. 1049. » pileata. Para. Madeira. Manãos. 1050. Ortalis momotus. Rio Negro. Rio. Branco. 1051. » araucuan. Pará. 1052. » albiventris. Para. 1053. » caracco. Alto Amazonas. 1054. » guttata. Sarayacu. Ec. Yquitos: Tilotilo. 1055. Pipile cumanensis. Sarayácu. Ec. Rio Negro. 1050. » cujubi. Baixo Amazonas. OPISTHOCOMI Fam. Opisthocomidae 1057. Ogpisthocomus hoazin. Pará. Yquitos. FULICARIAE (Cat. Brit. Mus. Vol. XXIII) Fam. Rallidae 1058. Limnopardalus maculatus. Rio Amazonas. 1059. Aramides cayanea. Rio Boraxudo. (Natt.) to Nazi head, o) > O 297 1068. Fam. 1072. Lista das Aves Amazonicas SA » chiricote. Pará. Yquitos. » callopterus. Sarayvácu. Fc. Amaurolimnas castaneiceps. Sarayácu. Rio Napo. » hauxwelli. Chamicuros. Pebas Yquitos. Porzana carolina. Sarayácu. Ec. » albicollis. Rio Amazonas. Creciscus melanophaeus. Para. » aenops. Sarayácu. Ec. » cayanensis. Pará. Xeberos. Gallinula galeata. Laguna de Tambo. Porphyriola martinica. Rio Amazonas. Rio Araguarv. » parva. Rio Amazonas. Heliornithidae Fleliornis fulica. Pebas. Sarayácu. Ec. ALECTORIDES Fam. 1074. 1075. I070. 1077. 298 1078. Eurypygidae Eurybyga helias. Pebas. Psophiidae Psophia crepitans. Rio Negro. » napensts. Rio Napo. Sarayvácu. Fc. » leucoptera. Alto Rio Amazonas. » ochroptera. Rio Negro. » viridis. Pará. Rio Madeira. 299 300 301 303 Lista das Aves Amazonicas LIMICOLA E (Cat. Br. Mus. Bol. XXIV.) Fam. Oedicnemidae 1079. Oedicnemus bistriatus. Forte de Rio Branco. Fam. Parridae 1080. Jacana jacana. Pará. Tocantins. (W.) Pebas- Elvira. Fam. Charadriidae Subfam. Lobivanellinae 1081. Hoploxypterus cayanus. Sarayácu. Ec. Pebas. Omega. 1082. Ptiiloscelis resplendens. Saryácu. Ec. Subfam. Charadriinae 1083. Belonopterus cavennensis. Pará. Mexiana. 1084. Charadrius dominicus. Nauta. Tambo. 1085. Oxyechus vociferus. Tambo. 1036. Aegialeus semipalmatus. Mexiana. 1037. Aegialitis collaris. Mexiana. Tocantins. (W) 1088, » nivosa. Tambo. Subfam. Himantopodinae 1059. Himantopus mexicanus. Mexiana. IO9O. » melanurus. Santa Cruz. Subfam. Totanidae Numenius hudsonicus. Pará. Tambo, pm Lista das Aves Amazonicas 3235 rogt. Macrorhamphus griseus. Pará. 1092. Micropalama himantopus. Yquitos. 1093. Totanus melanolencus. Pará. IO94. » Jlavipes. Mexiana. 1095. Helodromas solitarius. Pará. Mexiana. Pe- bas. Sarayácu. Ec. 1096. Tringoides macularia. Pará. Mexiana. 1097. Bartramia longicauda. Pebas. Rio Amaz. 1098. Ereunetes pusillus. Mexiana. Subfam. Scolopacinae 1099. Tringitessub-ruficollis. Yquitos. Pebas. Cha- micuros. r100. Calidris arenaria. Tambo. 1101. Limonites minutilla. Mexiana. 1102. Heteropygia maculata. Yquitos. Chamicuros Tilotilo. IIO3. » bairdi. Xeberos. | IIO4. » fuscicollis. Tocantins. (Wall.) 1105. Gallinago delicata. Rio Negro. I106. » frenata. Pará. IIO7. » paraguavae. Pará. Subfam. Thinocorythidae 1108. Thinocorus rumicivorus. Tambo. GAVIAE (Cat. Br. Mus. Bol. XXV. Fam. Laridae Subfam. Sterninae. 1109. Phaétusa magnirostris. Mexiana. P. U-cavali. 324 Lista das Aves Amazonicas 315 1110. Sterna fuliginosa. Bocca do Rio Amazonas. STO TILES superciltaris. Tocantins. (Wall.) San- ta, Cruz: Subfam. Rhynchopinae. 317 1112. Rhynchops melanura. Mexiana. Ucayali. Huallaga. PLATALEAE Cat. Brit. Mus. Vol. XXVL.) Fam. Ibididae 1113. Cercibis oxycerca. Forte do Rio Bragado 1114. Endocimus ruber. Rio Negro. HERODIONES Fam. Ardeidae LII5. Ardea cecot. Pehas: 1116. Herodias egretta. Nauta. Sarayácu. Ec. I17. Agamia agami. Pará. Manãos. Yurimaguas. 1118. Nycticórasx nychicorasx: Sarayácu. Ties 1119. Cancromã cochlearia. Saray ae. Ee: 1120. Prlerodius piteabas. MPelmas: 318 1121. Butorides striata. Mexiana. Sarayácu. Ec. 1122. Tigrisoma lineatum. Pebas. Sarayacu, Es I123. » salmonit. Sarayácu. Fc. Fam. Ciconiidae 319 1124. Mycteria americana. Pará. Lista das Aves Amazonicas d25 STEGANOPODES Fam. Phalacrocoracidae 1125. Phalacrocorax vigua. Pará. Ucavali Sara- yacu. Eç. 1120. Plotus anhinga. Rio Napo. Sarayácu. Ec. PYGOPODES Fam. Podicipedidas 1127. Acchmophorus major. Rio Negro. 1128. Podilymbus podicipes. Pará. Alto Amazonas, CHENOMORPHAE (Cat. Br. Mus. Bol. XXVII.) Fam. Palamedeidae 1129. Palamedea cornuta. Alto Ucavyali. Fam. Anatidas Subfam. Plectropterinae 30. Cairina moschata. Pastaza. Ucavali. Pebas. 31. Sarcidiornis carunculata. Maranhão. Subfam. Anatinae 1132. Dendrocygna viduata. Ucayali. 6—(soL DO MUS, PARAENSE) 326 NOV) aa 3 tQ a, dd) AQ Roe DES: Pan Lista das Aves Amazonicas Dendrocygna discolor. Alto Ucavyali. Chenalopex jubatus. Solimões. Subfam. Erismaturinae Nomonyx dominicus. Rio Negro. Sarayácu, Equador. Subfam. Merganetinae Merganetta columbiana. Sarayacu. Ec, Tinamidae Subfam. Tinaminae Tinamus tao. Amazonas. » major. Rio Negro. (Natt.) » ruficeps. Yquitos. Rio Napo. Sa- rayácu. Ec. » guttatus. Pará. Sarayácu. Ec. Cha- micuros. Crybturus cinereus. Rio Madeira. Yquitas Santa Cruz. » obsoletus. Tilotilo. » griseiventris. Santarem. » pileatus. Pará. Chyavetas. Crypturus adspersus. Rio Amazonas. (Natt.) » balstont. Santa: Criz. Samanta : Elvira. » garlteppi. Santa Cruz. » strigulosus. Para. » erythropus. Manãos. Forte do Rio Branco. » variegatus. Para. » salvini. Satayaco. Be. » brevirostris. Manãos, E Lista das Aves Amazonicas ai! His9 Crypiurus bariletti. Yquitos. Santa Cruz. Chamicuros. APPENDIX Fam. Mniotiltidae (Vol. X.) 1154. Dendroeca cacrulea. Sarayácu. Ec. Fam. Hirundinidae (Vol. X. Abpendix. pag. 632) 328 1155. Hirundo Oda Ga A Mexiana. Vol. XV. Fam. Formicariidae Mem 1150. Cercomacria caerulescens. Pará. 328 O Ninho do Jap H SOBRE OS MATERIAES DO NINHO DO JAPU (OSTINOPS DECUMANUS) RESPOSTA AO SR. DR. VON IHERING Pelo Der. J. Elsiper Com 1 estampa) Os materiaes empregados pelas aves na. construc- ção dos seus ninhos têm às vezes um interesse não só para o zoologista, mas tambem para o botanico, visto que elles podem dar certas indicações acerca da distri- buição geographica das plantas que os fornecem. Como exemplo muito interessante d'esta ordem po- demos citar os ninhos do Japú, que apresentam, segun- do a região onde foram construidos, uma composição totalmente diversa, que se acha em relação estreita com certos factos da geographia botanica. Foi em 1897 que o Prof. Dr. Emilio Goeldi apontou pela primeira vez (1) O facto da diversidade do material empregado nos mni- nhos do Japú, rca o a sua provenitencia. Depois ide fallar dos ninhos do Japim, que tambem são feitos de material diverso, segundo a sua proveniencia (na Bahia elles são feitos de Tillandsia usneoides, mo. Norieado Brazil, principalmente: no baixo Amazonas, de “lbras do assahyseiro (Euterpe oleracea), elle escreve numa (1) E. A. Goeldi, «On the nesting of Cassicus persicus, Cassidix orvzivora, Gymnomystax melamicterus and Todirostrum maculatum» Ibis Ser. VIÍ vol. III. july 1897.— Este trabalho acha-se traduzido no Boletim do Museu Paraense vol. III pag. 203. O Ninho do Japi 529 annotação (Ibis 1. c. p. 364, Bol. do Museu Paraense 1. e p. 206): | «Exactamente como o material usado pelo Cassicus persicus nos seus ninhos na Bahia e no Sul é differente do que elle emprega no Pará, assim tambem differe o que o Ostinops decumanus emprega respectivamente nestas duas regiões. Eu verifiquei que no Brazil meri- dional o Ostinofs emprega exclusivamente a «Barba de velho» (Tillandsia usneoides) e que estes ninhos são de côr pardacenta. No Amazonas o material de que elle usa, compõe-se :—1) de uns pellos negros, muito seme- lhantes a crinas de cavallo, ou raizes longas e delicadas (que analyses botanicas no Museu do Pará demonstra- ram ser um lichen muito interessante, mas cuja deter- minação systematica não se poude verificar ainda); 2) de raizes seccas e molles de certas Orchideas de côr amarel- lada. Como a proporção d'estas duas substancias é quasi de dois para um, e como um lichen negro semelhante a raizes é o que mais predomina, o aspecto geral d'es- tes ninhos em forma de sacco é, no norte do Brazil, de um tom escuro, contrastando sensivelmente com os nl- nhos acinzentados tecidos de Tillandsia do Sul do Brazil.» As analyses botanicas às quaes o dr.. Goeldi se refere consistiam n'um ligeiro exame histologico feito pelo autor d'esta nota, exame que demonstrou sufficien- temente que o material predominante em questão não era proveniente duma planta vascular, mas de um cry- ptogamo cellular de estructura bastante complexa que então se suppunha ser um lichen. Esta supposição se baseava não só na morphologia externa, mas principal- mente na presença de gonidias em algumas das secções examinadas. SÓ investigações ulteriores mostraram a ausencia habitual de gonidias e portanto o caracter me- ramente fungico dos filamentos em questão. E' pois com grande surpresa que encontramos, no «Catalogo critico- -comparativo dos ninhos e ovos das aves do Brazil» do Dr. H. von lhering, director do Museu Paulista, (Revista do Museu Paulista vol. IV, 19009) o trecho seguinte (pag. 195): «Entre as observações com- municadas em seguida ha duas que merecem ser nota- das especialmente ; referem-se a materiaes applicados na construcção de ninhos. O primeiro são umas fitas fi- nas, lustrosas e estiradas, brunas, que são por muitos beija-flores usadas para O ninho, representando material 330 O Ninho do JapÚ extremamente apropriado, fino e molle, São as: escas mas terminaes da samambaia arborescente do mato. O segundo é a conhecida barba de páu, a Bromeliacea Til- landsia usneoides. E com esse material macio que al- gumas aves constroem o ninho, sobresahindo entre elles o Japú, Ostinops decumaniws, cujos ninhos pendentes, em forma de bolsa comprida, são quasi exclusivamente feitos de barba de pau, que é applicada como a arrancam das arvores, de modo que continúa o ninho a viver: às “vezes, a Morescer: dr «A grande maioria dos outros passaros que d'este material fazem uso para a construcção dos ninhos ap- plica somente o fio axial solido, bruno ou preto, da bar- ba de pau. Examinando massas velhas e mortas de bar- ba de pau encontram-se fios que perderam completa- tamente o derme, a casca cinzenta, e são esses hos due servem aos guachos para fazer as bolsas elegantes dos seus ninhos». «E singular que essa observação seja tão pouco co- nhecida que nem Euler nem Goeldi a tenham feito e que ainda ha pouco no Museu Paraense esses esquele- tos axiaes da barba de pau fossem considerados como um typo novo (2) de lichen (cf. Ibis 1897 pag. 364:)> E mais adiante (pag. 218) o mesmo autor escreve ta proposito do Cassicus albirostris, ave que se acha só no Sul do Brasil:— do Dr. Goeldi. (2) E' de observar que o Dr. Goeldi nunca fallou dum typo novo de lichen, mas só dum lichemn muito interessante cuja posição syste- matica ainda não podia ser precisada por nós m'aquelle momento. Os eryphos nas citações acima são meus. O Ninho do Japú 331 derar os eixos centraes da Tillandsia como um novo tvpo de lichen. Este erro porém, existe exclusivamen- te na imaginação do illustre Director do Museu Pau- lista. O presente estudo além de querer fornecer uma modesta contribuição à biologia em geral e especial- mente à geographia biologica, tem tambem a intenção de esclarecer o Dr. von rena sobre o erro que, não O Museu Paraense, mas s. s., commetteu. Para evitar tasas futuras, seja dito desde já, que tratamos aqui só do ninho do Japú /Ostinops decuma- nus) O qual, mesmo segundo o testemunho do Dr. von lhering, é feito no Sul do Brazil quast exclusiva- mente da barba de páu não descascada e geralmente ainda viva. E só a estaave que a observação do Dr. Goel- di se refere, e o sabio Director do Museu Paulista com- metteu o primeiro erro, quando identificou, sem a veri- ficação necessaria, os materiaes do ninho do Cassicus albirostris do Sul do Brazil, com os materiaes que com- põem o ninho do Japú na região amazonica. Temos ainda actualmente no Museu do Pará dois ninhos de Japú, um (1) proveniente das matas da Estra- dade Ferro de Bragança, outro (Il) de proveniencia não especificada, mas com certesa amazonica. Diremos logo que os outros ninhos que já passaram por nossas mãos (1) e que provinham de diversas localidades do baixo Ama- zonas, inclusive a região costeira da Guyana Brazileira, têm mais semelhança com o ninho I que como ninho II. O ninho I, que tem um comprimento de 1,5” mais ou menos, se compõe dos seguintes materiaes : 1.º De filamentos pretos, bastante resistentes à tracção e ao córte, mas completamente flexiveis, lisos, irregularmente ramificados, cujo comprimento póde attingir alguns de- cimetros e cujo diametro varia geralmente entre 0,2 e 0,5"". As ultimas ramificações são mais finas e frequentemente não têm um diametro maior do que um cabello hu- mano de grossura media. (cf. fig. 1). De raizes de Orchideas, tambem irregular- (1) Sei que alguns d'estes ninhos fôóram remettidos d'aqui para o British Museum de Londres, sendo assim dada a possibilidade de veri- ficar alhures o acerto das nossas observações. 332 O Ninho do Japú mente ramificadas, que se distinguem facil- mente dos primeiros pela côr mais clara, geralmente branca ou amarellacea, pelo diametro muito maior (0,5—3 "") e pela fa- cilidade com que a casca molle e esbran- au se desprende E ag central duro e mais escuto fio. Dos rhizomas fiorino: in um feto epiphy- tico (Polvpodium piloselloides). Estes têm um diametro de 0,5—0,8”", são um pouco ondulados, parcamente ramificados e apparecem, segundo o grão de decompo- sição que soffreram, de côr bruno-verme- lha ou quasi preta. Elles se reconhecem facilmente pelas pequenas verrugas que correspondem à inserção das folhas e que são arranjadas mais ou menos distica- mente. Quando bastante decompostos, es- tes rhizomas partem-se longitudinalmen- te-emitres diosipreãos; sendo um mais for- te que'os dois outros (cl. fig: 22)» Hsmas fios são os cylindros fibro-vasculares (ste- los) do feto. A proporção dos dois primeiros elementos é, como já indicou o Dr. Goeldi, de dois para um, de maneira que a côr predominante do ninho é preta. O terceiro ele- mento é subordinado e póde ser incluido no terço for- mado pelas raizes de-Orchideas. Outras são as proporções no. ninho II, cujo com: primento é tambem inferior ao do primeiro, attingindo um metro mais-ou menos. Neste ninho as raizes na Orchideas e os rhizomas de Polvpodium são predomi- nantes, formando cada um 2/5 mais ou menos dos ma- teriaes do ninho, emquanto que só 1/5 cabe aos fila- mentos pretos. Digno de' menção é O facto quesenes fios pretos se acham empregados principalmente na par- te superior do ninho com que é este suspenso ao galho, e onde as exigencias à resistencia do material são maio- RSI Como as plantas que fornecem o material citado sob os numeros 2º e 3º, isto é, diversas Orchideas epiphytas e o feto Polypodimm piloselloides, se acham, aqui no Pará, não só nas arvores altas da floresta virgem, mas 0) Ninho do Japi 265) tambem e em grande quantidade sobre as velhas arvo- res fruteiras dos nossos quintaes e sobre as mangueiras das alamedas, não era difficil verificar, pela compara- ção quer macroscopica quer microscopica, a identida- de de taes materiaes. Outro era o caso com os filâamen- tos pretos. Durante muito tempo não me foi possivel encontral-os na natureza, de maneira que só o exame attento da sua morphologia externa e da sua histologia podia me fixar sobre a natureza delles. O estudo exterior ja adianta alguma coisa mn este sentido. Semelhantes mms cylindricos, irregular- mente ramificados, porem attingindo às vezes um deci- metro e mais sem se ramificar pareciam, ao primeiro RR raizes dum epiphyta: qualquer. Entretanto reparei que certos d'estes filamentos e principalmente os mais grossos, possuem uma extremidade alargada em disco, que reconheci logo como disco basilar d'um vegetal crvptogamico | (fig. Hs Estes discos basilares, [frequentes nas algas, princi- palmente marinhas, que « com ellas adherem à superficie das pedras ou de outras algas, acham-se tambem em cer- tos lichens epiphyticos, como por exemplo na «barba de pau» da Europa (Usnea barbata). Nos vegetaes supe- riores não ha nada de semelhante e por isso já não podia ser questão da Tillandsia wsneoides que no começo das minhas investigações eu só conhecia pelas descripções dos autores e do Dr. Goeldi, que aliás tambem me af- firmava que não podia se tratar d esta planta que elle co- nice! de sua longa residencia" e extensas viagens no Sul do Brazi-e de cuja ausencia no Pará eile fôra bastan- te impressionado. Os resultados do exame morphologico dos fios pre- tos ficam confirmados pelo estudo a dede o, que en- tretanto não deixa de appresentar ertas difficuldades technicas, quer por causa do mero exiguo do objecto, o que torna bastante dilfficil a obtenção de cortes longi- tudinaes e transversaes bem orientados, quer por causa da resistencia desigual das differentes camadas dos fila- mentos, quer por causa da opacidade das camadas exte- riores. Examinando córtes longitudinaes e transversaes com uma lente (cf. fg. 2—3) os filamentos se mostram compostos de diversas camadas. A tenue camada cortical (c) é preta ou parda escu- Su O Ninho do Japú ra, muito compacta e resistente. Depois segue-se uma camada mais grossa, quasi cornea, da côr do marfim ; chamo-a camada fibrosa (1). No centro acha-se o cor- dão medullar (m), formado por um tecido muito frou- X0, pouco resistente, cheio de ar e por isso d'imlbranes niveo. Empregando um augmento mais forte, póde-se ver que o cordão medullar é formado de filamentos inde- pendentes e frouxos, uns muito finos e bastante ramifi- cados, mostrando em certos pontos as communicações intercellulares (chamadas <«Schnallenbildungen» pelos mycologos allemães) caracteristicas do mycelio de mui- tos cogumelos (cf. fig. 6—8), outros mais grossos, pouco ramificados, de membranas um pouco engrossadas. Estes filamentos mais grossos, que parecem ter a funcção de vasos conductores, apresentam às vezes, em certos tre- chos do seu percurso, saliencias interiores da membra- na em forma de verrugas ou de anneis (fig. 9—12). De- vido à estructura esponjosa do cordão central é difficil obter d'elle um corte transversal que mostre bem as re- lações dos diferentes elementos; Sob o ponto de vista physiologico é provavel que o tecido do cordão central deva ser considerado como te- cido conductor e -aerifero; F' nas camadas exteriores do cordão medullar, prin- cipalmente na parte inferior dos filamentos, que encon- trei diversas vezes cellulas globosas esv erdeadas, grupa- das por 2 ou s,-etendo o aspecto de gonidias do gene- ro Chroococcus. Se a distribuição d'estas cellulas não fos- se tão esporadica, poder-se-ia pensar numa symbiose do mycelio com algas tal qual se acha realisada nos 1li- chens: A camada fibrosa é, como já indica o nome adop- tado por mim, composta de cellulas fibrosas muito com- pridas, arranjadas em fileiras longitudinaes, de membra- nas bastante grossas, com divisões transversaes perpen- diculares ou ligeiramente obliquas. Debaixo das divi- sões, a membrana apparece às vezes mais fina, mostran- do uma pequena protuberancia ainda aberta (fig. 14 a) ou já separada por uma membrana (fig. 14 b). Prolon- gando-se e insinuando-se entre as fibras visinhas, estas excrescencias podem dar origem a novas fileiras inter- caladas no tecido compacto das outras. D'esta forma explica-se o crescimento relativamen- O Ninho do Japi 335 te consideravel em grossura que se observa nos fila- mentos velhos. A ramificação póde tambem ter lugar na extremidade das fileiras de cellulas fibrosas (fig. 13). No córte transversal a camada fibrosa apparece branca e transparente. Uma solução diluida de potassa caustica faz intumescer as membranas ao ponto de apparecerem as cavidades como pontos escuros (fig. 5). Só as cellu- las novas intercalares conservam as membranas finas, fi- cando comprimidas entre as fibras intumescidas. Na proximidade do disco adhesivo as cellulas da camada fibrosa se mostram menos regulares e muitas vezes ir- regularmente ramificadas (fig. 15), formando no disco mesmo um tecido Re intricado. Como a camada fibrosa, a cimada cortical se mos- tra composta essencialmente de fileiras longitudinaes de cellulas compridas, de membranas mais ou menos engrossadas. Entretanto estas cellulas se mostram, prin- cipalmente no corte transversal depois de tratado pela potassa caustica diluída, mais estreitas que as da cama- da fibrosa e d'uma côr parda escura que se accentua tan- to na camada exterior de cada membrana cellular, como tambem nas membranas das cellulas mais periphericas. Assim as cellulas superficiaes dos filamentos, que são ao mesmo tempo as menores, têm uma membrana quasi preta (fig. 5 c): Estas cellulas periphericas são muitas vezes ligadas entre si por pequenas ramificações lateraes (fig. 17). Ou- tras cellulas mais profundas emittem ramificações cujas cellulas curtas são dispostas em fileiras perpendiculares E qbtinpesaçãs vezes reunidas em: feixes, a peripheria do filamento (fig. 16). Estas prolificações servem talvez para encher as fendas que resultariam na camada corti- cal dos fios pelo crescimento em grossura da camada brosas Comselfeitosé facil verificar que a casca dos fios mais velhos mostra, entre as fileiras longitudinaes que deixam entre si malhas fusiformes, as areas occupa- das pelas cellulas terminaes d'estas prolificações. Após estas constatações, a verdadeira natureza dos fios em questão podia ser precisada facilmente. Não me foi mais duvidoso que se tratava de uma d'essas for- mações conhecidas na mycologia pelo nome de Rhi- somorpha, consideradas antigamente como formando um genero à parte, mas reconhecidas depois pelos mycologos como estado particular de vegetação de 336 O Ninho do Japú certos cogumelos superiores do grupo dos Basidio- mycetes. N'este tempo o meu preparador de então, o pran- teado Manoel Pinto de Lima Guedes, trouxe-me alguns galhos de uma arvore alta do Bosque municipal, que se mostrou ser uma Sapotacea do genero Lucuma, conheci- da sob o nome vulgar de Guajara. Estes galhos, munidos de folhas e de flores, mostra- vam não só sobre as partes basilares, mas tambem até à região occupada pelas flores, muitos filamentos semelhan- tes aos empregados peios Japús. Geralmente estes fios bastante ramificados se achavam intimamente applicados à casca do galho, formando uma especie de rede aoredor d'elle, outros mais fortes porém mostravam-se soltos e pendentes livremente no ar. O estudo histologico reve- lou a identidade completa d'estes fios com os do ninho do Japú. Ficou assim explicado o facto bastante estra- nho, que uma ave que n uma parte do -Brazil emprega para o seu ninho a «barba de páu,» vegetal quasi aereo que cresce geralmente nos gaihos das arvores mais ex- postos ao vento, chegou a substituir este material “por uma Rhizomorpha. Para obter a classificação mais exacta do cogumelo em questão, mandei amostras do material do ninho de Japú ao Sr. P. Hennings, conservador das collecções my- cologicas do Muzeu botanico de Berlim e Redactor da Re- vista cry ptogamica «Hedwigia», como um dos mais au- torisados especialistas na materia. Com a maior amabi- lidade este distincto sabio me deu amplas informações, que tomo a liberdade de aqui traduzir. Em data do 13 de setembro de 1901 elle me escreveu: «A sua supposição que as formações em questão sejam uma Rhizomorpha e plenamente justificada. Recebi miitas de: estas Rhizo- morphas não só do Brazil (em grande quantidade do Sr. Glaziou) mas tambem de outras regiões tropicaes. Na maior parte dos casos ellas são esteris, aqui e acolá sahi- ram d'elias:corpos iructiferos de Mimas « Existe uma grande quantidade de especies E Ma- rasmis que pr oduzem Rhizomorphas semelhantes. Estas Rhizomorphas crescem geralmente sobre galhos mortos (1) O genero Marasmius faz parte da familia Agaricaceas (cogu- melos de c hapé 0); elle contem principalmente formas. pequenas, porém mais consistentes que os outros cogumelos d'esta familia. O Ninho do Japi 9% que estão escondidos debaixo das folhas seccas do solo da floresta virgem; é possivel que se achem tambem nos troncos ôcos ou sobre os galhos podres das arvores. Os corpos fructiferos só dese nvolver-se- do dos mycelio.em condições favoraveis, provavelmente n1 estação chuvosa. Rhizomorphas quasi semelhantes se acham tambem no nosso paiz (a Allemanha) no solo das matas, no tempo do outono: antigamente estas foram descriptas sob os nomes de Rhizomorpha setiformis Roth, Rh. hypotrichodes Weber, fodas criam formas: Pers: Estas pertencem ao Ma- rasmius androsaceus (L.) Fr.==M. epiphyllus Bull.» «A especie à qual pertence a vossa rhizomorpha, na- turalmente não póde ser determinada sem os corpos fruc- tiferos. Entre as especies exoticas que possuem um my- celio semelhante, posso citar os seguintes: Marasmins equicrinis Muell. da Australia, M.polycladus Mont. da Guyana, M. hippiochactes Berk. do Brazil, M. cupres- siformis Berk. do Brazil M. Schweinfurthianus P. Elen: da Africa central, M. Kaernhachii P. Henn. da Nova Guiné etc. Em todo caso é muito interessante, mas tambem facilmente explicavel que as aves aproveitem destas formações criniformes para a construcção de seus ninhos. | Accrescentarei ainda acerca das Rhizomorphas, que os frequentes discos basilares são com effeito as partes com que ellas são fixadas nos galhos pôdres.—Os fila- mentos pretos que o Sr. encontrou nos galhos de arvo- res altas da mata poderião ser outra coisa, talvez caules pódres de Frullania, p. e. de Frullania atra, que às ve- zes tem um aspecto semelhante.» O Sr. Hennings teve ainda a gentileza, de juntar à sua carta uns exemplares de uma especie ainda não des- cripta do genero Marasmius da Nova Pommerania, que elle se propunha a descrever brevemente como M. ralu- nensis. À fig. 1.º mostra um pedaço d'este cogumelo, com um unico corpo reproductor, em tamanho natural. A duvida que o distincto mycologo externou a res- peito da presença das Rhizomorphas nos galhos vivos de arvores altas da mata, me parece comprehensivel, pois não consta em geral a presença de cogumelos saprophy- ticos senão nas camadas inferiores humidas da mata e sobre materias vegetaes em decomposição. A presença dum cogumelo saprophytico nas condições descriptas 338 O Ninho do Japú acima parece mesmo uma coisa impossivel. Entretanto o exame microscopico repetido não me deixou nenhuma. duvida sobre a identidade dos fios que cobrem os ga- lhos do Guajará de uma parte e do material de ninho do Japú de outra parte. Resta ainda saber se estas Rhizomorphas não são talvez, no primeiro periodo de sua existencia, parasiti- cas, como p. e, as Rhizomorphas do conhecido Agari- cus melleus na Europa. Em todo o caso póde-se dizer queaquino baixo Ama- zonas o Japu constróe o seu ninho de materiaes fibro- sos arrancados dos galhos das arvores e compostos de rhizomas de fetos (Polypodium piloselloides) de raizes de Orchideas e principalmente de rhizomorphas de Marasmius. Todos estes materiaes são macios e flexi- veis, mas ao mesmo tempo muito solidos e resistindo a uma tracção consideravel. Da Tillandsia usneoides nun- ca encontrei nem um fragmento sequer nos ninhos pro- venientes do Pará. Surge agora a questão porque o Japú não emprega, aqui no baixo Amazonas, o mesmo material de que elle faz o seu ninho no resto do Brazil. A resposta é muito simples. E” porque no valle amazonico não existe a Tillandsia usneoides. Este facto parece tanto mais notavel e extranho, quanto esta Bromeliacea é sem duvida a que tem a maior area de dispersão dos dois lados do Equador. Segundo os autores, ella se acharia não so emtodaa parte tropical e subtropical da America do Sul, na Argentina e no Chile até Panamá e as Antilhas, mas tambem no Mexico e na parte sul dos Estados Unidos até a Virginia. Entre- tanto é de: observar, e isto não consta idos autom que fallam d'esta planta (cf. Mez in Monogr.. Bro- mel., Suites au Prodrome IN p. 882- 883 e na «Flora brasi- liensis» Bromei. p. 614—624), que ella falta em muitas partes da sua area enorme de dispersão. Vejamos o que diz a este respeito o monographo da familia das Bromeliaceas na Flora brasiliensis (p. 624): Optimo sine ullo dubio semina Til- landsicarum levissima pilisque ingentibus appendiculata ab aêre arripiuntur ventis- que per longa spatia devehuntur, unde Tillandsieis imprimisque Tillandsiis area O Ninho do Japi 359 geographica prae ceteris longe amplissi- ma. Ambae, et Tillandsia usneoides et T. recurvata, septentrionem versus gradum latitudinis tricesimun transeunt aequali- que modo meridiem versus fere in campos Patagoniae descendunt. Mira enim is est facultas ad superandas jovis iniquitates, dum modo aer sat aquae contineat, quae 1n lepidum tegumento totam plantam mo- do pruinae obducente liquefacta sit ideo- que vitae inserviat. Inde non solum sub acquatore et in Antillis silvarum uda- rum arbores investiunt, verum etiam in regiones andinas fere subalpinas adscen- dunt, ubi in Boliviae Sorata in altitudine 3000 m reperiuntur: atque etiam species peraffinis in Andibus Boliviensibus us- que de 4000 m invenitur. Sed miro modo eaedem species in regionibus tropicis quo- que (e. g. in horto imp. Petropolitano pro- pe urbem Rio de Janeiro) obviaehic ar- boribus, illic saxis agglutinatae crypto- gamarum more habituque vivunt. Segundo este topico parece natural a conclusão que a Tillandsia usneoides não se acha nem nos campos nem na região das Caatingas brasilicas, por causa da fal- ta de humidade na atmosphera. Depois das minhas pri- meiras pesquizas acerca dos materiaes que compõem os ninhos do Japú, tive occasião de ver a T. usneoides no Es- tado do Ceará, onde ella se chama vulgarmente Samam- baia. Ali com effeito não encontrei esta planta nem na zo- na littoral nem no sertão secco e quente, mas só nas ser- ras a uma altura bastante superior a 500 m, onde a at- mosphera é mais fresca e humida. Nos altos da Serra de Baturité muitas arvores altas, principalmente a Massa- randuba e o Pão d'arco, como tambem os cafeeiros velhos se mostravam cobertos de longas barbas de Samambaia. Na região amazonica entretanto ainda não vi este epiphyta característico, apezar da attenção espe- cial que empreguei n'este sentido. Em todas as minhas excursões no baixo e no alto Amazonas (Ucavali, Hu- allaga) cheguei ao mesmo resultado que o Dr. Goeldi, 341) O Ninho do Japú isto é, que a Tillandsia usneoides falta aqui completa- inenite. D'este resultado negativo ainda não resultaria a cer- teza que o vegetal em questão não se acha em nenhu- ma parte do valle amazonico. Mas tenho em meu favor o silencio de todos os naturalistas que viajaram no rio mar e nos seus afiluentes. Nem um só, ao que me cons- ta, fala d'esta planta aliás tão caracteristica que não po- dia facilmente escapar à attenção d'um naturalista. Mais Pag dos collectores citados na «Flora brasiliensis» (p. 614) resulta que a T. usneoides ainda não foi colleccio- o no valle amazonico. É verdade que se acha citado um exemplar colleccionado por Spruce, o principal col- lector de plantas na região amazonica; mas justamente este exemplar prova quasi com certeza que Spruce mão encontrou a planta em questão durante todas as suas pe- regrinações no baixo Amazonas, no Rio Negro e Cassi- quiaree no Perú oriental ( Tarapoto), porque o numens do exemplar colleccionado por elle corresponde à sua estada nos Andes equatorianos, isto é, ao ultimo periodo da sua actividade como collector. Seria muito de admi- rar se Spruce, que chegou à Amazonia vindo directa- mente da Europa, não tivesse colleccionado uma planta tão interessante e de tão facil conservação, se elle alma vesse encontrado antes de chegar aos Andes. Recentemente o Sr. Ernesto Ule, após ima explo- ração dos arredores de Manáos e do Rio Juruá, chegou a uma conclusão identica para a região percorrida por clle escrevendo n'umartigo publicado no Bot. Jahrb, de Engler (vol, XXX Bei blatt n. 68 p. 45): . - = AR IÁ ps E A po GSE SE AS EC E EEE CS = Huber del. ) R$ MATERHES DO NINHO DO |d (as pe, e E (ds ; ano! | h y er o | | da Als DA: ii A a Wi rm R Sa ? g SJ) (ES rt ig cam E b) EN GANDT PARA. Emrotadera aa , PU Ostinops decumanus). j , did » Te CLT TO PAS) 1 h O Ninho do Japú 343 EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA Fig. 1-—Rhizomorphas de Marasmius sp. provenientes d'um ni- nho de Japú. (1/1). d-disco adhesivo. a-M. ralunensis Henn. com um corpo fructifero. Fig. 2-Corte transversal d'uma rhizomorpha (augmentado) Fig. 3-Corte longitudinal duma rhizomorpha (augmentado) c-camada cortical, f-camada fibrosa, m-cordão medular. Fig. 4-Parte do corte transversal n'uma rhizomorpha nova. Fig. 5-Parte do corte transversal n'uma rhizomorpha mais an- tiga, tratado pelo K O H diluido (augmento de 300/1) Fig. 6, 7,8--Hyphas finas do cordão medullar. Fig. 9-12--Cellulas de hvphas medullares d'uma rhizomorpha grossa. Fig. 13-Ramificação terminal d'uma hypha na camada fibrosa. Fig. I4-Cellulas da camada com começo de ramificação (a, b, Fig. 16, 17-—Cellulas da camada cortical. Fig. 18--Corte pelo caule da Tillandsia usnecides do Ceará. Fig. 19-Corte pelo cylindro central só. 300/1 Fig. 20-Cylindro central de Tillandsia usneoides. 1/1 Fig. 21-Raiz de Orchidea parcialmente destituida da camada cortical, d'um ninho de Japú. Fig. 22-Rhizomas de Polvpodium piloselloides L, dum ninho de Japú. * Post-secriptum Não é minha culpa, nem de qualquer membro do corpo scientifico do Museu no Pará, se a discussão d este assumpto se opera em plena publicidade. O illustre Dr. von lhering.consultando a sua consciencia, devera dizer a si mesmo que lhe cabe por inteiro a responsabilidade de ter creado semelhante situação, pois foi s. s. que houve por bem de removel-a do terreno da correspon- dencia epistolar para a arena da discussão pela impren- sa scientifica. Saiba-se que o illustre Dr. von Ihering, algum tem- po depois de publicada a minha noticia sobre a nidifi- cação do Japú n'uma revista ornithologica da Inglaterra, em carta particular veio ensinar-me que eu me tinha enganado, tomando aqui no Pará por lichen novo, aquil- Ene NG 344 O Ninho do Japi lo que elle, em São Paulo, tinha descoberto ser nada mais do que os fios axillares da «Barba de, velho» macerada. Respondi que tal não podia ser, já pelo simples facto de ser ausente do baixo Amazonas a «barba de velho», eliás assás conhecida minha do Sul do Brazil. Em ou- tra carta o Dr. von Ihering veio notificar-me que por semelhante affirmativa minha tinha juntado um segundo erro ao primeiro, pois era erronea a minha asserção re- lativa à ausencia da Tillandsia usneoides no valle ama- zontco! Devo confessar que fiquei impressionado pelo arro- jo com que o insigne Director de São Paulo veio con- testar-nos cousas que, como factos empiricos, cuja reali- dade e veracidade diariamente, a todo o momento pódem ser comprovadas pela experiencia directa, são simples- mente—incontestaveis. Isto não é o «sic volo, sic jub>o, stat pro ratione voluntas» arvorado em divisa de INnves- tigação scientifica ? O eminente Dr. von lhering porem não é lá pessoa que fique a meio caminho. Foi proclamar aos quatro ven- tos pelo vol. IV da «Revista do Museu Paulista» a nos- sa queda de Icaro, transparecendo pela sua redacção o mal disfarçado proposito de ridicularisar-nos. Aliás eu bem: sei que c'est pour le besoimiidenta canse:—trata-se de pôr em evidencia a inferioridade do Museu -do Pará. Para esse fim tudo serve, conforme o pres ceito «Fartes fléches de tout bois!» Confessa porém como é—uma vez que tal o exige O bem estar de s. s.—por nós submissamente a nossa infe- rioridade, pelo menos no que diz respeito à minha pes- sôa, para que mais insiste o nosso illustre collega em querer dar ao mundo o feio espectaculo de degladiarmo- nos em publico, quando nós aqui no Pará não nutrimos outro desejo senão o de deixar-lhe livre a arena, sobre- tudo nesta ordem de considerações —palpavelmente con- trarias e nocivas aos interesses do colleguismo sincero e da lealdade scientifica ? Belem do Para, julho 1902. GIELDI. Arvores de Borracha 345 HI OBSERVAÇÕES SOBRE AS ARVORES DE BORRACHA DA REGIAO AMAZONICA pelo Br 9: EHaber (1) Desde a publicação, em 1855, duma noticia de Spruce (Note on the India Rubber of the Amazon; Hoo- ker's Journal of Botanv and Kew Gardens Miscellany, vor VII. pag. 193196), as arvores de borracha da re- gião amazonica não foram no seu conjuncto assumpto de trabalho algum especial. E' verdade que na biblio- graphia muito abundante que appareceu nestes ultimos annos sobre as arvores de borracha em geral, acham-se algumas indicações sobre a nossa região, mas estas indi- cações são geralmente defeituosas ou muito vagas, mes- mo completamente erradas quando não vêm apoiadas sobre a autoridade incontestavel de Spruce. (2) Occupado desde alguns annos com estudos botani- cos na região amazonica, dirigi naturalmente minha at- (1) Este trabalho é na sua essencia a traducção de um artigo publicado pelo autor na Revue des Cultures Coloniales n. gs de 20 de levereiro en. 96 de 5 de março de 1902. Algumas novas informações foram consignadas em annotações. 2) Pode-se considerar como fazendo excepção d'esta regra a re- visão das especies de Hevea publicada pelo illustre botanico inglez W. Botting Hemsley na obra iconographica Hooker's Icones Plantarum, Fourth Series, vol. VI, 1899, Pl. 257202577, ond: o autor, approvei- tando os materiaes relativamente abundantes do Kew Herbarium, estuda cuidadosamente os caracteres distinctivos das diversas espe- cies já descriptas, juntando a descripção de algumas especies novas. Estas são as seguintes: Hevea confusa He msleyv, da Guyana ingleza, arvore que é cultiva- da no Jardim botanico de Trinidad e que durante muito tempo foi confundida com a Hevea Spruceana. Hevea minor Hemsley, do Rio Cassiquiare, especie caracterisada pelas folhas e sementes menores que em todas as outras especies. Hevea similis Hemsley, especie parente da H. discolor, colleccio- nada por A. Rodr. Ferreira na região Amazonica, mas sem indicação detalhada da localidade. Arvores de Borracha Co = fp tenção tambem sobre as arvores que são a principal fonte de riqueza d'este paiz. As minhas pesquizas que abrangem d'uma parte a re- gião costeira e o baixo Amazonas, de outra parte o ter- ritorio peruano do valle amazonico (Javary, Ucayali e Huallaga), deram-me um certo numero de resultados, dos quaes só publiquei alguns fragmentos (1), na esperança de completar ainda as minhas observações para contri- buir um dia com uma monographia Cir Rg das plantas de borracha da nossa região. Entre os resulta- dos já publicados, o que me parece apresentar o Rune interesse sob o ponto de vista da geographia botanicaé a descoberta da Castilloa elastica no valle do Amazonas, e isto não sómente nas raizes dos Andes, onde ella não tinha nada de imprevisto, mas sobre quasi toda a exten- ção da bacia fluvial do grande rio. Muitas razões me induzem a publicar desde já alguns outros resultados das minhas pesquizas, quer referentes a diversas especies de Hlevea já conhe- cidas ou novas para a sciencia, quer a algumas outras arvores de borracha da região amazonica. Quanto às Hleveas, encontrei em uma viagem aos rios Ucayali e Huallaga (2) algumas especies ainda desconhecidas, differentes das da região do rio Negro, que Spruce fez conhecer. Como não pude infelizmente colher amostras no momento da florescencia, hesitei primeiro em des- crevel-as como especies novas, mas como, n uma via- gem recente à Europa, tive occasião de examinar amos- (1) Huber, Os nossos conhecimentos actuaes sobre as especies de seringueiras (Boletim do Museu Paraense, vol. II, pags. 250-—253,1897). Huber Beitrag zur Kenntniss der periodischen Wachstumser- scheinungen bei Hevea brasiliensis Muell. Arg. (Bot. Centralbl., Bd. EXAME, 1898). Huber, Le «Caucho» amazonien (Revue des Cultures Coloniales, n fa dec. 1899.) Huber, Apontamentos sobre o Caucho amazonico (Bol. do Mus. Par., vol [IL pag: 72-67; "fevereiro 1900.) (2) Esta viagem foi executada de setembro de 1898 a janeiro de 1899 em companhia do meu amigo Dr. Ed. Marmier, ao qual dediquei uma das especies novas cuja descoberta em grande parte lhe cabe. De- pois de ter visitado alguns pontos à margem do rio Ucayali (Con- tamána, rio Cuxibatay, Cerro de Canchahuaya, Paca), atravessámos duas vezes a região situada entre o Ucayali e o Huallaga (Pampas del Sacramento), primeiro a pé de Sarayácu a Quillucáca, depois voltan- do em canôa pelos rios Chipurána, Yanayácu, affluentes do Hual- laga, e pelo rio Catalina, affluente do rio Ucayali. Arvores de Borracha 341 tras authenticas das especies já descriptas e de verificar que as minhas plantas se differençavam visivelmente, mesmo nos seus caracteres vegetativos, não hesito mais em dar descripções e nomes ao menos ás duas fórmas mais caracterisadas, das quaes consegui tambem intro- duzir exemplares vivos no nosso jardim botanico. Além d'isso fui induzido a descrever como nova uma especie do genero Sapium, igualmente do rio Ucayali. Parece-me tanto mais util e mesmo necessario publicar estas especies, porque ultimamente o Sr. Ule publicou uma nota preliminar sobre as plantas de bor- racha do rio Juruá, (1) com a descripção summaria de diversas especies consideradas como novas, que se de- vem comparar com as do Ucayali e do Huallaga. Nas notas seguintes, terei occasião de occupar-me ainda di- versas vezes do trabalho do Sr. Ule. HEVEA BRASILIENSIS MUELL. ARG. seringueira branca, Seringueira preta Nomenclatura. No seu livrinho intitulado « Die Kautschukpilanzen und ihre Kultur», o Prof. War- ourg propoz abandonar-se o nome de [leveca brasili- ensis para a arvore de borracha do Pará dando-lhe o de Hevea Sieberi Warb. Segundo Warburg, Kunthteria de- nominado Siphonia brasiliensis uma planta colhida por Humboldt e Bompland no alto Orenoco; Mueller (d Ar- govie) teria sem razão identificado com ella a especie colhida mais tarde por Sieber no Pará. Em eteipo Tor o conitario” que acconteceu; Toi Kunth que fez o erro de identificar a planta do Orenoco com a colhida no Pará. Examinando com attenção o texto de Kunth (Nova Genera et Species, vol. VII, pags. 170 et 171, 1825) é facil convencer-se que a sua especie é na realidade uma infeliz mistura de duas especies diffe- (1) E. Ule. Erster Bericht ueber den Verlauf der Kautschuk-Ex- pedition bis zum Beginn des Jahres 1901 (Notizblatt des kgl. bot. Gartens und Museums zu Berlin, n. 26 (Bd. III;, 5 Jul. 1901, pags. IIL—IIB. 48 Arvores de Borracha rentes, pois que elle cita como synonymas: Siphonia foliis oblongis acuminatis Willd. mss., Siphonia bra- 'siliensis Willd. herb., Siphonia spec. brasiliensis Adr. de Jussieu, synonymos que correspondem, sem duvida alguma, á especie do Para. Acha-se em nota a indicação seguinte: the “long” Ieaved and shortleaved Seringa. The former yields most milk, but neither is so productive as the Seringa of Para (Siphonia brasilien- sis Willd.). Both are straight, tall, and not very thick trees with smoothish thin bark and yellow very odoriferous flowers, whi- 356 Arvores de Borracha le the other species have mostly purplish flowers. I suppose their average height may be about 100 feet.... 1 first saw and gathered S. lutea in the mouth ofthe Uau- pes; and as I came down the Rio Negro in December 1854, 1 found a «rancho» erec- ted on the spot and a person employed im extracting rubber from the same trees as | had taken the flowers. Sob o nome peruano de «Shiringa amarilla,, ou algu- mas vezes «Shiringa del Cerro», encontrei, nas margens do rio Ucavyali e dos seus afíluentes, uma especie que não hesito em approximar da Aevea lutea, se bem que a considero por emquanto como uma variedade distincta. Vi esta-arvore pela primeira vez no Cerro de Cancha- huava, margem direita do Ucayali, mais ou menos a 100 m. de altura acima do nivel do rio, n'um logar onde se acham tambem arvores isoladas de Castilloa elastica. Mais tarde encontrei-a nas beiras do rio Gatalina, afilu- ente da margem esquerda do Ucayali, a um nivel um pouco inferior, porém ainda em terra firme. Como a A. lutea do rio Negro, a nossa planta é uma arvore alta da floresta; sua casca ruiva se esfolha em escamas irregu- lares. (1 As folhas. muito variaveis nas suas dimensões abso- lutas, têm muita semelhança com as folhas da A. lutea, principalmente pela fórma dos foliolos, que são oblongos lanceolados, terminados bruscamente em ponta curta, porém muito aguda, e por sua côr bruna (nas amostras do herbario) que é quasi a mesma de ambos os lados. (2) Estes caracteres bem accentuados induzem-me a con- siderar a «Shiringa amarilla, como pertencendo à Bevea lutea, apezar da ausencia de flores. O que me leva prin- cipalmente a consideral-a como uma variedade distincta 1) Nos exemplares novos, cultivados no jardim botanico do Museu, a formação da periderme é muito mais precoce que nos exemplares de H. brasiliensis da mesma idade; ella começa por pequenas areolas ver- melhas tendo, cada uma, uma lengicelia no centro. 2) Segundo a descripção da H. lutea no «Prodrome, de De Can- dolle (vol XV, pars II, p. 719), as folhas seriam «secus costas puberu- la juniora ferrugineo puberula»; porém, segundo o texto da «Flora bra- sihensis», isto seria somente o caso para a variedade apiculata. Na nossa planta as folhas adultas são completamente glabras. Arvores de Borracha 391 é o facto de serem os foliolos relativamente mais estrei- tos, diminuindo insensivelmente de largura desde o meio do comprimento até o peciolulo. Dou á nova variedade cuneata a diagnose seguinte: «foliolis longe distincteque cuneatis et in petiolulum sen- sim angustatis.» A largura maxima dos foliolos é no se- gundo terço do comprimento e varia, para as folhas dum comprimento de 15 cm. mais ou menos, entre 4e 5 cm. O comprimento absoluto dos foliolos é muito variavel; ao lado de galhos cujos foliolos tinham 10o—15 centimetros de comprimento, a mesma arvore tinha outros que pos- suiam foliolos de 30 a 40 centimetros. Como a H. lu- tea typo, tem tambem a variedade duas pequenas glan- dulas no vertice do peciolo commum, que aliás são tão pequenas que nas amostras seccas escapam facilmente à vista. Encontrei somente alguns fructos ainda não ma- duros d'esta especie, porém mesmo n'este estado as cap- sulas são maiores que as da AH. brasiliensis, e as se- mentes mostram, na extremidade da chalaza, uma Ppe- quena proeminencia pontuda. O latex das arvores de fl. lutea var. cuneata, que pude examinar sob este ponto de vista, era de côr amarellada, e não muito abundante, po- rém era espesso e se coagulava muito rapidamente em uma borracha de hôa qualidade. E explorado aqui e aco- la, mas é a especie citada acima como sendo provavel- mente a H. brasiliensis que fornece a maior parte da borracha recolhida no Ucayali. A cultura da Hevea lutea var. cuncata merece entretanto ser experimentada. E' possivel que a nossa planta seja identica com a He- vea spec. que o Sr. Ule assignala no Juruá sob o nome de «Itaúba com casca vermelha» (1. c. p. 114) (1) e que se acharia tambem na terra firme fóra das inundações (2). (1) Como o nome de «Itaúba» (itá=-pedra, úba==arvore, pão) é empregado pelos indigenas para designar madeiras muito is como as de algumas Lauraceas (Silvia, Acrodiclidium) e Legumino- sas (Ormosia), me parecia surprehendente que fosse usado para uma Hevea, cuja madeira deve ser antes molle. Informações colhidas a res- peito confirmaram- me entretanto que a designação de , que tem o mesmo valor commercial que o «Sernamby de borracha», é ás vezes confundido com este ultimo nas estatisticas commerciaes, de maneira que a proporção do producto de Castilloa, em Comparação ao producto das Heveas é maior do que mostram as estatisticas. 366 Arvores de Borracha Sapium bDiglandulosum Muell. Arg., ambas arbore- centes. Uma d'ellas, de folhas relativamente pequenas, cresce ata ain nas alluviões recentes a oeste dB Marajó e tambem sobre a terra firme nos arredores de Belém, emquanto que a outra variedade, de folhas gran- des, é commun na costa atlantica de Marajó, onde é "cha- mada «Curupitá» ou «arvore de leite». Esta ultima varie- dade é, na nossa região, um dos raros exemplos d'uma arvore que fica completamente despida de folhas duran- te alguns mezes do anno. Até aqui ainda não soube que uma ou outra d'estas arvores fosse explorada para a pro- dução de borracha e as experiencias que fiz com pequenas quantidades de latex das duas variedades, deram resulta- dos negativos, sendo o producto resinoso e pouco elas- tico. Nos valles dos rios Ucayalie Huallaga encontrei, nos terrenos de alluviões recentes, trez formas de Sa- pium, duas das quaes pertencem ao grupo especifico de S. biglandulosum, emquanto que a terceira é uma especie muito distincta e, ao que me parece, nova: Sapium biglandulosum, var.1, chamada pelos Pe- ruanos «Tahuámpa-caucho» (1), «Caucho-mashan», às vezes tambem «Guttapercha de hoja grande» (2) Encontrei esta arvore em differentes logares ao longo do Ucayali e do Huallaga e de seus afluentes. Seu porte é alto como nas variedades do baixo Amazonas. A bor- racha é de qualidade inferior, falta-lhe um pouco a elas- ticidade e torna-se viscosa, porém me parece melhor que a das variedades do baixo-Amazonas. Sapium biglandulosum. var. 2: «Pampa leche», «Gut- ta- percha ce hoja menuda.»—Esta arvore, muito seme- lhante à variedade de folhas pequenas do baixo Amazo- nas, é tambem muito frequente nos rios Ucayali e Hual- laga. Uma pequena amostra de borracha preparada ao pé da arvore mostrou-se mais firme que a da variedade 4, porém com o tempo tornou-se igualmente molle e um pouco viscosa. (1) Tahuámpa-caucho: Caucho da floresta pantanosa (tahuáâmpa). (2) O nome de «Gutta-percha» para as especies de Sapium, que ouvi na bocca de differentes pessoas que habitam o Ucayali, deve sem duvida ser attribuido a informações erradas de algum «explorador» ignorante que pensava ter descoberto a gutta-percha no alto Ama- zonas, | Arvores de Borracha 361 E' curioso que estas duas variedades de S. biglandu- losum, que differem mui pouco das formas do baixo Amazonas, forneçam uma borracha que, sem ser de pri- meira qualidade, é entretanto exploravel, emquanto que o latex das arvores do baixo Amazonas é por assim dizer sem valor para a producção de borracha. Sapium Marmieri nov. spec. (1)—Esta arvore, cha- mada indevidamente «Gutta-percha» por certos habitan- tes do Ucayali, porém muitas vezes «Shiringa-rana», se- gundo o exemplo dos seringueiros brazileiros, se parece pelo seu pórte com as variedades de S. biglandulosum. O seu tronco esbelto, que attinge uma altura de 15 a 20 m, é coberto de uma casca cinzenta pouco enrugada, como no S. biglandulosum do baixo Amazonas, porém sua copa é geralmente mais espessa e de um verde mais es- curo do que n esta ultima especie. Apezar de preferir os sitios da mesma natureza, a S. Marmieri não cresce em todos os logares onde se acham as duas variedades de Sapium biglandulosum; em certos districtos porém ella é bastante frequente, quasi social. Suas folhas se distin- guem facilmente das de S. biglandulosum e das outras especies congeneres pelos seus contornos exactamente ellipticos e pelas glandulas muito pequenas e pouco proeminentes, que se acham sob o meio do peciolo. (2) A diagnose póde ser concebida da maneira seguinte: Sapium Marmieri Huber spec. nov. — Stipuiis late ovatis acutis, foliis longius- cule petiolatis petiolis teretibus supra le- viter canaliculatis (siccis longitudinaliter valde rugosis), infra medium facie ven- trali spurio biglandulosis, limbo coria- ceo exacte elliptico apiceque rotundato vel obtusiusculo vel leviter emarginato, margine integerrimo vel leviter undulato, (1) Chamada assim em honra do meu amigo e companheiro de TE Dr. Ed. Marmier, que teve uma parte activa na descoberta desta nova especie e de muitas outras que encontramos na nossa viagem. “(2 A nossa especie é talvez identica com a especie de Sapium que o Sr. Ule (1. c. p. 115) cita do Juruá sob o nome de «Seringeirana (sic!) com casca preta», e cujo producto seria misturado como da Hevea brasiliensis. Segundo o Sr. Ule, esta especie teria folhas co cas e arredondadas. 368 Arvores de Borracha supra nitido subtus opaco, costis secun- dariis utrinque 15-20 ad marginem ex- currentibus ibique arcuatis, minoribus in- terjectis; bracteis masculinis inferioribus trifloris triangularibus vel semiorbicula- ribus glandulis magnis obovatis vel levi- ter reniformibus, calice masculino bifido. Fructu (haud plane maturo) globoso vel leviter pyriformi, seminibus rUgosis. Arbor alta (20m.) cortice griseo laevi- gato; rami validi, ramuli petiolique satis graciles nigrescentes. Petioli 3-5 cm., sae- pissime 4 cm. longi, limbus 10-12 cm. (ra- rius ad 8 vel ad 15 cm.) longus, medio longitudinis 5-7 cm., saepissime 6 cm. latus. Capsula (vel bacca?) immatura 8 millimetr. diametro metiente. Hab. in silvis recentioribus ad fluvi- um Ucayali, leg. J. Huber. nov. 1898. O latex do S. Marmieri é bastante viscoso e desa- . gradavel a extrahir, porém fornece uma borracha melhor que a das variedades de Sapium biglandu- losum. Segundo informações dadas pelos habitantes do Ucayali, esta arvore ainda não é explorada alli, porém já teria fornecido grandes quantidades de borracha na Republica do Equador, principalmente no rio Napo. OUTRAS ARVORES DE BORRACHA DE MENOR IMPORTANCIA Hancornia speciosa Gomez, « Mangabeira» — Em- quanto que se cita geralmente esta arvore como indi- gena dos paizes ao Sul e a S. O. da região amazonica (cf. Warburg, 1. c., p. 103) outros a indicam tambem para esta região mesma. Segundo Morris (1. c., p. 770), O limite septentrio- nal da especie seriado rio Negro. Certos autores (cf- E. Chapel, Le caoutchouc et la gutta-percha, p. 142) affir- mam mesmo que o caucho peruano provem d'esta es- pecie, opinião que refutei como errada em uma das mi- nhas notas sobre -O Caucho (Bol. Mus. Par., vol TIL p; Arvores de Borracha 369 77-78). À verdade é que a Hancornia speciosa existe no baixo Amazonas, porém não é quasi explorada para a producção da borracha. E' bastante commun ao longo da costa SE de Marajó e achei-a tambem na terra firme defronte desta ilha, perto da villa do Mosqueiro. N'estes districtos porém só se exploram as fructas que são muito apreciadas no mercado da capital. O districto mais visinho onde se exploraa Mangabeira para a producção de borracha, se acha acima da confluencia do Tocantins e do Araguavya, onde a industria extractiva da borracha de Mangabeira tomou, segundo Coudreau (Voyage au Tocantins-Araguaya, p. 133 et 134) uma importancia bas- tante consideravel; porém esse territorio não pertence mais à região amazonica propriamente dita. (0) Tapurú-—Nunca tive occasião de ver esta arvore, que às vezes é citada como fornecedora de borracha na região amazonica. Segundo Ule (1. c., p. 115) forneceria muito sernamby exportado de Cametá. E verdade que se conhece aqui uma marca especial de borracha de se- gunda qualidade chamada «Sernamby de Cametá» ou «Sernamby gordo», porém que não é outra cousa senão o latex de H. brasiliensis coagulado de uma maneira especial. Faz-se actualmente tambem «Sernamby de Ca- metá» nos outros lugares do baixo Amazonas, deixando as tigellinhas encherem-se quasi inteiramente de latex que se coagula pouco a pouco. No sernamby preparado d'esta maneira distingue-se ainda pedaços de borracha que conservaram a forma das tigellinhas. Belém, julho 1902. 370 Maravilhas da Natureza IV MARAVILHAS DA NATUREZA NA ILHA DE MARAJÓ (Rio Amazonas) CONFERENCIA PELO PROF, DR. EMILIO A. GOELDI, NA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE BERNE (SUISSA) EM 20 DE JUNHO DE 18009 (1) Encravada no estuario do rio Amazonas, jaz, entre a linha equinoxial e o segundo grão de latitude Sul, a ilha de Marajó, cuja superficie excede em muito a de qualquer outra do denso archipelago que a envolve em complicado labyrintho. A sua superficie é avaliada em cerca de 42.000 kilometros quadrados, numero bem inte- ressante para nós, pois a Suissa com os seus 41.346 k. q., olferece uma approximação sensivel. Junto a ella, em seguimento á mesma costa, em rumo Noroéste, acham-se as duas ilhas, Mexiana e Caviana, com parte na mesma latitude, e parte já no hemispherio Norte: A Mexiana foi visitada em 1850 pelo naturalista e zo0o-geographo inglez Alfred Russel Wallace, que d'ella (1) O texto original em lingua allemã appareceu na revista illus- trada «Die Schweiz», (Zurich, Suissa), vol IV, 1900, pag. 546552, pag. 589—593, accompanhado de g vistas photographicas. À conferencia realisou-se, perante numeroso e selecto auditorio, na aula academica do novo «Instituto Zoologico» da Universidade de Berna, tendo o confe- rentista à sua disposição, como material demonstrativo, além de um mappa do Estado do Pará, em grande escala, um consideravel nume- ro de vistas photographicas originaes. Na Hha de Marajó Sil nos deixou uma descripção nitida e digna de ser lida. Marajó tem, por duas faces, os seus contornos per- feitamente assignalados e distinctos: pelo lado do Atlan- tico e pelo do canal do Sul, na fóz do Amazonas; entre- tanto, como facilmente se observa nas cartas moder- nas, falta-lhe para o lado interior uma linha de delimi- tação clara e definitivamente assentada, cousa, aliás, que (e isto certamente não é visivel nos mappas) encontra sua expressão na physionomia geral da região. Si traçarmos uma diagonal que, partindo da foz do rio Cajuúna, vá até a embocadura do rio Atuá, teremos Marajó obliguamente dividida em duas partes quasiiguaes, uma a Nordéste, outra a Sudoéste. A primeira metade é caracterisada pelas immensas planicies dos campos e das savanas, onde existe uma criação de gado bastante con- sideravel, si bem que technicamente imperfeita; na me- tade sudoeste, em que predomina a floresta virgem, ty- picamente amazonica, expande-se, sob o signo do Aqua- Bora colheita da borracha. Sob os pontos de vista botanico e zoologico, cada uma dessas regiões apresenta caracteristicos particulares, facto cujo conhecimento, mesmo em seus traços funda- mentaes, é relativamente recente, pois só em nosso tem- po foi levada a cabo uma exploração séria para estudos geographicos e de Historia Natural. Dos naturalistas que outrora viajaram o Amazonas poucos abordaram a ilha de Marajó, e esses mesmos pouco tempo se demoraram, e sempre em logares facilmente accessiveis, situados à margem da grande via commer- cial de Sudoeste, nos canaes de Breves. Eu, porém, desejaria conduzir-vos para as bandas do Norte da ilha, que é quasi desconhecido e muito mais difficil de attingir, e, recommendando á vossa leitura, em materia de botanica e geologia, os trabalhos especi- aes dos meus collegas, publicados no Boletim do Museu Paraense (vol. II, pags. 258 e seg.) e no Globus (vol. 73, n.º 5 a 7) tomarei a liberdade de occupar a vossa at- tenção, agora, com alguns factos de caracter zoologico que, no meu conceito, merecem o nome de—maravilhas. * Pa: Um estudo confrontativo do mundo animal segundo os differentes typos da paisagem:—os campos descober- Pia Maravilhas da Natureza tos, com os seus fesos, de um lado, e as lagunas interio- res do outro; as margens dosrios, em opposição á costa maritima;—seria de toda a vantagem, porque desse modo se patenteava uma imagem completa da vida organica. Dados, porém, os limites naturalmente restrictos e a fórma de uma simples conferencia, isso envolveria umas tantas difficuldades didacticas que levam-me a pro- ceder diversamente, e a tomar por guia a serie animal systematica. No aspecto geral da fauna marajoara, os macacos representam um papel que merece mais attenção do que se poderia presumir. E isto não tanto pela variedade, pois na parte da ilha a Nordéste da diagonal a que já me re- feri ha pouco, contam-se apenas 3 ou 4 especies, mas sim pela grande porção numerica de individuos. Evidentemente a existencia d'elles está ligada a certos logares em que a vegetação é de mato alto, como soem ser em primeiralinha as margens dosriose lagos, bem como certas extensões da costa maritima, emquanto que as zlhas de mato do interior vão-se tornando menos e menos pro- picias, à medida que mais largas soluções de continui- dade são abertas na zona florestal pelas porções de cam- po que as medeiam, cobertos só de vegetação herbacea. O viajante que, navegando silenciosamente, pene- trar, em bóte, em um daquelles rios solitarios, cheios de encantos naturaes, da parte Nordéste de Marajó, vê e ouve muitas vezes bandos inteiros de macacos grandes que de longe parecem inteiramente negros:—são os Mycetes Belzebul, guaribas de mãos vermelhas, assim chamados pelo contraste que, vistos de perto, apresentam entre a côr das mãos e terço final da cauda, cujo pello é de um castanho avermelhado que com a idade cada vez mais intenso se torna, e o resto do corpo, de um negro aze- viche. Esses quadrumanos são vistos em bandos de dez a vin- teindividuos que,evidentemente,conforme os seus habitos sociaes, representam familias mais ou menos numerosas, destacadas dos restantes, unificadas sob o governo de um | velho macho, cuja soberania e cuja dignidade de patriar- cha originam-se directamente na sua força physica e no tamanho e emprego energico dos seus caninos. São de um caracter melancholico e escolhem para sua vivenda uma arvore frondosa que se destaque por sua altura extraordinaria e suas dimensões agigantadas. Si caiá apos topne Fazenda Livramento Cabo Maguary (Ilha de Marajó) DIE SCRWEIZ. nes7 .. Fazenda «Pacovaly—Cabo Maguary (Ilha de Marajó) Arvores inclinadas por effeito do vento dominante mr dem ad eia mem nn mm med OS Rio Aran Úlha de Marajo) / na altura do Pindodal, perto de Cachoeira Principio de enchente na foz do Rio Maguarizinho (Cabo Maguary, Ilha de Marajó) na E] 7 ] = To o! ) ” À | p , e ul, | | Po À , N ( f b | ) r j E E Ri X Ê , o I ] à ) ) | ) f h a) 1 F o I . e od! I : ' 1 + im . ) 7 = 1 l : , as | | À + f I t , | ) + ! À | ] 1 1 ) o a i “ : isa | + » ne í CNA, 0 | É 1 y ' 1 1 | ) 1 4 , 1 ; (EEE mr PRRPa ] + y E. DO E RE TER oo 7 2 O RE = * e ME TER CEE e e Na Hha de Marajó Sra Elles nos deixam approximar o bastante para poder- mos vêr distinctamente que, por exemplo, alguns d aquel- les senhores, tranquillamente deitados extendidos ao longo de um galho horizontal, deixando indolentemente pender de um lado e de outro as pernas e os braços, go- sam um bem-estar contemrlativo, emquanto outros, à cata de um succulento rebento, uma flôr ou um fructo, trepam aqui e alli nos troncos, despreoccupados e sere- nos. Alem é uma mãi entregue aos seus trabalhos domes- ticos, que consistem essencialmente em catar os bichos na pelle do filhinho mais novo; acolá é a mocidade, já algum tanto emancipada, que leva a vida descuidosa e leviana, passando os seus dias a divertir-se em exerci- cios gyvmnasticos. Eis, porém, que o estampido de um tiro opera re- pentinamente a mais completa mudança desta scena ! Tudo debanda no maior panico; um ramo que se agita, um bambú que verga, trahem, por momentos, a direcção dos fugitivos na floresta. Ouve-se o farfalhar dos cani- ços seccos, os estalidos dos ramos que se partem, de fo- lhas que câáem; ás vezes tambem o baque de um corpo logo seguido de um grito de desespero: —foi sem duvida algum pequeno que não calculou bem a distancia do pulo! Tudo isso se passou em menos de um minuto. De- pois, silencio profundo. Mas logo, dobrada a curva do rio, temos de novo o mesmo espectaculo sempre interessante. E asada a occasião para referir uma observação mi- nha, que sempre me pareceu digna de reparo:—o con- traste que existe entre a habitação desse guariba de mãos vermelhas, do Norte, e a do seu proximo parente, o gua- riba castanho-vermelho da região centro-littoral do Brazil. Emquanto este ultimo, Mycetes fuscus, é, na serra dos Orgãos (Estado do Rio de Janeiro), um morador das florestas das montanhas, como eu vi até alturas superi- ores a 1200 metros sobre o nivel do mar, em alcantis pe- dregosos e seccos onde, no inverno, têm de supportar temperaturas até 3 graos abaixo de zéro, vemos o outro, Mycetes Belzebul,ao contrario, nas florestas das planicies baixas, ao longo da costa fluvial de Marajó, sob o equa- dor, vivendo durante todo o anno uma vida quasi am- / 9—( BOL. DO MUS, PARAENSE) 317A Maravilhas da Natureza phibia que na estação das chuvas será accentuadamente similar à existencia em aldeia lacustre. Naquelle uma preferencia manifesta pelas matas ro- chosas das serras, onde a agua, mesmo a necessaria para beber, depende de algumas horas de viagem ás gargan- tas selvagens da encosta, onde, poeticamente, murmu- ram os regatos; no outro, um temperamento hydrophilo, que está acostumado a acceitar a abundancia d aquillo que, principalmente no verão, não é, para o seu primo meridional, muito facil obter. Os guaribas de todas as especies que tenho pesso- almente conhecido têm o mesmo grito caracteristico. E' um «go-go, ho-go-ho, go-ho» arrastado, com o—o— rouco, e que durá um quarto d'hora ou meia hora; a dif ferença de idades é causa de mui perceptiveis variações de altura e de timbre, e como todos não começam ao mesmo tempo, excitados sem duvida por suggestão re- ciproca, realisa-se essa especie de musica original que tão profunda impressão produzia em Alexandre de Hum- boldt durante a sua estada na America equatorial, segun- do elle proprio o confessa. Esse côro, que se ouve prin= cipalmente de manhã e à tarde nas margens dos rios, não raro interrompido ou acompanhado pelo urro rouca- mente nasal do jaguar, que parte da banda de um feso proximo, é a cantilena que nos acalenta todas as noites, antes que o somno nos prenda à rêde armada na varan- da aberta da fazenda solitaria que escolhemos para nossa - habitação durante essa viagem de estudos scientíficos. As fachas de floresta que orlam as margens dos rios e lagos abrigam igualmente uma graciosa especie do genero Saimiris, o 8. sciurea, conhecido no Brazil por «nacaquinho de cheiro.» Admirados e curiosos mas sempre timoratos, chiando uns gemidosinhos submissos, estes interessantes animae- sinhos que, com a tarja preta que lhes circula a bocea, têm o aspecto de quem comeu amoras ou assahy, cabrio- lam entre as cannas dos bambús ou sobre os bellos le- ques da palmeira do mirity, mostrando uma agilidade que attinge ao phantastico. Õ que tambem não falta na ilha de Marajó são mo r- cegos, grandes e pequenos, de todas as especies. Ape- nas o sol se esconde por taz da planicie infinda dos cam- pos, elies enchem o ar com as suas viravoltas incalcu- laveis, um pouco por toda a parte, junto à floresta, por Na Hha de Marajó Sto cima da fazenda, sobre o rio e à beira-mar. Muitos retar- dam-se mesmo até pleno dia, à procura de alimento. Lá, como no velho mundo, a crença popular não é favoravel a esses animaes. Nas regiões de criação de gado—como o é a metade atlantica de Marajó—ha com effeito frequentes motivos para justificar essa má preven- a porquanto as especies de Dysopes de azas estrei- tas, por exemplo, são, como está averiguado, sangue- sugas habituaes, sempre dispostas a molestar dolorosa- mente quer os animaes domesticos, quer o proprio ho- mem, principalmente em certas épocas e certos logares. Quanto a animaes carniceiros, Marajó possue em primeiro logar a onça ou jaguar (Felix onça), depois o guaxinim (Procyon cancrivorus), o cachorro do mato (Canis brasiliensis), com os quaes o viajante por aquellas paragens tem bastantes opportunidades de fazer conhecimento. O ultimo delles que eu só encontrei de pel- lo cinzento, leva, nas abertas dos campos e nas ilhas de mato nelle semeadas, a mesma vida que entre nós, na Europa, a comadre Raposa nos bellos dias de verão. O guaxinim porém, sempre assanhado, com as suas pernas de-aranha compridas e delgadas, anda, durante a maré baixa, pelos taludes de lodo nú ou por entre as rai- zes do mangue, occupado na caça aos caranguejos, cujo casco e tenazes elle é mestre em quebrar com seus den- tes agudos; nas horas de forte calor elle vai fazer a sesta na forquilha de um tronco ou no ôco de um cajueiro. Entretanto o animal teroz, mais do que todos, mere- cedor da nossaattenção é o jaguar que, não ha negar, existe ainda hoje em abundancia na parte nordeste da ilha. Isto refere-se especialmente ao littoral atlantico de Marajó, porem não é menos applicavel ás ilhas Mexiana, das Fléxas e Cavianna que, lançadas em prolongamento della, lhe são physionomica e geneticamente similares. Em especial 4 Mexiana a abundancia das onças já foi notada por Wallace, e, por informações recentemen- te colhidas no local, estou convencido que a tal respei- to não houve modificação desde o meiado do seculo. À onça, que é o maior felino depois do leão e do tigre, encontra alli, na boca do Amazonas, a coinciden- cia de numerosas condições favoraveis á sua existencia: innumeros rios, grandes e pequenos, todos ricos de pei- xes e marginados de ambos os lados por altas florestas, CE SE E 316 Maravilhas da Natureza muitas vezes impenetraveis, intercaladas de extensas planícies de campos; além disso a importante criação de . gado que alli se faz ha quasi seculo e meio, emquanto à população humana permanece pouco numerosa e disse- minada. Como tantos outros felideos, o jaguar é de uma na- tureza feliz, achando-se tão à vontade em terra como na agua, e tirando immensas vantagens de todas as circum- stancias que, nos terrenos como os de Marajó, consti- tuem outras tantas difficuldades para o homem, quando se trata de uma caçada séria. Elle nada e mergulha como um peixe e a passagem de um rio ou braço de mar para alcançar a mata da margem opposta, não somente é cousa que para o jaguar não tem a minima difficuldade, como, dó contrario, é exercicio a que | parece emas gar-se por divertimento predilecto na sua caçada quoti- diana. Bastante prejuizo dá elle aos criadores de gado, ar- rebatando-lhes annualmente grande numero de bezer- ros e novilhos e mesmo, nas frequentes rondas noctur- nas que, com uma insolencia incrivel, faz às proprias casas de morada dos fazendeiros, não desdenha ensejo de apanhar algum descuidado cão domestico, quando pode. Dei-me ao trabalho de inquirir dos grandes fazen- deiros, pessoas de minha inteira confi: ança, a importan- cia dos prejuisos causados pelas onças à criação do ga- do e, das informações colhidas, resulta poder-se-os ava- Har em uma media de 1/2 a 3/4 "do numero Lotalade cabeças, isto relativamente à costa atlantica da ilha? RE não obstante, uns logares mais depredados que outros, e nas ilhas menores o estado de cousas torna-se mais agudo ; na ilha das Fléxas, por exemplo, parece que o seu proprietario, segundo ouvi dizer, teve o desgosto de vêr desapparecer todo o seu gado, em numero de umas trinta cabeças, devorado pelas onças que iam do continente a nado. Entretanto eu quero me oppor à falsa idéa, geral- mente acreditada, de que naquella região se encontra, a cada passo, este soberbo felideo. Affirmo que póde-se alli viver semanas e mezes, batendo diariamente os campos em todas as direcções, sem ver uma só vez um jaguar. Isso mesmo nos succedeu, a mim e aos meus companheiros, posto que nos demorassemos bastante Na Nha de Marajó 371 tempo na ilha, e só me lembro que, uma vez, de tarde, passou um jaguar perto da nossa habitação, cousa que infelizmente só vim a saber alguns minutos depois. Verdade é que o jaguar durante o dia é menos ac- tivo. Os vaqueiros é que o encontram mais vezes, quando fazem o seu serviço. Mas, ás horas tardias da noite, ou pela madrugada, ouve-se, das fazendas, o seu urro, partido de um teso a algumas centenas de metros distante, e mais de uma vez eu pude ver durante o dia oO sitio em que o jaguar, na vespera, enterrara o seu excremento, como o fazem os gatos domesticos: os ras- tos das suas possantes patas, impressos na terra humi- da, tão largos que eu mal podia cobril-os com a mão, não deixavam duvida alguma a respeito. O gado disperso, do qual apenas um certo numero de vitelios fica durante a noite recolhido no curral, tambem dá mostras de conhecer a voz do tradiccional ini- migo; as vaccas mostram-se inquietas; o toiro levanta- se, com ares bellicosos, e responde ao grito de guerra; os cavallos que pastam arrebitam as orelhas, receiosos. O jardim zoologico do Museu de historia natural do Pará tem recebido regularmente onças vivas apa- nhadas pela rude e vigorosa raça dos vaqueiros. Já uma meia duzia tem-nos vindo assim de Marajó durante os ultimos annos, e entre ellas uma bellissima onça preta. Actualmente o estabelecimento possue trez exempiares vivos, todos de Marajó, sendec um velho e dois filhotes do anno passado, dois gemeos. Para o vaqueiro é cousa desejada o encontro de um jaguar no campo aberto: si o animal não fóge, que elle possa atirar-lhe o seu inseparavel laço, é certo que o jaguar será enlaçado e amarrado, não lhe valendo os seus arrancos de bravura selvagem. Ultimamente, depois. que alguns fazendeiros, em seu proprio interesse, pagam certa quantia por cada jaguar apanhado, morto ou vivo, os vaqueiros têm-se occupado mais dessa caçada; e mais, sabendo que o jardim zoologico do Museu é um comprador certo dos exemplares vivos, elles não desdenham occasião de os apanhar, procurando, de preferencia, roubar ás mães os filhotes nas épocas da procreação, ordinariamente em abril e maio. Para isso O vaqueiro espreita o momento em que a onça julgando poder deixar sózinhos, na pe- numbra do talude de um teso, os filhos—em geral dois 378 Maravilhas da Natureza —faz uma batida aos pequenos animaes pelos arredores. Então os vaqueiros correm depressa, mettem sem mais cerimonias para dentro de um sacco os gorduchos fhotes que miam desesperadamente. Aos mais crescidos, amarram préviamente. Depois, é galgar os cavallos e partir em terrivel galopada, porque cavallo e cavalleiro sabem perfeita- mente o quanto, atraz delles, o perigo é ameaçador ! Mas, em geral, póde-se dizer que'os vaqueiros las zem relativamente pouco caso do perigo da onça que, como o disse ha pouco, depende em grande parte das circumstancias do logar e elles confiam, com toda a ra- zão, na intelligencia, velocidade, obediencia e resisten- cia dos seus cavallos—virtudes e qualidades levadas a um grão verdadeiramente extraordinario pelo continuo exercicio, pois o vaqueiro está a mór parte do tempo a cavallo, lidando com gado bravio. A ilha de Marajó é tambem um verdadeiro El-Do- rado para uma especie de roedores, a maior da fau- na actual, Hydrochoerus capybara, que os naturaes do paiz chamam Capivara, palavra composta de dois ter- mos indigenas, e que significa «senhor da herva.» Este animal póde, com muita propriedade, ser com- parado a uma enorme cobaya cujas dimensões fossem augmentadas seis vezes em diametro. Sibem que'a capivara seencontre por toda'a pame na America do sul aquem dos Andes, desde o Orenó- co até o 34 parallelo austral, nos pantanos, rios e lagos quer da planície, quer das montanhas até altitudes de S00 metros e mais, o que é facto é que a sua grande abun- dancia em parte alguma chamou-me tanto a attenção como no labyrintho das alluviões amazonicas. Si de uma fazenda no Cabo Magoary partissemos, de madrugada, rio acima, em.um bóte, até o local em que larga clareira, interrompendo a linha marginal da floresta, nos permitte descortinar a extensão da plani- cie além, após galgarmos a rampa suave da ribanceira veriamos espalhados, a algumas centenas de metros, grande porção de vultos escuros que se movem lenta- mente, e que, à primeira vista, parecem-nos vaccas pas- tando. E uma grandevarade capivaras, talvezde cin- coenta, oitenta ou cem, ou mesmo mais ainda. Manda- mos um camarada afim de espantar a vara para o nosso lado, sabendo já, por experiencia, que na fuga os ani- Na ha de Marajó - 379 maes dirigem-se, com certeza, para a agua, e virão pro- vavelmente atravessar a clareira. Ao perceberem o desmancha-prazeres as capivaras hesitam, enfileiram-se em curva á direita e à esquerda, e começam a retirar-se vagarosamente. Pouco a pouco o movimento vai-se accelerando e afinal transforma-se em uma carreira desenfreada. em tropél. Graçasá estupidez notoria desses broncos roedo- res, é-nos possivel mais de um tiro com bom resultado. Mas os que não ficaram alli extendidos estão per- didos para nós, pois com o impeto de uma bala de ar- tilharia, e dando, apavoradas, gritos extranhamente se- melhantes a latidos, primeiro as capivaras grandes, de- pois as medianas, e atraz os filhotes, todas se precipi- tam de roldão no talude e na agua salvadora. Mergulham, nadam apressadamente por baixo d'a- gua, e, só de vez em quando, aqui ou acolá, surge à tona um focinho prescrutador do perigo, e a fuga con- tinúa, sempre occulta. Ão fim de alguns minutos, cortada a correnteza obliquamente, alcançam lá longe a margem opposta, galgam a terra e desapparecem nas brenhas protectoras da mata, em todas as direcções. Alguns pequenos que conseguimos agarrar pela nuca atroam-nos os ouvidos com seus gritos agudos como apitos, que nos penetram até àá medulla e que se assemelham ao silvo estridente do nosso porquinho da India. Cuidado então com os dentes desses pequenos como com os dos grandes, porque os dois pares de in- cisivos extraordinariamente desenvolvidos n'um tão gran- de roedor, dão golpes de navalha, que pódem ser peri- gosos. Além do homem, que a accusa de devastar os pastos, a capivara não tem, por assim dizer, outro inimigo se não O jaguar, que de vez em quando lança-lhe ao cachaço a sua pata senhoril, quando quer variar de mentt. Cousa que me surprehendeu na capivara de Ma- rajó foi é a sua roupagem particularmente avermelhada e o pronunciado cheiro e paladar de peixe da sua carne. Quem fica bastante perplexa com as periodicas inundações dos campos é a graciosa Dasyprocta cro- conota, avermelhada especie das cutias da America meridional. 380 Maravilhas da Natureza Poder-se-á fazer disso uma idéa se eu dissér que, em 1896, pela enchente do principio de setembro, pre- senceei no Cabo Magoary alguns rapazes que pescavam matarem a pau mais de quinze desses graciosos roedo- res, que se achavam ilhados em uma moita no meio da agua. 7 Uma especiede veados, garbosos e ariscos, do ta- manho da nossa corça europeéa, representa nos campos de Marajó os ruminantes selvagens. Como desdentados temosallio tatú, com a sua couraça de nove arcos, que é muito commum, e temos o grande tamanduá—Myrmecophaga jubata—que bem merece nos occupemos delle um pouco. E' tal a frequencia deste soberbo animal no canto Nordéste da ilha que, as vezes que alli temos ido buscar animaes para o jardim zoologico, somente a algumas horas antes da partida do nosso barco à vela é que se sahe a apanhar os tamanduás, coisa que, é verdade, faz-se tambem com relação às capivaras e aos guaxi- nins. Para isso alguns vaqueiros partem, a cavallo, em varias direcções e, com a agudez de vista peculiar aquel- les homens primitivos, sondam methodicamente a ex- tensão dos campos e successivamente as reboleiras que se alteiam aqui e acolá. Não demora muito que não encontrem um taman- duá. O laço, dextramente lançado, apanha-os immedia- tamente, infallivelmente pelo pescoço, e o bicho des pois de puxar e repuxar, cabriolando furiosamente, re- conhece a final a inutilidade dos seus esforços e tróta pelo campo ao lado do cavalleiro, cujo unico cuidado, de então em diante, é evitar os buracos e as moitas de mato, porque ahi encontraria de cada vez nova resisten- cia e nova lucta. Assim vem o prisioneiro, sob custodia, até à gaio- la forte em que sera transportado e que o espera de portas abertas, á beira do rio e, se no momento decisi- vo não faltam alguns pulsos rijos e a indispensavel ha- bilidade, o animal vê-se, n um relance, empurrado para dentro da caixa e trancado a ferrolho e taramella. Foi exactamente dessa maneira que, por varias ve- zes já, apanhamos mães que traziam o filhinho às costas. Entretanto, não se deve facilitar com este animal cuja força é bastante para abrir casas de cupim; quan- (oferey op cup) Navnbvy oquy) Tesooeg VUNINT SUAIDUJVA ULOI LOS» WN 9P 9J4VA GORIL, MOS ara: Ed Md REA v Se +. na -.. Na Hha de Marajó 381 do o tamanduá se levantar sobre os pes, colerico, bu- fando como um gato e agitando a sua grande cauda fel- puda, é de bom conselho mantermo-nos em respeitosa distancia das suas mãos, cuja garra media extremamen- te alongada em forma de fouce, é de tal modo cortante que nós mesmo já o vimos, de um só golpe, destripar uma capivara. Um facto que acabo de trazer ao dominio da litte- ratura zoologica é que, em suas corridas pelos campos, o tamanduá encontra ás vezes ninhadas de aves—prin- cipalmente perdizes—cujos ovos elie quebra com as unhas, chupando-lhes o conteúdo com a sua immensa lingua vermicular. Este facto foi por nós aproveitado para resolver, no jardim zoologico do Pará, o proble- ma da alimentação dos tamanduás, porém, mesmo assim, difficilmente conseguimos que o animal viva por mais de 3 ou 4 mezes: * * x O que, porém, em Marajó attinge a uma magnificen- cia imponente e em verdade surprehendente, é o mundo alado, quer pela enorme variedade das especies, quer pela incrivel abundancia de individuos. Não têm faltado pennas que com o maior brilhan- tismo descrevessem a ornis do baixo Danubio e a do valle do Nilo. Eu porem quizera poder, como outr'ora Virgilio, Tasso ou Camões, chamar ao meu auxilio as Musas que me inspirassem palavras com as quaes fosse possivel dar uma idéa do deslumbramento que no visi- tante opéra, infallivelmente, o quadro d'aquellas aves, vistas lá no seu meio, à foz do Amazonas e nas ribas do littoral da Guyana. Porta natural de entrada e sahida da Hylaea amazo- nica, em cujo prolongamento se acha, com a sua parte sudoeste coberta de matas virgens, Marajó está n uma posição previlegiada, tendo ao centro vasta planicie de campos, toda cortada de uma rede de rios e regatos, possuindo não poucos lagos e lá fóra partecipando da costa maritima com commodo accesso tanto para a litto- ral da Guyana como para a extensa costa do sul do Brazil. N'aquella ilha se encontram os elementos da fauna das trez zonas, cada uma d'ellas trazendo o seu contin- gente peculiar de formas aladas. 382 Maravilhas da Natureza Permitti-me, senhores, que vos convide a acompa- nhar-me de imaginação em um passeio matinal em dire- cção ao campo que rodeia a nossa habitação temporaria na grande ilha. Armemo-nos de espingarda e mettamos o facão à cinta, porque poderemos ter occasião de nos servirmos de ambos. Apenas alguns passos fóra da varanda do rancho eis-nos em pleno campo aberto, em chão de areia mo- vediça, ao pé de duas arvores que a continuidade do vento torceu e inclinou. Uma é um cajueiro de flôreés verme- lhas e outra uma morcegueira ( Andira) revestida de co- rimbos roxos. Murmura-nos aos ouvidos o zumbir de uma nuvem de insectos, e uma boa duzia de beija-flores rutilantes ajuda a animar o quadro, ora voando de um lado para outro, rapidos como fléxas, ora pairando por momentos ante os cachos floridos.-São de varias espe- cies, mas logo notamos que o maior numero é de Eu- petomena hirundinacea, que facilmente reconhecemos pela sua longa cauda de andorinha. Passamos ao lado do curral: aqui esvoaça em torno de uma vacca que rumina uma ave de rapina esbranqui- çada (Ibycter chima chima) que lhe cata os carrapatos, alli é um bando de virabóstas, pretos, luzídios, que esgravata o estrume fresco; por cima das varas e pelas pontas dos esteios do curral estão, como que agachados, uma porção deinsaciaveis urubús/Calthartes foetens), emquanto os seus primos mais nobres, de cabeça ama- rella e vermelha, lá perto da floresta, aquecem-se nos galhos de um enorme bacuryzeiro, abrindo as azas aos raios beneficos do sol da manhan. Marchamos em pleno campo. Aqui, alli, espantamos das moitas de herva um pas- sarinho a que chamam » (Pitangus lic- Na Hha de Marajó 389 ' tor), Tyrannideo de grandeza media, com o ventre de um bonito amarello enxofre, e cujo canto não é de- sagradavel, apesar dos sons asperos de que é mes- clado. Se fizessemos esse mesmo caminho á hora cre- puscular que precede a noite ficariamos surprehendi- didos por uma multidão de um grande bacuráu cujas azas são pelo lado inferior cortadas de uma lista branca, nuvem que enche litteralmente o ar em torno de nós nas evoluções do seu vôo magistral —é o Podager nacunda. Nem menos admirados ficamos ante a enorme porção de pombas que emgrupos compactos dirigem-se para a beira do rio e poisam nas cannas das tabócas em tal quan- tidade que estas quasi se quebram ao peso, e vergam para o chão em todos os sentidos, como se fossem sim- ples canniços! - * E Consagramos um segundo passeio ao reconhecimen- to do rio proximo e de um lago interior. Para isso é-nos preciso um bóte ao qual chegamos depois de treparmos mais ou menos difficilmente, conforme está enchente ou vazante, sobre a caiçara de embarque, cuja estacada la- teral é estação favorita de uma formosa andorinha derio, branca e verde-metalico, a Tachycineta albiventris. Assim que os remos caem n'agua fere-nos o ouvido o grito agudo de uma ave que, na margem opposta, vôa pouco acima do nivel dorio, rapida como uma fléxa. E' uma ariramba, de que não ha menos de cinco especies, desde o tamanho da cambaxira até ás dimensões do gaio europeu, e que muitas vezes habitam a mesma região (Ceryle.) Vamos remando; sigamos pela margem do rio, su- bindo contra a correnteza, e evitando o quanto possivel fazer o menor rumor. Nos viçosos aningaes verde-escuros que se encon- tram ás vezes em vastos estirões nos logares em que os terrenos marginaes soffrem a influencia periodica da en- chente, um grito plangente e melancolico evidenciou- nos uma grande ave de rapina de côr ferruginosa, com uma mancha preta no papo. E'o «gavião bello» (Ich- thyoborus nigricollis) que d'ora em diante encontramos a cada momento. 386 Maravilhas da Natureza Nessas mesmas searas de aninga faz a sua morada predilectaa «cigana» (Opisthocomus cristatus) ave singular com a forma do faisão: alli vivem, alli comem, em bandos de 20a 50 e mais individuos, alimentando-se destas folhas um tanto causticas; alli se aninham e cho- cam, alli completam todo o cyclo da sua vida tranquilla de camponez pacato. Tambem duas qualidades de anús pretos, (Cro- tophaga) uma maior outra menor, costumam frequentar em bandos taes logares. Uma immensidade de pontos niveos e escarlates que de longe avistavamos cobrindo uma enorme arvore secca tombada ao travez do rio, verificamos, ao approximar- mo-nos, serem garças brancas de dois tamanhos, e guarás; já alguns mais desconfiados voam, daqui um, c'alli dois ou trez, e como o nosso batél avança sempre, todos de repente, como a um signal dado, levantam-se em nuvem compacta, como um turbilhão de flocos de neve arrastado do vento de roda-moinho. Agora a mata de siriubas (Avicennia) de folhagem rala ergue-se; primeiro á esquerda, depois tambem á direita, e logo as ramagens de ambos os lados formam por cima de nós,arcadas de uma rendilhada abobada de sombra, pouco espessa embora, mas agradavelmente fresca. Momentos depois surge-nos uma grande ave de rapina com o cerumen amarello côr do chromo de chum- bo, corpo preto e uma lista branca transversal na cau- da: é uma especie de aguia chamada «gavião caipi- ra» (Urubutinga sonura). Uma algazarra que logo depois ouvimos vem de um grande bando de periquitos verdes com uma mancha amarellada, quasi branca, no espelho das azas (Brotoge- rys virescens) que parecem-me ter uma effectiva predi- lecção pelos matos de siriúba, pois tenho-os encontrado muitas vezes em identicas circumstancias, nas matas cos- teiras da Guyana. Tambem o tucano de peito branco bico mes melho (Rhamphastus erythrorhynchus), um dos maiores da especie, costuma frequentar esteslogares, mas é bicho que não pára, e por via de regra terá desapparecido quando chegamos ao sitio de onde ainda agora mesmo nos parece ter vindo a melodia da sua voz alegremente aflautada. ' À Ç rat op vUrr) AAVNODIN OQU e a ) OP sSopuo [0 “ vÍ SUp sosdtonDD À LLSLL (EIIMVDS SIA Na ha de Marajó 387 Com muita probabilidade temos de encontrar ainda o rabugento arapapa /Cancroma cochlearea), com pe- quenos grupos de cararás (Plotus anhinga) e talvez tambem com umacolonia de «passardes» [Tantalus lo- culator) de mistura com colhereiro's de delicada côr de rosa, e guarás de vivo rubro. Sahimos de sob as arcadas; estamos de novo em pleno céu tropical e os raios do sol equatorial brilham e reflectem-se mil vezes, pulverisando de pontos lumi- nosos as comas dos arbustos e arvores de meia estatura e o tapete variegado de folhas com que innumeras tre- padeiras revestem a vegetação das margens. O mundo alado ainda uma vez se nos apresenta sob novo aspecto. A cada pancada dos remos levanta-se do verde laby- rintho de grinaldas, de um lado ou de outro, um bando de socós, em todas as phases de idade, evidentemente advertidos mais pelo seu agudissimo ouvido que mesmo pela vista, e se dispersam em todas as direcções, com gritos asperos que bem mostram o embaraço em que se acham para encontrar sem demora um novo esconde- Tijo sombrio. E assim durante um bom quarto de hora, caminha- mos, levando continuamente à nossa frente uma nuvem de 30, 50 e mais socóÓs; nem é mistér sermos notavel Nimrod para enchermos o bóte com uma hecatombe desses lobregos Nycticorax. Muito mais arisco semostra o magoary (Ardea cocoi) que vôa quando ainda estamos longe, lançando nos ares o seu grito de alarma, aspero e desagradavel, que echôa na floresta, causando quasi medo a quem o ouvir pela primeira vez. O leito do rio, cada vez mais estreito, tem agora apenas as dimensões de um regato; de um lado e de outro estende-se a planicie vasta dos campos; aqui e alli jun- caes, às margens ambas, alternam com faixas de arbustos baixos transgredindo para a vegetação herbacea da vasta planicie. Por entre os juncaes e cannas do bréjo os téu-téus estão em tal excitação, sem fugirem de nós, que pode- mos suppor explicar-se isto com a presença dos seus engraçados filhotes de pennugem eriçada como uma escova. Do mesmo modo os maçaricos, maçaricões e vedetas-da-praia, que habitam promiscuamente os 388 Maravilhas da Natureza mesmos sitios, aos pares ou em pequenos grupos, não se dão pressa em levantar-se. Lá estão, aprumados em fila, ao longo da ribanceira com parede a prumo, mais de uma duzia de vultos escuros cuja maior parte, à nossa chegada, mergulha no rio, e dos restantes um ou outro vôa para mais longe e aguarda os acontecimentos nadando. Não lhes vai mal, portanto, o nome de «mergulhões» com que os designa o povo, (Phalacrocorax brasilianus) tambem chamado «bi- gu à» pelo sul do Brazil. Deixemol-os tranquillos: a sua carne tem um nau- seante cheiro de peixe, e alem disso temos experien- cia que o nosso chumbo não lhes faria grande mal, protegidos como são pela extraordinaria rigidez das pennas alares. Por muito boas razões abstemo-nos tambem de perseguir aquelles «cauauãs» que, lá longe, passeiam tranquillamente no campo,—o Ciconia magoary—dupla- mente maiores que o seu parente europeu, inattingi- veis assim ao descoberto, como inutil seria igualmente dar caça áquelles avantajados pernaltas escuros,-—os «curicácas» dos naturaes,(Geronticus albicollis) —de que se veem alguns, isolados pela savana. O nosso desejo de caçadores tem porem já no que satisfazer-se: das duas margens dorio erguem-se ban- dos de patos e marrecas bravos que, às centenas, des- crevem no ar, ao redor de nós, dois ou trez largos cir- culos e vão-se abater ao longe, lá por traz, nos juncaes extensos, à esquerda. Emquanto elles giram por cima de nossas cabeças podemos, pelas dimensões, pela fórma, pela côr, e pela voz, reconhecer o' patriarcha selvagem do pato dos brazileiros (Cairina moschata) a que os europeus no estado domesticado chamam «pato almiscado» e «pato turco»; distinguimos O arisco Sarkidiornis caruncula- ta, que na região é conhecido por «pato de Cayena»e «pato .castelhano» de peito branco tendo o pescoço mosqueado de preto e uma excrescencia lateralmente comprimida sobre o bico. Quer este, quer aquelle são duas soberbas formas da estirpe das Anatides. Mas não só essas duas especies constituem o ban- do; duas especies do genero Dendrocygna caracterisado por pernas relativamente altas, lá tambem se acham, a D. viduata ea D. discolor a que os do paiz dão os no- Na Hha de Marajó 389 mes de apahy e marreca de Marajó, cujo grito argentino em /i-fi-fias denuncia, mesmo à noite, e final- mente a graciosa marrequinha ananahy (Querquedula brasiliensis), a menor de todos, cuja voz, um tanto se- melhante à da marreca domestica européa, é a unica que, nos paizes equatoriaes da America, traz-nos do reino dos sons da natureza ao ouvido uma recordação da patria. Esforçamo-nos de romper uma passagem por entre as hastes de arumá (Marantha) e juncos mais altos que um homem. | Ainda não vemos nada, mas já uma orchestra de mil vozes de aves que vamos ouvindo cada vez mais distinctamente à medida que avançamos é prenuncio de que não voltaremos sem resultado da nossa excursão. Pouco a pouco o entrelaçado da vegetação de brejo vai ficando menos denso e assim veio o momento onde as consequencias de cada passo precisam ser cuidadosamen- te calculadas e premeditadas. Por entre as ultimas hastes podemos descortinar um aspecto desembaraçado sobre uma laguna de savana de alguns centos de metros em comprimento por outros tantos em largura. A scena da vida animal que ora se apresenta aos nossos olhares é tão grandiosa e imponente que todos permanecemos estupefactos, retendo a respiração, cada um perguntando a si mesmo si o que vê é real ou não será uma «fata morgana» e deslumbramento de algum sonho. Neste momento nenhuma idéa nos é mais alheia do que de recorrer ao meio brutal de verificar, com um tiro inesperado, si aquillo é realidade ou effeito de uma al- lucinação. O que alli está em aves do bréjo e aquaticas, pal- mipedes e pernaltas, accumuladas em um espaço relati- vamente pequeno; tudo o que está alli se enlameiando, chapinhando, esgaravatando. bicando, mergulhando, na- dando, voando, piando, grasnando, gritando, tudo ao mesmo tempo, num fervet opus incrivel, desafia qual- quer descripção;: diante de taes quantidades é impossivel contar e difficillimo mesmo avaliar e todos os recursos da linguagem não são bastante expressivos e brilhantes I0—( BOL. DO MUS. PARAENSE. 390 Maravilhas da Natureza para dar uma idéa do barulho, da confusão que alli reina. Algum exito teria talvez, no que tóca à vista, o pin- cel de um previlegiado pintor de animaes, para o qual cada pequeno trecho da paisagem deante de nós forma- ria um grato assumpto para uma tela de real valor. E outros novos reforços estão ainda a cada momen- to chegando a esse atordoador festim : pesados patos ams Cayena voam em bandos por cima de nós e com tal impeto que nos é distinctamente perceptivel o ruflar de suas azas ferindo o ar; nuvens compactas de marrecas caboclas e ananahy descem umas após outras; en- xames de colhereiros e guarás chegam successi- vamente, enfileirados em E de cunha. guardando com garbo militar a forma da ordem de marcha. Intercalam-se grupos de sombrios mergulhões e bandos de elegantes massaricões Por cima da agua agitada e em borbulho ha um turbilhão irrequieto de niveas garças e candidas gaivo- tas em movimento de vai-e-vem, ao mesmo tempo que nas camadas mais altas paira nos ares um exer- cito de passarões /(Tantalus loculator) nas suas evo- luções magistraes. Reconhecemol-os pelo campo negro na face in- terna das azas, e podemos aprecial-os subir em espi- raes a alturas taes que apenas parecem diminutos pon- tos MOQJCEO, O enorme tuyuyiú papudo que passeia gravemente defronte da multidão, está evidentemente conscio do seu papel de generalissimo dos povos reunidos. A ilha de mato -que fica além, para traz do lago, é séde de verdadeira maravilha da natureza; alli, desde muitos annos, ha um «ninhal», isto é, o logar prefe- rido por um sem numero de aves do brejo e aquaticas para suas posturas annuaes. Vale a pena o sacrificio de irmos até lá por difficeis caminhos, porque o espec- taculo a que vamos assistir nos permanecerá indele- velmente gravado na memoria. Já de longe avistamos multidões de garças de toda a especie nas extremidades dos galhos por cima das largas copas das arvores, e quanto mais perto che- gamos, maior numero vemos de ninhos chatos, gran- des como rodas de carros, e que apparecem como man- chas escuras por entre a ramagem rala do mato. Em cada arvore contamos duzias delles, Feitoria de peixe na foz do Rio Maguarizinho (Cabo Maguary—lIlha de Marajó) O nosso quartel-general na varanda da Fazenda Pacoval (Cabo Maguary—llha de Marajó) melss- nice ao Ande ces apra | ne epa - «as modo ma sao spt indie q me Na IHha de Marajó 391 O barulho torna-se cada vez mais ensurdecedor: ao penetrar na floresta julga a gente ter cahido em um bro- dio de bruxaria. arças brancas, grandes.e pequenas, garças mMrenas, arapapás;,magoarys, colhereiros, Ra ns, cuarás; mergulhões grandes, cara- Tês, tudo alli vive em confusão, na mais variada pro- miscuidade, ao lado e por cima uns dos outros, na mesma arvore, na qual muitas vezes em uma só ha diversas colonias de ninhos de meia duzia de especies. O cacarejar, bater de bico, fungar, proferido simul- taneamente por milhares de gargantas é interminavel. E apesar de certos costumes sociaes, por exemplo, em parte alguma o temperamento irascivel e inclinado para brigar do povo das garças se manifesta tão claramente, como na intimidade da vida familiar. Um que chega ou parte, um que corre ou pousa, ou come, qualquer acto ou movimento emfim é pretexto certo para a perpetuidade de disputas entre os mais velhos, logo liquidadas a bicadas, com erriçamento das pennas e revoltante vociferia. E como filho de peixe sabe nadar, brigam tambem j4 os filhótes escarrapacha- dos sobre os galhos lá pelas visinhanças do seu berço natal e brigam até mesmo os que ainda estão em pennu- gem e mal se podem ainda levantar sobre as suas miseras pernas molles, dentro do proprio ninho. E esse chari-vari infernal dura dia e noite e por todo o tempo da postura. Como as differentes especies, generos e familias variam mais ou menos sob o ponto de vista do tempo da sua nidificação e postura, a nossa visita ao «ninhal», como os naturaes do paiz chamam a essas grandes colo- nias, poderá ser acompanhada de ricos resultados orni- thologicos, fornecendo-nos fartas collecções e bellas se- ries de ovos, e de borrachos em diversas phases de de- senvolvimento. Entretanto será de certo mais facil apanhal-os que trazel-os em bom estado, devido ás difficuldades de trans- porte. Um lancear d'olhos mais attento sobre o nosso ambi- ente virá, porém, resfriar um pouco o nosso enthusiasmo porque, por esta face, o que alli vemos e respiramos equivale quasi á negação completa da esthetica; excre- mentos côr de cal, ovos pôdres, restos de alimentos, e me 392 Maravilhas da Natureza cadaveres de filhotes cahidos, formam uma camada de guano igualmente repugnante à vista como ao olfacto. Faz-se mistér regressarmos, pois vem cahindo a noite. E outra vez, percorrendo o rio, à volta, assistimos a um novo espectaculo. Bandos numerosos contendo ás cen- tenas de uma ave de rapina de côr sombria chegam e procuram evidentemente empoleirar-se nas arvores altas da margem para passarem a noite; é o Rosthramus soci- abilis, o «gavião de uruwd» dos indigenas, assim denominado porque se alimenta de «uruás» (Ampul- larias) especie de caracções que elle abre com notavel pericia com o seu bico aquilino e de especial configu- ração a modo de ferro de abrir latas de sardinhas, e aos quaes durante o dia da caça, nas depressões humidas da savanna, nas vallas e nos regos bem como nos extensos «pirisaes.» Na avifauna da America meridional as aves de rapina diurnas entram em maior proporção que na do velho mundo. Effectivamente, das 150 especies de aves por nós encontradas até hoje no triangulo nordéste de Marajó, cerca de 25 são aves rapina diurnas, isto é r/bAdo total. Completariamos o eyclo, quanto ao mundo alado, consagrando-lhe ainda uma excursão à costa maritima da ilha, mas vamos desistir desse intento, preferindo variar de thema com as maravilhas que a Natureza nos offerece no reimoj dos repitirs em Macao: - Emquanto que por via de regra os animaes desta estirpe formam uma secção silenciosa no concerto dos animaes e a sua presença em vez de se trahir e apparecer obriga-nos, ao contrario, a procural-os; ao passo que, sob o ponto de vista do numero e dimensões dos indi- viduos, esse grupo representa um papel cada vez mais secundario em proporção com o augmento de distancia do equador, nos paizes equatoriaes as cousas se passam bem diversamente. Elles não se contentam já com essa posição inferior, e a ilha de Marajó é um desses paizes previlegiados onde OS reptis constituem justamente um traço caracteristico da physionomia local, e recordam o estado de cousas e as scenas dos periodos geologicos anteriores. Na Hha de Marajo 399 — Predominam accentuadamente entre todos, os Ja- Rames é camaleões. Duas especies de jacarés encontram-se em toda a região amazonica em quantidade innumeravel, onde quer que exista uma enseada quieta de rio, uma lagôa, um «mondongo» (pantano alagado) ou um lago de alguma importancia; rios de lenta correntesa tambem lhes servem mas evitam o quanto possivel os trechos fluviaes com movimentação um tanto violenta da agua. Ora, dando-se justamente o caso acima descripto não só em Marajó como nas duas ilhas irmans gemeas Cavianna e Mexiana, essas ilhas constituem por isso mesmo um El-Dorado phenomenal de jacares. Dessas especies, a que ficou inferior em dimensões e corpulencia, chamada dos indigenas jacaré-tinga, isto e—claro—,é o Caiman sclerops, muito vulgar na America do sul aquem dos Andes; a outra, muito mais avantajada, a que chamam jacaré-açú, isto é—grande —e o Caiman niger, o alligator preto, peculiar à bacia do rio-rei. Ojacaré-tinga alcança em geral um metro e meio de comprimento e só mais raramente attinge aos 2 metros; o jacaré-açú porém apresenta-se frequente- mente com 4 metros. Durante o periodo da procreação, que tem logar no verão, ambos são igualmente ferozes e agressivos, mas durante o resto do anno—cousa singular, geralmente sabida pelo povo—o jacaré-tinga, o menor, mostra- se mais malvado e bravio que o grande, o qual, no fundo, mostra-se um tante fleugmatico e até certo ponto mesmo covarde. O rio e o lago Arary, e os pantanos collossaes do interior de Marajó, designados no lecal sob o temido e temivel nome generico de «mondongos» bem como outros da série de lagos interiores e rios que delles vão ao Atlantico, são, desde muito, sitios afamados pela gran - de quantidade de jacarés que os habita, e o que al'i vi com os meus proprios olhos não fez senão confirmar esta tradicional fama. Quando, em pleno verão, a superficie do lago Arary desce ao mais baixo nivel, osjacar és em enorme quan- tidade, ficam encrustados no lodo das beiras que se vai seccando, e alli permanecem uns por cima dos outros qual monte de achas de lenha em camadas de metros 394 Maravilhas da Natureza de altura, paralysados em uma lethargia estival que dura mezes e da qual só são libertados pelas primeiras chuvas da estação seguinte. Em algumas fazendas situadas à costa atlantica, entre o cabo Magoary e o rio Tartarugas, os incommodos e prejuizos causados pelos jacarés são taes que os fazen- deiros são obrigados a fe annualmente grandes caça- das onde os matam em quantidades assombrosas: para só citar um caso direi que em 1897, um fazendeiro que conheço matou, “só nas suas terras, alem delega jacarós! Em 1850 Wallace assistiu, na Mexiana, a uma dessas caçadas collossaes, e a grande quantidade de gordura que tiraram desses hydrosaurios, era então utilisada anda na iluminação domestica. º E' cousa digna de vêr-se como são feitas essas origi- naes caçadas. CGrrande numero de pessoas embarca em canôas e com grande algazarra. catucam com varas O fundo d'agua, desalojam de seus esconderijos osjacarés que estão espalhados, mettidos no lodo, e os vão vaque- jando pouco a pouco para alguma enseada baixa da margem, de onde não possam fugir para o meio, fundo, do lago. Então, quando elles estão alli concentrados em cen- tenas ou milheiros, um vaqueiro Tórite e: pratico” cata pela agua que apenas lhe bate nos joelhos, salta deste- midamente para cima das costas do primeiro jacaré que encontra, e quebra-lhe os ossos da região occipital com uma machadada vigorosa e certeira. Passando de dorso para outro, distribue o golpe mortifero à direita e à esquerda. Faz assim uma carnificina em regra, como se tratas- se de um rebanho destinado ao córte em um matadouro e não de poderosos jacarés que, além da terrivel denta- dura, tém. ainda como arma a Cauda chata” como ma remo e extraordinariamente vigorosa, capaz de quebrar de uma só pancada um braço, uma perna. Esse trabalho exige um tal grão de coragem e san- gue-frio e um tão perfeito conhecimento dos habitos e do caracter d'aquelle temivel ''saúrio) encouraçado Mane quem assiste a uma caçada desse genero fica cheio de espanto e não regateia admiração para com os rudes e valentes vaqueiros marajoaras. Outras provas, aliás não menos notaveis da habili- Na Hha de Marajó 395 dade d'aquelles homens primitivos e que dizem respeito à psvchologia dos animaes tenho, a bem pesar meu, de passar em silencio para não exorbitar em demasia dos limites desta conferencia. Não quero, entretanto, deixar de declarar que uma desgraça nessas descomunaes hecatombes periodicas constitue uma raridade. A Iguana tuberculata, o «camaleão» dos brazilei- ros do. norte, que costuma attingir até 1,” 75 da cabeça à ponta da cauda, podemos encontrar às centenas na lha de Marajó, principalmente na parte nordéste, si por alli fizermos uma pequena excursão por um dos rios littoraes. Eu vi-os em quantidade sorprehendente no Cabo Magoaryv e ao longo da costa atlantica. Algumas das ilhas menores antepostas à linha cos- teira a distancias de uma ou mais horas, teem os ca- maleões por seus principaes habitantes, e de facto a sua abundancia nellas é tal que elles chegam a effectuar profundas modificações na vegetação. Dessas ilhas conheço de visu a «dos Camaleões» e a «dos Machados» às quaes fiz uma visita em prin- cipio de setembro de 18906. O proprietario desta ultima que cavalheirosamente nos hospedou na sua fazenda «Dunas» e foi nosso com- panheiro e guia a percorrel-a, attribuia o deperecimen- to das suas matas de siriúbas directamente à infinidade do camaleõdes que alli vive. O camaléão e a cigana, ambos vegetarianos declarados, são adstrictos ás mesmas localidades pela analogia dos seus costumes e companheiros e camara- das antigos. Ambos acham o optimum das condições de existencia no baixo curso dos vagarosos rios do lit- toral amazonico e guyanense, sobretudo onde são de terrenos arenosos os espaços intercalados entre a mata e as margens pantanosas dos rios. Nessa patria humida e quente o camaleão-passa a mór parte do anno em um dolce far niente alegre e descuidoso, satisfeito de si mesmo emquanto existe alguma cousa para ir comendo. Dias maus todavia podem sobrevir nas ilhas um tanto afastadas, como as duas a que alludi ha pouco, e onde parece haver exces- so numerico tal, que a totalidade principia a soffrer pela producção insufficiente das folhas que constituem a sua alimentação. 396 Maravilhas da Natureza Entretanto si naquelles logares que elles devasta- ram e, pelo seu incrivel numero; quasi reduziram a um deserto, chegam durante a estação secca, a passar fo- mes e ficam magros de metter dó, e às vezes tão fracos que nem sequer fugir pódem, tal não se da às margens dos rios ferteis em que os vemos sempre . prospents, nutridos à farta aáquella opulenta mesa eternamente posta. Quem passa alli em canôa, navegando de manso para os não afugentar de longe, descobre camaleõdes a cada momento, à direita e à esquerda; ora é uma no alto, na forquilha de um galho, na copa de uma siriúba de folhagem rala; ora é outro que avistamos por entre as magníficas grinaldas dos arbustos floribundos do «ci- pó de bamburral» (Arrabidea) E” preciso um olho já algo exercitado para enxer- gar os individuos pequenos ou os que ha pouco muda- ram a pelle, quando, na sua soberba vestimenta verde, estirados e immoveis sobre:o tapete de: folhas | vigosas das trepadeiras que reveste o alto das aningas, gosam a volupia: de um: banho dé sol quente. Quasi sempre es- peram-nos, quedos, até uma certa distancia e só fogem Si nos approximamos de mais. Mas uma vez fugindo, extranha-se a prestesa e agi- lidade que são capazes de desenvolver: O) camaleão nada e mergulha magistralmente e o que calm n agua, a não ser que esteja mortalmente feri- do, será por via de regra perdido para nós. Ora , para matal-os ha certas difficuldades a atten- der: o camaleão é um reptil vivedouro e resistente ide certo não nos cahirá nas mãos si não levar uma respei- tavel carga de chumbo na cabeça ou na medulla espi- nhal. A sua carne é saborosa, assim como os ovos que, ellipsoidaes e com a casca molls “qual couro del lixa são postos em. geral de. agosto em diante, "aos ne ou, no maximo, 24, em buracos rasos na areia, dos tes sos e das dunas. Os restrictos limites de uma só conferencia sobre thema tão vasto impedem-me de dizer alguma coisa em referencia à, por vezes gigantesca, serpente aquatica— Eunectes murinus—que difficulta aos habitantes ribei- rFinhos a criação. de -patos, e que ataca os. porcos; cães e até vitellos; igualmente devo passar em claro Na ha de Marajó 397 tartarugas marinhas, «uruanás» (Chelone mydas) que todos os annos buscam a costa atlantica por trechos arenosa para lá fazerem a sua postura. De mais resta-me ainda fallar dos peixes, si bem aqui me seja licito resumir um pouco, visto como já tratei do as- sumpto em dupla conferencia perante a Sociedade dos Naturalistas de Berne (Suissa). (1) D'entre as maravilhas da natureza que Marajó offe- rece relativamente a esta classe de animaes, eu quereria, em poucas palavras, caracterisar uma especie de peixes que, embora não se ache exclusivamente na dita ilha, torna-se comtudo alli notavel de um modo singular—re- firo-me à piranha (Serrasalmo piraya)—animal de ra- pina o mais perigoso da America equatorial e a creatu- Emaimais feroz 'd'entre os peixes em geral. E' de certo bastante significativo que primitivos ho- mens da natureza, alli creados no meio de perigos de od a sorte e a elles affeitos desde a infancia, como os vaqueiros de Marajó, não ouçam pronunciar o nome des- se peixe sem que em sua physionomia se estampe a ex- pressão de odio e terror ao mesmo tempo. E entretanto a caça do jaguar constitue para elles quasi um divertimento; domar um toiro bravio é sua occupação diaria; a matança dos jacarés, um perigo que despresam. Nenhum corpo animal cahindo n'agua escapa aos dentes aguçados dessas furias infernaes cujo nome indige- na de «peixe de tezouras» é bem applicado e expressi- vo. Qualquer parte escoriada, uma gotta de sangue, um pequeno ferimento na pelle, sera o alvo immediato da primeira dentada, à qual seguem logo outras, e outras, e centenares, de modo tal que bastam apenas alguns mi- nutos para transformarem o desgraçado que lhes cáe ao alcançe, homem, boi ou cavallo, em uma simples arma- ção esqueletica à qual faltarão mesmo já alguns dos os- Sos menores, e, com certesa, todas as cartilagens. A relativamente pequena ferida, produzida por bala em qualquer parte musculosa da poderosa cauda de um jacaré adulto, causará do mesmo modo a morte do gigante: o escabujar desesperado do ferido e o espada- na revista scientifica «Prometheus», vol. XI, 1900, (ns. 538, 539, 550, 551, 552, 577» 578). (1) Essas conferencias foram impressas em Berlim (Alemanha), 398 Maravilhas da Natureza nar da agua em cachão ao redor delle dizem-nos bem que os algozes de escama começaram já o seu trabalho de dissecção. Quando lançamos à agua serena de um remanso do alto Pacoval o corpo de uma capivara morta vimol-o sem demora singrar qual navio a vapor debaixo do impulso de uma helice: era o trabalho de innumeras piranhas que mordiam ao mesmo tempo o cadaver ensanguentado. No princípio -do estio as; piranhas começam subir os rios, em grandes cardumes, exactamente quan- do alguns outros peixes voltam em sentido contrario para as aguas mais profundas afim de não ficarem pre- sos-no interior do paiz, com a baixa das aguas. Depois de darem a esses outros peixes batalhas horriveis de destruição, ellas se espalham até aos mais remotos canaes interiores da região dos campos, onde representam um flagello, uma calamidade publica, para homens e animaes. O vaqueiro nos dá uma idéa muito suggestiva do numero deste peixes pelo processo seguinte: mergulha- se na agua o couro ainda fresco e sangrento de uma vac- ca que se acabou de esfollar e puxa-se outra vez para den- tro alguns momentos depois. Isto só se consegue me- diante grande esforço porque o peso de todas as pira- nhas que se atracaram nas fibras resistentes do tecido conjunctivo com os seus dentes triangulares, e que, não podendo ou não querendo largar, deixam-se içar para bordo, como franjas ou borlas de tapeçaria, pegadas ao couro de vacca, exige toda a força de um homem pos- sante. E de bom aviso desviarmos nossas mãos, pernas e pés para fóra do alcance d'este sinistro agglomerado de piranhas que se debatem furiosamente no fundo da canôa, salpicando-nos de agua, porque si uma se soltou procura logo morder e é capaz de nos ferir dolorosamen- te, mesmo atravez. do couro ou da Sola das botas: Emfim, si Dante houvesse conhecido as piranhas ter-lhes-ia dado um logar de honra no inventario dos instrumentos de supplicio de que ser serviu para pintar o inferno. Não menos singularidades dignas de nota offerece- nos em Marajó o mundo dos insectos. Por exemplo, na região, dos campos, uma abelha amarello-castanha, de pello eriçado—Centris lanipes—distingue-se por habitar Na Hha de Marajó 399 em enxames, as paredes de taipa das habitações huma- nas, fazendo nas horas quentes do dia o zumbido de uma colmeia collossal. Posto que pertençam ao grupo das apides que a sci- encia denomina Amer.'e Africa trop., India oriental. S. Chrysodium aureum (L) Mett. Aramá e Aramá-miry, beira d'agua. Area geogr.: Cosmop. trop. e subtrop. NH Salviniaceas. Mp sSatormnra auricultata Aubl. Aramá-miry, beira d'agua. Area geogr.: America tropical. GYMNOSPERMAE Gnetaceas. 10. Gnetum paraense Hub. nov. spec. «Ituá». Scandens monoecum. Ramuli flores centes graciles, internodiis 7—S cm lon- gis. Folia inferiora ramulorum orbicu- laria vel breviter elliptica c* 8 cm longa, superiora oblongo-elliptica, basi rotun- data apice breviter acuteque acuminata. Petiolus 1—1,2 cm longus, crassus. La- mina 14—18 cm longa, 6,5—7,5 cm la- ta, pergamacea, supra nervo medio im- presso, caeterum plana vel venis indis- tincte prominulis, subtus nervo medio et 4 lateralibus valde arcuatis distin- im Materiaes para a Flora Amazonica cte prominentibus, venis prominulis laxissime reticulatis. Anthemia singu- la terminalia vel bina axillaria opposita, elongata (ad 14 cm longa) simplicia, bre- viter pedunculata (pedunculo 1,5—2 cm longo) internodiis paucis (3). Spici in nodis bini oppositi vel rarius quaterni, graciles, pedicellati, 2-3 cm: longi, eu- pulis circiter 4 mm distantibus. Verti- cillum infertus masculinum, crasse dis-. ciforme, pauciflorum, floribus masculi- nis demum paulo ex cupula prominen- tibus. Verticillum superius femininum cum inferiore subcontiguum, haud in- crassatum, multiflorum, floribus femi- neis lageniformibus. Fyructus ignotus. Furo . Macugu bina ear Guedes (2214). Gnetum oblongifolium Hub. nov. spec. Scandens. Ramuli gracilesiis G. para- ensis similes. Folia inferiora ramulorum ovata minora, superiora ampla ovato- oblonga basi rotundata apice sensim bre- viterque obtuse acuminata. Petrolus cras- sus, flexuosus, 1 cm longus. Lamina 18— 19 cm longa, 7—8 cm lata, crasse coria- cea, supra nervis venisque impressis, sub- tus nervo mediano et 3—4 lateralibus va- lidis longe a margine arcuato anastemo- santibus venisque maioribus prominen- tibus, venulis densereticulatis impres- sis. Drupa oblongo—ellipsoidea obtuse acuminata 5,5 cm longa, 2,0 cm crassa, fusco-atra. Arama, beira do rio, leg. )J. Elas (1863). Esta especie chamada «Ituá preto» por causa dos seus fructos pretos, é bastante commum no rio Aramá; na for- ma das folhas, ella tem uma certa semelhança com a espe- cie precedente, mas a contextura foliar é completamente culierente. No rio Aramá conhecem mais uma especie de . Frequente em toda a região dos Furos, mas prin- cipalmente na parte meridional. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Venezuela. 23. Mauritia Martiana Spruce «Caraná». Rara na região dos Furos. Area geogr.: Amazonas inferior. An habhia vinifera P. de B. var.: taedigera Dr. «Jupaty». Commum na beira dos canaes, (convexidade) principalmente na parte meridional (2201). Area geogr.: Estuario do Amazonas. O typo da especie se acha na Afr'-a occiden- tal tropical. 25. Desmoncus spec. «Jassitára». E' provavel que existam diversas especies de Desmoncus na região dos Furos, mas como elles não se distinguem pelos nomes indigenas e não me foi possivel colleccionar amos- tras, eu tambem não consegui apurar quaes são estas es- pecies. A «Flora brasiliensis» cita 5 especies de Desmoncus como existindo nas visinhanças do Pará (D. riparius Spruce, (D. macroacanthos Mart., D. orthoacanthos Mart., D. polya- canthos Mart. e D. phengophyllus Dr.). 26. Bactris Maraja Mart. «Marajá-assú». Bastante frequente em toda a região. Area geogr.: da Bahia até ao Pará, e em toda a região amazonica. 27. Bactris sp. «Marajá-miry». Como a precedente. 28. Astrocaryum Mumbaca Mart. «Mumbáca». Aramá, no interior da floresta. Area geogr.: Amazonia. 29. Astrocaryum Murumuru Mart. «Murumurú>. Bastante raro nas beiras dos Furos: mais fre- quente dentro da mata, principalmente no Ta- japurú. Area geogr.: Baixo Amazonas. 30. Astrocaryum Tucuma Mart. «Tucumá». Rio dos Macacos, aqui e acolá, provavelmente plantado. Area geogr.: Amazonia. 108 Materiaes para a Fiora Amazonica 168) —J 39: 40. Astrocaryum humile Wall. var.hov.microcar- fa Dammer in litt. : Terrenos mais altos da região, bastante frequen- te, mas em tinitos logares provavelmente plantado. Area geogr.: Região Amazonica, Guyana. Euterpe oleracea Mart. «Assahy>. Muito frequente e social em toda a região. Area geogr: (Bahia), Maranhão, Para, Guyana, Antilhas. Oenocartus distichus Mart. «Bacaába». Disperso sobre toda a região, principalmente nos terrenos um pouco elevados. Area geogr.: Baixo Amazonas, Guyana. Oie ola pus Bataua Mart. «Patauá». Raro na parte meridional dos furos, frequente na região do Arama. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Oemote ar pus spec. nov. (2) «Bacabão». Grande palmeira do porte do Patauá, mas com os foliolos dispostos como na Bacába e com os fructos ovoides um pouco mais curtos que no Patauá, mas muito maiores que na Bacába. Raro no Aramá, mais frequente (segundo infor- mações) no districto de Afua. Geonoma paniculigera Mart. «Ubim» (det. Udo Dammer). Aramãá, na floresta (1827). Area geogr.: Amazonia. Geonoma trijugata Barb. Rodr. «Ubim» (det. U.-Dammer): Aramá, na floresta (1854). Materiaes para a Flora Amazonica 409 Area geogr.: Amazonas central, Rio Negro. & 41. Geonoma Dammeri Hub. nov. spec. (Acaules Dr.) «Ubim». Acaulis. Folia modice petiolata (25 — 30 cm), lamina inaequaliter pinnatisec- ta trijuga, utrinque 15—18-—nervi, seg- mentis anguste lanceolatis longissime acuminatis subaequalibus leviter sigmol- deo-incurvis (30—40 cm longis, 4—5 cm latis). Spadix strictus, pedunculo 60 cm iongo tertio inferiore spathis involuto. Rachis 12 cm longa quam in G. acail- /i multo tenuior, haud in caudam steri- lem excurreus, alveolis laxioribus 6-sti- chis leviter immersis. Baccae globosae. Furo Macujubim, (2241) leg. M. Guedes 1901. Esta especie é proxima parente da G. Tapajotensis Trail, da qual ella se distingue pelo peciolo mais curto, pelas di- visões relativamente mais compridas e mais estreitas das folhas, pelo numero menor das nervuras (I15—18 em vez de 22), pelas espathas mais compridas (a inferior com um comprimento de 12 no logar de 5 cm, a superior com 23 cm vez de 13 cm), por uma rhachis mais comprida (12 cm em logar de 5—7,5 cm), sem terminação esteril. 42. Manicaria saccifera Gaertn. «. Disperso sobre toda a região, mas não muito frequente. Area geogr.: Amazonia. Ericcaulaceas. 44. Paepalanthus gracilis Kcke. Bréves, logares arenosos (1612). Area geogr.: Brazil oriental, do Rio de Janeiro até Santarem. 45 Paepalanthus Lamarckii K. Breves, logares arenosos (1611). Area geogr.: Brazil oriental, Guyana, Venezue- la, S. Domingos. - 410 Materiaes para a Flora Amazonia no. Paepa lant has spec: Breves, como o precedente (1611 b.). Esta espe- cie, muito semelhante no porte a precedent te, é glabra e tem folhas mais estreitas. Além disto o feltro da inflorescencia não é cinzen- to mas dum branco puro. E' provavel que a villa de Breves seja o unico ponto de toda a região dos furos, onde as especies de Paepalanthus achem um terreno favoravel para o seu crescimento, isto é um solo arenoso, bastante descampado. Bromeliaceas. 47- Tiltands£o Tomb ese Todi: Aramá, epiphyta sobre as arvores da beira do Tio. Area geogr.: America tropical. De Bromeliaceas observei ainda algumas outras especies epiphytas (dos generos Tillandsia, Aechmea ete.), mas não são muito frequentes e influem pouco na physionomia da paysagem. Commelinaceas. 48. Dichorisandra affinis Mart. Aramã, beira do rio: Area geogr.: Amazonia. Pontederiaceas. 49. Eichhornia agzurea (Sw). Kunth. «Mururé de flôr roxa». Beira dos furos; principal elemento das ilhas fluc- tuantes na região meridional. Area geogr.: America trop. e subtrop. so. Eichhornia crasstpes Man Some Como a precedente, porem mais rara. Area geog.: America trop. e subtrop. 51 54 56 57 Materiaes para a Flora Amazonica 411 Amaryllidaceas. - Pancratium guyanense Ker. Beiras lodosas dos furos, principalmente nos portos. Area geogr.: Pará, Guyana. Crinum Commelyni Jacq. Como a precedente. Area geogr.: America austr. trop. Musãceas. - Ravenala guyanensis (Rich.) Benth. «Pacó- va Sororóca». Nas matas da região, frequente. Area geogr.: Amazonia, Guyana. id eliconta-psittacorum E. f. Aramá, na mata. Area geogr.: Brazil, Guyana, Antilhas. Zingiberaceas. - Renealmia exaltata L. «Pacóva catinga». o) Aramá, na mata. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Marantaceas. - Ischnosiphon Aruma (Aubl.) Kcke. «Arumã membéca». Aramá, mata. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Pequenas An- tilhas. - Ischnosiphon simplex Hub. nov. sp. «Arumã-miry». Rami florentes utin 7. Martiano fo- lis regulariter distichis muniti caulem 412 Materiaes para a Flora Amazonia simplicem terminantes. Folia supra va- ginam c* 12 cm longam vix auriculatam longe (ad 12 cm) petiolata, petiolus api- ce solum callo 2 'em* longo, instricias gracilis, lamina lanceolata paulo inae- quilatera basi acuta, apice vix excentri- ca acutissimeque acuminata. Racemus solitarius longe peduncula- tus, pedunculus c* 40 cm longus, rhachis 19 cm longa. Bracteae glabrae 10 arcte adpressae, infima 4 cm longa apice lon- gius cuspidata, superiores haud ultra 3 cm longae acutiusculae vel obtusiuscu- lae, saepius apice fissae. Florum paria solitaria evoluta, pare altero rudimen- tario adjecto; bracteolae margine seri- ceae 2,8 cm longae. Ovarium sericeum, basin versus glabrescéns. Sepala 2:cm longa lineari-lanceolata acutissima ner- vosa, coroliae flavescentis tubus 2,5 cm lôngus, lobi 1,1 em Jongi' acutissimas striati. Differt a specie paraensi 1. Martianus Eichl. cui proximé accedit, imprimas os lis longius petiolatis, racemo solitario longe pedunculato et floribus minoribus. Arama-miry, na mata (1839), les. Jo llubes fev. 1900. 58. Monotagma contractum Hub. nov. spec. «Cantan». Planta herbacea e basi foliata: Foliz vagina 30 em. longa: apicem versus angustata striata extus pubescens vel flocoso-villosa, detiolus q cm. longus, callus 4 cm. longus exannulatus. La- mina ovato-oblonga 33 cm. longa, 10,5 cm: lata, basi' inacqualhiter totundala breviterque acuminata, apice valde obli- que acutata vel breviter acuminata, ibi- que breviter barbellata, caeterum glabra subconcolor. Inflorescentmae scapus es longatus (metraliss 2), inferne llocoso- / villosus. Panicula contracta globosa Materiaes para a Flora Amazonica 13 Aramá, o Calathe vel ovoidea, 10 cm. longa folio desti- tuta sed bractea angusta 10 cm. longa patente instructa. Scafus ultra panicu- lam c.* 12 cm productus eoque fantciu- la lateralis. Bracteae coriaceae, basa- les ad 2,5 cm. longae obtusae florentes Io—I2 pro ramulo 1,5 cm. rarissime (summae) 2 cm. longae puberulae. Flo- res sessiles 3-5, ovarium glabrum, sepala lineari-oblonga hyalina apice ro- tundata, 6 mm. longa, corollae tubus be e cimlonmas, tobi late ovatié vix 5 mm. longi. Staminodium exterius spathulatum. AM. exannulato K. Schum. (Ama- Hpmas cr a cm. Parker: (Roscoe) “K. Schum. (Guyana, Mavynas) differt inflo- rescentia contracta, floribus minoribus tubo corollae glabro etc. na mata (1881) leg. J. Huber, fev. 1900. a div. spc. Nas minhas excursões pude constatar que a mata de Aramá continha muitas Marantaceas além das já cita- das. Talvez não seja exagerado suppôr a presença de í meia duzia de especies pertencentes só ao genero Cala- thea. Orchidaceas. 60. Vanilla aromatica Swartz «Baunilha» (cf. «Arboretum amazonicum» Estampa 19). Por toda a região; muito frequente no Aramá e no Aramá-miry (1864). Area geogr.: Brazil, Antilhas, Mexico. bt. Oncidium iridifolium E: BK. Aramá, beira do rio. Area geogr.: America. trop. Além das especies citadas, as Orchideas não têm um papel importante na physiognomia da vegetação dos Furos. Nos igarapés se encontram entretanto ainda algumas espe- cies de Epidendron, Brassia, Coryanthes, Notylia. 414 Materiaes para a Flora Amazomica DICOTYLEDONEAE ARCHICHLAMYDEAE Piperaceas. 62. Piper spec. $ Hemipodion.—frutex foliis sub- sessilibus ovatis longe acuminatis supra punctulatis subtus parce hirtellis, amen- tis foliis brevioribus. Aramãá, no igapó (1826). Moraceas. 63. Ficus perinsa |. «Cuaxinsibar Aramá, beira do rio (1846). Area geogr.: Guyana. Esta especie parece se distinguir de todas as suas conge- neres da America tropical pelas. nervuras secundarias nume rosissimas, que divergem quasi em angulo recto da nervura principal e são proeminentes de ambos os lados da folha. Ape- zar d'esta particularidade caracteristica, não me foi possivel ter uma certeza absoluta na determinação por faltarem as inflorescencias nos meus exemplares. 64. Ficus fagifolia Mig. (?) «Apuí». Arama, beira do rio. Area geogr.: Baixo Amazonas (observada já no Furo Tajapurú). CecropLasspec: O» NO! Bastante rara nos furos, quasi só nas roças. Tendo visto esta arvore só de longe, não me foi possiv el determinar a especie, o que aliás seria bastante difficil visto o estado rudimentar dos conhecimentos actuaes acerca d'este genero. 06. Coussapoa asperifolia Tréc. «Caimbé». Aramá, beira do rio (1873). Area geogr.: Guyana. Esta especie não se deve confundir com o «Caimbé» da região dos campos, a Curatella americana, L. que é uma Dil- leniacea. As folhas de ambas as plantas são tão asperas que servem em logar do papel de lixa. Os fructos da Coussapoa fornecem além d'isto uma tinta bruna bem escura. load Materiáes para a Flora Amazonia h15 Loranthaceas. 67. Phoradendron spec. «Herva de passarinho». Aramá, beira do rio (1855). Olacaceas. 68. Aptandra Spruceana Miers. Furo Macujubim (2226). Area geogr.: Baixo Amazonas. Esta planta, conhecida até aqui só de Santarém, se acha não só nos canaes de Expe, mas tambem ao norte da foz do Amazonas. Polygonaceas. 69. Coccoloba excelsa Benth. «Tinteira». Aramá, beira do rio (1880). Area geogr.: Guyana. A C. excelsa parece substituir, na região dos Furos, a C. latifolia Lam. («Cauassú»), tão frequente em certos tesos da contracosta de Marajó e na costa do Salgado, assim como nas visinhanças da capital e no baixo Capim. O nome de «Tintei- ra» é dado ás plantas mais diversas quanto á sua posição systematica. Na costa do Pará elle é applicado principal- mente à Laguncularia racemosa Gaertn. (Combretaceas). Nymphaeaceas. 7o. Nymphaea Rudgeana G. F. W. Meyer. «Uapé». Aramá e Aramá-miry, na beira da agua (1837). Area geogr.: Brazil oriental, Guvana, Venezuela, Pequenas Antilhas. Menispermaceas. I. Anomospermum Schomburgkii Miers. <«Her- va de passarinho» (2) Anonaceas. Í es e RR A 6 Materiaes para a Flora Amazonica 416 | | | | | | | Aramá, beira do rio (18692). Area geogr.: Brazil, (Guyana. O nome vulgar de «Herva de passarinho» é dado geral- mente ás Loranthaceas e apezar das affirmações repetidas do meu guia me parece duvidoso que este nome convenha ao Anomospermum. "2. Guatteria Ouregom | Aúblo Bam Furo Macujubim (2243). Area geogr.: Ega, Rio Negro, Guyana, A nossa planta mostra muita afinidade com a G. Poeppi- grana Mart. colleccionada por Poeppig na ilha de Collares e por Martius no furo Tajapurú. Como ella entretanto se distin- gue d'esta especie pelas folhas mais largas e não acinzenta- das na face Inferior, conservei-a na especie antiga de Aublet, com cuja descripção se conforma bastante. Pelo indumento das petalas a nossa planta mostra-se intermediaria entre a G. Poeppigiana (côr dos pellos)ea G. caniflora Mart. (areo- la glabra na base das petalas interiores), 73. Duguetia riparia Hub. nov. spec. «Envira-tai». Arbor vel frutex elatus. Rami ramulique leviter flexuosi cortice nigra longitudina- liter rimosa tecti. Innovationes fulvo-to- mentosae. Folia maiuscula oblongo-lan- ceolata, breviter petiolata. Petiolus 5-8 mm longus, crassus, supra canaliculatus nigrescens. Lamina 18-25 cm longa, 5- 7,5 cm lata basi obtusa vel rotundata, api- ce longe acutegue acuminata, glabra, papyraceo-coriacea, nervis venisque su- praimpressis, subtus prominentibus. Ner- vi secundarii utrinque 13-15 ante mar- ginem solemniter arcuato- -conjuncti, neta vulis interjectis a nervo primario quasi angulo recto abeuntibus numerosissimis primum parallelis demum intra areolas nervis secundariis formatas reticulato- anastomosantibus. Pedunculi extraaxil- lares, 5 mm longi 1 vel 2 floris:-Eloaes Pe a. 4 aiii e tr E EAN Ê hr . Ss Materiaes para a Flora Amazonia h147 ignoti. Pedicellus fructifer 1 cm longus, 5 mm vel ultra crassus, fructus 5 cm lon- gus, 3,5 cm latus. Camarae circiter 80, lateraliter compressae 13 mm longae api- ce scutello aureo—vel fulvo-tomentoso pnstructae”; valide: rostratae; | rostrum ovato-triangulare 8-10 mm longum, prope basin 4 mm latum acutiusculum ferrugi- neo-canescens lepidotum. Semina a pe- ricarpio facile solubilia obovato-cuneata, circiter 12 mm longa 8 mm lata, testa nitida straminea, albumine ruminato. Aramá, beira do rio (1867) leg. J. Huber, feverei- rO 1900. Myristicaceas. me Virola surinamensis Warb. «Ucuúba». Furo Macujubim (2209) e Aramá (1845), muito commum por toda a região. Area geog.: Guyana, Amazonia. Lauraceas. E' certo que os representantes d'esta familia não faltam completamente na região por mim estudada, entretanto não parecem ser muito numerosos. Uma arvore bastante com- mum na região dos Furos e que parece pertencer às Laura- ceas é o «Pão de rosa», que é talvez uma Nectandra ; porém não creio que corresponda à Nectandra elúiophora Barbosa Rodrigues, o «Pão rosa» do Rio Negro. Martius, nas explicações das suas . No Aramá distinguem-se duas qualidades de Jutahy, dos quaes um tem o nome de « Jutahy-assú». As especies amazonicas do genero Hymenaea são ainda 91 94 na: p () Materiaes para a Flora Amazonica pouco estudadas. A «Flora Brasiliensis» não indica nenhuma especie para a região amazonica. Entretanto ha diversas, e no nosso Jardim botanico temos já 4 especies em cultura, provavelmente na sua maioria novas para a sciencia. Crudya pubescens Spruce «Ipé-rana». Aramá, beira do rio (1903). Area geogr.: Santarem, Manaos, Cayenna,. Esta especie se chama Ipé-rana provavelmente por causa dos seus fructos que são semelhantes aos do «lpé», em- quanto que as folhas são 5-7-folioladas. Crudya Parivoa DC. «Jutahy-rana» (cf. estam- pa n'este Boletim vol. II pag. 321). Aramá, pelo centro. Area geogr.: Pará, Guyana. Copaifera guianensis Hayne (?) «Cupaúba». Arama, pelo centro, raro. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Como não pude colleccionar exemplares de herbario, não tenho a certeza se a é attribuido a diversas especies do genero Mimosa. 98 Machaerium macrophyllum Mart. aureo-sericeus dentibus acute triangularibus inferio- re majore (2mm longo) subulato. Ve- gillum q mm longum, extus tenuiter aureo-sericeum, suborbiculare, margi- ne reflexum, basi truncatum intus bical- losum, unguiçulatum. Ala: falcatae 9 mm'longae, auriculatae, carinae leviter 12—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 122 Materines para a Flora Amazomca adhaerentes; carina infra tenuissime sericea, alis subaequilonga. Ovarium subsessile lineare tenuiter sericeum. Le- gumen haud suppetit. Diifert a specie proxime affini L. seri- ceus H. B. K. (Amer. trop. et AME trop. occid.) inprimis floribus multo mi- noribus, a L. neuroscapha Benth. (Bras. orient. et centr.) praecipue foliolis pau- cioribus calvcisque dentibus conspicuis, ab utroque bracteolarum indole. Macujubim (2231) leg. M. Guedes 1901. 101 Vouacapoua americana Aubl. «Acapú». Rio Aramá grande, pelo centro. Area geogr.: Amazonia, Guvana, Antilhas, Afri- ca occidental tropical (Taubert). 102 Pterocarpus Draco L. |Moutouchi suberosa Aubl.! «Mututy». Aramá, beira do rio (1878) Area geogr.: Amazonia, Guyana, America cen- tral. 103 Dibteryx odorata (Aubl.) Willd. «Cumarú». Coumarouna odorata Aubl. Aramá. Area geogr.: Amazonia, Guyana. 104 Dipbteryx oppositifolia (Aubl.) Willd. (Ta- ralea oppositifolia Aubl.) «Cumaruú-rana». Aramá. Area geogr.: Amazonia, Guvana, Venezuela. 105 Vatairea guyanensis Aubl. «Faveira», «Fava de empigem». Frequente pelos Furos. Area geogr.: Pará, Guyana. Humiriaceas. 106 fumiria balsamifera Aubl. «Umiry». É Aramá, na mata. Area geogr.: Amazonia, Guyana. 107 Saccoglottis amazonica Mart. «Uchy-rana». Aramá (1850). Frequente por toda a região, ao longo dos furos. Area geogr.: Amazonia | Teffe, Tajapurú). RE = Materiaes para a Flora Amazonica 423 Simarubaceas. 108 Picramnia spec. nov. ?) Macujubim (2216). Como o nosso exemplar não tem flores, mas só fructos, não se póde dar por emquanto a descripção completa d esta espe- cie, provavelmente nova. Burseraceas. 109 Protium heptaphyllum (Aubl.) L. March. «Breu branco». Rio Aramá, mata. Area geogr.: America austr. trop. Além d'esta especie conhecem-se ainda no Aramá 2 outras qualidades de «Breu», provavelmente tambem do genero Protium, o «Breu preto» e o «Breu jauaricicaz, emquanto que o «Breu sucurúba» é arvore da terra firme. Meliaceas. IIO Caraba guyanensis Aubl. «Andiroba». Frequente por toda a região. Area geogr.: Brazil equatorial, Guyana, Vene- zuela. III Guarea trichilioides L. «Jatuaúba». Macujubim (2202) e outros furos. Area geogr.: Amer. trop. 112 Guarea costulata C. de Cand. (Boletim do Mus. Par. Vol. III p. 237). «Jatuaúba preta». Aramá, beira do rio (1883). Area geogr.: Pará. Malpighiaceas. 113 Byrsonima lucidula Hub. nov. spec. «Murucy». fRamuli graciles flexuosi. Stipulae dis- tinctae latae, partim cum petiolo conna- 4924 Materiaes para a Flora Amazonia tae, annulum fimbriarum ferruginearum ex axilla nascentem plus minus obtegen- tes. Folia lanceolata utrinque acumina- ta, longiuscule petiolata. Petiolus 1-2,5 cm longus gracilis. Lamina 8-12 cm longa, 3-4 cm lata apice latiuscule acu- minata, basi sensim angusteque in peti- olum contracta, tenuiter coriacea, gla- berrima, supra viride-fusca lucidula, sub- tus viridis magis lucida quam supra. Ra- cemus 6—S cm longus ferrugineo-pu- berulus. Bracteae late rotundatae apice acutatae 1 mm longae et latae, bracteo- lis subconformibus vix maiores. Pe- dicelti 1 cm longi . ferruginco-pubes ruli, ante anthesin deflexi, ad anthesin horizontaliter patentes, postea stricti erecto-patentes vel erecti. Flores luteoli. Antherae glabrae, connectivo obtusi- usculo superatae. Inter species amazoes nicas maxime affinis est Byrsonima ama- sonica Gris., qua species nostra foliis minus coriaceis pagina inferiore lucidu- lis facile distinguitur. Furo Macujubim (2207), leguM. Guedes Tod Fig Freteropierds pala oa Rr a ENO Aramã, beira do rio (1838). Area geogr.: Amazonia, Cruyana, Pequenas An- tilhas. Cipó, de folhas grandes e muito duras. 115. Hiraea obovata Hub. nov. spec. Fruticosa. Ramuli minutissime pube- ruli. Foliaobovata 10-—15 cm longa, ter- tio superiore 4,5—5,5 cmlata, basin ver- sus cuneata sed ima basi rotundalia, apiceabrupte acuminata, acumine 1 cm longo minutissime apiculato. Petiolus brevis (5 mm longus), sericeo-tomentel- lus, apicem versus stipulifer, stipulis lineari-subulatis 4—5 mm longis. Lamina Materiaes para a Flora Amazonica Td coriacea supra glabra fuscescens, subtus cinnamomeo-sericea, apicem versus glan- duloso denticulata. Umbellae 2---3 florae saepius ternatae. Calyx vulgo S-glandu- losus. Petala maiuscula. Fructus desi- deratur. Ex affinitate HH. fulgens as (Pará) H. chrysophylila Juss. (Teffé, Japu- à), quibus differt praecipue foliis dis- ini obovatis. -— Aramá, in ripis (1840). J. Huber leg. fev. 1900. 116. Tetrapteris spec. (2). Macujubim (2210, sem fructos). Vochysiaceas. / 117. Qualea speciosa Hub. nov. spec. «Mirauba da var- zea» (ser. Calophylloideae aff. Q. acumi- nata Spruce et O. macr opetala Spruce). Ramuli subteretes, 3—4 mm crassi, li- neis 4 ab insertione foliorum decurrenti- bus costati, apicem versus puberuli, in- ternodiis circ. 4 cm longis. Folia oppo- sita ad bases nulla linea elevata inter se juncta, glandulis ad foliorum basin 2 mm latis. Petiolus brevissimus, 6—7 mm longus. Lamina elongato—ovata 12 —I4 cm longa. 4—-5 cm lata, basi rotunda- ta vel cordata, apice longius acuminata, summo apice breviter apiculata,rigide co- riacea, supra nitidula subtus opaca, cos- tis lateralibus numerosissimis confertissi- mis. Inflorescentia terminalis multiflora et densiflora e racemis pluribus in axil- lis foliorum summorum singulis vel bi- nis congestis composita, axibus parce puberulis, cicinnis uni-vel bifloris flori- bus speciosis. Pedicelli graciles alabas- tri dimidium haud aequantes, dense fer- rugineo—puberuli. Bracteae bracteolae- que caducissimae. Alabastra ovato—co- nica, acuta 22,5 cm longa. Calycis “426 Materiaes para a Flora Amazonia lacintae - exteriores - orbiculares JexTaE ferrugineo—puberulae, interiores ovales adpresse subsericeo-canescenti — pilo- sulae, omnes obtusae, caeterum ut im QO. macropetala. Calcar 7—S mm lon- gum, glabrum sursum incurvum cochlei- torme. Petalum late obcordatum 5—6 cm latum, 4,5—5 cm longum, ad basin unguiculatum incrassatum, caeterum te- nue venosum, pallide roseum. Fila- mentum cum stamine 2 cm longum, stamen 11 mm longum anthera falcata. Stylus tenuis glaber 15 mm longus, ovarium ovatum dense fulvo-hirsutum. Differt a speciebus affinibus O. acumi- nata et Q. macropetala Spr. (Uaupés), foliis maioribus, inflorescentiis pluri- floris, ab Q. macropetala petalo minore. Arama, frequens in littore (1844), J. Huber 1900. 116. Vocikysia spes. Aramá-miry, arvore frequente na mata. 119 Erisma calcaratum (Link) Warm. «Verga do Jaboty». j Commum por toda a região. Area geogr.: Pará, Guyana. Polygalaceas. 120 Moutabea Chodatiana Hub. nov. spec. «Gogó de gua- : Tiba». Ramuli validi inermes, cortice cinna- momeo vel nigrescente tecti. Folia brevi- ter (1 cm) petiolata, oblongo—obovata veloblongo-lanceolata, coriacea, prasina, distincte marginata, sicca supra densis- sime elevato-punctata et striata, subtus similiter sed minus regulariter exs- culpta, nervo medio supra plano sub- tus prominente apicem versus quasi eva- nescente, nervis secundariis spuriis. Ra- cemi axillares singuli, stricti, 12—15 flo-. Materiaes para a Flora Amazonica h97 ri, rhachi 35—4 cm longa, crassiuscula (2—3 mm crassa). flores albo-virides maiusculi (24 mm longi, tubo 4 mmilato), satis crassi, tubo quam limbo sub-lon- giore, segmentis calycinis triangulari- ovatis acutiusculis, corollinis oblongo- vel obovato-spathulatis, calycinis sub- duplo longioribus, androphoro parce piloso, stvlo inferne incrassato. Species contextura foliorum insignis. Pnadna, in ripis (1947). leg. J. Haber, fév. 1900. ». 121 Moutabea angustifolia Hub. nov. spec. «Gogó de guariba». Ramuli satis graciles, aculeati. Folia gracile petiolata petiolo 1 cm longo, anguste oblonga vel oblongo-obovata, 12—18 cm longa 3,5—4,2 cm lata, basi in petiolum angustata, apice breviter acutissimeque apiculata vel rarius rotun- data aut emarginata, subcoriacea, utrin- que leviter exsculpta, indistincte mar- ginata, nervo medio supra plano subtus prominente, nervis lateralibus utrinque numerosis (13-—15) tenuissimis. Racemi solitarii graciles, rhachis 2—2,5 cm lon- ga, bracteae subpersistentes. Flores gra- Eles to 200 um tongi,. tubo 2-3 mm lato basi valde inflato, segmentis calycinis anguste ovatis vel oblongis, obtusis tubo paullo brevioribus, co- rollinis angustis oblongis obtusis, an- drophoro cucullato dorso dense piloso, styvlo haud incrassato. Furo Macujubim (2217), leg. M. Guedes 19or. Euphorbiaceas. 122. FHevea brasiliensis Múull. Arg. «Seringueira branca». Aramá beira do rio (1861), Macujubim (2208), 428 Materiaes para a Flora Amazonica frequente ao longo de quasi todos os furos. Area geogr: Amazonia. 123. Hevea guyanensis Aubl. «Seringa-mangue». Aramá, beira do rio (1888, 1889). Area geogr.: Baixo Amazonas, Guyana Fran- CEZA. 1o4. Hura crepitans E Assacum: Parece ser raro no rio dos Macacos e no Aramá; mais frequente no Tajapurú. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Venezuela, Columbia, Antilhas. 125. Mabea Taguary Aubl. «Taquary». Furo Macujubim (2244). Area geogr.: Pará, Guyana, Venezuela. Segundo Aublet (Histoire des plantes de la Guyane fran- çaise p. 870) esta planta serve, na Guyana francesa, para fa- zer os tubos dos cachimbos, como a especie aparentada M. Piriri Aubl.. Aqui no Pará tem o mesmo uso. Anacardiaceas. 126. Anacardium assu». Aramá, pelo centro. Area geogr.: Amazonia. 127. Spondias lutea L. «Taperebá». Muito frequente no Tajapuru. Area geogr.: Brazil spt., Guyana, Venezuela, Columbia, Antilhas. 128. Spondias sp. (2) «Cupiúbas. Aramã, pelo contro: giganteum Hancock «Cajú-. Hippocrateaceas. 129. Hipbpocratea ovata Lam, * Furo Macujubim (2232). Area geogr.: America. trop.. lem desta especie existe ainda n'esta região a H. inun- data Mart. Materias para a Flora Amazonica 421) 130. Salacia spec. «Jasmin da beirada». Caule volubili floribus minutis (in exem- plare nostro haud plane evolutis) numero- sissimis in paniculas axillares dispositis. Aramá, beira do-rio. Icacinaceas. Rn Poragqueada sericea Lul. «Umarys. Furo Macujubim (2205). Area veopsr.- Para (Breves), Mamãos, Tefle. Uma especie muito semelhante, P. guyanensis Aubl., que tem porem fructos menores e não comestiveis, já foi collecci- onada em Breves (e Teffé) e se acha tambem na Guyana franceza. Sapindaceas. Não encontrei nenhuma especie desta familia, aliás tão bem representada na Amazonia; porem é provavel que exis- tam all ao menos certas especies de Paullinia, como a P. pinnata L., cipó muito commum nas beiras dos cursos d'agua do Baixo Amazonas e uma das plantas lenhosas que per- tencem ao mesmo tempo à America e á Africa occidental tropical. Vitaceas. Ro Cissus stceyotdes L: Cipó frequente na beira dos Furos. Area seogr.: America trop. Tiliaçeas. 133. Sloanea dentata L. «Urucú-ranas. Macujubim (2206), comnmum no Aramá. Area geogr.: Pará, Guyana. +30 Materiaes para a Flora Amazonia Malvaceas. 134. Hibiscus bifurcatus Cav. «Majorana». Aramá-miry, na beira d'agua. Area géogr.: Ammerical trop: Esta planta chama-se «Fanfan» no rio Capim. Bombaceas. 135. Bombax Munguba.- Marti el ZucelPReMna guba». | Aqui e acola, nas beiras do Tajapurú; raro na região dos Furos. Area geogr.: Amazonia. 136.- Cerba pentandra Gaerin. «SUmaima». Por toda a região dos Furos, porém principal- mente na parte Se SO: Area geogr.: Amazonia, Guyana, Antilhas, Africa occidental tropical. A «Sumaúma» do baixo Amazonas não é, como se escreve geralmente, a Eriodendron Sumauúuma de Martius ou Ceiba Sumaúma Schum., esta tem flores muito maiores que aquella e se acha localisada no alto Amazonas. 137. Pachira aquatica Aubl. «Mamorana». Frequentissima em toda a região, ao longo dos Puros: Area geogr: Pará, Guyana: 138. Quararibea guyanensis Aubl «lina rana». Aramá (1870) e Macujubim (2212), frequente. Area geogr.: Baixo Amazonas, Guyana. 139. Matisia paraensis Hub. nov. spec. «Cupu-assú- rana». Arbor minor, ramis validis striatis. Folia breviter petiolata ampla. Petiolus 2-2,5 cm longus. Lamina 20-45 cm longa tertio superiore 10-22 cm lata, versus Materiaes para a Flora Amazonica 431 / basin margine rectiuscule angustata sed ipsa basi late rotundata, apice abrupte obtuseque acuminata, membranacea vel subcoriacea, vulso 5-nervis, margine apicem versus repanda, glaberrima. Flo- Fes spectost oppositifolii. Pedunculus 2 cm longus apice incrassatus et 3 brac- teolatus, glaber. Calyx tubuloso-campa - nulatus extus glaber striatus minutissi- me tuberculatus, intus densissime ful- vo-sirigosus 2,5 cm longus, 1,3 cm cras- sus, apice 4-!obatus lobis brevissimis late semiorbicularibus. Petala (5) 6 cm longa et ultra, 1,2 cm lata, extus apicem versus minutissime cinereo-tomentella basin versus etintus glabra, apice rotun- data velminuteretusa. Tubus stamineus petalis brevior (5 cm longus) glaber, cru- ra libera 2 cm longa. Stigma 5- fidum. Fructus magnus (ultra 2 dm longus) ca- psularis. Semina numerosa Janata. Species affinis Matisia lasiocalyx Schum. (alto Amazonas) a nostra difiert folis angustioribus, floribus minoribus, calyce extus sericeo. etc: Furo Macujubim (2207), leg. M. Guedes 1901. Sterculiaceas. 140. Theobroma speciosum Spreng. «Cacão-y». Aramá-miry, mata. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Theobroma grandiflorum Schum. «Cupú- assú. Aramá, terrenos elevados. Area geogr.: Amazonia. 142. Sterculia spec. «Capóte». Pequena arvore de grandes folhas lobadas, bas- tante frequente nas beiras dos Furos. 132 Materiaes para a Flora Amazonia Caryocaraceas. 143. Caryocar edule Casaretto «Piquiá-rana». Rio Aramá-miry. Area geogr.: Amazonia, Guyana, Martinica. Este Piquiá-rana das varzeas é differente do Piquiá-rana da terra firme (C. glabrum) que tem flores maiores e estames encarnados, emquanto que os do C. edule são brancos esver- deados, 144. Caryocarvillosum (Aubl.) Pers. (?) «Piquiai Aramá. terrenos altos pelo centro. Area geogr.: Amazonia, Guyana. Marcgraviaceas. 145. Marcoravia coriacea Vahl. «Mão -de onça». Aramá, frequente na beira do rio, sobre os tron- cos de arvores: Area geogr.: Guyana, Brazil trop. 146. Marcgravia spec. (sem flores). Aramá, na mata. 147. Souroubea guyanensis Aubl. var. d. amazo- MC. Macujubim (2218). Area geogr.: a especie: da Bahia até Perú e Ni- caragua; a variedade: Amazonia. Ternstroemiaceas. 148. Caraipa paraensis Hub. nov. spec. «Tamacoaré». Ramuli quadranguli. Folia ovata vel - — elliptica vel lanceolato-oblonga breviter (1 cm) petiolata basi rotundata vel acuta vel breviter contracta, apice rotundata vel acuminata, coriacea, margine revo- luta, supra viridia vel fuscescentia gla- Materiaes pera a Flora Amazonica +33 brescentia, subtus ochracea satis dense minutissimegue stellato-puberula, ner- vissubtus prominentibus; inflorescentiae terminales ferrugineo-tomentellae densi- florae; flores maiusculi, calyce, corolla extus, ovario stvloque ferrugineo-tomen- tellis, staminibus numerosissimis, anthe- ris oblongis; capsula ovato vel pyrami- dato-trigona, profunde rugosa ferru- gineo-tomentella. Var. a) paucifiora, foliis pergamaceis, valde inae- qualibus, pro longitudine latis, inferio- ribus plus minus ellipticis apice rotun- datis, superioribus breviter obtuseque acuminatis, haud ultra 17 cm longis, ner- vis lateralibus gracilibus. Racemis pau- cifloris (3-6 floris), floribus maioribus petalis ad 2 cm longis. Aramá, beira do rio (1840 b.) leg. J. Huber, 1900. Var. b) floribunda, foliis crasse coriaceis, ovato- oblongis (maioribus ad 20 cm latis), basti sacpissime rotundatis mediocriter acu- minatis, paniculis ramosis multifloris (flores 12-20), petalis 1,5 cm vix exce- dentibus. Furo Macujubim (2220) leg. M. Guedes 1901. Var. c) robusta, foliis crasse coriaceis, saepius obovato-oblongis basi acutis, basi plus minus abrupte acuminatis nervis secun- dariis robustis supra impressis. Paniculis racemosis grandifloris, petalis ad 2 cm longis. Aramá (1840, exemplar com fructos) leg. J. Huber 1900. A Caraipba paraensis parece ter uma certa affinidade com outra especie do Pará, descripta por Lacerda na sua «Flora Paraensis» '(manuscripta) e publicada pelo Dr. Barbosa Ro- drigues sob o nome de Caraipa Lacerdaei Barb. Rodr. («Vel- lozia» 1885-1888, 2º edição p. 9). Existem entretanto differen- ças bastante importantes no indumento das folhas, no compri- mento do peciolo, etc. para justificar plenamente a creação de 134 Materiaes para a Flora Amazomeca nova especie. Ao lado da grande variabilidade individual na fórma das folhas e no tamanho das inflorescencias e das flo- res, a forma dos pellos parece ser bastante constante e, como Já indicou o ilustre director do Jardim Botanico fluminense, de grande valor para a distincção das especies. E por isso que reuni, por emquanto, todas as 3 formas observadas por mim, n'um só grupo especifico. Entre as especies de Caraipa descriptas na «Flora brasiliensis» a C. glabrata Mart. (Coari, Guyana) parece approximar-se bastante da nossa especie. Talvez que a planta citada sob o nome de C. glabrata ? var. pachyphylla, que foi colleccionada no Pará por Sieber, seja Identica com a nossa especie. 149. Caraipa minor Hub. nov. spec. «Tamacoaré miudo». fRamuli divaricati cortice cinereo ob- tecti, superne quadranguli. Folia forma et dimensionibus valde variabilia, 7-17 cm longa, 3-6 cm lata. Petiolus 5 mm longus 2 mm crassus, supra excavatus, transverse rugosus. Lamina ovata vel ovato-oblonga vel lanceolata, basi acuta vel obtusa vel rotundata, apice rotundata emarginata vel breviter obtuseque vel longius plerumque acutissime acuminata, coriacea, margine subrevoluta, supra gla- bra in sicco fuscescens vel cinerascens, subtus plus minus cinnamomea simpli- citer pilosula, pilis stellatis paucis prae- cipue in vicinia nervi primarii inter- mixtis, nervo medio supra immerso pi- losulo, subtus valde prominente, secun- dariis supra leviter, infra valde promi- nentibus, utrinque 16-17, venis utrinque tenuissime prominulis subparallelis. Zn- Jorescentiae laterales' vel termimales: pauciflorae breves (haud ultra 6 cm lon- gae) ferrugineo-tomentellae. Sepala rotundata 4 mm longa extus ferrugi- neo-tomentella. Petala desiderantur. Stamina numerosissima, ovarium to- mentosum. Capsula subglobosa tri- angularis sessilis (diametro 2 cm) abrupte rostrata (rostro 5 mm longo), rugoso-muricata, ferrugineo-tomentel- la 1-2-sperma. Semina obtuse trigona, castanea 1,9 cm lata, 2 cm longa. Materiaes para a Flora Amazonica 435 Differt a specie praecedente partibus omnibus minoribus, indumento foliorum simplici, capsula rotundata, non pyrami- data. Aramá, beira do rio (1900) leg. J. Huber 1900. Nos nossos exemplares o gyneceo de algumas flores sof- freu uma transformação curiosa, desenvolvendo-se em um certo numero de folliculos separados. 150. Caraipa insidiosa Barb. Rodr. (2) «Inambú quiçaua». Frutex foliis breviter petiolatis. Petio- lus 0,5—1 cm longus transversaliter ru- gosus supra canaliculatus. Lamina lanceolata vel ovato-lanceolata 11—1I8 cm longa 4—7 cm lata basi rotundata vel acuta, apice obtusa vel obtuse acu- minata coriacea glaberrima paucicos- tata costis utrinque circiter 10 arcuatis, costulis subhorizontalibus numerosissi- mis interjectis, mesophyvllo glandulis etcanalibus pellucidis creberrimis ins- tructo. Inflorescencia terminalis ut pa- ret pauciflora aut uniflora. Flores non adsunt. Capsula obovato-trigona (2,1 cm lata 4,8 cm longa) rostrata (rostro 7 em longo 5 mm crasso), laevis vel tenuiter striolata crasse (3,55 mm) li- gnosa. Aramá, beira do rio (1899) leg. J. Huber 1900. Esta especie que só com muita reserva identifico com a C. insidiosa Barb. Rod. (Rio Negro), se distingue como esta de todas as outras especies congeneres pelas folhas comple- tamente glabras e munidas de glandulas internas. Como o Dr. Barbosa Rodrigues não descreveu nem flores nem fruc- tos da especie creada por elle, e como a nossa planta tam- bem não tem flores e só uma capsula que apezar de concor- dar com a de certas Caraipas na sua forma e na das semen- tes, parece ter uma dehiscencia um pouco differente, me pa- rece ainda duvidoso se, tanto a minha planta como a do Sr. Barbosa Rodrigues, deve entrar no genero Caraipa. O facto de a planta do rio Negro chamar-se <«Tamacoaré», como as outras especies do genero Caraipa, é uma indica- ção preciosa, porque os indios provavelmente não teriam denominado com o mesmo nome uma planta que tivesse p. e. flores differentes das dos outros Aramá, beira do rio (1868); Macujubim (2238). 155. Calopyllum Ratio nse Camb. «Jacareúba,. Aramáã, beira do rio, frequente (1882). Area geogr.: de 5. Paulo até o Amazonas. 156. Symphonia globulifera L. <«Uanany». Macujubim (2239), frequente no Tajapurú. Area geogr.: America e Afr. occidental trop. Passiforaceas. 157. Passiflora Guedesii Hub. nov. spec. $ Astrophaea. «Maracujá». 'á 13—( BOL. DO MUS. Frutex scandens cirratus. Rami s5- angulati atropurpurei asperi. Folia am- pla. Petiolus 2-4 cm longus, apice bi- glandulosus. Limbus ad 25 cm longus, ro cm latus, ovato vel oblongo-lanceo- latus acuminatus, coriaceus supra gla- ber subtus dense hirtellus rubiginosus, venis reticulatis prominentibus. Injlo- rescentia pluriflora pseudoracemosa ab- breviata vel depauperata 1 vel 2-flora. Flores .speciosi albi- tubo anguste in- fundibdiliformi 4 cm longo, superne 1,5 cm crasso. Sepala oblonga obtusiuscula, petala similia sed paulo breviora et te- nuiora. Corona fauciaiis duplex fila- mentosa, filis externis petalorum 2/3 su- perantibus apice oo dilatatis, inter- nis multo minoribus. Series tertia e tubo versus basin emergens versus gynopho- rum inílexa basi membranacea apice fi- lamentosa.Gynophorwm etubo exsertum gracile pentagonum glabrum. Filamenta antheris aequilonga, antherae lineares. Ovarium oblongum, cum stylis fulvo- tomentosum. Stigmata clavata filamen- PARAENSE) k38 Materiaes para a Flora Amazonica ta corona vix superantia. Fructus ovol- deus (6 cm longus) apicem versus contra- ctus et abrupte in stylum abeuns, peri- carpio testaceo. Magis affinis paret P. candidae (Poepp.) Mast. (Tacsonia can- dida Poepp.) (Teffé), qua differt praeci- pue foliis elongatis, corona interiore haud S-lobata. Macujubim/ (22451, M: (Guedes legit 1901. Lecythidaceas. Goeldinia genus novum. Germen inferum 4-loculatum, multio- vulatum, ovulis saepius 8 superpositis, oblique ascendentibus. Calyx superus patellatus brevissime 5-dentatus. Peta- ta 5 oblonga decidua. Staminodia nul- la. Stamina pro familia perpauca, 20— 30. Urceolus staminifer ad 1/3 longitu- dinis vel ad medium 8-—12-fidus, seg- mentis angustis apice inflexis et anthe- riferis, antheris reliquis e facie imienihans urceoli dependentibus. Siylus brevissi- mus. Stigma brevissime 4-lobum. Py- gidium tubulare vulgo 4-loculare. Semi- na elongata prismatica infra ala brevi instructa. Differt a genere Cariniana Casaretto floribus pentameris et ovario tetramero multiovulato, sed inprimis numero staminum minore. Denominei este genero em honra de meu illustre chefe e amigo Prof. Dr. Emilio A. Goeldi, director do Museu Goel- di, como homenagem ao seu nunca desmentido interesse pela exploração botanica d'este paiz. 158. Goeldinia ovatifolia Hub. nov. spec. «Churú>, «Cerú». N Ramuli graciles (3—4 mm crassi) in- ternodiis elongatis (4—5 cm longis), cortice atro-rubente longitudinaliter ri- Muteriaes para a Flora Amazonia 39 moso et verruculoso tecti. Petiolus I— 1,3 cm longus. Lamina foliorum late ovata, 10—17 (vulgo 15) cm longa, 5—S (vulgo 7) cm lata basi rodundata et an- gustissime in petiolum contracta, apice abrupte caudato -acuminata (acumine acutissimo), coriacea, supra leviter im- presso, subtus elevato-lineato - costata (costis utrinque 17—20), tenuissime refle- xo-venulosa, margine subrevoluta in- distincte serrulata. Racemi singuli vel in paniculam depauperatam congesti, ad anthesin 5—1o0 cm longi, post florum de- lapsum vel fructiferi saepe 15 cm et ultra longi. Bracteae et bracteolae deciduae, hae oblongo-ovatae acutae, illae ovatae obtusissimae. Alabastra oblongo-ovata obtustuscula, pedicello 12 mm longo 1 mm crasso insidentes. Ovarium pedi- cello plus quam duplo crassius. Calyx 3 mm altus 6 mm latus, brevissime tri- angulari 5-dentatus. Corolla 10 cm vel ultra e calyce prominens. Peftala adulta 16 mm longa. Androeceum cylindricum ad tertiam partem vel paulo ultra divi- sum. Discus intrastaminalis annulifor- mis. Stylus brevissimus. Sigma bre- vissime 4-lobum. Pyxidium basi con- tractum, 13 cm longum, ore 4,5 cm, basi contracta 1 cm crassum. Zona supraca- Iyvcaris haud 1 cm lata. Semina prisma- tica 4-5 cm longa, 0,5 cm lata, basi ala 2—2,5 cm longa 0,5 cm lata instructa. Aramã (1659), beira “do rio, leg. J. Huber, ICO. 159. Goeldinia riparia Hub. nov. spec. «Churú». Ramuli crassiores quam in G. ovati- folia, cortice cinereo vel cinnamomeo longitudinaliter valde rimoso tecti. Pe- tiolus 1,2—1,3 cm longus, crassiuscu- lus. Lamina obovato-oblongaveloblon- go-lanceolata, 12—20, vulgo 16 cm lon- Materias para a Flora Amazonica ga =, vulgo sc lata, basr sons in Maes contracta, apice satis abru- pte caudato-acuminata (acumine acutis- simo), coriacea, supra impresse, subtus elevato lineato-costata costis utrinque 18—22) tenuissime subhorizontaliter ve- nulosa, margine revoluta subintegra. Racemi vel paniculae depauperatae ex axilla foliorum vel ex ligno vetere, ad anthesin 5—10 cm, demum circiter 12 cm longi. Bracteae subpersistentes maius- culae late ovatae apice reflexae, bracteo- lae multo minores ovato-oblongae ob- tusiusculae. Alabastra ovata apice ro- tundata, ante anthesin calyce 8 mm lato s mm alto obtuse s5-dentato praedita, Ovarium inferum 3 mm crassum sen- sim in pedicelum 2,5 mm crassum angustatum: Corolla 8 mm e calsiee prominente. Androeceum campanula- tum (8 mm longum 6 mm latum) ulira medium divisum. Pyxidium I10—II cm longum 4,5 cm crassum, cortice valde rimoso tectum, zona supracalycari an- gustissima. Furo Macujubim (2223). leg. M. Cucdesirooia Segundo a «Flora brasiliensis» e o «Genera Plantarum» de Bentham e Hooker, todas as Lecylthidaceas com pyxidio tubuloso deveriam reunir-se no genero Couratari creado por Aublet e n'este caso o nosso genero poderia constituir ape- nas uma secção d'aquella grande agglomeração generica. Mas desde que a separação dos grupos genericos é basea- da não só sobre a fórma do fructo mas tambem sobre a for- ma das sementes e principalmente sobre o androeceo, como Miers e segundo elle Niedenzu na obra «Natúrliche Pflanzen- familien» o entendem, então o nosso genero froeldinia tem tanta razão de ser ao lado do genero Couratari, como os generos Cariniana Casaretto e Allantoma Miers. Tendo mais affinidade com o genero Cariniana Cas. que foi creado para algumas especies da região das Dryades chamadas vulgar- mente «Jequitibá», o genero Goeldinia differe entretanto d'aquelle grupo generico pelas flores pentameras, peio ova- rio tetramero, pelo numero maior E ovulos e pela fórma das sementes, mas principalmente (e por este caracter elle se distingue de todos os outros ge neros da familia das e cythidaceas) pelo numero muito reduzido dos estames. E' provavel que o Cowratari uaupensis Spruce, descripto na Materiaes para a EHlora Amazonica h41 «Flora brasiliensis», tenha tambem de entrar no genero Goel- dinia; elle receberia então o nome de Goeldinia waupensis rspruce) Hub. Rhizophoraceas. Ro. Riso phora Mangle L. var. racemosa Meyer. «Mangue». rama (1949), muito irequente nas; beiras dos Euros: Ted oc0g:: Ameénica trop. RR Cassibonrea guyanensis- Aubl. «Laranja- rana». Arama, beira do rio (1884). Area geog.: Amazonia, Guyana. Combretaceas. 162. Combretum Jacquini Gris. forma inflorescen- tia ferrugineo-tomentosa, foliis late ovatis, apice Insigniter setaceo—acuminatis. Macujubim (2219). Area geogr.: America trop. 03: Laguncularia mracemosa CGraertin. «Tinteira». Aqui e acolá, ao longo dos furos. Area geogr.: America e Africa occidental tro- picaes. oO pen meia coccinea Aubl. das Guyanas, se impõe por diversas razões; porém ainda não pude chegar a um resultado difinitivo por dois motivos: primeiro porque não conheço uma descripção sufficientemente detalhada do Mimusops globosa Gaertn. para chegar a uma determinação SAM Materiaes para a Flora Amazonica 143 acertada, e depois porque a «Massaranduba», ella mesma, parece ser uma especie bastante polymorpha quanto ás folhas e aos fructos e que ainda não me foi possivel arranjar flores, unicas que permittem uma classificação definitiva. Loganiaceas 171 Strychnos Rouhamon Benth. «Apui-rana». Aramá, beira do rio (1905). Area geogr.: Amazonia (Rio Negro), Guvana. Gentianaceas 172 Leiphaimos spec. nov. (2). Inflorescentia cymosa, floribus bibracteolatis, antheris obtuse appendiculatis, filamentis fi- liformidus. An Voyria nivea Mig. ? Macujubim (223 Apocynaceas 173 Allamanda cathartica L. «Santa Maria». Aramá, e nos outros furos, aqui e acolá. Area geogr.: America trop. 174 Hancornia Amapá Hub. nov. spec. «Amapa». Arbor elata, ramis ramulisque strictis erecto—patentibus (haud deflexis), foliis breviter petiolatis oblongis utrinque acu- minatis, nervis lateralibus utrinque 12— 15 maioribus distantibus, minoribus re- ticulatis interjectis, fructu maiore quam in fl. speciosa Gomez. Aramãá, bastante frequente na mata e na bei- ra do rio (1806). O «Amapá» se distingue da «Mangabeira» (Hancornia speciosa Gom.) que é uma arvore pequena dos campos co- 444 Materiaes para a Flora Amazonia bertos, pelo porte mais elevado, pelos galhos que não são dependentes, e pelas folhas que tem uma nervatura differen- te. Na H. speciosa, as nervuras secundarias são numerosis- simas e iguaes, de maneira que a folha parece como listrada, na H. Amapa as nervuras secundarias maiores são em nu- mero limitado (12-15), formando anastomosas a uma cer- ta distancia da margem e limitando assim uma serie de areas, onde as nervuras menores formam uma especie de rede. Os fructos são esphericos e maiores que os da Mangabeira, dos quaes se distinguem tambem pela côr roxa (as mangabas são sempre mais ou menos amarellas listradas de encarnado). 175 Ambelania tenuifiora Muell. Arg. «Pepino do mato». Aramãá, mata. ã Area geogr.: Amazonia. 170 Ambelania grandiflora Hub. nov. spec. «Molongó». Frutex. ramis teretibus. Folia brevi- ter (5 mm) petiolata ovato—lanceolata 13 — 18 cm longa. 5-6 cm lata (floralia vulgo 5-9 cm longa) basi subobtusa vel rotun- data apice “acuta vel indistincte acumi- nata, utrinque glaberrima subcoriacea, margine revoluta. Nervus primarius supra impressus, secundarii angulis va- riabilibus ex primario subrecte ad mar=- Sem excurrentes ibique nervo margi- ali conjuncti supra et subtus prominu- Li venae supra magis quam subtus pro- minulae. Inflorescentiae in ramulis folio- a rum pare unico instructis terminales breviter pedunculatae compositae quam folia floralia duplo maiores. Pedunculas (raro bini) 1,5 cm longus, 7-9—florus. Flores speciosi candidi odoratissimi. Pedicelli 1 cm longi. Calyx 5 mimos gus laciniis rotundato—obtusis. Corolla 6 cm longa, lobis obovato—oblongis ob- tusis, tubo medio inflato paulo longio- TES. Proximé afíinis. À. macrophykiWe Muell. Arg. sed floribus maioribus. Aramá. beira do rio, frequente (1836). Area geogr.: Pará. Materines para a Flora Amazonica 177 Plumiera Sucuuba Spruce (2) «Sucuúba». Aramã, aduie e acolá, muito commum no Tajapurú. Area geogr.: Amazonia (Manáãos). 178 À nisolobu samazonicus Muell. Arg. Macujubim (2237). Area geogr.: Tajapurú. Rio Negro. Convolvulaceas 179 Mariba scandens Aubl. «Brasa». Aramá, beira do rio (1843). Area geogr.: Guyana, Pará. Verbenaceas ISo Avicennia nitida Jacq. «Siriuba», «Mangue branco». Não muito trequente na região dos Furos. Area geogr.: Guyana, Venezuela, Antilhas, Flo- tida, Afr. tropical oceid. Solanaceas o Solantm pensite Sendt. Villa Aramá, n'um terreno roçado (1828). Area geogr. Amazonia, Guyana. Bignoniaceas 192 Cydista aeqguinoctialis Mikan «Cipó de bam- burral>. Aqui e acolà pelos furos . Area geogr.: Brazil sept., Guyana, Venezuela, Antilhas. 183 Adenocalymma foveolatum Bur. «Cipó de poita». 446 Materiaes para a Flora Amazonica Aramá beira do rio (1875). Area geogr.: Pará, Guyana. 184 Adenocalymma spec. (2) Aramá miry (1856). 185 Arrabidaeaspec. exaíff. A. Schomburgkii Klo- tzsch (Guyana). Aramá, beira do rio (1906). 186 Cougalia mora teres bi Macujubim (2215). Area geogr.: Guyana, Pará. Gesneraceas Duas especies (Macujubim 2211 e 2233) subar- bustivas, de flores grandes. Lentibulariaceas 187 Utricularia roldose: Arama miry, beira do rio. Area-geogr : Brazil oriental. Rubiaceas 188 Posoquerita tLatijolia (Lam deocindads Schulth. «Papa-terra». Aramá beira do rio, (1854) Macujubim (2225). Area geogr.: Brazil, Guyana, Trindade, Columbia. 109 Durovtaspec Aramá, na beira d'um igarapé, grande arbusto (1895). ar a a aa Ja dspatamA SS Mira ecoiva sh e " O Adro - Gl ira Doce inteegr? plo rtp sis Tebas ed a cad t r sto Giresit Fo Es Dante SM di qobmae sineve! so duo Dead crias? > ] E ia MA vaduit os GD o f ” E 1a ú é | mo o De a Do e al ep A ço 2 a Ea sat , j E * é . U Ki z a Ea Re a q Ea : O s dede vt = us. E pe POR t j- Ê LA J Ro nr, À 5 “* % k E bo is : A N * = a a ' Ee, y, og a ag ] 4 . * E + be + ' = E cs se » = a 5 E 4 Rosbo RA 8 E a É. e + dá A, : qo “a. ã ++ ud br á aê *p. EE 3 ras Le ge 4 eepei £ & éra lpaedoa dad apbedei, Rope 07 aspecto PRO a á , F = SO a MAPPA dos Furos entre o Rio Amazonas e o Estuario do Pará reduzido do “Mappa do Estado do Pará” do Engenheiro Henrique Santa Rosa, com algumas modificações baseadas sobre os levantamentos de H. Coudreau (O. do Tajapurú) e de J. Huber (Rio Aramá). Sd e À PP alado lado N Fe EMarujubigo e AA e. “ RE POA % f “ Ed . Estabelecimento Graphico C, WIEGANDT PARA. OBSERVAÇÕES: Os traços em preto indicam as beiras do Rio Amazonas e do Estuario do Pará, Os traços pontilhados indicam os limites entre os districtos da Região dos Furos, As flexas — > indicam a direcção das correntezas na vasante, * Encontro d'agua, iq ie = Furos de Breves CONTRIBUIÇÃO A' GEOGRAPHIA PHYSICA DOS FUROS DE BREVES E DA PARTE OCCIDENTAL DE MARAJÓ Pelo De Je HG per (com dois mappas e cinco estampas) Apezar da sua proximidade da capital e do seu facil accesso, a parte occidental da grande ilha de Marajó ea região atravessada pelos furos que ligam o Amazonas com o rio Pará são ainda pouco estudadas sob o ponto de vista da geographia physica. Quasi todos os natura- listas que visitaram o Amazonas deram, é verdade, indi- cações sobre a geologia e a botanica d'esta região, mas estas indicações não passam, em geral, de ligeiras notas aparhadas na passagem pelos furos. Nenhum d'elles, ao que me consta, demorou-se mais de alguns dias n'esta região tão esplendida no aspecto da sua natureza, mas muito inhospita e pouco convidativa para uma jornada prolongada. O primeiro scientista de marca que nos fala d'esta região, o celebre de la Condamine (Relation abrégée d'un voyage fait dans Vinterieur de !' Amérique imeridi- onale, Paris 1745, Pp. 149-153), atravessou-a rapidamente, no fim da sua viagem de Quito ao Pará “setembro 1743). Provavelmente por ter chegado ao termo de uma viagem já tão extensa, o sabio francez não parece ter prestado muita attenção ao labyrintho de canaes, que, para o seu objectivo, eram mais um incommodo que um objecto de admiração e de estudo (p. 153). Assim se explica, talvez, porque limita-se elle a indicar no seu mappa o unico h48 Furos de Breves canal do Tajapurú, pelo qual fez a viagem de Gurupá até a bahia de Marajó. Informações mais minuciosas são fornecidas pelo botanico allemão von Martius, que, em setembro de 1819, subiu em igarité pelos furos, no começo 'da' Sua celebre viagem ao Amazonas. Bem preparado por uma carreira brilhante de scientista e por uma longa viagem pelo Brazil oriental, o notavel naturalista dá, pela pri- meira vez, além de algumas indicações geologicas, uma descripção, embora summaria, da vegetação que acom- panha os furos, e a elle devemos a primeira classificação de muitas especies de vegetaes que a compõem, princi- palmente das palmeiras que alli têm um papel tão impor- tante. Infelizmente as indicações sobre o itinerario não deixam de ser um' pouco confasas; parece entretimão que a viagem foi pelo rio dos Breves, - furo [abamide Uituquara, porque não seria comprehensivel que a via- gem em igarité se tivesse effectuado em 4 dias de Breves até a foz do Tajapurú, passando, como Martius indica, pela foz do Mapua, depois por uma parte do lajapuru e final- mente pelo Jaburú, para chegar de novo à foz do Taja- purú. Martius occupa-se timbem das condições hydro- graphicas da região dos furos; das suas observações a este respeito trataremos no capitulo respectivo A viagem do principe Adalberto da Prussia (1842), descripta pelo Professor Kletke (Reise seiner kgl. Ho- heit des Prinzen Adalbert von Preussen nach Brasilien, Berlin 1857) segundo o diario do principe que foi publi- cado em obra de luxo de difficil accesso, marcam estadio importante na historia dos conhecimentos acerca da região dos furos. Sob o ponto de vista da hydro- graphia d'esta zona, o principe excede, em informações exactas e observações judiciosas, não só os seus precur- sores, mas tambem os seus successores até Hoje MES superioridade explica-se aliás pelos seus conhecimentos nauticos (elle era official de marinha) que o punham em estado de aproveitar melhor que os outros das infor- mações prestadas pelo piloto, que era um tal Albuguer- que. O principe subiu pelos iuros de Breves, Jaburu, Japi- xáua, Uituquára (25-28 novembro 1842) e desceu pelos fu- ros de Tajapurt, Aturiá, e Breves (26-28 dezembro 1842). Elle dá (ob. cit. pp. 723-728) uma relação dos principaes furos que vão do Amazonas ao rio Pará (Tajapurú e Jaburú; o Macaco não é mencionado) e dos mais impor- Furos de Breves 14 tantes furos transversaes, prestando informações exactas sobre as correntezas. Alem d'isto encontramos bôas descripções dos diffe- rentes aspectos da vegetação nos furos, infelizmente com algumas classificações erradas. A. Es Wallace que passou pelos furos em agosto de 1849 (A. Wallace, A narrative of travels on the Am: azon and Rio Negro, London 1853) não entra em muitos deta- lhes sobre o aspecto da natureza n'este trecho da sua viagem. Pelo contrario, Bates, que um mez depois (setembro 1849) tomou o mesmo rumo, navegando em igarité pelos furos de Breves, Jaburú e Uituguára, é muito mais ex- plicito (cf. Bates, The naturakist on the Amazon p. II4). Além de algumas informações geologicas e hvdro- graphicas, a elle devemos principalmente uma bôa des- cripção da vegetação das beiras do Jaburú, com a indi- cação de algumas das plantas mais communs. Com a segunda metade do seculo passado entramos no regimen da navegação a vapor. O accesso d esta re- gião é facilitado mais do que nunca, porém os viajantes, desejosos de ver o celebre Rio- Mar, não se atardam geral- mente nos furos e, subindo uma parte d'elles durante a noite, ficam ainda privados do grandioso espectaculo da sua vegetação exuberante. Assim se explica o pouco progresso que, do tempo de Bates e de Wallace para ca, tem feito a exploração desta região. Os maiores progressos devemol-os aos norte-americanos. Herbert Smith (1) que tanto contribuiu para a geo- graphia do baixo Amazonas, principalmente da região de Monte-Alegre, Santarém e Obidos, não deixou tambem de demorar-se alguns diasem Bréves. Noseu livro «Brazil, the Amazon and the Coast (1879)» elle descreve as feições topographicas e geologicas d'esta região, jun- tando algumas observações sobre a vegetação, princi- palmente a dos arredores de Bréves. Dá tambem uma lista das palmeiras que encontrou por lá, ao todo II especies, e- descreve a extracção da gomma elastica. (1) Não tive occasião de ver o livro de Herndon «Exploration of the valley of the Amazon 1853—54», onde este auctor dá tambem al- gumas indicações sobre a região dos furos. Agassiz («A journey in Brasil» 1868), que passou pelos furos de Aturiá e Tajapurú, fornece algumas notas sobre a vegetação. 450 Furos de Breves Comparando os igapós de Bréves com as regiões visi- nhas da planície de alluvião amazonica, considera-os como formando o typo de um grande grupo de asso- ciações geo-botanicas que elle reune sob o nome de «tide- lowlands», pondo- -os em parallelo com os «varzea-mea- dows» da região de Monte Alegre e Santarem e com os igapós do alto Amazonas. Como se vê, temos aqui um primeiro ensaio de uma subdivisão geo- botanica do valle amazonico propriamente dito. As observações de H. Smith são completadas em mui- tos pontos pelas do professor Hartt (cf. Bol. do Museu Paraense II pp.173-181), que trata da região de Bréves sob os pontos de vista da sua geologia, botanica e hydro- graphia, insistindo, ao que me consta, pela primeira VEL, na origem provavel dos furos como restos d'um antigo braço do Amazonas (cf. p. 177). Teremos de qa par-nos mais adiante desta hypothese que por assim di- zer forma a these fundamental do nosso trabalho. Quan- to aos exploradores mais recentes, falaremos d'elles quan- do a occasião seg apresentar. O NOSSO ITINERARIO No presente trabalho proponho-me a resumir e dis- cutir uma parte dos resultados scientificos d'uma excur- são de dez dias (24 de fevereiro a 5 de março de 1900), feita em companhia dos meus collegas, o pranteado Dr. Karl von Kraatz-Koschlau, então chefe da secção geo- logica, e o Dr. Gottfried Hagmann, auxiliar scientifico da secção zoologica. A excursão comprehendeu, além da viagem da ca- pital ao rio Aramá, uma estada de 6 dias na Villa de Aramá, propriedade dum syndicado belga, cujo repre- sentante, Sr. Herbert Fúrth, nós facilitou com a mãior amabilidade, a exploração des arredores, dos rios Ara- má grande e Aramá-miry, furo do Limão, furo do Breu etc. Como estas excursões menores foram executadas em pequena lancha ou em montaria, tivemos occasião de estudar mais a fundo a vegetação das beiras como tam- bem do interior da mata. Na viagem d'esta capital até ao nosso quartel general, a passagem pelos furos em va- Ou —. Furos de Breves k por, embora rapida, nos deu uma idéa sufficiente da natureza dos terrenos e da vegetação nas suas linhas geraes. Eis o nosso roteiro, desde a sahida de Belém e da travessia das bahias de Marajó e do Limoeiro: rio Mutuacá (no seu curso inferior até S. José de Mutuacá), furo S.“ Izabel, rio Guajará (embocadura) furo de Abaeté, furo ou rio dos Bréves, rio dos Macacos, furos Matamatá grande e Matamatá pequeno, rio Aramá. Na volta, que se fez pelo mesmo caminho até a sahida do rio Mutuacá, entramos no furo de Pracuúba, que separa da costa me- ridional de Marajó um grupo de ilhas, cujas maiores são as de S.º Antonio e da Jararáca. Além d'estes rios e fu- ros, cujo numero é, em verdade, ainda pequeno em com- paração com a infinidade de furos a oeste de Marajó, o autor d'este trabalho teve já antes occasião de estu- dar, a bordo de vapor em diversas viagens ao Amazo- nas (1898, 1899), os furos de Boiussuú, Aturiá, Pra- cachy, Tajapurú, e n uma viagem a Macapá e ao an- tigo Contestado (1895), os furos de S.'º Antonio e da Ci- dade. Uma rapida visita a Bréves é seus arredores, effectuada no anno de 1899, permittiu-me tambem fazer umas observações geologicas e botanicas. A collaboração que devia formar a base d'este es- tudo, foi infelizmente interrompida pela morte prema- tura de um dos meus companheiros. Por isso a parte geo- logica que devia ter maior desenvolvimento, ficou limi- tada às observações feitas em commum e cuja inteira responsabilidade posso assumir. O mapa é o resultado da collaboração de nós tres e o perfil do rio Aramá é trabalho dos meus collegas Drs. von Kraatz-Koschlau e Hagmann. Este ultimo dará opportunamente à publici- dade os resultados zoologicos. E' claro que, mesmo de posse de elementos carto- graphicos mais completos que os actualmente exis- tentes, não seria possivel dar uma descripção completa da região dos furos, senão depois de diversas viagens em embarcação apropriada e exclusivamente destinada a este fim, assim como depois d'uma serie de explorações por terra, feitas methodicamente e, quanto possivel, durante um anno, para ter uma idéa dos differentes as- pectos de vegetação em todas as estações do anno. Por conseguinte o presente estudo não póde ter a pretenção de exgottar o assumpto; o que aliás já se diz pelo titulo. Tendo porém feito um estudo bastante aprofundado h592 Furos de Breves duma região limitada e aproveitado dos resultados obtidos d'esta maneira para a interpretação das obser- vações reunidas na passagem rapida pelos furos, che- guei a alguns resultados que sempre hão de adiantar um pouco os nossos conhecimentos sobre o maravilho- so archipelago que se extende na foz do Rio Mar. HYDROGRAPHIA Sob o nome de «Região dos furos de Breves» deve-se comprehender a area limitada ao norte pelo furo ou mais exactamente paraná-miry de Uituquara, a oeste pelo furo de Tajapurú e sua continuação meridional, o Tajapurusinho, a Jéste pelo rio Macacos e rio dos Breves, ao sul pelas bahias de Portel, Melgaço e dos Bocas. O conjuncto hydrographico assim delimitado Cor- responde à definição do «furo» propriamente dito, isto é de uma communicação entre o rio principal e o seu affluente, acima da confluencia deiinitiva. Como magistralmente mostrou Herbert Smith no appendice do seu livro acima citado (tp. 619-624), O Amazonas entra com quasi todos os seus affluentes em communicação por um ou diversos furos, pelos quaes estes affluentes recebem, ao menos durante a cheia do Amazonas, as aguas d'este rio, acima da verdadeira con- fluencia. A unica differença reside no facto de aqui não se tratar de um só affluente, mas d'um estuario for- mado por grande numero de rios maiores e meno- res. Seria mesmo preferivel fallar não dum Rio Para, como se faz geralmente, comprehendendo sob este ma me um trecho ora mais ora menos extenso do estuario que se extende ao sul de Marajó, mas dum Estuario do Pará, reunindo sob esta denominação toda a serie das bahias, desde a bahia de Marajó ate a de Por tel, senão até a de Cachuana. Em toda a extensas d'estas banhias, a teição Eb fada Ja ao mais importante parece ser o facto de que a maré provoca correntesas con- trarias e não, como na bocca do Amazonas, simplesmente uma represa mais ou menos forte. A parte meridional dos furos está sob a influencia do systema hy drographico do estuario do Pará; a porção septentrional é dependente do regimen fluvial do Amazonas. A particularidade hy- Furos de Breves hoS drographica da região dos furos reside nesta depen- dencia de dois systemas hydrographicos de caracter di- fferente. Entretanto os phenomenos provocados pelas marés são os mesmos na maioria dos furos, tanto nas embocaduras septentrionaes como nas meridionaes. De ambos os lados a agua entra com a enchente e sahe com vasante, porque a simples represa das aguas do Ama- zonas provoca, nestes canaes lateraes, correntezas se- melhantes ás dos verdadeiros fluxo e refluxo no domi- nio do estuario do Pará. Importa agora, antes de tudo, saber onde se acha, nesta rede de canaes, a zona da neutralisação destas duas influencias. O ponto onde se encontram, num furo determinado, a influencia hydrographica do rio Ama- zonas e a do estuario do Pará, é chamado, pela gente do paiz, pelo termo technico muito apropriado de «en- contro d'aguas». E' claro que os «encontros d agua», isto e. os pontos onde theoricamente as correntezas de maré do Amazonas e do estuario do Pará se encontram, pra- ticamente não são pontos bem definidos, mas zonas mais ou menos extensas, mesmo por causa do nivel variavel do Amazonas e do rio Pará respectivamente. Alem d'isto é de observar que a gente do paiz não póde tomar em conta senão as correntezas superficiaes que certamente não concordam sempre com o movimento das aguas no fundo d'estes canaes relativamente estreitos e profundos. Apezar d'estas restricções, a determinação dos «encon- tros d'agua» é uma das questões fundamentaes para a comprehensão do regimen hydrographico dcs furos. Colhendo informações de marinheiros e da gente da pro- pria região e confrontando-as com as minhas observa- ções pessoaes, cheguei aos resultados seguintes: Existem 3 furos de primeira importancia, mais ou menos paralleios entre si, e com uma direcção geral de NaS—o Tajapuriú,o Jaburúeodos Macacos. Todostres são reunidos, na sua extremidade S, que é a parte mais estreita da facha de terras percorrida pelos furos, pelo importante furo Aturiá, que póde-se considerar como uma ramificação oriental do Tajapurú, dividindo toda a região em duas secções desiguaes: a secção septentrio- nal, que é a mais importante, e a secção meridional que tem só metade da extensão da primeira. O Jaburúeo / a 11—( BOL. DO MUS, PARAENSE — e a TED A RD em me mi cm. DO nan a ema ah Da = E cad DD aguas o cuzo oo Pai Furos de Breves bre Ca [a Macacos pertencem exclusivamente à secção septentrio- nal. O encontro d'aguas no vio Macacos se acha nas proximidades da bocca do igarapé Angelim, affluente que vem do interior da ilha de Marajó, desembocando no Macacos quasi no meio do seu curso, no angulo for- mado pela secção septentrional que corre NO-SE, com a secção meridional que dirige-se NE-SO. D'este ponto as aguas do rio Macacos correm, durante a vasante, dum lado parao Amazonas, do outro lado para o estuario do Para. E um «divortium aquarum», embora apenas esboçado. No Jaburi, o encontro d'aguas se acharia um pouco mais para o norte; segundo o principe Adalberto da Prussia (Ob. cit. p. 725) elle seria na embocadura do fu- ro das Ovelhas, um dos muitos que ligam o Jabu- u com o Tajapurú. Ao que me consta, o Macacos eo Jaburú são independentes um do outro e não têm nenhuma communicação entre si, abstracção feita dos furos que os ligam nas suas extremidades N e S. Entre o Jaburú e o Tajapurú, pelo contrario, as commu- nicações são numerosas, sendo as mais importantes, de Nas, as seguintes: furo de Boiassú, furo da Compa- nhia e furo de Macujubim. Seria interessante cons- tatar, por pesquizas methodicas, se a posição do encon- tro daguas no Jaburúnão é devida em parte ao facto das aguas do Tajapurú entrarem, coma enchente, pelos fu- ros transversaes no Jaburú. O Tajapurit, sem duvida o mais importante de todos os furos, quer pela largura e profundidade do seu leito, quer pela força das corrente- zas, differe tambem dos outros furos pelo facto de não ter encontro d aguas, correndo sempre na direcção do Ama- zonas ao Para. Affirmam isto não só os moradores da re- gião, mas tambem alguns autores, p. e. Martius (ob. cit. p. 937) e o principe Adalberto da Prussia (ob. cit. p.725). Hartt, que insiste muito n este facto (ob. cit. p. 178), pensa mes- mo que «o escôamento das aguas do Amazonas pelos furos é constante, variando sómente de velocidade». Coudreau, na sua obra «Voyage entre Tocantins e Xingú», (p. 91), diza respeito do Tajapurú: «Dans ce canal, quil v ait montant ou perdant, le courant est tou- jours de Jest à Iouest, de | Amazone vers le Tocantins. Au montant la rapidité du courant, vers la Bahia do To- cantins est à peu prêés, au centre du canal, aussi forte qu'au perdant, mais, sur les rives, Icau esta peu prês arrêtée. En somme, le montant est surtont caracterisé Furos de Breves 459 par Velévation du niveau de Teau». E' verdade que outros affirmam o contrario. Wallace p. e. fala d'um encontro d'aguas no Taja- purú (ob. cit. p. 415), e um dos melhores conhecedores actuaes das coisas da Amazonia, o Barão de Marajó, assi- gnala, no seu livro «As regiões Amazonicas» (p. 209) O facto que diversas vezes quando vinha do Amazonas pelo Tajapurú, elle tinha de luctar, durante horas, contra a correnteza de enchente que subia por este furo, vin- da do rio Pará. Como explicação d'estas contradicções manifestas entre bons observadores, eu vejo duas even- tualidades: 1º que as observações foram feitas em diver- sas estações do anno, sendo a corrente do Amazonas só capaz de vencer a maré do estuario do Pará em certas épocas; 2º que a divergencia das opiniões resulta da concepção diversa que existe sobre a extensão do furo Tajapurã. E' claro que só observações methodicas feitas durante um ou diversos annos pódem fixar idéas sobre o pri- meiro ponto; sobre o segundo seja-me licito dar uma pequena explicação. Emquanto que os furos Macacos e Jaburú perdem os seus respectivos nomes n aquella zona mais estreita atravessada pelo furo Aturiá, onde com effeito é o termo meridional do seu curso, o Taja- purú divide-se, n aquella mesma zona, n um grande nu- mero de braços, dos quaes o mais occidental é o Tajapu- Túsinho e o mais oriental o Aturiá. Um d'estes braços que vae directamente à bahia de Melgaço é geralmante considerado como continuação do Tajapurú, não pare- cendo entretanto ser mais importante que os outros bra- ços do furo principal. Parece-me que todos os furos ao sul do Aturid, inclusive este mesmo, devem ser considerados como braços do Tajapurú, formando uma especie de delta que avança no estuario do Pará. Não póde agora admirar que nestes braços do delta, sem excepção daquelle que conserva o nome de Tajapuru, as marés do estuario do Pará tenham uma influencia mais forte que no furo principal, vencendo às vezes a correnteza que vem do Amazonas e que naturalmente fica conside- ravelmente enfraquecida pela divisão em muitos braços. Nos furcs de Bréves e de Boiussú em todo caso, a cor- renteza póde ficar invertida durante a enchente, como eu mesmo tive occasião de observar, 156 Furos de Breves Como fiz entrever mais acima, é provavel que durante a enchente o furo Tajapurú, recebendo do norte as aguas represadas do Amazonas e sendo elle mesmo repre- sado na sua secção meridional pelo fluxo do Pará, des- peje uma parte das suas aguas nos furos transversaes que o ligam com o Jaburú e talvez mesmo pelo Aturiá no rio Macacos. Assim se explicaria que os encontros d'agua n'estes dois furos (Jaburá e Macacos) se acham mais ao norte do que se deveria suppôr tomando em con- taa massa d'agua do Amazonas e do rio Pará respecti- vamente. Entretanto não póde haver duvida de que o Tajapurú despeja no Pará, ao menos durantea maré vazante, uma grande porção d agua recebida do Amazonas. A prova se acha no facto de, mesmo nos furos me- ridionaes, onde as marés provocam correntezas contra- rias, a vasante durar mais tempo que a enchente, sendo tambem a correnteza mais forte. Um calculo muito sim- ples apoiará esta asserção: Segundo o Capitão José da Costa Azevedo (Barão de Ladario), «Trabalhos hydrographicos do Norte do Brazil», Carta do Amazonas, 10º folha, (1862-1864), O rio dos Bréves tem, em frente da villa de Bréves, uma correnteza de 2 ou 66 cm na vazante, que dura 7 horas, de 1,5 ou 49,5 cm na enchente, que mia só 5 horas. Admittindo que o rio dos Bréves tenha uma largura de 200 m e uma profundidade media de Io m, O que provavelmente fica abaixo da realidade, chegamos pelo calculo ao resultado de que durante uma vasante passam, em frente de Bréves, 33.264.000 metros cubicos dagua, emquanto que, durante a enchente, pas- sam só 17.820.000 metros cubicos. O rio Para recebe por conseguinte a cada vasante o excesso de 15.444.000 metros cubicos dagua, que com certeza vêm na sua quasi totalidade do Amazonas. Contando, para o con- juncto dos furos meridionaes, o quadrupio d esta quanti- dade. c que com certeza não é exagerado, chegamos a mais de 60 milhões de metros cubicos d'agua que O Amazonas despeja pelo Tajapurú no rio Para durante uma vasante. Posto mesmo que durante a enchente nem uma gotta d'agua passe do Amazonas ao rio Pará, temos aqui uma contribuição importante do Amazonas para O estuario do Pará. Pouco nos importa por ora se esta massa d'agua é superior à fornecida pelos nume- Furos de Breves 151 rosos affluentes do estuario do Para, o resultado mais importante para nós é o facto, agora bem estabelecido, de que pela região dos furos de Bréves passa ainda actualmente uma parte da agua do Amazonas para o estuario do Pará A opinião contraria de la Condamine (ob. cit. p. 153), partilhada tambem por Bates, Wallace e o Barãc de Ra naiO; se acha assim definitivamente refutada. Ao mesmo tempo creio ter evitado os exageros de Martius, Hartt e outros, baseados em parte sobre informações inexactas (1). No capitulo seguinte veremos que segundo toda a probabilidade a communicação pelos furos era antiga- mente mais aberta e que um largo braço do Amazonas passava por esta região, trazendo ao rio Pará uma massa d agua incomparavelmente mais importante que actualmente (cf. tambem Hartt, ob. cit. p. 177). Tomando isto em conta, não hesito em acceitar a opinião de Hartt e Coudreau, considerando o rio Pará como uma embocca- dura do Amazonas e o Tocantins como um afiluente delle. Na parte NO de Marajó estende-se uma região se- melhante em suas feições geraes à região dos furos de Bréves. Esta região, que poderia chamar-se, segundo os seus cursos d agua mais importantes, a região do Ara- má e do Anajdz, é tambem atravessada por um grande numero de canaes naturaes, que communicam entre si, formando uma perfeita rede. Como os furos de Breves, elles são sujeitos às fluctuações das marés, mas de- pendem exclusivamente do Amazonas e não têm mais nada a fazer com o systema hydrographico dorio Pará. Alguns d'elles apresentam-se como a continuação de cursos d agua que são os desaguadouros da parte NO de - Marajó, recebendo por isso a denominação de «Rios» (rio Aramá, rio Anajás, rio Afiuá etc.), mas na reali- dade elles se caracterisam todos como simples canaes do Amazonas. Em toda esta rede de canaes, a enchente que faz tufar o Amazonas, produz uma correnteza ascendente, (1) Martius diz p. e. ter subido o furo de Bréves a favor da va- zante (ob. cit. p. 995). Se elle pensa que a correnteza vindo do Ama- zonas é mais forte durante a enchente (cf. p. 987) que durante a va- zante, com certeza isto é só applicavel à parte septentrional dos fu- ros, onde a influencia do estuario do Pará não se faz mais sentir. 458 Furos de Breves emquanto que com a vazante a agua corre para o lado do Amazonas. No Aramá (Villa Aramá) a differença do nivel das . marés é de 1,5 m mais ou menos, emquanto que em Bréves a mesma differença importa segundo Costa Azevedo em 1,32 m—1,76 m, e nas aguas vivas em 3,52 m. Na topographia, na constituição geologica e na vege- tação, esta região apresenta muita analogia com a re- gião dos furos de Bréves. Como estes são provavel- mente um resto duma communicação franca entre o Amazonas e orio Pará, assim os furos da região do Aramá e do Anajás correspondem provavelmente à entrada d um largo braço do antigo estuario amazonico, hoje entulhado e obstruido, mas cujos vestigios ainda são conservados nos Mondongos. Pelas viagens do arrojado explorador Henry Cou- dreau ficou provado que as terras a oéste do furo de Tajapurú, onde os antigos mapas indicavam apenas uma mancha de contornos vagos com a indicação «laguna», é cortada por um certo numero de furos, que, actual- mente mais ou menos obstruidos pelos sedimentos e pela vegetação, formavam antigamente communicações importantes entre o Amazonas de um lado, o Taja- purú e as «bahias» do outro lado. Não me parece e travagante suppôr que primitivamente o Amazonas corria por aquella região em braços largos, cujos mais . importantes corresponderiam, um ao actual rio Laguna, o outro, mais meridional, ao rumo indicado pelo furo da Laguna, parte da bahia de Camuim, largo de Pacajahy, furo de Pacajahy, bahias de Portel, Melgaço e dos Bocas. Esta região, que póde-se chamar a região da Laguna e das Bahias, tem tambem, segundo Cou- dreau, muita analogia com a região dos furos de Bré- ves. Actualmente o Amazonas não parece mais influir na hydrographia d'esta região, que está exclusivamente sob o dominio das marés do estuario do Para. Resumindo as observações precedentes, podemos distinguir, na região a oéste de Marajó, tres districtos bem delimitados: Districto ou região dos Furos de Bre- ves propriamente ditos. Os cursos d a- gua estão em communicação franca de um lado com o Amazonas, do outro lado ] e e | Furos de Breves 459 com o estuario do Pará, e mais ou me- nos sujeitos ás fluctuações das marés provenientes de ambos os lados, que provocam n'ella quer um «encontro d'a- guas» (Jaburú, Macacos), quer uma sim- ples represa das aguas do Amazonas durante a enchente ( Tajapurú). Districto ou região do Aramã e do Anajaz. Rede de canaes naturaes que dependem só do pulso do Amazonas, communicando de um lado com este, do outro lado com os desaguadouros da parte NO de Marajó, que os põem em communicação com os mondongos. 3.º Districto ou região da Laguna e das Bahias. Furos obstruidos pelo lado do Amazonas, abertos do lado do es- tuario do Pará e dependentes das marés d'este. Quanto ás feições hydrographicas geraes dos furos, go referir- -me à 1 descripção magistral de Hartt (ob. cit. pag. 173— 178), juntando apenas algumas observações E ou informações encontradas na litteratura. Largura e profundidade. Herndon indica a largura dos furos em 45-460 m, a profundidade em 10-55 m; como se vê, à profundidade é consideravel em relação à largura. O perfil do rio Aramá que acompanha o nos- so mappa da região do Arama, póde dar uma bôa idéa das relações entre largura e profundidade n um furo im- portante. O Tajapurú tem provavelmente um perfil se- melhante, talvez com os taludes ainda mais abruptos, em- quanto que o Macacos parece ser menos fundo em todo o seu curso. Nos alargamentos dos furos e nos taes «lar- gos» e «poções», onde se encontram diversos furos, ha quasi sempre praias de iodo e muitas vezes bancos de areia (como p.e. na confluencia do furo Mata-mata grande e do rio dos Macacos, em frente da Bocca do Matto-grosso), que pódem dar origem a ilhas novas. Na região da Laguna, os furos, obstruidos e ás vezes cobertos por um tapete de canna-rana fluctuante, têm apezar disto ainda uma profundidade de 4 a 8 m. (cf. Coudreau ob. cit. pag. 77). Correntezas e oscillações de nivel. Quando se entra nos furos, vindo do Amazonas, ha duas coisas que dão 60 Furos de Breves logo na vista: a correnteza mais fraca e o nivel d'agua pouco variavel nos furos. Já expliquei o primeiro phe- nomeno, oceupar-me-ei por conseguinte só do segun- do. Descendo o Amazonas na época da vasante, vê-se perfeitamente que as ribanceiras altas, os taludes co- bertos de canna-rana e as praias extensas, ficam cada vez mais reduzidos quanto mais se avança para a em- bocadura do grande rio. Pouco acima de Gurupá ainda avistam-se taludes de canna-rana e ha alguns trechos onde a mata littoral, minada pela correnteza, cahiu n'a= gua e onde a beira mostra as chanfraduras caracteristi- cas, deixando ver, m um córte praticado na florestalMos troncos nús e a vegetação arbustiva do «sous-bois». Nos furos, nada disto, ou apenas alguns traços. Como Hartt ja fez observar (ob. cit. P. 174), Os furos pa- recem «sempre entúmescidos, como si estivessem com uma enchente». Na vasante as margens ficam apenas um a dois me- tros acima do nivel d'agua, e raros são os pontos onde pôóde-se ver uma acção da correnteza sobre as beiras. Na enchente a agua sóbe geralmente de 1-1,5 me- tros mais ou menos e então os arbustos littoraes pare- cem pousar directamente sobre a agua, roçados pela correnteza branda. No Aramá a oscillação do nivel nas marés das syzigias 6 de 1,5 m, Ce a talicrença pro- vocada pela enchente e vasante do Amazonas é igualmente de 1,5 m., de maneira que a amplitude to- tal das oscillações do nivel do rio é apenas de' tresimes tros. Em Bréves as oscillações são um pouco maicres (cf. p. 457) A agua. Nos furos é bastante barrenta, muito mais turva que a do rio Para, e mesmo mais turva) QUERA do Amazonas. Sobre este ponto temos uma indicação positiva n'um trabalho de Kaizer («Das Wasser des unteren Ama- zonas» in SERA der Kgl. bôhmischen Gesell- schaft. der Wissenschalten 1807)" ondemse encontra, sobre o resultado da analvse duma amostra d'agua ti- rada no furo de Bréves, perto da beira (1) a observação (1) Katzer diz ter colligido a agua durante a enchenté, indo a correnteza do Amazonas ao rio Pará, e accrescenta n'uma nota em bai- xo da pagina, a observação seguinte: «Esta correnteza tem sempre logar, com excepção talvez das marés mais fortes, e por conseguinte Furos de Breves 461 seguinte: «A agua do canal de Bréves contem, por litro, 0,0825 gr de materias em suspensão e destas ma- terias mais da metade pódem-se queimar. A quantidade total das materias organicas contidas num litro da agua de Bréves é de o, 3849 gr ao lado de 0,0703 gr na agua do Amazonas em frente de Obidos, isto é 5 1/2 vezes mais. Comprehende-se isso facilmente, já porque os es- treitos canaes das varzeas de Bréves recebem sem duvi- da mais detritos organicos, já porque estes com certeza, em consequencia quer da velocidade menor da corren- teza, quer das represas durante a enchente, conservam-se mais tempo que nas immensas aguas do Amazonas. A grande quantidade de materias em suspensão na agua do canal de Bréves poderia aliás ter em parte a sua cau- sa na circumstancia de ter sido tirada perto da beira». Tomando em conta esta restricção feita pelo proprio autor, a grande quantidade de materias organicas e das materiãs em suspensão (esta ultima é de 3a 4 vezes maior que na agua do Amazonas em frente de Obidos) não fica por isso menos notavel. Igarapés e igapós. Ao lado dos furos propriamente ditos, que têm sempre escoamento nas duas extremida- des, distingue-se os igarapés, que são affluentes d'a- quelles. Os igarapés, que têm quasi sempre agua preta e que recebem só de vez em quando, com as marés, uma certa quantidade de agua turva dos furos, muitas ve- zes não são outra cousa senão tambem furos muito estrei- tos escondidos na mata, mas abertos nas duas extremi- é muito justo fallar duma embocadura do Amazonas— Tocantins, so- bre a qual é situada a capital do Pará. A indicação contraria de la Wondamine («.. cine ) está reconhecida como inexacta já ha muito tempo e não, como Schichtel (der Amazonenstrom DP: 09) patece'crêr, só do anno 1870 para cá». Só posso explicar a primeira d'estas asserções pela circumstancia que o auctor foi mal informado ou comprehendeu mal as informações, porque a enchente provoca sempre uma corrente contraria no furo de Bréves (cf. p. 456). Isto resulta tambem das indicações do mappa de Selfridge citadas por Schichtel. E” claro que este auctor preferia basear a sua opinião sobre indicações positivas, em vez de confiar nas indi- cações de viajantes, embora illustres, mas muitas vezes mal informa- dos. Parece-me que apezar de eu não ter entrado na discussão de to- das as opiniões, resulta bastante da minha exposição precedente, que as objecções feitas à interpretação da le Condamine não estão sem- pre de accordo com os factos. Em geral tenho a impressão que a dis- cussão sobre este assumpto debatia-se entre extremos contrarios mas que a verdade, entretanto se acha no meio. Furos de Breves = So bo dades. Geralmente, porém, elles tomam a sua origem n uma parte pantanosa da floresta, num igapó. Ao lado dos igarapés se acha quasi sempre uma facha mais ou menos larga de floresta alagada ou igapó. Com cada maré a cofrenteza entra, não. só nos ma ros e nos igarapés, mas tambem nos igapós, que repre- sentam, no seu conjuncto, provavelmente uma superficie ainda maior que aquelles. E” difficil obter uma idéa- exacta da superficie alaga- da com cada maré por causa da mata fechada que cobre toda a região, mas é de suppôr que no verão a area inundada é quasi tão grande como a area secca, ao menos nas aguas vivas. Na estação das chuvas toda a região fica debaixo d agua durante as enchentes, com excepção de algumas ilhas de pouca extensão (cf. Coudreau, pag. 99, e o nosso mappa do Aramá). GEOLOGIA Entre as innumeras ilhas que se acham dispersas no largo estuario do Pará, pódem-se distinguir duas cate- gorias bem distinctas quanto à sua constituição geologica. A primeira categoria abrange as ilhas antigas, formadas de depositos arenosos e argilosos com uma ou diversas camadas do característico grês do Pará, que é geralmente coberto por uma camada de areia argilosa amarella (a «terra amarella» dos Paraenses). Estas ilhas, que correspondem na sua constituição geologica à terra firme do Pará e aos terrenos situados entre o Guamá e o Oceano (1) se acham sómente na parte inferior do rio Pará. As ilhas' de Arapiranga, Cutijuba e Tatuoca assim como muitos trechos da costa SE da ilha de Marajó, entram n'esta categoria. A segunda categoria comprehende as ilhas novas formadas por alluviões recentes, e que ainda se formam sob os nossos olhos. Na parte inferior do rio Pará, só poucas ilhas pertencem a esta categoria, e estas acham-se juasi sempre em frente da embocadura d'um afíluente, como p. e. as ilhas entre Arapiranga e Cutijuba de um lado e a terra firme do Pará do outro. (1) cf. Kraatz-Koschlau e Huber «Zwischen Ocean und Guamá», on- de se trata tambem da edade geologica provavel d'estes sedimentos (pag. 5 e 8). Furos de Breves AG3 Da foz do rio Tocantins,porém, para cima, até Breves e pelos furos, até Gurupá, não me consta uma só ilha onde appareça a pedra caracteristica do Pará na super- ficie. Todas as ilhas, grandes e pequenas, que se acham entré os canaes da Região dos Furos de Bréves, perten- cem portanto à categoria das ilhas novas, de formação Pocente. De Martius (ob. cit. p. 993) para ca, todos os auto- res que têm tratado da geologia da região dos furos, são de accordo em consideral-a como sendo de formação Rec mien lata ob. cit. p. 177; Sschichtel «Der Amazo- nenstrom» p. 107). Na superficie dos igapós e das varzeas que ainda se alagam com intervallos regulares, a sedi- mentação, embora reduzida a uma camada annual imper- ceptivel, está sempre continuando. N'estes logaresa agua das marés que chega a penetrar no interior das florestas (em parte misturada com a agua represada dos igara- pés), só tem em suspensão materias muito finas ou muito leves formando uma terra argilosa, rica em humus. Como os terrenos não regula mente alaga- dos formam excepção na região dos furos, o solo é, em toda a parte onde se pisa, uma argila compacta e plastica. Mesmo nas varzeas um pouco mais altas, que não se alagam todos os annos, ficando ás vezes só uns centimetros,ás vezes até um metro,fóra d'aguanas enchen- tes dos equinoxios, encontramos tambem sempre uma terra argilosa, porém geralmente amarellada, ao passo que a do subsolo dos igapós é cinzenta. Num d'estes pontos relativamente altos, à beira do rio Aramá, a exca- vação dum poço de ro metros de profundidade, que tivemos ensejo de presencear, mostrou o perfil seguinte 1 m. Barro amarello, rico em humus na par- terstperior. 9 m. Barro azul-cinzento, plastico, muito fi- no e unctuoso, contendo pequenos fra- gmentos pretos, visiveis a olho nú. Uma bôa porção d'este barro azul foi lavada em diversas aguas e deu finalmente um deposito quasi preto, formado principalmente de materias vegetaes. O exame microscopico revelou a existencia, neste producto da lavagem, de ingredientes diversos que não deixam de apresentar um grande interesse. São os seguintes: 464 Furos de Breves 1.º Fragmentos irregulares e angulosos de quartzo e de outros mineraes incolores, dum diametro de 0,05-0,1 mm. 2.º Plaquinhas verdes de mica, geralmente com muitas inclusões. 3.º Agulhas de esponjas d'agua doce (Spon- gilli dae), de fórmas muito diversas. A. Esqueletos de Diatomaceas, principal- mente de especies grandes de Cos nodiscus e Triceratium, e de Polymyxa coronalis. Fragmentos de radicellas, unicos ingre- dientes que podiam- se distinguir no barro a olho nú. Por um estudo anato- mico aprofundado e comparação com materiaes vivos, cheguei à certeza que se trata das radicellas do Panicum ample- cicaule, Graminea que ainda hoje é uma das principaes plantas littoraes do Ama- zonas e bem conhecida pelo nome de «canna-rana». Fragmentos irregulares de origem vege- tal, mais ou menos carbonisados, inde- terminaveis. Fo Quanto aos ingredientes que pertencem «ao rea mineral, não me julgo competente para tirar qualquer conclusão da sua presença. Observarei apenas que tudo faz crer que elles seacharam, como a argila, em suspensão na agua que produziu o sedimento em questão. Os restos organicos, e principalmente os de origem vegetal, permittem pelo contrario algumas conclusões, que têm uma certa importancia para Os nossos conhecimentos da historia geologica da região dos furos. As grandes Diatomaceas dos generos Coscinodis- cus, Triceratium e Polymyxa não se acham mais hoje no rio Aramá; ao menos não achei a minima indicação da sua presença em todas as amostras das pescas planc- tonicas que foram feitas n'esta região, tanto na enchente como na vasante, pelo Dr. IHagmann, que teve a bon- dade de pol-as à minha disposição para as verifica- ções necessarias. As especies grandes dos generos Coscinodiscius e Triceratium se acham actualmente, na costa do Para, Furos de Breves L65 só na agua francamente salobra. No plancton do porto do Pará encontrei apenas alguns exemplares d'estas especies, mas achei-as em maior numero na embocadura do rio Pará (Katzer ob. cit. p. 10 cita tambem o Coscinodiscus gigas como frequente na agua da enchente colligida perto do Mosqueiro) e em grande quantidade na costa do Salgado (Salinas, rio Japirica). Ainda mais interessante é a Polymyxa coro- nalis, descripta pela primeira vez por Loring W. Bai- ley no «Boston Journalof Natural History» 1861 p. 341. Esta Diatomacea (1), muito bonita e originalissi- ma, ainda não foi encontrada fóra do rio Pará, onde é frequentissina, formando a maior parte do plancton. Bailey ja insiste n este facto; e, com effeito, em todas as amostras de pesca planctonica que tenho visto, proveni- entes do rio Pará em toda a sua extensão até a entrada dos furos de Bréves, esta especie é o elemento caracte- ristico e predominante. A presença d'estes restos organicos na argila azul das beiras do rio Aramá é um facto interessante e pa- Tece provar a existencia, n esta região, de uma communi- cação antiga mais larga com o oceano e de uma agua francamente salobra. Os fragmentos das radicellas de Panicum ample- xicatlte indicam, tanto pela sua enorme frequencia quan- to pela sua excellente conservação, que esta Graminea cresceu antigamente no logar mesmo onde os seus restos se acham depositados. Ora, o poço acha-se a uns 100 me- tros distante da actual beira meridional do rio Aramá, n um terreno d'antes occupado pela floresta. Parece portanto que antigamente o canal era mais largo e marginado por uma vegetação de canna-rana. Seria interessante verificar, por excavações methodica- mente feitas, a extensão vertical e horizontal do barro azul tal como foi encontrado por nós. A sua constatação em diversos logares poderia dar indicações preciosas sobre a antiga extensão dos furos. Quanto ao rio Ara- ma, a agua salobra e a communicação mais directa com o oceano, postulado exigido pela presença das Diato- maceas acima citadas, facilmente se explicaria pela sup- (1) Schutt (Natiúrliche Planzenfamilien, Bacillariaceae p. 37—74) faz entrar o Polymyxus no genero Actinoptychus Ehrenberg. 166 Furos de Breves posição de que n'aquelle tempo a embocadura do Amazo- nas correspondente hoje aos Mondongos, não estava ain- da obstruida. Com effeito o Aramaã representa, pela direcção “do seu curso, uma das entradas d'aquella antiga embocadu- ra do Amazonas. Uma confirmação d'esta supposição se acha ainda no facto, observado por mim, que a Polymy- xa coronalis é frequente n uma amostra de tijuco paes veniente de Pacoval, na costa atlantica de Marajó. A areia é rara na superficie da região dos furos. As son- dagens dos meus collegas no rio Aramá mostraram entre- tanto que no leito d'este furo se encontra areia branca bas- tante grossa e bem pura à profundidade de 2o” para baixo (cf.o perfil no nosso mappa). E provavel que uma camada de areia semelhante se ache no fundo de todos os canaes e se estenda tambem por baixo do barro azul. Nas partes mais largas e nos cruzamentos dos furos encontram-se baixos formados por bancos de areia. Na superficie das ilhas, a areia apparece com certeza só em poucos pontos. O typo d'estas ilhas em parte arenosas, é o pedaço de terra fim me sobre o qual é constratda a cidade de Breves: Martius (ob. cit. p. 1001) diz terencontrado emas ves o grês ferruginoso característico do Pará e sup- poz que uma camada d'esta rocha se estende sobre toda a ilha de Marajó. Ora, se a pedra do Para existia ante gamente em Bréves, era provavelmente em tão pequena quantidade que agora não se vê mais vestígio algum d élla. Hartti (ob. cit. p.174) encontrou «perto da villa, uma exca- vação que mostrava serem as camadas proximas à superfi- cie compostas de barro branco, fino, misturado de areia.» Fu mesmo encontrei, na cidade de Bréves, alguns logares ondea camada superficial era umaareia bastante fina. Ape- zar das duvidas sobre a presença da pedra do Pará, ailha de Bréves, que aliás tem só pôucos hectares de extensão, mostra, na sua feição geologica, mais analogia com certos trechos de terra firme que com as outras ilhas da região dos furos. Provavelmente ella tem a mesma edade geolo- gica que certas partes da costa S E de Marajó,- algumas das ilhas do; rio. Para.e a terra: firme do Paralama mo. À extensão consideravel destes terrenos naleoail S E de Marajó (onde elles aliás não são continuos mas interrompidos por terras baixas), como tambem o facto de serem elles em partes cortados a pique e roidos pelas aguas do rio Pará, induziu Agassiz, e depois d'elle ou: Furos de Breves 467 tros autores, a suppôr, «que a ilha de Marajó, assim como todas as da embocadura (do rio Pará), excepção feita de algumas ane de alluvião, faceis de co- nhecer pelo seu aspecto, faziam parte do mesmo todo com a mesma den Ed do grande valle amazonico, o qual se continuava com a terra firme (2), sendo d'ella separada pela corrente de aguas doces do rio que abriram caminho para o mar, e tambem pela acção constante e invasóra do mar» (Barão de Marajó ob. cit. Pp. 302-303). (1) Parece-me entretanto, que esta conclusão não é necessaria, mas que é muito mais natural suppôr que estas ilhas existiam como taes desde a formação dos sedimentos que as emnçe em, tanto mais que, ao menos na proximidade do rio Pará, as suas camadas «não são (segundo a phrase de Hartt) continuas sobre grandes areas como suppoz o Prof. Agassiz, apresentando antes o caracter de depositos locaes cujas secções variam muito nas diversas localidades». Ao meu vêra ilha de terra firme de Breves, ao par dos trechos de terra firme do S E de Marajó e das ilhas em frente do Pará, não se devem consi- derar como. uma parte desligada da terra firme, mas sim- plesmente como uma d'aquellas ilhas mais antigas do archipelago do Para, embora talvez reduzida considera- velmente em tamanho depois de sua formação. Do mesmo modo que, no curso superior do Amazonas, as ilhas formadas pelo rio são muitas vezes àrrazadas em parte pela correntezas, servindo depois outra vez de apoio para o deposito de novos sedimentos, assim tambem as antigas ilhas do curso inferior do estuario, roi- das de um lado pelas correntezas dos mares, servem do outro lado de apoio aos novos sedime ntos, com a diffe- rença entretanto, que no segundo caso é muito maior O (1) Agassiz (A journey in Brasil 1868) invoca ainda para a sua maneira de ver a presença, dos dois dos do rio Pará, de restos de antigas florestas invadidas pelas areias (p. 387), concluindo assim : «There can hardly be more convincing evidence that the rivers which empty into the Amazons near the mouth, like all those higher up, as well as the main stream itself, have cut their way through iden- tical formations, which were once continuos. Evidently these remains of forests on the beaches of Vigia Bay and at the month of the Igara- pé-grande are parts of one forest, formerly uninterrupted and cover- ing the whole of the intervening space now filled by the so—called Pará River». Visto que se trata neste caso de florestas essencialmen- te littoraes (mangal ou ciriubal), a interpretação de Agassiz perde toda a probabilidade, 468 Furos de Breves lapso de tempo que separa os sedimentos antigos dos modernos, ORIGEM PROVAVEL DA REGIÃO DOS FUROS Influencia da vegetação na sua formação. Nos seus tra- ços geraes, a formação da região dos furos foi bem des- cripta por Harti (ob. ei p: 177) nos seguintes termos: «Supponho que, em época não muito remota, quando a terra estava mais baixa do que actualmente, corria atravéz da região de Bréves uma larga corrente do rio principal para o estuario do Pará. Essa região, porém, sujeita a acção da maré, naturalmente havia de ser uma d'aquellas em que, especialmente em conse- quencia do crescimento de mangues e outras vegetações de pantanos, a agua, ficando estagnada na prêa-mar, ra- pidamente depositaria sedimento, do qual resultariam a formação e o desenvolvimento de ilhas e varzeas, € O estreitamento e aprofundamento de canaes mais ou me- nos bem definidos, que nunca foram explorados». Mas este processo de formação de ilhas e: estreita- mento de canaes ainda não está terminado. Com effeito, a prova mais irrefutavel para a origem recente das ilhas que compõem a região dos furos, é sem duvida o facto, que ainda hoje pódem- -se Observar todos os esta- dos successivos da sua formação, em exemplos quasi theoricamente juxtapostos (cf. estampas). Ilhas em via de formação encontram-se principalmente nos trechos mais largos, nos cruzamentos e na sahida dos furos pelo lado do estuario do Pará, como tambem nas embocaduras de diversos rios e furos ao Sul de Marajó (Mutuacá, Piria, Guajará etc.). O primeiro indício duma ilha nova é um baixo de areia que depois de algum tempo se transfor- ma num banco de tijuco, sobre Sahindo da agua apenas na baixa mar e completamente despido de vegetação. E' claro que estes bancos não se pódem formar senão em logares onde a agua fica quasi estagnada, ao menos durante a maior parte do tempo. O segundo periodo da formação das ilhas começa pela apparição da vegetação que, no seu desenvolvi- mento, segue uma marcha d'uma regularidade admira- vel, devida aos arranjos de disseminação e ao modo de Yvr + SU "SONIA OP SOANÍ SOP VPVAQUI D ie WA Peter ico 6) Eva onças EPP REGE il dna, U SVZOU SV)] RAT o Santi a PA A e, 48 ro abr tn Furos de Breves 169 crescimento das plantas em questão. São duas as plantas que apparecem geralmente como primeira vegetação nas ilhas novas, cobrindo-as em toda a sua extensão: a aninga (Montrichardia arborescens Schott)e o aturiã (Drepanocarpus lunatus Meyer). Ambas estas. plantas têm sementes que podem boiar durante algum tempo na superficie d'agua, juntando-se facilmente nos logares es- tagnados. À aninga tem, alem disto, uma grande facili- dade de expansão por meio de rhizomas. E regra que uma destas plantas exclue geralmente a outra, sendo umas ilhas cobertas de «aningal» outras de «aturiazal», de maneira que de longe se percebe a differença. Ali uma palissada continua de troncos grossos de 2 a 3 me- tros de altura, coroados de grandes folhas sagittadas dum verde intenso, dispostos verticalmente; aqui um chaos de arbustos cujos galhos extensos e emmaranhados são mal escondidos pelas folhas miudas d'um verde cine- Teo. E claro que uma ilha, uma vez coberta de vegeta- ção, favorece o deposito das alluviões e constitue ao mesmo tempo uma especie de crivo que conserva as sementes de outras plantas aptas a germinar no meio della. No meio do aningal ou do aturiazal apparecem agora, quer isoladas, quer em grupos compactos, ar- vores de crescimento rapido, principalmente o man- gue (Rhizophora Mangle L., var. racemosa Meyer). E provavel mesmo que em muitos casos a vegetação de mangue seja simultanea com a do aturiá ou da aninga, e que elle só mais tarde consegue sobresahir à vegetação arbustiva da qual está cercado. O que é certo é que elle acaba por se estender á custa do aningal ou do aturiazal, que na sua sombra desapparecem pouco a pouco, sendo repellidos para a margem da ilha, onde formam uma zona mais ou menos larga. De longe es- tas ilhas têm o aspecto caracteristico de uma cupola bai- xa ou dum chapeu de aba mais ou menos larga. Sea ilha se estende até a beira d'um canal, onde a corrente- za é mais forte, o aningale o aturiazal não pódem se desenvolver mais adiante e são afinal completamen- te substituidos pelo mangal, de maneira que-estas ilhas têm uma forma irregular, apparecendo cortadas a pique de um lado. No meio do mangal nascem pouco a pouco as arvo- 15—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 470 Furos de Breves res caracteristicas das varzeas da região, principalmente as palmeiras assahy e mirity. A transição do mangal puro à vegetação mixta da varzea póde ser muito bem estudada na ilhas que se acham na embocadura do rio Guajará, na bahia de Marajó. Ao lado das ilhas da Jara- raca e da Jararaquinha, cobertas de mangal quasi puro, vê-se a ilha do Fortim e a ilha Pequena com uma fórte proporção de arvores da varzea, emquanto que a ilha Longa mostra, do Norte ao Sul, os estados successivos do povoamento vegetal. Com o desenvolvimento da vegetação typica das var- zeas, o mangal fica rechassado para a beira, formando em certos logares uma zona bastante larga, reduzido a uma fileira de arvores em outros logares, ou desapparecendo completamente. O perfil das ilhas toma então a feição caracteristica que E nota em toda a floresta da varzea do baixo Amazonas: perfil irregular, formado por arvo- res de tamanho e de contornos differentes, apenas domi- nado por alguns mirityzeiros de dimensões excepcionaes e pelas eigantescas sumaumeiras (Ceiba pentandra Gaertn.), que sobresahem da mata em fórma de cupulas largas e um pouco achatadas, produzindo às vezes a illusão perfeita de uma coilina verde deniro da iloresnm Uma vez formadas, as ilhas pódem augmentar de superficie, o que se faz geralmente d um modo unilateral. O lado que cresce, fica então marcado por uma zona mais ou menos larga de mangal precedida duma orla formada pela vegetação arbustiva da aninga ou do aturiá e de praias de tijuco, como outros tantos degrãos d'uma escada, emquanto que do lado onde a ilha não: cresce mais, as arvores da varzea se elevam directamente da agua. Raras vezes se observa que deste lado haja des: moronamento da beira, como nas ilhas do Amazonas. O crescimento das ilhas, activado pela iníluencia poderosa da vegetação, conduz finalmente ao estreita- mento dos braços do rio que as separam entrem este processo póde mesmo conduzir a uma fusão de di- versas ilhas, quando a correnteza do canal que os separa não é sufficiente para conservar o leito desobstruido. Os canaes secundarios ficam entulhados de tijuco e invadi- dos pela vegetação, resultando assim «igapós», cuja communicação com os outros canaes é 1 -calisada pelos igarapés. + este o estado de evolução em que se acha à maior parte da região a oeste de Marajó e tambem a = fe Furos de Breves k secção NO d'estailha. Este archipelago, formado primi- tivamente de numerosissimas ilhas, tomou pouco a pouco a feição d uma terra atravessada por um numero redu- zido de canaes, que têm o aspecto de outros tantos rios. Com effeito, applica-se o nome de «rios» a alguns d'estes canaes como p. e. aos furos de Bréves e do Aramá, dos Macacos, da Laguna etc. Distinguem-se, além destes, os rios centraes que tim a sua origem nos igapós ou nas baixas e nos lagos do centro “de Marajó. Rios centraessão p. e. o Pi- ria,o Mutuacá, o Mapuá, o Aramá-miry, o Aramá grande, o Anajás etc. Não duvido que mesmo estes rios não se- jam outra cousa senão antigos braços da embocadura do Amazonas,-por que os pantanos onde elles tomam a sua origem communicam com outros rios que desaguam na direcção opposta: Actualmente estes rios centraes se distinguem facilmente dos verdadeiros furos pelo facto de terem a agua preta, ao menos no seu curso superior. VEGETAÇÃO DA REGIÃO DOS FUROS Nas beiras de todos os furos, mesmo d aquelles que parecem mais estacionarios, como p. e. no Aramá, se encontram ainda os vestígios da primeira vegetação das ilhas nascentes. Como já dissemos no capitulo pre- cedente, esta vegetação, amiga da luz, acha-se, embora rechassada para a beira, em fórma de larga margem, nas ilhas ainda em via de crescimento e nas partes mais largas dos furos, onde ha praias de tijuco. Nos canaes mais estreitos esta vegetação é reduzida a uma facha estreita e limitada a certos trechos, que correspondem sempre às convexidades da beira. Esta di- versidade da vegetação segundo a convexidade ou a concavidade das beiras é um facto que póde-se observar em todos os rios amazonicos que correm sinuosamen- te nas suas proprias alluviões. Como o canal se acha neste caso sempre do lado da concavidade, concebe-se facilmente que a menor correnteza, e por conseguinte o deposito mais activo de sedimento, é do lado da conve- xidade da beira. A beira concava fica minada pela acção da corrente e vae desmoronando pouco a pouco, emquanto que na +72 Furos de Breves beira convexa forma-se uma praia. O deslocamento la- teral do leito: que resulta d'este processo - observa-se; embora em pequena escala, tambem nos trechos tortuo- sos dos furos de Bréves. Assim se explica porque as beiras convexas dos furos mostram, como a margem das ilhas em crescimento, a vegetação arbustiva caracteristica das alluviões mais recentes. Aqui os aningaes alternam mui- tas vezes regularmante com os aturiazaes, sobre exten- sões mais ou menos consideraveis, às vezes mesmo de Io em 10 metros. Nesta zona peripherica que se alaga com todas as marés, crescem tambem as plantas que dão nascença às ilhas fluctuantes que cobrem às vezes ltteralmente, certos .trechos-dos furos e que: serencom tram quasi sempre em grande numero na entrada dos furos do lado do estuario do Pará. Estas ilhas são cons- tituidas principalmente por duas plantas, o mururé de flôr rôxa (Eichhornia azurea, misturada às vezes com a Eichhornia crassipes) e a canna-rana (aqui quasi sempre o Panicum amplexicanle). Ambas estas plantas, e principalmente o mururé, crescem , entremeadas ma margem da zona arbustiva e são quasi exclusivamente limitadas aos trechos occupados pelo aturia:- Emite os galhos intricados deste arbusto, que attingsem a superficie d'agua, o mururé acha as' melhores) cons dições de vegetação; com. Os. seus caules! rasteimos elle extende-se pela agua fóra em forma de tape- te fluctuante, cujas partes mais adiantadas são arras- tadas pela correnteza, formando ilhas fluctuantes. O mes- mo acontece com a canna-rana. Esta Graminea, mais frequente na parte occidental e septentrional dos furos, prefere tambem o abrigo do aturia, mais efficaz que o da aninga. Nos rios Aramá grande e Aramá miry, e provavel- mente tambem em outros «rios centraes» de agua preta, onde as formações arbustivas são pouco desenvolvidas, encontra-se uma zona especial de plantas propriamente aquaticas representadas principalmente peio aguapé (Nymphaea Rudgeana), entre cujas folhas abriga-se uma quantidade de plantas fluctuantes, como p. e. as duas Eichhornias, Pistia stratiotes, Salvinia auriculata, Utricularia foliosa etc. O mangue, (Rhizophora Mangle L.) o qual cons- titue, como expliquei no capitulo precedente, o segundo elemento na povoação das ilhas novas, se acha tambem Furos de Breves h73 em quasi todo o percurso dos furos, com excepção da parte occidental do furo Tajapuru. A sua distribuição ao redor da ilha de Marajó apresenta certas particularida- des que parecem estar emrelação com a formação d'esta ilha e do delta amazonico. E' preciso notar que o man- gue de Marajó e dos furos de Bréves pertence à varie- dade racemosa da especie linneana Rhizophora Mangle. Tanto na costa atlantica de Marajó. quanto na mar- Membro nos, duros de Breves; so encontrer, entre mí- lhares de arvores, esta variedade, que se distingue pelas inflorescencias multiflores, emquanto a especie typica, commum no littoral do Salgado, tem cymas compostas de duas flores. O mangue acha- Se limitado na zona attingida pelas correntezas das maré és, mas a sua exis- tencia não é ligada à presença de agua salgada. No rio mama onde à agua é completamente doce e serve de agua potavel durante o anno inteiro, encontramos ainda o mangue, embora geralmente reduzido, como na maio- ria dos fur os, a uma só ordem de arvores. Só n'um logar (cf. o mappa) eu vi um verdadeiro mangal no percurso do Aramá; geralmente as arvores são distantes umas das outras e no curso superior dos rios Arama grande e Ara- má miry onde a agua é preta, ellas desapparecem com- pletamente. A presença do mangue se explica aqui como resto de uma vegetação antiga que cobria as ilhas n uma epoca em que o braço central da embocadura do Ama- zonas ainda tinha: communicação. franca com o oceano. O mangue não é exclusivamente limitado à convexidade (O) das beiras, tal como os aningaes e os aturiazaes. Ha en- tretanto uma outra planta que é caracteristica d'estes tre- chos e constitue muitas vezes uma ordem distincta atraz da zona arbustiva, constituindo uma transição aos ele- mentos mais altos da floresta. E' a palmeira denominada jupaty (Raphia vinifera var. faedigera) que constitue, com as suas elegantes pal- mas gigantescas e regularmente pennadas, uma nota cara- cteristica na vegetação do estuario amazonico. O jupaty é o unico representante, no novo mundo, d'um genero especialmente africano, e o typo da nossa variedade é in- digena da Africa occidental. Este elemento: aíricano-se: acha, na embocadura do Amazonas e dos seus afluentes, strictamente limitado à zona da influencia das marés. Nos logares onde elle cres- | o e tem sete soe. DS e a 474 Furos de Breves ce, póde-se dizer quasi com certeza, que as marés provo- cam ainda correntezas contrarias. Quando se desce pelo furo de Tajapurú, o jupaty se apresenta só muito tarde, depois da divisão d'este fu- ro em diversos braços, mas quando se entra n'um d'elles, no Boiussu p. e., esta palmeira apparece logo em grande quantidade indicando a influencia das mareês do Rio Para. Em toda a parte meridional da região, onde as corrente- zas do rio Pará se fazem sentir, o jupaty é frequente. Elle se So tambem, mas menos frequente, no Jaburú (Bates, 1. c. p. 116) e no Macacos, assim que no Arama. Não E nheES a distribuição do jupaty ao norte do Ama- zonas, mas ao sul do estuario do Para esta palmeira é muito frequente, principalmente nas beiras do rio Guamá, onde ella é um dos elementos mais importantes da vege- tação littoral na zona da influencia das marés (cf. Kraal;- Koschlau e Huber «Zxwischen Ocean und Guamá» p. 596 27). Certamente o primeiro logar na physionomia desta região é occupado pelo mirity (Mauritia flexuosa L. t). Fr equentissimo nas embocaduras do Tocantins e do Xin- gu. onde cobre quasi exclusivamente largos trechos de terras baixas, elle se extende tambem sobre os terrenos do S O de Marajó. Aqui elle apparece raramente como miritizal quasi puro, mas em muitos logares, principal- mente nas grandes convexidades das beiras dos furos ou nas ilhas de nova formação, elle é o elemento dominante da floresta, elevando-se em massa compacta atraz da orla de jupaty e determinando com as suas folhas a silhouette caracteristica da mata. Mesmo nos trechos onde o mirity é menos commum, elle occupa geralmente um logar im- portante na physionomia da paizagem, pelo seu porte magestoso e pelas suas enormes folhas em forma de le- que. Entretanto não seria justo pensar que o mirityzei- ro seja igualmente distribuido por toda a região de que tratamos. Mesmo nos logares onde elle domina ab- solutamente na beira da agua, póde-se ver, logo que haja uma abertura na mata, que detraz desta zona de mi- ritizeiros que parece, ao primeiro ver, constituir toda a floresta, apparecem outras palmeiras de que tratare- mos mais adiante. Pensamos que será raro encontrar o mi- rity em grande numero a mais de 100 metros da margem para dentro das ilhas. O mirityzeiro precisa bastante luz para o seu desenvolvimento e assim se explica porque o. ER SETETAS: Furos de Breves h175 dentro da floresta se encontram geralmente só pêsjá cres- cidos, ás vezes muito altos, emquanto que os pés novos são limitados à margem. Approximando-se do centro da ilha de Marajó, o mirityseiro fica mais raro. Nos rios Aramá miry e Ara- má grande elle desapparece quasi completamente no cur- so superior, onde a agua é preta. Não existe tambem no curso superior dos rios da costa SE que attingem nasido dos campos, como p: e. no rio Arary. Lan- to mais admira a observação de Martius (Reise II p. 1042), que fallando da distribuição geographica do mirity, diz elle ser mais frequente na metade de Marajó que é formada de campos, preferindo logares abertos. No Cabo de Magoary o mirity é muito raro e só apparece em maior numero na parte da contra- costa, que fica sob a influencia da embocadura septentri- onal do Amazonas. Em toda a zona do estuario amazonico o mirity é uma palmeira littoral, crescendo directamente sobre a ne ma lodosa dos tios e canaes. Aqui a disseminção se faz de uma maneira muito activa por meio das corrente- zas de maré, que levam massas enormes de frutos, de- positando-os de novo nos logares que emergem du- rante a baixa mar. O povoamento de uma ilha inteira com mirityzeiros do mesmo tamanho se explica pelo fa- cto de serem levadas milhares de sementes e deposita- das numa ilha, logo que ella se eleva bastante para ser inundada só com as maiores marés, deixando assim às plantulas o tempo de se enraizar, antes que uma nova innundação leve denovo as sementes. Da foz do Xingu para cima, em todo o percurso do Amazonas, o mirityzeiro não apparece mais como pal- meira littoral. Raros são mesmo os logares onde se avistam estas palmeiras na beira do rio, e só mui- to pelo interior se, acham de novo miritysaes - mais Espensos (cl... Martias, Reise JIE p. 1042). As condi- ções de existencia d'estes miritysaes são bem differen- tes das que se encontram no estuario do Amazonas, sen- do elles limitados aos terrenos mais ou menos panta- nosos, recipientes das aguas pluviaes com exgotamento demorado. Talvez estes palmares extensos representem os vestigios de um periodo muito remoto, em que os pantanos onde elles se acham actualmente, representa- vam braços de estuarios como os furos de Bréves. 4T6 Furos de Breves Em condições semelhantes às do mirity acha-se o seu fiel companheiro, o gracioso assahy (Euterpe olera- cea Mart.). Devido à sua estatura menor, o assahy occupa sempre um logar subordinado ao mirity, quando cres- ce em companhia d'este. Nota-se entretanto que o assahy tem uma distribuição mais larga que o seu companheiro, achando-se p. e. frequentemente nos cursos superiores do Aramã miry e do Aramá grande,onde o mirity ja é muito raro. Como palmeiras littoraes por excellencia, crescóna do em grupos na beira mesmo da agua, principalmen- te na secção occidental é septentrional dos furos desc ves, e que mesmo de longe se distinguem do assahy pelo tronco um pouco mais baixo e fino e as suas folhas mais rijas, podem-se citar os marajas (Baciris Maraja é outras especies). Não se póde tratar da vegetação dos furos de Bréves sem citar a palmeira mais singular e caracteristica d esta região, o ubussú(Manicaria saccifera G.).O seu bou- quet de immensas folhas lanceoladas e muitas vezes quasi inteiras, de um verde claro, apparece só com intervallos na margem dos canaes eisto sómente nas concavidades das beiras, carcomidas pela correnteza, mas logo que se entra em qualquer logar, por dentro da floresta, elle constitue um dos elementos dominantes da vegetação, ao menos nos trechos periodicamente inundados. Os seus tuberulados fructos, contendo 1a 3 caroços globosos são, com os fructos escamosos do mirity, os mais frequentes entre as sementes e fructos fluctuantes, que cobrem as ve- zes litteralmente certos trechos dos furos. Mesmo no meio dos igapós onde o ubussú abunda, a agua é semeada de fructos, quando os seus cachos pendentes amadurecem. Todo o mundo aqui conhece a espatha da inflorecensia do ubussú, que, sob o nome de «turury», serve de bonnet e desacco para guardar objectos miudos. O ubussú tem aliás uma importancia commercial, sendo as suas folhas quasi o unico material com que os pobres nos arrabaldes de Belém cobrem as suas choupanas. Às carroças carre- gadas de folhas de ubussu são uma das impressões jorna- leiras na capital do Para. Já por isso não sera sem in- teresse orientar sobre a area geographica occupada por essa palmeira utilissima. Antes de tudo não me con- sta que ella se ache num só logar a léste duma linlia que passa pelo rio Pará e pelo rio Capim e em geral ao sul da pm = = 1 Furos de Breves . bahia de Marajó, com excepção da região de Igarapé Mi- ry; tambem não o vi na parte SE do Marajó e mes- mo na região do rio Arary elle parece faltar. Encon- tra-se entretanto no rio Mutuacá e de lá até Bréves, onde já é frequentissimo, no interior dos igapós. EE Breves elle apparece' mais frequente approximan - do-se pelos furos da embocadura septentrional do Ama- zonas. Nos rios Aramá grande e Aramá miry, elle se en- contra muito acima. A patriado ubussú parece ser ao norte do Amazonas onde elle é muito frequente e onde se acha até muito pelo interior uma variedade de- nominada mediterranea por Trail, emquanto uma outra variedade, a Manicaria Pluckenetii Griseb. e Wendl.se acharia na Guyana e pelo norte até Panamá de um lado a Trindade e Barbados de outro. Ao lado destas palmeiras mais caracteristicas dos canaes de Bréves e que não podem escapar á attenção mesmo do mais indifferente dos viajantes, ha um certo numero de outras, que apesar de serem tambem frequentes, não se acham quasi nunca reunidas em grande numero, escapando assim facilmente à attenção. Damos a enume- ração dellas, insistindo, a proposito, na sua distribui- ção geographica. Euro asrespecies do senero Ochnocarpus, a bacá- ba do baixo Amazonas (Ocnocarpus distichus Mart.), facilmente reconhecivel pelas suas folhas arranjadas dis- ticamente e formando leque. Os seus largos foliolos pendentes são de um verde escuro. Esta especie é dis- persa por toda a região por nós visitada. O patauá, (Oenocarpus Patauá Mart.) semelhante ao precedente pe- los seus foliolos largos e escuros, se reconhece entretanto pelo arranjo d elles, sendo como na Attalea excelsa é speciosa, dispostos num plano vertical no apice da folha (1). O patauá, bastante raro na parte meridional da re- gião de Bréves, é muito mais commum no rio Aramá, onde elle quasi substitue o mirityzeiro, sem formar en- tretanto aglomerações maiores. Além d'estas duas especies existe ainda uma outra, denominada vulgarmente bacabão. (1) No alto Amazonas encontramos sempre o patauá com folio- los pendentes, o que lhe dá um aspecto bem differente do patauá do baixo Amazonas. 478 Furos de Breves Se não fossem os fructos que podem attingir mesmo o tamanho dos do patauá, poder-se-ia pensar que se tratava do legitimo Oenocarpus Bacaba Mart. Seria talvez um hybrido entre o distichus e o Palaúd? O bacapbass bastante raro no ÀAramá. Segundo «o. dizer daleena te do paiz elle seria mais frequente na região de Aífuaá e em outras partes do Amazonas. A ausencia completa das especies menores do gene- ro Oenocarpus (O. multicaulisa O. minor) é carac- teristica d'esta região. Entre as palmeiras maiores ainda ha os generos Ma- acimiliana e Attalea que contribuem para a vegetação do archipelago de Bréves, porém em pequena escala. O inajá (Maximiliana regia Mart.) se acha sem duvida espontaneo em certos trechos mais altos da parte occidental de Marajó. No percurso dos furos elle não apparece em grande quantidade, senão na visinhança das casas ou nas antigas roças, onde poderia tambem ter sido plantado, visto asua utilidade, fornecendo material para cobrir as casas, um pericarpio comestivel e caroços aproveitaveis para a defumação da borracha. Ourucury (Attalea excelsa Mart.), tambem culti- vado em certa quantidade por causa dos seus caroços, se encontra em crescimento expontaneo principalmente nos canaes mais occidentaes, porém nunca em numero tão grande e numa proporção bastante consideravel para formar um elemento dominante na mata, como acontece em muitos logares no curso do Amazonas. Uma palmeira bastante frequente mas nunca predo- minante éa pachiúba (Iriartea exorrhiza Mart.) unico representante no baixo Amazonas de um genero e de uma tribu muito bem desenvolvidos nas regiões monta- nhosas do alto Amazonas, ao pé dos Andes. Facil de reconhecer, quer de longe pelos seus foliolos largos, quer de perto, .dentro ida mata, pelas suas ralis espinhosas formando um pedestal conico, ella representa uma fórma vegetal extranha no meio das varzeas amazo- nicas. O grande genero Astrocaryum, tão bem conhecido na região amazonica é representado por uma só especie maior na região de que tratamos. O murumurú (Astrocaryum Murumuru Mart.) que ao lado do urucury é a palmeira mais caracteristica das beiras do Amazonas e do Solimões, com as suas folhas Furos de Breves 479 rijas regularmente pennadas e os seus espinhos enormes, acha-se por aqui e acolá no meio da mata, apparecendo raras vezes, como p. ex. no Tajapurú, em maior numero na beira dos canaes. O tucumá (Astroc aryum Tucuma Mart.) tão frequente na parte oriental de Mar rajó, em cuja paisagem é um elemento absolutamente carcteristico sendo a palmeira predominante das terras arenosas até a beira do mar, parece faltar completamente na região occi- dental de Marajó e no archipelago de Bréves. Apenas vi d'elle uns poucos exemplares, provavelmente plantados, ao longo do rio Macacos. Ha entretanto duas especies menores de Astrocary- um, ambas chamadas pelo-povo mumbaca. À pri- meira d'ellas é o Astrocaryum Mumbaca Mart., a segun- da uma variedade do Astrocaryum humile Wall., nova para a sciencia; achamos ambas no Aramá, crescendo na sombra da mata, junto com algumas outras palmeiras menores como a jareua (Cocos aequatorialis Barb. Rodr.) e diversas especies de ubim /Geonoma panicu- ligera, trijugata, Dammeri). Devido à grande importancia que têm as palmeiras sob o ponto de vista da geographia botanica, temos tra- tado d'ellas um pouco mais demoradamente. O leitor nos desculpará esta preferencia, tanto mais que realmente as palmeiras occupam, não só pelo numero de especies, mas tambem pela frequencia dos individuos, o primeiro logar na physionomia da região de que tratamos. En- contram-se entretanto certos trechos nos furos onde s palmeiras desapparecem quasi completamente da bei- ra dagua. Notâmos d'estes trechos, onde as arvores di- cotvledoneas predominam absolutamente, perto de Bre- ves e no furo Tajapuru. E' uma tarefa bastante difficil dar uma idéa exac- ta da physionomia e da composição da vegetação nas varzeas do archipelago de Bréves e na parte occidental da ilha de Marajó. Se abstrahirmos das associações vege- taes já Ecce compostas de poucas especies vege- taes, como o aningal, aturiazal, mangal, mirityzal, che- gamos logo a associações muito mais complexas e que precisariam, para o seu estudo completo, uma serie de Investigações muito longas. Já no aspecto exterior notam-se, além da frequencia variavel das palmeiras, differenças na altura media das arvores das matas de varzea, que varia entre 15 e 30 480 Furos de Breves metros mais ou menos. Do lado do Amazonas, a mata é geralmente mais alta, elevando-se em certos pontos a 30 m. e mais. No Arama medimos uma arvore de cupiuba derrubada que tinha, só com os galhos prin- paes, Oo comprimento de 32, metros, o. que. fez presull mir, para a altura total da arvore, 35 metros no mini- mo. Entretanto é raro que arvores d'este tamanho cres- çam mesmo nas beiras dos furos. Às arvores que se elevam nas beiras concavas, directamente à altura da mata, apenas cobertas do lado exterior por uma fileira de grandes arbustos ou um vêo de trepadeiras, sem duvida attingem raras vezes mais de 20 metros. No meio d'ellas destacam-se algumas figuras carac- teristicas de especies representadas por toda a região, que constituem ao lado das paimeiras, o grosso da vege- tação das varzeas, sem formar jamais grupos maiores compostos de muitos individuos. Como já acima dissemos, o aspecto da varzea é aqui, como em todo o estuario do Amazonas, dominado pelas cupolas gigantescas das sumaumas, mas não em toda a sua extensão, ficando muitos trechos sem este ca- racteristico. Mais importante para a physionomia de quasi to- dos os furos é a ucuúba (Virola surinamensis (Rol.) Warburg) que é uma das arvores mais communs na bei- ra da agua. Tronco direito e delgado, copa pequena e transparente formada de galhos quasi horizontaes guar- necidos de folhas estreitas e disticamente dispostas, eis o característico desta arvore. Commum em todo o baixo Amazonas e até nas Guyanas, ella se encontra quer no meio dos mirityzaes constituindo uma parte integrante d'elles, quer na floresta littoral formada principalmente de arvores dicotyledoneas. E' certamente um dos elemen- tos mais antigos da flora do baixo Amazonas. O mesmo quanto à sua distribuição geographica po- de-se dizer da andirobeira (Carapa guyanensis Aubl.) que, sem ser tão frequente como a sua companheira, cons- titue tambem, com a sua copa de ramificação principalmen- te vertical e suas grandes folhas pennadas de foliolos es- curos e pendentes, um elemento muito carfacieristgies d'estas florestas. Não seria possivel juntar um certo numero de se- mentes fluctuantes sem encontrar as das arvores citadas. Estas duas arvores poderiam, se fossem regu- Furos de Breves 481 larmente exploradas, ser de grande importancia econo- mica para a região, porem não nos consta que os seus fructos, que têm um gr: ande valor como productores de cera no primeiro, de azeite no segundo, sejam explorados na região de Bréves e do Aramá, devido á predominan- cia da exploração da borracha que occupa todos os bra- ços na região de que tratamos. Isto nos conduz a fallar das arvores que não só eco- nomicamente, mas tambem sob o ponto de vista da geographia botanica têm um papel dos mais importan- teo na região dos furos; sãoas seringueiras, principal e quasi unicamente explorada riqueza do paiz. Todos os seringueiros são unanimes em declarar que ha, no baixo Amazonas em geral e na região dos niros especialmente, diversas «qualidades» de serin- gueiras. Na região do Aramá encontramos as seguintes «qualidades»: Aseringucira branca(fievea brasiliensis Múll. Arg.) é incontestavelmente a mais commum, crescendo mesmo na beira da agua e contribuindo com o seu por- te característico e com a sua folhagem elegante de fo- lhas trifolioladas à physionomia da paysagem. Ds exemplares: que se encontram nas beiras: dos furos são geralmente pequenos, elevando-se apenas a uma altura de 10 a 15 metros, emquanto que mais para dentro da floresta se acham exemplares que chegam com certeza a uma altura de 20 a 25 metros. Variando mui- tissimo na forma e no tamanho das folhas, esta especie tem quasi sempre um tronco cuja casca é coberta de lishrens brancos, que lhe valem O seu nome. O via- jante ainda pouco familiarisado com os aspectos multi- plos da nossa vegetação, póde reconhecer as seringuei- ras pelos signaes da extracção, a base engrossada do tronco coberta de cicatrizes. Ru Serie rar preta) que; segundo o-dizer dos seringueiros, seriaa melhor «qualidade», cresceria mais Pelg centro” das ilhas,» teria "a casca preta é mais grossa e folhas mais estreitas que a «qualidade» prece- dente, sendo por isso chamada tambem seringueira de folha miuda. Tenho muitas razões para considerar esta variedade apenas como uma das formas multiplas da verdadeira Hevea brasiliensis. À seringueira preta attingea altura de 30 metros, 4892 Furos de Breves e perto de Bréves vi um exemplar cujo tronco tinha ao menos um metro de diametro. Na região do Aramá encontramos, nas beiras do furo,- mais uma especie -de seringueira, chamada pela gente de seringa-ranaouseringa-mangue. Arvoredo tamanho da seringueira branca, ella se distingue entre- tanto pela ramificação mais densa e pelas folhas mais grossas, geralmente mais escuras (1) dispostas em posi- ção quasi vertical, com a ponta para cima, emquanto que na seringueira branca os foliolos são elegantemente curvados para baixo. . Tambem a forma dos foliolos é muito caracteristica: são oblongo-obovados muni- dos duma pontinha obtusa, muitas vezes quasi imper- ceptivel (os foliolos da seringueira branca têm sempre uma ponta bem desenvolvida e afinada). Esta especie é, como pude convencer-me pela comparação com amos- tras provenientes da Guyana franceza, a Flevea guya- nensis de Aublet, primeira especie descripta do gene- ro flevea e a unica à qual se pôde applicar o synonymo de Siphonia elastica Pers. tantas vezes usurpado para a nossa Hevea brasiliensis (synon: Siphonia brasilien- sis Willd.). E um facto curioso que o latex d'estalamios Te, que muitas vezes foi citada como fornecedora pais cipal da gomma elastica, é pouco abundante e não se presta quasi para a extracção de borracha. Não sei sea seringueira-mangue existe em outros logares do baixo Amazonas fóra da região dos furos. Informaram-me que em certos furos cresce, além das especies enumeradas, uma seringueira barriguda, differente da dos lagos (que é a Hevea Spruceana Muúll. Arg.) de tronco direito e muito alto, engrossado na parte inferior. Não me foi possivel encontrar um exemplar d'esta arvore, que aliás não daria, segundo me informaram, um producto utilisavel. Ao lado d'estas especies que, não só na physionomia da paisagem como tambem na economia da região, têm um papel importantissimo ha um certo numero de arvo- res que, sem ter uma importancia tão grande, primam ao menos em certos trechos dos furos pela frequencia dos individuos. N'esta cathegoria enitraspo cao taperebá (Spondias lutea L.), que é muito frequente ma seceio septentrional do Tajapurú, facilmente reconhecivel pelos seus galhos obliquos na parte inferior, extendidos hori- zontalmente na parte superior e guarnecidos de grandes a Pa k VUVAR Op VALIQ VP SVILSINIJIVADI SILORAL” MPetigy “DatonôuttoS “DrDj0T “ossp “DGnpuUVAVSSO 2777/7120) Furos de Breves 183 folhas pennadas. Quando passei, em janeiro de 1899, pelo furo Tajapurú, todas estas arvores estavam carregadas de fructos amarello-alaranjados. Em certos furos encon- tram-se muitos exemplares de sucuúba /Plumiera Sut- cuuba Spruce), arvore da familia das Apocynaceas, pouco esgalhada e reconhecivel pelos fructos gemeos em forma de” chifres, contendo numerosas sementes aladas, O ta- perebá e a sucuúba não são arvores muito altas, mas EEN são características dos trechos onde a mata attinge na média só 15 a 20 metros de altura total, ellas podem occupar o papel predominante. Em todos os furos, as Leguminosas fornecem talvez o maior contingente na composição das matas. Entre as ar- vores altas da floresta notam-se, por exemplo, o cumarú (Dipteryx odorata Willd.), bem conhecido pelas suas favas odoriferas, ojutahy (Hymenacea CourbarilL.), o tachy (Tachigalia spec. ja faveira (Vataireaguyanen- sis Aubl.), O boiussu. Entre as Rosaceas, tambem muito Prices na região dos furos,diversas attingem as dimen- spes de arvores altas, como p. ex: o paranary ( (Parina- rium brachystachyum Benth.) eo caripé verdadeiro (Licania utilis Fritsch), bem Ear tilo pelo uso da sua casca na ceramica indigena. O breu preto e outras espe- ciesdo genero Protium fornecem, como o jutahy, resi- nas importantes;a cupiuba(Spondias nigra?) cuja ma- deira facil de serrar em taboas é muito empregada na construcção de casas, é uma das arvores mais altas da flo- resta. Uma arvore esbelta, de bellissimo effeito quando em flôr, éo uanany (Symphonia globulifera L.), cuja copa pouco frondosa, completamente coberta de flores escar- lates, se destaca de longe das massas verdes da floresta. A massaranduba(Mimusops globosa Gaertn., arvore de madeira excellente e de fructos muito saborosos, mas cujo valor é principalmente no leite que fornece um excel- lente succedaneo da gutta-percha, não é rara nos furos, ao menos nas partes cobertas de mata alta, como nas beiras do Aramaã, onde ella é do numero das arvores mais altas. Ainda não tenho a certeza se sob o nome de massaranduba correm diversas especies ou só varieda- des duma só especie; o que é certo é que no tamanho dos fructos e na forma das sementes se acham diflerenças sensiveis.O ama pá (Hancornia Amapá Hub. da familia das Apocynaceas é, como a massarandúba (que é uma 484 Furos de Breves Sapotacea), uma arvore alta de folhas lanceoladas e lus- trosas e rica em leite, fornecendo tambem fructos comes- tiveis; mas as suas folhas e os seus galhos são oppostos e -0 leite, em vez de servir na industria, é, na medicina popular, considerado como um poderoso remedio con- tra golpes, feridas etc. e, tomado internamente, contra affecções dos pulmões. E claro que, de todas as arvores que compõem a vege- tação das ilhas entre os furos, só aquellas que' crescem tambem nas beiras mesmo dos canaes são de estude facil. Devido à abundancia de luz na beira d'agua, estas arvores pódem ramificar-se desde a base e produzir flo- res e fructos em abundancia. Ellas tomam então mais ou menos a feição de grandes arbustos, cujos galhos infe- riores se curvam sobre a agua, sendo muitas vezes par- cialmente immersos durante as enchentes, e - ficando cobertos. de uma, fina camada del iquico Aquel enaa gando durante a vasante, marca bem a linha da prea- mar. Talvez a mais typica d'estas arvores-arbustos das bei- ras dos furos €éa mamorana (Pachira aquatica Aubl., Bombacea de folhas digitadas dum verde escuro, com flores brancas ou levemente rosadas de petalas e de esta- mes muito compridos, e com grandes capsulas lenhosas bruno-avermelhadas, esta arvore, mesmo plantada em terra firme, onde chega a um tamanho: respeitavel) tema sempre a tendencia de curvar o;seu tronco. Na beiraldas furos, O tronco fica completamente deitado sobre a agua, ramificando-se geralmente á maneira de um arbusto. Em todos os furos se encontram, muitas vezes alternando com os aturiás e as aningas nas convexidades das beiras, estes arbustos debruçados sobre a agua. Mas a maioria das arvores-arbustos cresce nas bei- ras mais abruptas, onde nem o aningal nem o aturiazal acha condições favoraveis de existencia. Nos trechos di- reitos dos furos e nas concavidades:onde as arvores gran- des não seelevam directamente com o seu vêo de trepa- deiras, encontra-se a vegetação das arvores-arbustos so- bre largos espaços, formando um baluarte de verdura, co- brindo, pelos galhos debruçados sobre a agua, a linha da beira que fica atraz, difficilmente attingivel para quem quer desembarcar. Esta forma de vegetação só se explica pelas condições hydrographicas especiaes da região dos furos : correnteza relativamente fraca e oscillações pou- Furos de Breves A) co importantes do nivel d'agua que são a causa da esta- bilidade relativa das beiras. Numerosissimas são as especies que pertencem à ca- tegoria das arvores-arbustos. Das arvores já cita- das como mais caracteristicas da região dos furos, algu- mas apparecem tambem frequentemente sob esta forma, comop.e.a seringueira branca,a ucuuba, mangue, a tinteira (Laguncularia). Aqui tambem as Legumino- sas occupam o primeiro logar, sendo representadas quasi exclusivamente por especies de foliolos relativamente grandes. Algumas d'estas especies destacam-se pelas flô- res bonitas como o cumarú-rana Dipteryx oppositifo- lia (Aubl.) Willd., com paniculas de flôres roxas, o aca- pú-rana (Campsiandra laurifolia Benth.) com gran- des bouquets de flores brancas e rosadas,o mututy (Pte- rocarpus Draco L.) com racemos de flores amarellas ala- ranjadas. Os ipés (Macrolobium hymenaeoides Willd. e chrysostachyum Benth.) de folhas bifolioladas e flo- res brancas, assim como o ipé-rana (Crudya pubescens Spruce) distinguem-se pelas suas favas chatas contendo apenas uma ou duas sementes, emquanto que a ritaica (Swartzia acuminata Willd.' tem favas muito grossas. A unica Leguminosa de folhas finamente decompostas é o pracachy (Pentaclethra filamentosa Benth.),que for- ma, com a sua folhagem escura e brilhante e com os seus cachos cylindricos de flores brancas, um des maio- res ornamentos das beiras dos furos. Bem representada por arvores-arbustos é tambem a familia das Rosaceas. Uma das arvores mais communs nos furos é o anauerá (Licania macrophylla Benth.), cujos galhos guarneci- dos de bellas folhas estreitas e compridas, disticamente arranjadas, de longe facilmente se confundem com as folhas compostas da andirobeira. As outras especies de Licania, conhecidas sob os nomes de caripé-rana, carip é- tariira, sc wet etc. sejencontram tambem principalmente em forma de grandes arbustos debru- çados sobre a agua. Notaveis pelas suas bellas flores são duas Vochysiaceas,a muiraúba da varzea/Qualea speciosa Hub.), de grandes flores brancas lavadas de côr derosae o jaboty (Erisma calcaratum (Link) Warm.), com grandes paniculas de flores azues, emquanto que as duasespeciesde cerú ou churú (Goeldinia ovatifo- 16—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 486 Furos de Breves lia Hub.e G.riparia Hub.), da familia das Lecythidaceas tornam-se interessantes pelos seus fructos tubulosos munidos de tampa, à moda dos do tauary. Outras arvo- res-arbustos são : ajacareúba (Calophyllum brasiliense Camb.) o piquiá-rana (Caryocar edule Casaretto) o umary (Poragueiba sericea Tul.) o murucy (Byrsonima lucidula Hub.) ajatuaúba (Guarea trichilioides L.) o uchy-rana (Saccoglottis amazonica Mart.) o caimbé (Coussapoa asperifolia Trecà a tinteira (Coccoloba exceisa Benth.) o envira-tai (Duguetiariparia Hub.) uma outra envira (Guatteria Ouregou (Aubl.) Dunal), a cuaxinguba (Ficus pertusa L. ), diversos apuis (Freus sp-)vete- in) Além destes grandes arbustos que no meio da flo- resta attingem as dimensões de arvores, acham-se, nas beiras immediatas dos furos, muitos arbustos menores, que em logar de formar uma zona distincta, como o atu- riã, são subordinados à vegetação mais alta e se acham por assim dizer só nas lacunas que as arvores maiores deixam entre si. Alguns d'estes arbustos destacam-se pelas flores, como p. e. o molongó( (Ambelania grandiflora Hub.), cujas flores dum branco puro exhalam um cheiro agrada- bilissimo,o inajá-rana(Quararibea guyanensis Aubl.) de flores igualmente brancas e odoriferas, mas princi- palmente notaveis pela sua forma originalissima; diver- sas especies de cebola brava (Clusia), o papa-terra (Posoqueria latifolia Roem. et Schulth.) e outros. Um arbusto muito commum na beira dos furos e notavel principalmente pelos seus fructos, é o urucú-rana (Slo- anea dentata L.), cujo nome vulgar lhe vem das suas (1) Entre as arvores-arbustos dos furos poderia-se ainda citar a ciriúba (Avicennia nitida Jacq.); parece porem que esta especie, tão frequente ao N do Amazonas e na Contracosta de Marajó, onde ella forma matas extensas, tem um papel insignificante na região dos furos, apparecendo só aqui e acolá em companhia do mangue, PRM 4 Furos de Breves 487 sementes cobertas dum arillo vermelho e encerradas n uma capsula arripiada, que se abre com trez ou quatro valvulas purpureas por dentro. Limito-me a enumerar os outros arbustos menores: jarandeua ou cs n na (Pithecolobium lati- folium Benth.) ( m ajorana (Hibiscus bifurcatus Cav.) capote ( (Sterculia spec.) pacapéua (Swartzia racemosa Benth. jatuauba preta (Guar ca costulata o DC: cupúassú-rana (Matisia paraensis Hub.) pachiuba-rana (Tovomita triflora Hub.) pachiuba-rana miuda (Tovomita ASAP Walp. taquary (Mabea Taquary Aubl.) laranja-rana (Cassipotr ca guyanensis Aubl.) tamaquaré grande (Caraipa paraensts Hub.) tamaquaré miudo (Caraipa minor Hub.) inambu-quiçaua (Caraipa insidiosa Barbosa Ro- drigues ?) tucunaré-mereçãá (Mouriria grandiflora DC.) Não é sempre facil descobrir, no meio da vege- tação intricada das beiras dos furos, o individuo ao qual pertence tal galho, cujas flores ou fructos nós apa- nhamos. À tendencia de fugir 4 obscuridade e de se ex- pôr à luz, tendencia commum a todos os orgãos de assi- milação, provoca muitas vezes o alongamento de certos galhos pertencendo a um individuo situado no segundo plano, numa obscuridade que não lhe permitte o seu pleno desenvolvimento. Pelo alongamento exagerado, os galhos ficam en- fraquecidos e se acham na necessidade de procurar o apoio das plantas mais fortes, bem expostas. Assim se explica sem grande difficuldade a organisação particu- lar de uma categoria de plantas que se encontram fre- quentes nas beiras dos furos e que vou chamar ARBUS- (1) Esta especie se acha às vezes, à moda do aturiá, reunida em maior numero de individuos, formando uma zona distincta. 188 Furos de Breves TOS-CIPOS, porque ellas crescem no principio como ar- bustos, desenvolvendo só tardiamente galhos compri- dos que se agarram, de maneiras diversas, às outras plan- tas lenhosas. No numero d'estes arbustos-cipós, de cuja organisação. especial tratarei opportunamente em ou- tro logar, podem-se citar os seguintes : veronica (Dalbergia monetaria (Pers.) L. fil.) juquiry-grande (Drepanocarpus ferox Mart.) timbó-rana (Machaerium macrophyllum Mart.) Lonchocarpus discolor Aub. (2) Hiraea obovata Hub. (?) gogó de guariba (Moutabea Chodatiana e an- gustifolia Hub.) apui-rana (Strychnos Rouhamon Benth.) santa-maria (Allamanda cathartia L.) braza (Maripa scandens Aubl.). Hibpbocratea ovata Lam., Salacia spec., Com- bretum Jacquini Gris., Anisolobus ama- sonicus Múll. Arg. Devido às condições especiaes que acham na beira dos furos os galhos voluveis dos arbustos-cipós chegam raras vezes a uma altura superior a 5 metros; apenas os Drepanocarfus, Machaerium, Maripa trepam em ar- vores altas. Os verdadeiros cipós, cujo tronco principal tem o mesmo crescimento exagerado que nos arbustos-cipós se observa só em certos galhos, influem mais na physiono- mia da vegetação littoral dos furos que estes. São prin- cipalmente as Passifloraceas e as Bignoniaceas (Cydista acquinoctialis Mikan, Adenocalymma foveolatum Bur. e outras) que envolvem os troncos e descem em elegan- tes festões das copas de arvores altas, produzindo aqui e acolá aquellas cortinas de verdura matisadas de flores brancas, rôxas ou côr de rosa que tanto impressio- nam o viajante. Munido com gavinhas, como estes ci- pós, encontramos ainda o Cissus sicyoides L. que entre todos os seus congeneres tem a particularidade de po- der desenvolver raizes aereas que, taes como fios sus- pensos, descem verticalmente dos galhos mais altos. Furos de Breves 489 Um dos cipós mais vistosos dos furos, notavel pe- los seus cachos compridos de flores escarlates, trepa ms Arvores mais altas, sem ter orgãos especiaes para se agarrar nas outras plantas. Outros cipós têm caules voluveis, como os olhosde boi (Mucuna altissi- ma DC.eM. urens DC., este de flores amarellas, aquelle de flores roxas suspensas a um pedunculo comprido), os ituás(Gnetum paraensee oblongifolimum Hub.) outros ainda trepam nos troncos com as raizes adventiceas es- treitamente applicadas na casca, como p. e. uma especie de Philodendron de grandes folhas sagittadas, a bauni- lha (Vanilla aromatica Swartz) e as Marcgraviaceas (Marcgravia coriacea Vahl e Souroubea guyanensis Aubl.); estas ultimas têm mais a particularidade inte- ressante, que os caules que trepam nos troncos, produ- zem folhas especiaes, protectoras das raizes, e bem di- fferentes das dos galhos pendentes que só são capazes de produzir inflorescencias. Como se vê, os cipós per- tencem às familias mais diversas, com adaptações mul- tiplas ao seu modo de vida. Mesmo da familia das Pal- meiras, encontram-se, nas beiras dos furos, alguns ci- pós, pertencentes ao genero Desmoncus e chamados vulgarmente jassitára. Estas palmeiras agarram-se nas arvores pelos espinhos que cobrem os caules e pelos fo- liolos distantes das folhas compridas, que são transfor- mados em uma especie de ganchos. Provavelmente por causa da frondosidade dos ar- bustos e das arvores na beira da agua, as epiphytas são relativamente raras ao longo dos furos e não dão na vista. Vi apenas, no'rio Aramá, algumas Bromeliaceas (p. e. a Tillandsia bulbosa Hook. e algumas especies de Aechmea) e a pequena Orchidea Oncidium iridifo- lium H. B. K., de bonitas flores doiradas. Muito maior é o numero dos epiphytas logo que se entra num iga- rapé. Aqui os galhos das arvores que se entrelaçam por cima da agua e os troncos meio cahidos são cobertos de uma flora de epiphytas rica senão em especies ao menos em individuos, de fetos, Araceas, Orchideas, Bromeliaceas etc. Quando se penetra no interior da mata, o aspecto não é sempre o mesmo. Nos trechos regularmente inun- dados (igapós) o solo, coberto de materias em decom- posição, folhas fructos e galhos podres, é quasi sem ve- getação arbustiva ou herbacea. Só aqui cacolá os filhos 190 Furos de Breves das arvores da mata, nascidos das poucas sementes que poderiam grelar n esta meia obscuridade. Martius (obr. cit. p. 295) descreve a vegetação no interior d um iga- pó no furo de Bréves, falando da frequencia dos cogu- melos Hymenompycetes e do Helosis guvanensis, planta parasita da familia das Balanophoraceas. Não me foi possivel ver uma floresta n estas condições, e creio que os cogumelos só podem crescer em maior numero nas epocas das aguas mortas, quando certos igapós não se alagam com cada maré. Bem diflerente é a vegetação nos terrenos um pouco mais altos que raras vezes ou nun- ca se alagam, como nos trechos mais altos ao longo do rio Aramá. N'estas matas ainda sempre humidas, a ve- getação arbustiva é mais desenvolvida, sem ser abun- dante, e o solo é coberto de fetos e monocotvledoneas de folhas grandes. Ao lado de alguns fetos menores, mas muito elegantes e delicados, como a lingua de tucano (Trichomanes vittaria DC.) e as diversas formas do Aspidiums ubquinque fidum dies encontram-se aqui as formas mais robustas entre os fetos do baixo Ama- zonas, a espinhosa Alsophila ferox, unico feto arbo- rescente n estas paragens e que apparece tambem, em companhia do Chrysodium aureum Mett., nas beiras dos furos, expondo as suas grandes palmas finamente rendilhadas á insolação directa, ea Hemitelia multi- Hora R. Br., tambem de tronco erecto, mas sempre cur- to. Aqui é o el-dorado das Mar anthace as, das diversas especies de Calathea principalmente, entre as quaes se elevam as especies maiores de fschnosiphon, princi- palmente o arumã membeca (Ischnosibhon Aruma Kcke), cujos caules fornecem o RR material para trabalhos de cestas, paneiros etc., o arumã mirv (pro- vavelmente o Ischnosifhon dare dé Hub.) que serve aos mesmos usos, O cantan (Monotagma contractum Hub.) etc. Entre as Musaceas, Vera, ao lado da grande e or- namental pacova sororóca (Ravenala guyanensis Benth.), a Heliconia erros um L. f., de flores escar- lates; a familia das Zingiberaceas é representada pela pacova catinga (Re nealmia exaltata L.). Bastante rica : a flora dos epiphyvtas sobre os tron- cos humidos das arvores velhas; ali se encontram pe- quenas especies de Polvpodium e de Trichomanes, di- versas especies de Philodendron, com folhas estreitas o ' f Í E 1 ta a É O 1 1 á " R 1 a Vo 1) 1) h 1 ho 1 Y SE ao] , 1 pd! 8) | w b À 1 o j Wi l t . a . q f 1 + é E" k » , 1 ” Pa Lt , A A. o E x À a h é j [ , Mol racao PA . UM E | RR = hos ! a 1 , A , Dag vo , ur “ " ] j Ve PL Db , 4 ai j E E dt di A. ? Rs o h a " ' N +.ºMER 3 ! q s o . ny SA De ) E q o 7 AVI >» Jvor op woo / Pora vp ojrd "DUDA Furos de Breves 491 e compridas, p. e. o Philodendron Linnaei Kunth e o magnifico Philodendron calophyllum Brogniart, cujas folhas pódem attingir um metro de comprimento. Di- versas especies de Carludovica cobrem os troncos com as suas folhas bifidas, semelhantes ás folhas de palmeiras. Na sombra das florestas encontram-se tambem as pequenas palmeiras dos generos Geonoma (ubim), As- trocaryum (mumbáca)e Cocos(jareuá),assim como al- gumas arvores menores ou arbustos que não se mostram nas beiras dos furos, como p. e. o pepino do mato (Azn- belania tenuiflora es Arg.), de fructos pyriformes saborosos, o cacao- (Theobroma speciosum Spreng.), o manacá (Brunfe Ra spec.) e outros. As arvores maio- res da floresta são em parte as mesmas que se encontram na beira dos furos, mas algumas outras se avistam raras vezes da margem, assim p. e.o cumarú, a macacaúba, cupiúba, copahiba, muirapiranga, cedro, acapú, pracuúba,atchua, muirapuâma, etc. Nas matas do rio Aramá-miry encontrei muitas arvores d'uma especie de Vochysia então cobertas de cachos de flores amarellas. DIFFERENÇAS NA VEGETAÇÃO DOS DIVERSOS DISTRIC- TOS DA REGIÃO DOS FUROS Visto o estado actual dos nossos conhecimentos so- bre a vegetação dos furos em geral, não é possivel fazer- se uma idéa exacta das modalidades que existem na com- posição da vegetação nas diversas subdivisões da região dos furos. Na vegetação das beiras, visivel de bordo dos vapores, observei entretanto algumas differenças que parecem ser caracteristicas para cada uma destas subdi- visões. Na secção meridional dos furos de Bréves propria- mente ditos, ao S. do furo Aturiá, as alluviões mais re- centes parecem occupar maior extensão que alhures. Ali ha mangaes e miritysaes extensos eestes são geralmente bordados duma ordem de palmeiras jupaty. Nos alarga- mentos dos furos, que ali são frequentes, acham-se ilhas de formação recente e praias de lodo cobertas de aturia- zaes e principalmente dé aningaes enormes. A vegetação fluctuante é principalmente formada de Eichhornias. Na secção septentrional dos furos de Bréves os 492 Furos de Breves mirityzaes e principalmente os mangaes são menos ex- tensos, o jupaty é mais raro, os aturiazaes e os aningaes são geralmente pouco desenvolvidos, a vegetação fluctu- ante é formada principalmente pela canna-rana. O carac- ter especial d'esta secção se mostra com mais clareza na parte septentrional do furo Tajapurú, onde o mangue e o jupaty desapparecem completamente e onde já se ob- servam, embora em pequeno numero, certas arvores proprias ao Amazonas,como o pão mulato (Calycophyi- lum Spruceanum [ook. f.), o tachy (Triplaris suri- namensis Cham.),a muiratinga, além de outras especies que faltam ou são mais raras nos outros furos, como o assacú, o taperebáe as duas palmeiras murumurú e URGE y: Na região do Aramã e do Anajás, a frequencia da palmeira patauá parece ser uma das feições domi- nantes. Quanto à região da Laguna e das Bahias, a sua vegetação não é bastante conhecida para permittir com- parações. RELAÇÕES ENTRE A VEGETAÇÃO DA REGIÃO DOS FUROS E A DAS REGIÕES VISINHAS Como vimos mais acima, Herbert Smith (ob. cit. pp. 87-88 e 101) considera os igapós de Bréves como o typo duma região que elle chama «tide-lowlands», o que significa «terras baixas sujeitas às marés». Apezar d'esta denominação não fazer nenhuma allusão à vegetação, pa- rece entretanto que, o seu autor queria designar com ella não só uma unidade puramente geographica mas tambem phytogeographica. Isto resulta não só das de- nominações que elle dá às outras subdivisões da pla- nicie de alluvião da Amazonas, mas tambem das se- guintes explicações que se referem aos «tide-lowlands»: «Everywhere one finds damp woods like these of Bre- ves, with numberless palms, abundance of rubber-trees, mangroves along the shores, and so on. This land is: flooded every year, as the rest of the varzeas are, but besides this, the tides sweep through the channels every day, and overflow much the ground, so that itis al- ways wet». Como esta descripção não póde applicar-se Furos de Breves 493 aos campos de Marajó, Mexiana e Caviana, estes não ficariam comprehendidos na região dos tide-lowlands. Me parece entretanto que é bom reunil-os com as re- giões do estuario do Amazonas que são cobertas de mata, numa grande divisão phytogeographica que cor- responderia às outras creadas por Smith, os «varzea- meadows» e os igapós do alto Amazonas. Distinguimos então na planicie de alluvião do Amazonas tres divisões : 1.º Agsona do estuario,até a foz do Xingú, for- mada em parte de mata, em parte de cam- pos. 2.º A gona dos campos do baixo Amazonas, da foz do Xingú até Obidos ou talvez ainda mais adiante. 3.º A sona dos Igapós do alto Amazonas. Como Smith já mostrou, as florestas não faltam completamente na zona dos campos (varzea-meadows) e na zona dos Igapós apparecem ás vezes campos de pequena extensão, mas em geral estas zonas parecem ser mais homogeneas que a zona do estuario. Aqui os cam- pos occupam uma grande superficie, mas são cer- cados por trez lados pelos terrenos onde o igapó é a feição dominante. Além da região dos furos no sentido mais lato, pertencem a esta categoria toda a parte occi- dental de Marajó, as ilhas da embocadura principal do Amazonas, com excepção do centro das ilhas Mexi- ana e Caviana, uma parte das beiras septentrionaes do Amazonas, e uma larga facha de terrenos ao sul do estu- ario do Pará. Principalmente n'esta ultima região, cortada tambem por numerosos furos, as condições de existencia da vegeta- ção são quasi as mesmas que na secção meridional dos fu- ros de Bréves.Os nossos conhecimentos sobre a vegetação nestas diversas regiões são ainda muito incompletos. Resulta porém das observações feitas até aqui, que ha certas differenças na composição das matas do lado do Amazonas e do lado do rio Pará, differenças que se mostram mesmo nas respectivas extremidades dos furos de Bréves (Cf. po AGI). Uma differença muito sensivel é a preponderancia do mangal como primeira floresta littoral do lado do rio Pará, do ciriubal do lado do Amazonas. L94 Furos de Breves LISTA ALPHABETICA DAS PLANTAS: QUE CRES- CEM NA REGIÃO DOS FUROS Acapú: Vouacapona americana. Aubl. (Leguminosas Papilionatas). Acapú-rana: Campsiandra laurifolia Benth. (Leg. Cae- salp.) Amapá: Hancornia Amapá Hub. (Apocynaceas). Amapá branco: Hancornia spec.? Anany: Symphonia globulifera L. fil. (Guttiferaceas.) Anauerá: Licania macrophylta Benth. (Rosaceas). Andiróba: Carapa guyanensis Aubl. (Meliaceas). Aninga: Montrichardia arborescens Schott (Araceas.) Apui: Ficus fagifolia Miq., e outras especies (Moraceasl) Apui-rana: Strychnos Rouhamon Benth. (Loganiaceas.) Arumã-assth: Ischnosiphon obliguus | Kcke» « —membéca: Ischnosiphon aruma , (Marantaceas| (Aubl.) Kcke. | Ure PRIEST: Ischnosiphon simplex Hub. | Assahy: Euterpe oleracea Mart. (Palmeiras). Assacú: Hura crepitans L. (Euphorbiaceas). Atchuá: ? Aturiá: Drepanocarpus lunatus Meyer (Leguminosas Papilion.) Avenca-grande: Alsophila ferox Presl. (Cyatheaceas.) Bacába: Oenocarpus distichus Mart. (Palmeiras). Bacabão: Oenocarpus spec. nov. ? (Palmeiras). Baunilha: Vanilla aromatica Swartz (Orchidaceas). Boiussú: (Leguminosa). Braza: Maripa scandens Aubl. (Convolvulaceas). Breu-branco: Protium heptaphyllum (Aubl.) March. Breu-preto: Protium spec. Breujauaricica: Protium spec. Cacáo-y: Theobroma speciosum Spreng. (Sterculiaceas.) Caimbé: Coussapoa asper crolraniçõe; (Moraceas.) Cajú-assú (Cajú do mato): Anacardium giganteum Han- cock (Anacardiaceas). Canna-rana: Panicum amplexicaule Rudge (Gramineas.) Capóte: Sterculia spec. (Sterculiaceas). Caripé! Licania misis noi f.) Fritsch (Rosaceas). Caripé-rana: Licania turiuva Cham. et Schlecht. (Ro- saceas.) (Burseraceas) PR Furos de Breves 95 Caripé-tariira: Licania spec. (Rosaceas). Cebola-brava: Clusia div. espec. (Guttiferas). Churú (Cerú): Goeldinia ovatifotia Hub. | Lecythidaceas - Goeldinia riparia Hub. ) Cipó de bamburral: Cydista aeguinoctialis Mikan (Bi- gnoniaceas). Cipó de poita: Adenocalymma foveolatum Bur. (Big- noniaceas). Ciriúba: Avicennia nitida Jacq. (Verbenaceas). Cuaxingúba: Urostigma pertusum Mig. (Moraceas) Cumarú: Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. (Legumino- sas Dalbergieas). Cumarú-rana: Dipte ryx oppositifolia (Aubl.) Willd. (Leg. Dalberg.) Cumacai: | RE micos Cupaúba (Copaiba). Copaifera guyanensis Hayne (Le- gum. Caesalp.) Cupiúba: Sgondias spec. ? (Anacardiaceas). Cupuassú: Theobroma grandiflorum Schum. (Stercu- liaceas). Envira-tái: Duguetia riparia Hub. (Anonaceas). Fava de empigem (Faveira): Vatairea guyanensis Aubl. (Legum. Dalberg.). Fruta de guariba: cf. Gogó de as pie Gapui? Moutabea Choda- | tiana Hub. | Moutabea angus- tifolia Hub. Gogo de guariba: (Polvgalaceas). Herva de Enio Anomospermum Schomburgkii Miers. (Menispermaceas). Herva de passarinho: Diversas Loranthaceas. Jaboty: Erisma calcaratum (Link) Warming (Vochy- siaceas). Jacareúba: Calophyllum brasiliense Camb. (Guttiferas). Jarandeua: Prthecolobium latifolium Benth. (Legum. Mimosoideas). Jareuá: Cocos aeguatorialis Barb. Rodr. (Palmeiras). Jasmin da beirada: Salacia spec.? (Hippocrateaceas). Jatuaúba branca: Guarea trichilioides L. (Meliaceas). Jatuaúba preta: Guarea costulata C. DC. (Meliaceas). Inajá: Maximiliana regia Mart. (Palmeiras). Inajá-rana: Quararibea guyaneênsis Aubl. (Bombaceas). 496 Furos de Breves Inambú-quiçáua: Caraipa insidiosa Barb. Rodr.(?) (Ternstroemiaceas). Ingá: Inga spec. (Legum. Mimosoideas). Inga-rana: cf. Jarandeua. Ipé de folha miuda: Macrolobium chrysostachyum Benth. (Les. Caesalpii Ipe-rana: Crudya pubescens Spruce (Legum. Caesalp.). Ipé-uba: Macrolobium latifolium Vog. (?) (Legum. Caesalp;) Ipé verdadeiro: Macrolobium hymenacoides (Legum. Caesalp.) Ituá-assú: Gnetum spec. Ituá-miry: Gnetum paraense Hub.(?) ' (Gnetaceas) Ituá-preto: Gnetum oblongifolium Hub.) Juquiry: Drepanocarpus ferox Mart. (Legum. Dalber- gieas). Juquiry- assu: Machaerium spec. (Legum. Dalberg.) Jutahy: Hymenaea spec. (Legum. Caesalp.). Jutahy-asst: Hymenaea Courbaril L. (2) (Legum. Cae- salp.). Jutahy-rana: Crudya Parivoa DC. (Legum. Caesalp). Laranja-rana: Cassipourea guyanensis Aubl. (Rhizo- phoraceas). Macacaúba: Pithecolobium spec. (Legum. Mimosoideas). Macucuú: Licania heteromorpha Bth. (Rosaceas). Macucú-cumaté, Macucú-rana, Macucú de folha miuda, Macucu de folha grande, Macucú branco: Licania Esp. div. Majorana: Hibiscus bifurcatus Cav. (Malvaceas). Mamorana: Pachira aguatica Anbl. (Bombaceas). Manacá: Brunfelsia Hopeana Benth. (?) (Solanaceas). Mangue: Rhizophora Mangle L. var: racemosa Meyer (Rhizophoraceas). Mão de onça: Marcgravia coriacea Vahl (Marcgravi- aceas). Massarandúba: Mimusofps globosa Gaertn. (?) (Sapota- ceas). Matá-matá: Eschweilera spec. (Lecythidaceas) Marajá: Bactris marajá Mart. e outras e spec. (Palmei- ras). Merecém (Pão doce): Lucuma spec. (Sapotaceas) Mirity: Mauritia flexuosa L. f. (Palmeiras) Molongó: Ambelania grandiflora Hub. (Apocynaceas) Furos de Breves 497 Muira-piranga: Haploclathra fpaniculata Benth. (2) (Ternstroem.) Muiraúba da varzea: Qualea speciosa Hub. (Vochy- siaceas) Muiratinga: ? | Astrocaryum Mumbaca Mart. (Palmeiras). Mumbáca: : Astrocaryum humile Wall. var: micro- carpa Dammer. (Palmeiras). Murumurú: Astrocaryum murumuru Mart. (Palmeiras) Mururé-page: Pistia stratiotes L. (Araceas) | Eichhornia crassipes (Martius) Mururé de flôr rôxa | Solms. (Pontederiaceas). Eichhornia azurca (Sw.) Kunth. Mututy: Pterocarpus suberosus Pers. (Leg. Dalberg.) Pacapeua: Swartzia racemosa Benth. (Legum. Caesalp.) Pachiúba: Iriartea exorrhiza Mart. (Palmeiras) Pachiuba-rana: Tovomita triflora Hub. (Guttiferas) Pachiuba-rana miuda: Tovomita brasiliensis (Mart.) Walp. (Guttiferas). Pacova-catinga: Renealmia exaltata L. (Zingiberaceas) Pacova-sororóca: Ravenala guyanensis (Rich.) Benth. (Musaceas) Pão doce: Lucuma spec. (Sapotaceas) Pão de rosa: Nectandra spec. (?) (Lauraceas) Pão mulato: Calycofphyllum Spruceanum Hook. f. (Ru- biaceas) Papa-terra: * Posogueria lLatifolia (Lam.) Roem. et Schulth. (Rubiaceas) Papo de mutum: ? Paranary: Parinarium brachystachyum Benth. (Ro- saceas). Patauá: Oenocarpus Bataua Mart. (Palmeiras). Pepino do mato: Ambelania tenuiflora Miúll. Arg. (Apocynaceas). Piquiá: Caryocar villosum ( Aubl.) Pers. (2) (Caryocara- ceas). Piquiá-rana. Caryocar edule Casaretto (Caryocaraceas). Pitaica: Swartzia acuminata Willd. (Legumin. Caesalp). Pracachy. Pentaçlethra filamentosa Benth. (Legum. Mimos.). Pracuúba: Andira spec.? (Leguminosas). Quariba (Coariúba?): Vochysia spec. (Vochysiaceas) Rabo dearára: Cacouciacoccinea Aubl. (Combretaceas). Santa Maria: Allamanda cathartica L. (Apocynaceas). / 498 Furos de Breves Seringueira branca e preta: Zlevea brasiliensis Múll. Arg. (Euphorbiaceas). Seringa mangue: [fevea guyanensis Aubl. (Euphor- biaceas). Sucupira da varzea: Diplotropis spec.? (Leguminosas). Sucuúba: Plumeria Sucuuba Spruce (Apocynaceas). Sumaúma: Ceriba pentandra Gaertn. (Bombaceas). Tabúa: Cyperus giganteus Vahl. (Cyperaceas). Tachy: Tachigalia spec. (Leguminosas Caesalpin.). Tachy (outro): Triplaris surinamensis Cham. (Polygo- naceas). Tajá de cobra: Dracontium asperum C. Koch (Araceas). Tamacoaré grande: Caraipa paraensis Hub. (Ternstroe- miaceas). Tamacoaré miudo: Caraipa minor Hub. (Ternstroemia- ceas Timbó-assú: ? Timbó-rana: Machaerium macrophyllum Mart. (Legum. Dalberg.). Tinteira: Laguncularia racemosa Gaertn. (Combreta- ceas). Tinteira (outra): Coccoloba excelsa Benth. (Polygona- ceas). Trevo da beira: Acanthacea. Tucunaré mereçá: Mouriria grandiflora DC. (Melas-= tomaceas). Turizeiro: Licania spec. (Rosaceas). Uanany: ci, Anany. Uapé: Nymphaea Rudgeana Meyer (Nymphaeaceas). Ubim: Geonoma paniculigera Mart. | « Genoma trijugata Barb. Rodr. , (Palmeiras). «| Geonoma Dammeri Hub. ) Uchy-rana: Saccoglottis amagzonica Mart. (Humiria- ceas). Ucuúba: Virola surinamensis (Rol.) Warb. (Myristi- caceas) Ubussú: Manicaria saccifera Gaertn. (Palmeiras). Umiry: Humiria balsamifera Aubl. (Humiriaceas). Umiry-rana:? Urucú-rana: Sloanea dentata L. (Tiliaceas). Urucury: Attalea excelsa Mart. (Palmeiras). Verga de jaboty: cf. Jaboty. Veronica: Dalbergia monetaria Pers. (Leg. Dalberg.). Yovóca: Caconcia coccinea Aubl. (Combretaceas). É , Furo Jipe BMappa da região Aramá LEVANTADA Á BUSSOLA PELO PESSOAL SCIENTIFICO DO MUSEU PARAENSE DR. K. VON KRAATZ-KOSCHLAU, DR. J. HUBER, DB. G. HAGMANN FEVEREIRO 1900 Escala —1 : 100.000 i ea Perfil do Aramá em frente da Villa 1 2000 Legenda: Escala — [| Mirity (Mauritia flexuosa) WNW Jupaty (Raphia taedigera ) muy Mangue (Rhizophora Mangle ) Vitalramá E ro Me Terrenos elevados sobre o nivel das paia alagados . Tro E aguas mais altas, ESTAS Zê sa + Logar de pesca planctonica, «— Rinerario, Fhco- = - “eo barro — = = barro azul azul Serem Furo S. Isabel e embocadura dos Rios Mutuacá e Piriá Escala: 1 100.000 Estabelecimento Graphico C, WIEGANDT PARÁ, Ro separe : TERRAS ME dt DONA PIA REV QuE MEME SIC TALO IPI A ES SE 0d a 08% OHINACTNA ara :r 090.001 » [= sig PRA E, '- Lagartos do Brazil 499 VII LACERTILIOS LAGARTOS DO BRAZIL (*) Pelo Dr. Emilio A. Goeldi Sobremaneira crescido é hoje o numero de especies de animaes que a boca do povo brazileiro reune sob a denominação de lagartos e lagartixas. Se Duméril e Bi- bron ao redigirem sua grande obra— Herpetologie geêne- rale (1836-1839) apenas conheciam e descreveram 435 es- pecies para todo o mundo, outra obra de Leunis-Ludwig, impressa em 1883, que tenho presente, eleva-as já a 1.250, distribuidas por 290 generos. O trabalho mais moderno e mais vasto que Boulenger sobre esta ordem dos reptis, em tres grossos volumes, publicou em lin- gua ingleza no anno de 1887, já adduz 1.616 especies como pertencentes ao actual periodo da Terra. Em todo o caso os Lacertilios constituem dentre os reptis da actualidade o grupo mais comprehensivo; em multiplicidade de especies só a ordem dos Ophidios (cobras) póde approximadamente medir-se com elle. Como se distribue este exercito de fórmas sobre a superficie terrestre e com que quota numerica para eile contribue o nosso paiz? Quanto à primeira parte, não pude lograr conclusão cabal, à altura das ultimas exigencias da sciencia. Os, scientistas francezes, acima mencionados, declaram toda- via que das 435 especies de Lacertilios seus conheci- dos, 167 cabem ao continente americano, o que então ) Da obra inedita do Dr. Emilio A. Goeldi, intitulada «Reptis do Brazil» (terceira das Monographias brazileiras relativas á fau- na) e redigida em 1892-1893 é este o terceiro capitulo. Até agora não foi publicada outra parte d'esta obra, tão volumosa como a das «Aves do Brazil», senão a introducção geral, que appareceu com o titulo «Lancear d'olhos sobre a fauna dos Reptis> no «Boletim do Museu Paraense, Tomo 1, pag. 402-432» (janeiro 1896). 500 Lagartos do Brazil correspondia à relação de 31º/, da somma total. Por outro lado, do que alcança a litteratura especial do Bra- zil, considerado em suas dimensões politicas presentes, conheço até agora 107 especies pertencentes ao nosso grupo, o que representa 1/15 ou 6,6 º/, do conjuncto das especies. Quanto à subdivisão systematica dos Lacertilios ou Saurios como os chamam muitas vezes, desagradavel desunião dominou e ainda domina entre os especialistas. Dumeéril e Bibron, que tambem incluiam os Croco- dilia, opinião hoje de todo abandonada, aceitavam ha meio seculo oito subdivisões ou familias: 1 Crocodilianos 5 Iguanianos. 2 Cameleonianos 6 Lacertianos. 3 Geckocianos 7 Chalcidianos. 4 Varanianos S Scincoidianos. Zoologos posteriores distinguem: 1) Fissilinguia (Saurios de lingua comprida, tenue, protractil, profundamente fendida adi- ante). 2) Brevilinguia (Saurios de lingua curta, es- pessa na raiz, mais tenue e chanfrada na frente. 3) Crassilinguia (de lingua mais curta, mais es- pessa, não protractil, e arredondada na ponta); 4) Vermilinguia (Saurios de lingua muito com- prida, semelhando verme, e muito protractil); 5) Annulata (Saurios de pelle xadrezada longi- tudinal e transversalmente, sem pés ou só com os pés anteriores). Os especialistas inglezes desdobram simplesmente esta ordem em numero maior de familias equivalentes. Em 1876 Wallace distinguio 26 dellas; Boulenger, O mais recente e profundo monographo, admitte 21 fami- lias, distribuidas por duas sub-ordens: Lacertilia vera com 20 familias, e Rhiptoglossa com uma familia apenas, a dos Chamaeleontidae, —extra americana, e limitada à região ethiopica. Se adherirmos á ultima distribuição, a seis se redu- zem as familias que no Brazil reclamam especial atten- ção : Lagartos do Brazil 501 I Geckonidae IV Teiidae Il Iguanidae V Amphisbaenidae II Anguidae VI Scincidae. Sirva-nos o vulgar Lagarto, Iupinambis tegui- xin (Salvator Meriani) para uma idéa do habitus geral dos Lacertilios. A impressão assim obtida é perfeitamente adequada para a grande maioria das especies congeneres, maximêé se não esquecermos que o nosso Lagarto é uma das fórmas gigantescas actuaes da ordem, e que a maior parte dos Saurios não passam de miniaturas deste. Se quizessemos definir com todo laconismo o habito e as fórmas do corpo do lagarto, diriamos que é um tronco longo, anguiforme, coberto de escamas, em que se distinguem ainda claramente a cabeça, pescoço, cor- po e cauda, tronco que descansa sobre pernas baixas e curtas. As pernas dão a impressão de algo de accessorio, tratado pela natureza com desamor de madrasta, e bom sera insistir desde logo nesta circumstancia e não mais perdel-a de vista. De facto a este respeito encontramos na ordem dos Saurios uma variedade de entontecer qualquer leigo. Antolham-se todas as gradações de fórmas quadru- pedes, bipedes e impedes. Estas o povo teima em levar à conta das cobras, e já não se dispensa olho de natura- lista para não ser levado a erro por esta semelhança ex- terna com os Ophidios. A grande maioria dos Saurios é na maior extensão do corpo coberta de escamas, cuja affinidade genetica com as pennas das aves e os cabellos dos mammiferos já antes salientâmos. Estas escamas variam não só quanto ao tamanho e contorno, mas tambem quanto à contextura do lado ex- terno, que estã voltado para a superficie, e à disposição e situação reciprocas. Ora imperceptivelmente pequenas, 17—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 502 Lagartos do Brazil são outras vezes grandes, scutiformes; aqui arredonda- das, além apresentam- se triangulares ou quadradas. Uma fórma tem escamas pequenas, granuladas, outra maio- res, salientes como verrugas; conicas n'tima terços apresentam-se ainda em quarta fórma como verdadeiros espinhos. Ora apparecem-nos lisas, infileiradas à maneira de mosaico; ora aquilhadas e sobrepostas à maneira de tabo- inhas ou telhado. Todas estas diversas modalidades das escamas, como dos escudos maiores que costumam guar- necer a superíicie da cabeça; provocaram porção de EX- pressões techmicas, que-tem de aprender quem quizer se occupar mais rigorosamente com estes animaes, com as quaes, porém, não cançaremos o leitor, senão quando fôr absolutamente indispensavel soccorrermo-nos dellas. Esta roupagem de escamas é em certas épocas regu- larmente expellida, os Saurios descascam como as co- bras, processo semelhante ao da quéda do cabello mos mammiferos e da muda de pennas nas aves. A este proposito, muito notavel é o facto demons- trado por investigações recentes de que a antiga roupa- gem de escamas é expellida graças à formação de uma camada de cabellos microscocopicamente pequenos entre a roupagem velha e a nova, que vai gradualmente levan- tando aquella, affrouxa-a e por fim a expelle. Sob a superficie existem, em muitos Sauúrios, duas camadas de pigmento, que por contracção e expansão: sob o influxo da luz ambiente e das affeições psychicas, tornão possivel o processo physiologico que sob o nome de mudança de côr póde observar-se em muitos Gecko- nidae e Iguanidae sul-americanos, e tão famosos tornou os Chamaeleontidae do Velho Mundo. Imaginem-se duas placas de vidro de côr, encarnado ou amarello, postas lado a lado e por fim superpostas. Quando as duas coin- cidem, nossa vista recebe a impressão do escuro; relati= vamente clara apparece-nos de ambos os lados a borda livre de qualquer das placas. O que aqui traduzimos em grande da-se alli em pequena escala; a distensão e-con- tracção das cellulas chromatophoras, seu jogo na super- posição parcial ou total deve ter muito de semelhante, e Lagartos do Brazil 503 não receio que physiologos de profissão alleguem objec- ções serias contra esta comparação. O colorido e o desenho desta roupa de escamas den- tro da ordem dos Saurios mostram, à primeira vista, multiplicidade espantosa. Os Saurios dos climas temperados são na média mais modestamente coloridos; roupagens propriamente de grande gala, vão-se tornando tanto mais frequentes quanto mais nos approximamos das zonas quentes, e O Brazil, do qual tão grande parte cáe na zona tropical, possue importante contingente de taes Lacertilios que sem contestação se pódem chamar bellamente coloridos e desenhados. Modernas investigações ensinaram que taes desenhos, apezar de sua multiplicidade, não devem sua origem sim- plesmente ao jogo caprichoso de pintura natural arbitra- ria; têm-se apurado vestigios de certa regularidade. Os melhores estudados a este respeito são os Lacer- tilios europeos; sobre os Calangos do Velho Mundo, por exemplo, existe um estudo classico de Th. Eimer, o perspicaz zoologo de Túbingen,-e-é de esperar qué o methodo de pesquiza por elle empregado, que assenta absolutamente sobre o sólo seguro da observação exacta, e por assim dizer reduz cada ponto, cada risco e cada linha a um. systema amparado passo a passo por nomen- clatura especial, transportado para os nossos Saurios neo- tropicos dê e uliddos Mem que contribuiriam essencialmente para a comprehensão desta tão complexa modalidade de desenho. Comparada com a das cobras, distingue-se a cabeça dos Lacertilios pela circumstancia das mandibulas, tanto adiante no mento como na parte occipital, estarem presas fixa e immovelmente uma na outra, perdendo assim o pasmoso poder de distensão proprio do apparelho de- voratorio dos Ophidios. A bocca em geral costuma ser copiosamente armada de dentes igualmente formados. Quanto á dentição dos Saurios, vigora como feição caracteristica o facto dos dentes não estarem encaixados em alveolos separados, mas, ou levantarem-se da linha mediana da mandibula (Saurios acrodontes) ou se acos- 504 Lagartos do Brazil tarem do lado interior das mesmas (Saurios pleurodon- tes). Além disso, muitas vezes, como nas cobras e em muitos amphibios, a abobada palatina traz certa porção de dentes. Do que acima se disse a proposito da distribuição systematica, resulta que a lingua na ordem dos Saurios é capaz de assummir conformação multipla. Caracteristico do esqueleto é a presença do sterno; deve-se, porem, exceptuar as Amphisbaenas (cobras de duas cabeças). A fenda anal, que nas Tartarugas e Crocodm los é longitudinal, rasga-se transversalmente nos La- Centros: A grande maioria dos Lacertilios' é oviparallemERo os Anguidae do Velho Mundo existem entretanto formas viviparas. Os ovos, geralmente de 6 a 15, são revesti- dos de uma pelle branca, coriacea, tenaz porem flexivel, e têm a forma ora redonda, ora alongada. A femea de- posita-os em logar apropriado, ora em folhas, debaixo de pedras, no esfarinhado das arvores ôÓcas, oia fama bem, e de modo muito notavel, em ninhos de formigas e termitas. De resto, em nada se incommodam os pais por sua progenitura; incubação propriamente não ha nestes animaes. Os filhos, que sahem do ovo depois de um numero de semanas que varia com as familias e generos, ficam independentes desde o momento em que vêm à hiz uk vem do resultado da propria caça, que abrem contra to- dos os animaes à alçada de suas forças. Sobremodo mnotavel é um apparelho proprio dos La- certilios e de muitas cobras, que permitte ao embryão ma- duro arrebentar a casca resistente do ovo que o imelagl Adiante, na ponta do focinho, na linha mediana inter- maxillar, assenta um dente de ovo, mais largo, em for- ma de pá, excedendo consideravelmente o calibre dos outros dentes, que se atrophia logo depois de ter cum- prido seu destino. Apparelho de todo semelhante já encontramos nas aves. Quem não observou ainda a pequena geba cornea encontrada em pintos e perusinhos que ainda estão na casca, ou mal acabáram de largal-a? Lagartos do Brazil 505 Os lagartos são animaes de rapina extremamen- te movediços, expertos e corajosos, que em geral pro- curam alimentar-se no reino animal. Os maiores atacam vertebrados de toda a classe com que se julgam aptos a medir forças; os menores buscam caracóes, vermes e insectos. Muitos vertebrados menores são victimas del- les, refugiando-se em buracos de camondongos e galerias de ratos, ou julgando-se encobertos pelo capim alto ou moitas baixas; nos ninhos de aves que contêm ovos, contra as avesitas inaptas ainda para o vôo, commettem as mais clamorosas carnificinas. Mesmo parentes de ta- lhe menor não estão garantidos; raptam tambem batra- cios; levam a habilidade a causar prejuizos aos peixes e sua prole. De intelligencia não são destituidos, contando-se decididamente entre os mais prendados dentre os reptis. Os Saurios quadrupedes, de sensorio bem desenvolvido, são a este respeito muito superiores a seus parentes bi- pedes e apodes, que geralmente levam um viver subter- raneo e repugnam a luz do dia. Aos primeiros, em su- as excursões de caça que se estendem mais ou menos longe, sobra ensejo para muitas conclusões experimen- taes e observações que se gravam na memoria: visivel- mente o viajar alarga-lhes o horizonte espiritual. Mas como podem desenvolver-se espiritualmente os outros em sua existencia apparentemente sem alegrias no re- gaço escuro da terra, onde o poder de visão de tão pou- co proveito lhes é que pela mór parte possuem apenas olhos atrophiados? Ao passo que estes Saurios inferiores apodes e que por isso lembram cobras, mostram-se ante a luz diurna ariscos de modo a difficultar consideravelmente a obser- vação mais rigorosa de sua maneira de viver, OS ver- dadeiros Lagartos, os representantes typicos da or- dem, são genuinos filhos do sól, que nunca acham de mais a luz ou o calor. Outros tambem, como os Gecko- tidae, são animaes crepusculares ou nocturnos, que ini- ciam sua actividade exactamente quando os legitimos representantes da ordem voltam de sua labuta diaria. Os Lacertilios genuinos têm programma diario mui- to regular e sujeito a poucas alterações. As primeiras e as ultimas horas do dia são .consa- gradas à caça; as que precedem e as que succedem o meio-dia consagram-se ao prazer, isto é, à convivencia 506 Lagartos do Brazal social e a folguedos; as horas quentes do meio-dia pas- sam-se preguiçosamente espichados, de preferencia em um meio somno, quando a estação estã fria, escolhendo logares onde os raios do sól pódem exercer toda a sua acção; no verão mais ao entreluzir da moitada e da ma- céga. Cada um destes animaes possue, como o observa- dor attento facilmente terá occasião de notal-o, seu pas- to preferido, que não abandona sem necessidade, e que defende renhidamente contra qualquer invasor ou intru- so, seja embora setl proximo parente. Certo buraco do muro, certa fenda de uma rocha desguarnecida, é sus- tentado geralmente por um individuo muito especial, O que facilmente se pode verificar dado o caso que não é raro, de ter perdido, por accidente ou em combate, al- gum pedaço de cauda. Não quer isto dizer que muitos individuos não habitem uma e mesma localidade. Ao contrario, muitas vezes me tenho espantado da sem conta de exemplares do Tropidurus torquatus, especie de lagarto pequeno, ornado com uma meia lua preta a cada lado do pescoço, que se póde ver folgando ao mesmo tempo em um dia de sól quente, nos rochedos de granito abrazado, entre Bromelias espinhosas, no pé ou em cima das pontas escalvadas dos originaes mon- tes conicos em que sexpncastoana bahia. do Rio dds Janeiro. Fôra erroneo suppor que os Saurios não precisam de agua para beber. Certamente contentam-se em passar com o orvalho das folhas, com a agua que à maneira de pucaro se collige. no coração ' de diversas: Bromelias: Em occasiões de aperto, como por experiencia posso assegural-o, mordem um fructo succulento, para com a lingua extrahir o sumo e acalmar a sêde torturante. Inimigos não faltam aos Saurios, que se contam en- entre os animaes mais perseguidos e aperreados. Mui- tos mammiferos e um sem numero de aves andam-lhes ao encalço passo a passo. A elles associa-se o homem, muitas vezes levado por simples crueldade ou pelo appetite perverso de matar. Deve, entretanto, em desculpa sua, dizer-se que o commum do povo em sua ignorancia tem estes ani- maes por venenosos. Agui, por exemplo, todo o resto de Saurios que não cáem sob a denominação generica de lagartos e lagartixas, consideram-se «viboras» e «co- Lagartos do Brazil 507 bras» e quem os mata julga ter feito obra meritoria. Lastimavel contrasenso ! Até agora apenas se descobriu uma unica especie suspeita de venenosa, mas esta não habita a nossa terra: co Heloderma horridum, lagarto horripilante, bruno- vermelho, malhado, de mais de meio metro de compri- mento, e que habita o Mexico. A primeira familia dos Saurios brasilicos, à qual va- mos volver a nossa attenção, seja a dos Geckonides (0 Ascalabotae) Pertencem aqui animalejos de colorido sombrio e de vida predominantemente nocturna, podendo eu suppôr como representante o mais conhecido, pelo me- nos no Rio de Janeiro, onde difficilmente havera quem delle não se lembre—o Hemidactylus mabuia, vul- garmente chamado «lagartixa». Possuem uma cabeça chata, relativamente grande, com bocca profundamente rasgada e grandes olhos noc- turnos munidos de fenda pupillar vertical; um corpo as- sás bronco, chato; escamas pequenas, arrumadas em for- ma de telhas, cauda menor em comprimento do que o corpo e assás quebradiça; finalmente com pés sobretudo caracteristicos por sua feição. Cada um mostra (tanto na frente, como atraz) 5 dedos, munidos com placas ou la- mellas transversaes, agindo qual ventosas e facilitando aos nossos animaes um correr facil e desembaraçado numa parede lisa, vertical. —São creaturas de todo ino- ffensivas, que não manifestam do homem medo algum, exercendo a sua caça aos insectos ao redor e nas habita- ções humanas, tornando-se assim positivamente uteis. Felizmente gozam tambem, no Rio de Janeiro, como no resto do Brazil, por parte do publico, da fama de inocuos; pertencem aos poucos saurios, aos quaes vulgarmente ninguem cogita mover guerra. Vae ahi uma differença benefica entre Mundo Novo e o Mundo Velho, entre o presente e o passado. Porque os escriptos dos classicos gregos e romanos 508 Lagartos do Brazil são repletos de horrendas narrações da pretendida vene- nosidade e malignidade d'estes caçadores nocturnos de insectos, da classe dos Reptis, chamados «ascalabo- tae» em Aristoteles, é «siteltio» entre os; Latinos, desxdis do a uma pequena mancha, em forma de estrella, no dorso, conforme nos ensina Ovidius. Refere o primeiro que estas horrendas creaturas têm por costume cahir do tecto dentro da comida, dormir nos presepios, introdu- zir-se nas narinas dos asnos, asphyxiando-os e envene- nado-os pela mordedura, e, finalmente devorar, na epo- cha da muda, a sua pelle—<«de inveja», conforme nos | conta Conradus Gessnerus «afim de que tão soberano remedio contra a epilepsia não caia na mão dos homens» | — donde tiraram os jurisconsultos o seu termo «Stellio- natus», querendo designar o caso, onde a alguem se rouba e se desvia alguma cousa mediante fraude e dolo. Ahi dous dedos de doutrina proveitosa para os adeptos da sciencia juridica. Conhecem-se hoje em todo o orbe 27o especies de Geckonides. Todavia não sei senão de 5 especies, pro- prias da fauna do Brazil, a saber: - Gymnodactylus geckoides. . Gonatodes humeralis. - Thecadactylus rapicaudus. - Hemidactylus mabuia. -. Phyllopezus goyazensis. EQ tm Hemidactylus mabuia, de entre os Geckotides aquelle, com o qual o amigo da natureza aqui n'este pa- iz se encontrará mais vezes, faz parte de um genero do qual se deve designar como signal caracteristico nos pés de 5 dedos as duplas series de laminas adhesivas dirigidas um tanto obliquamente para a frente (5-6 de- baixo dos dedos interiores, 7-9 debaixo dos dedos medi- anos). Não attinge a grandes dimensões; seu maior com- primento foi indicado como sendo de 166", Acerca do seu colorido nem é facil dizer-se alguma cousa de certo: ora apparece cinzento, ora bruno,-e n'este ultimo caso” Cos: tumam apparecer sobre o dorso umas figuras escuras, angulares (quatro entre pés anteriores e posteriores), com o vertice para o lado de traz. Retirado casualmente du- Lagartos do Brazil 509 rante o dia de um esconderijo escuro, como seja o lado posterior de uma veneziana, de uma mobilia encostada na parede, o animal por via da regra apresenta-se-nos com tom escuro, por vezes bruno ennegrecido. Se porém o transportamos para uma caixinha de taboa recentemente aplainada, ainda da côr clara e natural da madeira, tere- mos occasião de fazer a estupenda observação, que o ani- mal, ao abrir-se a tampa, gosta de apresentar-se com pelle clara, harmonisando de modo surprehendente com o effeito de luz do ambiente. Eu já muitas vezes fiquei im- pressionado com tal phenomeno. Quem ainda não terá visto o nosso confiado peque- no Saurio ? No Rio de Janeiro será observado nas vi- draças dos lampeões de gaz, que por ventura se acham na visinhança de um jardim, de um bosque ou passeio, regularmente todas as noites, espiando ou correndo ora por dentro, ora por fóra dos vidros, caçando toda a sorte de insectos nocturnos attrahidos pela luz. Freguez não menos acostumado é no interior das casas, onde desde o anoitecer à luz do lampeão faz as suas correrias nas paredes das salas, emittindo as vezes, quando de bom humor, em som chiante, que eu tenho ' conseguido ouvir muitas duzias de vezes, sôa talvez como «tico-tico», proferido com rapidissima successão. Diversas vezes obtive os ovos. São bellamente esphe- ricos, brancos e pódem, tanto quanto me lembro, ter pas o ati" de diametro. (1) Ser de um caso, onde elles foram postos em ci- ma da colcha de uma cama, num quarto não habitado de hospedes de uma casa particular; criei os respecti- vos filhotes. Até sahirem do ovo, levaram diversas se- manas. Estes confiados lagartos nocturnos pregaram an- tigamente não poucas peças nas minhas caixas com cria- ção de vermes de farinha (coleoptero Tenebrio moli- (1) Desde então foram descriptos detalhadamente por mim no meu trabalho «Os ovos de 13 especies de Reptis do Brazil com observa- ções acerca do modo de vida e da reproducção. Estudos dos annos 1884-1897. Com 2 estampas e 1 figura no texto», publicado em allemão nos = Re E SS A e e 516 Lagartos do Brazil cos de areia. Os ovos, na media acima de 18, as vezes o dobro, são approximativamente do tamanho de ovos de pomba, brancos e de casca molle e ficam enterrados na areia sendo cobertos depois. Como fornecem um caldo gordo e saboroso, os in- digenas tambem a estes ovos fazem uma caça persisten- te.-—No Panamá e na America Central existe uma va- riedade de «camaleão», caracterisada por um appendice nasal, a variedade «rhinolopha». Spix descreveu o nosso «papa-vento» ou «camaleão» ainda uma vez debaixo de nada menos do que 5 nomes diversos: Iguana caerulea,—-squamosa,—viridis.— marginata,-e—lophyroides. Na realidade porém conhece-se, além da especie ora tratada, sómente uma outra ainda, I. delicatissima (nudicollis D. B.) com uma disposição algo diversa dos escudos na cabeça. O habitat é identico ao da especie anterior. Munido de numero pequeno de poros femoraes (só- mente 3 a 5 de cada lado), como muitos Saurios da America septentrional os possuem pelo lado inferior das coxas (Iguana possue 12a 18 de cada lado), apresenta-se o muito menor Hoplocercus (Tachycercus) spinosus, não attingindo além de 14 cm. de comprimento, bruno pelo lado dorsal com mancha pretae amarella e uma fita amarellacea por cima das costas. Falta-lhe tanto a crista dorsal, como o sacco gular; em compensação possue uma bem desenvolvida dobra gular. Conhece-se este lagarti- nho sómente do Brazil; nos Museus europeos encontram- se especimens mormente provenientes de São Paulo. Sem numerosos poros femoraes (a saber somente 9 a 11 de cada lado), sem crista dorsal e somente com fra- co sacco gular no sexo masculino, temos outrosim as es- pecies do genero Polychrus, vistosos lagartos verdo- engos, que foram descriptos em obras mais antigas de naturalistas francezes debaixo da designação evidente- mente indiana de se recolhe durante a estação fria à sua tóca, vivendo ali uns quatro mezes da provisão feita em fructas, che- gando a roer a sua propria cauda, quando porventura os mantimentos principiam a faltar, e que reapparece de novo no mez de agosto. O que é certo é que não poucas vezes a cauda q estes animaes é defeituosa. — Em março achei o «Teiú» já muito gordo e bem nutrido. A sua carne, branca e saborosa, parece quando preparada, com a de gallinha e por esta razão os brazileiros mo- vem a estes animaes uma guerra intensa. Atiram-lhes no mato com chumbo e usam cães especialmente ensi- dos para este genero de caça que procuram o «Teiú», e tocam-no para o buraco: cavam então até encontral-o e o matam a cacetadas. Os caipiras Brazileiros usam tambem a carne d'estes animaes contra a mordedura de cobras peçonhentas e costumam guardar para este fim nos seus ranchos porções seccas desta carne. Nunca ouvi uma voz d'estes lagartos». Pessoas serias e dignas 94) Lagartos do Brazil de fé, porém, me affiançaram que o Teiú expelie às vezes uma voz bem perceptivel, um verdadeiro mugido. Ao passo que o Principe zu Wied, conforme propria confissão, nada conseguiu saber acerca da reproducção, refere Schomburgk haver encontrado frequentemente os ovos do Teiú nas grandes casas conicas de certa especie de cupim (Termites). (1) O Teiú pratica uma- cavidade em taes casas, devorando primeiramente os legitimos inquilinos, e depositando ali em seguida os seus ovos, em numero de 50 a 60. Escreve Hensel-—observador exacto e benemerito da fauna do extremo sul do Brazil — que os ovos brancos, munidos de casca muito dura, de femeas crescidas e velhas, adquirem quasi o tamanho de ovos de pomba, sendo “porém de calibreimengraa rombudos em ambos os polos. Direi. quaes são as mi- nhas proprias observações, feitas na Amazonia, a respei- to da especie seguinte, Tupinambis nigropunctatus. Aqui no sul averiguei, que o Teiú é apparição frequente por exemplo, nos Estados do Rio de Janeiro, Minas, São Paulo e Espirito Santo, encontrando-se tanto na região montanhosa, até além de 800" acima do mar, como na planicie baixa e quente; entretanto de abrilia setembro é raras vezes visto nas alturas da Serra dos Orgãos. Costuma ter o seu territorio certo e determi- nado, observando tambem uma regularidade difficil de desconhecer no seu roteiro de caça e na escolha do seu dormitorio e do logar onde se expõe aos raios do sol para aquecer-se. Quem tiver em conta taes traços do seu caracter e indole é que maiores : probabilidades terá de apoderar-se opportunamente d'este saurio. Já por diversas vezes o apanhei em laços iscados com mi- lho e armados com vistas aos diversos Gallinaceos indigenas, proprios das nossas matas. Tambem conhe- ço, por propria experiencia, as dolorosas dentadas que este valente Saurio distribue em occasião de apuros. (1) Informa-me o meu primo, Andreas Geeldi, ter encontrado na Serra dos Orgãos, por diversas vezes, ovos do Teiú tanto em ninhos de cupim (Termitas), como tambem em formigueiros da formiga....... Compare-se isto com as nossas proprias observações feitas no Pará acerca da especie seguinte, Tupinambis nigropunctatus. Pará, out. Igo2. a — Lagartos do Brazil 5 Teiús presos já diversas vezes puzeram ovos, até nos jardins zoologicos da Europa; não me consta porém caso algum em que chegassem a sahir os filhotes. Proximo parente é o Tupinambis nigropunctatus. Possue apenas uns 10 poros femoraes, de cada lado, (o Teiú tem 20), um colorido geral mais escuro, devido principalmente ás grandes manchas pretas, e tem um escudo frenal inteiriço na cabeça. Pertence mais parti- cularmente ao Brazil septentrional, ao Perú e ás Guya- nas. Travei conhecimento com esta especie—o «jacru- arú»—nas regiões amazonicas, observando-a tanto em liberdade, como em individuos presos. Da ilha de Ma- rajó obtive uma postura de ovos, encontrada n uma «casa» de cupim no alto de uma arvore, à beira do rio Arary. (1) Dracaena guyanensis (Thorictes dracaena D. B.: Ada guyvanensis Gray), é um Saurio, que attinge com- primento superior a 80 cm., e é de côr uniformemente azeitonada por todo o corpo, com excepção da cabeça, até à nuca, que é côr de laranja. Facilmente se conhece pelos escudos muito grandes e providos de alta quilha, que se veem do lado dorsal, arranjados com maior ou menor regularidade em linhas longitudinaes e que, dis- seminados entre as escamas pequenas, dão-lhe um quer que seja do aspecto de pequeno jacaré, a não ser a con- figuração totalmente diversa da cabeça; distinguem-n'o outrosim as narinas redondas e os dedos, que pelo lado exterior são munidos de uma orla denticulada. Existe uma figura no Rêegne animal de Cuvier, mas é for- çoso confessar que uma illustração verdadeiramente boa é até hoje um desideratum scientifico. Como possuo (1) Detalhadas informações acerca d'este assumpto encontram-se no nosso trabalho «Os ovos de 13 especies de Reptis brasilicos etc.», Zoolog. Jahrbucher, Vol. X, 1897 pag. 648 seg. As dimensões de 9 ovos medidos em 1897 oscillavam entre 52 a 47 1/2”” no comprimento, e 29 1/2 a 26”” na largura. — Ainda por estes dias veio-nos dos arre- dores da cidade um ninho de cupim para os tamanduás do nosso jar- dim zoologico, que ao partir-se mostrou no seu interior uma porção de ovos de jacruarú, contendo embryões já bastante adiantados. Tira- mos diversas photographias, que serão opportunamente aproveitadas. Pará, out: Igo2 549 Lagartos do Brazal irreprehensiveis photographias tiradas de um exemplar vivo que por muito tempo pude observar na foz do Amazonas, é possivel que eu mesmo um dia me occu- parei em preencher tal lacuna. A Amazonia e as Guvanas são a patria de Dracae- na, Saurio corpulento e reforçado. Ouvi designal-o com o nome trivial de «jacuruxv», mas soube ao mes- mo tempo que não é reptil muito fre equente, sendo rela- tivamente pouco conhecido. E' raro até nas collecções dos Museus de Historia Natural. O exemplar vivo, acima mencionado, veio de Marajó, e na contracosta da dita ilha encontrei tambem pessoalmente o primeiro individuo em estado de liberdade. Estava numa poça lamacenta, no meio do caminho que de uma fazenda de criação levava para um «teso» visinho, atravez de um «pirisal» muito extenso; era já na época da retirada das aguas. Infelizmente um golpe de terçado, precipitada- mente dado pelo vaqueiro, nosso guia, privou-me da- quella vez do prazer de apoderar-me do interessante Saurio com vida. O que eu mesmo vi e observei con- corda plenamente com as informações dos indigenas:— o jacuruxy é um Lacertilio muito affeiçoado á agua, sendo as regiões inundadas e beiras de rio a sua resi- dencia predilecta. Lembro-me do embaraço que nos causou o não saber a natureza da alimentação da Dra- caena, quando recebi o exemplar do cabo de Magoarv, até que casualmente descobrimos que consta principal- mente de peixe. Obtive tambem toda uma postura de ovos, acompanhada da informação de que tinha sido encontrada em identicas condições às descriptas dos dois jacruarus precedentes, quer dizer, n uma cavi- dade de ninho de cupim, à margem de um rio. São bas- tante maiores, sobretudo mais compridos do que os das especies do genero lupinambis Pormenores circumstanciados dei n um trabalho es- pecial, publicado recentemente na Allemanha. (1) Foram (1) «Os ovos de 13 especies de Reptis brasilicos etc.» Zoolog. Jahrbiicher, Iena, Vol. X, 1897., pag. 647 e seg.— Medias de 2 ovos medidos em 1897: comprimento 74,5””: largura 38,25””, Pará, out. 1902. 1 Lagartos do Brazil estas, ao que parece, as primeiras e unicas noticias acerca do modo de vida e da reproducção da Dracaena guyanensis; nas obras de herpetologia procura-se de- balde qualquer relação attinente a este assumpto. As 5 especies do genero Centropyx concordam no seu habitus geral com o lagartinho commum europeu (Lacerta muralis) e um tanto tambem até com o nosso Tropidurus torquatus brazileiro (o «calango» dos nor- tistas), entre os Iguanideos; num exame minucioso, porém, differem logo pelo revestimento de todo o corpo de escamas com quilha e imbricadas, sendo as ditas es- camas de tamanho proporcionalmente grandes, e tam- bem pelas margens denticuladas dos dedos. Não attin- gem grandes dimensões os animaes que fazem parte d'este genero. O Brazil abriga 3 especies. Centropyx calcaratus (vittatus), de approximadamente 30 cm. de comprimento, já foi colleccionado, descripto e figurado pelo Principe zu Wied debaixo do nome de Lacerta striata. Aquella figura mostra uma estria mediana verde na metade oral do dorso, outrosim, em cada lado do corpo, uma estria longitudinal bruno-preta entre as ex- tremidades anteriores e posteriores. O Principe Maxi- miliano achou este reptilzinho perto dos limites entre Bahia e Minas Gseraes, na região costeira; outros via- jantes colleccionaram-n'o tanto no Perú, como nas Guy- anas. Seus reductos predilectos são localidades aridas, rochosas e repletas de pedra. GC. intermedius (striatus D.B. (partim);borckiana Peters) distingue-se por esca- mas dorsaes menores, notando-se a particularidade de serem dirigidas as suas quilhas todas contra a linha mediana do dorso. Tendo sido encontrados até agora sómente exem- plares femininos, não é impossivel, que o C. interme- dius represente apenas a femea do C. striatus. Como sua patria considera-se a parte septentrional da America do sul, que é tambem a patria da terceira especie, CG. alto-amazonicus (Cope). Esta possue, conforme seu autor, escamas pequenas e molles; é, aliás, baseada ape- nas sobre um unico exemplar, nem completamente adulto (1876). Fidalga figura lacertina, que a muitos respeitos me parece representar O genuino pendant neotropico para a bella Lacerta viridis, do sul da Europa, —especie, que detidamente observei na Italia inferior e da qual conser- - ma li Lagartos do Brazal vei não poucos individuos no captiveiro—, ou talvez mais ainda para a vistosa L.ocellata, da Hespanha e da Africa septentrional, é a Ameiva surinamensis (Ameiva vul- garis DB, Ps ameiva, Cnemidophorus praesi- gnis, C. macutatus cic.). Lichtenstein 'e 6"Principena Wied suppõem, que já o antigo Maregrav quiz descrevel-a debaixo da denominação tupí «amejua». Tal qual como aquelas, é luxuosamente colorida: a cabeça côr de vers as vezes côr de cobre, o -dorso verde rutilante, 'os lados com fundo azulado ou brunaceo, ornados com estrias perpendiculares pretas e salpicadas de amarello, estrias estas que podem ser encaradas como principios de uma estriação transversal, no sentido da theoria de Eimer. Tal interpretação encontra um ponto de apoio na circums- tancia de mostrarem, com muita regularidade. os indivi- duos novos e os do sexo feminino ainda uma fita longi- tudinal preta, que principia perto do olho. Deve-se com- tudo confessar que o colorido é sujeito a diversas varia- ções, a ponto de ser tarefa muito difíicil (como tambem no caso do «Teiu») encontrar dois exemplares que concordem em todos os pormenores. Contam-se approxi- madamente 120 anneis na cauda, constituidos de peque- nos escudos estreitos e quadrangulares. Num exemplar macho, do Comprimento total de sosbe a canda Dora só media nada menos de 360”, o que equivale a quasi 9/73 do comprimento total: O Principe zu Wied, que publicou uma boa pesto no seu Aílas (« Abbildungen,), e dá noticia de duas vari- edades por elle observadas, fala da Ameiva surinamen- sis nos seguintes termos: «E' muito frequente nas regiões por mim percorridas; encontra-se ao sul, mesmo nos arredores do Rio de Janeiro, no valle do Parahyba e em diversos outros logares. Ali tem a mesma residencia que o «Teiú», como 'identicos ' são os seus" costumes modo de vida, alimentação e reproducção—-é, em summa, um «Teiti» em escala reduzida. Córre com a mesnralnea locidade, em movimento serpenteado, vive debaixo do matagal, entre as folhas seccas, nas pedras, debaixo dos nãos podres, nas fendas dos rochedos. em buracos do chão e, com manifesta predilecção,sobretudo em terrenos arenosos ou argilosos muito enxutos e torridos. Na agua da-se tão pouco como o Teiú. Morde raivo- samente e defende-se, quando se vê sem meios. de fugir; todavia não a comem, e, por isto, tambem nãóa perse- Lagartos do Brazil vm) guém. Quem tiver desejo de vêr de perto este lagarto, faz bem em munir-se de uma espingarda, pois elle é arisco e mui celere. Muitos exemplares acham-se com cauda de- feituosa, mas que se regenera pouco a pouco». Sabe-se, que as Ameivas, como o Teiu, pôem os seus ovos em buracos apropriados, no chão; dizem que têm perto de 2 cm. de comprimento e que são perfeitamente ovoides, de côr branca e providos de uma casca delgada, flexivel. De resto as informações litterarias acerca do modo de vida em liberdade são, graças às observações de Gosse, muito mais completas em relação a uma especie parente, da ilha Jamaica, a A. dorsalis (sloanii D. B.), do que a respeito da nossa representante brazileira. A Ameiva surinamensis acha-se distribuida sobre uma vasta porção da região neotropica; conheço pela lit- teratura achados que formam uma serie continua desde a costa de Nicaragua até Montevidéo. Na foz do Amazo- nas, em Pernambuco, na Bahia é commum; da então capi- tania da Bahia descreve o Principe Maximiliano uma das suas variedades (com verde e azul mais rutilante). Já no capitulo introductorio tive ensejo de dizer que este bel- lissimo Lacertilio é apparição quotidiana nos jardins do Pará. Eltaemero Ameivya contas hoje r9cespecies; todas neotropicas. Entre os seus congeneres distingue-se a nossa especie brazileira por 10 a 12 series de placas ven- traes; 15 a 23 poros femoraes de cada lado e outrosim pela circumstancia de não estender-se tanto o dedo in- terior, como o dedo exterior, quando deitado para a fren- LES. Ao genero Cnemidophorus pertencem lagartinhos mediocres e pequenos, do habitus geral da Ameiva su- rinamensis, ora descripta, distinctos pela posse de uma lingua partida não retractil na sua base. Desde os tem- pos de Duméril-Bibron (1839), que não conheciam se- não 4. especies americanas, o seu numero cresceu até hoje para 16. Cabem ao Brazil tres entre ellas. Cnemidophorus lemniscatus, que attinge um com- primento( de or -a's0o-ecm:. efoi observadosnoPará eem Santarém, na região amazonica, tem côr azeitonada pe- lo lado superior; o sexo feminino mostra umas 8 a 9 li- nhas longitudinaes esbranquiçadas nos lados do corpo, ao passo que o sexo masculino não possue além de 4 à 5, de modo que o intervallo entre as duas linhas supe- 946 Lagartos do Brazil riores permanece preto. Suppõe Boulenger, que o dimi- nuto Saurio, descripto e figurado pelo Principe zu Wied com o-nome de. Teius cyanpmelas (provenientelas regiões aridas e arenosas nas vizinhanças da foz do Rio Mucury) pertence á especie em questão. C. ocellifer (hygomii R. L.) possue apenas 12 po- ros femoraes em cada lado e ER 6 linhas longitudi- naes, claras e bem cerradas nos flancos. Attinge 20 cm: de comprimento e não foi achado senão em territorio do Brazil, Pernambuco e Minas Geraes (Reinhardt-Liút- Rem A terceira espécie PC lacertoides (grandensis Cope, do Brazil meridional e UA Darwin tambem em Montevidêéo, é ainda menor (13. a E7 cmd possue 10 a 12 poros femoraes e 10 à 12 series longi- tudinaes de placas ventraes, sendo o colorido approxi- madamente o mesmo que nas duas especies precedentes do norte e de este: Teius tevou (Acrantes viridis D. B. e Hensel, A. coelestis d'Orbigny, Dicrodon: coelestis: Permil chama-se scientificamente uma creatura saureana de perto de 30 cm. de comprimento, cujo distinctivo principal consiste na circumstancia de terem os pés posteriores apenas 4 dedos desenvolvidos, ficando atrophiado o quinto. A dentadura mostra 6 pequenos dentes inter- maxillares, além de 13 a 14 dentes maxillares superiores e 18 inferiores Em tudo o mais o habito geral coincide com o que se nota nos generos Cnemidophorus e Ameiva acima tratados. Pertence este lagarto apenas ao mais extremo «sul do Braziba Rio Grande dorsal principalmente, porém, às republicas meridionaes visi- nhas. E' de um bello verde em cima, possuindo no dor- so manchas transversaes pretas em disposição regular e nos lados linhas longitudinaes amarellas. Não quere- mos passar em silencio que já o antigo Marcgrav figu- rou outra especie de lagarto com 4 dedos posteriores apenas, debaixo da designação tupi: « Lejunhana». Assim como o Teiú-ea Ameiva-se parecem “com os Lacertideos do Velho mundo, salienta-se o Crocodi- lurus lacertinus(amazonicus e ocellatus Spix)por sua semelhança com os Varanides, tão característicos, da Africa e da Asia. E um animal bruno pelo lado dorsal, manchado de preto, do comprimento além de meio me- tro, notavel sobretudo pela sua cauda, fortemente com- primida, e provido em cima com uma dupla serra den- Lagartos do Brazil 941 ticulada de escamas com quilha; cabem à cauda 26 cm. num individuo das ditas dimensões. Bom disctintivo constituem outrosim as narinas mui- to approximadas á extremidade do focinho. Este Sau- rio, interessante mas pouco conhecido, reside exclusiva- mente na bacia amazonica e nas Guyanas. Observei-o no Pará, onde lhe dão o nome Stoa de «jacaré-rana» (isto é «pseudo—jacaré»). O que eu vi pessoalmente concorda com as ade ee nádias nos autores: O Crocodilurus (nome que não significa outra cousa se- não «cauda de crocodilo») vive sómente em localida- des, onde ha agua em profusão, nos campos submersos, beiras de rios ou «furos»; não tem o costume de trepar nas arvores. São condições de existencia, como a Ama- zonia as offerece com incomparavel fartura. O jacare- rana é difficil de apanhar; perseguido fóge immediata- mente para um buraco redondo na ribanceira, que da entrada para uma galeria comprida debaixo e entre as raizes das arvores e anhingas e então sua caça não é nem facil nem agradavel no meio do lodo molle, deixa- do pela baixa mare. Se fôr preciso, não hesita em oppôr energica resistencia. Parece que comem a sua carne nas Guyanas visinhas. A julgar pela litteratura, poucos são até agora os exemplares conservados nos Museus de Historia Natural: 2 em Londres, 2 em Paris e um indi- viduo pequeno, novo, colleccionado por Spix, no Mu- seu de Leyden. Tão excessivamemte raro aliás não é o jacaré-ra- na, posso affirmal-o por propria experiencia. Eu obtive diversos exemplares (entre eiles até um vi- vo, que durante semanas pude observar n um aquario) dos proximos arredores da cidade do Pará e em certos «furos» da ilha das Onças, em frente da dita cidade, vi este reptil regularmente, chegando a apanhar especi- mens mortos pelo menos mediante a espingarda. São ainda Teiidae menores os membros do genero Neusticurus. composto apenas de 2 especies, ambas re- sidentes no Brazil. O habitus geral semelha o do Cro- codilurus; tambem aqui a cauda possue uma serra du- pla, denticulada no lado dorsal, mas na parte anterior do corpo existem mais duas series longitudinaes de for- tes escamas com quilha, que se erguem em distin- ctas saliencias. A cabeça é aguçada á maneira de flecha; no pesco- 948 Lagartos do Brazil ço percebe-se, pelo lado inferior, uma dobra transversal cutanea bastante desenvolvida. N. bicarinatus, de 270 mm. de comprimento e com cauda de 180 mm: de co- lorido bruno-escuro, variegado pelo lado de cima com manchas mais escuras, e nos flancos outras, brancas e quadrangulares, mora no interior do Brazil. N. ecpleopus, consideravelmente menor e com fo- cinho mais curto e mais rombudo, reside no alto Ama- zonas e nas regiões vizinhas do Equador. Muito semelhantes são ainda as especies do genero Alopoglossus, composto de 3 especies, das quaes toda- via não foi encontrada até agora em territorio brazileiro senão uma unica—A. carinicaudatus. Este pequeno Saurio attinge apenas 12 cm. de compri- mento; é bruno, côr de canella; pelo lado: superior da passo que é de colorido amarellaceo o lado inferior. Ha- bita igualmente o alto Amazonas (foi descripto em 1876 pelo zoologista norte-americano Cope), bem as- sim o Leposoma scincoides, Lacertilio ainda menor. Caracterisa-o exteriormente um colorido bruno-ama- rellado;* nas partes superiores, sendo" odorson pre vido de 3 a 4 series de pequenas manchas pretas; o ab- domen é amarellaceo. E' uma forma já descripta e figu- rada por Spix. Inteiramente do aspecto de um lagartinho commum é tambem Pantodactylus Schreibersii (P. dOrbignyi DB: piyartatus Cope) representante unico do seu ge- nero. Tem uns 15cm. de comprimento, é bruno pelo lado de cima e ornado nos flancos com uma estria clara. Este pequeno reptil pertence ao sul do Brazil e às republicas circumvisinhas; parece não ser raro no Rio Grande do Sul, onde o Dr. H. von lhering colleccionou diversos exemplares nos ultimos annos. Faz alguns annos (1885), o supramencionado Cope descreveu debaixo da denominação scientifica de Mio- nyx parietalis, um reptil proveniente da região limi- trophe entre o Perú e o Brazil, portanto do alto Ama- zonas, e proximo parente do Pantodactylus. Mede, des- de o focinho até o anus, apenas. 597». é de côr bruna salpicado de amarello nos lados da cabeça. Segundo o autor, consiste o seu distinctivo essencial na cirecumstan- cia de ser provido com uma unha direita, rudimentar, o primeiro dedo tanto nos pés anteriores, como nos pos- teriores Lagartos do Brazil 949) Não menos insignificante, debaixo do ponto de vista das dimensões, é o Prionodactylus quadrilineatus 'Ccr- cosaura q.), animal parecido, quanto ao colorido, ao Pantodactylus acima descripto, caracterisado pelas es- camas ventraes ordenadas em series longitudinaes e pelo facto de contarem-se 27 escamas na peripheria de um corte transversal imaginario interessando o centro do tronco. Faz poucos annos que foi descripto, como oriun- do do Estado de São Paulo. Identico aspecto apresenta tambem a Cercosaura ocellata (olivacea, humilis), sendo todavia para mencionar a differença de ostentarem os individuos masculinos pelos flancos series longitudinaes de man- chas pretas, que, devido a terem o centro branco, adquirem aquelle aspecto, para o qual se emprega na terminologia a denominação de «manchas oculares». Até hoje o Saurio em questão, cujo comprimento não passa além de r18cm., foi somente observado nos ar- redores de Pernambuco e do Pará, ao passo que uma forma aparentada, o Placosoma cordylinum (lado su- perior bruno-amarellaceo; lados do corpo com fita lon- gitudinal bruna) foi encontrado na visinhança do Rio de Janeiro. Como signaes característicos para o Ecpleopus Gaudichaudii indicam Duméril-Bibron- os seguintes: «Dessus du corps d'un brun fauve, marque d'une ou deux raies blanchâtres de chaque côté.» Accrescentamos, que as escamas dorsaes, lisas ou com fraca quilha, de forma de um hexagono alongado, acham-se coordenadas em 33 series transversaes regulares e que o Reptil não alcança comprimento consideravelmente maior do que uns 12cm. Até agora não foi achado senão no Brazil. Oreosaurus Petersii tambem não passa de um fede- lho insignificante, não percebido com certeza por mais ninguem, senão por algum amigo da natureza, que dedi- ca imparcialmente igual interesse a grandes e pequenos. Habita as visinhanças do Pará; é bruno de côr, com pe- quenas manchas e garatujas pretas. As escamas dorsaes são quadrangulares, estiradas, juxtapostas; contam-se 39 n uma mesma linha desde a região occipital até a in- serção da cauda. Tres outras especies do mesmo genero habitam Equador e Venezuela. - [4 20—(BOL. DO MUS. PARAENSE) 590 Lagartos do Brazil As especies do genero Heterodactylus são lagarti- nhos pequenos, baixos, de cauda muito comprida, com escamas hexagonaes, estiradas, providas de quilha e imbricadas; sem abertura do ouvido visive!; com dedos interiores atrophiados e desprovidos de unhas. Do Bra- zil são duas as especies que chegaram ao meu conheci- mento: Heterodactylus imbricatus, observado na Serra da Mantiqueira, e H. Lundii da Serra da Piedade (Mi- nas). Ambas são bruno-amarellaceas pelo lado de cima, mais escuras nos lados; ambas têm uma fita longitudi- nal clara entre flancos e dorso. Tomaria espaço e tempo demais o enumerar as differenças especificas entre uma ec outra. De configuração semelhante é outrosim o Perodac- tylus modestus do interior de Minas Geraes (Morro da Garça). Foi descoberto pelos naturalistas dinamarquezes Reinhardt e Lútken e por elles descripto no anno de 1861. Possue porém uma abertura visivel do ouvido. Sua côr e pelo lado dorsal um bruno bronzeado; tem duas fitas longitudinaes esbranquiçadas. Comprimento total 112mm, Iphisa elegans, habitando a Amazonia e as Guya- nas, é de colorido bruno-castanho e mostra mais uma vez as fitas longitudinaes claras. São caracteristicas para este genero e especie duas series de escudos dorsaes alargados. Micrablepharus Maximiliani (Gyvmnophthalmus quadrilineatus Wied) é um mimoso lagartinho, dis- tincto pela posse de uma cauda azul. Já o antigo Marcgrav o conhecia, pois falla d'elle debaixo da denominação tu- py camericima»: a respectiva xvlographia indica com ra- zão os pés anteriores com 4 dedos apenas. De naturalis- tas posteriores tenho deante de mim a figura dada pelo Principe zu Wied e ade Reinhardt e Liútken. Refere o primeiro que encontrou este diminuto lagarto tão facil de conhecer, no Mucury onde o viu correr com ligeireza por sobre a areia; accrescenta que se move entre arbus- tos e plantações e que sóbe tambem pelas arvores. Foi somente mediante a figura desenhada do natural pelo Principe, que se conseguiu descobrir qual o Saurio que o antigo Marcgrav quiz descrever no tempo do dominio hollandez. A especie, dedicada hoje a tão meritorio in- vestigador, é, fóra do Brazil, conhecida tambem no Pa- raguay e differe da especie seguinte pela ausencia de es- cudos praefrontaes na cabeça. Lagartos do Brazil 991 Gymnophthalmus quadrilineatus D. B. initidus R.e L.) não é o animal figurado com o mesmo nome pelo Principe zu Wied. Faltam-lhe na verdade, não só as pal- pebras, mas tambem os escudos fronto-parietaes, possue escamas dorsaes inteiramente lisas e conta 15 escamas na peripheria dum corte transversal imaginario atravez o meio do corpo; sóbe a 34 até 38 0 numero de escamas entre a região occipital e a inserção da cauda. A côr é de um bruno-azeitonado, escuro: o comprimento total anda por uns g cm. À patria deste Saurio, muitas vezes confundido com a especie anterior, são o Brazil ea Gu- Vana; tres outras especies proximas parentes habitam a America Central e as Indias Occidentaes. N um retrospecto sobre a numerosa turba de Teiidae “do Brazil—cujo total actual não se póde considerar como completo e definitivo, attenta a circumstancia, que de uma exploração minuciosa e methodica do Brazil central por exemplo não poucas serão as especies novas que, com toda a probabilidade, resultariam—não posso senão constatar com bastante pezar, que os nossos conhecimen- tos scientificos actuaes em relação a muitos generos e especies não se elevam acima de uma descripção arida e steril da pelle. Faltam-nos observações dedicadas e cuidadosas sobre o modo de vida da maioria. Tambem os pormenores relativos à reproducção estão ainda en- volvidos, por via de regra, na mais profunda escuridão. O que se julga regra e norma invariavel para toda a fa- milia, a priori e por simples conclusão de analogia, emprestada dos Lacertides do Velho Mundo—é que os Teiidae, como aquelles, pôem ovos, são oviparos. Alias e forçoso confessar, que nem em todos os casos são co- nhecidos os dous sexos com a certeza desejavel. Quantos pygmêus, quantos fedelhos despreziveis, não produziu a natureza tropical aqui na Sul-America nesta novissima familia dos Teiidae ! Se já entreos Anguidae encontramos formas ani- maes, a que O povo sacode a cabeça sobre a systematica dos naturalistas, quando estes accentuam a sua natureza lacertina, o leigo acabará por protestar em alta voz, quan- 559 Lagartos do Brazil do os sabios incorporam tambem na mesma ordem, a quinta e ultima familia dos Saurios—os Amphisbaenidae São cobras genuinas, incontestaveis, e das mais perigo- sas e peçonhentas até—estas «cobras de duas cabeças» argumenta o povo, com ze'o indefesso e convicção ina- balavel, e quem se atrever a levantar do chão com q mão um d'estes animaes temidos, corre o risco de ser tomado por maniaco audaz e temerario, ou por feiti- ceiro, «pagé» ou cousa que o valha. Sei disto por mul- tipla experiencia propria. Os Amphisbaenidae aa um corpo comprido, estirado, cylindrico, sem pés (com unica excepção do Chirotes Canaliculatus do Mexico, que possue pés an- teriores rudimentares —). À pelle é reforçada, tenaz, desti- tuida de escamas, porém xadrezada por anneis ou sulcos transversaes mais profundos e longitudinaes mais finos. Cabeça e cauda são approximadamente do mesmo feitio, pelo menos ao exame superficial e assim é que se ex- plica a origem do nome indigena usual. Melhor todavia seria, em todo o caso, a comparação com uma «minho- ca» commum, traduzida para grandes dimensões, haven- do bastantes pontos de contacto no que diz respeito ao habitus exterior. São obscurantes, receiosos da luz do dia e nada ostentam da idole lacertina alegre, atrevida, introduzin- do-se por toda a parte e comtudo prudente. Não quere- mos negar que à primeira vista é algo difficil de reco- nhecer n'elles o anti-polo duma mesma ordem de ani- maes, onde se vêem na ponta creaturas tão intelligentes, velozes, corajosas e avidas de valorosos feitos, como se encontram entre os Iguanides e Teiides. Vivem debai- xo da terra e se o acaso os leva à superficie, ao reino do sol, dão a entender o seu mal-estar por incessantes ten- tativas de fugir. Curvam-se, torcem-se, desenvolvendo nisto uma admiravel força muscular; mas não lhes vem em mente morder e afinal de contas um Lepidosternon, uma Amphisbaena, que, seguro pela nuca, fica azulado na cabeça de tanto esforço para se libertar, não deixa de produzir uma impressão de comiseração. Os olhos aca- nhados, que apenas são do tamanho de uma picada de LR: Lagartos do Brazil 55: alfinete e sómente transparecem como pontos pallidos atravez da cutis que completamente os reveste, eviden- temente não lhes são de grande proveito. Todo o seu comportamento nos lembra a figura de um cego, que anda pela ruas, apalpando sempre com as mãos ou com a ben- gala, e procura fazer uma idéa da configuração do nivellamento do solo e do rumo das paredes. Clamorosa injustiça é quando se falla mal d'estes animaes. Ainda homem algum jamais morreu de morde- dura de um delles, ou lhe resultou o mais leve incom- modo. São pelo contrario creaturas uteis, dignas da pro- tecção do homem, que se compraz em fazer uso razoa- vel da sua mentalidade e da sua posição na natureza. «Todos os membros d'esta familia—escreve Boulen- ger, o mais moderno monographo dos Lagartos—são mineiros, e muitos vivem em casas de formigas. Fazem gallerias estreitas na terra, nas quaes sabem mover-se tanto para a frente como para traz. A alimentação d'es- tes Lagartos consiste em insectos pequenos e ver- mes. Pouco tem sido publicado acerca dos seus costu- mes e tudo que é conhecido a respeito do seu modo de procreação se concentra unicamente no facto do Anops Kingii ser oviparo e depositar os ovos nas casas de formigas.» Como ahi vemos, mesmo a mais nova litteratura não nos dá informação cabal sobre os por- menores da reproducção dos Amphisbaenides enão deve causar sorpreza se o leitor; ao abrir obras taes os «Beitrâge» do Principe zu Wied, as de Dumeéril —Bi- bron, de Tschudi, Martius, Brehm, Leunis-Ludwig e outros, só encontre pontos de interrogação nm este as- sumpto. Em muitos logares da America do sul são os Amphisbaenidae tidos como viviparos por parte dos indigenas; já Tschudi duvidou do acerto d'esta in- dicação em termos assás decididos. Em virtude das mi- nhas proprias observações e pesquizas estou habilitado de affirmar que além do Anops tambem as especies de Lepidosternon são oviparos e sou da opinião que a oviparidade constituirá a regra geral, isenta tal- vez de excepções. Voltarei a este assumpto. Em Surinam os Amphisbaenidae têm o nome popular de «reis das formigas», no valle amazonico O de «mãe das saúvas», attribuindo-se-lhes por parte dos leigos poderes mysteriosos sobre as taes formigas, em cujas residencias são de facto muitas vezes encon- 594 Lagartos do Brazal trados. Dahi origina-se uma mystica especial e fica assim compre chensiy el, que estas exquisitas- formasade lagartos se achem cercadas de todo um cyclo de len- das populares. Os Amphisbaenidae contam hoje 66 especies, que se acham subordinadas a 11 generos. Singular e propria para provocar a meditação é a distribuição geo- graphica d'esta familia, da qual cabem 40 ao continente americano e 26 à Africa e aos paizes circum-mediterra- neos (Blanus, Trogonophis). Quanto às especies americanas são, conforme Bou- lenger, apenas duas que no continente passam ao norte além do tropico de Cancer (Chirotes e Rhineura), en- contrando-se apenas 4 especies nas Antilhas. Por outro lado resultou das minhas pesquizas, que o numero das especies de Amphisbaenidae, proprias à fauna da terra firme brazileira, importa precisamente em 20: es- pecies (mais uma especie reside em Fernando Noronha) = sto -é 4/19'0u perto de um terço ido total” São: 1. Amphisbaena fuliginosa. 12. Anops Kingii. 2 « alba. 13. Lepidosternon microcepha- 3 « subocularis. lum. 4. « Eron; I4. « infraorbitale. E. « leucocephala. Se « rostratum. 6 « vermicularis. 16. « Petensie ii: « Darwinii. LES « polystegum. 8. « Steindachneri. TB. « crassum. 9. « Mildei. IQ. « Wuchereri. IO. « brasiliana. 20. « octostegum. Td: « Ridleyi. 21. « scutigerum. Recrutam-se portanto os Amphisbaenidae brazi- leiros dos membros de 3 generos, entre os quaes ao Am- phisbaena e ao Lepidosternon cabe a parte leonina com II €9 especies respectivamente, ao passo que o genero Anops, de duas especies existentes, não é representado senão por uma unica. No genero Amphisbaena, no sentido restricto, a sciencia colloca formas com segmentos não differen- ciados da região pectoral, com uma cabeça sem quinas agudas, e narinas encravadas num escudo nasal espe- cial. A maioria das especies parece antes pertencer ao norte da America do sul, à Amazonia, à costa e ao cen- Lagartos do Brazil 559 tro do Brazil, sendo substituídas no sul, desde o Rio de Ja- Reiro, visivelmente pelas especies de Lepidosternon. Especie bastante frequente na Bahia e em Pernam- buco é Amphisbeana alba (flavescens Wied)attingin- do um comprimento de 25 a 50 cm. Sua côr é, pelo lado superior, um brilhante bruno-amarello;nos lados pre- domina um amarello vivo, ao passo que a barriga é branca-azulada. Conta-se, desde a frente até a ponta RG EaE oro a 233 anmneis tramsversães, e i7 a 41 na cauda; um annel escolhido no meio do corpo costuma ter no minimo 6o segmentos. Em poros prae-anaes exis- tem 6—10. Referem alguns autores, que a esta espécie dão de preferencia o nome indigena de «Ibijara». Parece que foi encontrada tambem na região limitrophe entre ERBRmil eo Perú: eu -apanheiirec centemente um exem- plar no alto rio Capim (Pará 1897). Gabriel Soares indicou em 1587 a denominação tupy de = 2 e Re nDis: (ap O) — Es = =] [as O [em] | E pe ” ES 5) me rua! 2) | A Ed fáie O e Ss 2) áo qu | HA Do. eb) = >. fa (D EA | RO) O A Sp i= io no o Eanes, = ar eui= = Ê | Oo 5 ES RD pn | Fui p S o Slogan a E | = O D , e Rd OE saga E o Diz. A E O ia Ho > ao) O m (OD ck: E PLAN A: ia) es (D pia esa D Es o pm O ja) ç A ama + pa mm » es) E IS To w . = + go) [==] 28 e E =| rá o) EC ç G> : 5 Q | A H e aee ? m | . . ps a . | RS os «<= , a o : | . . D º . J Mm mo tw m SEIS | 65) oO W OO pi GG E = | E) SM a ty bo E INEO o 5 RO RR ER E gs So | = CO ow t) Do ot tw Hp E e RS) Õ +» Co GO EA | = ENIO o ST. Go Go Ca | a ==] = pá ma Ca! (1) bo | 16) = = = by | p= E Es (2) Do om O) O) mo CG tv tw » Os O UL =Y JON CORO » | CO. E = = . z = A E ESSi EIS! — O 5 de dl) dps RS AS + > Do | gores ES Em | | Si pra — by cc sc ==" === === -— — E —— — EE - E > FO [09 99 go) ssh isolbigo O pá D) H e] o) pob) Et. (D ep = 5) p o Ds ij SS SE E MEO ai > | O ES + 1 a [e EIA iate [= Ez a Ex Tab) [ted Un: D a ud OD 65 | = quis, RE CD = | | OQ O JR ç O a A ss o Dm DE SE D O ps = Up q PO O Ss 5 ” po = es = [e a E" Er | = RES — ==. G 4 já US À o) [o O TU: ms Eva pe poe eo e ES e S E ES, TE, b) b) bd o pad E, E) RA Fio 2) E E m-. es q a) A fab) as E SE g Pa) o fes = (o = = 2 zo [a E (OE (OD = % D p & bj SS) Pa) (6 4, | a O genero Anops distingue-se especialmente pela cábeça fortemente comprimida e o escudo rostral exce- pcionalmente grande e desenvolvido, formando uma quina ou quilha cortante. Conhecem-se duas especies, uma na Africa occidental, A. africanus, e uma segun- da da America meridional, no extremo sul do Brazil e nas republicas circumvisinhas, A. Kingii. Indicam o “e Lagartos do Brazil 551 seu comprimento total como attingindo 232 mm.ea côr como sendo bruno-avermelhada pelo lado dorsal e esbranquiçada na parte abdominal. O Dr. H. von Ihe- ring conseguiu colleccionar no Rio Grande do Sul não só ovos como embryões d'esta especie. Resta-nos considerar o genero Lepidosternon, cu- Jos caracteres distinctivos são os segmentos mais ou menos alargados da região peitoral, a falta de poros prae-anaes e a circumstancia de serem as narinas fura- das no escudo rostral. Conhecem-se até agora 16 espe- cies, todas sul-americanas. D'este total cabem, que eu saiba, dosBrazil q. especies. À melhor conhecida é L. microcephalum (Amphisbaena punctata Wied, L. Maximiliani Wiegmann), especie commum ao redor e mesmo no centro da cidade do Rio de Janeiro e re- conhecida tambem por mim como o Amphisbaeni- da mais frequente na Serra dos Orgãos, na altura de 800 e mais metros acima do nivel do mar. Este animal, que em seus individuos maiores alcança um compri- mento de perto de 1/2 metro, é de um branco pallida- mente rosado, em vida; cada segmento dorsal costuma ter um ponto bruno no centro. Contam-se 217 a 263 an- neis no corpo e 13 a 16 na cauda. Dos arredores do Rio de Janeiro cita a litteratura outrosim L. scutigerum (Cuvieri, Hemprichii) (Cephalopeltis), com 300 anneis no corpo e 16 na cauda. Os signaes caracteristi- cos das demais especies brazileiras reuni outra vez em forma da synopse tabellar: GENERO LEPIDOSTERNON CD e e re 1 rm e e e e em | Anneis Anneis | ESPECTE do corpo |da cauda PA TRIA É. tostratim (Strauch) ......- 240-245 | 14-16 Bahia. RE rEcrersi (trauch)..24 0. | 209 | 16 Brazil. em po stegum (Duméril) [Gra-l | ED dee ea Ee da | 2860-295 | RE crassum (Straúch) e caio | 22 | | L. Wuchereri (Peters) [octos-| | | | | 17 Brazil. I4 | Brazil. Pernambuco. Brazil. | tegum (Steindachner|.-..| L. infraorbitale (Berthold).... 264 17 Bahia. Eoctostegum (D. B.)s.eo- e. ts as 558 Lagartos do Brazil Quasi poderia: parecer, que a sciencia, a maneira do antigo ditado: est ubi Homerus dormitat-—se ti- vesse aqui embrenhado numa brincadeira infantil de contagem de anneis do corpo, duvidosa tanto debaixo do ponto de vista da utilidade, como problematica quanto à segurança da delimitação especifica; o mesmo caso offereceram tambem as especies de Amphisbae- na acima tratadas. Devo replicar que estes caracteres não são os-únicos, e -que ao lado destes, ainda existem outros, que entretanto se referem a pormenores minu- ciosos no modo de revestimento da cabeça com escu- dos, e exigem orientação profunda e cabal na nomen- clatura technica, como sómente a posso. suppôr- por parte de um naturalista e profissional competentemente habilitado. A syvnopse acima dada tem para nós a gran- de vantagem, que mesmo um amigo da natureza me- nos preparado se possa de alguma forma orientar no exame d'estas «cobras de duas cabeças», que à primei- ta vista superficial parecem tão rebeldes a uma dis- criminação. Lepidosternon microcephalum, a mais frequen- te especie, como já acima disse, de toda a familia: n este Estado, põe, segundo as minhas observações, approxi- madamente uma meia duzia de ovos longos, cylindricos da-grossura de um dedo minimo, brancos, mas com casca molle, coriacea. (1) Alcançam o comprimento consideravel de perto de 6 cm., com um diametro que pouco varia de 1 cm. Ambos os polos são rombos de modo quasi igual. São às vezes encontrados, quando, ao lavrar a terra, se Temovem telhas excaliça; que noncom rer dos annos se tornaram esconderijos para formigas. Phenomeno notavel e singular sempre ficará esta hos- pedagem dos Amphisbaenidae nas residencias das formigas! Quem conhece o genio bellicoso, o tempera- mento agressivo das nossas especies de Eciton («taóca» no Amazonas; «formigas de correcção» no Sul), a teme- ridade arrojada, com que investem contra tudo que se lhes põe no caminho seja grande ou pequeno, não (1) Acerca dos pormenores compulse- se o nosso trabalho: Os ovos e 13 especies de Reptís brazilicos etc. nos «<«Zoologische Jahr- biicher» Bd. X, 1897, pag. 651 seg. Pará, outubro 1902. G. pp Ç Lagartos do Brazal 999 deixara de ficar sorprehendido com semelhantes rela- ções amistosas, nunca estremecidas :— relações que de modo algum se podem considerar esclarecidas até esta hora, pelo menos no que diz respeito às vantagens que d'ellas podem resultar para as formigas. No nosso jardim e pomar observo quasi diariamente gallerias frescas de Lepidosternon, mormente de manhã, o que demonstra uma actividade nocturna d'estes animaes. Em dias de chuva costumam às vezes até sahir. Cor- rem estas gallerias na maior parte rente à superficie, tanto que uma elevação cheia de fendas permitte acom- panhar em grande extensão a direcção tomada pelo mi- neiro. Por largo tempo, durante annos inteiros, tive sempre alguns exemplares de Lepidosternon presos em caixões com terra de jardim; mas apezar d'estas re- petidas tentativas pouco consegui penetrar no modo de vida intima tão escondido d'estes mysteriosos Reptis subterraneos. Ha na America do sul e por conseguinte tambem aqui no Brazil um grupo de animaes, que á primeira vista facilmente poderiam ser confundidos com os A m- phisbaenides: são os Coecilios, de colorido azul-ardo- sia, (Siphonops e parentes) que segundo a sua organisa- ção interna, não pertencem aos Reptis, mas sim aos Am- phibios, entre os quaes assumem, na realidade, uma posi- ção assás isolada. Voltaremos opportunamente a tratar do grupo dos Coecilios num outro volume desta obra. Não é muito grande o numero das especies de Sau- TIOS que até agora consegui collecionar na Serra dos Orgaôs. Importa em um total de 7 especies, a saber: Tropidurus torquatus Mabuia agilis Urostrophus Vautieri Tupinambis teguixin Enyalius Iheringii Lepidosternon microcephalum. Ophiodes striatus A especie de saurios mais commum, em absoluto tanto nas alturas da Serra dos Orgaôs, como em baixo, nos arredores mais quentes da Capital Federal, é fóra de duvida o Iropidurus torquatus. 560 Lagartos do Brazil No que diz respeito à paleontologia da ordem dos Saurios deve-se accentuar, que pouco ainda ficou co- nhecido até hoje sobre o assumpto. Formas que docu- mentam relações mais estreitas de parentesco com os nos- sos Lacertilios hodiernos, não faltam de todo em epo- cas anteriores do globo terrestre; algumas apresentam-se na época terciaria. Mas o seu periodo de florescimento coincide induvitavelmente com a actualidade: os La- gartos são uma apparição relativamente muito nova na historia do mundo animal. Assim é que, póde-se dizer, nada chegou ao meu conhecimento acerca das especies fosseis de typicos Saurios, encontrados em terihona do Brazil; digo «typicos» no sentido restricto da syste- matica zoologica moderna. Os paleontologistas todavia seguem um methodo diverso, reunindo o extincto com o presente, o fossil com o recente n'um systema mais com- pleto: n'este systema vimos os Lacertilios ou Lagartos, junctamente com os Ophidios ou Cobras, ambas coinci- dindo em relação ao centro de gravitação evolutivo com o periodo actual amalgamados com os extinctos e grandes Pythonomorpha formando assim a subclasse dos Stre- ptostylica composta de tres ordens (duas actuaes e uma extincta) e caracterisada essencialmente pelas vertebras procoelas ossificadas, e pelas costellas providas de um unico capitulo. Aquelles poderosos Pythonomorpha, que -animavam os mares cretaceos — Reptis com feições de cobras, pés à maneira de nadadeiras e cabes ça muito estirada, armados com um- arsenal del densa tes—deixaram tambem n'este nosso paiz vestígios de sua anterior existencia. Na formação cretacea da Bahia res conheceram os paleontologistas restos de Mosasaurideos gigantescos, — familia de monstros «antidiluvianos», desenvolvida sobretudo na America do Norte, donde se acham descriptas nada menos do que 6 generos com 51 especies; propria a amedrontar a imaginação do mais corajoso, pois abarcava especies de um comprimen: torde oral Ás Euglossas Paraenses 561 vil AS ESPECIES PARAENSES DO GENERO EUGLOSSA LATR, Por ADOLPEHO DUCKE Pelo nome Mamangabas são conhecidas no Brazil as especies volumosas e redondas de insectos da familia das abelhas e que se ordenam entre os 4 generos Bom- BR Xylocopa, Centris e Euglossa. E' d'este ulti- mo que vou tratar no presente estudo, pois parece-me disno de ' especial interesse: por varias razões: pelas magnificas côres metallicas que adornam a quasi totali- Ecldas especies, e pelo costume-de, em algumas, os machos visitarem as flores de certas Orchideas, sendo provavelmente os unicos agentes da fecundação destas plantas. São principalmente, as: especies do genero Catasetum, que, abrindo n uma humida manhã de in- verno as cheirosas flores, attrahem centenas de exem- plares de Euglossas, todos sem excepção machos e per- Rempentes as -cspecies, Em. ignita, dimidiata e fas- ciata (às vezes; porém talvez só casualmente, tambem nigrita), voando só até as 9 horas ou pouco depois. Estas mesmas especies visitam ás mesmas horas (e sem- pre só os machos) as flores de uma Aracea (Anthurium Spec, cultivada no horto: botanico e que tem cheiro aromatico quasi igual ao do Catasetum; ellas appare- cem às vezes, porem não sempre nem em tão. elevado numero, nas flores da Stanhopea eburnea.— As flores da Orchidea Sobralia sessilis são visitadas exclusiva- mente pelos machos da Eu. cordata; as de duas Ara- ceas, especies de Anthurium differentes da acima refe- idas pelos: machos.de En. cordata e bicolor. O genero Euglossa habita unicamente o novo con- 562 Ás Euwglossas Paraenses tinente e suas ilhas, das partes intertropicaes do Mexico e das Antilhas até ao sul do Brazil e ao Paraguay, che- gando ao seu maior desenvolvimento no valle equato- rial do Amazonas e seus affluentes. E como a maior par- te das especies vive principalmente nas florestas vir- gens, a região do alto Amazonas é a mais rica de todas, e embora a fauna hymenopterologica d aquelle. paiz seja ainda pouquissimo estudada, todavia já se conhecem perto de 20 especies de lá. No Pará, colleccionando me- thodicamente quasi só nos arredores mais proximos da capital, consegui achar 19 especies, ao passo que do es- tado de São Paule, cuja fauna já está bastante bem ex- plorada, só se conhecem 3 especies. As Euglossas amam a humidade e a maior parte das especies só se encontram em logares bastante humi- dos, de preferencia nas florestas. Aqui em Belém, onde nunca ha verdadeira secca, quasi todas as especies en- contram-se durante todo o anno, pelo fim do inverno talvez um pouco mais frequentemente; nos campos do interior (Macapá etc.), ao contrario, na grande secca do verão desapparecem quasi todas esóa Eu. cordata e Eu. azurea encontrei tambem nesta estação. LITTERATURA SOBRE O GENERO EUGLOSSA 1. Ff. Friese, Monogtaphie der Bienengatiunçilil glossa Latr., «Természetrajzi Fiú- zetek» XXII, pag. 117—172, Buda- pest 1899. N esta monographia são citadas tam- bem todas as descripções até então publicadas pelos autores. 2. HH. Friese, Bemerkungen zur Bienengattung Eu- gclossa Latr, no mesmo periodico XXIII, pag. 121-122, Budapest 1900. 32 À. Dúcke, Beobachtungen úber Blúteubestza Erscheinungszeit etc. der bei Para vorkommenden Bienen, «Zeitschrift fir systematische ymenopterolo- gie und Dipterologie» 1, pag. 1—8 e 49—67, Teschendorf bei Stargard in Mecklenburg 1901. As Emnglossas Paraenses 965 Conspectus analyticus specierum paraensium collec- tionis Musaei Goeldi t Corpus parce pilosum, ita ut ubique color chi- tini optime videatur. Os album. Scutellum femi- nae macula parva velutira instructum. Longi- tudo corporis 10--19 mm: Subgenius Euglossa (dp OD jo) (9 9) (0 9) —+ 497) |) — Corpus parce, sed densius quam in subgenere praecedente hirsutum, praesertim in thorace, ab- domen nunquam hirsutie densa chitinum obte- gente vestitum. Os nunquam album. Scutellum feminae sine macula velutina. 15—22 mm: Sub- genus Eumorpha Friese—Thorax et abdominis segmenta I et II nigroviolacea, caput abdo- minisque segmenta reliqua virescenti-aurea vel aurea. Longitudo corporis 17—18S mm: Eu. pulchra Sm. — Corpus ubique densissime hirsutum aut veluti- num, hirsutie chitini colorem maxima ex parte obtegente. Os nunquam album. 17—30mm: su5- a Ee Den E Sc este Dera de 9 2 Abdomen nigrofuscum, vix metallice micans, - segmentum dorsale primum magna parte testa- ceum, quartum et quintum (vel etiam tertium et in mare etiam sextum) marginibus apicalibus plerumque distincte fasciatim albofimbriatis. Thorax densius quam in caeteris hujus subge- neris speciebus hirtus. Alae valde flavescentes. Er Me trpon si stones “JD. s. cos 3 — Totum corpus colore splendido metallico orna- tum; abdomen haud fasciatum. Scutelli feminae E O qe TUA Ea, ES A Doe o an 4 Thorax fulvohirtus, laete viridicupreus, scutello basi excepta testaceo feminaegue macula velu- tina fulva. Habitu Meliponae scuteliari Latr. similis. Longitudo corporis 1I—II I/2 mm.: Eu. decorata Sm. — horax supra longis pilis nigris brevioribus- que grisescenti-flavidis immixtis hirtus, nigro- viridis, scutello concolore feminaegue macula velutina nigra; segmentorum abdominalium fim- briae albae minus distinctae quam in praece- dente. Habitu Meliponae fuscatae Lep. si- 149 964 As Ewglossas Paraenses millima. Longitudo corporis 11 1/2—12 mm.: Eu. meliponoides Ducke, nov. sp. Thorax nigrocyaneus, nigrohirtus, caput et ab- domen fulgide aurea, ochraceo-pilosa. 17—19 mm.: Eu. brullei Lep. - Caput et thorax laete viridia vel laete cyanea, abdomen solum apicem versus nonnunquam UPA so cnc E RA EE RD cera ERA SO ET Lingua corpore circiter dimidio longior, abdo- minis apicem multum superans: Mesonotum crassius ac subtilius sparsim punctatum, niti- dissimum. Corpus viride, nunquam evidenter azureum vel cyaneum: abdomine nonnungquam parum aureomicante. Maris segmentum ven- trale secundum nunquam planum, sed callis de- pressionibusque instructum; metatarsus posti- cus sat angustus, apice interne valde angulatim productus. Longitudo corporis 12—18 mm..... Lingua abdominis apicem nunquam superans, plerumque multum brevior. Longitudo corporis LOPES 3 AA: 2 o O a SO neto addon RR rr pres Abdominis segmenta dorsalia quintum et sex- tum feminaeque etiam segmenta ventralia sat dense ac longe flavescenti-pilosa; labrum ma- xima parte nigricans, solum lateribus albidis. Mas: segmento ventrali secundo disco depres- sione lata triangulari antice utrinque callis in- eclusa: instructo, sed vix ciliato; tibiás 'posticis apice supra calcar internum dentículo acuto ins- tructis.—Longitudo corporis 16—18 mm.: Eu. piliventris Guér. Abdomen apicem versus parce ac breve pilo- sum, feminae etiam segmenta ventralia multum minus dense ac forte magis albide pilosa; la- brum albidum, solum margine superiore et infe- riore maculisque parvis duarum carinarum late- ralium nigrescentibus. Mas: segmento ventra- l secundo basi medio plus minusve calloso, post callos depresso, hac depressione utrinque vel fere tota evidentissime depresso-ciliata; ti- biis posticis apice supra calcar internum denti- culo distincto haud instructis. Longitudo cor- poris 12--16 mm.: Eu. ignita. Sm. Mesonotum politum, nitidissimum, sparsissime Às Euglossas Paraenses 9605 subtiliter punctulatum. Maris corpus totum pulcherrime violascenti-cyaneum, solum abdo- mine apicem versus virescente, segmento ven- trali secundo disco foveola distincta ciliis longis obtecta medio carinula longitudinali plus mi- nusve visibili divisa instructo; metatarsus pos- ticus angustior quam cordatae, apice externe parum angulatim productus. Feminae corpus viridi-azureum, abdomine inde a segmento dor- sali tertio apicem versus aureo-viridi-micante : Eu. polita Ducke, nov. sp. Mesonotum saepe nitidum, sed semper sat cons- picue punctatum, nunquam politum. Maris se- gmentum ventrale secundum planum, foveola vel callis haud instructum, disco plano utrin- que maçula parva velutina instructam ... .... o. Corpus unicolor viride, interdum abdomine parum aureo—, capite cyaneo-micante. Scul- ptura mesonoti abdominisque a sat sparsa mti- daque usque ad densissime ruguloso-punctata et opaca varians. Maris metatarsus posticus apice externe sat angulatim productus. Eu. cor- data L. Corpus solius cogniti maris viridiazureum, scutello et segmentis abdominis dorsalibus an- terioribus laete cyaneis, duobus ultimis viridi- bus, ventre cyanescenti-vel aureo-viridi. Me- sonotum nitidum, modice dense ac fine puncta- tum. Metatarsus posticus utin polita instru- ctus: Eu. azurea Ducke. Mas : Caput et thorax supra intensive violas- centi-cyanea, abdominis segmenta dorsalia quattuor antica violacea, reliqua /V—VII) au- reo-viridia aut laete cuprea, segmenta ventralia omnia aut solum anteriora medio nigrescentia. Punctatura mesonoti valde crassa et sat densa. Tibia et metatarsus postica latiora quam in spe- ciebus affinibus, hoc metatarso apice externe ut mm cordata sat angulatim producto. Femina viridis mesonoto maxima parte cyaneo, scutello viridicyaneo, segmento abdominis dorsali pr 1i- mo violaceo, secundo lateribus viridi, macula 241—( BOL DO MUS. PARAENSE nt) Ta JE, 966 As Eugrossas Paraenses discali magna quadrata maximamque hujus se- gmenti partem inde a basi usque ad marginem apicalem cccupante violacea aureolimbata or- nato, religuis marginibus apicalibus cupreo- micantibus, ventre maxima ex parte nigroviola- ceo, sculptura mesonoti parum minus crassa, sed nonnihil densiore quam maris. Eu. bicolor Ducke, nov. vsp: Corpus totum aut magna parte, rarius abdominis apice solo;! metaliice-coloratiinm a rm Corporis tegumentum totum nigrum, sine colore metallico. Caput elongatum, maris clypeus lavosignatasrs put snes ab RE caju A DE Nigra, nigrovillosa, alis violascenti-fuscis, cly- peo latitudine longiore, acute longitudinali-ca- rinato. Feminae segmenta abdominis dorsalia tertium ad quintum aut sextum violascentia; maris clypeus flavosignatus, abdominisque se- gmenta dorsalia quartum aut quintum ad sep- timum nigroviolacea, rufescenti-villosa. Longi- tudo corporis 19-21 mm.: Eu. nigrita Lep. Caput, thorax et abdominis segmenta etiam an- tica tota vel ex parte metallice colorata et pal- lide-hirsuta. Maris facies haud flavosignata Clypeus latitudine dimidio longior, valde lon- gitudinali-carinatus. Caput et thorax nigra, ni- grescenti-hirta, hoc ultimus nitidus. Abdomen aeneo-viride, segmentis dorsalibus [LE vel etiam IV nigropilosis, marginibus apicalibus late albido-vel flavescenti-fasciatis, segmentis dorsalibus IV vel V usque ad ultimum rufo- hirtis. Alae dimidio basali fusconigrae, apicali albidae, 25-30 mm.: Eu. dimidiata F. Ut praecedens, sed hirsutie segmentorum apica- lium flavida nec rufa, fasciis segmentorum I—V plerumque angustioribus et magis flavis: Eu. dimidiata var. flavescens Friese. Clypeus latitudine vix longior. Longitudo cor- POTIS f-28 Naa, pot pe dias dom Rd cial E eae E E Caput et thorax nigra, nigrovillosa, hoc ultimus politus, sparse punctatus, abdomen olivaceo-vi- ride, parum punctatum, segmentis dorsalibus 1 —1IV nigrovelutinis, marginibus apicalibus ful- videfasciatis, reliquis fulvohirtis. Longitudo 180) IS [4 I2 13 14 As Emuglossas Paraenses 961 corporis 19—20 mm.: Eu. polyzona Mocs. Caput et in maribus ex parte etiam thorax me- tallica, mesonotum plus minusve dense punc- DRA rar eo A o SUR RA a rs dn fe do Cardo Caput et thorax nigrovillosa, hoc ultimus opa- cus, dense ruguloso-punctatus, abdominis seg- menta dorsalia I—IIl vel IV nigra, nigropilo- sa, sed II. et III. basi iridescenti-metallice-viri- di- ac violaceo-coloratis et ibidem flavescenti- albido-velutinis, reliqua aeneo-viridia, rufovil- losa. Alae dimidio basali fuscae, apicali albidae. 21-22.: Eu. limbata Mocs. Thoracis dorsum subtiliter haud multum dense punctulatum, nitidulum, singulis punctis crassis conspersum. Abdomen aliter coloratum. Alae haud evidenter bicolores, sordide hyalinae aut basi infuscatae, nunquam apice albidae. ..:.... Abdominis segmentum dorsale primum nigrum, nigrovillosum,secundum iridescenti-metallicum, flavescenti-velutinum, apice medio macula mai- ore vel minore nigra nigrovelutina, segmenta reliqua aurichalcea, laete fulvo-villosa. Mares tibia postica apice interne inermis, tuberculis vel dentibus haud instructa. Feminae segmenta ventralia modice dense ac longe hirsuta. Longi- tudo corporis 20-22 mm.: Eu. elegans Lep. Abdominis segmentum dorsale secundum apice nunquam nigrovelutinum, raro ibidem chitini macula obscura, at semper hirsutie pallida tecta EREUÓ RITO no baa gapR cc dd PDR aee he ROS RD NE DR Feminae segmenta ventralia ultima hirsutie bre- vi, curvata, densissima, fere lanosa modo val- de singulari ornata. Maris tibiae posticae apice interne sine tuberculis, inermes.— Caput mag- num, civpeus medio leviter planiusculus, carina longitudinali instructus, abdominis segmentum dorsale etiam primum plus minusve aureum fla- vescenti-pilosum, reliqua aurichalcea fulvovil- losa, villositate apicem versus graduatim pal- lidiore, segmentis ultimis pallide ochracea. 20- 21 mm: Eu. laniventris Ducke, nov. sp. Feminae segmenta ventralia plus minusve lon- ge ac modice dense hirsuta. Maris tibiae pos- ticae apice interne supra calcar tuberculis vel 14 5, 16 IS 568 As Euglossas Paraenses dentibus fere semper 'conspicuis múnitae 2:05 Colore praecedenti simillima. Heminae segmen- ta ventralia ultima longissime parum dense fla- vescenti-pilosa. Maris tibiae posticae apice in- terne prope calcar tuberculo magno instructae. —Clypeus medio distincte longitudinali-carina- tus, in mare insuper disco sat deplanato; hujus caput nonnunquam fere tam magnum quam in specie praecedente. Longitudo corporis 18-21 mm.: Eu. smaragdina var. flaviventris Friese. Abdominis segmentorum dorsalium tertii usque ad ultimi hirsuties laete fulva, apicem versus haud vel vix pallidior. Feminae segmenta ven- tralia modice longe ac dense fulvidohirta. Ma- ris tibiae posticas apice interne tuberculis vel dentibus duobus minoribus sed fere semper sat conspieuls -amunitas. e a Abdominis segmentum dorsale primum sat dis- tincte aeneo-coloratum, sed nigrescenti-pilosum. Clypeus medio evidentissime longitudinaliter excavatus et ibidem nitidissimus, politus, spar- sim transversaliter rugosus, solum apicem ver- sus obsolete carinatus. 18-20 mm.: Eu. smarag- dina var. concava Friese. Abdominis segmentum dorsale primum et ple- rumque etiam basis secundi nigra, vix aenes- centi-micantia, nigropilosa. Clypeus medio for- titer deplanatus et longitudinaliter carinatus. 17 -19 mm.: Eu. smaragdina Perty. Abdomen totum ochraceo-hirtum, apicem ver- sus pallidius; solum basis segmenti dorsalis pri- mi interdum nigropilosa. 20-23 mm.: Eu. mo- csáryi Friese. Abdominis segmenta dorsalia 1 et II nigrohir- ta, apice laete fulvo-fasciata; III. ad ultimum fulvohirta. 21-24 mm.: Eu. fasciata Lep. 17 As Euglossas Paraenses 969 SUBGENERO EUGLOSSA s. sTR. 1. Eu. decorata Sm. Distribuição geographica até agora conhecida: Ama- zonia. Esta rara especie semelha bastante a uma Melipona scutellaris Latr.—Encontrada nas matas dos arredo- res de Belem, Q' 20 de junho, G' 8 de julho de 1902. 2 Eu. meliponoides Ducke nov. sp. Distribuição geographica até agora conhecida: Itai- tuba (rio Tapajós, Estado do Pará). E' mui possivel que esta especie não seja senão uma variedade da precedente, da qual unicamente se distin- gue pela differente coloração e não morphologicamen- te; mas não tendo-se ainda observado formas transi- torias e ignorando-se tambem a biologia de ambas ellas, hão de ser ainda tratadas como especies independentes. Encontrei esta especie até agora sómente n'uma es- trada de seringueiras perto de Itaituba, voando unica- mente nas flores de uma Maranthacea (Monotagma spec.), em setembro de 1902: 3. Eu. cordata L. (--Cnemidium viride Perty.=Eu. variabilis F'riese ex parte) Distribuição geographica até agora conhesida: Ame- rica intertropical, do Mexico até o Rio de Janeiro; Antilhas. Mui frequente no Pará em todos os mezes do anno, colleccionada por mim nos arredores de Belem, Anajás, Chaves, Macapá, Rio Villanova, Mazagão, Calçoene, Montealegre, Obidos e Itaituba; é uma das especies que gostam da luz do sol e do ar relativamente secco e que por conseguinte, menos se encontram nas florestas vir- gens do que nas capoeiras, roças e até nos jardins e as 5170 Ás Euglossas Paraenses vezes nas casas. Ambos os sexos visitam de preferencia as flores de certas Papilionaceas (p. ex. Centrosperma brasilignum L. e CG. Plnmieri Benth.), varias especies de Ipoméas, e muitissimas outras plantas; os S'd' frequen- tam tambem Orchideas (encontrei-os até agora nas flo- res de Gongora maculata e Sobralia sessilis) e Ara- ceas (Anthurium regale Linden e outra especie de An- thurium, ambas no horto botanico do museu). O ninho póde ser feito de duas differentes manei- ras: Ou as cellulas de uma materia resinosa, de côr es- cura, pardacenta, são construidas dentro de fechaduras de portas, ôcos em madeira podre etc. e n'este caso não teem envolucro especial; ou ellas se encontram debaixo de folhas de palmeiras, em galhos de arvores etc. e n'es- te caso são revestidas de uma casca de resina branca muito dura. No ultimo caso o ninho tem o tamanho de uma nóz; uma abertura de cerca de um centimetro de diametro permitte entrar e sahir a abelha construidora do ninho e sahir mais tarde os filhos. 4. Eu. bicolor Ducke, nov. sp. Distribuição geographica até agora conhecida: Para (Belem). Os dg, aqui não muito raros, parecem mais gostar de logares humidos do que a especie precedente. Encone trei-os algumas vezes nas florestas, voando entre os ar- bustos; de flores vi-os frequentar até agora unicamente as de Anthurium regale e Anthurium spec. no horto botanico, junto aos dd da Eu. cordata, mas jamais as Orchideas como estes. A unica Q peguei a"; ide abiml de 1900 na flor duma Ipoméa. d. Eu. azurea Ducke. (=Eu. variabilis Friese ex parte) Distribuição geographica ate agora conhecida: Estado do Pará (Belem, Macapá). Q ainda não conhecida. De g'd' apanhei 4 exempla- res perto de Belem no tronco de uma velha mangueira, chupando o suco que d'elle escorria, em .16 de abril de Ás Euglossas Paraenses 9171 1900; um só exemplar nos campos de Macapá nas flores de «Mammeira», (Vitex polygama Cham.) 9 de novem- bro de 1900. 6. Eu. polita Ducke nov. sp. Distribuição geographica até agora conhecida: Pará (Belem). Foram colleccionados até agora 5 PQ e uma duzia dels q, todos, desde o fim de'abril do “corrente anno, nas flores do cipô chamado Mucunan (Droclea lastocar- pa Mart.), nunca frequentadas por outras especies d este genero. 1. Eu. ignita Sm. Distribuição geographica até agora conhecida: Isthmo de Panamá até a Amazonia; Jamaica (Antilhas). Confundi antes esta com a especie seguinte, mas é certamente diversa. O nome de ignita é mal escolhido, pois só raras vezes o abdomen possue alguns reflexos doirados. Pouco menos frequente no Pará do que a Eu. cor- data; por mim colleccionada nos arredores de Belem, Anajás, Mazagão, Obidos, Itaituba. Foge ao sol quente e encontra-se durante todo o anno em logares sombrios e humidos, onde ambos os sexos visitam as flores de Maranthaceas (p. e. Ischnosiphon), Solanum toxicari- um Lam. e Polygala spectabilis D.C.-Os Sd voam juntamente com os da Eu. fasciata e dimidiata nas flores de Orchideas (assim encontram-se infallivelmente nas manhans de inverno, em quantidade, nas das especies de Catasetum, raras vezes e talvez só por acaso tambem nas de Stanhopea spec.) e de'um Anthurium no horto botanico, mas nunca nas especies de Anthurium acima mencionadas e frequentadas pelas especies cordata e bicolor. As 99 colhem a resina («breu branco») de Bursera- ceas, sem duvida para d'ella fazerem o ninho, o qual in- felizmente não consegui ainda descobrir. 5172 As Euglossas Paraenses 8. Eu. piliventris Guér. Distribuição geographica até agora conhecida: Ama- zonia, Guyana, Colombia. Muito mais rara do que a especie precedente: até agora por mim colleccionada nas florestas dos arredores de Belem e do Rio Anajás na ilha de Marajó, onde am- bos os sexos visitam Maranthaceas e são encontrados tambem chupando o suco que escorre dos troncos de ar- vores.—Os d'd' ainda não foram encontrados em flôres de Orchideas. 9. Eu. brullei Lep.=(Eu. romandii Guér). Distribuição geographica até agora conhecida: Ama- zonia, Guyana, Colombia. Não rara nos arredores de Belem, por mim tambem colleccionada no Rio Anajás na ilha de Marajó e em Mazagão, Obidos e Itaituba, tem os mesmissimos cos- tumes da piliventris. Observei machos que no thorax levavam pollinarios de Orchideas sem poder dizer ainda de qual especie provinham. Decerto não frequentam o Catasetum. SUBGENERO EUMORPHA rrigse 10. Eu. pulchra Sm. Distribuição geographica até agora conhecida: Ama- zonia, Guyana. As 9 Q são rarissimas nos arredores de Belem, onde encontrei-as nas capoeiras voando dentro dos arbustos e sobretudo nas flores do Matapasto (Cassia alata L.). Não consegui ainda colleccionar os Sd. Quasi todas as outras especies d'este subgenero são proprias da região do Alto Amazonas. As Euglossas Paraenses 513 SUBGENERO EULEMA Ler. 11. Eu. smaragdina Perty (= Eu. mexicana Moes.) Esta especie e as duas seguintes pertencem a um grupo difficillimo e que longe está ainda de ser suffi- cientemente conhecido. E'mui possivel, que aqui se achem confundidas varias especies, cuja exacta separa- ção só será possivel a quem puder examinar grande nu- mero de individuos de todos os paizes da America tro- pical. a) Forma genuina. Distribuição geographica até agora conhecida: Mexi- co até Minas Geraes. Por mim collecionada nos arredores d'esta capital, no Anajás (ilha'de Marajó), em Macapá e Obidos; é aqui uma das especies mais frequentes durante todo o anno, falta porém no clima secco de Macapá durante a força do verão. As 9 9 são muito mais numerosas de que os SS. Esta forma nunca se encontra em logares humidos e sombrios, os d'd' voam nos arbustos das capoeiras e nas flores de certas Papilionaceas (em primeiro logar Centrosema brasilianum L. e €C. Plumieri Benth.), es- pecies de Ipomoea etc, as 9 Q além d estas flores tambem nas do Matapasto /Cassia alata), Urucu (Bixa orellana) e muitas outras. Não é raro encontrar esta forma mes- mo nas casas da cidade. A Q faz o ninho durante o inverno em logares ao abrigo da chuva, as vezes em juntas de traves debaixo dos telhados, de pedacinhos de casca de arvores unidos com gomma (vias 99 colhendo a gomma do Taperebá /(Sfondias dulcis;, quasi sempre duas ou tres, raras vezes ainda mais cellulas uma depois da ou- tra em fórma de um tubo direito ou curvado, às vezes al- guns d'estes tubos aggiomerados n um cacho. As cellulas são ovaes, com cerca de 16 mm. de comprimento e 11 mm. de altura, internamente lisas, porque são revestidas de cera parda escura, e a abelha enche-as apenas até ao meio de um grosso liquido amareliado, mistura de nectar e 914 As suglossas Paraenses pollen, em cima do qual depõe um ovo relativamente grandissimo, (cerca de 6 mm. de longo e 1 mm. de es- pessura), curvado ém forma de um arco. Deste ovo sahe cerca de-6'dias depois a larva, que cresce rapidamente: Faltam ainda observações sobre o seguinte desenvolvi- mento da larva, sendo as cellulas por mim abertas sem- pre logo invadidas pelo mofo; só consta-me sahir o in- secto perfeito nos ultimos mezes de verão (outubro—de- zembro). b) Var. concava Friese Distribuição geographica ate agora conhecida: Pará, Nicaragua. Talvez uma verdadeira especie, e não simples vari- cdade da smaragdina?*-—Não conhecendo-se ainda a biologia, nada de certo póde-se dizer a este respeito. Não frequente nas capoeiras dos arredores de Be- lem, onde as PQ Q visitam as flores do Matapasto (Cas- sia alata)je os dd voam entre os arbustos. Nas casas da cidade ainda não a encontrei. c) Var. ilaviventris FPriese. (?=Eu. fallax Sm. Gg nec OQ: "== Eu. fallax Friese (oo) Distribuição geographica ate agora conhecida: Pará, Guyana. Julgo quasi mais provavel ser esta forma uma ver- dadeira especie do que uma simples variedade de sma- ragdina, todavia, dispondo só de poucos exemplares e ignorando a biologia, “falta-me a certeza a este tes: peito. Rara nos arredores de Belem e no rio Anajás (ilha de Marajó), collecionei-a quasi sempre na mata, nunca nos logares seccos preferidos pela smaragdina genuina, e esta circumstancia junto à estructura caracteristica da tibia postica do d'(si este ultimo caracter for constan- te, o que só se poderá saber examinando-se muitos exemplares!) induz-me a crer o que disse acima. he ot Ninho de Euglossa cordata L., debaixo da folha d'uma palmeira. Ta- manho natural. Interior d'uma fechadura de porta, contendo cellulas vazias de Eugl. cordata. *', do tamanho natural. [5 Ninhos de Bugl. smaragdina, construidos em juntas de traves. !/, do tamanho natural. Cellula do ninho d'uma Kugl. smaragdina, aberta e deixando vêr a larva adulta. Tamanho natural. Larva adulta de Bugl. smaragdina. 1!/, do tamanho natural. ÁS Euglossas Paraenses So 12. Eu. laniventris Ducke nov. sp. (*=Eu. fallax Sm. S nec Q:?= Eu. fallax Friese 9º). Distribuição geographica até agora conhecida: Pará (Belem). Rarissima nos arredores de Belem, poucos exem- plares /9 d') colleccionados em abril de 1900 nas flores de uma Ipomcea. 13 Eu. elegans Lep. Distribuição geographica até agora conhecida: Nica- ragua, Pará. Q não muito rara no principio do verão nos arredo- res de Belem, Anajás, Macapá; gosta de logares seccos e quentes, voa nas capoeiras nas flores de Cassias, de cer- tas Papilionaceas com flores grandes, etc. — ds obser- vei até agora só um, nas matas do Anajás em junho de 1900. 14 Eu. limbata Moecs. (= Eu. basalis Friese) Distribuição geographica até agora conhecida: Guy- ana, Amazonia, Piauhy. Colleccionada por mim nos arredores de Belem e no Rio Anajás (ilha de Marajó), sempre sómente nos mezes de junho até outubro, Q nas roças e capoeiras nas flores de Centrosema, Bixa etc., dem junho de 1900 em Anajás voando na penumbra da floresta virgem. ló Eu. polyzona Mocs. (= Eu. difficilis Friese). Distribuicão geographica ate agora conhecida: Guy- ana, Amazonia, Piauhy, Espirito-Santo. Colleccionada por mim nos arredores de Belem e no Rio Anajás, quasi exclusivamente na floresta ou em 576 As Euglossas Paraenses logares muito humidos, as P P nas flores de Solanum toxicarium, os Sd de preferencia sobre poças de agua ou madeira podre. 16 Eu. dimidiata F. Distribuição geographica até agora conhecida: Me- xico até a Bahia. Frequente em Belem, Anajás, Macapá, Calçoene, Obidos, Itaituba, gosta de logares muito humidos e som- brios, especialmente da mata; Q as vezes nas flores de Polygala spectabilis, Oncoba pauciflora e outras, o d apparece raras vezes depois das 10 horas da manhan, voa e pousa em troncos de arvores, visita as flores de Poly- gala spectabilise especialmente as das especies de Cata- setum. — Var. flavescens Friese como a forma genuina, porem mais rara. W Eu. nigrita Lep. Distribuição geographica até agora conhecida: Isthmo de Panamá até o Rio de Janeiro e-São Paulo: Colleccionei-a em Belem, Montealegte e Obidos onde não é rara nas capoeiras, as 9 9 visitando éspe- cialmente as flores de Centrosema e outras Papilionace- as, OS did raras vezes, voando incansavelmente e com grande velocidade sobre os arbustos em logares seccos e no maior calor do meio-dia. Os d'g' apparecem uma ou outra vez tambem nas flores de Catasetum e de uma especie de Anthurium, como costumam fazer os de ig- nita, dimidiata e fasciata. As 9 9 encontram-se tam bem nas casas da cidade. 18 Eu. fasciata Lep. (= Eu. cayennensis Lep.) Distribuição geographica até agora conhecida: Me- xico até Pernambuco. Mui frequente em Belem, Anajás, Macapá, Obidos, 9 nas flores de Polygala spectabilis, Solanum toxica- vm Ás Euglossas Paraenses 571 rium, varias especies de Cassia e de Maranthaceas, d sómente nas de Polygala spectabilis, de Maranthaceas e principalmente de Catasetum. 19. Eu. mocsárvyi Friese (?—Eu. fallax Sm. Qnece GS). Distribuição geographica até agora conhecida: Pará, Guyana, Colombia. Não muito rara em Belem, Anajás, Itaituba, em lo- gares humidos e sombrios, nas flores de Solanum toxi- carium, Maranthaceas, Polvgala spectabilis; os Sd só nas duas ultimas. APPENDICE ALGUMAS ESPECIES NOVAS DE ABELHAS PARASITICAS MELISSA SUPERBA DUCKE, N. SP. Robusta, fere bombiformis, nigra, nigropilosa et nigrotomentosa: occipite cum thoracis dorso densissi- me flavovelutinis, scutello 4—gibboso, tuberculis duo- bus centralibus externis multum maioribus, metanoto utrinque lateribus subdentato, segmento abdominis dor- sali I fascia discali transversali nonnihil medio inter- rupta flavohirta ornato, segmento anali bispinoso, seg- mento ventrali quarto margine apicali densissime ac longissime nigrofimbriato, pedibus intermediis: calcare tibiarum bifido, coxis et trochanteribus apice, femoribus subtus, tibiis antice scopulis nigris instructis, alis ni- grofuscis, cellula cubitali IL caeteris multum maiore, nervum recurrentem I sat longe ante apicem reci- piente, cellula cubitali IL omnium minima, superne ' fortissime restricta. Longitudo corporis 20 mm. dg.— 9 adhuc ignota. -* Colore singulari ab omnibus congeneribus facillime distinguenda. 18 As Ewglossas Paraenses D'esta bella especie colleccionei 2 exemplares, am- bos df, nos arredores de Obidos nas flores de Droclea lasiocarpa Mart., 6 e 8 de agosto de I9o2. MELISSA FRIESEI DUCKE, N. SP. Q: Modice robusta, nigra, antennis subtus ferrugi- neis, capite albido—, thorace albido—et nigro-piloso, mesonoto dense subtiliter et sparsim sat crasse puncta- to, parum virescenti-tomentoso, scutello 4—gibboso. abdomine supra nigrocaeruleo-tomentoso, parum niti- do, segmento dorsal 1. basi utrinque macula pilorum grisescentium, 1.—5. utrinque angulo posticolaterali macula parva tomenti albi ornatis, segmento ventrali 5. obsolete, 6. distincte longitudinali-carinato, pedibus ob- solete cyanescenti-tomentosis, intermediis calcare tibia- rum bifido et metatarso apice longe dentato, alis fere hyalinis, apice parum submaculiformi-infumatis, cellula cubitali 1. et 2. subaequalibus, 3. caeteris minore, super- ne modice restricta, nervo trecurrente 1. -«apici “cx tienda cellulae cubitalis 2. inserto, nervo recurrente 2. sat lon- ge ante apicem cellulae cubitalis. 3. Anserto, tegulis Em parte ferrugineis. Longitudo corporis 12 1/2—14 mm. S: Ut 2, sed facie maxima ex parte, mesonoto antice fascia transversali, mesopleuris antice fascia ver- ticali densissime laete flavohirtis, segmento dorsali ulti- mo bispinoso, ventrali 4. apice profunde emarginato, sed breviter ciliato. Longitudo corporis 12 mm. Colleccionada por mim nas capoeiras de Obidos em julho e agosto de 1902; vôa nas horas meridianas sobre o solo e só raras vezes pousa nas flores. Dedicada ao distinctissimo especialista, o Sr. HH. Frtese em fena MELISSA ITAITUBINA DUCKE N. sP. Q* Praecedenti characteribus morphologicis simi- lis, sed differt: calcare tibiarum intermediarum longio- re, profundius bifido; alis anticis apice distinctius ma- culatis, nervo recurrente 1. basi extremae cellulae cubi- Ás Ewglossas Paraenses 519 talis 3 inserto; antennis nigris, facie et mesonoto cum scutello distincte viridicyaneo-tomentosis, abdomine superne sat nitido, splendide azureo tomentoso basi se- gmentorum nigro-micante, segmento 1. basi utrinque lateribus macula pilorum alborum, 2.—5. lateribus ma- culis parvis tomenti albi ornatis, pedibus, praesertim posticis, splendide azureo-tomentosis, tibiis posticis ma- gis curvatis. Longitudo corporis 14 1/2 mm. Itaituba, voando n uma capoeira rapidamente so- bre o solo, 19 de agosto de 1902. MESOCHEIRA GUEDESII DUckKE, N. SP. Q: Robusta, nigra, fere ubique viridicvaneo-tomen- tosa, capite thoraceque nigro—, albo-et flavo-pilosis, mesonoto nitidulo, sat dense subtiliter punctulato et punctis profundioribus sed parum crassioribus consper- so, scutello 4—tuberculato, abdomine supra modice n1- tidulo, sine maculis tomenti albi, solum segmento 1. lateribus utrinque pallide flavescenti piloso, segmento anali area pygidiali laevissima, ventre fusco, vix cya- nescenti-tomentoso, sed segmentorum angulis postico- lateralibus maculis tomenti alhbi sat magnis sed obsoletis ornatis, 5. medio obsolete, 6. distincte carinato, pedibus viridicyaneo-tomentosis, intermediis tibiarum calcare profunde bifido, metatarso apice in dentem triangula- rem modice longum producto, alis fere hyalinis, apice vix infuscatis, cellulis cubitalibus omnibus inter se fere aequalibus, nervo recurrente 1. extremae basi cellulae cubitalis 3. inserto, nervo recurrente 2. sat longe ante apicem cellulae cubitalis 3. inserto. Longitudo corporis 18 1/2 mm. Mesocheirae sericeae (Guér. sat affi-nis, sed pi- lositate capitis thoracisque tricolore et metatarsis in- termediis apice dentatis statim cognoscenda. Belem do Pará, 30 de agosto de 1899 nas flores de Dioclea lasiocarpa Mart. Dedico esta bellissima especie nova á memoria de meu mallogrado amigo Manoel de Pinto Lima Guedes, a cuja actividade devo varias especies raras ou novas para a sciencia, colleccionadas por elle no interior d'es- te estado. 380 Bibliographia BIBLIOGRAPHIA REVISTAS. GEOGRAPHIA. ETHNOGRAPHIA ETC. 1. H. von Iherimg. Revista do Museu Paulista. São Paulo 1898 Vol. HI. Com as consideraveis dimensões de 568 paginas de texto e 7 estampas apresentou-se em seu tempo o terceiro volume da publica- ção official do Museu de São Paulo. Do seu conteudo destacamos, a os trabalhos scientificos, os seguintes: Fritz Miller, necrologo I.)—Observações sobre a fauna marinha da costa de Santa Cor Sua (pelo Dr. Fritz Miiller) — Some new Coccidae, collected at rd Brazil, by F. NE (By T. D. A. Cockerell)-Some Coceidae collected by Dr. F. Noack at Campinas, Brazil. (By Coc- kerell) — A doença das jaboticabeiras (v. I.)—Notas sobre Capu- linia Jaboticabae Th. (por A. Hempel) — Considerações sobre al- guns peixes terciarios dos schistos de Taubaté, Estado de São Paulo, Brazil (par A. Smith Woodward.)—Observações sobre os peixes fosseis de Taubaté (v. [)-—Contribuição para o conhecimento das aranhas de S. Paulo (por W. I. Moenckhaus)—As aves do Estado de São Paulo (v. L)—As grutas calcareas de Iporanga (Ricardo Krone)—Mais algumas Coccidae colligidas pelo Dr. Noack (por Coc- kerell—Bibliographia (v. 1.). 2. Idem, Vol. IV, 1900. Conta 600 paginas e 12 estampas. Os trabalhos de theor scientifi- co são os seguintes: Descripção de ninhos e ovos das aves do Brazil (por Carlos Euler)— Aves observadas em Cantagallo e Nova Fribur- go (v. 1.)— Joaquim Correia de Mello (por José de Campos Novaes)— Catalogo critico-comparativo dos ninhos e ovo: das Aves do Brazil (v. 1)— Alguns fosseis paleozoicos do Estado do Paraná (por E. Kayser — Nota sobre o Curare (por 1. RAS Er Hyla pulchella Dum. Bibrori e a sua funcção chromatica (por H. A. Schupp )—Observacção sobre alguns Caracões terrestres do E (por HH. Suter)/— Archeologia Rio- grandense (por I. M. Paldaof)—Sobre alguns peixes de S. Paulo, Brazil (por C. TI. Eigenmann e E. A, A, Norris)— Notas sobre Cocei- das (por 'T. D. A. Cockerell) —As Coccidas brazileiras (por A. Hempel) —Os caracões do genero Solaropsis (v. L)—Bibliographia (v. 1). Opportunamente teremos de occupar-nos com diversos d'estes trabalhos. G X . “ Bibliographia 981 3. Memorias do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia. IH. Zacischen Ocean umd Guamá. Beitrag zur Kenntniss des Staa- tes Pará. Von Dr. K. von Kraatz-Koschlau und Dr. Jacques Huber. Pará 1900. [Entre Oceano e o Guamá. Contribuição ao conhecimento do Estado do Pará. Pelos Drs. C. von Kraatz— Koschlau e Jacques Huber]. Com um mappa e 10 estampas. Resumos e extractos appareceram diversos, sendo entre elles dos mais Siga os do Prof. Flahault em Montpellier («La Géogra- phie» 1901, p. 1235-132, com 5 fig. no texto) e do Prof. W. Sievers, em Giessen («Petermanns Mitteilungen» 1902, Litteraturbericht p. T6—TO). G. 4. Dr. J. Huber. Aperçu géographique de la région du Bas— Amazo- ne. (Dr. J. Huber, Resumo geographico da região do baixo Ama- zonas) no SCE». Journal géographique. Genêv e, mars 1901. Uma conferencia realisada pelo nosso collega perante a Socieda- de de geographia de Genebra (Suissa). Com projecção de photogra- phias originaes.—Summula util do estado actual da geographia Ama- zonica. G. 9. J. Huber. Sur les campos de? Amazone inférieur et leur origine. [Sobre os campos do Amazonas inferior e a sua origem]. Comptes- rendus du Congrês international de botanique à [VExposition Universelle de 1900. p. 387400. 3 figg. O autor mostra que os campos de Marajó e do baixo Amazonas têm uma origem fluvial, o que se reconhece não só pela sua situ- ação e feições topographicas, mas principalmente pela sua vegeta- ção que é essencialmente fluvio—littoral, com uma proporção mais ou menos importante de plantas cujas sementes são facilmente trans- portadas pelos ventos ou pelos animaes. E. 6. J. Huber. Zur Entstehungsgeschichte der brasilischen Campos. [Sobre as origens dos campos brasilicos| Petermann's geogr. Mitteilungen 1902. Heft. IV p. 93-95. Resposta a uma critica do Dr. Katzer sobre o trabalho prece- dente. H. -22(BOL. DO MUS. PARAENSE) 382 Biblographia q. H. L. van Hoof. De Afwateringskwestie van het Eiland Marajó. [A questão do desaguamento da ilha de Marajó.) Tijdschrift van het Koninklijk Institut van Ingenieurs 1900—1901. Este trabalho, de cujo conteudo pode-se dizer desde já, que muito interesse tem para este paiz, será proximamente posto ao nosso alcance por uma versão na lingua vernacula, organisada pela inciativa e sob os auspícios do patriotico chefe do Estado. EK 8. Dr. Constant Mathis. Les régions de Cachipour, de Counani et de Carsewenne. (Contributions à la geographie des Guyanes) [As regiões do Cassiporé, do Cunani, e do Calçoene (Contribuições à geographia das Guyanas)]. Revue de Géographie. Mars 1902. pp. 269—2%2. O Dr. Mathis que na qualidade de medico-major do aviso «Jou- ffroy» pertencia à antiga commissão mixta do Contestado, visitou di- versas vezes os rios Cassiporé, Cunani e Calçoene, sobre os quaes elle dá informações, principalmente quanto aos pontos habitades. Encontram-se tambem algumas indicações hydrographicas e to- pographicas nas quaes, assim como no seu juizo sobre a salubridade Vaquella região o autor nem sempre concorda com as indicações do seu compatriota II. Coudreau. El 9. Dr. Luigi Buscalioni. Una escursione botanica nelP Amazzonia [Uma excursão botanica na Amazonia] Estratto dal Bolletino della Societi geographica italiana. Fase. L, IL IV, V. 1901. 142 pp. O autor que é medico e botanico de merecimento, veio aqui em 1899, commissionado pelo ministro de instrueção publica da Italia e pela Sociedade geographica italiana e subsidiado generosamente pelo governo do Pará, para fazer uma exploração do Rio Tocantins. O pre- sente trabalho, ao qual o autor promette fazer seguir um livro mais documentado e extenso, já dá, além da relação summaria da viagem e algumas indicações geraes sobre o paiz, uma bôa messe de observa- ções e reflexões pessoaes. À variedade dos assumptos tratados já se evi- dencia da enumeração dos capitulos: Introdueção. De Roma ao Pará. Em viagem pelo Tocantins e pelo Araguaya. Atravez dos campos; dois dias entre os indios Apinagés; a volta. Os brazileiros sob o ponto de Bibl rograph ra 383 vista ethnico e social. Os indios Apinagêés, Gaviões, Carajás, Anambés, imdios de tribu desconhecida. Molestias predominantes nas regiões ex- ploradas. Fauna do Tocantins, principaes animaes uteis e damnificos. Vegetação do Tocantins e da bacia do Amazonas. Principaes plantas cultivadas e uteis do Pará. A região do Tocantins sob o ponto de vis- ta climatologico e geologico. Os campos, theoria relativa á sua origem. As plantas formicarias americanas; uma nova theoria sobre a myrme- cophilia. Principalmente nos capitulos referentes à botanica o leitor en- contrará muitas observações origimaes, cuja relação mais extensa es- peramos anciosamente. EL 10. Memorias do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnogra- phia. 1. Dr. Emilio A. Goeldi: Excavações archeologicas em 1895 executadas pelo Museu Paraense no littoral da Guyana Brazi- leira entre Oyapock e Amazonas. 1.º Parte: As Cavernas funera- rias artificiaes de Indios hoje extinctos no Rio Cunany (Goana- ny) e sua ceramica. Pará 1900 (4 estampas [3 coloridas)) e 46 pag. de texto. Extractos e resumos d'este trabalho foram publicados em lingua allemã: no «Globus» (Braunschweig, 1900, Sept. Bd. 38, Nr.9) com o titulo: Neue Funde praehistórischer Keramik aus Nord-Brasilien» [Novos achados de Ceramica prehistorica no Brazil septentrional| pelo Dr. P. Ebhrenreich, de Berlim e na «Schweiz» (Aiúrich 1900, Bd. IV. pag. 475) com o titulo: «Altindianische Begrabnisshóhlen im súdlichen Guyana», pelo proprio autor. G: 11. Dr. Julius Platzmann. Das anonyme Wôrterbuch Tupi-Deustch und Deutsch-Pupi. [O diccionario anonymo Tupi-Allemão e Al- lemão—Tupi.), com 1 mappa do Rio Amazonas. Leipzig 1901. O venerando ancião, que dedicou a sua vida inteira ao estudo das linguas indigenas da America do Sul, presenteou-nos com mais um fructo de sua proveitosa actividade n'este bello livro, que com prazer será sempre compulsado pelos interessados na materia. Muito já aprehendi e mais ainda hei de aprehender desta obra. Póde fi- car descançado o autor, o qual alludindo à sua edade avançada, com as commoventes palavras fechou o capitulo final: «Minime jam moriturus Vos saluto!», que o novo diccionario é um monumento «aere perennius» e que com piedade, nós, os novos, abençoamos intimamen- te os Incalculaveis serviços prestados por J. Platzmann, pondo á nos- 384 Bibhographia sa mão em forma commoda, concisa e clara tantos materises linguis- ticos antes difficeis de obter e mais difficeis ainda de consultar. G. 2. C. v. d. Steimen. Anthropomorphe Todten-Urne von Maracd. [Urna funeraria anthropomorpha de Maracá]. Verhandlungen der Berlin. Anthropol. Gesellschaft, Berlin 26.0ctob.1901. pag. 381— 389 Est. IX. O conhecido explorador do rio Xingu demonstrou no seio da So- ciedade Anthropologica de Berlim uma “das taes urnas funerarias de Maracá, descobertas em 1872 por Ferreira Penna. Duas destas urnas foram parar no Museu de Christiania (Nourega), donde uma foi em troca para Berlim. Como se vê pela estampa parece-se com a figurada por Hartt em 1872 no «American Naturalist», pag. 609. O Dr. C. v. d. Stemen communicou à mesma Sociedade a cir- cumstancia de achar-se em adiantada phase de maturação compre- hensiva memoria nossa acerca da rica colheita feita na mesma regi- ão por emmissarios do Museu do Pará em 1897, 13. Desiré Pector. Notes sur PV Américanisme. Quelques-unes de ses lacunes. Paris, Maisonneuve Edit. 1900 (242) pag. [Notas sobre o americanismo. Algumas das suas lacunas]. Do livro, que é um util guia acerca do actual estado de saber relativo ao americanismo, naturalmente prendem a nossa attenção em primeira linha os capitulos acerca das Guyanas (pag. 128133) e do Brazil (153—146). Na pag. 139 o autor, não sem razão apon- ta para o pouco que ainda hoje se sabe a respeito dos Tupis, no Es- tado do Pará, representados contra o littoral pelos Tembés dos rios Acará e Capim. Algumas contribuições para este assumpto o Museu do Pará publicará proximamente, quando elaborados os materiaes. colligidos por nós no alto Capim em 1897. G. 14. J. Ranke. Uber altperwanischs Sehiidel von Ancon und Pachaca- mac gesammelt von T. K. H. Prinzessin Therese von Bayern. [So- bre antigos craneos peruanos colligidos em Ancon e Pachaca- mac por S: A. R. a Prinseza Therese de Baviera). Em «Abhan- dlungen da Kônigl. Bayer. Akademie der Wissenschaften», Babliographia 585 Miinchen, II. cl., XX. Bd. III, 3º Abtheil. 1900. (122 pag. e 9 estampas.) Descripção e estudo minucioso do material crancologico collec- cionado no cemiterio, de longa data conhecido, de Ancon nas rui- nas de Pachacamac. São interessantes sobretudo sob o ponto de vista das deformações artificiaes, tanto em uso entre os antigos Peruanos. G. ZOOLOGIA 15. Dr. Hagmann, Der Zoologische Garten des Museu Galdi in Pará (Brasilien). [O jardim zoologico do Museu Goeldi no Pará, Bra- 21). Com 6 vistas e 1 mappa de situação. Frankfurt a/ Main 1901. (55 pag). E' um trabalho espontaneo do auxiliar da secção zoologica do nosso Museu, dedicado, como lembrança piedosa ao pai do autor por occastão do seu jubileu de 25 annos de serviço como director do jardim zoologico de Basiléa (Suissa). Apro funda amorosamente his- toria, installação, dimensões, arranjo externo e interno e sobretu- do o inventario animal d'este annexo. Um appendice do real utili- dade, sobretudo para leitores de além-mar, constitue a lista dos animaes, que deste julho de 1895 até julho de 1901 figuraram no nosso jardim. —Um resumo, aliás muito reduzido, d'esta brochura im- pressa apenas em 300 exemplares encontra-se no «Zoologischer Gar- ten» Frankfurt am Main 1902. Vol. 43, Num. 4 (April), pag. 134— 137, assignado pelo Prof. Bottger. Tambem referem-se ao trabalho em apreciações mais ou menos detalhadas a «Naturwissenschaftliche Rundschau», (12 Juni 1902), e «Ibis», de Londres (July 1902). Go. 16. C. Hart Merriam, Preliminariy revision of the Pumas (Felis con- color-group). (Revisão provisoria do grupo das Pumas («suçuará- nas», Kelis concolor). Proceedings of the Washington Academy of Sciences, Vol. III pag. 5771-600. Dec. ti, 1901. Cito este trabalho porque nos interessa tambem; é um ensaio de uma synopse das diversas formas, debaixo dos quaes se apresenta o Puma atravez do contmente americano, variando assás em tamanho e côr. O Puma brasilico é considerado como correspondendo ao typo 586 Bibliographia de Felis concolor conforme a descripção de Linneo.—Veja tambem a nota do Dr. O. Thomas «Sobre uma nova forma de Puma da Patago- nia» (Annals and Mag. Sept. 1901. pag. 188189). Oldfield Thomas, On a collection of bats from Pará [Sobre uma colleeção de morcegos do Pará]. Annals and Magazine of Natural History, Vol. 8, Series 7, Sept. 1901, London. (22 especies enu- meradas). —On a collection of Mammals from the Kanuku Mountains, British Guyana (Sobre uma colleeção de mammiferos da Serra de Kanuku, Guyana Ingleza). Ibidem, August 1901. Vew Species of Sciurus, Rhipidomys and Tatá from South— America. Ibidem, April 1901. Do incansavel mammalogista do British Museum em Londres temos nada menos do que 18 trabalhos recentes maiores e menores deante de nós, todos relativos à fauna sul-americana e não poucos aos paizes limitrophes e à parte meridional do Brazil. Ha muitas for- mas novas ahi descriptas em mamniferos menores (morcegos, ratos etc.) principalmente do Perú e do Equador. Pontos de contacto mais in- timos com o nosso campo de actividade possuem manifestamente os 3 trabalhos acima mencionados com os seus titulos completos. Do primeiro entre elles virá proximamente uma traducção num dos fu- turos fasciculos do Boletim; os materiaes foram collecionados pelo Museu no Pará. —ntre as não especialmente enumeradas publica- ções salientarei ainda uma «sobre o urso ecuadoriano» e outra «sobre as raças geographicas do Jupará» (kinkajou, Cercoleptes=Potos). G. 18. Dr. G. Hagmann. Kritische Bemerkungen zur Systematik der ama- conischen Fiichse. Leipzig, Zoologischer Anzeiger, 1901. Bd. XXIV. Nr. 651. (Observações criticas acerca da systematica das raposas amazonicas). Breve noticia acerca dos cachorros do mato e raposas indigenas: Canis brasiliensis e O. microtis (Mivart), especialmente em relação aos pormenores ecraneologicos e da dentadura. E” um estudo preliminar sobre materiaes do Museu que proximamente serão tratados ainda n'um trabalho especial do prof. Dr. Th. Studer em Berna. E Bibhogra ph a 587 19. A. de Winkelried Bertoni. Aves Nuevas del Paraguay. Assuncion, 1901. (216 pag.). — Catalogo descriptivo de las aves utiles del Paraguay. Revista de Agronomia y Sciencias aplicadas. Boletim de la Escuela de Agri- cultura de la Assuncion del Paraguay. I. (Anão IN“.9 e 10) pag. 375-—410; II. Idem, pag. 526539; HI. (Anno II) pag. 1—11; IV. pag. 99-80. O operoso autor nos causou um grande prazer com a remessa dos seus trabalhos, entre os quaes os dous mencionados nos interessam em primeira linha. Não discutirei o lado systematico, onde talvez as autoridades objectarão aqui e acolá os seus senões. Mas muito folgo de vêr com que cuidado o autor colleccionou os nomes indigenas. Não hesito em declarar que, n'este sentido, como repositorio de nomen-— clatura guarany bem averiguada, não conheço cousa melhor até hoje em toda a litteratura ornithologica. Tambem pelo prisma da utilidade pratica estas publicações merecem francos elogios. 20. Dr. G. Hagmann. Ein or aus er Streifzug durch den Cam- po der Insel Mexiana (Amazonas) [Uma excursão ornithologica atravez do campo da ilha Mexiana, no rio Amazonas|. Schwei- zerische Blitter fi Ornithologie, Ziirich 1902, No. 33, 15. Au- gust, pag. 409411. Uma resenha do mundo das aves, qual apresenta o interior da ilha Mexiana, desde A. R. Wallace (1848) nunca mais visitada por um naturalista. Opportunamente tambem esta noticia virá traduzida para o por- tuguez. G 21. A. Nehrkorn, Katalog der Eiersammlung nebst Beschreibungen der aussereuropiiischen Eier. [Catalogo da sua colleção de ovos de aves, com descripção dos ovos extraeuropeus]. Braunschweig 1899 (256 pag. com 4 estampas coloridas). O autor, conhecido pela sua insistente dedicação ao estudo dos ovos das aves e possuidor de uma consideravel collecção, resolveu-se finalmente de publicar o catalogo d'esta, prestando assim um serviço appreciavel a todos quantos têm interesses no mesmo campo de imn- vestigação. —Occorrem-nos n'este momento como particularmente dignas de attenção as observações acerca de Pteroglossus flavirostris 588 Bibliographia Fraser, Hadrostomus atricapillus, Attila citriniventris, todos amazo- nicos. G. 22. Catalogue of Bird's Eggs in the British Museum. Vol. I. London 1901. Vol. II. London 1902. [Catalogo dos ovos de aves no Mu- seu Britannico em Londres. |. | Ambos os volumes redigidos por Eugêne W. Oates. No primeiro vêm os ovos dos Ratitae e dos Carinatae, os grupos Tinamiformes e Lariformes; no segundo segue a continuação dos Carinatae com os grupos Charadriformes e Strigiformes. Era uma real necessidade já o ter-se uma obra d'estas. A pri- meira impressão que se obtem ao folhear estes bellos livros, é que já se sabe muito; examinando de mais perto percebe-se entretanto que fal- tam ainda muitas lacunas para preencher. Adivinha-se que com dous volumes sómente que appareceram até agora, à obra ainda não póde ser completa. G. 23. Dr. E. A. Goeldi. Album de aves amazonicas. Supplemento ilustra- tivo à obra «Aves do Brazil» (18941900, 2 Vol. Livraria clas- sica de Alves e Cº., Rio de Janeiro) 1º Fasciculo. estampas 1— 12. Impressão do Instituto Polygraphico de Ziirich (Suissa). Perto de cem criticas de revistas profissionaes e scientificas, de naturalistas e especialistas, de geographos, de professores de diversos eraus de ensino e de outros cireulos sociaes, estão assignalando o seu logar a este nosso livro, dispensando-nos assim inteiramente de entrar na apreciação desta obra, que é projectada em 3 1/2 fascículos de 12 estampas, e da qual está no prelo o segundc fascículo, contendo as estampas 13-25. G. 24. H. von Berlepsch & Ernst Hartert. Onthe Birds of the Orinoco Re- gion [Sobre as aves da região do Orinoco| Novitates zoologicae, a Journal of Zoology, edited by The Ion. Walther Rothschild etc. Zoological Museum, Tring. Vol. IX, Num. 1. pag. 1-134. April 1902. Como antes nunca tinha sido publicado trabalho notavel acerca da avifauna do Orenoco, bem comprehensivel attenção deve desper- tar o presente trabalho, baseado sobre as colleeções entre 1897 e 1900 Bibliographia 589 feitas pelos esposos George e Stella Cherrie. O total das especies enu- meradas sobe a 458-—numero este, que logo deixa entrever a porcen- tagem consideravel com que entra a aviaria aquatica. Este é outro trabalho moderno, que interessa particularmente a nossa esphera de investigação e actividade e que valiosos serviços nos vae prestar na delimitação exacta da distribuição geographica de tan- tas especies de aves, que se encontram ainda além da bacia amazonica propriamente dita. G. 25. W. Goodfellow. Results ofan Ornithological Journey through Co- lombia and Ecuador. 3 parts. [Resultado de uma viagem orni- thologica atravez da Colombia e do Equador] Ibis, Londres 1901. A lista das aves colligidas durante esta expedição reveste não pe- quena importancia para nós, como interessando ainda a região amazo- nica no seu sentido lato. Vejo. 249 especies enumeradas, entre ellas formas conhecidas tambem aqui no Pará. Ha diversas observações va- liosas acerca de ninhos e ovos e meritoria é imncontestavelmente tam- bem a estampa 14, Ibis 1901, representando a cabeça do Gymnoderus foetidus, com as exquisitas carunculas azuladas do pescoço, na sua côr natural. —Eº um trabalho, que será muitas vezes utilisado por nós. (Ge 26. E. D. Cope, The Crocodilians, Lizards and Snakes of North-Anve- rica. [Os Crocodilios, Lagartos e Cobras da America do Norte Report ofthe U. 5. National Museum 1898. Fóra de duvida a obra a mais comprehensivel e a mais completa sobre herpetologia norte-americana. Nós pelo menos prevemos distinc- tamente, que teremos de consultal-a todas as vezes, quando tivermos de orientar-nos mais de perto acerca da afinidade faunistica da parte sul com a parte meia do continente americano. Perto de 350 figuras no texto e umas 35 estampas facilitam eficazmente a intellig ibilidade nos apuros causados pela complicada systematica usual. Deploramos que n'uma obra tão importante a parte systematica tenha tão decidido predominio sobre a parte biologica. Gi. 27. Dr. E. A. Goeldi. Huffórmige Verbreiterungen an den Krallen von Crocodilembryonen [Dilatações em forma de ferradura nas unhas dos embryões dos crocodilos]. Zoologischer Anzeiger, Leipzig 1900, 19. Mãrz, Bd. XXIII, Nr. 610. 590 Bibliographia Pequena nota que virá traduzida para o portuguez n'um dos pro- ximos numeros do «Boletim». G. 28. Dr. E. A. Goeldi e Dr. G. Hagmann. Die Bier von Tropidurus torquatus und Ameiva surinamensis. lena 1901. Zo0logische Jahr- biicher Bd. XIV, Heft 6. [Os ovos de Propidurus torquatus e de. Ameiva surinamensis |. Pequeno trabalho onde se dá noticia acerca dos ovos e da re- producção de dous reptis assás conhecidos da ordem dos Lagartos e umas observações sobre o comportamento do Camaleão (Iguana tu- berculata) durante a postura dos ovos. G. 29. Dr. E. A. Goeldi. Die Bier von 13 brasilianischen Reptilien nebst Bemerkungen iiber Lebens-d: Fortpflanzungsweise leteterer. Beo- bachtungen aus den Jahren 1884-1897%.[Os ovos de 13 especies de Reptis brasilicos, com observações acerca do modo de vida e da reproducção. Estudos dos annos Rs -1897]. Zoolog. Jahrbiicher, lena, Bd. X, pag. 640-676, com 2 estampas. Prata dos ovos e da reproducção dos seguintes Lacertilios: Igua- nidae: Tropidurus torquatus— Iguana tuberculata; Teidae: Tupinam- bis nigropunctatus—Dracaena guyanensis; Amphisbaenidae: Lepidos- ternon microcephalum; Crocodilios: Caiman selerops—(Caiman niger) Chelonios: Cimosternon secorpioides — Nicoria punctularia — Podoe- nemis expansa—Podoenemis dumeriliana—Chelone inydas— Ophi- dios: Herpetodryas c carinatus, Oxyrhopus spec. Uma traducção é projectada para mais tarde; dos resultados e vos alguns serão aproveitados no capitulo: «Lagartos do Brazil», Capitulo da minha monographia «Reptis do Brazil», desde amnos re- digido e prompto, mas só agora em via de publicação. Um resumo do trabalho, em lingua allemã, acha-se no Zoologi- sches Centralblatt (Ileidelberg) Vol. V, Nr. 16 (11. VIII 1898; pass 542-544, redigido pelo Prof. Bottger, (Frankfurt am M.). 30. Dr. E. A. Goeldi. Uber die Entiicklung von Siphonops annulatus. [Sobre o desenvolvimento do Siphonops annulatus (amphibio ex- 0:80 , e 4 o 1 me a quisito da familia dos Gymnophiones), na Serra dos Orgãos, Rio Bibliographia 591 de Janeiro.) Zoolog. Jahrbiicher Bd. XII, 1899. pag. 1770-174 (com 1 estampa). Trabalho em continuação ao anterior maior. Versão em portu- guez projectada com o tempo. G. 81. Prof. Hans Gadow. Amphibia and Reptilia. The Cambridge Natu- ral History Vol. VIII, London 1901. Se houve realmente um livro, que em qualquer ramo das scien- cias naturaes descriptivas viesse preencher uma lacuna, foi este do Prof. Gadow, da Universidade de Cambridge, sobre as classes tão ne- gligenciadas pela sympathia popular Amphibios e Reptis. Bom texto e muitas boas figuras. E” uma obra simplesmente excellente, que a gente não cança de consultar e que sobretudo tambem em relação à biologia attinge à uma perfeição quasi completa. Com bastante humor o autor confessa que se elle poude confec- cionar um livro bom n'esta materia, é porque as cousas melhoraram nos ultimos 150 annos para cá, porque em 1758 ainda queixava-se Linneo das difficuldades que encontrava em achar boas informações acerca d'estes animaes na seguinte exclamação: «Amphibiologi omni- um paucissimi sunt nullique veri !» Agradecendo ao collega e amigo a gentileza da offerta, compri- mentamol-o ao mesmo tempo sinceramente, por ter enriquecido a li- teratura zoologica com uma obra util e bella, que dificil será de sub- stituir por outra cousa melhor ainda por dilatado tempo. E: 32. G. Brandese W. Schoenichem. Die Brutpflege der schwanzlosen Batrachier [Cuidados paternaes entre os batrachios anuros]. Ab- handl. der Naturforsch. Geselischaft Halle, Bd. XXII, (Stuttgart 1901). 69 pag, 25 figuras no texto e 3 estampas. 33. R. Wiedersheim. Cure parentali nei vertebrati inferiori (Rivista de Secienze Biologiche Nr. 11 e 12, Vol. I, Anno 1899), 36 pag. com 18 figuras. 34. Lilian V. Sampson. Unusual modes of breeding and development among Anura. [Modo pouco usual de incubação e desenvolvi- mento entre Batrachios Anuros.| American Naturalist, Sept. 1900, Vol. 34, Nr. 405, pag. 0687-115. 592 Bibla agraph 7 Tres trabalhos que tratam da postura dos ovos, da incubação e do desenvolvimento dos Batrachios ecaudatos e que se acham em intimo contacto com o nosso trabalho em 1895 publicado em Londres acerca do modo de reproducção de certas «pererécas» ou «gias» (Hylidae), na Serra dos Orgãos do Rio de Janeiro—trabalho, que foi reeditado mais uma vez pela Sociedade Zoologica de Londres e do qual já se acha organisada uma versão portugueza, que poderá apparecer n'um dos proximos «Boletins». (E 35. Dr. G. Hagmann. Acanthicus hystrix Spix aus dem unteren Ama- zonas | Acanthicus hystrix Spix do baixo Amazonas]. Zoolog. Anzeiger, Leipzig 25. Marz 1901, Bd. XXIV, Nr. 639, pag. 173 —17%06. Weiterer Beitrag zu Acanthicus hystrix aus dem unteren Ama- zonas. [Outra contribuição ao conhecimento do Acanthicus hys- trix do baixo Amazonas. Zoolog. Anzeiger, Leipzig 2. Juni 1902, Bd. XXV, Nr. 672 pag. 414- 429, Duas notas ichthyologicas tendentes a esclarecer os caracteres genericos de Acanthicus e de Chaectostomus, dous «Acarys», que nem muito bem delimitados antes eram de maneira que ameaçavam confusão à todo o momento. Mediante photographias das cabeças de A. hystrix e de Ch. spi- nosus 0 autor tornou facil dora em deante a distmeção segura entre estas formas exquisitas de Siluroides cataphractos do valle amazonico. E: 36. J. Graham Kerr. The External Features in the Development of Le- pidosiren paradoxa Fitz. Philosophical Transactions B. Vol. 192, 1899. London. pag. 330; com 4 estampas [Os traços exteriores no desenvolvimento do Lepidosiren paradoxa Fitz.]. O feliz RAS inglez, que no Gran Chaco conseguiu, n'uma região habitada por indiós, estudar o desenvolvimento do notavel Di- pnoo, descreve no presente trabalho a postura, os ovos, a segmentação as phases suecessivas do embryão, accompanhado de numerosas fi- guras. — O trabalho despertou naturalmente grande imteresse por toda a parte e que nós, no Para especial attenção iamos tributar-lhe, facil- mente será comprehendido por quem está orientado acerca do parti- cular empenho, com que desde o principio nos trabalhamos no escla- recimento completo da historia natural do Lepidosiren amazonico. O Dr. J. G. Kerr tomou-nos a dianteira com a elucidação da his- toria evolutiva do Lepidosiren, que—mais cedo ou mais tarde—teria Bibhogra ph ra 593 nos sido reservada aqui no valle amazonico, temos o direito de dizel-o. O autor parece que o sentia tambem, pois não será por ahi que deve- mos procurar a explicação da «mavel pressa, que se deu em remetter-— nos logo o seu bello trabalho?—Nem por isso lhe queremos mal; feli- citamol-o sinceramente pelo glorioso successo! A 37. J. Graham Kerr. The Development of Lepidosiren paradosxa Part II. [O desenvolvimento de Lepidosiren paradoxa] Quarterly Jour- nal of Microscopical Science, London, 1901. Vol. 45, Part 1, New Series, 40 pag. e 4 estampas. Resultados de pesquizas de embryologia comparada, tendo em vista o desenvolvimento do Protopterus amnectens, africano, e do Amphioxus. (Gr. 98. Dr. E. A. Goeldi. On the Lepidosiren of the Amazons: being Notes on five Specimens obtained Deticeen 1895-1897 and Remarks upon an example living in the Pará-Museum. [Acerca do Le- pidosiren no Rio Amazonas, com notas sobre 5 exemplares obti- dos entre 1895-1897 e observações a respeito de um exemplar vivo conservado no Museu do Pará]. Transactions ot the Zoolo- gical Society London, Vol. XIV, Part 2, August 1898. (pag. 413 -420, com 2 estampas, apresentado em 16 de Set. 1897 e lido em 14 de Dez. 1897). 4 Purther Notes on the Amazonian Lepidosiren. [Mais observações acerca do Lepidosiren amazonico.| Procedings of the Zoolog. So- ciety, London, 1898, Nov. 29, pag. 852-8358, com 3 figuras. Dous trabalhos publicados em lingua ingleza, informando acerca das observações sobre o memoravel dipnoo Lepidosiren, feitas em se- guimento às anteriores referidas no Boletim do Museu Paraense Tom. II, fasc. 2, pag. 247. Tencionando-se dar proximamente uma versão portugueza, não se entra aqui em pormenores. G. 39. Dr. G. O. Boulenger. On a collection of fishes from the Rio Juruá (Brasil) [Acerca de uma colleeção de peixes do Rio Juruá (Bra- z11)| Transactions of the Zoological Society, London Vol. XIV, Part VII, August 1898, pag. 4221-428, com 4 estampas. —Deseriptions of tico new Siluroid Fishes from Brazil (Juruá 594 B bhographia Amazonas). [Descripções de duas novas especies de peixes Silu- roides do rio Juruá, Brazil]. Annals and Magazine of Natural History, London, Vol. II (New series 7, Dec. 1898) pag. 4TI-478. — Description of a new Gymnotine Fish of the ande Sternopy- gus [Descripção de um novo peixe do genero Sternopygus («Ituy»)| Ibidem, Vol. XX, new series VI, Sept. 1897. Tres trabalhos ichthyologicos do illustre especialista do British Museum em Londres, tratando de collecções de peixes provenientes da região do amazonica, rio Juruá e da Guyana. Das 51 especies enu- meradas na primeira memoria 9 são novas (7 Siluroides, 1 Clupeide, 1 Gymnotide). As duas especies da segunda nota são ambas da familia dos Siluroides [Brachyplatystoma platynema; Leptodoras (nov. genus) juruense (nov. spec.)). - G. 40. Dr. E. A. Goeldi. Die Fischawelt des Amazonenstromes. Doppelvor- trag vor der Naturforsch. Gesellschaft in Bern. [O mundo dos peixes do rio Amazonas: Duas conferencias perante a sociedade de sciencias naturaes de Berna (Suissa) no inverno 1898-1899]. Estas duas conferencias foram impressas, no theor do original allemão, na revista scientifica «Prometheus» de Berlim, Vol. 9. 1900 (conforme este Boletim, nota da pag. 397]. Uma traducção é tomada em vista para mais tarde. G. 41. Dr. E. A. Goeldi. Epeirodes bahiensis Keyserlin, - ungskreuzspinne Brasiliens. |Epeiroides bahiensis—uma aranha crepuscular do grupo dos Epeirides.| Zoolog. Jahrbiicher, Iena Bd. XII, 1899, pag 161—17%.0 com 1 estampa). nero iirdiger Mimetismus einer brasilianischen Kreuzspinne aus der Gattung Cyclosa (Mimetismo interessante n'uma aranha brazilica do genero Cyclosa, da familia dos Epeirides). Zoolog. Jahrbiicher, Bd. X, 1897, pag. 563568, com uma estampa. Observações sobre a biologia de duas curiosissimas aranhas do Bra- zil. Resumos deram a «Revue. Scientifique» Paris 1899, 30. Dee. («Moeurs des araignées» e o «Prometheus» de Berlin, 1899, Num. 017. pag- 784) Versão portugueza projectada opportunamente. G. - H. Rifrarth. Die Gattung Heliconius Latr. nach einem neuen Sys- tem geordnet und catalogisirt nebst Beschreibungen neuer For- Babliogra ph tz; 595 men. (O genero Heliconius Latr. coordenado e catalogisado con- forms um novo systema, com descripcções de novas formas]. I. Berlin, Sept. 1990. (33 pag); II. Juni 1901. (160 pag). Um trabalho meritorio este de coordenar a enorme multidão de formas, que abrange o genero de borboletas diurnas neotropicas Heli- conius, e que sobr etudo tão desenvolvido se mostra na Amazonia. Será sinceramente bemvindo à qualquer pessôa, que se oceupa com este ter- reno da lepidopterologia. Apenas lastimamos que tão util trabalho não venha accompanhado de um certo numero de figuras coloridas, (Gr. 43. Therese Prinzessm von Bayern. Bericht iiber eine Reise nach Siid- amerika 1898 [Relação de uma viagem à America meridional 1898] Jahresbericht der Geograph. (Gesellschaft Miinchen 1898— 1899. (36 pag. e 2 estampas). — Lepidopteren— Ausbeute. Berlim. Entom. Zeitschrift, Bd. 45 Jahrg. 1901. (pag. 239308, 2 estampas coloridas). Elaborada por S. À. R. | — Coleoptere: . Zeitsch. Bd. 46, 1901. pag. 463 com 1 estampa colorida. Elaborada por S. A. R. — Orthopteren— Pseudoneuropteren— Ausbeute Ibidem Vol. 45, 1901. (pag. 2538-268; 1 estampa colorida]. Elaborada por Brun- ner von Wattenwy], Selys—Longchamp e Brauer. —Hymenopteren-Ausbeute. Ibid. Vol. 45, Jahrg. 1900. pag. 97 — 107% (com 1 estampa colorida). Elaborada por Kriechbaumer. — Hymenoptera— Formicidae. Ibid. Vol. 44, Jahrg. 1899. pag. 213.— 278. Elaborada por A. Forel. — Myriapoda Arachnoidea. Zoolog. Anzeiger, pena Bd. XXI Nr. 615, 14/ Mai 1900. Elaborada por S. A. R. — Trichodactylus quinquedentatus Rathb. (Bolletino Mus. Zoo- log. Turino Vol. XIV, 23 XII 1899, Num. 365) e Potamocar- cinus principessae Doflein (Sitz —Ber. math. —phys. Cl. bay. Akad. Miinchen Bd. XXX. 1900). —Geoscoleciden. Zoclog. Anzeiger Bd. XXIII, n. 606 22/1 1900. Elaborado por Michaelsen. — Mollusken— Ausbeute. Nachrichtsblatt der D. Malako—zoolog. Gesellschaft 1900, Nr. 3 à 4. Elaborada por S. A.-R. -—Macairea Theresiae nov. spec. Melastomacearum. Nova Melas- tomacea descripta por Cogniaux Bot. Centralblatt1896, Num. 25. N'ºestes 10 trabalhos maiores e menores expõe S. A. R. a Princeza Theresa de Baviera os resultados zoologicos e botanicos de uma se- gunda viagem à America do sul tendo por alvo a Columbia e o Equa- dor. Constituem uteis contribuições todas ellas, tanto sob o ponto de vista da zoographia, como da elabsração cuidadosa das novida- 596 Bibhographa des encontradas, sendo digno de applauso o esmero com que é sem- pre tratado o lado illustrativo. ER 44. Dr. Lewis Henry Gough. The Development of Admetus pumilio Koch, a contribution to the embryology of the Pedipalpi. (Inau- gural —Disseration, Basel). [Acerca o desenvolvimento da aranha Admetus pumilio Koch]. Strassburg: 1901. Trabalho de embryologia comparada baseado sobre materiaes en- viados do Museu do Pará. Admetus pumilio é aquella aranha grande, . de pernas anteriores terminando em antennas compridissimas e palpos maxillares providos na ponta por formidavel tesoura espinhenta, ara- nha de costumes nocturnos vivendo nos porões, debaixo das casas etc. e assás temida pelo povo indigena talvez não sem alguma razão. Lembro-me de um caso onde apanhamos nada menos do que 4% in- dividuos de uma vez aqui no Pará. G. 45. E. Wasmann, S. J. Neue Dorylinengiiste aus dem neotropischen und cithiopischen Fawunengebiet. [Novos hospedes das formigas Dorylines da região faunistica neotropica e ethiopica. Zoolog. Jahrbicher, Bd. XIV, Heft 3, Iena 1900 (74 pag. e 2 estam- pas). Observações e descripções de novos insectos hospedados por certas formigas, em continuação ao trabalho anterior publicado pelo proprio autor no «Boletim do M. P.» Tom. I, 1896, pag. 273-— 524. Ha bastan- tes novas formas, generos e especies, provenientes do Brazil, apanha- dos em parte pelos Rev.“ Padres Heyer e Schmalz no Rio Grande do Sul, 3º” Catharina, em parte por nós na Serra dos Orgãos (Rio de J.) Entre estas ultimas temos Ecitogaster Schmalzn— Tetradonia Goeldi — Ecitopara major —Xenocephalus limulus—Ecitonides brevicornis, Gr. 46. L. Buscalioni e J. Huber. Eine neue Theorie der Ameisenpflan- zen. [Uma nova theoria acerca das plantas myrmecophilas]. Em «Beihefte zum Botanischen Centralblatt» Bd. IX, Heft 2. 1900. A observação que na região amazonica, as plantas habitadas por formigas acham-se quasi exclusivamente limitadas em localidades periodicamente inundadas ainda na actualidade ou em épocas anteri- ores, leva os autores a reconhecer como causa primeira da cohabita- Bibliograph TZ; 5917 ção, por parte das formigas, a necessidade de refugiar-se em vege- taes tanto mais altos, quanto necessario era attento o nivel normal das inundações periodicas. Facilita-se de julgar do acerto da idéa medi- ante o tentamen de um agrupamento das especies myrmecophilas e não—myrmecophilas dentro de um mesmo genero de arvore ou arbus- to, (Cecropia,— Triplaris) conforme o seu habitat. Ha certos traços communs nesta theoria com experiencin feita por Ihering no Rio Grande do Sul, acerca do comportameno de ou- tras formigas durante inundações [H. v. Ihering «Die Ameisen von Rio Grande do Sul», Berliner Entom. Zeitschr. Bd. 39, 1894, Heft 3, Cap. H,conforme tambem a estampa deste trabalho], semelhança aliás mais exterior do que intrinseca e por isto mesmo symptoma seguro da independencia absoluta de ambos. G 47. E. Ule, Ameisengirten im Amazonasgebiet. [Jardins de For- migas na região amazonica] em «Jahrbiicher fiir Systematik, Pflanzengeschichte und Pflanzengeographie von A. Engler. Bd. XXX, Leipzig 1901. pag. 44-52. Estende-se o autor sobre o facto, aqui de todo o mundo co- nhecido, de associarem-se certas plantas com certas formigas, for- “mando aquellas bolas, guarnecidas de ramos pendentes de diver- sas plantas, por toda a parte visiveis até nas arvores das nessas ro- einhas, bolas que são verdadeiras quarteis de formigas, aggres- sivas e valentes e que têm a denominação local de «tracuá». Além de observações justas e considerações criteriosas sobre o assumpto, acontece ao autor revelar uma tal ou qual desorientação sobre aquillo que outros fizeram, disseram e publicaram. Ao lado do cuidado, com que se registra e archiva n'estas pagi- nas qualquer pequeno facto novo fica algum tanto sorprehendente, que se esqueceu mencionar a cireumstancia, de ter um funcciona- rio d'este Museu, o Dr. Gottíried Hagmann, em excursão ao Bosque Municipal ao ico da Legua mostrado ao Sr. Ule (então de passa- sem aqui no Pará) os taes ninhos de «tracuá>, chamando-lhe a at- tenção sobre as relações entre certas plantas e taes e taes formigas. Podia assim o 'Sr. Ule presumir, que nós no Museu do Pará, zoo- logos e botanicos, desde 1894 de certo não tivessemos deixado de submetter semelhantes relações a estudos e pesquizas especiaes. De facto assim é,e lá estão myrmecologos como Forel, Emery, Was- mann EE vivas do nosso intenso interesse e constante la- bor n'esta questão. A” luz d'estes factos, ganha um que de ingenuo a inversão de idéas, que inspirou ao Sr. E. Ule o conselho, dirigido aos repre- 2 — (goi DO MUS PARAENSE 398 Bibliographia sentantes da zoologia (pag. 51 em baixo), de estudar a biologia das formigas «tracuá» e «tachi», —elle, o hontem chegado, —a a em todos os casos já mais antigos no logar e que provadamente cultiva- ram a especialidade perto de dous decennios. O Museu do Pará julga ter o direito de não ser tratado como «quantité négligeable» e, se cá por casa não temos o costume, de soprar logo aos quatro ventos os resultados das nossas pesquizas e “as nossas descobertas, é porque temos ainda. em alguma estima 0 pre- ceito horaciano «nonum primatur in annum», de utilissimo aproveita- mento mesmo em terreno scientifico. O Sr. Ule, que parece querer datar não sómente uma nova éra, mas sim a exploração scientifica em geral da região amazonica desde o dia e hora de sua chegada (confor- me a primeira linha do seu trabalho, pag. 46), não foi feliz na forma da apresentação das suas primeiras noticias amazonicas, peccando —in- conscientemente, queremos crer — contra a necessaria lisura redaccio- nal, (Er 48. A. Ducke, Beobachtungen iúúber Blitenbesuch, Er scheimungszert etc. der bei Pará varkommenden Bienen.[Observações sobre a visi- tação às flores, periodo de apparecimento ete. das abelhas que se encontram no Pará]. Zeitschrift fix system. Ilymenopterologie & Dipterologie 1901. — Uber Goldiwespen von Pará (Nordbrasilien) [Sobre Chrysididae do Pará). Ibidem 1901. [Ellampus huberi nov. spec.—E. para- ensis nov. spee. —E. aequinoctialis nov. spec. | — Zur Kenntniss einiger Sphegiden von Pará [Ao conhecimento de alguns Sphegides do Pará]. Ibidem 1901. — Neue siidamerikanische Chrysididen. Ibidem. 1901 [Chrysogo- na Alfkeni nov. spec.—Chrysis ellampoides n. spee. —Ch. friesea- na n. spee.—Ch. bisulcata: n. spec.] — Eine neve siidamerikanische Cleptes— Art. Ibidem 1902. [Cl. mutilloides nov. spec.] — Ein neves Subgenus von Halictus Latr. Ibidem. 1902. [Gas- trohalictus osmioides nov. spec.) — Bin wenig bekanntes Ohrysididengenus, Amisega Com. [Ami- sega Mocsárji nov. spec. — Neue Goldw espen von Pará. Ibidem 1902. [Pseudopyris nov. genus. Ps. paradoxa nov. spec.|. Diversas notas e trabalhos menores sobre systematica e biologia de hymenopteros no Pará, especialmente Apides (abelhas), e Vespi- das (cabas), publicados n'uma revista especial da Allemanha. O que fôr de maior interesse para um circulo mais vasto de leitores virá opportinamente aproveitado em futuros trabalhos propositalmente organisados para o «Boletim» e as publicações do Museu. G: Bibliograph nz 599 49. Prof. Dr. A. Forel. La Parabiose chez les fourmis [A parabiose entre as formigas). Bulletin de la Soc. Vaudoise de Sciences naturelles Vol. 34, 130. pag. 380. — Ebauche sur les moeurs des fourmis de P Amérique du Nord. [Esboço sobre os costumes das formigas da America do Norte.). Revista de Scienze Biologiche, vol. If, n. 3, Como 1900. — Les Camponotus de mon voyage en Colombie et aux Antilles. Annales de la Soc. Entomol. de Belgique Tom. 46, 1902. De muitos trabalhos recebidos durante os ultimos annos do nosso ilustre collega e amigo, uma das primeiras autoridades no conhecimen- to das formigas, não mencionei senão algumas—aquellas que al- guma relação mais directa possuem com o nosso campo de activida- de scientifica. O termo «parabiose» é proposto por Forel para desi- gnar o caso, onde duas especies de formigas cohabitam dentro de uma e mesma moradia. Cheia de observações curiosas é a nota sobre as a da America do Norte, as comparações com os Formi- cides, da Europa. Na terceira das notas enumeradas o Prof. Worel confessa (pag. 176) com inteira lealdade, que elle, se tivesse se lembrado d'a- quillo que eu já muitos annos lhe tinha, por cartas, communica- do—predileeção de muitas formigas brazileiras para cavidades de plantas como logares para fazerem os seus ninhos—teria poupado muito tempo e trabalho, quando em 1896 viajava na Columbia com o fito de estudar por lá as formigas. Forel diz, que esta observa- ção foi para elle, «un trait de lumitre et toute une revelation de la vie des fourmis.> («Quelques particularités de Phabitat des fourmis de VAmérique tropicale» Annales de la Soc. Entomol. de Belgique, Tome XL. 1396, pag. 169 e «Zur Fauna und Lebenswe- se der Ameisen im columbischen Urwald», Mitteil. des Schweiz. En- tomolog. Gesellscha*t, Bd. 9, Heft 9, pag. 403 seg. «Mais si je m'étais souvenu des remarques du professeur Goeldi, je "aurais fait des Je commencement, au grand avantage de mes chasses».,. 50. F. Wasmann, S. J. Die psychischem Fiihigkeiten der Ameisen [As capacidades psychicas das Formigas] In «Zoologica», Stutt- gart (Heft 26), 1899 (182 pag. e 3 estampas). Á presente memoria do incansavel padre jesuita, o melhor co- nhecedor dos hospedes das formigas e das termites da actualidade, si- gmifica novamente um feito de não vulgar importancia sob o duplo pon- to de vista da biologia das formigas e dos hymenopteros sociaes por um lado, e do da psychologia animal por outro. Quanto a este ultimo, Wasmann deixa entrever desde as primeiras ne da introducção que na campanha que se fere acerca da mtrepret ação das di icida des psychicas das formigas, deseja guardar uma posição intermediaria 600 Bibla ogra ph «4 entre os dous acampamentos extremos: Biichner, Romanes, Eimer, Mar- shall, que querem attribuir às formigas um alto grau de intelligencia in- dividual semelhante à do homem e A. Bethe, que pelo contrario ta- xa as formigas, abelhas, vespas como meras «machinas de reflexo», «automatas,» movidas por um cego imstincto hereditario. Aproxima-se assim o autor das opiniões ha muito sustentadas por autoridades co- mo Lubbock, Forel e Emery, que formam, por assim dizer, n'este ter- reno o partide moderado entre os extremados radicaes. São os seguintes os titulos do interessantissimo livro do Profes- sor Wasmann:DAs bases da theoria dos reflexos segundo Bethe. IT) Co- mo é que as formigas se conhecem entre si mutuamente 2 Til) Como acham as formigas o seu caminho ? IV) Podem as formigas vêr ? V) Possuem as fomigas um poder communicativo ? VI, Quaes os argu— mentos que se podem adduzir contra a supposição de qualidades psy- chicas das formigas 2? VII) Os diversos modos de aprehender no ho- mem e nos animaes. VIII) Ainda haverá outras provas das capacida- des psychicas das formigas? [Appendice, contendo descripções de no- vos Proctotrupides e mdice de literatura). E? praticamente impossivel acompanhar em poucas linhas o desen- volvimento das idéas do autor, porque mesmo para registrar somen- te os trechos que constituem marcos em cada capitulo, seria preciso maior espaço disponsivel do que possuimos para toda a memio- ria. E” um todo, uma entidade integral e imdivisivel, uma peça homo- genea producto de uma e mesma fundição. Portanto quer ser lida im extenso e garantimos que o leitor não per de o seu tempo, Muitas são as observações e experiencias que o autor descreve como tendo sido feitas por elle especialmente com o fim de habilitar- se a julgar objectivamente do valor dos ensaios de Bethe sobre as capacidades intellectuas das formigas, do acerto des argumentos e das razões adduzidas. Aprehendemos quaes os meios empregados para poder avaliar 'e medir o grão de perfeição dos diversos sentidos, da vi- são, do olfacto e somos informados, acerca dos methodos para exa- minar a capacidade orientativa, a memoria ete. E? leitura que traz 0 espirito do leitor preso e teso desde o prin- cipio até o fim; naturalmente não fallo senão d'aquelles que não têm receio e medo de uma certa dose de gymnastica intellectual. Para estes é um prazer apreciar a superior habilidade, com que sempre e por toda a parte é achado, formado e moldado o termo. adequado para cada cousa, acção, capacidade, manifestação de intel- lecto. E” simplesmente bemfazejo vêr, com que asseio, perspicacia e agudez são examinados, comparados e classificados todos aquelles phenomenos, sitos em terreno psychico, cuja terminologia e exacta definição tão grandes dificuldades oppõé a uma pessoa não muito ver- sada em logica e philosophia. Wasmann discute com a mestria que | demonstra logo o philosopho profissional, o pensador disciplinado, dialectico exercitado e perfeito conhecedor das suas armas. Não quero dizer, que elle consegue levar a gente de vencida e convencida em todos os pormenores das escaramuças fraccionadas. Mas por via de re- Bibliographia “601 gra podemos concordar. E se os representantes da extrema direita apa- nham as vezes em cheio com a palmatoria, o castigo geralmente não é immerecido: n'este acampamento usa-se por vezes de uma superficia- lidade e leviandade em conclusões, conjecturas e hypotheses, que po- deriam fazer, como vulgarmente se costuma dizer em portuguez, fazer corar um cabo de esquadra. Finalmente uma pequena contribuição. Dirige-se Wasmann na pag. 1171-117 contra a pretenção de von fhering, que quer attribuir o facto [por elle, v. I., observado, mas já antes previsto e predito por À. Forel (confer «Parabiose» pag. 382)] de levar a «içá» isto é, a rainha da formiga saúva (Atta sexdens) no seu sacco buccal(hypopharynx) uma bola dei mycelio E cogumelo Rhozites gonguylophora, quando faz o seu vôo em procura de Tocalidade par: fundar um novo «reino», —à «consciencia plena» deste procedimento, «mostrando-se ahi superior à previdencia humana» etc. Wasmann não admitte semelhantes tentativas de «homimificação» ou anthr opomorphis- mo das manifestações intellectuaes destes Insectos sociaes e ra- ciocina: seja que a «rainha» mesmo se provê, antes do vôo, com o bô- lo de material fungiano, seja—o que diz parecer-lhe mais provavel], que ella seja alimentada p las formigas trabalhadeiras da colonia, não é preciso recorrer a tamanho «salto mortale», havendo explicação sa- tisfactoria muito mais simples. 0) que eu queria dizer, é simpk esmente isto: Wasmann tem razão, suppondo que são as trabalhadeiras que alimentam a rainha:—posso afiançal-o, por ter sido averiguado por mim de modo absolutamente seguro nos ultimos mezes com as nossas culturas de laboratorio aqui no Pará. Duvido mesmo francamente, que a rainha com as suas broncas partes buccaes sejá apta ella mesma à colheita das «couve-rabanos» do Rhozites, que afinal de contas é legume de diminutissimas dimensões, melhor proporcionado com as delgadas mandibulas das pequenas e indefessas «jardineiras». BOTANICA 51. R. Pilger. Beitrag zur Flora von Mattogrosso. Botanischer Be- richt iúber die Expedition von Dr. Herrmann Meyer nach Cen- tralbrasilien 1899. [Contribuição à flora de Matto-Grosso. Rela- torio botanico sobre a expedição do Dr. Herrmann Meyer no Brasil central 1899]. Engler's bot. Jahrbiicher, Bd. 30, pp. 127238. 1901. A flora de Matto-Grosso deu, nos ultimos annos, logar a diversas publicações importantes. Alem do trabalho presente, convem citar principalmente os trabalhos da primeira expedição Regnelliana e a publicação de Spencer le M. Moore, intitulada: The Phanerogamic 602 Biblographia Botany of the Mattogrosso Expedition 189192. (Transactions Linn. Soc. IV 3, 1895). Mas emquanto que estas ultimas publicações não tratam senão da parte meridional do Estado, que pertence á ba- cia fluvial do Paraguay, o trabalho acima citado tem uma importan- cia especial para nós pelo facto que as explorações do autor se exten— deram tambem sobre uma parte da bacia amazonica, isto é sobre os rios formadores do rio Xingu. Acerescentamos logo que o autor che- ga ao resultado que a flora da bacia superior d'este rio ainda não pertence à flora amazonica propriamente dita, mas que deve ser con- siderada como fazendo parte da provincia phytogeographica do Bra- sil meridional, formando uma subdivisão da remo das Oreadas (Mar- tius). Depois de dar uma lista critica das plantas colleecionadas, no numero total de 511 especies, muitas das quaes (49) especies e varie- dades) são novas para a sciencia, o autor trata da descripção detalha- da e muito documentada das principaes associações vegetaes dos cam- pos altos, das beiras dos riachos e rios etc., fornecendo uma contribui- ção valiosa para a geographia botanica do centro da America do Sul. H. G. O. A. Malme. Die Burmannien der ersten Regnellschen Expe- dition. Bin Beitrag zur Nenntniss der amerikanischen Arten dieser Gattung. [As Burmannias da primeira Expedição Regnel- liana. Uma contribuição ao conhecimento das especies america- nas d'este genero|, com uma estampa. Bibang till K. Svenska Vet. Akad. Handlingar, Band 22, Afd III, Nr. 8, 1896. ed)! [EN 53. A. Th. Fredrikson Die Oxalideen der ersten Regnelschen Expe- dition. [As Oxalideas da primeira Expedição Regnelliana], com duas estampas. Bih. till K. Sv. Vet. Ak. Handl. Band 22, Afd TI, Nr.:,10,-189% 54. G. O. A. Malme. Die Polygalaceen der ersten Regnellschen Expe- dition. Pjlanzengeographische und biologische Notizen. [As Poly- galaceas da primeira Expedição Regnelliana. Notas de geogra- phia botanica e de biologia]. Ofversigt af Kongl. Vetenskaps— Akademiens ohne 1897 nr. 4 Stockholm. 55. G. O. A. Malme. Die Flechten der ersten Regnell'schen Expedition I. Einleitung. Die Gattung Pyxine (Fr) Nyl. [Os lichens da primeira Expedição Regnelliana. 1. Introducção. O genero Pyaci- en a IN] Ra till K. Svenska Vet. ndo “Handlingar. Band 23, At Ulimt 19; 1807. A. M. Lindmann. Einige neve brasilianische Cylanthaceen e Ga» (Algumas Cyclanthaceas brasileiras novas) com 4 estampas. Br-. hangtill K. Sv. Vet. Ak. Handl. Band 26, Afd. II, N. 8, 1900. Bibliographia 603 57. C. A. M. Lindmann. List of Regnellian OCyperaceae collected until 1894. (Lista das Cyperaceas Regnellianas colleccionadas até 1894). 58. O. A. M. Lindmann. Einige Beitraege zu den Aristolochiaceen (Algumas contribuições às da Bull. de YHerbier Boissier IIº. série, Tome 1, Nr. 5, p. 5322-528, 2 planches. 1901. A primeira expedição Regnelliana, chamada assim porque foi feita com os meios d'um legado deixado por um medico sueco Re- gnell que muitos annos viveu no Brasil, durou de julho 1892 até outubro 1894, se extendeu sobre o Rio Grande do Sul, Paraguay e Matto-Grosso e foi muito rica em resultados scientificos, o que já se desprehende da lista acima das publicações sahidas à luz até agora e que só representam uma parte dos resultados alcançados. Estamos convencidos que o conjuncto d'estas publicações marcará um passo importante no progresso dos nossos conhecimentos sobre esta parte do continente sul-americano. H. 99. C. A. M. Lindman. Beitriige zur Gramincenfora Siidamerikas. [Contribuições à flora das gramineas da America do Sul]. Kongl. Svenska Vetenskaps—Akademiens Handlingar. Bd. 34, N. Stockholm 1900. 52 pp. e 15 estampas. Este trabalho se divide em duas partes. À primeira contém des- cripções de especies novas ou pouco conhecidas de gramineas, acom- panhadas de bôas figuras retribuidas sobre 15 estampas. À segunda parte, intitulada «Observações sobre a distribuição das gramineas na America do Sul», tem um grande interesse para a comparação da nossa flora de gramineas com a das regiões visimhas mais meridionaes. O autor não se limita só de indicar, em listas separadas, as grami- neas observadas em Matto-Grosso, no Paraguay, no Rio Grande do Sul, nos Estados do Brazil oriental e central, mas ella tenta, pela primeira vez ao que me consta, de agrupar as especies de cada uma d'estas regiões em grupos biologicos e ecologicos de gramineas dos campos, gramineas das matas e gramincas aquaticas. EF, 60. A. Engler. Beitriige zur Kenntniss der Araceae VIII. 15. Revision der Gattung Anthurium Schott. [Contribuição ao conhecimento das Araceas VIII. 15. Revisão do genero Anthurium Schott.] Engler, Bot. Jahrbiicher, XXV. Bd. 3. Heft. 1898. — Beitriige zur Kenntniss der Araceen TV. 16. Revision der Gat- 604 Bibliog raph a tung Philodendron, IT. Revision der Gattung Dieffenbachia [16. Revisão do genero Philodendron, 17. Revisão do genero Dieffen- bachia]. Engler, Bot. Jahrb. XXVI. Bd. p. 509-572. 1899. As ÁAraceas pertencem com certeza às familias vegetaes cujo es- tudo monographico encontra mais dificuldades praticas devido á na- tureza mesma das plantas que pertencem a esta familia, sendo quasi todas de contextura mais ou menos carnosa e de preparação dificil e por isso mesmo mal repsesentadas nos herbarios. Por conseguinte os trabalhos acima citados, complementos da monographia das Araceas publicada pelo mesmo autor nos «Suites au Prodrome» de De Candolle e resultado de estudos aprofundados não só de materiaes de herbario, mas tambem de uma colleceção rica de plantas vivas reunida especial- mente para estas investigações no Jardim botanico de Berlim, são particularmente dignos de elogio. E” verdade que nenhum dos tres generos tratados nestas «Revisões» conta até aqui maior numero de especies na Amazonia, como entretanto não deixam de ter um papel Importante na physionomi a das nossas matas, é provavel que existem por aqui especies ainda não constatadas n'esta região ou completa- mente novas, cuja identidade e posicão systematica será facil estabe- lecer com os trabalhos monographicos do illustre director do Jardim botanico de Berlim. H. 61. Dr. G. Martina. Estudo chimico sobre algumas fructas brazileiras. Belem. Imprensa oficial 1902. O autor d'este trabalho não se contenta de dar analyses chimi- | cas de muitas das fructas mais conhecidas do Brazil, das quaes algu- mas (ao que me consta) ainda nunca foram analy sadas, mas elle pro- curou tambem fazer uma idea da origem e das transformações dos prin- cipaes compostos chimicos que se encontram n'ellas. Para preparar o leitor à comprehensão destes assumptos um tanto delicados, o autor dá, num capitulo introduetorio, um resumo dos «Modernos conceitos so- bre a phytochimica». Um trabalho desta natureza póde interessar tan- to os scientificos quanto aos leigos, e mesmo quando elle é um pouco summario, como no caso presente, tem sempre o merito de uma ini- ciativa corajosa. Pena é que o autor commette algumas heresias sob o ponto de vista da terminologia botanica, como p. e. empregando o termo de «embryão»n'um sentido diferente do geralmente acceitado, 0 que com certeza não contribuirá, como talvez pensou o autor, a tor- nar o seu trabalho mais intelligivel. O autor tambem não me parece ligar bastante importancia á litteratura contemporanea que trata dos mesmos assumptos, deixando p. e. completamente de lado os numero- sos trabalhos do Dr. Peckolt, do Rio de Janeiro, que durante muitos annos já se occupa de pesquizas semelhantes. EL Bibl rogra ph ra 605 52. Dr. J. Huber. Arboretum amazonicum., Iconographia dos mais im- 2: Dr:J. Hal Lrboretum Iconographia dos mais im portantes vegetaes espontaneos e cultivados da região amazonica. Pará 1900. Decadas I e II, estampas 120, (Impressão do Ins- tituto Polyeraphico em Zúrich, Suissa). o / Publicação maior, emanada da sessão botanica do Museu do Pa- rá e parallela ao «Album de aves amazonicas», organisado pela secção zoologica do mesmo estabelecimento. Promptas para entrar no prélo estão já mais duas Decadas (estampas 21-40). Lisongeiras tem sido por toda a parte a recepção d'esta obra, como provam umas 50 cri- ticas de todos os paizes e diversos cireulos. 63. J. Huber: Sur la végetation du Cap Magoary et dela côte atlantique deite de Marajó.[Sobre a vegetação do Cabo Magoary e da costa atlantica da ilha de Marajó.| Bulletiu de lesbica Bolisoir 1901 Tom. I pp. 86-107, com 6 estampas. Resultado de uma excursão à ilha de Marajó em 1896, este tra- balho forma o complemento da lista das plantas colleccionadas, pu- blicada n'este Boletim Vol. II pp. 288-521. Contem a descripção das o formações de vegetação: Floresta littoral (mangal e ciriu- bal, vegetação das praias e das dunas, floresta littoral dos cursos d'agua, vegetação dos campos e dos tesos. H. 64. J. Huber. Plantae Cearenses. Bulletin de "Herbier Boissier, 2º serie Vol.; I p. 290-329. 1901. Enumeração das plantas colleceionadas pelo autor no Estado do Ceará, em 1897, formando agora parte do «Herbario geral» do Museu Goeldi. Sobre o numero total de 256 especies a colleeção contem 29 especies e 12 variedades novas. G. 65. Dr. H. Christ. Fougêres collectées par le Dr. J. Huber au Bas- Ucayali et au Bas-Huallaga (Alto Amazonas) en oct.-déc. 1898.] Fetos colligidos pelo Dr. J. Huber no baixo Ucayalie no baixo Huallaga (Alto Amazonas) de outubro até dezembro 1898.) Bulletin de PHerbier Boissier 1901, T. I pp. 65-76. 606 Bablisgraphia Esta enumeração critica que imclue aleumas especies novas, prin- y ; 5 S, P cipalmente do genero Selaginella, será opportunamente traduzida para este Boletim. a E 66. G. Hennings Fungi paraenses IL. el. Dr. J. Huber collecti. Extr. da «Hedwigia» Vol. XLI, 1902 p. (15-18). Esta enumeração que é a continuação dum trabalho, cuja primei- DA ra parte já foi traduzida para o «Boletim» (Vol, IH p. 231-237), con- tem 28 especies, quasi a metade das quaes é nova para a sciencia. H. FIM do volume New Y E! 1] | 00307 1626 de