ISSN 0077-2216 CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO E TECNOLÓGICO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA ; BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI * NOVA SÉRIE BELÉM — PARA — BRASIL BOTÂNICA \ uJ «blibtfca i o »>i N.o 52 30, MARÇO, 1981 NOTAS DE HERBÁRIO I João Murça Pires Museu Goeldi RESUMO: Inicia-se uma série de artigos sob o título acima. É criado um novo gênero (Belemia, Nyctaginaceae) e duas novas espécies são descritas: Belemia fucsioides n. gen., n. sp. (Nyctaginaceae) e Hevea camargoana n. sp. (Eu- phorbiaceae). Além disso, são apresentados comentários ge¬ rais sobre Hevea camporum. Belemia fucsioides é do Estado do Espírito Santo, as duas Hevea são da Amazônia. Com o presente trabalho estamos iniciando uma série de publicações sob o título acima, com o fim de divulgar as informações mais importantes que surgirem nos trabalhos de rotina de herbário e que, de algum modo, possam contribuir para o esclarecimento de assuntos taxonômicos ou filogené- ticos. v Nesta oportunidade, estão sendo descritas duas espécies novas, uma delas pertencente a um gênero novo, e ainda são fornecidas informações gerais sobre Hevea camporum Ducke. Os novos taxa são: Belemia fucsioides n. gen., n. sp. (Nyctaginaceae) do Estado do Espírito Santo e Hevea camar¬ goana n. sp. (Euphorbiaceae) endêmica na ilha de Marajó. V NYCTAGINACEAE (Bougainvilleae) Belemia Pires n. gen. TYPUS: R.P. Belém 1460 Folia indivisa, alterna. Flores hermaphroditi, solitarii vel racemosi involucro deficientes. Calyx (perigonium) tubulo- sus, coloratus, tubo medio vel infra medio coarctato. Stamina c. 12, juventute inaequalia, vix exserta; filamenta tenua ad cm SciELO 10 11 12 13 14 15 16 PIRES. J.M. — NOTAS DE HERBÁRIO I. basin in anulo brevi connata; antherae basifixae, dithecae, thecis oblongis rima dehiscentibus. Pistilum ut stamina vix exsertum; ovarium aliquantulum asymetricum, liberum, uni- loculari, stylo tenui, stigmate lateraliter compresso-laciniato; ovulum unicum erectum. Fructus tubo perigonii indurato laevi circundatus; embryo exalbuminosus, curvatus, radicula in fructu supera cotyledonibus pendulis inaequalibus. Ab omnibus generibus Nyctaginacearum folia alterna et involucro deficienti imprimis differt. Nomen collectori speciei dicatum. Belcm.ia fucsioides Pires n. gen., n. sp. Frutex scandens. Planta glabra, tota (rami, folia, partes florales) cum granulis raphydiiferis squamiformibus micros- copicis superficialiter immersis notata. Petiolus tenuis c. 2cm longus, subcarnosus, in siccis rugosus, supra subplanus; lamina tenuis, c. 7cm longa et 3,5cm lata, apice breviacumi- nato basi obtusa vel rotundata, margine integra; nervi sursum curvati, majores tantum (utrinque 3-4) bene visibiles, minores tenues vix prominuli, reticulati; mesophyllum punctatum ob grânulos microscopicos superficialiter immersus raphydibus impletos. Flores hermaphroditi, tubulosi; calyx (perigonium) c. 40mm longus, ad apicem c. 10-12mm diâmetro, roseus, parte baseie (anthocarpio) indurata; stamina 12 filamentis gra- cilimis maturitate calyce aequilonga; antherae oblongae 2mm longae et 0.5mm latae, quadriloculares, insertione sub-basali, connectivo modice manifesto. Ovarium glabrum aliquantulum obliquum, uniloculare, 2-2.5mm longum, uniovulatum, ovulo anatropo erecto; Stylus gracilis, vix exsertus; stigma oblique- peltatum, carnosum, laceratum. Fructus cum anthocarpio conjunctus, 17-20mm altus, 7-10mm crassus, in apice pedún¬ culo longo et gracile ortus; pericarpium (cum anthocarpio) crustaceo-coriaceum 0.7mm crassum; semen exalbuminosum vix magnitudinem fructus aequanti, pellicula gracilima fragili — 2 — 1 A MAR 1985 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTÂNICA, 52 brunea obtectum; cotyledones 2 crassae, carnosae, crassitu- dine inaequalis, eo interiore manifeste crassiori. BRASIL, Estado do Espírito Santo, Rodovia BR-5, distante 5 quilômetros ao sul de Morro-Danta, beira da estrada. Trepa¬ deira, flores róseas, corola esverdeada; Romeu Pedro Belém 1460, fl e fr„ 09.VIII. 1965 (MG 71318 holótipo; IAN; RB; CEPEC). Dentro dos conceitos estabelecidos para a subdivisão da família, o novo gênero parece enquadrar-se melhor na tri¬ bo Boungainvilleae, mas lhe falta o envólucro. Segundo Erdtman (carta de 09 de maio de 1966) em comunicação pes¬ soal, o pólen de Belemia fucsioides tem algumas caracterís¬ ticas em comum com Phaeoptilum e Allionia. A morfologia polínica, estudada por Normélia Vasconce¬ los é descrita abaixo. MORFOLOGIA POLÍNICA DO GÊNERO BELEMIA (*) Grão de pólen grande (maior diâmetro compreendido en¬ tre 50 e 100 /im, isopolar, prolato esferoidal, 6-foraminado. Tremata (aberturas: foramina tenuimarginadas, dispostas com regularidade na superfície do grão). Exina espessa, sexina mais espessa do que a nexina, re- ticulata, muri simplibaculato, bacula com tegillo provido de espículas cônicas; estas mostram-se claras, em análise LO, quando na obscuridade. MEDIDAS P = 80 ;«m E = 76 Atm Espessura da exina — 8.5 /im (processos excluídos) Diâmetro das foramina — ca. 10 /*m Espículas — ca. 2 /mi (*) — Por Normélia Vasconcelos — Professora da Universidade Federal do Pará. — 3 PIRES. J.M. — NOTAS DE HERBÁRIO I. OBS.: Os grãos de pólen em Belemia apresentam seme¬ lhanças morfológicas com os de Phaeoptilum, tribo Mirabi- leae (Engler, 1964) no que diz respeito à estratificação da exina e análise LO. De acordo com o autor do gênero, há indícios de afinida¬ de com o gênero Bougainvillea (tribo Bougainvilleae), porém, no que concerne ao pólen, há certas discordâncias quanto ao número, à posição e às características das aberturas. EUPHORBIACEAE Hevea camargoana n. sp. TYPUS: N.C. Bastos, N.A. Rosa & C. Rosário 50 (MG 62200, holotypus). Arbor parva 2-12m alta 5-15cm trunci diâmetro. Pars foliifera ramulorum incrementis periodicis crescens et ob coronas squamuliferas segmentis 2-4 notata. Folia inaequalia sursum versus gradatim minora. Petioli communes (3.5) 5- 1 Icm longi; petioluli ad Icm longi; folioli lamina glabra 6- 13cm x 3-7cm; costa centralis supra plana vel vix depressa, subtus prominens; costae laterales utrinque c. 9-10 supra immersae subtus prominulae. Paniculae angustatae, racemiformes (ramulis brevibus) fasciculatae vel singulae in axillis foliorum, inaequales, ad apicem segmentorum versus sensim minores, axe ad 9cm longo ramulis ad 1.5-2cm longis, ad basin bracteolis cadu- cissimis, tenuis, paleaceis, triangulari-carinatis 2mm longis 1.5mm latis. Flores albescentes ad basin rosei. Alabastrum floriferum valde elongatum base globosa inflata, superne angustissimum. Flores masculi adspectu feminei conformes; calyx utrinque pubescens, sepala 5, pubescentia 4.5 - 5mm longa, ad basin (1.5 - 2mm) adnata. Columna staminifera c. 1.5-2.5mm longa antheris in verticillo unico regulari vel irregulari 3-5 glomeratis, disco basali laciniato-dentiformi c. 0.3-0.5mm alto. — 4 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 UJ «'BII0TEM | o BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTÂNICA, 5^> m *y Flores feminei quam masculis majores et tubo calycino longiores, in apicibus ramulorum inflorescentiae dispositi; pedicelli indistincti (non articulati), glabri, tenues, c. 4mm longi. Calyx c. 6mm longus nonnunquam ad apicem glabres- cens, tubo c. 2.5-2.8mm longo, lobis c. 3.5mm longis, valde angustatis, nervulo centrali manifesto, in alabastro torsivis; ovarium subglobosum c. 1.2-1.5mm diâmetro, stigmate ses- sile capitato-trilobato. Fructus glabrus, pedunculo (axe inflorescentiae) 4.5cm longo et Imm diâmetro, pedicello c. 3mm longo in sinu basale fructus depresso. Capsula trisulcata c. 2.5cmx2.5cm, apice non vel vix depresso, loculo 2.5cm longo, 1.4cm tangentiali- ter et I.Ocm radialiter lato, septo lignoso, tenue, pericarpio lignoso ad 2mm crasso. Semen 1.5cm longum 1.0-1.2cm latum et I.Ocm altum, cremeum cum maculis bruneis irregu- laibus, nitidulis, testa ossea, strato spongioso ab albumine separata. Habitat in campis Insulae Marajó, in silva riparia palu¬ dosa. BRASIL, ilha de Marajó: Joanes, Município de Soure: N.C. Bastos, N.A. Rosa & C. Rosário n.° 50, fIfr. e madeira (MG 62200, holótipo); n.° 49, sementes germinadas, plântulas (MG); P.R.P. Bouças n.° 78, fl. e fr., procedente de Joanes mas culti¬ vado em Belém no CPATU-EMBRAPA (IAN); n.° 176, fr. (IAN); n.° 177, fl. (IAN); n.° 179, fl. (IAN); n.° 180, fr. (IAN); n.° 181, fl. (IAN); n.° 182, fl. (IAN); N.A. Rosa, N.L. Carmo & E. Penha 934, fl., fr. e madeira (MG, IAN); N.T. Silva n°s. 3455 e 3456, estéril (MG); N.A. Rosa n°s. 3604, fl. (MG); 3605, fl. (MG); 3606, fI. e madeira (MG); 3610, fr. e madeira (MG); 3611, fl., fr. (MG); 3612, madeira (MG); 3613, fr. (MG); 3618, fl. e fr. (MG); 3619; fl. e madeira (MG); 3620, fl. e madeira (MG); N.T. Silva n.° 3979, fl. (MG); N.T. Silva & C. Rosário n°s 4942, fr. jovem e madeira (MG); 4943, fl., mad. (MG); 4944, fl., mad., árvore de 12m e 30cm de diâmetro, provavel¬ mente híbrido com H. brasiliensis (MG); 4945, fl., fr. novos — 5 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 PIRES. J.M. — NOTAS DE HERBÁRIO I. e madeira (MG); J.M. Pires & N.A. Rosa n.° 13250, fi. (IAN, MG); J.M. Pires, N.A. Rosa & N.T. Silva n°s. 13189, fl. (IAN, MG); 13251, fl. (MG, IAN); 13879, fI. (MG); P. Ledoux n. c 1042, fl., Fazenda Iria (IAN). — R. Jupariquara, braço do R. Aterá, município de Muaná: E. Oliveira 537, fl. (IAN). Todas as coleções são da ilha de Marajó e somente a úl¬ tima fora de Joanes. Pelas datas de coleção constata-se que floração e frutificação verificam-se durante o ano todo. O porte varia desde varas de 2m até árvores de 25m de altura. Segundo Joaquim Ivanir Gomes (comunicação pessoal), pela estrutura da madeira, as acima citadas coleções de n°s. 3618, 3610, 3612 e 4945 são bem homogêneas, enquanto que os n°s. 3619, 3620, 3606, 3613, 4942, 4943, 4944 sugerem in¬ fluência (hibridação) de H. brasiliensis. A espécie ocorre na região de savana (campo coberto) de Marajó, mas localiza-se não propriamente no campo e sim nas matas ciliares que ladeiam igarapés pantanosos. Ao que tudo indica, trata-se de um endemismo muito localizado. A primeira coleção havia sido feita já há bastante tempo (1954), por Ledoux, mas sua identidade ficou despercebida entre as coleções IAN. O nome é dado em homenagem ao Dr. Felisberto Cardo¬ so de Camargo, ilustre e competente agrônomo recentemen¬ te falecido que contribuiu com valiosos trabalhos sobre o es¬ tudo das plantas da região, quer formando condições para o trabalho na região, quer executando estudos próprios nos campos da fitotecnia e da zootecnia. Na localidade em que esta nova espécie foi coletada, a única outra espécie do gênero encontrada é Hevca brasilien¬ sis, que vive nas mesmas condições, mas mais para o baixo curso dos igarapés, isto é, nas proximidades da costa (baía de Guajará). Assim sendo, H. camargoana fica mais ao alto, mas há uma zona de contato onde as suas distribuições se superpõem e há evidências de que existem híbridos entre — 6 — SciELO BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTÂNICA, 52 elas. A coleção N.T. Silva e C. Rosário n.° 4944, representa provavelmente um caso de hibridismo. Quem primeiro chamou a atenção sobre a possibilidade de hibridação natural de H. camargoana x H. brasiliensis foi Joaquim Ivanir Gomes que está elaborando um trabalho so¬ bre a caracterização anatômica do lenho das espécies do gê¬ nero Hevea e, na condução desse estudo, encontrou evidên¬ cias convincentes sobre a existência de características inter¬ mediárias . As coleções N.A. Rosa & C. Rosário 4943 e N.A. Rosa 3637 e 3620 representam H. brasiliensis da mesma região em que se encontra também H. camargoana. Ao que parece, os híbridos aproximam-se mais de H. camargoana, talvez haven¬ do influência sobre o porte mais alto e maior número de an¬ teras de H. brasiliensis. Os folíolos de H. camargoana são algo discolores, cas- tanho-amarelado na face inferior quando secos e às vezes, apresentam manchas pretas semelhantes às que são causa¬ das na seringueira pelo fungo “catacauma”. Como nas outras espécies do gênero, a parte vegetativa apresenta evidentes indícios de periodicidade. O crescimen¬ to é intermitente por lançamentos ou brotações (“flush”, se¬ gundo Seibert) que terminam por uma roseta de escamas, no geral rosetas com c. 5mm de comprimento. As brotações são muito variáveis em comprimento, segmentos de 2-7cm. As folhas não se restringem à última brotação, podendo es¬ tar presentes nas duas últimas ou mesmo até nas 6 últimas brotações. Em cada brotação as folhas inferiores são maio¬ res, com pecíolos mais longos. As inflorescências são iso¬ ladas ou pouco numerosas em fascículos axilares e locali¬ zam-se na base da última brotação, às vezes podendo estar presentes numa brotação e no início de outra, o que é fácil de perceber-se pela variação no comprimento dos pecíolos As flores, em ambos os sexos têm a base de coloração vermelho-róseo, caráter muito singular para o gênero e, prin- — 7 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 PIRES. J.M. — NOTAS DE HERBÁRIO I. cipalmente, as masculinas, que são bojudas na base afilan- do-se abruptamente do meio para o ápice, com os lacínios do cálice muito finos e às vezes algo torcidos. Pela coloração da base da flor, aproxima-se um pouco de H. spruceana; pela base engrossada do tronco, aproxi¬ ma-se algo de H. spruceana e H. microphylla; pelo androceu, de H. guianensis. A espécie mais próxima parece ser H. cam- porum, entretanto é muito diferente de quaisquer das espé¬ cies conhecidas. H. camporum é arbustiva (no máximo até 4m e tronco até 5cm de diâmetro), forma touceiras, não tem flor colorida, tem dois verticilos de estames, frutos e semen¬ tes ainda menores. O látex da espécie nova é branco e es¬ casso. Exemplares desta nova espécie foram introduzidos nos campos experimentais do Centro de Pesquisas da Seringuei¬ ra da EMBRAPA, próximo à Manaus, tendo-se verificado ser muito precoce, chegando ao estado de floração até a 8 me¬ ses de idade após a germinação das sementes, caráter este julgado de grande interesse nos cruzamentos experimentais visando diminuir o tempo da experimentação. O conteúdo e a qualidade da borracha não foram ainda testados, não havendo indícios de serem promissores. Os exemplares de porte grande são raros. Uma árvore foi vista com c. 25m de altura e 170cm de circunferência. Uma outra com 12,5m de altura, 45cm de diâmetro, próximo ao solo; 32cm à 70cm do solo e 24cm à 1,5m do solo. Casca com 5-7mm de espessura. Os anéis de crescimentos são muito numerosos e relativamente bem distintos, mas não su¬ ficientemente destacados para permitir contagem. Os exem¬ plares mais altos talvez tenham influência de H. brasiliensis. Hevea camporum Ducke, Arch. Jard. Bot. 4 : 111. 1925; W.A. Egler & J.M. Pires, Boi. Mus. Goeldi 13 : 1-6. 1961 Esta espécie foi coletada por R. Monteiro da Costa em 1914, ao sudeste do Estado do Amazonas, município de Ma- — 8 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTÂNICA, 52 nicoré, bacia do Madeira, entre os rios Marmelos e Manicoré, coleção essa que continha apenas ramo com cascas (valvas) de frutos, provavelmente apanhados no chão. Assim mesmo, por tratar-se de uma forma muito estranha para o gênero, tendo em vista seu porte exíguo, Ducke em 1925, achou ra¬ zões suficientes para descrever esse material como perten¬ cente a uma espécie nova. Desde então, essa espécie foi interpretada com dúvidas e os maiores esforços de diversos coletores foram infrutífe¬ ros tentando recoletar a planta e esclarecer sua identidade. Richard Evans Schultes e Edgar Cordeiro chegaram a fazer uma viagem muito difícil pelos rios Machado e Marmelos sem conseguirem localizar a planta. Para aumentar as dúvidas existentes, alguns exemplares arbustivos ou raquíticos do gênero foram coletados como pertencentes a outras espécies, a exemplo de Hevea toxico- dendroides R.E. Schultes depois reduzida pelo mesmo autor a H. viridis var. toxicodendroides R.E. Schultes et Vinton. Assim sendo, Schultes, Ducke e outros admitiram a eventua¬ lidade de H. camporum vir a ser uma forma oligotrófica de H. pauciflora var. coriacea. Depois de 45 anos sem esse esclarecimento, eu identi¬ fiquei um espécime de H. camporum recolhido por W.A. Egler e meu auxiliar de campo, o coletor Raimundo Souza, como produto de excursão feita aos campos de Cururu, na bacia do alto Tapajós (Egler e Souza 1024). Trata-se de cam¬ pos rupestres onde afloram arenitos, próximo a Missão Ve¬ lha, missão católica que se ocupa da catequese dos índios Mundurukú, a noroeste da serra do Cachimbo. De lá foi tra¬ zido bom material, com flores e frutos (Egler & Pires, 1961) Tendo em vista o interesse econômico do gênero, man¬ dei o coletor Raimundo Souza retornar ao local para trazer material vivo a ser introduzido nas experimentações fitotécni- cas do então IPEAN. Poucas sementes maduras foram en- — 9 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 PIRES. J.M. — NOTAS DE HERBÁRIO I. contradas, as quais germinaram bem mas, posteriormente, por falta de cuidados, essa coleção viva de Belém foi perdida. Em 1974, viajando com o grupo do Setor de Vegetação do Projeto RADAMBRASIL, encontramos alguns exemplares de H. camporum em certas catingas existentes no rio Anauá, afluente do rio Branco, muito longe da área de ocorrência da espécie, no Território de Roraima, a sudeste de Caracaraí. Nessas catingas de areia a vegetação é arbustiva com gran¬ de porcentagem de gramíneas e ciperáceas, com moitas de plantas lenhosas nos lugares mais altos e, sempre, as plan¬ tas lenhosas ficam sobre casas de cupim. A própria Hevea ali é arbustiva, com 1-1,5m de altura e cresce em moitas, so¬ bre casas de cupim. Mais tarde, eu e o coletor Nilo T. Silva localizamos abun¬ dância de Hevea camporum associada à densa ocorrência de Barcella odora, uma formação que estamos denominando ul¬ timamente de Catingas de Barcella, principalmente na rodo¬ via Manaus-Caracaraí (como exemplo, pode-se citar o km 250 dessa rodovia). Atualmente, Joaquim Ivanir Gomes, do CPATU/EMBRAPA, de Belém, está fazendo um estudo das madeiras de Hevea e, segundo ele, parece que há certas diferenças nas madeiras de H. camporum coletadas ao sul do Amazonas e estas cole¬ ções de Roraima, mas, para a formação de uma opinião se¬ gura sobre o assunto, necessita-se de maior número de co¬ leções. Este assunto é muito interessante porque evidencia o quão pouco que se sabe até hoje sobre as nossas florestas. Plantas tidas como extraordinariamente raras como H. cam¬ porum e Barcella odora podem eventualmente ser constata¬ das como extraordinariamente abundantes em outras regiões. Barcella odora também foi uma espécie de palmeira tida co¬ mo muito rara, conhecida somente pela coleção tipo duran¬ te várias décadas e agora encontrada em tal abundância ca¬ paz de caracterizar uma forma de vegetação que cobre cente- — 10 — cm SciELO 10 11 12 13 14 15 BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; BOTANICA, 52 nas de milhares de quilômetros quadrados, entre certas for¬ mas do que conhecemos por catingas do rio Negro. Aliás, o termo regional para esta forma de vegetação em Roraima é "Chavascal". Isto mostra também que nas bases dos conhecimentos atuais, não se pode fazer teorias em termos de distribuição de plantas tão pouco coletadas. Cai neste caso as sensacio¬ nalistas discussões sobre a teoria dos refúgios. Não quer dizer que se deva negar tal teoria, mas, com base sobre dis¬ tribuição de plantas amazônicas, a argumentação é de pura fantasia. SUMMARY This is the first article of a series to be published under the above title. A new genus is created ( Belemia , Nyctagina- ceae) and two new species described: Belemia fucsioides n. gen., n. sp. (Nyctaginaceae) and Hevea camargoana n. sp. (Euphorbiaceae). In addition, general comments are presented on Hevea camporum. All the above are plants from Amazônia except Belemia fucsioides which is from the State of Espirito Santo. (Aceito para publicação em 10/03/81) — 11 cm SciELO 10 11 12 13 14 15 HERBÁRIO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA PLANTAS DO BRASIL ESPIRITO SANTO (PassIHorae.) Passlflora Rodovia BR-5, 3 km a. do Morro-Danta. Boira da estrada. Trepadeira. Floroa rósoas, corola esver. < 11 ‘: 111,1 Belòm 6-8*19G5 t •!'■'] Belem 1460. Belemla fucsioides Pires n sp gen. Est. 1 SciELO cm 10 11 12 13 14 15 SciELO 10 11 12 13 14 15 cm 10 11 12 13 14 15 Est. 5 — Hevea camargoana Pires, n. sp.: Inflorescêncla SciELO 10 11 12 Est, 6 — Hevea comargoana Pires, n. sp.: Frutos PIRES, João Murça. Notas de Herbário I. Boletim do Mu. seu Paraense Emílio Goeldi, Nova Série: Botânica, Be¬ lém, (52): Ml, mar. 1981. il. RESUMO: Inicia-se uma série do artigos sob o titulo acima, t criado um novo gênero (Bclemio, Nyctaginaceae) e duas novas espécies são descritas: Bclemio fucsioidcs n. gen., n. sp. (Nyctaginaceae) e Hcvca camargoona n. sp. (Euphorbiaceae). Além disso, são apre¬ sentados comentários gorais sobre Hcvca camporum. Bclemio fucsioidcs é do Estado do Espirito Santo, as duas Hcvca são da Amazônia. CDU 582.757 582.664.1 CDD 583.933 583.95 MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI t 2 3 Z 5 3 10 11 12 13 14 BELÉM PARÁ SciELO