-%y:l -h y-nHlLl^:^ "^^^^a .ir jij^^ COLLECÇÃO PE VÁRIOS ESCRITOS INÉDITOS políticos e litteraríos DE ALEXANDRE DE GUSMÃO COIVSELHEIRO DO CONSELHO ULTRAMARINO E Secretario Privado d'El~Eei Dom João Qm?il9i QUE DA A LUZ PUBLICA — ainda nos trasem memorias passadas do que fomos, se já não são agouro de fado mais cruel. No discurso acerca da relaxação dasCom- niunidades dos religiosos caracterisou-se o nos- so Autor por uma doutrina proveitosa, e jus- ta, tornando-se superior entre os daquella epo- cha. Os fastos da Igreja lhe erão familiares; — ali vemos declarada a primitiva disciplina; — ali achamos cabal informação dos diversos períodos do Monachato, e a historia das suas torpesas. As ordens religiosas se extinguirão, mas o influxo da sua pestilência será contagio a longas gerações. — Lastimosa cegueira da humanidade! Pensamentos, e verdades se en- cerrão neste discurso, que serão remédio effi- caz aos tibios, e escrupulosos, que muitas ve- ses o lerem. Persuadi mo-nos que o Autor teria com- posto agradáveis, e excellentes poesias alem das colligidas, e o testemunho de Diogo Bar- bosa Machado, seu contemporâneo, não nos deixa entrada para o campo das conjecturas; mas ou ellas se perderão, ou forão usurpadas, ou sumidas; e ficou-nos para sen)pre esta sau- dosa recordação — também Alexandre de Gus-» mão foi eminente Poeta — IX Tomos por ultimo uma Comedia. wSe o nosso Aulor luio teve parte no enredo, lam- bem não será c-iminoso pela moralidade; mas em nosso entender, se não foi sua a escolha, com repugnância, e indulgência lhe relevare- mos os loques, e o coU)rido ; os coslumes, e os prejuisos do tempo forão pintados com bas- tante graça, e arte, mas a virtude nâo alcan- çou o triunfo. — Eis-aqui mais um facto, que nos firnia em nossos juizos. Em quanto se 11- songeavão as paixões de D. João 5.**, e seu espirito era entretido cora objectos de fingida piedade, a corrupção ganljava novas raizes, e a superstição lançava mais profundos alicer- ces; — armava-se á ignorância entre os descui- dos da Corte 5 e a iílusão do povo; — uuj so- berbo Diplomata estrangeiro para ignominia nossa, como agora, a dominava; — • tudo fo- ram apregoadas venturas, e felises successos; — parecia que as poucas luses erão mais bri- lhantes nas trevas. Contemplemos ao menos esse monumento d'orgulho nacional, que faz toda a gloria daqueíle Monarcha , e do seu reinado. Confessamos que em todos estes escritos do Autor algumas veses o estilo he pouco cor- recto, a dição nem sempre he pura, e portu- guesa, frases ha com duresas, períodos confu- sos, palavras inventadas sem propriedade, ou com differenle sentido, e semelíiantemente ou- tras leves imperfeições, e defeitos. Sào as feses d'engenho3 -apurados. E ainda assim poderia Alexandre de Gusmão refocilar*se de todas as suas occiípa^ões, que desempenhava com tan- to disvelo, e assiduidade, e rever seus escritos, ou torna ri ão muitos deiles á sua mão para os Corrigir depois? E quanlo não deverá ser at- Iribuido aos copiadores incuriosos, que tudo alteram , e desfigurão ? Pusemos todo o cuidado em recolher a melhor e fnais exacto^ e em grande parte o te\ remos conseguido, — F^imos tudo o que a s&* melhãnte respeito se encontra nos Códices Mo' nuscritos da Real Bibliolheca Publica Por- tuense; — deixamos todavia d' engrossar o vo" (ume com. notas que a uns não satisfarião y de nada servirião a outros , e para muitos serião sem fructoj e só aponiaranos o anacronismo as paginas 225 aonde se fatia do Monge Ri^ gord, e como era medico dê Luh o Grosso ^ que morreu no anuo de 1136, quando elle só o foi de Pliiíippe Augusto , em cujo tempo exisíio ^ e professou a medicina^ € cuja m<áck escreveu no de 1221, ■WT^-^r- yW«ViVV'«M«\«»VM)«MVV»%%«\l«Vlll%Vt«V\««««VMI%MIMW\W«\W«VMlV\«V^^ w NOTICIA DA VIDA DO AUTOR. N, ASCEU Aloxandrtí de Guâmâo de pais po- bres, e humildes na rnaritima Villa de 8anlos da Província de S. Paulo na America íMímí- dional, já fóra do Trópico de ('apficôrnio. Seus talentos, e génio o fizeram illiislfe, e àô a fortuna lhe havia sido escassa, e avárn, j)ro- digalisou-lhe seus mais ricos dons a fialureza. Teve por irmãos a Bartliolonieu Louien- çõ de Gusmão, e o Padre Simão Rodrigiieâ (e era este o sobrenome de familia) , e (attí- bem uma irmã, que mostrou grande, e in- cansável fervor em soccorrer os mendiíi^ns, e assistir aos doentes nos Hospitacs, viajando ú seu paiz sempre occupada neste caritativo exer* cicio. O primeiro moslroa raro eng£?n!io na in- venção de muitas maquinas, e da areostatica lhe veio o appelido de voador; mas tanto voou a fama dó seu nome, como cresceu a ir.grati* dão da sua pátria, que ò deixou acabar fóra delia mingoado de meios, e cuberlo d^injurias. 'Níío fui o primeiro exemplo d'ôprobrio , nem XII â nltima vlclinia da ignorância. Simão Rodri- gues dislingiiiii-se como orador evangélico , e de merecido encómio dons sermões seus correm impressos. Deixou o nosso Autor o seíi paiz natal em tenros annos com nome mui diverso, e na Ba li ia de todos os Santos recebeu o de Ale- xandre de Gusmào, que o era do Padrinho, que lhe sérvio no acto do crisma, e que lhe deu lodo o acoíhimenlo, e protecção. Esse sábio Loyolita lhe teria transuiittido com seu mesmo nome, a vasta erudição, com que tan- to ornou a republica das letras, senão as má- ximas jesuiticas, que o talentoso pupillo nun- ca soube aprender, nem adoptar. Ainda contava taml)em poucos de sua idade quando passou a Portugal, e logo depois seu talento o fez de tal modo conhecido, que mereceu ser eleilo vSecretario do Conde da Ri- beira, enviado Efnbaxador em 1714 a Luiz 14." Rei de França. Então quiz o nosso Autor fre-^ quentar a Universidade de Pariz , e nella com applauso de todos tomou o grau de Doutor em Leis, vindo no de 1719 a incorporar-se na de Coimbra: se por escolha sua, com acceitação alheia. Fez mui brilhante íigura no Corpo Di- plomático, sendo Agente da Coroa Portugue- sa nas Cortes de Pariz e Roma, aonde prati- cou estes ministérios com disvelo, e fidelidade. Em o anno de 1752 o elegeu a Academia Real da Historia Portugueza para seu Sócio, e o encarregou d'escrev.er na Ungua latina a XI ti Historia Ultramarina do Reino de Portugal , o qual assumpto nãf chegou a concluir. Sérvio muitos annos de Confidenle, e Se- cretario particular d'EI-Rei D. João b.% exer- citando-se em diversas matérias com affinco, e desinteresse; não logrando todavia as vanta- ^^ens dos seus contemporâneos, que forão como elle mandados estudar na grande escola do Primeiro Portuguez, que por muito temj)o deu lei aos Ministros Diplomáticos assim nacio- naes, como estrangeiros, e quando já canga- do d'aturados serviços, e mortificado de repe- lidas moléstias, houve recurso assaz justificado áquelle descuidado Monarcha , que pareceu esquece-lo para leoiunerar outros, que nem tanto valião, nõm tinhão iguaes direitos. Foi nomeado Conselheiro do Conselho Ultramarino, e ahi teve uma parle mui cons- picua em todos os objectos, compondo diver- sos papeis, que liastavão para gloria sua. Era Cavalheiro Professo da Ordem de Christo, -e Fidalo-o da Casa de Sua Magestade. — Casou cm Lisb oa teve dous filhos, a quem dou nomes heróicos, e morreu sem descendência aos 30 dias de Dezembro de 1753. — Jaz se- pultado no Convento de N. SenÍio>-a dos Re- médios dos extinctos Carmelitas Descalços. ■ Temos referido as occoirencíos mais nata- veis da vida d' Jlexandre dê Gusmão^ c a se- rie dos seui empregos 7ta sua carreira poliéica — XIV — ií g lilf^rfiria y aloançando pouco mais que Dio- go Barbosa Machado , e muito menos que no$^ SOS de&ejos, e intento. Daremos igualmente qima relação de Iodas as suas obras impressas j que nos vieram d noticia^ e que são as seguiu^ ies : = Relação da Entrada publica, que fez em Pariz aos 18 d'Agosto de 1715 o Exc.'''* Snr. I). Luiz da Camará, Conde da Ribeira Gran- de, do Conselho d'EURei de Portugal, Com- rnendador de S. f^edro de Torrados, Alcayde Mor da Villa da Amieira, Mestre de Campo General, e General da Artilharia nos Exerci- los de Portugal, e seu Embaxador Extraordi- nário á Corte de França, reinando nesta Mo- narchia Luiz 14.°; em que se acham varias noticias concernentes ao ceremonial desta Em- baxada — Pariz por Pedro Emeri — - 1715 -^ Um pequeno folheio em quarto. Oração, com que congratulou a Acade- mia Real da Historia Portuguesa em 13 de Março de 1732 por ser eleito seu Sócio. Tomo 11/ da Collecção dos Documentos, e Memorias da mesma Jcademia — Lisboa por José Ânto' nio da Silva — 1732 —r- .16 volumes in folio. Conta dos seus estudos Académicos a 24 de Julho de 1732 — Jdem. Panegyrico á Magestade d'El-Rei Dom João 5.°, recitado no Paço a 22 d'Outubro de 1739, dia cm que cumpria os seus annos. — Bibliotheca Lusitana do Abbadc Diogo Barbosa Machado — Lisboa 1741. 'W9 wmi^ XV Calculo sobre a extracção do dínlieiro do Reino, offerecido a D. João 5.* no anno de 1748. — Lnpresso pela primeira vf.% no Pa- triota de Janeiro de 1813 — Depois sahiu mais correcto^ c addicionado ^ e com algumas obser- vações no Investigador Porlugue% de Abril de 1315 — Tombem o achamos no Jnalysta Por- tuense iV." 24 em. Fevereiro de 1822. Avisos, e Cartas familiares. — Fem algu* 7nas das mais selectas no Investigador Portu- guês de Sepíembro e Outubro de 1811; — Março de 1812, e Fevereiro^ e Junho áel8l3 — A Carla de D, Luiz da Cunha, e a res- posta do Autor igualmente esiom publicadas no Analysta Portuense iV.° 19 em. Fevereiro de 1822. Exposição que fez dos seus serviços o ce- lebre Alexandre do Gusmão a El-Kei Dom João b° — Tomo 4." do Panorama N,"' 15S) e 160 — Maio de 1840. -— -^ — fe^— ERRATAS- Paginas. LinMi. £?T assim contra o serviço de Deus, como de S. Magestade, e quando V. 111."'* R.' ' tenha mais que representar-lhe, além do dedusido no dito papel , o poderá faser, porque só será visto por S. Ma- gestade sendo feito com mais mode^ ração: E assim não só espera, mas fica S. Magestade entendendo, que reflectindo com mais acerto V. III.^* R.""* na gravidade do negocio, não m- sistirá na dita resolução ; e no caso que V. Ill ™^ R."""^ assim o não pratique, usará S. Magestade dos poderes di Soberania , que Deus lhe concedea para livrar os seus Vassallos destas, e outras semelhantes oppressoes. Deas Guarda a V. IlL'"^ R"^ &c. CARTA II. Aos Reaes Pés d'El-Rei , meu &- nhor, me ponha V. S."" pela Mercê ^ que me faz de mandar ver as mingas rasôes , ainda que em reverencia da Igreja devia ser suspenso o tributo ; m^as' devo pedir a S. Magestade que seja por pessoas tão doutas, e desin" i. JHr- — 9 — teressadas , e tementes a Deus , que despidas dos affectos humanos aconse- lhem a verdade , e sejam amantes do Direito da Igreja. Obrigadissirao fico á Real Grandesa do mesmo Senhor em conhecer o des- acerto, com que obrou o Senado. Es- pero , e fico certo de que assim como agora lhe estranha o não obrar com acerto no modo, com que estabeleceu o tributo , logo o castigue pela força que faz á Igreja gabellando os Eccle- siasticos com uma imposição, que su- pera a quatro decimas, dando com el- ja motivo a subirem de preço os mais géneros, de sorte que nas despesas se duplicão as decimas, o que não he li- cito ainda na mais inferior parte sem os requisitos de direito , e muito me- nos especialmente sem Breve da Sé Apostólica; pois o que o Senado não pode faser com os seus seculares, mais certamente o não deve praticar com os Ecclesiasticos. O Senado , que faz a figura , e ex- ercita a jurisdição de Pai de familias nesta Cidade, não tem direito algum nas fasendas , e rendas de seus mora- áores , pois o governo económico nad passa as balisas das taxas da abundân- cia dos viveres ; de manter os officioá para o serviço da Cidade , e seus mo^ radores; de conservar a saúde publi- ca; e finalmente de administrar as suas rendas , e com eilas faser as obras , que lhe parecem úteis, e proveitosas ; mas para o Senado construir as que na sua idêa debuxa com as fasendas dos moradores, não tem jurisdição al- guma sem consentimento dos cidadãos^ e povo, e muito menos para deteí"mi^ nar os géneros, em que põem os tri-^ butos, sem os ouvir; pois se elles hâci de pagar o tributo, e lhes pertence o augraento da sua Pátria , a elles toca approvar as idêas do Senado , e nesta conformidade devia primeiramente que pedisse a S. Magestade o consentimen^ lo , propôr-lhes a obra , e parecendo necessária, tomar seus votos a respei-^ to dos géneros, que se devião gravar para ella , o que he muito natural ; pois um Pai de filhos tão homens, e tão barbudos, não toma resolução da sua casa augmentando despesas sem os ouvir. wmmm. — 11 — Por utilidade commuci, e segiiran- <^a dos moradores da Cidade do Portov frequentada d^estrangeiros , e g-rande nunlero de seus nacionaes , lhe poz o Senhor Rei D. Pedro 2/ urn Regituen- to dlnfaniaria paga, e querendo 8. Magestade que a Camará da mesma Cidade lhe satisfísesse os soldos , me ordenou que convocasse a Nobreza, e Povo para consentirem , e todos de- cretassem os géneros, enti que se iia- vião d'estabelecer os impostos, o que Sé conseguiu com pouco trabalho meu ; e não se pôde diser que esta Cidade necessita mais d'agua, que a do Por- to de segurança, e separa isto se pro- cedeu na forma referida , que rasão pôde cohonestar o que o Senado ago- ra determina ? O Interdito, sobre que V. S."" ítl* escreve 5 não deve causar novidade, ou estranhesa, porque he disposição" de Direito constante, e da Consilíui- çâo Synodal, pela qual se governa es- te Patriarchado, pois quando a immu- iiidade da igreja he oífendida por 8ê^\ nado, ou Co^mmúnidade se procede lo- go a Interdito, é quando por Pessoa :^v >"w' X — 12 — particular a Excomunhão ; e eu, e to- dos entendemos , que estamos neste caso. Os ameaços, que V. S.^ me faz na sua carta , não mettem medo a quem trata uma causa de Deus, e de tanta importância como esta; antes entendo que o mesmo Senhor ouvio por sua misericórdia minhas supplicas, em que sempre lhe peço me dê merecimento de padecer pela sua Igreja. Entendia eu que tinha dignidade, annos, e ser- viços para se me não escrever tal car- ta , porque semelhante a ella não ha- verá exemplo ainda para o Guardião d'algum Convento. Em memorias não muito antigas ve- mos que o Cabido de Lisboa procedeu com censuras contra um Conservador das Ordens Militares , sobre uma pe- quena questão de jurisdição, e poz em estas Cidades um Interdito, e o Senhor D. João o 4." entrando em fa- vorecer o Conservador por piedade sua como Grão-Mestre das Ordens , escreveu ao Cabido duas Cartas , e Ultimamente mandou o seu Secretario d'Estado para que o Cabido suspen- ^-f»^ ^1^ 90" ~ 13 -^ desse o Interdito , ao que o Cabido não assentio , e corista-nos que não houverâo ameaços , a^ora em causa gravíssima nos intima V. S/ para que não execute a disposição de Direito Canónico, Bulias, e Synodos, e o que não sofreu um Cabido, he justo o pa- deça a maior Dignidade do Reino, um Prelado , que ha 23 annos faz a sua obrigação , e defende com tanta pru- dência os Direitos da Igreja, e da Sá Apostólica , fasendo repetidos Reque- rimentos sem serem attendidos , e o aggravo da immunidade da Igreja não só em repetição , mas em augmento ; e para satisfação da prudência , com que sudplica, e da demora, que tem experimentado, se lhe insinuão degre- dos , e sequestros , que sendo por es- te motivo , os espero com alvoroço , prompto para os comprir, levando por companhia a minha cruz até onde os meus privilégios mo permittem, e por carruagem o meu bordão. Deus Guar- de a V. S.'^ &c. li' I I ^14 — CARTA III. Continua o aggravo da Igreja em offensa cia sua immunidade, e também nHo cessão os clamores, com que me advertem os Sagrados Cânones , Bul- ias, e Synodos declarando as censuras, e graves penas , em que incorro pela negligencia de lhe nao acudir com os remédios, que prescrevem. Eu repito as minhas humildados, e instancias^ e com ellas recorro a Ei-Rei , meu Se- nhor , por mão de V. S.% esperando de seu zelo, e christandade i|ue as não demore, nem me dilate a resposta: pois he este negocio muito do servi- ço de Deus, e honra sua, ainda que a justi(^a delle não fosse tão certa, co- mo se manifesta , pois por nenhum principio se podem gabellar os Eccle- siasticos sem os requisitos de Direito, e basta ser notoriamente falso o moti- vo do tributo para nao ser favorável. Já eu disse a V. S.' que a quantidade destas aguas livres não passava de dez anneis , que pela distancia, e temj)o se consumirão de sorte, que nenhuma ■r ■0 — 15 — chega a esta Cidade, e sobre eu estar ijiuilo bem informado nesta matéria, o Canavre me disse, haverá dous me» ses, erão dez anneis, e que nenhuma delia chegaria aonde desejavâo, como eu já informei a V. S."", e do mesmo Canavre o poderá saber, niio dando credi/o ao Prior de S. Nicoláo ; que nesta dependência não distingue o ze- lo , do desacerto. Não posso deixar de diser, que as pessoas, que forvSio ouvidas para acon^ selharem em este negocio , não teem todas as graduações, e noticias, que elle pede pela sua importância, e gra- vidade; por quanto pertence a diver- sas sciencias, e estudos daquelles, em que s'empregárão , o que me persua- dem alguns papeis, que íiserão muito impróprios, e alheios da matéria, e sua verdadeira resolução. Já referi a V. S."", que consta da Crónica do Senhor Rei D. Manuel , e d'outros Escritores , que pondo o dito Monarcha um pequeno tributo em pão, e sendo aceito por lodo o Reino, não fora consentido pelos Vereadores da Cidade d'Evora , e sabendo a mesma I» — 16 — Magesíade que João Gomes Secioso era o motor desta repulsa , o chama* ra á sua presença, e entre palavras suaves, e plácidas ^ mesclara outras desabridas, e índices de castigos, di* sendo-lhe finalmente que aceitasse o tributo ; ao que respondeu o Vereador, que elle jurara faser a sua obrigação, votando o que entendesse , e que não temia os ameaços , porque conhecia que S. Magestade não sabia faltar .á justiça : logo o mandou preso para ca- sa, e o privou do lugar de Vereador ; mas no termo de poucos dias revogou o tributo , e mandou ir á sua presen- ça o Vereador, e louvou muito o seu zelo, fez-lhe mais honras, das que ca- bião na sua esfera , e o restituio ao seu lugar. Fique na Real Contempla- ção d'El-Rei, meu Senhor, a diversa naturesa deste, e daquelle tributo ; as diíTerentes qualidades de Prelado, e Vereador para eu alcançar a felicida- de, que elle conseguiu, revogando-se o tributo, que he o que pretendo. Este tributo, que o Senado poz, he injusto pela causa, e motivo; pois he para condusir as aguas livres, que não TIP mmm » — 17 — ha, nem existem; e IribiUo imposto com causa supposta, e falsa, eviden- temente he injusto, como o he tam- bém pela manifesta desigualdade , que envolve; pois não se paga á proporção das rendas, que cada um recebe, se- não a respeito das despesas, que cada um faz; donde vem que os mais po- bres, e com encargos de famílias, pa- gão maiores quantias, que os ricos, e livres d'encargos ; e he regra, e prin- cipio certo que os tributos se hão de regular pelas rendas, e posses dos que as pagão, o que se vê nas decimas , e tributos bem ordenados ; e he para las- timar que um Convento de S. Fran- cisco por ter mais Religiosos , e assim mais pobres, e mendicantes, haja de pagar mais, do que o Mosteiro de S. Bento, e outros mais ricos, e opulen- tos. Finalmente prostrado aos Reaes Pés de S Magestade lhe peço termine es- te negocio, que por ser da Igreja ag- gravada não admitte dilação, pois a todo o instante lhe repete a offensa ; ou haja por bem que eu use da minha jurisdição, porque a consciência não B ?N. •*- \^ aclmilte o V. S;"^ &c. 18 contrario. Deus Guarde a RESPOSTA. Sendo presentes a S. Majestade as duas dilatadas Cartas de V. íll."^^- R.»^S manda responder que o Senado figura Povo , e Nobresa ; que os dez anneis d'agua,ha cinco mezes medida, teem augnientado a quarenta , nao obstante a presente estação ; que os Padres de S. Francisco não onerão as suas róri- das cora o imposto, e se hão de uti- lisar das mesmas aguas : que o exem- plo que V. III.™^ R ™* aponta do Se- nhor Rei D. João o 4." de nada serve para o preseníe, segundo o tempo, e o estado do Reino ,^6 pouca seguran- ça, que tinha da fidelidade do Cabido; que o não haver agua (caso assim fos- se) nada contenderia com a immuni- dade da igreja; que o caso d^Evora é fora de toda a comparação, porquan- to aquella Cidade se considerou inde- pendente das mais naquelle artigo, que tinha, e tem de sobejo; vindo a con- cluir para que jamais se íião f^lle em. imftmmw? SKT ^ — 19 -^ tal, que recorra V. íll.ma R.ma^ quç. rendo, á Sé Apostólica; — que atten- tlendo ao escrúpulo de V. IlL^^a R.^^, que tanto se tem aiig-mentado, quiz S. Magesíade ouvir muitos Ministros doutos 5 sábios , prudentes , e bons re- ligiosos , e depois ficou d'acordo para usar dos seus direitos contra qualquer outro procedimento, a que V. lil.maK.ma recorra; — e S. Magestade manda in- siniiar-lho assim attendendo aos seus serviços, e idade, e á distincta repre- sentação de V. III. ma j^ ma j^eus Guar- de a V. lil.™^ R.ma ^c. W AVÍSO Para D\ Pedro Miguel cV Almeida e Portugal , Primeiro Marquez d^Alor- na , Conde do Assumar , dos Conselhos de S. Magestade , e Guerra , Fedor da Casa Real, e Vice-Rei do Estado da índia; sobre as queixas, que contra elle apparecérão , quando por outro la^ do as suas heróicas acções na guerra merecerão ser remuneradas. íí^>v V §s i ■}:!l ilii ^20 — 111."" e Ex."*'' S.of ' A S Magestade se queixarão alguns Negociantes Gentios, Vassallos e Mo- radores desse Estado, que V. Ex. vendia , e estancava os lucros do com- mercio , com prejuiso evidente dos so- breditos; isto ao mesmo tempo, que chegou a S. Magestade a noticia das heróicas acções, que V Ex. obrara na guerra em honra e defensa do lis- tado': E porque convém á conserva- ção deste , e ao credito da Nação, pa- k servir d'exemplo aos que servem o Reino, e defendem a Coroa que V. Ex. seja presentemente remunerado, e a- gradecido, assim o praticou o mesmo Senhor, fasendo a V. Ex/ as xMerces , e dando-lhe os agradecimentos, que hão de C.onstar das Cartas Regias, ^e da Secretaria dVEstado. Porem , nao í^squecendo o conteúdo na sobredita Queixa, manda lembrar aV. Ex. , que não abuse da Bondade com que agora procede em todo o referido ; e tam- bém que se não esqueça de ter^ pre- sente, que a vil, e torpe ambição de Sobieski , escureceu na estimação das i.. — al- gentes, as grandes, e heróicas acções, qne havia obrado na guerra. Deus Guarde a V. Ex.^ Lisboa no Paço a 6 de Março de 1747. Alexandre de Gusmão. AVISO Para D. António d' Almeida, Conde do Lavradio , Governador e Capitão Ge- neral do Reino d^Ayigóla ; relativamen- te á maneira tyranica , com que pro- cedia no seu governo. 111.™'' e Ex.""" S.oi- - El-Rei Nosso Senhor está cabalmen- te informado de que V. Ex.* governa esse Reino á maneira dos Bachás da Turquia, cujos procedimentos sam con- trários á graça do Provimento do Go- verno, que foi feito aV. Ex.^ sem pre- ceder donativo : — Pelo que he S. Ma- gestade servido ordenar que V. Ex.* fáça Justiça: favoreça o Commercio; respeite a Religião; e procure favore- cer os interesses dos Povos , sem pre- juiso do Estado; abstendo-se daqui por diante de todos os procedimentos , e acções 5 que possâo eondusir queixas ao Throno. Deus Guarde a V. Ex."" como desejo. Lisboa no Paço a 21 de Março de 1747. Alexandre de Gusmão. AVISO Para D. Rodrigo Xaxier Telles de Me- neses 5 Quarto Conde d' Unhão . Gover- nador e Capitão General do Reino do Algarve ; por causa d\im contrabando apprehendido^ que pertencia a um cria- do seu, e era introdusido vergonhosa- mente por Ordens do dito Conde. iwr e E^r s.or Nesta Cidade se achão presos An- tónio Fernandes Pereira, e Luiz José -xaan — S3 — cl.i Rosa á OrHem do Corregedor clò Bairro de S. Panlo, pelo Contraban- do , que lhes foi achado no Hiate por invocação =Santo António = , vindo do Porto dessa Cidade que he destes Negociantes, e a quem pertence a siiâ carga. Nas perguntas , que lhes tez o Cor- regedor, confessou António Fernan- des, = que um Caixotinho de Relo- logios Ingleses pertencia a Joaod'Ase- vedo , Criado particular de V. Ex."" ^^ ; e provou a sua confissão com algumas Cartas do mesmo Asevedo , e com duas Ordens , como Portarias , assina- das por V. Ex.* 5 e passadas pelo Se- cretario do Governo. Este vergonhoso facto pedia exem- plarissimo castigo, se delle se tomas- se conhecimento, e fosse com effeito sentenciado como mandão as Leis ; pois que em todas as circumsíancias resabe inteiramente ao despotismo , que pra- ticarão os Senhores acastellados, e os Régulos, que viverão no seculo da ignorância , e barbaridade com escan-^ dalo 5 e horror da humanidade , com :^«HS«i;.i^-ííH* ] l 4 , ) — m — injuria do Poder dos Reis, e o que he mais , sem temor de Deus. S. Magestade, porem, como Prín- cipe Magnânimo , e Pio , conhecendo que V. Ex.^ ignora as obrigações de Vassallo , e as Regras do Oííicio de bom Governador, usando da sua Pie- dade : He servido ordenar , — que V. Ex.* se abstenha de passar semelhan- tes Ordens ; nâo favorecendo , nem ainda permittindo , ou tolerando que haja , nem passem Contrabandos nos Portos desse Reino , debaixo da pena imposta aos que commettem semelhan- tes crimes, e de V. Ex.^ cahir no seu desagrado. Por agora se satisfaz S. Magestade com mandar , — que V. Ex.^ compre as Ordenações do Reino juntamente com as suas Leis Extravagantes , e fa- ça ler cada dia ao seu Secretario quin- ze , ou vinte parágrafos , a que V. Ex.* assistirá , por espaço de seis meses ; cuja pontual execução confia S. Ma- gestade da honra de V. Ex.^, esperan- do que lhe evite o dar outras Provi- dencias alheias da sua Vontade, e po- de ser injuriosas a V. Ex."" , a quem S. ^ww^ RP — 25 Magestade estima muito. Deus Guar- de ia V. Ex/ Lisboa no Paço a 21 de Blarço de 1841. Alexandre de Gusmão. AVISO Para Pedro da Mota e Silva, Secre- tario d' Estado dos Negócios do Reino , e Mercês ; pelos incommodos, que cau- sava ás Partes, a quem não satisfasia senão da meia noite por diante. AS. Magestade teem sido presen- tes os grandes incomrnodos, que sen- tem as pessoas , que procurao Despa- chos pelo expediente de V. Ex.^ E sem embargo de que não resolve ago- ra , se haverá , ou não mais Despa- chos; com este motivo he o mesmo Senhor servido ordenar-me, — que ad- virta a V. Ex."^ em como os dias fo- râo feitos para trabalhar, e as noites para dormir \ — E que lhe parece mui- — 26 — to mal , que V. Ex/" queira alterar es- ta ordem da naturesa com o supposto motivo de = que não tem de respon- der = visto que El-Rei não despa- cha =; porque se a tardança dos Des- pachos he muito penosa; muito mais o será, darem-se os desenganos, ou respostas lá da meia noite por diante. Deus Guarde a V. Ex/ Paço 20 de Agosto de 1748, Alexandre de Gusmão. AVISO Para Francisco Luiz da Cunha Atlvay- de e Mello , Chanceller , e Governador da Cidade do Porto; pela maldade com cjue em obsequio ao Chanceller da Re- lação queria conservar preso um. indi- viduo , que se havia mostrado livre d* uma supposla culpa. Sendo presente a S. Majestade, que o Desembargador Chaiiceiler dessa Ke- ^wi laçao fisera prender a Manuel José Vieiras |)or unia supposta culpa, com queo teve na pris.^o perto de seis me- ses; e que havendo-se mostrado livre, lhe mandara V. Ex."" abrir assento á sua Ordem , para o conservar na pri- são em obsequio do mesmo Chancel- ler: He S. Majestade servido, que V. Ex.* o mande logo soltar; e que fique advertido de que nenhum ho^, niem do Districto dessa Relação , e Governo precisa para ser desgraçado, que contra elle se conspirem o Chan- celler, e ó Governador; pois que era bastante a maldade d'um só para lhe faser muito damno , se um, e outro» não tiverão Rei. Deus Guarde a V. Ex."" como desejo. Lisboa no Paço a 17 de x^arco de 1744. Alexandre de Gusmão, AVISO Para Pedro de Mariz Sarmento^ Des- embargador , e Provedor da Alfandega de Lisboa ; em consequência dos contí- nuos Contrabandos^ que erâo expedidos por muitos dos Officiaes da mesma Al- fandega^ e que elle também tolerava. S.oí- Desembargador Pedro de Ma- riz Sarmento. — Sendo presente a S. Mag-estade os diversos, e contínuos Contrabandos, que se fasem em Lis- boa, a pesai- das Providencias, e Jus- tiças, com que o mesmo Senhor tem pretendido obvia-los , a beneficio do Commercio, e dos Direitos da sua Co- roa; acrece agora a esta desordem, que essa Alfandega os consinta , e ex- peça por muitos dos seus Officiaes, com injuria, e escândalo das Leis, e Ordens do Governo: — E quando pro- curava dar remédio a estes prejuisos, foi plenamente informado de que tam- ^T» ^ 29 — bem V. S/ os tolerava; o qne des- gostou muito a S. Magestade. Isto supposto. me manda advertir a V. S.^ — que para lembrar-se de com- prir a sua obrigação , tenha V. S.* mesmo compaixão de seusfillios; pon- dere os seus annos ; considere no Em- prego , que se lhe confiou; e não dê mais um passo pelos caminhos erran- tes , que até agora seguiu ; reflectin- do, para sua confusão, que mereceu á Piedade do Rei este Aviso. Deus Guarde a V. S.' — No Paço a 30 de Maio de 1746. . Alexandre de Gusmão. AVISO Para António da Consta Freire, Des- embargador , e Provedor da Alfandega de Lisboa (que depois morreu nos Cár- ceres do Forte da Junqueira sendo do Conselho e Procurador da FasendaJ por haver tomado a autoridade d' estranhar publicamente ao Conde Conimendador t J Mor o seu procedintento na qualidade de Fedor da Fasenda. Sendo presente a S. Magestade, que V. Ms^ estranhara publicamente na Alfandega não comprir o Ex.™" Conde Cominendador Mor um Decreto Real, que fôra passado em prejuiso da Real Fasenda : He o mesmo Senhor servido niandar-me advertir a V. M-^^ , em co- mo os Provedores da Alfandega , su- jeitos ao Conselho da Fasenda, não tem autoridade para estranharem os procedimentos dos Vedores delia. Por cuja rasão, e por ser a Pessoa do Con- de tão distincta, e a quem S. Mages- tade tanto presa: Ordena o mesmo Se- nhor, que V. M.ce lhe dê uma satisfa- ção piibiica dentro da mesma Alfan- dega, logo que elle lá for. Deus Guar- de a V. M.<^e ]\o i)açQ a 2 de Feve- reiro de 1750. Alexandre de Gusmão. '«r ^ 31 Para Icjnacio da Costa Quintella. Des- embargador^ e Corregedor do Crime da Corte, e Casa; quaiito ao modo ac- celcrado com que executava as Leis nos casos crimes^ e longe de inodijicar^ am- pliando o seu rigor. S. Maoestade me manda advertir a V. M.^^ , qne as Leis costumão ser fei- tas com muito vagar, e socêgo ; e que nunca devem ser executadas com ac- celeraçâo ; e que nos casos crimes sem- pre ameação mais, do que na realida- de mandão, devendo os Ministros exe- cutores delias modiíica-las em tudo o que lhes for possível , principalmente com os Róos , que níio tiverem par- tes; porque o Legislador he mais em- penhado jna conservação dos Vassallos, do que nos castigos da Justiça; e não quer que os Ministros procurem achar nas Leis mais rigor do que ellas im- põem , como V. M.*^*^ costuma praticar. I Deste modo de proceder ordena S. Ma° gestade se absteiília , e que esta lhe sirva d'Aviso. Deus Guarde a V. M.^^ No Paço a 20 de Fevereiro de 1745. Alexandre de Gusmão. NOTA Sobre o conteúdo do Aviso precedente , e da verdadeira causa, que a elle deu origem ; escrita por um contemporâneo do Autor ^ e aqui trasladada teoctual- mente. A advertência , ou reprehensão da Carta retro , parece que nâo nasceu tanto do que absolutamente assim po- de julgar-se, como sim do que sobre isso direi ; pois conheci bem ao Des- embargador Quintella; e estou certo no que praticou, e no facto desse tem- po. Vem a ser : = Quando elle entrou por Corregedor do Crime da Corte e Casa, seguio o systèma de queJiéos de pena ultima, que achou nas Cadèas detidos mais de dez annoSj (que lie a vida eivei da — 33 — Lei) tratou de os impor degradados^ disendo delles : = Que não podião pur- gar duas mortes; uma a dos muitos annos na prisão ; a outra por ultimo na Forca : = E aos mais Réos de menos encerramento tratou então d'ir avian- do conforme o estado dos seus delitos. Porem, como depois que empunhas- se essa vara , ou por casualidade , ou por lhe vêr mais depressa aviado o pri- meiro que propoz, que foi um simples, e leigo Moço , (por causa d'uns furtos, que lisera por umas trapeiras) Sacris- tão de S. Nicoláo de Lisboa , de que nesse tempo- era Prior o Padre Fulano Monteiro, um dos favorecidos do Se- nhor Rei D. João o 6.'' ; ou então por queixas delle , ou da fallacia do Povo, não faltou uma murmuração vaga con- tra o dito Quintella , notando-o de máo coração; pois que principiava por cou- sa , que era da Igreja , a propor os Réos á Forca. Deste estrondo pois, e do que da- qui nasceria, he mui faetivel que po- desse mover-se a advertência da Car- la , mais fundada na Piedade , que na Rasâo. = ^ u -^ AVISO Tara o Corregedor da Comarca de Via- na ; por -motivo de contendas pueris entre um Padre , e um Fidalgo, que fo- râo mandados assinar termo para mais não pretenderem isenções desnecessá- rias. Sendo presentes a S. Magestade as grandes diíferenças entre o Padre Fran- cisco Goíisaives Calado, e Gonsalo de Lima fV Abreu, sobre a pueril conten- da de poderem ou iiâo caçar nas ter- ras visinhas ás moradas um do outro, pretendendo o Padre por ser o terre- no seu , e Gonsalo de Lima por gosar de conhecida nobresa , que um, e não outro havia de ceder; sobre o que in- formou com individuação o Juiz de Fora de Ponte do Lima: —Conhe- cendo S. Magestade a futilidade da ma- téria , ordena — que V. M-^*^ faça con- vocar a Camará da mesma Villa, e chamar ahi os sobreditos, para que as- sinem termo de mais não pretenderem — 35 — taes isenções; não só entre ambos, mas para outras quaesqner pessoas : E j)ara castigo do seu erro, e publica satisfação d'haverem inquietado inutil- mente os Povos , e occupado desne- cessariamente as Justiças; '■ — se de- clare no dito termo , que ficão priva- dos do divertimento da caça por tem- po de seis annos , contados do dia da data do termo, o qual assinará V. M.c« também com os Vereadores da mes- ma Camará. Deus Guarde a V. M. *^® Lisboa no Paço a 2 de Janeiro de 1740. Alexandre de Gusmão. BENEPLÁCITO Para Luiz Garcia de Bivar , Gover- nador da Praça da Colónia do Sacra- mento ; ajim de se empenhar amigavel- mente a favor d' um Negociante Lisbo- nense com o Governador de Buenos- Ayres , sobre o embolso d' importância defasendas clandestinamente ali intro- dusídas ; tendo esta reconimendação na ,1 i : • 1 conlã das que poderão ser patrocinadas por El-R<^i' S.o'' Luiz Garcia de Bivar. — Ainda que oCómoiercio dos Portugueses nes- se Continente da Colónia, e Buenos- Ayres; seja uma Negociação clandes- tina como dependente d'um mero con- trabando, e estes nâo possâo , nem de- Yão patrocinar os Governadores das duas Praças confinantes ; cora tudo , como o lapso do tempo , a continuada tolerância dos mesmos Governadores , niedeante a boa amisade, e harmonia das duas Nações, e também o costu- me de se remetterem os cabedaes dos Hespanhoes pelas Embarcações Portu- guesas , quetem vindo em direitura, e pelo Rio de Janeiro, (executando- se com muita fidelidade as entregas a seus respectivos Donos) e outros fa- ctos de protecção , e interesse , tocan- tes aos Vassaílos d'ambas as Coroas, autorisão diariamente o mesmo Com- mercio por uma serie d'infinitos, e no- tórios procedimentos: — Me ordena S. Magesiade, que avise a V. S.\ pa- ra que se empenhe amigavelmente com ÉÊÊÊ — 37 — o Governador de Buenos-Ayres a fa- vor de Feliciano Velho Oidemberg-, a fim de que este honrado, e estimável Negociante Lisbonense possa haver da mesma Praça a soma de 800/000 reis, producto da incauta remessa de fasen- das, que lá iutrodusio por meio inter- posto dessa Praça da Colónia. Quer S. Mag-estade, que V. S.' com- prehenda esta arrecadação no numero das que forem mais particulares, e pri- vilegiadas entre V. S.^ e o mesmo Go- vernador; as quaes todas patrocinará S. Magestade , quando estas mesmas ou quaesquer outras necessitarem da sua immédiata Protecção. Tenha V. S-* presente esta recommendação ; e tam- bem a certesa de que lhe desejo dar gosto, servindo-o no que se me ofle- recer do seu ag-rado. Deus Guarde a V. S.* como desejo — Lisboa no Paço a 20 de Janeiro de 1749. Alexandre de Gusmão. — 38 — NOTA Para Monsieur Chavigni, Embaxador de França na nossa Corte ; desvanecen^ do as suas queixas sobre a demora dà resposta a um dos princípaes Ne(jocioÈ da sua Embaxada. 111."^ e Ex ™^ Siir. A S. Magestade forão presentes ag queixas de V. Ex.* sobre lhe «âo dar resposta ao Negocio . que V. Ex.* pro- poz ha mais d'um anuo ao Secretario d' Estado Marco António; sendo este mçsmo Negocio um dos principaes da sua Embaxada, segundo as recom- mendações de S. Magestade Christia- nissima; E ainda que El-Rei se acha desembaraçado delie , e por isso des- obrigado de dar satisfações a V. Ex."^; me ordenou dissesse a V. Ex.*" , que já respondera a S. Magestade Christia- nissima ha mais de seismezes, por ha- ver fallado na matéria o seu Ministro ^ ^9 ^ (VKsíÊiào ào Embaxador D. Iaiíz da Cunha. Pelo qiio não pode V. Ex."^ queixar-se dos procodimontos dfesta Corte mas sim da de França, cujo Mi- nistro se esqueceu de que V. Ex/ era geu Embaxador ; e se achava encarre- gado deste Negocio. * Com esta occasiâo tenho a honra de oíFerecer-me no serviço de V. Ex.*, protestando-lhe , que sem embargo do referido , lhe tributo o mesnio aíFecto ^ e veneração. Deus Guarde a V. Ex.* ^ De Palácio a 8 de Maio de 1744. j^lexandre de Gusmão, NOTA Para o Marquez de Lectandia , Em- baxador d^Hespanha na nossa Corte; tocante á pretenção do Duque de Ba- nhos sobre a successâo da Casa d' Avei- ro ; tornando-se esta questão mais em- baraçada por uma inadvertência do di- to Embaxador. '11 m m — 40 — ;ÍÍ!! 1 Exr S.or A S. Magestade forâo presentes os Ofíicios , que V. Ex.* passou ao Secre- tario d'Estado Marco António a favor do Ex.""" Duque de Banhos, sobre a Siiccessão da Casa d' Aveiro : — E sen- do El-Rei empenhado em favorecer ao mesmo Ex.'"*' Duque , afim de con- descender com a vontade de S. Mages- tade Catholica, o embaraçarão os mes- mos Officios de V. Ex." a favor daquel- le Fidalgo, pela inadvertência de com- municar o conteúdo nelles ao Ex.""* Conde d' Unhão , Autor Oppoente á mesma Casa; de sorte que tratando- se este Negocio em rasão d' Estado pe- la sua gravidade , em virtude dos Offi- cios de^ V. Ex.^ ainda não estava reso- luto, quando ^ o Conde participou o que continhão os mesmos Oíficios. Nestes termos me ordena S. Mages- tade faça saber a V. Ex.^ : — que pô- de o Duque usar do Direito, que lhe compete, concorrendo com os mais Oppoentes; e he tudo o que se lhe pôde permittir. Participo também a V. Ex.* , que IMM — 41 — El-Rei lhe fica obrigado, por dever aos seus descuidos o desembaraça-lo deste Negocio, dando-o por suspeito entre umas , e outras Partes. Deus Guarde aV. Ex."" No Paço a 2 d* Agos- to de 1747. Alexandre de Gusmão. CARTA Que D. Luiz da Cunha, Emhaxador de Portugal na Corte de França , es- creveu ao Autor pedindo-lhe a sua con- corrência para faser persuadir a El- Rei D. João ò.\ e aos seus Ministros ^ que o mesmo Monarcha devia ser o Ar- bitro da Paz desejada pelos Principes belligeranteSy que então tinhão quasi to- da a Europa em guerra. S.^r Alexandre de Gusmão. Eu convido a El-Rei , nosso Amo , para figurar muito na Europa sem ter parte nas desgraças delia. Os Prince- — 42 — pes belligerantes se àchâó cansados dá Guerra , e todos desejão a Paz : Estíi pretendo eu se faça em Lisboa, e que nosso Amo seja o Arbitro delia ; mââ nao posso entrar neste empenho , senl V. S."" tomar parte nelle-; porque co* nlieço as di ffi cu Idade s , que heide en- contrar em El-Rei.5 e nos seus Minis- tros d'Estado. Ajude-me V. S."" a ven- cer .este negocio ; pois que só V. S.* he capaz de fase-lo persuadir. Espero dever a V. S.^ este favor; segurando- lhe qué responderei peia condescen-^ dencia dos Contrahentes , e também peias inquietações 5 ou prejuisos, que JEl-Rei possa recear ou sentir. Sirva-se Y. 8.^ dar-me resposta, e occasiões de servir a V. 8^ que Deus Guarde co- mo desejo, e Portugal ha de mister, Páriz a 6 de Dosembro de 1746. jD. Luiz dçL Cunha: RESPOSTA, Ainda que eu já sabia, quando re- cebi a Carta de V. Ex.% que não ha- SB — 4â « via de vencer o Negocio , êítí qoe V. Ex/' se empenhou ; com tudo por ob^ decer, e servir a V. Ex.*, fallei a S. Maí>-estade , e aos Ministros actuâeâ do Governo. Primeiramente o Cardeal da Mõtsl me respondeu: — Que a proposição de V. Ex.* era inadmissivelj êm rãsãó de poder resullar delia, íicaf El-Rei obrigado ao comprimento do Tratado; õ que não era conveniente. Era quan- to falíamos na matéria se entreteve o Secretario d'EstadD , seu Irmão , na mesma casa em alporcar uns cravei- ros; que até isto fasem áli fora de lu-^ gar , e tempo próprio. ' Procurei failar a S. R."'"^ maisdetres veses primeiro que me ouvisse, e Ò achei contando a appariçãó de Sancho a seu x4rao, que traz o Padre CauSi^ no na sua Corte Santa; cuja historia ouvião com grande attenção o Duque de Lafões, o Marquez de Valença, Fernão Martins Freire, e outros. Res- pondeu-me: Que Deus no« tinha con- servado em paz, e que V. Ex."" que- ria metter-nos em arejngas; o que era tentar a Deus. físna \ ^ilí! i m — 44 — « Finalmente, fallei a El-Rei. (Se- ja pelo amor de Deus) Estava pergun- tando ao Prior da Freguezia , — o quanto rendiâo as esmolas das Almas, e pelas Missas , que se disião por el- las! Disse-me: Que a proposição de V. Ex.* era muito própria das máxi- mas Francesas, com as quaes V. Ex.* se tinha connaturalisado; e que nâo pròseguisse mais. >y Se V. Ex.* cahisse na materialidade (de que está muito livre ) de querer instituir algumas Irmandades, e me mandasse fallar nellas , havíamos de conseguir o empenho , e ainda mere- cer-lhes alguns prémios. A Pessoa de V. Ex.'' Guarde Deus como desejo , para defensa , e credito de Portugal. Lisboa a 2 de Fevereiro de 1747. Alexandre de Gusmão. 45 — ■4^£4a?s«o- CARTA Que D. Pedro de Lencastre, Conde de Filia Nova, Commendador Mór da Or- dem Militar d^Aviz escreveu ao Jutor a respeito da soltura d'um Capitão, cu- jos papeis paravâo em seu poder , se- (jundo disia Fr. Gaspar de Moscoso. Hontem me disse o Padre Frei Gas- par que os Papeis de Lourenço de Sousa Pereira, por que eu procurava, paravâo em poder de V. S.* ha mais d'um anno;ecomo sou empenhado na liberdade deste Gapitâo, e V. S/ me trata com tanto favor; espero que se sirva expedi-los , fasendo todo o pos- sivel para que seja deferido na forma, que pretende. E para servir, e dar gosto a V. S.*", fico muito prompto. Deus guarde a V. S.* Muito affectivo Venerador de V. S.* Conde Commendador Mór. De Cas;« em 20 de Janeiro d© 1745. I li ^ m -^ RESPOSTA. Jil.í^o e Ex.mo S-o»" Eu nunca tive em meu poder pa- peis cralgum Pretendente mais d^iim n]ez, exceptuando aqoeiles, por quem me interessei , por me haver encarre- gado das suas dependências ; os quaes nunca se queixarão, porque não ti- nhão motivos para poderem arguir-rae. E iembraiido-me de que S. R.™"" tinha dado ao Secretario d' Estado Marco António os Papeis, em que V. Ex."" pie falia, os fui procurar logo que re- cebi a Caria de V. Ex."" ; e fallei a Ei-Rei, que foi servido mandar expe- dir o Decreto na forma da Informação do Corregedor do Crime da Corte e Casa, que baixa ao Desembargo do Paço, aonde V. Ex/Vse sirva mandar procura-lo. Consía-me que S. R.™"" me arguira d'esquecido , para moslrar-se officioso em servir a V. E."" ; e com eíFeito nos deu provas , de que o seu habito do Varalojo lhe tem infundido um espiri- âi _ 47 — to (l'huTiiiklade , porque se esqueceu depressa dos eslimulos da sua Nobre- sa; mas a Carta, que se segue tudo isso desvanecerá. ;j RemeUo a V. S.* as Consultas, í? em que falíamos , e espero me di^^a ?? o que se ha de faser , porque El^. ?? Rei, e eu desejamos servir aos Pa- ?? dres , nâo havendo prejuiso de ter- íj ceiro;que me parece não ha. Tam- ^? bem quisera me fallasse a Marco í? António sobre os papeis d'um Lou- yy renço de lai, que se acha preso na ^y Alemtejo á Ordem, d'El-Rei ; pois ;? m'impokuna muito por elles o Con- ?? de de Villa Nova. E adeus até á ?j vista. Casa Real de S. Vicente em .5 22 de Abril de 1744. — Fr. Gas- í) par. ^' Esta era a noticia , que eu tinha dos Papeis do tal Lourenço^ e como me parece , que haverá mais Louren- ços em Casa do Secretario Marco An- tónio, aonde se guardão indistincia- me-nte todos os Papeis dos Lourenços despachados, e por despaehpr ; esta foi a rasao porque nâo procurei por eiies 5 do que me não fica escrúpulo. \ -f 48 — Fico ás Ordens de V. Ex.*, que Deus Guarde como desejo. Beija as Mãos de V. Ex.* Como affectuoso Criado Alexandre de Gusmão, De Casa em 25 de Janeiro de 1745. CARTA Escrita de Roma a um Cardeal de Por- tugal, que tinha partido daquella Ow- ria para o Reino ; á cerca diurna sol- licitação^ de que o havia deixado in* cumhido , cujo andamento não corres^ pondia ao que se desejava, apesar das suas diligencias , e boas rasôes. Deve reputar-se de toda a exactidão por ser Copia fiel do original^ que um contem- porâneo do Autor teve por algum tem- po em, seu poder. Emin."^« S-o»" Meu Senhor. Até agora não me pa- receu importunar a V. Emin.* com •^^w 49 --. carias minhas, por nao haver novida- de no Negocio , que me ticou recom- mendado ; conteníando-me com saber, por via dos Sj^s Embaxador, e Envia- do , as noticias do bom successo da viagem de V. Emin.% qoe desejo seja breve , e felicissima para descanço de V. Emin.\, e satisfação de todos os que nos professamos seus Criados. Ultimamente recebi os avisos de Lisboa sobre a pretenção dos Benefi- ciados, em que se me ordenava fisesse de novo queixas dá parte de V. Emin.* das limiíaçôes, que o Papa poz á sua petição; e que instasse para estender sequer o privilegio do Vestido Prelati- cio a toda a parte extra Curiam , ou ao menos ao Reino ; mas que não que- rendo conceder-se nem isto, fisesse eu expedir a Bulia com a graça, da sor- te que se tinha acordado a V. Emin/"" quando de cá partio. Fallei pois a Mag.'' Tedeschi, evin- do-me por este má resposta, fiz a mes- ma diligencia por Ferrante; e ain- da que cheguei a ponderar-lhe , que vista a situação dos Negócios com a nossa Corte , toda a boa politica re- D 1 m — 50 — quçria, que sç não deixasse ir flescp;^- tente u in Minis iro t ao i iii porta n ( e, c q- ino V. En)in.^,([ue merecendo y. Emin.* tantp §o Papa, e não lhe havendo pe- ^jdo niais que esta graç^; justamente esperava lha não negasse; e finalmeií- te , que V. Eaiin.^ estava mui adian- tado na sua viagem , e tinlia empenho não entrar na Ratriarchal, sem levaç- Jhe algum privilegio notável; masque tendo o Papa limitado tanto este, não^ podia V. Emin.': lançar mão delle. Não tive eu Q t-alento de faser valer rasões |âo effiçases , e não pude evitar uma negativa formal ; nem depois delia ti rar de Ferrante a esperança, que me?, quisesse dar de que o Papa, por hora mudasse nem uma lettra ao registo cia- resolução, que se tomou com V. Emin.* Só me disia : que esperássemos que, V. Çmin.* chegasse a Lisboa, e que, de lá escrevesse ao Papa, que talvez, com isso conseguiria alguma amplia- ção. Repliquei-lhe : que sendo a ra- são , porque V. Emin.* me ordenava, d'instar tanto , o empenho que tinha d/entrar em Lisboa com a graça ; co- líio b.ayUmos d'esperar; que V. Emii)T* .!'!';i!' «Mi ]^ cliegasse p;ara eg.çifever sobre ells^i^ Nada bastou para quç mç desse me- lhores esperanças; até que me, vi obri- gado a disçr-lhe: que me admirava, quç aem para. as Dioceses de Portu- gal, o Papa quizesse dar a V. Emip.* esta satisfação ; sendo que a resjpeit(>, deiiás, não só não fasia finesa, ou rio- yidade alguma em conceder o privile- gio, aos Beneficiados ,, mas ante§ seri^ yma espécie d'absurd0 , que 9 priyi,-^ ][egio tivesse lugar na Diocese mais^ çonspicua do Reino abaixo da Patria^i:- chal , e não nas outras de menos gra- duação. Assim , que estávamos no ca- so unicameo^te - de querer S. Santida- de, ou não. querer faser este favo^r; pois que inconveniente nem o Ha vi £^ nem p podia imaginar. Todas estas^ instancias forão tempo perdido , por-- ^ue a tudo respondia com dizer : qu^ os Beneficiados tinhâo o que podiaçi desejar,- que era traserem o habito Prelaticio na sua Diocese , para mais decentemente servir a Patriarchal. Assim 5 que para satisfaser á ordem da Corte , faço conta fferecidos contra a Sentença, quejul- %a a Casa a V, Ex.% não convém em cou^a alguma á minha notável propor ^íçlo ; porque são de meras M^rcêè feitas pelos nossos Reis a diversos Fi- dalgos Estrangeiros èln beneficio da caus^ publica, ou ao menos com a sua capa; pois não consta que se dessem lÉíssaTs Villas , Lugares, Àlcaidariàs Mo- %éô,&c.j por Decisões do Senado ; de ^iíe eu peço um só exemplo , pôr sa- bei* que o não bà. ^O caso de D. Maria de Lara , Con- dessa d'Alençon em Frariça, que elles ^di«em genuiuo, é terminante ; não hè k^ ^fc^íí^rK _ 55 ^ Ae Decisiío do Seriado , úiá^ d'iimá de- cisão Cambraria, em qiie sé respon- deu a seu Embaxador : -= Que não_^ha- ieria duvida emdar-se a Senhora Con- dessa os Senhorios de Lara, e Bis^ cava; bom tanto que ella viesse para Castella, e seus filhos, e mais famí- lia, eslabelecer-se , e tributar a devi- da Vassallagem. = Esta resposta toi toda politica ; poretn sábia o Rei Hen^^ tique 2." que a Condessa não havia abandonar a França, aonde possuía a tica Casa d' Alençon , para vir estabe- lecer-se em Castella, aíim de possuir uma Casa mais pobre ; e com eileito jiâo aceitou a Decisão ; mas ainda que ella a aceitasse, nunca serviria este òãsò parádesfaser a minha proposição, f)or não ser Decisão de Senado. _ Quanto a diserem os Senhores Ad-. vop-ados , e com elles o Senhor Seabra : h Que as Leis das Cortes de Lamego n não favorecem a justiça de V. Ex,\i ,^ pois faliam só dá Súccessão da Cô^^ h fôa; è que alem disso $e duvida da ii sua existência ?? = he na verdade digno de compaixão, e eu delles tan- to te còmpadeGO^ que rogo â Y. JEx V Ig j i ■iHl^ ! í ^V <'| 11 : L ■ li: 1 ■li 1 1 i li i ■^1 .>;:;;: l^S i |- i 'mi — 56 -^ se persuada do contrario; porque se for preciso o uso da dita Lei em al- gum acontecimento futuro, e V. Ex.* for Conselheiro d'Estado, será bem que a náo desconheça; e por caridade sincera do próximo sirva-se V, Ex.* diser-lhes : ::= que devem todos saber em como nâo podern duvidar d'uma Lei reconhecida pelo Principe ; e que a das Cortes de Lameg-o o foi duas vezes pelo Principe em os Três Esta- dos do Reino : = uma vez para se ca- sar a Senhora D. Isabel como Princesa Herdeira do Senhor Rei D. Pedro 2.\ com o Duque de Saboya, que depois foi Rei de Sardenha: — e outra para ser jurado Principe Herdeiro o Senhor D. João, que foi Rei 5/ do Nome; que com a mesma Lei se defendeu, e «ustentou a Casa de Bragança na Co- roa destes Reinos. Também he sem duvida, que favo- rece a dita Lei a justiça de V. Ex." , depois de diserem os amigos Bartholo, e Baldo, que a Lei comprehende igual- mente as suas partes; e como as Leis das Cortes de Lamego comprehendem certamente o todo , que he o Morga- ^?*i — 57 — do (lo Reino : E a Casa , e Estarlo de Aveiro, he innegavel , coinprehende qiiatorze Villas, com muitos Lugares, Caslellos, Portos de Mar, Alcaidarias Mores, Direitos Reaes &:c. , que são partes daquelle todo. E senão, sirva-se V. Ex.* diser ao S.o^ Seabra^ (a quem mais liga a obri- gação de o saber) que julgue S. S.* hoje a Casa d'Aveiro a esse Fidalgo Castelhano; a de Cadaval amanhã a outro ; a de Távora a outro ; a outro a de Marialva; a outro a d'Abrantes ; a outro a de Cascaes; a outro a de Villa-Nova; a outro a d'Almeirante &c. ; que sejão Estrangeiros , como po- de acontecer em casos como este ; e levem para seus Dominios muito mais de sessenta Villas com seus Castellos, Jurisdições, Portos de Mar , &c. ; e pergunte V. Ex.* ao S.or Seabra: = qnehe feito daquelle todo ? Se subsis- te como d'antes era? E se poderáõ reivindicar-se aquellas partes suas por execução da dita Lei ? E pelo que respeita finalmente á Lei dos Foros, Privilégios, è Costumes do Reino de 18 de Janeiro de 1449, W i "4 1 li ' .ijl ; % : 1 ' — 58 — 'íj\ié disein >.ss'és S.^^^^ Juristáfe ^ é côni élJes o S.^^ Seabra, não teriem noticia deila, e qne quando existisse , cessará com se nao ajuntarem , e unirem esteà Reinos ao de Castella. para cujo caso fora feita; e que ainda assim lhe obs- tava (como lambem ás das Cortes de Lamego) nâo se achar incorporada naé Ordenações do Reino, em ciijo Pro- logo se mandou: = Que se não jul- gasse por outras Leis, fora das que ali sé achassem incorporadas. Respon- do:-^ que li muitas veses esse Prolo- go, e que sem embargo do conteúdo íielle 5 sustentarei, que subsiste essa Lei como independente dessa Collec- l^ão ; e que os Réiâ a jurão ainda hoje iià Acclámaçâo ; è que a Casa d'Avèi- ro está sujeita á ellá como Casa ddl Estado, segundo a sua Instituição. He o que pòsâo diser a V. Ex.""; fi- cando prompto para sustentar tudo ò que tenho proposto , com tanto qué tíe mim se não faça máo juiso. E soíi com o maior aílecto , e respeito Dé V. Ex^ Attento Servo e Veneraddí Alexandra dé Gusmão, -^^ J^J^-éÊk- mmm lãdih ^ 5f> — vi Fr. Gaspar da Incarnação Mmcriso% ynaqual éxpondo-ihe as dífficiílândeis pk- ra coUvfjir , e orijanisar m jiòssas LtiÈ €m um' Código,' como elle Fr. Gaspar intentava, lhe dá também o seu parevet quanto aohielhor modo de leva-lo a^ feito. I«0 Eu já tive ahònrà âè disèr á V, ft.^^ ■o que me parecia justo a respeilo dá Empresa, que V. R.*^^ inleUlâvâ j é sè não me achasse molesto, iria pèsádál- iriente diser-lhé , que não Se persuá- tlisse do que lhe disem iríadvertidànieli- te esses Doutores: porcjue não pèsâè "a ihiportancia, e gravidade dámatéHá. Senhor: A Collecção das OrdéM- 'ções do Reino, que dfevé faser oCor- j)o do Direito da Nà(;ão Portugufesít^ 'iiãò he Obra , que se possa faéer coió tanta sem ceremonia^ e facilidade éô- Tho ellês ineauiamenífâ imàginâò. ié W — 60 — ííi^ V. R."*» tem empenho em querer em- prehende-Ja , (o que será muito bas- tante) sirva-se faser convocar os Des- embargadores João Alvares da Costa, e Ig-nacio da Costa Quintella , e os Doutores José Pereira Barreto, José Gomes da Cruz , e João Thomaz de Negreiros , ou F^rancisco Xavier Tei- xeira de Mendonça, com os quaes fa- rá algumas conferencias antes de prin- cipiar a Obra , encarregando-lhes que forme cada um a sua idêa sobre a or- ganisação das nossas Leis ; e eu for- marei também a minha: = as quaes Iodas juntas , vistas , e examinadas pe- los ditos Juristas na presença de V. R.™^5 ouvida a rasão de cada um del- Jes a respeito do seu plano , e metho- do com que pretende arruma-las; se poderá V. R.ma resolver ao que for mais acertado, que será sempre o em que convier em os mais votos destes Ho- mens. Isto he o que me parece. E não es- pere V. R.ma^ que eu m'exponha a acompanhar ao bom homem Ignacio da Silva, se elle cahir na fatuidade de proseguir no que tinha intentado: por- — 61 — (]ue eii o conheço a elle , e sei que iirnoru a matéria, que sem forças, nem conhecimentos pretende tratar. Também não promettem cousa de ponderação os auxilies dos Desembar- gadores Manoel d'Almeida de Carva- lho , e Fr. Sebastião Pereira de Cas- tro, nem dos Doutores Viegas e Bri- to. He o que posso diser a V. R.^^, ficando sempre á sua obediência como O mais aflectuoso Criado Jlexandre de Gusrúâo. De Casa 10 de Outubro de 1743. CARTA Ao Ahhade Diogo Barbosa Machado , Autor da Bihliotheca Lusitana , que o havia procurado em sua casa , depois de lhe ter escrito sobre certos quesitos ; na qual lhe agradece por se lembrar do seu nome para um Catalogo dos Auto- res Portugueses j e lhe responde quanto — G% ácompoáção êas suas obras, de que a rejerido Abbade entre as mais cousm lhe pedia nofycia. Sipto que V. M.c^ tomasse o incom- inodo de fc^uscar-iBe, eqiie o não achar- me em casa, me roubasse o gosto cia sua estimável conversação; da qua^ prpGyrarei aproveitar-me sem ii^ole§tia alíTuma. • ' " '' B/|uito tenho.que agradecer a V. M.^^ occorrer-Ihe o men nome ao formar um Catalogo dos Portugueses Erudi- tos; seado tanto maior o"agradeci men- to, quanto menos rasâo havia para qiíe eu devesse lembrar-ihe. E supposto que não desconheça , ou deixe (Í'apre- ciar a honra que V. iVJ,ce me faz : he justo também que raq não indusa o amor próprio a abusar delia. Alguns Amigos me fasem a mercê d'espa]harem no publico um conceito vantajosq dos meus estudos; porem, cpmo eçtes, em quanto se não dão a conhecer pelas obras, áe\)enáem do mui pia fé para se acreditarem, não devo attribujr o estabelecimento da- — 6íJ — . quella' fa^ia , se nao: lí benevolejiçia^ c\os que rae favoreceu) , pois até ao^ presente não tenho mostrado Compo- siçHQ . pof i pnçle pptlesse adquiri-la; a fasendo contas com o meu talento, te-, nho por mais provável , que a perde- ria de todo , se saliisse á luz com aj- gum volume. Supposta esta verdade, que sou obri- gado a confessar, ainda que me causa confusão discorro: = que também V. M.^*^ se tem deixado enganar com a- quella não merecida opinião; e que seria estranhado á exacção , e boa cri- tica de V. M.^^S contar na Biblinlkeca^ Lusitana entre os Autores um indivj,-, duo, que o não he. Assim como nap^^ tenho que responder ao interrogatoripv^' principal das Obras, que compuz, julgD^ supérfluo dar satisfação aos mais que- sitos, que contem a Carta de V.M.^^ No seu Livro terei que invejar aos Heróes, que pelos seus trabalhos se íiserâo merecedores dos Elogios de tão discreto, e intelligento Juiz; e sem- pre conservarei uma viva lembrança, do lugar , que a bondade de V. My^^ ijie qupria dar nelle : = que será um^ — 64 — novo motivo para desejar repetidas oc- casiôes, em que possa, servindo a V. M.ce, mostrar o meu reconhecimento. — Deus Guarde a V. M.^^ muitos ân- uos. Alexandre de Gusmâa, De Casa em 2 de Maio de 1740. i lil CARTA ^ D. Luiz da Cunha ; na qual lhe dá conta da aceitação , que merecerão , e do modo comoforão ponderadas as suas proposições , e as do Marquez d^Alor- na, concluindo com muita facécia por lhe dar varias novidades da Corte para satisjaser ao que lhe pedia. Nem a proposição do Marquez d' Alorria, nem a de V. Ex.* merecerão a menor aceitação aos nossos Minis- tros d'Estado. A primeira foi tratada — ()5 — na Presença d'El-Rei com o Cardeal, oPrior de S. Nicoláo, Monsenhor Mo- reira, e dous Jesuitas, .a quem já se tinha communicado. Antes que ne- nhum delles fallasse, a resolveu El- Rei com maior facilidade, do que uma jornada das Caldas ; porem , não obs- tante aqueila resolução, sempre vota- rão = que era dictada pelo espirito da boberba, e da ambição = com que foi bem salgada. A segunda mereceu a convocação d'uma Junta, mas foi para maior cas- tigo. Ahi se acharão os três Cardeaes, os dous Secretários, S. R.™^, e eu ; e muita gente não sei como. Desenca- dernarão-se as Negociações , e se ba- ralharão com a superstição, e a igno- rância ; fechando-se a Decisão com. o ridículo Adagio: = Guerra com todo o Mundo , e Paz com Inglaterra i= cuja santa Alliança nos era muitocon- veniente: E finalmente = que V. Ex.* não era muito certo na Rel;gião, pois se mostrava muito Francez. = Acabado isto , se fallou nq socorro da índia, que consta de duas Náos, e três Navio;» de transporte. O Mola E 1 66 S 'til mi •vl'lt disse a El-Rei = Esta Esquadra hade atemorisar a índia = E S. R.™» disse = Hade faser bulha na Europa = O Reitor de S. Antão = Tomara já Jêr os progressos , escritos pelos nossos Padres =He o que se passou na Jun- ta: E escusa V Ex.* de niolestar-se em propor Negociações á nossa Cor- te, porque perderá o tempo, que em- pregar nellas. Como V. Ex.* me pede novidades > ahi vão finalmente. Devemos aoEmin.""" S.***" Cunha o alliviar-nos de raios, tem- pestades , trovões 5 &c. , que desterrou das Folhinhas do Anno com pena de lhes negar as licenças. — Devemos a S. R.n^a Q liaver proposto a El-Rei : — que conseguisse do Papa o livrar-nos d'espiritos malignos, e de feitiços, que causavão neste Reino tanto damno ; e não ouvia que os sentissem outras Na- ções. — • Os Padres tristes derão con- ta a El-Rei da confissão prodigiosa de uma Feiticeira , que cahio em seu po- der. E creio que será este Negocio o maior d'Estado deste Governo. — An- tónio de Saldanha (o Mar e Guerra) descompoz ao Cardçal da Mota ; e na ;iilir -- 67 — pessoa deste a nosso Amo. — O Des- embargador Francisco Galvão da Fon- ceca disse a Pedro da Mota= que os diabos o levassem. ^== O Conde de V^il- Ía-Nova disse aos Criados d^um, e ou* tro Ministro em presença de muita gente : = que fossem ambos beber da merda. = O Encerrabodes não saben- do a quem havia pedir a sua Carta Credencial 5 pelo jogo d'impurra, em que se vio ; disse : =^ que o nosso go- verno era Hermaphrodito. Isto nao são contos Arábigos , mas factos certos, acontecidos dentro da Europa culta. Nâo tenho mais tempo< Fico para servir a V. Ex.% que Deus Guarde. Alexandre de Gusmão. Lisboa a 11 de Fevereiro de 1748. 6Ô — CARTA A António Freire (V Andrade Encer- rohodes , Deseínbarrjador , Enviado de Portugal na Carte d' Inglaterra ; na gual o felicita pela sua chegada a Lon- dres , gosando agora de rnuitas delicias sem o molestarem, seus inimigos; noti- cia4he alem disso certo acontecimento. •pi ??ii|i ii|'l ,:.! Meu Amigo e S.^'" — Estimo as no- ticias de V. S.% e lhe dou o parabém de ter chegado felismente a essa Cor- te, aonde se acha livre de Aniiiiaes, que o molestavão , e gosa da liberda- de, que Deus conferio ao homem, sem offender os preceitos da sua Lei. Os ingleses ignorantes aborrecem aos Catholicos , sem saberem o por-r que; mas os bem instruidos, e civis sao excellentes para a sociedade sem offederera a nossa crença. Logrão-se em Inglaterra muitas outras delicias, que aqui sao igiíoradas*; e como V. vS.* riâo vai a negociar cousa alguma, pó- ^feíífX, — 69 — de levar boa vida , sem ofíensa do seu caracter, que só correria risco que- rendo encher as obrigações do seu Mi- nistério : mas como aqui não querem isso , está V. S."" desobrigado. Nâo s'esqueça V. S.' dos Amigos, que deixou lutando com as ondas do Mar da Superstição, e da Ignorância; e agradeça aos seus Inimigos o mimo de que actualmente gosa. Eu também havia de descompor os meus, se ti- vesse a certesa de lhes merecer seme- lhante desterro ; mas lembra-me a quei- xa de Camões a respeito do descon- certo do mundo , e por isso me em- penho em esquecer-lhes; no que serei afortunado se o puder conseguir. Não ha mais novidades , que arder o Palácio do Lavra , e ainda que El- Rei já não arde, sempre suavisou a magoa com o pesa-me , e com varias madeiras, e outros offerecimentos. — Fico para dar gosto a V. S.% que Deus guarde. Alexandre de Gusmão^ Lisboa a 16 de Fevereiro de 1750. CARTA Ao Doutor Francisco Galvão da Fon^ ceca; na qual o aconselha sobre uma preterição sua , que não poderia ter por ora favorável despacho a pesar das ins-^ tancias do Autor, S.«r Y>ox Francisco Galvâío da Fon- ceca. — Domingo passado fallei a S, Ex.* , que me deu poucas esperanças do Despacho. Sexía-feira tive igual pratica com S. R."-% e nâo fui mais bem succedido : parece-me que vâa d'acordo a respeito de V. M.^e Hoje tive occasiâo de Jenibrar este Negocio ao Pai , que na verdade achei mais humano; o qual depois de me diser misteriosamente diversas cousas, que lhes tinha ouvido, me prometteu con- ferir-lhe a velha mercê d'Estravagan- te; e isto com expressões tão fortes, que não me ficou lugar para fasermais instancias, nem tornar a expor, nem fallar em semelhante matéria. Sou de ^>ái< -- 71 -a, sei^.do continuo o desassocego, que este negocio causava á Corte, sem que — 95 — podesse achar meio effieaz para impe- dir as fraudes. ^ Agora porem que pelo Cap. 6. da Lei se reduz toda a pena deste con- trabando a perder o ouro desencami- nhado, e outro tanto mais; agora que se acháo as Minas Geraes , e todas as outras do Brasil peneiradas de cami- nhos por toda a parte, de sorte que cora muitos mil homens se não pode- rão guardar, e quando houvessem sol- dado^s necessários para formar este cor- dão , elles mesmos seriào os maiores passadores do ouro , como a experiên- cia mostrou pelo passado; agora que em lugar das devassas abertas, e das efficacissimas recommendações aos Go- vernadores , e Ministros, se prohibo proceder contra os denunciados seni haver effectiva apprehensão dos des- caminhos, redusindo-se a cautela das fraudes ás barras, e guias, ^ encarre- gando a indagação dosextravix)S a dous Officiaes somente em cada Cabeça de Comarca, (que ás veses dista mais de cem léguas da lavra da sua dependên- cia) isto he =^ a um Intendente, e a ura Fiscal eleito pelo povo como os i — 96 — Almotaceis para durar ires meses so- mente; agora em fim que todos ficao na intelligencia de que S. Magestade se contenta com cem arrobas, e que a respeito deslas pouco importa que haja descaminhos, vjsto que sempre se hão de cobrar pela derrama ; — co- mo pode esperar-se que os que costu- mão transportar o ouro das Minas o levem «-is Casas da Fundição? Haven- do tantos caminlios para extrahi-Io ; que imporia que haja Guardas, e se faça a troca nos caminhos principaes? Como se pode esperar queFiscaes pai- sanos inquietem outros paisanos seus "visinhos, e amigos, que quiserem frau- dar o Quiolo, ou que em três meses, que lhe ha-de durar o emprego, pos- ição adquirir noticia, e pratica neces* saria j)ara descubrir os extravios, que se fiserem no seu vasto districto? Não é mais natural suppor que o Fiscal de um trimestre deixe quietos os trans- l^ressores , ainda que os conheça, pa- ra que taínbem estes quando vierem a ser eleitos o não desinquietem ? Como nos lisongearemos de que le- vem o ouro á Fundição os c^^ue o extra- — 97 — hein cias Minas do Governo de Santos, nem os de Goyaz , Cuyaba e Mato^ Grosso 5 podendo os primeiros trans- porta-lo ao Dominio dos Hespanhoes da Provincia de Buenos-Ayres , e os segundos ás Frovincias do Paraguay, Charcas , e de Maines , e ahi troca-lo por prata , ganhando na diíferença do valor, e depois traser a esta prata li-^ vremente para os portos do Brasil dan- do a entender que ahouverilo por con- trabando de fasendas , e passa-la para o Reino sem o encargo do um por cen* to, nem obrigação de o levar á moe- da ? Isto he o que continuamente se praticava na Colónia até o anno de 1735; e se assim succedia em tempo de Ião rigorosos exames, como deixa- rá de praticar-se agora á vista da la- xidão em que as cousas ficâo por esta Lei, tendo-se já descuberto a commu- nicação para outras tantas terras, em que se pode faser o troco còm os Hes- panhoes ? .Quando fossem bastantes para des- cubrir os descaminhos do ouro , que vier fraudado aos portos do Rio, e Ba- hia, os dous Intendentes G^raes, que K — 98 — ' se mandão pòr rielles ; — quem lie qne os ha-fie ciesciihrir no porto de Per- nambuco, d'onde ha occasiâo frequen- lissima ])ara passar o ouro á costa da Mina? Não ficão igualmente sem o- jlieiros outros tantos portos do Brasil, e Maranhão d'oode o ouro se pode trans- portar aos Dominios Estrangeiros con- íinantes , ou ás ilhas , ou a Cabo-Ver- de, ou a outros paradeiros? Em tanta frequência pois, e em tan- ta facilidade, que introduz esta Lei, não he um engano manifesto imaginar que se ha-de levar muito ouro á Casa da Fundição? He esperável que haja quem voluntariamente vá privar-se das quintas partes do seu cabedal, poden- do salva-lo com pouco risco, e traba- lho? Cíuido qt;e só poderá entende-lo assim quem não he dono do ouro; ao menos se havemos de dar mais credi- to á experiência, do que ás especula- ções, o que succedia no tempo dos antigos rigores, nos mostrou claramen- te o que deve esperar-se na presente liberdade. Chegou o Governador D. Lourenço d' Almeida a reduzir o Quinto a dose 1 ii X mmm ^ 99 — em lugar de vinte por cento, e sem embargo de tolerar El-Rei . que Deus haja, esta diminuição para ver se assim eia menor a fraude , por fim veio a desenganar-se de que sempre se furta- va da mesma forma, e que perdia oi^ to por cento de balde. Supposto pois como indubitável que o ouro se hade desencaminhar todo , devemos faser duas considerações: 1."^ da perda , que resultará a Fasenda Real, e ao Reino: 2.'' dos inconve- nientes da derrama, e das injustiças, qne nella se envolvem. Quanto á pri- meira não sentirá somente a Pasenda Real a perda , em que agora condes- cendeo S* Magestade > a qual nas Mi- nas Geraes importa a diíferença , que vai de cem arrobas a cento e cincoen- la, e mais, que costuma produsir a Capitação, e o Censo; mas nas outras Minas, que juntas rendião também con • ideravelraente , será a perda total como abaixo mostrarei ; perderá alem disto o um por cento de todo o ouro extraviado, e a braçagem , e a senho- reagem da moeda, que com elle se havia de faser nas três Casas de Lis- — 100 — boa, Bahia, e Rio, jaclura que bem m pode orçar em luais d'uin milhão. — Perderá também uma boa porção lios direitos , que se hão de fraudar com o contrabando das Fasendas , a que ha de dar occasião o descaminho do ouro para a Cosia da Mina. INos di^ reitos do commercio , que se ha de embaraçar, ou sufibcar com o extravio dos cabedaes, perderá outra quantia, que também se pode reputar conside- rável. O Reino perderá a conveniência de lodo o ouro, que deixar d'entrar nel- le , e até os mesmos Vassalíos, que o levarem á Costa da Mina, hão de per- der na diíTerença do preço ; porque os Hollandeses, que ali o comprão não hão de querer dar porelle mais do que costumão dar pelo que lhe vendem os Negros d'Africa, que he por preço me- nor , que o que corre nos paises mais civilisados , e os nossos descaminhado- res não terão mais remédio que ac- commodarein-se com elle ; porque sem- pre íaráô o ganho d'uma quinta parte do Quinto fraudado, e porque lhe não convirá tornarem a levar o ouro para — 101 o Brasil. Assim contribui remos nós mesmos a dar ijovas forças, com ^]iie resuscite a Companhia o(^cir]pntal dq» HoJlanda, que tanto nos hosíjlisa. Diminuir-se-ha a extracção do Ta- baco de secca para a mesma Costa, e ficará sem consumo; porque nao que- rerão embaraçar-se coiíi este género os Negociantes, j;odendo levar ouro, com que podem mais expeditamente faser o seu commercio. Do retorno deste ouro levado á, Costa da Mina, como não pode ser todo em escravos, necessariamente se ha de sacar o res- to por um de dous modos; ou em fa- sendas 5 que se vão introdusindo no Brasil por contrabando com prejurso d'Ei-Rei , e dos Negociantes do Rei- no, ou em Leltras sobre Hollanda, em que os donos do dinheiro perderão tam- bém nos câmbios, e commissôes antes que o valor lhes torne ámão: os Com- merciantes deste Reino experimenta- rão uma total falta de remessas, por^ que os seus correspondentes do Brasil hão de desviar o ouro delles com a es- parança de levarem o Quinto: estrei- tar-se-hão os meios para carregar as k^^ — 102 -^ Frotas , e por conseguinte baixarão os Contratos, principalmente os da Disi- ma , e das Entradas, Tudo o que represento nao parece- rá exag-eraçâo a quem reflectir bem, que o methodo do Quinto he uma es- pécie , e uma cadeia, em que todas estas consequências vâocomo fusís pu- xando umas pelas outras; e quem qui- ser a prova certa, e infallivel deste discurso não tem mai« do que infor- Hiar-se da quantia do ouro, que nestes iiltimos annos vem ao um por cento, e conferi-la com o que vinha nos an- tecedentes, e á differença, que achar, acrecente a diminuição, que necessa- riamente ha de produsir a liberdade de fraudar introdusida por esta Lei , em lugar dos grandes rigores, que naquel- les com mum mente se praticavão. A segunda consideração, que nasce do extravio do ouro, he a dos incon- venientes da derrama, que por causa delle se ha de faser indispensável : dei- xo as desigualdades inevitáveis, que traz comsigo esta contribuição, e con- tra as quaes he de bem pouca eíUca- cia aprovidenciaj que acrecenta a Lei, mmmm \; — 103 — de que assistão na Camará ao reparti- mento o Interidenle , o Ouvidor, e o Fiscal. Em outravS occasiôes , em que os Quintos se cobravão por derrama, não deixavão de faser-se as repartições com inspecção dos Governadores e Minis- tros; e sem embargo erão as injusti- ças, e as desigualdades sem numero, e por isso se reprovou sempre este meio. Também não insistirei muito na in- justiça d'um cabeção, em que o ex- cesso se o houver ceda em proveitado Erário Real , mas havendo falta ha dê supri-la o povo contra a regra = se- cundum naturam est commudum cujus- cunique sequi , quem sequentur incom- moda==; vejo que esta injustiça se procurou desculpar disendo na Lei , — • que o povo assim o quiz, e offereceo ; mas bem se sabe que se tem por nul- los os oíierecimentos coactos , e como tal se deve reputar aquelle , pois nin- guém ignora que os deputados do po- vo o íiserão por livrar-se das devassas, e d'outros rigores , que então se pra- íicavâo; nem poderá deixar de reco- ^ w : 1 ^ 104 — . nhecer-se por valida esta rasão , visto que com ella se argiiio de violento o jTiethodo da Capitaçiío , sem embargo de o terem aceitado os Deputados do povo das MixHas, e de se terem posto luminárias pelo estabelecimento delle. Muito menos pôde salvar a referida in- justiça o temperamento com que ella vai copiada na Lei de deixar no pri- meiro anno nos cofres das Comarcas o ouro, que se suppoem ha- de sobejar, para com elle evitar, ou minorar a derrama no anno seguinte. Sobre este temperamento direi so- mente de passagem, que ou aquelle ouro deve pertencer a El-Rei , ou ao Povo; se pertence a El-Rei, porque motivo não ha de S. Magestade usar delle desde o primeiro anno ? He ra- são , ou he boa politica mostrar S. Ma-^ gestade que põem o seu próprio di- nheiro em deposito para suprir os rou- bos, que espera lhe facão ? Tanto mais será no Povo o incentivo para os des- caminhos, vendo que já fica posto em reserva com que se pague a falta, que delles resultar. Pela outra parte se o dito sobejo he — 105 — do Povo. — com que justiça lho ha de tirar S. Mageslade no spguinte armo, em que não for necessário para suprir os roubos? Deixará por ventura de ser mal levado por lhe ler o Povo per^ dido as esperanças vendo-o mettido nos Cofres Reaes, ou pode o curso dotem- qo faser juslo aciulllo , que de sua na- turesa he iniquo. Estas são as injustiças, que á pri- meira vista occorrem na derrama, que a Lei determina, mas n^ão me dete- nho nestas, porque outra sem compa- ração maior se me oflerece ; para me- lhor alguém a compreher.der he neces- sário priujeiramente capacitar-se das seguintes reflexões. Debaixo de três classes se deve considerar ioda agen- te, que tira. ou ajunia ouro nas IVIi- iias: = a l.'" dos Mineiros, que o ex- trahem da terra; a 2." dos Roceiros, e dos que tem alguma industria, ou emprego, ou posto, os quaes commu- tão por ouro as producções da sua la- voura, e da sua industria, ou recebem pelos emulomentos dos seus postos, e empregos; a 3^ dos Comboieiros , que trasem ás Minas escravos , cavalgada- — 106 vender , e que in- e outros géneros ras , e gados para Irodusem fasendas para uso das pessoas incluídas nas pri meiras duas classes. — De toda esta a que transporta continuamente o ou- ro para fóra das Minas, he a que se comprehende na terceira classe ; os da segunda menos extracção fasem , porque muito menos veses se põem a caminho para os portos ; e quanto aos da primeira classe, que são os Minei- ros , occupados continuamente no seu laborioso exercicio rara vez perdem de vista as suas lavras, nem sahem das Minas, e quasi universalmente des- pendem todo o ouro, que tirão da ter- ra, em pagamentos, que fasem aos da segunda, e terceira classe; sendo bem raros os que tem a fortuna d'a- juntar, ou conservar alguma porção delle. Conforme a isto se experimenta , (e he cousa que ninguém ignora nas Mi- nas) que em quanto neilas se pagou a Ei-Rei por Quinto, não erão os Mi- neiros os que fasião o extravio do ou- ro, mas principalmente os Comboiei- roSj e Mercadores , porque á sua mão — . 107 — ia parar a maior parte clelle ; e depois destes muitas das pessoas, qae entrão na segunda classe, especialmente os Ecclesiasticos, que pela segurança de nâo serem buscados nas suas pessoais, francamente, e sem receio passavão pelos registos levando sobre si consi- deráveis quantias. Por estas premis- sas pergunto — quando a entrada do ouro nas Casas da Fundição não che- gar a cem arrobas, (como pelas rasões sobreditas succederá quasi sempre) so- bre quaes das pessoas acima descri- ptas ha de cahir a derrama? Ha de impor-se esta finta a todas as três clas- ses, ou somente á primeira? Vejo que diz a Lei no Cap. 1.°, — que cada um pague á proporção do que tiver ; mas com tudo não espero que me respon- dão, que hão de entrar na derrama todas as três classes , porque isso se- ria cahir naquelle mesmo defeito , de que principalmente se arguio o me- thodo da Capitação ; isto he , de faser pagar o Quinto , ou sobrogação do Quinto a quem não tira o ouro, não se devendo aquelle direito senão do metal, que se extrahe da terra. — 108 ~ Segue-se que a derrama ha de ca- hir toda sobre a primeira ciasse dos Miíieiros, e eis-aqui aonde se contem a niais insoportavel injustiça, que pos- sa iUiaginar-se ; porque o Mineiro não so não tem occasião de ficar devendo cousa alguma á Real Fasenda, mas ou se leve o ouro á Casa da Fundição , ou se não leve , sempre tem pa^o a El-Rei tudo quanto lhe deve : digo que não tem occasião de ficar deven- do, ])orque como os Mineiros com- muramente não são do território das Mmas estão fora do caso de poderem ser defraudadores do Quinto; porque ainda que tenhão algum ouro junto , S. Bíagestade não manda que *se pa- gue o Quinto do ouro apenas se ex- trahir da terra , nem obriga o Mineiro a levar á Fundição o ouro , que tirar; somente ordena que se não possa trans- portar o ouro para fora das Minas sem pagar o Quinto: por conseguinte pô- de um Mineiro ter guardado em casa muito ouro em pó, sem por isso faser a menor usurpação á Real Fasenda; pois he trivial em direitoy que a divi-^ da^ que se ha de pagar a tempo cer- SBI — 109 — to, (qual neste caso lie o transporte do ouro para fora das Minas) antes de che<'ar esse tempo não está madura, neni' o devedor se constltue em mora. Digo também que o Mineiro sem- pre tem pag-o a S. Magestade tudo quanto lhe deve , desde que acobran- (^•a se faz por Quinto do ouro em es- pécie ; porque com elle neste systema não dá o seu ouro em pó mais que por dose tostões ás pessoas da segun- da , e terceira classe , que he o mes- mo que trespassar a outrem o encargo de pagar o Quinto: elle pela sua par- te está exonerado do que devia , e se houver fraude não lie elle o que a com- inette , mas sim aquelle em que elle trespassou a obrigação do pagamento. Sendo pois isto innegavei , — com que rasão se ha de faser pagar pela fal- ta , que houver nas Casas da Fundi- ção , nma finta ao Mineiro, que já tem pago o Quinto? Pode haver justiça mais escandalosa do que obriga-lo a pagar novam^ente por aquelleSj que fraudão a Fasenda Real, ficando os ver- dadeiros fraudadores isentos de pagar cousa alguma? Não parece que se ve- ^ 110 — rificâo bem por esta forma os eífeitos da Real henupiidade , o paternal amot^ e o desejo defaser mercê ^ que no pre- ambulo da Lei se inculca aos Minei- ros, reconhecendo-os por dignos de distincta altenção entre os beneméri- tos do Reino. Não predirão elles cer- tamente neste metliodo o cuidado, que se lhes affirma haver posto, para es- colher o que fosse mais distante de tudo o que fosse , ou possa ser extor- são- Náo só. seria sem rasão inexcusavel impor somente aos Mineiros a contri- buiçilo, mas ainda que entrassem na derrama as outras classes , toda a vez que ella comprehende a classe dos Mi- neiros, niío se livra a determinação de ser iniqua; porque correndo o ouro nas Minas com uma diminuição do va- lor, que envolve o Quinto, tudo o que de mais se fiser pagar ao Mineiro, de cuja mão eWe saliia , he manifestamen- te mal levado. Figuremos também que em uma Co- marca se mette na Fundição ou todo, ou a maior parte do ouro , que ella produsio, e nas outras Comarcas poií- 1S! ^ 111 — CO , ou nada : v. g\ — que na Comar- ca do Sabará eiitrão nos, cofres qua- renta arrobas, e nos das outras quatro se não recebe cousa alguma : ordena a Lei no §. 1." do Cap. \.\ que se re- dusa á totalidade d' uma soma o que se achar nos cofres de todas as respe- ctivas Comarcas, para assim se con- cluir se ha excesso , ou diminuição na conta das cem arrobas , e no §. 3.' or- dena que havendo diminuição se nao faça a derrama pelas respectivas Co- marcas separadamente : daqui se colli- ge que a diminuição se hade prefaser por todas as Comarcas igualmente; — e qual será a justiça no caso figurado de faser pagar uma Comarca, que ja pagou , por igual com as que não pa- garão ? . As referidas, e outras que omitto por brevidade, são as desigualdades, que contem o methodo abraçado nes- ta Lei , muito mais atroses certamen- te que as que se imputavão ao syste- ma, que por elle se aboíio;' porque se no methodo da Caj>itação se fasia pa- gar a subrogação do Quinto ás duas classes de pessoas, que não minera- .Èi; Ni -1 vâo , dava-se para isso a rasâío de que as pessoas das duas classes eriío as que com suas fraudes fasiâo necessária a nujdança na forma da cobrança, e ain- da se dava outra rasao mais forle , — '■ e era que havendo de valer-lhes na nova arrecadação a quinze tostões em lugar de dose por oitava todo o ouro, que lucrassem pelas suas agencias, não era muito que para lucrarem este be- neficio concorressem com uma mode- rada contribuição pelos escravos, que tivessem, e pelo seu maneio; succe- dendo geralmente que estas mesmas pessoas não vinhão por este modo a pagar mais que uma min ima parte do Quinto do ouro, que lhes ia á mao. Porem no methodo , que abraçou a Lei , ha de pagar segunda vez quem já pagou tudo; ha de pagar o Mineiro innocente pelo Comboieiro, e Merca- dor, que roubâo ; hão de pagar os po- bres pelos ricos , como sempre su^cce-* deo em semelhantes lançamentos, e sem duvida ha de succeder neste ape- sar da assistência do intendente; e o compenso, que se dá aos pobres Mi- neiros, por tão graves prejuisos, que — 113 — se lhes irrogão , he íicar-lhes custando cem oitavas, o que até agora compra- víio por oitenta, e etn substancia per- derem metade da substancia, como abaixo mostrarei. Pelo que deixo apontado se perce- berá agora quaes forão os principaes motivos, porque se determinou El-Rei, que Deus haja, a rejeitar absoluta- mente as offertas, que na Lei se re- sumem, e antes que acabasse o anno estavão já as Ordens do mesmo Senhor nas Minas Geraes para que tal metho- do não continuasse, por se reconhe- cer que era injusto, e continha mais desigualdades que qualquer outro. Perceber-se~ha também porque de- poz o dito Senhor todo o escrúpulo de que entrassem a pagar a subrogação do Quinto as duas classes, que não tiravão ouro, havendo a sua alta com- prehensão reconhecido, que daquellas duas classes he que nascia o extravio do Quinto; e sendo assim não era jus- to que o peso da subrogarão delle ca- hisse sobre os innocentes, quando o proveito do acrecimo no valor do ouro havia de ser para todos. II ^ \U - À<í|uella prompta negociação do tneio proposto nasceo da grande miudesa, e escrúpulo, com que o mesmo Senhor tinha examinado esta matéria em mais d'um anno de continuas discuss^es^ as quaes depois disto duráiâo outro an^ no antes que S. Magestade assentasse no firme conceito, em que ficou de que a Capitação era meio mais des- embaraçado, e menos imperfeito de todos os que podiâo occorrer. Tenho explicado os prejuisos, e in^ justiças 5 que contem em geral o me- thodOj de que se trata; passarei ago- ra a expor Sobre cada uma das parles da Lei os inconvenientes, que se me representâo. Logo á primeira vista observo nella três notáveis esquecimentos: =;= o l.* he que achando-se estabelecido nas JVJi- nas por Ordens Reaes com força de Lei não só a Capitação pelos escravos, mas também o censo , ou o maneio pela industria das pessoas livres, r\%o se abolio p':,la Lei mais que a Capita- ção, e o censo passou em silencio; e sendo assim que elle se não pôde tirar suh invólucro veròorum, (que assim sé *- Í15 — pÓdtí disfer quanto a este ponto ú disef Èi Lei que se entrega a dita oíferla ao estado , erii que se achava quando foi suspendida pela Capitaçiío) mas q^U^ he necessária uníia expressa abolição: segue-se que ou ha de cdntinuar-se á cobrar o censo sem embargo da Lei ^ e íicaráõ os Moradores das Minas obri-^ gados a pagar ao mesmo tempo o Quin- to , e a subrogação do Quinto, ou se-^ rá necessário faser nova Lei para abof lir o censo, que esqueceu nesta. O 2." esquecimento foi nâd dispor cousa alguma mais que a respeito daS Minas Geraes^ e deixar sem providen*- eia o que toca ás outras Minas do Bra^ sil, (^que para maioí claresa no discur- so chamarei Secundarias) asquaesjun^ tas importâo nâo muito menos, dó que asGeraes, assim para a Fasenda Real^ como para os Vassallos. No principio da Lei se fâlla nas Mi- íias Geraes, e a quota certa i de qu6 se faz acéitaçclo ^ só fespeita a estas Minas; porem no fim do preambulo se manda publicar a Lei em todas as Comarcas das Minas , nome genérico , que as abraça todas; e no §. 1/ do * ^IH — 116 — Cap. 2." se manda pôr uma Casa de Fundição em cada uma das Cabeças das Comarcas das Minas do Brasil, de sorte que para a exíincção da Capita- ção a Lei as comprehende todas , mas para a substituição da quota certa, com que pretende segurar o interesse da Real Fasenda , só se lembrou das Geraes , e por conseguinte ficão todas as Secundarias sern obrigação alguma a este respeito. Dir-se-ha que ficão os Moradores delias obrigados a pagar o Quinto nas Casas da Fundição ; mas se elles (como indubitavelmente ha de succeder) extraviarem o ouro de sor- te, que nenhum entre nas ditas Casas, ou entre tão pouco que seja a lesão da Real Fasenda manifesta, ou enor- míssima, quid agendumf Omissão he esta, que absolutamen- te não pode ficar sem remédio , e se necessita d^outra Lei , que o declare , ou succederá certamente que os Mi- neiros das Geraes desertaráõ para as Minas Secundarias para se eximirem da derrama; mas qual haja de ser es- te remédio eu não atino a conhece-lo, porque os povos das Minas Secunda- — 117 — rias nunca ofiTorec^M-íio compenso de quantia certa pelo Qninto , corno oíTe- recêrão no aimo de 1734, e antece- dentemente os Mercadores dasGeraes. E sendo assim que semelhantes quo- tas se não devem determinar sem ser de consentimento dos devedores , se- gue-se que será necessário mandar-se propor a matéria aos Deputados dos povos no Districto de Mato-Grosso , e Cuyaba , no dos Goyazes , no das Mi- nas Novas da Bahia, Jacobina, e Rio das Contas , e no das Minas de Para- naguá , Parana-panema , Jaraguá , e outras do Governo de Santos ; porem torno a lembrar que quando os Mora- dores das Geraes íiserão o seu sobre- dito oíTerecimento foi no tempo , era que estavão na maior força as devas- sas, as buscas, as confiscações, e ou- tros rigores, e por se livrarem de tu- do isto se alargarão na proposta : mas os Mercadores das Minas Secundarias hoje que vêem já tirada por Lei a Ca- pitação, e pelas facilidades da mesma Lei vêem aberto o caminho para po- derem não pagar cousa alguma, natu- ini s S'i n «. 118 -^ ralmente não será fácil redusUos a pagar uma quantia rasoavel. Seja porem pequena, ou grande 5 quantia, em que haja d*ajustar-sc ; he certo que pouco ou nada levaráo á Fundição , e no entretanto que a dita quantia se nâo ajusta, ou se não co-^ bra j — - em que estado ha de ficar a Real Fasenda naquellas Minas Secun- darias ? He claro que totalmente lhe cessará o rendimento delias, e não só não ha de sobrar cousa alguma, que venha para o Erário Real do Reino , (sendo que até agora vinha de todas estas Minas uma grande soma) mas liem sequer haverá nellas com que pa- gar as Folhas do Governo, dos Mili- tares , da Justiça , e dos Officiaes da Casa da Fundição, que se mandão eri- gir em todas aquellas Minas, JEsta falta nos Goyazes ainda poderá ser menos sensivel, porque poderá ha-* ver alguma cousa , a que se possão tornar, recorrendo ao rendimento dos Disiqios; porem no Cuyaba, e Mato^ Grosso, onde a importância deste con- trato he mais teiiue, — com que se de suprir as ditas despesas ? Com — 119 — que se ha de faser a casa da residên- cia para o Governador, que S. Ma- gestade tem ordenado ? Com que se hao de comprar os cavallos para os Dragões, que na intelligencia desta Lei hão de ser as vigias dos descami- nhos? E finalmente com que se ha de faser alguma outra despesa necessária a bem do Real Serviço ? O 3.° esquecimento consiste em que sendo esta uma Lei da alteração da moeda a respeito das Minas, não dis- põem cousa alguma sobre a forma, em que naquelle paizse ha de pagar, (co- mo he notório, e como indica o cla- mor sempre queixoso dos seus Mara- dores) e como os devedores nas Mi nas commummente se obrigão a pagar tantas oitavas, e não tantos mil reis^ e estas oitavas, que no tempo da Capi- tação corrião no commercio por quin- ze tostões, depois da publicação des- ta Lei não decorrem a dose , piorqu© ficão sujeitas ao Quinto ; —-desejava saber se depois da publicação da Lei se hao de pagar as dividas pelo nume- ro d'outras, que resarem os escritos, ou pela quantia dos reis , que ess^s — 120 — oitavas signiíicavão no tempo, em que os escritos se fiserâo? Figuremos que um Mineiro deve a um Mercador qua- tro-centas oitavas por géneros, que este lhe vendeo ; dirá o Mineiro aqui tendes quatro-centas oitavas, que me obriguei a entregar-vos ; — responde- rá o Mercador: no tempo em que vos obrigastes a dar-me quatro-centas oi- tavas, foi o mesmo que se vos obri- gásseis a dar-me seis-centos mil reis, e só assim vos podia vender os géne- ros pelo preço, porque vo-Jos vendi, attendendo ao que me custarão no por- to do mar, ou no Reino, aonde os nâo paguei á rasão d'oitavas , mas de reis: bem claro está que ambos tem rasão innegavel, e o exem.plo, que deixo apontado, se verifica mvtatis mutandis em qualquer outra divida, que queira figurar-se contrahida nas Minas, ainda a respeito daquellas, que o Mineiro v. g. contrahisse em reis; porque se no caso acima figurado se houvesse obrigado a pagar seis-centos mil reis, entendia não ficar obrigado a privar-se para o pagamento desta di- nH^ — 121 — vida mais que de quatro-centas oita- vas, das que extrahisse da terra. Explicada assim a questão he evi- dente que se houver de julgar se a fa- vor do Mineiro, será o mesmo que. ti- rar indevidamente ao Mercador cento e vinte mil reis para os dar ao Minei- ro; mas pela outra parte se se julgar a favor do Mercador, far-se-hâo pagar ao Mineiro quinhentas oitavas em lu- gar de quatro-centas, que fasia conta estar devendo, e será o mesmo que acrecentar a todos os Moradores mais pobres, e mais vexados das Minas não a quinta parte , mas a quarta parte mais das dividas, que tem, ou por ou- tras palavra^ constitui-los na necessi- dade de tirar mais uma quarta parte d'ouro para pagarem o que devem. E sendo as dividas tantas nas Minas, e a maior parte delias contrahidas pelos pobres Mineiros ; considere-se que pre- juiso se lhes vai faser em lugar do fa- vor , que se lhes promette na Lei : de sorte que ao mesmo tempo que se dá occasiâo a acrecentar a quinta parte no preço de todas as cousas, que ha de comprar o Mineiro , como he con- sequencia innegavel do methodo, que esta Lei introduz, se acrecenta ao Mi- neiro a quarta parte nas dividas , qua já tem. Isto se chama era boa arith- luetica tirar-lhe quasi ametade da sub- stancia, que tinha antes da Lei, e nisto vem a parar o desejo que no Í)reambulo delia se pretende ter d'al- ivia-los da aíílicção, de remover o que pode causar-lhes oppressão, e de soe- corre-los. Será máo quanto quiserem o methodo da Capitação , porem nesta parte tratou os Mineiros bem diversa- mente ; porque ordenando-se no esta- belecimento delia que as dividas con- trahidas se pag-assem á rasão de reis , contando-se a quinsie tostões as oita- vas, de que constasse a obrigação, fi- carão os credores recebendo tudo o que lhes pertencia , e os devedores fi- carão geralmente alHviados da quinta parte das suas dividas peio acrecimo do valor das oitavas Ou uns 5 ou outros necessariamente hão de experimentar o contrario dista 1)0 estabelecimento do presente me- thodo; porem deixo por ora os prejui- so§ emergentes, e só vou ao esqueci- áiàíà ^ 123 — mento do que fabricou a Lei , e ás consequências delle : ponclere-se em um Paiz de tantas duvidas , que mul- tidão de demandas, e que confusão vai a produsir esta Lei por não ter da- do providencia a um ponto, que es- tava tanto á vista: sendo tão solidas como ficão indicadas as rasôes, que as partes tem para allegar mutuanien- te , — considere-se em que angustia se acharáô os Juises, vendo que decidam por uma , ou por outra parte , sempre vão a commetter uma indubitável in- justiça, He factivel que uns pronunciem con- tra o devedor, outros contra o credor ; nesta Comarca se queixaráô os credo- res dos Ouvidores , porque o da outra Comarca tem por mais provável ajus- tiça , que lhes assiste ; nos Goyazes V. g. será bem livrado o que tiver di- vidas , nas Geraes será o cumulo da infelicidade ser Mineiro : faça-se tam- bém reflexão no embaraço , que cau- saráõ na Relação daquelle Estado as sentenças, que para lá forem appella- das sobre esta matéria; sendo certo que nenhuma sentença se pode yevo« ~. 124 — i\: i gar sem èer injusta, ou mal fundada, e para se revogar qualquer das que se trata, mal poderão os Desembar- gadores considerar na parte vencida nem mais justiça, nem melhores fun- damentos do que na vencedora , sen- do tudo igual em ambas as partes. Finalmente todas as imprecações, que daqui hão de nascer, cahiráõ so- bre a Lei , nem haverá quem deixe de clamar que S. Magestade he que devia faser pagar pela sua Real Fa- senda, ou o acréscimo das dividas , ou o abatimento dos créditos ; pois qual- quer destes detrimentos, que resulte, sempre he a sua Lei , que o causa. Parece que não haverá Moralista , que deixe de diser, que não o fasen- do assim fica encarregada a consciên- cia do mesmo Senhor; — mas para as- sim o executar quantos milhões have- rá de gastar a Real Fasenda , suppos- ta a exorbitante soma, do que pre- sentemente se deve nas Minas todas do Brasil ? Reparo no preambulo da Lei que manda abolir a Capitação logo que a mesma Lei chegar ás Camarás das Mi- — 125 — nas, sendo que no Cap. 1.* não man- da praticar o novo methodo senão de- pois de feitas, e estabelecidas as Ca- sas da Fundição ; e realmente não se- ria justo que se empatasse o commer- cio impedindo-se a sabida das Minas ao ouro, em que não estiverem proni- ptas as Oííjcinas, em que elle se ha de fundir. Porem deve-se advertir que estas Officinas nas Geraes pela promptidão dos meios , e pela visinhança do Rio de Janeiro bem poderáô achar-se ere- ctas até ao fim de Junho, que he quan- do se ha de acabar o pagamento, que se terá anticipado na Ca{)itação de 1751 ; mas em todas as outras Minas he sem duvida que não poderáô estar estabelecidas as ditas Casas por todo o anno de 1751 , e talvez nem mesm.o no de 1752 pela falta de meios, e dis- tancia dos Portos do mar. Entretanto sahirá o ouro em pó li- vremente sem pagar, e ficará a Fa- senda Real perdendo o direito , que lhe he devido nelle ; mas não está aqui a minha maior duvida, — este mesmo ouro vindo aos Portos do mar ha de to- :i:;ir íliãí*-se por perdido, ou nao ? Para se confiscar pôde ser ouro , que s^extra- hisse no tempo da Capitação, e ainda depois no tempo que alcança a aboli-- çâo delia 5 pôde ter sabido das ditas Minas no intervalo em que ainda nao estivessem postas as Casas da Fundi-^ ção,— ^ seria injusto confisca-lo nestas circunstancias, que verdadeiramente não são fáceis d'averiguar; para dei-^ Xar-se correr livre, — como poderá aa certo sáber-se se aquelle ouro sahio das Minas, em que ainda não havia Casa da Fundição , ou se disendo-se que vem delias , foi verdadeiramente extrahido d'outras Minas, em que já estavão postas as ditas Casas? Devia pois ter-se prevenido este ponto, de* terminando posto certo passado o qual se incorresse nas penas pelo ouro enti pó ^ que se achasse fora dos Registos. No mesmo preambulo, e no Cap. 1 .** «e aceita , e manda praticar o que os Procuradores do Povo das Geraes pro- poserão por convenção em 1734. Bem sabido he que semelhantes canven- çôes. que sahem da regra commua da cobrança d'um Direito Real, e por tomt^gumíe mudão a naturesa delle , se repulao como umas avenças, e se regulao como os contratos feitos entre os particulares; — quisera pois que me dissessem se tendo uma parte pro- posto alí^um j)artido a outra parte, e íendo-o esta rejeitado, pode sem em- ijargo disso esta segunda depois de passados deseseis annos, po-lo de fa- cto em pratica sem saber por modo legitimo se a parte, que propoz o par- tido, ainda está por elie? A minha li- mitada jurisprudência não me dieta que isto seja licito, e rouiío menos quando os que presentemente hâo de ficar sujeitos A execução daquelia a- vença, são pela maior parte diversos, dos que antes a proposerâo. Alem disto," como se teve a cer- tesa de que o estado das cousas seja hoje o mesmo, que então era, para se reputar se a avença he conveniente á Fasenda Real, ou ao Povo? Pelo que toca áqueíla bem se vê que he mui diverso por três rasôes : = a l." por- que de 1734 para cá tem crecido a gente nas Minas Geraes,.e supposto isto, não seria muito que se o mesiiio -^ IS8 — meio (daâb que fosse licito) se tornas- se a ventilar hoje em uma Junía de Procuradores, e antes de faser tal Lei, ofíerecessern elles volnntarimente mais tle cem arrobas. 2.* porque em 1719 que se mandáriXo pôr as Casas de Fun- dição esLavão os povos das cinco Co- marcas avançados em vinte e cinco arrobas, que se cobravâo por derrama em lugar í!e Quinto; d'ahi a quatro annos se tornarão a avançar, e já foi •por trinta e sete arrobas: estava pois pela parte da Real Fasenda a proba- bilidade de que tendo-se feito descu- brimentos novos, e tendo crecido a gente nos deseseis annos, que depois tem passado, deveria a proposta ser mais avançada do que foi em 1734. íi.'' porque nos annos precedentes ao de 1734 recebia S. Magestade pelo Quinto sempre menos de cem arrobas, e assim o segurar-lhas podia entào re- putar-se por vantagem ; porem hoje que annualrnente se estava recebendo das Geraes mais de cento e cincoenta arrobas, fica bem manifesta a dispa- ridade. Nem se pretenda inferir que por isso mesmo seja exorbitante no r^vH*-^ — 139 ■— systema da Capitação , porque como o que ella rende ainda assim he mui- to menos que o Quinto do ouro, que vem regisíaílo nas Frotas, não se pôde considerar nella excesso , antes equi- dade. Pelo que toca ao Povo ,— como se soube se elle se acha hoje no mesmo estado do anno de 1734 para soportar aquella contribuição? Sem embargo de ter crecido a gente, podem as cir- cunstancias ter diminuido; pôde set menor a extracção do ouro , por te- rem cançado as lavras, como Já s'ex- plicão; póíie por outra parte esta di- niinuição das lavras antigas achar-se com grande excesso compensada pelas novas, que se descubrírão no Paraca- tu , e em outros lugares. Em fim pode haver taes circunstan- cias, que ponderadas na face do paiz, facão o partido das cem arrobas , ou nimiamente desvantajoso para S. Ma- gestade , ou oneroso para o povo ; e parece que tudo se devia ter muito bem examinado primeiro pelos meios competentes , e não reassumir uma avença abolida sem participação dos I 130 interessados, e sem exame das prcsèn* les circunstancias com perda certa da Real Fasenda , sem com tudo ter-se certesa da conveniência do povo. No Cap, 2/ reconheço que são mui- to melhores as cautelas, que prescre- ve esta Lei, que as que se praticavão antigamente quando se cobrava o Quin- to em espécie ; porem por mais que sejão as precauções tenho por impos- sivei, que se evitem as falsidades das guias, e das barras: nâo gastarei com tudo o tempo em mostrar os modos, com que se poderão commetter estas falsidades, porque assento que não ha de ser necessário que os passadores do ouro recorrâo a ellas frequente- mente, vistas as muitas falsidades, que lhes íicão para o extraviarem, sem commetterem este crime. No Cap. S." se manda erigir em ca- da Comarca uma Casa de Fundição, conservando o intendente como d'an- tes, e ura Fiscal com quatro mil reis d'ordenado: não duvido que para a ad- ministração de que se trata he preci- sa esta despesa , porem só reparo que sendo um dos prejuisos, que se ar- £>íV;-í'.i-' ». ^ 131 — gniíio ao systema da Capitação, a des- pesa dos Intendentes , agora se fui milito maior ao mesmo tempo, em que se diminuo a renda; porque fícâo as Intendências, que haviiío nas Comar- cas das Minas, crecem duas no Rioj e Bahia, e alem disto ge híí^ de pa- gar os ordenados dos OíBciaes, e ou- tros gastos precisos das Casas da Fun- dição, que nâo he pequeno artigo de despesa. Nâo determina a Lei mais Casas destas que nas Cabeças das Comarcas das Minas, — porem onde se ha de quintar o ouro das do Parana-panema, e d'outras do Governo de Santos? On- de se ha de quintar o das Minaâ No= vas da Bahia, e Rio das Contas , e da Jacobina das Secundarias? He tal o rodeio, que para isso hão de faser os que sahirem d'a]gumas das ditas Mi- nas, que esse descommodo incitará a extraviar o ouro por outra parte : este mesmo inconveniente tem o de haver d'ir a quintar na Villa de Goyaz o ou- ro dos Arraiaes dos Tocantins , e da Meia-Ponte , porque será preciso aos que o levarem andarem muitas léguas — 132 — atraz para as tornarem a desandar: e muito mais sensível será isto no Mato- Grosso quando se abrir a communica- ção daqueJIa Provincia para o Pará, porque seria necessário perder dous meses em levar o ouro ao Cuiabá, que he a Cabeça da Comarca , e torna-lo a traser para Mato-Grosso. No Cap. 4.° §. I." dá seis meses pa- ra sahir das Geraes toda a moeda, que nellas se achar, sendo que desde o an- uo de 1734 está naquellas Minas pro- hibido o curso da moeda d'ouro ; e sen- do esta Lei tiio branda na maior par- le das suas disposições, nao posso dei- xar de reparar no rig-or, certamente excessivo, com que impõem as penas de monetário falso a todo aquelle, a quem depois dos ditos seis meses for achada nas Minas alguma moeda d'ou- ro 5 ainda que seja verdadeira. Não he fácil d'entender o que se quiz sig-niíicar no Cap. 5.*" estabelecen- do que d^aqui em diante nas Minas, e fora delias, todo o ouro em pó, ou em folheta corra pelo justo valor, que ti- ver segundo o seu toque sem alguma diíTerença, e derogando para este ef- ei.»Çiir'*£V%^l"ii- — 13;? — feito a Lei 4l'on7.e de Fevereiro de J719. ]^]sla í.ei iiiandava correr dei)íro das Minas o ouro em pó, e folheta por dez tostões a oitava, mas ninguém , que tenha a mais leve noticia daquelle paiz, ignora que logo depois da publi- cação da mesma Lei, para uso geral das Minas se assentou o preço com- mum do ouro não quintado a dose tos- tões por oitava, salvo algum pequeno acrecimo por ser em folheta, ou por vir das lavras donde era sabido ter muito superior toque: se pois o Cap. foi abolir o preço de dez tostões, pos- to pela Lei de 1719, para introdusir o de dose tostões; com o dito peque- no acrecimo bem escusada foi esta pro- videncia, porque já o uso dos Mora- dores das Minas o tinha estabelecido : e se o sentido do Cap. he diverso dis^ to, não he fácil que lhe possa alguém atinar com a interpretação , porque a respeito do valor, que o ouro ha de ter para fora das Minas, como na in- telligencia da Lei elle ha de ir redu- sido a barras, e estas a vinte e dous quilates, que pelas Leis da moeda, e do valor dos metaes tem ^ seu preço ^ 134 — fixo, que Yi^o deve alterar-se, fica sen- do inútil esta nova declaração; e a respeito do valor que ha de ter dentro das Minas, não só fica sendo inútil es- ta disposição pelo que acima expliquei, mas também fica sendo ou injusta, ou contraditória, ou inintellig^ivel ; porque se a Lei suppoem , e determina que o ouro , que correr dentro das Minas antes d'ir á Fundição ; (que isto quer diser o ouro em pó, ou folheta de que falia o Cap.) senão possa extrahir das Minas sem pagar o Quinto , — como pode ordenar que o mesmo ouro corra dentro das Minas pelo justo valor, que tiver segundo o seu toque sem diffe- rença alguma? Se o ouro em pó, que passa d'uma mão á outra, vai valendo a seu dono a quinta parte menos , pe- lo que se lhe deve tirar quando for á Casa da Fundição, ~ como se concor- da este menos valor intrínseco com a justo valor do toque, que neste Cap. se lhe manda dar extrinsecamente, sem differença alguma fora, ou dentro das Minas? — íntenta-se por ventura que Ticio Comboieiro v. g. seja em virtu- de da Lei obrigado a receber de Sem-. «~ 135 — pronio Mineiro o ouro em pó a quin- ze tostões por oitava, (suppondo ser este o justo valor do toque) quando pela mesma Lei íica obrigado , antes de o extrahir das Minas , a leva-lo á Fundição, onde lhe hão de tirar a quin- ta parte , e entregar-lhe o resto á ra- são do mesmo toque ? Não posso ima- ginar que se pretendesse na Lei se- melhante injustiça, e assim não po- dendo ser este o sentido do Cap. , con- cluo que he inintelligivel. No Cap. 6." se determina a pena , em que ha de mcorrer pela extracção do ouro não quiiitado toda a pessoa , que o tirar das Wlinas de qualquer es- tado, ou condição que seja: nesta ge- neralidade esqueceu exceptuar o Con- tratador dos diamantes , porque pa- gando este a Capitação dos seus seis-; centos escravos com a expressa con- dição de que se entende pagar tam- bém pelo ouro, que extrahir, não se- ria justo obriga-lo a pagar quinto del- le ; — que se ha de observar , pois , a respeito deste ouro? E ha de o Con- tratador pode-lo extrahir em pó , ou ha de redusir-se-ihe a barras grátis ? 1 iii s ■V 1 m 'mil I^H i Hl ' H t li ^M « IHiit li li 1 ■bííííI I v'!í 1 :i:!';P III — 136 — E como se ha de regular a quantia delle para que nâo haja abuso? Também he de graude reparo a bi- zarria com que neste Cap. se reduz toda a pena do ouro extraviado ao per- dimento delle, e d'outro tanto mais, sem sequer chegar a tresdobro , que. he o que geralmente se paga peio des- caminho d'outros direitos ainda menos justificados, e de cousas muito mais difficultosas d'occultar que o ouro; de sorte que julgando-se necessário im- por a pena de tresdobro v. g. por um fardo de baetas, que se tire por alio no Porto de Lisboa, e he de Malsins , e Guardas; nâo indo o Mercador a lu- crar pela fraude mais que dez, ou do- se por cento, que lhe custariam os di- reitos; -—6 ha de suppor-se bastante acautelada nos desertos do Brasil a fraude do ouro (em que se vão ganhar vinte) com a pena do perdimento do mesmo ouro, e d'outro tanto mais. Outro reparo he que sendo tanta a indulgência desta Lei a respeito dos passadores do ouro, seja tão grande o rigor, que no Cap. 7." se inculca , nâo gó contra os que concorrem por obra sMV^j^vfi^''^^ •' *• — 137 — para os descaminhos, mas também con- taa os que os occuUarem á justiça de- pois de feitos, eqniparando-se estes na pena aos mesmos passadores; onde parece que se colhe, que se um ho- mem de bem souber que aí^ encaminhou ouro, e o nao for denun- ciar, ficará tíío reo como elle : não se pratica mais nos crimes de Lesa Ma- gestade. O Cap. 8." prohibe levar ouro por atalhos , ou por outros caminhos fora daquelles, em que ha Registos ; como os caminhos , e atalhos sâo hoje em grande numero, e por todos eiles es- tão lavras, e roças, — pergunto se se hao tornar a despovoar, ou não as que estiverem em caminhos diversos da- quelles dos Registos? Supponho que me responderão que se hão de deixar estar as povoações , porque o contra- rio seria injustiça: ficando pois aber- tos, e frequentados estes caminhos pe- los Mineiros, e Roceiros, que estão situados junto a eiies , — - torno a per- guntar se se hão de pôr Guardas, ou não em cada um dos mesmos cami- nhos? Se as nâo ha de h^ver, de que iiji r 11 m — 138 — serve a prohibição ? E se o Comboiei- ro andar fasendo as suas cobranças por estas mesmas roças 3 e lavrar d'uma parte para a outra, levar comsi^o mais d'um marco d'oaro , — como se pode com justiça executar nelle a disposi- ção deste Capitulo ? No Cap, 9.* se mandão distinguir com honras publicas os delatores dos descaminhos: máxima nova em um Governo prudente , e regulado ; pois em boa politica nunca se concedeu a semelhante gente mais que a conve- niência pecuniária, interessando-os em uma parte do descaminho, que se ap- prebende. O premio promettido neste mesma Capitulo a quem em um anno levar oito arrobas á Fundição, he no meu curto entender não só inefficaz , mas pouco decoroso; he ineíBcaz porque como o premio nunca ha de chegar a mais que a uma pequena parte do va- lor do Quinto das oito arrobas, nin- guém será tão simples, que podendo conservar o todo, se contente com a esperança duvidosa , e essa dependen- te dos Requerimentos na Corte; alem limpa ^•^â^M^ly^^^'^*^-'^' — 139 -^ disto como todos os que tiverem me* nos das oito arrobas em um armo (co- mo lie a maior parte dos Moradores, e Commerciantes das Minas) não tem premio que esperar, he crivei que o queirão dever á sua industria desen- caminhando o ouro, que tiverem : tam- bém reputo indecente este meio, por- que se reduz em substancia a comprir El-Rei, ou dar a entender que rece- be por favor o que os Vassallos lhe devem por obrigação; e parece que fica S. Magestade equiparado a ura Tencionario, ou Jurista, que dá o seu mimo ao Almoxarife , ou Thesou- reiro para lhe faser bom pagamento. No Cap. 11.° reparo, que tendo abo- minado comoiniquo o escandaloso me- thodo da Capitação, em admittir a de- nuncia dos escravos contra os próprios senhores; agora se diz que se o povo assim o pedir, poderá admittir-se em termos competentes. Não posso dei- xar de mostrar a diíFerença d'um me- thodo ao outro para admittir semelhan- tes denuncias: na Capitação o escra- vo sonegado se dava por forro toda a vez que denunciasse, e provasse, que |v Ss —. 140 — seu dono o sonegara , e como assim ficasse equiparado neste caso ao staíiz livre, nenhuiiía estranhesa devia faser que o admittissem em juiso a denun- ciar a sonegação, que era o mesmo que admiUi-lo a provar o implemento da condição para conseguir a liberda- dade, que debaixo delle lhe estava promettida. Pelo contrario neste Cap. 11/ pare- ce que se dá esperança de admittir contra os senhores a denuncia dos es- cravos, ficando estes sempre na es- cravidão! Bem percebo que as pala- vras enigmáticas, com que vejo ex- plicado este ponto, deixão lugar a se dar o sentido que quiserem aos ter- mos competentes, de que alli se falia; porem como nenhuns podem ser mais competentes, que os que determina o sjgíema da Capitação, — para que f(V r^o tantos clamores de se admittir nel- le a denuncia dos escravos , se havia áe praticar-se o mesmo nesta Lei tal- vez em termos menos justos? Tenho mostrado poV maior os pre- jtiisos, e injustiças, que envolve o me- tliodo; que abraçou a Lei, na qual Tií:^í» — 111 — assim como louvo summameníc a ener- gia , a propriedade, e a boa ordem, desejjíra da mesma sorte poder applau- dir as disposições: será illusão do meu juiso, mas parece-me que pouca, ou Vieniiuma sabida se achará á maior par- le dosincoRveuienles, que deixo apon- tados nella; e com tudo sendo eiles tantos , e tao grandes , ainda me res- ta por explicar outro, que na minha estimação pesa mais do que todos jun- tos os 'que ficao mostrados, — e he que não sendo possivel que este me- thodo subsista muito tempo pelos in- soportaveis damnos, que sem duvida ha de experimentar a Fasenda Real, e o Reino, convém reflectir se depois de costumado o povo das Minas á ni- mia liberdade , em que o põem esta Lei, será fácil torna-lo a sujeitar a termos mais estreitos; he bem que tragamos á memoria que quando as in- justiças das derramas , e os descami- nhos inevitáveis dos Quintos obrigarão El-Rei , que Deus haja, a mandar eri- gir as Casas da Fundição nas Minas, como esía providencia coartava a li- berdade de fraudar, a que os morado- res delias estavíto costumados , houve um levantamento, que poz aquelle Es- tado em perigo de perder-se, se o nâo atalhara a resolução, e actividade do Marquez d'Alorna : elle cora a sua sa- gacidade , e com os seus rigores ne- cessários, que então praticou , redu- siu o povo das Minas a uma sujeição, que tem felismente continuado até o presente. Que politica hepois, e que prudên- cia expòr-se outra vez com a devassi- dão ^ que nesta Lei se introduz, a per- der aquella sujeição, e haver d'expe- rimentar outro motim, quando se qui- serem depois remediar as consequên- cias da mesma devassidão, e isto em tempo que as Minas tem quadruplica- da gente, da que tinha no Governo do dito Marquez? Á vista disto con- siderará a clarissima comprehensâo de S. Magestade , e reflectirão os Minis- tros zelosos, com quem o mesmo Se- nhor se aconselhar, se he convenien- te esta Lei da sorte que está, ou se se deve antes disso acudir com outras providencias aos damnos, que ella a- meaca. ^í^,^lH^A'-'*rv•'^. w ^ 143 — . Concluo disendo, que quando apon- tei a El-Rei , que Deus haja , o me* thodo da Capitação , nunca o propuz como perfeito, e livre de desigualda- des; sabendo muito bem que nâo he esperável a perfeição em Lei alguma humana, e muito menos nas cobran- ças de direitos públicos ; regulei-me somente pelo dito d'um sábio Juris- consulto = Nidla lex satis commoda omnihus est , hoc modo quceritur si unú ver si et summum prodest s= Propuz a Capitação como um meio licito, e jus-- to , e como tal o reconheceu El-Rei , que Deus haja, depois d'ouvir disputar a matéria por largo tempo, e com dif- fusissimos papeis de Theologos , Poli- ticos, e Juristas por uma, e outra par- te. Propuz a Capitação como um me- thodo , em que o interesse^ da Real Fasenda se assegurava melhor que por qualquer outro , ao mesmo tempo que se augmentava : propu-la para desem- baraçar o commercio, que sentia mil empates para traser o ouro ao Reino; e para tirar a occasião dos crimes: apontei-a como um meio, que com- l)ensando a todos os moradores das — 144 — Minas o peso do que havifío de pagarj com o acrecimo do que havião de Ju- crar na quinta parte do valor do ou- ro, levava na forma da cobrança peJa mesma medida o pobre, e o poderoso. Tudo isto se verificou, porque a Fa- senda Real lucrou desde o primeiro anno per(o d'um milhão de differença d'um estado ao outro, alem do muito, que lhe acreceu no um por cento, e jna braçagem , e senhoriagem das Ca- sas da Moeda; vindo por este meio a ellas todo quanto ouro produsírao as Minas. Ocommercio se poz corrente; diminuirão-se os enganos dos corres- pondentes; acabarão os crimes; não houverão mais prisões, nem inquieta- ções; e ficou o pobre iguahnente co- mo o rico na exacção do pag-amento : só ficarão clamando os Ecclesiasticos das Minas; os homens da governança; os poderosos, e todos os mais que cos- tumão passar ouro, porque ao mesmo tempo que perdião a conveniência, que por esta fraude es ta vão costuma- dos a grangear, vião que lhes não fi- cava modo algum para se isentarem >*kí->» los, que alumiasseni o meu juiso, con- fesso aV. S." que s6 achei motivos ])a- ra confundir-me vendo as ideias, e no- ticias deV. S."^ muito contrarias ás que eu antecipadamente tinha por certas , e^seg'ura\ o ás que dedusia da inspec- ção do mesmo Tratado; de sorte que me pareceu que a impugnação de V. S.* nascia só de o não ter visto, ou do amor, que tinha a uma Praça, que governou com tanto louvor, e defen- deu com tando acordo, e valentia ; mas como não he menos o aífecto , que te- nho ao bem da Monarchia, do que aquelJe que V. S.* tem á Colónia, se-^ ja-me licito (sem derogar de sorte al- guma a veneração, que em tudo ornais professo aos pareceres de V. S.^) ex- por-lhe as rasões, porque o meu juiso não pôde accommodar-se aos seus ar- gumentos: e assim como eu de boa vontade me havia de sujeitar aos di- ctames do papel de V. 8.* se não en- tendesse quo nisso faltaria á rasão, e — . Ii9 — ao respeito, que devo a. qupin assinou aquelle TraUdo, o a qnem o faz exe- ciiiar; assim esj)rM'o da candidez de V. S.*" que concordando com csíe res- peito á força de rasões , que vou re- presentar-lhe , nao duvidará reconhe- cer de boa fé, que se enganou pelas informações, que lhe derão, e em con- sequência nao repugnará confessa-lo para dissipar a injusta impressão, què a autoridade de V. S/ haverá feito em muitos dos que houverem lido o seu escrito. Para me explicar com menos confusão irei referindo, umporíimv, todos os períodos do papel de V. S.* e expondo ao pé delies, o que se me of- ferecer. Começa poisV. S/ 2iss\m= Quando o nosso Augusto Monarcha (que sanlçt cjloria haja) me fez a grande honra de entregar-me espontaneamente d minha direcção o governo da Nova Colónia do Sacramento do Bio da Prata no anuo de 1721, entre as mais expressões, com, que vocalmente me instruiu do modo cofn que era servido se procedesse 7iel~ le , me disse ser aquella Fraca de tan- ta importância aos iTiter esses da sua Co- — 150 — rda^ que pelo mais vantajoso equivalen- te a não largaria nunca a Castella. Ajustando-me eu como devia com esta Real máxima , dispuz sempre no tem- po da paz a sua conservarão , e aug- mento de terreno, e no da guerra a de- fensa ; de maneira que nurica podesse dar aos Castelhanos o gosto de se apo^ derarem delia (o que mediante o auxi- lio do Ceo consegui) , mas havendo-a deixado entregue em Fevereiro de J749 a meu Successor pela Carta Credencial^ que apresentou , ouvi depois de chegar a Lisboa, que esta Praça tão impor- iantissima se achava pela offerta de cer- tos equivalentes cedida á Coroa d'Hes- panha por um Tratado. = Nâo podia EI-Rei , que Deus haja, usar d'expressão mais própria para mos- trar a V. S.* a importância da Praça que confiava ao seu valor, que disen- do aJV. S.* que por nenhum equiva- lente a largaria, e bem se viu na vi- gilância, com que V. S.* a defendeu, e governou , o quanto forâo efficases para o seu animo aquellas Reaes pala- vras; porem prescindindo deste fim, bem conhecerá V. S/ que a anno de 1494, contra o T?^ atado de Sa- ragoça, e contra o de Lisboa de 7 de Maio de 1681 , em que não obstante a pouca vantagem que os Plenipotenciá- rios Portugueses souberâo tirar de si- tuação tão propicia, só se assentou em que uma , e outra Coroa ficassem con- servadas nos legítimos direitos, que lhes pertencerem; e não pelos titulos da sua própria demarcação. = Somos chegados ao ponto principal de toda a questão. Se as circunstan- cias da demarcação antiga , e da pre- sente fossem como se representarão a V. S.^ , máo negocio tinhamos feito certamente no Tratado , que ultima- mente se assinou. Diz V. S.* : = Que os Hespanhoes nos tinhão usurpado muito = sup po- nho que entende V. S.'' fallâr do mar da Ásia, pois. quanto á America estou k^^^^-^V^N-^V^^ — 167 -rr certo , que em todo o grande íim dos confins dos nossos dominios senão po- derá apontar um só palmo de terreno occupado pelos Hespanhoes ao occi- dente da linha divisória, de donde a pretenderão os nossoá Commissarios , como logo mostrarei. Muito pelo contrario os Hespanhoes sempre nos chamarão usurpadores, e abaixo veráV.&i.^ se tinhão fundaíí^en- to para assim o presumirem ; para me- lhor nos entendermos, permitta-me que eu lhe faça um breve resumo do que se tem passado a respeito da divisão das conquistas entre o nosso iVionar- cha , e o d'Hespanha. Descubertas por Colombo as pri- ^ meiras Ilhas do Golfo do México no anno de 1492, o Papa Alexandre bex- - to Hespanhol expedio no anno seguin- te uma Bulia para regular uma repar- tição de conquistas entre as duas Mo- narchias, determinando, que a cem le- euas ao occidente das Ilhas dos Aço- res, ou das de Cabo Verde se assi- nasse uma linha meridiana de pólo a pólo , e tudo o que desta linha ficasse ao oriente fosse conquista de Portu- — 168 — gal, e o que ficasse ao poente perfen- cesse á conquista de Castella : recia- niou contra esta repartição o nosso Rei%D. João 2.% e depois de varias negociações, se ajustou entre elle , e o Rei de Castella e Arag-âo um Tra- tado em Tordessilhas no anno de 1494, em que se estipulou, que a dita linha meridiana se supporia lançada 370 lé- guas para o poente nas Ilhas de Cabo Verde, sem explicar de qual delias se havia de começar acoutar; sendo que a mais orieijtal daquellas Ilhas dista mais de quatro léguas meridianas da ultima até ao poente; e juntamente ficou estipulado, que os Hespanhoes não poderião navegar para a parte do sul da costa d'Africa. Seis annos de- pois de feito este Tratado he que dos- cubrimos o Brasil , e no mar da Ásia adiantamos as nossas conquistas tão rapidamente , que em menos de quin- ze annos depois da primeira viagem da índia, já tínhamos penetrado o Ar- chipelago de Maluco, d'onde des(ju- brimos o importante coramercio da es- peciaria. Fernando de Magalhães naquelle _ 169 — tempo tornou do oriento, e sem rasao aiyí>ravatlo da sua pátria passou ao ser- viço do Imperador Carlos Quinto; pro- poz a este Principe por certo ser a terra redonda, ponto até erilao muito duvidoso, e que sendo assim devia a dita linha mendiaiia, pactuada em Tor- dessilhas, circular pelo outro hemis- pherio, deixando á conquista de cada uma das Coroas cento e oitenta gráos meridianos; o que supposlo mostraria que as Ilhas da Especiaria estavão den- tro dos cento e oitenta gráos de Cas- tella, e que se obrigava a i-las descu- brir por novo caminho , sem oífensa da prohibiçâo com o Tratado de Tor- dessilhas, que ficava posta aos Hespa- nhoes de navegarem para a parte do Cabo de Boa Esperança. A Corte de Wladrid, que já linha achado bem dar ouvidos á outra pro- posta de Colombo, que parecia igual- mente quimérica, e por fim tinha si- do afortunada , subministrou a Maga-r Ihâes três navios para executar o seu designio; e elle descubrindo o Estrei- to, a que deixou o seu nome, e na- vegando pelo mar do sul, chegou fi- — 170 -^ nal mente ás Ilhas do Archipelag-o de Maluco, aonde o maiárv^o os bárba- ros, mas no roteiro, que deixou da sua naveg-ação, usando d'um notável engano para sustentar o que havia se-^ gurado ao Imperador, tinha diminuido os espaços , de sorte qué defraudou ao mar do sul mais de quarenta gráos meridianos; como se pôde ver do Ma- pa , que traz Herrera — Historia das índias Occidentaes — e mais sahindo até Malaca a comprehendeu nos cen-» to e oitenta gráos de Castella. Não pequeno damno foi o que com tal in* fidelidade causou á sua pátria este a- ventureiro, indigno do nome Portu-r guez; porque os Hespanhoes persua- didos daquella impostura pretenderão senhoreâr-se das Ilhas da Especiaria, fomentando esta empresa com as náos, que mandavâo ao México pelo mar úq sul. Durou naquelia parte alguns ân- uos a guerra entre as duas Nações, até que o nosso Rei D. João S.** tra- tou com o Imperador que se atalhas- se esta contenda, averiguando amiga^ velmente o direito de cada uma das partes em umas conferencias ^ que sq ^ 171 ^ fiserao em Saragoça ; porem nellas o$ Commissarios de Portugal sem embar- go de sobrar a rasao , e a justiça, se acharão destituídos de meios para mos- tra-la , porque os Hespaohoes susten- tavão a diminuição do Mapa de Ma- galhães; e como nenhuma outra Na- ção , excepto a Hespanhola , navegou o mar do sul até o século anteceden- te a este, em que estamos, não havia em tempo das ditas conferencias meio para convencer a falsidade daquelie Mapa; sobre tudo ignorando-se ainda naquelle tempo, e secíilo a observa- ção dos satellites de Júpiter, e outros meios com que nos seguintes se faci- litou a averiguação das longitudes. Todo o recurso dos nossos Commis- sarios erão os Roteiros dos Pilotos da carreira da índia, e para lhe sahir mais vantajoso o calculo attendião só ás Ilhas da Especiaria, e não ao Brasil, de que naquelle tempo fasião pouco caso, e assim contavão o principio das ditas 370 léguas da Ilha do Sal , que he a mais oriental das de Cabo Ver- de; mas nada bastava para desfaser de todo o erro dos Roteiros Hespa- I í — 172 — nhoes do mar pacífico ; e o mais que puderão demonstrar os nossos Com- missarios foi que a demarcação de Por- tugal incluía g-rande parte do mar da China. Nestes termos convierâoaquel- ]es Príncipes n'um Tratado, ou Escri- tura celebrada em Saragoça no anno de IÕ29, que El^Rei D. João 3/ pa- garia ao Imperador por Maluco tre- sentos e cincoenta mil crusados d'ou- ro, ficando por este mesmo preço tam- bém vencidos em Portugal desesete gráos da supposta demarcação Hespa- nhola, os quaes se declararão nas Ilhas das Velhas, ou dos Ladrões, hoje cha- madas Marianas, e se estipulou que por estas Ilhas se imaginaria lançado um meridiano de poio apoio, ao poen- te do qual não poderião navegar os Hespanhoes , com .declaração que se ]ior erro , ou fortuna do mar passas- sem esta raia , e ao poente delia des- cubrissem algumas Ilhas, ou terras, estas se entenderião desde logo per- tencer a Portugal. Alguns annos depois os Hespanhoes do MexicG mais de propósito faltarão ao ajuste, e passando o dito Meridia- — 173 — HO, se forão estabelecer nas ilhas, á que do nome de Filippe 2." derão o nome de Filippinas ; mas a contenda que esta transgressão ia produsindo se atalhou com entrar aquelle Príncipe de posse da Coroa de Portugal , e a- chando-se ambos os Reinos debaixo da mesma Cabeça forão-se também os Portugueses alargando pelo Rio das Amazonas, e pela outra extremidade do sul do Brasil, e sem reparar se ex- cedião, ou não a Unha prescrita peio Tratado de Tordessilhas. Depois de restaurada a Coroa de Portugal pelo seu legitimo Soberano, a dose annos depois de feita a Paz com Plespanha, isto he , no anno de ,1680 mandou o Governador do Rio de Janeiro fundar umafortiticação no Rio da Prata em parte, que imaginou per- tencer ainda á demarcação de Portu- gal; porem o de Buenos-Ayres per- suadido do contrario surprendeu aquel- le pequeno estabelecimento , e passou a guarnição á espada. Estando para renovar-se a guerra por causa deste insulto , maadou El- Rei Catholico o Duque de Jovenazo, l'»^ — 174 — s hábil negociador, e entrando-se com elie em conferencias , se fez por parte da nossa Corte um papel , que V. S.* pôde ver no Tomo 2." das Provas Ge- nealógicas da Casa Real, no qual se não aliegavão quasi outras rasôes mais que de congruência, pretendendo que os dous Rios da Prata, e Paraguay, e o das Amazonas fossem os limites dos dous Estados , sem poderem dar solução á difficuldade , que para isto resultava do Tratado de Torci ess ilhas, nem fallar nas muitas terras, que nes- se tempo tinhamos ao norte das Ilhas das Amazonas. Em hm o partido que se tomou foi ajustar o Tratado de 1681, a que cha- mamos Provisional, no qual se estipu- lou que se farião conferencias cora Geógrafos com arbitrio , e faculdade para sentenciarem a qual das Coroas pertencia o território, em que fora si- tuada a nova Colónia; e quando entre si não conviessem , que o Papa resol- veria a questão , e que entretanto fi- cando cada Coroa conservada nos seus direitos , a Colónia se restituiria pro- visionalmente aos Portugueses, e as >ík«.v-VNr<^/ — 175 — Campanhas da questão se ficariáo dis^ fructanílo por ambas as Nações. Na- da se concluio pelo arbítrio dos Com- missarios, que se ajuntarão em Bada- joz, porque de cada parte, como po- deria naturalmente esperar-se, senten- ciánlo a favor do seu Soberano ; e a decisão do Papa nunca emanou effei- to, nem talvez se requereu. Mas não devo omittir algumas cir- cunstancias dignas de reparo a respei- to do que se ventilou naquellas con- ferencias; porque os Hespanhoes pre- tendião que as 370 léguas do Tratado deTordessilhas deviao começar a con- tar-se na Ilha do Sal , como os Portu- gueses tinhão sustentado nas confe- rencias de Saragoça, e os nossos Cora- missarios queriãó agora que a conta começasse da ilha de S. "* Antão, que he a mais occidental de Cabo Verde; e a respeito do fim das ditas léguas, acabavâo no porto de S. Luiz do Ma- ranhão, e que da parte do sul ia a sa- hir o meridiano ao porto de S. Vicente. Pelo contrario os nossos Comroissa- rios sustentaváo que os limites das di- tas léguas chegavão alem do Pará, e s i •''■1! — 176 — coinprehendiiio toda a boca do Rio das Amazonas, entendendo que desta sorte ia o meridiano acertar da parte do sui ainda acima da Coloniaj no que padecião grande engano , pois corren- do acosta austral do Brasil muito mais ao sudueste, do que então se suppu- íiha o meridiano lançado pelo Pará, ou peJo cabo do rtorte do Rio das A- mazonas, na realidade apenas compre- henderia a entrada do Rio Grande de S. Pedro da parte do Sul. Continuarão as cousas nos termos que se haviao determinado no Trata- do Provisional até o anno de 170i, em que fasendó nós ajliança com El- Rei Catbolico Filippe 5.", nos cedeu a Colónia com as suas Campanhas; mas este Tratado não teve eífeito , e declarada a guerra entre as duas Co- roas no anno de 1704 sitiarão os Hes- panhoes a Colónia, e fomos obrigados a abanílona-la , até que no anno de 3 715 fasendo-se a Paz em Utrecht, ce- deu El-Rei Catholico á Coroa de Por- tugal o território, e Colónia, renun- ciando toda o direito, que a ellas pre- tendesse j e querendo que ficasse por esta c:essao abolido o Tratado Provi- sional de 1681 : com esta transacção se teria acabado de todo a controvér- sia, que havia ficado suspensa pelo mesmo Tratado Provisional ^ se no de Utrecht se tivessem assinado os limi- tes do território , que Hespanha en- tendia ceder-nos. O que resultou da falta desta de- claração foi que indo-se a tomar posse pela nossa parte, disse p Governador de Buenos-Ayres, que por território não entendia mais que tiro de canhão da Praça , e assim quando esperáva- mos formar um continente de terras do Brasil até á Colónia, nos achamos com um presidio remotíssimo do res- tante do Brasil, e encravado muilo adiante, das terras, de que Hespanha sustenta a posse. A Corte de Madrid adoptou tenas- mente aquella intelligencia do Gover- nador de Buenos-Ayres, sem embargo das furiosas rasôes , que da nossa par- te se produsírâo; e quando nos quei- xávamos da violência com que nos re- tinha aquelle território, nos oppunha M i iilil _ 178 — ella que tinhamos usurpado á Hespa- nba muitas terras na America meri*' dional; arguindo que ainda que fosse verdadeira a opinião, que tinhyío sus- tentado os nossos Cou)missarios em Badajoz, de que a linha divisória de- via passar pela boca do Rio das Ama- zonas, d'ahi mesmo se colhia que sen- do o curso daquelle rio quasi leste- oeste, nos, não podia tocar quasi parte alguma, do que possuiamos pelo rio acima até á Missão de S. Pedro, em que vão mais de setenta léguas ; eque da mesma sorte tocava áHespanha tu- do o que tinhamos occupado em Ma- to-Grosso, Cuyaba, e parte deGoyaz; como também tudo o de que nos achá- vamos de posse ao norte das Amazo- jias. Neste estado pois de controvérsias se achavão as cousas quando se nego- ciou o Tratado, que agora vemos con- cluido; e estando os Hespanhoes de posse do território, que nos toca na margem do Rio da Prata , tendo bh>- quiada a Colónia para que não podes- semos gosar de parle alguma do ter- ritório; e achando-nos altamente usur- — 179 — padores da maior parte do que no ser- tão da America possuimos. Agora considere V. S.* que peso faz na balança da rasão o miserável presi- dio da Colónia com todas as vantagens, que lhe queirão attribuir, em compa- ração d'um paiz imraenso, que se nos contestava, com Minas copiosas d'ou- ro , e diamantes, e com preciosos fru- cios, de qne vem carregadas as Fro- tas do Pará; e considere também se lisemos máo negocio em tirar um bom equivalente por aquelle presidio, e por um território , que os Hespanhoes es- íavão mui longe de querer entregar- nos, e que nunca poderiamos recupe- rar senão por guerra; por um territó- rio em fim , que ainda quando Hespa- nha no-lo quisesse largar , não deixa- va o nosso paiz Ião redondo, e tão cu- berto como com o que nos viérão a dar em cambio. Considere V. S/ se fisemos máo ne- gocio em conseguir com isto que a líespanha recoíiheça por legitimo o dominio desta Coiôa em todo aquelle inimenso paiz, que nos conteiidia. Considere V. 8.''' se fisemos máo ne- >- 180 — gocio em tirar o território da margem oriental do rio Guaporé, "e das Aldeasj qne osHesparihoes linham ultimamen- te fundado nelle, d'onde começavao já os seus índios a internar-se pelo paiz, e a encontrar-se com os nossos minei- ros do sertão de Cuyaba; novidade de que estava para resultar em breve tempo oulra contenda peor que a do território da Colónia , e já principiá- vamos a experimentar os effeitos dei- ]a, não sendo pouco sensivel o de pre-^ tenderem os Missionários Hespanhoes impedir-nos a navegação do rio Gua- poré por estarem senhores d'ambas as jnargens, e do território daquellas Al- deãs. Considere V. S."^ mais se fisemos máo negocio em alcançar-mos ^ além de todo o sobredito, as terras despo- voadas entre nós , e os Hespanhoes j sendo somente este acrecimo um aug- mento mui dilatado do dominio de Portugal. Bem sabe V. S-% deixando o paiz até Curituba, de que acima já discorremos, que no sertão daquella Viíla não tínhamos mais que asÃlinas de Parana-panema até a foz do Igua- 181 -^ çú, que nós chamamos Rio Grande da Curituba, chegadas ao Paraná. Sabe V. S." que não passávamos dos Rios de Chué, e Taquari ; agora pelo Tratado dos Limites íemos cincoenla, ou sessenta léguas mais d'exlensão em lodo o paiz, que medêa entre o dito Paraná, e Paraguay, pois corre a no- va fronteira pelos Rios Igurey, e Cor- rientes. E assim também o caminho do Cuyaba para o Mato-Grosso era pe- lo rio Jauru acima, e daquelle cami- nho para cima nada occupavamos; a- gora fica a fronteira por uma linha lan- cada logo da boca do rio Jauru ate defronte da boca do rio Jamary. Na parte austral do rio das Amazo- nas tudo o que occupavamos com mu m- mente não passava da borda do mes- mo rio, e d'alguns rios grandes, que neíle desaguavão para a parte do sul ; agora fica inteiramente de Portugal todo o paiz do rio Guaporé , ou da Madeira para o oriente até ao mar , e do rio da Madeira para cima partimos por um parallelo, que nos ha de dei- xar de fundo da margem das Amazo- nas para o sul mais de cem léguas , e — 182 — isto até chegar ao rio Jutay, que vem a ser até ás Montanhas dos Andes. Pelo que toca á margem septentrio- nal do rio das Amazonas, supposto largarmos até á foz do Paotaça algum território, que desfructavamos, porque d'outra sorte se não podia arrumar a fronteira, ganhamos muito mais em constituir a nossa raia pelo cume dos montes , que medeiâo entre o rio das Amazonas, e o Orinoco, sendo que até agora nâo chegavão as nossas povoa- ções mais que a fralda destes montes, e isto somente pelo Rio Negro acima. Considere V. S.*" finalmente se fise- mos máo negocio em regular duas mil léguas de fronteira com tal claresa , e por balisas tão certas, e indubitáveis, que em nenhum tempo possamos mais ter por este respeito altercação comos Bossos visinhos, quando até agora es- távamos demarcados por uma linha rne- ridiana, que custa muito a determinar com um relógio solar de quatro pal- mos, quanto mais em tantos centos de léguas, d'onde resultava uma conti- nua j e irremediável occasião de dis- — 103 — putas ontre esta Coroa e a (VHespa- nha. Á vista de tudo o qiie fica exposto níto posso persuadir-me que por maior que seja o amor, que V. S.' tem a Colónia, ache que devião despresar- se tão grandes interesses , só pelo in- tempestivo pondonor de não largar a- quella Praça por algum equivalente, como V. S."" insinua no principio do seu papel. Prevejo as replicas que V. S.* fará a todo este discurso, e que poderá di- ser primeiramente, que sendo tão cla- ro o direito, que tínhamos ao territó- rio, que nos havia cedido Hespanha junto ao rio da Prata, não deviamos renuncia-lo pela injustiça, que os Cas- telhanos nos fasião em rete-ío violen- taaiente. A. minha resposta será perguntan- do := se julga V. S.*" que nos convi- ria faser uma guerra á Hespanha para recur)erarmos aquelle território , visto que por outros termos he manifesta- mente vão esperar que ella se quises- se desapossar ? Pergunto mais = de que modo ha- S|'V — 184 — víamos de sabir dos embaraços dos li- mites daquelle território, visto que o Tratado d'Utrecht os não prescreveu por nenhnm dos lados? Pergunto tam- bém se por não desistirmos do direito, qiíe tínhamos a um território de que se nos oíTerecia equivalente niuiracío- íiavel , deviamos perder a occasião de consolidar por uma vez o dominio de tão vastas, e úteis Províncias, e de ampliar quasi por toda aparte os nos- sos Estados do Brasil, e Maranhão? E se convinha preferir um ajuste des-^ la qualidade, ou ficar eternamente emi um laberinto de controvérsias com^ Hespanha a respeito dos limites da America. Poderá diser mais V. S."" que a maior parte das terras , que agora nos ficão além da linha do Trajado de Tordes- silhas, já as estávamos possuindo; pe- lo que nesta parte nada vimos a ad-» quirir de novo. Respondo, que nessas mesmas terras , que já occupavainos, vimos a adquirir muito, porque a nos- sa posse no conceito da Corte visinha era uma usurpação, e infracoáo da- quelle Tratado j mas por este, ^ue ul- — 1B5 — tímameníe se celebrou, fica reconhe- cendo como justo, e legitimo o domi- riio; e parece-me que se não pôde du- vidar que he superior aquella parada segurança, e quielaç^lo assim do Es- tado, como da consciência. Poderá V. 8/ também diser que nós cedemos d'um porto, e d^im territó- rio visinho ao mar, e o que adquiri- mos de novo, alem do que já occupa- vamos, sao sertões incultos, e inú- teis: ao que respondo que estas con- tas sempre se devem faser lembrán- do-nos que este território , que cede- mos , nêio estava no nosso poder,, e ainda assim com a cessão viemos ase- gurar o legitimo domínio dos outros pontos e territórios maritimos, que nos importão rnais, que aquella rasão por que segurávamos o porto, campa- nhas, e lagoas do rio de S.Pedro, que conforme a melhor opinião ficão de fora ainda do dominio marítimo, pas- sado pela boca do rio das Amazonas, que nós pretendiamos ; como também seguramos todas as terras, que occu- pavamos pelo mesmo rio das Amazo- nas acima; que também se devem re^ 186 — pntar maritlmas, pois navegamos por todo elle em embarcações grandes. E pelo que toca a serem incultas as terras , que nos acrecem pelo novo Tratado, principiando pela Provinda do IJraguay, que nada tem d'inculta, a experiência nos tem mostrado o quão pouco são para despresar os sertões incultos do Brasil, porque em seme- lhantes desertos he que se tem des- cuberto os grandes thesouros que es- tamos disfructando. Trinta annos atraz se alguém hou- vesse despresado como inúteis as ter- ras de Goyaz , Cuyaba , é Mato-Gros- so por serem sertões incultos , veja V. S.* quanto se teria enganado; e (l'aqui se infira, quanto he provável que se engane quem fiser pouca con- ta dos sertões , que pelo Tratado ad- quirimos de novo, pela rasão de se- rem incultos, e remotos. Poderá finalmente diser V. S.*, que íisemos á Hespanha uma notável con- veniência em tirar-lhe, como explica- mos vulgarmente , ura espinho do pé, cedendo-lhe a Colónia; em deixarmos os Hespanhoes inteiramente senhores — 137 — do Rio da Prata, e da sua navog-açao ; e em assestara-los de que eni tempo alg-iim não inquietemos a Província de Maines, a qual estava inteiramente á nossa discrição, por não poder ser soe- corrida de Quito sem infinito traba- lho , e despesa ; e que alem disto fica Hespanha segura com o nosso ajuste, e legitimada no dominio das Filippi- nas, que devião pertencer a Portu- gal pela demarcação do Tratado de Tordessilhas , e pela venda dos dese- sete gráos, que Carlos 5." fez a D. João 3." pelo facto feito no Tratado de Saragoça; e em fim que a mesma con- veniência, que eu represento para nós em ficarmos livres de disputas para o futuro, e em estabelecer raias por ba- lisas claras , e immutaveis , igualmen- te a fasem os Hespanhoes , mas com a differença de que elles ganhão mais do que nós em se não poder de parte a parte exceder esta raia, porque os nossos sertanejos são mais afoutos que os seus, penetrando os nossos mais em dez annos, que os seus em um sé- culo. Não controverto que todas estas — 188 — grandes vfntag-ens consiga Hespanha pelo Tratado, que ultimamente feasr com Portugal , mas pergunto -- se pre- tendíamos por ventura" faser um ajus- te, en\ que toda a conveniência fosse nossa? E se podiamos esperar que fos- se tão pouco advertido o Ministro de Madrid , que deixasse de procurar as suas vantagens ao mesmo tempo que consentia nas nossas. E já que nós fi- camos pelo Tratado muito melhor do que estávamos, porque nos ha de pe- sar também que os Castelhanos fiquem melhor, do que o estavâo ? Náo pareça a V. S.", que he impôs- sivel ficarmos diambas as partes me- lhor; porque o que a uma parte não fasia conta, pode faser conveniência á outra parte. A Colónia , que a Portugal causava grandes despesas, e a navegação do Rio da Prata, que não nos servia mais que para irmos áquella Praça, para os Hespanhoes sao de mui diversa conse- quência; porque na Colónia não ne- cessitão faser a decima parte do dis- pêndio, que Portugal fasia ; e a nave-- gação daquelle rio, que dá entrada — 189 — para as Provindas do Parai2:iiay, Tn- ciiniau , e Charcas, importa iDuiío íi- car-lhes inteiraaienie sem misliira de outra nação. Pela outra parLe aosHespanhoe^ nao falta na vastíssima Provincia de Para- guay a porç ao ue íica do Urao-uay para ornar; e a nós faz-nos conveniên- cia o dar fundo competente a um paiz de terreno de dusentas léguas. As ilhas Filippinas, que aos Hespa- nlioes servem para entreter ocommer- cio da China, a nos serviriâo de pou- ca, ou nenhuma utilidade; e as mar- gens do rio das Amazonas , que nos produsem um precioso commercio, pa- ra os Hespanhoes não serviriâo de na- da, ficando os Portugueses senhores da boca do rio , pois não terião para onde levar os fructos daquelle terreno. Eis-aqui como ambas as Monarchias ficão melhor sabendo cada uma o que lhe faz menos conta , e he d'utiiidade para a outra. Mui diiTuso tenho sido a este artigo do papel deV. S."", nem podia ser mais breve comprehendendo o que V. S.* disse em poucas rasues , mas sendo — 190 — uma impugnação injusta de toda a substancia do Tratado ultimo , e fun- dando-se o discurso de V. S."" em al- guma equivocação concebida a respei- to do que se tinha determinado nos precedentes. Tornando agora a pegar no fím do papel de V. S."" , continua disendo : =í Que o negocio do contrabando como não somos nós os que vamos f ase-lo aos seus dominio^s , anles são os mesmos Hespa- nhoes^ os que nos vem comprar as mer- cadorias , que temos naquella Praça. . . = não me admira d'ouvir este efíugio da bocad'um Ptlilitar, quando me cons- ta que d'alguns moralistas tem sido muito valido : eu nâo me persuado que haja politica mais segura , nem moral mais certa, que a que se con- firma com a doutrina do Evangelho; ousarei para mostrar a larguesa da opi- nião de V. S."" apontar aqirelle meio, que usão os pintores para conhecer que está correcto o desenho d'alguma pintura, que delinearão, que he por um espelho diante para verem a mes- ma figura contraposta; ,a esta imita- ção pedirei a V. S.% que supponha — 191 — que oâHespanhoes erão os que fasiam o contrabando, admittindo para este eíTeito em alguma Praça sua aos Por- tugueses, que o fossem lá coinprar; — ■ contentar-se-hia V. S.*" com a descul- pa que acima fica apontada? Cuido que lião, antes diria que achando-se o coramercio absolutamente prohibido entre as duas Nações na America, nem na activa, nem na passiva se de- via consentir, e que tanto se faltava aos Tratados trasendo as fasendas aos Portugueses ás suas próprias terras, comoadmittiiido-as nasd'Hespanha pa- ra as comprarem ; porque vindo a ser o mesmo no efíeito, (que lie o que se entende impedir no Tratado) pouco importava a diversidade do modo: ap- plique pois V. S.^ a este propósito aquelle universal preceito = Quid tibi rum vis , alleri ne fácies = e veja que segurança tem a opinião , em que se funda. Torno a seguir o discurso do papel de V. S."", que continua assim : = Km qualquer mitra parte, que nos formos estabelecer irão buscar as nossas 7ner- cadorias = Vois se V. S.^ assim o pre- — 192 — j?lime, e sabe que ficamos confinando^ coín os Hespanhoes em duas mil lé- guas de fronteiras; — porque lamenta tanto a perda da Colónia ! Que real-^ niente nenhuma utilidade dava aos vas^ sallos desía Coroa mais que o eom- ínercio vedado. -^ Prosegne V. S." di- sendo : = Que cmno Hespanha em vez de reprimir o cordrahando dos seus v as-- sallos, nos quer coartar a liberdade de que venda cada um em sua casa o que lhe sobra do seu provimento , sempre descubrirâ motivo para m)S arguir de mãos observadores do ^ estipulado em qualquer lugar, a que nos retirarmos :^= Reduz y. S.^ a termos da inevitá- vel necessidade havermos de fomentar o contrabando; -^ e nao será melhor que em lugar de cuidarmos d' um ga- uho illicito, cuidemos em disfructar com industria , e desvelo as grandes conveniências , que aquelle paiz pode dar de si ? Este lucro, se attendermos a elle como devemos, será todo nosso; eao contrario no contrabando, porque a maior parte dg que grangeanii>s hedos — 193 — Estrangeiros, de quein facturisamos as fasendas. Diz-nos V. S.* = J5! assim fica inú- til o largarmos o que tão legitimameu- te possuímos , se depois não evitamos a guerra deste visinho poderoso = Sup- poem V. S.* que a nossa Corte larga a Colónia por temor de quç lhe venha a ser motivo d'uma guerra; mas repu- to que tal motivo lhe não veio ao pen- samento, e que a verdadeira rasão por- que larga a Colónia , he porque acha mais conta no equivalente, que rece- be. Conclue V. S.* o mesmo discurso disendo : = Que ainda então será mais poderoso alargando o seu dominio , e estreitando o de Portugal =^N^ohaL du- vida que o dominio de Portugal se di- minue pela parte do sul no compri- mento , quanto comprehende o terri- tório , que devíamos possuir , e nâo possuímos; porem muito mais he o que adquirimos na largura por aquella mesma parte do sul, e depois disso em toda a mais fronteira : também não duvido que Hespanha fica mais po- derosa do que estava no Rio da' Pra- N ^ 194 --. ta ; mas que inveja nos deve causai! isso, quando também o Brasil fica mui- to mais seguro, que elle nâo estava na extremidade dos seus confins ? Continua V. S.^ disendo : :^ Ora lar- gada a Colónia^ posta esta for talesa nas mãos dos Castelhanos , nâo só perdere- mos o seu território^ mas juntamente a Uberdade de navegarmos o rio da Pra- ta ^=¥a àe que nos serviria a navega- ção do rio da Prata , mais que para sahir da Colónia? Nâo achará V. S.* que em Tratado algum s'estipulasse expressa, e distinctamente a nosso fa- vor a navegação do rio da Prata, usá- ramos delia porque possuíamos a Co- lónia ; e assim não são duas perdas distinctas estas, que V. S.*" separa, nem cedida a Colónia podiamos ter pretexto honesto para nós a querer- mos conservar. Figure V. S.^ que no meio d'uma quinta sua estava encravado um peda- ço de terra alheia , com serventia pe- lo chão da mesma quinta, e que ajus- tava trocar V. S."" aquelle terreno por outro de fora; — a pessoa com quem celebrou a permutação , pretenderia — 195 -. conservar a liberdade daquella serven- tia ? Niío ; porque pareceria estranha, e suspeitosa a V. S/ uma tal preten- ção. Não julgaria que lhe querião re- ter aquella liberdade só para roubar- Ihe os fructos da sua quinta ? Se V. S.* fosse encarregado dos Tra- tados dos Limites, e convindo era ce- der a Colónia por um bom equivalen- te, e território da margem septentrio- iial do rio da Prata , pretendesse pre- servar para Portugal a liberdade da navega(^âo do mesmo rio , e o Minis- tro d'Hespanha lhe dissesse que de boa vontade conviria nisso, com tanto que reciprocamente ficasse aos Hespanhoes a liberdade de navegar pelo rio das Amazonas; ~ com que argumentos evitaria V. S.* esta reciprocidade, que seria para nós de péssimas consequên- cias ? Diria talvez que os Portugueses estavão de posse daquella navegação , e os Hespanhoes não estavâo desta ; mas responderião os Ministros dTíes- panha que essa posse era annexada á Colónia , e território , e cedida uma , e outra cousa , cessava o motivo de conservarmos tal posse não tendo já — 196 — terras nossas, a que nos condiisisse aqiiella navegação, de que ale agora usávamos. Instaria V. S."" que sim temos terras nossas, aonde poder ir por aquelle rio, isto he , ao Cuyaba , e á nova Provin- cia de Urugnay; porem replicar-Ihe- hiâo que para essas Províncias nunca os Portugueses esti verão em posse de navegar, e que intendendo-o agora de novo não havia rasao para recusar aos Hespanhoes navegarem pelo caminho mais breve , e mais fácil para a sua Província de Maines, e de Quito, e para muitas outras do Peru , d'onde sahem os rios, que desembocão no das Amazonas; que rasao de diíferença po- deria V. S.* excogitar para coníradiser essa replica? Mas supponhamos que se outorgava a reciprocidade, e con- seguisse V. S."" a navegação do rio da Prata dentro dos limites, que até ago- ra gosamos delia, isto he , desde a boca daquelle rio até ás Ilhas da boca do Paraná, que he o mais longe, aon- de ainda mesmo no tempo da hostili- dade penetravão as nossas embarca- ções*— e desejava saber que usopre- — 197 — tendo V. S.* «que fisesscmos daquella navegaçcTLO , achando-se prohibido por tantos Tratados todo o commercio , e trato na America entre os vassallos das duas Coroas ? Eu nao sei comprehender outro mais, que o de podermos passear por aquel- las espaçosas aguas, e não me persua- do (supposta a grande prudência de V. S.'') que intentássemos ir com mer- cadorias de contrabando a vende-las aos habitantes daquellas margens, as- sim porque isto seria uma infracção dos Tratados demasiadamente publica, e escandalosa , como por certo que a Corte de Madrid não toleraria este abu- so , antes se necessário fosse movei ia a guerra , para impedi-lo. Bem se lembra V. S."" que poucos annos atraz ella tomou as armas con- tra Inglaterra, só poroppor-se aos con- trabandos, que os Ingleses fasião na Corte do México; d'onde pode V. S.* inferir se soíFreria pacificamente, que nós lhos introdusissemos no coração de seus dominios; e se ella nos moveu já uma guerra por causa do contrabando, que experimentava tendo nós a Colo- 1 1 ' — 193 ~ nià, como havia de soportar o que Ihé introdusissemo^ no rio da Prata, de- pois de íiao termos terra alguma na margem delle P Se pois a navegação do rio Praia , sobre nâo poder-se ho- nestamente pretender, de nada nos serviria quando a conseguíssemos , em que se fundão as saudades de V. S.^? Segue o papel de V. S^ disendo: = Que ate agora, como das Amazonas servindo de meta do domínio da Coroa de Portugal 7ia America .... = Destas palavras infiro, que V. S.'' impugna o novo Tratado por informações d'ouvi^ da. Se o tivesse visto , acharia nelle que no rio das Amazonas para o norte nos fica mais terra, do que importa o território da Colónia dez , ou dose ve- ses; e assim se na opinião de V. S.* devia ser o rio das Amazonas a nossa meta, vejaV. S.* quanto mais, do que imaginava, fica estendido o dominio de Portugal pelo Tratado dos Limites. — Prosegue o papel de V. S." : = jEJ aceitando por este equivalente o mesmo, que nos pertencia pela nossa demarca- ção , ficamos perdendo o direito , que ella nos deu^ e com este tacita consen- ^^, — 199 — iimento somos os mesmos que convimos em abolir os antigos Tratados ; e estas são logo umas perdas eminentes , e cer- tas. = Nao sei se V. S.* entende pela nos- sa demarcação das conquistas, que as- sentamos com aHespanha, niais que a do Tratado de Tordessilhas, e o acre- centamento, que a nosso favor se fez no mar da Ásia pelo Tratado de Sara- goça. OvP. ([ueira V. S.'' reílectij que a demarcação de Tordessilhas não nos doou mais' que 370 léguas ao poente das Ilhas de Cabo Verde, que naquel- la altura se redusem a 22 i gráos de longitude; destes se consomem pelo ânevitavel, que os Hespanhoes venhãô buscar nas nossas terras as mercado- rias de contrabando; e agora nos quer acautelar com o receio de que no-las Venhão os mesmos Hespanhoes traser, }3ara nos tirarem em troco o ouro, què temos. Está Variedade não ^ei S€ indica que t — 203 — V. S."" mesmo se nao fia de que sejao bem firmes as rasoes, que allega, por- que igualmente faz uso das contrarias^ porem eu nunca terei duvida a seguir V. S.^ pelo caminho, por onde me qui- ser levar, e dar também satisfação a este .receio , que nos inculca. Supponha V. S.^ que conservando-se as cousas no mesmo estado, em que se achavão antes do ultimo Tratado^ aperfeicoavão os Hespanhoes as suas fabricas, e regulavâo o seu commer^ cio da America em termos, que lhes sahissem as mercadorias tanto mais ba^ ratas do que a nós, que ainda depois da despesa do transporte aos nossos sertões íisessem conta aos vendedores; entende V. S,'' que então estariamos de melhor partido do que agora para vedarmos o contrabando? Antes mui- to pelo contrario; porque ficando a dominio d'El-Rei tão próximo a Curi- tuba, como acima mostrei, podião as mercadorias Hespanholas espalhar-se immediatamente pelo sertão deS. Pau- lo, o que não poderia succeder nos termos, em que as cousas presenie- mente íicão pelo novo Tratado , por- 204 — '' -(''í ! que antes de cheg-ar ao sertíto de S. Paulo teriao que penetrar mais de 200 Jeguas sobre terras nossas, passando por fortalesas, e Registos, aonde exis- tem Officiaes da Fasenda Real. Mui- tas outras cousas poderia eu respon- der neste assumpto, mas por nãp ha- vermos d'estar perdendo tempo em considerar o perigo, de que agora nos achamos tão remotos; eu as deixo. Diz V. S.* = Sempre importarão mais que o dispêndio , que se faz com a guarnição da Colónia, que affirmo não excede muito de JOO^^ crusados^ eyitre a manutenção, e os soldados; pois os paisanos ha muito tempo que se lhes não assiste com o mister , que tiverão durante o sitio; e esta soma quasi fica ressarcida com os direitos , que paqão nas Alfandegas desta Cidade, e doÉra- sil os géneros, que pela mesma Colónia s^introdusem na visinhança de Buenos- Ayres. = Nâo disputo a importância dos di- reitos daquelles géneros, que V. S.* orça em 100/ crusados, nem me de- tenho em que V. S.* faça consistir o ressarcimento da Real Fasenda em um ^ 205 — meio que depende de pratiear-se pelo que não he licito pelos Tratados; só impugno o calculo de V. S.* pelo que toca "ás despesas , que S. Magestade fasia com a Colónia ; e perdoe-me V. S.* diser-lhe, que estas não as podia V.S.' saber com tanta certesa, como nesta Corte se sabião pelas contas, que vem todos os annos do Almoxarifado do Rio de Janeiro, onde não houve anno ain- da depois de se não pagar o sustento, que se dava aos paisanos, que não passasse de 300/ crusados. Acrecenta V. S.* = Logo (o que certamente Jica cessando) justo ^ e con- veniente será que os direitos, que re- sultão do contrabando^ cessem de todo, por cessar o mesmo contrabando = Mas V. S.* pouco acima nos deixou vatici- nado que ellc ha de continuar em qual- quer lugar, a que nos retirarmos, e se assim fosse (o que não devemos es- perar) íicarião as Alfandegas rendendo o mesmo á Fasenda Real, e gastando rnuito menos, como agora mostrarei, porque também não estou d'acordo do que V. S." contilua a diser nestas pa- lavras = Jlem de que sempre se deve considerar a mesma despesa em quaU quer lugar para onde se mude aquelle presidio. === Mudando para a outra parte do Bra- sil a soídadeííjca , de que se coínpu- nha o pé da guarnição da Colónia, não Tejo o motivo para que S. Magestade gaste com elles mais que o soldo, far- da, e farinha, pagos á mesma rasão das mais tropas do Brasil, e o que apenas importará 50/ crusados ; e es- sas tropas, que agora estão na Coló- nia se passarem para a nova Provín- cia do Uraguay, guarnecerão um paiz, d'onde só nos dízimos, e direitos dos gados , e cavalladas terá a Fasenda Real muito mais do que a importân- cia dos soldos , em lugar de que até agora guarneciâo uma Praça, que na- da rendia ao Erário Régio, salvo 20 a 24/ crusados na Alfandega de maior contrabando. Passa V. S/ a prevenir-nos contra o outro receio disendo = Como para segurança se deve antever tudo , he di- fno de ponderar que se alguma das -Nações mais poderosas de mariíiha, que sem escala vão ho principio das mon^ — 207 — çôes dobrar o Cabo d' Home para en* irar no mar do sul , entender esíahele- cer-se no vantajoso sitio da Colónia^ que he tão precisa para aquella navefjação; o que com facilidade poderá conseguir em qualquer rompimento , que tenha na Europa com Ilespanha; que irre^ paravel darnno nos fará a sua yisi- nhança , que sei a não perde de insta ; de cujo estabelecimento por consequên- cia iifallivel se ha de originar a des^ confiança com um Alliado , que procu- ramos, e nos acode em toda a occasiâo, que Hcspanha piretende opprirmr-nos , vindo por este modo a pjcrde-lo, e so-> portarmos outra guerra mais sensível y que se ha de atear no Brasil = Fallemos sem rebuço — teme V. SJ" que por largarmos a Colónia, os ín-^ gleses em qualquer occasiâo, que te- iihcio de guerra com a Hespanha , vão a tomar-lhe aquelle sitio : não sei se V. S.'"' está informado que na ultima guerra entre aqueíias duas Nações es- teve muito a pique d'efíeituar-se uma invasão dos Ingleses no Rio da Prata para tomarem Montevideu, d'onde po- dia mais certamente seguir-se o dam- ^ — 208 — no , qne V. S.* receia por ser 30 lé- guas mais visinho a nós, que a Coló- nia; e não foi certamente o estarmos nós senhores desta Praça, o que os dissuadio desta empresa, senão que lhe seria mais proveitosa a que inten- tarão em Carthagena. Aqui vê V. S."" como em largarmos nós a Colónia nada põem , nem tira para a execução de semelhante idêa; logo mostrarei como depois do Trata- do por que a largamos, fica a mesma idêa mais fácil a pòr-se em pratica; mas antes de passar a este ponto , — desejara eu saber porque rasão cha- ma V. S."" vantajoso o sitio da Coló- nia, e porque entende o havião d'es- colher os Ingleses para o intento, que expõem V. S."" d'uma escala para o mar do sul , estando a Colónia 70 lé- guas da costa , e não podendo lá che- gar náos grandes sem muito perigo; se logo á entrada do rio da Prata tem a Ilha, e Porto de Maldonado, que es- tá sem defesa, e mais adiante a de Montevideu occupados até agora pe- los Hespanhoes , com a vantagem de que a qualquer destas paragens po- — 909 — (lem chegar náos de toda a grandesa sem risco algum de baixos? Diz logo adiante V. S.* = Sem ter- mos já então a quem se recorra por ser inimigo , quem ate ali era deferisor = Contra semelhantes invasões, e contra qualquer outra, que se pretenda faser naquella costa, teremos assim nós co- mo osHespanhoes por meio do ultimo Tratado mais seguro, e mais prompto remédio, do que até agora tinhamos; ficamos obrigados a soccorrer uns aos outros com todas as forças para impe- dir a entrada de qualquer outra Nação naquellas partes , o que atáqui cada uma destas ditas Coroas havia de con- trastar só com as suas próprias forças. — Nestes termos uâo negará ¥. S.* que a qualquer das Nações Maritimas fica agora mais difficultosa a empresa do estabelecimento, queV. S.* receia, nem pode replicar-se a isto que a mes- ma união de forças poderíamos faser sem o Tratado, por ser commum o in- teresse 5 de que naquella costa se não alojem outros hospedes ; porque senão havendo o tal Tratado nào quisesse- o \ I ■I |j|H|B IPlf! tio mos soecorrer aos Hespanhoes rio caso de .qualquer invasão, seria o niesnio que declarar a guerra á Nação inva- sora , mas depois deste Tratado, em que estipulamos uma reciproca garan- tia daquella costa, devemos em virtu- de delia acudir com todas as forças, sem que disso se possa dar por offen- dida a Nação 5 contra quem nos oppo- serraos, e o mesmo succedení aos Hes- panhoes a nosso respeito : d'onde pôde V. 8/^ ver se o Tratado porque larga- mos a Colónia, em lugar de facilitar diífículta semelliaiites invasões. Continua o texto de V. S."" = He incrível que se firjiire , que havendo a Nação In Cf lesa perdido este ramo de commercio , que entretinha por nossa via , o não quererá restaurar no costu- mado contrabando , como o fasem por todas as costas da America Hespanho- Ia 5 comprehendejído outro pelo sei tão com os nossos Mineiros , que poderão introdusir por todo o Brasil os seus gé- neros, que podem largar por preços tão acconimodados , que nenhuma conta fa- ça aos habitadores os que levão as Fro- tas do nosso Reino j (porque afaíta de — 211 — fabricas , que ha nelle , obriga a que $t compram aos estrarujeiros) e que chc-^ (jâo carregados de direitos , que tem pa- go a S. Magestade 7io Reitio, e na Ame- rica, = • Todo este discurso de V. S."" he cer-» tissimo, e serve para mostrar o cuida- do, que devemos ter em impedir até onde chegarem as nossas forças, que nenhuma outra Nação se vá estabele- cer no rio da Prata. Mas como para isto ficamos agora com os braços mais livres, do que estávamos antesr: se se- gue que o Tratado dos Limites em vez de prejudicar a este fim ^ foi o meio mais eíficaz para o asseg-urar. Acaba o papel de V. S."" disendo : =^=2? Poder-se-m,e-ha notar a confiança de Jallar em semelhante negociação setn ser perguntado ; mas entendo que jus- tamente devia formar escrúpulo de não discorrer em matéria de tacita impor- tancia , quanto poderá ainda valer estas reflexões á utilidade , e honra da mi- nha pátria. , e aos inter e^s ses da Corrêa do meu Soberaiio. = Ambos imos guiados por este lou- -^ ^12 — . vavel motivo. V. S.* no que impugnou, e eu no que defendo, só com a diffe- rença que V. S^ pelo que mostra nos seus reparos, nâo tinha visto o Trata- do, nem examinado as estipulações delle, e soltou as velas ao seu zelo por alg-umas informações menos certas, que Jhe derâo ; te eu nao só tive occasiao de ver o Tiatado, mas de o examinar mui miudamente, e todas as suas clau- sulas; e dos factos, que deixo referi- dos, estou prompto a exibir provas indubil^àVeis no caso que aV. S.* fique o menor escrúpulo sobre algum delles: e tendo eu por cerlo que todo o ani- mo de V. S.'' he o desejo do bem da pátria , espero que nas rasões , com que lenho respondido aos seus repa- ros, V. 8.* reconheça alguma efficacia, e ú vista delias lhe pareça agora me- nos feia a cessão do território , e Co- lónia, do que até aqui se lhe havia fi- gurado; e sem duvida, como deve to- do o homem sincero, e amante da ver- dade, confessará que foi grande acer- to e vantagem o mesmo que se tinha representado a V. S.* como ruina ^ e desordem. Deus Guarde a V. S.* mui- ^s: — 213 — tòs annos, Lisboa 8 de Solenibró de 17ôJ. De V. S: Fiel Venerador e Amante Servo Philalethes. \ DISSERTAÇÃO Que a pedido d' um amigo compor o Autor com suma habilidade , e talento relativamente á relaxação das Ordens Religiosas. D' aqui se vé também apon- de já vinha o fundamento para o De-^ creto de 28 de Maio de 1834 que um poder benéfico sanccionou , e que a ra- sâo , e as conveniências sociaes recla- mavâo. Amigo , eu devo por todas as cir- cunstancias obedecer^lhe , — confesso- lhe com sinceridade que receio discor- rer em matéria tão melindrosa ; porem os seus preceitos sâo para mim invio- láveis. wm — m — El] níKo temo desciibrir os princí- pios da vida Monástica por ser toda conforme ao Espirito de Deus, o que temo he o critério, que me farão, quando lhe trocar as scenas , mostran- do a corrupção dos seus costumes, prejuisos ao Cliristianismo, e confusão á mesma Igreja. Os mesmos discursos serão todos autorisados pelos sábios, que o mundo respeita; os Santos Pa- dres me darão bastante instrucção, e os Livros Santos serão todo o funda- mento desta narração. Declaro que o meu fim não hefaser ver ao mundo os defeitos dos respeitáveis Religiosos; elles mesmos deixando a vida solitária para se faserem cidadãos fi serão bem patente o estado da sua vida; se o meu trabalho lhe não parecer justo, e conforme ás máximas do Evangelho, queira V. M.<^®, como amigo, tirar-mé destes prejuisos, que eu protesto de receber com gosto todas as instruc- côes , que me vierem do seu talento , e não terei a menor violência para sè^- guir a verdade. Nos monumentos antigos da epocâ de Jesu Christo descubro que tâiM A — 215 — 08 Monjes, como os Anachoretas me- recerão bem justamente o titulo de Mártires da penitencia; os soffVimen- tos quanto mais voluntários, sao mais. maravilhosos. He certo que os tor- mentos dilatados de 50 e 60 , e mais annos justificâo com avultados mereci- mentos, maiormente aquelles, que re- cebem como jugo suave o peso da cruz, com que estes espirites solita^ rios forâo o modelo de perfeição Chris- lã; elles se apartatao do mundo para meditarem nas cousas celestiaes , se- guindo muito differentes idêas d^os E- gypcios, que procuravão a solidão pa- ra se applicarem á Geometria, e As- tronomia; bem semelhantemente aos Philosophos gregos, que também pro- curavão o retiro para o exame dos se- gredos da naturesa, e disputarem so- bre a distincção das virtudes. Os Monjes, pois, de que fallo re- nunciavâo o casamento, a sociedade dos homens por se livrarem dos negó- cios inevitáveis docommercio domuri- do : — elles contemplavão o ser omni- potente, e os seus benefícios sem se apartarem dos preceitos da Lei; ali ' i purificaváo o seu coração sem outro es- tudo mais, que a pratica das viríjjdes; eJles n^o disputaváo por não perturbar o silencio perpetuo, em que vivião; e a maior parte destes homens wXo sa^ bia Jer, e para a meditação das Escri- turas Jhes era necessário ouvir com docilidade as instrucções dos seus an- tigos; elles se occultavâo aos, homens o^ mais que podiao para agradarem a Deus, não sendo conhecidos mais que pelas suas virtudes, e milagres. Eu nie quero persuadir que ainda hoje os Ignoraríamos, se Deus não tivesse sus- citado os ânimos d'alguns zelosos, co- 1)10 Rufen , e Cassien para os descu- brir no mais occulto da solidão. A pobresa entre elles era espantosa, e com tudo não reinava naquelles es^ pirites a menor sombra d'interesse ; el- les me^smos se redusião a maior misé- ria, não trabalhando mais do que era preciso para o seu sustento , e se al- guma parte lhes sobrava a repartião áos pobres. Umas simplices barracas fabricadas pelas suas mãos Ihesservião d'abrigo; os mais perfeitos temião que ainda estas mesmas cabanas, e limit^-^ jH cias rfíndas os HcTio arrastassem para os Tíiesmos abismos, de que tinhiío fugi- do. Eu não tenho noticia He que es- tes Monjes pedissem esmolas; e por mais que examinei os antigos escrito- res, me não foi possível descubrir o eonirario ; antes me desenganei de que estes Monjes tinlião ])or instituto duas prineipaes máximas, -;- que eriío a sub- sistência do lugar, e o continuo tra- balho das suas mãos , na consideração de que a ociosidade he contraria á perfeita oração, e a toda a virtude. Desta sorte se conservarão estes homens com um espirito semelhante ao de Jesu Christo , que se não des- presava de trabalhar na companhia de seu pai , sendo o maior dos Sacerdo- tes. Se eu me quisesse lembrar com o Arcebispo de Cambray da religiosa conducta de Maria Santissima; nós a admiraríamos , umas veses lavrando a terra com as suas delicadas mãos , e outras levando sobre os hombros toda a agua , que lhe era necessária para o ministério de sua casa. Forão correndo os séculos , e as Religiões ficando numerosas, por cuja ^13 eâiísa os Bispos cuidav^o muito em evitar a pluralidade dos Conventos em um só lugar, não tanto pela diíTeren- Ca de se acharem superiores benemé- ritos para o bom governo, como para isenta-los das invejas, e divisões. Naquelle tempo erão os Abbades sujeitos aos Bispos , que como Chefes vigiavão sobre o. rebanho, que lhe ti- nha sido entregue por Jesu Christo. Naquelle feliz tempo tão respeitável Hão cuidavâo os Religiosos em isen- ções, por serem origem de tantas rui- lías , e escândalos ; d' ahi se tiravão muitos varões para o governo da Igre- ja, sem muitas averiguações para o acerto : taes erão os flionjes daquelle tempo , tantas veses louvados por S. Gregório, S.to Agostinho, e outros mui- tos Padres : nesta santa simplicidade continuarão os Mosteiros sem a me- Hor relaxação. Eu não quero affirmar que naquel- les tempos não havião Monjes perver- sos, assim como em toda a parte máos catholicos, porque conheço que esse erro he da humanidade; o que ponde- ro he que às Religiões tinhão toda a ^ 219 -^ força para conservarem em si almas justas. Depois desle Estabelecimento appareceu no mundo no nono século a Instituição de S. Bento , e no deci- mo os primeiros Abbades de Cluni , homens a quem respeita o mundo co- mo columna mais forte da Igreja, os quaes florecêrao por espaço de 200 an- nos tanto em santidade, como em let- tras: estes Monjes sendo tão perfeitos nunca chegarão a imitar os do Egy- pto, e da Palestina; as causas que descubro são duas: = as riquesas, e ós estudos. Deste mesmo sentimento he Mons. Fleury na sua Historia, e outros muitos. Quem deixará de co- n^hecer que os primeiros caminhavão ínais seguros despresando as riquesas, e entregando-se como já disse ao tra- balho; umas veses fasendo esteiras, outras cestinhos , que vendião aos po- vos visinhos para se livrarem da men- dicidade, e viverem independentes de todos ? Finalmente no decimo século se en- trou a perturbar esta bella ordem ; já òs Monjes, e os mesmos Abbades pro- fessando pobresa forão ricos no com^ -^ mo ^ JBum possuindo terras, animaes, na- vios, e escravos com o pernicioso pre- texto do bem da communidade, uma das mais subtis illusôes do amor pró- prio. Aqui se entrou a ver que entre tantos sábios houvesse um total esque- cimento das máximas do Evangelho, e dos costumes praticados tantas veses por Josu Christo entre os Apóstolos. S. Nicoláo foi um dos que melhor sou- be neste tempo observar a pobresa Evangélica. Ninguém pôde duvidar que as grandes rendas trasem comsigo as maiores desordens, e ruinas , que se tem visto em toda a Europa nestes espiritos por causa dasriquesas. Quem ler as Historias verá que os Cavallei- ros pobres de Jerusalém , denominados Templários se extinguirão de todo o or- be catholico, sendo a principal origem assoberba, e elevação, em que se vi- rão, Quanto se não faz odiosa a per- niciosa conducta dos Jesuilas, preten- dendo com as suas máximas arruinar três reinos os mais poderosos? Que lastimoso espectáculo seria este para os primeiros Apóstolos da Igreja, se yissem trocada a Miliciade Jesu Chris^ to em cidadãos guerreiros , perturba- dores da Republica, e factores das maiores maldades? Tornando pois ao principal ponto do meu argumento, digo, que as riqne- sas, e elevação, em que se yeem ho- je a maior parte dos Religiosos, os obriga a avultadas despesas; elíes por ostentarem a sua grandesa, e servirem d'emulacâo aos visinbos, cuidão que com este culto honrão mais a Deus. Se a Escritura Santa Iheâ fora lembrar da todos os dias, elles conheceriâo que os antigos altares , em que se ofíere- ciam as victimas, erão uns montes de pedra innocentes, e com tudo são tes- temunhas do Céo em agradecimento ás puras oblações , que se lhe consa- gravão*. — Os corações sinceros, os ar- dentes actos são sem duvida os dogmas mais importantes da Religião; pelo contrario a pompa, adorações exter- nas, e os soberbos edifícios não coii- dusem mais que para a perdição. Eu não quero diser que os Templos magniíicos não são bem devidos ao cuJto , e celebração dos Divinos OíE- cios; o que quero dizer he que depois Q6iO d'úm Monje formar de si uma idêa' hu- milde, deve corresponder ao seu espi- rito uma igual morada , tanto para a oração, como para o repouso. — Em que se ha de occupar um moço de pouca experiência dentro d'um claus- tro soberbamente hospedado? — senão eneher-se de vaidade na consideração dos grandes rendimentos, em que tem parte como membro daquella socieda* de ? — mais que reputar-se grande na Religião, sem se lembrar que no sé- culo era uma simples criatura ^ e taU yez d'um humilde nascimento? Quando me vem á lembrança o Pa- dre Diílier todo occupado por tempo de 5 annoã em edificar uma sumptuo- sa Igreja no Monte Cassino, com tan- tos mil obreiros de reinos estrangeiros fasendo coodusir mármores, e colum- nas para a fabrica do Templo; não me posso esquecer da religiosa conducta de S. Pacome debaixo dos caniços oc- cupado todo em formar no interior de seus Monjes um espirito semelhante ao de Jesu Christo. Os edifícios ma- gnificoSj que admiramos em todo o inundo, não davem destruir o meu ar- gumento, è menos o que lemos na Es- critura tio sumptuoso Templo de Salo- mão ; porque estas são bem devidas primícias dos soberanos, e he justo que a dadiva corresponda á grandesa do sujeito ; porem os espirites humil- des, e religiosos tão longe estão de agradar a Deus por este meio, quan- to vai d'um pobre presépio a um so- berbo palácio. Concluo pois em diser que se estes Monjes se despissem da vaidade largando as riquesas , que im- mediatamente se acabaria nelles tam- bém o apparente zelo da religião. Os Monjes tendo abandonado o tra- balho pessoal acreditarão que o estu- do era a occupação mais digna do seu caracter. He sem duvida que a igno- rância tanto dos seculares , como dos clérigos os obrigou por ncessidade a esta applicação. Eu não deixo de lou- var-lhes o santo zelo, com que acudi- rão á decadência do século ; porem não louvo a resolução, que tornarão, de despresarem os leigos tratando-os d'ignorantes , e destinando-os para os serviços como escravos. Estej Monjes mudájrão de tal sorte o espirito da Ke- íigiSó, que se náo vê nella íiiâis da que uma Republica de nobres. Nós vemos que o liiulo de Dom lie ainda hoje em ííalia , e Hespanha si- nal de uobresa ; elles o possuem com toda a vaidade, e he certo que esta honra lhe náo vem dos antigos IVion- jes , nem de S. Bento ; porque só lhes deu a primasia d'Abbades; e depois destas grandesas , e jerarchias estabe- lecidas deníro dos claustros , he que elles reputarão por indigno o trabalho das mãos, julgando como digno do seu caracter a oração, e o estudo. — Eu não quero culpar a S. João Gualber- to por ser o primeiro, que instituío leigos em seu Mosteiro , que fundou em Valombrosa no anno de 1040; por- que este nunca prévio abaixa em que havião de cahir os seus filhos; e me- nos culparei a S. Bento de os enca- minhar para os estudos: elles por si mesmos se ])ervertêrão não cuidando na lição das Escrituras, nem da Theo- logia por não imitarem a S. Jerony- mo, e a muitos antigos Monjes. O seu forte era aprenderem as sciencias, que lhes fossem úteis e rendosas : elles se oo 'ÍÍO iippliciírfio a cânones, direito que com- pele aos Bispos, e Cierig'os para o bom regimen da Igreja; Graciano foi um dos mais famosos canonistas, e es- te estudo nao se consegue sem se re- voJver os Digestos, e os mais livros de Justiniano ; e que bem mal parece esta vida com a d'um perfeito Reli- gioso ! Outros ainda se apartavâo pa- ra mais longe appiicando-se ás Medi- cinas, Mathematicas^ &c. Rigord Mon- je de S. Diniz foi Medico do Rei Luiz o Grosso, e S. Bernardino testemunha o mesmo d'outro Religioso da sua or- dem : estas sciencias , que elles attrí- buião a piedade, se virão bem depres- sa exercitadas por interesse. O Con-^ cilio de Reins feito peio Papa Inno- cencio 2;° em 1131 prohibia aos Mon- jes, e Clérigos Regulares o estudo das Leis, e Medicina, declarando que a avaresa os tinha obrigado a serem advogados 5 e a defenderem tanto as cousas justas, como as injustas, ea cuidarem mais na cura dos corpos, que no interesse das almas, demoran- do-se muitas veses com vistas, e ob- jectos 5 que a modéstia deve calar. O p i i ■:i — ^26 — Concílio de Latrao feito pelo Papa Vi- ctor 4.' em 1139, e ainda o de Tours por Alexandre 3.' em 1163 coníirmâo pelas suas prohibiçôes todos estes fa- ctos vergonhosos em um estado tão puro como he o religioso. O serem prejudiciaes á Republica^ e á mesma igreja a multiplicidade de Conventos prova-se também pelo mes- mo Concilio de Latrao celebrado em 1215, em que prohibe a criação das novas Ordens , e Congregações ; diz assim: ==^Que a grande multiplicidade de Mosteiros 7%âo trasia á Igreja mais do que confusão ; que todo aquelle que quisesse ser Religioso entrasse em al- guma das approvadas ==^ Este Conci- lio foi um dos mais sábios, e confor- me ao espirito da pura antiguidade. S. Basilio na sua regra diz: = ^Mg não he conveniente ^ e no mesmo lugar ha- verem dous Conventos ; = quem qui- ser saber a causa, em que elle se fun- da , pode examinar os seus escritos com mais vagar. Em quanto ao dam- no que recebe a Republica bem fácil he d' averiguar ; basta queixar-se a Igreja, como Cabeça, para que os --. mi — membros padeção respectivamente. Eu não me quero lembrar das provas para este pensamento , por não tornar a traser á lembrança as diabólicas má- ximas dos Jesaitas : quem poderá du- vidar que esta numerosa Assemblêa se vê hoje trocada na Europa na mais refinada Synagoga ? O Concilio de Latrão tinha bem sa- biamente definido as criações de no- vas Religiões; porem os seus Decre- tos forão muito mal observados pela multiplicidade , que houve pelo tem- po adiante. O Concilio de Leão feito 60 annos depois lamentou esta desor- dem , e fez supprimir algumas de no- vo erectas; porem a sinceridaxle d'al- guns Pontifices, inclinados mais á pie- dade , que ás lettras , tem dado occa- sião á pouca observância dos Concí- lios, porque os Conventos tem conti- nuado mais e mais. Se os inventores das novas Ordens não fossem pela maoir parte Santos Canpnisados , cer- tamente se poderia presumir terem si- do sedusidos peio amor próprio, para se exaltarem sobre os outros; porem, sem prejuiso da sua santidade , deve- RIOS acreditar que muitos não tinhãa aquellas luses, que Jhes erão necessá- rias para tâo grande fim. A Religião Seráfica , que he hoje uma das mais relaxadas que tem o mundo > me deve dar toda a força pa- ra este argumento; (principalmente tendo ella com o seu excesso relaxa- do todas as mais) S.Francisco euidou que a sua regra não era mais que a puresa do Evangelho ^ unindo-se par- ticularmente aquellas palavras, que disem : =: Não 'possuas ouro ] prata ^ nern saco para viagens, nem sapatos -=^ O Papa Innocencio 3/ teve grande difficuldade na approvação deste Ins- tituto tão novo ; porem o Cardeal de S. Paulo , Bispo de Salina tomou a si a empresa disendo ao Pontifico, que o rejeitar os rogos daquelle pobre ho- mem , era o mesmo que despresar o Evangelho. Este Cardeal, e o mesmo Santo não considerarão na continua- ção do texto, Jesu Christo quando enviou os dose Apóstolos para a mis- são disse-lhes: ==:= não possuaes ouro, nem prata ^ &c. He certo que Jesu Christo não quiz aparta-los da avare- sa, e do desejo de se aproveitarem do dom dos milagres, disendo-lhes : = não temais que vos falte o necessário , porque aquelles, a quem deres a saude,^ ou a vida, vos não deixarão morrer á fome, na consideração que o hom obrei- ro sempre merece « sua nutrição. =^ Desta lição não se segue qoe os Apóstolos deVessem comer , sem faze- rem milagres, e missões extraordiná- rias: elles o executarão bem ao pé da lettra, porem os nossos Capuchos, segundo a mesma obrão tanto pelo contrario que não ha lugar , aonde se não encontrem carregados de sacos, e o mais he não pregarem o Evangelho sem celebrarem preço , e receberem immediatamente a paga. Que bella execução do texto de Jesu Christo ! Se os Papas, e os Bispos se appli- cassem mais seriamente a reformar o Clero Secular, não se verião obriga- dos a admittir estes estrangeiros na Igreja. No mundo nunca houver ão mais que duas ordens de pessoas con- sagradas a Deus; que são os Clérigos sujeitos aos Bispos para bom regimen, e conducta dos fieis,— e Monjes ii> — 2ao — teiramente separados do mundo , ap- plicados ao trabalho , e a orarem em silencio. Este santo costume se vio de todo extincto no decimo terceiro sé- culo pelo que vou expor. Os Irmãos menores, e os Religio- sos modernos do dito século escolhe- rão a mendicidade para poderem sub- sistir sem trabalhar ; elles deixarão de íser Monjes por se unirem ás Palestras do mundo, na certesa do que Ihesnào faltariâo pessoas piedosas, que os soc- corressem com esmolas. Eu não cri- mino a S. Francisco; porque este or- denou o trabalho a seus filhos, não lhes permittindo o pedirem senão na ultima necessidade. Eu quero traba- lhar (diz elle em seu testamento) e de~ sejo que todos os meus Irmãos se appli- quem ao mesmo, e aquelles que não souberem, aprendão , e quando se nos não pague recorreremos ao Senhor, pe- dindo de porta em porta ; em conclu- são fechou o seu testamento pedindo ao Papa lhe não concedesse aos seus filhos privilegio algum para interpre- tação da sua Regra; porem o espirito da discórdia, que então reinava, não I — 231 — OS pAde conservar na santa simplici- dade do seu Patriarcha. Não erão ainda bem passados 4 an- nos depois da morte deste santo íio- mem, quando os ditos filhos ajuntarão um Capitulo em 1230 para anriullarem o testamento do pai, e com effeito al- cançarão do Papa Gregório 9. uma Bulia para não serem obrigados a ob- servação do testamento, e poderem dividir a Regra em muitos Capituk)S. Desta sorte o trabalho das mãos tao recommendado pela Escritura, e tao estimado pelos antigos Monjes se tez odioso; e a mendicidade, que antes era odiosa , se lhes fez agradável ; e com rasão mudarão de pensarnento , porque sendo a sua profissão tão po- bre, hoje são os mais ricos do mundo. Trinta annos depois da morte de S. Francisco se entrou a ver uma rela- xação universal nas ordens mendican- tes. Eu não me lembrarei dos prantos de Matheus Paris, nem de Pedro Vi- gues em nome de todo o clero secu- lar, por serem partes interessantes; só me contentarei com o testamento do Doutor Boaventura Santo da mes- mm ''a ' ÍJIi i ma Ordem , o qual nâo deve ser sus- peito; eu trasladarei ao pá da lelíra o que elle escreveu em 1257 sendo Ge- ral a todos os Provinciaes , e Custó- dios: elle lamenta a multidão dos ne- cjocios, pelos quaes precisavão de di- nheiros; a ociosidade de muitos; a sua vida vagamunda ; a impor lunidade em pedir; os grandes edifícios; a cubica de sepulturas, e iestamentos; artigos que cada um de per si merece as mais ' serias reflexões. O terceiro defeito , que este Santo Doutor reprehendeu aos seus irmãos, he a vida perigrina; que por darem descanço aos seus corpos (diz o Santo) se fasem pesados aos seus hospedes, e os escandalisiio com a sua vida, eni vez de os edificarem. Eu sim me,lem«- brára de todas as mais regras , e ac- ções feitas a este fim, porem julgo ser melhor ve-las nas suas cartas, as quaes nâo traslado por não faser enfadonho o meu critério. Morto o Santo Doutor a desordem entre estes espirites en- trou a faser grandes progressos pelo desgraçado scisma , que dividiu toda a ordem e^tre os irmãos espirituaes^ ^ os cia observância conimúa. O Pa- j^ Celestino, do qual o zelo era maior, qte a prudência autorisou esta divi- são sem advertir nas perniciosas con- seqiencias, que se seguirião ; e se o Papa João 20.% que depois succedeu , não amdisse como mais sábio a estas desordt^is , certamente se não conhe- cerião j\ no mundo estes mendigos. O espiriv^ da discórdia, que nunca acaba en»re semelhantes individues , continuou até ao governo do Papa João 22."., c qual querendo condenar estas indocií^ades , elles o declararão herege por s^ própria autoridade , e appeilárâo das^uas Constituições para o futuro Concilw em fim a revolta foi tal , que unind^^se estes Monjes ao partido do Imper^or Luiz de Bavie- ra fiserão depor ^Pontifico , e collo- cárão em seu lug^ o Anti-Papa Pe- dro de Corbiere cixtura sua; este. o zelo, humildade, p\)resa, e perfei- ção Evangélica dos ossos respeitá- veis Franciscanos. Os Monjes, e os m^ antigos reli- giosos entrarão a ser co^j^inados de- pois da introducção dos Mendicantes : ^^'[í:^! : ^ 234 — . elles já se não deixavao ver admirá- veis , como antigamente , pelo sm amor, retiro, e desinteresse, antes se entregavão á ociosidade, e á molksa; os mesmos estudos , que deviam íio- recer, se viâo na maior decadência; aquellas obras, que os sábios ídmira^ vâo na eloquência dos livros c^ S. Ba- silio, e Gregório Nazianzeí^ j já se não vê hoje nas Religiões .-porque o tempo falta para a palestrr? e recria- ções do espirito: estes sar^s acompa- uháríio, e com tudo nã' deixavao o trabalho das esteiras, â que me tor- no a lembrar para er^cação minha. Prouvera a Deus (jue^ Religião , em que vivo, seredusisse^^iuelíes mesmos princípios para me^^ío ver tão abati- do no estado de le>o, que professo, A causa que de^^^^bro desta relaxa^- çSo universal he ^^^^ commum, que lodos seguem f^ Qu® os tempos não são sempre ig'^^^? © que os homens não vivem , r^" tem a mesma força que os primpos ; este prejuiso lie ura dos mais fcf^ H^^ se encontrão em Homero, e^irgiíio sem provas, nem factos coo^^t^s ; do século de Moy- — Q35 ■-. sés té o nosso, em que passâo de 3000 annos, nunca as vidas forão mais di- laUdas do que hoje; um Psalmo, que traz o seu nome, comprova melhor es- ta verdade ; estes prejuisos populares sâo os c^ue causâo relaxação não só na plebe, como nos Religiosos, e em to- da a Igreja: deste erro commum nas- ceu a liberdade de destruir o espirito do jejum no duodécimo século. Pedro o venerável querendo escusar a rela- xação disse que a naturesa humana se tinha enfraquecido depois de S. Ben- to; ao mesmo tempo que S.Bernardo affirma que nesse tempo todos os fieis jejuavão a quaresma com uma só co- mida. Todos sabem que S, Bernardo he um dos que affirma que a relaxação dos Conventos se tem originado das isenções: duas das suas canas são tes- temunhas evidentes; a primeira feita a Henrique Arcebispo de Sens , e os Livros das Considerações ao Papa ^.u- genio; em uma lamenta os Monjes , e os Abbades , que alcançarão as isen- ções; em outra os Papas, que lhas concederão : eu não me posso capaci- it --236 — tar de que estas desordens da Igreja nâotragâo a sua origem das falsas De- cretaes, pela idêa confusa de que os Papas podem tudo, -^ Não ha máxima mais perniciosa para o despréso dos Bjspos, e de todo o Glero; estas isen- çôes^ não são mais, que uma origem de divisões na Igreja, formando jerar- chias particulares, e dividindo os mem- bros de Jesu Christo, çue devião es-^ tar unidos á mesma Caòeça; vejão-se as disputas, que hourerão sobre esta matéria no Concilio de Vienna, entre Gil de Roma, e o Arcebispo de Bur- gos, e o Abbadíí de Chéli principal- mente contra os Mendicantes. Destas isenções e liberdades tem nascido a igní?rancia de Theologia Mo- ral introduszda ha 400 annos ; os Ca- nonistas, qiie tem escrito nestes ulti- inos secujos, são pela maior parte Re- ligiosos Mendicantes, que se acharão quasi sós na administração da Peni- tencia: estes Canonistas não conhe- cem a antiga disciplina, porque ape- nas se lembrão do pouco, que encon- trão nos Decretos de Graciano , como melhor se vé das suas citações : elios ... 237 — • ignoraô os antig-os Cânones peniíen- ciaes, e diversos gráos de penileiícia, e por esta faita tem inlrodusido um novo meio de deixar reinar o pecca- do; porque uns escusão a maior par- te delles, e outros faciliíão as absolvi- ções, instruindo aos penitentes de dou- trinas erróneas, — idéa em que derão os Doutores modernos com as suas dis- tincções , e subtilesas escolásticas , e principalmente com a perniciosa dou- trina do probabilismo. Eu creio que estas novas devoções, iíitrodusidas pela maior parte pelos Re- ligiosos, tem concorrido para íliminuir o horror do peccado , e não respeitar a correcção dos costumes. — - Nós ve- mos a mkior parte dos povos, que em trasendo uns bentinhos, um livro de S> Barbara, umas contas, ou alguma oração famosa, já não cuidão em per- doar ao inimigo, restituir o alheio, nem deixar as concubinas; e applica- dos a estas pequenas devoções censu- rão a todos aquelies, que praticãomais pelo centro as virtudes: destas desor- dens nascem os cultos exteriores ao sacramento V estimando mais adora-lo i" I exposto, e segui-lo em procissclo, que vemos he mais um entremez ao Divi- no, do que louvar os santos, e a Deus. Este invento de novas devoções pelos Religiosos não o devo provar senão pelos factos succedidos entrenós, e nesta mesma Corte, Não declaro os seus autores por não faser mais vergonhosa a sua falta ; bas- ta que vejamos as Cartas Reprehensi- vas do nosso Patriarcha fixadas pelas porias das Igrejas , lamentando a des- graça em que se vêem os povos ; cha- rnando-os como bom Pastor para o seu rebanho , e puresa evangélica. E sem duvida que a oração men- tal faz todo o fundamento da Religião Christã, como o exercicio actual da adoração em espirito, e em verdade prescripto por Jesu Christo ; porem aquella devoção ociosa, e principal- mente equivoca se vê continuadamen- te reprehendida pela Escritura Santa, a qual manda orar em retiro , e soli- dão. Este defeito se vê mais frequen- te em mulheres preguiçosas, e d'ima- ginação mais viva ; d'aqui nasce que as vidas das Santas destes- últimos se- culos, corào S> Brígida, S> Cathari- na de Senna e a bem aventurada An- gela de Folgino nâo contem senão pen- samentos , e discursos sem algum fa- cto remarcavel. Estas Santas empre- gavão sem duvida a maior parte do tempo em dar parte do seu interior aos Religiosos , que as dirigião , e es^ tes Doutores prevenidos em favor das suas penitentes, das quaes elles co- nhecião o espirito, recebião com fa- cilidade os seus pensamentos como re- velações , e tudo o que lhes parecia extraordinário o baptisavâo pòr mila- gre; e o roais he faserem públicos se- melhantes factos, sem advertirem que em muitas partes se nâo conformavâo estas revelações com os sentimentos da Escritura. Se os nossos Religiosos cuidassem em se instruir em S. Paulo, elles a- prenderião de suas cartas uma doutri- na solida. Este Apostolo das gentes recommenda muitas veses a Tito , e Timotheo d'evitarem as fabulas. 8. Pe- dro em outro lugar as condena da mes- ma sorte, e os contos das velhas igual- mente os reprova S. Paulo ; assim co- mma — mo — mo êlles condenao as Fabulas JitdáH eas, assirn condeiiariflo as dos Cliris- tãos: hoje a Papisa Joanna acredita- da antig-amente pelos Caíholicos, he abandonada, e rejeitada pelos mesmos Protestantes. Baronio, sem duvida ho- ii)em santo, tem rejeitado qoantidade d'escritos apócrifos, e fabulas inven-* tadas por Metapliraste, e muitos au- tores. Os factos particulares em não serem verdadeiros^ não destroem a pu- resa da Keligião. — Por ventura nâa acreditando niSs a vinda de S. Thiago á Hespanha, de S.t^ Mag-daiena á Pro- vença , a historia de S. Gregório, e de SM Margarida , o Evangelho por isso- ficará menos obrigado a crer na SS,™"" Trindade, e na ÈncaFuação ? As tra- dições universalmente recebidas per- tencentes ao dog-ma da Fé, as lições de piedade, e o Sacramento devem ter toda a força por serern escritos invio- láveis dos primeiros séculos. Este res- peito, e credulidade não nos merecem^ todos os fíictos, porque a ignorância, e a malicia abusa da crença dos po- vos, sendo um dos pretextos mais for- tes dos Protestantes^ com que calum- — ^41 — ni^o a Igreja Catholica: elles tem per- suadido aos seus, que nós temos dei- xado a Jesu Chrislo para adorar os Santos ; e que a nossa Religião está redusida a ceremonias exteriores ^ ao culto das imagens, peregrinaç(5es , e confrarias ; e que temos suprimido a Escritura, para substituir em seu lu- gar as lendas fabulosas. Este fundamento tem posto aos He- reges em uma extremidade opposta to- talmente á verdade , não fasendo nada certo; alguns Catholicos com emula- ção de quererem parecer sábios se tem precipitado no mesmo abismo ^ não crendo em milagres, nem visões, por se não acreditarem simplices: este he um excesso de libertinagem. Jesu Christo em toda a sua vida miracu- losa converteu o mundo idólatra, dan- do o mesmo poder aos Apóstolos para faserem milagres. Um verdadeiro Chris- tão não deve ter difficuldade em os crer, porque Deus he o mesmo, e o será por todos os séculos ; aquellesque ♦ a Escritura conta são de toda a auto- ridade. Os Autores gravíssimos se de- vem crer, á proporção: — SM Irena, a ^ M^ — S. ftyprianoj 8.*^ Perpetua , SM ÂgOÉ- tinho : os escriíos de Hermes, e de Tertuliano ^ e de muitos outros, por- que teem todas as provas, e testemu-^ nhos evidentes. Todos os Santos Padres aíBrmão que os milagres não são o caracter, e si-^ fíal da santidade 5 porque S. João Ba- ptista, o maior entre os íilhos dos ho- mens, não fez algum conforme o tes- temunho de Jesu Christo. S. José pai putativo do mesmo Deus^ e muitos varões , que forão chefes da Christan-' dade , os não fiserâo ; nem o forte da Igreja he esse para as suas canonisa- coes: a vida humilde, os costumes in- nocentes , a penitencia , a caridade com o próximo j o desinteresse, e a imitação de Jesu Christo he o que dá motivo a serem proclamados Santos. S.to Agostinho diz que as virtudes são á semente da Fé, e que os milagres s6 servem para estabelecer a Religião entre os infiéis, fasendo-os conhecer o poder Divino. Em fim todas estas desordens, e er- ros introdusidos não nos tem vindo se- não dos Frades : todo aqtrelle que he Híl eleito pafaCroiiisla deve clesempeníiaf os seus deveres enchendo os livros tan- to de progressos da sua Ordem , como de milagres, e vidas dos seus Santos; e todo aquelle que se não vale da in- dustria das fabulas , e factos pueris he immediatamente expulso para entrar outro em seu lugar;— -esta he a praxe commum dos séculos presentes. Leia V. M.*^^ para se desenganar a vida de S. Vicente Ferreira escrita por um des- tes varôesj e diga-me o que sente em sua consciência ; que eu em quanto a mim quero-me persuadir que a Igreja nâo tem ainda notica do tal livrinho; eu o li ha muitos annos, e em idade mais tenra j e com tudo o não pude acabar sem compaixão. Tenho acaba- do,! amigo ; bem quisera continuar nes- te meu discurso com mais extensão,, porem as minhas occupaçôes^ e prin- cipalmente a da ucharia deste Con- vento, como V. M.ce gabe, me tira tOj do o tempo. O meu destino foi só obedecer-lhe , e por isso lhe peço não faça ver este meu papel a Religioso algum ^ porque sendo a minha lettra conhecida , temo que me facão a lios- — 244 — pedalem no mesmo cárcere, em que se acha o Padre ia seis annos sem haver alguma alma santa , que o tire por meio d'alguns sufíVagios daquellas penas : as suas culpas ainda hoje se nâo sabe quaes ellas sejão, nem se sa- berão em quanto durar o nosso Pro- vincial, que me disem torna a ficar outros três annos. Eu fico rogando a Deus pelo seu augmento ; V. M.^^ não s'esqueça daquelles protestos, que me tem feito como amigo o mais intimo , e especial. Eu sou sem reserva o mais attento obsequiador F, D. de SM Maria, m ■M ^ 245 — POESIAS. Mui raras são as Collecçôes dos ma- nuscritos do Autor, quetrasem os pou- cos versos , que se seguem. — Pareceu- nos porem inútil darmos noticia d'al- guma variante, que encontramos numa copia delias, por entendermos que esta- va escrita com rauita exactidão, e fide- lidade a de que nos servimos, — O so- 7ieto em resposta ao outro dirigido a seus filhos he attrihuido a João Gomes da Silva Conde de Tarouca. — Todas as indagações , e diligencias , que have- mos feito emdescubrir as menos impor- tantes producçôes do nosso erudito Gus- mão , não nos derâo occasião para ser- mos mais satisfatórios , ou extensos a respeito das suas poesias. U6 -« i I A Júpiter Supremo Deu$ do Ohjmpo. SONETO, Niimen que tens do mundo o regimento, Se amas o bem , se odêas a maldade Como deixas com premio a iniquidade, E assossobrado ao sâo merecimento? Como hei de crer qu'um immorta] tormento, Castigue a uma mortal leviandade? Que seja^sciencia, amor, ou piedade Kxpor*me ao mal sem meU consentimento? Guerras cruéis, fanáticos tyrannos, Eaios , tremores , e as moléstias tristes Encheiíi o curso de pesados annos; ie hes Deus, s'isto prevês, e assim persistes, Ou não fases apreço dos humanos, Ou qual diseru não hes; ou não existes, . ^ 247 — A seus dous filhos persuadindo-lhes o conhecimento próprio* SONETO. Isto nâo he vaidade ; he desengano A elevação do vosso pensaníiento : Dei-vos o ser, e dou-vos documento Para fugirdes da soberba ao dano. Esta grandesa, com que ao mundo engano Foi da fortuna errado movimento Subi; mas tive humilde nascimento: Assim foi Viriato , assim Trajano. Quando souberdes ler do mundo a historia Nos dous heroes, que tomo por empresa, Contemplareis a vossa, e a minha gloria. Humildes quanto ao ser da naturesa ; Illustres nas acções; e esta memoria JJe só quem pode dar-vos a grandesa. ISMI ■ ' ijlt [ 1 ' 1 1 1 M '1 1 :1 i! i li: 248 «- Reposta ao antecedente pelos mesmas consoantes, kSONETO. Para que chamar prudente desengano Ao que foi altivez do pensamento! Como queres que seja documento O que em vez de dar honra, te faz dano? Foi da tua levesa, cego engano, Esta vangloria, ou louco movimento; Não exalta o teu baixo nascimento Ser pai de Viriato , ou de Trajano. -Ao mundo deste uma nova historia Com esta da vaidade rara empresa, XJue mais parece injuria do que gloria : Como hes fofo, e vão por natureza. Não he muito que tenhas na memoria Ridiculisada a imagem da grandesa. A uma pastora tão formosa como ingrata, EGLOGA. Paslora a mais formosa, e dcsljumana, Que fases de njalar-me alarde, e gosto; Corno he poàsivel que um lào lindo rosto Unisse o Ceo a uma alma tão tyranna? Crupl ! Que te fj2 eu, que me aborreces? Tens duro coração, mais que um rochedo! Sou tigre, ou sou leão, que metta medo, Que apenas tu me vês desappareces ? Por ti tão esquecido ando de tudo, Que p gado no rcdil deixei faminto; O sol me fere a prumo, e não o sinto; A ovelha está achamar-me, e nãolh'acudo. Lá vai o tempo já, que em baile, e canto Eu era no iugar o mais famoso; Agoaa sempre afílicto , e pesaro«o SÓ o que eu sei he desfaser-me em pranto. 4^ Ha pouco que encontrei alguns Pastores, Que ião comigo ao monte apoz o gado, Que nâo me conhecerão de mudado. Que tal me tem parado os teus rigores! Ate o rebanho meu, que um dia viste Tão nédio antes que eu enlouquecesse, ' Não come já, nem medra, e se iinagrece Por dó, que tem dever-me andar tão triste; Elie me guia a mim, nâo eu a elle, Que vou nos meus pesares enlevado; Bem pôde o lobo vir, levar^me o gado A' minha vista, sem que eu dê fe' delle. Kão sei que nuvem trago neste peito, Que tudo quanto vejo me intristece; A flor do campo parda me parece ; Ate ao mesmo sol acho imperfeito, Do alegre prado fujo para o escuro Encontro mais triste dos rochedos; Ali pergunto ás feras, e aos penedos Se alguém he mais que tu cruel, e duro! Ali ouço soar rompendo o mato Do ribeirinho as saudosas aguas: E em competência vão as minhas 'maguas Dos olhos despedindo outro regato. Este mal, que hoje sofro, eu o mereço, Que ingrato despresei quem me queria; Agora que me vê, faz zombaria Que bem vingada está no que padeço. Então não conhecia o que amor era: Também me ria do tormento alheio; Oh quão cedo (inda mal) o tempo veio Que o conheço já mais do que quisera, Não me despreses não gentil Pastora, Que igual castigo, amor, talvez te aguarda. Não sejas á piedade avessa, e tarda. Tem dó de maltratar a cjuem te adora. ^mt í:^ — ^52 O MARIDO CONFUNDIDO. COMEDIA He versão do Francez, mas o Autor de tal modo a transformou^ e a alterou introdusindo-lhe algumas partes apro- priadas ao nosso paiz , que se pode di-' ser que mais parece um original. — Foi posta em scena no Theatro de Lisboa no anno de 1737 por um Actor desse tempo Nicoláo Félix Feris para com- praser a Lord Tirarvley , que desejava ver representada uma comedia em por- tuguez ; — esse que não era Embaxa- dm^ , senão Ba:::á na nossa Corte (ver- gonhosa sujeição fj tendo-nos os portu- guezes em tão boa conta , que de nós disia = que se pode esperar diurna na- ção, metade da qual está pela vinda do Messias, e a outra metade jjela d' El^ Rei D, Sebastião? ==^ ÉÊÊÊ — Í253 — Pessoas que representAo. BuTERBAC —homem de negocio, fra- men^o , casado com D. Angélica. D. Angélica — mulher de Buterbac, e filha de D. Alvar , Morgado de Besticães. D. Alvar — Morgado de Bestiães. D. Pabulea -— mulher de D. Alvar. Leandro — Visconde , amante de D. Angélica. Pascoela — criada de D. Angélica. Lambaz — Gaíiego, criado de Leandro. Salcim — criado de Buterbac. A scena he no Porto defronte das casas de Buterbac. HHi — 254 '■— i^y/aiK&igig ACTO PRIMEIRO* SCENA PRIMEIRA. JButerbac só, ÈtJfERBAc — Va]ha-me Deus! Que teffivel eaibaiaço he ter uma mulher fidalga ! Não ha exemplo mais próprio, que o do meu casamento, para escaí-mentar todo o homem ordinário, que intenta sahir da sua esfera , e aparontar-se, como eu fiz, com uma fa- mília de Cavalheiros. A nobresa por si he cousa boa; nào temos duvida; he uma pre- eminência mui considerável • porem tra2 comsii^o tanta circunstancia má, que ornais acertado he não se roçar por eíUi. Nesta matéria posso eu fallar C( .no o melhor Let- Irado, e ainda mal, que tanto á minha cus- ta tenho aprendido o estilo, que seguem es* tes Senhores, quando nos admittem no seu parentesco. Nâo he com as nossas pessoas, que o fasem , não; he com o nosso dinhei- ro. Quanto melhor teria eu feito, se com a riquesa que tirei do negocio em tantos ân- uos de fadiga nesta Cidade, tornasse para Flandes, e ali tomasse por iDulher a filha d'outro mercador, como eu; do que nesta Provineia aonde todos arrebentão de fidaW -- 255 gás, por mais pobres, que sejâo^ ir-ire a empoleirar com uma, que por fim de con- tas desdenha de achar-me ao seu lado, olha para mim por cima do hombro; e tem pa- ra si que lodo © meu haver, he uma droga, que nào valia a qualidade de ser seU mari- do. Ah Bulerbac, Buterbac, maior asneira do que tu fisesle ninguém a feZ neste mun- do! Já não tenho animo para viver em mi- nha casa, sacrificado a sofrer a cada ins- tante mortificações inaturaveis. Toda a vez, que me recolho a eila , já vou certo d'en- contrar nella algum dissabor* SCENA SEGUNDA. Buterbac^ e Lamba%, c -^ Mas que diacho iria faser nella puz, que de lá sahe ? — . Máo ; este bispou-me* Elle, ao que vejo, não me conhece. Alguma cousa suspeita já, Htii! muito lhe custa a faser cortesia. Tenho medo, que vá por ahi diser me vio sahir. Deus te salve , amigo. Oh, criado, meu Senhor. Tu se me não engano não hes desta BúTERBA este la Lambaz BUT. — Lamb.— BuT. — Lamb. d'onde BuT. — IjAmb. — BuT. — terra. Lamb. — vezes , as fcsti Não Senhor, eu sou lá de Cana- e não vim aqui mais que para ver jÊÊgsmm I — 25(> — Bui*. -^Ora fase-rne o favor de diser-meuma cousa. Lamb. — O que? BuT. -^ Tu vens daquella casa, não lie assim ? Lamb.' — Xit. BuT. -^ Corno? Lamb.—' Moita. BuT. -- Po IS que Lamb. — * Cale vossê a boca, e de nenbum modo diga, que me vio sabir d'aii. BuT. — - Porque? Lamb.-— - Porque sim ; eu cú me entendo. BuT. — Mas ainda assim, se eu soti-her a ra- são, calar-me-hei de melhor vontade. Lamb. — Pois eu lha digo, de manso. Não esteja aqui alguém que iios ouça. BuT. — Podes fallar que ninguém nos escuta. Lamb.-— Vem a ser o casa: fui agora fallaf á Dona daquetla casa, da parle de ctulo Cavalheiro, que anda morto por ella; e nâo será bom, que ningem satba isto. Entende- me agora ? BuT. — Sim. Lamb.— Ora eis ahi a rasão; encommendá- rão-me que tomasse bem sentido, que nse não visse alguém , e assim far-me-ha o fa- vor de nào diser , que tal vlo. BuT. — P^u? mel lo- me com isso? Lamb. — Porque olhe; eu gosto de faser as cousas com segredo quando uio eneomaien- íiuo. Btjt. — He rnwila bem feito. ~ 257 — Lamb. — O marido, pdo que disem , he um cioso, que não quer que lhe namorem a mu- lher; e iria tudo c'o3 diaijos, se isto lhe chegasse aos ouvidos. Já me enlendc. BuT. — Muito bem. Lamb. — E assim he escusado que elle saiba nada disto. BuT. — Sem duvida. Lamb. — Elles vão atraz de progar-lhe o mcí- no, como quem não quer a cousa ; não sei se me explico ? !BtJT. — Admiravelmente. Lamb. — Se vossê fosse agora por ahi diser^ que me vio sahir da casa, logo havião de perguntar — que foi lá faser? E era deitar a perder o negocio. BtJT. — Certamente; ecomo se chama o que \ lá te mandou l Lamb.' — Não diga vossê nada: he um Ca- valheiro lá das nossas partes de Amarante, qiie foi de pequenino para Lisboa, e tornou ha poucos meses: chama-se o Snr. . . . . . valha-te Deus cabeça ! He o Snr. ...... Leão. . . . ; . Cabrito. ..... ah já me lem- bra! Leandro, Leandro de Brito. BuT. — Olí bem conheço. Não he certo Ca- valheiro que i^ora. ...... í acolá. . Lamb. — Sim a par daquellas arvores. BuT. — por isso o mancebinhd almiscaradó, pouco tem^o ha, veio morar defronte de ínim; logo me cheirou a esturro, e já me' dava suspeita d sua visinbança (ci parte)^ R IBP 11 ' . — 258 — Lamb. — Pela oria, que e o mais honradí* homera , que se pode ver. Dcu-nie Ires loti- ras só por ir diser á mulher, que está na- mprado delia; e q«ie deseja muito a fortu- na de lhe poder fallar ; como que fora um grande trabalho, para nje dar ião boa pa* ga. Quanto vai deste officio ao de segador, em que se não ganha mais que seis vinténs cada dia. BuT. — E tu chegaste a dar o teu recado? Lamb. — Bom está se o dei ; e por sinal , que topei lá com uma tal Pascoela, que ainda cu não tinha aberto a boca, já tinha enten- dido o que lá, me levav^, e me fez logo lal- lar com siia Ama, BuT. — Ah magana de criada! (aparte), Lamb. — E a tal criada be boa, como manda a regra; cá me deu co'os pes n'alraa, e se el!a quisesse depressa se faria o matrimonio. BuT. — Mcis que resposta te deu a Ama pa- ra o (Cavalheiro ? Lamb. — Disse-me, que lhe dissesse .... * ora espere, não sei se me lembra bem tan- ta cousa; que lhe ficava muito obrigada do amor, que lhe mostrava, e que por conta do marido ser tão despropositado, fosse com iiiiiilo lento de não dar cousa alguma a co- nhecer, e que se buscaria alguma habilida- de para se poderem fallar. , Btjt. — Oh desaforada mulher! (aparte). Lamb. — Olhe que ha de ser ben» galante á historia ; porque o marido não suspeita na- — 259 da da Carartibóla, e isso he o que tem mais graça ; e no cabo ha de se achar cangado com todo o seu ciúme. Não é astim í BuT. — Sim, sim. Lamb. — Pela minha pnrte não me hei de dar por entendido de nada. Nã<«, que eu sou destro como trinta, e sei comer as ver- ças sem sujar os beiços. (F^ai-se.) SCENA TERCEIRA. Buterhac sd. BuT. — E pois Buterbac! Olha de que mo- do te trata tua mulher. Eis aqui em que parou o quereres casar com uma fidalga. Faz de ti o que bem lhe parece, sem que te possas vingar; porque a fidalguia té ata as mãos. Quando um homem casa com mu- lher da sua igualha, tem ao menos a honra, do marido a consolação de um livr^e desafo- go: se te acharas com uma da tua esfera, nenhum obstáculo terias agora para te faser justiça com um born arrocho; porém tu quiseste provar, qué gosto linlia uma mu- lher nobre: já estavas enfadado de seres do- no da tua casa? Ora toma. Entro em fúrias, quando bem o considero, e estaria agora capaz de dar em mim mesmo muita bofeta- da. He isto crivei? Dar ouvidos, sem ver- gonha alguma, aos amores d'um patarata, e ali para logo promcttcr-lhe corresponden- i: lii — 260 — fcias? Não, pela hoistia de um nabo, qiié não me ha de cscap.ar osla occasiãò. Agbiá rnesmo me hei de ir qjieixar a seus Pais, e fase-Ios sabedores, pelo que pode succeder, dos motivos de des^^osto, e de reserili mento, que me dá suá filha. Mas elles aqui vem ambos muito a propósito. scENA quarta: o Morgado de Bestiães, D. Pabutea^ e Buterhaci MoitG. -*^ Que he isso, meu Genro, parece, que vos vejo pensativo, e um tanto turbado ? BuT. — K não me falta rasâoi D. Pau. — • Valha-me í)eus ! Genro, que as- sim sois mal criado^ que não faseis cortesia á gente quando lhe fallais. BuT. -— Por certo, minha Sogra ^ que ou- tras cousas me andâo agora revolvendo a cabeça. D. Pab. -— Outra vez. He possível. Genro ^ que sempre hajais de ser tão pouco polido, e que não haja modo de vos ensinar ^ da sorte que haveis de tratar com as pessoas dtí dislincção ? Buí. — Como? I). Pab.— Nunca pendereis comigo essa con«i fiança de me chamares Sogra ? Não vos cos* tumareis uma vez a diser, Senhora, ou mi-' iihâ Senhora ? & — 2fil — -BÚT. — Essa nâo estú má; a qiiom me chama seu Genro, parece.-rue que me será licito cliarnar-llíe minha So^^ra. D. Pab. — Ahi ha muito que diser, e as coun sas não são iguaes. Bavcls de saber que vos não compele a vós usar dosse nomo com lima pessoa do meu nascimento; que sup- postp sejais noáso Genro, vai muita diffe- rença de vós a nós, e devereis conhecer- vos. MoRG. — Basta, minha rica, por ora dei- .%emos essíis disputas. D. Pab. — Oh Senhor, tii tens umas bonda- dos, que me fasem perder a paciência. Que pouco cuidas em te faser tratar pela gente como he devido ! MoRG. — ^ Oh pardeças, isso rião. Nesse par- ticular nenhum é capaz de me ensinar, em varias occasiões d'empenho!, tenho mostra- do que não sou homem que ceda um áto- mo das suas prctencpes. Porem deve bastar essa pequena advertência, que lhe fiseste. Ora saibamos. Genro, que he p que o traz pensativo? BuT. -— Já que hemos de fallar, como se fossemos estraíihos, saberão V. M.^— meus Senhores. MoRG. — De vagar , Genro ; nâo debalde a Morgada se impacienta com as vossas, gros- serias. Que quer diser V. M."^^* a pessoas da nossa qualidade? Para que se inventou a Senhoria, se nâo he para distinguir qa cobres çjos vilões ruins? — ^6S -^ BuT, «— Ainda rnais esta? Essa embrulha- da de tratamentos ainda, pelo favor de Deus , cá se não conhece nesta Província. MoRG, "-^ Pois bem he que se conheça, por» qve os homen'? de distincçào das Provincias he justo, que imitem os estilos da Corte. D. Pab,-^ Meu rico, não te tenho eu dito, que estes estrangeiros são uns testudós, que nunca hão de saber tratar com gente, MoRG. — Como quereis vós. Genro, que os homens brancos, com quem eu fallar, me dêem o tratamento, que me compete, se virem que mo não dá um homem como vós? BuT. — Hui ! Senhores! Eií hei de dar a V. M.*^* Senhorias, que até agora lhes não ouvi dar mais, que, pelos seus criados, quando vejo que elh'S mesmos se riem de V. M.*^^' assim lho ordenarem? MoRG, — - Sim, Genro, assim se começa. Ao exemplo dos de casa , se movem os de fora. Que melhor podemos nós faser do que ir se-^ ffuindo o que se costuma na Gòrte. Ouvi- me vos. Bem vejo que islo nao serve para vós, que sois homem ordinário; mas sem- pre co.nvem que vo-lo explique para poder ensinar vossos filhos. Eis aqui o que eu ob- servo, e que me consta que se estila na Cor- te. Eu dou a Senhoria a Fulano, a fim de que Fulano ma torne, Esta he já a regra ge- ral: mas na pratica delia he preciso us.ar de algumas pieGauçôes, Solta-se primeiro por çhanuvriz um Vossia , que hc certa palavra, — 263 — hermafrodita, que se pode igualmente in- lerpelrar por Senhoria, e por Vossc. Manda- se estu á fortuna, como uma guarda avan- çada a descubrir se ha no campo amigos, oií inimigos. Se me respondem ao Santo hé sinal que estamos d'acordo, largo atraz da- qiiella expressão a dcVos-ria, que he o se- gundo explorador, já com menos rebuço, • e se este encontra boa correspondência, fi- cão seguras as amisades, e correm livremen- te de parte a parte as Senhorias claras» e esburgadas. BuT. — Ha tal empurraçâo? Senhor Mor- gado, vamos ao qu'importa. MoRG. — Ora ouvi, que isto importa mais do que vos parece. Se o sujeito me falia por terceira pessoa, adargo-me na mesma forma, e nella me mantenho ate que o tem- po faça o milagre. Mas se me responde por mercê (que só algum melancólico se encon- tra hoje, que se obstine nessa antigualha) assento-o em lembrança, para evitar d'ali em diante a sua conversação. Isto que vos tenho dito, se entende com os que são Cava- lheiros, ou com aquelles de quem dependo; porque com essoutros escudeirotes e peões de três ou quatro avós, e com outra gente in- ferior, se duvidam dar-me Senhoria, fujo de fallar-lhes, o dessa sorte são elles os que ficão peor, porque se privam da honra de tratar comigo. BuT. — E em quanto houver duvidadores , mman wm que sempre será o maipr numero andí^riío V. M/"^ regateando as palavras, e reliran- dorse das companiiias? Ora, Senhores, li- vrem-se desse tormento, não dêem de quo rir á gente; deixem as Senhorias para os Cavalheiros grandes da Corte, e vamos ao que tenho que diser-lhes, que me in^porta mais do que isso. MoRG. — Oh Buterbac, estais muito enga- nado; porque os fidaJgos cá de cima, não devem nada aos de Lisbog. Já vos expli- quei, que aquelles se presão muito de des- cenderem dos filhos segundos, que de cá fo-,: ião seguindo a Corte, e fiserão maiores for- tunas, porque se chegarão mais perto do» sol; que se hvessem por aqui ficado, ainda agora estarião ás nossas sopas. P.Pab. — Olhai, Genro, sempre ouvirieis di- ser, que para lá forão os ramos, porem cá remanescem os troncos. Quem disse nobre- sa , disse a dos nossos solares do Minho, e por dous avós, que elles pá contão, conta- mos nós sete, ou oito. BuT. — Senhores, que tenho eu com todas essas arengas? Eu lhes darei Senhoria, c Illustnssima se quiserem, com tanto que queirão dar attenção, ao que me imporia diser-lhes. MoRG. —- Ora disei. Ouçamos» ^UT. — Saberão pois Vossas Senhorias que a minha Companheira ;^íoiiG.r— Tende mão, Que mpdo de fallar h^ es ha aqui que duvidar, e não tenhais receio dé exceder quando sou eii o que vos guio, Btjt. ^— Isso não he comigo. MoRG. -^ Ouvi vós, Buterbac, olhai que já me vou enfastiando, e que me porei com este Cavalheiro contra vós; ora andai, dei- xai-vos governar por mim. I5jjT. -^-í Oh triste de ti Buterbac ! MoRG. — Em primeiro lugar o chapeo há mão, porque o Senhor he fidalgo, e vós IA I m — 278 ■— BuT. - — Vejo-me desesperado. MoRG. — Agora ide disendo comigo ::=: Senhor BuT. — Senlior MoRG. — V. S.* me perdoe ( vendo que o Genro fa% difficuldade) Que be isto ? BuT. — Pois uào basta o que está passando por mim? Também hei de trata-lo por Se- nhoria? MoRG. — Hui! tem boa duvida quando lha dou eu; ora andai, nâo sejais impertinen- te, disei V. S,* me perdoe. BuT. — V, S." me perdoe MoRG. — O mal que imaginei deV. S.* BuT. — O mal que imaginei de V. S.* MoRG. — . Mas he porque nâo tinha a fortuna de conhecer a V. S.* BuT. — Mas he porque nâo tinha a fortuna de conhecer a V. S.* MòRG.^— E peço a V, S.* que me tenha BuT. — E peço a V* S.* que me tenha MoR(5. — ' Na conta dos seus criados BuT. -^ Ora Senhor, V, S,* eglá zombando ; quer que eu me chame criado de quem me quer faser cornudo? MoRG. (ameacando'0) ^ — Olá, ho. Lean. — Basta, Senhor Morgado^ MoRG.^^Não Senhor, quero que acabe, e que as cousas vâo em forma. Disei : na con- ta dos seus criados. BuT. — Na. ..... na. ..... na. .. .. na con^ ta dos seus criados. Lean. -^ Eu que o sou deV. M." , e o pas- — ^79 — $ado passado. Y, S.* se fique embora , e sinto que tivesse este detrimento. MoRG. — Beijo as mãos de V. S.% e q\iando for servido de ver correr dous galgos, esti- marei piocurar-lhe esse divertimento. Lean. — Agradeço a V. S.* tanta mercê, que me faz. (^f^ai-se.) MoRG. — Nesta forma, Genro, he que se de- vem levar as cousas. Ora adeus, tirai essas parvoíces da imaginação, e ficai com a cer- tesa de que tendes parentes, que saberão punir por vós, que não hão de sofrer que se vos faça a minima affronta. {Fai-se,) SCENA SÉTIMA. Buterbac só. jBut. -^ Oh se eu Assim o quiseste , assim o quiseste, Buterbac, assim o tenhas. Que bellamente que está isto que te succe- de! Estás galante e tens justamente o que mereces. Que hemos de faser? O ponto es- tá em desenganar o Pai , e a Mãi. Não haverá algum modo de consegui-lo ? Agora me occorreu um , Vamos a ver se pos- so effeitua^lo. rÍM DO PRIMEIRO ACXO, -. â80 «a5!aSg>®<^H ACTO SEGUNDO. SCENA PRIMEIRA. Lambazj e Pascoela. Pasg. — Sim, logo eu disse, que só tu po- dias ser, e que a alunem o disseste^ queirn- mediatamente o foi cliocaihar a nosso amo. LaMb. — Por vida minha, que não forão mais que duas palavrinhas, assim ao de leve, que disse a um homem, para que nao dis- sesse que me tinha visto sahir delia. Mui bacharel deve ser a g«nte nesta terra! Pasc. — Na verdade o Snr. Leandro foz mui- to boa escolha de ti para Embaxador, c se sérvio d'um homem bem sagaz. Lamb.— Ora para outra vez serei mais ma- nhoso, e farei as cousas com mais tento. Pasc. — Sim, a bom tempo; depois do asno morto cevada ao rabo. Làmb. — Nâo fallemos mais nisso =: escuta. Pàsc. — Que btí o que hei de escutar? Lamb. — Volta essa tua carinha para mim. que mais Pasc — Ora pois , Lamb. — Pascoela. Pasc. — Que temos? Lamb.^— Ora tu não sabes diser? o que eu te quero Vh^c. — Nâò. L;^MB.— Tois lie samícas, que te quéro btím. M .nc^. — D« veras ^ de veras. Lamb. — wSirti os diaboâ me levera , se minto: já podes crer, pois que juro. Pasc. — Mdilo embora. Lamc— - Cada vez que to vejo rpe faz ó co- ração zuque, zuquc, tafe, tafe. Pasc. — Kstimo muito. Lamb. — Como fases tu para seres tão bonita ! Pj^sc. — f'aço como as mais. X.AMB.— Olha cá, para que estamos com ce- remonias? Se tu quiseres serás minha rhu- Jher, e eu serei teu marido; e assim sere- mos ambos marido, e mulher. Pasc. — Ese tu fores cioso como nosso an^o . Lamb. — Nada. p^sc. — Quanto a mim tenho ódio aos ma- ridos ciosos, e quero um que de nada se as* suste; e que faça tal opinião de nr^im , qfue ainda que me veja entre um cento d'hofne'ná não lhe dê isso abalo. Lxmb. — Pois eu serei assim mesmo. Pasc — He a maior parvoíce do mundo tO* do desconfiar da mulher, e dar-lhe consu^ miçôes; a verdade do caso he, que d'ahi nuo se tira cousa boa; a mesma desconfíaii-^ ça nos faz cuidar em mal ; e peln maior parte são os maridos, que coni as suc'is es- traladas se vem a faser mais depressa,, o meâmó que não querem ser. La.mb.— - Pois eu te darei licença para fasares quanto tu quiseres. pAsc. — Eis ahi como has de faser para eu te não enganar. Quando um marido se en- trega á nossa descripção tomamos aquella liberdade, que nos basta, e succede-lhes co^ mo aquelles, que quando tem que pao^ar abrem a bolsa; e disem : pague V. M.*^® , e nós usando de primor nos contentamos do que he rasâo; pelo contrario aquelles que regateâo, cuidamos muito em os depennar , e de nenhuma sorte os poupamos, Lasíb,-^ Podes ficar na certesa, que eu te en-» tregarei a bolsa, para tirares o que te con* tentar; e assim podes casar comigo. Paso, -r» Está bem , cuidaremos nisso. Lamb.- — Ora chega cá, minha Pascoela, Pasc. -^ Que queres tu? Lamb. (pegando-lhe) — > Ouve o que te que- ro diser. Pasc, —^ Oh de vagar com isso, qâo gosto de brincos de mãos. Lamb. (tornando a pegar) -^ Ora um sinal- zinho d' a mor. Pàsc, — Está quieto, olha que não sou pa-» ra graças. Lamb.-^ Pascoela, Pasc. — ^ Ai. Lamb. — » Hui ! que assim hes áspera com a gente J Isso não parece bem. Não t'env9r^ gonhas de seres bonita, e não queres que t© — 283 — façao mimos? Ora {querendo brin- car com ella.) Pasc. — Olha que te hei de chegar aos na- rises. Lamb. — Fora que assim hes arisca! Olhe a brava : tens medo que te coma ? P^sc. — Parece que te vás desaforando. Lamb. — Que te custava agora isso? Deixa- me faser Pasc. — Has de ter uma pouca de paciência. Lamb. — Uuí beijinho somente a descontar depois de casados. Pasc. — Sou criada de V. M.*'^ Lamb.— Ora Pascoela um á conta; fase-me esse favor. Pasc. — Tenho dito já cahi n'outra corrida dessas; adeus, vai-te, e dise ao Snr. Lean* dro, que eu terei cuidado de entregar o seu escrito. Lamb. — Adeus formosa, que arranha. Pasc. — Amorosa expressão! Lamb.— Adeus rocha, pedra, penedo, lage, seixo, calháo, e todas quantas cousas du- ras ha no mundo. (Fai-se.) Pasc* — Vou entregar o escrito a minha ama; mas ella aqui vcrn com o marido; desviemo-nos, e esperemos que esteja só. (^rai-sc.) — 284 — SCENA SEGUNDA. D. Angélica^ Bulerhac, e depois Leandro. BuT. —Não, não, não pôr o mel pelos bei- ços com tanta facilidade, e bem sei que tu- do^ o que jne disserão foi muita verdade, Nuo sou tão cego como A-ossés ciiidão, e ■ não lhe pareça que me capacito dos seus artifícios. Lean. — Ah ella aqui; mas coni ella está o marido, (a parte.) BcT. — Apesar dos vossos disfarces, bem co- nheci a verdade do que me tinhão referido; ^ e a pouca attenção, qué faseis ao laço, qué nos^ une. {fa% Leandro cortesia a Angélica) Valha-me Deus! Deixemoá por ora essas cortesias. Não he dessa casta de attençõos, que falio; e assim escusai de faser escarneo. Ang. — Eu faser escarneo ? De nenhum modo, BtJT, ^Bem sei o vosso sentido, e bem co- "^lí^Ço • {vendo outra cortesia de D. Angélica) Outra vez ? Ora basta de zom- bária. Eu não ignoro, que por conla dá ^'ossa fidalguia, me julgais muito inferior a vós; e a attenção em. que fallo não he res- peitando a minha pessoa. Eln^tendo faliar da que deveis a uma cousa de tanta ve- neração, como he o laço do matrimonio. (vendo que D. Angélica encolhe os hom- hros porque Leandro lhe f ah acenos) He es- •1 — 285 — cusado cncoUifír os liombros porque o que digo não he nenhuiiia asneiro. jVng. — Quem ho que encolhe os liombros? BuT. — Vailia-nie Deus! Eu bem enxergo: torno-vos a diser, que o matrimonio lie uma prisão, a que se deve todo o rcspíiilo, e que faseis muilo mai em praticar dessa ma- neira {vendo que D. uúngclica ace- na com a cabeça') Siíii, sim, faseis muilo mal, e não tendes de que ab-anar a cabeça^ nem faser-me visagens. í\ng. — Eu não sei o que vós quereis diser. BuT. — Pois sei-o cu muito bem, e conhero perfeitamente os vossos desi)resos,. Se não nasci nobre, ao menos nasci de ims Pais, de quem não ha que diser, e a família dos Buterbaques (enheéanto se tem D, Lea7idro chegado por detra% delle) Le4íí. — Poderei fallar-lhe um instante? BuT. — Que he? Ang. — O que? Eu não abri a boca. BuT. (vai ao redor da mulher^ e vé Leandro, que retirando-se fa% uma grande cortcsia^-^ Ki-Io aqui rondando-vos. Ang. —Pois eu tenho culpa disso? Que que- reis vós que lhe eu faça ? BuT. — Quero que façais, o que faz toda a mulher, que não intenta agradar senão a seu marido; pgr mais que, me digão, os amantes não persistem nas assistências, se- não em quanto vossês querern. Ha um tal motlo assucarado, que os atlrahe, como ínel — 206 -- âs moscas; e as mulheres honradas tem um aspecto, que bem depressa os despede. Ang. — Eu despedi-los! Porque rasào ? Não me escandaliso de me acharem bonita j an- tes o estiiUo muito* BuT. —Muito bem; mas que papel quereis que faça o marido enlretarjto? Ang. —O papel d'um homem de bem , que se lisongea das attençôes, que lhe fasem a sua mulher. BuT. — Muito sou criado sou eu; mas isso não me tem conta, e nós outros osButerba- ques, não estamos costumados a essa moda. j\ng. — Pois os Buterbaques tratarão de cos- tumar-se a elia , se quiserem; porque eu pela minha parte declaro, que neríhutiia conta faço de renunciar ao mundo, nem de sopultar-me viva em um marido. Com que por se metter a um homem na cabeça re- ceber-nos, logo tudo ha de ter fim para nós, e acabar-se o trato das gentes? He cousa notável a tyrannia dos senhores ma- ridos! Acho-lhe graça em querer que seja- mos mortas para todos os divertimentos, e que só sejamos vivas para elles. Mas eu zombo dessas pretençôes, e não tenho von- tade de morrer tão moça. BuT. - — Assim satisfaseis a fé, que publica- mente me destes? Ang. -^Amim obrigou-me o respeito de meus Pais a dar-vo-la, e a única cousa que me agradou no partido, que me propuserào foi ô considerar, que sendo estrangeiro, daríeis a vossa niulher a liberdade, qvie ellas tem nas vossas terras. Mas por ventura antes de casarmos curastes vós saber se a vossa pes- soa era de meu gosto? Para isto nâo con- sultastes mais que meus Pais; assim são el- les verdadeiramente os que vos receberão ; e por isso fareis muito bem de vos queixar çempre a elles do que quer que vos succe- der. Quanto a mim que vos não fui buscar para casares comigo, e a qiiem recebesteís sem tomar primeiro o seu parecer, não fa- ço conta de sujeitar^me a vós, como vossa escrava; e entendo aproveitar-me d'um par de dias, que me offerece a minha mocida- de, e das liberdadesinhas, que esta meper- rnitte; quero ver o trato da gente, e ter o gosto de me ouvir diser quatro finesas: bem vos podeis preparar a isso para vosso casti- go, e dai graças a Deus de não ser eu ca- paz de faser mais alguma cousa. BuT. — Assim ? Assim he que tomais as cou- sas ? Pois sabei que sou vosso marido, eque lhe nâo faço essa conta. ^\ng. — E eu que sou vossa mulher, e que lhe não faço outra. BuT. — - Dão-me as maiores tentações de lhe faser a cara em um bolo, em ordem a nun- ca mais parecer bem a estes desperdiçado- res de suspiros. Ah Buterbac, vamo-nos an- tes que nos escape a paciência! {^f^ai-se.) — ^88 — SCEMA TERCEIRA. D. uingelica^ c Pascoela., -Paçc. — Senhora , já eu estava impaciente de que sé fosse embora para entregar isto a V. S^.% já sabe da parte de quem. Ang. ~ Vejamos, (/e para si.) .Tasc. — Conforme parece, não lhe pesa com o que lhe disem. (á parte.) Ai!í.p. — Ah Pascoela, que assim he galante o modo com que se explica este escrilinho ! Como se distingue logo a gente, que viveu na Corte J E que graça que tem em tudo quanto faz, e (juanto diz! Não sei o que parece á vista delles a gente destas Provín- cias. Pasc.—- Entendo- que depois que V. S.* os vioj não ficou gostando muito dos Buter- baques. Aí^G. — Espcrai-me aqui, em quanto vou fa- ser a resposta. (^J^ai-se.) pAsc— Cuido que que he escusado recom- mendar-lhe, que a faça amorosa; mas aqui vem * , . ^ SCENA QUARTA. Leandro, Pascoela, c Lamha%. PasC. -— Por certo, meu Senhor, que esco- lheu V* S.* um boíii moço de recados. LeAxN:. — Não ine atrevi a mandar urn dos meus; mas a ti, niinha ricaPascoela , iie justo que te agradeça as boas ausências , que me tens feito, {jnexendo na algibeira.^ Fasc. — Oh Senhor, isso he de mais; não Senhor, he escusado molesLar-se; o servir eu a V. S.* he pelos seus merecimentos, e por uma certa inclinação, que íhe tenho. Lean. t— Sempre obrigado, {dá-lhc dinheiro^ t ella acceita,') Lamji. — Já que estamos casados dá-me isso, para ajuntar com o meu. Pasc. — ^ Fica guardado com o beijo. Lean. -^ Dise-me, entregaste o meu escrito a essa Deidade, a quem tens a fortuna de servir? Pasc. -—Sim, Senhor, e ainda agora cila d'aqui se foi a faser-lhe a resposta. Lean. — Mas dise-me Pascoela , não haverá modo de lhe poder fallar? Pasc. — Sim Senhor, verdia V. S.* comigo, e eu farei com que lhe falle. Lean. — Lêva-lo-ha elía a bem ? Ou haverá aqui algum risco? Pasc. — - Nào Senhor, o marido não está em casa; e alem disso não he com elle, que a minha ama se lhe dá de contemporisar ; he com seus Pais; e como estes não saibão, no nrlais não ha que temer; venha, venha comigo, (centra em casa com Leandro.) Lamb.— Vejão que mulher tão habilidosa, que terei ; tem juizo como trinta. T V \mw ^ — Q90 -^ SCENA QUINTA. Hiitcrbac , e Lambaz. LAMn.— Oh! aqui está V. M.''^ Snr. chocai Jlieiro? A qiiefíi eu tinha encoinmendado tanto de não falíar, e que tanto mo prorriet- teu ? Vossê he Bacharel! E logo vai taraine* lar o que lhe disem em segredo. BuT. — Eu ? Lamb. — Sim , vossê. Logo o foi pôr nó bico ao marido, e por sua culpa andou lá tudo flsuK E]stimo muito saber, que he linguaru- do, escusarei de lhe contar niais nada. BuT. — Ora escuta, meu amigo. Lamb.— Se vossê não fosse mexeriqueiro, sa- beria agora o que vai; mas escusa-lo-ha pa- ra seu castigo! BuT. — Porque? Que be o que vai de novo? X/AMB.-~ Nada, nada; eis ahi o que he ter fallado; ficará com a agua na bocai. BuT. — - Ora espera um instante. Lamb. — Nada, não se cance. BuT. — Não te digo mais , que uma pala- vra. Lamb. — Fora, fora; vossê quer-mo tirar do bucho ? BuT. — Não he isso , homem. Lamb.-^ Quai a min)? Bem te conheço. BuT. — He outra cousa, ora ouve-me: (tooí- trando-lhe um dobrão) vês lu este retrato ^ Í29l — d'RlRei? Pois eu Iodarei, se quiseres set meu amigo. Lamb. {tomando o dinheiro) — Amigo, não seja essa a dúvida. Oh ! esle lie do mesmo tamanho do outro que agora deu o Snr. Vis- conde a Pascoela , para o faser entrar em casa. BuT. — Que me dises? Pois elle entrou lá? Lamb. — ■ Isso he o que eu lhe não quero diser a vossê ; q»em o mandou dar com a língua nos dentes l BuT. — Ora conta-mo, como amigo. Lamb. — Aigum tolo que iho contasse. BuT. — Não te vás ; explica-me isso por fa- vor. Lamb. — Estou na tinta. {Fai-se,) SCENA SEXTA, Buicrhac só. me foi possível persuadir este tolo, ao que eu intentava; porem o liovo aviso, que delle colhi, pode produsir o mes= mo effeito ; e se o bonecro está em minha casa he o que basta para justificar-me com meus Sogros, e coJivence-los inteiramente do desaforo de sua filha. O máo he que não sei como aproveitar-me desta noticia; por- que se. entro, o mancebo surra-se; e por mais que eu presenceie a minha deshonru , não hão de dar credito á minha palavra , e — 292 — dirão que sou um louco. Se por outra parte vou em busca do Pai, e da Mâi, sem ter a cerlesa de achar o Adónis em casa, venho a cahir no mesmo inconveniente de pouco antes. Como poderei eu certificar-me se ain- da lá está? (espreilando pela fechadura) Já não ha que duvidar, pois o vi pelo buraco da poria. O acaso me offerece com que con- fundir a minha trapaceira; e ainda bem que para coroar a obra a fortuna me traz pontualmente os Juises, de quem necessito. SCENA SETÍMA. O Morgado, D. Pabuka, e Buterhac. BuT. — Ora venhão, meus Senhores. Com que V. S.''' não me quiseram dar credito, e D. Angélica levou a sua avante; mas ago- ra está na minha mâo mostrar a V. S.*' co- mo ella me trata; e graças a Deus, o meu descredUo be tão manifesto, que já o não poderão pôr em duvida. MoRG. -- Como, Genro? Ainda estais com essa teima ? ^UT. ^ — Ainda, e nunca estive com tanta rasão. D. Pab. — Que sempre nos andais quebrando a cabeça ! BuT. — Sim, minha Senhora, porem mui- to peor se faz á minha. MoRG. —Não vos enfadais de ser importuno? — 39ír — J5uT. — Nâo; mas enfado-me de me terem por tolo. P. Pab. — Não vos deixareis dessa extrava- gância 1 BuT. — Tomara ou poder-me deixar d'uma • mulher, que me deslionra. D. Pab. — Nome de Deus , Genro , fallai me- lhor. MoRG. — Pardeças, reparai que esses termos são mui offonsivos. D. Pab. — Lembrai-võs que casasleis com uma fidalga. BuT. — Bem está se me lembro; e ainda mal que tanto me hei de lembrar. MoRG. — Pois se vos lembra, lembrai-vos tam- bém de fallar delia com rnais attenção. BuT. — Porque se não lembra elle de me tratar mais honeslamenle. Que! Por ser fi- dalga lia de faser quanto quiser sem que eu me atreva sequer a boquejar ? ]VJoRG. — Que he o que tendes? E que he o que diseis? Não visteis esta manliã como ella desconheceu o sujeito, de quem me tí- nheis fallado? BuT. — Bellamente; mas que dirá V. S.* agora 5 se vir que o amante está com ella^ D. Pab.— Com ella? BuT. — Sim Senhora, com ella, e em mi- nha casa. D. Pab. — Se isso assim for ambos seremos por vós contra ella. Moac, • — Sim que primeiro que tudo está o — 294 — no«5So brio, e a honra do nosso sangue; e se fòr verdade o que diseis, desde aqui a re- nunciamos por filha, e a entregamos ao vos- so rigor. BuT. — Não ha mais que seguir-me. D. Pab. Vêd( [e ia nao vos enganeis. MoRG. — Olhai lá nào façais outra, como a primeira. Bdt. Valha-me Deus! V, S.^^ mesmos o verão; querem mais? Pois he ujentira? (vendo sahir D. An pelica . com Leandro^ ac casa.) SCENA OITAVA. Os mesmos , D. Angélica^ Leandro, c Pascoela. Ang. — Adeus, antes que alguém vos veja aqui, e toda a cautela é precisa. Lean. — Ao menos, Senhora, promettei-me a fortuna, de que vos poderei fallar á iioito. Ang. -— Farei tudo o que puder. BuT.' *— Cheguemos de manso por detraz, para não sermos vistos. Pasc. — Ai, "Senhora! Estamos perdidos, qihe ahi vem seu Pai e sua Mâi em compa- nhia de seu marido. Lean. — Oh desgraça! ' Ang. — Não se dêem por achados, e dei- xem-me faser. Como? V. S.* ainda se atre- ve a usar desta maneira depois do que se passou ainda agora? Assim he que sabe — 295 — encobrir os seus intentos? Vierao-me diser , qutí V. S.* se namorara de mim, e que pro- curava os meios de sollicitar-me , quero pa- tentear a minlia indignação em presença de lodos, e explicar-me com V. S.'' claramen- te. Nega V. S."" publicamente o caso, e pvomette-me de nem por pensamentos^ offen- der-me, tenho eu a prudência de o nâo que- rer envergonhar; e sem embargo de tudo isto, atreve-se no mesmo dia a entrar em casa d'uma mulher tão honesta como eu pa«i ra expressar-me pessoalmente o seu amor, e vem com mil rodeios a persuadir-me que corresponda ás suas doudices? Como que fora eu capaz de violar a fé, que jurei a um esposo, desviando-me daquella virtude, que aprendi com meus parentes? Vá-se logo da- qui atrevido, ir ..olente. Se meu Pai tal sou- bera, elle ensinara a V. S^ a entrar em se- melhantes idêas. Mas as mulheres de bem não gostão de publicidades; e isso lhe vale- lá, para que lho não diga. (pede um pão a Pascoela por acenosj que lho vai buscar.) Mas eu farei ver a V. b/ , que ainda que sou mulher tenho valor bastante para despi- car-me pelas rainhas mãos, das affrontas, que se me fasem. Vá-se, vá-se, confiado, que já que não andou como Cavalheiro, lambem o não quero tratar como tal. (dá- lhe Pascoela o páo , envia-se D. Jngelica contra Leandro^ que mette Buterbac no meio^ e cila dá no marido.^ ^ 29G ^ Lean. -^ Ai, ai, ai, dê de manso, {P^ai-se.) Pasc. — Dê rijo, Senhora, dê-lhas boas. (co- mo $ef aliara com Leandro.) ÁHG. — Se tem mais alguma cousa que di- ser, aqui estou para responder^he. {fascn- do que falia com o mesmo.) Pasc. — Aiii tem, veja lá com quem se mette. Ang. — Ah meu Pai! Aqui está V, S.* MoBG.— Sim, minha filha, e vejo que em virtude, e em valor, bem mostras ser digno ramo da casa dos Penagates. Vem cá , pa- ra que tenha o gosto d'abraçar-te. D. Pab. — Dá-me também imi abraço, mi- nha ricci filha ; de alegria choro por ver co^ mo te dás a conhecer por meu sangue, pe- lo que acabas de faser. MoRG, -^ Que assim deveis estar contente, Genro, e quanto deve s^r gostoso para vós este successo! Grande rasão tinheis para o vosso susto ; mas já se desvaneceu , e a vos- &a suspeita com o maior abono do mundo. D. Pab. — ^ Sem duvida, meu Genro, que ten- des agora rasão para viverdes contentíssimo. Pasc. -^ Certamente: eis ali o que se chama uma mulher como deve ser; e bem afortu- nado V. M.*"® que a possue ; havia pôr a boca, aonde ella põem os pe's. BuT. — Ah traidora! MoRG.—^ Que he isso, meu Genro? Porque não dais os agradecimentos a vossa mulher, pelo amor que mostra ter-vos ? Ahg. -t- Não Senhor, imo he necessário; elle não tem que quanto fiz foi por amor de mim mcsiua. (^inosirando que st quer ir.) IVloRG. — Onde vás minha filha! Ang, — - Recolho-me só por nao assistir aos seus cnmjjri mentos. BuT. — Que insolente! Pasc. — Nào lhe falta rasão para estar en- fadada; [)orque hq uma Senhora que mere- ce ser adorada, e V. M/' ntxo a Irata co- mo devera. (^P^ai-se.) BuT. — Malvada criatura! Moro. — Isso he ainda algum resaibo do que se tinha passado dantes, que logo se desva- necerá com quatro caricias, que lhe fareis. Adeus, Genro, já não tendes motivo d'in- quietaçâo: ide faser com ella as pazes, e tratar d'aquieta-la com os vossos rendimen- tos, pedindo-lhe perdão do vosso enfado. D. Pab Deveis considerar, que he uma ttie- nina criada com toda a virtude, e que es- tranhou o ver-se accusar de qualquer levian- dade. Adeus, estimo muito ver essas pen^ dencjas acabadas, e juntamente o praser, que vos deve causar o seu modo de viver. (Fai-se.) BuT. — Mais vale calar-me, haverá desgraça igual á minha? Admiro os acintes que me faz a fortuna, e a rara astúcia com que essa maldita mulher me torna sempre a culpa, e põem a rasàò da sua parle. He possivel que sempre hei de ficar mal pelas tretas des- te demónio? Que sempre lião de conspirar contra mim as apparencias? E que não po- derei conseg-uir o convencer esta desavergo- nhada? Oh fortuna ingrata, favorece a rai- nha rasão , e conccde-ine a mercê de poder pôr em claro o meu vitupério. FIM DO SEGUNDO ACTO. ACTO TERCEIRO. é Lean. que pôr Lamb. Lean. Lamb. noit Lean. faz com Lamb. não SCENA PRIMEIRA. Leandro, e Lamba%. —•' Mui adiantada está a noite! Receio já isto seja tarde. Não vejo por onde os pe'3 , Lambaz, -~ Senhor, -^ Será por aqui? — Cuido que sim Ah Senhor haverá e mais noite que esta? — Assim he; mas se por uma parte com que não vejamos, pela outra faz que não sf^amos vistos. — Tem V. S.^ muita rasão. Já aqui está quem fallou ; mas Senhor, Y. S,^ — 299 — que sabe tanta cousa, não me dirá porque não faz sol de noite, ou porque se não en« xerga quando faz escuro? 'Lean. Grande questão, e de muita diffi- culdade. Tu, Lambaz , não deixas de ser curioso. Lamb. — Sim Senhor, e se eu tivera sido es- tudante, havião de me ter lembrado co^usas, que ainda não passarão pela imaginação de ninguém. Lean. — Eu o creio; tu tens-me cara de ter o juiso claro, e com penetração. Lamb. — Sim Senhoj, e mais veja V. S.* co- mo eu confitruo o latim , sem nunca o ter aprendido. Este dia de cinza, que passou, estavão uns poucos agromentando que que- ria diser := Memento homo =:, e eu advi- nhei logo que == hon)o === queria^dizer ho- mem : agora no = memenlo= não lhe pu- de dar chincada. Lean. — Ainda assim h^ bastante habilidade. Aqui estamos juntos ás casas; este he o si- nal que me deu Pascoela. Lamb. — Por minha alma, que vale muito aquella rapariga, e eu quero-lhe de toda o meu coração. Lean. — Pois por isso he que te trago comi- go, para lhe poderes também íaj'^^- Lamb. — Meu Senhor, sempre obrigado e ,. Lean. — Car-le, parece-me que ouço rumor. } 1'í:: -^ 300 -^ SCENA SEGUNDA. P. Angélica , Leandro, Pascoela , e Lamba%, Ang. . — Pascoela. Pa SC. — SiMihora. Ang. — Deixa a porta cerrada. Pásc. — Já Gstá feito.. Lean. — Elias são, zit. Anct. — Zit. Pasc. — Zit. La MB. — Zit.. Leandro a Pascoela. Lean. — Minha Senhora. j^ngclica encontrando-se com La7nha%. Ang. — Que. Lamba% a D. Angélica. Lamb.— Pascoela. Pasc. — Quem ho ? Leandro a Pascoela. Lean. — Minha Senhora, que assim rne ale- gro! Pascoela a Leandro. Pasc. — Tenha mao, meu SeRÍior, Lambaz a D. Jngelica. Lamb. — Minha rica Pascoela. Afí-G. — Arrede-te,. Larnhaz. Leandro a Pascoela. Lean. — Hcs tu, Pascoela? Pasc. — ^ Sim Senhor. Lamb. — V. S.* he minha Senhora? Ang. — Sim. — noi — i Pasc. — V. S.'* tomou galo por lebre. Lamb. — Bofe que de noite nào se enxerga pataca. Angélica com Leandro. Ang. — Sois vós, Leandro? Lean. — Sim minha Senhor.a. Ang. — Meu marido está a bom resonar, « estimei que me de'sse lugar para poder ter o gosto do vos fallar. Lean. — Busquemos algures aonde nos sen- temos. Pascoela secrue D. yíncrelica. Pasc. — rasem muito bem. Lamha% ds apalpadelas. Lamb. — Pascoela, aonde he que estás? I SCENA TERCEIRA. Buterhac^ e Lamba%. BuT. — - Senti descer minlia mulher, e vesti- - rne muito á pressa para a vir seguindo. Aonde irá ella agora? Em alta noite sahir assim de casa ! Lambaz encontrando Buterhac lhe faU la cuidando que he Pascoela. Lamb. — Onde estás tu , Pascoela ? Oh já te achei. Por vida minha, que teu amo está a estas horas bem logrado; e não acho me- nos graça nisto que nos carolos desta tarde, qiie já me contarão como foi ; tua ama diz que elle ficou na cama roncando como uin tmmm ^sm -- 502 porco: mal sabe elle que o Snr. Visconde eslá com ella mentres eile dorme; que estará e!le agora sonhando? por certo que o caso he para rir. Quem lhe mandou ser cioso, e querer que a mulher seja só sua? Isso he ser asno, e o Snr. Leandro ainda lhe faz muito favor* Não dises nada, Pascoela? Vamo-los seguindo, e dá-me atua rica^mão- sinha para que tenha o gosto de a beijar. (ao beijar a mão Buterhac lhe dá com ella um empuxão) Que assim he doce! Parece- me que estou comendo confeitos, fora, que assim iie de rijo! Para mâosinha he um tanto pesada ! BuT. — Quem he que está aqui ? (Lamba% foge.) Lamb. — Ninguém. BuT. — Eile foge-me, mas deixa-me infor- mado da nova traição desta descarada. Que- ro sem mais demora mandar chamar seus Pais, e que este successo sirva para faser- rne separar delia, (chamando á parte) Ou- ves tu, Saicim, Salcim. SCENA QUARTA, JButerbac y e Salcim. Falia Salcim na j ancila. Salc. — Senhor. BuT. — Vem cá. A --. 303 — Salcim saltando dajanella. g^^Lc. — Aqui estou, nào podia vir mais de- pressa. ♦ BuT. — Estás abi 1 Salc. — Sim Senhor. JJux. — Falia de manso, escuta, vai-te a casa de meu Sogro, e dise-lhe que peço por favor queirâo aiubos chegar cá depressa. Entendes bem? Salcim, Salcim* Salcim pela outra parle. Salc. — Senhor. BuT. ' — Onde diacho estás ? Salcim pela outra parte. Salc. — Aqui estou. Bulerbac desencontrando-se. BuT. — Má peste dê no maroto, parece que se anda desviando de propósito. Digo-te que vás neste instante á casa de meus So- gros, dise^lhe que me fuçáo a mercê de vir cá logo, logo. Ouviste? Responde, Salcim* Salcim da outra parte. Salc. — Senhor. BuT. — Este cão ha de desesperar- me. Che- gaste para mim. (indo a huscnr-se de novo, se encontrão too rijamente^ que cada um cahe para a sua parte.) Ah ! infame que me aleijaste. Onde estás, que te quero moer; mas tu cuido que me foges. Salc — Tem boa duvida. BuT. — Queres tu chegar-te? Salc — Não por certo, para troços. BuT. — Vem cá, oliia que digo que I — 304 — 4: Salc. — Algum diab©! V. M.*^* quer-me de- sancar. BtT. — ' Ora não; eu te prometto de le não dar. Salc. — Certamente? BuT. — Sim, cl>e^a4e. Hes afortunado em necessitar eu de ti. V.ai correndo pedir da n)inba parte a meu Sogro, e a min lia So- ^ra, que o mais depressa qiic puderem, me ifaçâo o favor de chegar cá, e dise-lhes que he para um negocio mui preciso: e se por ser a esta hora puserem alguma duvida, aperta com eííes que iniporta summamente, que venhâo de qualcjner sorte que estejão. lliUtendeste agora? ( Fai^se.) Salc — > Sim Senhor. BuT. — V^ai , e \'em de carreira, e eu torno para casa em quanto mas ouço passos. Será acaso minha mulher? Quero escutar já qae n)e encobre o escuro da noite. SCENA QUINTA. angélica, Leandro, Pascoela, Lamba%y e Buterbac de parte. Ang. — Adeus, Leandro, he hora de nos re- colhermos. Ltsan. — l'ão depressa! Ang. — Já conservamos bastante tempo. Lean. — Ah! Senhora, por muito que fosse nunca seria bastante para o meu desejo; e A ^ 305 — mal podia eu em tào poucos irutanles ex- plicar um amor tào excessivo! Dias, e ân- uos não bastariâo para exprimir o ardor, que por vós sinto neste peito, e quanto vos tenho declarado, não he mais que uma pe- quena parte do que desejava diser-vos. Ang. — N'outra occasião nos dilataremos mais. LiAN. — Na alma sinto a tyrannia desta se- paração, e nào sei explicar o tormento que me deixa. j\ng. — Buscarei opportunidade de nos tor- narmos a ver. Lean. — Mas em tanto fica um marido na posse de vossa bellesa, usando dos seus pri- vilégios. Só esta consideração me mata, e o que para elle he motivo da maior felici- dade, he para mim causa da maior pena. Ang. — Pois seria possivel, que fosseis tão simples, que chegasse isso a custar-vos al- gum cuidado? Tão facilmente vos persua- dis que a gente seja capaz de querer bem a taes quaes maridos? Vive-se comelles; por- que não pode deixar de ser, e porque se depende de parentes, que não attendem mais que a sua ambição, e á riquesa dos maridos, que nos dão. Mas também se sa- be a gente faser justiça a si mesma, e a el- les nâo^se cança em trata-los com mais con- sideração do que merecem. BuT. — Eis ali o que são as nossas mara- lonas. (a parte.) U immim — 306=^ ^^j-Afí. — Que mal merecia tal fortuna císsc, que lem a de ser vosso esjaoso ! Mal empre- ' gada tanta genlilesa em um homem como - eile! |Bu^«. — Coitados dos maridos de que sorte os tratâo. (á parle.) Leak. -^ Por certo que as vossas prendas se fasião merecedoras de melhor dita, e quan- do a naturesa vos formou tão perfeita, não foi para ser mulher de um vilão ruim. Buterbac á parte. •igítJt. ^^ Oxalá fora elia tua í Tu mndárai de parecer. Porem já basta ; quero recolher- me. (Centra e fecha a poria.) Yksc. —Senhora, se tem ainda que diser raaí de seu marido , avie, que já he tarde. LfeAN. — Ah Pascoela, que assim hes crbell •Ang. — Ella tem rasâo; he preciso apar- ta rmo-n os. Leán. —Não ha mais remédio que obedecer, já que assim o ordenais. Mas ao menos Se- nhora, permitti-me pedir-vos, que vos com- 'paíieçais nesta ausência da minha saudade, (Fúi-se.) ■iJ^^G. ^-. Não são menos as que levo: ficai- vos embora, (aparta- se para entrar em ma 'cosa.) Lamb. — Onde estás tu Pascoela 7 QUe 'te fa- ça a minha contumèlia. Pasc, ai , eu acceito de lòtíge te énvio outro tanto. Angélica^ Pascoela, e Butcrbac na janclta. Salcira» {na ja'^ Ora apanhei* vos Angí •— Entremos, sem faser bullia. Pasc» * — A poria fechou-se. Ang» ^-^ Aqui trago (ima navalha, verei se com ella posso levantar a tranqueta. Pasc» — f*oderá ser, porque ella está devas- sa : faça de manso. Ang. — * Ai qtie a fecharão por dentro, é agora como faremos ? Pasc. — Chamar o moço, que dorme ahi perto. Ang* — Salcim, Salcim nella.) BuT. — Salcim, Salcim. finalmente, Snr.* mulher» Com que Vm faz escapatórias em quanto eu durmo. Esti- mo isso muito, e mal pôde crer o gosto que me dá em vê-la fora de casa a estas horas* Ang. — . Olhe lá, pois he g^rande mal tomar o fresco á noite. BuT. -^ Sim, sim 5 são muito boas horas estas de tomar o fresco. O quente lhe cha- marei eu senhora birbantona. Muito bem ouvi os panegíricos que vós, e o vosso aman- te me eslivesteis fasendo ; mas a consolação <^ue tenho he, que desta vez me hei de vin- gar, e que vossos Pais se desenganoráô íi- nalmeRte dos vossos desaforos, e da juâtiça * Lminwiwm 308 -^ com qne me queixoi sempre; já os mandei chamar, e não taidaráô muito tempo. Ang. — Valha-me o Ceo I Pasc. — Ai! Senhora! BuT. — Que! Não estáveis aparelhada pa- ra esta? Pois agora eu. Chegou o tempo de abater a vossa soberba, e desfasor os vossos artifícios. Ale' qui zombasteis das minhas queixas, achasleis traças para enganar os parentes, e para disfarçar os vossos ricos fei- tios; e por mais que eu visse, e dissesse, sempre a vossa astncia pôde mais que a mi- nha rasão, e sempre tivesteis arte para vo-la faser dar. Mas agora (graças a Deus) por- se-ha tudo em claro, e descobrir-se-hào as vossas maraniias. JinG, — Ora fasei-mc o favor de me mandar íibrir a porta. 'BvT. — ISão, nâo, não ha que faser até não vir quem eu mandei chamar. Quero que vos achem fora de casa a estas bellas horas; o que podeis faser em quanto não chegão he imaginar algum novo enredo para vos livrar desta; algum disfarce para a vossa sabida, alguma invenção com que ainda fiqueis bem, algum pretexto especioso para uma Roma- ria nocturna, ou alguma amiga em apertos de parir, a quem fosteis ajudar. Ang. — Não, já não pretendo disfarçar cou- sa alguma, nem desculpar-me negando o que he; pois já o sabeis. BuT. — Isso he porque na^ pôde ser de me- ^ 309 — Bos; pois vedes todos os caminhos f<'Oliados, para a vossa desculpa, e que qualquer que désseis seria Aicil de conveficer de falsa. Ang. — Ora já confesso a minha culpa, ton- des mil rasôes para a vossa queixa ; porem peço-vos por mercê, que nos não exponhais aorigor de meus parentes, e (pje me man- deis depressa abrir a porta, BuT. — Beijo as mãos de V, M.^^ Pasc. -^ Ora que Ihq ha de faser ? ?.e a Se- nhora confessa quo mais quer V. M/^ BuT. — Quero que te cales, que tão boa hes lu como ella. Ang. — ' Ora meu rico maridinho dos meus olhos, fasei-me este favor. BuT. T— Rico maridinho dos meus olhos? Agora he que sou rico maridinho porque vos vedes colhida? Estimo isso muito, he a primeira vez que vos lembra diser-me essas finesas. Ang. ^-— Olhai eu vos proinclto do vos não dar mais rasão de queixa, e de BuT. "^ Tudo isso, e nada he o mesmo pa- ra mim; não quero perder esta aborta, e importa^me muito faser patentes 05 vossos desatinos. Ang. -— Ora ouvi o que vos digo; escuíai- rne um instante. BuT. — - Fois que temos? Ang. -^--JBem vejo que tenho grandíssima culpa, eu o conttísso, e que tendes milhares de rasõtfs para estar picado^ que me apro- — 310 — 4- veitei do tempo em que dormíeis, para vir fallar á tal pessoa, que díseis; mas em fim meu amoisinho, isto sâo leviandades que os meus poucos annos descuipâo, sâo traves-. suras de quem ainda iiâo tem experiên- cia do mundo; por fim sâo uns desacordos, em que uma p<'ssoa çahe sem malícia, e em quo verda<^eiramente nâo ha mais mal que BuT. — Isso diseis vós; porem he necessário crer mui pacientemente para entende-lo as- sim. Ang. — Isto nâo he desculpar-me para com VQSCo; mas he somente rogar-vos que vos esqueçais d'urna cousa, de que vos peço mil perdões de todo o meu coração, e que me poupeis nesta occasiào os dissabores que -me poderáõ causar as duras reprehensões de meus Pais. Se generosamente me concedeis a mercê, que vos peço, será para de todo me obrigardes, e e»ta demonstração da vossa bondade excitará em mim mais amor, do que excitarão até qui nem o poder dos meus parentes, nem os mesmos vinculos do ma- trimonio; finalmente será causa que deixan- do-me de qualquer outra inclinação, só em vós empregue todos os meus cuidados. Eu vo-lo pronielLo, e será d'aqui em diante tan- to para com vosco o meu carinho, que eu vos seguro, que vivais satisfeito de mim. BuT. — Ah crocodilo, queres apaahaf-ma com os teus fingi mçn tos ? ^ 3fll — j^y^^ — Ora fiai dé mim este favor^ ÉuT. — Nâo ha que deferir, e quando núo quero estou como agua, ^UQ. — Mostrai- vos generoso. BpT. — Nada. /iUG, — Pelo amor de Deus. BuT. — Qual. Pasc. — Ora, Senhor, isso he ter um cora- ção de tigre; pede-lhe a Senhora com tanta humildade, para que a consome. mais que lhe nâo manda já abrir essa porta?. BuT. — Porque não quero. ^jíG. — Olhai que vo-lo peço de todo o meu coração. BuT. — Não, não, não de todo o meu co- ração. Paso. (á parte com D. Angélica) — Senho- ra, estamos perdidas, eu não sei que remé- dio isto ha de ter. jJ^NG. — Car-te que agora me oçcorre um, deixa-me tu faser, e ajuda o engano. (í?ío di% á parte com Pascoela.) BuT. — Levai isso com paciência: em vin- do vossos Pais a porta se abrirá; mas pri- meiro quero, que sejào testemunhas da vos- sa ignominia. Ang. — Ora isso já passa a mais. Vede não me precipiteis em alguma desesperação, que uma mulher neste caso.he capaz de tudo, e farei alguma que vos arrependais. BuT. — Tenha mâo desse canto, e que po- dereis vós faser ? — 312 -. Ang. — Rosolver-me-hei ao maior extremo e com esta navalha aqui mesmo me tirarei a vida, R;^sc. ^ Hui, Senhora, V. S.* está douda? BuT. (rindo-se) -^ Ah, ah, ah! Muito em^ hora. A^G. — Nâo tanto embora, quanto vos pa» rece; todos sabem muito bem a nossa des- nnião, e as continuas mortificações que vós me dais. Quando me acharem morta, nin» guern duvidará, que fosteis vós, que me ma- tasteis, e os meus parentes nào são homens, que vos hajão de deixar ficar sem castigo. Assim ficareis exposto ao favor da sua vin^ gança, e ao rigor da justiça; e por este modo me despicarei de vós, e nào serei a primeira que recorrendo a semelhante ex- cesso, buscasse a morle para se vingar de quem a redusio a taes extremidades. BuT. -^ Sou criado de V. M." ; já lá vai '- o tempo era que se matava a gente a si ; já hoje isso nâo be moda. Ang. — He uma cousa que podeis ter por certa, e se persistis em não me abrir a por- ta, eu vos juro, que neste instante vos faça ver a quanto pôde chegar a miniia desespe- ração. BuT. — Historia; isso he para me metter medo. Paso. — Oh coitada de mim! Minha rica Senhora, que intenta faser ? Ang. — Deixa-me tu. Ora pois já que as&im âk — 313 — o quereis, eu farei com que fiquemos am- bos satisfeitos. Assim vos mostro so estou zombando, (deixa-se cahir.) A\ de mim! Pasc. — Oh mofina de minha vida! Que loucura foi essa que lhe deu, minha Senho- ra da minha alma. Ang. — O Ceo me acuda, e tome por sua conta tirar vingança da minha morte, con- forme iheu desejo, e que o autor delia re- ceba o castigo que merece a crueldade com que me tratou. Pasc. — Ha maior desgraça? Que por amor d'um bárbaro Flamengo se matasse minha ama desta sorte! Ai que está o sangue sa- hindo ás golfadas. Ang. — Ai de mim! {com vo% desfalecida.) BuT. — Olá será isto de galhofa, ou de ve- ras? Ainda assirn tomemos aquelle bico de vela para ver se podemos descobrir oquehe. {Tra% a lu% ájanella, e em quanto PascoC' la continua a f aliar , fa% visagens procuran-^ do enxergar.') Pasc. — Ah minha querida amasinha dó meu coração! Oh que crueldade ! Já tem as mãos frias. Senhora, Senhora. Já não responde. Oh ! maldito st^ja o tyranno que. ........ {Vendo Buterhac á janella.) Sim, olhe V. M.*^ bem. Eis aqui em que parou a sua teima; mas não lhe pareça que se ha de fi- car rindo. Agora mesmo quero hir chamar a j^ustiça, e eu lhe prometto, que antes de ' — 514- mnito teippo, V. M,"* se veja mais alto o ! andar toda a noite pelas tavernas emborracliando-se, e deixar uma Senhora moça só^inlia em casa. BuT. ■ — Que he isso? Vossês perderão Ang. — Vai-le, vai-te, infame, que já es- tou enfastiada dos tens desaforos, e quero sem mais demora, lúr-me queixar a meu^ Pais. BuT. — Como assim se atievem vossés SCENA SÉTIMA. jingelica^ Morgado^ D. Pabiilea, Pascoela^ e Salcim com uma lanterna. Ang. — Ah Senhores, venhão V. S/^ faser«» me justiça da maior insolência do mundo todo de um marido a quem o vinho, e ®$ ciúmes turbarão de sorte o juiso, que nem sabe já o que faz, nem o que diz;..e foi el- le mesmo que mandou chamar a V. S.** para que fossem testemunhas do maior des- barate , que nunca se, viu. — Ei-lo ahi , que ainda agora chega, depois de andar amoti- nando a rua toda a noite; e se o quiserem escutar, dir-lhes-ha que tem as maiores quei- xas, que faser-lhes de mim; que em quan- to elle dormia me aproveitei da occasião para sahir por ahi tora, e outras cousas taes, que esteve sonhando. BuT. -^ Haverá no mundo maior embus- teira ? 1 i — 316 — Pasc. — Sim Senhores, quiz-nos capacitar que clltí era o que estava em casa, e nós as que andávamos pela rua; e não ha quem lhe tire e?sa asneira da cabeça. MoRS. • — Como, que vem a ser isto? D. Pab Ha maior insolência? Mandar-nos chamar! BuT. — Nunca Ang. — Nào Paisinho, já nâo posso sopor- ■ ^y'\;.- . tar nm tal marido, c as injurias, que me ■'vi diz, me fascm perder a paciência. .,í' li MoRG. — Pardeças , que sois um velhaco, um alrevidão. .''i| Ang. ■ — He uma lastima ver tratar uma po- ■: 15: bre rapariga desta maneira, e isto está cla- mando vino-ança ao Ceo. BuT. — Haverá quem. ... ..... Morg. — Andai, que nâo tendes vergonha. BuT. — Senhor Morgado, deixe-me dizer- Ihe duas palavras. Ang. — Nâo tem mais que escuta-lo, V. S.* as ouvirá boas. BuT. ^— Estou desesperado. ■■■ »'■ Pasc. — Bebeu de maneira que não sei .■'V quem pôde parar ao pe delle, e he tal o fe- dor do vinlio, que chega cá acima. BuT. — Meu sogro, meu sogro, faça-me o favor, Morg. — Afastai para lá, que não lia quem ature as vossas bníoradas. But. • — Senhora D. Fahulea, por mercê I). Pab. — Não vos chegueis a mira, que ten- 1 ■'Í des 0 bafo q\\e he uma peste. 1 "1 — 317 qxin Bux. — Permitta-ine que llie . _^QRG. — Já vos disse que vos afasteis líâo ha quem vos ature. BuT. — De-me licença, minha Senhora, para D. Pab. — Bf. arrede-se, que me enjoa esse cheiro, e se quer fallar seja de longe. BuT. — í^stá bem eu fiillo de largo, e ju- ro que não sahi de casa, e que ella he a que sahio. j\ng. — Pois não disia eu? Pasc. — Vejão V. S.*' se tem aquillo pes, nem cabeça. ]VIoRG. Ide d'ahi, que isso he faser escar- neo da gente: desce cá filha. BuT. O Ceo me seja testemunha como eu estava em casa e ]\IoRG. Calai-vos que isso he uma extrava- gância, que já se não pôde sofrer. BuT. — Que mil diabos me levem , se aca- so. MoRG. — Nâo nos quebreis mais a cabeça, andai tratar de pedir perdão a vossa mulher. BuT. — Eu pedir-lhe perdão? MoRG. — Sim, perdão já e logo. BuT. — Como Senhores hei de MoRG. — Por minha alma, que sa me repli- cardes , vos farei ver se se brinca comigo. BuT. — Oh desaventurado! jVIoRG. — Chega para cá, filha, para teu ma- rido te pedir perdão. iii — 318 — jéngelica já no tablado. -Ang. — Quorn eu pcrdoar-Ihe quaf>tò mt disse? he impossível que a tal me resolva, ú o favor que V. S.^ me ha de fase r he apartar-me d'um oiarido com quem já me fião atrevo a viver, Pasc. *— Como he possível que uma Senho* ra tal aturei MoRG. — Pilha, semelhantes separações, nâo se fasem sem grande escândalo, e assim mostra que tens mais juiso que elle, era te armares de paciência ainda esta vez. Ang. —Paciência depois das insolências qUe me disse? Não Senhor he uma cousa a que nie nâo posso resolver, MoRG.— * Assim he preciso, filha, em fim sou eu que to ordeno. Ang. — • Já não tenho que diser, e o poder de V. S.^ para mim he absoluto. Pasc. — » Que mansidão ! AwG. — Oh quanto me custa ser obrigada a porem esquecimento taes injurias! Porem por grande que seja a violência a mim só toca obedecer. Pasc — * Pobre cordeírinhol MoRG.— Ciiega para aqui. Ang. - — Tudo isto he o' mesmo q\ie nada, e V. S.^ verá se ámanhâa não faz.peor, MoRG.— Eu lhe buscarei o remédio; vamos, ponde-vos de joelhos. BuT. — De joelhos?. MoRG. — De joelhos , e sem demora. — 319 — J^iilerbac de joelhos. BuT. — Oh Deus do Ceo ! Que he o que se ha de diser ? MoRC. — Minha Senhora: perdoai-me. BuT. — Minha Senhora : perdoai-me. MoRG. — A loucura que fiz. BuT. — ' A loucura que fiz — em casar com vosco. MoRG.— Eu vos promelto de me emendar d'aqui por diante. BuT. — Eu vos prometto de me emendar d'aqui por diante. MoRG*— lornai sentido, vede que he esta a ultima parvoice que vos hemos de sofrer. D.Pab.— Por esta luz de Deus, que nos al^ lumia, que se tornardes a cahir em outra, vos ensinaremos de que sorte haveis de tra- tar a vossa mulher, e o respeito que deveis a ella, e á casa em que nasceu. MoRG. — Já vai sahindo o dia. Adeus, re- colhão-se. Vós cuidai em ser mais sisudo, e nós minha alma, vamo-nos metter na ca- ma. (P^ão-se todos. Fica Biiterhac só.) BuT. — Ah! melhor he deixar-se disso, vis- to nâo haver mais remédio. A quem tem unia mulher tào endiabrada, como a mi- nha, não lhe fica mais recurso, que enfor- car-se em uma trave, ou ir-se lançar ao mar com uma pedra ao pescoço. (^í^ai se.) FIM. índice. P Paginas REPACIO . .. ^ ' ^\ ^ Noticia da vida do Aulor. .. .' .' .* .' j^j Aviso para o Sereníssimo D. José' Areei bisf)o de Braga 2 Carta Regia para o Reitor ê Lentes da Universidade de Coimbra . 3 Aviso para D. João Carlos de Bragança Sobrinho d'EI-Rei ° \ 4 1.* Carla de D. Thomaz d'ÁÍmeida í} iatriarcha ^ g Resposta do Autor á Carta antecedente* 7 ^.^ Carta do dito Primeiro Patriarcha . .' 8 o. Carta do mesmo 14 Resposta do Autor ás duas cartas antece- dentes |0 Aviso para o Marquez d'AÍorn'a Vicê-Rei da índia . . 29 " para o Conde do Lavradio GoverI nador d^AngoIa qi 5» para ^o Conde d' Unhão Governador ào Algarve. . .... . . , , 09 " para o Secretario d' Estado Pedro da Mola e Silva 0§ " para o Governador da Cidade do 1 orlo e>Q " para Pedro de Mariz Sarmento. .' ] is Aviso para António da Costa Freire *. 29 5? para o Desembargador Ignacio da Costa Quintella. . .... ... * ?^\ !Nota sobre o Aviso precedente. .. .. 33 Aviso para o Corregedor da Comarca de Viana. . . . . , . . .... . . 34 Carla de Beneplácito para o Governador da Colónia do Sacramento . . , . 35 Nota para o Embaxador de França. .. 38 55 para o Embaxador d' Hespanha c. 39 Carta de D. Luiz da Cunha 41 ^l^esposta do Autor á Carta antecedente. 42 Carta do Conde de Villa Nova . . . . 45 Resposta do Autor á Carta antecedente. 46 Carta escrita de Roma a um Cardeal ae Portugal . . . . 48 5? ao Marquez de Gouvêa 53 55 a Fr. Gaspar da Incarnação Moscoso 59 5? ao Abbade Diogo Barbosa Machado 61 ^v.,X^5 a D. Luiz da Cunha 64 ' ?? a António Freire d'Andrade .. .. 63 ?? ao Dr* Francisco Galvão da Fonseca '70 Advertência , e Nota sobre as 6 Cartas seguintes 71 1.* Carta a Martinho Velho da Rocha Oldemberg. . .. 73 2.* ao mesmo . . . . . . 76 3.* ao mesmo . . 77 4.* ao mesmo ,. .. .. .. .. .. 78 5.* ao mesmo . . . . . . 79 6.* ao mesmo .. .. ... , 80 Juiso sobre a Genealogia geral dos Pu- ritanos.. .. .... , 81 Elogio ao Príncipe D. Jose 86 Reparos sobre as disposições da Lei de 3 de Dezembro de 1.750 89 Resposta ao Papel do Brigadeiro Antó- nio Pedro de Vascoiicellos sobre o Tratado dos Limites d*America. .* 147 Dissertação sobre a relaxação das Ordens Religiosas . . .... . . > . . . 2L? Poesias . . Q45 Soneto a Júpiter Supremo 246 ?í a seus dous fillios 247 ?j em resposta ao antecedente pelos mesmos consoantes . . . . . , . . 248 Egioga Pastoril . .. .. 249 O Marido Confundido — Comedia em .3 Actos .. .. ..25^ ' i'',f 1 JuLdriino Augusto da Silva Pereira ,. Agostinho José Pereira, Barcellos . . Agostinlio José da Silva Guimarães. Agostinho Pacheco Telles de Figueiredo . Agostinho Vicente Ferr,* de Castro, Fafe Albino Aiâo Veiga . , Alexandre José do Nascimento, Filiado Conde , . , . Alexandre Miljer. .. Alexandre Soares Pinto Amândio José Lobo d' A vila Anacleto Feliciano de Vasc.^', Bem-viver Anónimo . . , . , . Antliero Albano da Silveira Pinto . . Antonino Máximo Araújo eCunha, Braga António Affonso, Vigário da Tone, janta- res , António Affonso de Lima. , António dVAlmeida Campos António Alves d'Azevedo, Planna. . António Augusto Alvares Pereira, Fianna António d'AzQVcdo Campos , . ♦ António d' Azevedo Sousa e Mell© . . António Barbosa d' Albuquerque António Bernardo de Brito. António Bernardo Ferreira . António de Campos Navarro António Cardoso e Silva.. António Carlos d'Araujo Motta , Braga. António -Carlos da Silva Vieira António Corrêa Botelho Teixeira Rebel- lo , Guimarães . . António Demétrio Corrêa António Dias d'Oliveira (o Exc.""") . . . António Emydio Ribeiro Pereira . . António Francisco da Silva, /^.* do Conde António Gaspar Teixeira, Braga , . António Germano Teixeira de Moraes . . António Gonçalves da Costa Lima. . António Guedes do Nascimento, f^ianna. Antouio Honorato Caria e Moura (Dr.) , Coimbra . . . , António Ignacio Marques, Braga .. António Joaquim de Carvalho, J^ianna. . António Joaquim Leitão, V^illa do Conde António Joaquim Martins António Joaquim Newton , Pereira Filia António Joaquim d'Oliveira Cardoso, Gwf- marâes , . , . António Joaquim Pereira, Guimarães .. António Joaquim Ribeiro da Sagrada Fa- mília, Braga . . António Joaquim da Silva Braga Manso, Braga António José d'Azeveclo Guimarães. . António .José Dias Ciuimarãcs Ánlouio José Dias Magalliãcs. . Auí.onio José Ferreira e Silva António José Forte de Sá, Barcellos .. António José Gomes António José Gonçalves Agra.. .. António José Gonçalves Basto. . .. António José Gonçalves Braga António José do Lago. ., António José Marques António José Martins Giesteira, Filia do Conde António José Mendes Ribeiro António José d'01iveira António José Pereira d'01iveira António José Plácido Braga António José Rebello da Tt^lva Basto . . António José Rodrigues Lima António José da Silva António José da Silva, jhnarante .. .. António José da Silva Andrade, JPortella de Penela António JosédaSilvaPer."" Suécia, Braga António José Soares, Guimarães António José Soares d' Azevedo , Barca. . António José Soares Martins . . .... António José de Sousa Júnior , Filia do Conde António José de Sousa Mello António José de Sousa Pinto, Lisboa .. António Ladislau de Figueiredo 5 Li$boa. 4 António Leite de Castro, Guimarães. . ^'intonio Leito de fiaria x^ntonio Leite do Faria Guimarães*. * António Lino Leão de Vasconcello., i- marante António Luiz da Costa Pereira *de Vilhena -braga António Luiz Gonçalves António Luiz Gonçalves' Vianna Júnior! yianna ' António Manoel Alves Costa, '^raô-^ Aritonio Manoel Ferreira Meuezes, Moím da Nóbrega. . . António Manoel Lopes Vieira* de Castro* (o Exc.'"^), Lisboa.. ,. \. António Maria Baldaque Carvalho *p'S'i" António Maria Barroso Pereira. António Maria de Magalhães . .' ,. António Martins Jos Santos .. António de Mattos Pinto . . António Mendes dos Reis. . António Neutel Corrêa de IVIesquíta^/^^7/a lieal António Nicolau d'Almeida e Úz.^Flxeu António Pereira d'Az,evedo, JÍ mar ante . . António Pinto Roberto Mourão . António Quintino d' Avelar, Lisboa'. António Ribeiro Gomes, Guimarães. António Ribeiro dos Santos Dias .. \. António Ricardo Vieira, Lisboa. António Roberto Jorge (P.*') António Rodrigues Ferreira, Lisboa. .. ''5 António Rodrigues Nunes.. .. ., Anlonio de Sá Malheiro, Braga, .. -António Severino da Silva António da Silva Lopes llocha , Lisboa António da Silva Pereira Magalhães António da Silva Ribeiro. António da Stíva Santos, Bouças.. António Silvério da Cunha Osório, Bar cellos António Simões Basto 10 António Soares de Queiroz. Anlonio de Sousa Brito António Teixeira Fernandes, Braga .. Anlonio Vicente Teixeira Barbosa, Ama- ranie Ayres Félix Freire d'Andrade Coutinho Bandeira, Braga A. Joaq\jim d'01iveira Faria Lobo. A. J. B. da Silva A. J. dos S. Rosa, Filia Nova A. L. Nogueira Freitas A. M. de Sousa Lobo . A. S, Guiniarães. Balthasar Machado da Silva Sal asar, i?ar- cetlos Barào de Cacella, Lisboa Barão de Prime, Fi%eii Bartholomeu Corrêa do Moraes e Amaral Braga . Bento António Arouca 1 1^ e Bento. António d^Oliveira Cardoso, G?//- marâes. ... , . . . . . Bento Luiz Ferreira Carmo . . Bernardo Alvares d*Almeida Guimarães.. Bernardo José d' Azevedo, Filia do Conde Bernardo Luiz Fernandes Alves c Caetano d* Azeveda Lima, Braga,, ., Caetano fgnacio de Sonsa Barbosa, Braga Caetano José d'AImeida > Caetano José da Fonseca , Kianna . . Caetano José da Silva Lima , Fianna . . Caetano Ribeiro da Fonseca Caetano Xavier Pereira Brandão, Lisboa Camillo Aureliano da Silva Sousa .. CamiJIo Joáé Malaquias Vieira , Lisboa. . Carlos Augusto de Figueiredo . . Carlos, Borromeu Pereira da Silva . . Carlos Gubian . , Carlos Mac-Carthy da Cunha Carlos Maria do Valle Vessadas, Barcdlos Club Lisbonense.. , ,. Cotide de Lumiares, Lisboa Conde de Rio Maior, Lisboa., Constantino António do Valle Per.* Cabral Custodio de Faria Pereira da Cruz, Braga Custodio José Fernandes Guiniarães, Gui' marâes, , , Custodio José de Passos Custodio Pinheiro da Silva ,. • .. .. Custodio Teixeira Finto Basto. , . . . . Cusíodio Teixeira Pinto Júnior. . .. .. & C J*. Gonçalves Parado, Filia Nova .. 1 C. V. de Figueiredo 1 D David Pinto de Sonsa Guimarães .. .. 1 Desiderio Anastácio Amado, Pereira V.^ 1 Diogo António Peregrino Duarte Perei- ra , Lisboa 1 Diogo Kopke .. 4 Domingos de Carvalho e Silva Guima- rães , Guimarães 1 Domingos Fernandes Lobo . 1 Domingos Ferreira Pinto Basto, Lisboa. 6 Domingos Gomes Vianna , Coimbra. . . 1 Domingos José Alves de Sousa 1 Domingos José' Soares Júnior, Guimarães 1 Domingos Lopes Ferreira Guimarães .. 1 Domingos Mendes da Paz, Guimarães.. 1 Domingos Pereira de Faria ,. ♦. .» 1 Domingos Ribeiro de Carvalho l Domingos Ribeiro de Faria .. .. .. 1 Duarte Ferreira Pinheiro, júmarantc .. 1 Eduardo Rosa . . 1 Flias Eloy d'Abreu Tavares 1 Emydio Costa, Lisboa .. .. ,. .. 1 F Faria & Pedroso Felix Fernandes Torres (Dom). .. «vi 8 I Fernando António de Macedo, Braga,, 1 Filippe Augusto de Sousa Carvalho. .. 2 Filippe José d'Almeida . . -g Filippe da Silva Simões, Barcellos , Florêncio dos Santos Andrade. , Florindo José Teixeira de Carvalho . .. Francisco Affonso Chaves e MeUo^ Lisboa Francisco Alves de Sousa Carvalho . .. Francisco António Fernandes Alves. . .. Francisco António Nunes de Vasconcel- los f^izeu , , Francisco António de Rezende Francisco António de Sousa, F.^ do Conde Francisco António Villela Francisco Baptista de Figueiredo (P.«) A- marante Francisco Carlos d'Araujo Motta Júnior Braga . . .... Francisco da Cunha . , Francisco Fabião de Mendonça, V,^ Nova Francisco Fe/reira dos Guimarães . , Francisco Jerónimo Coelho, Juiz da Ma- deira , Lisboa Francisco Joaquim d' Amorim Barreto . . Francisco Joaquim d'Araujo Guimarães.. Francisco Joaquim da Costa, Abbade de Santa Maria de Gallogos, Barcellos ., Francisco Joaquim Xavier Jaime, Bar- cellos Francisco José Alves Vicente , Braga .. Francisco José d' Azevedo, FJ^ da Feira Francisco José d'Azevedo Coutinho, . . . Francisco José de Carvalho Francisco José da Cruz iUúmuYães, .B7'aga Francisco José Durães (P.^) , BarccUos. . Francisco José de Freitas Viilar , Feso da Regoa Francisco José Gonçalves Francisco José LeiU; Basto. Francisco José Lopes do Couto , Braga . Francisco José Lopes da Fonseca . . Francisco José da Silva Basto, Guimarães Francisco José de Sousa Nunes Francisco Leite Pereira da Costa Bernar- des , Guimarães ... Francisco Manoel da Costa, Braga. .. Francisco Manoel de Magalhães Pache- co , Braga Francisco Manoel da Rocha, Braga Francisco Maria d'Alrrieida d' Azevedo e Vasconcellos FVancisco Maria Mcntano Francisco Marques de Sá Moreira . . Francisco Moutinho de Sousa Francisco Nunes de Figueiredo, Mathosi- nhos de Bouças . Francisco de Paula Silva Pereira .. Francisco Pedro da Yeiga , Lisboa . . Francisco Pereira Guimarães, Lisboa .. Francisco Pereira Rego .... Francisco Pereira de Sá Francisco da Rocha Soares .. .. .. 32 Francisco da Silva Pereira. Francisco Yeiioso da Cruz, Filia Neva. lo Francisco Ventura Cosia Guimarães. .. í Francisco Xavier de Sousa Torres e Al- meida , Braga . , \ Frederico Joí^é dos Santos 1 Friedlein , . . , , . . . . , . , , . \ Fulgencio José do Nascimento Flores, A- %nrára. . . . , .... . . . . . . \ F. d' Assis e Sousa Vaz i G Gabriel Francisco Ribeiro . 1 Gaspar António Lobo, Guimarães .... 1 Gaspar da Cunha, Guimarães. ...... 1 (xaspar Jerónimo Ribeiro da Silva. .... % Gaspar Pinto, Guimarães . í Gaudêncio Fontana, Lisboa 1 Germano Gregório Moraes, Barca .... 1 Guilherme Frederico da Fonseca, Fianna. 1 Guilherme Roberto. 1 H Henrique José Gonçalves. ......... 1 Henrique da Silva Avellar, Fc^o í/a /?e^oíi 1 Henrique de Sousa ^ H. C. Mesban. .' . 1 H. c. s. p. !.*..'! 1 H. J. dos Santos Coutinho. 1 H. O. Maya 1 Ignaciò de Carvalho Figueirôa, Lisboa, ^ liam u ígnacio Fernandes Coolho, F^illa da FU gueira ^^ Ígnacio Luiz Prroira do Lago, Guimarães Isidoro Francisco Guimarães, Lisboa, . . Jacinllio d'Oliveira Braga Jacintho da Silva Pereira Jerónimo Carneiro Geraldes. ....... Jerónimo Gonçalves Guimarães Jerónimo José da Silva Veiga Jerónimo Pacheco Faria , Guimarães. . . João Alvares d'Almeida Guimarães. . . . João António de Freitas Júnior João António Gomes de Sousa, Lisboa . João António d' Oliveira Cardoso, Gw/- marães João Baptista da Cunlia Ferreira ..... João António da Silva Guimarães. .... João Baptista Corrêa, J^ianna ...... João Baptista de Macedo 6 João Baptista d^Oliveira João Baptista Pereira da Silva, Braga. . João Baptista Sampaio, Guimarães. . . . João Bento Corrêa (Cónego), Guimarães. João Bento Costa João Caetano Rebello da Silva, Braga. . João de Castro Guimarães João Corrêa de Faria, Lisboa , 2 João Corrêa Lagos (P.*) João da (/osta de Sousa e Aivim , Lisboa. João Eduardo de Brito e Cunha ..... 2 João •loão JoLio João João João João João João João João João de João João "João João João João João João João João João João João João João João João João João n Eduardo da Cunha Soares . Ferreira dos Santos Silva Júnior Joaquim Ferreira o Silva Guedes Dia»? dos Heis ....*].* Joaquim Pereira, Barcellòs', '. '. José dVMmeida Basto José d'Alnioida Penha .... *. José Coe!ho. ... José Corrêa da Costa José' Lopes Corrêa José dtí Moraes .*!.*' José Pinlo áíiMoitíi GMe\\o^ àilintà Lavadores de Bouças José Rodrigues Leite do Faria .......'*'.*.' Loureiro Affonso, Fianna ..]..*. Lourenço Ferreira Braga. . Luiz Mendes, Fian7ia . Machado de Mello e Castm, 'duim/' Malheiro de Magalhães, Barcellòs. Mallen Manoel Gonçalves Vieira '.'.'* Manoel de Mello , Guimarães. '. ] '. Mana Lopes de Carvalho, Guim.^' de Mello Per/ de Sampaio, Gurm.'' Udro d' Almeida Pessanha, Lisboa. i edro Ribeiro Pereira Xavier, Fianna . ...... Pinto de Faria ili beiro do Figueiredo ....... \ Pvoberto Vieira Pinto . . . . . .\\ â de Sá Nogueira, Lisboa. ...... é 13 João de Sande Magalhães Mexia Salema (Dr.), Coimbra 1 JoLio dos Santos Pvlendes 1 João Skinner, Lisboa ........... 1 João Skinner Leão 1 João Teixeira de Mello 1 João Victorino de Sousa Albuquerque, Fí- %eu 1 Joaquim Alves de Sousa 1 Joaquim António da líocha , Vianna . . 1 Joaquim António llodrigues de Carvalho 1 Joaquim Augusto Kopke. 1 Joaquim Brandão 1 Joaquim de Campos Henriques, Lisboa. 1 Joaquim Cardoso Victoria Villa-Nova ... 1 Joaquim Clemente Moreira, Amarante. . 1 Joaquim Feireira Cabral . 1 Joaquim Ferreira Coelho. . .^ , . 3 Joaquim Ferreira Pinto Felgueiras .... 2 Joaquim Francisco d'Azevedo Campos . » 1 Joaquim Gomes da Silva, Braga. .... ^ Joaquim José Antunes da Silva Montei- ro , Braga X Joaquim José Ferreira Gíjimarães 1 Joaquim José de Figueiredo 1 Joaquim José Nogueira Guimarães. ... 1 Joaquim José d' Oliveira Coelho, Barca d' Jlva 1 Joaquim José Pereira , 1 Joaquim José da Silva. 1 Joaquim José do Yalle 1 Y 14 Joaqriim Maria Ferreira .......... 1 Joaquim Noa-ueira Gandra 1 Joac|ni«i PedrqNoiasco dos Santos, Lisboa \ Joaquim Pinto Leite. 3 Joaquim de Queiroz Monteiro Reg/, Vil- la ISava , . . . . . . . , 1 Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães. . . 1 Joaquim Rodrigues Braga .,,..,... 1 Joaquim da Silva Rosa 1 Joaquim de Sousa Ferraz e Mello. .... \ Joaquiiq de Sousa Guedes, Guimarães. . \ Joaquim Velloso da Cruz, f^illa Nova. . ^ Joaquim Ventura de Magalhães. ..... 1 Jorge A. Redpath ^ José Albino de Santa Rita 1 José Alves Pinto da Cunha 1 José' Alves de Sousa Ferreira 1 José António d'Araujo Sousa X José António de Brito, Barca 1 José António Corrêa da Motta , f^i%eu . . 1 José António Ferraz, Coimbra. ...... Si José António Ferreira ........... \ José António Gonçalves e Costa 1 José António de Magalhães . 1 José António Salvador. .......... 1 José António de Sousa Silva , 1 José António Vieira 1. José Augusto Salgado 1 José Berito da Costa Rea! 1. José Bernardino Pexe % . 1 José Bernardo da Silva Mcdon ^ 1 José Botelho Pinto. , 1 José Brandrio Pereira de Mello, if^iíla dã Fign&ira José Carneiro Geraldes de VascoDcellos . José Constâncio da Fonseca, Vhcu. . . . José Corrêa de Freitas José da Costa Sousa Pinto Basto, Lisboa José da Cruz Moreira José Duarte Coelho, Braga José Duarte Reis José Elias Alves, J^ianna . ........ José Fslanislau de Barros José Estevão Coelí>o de Magalhães, Lisboa José Fernandes Ribeiro . . José Ferraz Costa , . . . Jvsé Ferreira Guimarães Cardoso José Francisco da Costa Guimarães. , . . José Gon)es d'AlQieida Branquinho Feio, f^illa de Soure , . José Gomes Brakiami , Vianna » José Gomei) La mi > José Gomes Monteiro ....... ..o . José Gonçalves Guimarães Júnior José Gonçalves da Silva Joseph Gregório Lopes da Camará Sinval José Ignacio d' Abreu Vieira, Guimarães. José Ignacio Ferreira de Carvalho. . . . . José Ignacio Soares, Pereira FiLla . José Isidoro José Isidoro Ferreira da Silva* . José Jacinlho do Amaral Banha Joié Jacinlho Valente Farinho, Lisboa, José Juinea Furicbter . 8 '^^^^SSSKjSÍ!^ ^m^sm^JÊis^ [ m \ 16 José Joaquim Alves, Lii,hoa. ....... 1 Jo^c Joaquirn da Costa 1 José Joatjuim da Cosia Malheiro, Braga 1 José Joaquim Novaes, Filiado Conde. . 1 José Joaquim Rodrigues dos Santos. . . . 4 José Júlio da Motía Barbosa, Penafiel. . 1 José, LoureíDço Tavares da Paixão. Perei- ra F2lla 1 José de Macedo Arasijo 1 José Machado da Silva Ferreira .1 José Manoel Gomos 1 ' Jos-é Maria Ferreira d' Azevedo e Castro, Srar^a . . . 1 José Pipiaria Gonçalves 1 José Maria de Lemos, P^illa da Figueira. 1 José Maria Pinto, Lisboa 1 José Maria Rebello Valente 1 \ Joi-é Maria Ribeiro Pereira. ........ 6 'i José Maria dos Santos Araújo Esrneriz , ' JBrap-a 1 José Maria de Sousa, Fi^eu. 1 José Maria de Sousa Delfim. 1 José Maria Vieira , Lisboa 1 José Marques Antunes . 1 José Martins Ferreira. Fi%eu 1 José Mendes de Carvalho. ...... . .' 1 José de Mesquita Costa e Mello ^ Braga. 1 José de Miranda, Fianna , . 1 José Nicolau da Rocha, Ponte da Barca 1 Jo>é d'01iveira Berardo, Fizeu 1 José Pedro Barros Lima 2 Joàé i^edro de Barros Lima Júnior .... 2 i! í 17 José Podro Cardoâo, filia Nova 1 José Pedro do Sousa Calhciros, Bra José Teotónio de Sousa e Oliveira, Fheu 1 José Velioso da Cruz Júnior 1 José Vicente Brochado, Villela 1 José Vicente da Silva, Ramnlde 1 José Vieira d' Azevedo Mancilha, Li:^boa. 1 José Vieira Borges 1 José Vieira de Carvalho 1 José Vieira de Carvalho Júnior 1 José Vieira de Sampaio, Braga 1 José Xavier Bressane hvile ^ Lisboa. ... 1 José Ximenes (Dom), Lisboa. 1 Júlio Máximo d'01iveira Pinienlel, LjsÔoíj 1 m ^9ssmJ3b.^^mik:\^mÊ^iie^ 18 Jiís(»no /^nfonío deFreiías (Dr.). Coimbra Justino Ricardo d'Alnieíí!a Vidai Justino Tavares da Silva Vouga J. de Amorim Braga. , J. Joaquim Pereira Lima J. Ihoinaz Quilliman ........... J. Thomaz de Sousa Guimarães, Vianna. J. A. d'Almeida, Vilía Nova J. A. da Silva, FUla Nova. ....... J. A. da Silva , . . , J. F. Borges ....,.., J. J. Barbosa da Moita J. L.daR J. F. R. Guimarães J, S, O, M. , L Lino Manoel Glama ....,,,..,.. Lourenço Borges de Castro e Costa. . . . Lucas Fernandes das Neves, Figueira da Fo% Mondego . . , Luciano SiíDÕes de Carvalho 12 Lu Lu Lu Lu Lu Lu Lu Lu Lu z António de Freitas, Guimarães . . . z Arstonio F^into d'Aguiar z Baptista Pereira. z Baptista Pinto d'Andrade z Carlos de Sousa, Braga z da Cunha d'Eça e Costa, Lisboa. . z Francisco Midosi , Lisboa z Joaquim d'0!iveira Castro z Joaquim Pereira de Mesquita, Braga 19 Luiz Jo^e (la Costa Barbosa, Barcellos. . Luiz Lopes Vieira de Castro Luiz de Macedo da Cunha Coutinho, A- marante Luiz Manoel Moalinho, Abbade de Pera- fita do Bouças Luiz Martins Villaça, i>'íirce//os..^^. . . . Luiz Moreira Pinto de Carvalho, Guima- rães Luiz Outeiro da Costa. . Luiz Pereira da Fonseca. . Luiz Pinto d'01iveira . . . Luiz de Vasconcellos LemosCástello Bran- co , Fianna. L. J. Silva L. J. F. Paes . . , . M Manoel Alvares de Lima, P^illa do Conde Manoel Alves Pereira do Nascimento. . . Manool Alves do Rio, Lisboa Manoel Anacleto do Valle Portugal, Lis- boa . Manoel António P'ernandes Manoel António Figueira Manoel António da Fonseca, Fianna . . Manoel António de Moura Manoel António Pereira, Filiado Conde Manoel Cardoso dos Santos . . . .^. . • • Manool Corrêa de Barros Manoel Corrêa da Coàta. I Manoel da Co.ta Delgado. Pereira J^iUa Manoel Cusíodio Moreira Manoel Dias de Freitas Manoel l*'ernandes Coelho Mascarcrdias , Figueira Manoel Ferreira Barbosa Manoel Ferreira Costa Lima .. Manoel F(M-reira Quiques, f^izeu Manoel Francisco j^uarte Manoel Francisco Mendes . J^anoel de Freitas do Amaral e Mello, Guimarães , Maríoel de Freitas Carvalho, Filia do Conde. , Manoel Gerardo Montr." de Seixas, Lisboa Manoel Gomes Gosta , Manoel Gonçalves da. Cosia Lima.. Manoel Joaquim Alves Passos Manoel Joaquim de Bessa Guimarães... Manoel Joaquim Duarte Sousa . Manoel Joaquim Lobo ,. , Alanool Joaquim de Macedo e Cunha, Guimarães , . Manoel Joaquim Maciíado , Manoel Joaquim de Magalhães Lima . . Manoel Joaquim Marquts, Guimarães.. Manoel Joaquim Pereira Saraiva .. Manoel Joaquim Pereira da Silva .. Manoel Joaquim Pinheiro.. , Manoel Joaquim da P.ocha, Braga. .. Manoel Joaquim Rodrigues Ferreira, Pe- najiçl, . , , ^ ^1 Manoel Joaquim Silva Porto 2 ^Manoel Jorií^e Ribeiro 1 Manoel José d' Amorim Vianna 1 MaiK)ol José Gonçalves Machado Júnior, l^illa Nova . . • • , 1 Manoel José Gonçalves Pereira, Amaranie 1 Manoel José Malheiro da Cosia Lima, Braga 1 Manoel José da Motta , 1 Manoel José Pereira Lima 4 Manoel José da Silva e Freitas 1 Manoel José Rodrigues Lima, Braga .. 1 Manoel Justino Marques Murla , Braga.. 1 Manoel Leite de Sousa Alvares 1 Manoel Lopes Guimarães 1 Manoel Lopes Pereira da Silva 1 Manoel Luiz Rodrigues , Kíanna .. .. 1 Manoel Maitins Moreira da Hora Rama- lho, Gonçalves de Bovgas 1 Manoel Megre Kestier 1 Manoel Moreira Coutinho, F^illa Nova., 1 Manoel Pinto Carneiro 1 Manoel Ribeiro de Mattos 1 Manoel Rodrigues d ' i\ m o r i m , iTilla No va 1 Manoel de Sá Osório de Mello, Fi%cu . . 1 Manoel da Silva Passos (o Exc."^") , M- piarça , ^ Manoel Soares de Sonsa Galvão Júnior. . 1 Manoel de vSousa Flores, Killa do Conde. 1 Manoel da Veiga Campos 1 Marceliano Manoel Pereira 1 Miguel Joaquim Gomes Cardoso .. .. 1 w PiKiSOb^^lS.ijI? Miguel José Fernandes Bra^a . . . . M. J. Sousa Monteiro . .. .. .* ,] M. L. d'Azevedo . . M. P. Rosas .... " M. R. Rocha. . , ...... M. J. P. Lima .. .. *.' .' l N Nicolau Alves Pinto Villar 1 Nicolau Baptista de Figueiredo Pacheco Telles . . a Nicolau Còqtiíít Pinto de Queiroz . Nicolau Joaquim Pereira . , Pedro d' Aguiar 5 Gwmáraes Pedro António de Carvalho Pedro António da Cruz Pedro Lobo , Guimarães Pedro da Fonseca Serir;o Velloso .. Pedro Teixeira de Melio . . Porfirio.Rodrigueâ Velloso, Lisboa, R Rafael Martins . . . , . , I Ricardo Brown .. .... 1 Roberto Woodhouse . . . . . . . . . 12 Rodrigo José de Moraes Soares, Coimbra 1 Rodrigo José d^ Sousa Baadeipâ . * . .. l Rodrigo Nogueira Soares, Coimbra ... 1 Kohcrio H. Norton, Viaima 1 Rodrigo Lobo, Guimarães. .. ,. .. 1 Rodrigo Machado da Silva Salasar, Gui- marães f 1 s Sebastião António Gonçalves Agra. . . . X Sebastião Ferraz d'Araujo, Barcellus .. 1 Sebastião de Gargaiíiala , Lisboa ,. .. 1 Sebastião Pinto de Carvalho Azevedo e Castro , Braga 1 Sebastião Pinto de Carvalho e Sousa, J- boim da Nóbrega . . . . . . . . . . 1 Sebastião Pinto Leite 1 Seraphim Pereira da Fonseca Basto. .. 1 Severino José Gonçalves Pereira . . . . 9> Silvino Luiz Teixeira d'Aguiar, Lisboa.. 1 Simão da Cunha 1 Siinâo da Rocha Loureiro, Lisboa,. ,, 1 T Theofilo José Dias, Lisboa ,. 1 Thomaz António d'Araujo Lobo . . . . 10 Thomaz Maria de Paiva Barreto, Fizeu. 1 Thomaz Oom , Lisboa . . . . 1 Tristão António Corrêa da Silva, Matko- sinhos de Bouças . . . . . • 1 T. J. de Barros . . • • • • 1 í^^iaBiLmí^si^ií iig?s;'' ^4 Talentim Brandão Moreira de Sá, Gu{ marães Vicente Fabião de Mendonça, ' Filiicira Vicenle Gonçalves Rio Tinlo , Làhoa . Victor Rodrigues Cardoso Viclorino da Silva Leitão . .. *! Viscoíide de Beire Visconde deVilla-Nova d^GaVa, Lisboa V. J. de Sousa Moita. .. 'II m iissraig^^f«Bikiís»f:Mfâ.^ •-.-.^^^ ^■9 c} -•■í*»- ^^o ^:9emM.w^S'mÊSi^iísm^sMí^ *.~:ii 'm:^