Director e administraiior V. GUIMARÃES Edito-craprietario— ADOLPHO DE MEND0N(A

TTPOGfSHFHIA

46-Rufl DO Corpo Shpíto-4S

Bibliotheca Magazine Popdur ílldstrada

Di.rector e administrador V. GUIMARÃES

Composto 0 impresso na

Editor-proprietario ADOLPHO DE Mendonça Rua do Corpo Santo, 4S e 48

COSMOS

V O l- U IVI E II

1907

TTPOGRHrííIH HDOLFMO DE FIENDONÇH 46. Rüfl DO CORPO SANTO, 48 LISBOA

SUMMARIO

Conto! Sangue azul em' corpo de villão, de Erluardo Pimenta.

Versos ; cego^ de Alberto Telles.

Theatro! Trecbo de Leonor Telles^ de iMarcellino Mes¬ quita.

Sport! Em Lisboa: Concurso athletico no velodromo; regata na valia da Azamhvja. No estrangeiro: 0 Automovel Club de França e os records em estrada ; um match entre dois grandes cyclistas; o aeroplano de Santos Duniont.

Palestra soientifica! Barcos submarinos.

Anecdotas I Varias.

Ho mens celebres de todos os tempos! Camillo Cas- tello Bránco.

Charadas enigmas e acrósticos ! Varias.

Horticultura e floricultura! 0 jardim no verão.

Os grandes paizes e as grandes cidades! 0 império do Sol Nascente.

Distracções e coisas uteis! Electrisação do vidro ; car- roussel electrico; mudar agua em vinho; mudar o vi¬ nho em agua; cortar um. vidro com uma thesoura; furar um vidro, etc.

Romance ! 0 poeta da rainha.

Revista theatral! Chronica semanal.

O italiano sem mestre»

Historia e geographia! 0 império gortuguez nalndia; Affonso ã’ Albuquerque.

Arte culinaria! lieceitas varias.

A grande encyclopedia.

THE J. PAUL GETTY CENTER LIBRARY

SanguB azul em corpo de uillão

Na calma serenidade tarde não havia sequei, um rumorejar de folhagem. O dia tinha sido quente, abrazador, calcinante. Em redor da viiia, o fumo das queimas, carregára o ar, com emanações ardentes de fornalha. N’um estiolamento de morte a planicie uniforme, cortada pelo ribeiro exangue dos Lobatos desenrolava-se n’uma monotonia seguida, até ás margens do Gaia. Sobre o rio erguiam-se dois renques de choupos, deixando entrevistar o moinho parado, sem outras manifestações de vida, que não fossem o arrulhar dos pombos e o canto das lavadei¬ ras batendo a roupa, as mangas da camisa arregaça¬ das, a face curva sobre a agua, o sabão trepando em ondas de espuma até aos cotovellos tostados.

Mais para o largo, do lado dos Carrascaes, pela carreteira que leva á ponte, caminhavam duas rapa¬ rigas falando e rindo, n’um tom escarninho, seguidas de perto pelo João Louçana, que as espiava, tentando surprehender o motivo da sua coscovilhice.

A carreteira abria uma clareira zig-zagueante, por entre o piornal escasso.

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COSMOS

O Louçana de jaqueta de saragoça, chapéu de grandes abts, um cajado debaixo do braço, minuscu-

lisiva-se, esconden¬ do-se, por entre as moitas de piorno, pa¬ rando a cada suspen¬ são das raparigas, dis¬ simulando os passos, mas procurando sem¬ pre, com uma avidez ciosa, ouvir-lhes a conversação.

Uma ououtraphra- se solta, provocava- lhe um movmento ancioso, levando as mãos á cabeça, n'um frémito, como se o assomasse um vága- do, emquanto uma pallidez mortal lhe substituia as côres vivas da face.

As duas muito juntas tinham um riso malicioso e revelavam a intima satisfação de quem encontra a remissão da própria culpa no exemplo das quedas alheias.

Agora, mais rapidas, seguiam para a villa cantaro¬ lando velhacamente :

Escondendo-se por entre as moitas

não quer o senhor cuco Casar com a cotovia . . .

CONTÕS, VERSOS E THEATRO

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o Louçana parou á entrada da ponte; em baixo o Caya, limpido, luzia muito sereno, as aguas quieta¬ mente estagnadas.

A não ser a cega-rega das cigarras, nem um ruido perturbava o silencio tranquillo do declinar da tarde.

Encostando-se aa parapeito, olhou o moinho. Na eira andava, vasculhando no respigo d'algum esque¬ cido grão, um rebanho de perús; em redor do lelhado esvoaçavam os pombos; e no ádito escuro da porta destacava-se um vulto gracioso de mulher, passando um pente nas fartas tranças negras, esparsas sobre os esbeltos hombros, que a camisa mal encobria.

Involuntariamente o Louçana sentia-se preso por uma expectação muda; porém, o movimento das es¬ páduas fortes e a contracção dura da face deixavam transluzir uma revolta intima, em que a animosidade momentânea se perdia, desfeita no pranto d’uma sau¬ dade amarga.

No intimo da sua consciência procurava a causa da immerecida traição, feita pela Clara, a elle, tão tra¬ balhador, tão caricioso e amante.

Da ponte, vi-a sempre formosa, enlevado ainda na curva sensual das ancas largas, sobrexcitado por um desejo de saciar os apaixonados, impetos n’um beijo d’amor; mas as propulsões da vingança soerguiam- lhe os brios abatidos, pondo-lhe os olhos razos d’agua

•^4

COSMOS

Agora, deante d’elle, abria-se um futuro torvo, a ruina do lar, o aniquillamento da sua felicidade!

A tarde ia declinando com lentidão. Começavam a mover-se as arvores das margens ao sopro d’uma ara¬ gem fresca e suave; do telhado do moinho subia um tenue pennacho de fumo.

O Louçana deu alguns passos na ponte e foi sen- tar-se n’um tosco banco de pedra.

N’uma concentração profunda aviva vam-se-Ihe as lembranças d’outro tempo illuminado de alegria. Re¬ via em pleno passado, o seu primeiro, o seu unico amor iniciado na Senhora do Carmo, na grande ro¬ maria de julho, accesas as labaredas da paixão nos fundos olhos da Clara Ladina, pela exhibição da sua grande força, n’uma pega rija feita a um boi do Pin¬ tado da Fragosa.

Que longe que elle estava da felicidade sentida nos primeiros encontros, rapidas entrevistas, em que pas¬ savam na Huidez d’um sonho, promessas onde se com- buriam desejos, transluzindo na conversação terna e apaixonada. Estremecia na mesma emoção violenta, que o entibiára a elle, tão másculo, a primeira vez, que se viram sós, voltando das Covas do Barambão, onde tinha ido fazer um arranque de esteva. Que de¬ licioso fôra o regresso n’uma tarde tempestuosa, em que o vento soprava com furia e a chuva caia em for¬ tes aguaceiros! E fôra para este desenlace brutal da traição de Clara que elle se sentira ensoberbecido, no dia do casamento, ao sahirem da egreja tão unidos um ao outro. E como ella ia linda de endoidecer, na singelleza d’um vestido barato, com o rosto meio es-

CONTOS, VERSOS E THEATRO

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condido no bioco, gentil e donairosa, admiração dos rapgzes e inveja das outras raparigas!

Recalcava-o uma dôr profunda, lancinante, como se lhe esmagassem o peito largo e forte.

Krgueu-se . olhou com a vista torva e o espirito carregado, o fundo pego da Corredoura ; mas tomado por uma resolução inabalavel metteu de vagar, ao carreiro, que entre os choupos altos conduz á eira do moinho.

Dentro da casa dum asseio alvo xle cal, cantava uma voz argentina de mulher nova. Da porta, domi- nando-se o Louçana cumprimentou :

Guarde-te Deus, Ciara !

A mulher, d um perfil irreprehensivel, o collo en¬ trevendo-se por entre o decote da camisa, de manga curta, deixando a os braços polposos, queima¬ dos do sol até ao cotovello, para cima do qual tinham o tom macio do leite, voltou-se sorrindo,'n’um des- cerramento gracil dos lábios rubicundos; e, n’um gesto abandonado, quasi doentio, reclinou a cabeça para traz, offerecendo a fieira polida dos dentes ebúrneos ao beijo do Louçana.

Elle beijou-a com frieza, como se ao contacto amo¬ roso dos lábios se oppuzesse o gelo do resentimento.

Pegando num troiieço, sentou-se defronte d’ella, olhando-a fixamente, varando-a até ao fundo da sua consciência.

Aquelle ambiente torturava-o. Suffocava alli den¬ tro, sem forças, para lhe arrancar uma confissão e lançar-lh a em rosto, na formidável accusativa d’um coração partido.

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COSMOS

Os olhos desviaram-se-lhe do rosto da Clara, que alheia aos pensamentos d’elle, continuava cantando, pousou a vista sobre o alto leito, meio escondido na alcova, em frente da chaminé, como que a procurar n’elle, a impressão d’um corpo.

Na parede reluzia o aço d’uma espingarda hespa- nhola, a cartucheira pendurada da fechadura brunida.

Suscitado por uma ideia fixa, disse a meia voz :

Então sabes?

O que? fez ella, com um modo graciosamente interrogativo.

Despedi-me da herdade do Ravasca; vou para uma guardaria nos Louções, junto á nossa fazenda da serra. Abalo esta noite.

Ella então inquiriu as rasÕes que o tinham movido a sair da casa do Ravasca.

O Louçana explicou um desaguisado em que en¬ trava o da Costa, com o antigo abegão, cousas de rixa velha; outrora seu amigo intimo, mas depois da herança, insupportavel.

Imagina que tem o rei na barriga, o asno, con¬ cluiu. A Clara ao ouvir o nome do da Costa mal poude reprimir um gesto afflictivo. Uma súbita palli- dez alastrou-lhe as faces, trahindo-a, como se o san¬ gue refluindo ao coração se congelasse nas veias.

O Louçana percebeu a commoção; mas serena¬ mente deu a ordem :

Dá-me a espingarda.

A Clara entrou na alcova; e dobrando o joelho so¬ bre o leito alvo, salientando assim a curva sensual dos quadris, desprendeu a cartucheira e a arma que

CONTOS, VERSOS E THEATRO

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Elle tomou a

Alta noite sombria. O ceu escuro sem py- rilampisações de es- trellas estava sereno, pezado, abafadiço. A treva distendia-se co¬ mo um panno fúnebre sobre as terras. Ao lar¬ go, no valle de Bebe- das, reverberava, sangrento, o sinistro clarão de uma queima.

A quietude era profunda, uniforme, enervante, ape¬ nas cortada pelo uivar sinistro dalgum cão, ou pelo silvo agoureiro das corujas. Do moinho parado, d’uma brancura phantastica, não saía o menor ruido.

Na alea dos choupos silenciosa e deserta passou um vulto, marchando cautelloso, medindo os passos, com uma espingarda na mão, os olhos reluzindo como carvões accesos.

passou para fóra, suspendendo-a pelos canos. Elle to¬ mou a espingarda, sentindo uma forte commoção. Suífocando um momento aggressivo, chegou-se a ella

ciciando-lhe n’uma ca¬ ricia forçada;

Até mais ver. Saiu ; emquanto a Clara, n’uma garridice, lhe dizia adeus, sorrin¬ do.

. *

28

COSMOS

Dirigindo-se ao moinho parou espreitando pela fe¬ chadura da porta, atravez da qual passava diluido um fio de luz.

De dentro chegava-lhe aos ouvidos o echo de vo¬ zes soluçantes de amor, sons dispersos de beijos mor¬ rendo em estertores olfegantes, saídos de peitos con¬ strangidos n’um abraço intimo.

Por entre os dentes cerrados, entre-chocando-se na truculência do odio, o Louçana sibillou:

Grande bêbada!

Allucinado, perdido, no arrebatamento da exalta¬ ção, bateu na porta com a coronha da espingarda, violentamente, bradando furioso;

Abram, ou vae a porta dentro.

No interior da casa houve um silencio de minutos; mas, de fóra, a voz do Louçana continuava, viril, ameaçadora, vibrante de indignação.

Ouviu-se o leito ranger; uns pés descalços pisando o tijolo; mas antes que a chave desse volta na fecha¬ dura, o Louçana apparecia terrível, dentro da casa, partida a porta pelo impulso vigoroso que a rompeu em bastilhas.

Junto do leito rollára o corpo de Clara, mordendo- lhe o mortiço clarão da candeia o avelludado dos seios e o arredondado deslumbrante das espaduas-.

Em frente do Louçana, o da Costa, esgazeado, n’uma allucinação de pavor, -buscava a fuga, a vida ameaçada pelas guellas d’aço da espingarda apontada sobre elle.

Movido pelo instincto, no momento em que o Lou¬ çana fulminava a mulher com uma attitude domi-

CONTOS, VERSOS E THEATRO

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nante, minaz e esmagadora, o da Costa tentou sair; o brado, porém, do Louçana:

Se saes; mato-te como um cão! fel-o voltar ao meio da casa, onde quedou apavorado, tremulo, sem defeza.

O outro então, com as feições demudadas, ergueu com um pulso de ferro a mulher, quasi destallecida, sem forças de reacção. Atravessando-se no caminho da saída, sacudindo-a para o interior da casa e ex- pungindo-lhe n’um tom secco e breve, a sua falta, ordenou-lhe que entrouxasse o seu dote.

Ella abriu, vagarosa, a arca grande acantoada ao fundo da alcova e tirou um chale em que se envol¬ veu, acabando de vestir-se. Estendeu no chão um len¬ çol, para onde passou lentamente o bragal ; os soluços abafavam-lhe a garganta, emquanto as lagrimas mare¬ javam de remorsos a limpidez dos seus olhos negros.

O Costa com a cabeça curvada tinha a immobili- dade indifferente das estatuas.

A voz de, Louçana sibillava aguda, ordenando o rápido entrouxamento.

A Clara atou as quatro pontas do lençol, em dois nós cruzados, cobriu-se com o chaile, ergueu a trouxa sobre a cabeça ; mas antes de sair atraz do da Costa, a quem um gesto de Louçana apontára a es¬ curidão da noite, olhou madida e supplice o marido, e seguiu resignada, encontrando no olhar d’elle, a ru¬ deza inflexível e a frieza austera do cumprimento de um dever.

O Louçana veio á porta; nas trevas da noite su^ miam-se os dois vultos unidos pela mesma culpa,

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COSMOS

Poisou a espingarda, á porta, no banco da en¬ trada.

Volveu á casa e procurou n’um phrenesi uma gar¬ rafa de petroleo arrumada na estanheira. Foi á al¬ cova, entornou-a sobre a cama, no chão, na arca; e em seguida, tomando a candeia da chaminé, arre¬ messou-a, ardendo, contra o leito humedecido ainda do calor dos corpos, d’onde se exhalava o abafo sen¬ sual dos íalsos arroubamentos do amor aduherino ! A chamma desenvolveu-se, rapida, em grandes bafo¬ radas fumarentas, cresceu sobre a parede, distendeu- se no solo, esfuziando em todas as direcções.

Então, sem olhar para traz, os olhos cheios de lagrimas, o peito desopprimido pelo choro, 0 I .ouçana saiu do moi¬ nho, tomou a espingarda e partiu envolvido na sombra do seu isolamento pela carre¬ teira da Fialha.

Do moinho elevava-se um grande clarão sinistro, refle - ctindo-se sobre as aguas mor¬ tas do Cayra; os sinos de Ar- ronches alarmavam a villa, tocando a rebate com furia.

Pela planicie fóra canta¬ vam as cotovias; vinha nas-

Eduardo Pimenta. (Horas Mortas)

. partiu envolvido na som¬ bra do seu isolamento...

çendo a manha,

CONTOS, VERSOS E THEATRO

3l

cego

Estava pensando agora Que bella hei-de eu requestar; Ou menina, ou senhora, Topam-se a toda a hora,

Que não são de desprezar.

Uma que eu vi á janella Tem graças de enfeitiçar; Confesso. . . morro por ella ! Porém, sendo assim tão bella, Não ama. . . quer-se casar.

De celestes bens telonio, Bênçãos et coetera do lar, Respeite-se o matrimonio, Mas. . . para longe o demonio Que as tece me>mo no ar!

A viuva, ainda galante, Sensível, deixa-se amar;

Mas não tem o dom tocante. Da joven principiante Do Dom João d,e Mo\art.

COSMOS

Inextricável matéria.

O’ Arte, vou-te adorar!

Mas a deusa grave e seria ■Nos jardins da antiga Hesperia Manda-me á lua cantar!

Alberto Telles

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CONTOS, VÉRSOS E TNeATRO

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Dd drama baanar TeIIbs

AcTO II SCENA V Mestre d'Avi^

Podia-te eu deixar partir, ficar-me a sós ?

Longe de ti, Helena, a dôr vil, a tristeza. Avassalam-me o peito; a própria natureza Parece que se envolve em negro vèu de dôr!

Perde a lua o brilhar, o sol não fem calôr, - A agua não sacia, o monte não enleva,

O dia é baço e triste, a noite é sempre treva !

E’ porque ha um sentido occulto que se esconde, Aonde nem eu sei, mas não importa aonde,

Que nasce do roçar, de chofre, de uma vez,

De um macio corpete o aço de um arnez !

Que vive do olhar amado, a força estranha,

Como a flôr do orvalho, em que a manhã a banha! E’ sublime e cruel ! Leva-nos á victoria,

Ou mostra, como a mim, a minha "espada inglória. . .

Helena

O’ cala-te, por Deus, tu és um lisongeiro.

Comigo! Filha sou de um simples- cavalleiro. . . Acaso hei-de aspirar á mão de um rei?

Mestre d’Avi^

T alvez !

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COSMOS ..

Helena

Fosse qual fosse o rei, trocava-o de uma vez. Por ti, p'lo teu amor! . -

Mestre d’Avi^

Que sentimentos bellos! Podesse eu adornar-te os fulgidos cabellos, _ De uma coróa real! seria, entáo, feliz!

•f--

Helena

Não o és, tu, João ?

Mestre d’Avi^

Oh ! sou porque Deus quiz, Que podesse encontrar-te e fosse o teu dilecto. Quem não será feliz á luz do teu affecto?

Helena

Has de ser grande ainda; és nobre, és valoroso, Não me esqueças, então!

Mestre d’Avi^ i

Desterra esse horroroso Pensamento cruel^ ó meu primeiro amor!

Amo-te, loucamente! e tens, como penhor,

De este affecto, sem fim, a luz de teu olhar. Meiga como um carinho, azul como o luar !

Mais dôce do que o mel de túrgidas colmeias. ,

CONTOS, VERSOS E THEATRO

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Eras tu que eu sonhava! á noite, nas ameias Do meu velho solar, fitando impaciente O immenso espaço azul, via-te clara,mente.

Sobre as nuvens voar, olhando-me, dorida !

Eras tu, não me engano: aquella fórma querida Tinha este mesmo ar, ingênuo, adolescente,

Este rosto gentil! e a veste transparente,

Deixava advinhar do vento ao brando córte O garbo singular do teu airoso pórte!

Eras tu, bem o vejo : hoje, que ao de ti Posso ver tão de perto, o que tão longe vi;

Sentir junto, ao meu peito, aquella imagem vaga, Conheço que o meu sonho é vivo e me embriaga ! Amor que, rara vez, concede a sorte avara,

Onde a vida descança e o pensamento pára!

Helena

Repete-me, João, repete esse dizer,

A ouvir- te fallar era até bom morrer!

A voz de quem se ama é como um canto grave De um orgão, que se eleva e morre pela nave E atraz do qual nos sóbe a Deus o coração!

A nave é o meu peito e o Deus és tu, João!

(PausaJ.

Meu Deus! que me esqueci! Vim a buscar as flores Da rainha. . . afinal. . . topei com meus amores. . .

Mestre d’Avi^

Pouco te demoraste.

JD

COSMOS

Helena

Eu sei . . . Estarão em pena Por mim I Adeus, João!

Mestre d’AvÍ7

(Helena saej.

Adeus, formosa Helena. ' Marcellino

Mestre d'Avi\ na peca «Leonor Telles»

0 ultimo concurso de «sports» athleticos disputado no Yelodromo de Lisboa

Aprova sportiva de maior interesse que ulti¬ mamente se realisou em Lisboa foi, sem du vida alguma, o concurso disputado no velo- dromo de Palhavã, na tarde de 7 do corrente. Os

seus resultados technicos não pódem, em boa verda¬ de, envaidecer extraordinariamente os concorrentes ; mas representam um esforço de tenacidade e de qrrojo

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COSMOS

que é licito estimular com discreto elogio. Por ou¬ tras palavras ; os resultados obtidos nas diversas pro¬ vas do concurso não se approximam sequer do que, vulgarmente, se obtem fóra em torneios idênti¬ cos excepção feita dos saltos em altu-^a; mas tra¬ duzem innegavelmente o desejo de conseguir bem cedo essa approximação, mercê de treino aturado e methodicamente conduzido.

Excepção feita dos saltos em altura, dissemcs nós, e na realidade essa prova athletica foi a unica de en¬ tre todas as do concurso que attingiu um resultado magnifico. O salto de i'“,6i do sr. Barley, não poden¬ do ser comparado, por exemplo, com o de i“,97 de .Sweeney, é, no emtanto, uma explendida performan¬ ce que ficaria bem collocada em qualquer torneio in¬ ternacional, principalmente se esse torneio réunisse apenas representantes do paiz visinho ou do sul da França. Mas o resto os saltos á vara, o lançamento do peso, os saltos em comprimento, o lançamento do disco, etc., tudo isso, digamol-o com franqueza, en¬ contra nos clubs de Bordéus, Bayonna, Biarritz ou San Sebastian para não citar senão os amadores estrangeiros com os quaes os nossos mais vantajosa¬ mente pódem luctar cultores d'uma superioridade algo distanciada, d’um treino indubitavelmente mais completo e esmagador. E é ver;

No lançamento do peso, Manuel da Silveira, o pri¬ meiro classificado na tarde de 7, apenas conseguiu a distancia de 9"’, 80. Ha dias, em Irun, um amador do Biarritz Stade fez com facilidade io“,89, e não tem a robustez physica que caracterisa o campeão de Por-

SPORT

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tugal. Nos saltos á vara, o sr. Ryder fez, entre nós, no velodromo de Palhavã, 2'".62; no mesmo concur¬ so a que nos referimos, Stang, do Sport Athle ti¬ que Bordelais, saltou 3“,4o, o que não é, positiva¬ mente, o record de Gonder, mas uma performancQ de real- valor.

Quer isto dizer, porventura, que os nossos amado¬ res não conseguem egualar essas distancias ? Náo : longe d’isso.

Mas, para o conseguirem, necessitam naturaimente um treino que ainda nao possuem e que se adqui¬ re com dedicação aturada tanto mais que os sports do genero d’aquelles que constituiram o programma da tarde de 7 andam um tanto descurados no nosso paiz. Treino e treino, e fiquem todos convencidos de que dentro de alguns mezes poderão então hom- brear distinctamente com o que no estrangeiro cos^ tuma fazer boa figura,

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COSMOS

Posto isto, registemos rapidamente os resultados do concurso :

Saltos em altura i.”, Barley lançamento

do peso I.", Manuel da Silveira {9'", 8o); corrida de bicycletas (velocidade) 1.“, J. Figueira, 2.", D. Eu¬ gênio de Noronha; corrida de tres pernas i."", A Neves e A. Freitas; lançamento do disco i", José Prego; saltos á vara 1 Ryder (2"',62) ; corrida de barreiras 1.", Ryder; lucta de tracção r" a equi¬ pe do Real Club Infante D. Manuel ; corrida de sac- cos i.", Macdonald; saltos em comprimento 1.“, Barley (5"’, 60); corrida de resistência (pedestre) I.", Macdonald; corrida de obstáculos ].“, Lama¬ rão; corrida de velocidade (pedestre) i.®, F. Pinto Basto.

A regata ua valia da Azainbuja, promovida pelo Real Club Naval

No domingo 9 do corrente, o Real Club Naval mo- hilisou as suas tripulações de remo e as suas guigas para a costumada regata na valia da Azambuja que devia ser como que o ensejo asado para uma es¬ colha dos melhores remadores ou da melhor equipe da aggremiação. E dizemos devia ser, porque, exa- ctamente, no caso presente, quasi todas as tripula¬ ções que melhor remaram, ou as que remaram com melhor estylo, foram as que perderam. Os resultados da regata foram os seguintes:

corrida ganhou a tripulação da D. Carlos: Guilherme Salgado, Carlos Shirley, Guilherme Shir’ ley, Lino dos Reis e João Anjos (timoneiro) ; 2,“ cor-

Sí>ORT

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rida a tripulação da Mondego : A. Ferreira, A. Ma^ galhães, C. B., Rocha Leão e José Manuel Mendes (timoneiro); J/'' corrida a tripulação^da D. Amélia:

J. Mendonça, Xavier de Brito, Armando Frade, Guer¬ reiro Ferro e João Gimenez (timoneiro); 4.'“ corrida a tripulação àa Branca: Orlando Caldeira, A. San¬ tos, J. Rato, J. Barata e Manuel Vasques (timoneiro); 5.“ corrida a tripulação da D. Amélia : Mario Sant'- Anna, Ferro Mayer, L. Mascarenhas, Estevão da Sil¬ va e João Bissau (timoneiro) ; 6.’' corrida a tripu¬ lação do pair-oar Alice: João Tito, Antonio Tito e Vasco Almeida (timoneiro).

PELO ESTRANGEIRO:

0 Automorel Club de Frauça e os «records» em estrada

Uma recente disposição do Automovel Club de França determina rigorosamente que se pão chrono- metre nem auctorise as tentativas de record em es-

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trada para longas distancias sem que o percur¬ so a effectuar seja convenientemente guardado e vi¬ giado. Isto para evitar qualquer desastre tanto para o automobilista como para os peões. O ultimo record d’esse genero auctorisado pelo Automovel Club de França, foi o de Sorel, n’uma Dietrich de bo caval- los, percorrendo em 28 horas a distancia de Paris a Madrid, 1.600 kilometros. nao succedeu o mesmo ao audacioso touriste, sr. Borde, que cobriu em 24 horas a mesma distancia, debaixo dum verdadeiro temporal.

Antes da partida, numerosos amigos do sr. Borde não queriam que elle se aventurasse a seguir viagem n’um dia que amanhecera tempestuoso. Vento, chu¬ va, trovoada acompanhada de granizo, tudo fazia pre¬ ver que o arrojado chauffeur desistiria; mas nada d’isso: elle ahi vae com uma veloc dade estonteante e ao meio dia e meia hora chega a Bordéus são como um pero. Almoçou alli e seguiu a carreira. D’ahi a pouco passa em Bayonna e chega como um re¬ lâmpago á fronteira hespanhola, tendo feito 85o ki¬ lometros, em França, em 17 horas e i5 minutos, isto é, com uma velocidade média de 5o kilometros á hora.

Pára, por minutos, na alfandega para as formali¬ dades do estylo e eil-o de novo na vertigem, debaixo da chuv.-i que cahia intensa, e ás 9 da noite do dia se¬ guinte chegava a Madrid.

Em todo o trajecto o automovel do sr. Borde, um doiible-phaeton de 10/14 cavallos, consumiu apenas uma média de 1 1 litros e meio de gazolina por cada

SPORT

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loo kilometros e chegou a Madrid com os mesmos pneumáticos cora que sahira de Paris,

o carro «Ariès» i5 H.P. que fez o record Paris-Madrid em 24 horas.

Um nmatch» ridículo entre dois grandes cyclistas:

Mayer e Poulaiu

Em Paris, no velodromo municipal, realisou-se ha dias um desafio em duas mãos, entre Mayer, um grande cyclista que correu este anno na pista de Palhavã e Poulain, o campeão do mundo em iqoS. Na primeira mão, que era de i.ooo metros, Poulain ga¬ nhou a corrida com certa facilidade. Na segunda pOrém, os dois corredores começaram, logo ao tiro

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COSMOS

de pistola, a representar uma comedia ridícula, for cejando cada qual por evitar tomar a cabeça (ou . dianteira, como se diz vulgarmente). Em certa altu | ra., Poulain, menos acrobata do que o seu adversa j rio, cahiu. Houve necessidade de fazer correr nova 1 mente essa mão do matclij que Mayer venceu poi um quarto de roda.

Foram á belle^ ou ao desempate. Os dois corredo¬ res continuam a mesma scena, prodigalisando-se em esforços para não demarrar, apoiando-se até ás balaus- I tradas da pista para se conservarem no mesmo sitio.

O publico, enervado com a representação, prorompe i n’um charivari medonho, e a scena, depois d’uma hora e dez minutos de teimosia ridicula, acaba pelo desapparecimento do jury, que abandonou o velodro- mo, farto, positivamente, de tanta massada.

!

0 novo acrostato de Santos ihiiiiout participa ao mesmo tempo do balão e do aeroplano

1

Os telegrammas de Paris noticiaram o desastre , succedido a Santos Dumont, quando experimentava, na madrugada de 8 do corrente, no parque de Baga- j telle, o seu aerostato n." i6. Falta dizer que o novo apparelho do illustre aeronauta é uma combinação do ' balão dirigivel e do aeroplano: é mais pesado do que ^ o ar cerca de 8o kilos. Comp5e-se, em primeiro logar, d’um envolucro de seda envernisada, envolucro ' fusiforme de 99 metros cúbicos e de 21 metros de comprimento, tendo no interior um balão compen¬ sador cheio d’ar. O apparelho, mais leve que o ar,

êPÒRT

2 t

supporta uma série de peças todas ellas mais pesa¬ das do que o ar : um motor de 5o cavallos (o do ul¬ timo aeroplano construído por Santos Dumont) ac- cionando uma helice de 2 metros de diâmetro, collo-

O dirigível de Santos Dumont

cada á frente; um plano movei, também collocado á frenté, e que deve guiar 'a marcha ascensional; a traz, entre o motor e o leme polygonal, um plano de aero¬ plano de 4 metros de superfície. O aeronauta assen- ta-se n’um selim atraz do motor, O apparelho com¬ pleto repousa sobre duas rodas de bicycleta.

PalBstra sciantífica

BarcoM sul) ma ri nos

Muita gente haverá que imagina que o problema da navegação submarina modernamente co¬ meçou a occupar a attenção dos homens. E’ um engano. Os projectos de navios submarinos, apre¬ sentados desde os princípios do seculo XVII até hoje, contam-se ás centenas, e o mais curioso é que na longa lista dos inventores entram indivíduos de va¬ riadíssimas profissões, incluindo até alguns de miste¬ res muito humildes, cujos inventos figuram honrosa¬ mente na historia da navegação submarina. Muitos d’esses barcos, muitíssimos mesmo, foram construí¬ dos e eíFectuaram as suas experiencias com melhor ou peior resultado.

Assim, em 1624, um rei de Inglaterra navegou sob as aguas do Tamisamo submarino inventado pelo hollandez Van Drebbel, barco de madeira que podia mergulhar até 5 metros e era movido a remos que penetravam no navio atravez de mangas de coiro im¬ permeável. E em 1776 o sargento Lee do exercito americano, tentou, no submarino de Bushnell, des¬ truir, no porto de New-York, o navio de guerra inglez Eagle, aparafusando-lhe no fundo uma caixa cheia

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COSMOS

de polvora, tendo estado essa tentativa a ponto de ser coroada de exito, assim como outras duas a que aquelle bravo sargento se aventurou.

Bushnell era medico; dotado d’um extraordinário es¬ pirito inventivo, o seu submarino era, para o tempo, uma maravilha. Construido de madeira, apertado por cintas de ferro, tinha dois helices, remos em fórma de parafuso como lhe chamam as chronxas da epocha ; um, horisontal, collocado na dianteira do barco, fa¬ zia-o avançar ou recuar, outro, vertical, movia o navio n’este sentido. O primeiro era manobrado á mão ou com o pé, o Segundo á mão, assim como o leme. Um homem consti¬ tuía a tripulação do submarino.

Uma valvula, abrindo de dentro para fóra, dava entrada á agua ne¬ cessária para a immersão e duas bombas prementes expulsavam essa agua para fazer emergir o barco.

Bushnell que, com justo titulo, deve ser conside¬ rado o primeiro inventor da applicação do helice ã navegação, dotou o seu submarino com um peso de segurança alojado na parte exterior do fundo, mas que podia ser manobrado da parte interna e que, em caso de avaria séria, devia ser largo para _ o fundo, a fim de permittir que o barco voltasse ra¬ pidamente á superficie.

Depois de Bushnell, até aos nossos dias, muitos ou¬ tros projectos de submarinos foram apresentados, como acima dizemos, mas n’uma secção de tão limi¬ tado espaço, como esta, impossível se nos torna re-

O submarir.o de Bushnell, manobra, do á mão.

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ferirmo-nos a todQS, ainda que ligeiramente, e por isso mencionaremos apenas aquelles que por qualquer circumstancia mereçam referencia especial. N’esse caso está o submarino Nautilus, construido em 1797? inventado pelo extraordinário espirito de Fulton.

Era um pequeno barco de ferro, forrado de madeira, de forma ellipsoidal, que á superfície navegava á vela, e debaixo de agua era movido por um helice que se manobrava á mão por meio de um volante. Dois lemes horisontaes faziam mergulhar o navio em mar¬ cha e mantinham-no n’uma determinada profundi¬ dade.

A habitabilidade era assegurada durante tres horas á tripulação que se compunha de tres homens.

Como as experiencias a que o inventor procedeu tivessem dado resultados satisfactorios, este procurou atacar alguns na¬ vios inglezes que, prevenidos a tempo, conseguiram evital-o.

P'ulton pediu então ao governo francez que lhe desse um na¬ vio velho para mostrar os ef- feitos do seu torpedo, mas foi- lhe isso recusado com pretex¬ tos pueris, e 0 inventor, descoroçoado, abandonou a França.

Depois de F'ulton, os inventos de submarinos suc- cederam-se, durante todo o século XIX, com ex¬ traordinária frequência. Alguns d’elles foram fataes aos inventores e a lista, felizmente pouco longa, das

Fullon

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victimas da navegação submarina foi augmentada com os nomes do hespanhol Cervo em i83i e do dr. Petit, med’CO de Amiens, em 1834.

Em i85 1, dois inventores de profissão modestíssi¬ ma, um na Europa e o outro na America, construi¬ ram dois submarinos muito notáveis.

Bauer era sargento do exercito allemão e, antes d’isso, operário torneiro. O seu submarino era muito bem concebido, de harmonia com todos os princí¬ pios scientificos da época e apresentava a originali¬ dade de tentar assegurar a estabilidade de immer- são em marcha peio deslocamento de um peso, posto em movimento por um parafuso que era ma¬ nobrado á mão por meio de uma pequena roda. A primeira experiencia ia-lhe custando a vida.

Depois de navegar algum tempo debaixo de agua, as chapas da popa cederam um pouco, o navio co¬ meçou a mergulhar com rapidez, e apezar dos es¬ forços empregados para contrariar a descida, cahiu no fundo, n’uma profundidade de 18 metros de agua. A pressão exercida sobre o casco era enorme e as chapas começaram a amolgar-se. A situação tornou-se desesperada.

Bauer não perdéu porém o sangue frio, e, fazen¬ do encher de agua novamente todos os reservató¬ rios, conseguiu comprimir o ar até contrabalançar a pressão exterior, e, abrindo a escotilha, subiu á su- perficie, elle e os seus companheiros, com uma ra¬ pidez extraordinária.

Foi, todavia, isto, um^ mau prenuncio para a sua vida de inventor, que na realidade foi uma série de

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desgostos e de contrariedades, a que resistiria uma tenacidade como a d’elle.

O outro submarino a que acima nos referimos, era invento d’um sapateiro americano, de nome Philipps. Admiravelmente imaginado e executado.

O submarino e o sargento Bauer

apresentava este barco duas originalidades : uma junta espherica que permittia manejar quaesquer instrumentos de dentro do barco e um pendulo qne, fechando authomaticamente os tubos que liga¬ vam entre si os reservatórios de agua, procurava as¬ segurar a estabilidade longitudinal do navio em im- mersão. Philipps fez diversas experiencias e era tal a confiança que depositava no seu invento, que che¬ gou a passar lo horas debaixo de agua com a mu¬ lher e os filhos.

Uma vez, porém, mergulhou no lago Erié e nun¬ ca mais appareceu.

Os americanos não perderam na navegação subma¬ rina a sua linha tradiccional de aventura e ousadia.

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Em i863, durante a guerra da seccessão, Aunley in¬ ventou um pequeno submarino para destruir os na¬ vios dos Estados do Norte, a que foi dado o nome de David e que nas experiencias matou 33 homens. Uma vez foi a ondulação de um vapor que passava que o metteu no fundo. Posto a nado, virou-se no decurso d’uma experiencia e, finalmente n’uma outra experiencia, mergulhou a grande profundidade e, não se sabe porquê, não voltou á superficie. Posto nova¬ mente a nado e reparado, o David atacou com o seu torpedo, em i6 de fevereiro de 1864, a corveta federada e metteu-a no fundo,, mas pere¬

ceu com ella.

No mesmo annode i863 um submarino denominado Le Plougeur era lançado ao mar em França, entre grandes esperanças de uma resolução definitiva da questão devido á reputação scientifica-e competência technica dos seus inventores o capitão de mar e guerra Bourgois e o engenheiro naval Brun, a primeira vez que appareciam como inventores de submarinos indi- viduos de profissão maritima. Era este barco dividido em tres compartimentos, um para a machina de ar comprimido, outro para os tubos reservatórios do ar comprimido a 12 atmospheras e, entre estes, o do cen¬ tro reservado á tripulação de 12 homens. O barco mergulhava pela substituição do ar de alguns reser-

jrn

vatorios por agua e emergia pela expulsão d’essa

mesma agua por meio de communicação do respe¬ ctivo reservatório com os de ar comprimido.

As experiencias demonstraram porém que os seus inventores não conseguiram dar sufficiente estabili-

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dade a essa massa de 400 toneladas e o barco foi des¬ armado.

Em r866 o americano Raeber construiu um sub¬ marino com a particularidade do helice ser movei e servir ao mesmo tempo como propulsor e leme. A idéa tinha sido emittida muitos annos antes por Shorter, Millington, etc., mas foi a primeira vez que teve realisaçáo pratica. Era iSyS um outro americano Holland construiu um submarino ao qual nos referi¬ mos aqui, simplesmente porque este inventor, modi¬ ficando successivamente o seu primeiro invento, le- vou-o ao máximo grau de aperfeiçoamento actual. Em 1877 russo, Drzewiecki, construiu também um navio d’este genero que, aperfeiçoado em 1879, fez experiencias com tão feliz resultado que o governo russo encommendou-lhe em 1881 cincoenta e dois d’estes barcos, os quaes eram tão pequenos que po¬ diam ser içados nos turcos dos grandes navios e as¬ sim transportados ao local de combate.

Entretanto os progressos realisados na electricidade e as tentativas da applicação pratica dos motores de gaz auctorisavarn a supposição de que a navegação submarina ia entrar n’uma phase nova, na phase actual.

Em 1884 Drzewiecki substituiu no seu submarino de 1879 a manobra, a braço, do helice e das bombas, por um motor electrico accionado por uma corrente duma bateria de accumuladores.

Em i885 appareceu o submarino de Nordenfeldt, 3 primeiro que, respondendo d’uma maneira quasi sa- isfatcria, a vários pontos do problema, deixou ante-

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ver a possibilidade da utilisação, como arma de guerra, do barco submarino. Nordenfeldt deu aos reservató¬ rios de agua do seu navio uma capac dade insufficiente para o fazer mergulhar inteiramente. A immersão completa era então obtida mechanicamente por dois helices verticaes. Avante havia dois lemes horisontaes destinados a dar ao barco a estabilidade de immersão em marcha. Era movido na navegação á superfície por uma machina de vapor, e, quando mergulhado, servia-se do vapor que existia na caldeira no momento de immergir è do de dois reservatórios especialmente a isso destinados e em qge o vapor era sobreaquecido por um systema particular.

O movimento automático dum embolo fechava a valvula de introducção do vapor, quando a immersão excedia o nivel desejado e o barco voltava rapida¬ mente a esse nivel. Nonlenfeldt construiu em 1887 um novo barco maior que este e com alguns aperfei¬ çoamentos.

Em França accentuava-se por essa epocha um gran¬ de movimento em favor dos submarinos. Um exagero de apreciação suggestionado pelo patriotismo fazia-lhe vêr nos barcos d’esse genero a arma invencivel, ha tanto tempo procurada, contra o collosso marítimo britannico. Em Toulon e Cherburgo procederam dois illustres engenheiros, Gustavo Zédé e Goubet a ex¬ periências com submarinos movidos por um helice accionado por uma corrente electrica de accumula- dores. Datam d’estas experiencias, respectivamente realisadas em 1889 e 1891, os primeTOS resultados ien'mente práticos da navegação submarina.

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Ao mesmo tempo surgiam em vários paizes os in¬ ventores. Em 1889 experimentava Peralna Hespanha um barco d’este genero no meio d’um extraordinário enthusiasmo, para pouco depois ser votado ao esque¬ cimento. em 1890 procedia-se em Portugal ás ex¬ periências, com animadores resultados, do submarino Fontes^ para também nunca mais se falar n’elle, e em 1895 faziam-se experiencias em Italia com o Deljino do engenheiro Pullino, cujo resultado foi conservado secreto, tendo podido apenas saber-se que tinha sido muito satisfatório.

o «Hollanda» navegando á superfície

D'ahi por deante entra a navegação submarina fran- íamente na phase actual dos submarinos chamados autonomos. Na America, Holland, depois de ter con- struido successivamente 6 typos de submarinos, pa¬ rava no 7.“, adoptado pelos governos americano e in- glez, mas mesmo este typo tem soffrido modificações feitas pela casa constructora e outras efFectuadas em Inglaterra. E’, d’um modo geral, um barco movido á

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COSMOS

superticie por um motor de gazolina, e debaixo de agua por um motor electrico accionado por uma cor¬ rente d’uma forte bateria de accumuladores. Tem dois lemes horisontaes para assegurar a estabilidade de immersão em marcha e é armado com tubos para lançar torpedos. A immersão obtem-se introduzindo agua nos reservatórios, o que faz mergulhar o barco até um certo ponto, fazendo-se depois a immersão completa mechanicamente.

Ainda ha pouco tempo, o nosso governo decretou a acquisição de dois d’estes submarinos para a nossa marinha de guerra.

Os francezes entraram pouco depois no mesmo ca¬ minho. O primeiro submarino autonomo que construi- ram^, o Narval^ era movido á superfície por uma ma- chinade vapor, mas esse systema foi logo abandonado, substituindo-se a machina de vapor pelos motores de petroleo e de gazolina, como se fazia na America.

Os barcos submarinos estão, porém, muito longe ainda de attingir o grau de aperfeiçoamento exigido por uma utilisação pratica e efficaz. Teem ainda mui¬ tos defeitos que algumas vezes originam catastrophes como aquellas que ha pouco tempo enlutaram a França. O Farfadet e o Lutin, submarinos de bateria de ac¬ cumuladores, afundaram-se, perecendo quasi toda a tripulação.

E’ porém de crer que na defeza das costas pres¬ tem desde importantes serviços.

O maior obstáculo ao progresso rápido dos subma¬ rinos é, sem duvida, a indispensabilidade da bateria de accumuladores para a marcha debaixo de agua,

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por não se ter encontrado, até hoje, meio de apropriar a essa navegação o motor de gazolina.

Possível é que essa gloria esteja reservada ao nosso paiz, pois está em Inglaterra, procedendo a impor¬ tantes experiencias n’esse sentido, o primeijo tenente <ia nossa armada, Valente da Cruz. '

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Anecdotas

Um avarento que passava noites horríveis em so- bresaltos contínuos com receio de que lhe roubassem o seu dinheiro, {resolveu ir enterral-o [de noite em determinado sitio d’uma floresta próxima. Como, porém, tinha medo de ir sósinho com o dinheiro, a esse logar ermo, viu-se na necessidade de confiar o seu segredo a um primo no qual depositava relativa

confiança, e pediu-lhe que o acompanhasse. O primo accedeu logo de muito boa vontade e foram os dois en¬ terrar o dinheiro.

O avarento, porém, nem assim logrou a almejada tranquilli- dade de espirito e uma noite em que não pô¬ de dominar-se, foi á floresta verificar se o seu thesouro ainda es¬ tava no sitio em que o deixára. Qual não foi pois o seu louco de-

O avarento

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COSMOS

sespero quando, chegando ali, viu a terra remexida, e cavou, cavou febrilmente sem encontrar coisa alguma*

Passadas as primeiras impressões, veio a reflexão. Evidentemente não podia ter sido senão o primo. Como rehaver o dinheiro roubado? Cogitou todo o resto da noite e no dia seguinte de manhã dirigiu-se a casa do seu infiel parente.

Venho pedir-te que me acompanhes outra vez á floresta amanhã á noite, disse-lhe elle. Os negocios teem-me corrido magnificamente bem. Hontem recebi uns vinte contos de reis e espero receber ainda ama¬ nhã uns quarenta. São pois sessenta contos que ama¬ nhã á noite quero metter no cofre que está enterrado e emquanto os não pozér não durmo descansado.

Da melhor vontade te acompanharei, respondeu- lhe o primo

Na noite aprasada encaminharam-se os dois para a floresta, levando o avarento debaixo da capa duas pistolas carregadas. Chegtidos ao sitio, começou este a cavar, encontrando d’ahi a pouco,-como esperava, o cofresinho com o seu thesouro e, sem dizer coisa alguma, pegou n’elle, metteu-o debaixo da capa e en¬ caminhou-se para casa.

Mas então não mettes ahi os sessenta contos ? Para onde levas o cofre? perguntou- lhe o primo es¬ tupefacto.

Descobri afinal que o logar mais seguro é a mi¬ nha própria casa, respondeu o avarento, mostrando ao primo, assim como quem não quer a coisa, o cano d’uma das pistolas.

- -

ANECDOTAS

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Urn homem, chamado Quintas, tinha inveterado o vicio da embriaguez o que dava origem a disputas diarias com a mulher á qual elle acabava sempre por jurar emenda.

Uma noite caminhava elie por uma rua, muito em¬ briagado e monologando em voz alta :

Você, sr. Quintas, tem edade para ter juizo. Não deve beber de mais.

Sua mulher todos os dias lh’o canta em casa, mas você não tem ver¬ gonha nem emenda.

Gasta todo o dinheiro da féria em vinho e para comer tem que ir pondo no prego tudo quanto tem.

Isto assim não póde continuar. Jura nunca mais se embebedar, sr.

Quintas ?

Juro, respondia elle a si mesmo.

Pois bem, continua¬ va monologando, d’aqui em deante não bebe nem mais um decilitro, se quer^ter a minha consideração. E agora quero vêr sentem coragem para resistir á tentação.

N'este momento parava elle em frente da porta d’uma taberna, bamboieando-se e observando com os olhos esgazeados os copos, as pipas e os bebedo¬ res. Ao mesmo tempo ia dizendo :

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COSMOS

Juízo, sr. Quintas, parece-me que está a sentir tentações de emborcar mais dois decilitros. Olhe que ainda agora jurou nunca mais beber. Veja o que

faz.

Não ha novidade, respondia elle a si mesmo, as juras cumprem-se. Eu sou homem de coragem. Quer vêr

E, dizendo isto, continuou o seu caminho com passo incerto a zigzaguear no passeio.

Não tinha ainda dado dez passos, quando, parando de repente, exclama ;

Bravo! sr. Quintas. D’esta vez soube resistir á tentação. Isso é que é coragem! sim, senhor! Até merece dois decilitros pela sua força de vontade!

E, voltando atraz, emborcou mais meio litro.

Entre uma, senhora edosa e um photographo;

O retrato não está bom. Não ha ninguém que me não diga que elle me faz muito mais velha, uns dez annos pelo menos,

Não tem duvida, minha senhora, tira-se outro e inutilisa-se este.

Nada, não senhor, inutilisal-o, de modo algum. D’aqui a dez annos o mandarei buscar.

- @ -

Entre marido e mulher:

Que estás lendo com tanto interesse, meu que¬ rido Francisco? Ha mais de uma hora que estás a olhar para o jornal.

ANECDOTAS

I I

Nada de interesse, Carolina; estou lendo para aqui umas tolices. . .

Ah, então, valia muito mais que conversasses jommigo. Estou tão aborrecida. . .

Ah, não, menina, que as tolices falladas fazem- me muito mal aos nervos, emquanto que as impressas supporto-as bem.

Um creado que entrára ao serviço de um medico, encontrou um. dja sobre o tapete quando varria o consultorio uma moeda de cinco tostões. Quando o

O creado palerma

medico voltou, contou-lhe o caso e entregou-lhe a moeda. Mas o medico restituiu-lh’a, dizendo-lhe :

Guarda-a, é para ti, como prêmio da tua honra¬ dez.

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COSMOS

Tomou por esse tempo parte importante nas cele¬ bres luctas por causa das cantoras do theatro lyrico. Era contra a Dabedeille, por Clara Belloni a quem dedicou uma poesia inserta nas lnspi?'ações, e a quem levantou um brinde no restaurante da Ponte da Pe¬ dra em meio dos parciaes da contraria.

N’esses conflictos surgia armado de um casse-têtc, o mais formidável de quantos ha memória. De um lado uma sôga formava-lhe aselha para passar no pulso, do outro tinha um chavelho e uma aza de fer¬ ro; dentro uma baioneta, sahia, em casos urgicos premindo-se uma mola.

Fazia parte do grupo dos Leões. Os seus compa¬ nheiros, eram Evaristo Basto, D. João d’Azevedo, Jorge Arthur d'01iveira Pimentel, José Augusto Pinto de Magalhães, José Barbosa e Silva, José Joaquim Gonçalves Basto e Manoel Osorio Negrão

De i85o a i852 frequentou as aulas do Seminário episcopal do Porto com tenções de ordenar se. Mas, passada a crise mystica, atirou a batina ás ortigas e publicou successivamente ; Revelações., Uin livro, Duas epochas na vida, Folhas cahidas apanhadas na lama, Mysterios de Lisboa, A filha do Arcediago, Scenas contemporâneas, Livro Negro do Padre Di- ni^, A neta do Arcediago, Onde está a felicidade ? Um homem de brios e Justiça.

Em 1857 habitou, algum tempo em S. João d’Arga) junto a Vianna, onde escreveu Carlota Angela e Sce¬ nas da Fo^.

De|i858 começaram as relações adulterinas de Ca- millo com D. Anna Placida, esposa de Manoel Pi^

HOMENS CELEBRES DE TODOS OS TEMPOS

nheiro Alves, que tanto escandalo produziram no Porto e no paiz.

Após peripécias varias foram ambos presos, D. Anna em junho, Camillo em outubro de 1860.

Julgados em 1861 e absolvidos, nunca mais se se¬ pararam.

Foi no cárcere que Camillo escreveu o Amor de Perdição e d’este volume data a definitiva consagra¬ ção da sua celebridade litteraria, iniciada com a pu¬ blicação do Onde está a felicidade ?

Retirando para S. Miguel de Seide, pequena fre- guezia de Villa Nova de Famalicão, a vida de Camillo transformou-se. Acabou o período fecundo em episó¬ dios aventurosos, começou a epocha de larga fecun¬ didade litteraria.

Obrigado a sustentar com a penna a sua compa¬ nheira e os seus dois filhos, lança-se ao trabalho com ardor.

As suas obras contam-se então ás dezenas. São o Amor de Salvação, A filha do dr. Negro, No Bom Jesus dq Monte, Vinte horas de liteira. Divindade de Jems, Esboços de apreciações litterarias, O esque¬ leto, Horas de pa^, Lucta de gigantes, O morgado de Eafe, A Sereia, A Engeitada, O judeu, O olho de vidro, A queda de um anjo, O santo da montanha, Vaidade irritada e irritante, A bruxa do Monte Cor- dova, A vida do Candal, Cavar em ruinas. Cousas leves e pesadas, O senhor do Paço de Nisães, Mo¬ saico, Mysterios de Eafe, O retrato da Ricardina, O sangue, virtudes antigas. Os brilhantes do brasi¬ leiro, D. Antonio Alves Martins, O Condemnado, A

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COSMOS

N’um electrico;

Ha logares ? perguntou uma senhora ao condu- ctor.

Sim, minha senhora, responde este.

A senhora sobe e encontra todos os logares toma¬ dos :

Então não me disse que havia logares? disse para o conductor.

E não menti, minha senhora, ha muitos, como V. Ex."' vê; até estão todos occupados. . .

Camillo Castello Branco

Dizem que em certo logar da ilha da Sardenha existiu uma herva penetrada de veneno tão su¬ btil e tão maligno que, lentamente e dolorosamente” matava, torcendo ao mesmo tempo toda a muscula¬ tura da face n’um grande riso de tragica satisfação.

Desde o começo da sua vida, Camillo Castello Branco parece ter-se intoxicado com esta extranha herva sarda.

D’elle podia contar-se, como de Zoroastro que, em vez de chorar, rira na hora de nascer; e o tiro final em que a sua existência se perdeu é por certo o sar¬ casmo maior com que termina o mais extraordinário romance de quantos nos legou.

O riso foi sempre a feição predominante d’este es- criptor. O Amor de Perdição^ a sua obra mais conhe-

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COSMOS

Poucos annos depois, morta a mãe e simultanea¬ mente o pae, Camillo que aprendia grammatica com o professor Minas Junior da rua dos Calafates, sahiu para o Porto, com dèstino a Villa Real, no va¬ por Jorge IV. Acompanhavam-no sua irmã mais ve¬ lha e uma creada.

Ao chegarem á vista da cidade havia muito mar, que os obrigou a arribar a Vigo; d’ahi por Tuy, Va- lença e Ponte do Lima, vieram a Braga, e ali a creada satisfez ao Senhor do Monte uma promessa formu¬ lada em hora d’apuros, quando bolsava as tripas com o enjôo.

Encaminharam-se depois a Villa Real de Traz-os- Montes, onde foram habitar com D. Rita Caldeirão de quem fala o Amor de Perdição. Parece, porém, que o futuro romancista não gostou muito d’esta tia, por- c}ue fugiu para Lisboa em iSSy com um par de peú¬ gas e duas camisas atadas n’hm lenço.

De volta a Villa Real, ainda no mesmo anno, sua irmã casára na Samerdan com um medico, irmão de um padre.

Camillo foi viver com elles.

O padre, aquelle Antonio de Azevedo a quem, vol¬ vidos muitos annos Camillo havia de dedicar o Bem e o Mal, principiou a sua educação litteraria. Resa-

«Em os 22 dias do mez de Itezcmbro dn anno de i835 fallcceii com o Sacramento da Extrema Unção Manoel Joaquim Botelho Cas- tello Branco, viuvo de Jacintha Kosa do Espirito Santo, morador na Rua dos Jjouradores, e.no mesmo dia foi sepultado no Cemiterio do Alto de S. João, do que fiz este assento, que assignei, O Prior José Antonio Durães». Livro d'obitos de i835, lls. 20 v.

HOMENS CELEBRES DE TODOS OS TEMPOS I 1

vam juntos ante-manha; Camillo ajudava á missa e poude lêr então Camões e Fernão Mendes Pinto.

Um dia, aos ib annos, vindo a Friume, no concelho de Ribeira de Pena, apaixonou-se por Joaquina Pereira com quem casou pouco tempo volvido.

Por iniciativa do sogro veio frequentar prepa¬ ratórios e depois a Polytechnica do Porto e Es¬ cola Medica. Fez acto de chimica em 1844, passan¬ do nemine^ graças a um condiscipulo que lhe ensinou o ponto.

,No anno seguinte foi para Coimbra onde estava ainda em 1846, frequentando o latim de um padre Si¬ mões ou dr. Diniz.

Quando as aulas fecharam n’esse anno por causa da Maria da Fonte, partiu para Villa Real. A’ sahida de Penafiel elle e'um companheiro encontraram a guerrilha do Milhundres, que os agregou na qualidade de proclamadores. Retrocederam á villa e fugiram no primeiro ensejo.

Tím Villa Real fez representar o Agostinho de Ceuta primeira obra de theatro que compoz.

Relacionou-se então com Patrícia Emilia de Bar- ros, com quem tentou fugir para Coimbra, embora sua mulher fosse ainda viva.

Um tio affim, João Pinto da Cunha, pediu a ca¬ ptura dos dois e reteve-os presos na cadeia da Rela¬ ção de 12 a 23 d’outubro.

Em 1848 e 1849, no Porto, publicou A murraça, Maria não me mates que sou tua mãe!, O Marqueq de Torres Novas e grande copia de producçÕes no Nacional.

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Tomou por esse tempo parte importante nas cele¬ bres luctas por causa das cantoras do theatro lyrico. Era contra a Dabedeille, por Clara Belloni a quem dedicou uma poesia inserta nas Inspirações^ e a quem levantou um brinde no restaurante da Ponte da Pe¬ dra em meio dos parciaes da contraria.

N’esses conflictos surgia armado de um casse-tête, o mai-; formidável de quantos ha memória. De um lado uma sôga formava-lhe aselha para passar no pulso, do outro tinha um chavelho e uma aza de fer¬ ro; dentro uma baioneta, sahia, em casos ürgicos premindo-se uma mola.

Fazia parte do grupo dos Leões. Os seus compa¬ nheiros, eram Evaristo Basto, D. Joao d’Azevedo, ■Torge Arthur d’01iveira Pimentel, José Augusto Pinto de Magalhães, José Barbosa e Silva, José Joaquim Gonçalves Basto e Manoel Osorio Negrão.

De i85o a i852 frequentou as aulas do Seminário episcopal do Porto com tenções de ordenar se. Mas, passada a crise mystica, atirou a batina ás ortigas e publicou successivamente : Revelações., Um livro, Duas epochas na vida, Folhas cahidas apanhadas na lama, Mysterios de Lisboa, A filha do Arcediago, Scenas contemporâneas, Livro Negro do Padre Di- ni^, A neta do Arcediago, Onde está a felicidade ? Um homem de brios e Justiça.

Em 1857 habitou, algum tempo em S. João d’Arga) junto a Vianna, onde escreveu Carlota Angela t Sce¬ nas da Fo^.

De|i858 começaram as relações adulterinas de Ca- millo com D. Anna Placida, esposa de Manoel Pi^

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nheiro Alves, que tanto escandalo produziram no Porto e no paiz.

Após peripécias varias foram ambos presos, D. Anna em junho, Camillo em outubro de 1860.

Julgados em 1861 e absolvidos, nunca mais se se¬ pararam.

Foi no cárcere que Camillo escreveu o Amor de Perdição e d’este volume data a definitiva consagra¬ ção da sua celebridade litteraria, iniciada com a pu¬ blicação do Onde está a felicidade ?

Retirando para S. Miguel de Seide, pequena fre- guezia de Villa Nova de Famalicão, a vida de Camillo transformou-se. Acabou o periodo fecundo em episó¬ dios aventurosos, começou a epocha de larga fecun¬ didade litteraria.

Obrigado a sustentar com a penna a sua compa¬ nheira e os seus dois filhos, lanea-seao trabalho com ardor.

As suas obras contam-se então ás dezenas. São o Amor de Salvação, A filha do dr. Negro, No Bom Jesus do^ Monte, Vinte horas de liteira, Divindade de Jems, Esboços de apreciações litterarias, O esque¬ leto, Horas de pa^, Lucta de gigantes, O morgado de Eafe, A Sereia, A Engeitada, O judeu, O olho de vidro, A queda de um anjo, O santo da montanha. Vaidade irritada e irritante, A bruxa do Monte Cor- dova, A vida do Candal, Cavar em ruinas. Cousas leves e pesadas, O senhor do Paço de Nisães, Mo¬ saico, Mysterios de Eafe, O retrato da Ricardina, O sangue, As virtudes antigas. Os brilhantes do brasi¬ leiro, D. Antonio Alves Martins, O Condemnado, A

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COSMOS

mulher fatal ^ Theatro comico, Voltareis ó Christo, O carrasco de Victor Hugo José Alves, Livro de Con¬ solação, Quat?-o horas innocentes, A espada de Ale¬ xandre, O visconde d’ Ouguella, Scenas innocentes da comedia humana, O demonio do Ouro, Ao anoite¬ cer da vida, Correspondência epistolar, Noites de insomnia, O regicida, Afilha do regicida, Novellas do Minho, Curso de Litteratura, Cancioneiro alegre, Os criticos do cancioneiro. Sentimentalismo e histo¬ ria, Suicida, Lui‘ç de Camões, Historia e sentimen¬ talismo, Echos humorísticos, A senhora Ratta^p, Per¬ fil do Marque^ de Pombal, Narcóticos, A brafileira de Praçins, D. Luiç de Portugal, Questão da Se¬ benta, O general Carlos Ribeiro, O vinho do Porto, Maria da Fonte, Serões de S. Miguel de Seide, Bo- hemia do Espirito, A diffamação dos livreiros. Es¬ boço de critica, Vulcões de Lama, Nostalgias, Deli- ctos da Mocidade, etc., etc.

A permanência em Seide era cortada por rapidas visitas ao Porto, á Povoa de Varzim, a Braga, a Gui¬ marães, á Foz, a Vizella Em 1875 ainda esteve em Coimbra a pretexto de dirigir a educação dos filhos) morando primeiro nos Arcos de S. Bento e depois na rua Larga.

Mas a doença nervosa que herdára e o perseguia . com mais insistência desde a estada no cárcere, não lhe deixava socegar em parte alguma. Era ainda em Seide, na pequena casa cercada por pinheiraes ge¬ mentes que a vida lhe decorria mais tranquilla. I

A morte do filho de D. Anna e Pinheiro Alves, Ma- | noel Plácido, que Camillo estremecia, a loucura doh

I

I

H0MEN5. CELEBRES DE TODOS OS TEMPOS '5

seu filho Jorge Camillo, os esbanjamentos do Nuno, foram outros tantos golpes cruéis que poderosamente contribuiram para abalar aquella mentalidade doente. As suas polemicas dos últimos annos, onde o sarcasmo vibra com uma intensidade que nenhum ou¬ tro escriptor soube ainda attingir, accusam sobeja¬ mente este estado de espirito de Camillo.

Finalmente, em i de junho de 1890, tendo visto descer sobre- si irremediavelmente a eterna noite da cegueira, cansado de cincoenta annos de luctas e de trabalho, procurou dormir o somno eterno da morte, disparando um tiro de revolver no parietal direito.

J. DE M.

lÉ-mi

M EIRCEIARI A CHIIMEIZA

Da. RUA DE PASSOS MANUEL, 14 a 18 - LISBOA

a Lourenço Alves Pereira

Charadas, enygmas e acrósticos

Rrevençao

0 COSMOS publica-se nos dias 3, 15 e 25 de cada mez; par isso as deciíratões sA serão acceites 5 dias antes das datas indicadas.

CORRESPONDÊNCIA

Alejoal. Concordamos com o exposto na carta que nos enviou. Mas que quer? Ha, como sabe, nova¬ tos e os novatos também teem direito á vida... e para elies não encontramos meihor principio do que as charadas em phraçe, por serem as mais simples. No acrostico deu }'aia; é Coimbra e nao Tavira.

Agradecemos a sua boa collaboração e mande mais quando tiver.

Malte^. Póde, sim senhor, mas coisas que façam a cabeça em agua.

Decifrações do n.® 1

ytcrostíco ; Soure ou Setil, Avança ou Chança, Olivaes, Ovar, Taveiro ou Álverca. Eivas, Alverca ou Taveiro, Pampilhosa, Porto ou Crato. Povoa, Coimbra, Estirreja ou Benespera, .^abugo. Per¬ guntas geographicas; Vella, Chão de Maçãs, Figueira de Castello Rodrigò, Perovizeu uu Peroguarda.-.-SAaraíaí metamorphoses; Bel- lo-Mello, Vinbo-Minho Charada truncada ; Magua, agua. f^api- dos f Penacova, chapa, atado. Cm Damaso. jÇugmenta-

//va; t- esta-festão. pi/orrries; l.ido-iida, zorro-zorra.

Decifradores

Alejoal, 5.® Pipa. 3 ppp. Careca, Azuos, Khçudo, Bicudo, Sol-e vento, K. Raça, 5.® n’ista, Simanitô, Padre Eterno, Maltez, Çamillo

6

COSMOá

ENYGMA.

i6

”r Nata

Careca.

ENYGMAS TYPOGRAPHICOS.

VIDROS

APPELLIDO

( Gambetta).

NOTA5050ENOTAN0TA

(Frescata).

'9

( Gambetta).

T

■THESOURO

(Frescata).

LISBOA

NOTA 5o homem x pQj^yQ agmetal au Universo

(Gambetta).

CilARAbAS, ENYGMAS E ACROSTÍCOS

7

POR INICIAES.

M

0

F

V

V

4

4

3

- 4

( Gambetta).

DE PALITOS.

20

PARONYMO

Se tirar dezeseis Uma ave vereis.

(l^dvento).

' Este petisco arde. 2.

SALTITANTE.

1-2 -3-4-5 I-2-5-4-3

24

(Gambetta).

25

N’um retalho de panno vi soldados formados.

(Gambetta).

CHARADA EM PHRASE.

Na cadeia e na cidade é utensilio.

26

2.

(Careca).

Bua É lluírini n; 1

LISBOA

HDRTICUbTURA E FbDRICULiTURA

0 jãrdirn no verão

Tínhamos promettido no ultimo numero occupar- nos da multiplicação das plantas por mergulhia ou alporque e estaca, mas, antes de entrarmos n’esse ca¬ pitulo da educação das plantas, como está a approxi- mar-se o verão, vamos indicar o que n’esta quadra do anno tem a fazer o jardineiro amador.

Nos primeiros tempos da estação ligam-se as tre¬ padeiras ás grades, para as deixar estender e florescer á vontade, e as dhalias e tutores, deixando-as n’um para o que se lhes cortam os rebentões. Plan¬ tam-se de estaca fuchsias e gerânios e transplantam-se sécias e outras plantas de flores outomnaes semeadas em alfobres. Colhem-se as cerejas e ginjas, vigia-se o desenvolvimento das producçoes fructiferas e herbᬠceas das arvores de fructo, arrancando levemente com a unha os olhos inúteis e desbastam-se alguns fructos das arvores que apparecerem demasiadamente car¬ regadas.

Levantam-se da terra, logo que as folhas comecem a amarellecer as tulipas e os jacinthos. Cuida-se da floração dos craveiros e dos lyrios preservando-os das lesmas e dos insectos damninhos. Pode çonti-

8

COSMOS

nuar-se a fazer enxertos, mas n’esta epocha a seiva não tarda a passar e por isso é conveniente fazel-os logo no começo d’esta quadra, com excepção dos en¬ xertos de escudo de olho dormente que, sem incon¬ veniente, podem fazer-se até ao fim do verão.

Todas estas operações, menos os enxertos, conti¬ nuam pelo meado do estio dentro, fazendo-se também, depois da floração, a mergulhia dos craveiros e a plantação de estaca de algumas plantas gordas. Apa¬ ram-se os crysanthemos.

No fim da estação colhem-se as sementes das plan¬ tas annuaes e bi-annuaes e semeiam-se no logar defini¬ tivo as plantas destinadas a florescer na primavera que poderem affí^ontar os frios do outomno e do inverno.

Colhem-se os fructos proprios da estação e se¬ meiam-se os caroços de cerejas, damascos, ameixas e pecegos. Enxertam-se os botões de fructo, aprovei¬ tando a ascensão da segunda seiva que ordinariamente se realisa no mez de agosto.

Gontinua-se a mergulhar os craveiros á medida que vão terminando a floração e cortam-se as mergulhias enraizadas. Tosquia-se a relva e procede-se ás ré- gas e sachas necessárias.

No decorrer das indicações dos trabalhos a que tem de proceder o jardineiro amador que acima ficam es- criptas, referimo-nos a mergulhias e estacas. São os dois modos de reproducção indefinida das plantas

A mergulhia póde fazer-se ou directamente na terra ou no ramo, quando este não póde dobrar o necessᬠrio para ficar enterrado e n’este caso chama-se alpor- que.

HORTICULTURA E FLORICULTURA

9

Plantas ha que se reproduzem indefinidamente por mergulhia natural como, por exemplo, a hera, o mo- rangueiro, etc. Para outras, porém, é preciso mergu- Ihal-as artificialmente. A operação consiste em dobrar um ramo longo e flexível e enterral-o pelo seio de¬ pois de despojado n’esse ponto das folhas e rebentos. Ao fim de certo tempo a parte mergulhada cria rai¬ zes e então corta-se o ramo do lado da mãe e o mais proximo possível da terra. Para assegurar o exito da mergulhia dá-se um pequeno córte longitudinal na parte do ramo que se vae enterrar e introduz-se na fenda uma pequena cunha, um grão de areia, por exemplo. Os mergulhões cortam- se quando se acham enraizados e, por consequência, em estado de vi¬ verem por si mesmos; cortam-se, como acima disse¬ mos, o mais proximo possível da terra.

Durante a mergulhia deve-se conservar a terra, no sitio em que o ramo está enterrado, sempre húmida e a extremidade livre dos mergulhões deve ser am¬ parada por um tutor. A multiplicação por estaca con¬ siste na creação de raizes d’um bocado do caule da planta mãe que se enterrou e se collocou em circum- stancias favoráveis ao fim que se tem em vista. Nin¬ guém ignora que é este o processo habitualmente usado para a multiplicação das roseiras, dos jasmins, etc. Muitas vezes multiplica-se uma planta por estaca, enterrando um fragmento de raiz e, n’este caso, tem- se em vista o desenvolvimento de gommos.

O bocado de caule que se enterra tem, em geral, um ou mais gommos, mas em determinados casos não é isso preciso-

íü

êõsMôs

Para a estaca dar resultado é necessário re^àguar- dal-a da luz e do frio; precisa mesmo d’uma tempe¬ ratura superior á da atmosphera. Por isso se cobrem com esteiras, campanulas de vidro, etc.

A vide, o choupo, o lila^, o jasmim, a roseira, o marmeUei)'o, etc., etc., reproduzem-se magnificamente por estaca, mas plantas ha que de maneira alguma se adaptam a este processo de multiplicação.

Os oraflOes paizes e as oiaoiles (idades

0 império do Sol nascente

Os japonezes chamam ao seu paiz Nippon ou Nikon, de duas syllabas chinezas Zip-paug que significam ra/f do Sol ou Sol nascente.

O Japão é constituido por um numerosíssimo grupo de ilhas que, como se sabe, se estende a leste da costa asiatica n’uma extensão de 2700 milhas, approxima- damente, entre o cabo Lopatka, na península de Kom- chatka, e a ponta sul da ilha Formosa. Não contando a metade sul da grande ilha Sakhalina de que os ja¬ ponezes se apoderaram durante a ultima guerra com a Rússia, conta 0 Japão cinco ilhas grandes, Hondo ou Nippon, Kiushiu, Shikoku Yeso e Formosa, e cerca de quatro mil ilhas pequenas, algumas mesmo peque¬ níssimas, entre as quaes se distinguem as Kurilas, as Riu-kiu, o archipelago dos Pescadores, Tsushima, Yakushima, Tanegashima, etc., etc.

O Japão tem causado o mais justificado espanto em todo o mundo civilisado pelos seus rápidos pro¬ gressos em todos os ramos da actividade humana, sem precedente na historia. Vencedor da China em 1895, vencedor da Rússia que estavamos habituados

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COSMOS

O Fudjiyama

ÒS GRANDES PAÍZÉS E AS GRAlSÍDÊS CIDADES O

que passam despercebidos, tão habituados estão, de longa data, a resistir-lhes com as suas casas d’um andar, construídas de madeira e papel.

O pico dominante do archipelago é o Fudjiyama. Situado na ilha de Hondo, de forma cônica muito re¬ gular, elevando-se a uma‘ altura de 8770 metros, co¬ berto de neve durante dez mezes do anno, é objecto d'um religioso culto por parte dos japonezes que d’elle se occupam com veneração nos seus romances, nos seus quadros e desenhos, nas suas canções e em todas as manifestações da suà arte. Milhares de pe¬ regrinos o visitam annualmente, indo orar nos tem¬ plos ali edificados. A lenda liga o maior dos lagos japonezes a este monte venerado, contando que no dia, precisamente no mesmo instante ems que o Fudji¬ yama se elevou, recortou o Biva as suas graciosas bahias não longe do monte, para occidente e que nas margens do lago, assim como nas do rio que d'elle nasce, é que nasceu e se engrandeceu a raça do Sol nascente.

O Fudjiyama é, por assim dizer, um symbolo do Japão, tão sagrado e tão venerado como a bandeira da patria. Desde 1707 que o seu vulcão está em so- cego, mas até esta data e desde o anno 789 seis vio¬ lentas erupções fizeram tremer toda a ilha, cobrindo-a de cinzas que lhe elevaram as planicies e as feftili- saram.

Nas ilhas Shikoku e Kiushiu floresce a bananeira e a larangeira; no centro e no sul da ilha Hondo cresce exhuberantemente o chá, o algodão e o arroz; mas, ao passo que se caminha para o norte, a natureza

4

COSMOS

vae perdendo as suas maravilhosas seducções, torna- se severa, e passado o estreito de Tsugar, na ilha de Yeso, é agreste e dura. Esta ilha é rica de florestas e de carvão de pedra.

O terntorio japonez tem 160.000 milhas quadradas de superfície, não contando a parte sul da ilha Sakhalina, o ter¬ ritório da Mandchuri.i e o da pe- ninsula da Coréa que lhe ficaram pertencendo depois da guerra com a Rússia, com uma população de 43 milhões de habitantes, appro- ximadamente, incluindo a popu¬ lação chineza e malaia da For¬ mosa.

A forma de governo, é, desde 1899, a monarchia constitucional com o imperador (Mikado) e duas camaras.

O commercio japonez é repre¬ sentado por 26 milhões de libras deimportaçõese quasi 26 milhões de exportações, tendendo a augmentar consideravel¬ mente; o principal trafego é com a China, Inglaterra e Estados Unidos da America do Norte. O terr torio japonez é atravessado em todas as direcções por 4000 mi dias de vias ferreas e a marinha mercante do im¬ pério conta approximadamente 5ooo navios, repre¬ sentando cerca de 85o.ooo toneladas, fóra 20.000 lor- chas.

A agricultura occupa a maior parte da população

os GRANDES PAIZES E AS GRANDES CIDADES i5

japoneza na producção do chá, algodão, assucar, etc., etc., mas as industrias textis progridem rapidamente. As pescarias empregam cerca -de 400000 barcos e 2.5oo:ooo homens.

O território japonez é abundante em minas; tem minas de ouro, prata, cobre e ferro, mas a sua prin¬ cipal riqueza mineira é o carvão de pedra do qual se extráem annualmente cerca de 6 milhões de tonela¬ das.

Não ha no Japão religião do Estado. O budhismo e o shintoismo são as que contam maior numero de adeptos.

O império japonez tem muitas cidades importan¬ tes ; Tokio, capital, tem i.Soo.ooo habitantes, segue-se Osaka com Soo.ooo; Kioto, 840.000, Nagaya, 242.000; Kobe, 1 90.000; Yokohama, 170.000; Hiroshima, 108.000; Kanazawa, 86.000 ; Sendai, 78.000 e Nagasaki com 72.000.

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I Minero üiosa lilliíoada natural de Moura. Eefriuera os sãos e cura os doentes. Premiada em varias expo¬ sições. Vende-se em toda a parte.

18. _ _ J

Distracções e coisas uteis

Electrisaçao do vidro Machiua electrica muito simples

Nuthimos boas esperanças de que as simples ex¬ periências que no ultimo numero aconselhᬠmos ao leitor, como innocente passatempo, tenham sido executadas com feliz resultado. Se assim não succedeu, porém, atire o leitor as culpas para cima da humidade que é um terrivel inimigo dos di¬ vertimentos d’aquelle genero e repita a tentativa, tendo o cuidado de aquecer bem a folha de papel, es¬ fregar com um panno quente a parte da mesa sobre que tencionar collocar a folha e friccionar esta com uma escova também préviamente aquecida. Com taes precauções o exito é seguro.

Se, porém, o leitor, descoroçoado pela inutilidade dos esforços empregados para fazer d’uma folha de papel uma machina electrica, não quizer repetir a experiencia, póde varial-a, operando com o vidro. A maneira mais simples é servir-se da chaminé d’um candieiro e, melhor ainda, da d’um bico de gaz de incandescência. A meio da chaminé colloca-se, em toda a volta, um annel da largura de um ou dois cen- timetros de papel de estanho, d’esse papel em que

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COSMOS

vem embrulhado o chocolate e que forra interiormente os pacotes de chá. D’uma das extremidades da cha¬ miné até á distancia de um centimetro d’aquel]e annel, colla-se uma tira estreita do mesmo papel. Depois d’isto, pega-se no vidro pela extremidade onde não ha papel de estanho e esfrega-se o interior da cha¬ miné com uma d’aquellas escovas destinadas á sua limpeza, embrulhada n’um len¬ ço de seda. Se se apagarem as luzes, ver-se-ha saltar uma fais- ca entre os dois bocados de pa¬ pel de estanho. Aquecendo a chaminé, o lenço e a escova, o resultado é certo.

Se a um fio metallico, ou mesmo de algodão, sus¬ pendermos tiras de papel muito fino, de mortalhas de cigarro, por exemplo, e fizermos passar esse fio em torno do annel, pegando na chaminé, d’esta vez pelo lado onde se collou a tira de papel de estanho, e es¬ fregando-a interiormente com a escova embrulhada no lenço, veremos as tiras de mortalhas affastarem-se vivamente umas das outras.

CarroBssel electrico

A electrisaçãõ~ do vidro fornece-nos alguns entre¬ tenimentos curiosos. Cortemos rfum bocado de papel consistente uma cruz com os quatro braços eguaes. Espetemos uma agulha, pela parte romba, numa ro- della de cortiça, um bocado de rolha, por exemplo, e sobre a ponta d’essa agulha collocada ao alto, em¬ bebida n’um bocadinho de cortiça arredondado, collo-

biStRACÇÓES E COISAS UTElS Ü

quemos a cruz, bem pelo meio. De cada um dos bra¬ ços da cruz suspendamos com um fio muito leve um cavallo recortado em papel eencapel- lemos sobre tudo isto um copo sem pé. Se esfregarmos circularmente com um bocado de panno de o tunJo do copo, tendo o, cuidado de o fazer sem¬ pre no mesmo sentido, veremos a cruz gyrar sobre a agulha, arrastando com- sigo os cavallos. E’ um divertimento de muito effeito.

llm milagre! Mudar n agua em viuho!

Como os amadores do bom vinho vão lêr isto pre- surnsos! E’ na realidade um milagre, mas nao custa muito a operar.

Peguemos em dois copos rigorosamente do mesmo diâmetro e mettamol-os debaixo d’agua n’um alguidar ou n’um balde. Quando estiverem cheios ajustemol-os cuidadosamente pelos bordos e viremol-os de -modo a ficarem um sobre o outro, reparando bem que não fique no de cima nenhuma bolha de ar.

Ponhamol-os assim sobre uma mesa e enxugue-mol-os cuidadosamente. Feito isto, pegue- se n’um cal'x cheio de vinho e colloque-se sobre o fundo do copo que está por cima. Ensope-se no vinho uma pequena tira de flanelia ou de bae¬ ta, esprema-se em seguida e metta-se de¬ pois no calix de modo a ficar com as extremidades pendentes. D’ahi a pouco a agua do copo superior ap-

còSMoâ

parecerá da côr de vinho e um pouco mais palheto que o do calix.

0 milagre iuverso! Mudar o vinho em agua !

Não é de menos effeito este, embora seja menos divertido, para os amadores do vinho.

Na rolha d’uma garrafa bem escura, com agua até tres quartos de altura, pratiquemos dois pequenos fu¬ ros e enfiemos por elles dois canudinhos de palha, d’aquelles com que costumamos saborear as carapi- nhadas e lacre-se em seguida a rolha. Um dos canu¬ dos deve mergulhar bem na agua da garrafa e o outro deve ficar distante do nivel da mesma agua. Se elles

forem eguaes, deve portanto o o primeiro ficar exteriormente mais baixo que o segundo. Na extremidade superior de cada um dos canudinhos enfie-se uma meia casca de uma laranja pequena ou de uma noz, e na meia casca do tubo mais baixo faça-se, perto d’este, outro fu¬ ro, onde se enfiará mais um ca¬

nudinho de palha, mas este um pouco inclinado para fóra, porque terá que servir de torneira. Se na meia casca mais alta fôrmos deitando vinho, não tardará muito que pelo canudinho que serve de torneira na meia casca mais baixa comece a sahir agua.

Quem estiver a presenciar o caso e não souber o que se passa dentro da garrafa, ficará maravilhado. Por isso deve a garrafa ser muito escura.

DISTRACÇÕES E COISAS UTEIS

i3

Cortar nm vidro com iiuia tesoura

Pouca gente saberá que um vidro se póde cortar com 'uma tesoura como se fosse papel. Pois experi¬ mentem e verão que é absolutamente verdade.

Para isso, mettem-se o vidro, a tesoura^e as mãos debaixo d’agua, n’um balde, n’um tanque, n’um al¬ guidar, ‘ou em qualquer outra vasilha. O essencial é quedas mãos do operador, a tesoura e o vidro este¬ jam bem debaixo d’agua. Quanto mais comprida fôr a tesoura, melhor sahe] o] corte, e melhor ainda se fôr dado d’uma vez.

Furar um vidro

No ponto onde sejdeseja turar o vidro, colloca-se um pedaço de argilla secca ou de massa de vidra¬ ceiro e n’ella se faz um buraco do mesmo diâme¬ tro do furo que se pretende que até á superfí¬ cie do vidro. N’esse buraco deita-se um pouco de chumbo derretido e logo que este se solidifique bas¬ tará uma pequena paqcada para fazer destacar um bocado de vidro do tamanho do furo que se dese¬ java.

CoUa para madeira

Lava-se em varias aguas um queijo branco e fresco, amassando-o e batendo-o com força, formando uma bola que, depois de bem espremida a agua, se guarda .n’um sitio fresco. Por outro lado, tempera-se rapida¬ mente em agua uma porção de cal viva que, depois

’4

COSMOS

de bem secca e reduzida a pó, se guarda em garra¬ fas bem rolbadas. Uma ou duas horas antes de ser empregada, prepara-se a porção de colla necessária^ misturando uma parte de cal e tres partes de queijo com agua bastante para obter uma pasta pouco con¬ sistente. Obtem-se d’este modo um excellente prepa¬ rado para collar quaesquer bocados de madeira, es¬ pecialmente os que estão sujeitos a ser molhados muitas vezes, pois que esta colla é insolúvel na agua..

Colla de arroz

Um dos melhores preparados para collar papeis é o de farinha de arroz. E’ uma colla d’um branco ma¬ gnifico que se torna quasi transparente depois de secca e com propriedades de adherencia taes que é impossível destacar, sem os rasgar, os papeis com ella collados. Prepara-se muito simplesmente. Dilue-se a farinha de arroz em agua e poe-se a um fogo brando até que tome uma certa consistência.

(íotiiina de sellos, etiquetas, etc.

Quando se dissolve a gomma em agua com o fim de a applicar a papeis destinados a serem collados mais tarde, é bom juntar-se-lhe um pouco de glyce- rina. Esta substancia impede que a gomma, depois de secca, se torne quebradiça e evita a tendencia que, em geral, teem as etiquetas gommadas a enrolarem- se, quando n’ellas se escreve.

o POETA DA RAINH \

35

Para este fim reuniu na sua mala todas as joias que possuia, entrando n’este numero até alguns copos de ourivesaria que se achavarn no seu quarto e que tinham gravadas as armas da familia, e isto com o intento ' irreverente de se servir d’elles para pagar as despezas, ou para beber todos os qua¬ tro costados da sua nobreza sobre o tonel da primeira estalagem.

Para este fim reuniu na sua mala. . .

Ás seis horas, William, tendo chegado primeiro, estava á porta do theatro.

Viu chegar lord Clarisson que, conforme o cos¬ tume, lhe deu o cavallo a segurar. Uma irritação interior o fez estremecer ligeiramente e empalli- decer ao pegar na rédea d’este cavallo e ao rece¬ ber as ordens do insolente barão.

Bem depressa chegou também .a formosa Isa-

36

COSMOS

bei montaâa n’iima mula ricamente ajaesada. Wil- liam sentiu-se de novo surprezo de admiração, quan¬ do as luzes da rotunda reverberaram sobre esta bella creatura, no momento em que se apeava de um salto, lançando com extremo garbo a rédea sobre o pescoço do animal.

Porém, ao mesmo tempo pareceu-lhe que lhe roçavam pelas orelhas estas phrases, em que a nobre donzella resumira sua opinião a respeito dos homens do povo, essas gentes não são da mesma es- pecie que nós, e que ella houvera tido o trabalho de formular expressamente por sua causa. Era realmente para admirar que uma mulher estranha, que uma vez passára diante d’elle, houvesse inspirado ao pobre escholar tão apaixonada admi¬ ração e ao mesmo tempo um sentimento de tão funda raiva.

Mas William não reflect’a na singularidade d’estas sensações; elle estava na edade em que se sen¬ te de sobra para haver tempo de analysar.

Passados alguns minutos, Henrique, que havia en¬ trado para dentro do theatro com a familia, saiu, sem darem por isso, e veiu reunir se ao seu compa¬ nheiro de viagem.

Toda a concorrência estava dentro da rotunda ; 03 dois amigos acharam-se por isso quasi sós de¬ baixo do tejadilho do rústico theatro.

Eram 7 horas, a noite vinha a cerrar de todo.

Anda depressa, disse Henrique, montemos a cavallo e partamos rápido como o vento, porém mais silenciosos que elle.

■o POETA DA RAINHA

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E para que lado ? perguntou William,

Se queres que te diga, não sei ; a terra é ta- niau 1 1 que mc vejo enleado na escolha

Os passaros vão ao mar quando teem sede, e ao bosque quando a chuva aperta, mas nós que não sabemos se o nosso futuro será de nevoa ou de sol, temos difficulda^de em adivinhar qual é o lado que nos convém.

Vamos á tôa depois escolheremos o caminho. Quando se deixa um logar sem fazer despedidas, o que importa é partir antes de pensar em chegar.

Parece-me, Henrique, que tu trouxeste o me¬ lhor cavalio das tuas cavallariças, e que poderá levar-nos a nós ambos. Hei-de gostar d’esse modo de viajar. Este càvallo, que vae transportarmos a nós dois, será o emblema do destino que vae de ora-avante reunirmos.

E a mim que me agradam immenso os sym- bolos, William, principalmente quando são tão for¬ mosos como o teu espirito sabe creal-os; mas como estamos em via de achar outros, o melhor é re¬ nunciar esse. Tu vaes simplesmente montar Júpi¬ ter, o bello cavalio de Lord Clarisson, e eu o meu. Assim iremos mais depressa, e fará melhor figura cada um montado na sua cavalgadura, quando chegar a qualquer estalagem, do que apresentando- lhe a triste imagem do cavalleiro em duplicado.

Tens razão. E d’este modo, lord Clarisson voltará a para a sua baronia, e folgarei muito confesso-te, de saber que elle teve de atravessar caminhos enfestados de lobos e com agua até ao joelho.

38

COSMOS

WijJiam cavalgou Jupiler, que se prestou com docilida|(ie a esta substituição de cavalleiro, por¬ que ganhava uma carga notável de menos, e depois os dois mancebos partiram a galope.

III

A fuga

Tudo correu á maravilha n'esta primeira noite de viagem.

Os dois fugitivos encontraram campinas de¬ sertas, casas fechadas e mergulhadas em somno ; a nevoa, destendida pela estrada, e a humidade da terra que ensurdecia os passos dos cavallos, faziam do caminho todo um mysterio áquelles que exigiam o esquecimento e o affastamento de todas as vistas Além d'isto, a extranheza do suc- cesso lhe subia ao cerebro, e o prazer, como as esperanças, redobravam para elles.

Ao irradiar do dia, estavam os dois viajantes tão longe de Stratford, que não receavam ser conhecidos.

Informaram-se dos camponezes dos sitios onde se encontravam. O condado de Warwick estava quasi a desapparecer ; o Saverne, que se descobria a pouca distancia, a correr entre cêrros arborisados, tinha a oeste a montanha que sustem a bonita cidade do Ludlaw e ao sul os limites do paiz de Worcester.

Henrique e William deliberaram-se por esto ul-

o POETA DA RAINHA

39

timo condado, porque a estrada que ía dar era -orlada de álamos,, e circulava por entre collinas verdejantes, ao par que os outros pontos do hori- sonte que se descobriam não apresentavam á vista senão plainos monotonos.

Em seguida a um solido almoço, p.jz^r,im-se a oammho.

A unica alegria da partida bastára para entreter .a noite de encantos; e agora, que se patenteavam á claridade do dia estas bellas campinas de que faziam a conquista, os objectos de prazer e assom¬ bro renovaram-se de continuo em cada aspecto ■da paizagem que observavam, voando sobre seus ligeiros cavallos: a cada valle, castello, praderia, ou moinho que abraçavam com os olhos e enflo¬ ravam com a phantasia, reputavam-se ditosos e altivos como um general que acabasse de sub- metter mais um território.

Cêrca do meio dia chegaram ás margens jdo Sa- verne, em frente da ponte que os levava ao condado de Worcester.

Á borda de um braço de rio, que se adiantava .ante seus passos, via-se um alberguesito e algumas barracas de pescadores.

O primeiro cuidado dos nossos viajantes foi tra¬ tarem de se restaurar de novo.

Depois o mais prudente seria proseguir a mar¬ cha, mas aquelles sitios eram tão aprasiveis, que ■cederam ao desejo de os examinar miudamente, e de começar d’esta sorte o seu papel de viajantes artistas. ' -

40

COSMOS

Treparam, por clareiras tortuosas, a um cerro que dominava a corrente, e de avistaram uma vasta extensão do território que íam percorrer.

'O panorama era grandioso e severo, enormes penedos alevantavam os cimos por entre vastos estevaes, parecendo assim opporem-se a que, a cul¬ tura invadisse seus campos silvestres. Ao fundo do horisonte estendia-se uma floresta tão alta e espessa,, que se percebia visivelmente datar dos primeiros tempos do mundo, e dir-se-hia que a sua verdura monumental havia sido ennegrecida pelo habito queimador dos séculos.

A direita via-se um castello roqueiro, cuja archi- tectura massiça parecia competir em força e im- mobilidade com os carvalhos seculares que o en¬ volviam; e á esquerda erguia-se um outeiro coberto de minas informes, de que seria difficil fixar a existência decorrida, e que amostrava a sua tris¬ teza sem ser possivel advinhar-lhe a causa.

Mas se quadros taes, tamanhos ante os olhos como ante o pensamento, attrairain a curiosidade e contemplação dos dois amigos fugidos pela primeira vez dos limites da sua terra, outro objecto chamou ainda por mais tempo a sua attenção.

E não era mais nada do que a pobre bar- raquinha de um pescador, edificada na praia ,onde elles se tinham apeado. Porém, á janella d’esta casinha, voltada para o lado do rio, estava uma ra¬ pariga, a mais linda de todas que traziam em Wer* wickshire toucado de rendas pretas e corpete der pyanno vermelho.

o POETA DA RAINHA

Estava elia entretida em tecer uma erurnie rede, e maneava agilmente a lançadeiia entre as malhas, sem Itevantar a vista do trabalho. Prendiam-lhe a ligeira touca, alfinetes de ouro encravados no cabelkí do mais fino ébano; e o escarlate da romeira realçava-lhe o talhe tino e arredondado. Uma videira novinha, serpeando em volta da ja- nella, emrnoldorava esta graciosa figura.

As aguas serenas e limpidas do rio espelha¬ vam com uma exactidão perfeita as perfeições d’es- ta formosa creatura e os arabescos de verdura que a circundavam.

Os dois mancebos olhavam encantados para esta dupla imagem, e saboreavam o seu aspecto de¬ licioso.

Sabes tu em que eu penso, PI enrique? disse o joven Shakspère ; penso em que, tanto que qualquer de nós haja encontiado a mulher que deve amar, será necessário que o seu reflexo, assim traçado n’uma agua pura, tome corpo e alma e venha a formar uma creatura em tudo semelhante á primeira; porque nós temos ambos os mermos gostos e as mesmas inclinações, e por isso importa unir idênticas perfeições para nos agradarem de modo egual; e assim poderiamos nós amar a mesma mu¬ lher, sem experimentar as tribulações dos zelos.

Tu tens razão era o que convinha á nossa felicidade , e estou certo que o cpe tu desejas, brevemente o teremos. Não será difficil encon¬ trarmos duas jovens creaturas dignas de nós, ainda que não sejam semelhantes como tu que-es : por

42

COSMOS -

que, eni quantu nós con\'ei'Simos de nossos fiuuros amores, como o fizemos durante parte da viagem, ha de se dar o caso de haverem no mundo lin¬ das donzellas que pensem no homem necessário ii sua existência, e muno mais breve se acha quando se procura por dois lados. Quem sabe, accrescen- toa ellc, estendendo a mào para a encosta flo¬ rida ejin- acabavam de descer, quem sabe se esses dois entes estarão bem perto de nósl Talvez os vejamos descer pelas sendas chaquellas formosas collinas, onde a natureza nada deve produzir se¬ não perfeito,

William tinha machinalmente volvido os olhos para ac|uella banda que Henrique indicava, e viu passar poi entre as ramadas alguma cousa verme¬ lho e brilhante.

Havia de jurar, acudiu elle, que o diabo zomba de nós de um modo singular, e que em logar das duas encantadoras irmãs que tu esperas, nos envia, por esses mesmos caminhos verdejantes que tu dizes, soldados que nos veem prender.

E é verdade! com a brecai exclamou Henri¬ que, olhando com attenção. Vejo gorros vermelhos de plumas pretas, e couraças de aço : são os ar¬ cheiros ao serviço de meu pae. É de certo gente que elle envia a procurar-nos, e que nos vem aoencalso.

Ainda que os dois mancebos reconheceram dis- tinctainente os homens d’armas, estes tinham a.n- da muito caminho que fazer primeiro que podessem apanhal-os, porque a clareira descia á baixa da collina fazendo differentes voltas.

ITIadas

COMO complemento dos vaporosos e variadíssi¬ mos trajes da presente estação, a moda, volúvel e caprichosa, apresenta-nos uma ex¬ traordinária diversidade no capitulo fchapeus, em cuja confecção entram a palha, a crina, o tidle e as rendas. Para enfeites usam-se as flores, occu- pando o primeiro logar as rosas e os fructos, prin¬ cipalmente ginjas, groselhas e uvas. Mas de todos os enfeites indiscutivelmente o mais chic, o que não passa de moda, são as plumas de avestruz pleu~ reitses^ que constituem o mais lindo ornamento que uma dama elegante póde usar, quer n’uma visita de cerimonia, quer no theatro ou n’uma reunião mundana. A desvantagem de serem bastante dis¬ pendiosas é sobejamente compensada pela sua lon¬ ga duração, especialmente quando tintas de preto, e por embellezarem do mesmo modo um chapéu leve, no verão, ou cLe feltro, no inverno.

São de magnifico effeito os chapéus de tulle, cuja aba se inclina suavemente para o lado direito, com a copa em caprichosos tufos, cercada por uma tor

8

COSMOS

i

sade de velludo. Na parte posterior, cahindo livre¬ mente duas ou mais plumas, cujos pés vão escon- der-se n’um molho de flores.

Muito lindos, também, sao os chapéus habillés, de abas der¬ rubadas, fórma cloche, a copa coberta de liille, a aba guarne¬ cida de vieses de taffetas plis¬ se, com uma gri¬ nalda de flores em volta da copa.

As clo- ches em palha ou crina, en¬ feitadas a flores, fl t a s e plumas e as gran¬ des ca-

pellines de palha de cór preta ou folha secca, guar¬ necidas com aves do paraiso, são bastante elegantes, mas as ultimas tornam-se muito dispendiosas.

As carcassas dos chapéus de grande cerimonia devem armar-se em mousseline gommada ou em arame, forradas de tulle ou taffetas, completando a decoração plumas e flores.

*

■f-

'l oilette em 'JWEED hejge com applicações de galáo bordado e passementeries. Saia em pregas.,Bolei-o- sac com peitilho e mangas de renda da Irlanda. Gr?- vata e cinto de taffeta azul. Cliapen enfeitado a flo¬ res e fitas libertv.

pi

MODAS

9

Muitas vezes o piquet de plumas ou o bouquet applicam-se atraz; outras, em ambos os lados da frente collocam-se grandes chous de tulle ou de fita. Veem-se bastante os chapéus de grandes dimensões, mas são preferíveis os que . , não ultrapassam os limites do

rasoavel.

Para as crianças nao é me¬ nor a variedade nos chapéus. Além do consagrado canotier, sempre bonito pela simplici- d a d e que o c ar a - cterisa veem- se, so¬ bretu¬ do, as capel-

lines de grandes abas, em pa¬ lha ou em crina, e as charlotes em cambraia, nansouk ou ba- tiste e as toucas, para as creãn- ças até seis annos.

As capellines guarnecem-se geralmente com flores, devendo preferir-se as miudinhas, ou com laçadas e torsades de fita ou setim liberty. Nas charlotes empregam-se rendas e entremeios com plisses.

doche de palha com grinal¬ da de flores e grandes plu¬ mas pleureuses.

Vestidinho em baliste bor¬ dada com faixa de seda escoceza. Charlote da mesma fazenda e com enfeites similhantes à faixa.

lO

COSMOS

As capelhnes Empire ou Directoire^ próprias para vestidos de etiqueta, confeccionam-se em gase ou inousseline de seda franzida, da côr do vestidi- nho, ou em renda íina, branca, devendo, tanto uns como outros, ornar-se com fitas e flores.

premiada com Mki» ■»» i>it.4T/%

iia i';xposição 4gricola de 1905, na Bleal Tapada d’4juda

em l.eiteii puros, Manteigas c Walas ,

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vitalícias de importância proporcional ao consumo mensal que tiverem

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MAZURKA DE SALON

O

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*73

H

Evidentemente a casa de espectáculos que mais está attrahindo a attençao é o Colyseu das Portas de Santo Antão, onde trabalha a companhia italia¬ na de opera-comica e operetta.

As companhias italianas que nos visitam são as que, geralmente, apresentam mais novidade ; todos se lembram ainda da bella impressão que, sob esse ponto de vista, produziu a companhia de Tina de Lorenzo. Além d’essa unidade, proveniente de apti¬ dões e da longa duração das tournees^ obrigando os artistas a repetirem centos de vezes as mesmas pe¬ ças e com os mesmos interpretes, os grupos thea- traes italianos cuidam sériamente da mise-en-scène^ apresentam as peças bem vestidas e com scenarios apropriados.

E’ 0 que acontece com o que actualmente explora o Colyseu. Deu-nos até agora tres peças: Os sal¬ timbancos, a Gueicha e a Cigarra e a Formiga, e todas tres obtiveram grande exito, especialmente a

4

COSMOS

Gueicha, pela bella musica que possue, do maestro .lones. O seu entrecho é fraco, mas como a acção se passa no Japão o espectador impressiona-se com os extranhos costumes que presenceia, com o quid de misterioso que, apezar do assombroso adeanta- mento d'aquelle império, ainda teem para nos a sua civilisação, o seu Buddha, os seus habitantes com denominações de flores e fructas, a sua arte amanei- rada, tudo tão difTerente dos paizes occidentaes.

A Gueicha agradou, pois, como aconteceu aos sal¬ timbancos e depois se deu com a Cigarra e a for¬ miga. A. estrella da companhia é a sr.® Fontana, que dispõe de voz bem timbrada, que sabe cantar e que é notável na declamação. O resto da compa¬ nhia é excellente.

Acabou a zarzuella no D. Amélia. Ha uma sema¬ na que a empreza annunciara a ultima récita, mas depois do annuncio ainda houve mais oito, com ca¬ sas fracas. vae a sr.“ Pilar Marti cremos que para Barcelona e o resto da companhia para vários thea- tros de 2.“ ordem do seu paiz. Verdade, verdade, a sr.'’’ Pilar Marti deixa saudades

Na Trindade alguns artistas do D. Maria, junta¬ mente com outros d’aquelle theatro e ainda alguns do Gymnasio, estão explorando o drama. Até agora deram-nos o Aimrento, uma das coróas de Ferreira da Silva, e a Rosa engeitada, corôa também de Adelina Abranches. O publico não tem correspon¬ dido aos esforços do grupo, o que muito bem se ex¬ plica: as noites estão quentissimas, a epocha não vae para dramas e coisas sérias, e no proprio thea-

REVISTA THEATRAL

5

tro da Trindade ha um animatographo a meio tos¬ tão a entrada.

Reabriu a rua dos Condes com uma companhia de operetta dirigida por Pedro Cabral, levando á scena o Moleiro d’Alcalá; vae reabrir o Avenida; para o Gyrnnasio, que fecha gloriosamente com o Cão e o GatOy annuncia-se um animatographo; no Prmcipe Real continua o O’ da guarda a fazer as delicias do publico, que ri a bandeiras despregadas .quando o Alfredo de Carvalho muda o s em jr; para o Real Colyseu passaram os luctadores, d’esta vez sem concorrência, o que parece significar que o pu¬ blico começa a ter juizo.

E d’aqui se deprehende um facto celebre : é que sendo verão ha mais theatros abertos do que no in¬ verno ! O resultado prevê-se, mas estamos convenci¬ dos de que não haverá emenda. Parodiando uma phrase franceza conhecida um empresário de ve¬ rão encontra sempre um capitalista que o admira. E o capitalista cae, que é um regalo.

I

'r

cootnDuiçã!) pezadissina pam as liibitaiite k Lisboa.

OI_D EZIMOL-AIMD

Rua Augusta— PRÉDIO TODO— Rua de S. Nicolau

m Preparado pelo seu auctor

AlilOlilO DIAS AMADO

(

Pharmaceutico pela Universidade de Coimbra

Membro da Sociedade de Medicina de Paris

Indigitado pelas prineipaes sumidades medicas

da Europa B da America

d

Deposito Geral em Lisboa: PHARMACIA DO AUCTOR

Praça de S, Paulo, 20, 2í, 22

Porto - PHARIVIACIA ALMEIDA EONHA-Rua Formosa, 333

0 italiano sem mestre

0 alphabeto italiano contém vinte í a saber :

; uma letras (*),

A

B

C

D

E

F

Pronuncia-se: a

txi

e

e/e

dgi

H

I

L

M

íí

0

P

Pronuncia-se: áca

/

éle

eme

éne

0

pi

Q

R

S

T

U

Y

L

Pronuncia-se: cu

erre

esse

ti

u

d\éta

Na lingua italiana não ha diphtongos nem sonsna- saes; as letras com que se compõem as palavras pro¬ nunciam-se todas bem distinctamente; as vogaesteenf sempre o som aberto, mas sem exagerar este som n’aquelias em que não recáe o accento tonico, e, so¬ bretudo, nas que terminam as palavras, e as consoan¬ tes teem geralmente o mesmo valor qúe em portu- guez. Devemos fazer notar que em italiano são vul-

(') Em italiano emprega-se ás vezes o j com o valor de i longo, mas é rarissimo e o seu usp vae-se toçnando cadaj^ez mais restricto,

4

COSMOS

gares as palavras de consoantbs dobradas e que os I italianos pronunciam as duas, a primeira muito mais rapidamente que a segunda. Isto é porém para nós muito difficil, e o melho; é não nos preoccuparmos com esta particularidade, tanto mais que a falta de pronunciação da primeira das consoantes não é muito perceptivel.

Ch pronuncia-se, em italiano, como k; gn como nh; gl, antes a, n, u como em portuguez e antes de e, i como IIi; s, entre duas vogaes, como p; .fce, sck lèem-se xc xi; g, antes de u, o, ii e h, como em por- i tuguez e antes de e, i como dj, deixando-se perceber muito mal o d; cíj, cio, chi como txa, txo, txii, dei- ;■ xando perceber o t apenas muito bgeiramente ; 7 tem '■ dois sons; um, forte, como ts, outro mais doce como i dp; a pratica ensinará depressa quaes as palavras em |i que o 7 tem o primeiro som e aquellas em que tem o I ' segundo. i|'

Estas regras não soffrem excepções. |i

Em italiano, na conversação, as pessoas que se não j; tratam por tu, tratam-se na 3.® pessoa do singular, ü como em portuguez, com a differença de que não ha, como entre nós, uma enorme variedade de tratamen¬ tos; em italiano ha dois: lei para o geral das pes¬ soas; ella para as pessoas que desempenham cargos de alta consideração social, como ministros de es¬ tado, bispos, etc.

Lei e Ella são variações femininas do pronome pessoal da 3.® pessoa do singular. Exemplo; Você tem. Lei ha. . V. Ex.® quer... Ella vuole... Não é demais insistir em fazer notar que aquellas va-

Ô ITALIANO SEM MESTRE

5

riações femininas Lei e Ella do pronome pessoal da 3.“ pessoa do singular, se empregam, nas condições indicadas acima, qualquer que sej"a o sexo da pessoa com quem se falia.

Em italiano os pronomes pessoaes antep5em-se ou não aos verbos nas mesmas condições que em portu- guez.

Exercício Vocabulário

Italiano

Traducçâo

Pronuncia

11

0

11

La

A

11 pane

0 pão

11 pánê

11 burro

A manteiga

11 búrrô

11 coltello

A faca

11 coltéllô

La forchetta

0 garfo

forkétâ

11 cucchiaio

A colhér

11 cuckiáiô

11 piatto

0 prato

11 piáttô

11 bicchiere

0 copo

11 bickiére

La bottiglia

A garrafa

botílhiâ

0 artigo i

7 antes das palavras

que começam

vogal ou z converte-se em lo. Tanto em lo como

/u, substitLie-

■se, antes das palavras que começam

vogal, 0 0 e

o a por uma apostrophe.

Exercício Vocabulário

Italiano

Traducçâo

Pronuncia

L’olio

0 azeite

L’óliô

L’aceto

0 vinagre

L’acétô

L’acqua

A agua

L’ácua

6

COSMOS

Lei ha bevuta Tacqua Lo ZLicchero L’inchiostro (masc.) Lo zio

Você bebeu a agua

O assucar 4 tinta O tio

Léi bevúta Tácua tsúkêrô Lbnkióstrô tsíô

Com a aprendizagem da pronuncia e com as pala¬ vras que ahi apresentamos e que o leitor fará bem em escrever varias vezes, não para as fixar, mas para ir aprendendo a ortographia italiana que, como a nossa, escapa a quaesquer regras, tem o sufficiente para uma primeira licção.

HISTORIA E GEO&RAPHIA

O império portuguez na Índia

Affonso d’ Albuquerque

Lance-se os olhos sobre uma carta da Asia, con¬ temple-se a costa asiatica do Indico, abran- jam-se com a vista os principaes pontos so¬ bre que assentou o império portuguez na índia no século XVI e recordem-se alguns dos factos mais notáveis d’esse glorioso período ; ninguém poderá furtar-se á sensação de estar sonhando. Chega-se até a duvidar da Historia.

Um sentimento de profundíssima admiração pelo homem que concebeu, planeou e executou com re¬ cursos insignificantes tão gigantesca obra substitue logo no nosso espirito aquella primeira impressão, e a personalidade de Affonso d 'Albuquerque toma a nossos olhos tamanhas proporções que sem hesi¬ tação lhe assignamos o primeiro logar na nossa His¬ toria e o collocamos a par, pelo menos, dos maio¬ res capitães do mundo antigo e moderno. E se con¬ siderarmos o actual império britannico na índia convencer-nos-hemos logo de que prestamos jus¬ tiça a Affonso d’Albuquerque. O que este grande homem concebeu, planeou e executou no principio

10

COSMOS

do século XVI ainda hoje, decorridos 400 annos, tem a consagração dos factos. Póde-se affirmar que os pontos principaes sobre que Albuquerque assen¬ tou o império na índia ainda hoje são os mesmos: se não é Gôa é Bombaim, poucas léguas ao norte, se não é Malaca é Singapura, poucas léguas a sues¬ te e se não é Ormuz é Aden, substituição imposta pela abertura do canal de Suez, que fez perder ao golpho pérsico toda a sua antiga importância. Mas também Affonso d’Albuquerque lançou no século XVI as suas vistas para Aden, também elle sonhou a ligação do Mar Vermelho ao Mediterrâneo por meio de um canal que da bacia hydrographica do Nilo viesse ás costas da Abyssinia. Marinheiro au¬ dacioso, militar valente, estrategista consummado, possuindo profundos conhecimentos geographicos e da historia e costumes dos povos orientaes um ta¬ cto político e tino administrativo extraordinários, d’uma energia ferrea que chegava á dureza, d’uma severidade de costumes que podia servir de modelo a um santo, parecia viver n’um mundo diíTerente d’este, acalentando os seus grandiosos planos, para cuja execução dobrava, submettia tudo a todos.

Tinha cóleras terríveis, de louco furioso,' mas como não havia de ser assim se em volta de si via homens, valentes, é certo, mas educados numa escóla de pirataria, desmoralisados pela cubiça do ouro, pelo desejo desenfreado de enriquecerem rapi¬ damente e portanto incapazes de comprehenderem a gigantesca obra em que elle se empenhava ? !

De edade avançada, pois contava 56 annos quando-

tomou conta do governo da índia, tinha a ousadia dos novos e a reflexão que natoralmente lhe dava a experiencia dos annos. O seu procedimento era regu- -lado pelas circumstancias ;duròe cruel, mesmo, quan- necessario infundir terror, el!e sabia ser gene-

Affonso d’Albuqiierqi:e

roso e bom quando o interesse do estado assim ]h’o aconselhava.

Antes mesmo de ser o governador da índia, quan do era simples commandante da esquadra do cru¬ zeiro, na ilha de Socotora, começou a dar execução ao seu grandioso plano. Desprezando a pilhagem das naus de Meca, dirigiu-se com o pretexto de se abas¬ tecer de mantimentos, para o golpho de Ouran. Pas-

COSMOS

I 2

sando pela costa da Arabia foi semeando o terror, submettendo peias armas successivamente Curiate, Mascate e Orfacate. A sua crueldade foi tal que mandou cortar as orelhas e o nariz aos prisioneiros. Entrava isso nos seus planos, O seu objectivo era Or- muz e preciso era que, quando chegasse, o ti¬ vesse precedido a fama da sua crueldade e do terror que infundia.

Ormuz era n’esse tempo uma das cidades mais flo¬ rescentes de toda a Asia. Situada na ilha do mesmo nome, á entrada golpho Pérsico e junto da costa da Pérsia, constituia com a ilha um reino quasi intei¬ ramente independente, pois que apenas pagava ao Schad um tributo annual. A sua magnifica situação fez d’ella o emporio de todo o commercio entre o Oriente, a Pérsia e o Mediterrâneo.

Aftbnso d’ Albuquerque depressa se assenhoreou de Ormuz, mas abandonado por tres dos seis navios que tinha sob as suas ordens, teve que regressar á índia, a caminho da qual ainda lhe fugiu outro na¬ vio, o commandado por João da Nova.

Chegado a Cochim e assumindo o governo depois de varias peripécias provocadas pelo estado d’alma especial em que se encontrava o vice-rei D. Francis-^ CO d’Almeida por causa da morte de seu filho D. Lou- renço, Aífonso d’Albuquerque voltou as suas vistas para Gòa que era então também uma cidade mui¬ to florescente, Mtuada no reino de Dekkan, na pe- ninsula do Industão e governada por uma especie de senhor feudal chamado Hidalkhan.

Affonso d’Albuquerque conquistou a cidade em fe _

HISTORIA E GEOGRAPHIA

l3

vereiro de iSio, que foi retomada em maio d’esse anno por Hidalkhan, até que em novembro do mesmo ainda foi reconquistada e desde então não mais dei¬ xou de fazer parte- do dominio portuguez.

Conquistado o centro do futuro império, faltava a Affonso d’Albuquerque apoderar-se dos dois pon¬ tos que n’aqu5lle tempo dominavam as linhas com- merciaes do Indico; um era Ormuz, de que fal¬ íamos, outro era Malaca, na peninsula do mesmo nome. Foi para esta que o grande conquistador se dirigiu em i5ii. Malaca era n’esse tempo uma ci¬ dade de cem mil almas que dominava os estrei¬ tos do mesmo nome e monopolisava o commercio do Extremo Oriente. O ataque durou tres dias e foi com certeza o mais renhido que Aflfonso d’Albu- querque teve que sustentar em toda a sua vida, inas a victoria final pertenceu ao grande capitão, apezar de se encontrar com forças em numero muito inferior ao inimigo.

A conquista de Malaca devia ser gravada com letras de oiro na historia patria ; é, sem duvida, um dos feitos que mais frisantemente attesfa o valor dos portuguezes. A’ volta de Malaca Affonso de Al¬ buquerque naufragou, perdendo nonaufragioq leões de bronze, unico despojo que do saque da cidade quiz para si e que destinava ao seu tumulo.

Nos principios de i5i3 dirigiu-se para o occidente e, tentando a conquista de Aden, como nao tivesse conseguido tomal-a, percorreu com a sua esquadra o Mar Vermelho, semeando o terror nas costas da Arabia e da Abyssinia, chegando quasi a Suez. Se-

■4

COSMOS

■!

guiu depois para o golpho Pérsico e novamente con¬ quistou Ormuz, ' mandando assassinar Bas Almeed, primeiro ministro do rei d’aqnelle Estado, o que, de resto estava nos costumes da epocha.

No regresso para Goa soube que o rei D. Manuel o tinha mandado substituir no governo pelo seu ini¬ migo Diogo Soares de Albergaria, o qual vinha do reino acompanhado de quasi todos os capitães que tinham desertado ou que tinham sido castigados por elle. h^oi essa ingratidão que o fez exclamar : «Mal com os homens por amor do rei, mal com o rei por amor dos homens». E á entrada da barra de Gòa, a i() de dezembro de i5i6, fallecia o maior, o mais ex¬ traordinário homem da nossa historia.

A sua falta fez-se sentir desde logo; o império por- tuguez na índia começou a caminhar para a deca¬ dência. A maioria dos successores de Affonso d’ Al¬ buquerque não estava á altura nem ao menos de conservar e defender a obra d’aquelle extraordinário genio.

Ai*te GUlinaMa

Se ha prenda que uma boa dona de casa deva pos¬ suir, é, sem duvida, ô conhecimento dos segredos da cosinha.

Não julgueis gentis leitoras que vos quero ver á chaminé a abanar o lume ; rosto afogueado, mãos a cheirar a cebolla e o cabello crestado pelo calor do fogão. Nada d’isso.

A educação da mulher, esse problema tão discu¬ tido e no fim de contas, de tão facil solução, consiste muito principalmente no conhecimento consciente d’esse conjuncto de pequenas coisas a que andam ligadas a arte, a sciencia, o amor e o critério, e que faz da mulher essa creatura ideal e superior a que se chama uma boa mãe, uma boa esposa e uma boa dona de casa.

A sala não é incompativel com a cosinha. Assim, amaveis leitoras, tereis occasião de encontrar aqui alguns elementos para augmentardes a vossa pre¬ ciosa bagagem de boas ménagères. o fran

cez. . .

Cosmos

A organisação d’uma boa ementa fnunu dos fran- cezes) é uma das maiores difficuldades da culinaria.

O Cosmos ofFerece-vos cinco, para escolherdes, de modestos, mas saborosos jantares. Primeira :

Sopa de aletria em caldo de carne.

Pescada guizada.

Carne á jardineira.

Esparregado de ortigas.

Pudim de limão Fructas.

Minha ^enho^a, a carne á jardineira está excellente, graças ao refogado que fiz

A confecção d’um jantar assim constituido é extre¬ mamente simples.

A sopa faz-se deitando a aletria, préviamente bem lavada, em agua a ferver e deixãndo-a em fervura uns dez minutos e, se se quizer, pode-se juntar-lhe um pouco de queijo ralado que lhe dará um sabor especial muito agradavel.

ÀRtÈ CULINÁRIA

1 I

Para guisar a pescada^ tira-se-lhe a cabeça que se pode reservar, se assim se quizer, para um arroz de peixe, parte-se em postas que se abrem a meio, e tira-se-lhe as espinhas. Faz-se um refogado com azeite, cebola e salsa picada e deita-se na caçarola com as postas da pescada, junta-se-Ihe um caldo de farinha de trigo feito em agua e pimenta, põe-se ao lume e deixa-se apurar.

Para a carne á jardineira aproveita-se a carne que serviu para fazer o caldo.

N’um refogado de banha deita-se agua, uns peque¬ nos bocados de cenouras, nabos e feijão verde e põe-se tudo ao lume a apurar. Deita-se-lhe depois a carne cosida e conserva-se ao fogo por mais uns cinco minutos.

Um esparregado toda a gente sabe fazer. O de orti¬ gas temperado com manteiga é delicioso.

O pudim de limão é de facil confecção. Lava-se o li¬ mão, raspa-se-lhe a casca e mistura-se esta no sumo do mesmo, junta-se assucar até ficar bastante doce e oito claras d’ovo ; bate-se muito bem, adicionam-se- lhe oito gemas d’ovos batidos; liga-se tudo, deita-se na fôrma e leva-se ao forno.

Segunda :

Sopa de feijão á italiana.

Lulas recheadas.

Mãosinhas de carneiro com molho de tomates.

Salada de rabanetes e beterrabas.

Fructas.

12

COSMOS

Cosendo-se o feijão em pouca agua e juntando-se- lhe, quando estiver quasi cosido, um bom bocado de manteiga e a parte amarella da casca d'um bmão, deixando ferver tudo até coser bem, ter-se-ha feito uma boa sopa de feijão á italiana^ que se póde ser¬ vir, depois de lhe tirar a casca do limão.

Para fazer as lulas recheadas escolhem-se lulas pe¬ quenas; tiram-se-lhes as cabeças para vasar os sac- cos que hão de ser recheados com os tentáculos, azas, etc., que depois de cozidos se pizam e se deitam jun¬ tamente com gemmas d’ovos e sumo de limão n’um refogado d’azeite feito áparte.

Com esta mistura enchem-se os saccos, cosem-se na bocca com linha forte e mettem-se em agua a fer¬ ver por algum tempo; depois tiram-se da agua, en¬ xugam-se, envolvem-se em ovo batido e pão ralado e poem-se n’um tacho a frigir. Servem-se com molho de fricassé.

As mãosinhas de carneiro cozem-se e depois sal¬ teiam-se em manteiga misturada com farinha, sal e pimenta e servem-se com molho tomate.

A salada de rabanetes e beterrabas é magnifica para acompanhar este prato.

Terceira

Sopa de côdeas fritas, em caldo de carne.

Pescada cosida com batatas, á portugueza.

Pastellão de carne com ovos.

Salada de tomates e pimentos.

Fructas.

ARTE CULINARIA

l3

Fritam- se as côdeas de pão em manteiga, cortam-se regularmente e deitam-se n’uma terrina sobre a qual se lança o caldo da carne. DeLxa-se embeber o pão e serve-se.

O linguado é feito com molho

Pescada colida com batatas à portuguesa toda a gente sabe cosinhar.

A carne que serviu para o caldo aproveita-se para o pastellão com ovos-, que serve com molho de manteiga, acompanhado de salada de tomates e pi¬ mentos.

Quarta :

Sopa de grão com espinafres e bacalhau, á hespa- nhola.

Croquettes de bacalhau.

Linguado frito com molho de manteiga.

Iscas de íigado á portugueza.

Broculos cosidos com azeite e vinagre,

Fructas,

'4

COSMOS

Esfrega-se o grão, préviamente demolhado, em sal grosso para lhe tirar as pelles, lança-se em agua fer¬ vente e juntamente algumas postas de bacalhau e tem¬ pera-se em alhos e louro, mettidos n’um sacco de rede para se poderem tirar. Quando o grão está quasi co¬ sido deitaiT-se os espinafres cosidos e bem espremi¬ dos., Lança-se mais : azeite, salsa, cebola picada e pi¬ mentos sem pelle nem sementes.

Ti ram-se os alhos e machucam-se n’uma fatia de pão frito em azeite. Deita- se a fatia na panella com pimenta e açafrão em pó. Desfaz-se n’um pouco de caldo uma porção de farinha e deita-se para engros¬ sar a sopa.

Antes de ir para a meza deita-se-lhe uma gema de ovo misturada n’um pouco de caldo.

Croquettes de bacalhau.

Faz-se uma massa de picados de bacalhaxt, alhos e salsa, bastante esmagada e pimenta em pó. Faz-se aparte um caldo cozido de leite, farinha e manteiga; deita-se este caldo na massa, mexe-se bem, tira-se do lume e depois de fria estendem-se os croquettes em ovo batido e pão ralado e frigem-se.

Linguado frito com môllio de manteiga.

Iscas de Jigado á portuguesa com rodellas de batatas.

Broculos comidos com aceite e vinagre.

São tão conhecidos e simples estes tres últimos pratos, que julgamos ocioso occupar-nos d’elles.

Quinta :

Sopa d’arroz em caldo de polme (puréej de cenoura.

Pargo frito,

ARTE GTJLÍNARIA

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Lombo de vacca assado.

Salada de chicória.

Fructas.

Para a sopa reíogam-se em manteiga rodellas de cenoura, nabo e ceboüas ; junta-se-lhes um litro de agua e sal e quando estiver tudo cosido passa se pelo passador. Lança-se o caldo n’uma caçarolla, deitam- se-lhe umas cem grammas d’arroz e ferve-se até este ficar cozido.

O lombo de vaca para ficar saboroso deve ser lar- deado com tiras de toucinho. Este prato' guarnece-se com batatas fritas ou com bataté {purée de batata)

ENCYCLOPEDIA

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sentou a Sublime Porta nas conferencias de Vienna, sendo depois nomeado novamente Grão-Vizir, appli- cando então o celebre hatt-i-chérif de Gulhané^ de i8 de fevereiro de 1856, em favor dos christãos Após a guerra da Crimêa foi enviado como pleni¬ potenciário do seu paiz ao congresso de Paris, onde defendeu com calor e muito talento os interesses da sua patria, assignando por fim o tratado de paz (3o de março de i856).

Quando o sultão da Turquia, Abd-Ul-Aziz, em- prehendeu, em 1867, uma viagem a Paris e Londres, o Grão-Vizir Aali-Pachá ficou regente do império e durante a sua regencia combateu a insurreição de Creta, indo pessoalmente áquella ilha em 1868 para a pacificar.

Este notabilissimo homem de estado, que nos seus ocios cultivava a poesia, morreu sem poder implan¬ tar no seu paiz as reformas liberaes reclamadas pe¬ los elementos avançados turcos e cuja necessidade elle julgava impreterivel.

Aalsineer; povoação hollandeza, na provinda da Hollanda septentrional, a 14 kilometros a sudoeste de Amsterdam, sobre a margem oriental do lago secco de Harlem. Tem q.Soo habitantes, uma egreja catholica, um templo calvinista e um hospital.

'Aalst, nome de duas povoações hollandezas, uma na provinda do Brabante do Norte e outra na pro- vincia de Güeldres.

Aaltcu, importante povoação hollandeza, na pro¬ vinda de Güeldres, com 6.800 habitantes e uma in¬ dustria fiorescentissima de tecidos e cortumes.

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COSMOS

Aalts ou Aelst, (Herberto van); pintor hollandez nascido em Delft, em 1602 e morto em i658. Deixou obras de certo valor que, na sua maior parte, se en¬ contram hoje no palacio do rei da Baviera e nos mu¬ seus de Dresde e de Berlim.

Aalts ou Aelst, (Guilherme van) ; pintor hollandez, sobrinho do anterior, ao qual se avantajou em mé¬ rito artistico.

Dedicou se especialmente á pintura de flores e fru- ctos e muitos dos seus quadros pódem ser hoje con¬ templados nos museus de Munich e da Haya. Nasceu em Delft em it.3o e morreu em Amsterdam em 1679

Aaiii, sub. inasc.\ (em dinamarquez aam ; em alle- mão ahni ; em island"“z avia ; em inglez aam., aum e aivm) ; antiga medida de capacidade para liquidos, muito usada na Hollanda e em alguns pontos da Bél¬ gica. A sua equivalência no systema métrico decimal é de 155,224 litros para vinhos e aguardentes e de de 145,5225 litros para azeites.

Aaiiiadt ou Aamodt, povoação noruegueza, da pro¬ víncia de Hedemarken, no sul da Noruega. Tem uma população de 3. 000 habitantes.

A’ainêr ou A’aiiiêr-amir, subs. masc.; nome de muitas tribus arabes que se ancontram no Hedjaz e no Nedjed, planuras do [Euphrates e na alta Nubia, no Soldão, na Argélia, etc.

Aainodtf vi d. Aaiuadt.

Aanha, nome d'uma antiga e pequena cidade situa¬ da nas margens do Euphrates. Destruida pelo impe¬ rador Juliano, nunca mais recobrou a sua antiga im¬ portância.

ENCYCLOPEDIA

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Aanathutii, Antiga cidade da Judeia, patria dopro- I pheta Jeremias, que era situada no território da tribu de Benjamin, a 24 kilometros de Jerusalem.

laudyk, povoação hollandeza da provincia da Hol- j landa septentrional, com uma população de 2.5oo habitantes, situada perto do Zniderzée, a 5 kilome¬ tros para E de Medemblik.

Aauíwel, nome que dão os naturaes da ilha de 4 Amboina a uma planicie conhecida em botanica por dcemonorops calapparius e que os malaios designam - Rotang calappa.

Âaakú provincia do Japão, na ilha Nippon ou Hon- do, pertencente ao principado Yedo.

Aauâ, nome dado no Industão ás Tenninalia alata V de Roth, .arvore da familia das combretaceas, cuja f scaca é muito empregada n’aquella peninsula como I adstringente e febrifugo.

Aaatgitch, s. m,; gamo da índia. Também se ' este nome a uma especie de ganso que vive na pe- ninsula de Kamschatka e que não é outro que o Anas liyemalis, de Linneo.

Aar, é o maior dos rios exclusivamente suissos Nasce nas geleiras da vertente norte do Gn?nsel, por 1877 metros de altura. E’ um dos affluentes do Rhe- no, no qual se lança pela margem esquerda em frente de Waldshut, depois de um percurso de 278 kilome¬ tros, no qual recebe muitos affluentes entre os quaes o Emmen, o Reuss e o Limmat, na margem direita, e na margem esquerda o Lutschine, o Kander, o Sa- rina e o Thiè!e.’Devido á grande quantiaadejde’agua que lhe levant estes diversos affluentes, o Aar é maior

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COSMOS

do que o Rheno, de que afRuente, no seu ponto de encontro.

A bacia hydrographica d’este importante rio suisso abrange 1.750.000 hectares de terreno, dos quaes 48.480 são occupados por geleiras.

Um pouco abaixo da sua nascente fórma a famosa cataracta de Handeck, de 76 metros de altura, ba¬ nha depois Megringen e o valle de Hasli, atravessa o lago Brienz, banha Interkalen e atravessa o lago Thum.

Navegavel desde a sahida d’este lago, o Aar con¬ torna a cidade de Berne e banha em seguida Aarberg, Soleure, Aarburg, Olten, Aarau e Brugg. E’ su¬ jeito a cheias frequentes que damnificam muito as plantações dos terrenos das suas margens.

Sob o ponto de vista militar tem este rio uma gran¬ de importância. A 6 e 7 de agosto de 1799 o archi- duque Carlos tentou a sua passagem em Deltingen, pretendendo com esta operação separar as duas ala¬ do exercito francez e cortar as communicações a Mas- sena. Apezar, porém, de todos os esforços emprega¬ dos, a passagem não pôde effectuar-se e a chegada de Ney e Hendelet obrigou o archiduque a renunciar á empreza sem combate.

A bacia hydrographica do Aar e alguns dos terri torios adjacentes constituem o que na geographia militar se designa por theatro de guerra do Aar^ abrangendo toda a região comprehendida entre o Rheno, desde o lago Constança a Basilea ao norte, a cordilheira de Jura a oeste, o lago de Genebra, os Alpes Bernezes e 0 Crispalt ao sul e o Rheno desde

ENCYCLOPEDlA

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Sargans ao lago Constança a leste. Esta região liga- se com o theatro de guerra do Rheno médio e com a zona da margem direita do Dannbio pelos montes de Confetança ; com o Rhodano inferior pelos territó¬ rios que circumdam d’esse lado o lago de Genebra e com o Saona pelo comprido passo de Belfort e pe¬ las collinas e montanhas baixas do Jura septentrio- nal .

A maior ou menor altitude dos Alpes centraes e das suas ramificações que cobrem este theatro de guerra, determina quatro zonas naturaes de aspecto diíferente'e o cha3ado theatro de guerra do Aar com as suas dependencias da zona Alpina occupa en¬ tre a Europa média e a Europa Occidental, entre a Allemanha, França e Italia uma posição central d’um altíssimo valor estratégico. Abre uma longa e facil linha de operações desde o Danúbio ao Saona e ao Sena outra até Genebra e Rhodano inferior, o que equivale a dizer desde a Allemanha meridional ao centro e sul da França. Por leste conduz ao Danú¬ bio superior e aos últimos contrafortes orientaes da Floresta Negra e pelos passos dos Alpes Penninos e centraes communica com a bacia hydrographica do alto e médio Pó. Abrange, po s os dois grandes thea- tros de guerra adjacentes e ^facilita as relações de dois exercitos que operam simultaneamente pelo Da¬ núbio e pelo Pó, e, como por estas duas linhas se póde avançar até ao centro da Europa, os dois exercitos n’estas condições poderiam unir-se facilmente para cahirem ambos sobre Paris, atravez do Jura e do Saona; A posição estratégica da Suissa tem pois um

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COSMOS

altíssimo valor e por isso foi que as potências signa- taria do congresso de Vienna concordaram na neu- tralisação d’aquelle paiz, pois que d’essa neutralisa- ção depende a tranquilidade das potências da Euro¬ pa Central.

Aar, pequeno rio do antigo ducado de Nassan, na Allemanha, com um percurso de i6 kilometros desde a sua nascente, em Vehen, até á sua affluencia no Lahn,

E’ também o nome doutro rio da Prússia que, to¬ davia é mais conhecido pelo de Ahr.

Aar, pequeno rio do principado do Waldeck, com um percurso de lo kilometros. E’ affluenie do Tweste.

No mesmo principado ha um outro rio com o mes¬ mo nome, que tem um precurso de Sq kilometros, desde a nascente em Ulssen até á sua alHuencia no Eder, 10 kilometros ao N. de Frankenberg.

Aar ou Aaru, nome que davam os egypcios aos seus Campos Elysios. Segundo a sua crença, os ma¬ nes entregavam-se ahi, apóz toda a eternidade, a tra¬ balhos agricolas que produziam colheitas maravilho¬ sas.

Aara, cidade da Arabia, no Heydaz a 56 kilometros a SE de Madian.

Aarabau, pequena cidade da Turquia asiatica, nas margens do Kahabur, a 28 kilometros a SE de Ras- el-Ain.

AarSo, irmão mais velho de Moysés, filho primo¬ gênito de Amrão e Jozabe; nasceu no Egypto em iSyq antes de Jesus Christo. Acompanhou sempre seu rmão em todas as diligencias para libertar o povo de

Uns dt Monifei

Em Lisboa, província, ilhas adjacentes e colonias

Um mez 3 volumes 480 paginas 180 réis

Tres mezes 9 » —1440 » 540 »

Seis mezes 18 » 2880 » 1S080 »

Um anno 36 » 5760 » 2Í160 »

Venda avulso ©O réis ^

Toda a correspondência deverá ser dirigida a V. Guirr,arães, para a séde da administração na

Rua do Corpo Eanto, SD, 2: