F2515 .M6 Moritz, Francisco Relatoria da Expedição dos Campos Gominl )l8grapíiif.as Estratdpas j ao Aii (Publicação N« 31) Annexo N^í 2 EXPLORAÇÕES DOS CAMPOS DE COMMEMORAÇÃO DE FLORÍANO AO RIO GUAPORÉ (1912) E DA ZONA COMPREHEND!DA ENTRE OR RíOS COMMEMORAÇÃO DE FLORIANO E PIMENTA BUENO (1913) RELATO Rir apresentados ao Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon Chefe da Comniissâo por Francisco Moritz Ene;enliei cu nas 19 ro ^j*. »(.»■ . '^v^S^it' ■' , •■«í:''' ■. Gominíssão de Linhas Tslegrapliicas Estratégicas de Matto Grosso ao Amazonas I REti/lTORIO DA Expedição dos Campos de Commemoração de Floríano ao Rio Guaporé por Francisco Moritz Engenheiro de minas Effectuada de 30 de Setembro a 1 de Dezembro de 1912 ^—^l??^-— ly 1916 Senhor Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon — Muito Digno Chefe da Commissâo de Unhas Telegraphicas Es- tratégicas de Matto Grosso ao Amazonas. Tenho a honra de vos apresentar o relatório da rjuinha expedição da estação de ''Álvaro de Vi- lhena" ao rio Guaporé, acompanhado de um mappa demonstrativo das condições hydrographicas, topo- graphicas e geológicas da zona explorada. A expedição partio da estação de ''Álvaro de Vilhena", segundo vossas intrucções, a 30 de Se- tembro de 1912, composta de seis pessoas, sendo: José Celestino da Cunha, Juvencio Pereira de Souza, Bernardino Camargo Pimentel, Antenor Fogaça de SanfAnna e Pedro António da Silva, e em dire- cção ao ribeirão do "Veado Preto" seguindo o pi- que da exploração de 1909, que, segundo as in- strucções, fica a 44 kilometros da estação de "Ál- varo de Vilhena". A 9 de Outubro cheguei ao "Veado Preto" tendo que abrir novamente o pique da exploração de 1909, que se achava completamente obstruído. devido a ter sido queimada a matta desde o cór- rego "Ivirussií" até o córrego ''Veado Preto". A' margem direita do ''Veado i^reto" e na passagem, installei o meu acampamento e primeira base de operações para dar começo á exploração, fazendo voltar para ''Vilhena'' a pequena tropa que me havia acompanhado até ahi. Deste ponto comecei as minhas explorações pela margem direita do "Veado Preto", em baixo e em cima da serra, nas direcções de O e N O. Atravessando o ribeirão, fiz explorações da serra, nas direcções de E e S E. Explorei ao mesmo tempo o ribeirão "Veado Preto" até a descida da serra, onde o mesmo faz um grande brejo, e próximo ao kilometro 50 a partir de "Álvaro Vilhena" e na direcção de S S O. De um ponto elevado da serra, nesta mesma margem esquerda, observei um grande valle, que nasce ao S E deste ponto e dirige-se para o O N O. O valle mede mais ou menos 4 léguas, e para o O observei que este valle abre para o N, tendo mais ou menos de 10 a 15 léguas. Ao S deste valle ha uma serra alta, que corre na direcção do valle a O N O ; esta serra é mais ou menos plana e toda campo aberto, continuando assim para o O, até se perder de vista. A descida desta serra para o valle ou para o N é muito abrupta. Poude ainda observar que as terras altas ao N deste valle dirigem-se para o NNO, formando este valle muito largo para O, e descendo gradualmente para o O e N O. Depois destas observações, abri um pique na direcção S S O, descendo a serra pela margem di- reita do ''Veado Preto" ; contornando o brejo na direcção S O, encontrei próximo ao kilometro 54 o local onde o ribeirão ''Veado Preto" faz barra com um grande rio ; este rio tem ahi a largura de 25 a 30 metros, 2,"'5 de profundidade e uma velocidade de 6 kiloraetros por hora, correndo neste ponto o rio para O. Observando a direcção do valle e por con- sequência do rio, conheci que o dito rio não podia ser o "Cabixi" nem tão pouco o rio "Branco" e por esta razão dei-lhe o nome de rio "Não Sei". Continuando a picada até ao kilometro 56, para ahi mudei o meu acampamento a 22 de Outubro. Neste novo acampamento fiz explorações para S atravessando o rio para a margem esquerda e próximo ao pé de serra. Pela margem direita segui em direcção O N O até duas léguas mais ou menos. Verifiquei que o rio era navegável á canoa, e construi uma afim de o explorar, descendo-o. Quanto á formação geológica da zona explo- rada no "Veado Preto" é a seguinte: em cima da serra a formação é de terra arenosa, tendo em baixo uma camada de canga e marl arenosa ama- rella ; abaixo desta ha formação sedimentaria de pedra arenosa semi-crystallizada e em partes mais fundas, encontrei em alguns logares, argilla ama- rella e branca com uma camada delgada de casca- lho fino. No exame de todos os córregos desta zona não achei nenhuma classe de mineraes. En- contrei entretanto, abaixo da serra, seringueiras em abundância, boas mattas e terras de primeira ordem para cultura. Terminada a construcção da canoa a 6 de No- vembro, embarquei no dia 7 para descer o rio "Não Sei". Comecei a descer, tendo o rio a dire- cção approximada de N O. Próximo ao kilometro 60, pela margem direita, encontrei um peqqeno córrego ao qual chamei "Mutum'' e ao chegar ao kilome- tro 63 pela margem esquerda encontrei um ribeirão que nasce a S E, a que chamei ''Rosado'' ; neste ponto o rio corre em terras baixas, formando bre- jos em ambas as margens. Approximadamente ao kilometro 66, pela margem direita, encontrei outro ribeirão grande, que denominei "Borboleta'' (na volta, verifiquei que este ribeirão era o mesmo que a expedição de 1909 denominou "Ivirussú"); no mesmo rumo N O perto do kilometro 69, pela mar- gem esquerda desemboca um pequeno córrego, ao qual dei o nome de 'Taça". Verifiquei que deste córrego em diante o rio começa a ter o leito de cascalho, não o podendo examinar por ter muita agua. Neste ponto o rio toma o rumo O. Perto do kilometro 84 pela margem direita, entra um grande ribeirão ao qual chamei ''Cachoeira Perdida" ; neste ponto as margens são mais elevadas, porém em curta distancia ; o rio neste ponto toma o rumo S O, formando logo após grandes brejos em ambas as margens. No kilometro 92 pela margem direita en- tra outro ribeirão, ao qual chamei "Mutuca" ; ainda próximo do kilometro 97 o rio toma o rumo N O e próximo ao kilometro 102 elle divide-se em três braços formando duas grandes ilhas. Neste ponto encontrei grandes depósitos de cascalho. Ao chegar ao kilometro 104 o rio junta os três braços em um só. Perto do kilometro 106 pela margem direita encontrei outro ribeirão que deno- minei ''Capivara", tomando o rio neste ponto a direcção S. Próximo ao kilometro 108 o rio divide-se em dois braços formando uma ilha, vindo juntar-se no- vamente perto do kilometro 110. Deste kilometro em diante toma o rio a direcção O N O. Continuando a descer, encontrei ao chegar ao kilometro 125, pela margem direita, um espigão de terras altas. Neste ponto bivaquei, afim de exami- nar a formação e achei a seguinte: terra vermelha argillosa, sobre uma camada de cascalho com um metro e mais sobre piçarra e quartzo rosado. Exa- minando este cascalho encontrei ouro em quasi 8 todas as bateadas; este exame só fiz com o cas- calho das margens do rio, não o podendo fazer com o cascalho do fundo pelo crescido estado das aguas. Neste ponto o rio toma o rumo O S O e pró- ximo ao kilometro 135 pela margem direita, entra um córrego que chamei "Anta''; ahi encontrei ter- ras mais altas e parei um dia para examinar este córrego que corre sobre cascalho. Infelizmente, de- vido á muita agua, não fiz ainda desta vez o exame do cascalho do fundo do córrego. Examinei porém o cascalho das margens e encontrei ouro em todas as bateadas, sempre de 2 a 10 pepitas de ouro, algumas delias comparando-se ao tamanho de um grão de arroz. A maior parte das pepitas são re- dondas e têm entre os mineiros o nome de ''shof gold'\ O cascalho neste logar é principalmente for- mado de quartzo de diversas cores, misturado com cascalho quasi todo de formação crystallina, areias pretas (esmeril), argilla amarella e branca, com oxydos de ferro. A navegação até este ponto torna-se difficil devido ás muitas voltas do rio, forte correnteza e madeiras que obstruem o leito. Deste ponto em diante o rio toma o rumo OS O com terras altas pela margem direita e alguns es- pigões pela margem esquerda; a largura attinge a 50 metios e em alguns logares a 100 metros; a profundidade varia entre 6 e 10 metros. A forma- ção das margens é de quartzo rosado e em alguns logares de pedra basáltica com camadas de casca- lho em cima. Examinei diversos pontos sempre en- contrando ouro. Próximo ao kilometro 155 o rio toma rumo N O, com terras altas em ambas as margens ; faz numerosas voltas e tem pequenas corredeiras, sobre formação basáltica preta. Perto do kilometro 175 encontrei uma grande cascata. Cheguei a este kilometro na tarde do dia 14 de Novembro. Escolhi na margem direita um local e fiz ahi o meu acampamento. No dia seguinte, 15 de Novembro, explorei a cascata, a qual denominei "\5 de Novembro''. Verifiquei assim que a cascata tem uma exten- são de mais de 5 kilometros e uma descida de mais de 55 metros. Tendo que continuar a exploração descendo o rio e sendo impossível conduzir por terra a minha canoa afim de atravessar a cascata, resolvi con- struir outra abaixo da mesma cascata. Explorei então a margem direita, no intuito de achar madeira para nova canoa e não encontrando nesta margem, fiz a travessia para a margem esquerda juntamente com dois camaradas. Sempre procurando madeira, tomei o rumo O N O e a 3 kilometros encontrei um córrego que chamei ''Castanha"; a dois kilometros mais encon- 10 trei um ribeirão que denominei '"Cachoeira". Neste ribeirão, que corre sobre pedra basáltica preta, ha cascalho aurífero e diamantifero ; encontrei em ba- teadas ouro Hno. Entre as mattas ha muita casta- nha e seringueiras. A 17 continuei no mesmo rumo, chegando ao fim das terras altas; dahi em diante o rio forma um grande brejo nesta margem esquerda. Deste ponto regressei, devido á doença grave de uui dos meus camaradas, chegando ao acampamento da cascata no dia 19. Não tendo encontrado madeira própria para canoa em local conveniente próximo ao rio, resolvi fazer o resto da exploração a pé até ao Ouaporé. Assim pois, a 20 segui com dois camaradas pela margem direita a baixo, evitando as voltas do rio e com rumo N O. A 6 kilometros do meu acampamento encontrei um ribeirão correndo sobre pedra basáltica preta com cascalho aurífero e dia- mantifero e ao qual denominei "Agua Preta". Exa- minei o cascalho á margem deste ribeirão, tendo achado ouro fino e um pequeno diamante. Ao chegar ao kilometro 188 o rio toma rumo NNO, e cerca do kilometro 198 muda a direcção para NO; ao approximar~se do kilometro 220 o rio forma um grande brejo que se estende a ambas as margens, e as terras altas tomam então a dire- cção N. 11 Procurei então um ponto elevado, e por uma abertura grande do brejo avistei um rio grande que vem de S E e corre em direcção O N O. Do outro lado deste rio, a uma distancia de uma légua e meia, mais ou menos, avistei terras altas, e que correm no mesmo rumo deste rio. Devido porém ao crescido estado das aguas, que enchiam o brejo, foi impossível a travessia dos mesmos, não podendo por isso chegar até a barra do rio ''Não Sei'' com o ''Guaporé". Regressei pois, deste ponto, com meus cama- radas bastante doentes e segui em direcção ao meu acampamento da Cascata, que alcancei á meia noite de 25 com grandes difficuldades ; ahi chegando encontrei outro dos meus camaradas bem mal, ficando assim com um único camarada com saúde. Permaneci no meu acampamento e dei começo á exploração ao mesmo tempo dos meus camaradas. No exame a que procedi na zona da Cascata durante estes dias, achei a formação seguinte : terra vermelha argillosa, e uma camada de cascalho de 1 a 4 metros de espessura sobre basáltico preto. Verifiquei também, ser esta a zona onde as tribus indígenas vêm fazer seus machados de pe- dra. Toda esta zona é atravessada por trilhos de Índios, mostrando signaes de muito transito. Diversas vezes encontrei indios, sendo impos- sível fallar-lhes, pois fugiam á minha approximação. 12 Brindei-os varias vezes, deixando nos trilhos, ma- chados, facões e facas que elles levaram. Nenhuma só vez impediram a minha marcha, nem as minhas explorações, tendo-os visto diver- sas vezes bem próximo ao meu acampamento. A 2 de Dezembro, tendo melhorado o estado de saúde dos meus camaradas, com excepção de um que continuou bastante doente, e estando os outros bons enfraquecidos pelas febres, achei im- possível continuar a exploração para baixo, resol- vendo por isso, regressar á estação de "Álvaro de Vilhena". Embarcámos nesse mesmo dia em canoa para subir o rio; porém, devido á fraqueza do pessoal e a uma forte corredeira, perdemos a nossa canoa, conseguindo salvar apenas as nossas armas com a munição com que estavam carregadas, e 12 litros de feijão, dando-se este facto 5 kilometros acima do acampamento da Cascata. Sendo pois quasi impossível coutinuar em canoa, devido também ao crescido das aguas e continuas chuvas, resolvi se- guir a pé para Vilhena pela margem direita. Segui- mos pois, a 5 de Dezembro, tendo que conduzir um dos nossos camaradas a braços, por estar gra- vemente enfermo. Partindo approximadamente com rumo N, se- guimos por terras altas, não tocando o rio. Somente a 7 tocamos o rio, perto da barra do 13 córrego ''Antas" ; dahi tomámos a direcção N O, atravessando um brejo de 11 kilonietros de exten- são. Encontrámos outra vez terras altas tomando rumo N na distancia de 2.500 metros e em seguida ENE até ao pé da serra e dahi S na distancia de 3000 metros. Em seguida, subimos a um morro alto onde avistámos três serras, ás quaes demos o nome de *Tres Amigos''. Descendo a serra tomámos rumo E e a 4000 metros encontrámos um pequeno córrego, que corre entre grande deposito de cascalho; não tendo ba- teia para examinal-o, achámos entretanto, uma pe- pita de ouro. A este córrego, que é tributário do ribeirão ^'Borboleta'', denominámos ''Bonança". Seguimos depois com rumo E por 10 kilome- tros e depois rumo N na distancia de 2.000 metros afim de evitar um brejo. Marchámos em seguida com rumo E S E por 7.000 metros e em seguida E até o pé da serra, por onde passa o ribeirão "Borboleta" e mais dois seus tributários. Neste ponto subimos a serra e tomámos rumo E S E, até o acampamento do "Veado Preto", onde chegámos a 16 de Dezembro. Em toda esta zona que atravessámos, verifi- cámos que: a zona crystallina tem a extensão, 14 mais ou menos de 15 léguas de largo e que a for- mação tem a direcção NO a S S E. Em vários logares onde a formação apparece em cima do terreno de alluvião, encontrámos vários veleiros de quartzo, e em outras partes grandes depósitos de cascalho, dando signaes de mineração e que não pode examinar por falta de elementos. Em todas as terras altas, fora dos brejos, achámos mattas magnificas e seringueiras em toda esta extensão. Desde a sahida da zona da Cascata, até o ribeirão ''Borboleta" não encontrámos vestígios de Índios. A 17 sahimos do acampamento do "Veado Preto'' e chegámos á estação de ''Álvaro de Vi- lhena'' a 19 de Dezembro. Na travessia do acampamento da Cascata até chegar a ''Álvaro de Vilhena", cahiram com febre successivamente todos os meus camaradas, com excepção de um único. Desde a partida da exploração, que foi a 30 de Setembro, até a sua volta e chegada a "Álvaro de Vilhena" a 19 de Dezembro, não se passou um só dia sem chuvas, que recrudesceram á medida que nos approximavamos do Guaporé. Devido a isto e a grande enchente dos rios e córregos, alliada ao máo estado sanitário do pessoal, foi impossive I fazer exames mais minuciosos na zona aurífera 15 para conhecer approximadamente o seu valor. Pelo exame a que procedi, posso quasi affirmar que se fôr feito outro, com elementos indispensáveis e em tempo de secca, examinando os leitos dos rios e logares fundos, os resultados serão magníficos, nâo duvidando que nesta zona se achem guardadas as minas importantes, conheeidas dos antigos no No- roeste de Matto Grosso. A exploração feita, não foi mais que um pre- liminar e somente para a descoberta da zona mine- ralizada. Falta-nos só outra exploração mais minu- ciosa, para que sejam achados os valores e os centros auríferos. Quanto ao máo estado sanitário durante a ex- pedição, estou certo, não foi devido á zona atra- vessada, e sim devido á pouca pratica do pessoal, á estação chuvosa, pouco agasalho para o pessoal e a escassez de viveres quasi ao terminar a expe- dição, tudo isto explicável pela grande difficuldade em transportar, nesta pequena exploração, o neces- sário, em vista do reduzido pessoal e ausência de tropas de anímaes, que não se podia levar a atra- vessar grandes mattas e numa exploração pre- liminar. Infelizmente ao perdermos a nossa canoa, per- demos também a nossa caderneta de levantamento, porém tivemos a felicidade de salvar a copia bor- dão do levantamento geographico e que sérvio para 16 a confecção da carta que acompanha este relatório, que é exacta em todos os detalhes geographicos e mineralógicos, que é possível fazer, sem observação astronómica e barométrica numa exploração pre- liminar. E' este o pequeno relatório que tenho a honra de vos apresentar — resultado dessa exploração preliminar, realizada em época não muito própria; procurei entretanto tornal-o tão minucioso quanto possivel. Entregando-o pois, á vossa esclarecida apre- ciação, tenho a honra de subscrever-me vosso admirador e amigo attencioso, sempre ao vosso dispor Francisco Moritz Eng. de Minas II REIjSTORIO DA Exploração da zona comprehendida entre os rios Commemoração de Ploríano e Pimenta Bueno por Francisco Moritz Engenheiro de minas Effectuada em 1913 ^--<^ffí^--^ senhor Coronel Cândido Mariano dã Silva Rondon — Digníssimo Chefe da Commissào de Linhas Teíegraphicas ês« trategicas de Matto Grosso ao Amazonas. Tenho a honra de vos apresentar o resultado do exame que fiz na zona comprehendida entre os rios ''Commemoração de Floriano" e 'Pimenta Bueno". Depois da expedição ao rio ''Guaporé" e da minha chegada á estação de ''Vilhena", ahi me de- morei até 25 de Janeiro de 1913, afim de esperar o restabelecimento dos meus camaradas que vieram doentes. Parti pois, a 25 de Janeiro para a estação de "José Bonifácio", onde cheguei a 1 de Fevereiro. Demorei-me nesta estação até 5 de Março, época em que as chuvas começaram a diminuir. Neste dia parti, e, segundo vossas instrucções, segui em direcção ao rio "Barão de Melgaço", afim de examinar a zona comprehendida entre os rios "Commemoração de Floriano" e "Pimenta Bueno", tendo levado apenas quatro, dos onze animaes que escaparam á peste de cadeiras. 20 Chegando ao ''Commemoração de Floriano'' a 10 de Março, ahi me demorei até o dia 20 con- struindo uma canoa para atravessar o rio, e des- cançar os animaes que estavam bastante fatigados. A 22 deste mez cheguei ao rio ''Barão de Mel- gaço", onde fiz meu acampamento, tendo que en- viar os quatro animaes, completamente cançados, para o córrego do ''Campo". Comecei immediatamente o exame da zona, examinando o rio "Barão de Melgaço" e seus tri- butários, numa extensão de duas a três léguas, encontrando formação de granito micacioso rosado, tendo a superfície decomposta, devido á oxidação dos sulphuretos de ferro, que entram na composi- ção deste granito. Sobre o terreno de alluvião, encontrei em al- guns logares cascalhí) de antiga lavagem. Examinei todos os córregos desta zona até encontrar a formação sedimentaria formando capa sobre o granito, não encontrando nenhum vestigio mineral. Verifiquei porém que as terras são de alto va- lor para a agricultura e as reputo como sendo as melhores em toda a extensão da linha telegraphica. Continuando a exploração para o O examinei vários cónegos tributários do "Pimenta Bueno". Em alguns logares onde a formação é descoberta, encontrei granito porfiritico e alguns filões vistosos, 21 não encontrando ainda vestígio algum de mineral, o que penso ser impossível encontrar nesta classe de formação, corroborando a minha affirmativa o facto da descoberta da cinta mineralizada encon- trada na exploração do "Guaporé" e que passa de 15 a 20 léguas da zona explorada no ''Barão de Melgaço''. Depois dos exames feitos nesta zona, não sendo possível a continuação da exploração para o lado da cinta mineralizada, por falta de elemen- tos necessários, como anim.aes, etc, e tendo ainda que atravessar grandes brejos impossíveis de tran- sitar, resolvi voltar á estação de "José Bonifácio"; não o podendo fazer por me faltarem animaes para o transporte das cargas, esperei a vossa chegada. Neste intervallo (fins dos meus exames e vossa chegada) tive occasiào de travar conhecimento com a nobre tribu dos Kepi-Kiríuátes que me surprehen- deu agradavelmente, pela sua civilização relativa, cavalheirismo e nobreza de sentimentos. Intelligen- tes, sagazes, esses indios trataram-me como ver- dadeiro amigo, procurando ainda com insistência conhecer a nossa lingua. Não achando, debaixo do ponto de vista mi- neralógico, importância na zona examinada, deixei de fazer o levantamento, pois melhor será feito pela Commissão que atravessa a mesma zona. Com o fim de auxiliar o vosso patriótico in- tento de abrir esta riquíssima zona por onde atra- 22 vessa a linha telegraphica, ao traballio dos nossos conterrâneos, extrahi durante os dias em que estive em ''José Bonifácio", das suas riquíssimas manga- beiras, uma amostra desta seringa, que entreguei em nome da Commissão Telegraphica, com destino á Exposição de Borracha, a effectuar-se em Setembro no Rio de Janeiro. Entrego-vos pois, o resultado do pequeno exame que effectuei na zona comprehendida entre o *'Commemoração de Floriano" e ''Pimenta Bueno", segundo vossas instrucções, e estou certo de que sois conhecedor das difficuldades com que tem de luctar uma pequena expedição nestes sertões, e que por isso não levareis em conta algumas falhas, nascidas destas mesmas difficuldades. Assim, submettendu á vossa competência e illustração, o resultado deste pequeno exame, tenho a honra de assignar~me vosso admirador sincero e amigo, sempre ao vosso dispor, Francisco Moniz Eng. de Minas .45' :.-5M->. :W: :^^. ■m: ■'4r-;?í^í/.' ,>i' !i'v>'' Via' ■•)' "^^ /■■ ■jSSS^B oica» 33rdenUt.'3'V ggO \ t.«5líf^«.'>^íS 4256