/y. y^y^ 0 INSTITUTO Cx^i ■^T^i^i^-Tf^ C-^<^^ <>» - U^>-»^»'*-*'-^V*c :^ JORNAL SGIENTIFIGO E LITTERARIO VOLUIUE PRIMEIRO X". COIMBRA IMPRENSA DA CNIVERSIDADE 1853 INDIGE ALPHABETICO DO PRIMEIRO VOLUME DO II\STITUTO Agricultura da Toseana 188 Amor paternal (o) 25 Anncis de Salurno 239 Associacoes de beiielicencia, clc. em Coimbra 14, 41 Assumptos para as discussoes e mcmo- rias do Inslitulo 206, 21S, 22S AstroDomia 181, 198, 221 Balmes 124 Bancos agricolas 53,237 Banhos de Lu-^o 5. 16, 29, 43, 52, 60, 72, 80 Bibliographia.. 65, 76, 97. 164, 184, 214, 234, 244, 258 Boletim dolDstitulo 175, 185, 195, 205, 215, ■225, 235, 245 Caminbos de ferro 121 Calao de Ulica 57, 68, 87, 102 Calholico (ao) 142 Chimica, descoberla d'um molal . .. 191 Cbristianisnio (o), a egreja, e o progresso 207, 226, 247 Classe de Lilleratura 205, 235, 245 de sciencias moraes 205, 225 — — physico-meihematica 215 Credito territorial 140 Curses de leitura 235, 247 Divorcio (o^ 94, 107, 120 Egrejii dc Sanrt'Iagode Coimbra 42 Ecor.omia politica 108 Enterramenlos en> Coimbra 239 Escriplores de Direito hispanboes .... 223 Escriptura repentina 250 Estadista academica 36, 183 (resiimo de prclecjoes de).. .. 33, 55 Estrella (a) 11 Estudos Geologicos do Bucaco 91, 119, 142, 102 Faculdade de Direito cm 1851—52 . . 90 de Matbematica em 1851 — 52.. 153 prograninias de Cursos 183 Fernando II (o sr. D.) como foi recebido em 1836 pela universidade 103 Bygiene piiblica 117 Hynino ao irabalho 14 Joao III (D.j, sen recebimento na uni- versidade 21, 37 InQuencia das cruzadas na civilisacao 185, 215, 228, 236 Inglaterra (a), poesia 49 Inedictos portuguezes 214, 217, 230 Instruccao primaria 145 publica 7, 19, 161 Instrumentos do Observatorio 45 Inlroduccao Lamartine — a soledade, trad. a ISlvira > . . a noite » . . a iiiimortalidade .. ».. 0 valle » . . a medilacao » . . 1 3 39 77 .. 123 .. 138 182 0 christao moribundo » 212 Bonaparle » . 2 iO Leitura repentina 104, 174 Lusiphneida (a) 89 Lua (a), vers^ao de Zoi-illa 67 Mnppa dos liospilaes da universidade . . 134 .Marquez de Ponilial, diario da sua vinda a universidade 70, 77 Memoiias da universidade 192, 202, 242, 252 Mosieiro de S. Jorge 99, 1 1 .'» Nalureza e oiigem da linguagem, e es- criptura 212 Nuliciario scientifico • • 257 Origeni (la lingua portugucza • . Ill, 156, lOti Paginas da vida intima . . 4,11, 50, 157, Ki.'l Palnicirini (L. A.) )9.S Parallaxe das eslrellas i> Pedro II (D.), sen recebimento pela uni- versidade 47 Pena de mnrie em Inglaterra 7i Pbiloso[iliia do direilo em Portugal.. S. 31. 02, 177 moral (elenientos) . . . . 82, 105. 128, 150, 172 Physica 81, 197, 2I!t Poesia dramalica 26, 39 do solTrimento 3, 23, 147 Ponle de Coimbra ....... 233, 255 Popiilacao do disiriclo de Coimbra .. IIH Prinieiro do Outubro (o) 1 3.'> Prograninias de eursos 225, 235 Proudhon e a Economia politica . . 75, 85. 131, 158, 189, 2IS Rellexoes sobre a Encyclopedie moderne . 176 Regulanienlo dos Ciirsos de Leitura . . 195 Uelatorio annual do Insiituto 196 Sebasliao (D.), seu recebinienio na uni- versidade 37 Socios honorarios 16 Sombra de Portugal (a) 15a Syslenia de montanhas de Beaumont . . 181 Universidade de Coimbra 6i de Koenigsberg 5S Veterinaria 179, 209, 219 Vida dos Arabes I3S Villa nova de Gaia (poesia) 126, 146 ® Jn^tittttrr^ JORi\AL SCIENTIFICO E LITTERARIO. IKTRODUCgAO Se 0 credito e a duraeao de um jor- nal dependessem de pomposas promes- sas, a nenhum faltariam os leitores; ne- nhum acabaria exlemporaneamente. Se houvera de julgar-se de seu merito pelas primeiras paginas, poucos deixa- riam de merecer admissao, nao diremos ja nos camarins e saloes, mas nos gabi- netes e nas bibliolhecas dos sabios. Obra em piinci'pio quasi sempre de poucos, 8 esles animados de zelo, dedi- cagao e esperanga, mas, carecendo de trabalho de muilos na conlinuagao, raro e aquelle que nao falte ao promellido; e que, passado cerlo tempo, nao desap- parega. 0 Instituio, allontando no logar de seu nascimcnlo, nas habililagoes e boa vonlade de seus collaboradores, e nos grandes talenlos e luzes detantos profes- sores, lillcralos, e esludiosissimos man- cebos, que se dispoem a coadjuval-os, podcria eguahnenle promeller muito. E mellior porem que, em vez de pa- lavras, as obras o acreditem. Em principio bastara dizer sua ori- gem, e o fim a que se propoe. Os membros e socios do Institute da Academia Dramatica, desejosos de alar- gar OS limites d'esla sociedade, subordi- nada a mesma Academia, resolveram no principio d'este anno constituil-a inde- pendente, tendo por fim geral a cultura das sciencias e lettras, — composta de Vol. I. Abril 1.° Ires classes, de sciencias moraes e po- liticas, — physico-malhematicas, — e de litleratura, bellas lettras e artes, e com 0 nome de Institute de Coimbra. Coadjuvar a Academia Dramatica na censura das pegas e nas representagoes theatraes, ate entao o principal objecto, ficou sendo secundario, posto que muito em vista para desempenhar-se prompta e conscienciosamente, quando a mesma Academia o deseje. Os novos estatutos, reproduzindo o disposlo nos anleriores, ao qual a Re- vista Academica, com muita bonra para seus redactores, por algum tempo deu cumprimenlo, ordenam a publicagao de um jornal scientifico e lilterario. A direcgao, apenas eleita, encarregou a uma commissao as providencias neces- sarias para o desempenho desta tarcfa. 0 — Institnto — e o resultado dc seus trabalhos ; e os redactores, sem outro intuilo, nem mais inleresses que os da sociedade, a que muito se honram de pertencer, nao se consideram senao co- mo seus mandataries. Os trabalhos das Ires classes; quaes- quer oulros escriplos, respeclivos a al- guma d'ellas, e de reconhecido merito, tante dos socios, come de extranhos ; e junciamenleasmais imporlantes nolicias scientificas, litterarias, e arlislicas, que possam obter-se, occuparao as columnas do Instituto. Publicado no seio da primeira corpo- racao scienlifica de Portugal, e redigido —1832. Num. I. 0 INSTITLTO por pessoas que se prczam e gloriani do nome de sous fillios, duo soQieiilc pu- gnara, sempre que for mister, por seus legitimos inlcresscs; mas pulilicara com prct'erencia quaulo respeilar de mais iii- tcressanle ao passado, presente, c futuro da Universidade. Que 0 Inslituto e absolulamenle ex- tranlio a polilica, manifesta-o seu lilulo. Esla exclusao sera rigorosamcnle maii- tida. A defensao lanlo da religiao do csta- do e da boa moral, luz e fundamenlo da sciencia, como da Egreja, meslra da ver- dade, o Institnlo preslara de bom grado suas columnas. Jamais a impiedade, a caliimnia, c qualquer personaiidade, por mais enco- berta que se apresenle, qualquer que scja a forma que tome, sera admitlida. As felices leiidencias do seculo nao lolcram, que a sciencia se cubra com os vcus do mysterio. Se Deus perraitte ao sabio descobrir as leis da nalureza, phy- sicas, moraes e sociaes, nao c para fo- menlar seu orgulho, mas por interesse da humanidade. A aristrocracia da scien- cia nao e toleravel, senao quando se ex- erce do bem publico e na geral illuslra- Cao. Hoje 0 liomem que nao pode seguir OS cursos publicos, aquelle que se ve forfado a volar loda a cxislencia as fa- digas corporaes, o humildc arlifice, o la- borioso operario, tambcra qucrem saber. E a razao, a cxperiencia, o eslado social, a nalureza das insliluigues e dos gover- nos, c as urgonlcs neccssidades gcraes da espbcra polilica, juslificam esle de- scjo: mais ainda, ordenam imperioso- mentc que se salisfaga. Ao jornal scienlifico e litlcrario cabe uma parte, e nao pequena, d'esta nobre missao. Por cllc so communicam em lin- guagem facil, despidas do apparalo das escliolas, as nogoes fundamentaes de lo- dasas sciencias, aos que nao podem pro- fundamenle cullival-as. Os redaclores do InUiluto, inlima- menle convencidos d'eslas verdades, e animados de sincere zelo pela sancla causa da educajao e inslrucQao do povo, reconbecem e acceilam esla nobre mis- sao do jornal lilterario. Coimbra, 15 de Mar^o de 1852. A. FORJAZ. 0 INSTITLTO A SOLEDADE (Traducfuo da 1.' Medlta^ao Poetica de Lamarline) No carconiido tronco de um carvalho, Quando o sol ja dcclina, Mergulhado em liisleza, eu voa sentar-me No cimo da collina ; D'alli derramo as vistas desvairadas Dos campos pelas sceffSs variadas. Aqui freme, cspumoso, um rio em vagas; E em giros de serpente 'Num borisonle ol)scuro vae sumir-se; 0 seu crystal dormente Alem um lago espraia, reflectindo De Venus o fulgor, que vem surgindo. Na crista da moutanha, coroada De denso bosque umbrosa, Do sol ainda um raio se divisa; E 0 carro vaporoso Da rainha das sombras vem rodando, As raias do horisonte branqueando. Do campanario gothico vibrado, Um som quasi divino A orajao convida, e ao reponso, Canjado percgrino. Com 0 tinir do bronze harraonioso 0 dia se despede, suspiroso. Desgostosa, insensivel, a minh'alma, Sem lixar-se, vagueia ; Com 0 prazer d'oulr'ora, 'nestes quadros, Tristc ja nao se enleia ! ! Olbo a terra, qual sombra espavorida! Os raortos nao aqucce o sol da vida. De collina em collina vagueando, Do sul ab aquilao, Meus olhos, desde a aurora ao occidente Tud« rorrcndo vao : E eu digo: — niiniia vista em vao procura, Em sitio algum depara c'o ventura. Estes valles, as rochas, os palacios, E as chocas do pastor, Para mini vfios objectos sem encanto, Nao tern ncnhum valor: Sem um ser que vos falta, amenos prados, Rios, bosques, . . . sols ermos escalvados. Quer 0 giro do sol va ter principio, Quer estcja a findar, Eu, insensivel senipre, pelos ceus 0 vejo caminhar. Quer sumido entre nuvens, quer radioso, Qu'iniporta o sol e o dia ao desditoso? Ainda que era seu gyro eu o seguisse Dos ceus pcla extensao. Meus olhos sequiosos so veriara 0 vacuo, a solidao: De quanto cobre o sol nada appeteco, Ao mundo inteiro cousa alguma peco. Para alem d'estes mundos, 'noutra esphera, Onde um Sol mais brilbante Outros ceus, outros astros alluraia Com luz mais fulgurante, Se a terra, o que e da terra abandonassc, Talvez que os meus desejos contentasse. La daria co'a fonte, que so pode Saciar meu ardor : So la realisara a rainha esp'ranca Os meus sonhos de amor; Esse prazer ideal, que a alma anceia, E que a lingua dos homens nao nomeia. E eu porque nao posso, remontado Sobre os carros da aurora, Ir unir-me comtigo, 6 caro objecto, Por quem minh'alma chora? Eu que faco no exilio; que me encerra, Sem um so laco, que me prenda a terra? Quando no outomno as folhas resequidas Cahem murchas no cbao, Bern longe, pelos carapos, as dispersa Da tarde o furacao; Eu sou tarabera, qual foiha resequida: Arrojae-me, aquiloes, alem da vida. A POESIA DO SOFFRIMENTO Morle ti chiama ; al cominciar del giorno L'ultimo iostante. Al nido onde ti parte, Non tornerai — GIACOMO LBOPARDr. Muito tempo linha passado, depois que o sol raergulhara a fronte d'ouro nas aguas do Oceano. Os horisontes comecavam de trocar suas cores de purpura pelas sombras do fim do crepusculo. 0 vulto grandioso da noite descia rapido das nuvens do Orienle; e a lua, involta em niysteriosas nuvens, desponlava nos ceus! Grazeilda adormecera, scnlada sobre o lei- to. Seu gesto cadaverico, reclinado sobre o collo, ostentava uma fronte larga, pallida e melancholica, onde as terapeslades do espirito, era seu Iransito rapido e violento, tinham gravado bem profundos vestigios. Longos e negros cabellos fluctuavara sobre os hombros da virgem, que, a luz duvidosa do fim do dia, pareciam desenhos phantasticos 'nuni fundo de alabastro. 0 peito, sobre que descansavam seus bra- cos, exhalava uma respiracaolenta, convulsa, febricitante.... 0 INSTITUTO A. phlhisica consumia as lillimas forras de Grazeilda, e a morle batia-Ihe as portas do corafao. Aospcsdoleitoestascntado um mancebo.... Os circulos lividos que llieciiigem os ollios, as sombras que Ihe passam no semblanle, bera niostrani, que csgoiliira ale as fezes a taca das amarguras huinanas. Cravando os ollios no gesto immovel de Grazeilda adormecida, ia tiraudo de uma bar- pa accentos trisles c melodiosos, como o mur- niurio da aragem da soidao, como os suspiros inlimos de uma alma inferma. Nao longe avultava um liomem de presenca altiva e composta, riso frio c mephislophelico, — rcllexo de uma alma agitada e forte. Conlemplava, absorlo, atraves das janellas do aposenio, as vastas planicies do mar, que ao longe desinrolava suas elernas aguas. — Pedro! — 0 mancebo estreraeceu violeu- lamenle. — Grazeilda! ... — Porque nao canlaes? — Canlarei ! .... 0 mancebo enloou um canto, que compo- zera nos dias fugilivos de sua veniura. Sua voz robusla e melodiosa encbeu os ares de vibracOes, e acordou os echos do valle. Grazeilda estava immovel, como a estatua de um sarcopbago: apenas de quando em quando o pensamento Hie passava e rcpassava no semblante. A fronte de Sexto, que ha pouco descreve- mos niais se aunuviava a cada accento do canto do mancebo. E canlou assim : « Lua, rainha das noiles! derrama tcu cla- rao limpido e suave pelas campinas e pelos valles ; banha de luz o alcantil e a serra : beija as vagas do Oceano, falla-lhes de amor! Es bella! quando, involla em ncbulosos e diaphanos veus, iiiclinas a fronte para escutar OS estremecidos juramentos as vozes do coracao, (]ue oscspiiihos da saudade niagoam e dilacerain. Es sublime! quando ergues tua fronle real no iiieio de railhOes de muiuios, que o Eterno suspcndcu no espaco, para fazereni o corlojo da tua gloria ! Amo-te, 6 lua! porque me ensinasle a sen- tir as iiitimas emocoes do amor; porque lu es a imagem da affeicao pudiliunda e iiiyslc- riosa, que eacbe de gozos iiiell'aveis o espirito virgem c imraaculado. Amo-te porque despes o mundo da reali- dade grosseira e material para povoal-o de sombras phantasticas, barmonias, e myste- ries. Amo-te mais que ao sol: porque, se elle ostenla uma coroa de fogo rutilante, lu, pura c melancbolica, derramas leu brillio suavissimo nas boras silenciosas e porfumodas da nolle! Tu 6s 0 astro dos que soffrcm, como o sol e 0 astro dos felizes da terra. Quando brilhas no ceu, vae o desventura- do, para quern niorreu a esperanja, huracde- cer a campa da mulber, que amou : e os pran- tos, que doresinlimas repassaram de agonias, molham essa pedra fria ; ao passo que tu , escondcndo tua face brilhante no seio das nuvens, pareces chorar com o iufeliz as illu- sOes do amor! Tu conbeces todos os annaes reconditos do espirito, que os seniimentos embriagam, que as paixoes dilaceram. Acollies as confidencias do amor; c nao vaes olTerecel-as a iriisao das turbas, trabindo a amizade, que te ere sancla. Escutas 0 respirar das selvas nas boras, em que o Eterno poz a nalureza o preceito do descanso. Prestas o ouvido as notas aereas e fugitivas da harpa dos ventos.... Beijaso calix dasnore3,que aguardani, pal- pilantes de amor, os teus brillios, para abrir seu seio e perfumar as brisas da nolle. Es 0 niyibo, o symbolo do ideal, do subli- me, e do niyslcrioso: quando illuminas o uni- verso, a almadopoeta, desprendida da terra, vae nas azas da phanlasia sondar as regiOes descoubecidas do espaco... Continua CUILHEBMINO AUGUSTO. PAGINAS DE VIDA INTIMA I A parlida Adieu, adieu 1 mj native sh^re Fades o'er the ^^a^ers bine. Tlie nislil-winds .sifrli, llie breakers roar. And sliiieks the wild sea-mew. Yun sun that sets upon the sea We follow in his fligtil ; Fare^\ell awhile to him and thee. My native Land — Good Nifiht! Lord Btjron. Navega no Oceano, nieu Undo brigue S. Bernardo, coiu as tuas velas de lino linho, com as luas eordas lao delgadns, com os teus maslros de rico cedro, apparelbados nos esla- leiros da Figueira, onde nasccste a claridade suave d'uni dia de verao. Espriguica leu lizo coslado na superficie azukuia das vagas, que le cercam para le acalenlarent no seu ninho de brancos follios d'eseuma: a lormenia, que le ha de rasgar os pannose quebrar os maslros ainda esla longe.' Dornie socegado, meu bello navio, a luz das eslrellas, que alumiam o iir- mamenlo. As pallidas lintas que veslem aquella parte do liorisonte, escondida enlre as nuvens, apagaram-se com os ultimos raios do sol. E a ' Este navio perdeu-se nas alluras da Ilha do Pico. 0 INSTITUTO hora do remanso. Ouvem-se vozes confusas, que augmentam, diniinueni, recresceni efinalmente morrem no silencio. 0 horisonle esta bordado de nuvemsinhas diaphanas, cor da espuma dos mares. Deixamos assim atras de nos as montanlias do arcliipelago, que se ergiiem, como sombra? gigantescas, no meio do Atlanlico. Apenas se divisava ao longe um vtilto negro, que se debrucava nos rochedos, devassando o seio das nuvens com seu capacele de bronze, com seus bragos de ferro cstendidos para o mar, com a cortina azul de mil ouleiros, que fecham seu largo borisonte. Era o cadaver d'um velbo castello dos Ajores As oscillagoes, que faz o navio 'naquelle chao linipido e sereno, dao a esta scena um caracler languido e triste. Poucos minulos de- pois 0 leme era amarrado a um cabo; e os balanfos cessaram. Tudo dormia, menos o homem do quarlo, que murmurava uma can- cao marilimado cabo da Boa Espcranca. Oiivia- se porem de vez em quando um pequeno rumor, que um observaJor mais altento lomaria por um gemido mal contido. Agouro ou preseuti- menlo, aquelle gemido parecia vjr banhado em lagrimas. Ao pe d'uma lampada, a arder no fundo da caniara, esta um joven, pallido, mudo, trislc- mente immovel. Sao negros seus cabellos. Seu olhar briiha 'num d'esses pensamentos, que lancam faiscas. Sua voz era doce ; mas o franzidq da sobranceliia indicava alguma cousa de singular e inexplicavel. Um simples mo- vimenio dos labios e muitas vczcs signal de paixoes ardenles. Puz-me a observar csie jo- ven, que um acaso me fazia encontrar, c cu- jas faces pareciam ja desbotadas. Absorlo em profundo pensar, a cabeja pcn- dia-lbe sobre o peito, agilado d'um tremor convulsivo. Ergueu-se poucos momentos de- pois, .e subiu a amurada do navio. Notei, que as veias da testa Ibe baliam com violen- cia ; perguntei-lhe a causa de seu sofTrimento. Estremeceu, quando viu que alguem o obser- vara. Depois, approximando-se de mini com gesto admirado: Ah ! pois nao sabeis, me disse elle, 0 que sao as aguas, que redeclem o raio que se levanta nos rochedos da pnlria; o voo da ave, que nos passa por cima da cabcca ate se aninhar na roupageni da moatanha; o latido do cao, repetido pelos echos davalle; deixar 0 berco natalicio, e a sancta mulher, que nos embalou nos brajos, como lilho de suas entra- nhas e de sua alma? <(VMes alem, conlinuou elle, aquelle ponto sombrio no espaco? E o paiz dos mens amo- res de menino, dos folguedos da niinha inl'an- cia. Aquellas cintas escuras, que de vez em quando surgem no ceu, sao as minhas nion- tanbas, cercadas de musgo e verdura. As nu- vens negras, que passam ao longe, sacudidas pelo vento da lempeslade, os frondosos pinhei- ros, que eoroam a casa em que nasci. E ainda me perguntaes o que eu faco aqui, a eslas boras, quando a vaga, a que succede a vaga, nao tarda a arrojar-nos para longe d'aquella terra da patria?» E, dizendo estas palavras, virou-nie as cos- tas, com OS olhos semprc cravados nohorisonte. Debalde quiz tcr com elle uma explicarao, I'oi insensivel a tudo. No dia scguinte, quando me levanlei, perguntei-lhe, se estava ja res- tabclecido de seu pesadelo. iResponduu-me com um leve sorriso. Encostado a um cabo do navio, divertia-se a ver a onda a despedacar-se 'naquelle fragil lenho, fabricado por niaos dos homens contra a furia dos elementos. Mas para onde caminbava assim este joven a merce dos ventos? .... Continna. ALEXANDRE MEIUELLES. OS BANHOS DE LUSO Os Banhos de Luso, no Concclho da Mea- Ibada, Dislricto de Coimbra, eslao siluados na encosta occidental extremidade N. da serra do Bucaco, entre as duas aldeias, o Luso da Egreja e o Luso d'Alem. Na parte mais elevada d'esta incosla, fica a mala do Bujaco ; cujo arvoredo e limiiado pelos muros da cerca, fora dos quaes apenas se ve escasso malo, e rocbas denegridas. So para este lado occidental apparetem pinheiros, epoucas oliveiras. Maisabaixo nos dois Lusos, e mesmo em roda dos proprios banhos, comeca 0 bom lerreno, deslinado a cullura do niilho, abundantemente regado da fonte de S. Joao. Este local nao e desagradavel ; e o passeio da mata recreia muito os banhistas, e tern seus encantos para o doente hypocbondriaco. IVoticia topograpiiica e gcologica da Hcrra s_ que salvam muilas vezes urn tlironu on uma iljnastia. Nau faitou tambem, quern itivulvesse os Jesuitas 'neste fatal negocio; e, sera remontar a onlras causas, viu-se nas provas avratijadas pelo marquez de Pombal, que sabemos era empenhado em derrubar nausoa nobreza, masaqtiella sociedade, cujo puder na America, na Asia, e na Europa, tomava enliio dimensoes giganlefcas, urn documento ir- refragavel da cumplicidade dos jesuilas na conjura^Iio contra a vida do rei. Quizeramos porem n(js, que preziimos primeiro que tu- do a verdaile, e rejeilAmos com indigna^ao esse principio, de que tantas vezes se tern feitu alarite, mesmo 'neste se- culo de progresso e illustra^ao, que todas os meios stlo bons^ Com iauto que se cansigam os fins, que antes de se lan(;ar o odioso d'ura crime ou subre um homem, ou subre uma corporagao, se invesligassem primeiro os ar- tigos do processo e se ouvissem os accusados; que se fo- Itieassem as paginas da historia d'aquelle tempo, e me- dttando depois no remanso do gabinele, se proferisse eii- tao a8eoten(;a. i\ao o Dzeram porem assira os nossos sa- bios e profundos pensadores ; que, cerraudo os ouvidos aos gritosdo reu que luvocavao seu direi to de legl lima defeza, sentencearam-no sem provas ; e deram, qiianto a nos, um signal evidente da sua ignoraiicia e ma fe. Nao sejulgue porem, que pretendemos votar-nos a um traballio, para a execu(;;io do c|iial, cunfessiimos, siio so- bremaneira escassas as nossas for^as ; limitdmo-nos aqui tao soniente a prolestar contra a senten^a, que involveu OS jesuitas no mesmo jirocesso dus Tavoras. Mas os jesui- tas eram os coufessores dus Tavoras ? Que signiGca porem isso para o caso em questao? Nao o eram elles lambem de muitas outras fainilias nobres, que niio se acharam involvidas na conjura^ao? Parece-nos, que, prucurando mais longe a causa d'esse odio da nobreza, que no reinado de D. Jose I subiu ao seu raaior auge, se poderiam apanhar os flosd'este mala- ^'enturado processo. Porque nao seria a senlf.'nQa, (jue no reinado de D. Joao V expulsuu niuitos nobres para o interior do reino. a principal causa d'esse odio? Para queni ve os faclos alraves do prisma das preoccupa(;oes ; para quem nao sabe o tpie e este longo e penosissimo tra- ballio d'escrever a historia, isto nao [lassari d'lima mera suppusii^ao, que desapjiarece diante do facto nu, palpi- lante, incontestavel, e comprovado talvez por dociimen- tos authenlicos. Mas, OS que, como um grande escriptor do nosso paiz, sactiljcam a longa.« e aridas invesliga<;oes todas as facul- dades do espirilo, tpiasi todas as horas da vida, para da- rem a sua patria uma historia sincera e verdadeira, es- ses nunca repularao infrnctuoso qualquer trabalho, por mais pequeno, que seja, nenhuma sup))osi(;."io, por mais estranha que pare^a. Nito nos temos em coiita d'historia- dor: apontAmos simplesmente um facto, que nos parece pod^r explicar a catastrophe que levou os Tavoras ao patibulo e a nenhuma parte, que 'nelia lomaram os je- suitas. porem passar esta geracao inquieta e ardente ; 0 a sociedade de Jesus ha de continuar a sua obra dc regenerafao. Ja mesmo os enconlrareis, nao so na Bel- gica, mas on Franca, na Allemanha, na In- glalerra, na America, na Asia, por quasi todo 0 mundo; c 'nesse mesmo Portugal, aonde vamos aportar, nao ha muilos tempos, que uma colonia de jesuilas, eslranlios a luclas de parlidos, envergonhava por sua ardente caridade e zelo apostolico a libieza e corru-- pcao do clero nacional. 0 pensamento de vosso pae parece-me acerlado. Ides porem cntrar 'num mundo novo, em que 0 vosso coracao tem de ser assallado por violentas paixoes. Ao vo«so liido nao estarii ja a carinbosa mae, que vos acompanbou nos dias felizes da infancia: enconlrareis raance- bos, que vos dirao, com o riso nos labios, palavras doces e affectuosas; mas attentae bem, que 'nessas palavras lisongeiras esta muitas vezes encobcrlo um negro veneno. Escolbei d'entre elles um, on quando niuito dois, a quem conliareis os segredos de vosso coracao. Amestrado nas longas horas d'irfli- ma agonia, acostumado a devorar a suberba dos homens, conheco os arcanos d'esse mun- do, em que ides entrar, hello de candura e desperanca. Quando chegardes a Franca, de- veis fazer um pequeno jornal dos successes da VQssa vida; e podeis escrcvcr-me de vez em quando. Vede em mim um homeni, que nunca atraicoou a confianca d'um amigo. Espero porem enconlrar-vos em Lisboa mais vezes. » Ojoven, enlernecido, apertou-me a mao, e scparanio-nos. Dois dias depois, da verga d'um mastro, o gageiro descobriu terra. Uma niassa inloimc e escura ergueu-se cntao domeio das vagas; la nos extremes do borisonie vimos depois OS cerros escalvados do cabo da Roca. Estrcito, comprido e irregular, o caho of- ferece a cnbeca nua, e os (lancos descoherlos aos assallos de uma furiosa corrente. Coberto de uma herva curta e espessa, o proniontorio vem, pouco a pouco, minguando ate converter-se 'numa pequena lingua de terra. Divisavam-se os voos, ora rapidos, ora va- garosos, das aves aquaticas, que, poisando ao pe umas das outras, nos pareciam ao longe soldados em ordeni de balalha. 'Naquella aspera penedia o mar haloucava- se, e precipitava-se coin um estrondo simi- Ibanle ao rebombnr do Iroviio; e as vagas, elevando-se em golfadas d'escuma, formavam um contraste sublime e grandiose. A alvorada comecava a repintar a terra. 0 vento soprava rijo das bandas do norte. Poucas boras depois os marinbeiros gritavam batendo as palmas: — Lisboa! Lisboa! E 0 navio enlrava o porto, suberbo, como a aguia nos campos do ceu. Coiitin'.a. ALEXANDRE MEIBELLES. li 0 INSTITUTO mTrmsTD ad vibaibailiikd Offerecido ao ill."" sr. Jose Doria, auctor da musica do mesmo bymno Quando a morte, no inferno nascida, Pelo crime nu mnndo reinou, Como funte a luais pura da vida, Deus a terra o trabalho mandou. c6ro Trahttlhar, que o trabalho fecunih K df Detis a vontade^ e a lei ; Su por ctle e que o homem^ no mundo, D'este mundo devSraa 6 rei. Quem no mnndo e mnis nubre que o forle, Que a cunsorte, que us fillius manlem ; Que Ihes lega, nas Iiuras da luorte, A virtude por unico bein ? Tral/alliar. elc. Bnsquem outrns a gloria na guerra Ao niedonlio troar do canhao ; O traballio de gloria enche a terra Sein verier nobre sangue no chao. Trabalkar, etc. Eguaes todos 05 homens no mundo, Eguaes t«-'dos aos idlios de Deus, So por ti, o trabalho fecundo, Se differen^.am na terra, nos ceus, Traliaihar, elc. 'Xeste mnndo o trabalho da vida, Da riqueza, da gloria, valor; So por elle a missao e cun)])rida, A. vontade d'um Deus creador. Trabathar, etc. O viver no trabalho s'encerra, Quer na terra, no niar, ou nos ceus, Desde o vernie, que vive na terra, 'I'e aos homens, iniagens de Dens. Tnibnlkar^ elc. Trabalhar e viver: — -trabalhando Viio as terras, os aslros, o mar ; Quer nos dias, que o sol vae dourando. Quer nas Irevas, ou Inz do luar. Trabalhar, elc. Esse sol, que de luz nos inunda, Gera as nnvens nos plainos do mar; E depois nossos campos fecnnda, Viudo a terra com ellas regar. Trabnlliar, elc. Essa terra de plantas se adorna, De mil fructos, que juncatu o chao; Em riqueza o trabalho se torna, O trabalho converte-se em pao, Trabalhar^ elc. Te o insecto, que zumbe nas relvas. Ao trabalho nos vem convidar ; Peloi moDtes, os prados, as selvas, Vac 0 mel, vae a-cera juntar. Trnhathar, etc. As enlranhas do mar tenebrosa.'! La tambem o trabalho chegou ; Cria a per'la entre conchas limosas, O coral enlre areias gerou. Trabathar, etc. Manifesto o trabalho se oslenta, Ou s'esconde 'nuin mystico veu, Desde a terra, que a todos snstenta, Te aos aslros, perdidos no ceu. Trabalhar, etc. H. O IVEILL. associaqOes de BENEFICENCIA E INSTRUCQAO Em COiniBRA I Ocspiriio d'associafao, dirigido para todos OS tins honeslos e realmente inleressantes ao hem publico e particular, esld inuilo longe de animar conipletamcate aquelles, que niais carecem de sou desiiivolviniento. Se a uniao faz a forca, e incontestavel que mais fracos pelos teres, pela cducacao e inslrucjao, e nao meuos pela situacao social, sao os mais ne- cessilados de se associareni entre si. E esta verdade (perdoem-nos os admiradorcs do pre- senle) e conliecida, lia lanto tempo, que tal- vez ncnhum outro grande principio social se possa dizcr mais antigo. Afamilia, a tribu, a cidade 0 teslimunham. Em tempos ainda hem proximos os officios encorporados ou emhandeirados, nos quaes 0 nieslre, 0 official e apprendiz de cada officio ou mister consliluiam como uma so familia, formavam uma larga rede d'associacoes indus- triaes. Nossas antigas irmandades e confra- riasaindu existenles, embora amortecidas pela fraqueza das crencas e desgracada decadencia da cducacao christan, alii eslao para dar fe da tendencia popular para as associaeOes re- ligiosas. Novas necessidades exigem novas especies d'associacoes. Aos vinculos anligos, que se quebraram, i mister subsiiluir outros. Novas ideias suscilam e rccommendam novos modos de unir e coordenar os humanos esforcos. Allenlae hem : estes novos vinculos vao for- niar-se, essas novas associacoes conslituir-se — natural e esponlaneamenle. Nao e nosso intuito disserlar siibre esle objeclo lao vaslo e curioso, e hoje tao inte- ressante por um lado, e lao lemeroso pclo outro, — a associacao. Vollarenios por vcn- tiira mais de espaco ; que, em devocao pelo maximo desinvolvimento do hem enlendido espirito d'associacao entre todas as classes, e niormente nas laboriosas ou operarias, a nin- guem cedemos a palma. De associacoes falla- raos. livres e esponlaneas, producto de con- viccoes proprias, filhas da civilisacao e ''a liberdade, nao impostas pelo governo do esla- do, qualquer que elle scja, nao improvisadas por falsos Messias d'uma rcgeneracao ideal ; 0 INSTITUTO IB pois lauto cremos e esperamos das primeiras, como tememos as segundas. Nas primeiras enlendenios que esta o renie- dio aos enconlros e desvios da al)soliila liher- dade, que pode derruLar, mas nao sabe coii- slruir. Nas segundas ligura-se-nos ver um espe- ctro, CDColjrindo na luimilde luiiiea enganosa OS grilhoes do,despolisnio e a lei da escravi- dao; a qual lanlo imporla que se erga do povo, como que desca dos reis, e quer seja imposta em nonie das maiorias, quer em nome de um so, e sempre — escravidao. For em quaiito nao nos dirigimos senao a saudar o primeiro clarao, que aponta no lio- risonle, de uma nova epoclia de novas e cspe- rancosas associacoes ; e a dar os parahens aos honrados artifices conimliriccnces, que gene- rosa e iilustradamente entraram por si mesnios no caminho, que a civilisafao abrira ante seus passes. Junclaremos algunsconsellios d'a- raigo ; que nenbum hao de elles encontrar .mais sincero ecordeal, mais verdadeiranienle dedicado a promover lodo seu hem. Existem acluaimente em Coimbra tres asso- ciacoes de soccorros mutitos. A primeira e com- posla dos composiiores e impressores da typo- grapbia da Universidade ; a segunda de todo 0 — artista, ou pessoa que exerja — qualquer occupacfw mecanica, por meio da qaal lenha vivido decenlemente, admittida na conformi- dade de seus estalulos; e a lerceira a do monte pio geral, que nao faz seleccao de classes. Denomina-se a primeira — de bcvcficencia, da typograpliia da Universidade: e a segunda — philanlropica conimhricense. Uma e oulra propoe-se a acudir a seus consocios nas occa- siSes, em que o operario, cuja unica ri(|ueza ordinariamente sao os braces, nao pode por meio d'eiles ganliar o pao quolidiano: abran- gem na caritativa sollicilude os orpbaos e as viuvas; e seus principaes reeursos consislem na modica prcstacao semanal de 40 rs., pa- ges por cada associado. A sociedade-de benepcencia, cujos socios sao em niimero diminulo, porque nao recebe senao os opcrariosda typographia, enlrou no segundo anno de sua exislencia. Nas urgencias, a que nao escapam muitas vezes OS robustos e Irabalbadorcs, soccorre-os a caixa, como monle de piedade ou banco do empresiimo; e os interesses liguram na re- ceila, auguientando o deposilo commum, com 0 nome de yratificacoes ou donativos, mui acertada disposicao, que a philantropica tam- bem consignou cm seus estalutos. Esla, mais moderna em data, pois aquella teve principio a 8 de setembro de 1849, e a philantropica a 8 de dezembro de de ISoO, 13 nao so acluaimente mais numerosa, raas promette reunir em si, senao todos, pelo me- nos grande niimero dos bonrados artifices co- nimbriccuscs. Enlre os grandes beaeficios d'esta associa- cao coniam com razao os socios, como um dos primeiros, terem um bom medico de par- tido, custando-lbes apenas a cada um JJOO rs. aunuaes! Enlre os muilos e bonrados artifi- ces, fundadores d'eslas duas sociedades, e todos dignos de elerna niemoria pela excel- lente obra a que deram principio, parcce-nos juslo espetialisar dois, os sr. Jose da Silva Bandeira e Jose Pereira Junior; os quaes per- tencem a ambas de duas; e por seu zelo, de- dicacao e intelligencia, tfim concorrido muito nao so para a confecyao dos estatulos, mas lanibem para a boa escripluracao e regulari- dade dc suas conlas. Gloria e bonra a elles, e'a todos! gloria e lionra a patria que Ihes deu o ser ! Na vossa inlelligencia, aclividade, pacien- eia, amor do Irabalbo, economia, uniao e ca- ridade cbristan, bonrados operarios, podeis fundar solida esperanca do melhoramenlo in- tellectual e moral da vossa classe. A uniao e a forca para o bem, e para o mal. Conservae- vos unidos para o bem: alcancal-o-heis. 0 escravo nao espera o aliinento, o vestido, 0 auxilio na infermidade, e uma qualquer ins- Iruccao, senao do senbor, por interesse d'elle, cuja propriedade e, como o animal. 0 bomem livre pede e exige ao governo da nai:ao nao 0 Irabalbo, nao o pao, nao o vestido, nao a cducacao, propriamente dicla, que pertence a religiao e a familia ; mas sim a ordcm, a se- gnranca, e a justica. 0 trabalbo, o pao, o vestido, a habitacao, pede-os a si niesmo, a sua intelligencia, aclividade e persevcranca, a sua economia, e nao menos a uniao e a associacao com seus eguaes ; a qual nao so consegue ajunclar eaceumular de pequenas e tenuissimas parcellas capitaes consideraveis, mas subminislra-lbe os meifls de minorar os males da vida. Nao troca a seguranca do re- paslo e a incuria do luturo do escravo pela independencia, posto que acompanbada de muitas incerlezas, cuidados e amiudadas pri- vacoes, do bomem livre. E queni lal julgaral Nao faltam hoje escri- ptores visionaries, que se dizem amigos do povo, e vem inculcar-Ihe que troque os foros da liberdade pela sujeicao a um grande se- nbor, ao governo do eslado ; o qual se encar- regara de Ibe distribuir o trabalbo e o pao por meio , sendo ao mesmo tempo reitores dos Ly- ceus, nao podem inspeccionar escholas prima- rias; neui os lenues vencimentos chegariam para as despesas das jornadas. Os subdelega- dos, sendo emprego graluilo, ningnem espere que facam bom service. Inspeclores escolbidos com todo 0 escrupulo, inspeclores nao pernia- nenics, inspeccoes inesperadas, serao o meio de sustentar o zi^lo dos professores, e a regula- ridade do ensino. CommissOes locaes, gratui- tas, compostas do parocho, da aucloridade ad minislraliva, e dealgunschefesde familia, po- derao com algum provcilo exercer a inspec- fao pcrmancnte. Mas crie-se uma liierarcliia de escbolas pri- marias, como o Conselho o entende; abra-se assim uma carreira de esperancas e de inte- resses dianle do professor primario; se nao quizcrem que elle lique ostacionario, oeioso, e impassivo sem aspiraQao de future. 0 subsidio as escholas niaternacs de asylo e uma ideia fecunda, que naoescapou ao Con- selho. Sao essas escholas o berjo da instruc- cao primaria; sao as que preparam os meni- nos para na edaile de sopie annos comccarem 0 estudo daquelle ramo de instruccao, Se forem convenienleuiente preparados com as nofijes mais elementares, e, o que a tudo sobrelcva, com boasmaximas moraes; desinvolvido o sou intendimenlo, e formado o sou coracao, sera muito nienor o tempo que empreguem na ins- trucyao primaria : e o tempo e um capital pre- cioso. Mas cumpre que as casas de asylo nao sejam desnaturadas; que religiosamente se ob- serve a sua missao ; que por uma devofao inexperiente se nao queira anticipar a edade, dando ensino como em eschola primaria, porque d'esse zelo indiscreto so coufusaoe falsa edu- cacao poderesultar. Antes dos sete annos toda a instruccao, que seministra, e so como meio de educacao, pbysica e intellectual. Se a estes reiuedios, que vao indicados, se junctar um dia a criafao de escholas dos dias sauctificados: se aexempip daToscana e Lombardia se sonber ferir a tecia do espirito patriotico, ate agora adormecido, para conse- guir a instruccao dos adultos, que na edade propria nao poderam seguir a instruccao nas escbolas ordiuarias, licamos em que se tera um piano completo de instruccao primaria. Nao e facil decidir de prompto, qual dos dois systemas lembrados pelo Conselho Supe- rior seja preferivel para mulli|)licar e melho- rar a insiruccao primaria. Eutendom alguns dos vogaes, que se deve dar ja o ca racier municipal a este ramo de instruccao piiblica. Outros julgani que ainda nao e ehega filhinhas! . . ■I Deixar uma K . . Qual ? . . . Nao sei ! . . It Sao mais vossas do que minhas, *t Meu Deus, meu Deiis, escolhei. Esconde-se no occaso a Inz do dia, Foje com ella a derradeira esp'ranga. . . Tristonha e carrancuda, a iioite avan9a, Redobraiido os horrores d'agonia ! Roto o casco. dos ciioques alquebrado Ja das aguas s'affunda iia espessura, Qiial fer'tro cullosi^al im sepultura, Pelas mTtos de giganle^ solerrado. Despeda(;am-se cm parte as amuradas, Co' mar que em grossos ruins s'entnmece; E no raso convez ja nao s'olTeiece Um apoio, sequer, ks luaos can^ada«. E 'neste arfar continuo, debrugado No pelagn niedonho, o pae prestante, Vendo as fauces da murle a cada instante, \3o treme, nao, por si o desgratjado : Trerae sira \ie\a carg^a preciosa, Que em sens bra9os a custo ja snstenta, E a cada novo combate da tormenta, Mas su'alma ae torna |)avorosa. D&-lhe fdr^as a dor, e dar-lh'as-ia Ale para veneer o pioprio averno. So quern no peito um corarao paternu Sente pulsar, taes for^&s alalia. Estali a curva quiiha em doig peda^us, Do rochedo t-nlre as fendas encalhada, Arrancam-se ioda os reslos d'amiirada, As enxarcias se tornam \«^tillia9u8. Por duas, ou tres vezes abalado, O mal seguro ma^^tro bambaleia ; Com impeto e fragor em fun baqueia, A^oilaiidona tiucda u mar irado. Co desmedido golpe furiosa A vaga, espadannndo, !>iirge aus ares ; E reverie dejiois, braniiiulu, aos mares, Cahindo em catadupa lenierosa. E logo no convez redemuinha, Tudo impelle, e revolve, tudo abala. E do forraosi> grupo, oh ! Deus ! resvala A mais joven. que o pae nos bra^os linha ? Pftllldo, convniso, hirto o cabello. No exlremo d'afllic^uo, e do delirio, O pae, tragando o fel de sen martyrio, Entre as vagas demanda o corpo bellu. Em quanlo em vao s'esfur^a, ao longe escnta, Afllicla a que deixara : « Pae, acode ! " Ao novo impulso resistir nao pode, Volve o rosto. , . . oh! Deiis . . c'o a morte lucta. Delirnnte, pVa'ella corre, voa ; I\Ias qiiando la nos brn^os sustental^a, Sente uma fcir^a incoiinita arrastal-a, E liorrisono estampido o ar atroa. Quala rocha se fende, onde nasc^ra, E profiindas raizes tern cravadas, O carvalho gigante, qu'as rajadas O furacSo nas serras abalera ; Assim o tombadilho se fendera. Do mastro co' as violentas arrancadas ; E co'o p^so das aguas amontoadas, Entre as vagas, rangendo, s'escondera. E a popa, erguendo-se, ingreme ladetra Com rapido pendur ao mar formara. Humida, nua, tal que nem achara Onde fjrmar us pes ave ligeira. Os que tcm a miserrima vantagem D'inda viverem, nautas passageims Na calaslropbe horrivel companheiros, Resvalam lodos : . . . sorve-os a vorageiu. . . . Qnantus de terra ao drama luctoso Co' OS peitos opprimidt)s assislirani. Do mastro o baquear tremendo ouvirara, Da quiiha, e do convez, o som ruidoso : Depois trevas. . . . silencio pavoroso. . ; Por^enhunia outra voz Inlerrompido, Que o das >agas monotono bramido, Qual de feras em circo sanguinuso ! Da crise no mais Iragico momeiitu. No mar duas estrellas scintillaram ; Com raslo luniinosi* s'elevaram, Penetrando os umbraes do firmamento. Porlo 13 d'Abril de 1852. J. DE p. s i.. POESIA DRAMATICA A Grecia e de lodos os povos da antigiii- dade aqiielle (jue se nos aprescnia mais leriil em irailicoesgloriosas; mais carregadodegrau- 0 INSTITUTO yi des e magnificos despojos, raesmo durante os tempos do seu raaior infortunio, Debaixo d'aquelle ceii abencoado, 'naqucl- las raonlanhas, tao ricas de lil)erdade e inde- pendencia, vivia uma popiilacao peqiiena era niiraero, mas forte e robustecida pelas fadi- gas continuadas da giierra, que imprimiram em todos OS seus usos e costumes o cunho d'um caracter verdadeiramente guerreiro. Nascida no meio d'este povo de soldados, niodelada nos logares que mil vezes haviara sido arraiaes de balaiha, a poesia appareceu na Grecia, iiao como a viigem timida e in- dolente das sociedartes modernas, mas forte e repassada d'nma grarideza quasi sobrenatu- ral corao a donzeila d'Orlcans, ao trepar a fo- gueira que devia reduzil-a a cinzas. — Appa- receu nacionai como o espirito dos gregos; brilhanle como as iancas de seus guerrciros; vigorosa como o braco d'Achiles ; bella, ver- dadeiramente bella comoessas mnnianhasma- gestosas, que foram o berco d'Domero e o tumulo de Byron. A innocencia, e, por assim dizer, a poesia dos costumes primitivos da Grecia ; o mara- vilboso da sua religiao essencialinente poelica, e sobre tudo a niediiacao e csludo profundo da natureJa, deram aos cantos d'Uomero essa superioridade que o distingue enlre todos os grandes genios ; e esplicam o mysterio que fez cbegarao ultimo grau da perfeicao a poe- sia grega, logo nos primeiros tempos de sua infancia. Por falta de modelos, Homero, assim como iodos OS poeias do mesnio paiz, teve de ser original ; fclizmenle para elle os successos oc- curridos nos tempos beroicos da Grecia, con- slitiiiam o piano d'uma epopeia gigantesca. — Os cantos da Iliada haviani sido escriptos com a lanca nos nuiros ensanguentados de Troya. — P^ascido 'noutro paiz, e 'numa epo- cha posterior, Homero ver-se-ia obrigado a seguir urn caminbo inleiramentc diverso, por- que esses poemas monumenlaes, legados por elle a posieridade, reUecteni em si todos os usos e costumes, todas as crencas e tradicoes de religiao, do povo e da epocba em que viveu. Collocae Ossian no seu logar: levanlae cm torno d'elle a sociedade dos tempos d'Uomero ; apresentae-lb'a com todas as suas tradicoes, con! todos OS sens caracteres gigantescos, com todos OS seus costumes, com todos esses per- sonagens da mytoblogia grega. Se o podesseis conseguir, Ossian tomaria a vossos ollios um vulto completamenle difi'erente d'aquelle que hoje nos olTerece ; e, em logar d'essas imagens nublosas, d'esse estylo melancbolico e apai- xonado que caracterisam toda a poesia das nacoes do norte, admiraveis sem diivida no poeta escossez essas bellezas d'um genero in- teiramenle diverso, que nasceram com Ho- mero, e que, apesar de longa cadeia de se- culos que nos separam d'elle, nunca deixa- ram d'influir raais ou menos sdbre todos os poeias do meio dia. A liiteratura grega e sem diivida a mais antiga: os escriptores que vieram depois, vi- ram-se obrigados a seguir as suas pisadas, e a esta vanlagem immensa deveu a Grecia a maior parte da sua gloria litteraria ; deveu 'numa palavra esse prestigio quasi religioso, que nol-a apresenta como o typo ideal de to- das as bellezas artisticas. Mas entre os differentes generos de poesia, creados 'neste paiz, tao querido das artes e da natureza, o drama e inqueslionaveimenle um dos mais notavels. Nova religiao, novas insli- luicoes, novas leis, novos costumes vieram dar aos poetas da sociedade nascente, um the- souro ine^xgolavel de bellezas, que nao po- diam ser conbecidas pelos auctores de anti- guidade; mas nao obstante esse espanloso cataclysmo social, que fez surgir das ruinas do antigo mundo, um niundo inteiramenle di- verso— as iragedias gregas sao collocadas ainda hoje pela maior parte dos criticos, en- tre OS mais perfeitos monumentos do genio. Imperfeilissima nos primeiros tempos, como quasi todas as obras do bomem, a poesia dra- matica teve a sua origem primitiva nas fes- ' tas celebradas em bonra de Baccho, e apesar dos esforcos de Tbespis, a qucm geralmente e atlribuida a sua invencao, nao pode pas- sar muito tempo d'um faslidioso monologo mi- mico, acompanbado de cantos c dancas que diminuiam d'alguma sorle a monotonia in- separavel de similhantes composicoes. Foi so meio seculo depois que os atbenien- ses admiraram as obras primas d'um bomem ja distincto pelo seu valor no canipo ensan- gnentado das balalhas. — Este bomem era Es- cbylo. Nao satisfeito com os louros, ceifados nos combates de Maratliona, Salamina c Pla- teia, este gande poeta, (|ue pode ser conside- rado como o verdadciro inventor da poesia theatral, conseguiu reformar o tbeatro e aper- feifoar a tragedia, compondo nada menos de 97 dramas acolhidos entrees mais pbrenelicos aplausos por uma nacao enlbusiastica e zelosa de toda a gloria nacionai. Antes de Eschylo a poesia dramatica, como dissemos, era insignificante e imperfeilissima Os iragicos que seguiram as pisadas de Tbes- pis, limitaram-se como elle a compor esses estirados episodios a que so rcduziam enlao as representacoes iheatraes. 0 genio d'E'icbylo cspedacou dfesde logo um circulo lao acanha- do, inlroduzindo na tragedia um novo per- soiiagem, e ligando os cantos do coro com a accao principal do drama. Mas Escbylo nao se contonlou so com islo : reformou lambem o tbeatro em quanto ao material. Ate o seu tempo os adores repre- sentarain sobre uma especie de carro ambu- lante; mas desde entao comecaram a repre- 88 0 INSTITUTO sentar sobrc nm tablndo collocado 'num logar ccrto, serviiulo-se da mascara, de veslidos niais decciilcs, e d'liiiia especie de calfado mais alio cliamado cotliurno. — A. scenoijia- phia so foi iiivciUada por Sophocles. Para darinos iima ideia d'eslcs espectacu- los d'Alheiias iraduziremos as sef;iiintes pala- vras dc Saiiit-Marc-Giraidin : — 0 llicntro an- tigo (diz elle) nao era uraa sala encerrada e sonibria. aluiniada pcio clarao dos candici- ros, aonde vamos passar a nolle uma ou diias floras cm poqiienos niclios de madeira: aonde 0 lioroc Ir.igico, qiuuido I'alla do sol, levanla 03 ollios para urn liislre mais ou mcnos illu- miuado, e quando invoea a divindade, con- templa win lecto de niadcir.i pinlada, ou en- tao, ahaixo d'esse lecto a nllima galeria cheia de cspcctadores inqiiiclos e desdcniiosos. 0 ihealro aniigo acliava-se collocado no declive d'um ouU'iro: o ecu I'azia-lhe as vezes de le- clo; as monlaulias e o mar serviam-ilie de baslidores.i) Era depois sobre esle lablado singelo, raas rodeado das grandes scenas da nalureza, que Escbylo grangeava a adniiracao c os applau- ses dos alhcnienses, quando Sopliocles, repu- tado 0 principe dos tragicos gregos, appare- ceu em scena a disputar-llie a palnia do trium- pbo. — A. victoria nao llie foi muito dlQicil ; 0 eslado da Grecia era entao diverse. « Es- cbylo, diz M.""" de Slael, so tinba visto a prospcridade d'Athenas; Sophocles e Euripe- des foram testemunhas de seus revezes : a isto dcvcram elles o desinvolvimento do seu genio dramatico — a desgrafa produz lambem a fecundidade. » Denials a mais Escbylo havia aplanado anle- riornienle a estrada quo dies seguirani.Se por acaso Sophocles e Euripides livessem appare- cido nos tablados d'Aliicnas antes d'Eschyio, o genio d'esles grandes poelas nao chcgaria nunca a tao alto grau de desinvolvimento. A liisloria lilleraria coniprova esta nossa opi- niao: — Corneille creou Racine; as produc- coes burlcscas do thealro inglez crearam Sliak- speare, o maior tragico de lodos os povos. Mas Escbylo descia ao lumiilo, esmagado sob 0 pt^so de sen rival, qiiaiulo Euripides, nascido em Salaniina, e desgostoso do estndo da philosophi,i, a que priuieiro se bavia ap- plicado, comecou a scr conliecido cm Atlie- nas coino poeta dramalico. Bern depiessa o seu nome I'xcitou a adniiracao de loda a Gre- cia e das nacoes circumvizinbas: pelo iiienos a historia assim nol-o cnsina. — 0 exercilo aiheniense, ciijo commando liuho sido conliado a Nicias, foi complctamenlc desbaralado na Sicilia: innumeravcis soldados cahiram em poder do inimigo ; e sngundo o barbaro cos- tume d'aquelles tempos, o sangue d'elles devia deleitar por alguns instantes a vista dos vencedores. 'Ncstes momcnlos terriveis os soldados prisioneiros lembraram-se de recilar alguns versos das tragedias d'Euripides, e a isto deveram elles a liherdade e a vida. Mas lambem loda a gloria do Iheatro grego perleuceu a estes tres homens. Aquelies que vieram depois, occupain no cdro dos poetas da Grecia uin logar muito inferior; e longe de concurrerem para o apcrfeiroamcnto da arte, a que se haviam dedicado, foram dimi- nuindo o seu merito successivamente. A paixao dominante nas tragedias d'Eschyio era o terror. A crcdulidade, ou antes o fana- lismo de seus compalriotas o fez seguir este rumo, servindo-se da religiao para consoguir 0 effeito desejado. Exisle unia prova d'islo 'numa dc suas tragedias — us Eumenvlcs. Foi lal a iniprcssao, produzida por ella nos ani- mos dos espccladores, que muilas creancas morreram dc inedo, e algumas mnlhercs che- garam a desniaiar. No Edipo de Sophocles do- mina tamhcin cssencialmente esla paixao; e 0 mesnio acontece amiudadas vezes, poslo que em niuilo menor excesso nos dramas d'Euri- pides. As tragedias de Sophocles, distinguem-se porem, no Iheatro grego pela magestade que as caraclerisa, e alem d'isso, pelu nohreza e subliniidade do estylo: menos adiniravel, de- baixo d'esle ponto de vista, mas superior a lodos OS tragicos antigos no profundo conbe- cimento do coracao buniano, Euripides, con- seguiu pintar, em Iracos vigorosos, todo o de- lirio d'um amor lurioso e apaixonado, derra- maudo nas suas tragedias uni encanto e um sentimento ate entao desconhecidos. As suas obras sao eguaimente notaveis pelos principios d'uma moral austera, bebida na eschola de Socrates, e esjialliada depois profusaiiicnlc em lodos OS seus cscriplos. Com ludo Euripides tern sido censurado a esto respeito. Eis aqui algumas palavras do sr. Visconde d'Almcida Garrett que comprovam o que dizemos: A tragedia grcga (diz elle) singcia e vigorosa em Escbylo, magestosa e sublime em Sopho- cles; so em Euripides decahe algunia cousa em certa alTeclacao dc moralisar, que depois em Roma esiragou Seneca, e mais poslerior- menle em Paris ammaneirou algumas vezes Voltaire.') Devemos porem observar que as tragedias compostas por estes tres grandes poetas, ape- sar de encerrarem bcllezas preciosas, nao sao com ludo exemptas de defeitos, sendo quasi iinpossivel a sua representasao nos thealros modcrnos. Escbylo e o mais impcrfeito dc lodos. Suc- cedcu com elle o mesnio que succede ordi- narianienle a lodos os grandes gcnios, a quern se dove uma nova especie de pocsia: as suas obras, ao mesnio tempo que nos ollcrecera bellezas inimitaveis, eslao recbeadas d ima- gens monsiruosas. Outro lanlo se ohserva lambem nas obras d'llomero, Milton e Sbak- spcarc. Todavia foi lal a admirac,io que soube 0 INSTITUTO 19 excitar entre os seus compatriotas, que os poetas tragicos, ao enlrar a carreira que len- cionavam seguir, iam curvar-se respeilosa- meate juaclo do seu lumulo! Estas imperfeicoes que ennegiecera d'alguma sorteas obras d'eslespootas, sao pcla maior par- te dSVidas ao tempo em que forani escriplas: « OS seus defteitos (diz urn cscriplor disiintio) pertencem aoseculo em que viveram, as suas bellezas sao d'elles e de iiinguem mais.» Pelo mesmo tempo em que Euripides che- gava ao fasligioda sua gloria, Aristophanes re- presenlava no theairo d'Athenas as suas co- medias, que devem a sua origem a Suzarion, natural de Megara. Mas a coniedia, durante os seus primeiros tempos, era em extremo licenciosa e impu- dente. Na sua maledicenoia verdadeiramenle fascennia nao poupava ninguem. Os caracte- res mais illustres da Grecia, laes como Socra- tes, Euripides e Pericles, foram mil vezes ri- dicularisados nos thcatros, e expostos ao mo- tejo das multidOes. Na coniedia antiga os fa- etos e OS personagens nao eram d'invencao. — 0 poeta escolhia as victimas da sua mor- dacidade : escarnecia-as nas suas composicoes; cubria depois os actores com mascaras e ves- tidos similhantes iiquclles de que costumavam usar OS individuos, ligados per elle ao pelou- rinlio, e tinlia a certeza de conseguir o seu intento entre as risadas e apupos da plebe. Isto poderia agradar as mullidoes; mas en- curtava os limites da arte; prendia a coniedia a urn so theatro, a urn so povo e a alguns annos de existencia ; por isso as comedias anligas eram apenas (como diz uina mulher illustre) comedias de circumstancia, cujo suc- cesso devia durar um dia, para depois enfa- dar as nacoes e os seculos. Antiplianes, Menandro e Theoplirastes, quo depois d'Arislophanes so distinguiram na co- media, tiveram a vantagem de florescer nos tempos em que a antiga licenfa d'csie gene- ro, havia sido circumscripta nos limites d'uma liberdade bem entendida por uiu edicto de Laniaco. D'aqui nasce que as suas obfas, per- tencendo a differentes escholas e a seculos diversos, sao muito superiores, ao menos pelo lado da moralidade, aos escriplos d'Eupoiis, d'Aristophanes e Cratino. Mas a arte dramatica achava-se ja muito decabida do sou primitivo explendor, quando Antioclio Epiplianes introduziu na Grecia os jogos dos gladiadores, que faziam ha longos tempos as dclicias dos Romanes. Desde esse momento o povo atheniense aflcz-se aquellas scenas de matanca, regosijou-se com os ais dos moribundos, com o sangue que tingia o circo, e a poesia dramatica raorreu para sem- pre na Grecia. Conliniia ALEXANDRE BRAGA. OS BANHOS DE LUSO Contiuuado de pag. 19. ErrcitoH lliei-apeuf iroM nas nioleslian cMianeas Em quasi todas as dermatoses podera apro- veitar os banhos de Luso seguudo a sua tem- peratura, a sua duracao, o seu niimero, e segundo o cstado da molestia; mas aquellas molestias cutaneas em que a experiencia de muitos annos os tern mostrado proveitosos, e onde vemos indicados os principios minerali- sadores, que a analyse tern dado 'nesta agua, sao as quo passamos a mencionar, segundo a classificacao do sr. B. A. Gomes — Ensaio Dermosographico — junctando entre parenthe- sis, por serem mais vulgarmente conhecidas, as denominacoes de Alibert nas correspon- dentes as seis ordens das suas molestias dar- trozas ou herpeticas. Prurigo, Coceira — Ordem 1.' Genero 3.° Lepra vulgar — Ord. 2." G. 4.° Especie 1.* (herpes furfuraceo). Psoriase, Figado — Ord. 2." G. 5.° (herpes escamoso). Pityriase, Carepa — Ord. 2.' G. 6.° Erythema ortigoide — Ord. 4." G.°17.° Esp. 6.' (herpes erythemoides). Herpes — Ord. 6.' G. 28.° (herpes phlycte- noides). Eczema, Fervor de sangue — Ord. 6.' G. 16." Impetigo, Darlas, salsugcm ou empingens hu- midas — Ord. 7.* G. 29.° Scabies. Sarna — Ord. 7." G. 31.° Ectima — Ord. 7." G. 33.° Lupo — Ord. 8.' G. 3.=).° (herpes roedor). Acne, Gottarrozada ouSarabulhos — Ord. 8." G. 37.° (herpes pusluloso). Sycosis, Menlagra — Ord 8." G. 38.° Esp. 1.' (herpes pustuloso). Elephantiase (dos Gregos), Mai de S. Lazaro — Ord. 8.' G. 41.° 'Nestas molestias e mais geral o caracter atonico, pelo menos em alguns dos seus pe- riodos. 'Neste estado aproveitam-lhes os Ba- nhos de Luso, na teniperatura de banhos na- turaes, e na durajao de banhos ordinarios, pelo effeito cxcitante e tonico durante a reac- ciSo periferica que vemos apparecer depois do banho, pela depura^ao geral que resulta da maior aclividade das funccoes cutaneas, pela delersao dos lecidos doentes, pela acjao espe- cifica do euxofre, e pela irritacao local d'esie e dos mais principios raineralisadores. So quando 'nestas molestias se der o cara- cter inflammatorio, e principalmente em in- dividuos novos, vigorosos e sanguineos, e que 30 0 INSTITUTO aproveilam os banhos naturaes grandes, pela sua ai'i'ao refrigeranle eniollienle e sodaiite, tamo geral conio local. Os banlios temperailos, pela acrao emol- licnte geral e local, aprovcitani (iiiaiido a mo- Icslia cutanea apresenta o caracter inflanima- torio nas ciiaiifas, nos vellios, nas senhoras de graiule susceplibilidade, em todas as pes- soas valeludluaiias e d'uiua conslrucrao ex- liemaineiile dclicada ; nas pessoas que pade- ctm liiiiiiiualmeuto, riieumatismo, calaiio, etc. nas que lem a moleslia cutanea compliVada com sypiiilis geral, c em todas a(|uellas que, nao de\em suppoitar o relluxo do sangue nos orgaos iutornos. Os lianhos quenles, pela iiritacao local que produzeni, podem app!icar-se nas niolesiias cutanuas com o caracter atonico nos indivi- duos que pela sua cdadc, pela delicadeza da sua coustituicao, ou poralguns padecinientos, nao se podom sujeilar aos banlios naturaes ; mas em todo o caso deve ter-se muilo em vista a ilebiiitacao conseculiva nos banbos grandes. Rrroitosi tliernpciiticoit nas opIilalsuia<» eiii'Oiiia'a» Nas ophtalmias cbronicas aproveilam os ba- nhos naturaes onlinarios pela extensa revolu- cao e derivacao a que dao logar por toda a pclle; e pela ac^^ao irritante, adstringente e tonica, que a agua e os seus principios niine- ralisadores podem produzir nas conjunctivas. A. tonisacao geral, que estes banbos pro- duzem no organismo, e a accao especifica do enxofic, queelles contem, ainda os fazem pro- veitososnas ophtalmias escropbulosas e naspso- ricas ou lierpelicas. EilTeilON tiierapcnlirow nam moleHtiait inilcrniaN No rheumatismo chronico, os banbos quen- les combatem com vantagera os dois elemen- tos da moU'slia, para queni adoptar a palbo- genia de llul'eland; o elcmenlo dynamico, excilando a pelle; e o material, eliminaiido a acrimonia serosa com a maior actividade da transpiciio cutanea, nos individuos de graiide susceplibilidade nervosa. Nos individuos ple- toricos, e em lodos aquellcs cujo rbeunialis- mo for agudo, ou nao esliver muilo longe d'esle eslado, convem mais os banbos lempe- rados, e principalmente quando se der a coin- cidencia da inflaniniacao das niembranas in- terna ou externa do coracao, que alguem julga inseparavel do rbeumallsmo agudo. Os ba- nhos naturaes ordinaries so poderao aprovei- tar no rheumatismo inveterado, e nas pessoas que pelo estado das suas forgas exijam uraa tonisacao geral. 0 uso inlerno d'esias aguas deve coadjuvar a accao dos banhos do rheumatismo, pela tal ou qual diapborese, que lendem a produzir os sous compostos de enxofre. No catarrho chronico, os banhos quentes e OS banbos temperados obram do mesmo modo que no rheumalisnio; mas os banhos naturaes sao-lbo contraindicados pelo perigo da accu- mulacao do sangue nos pulmoes a entrada do haoho. 'Nesla moleslia cosiuma aproveitar o uso inlerno das aguas mineraes mais ou menos sulfureas, e d'esle modo a nossa agua de Luso pode ampliar os elTeilos dos banbos. Na hypochondria puramenle nervosa, os banbos naturaes ordinaries aproveilam, talvez, por equilihrarem a sensibilidade nervosa, ou por combaterem a sua exallacao com as fluxoes alternadameiite repcliilas sobre os nervos ab- domiuaes e sobre a pelle, nos periodos do frio e da reaccao. Na hypochondria material depen- dente de piiysconias abdominaes, combatem OS banbos de Luso cslas lesoes, como verenios mais abaixo. A applica^ao interna das aguas de Luso po- dera lambeni aproveitar na hypochondria 'na- quelles indiviiluos em que a pequena quanti- dade de enxofre e dos saes de soda, que ella contem, for bastanle para evilar a constipa- cao de ventre. Na dyspepsia, os banhos naturaes ordina- rios, pela tonisacao geral, c por aquellas flu- xoes sanguineas, repetidas sobre o estomago no principio de cada banho, tendeni a le- vanlar as forcas d'este orgao, que o vao habili- lando a digeslOes mais promptas e menos labo- riosas. Podem ser coadjuvados 'nesla accao pelo uso inlerno das aguas I'erreas do Encarna- doiro, e pelo uso commum da agua da fonte de S. Joao, em (jue abunda o acido carbonico livre. Nas bcmorrboidcs, os banbos naturaes gran- des aproveilam pelos seus effcitos geraes re- frigantes, como iraclamenlo paleativo; e os mesmos banbos, mas ordinaries, applicam-se no tratamento radical, ,coiilando-se que a refri- geracao priiniliva, a conseculiva excitacao da pelle, e a accclcrafao dos movimentos circu- ialorios, vao dcsperlar a accao perguicosa dos vasos abdominaes, e assim combalam o seu eslado plelorico. 0 uso inlerno das mesmas aguas, pela accao especifica que se altribue ao enxofre 'nesta moleslia, deve coadjuvar muilo aquelle el- feilo. Nas obstruccoes ou pbysconias abdominaes, empregam-se com vanlagcm os banhos natu- raes, grandes ou ordinaiios, segundo se exige na viscera docnte uma refrigeracao que possa conibaler alguriia irritacao ligeira, ou uraa re- pelicao de cbo(|ues violenlos, que fazendo accu- mular e desviar alternadameiite o sangue d'a- quelle orgao, lenda a reanimar o seu tecido, a aclivar a absorpcao venosa, c a desobslruir OS seus ca pi la res. Nao 0 para desprezar 'nesla molestia o uso 0 INSTITUTO 31 interno da mesma agua como fundente, ou das aguas ferreas do Encaniadoiro como tonicas. Na anienorrheia astenica, os banlios nalu- raes ordinarios sao proveitosos pela tonisacao do organismo; e pcia oxcitanao, c tal ou (|ual congestao, que o outro sulTre durante o trio do banho. Sendo acompaphados com o uso interne das aguas ferreas do Eucarnadoiro, deveni consi- derar-se como coadjuvanles da accao tonica e anaielica d'estas aguiis ferreas do Enearna- doiro, a sua proximidade da niatta do Bucaco, e 0 conimodo passeio pela estrada nova ate as povoacoes de Luso, sao tiiulos que recom- raendam os nieliioramentos da sua foute, e urn estudo especial da sua analyse e dos seus ellei- los. Continua A. A. DA COSTA SIMOES. A PHILOSOPHIA DO OIREITO ERI PORTUGAL Contintiado de pag 1^. Ill , Concebida assim uma ideia geral do niovi- mento e syslenias pliilosopliicos, que mais ou nienos tfim influido nas theorias philosopliicas do direito, conveni desccr a especialidade. Nao fallando de alguns ensaios pouco iiiiportantes, e para assim dizer indecisos, comecaremos no hollandez Hugo Grotius (1!)83~ 169S), que e o verdadeiro reslaurador, ou antes crea- dor da sciencia do direito natural : — nao que- reraos com isto dizer que os autigos deseonhe- cessem o direito natural, neni que os seus principios philosopliicos nao transliizam nos escriplos mais especiaes de Selden e Bodin, mas sim que a coordenacao d'elles cm um verdadeiro syslema scieutilico cabe incontes- tavelmenle a Grotius: e o que succede com lodas as theorias e descobertas scientificas: primeiro tern sido esbocadas antes de serem expostas em toda a sua forca e precisao, antes de despontarcm radiantes no liorisonte da sci- encia ; e todavia sao attribuidas scnipre aquel- les que tambeni primeiro as expozeram cm toda a sua plenitude, em todas as suas conse- quencias ; — por ventura nao entrevira ja Fa- bricindus d'Aquapendente a descoberla da cir- culacao, e no cntanio quern ousa dispulal-a a Harvey? Nao haviam tambeni ja Mayow e Willis preseniido as descobertas do infcliz Lavoisier sobre a combuslao e a respiracao, e quern conlesia a este genio illustre a nova di- reccao das sciencias chimicas? Grotius veio estabelecer na sua obra immor- tal, que dedicara a Luiz XIII, uma theoria de direito em que se acbavam reunidos com mais ou nienos confusao diversos elementos que ao diante foram separados. A razeo por que Grotius inscreveu o seu livro de jure belli ac pads, e filha do estado era que a Europa se achava no seu seculo; o espectaculo, no nieio do qual vivia, inspirou-Ihe o designio de cscrever a theoria d'esse direito da guerra, de que entao se fazia na Europa um bera terrivel uso ; conteniporaneo de Tilly eMans- feld, tentou fazcr intervir o direito qo meio d'esses capilaes; conseguiu o seu linj, pois a sua doutrina teve um resuliado practice no tractado de Westphalia, que terminou esse ijiierra dos Irinta annos, que podemos consi- derar como um poema heroico em que o genio nioderno parece participar alguma cousa da edade media debaixo da physionomia guerreira de Waleustein e de Gustavo Adolpho. Grotius parece vacillar ainda na deduccao do direito natural, para a qual nao adniitte fonte alguma exclusiva; a par da razao, re- corre a Biblia e a revelasao*, reconhece tam- beni que 0 direito deve ter por base a natu- reza humana, mas recorre para isso, (servin- do-se de coulinuo de factos e cilajoes bibli- cas, no gosto da epocha) a ideia de um es- tado natural primitive, para 'nclle poder es- tudar melhor a natureza do horaem, mais li- vre de elementos beterogeneos que os babitos sociaes Ihe poderiam ter inlroduzido; e veio a chamar direito natural ao complexo das leis deduzidas da natureza do homem, que o de- viam reger 'nesse estado, e o accompanha- vain depeis em lodes os estados posteriores em que se collocava por suas proprias forpas. Esta hypolhese de estado natural, censurada ja no seculo passndo por Gribner e Pestel, tern sido rejeitada pelos moderuos, que andani mais avisados, estudando a natureza liumaua em suas faculdades pbysicas e intellecluaes, do (|ue projectando-se no tempo e no espaco em husca de um estado primitive e anterior a toda a sociedade: no entanto ainda nao ha nuiito que um philosopho, crendo na reali- dadi; de um tal estado, disse que era para elle que a humanidade devia- rotrogradar ; foi Rousseau no seu Discurso sabre a origem da descfjualdade entre os homens} A socmbilidade como character distinctivo do homem foi a base do direito adoptada por Grotius ; este principle em opposicao com os tbeoremas de Machiavel e Jeae Jacques, foi adoptado por Puffendorf e eutros philoso])hos, dizendo juslas as accoes quando conformes a natureza social do horaem ; — pecca poreni por ' Ciimpre por^m adverlir que Grotins ja quiz distin- puir o direilo da moral, como bem siislenlon Birnbanm, Gomm. de Hug. Grotii in dffiniendo jure iiat. vera men- te, Tnbinf^iie. ' Isto tem levado os modernos, em fjeral, a subslittiir a denomina(;ao rfire(7ij natural pela de philfisf/phia do direito, scicneia philosuphica do direito, procnrando as- sim' indicar a origero d'esta sciencia que so piide eticon* trar-se no estudo philosophico da natureza e fim racio- nal do homem. J» 0 INSTITUTO vago e estreito, porque o direilo nao se re- fere so a naturcza social do homem mas a todos OS fins da vida raoional, para cujo de- sinvolvimeiilo devc subniinislrar as coiidifOes necessarias; de niais a wciahilidade podera ser a forma do direilo, mas nunca a sua raiz. Nao farcmos a cxposirao da llieoria com- plela de Grolius, mostraiido que foi a neces- sidade commiim, quern Icvou os homeus a saliir do esiado natural por uma convencao expressa ou taciia, que veio sanccionar o di- reilo natural: tao pouco fallaremos da sua origcm da propriedade, e da sua Iheoria do direilo politico e das geiites, conieiUando-nos so com 0 couhecimenlo do principio geral do direilo E justo porem advcrtir que as ideias de Grolius, apesar de imperfeilas e incomplelas, 0 deduzidas por urn methodo pouco apropria- do, como mesmo reconhece o seu admirador Mackinloscli, exerceram grande influencia na Europa no ulterior dcsinvolvimcnto da scien- cia, e llie crearam lal nome, que podemos dizer, com urn auctor contemporaueo, que a posteridade confirmou o dito prophelico de Henrique IV. quando Hugo de Grool foi na sua mocidade apresenlado na corte de Franca : t'0i7o le miraile de la Ifollande. Samuel Puflcndorf (1632— 1G94), querendo couciliar Grolius com Uobbes e admittindo as consequencias que aquelle deduzira de um principio tao moral, veio fundar o direilo na- tural na sociabilidade interessada. Alem d'is^o procurou, quanlo pode, tornal-o scientifica- nienie independenle da religiao, o que Hie valeu 0 odio dos llieologos da epocha, sendo a sua obra grande sobre o direilo natural, taxada de impia em varios ponlos pelosjesui- las de Vienna'; o que nao obslou loilavia a que a sua doulrina exercesse poderosa inlluen- cia, e penelrasse no fdro, na eschola e no di- reilo praclico das genles — E fdrca porem coa- fessar que Puffendorf era um espirilo mediocre, sobre o qual Leibnitz fulminou o anathema de vir parum juriscDiisultus et minime pliilu- sopltus, e que a fama (]ue adquiriti so a de- veu a nao ler compctidor; com efleilo o seu Iraclado de direilo natural e das genles, e indigesto, prolixo na exposijao, e despido de toda a crilica : prelendendo conciliar Grolius com Hobbes nao fez senao confundir as suas doutrinas, e nao poucas vezes o vemos fluctuar sem fdrca e scm decisao enlre o jurisconsullo espirilualista, e o sardonico auctor do Levia- than. A eschola fundada por Grolius e conlinuada por PulTcndorf foi chamada social em raziio do seu principio, e os seus seclarios socialis- ' NSo so pelos theologo.s foi alacada a doulrina de PnlTetKlorf, mns ale por varios jiirisconsultos como Al- berti, Scliwarlz. Prasch etc, o <]iie .lie ve da Eris scan- dica^ livro inui curioao, )niblicado em Francforl em 1386. tas; d'este niimero foram Buriamaqui, Male- peyre, e Uepp, que no seu Essai sur la theo- rie de la vie sociale dcduz d'esse principio, como origcm, todas as inslituicoes sociaes. — Do que k'vamos dito se ve pois quanlo Droz e nienos exaclo, atlribuindo a Puffendorf, na sua phylosoplna moral, a fundajao d'esla es- chola. Nao nos demoraremos com Leibnitz (1646 — 1716), esse genio quasi universal, a quem devemns a grande ideia da cnntinuidade liis- lorica, e cuja philosophia, como se exprime M. Nicolas, dove ser considerada como o re- sumo de lodo 0 movimcnlo pbilosophico do seculo 17.": sobre a philosopbia juridica ape- nas esbocou as suas ideias uas observacoes s6- bre OS principios do direilo e na crilica de Puffendorf, procurando conciliar, ainda que tarde, os syslemas pbilosopbicos da antiguida- de, em vez de profundar o principio do di- reilo.' Cbrisliano Thomasio (16tiI5— 1728), espi- rilo mediocre mas ardenle, e contemporaneo de Newton, loi o primeiro que comecou a dis- linguir realmente o direilo da moral, ale en- lao confundidos pelos syslemas anleriores. Moslrou que o character dislinctivo das obri- gajoes juridicas, independentes na execujao da boa ou ma vontade de cada um, era a coaccdo exterior, que so se verifica no domi- uio do direilo, pois as obrigaeoes moraes, to- das inleriores e livres, nao podem ser forcadas sem perdorem o character sublime da mora- lidade; foi por isso que Thomasio denominou perfeitas as obrigacaes juridicas, e imperfei- las as moraes; dislinccao necessaria sem dii- vida, e que foi geralmente seguida, mesmo nos tractados de direilo posilivo. Esle syslenia de Thomasio avancando muito alem das ideias ate entao recebidas, tinha, nao obstante, grandes defeilos. Com razao dislinguiu elle as obrigacOes juridicas das mo- raes, sustentando que aquellas sao indepen- dentes na execufiio da boa ou ma vontade dos homens, mas errou, esquecendo-se de que a coacfao exterior, que pode ser empregada, deve ser justiticada pela razao e pelo direilo, isio e, que nem todo o meio de coaccao ex- terna, emprcgado para forcar o cumprimenlo das obrigaeoes juridicas, se pode dizer juslo. 0 character principal que distingue as obri- gaeoes juridicas das moraes nao podia pois residir na coaccao; era mister para isso de- lerniinar prcviamenle em que consisla o di- reilo, para enlao por elle se medir a jusla fdrfa. A mesma censura cabe a Meisler que fez consislir a sciencia do direilo 'num syste- ma de vcrdades descobertas pela razao, dcirca d'aquiUo gue enlre os ttomens p6de ser extor- quido pela fdrca. A doulrina de Thomasio, * Sobre Leibnitz siio dignos de ler-se Fenerbacii, i?or- stellnng und Krilik der Leihniizischen Philosophie. 1837, Erdmann, Leibnitz etc. Leipzick 1842. 0 INSTITUTO 33 que mais desinvolvida se pode ver cm Buhle hist, de pliilos. (t. 4 p. 490. seg) foi seguida por Gerhard, Koehler, e Gundling. Depois dcTliomasio veio Wolf (1740— 48) propagar e popularisar os priiicipios do di- reito natural, dediizindo-os, coiiio sens pra- decessores, da natureza social do liomeni, e corroborando-os ainda com priiicipios meia- physicos mais eievados, poslo que com me- nos merecimento. 0 direito uaiural deve, no seu syslema, in- dicar os meios nccessarios para a conserva- fao, felicidade e perfeicao da vida humana. Tudo que leiule a aperfeieoar a natureza do homem e ju.ilo ; tudo que tern effcito conlrdrio e injusto: lal e o axioma fundamental d'onde Wolf deduz todo o seu systema, mas debaixo da forma monoloiia de proposicoes matliema- ticas, forma sem fructo para as sciencias mo- raes, que nao operando sobre quantidades, raras vezes chegam a resultados incontesta- veis. Esle principio, adoptado pelo nosso iliustre compatriola o sr. Silveslre Pinheiro, nao e mais juslo que o da sociabilidade; e ainda raenos claro, e confunde de continuo a moral com 0 direito, pois todas as virludes, diz com razao Belinie, lendem ao aperfeicoamenlo da nossa natureza, e neni por isso fazera objeclo do direito natural. Esle systema, combinado com o de Grolius e Puffendorf, foi adoptado por nuiitos juris- consultos e publicistas do seculo passado, taes foram Ileincci No dia seguinie, pelas Ires horas da tarde, teve logar na sala grande a oracao latina, a qua! recilou na presenca de S. A. o Doulor Luiz de Crasio Pacheco, Leute de vespora de Canones. Por liaver muito concurso de gente, antes (le comecar a oracao se ordcnou que os Dou- tores e Mestres se assentasseni nos seus as- sentos, e se mandou recado a S. A., que veio com 0 Cardeal seu tio para a sala, onde es- tava feito um tlieatro de cinco degraus alca- tifados, e ao rcdor coberto de pannos de l)ro- cado: 'nelle se assenlou el-rei 'numa cadeira de couro prelo com pregos dourados, o Car- deal 'noutra de couro vermellio, e o Infante D. Duarte 'num cocliim, que el-rei Ihe des- tinara. 0 Porteiro mor nao quiz deixar entrar a — inpnila gente, que estava de fora. 0 Secretarii), vendo que a sala estava sem estudantes, cliegnu-se a el-rei antes de co- mecar a oracao, dizendo-llie — o que esta ora- cao era auto das escholas, e que liaviani de ver OS estudanles e pessoas que para isso es- lavam de fora ; que os mandasse por isso S. A. entrar. El-rei rcuictteu o Secrctario para Joao de Mello, Porteiro mor, o qual depois de ouvir as observacOes, que Ihe lizera o Secretaiio, lornou a S. A., e respomleu depois ao Se- crelario : — oque bem estava a casa assim, como estava " de maneira que nao enlraram es- ludantes, nem muitas pessoas da corte, que desejavam ouvir a dicta oracao. Nao encontramos ouiras memorias, que nos di5m razao d'esta singular determinacao, nas- cida talvez do insofl'rido descjo com que alguns lidalgos pcrtendiam contrariar os privilegios da Universidade, em revindicta da humilha- cao por que os fizera passar el-rei, quando no seu recebimento os mandara sahir d'entre 0 corpo academico. D'esta ma voniade parecc que fora lambeni victima o Secretario, que em razao do seu cargo mais punira por aquelles privilegios; pois que ale se Hie negara a nierce do biibito lie Christo, que seu antecessor tivera por oc- casiao da real visita do Sr. Rei D. Joao III., sendo que o proprio Martin) Goncalves da Camara escusiira esta pretenfao de um modo, que bem dcixava ver a indisposicao dos cor- tezaos contra o Secretario pelo seu zelo pelas prcrogativas do Universidade. Na segunda feira, 16 de Outubro, foi el-rei, 0 Cardeal, e o Infante 1). Dnarte, depois de ouvirem missa na capella do paco, aos Geraes lis liroes de prima das quatro Faculdades, de- morando-se um grande pedaco em cada aula. No dia immediate assistiu S. A. na sala grande as conclusoes em Theologia de D. Fran- cisco de Menezes, em que argumentaram os Doutores c Bachareis da Faculdade, estando com suas insignias. No sabbado 28 quiz el-rei, que, posto nao fosse dia sancto, o Reitor D. Jeronymo de Menezes tomasse o grau de Doutor em Theo- logia, por estar para isso habilitado; e para este iini se foi S. A. ao mosteiro de Sancta Cruz, onde havia de ser dicto grau: e das gra- des para dentra Ihe estava feiio um theatre alcatil'ado de dois degraus, e das grades para fora, onde se costumava dar o grau, occupa- ram os Doutores e Mestres em Artes, por sua ordem, escabelos cobertos de lambeis, em lo- gar das cadeiras, que Ihes costumavam por de cstado, que se nao pozeram em reverencia a presenca de S. A.; e estando lodos senla- dos por sua ordem com as cabecas dcscober- tas, eo Reitor sentado em seu cscabelo, econi elle por padrinho .Martini Goncalves da Camara, Doulor em Theologia, e Escrivao de puridade d'el-rei, Ihe deu o grau de Doulor o Padre Cancellario, e commetlou ao Doutor Fr. Mar- tinho de Ledesma, Religiose da ordem dos Pregndorcs e Lente de Prima Juhilado na Faculdade de Theologia, Ihe puzesse as insi- gnias doutoraes; e o Secretario Ihe deu o ju- ramento do costume. Foram oradores 'neste iloutoramento os Doutores Fr. Francisco de Christo, Religiose da ordem de Sancto Agosti- nho da Correia, e Fr. Francisco de Caceres, da ordem de S. Francisco, e ambos Lentes de Theologia. E de lodo cerinionial se mostrou el-rei muito agradado. Acabado de recebcr o grau, o Reitor beijou a niao a S. A., e deu os abracos aos Douto- 0 INSTITUTO 39 res c Meslres, conforme aos estatutos, e se reparliram as propinas. E porquc DO dia antecedenle os Semilheres de S. A. pcrtenderam que o Secretario nao havia de dar a propina das luvas a S. A., mas siin elles ; o Seerclario allegou que esie aulo era das escholas, e o oQicio delle para o fazer; e S. A. ordenou que o dilo Secretario Ihe levasse as propinas. E assim, antes de comecar oauto, o Semi- llier da semana, D. Pedro de Menezes, foi chamar a grade da egreja de Sancta Cruz o Secretario, e liie disse, — « eu dei conta a S. A. da vossa diivida, e diz S. A. que vos ilie levels as luvas c propina, porque nao quer 'neste auto Semilher, senao a v6s.» 0 Secretario assim o fez, toraando em iima salva de prata umas luvas de seda real ; e indo adianle os Bedeis com assuas niassas de prala na niao, cliegou ao tlieatro, onde estava el-rei senlado, se poz de joeihos e Ihe disse : « Senhor. Esta e uma parte da propina, que 0 Reitor por obrigacao da 'neste aulo ; e esta, que aqui trago, e a de V. A., que fez muito grande merce a esta Universidade e ao Reitor em se acliar presente; e a queira tomar da niinha mao.» Assim, terniinado o auto, recolheu-se S. A. aos seus pacos reaes; terminando tambem com elle as solemnidades do recebiniento de S. A. por parte da Universidade. j. m. a. ii ISILTHlBii iTraducQao da 3." Medita^So Poetica de Lamartine) Acs rocliedos de Tibur suspiroso Inda 0 Anio niurmura o niui suave Nome de Cinlliia bella; inda Vociusa Da encantadora Laura o nonie guarda, E ha de Ferrdra suspirar perenne 0 de Leonor formosa ! Feliz a bella a (|uem o poela adora! Feliz 0 nome a quern sagrou seus cantos! 6 tu, que elle idolatra , Podes, podes morrer! . . . mas vjda eterna Ila de nos versos seus legar-ie o bardo; E nas azas do genio o aniantc e a amada Unidos voarao a eternidade. Se 0 nieu fragil baixel surgir podesse Com venlo mais propicio ailim no porlo! Se mais pomposos sees me allumiassem! Se crguer podesseni, ameigando o fado, As tagrinias da aniante De subre a face mialia os veus da morte! Oh ! talvez . . . sim . . . perdao, mestrc na lyra, Talvez ousassse (a tudo amor se atreve!) Egualar ao amor a minha audacia, E nos cantos rivaes do meu delirio De nosso puro amor deixar memoria ! Peregrine, cansado da viagem, Assim no tronco d'arvore frondosa. Que no valle Ihe deu amena sonibra, Folga, antes de parlir, gravar seu nonie. OIha, nao ves niudanca ou morte em tudo? Seus fructos perde a terra, o bosque asfolhas; Vae nos seios do mar sumir-se o rio ; Uni sopro do aquilao requeima os prados; Pela mao dos invernos arrastado, Ja 0 carro do outoinno se despenha! 0 tempo com a morte, qual giganle, Arniado com a foice inevitavel, Derrubando ao acaso quanto exisle, Sem no voo cansar, renova o niundo! Tudo quanto ceifou, cahiu no olvido! Assim 0 estio ve cahir-lhe a c'roa Derradeira nos cestos do respigo; Assim no outomno amarellado pampauo Da vendinia nos carros ve sumidos Os seus doirados fructos! Tambem vos cahireis, flores da vida. Que tao breves murchaesi. amor, prazeres, E mocidade ; — e lu, 6 formosura, Brilho de um dia so, que os ceus invejam, Assim vos cahireis, se a mao do genio Vos nao torna immortaes! Essa turba de jovens, que hoje em festas, Misera, tumullua; e radiosa De brilho e pompas, sonha so prazeres; Quando houver esgolado a tafa magica, D'ella que restara? — leve saudade Que na campa beni cedo ira sumir-se! E aos seus amores um silencio clerno Vae logo succeder ! . . porem, Elvira, Hao de os sec'los calcar as cinzas tuas, E tu vivenis serapre. F. POESIA DRAMATICA Conlinuado de paj. 29. A providencia havia ja designado um outro povo para continuar a obra da civilisacao, comecada enlre os gregos. Eutretida pelo es- pago de cinco seculos, pouco mais ou menos, em conservar e esteiuler os seus limites, iloma nao tinha ligado interesse alguni as sciencias nem as artes; mas, depois da segunda guerra punica, osromauos, licando deslumbrados com 0 esplendor das sciencias, comecaram desdc logo a cullivar as lelras, ale esse tempo inlei- raniente desprezadas. Com tudo OS romanos nunca passaram de simplices imiladores dos gregos. As bellezas dasobras primasd'Domero, Hesiodo, Pindaro, 40 0 INSTITUTO e Sophocles, cxcitarani uma admiracao tao profunda cm Roma, que os poelas d'esla na- rao limilaram-se lao soiucnic a seguir as suas pisadas. Daqui proccde, que, apesar de con- larmos nuniero de seus poelas Virgilio, Ho- racio, Ovidio c Til)ullo, a poesia laiina licou scmpre niuito aqueiii dos modelos, que llie ser- viram de norma. \ arlc dramalica sohre tudo nao fez em Roma progrcssos alguns. A cidade de Romulo liavia-se alTeilo ao lliealro do circo; e 'neste logar infame os ais das viclimas nao eram lingidos, como nos lalilados d'Athenas. — As queixas liarinoniosas d'uni Pliiloctetes, e d'uni CCdipo, nao podiam commover o coracao dos romanos (diz S. Marc Girardin); — eram-lhcs neeessarios os grilos dos gladiadores nioribun- dos. Roma desprezava os pequenos lerrores da tragodia grega ; preferia-llies os jogos do circo, islo e, uma lurma d'lioniens combalendo entrc si, ferindo-se niutuamenle, assassinando uns aos oulros ; uma arena tinla de sangue, um solo abalado pelas convuisoes dos mori- bundos, agonias verdadeiras, morlcs verda- deiras, c verdadeiros cadaveres! Alem d'islo uma causa, que infallivelmenle havia de concorrer para a deeadencia do dra- ma, foi a pouca naeionalidade do lliealro la- lino. Os poelas romanos, levados pelo espirilo d'uma imilafao scrvil, bem longc d'escollierem 0 assumpto de suas Iragedias na hisloria de sua propria nacao, foram buscal-os ao lliealro gre- go. Nos la blades d'Alhenas os names d'Aga- niemuon, Alreu, e Achilles, ja immorlalisados de ha muilo nos canlos d'Uomero, excilavam a admiracao dos especladores. Em Roma porem nao acontecia oulro lanlo. 0 nome de Lucre- cia, dos Horacios, de Coriolano, ([ue, depois da epoclia do renascinionto das lellras, vieram echoar ao paico dos tliealros modernos, pro- duziriam enlao um effeiio favoravel no espirilo dos romanos. 0 povo raras \ezes deixa de par- licipar d'esse cnllnisiasnio, que senlem os lio- mens verdadeiramente all'eicoados ii sua patria, a visla dosgrandes vullosda hisloria nacional. Mas, deixando eslas considcracOes geracs, que nial se compadecem com a limilacao do rirculo que nos propozemos, passaremos a dizcr duas piilavras sohre a hisloria da poesia dra- malica onlre os romanos. O drama foi inlroduzido cm Roma pelo I'a- nalismo popular no anno 389 de sua funda- rfio; mas os primeiros ensaios d'esle genero eram monslruosos, e de nenhum mcrecimenlo poclico. Foi so passado o largo intervallo de 125 annos, pouco niais on mcnos, que Livio An- dronico, nalural de Tarcnlo, iraduziu em la- limharharo alguuias iragedias e comediasgre- gas, dando assini uma ideia mais aproximada (io vcrdadciro caracier do drama ; mas os seus cscriptos, defeiluosissimos no eslylo, (nao po- dcm scr para o ihealrolalinoum liiulode gloria litteraria. Os poelas, que se seguiram ate ao seculo d'Augusto, nao occupam na republica das lellras um logar maiselevado ; quasi todos se limilaram a imitacoes scrvis, e de pouco mcrecimenlo. Mas no seculo d'Auguslo a lilleralura laiina lomou repenlinamenle um vullo grandiose. For urn lado Virgilio assombrava Roma com as pu- blicafoes de suas Georgicas, e legavaa posleri- dade o seu immortal poema, a Eneida ; por oulro lado Ovidio Nasoesgotava nassuasobras toda a I'crlilidade de seu genio c a riqucza de sua imaginajao, ao mesmo tempo que Ho- racio e Tibullo enriqueciam com seus precio- sos escriptos a nacao onde haviam nascido.' 'Nesia mesma cpocha appareceram lambem em Roma as duas maiores iragedias do thea- tre romano, a Medea, d'Ovidio, eo Tliiestes, de L. Vario, reputada obra prima no seu genero. A comedia ja tinha enlao cahido em desuso. Inlroduzida em Roma por Livio Andronico, a epocha de seu maior explendor foi logo no seu primeiro periodo. A iicenca desenfreada da anliga comedia grega nao agradou aos ro- manos ; uma prova d'islo e o deslerro de Nevio, cuja melediccncia foi devidamenle punida. Em quanlo porem a comedia nova, admillida na Grecia depois das victorias d'Alexandre, nao Ihe aconleceu o mesmo; e esle genero de poe- sia foi iractado magislralmente por Asinio Plaulo e Publio Terencio, os maiores comieos latinos. As comedias d'esles dois poelas, apesar de iniiladas do lliealro grego, encerram com tudo bellczas de primeira ordeni ; c os seus auclo- ressopodcram serexccdidos mais larde (como bem diz E. Mennechcl) fora da carreira, aonde linham licado sem rivacs. Logo depois do seculo d'Augusto a arte dra- malica decahiu a ollios visios. Alguns poelas occuparam-se ainda em fazer Iragedias regu- lares, mas esles.-^cus Irabiilhos nao passaramde simplices exerciciosd'eschola; nos Iheatrosape- nasse rei)resenlav;im ohscenidaJes inaudilas. A arte linlia morrido. Os tahlados deixaram de cscular os nomes maravilhosos dos heroes da Grecia, mas um novo especlacnio estava eonlinuadanienle na presenca dos romanos. Eram as dissensocs conlinuas do iniperio, as alrocidades inaudilasdos imperadores, os grilos de Roma enlregue aos horrores d'um incendio, as conlorsoes e os arrancos convulsivos dos morihundos, cspcdacados pelas feras! Eram lodas cssas scenas de sangue, cm que os ly- * Em quanto a Hnracio e Oridio ja nos posstijmos ka haslanle lemitu excelkntes tra(Ji>C(;ui'S, se nSo de fodos 05 sens e.-'criiitos. ,to nn-nns li'iim granile numero d'eUes: a respeilo de Tibiillo niiu aconlecia o me&mo ; e esta falta era iia verdade lanienlavel. O nnssu particular amigo. i< sr. Autoiiio Ayres de Goiiveia, deii-se porem 'neslesulti- mo.^ tempos ao trabalho de supprir csia lacuna na nossa litlernhira; e cedo possuiremos uma hella traduc^ilo d'este poela em cxcellenles versos porluguezes. 0 INSTITUTO 41 rannos subiam ao throno por cima dos cada- veres uns dos oiilros; em que o adullerio, o inceslo, o esiriipo e o assasinalo, insullavani as cinzasdeNuma eTarquinio; em que Roma se havia converlido 'iium prostibulo immense, e 'num acouf;iie dc came liumana! No meio d'esla anarcliia horrorosa a espada d'Alarico gravou nos niuios de Roma a sua seulenfa de merle. Pouco depois um diluvio de barharos rebenlou sobre o imperio; e es- tendendo-se ale as nacoes mais occidenlaes da Europa, deixou um eslrado de cadaveres e ruinas por toda a parte, aonde pas^ou. As trevas da ignorancia seguiram lambem as ar- mas dos barbaros na sua marcha sanguinolen- ta ; e as sciencias e as arles desappareceram por muilo tempo. Continna ALEXANDRE BBAGA. ASSOCIAQOES DE BENEFICENCIA E DE INSTRUCQlO EHI COIin?RA CoDtiouado de pag, 16. II Muitos annos antes da fundacao das socie- dades de soccorros muUios, havia sido creada em Coimbra a de beneficencia para asylos da infancia desvalida. Seu fim, coiiforme se \i nos dois primeiros artigos do ri'gulamenlo geral, appiovado por Deereto de 13 de novembro de 1830, consisie — em fundar e suslentar esla e.ipecie de esla- betecimentos de caridude, preslando — rjralui- tamenle hosfitulidade, educacdo e instrnccao, as criancas mais pobres e desvalidas de um- bos OS sexos. A bospitalidade, — recebendo os meninos, traclando de sen aynsalhu e aceio, desviando-ns de lodos OS periijos, e ulimenlando-os, emquanlo ettao no astjlo. A edueacao, — promovcndo o desinvolvi- menlo de sttas faculdades phijsicas e moraes: — Iiabitual-os ao aceio, ordem, obediencia e respeito; — e em fazer desinvolver e radicar em sens coracoes o amor de Deus e do proxi- mo. A instruccao — comprehende os elemenlos de dovtrina cliristan, ler, escrever, contar, a musica vocal coinpativel com a edade, e todas as mais noroes gerues, fjue as leis mandam ensinar nas escholas d'instniccao primdria do 1.° grau: e em t/uanto as meninas comprehen- de alem d'islo toios os lacores proprios do sexo. Conio meio de cducaeao moral c religiosa, e de amaciar os genios, dispondo-os suave- 6 mente a obediencia e disciplina, a oracao breve e acompanhada de hymnos, facilmente eomprehensiveis, da prinnipio, e lermina to- dos OS exercicios. Instituifoes, conio eslas, nao precisam de mais do que indicar-se o seu objecto, para se recommendarem. Nao ha corafao bemfazejo, nao ha alma compassiva, que nao se sinta commovida, ven- e ouvindo, e ate mesmo somente lendo, estas deiicadas invencoes da caridade. 0 asylo da infancia, hem como o presepio {la creche), ,esta destinado a recolher o re- eem-nascido durante as boras, que a- labo- riosa niae emprcga em ganbar a vida ; e aqucl- ie, mais adiante, a nao so abrigar e guardar, mas tambera a educara pobre criancinha des- valida, foram inspirados pela divina provi- dencia a uma sr.', modelo de caridade, M.°" de Pastoret ; a qual, no principio d'este sccu- lo, commovida pela desgraca d'algumas crian- cinhas, instiluiu a sua custa a primeira crS- che, e 0 primeiro asylo da infancia. Era a semente, que Deus lanfava a terra; tinha de esconder-se ahi, e de germinar oc- culta, ale que o tempo tirasse a luz seu for- moso fruclo. Os meios da fundadora eram escassos ; nao pode desinvolver seu tao christao pensamento. Forjada da necessidade, limitou-se a curar do aproveitamento do pequenino apostolado, com que havia cncetado a obra dos filhinhos do pobre. Mas outras pessoas, capazes de apreciar o coracao de M."" Paslorel, baviam visilado o presepio e asylo na sua origem; e, passando 0 estreilo, foram reproduzil-os em um paiz, no qual o genio da associacao, abundaotes meios, e uma feliz lendencia a empregai-os em niinorar os males da buinanidade, por lal arte os acolheram, que nao eram passados nuiilos annos, e ja as escholas da infancia, enchiam, por assim dizer, o Reino-Unido. M. Owen, da New-Lanark, bemfazejo em- prozario, condoido do abandono em que fica- vani OS iilhinbos de sens numerosos operarios durante o trabalho d'estes, se nao foi o prin- cipal inventor ou introductor dos asylos em Inglaterra, cabe-Ihe ao menos a iionra de ha- ver nierecido 'nesle iraballio a parte mais dis- lincta. Em 1817 fundou um asylo, onde che- gou a reunir para cinia de 150 criancas, de 2 a 7 annos d'edade, servindo-se para diri- gil-as d'um simples operario, James Buchanav, hnmem sem letlras, mas dotado de grande alTeicao pelas criancas, e de uma infatigavel paciencia para com ellas. E este mesmo simples operario, que Lord Brougham e sens associados, dois annos de- pois, chamaram a Londres para com seu au- xilio, experiencia e boa vontade aperfeicoa- rcm a inslituicao, amoldando o methodo lan- casteriano (ensino raiituo) a direccao das es- 42 0 INSTITUTO cholas da infancia, e lornando-as definiliva- roenle o que hoje sao. Em 1825 volveu a insliluifao, aperfeifoada e desinvolvida, a mesma lerra que llie dera 0 ser; e ainda enconlrou alii W."" de Paslo- ret. A Icsla d'uma commissao de senhoias, a hemfazeja inveiilora rccomefou o edilicio, e concliiiu-o. noje as salasd'asylo consliluem o pnmeiro elo iia oadeia dos esiahclecimenlos publicos, deslinados a derraniar a instruccao na pri- mcira nacao do nuiiido. A sociedadc pelo go- vfirno do'cslado. pelos corpos admiiiislrativos locacs, pela caridade parliciilar, c pela in- specrao das aucloridades, c nao menos das caril'alivassenhorasiiispectoras, fomenla, coii- serva, desinvolve e apcrfeicoa as escholas iiia- ternacs, on salas d'asylo da infancia. \ Franja data de 1823 a vcrdadeira in- IroducfSo d'tsle piedoso invenlo. Portugal iniporlou-o em 1834. Ac nicnos 'nesla pane, (lionra seja feila as personagens que nol-o trouxeram), nao andamos na relaguaida do verdadeiro progresso ; pois por esses annos apenas coniecava a penelrar oulros paizes niais adianlados que o nosso. Os Augusios Nomes de S. M. F., a Rainlia, e de S. M. I., a Inipcralriz Viuva do Bra- zil, Duqueza de Braganfa, o da bemi'azeja Duqiieza da Terceira, e de outras nobilissinias senlioras ponuguezas, estao gravados em ca- racleres indeleveis, c cxpostos a percnne gra- lidao dos inl'eiizes, nos inleressanles annaes dos asylos da infancia de Portugal. 0 prinieiro regulamento e asssignado pelo Duque de Palmella, e por Francisco Manuel Trigoso, e Luiz Mousinlio de Albuquerque. Que oulro instituto ha ahi, cujo principio haja sido raais auclorisado? Portugal nao podia levantar os asylos da infancia desvalida sobre pedestal mais solido e glorioso! Urn homem bom, urn amigo verdadeiro dos pobrcs, que, com quanto nunca abundasse em meios, a muilo desvalido abrigou em sua casa ; a outros soccorreu, prestando-lbes re- rursos para exerecrem sens oQicios ; e que para com lodos os pobres e inl'eiizes foi scm- prepae amoroso, mormenle para com os meni- nos desvalidos; um bomnm cbeio decaridade, ruja memoria e, e sera sempre viva no asylo da infancia de Coimbra, nnido por antigos lacos de gralidao com os nobres Duque e Du- queza da Torrcira, transjdanlou para e^la ci- dadc em 1830 a tenra planta, que vira co- mecada a cultivar-se na capitiil. Aos esforros do sr. Jose Maria Pereira, tao gralamente acolbidos, como plenamente preencbido-i pela illuslrada benelicencia da Atlienas porlugucza, foi devida nao so a fundarao a 9 de Julbo de 1833 da sociedade de beneficeucin de Coimbra pnra nsyhs da in- fancia desvalida, e da rasa d'asylo, que sub- sisle ainda hoje; mas 'o que e mais) a efl'e- cliva organisafao o disciplina da eschola, cujo principal niesire em todos os exercicios, at6 mesmo no canto, nao foi outre senao elle! Sonios cbegados ao poiito a que tendiamos. Qual 6 a situaj'So presente d'este estaheleci- niento? que benelicios presta as classes mais neeessitadas? comparado com os de Lisboa c do Porto, e attenios os recursos de Coimbra, a quaes consideracoes nos leva para ocredilo da nossa patria ? Conlinua A. FORJAZ. EGREJA DE SANCT'IAGO DE COIMBRA u As cliaves siio de Coimbra « Oncle o Senhor Deus me envia ; «« Vuu-rae abrir a D. I'crnanJo la piedusa cren^a constittie n assiimpio da linda clincara, que, sol) a epii;raptie — Jornada ffe Oun'qrte, piihlicoii ft !:r. Aiilunio .Keliciaiio de Caslillio nos seus Qiiadros Histon'c'is (fe Portugal.. ' Cotiquistns, Jiitifjuittades e I\'obrfza da mui insi- yne e inclita cu/ade dp Coiail/ra, cscri]/tas }>or Jntimio Coelhf) Gasca, Cap, III. * Kntre os onze conipanlieiros, que o Arcedingfo D. Telu recuUicii no m Ksteiro de Sancia Cruz de Coimbra, que fiMidiira em 1131, ri:.'iira em primt-iro logar D. Ho- racio, vara<» illu.sire e de j,'rande aiirlnridade, Prior da igypja de S. Thingn de Coimbra (ISirnlau de S. Marin — Chronica dos Conegns Herjt antes, seguiidn parte, cap. \\\). E verosirail, que logo depots de sua fnnda^uo fOsse eila efrnja sede de parocliia. * It'/lrrnes IlisI 'ricas pelo Consellieiro Joiio Pedro Uibeiro. Parle 1, \\.° Q, yn^. 29. ' Cunsta dn Marlyol'pio douso do coro, onde temofi o spguinle : Sexto Kaleadas Septembris. — Oedicatin hvjns liasHicae Dirt Jncnbi Jp-^tuli Colinibriensit : quae consecrala est anno milfiiiiio ditrcntrsimo quarto, ad expensas Dumune DanieUae^ ntbilis [eminae^ rujus aninia in pace requtcscat. 0 INSTITUTO 43 'Nella foi que o lofanle D. Pedro, Duque de Coimbra, e D. Alvaro Vaz de AIniada, Conde de Abranches, juraram, pondo as niaos sobre uma hoslia consagrada, nao sobreviver uni ao ouiro no esperado recontro com seus inimigos; e poucos dias depois d'este facto solemae e fatal/ Ingrato c feio Ca?o, digno das lorres de Bysancio, Viram de Alfarrobeira infames plainos Roxos do sangue das civis discordias.' Tern tres naves o temple; e com quanto successivos reparos Ihe liajain allerado a ar- chitectiira primiliva, ainda assim offerece nii- merosos vesiigios de veneranda antiguidade.' Na capella de Sancto Ildefonso exisie um tumulo de marmore, com o seguinte epitalio em caracteres goihicos. Em esla sepullura jazem o.s Itossos da/fonso domingues daveiro primeiro instiluidor d'esta capella os guaes foram aqiii po.ilos per pero dallpui seu tresnelo que ora he adminislrador da dila capella no ano do nascimeto de nosso senor sliu spo de mill e quinhenlos e quatorze anos. n. de gusmao. OS BANHOS DE LUSO Continuailo de pag. 31. Uisloria ' .liiannes Rravo Chamisso, lfi05. Amato Liisilano 1B20. '/aciito Lnsitano, 1 G76. l("ileririis a Caslro, IS(19. Joao Curve Semeilo(Pul)nntiiea MeJicinal), 1741. Mon- rava, 1745. Duarle Mailiira Arraes, 1751, etc. turberculos da face, dizem que Glhos de mor- phea adianlada. Por aquolle lempo fez cohrir os iianhos de ramagcni cm forma de barraca; e pouco de- pois mandou conslruir pelos seus criados a primeira barraca de madeira. Ainda em 184S morrcu em Luso de noventa e lantos annos, um dos criados, Manuel Galvao, ([ue ajudou a esle servico. As barracas fofam-sc aperfeicoando, e o seu niimero chegou a cinco ; mas em 1837 ainda se passava dumas para oulras por baixo d'agua ; c muilo cuidado era prcciso, para vedar a vis- tas curiosas as (isgas e buracos, que linbam OS reparlimenlps. Em 1848 a Camara Municipal da Mealha- da, com os rccursos de (]ue podia dispor sub- stiluiu as barracas de madeira por uma casa de alvenaria, e assim acabou com aquellas indecencias; mas de cerlo nao melhorou as condicfles hygienicas e Iberapeulicas do esla- belecimenlo. Eotndoaflainl dot bnnlios Aquella casa, que fez a Camara em 1848. e a qne ainda hoje la se ve. Tem de Vtio 25 palmos (|uadrados e lOjdeallura ate ao bei- rado. EsUi dividida em cruz por tahiqucs dc madeira em qnalro paries eguaes. Em cada uma d'estas partes ha >im banlio, c o corres- pondente eslrado. Os banhos lem o laslro de arcia, d'onde repucha a agua em pequenos gorgolOes. Os dois banhos para o lado SO. estao desprezados; porque a pouca agua, que 'nelles nasce, nao e sullicienle para os limpar do Iddo, que se Ihcs juncta. Os dois banhos melbores, de que actualmenle se fez uso, em quanlo Irabalham, conservam muilo clara a areia do laslro; mas de invcrno enchem-se de ludo e immundices, que Ihes deixam as cnxurradas d'csla verlcnte de serra. Esles dois banhos estao separados por um reparii- menlo de madeira, mas a agua communica livremente d'uma para oulra parte. Cada ba- nlio lem oilo palnios de comprido, seis dc largo e ires de prol'undidade. A aherlura in- ferior, que Ihcs da maior cscoanlc, nunca os faz despejar de lodo, por licar palnio e meio acima do laslro. Ja se ve, que so a esperanca de grandcs benelicios lem sido capaz de veneer o ledio de se enlrar 'num banho, que se nao dospe- jou dcpois da sahida dos ultimos h-inliislas, e cuja agua esla communicando com a do ou- iro banho, occupado ao mesmo tempo por pessoas que se nao conheccm. 0 ledio passa a enjoo repugnanie, quando se ve sahir do pro- prio banlio ou enlrar para o banho vizinho, al- gum d'esses infclizes com a face, iiiaos e pes co- berlos de chagas, ou Irislemenle desligurados por molestias ascorosas. Ainda bem que ha 0 INSTITUTO 45 0 recurso de se nao loraar banho 'nesle dia ; mas quando, depois de se eslar na agua, se descobrem no fundo do banho grandes pran- chetas de fios encrusladas de unguentos e de nialerias purulcnlas, eniao neni csperanfas, neni melhoras ja conhecidas, sao capazes de resignar o doenle, a que nao salte fora do banbo, fazendo mil proleslos de nao se tornar a metier 'nesle charco lao sordido. Nao tern havido para esle eslabelecimenlo nenbuns cuidados policiaes. Os primeiros ba- nhislas, que alii appareceni, sao foifados ao incommodo que cxigem os reparos c limpoza d'unia casa, que esleve todo o inverno com as porlas abertas, e serviu de deposito ao Iddo das enxurradas. Depois e costume lomar banbo queni pri- nieiro cbega; e, quando e graiide a concur- rencia, e preciso apparecer no banbo logo pela nianban, para ler vez as onze boras ou meio dia. Para se evilar esla dcniora e cos- tume pagarem-se 40 reis por dia a quern va toniar a vez. Uma ou duas familias, (|ue alii tern por officio esle servico, beam sendo os reguladores e os senbores arbitros d'eslas vezes ; e querendo por inleresse dar a vez a bora niais commoda simullaneamenle a mni- tos banbislas, occasionam desgosios e compro- mellinienlos, em que as vezes se acbam in- volvidas pessoas de educacao delicada. Em muilas occasiOes trabalham os banbos de dia e de noite, ou apenas descansam das onze boras ou meia nolle as ires da madru- gada, apesar de cada banho ter capacidade para tres pessoas. A bora mais commoda, e mais proveitosa, de mauban ale as nove, e de tarde passado o maior calor, nao a podc gozar a maioria dos doenles. Contiaua A. A. DA COSTA SIMOES. BREVES REFLEXOES Sobre os parallaxes das estrellas, e sobre os ins- trumentos do Observatorio de Coimbra. Desde muito tempo o desejo de conhecer as enornies dislancias das eslrellas levou os aslronomos a se occuparem da invesligacao da sua parallaxe annua; e por isso no regu- lamenlo do Observatorio da Universidade de Coimbra so recommendavani as observacOes da a da Lyra com o sector zenithal, por ser pequena a distancia meridiana d'aquella es- Irella ao zenith do mesmo Observatorio. Mas, neni d'essas obscrvacoes, seguidas no principio d'este seculo por alguns annos no Observatorio de Coimbra com urn sector ze- nithal d'Adams, nem d'outras da mesma es- pecie, feitas em diversos logares, se tiraram resultados, que excedessera os limites dos er- ros dos insirunienlos e das rcfraccOes atmo- sphericas. 0 mais notavcl foi o dos Irabalbos de Pond, que assignou a parallaxe absoluta da a da Lyra o limite 0",26, egual ao valor da mesma parallaxe, que muito posteriormente achou Mr. Struve. Mais tarde inlentarani-se com novo ardor as observacoes lendentes a mesma invesliga- cao; porque os consideraveis melhoramentos, fjiie reeeberam os inslrumcntos astronomicos, prometiiam I'azer sahir dos limites dos erros d'elJes as parallaxes das eslrellas, que as ti- vessein maiores: principalmente usando das observayOos dilTerenciaes d'aquellas, cuja dis- tancia angular e pequena, e cuja distancia reclilinea se suppoe muito grande, como fez Bessel a respeilo da 01 do Cysne ; por serem taes observacues proprias para dar a paral- laxe; indepcndcnles dos erros absolutos dos insirunienlos; e nuiito pouco inlluenciadas pelos das refraccOes atmospbericas, e da pre- cessao, nulacao e abcrracao. Aos esforcos de Bessel no Observatorio de Koenigsberg, de Henderson no do Cabo da Boa-Esporanca, de Struve no de Dorpat, e de- pois no de Pulkowa, e de Pelers 'nesle ultimo; e especialnientc a perseveranja p enlliusias- mo conrque Mr. Struve se tern dedicado ao esludo da aslrononiia stellar, e devido o que lioje se conbece melhor sobre a delerminacao d'uni elemenlo lao delicado ; e que se reduz a terem com grande probabilidade parallaxes sensiveis as eslrellas seguinles; parallaxes, das quaes a maior suppoe a distancia da es- irella egual a 22S920 vezes a distancia do sol a terra : aCenluari CI Cygni a Lvrae Sirius 0",913 0",34S 0",2C1 0",230 1830 Groombridge •0",226 ( Ursa? major is Arctnrus Polaris Capella I 0",133 0"127 0",067 0",Q46 Da alguns annos Mr. Faye, astronomo do Observatorio de Paris, e Mr. Struve, Director do Observatorio de Pulkowa, ronvieram em ([ue a posicao de LiMioa, por Ihe passarem muito perto do zenith algunias das eslrellas rcferidas, era excellenle para eniprehender uma serie d'obscrvacocs lendentes a mesma invesligacao, na qual nao podessem influiros erros das refrac- f oes ; c Mr. Faye aconselhava para esse fini 0 oculo zenithal desua invencao. Masconsla- 4G 0 INSTITUTO nos que ullimamcnlo Mr. Struve se offerece para conlrihuir com ludo o que cstiver ao sou alcance, aliin dc que urn Observatorio, fundailo nos suburbios de Lisboa, seja dolado com urn bom iuslrumenlo de passagens, collocado no primeiro vertical ; que, por ser d'uso maisex- lenso, acha proferivel ao oculo de Mr. Faye; e com obscrvadores por clle amestrados no USD do mesmo instrumenlo. E com clleilo ape- sar de nao coiiliecermos praclicaniente o ins- trumenlo prcferido por Mr. Slruve, entende- nios queclle podedarcom muiLa simplicidade a declinajao por mcio do angulo liorario e da laliliide do logar. Sem duvida, por serem as distancias 3',B' e 41' dos parailelos das cstrellas a da Lyra, 4010 do Calalogo da Briths association (que julgamos ser a 1830 do de Groombridge), e 61 do Cysne, inferiores as distancias r34', l°2B,'e"2° ir dos mcsnios parailelos ao zenith de Coimbra;seasobservacoes d'ellas se devem repular quasi indepcndenlcs dos erros das re- fraccoes nosegundo d'esies jogares, ainda mais 0 sao no primeiro. Cumpre poreni advertir que, sendo os erros do zenith dos instrumen- tos.comque se observam distancias zenilhaes, tanto mais influentes 'nestas distancias, quanto mais pequenas ellas sao. c necessario que os instrumentos, que se deslinarem para taes observacoes, sejam perfeitissimos na sua cons- truccao, firoieniente assenlados no solo, e sus- ceptlveis da mais escrupulosa reclilicacao. Se taes instrumentos se alcancarem, e forem salisfeitas as condicijes apontadas, podera o projeclado Observalorio, se chega'r a edilicar- se, servir com vantagem para a delicada e espinhosa determinarao da parallaxe annua, que e a base da astrononiia stellar. Confiamos poreiu. que a louvavel sollicitude do governo pelo objeclo especial a que se di- rige a lembrada fundacao d'aquelle Observa- lorio, nao fara esquecer o da Universidadc de Coimbra, nao so para o mesmo lim, para o qua! tambem sao muilo proprias a sua posicao c a sua construcjao ; mas principalmente para 0 flm eminentemente ulil do aperfcicoamcnto econtinuacao das laboasaslrononiicas : porque 'neste estabelecimento ja temos o que mais custa, um rico edilicio, conslruido de propo- sito com a solidezc cstabilidade convenienles ; e instrumentos como uma boa pendula e ura soffrivel circulo rcpetidor, que poderao ser niuito uteis, quando forem acompanhados com OS que a Faculdade de Malhcmalica tern inces- sanlemente pedido, c que o governo foi au- ctorisado a comprar pela Carta de Lei de 23 d'Abril de 18S0. Seria na verdade para senlir que, em quanto na maior parte das nacoes, e cm algumas com grandcs sacrilicios, o adiantamento da astro- noniia practica, e a corrcccao das tiibuas as- tronomicas, que o rcprescntam, sao objeclo dos trabalhos, a que os astronoraos se dedi- cam, como 4 porfia, e dos quaes se pode ajui- zar pela Icitura do jornal astronomico de Schu- niaclier, boje continuado por Mr. Petersen; a L'niversidade de Coimbra nao podesse dar o seu contingente para o acabamento d'este grande edilicio, cujos elementos sao o resul- tado da laboriosa discussao d'uma longa se- rie d'observacOes, devidas a pcrscveranja dos astronomos, e a munilicencia dos imperantes: principalmente, quando na compra dos tres inslrumentos, o Circular mural, a Luncla me- ridiana, e o Equatorial, que a Faculdade de Mathematica pediu, apenas se gastarao cfirca de seis contos de reis, quantia em si pequena e insignificanle em relacao as despesas ja fei- tas com a edilicacao do Observatorio, e com OS instrumentos que elle possue. s. p. INSTITUTO DE COIMBUA SOCIOS HONORARIOS Os Eminenlissimos Cardeal Patriarcha, e Car- deal Arcebispo Primaz. Os Ex."'"' Duque de Saldanha. Conde de Lavradio. Conde A. Raczyusky. Visconde d'A. Garrett. » da Carreira. » de Sii da Bandeira. » de Santarem. Os 111.°°' A. Ilereulano. A. F. Castilho. Francisco Freire de Carvalho. n. Schaefer. J. 1. Roquete. Conselh." J. J. Rodrigues de Bastos. J. da Silva Tavares [Sacra familia.) Jose Freire de Serpa (Presidente ho- norario do anligo Instituto da A. Dramalica). Jose Vicente Gomes deMoura. Nos seguintes numeros se publicarao os na- mes dos socios e/fectivos e correspondenles. €) 3niSititttt0) JORNAL SCIENTIFICO E LlTTEllARIO. BREVE NOTICIA Do recebimento que a Unirersidade de Coimbra fez a serenissima senhora D. Catherina, Rainha viuva de Inglaterra, e a el-rei D. Pedro II., e ao Archiduque Carlos, nos annos de 1693 e 1740. Per morte do rei Carlos II de Inglalcrra regressou a estes reinos a Ruinha sua esposa, a serenissima senhora D. Catherina, irman d'el-rei D. Pedro II, a qual, vindo por Des- panha, fora ahi recehida com lodas as raos- tras de respeito e contentaniento. Nao quiz el-rei (icar atraz 'nestas demonstra- coes para com sua augusta irman, e ordenou por isso que se Ihe lizesse o mesmo recehimcnlo e agasalho nas terras d'esle reino, que a sua propria pessoa. Assim 0 fez saber el-rei a Universidade per carta regia, lida em Claustro de 2 de Janeiro do anno de 169s, no qual se assen- tou que ficasse tudo ao arbilrio do Rei lor, conformando-se, quanlo fosse possivel, com 0 que se tinha feiio, quando veio a Univer- sidade el-rei D. Sebastiao. A Rainha entrou em Portugal pela praca d'Alnicida, e chegou a 6sla cidade na quinta feira, que se contavam 8 de Janeiro d'este anno. 0 senado da Camara, que tinba appare- Ihado grandes feslcjos para o recebimento da Rainha, foi esperal-a a cavailo com suas va- ras, e precedida de dois tcrnos de charamel- las c ataballes, com os sens meiriuhos e of- ficiaes, e accompanhado da nobrcza e cida- daos, a quem se havia avisado, ate ao logar dos Fornos. Em um alto dcfronte do dicto logar es- peravam a Rainha o Reitor da Universi- dade, Ruy de Moura Telles, lilho do conde deValle de Reis, com seu sohrinho o conde de Sancl'Iago, que iam de carroca, e os Len- tes e Collegiaes, que tambem iam em diver- sas carroagens, e o Secretario da Universi- dade, Joao Correia da Silva, fidalgo da casa de S. M. Vol. I. JuNuo 1 - Chegada a carrofa real ao referido sitio, achavam-se todos a pe, e o Reilor, chcgan- do-se a portinhola, fez a practica, e acabada ella bcijou a mao a Rainha, e em seguimento a niais Universidade; e logo, niontando-se cada um na sua carroagem, se incorporaram sem preminencia de logar no acompanhamenlo entre os mais, por eviiarem contendas com a Camara,' que 'ueste acto se nao apeou : seguiu d'ahi o acompanhamenlo real ate a porta de Sancla Sophia, onde o procurador da cidade entregou as cliaves d'ella ao Vis- conde de Barbacena, govcrnador geral da provincia, que as apresentou a Rainha, a qual tomou umas flores, que com as chaves iam no pralo.* Aposentou-se a Rainha com a sua corai- tiva no palacio episcopal, que para cste (im Ihe preparara sumptuosamenteoBispo Conde, D. Joao de Mello.' Acompanhavam a Rainha cenlo e cinco * Nao encontr^mos uo archivo da Uoirersidade me- moria al^uma acerca do cerjmonial do recebiinenlo da Senhora D. Callierina; e por isso colligimos esta nolicta do que a esle respeito acliainos miiulamenle referido no Livro S.** da Correia^ da Camara de Coimbra, do aono de 1693. Parece-nos porem nao ser exacto o que a)li se le, de ipie a Universidade se incorpotara no acumpaniia- nienlo — sciii preminencitis, para evitar conirnifns com a Camara ; porqne esla, segiindo cunsta do mesmo livro a fi. 6, ia immediatameiite airaz da carroca Mange de Cister, A, Hbrculano. Ocrepusculo maluiino rouxeava asmnrgcns do Tejo. DeslorcenJo-se um milhoes de fio.'s, o rio CDcaminhava-se para o oceano, a con- fiindir com elle siias aguas aziiladas. Agora .sercno e limpido, miiiniurando a sombra dos choupos e salgueiros, que se debrucani aqiii e acola sobre a sua correnle ; mas depois, quando as chuvas conipram nos fins do oulomno a afoilar as faces pallidas dos cabecos, vimol-o muilas vezes rebramir com som medonho. Arrebatado por uma brisa deliciosa, o S. Bernardo ia deixando atraz de si as lorres do Bugio e S. Jullao. Avistamos depois as vjdracas do convenlo dos Jeronymos, onde os raios do sol batiam com brilhanlc rcllexo. De rcpunie a cidade mostrou-se a nossos olhos, niagcslosa como uma fada, grande como um giganle. Cingida d'um largo manto de verdura, ccr- cada de palacios magniticos, Li.sboa nao parece a capital d'um pequeno povo, mas a cabcga d'um vaslo imperio. Viam-se ao longe os maslros de muitos na- vies mcrcanles, e dez ou dose vasos de guerra. Defrontc do palacio de Beiem eslavam anco- radas duas naus inglezas. Entrando depois no quadro, divisa-se a estalua de D. Jose 1 'numa das mais bellas prafas da Europa. Mas a illusao nao dura muilo, e esse corpo giganle loma bem depressa as dimensoes de pygmeu. Ab! nao! ja nao e essa Lisboa formosa, dormindo voiupiuosamcnte nas aguas do seu rio, ou pavoneando-se ailiva, como uma rai- nha; e a Lisboa mercenaria c corrupla, que sc arrasta no lodo, sorrindo aos insultos, que Ihe aliram as faces. Adesgrajada! revS'num pensamento devorador, 'numa syntbese alroz seu longo e glorioso passado, sou iriste e ne- gro fuluro. Pela alia noiie de seu viver de seculos la Ihe desponia por vezes um rapido reflexo d'alegria. Mas que imporla isso, depois que, esmagada debaixo do pSsodos tribulos, dilacerada pelas luctas de bandos civis, prosliluida as paixoes desregradas, trocou os seus loiros em mil ba- lalhas por um Iriste ramalhele de flores?! Engolfado 'neslas cogilacoes dolorosas, es- lendi os olhos para ofirmamenlo, aonde nem uma sonuvem corria. Pelas faces senli depois deslisar uma lagrima. Fervida e ardente foi a orafao que niurmurei, antes de pisar essa nohre lerra de Portugal. Um dia, pensava eu comigo mesmo, esses enredos ambiciosos serao desmascarados a face do povo: correremos todos a rodear os pen- does da independencia da patria, e ao grito d'essa guerra sancta csla najao cadaver ha de resurgir de seu negro sepulcliro. Mai pensava euquc naocstava longe a hora em que se abriria para cste malfadado paiz uma longa carrcira de dcsventiiras. Ao desembarcar no icrreiro do Paco despe- di-mc do meu joven companheiro de viagem. Os acontecimentos que se seguiram cmba- rafaram-nie de o tornar a ver tao cedo, como desejava. Soubc depois que morava 'numa hospedaria ingleza na rua dc S. Francisco. Oadeusmclancholieo dojovcn, no momento 0 INSTITUTO 51 em que. ia deixar a terra natal, nao se me riscava da lembraiica. Sua alma innocente e pura derramava na minha, ja creslada pelas lempestades do espirito, suas niais sanclas as- piracOes, suas crencas fervorosas cm Dcus e no fuluro; i; eu, liomem solitario e trisle, ha- bituado a sentar-mc sobre ruinas ou sobre a pedra dos sepulchres, seniira oulra vez a es- peranca escaldar-iiie a I'ronte, como nos beilos dias da minha juvenlude. A resoiucao c cnergia das almas fortes e apai.xonadas revclava-se-lhe nas feicoes. Crean- ja, embalada ao som das tormeiUas da cosla, nao seria um sopro do veulo, que a deilaria no cbiio, mesnio assim fraca, debil, e apenas na infancia da vida. Aquella imaginatao de onze annos creara-se no meio de scenas ter- riveis emageslosas. Mas o que linha um podi^r immense para elle, o que era capaz de o fa- zer curvar, como o ramo d'uma arvore, quando das bandas do norte surge urn goipe de vento, quederriba tudo, era a saudade que oaDligia, que 0 opprimia d'amores por sua mae. Porque nao eslava alii tambem a eompanhei- ra de seus brincos da infancia? a sua Marga- rida? o anjo, que Deus linha posto a seu lado para ihe sorrir na aurora de seus primeiros dias? Quanlas vezes nao passearam junclos na praia? Quanlas noites se nao assentaram nos torreoes da Candelaia, a admirar a belleza do ceu, 0 brilho das esirellas, e os espiendo- resdo mar? Nao linham ellesjunctos abencoado 0 nome de Deus 'naquelles niomentos de inge- nua fe e sublime adoracao? 'Nessa nolle fui visilar o men excellente amigo, . . . . de ***. Sabia que elle era o alvo de grandes e poderosos inimigos ; e dese- java saber o seu juizo aceroa d'esse esUido deoscillacao e de crise, que infundia lao gra- ves receios pela seguranja do Ihrono c da li- berdadc. Sinceramente alfeitoado ao governo represenlalivo, seinpre deplorei essa cegueira dos partidos, dos que Irociim a paz d'um povo livre pelo tumulluar das prucas piiblicas. Parecia-me que aos sanguinolentos combales da guerra civil, e aos desaslres e perdas, ([ue d'ahi linham resuliado, devia succeder uma longa paz, que rcaniniasse a indusiria e a agricullura aballdns, que assentasse em lim 0 ediliclo das liberdades piiblicas sobre bases solidas e esiavcis. 0 meu amlgo eslava so, quando entrei. Conversanios largo tempo, primeiro sobre recordacoes do exilio, depois sobre a revolu- cao, que se dizia imminenle. aJulgaes, me disse elle, que, em o povo se acoslumando a grilar nas praeas como um furioso, sera facil depois reprimir-lhe as iras, ou detcr-lhe a carreira, se um dia elle se lem- brar de por as maos 'nesle Ihrono, que levan- lamos sobre a ponla de nossas espadas? — Creio, Ihe respondi, que a similhanca da nacao franceza, a mania das revolucoes o ba de arrojar ao campo da guerra civil, a esse campo maldicto, que priva a pairia de seus lilhos mais querldos. Vergonha porem aos que assim accendem o brandao da dlscordia, quan- do as cinzas dos que morreram ainda esiao quenlps; quando o luclo cobre ainda o roslo das viuvas e dos orphaos I « Mas que querem esses homeus, continuou elle, repelir as luclas do povo e da realeza, que fizeram de Luiz XVI um martyr? inau- gurar aqui o governo repubiicano, quando nao e possivel quebrar as cadeias, que nos prendem a esse passado da monarchia, sem- pre forte, robuslo e glorioso,que fez de Por- tugal uma das primelras naf5es da Europa? — Se e verdade o que hoje tenho ouvido, a revolucao conta com algumas cabefas, que Ihe tornarao facil o triumpho. «E quemsao esses miseraveisconspiradores? — Ua enlre elles almas inflammadasdo mais sanclo palrlollsmo, e que acreditam sincera- mente nas promessas dos chefes ; o mais nao vale a pena, que se Ihes d^ esse nome. Avidos de dlnheiro e de empregos, pensam que o estado Ihes deve rlquezas e poderio, uns porque anda- rani ahl alguns mezes com as armas ao hombro, outros porque visliaram as margens do Tamlsa e do Sena, em quanto nos affrontavamos nos campos da batalha as balas inlmlgas. (iCobardes! repllcou elle. E seguiu-sc depois uma longa pausa. Conhecl que nao era esle ensejo para lou- gas practlcas. Despedi-me, desejando-lhe uma noite socegada e iranquilla. Negra ia porem a nolle. Os mil lampeoes da cidade brilhavam nas irevas, como diamanles; eo brado das sen- tlnellas do vclho castello de S. Jorge resoava na praia, trisle, somhrlo e lugubre, como o canto d'uma ave d'agoho. E quern aquellas boras visse Lisboa, recostada nas aguas do seu rlo, como uma donzella pensativa e trlste, senii- ria um d'esses aperlos de coracao, que gelam 0 sangue nas velas. Ouviram-sc dez badaladas, sonoras e nielan- chollcas. Vcdcs ^quelle raonumento, que se ergue no meio da cidade conioo esquifed'um morto? E a veiha cathedral de All'onso Ucnriqnes. Seple seculos Ihe passaram ja pcla cabeca. 0 grito de Allah rcboou primeiro nos seus muros de pedra; mas veio depois a espada dos guerrel- ros de Chrislo, arrazando muros, assolando cidades, e decepando cabecas. E a bandeira chrislan se erguera iriumphante no alto de suas lorres. Enlao as suas columnas se vestiram de flores, seus allares de loiros: todos os dias vinbam pregar-se-Ihe nos dourados teclos ban- deiras couquisladas sobre o inimlgo a ponla da espada Era um viver de glorias ede pom- pas, como nao teni havido nem ha de haver. Mas agora, em logar de feslas e alegres can- 0 INSTITUTO ticos, a sua orafao do dia e da nolle e urn ' — dies ira- soiul)rio, implacavel e lerrivel.... \ essa liora agitavam-se em roda do vellio temple viilios de homens, cscuros, negros e horrendos. I'm murmurio de vozes, que se inlerpellavam, que se inlerrompiam, que se enfureciam ; e um linir d'armas, que a luz dos lampeoes as vezes alraifoava. . . . Que singular myslerio seria aquellc?. . .. 0 sine da calliodral biileu oulra vez, com- passado e irisle : era meia nolle. Enlao aquelles vullos dispersaram-se a voz de uui homem. E ouviu-sc depols uma infernal vozearia, que espantava e alroava liido. Batallioes armados apoderavam-se das posifOcs niais fortes da ci- dade. 0 lerreiro do paco via trinta mil cabe- cas moverem-se no scu vasto recinlo, coino espi- gas 'num campo de scaras. Uma selva de lan- cas e baionctas guarnecia lodas as ruas. Sabeis o que aiiuillo signilicava em phrase moderna, pomposa, suave, elegante e harmo- niosa? . . . Unia revolucao, Quinze dias depois fui visitar o meu joven companbeiro de viagem a rua dcS. Francisco. CottUnua ALEXANDRE MEinELLES, OS BANHOS DE LUSO Conliimado de pajr. 45. niHtoria ilo luelOioramcnto iloM Uaiiliofi 0 laslimoso eslado, em que vemos esle es- labeleciniento de lanto interesse publico, leni clamado bem alto pelos sous ii^elhoramentos; e cusla a crer que assim se tenlia conservado, distando de Coinibra apenas Ires leguas e meia, 6 lao geralmente eonhecido pelos benelicios que teni ministrado a lantas familias d'esta cidade. So em 18480 Governador Civil doCoimbra, 0 sr. Lopes de Vasconcellos, fez reunir, inesmo em Luso, uma cammis«ao a ([ue presidiu. Mas, como visse que nao havia accordo na opiniao dos medicos querendo uns que os banlios se tomasscm stjbre a nasccnle, c oulros em linas ou banbeirasdomodo estabelecido 'nuiu piano, que 0 sr. BalJy eulao olTcreceu ; vendo a maio- ria da commissao inclinada para esle ultimo pa- recer, eo primeiro pulilicado 'nuuia memoria liihograpbada 'naquellc anno pelo medico da Mealbada, o sr. dr. Mourao, de saudosa lem- branja; poreslas dissidenciasdei.\ou ficartudo no mesuio eslado. Em junlio de ISiO achiimos no sr. Jero- nymo Jo>e de Mello e no sr. Barros, enlao Secretario Geral, os melliores desejos de faze- rem accordar esles projeclos do profundosomno em que jaziam Rcconbeceram que lodos esles iraBallios deviam coniccar pela analyse das aguas; mas, apesar dos seus csforcos, occiirren- cias inipediram ijuc ella se lizesse cm nielhor eslacao ; e so em novcnibro podcmos cousoguir 0 primeiro ensaio da analyse (jiialitaiiva. Nao tendo apparecido ainda enlao um pro- jeclo regular que podesse guiar as commissoes 'nesles Iraballios, c que apontasse a fonle dos meios pecunarios para a realisafSo d'um piano, sua conservacao eaperfcicoamcnlo progressive, lembriimo-nos de cnclicr esle vasio na falla de quern niclbor o quizesse fazer. Formulamos em relatorio a bisloria resumida do cstabelecimento, o eslado cm (|ue seacbava; a precisao dos seus uielborauientos ; a analyse qualilativa ([uc se linha feiio; o nosso piano de construccao, acompanliado da planta baixa e niais desenbos de lodo o edilicio ; o seu orja- menlo, e a indicacao dos meios pecunarios. Com esle relatorio apresentamo-nos ao Go- vernador Civil, 0 sr. Tbomaz d'Aquino Mar- lins da Cruz, no dia 13 de feverciro de 1850; e muilo nos satisfez o bom acollnmenlo d'estes projeclos. Traclou logo do organisar uma commissao, composta de pbilosophos, medicos, e um in- genbeiro, que se instalou no dia il de feve- reiro. Para seajuizar da direccao que a com- missao deu a esles trabalhos transcrevemos as aclas das suas primciras sessoes. 1.' Scssao em 27 de fevereiro de 18S0. Pre- sidenle o ex."" sr. Governadur Civil, Tbomaz d'Aquino Martins da Cruz. :^ .A commissao en- carregada do melboramenlo dos Banbos de Luso, composta do ex."'° sr. Governador Ci- vil— Presidenle; dos ill.'°'"srs. Doutores Ma- nuel Marlins B.indeira, Anlonio Sanclies Gou- lao, Jose Maria d'Abreu, Jose Ferreira de Macedo Pinlo, Francisco Antuncs deMacedo, Antonio Ferreira d'Azevedo ; do ill."" sr. dire- ctor das Obras Publicas, e do secretario An- tonio Augusto da Costa Simoes, depois de ter ouvido ler o Alvara da sua nomcacao de 23 de fevereiro de 1850, inslalou-se hoje pelas 11 boras da manhan. Faltaram o sr. director das Obras Publicas, e por ausente, o sr. Ma- cedo. 0 ex."" presidenle apresentou a commis- sao 0 relatorio, acompanliado da planta baixa e mais descnbos relalivos a uni piano de me- lboramenlo dos banbos, oflVrecido pelo secre- tario. Deliberou-se que a analysc|qualilativa, moncionada 'naquulle relatorio, era suQiciente para d'rigir os trabalhos de conslruccao do novo edilicio ; e que para nielhor poderem dar 0 scu vbto sobre o piano olferecido, esle piano e 0 relatorio corressem lodos os mcmbros da commissao. Por esta forma se deram por con- cluidos OS trabalhos d'esla sessao, de que la- vrei a prescnte acia. Sala das sessoes 27 de fevereiro de ISHO. (Scgucm-se as assigna- turas). 2." Sessao em 11 de abril de 1850. Pr(^i- dcnte 0 ex "° sr. Governador Civil, Tbomaz d'Aquino Martins da Cruz = As 11 boras da manhan abriu o ex.'"" presidenle a sessao. Faltaram os srs. djreclnr das Obras Publicas e, Azevedo, e por iricommodo de saude o sr. Goulao. Lida a acta da scssao anlecedcnte foi 0 INSTITUTO 53 approvada. Oex."" prcsidente poz em discus- sao 0 piano proposto para mellioramento dos banhos, que foi approvado por unaniinidade, por se jiilgar o mais convenienle ao estado actual da nascente, devcndo com ludo sujei- tar-se a quaesquer modificacoes que a explo- rajao do terreno venlia a exigir. Assentou-se que nao liavia inconvenientc em serem de enxamel as divisoes inleriores do edilicio; e que lambera nao liavia inconvenienle cm so empregar na constiucrao dasparedcs aquella pedra de que foi reniellida a commissiio uma anioslra. Tanibem se approvou a lemiiranca do sr. Abreu, de serem forrados de azulejo OS banhos e o reservalorio. Por esla foriiia terminaram os trabaibos d'esta sessao, de que lavrei a presente acla. Sala das sessoes 11 de abril de 1830. (Seguem-se as assignaturas). Continua A. A. DA COSTA SIMOES. B&NCOS AGRICOLAS E CREDITO TERRITORIAL 0 tempo e a experiencia cncarregaram-se de mostrar que as bases mais seguias e inva- riaveis do crcdilo assentam nos melhoramen- tos da cultura das terras. Hoje ninguem se atreve a duvidar d"esle principio. Quando as financas assentam na agricul- lura florescente, nao morrem nunca, neni se deterioram facilmenle. Esta verdade, enun- ciada por um bomem do seculo, eslabelece as relacoes intimas entre os progresses da agricultura e das iinancas, e iodica a melbor base de urn syslema linanceiro. 0 ouro e a prata, variaveis como valores commerciaes, nao sao os signaes representatives mais segu- ros, nem osmais reaes. Os mais invariaveis e mais seguros sao os que lem por base os va- lores reaes do trabalbo, da propriedade, e dos generos de primeira necessidade. E todo 0 estado, para cbegar a prosperidade de que e susceplivel, precisa de meios circulantes, proporcionados a tudo o que compoe os va- lores reaes, moveis ou immoveis, monetarios ou induslriaes. A necessidade de organisar o credito, e o que a tudo sobrcleva, a urgencia de fiindar 0 credito territorial, scm o qual podemos ter por impossivel a organisacao regular das nos- sas finanjas, e geralmente sentida pelo es- tado da fazenda piiblica e da agricultura, que de dia para dia vae definhando pela ca- restia das especies motallicas, distrabidas do seu cmprego natural para as mais lucralivas especulacoes da agiolagpni. Se os verdadeiros conlieo*nienlos economicos nao acodem a um mal profundo, que nos vae minando as cn- tranbas sociaes, vamos ao abysmo por um piano inclinado. 'Num paiz, em que mais de tres quarlas partes se emprega na cultura, a industria agricola e a primeira que reciama as allen- coes mais serias. Melbore-se esla industria; que OS valores constiluintes da riqueza nacio- nal e as fontes da rcceita publica irao pro- gressivamente augmentando. Mas seni a vara magica do credito nao conseguira nada a in- dustria agricola. Qiial sera pois o melbor meio de fundar o crcdilo territorial? 0 credito nao se funda nem se organisa sem insliiuicOes de credito. As que existem com 0 nomc de bancos de circulacao e depo- sito, posto que onerados nas condigoes da sua criacao com a obrigacao de cmpreslimos a agricultura, pouco ou nada Ibe aproveitam ; porque esto genero de bancos nao podc fa- zer cmpreslimos senao a curtos prazos, a que mal pode responder a propriedade immovel; e a exigencia de penbores seguros, e de prom- plo rcalisaveis, neulralisa complelamente o benelicio, que a lei da criacao dos bancos teve em vista. Para o credito agricola e in- dispensavcl outro genero de bancos, que faca 0 niilagre de por em movimento a circulacao 0 que de sua naturcza e immovel ; que sub- slitua as especies metallicas o representativo de valores lixos, permanentes e solidos. Nao e novo o pensamcnlo. Nao e uma sim- ples theoria. A novidade e so de applicacao ao nosso paiz. Os bancos da Escossia, fundados no seculo XVII, aos quaes deve o seu estado florescente um paiz de sua naturcza ingralo; os bancos da Suecia e da Russia, fundados no mesmo seculo, sao da nalureza dc bancos territo- riaes: mas foi o celebre La"w quern concebeu, e elaborou as verdadeiras nocoes do crcdilo territorial, que nao quiz utilisar a sua pa- Iria, c soube aproveilar o grande Frederico da Prussia. Foi, coiiforme ao projeclo de Law, organisado o primeiro banco territorial na Si- lesia em 1770; e as prolundas feridas d'esla provincia, causadas pcla guerra dos septe an- nos, Iqram por elle cicairisadas, crescendo logo 0 valor da propriedade com a criacao dc papeis de credilo, cbamados liluloi de pe- nhor (letlres de gage), garantiilas pelos va- lores das propriedades, iiue represenlavam ; ciija circulacao, progressivamente animada, niercccu em breve o favor de prcmio. Foi tao fcliz resultado o inceniivo da criacao de eguaes instiliiifoes em outras provincias da Prussia, e depuis em varies poutos da Russia, e Al- lemanba. Associados os proprietaries, e bypolbecan- do a essas insliiuicOes propriedades recebi- das por nietade de seu valor 'nuns, por dois tercos ou Ires quartos 'noutros bancos, re- cebiam d'esles os titulos de penbor; em cada um dos quaes se achava declarada a proprie- dade que servia de hypotbeca, e esla obri- gada ao pagamenlo do valor nominal do ti- tulo. Negoeeiam-se estes titulos, e iransfore-sc u 0 INSTITUTO 0 dominio por meio de indosso ; ou de rc- gislo em livro especial em alguns bancos: c pode exigir-se o valor, que re|)rescnlam, a sets mezes visln. Os possuidores dos lilulos reeebem uni jiiro do banco, de seis em seis mezes. Os aecionisuis pngam nos mesmos pra- zos urn jiiro estipulado, siijcito as regras do pagamenio do iniposin. No Diicado de Posen melhorou a assoclarao lerrilorial, irislituida em 1821, com a condicao de nao ser luinca exigivol do banco o valor rcpresenlado, antes de cinco annos decorridos da fundacao da so- ciedadc; e com a de pagarem os devcdorcs b por cenlo ao anno, sendo uni deslinado a amortisafao. Apesar do todas as vantagens oblidas pelo credito lerrilorial, o syslema adoplado, ainda com as liilimas modilicacoes, deixava niiiiio a desejar. A avaliacao dos bens associados, de que dependia em primeiro logar a eslabilidade da associacao e segiiranra dos inlercssados, ca- recia de uma regra lixa e segura, que inspi- rasse as garanlias indispensaveis. A bypolheca especial, designada no tilulo do peniior, expunlia o proprielario respeclivo a inconimodos em liquidajoes, ainda que re- ligiosamenle houvesse cuniprido os doveres da sociedade, nao obslanle a solidariedade de todos OS associados. A falla de amoriisacao periodica c regular dos valores represenlados expunlia a socie- dade a uma duracao irregular e indelinida, alem do lermo do compromisso dos associados. A condifao da exigibilidade do valor dos lilulos compromelte a direcfao em niomentos de crises politicas, monclarias, ou /iiianciaes. Foi na applicacao a Polonia, que o sysle- ma de crcdilo lerrilorial soube eviiar esses inconvenientes. 0 valor das propriedades, re- giilado pelo imposlo, podia a arbilrio da so- ciedade ser ainda diniinuido em casos espe- ciaes para seg\iranca da hypollicca. Suppri- miu-se a condicao da exigibilidade, ficando OS lilulos de durafao permanenle, diiranle a exislencia da sociedade. Eslabeleceu-se a amoriisacao regular, pagando os devedores juro de 4j, para inleresses e despesas da sociedade, e 2 J para amorlisagao. Correspondeu a estes niellioranienlos o suc- cesso niais complelo. As letras de penlior da Polonia comecaram a girar pela Allcnianha, Russia e Ilollanda, com grande credilo. A exempio d'esle banco, onlros se fnndaram em varies ponlos da Europa debaixo da niesma regra. No Jornal dos debates, de 1 de abril de 1838, publicon o Conde Jdski, anligo gover- nador do banco da Polonia, um excellenle arligo sobre a fundafao. adminislracao e re- sullados d'aquella insiiiuicao : o qual podia servir de modelo a outra insiiiuifao do mes- mo genero, preccdendo o conbeciraento inli- mo, c 0 esludo profundo da riqueza, cstado, indole c babilos do povo, a que prelendes- sem applical-o. Parece, porcm, que a mais feliz conccpfao, 0 pensamenlo mais simples e mais fecundo em nialeria de credilo, eslava reservado a Laborderie. Em um projeclo de banco agri- cola, publicado por este econoniisla em 1848, apparece a mais vanlajosa ideia da insiiiui- cao de crcdilo lerrilorial. Cada um dos associados no banco agricola recebe uma accao de valor correspondenle ao da propriedade que bypolheca, e recebe annualmenle 2f d'esse valor. 0 banco em- • presla a 3j a proprielarios, liypolbecando suas propriedades ao pagamenio da divida, no valor de um lerco menos do valor real, a prazo de Ires annos. Se o devedor paga parte da divida no lim do prazo dos tres annos, pode conlinuar ale seis ; e pagando outra parte no (im do segundo prazo, conlinua ale DOve, tempo em que deve solver loda a di- vida : nao satisfazendo, e cilado peranle o tri- bunal de primeira inslancia do seu domicilio, para se assignar dia a venda da propriedade bypotbecada sem mais formalidade alguma. Todas as despesas do processo do cmprestimo e do pagamenio sao a conta do devedor. 0 banco emilte notas, como meio circulante, cujo valor fica atianfado por duas bypolbecas segurissimas, uma do fundo do banco, outra do devedor. Se um proprielario hypolbeca ao banco, na qualidade de socio. Ires conlos de reis de propriedade, augmenia por esse facto a sua renda com o valor de sessenia mil reis. Se lonia de empreslimo ao banco dois con- los, para o que e precise bypolhecar uma propriedade avaliada cm tres, paga annual- menle sessenla mil reis. Por esta forma, seni descmbolcar um real, adquire o socio dois contos de reis; porque a divida do juro e saldada com o premio que deve receber. 0 governo, lendo a sua disposicao bens nacionaes, pode associar-sc no banco, e as- sim augmenlar a renda piiblica, e tomar em- prestimos, que llie ficarao por preco niuilo niodico. Assim, associando-se com duzentos contos, augmenia logo a renda qualro conlos. Se to- mar de empreslimo cem conlos, nao so nao desemboica nada para juro, senao que ainda lucra um conto. 0 banco, assim constilnido e dotado dos direilos, prerogalivas e privilegios que cos- tuniam garanlir os bancos de emissagt, e o symbolo do poder magico mais polente, do triumpbo mais completo, a que pode chegar o espirilo de associacao. Muliiplica, e poe em circulacao os valores imniovois; e fecunda a agricultura sem desembolco de um real. 0 premio de 3je o unico supportavcl per 0 INSTITUTO 55 uma industria, que, liquida de despesas, pouco raais produz. Um por cento de lucro nao so acudira as despesas da adminislracao, senao que, fazendo-se operacoes em grande escala, dara sobejos applicaveis a fomenlo da indus- tria agricola, e subsidios a estabelecimenlos de caridade. Lenibranios este poderoso meio de augmento e circulacao de valores. A. nossa agricuitura, toda rotineira por faila de esciiolas agriolo- gicas, oppriniida c avexada com usuras enor- mes, que a nao deixam rcspirar, delinhada pela falla da animacao, que enconlra em ou- tros paizes, e niornienle pelo desequilibrio en- tre 0 preco do genero, e a despesa da pro- duecao, reclama o empri^go d'este meio cx- traordinario e salular. Um banco agricola no Alemtejo, oulro na Beira, e outro no Douro, nao seriam o meio de dar vida a nossa agricuitura? m. RESUMO DAS PRELECQOES OE ESTADISTICA Que haveriam de fazer-se no curse lectivo de 1851 —1852. Continuado de pa^, 35. Nao ha, nem pode haver, dilTerenles espe- cies de esladistica, considerados em giobo, e em sen verdadeiro olijecto, os traballios pro- priamenle csladisticos. Todos os elenientos, de que ha de formar-se a estadistica de uma najao, sao partes necessarias de um lodo, que deixa de existir, faltando-ibe algum d'elles. Todavia, consideradas essas paries,- cada uma de per si, podemos dislinguir esladis- ticas locaes e especiaes da geral de todo o eslado. As locaes exprimirao a siluagao de uma so provincia ou cidade. As especiaes com- prehenderao uma so ordem de faelos, por ex., as forcas miliiares, a receita piiblica, a des- pesa do estado. Uma esladistica, que abrangesse lodos os estados, ou pelo nienos os que conslituem o systema europcu, poder-se-ia d\zer universal.' Abusando-se do nome de esladistica, como se quizesse dizer exposicao de uma quaiquer siluagao ou eslado [status], e nao propria- meute do estado social ou politico {status rei- publicae'), tern sido por elie desigiiados al- guns traballios, que se assemelham na forma, mas sao intciramenle dislinclos na materia, por ex^ — esladistica dos cafes, dos iheatros, etc. Nao sao mais do que invenlarios ou re- senlias de faelos de um inleresse puramenle particular. ' Diet, de la convers. — 5s, e por isso so llie dire- mos com Clialibus {Ilistorische Entwickelgunij p. 178) — « Fichle nao so foi nial conipre- hendido durante a sua vida, mas ainda o e hoje.o — A doulrtna de Kant sobre o dircito leve desde logo niuitos sectaries, que a deler- niinarnm e applicaram mclhor a lodas as par- tes do dircito; laes I'oram Schmaiz, Ilciden- reich, Gros, Zacbariae. Krug, Ilaus, Rollcck, etc., e 0 sr. Pedro Autran da Malta e Albu- querque, professor no universidade de Olinila, nos sviii Elemenlos dcdireito natural pciuaf/o, publicados cm 184S. Oulros porem nao satisfeitos com a deduc- cao do dircito, feita por Kant, mas basoados I'nais on racnos na sua ideia, propozeram no- vos principios, Ahrens seguindo, e quasi que copiando Krause, reduz a duas classes os divergentes do principio do rcslaurador da philosopbia primaria ; nao adniittindo a dis- tinccao ricjorosa entre o dircito e a moral, retrogradando 'nesta parte ate Grotius, rcfere 0 dircito a moral. U'este numero, em que figura modernamente Mr. Belime, o mais dis- tincto pliilosopbo e Bouterweck, tao conlieci- do pela sua bisloria da poesia e eloquencia uiodcrna, o qual no seu Tractado de dircito natural (1813) faz consistir o direilo no — complexo das condicOes exteriores para a vida moral do liomem' Formulando assim o dirci- to, Bouterweck nao o confunde inteiranicnte com a moral, conio modernamente (ez Jouf- froy ; mas sim em quanlo o reduz as condi- cOes exteriores para o desinvolvimento moral, quando e certo, que elle se deve refcrir a lodos OS fins racionaes, rditjiosos, scientificos , monies, urtisticos, induslriaes, etc. Kste syste- nia, que foi seguido por outros pliilosophos. tevc pouca acceiiacao. A scgunda classe, admiltindo com Kaiit a distinccao entre o di- rcito c a moral, procura lodavia completar a nocao do direilo, por acliar nimiamenle es- treilo 0 principio de Kant. Foi Al)iclit 0 prinieiro, que no seu Direito valural (ITOB) adverliu com razao, que o direilo se nao pode reduzir a forma da coc- xistcncia da liberdade buniana ; mas que deve dirigir-se a lodos os lins gcraes da natureza liuniana, e deliniu o direilo natural a — scien- cia dos direitos, deduzidos da natureza e do honiem, em confonnidade com a natureza de lodas as cousas, de que o liomem carece coino meios e condicoes para preencher os fins pres- criptos pela razao. 0 dofeito de Kant, que nao determinava o fim para o qual o direilo ■ Bouterweck foi iim dos que pretenderara, conic Fri- e«, conciliar a |'hiloso])hia de Kant com a de Jacob. deve existir, foi por este modo evitado ; e na verdade, deduzindo o dircito da natureza hu- mana, e referindo a elle todas as cousas que sao necessarias, como condicoes, para o fira racional da vida liumana, nao podia deixar .^bielit dc levar a Kant esla vantagem. Ape- sar porem de ler ja dado este passo, ainda nao exprimiu bcm o earacter do direilo ; I'cl-o consistir na relacao dc condicionalidade entre o Iim racional do homem, e os meios para o conseguir, mas mui abstractamcnte, e sem uma precisao rigorosa e necessaria. 0 principio do direito exigia 'neslc estado um desinvolvimento maior, e uma determi- nacao mais rigorosa. A gloria de ter satisfeito a esla necessidade scienlilica cabe a Krause, esse pbilosoplio verdoiramente social, que uma morle prenialura roubou a sciencia e a hunia- nidade em 1832. Assim se verilica na philo- sopbia do direilo a lei geral do desinvolvi- mento humane, que as grandes concepcoes scientilicas nao apparecem de rcpente com lodos OS sens ricos apanagios; eada phase dos bumanos conhecimcntos e necessariamente precedida pela que Ihe fornece os elementos indispensaveis ao seu progresso, e cujo hori- sonte vein dilalar: por isso Alfredo de Vigny no seu discurso de recepcao na acadcinia fran- ceza disse com razao: « Quels que soienl les monuments qu'ils laisscnt, les Iwmmes eminents d'une (jeneration ne sont rien que les cclaireurs de la generation qui les suit. Colltiiwa LEW MARIA JOUDAO. UNIVERSIDADE DE COimSRA Providencias sobre as relacoes litterarias com a Hespanha. Por jiorlaria de 19 de maio manda S. M. : — que o prelado da Universidade de Coimbra remetla a secreta- ria de eslado dos negocios do rcino, uni t-xoniplar dos eslalutus anilines e modernos '""• »l-5 ^i Universidade de BIBLIOGRAPHIA NACIONAL Principaes obras impressas, ou no prelo, na typo- graphia da Universidade em 1852, Janeiro a maio . Compendia de veterinaria, ou Uedicina dos animaes dojneslicos, approvado pelo Concelho Superior d'lnstruc- rao publica, e nduplad,, pela Fnculdade de PhiUsophia da Universidade de Cnmbra para texh das lirocs de releri,iari(i,\K\u sr. J. F. de Macedo Pinto. Lente Subs- tilulo da Faculdade de Medicina etc., I vol. in 8.° Revista Historira Potitira de Portugal, pelo Sr. J. A. dos Sanctos Silva, 1." e 2." Parte, 2 vol. in 8." No prelo:— Principios geraes dc Mechanica, pelnsr. A. SanchesGoiiKao, Lente Cathedratico da Faculdade de Philosophia. Cimplenientos de Geometria descriptivn de Fntirnj pelo sr. Rodrigo Ribeirn de Suusa Pinto, Lente Cate- dratico da Faculdade de Mathematica. Tibuns da Lua de JBnrckard, reduzidas para a Obser- vatnriodeCnmbra, pelosr. Florencio Magoliarreto Feio Lente Subsliliito da Faculdade de Malliematica. ' Elemeiitm d'Ecmomia p litica e da theuria da Esta- dislicu, pelosr. A. P. Forjaz, Lente Cathedratico da Fa- culdade de Direilo, 4." edi^-ito. Estudos d'Economia politico, ou explicarao dos Ele- menlos, pelo mesmo. Bosquejo Historica da Litleralura Clnssictt, Grega. Lntinae Pnrtngueza, \ie\osr. Antonio Cardoso Borges de Figiieiredo, Professor no Lyceii de Coimbra, e do Con- selho Superior d'Instrucgiio publica. Epheinerides Jstronomicas para 1854. Indice das plnnlas do Jardim Batanicu, pelo Director do mesmo, o sr, Antonio Jose Rodrigues Vidal, Lente Substiluto da Faculdade de Philosojiliia. Paesias d\-indre Falcao de Resende. Diccionarius Grceco-Latinus, pelosr. Jose VicenteGo- mes de Monra. Professor jubilado do Lyceu. Esta na le- tra T, e tem ji 281 folhas impressas. ?loticia bretissima auctorum graecorum.qui nb aniiquis- simis teniporibus floruerunt usque ad Constantinopolin Turcis expugnatam : pelo mesmo. Continua. 0 INSTITCTO REVISTA LIHERARIA E BIBLIOGRAPHIA ESTRANGEIRA A Bel^icA, ciijo progresso e eslado ^in^ularmente pros- pern t- bcQi cortlieciilu, conUao presenle seple CRdeira«; pu- blicas d'ecouuiuin polilica, iinia na Uuiversiilatle du estado era Liege, repida por Mr. Heriiuui ; oulra na de Gaod, por Mr. Derole; oiilra ita Vo\\ ersidiide catholicn de Lou- Tain, por Mr. Perin; oiitra na Liiiversidadc /iiTf deBrii- xelles, por M. Orts: oulra no Allienen Real de Bruxel- Ics, por Mr. MorIian:?e; ontra em Mons, por Mr. L. de Beaiilieu ; oulra cm V'erviers, por M. L. Massou, Aleni d'estas cadeiras, dos coIl»^g:ios o aUieneus do go- verno, a economia politica faz parte da seci;ao das scien- cias coDimerciaes. Ha tambem outros cursos livres, ins- tiluidos por parliculares, como, por exemi)lo, no Museu da Iiidustria deBrnxelies. t/o«r/in/ des econ'iniistes, J85ii, Janvier. Mr. I\[. Chevalier, o dislinclissimo professor d'econo- mia politica no Collegio de Fian^a, lioiive de suspender as suas It^ues por ter sido nomeado para o novo Conselho d'Estado, — Journ. 1853, i^eyer. Sobre proposta do luesmo foi nomeado para o subst'i- tuir M. Baudrillart, ja celebre pclos tdogios de Turj^ot e de Stael, que por duas vezes llie valeram o premio da eloqtiencia na Academia franceza ; e por excellenles ar- tigos no Dice. dVcon. polit. Deu principio com jrrande applauso no proximo maio, mostrando a lulima li;;a^ao da da phiiosophiacom a economia pulilica. Revue de I'instr. piibl. 6 i/oi, n.** 6. M. M. Villemaiu e Cousin foram jubilados, eseguida- uicnte nomeados professores bonoiarios da faculdade dn, que hoje existe. — {Rev. de riftstr. Publ. de 6. Mai. IHD'i). Mercudo de livros. — Sahiu a luz o novo catalogo de livros da feira da Pascoa em Leipsick. O catalo;;o ante- cedente, desde a Pascoa ale ao S. Miguel de 1051, con- tiitlia 3:(J60 tilulos de obras publicadas e 1; 13G que es- tavam para sair do jirelo. O calaK'go actual con I em os litulus de 4:527 livros pn- blicadus. e 1163, que estao em via de ptiblicai;an. Ha por tanlo 700 livros mais, que no anno antecedente. Os 5:590 livros sao [lublicados por 903 livreiros. S* a uma casa de Vienna perlencem H3 publica^oes. (Idem) Eschola industrial. — O governo Sardo fuudou agora eniNice uma eiicbola de commercio, ailes mntiuracturas o agricujtura no genero das escbolas especiaes de Franca. Vinle e dujs professores iL-era nos diversos cursos d'csla eschola em francez, sob a direc^'uu de Mr. tJarnier. (/(-/t'Wi) Estadisticu Utieraria — Existiam em 1851 nas Uni- vcrsidades prusj-ianas 56 professores ordinaries e extra- ordinarios de Theologia evangelica, e 717 esttidantes. Vinle oilo professores leram a theologia cathulica, nas Academias catholicas de Munster e Hraun»berg, na Prus- sia oriental, frtquontadas por G-15 fsludantes. Ha nas Fiicnldades de Direilo 4'2 jirofessores. e 1591 estudantes. A Medicina e ensinada por 92 professores, e conia 653 estudanles. Em Dm as Faculdades de Philosophia, que reunem as dijciplinas que em Fran(;a se professam nas Faculdades das Sciencias e das Leltras, tern ';i05 professores e lOGl estudanles. (Idem.) Estudo do Grego — Ensaia-se actualmenle no Collegio de Frederico Guillierme, em Berlim, uma representa^ao em lingua grega da Antigone de Sophocles, que sera re- presentada pelos discipulos da primeira classe d'este es- tabclecimento. (Idem.) Ensino particular — • Uma circular dominifttro da ins- truc^ao publica em Franca, de 4 de Abrtl ullimo, pruhi- bindo expressaraentc aos professores dos Lyceus e dos col- legios o abuso das liroes particularcs, termina pelas se- giiintes palavras. ». O meu niais ardente dcsejo v exallar o ensino | I'lblico a face das familias, moatrando a todos que estn nobre pro- fissiio e fslranha lis ideias vulgares de especularoes mer* cantis : (pie os mcstrt'S a quern estii conlJado o ensino da niQcidadc nao hesitem em renunciar a mcsquinhos Uicrns alcanrados a cusla da sua propria coiisidera(;uo. n Talvez assim se privarao elles de alguraas vautagens I)fcuniarias, porem serao recnmpensados pcia estiniaeio publica queacumpanliauma vjda grave, modesla.e depu- ra dedica»;ao ao cuuipriuienlo dos uiais laboriogosdeveres. it E tempo de volver a es.sas respeitaveis lradic(;oei, que davam honra e forra moral ao mngislerio.u \Idrm.) As mais imporlanles e curiosns publica^oes lillerarias. annuiiciadas e apreciadas nos dons numeros do Journal des econ. sao : Lettres sitr VeA-positton univcrscUc de Londres, par Mr. Blanqui ; Paris, Capelle, 1 vol. in 18. De la m'lroUsntim des classes laburieuses, par Mr. A. Grun; Paris, Ouillaumin, 1 v. in 8." Entreoutras aannnciadas nos Jnnacs da philosophia christan de Paris, Janeiro e Fevereiro, 1852, notamos as seguinles : ].n raison philosnphique'et la raison cathnliquc^ 1 . vol . in 8.° ; Lettres sur le sejonr de S. Pierre a li'>me. I yoL br., — La fe/nnie chretieane, 1 vol. in 12 l^Paris, tJaume), todas do mui celebre orador Theatino, o P. Veulura, que asconvulsCes polilicas de Uoma levaram para Paris. Outros jornaes nos dao nuticia das seguintt-s publica- roes, algumas das quaes, de grande merito, ja sao conhe- cidas pelo publico illustrado: Discoifrs de Mr. le Comte de M)utalemhert,prononce a sa reception a I'Acade/nie /rangaise^ le 5 Fee. liJ52, et DiscDurs de Mr. Giitzot en reponse an recipendiaire. In 8.**, chez Sagnier. 1 fr. A Academia, que jacontava com o numero de seus 40 membros os primeiros homens delettras da Franra, conio Mrs. Villemain, De Barante, De Lamarline, Coiisin. Thiers, DeSahandy, Guizol, Miguel, V. Hugo. De Toc- queville, S. M Girardiu, A. de Vigiiy, De Uemusat, etc., acaba de coniplelal-o com dons dos maiores oradores da tribuna franceza, Mrs. de Aloulalembert e Berryer, aquel- le na ror(;a da edade e no cumulo da gloria lilteraria e parlamentar; conta apenas42 annos: esle na dicjinaraoita villa, mas ainda no niesmo gi;iu de considera^ao; tern 72. Epismles litteraires en Orient. 2 vlicisnn/,el Uberatism^) g el Socia- lism", considerados en sus principios fundamentales. Por D. Juau Donoso Cortes, Madrid, 1851. Essai vurleca- thnlicisnie, liberalisme et le sosialisme , par M. Donoso Cor let, Paris, 1851 , 1 vol. in 12, ruede Lutty . 3. |)ri\ 2fr. « O novo esJcriptor (diz um jornal de Paris) alimentado H com OS estudos mais fortes e consciencioso^, poderoso CI pelo pensamenlo, forte pela for^a que a convic^ao catho- » lica produz, amadurecido pela raedita^'ao dos negocios e M pelo conhecimento dos homens, apresenla-se com toda a « ousadia e coragem d'um homem iospirado pela caridade a christan e pelo amor da verdade. . . . « Sera lido por tudos os homens serios, e nao so lido, mas meditado. Dejiois de lido, sera relido ; depoia medi- tado lornara a ser meditado. Continua, (D Jnjstitttt^ JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO (VERTIDOS DE ZORILLA.) Bemdicta rail vezes a luz desmaiada, Que, avaro, te empresta, raagniGcu, o sol ! Bemdiclo mil vezes, d liia adorada, Ten brilho, roais puro que incerlo arrebol! Em boa hora venhas, viajanle noclnrna, Qhc o mundo cm silencio, visitando, vaes; Esposa Constante, que paira na uriia, Que encerra os despojos do beiu, que amou mais. Em boa hora venhas, amanle Liicina, Apos o teu bello, dormido Endimiao, Zelosa assoraando c'o a face ari^enlina Por esse estrellado, d'anil, pavillmn. Oh! menle quem diz, que lu velas traidora, Cobrindo dos crimes o reprobo afau ; Oh ! mente quem diz, que lu es proctectora D'aquelles, que teiuem a luz da manhan. Nao es, nao, 6 lua, a alampada opaca, Que, Iremula, verle diabulica luz Na abobada, em que alma nao dorme, ou se aplaca, D'aquelle, em quem pesa uina lousa, uma cruz. Nao es, nao, a locha que aniostra, maldicla. As manchas de sangue cdi real pantheao; A cujos reflexes, sonhando, se agita, D'elle inda sedenta, raivosa visao. Nao es, nao, a estrella do {^rao cemiterlo, Que encerra do mundo segredu final ; Que^nessa morada de souibra e raysterio Lampejos circulam de luz infernal. Comligo nao andam os sons teraerosos, De que se acompanha da noite o pavor; Comtigo nao andam vapores teimosos. Que dobram, nas sombras, dos echos o horror. Comtigo nilo andam de vaga Iristura Os sonhoi?, que agitam ruins cora^oes, Os torvos pbanlasmas de ma catadura, Que cruzam os ares apos lurbiUioes. Mais alva que as cren^as de infante lou^ao, Tu marchas IraDquilla, sosinha, rortez. Qua! anjo, que espia a dorida ora^ao. Que eleva ao empjreo chorosa viuvez. Tu crnzas o limpo e azul firmamento, Pharol de meiguice, de paz e d'amor, Nas azas do brando, balsamico, vento. Que as agtias enruga, e balanceia a flor. E la vera comtigo mil sonhus de prala, E lindas chimeras, que a mente forjou, E sombras queridas, que alegre retrala A Tida, oividada do mal que i>assou. E la vem comtigo os encontros fadados, Os beijos, que expiram da buca ao sahir, As bellas liistorias de amantes cuidados Faladas a grade, que temem abrir. E la vem comtigo mil hymnos errantes, E a senha emboscada sob uma can^lio, Que alrahe para uns olhos, ousados e amantes, O rosto, que a senha aguardava ao balcao. E la vem comtigo mil doces memorias, A audaz esperan^a, o renome immortal, Phantaslicas Inzes, que vao, illusorias, Ao s6pro expirando da vida real. Vol. I. JuLuo 1 Ah ! tudo e confflrtn, deliclas, ventura, Phanal myst'rioso, diante ti ; Suspiram as fontes, o lio murmura, Aqui te gurgeiam, arrulam-te alii. Requebram-se os jtincos, as arvores gemem, Povoam-se os bosques de sombras de paz, Nos ares estrondos dulcissimos fremem, Que leva, invisivel, a brisa fugaz. Que vezes, u lua, tens alnmiado Men largo velar, minha breve illusao! Que vezes, o lua, te hei eu confiado, Perdida no vento, uma triste can^ao! E triste, mais triste, quem sabe que vezes Em plagas remotas talvez soara 1 Entao, meiga lua, em dita ou reveses. Quem la minha lyra proscripta ouvira .' Talvez entre a curta, miuda ramage, Que cinge do largo deserto o sendal, Responda a mens cantos uma ave selvage, Fugindo atraves do torrado areal. Talvez juncto ;i beira do pego altanoso Teu branco reflexo fiel seguirei, Talvez com as ondas do mar procelloso Os prantos, que verto, junctar-se verei. E acaso meus olhos, da lympha, que brotera, Por entre o incendio, confuso, crystal, Verao, sem que que nunca essas fontes se esgotem, Fuglr pelos ceus leu errante phanal. O lua, se acaso tal noule chegara, E eu triste e proscripto do solo natal O lua, entao antes o sol te emprestara Um raio, que exlinga meu peito mortal. Mas n3o, clara e celeste peregrina, Pharol das selvas, e dos tristes luz, A cujos raius meu amor se inclina, E invoca o jiislo, ao que raorreu na cruz. Nao, 6 rainha da tranquilla noule, Amiga do canlar do trovador, Tu, que refrescas, mal de ti se acoute, Bolao mimoso da silvestre flor. Tu me daras magnificos canlares, Como 0 teu Deus, e como lu brilhanles, Como esses, que no empyreo, aos milhares. Os^'pavilhoes recamam de diamanles. Tu sopraras na minha doce lyra O fogo do propheta, que chorou A desgra^a de Pergamo e Thiatlra, A imjiiedade fatal de Jericii. Casta, modesta, fugiliva lua, Cuja rapida, Iremula, illusao O mar, as fontes, e os vergeis arrua Em vistosa fluctuante appari^ao ; De cuja imagem em redor, caminha, Sobre leito de conchas e coral, O cardume de peixes, que se apinha A beijar-te essa effigie de crystal ; Tu, que, iuvisivel, um archanjo guia Por enlre milhijes d'aslros pagens teus; Tu me daras palavras d'harmonia, Com que cantar a gloria do teu Deus. Longe de mim os veus d'essa Diana, Que, dos bosques na escura soledade, Nos bragos d'um mortal busca profana Mysterios de prazer e leviandade. — 1852. Num. 6S 0 INSTITUTO LoDge de mini os caDticos impuros D'esse bello e perdido ca^ador, Que, audaz, os valles cncerron segiiros Com barreiras de fabulas d'amor. Ell te adoro, forniosa Uimieira, Km teu cjarao de pallido maliz; \em vejo em tua cxplcmlida carreira Mais do que o bra^o do eternal juiz. Percorre, o lua, os leclos de diamante, Que elle per iiobre senda te quiz dar, Em qnanlu eu, \nvso em cvirto espa^u, o instanle Aguardo, em que a sens pes me ha de chamar ; A mim, que. in°:ralo e profugo poeta, Creio no Deus, a cujo sopro sei Exisle quanto em terra e mar vegeta, K quanto ignore e (pie jamais verei. Ah ! quando n mundo em areal dcserto Me dede terra mn leito em quejazer, E la vao, pre7a do destino incerlo, Commigo mc-js canlares a morrer, O lua, se nau brilha em minha loiisa D'humauas gluna:^ a apagada luz, Tua alampada trislo au menos pousa A'a sua hnmilde, abaiidonada, cruz- ';i7 de Maio de lOiJSi. J. FBEIRE DE SERPA PrMENTEL. CATAO D'UTiCA Contiuuado de pag. 58. — Pois bem. Quero conceder-te que nao confio bastante em raira, e que consuramo o meu sacriticio para por a niinlia gloria e a niinha virtiide ao abrigo das vicissitudes d'esle mundo, para acnbar diguo de mim; que raai se seguira d'ahi ? (('Nesse case a questao muda inleiraniente ; lenios enlao a hypollicse do nosso soldado, que se esconde nas enlranhas da lerra, peio receio de uao conliouar a ser similhanle a si mesmo, e de deitar a fugir a vista do ini- migo. 0 Calao, que virtude seria enlao essa ! tao fraca dianle dns homens, que terla medo da provacao ; e tao atrevida diante de Deus, que nao tenieria os seus juizos? — Ail! nao! bem o sabes: nao e assim. Nera enlre os vivos, ncm entrc os niortos, nicdo nenhum lenbo : mas porque estou fa- tigado, descanso; porque estou affliclo, ador- racco; porque estou vellio de irabaihos e des- gostos, morro. Assas longa tern sido a minlia vida para conhecer que tcnlio o direilo de morrer; e assas virluosa, pnra estar certo de que hei de ver a minba alma, como a de Ze- nao, raeu luestre, e a de todos os spbios, unida a substancia eterna do grande todo. E parece-me, Joao, que nao seras tu queni 0 pora em diivida... Yinte e cinco annos ba, que condoendo-me de ti, por occasiao da queda de Spartaco, te salvei a vida; como a minba se tern passado, durante esse longo es- paco de tempo, bem o tens observado. « Sem diivida : e muitas vezes tenbo dado gracas a Deus, niio por me ter salvado a vida ; mas por o ler feito peias niaos d'um homeni, a quem eu podia respeilar. Comtudo, d'aqui avisiaes o mar; olbae: e um espclbo liso; nem uma vaga appareee a quebrar-se; nem um cacbopo a alicjar de espuma. Ou antes, olhae para a praia : e um espellio que brillia, visio na dislancia em que nos acbamos. Mas de ma is pcrlo . . . — Tcmcrario, que quercs dizer com isso? Fala! ((Quero dizer, ([ue, quaiulo nos clicgamos ii snperlicie a niais lisa, sempre dciscobrimos 'nella iilgumas asperezas ; que, quando nosap- proxiuiunios do lago o mais liinpido, sempre vemos 'nelie algum lodo; ([uero dizer que vos tenbo visto, como os boniens costumam, e nao como ve Deus, a quem nada c occulto: quosabe as arcocs e as suas causas, que sonda OS abysmos da consciencin, e acba o vicio en- cobertn, i|ue muitas vezes serve de mola as nossas apparentes virtudes. 0 Calao, perdoae- me! Agora comcco a desconliar do vosso pas- sado; porque no momento, em que nos acba- mos, praeticaes ao mesmo tempo duas accoes mas; alardeaes vaidoso da vossa vida, e ousaes dispor d'ella ! — Em quanto Joao fallava, as faces do neto de Calao, 0 Censor, tinbam-se accendido de indi- gnacao, e quasi saltando do leito, exclamou: — Miseravel ! Essa espada! da-me essa espa- da ! Queroatirar-te, antes de mim, aos infernos. (( Pois isso e assim, Calao! Logo a niorte, que ainda ba pouco me gabavas, e um mal, visto que (lueros dal-a ao teu escravo, quando pretendes vingar-te e punil-o. — Calao calou-se. Inclinou a cabeca sobre as niaos. Segiiiu-se um monienlo de silencio profun- do : e Joao continuou : i( Sim, a niorte e um nial ; mas para quem nao a cspcrou da vontade de Deus . . . Mcde bem 0 aliysmo, onde esse so pensamcnlo te lancou! Eis-te obrigado a condenar-me, como ,i maior de todas as penas, a servir-tede cora- paiibeiro 'nessa passagem do tempo para a eler- iiiilade! Tornastc-te egual a mim! ligual ! Que digo? Quanto melhor nao seria a minba con- dicao! Quanto a mim, diria: 0 meu bom Deus, huniible escravo, vivi em quanto o or- denastcs; perdoae-me as faltasda minba vida, poique este liomcm nao me deixou tempo para as reparar. E lu, pelo contrario, diante d'elle que di- ras? Que, vergado debaixo do peso dos bens d'esle mundo, nao podeste supporlar o pri- nieiro rcvez da forluna ; ([ue nan te quizeste aproveilar do tempo para te arrepcnderes, ao menos do furor que te arma o braco contra a minlia vida; e do orgulbo, que te persuade dois erros: — que a tua vida e pura, e que esla acabada! Calao contiuuava calado. 0 escravo prose- guiu : (( Pbilosopbo, a quem lodo o povo Romano ^0 INSTITUTO 69 admira! se eslivesse acabada a tarefa, que Deus voE impoz, nao vos teria elle lancado ja a sua mao invisivcl? Ou julgareis talvez sa- ber mellior o que vos convem, do que aquelle, cujo sopro vos formou? Chamou-voselle a con- selho para vos mandar a terra? Tera ncces- sidade de vos consultar, para vos chamar para si? Niio! E vos nao liesitaes em proferir sem elle a vossa sentenca! Oliiaes para tras, e conlente da vossa vida, decidis, que o mesmo Deus deve eslar conlente de vos. Olhaes para diante, e decidis sem interrogar o senbor do futuro, que 0 futuro vos imporlunara, ou que vos Ihes sereis inutil. E com isso que fazeis? Creatuia, desprezaes ao vosso Crcador; pae, desprezacs aos vossos lilbos; cidadao, despre- zaes ii vossa patria; honieni, desprezaes a Deus e ao genero bumano. — Meu filbo lainbem e homeni : que pode- ria eu fazer por elle? Minba patria esla sub- jugada: em que poderia eu servil-a? « Vosso filbo ba de ter necessidade de vos ate ao vosso derradeiro dia. Onde achastcs que a lei divina estabeleca, que aos vinte e cinco annos uni pae retire a mao de sous fi- Ihos, e OS deixe sem ampnro no nuindo? Quando mais nao possaes, deveis ao nienos dar-lhes o bom exemplo, e vos daes-lhes o mais criminoso, o mais egoista de todos. Que direis se vosso filbo, e vossos nelinbos, em vez de se affastarcm respeilosamente, vos tivessem imitado? Quanto a vossa patria, ella esla desgracada, evosfugis? Quejulgarieis do homeui, que para abandonar sua maeescolliesse 0 momento, em que esla se visse na affliccao! — Joao, tu fallas dos destinos ordinaries. Mas ba exislencias extraordinarias, que sao regidas por outras leis (Montesquieu, Gran- deza e decadencia dos Homanos, Cap. 12, e Rousseau, na carta contra o suicidio). « Que extranba doutrina ! Assim eslabele- ceis que ba 'nesle nuindo duas leis moraes: uma, que rege o vulgo ; ontra, que governa OS grandes! Pensaes que aquclles, a queni danios este nome, sao na realidade lao gran- des, que devem ser respeitados polo proprio Deus; que tern diante d'clle direitos, e regras dilTerentes do commum dos bomens ! Oh! Que diria o oleiro, que amassou o barro, se visse a alia ampbora julgar-se de uma nalureza dilTerente da do vaso bumilde? E, 0 que mais e, para ciimulo de loucura, deixarieis assim a cada urn o direito de se avaliar a si mesmo ; de julgar, se a loi divina esla feila a sua moda, ou se elle nasceu para a arrostar e transgredir ; de modo que o or- gulho viria a ser um litulo sufficiente para lao atrevida liberdade ! Ah I que degradacao! que vergonha I Nao vira ainda um dia, em que OS pliilosopbos admillam a egualdade dos homens, ao menos diante da lei moral ? — Melbor fora talvez: mas parecc que os deuses ainda o nao quizeram. ((Pensaes que dizeis uma graca, Catao!? Pois dizeis uma verdadc. Nao, Deus nao o quiz, Deus differenga os bomens. Differen- ca-os por certo: mas eis aqui deque modo : diante d'ellc, sao os deveres, e nao os direi- tos, que eslao em proporcao com a grandeza. Quanto mais elevada e a vossa posicao na terra, lanto maior obrigacao tendes de allu- miar o mundo, como uma tocba viva; quan- las mais obrigacoes tiverdes para com a vossa familia, para com a vossa patria, e a grande familia das sociedades bumanas, lanto mai? deveis valer a todos com o vosso braco, com 0 vosso gcnio e com as vossas virtudes. O Calao, vos condemnaes, assim como eu, 0 simples legionario, que larga as armas: que dirieis do c«nturiao. ou do tribuiio dos soldados que deserlasse? Nao quereis que eu arrede um obolo : que dirieis se vos roubasse um lalento? — Ainda me ria de ti ba pouco, porque censuravas Socrates por nao ler querido acci- lar OS ofl'ercciraenlos de seus discipulos, e por licar voluntariamenle nos ferros para abi sof- frer a raorle. Tens de medir-le com um forte adversario, porque tens contra ti Socrates e 0 genero bumano. « Bern me parecia a mim, que vos o mais sabio dos Romanes, tinbeis em vista imilar o mais sabio dos Gregos.' E quem sabe, se nao livestes 0 cuidado de por junclo de vos os ulti- mos discursos d'esse grande bomem, por temer que a posteridade se nao lembrasse de vos egualar a elle? Mas dizei-me: que e o quo admiraes em Socrates? Nao e a submissao magnanima as leis do seu paiz? — Sem diivida (( E vos, dizeis-me ainda, a que lei da vossa patria obedeccis, quando enterraes no vosso peito 0 ferro, com que ella vos armou o braco para Ibedefenderdes oseio maternal, e nao para atravfissardes o vosso? Elle nao quiz fugir, para se conservar fiel a esses anjos lulelares da cidade, os quaes nos pinta com a sua lin- guagcm admiravel, de pe, junclo ao seu tra- vesseiro, porgunlando-lbe: com que direito Ibes desobedeceria, escapando-se como um criminoso vil ; com que auctoridade discorreria contra e!lcs;com quo ingratidao Ihes disputa- ria uma vida, que ellcs protegeram, aformo- searam c bonraram por espaco de scssenla annos? E vos, Catao, vos fazeis precisamenlo 0 que Socrales condemnara! Fugis, quando elle recusa fugir; violaesas justas delerminafoes das leis, (|uando elle bebc a sicuta para nao encontrar uma determinafao iojusta; em lim, disputaes, luctaes, recusaes as leis a vossa vida, quando' Socrates Ibes ahandona a sua, sera hesitar, sem murmurarl Ah! Vede, vede tambem como apparccem esses genios auguslos, sob cujo imperio pro- tector tendes vivido; em quanto eu, que vos invoco em nome d'elles, nao conheci a sua 70 0 INSTITUTO benefica tiilela! Vede essas leisanligas, flllias de Romulo, e maes das vossas innumeraveis victorias : vede-as apresentarem-se dianle de de vos lagriniosas, involtas em crepes de do, curvadas debaixo das fasces de Cesar, para em breve descerem comvosco aos horrorcs do tumulo! Vede-as: ellas ahi eslflo a implorar- vos, a pedir-vos que contlnueis a viver, para Ihes estender a mao, para as susienlar e via- gar ; e laivez mesnio... para rcanimar, scassim aprouver ao ceu ; para adocar, ao menos, os rigores da vicloria com a vossa auctoridade ; para center a dicladura com o rcspeilo do vosso nome, que na Ilespanha, na Italia, era toda a parte, seria capaz de levantar exercitos; jiara poiipar assira ao mundo novas proscripcoes, e preparar as vossas leis dias melliores, solTrendo lioje coni ellas e por amor d'ellas; assim como jjcirt sua inHuoncia consenlistes em brilhar du- rante vinte ecinco anuos, no ample thcairo do mundo. Rellecti bem, Catao! Tendes andado apenas metade da vossa carreira. Podeis servir os Uo- manos ainda trinla anuos. Podeis ajudar a gas- tar muitas tyrannias. . . . Os lyrannos durara pouco. 0 Catao, e um velho, quern te pedc que esperes pelo futuro! Um homem sera patria, quem te falla nosdireitos da patria! Um eseravo, quern ic recorda o nome da liberdade! — Das palpebras do Romano illusire, iima la- grima se llie deslisou sobre as rugas do rosto, cicatrizes profundas de duas grandes feridas, a dor e a adversidade. (Saloandy). Continua F. A. DINIZ. DIARIO Do que se passou na Universidade de Coimbra, quando a ella veio para a sua nova fundacao o Marquez de Pombal, como Logar Tenente e Ple- nipotenciario d'El-Rei D. Jose I, em septembro do anno del772.' Na larde do dia 22 de selembro de 1772 cbcgou a Coimbra o Marquez de Pombal, Plenipotenciario e Logar Tenente d'El-Rei na nova fundacao daUnlversidade, acompanhado, ' Extrabimos estas nuti'ctas de urn Diario, que existe ms. na secrelaria da Universidade com otilulo — Diario d' qup se pnssou tin cidnde de Cuimlira desde odin 2'2 de Setembro de 1772, em que o Itt.'^'^ £j-."' ' .S>. Marquez de Pombal eiitrnu, al^ o dia 24 de Oulubro da luesmo anna em que partiu dajticsma cidade. onde miudamenle .se referem ludos os feslejos, com que fOra celebrada a risita do Marquez e de sua esposa, e ate as jiessoas do clcro e nobreza, que vieram da Guarda, de Laraego, de Viseu, do Porlo, Bra^a e outras terras do reino, cumpri- nientar o Marqiiez como Loj^ar Tenente d'El-Rei. Como poTcm o nosso intenlo t' unicamente consignar aqui o que diz respeilo ao recebimento do Marquez por parte da Universidade, e as sulemntdades academicas, que 'nesta occasiao tiveram lo;:ar. ommittimos o mais, por alheio a este objecto, e nienos interessante. Foi aquelle Diario devido aos cuidados do Dr. Miguel Carlos da Motta e Silvn, que enlao servia de Secretario da Universidade, alem da sua numerosa comitiva, do Reilor da Universidade, o Dr. Francisco de Lemos de Faria Pcreira Coutinbo,' dos Reilores e Col- legiaes dos ires Collegios deS. Pedro, S. Paulo e Militares, e das deputacoes do tribunal da Inquisicao, do Cabido, da Camara e dos Mi- nistros, e mais nobreza, que 'nesta cidade se acbava. Logo que o marquez chegou a Sancta Clara, a Ordenanca e um Terro de Auxiliares, que alii estavam postados, salvaram com tres des- cargas: repicaram iinmedialamente todos os sinos da cidade, na qua! enlrou pelas cinco boras da tarde, indo apoar-se ao pace episco- pal, aonde, nofundo dasescadas, oesperavam OS Lentes e maisOpposilores da Universidade, c 0 acompanharam ate a primeira sala. jDe- fronte do paco eslava poslado um corpo de 280 soldados de infantaria d'Almeida. Pouco depois chegou a Marqueza acompa- nhada do conde de S. Paio, e desceu outra vez a Universidade, e o Marquez veiu ao t6po da escada esperal-a. A noute houve repiques de sinos e luminarias, que so repelirara nas duas scguintes. No dia 23, que era 'numa qnarta feira, houve grande concurso no paco, tanto de manhan, como de tarde. 0 Marquez fallouaos Lentes de Leis, Canones, e Theologia, a Inqui- sicao e ao Cabido, e aos Reitores eCollegiaes de S. Pedro, S. Paulo, e Militares, e aos no- vamente nomcados para os dois primeiros. Na manhan do dia seguinte tomaram as be- cas, com assistencia do Reilor da Universidade, OS Collegiaes nomeados por os Collegios de S. Paulo e S. Pedro. No sabbado 26 polas duas boras da larde to- cou 0 sino grande da Universidade; ajunctou-se no seu largo todo o corpo academico, e se for- raou em prestilo na maneira seguinte: Lim em primeiro logar os Verdcaes com as suas alabardas, a cstes seguia-se uma grande muitidao de estudantes, logo depois os novos musicos da Universidade, tocando em dois oboes, duas trompas e um fagole uma exccl- Icnte marcha, seguiam-seosContinuos e alguns oulros ofliclaes da Universidade, e juncto a elles as Faculdades; primeiro a de Philoso- phia,' d'alii Medicina, logo Leis, e ao depois Canones e linalmcnte Theologia, e os doulo- rcs d'ellas com as suas respeciivas insignias, em duas alas, nas suas competentes antigui- ■* Em claustro de 19 de Setembro d'esteanno noticioii o Reitor a vinda do Marquez ii:i (ju.ilidade de Logar Tenente d'El-Rei para a nova futidariio da Universidade, e practicando-se siibre o modo do seu rccebimeute com a dislinc^ao correspondente aos beneOcios e honra, que a Universidade esperava receber d'esta vi.sila, resolveu-se — « que fosse o Reitor a Condeixa esperar o Sr. Mar- quez, e as pessoas mais distlnctas da Universidade alem da Igreja da Esperan<;a. por que ate esse luffar era antigo custuine, e era preeiso adiantar-se 7itais para fazer o ap- plavso distinfto, "Liv. dos Cons, do anno de 1772, fl. 15. ' Era a Faculdade das Aries, extiiicta pelos novos Eslatutos. 0 INSTITUTO 71 dades ; fechava este lustroso acompanhamenio 0 Reilor da Universidade, precedido dos Bedeis com as suas massas, do Secretario da Univer- sidade, e do Conservador da raesma. A cavallaria de Almeida eslava postada no largoda Universidade; a infanlcria tinha feito duas alas desde a escada do nieio ale a porta ferrea. Poriiieio d'estas seencaminhou opres- lito, e passando pelas ruas Larga, e de S. Joao, que todas estavam areadas, coberlas de espadana e asseadas, foi direilo ao paco. No largo de S. Joao se aparlaram os eslu- dantes para os lados, e por meio d'elles con- tinuaram as duas alas das Faculdadcs ate ao fundo da escada do paco episcopal. 0 Reilor subiu ate a porta da primeira sala, acompa- niiado (los Bedeis, Secretario e d'algiins Doii- tores Tlieologos. Ininicdialamenle appareceu o Marqucz ves- lido de cdrle, e lendo a sua dircila o Reilor, e a esquerda o Dr. Fr. Pedro Tiioniaz San- clies, religioso da ordem de N. S. do Carmo, e Lentede Prima jubiladode Theologia, e cliegan- do ao fundo da escada se cobriu, e o fizeram tambem todas asFacuklades, oque egualnienle praclicaram cm lodos os mais prestitos: um corpo de infanteria, que estava postado fora do pateo do paco, fecboii este prestito, cobrindo nao so a sua retaguarda com um corpo de tres de fundo mas lambcm os lados com duas (itas, de forma que o fim do prcstilo com o Marquez ia como dcntro de uma prafa, cuja vanguarda era somcnle aiierta ; linahnonte cobria a infan- teria a guarda de cavallaria do Marquez. 'N'Csta ordem seencaminhou opreslilo a sala giande da Universidade. Na rua Larga se tinbam apartado osestudan- tespara os lados, de forma que na sala soniunte enlraram os Doutores e o Marquez dentro na mesma pruca vazia, a qual conservou a mesma ligura na sala desde a caranguejola ate quasi ao fnndo da sala, com a dilTcrenca que a retaguarda da praca denlro da sala era so fechada com uma simples lita de soldados. A sala eslava niagnilicanienle armada e for- rada de damasco e veludo carmczim (amiacao que 'nesta occasiao se fez, e ainda boje se conserva). No logar onde esta a cadeira, se via uma de braces, cobcrta de veludo debaixo de um suberbo docel do niesmo. 'Nella se assen- lou 0 Mar(|ucz; o Reilor o fez a sua direila, no donloral, logo adianle o Conde deS. Paio, c cs doutores nos seus respeclivos logares. Entao se deixaram enlrar os Esludantes, que linhara ficado fora da sala. 0 Secretario, que estava sentado no prinieiro patamar da escada abaixo do docel com uma mesa diante, cobcrta de veludo, leu a carta regia pela qual el-Rei constituia seu Plenipo- tenciario e Logar-Tcnente na nova fundafSo da Universidade ao Marquez de Pombal, dan- do-lhe « nao so todos os poderes, que foram concedidos a seu quinlo avo Ballbasar do Faria, priraeiroRefomiadorVisitadorda Universidade, pelo alvara de 11 do oulubro de 1858, mas tambem jurisdiccao jirivativa, exclusiva e ilU- milada para osobredicio en'eito:'» Emseguida recilou o Reilor da Universidade uma orafao em portuguez, na qual agradecia em nome d'ella a S. M. OS beneficios, que por niao do Sr. Mar- quez Ihe tinba dispendido. A musica encbeu os intervallos com varios concertos: concluida a dicta Oracao, immedia- tamente se formou o prestito, e com a mesma ordem entrou na capclla da Universidade. A porla d'esla foi reeebido o Marquez debaixo do palio, em cujas varas pegarani dois Lentes jubilados de cada uma das ires faculdades de Theologia, Canones e Leis. Acorapanhava o Marquez loda a nobrcza da cidade e muila das provincias, que linham eoncorrido a sala, a ver a dicta I'unccao. Na capella da Universidade se cantou o psalmo Lavdate Dominum em acfSo de gracas; no fin) do (|ual se formou o prestito, e com a mesma ordem se encaminhou ao paco episcopal, onde 0 Marquez se despcdiu do Reilor e corpo acadcmico a porta da primeira sala. 0 Reilorfoi acompanhado depois ao paco da Universidade por todo 0 corpo acadcmico, sem que entre os Doutores se observasse ordem de anliguidade. No domingo 27 foi o Marquez de tarde a Sancta Clara, a quinta da Yarzea, e d'alli a ponle d'agua de Maias Na segunda feira 28 de tarda assisliu o Marquez na capella da Universidade, debaixo do docel, as Vesperas de S. Miguel, concor- rendo alii loda a Universidade e nobreza: con- cluidas ellas, se recolhcu ao paco, indo depois com a Marqueza ao convenlo de Cellas, e dos Marianos, e ao Seminario. Terca feira 29 de manban assisliu a fesla de S. Miguel, na qual pregou D. Antonio Calado, Lente de Ilistoria Ecclesiastica. De tarde foi a sala dos capellos em prestito, com o mesnio ceremonial que no dia 26, o qual egualnienle se ohservou cm todos osdias, que o dido senlior foi cm prestito, e assim que elle se assenlou e se cobriu, immedialamente o lizeram o Rei- lor, OS Condes da Ponte e de S Paio, e lodos OS mais Doutores, o que se praclicou sempre que 0 Marquez veio a sala dos capellos. Enlao 0 Secretario da Universidade, o Dr. Miguel Carlos da Motta e Siha, abriu uma holsa do veludo carmczim, guarnecida de bor- las e galoes d'ouro ; d'ella lirou o novo Esta- lulo da Universidade, escripto de lelra demao, eencadernadoem veludo, com chapas de praia , abriu-o, e leu um decrelo, quese acha inserlo no principio do 1.° tomo do mesmo Eslatuto, no (jual S. M. contirmava o novo Eslatuto." Concluindo isto, o Secretario disse, que o « C. R. de 28 ile Agosto de 1772. * Existe na Secretaria da Universidade esle riquissi- mo exemplar, que em todas as pugiaas tem a assignalura do Rlarqiiez de Pombal. 72 0 INSTITUTO Sr. Marquez era servido, e mandava, que o novo Estatulo eslivesse palcnlc '.naquelle ilia, c que no seguinle so recolhesse ao carlorio, e que 0 Reiior da Universidade distribuiria exemplares impressos, depois de serem por elle assignados. Depois d'isto foi o Marquez, precedido do mesmo preslito, a capella da Universidade, aonde assistiu ao Te-Deuin, que sc canlou em accao de grafas, e no Cm d'eile sc rcco- Iheu ao pare episcopal, e depois o Reiior ao seu, como no dia 20. A noute liouve rcpiques e luminarias. Na manhan do dia seguinle, 30 de selembro, tomaram as bccas os Coilegiaes dos Mililares. E de tarde derani os novos Lentcs o juramcnlo no paco em presenca do Marquez, e depois tomaram posse, na sala, das suas cadeiras, su- biudo cada nm, pola gradu.icao da sua Cadei- ra, a que alii sc liuha posto ao iado esquerdo do docel, e agradecendo d'clla em uma breve oracao a raerce, que El-Rei Ihe tinha feilo por raao do Marquez. Assistiram a este ado 'numa tribuna o mesmo Marquez e o Reiior da Universidade. Contiritia 1. M. DE ABBEU. Observances OS BANHOS DE LUSO Contiiiuado de pag. 62. PLANOS DE COISSTRUCCAO DO EDIFICIO DOS BANHOS DE LUSO Piano do Sr. Baldy appresentado a commissao de 1845. Est. 1." fig. 1.' AB C D. Casa de banhosdividida em quatro cellulas M, M, 3T, M. E FG II. Parle do deposilo e nascenle da agua. a, a, a, a. Tinas de pau aperladas com arco's de ferro, ou mcihor de cobre ; cada uma com sua lorneira de dcspejo. b, b, b, b. Torneiras estabclccidns no muro, acima dos i)ordos das Unas, e communicando com 0 deposilo da agua por mcio de manilbas de chumbo guarnecidas de maus conduclores do calorico: servem a rcnovar a agua nas tinas. c, c, c, c. Orificios praclicados no soiho das cellulas, communicando com o exlerior da casa por mcio de manilbas de barro; ser- vem ao despcjo das tinas. d, d, d, d. Porlas das cellulas. C L' B' //', E F J Y. Representam em alcado a casa dos banbos, c do deposilo e nascenle da agua. e, e, e, e. Claraboias feilas no leclo da casa dos banhos, c correspcndendo as cellulas : eslas claraboias devem scr coberlas com vidracas guarnecidas de charneiras c grampos, a lira de se poderem abrir e fcchar, como convier. /. P. Baldy. Copiamos fielmenlc do original o descnbo casua explicajao. Apenas no desenho fizemos a alleracao de o reduzir a dimcnsOes muito mcnores, para o guiarraos pela escaia das outias planlas. Este piano, em vista dos que aprcsentamos, poderii parecer de nienos imporlancia a (jueni nao souber oslimiies, em que levc de circum- screver-se oSr. Baldy Pcdiu-se-lbo urn piano, que podesse ser executado so a cusla dos pe- iiuenissimos rendimentos da Camara da Mca- Ihada; e o Sr. Baldy, com lao pequeno orca- menlo, nao podia planisar obia melbor. De reslo a assignalura do Sr. Baldy, d'csse inge- nheiro distincto, cuja perda deploramos, acaba de justilicar qualquer Iado mcnos favoravel, por onde se queira eucarar esle seu piano. PLANO QUE SERVIU DE BASE A LEI BE 29 DE JULUO DElSSO. EST. 1.' FIG. a.'S.'E 4." (As letias moiusculas desigiiam a urien(a(;ao em lodas as tres figuras) Planta baixa fig. 2:" Os banbos dividem-se em banhos de cinia e banhos dc baixo. Banhos de cima Estes banhos sao dois cguaes, em duas cel- lulas, ou casas de banho, para o Iado do edi- ticio a N E, Cada cellula — a a — tern urn banho — h — e 0 reslo e occupado pelo estrado — c — . 0 lastro d'estcs banhos e dc areia, por onde repucha a agua emgorgoloes. As suas paredes sao de madeira dc pinho.' A agua siie para os canos de despeio— rf — por dois orilicios; am juncto ao laslro do banho, para o despejar, e oulro na parte su- perior, para o nao deixar trasbordar. A luz para as duas cellulas vem-lbes de duas frestas na face do cdificio a N E. Banhos de baixo Esles banhos sao 14 em 7 cellulas, e licara todos em linha a correr com o Iado do edificio a S 0. Cada cellula — e e — lem 2 banbeiras ou Unas de madeira '— ((—, enlerradas no estra- do—3 y— Estas banbeiras recebem agua d um reserva- torio por aqueductos parciaes — h h — , e a lancam por aberluras inferiores— j j — no can'o geral de despcjo, desiguado com asaspas ' Decidiu a commissao que Wssem forrados de azulejo; Vej. as observances a esle piano. •* A commissSo decidiu que fossem de azulejo. Vej. as observaijOes a este piano. 0 INSTITOTO 73 A enlrada para cada cellula e a N E.; c (la porta ale ao cslrado — g g — se desceni tresdegraus, qiicniio vao designados na plaiita. As qualro lianlieiras — kkkk — da cxlre- niidade S, alem da agua, que llies vcm do reservalorio pelo aqiicduclo — II — , reccbem tanibem agua qucnle d'um fogao — m — pelo aqucduclo — n n — para llies guardar a teni- peratura scgundo as indicaooes niedicas. K agua para o Ibgao vac do reservalorio pelo aqueduclo — o — . As (jualro banheiras da extremidadc 0. sao deslinadas aos doenles dc molestias asquerosas. Asseple cellulastem \»z dc scple freslas na face do edilicio a S 0. Enlro OS banlios de cima e os l)anhos dc baixo lica um reservalorio quadrilongo — pp designado com os ponlinhos ; e do mesmo modo vao represenlados os aqueduclos, queld'elle sahcui. As paredes d'eslc reservalorio sao de madeira,* elicani apoiadas em lal)iqucs de lijolo. 0 seu laslro e de areia, e nasce-lhc agua em diffcrcnles pontos. D'esla agua e([ue se enchcra lodas as Unas dosbanhos de baixo e a caldeira do fogao. Quando aconteca nao chegar a agua, que aqui nasce, por seacbarem casualmente lodas as tinas cm servifo simultaneo, suspende-se 0 service d'um so ou d'ambos os banbos de cima; e por conimunicacoes appropriadas, se encbe d'ellcs o reservalorio. E na mesma hy- polhese, querendo-se evitar a exposicao da agua ao ar livrc anlcs de enlrar no reserva- lorio, podera encanar-sc para elle por baixo do cbao uma porcao da agua dos banlios de cima, que aqui nao fara falta, e que asse- gure ao reservalorio niaior abundancia d'agua para lodas as banheiras. De rcslo deve haver complela independencia e separacao entrc os banhos de cima c os banbos dc l)aixo. 0 lampo d'esie reservalorio lambem e de madeira de pinbo; e logo por cima Ibe (ica 0 pavimenlo d'uma sala — q — com as mes- nias diniensOes do reservalorio; islo e, o la- bique, em que so apoiani as paredes do reser- valorio, sobe verlicalmenle ale formar um zim- borio acima dos lelbados da casa ; forniando 0 mesmo lal)i(|ue as paredes d'aquclla sala. A luz vem-lbe por dez freslas, que lem o zim- borio. Para esla sala abrem-se as porlas dos ba- nhos de cima e das Ires cellulas ccnlraes dos banhos dc baixo. A sua culrada e por duas porlas a NO, no palamar — r — por baixo duma arcada, que melbor se vera na ligura 4." No lado cpposlo lem oulras duas porlas; uma para um corredor, que dirigc aos banhos de temperalura arlilicial — kkkk — , e outra para a casa do fogao — m — que communica com a rua por uma porla na face do edilicio a SE, c por oulra com a da casa da babilacSo ' Vcj as observances .1 csle planu. 10 do banheiro — s — . Por cima da porla da ma, da casa do fogao, lica uma fresla que Hie da luz. A luz para a casa do banheiro vem-lhe d'uma fresla e uma janclla na face da casa a N E. A oulra janella e a oulra fresla, que estao para o lado opposto na mesma face, dao luz a uma casa — t — com duas porlas para o palamar — r — , Esla e a casa da copa, onde ha de apparecer a agua do banbo com a limpcza e condicOes uecessarias para os doenles a poderem beber. 0 pavimenlo da sala, e os eslrados dos ba- nbos do cima, ficam no mesmo nivcl; mas OS eslrados dos banbos de baixo (icam niais abaixo ires palmos — allura do reservalorio — para poder cabir a agua da parle inferior d'cste para a parte superior das banheiras. E por causa d'esie rebaixo, que sao prccisos os Ires dcgraus a descer das porlas da sala, do palamar, e do corredor para as respeclivas cellulas. As paredes dos qualro lados do edificio, c dos Ires lados do palamar vao designadas assim . Tem dimensoes cor- respondenles a base — ii — do pilar, que sus- lenla a arcada do palamar. Todas as divisoes- inleriores sao formadas de labiques de ma- deira e cal, ou de lijolo, - Tambem sao do mesmo labique, como vimos, as paredes do zimborio; mas, querendo dar- se-lbes niaior solidez, podem conslruir-se do alvenaria sobre columnas de pedra, ou mesmo de alvenaria desde os alicerces; lendo-se, 'nesle lillimo caso, grande cuidado na con- slruccao da parede a NE. EXTERIOR DO EDIFICIO, FIG. 3.' E 4.' A face — an — a SO, lig. 3.^ lem seplc freslas que dao luz as seple cellulas dos banbos de baixo. A face correspondenle — b — do zimborio tern Ires freslas. A face — c — a SE, lem uma porla e uma fresla, que dao sahida e luz a casa do fogao, A face correspondenle do zimborio — d — lem duas freslas. k face de NO — a a — (ig. i.' lem no meio dois arcos — bb — . E-la arcada da no palamar da enlrada. A face correspondenle — c — do zimborio lem duns freslas. A face do edilicio a NE — (/ — lem qualro freslas c duas janelias. As duas freslas dos lados e as janelias dao para a casa do ba- nheiro, e para a casa da copa ; e as duas fres- las do meio dao luz aos banhos de cima. A face correspondenle — e — do zimborio leni Ires freslas. Todas as freslas do zimborio dao luz ii sala do cenlro do edificio, como ja dissemos. Observacoes Os pareccres euconlrados dos nossos colle- gas, sobre banbos lomados na projiria nas- 71 0 INSTITUTO cenle, ou em tinas, fora da nascenle, ficam con- ciliailos por este piano, que aleiii d'isso leni a vantapom de, para o futuro.sc poderem conver- ter todos hanlios em qualquer das duas espu- cies, scm qne soja preciso domolir o edilicio. Nos dnis hanhos de quo lioje sc faz uso, li- cam coliocados os Imnhos de ciiiia. 0 rcslo da agua, que nasce fora d'elles, e que actual- meule se perde, e aproveiiada no reservalo- rio, pnra enclier as Unas ou I)anlieiras dos havlws de huixo. 0 reservalorio icni grande superficie, por onde SB poderao perdcr gazes e calorico; mas podera talvez conservar-se scniprc ou quasi sempre dieio ; e, locando a agua o sen tam- po, nao lera miiilo logar a perda dos gazes, por solVrerem alii uma compressao, similhante aquella que os conservava mislurados rom agua nos tanaes sublerraneos. E de crer que tamlinin se nao perca muilo calorico; por(|ue a madeira do lampo e paredes do reservalo- rio, c 0 lijolo do laliique, em que ellas se apoiani, sao materias pouco conducloras do calorico." Alem d'isso o reservalorio Ilea no eenlro do edilicio, coberlo com o pavimenlo d'uma sala muilo frequenlada ; e esias cir- eumslancias lodas favorecem a elevacao da Icuiperatura do seu aml)ienle. A forma espherica do reservalorio, se fosse possivel, era de eerlo a que ma is se oppunlia a cslas perdiis do calorico e gazes, por coa- ler niaior volume de agua 'num dado espaco. Mesmo para a forma hemisplierica era precise maior allura, a <|ue nao suhiria a agua, sem reuocedcr para se nivelar nos banlios de ci- ma; ou maior profundidade, e com a sua es- eavacao se poderia iranstornar a direcrao das nascenies. So poderia ler logar uma pe(|uena seccao de cspliera ; ou com a forma aclialada, que ac]ui tern, poderia diminulr-se o espaco, tornando-o circular ou elliplico ; mas o muilo pouco, que se ganliava com esla forma, e tahez indemiiizado com a vaniagcm de se apanliarem lodos os pequenos gorgolOes, e de se obler uma conslruccao mais facil e re- gular do edilicio, com a disposicao do reser- valorio cm parallclogrammo. Os aqueduclos do reservalorio para as ba- nbciras sao manillias de barro, com duas pol- Icgadas de diametro, para as encberem em poucos minulos. , Pareccra que dcveriam collocar-se lodas as banbeiras encosladas as Ires faces do re- servalorio; e nao em uma so linba, a facear com 0 lado mais disianle da nascenle princi- * Por delibera^ilo tia Cumuiissao tie Coimbra iVfj. jiag. 02) Jeve ser dc asulejo o furru do reservalorio e ba- iiheiras. Assiiii Qcain os batilius inuilo mais asseados; e o incoveaieiile de ser o aziilejo niellinr cnnductor do calorico do que a ina !eira, [inilera lalvezcoinpensar-se com o pro- veilo d'uma camatla de carviio em roda ilo reservalorio e banheiraft, tjiie lembranios no piano segiiinle. O marmore, miiilo usado em barijieiras, seria 'nesles balities atacado pelo acido cariionico livie, qtie a agna conleui. pal; mas achamos preferivel (isla ullima dis- posicao, para se afaslarem da tiascenle as es- cavacoes, que so hao de fazer, por icrem de licar as linas Ires paluios abaixo do reserva- lorio. A experiencia lem moslrado que sempre alii ba desvio na direccao das nascenies, quan- do se Ibes fazem escavacoes na proximidade. 0 acido carbonieo livre e os sulpburelos, que a analyse moslrou na agua, pedi-m que, ua conslruccao, dcsviemos do seu conlacto a cal ou pcdra calcarea, e os pregos nu oulras pejas de ferro. Os mesmos principios se de- vem ler em visla na escolba da materia, de que se ha de fazer a caldcira do fogao, e uma bomba que ilie deve ministrar a agua do ba- nbo. A sala do eenlro do edilicio Icm por lim. como 0 tcfiidarium dos rnmanos, evilar os in- convenienles da imniediala passagem dos ba- nliisias d'uma lemperalura clevada para o ar d,i rua. Assini enconlram osdoenles uma lem- peralura gradualiuenle mais baixa da easa do banbo, sala palamar, c rua. As banbeiras de lemperalura artilicial per nieio do fogao, c a nascenle da agua na casa da Cijpa, lornam a indicacao d'esias agnas muilo mais cxlensiva, como ja vimos, quando fallamos das suas virludes iberapeulicas. A agua do regalo, (|ue alii passa perio dos banhos, pode conduzir-se a algumas banbei- ras, e ao fogao, para a pre|iaracao de banbos mixlos, ou de simples banbos de limpeza. Coilliiiua A. A. DA COSTA SIMOES. A PENA DE imOBTE EHH INGLATERRA Na Revisia de Legislafao ' deparamos com a seguinle nnlicia aeerca do esiado, em que se acba boje a quesuio da pena de morte era Inglalerra. A grande imporlancia da solucao d'este problcma para a sociedade, e a civilisacao il'aquelle paiz, por si recommendam a sua ri'producrao. « 0 iliuslre menibro do parlamento, Mr. Ewarl, lomou sobre si a bella missao de pre- |)arar o seu paiz para a abolicao da pena de morlc. E con) este tim appresenta uma mocao em lodas as sessoes. « Na de 1S4S a sua proposla tornava-se maisinlcrossanle pclascircumstanclasda aelua- lidade, por(]ue o publico acabava de prcsen- ciar em Cluumel o liorrivcl cspeelaculo de uma viciima, que com a forea da desi;spera- cao luclava contra o algoz; o que linba pro- duzido uma grande fernientacao nos especla- dores. « Nos debates parlamenlares, a que deu oc- casiao a proposla de .Mr. Ewarl, cilou-se de uma e oulra parte a opiniao dos juizes dos ' Tome premier, Janvier 1332— Paris, paj. lO'J. 0 INSTITUTO In Ires rcinos. Os de Inglaterra dividiam-se ; os da Irlandia appresentavam diu idas ; so os juizes da Escocia se pronunciavam dc un>a raanciia lerminanle a lavor da pona de raorle. « 0 gabiaele, por via de Sir diaries Grey, pedia a rcjeicao ; a qual foi pronunciada por 122 volos contra 60. Por conseqiicncia a inesnia niaioria, que na volajao de 7 de Marco de 1847. « No primeiro dc Maio de 1849 o illustre memliro do pnrlamenlo insisliu novamenlo na sua niocao. 0 mesmo nrgao do govijrno op- poz-se ainda; masdeclarou, que se proniplili- cava no easo, que os adversarios da pena de morle se dessom por sali.'^feitos, a pro|)or uin bill para supprimir a publicidadc das execu- coes, que nos uitimos annos luwia dado iogar a frequenles escandalos. A nianeira mais con- ciliadora do niinisterio, beni como o result;ido da voLirao, indicarani, que a queslao pro- gredia para a solucao. \ proposla foi apeuas rejeitada por 75 votos contra ol. « 0 procedimento, mais do quo indecenle, da populaca de Londres na occasiao, em que OS dois esposos Manning foram exeuutados, a cspcculacao com as janellas e palanques, assini como os crimes, que se commelturam durante a execucao, tiniiam dado Iogar a uma nova reaccao contra a jiena de morte. « Todos OS orgaos publicos de mais consi- deracao, como o Timi's, o llorniny-Cltroniek, 0 Vaihj-Nevjs, o Law Times, o Laio-Review, appnreceram clieios de protestos contra a pro- longiiciio de tnes escandalos; e uma carta du eelebre romancisla, Cbarlos Dickens, in>erida no Times, produziu grandc sensacao. « A 19 de Noveinbro do niesrao anno pre- sidia 0 incans:ivcl Mr. Ewart um meelintj ; le- vantaram-sc aiii eloquenles vozes a favor da abrogacao de pena de morte; todavia pronun- ciou-se contra o meio ternio da nao-publici- dade das cxecueoes.^ « Na scssao de 1850, Mr. Ewart renovou a sua proposla. ainda que em uma epocba, na qual os buncos do parlamcnlo principia- vam ja a dcsoccupar-se. 0 governo deciarou outra vez, que a pena de morte era necessa- ria para a conservacao social ; mas so leve a seu favor 4G votos; 40 menibros votaram a favor da abolicao. « E ccrto, que se passa hoje em Inglaterra 0 mesmo, que entre nos (Franca) antes da refornia do codigo penal em 1S32; a aversao a pena de morte tern augmenlado de tal modo da parte do publico, chaniado a julgar os cri- minosos, que, se o grande jury nao modilica voluntariamente os artigos da accusacao para subtrabir o culpado a pena capital, o jury de- liuilivo pronuncia um veredictum de nao cul- -'■ A nao publicidade das execuijoes cnpitaes, um ile ciijos |irincipaes molores i Charles Dickens, acaba ile .^cr eslabelecida no novu projecto do codigo penal prus- sianu. pabilidade contra toda a lei expressa e contra toda a evidencia.' Este facto merece a inais seria atlenjao dos legisiadores da Gran-Bre- lanlia. » E nos accrescentaremos, de todos os pOVOS CultOS. F. MONIZ BAFlllETO. PROUDHON E A ECONOIVilA POLITICO « Entre os escriptores, que derramarani a des- aordem nas inlclligencias, c impellirani as « classes menos illustradas a subversao da so- « cicdade, nao ha um ([ue leniia exercido uma « inlluencia mais desastrosa, que o sr. Prou- « dhon » Sao as palavras, com que Alfredo Sudrc abrc a analyse das obras d'aquclle reforma- dor. Exactissimo na appreciacao que faz da inlluencia de Proudhon nos uitimos successes politicos, que se seguirani a mudanfa da for- ma do governo em Franca, e nos quaes in- terveio o principio socialisla, Sudre limila-se a considerar as suas doulrinas unicamcnte pelo lado da sua inlimidade mais ou menos patenle com esse mesmo principio, do ijual Proudhon e ao mesmo tempo o adversario e 0 fautor, 0 desprezador mais orgulhoso, o o adeplo mais fervente. Se, como elle diz, e Lama nine « a cxpressao viva do seculo deze- « novo a personilicacao d'esla sociedado sus- « pensa entre todos os cxlremos, '« Proudhon e a incarnaeao da contradiccao inherente a natureza do socialismo, eschola de liberalis- mo, na qual a tyrannia li o primeiro princi- pio, e lalvez a escravidao a liiiima consequen- cia. A inaugiiracao do principio socialisla pelo poder, pelo governo, como a (|uer Luiz Blanc; ou pelo povo, como a qiier Proudhon, em nada altera o principio, que, como tal, e o mesmo para lodos. Em Proudhon vivem dois homens diversos, 0 agilador do jiovo, e oinnovador dasciencia. A linguaf^em poetica eanimada de Louis Blanc tinlia I'eito vibrar todas as cordas do coracan humano. Confundindo os erros dos individuos com OS da sociedade, revolliira contra ella todas as paixoes; mas este fogo, que a sua lingu.igem ateava, em breve o exlinguia o sdpro gelado do raciocinio. Bevolucionario anibicio- so, Proudhon (|uiz dar a batalha cm todas as linhas. Sublevar uma indignacao, que tumul- tua um momenio, e em breve cae desfallecida aos pes da sciencia, era uma pequena gloria; fazer curvar asua vozessa sciencia humilhada, foi 0 sonho que Ihe sorriu; foi o projeclo em cuja realisacao enipenliou todas as suas forcas. A economia politica em todas as escliolas, e principalmentena ingleza, havia-seapprcsen- ^ It is a bad thing lo have venlicls continnaDy given in the teeth of (he law and the evidence. diZ ojnizBarao Alderson na sua deciarar.1o. * Stfstcme des Contradictions economiques. Paris, 1850, T. 11, C. X, paj. 78. 76 0 INSTITUTO tado com urn character ile empyrismo, que parecia desvial-a da periplieria coimnum das sciencias nioraes. Fiiiuiados 'nislo, ja os socia- lislas, e ate niesmo alguiis ccoiiomislas, lliu liaviam fornunlo iiiii liliollo tenivel, cm que a accusavam do e.sldcioniiria, anli-piogressista e immoral, cliegaiido atii a contesUir-Ihe a quali- dade do scieiu'ia. Fora cspocialmeiilc porocca- siao da roprodiKc.ao da celclire llieoria do Mallluis pop alguiis csciiplorcs laiUo da cschola rranoeza, como da ingleza, que o veiito das tempeslades comecara a nigir do lado do so- i.-ialisnio. A posicao, que cslasaccusacoes pare- cia Icrcm creado para uiiia e oulra sella, rc- suiniu-a Dariiiion 'iicsias palavras: « os eco- « noinislas negam o fiituro cm nome do pre- usenie, os socialisias negam o preseiile em « nome do fuUiro.» Disse(|ue — parecia lerem creado. Nao era. iiem (! na realidadc, essa a tendencia da eco- iiomia polilica ; mas e a que muis de um es- criplor eminente se considerou aiiciorisado para Ihe allribuir. Ja cilei um: ouiro loi I'roudlion. Diz elle: « Os cconomislas . . . sao JOIIINAL SCIENTIFICO E LITTEIIARIO (.'I'railuc^uo da IV. Meilita<;iiu poelica de Lamarline.) Foge o dia; eis o sileiicio ! 'N'estas rochas a^senUdo Conleniplo n carro da iioile Pelos ares a|ire?su(Iu. Surge Veiiii.s do horizonle, E a linda eslrella, aiuorosa, A mens pes hraiuiui-a os pradus Com a Iiiz nly^(erlusa. Do cypresle verde triste Ou^o OS ramos snssnrrar ; Dir-se-hia era luriio das campas Uma sombra a caminliar. E logo, dos ceos descido, Um raio do aslro noctunio Vera, froiixo, lucar mens olhos, O men roslo tacilurno. Bello raio, qite me queres Com ten suave fulgor ? Vens em muu pfito abatido A minha alma dar calur ? Dos miindus alios mysterios Vens-me acaso revelar ? Segredos ua espheru occullos, Onde a Inz le vai laii^ar? Ietellig:encia secreta Aos desgra^ados le envia? £s In o rail.) da esp'ran^a. Que de nuile os alumia? Descortiiiaiido o fuluro Ao iiifellz (jue le implora, Acaso de iini dia elerno Seras a diviiia aurora? Inflaminado com leu brilhu S'extasia o cora^ao ; O espirilu, o raio, acaso, Seras dos que ji niio sao ? Talvez assiin os meus manes Se afoiilerii nii deserlo : Jnvuivido eni sua iinagem, D'elles mejiiJ^o niais perlo. Se sois viis, soinbras queridas, Lon^e aqiii da niuUidao, Vinde, vinde a esia Iiora, Ter comi^o a soliduo. A nijniralma >sem alenlo Volvei a jiaz e o anior, Como o orvallio que succede De urn dia em braza ao calor. Vinde ... ; masja do horisonle Surgem fiintTeus vapores : Siimiu-se o raio celeste, Das Irevas eiitre os horrores ! DIARIO Do que se passou na universidade de Coimbra, quan- do a ella veiu para a sua nova fundacao o mar- quez de Pombal, como logar-tenente e plenipo- tenciario d'el-rei D. Jose I., em setembro do anno de 1772. Conliauado de pag. 7'i. Na quinta feira 1.° de outiiliro liouve niissa do EspiriloSancto na capelia da universidade, a que assisliu o niarquez, cm ciija presenca Vol. 1. iuLUO 15 derani os novos lentes ojuramento cosiumado. De larde veiu o niarquez em preslito a sala grande. A parte es(|uerda do docel, deijaixo do qua! se asseniou S. E., cstava a cadeira, que linlia servido para as posses dos lentes no dia antecodenle. Snbiu a esla o Dr. Ber- nardo Antonio Carnoiro. coliegial de S. Pedro e lente da nadeira de theoiogia dogmatica, e recilou a oracao de Sapiencia na abertura da nova universidade. Acabada ella, se recollieu 0 marquez ao paco episcopal em prestito. Na sexla feira de larde foi o niarquez com 0 mesmo prestito a universidade, e assistiu a oracao, que recilou o Dr. D. Carlos Maria de Figueircdo, lente de prima de tlieologia, na abertura de sua faculdade. Tanlo "nesta noite, como na anlecedenle houve repiques e lumi- narias. Sabbado de larde foi o marquez de sege a livraria da universidade, e assim que elle en- trou no pateo, se dislribuirara sentinellas de cavallaria pelas portas d'elle, de forma que nao enlrou mais pessoa alguma. Assisliu tanibeni o marquez as medidas, que OS engenbeiros loniaram, 'nessa larde, do paleo. No domingo, 4, assisliu o niarquez e sua esposa na tribuna a uma fesla, que em acrao de gracas fizcram os estudanles brazileiros na egreja de S. Joao, e de larde visitou os convenlos de S. Francisco da Ponle, Sancto Antonio dos Olivaes e Cellas. Na segunda I'eira de larde recilou na sala grande o Dr. Manuel Jose Alves de Carvalbo, lenle de prima de canones, uma orarao na abertura da sua faculdade, a qual foi o mar- quez em preslito assislir. E 0 mesmo praclicou na larde do dia se- guinie na oracao, que o Dr. Thoniaz Pedro da Rocba, lenle de prima de leis, recilou na abertura da sua faculdade. Na (luarta feira, 7, foi de manlian ver o collegio das Aries e o castello, c de larde a ccrca de Santa Cruz, e a quinta d'Arregaca perlencente aos cruzios. Na quinta feira de larde foi o marquez a Se c sendo recebido a porta d'ella debaixo do pallio pelo cabido, que o conduziu assim ate a capella do SS. e dahi ate a capella-mor, onde debaixo deum docel assisliu ao Tc-Dewn. que se cantou, passando depois a ver o clau- slro, casa do cabido, carlorio e sacrislia. Na sexla feira de nianhan foi o corpo da universidade buscar o maniucz em preslito com as coslumadas solemnidades, com a did'e- rriica que precediam a S. E. Jose Francisco Leao. Simao Gould, c Antonio Jose Percira, — lSo2. Num. 8. 78 0 INSTITUTO lentes noincados para a faculdadedemcdicina, com capellos aniarcllos : logo adcnntc inm — Miguel Francisco, o padre Jo^e Monleiro da Rodia, c Miguel Anlonio Ciera, Ionics noinca- dos para a nova faciiklade de mathenuilica, com capellos azues, I'orrados de branco, c uma esphcra no lado: cm iiin mais adeante iam Antonio Soares Barhosa, e Domingos Vandeli, lentes nomeados para a nova faciiklade de philosopliia, com capellos aziies, porem todos sem borlas, as quaes eram levadas logo adeante em cinia de tres salvas por tres esludanles em loha. Assim que o rcferido acompanhamenlo clio- gou a sala da univcrsidade, scnlou-se o nuir- qnez ; e os novos lentes de medicina ajocllia- ram deanle d'elle, leram a proleslafao de I'e, e jura ram defender a pureza da conceicao de N. S. Concliiindo islo, osdoulorou, |>ondo-lhes as borlas na caheca. Enlao se levanlarani os navos doutores, ahracaram o reitor, e os dou- tores, que occupavam os douloracs, sendo pre- cedidos pclos bodcis e seeretario, e depois d'islo seassenlarani no douloral da faculdade de medicina. Com as mesmas formalidades doutoroii o raarquez os tres nomeados lentes de maliiema- tica, eos doisde pliilosopbia ; sem (juc pagas- sem porestegrau propina algiima. oqueigual- niCDle succedeu a todos os que foram douto- rados pelo marquez. Concluidos OS douloramcnlos, deram esles Dovos lentes o juramento, e tomaram posse das suas respeclivas cadeiras na nicsma for- ma, (|ue OS mais lentes no dia 30 de sctcmbro. Acabado eslc aclo. leu o seeretario nm cdi- tal do marquez, ordenando uma festividade anuiversaria — « que principiara pcia procis- sao de lodos os lenles e academicos dcsde a sala ale a real capella, onde baveria missa solemne e sermao. e acabara pelo canlico — Te-Deum laudamus, em acrao de gracas pela nova fuiidacao d'esla univcrsidade ; sendo de- putado para csla solemnidade o dia do pa- irocinio de S. Jose, no qual concorrc tambem a trasladacao do grande Dr. Saucio Agnsli- iilio, cujas briibautes luzes tornaram agora a apparecer em lodo o seu csplendor, depois de liavereni os rcprovados meslres, que nos dis- iraliiram, empregado quasi dois seciilos em as cscurecer, para nos precipilarem nas Ircvas da ignorancia.' Finda a IciUira d'este edital, foi o marquez acompanbado em prestito ao paco episcopal, c 0 reitor ao seu. De larde vollou o marquez em preslito a sala para assisiir ri oracao, que o Dr. Anto- nio Jose Pereira, lenle de prima de medicina, recitou n abertura da sua faculdade. No sabliado do tarde, que se contavam 10 de oiilubro, foi o reitor em preslito a capella ' Kdital lie 7 de otitubro dc 177S. da universidade; pouco depois cbegou o mar- (|uez, que foi recebido pelo rcilor o mais corpo da universidade ii porta da capella; e depois de assistir as vesperas da fesla, ordenada no dia anlecedenle, se recollieu cm sege ao pafo, e 0 reitor ao seu cm presiiio. Domingo de manban foi o mar(|uez em pre- slito assisiir a fesla da universidade, na qual pregou 0 padre nicslre Dr. Frei Jonquim dc Sanct'Anna, lente subslituto dc Ibeologia. De larde foi o marquez a quinla de S. Marlinbo do Bispo. Na scgunda feira pela manhan houve uma cgual funccao a do dia 9. Vein o marquez em preslito a universidade, incorporou em leis ao Dr. canoiiista .lose Joaquim Vieira Godinho, lenle de direilo palrio, poudu-lhe borla verdo e vermelba na cabefa; em medicina a Domin- gos Vandeli, ja doulorem pliilosopbia, e lente de bistoria natural e cbimica, pondo-lbe a borla azul e amarclla; e a Miguel Francisco, doutor em mallienialica, c Icutc d'algebra, pon- do-lbe a borla azul e branca e amarclla. Fi- nalmenle doulorou em medicina a Luiz Cieli, 0 qual jii linba sido nomeado lento da cadeira de analomia, de que tomou immediatamenle posse, procedendo o juramento do eslylo. De tarde vein o marquez a sala assistir a oracao, (|ue n'aberlura da sua faculdade reci- tou 0 Dr. Jose Monteiro da Rocba, lente de malbematica. E na tarde do dia seguinie assis- liu a outra egual orajao do Dr. Anlonio Soa- res Barbosa, lenle de pliilosopbia, n'aberlura d'esti faculdade. Recolbendo-se ao paco, pres- laram juramento na sua presenca os Ires de- putados da mesa da fazenda, eleilos pelos rei- tores dos collegios de S. Pedro, S. Paulo e Mililares, d'entre os doutores nao lenles, se- guudo as ordensdo marquez." Preslaram tam- bem juramento o escrivao e ibesourciro da inesma; servindo eslc aclo dc primeira mesa. Em lodas estas noiles liouvc repiqucs c lu- lumiiiarias. Na quarla feira 14 pela uianban foi o se- eretario da universidade com ordom do mar- quez buscar os eslatulos vellins da universi- dade a lodos OS convenlos e collegios da cidade. De larde visilou o marquez com sua esposa a quinla de Villa-Franca. No dia lii foram ii ipiinta do Lorcio, e no dia IC ao convento de S. Jorge. No sabbado 17 de ouiubro, pela manban, ajunclou-se a maior parte dos doutores a ca- vallo no largo de Sancla Cruz com as suas respeclivas insignias, onde se formou o aconi- panbauiento do doutoranienlo na maneira se- guinie; Adeante iam a pe os verdeaes com as suas alabardas, e juncto a elles os musicos a caval- ^ Foram eleilos, pelo collepio de S. Pedro o Dr. Josl* Barroso Percirn; pelo de S. Paulo, o Dr. Manuel Pae^ Trigoso ; e pelo dos Mililares, o Dr. Richardo Raymundu Norueira. 0 INSTITUTO 79 lo, tocando unia marcha, seguiam-se depois as faculdades, primeiro a de arles, depois philosopliia, nialliemalica, medicina, leis, ca- nones e no lira llieologia, e os doiilores uni duas alas iias suas competentes antiguida- des. No fill! d'csles ia o pagem da Iiorla, em um cavallo bein ajaezado, com uma salva na mao, e a boria verde cm cima ; dcpois os bedeis com as suas massas, e o secrelario da iini- vorsidade ; jiinclo a eilos ia o doiilorando Jose Pessoa Moiileiro, nalurai de Coiiiibra, oiii um cavallo ricamenle ajaezado, enlre o reilor da universidade, a direita, c o Dr. Manuel Jose Alves, leiile de prima de canones; fechava o (.'onservador esle luzido aconipanhanienlo, o riual, encaminliaiido-se pela rua do Coruche, Calcada, rua das Fangas, de S. Cliristovao, Se (vellia), rua das Covas, de S. Joao, e rua Larga, que lodas cstavam armadas, eiitrou no patco da universidade, aonde se apearam lo- (los OS doiitores, os quaes immedialamente com 0 reitor foram buscar o marquez, que esta\a no palacio do reilor, e d'alli o acompanliaram a capelia real, onde assistiu a missa, no lim da qual, subiu o marquez, precedido do niesmo acompanbamenlo, a sala grande, assenlando- se, assini como os doulores nos scus respecii- clivos logares, e o conde de S. Paio a direila do doulorando, como padrinho, que foi, delle 'nestc ado. Entao 0 doulorando pediu o grau de dou- torem uma brevissima oracao: concluida esia, oraram em seu lonvor os dois doulores cano- nistas Miguel Marlins de Araujo e .Manuel Paes Trigoso; acabadas cslas oracoes subiu 0 doulorando, o leu junclo ao marciuez a pro- teslacao da fe e o juramenlo do eslylo; depois cbegou-se ao pe do Dr. Manuel Jose Alves, 0 qual em nnia oracao llic deu o grau de doulor, ornando-o com as competenlcs in- signias. Finalmcnle o novo doulor, depois de abracar 0 reilor e os doulores, deu as devidas gracas ; econchiindo assim o douloramenlo, o corpoda universidade acompanbou o marquez ao lundo das escadas, aonde se nit-llou na sua sege. De larde foi a quinia da Gciria. 0 domingo foi o lillimo do iriduo, com que osesiudanies de Lisboa celebraram na capelia da Senbora da Esperanca a nova fundacaoda universidade; houve vespcras solemnes, em que prcgou o P. M. Dr. Frei Jose Pimenlel, religioso dominico, olliciou o bispo de Bra- ganca D. Miguel Antonio Barrclo de Mene- zes, que levou o SS Sacramento cm procis- sao. A loda esla funccao assisliu o marquez, 'numa iribuna. No dia IS de larde lomou o Dr. Jose Joa- quini Vieira Godinho, lenle de direilo palrio, posse por parle da universidade dos chiuslros e torre da Se (veiha), como lambcm das mais oQjcinas pcrlcncenles a ella, das quaes S. M. fizera mcrce a mesma universidade, assim como de lodas as casas contiguas. No mesrao dia linlia o cabido e a mitra loniado posse do sumpluoso lemplo do collegio, que foi dos je- suitas, deslinado para Se calhedral d'esla dio- cese.' Na quinia feira, 21, de larde fez-se a Iras- ladacao do SS para a nova Se em uma so- lemuissima procissao; o corpo da universidade acompanbou de mislura com a noiireza esla procissao, por convite do reilor, que levava o SacranKMilo debaixo do pailio, como governa- dor vigario capilular do bispado. Na nianlian do dia seguinle assisliu o mar- quez cm uma tribuna a missa solemne, que celebrou na nova Se o governador do bispado. Na mesma manban linha a irmandade da mi- serieordia tomado posse da cgrcja da antiga Se, em virUide de doacao regia. De larde foi o marquez em prestilo a sala grande da universidade, onde recilou uma mui eleganle oracao de despcdida, que corre iinpressa. Concluida esla, leu o secrelario o decrclo, pelo i|ual S. M. fazia mercfi ao reitor do cargo de reformador da mesma universi- dade, para o servir egualmenie com o do rei- lor por tempo de Ires annos.' Em seguida o reilor leu uma oraciio em porluguez, na qual depois de agradecer ao marquez em nonie da universidade os beneficios, que esla d'elle linha reccbido, llie prolestou a jusla saudade, que a lodos causava a sua ausencia. Concluido isto, se recolbeu o marquez em preslito ao pacfl. Na nianhan do dia seguinle, 23 de oulubro, prestou 0 reitor da universidade nas niaos do marquez o juramenlo de reformador na ca- pelia particular do pafo, sendo lestemunbas OS condes da Ponte e de S. Paio._ No sabbado, 24 de oulubro, pela manbau concorreu ao paco a universidade, a caniara, inqiiisicao, cabido e loda a nobreza, e pelas nove boras e meia saiu o marquez com sua esposa de sege, para dar principio a sua Jor- nada, sendo precedido pelos reilores e parte dos collegiaes dos collegios, assini regulares como seculares, pela in(|uisicao, camara, ca- bido e mais nobreza: cobriam este luzido acompanbamenlo a infanleria e cavallaria de Almeida, e a da guarda do marquez. No largo de Sancla Clara eslava posiada a ordenanca, que salvou com Ires dcscargas. PoHco adiante mandou o marquez agrade- cer a lodos, que o acompanbavam, o obsequio que Ihefaziam, pedindo-lbc que se retirassem, 0 que com cffeilo lodos lizeram, e-\cepluando unicamenie o reilor da universidade, o qual acompanbou ale Condeixa, d'onde vollou para 0 paco da universidade. j. m. de aereu. ^ r. R. de II de oiitnbro de 1772. * D. de 11 de selembro de 1772. 80 0 INSTITUTO OS BANHOS DE LUSO Cuntiiuiado da ]>ag.74. PLASO QUE NAO CUEGOU A SER APPRESENTADO A coMsiissAO, EST. 2.*, Fu;. 1.°e2.' Planta baixa, fig. l.-" Eslo piano da 24 hanliciras em 12celliilas. Em carta celhila — oa — ficam liiias l)iinhci- ras — bb — com paredcs de lijolo, forradas de azulcjo. e com uma camada de carvao pela parte de foia. Esias banlieiras rccchem agiia por aqiieduclos — cc — , e a laiicam no cano geral de despejo, que corre por baixo dos estrados : vae di-signado com as aspas=:=i=:= A enlrada para as casas de banlio on cellulas e pelas portas — d — qiiedcilam para os cor- redores — e, e, e. — As porlas de fora — / — scrvcm de regiiiarizar o edilicio, de o v(mii- lar de qnando em quando, e de llie facililar a limpoza. As quatro banlieiras jr, ta obra, so licava com dircito as bem- feitorias; e assim poderia applicar ii conscr- vajao d'esta matta nacional o juro do capital emprcgado 'naquellas bemfeitorias. Tudo o mais pertcnceria inconloslavelmente ao domno do estahelecinienlo ; e nos, como lilhos d'aqucl- le conccllio, nunca votariamos que a camara fosse espoliada d'esta propriedade. Quahiucr que seja o systema que se adopte, podeni sair do Bucaco, sem o nicnor prejuizo da matta, as madeiras caidas, e alguns pans do pequeno souto de castanbo do valle da Foute-fria, eujo corte, mais anno menos anno, vem a ser exigido pela conservacao dascepas. A. A. DA COSTA SIiMOES. PHYSICA APPLiCADA nso do vapor da agua para apagar os incendios M. Fourneyron, 'numa carta, dirigida em Janeiro a academia das sciencias de Paris, chama a sua attencao sobre a communicacao por elle feita em 10 de novembro de 1840, contendo o bom resultado, posteriormente con- firmado mais vezescom egual exito, da appli- cacao do vapor a extinccao d'um incendio. Deu origem a citacao d'estes factos, os quaes M. Fourneyron espera que a academia, como auctoridade compctente, naojulgara inutil le- var ao conhecimenlo do ministro da inarinha, 0 desastroso incendio, e subsequente naufra- gio do vapor Amazonas, que, lendo partido de Southampton no dia 2 de Janeiro as tres boras e meia da tarde para as Indias Occiden- taes e golpbo do Mexico, era prcsa das cbamas. nove boras depois da sua partida, sem que de cento e cincoenla e tres pcssoas, que iam a bordo, escapassem mais de vinte e unia. « E bcm doloroso pensar, diz M. Fourney- ron, que tamanbo desaslre se podesse consum- niar, sem haver alii quern considerasse ter o remedio tao perlo do mal, e no agente motor um meio seguro de salvacao! « Sera na verdade bom servico fazer con- signar nas instruccSes dos ofliciaes, que com- niandam barcos de vapor, a recommendaiao de, no caso de incendio a bordo, encher logo com 0 vapor da agua ja formado, e que se vai formando nas caldeiras, os espacos inva- didos pelo logo; bavendo a precaucao, que desgra^adamente e beni facil d'esquecer-se em monientos de terror e precipilacao, de que nao tenliani ficado algumas pessoas nos logares, para onde se dirige o vapor, para que senao tenbam de conlar como victimas, depois do incendio apagado. (Comptes rendus, lSi)2, 1." semestre, Tome XXXIV, N.° 2. b. feio. 83 0 INSTITUTO ELEfflENTOS DE PHILOSOPHIA RACIONAL Approximados ao estado actual da sciencia — pri- meira parte, comprehendendo a Psychologiaem- pirica, ou Experimental. SECC\0 1.' ABTIfiO UNICO Aspecto geral e complexo da natureza do set- pcnsantc A pliilosopliia pertence dar conta dos cons- tituiivos do character natural do lioiiiem, conio >cr inti'lligente e moral, indicando-nos as cau- sas proximas de loda a intelligencia e raora- iidade. Seguindo urn melhodo verdadeiramenle plii- losopliico na solucao d'esle problenia, nos ob- scrvamos que os objectos exleriorcs estao em lal conlacto com os nossos orgaos exiornos e internos, que d'abi resultam duas series de faclos : r a) k impressao do objecto sobre o orgao ; ^ . 1 c) 0 abaio do cerebro ; j 6) A sensacao, ou o sentimento propria- V. niente dicto. Como a quolidiana experiencia nos attesta, que a alma nao recebe sensacoes Indillereii- tes (nem a philosophia asadmilte); mas obra cm consequencia : segue-se, que a accao da alma nao se limita a modilicar-se esia a si propria. Quando clla quer, sua accao e se- guida dura raovimenlo do cerebro, o qua! e seguido outro sim d'um movimento do orgao, que per seu lurno se volvc para o objecto, ou d'elle se afasta. Aijuella primeira serie pois, a saber — accao do ol)jeclo sobre o orgao, d'este sobre o cere- bro, e d'este em lim sobre o principio sensiente, acresce uma segunda : r a) Reaccao do principio agenle sobre o V cerebro ; 2.' ^-^6) do cerebro sobre o orgao; / c) do orgao sobre o objecto, vol- (_ vendo-se para elle ou cviiando-o. A primeira serie cxprime urn estado passive de nossa alma; a segunda, win estado aclivo. Eambos elles junlamentecoma anaiogia, que 'nesie ponto tem a alma com os orgaos, de que se serve, nossao represenlados, em um volver d'olhos, por lodas as linguas do niundo nas scguiiites cxpressoes: — Oolbo v6, colba ; a alma sente, eobra. — Estes dois estados nosauclorisama concluir, que 0 nosso — eu — e dotado de sonsibilidade e actividadc. Por aquclla nossa alma e snsce- ptivcl de ser modilicada (que por isso iinpro- priamcute alguem Ihe cliaina faculdade passi- va) ; por esta pode modilicar-se a si propria. Ora.a este ser, ao mesmo lemj* sensivel e active, jii podcmos chaniar — alma. Mas de que niodo um movimento do cere- bro produz um sentimento da alma? Como e possivel que a alma ponba em niovimculo o cerebro? A accao da alma exercita-se acaso immediatamente sobre ella, propria, ou sobre 0 cerebro? Acaso clla, para obrar sobre si mesma, precisa, ou nao, d'um interniedio? Os pliilosopbos tern cxcogilado qualro liypo- tlieses para resolver esses abstrusos [iroblemas, denomiiiaiido-as — causas nccasioiiaes ; harmo- niu prcesl(dietecidu; iiiediador plaxlico ; c influxo phij.iico: — dos quaes em outro logar por Ven- tura I'alaremos com mais exlensao. Ao presente, reputando taes systemas uma conlissao de nossa ignorancia, e insistindo nos resultadosja colliidos, demos por estabelecido, que a alma epassivu, uactiva; passiva, quando e modilicada pela accao dos oiijeclos ; acliva, quando se modilica a si propria, quando mo- dilica suas sensacoes e suas ideias. E desl'arle cremos Icr enconlrado a chave, que nos abrira o sancluario do entendimenlo e da voiilade, ou o fio, que nos guiara no desinvolvimento do systema das faculdadesda alma. Mas antes de tomarmos sobre nos essa ta- refa, asado e ao nosso proposito dannos uma idein do complexo phenomeno da sen>iliilidade, que alguem erradaniente ha julgado invoher em si todas as I'aculdades da alma. SECCAO 2.' Se todas as faculdades da alma nascem da sensagao? AIITKJO 1 .° Doutrina dos pliilosnphos, fantores d'essa opiuiao Os phllosophos anteriores a Condillac con- fundiam mni inconsequentemente as faculda- des com as ideias. Buscava-se a origem das ideias, o principio dos conhecimenlos ; niugiiein se Icnibrava de procurar o principio das facuidade.s, a origem das operacoes, coordenando-as, e reduzindo-as, a systema. Condillac e o unico, que imaginou separar as faculdades de seus produclos, formando duas questoes differentes, — a da Iheoria das fuciildades, e a das ideias; mas commettendo tambem elle uma incousequencia, pois que, le- va ndo mais avanie, que seus predecessores, essa forca originaria, que um grandissimo niimero de pliilosopbos attribuia as sensacoes, em ludo nada via mais que sensacao, a qual havia, como principio unico, que por trans- formacoes successivas so convertia em tudo o que e possivel conrebcr na alma. Tendo Locke dirto: — Todas as ideias vem da sensac.io, ou da rellexao do espirito sobre suas proprias operacoes; — disse dcpnis Con- dillac:— Todas as ideias, assim como tambem a mesma rellexao, qualquer que seja o objecto, a que se a|)plique, provem da sensacao. (V. Log. do cit. A., 1." part. cap. 7.) Scgundo cstc A., a altencao e a sensacao exclusiva, que um objecto faz sobre a alma. 0 INSTITUTO s:j A comparacao, lima duplica daattencao, ou sensacao exclusiva. 0 juizo, e percepcao da similhanca ou dif- ferenca, queessas duassensacOesoccasionam, postas a par iima da outra: isto e, uni resul- tado accessorio da mesma sensafao. A reflexao, uma serie de juizos, que se fa- zem por uma serie de comparacoes : islo e, um complexo de sensafoes. A mesma natureza attrihue a imaginafao, cm qiianto a considera, como a reflexao, for- mando imagens. A mesma aUril)ue tambem ao raciocinio, que ellc encara, como o aclo de proiuinciar dois ou mais juizos sobre o mesmo oi)jecto. E de tudo conclue, que lodas as faculdades t'stao encerradas na de senlir. 0 cnlendinicn- lo, diz eile, comprelieiide na allenrao a com- paracao, juizo, reflexao, imaginacao e racio- cinio. A vonlade nao attrihue din"erente origem. Assim como, considerando as sensacoes como representativas, d'ellas deriva todas as facul- dades do enlendimento; considerando-as ou- tro sim, como agradaveis ou desagradaveis, d'ellas deduz lodas as faculdades, que se as- signam a vontade. Em (im, segundo elle, a palavra ■pensamenlo comprehende em sua accepcao todas as facul- dades do enlendimento, e lodas as da vontade. E pensar o sentir, o dar sua attenrao, coni- parar, julgar, refleclir, imaginar, ler paixoes, esperar, temer, etc. Tal e a analyse das faculdades da alma, estabelecida por Condillac, o qual em seu sequilo arraslou mais ou nienos todos os da eseliola sensualista, sendo de nolar que elle reputa esla analyse lao exacta, como o que ha do mais deraonslrado em Geometria. Porem, constituindo o exercicio da sensi- hilidade um estado passivo da parte do prin- cipio sensiente, derivar da sensacao todos os graus da actividade da alma e incorrer na conliadiccao mais inconsequenle, a forca de siin|ililji'ar dcmasiado. Mas em logar convenienle cxpenderemos a Iheoria das faculdades da alma, que adopta- nios. Agora, visio que tanto se tem argumen- tado com as sensacoes, lidemos por dar uma ideia cabal (quanto o comporla a orbila d'um compendio), da mesma sensibilidade ; a ver, se nos orgaos, em que clla se manifesta, ap- parece a causalidade do pensamento. ARTIGO 2.° A sensibilidade e um facto geral, que se nao conhece a priori. Nao nos occuparemos com ascausas que os philosophos tem assignado a sensibilidade, como cheque dos espirilos animaes, irritahi- hilidade das fibras, Duido electrico, fluido galvanico, magnetico, etc. Todas tem sido celebradas, com interprelacoes da natureza ; nos seguiraos differente rumo — fixar a verdade da epigraphe. Se fosse possivel remoniar mais alto que o sentimento, o que lizesse tal esforco, teria enriquecido o syslema inlellectual com um fa- cto primordial; sua gloria em nietaphysica emparclharia com a de Newton em pbysica. Mas nao: 6 anli-philosophico enlrar em tal indagacao. Nao podendo explirar-se os phcnomenos, senao por suas relacoes de similhanca, ou successao com oulros [ihenomenos conhecidos ; e nao podendo os faclos geiaes referir-sc a outros i'actos por esses vinculos de similhan- ca, ou de effeilos para suas causas, sem que fiquem subordinados a elles, deixando de ser geraes ; segue-se, que os factos geraes sac, porque sao ; e lanlo hoje se pode explicar a sensibilidade na pbysica animal, c na philo- sophia racional, como a attraccao na pbysica das massas. Estas qucstoes prendem nas das causas pri- meiras, ([ue nao podem ser conhecidas, por isso mesmo que sao primciras. Nao tendo pois ideia dos objectos, senao pelos phenomenos obscrvaveis, que elles nos appresentam, pois que sua natureza, ou sua essencia, nao pode ser para nos senao o com- plexo d'esses phenomenos: eis ahi o principio regulador, que nos guiara no exame da sen- sibilidade. AKTIGO 3.° Ideia da sensibilidade pelos sens phenomenos e effeilos. A capacidade de se mover e senlir forma o character da natureza animal. Os nervos sao os orgaos da sensibilidade, e a sua sede particular, como experimental- mente se conhece, ligando ou corlando os Ironcos dos nervos; e por isso a capacidade de senlir consisle na que lem o syslema ner- voso de ser advertido das imprcssoes produ- zidas cm suas differenles partes, e especial- menie cm suas extremidades. Eslas impressoes porem sao nao so exter- nas, mas tambem internas. E certo que mui- tas de nossas determinacoes sao devidas a impressoes internas, resultanles do jogo dos difl'e rentes orgaos. Sem razao pois muitos philosophos, entre elles Genuense, tem dado pouca irnportancia as impressoes internas, dando exclusivamenle as outras o nome de sensacoes. A razao de tal omissao esta por venlura em que nos temos ordinariamcnle a consciencia d'umas, e nao a das outras; c por isso, po- dendo (ixar-se, ate cerlo ponlo, quaes as dcier- minacoes, que dependem parlicularmcnte das impressoes internas, nao e lodavia possivel classitical-as de maneira, que se possam assi- gnar a cada orgao as que Ihe dizcm respeilo, u 0 INSTITUTO obstando a isso o nao serem pcrcebidas a relafoes do senlimeiUo com o niovimento. Devera referir-se as inipressoes iolernas as deierminacOes, que sc manifeslam no menino, e DOS aniinaes todos, uo momuiuo do nasci- menlo, bein conio as paixScs, que logo se niauirestam iia physionomia d'aquelle; e aleiii d'outras cousas, tudo o que se eliama insiiii- clo, per opposijao ao que se ehama delerini- nacao racional: islo e, lodas as dclermina- coes resullanles do desinvolvinienlo das fuuc- cOes regulares dos dilTerentes orgaos. Independeutemenie das inipressoes, que o orgao sensilivo reccbc de suas exlremidades sensientes, tanlo inlernas como externas, ou- tras lia, que rccebe direclas per ell'eilo de mudanfas, que occorreni em seu interior, co- mo cerlas infcrmidades, loucuras, alTeccOes I'xlaticas, etc. A memoria e imaginacao lani- bem occasionam muitas d'esle genero, islo e, sem excitaniento exlranlio. Em uma palavra, sao lantas e lao variadas as inipressoes esponlaneas do orgao sensili- vo, islo e, as que se dcsperlam sem excila- menlo exterior, que parece poderdizer-se — lia no homem oulro homem interior. Alludinios ao cenlro cerebral, a lodo o orgao sensitive, que conslilue uma principal parte d'um dos elementos da dualidade liumana, e como ([ue e dotado d'uma aclividade particular, liilia de excitamentos internes, que mulliplica suas rekifoes phenomenaes como a aclividade do elemento moral, ou pcnsanie. 0 orgao sensitivo reage sobre as inipres- soes esponlaneas, como soiire as outras, se- guindo-se a isso juizos e deierminacOes, (|ue occasionam movimenlos nas paries muscula- res ; e cstas accoes e reaccoes alTectam ja todo 0 systema, ja algumas de suas paries; refor- cam-se per sua duracao, etc. Ora, d"entre as scnsacoes e delerniinacoes occasionadas pelo orgao sensilivo, as que nas- cein d'inipressijes recebidas no seio do niesmo orgao, sao as mais persistenles e lenazes, em uma palavra, essencialmenle dominanles; taes sao as priniipaes disposicoes maniacas. As que vem de impressOes, recebidas pclas exlremidades sensilivas internas e pelos or- gaos, que elles animani, tern osegundo logar: taes sao as determinnioes instinclivas. Em dm, as nicnos profundas, e as mcnos conlinuas, sao as que cliegam pelas exlremi- dades sensilivas exlernas, e pelos orgaos dos sentidos: sao as sensafocs, vulgarmente di- clas. Estas ultimas sao as que tern occupado quasi exclusivamenle os ideologislas. ARTICO i.° Continuacao da mesma materia, relatioamente aos sentidos extcnios A polpa cerebral distribue-se com unifor- raidadc pelos Ironcos principaes dos nervos, de manuira que todos os sentidos nao sao mais (jue unias did'erentes especies de tacto. que alTectam de diversos modos esla polpa nervosa. 0 taclo e 0 primeiro sentido, que se desin- volve, e 0 ultimo, i)ue se exlingue: e d'al- guma sorte a sensibilidade mesma. Sua in- icira e geral abolicao suppoe a da vida. A vista e o ouvido sao os dois sentidos, que nos dao inipressoes, cuja lembranfa e mais durave! e precisa. A razao esta, quanto ao ouvido, na ellica- cia da linguagom articulada ; e por venlura tambcm, no caractcr rytlimico de suas ini- pressoes, por quanto iiossa nalureza singular- inente secompraz com osretornos periodicos, e ludo se opera era nos cm epochas e inter- vallos delerminados. Quanto ao ollio, a razao e nao so por eslar num conlinuo exercicio, c porque suas iin- prossOes se unem com todas as nossas neces- sidades; mas tambem porque poile renoval-as de conlinuo, ou prolongal-as, e separal-as unias das outras. Mas ludo 0 que da nnjao dos sentidos ex- lernos se pode collier acerca dos ponlos de relacab enire o nosso organismo e o pensa- mento, reduz-se ao scguinte: 1." As inipressoes, em razao da organisacao do sentido, por onde sao recebidas, lira uma relacao mais ou nienos direcla com o orgao inslrumental do pensamenio. 2.° E niui verosimil, que a percepcao dos objectos se elTcctue no mesmo ponto, que a comparacao, islo e, no cenlro coninium dos nervos. que com loda a verosimilbanca e a sede da comparacao das sensacOes. 3.° A accao do pensamcnto exigea inlegri- dade do ceiebro ; mas nao se pode eslabele- ler com exaclidao em que consisie essa inlc- gridade. Podemos sim dizer, que certos csla- dos do cercbro sao scnipre acompanbados de desarranjo nas funcfoes intellecluaes. Em uma palavra: maior ou nienor commu- nieajao dos diversos sentidos com o cerebro ; loralidade (se assira nos podemos expriniir) da percepfao dos olijectos seusiveis no mesmo ponto, que a comparacao das sensafoes; ser- vi(;o instrumental prestado pelo cerebro ao pensamenio; iufluencia do desarranjo do ce- rebro no das funccoes intellecluaes: eis os pontos de mais relacao entre os orgaos da sensibilidade c o pensamenio. Porem como a maneira de receber as sen- sacOes, necessaria para adquirir ideias, para experinientar senlinienlos, para ler vonlades, (o ([ue tudo cntra mais ou nienos na orbila do pensamenio), depende do estado dos or- gaos, da forfa ou fraqueza do systema ner- voso, em lim da maneira como sentinios, e tudo islo c dilTerente, segunilo os individuos ; vejamos aiuda, se.por lueioda disposicao re- lativa dos orgaos, e das partes do corpo entre si, descorlinaraos entre o physico e o moral 0 INSTITUTO do homeni algurna oulra relacao, alera das mencioiiadas. Contiiiua • * * PROUDHON E A ECONOMIA POLITICA Conliuuado de pag. 76. Relrogradcmos tiiii pouco. Sobre o meado do scculo XVllI Kant lia>ia lancado na Al- Icmanlia os priineiros fuudanienlos de uina nova cschola philosopliica. Uin dos seus dis- cipiilos, Fiflilc, tcntou coinplemenlar o ma- gesloso edilicio, que a(|uelle grande lioinom liavia levaiilado. Schelling pielenduu anipliar a oljra do Fi- clito; e Hegel concelieu o piojeclo de levar as suas ultimas consequencias a sciencia de Sfliclling. Neslcs quatro geiiios esla incarnado 0 aulem fjeiniit do criliLismo alleiiiao. Se quizcsse cm poucas palavias caraeieri- sar cada um d'esles systemas, seria iinpossi- vcl fazei-o com mais prccisao do que o faz Remusat, (juando diz: » A ideia so garanle a si mesma, dizia Kant. Ficlite accresceata : — A ideia da o ser. 0 ser repioduz a ideia, con- tiniia Schelling. A ideia e o ser, couclue lie- ge!)).' Mas islo nao basta. E indispensavel dizer mais alguma coiisa, especialmente sdbre lie- ge), ciijo metliodo foi adoptado por Proudhoo. Kant eoncebeu a philosophia como scien- cia do conliecimeiito, deduzida a priori do conhcciniento do eii pensante. E o que e.\pri- me 0 seu lermo — ruzdo pura. Assiin a — cri- tica da rnzclo pura foi para o philosojibo de Koenigsberg o principio de loda a sciencia. Estabeleci'ndo o scu systenia philosopliico, Kant purlin da liypotiu'se da tonsciencia ; | mas esta, cunio acto, nau e mais que uin fa- cto dado na experiencia; ou, por outras pa- lavras, nao e mais que unia deterniinafao enipirica do eii. Libcrtando a plnlosopliia do empirismo externo e olijectivo de Locke e Con- dillac, Kant deixou-se dominar pelo empiris- mo, por assim dizer, interne e sui)jeclho. Assini 0 sen principio era incompleto; era mais um ponto de parlida, que urn verdadeiro principio. Kant nao cxpoz, como Hegel, a sua diale- etica. 0 conliecimenlo d'ella so pode obter-ije pcla leilura das suas obras, e minuciosa obser- vacao do seu niodo de proceder na liliacao das ideias. 0 que d'aqui se deduz e, que elle as dividia em quatro classes — quaniidude, qua- lidade, relacao e modalidude; formando cada unia tres caiegorias — ihese, aiUithese e sijnlhe- se : assim, por exenipio, nas ideias de quaa- lidade a these e a uuidade, a antithese a plu- ralidade, a synthese a totalidade. Porcm Kant ' De la [jhilosophie allemande, Paris, Pref. paj. VII. ' considera esla filiacao de ideias mais coniu uma classiticacao, do que como uma tiliarao diaiectica. Ficlite empenhou-se em descobrir um ado fundamental e primitivo, uma lei, que fusse ao mesnio tempo a origera e o lilulo de todo 0 conhecimento. Para islo principiou porsup- por 0 eu problematico, d'onde partiu para ,i allirmacao do eu calcgorico. E islo o que pre- lendeu expriniir por meio da formula algelirici A = A,eu = eu. Se A existe, e A; se eu exis- te, e eu. Nao so esla formula e em logica a primeira applicacao da calcgoria da realidadr, seiiao lambeni o seu principio e em onlologia a piimcira origeni da mcsnia roalidade. Assini Ficble suppoe o |)rimeiro en, e pOe 0 scgundo. Mas a relafao, que os une, vein ainda do eu, o quiil, sob este novo ponto de \isla, 0 philosoplio cxprime pelo signal algc- brico X. Por lanlo A como sujeilo, ,1 como attrlbuto, e a relacao .Y que os une, suppoeni A ou 0 eu. D'aqui deduz Fichle a sua uni- dade. Oulra consequencia : se4=/l. A nao=i? ; logo se ««— eu, eu nao = (•((. Aqui temos pois as duas caiegorias de alErmafao e negacao. Ora para que o eu, ou X, encontre a sua' re- lacao em eu = eu, ou /1=A, e necessario que se determine, que conheca alguma cousa. Mas, como 'neste caso essa alguma cousa e o eu, e necessario i|ue da unidade jiasse ao dualisnio ; que 0 eu puro se tome eu enipirico : que o eu sujeilo se torne eu objeclo. Mas af|ui n dualismo e apparenle; de forma que o eu pro- lirlamenle diclo e a idenlidade do eu, como sujeilo e como objecto. E assiin que o ?» sujeilo — eu objecto = ci( e a Ibi'se e a aniitbese, cbegando a unidade por nioio da syntbese; ibese e aniilbese como (■« dtialismo sujeilo — objeclo, delerminado — inilclerminado; synlbese como eu unidade, eu i|ue se conbece. Esla Iriplicidade da these, aiililhese e synlhese de Ficbte, 6 a iricboto- mia da eschoia de Hegel. A Ficbte seguiu-se Schelling. Com quanlo fosse mais novo que Hegel, e seu conlempo- raneo na universidade de Tubingen, ja seu nonte era nolavel na sciencia, (|uando Hegel ajienas principiava a fazer-se conhecer. Scbclling partiu da idi'ntiJade, que dedu- ziu da necessidade da intervencao do eu abso- lulo em loda a determiniifao impirica do eu nos pbenomenos da conscien'cia, e da inipos- sibitiilade da exisiencia do nao eu, seni a conJicionalidade do eu absolulo. Mas sendo 0 absolulo a necessidade absolula, manifesla- se sob dois ponlos de visla: snbjeclivamenle no eu, tal qual so revela na phenomenologia do espirilo; objectivamcnte no ndo eu, tal qual se revela ua eosmologia da nalureza. Em quanlo ao melhodo, Schelling o fax consislir na posicao objectiva do sujeilo-obje- clo, ou objeclivo a|)solulo, e na volia progres- 86 0 INSTITUTO siva da objectividade para a subjeclividade. 0 idenlico, ou o ser, e alguma cousa quo se eleva de potcncia a polcncia para o subjeciivo, ate que, objectivando-se, se coniprehende, e reproduz cm si a realidade do objeclivo. E o resumo d'esle melhodo, que o mesmo Schel- ling expOe, qiiando diz: « ba uiii desinvolvi- •. raento necessario do sujeilo-objceto iutinilo, « que cm virlude da sua nalureza se objccli- tt va ; mas de cada uma ol)jeclividade volia « viclorioso a uma mais alia polencia desul)je- ((Clividade; ale que, depois de tor es},'oia(lo <' loda sua a I'aculdade de se tornar objoctivo, « se comprebcnde, e apparece conic sujoiio <■ de tudo.» I'or isso esla lendencia dosujoito- objeclo para a sciencia absoluta e para Scbel- liog uma dialeclica immanentc, que conduz o espirilo ao absolulo. Em quanlo ao desinvolvimcnto e harmoni- sacao dosysteraa de Schelling, aiuda o mundo scienliliio espera a liliima palavra. Para Uegel love o melbodo mais valor, que para Schelling e Ficblo ; e I'oi lalvez per die, 0 por sua ousada applicacao a todos os ranios do saber humane, que Hegel adquiriu maior celebridade. Segundo elle, o melbodo e a sciencia deri- vam do mesmo principio; o melbodo repre- .-cnla a sciencia, e cm lillima analyse idenli- lica-se com ella. « 0 melbodo, diz elle, e a ■ forca absolula, unica suprema, Inlinila, ii juizo (das Uiiheil), e conclusao (der Sclduss.) Sao esics os Ires termos em que se resolve a dialeclica especulaliva, que sefunda na idenlidade do espirilo bumano; e o niovi- nienlo dialeclico, pelo qual o pensamenlo espcculalivo alcanca a sciencia intinila. Assim pois, dada uma ideia, um conceilo, uma nofao, e carlo que coniem alguma cousa que lende a desinvolver-se em virlude da aclividade que Ihe c inhereule. Esle desinvol- ' Logic. T. in. vimento rylbmico tern logar por meio de Ires phases: A primeira e a posicao, nocao, ou these, cm que a ideia e a nocao implicila do ser. Na segunda, opposicao, juizo, ou anli- lhese, a ideia objecliva-so; ou, para fallar com mai.s clareza, ainda que com menos rigor, converle-so em duas, que parcce negarem-sc reciprocamoule. Se o movimcnlo (iialeclico parassc aqui, o espirilo se cancaria em esfor- fos inuleis sobre uma conlradiccao insoluvcl. Mas elle progride chcgando a terccira phase, composicao, conclusao, ou synlbese, em que a ideia volla a si pela consciencia de si. Mas jii enlao nao e rigorosamenlo a mesma ; desin- volveu-so, e mostrou-so conlendo a sua con- Iraria; lornou-se unidade enlre a primeira afTirmacao posiliva e a negacao opposta. E d'esle modo que a negacao da negacao, sup- primindo-a, a conserva ao mesmo tempo : facto ([ue Ilcgcl exprime pela palavra aufheb.n. Como disse, a Iricblomia de Hegel nasceu da these, anlilhese, e synlbese do Fichle ; mas OS seus lermos soll'reram uma transl'or- macao radical. Hegel considera a ideia pri- meiramenle em si {an sicli); depois na sua negacao, no seu ser outra {an der seyn), linalmcnte na sua volla para si mesma, na sua synlbese, no seu para si {fiir sick seijn). Todo 0 syslema de Hegol se funda neste me- lbodo; 0 esle processo Uumico (prozess), este syllogismo especulativo universal, e a irinda- do, que deve necessariamente enconlrar-se desde o ser puro e abslraclo ale o absolulo, reproduzida nas devidas proporcOes de cada lermo do desinvolvimenlo inlermedio do mun- do physico e moral; de todas as sciencias e de cada uma parte da sciencia; porque em todas ellas o espirilo e em primciro logar suhjectivo, depois objeclivo, linalmenle abso- lulo. Disse- — -0 espirilo; melbor diria — a ideia, para reproduzir com mais exaclidiio a lermi- nologia de Hegel ; porque, como ludo e co- nhccido pela aclividade logica do eu, como nada exisle scnao debaixo da condicao de ser conbecido, o pensamenlo da o ser ; o ideal e 0 real ; a ideia e o ser. E por esla razao que no desinvolvimenlo do mundo so ve Hegel o desinvolvimenlo da ideia, e quo esle |)rincipio do melbodo e do syslema, com a constanle triplicidade do mo- vimento dialeclico, foi applicado a ludo: a psycbologia, ao direilo, a polilica, a moral, a religiao, a eslhelica, a physica, a mechani- ca, a pbilosophia da bisloria, e a bisloria da pbilosopbia. 0 motive d'islo e porque, como confessa o illuslre pbilosopho da escbola dis- sidente, Jacobi, esle melbodo e « o unico que « pode convir a uma sciencia, que se apre- « senla com pretensoes a obsolula.'» ContMia J. JULIO D'0HVEIR.^ PINTO MOREIRA. ^ Sendsclireiben an Ficlite, pag. 15. (D Jitjstitutxr JORISAL SCIENTIFKO E LITTEKARIO CATflO DUTICA Cotitiniiado de pag. 70. A liberdade! proseguiu elle: a sancla causa (la liberdade estii pcrdida ; e cu nao qiiero sobreviver-lhe. Moireii nieiios aos golpes de Cesar, do que aos do tempo. Matarani-na os nossos costumes ; c por isso raorreu para seni- pre. " E conio 0 sabes? Adivinhas acaso o fuluro? Queni te assegura, que anianlian uma catas- trophe imprevista nao re.-iliiuira ao senado o irnperio do mundo? E se assim o nao criis, porque inandasle a leu liiho, que, sob as ban- deir;is de Poinpeu o moco, ainda conibatessi' por essa causa, a que vaes rouhar o uieio inais proprio para llie gaiibares a victoria? Em quanio mc nao explicas esse mysterio, passarei adeante. Supponhamos que o future justilica OS tens presagios: ciuem le disse que a tua queda voluntaria nao trara comsigo a qued^ inevitavel das instituicoes, que tanto amas? Pedes acaso avaliar, quanio oleu des- alento influira no mundo? Podera alguem calcular o niimero d'almas generosas que es- nioroceram, porque tu csmorecesle antes d'el- las? E se um dia te ciuimareni o ultimo dos romanos, nao sera por ter a liberdade de Ro- ma perecido por tua culpa? Vede ate onde a questao nos tem levado. Vos dizeis que a vossa tarefa estava aeabada ; e eu provei-vos que estava apenas comecada. Vos julgaveis ser, era quanto vivo, inutil a patria; e eu provei-vos que, morrendo, Ihe sois funesto. Vos neniium caso fazicis de ser culpado, como um transfuga, para com os deuses, por terdes servido bem a liberdade ; 6 eis-vos agora altamente culpado para com a liberdade, porque a assassinaes. Vol. I. Agosto 1 — c( Basta ! Quando as leis jazem anniqui- « ladas, OS cidadaos retomam a sua liberdade « natural, e os direitos que tfim sobre si. « Quando Roma nao cxiste, perniiltido e aos a romanos o deixar tambera de c.xistir. Cum- H primos a nossa missao sobre a terra ; ja niio « lemos patria. Depois de ter passado a minlia <■ vida servindo Roma agonisante, morro vir- « luoso, como vivi ; e a minlia morte mesnia 0 e um tribulo prestado a gloria do nome ro- <( niano, para que se nao veja cm nos um es- « poctaculo vergonhoso, verdadeiros cidadaos » servindo um usurpador.u (Rousseau, Carta contra n sutcidio). " Perdao, Cnlao! Mas Icmbrae-vos que ides comparecer deante de Deus. Vede quantas (alias involveis eu> uma so falla : quanta-; menliras em uma so meniira. Menlira : sim 1 porque onlra coiisa nao e essa liberdade, de quo falaes, liberdade de ferro, escravidao nie- donba, que relem o povo romano debaixo do mcsmo jugo, con) que csmaga o mundo; n que para bem d'um palricio deshumano e usu- riirio, faz d'esse povo uma nacao de gladia- dores, cnlrelida em combaler o genero hu- mano para vos saciar a avareza immensa, assim como nos o andamos em comhater as feras para malar as boras d'ocio a elles e a vos. Menlira ! pois oulra cousa nao e essa con- stituicao morta que depioracs, porque nao a conheceste viva, porque ha cem annos uma dictadura succede a outra : Sylla a Marin, Lepido a Sylla, Pompeu a Lepido, e hoje Ce- sar a todos : Cesar maior do que todos os ou- tros, mas que, como os oulros, morrera. Menlira! porque outra cousa nao e o con- fundir a queda de Roma com a queda de instituicoes caducas; como se a existencia da patria dependesse d'este ou d'aquelle regi- men ; como se podesse andar iigada sobre -18o2. Num. 9. 8S 0 INSTITUTO ludo a lima sombra van, a urn edificio ar- ruinado, a leis carunchosas, a iima politica que, por vos mesmo dcclarada impossivel d'lio- je em deanle, e lodavia a uniia, em que re- conlieceis o direilo de vos ergucr o braco, de vos empenbar a virlude no seivico da vossa palria. Mentira! porqiic oulra cousa niio e o de- clarar anniqiiillada pcla Victoria de Cesar a vossa cidade elerna ; qiiando e lalvez por essa victoria, que Ihe liiio de ser ainda dados se- cuios de existencia, que ella ha de c?capar as dissciifoes iritestinas, que leriam I'omen- tado a revolla do universe; que iia de fazer urn eorpo so com o nuindo vencido; e que cm iim a obedicncia ha de tornar-se tolera- vel para as nacocs, graces a prolcccao do po- dcr que as dcfendera contra os proconsules, c que vira a ser o tribunado do povo de todo 0 mundo. Mentira, sim! porque oulra cousa nao e invocar a gloria de Roma, depois de ter lan- tas vezes invocado a liiierdade. Gloria em verdade singular e o allestar as geracoes fnturas, que um so coracao em lodo 0 imperio romano palpilou ao ouvir proferir esses grandes nomes ; que um so d'entre lo- dos OS cidadaos recusou curvar a cabeca a rscravidao. Ah ! essa palavra trahiu o vosso segredo, Catao. Nao, nao e a gloria do mundo que vos occupa ; e siin a vossa. X. este idolo L- que immolacs a lei divina, todas as leis hu- nianas, os deveres d'homem, os de pae, e ale OS de cidadao... Bem sabeis que o senado c 0 povo romano agradecerani outr'oraa Varrao 0 ter sobrevivido, o ter esperado. E vos, vos nao quereis que tambem vos agradccam. Ser admirado e quanlo vos basta. Sim, admirado, eis toda a vossa sabedoria! Eis toda a vossa virtude: homem grande, que vos julgaes tao grande, que cm lodo o uni- verse niio vedes senao a vos! No meio do naufragio da republica romana, so cuidaes de prendcr o vosso nome aos des- Irocos d'ella, para que assim sobrenadando escape, e chegue salvo as mais reraoias pla- gas do fuluro. — Talvez: mas em similhanle caso « so a precipitajao e indesculpavel. Dirao que Ca- i: tao se deu a morte antes de terminar a Ira- V gedia. E uma commodidade necessaria ao » heroismo, o pod^r o heroe terminar o drama (I no logar que quizer. E certo que os homens, « se nao livessem, por esse poder que assu- V mem sobre si, a faculdade de escapar a ou- « tro qualquer pod^r, viriam a ser menos li- B vres, do que hoje sao, menos animosos, me- « nos propensos as grandes emprezas». (Mon- tesquieu, Grandeza e decadencia, cap. 12). u Eis ahi a esplicafao do mysierio! Receaes que OS acontecimenios vos nao deem uma merle, que coroe com baslante gloria a vossa rarreira; e por isso vos mesmo vos encarre- gacs de por Iim ao drama da vossa vida. Parere-vos hem proprio o niomenlo, e belle 0 logar da scena. Vides a Iriigedia acabada. Apunhalaes-vos, para que Cesar nao seja o heroe. Combate nolavel entre o vesso orgulho e a vossa liumildade! o ergulho nao pode cur- var-se e reconhecer Cesar por seu superior, e a humildade brada-vos, que so niorrendo 0 podi'is egualar ! — Que havia eu de fazer? Tornar a fugir? Sempre fugir! « Niio, mas esperal-o: mas fazer-vos maior do que ellc por vossa coragom: mas appre- sentar-lhe, no termo da sua carroira, a inia- gem augusla da palria, que clle encontrara ao passar o Rubicon: mas lernal-o responsa- vel pela sorle futura do genero luiniano; mas diclar-Ihe a lei, em vcz de a receber; para- lysando a sua forluna com a vossa virtude, e a sua espada com o vosse nome. Eu I'aria consislir a minha gloria em center em suslos a sua victoria, para bera dos romanes ; cm ser a liberdade viva; em servir de contrapeso ii dicladura, c de Irincheira ao mundo. Do cynico se disse, que excedeu Alexandre: e do esloico so diria, que excedera Cesar. — Caliio estava calado e pensalive, Joao con- tinuou : « Adivinbo um dos cuidades, que vos in- quictam. Temeis pareccr que deveis n vida a Cesar; tendes mede da sua clemencia ; fugis da sua generosidade, come outre fugiria da sua vinganga. — Nao: elle nao me deixaria e sopro da vida, que os deuses me deram. Porque bem sei que elle nao poderia reinar em quanto eu vivesse. (I Entae desejaes poupar-lhe um crime. — Nao: quero so roubar-lhe um prazer. Pelo menos o universe vera, cemo sabem mor- rer os disciples de Zenao. « Oh! puerilidade vergonbosa deum hemem grande.' Pois quem ha que nao saiba morrer, na edade de chumbo em quo cstames, gracas a dominacao romana! Que! Pois fazeis d'uma punhalada um litulezinho de gloria, quando ha ceni annos as prescripcoes, as guerras civis, a carnifaria por todas as cidades tern cxlen- dido a epidemia e o reinado da morlc? Quando levam a criancinha de peilo aos circos, ende OS sens olhos se acosiuntam a ver a barbara malanca de dez mil, de vinte mil captives, que se degollam uns aos eutros, de invelta com as beslas da Africa, para satisfazerera os geslos caprichosos das feras da Italia? Ah ! 0 saber morrer em laes tempos e enlre taes homens, e apcnas virlude de escravo ! Vos oulros, senhores do mundo, sabei viver: sera esse o mais digno esforce. — Catao escutava e escravo com assembro, quando se euviu no perlo um grande alarido. Era e povo que dava vivas a esquadra ini- 0 INSTITLTO 89 miga, que a foria di; remos se vinha iulonn- lando para Ulica. Calao pegou na espada; examinou-a, e disse : — Basta, escravo. Desejava bem saber aonde apprendestes tudo, quanlo lens dicto. Em breve 0 saberei. Conversarei sobre isso roin Socra- tes araigo, e comtigo um dia. Adeiis! — Diz, 6 fere-se. (Sahimdij .) Conliiiua. r. A. DINIZ. UM NOSSO POEMA INEDITO A L(;»>ii>iiiwE:iDt Militas sjio as virtudes poeticas, que 'nelle se ilescobreoi F. J. Freire— Art. Poel.,T. 2, C. li do L. 3. Agora que iini nosso illuslrado aniigo esia disposlo a publicir a Llsii'Uineida do padre seraphico SAyr.tA Tueheza (se per veiUura po- der consi'giiir o apoio das assignaluras, que prelcnde soilicitar), nao sera de certo inop- poiluno procurarmns tornar conliecido, nas <:olumnas do I^STlT(JTO, o poela e o pocma, que laulos louvourt's tern graugcado dos eru- ditos, que os conliecem! Sera mais um inceiitivo a favor das nossns letras d'oulr'ora, desconhecidas de grande nii- inero de portuguezos, e lac dignas de nao fica- reni sepultadas nas eslanles dos amadores, como sac dignas de nao ficarem sepultadas no esquecimento (e 'iiuiii esquecimenlo vcr- gonlioso) as nienores circunistancias biogra- pliicas dos auclores d'essas obras! A biographia do nosso poeta acha-se des- cripla no 3.° torn, da laboriosa Bibliotii. Lusit. do erndito abbade de Sever: " Fr Minuel de Sancia Thereza e Sousa, " cbaniado noseculo Manuel Antonio de Sousa 'I e Torres, ngscoii na cidade do Porto no 1 ° a r',0, OS quaes sao fomiados d'uni nucico de diorile bem conservado e de camadas coii- cenlricas da niesma materia, mas alierada ou em decomposiciio, e todos involvidos em uma massa igualmente alterada de diorile terrosa, for vermolha ou alaranjada, e daiido a terra vegetal um aspceto nuiito simillianie aos ter- renns ao octideiite de Lisboa pela decompo- sicao dostrapps. 0 deposito de diorile terrosa e osgeodes eneontram-se na exlcnsaode cinco legoas para o sul sdbre o Icrreno sihiriano. Tulos porosos mais ou menos duros, e oiuras sulibiancias d'origim ignea atonipaiibam a diorile; e ainda 'numa rocba amarello-of hrc, struclura prismatiea, associada a diorile, (|uc se oiuonlram orlhoteras, penlanicras, orlbis, fpiriferus, tercbralulas, ele., e uma iulinidade. de polipeiros dus generos Fcuielella e Favo- ziles e ouiros, a maior parte pertcnicentes ao periodo devoniano. Todos cstes productus en- fonlram-se acinia da forinarao siluriana, u tobreni taralicni uma pc(|uena parte do depo- sito dos poudings que, no eoniaelo com a dio- lite estao allerados sensivelmente. Por couse- quencia, nao so por esla circumstancia, mas pelos seus charaeteres mineralogicos, pela sua composifiio, e simiihanca com o. terrene an- thracifero da Breienba, e pelos cbaracleres dos seus restos vegelaes, parece que o depo- sito dos poudings nao pode ser outro senSo um represenianle do terrcno devoliano, e o gres vermeibo do Sardao e Coimbra. parlici- pando como ja disse, dos cbaracleres mais pceuiiares do gres bigarre, julgoque sem erro 0 poderei reduzir ao gres bigarre dos fran- cezos. Nao Icnho encontrado entre o gres bi- garre e 0 tcrreno devoliano indicio de forma- cao intermedia; tambein o terreno deliilico torna alguns poatos inacessiveis a esla obser- vacao> A. vista da suraraaria e prelirainar descri- pcao, que acabo de fazer, auxiliada pela scien- cia e conhecimento practico que haja da slru- ttura geologica d'esta parte do nosso paiz, tra- ctarei de averigaar o grau de probabilidade que ha de se encontrar carvao mineral no districlo da Bairrada, alravessando o calcareo do Lias, e o gres bigarre. A investigacao a priori do carvao e uma das espcculacoes mais arriscadas, que se pode eniprehender, quandn as presunipcoes da sua exisiencia nao sao gaiantidas por condicoes manife;4adas pela composicao e forma dos terrenes ao alcance da observacao, e em har- monia com os principles mais seguros, como siiccedeu ba poucos annos, quando se preten- deu acbar o prolongamento da bacia carbo- nifera do norle da Franca debaiso da forma- cao cretacea das vizinliancas de Paris; o dis tricto da Bairrada ao norle do Mondego est:. em condicoes muito diversas, e segundo minba opiniao (que tambem e a do sr. dr. F. A. P. da Costa) esla no caso de se deverem en)pre- bendertrabalbos para encontrar o carvao (como se esla fazendo); as razoes ou principios, em que me fundo, sao os seguintes: 1.° 0 districlo da Bairrada coniprehende uma parle do limile dos lerreiios secundarios mcdios, e a passagem d'estes aos I'ossilil'eros priiiKirios; porque para E. e NE. e ccrcada d'altas- collinas de schisios cryslallinos, que s« evtendeni ale aos granites do centre da Beira nas vizinhancas dus serras da Eslrella e Caramolo, e que tern servido de barrcira do Octasio nas differesiles epocbas geulogicas, aesde os fussiliferos primaries, e concorridn pa:a que esUt porcao do paiz conlenha os linii- U's de lodos os slraios visiveis, e por eonse- ()ueQ''ia lorne niuilo mais accessivel aquclbis. que-se prvle!ideiii invesligar, e cujos topes [af- /lewreiiieiils) nao cvistem, ou cuja exislenci i e presumida. Ora s'omo foi nos deilivcs e proxi- mo iis niontanhas primtlivas, que liverani logar OS deposiios decarvao e juato a eslas debaixo das formac&es inl'eriores do oolile, ou acim-j dos schisios de Irilobiles, e que elie deve ser procurado; daro esla que 'nesia bacia se ve- rrlicam as duas essenciaes condicoes, que a geologia prescreve para a investigacao a priori do carvao. 2.° Tendo pois o districlo da Bairrada do 0. a NNO da extremidade norle da serra do Bucaco, .servindo de receptaculo commum a lodos OS deposiios que aqui se observam, desde OS fossiliferos primaries ale as areias suh-cre- taceas, e moslrando a inspeccao da slrucUira pbysica d'esta bacia, que desde o terreno d"- voniano ale aos slraios do Lias, ou mesuio M oolile, nao tern side affectado por couvulsoes vio-lentas; islo e, que as forcas sublerranoas nao accidentaram de mode algum nolavcl u relevo d'esla bacia, ale ao deposilo das cama- das mais'anligas da serie jurassica, como ^ua n 0 INSTITDTO prova a disposinao goral de N. a S., em que se acliam os liniiles dos stralos devonianos, do grcs bigarre e do Lias; a slraleiirafao con- cordantc eiilre esles dois iiltiiiins, e a nuii li- gpira disoordancia onlre a paiip superior do primciro, e o gres higarrt, o incliiiando anihos em geral para o niesnio ponlo do horizonle, paroce niie nao ha razao alguma que eonlra- ric a exisloncia dalgiim menihio ou meml)ros do periodo carhonifero 'iicsia hacia ; ao con- rario as razoes exposias lendem a provar, que as forras sedimenlosas nao seriaai inlcironi- pidas enlru os siralos devonianos e o gres lii- garrii : so no caso especial de que oseillaeoes do solo, ohrando lenla e gradualmenle, e sem- pre na mesnia direceao, de haixo para cinia, e de cima para haixo, pozesseni a seeco esla parte do paiz no intervallo detorrido entre a deposieiio d'esles dois ullinios terrenos; oseil- larOes que nuii pouco se harmonizam com a passagem gradual e insensivel, e quasi concor- danle das camadas superiores do terreno de- voniano as do gres bigarre; antes parece in- fcrir-se da ohservafao, que, a conlar da epo- cha devoniana, a depressao d'esta hacia au- gmenlou successivamente em profundidade ale depois do oolite. 3.° Havendo unia hacia de carvao siluriano em S. Pedro da Cova, islo e, a Hi legoas ao norte do Bucaco; ohservando-se no terreno dcvoniano d'aqui, exuheranies vestigios d'unia prodigiosa vegelacao , nao havendo iinia razao [dausivel na slructura e coniposieao physira d'csla hacia, que prove a susjicnsao absolula das forcas sedimenlosas e creadoras entre o terreno dcvoniano, e o de gres bigarre, conio acima dissemos; por oulra parte, tendo mos- trado aobservacao que na epocha carhonilera devia a superlicie do nosso planota sercoherla d'imniensas ilhas ou pequenos continentes, e que nos estuarios dos grandes rios, nos lagos. golfos OH pequenos mares, nas proximidades das costas, etc. etc., e que se formaram os slratos carbonifcros, e ao contrario, na epocha do gres bigarre, extensos mares devessem cohrir grandes espacos da suneifii-ie terrestre, e eombinando estas consideracoes todas, com as ja expendidas nos 1." e 2.° yrgumenlos, e immensamente provavel a existencia de stra- tos da serie carbonifcra na baria da Bairrada, cquecxisiamabsolutameiUe cobertos pelogres bigarre. 4.° Algumas camadas ce carvao bem for- niado se encontram no tet reno devoniano d'a- qui ; mas, como ja dissemos, delgadas, e nao (lando esperancas d'engrossar ale a distancia de 40, "O onde foram pesquisadas; oque mais nos convenceu de que forcas de Iransporte muilo violenlas, altestadas pela presenfa das mulliplicadas camadas de poudings, obslaram ii deposicao e engrossamento das camadas de carvao; porem lerminando a parte superior visivel do deposito, especialniente 'naquelles pontes onde 6 coberlo pcio grcs bigarre, por camadas de gresde grao lino, e argdlas (des- apparcrcndo complelamente os conglomera- dos) com muitos vesligios du reslos vegetaes, mostrando por ronsequencia ler ccssado o movimenlo lumultuoso e violento das aguas, que acom|)anhou quasi seniprc a deposicijo dos stralos infcriores, julgo que nao errare- mos, ou que sera altamcntc bom indicado, qualquer trahallio para ir buscar carvao, abai- xo do gres bigarre 'nalguns ponlos convenien- temente escolbidos d'esta bacia. 5.° Finalinenlp, eombinando ainda todas razSes e factos expondidos, com a cirrumstan- cia bem conhecida de ser o 0. da Europa a parte mais lavorecida em carvao da epocha carbonifcra, parece fora de diivida que as in- vestigacOes que se emprehendem 'nesta parte de Portugal devem dar urn resultado favora- vel. Casal Comba, Novembro de tSBO. CAULOS BIBEIBO 0 DIVORCIO I Ha pnntos em todas as sciencias, nos quaes parece perder-se a forfa da compreheusao iiumana e confundir-se a nietaphysica das ideias, em que o philosopho desert^ de sua propria razao. Mas se isto e unia verdade in- coniestavel, tambeni e forca adniittir, que muilas verdades ha, cujo c.-ludo e reconheci- mento, se outr'ora parecerani o escolho da philosophia, consliiuem hoje seus mais bcllos triumphos. Sera a qucstao do divorcio uni d'esses es- collios? um d'esses pontes, a que ella nao ousa approximar-se, por ver em um tal pro- posito mais um esforco baldado, mais unia vez a sentenca condemnatoria de sua impo- tencia? Se consullarmos a hisloria de todos os po- vos, que l(^m admittido ou rejeitado o divor- cio ; se lizermos a enumeracao de todos os philosophos, que o ttim susieulndo ou comba- tido, parecer-nos-ba na realidade ver essa trisle alFirmativa 'nesta questao: e tanto mais, que estando inlimamenntc ligado o divorcio com 0 niatrimonio, base e fundamento da fa- milia, e sendo esla inqucstionavelniente ura dos mais imporlantes elementos da sociabili- dade, tanto maior e a sua importaQcia para a philosophia. Mas se isto nos deixa ver a difliculdade do objeclo, que nos propomos iractar, por ontro lado nos anima a coslderacao, de que a in- 0 INSTITUTO 9S utilidade de nosso esforco nao sera desabono para a scieacia, mas so unia |irova contra iios. Se procurasseraos a origem do divorcio, so poderiamos descobrir, que a faiiiilia e o pri- meiro elenienlo da social)ilid;ide, e o malri- luonio sua base e I'lindaineiilo ; que com elle, de longe, haveria de vir o divorcio: e com ufi'eilo ninguem por ccrlo descouiiece, que o divorcio nao e uiii I'aclo de dossos dias, nem I)ani a sciciuiia uiii |irol)k'nia novo. lieainieiile a queslao do divorcio pode di- zer-se cpie teui sido de tudos os tempos; as leis dos antigos povos, os escriptos de sens mais profundus |)ens;uli)rps, e. (|uaulo inais nos ap|jro\ini:inios :ios ullinios tempos, leis e es- cnplo.s, lodos liilani d ella. Nem scni istu niuilo de adniirar, se notar- mos que, inlluindo 'nesla questiio o gcnio e costumes dos povo4, sua civjlisacao e ideias religiosas, algumas vezes mesmo seus princi- pios polilicos, de lodus estas circumslancias se leni deduzido argumentos, os quaes, tao pouco solidos e varios tomu ellas, mais rospei- tariam a politica para a applicacao do |>rin- cipio, do (pie a sciencia que o estalielece; — se altendernios cm fim, a que csta queslao nao lem sido cnnsiderada no sen verdadeiro cnni- po, de modo que, aprofundada com prerisao e distinctn de niuilas outras, que a ella se prcndem ou llie sao suliordinadas, fosse de- vidamenle comprehendida. Consideral-a-henios pois : 1.° pelo iado phi- iosopliico, 2.° pelo poilliio.' 0 malrimonio e uma d'aquellas ideias, cujo alcance no.-sa compreliensao diUiciimenie pode arnmpanlinr, e que em si eucerra as niais pro- fundas consideracoes nas iufiniias relacoes, que 0 pri'iidcm ao lioiiiem e a sociedade. E a sua iniponanciii e liimaiilia, porque elle e a base e fnndaniento da familia; e esla deve representar uma nova entidade uiais perfeita do que 0 ni'j.MUO lioniem, icsumindo em sen niultiplice lim a felicidade propria ea social; a providi'Dle lei da procreacao, ou niellior, a vida da bumanidade. Assim a uniao, (|ue de dois seres difl'erentes e incompletes forma essa nova eniidadc, sublime p. la identili- cacao, grande pela perfeicao, e quo tao im- portante e para o homem e para a soi-iedade, nao pode ser um facto indilTerente e casual, senan imporlaniissimo e necessario; um facto que, couio tudos os d'csta ordeni, presuppoe ' E anossuver, esta uma di&tinc(;5o im|iorlante, pois que ella importa uma qiie»tuu de tuelhodo, se — 1> wethotio c a f'tib's 'phia da philijsriptiia ,- oil mellior, porque em phil>jsuplila luilo depende do porUo de partida, e esle e Uillerniiiiado pelo raelhuilo, — ;)f/a t/ifiria das f'tttes e clinincleres da verdade. Esla disliiiC(;Si; tern sido di'S- prezada por quasi todos os pliilosophos, que lem Uaclado il'esle objeciri; o que sem duvida tern exercido a mais fuuesla inltueacia em auas couclusues. uma lei, um principio, que o deiermina, e do qual e eOl'eito. Para que se possa sujeitar um phenomeno a uma lei, e precise que em si, em todas a- suas relacoes e consequencias, elle revclle ma- iiifestamente a influencia d'essa lei ou princi- pio, que 0 determina, e cujo effeito e. Ora com relacao ao malrimonio, cm ludo quanio e mister que scja, temos para nds, que em lillima analyse bavemos de subir ao principio ou lei da indissolubilidade. £ certo qae, assim como no mundo pliy.sico, ba principles ou leis no mundo moral, as quaes, nas inlinitas relacoes que o constituem, sao a norina, por que estas se devem regular dc um modo certo e constanle ; e (luc estas leis geraes e elernas dominam essas relacoes, e sao d'ellas independenles. Nem taes leis po- deriam soffrer conlradiccao, pon|ue desde logo outras leis ou principios oppostos baveria que as condemnassem, procurando cgualmente rc- ger aquellas relacoes; c d'aqui a desordem, e 0 cbaos. Portanto, se provarmos, que a indissolubili- dade do matrimonio e um principio verdadcira- mente (iliilosopliico, uma lei do mundo moral, liaveiiios deconcluir, que e inadmissivcl o di- vorcio, ou se considere como piiiicijiio de clis- sulubilidadu, ou aiiuLi como excejirao do prin- cipio de indisbolubilid.ide ; porque, como lal, undecslaria a ideia da accao constante do piincipio? Limilar um principio, uma lei, e tirar-llie o sen cbaraclcr es.-encial, e doslruil-o: logo, ou como principio opposlo, ou como cMcpcao do principio de indissolubilidade, o dnorcio e iiiailmi.->ivcl. Conbecer e estabclecer um principio nao e, nem pode ser ohra da imaginacao, de uma simples concepcao do es|iirito; uem a pbilo- sopliia e uma beranca do bomein : o conlieci- mento das verdades, que a conslituom, e an- tes uma acquisitao, um prodiicto do irabalbo ou estudo da bumanidade; a([iii por tanto, como em indo o mais. forca e recorrer ao estudo, i|ue, para ser meibodico c cauleloso, deve assenlar na natureza da fainilia, e cm seu lim niultiplice, proprio e social. Se, pnra acliar esla verdade, miiilo import.i cviuir nbslraccoes escbolaslicas, e um idealis- mo sem realidade ; dcscobril-a-beinos por Ven- tura 'nessas sociedades, onde, sanccionando a lei 0 divorcio, a mulber era escrava, e pro- priedade do marido? onde, ii maneira dos brutos, a mulher somenlc satisfazia o instin- cto do gozo material, sempre pas.>ageiro e voluvel ; ou antes 'nesse legislador, que receia do comedo de seu povo? ou ainda 'nesses po- vos orieniaes, nos quaes sao idolalradas leis e Iradiccoes primciras, subiiluidos os mais sagrados principios de moral e de justica por preconceiios tao falsos como funestos: onde a pbilosopbia nem ainda boje e um nonie? Por certo que nao ; porque na realidade •96 0 INSTITUTO nao pode enconlrar-se senao nas sociodades, em que uni d'csses faclos mais importanles da vida da liunianidade, grande como a causa que 0 prodiiz, raagcsloso como o tim a que se eleva, em que o cvangellio, a pliilosopliia de urn Deus, coud(Miinando a sciencia do homem para logo a substituir, vciu realizar a pro- gressiva iransformacao da vida da huniani- dadc, que a deve idenlilicar com a grandeza de scu fim : — 'iiesla sociedadc, em que, a luz d'essa pliilosopliia, vemos elevar-se, e como que rcnascer a mulher das maos de Deus, que a havia creado lao digna do homem, do qual e o divino coniplemento : — onde emfim a uniao d'estes dois seres fica para semprc detinida nas solemnes palavras do mesiuo Deus — Quod ergo Deus conjunxit, homo non separet ! ' Conlinua. F. MONIZ BARRETO. UNIVERSIDADE DE COIMBRA MoTimento da faculdade de direito no anno lectivo findo, de 1851—1852 nISTRlBDICAO DAS DISCIPLINAS, QUE AS LEBAM E PB0FES50RES, 1." anno: estudantes matriculados - 6i. Historia geral da jurisprodencia, e a par- ticular do direito romano , canonico e patrio. Dr. Joaquim dos Reis. Direito natural, e direito das gentes. Dr. Vi- cente Ferrer Nelo de Paiva, ate novembro ; d'ahi por deaute, Dr. Diogo Pereira Forjaz Pimentel. 2." anno : estudantes matriculados— 79 Direito publico uttiversal, e direito publico portiitjuez. Dr. Vicente Jose de Seica e Al- meida. [nslituicoes de direito ecclesiastico, publico e particular, e liberdades da egreja portugueza. Dr. Francisco Ferreira de Carvalho. Direito romano. Dr. Friderico d'Azevedo Faro e Noronha. ' Mallli., 19, 6. 3.° anno : estudantes matriculados — 104 Direito civil porluguez. Dr. Antonio da Cu- nha Pereira Bandt'ira de Neiva. (Jontinuacao do direito ecclesiastico partictt- lar, e direito ecclesiastico portuguez. Dr. Joa- quim lirbano de Sampaio. Continuacao do direito romano. Dr. Anto- nio Nunes dc Carvalho. 4.° anno: estudantes matriculados — 103 Continuacao do direito civil portuguez. Dr. Jose Manuel Ruas. Direito commercial e maritimo. Dr. Dorain- gos Jose de Sousa Magalliaes. Economia politica e estadistica. Dr. Adriao Pereira Forjaz de Sampaio. 5.° anno : estudantes matriculados— 123 Direito criminal, e direito administralivo. Dr. Basilio Alberto de Sousa Pinto. JurispTudencia formulariu e eurematica, pra- ctica do processo civil, criminal, commercial e mililar. Dr. Francisco Jose Duarte Naza- reth. Jfermeneulica juridica. analyse de texlos de direito patrio, romano e canonico, e diplo- matica. Dr Manuel de Serpa Machado. Total dos estudantes matriculados — 473; dos quaes morreram 3; perderam o anno por fallas 6; e foram bahilitndos para gozarcm da graca do perdao d'acto — 4Ci. Actos grandes Fez exame privado no dia 8 de maio, e tomou capello no dia 30, D. Antonio do San- ctissimo Sacramento Thomaz d'Almcida e Silva Saldaoha. No capello foi-lhe dado o grau pelo vice- reitor da Univcrsidade. e conferidas as insi- gnias pelo lente de prima decano da faculda- de, par do reino, Manuel de Serpa Marhado. Oraram os doutores Luiz Caelano Lobo, e Adriano d'Abreu Cardoso Machado ; e foi pa- drinho o duque de Saldanba, represenlado por seu sobrinho D. Francisco d'Almeida, seu ajudanle d'ordens e irmao do doutorando. Informa^oes Foram votados com letras de distinccao os seguinles : Doutor D. Antonio do Sanclissimo Sacramento Tho- maz d'Almeida e Silva Saldanba. 0 INSTITUTO 97 Bachareis Formados Levi Maria Jordao (1.° ^remiado no 1.°, 2.° e 3.° anno). Jose Maiia Sieuve de Menezes {%.' premiado no 1.°, 2.° e 3.° anno). Luiz de Freilas Branco (raencionado como dislincto no 3.° anno). Guilherniino Auguslo de Barros (honrado com 0 2.° accessil no 1.° anno, com o 1.° accessit no 2.°, e mencionado como dislincto no 3.°). Jose Francisco Guerreiro Borrailio (honrado com 0 'i.' accessit no 2.° anno, e mencionado como dislincto no 3.°). Luiz Jose de Vasconcellos Azevcdo e Silva Carvjjal (mencionado como dislincto no 2.° e 3.° anno). Henrique Correia Moreira, Antonio Goncalves de Freitas (mencionado como dislincto no 3.° anno). Anionio de Moura Couliniio d'Almeida dEca. Diogo Antonio Correia de Sequeira Pinio Junior. Jose Firmino Abrunhosa e Sampaio (men- cionado como dislincto no 2.° anno). Jose Luiz Vieira de Sa Junior (honrado com 0 1.° accessit no I.° anno, com o 2.° accessit no 2.°, e mencionado como dislincto no 3.°). Jose Maria Rodiigues de Carvaiho (honrado com 0 4.° accessit no 2.° anno). ' Alteragao, que ha de ter logar Por decisao do conselho da faculdade, passa a Economia Polilica do 4.° para o 2." anno, e 0 curso Ijiunnal de Direito Eccjesiastico do 2." e 3.° para o 3." e 4." anno. Nos dois annos seguinles sera frequentada a aula de Econo- mia Politica pelos alumnos do 2.° e 4." anno, licando sem e.\ercicio uma das de Direilo Canonico. Direito administrativo A nccessidade de dar ao estudo d'este di- reilo 0 desinvolvimento correspondente ao cslado da sciencia, reconhecida, assim peio ciaustro pleno, como pclo conselho da facul- dade, leni dado occasiao aos projcclos pen- denies na camara electiva ; e conlinuou a ser no presenle anno olijeclo dos cuidados e dis- cussoes da faculdade de Direito ac^rca do niodo mais prompio de a salisfazer. Um pia- no, proposto pelo sr. conselheiro Basilio Al- berto de Sousa Pinto, para se dar principio no anno proximo a um curso exlraordinario de Direilo Administrativo, ohteve uma grande maioria. Como porem o conselho intendesse, que carecia de ser approvado por dois tercos (Jos votos, ao que nao alcancava esia maio- 13 na, concluiu-se em apenas novamenle repre- tar ao govcrno, como se fez. Se 0 esludo do Direito Administrativo prende necessariumenle com outros Jiiiidicos e Eco- noniicos, sem os quaes seria calieca sem pes, e de prinu'ira evidencia que lao somenle na universidade pode estahelecer-se uma cadcira especial d'esla sciencia, a nao se quererem mulliidicar as escholas juridicas ; 0 que nem as necessidades do thesouro, ncm as convenicn- cias liiterarias e economicas dos alumnos permillem. A cessacao extraordinaria, inesperada e ex- temporanea das aulas pcla Paschoa, nao per- milliu que nuiilas e mui importantes discipli- nas philosophicas e juridicas se lessem 'nesle, como jii, infelizmente e pela niesma causa, no anno anlecedenle; assim como, que os mais dislinclos alumnos recehesscm o beni nierccido galardao de sens csludos! * REVISTA LITTERARIA E BIBLIOGRAPHICA EXTRANGEIRA Conlinuado de pag. 76. De I'educotion. par Mgr. Dupanloup, bispo d'Orleans, lorn. 1., in 8.° de 480 pag. (chez J. LecolTre). Apenas conliecida, foi traduzida em inglez, ilaliano, e alleraao; e a primeira edicao es- golou-se. Lettres sur I'education parliculiere, pelo mesmo — 1 in 8.° de 88 pag. Compendium Iheologiae moralis, auct. J. P. Gury, 2 in 12 (Perisse frferes). A Bibliog. Calhol., pag. 249, analysa, c louva muilo este compendio, approvado pelas auctoridndcs ecclesiasiicas mais competentes. — Principes de litternlure theoriijue el cri- tique a I'usage des classes d'hnmanites, par M. I'abbe C. B. Madenis, 1 in 12. (Poussiel- guc-Roussand). « Classico c romanlico ao mesmo tempo, u toma com um delicado gosto a cada uma (I d'eslas escholas o que ellas lem de melhor; « colhe 'nestes dois niundos as mais bellas (I produccoes, e faz dos mesmos uma fcliz « mistura, tao propria para agradar como para « formar o bom senso lillerario dos mancebos. « BMio(j. Cutliol. p. 229 ». La papaule, par. M. Laurentie, 1 in 32 (Lagny)- La correspondance de Rome, recueil des al- locotions, huUes, encycliques, brefs, et autres 98 0 INSTITUTO actes du S." Siege, etc. 1848, 1849, ISiiO, 1 ill S.° de G08 pag. 1852, Paris el Bruxel- les (Julien, 5 h) Esla publicafao interessanlissiiiia, especial- uieiite para o clero, c reproilucgao, em tluas eguacs edifoes uma frauceza e oiilra belga, da olira periodica do mesiiio titiilo, (iiie so iraprime cm Hoiua. Aniiuncia-se jii o anno de 1851. Per via d'eiia os llieologos e canonistas eslarao quasi em dia com os ados officiaes da Sancla Se. Le barreau romain — llecherches et etudes .««;■ le barreuu de Rome dcptii.i .<:on ori(jine juiqu'a Justinien, et imrticulu'rement an temps de Ckeron, 1851, t in S.° De la procedure criminelle anylaise, ecos- ■saise, et de I'Ameriquc du nord, dans ses rap- ports aeec I'etat social et polUi(jue, par M. Mittermaier, Erlanscii, 1852. — Friiclo de piofuiidas invesligacoes do iii- signe professor de Ileidelberg, em duas via- geos feilas para esse lim a laglalerra. Rev. de legist. 1852, pag. 318. Eludes sur les beaux arts en general, par M. Guisol, 2.' edit., 1832, 1 ia S.° el in 12 de 419 pag. (Uidier). Die realien in der Iliade und Odissee. (As realidades na lliada e na Odissea) vom J. B. Friedreich Erlanijen, 1831 (Franck, a Paris) 1 gr. in 8.° de "28 pag. « Uma das mais importantes puliiicacoes de- vidas a Allemanha em 1831 ». /. des Saoants, pag. 62. Inni funebri di S. Efren. Siro Iradolti dul lexlo siriaco, per A.. Paggi el F. Lasinio; Fi- reuze 1851. — Excelleule versao d'um dos mais curio- sos moiiuinenlos da litleratura syriacan. /. des Sav. pag. 64. Spicilcgium Solesinense, coinploctens Scto- rum I'atrmn, scriplorum que ecclesiasticontm anecdola Imclenus opera, etc., curanle D. J. B. Pilra, Bened T. 1, in quo praecipiie auci. saec. V. anliquoies prolVriinliir et illuslran- tur; Paris, 1832 (Didui;. — Gloriosa eoniinuaiao dos anligos Iraba- ihos dos Benedictinos, emprebcndida, apenas resliiuidos ii Franfa. /. des Siioants. pag. 200. I'hilosophie fondamentale, par J. Balines, trad, de I'espngiiol, par Mauec (Edouard), Paris, 1832, 2 in 12 (Valon). Le ver rongeur des socieles modernes, ou le paganisme dans I'eiucution, par I 'abbe J. (iau- nic, Paris el Briixelies, 1851, 1 in 12. Esta ciiriosa obra, inleressanlc, apozar de siias e\agf;eracocs, exciloii niu vivo debate em Franca, de que ainda se occupam iniiitosjor- naes e continuaiias publieacOes de diversos professores, acerca dos iiicoiivenienles do em- prcgo exclusivo, ou quasi, dos classieos pa- gaos na instruccao secundaria. Um jornal es- pecial— Rccue de I'enseignement clirelien (Sa- eiiior et Bray, prix — 10 fr. par an.) come- rou a pubiicar-se cste anno, occupando-se es- pecialmente d'csla grave (lueslao, na qiial se- gue a opiniao media com singular bom seuso. Continuu. POI'LIGAC.lO LITTEIIAIUA 0 amigo dos meuinos, 1 in 8.°, prego 360. — Os ullimos exemplares d'este curiosissinio Iraballio postbunio do sr. M. .\. Cocllio da Ruclia, addicionado pelo sr. X. Forjaz, e ap- provado piHo conselbo superior para use das escliolas, vendem-se na loja do livros da Im- prensa da Uiiiversidade, em benelicio doasyla da iufuucia. CORRESPONDENCIA Aos ill."" srs. Carlos Biboiro e Antonio de Tavari's da Cunba Soares d'Aibergaria, agra- decemos nuiilo sua valiosa coadjuvacao, e os interessantissimos escriptos qne se dignaram enviar-iios. A todos OS nossos primeiros collaboradores, ausentes, e a todos os srs. socio'^ correspon- dentes rogamos vivamente quciram promover a exiraccao d'este jornal, lenibrando-se que as difficuldades materiaes, quo podera ter a veneer, nao se debellam por outra forma, apesar de lodo o zelo, dedicarao e desinte- resse nao so da redaccao, mas ainda da tao ellicaz, como eenerosa administracao. AOS SENHORES COLLABORADORES Que d'ora cm deante se dignem remeller OS seus escriptos, purle pagu, ao ill."" srs. An- tonio Augusto da Costa Siiiious, ou ao Admi- nistrador do jnriial; por qua aquelle senhor leve a bondade de acceilar a nossa subs- titiiicao na redaccao, pelos dois proximos raezes. ^. FOOJAZ. ® 3 ujs titttt^ JORISAL SCIENTinCO E LITTERAUIO 0 MOSTEIRO DE S. JORGE JUNCTO A COINIBRA J'iae Sion Ingentf eo qnnd rii/n ai/it qui veniant ad suU'in- ttitntfiii' niniics porlat ejus titS' truciac: Sncerdoles ejus ge men- tis et ipsa opresta ama- ritudine. Jeremias. I 0 niosteiro dc S. Jorge teni a sua origem no runioto exlremode (|iiiisi oilo seculos; e no fnndo d'esse chaos dos tempos que irenios pren- der 0 lio da sua liisioria, e conduzil-o depois a unia atmosphera nienos nublada. Mas como acei'tar com raminhos lao longos e torUiosos, ([ue se perdem no aliysmo das trevas? Para disccrnir os aeon tuci men los ccrtos dos falsos ou duvidosos, c reduzir .i sua genuidade os que se acham adullerados, so o grande desejo da vcrdade e o farlio da crilica poderao lan- rar iilgnni, se licni (]ue Iraco, raio de luz no niein de tanla esrniidao. Esla difliculdade iijudaiii a relevar qu.ili|uer niaurlia, que por vcnlura se encoiiire no csboco liislorico, (jue vanios cscrevcndo. Esle, oulr'ora eslahelecimenlo monastico, tern, assim como o de S. Joao de Pcndorada, Tarouca, Bucaco c niuilos, os primciros annos da sua infancia exfaxados em Icndas niysie- riosas, que uni grande numero de escriplores antigos chanui niihigres. Segundo eslas velhas crencas ((|ue cadn umenlendera como qnizer) 0 niosteiro de S. Jorge deve os sens princi|)ios a um milagre d'cste Sanclo; o scu augmenlo, desinvolvimento, c acquisicao de suas primci- ras riquezas, a repclidos milagres do lieroico Martyr, todos opcrados em favor d'uma familia, 'naquelles tempos poderosa pela sua riqueza, representacao e aucloridade civil e miiilar de sou famoso cliel'e, o alvazil, consul ou conde D. Sesnando. Vol. I. Agosto 1 Referircnios primeiro os factos duvidosos, e depois OS cerios, ou, pelo menos, prova- veis. Andando D. Sesnando a caca de feras por enlre uma vasta e espessa mala, chamada dos Mirloos, ou Mirlaus, na niargem esqucrda do Mondego, meia legLia aeima de Coimbra, alii fez 0 Sancto o primeiro milagre: rompeu o cavallo a galope scni D. Sesnando o poder repriniir, eamlios se precipilariam 'nuiu ahys- mo, se 0 cavallciro nao invocasse S. Jorge, como Fuas Roupinho, Nossa Senhora em Naza- reth. A esla voz, o cavallo lica imniovd com OS pes na borda do prccipicio, e as niaos no ar; o conde apeou-se sao e salvo; e cm prova de sua religiosa gratidao, logo, ahi mesmo, votou uma ermida ao Sanclo protector. Pronietteu o conde ofl'eriar a S.Jorge tanla prata, quanta pesasse uni (illio que tinha doen- Ic, se 0 Sanclo dcsse saude a esle menino: rcsiabeleceu-se o (ilho de D. Sesnando, pesa-se a prata, leva-sc a ermida. e sendo ahi repe- sada, acharani sonielade da sua devidaconta, c mandarain vir a que fallava ale perfazcr o peso pronicllido. 0 conde, assombrado e pos- suido d'uma religiosa devocao pcio inesperado acontecimenlo, e niyslerioso lalrocinio, deler- niinoH empregar a sua prcciosa olTerta em obra sumptuosa para niais brillianie culio do Sanclo; promelleu edilicar uma cgrcja com eslahelecimenlo para clerigos, (|ue 'nella ser- visseni a Deus. Mas, ou fosse porque D. Ses- nando se csquccessc, ou jiorque, dislrahido com a gerencia do seu governo, nao podesse Iraclar da conslruccao do edilicio com a brc- vidade, que S. Jorge parecia dcsejar, demorou para mais larde o cumprimenlo da promessa. Esle relardamento nao (icon scm casligo. 0 menino, que pouros annos antes linha con- seguido melhoras por intcrccssao do S. Jorge, a|)paroce agora morlo; e D. Elvira sua irman ciie graventcntc inferma. Aconlecimcnlos lao 5 — 1852. Num. 10. 100 0 INSTITUTO desaslrosos compungcm o cortifao do rcligioso condc, sua conscqiii'iicia o aci"iiles os nomes e chro- nologia dos seus priores-niores. E certo, hisioricanienle falando, que o ronile D. Sesnamlo fundoii uma cgreja em Cnimlira, no silio deiiuminado Mirleos, a i[ii;il aiiida jiao Cftava concluida no anno de 1077 (era de llio), em que elle Ihe fez uma rica e generosa doarao do niuilos terrenos e povoa- coes e de euro e prala para os vasos c alfaias preciosas do lemplo; di'terminando (|ue do ouro se lizessc uma cruz para se guardarum Saiicio Li'iilio, que se acliava cm Sancla Maria na niao do prior D. Marlinlio; e que acabas- ym a cgreja com o produilo do sen gado, vaccas e eguas, e de ludo o que se achasse cm sua casa.' Esle documento nos derlara, que D. Ses- nando no anno de 1077 linha eomecado a olira da egreja, e que rcscrvava a conclusao d'clla para depois de sua morle ; ncm era de csperar, ([ue um lioniem tao poderoso se pri- vassc cm vida das preciosidades domeslicas, a nao ser por uma cvangelica abnegneao dos bens mundanos, para se I'azer anachorela, ou sepullar-se no silencio dos claiislros, onde vivessc sc|iarado luariuscnplo, aciina meuiorado, teiuos uma cupia lirada do documento orit^iual eiu tudo Con- corde com 0 impresso da academia, nienos no nouie da tone, porque no manuscriplo escieveram — ('aniardo, — Ponco imporia o nome ; sabeinos (pie o mosteiro tinJia perto de si uina lorre, lalvez ft-'ila com o fini de se de- fenderi-m 'neUa os padres de alt'onia repeiitina incursao de Monros. * Docuraeulo n." 258 da collecijao cilada em a nota 2, pag. 100. Nao subscreveraos aos que seguem a opi- niao, de que no mosteiro de S. Jorge houvesse a dupla communidade dos dois sexos ; des- prezanios pois as razoes, que appresentam •> clironista dos conegos regrantes e o audor do ja citado cathalogo manuscriplo; eslc, porquo 0 senlido dos documenlos, em que se funda. para provar que 'naquelle eslabelecimento ha- bilaram ao mesmo tempo Trades e I'reiras, pode ler diversas accepcoes ; e aquelle, por ler sido julgado por indigno de credito no tri- bunal da crilica. A maior parte dos liistoria- dores das ordens religiosas inculcam, que os sous antigos mosteiros foram duplices; nao sabemos se este enipenbo e para exallar a virlude de sens irmaos, ou se e para d'ahi dcduzirem mais imporlancia a sua religiao: em qualquer dos casos os principios sao falsos. A primeira egreja do mosteiro era de tres naves, e tinba na capella-mor duas sepultu- ras de pedra mellidas na parede; uma, da parte do evangelbo sobre quairo columnatas. eui que jaziam os reslos morlaes d'um (ilho do consul Sesnando; e a oulra, no lado op- poslo, da tamilia dos Alpocs. Estes mudo> pregoeiros da vicloria da morte desapparecc- ram na deinolicao da egrcja, que por causa das suas ruinas levantaram outra nova, no principio do seculo XYI, que licou d'uma so nave. No cruzeiro do novo lemplo asscntaram o tumulo dos Cunbas, senliores do niorgado dc Anlanbol, insliluido por Vasco Pires no anno de 1380, com a condicaoque, fallando a gera- cao, o^iiiosteiro succederia na adminislracao tl'elle. D. Nicolau de Sancta Maria, de quern liramos este §, esiranba que nao conservas- sein aijuelk's dois mausuleos, assim como coii- servaram esle ttos Cunbas. Ila muilos annos que la nao exislem vcsligios nem d'um, nem dos oulros. Mas nao adniira, porque a igrcja de boje nao e a que se fundou no principin do serulo XVI: e uma terceira, construida, coiuo d'ella se ve, em tempos mui posterio- res; a pinlura e douraduia sao ainda recen- les; eui loda ellaidomina o goslo moderno. reunindo a graca da simplieidade ao bcllo da clegancia. Exisle ainda um pequeno resio da segunda egreja, onde esponlaneamenle cresceni plan- tas inulcis; era uma das suas paredcs, (|UC' serve de dique ao monle, dis|)Osio a alagar o edilicio, vimos imbebida uma peqnena lapide sepulcbral, annuiiciando, a qucni a souber It^r, que Pedro Lourenco, reilor de Goes, dcixou a companbia dos morlaes na era de 1 383 (anno de 13-4o). Junclo d'esta ruina, mas niuilo in- lernaila no monle, se levanla uma pequcna lorre quadrada, ja bastanle carcomida do leni- po, (lue parece coeva da segunda egieja. Quaudo de>lizeran) o primeiro tempio, para fabricar o segundo, encontrarain na clauslra daquelb; um lumulo de pedra branca, com 102 0 INSTITUTO cstc brcvissimo rpilapliio — flic jacel Saha- lor bujus monastcii fuudator. — Dizem que era a sopultura de Salvador Ciuiniariz, funilii- dor do moslciro. Foi cnrerrado 'mini caixSo dc cedro, c deposilado dcbaixo do allar da eniao nova cgrcja. • CotUiniia. CATfiO D'UTICA Conliniiado de pag. 89. \ cfpada nial afiadn iiao abriu f(!rida ninr- lal. Joiio relcn) a Caiao o braco, (|iic ia a dar novo golpo, pede, siipplica, e irriia-sc. — Ab ! conlinuou (^aliio: se Ci'sar qiiizesso dcixar-me a vida, srriam para niim nniitos sacrilicios jiinclos o acceitar-ihe lal presenle para assislir ao sou triiimpbo ; para respirar o nr enipeslado pela sua lyraiinia ; para cur- \ar-me del)aixo da dicladura avilianle de uni dcniagogo coroado ; para ver o povo c urn despola rcinar ao mosnio l(;in|)0 na ridade de Jupiter Stalor! — Nao. Deixa-nie dar ja a al- ma aos deuses. "Suspendei. Mais umapalavra. Ainda nao ajuslastes as vossas conlas coniign ; vos, que nao fazeis caso de as ajuslar com Deus. Fico entendendo: as vossas paliivras mos- trani beni, que esse beroismo nao e mais do que fraqucza. Conimelteis uni crime contra a posleridade, que illudis; contra vos niesnio ; contra a vossa familia c patria ; eonira Deus. Com loda a vossa pbilosopliia nao sabeis ])assar por unia humiliacao: com toilo o vosso aninio nao podeis soll'rer urn reves!! Nao c a liberdade, que vos falla; porque nao cnliMi- deis 0 sentido d'esta polavra. Quer ella dizer coisas, que cu, bumildc escravo, sei ; mas i|ue muito e.\ceplo, e iiao como urn tbealro. A lua viriude nao te ampiira na vida : por isso le asylas no lunuilo: a niinha e o rauu refiigio, e o meu baluarlc. Tu desesperas da lua falsa liberdade: cu tcnbo fe na niinlia. Preso aos grillioes que arrasto, creio 'nolla: creio que o seu reinado bade vir: so nao a colloco na mesma parte, que lu. Espero-a, sini ; mas d'um grande benelicio da Providencia, que nos ba de vingar a todos nos, honions agrilboados, povos con(|ui>tados, racas oppri- midas: que ha de sublevar os quatro angulos do borisonte, para libertar o mundo, e nos espedacar os fcrros. Eu vivo na escravidao, porque vivo com a esperanca; e sei esperar, porque espero com a jusliga. Mas da vossa parte, dize-me, ajustica onde esta? Tu e Cesar, qual de vbs ousaragabar-se de a ler debaixo das suas bandeiras? Tu e Cesar, qual de vbs eombale por ella? Se liido se reduz a saber, se a hydra, que devora as riquezas do mundo, ba de ler cem cabecas, ou uma so: por oulras palavras — se o jugo ha de ser niais pcsado, e n)ais curto, ou mais levo, mas mais prolongiulo!? Quereis vbs, pelo conlrarif^, que vol-a eu niostre beni clara, beni inveucivel? Olhae para as vossas discordias! Olhae para as vossas pros- cripcocs, que estao vingando o mundo! Vbs, nossos oppressores, sois juizes e algozes uns dos oulros; nossos lyrannos, curvaes a cerviz debaixo da tyrannial Em lodo 0 mundo so o senado de Roma nao era esmagado por urn poder desenfreado e sem enlranhas. Esse poder, eil-o se lovanta Quem sabel Talvez nbs, barbaros, nbs escra- vos, ainda o exercanios um dia; enlre tanto Tou, eu desde ja, tomando a ving^>nca de vcr Catao, ruina viva, niorrer por lu!la d'ar Jivre. . . debaixo do ceu, sohre as ruinas d'essa Carthago, cuja queda seu avb proseguiu obs- tinadamenie, ofl'cndendo Deus e os homens. Valia bem a pena de conquislar o mundo, para te vcr, como Annibal, recuar deante da tyrannia ale tocar os limites do universe; e nao ler, como elle nao leve, refugio senao no tumulo ! Ha aiguma oulra juslica ainda niaior. Sao OS myslerios, que le revelo; sao as maximas, que te conimunico; sao as luzes, que le des- cubro a furlo — locha occulta, que nosalumia e dirige na escravidao, e que ha de devorar lodo 0 velho edilicio do imperio: arma terri- hilissima, que nos vamos passando de mau em niao, e na qual hao de embotar-se os (ios do ferro das legiOes romanas: ariele irresis- livel e immortal, que desfara em ruinas o poder de Cesar, e a gloria de Catao. Trium- pliB elle, ou caia ; vivas tu, ou morras: nada importa. A tyrannia, que boje te indigna. a escravidao que nao leindignava, cairao um dia deante de uma lei su!)lime, onde est.i es- cripta a lua condemnafao. Sim: o homem, liliio de Deus, nao pertence a si, nao pbde dispor de si, nem do seu similhante: a ver- (ladeira liberdade e um direito sagrado para lodos, assim como a vida e para todos um dever sagrado. Teuhodicto. Vamos: profere a lua seulenca; mas neste momenlo derradeiro e solemne, peusa em Deus, mais do que nos homens ; ou se pensares 'nelles, seja para seu bem, e nao para lua gloria. Catao estava calado: dirigiu uma curia iuvo- (licao aos deuses ; viu pousar uni corvo na lorre, ao pe da qual desembarcava Cesar, i; disse: — Amigo, OS deuses me ehamani. Dou-te a libcrdadde: assim lel-a-hemos anibos ao mesmo tempo. '< Tu ilaros-mea liberdade, Catao! Por cerlo, nao. Livre ja eu era: era-o ate nos fenos. Pensa em ti, e sb em li ; e perdbe-lc Dius OS leus peccados, assim como eu te perdbo as tuas olTensas. Assim o espero ; porque elle castiga-le cit 'neste mundo. Se a posleridade te admirar, nao has desahel-o; mas sou!)e.-ite antes de morrer, que un> escravo podia na sua niiseria ser raaior, do que o foi o maior dos romauos! MalCalao ouvira estas palavras, continuan.lo Joao a segurar-lhe a e.-pada, rasgou com as maos 0 ventre jii ferido, arrancou para fora as enlranhas, e caiu morto. . . . Cesar, que havia derramado l.igrimas peta morte de Pompeu, calou-sc quauto a Catao. Bern sahia elle, que desde entao seu poder liiaia sem outro Ireio, alem da sua prudeiicia ; sem oulro futuro, alem da tyrannia; e depois .... OS barbaros ! (Sukundy.) f. a. dimiz. BREVE NOTICIA Do recebimento, que a universidade de Coimbra fez emjulliode 1836 a el-rei o Sr.D. Fernando, entao principe esposo de S. M. a Rainha. Aos doze de julho do anno de 1836 ioi convoeado oclauslro da universidade, e 'nolle deu coula o vice-reitor, o Dr. Luiz Manuel lOi 0 JNSTITUTO Soares, leiite de piima c dccatio da faculdade de tlioologia, dc ijue reccbera polo ininisierio do leino uma porlaria, cm i]ue se lliu commu- nicava, que S. A. U. o principe D. Fernando — « resolvera visilar a cidadc de Coiinbra, e mui espei-ialmente o.< eslaljulecinienlos da uni- versidadc, recel)cndo, na forma do osiylo, o corpo calliedralico d'olla com a dislincfao, que Hie peiience, csperando ver com muita salisfarao oprimeiro eslabelecimento lillerario do roino.'" S6l)re esla honrosa parlicipacao deliberou 0 clauslro, que no dia da chegada de S, A. K. 0 corpo calliedratico, com assuas insignias, c cm forma de pre.stito, csperasse S. A. U no paleo do paco das cscholas, c, depnis (]ue tile se apcasse, oaconipanhnssc ii capella real, pnde se canlara urn 'fe Deum (sc S. A. 11. nao liver ja assistido a oiilro na calhcdrnl), e que d'alii seja aconii)anliado com o mcsmo prcstilo ale a sala do docel, onde o sr. vice- reilor em nome da universidade Ihe dirigira cm porluguez uni breve comprimenlo : « Que no dia immedialo na sala grande dos ados, depois de toniadas as ordens do S. A. R., se recite uma oracao lalina, em que se expresse o respcilo e salisfaccao da univers'- dade por lao lionrosa visita, levanlando-sc na mcfma sala uma cadeira dislincla jiara S. A. U., sendo da sua vonlade ai-sisiir a referida oracao, que recilara o lenlc de prima e decano da faculdade de leis, o Dr. Mauuel dc Serpa Macliado : que a oracao se siga um doutora- menlo em canones, ao (|ual S. A. R. assisla oil na mesma cadeira ou na Iribuna: K Que linalinenlo o secrclario da universi- dade, com anlicipacao necessaria, e na forma do cslylo, va ao caniinlio dar parle a S. A. R. d'eslas resolu^oes, elomar as siias ordens » S. A. R., sendo cmliarcado em Lisljoa para 0 Porlo, seguiu d'alii para esla cidade. clie- gando a Mcalliada no dia 17. Ahi o foi en- conlrar o secretario da universidade, Vicenle .lose de Vasconccllos e Silva, para llic com- municar as rcsolucoes do clauslro, pedir as ordens de S. A. R., que se dignou approvar plcnamcnte a manoira. por que a universidade se dispunlia para o scu rccebimeulo, deleriui- nando enlrar em Coimbra no dia scguinle, pclas oilo lioras da manban. Com este rccado se vollou o secretario para a cidade 'nessa noite, para avisar o prelado. No dia seguinte as 7 lioras correu o sino grande da lorre da universidade, para se re- unir 0 preslilo no paco das cscliolas. S. A. R., acompanbado dosmarccbaes duque da Tcrccira e niarquez de Saldanba (boje duque) e de uma mui luzida comitiva, e precedido pela guarda nacionai a cavallo, cbegou ao pa ICO da universidade a bora designada. Os estudantes forniavam alas desde a porta ' Porlaria ile 4 de julho de 1836. ferrea ate as cscadas da via lalina, onde se aeliavam os lenles e doulores com as insignias pela ordem das faculdades, tendo a sua frente 0 vico-reilor com os dois leules mais antigos de tbeologia e canones. S. A. R apeou-se logo, e descobrindo-se, saudou 0 corpo academico, que lodo corres- pondeu rcspeilosamenle a honra e merce, que S. A. R. Ibe lizera. 0 principe, tendo ii sua direita o vice-rei- tor c a esquorda o decano da faculdade de canones, suliiu ale ao paco das escbolas, pre- cedido immedialamente pelo corpo calliedra- tico, que logo depuis se rclirou, e fccbandoo preslilo os grandes do reino, e os ajudanles de campo de S. A. R. As II boras correu o sino grande a ajun- clar para o Te-Deum. 0 corpo academico foi oulra vez cm pres- lilo buscar S. A. R, ao paco, e d'alii o aconi- panbou ale a capella real, onde foi rccebido dcbaixo do pallio, a eujas varas pegava um lenle mais anligo de cada uma das scis facul- dades acadcmicas. Na capella mor, no logar da cadeira reilo- ral, estava levanlado um eslrado mais alto, e sdbre elle uma cadeira forrada de damasco carmezim detela d'ouro, com cspaldardeveludo da mesma cor, na qual se assenlou S. A. R., e mais abai.vo o vice-reilor ao sen lado direito, tambem cm uma cadeira de espaldar. A esquerda da cadeira dc S. A. R. estava 0 seuajudanle de campo. Os lentes, tomarani assenlo nos respectivos douloraes, e abaixo d'esies eslavani de um e ouiro lado bancos forrados de vcludo carmezim, em que se assen- laram os grandes do reino denlro do arco da capella mor. OllJciou ao Te-Ueum o Ur. Luiz Correia da Silva, lente de vesjiera de ibcniogia, assistido no aliar por lenles e doulores de tbeologia e canones. Acabado elle, voltou S. A. R. ao paco com 0 mcsmo preslilo, reccbcndo na hala do docci OS compriinenlos de lodo o corpo academico, da camara e aucloridades, eclesiaslicas, civis e militares. As Ires boras da larde saiu S. A. R. do pafo a pe, acompanbado pelas pessoas de sua comitiva, e pelo vice-reilor e secretario da universidade, e foi visiiar a bibliollieca, obser- valorio, muzcu e jardim botanico. No dia 19 pelas oilo boras da manba foi S. A. R. de carroagem a foiile das Lagrimas, e d'ahi ao tenipio de Sancta Cruz a visilar o lumulo do fundador da monarchia, recolhen- do-se depois ao pafo. As dez boras, reunido nos gcraes da univer- sidade 0 corpo catbedratico com insignias, foi em preslilo buscar S. A. R. ao paco, d'onde 0 aconipanbou ate a sala grande; cbcgado o j preslilo alii, os lenles c doulores formaram i duas alas ate a caranguejola, por nieio das 0 INSTITUTO lOu quaes passou S. A. R., precedido dos bedeis coin as suas macas, e do secreiario incstre do cerenionias, e levando as suas illiargas o vice- reilor e o lente de prima di; canones, e alias dc S. A. H. iam os grandes, e os seus aju- danlcs de canipo. No logar da cadeira dos actos eslava levan- tada, sobre um estrado de cinco degraus al- catifados, uma cadeira com cspaldar, conio o da capella, na qual so assenlou S. A. H., cobrindo-se logo; e o mesnio (Izeram o vice- reilor, que se assenlou no douioral a diieila do principc, seguindo-se a elle os grandes do rcino, e os lentes edoulores nos respecli- »'os douloraes, scntando-se, e cobrindo-se lodos com as suas borlas. No nieio da caranguejola, ao lado csquerdo da cadeira rial, estava a dos actos, forrada dc veiudo carniezini: a cinia d'elia subiu o Dr. Manuel de Serpa Alaciiado ; e, pedida a (levida vcnia, rocilou iima mui elegante ora- cao lalina gralulatoria pela dislincla nierce, quo S. A. R. lizera a universidade, dignando- sehonrai-a com a sua augusia presenca. Finda csta oracao, vollou o principe com o mesrao presiilo ale a sala do docel, onde se despediu do corpo academico, indo depois assislir da iribuna real ao doutoramento em canones do sexlanisla Francisco Antonio Au- guslo d'Almeida Menezes, que 'nessa niesma manha teve logar na sala grande, sendo eon- decorado com as insignias academicas pelo lente de prima c decano da faculdade, o Dr. Pedro Paulo de Figueiredo da Cunlia e Mello, boje cardeal arcebispo primaz; e foram ora- dores os doulores Francisco Ferreira de Carva- Iho, e Francisco Jose Duarle Nazaretb. Pelas cinco boras da tarde partiu S. A. R. para Lisboa, acompanbado pelas auctoridades, c guarda nacional a cavallo, e de infanteria. i. M. DE ABREU. ELEIIIIENTOS DE PHILOSOPHiA RACIONAL Approximados ao estado actual da sciencia — pri- meira parte, comprehendendo apsychologiaem- pirica, ou experimental. SECCAO 2.' Se todas as faculdades da alma nascem da sensacao ? Abt. 5.° Itetacao dos temperamcntos com o pensamento. Continuado da pa^. 85. Como no corpo bumano, seguado Hippocra- tes, tudo conspira, tudo concorre, tudo esta em consenso, as mais simplices observajSes 14 fazera desde logo devisar unia grande corres- pondencia enlre a conforniacao, assim exterior como interior do corpo (c esla jirincipalmen- le) e a direcgao das propensocs, lormacao dos babilos, e feicao do pensanienio em geral. Importa pois determinar as conscquencias cons- tantes de certas variacOes na conforniacao interior. M. Delle deOniu os tcniperamenlos — dilTe- rencas constantes entre os bomens, cbaracte- rizadaspor uma diversidadede proporcocs enlre as partes couslilulivas da organis^acao, o coni- paliveis com a manutencao da saude e con- servacao da vida; porem, assiis importanles pela iniluencia, que exercilam sobre as forcase laculdades da economia intcira. Em relacao aos cbaracteres sensiveis de suas dilTerencas, dividem-se em geraes e par- ciaes; em quanto se fazeni nolar, ou nos sys- temas organicos derramados por loda a econo- mia, ounosorgaos parliculares d'alguma func- cao imporlanle. Os cbaracteres sensiveis dos lemperanien- tos geraes consistem : 1.° nas dilTerencas, que ha nas muluas relacoes de extensao c aclivi- dade, em que eslao, um para o outro, os sys- temas lympbatico e sanguineo; 2.° nas diffe- rencas de proporcoes respectivas e muluas re- lacoes, que exisiem entre o syslema nervoso e 0 muscular; sendo de nolar, que o primei- ro, cm razao de sua iniluencia, e considerado como dclerminanle organico e fonte de aclivi- dade ; o scgundo, como constilulivo da parte material da forca. Sao tres as principaes differencas, que ba enlre as >uutua3 relacoes dos syslema lympba- tico e sanguineo; e tres outrosim as que mar- cam as muluas relacoes dos systemas nervoso e muscular. D'enlre as primeiras, umas constiluem o temperaiuento lympliatico, propriaiiienle dielo (o pblcugmalito, ou piluitoso dos anligos) ; outras deuotain o predominio do syslema san- yutneo (temperamenlo bilioso do's antigos); outras em lim o temperamenlo lijmplialko-san- (juinco: e o temperamenlo sanguineo dos an- tigos. Quanto as differencas da segunda especie, dividera-se lambem em tres classes : umas pro- duzem susceplibilidade deraasiada e exallada, ou predominio do syslema nervoso; outras, susceplibilidade nimiamentc fraca, on predo- minio do syslema muscular; oulras linalmen- te, susceplibilidade moderada, ou cquilibro dos syslemas nervoso c muscular, ludividua- remos umas e oulras differencas pelas suas feiroes pbysicas e luoraes: cslas sao as que mais nos imporlam. Os cbaracteres pbysicos do temperamenlo li/mphalico sao uma complei- cao molle, froxa. de cor diminula, fdrraas ar- redond.Tdas, carnes mui compressiveis epouco elaslicas, disposicoes para a obesidade, cabel- los d'um loiro dcsengraeado e d'uma grande 106 0 INSTITDTO tenuidade, urn calor nieJiocrc, uma pclle Iiu- mida, um saiiguc pallido e abundaiite era se- rosidade. Os seus allributos moracs sao os scguinles : A par d'uiiia physioiiomia Iranquilla, pouca viveza, pouca prol'undidade c rapidez, e por ''onseguinle bastanle claroza nas sensacOes ; hrandura c placidez de afleifoes, pouca aclivi- dadc de imaginacao, sizudez de cspirilo, lenli- dao assini cm eiuprehcnder, como em execu- tar, timidez cm excesso : indilTcrenca para os altractivos da riqueza c das lionras, iiicapaci- dade de grandesaccoes, bem como de grandes crimes, em ludo o character da niediocridade. Os cbaracleres physicos do lemperamento sanfiuineo sao uma compleifao secca c magra, formas bem pronunciadas, veins salientes, uma pelle secca, cerrada e amorenada, cabel- los negros e curios, umas vezes chatos, ou- iras onduiosos e crespos, uma physionomia aircvida, olhos expressivos, um sangue poiico seroso c d'um vermeliio carregado, um calor vivo e algumas vezes ardentes. Moralmeiue fallando, os individuos d'esle temperamenlo deixam-se rauilasjvezcs arreba- lar do fogo de sua imaginacao, ou de suas paixoes, e nao conhecem lirailcs na carreira do i)em, assim couio na do mal. As feicoes pbysicas do temperaraento lijm- fhalico-sanguineo, ou mixto, sao uma colora- cao florida, uma nediez mediocre, ieves proe- minencias dos musculos, que deixara percober 5eus interslicios, sem os desenhar profunda- menle, na pelle flexivcl c lirme, cariies con- sislenles, mas compressiveis e clasiicas, ca- ])ellos compridos, de cor mais ou nienos car- regada, mas sempre bem sortidos. Os individuos d'esle temperamenlo lem uma imaginacao risonlia e fecuuda; mas sao pouco suscepliveis de longas meditacoes: seu espi- rito, antes leviano do que reflexive, e egual- nienlc accessivel as boas e nuis impressOes : nnsccm com lodas as paixoes, mas facilmcnte as avassaliam. Passando agora as dilferencas, que marcam as mutuas relacoes do systema nervoso e mus- cular, antes de as individuar, iniporla esla- belecer o seu fundamento. 0 systema nervoso gosa de duas qualida- des: uma e a susceplibilidade, isto c, a apli- dao para receber impressoes ; por isso que no systema nervoso c que reside a seusibilidade, ou a propriedade, em virtude da qual percc- bemos as impressoes: outra ea forca de inlluir no systema muscular, para que seja um agen- te de nossas vonlades. Ora eslas duas quali- dades combinam-se mais ou menos enlre si, e da sua energia comparaliva rcsultam aquel- las Ires dilTerencas, quejii indicamos, c que agora especificaremos por seus allributos phy- ■?icos e moracs. 1.° E parlicularmente nas mulheres, c s6- bre ludo nas das cidadcs, que se obscrva cssa exallacao de susceplibilidade, que conslilue a 1.' dilTereoi'a. Ella se associa muilas vezes com a conslituicao lympliatica ; e a elegancia das formas, a iigeireza dos movimentos, a vi- vacidade das sensajOes, indicam niesmo csle predominio nervoso. 2.° Da susceplibilidade demasiado fraca, ou predominio do systema muscular, rcsulla o lemperamento alhlctico, cujos signacs exlerio- res sao membros de grandes dimeusoes, afora a cabega e pes, que sao pouco volumosos. Taes sao ordinariamenle os niariolas dos mer- cados, lal e o Hercules de Farnose, taes nos descreve Virgilio os alhlclas. A forca e o prin- cipal merilo dos individuos assim constilui- dos: dolados d'um cliaracler apalhico, d'um espirito limilado, sao incapazes de afl'eicoes do- ces e de eslbrcos de imaginacao ; dillicullosa- mentc se abalam, sao pouco suscepliveis de cholera ; mas, uma vez saidos de seu socego habitual, sao indomaveis. 3.° 0 equilibrio do systema nervoso e mus- cular conslilue um dos tenipcramenlos mais vanlajoso, c acha-se as mais das vezes asso- ciado ao lemperamento sanguineo. A forca nao e collossal ; todavia o corpo e forle; os dislinclivos musculares sao assaz pro- nunciados, o olho c vivo, os niovimenlos exe- culam-se commodamente. Os individuos d'esle lemperamento, que se pode chamar forte, lem 0 cspirilo vivo; seus projcclos sao seguidos d'uma execugao facil ; suas paixoes lernas, sem serem molles; sao alegres c bravos; sua cholera e perigosa, porque amencam e fercni ao mcsmo tempo. 0 Achilles de llonieroappre- senla as disposicoes moraes, e o Apollo de Belvedere as formas exleriores d'esle lenipe- ramenio. Taes sao enlre os lemperamenlos ge- raes aquelles, cujos cbaracleres sao os mais pronunciados, e por conseguinte os mais fa- ceis de comprehender. E certo porem, que de suas combinacoes diversas resulla uma inlinidade de lempera- menlos mixlos, e que o demasiado grandc pre- dominio d'um d'esles lemperamenlos lendeao estado de infermidade ; hem como pelo contra- rio maior e o equilibrio, que ha enlre lodos "■ OS syslemas, mais approximacao ha a esse lemperatnenlum ad pondus dos antigos, a esse estado de saude perfeila, que nao e mais que um scr ideal, a esse lemperamento, que, se- gundo a expressao de Mr. Husson, c para a medicina o que o vcrdadciro hello para a es- J culpiura, 0 que o ponlo mathemalico para a * geomelria. Com OS lemperamenlos parciaes niio 6 razao que nos demoremos ; porque nao sao mais, que uma determinada inllcxao dos mesmos lemperamenlos geraes, provenienie ja d'uma disposicao especial d'um dos syslemas geraes em alguma regiao do corpo, ja niesnio da ac- cao dominanle d'uma viscera sobrc toda a 1 cconomia. 0 INSTITUTO 107 Dei.^ando agora os temperamenlos adqiii- ridos, que nao sao oulra cousa iiiais do que inodilicacues, que o systcnia primitivo de nossa organisafao recclje do gcnero de vida, da educacao, das prolissoes, e d'uma inlinidade de circumslancias, niuitas vezes inadvertidas, iique cslabelecido, que sao seis enlre os nio- dernos os principaes lemperameDlos — lijm- plmtico, sanguineo; e lymjihatico-sanyuineo, (provenienlcs das niuluas rolacoes dos sysle- mas lyniphatieo e sanguineo) ; susceptibilidude exallada, ou temperamenlo nervosa, suscepli- bitidttde demasiado fraca, ou temperamento muscular, e susceptibilidade moderada, ou tem- peramento nerooso-muscuiar (provenientes das relacoes do systcma nervoso e muscular) : dos quaes lempcrauientos lodos o que niais im- porla ao nosso proposilo, 6 tor em vista os altribulos moraes, para fazcr a seguinte ap- plicaeao ao nosso intuilo. E obvio que os toniperamenlos influeni pode- rosanienle no inlelleciual e mora! do iiouiem; mas de que niodo? Por uma relacao extrin- seca, niediata, e indirecla^ que ha cntre dies e 0 pensamenio. Se o pensamenlo tivesse for- ma material, diriamos que os temperamentos contribuem para a feicao, para a conforraacao externa, para OS contornos em fim do pensa- menlo. Esta reiacao cxtrinseca faz-se visivel pelo seguinte sorites: 0 moral e uma colleccao de sentiraentos, inclinacoes c alTectos; cstes dependem dos nossos juizos sobre os objeclos ; os juizos de- pendem das ideias ; estas das sensajoes, que por seu turno dependem das impressoes, e essas do systema nervoso ; mas esse e diver- so, segundo a varia conformacao interior do corpo, ou temperamentos. Logo o intellectual e moral dependem dos temperamentos. k qualidade de extrinseca, mediata, e indi- recta, que attribuimos a reiacao, que tem os temperamentos com o pensamenlo, e figurada pela distancia, que ha no mencionado sorites enlre o priiueiro e liliimo termo da progres- sao. Havemos descripto a sensibilidade pelos seus phenomenos internos e externos, bera como pela sua correlacao com as diversas partes, que consliluem a economia do corpo humano, sem que em parte nenhuma do nosso organismo, onde aquella devia raanifestar-se, tenhamos enconlrado a causalidade do pen- samenlo ; parecendo-nos alias indispensavel, que ella ahi residisse, para com seguranca poderem Condillac e seus seguidores emitlir a sua opiniao — que as faculdades da alma nas- cem das sensacoes. Cora quanlo porem se nao possa estabelecer essa proposifao, os varies lundaraentos ex- pendidos sao sufficienies, para podermos lir- raar a assercao, que sera objeclo do arligo seguinte. Continua, * * • 0 DIVORCiO Continuado de pa^'. ii:i. II Todos OS philosophos, que sulire csle inte- rcssanlissimo ponlo turn escripto com niais prudencia, nao so concordam, mas ainda se esforcam em demonstrar, que o divorcio, con- siderado como um principio, repugna com a naiureza do malrimonio; lodos, ainda aqiiel- les que o adiuillem como excepcao do princi- pio de indissolubilidadc. Tal e"a veracidade do principio, que, offerecendo-se a razao do homem, esla ousa combalel-o, sem lodavia pretender negal-o; debalendo-se debalde em sua propria contradiccao. Uma lei e um principio verdadeiro, uma ideia absoluta, e como a ideia do circulo, em que inulilmenle procurareis limiles ; mas uma excepcao nao pode ser outra cousa se- nao um limite. Ora, ou o objeclo, em que ella se viriliea, esta no dominio da lei, ou fbra d'ella ; no primeiro caso, e limitar, reslrin- gir sua applicacao, o que ja vimos deslruia a essencia da mesma lei ; no segundo nenhu- ma roferencia tem a essa lei: logo em qual- qiier dos casos o divorcio nao pode ser consi- durado como exccpgao do principio de indis- solubilidadc. Trazemos aqui esta reflexao para alijar o pezo da aucloridade de muitos philo- sophos, alias baslanle illustrcs, cuja doutrina julgamos lodavia complelamenle prejudicada, se provarmos, que a indissolubilidade do ma- lrimonio e um principio philosophico, e por tanlo verdadeiro. Somos chegados a considerar o malrimonio em sua naiureza e (im proprio e social, a re- Ueclir sohn; a uniao de dois seres dill'erenles e incomplclos em uma perfeila individuali- dade physica e moral ; que uma lei da naiu- reza physica, symbolisada no myslerio da pro- creacao, realisada na vida da' humanidade. conduz a incarnarem-se em uma mysleriosa trindade: que uma lei correspoiidenle do mundo moral convida a indenlilicarera-sc nas niais elevadas relacoes, proprias de sua naiureza moral. Na verdade, nenhuni facto ha tao maravi- Ihoso, nenhum tao digno de prender e de absorver o nosso espirito, do que essa forca desconhecida, quo leva a unircm-se esses dois seres, como que predesiinados um para o ou- Iro ; paixao ou amor, essa forca, nada lendo de material quando examinamos o que 'nclla ha de verdadeiramenle sublime, so deixa vcr duas almas, que tendeni a completarem-sc, identificarem-se, e, por assim dizer, a fun- direm-se cm uma sO : — e a alma humana e indicisiiel. 108 0 INSTITUTO Nao qtiLTcmos, nein podori.iiiios desconhecei- a acrao da lei physioa ; seria teiro, e foram hospcdar-sc na ci- (Jade em casa dc Martim Lourenfo, deao da cathedra!. A. causa d'esla cmigracao suppoe-se serem algumas violencias feilas pela iropa de D. Ilen- rique de Caslclla, iiue pouco lempo antes li- nlia aquartelado o sen exercilo em Coirabra e seus arrabaldcs ; e que depois de ter seguido a marcha cm direccao de Lisboa, correra a uolicia de que o exercito invasor rctrocedia sobre Coimbra ; e como a licenciosidade mi- lilar nao se casa com a modeslia e comedi- inenlo religiose, entcnderam os Trades, (jue era niais acerlado abarulonar a sua morada a discricao de hospcdes violenlos, do que ex- por suas pessoas a insultos de Iropa, que, alem de iniyiiga, era castelhana. Pelos annos de toil havia em S. Jorge apenas quatro conegos, com o seu prior Chris- lovam Barroso, que em vez de provcr, como pae benelico, a conservacao do pequeno re- banho enlregue a sua guarda, dispunha das rendas do mosteiro, como de seu proprio pa- irimonio, prelcndeiulo diminuir as rendas da mesa conventual, e reduzir a penuria esle li- mitado aumero de companbeiros ; tambem nao providenciava, como Ibe cumpria, a fabrica c reparos do edificio, calao muito arruinado. Os IVades qucixavam-se energicamente ao bis- po D. Jorge d'Almeida, e uma visita fcita ao mosteiro achou justas as queixas; o bispo apossou-se das rendas, applicando-as a sus- lentacao dos quatro Trades, aos reparos do edificio, e a oulras precisoes, que as circum- siancias reclamavani. 0 cardeal infante D. Denrique' entendeu que 0 mosteiro devia ser reformado, unindo- se as rendas da mesa conventual a Sancta Cruz de Coimbra, de que o infante era prior commendatario ; e as da priorat applicarcni-se a sustentacao d'um coliegio inlitulado do Es- pirito Sancto, em que bouvesse doze collcgiaes iheologos c canonistas, que o nicsmo cardeal queria fiindar juucto a Sancta Cruz, 'njuiuclla cidade. Para esle (im consullou o preclarissimo bispo de Coirabra, eniao D. Jorge d'Almeida. Este foi de encontro a vonladc do infante; queria D. Jorge d'Almeida que a rcforma se tizesse, sem que elle e sens successores per- dessem o direito da colbeita pela visita do mosteiro, e indicava, que cm S. Jorge ficas- sem frades para satisfazerem os encargos, mas subordinados a Sancta Cruz; e que sc fun- dasse o coliegio do Esplrito Sancto, porque 0 mosteiro de S. Jorge tinha rendas para tudo isle' * Senhor : Escreveii-me V, Alteza este Janeiro pas- sado a iletermina^ao em que esta de supplicar ao San- cto Padre haja per beui que o priorado do mosteiro de S. Jorge se exlingtia, e que a casa do dito mosteiro com a renda da mesa conventual se encorpore ao con- vento do mosteiro de S.'' Cruz para que os conegos do mosteiro de S. Jorpe se reformem, e que a renda do 0 primeiro piano de rel'orma nao foi por dito priorado de S. Jorge sc annexe a capeUa do col- iegio do Kspirito Sancto que V. A. manda fazer 'nesta cidade. Eu Ihe respond! como esta egreja de Coimbra tem no dito mosteiro de S. Jorge desde sua funda(;rio toda a ju- ri&dirao civel e crime, e vJsita^ao, e colheita, dando-llie as razoes que entuo me occorreram por liaver luuilas para os prelados muito ponderarem as cousas d'csta qua- lidade V. A. me recebeu tudo como quern l-, e todavia me pede que para esta obra haver effeilo queira dar- Itie meu consenlimento para com elle supplicar a Sua Suntidade o que deseja, ficando salvos os direitos do pre- ladn que nom perde muito na vi&ila^ao de dois ou tres padres, que pola ventura nom viviuo tao bem como cum- pria. Pnrece por estas cartas de V. A. que lie sua vontade nom ficar aos prelados de quantas cousas !em iieste mos- teiro de S. Jorge mais que o iiiteresse da procura(|;rioe co- ltieita,que he o que menosdevia lembrar, inda que com- mumente he o que mais lembra. Esta casa de Sao Jorge, bem sabe V. A. os trances que tern passado, e que para de todo nom jazerem os ediQcios em terra fora cousa ar- rezoada acodir-Ihe com toda a renda, e ainda dcspejar o mosteiro, como se fez no de Sao Marcos desla cidade. para se empregar tudo nas obras; e que em me defender das bullas e conservatorias do Barroso, e ter o mosteiru em pe, nom cuido que fiz pouco, nem o temjio corapa- decia mais reforma^rio em quatro padres que nom ersio faitos d'agua; nem fui eu ^o o que 'nisso encarreguei a consciencia, ou tive alguma culpa, a qual nom se cura com eu agora consenlir em oiitra perda maior, como sera perder esta igreja para sempre ajurisdj^ao de hum mos- teiro tao honrado, pegado com a cidad^ pois ninguem pode ter certo quaes podem ser os prelados d'esta Se, f quaes os padres e governadores de S." Cruz que pelo tempo hao de vir. E porem, porque a obra que se espera d'esse coliegio devemos crer que Nosso Senhor sera ser- vido que seja perpeluamente conforme a len^'ao de queni a faz. Crea V. A. que nom busquei reniedios para me es- cusar de Ihe fazer este servi^o ; mas cumo Iho poderia fa- zer com salvo de minha consciencia. E ainda que he ra- zao que V. A. tenha muito gosto de tao santa obra, de- ve-o ter dobrado cada vez que Ihe occorre podella fazer mais perfeita, porque bavendo de ficar huma tal casa u disposi^ao doutros padres que nom sejao Frei Braz, e o^^ que agora sao em S.'* Cruz, e vir a ser ermida deserta, e perderem-se os officios Divinos que polos fundadores c polos Geis ahi se fazem, nao sei como Nosso Senhor <> recebera. Sail>a V, A. que esle raosleiro tem renda f grangearia para se manterem nobremente os collegiaes tr capellao, qtie deseja ter no seu coliegio, e para haver nelle cinco oii seis conegos que digao as inissas da obri- ga^uo do mosteiro, e esles podem dizer a missa da ler^a, e vesperas canladas, e os oulros officios entoados, em us quaes olTicios podem ser visitados pelos prelados desla igreja, e liaverem por ello a colheita; e quanio a ordem e castigo de sens peccados e A sua observancia e regra , e a todo o mats, eslo seja corregido polos padres de S.'" Cruz, e assi serao trez obras singulares, nom se eslorvar nada du coliegio de V. A., e o mosteiro Gear reformado, e OS prelados nom serem excluidos de toda sua juri>di9ao. Beijarei as maos de V. A. haver por seu servi^o eu Ihe fazer esta lenibran^a e acceital-Ia como de verdadeiro servidor e creado; e que desta maoeira e nom d'outra queira de mim o meu consenlimento, e mais que este negocio mande ver perante si, porque a parte que Nosgo Senhor p5e de sua sabedoria no corai^ao dos principes tao cathoHcos e tilo bemaventurados passa por todas as ou- lras letras e juizos. Lembre-se V. A. que som en desta idade, e que ja nom posso ler rauilo esi)ai;o para fazer compensarao de qualquer falla, e porisso nie fara muy grande mero^- e dara niuila consola^ao em haver isto assi por mais servi(;o de Deos e seu. Nosso Senhor a vi- da, e muy esclarecido estado de V. A. guarde prospere acrescenle como desejo. A B de maio de 15-11. Bejo as maos de V. A. — Bispo Conde. 0 INSTITUTO 117 dcaDle na sua lotalidade; mas foi-o em par- te; as rendas da mesa conventual uniram-se ao mosleiro de Sancla Cruz; o collegio do Espirilo Sancio nao se edificou em Coimbra, e as rendas, para clle deslinadas, passaram para o collegio dos Jesuilas em Evora. D'esta desmcmbracao procedeu o descaminho dos li- lulos do arcliivo de S. Jorge, de que apenas hoje se enconlram alguns em desordem por diversas reparlicoes publicas. Na verdade, um mosleiro rice, reduzido a quatro frades em dissensao com o seu chefe, devia soflrer os efi'eitos d'uma reformacao; e ella sc verificou do modo que temos referido, por meio de bullas de Pio IV, a pedido do cardeal infante. Depois da sua reforma nao encontramos facto algum digno de mencionar-se 'neste 11- mitado esboco historico. Este mostciro, vendido em tempo do mar- quez de Pombal, readquirido por compra pelos conegos regranles no reinado da rainha D. Ma- ria I, e tornado a vender, depois da exlinc- cao geral, ao actual possuidor o sr. Jose da Silva Carvalho, e um edificio ainda bem con- servado, construido com uma robustez desti- nada a hombrear com os tempos no dilatado transito dos seculos. Nao ha a admirar 'nelle as bellezas, neni a majestade da architectura ; nao se encontram ahi as difficuldades da arte, iiem OS caprichos da imaginacao. Os frades levantaram um colosso no deserto que sobre- vivesse a uma infinidade de geracoes, sem Ihes importar com as dilicadezas da arte, nem com 0 bello da poesia. Siniilhante a vida animal, comecou por fracos elementos, desinvolveu-se com o tem- po, chegon a uma epocha de grandeza e es- plendor; e d'aqui, retrocedendo, voliou a sua origem ; percorreu a orbila dos tempos, e aca- bou. Viu nascer a monarchia portugueza, e quando esta naeao apenas dava vacillantes passes juncto ao berco da infanria, ja o mos- leiro de S. Jorge se achava na edade ado- lescente ; companheiro do nosso Portugal, tern partilhado das suas desvenluras, assim corao das suas prosperidades. Coimbra, junho de 1852. ELEMENTOS DE HYGIENE POBLICA POR D. Pedro Felipe Monlau, doctor en Medicina y Cirugia, etc. — Barcellona.— Dois tomos em 8 „ mai. de 894 pag. Houve uma epocha de tao estreitas relacijes litterarias entre as duas najoes da peninsula, que escriptores distinctos, do um e outro po- vo, frequentemente deixavam a propria lin- gua para escrever na do vizinho. Como se foram membros de uma unica so- ciedade, castelhanos e portuguezes reputavara communs os interesses das letlras e sciencias, facultando-se reciprocamente todos os meios de ampliar sua cultura. Respeitando a soberania do lalento, embora nascido era terra extranha, prestavam-Ihe em toda a parte sinceras homenagens, criam-no, como e na verdade, cosmopolita. Era frequente irem doutores da universi- dade de Coimbra regontar cadeiras nas de Ilespanha, e virem os de Salamanca e Alcala reger as de Coimbra.' Nobre e patriotico accordo, tao proficuo as lettras e sciencias, como a fortuna e civilisa- cao dos dois paizes. Infelizmente duas grandes familias, chama- das por milhares de circurastancias a refun- dir-se em uma so, divorciou-as e fel-as ini- migas uma politica injusta e mesquinha, po- dendo alias sem esforco, e com grande pro- veito de ambas, congrajal-as e unil-as. Ao presente hespanhoes e portuguezes per- manecem, em geral, tao arredados do mutuo commercio litterario, como se estanciassem ermos e separados por rauitas leguas. Ignoramos, se orgulho mal entendido, ou desregrado amor de nacionalidade, prevale- ceu nos animos de nossos avos, para segui- rem tao damnoso sysiema de isolacao intelle- ctual. Nos, iilhos de um seculo ma'is allumia- do, devemo-nos empenhar em distruir tao nescios preconceitos, renovar a antiga aliian- ca, ou melhor, estabelecer na peninsula uma veidadeira republica litteraria. Cremos, que publicistas de todasas escholas hao de appro- var a instituigao. Benelica nos fins, imma- culada nos meios, promovcra o proselytismo, porem illustrando, nao corrompendo ; persua- dindo e convencendo, nao enredando ou op- primindo. Em verdade comeca ja a corrigir-se erro tao indesculpavel; nossos vizinhos lem os modernos livros portuguezes, e ate a algun? conccdem as honras da traduccao.^ Nos tam- bera cultivamos com raais dcsvelo a littera- tura hespanliola. ' O dr. Ambrosio Nnnes foi lente de prima da facul- dade de medicina na universidade de Salamanca; o dr. Henrique Jurge Henriques foi tambem cathedralico de medicina na mesma universidade ; o dr. Paulo Correa foi-o em Alcala de Henares, etc. — Demos ainda lenles de medicina para oulras celebres universidades da Euro- pa; para a de Paris, o dr. Diogo da Silva ; para a de Montpellier, o dr. Francisco Sanches, e o dr. Andre Lou- ren^o Fcrreira; para a de Pisa, o dr. Gabriel da Fon- seca, e o dr. Estevam Rodrigues de Castro ; para a de Turim, o dr. Pedro de Barros; para de Padua, o dr. Ro- drigo da Fonseca, etc., etc. * Priineiros elementos da sciencia da estndisticOy do sr. dr. A. P. Forjai— £Mr o presbytero,io sr. A. Her- culano, etc., etc. 118 0 INSTITUTO Associedadesscientificas de Portugal e Hes- panha procurara com louvavel ardor a com- municacao reciproca; nossos naturalistas e poelas correspondem-se com os seus naturalis- tas e poetas. Todavia, com lasliraa o dizemos, eslamos ainda mui longc de sermos oque anligamente t'omos, — amigos siuceros c decididos fautores de nossocoraraura progresso litterario e scien- tilico. Pelo que pessoalmente nos respeita, nao so procuramos ha annos conhecer o estado da organizacao do ensino nos seus vastos ramos, mas 0 dos respeclivos eslabelecimeotos scien- tificos de Hespanha, e lemos com particular prazer, algumas obrasdenossa faculdade, que alii sepublicam, toraando ainda singularraente a peito fazel-as conhecer entre nos.' E esle empenho, que hoje nos persuade a dar uma breve noticia dos — Elementos de higiene publica — do sr. dr. Monlau,." Dividiu 0 auctor a sua obra era cinco sec- coes : almosferologia, cosmetologia, bromatolo- gia, gynmastica e perceptologia. Na primeira tracta do ar, das povoacoes, e da policia medica; na segunda, dos vestidos e da limpeza ; na terceira, dos alimentos, dos condimenlos, das bebidas, do regimen alimenti- cio;na quarla, do exercicio das proBssoes, do repouso ; na quinla Onalraente, das sensacoes cxternas, das sensagoes internas, das faculdades intellecluaes, das paixoes. Sao estes os capitulos das malerias, que amplihca em varies paragraphos; por sua sim- ples enumeracao, mal se comprehende o avul- lado numero de questoes, que resolve; nenhuma ha todavia, por grave edifficil queseja, a que nao preslasse a devida attengao. Determinaas induslrias, cujo exercicio pode perniitlir-se livremente no interior das povoa- coes; discute 0 destino, que mais convenha dar-se aos cadaveres humanos; examina, qual e 0 melhor modo de conslruccao das povoa- coes; se sera bom por limite a sua extensao; estabelece os principios, que devem servir de ^ Entre os meios, que o sr. dr. Ferrer propoe no seu memoravel officio de 15 de Maio do corrente anno, diri- 5ido ao ex."" ministro do reino, para dilatar aesphera de nossas rela^oes litterarias e scienliQcas com os distinctos escrijitores de Hespanha, nuii judiciosamente lembra a publicacao do juizo critico das suas obras d'elles para as tornar conhecidas, e promover a sua procura. Muilo fol- gariamos, se fossemos n<5s os primeiros, que seguissemos o conselho d'aqueUe sabio porluguez, e, ainda mais, que no Instititto se estreasse a nossa penna st^bre tao util assum- plo. Por ora niio levanlaremos d'elie mao, e em seguida a este pequeno Irabalho pubiicaremos outro subre o — Manual para las tnaestros de escuelas de parvulos, — do nosso colegao sr. dr. PabhMontesino, director da eschola normal de instruc^ao publica de Madrid, obra primorosa, que deixa niuitu a perder de vista o taogabado — ■ Curso normal para profcssorcs de primeiras leUras, — -do bardo Degerando. * Procedeu esta publica^So a dos — Elementos de ky- ijicne privada, — de que 'nouira occasiSo falaremos. base as leis s6bre o ensino e exercicio da tne- dicina ; averigiia, se deve permittir-se a cul- tura do arroz, e em que termos ; se seria util, se seria hygienico o estabelecimento de mancebias; corao se remediarao os progres- ses do mal venereo; qua! devera ser (em Ilespanha) a policia dos lazaretos e quaren- tenas para preservar dos contagios exolicos; ate que ponto sao efficazes os cordOes sanita- rios, etc., etc. 0 auctor desinvolve 'nestes assumptos, e era todos os mais que tracta, uma erudicao vas- tissiraa; e eloquente, conciso e raethodico. 0 seu eslylo, em geral, e aphoristico, como mais proprio para uma obra elementar. Compraz-nos ainda deciarar, que, piedoso e chrislao, como Sydenham, Linneu, Ualler, Uufeland, o sr. dr. Monlau harmoniza com raaravilhoso accordo os preceitos do catholi- cismo com as regras da hygiene. Em sua opiniao injustifa, abuso, peccado, e transgressao hy- gienica sao palavras synonynias, talvez iden- ticas ; virtude e saude, vicio e inFermidade, sao resultados inseparaveis. Permitta-se-nos referir a maneira, como con- sidera alguns preceitos da egreja catholica, cuja satisfacao, infelizmente, por alguem e combatida. « A. practica dos jejuns, das vigilias, das temperas, e a instituicae da quaresraa reve- lam-nos, que em lodes es tempos e por todos OS legisladores, civis e monaslices, se ha adi- vinhado a inDuencia do regimen. Os progres- ses de epicurismo e da indillerenca tem tra- zide a relaxacao d'aquelles antigos e sole- nines costumes; porem os medicos illustrades nunca deixarae de applaudir a instituicae da dieta quadragesimal da egreja catholica, ainda nao a censiderando mais de que debaixe da vista hygienica.» « Seis eu sete semanas de moderada absti- nencia de came e alimentos animalizados, e na epochado anno em que sefaz mais activa a hemalose, e e mais bullicose o movimente organico, e uma practica altamenle saudavel, e digna de ser acceita, ainda quande a nao recoramendasse o sancto e respeitavel da sua origem.i) « E util inlerromper, por intervallos, o ri- gimen habitual, porque uma dieta uniformc predispoe a deterrainadas inferniidades; logo sao uteis as vigilias, e as abstinencias ; lego e util a cjuaresma.n a E Util adietar-se alguma cousa a entrada decada estacao, nasfipochas cardiaes de anno ; lego e util 0 jejum das lemporas.n « E util dar tempo as especies animaes, para que se procriera, e repreduzam; logo e util a quaresnia, a qual precisamenle coincide com a estacao do anno, em que as especies comestiveis se ajunclam, eu seachara em gestacae. E quae de ponte subira essa utilidade, se sobre apro- veilar para a conservacao de individio, e para 0 INSTITUTO 119 a abundancia de carnes, JDilue tambem no augraento da populacao? Tem-se observado, que DOS paizes, que seguem os ritos da egreja romaua, o numero dos nascidos e compara- velmenle niaior cm novembro e dezembro que BOS denials mezes do anno. Esla faculdade maisactiva em fevereiro e marco, equepodera a primeira vista attribuir-se a secrela influ- encia da primavcra, nao se nota nos paizes, que seguem as practicas de outra communhao. A primavera nao explica pois o ed'eito obser- vado, e forrosamente se deve buscar outra causa. A mais provavel e o grande consume de azeite e pescado, que sc laz durante a qua- resma. Eslas duas substaucias, mui animali- zadas enulrilivas, engendram muito esperma. Alem d'isto o pescado tirado d'ura eiemenlo, que tanlo obra nos phenomenos elcctricos, ad- quire na epocha da desovarao, e em outras cir- cumstancias, lodavia mal appreciadas, quali- dades acres, delelereas, e passa com razao por cslimulante e apbrodisiaco.u Quizeramos iranscrever outras passagens a eerca do ceiibato ecclesiaslico, religiao, suici- dio, expostos, responsabilidade medica, barbaro divertimento dos toiros, beneficencia,etc., etc.; nao 0 corportam os limitcs de urn jornal. 0 que havemos referido basta para gerar desejos de ler obra de tanto merito.' R. DE GUSM.40. ESTUDOS GEOLOGICOS DO BUCACO Continuado de paj. 94. Ill."° sr. — Rccebi com muito prazcra carta de V. s.' de 14 de novembro, acompanhada das suas obscrvacoes sobre a gcoiogia do Bu- caco, nas quaes acho niuita materia interes- sante. Considerando cu estas observacSes fala- rei separadamente das duas partes das mesmas, a saber: 1.° A descripcao geoiogica do districlo. 2." As razoes para anticipar a descoberta do carvao abaixo do chamado ijres bigarre. 1.° Concorde, com uma excepcao, na clas- sificacao proposta por v. s." dos terrenes em questao : porem como 6sta classilicacao somente se recebera por provada depois do exame das especies dos fosseis, eu havia de ficar muito grato a v. s.", se lomasse o incommodo de me mandar uma collccgao dos fosseis dos tcr- ' Oexemplar,quepo!suimos,obtivemol-odireclamenlc de Madrid, e cusloii-nos dois mil e oitenta reis. renos devoninno e siluriano, os quaes eu ha- via de examinar e comparar com as especies conhecidas (como fiz com os de S. Pedro da Cova e de Vallongo). a fim de por fora de diivida as determinagoes das edades dos ter- renes. Depois d'este exame estimava ter a permis- sao de v. s.°, de ofTerecer A nossa sociedade geoiogica, em nome de v. s.', uma traduccao d'esta primeira parte da sua carta, acompa- nbada do meu apendice com listas e descri- pfOes das especies dos fosseis; pois esta seria uma verdadeira addicao a sciencia. Eu ja disse acima, que concordo com v. s." com uma excepcao; a qual li o nome de r/res bigarre, que v. s.' da ao gres dc Iras de Coimbra. Nao vejo motives bastantes para si- milhaule classiCcacao ; pois com os poucos dados, que ba a este respeilo, a dicta forma- cao podera ser, ou mais moderna que o gres bigarre (por cxempio parte do syslema juras- sico), ou mais antigo (como parte do old red sand otone ou systema devoniano) . Parece mais prudente deixar a classificajao do dicto ter- rene para se decidir mais tarde, do que dal-a ja por decidida. 2.° Passo agora a segunda parte da me- raoria de v. s.", que conteni as suas ideias sobre a probabiiidade de se achar carvao entre o supposto gres bigarre e o terreno deooniano do Bucaco. Acho-me obrigado a declarar a v. s.°, que nao somente as suas razoes nao meconvencem, mas ate acho muito improvavel a presenca do carvao 'naquella posifao. Ate agora nao me consta com certeza, que a formacao, que fornece tanto carvao no norte da Europa, exista na peninsula : falo da nossa coal formation le terrain honillier dos france- zes. Em Portugal conbece-se carvao na forma- cao silnriana de Vallongo, e na jurassica de Buarcos. Em Hespanba os grandes depositos de carvao de Lcao e das Asturias acham-se, ou na formacao rfeyoMwna ou na parte inferior da formacao do calcareo carboni fero ; mu\io por baixo do terrain Iwuillicr. Tem-se dicto que 0 carvao ao sul de Cordova pertcnce ao terrain honillier; porem nem conheco aquella provincia, nem me consta que tenha side exa- niinada por pessoa competente para decidir a questao, e assim dou a classilicacao por incerta. Nao vejo pois niotivos para esperar a pre- senca na Beira do terrain honillier, o qual e local em todos os paizes onde cxistc, nem senipre seacha por baixo do gres bigarre, como por exemplo, aqui em Devonshire, onde o gres bigarre e superior as rochas devonianas, sem a intervencao do terrain honillier. Se 0 dicto terrain honillier existir na Beira, e natural que se mostre alguma parte na su- perlicie ; porem, se assim nao succede, pa- rece-me pouco provavel que exista cscondido. 120 0 INSTITUTO V. s.' perdoara um coDselho, que e adver- tir-lhe que, em logar de querer coniparar os seus terrenos com os do none da Europa, bus- casse uma comparacao com as formafoes ja conhecidas das Asturias, aonde existe um systema de rochas muilo similhanle ao do norte de Portugal, do qual se pode quasi chamar a continuajao, e aonde a posicao e abundancia do earvao sao conhecidas. Depois do exame das provincias das Aslurias e Leao, nao devia ser difficil escoiher os siiios em Portugal, aonde buscar o earvao com melhores esperancas, pois e natural que se ache em dois paizes lao vizinhos, dehaixo das mesraa circumstan- cias. Torno a agradecer a v. s." a sua franqueza era dirigir-me o resullado das suas observa- coes, e me assigno com muita considerajao. — De V. s." att. venerador e criado — Daniel Sharpe. — Londres, 12 de dezerabro de 1850. — Ao ill."" sr. Carlos Ribeiro. 0 DIVORCIO Continuado de pag. 109. Ill Considerado era quanto ao seu fira proprio, a indissolubilidade domalrimonio e uma con- sequencia necessaria e logica; o que facil- menie se deprehende do que temos dido. 0 tim do raalrimonio nao 6, nem pode ser outra cousa, senao a sua realisacao, porque 'nesta se resume tudo quanto poderiamos querer para aquelie; porque o matrimonio e a elevacao de duas almas a ideia de felicidade, ao raais sublime sentimento do bello, a mais doce e vivificante concepcao do espirito — a espe- ranca, (Ssta faisca eleclrica, que em um so ado approxima, como que realiza nossa aspi- racao no objecto desejado, simultaneidade absolula, unidade de principle e de lermo, indivisibilidade. Peio que respeita ao Cm social do matrimo- nio, importa notarmos aqui, que espiritos dc- masiados vivos, consideraudo em suas aber- racoes uma sociedade a sou modo, modo que, ou nunca exisliu, ou nunca tera condicoes de exislencia, sem presuppor um complelo cata- clysmo social, temjulgado ver na familia uma inslituicao repugnanle a seus fins ; e d'aqui tem estabelecido e sanccionado em suas leis, quando o tem podido lazer, todos os meios capazes de relaxar os lafos da familia ; e o divorcio tera sido muitas vezes um d'eiles: mas bem se v§, que um tal modo de conside- rar as cousas e inteiramenle hypothelico, senao gratuito. Nem meihor sorte cabe a pretendida in- flucncia, que o divorcio pode ler sobre o au- gmenio da popuiacao. Aqui raais sobe a dif- liculdade, porque: 1.° convem provar, que facilitar o desinvolvimenlo progressive da po- puiacao, para que saia fora da sua marcha regular, seja um bem para a sociedade, o que ainda lioje e um grande problema de econo- mia politica ; 2." porque, argumentando-se com 0 quod crat probandum, nao se tem loraado 0 cuidado de estudar a queslao, e observar, que OS melhores pensadores so admitlem o divorcio como um mal, impondo-Ihe taes con- dicoes, que pela raridade das vezes, que elle deveria ler logar, essa influencia seria assas diminula, ou verdadeiramenle nenhuma; quando alias se podesse admiitir, que a poly- gynesia ou a polyandria se prestassem a um tal elleilo. E pois mister, que estudemos a familia em sua relajao, nao com uma sociedade bypothe- lica ou ficlicia, mas com uma sociedade de que ella epor assim dizer o prototypo, o fun- damenlo e o alicerce, paradescobrirmos a lei, quearegula, pelo que ella importa para essa sociedade. Profundemos bem esta ideia, per- corraraol-a em todos os lies, que a prendem a sociedade, escutando um illustre philosopho: « 0 matrimonio e em sua natureza e fim tao multiplice, como a mesma vida do homem; e 0 foco intimo, onde reflede tudo o que ha de humane e divino, um centro de vida e de adividade commum para todos os fins do homera ; cada familia e uma sociedade, em cujo seio a religiao, moral, sciencia, instruc- cao, arte, industria, e o direito ou a justifa devera ser cultivadas: assira a sociedade ma- trimonial em sua natureza 6 tao variada, como OS fins, que em seu seio reune; e uma instituicao de religiao, de moral, etc.; lorna- sc d'este modo um resume da grande socie- dade huraana.i) Que ligacao mais inlima, que mais eslreita conne.xao, do que esta, que acabamos de ver? Qual oeffeito de uma causalidade necessaria, se a familia nao passa de uma uniao mons- truosa ; se os lacos do matrimonio serelaxam, se a familia nao realiza o seu fim proprio; em uma palavra, se o matrimonio nao 6 iadis- soluvel ; todo o edificio social, aballada sua base, enfraquccido seu esteio, ireme, vacilla e ameaca ruina; se volvermos a hisloria de muitos povos, que practicaram o divorcio, ve- remos em cada linha um triste episodio, em cada pagina um pungenle sudario de seus males; os mais profundos traces de sua deso- lacao, de uma vida definhada, senaoagonizante. A indissolubilidade do matrimonio importa pois para a perfectibilidade social. Mas podera dizer-se: se a philosophia nao 0 INSTITUTO 121 reconhece o divorcio, muitas vezes o aconse- Iha a politica; reconhecemos que o divorcio e um ma! para o homem e para a sociedade, mas quanlas vezes nao deve elle prevenir males ma is graves? Poderiamos talvez respondcr em poucas pa- lavras a esta consideracao, se nao fora aqui, que OS apologislas do divorcio tern muitas vezes preleudido a victoria ; chegando ate, confundindo umas cousas com outras, ao ponto de proclamarem o divorcio como ura princi- pio. A politica, e verdade, muitas vezes reprova a applicacao de um principio em toda a sua extensao; mas se pensarmos judiciosamenle, se consultarnios a philosopiiia da iiistoria, um tal favor tioje seria imprudente; porque ne- nhum iia, que mais excite e se presle a ai)u- sos, tanto mais terriveis e fataes era si e em suas consequencias, quanto maiores forem os obstaculos, que se liouver de veneer ; se Diio, expliquem-nos o proeedimento da Ingiaterra e da Franca ; na primeira o divorcio tem-se tornado quasi inipossivel pelas duas condicoes, que se llie impoeni ; a segunda legisla e sanc- ciona o divorcio, para logo o riscar de seus codigos, sendo alias bem perfeita a sua legis- lacao a tal respeito: expliquem-nos, por que razao nas sociedades mais civilisadas se pro- cura lornar o divorcio impossivel? Todos aquelles, que melhor procurara fun- damentar suas doulrinas, admittindo o divor- cio, exigcm duras provas para a sua justili- •cacao ; ponde de parte este mal, junctae in- finites abuses, tanto mais fataes e escandalo- sos, quanto maior e a diiEculdade a veneer; sim, junctae a perfidia ao soffrimento, accres- centae um mal irremediavel para as victimas do dole, larabera para os lilhos; aqui e ter- jivel a rcsponsabilidade; victimas desgraca- das, contra quem clamareis vos, contra o vi- cio, ou contra a lei? Se deveis clamar con- tra 0 primeiro, nao deveis fazel-o menos con- ira a segunda ; porque ella vos tira o pae ou a mae, que vos resta, dedicaiido seus cuida- dos a uma nova uniao e sfrus fructos; porque ja nao tendes o esposo de vossa mae, ou a -esposa de vosso pae. Uma lei suprema foi recebida, jurada uma I'e sagrada, mas a lei e o juraniento sao pos- tergados por dois criminosos ; concedei-llies o divorcio, arabos premiareis: um so (i o crinii- noso, concedei-Ihe aiuda o divorcio, oulra vez 0 premiareis: receais pela victima innoceiite, jiorque pude o agudo punbal ou o veneuo do criniinoso cortar o elo, que elle nao pbde sup- portar nem quebrar; para evitardes um crime, ainda prcmiaes outro, ou antes auciorizaes ambos: pcrmitli o divorcio para o conjuge innocenle, sois contradictorios ; porque sendo .no vosso caso a indissolubilidade uma pena para o conjuge criminoso, nao destroe ella a |ei, que ambos deveram respeitar, anteseasua 10 sancfao; porque ou essa indissolubilidade e com relaciio ao conjuge crifliinoso e entao o elo, que liga um, prende o oulro; ou e so uma pena, e nao podeis desprender um, sem desligardes o outro. Respeilae porem a lei da indissolubilidade; 0 conjuge innoccenle nao tera sido victima da perfidia, seus filhos nao licaraoorphaos; respeila a lei que recebeu, a moral social, ojuramento, que invocou; ojuramento, porque, christao ou pagao, em moraento lao solenine sua alma jamais deixou de se clevar a Divindade, que adora ; e o que mais e, nao sodVe uma falta irreparavel: qual amigo, que perdcmos, o de- positario de nossa vida iniinia, consolacaoeau- xilio para nossas adiersidades, se, espiada uma falta, volta a nossos braces, e ventura seni par; assim o objecto do nosso amor, do amor, — o mais bello sonho da imaijinariio, que acorda, a mais doce recordacCto da imagi- nacao, que adormece, se, espiada uma, volta ao coracao, que o havia perdido; ntais que o pae, que abraca o filho, um espoco abraca outro, porque tambem aperta o lillio, que ambos abraca ! Se mao impia apagiira aquellas memorandas palavras do Deus do cvangelho — Quod ergu Deus cortjunxit, homo nonseparet ; se comellas toda a luz, que esse Deus derramou, que seria a civilisacao de nossos dias? FRANCISCO MONIZ BARnETO. OS CAWINHOS OE FERRO E A LIBERDADE COmiyiERCIAL Cada uma das grandes invencoes, que tem .•issignalado ogenero huniano, ha sido percur- sora de uma grande revolurao. Um pouco de I'erro, lancado no espaco por uma pouca de polvora, quebrou a armadura do feudalismo. Um pouco de chunibo, fundidocni uni molde, e feilo typo de imprensa, abriu a todos os povos 0 livre commercio intellectual. Ejulgaisvds, queestasduas barras de ferro, postas parallelamenle no cliao, e que a locomo- liva segue, arrastada por uma pouca d'agua condensada no sen seio, nao liao de derrihar a barreira das alfandegas? Tenbo fe que esies dois carris a quebrarao. 0 genio de What completara a obra de Giillen- berg; e esta profunda conviccao me reporla ao pensamento d'cstas celebres palavras: — A liberdadb commercial e como o sol; cega queiu naoa vesurgirno horizonte! (fFolows.'ii, eludes). A. FOnJAZ. 123 0 INSTITUTO piblicacOes litterarius Elementos de Economia Politica, por A. P. Forjaz, quarta edigao, 1 in 8.°, 1852. Elementos da theoria da Estadistica, pelo mesmo, terceira ed., 1 folh. in 8." 1852. 0 auctor, desejoso de melhorar cada vez mais cstes seus eonipendios, em beneficio da instruccao publica, curou nao so de corrigir, nas presentes edifOes, os nuiilos defeilos de falla de clareza e lypographicos, que haviam escapado nas proximas anlecedentes; mas de desinvolver e reclificar, a vista dos escriplos mais acreditados e posieriores a ellas, algumas de suas paries mais importanles. Em especial os elementos de esladislica, ex- trahidos principalmente das obras de -Moreau de Jounes e Dufau, constituem um trabalho quasi inteiramenie novo, no qual se indicam nao so quaes sejara os factos estadisticos e as regras mais geraes da melhodologia e crilica estadis- tica, mas OS processes adminislralivos indis- pensaveis para elles se recolherem e coorde- narem, eas transcendentes appiicacoes d'estes importantissimos trabalhos. Persuadido que um compendio, como a pro- pria palavra indica, nao pode serniais deque um resumo, e nao nm tractado; eque ao pro- fessor pcrlence dar-Ihe o desinvoivimenlo na exposicao oral, o A. continiia a seguir o nic- ihodo da maior brevidade, compalivel com a I'lareza, dependenle para ura da appropriada c gradual explicacao, c para outros da leitura pausada, e rellectida. E para maior facilidade dos primeiros comecou a publicacao de uns — Eslttdos ou explicafao dos elementos — dos ijuncs jii sahiram as quatro primeiras folhas. Vendem-se na loja de livros da Imprensa da Universidade, na do sr. J. Orcel, eic. CORRESPONDENCIA AOS SENUORES ASSIGNANTES Cora 0 niimero 12, acaba o primeiro semes- trc do [nstitiUo. Aqueiies senliores, a quern finalizam as assignaluras com este semeslre, e que nao queiram soffrer inierrupcao na en- irega ou remessa do jornal, terao a bondade de niandar com tempo renovai-as. Os senhores assignantes, que ainda este- jam em debito das suas assignaluras, sao con- vidados a mandal-as satisfazer com brevidade. Toda a corrcspondencia devera ser reraet- lida franca de parte. 0 amigo dos meniuos, 1 in 8.°, prego 360. Os ultimos exemplares d'esle curtosissimo irabalho poslhurao do Sr. M. A. Coelho da Rocha, addicionado pelo Sr. A. Forjaz, e ap- provado pelo conselho superior, para uso das escholas, vendem-se na loja de livros da Im- prensa da Universidade em benelicio do Asylo da Infancia. O IMSTITUTO Publica-se de 15 em 15 dias, nos dias 1.° I e 15 de cada nicz. i Preco da assignalura: annual, ou24n.°'' 1^440 Por semeslre, ou 12 n.°' 720 Nuraero avulso SO Assigna-se em Coimbra em casa do admiv nisirador d'esle jornal, cno gabinete de leilura do Insliluto de. Coimbra ; em Lisboa, na loja de livros de Lavado, rua Augusta n.° 8 ; mi Porlo, na de Francisco Gomes daFonseca, rua dos Caldeireiros, n." 11 a 13; e em Braga cm casa de Domingos Jose Vieira da Cruz, na rua do Soulo. Pagamenlo adiantado. Annuneia todas as produccoes lilterarias dos socios, que assim o desejareni e remellerem a administracao as noias competenlcs; e igual- menle as de estranbos, niandando estes dous exemplares. Toda acorrespondencia devera serdirigida, franca deporte, ao administrador do InstitiUa, Joaquioi Martins de Carvalho, rua do Coru- che, n.° 3. (D Jttjstitutir JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO A IMMORTALIDADE (Traduc^uo da V IVIedilai;ao Poelica de Lamartine.) 0 sol dos nossos dias, desdc a aurora, Pallido 0 gyro corrc, c apenas lanra As frODtes dos morlaes desfallccidas Frouxo clarao, que mal guerreia a nolle... Co'as sombras foge o dia, e eis ludo cm trevas. Do aspecto pavoroso os fraeos Ireniam, Do abysrao as bordas pavidos recuem, Nao podendo escular, sem que estremecam, Triste psalmear de mortos, — e abafados Suspiros do irniao, da chara amanie, Prestes a escorregar do leito a campa ; Nem do bronze os soidos, que annunciam, Funebres, aos mortaes inais urn liuado. Liberladora morte, eu le saiido! Tu nao tens para mini o aspecto hediondo, Com que 0 erro e o pavor te relrataram. Nao lens por arma a foice ensanguenlada, Nem leu ar e cruel, teus olbos perfidos. Manda-te Deus dar fim as agonias ; Nao anniquilas, poes era liberdade; Mensageira celesle, tu empunhas Um facho divinal na mao clemcnte; Tu, quando os olbos meus, ja faligados, A luz so fecham, d'ouira luz mais pura As palpebras me inundas, e a teu lado Recoslada a unia campa eu vejo a Esp'ranca, De maos dadas co'a Fe, raostrar-me os ecus. Dos laoos corporaes corre a soltar-me. Vem abrir-me a prisao, prestar-me as azas. Oh! vem, nao tardes; ja por voar anceio Ao meu principio e lim, ao ser eterno. D'onde vim? quern sou eu? qual meu Rnuro? Eu raorro, e o que e nascer ainda ignore!! Tu, que debalde inquiro, hospede incognito, Nao me diras, 6 espirito, quaes ecus. Antes de me animar, tu habitavas? Quem te arrojou sobre esie fragil globo? Do barro na prisao quem le ha fechado? Por quaes pasmosos nos, la^os secrelos, 0 corpo a ti se liga, e tu ao corpo? Tu quacido has de exlremar-te da materia? Qual mansao buscaras, deixando o mundo? Tudo has esquecido? E alem da campa Vol. I. Setembro Vas inda renascer, ludo olvidando? E comecar de novo o raesmo gyro? Ou no seio de Deus, na patria elerna, Das cadeias mortaes em lim liberto, Yas perenne gozar dos teus direitos? Sim, tal e a minha esp'ranca, o doce vida ! .la por ella a minh'alma conforlada, Pode ver sem terror nas faces lindas Desbrolarem-ie as cores lao brilhantes ; Por ella com a chaga, que me rata, Mancebo me vereis surrir a morte, E nos meus olbos lagrimas de gosto Por li hao de brilhar no adeus extrerao Esp'ranca van ! o Epicureu vozeia, E esse quo, a natureza disseccando, Cre descobrir do cerebro'num ponto, Que as massas pensam, que vegeta o espirito. Insensalo! dirao: — que orgulho cego ! Olha em torno de ti: tudo comeca, E ludo acaba, ludo tern um termo, E para niorrcr nasce. Olha nos prados, Como a pallida flor se murcha e secca! Ve como o cedro altivo na floresta Cae co'o pfiso dos annos sobre e relva ; Do mar os amplos leilos vao seccando ; Os ceus mesmo nao brilham, como outr'ora. Esse astro, cuja origcm vae sumir-se Nas eras mais remolas, tambera corre 0 sol, como OS mortaes, a decadencia ; E pelos ceus deserlos inda um dia Olhos 0 buscarao sem enconlral-o. Nao ves em torno a ti, no mundo intciro Os sec'los cumular uns sobre os outros, MontOes de ruina e p6? Nao ves o tempo De ludo, 0 que produz, tornar-se o ferelro? E inda allivo e soberbo, ainda o honiem 'Num sublime delirio embriagado, No geral turbilhao volvido ao nada, Sonha, desfeilo em po, co'a eternidade! Nao vos sei responder, sabios da terra I Deixae-me 'nesla fe; eu arao, e muito, Por isso muiio espero, embora veja Minha razao lurbar-se e confundir-so. Sim cala-se a razao, mas fala o instinclo, Ainda que nos ceus eu visse os aslros. Do ellier pelos campos assuslados, Ao acaso correndo uns contra os oulros, 15 — 1852. Num. 12. 124 0 INSTITUTO Em rija collisao despcdarar-se ; Ouando ouvisse genier, par(ir-se a terra, E visse 0 globo sou, sosiiilio, eirante, Longe dos soes, em liicio pclo liomeni, Ir siimir-sc por fim cm nolle eleina, E ultimo cspeclador da sceiia fuiiebre, Do chaos rodcado c morte e licvas, Eu so licasse, eu so sobre as ruiuas Dos nuindos derrocado, — sempre, sempre, Cerlo da volta de uma aurora etcrna, Teria csp'ranca cm li, Deus de boiidade. 'N'esses silios ditosos, eliara auiante, Que viram de um olliar nasccr ardenle Nossa tenia paixao, n.io le recordas, Que ja nos alcanlis d'antigas rochas Ou ja de um lago a soliiaria margem, Nas azas do desejo arrebalados, Para longe do mundo eu me embrenliava, ConUigo, do pensar 'nestes abysmos? E as sombras, que desciam, desdobrando-se Mui densas pela cncosla das niontanbas, Os canipos por momentos escondiam; Mas logo 0 choro silencioso e frouxo Das estrellas da noite, que surgiam, Os vclados objectos descobrindo, Com seu branco I'ulgor alumiavam As collinas, os campos, o horizonte? Assim em nossos templos, quando os raios Do sol cadente a enfraquecer comecam, Dalampada o clarao no saucluario Mais branda luz csparge, e mais devola. No leu exla-se enlao tu me apontavas Ora a terra, ora os ecus, e, — o Deus occullo, Dizias, eis teu tempio, a natureza. Ve-tc a alma, onde os ollios a conteniplam ; Das luas perfeicoes, que elles prescuiam, E 0 mundo um rcflexo, o espelho, a imagem ; 0 dia e leu olhar, a formusura E un> surriso teu, e em loda a parte Te adora o coracao, le imbebe o espirilo. Bom. elerno, inlinilo, omnipolcnte, Sao aitribuir que exprimir nao podeni Do leu Mome uma lelra so; — curvado De tao divina essencia ao peso forte, O espirilo cm silencio tc venera. E com tudo, 6 nieu Deus, por lei sublime 0 espirilo abalido a ti se arroja, £ cerlo que o amor c seu desiino, Impacienle de amar arde por ver-te! Dizias, — e os suspires confundidos De nossos coracoes o voo erguiam^, Abrazados de amor, ao ser elerno, Da creacao em frenle, de joellios. Durante o dia e nolle, ardentcs preces j\os saiani dos la bios ; e ora a terra, Nosso desierro, os olhos conteraplavam, Ora aos ceus se volviara deslumbrados. Ah! se 'nesses momentos, era que anceia ISossa alma por fugir, quebrando os ferros Do seio que a capiiva, Deus ouvisse La do alto dos ecus ardentcs preces, E ambos nos liberiasse de um so golpc, Nossas almas, subindo ii sua origem, Os mundos cortariam em seu voo, E nas azas do amor, e alem do espaco, Como um raio de luz alravessando, Iriani ler com Deus espavoridas, A ahrigar-se por lim no seio elerno. Seria uni sonlio vao? E hao de os sere.'? Para o nada volvcr, filhos do nada? Tambcm, sugeilo ao corpo cm seu destine, 0 espirilo na eampa ira sumir-se? Tanibem se lorna em p6? Ou (juando voa, Como um exlinclo som por lim se exbala? Apos suspire vao, e adeus supremo, Nada de Uinlo amor por lim persisle? A li, a li somenle, Elvira, inquire, Ye quern te ama expirar, dopois responde ! ! F. J. BALMES Auclor do — Prolestantismo comparado com 0 catholicismo em suas relacoes com a cioili- sardo europ^a, 3 vol. in 12; da — Arte de alcancar a verdade, philosophia prdctica, 1 in 12; — de um — Curso de philosophia elcmen- lar, 1 in 12; — da Philosophia fundamental, 2 in 12; — de Pio IK ponlifice e soberano, 1 fol. in 8.°; — da Religido ao alcancc dos meninos, etc., etc., conieca por felicidade a ser mais conbecido, c por neccssaria conse- quencia, summamente appreciado enlre nos. Julgamos pois lazcr algum service as Icttras e ;i religiao, oU'erccendo aos leilores do Ins- tituto nma breve nolicia d'esle insigne escri- plor, que, descendo ao lumulo no vcrdor dos annos, bavia ja alcanjado um nome glorioso, e lomado logar entre os primeiros cscriplores, nao so de sua palria, mas da Europa. J. Balmes nasceu a 28 d'agosto de 1810 em Vicb, na Calalunha, de paes pobres, mas piedosos. Esludou no seminario de sua palria, dos 7 aos 10 annos lalim; nos dois annos se- guinles, reihorica; nos oulros ires, philoso- phia; e depois, no nono anno, o-< prolego- menos da tltcologia. Era esta a ordem dos es- tudos no seminario de Vich. ' Irreprehensivcl desde os primeiros annos, piedoso e estudioso, encontrou ccdo niuiios inimigos, invejosos de sens progresses. Con- cebi, dizta elle mais tarde, ttm piano de viu' ganca, que summameute me aproveitou,- — re- solvi-me a rcdobrar o trabalho. » Tendo abracado o estado ecclcsiastico, uns pequenos benelicios o ajudaram a contiauar nos estudos. Foi lao diligeule e severe na observancia das obrigacoes d'esle estado, como anteriorraente nas escholaslicas. 0 character e habilos de sua inlelligencia revelavam-se ja « em seu olhar profundo e (I chcio de fogo, poric grave e modeslo, e na 0 INSTITUTO 125 « maneira d'esludar. Inclinar sobre a meza, (( com as maos no rosto, lia algiimas paginas; « dcpois cobrindo a cabeca com o capote, li- « cava longo tempo a medilar.u Ler pouco (dizia clle), escoUier bem os Hvros, e pensar niuilo; tal e o verdadeiro melhodo. Se uma pessoa se limilasse a saber o que esid nos H- vros, as sciencias nao dariam tim passo. Tra- cta-se de apprender o que os outros minca sou- beram. Durante esles momentos de meditacCio as es- curas, minlias ideias fermenlam, e o men cere- bro torna-se, como uma caldeira a ferver. Havia conlrahido cste liabito de reflexao, desde a cdade de treze ou qualorze annos, quando esludava philosophia no semiuaiio de Vich. Perguntando-lhe alguem, de que modo tra- balhava : Esforco-me, respondeu, em resulver as quesloes pelo meu propria pensamenlo, an- tes de ler a solucao. « E perder muito tempo, llie lornaram ; bas- tara abrir o livro.» 0 estudante recebeu esta crilica com mo- destia e respeilo; mas persistiu em seu cos- tume ; e fez bem. Ler pouco, mas escoMier bem os livros, e raeditar muito: tal era a rcgra que a si im- pozera. Conforme com clla, passou quatro an- nos compleios na universidade de Cervera, sem ler mais que a Summa de S. Thoniaz, e sens Commentarios por Bellarmino, Scares c Caetano, com uma unica excepcao, o Genio do Christianismo de Mr. de Chateaubriand. Tvdo se encontra em S. Thoviaz, dizia clle ; pltilosopliia, religido, direito politico; e uma inina inexgotavel. Quando d'esta maneira chegou a possuir um fundo solido e sao, de doutrinas philoso- phicas e theologicas, sentiu a necessidade de complctar e fecundar estes primeiros cstudos por via de leituras. Na bibliotheca de Cervera, assim como na de Vich, poucos volumes escaparam as suas investigajOes. Pedia muitas obras ao niesmo tempo, e percorria primeiramente o iiidice: quando uma ideia ou um I'aclo Ihe parecia abrirem deanle d'elle aigum novo horisoute, iia a parte do livro respectiva a essa ideia ou a esse facto ; e depois lomava apontamenlos. Tudo 0 mais, ou ja conhecido por estudos anlcriores, ou sem iiileressc, punha-o de par- te. U'esle modo chegou a enriquecer o espi- piriio com variados conhecimentos, sem se expor a sobrecarregal-o de nopoes estereis. Aos 22 annos tinha corrido um exlraordina- rio niimero de volumes, apprendera francez, falava e escrevia latim melhor que o hespa- nhol ; e eslava licenceado em theologia. As virtudes de sua infancia, longe de sc cnfra- quecerem no meio d'estes estudos, baviam ad- quirido maior forca e niadureza. Era 183" foi-lhe conimellida a rcgencia d'uma cadeira de sciencias exaclas, enlao fun- dada era Yich. «0 seu modo d'ensinar (diz um de seus « discipulos), tinha-nos a todos em arrebata- « mento. Elle proprio nao parecia mcnos trans- II portado que nos. Dava-nos licoes nao so- « mciite de raathematicas, mas de logica, rae- « taphysica e historia. Em summa, ciisinava- « DOS a estudar, e a fazer-uos liomens.u Tudo parecia conlrariar seus estudos, as circumsiancias politicas, o logar da residen- cia, a situajao de sua familia. Nao tinha uni livro seu. 0 estrepito das armas, e os toques a rebate, vinham muitas vezes interromper suas lifocs, e dcspertar o juvenil auditorio ; mas as ditTiculdades pare- ciara augmeniar seu ardor. Todo 0 homem (dizia elle), que pretende chetjar a alguma cousa grande, deve caminhar com preseveranca para o alvo, ainda quando esteja distante cincoenta annos. Aeontecia-Ihe muitas vezes passar muitas boras em meditacao, sozinho, e as escuras, niormente nas noites d'inverno. Da mesma sorte (dizia elle), que a diges- tao dos alimentos corporaes cxige um certo tempo ; cada hora de leitura, para produzir 0 seu fructo, deve ser seguida de muitas horas de meditacao e de disciissao interna. A esles continuados trabalbos litterarios J. Balmes junclava uma solida e fervorosa piedade, que alimentava nao so com a pra- ctica das boas obras e dos ados do cullo ex- terno, mas com a constante leilura dos bons livros de piedade. A Imitamo de Jesu Chris- to, este livro de ouro, estava sempre em suas maos ; e muitas vezes se aprazia em ler os es- criptorcs asceticos bespanhoes. Nunca (dizia elle a um de seus amigos) me succede fazer uso de um livro prolnbido, que nao cuide em (ortificar-me de novo com a licdo da Biblia, da Imilacao, ou de Luiz de Granada. Que acontecerd a esta mocidade insensala, que ousa ler tudo sem preservativo, nem experiencia? Este pensamento enche-me de terror. Que de- sastre tern jd para deplorar os costumes pu- blicos ! D'esta maneira se preparava Balmes ate aos triuta annos para o importantc, mas ainda desconhecido logar, que a providencia llie pre- parava. Genio ardente, mas prudenle, adean- tado nas opiniOes, mas judicioso e moderado; dedicado a religiao e amigo da palria, conti- nuadamente investigava os meios de remediar OS males do seu paiz, ha longo tempo divi- dido pelos partidos politicos. Animado com as intencocs mais puras, ge- nerosas e conciliadoras, poz ao servijo da fe c de suas convicgoes politicas os raros talen- tos, de que o ceu o dotara. Uma de suas primeiras obras religiosas c litterarias, foi uma cspecie de catecismo, o qual em breve se espalhou por loda a Hes- VM 0 INSTITUTO panha, deslinado para instruccSo da infaneia. — A rcli/jiao ao alcancc dos meninos. Oulra niaior obra, philosophica c thoologi- ca, que dfcvia fazer conhecer de todo o niun- do lilterario o modeslo ccclesiastico hespa- nhol, nSo tardoii em ver a luz. As LirOes sObre a liisloria da ciuUisacao no Europa.'ie Mr. Guizot, pelo modo, por que ahi e appreciada a inllueneia do catholicismo e do proiestantismo, produzira uma impres- sao funesla entre os liberaes hespanhoes, que seguiam os doutrinarios francezes. Por oulra parte a inQuencia ingleza, que lazia mover Esparlero, tomava cada dia mais facil 0 progrcsso da propaganda prolestaote. Balmes conlieceu este duplicado perigo: e com 0 lim de contribuir para o remover, com- poz 0 sen excellenle livro. — Do proiestantis- mo comparado com o catholicismo em suas re- lacoes com a civilisacSo eiiropeia. Persuadido da convcniencia de fazer co- nhecido, principalmenle cm Franca, urn ira- balho de tao elevada imporlancia, o editor hespanliol Taulo propoz a Balmes a publiea- cao simultanca de duas edicoes, uma em hes- panhol e a outra em francez. Com esle intuilo foi-se o auctor a Paris, aonde cnconlrou um excellente traduclor e admirador cm Mr. de Blanche-Ra/pn. Antes de regrcssar a palria, quiz percorrer a Ingleterra. 0 bom senso praclico do povo inglez fez sobre eile viva impressao: admirava prin- cipalmenle a tenacidade, com que este povo soubera conservar sens sentimentos religiosos sob agelada compressao da heresia. Pelo con- trario na Franca a frivola imprevidencia das raassas, e a indilTerenca das mesnias, inspi- rava-lhe profunda trisleza. A vossa sociedade (dizia elle a M. de Blan- che) e roida por uma molestia ainda invisivel para os vossos homens d'estado ; mas cujos effei- tos se revelarSo um dia em crises tei-riveis. A nossa Ilespanha, tao agitada pelos motins e pela (juerra, estd todavia em circumstancias de saude e seguranca infinitamente mais anima- doras. Tal era a linguagem prophelica de Balmes cm uma epocha ainda dislanle da grande crise polilica, por que tinha de passar a Franca. De volla a palria, conslantemenle occupado na niissao de escriptor politico conciliador, scm todavia abandonar os sens mais cliaros estudos, a metaphysica e a philosophia, c menos ainda as piedosas praclicas da mais pura e illustrada religiao, deu a luz a Arte de alcan- rar a verdade, philosophia practica, e seguida- menle a Philosophia fundamental, e logo um resumo da mesma — Ciirso elementar de philo- sophia. « Em lodo? estes escriptos (diz M. de Blan- 0 chc) faz-se saliente um cerlo character, que . Nao, responde Proudbon. « Eu nao consi- «dero, como sciencia, o lodo incoherenie de " Iheorias, a que ha perlo de cem annos se •' lem dado o nome official de economia poli- iica.))* Assim a economia poliiica dos eco- nomisias esta sentcnciada, tem de ceder o lo- gar a economia social de Proudbon, solucao iminensa, que elle oderece a Europa, que 'i cancada de guerra e de polemica, espera n 'neste momenlo um principio conciliador/)> Como se creara esse principio? Nascera da compenetracao raonstruosa da ibese, e da an- lilbese : de dois inimigos irreconciliaveis, a economia poliiica, e o socialismo? Algumas palavras de Proudbon, que mais longe Iranscrevi, nos auclorisavam esta espe- ranca. Mas por uma razao, cujo myslerio aiuda ale hoje nao foi rcvelado ao mundo scientilico, 0 reformador, pondo de pane este grande an- lagonismo, foi revolver a anlinomia, e com clla 0 movimenlo dialectico, no seio da pro- pria sciencia economica. Desde esle momenlo o socialismo deixou * Eod. pag. 40. - Eod. cli. Ill, pag. 114. do ser para elle um dos lermos do grande dualismo, e flcou limilado ao pouco glorioso papel de uma critica inconsequente dos factos colligidos pelos economislas. « Todo o seu va- lor, II diz Proudbon, » se reduz a ler demons- it Irado (jue a economia nao se juslilica, nein « pelos seus principios, ncm pelassuasobras.))' Geueralizar cm leis os principio parlicula- res descobcrlos pelos economislas, « eis aqui » 0 <|ue 0 socialismo deveria emprebcnder, se « tivesse querido obrar com logica.' « Mas em logar d'isto apenas se deu ao tra- il balho do indicar a conlradicijao das tbeorias II economicas, sem colber cousa alguma da II sua expericncia, ou da sua dialectica ; por- II que parece ser tao desprovido d'uma, como II d'outra.')) 0 que nSo quiz, ou nao podc fazer, o so- cialismo com uma existencia de seculos, que lem occupado grandes inlelligencias, vac lal- vez fazel-o de uma so vez o genio de Proud- lion. Elle nos provara lolvez que a economia poliiica e anlinomica ; como lal, incomplela; e por isso iucapaz de realizar a Ibeoria do bem-eslar material da sociedade. Depois im- |)ellira com braco de giganle esta massa iu- i'orme de antinomias, que os economislas tem amonloado, e nos veremos sair d'esse cata- clysrao moral a verdadeira sciencia, c com ella a ordem e regeneracao social ... Destntam el aediftcabo. Vejamos pois, como a economia poliiica conlem cm si os elemenlos anlinomicos, dos quaes ba de brolar a syntbese conciliadora. II Por um lado, « diz elle, » a economia poliiica « consagrando, etrabalhando para lornareler- <( nas as anomalias do valor, as prcrogativas « do cgoismo, e verdadeiramenle a ibeoria da iidesgraca, e a organisacao da miseria ; po- (I rem, quando expoe os meiosdescoberlos pcia II civilisaeao para veneer o pauperismo . . . <( « economia poliiica e o preambulo da orga- « nisafao da riqueza.'» Elle ja 0 linha dido 'noulro logar: « sc a II economia social e ainda boje mais uma as- « piracao para o future, que um conbecimenlo « da realidade, deve tambem rcconbecer-se II que na economia poliiica exisiem todos os « elemenlos d'esie csludo . . . Consideremos II pois a economia poliiica uma carapina ini- II mensa, alastrada de materiaes para um edi- II ficio.")) Eis-nos pois no caminho do novo mundo. Sigamos avanle. Vejamos qual c o principio fundamental da anlimonia ; o cir- culo maximo da dialectica economino-polilica, que abrange c sustenla todos os oulros. Este circulo, este principio, e o valor ; por- que elle, como diz Proudbon, e concordani • EoJ. ch. I, ^S 2, paj. G4. ^ Eod. ])ag. 53. • Eod. ' Eod. ch. II, ^ ?„ pag. 111. ' " Eod. ch. I. i. ■i, paj. GO et 61. 0 INSTITDTO 133 lodos OS cconomistas, e « a pedra angular do ediGcio economieo » ou, conio se exprime Basliat : « a thcoria do valor e para a econo- « mia polilica, o que a nnmerafao e para a « arilliniclica.)) « 0 valor « diz Proudhon » appresenla duas « faces: uma que os economislas cliamara va- « lor dc uso, ou valor em si ; oulra valor de -* OO -J Existiam s o s n z OD > O CO 9 S S » e a *» ot «*■ CO Entraram CO CO ot te Sairam t9 CO l»* <= Morreram P 1-^ 05 OO Ficaram exis- tindo a si » 1-^ 1-^ 1-^ o Existiam 3 s s CO o CO h-* Entraram 9 B QO ii -a >&^ zr. ts ta tf M Ui ts ^ '-a ■»■ ^ ?? =5 ^ (a, 00 CO H^ ta w ^ (X » l-» o. Sairam 9 a e e § B e a 1-^ >-A ta o Morreram OO o 1-^ Ficaram exis- tiodo be CO CO 05 CO Existiam w o r a a s ■J o CO OS o» o Entraram m ao OO CO OO ts ot Sairam Hk o ^ik I-* Morreram OO CO CO OS Ficaram exis- 1 tindo k ® Jn0titttt0 JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO 0 l.° DE OUTUBRO 0 I.°(le ouluhro e urn dia solemne na vida de Coimbra ; c em Deus esperamos, que o continuara a ser por longos seculos, por que as mui graves consideracoes lilterarias, nioraes e politicas, que pugnam pela cooservacao da universidadc 'nesla cidade, nao lardarao em deixar de poder contrap6r-se as mais especio- sas, que solidas, da conveniencia de sua irasla- dacao para a capital. Uma de duas, ou Portugal sera relegado da communhao europeia para a dos beduinos na Africa, ou em breve suas pequenas dislan- cias desapparecerao, e Coimbra sera como um arrabaide de Lisboa. Estes veihos ciunies dos litteratos nao academicos ; estes invete- rados odios dos que sofl'reram aqui alguma, por certo diminuia, pena de seus desvios; eslas insollridas ambicoes de honras e proveilos, sera fadiga, no gozo dos tbeatros eassembleias, per- derao entao esse pretexto ; e niais uma vez o tempo, que desbarala os pequenos edilicios, cujo poarrebata o vento, tera passado respei- toso pelo soberbo nionumenlo da sabedoria de outras eras, consagrando-o em suas mcsmas indispensaveis, mas nao radicaes, successivas e relleclidas, Iransforraacoes. Mas nao era d'essas velhas questoes, que nos haviamos proposto falar. A opiniao pdbiica bem representada a lal respeito nos dois jor- naes politicos de Coimbra, emelbor nas dilTe- rentes manifeslacoespacilicas e rcpresentafoes quer da universidade, quer do povo, tern ganho a causa sem liaver mister do insignibcante concurso de nossa pcnna, semprefraca, espe- ciaimente em questoes do dia, mais ou menos embaracadas na poiilica. A rigorosa moralidade, agravidade e exac- fao dos profcssorcs em suas espinhosas func- coes ; viver aqui uma vigorosa vida litteraria, nao vegelar somente; obedecer na carreira das lettras as imperiosas necessidades de um conslante c rasoavel progresso, esforcar por mereccr a mais plena conlianca dos paes que llies conliaui nao so a instruccao, mas boa parte de educagao dos filhos; bem merecer emfim da religiao e da palria, — eis, em nosso humible intender, as mais fortes de todas as armas que nos podem segurar o triumpho 'nesta porfiada contenda. 0 1.° de oulubro, diziamos nos, e um dia solemne para Coimbra. Professores e alurauos volvem aos cstudos interrompidos ; regressam asfamilias, que o verao afugentara; o nego- ciante e o artilice saiidam seus freguezes, que Ihes trazem o moviraento e a vida. Ao silencio Vol. I. OuTUBno 1 succede o borborinho, a solidao a sociedade, a inercia a agitacao. Qual a primavera, que, depois do carrau- cudo inverno, aninia loda a natureza, e entra acompanhada de animadorasesperancas, o 1/. " de outubro e um dia do (lores, um dia de alento e d'esperancas, para Coimbra. As do interesse material deixamos nos para aquelles que se votara aos tao modestos, coma uteis e nobres, trabalbos da industria; e as dos folguedos a mocidade jovial e prazenteira, que cada anno traz, de niistura com as sauda- des dapatria, projectos denovos prazeres. As esperancas das sciencias, e das lettras, as de vida e progresso para a universidade, e para oinstituto, sao as unicas que nos cabe inves- tigar. A universidade devera ser uma escbola de religiao, de moral, nao menos do que de scien- cia. Sel-o-ba este anno? 0 Insiituto-sociedade apcnas comecava a organizar-se, quando succedeu a inlerrupcao dos estudos. Recebeia o desinvolvimento que promettia, e de que e digno? 0 Instiluto-iorDSil, condemnado por uns, porque e por extreme scientilico, e por outros porque nao ebastanie, vencera o destinofalal dos jornaes de Coimbra : proseguira, ou ler- minara sua carreira? De esperancas litterarias e scientificas qui- zeramos Icrniuitas; mas como, depois de dois annos de trabalbos frustrados dos mais distin- ctosalumnos, de triumpho barato para os mais descuidados, de estudos interrompidos muilo antes do ponto devido, e de quasi meio anno de ferias? ! Volvem uns desanimados, os outros espe- rancosos em novos perdoes (e por que nSo? quem cuidava nos anteriores?), e todos desba- biluados. E possivel porem scnao curaro mal inteiramente, abrandal-o muito; e ao illustre chefe da universidade, e aos benenierilos pro- fessores, cumpre, e sobre suas consciencias gravemente carrega, Iraballiar para que assim aconteja. Todos sabem, como lora nao so ex- cusado, mas alrevido arrojo de nossa parte, inculcar de que niodo. Conlinuarao as sebentas? quer dizer, conti- nuara a trocar o maior numero dos alumnos jurislas 0 indispensavel estudo de seus compen- dios e das obras magistraes, que oselucidam, pela tomada de cor d'uma suja papeleta, que oagiota-alumnoautographou apressados apon- lamentos tomados durante a expositao do pro- fessor? Receamos que a molestia nao diminua. Ajuda-a o grande lucro dos empresarios, a preguica que favorece em muilos dos alumnos, — 1852. Num. 13. 136 0 INSTITUTO e a falla talvez d'uma coiubinasao c energica decisao dos professores. Uoidos em uni so pcusamento, animados e auxiliados pelo prelado, podem ludo ; discordes, nenhum querera tomar sobre si o odioso de uuia medida, que, posto que justa, vai d'en- contro a interesses pccuoiarios, e ao habilo de inuitos annos. Se OS curses juridicos fossera mais pequenos ; se nao fora indispensavel fazer esforcos por ouvir mais de doisalumnos por dia, para que, na volta de cada anno, cada um lenha occa- siao de falar ao nienos duas vezes, as sebenlas cairiam na lucta de variase multiplicadas per- guntas, substituidas a recitaf ao das lif oes. Mas essa lao grata esperanca, que principiava a rea- lizar-se, desvaneceu-se ; o bimeslrc de 1832, e por veolura o luez de outubro, prometle nova e extraordinaria inundacao d'aiumnos, habiii- lados pelo lyceu para os cursos maiores!! Fortes com a consciencia da verdade, e com a justica da causa, ousamos envidar a atten- i;ao sobre estes graves ol)jectos. Pela obediencia prompla e facil da raoci- dadea quaiquer providencia acertada, ficamos nos, se, como nao pode deixar de ser, sua prudente execucao for acompanbada da deii- cadeza ecorlezia dasfbrraas, que tanto captiva OS coracOes bem formados. Dezeseis annos de aturada experiencia nol-o altestam ; que nin- guem ouse culpar deante de nos a joventude academica de turbulenta, desapplicada, insof- frida edesobedienle; porque argumentar-ihe- hcmos com todos esses annos, nas epochas as maiscriticas, ena maiordiversidadede numero, genios e inclinacoes dos ouvinles. E sirva esta ultima observacao, para quern querqueler este jornal, impressionado de cer- tas fabulas, que contra a universidade se con- lam a distancia de Coimbra; porque a expe- rincia, que nosaucloriza, cousa ncnhuma tem dc excepcional. Muitas e grandes esperanjas litterarias nu- tririamos nos, se o goviirno, attendendo ao ve- to, repetidas vezes manifestado, da quasi una- minidade do magisterio, decretasse o projecto de reforma, elaborado longamente no claustro, e nnii prudente e sabiamente reduzido aos pon- tes capilacs pela cx)mmissao de instruccao pii- blica da camara dos senhores deputados. Com 0 concurso.substituido a incfficaz e des- astrosa longa opposicao; com a conderanacao da agiotagem dos proprietaries ; c com as mais medidas, que o projecto encerra, e as uecessi- dades do ensino reclamam, todas porem infe- rioresemimportanciaaquellasduas.cremosfir- memente, que a universidade, ate hoje oppri- mida eamargurada com a legislacao dos regula- mentos, e assombrada pelo descredilo das habi- litacoes preparatorias, recobrara novos alentos. Oulras fora mister, em nosso hurailcle inten- der, acrescentar as propostas. Por emquanto aponlarenios somente uma, desde longo tempo reclaroada pela moral, pela justiga, c pela honra da universidade. 0 juizo de costumes nas informacoes flnaes, puramente inquisito- rial, sem provas, sujeito a todo o genero dc paixoes, sempre desegual e deante do qual treme com justa razao a consciencia mais pu- ra, nao tern actualmente lado algum favoravel para se sustentar. 0 professor escrupuloso, mas que nao desce a baixeza de se aconse- Ihar com espioes, condemna muitas vezes a devassidao, que se Ihe metteu pelos olhos, ao niesmo tempo que absolve outro alumuo mais immoral, porque nao succedeu ver, ou ouvir com verdade, a historia de seu proce- dimcnto! 0 juiz, apaixonado como homem, escravo de infestas, e muitas vezes injustas, impressoes, arrisca-se a ferir o innocenle a sombra de um escrulinio secreto entre raui- tos julgadores! E 0 governo, nao tomando em conta taes julganiuntos, submioistra mais um argumento contra sua continuacao. A origera de graves imraoralidades accresce a mais reconhecida inutilidade. Ao prelado, chefe da policia aca- demica, pertence subniinistrar ao governo to- das as necessarias informacoes do procedi- mento moral dos baehareis habililados: o pro- fessor nao tem inspeccao, possivel e regular, senao dentro da aula. Quaesquer que sejam as providcncias do governo, em beneficio da universidade, ou ainda mesmo, o que nao esperamos, que se mostre indifferente a tamanhos interesses, c a tao urgentes reclamacoes, temos fe, que cada uma das faculdades proseguira, dentro dos limiles das leis acluaes, no caminho de constantes mellioramentos litlerarios, de dis- posicao e encadeaniento de disciplinas, refor- ma de compendios, e aperfeicoaraento de rae- thodos. Limitando-nos a faculdade de Direito, ainda que a reduccao das duas cadeiras do canonico a uma so, elementar, encontre gra- ves inconvenienles, resla-Ihe esse meio, duro c custoso, mas unico, para na falta de me- didas Icgislativas, completar o quadro de sens estudos com o de direito administrative, eco- nomico e tiuancial portuguez, mui facil alias de ser lido desde ja, prempta e distinctissi- mamenie, se o benemerito professor de Direito Criminal, a cuja cadeira aquelle ensino esta annexado, quizer encarregar-se da nova ca- deira. 0 direito publico universal, bem como o commercial, aquelle ainda agora lido pelo in- sufDciente Macarel, e este pelo indigesto codigo de F. Borges, carccem de mais apropriados compendios. 0 antigo, defeituosissimo, par- cialissimo, e a todos os respeitos, de materia e de forma; o menos corapetente dos compen- dios da universidade, as instituicOes de Gmei- ner, eontiniia no ensino do direito publico ec- clesiastico. Rcspeitando os motives d'esla con- servacao, apezar de os nao approvarmos, con- 0 INSTITUTO lS7 linuaremos, em publico e parlicular, a pii- gnar, como ale agora, pela absolula rejeicao d'esle livro fastidioso, superGcial, e as vezes inepio; 0 qual, ainda luesmo cxpurgado dos erros que o fizeram entrar no index, nao pode escapar da mais benigna ccnsura, nao so da sciencia, mas ale do bom sense. Verificada a transformacao da cadeira de liisloria de direilo era de — encyclopedia de jiirisprudencia, tonforrae esta deliberado e proposto, e forcoso curar de escolber para clla um adequado compendio; e nao falta por on- de. A excellcDle obra de Den Tex, encyclope- dia juris prodentiae, scria lalvez merecedora da preferencia. Ainda mesnio, conservada a bistoria como objeclo exciusivo d'esla cadeira, parece-nos que a obra de Martini c inleira- inenle iiiadequada para um curso, que nao e, nem pode ser, senao de bisloria exlerna, e suramamente elemenlar. Perlence aos nieilioramenlos littcrnrio*, lor- nar mais accessivel a enlrada da bihliotheca. A bora das duas da tarde seria boa para o tempo, quasi geralmonlc monastico, em r|UL' se janlava das onze ao nieio dia ; c nem mesmo 'nesse tempo. As melboros boras do consullar OS iivros sao as da manban ; e e enlao efle- clivameiUe que nem os professores, antes ou depois do suas aulas, nem os alumnos, em boras livres, encontrani accessed l)ibliotheca. A bora, cm que esla patente, e exaclamenle aquclia, em que a maior parte da nniversi- dade janta, ou descanca sobrc o janlar! E ale quando conlinuarao a ser pasto dos vermes os mais de cem mil volumes, arma- zenados no collegio das arles?! . . . Sabemos que a universidade nao tern culpa alguma 'nesle vergonboso abandono. Sem meios nada se faz. Todavia pedir, inslar opportuna e im- portunamenle, e applicar com preferencia para estas graves necessidadcs litierarias quaesquer sobejos, pode e deve fazer-se. Do melboramenlo moral e religioso, prou- vera a Dens, que o anno de 183"2 — jIJ desse boas c seguras JicOes aos seguinles. Que para nos e ponto incojitroveiso, que a niOLidade acaderaica actual excedc, a muilos respeiios, a de oulros tempos de maior severidado ap- parente; todavia lia escaudalosde alguns, quo deveriamatalhar-sc,porqueon'endem altamen- te a moral piiblica e o crcdito da academia. Conlinuar-sc-bao a ver publicas mancebias nas ruas mais publicas?... SolTrer-se-ba ainda, que o Iraje acadcmico se converta cm um mixlo, menos que burles- co, de batina com panlalonas, de gravalas em logar de cabecao, etc.?... Proseguira a frequencia dos covis do jogo de azar?... Bem sabemos que o segundo d'estes defei- los e para o primeiro, e ainda mesmo para 0 ultimo, como ni« para cem. iSole-se porem, que die revela cerlo desprezo da cslima pii- IS blica, certa falta de cducacao e gravidade, cerlo dcsvergonhamenlo, que abrc o caminho para aquell'outros, de mais escandalosa disso- iucao. E lodos elles, muilo nos enganamos, se nan sao de nalureza para cederem facilmente a cxtrema corlezia, afTabilidade e demonstra- fao de amor paternal, com que o actual sr. vice-reitor da universidade sabe veneer as maiores repugnancias, e prender os animos mais rcbeldes. Visio que falamos de molestias moraes e religiosas, seja-nos relevado lembrar a facul- dade de Theologia os sermoes ou conferencias cspiriluaes, que, antes de 1834, se faziam as quarlas e sexlas feiras no tempo da quares- ma, na capella da universidade, pelos dou- lores d'esla faculdade. Exallar sua imporlan- cia, ou antes sua gravissima necessidade na cpocha presente, e perfeilamente excusado. Sua reiiovacao e reclamada por quanlo lia de mais sagrudo, desde a educacao moral dos alumnos ale ao crcdito e bonra da faculdade, lioje abundante em dislinctissimos oradores, ricos de muita e solida sciencia, de viva elo- qiiencia, e de profundo senlimento das neces- sidadcs cspiriluaes da academia ; e (o que tambem e muilo) possuidores da conlianca e boa opiniao dos mancebos, promptos a acu- dir a ouvil-os en> loda a parte. Agora do Institulo-sociedade. .Scus estatulos foram entregues em Coimbra ao prcsidente do conselbo dos mioistros, para subircm a regia confirmacao. Os regulamen- tos inlernos iam a entrar em discussao, quando a direccao, pela ausencia de muilos de sens membros e demissao d'alguns, se dcsorganisou . Reconstituida em breve, e muilo d'esperar, que OS bem combinados esforcos dos novos direciores imprimam a esta bella associacao 0 niovimenio necessario. ReuniOes periodicas, e reDcctidas discu;- sOes scicnliticas, recitacoes de prosa e verso, e outros trabalbos analogos, poderao mostrar que a llor da academia conbece e apprecia o espirilo de seu lempo, e esta em eommunbao de luzes com os sabios das oulras nacoes. A sorie d'esle jornal depende da forluna da associacao. Scis mezes de duracao, em epo- clia morta para as fadigas litierarias, c dis- perses scus collaboradores ; sels niczes da mais rigorosa ponlualidade em sua publicacao, sem- pre anterior aos dias fixados; e isto sem o incenlivo do menor interesse pessoal, nao so da rcdaccao, mas da cuidadosissima adminis- Iracao, lazem-nos csperar, que o 1 .° deoiilu- bro Ibe trara cerleza de continuacao, e nao menos de imporiantes mcllioramenlos. 0 Insiituto nao perlence a uma so das clas- ses, que compoem a academia : e dos alumnos e dos professores; mais ainda, c de todos os bomens de leltras nao acadomicos, que dcse- jem illustrar suas eolumnas. lis 0 INSTITUTO Mas, se a alguma dasso mais parlicular- iiiente pertence, e a da nobre juveniude uni- vcrsilaria, a llor da acadeiuia. Seu honrado pundonor nao dcixara que elle desfulleca. Circunistancias imperiosas nos obrigaram, ao coiiierar um c outro Institulo, sociedade e jornal, a tomar parte, com prejuizo de mui- las c penosas obrigatocs doniesticas e publi- cas, cm sua gerencia ; houvemos do ceder a instancias obsecjuiosas, porque nos represen- laram esla annuencia como condicao indis- pensavel para, 'naquella occasiao, se dar prin- cipio a obra projeciada. Essas circunistancias cessaram; prevalecem as obrigafocs. J.i niio fazcnios parte da direc- cao da sociedade; e com o niimero 13.° ler- minaremos a que nos fora conccdida na re- daccao do jornal. Conservando a qualidadc, que muito nos prezamos, de coilaborador, jamais deixaremos dc nos intercssar por elle. a. fobjaz. (Traduci^ao da VI medita^ao poetica de Lamartine.) Can^ado de soffrer, sem liiz d'esperan^a, Nao irei invocar submisso a sorte; Bosque da minha infancia, da-me asylo De uni dia su, onde eti agnarde a morte. Eis o atalho, que leva ao valle escuro : Deosa foUiA^em, que da encosta pend** Cnizaudo subre mini a sombra espessa. Do bilencio e da paz o manlo extende. Dois lejjatof serpeando pelo valle, VTio sumir-se nos lufos dc verdura, E perder, juncto a orijxera cryslallina. Sen noQie, e o som da lympha quemurmura. Do3 meus dias tambem snmlu-se a vela ; Tambem passon sciu nome e sera ruido ? Mas niiO foi de crystal ; — n'alma turbada Xunca um dia formoso me ha luzido ! Da.s acuas co' frescor, co^a sombra amen», Dos legatos a beira o tempo esquece, Mual nienino da mae acalenlado, Minh'alma ao seu murmuriu adormece. Entre a folhajrem densa acaslellado, Horizonte, que basta aos olhos mens. Alii vou encontrar^ d'alli soziiiho, L'onlerapio o valle, e o rio, e o boaque, e os ceus. \i muito, muito amei, muito hei seatido; Do Lethes quero a paz provar em vida; Lindas marg:ens, trazei-me o esquecimento, 'Nellea minha venlura estd contida. Repoiisa o peito meu, socega o espirito, Os ruidos do mundo aqui feneeem, Como OS sons, que aos ouvidos traz o venlo^ Qu'incertos na distancia se enfraquecem ! Entrc nuvens d^aqui conteroplo a vida Na sombra esvaecer-se do passado; Sumente o amor ficon, qual viva imagem. Que fica apus um sonho ao despertado. Descancemos, minh'alma, 'nesle asylo, Como o viandanle, que d'esp'rani;as arde, Se assenta, antes de entrar na terra amada, A re.^pirar os balsamos da tarde. Dos nossos pes tambem o po se limpe; Aqui doi homens nHio se cruza a estrada; Auras, que a pallia elerna nos rcvelam, Respiremos ao cnbo da Jornada. Sombrios, curios, quaes dii oulomno 05 dias. Oi teus se v5o tornar em sombra escura, So, sem amigus, que de ti se doam, Vas teus passos guiaodo u sepultura. Somente a natureza te abre os feios, Te oiTerece duce allivio as agonias, Tudo c mudavel, ella e sempre a mesmn. E espaiha o raesmo sol s6bre os tens dias. De luz e sombras ella te rodeia : Kho lamentes os bens que has perdido, Adora o echo, que adorou Pythagoras, Em celeste harmonia embebecido. Segue o dia no ceu, na terra as sombras, Co a tempestade pelos ares voa. Do sereno luar c'os brandos raios, Por entre os bosques, placido te escoa. Creou Deus n penaar para adoral-o, Eil-o nas obras suas revelado, Ao espirilo uma voz bem forte grita — Em que peito essa voz nao ha soado ? ! SCENAS DA VIDA DOS ARABES I No dia seguinte, as dez horas da manhan, achava-rae eu nas vaslas planicies da Cappa- docia. 0 caior era excessive. Dirigi-me para um grupo dc lendas negras, que divisei a pequena distancia do caminh* que seguia, a pedir bospitalidade. Um Turconiano saiu ao nosso enconlro, e disse-nos com bondade: « Enlrae na niiuha icnda, viajante: as ben- r.aos do ceu descam sobre v6s!» Aicmeda (era o nome de nosso hospedeiro) extendeu no ch3o umas esleiras de junco, e fez-nos signal que nos assentassemos. Segui- damente poz deante de nos uns paes molles, e uma taca dc pau cheia de leite de vacca. Durante a comida nao nos disse uma pala- vra. E antigo costume oriental, lieinienlesegui- do por esle povo de pastores, nao pergunlar aos viajantes d'onde vem, e para onde vao. senao depois de ilies ter offerccido de comer. Pouco depois appareceu um velho, que mal se sustinba sobre um bordao de carvalbo. Cumpunba-se todo seu trajed'uraa camisa par- da, apertada a cincta poruma corda, lurbante verde, e sandalias de coiro. Unuis barbas de deslumbranle aivura de.-;- ciam-lhe niajestosamenle sobre o peito descar- nado. Os oibos negros, ainda cheios dc fogo, eslavam encovados em suas orbitas. Seu rosto, summamenle expressivo e coberlo de rugas profundas, estava horrivelmente descarnado. Esie homem chamava-se Osraan; era pae de Akmeda. — Como lem os annos curvado tua cabeca, 6 anciao! disse-Ihe eu, approximando-me. n Sim, respondeu elle, minba cabeca incli- 1 nou-se. — Depois tornou, surrindo-se : 0 INSTITCTO 139 » Perdi a mocidade; e e para a procurar, que assim ando abaixado para a terra. » Ostnan perguntou-mc depois e edade, e o nome da aideia, aonde nascSra. Salisfil-o cm todos esles pontos. — Ser-me-ha permiltido, disse-Ihe eu depois, perguntar o numero de leus annos? «Ah! respondeu Osman, sou muilo velho, maito vciho! Minhas forcas diminuem cada aurora ; e brevemente deixarei de ver nascer 0 sol alras de nossos monies. Os trigos de uossas planicies ifim caido conlo e vinie vezes debaixo do foucinho do ceifador, dcsde o dia em que minlia mae me deu a luz. Entre os Ulcus anlepassados alguns houve, que deixarara cste raundo 'numa edade mais avancada.D Assim falou o velho. Vendo-o e ouvjndo-o, parecia-me ver e ouvir Jacob, dizcndo a Pha- rao: « Os dias de minba peregrinacao sao de « cento e irinla annos, curios e maus, e nao elie- « garam aos dias demeus paes, aos dias de sua « peregrinacao. » Despedi-nie d'esla familta, quando o sol desappareccra nodisiante horizonte. Nao pode- mos fazer-Ihe acceitar o preco da doee iiospi- talidade, que nos havia dado. « Os pohres e os viajantes vum de Deus, disse-me Akmeda- Quando recebo o pcrcgrino ou 0 indigente na minha lenda, nao o faco para haver seu dinheiro. (I Adeus! proleja-le o ceu em tcu caminho.» II Para alem do Taurus, no paiz da antiga ChaldSa, aonde vivia Abrahao parei uni- dia, a beira de um caminho, junclo de um poco, para descancar. Eslava no grande deserto da Mesopotamia, que se extendo desde Edessa ale as fionieiras orientaes da Syria. Unia rapariga arabe, pertcDcente a unia tribu acampada entao a pequena dislnncta do iogar, cm que me achava, chegou no poco, irazendo seu canlaro deharro sobre o honibro direilo. Era formosa csta liliia do deserto, com sua alia estatnra, pone nobre e allivo, longas trancas negras, entremeadas de pequenos se- quins (moeda arabe), c veo azul, fliicluante s6brc OS hombros; e com sens grandcs olbos preios, e seus denies, brancos como perolas. Seu rosto, posto que queimado polo caior do sol, era cheio de graca c de frescura. Trajava veslido azul, apertado com um ienco amarello. As largas mangas d'eile estavam apanhadas para o pescoco ; e viani-se-Ihe pui- ceiras de vidro azul em volta dos bracos niis. Vinha descalca. Pcdi-Ihe agua. Dirigiu-se para raim, poz o cantaro sobre o braco esquerdo, e convidou-me a beber, voltando acabeca paia o ouiro lado; porqne as nvulheres arabcs niio coslumam olhar de frcnte para um homem. Depois a moca beduina tirou agua, e encheu as pias de pedra para saciar nossos cavallos. Vendo esta filha do deserto, poderiaeu dei- xardepensarna filha deBeihuel, em Rebecca? E por isso com que doce alegria nao abri entao o livro, e li a seguinte passagem do Genesis! « E como Eliezer fizesse descanjar seus came- i( los junto a um poco, pcia larde, a hora em « que as mulheres coslumam sair a buscar « agua, viu sair a Rebecca, irazendo umcan- « tare sSbreo hombro. Era uma donzelia, cheia « de pudor, formosisssima, e desconhecida de " todo 0 iiomem. Ora Rebecca havia descido « para a fonte, enchera o cantaro, c lornava (tpara sua casa. E Eliezer dirigiu-se para ella, «e disse-Ihe: Dd-me tuna pouca d'agua pant a beber do teu cantaro. Ella respondeu: Bebei, n meu senhor. E desceu promptamenle o can- " laro sobre o braco, e deu-Ihe de heber. E « logo que elle bebeu, tirou agua para todos « OS canielos. Eliezer contemplou Rebecca, e « e viu que sua viajem havia sido abcncoada.» Esta sccna, que n§o posso mais que indicar 'neste logar, eadmiravel para se leremqual- quer paiz da terra ; mas, recitada no meio do deserlo da Mesopotamia, no paiz de Bethnel, na presenca d'nma rapariga, cujo traje, garbo c costumes, tiio completamente rccordavam a Rebecca, revestia-se d'um character de divina poesia, que arrebatava o corajSo. Ill Uma larde estava eu debaixo da tenda de Pharah, chefe de uma das mais importanles iribus do deserto. Esla tenda tinha dez melros de comprimento, sobre tres a quatro de largura. No meio d'ella estava uma grande fogueira, formada de tojos e estrume de camelo, secco ao sol. Uns qua- renla beduinos, de todas as edades, estavam a roda do brazeiro ; alguns nieio-deitados, com as cabecas encostadas sobre as maos direitas, e fumando nos cacbimbos ; outros assentados sobre os calcanhares, e levemente curvados sobre o fogo. Eu contcmplava 6slas bellas cabecas, enca- necidas pela edade, ou cobert-as de espessos cabcllos negros, que Ibes caiam sobre os hom- bros. Suas nobres tesias, seus olhos pretos, seus narizes aquilinos e seus denies brancos, desenhavam-se, como phantasmas, atraves do vacillante clarSo da fogueira. Por cima d'eslas soberbas figuras d'homens, apparecia um circuto de cabecas de camelos, que, extendendo os pescocos, olhavam com olhos immoveis para o brazeiro. Era um quadro curiosissimo. Falava eu com o Cheik sobre a exislencia de Deus. « Sei que existe Deus, dizia-me elle, como sei que um homem, ou um camelo, passou pelo caminho, quando vejo suas pegadas na liO 0 INSTITUTO areia : a terra com seus monies, com sens rios, com suas arvores, e seus iiiDumeraveis enles vivos, e as produccOes que os alimeatam ; a succcssao de nolle e dia, a ciiuva quedesce das nuvcns sobrc a terra, a mudanca dos ven- los e das cslacoes, e lanlas oulras niaravilhas que nao sei dizer, sao, aos ollios de lodo o liomeni de boa fe, evidenlcs signaes da exis- tencia do Deus.u — Esia demonsiiagao da exislencia de Dcus eadmiravel, disse eu a Pliarah. Escula agora OS canlos de um prophela, que vivia oulr'ora no paiz de Jerusalem : — « Foi Ueus que mediu « as aguas com o seu punlio, c pesou os ceus •I com oseupalrao; quesuslenla emlresdedos II toda a massa da terra. Seu ihrouo e o ecu, -se desarranjadas' e modificadas pela diorite, em quanto que as camadas de gres e poudings devonianos, nao affectam a mesma ligcira modiliearao nas vizi- nbancas d'esta rocha, qucr na continuidade das camadas, quer na sua direccao, que 'nesle local e ate certa distancia ruraam de N. a S., em quanto que o piano, onde obraram as forcas eruptivas, corre de S. 38° E. e N. 3o" 0. (coincide com o eixo maior da bacia silu- riana proximamente.) Segunda. — A erupcao da diorile, devendo ter sido forcosamente submarina, para poder ler logar a assimilacao dos reslos animaes aos productos incolierentes da erupcao depois de It4 0 INSTITUTO claborados pclas aguas, e dar em rcsultado a argillolite fossilifera; csle mar, segundo a di- recjao da linhaque une ospequonos deposilos de diorile e argillolite (N. 330° a S. 35° E.), ou pelo I'aclo de se acharem dentro da bacia siluriana, deveria ser neccssariamenleaquelle, era que leve logar a lormajao dos stralos si- lurianos, alias iramensamenlc discordanle, e scparada porgiaiides massas de schistos crys- lallinos d'aquelle, em que leve logar a for- inacao dos gres e poudiogs dcvonianos. ferccira. — Observaodo algumas camadas inferiores do deposito devoniano reconhece-se 'uelles alguns fragmentos csplieroidaes d'uma subslaneia argillosa, avcrmelliada, com ponlos d'um verde dcsmaiado, teiido a inaior analo- gia e similhanca com os globulos ou rins de diorile allerada. Ve-se por lanlo, queos stra- ws dcvoninos nao sofTreram o menor dcsar- ranjo nas camadas, nem a mais leve raodili- cacao nas suas direccoes em virtude da accao da diorile, nao obslanle a sua vizinhanfa, em quanlo que por outro lado nao era possivel, que as aguas abandonassera as paragens dos slralos silurianos, em quanlo, ou durante, que se fazia o deposito devoniano, para vol- larem depois precisamente aos mesmos lega- tes antigos, a fim de ler logar a assimilajao dos novos restos animaes aos productos inco- herentes da erupgao, e dar em resultado a argillolite fossilifera : por consequencia julgo nao se podera por em ddvida a antiguidade da diorile c argillolite sobre o deposito devonia- no, nao obstante o caso anomalo acima refe- rido, que pode ser explicado por causas poste- riores ; nem mesmo a presenca de grossos fragmentos d'uma especie de conglomerado, alterado pela accao ignea, que apparece no Porto de Sand' Anna entre uns pequenos cabe- cos d'argillolite, que, a primeira inspeecao, parcccm perlencer as camadas devonianas, masque, inelhoraveriguados, sao uma brecia ou brecha de pequenos fragmentos de quarlzite mais ou menos angulosos, e que pertence ao systema siluriano, porque se observa que se prolonga ate as vizinbangas da Porlela de Loredo no Cabeco do Minliolo. Os restos de vegetaes, que remello, perten- cem, como v. s.° vera, a cpocha do coal for- nialion, embora as rocbas, d'onde se collie- ram, devam arranjar-se no systema devoniano ou mais anligo : ao systema devoniano as le- nho referido, e nao lenho, por em quanlo, factos de primeira oidcnj, que me levem a collocar este deposito arenaceo em logar mais recente da escala geognosiica ; todavia nao deixarei em silencio duas observajoos, que me fazem suspeitar d'a sua edade ser um pouco mais recente : A primeira e — que todas as vczes que '7ium mesmo local concorrem dois deposilos dogrande periodo de Iransicao; por exempio, os syslc- nias cambrio e siluriano, o siluriano e devo- niano, ou etc., a discordancia entre os sens stralos e tao ligeira, e iis vczes tao imper- ceplivel, que para delerminar o piano geolo- gico ([ue OS separa, tern de se recorrer aos characieres mineralogicos, e as vezes nem estes mesmos dao o conhecimenlo do que se busca. Ora aqui a discordancia entre os sysle- mas siluriano e devoniano e tao pronunciada, a natureza dos deposilos coutrasta tanto em sens cbaracteres, que ba lodo o logar a crer, que um grande intervallo ou lacuna os separa ua escala geognosiica; ou seremos for^ados a admittir, que rapidas convulsoes succede- rani immediuUimenle a formafao da argillolite, que, modilicando a forma physica d'esta parte do paiz, deu logar a prompta nuidansa das costas e dos mares, c immediala disposicao das camadas devonianas. Segunda, — o carvao dos pequenos veios do pofo de Sancla Christina, aquelle que se en- conlra em bolsas dentro dos gres, etc., e um carvao gazoso, gordo, coullanl, enlumecendo- se sobre as brazas ardenles, e dando depois da combuslao um bello coke : tem-se obser- vado que os anlbracites enconconlram-se s6- mente dcsde o systema siluriano inferior ate ao Mountain livre stone, e o carvao que da coke, so apparece d'esta ultima formacao para 0 coal formation. Ora se o estado anthraxifero dos carvoes antigos, como pensa M. A. Burat (De la Houille, Paris 18B1) e um raetamor- phismo contemporaneo, devido a causas ge- raes, cuja intensidade decrescenie explica a gradagao dos antraciles vilrosos do systema siluriano, ate ao carvao gordo do coal forma- tion; parece que nao havera meio, de dar conta da apparigao de carvao gordo 'neste de- posito arenaceo, que ate aqui temos chamado devoniano, sem que o colloqucmos'nuuia epo- cba mais vizinha do coal formation ; lanlo mais, nao havendo factos ou cbaracteres geo- logicos, que reclaniem contra esla mudanca. Agradefo niuilo a v. s." as prudentes refle- xoes, que se dignou fazer-me sobre a minha pretensao d'enconlrar carvao naBeira. — Peco porem a v. s." mais um bocado de paciencia para algumas considerajoes, que sobre cstc mesmo objecto passo a fazer. 0 systema siluriano porluguez, bastanle desinvolvido nas provincias do norte, acha-se, pela maior parte, descoberto e encaixado nos macissos de schistos crystallines e rocbas gra- uiticas da Beira, Minho e Tras dos Monies; e em quanlo esta regiao ao norte do Vouga se emergia, e se lornava inaecessivel aos de- posilos immediatos aos fossiliferos primeiros, 0 contrario succedia a parte do paiz mais ao sul, em que os macissos de schistos cryslalli- nos e argillosos e o systema siluriano do Bu- caco (parte), se deprimiam e recebiam novos deposilos, formando na direccao geral de N. a S. OS litoraes dos novos mares. CoiUinia. CARLOS niBEIRO. (D 3njstitttt0 JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO INSTRUCQAO PRIMARIA 0 sr. F. A. de Caslillio, cujos iniporlanlis- simos, aturados e singulares servifos a ins- trucgao popular, leiiiajuDclado maisuma pero- la de inesiimavel valiaasua ja lao rica c bn- Ilianle corua lilleraria, accusando a recepjao do diploma de socio iionorario do Inslituto, e promettendo por essa occasiao a redaccao d'este jornal sua coadjuvaoao, dignou-se coni- inunicar-lhe ao niesmo tempo o eslado deseus iililissimos Irabalhos, e as hem fundadas es- perancas dos mais prosperos resullados. 0 incansavei amigo e proraolor da inslruc- cao popular lem na propria casa (palavras suas) — « das cinco e nieia ale as seie, ou sele e meia da noite, um curso normal; e das oito e meia ale as dez, ires aulas de um curso ordinario: os scis asylos d'infancia desvalida, lodos a ensinarem pelo nieu melhodo; e por conseguinle, necessidade egosto deosvisiiar. « Tenho itma eschota regimental em lancei- ros da rainlia ; e vou ter, desde o 1.° d'ouUi- bro, %ima emcada wndos regimentos da guar- nicSo de Lisboa. Tudo islo leva tempo e muilo tempo, sem I'alar nas actas, que todososdias fafo do meu curso, e nas resposlas, umas vocaes outras por escripto, que tenlio de dar a quern, da cidade ou das provincias, me consulla sobre a practica d'csle ensino. » Temos, alem d'estas escholas c das doze em S. Miguel, as regimentaes de Valenca do Minho e de Eloas. Segue o meu curso normal um mestre mandado pelo municipio de Yiana do Alemtejo, e um pela associarao industrial do Porto, que (i raoco de sumnia pericia e optima vonlade, por queni espero que nao so OS operarios e povo do Porto sc approveiieni ; mas que disseminem dentro em pouco idcnli- cos magisterios por todo o Minlio e Tras-os- Montes. « A revolucao d'esia vez e seria e irrevoga- vel ; a efficacia do melbodo e tao evidente, c jii lao reconhecida, quanlo e cerlo que sem instruccao nuda de solidamente bom se pode consegiiir 'numa nacao ; e que para instruc- cao 0 primeiro e o niaior passo e o ler e escrever.i) 0 sr. Castilho digna-se mais inculcar-nos as actas do sou curso, publicadas em alguns jornaes da capital, como testimunbo — « da allissima e capitalissinia (palavras suas) impor- tancia, que I'u hoje dou a decomposicao das palavras em syllabas e cm elementos, e a lei- VOL. I. OUTUBRO 1 J9 tura auricular. Os faclos metem comprovado, que 'nestes dois exercicios, analytico c synthe- tico, longamentc conlinuados ate a perfeicao, consisle o verdadeiro caminho de ferro, que leva simultaneanienle ao perfeilo ler, ao per- feito escrever, e ao perfeilo proDunciar.» Em perfeita eonimunhao d'ideias com o Opti- mo, e verdadeiramente patriota, o sr. Castilbo, apressamo-Dos a Iranscrever tao animadoras informacOos; e temos por certo, que os futu- res redaclorcs do Inslituto, fieis aoprogramma d'este jornal, nao so acolherao sempre do mclliorgrado, mas procurarao cuidadosamenle liaver e publicar lao curiosas e interessantes noiicias, as quaes, por si so sao licoes do maior alcance. Os nictliodos do auctor da — Leitura repen- /in«encontram, como jii em outra parte escre- mos, uma gravissiva difficuldade na falta d'unia — grande paciencia e desamor de rotina da parte dos professores, aos quaes nao anima nem a considcraruo que muito merecem, nem apaga; e nao mcnos — de quern ao gosio e dedicacao pelo ensino ajuncle oconhecimento praclico dos mesmos metbodos. Um curso normal, inspirado e dirigido pelo sr. Castilho, eum gra nde passo dado pa rase ven- eer esla liliima difficuldade. Parecc-nos impos- sivel que nao surtam osniclhores effeitosestas Leilas boras da vida, communicada com toda a efficacia do mais illustrado zelo, e com todo 0 enlluisiasmo da poesia, e da mais segura fe nos fclices resullados para o bera da huma- nidade. Ao estado, aos municipios, as riquissimas misericordias, a quaesquer outros ricos esta- beleciuientos analogos, cumpria babilitar aluni- nos e alumnas, que cursassem esla escbola, para depois desparzirem a fecunda semente pela terra lao inculta do nosso quasi africano Portugal. Ha muito que intendemos nao poderem pro- duzir algum eiTeilo todas as leis e regulamen- tos de instruccao primaria, a nao haver um rigoroso e illustrado tirocinio previo dos mes- tres, que hao de executal-os; e nao menos uma assidua, effectiva e illustrada inspeccao das escholas, que va, observe eemende, acon- selbe, instrua, e fafa corrigir os professores. Um curso normal dos melhodos do sr. Cas- tilho e por tanto, em nosso inlender, a reali- safao do nielbor pensamento, e a aurora do mais forraoso dia. Em Lisboa, que obslaculos podcra encon- S — 1832. Num. 14. liG 0 INSTITUTO liar a aucloridade em fazer que die scja o mais concorrilio polos professores? Nenhtins, senao osda indolcncia, ou menos boa vonlade, que nao suppomos. Fora da capital sobejam as causas deeniba- laro; c as mesnias estorvani que aquelles me- thodos se diffuiidam lao piomplamento, conio convlria, e desejaranios. Nao e crescido o niimero das pessoas, que bC dedicam a instiuccao jjopuhir com o zelo, que unia giaiide relornia lia mister; e muitas vezes as que possiicin um pouco d'elle, veem-se carrcgadas com outras e indispcnsaveis obri- gaooes, que nao Mies dcixam tempo livre e sutliciente para mais esse encarrego. Todas, que nao hajam visto o exercicio practice, nao poderao supprir esta falla de um mode util para 0 casino, e ale para ocredito do mesmo nielhodo, com a simples medilat'So do que diz 0 livro. Encommendar a um mestre que experimeute o novo invento, ainda que ellc seja dolado de um espirilo fuperior, e inimigo da retina, i|ualidades rarissimas, nada aproveilaria ; por- (|ue em rcgra, quanto mais delicado 6 o pro- cesso, maior necessidade ha de o ver cxecutar por qucm o saiba. Tudo isio confirma a elevada iraportancia do curso normal do sr. Castilho, e a absoluia necessidade de o animar, sustentar, e fazer concorrido. Na vida intima dos povos succedem acon- tecimenlos desapcrcebidos, que todavia expli- cam, bem nielhor queoutros apparalosos, seus reaes progressos, ou decadencia. Encontramos na breve nolicia, que o sr. ('aslilho leve a bondadc de nos remelter, in- dicado um d'estes faclos, o qua!, permitta Deus, baja de rcceber o mais cabal eextenso desinvolvimcnlo. Falamos das escholas regi- menlaes. Em regra, e por desgraca, e enlre nos a escoria dapovoacao, que afllue aos cor- pos mililares. Quanlo nao poderao em seu bencHcio moral e inlellectual aqucllas escho- las, bera dirigidas, e ajudadas com o saudavel rigor da disciplina mililar! Alii tudo, quanlo cm outras partes e sum- raamente custoso de organisar, esta reunido e I'acilmente preparado, local, alumnos, regula- ridade, etc. As folhas periodicas deram nolicia, de como um official dos lanceiros da rainha, depois de fazer seu tirocinio com o sr. Cas- tilho, 0 ajuda para com os soldados d'este oorpo na brilhante e patriotica propaganda da instruccao. E um exempio mais que nobre, para o qual lodes os elogios sao pcquenos. 'Nam tempo, em que o espirito de associa- i;ao se vai desinvolvendo, em tamanha escala, nas classes operarias, nao e menos clara a I'acilidadc de fazer aproveitar os curses nor- maes, e desparzir os melhores melhodos de ensino, uma vez que as corporacoes podero- sas, raunicipaes, de benelicencia, e industriaes, acudam com os recursos, muitas vezes bem limitados, que se necessitam. As de hencficencia, dizemos nos, ricas e po- derosas, como nao faltam ainda ; pois quando ehegara ofelizdia, era que todas cllas se per- suadam bem inlimaraenle, que — ensinar os ignornntes e uma obra de misericordia, cujo exercicio muitas vezes da de comer a quem alias haveria de ter fome ; — vesle a quem alias andaria nii ; — salva de outras e gran- dissimas miserias, para as quaes sobejam os incenlivos, bastando a indigencia, liel compa- nheira da ignorancia? Quando ehegara o dia venturoso, em que suas escholas, ajudadas por tanlos meios [)ecuniarios, sejam perfeilos modelos do uiais razoavel progresso? — e em que suas esmolas, longe de assalariarem mui- tas vezes a ociosidade e a embriaguez, sirvam a derramar aeducarao c a instruccao no seio das familias desvalidas, quer dizer, os meios degauharem esias, lioncstas e noliremente, o pao quoiidiano? — e em que finalmente suas melhores funccoes religiosas consistam nao em pomposas e cuslosas feslas, mas nas fer- vorosas oracOes dirigidas ao ceu por estcs des- validos, a quem soccorreram com a educacao c instruccao? Aos pequenos estahrlecimcntos, que vivein pela caridade, sempre incerta e precaria, e longe dos logares abencoados pela posse do novo apostolo; e as escholas, publicas e par- liculares, as quaes fallecam os meios de fazer cutsar a eschola normal do sr. Castilho por pessoas competcnlcs, que d'ahi Ihes tragam a nova luz que allumia a capital, forcoso e que sesubjeitem a vcgelar ainda por muilo tempo, mais ou menos na rolina, e quando muilo avizinhando-se um pouco ao ensino mutuo e simultaneo, que ncm estes mesmos, por des- graca, sao bem conhecidos c executados! A. rotiiAZ. VILLA NOVA OE GAIA Contiiuiai]u de pa^. 12tt. Era o arvoreJo 'n?ssa eilnde Miii sobejo, e crt^sciilu att- a praia Na parte d'onde agora e a cidade E na bafida, d^aquem, clianiada (laia. De arvores niui ?ran varicdade, De brozios, e loiiro, rayrtus, faia, K com ser tndo fragoa, e penedia Somente o arvoredo alii se via. 'Nesla parte de ci'i d'aquem do Doiiro, No mais alto outeiro, e o maior, Ahi linha seus pa^ns el-rei raoitro, Aquelle, a ipiem chamaram Alman^or, Ahi tinha lambem sen tliesuuro, Porqvie d'aquella terra era senhor, CoDlente e recreado alli vivia, Por ser terra de ca^a, e monteria. 0 INSTITUTO 11- Ahi vat uma cava, como miaa, Ate o rio feiU eatre dous valles. Que ainda agora se v^j e determinai Ser pnra irem beber os seas carallos Tambcm e cousa certa, e de crer digna, Que tioha outros reis mouros por vassallos; Todos a este rei obedeciam, Porque em sua lei in»ldicta criam. Alii se estava o mouro aposeotado; D'oDde o largo oiar c'os olhos via, D^alli 0 via A» vezes socegado, E outras, quando bravo bem o ouvia ; Tambem estava alii fotalezado, Porque d'el-rei Kamiro se temia, Que quem deve era fim sempre receia, Se tem iira bom jantar, de haver ma ceia. AlU gastava a vida com sabores O mouro Alman^or oiui namorado, Gozando desea Gaia, seus favores, Mulher d'el-rei Ramiro o magoado; Mas o jogo e a ca^a, e os amores, O fazem do perjgo descuidado, E eatretando o tempo da uma volta, Pesca o pescador n'agua involta, Chegado pois Ramiro, o roui prudente, Com 8uas tres gal^s apercebidas, De noile, j4 que bem dormia a gente> Alii se preparam escondidas, £ posto que vem feito uma serpente, Ordena que n3o sejam alii sentidas, E seu furor resguarda para quando ^e veja de Alman^or ir triumpliaadu. All) gastada a uoile c em socego, Quanto possivel era e imporlava, Tractavam do segredo em emprego, E do que tal erapresa demandava; A lingua de Arabigo, e Grego Mui ao natural pronunciava, So do aviso da terra tenJo mingna, Por si se offerece ir tomar lingua. Ficou porem por todos assentado, Que tocando Ramiro uma corneta Nao fique em gale nenhum soldado, Que logo 0 outeiro nuu corametta, E com Snirao forte e esfurrndo, Contra os crueis niourus arremetta, E todos junctus dando Sanct'lago, Os mouros tiajam um cruel estrago. Passada pois a nuile veiu o dia, Ramiro toma trajos de romeiro, Deixada loda sua cnmpanhia, Subindo se vae so pelu uuteiro. A Dous so quiz levar por sua guia, K em sua fe firme e mui Inteiro, K fazendo o signal da cruz no peito, Aos pa^os do rei mouro foi direito. Por ver se indo assi desconliecido, A sua mulher Gaia ver podesse, On sendo Alman^or a cac;a ido, Ella com u seu Ramiro se viesse; O Phebo enlao mostrava haver nascido, Cuntra quem disse: se ora te aprouvesse, Cum leu resplendor Phebo me ir moslratido, Este bem, que prelendo, e voii buscandor! Assim se vae o triste de Ramiro, De I'ensamentos taes arrodeado, De pedra n3o seria mais de um tiro. Que perto estava ja do povoado ; Dizendo vae, se este bem acquire, D'este mouro serei mui bem vingado, E por esta historia ser sabida Aqui se vera ffila uma erraida. E daiuio mais Rftmiro uma passada, Via uma fonte d'agua mui fermosa De rica pcdraria fabricada, De agua mui delgada, e saborosa, A qual hoje em dia ^ chamada A funle de Ramiro, sem mais glosa, A qual hoje ahi esta por mesaoria, Com testemunho, e fe d'esla historia. Continua. JOSE BORCES PACUECO ?EftErR\ A POESIA DO SOFFRINENTO CoDlinuado tie pag. 27. D'un bel pallore ha il biancu voltu aspersa,. Come a'gigli sarian niisle viole; Egli ocelli al cielo aflisa, e in lei converso Sembra per la pielate il cielo e'l sole; E la man nuda e fredda alzando versn II CBvaliero, in vece di parole, Gli da pegnodi pace. In que»ta forma Passa la belladonna, e par che dorma. La Gerusalemme Liberate, Cant. 1«, est. 69. 0 aposenlo de Grazeild.1, escurecido de proposilo, mal deixa distinguir os objecio.« que 0 occupam. Nao podeni as debeis retinas da moribunda supportar osraios daluz. Esta noile de soffri- menlo devorara-lhe os ultimos espiritos viiaes. Seus olhos tinham-se escondido na profun- didade das orbitas. Era 0 symbolo da merle ! Tinha nas maos um eslofo branco, onde, depois de losse violenla e secca, caiam, de niomento a memento, jorros de sangue pjur- pureo, negro. No fundo do aposento, ajoelbado deaalu de um crucifi.xo, que aliuraiavam dois cirios amarellos, murmurava um niongc o officio dos moilos. Agora dislinclamenle se ihe ouvia: — Con- tra folium, quod vento rapitur, ostendis polen- tiam luam, el slipulam siccam persequeris? Ao lado do leito outro raonge escutava as suas dorradeiras palavras. De braoos cruzados sob o escnpuiario bran- co, e com 0 negro capuz lancado na fronte encanecida, aponlava, inclinado para a vir- gem, e no niaior recolhimenlo, os umbracs do sepulchro, como para a entrada do porto da salvacao. Grazeilda escutava-o, como se fora Deus, que Ihe falara d'alem do lumolo. A cada uma de suas palavras correspondia em seu geslo cadaverico uma conlraccao ner- vosa. E 0 monge, segundo as praclicas que a le viva Ihe insplrava, ora assumia a gravidade do represenlante do Ente inSnilamenle gran- de, ora a sollicilude carinhosa do minislro de Jesus — o Deus dos que soffrem ; e entao dcsvelava'se, como a mae que adormecc, en- trc carinhos, o filho eslreniecido. lis 0 INSTITUTO Tudo alii tinlin o aspecto da morte... So, dc qiiando cm quando, o sol, que cor- ria onlre nuvcns, niandava, alraves d'uma I'enda das janellas do aposcnto, um raio de luz... Balia dc cliapa no roslo de Grazcilda... Rodeava-o de iinia aureola de ouro, phan- lasiica, rapida, brilliaute... e lugia depois (lara volver oulra vcz, quando o sol se des- coliria... E as vozes do mar, trazidas pela coirente das vibracoes, ahl soavara lambem, como um niurmurio longinquo. Tudo 0 mais era Iristc, lugubre e sombiio. Dirieis, que o anjo da morte surgira dos [los do Icito da moribunda, sacudindo de suas azas negras, era torno do aposenlo, sombras 0 silencio. « Sim, Grazcilda, coulinuava o mongo, dor- '< me cm paz no teu tumulo para accordares ■< na elernidade junclo do Senhor, que le for- « mou 0 corarao iiumaculado. « Os dias da vida passam como a sombra, 0 diz 0 sancto Job. « A esperanfa das cousas da terra e como « 0 p6 do caminlio, que o vento da tarde eleva « as nuvcns, para depois o deixar precipilar una sua bumildade primeira! « A esperanca babita no ecu, .. c so aquel- i< la, que, como diz o Apostolo, tern o seu fun- « damento na fe celeste, e a vcrdadeira; por- II que durara como a eternidade! — Men padre, respondeu Grazcilda 'numa :< voz terna e debil, Deus se couipadeca dc " mim, pobrc mullier, que tauto amei, e tanto ' bofl'ri ! " Ello se compadecera, porque por amor 1 soffrcH... « Nao temas a sua justica, que para lodos « abre sempre os largos tbesouros da sua mi- ii scricordia ; quanlo mais para ti I « Formosa como Esther, foste pura como " Abisag... «A coroa das gracas e dos risos cingiu, I como diz S. Jeronymo, tua fronte esplcndi- '( da, porque possuiste a sapiencia ;... c por .( que esgotaste o teu calix na terra, gozanis « das etcrnas dclicias... « Nao tc imporlc, que os tens dias se des- M vanecam, como o fumo, porque fumo cram ; <• (juc OS teus ossos se tornera cm p6, porque II po eram. « Nao tc importe, que desbotem as rosas i< da tua belleza... « Sao bcm despresiveis essas rosas d'um • dia, que se deslolham a ura leve sopro da " morte... « Nao te importem todos esses bens transi- « lorios e fugitives. K Fecba-lhes os teus olhos ; e abre-os para •1 contcraplar os vastos horisontes da etcrni- ■' dado, onde nao ha lagriraas, nem solTri- « memos... « A graca e fulaz, a formosura 6 van... « E sera louvada para sempre, diz o pro- i xoes, e as paixoes desvanecerara-se. « Os Lucullos deixaram confundir seu p6 " com 0 p6 dos hislrioes ! " 0 rei e 0 servo da gleba sentaram-se ao ■( raesmo banquete funebre! ci Os ossos do conquistador nao repclliram K OS ossos do conquislado, quando cairam no « mesmo fosso! Fez-seuma pausa, apenas interrompida pelo murmurar das oracoes, e o chore nunca inler- rompido do anciao.... Por lim Pedro levantou-se, olhou para Gra- zeilda, e cruzou os bracos sobre o peito. Em suas faces nao brilhava uraa lagrima, de seu gesto nao transluzia um pensamento! Com uma voz solemne disse para a virgem: — Deus perdoe a quem calcou aos pes nossa venlura.... 0 pranlo do anciao redobrou mais pun- genle. 0 Deus Ihe perdoe, continuou elle, se ha perdao para tamanho crime. . . . — Pedro! disse Granzeiida alerrada. E elle impassivel continuou: « Adeus, Grazeilda ! adeus! « Estalarara lodasascordasaomeualaiide... •Tuerasaminha inspiracaoeomeu genio... « 0 teu sera o meu tumulo; e la amortalharei 1 as minhas esperanfas 0 Ai de mim ! nem a niorte me presta o seu « dcscanco, nem os mens olhos lim lagrimas « para banhar-te as raaos. . . . «Esta dorimmensa tornou-medemarmore... (' 0 soffrimento.... calcinou-me as intimas «commo?6es; e a alma, resequida pela dor, u nao tern uma expansao, e jamais tcra urn allivio.... — Grazeilda sorria com melancholica in- credulidade. — « Deus vos nao puna o perju- n rio, quando mentirdes as vossas palavras de « agora ! « Nenhuma dor e eterna, e muilo raenos as (I dores do coracao do homem.,.. 'I Volverao boras edias, nem ao menos uma Vasta em fdrmas, posU em |h.', Qu'inda usteDta que possante F6ra oulr'ora, se o nao e, Das grandezas do passado So Ihe resla o sen mau fado. Diiro peito relalhado Pela patria e pela fe. Descansira sflbre as fragas D'um sepulchre, juDclo ao mar, Emballada pelas vagas No seu ber^o tumular. Tinha em cima o ceu suspenso, A eeus pis o mar immenso, O horizonte ao longe extenso, Onde as ondas t^ rolar. Gaala a vida nas balalhas Por seu Deus e Portugal, Inrolreu-se nas mortalhas D'um repouso sepulcral. Quando ruge em liberdade O lutao oa immeiisidade, Como rei da tempestade, Surge o phanlasma real. Sxemplo! Felix fjuem faciuni aliena pericula cautiim. M. ESTUDOS GEOLOGiCOS DO BUQACO Conlintiudo de pa;;. 144. Vol ao longo d'cstas massas seliisloides, e .M>l)re uma parte das camadas silurianas do Uucaco, que teve logar o dcposito arenacco, tontendo a flora hoiiillerc vcstigios de carvao, cujas camadas inclinam para o occidente de 30 a 00°, predominando as inclinacoes fortes. Foi ainda cncostado, ou ao longo d'estes mesmos macissos, e seguindo a mesma direccao gcral, que sedcpositou a formacao do novo gres ver- nielho (higarre?), inclinaudo as suas camadas de ij a lij" para o occidente. Da disposicao concordante enire esles dois depositos arena- ceos, podondo inferir-se ou suspeitar-se, que 0 gres vcrmelho pcrlcnca ao systemadevoniano, deverci observar, que o novo gres vermellio nao cobre o dcposito devoniano cm lodo o com- primento, nao obstante o proximo parallelismo desuas linhas geraes de diieccao ; ha solucucs, determrnadasporcabefosde schisto crystalline, nas camadas dos gres e poudings devonianos, que nao so as isolou do novo gres vcrmelho, mas as camadas enlrc si do niesmo systcma : a direccao d'estes cahecos e de N. a S. em geral elevados, tcndo alguns 300 melros sobrc as camadas do novo gres vcrmelho (vizinhancas da extremidade N. do Buraco). c a cujas al- turas foram arremcssadas grandcs massas do systema devoniano. Nas ladeiras occidentacs d'estes caberos coordenados, na mesma direc- cao geral, em que se acliavam os macissos schistoides preexistentes, o sem solucao de coutinuidade nas suas camadas, devida ;i d'estes cahecos, e que se fez a dcposicao dos slralos do no\o gres vermellio. Por conseiiuencia, nao so a discordancia nas inclinacoes, alias mui grande, mas a elevacao d'estes cahecos no intervallo dos dois depositos, provam hem a sua dislancia na escala geognostica. Sendo da natureza dc todos os depositos de sedimeuto, assenlarem as camadas umas sdbre outras, em disposicao imhricada, as mais an- tigas circumscrevendo succcssivamente as mais modernas, e sendo sensivelmentc parallelas as linhas geraes dc direccao dos dois depositos arenaceos em questao, e claro que o systema de camadas devouianas, nao pode mostrar todo 0 seu desinvolvimento em cspessura, por se aciiar coberlo pclo novo gres vcrmelho; c e ate provavel ([uc a sua parte visivel sejam apenas os topes das camadas infcriorcs d'uma formacao mais complexa, coberta pelo dejio- silo mais modcrno. E vcrdadc que pode di- zer-se, que o desarranjo, em que se acha parte de suas camadas, molivado pela elevacao dos cahecos, como acima ponderamos, deve mos- trar, 'noma ou outra parte, alguns indicios evidentes do seu prolongamenlo em cspessura etc., 0 isto elVecllvanientc aconteceria, so os ciibecos tivessem uma direccao din'erentc da de K. a S.; e se as camadas do novo gres vermellio, cingindo as ladeiras d'esses cahe- cos, nao tivessem coberlo os sitios, cm que deviam manifestar-se as porcoes, ou camadas superiores do systcma. Fallando mais particularmenle do carvao, direi: (jue, havendo nas Asturias c na Anda- luzia depositos de carvao largiimcnte dcsin- volvidos, contendo rcprcsciitaiUcs de todas as epochas, desde o carvao silurinno ale no coal funnalion (Burat. Ue la llouillc), 6 nniilo para suspeitar, que esia forca energica, e geradora se estendcsse 'niimn ou oulra epoclia a Por- tugal, collocado nas vizinhancas, e como in- tercalado cntre eslas duas proviocias: por cm (|uaato apenas tenho coniiecido o carvao si- luriano de S. Pedro da Cova ; e nas outras formacocs silurianas ao norlc do Vouga, ne- 0 INSTITUTO 163 uluitna coniem carv5o, nem rccebeu dep6sito mais recente onde podesse havel-o. por isso que lodo o Minho, a excepcao da faxa silu- riana de Vallongo, parte de Tras-os-Montes, a parte oriental da Beira, essencialmenle for- inados de scliistos cryslalinos c rochas grani- ticiis, exchiem toda a ideia do carvao. Tenlio observado que as direccocs dos stralos siluria- nos de Vallongo, dislricio d'Aveiro, Bucaco, Alio Douro c Marao, e Galliza, rumam entre NO — SE. NNO — SSE.— Nao sei qual scja aquelle dos stralos sllurianos das Asluriss e Andaluzia, que scrvcni de hase as formacoes oarboniferas, mas ja pelos acinia indicados se ve, que a parte do Norte a mais occidental da Peninsula foi unia rcgiao insular, um paiz cortado por largos canaes occcanicos, todos sensivclmenlc parallelos, e onde tiveram lo- gar OS stralos silurianos. Esta indole geogra- phica, de formas simples, encontrada cm mui- tas oulras paragens, parece ler characterisado a superficie da terra nas dilTerentes epochas do grande periodo de Iransicao; e admillida co- mo principio com a necessaria reserva, sera d'um auxilio immenso nas pesquizas do carvao em paizes de circumslancias similhanles as do occidenle da nossa peninsula. Assim, se o nosso paiz ao sul do Tejo oCferecer, nas direccoes dos sous syslenias de collinas, algumas rcla- joes coordcnadas com os da serra Morena c dos Sanctos ; se conliver dcpositos de sedimento do periodo de iransicao, cujos slratos rumem na mesma ou cm direejao proxima aqucllcs dos dcpositos carlioniferos da Andaluzia, e inuilo provavcl o cncontro de carvao em al- guma paragem do Alemlcjo. Dos dcpositos das AsUirias, so sei (jue os slratos do syslema car- l)onifero dirigem-sc do NE a SO. (Burat, De rilouilte); ora se cxceptuarmos parte da pro- vincia de Tras-os-Monlcs, que nao visitci ain- da, e onde me consla liavcreni schislos e cal- carios de Iransicao (no districlo de liragan- ca), cm ncMluima oulra parle ao norle do Tejo aclio mais racional para qual(|uer tcnta- liva d'enconlrar carvao, como o occidenle da Beira: aqui cnconlram-se a E. do Bucaco, e na scrra de Boialvo, as camadas do scliislo argilloso, c a loliacao scliistosa, icndercm para duas direccoes geracs NO, — SE. e NE — SO: a primeira coiicordante com os stralos silu- rianos da rcgiao, c a segunda (se nao for de- vida a causas posicriores) podijmos suppol-a loordenada com os stralos carboniferos das Aslurias: esle indicio so por si csla bem longe de ter algum valor; poreni as camadas de quartzites silurianas na cxlreraidade do norle da scrra do Bucaco esUio em partes desviadas da sua direccao normal, correndo de NNE. SSO.: 0 deposilo do gres e poudings (devonia- no?) ruma ora de N. a S. ora de NNE.— SSO, predominando niuitoem partes esta direccao; por onde se ve que ha mais tendencia para a direccao NE. SO., do que para a do NO. — SE., e por conscquencia parece exisiir uma approximacao de concordancia com os stralos carboniferos das Asturias.' De todos OS factos c observacoes expendi- das concluo: 1.° Que a vista d'aquella accumulacao de carvao nas Asturias e Andaluzia, e de crer que tambem o liaja em Portugal, alem do da serie de S. Pedro da Cova, especialmente no Alemtejo, Tras-os-Montes, ou ao occidenle da Beira. 2.° Que a forma deprimida da parte do occidenle da Beira, loniada desde os stralos silurianos do Bucaco, c um argumento incou- testavel da probabilidade de haver dcpositos de Iransicao mais recenles, os quaes podem con- ter niassas conibustiveis, conio lende a pro- var 0 syslema de camadas de gres e poudings, de epocha incerla, com a flora Houiller, e ves- tigios de carvao, e ao qual provisorianienti^ lenho chamado — devoniano. 3.° Que 0 syslema de camadas de gres e poudings pode ser o andar inferior d'uma I'or- macao mais complexa, e contendo algum de- posilo de carvao. 4.° Que a direcjao dos slratos de gres e poudings, ora de N. a S. ora de NNE. a SSO. , tendo uma proxima concordancia com a di- reccao do deposilo do novo gres verraelho, que ruma sensivelmente de N. a S , e de crer que a sua parle superior, c talvez outros de- * Em Portugal, em que as lenlias, madeiras e carvui. vegetal esca^seiam 'niima |>ro;;ressiio espantosa, em qui- a sua iiiJuslria nascente teni de fornecer-se de carv.no extrangeiro, deve haver um poderoso ititeresse em desctt- brir carvao mineral, que siippra em parte estas tiio impor- tanles uecessidades. A Franca, tendo algumas provinci.is collucadas em excellente p(i!ii(;ao geoprapiiica e commer- cial, mas desprovidas apparenlemente de carvao mineral, lenta pe>qtiizal-o a priuri debaixt> das formacoes secuu- darias. Em Rouen . no Seine itiferieur^ a mais de 40 ieguas das mi nas de Anzin. e d'outraeguat -Hi luaior distancia da? de Mayenne e Maine et Loire, 'nnma regiito coberla por todos OS lados por formacoes recentes, esta em projeclo ou Ja em execu^ao, uma pesquiza em grande para achar o carvao, tendo d'atravessar loda a es|)essura dos terreno> crelaceos e jurassicos talvez excedente de tres a quatro rail palmos. Se as probabilidades versam alii silbre a pre- sumida continua(;ao da bacia de Cliarleroy para OSO.. |)or baixo dos terrenes secundarios, irtuio ja um compri- mento conhecido de 50 legnas de Anzin por K\K, e si^ibre a prodigalidade, com que a natureza favoreceu a Franca de cariao e os paizes vizinhoa ; as pesquizas, que se Oze- rem ao occidenle da Beira em Portugal, n.To terao eiu men intender o cunlio de meuos racionaes. fe certo (pie as Asturias Gcani a uma distancia media de 70 leguas ao NE deCoimbra, e os seus depositos separados por massi>- pos de rochas crystallinas e de antiga data ; mas larabem e certo, que podem reprodiizir-se aqui algum membroou membros das series oarboniferas d'aquella regiiio, sem que por isso seja necessaria niuita vizinhan^a geographica. nem uma conlinuidade de camadas, como por exenipio a bacia de la Rhnr, a respeito da deCharleroy na Belgica, e de Saarbruk na Prussia relativamente as de Epin.ic e Cruzot em Frani^a, etc.; e pelo lado da prodigalidade u> exlremos da zona occidental da nossa Peninsuln, en- cerram proporcionalmenle lanto carvTio (como nos in- forraam), como os outros paiaes du Europa bem favo- recidos. 168 0 INSTITIITO 0 quam gloriosas'raemorias piibiico, eftnsi- (lerando quanio vales, nobillissinia lingua Lusi- lana ; com lua facundia cxccssivanientc nos provocas, cxcitas, inflanimas: quara altas vi- • lorias procuras, quam colcbrcs Iriiiniphos espe- ras, quam excellenlos fahrica? fiiodas, quam pcrversas furias castigas, quam I'eroccs inso- Jcncias rigorosamentc domas. Em verso e um cpigramma feilo por Joao de Barros em iouvor de Roma e Belem : Roma inSnitos sanctissima vive per aiinos: Pacifica genles ivivc qiiiela) tuas. Ciastiga grandes violenia iiinrte lyrannos ; Ingratos animos (es ;:enerosa) fiige, Acquire iasignes varia de geiUe triiimplios. Distaiitcs terras iroperiosa rege. Taiilo maiores litulos, Bethlem aUa, celebra, QtiaDlo Rottiano maiores imperio. Mator amor, maiur magnificencia, maior Kama, tuas CliriBto dando benigaas casas. Alguem diz que a linguagem d'cste cpigram- ma vae um pouco fora do usocommum; lodavia isto e por causa do meiro e rigor da quanti- dade syllabica, que muitas vezes prende os poelas.Edemais, na lingua Ilaliana por ex., que ninguem duvida ser liiha da lalina, lem-se podido fazer outro lanto. PodSmos pois concluir que lodos os paizes, que Roraasubmelteu ao seujugo, foi a Penin- sula a que mais voluniariamente adoplou c conservou a lingua de seus senhores. E assini OS nossos melliores cscriptores subniinistram a sua valiosa aucloridade para corroborar a nossa opiniao. Camoes no canto 1, Est. 33, diz pela bocca (ic Venus: E na lingua, na qual quando iinagiiia Com pouca corrupijao crc que e a latina, Francisco Dias Gomes 'numa ode a lingua portugueza diz : Do mais polido seio da lalina Uiriuni ser nascida a lusa lingua. .Antonio Diniz da Cruz e Silva no Ei." canto flc seu Hissope diz : lingua nossa, Primogenita filba da latina, E inuitos outros poderiamos cilar. Chegando agora a piincipal conclusao, que preiendemos lirar d'este pequeno trabalhodire- mos: que e verdads lerein alguns idiomas direilos beni fortes sobre o nosso ; que e verdade com a mudanca d'alguns jugos tcreni mudado na Lusitania alguns idiomas; que e verdade em lim que a nossa lingua conio todas as do sudoeste da Europa, c o resullado da fusao de muitas;' porem o que tambem e cerlo, e ' Talvez nSo sejaraos muitn preciso.«, quando dizemos, que a nossa lingua, conio todas as do sudoeste da Kunopa, e o resiiUadu da fusau de muitas, por isso que nito deixa deser verdadeiraa opiniitod'umsabiophilologo Mr. Alalle Brun, o qual diz que niio conhece lingua alguma sem mis- que foi o latitn quern para ella deu um con- lingenle mais CDcrgico c poderoso ; e que ainda hoje c a lingua, que mais caraclerisa o scu typo em consequencia do dominio que obieve, dominio que foi o resultado d'um concurso exquisito d'elementos, que o perpassar dos scculos radicaram na peuinsula. JOAQDIM JANUAItlO DE SOUSA TORRES E ALMEIDA. ECONOMIA POLITICA 0 systema industrial, e o estado actual da sciencia (Extraclo dos Estudos d'economia politica). 0 systema industrial, especie de eelelismo, composlo e rectificajao dos anteriores, o qual pela iniparcialidade e perfeicao de doutrinas a pliilosopbia do seculo actual tomaria por seu, se podessc por em esquecimento a origem d'elle, nasceu pouco depois da morte de Ques- nay ; c quando mesmo seus discipulos, cuja so- ciedade frequenlara o grande inventor, mais sollieitos curavam de o levar a elTeito. A. Smith, insigne pliilosopho escoccz, publicou em 1776 a sua obra intitulada : — /n!)fsi nacoes, e nos mesmos logares, em que a in- dustria nia lores progresses estii fazendo. Cousa pasmosa ! A Inglalerra e a Belgica, por exem- plo, modelos de desinvolvimenlo industrial, olTerecem um niimero de miseraveis, uma pau- perie sem comparacao superior a de oulros paizes incomparavelmente mais atrazados, e sem diivida nienos abastados na totalidade. Com este phenomeno concorrem circumstan- « cias, que mais o complicam. Uoje em dia « (diz Rossi) a riqueza com o luxo e os gozos ja « nao sao privilegios de castas; nao se encer- « ram nos palacios e saloes ; oslentam-se na.< « pracas e nas ruas. Oulr'ora opovo era lesle- « munha d'um fausto em certo modo politico. « d'umagrandeza, quechamarei — senhorial;c « nem sequer suspeitava prazeres e gozos, que «erani inteiraniente desconhecidos para elle. « Mas hoje e lestemunha, todos os dias, e « por toda a parte, dos prazeres materiaes da « vida, dos gozos sensuaes; que direi eu? das « vaidades um pouco vulgares da riqueza mo- '( derna. Uoje aquelle, (jue sae cambaleando « com 0 peso do festim, e o farainlo ; a luva « branca, e a niao descarnada do mendigo, « tocam-se na mesma mistura social. Nao cen- « sure, reliro. E que resulta d'esie reciproco « conhecimento do estado das cousas? dese- « jos immoderados, profundas invejas, teme- « rosas impaciencias, crimes atterradores, e « depois, em surama, esse amor tao ardente, « lao impaciente, tao irascivel, essa s(5de de « riquezas iniprovisadas, a qual, em vao o dis- « simularemos, nao e o caracter dominante, « mas e um dos caracteros de nossa epocha." 0 grandeeconomista podia e devia apontar uma causa sempre viva e actuante d'esie estado lastimoso, e realmente allerrador. Esla causa nao e por certo nem o desinvolvimenlo da riqueza, verdadeiro benelicio da Providencia, porque a riqueza sac os bens, as cousas ca- pazes de remover a miseria; nem a egualdade politica das condicOes, imagem da egualdade natural e religiosa. «E necessario (dizia Burke) « recommendar a paciencia, a frugalidade. o u Irahalho, a temperanea ea — reliyifio: o reslo jc so fraude e mentira». E com effeito a religiao, fundamenlo da temperanea, da paciencia, do amor do iraba- Iho, da jusiira e da caridade: a religiao. que era o allivio e conforto das classe* laboriosas. nao exercc sua doce influencia sobre grande IIQ 0 INSTITUTO QUQiero de liomens. As sementes lan^adas .i terra pela escliola vollairiana, o desprezo das sanctas crenjas anligas, o abandono do es- ludo da religiao, o maierialismo subsliiuido ao chrisliauismo, era forca que surlissein sous resullados. Umas das familias laboriosas dos grandes centres de induslria fabril e commercial jazem nas niais profundas trevas d:i igiiorancia e degradacao. Oiilras, as quaes tem cliegado o benelicio da inslruccao popular, niio encon- trarara 'ncsta o primeiro c principal clcmen- to. a religiao. E assim como um lerreno fe- cundo e bem adubado, se llie Dao scmoinin boa semente, se cobre nccessariamcnli; de planlas ruins ; da mcsnia forma esla cullura intellectual, mas nao moral, nao serve nuiiias vezes senao a excilar appetites e insolTridas invejas, c a arraslar o homem aos mais cs- paalosos crimes. 0 resultado da falla de educafSo religiosa nas classes niais abastadas nao o mcnos sa- liente. Sent ella nem senlimentos de justica, nem caridade; somento o ardor pelos gozos, 0 egoismo, e o desprezo dos outros lioniens. « A religiao (diz Bargemont) quer que a riqueza e a felicidade sejam repariidas com raaior egualdade entrc to(los os bomens, tanio — por meio de justica e de caridade da parte dos ricos, como — por meio do trabalho e da previdcncia da parte dos pubresn. Estas grandes questOes por tanto — da nie- llior distribuicao das riquezas, do aliivio das classes laboriosas, de sua maior abundancia possivel, combinadas com outras de sua edu- cacao e inslruccao, queslSes vitaes para a or- dein pi'iblica, e ale para a civilisacao, liouve- ram de prcoccupar mui especialmente os cco- nomistas do seculo XIX; e ainda mesmo que 0 espirito do firro c da nientira nao se bou- vesse aproveitado do enseio, como e scu velho costume, para aggravar os males. Com elTeito as ideias communistas c socia- lislas (as quaes, conformc nioslrou Mr. Su- dre na sua cxcellente Historia do commiinis- mo, niio sao mais que a repioduccao de er- ros antigos, muitas vezes reapparecidos, e semprc condemnados), apprcsontaram-sc no- vanientc, olTerecendo-se como remedio radical do< males das classes padecentes. Os communistas aponlaram aos pobrcs a forluna dos ricos, dizendo-lhes que a proprie- dade era um roubo. E como a previdencia e so propria da edade niadura e das classes in- slniidas, facil era de suppor, que os miscra- veis nao reQcctiriam que, depois de se apos- sarem dos bens dos ricos, nao poderiam go- zal-os tranquillamenle, e exercer sobre dies suas forcas intellectuaes e physicas; porque 0 principio, do que se aproveilavani, actua- ria contra elles mesmos. Os socialistas, communistas encobertos, ex- cogiiaram dilTcrentes meios e pianos do inter- venfao do governo em toda a csphera indus- trial, invcrtcndo, como esles, a humana na- tureza, c pretendendo subslituir os estimulos naturacs do trabalbo, a saber, a pcrspecli- va d'um bem individual, o gozo da propric- dadc, c a esperanca de com ella melliorar o prcsenle e o futuro da I'amilia, polos senli- mentos, cerlamente nobrcs e elevados, mas senipre raros c cspeciacs, da gloriii, da lion- ra, c do intercsse nacional. Os principles dos socialistas e communistas cslao em diametral opposicao com alguns dos mais fundanieniacs da economia politica ; a qual en^ina que a libcrdade c a prepriedade individual sao as primeiras coodicOes de em- prego aclivo e diligenle do trabalho. D'csta contradiccao lao nianit'esta c essen- cial resullou uma lucla vigorosa, a qual con- tiniia ainda, e tem nao pouco ajudado o des- involvimcnlo e enriquecinu-nlo da sciencia economica. Principalmenle desde a revolufao de Paris cm 18i8, em cujo principio os so- cialisliis dominantcs pozcram por ohra alguns dc sens pcnsanienios, o principal objecto dos escripios economicos versa mais ou mcnos sobre as quesloes suscitadas a esle respeilo, Um dos mais egrcgios dcfensores da ver-r dade, mui prcmaturamenle niorto na flor dos annos, foi Mr. Bastial, auclor dc muitos e ex- cellentes pequenos arligos, o das — ITarmonias economicas. 0 celebrc Thiers lambem lomou parte 'nesle grande debate com a obra geral- menleapreciada econhecida — Da propriedade. A respeilo da feliz influeucia d'esta lucta dizia com razao, antes da epoclia de seu maior. ardor, Mr. Rcybaud o seguinte: « Se a eco- « nomia politica viu diminuir com ella sua « aucloridade, recebeu cm troca inslrucfoes,. « que forlilicaram sua essencia. ,j^-,, 0 Estas reformas nao concentravam sua mills « viva sollicitude em simples abstraceoes, pen- « savam nos bomens. Em logar de raciocinar « didacticamenle iicerca da ri(|ueza, aponta- « ram as dores do pobre: em vcz dc delinireni « OS clcnienlos das forlunas, foram direitas as (( classes padecentes. « Os meios nao esiao ao nivel com as.iii- « tencocs; mas que importa? 0 clfeilo essen- « cial esta produzido; a opiniao esta preoc- cicupada; a qneixa subsisie. Podem adial-a, « mas niio supprimil-a. Ac^rca do remedio « pode variar o parecer; mas fecbar os olhos (I s6brc 0 mal, ja nao e possivel. E esle o (I terreno, sobre que deve collocar-se d'ora « em diante a sciencia economica... Per ban- « deira — a liberdade industrial e commercial ; «' por divisa — o melhoramenio da sorte das « classes laboriosas.' A lucta com as ideias do cnramunismo, e do socialismo, imposto pela fdrca piiblica, nao tem sido a unica, que a economia poli- ' filudes »iir les refarraaleurs contemporains. Conclu- sions gi'fjer. 0 INSTITUTO 171 lica ha sido obrigada a sustentar, era bene- licio de sen maior desiavolvimento. 0 syslema raercanlil, conderanado no cara- po da sciencia, nas obras dos sabios, e nos cursos d'economia polilica, mas enlriacbei- rado na roiina c no privilcgio, cbamou em scu soccorro as niesmas doiitrinas. Os inleresses creados pelas proliibicoes e restriccoes coninierciacs, que defendem a in- (luslria nacional da concurrcncia com a ex- irangeira, e asseguram graiidcs lucros a mui- los productores, iSm promovido, d'accdrdo com OS crros sotialislas, iima guerra pi^rliada ao cs- tudo c ii applicafiio do principio economico da liherdade das irocas. Esta mesma guerra, que se revela na im- prensa c nos parlamenios, exciia os amigos da verdade e da humanidade a rcdobrarem sens csforcos. Um grande niimero de associacoes na In- glalerra, Franca, Belgica, elc, proraovcni a liberdade commercial; e nao Irabalham dc- balde. Uns esiados, como a Austria e a Rus- sia, abatem as barreiras d'all'andegas, que se- paravam paries consideravcis de seus lerrilo- rios. A. Russia com a Polonia, c a A.ustria com a Hungria e o Lombardo-Veneziano, desde 18130, nao formam mais que uni so paiz nas leiacoes induslriaes. Outros, como os estados da uniao das alfandegas allemans, unem-se da mesma forma. A. Inglaierra da exempio, dero- gando leis anligas cm benelicio da maior faci- lidade e lil)erdade commercial. E 0 governo porluguez, qualquer que seja 0 juizo que possa formar-se acerca da conve- nicncia e madureza dos decrelos da actual dictadura, 6 inqueslionavel (cmuita honra Ihe seja feita) que tem entrado iargamente 'nesta formosa cstrada de reformacao economica. Porloda a parte senianifesta um movimento mais ou menos .saliente, mais ou menos rapido, na legislacao, ern barmonia com os dictames da sciencia. Do annuario de 1848 iranscrevemos o tre- cho seguinie, o qual bem claramente fara ver aforca, que nao pode deixar de tomar'ncstas grandes questocs aopiniao piibiica da Europa iliustrads. Nos dias 16, 17 e 18 de scplem- bro de 1817, por convite da socicdade de Bruxellas para a liberdade das trocas, rcuniu-se 'nesta cidade um cnngresso de economislas de lodes OS paizes, a fim de discutirem estes gra- ves objecios. « Este fongresso (diz M. J. Gamier) dcu « grande brado por loda a Europa. Conlavam-se (1 'nelle 174 membros presentes, todos sabios, ((induslriaes, esiadisias, e administradores, " de lodas as nacoes, e na maior parte pessoas « constiluidas em uma elevada posicao social. (' A sociedade dos economislas, a associa- « cao para a liberdade das trocas de Paris, a (( de Bordeus, niuitas sociedades de Hispanha, "3 associacao libre-echangisteic Berlin, a socie- (( dade academica de Florenfa, a Hoilandeza (( para o meihoramenlo moral dos presos em (( Amslerdao, a das sciencias de Mons, man- ((daram represenlantes.» (( 0 insiitulo de Fraii(;a, as universidadt; ((da Dollanda, da Dinamarca, da Allemanba. « 0 parlamenlo inglez, as camaras francezas (( e belgas, os estados geraes da Oollanda, as « camaras da Suecia, de Bade, a liga ingleza (( contra as leis dos cereaes, todas as univer- (( sidades belgas, a camara municipal de Bru- (( xellas, OS concelbos provinciacs da Belgica. (( a camara do commercio de Paris, o concelln* (( geral do Sena, a camara do commercio d'An- (( vers, 0 corpo dos advogados, a ingenliaria (1 e diversos ramos da administracao belga, (( a iraprensa franceza e belga, tinbam repre- (( senlanles 'neste congresso. Viam-se 'nelles <( russos, polacos, moldavos, c ale cidadaos « dos Eslados-Unidos.i) A esta brilbante reuniao nao fallaram algun^ e mui esirenuns campeoes do syslema mercan- lil. Depois d'acalorada (liscussao, o congresso emittiu o seguinie volo: — « que a liberdade (( do commercio e uma necessidade da socie- (( dade humana, e que seus resullados hao (( de ser : — 1.° estreilar as relafoes dos povos, « OS quaes, bem longe de se fazerem tributa- (( rios uns dos oulros, preslar-se-ao um apoio (( reciproco; — 2.°estender a produccao, e por (( a industria a abrigo de medidas violentas, (( inevilaveis nos mercados circumscriplos por (( meio das probibicoes ; — 3.° melhorar a sorle « dos que trabalbam, demandando menorcs (( fadigas em Iroca de maiores gozos; — 4." (( destruir uma causa conslante de desmorali- (( sacao, 0 conlrabando.» Scguidamenle accordou o mesmo congresso : — que (iseus membros se empenhasscm em usar (1 de loda sua influencia para fazer inlroduzir <( a economia polilica no ensino publico e « privado.)) Pelo que respeita ao meibodo, nao e menus sensivel o progresso da sciencia, se a consi- derarmos nos escriptos magisiraes dos Alle- maes. Representa-se abi como uma sciencia verdadeiramente — siii generis , e inleiramente dislincta da polilica, na qual as anteriores cscbolas a confundiam. i Expoem primeiramenle ascausasniaisgeraeS dos pbenomenos cconomicos, consideradosem sen espontaneo desinvolvimenlo, independcn- temenle de loda a accao e iotervencao dos governos. E nao e senao depois de bem conhecidas as leis naturaes deierminaiivas d'esscs pbeno- menos, que a sciencia se occupa das relacoes da espliera polilica com a economica, combi- nando os principles, que Ibe sao proprios, com OS do direito publico universal. Desi'aric a apreciacao da intervencao dos governos na industria assenta sobre bases firmcs, e conhe- cimenlo? coniplelo=. .\. fop.hz. 172 0 INSTITUTO ELEMENTOS DE PHILOSOPHIA RACIONAL Approximados ao estado actual da sciencia— pri- meira parte, comprebendendo a psychologiaem- pirica, ou experimental. SECC.\0 3.' Se todas as faculdades da alma nascem da sensa9ao ? Art. 2." Que faculdades se devem repiilar primdrias? Continuailo da pag. 153. Aqui ha dois exlremos a evitar. E um dcma- siado laconisnio o rediizir todas as faoiildades a- dtias geralmente adoptadas — inlendinienlo e voniade. Que dirianios d'um cspirilo pedan- t''-co, que dissesse: — Toda a sciencia dos nunioros e um coinposto de duas unicas ope- racoes, augmenlar ediminuir, coinporcdecom- por; e mesmo impossivel imaginar oulras? Por ouiro ladoe luisier nao relrogradar para aigiiiiia dasclassificacucs dosanligos, que lodas foram iiiais ou menos defeiluosas c irrcgulares. , Aquella opiniao, em que sobresae a unidade do ."^cr pensanle, apparccendo, como revestido de dilTerenles faculdades, que parccc confun- direm-se pela idenlidade doseu ponto de par- tida ; mas separar-se pclas suas tendencias parliculares, essa opiniao apprcseutara sem diivida uraa tal simplicidadc desysicma, que a tornarapreferivel a todas as que l6m vigorado antes d'ella. Tal e a opiniao de Laroniiguiere, Beauvais, coutros moderuos.a quemseguimos. A primeira operacao de nosso espirito nao e a scnsacao. As sensacoes podeni icr com as ideias uma relacao de prioridadc occasional; mas nem sao os nossos conhecinientos cllas niesmas, nem lem relacao alguma de natureza com as faculdades, ou poleneias do espirilo, q;ie nao sao rcsultados passives, como ellas. 0 principle immedialo de nossos conheci- munlo.s, ou antes a origem proxima d'elles, e 0 trainillio, 6 a acciio do mesmo cspirilo: entre ^|(jnlir c conliocer e fdrca que se inlerponlia a.accao d'alnia. Cumprc estabelecer bem este pbnto, que e toda a cliavc do sysiema. E de que mellior modo o podemos estabelecer, do que apoiando-se em factos, e nos phenomenos (|Uotidianos? Que c 0 que aconlece, quando a aclividade d'alma e provocada por vivos sentimenlos de prazer, ou de pena, ou quando 6 impcrada por um preceito mais absolute d'ella mesma ? Enlao as faculdades do inlendimento volvem-se a porlia para nossas maneiras de sentir. A altencae as estuda a parte, querendo conliecer o que cllas sao em si mesmas. A comparafao as approxima, procurande appre- cial-as umas pelas eutras. 0 raciocinio apro- veila-se do que a altencao c comparacao Ihe en'^jnam; penelra mais avanle, c dcscobre o que as duds primciras faculdades nos deixa* riam senipre ignorar. Onde esta a razao da differenca, que ha na intelligencia dos diversos espiritos entre ho- mens, alias dotados dos incsmns sentidos, e que, achando-se na mesma edadc, t6m cvperi- menlade com pouca dilVercnca as mesmas sen- sacoes? Esta na diversa activiJaile coniparali- va, no diverse liabalho do espirito. Uns allen- deni, cemparam, e raciocinam mais que ou- tros : e nisso mcsme que esta a dilTercnca, que distingue e homem campoiiez do hemem culto. Qual a razao emiim, por que, bavcndopelo decurse das dilTereiites ruas d'unia cidadc tantes bellos monumenlos d'arcbitcctura, es- cultura, e calligrapbia, e comnium dos homens passa quetidianamenle a par d'elles, sem de modo algum apreciar o sen valor intrinseco'? Peiquc distrabidos com os mesteres, e trafego da vida, naocmpregam'nissoa devida attenfSo, a devida actividade d'espirito, eu per impe- ricia nao asiibem empregar; licando per isso perpetuamente reduzidos a conteiitar-se com as meras sensajoes, a que taes objectos dao aso, ou com as ideias primeiras, e mais infornies. Lege otrabalhodo espirito, recahindodevi- damente sobrc as sensacoes, eis aiii (e nao ellas) a verdadeira origem de todos os nossos conhecinientos, e ideias propriamente dictas. A regra da natureza racienal 6 partir do que e sentido e conhecido; e operaf sobre isso que e sentido ou conhecido: regra tao simples, como facil, em quanto nossa razSo nao e viciada por uma ma pbilosopbia. A applicacao d'csta regra forma a seguinte progressae : rSensacoes, operafoes, primeiras ideias: — ^ primeiras ideias, operafoes, novas ideias: — ( novas ideias, operacOes, novas ideias ainda. E assim 'numa progressae infinita. Todas as nossas ideias sao o resultade das eperacoes do cspi:ile; sao a obra do nossas faculdades. Mas nao basta determo-nes "nestc ponto de partida. Ao philosepbo eumpre sobrenuineira fazer-se senhor da accae das faculdades, para as dirigir, c regularisar. E pnra isso nruito Ihe iinporta estudar as mesmas faculdades. alcancar scu caracter, deterniinarscu niimero Quaes sao pois os agenles, cujo cencurso faz nasccr a intelligencia, desinvolve, c Ihe da a perfeicao? Quern dira quantas poleneias dovem entrar em exercicie, para elevar o homcm d'um estado puramente sensitive a classe d'um Arisiotcles, d'um Descartes, d'um Newton? Estes ageutes nada l6m de niysterioso, diz Laroniiguiere; nosconlaremosestas poleneias, ou antes ellas sao conladas. E com elTeito das hypotheses acima enu- meradas ja esponlaneamente dimana (]ue — a atlencao 6 naluralissimainente a primeira operacao, por onde a nossa alma sobc a acqui- sicSo dos sentimenlos distinclos das cousas: OINSTITUTO 173 e a observajao sobre nos mesmos nos palen- teia assim essa, conio as oulras. 0 modo, como adquirimos ideias cxactas c precisas das cousas, nao 6julgaiido d'ellas ao primeiro inliiilo ; mas sim enoarando-as por todas as qiialidades, e por lodos os ponlos dc vista, cada iiiii de per si, o que e. prostar-lhes uma atlencao aturada c succesiva, Porera, para adquirir verdadciros conheci- menlos, nao liasiam estas ideias exactas e pre- cisas, por iiicio das quaes as filamos isolada- menle; e mister de mais consultar as anaiogias, as ligacoes, e as relaciies: e a coinparacao, que as descoiire. Depois d'estesprecedcnles ainda niiocxiste scicDcia. Nossos coniiccimeiUos nao nierccem essenome, scnaoquando o es])irito seelevade relacao em rolaciio ale aquella, porondetudo comeca. Ora eo raciocinio, que assim noscon- duz aos principios ; bem como dos mesmos prin- cipiosnos guia ateaseonseqiieucias maisarre- dadas. Eis aqui pois ires, e as unicas faculdades cardiacs, que sao os agentcs elaboradores, e collaboradores de lodos osnossos conlietimen- tos. Todas as nossas ideias ou csiao involvi- das c occullas em oulras; ou suppoem a pre- senca simullanea de niuilos objecios, de niuilas ideias; ou presuppoem uma presenca succes- siva e individual de varies objecios. No 1." case sao o produclo do raciocinio; no 2.° da comparacao; no 3.° da altencao. Ecomo qual- quer, que seja a sciencia, as ideias, que gyram cm sua orbila, nao podem imaginar-se disposlas d'algum oulro modo, do que d'esles Ires ; segue-se que todas as sciencias resullam d'aqueila iripla raaneira d'obrar. Laromiguiere vac buscar as mesmas scien- cias exemplos para confirmar esle seu syslenia ternario. Foi pela altencao, diz elle, que Galileu descobriu a acccleracao dos graves na razao dos numeros impares, quandocahem verlical- niente. Foi pela comparacao d'esta vclocidadc com a que lomaria o corpo collocado ua dis- tancia da Lua, (|ue Newlon descobriu reali- sar-se o peso dos corpos na razao inversa do quadrado das dislancias a respeito do ceniro da terra. Foi em lim pelo raciocinio, que elle denionstrou ser applicavel esia regra a todo o systema planetario, c scr uma lei da nalureza. Concluamos pois, que a nossa alma, como ser intelligenlc, tern Ires faculdades primarias, com que nmnifesta, e desinvolve toda a sua aclividade intellectual — atlencao, comparacao e raciocinio. Todas as mais faculdades, queosphilosophos lemexcogiiado, rcduzem-se naluralissiniamen- te as Ires mencionadas ; sao pois secundarias. Mas para bem consolidar esle systema, e mister remover uma objeccao, que lende a dar ii seusacao o primeiro logar na escala das faculdades primarias. A atlencao (dizem) nao differe da sensafao ; sc nao e o nicsmo que ella, nao se pode dizer 0 que seja ; e indefinivel, se se quizer distin- guir d'clla. CoDseguintemente as sepsacoes sao uma produccao da mesma alma, esla 'uura csiado active, quando sente, e vem a ser o primeiro ramo da sua aclividade. E cerlo que lia uma attenfao, que e con- sequencia natural da impressao, que os obje- cios cxlernos transmiltem ao cerebro; mas isso e uma atlencao involuntaria juneta com uma percepcao confusa da mesma impressao. Nao e d'essa atlencao, que traciamos, quando a assignamos como primeiro agente da iniel- ligencia: tal altencao nao e sulliciente para produzir ideias propriaincnle dictas, scnli- ineulos dislinctos. Traciamos sim J'unia al- tencao voluiUaria, d'uma atlencao, que a al- ma muito deliberadamente quer preslar:.e essa e essencialmente distincla, e mesmo se- paravel da sensacao, com quanto a outra seja inseparavel. A atlencao voluntaria lorna-se quasi'pal- pavel uos exemplos scguinles. Se qualquer se imagiiiar collocado cm uma imminencia, que domine uma vasta campina debaixo d'um espacoso liorisonte, vera mui- los objecios confusaraenle; mas isso e muito differente de olbar para cada um d'elles se- paradamenle, o que so podera fazer por uma applicafao direcla dc especial aUenjao. E a mesma differenfa de altencao, que se verilica por occasiao de ver os caractcres d'uma es- cripta em complexo, ou individualmeuie. A mesma difl'erenca milila a respeito dos outros sentidos, v. g. de ouvir. Quando em um thealro senlinios em torno de nos um ruido importuno, fazemos todos os eslbrcos, para que esse ruido, que a nosso mau grado ouvimos, nos nao dislraia do quo adianli' esiamos preseuciando, e que quercmos e\clu- sivamente escular. Eis aqui pois que a alten- cao voluntaria (que ii a unica intellectual- menle prolicua) se nos appresenta em lucta com a altencao involunlaria ; e diversa nan so d'clla, mas lambem da sensacao. Demais, a mesma atlencao involuntaria <■ confusa, com quanlo inseparavel seja da sen- sacao, nem por isso c idenlica : uma cousa <• simullaneidade, ouUa idcntidade c unidadr de phenomenos. Da circumslancia de que diia.- cousas nao possam separar-se, a conscquen- cia natural e que sao duas, e nao uma so, o que implicitamente importa diversidade; alias diremos que o recto e verso d'uma follia sao identicos, por serem inseparaveis ; que as ideias d'um corpo, que cmbate 'noutro, c do que e cmbatido sao indenticas pela mesma razao: c assim d'outras muilas ideias, como a de monlanba e valle; grande c pequeno ; forte c fraco; e todas as mais ideias relalivas. Que importa que a atlencao nao seja assas defiDivel? Nao o e; porque nao icmos iima idcia anterior, d'ondc ella derive; que essa c 174 0 INSTITUTO lainhem a razao por que a ideia fundamenial d'unia scieocia minca podc scr definida. Mas, se por uma dciinicao a uao podeinos conhecer; podc'^nios sini conliecol-a pela expe- ricDcia. Conliecemos a aclividade da alma, ])orque senlimos o sen exercicio, on antes e ii accao, c nao a aclividade, (|uc nos senli- mos. E d'cssa mcsma expericncia podenios nos deduzir uma deseriprao, com ([uc noi-a ligu- remos, em logar d'uma defmieao. Concluamos pois : 1," Que a scnsarao nao 6 acompanliada de allencao propriamenle dicta. 2." Que, suppoiido mesmo que a scnsarao c allencao fdsseni inseparaveis, nao deveram icr-sc na conta d'um so e unieo plienonieno. 3.' Que por isso que clla oi)ra no insianie nicsmo, em que seme, nao sc segue que essa accao seja uma modilicacao da sensacao. 4.° Que a alma nao e a causa das scnsa- rOes, que expcrimenla. 5." Que a ideia de allencao c ciarissima; posto que nao seja assas definivel. Estes corollarios novamenlc conlirraam o systema de faculdades radicaes do cntendi- luento, adoplado e organisado por Laromi- guiere; bem como acaliam de mostrar quanlo a scnsil)ilidade e impotente para dar a razao dc nossa inielligencia. Conlinia. «** LEITURA REPENTINA Cutnprimoa uma promessa. Tudo, quaolo rospe'itar a «sta grande e maravilhosa revoIu^Tio IitlerarJa, iiileressa siiperiormeiUe aos hemens de lellras, e niais ainda ao po- vo ; e 0 Insliliilo (Veja-se o projrramma) nao 6 escripto so para aqiielles. Meninos, que nao Imviam passado das prmieiras tabel- lai diiranle mezes e talvez unnos, leeui na eschula do asvlti. sem grande dilTiculdade, palavras, que se Ihcs es- crevem. on aponlara nos livros; e isto em miii poiicas H- <;oes. Quasi todos conlieceni o abeccdario cnm os soni* raciouaes e variados de cada vojal e consoantes. K o <(ue nao e menos, concorreiu com lal prazer, que nunca o asvio da infancia teve menus fallas de frequencia. Ca- ptiva-oi um conlinuo movimenlo de hislorielas ajrrada- veis s6bre fignras ciirtosas; de decuniposii;ri<) de palavia:^ a coinpasso; de canto das regras de lelhira uo torn da Mariannita i — de marchas 'nestes raesraos exercicins ; e fechando tudo com o bellissimo Iiymno ao tiabalhu do ^r. Castillio, em prande cdro de 60 a 70 vozcs, infanli's sim, mas animadas e liarmoniasas. No methodu liu para Tozer grandes mellioramenlos, fi* Ihos da experiencia. Folgamos de ver esla mesnia neces- sidade reconhecida por sen A. ; e dc anniinciar com die a proxima luiblica^'ao de uma edn;rio mnito melhnrada. Kis aqiii o que se digna escrever-nos em data de 29 do proximo passado : <( A segunda edii^ao do melliodo dJsta da primeira em bundade o que dista nm bom pao de nossa edade de ferro, d'uma bolota porqneira da edade aurea, de que Dt-us nos Irvre. Ha 'nella, alem da imporlantissima e ossencial base nova, a saber, decomposi^ao da palavra nos sens elementos, e leilura auricular, mil oulras novidades de prestimo, fruclo da pr/tclica, e da redexao ; e no fim de cada li^ao, divertimentos e jogos, quo invcntei, jiara que a mesma li^Jo i,e continue ainda com dobrado ))razer nas horas de folgar. Ha novas gravuras para incitamento do Ruslo ; lia cantos com a niusica fithographada para uso das esciiulas ; c lia sobretudo uma certa propostasinha orlhograpliica, que, sc m'a adoplarem, fara, com que, cm quiuze dias ou menos, se aprenda inrallivelmente a ler e a escrever. Vejo hem tndas as objei;def, que a uma revoIurSo orlhograpliica se podem, e costumam fa- zer; mas, como as razSes contra, sao todas litterarias, e as razoiis pro, sao todas humanitaria* c cliristans, aquellas para o pass:ido, e eslas para o futuro, tenlio {6 em que lodos OS ilnimos generosoB me ajudanlo: se assim for, e lirar dos pes da Minerva o mocho, e sental-o triumphante sobre uma aguia. Va\ tcncinno dirigir-nie ao corpo academico em niassa logo que saia o men livro, e supplicar-lhe se colloque, na vanguarda, e forme o corpo de guias d'esla cruzada; :^e n ubliver^ como espero, hko de se fazer prodigies. Si: cti tivcsseuiua dnziade collaboradnres, de denodo, de amor da fe, de intejligencia e de atictoridade, que a nos^a reforma ha mister, jurava que em dez annos Por- tugal vinlia a ser um modt-lo para eslndos a muitas na- (;oes grandes. E nao e jslo vangloria : os principios das cousas mnximas sao |)equenos e faceis. Sabendo o povo ler, o que e obra de n.ida, como so ve; e dando.se-lhes bons livrinlios, de proposito feitos para elle, macissos de doulrinas uteis, em linguagem desambiciosa e por pre^o lenuifsirao c quasi nullo, o povo pude, e deve ser bom e afortonadu. Por falta absoluta de tempo nno appresento o vasto e esplendido quadrodo quasi incrivel desinvolvimenlo, que iilliinamenle, e como a subitas, a nossa Leitura Repen- lina tcm recebido. As nossas escholas passamdecincoenta, C algumas populosissimas ; ou milagres apparecem, ale nas menos boas j a opiniao pronunciou-se toda em favor, depois das suas costumadas, e talvez prudentes liesita^oes. O minislerio, e o Pa^o, (em dado leslimunlios, nao equivocos e numerosos, de convencidos. Pela imprensa periodica deverja saber-se de tudo isto ; mas a imprensa periodica de Lisboa, com muito poucas excep^oes, nao se tern dignado de falar, seqtier, de esforijos, com cujo bom exilo, Incrando lodos, Incram dobradamente os que vivem de oscrever para as tiirbas. O que fizemos e conseguinios, fizemol-o e conseguimol-o sem ella ; a despeito d'ella, diz alguem; nSo o creio, e infinitaiuenle absurdo ; mas, sem a sua coopera^ao, de certo. E das jirimelras obrlgn^Ses do jofnalismo, enlendo eu, diriglr a npiniao I'ublica; o d'aqui, nao so a nao dirigiu, mas nem a acompanhou, uem se qucr a segniu. Pode coulinuar sem escrupulo nos sens imi)ortantissi- mos traballios ; a crian^a esta desmamada ; ingalinliou sem aiixllio da vizinba, e \a anda e ha de crescer e ha de servir muitissimo, ate a essa propria vizinha, pouco agra- derida, e descuriosa.» — O sr. A. l'\ Castilho tem a boudade de nos annunciar nltrm d'isto, que estao impressas cinco fulhas do sen me- tliod(» de csrri/fta repcntina ; e que brevemente possuire* mos as estam|ias da leilura em formato maior, e algumas iUnmiuadus, o que ceutuplica suas vantagens. Permlta-se-nosaccrescentar per esia occasiuo, que tc- mo.s por uiuito necessario que os professores nao alterem. a &eu arbilrio, as leis do methodo, que sen A. profunda- mente meciton ; por i^so que beni pude acontecer que o coutrario inulilise todos os esforros. Aos incrednlos e duvidosos, que tantos ainda ha, so- mcnt^ perguntaremos: sera cousa indifferente para o apro- veitarnenlo de qualquer ensino o goslo, 0 enlhusiasmo par elle, da parte dos que apprendem? — sera cousa pouca Iransniittir a memoria e a inielligencia d'um grande nu- mero de meninos de ieura edade, em menos de qulnze horas de li^ao, o conhecimento de .^jj ielras, e arlicula- );5es compostas, representando 47 sons diversos?... na** ^alera nada, brincando, e cantando, que 'nesse espa^o hajam tornado de memoria quasi todas as regras fuada- menlaes da appltcarao d'esses differetites sons na leitura; e de tal arte que, por exemplo, lendo elles a ou 6, aonde deviamler d ou u (por &), openas se Ihes indicam os ver- sinhos, imraediatamente se emeiidam a si niesmos?... Respondamoa imparciaes, a. furjaz,. ® 3n0titiit0 JORiNAL SCIENTIFICO E LITTEIIAKIO BOLETIM 00 INSTITUTO DE COIMBRA Em sessao geral do Insliluto, de 38 de ou- tubro, procedcu-se ii cleicao do Presidentc, de um Secrelario, e do Thesouieiro, em logar dos socios que se liaviam escusado de conti- nuar a exercer esles cargos; e foram eleitos, Presidenle o sr. Dr. Francisco Jose Duarle Nazareih, Secrelario o sr. Alexandre de Mei- relles do Canto e Castro, e Tliesoureiro o sr. Dr. Joaquim Augusto Simoes de Carvalho. Na mesnia sessao foram eocarrcgados, o sr. Adriao Pereira Forjaz, do clogio funebre do socio fallccido, o sr. Dr. Manuel Autonio Coelbo da Rocha ; e o sr. Dr. Antonio Ber- nardino de Menezes, do elogio funebre do so- cio fallccido, 0 sr. Dr. Joaquim Urbane de Sampaio. Em sessao da Direccao de 2 de novembro foi noraeada unia commissao, coniposia dos srs. Dr. Jose Maria de Abreu, Jacintbo An- tonio dc Sousa, e Luiz Jose de Vasconceljos Carvajnl, para propijr o projeclo de regula- mento provisorio, para o Institulo, Direccao, c Classes. Acha-se ja na iniprensa csie regulamenlo, que foi discutido e approvado em sessao do I dia 21. ! Tambem foi nonicada pcla Direccao uma commissao, coniposta dos srs. Dr. Florencio Mago Barrelo Foio, Luiz Jose de Vasconcel- los Carvajal, c Jacintbo Antonio de Sousa, para examinar o estado da contabilidade da sociedade, e da adminislrafao do jornal, e proper OS necessaries regulanientos, tanlo para este service, come para o Gabinete de Icitura. 0 parecer d'esta commissao, quanto a ad- ministragao do jornal, foi ja approvado pela Direccao, achando-se cxactas as comas. A commissao continiia trabalhando sobre OS oalros objectos, que Ihe foram encarrega- dos. Em sessao do dia IB procedeu a Direcjao Vol. I. Dezembro 1 - a nomeacao da commissao para redigir 6 ]()*- nal — 0 Inslitulo — ate se verificar a eleicao da mesma commissao, na forma do regula- mento provisorio. Foram nomeados : Pela olasse de Scieucias Moraes e Sociacs — OS srs. Luiz Jose de Yasconcellos Carva- jal, e Joao Baptista da Silva Martens Ferrao. Pela classe de Scieucias Physico-Malhema- ticas; — OS srs. Dr. Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto, e Dr. Joaquim Augusto Simoes de Car- valho. Pela classe de Litteratura, Bellas Lettras e Artes; — os srs. Jacintbo Autonio de Sousa, e Dr. Antonio Bernardino de Menezes. Na conformidade do novo regulamento, la- zem parte d'esta commissao, e presidem a ella por turno, os Dircctorcs das tres classes. Os artigos publicados pela commissao rc- dactora sao vistos e approvados em conferen- cia geral. A dirccfao especial do jornal e conliada mensalmente a dois dos membros da commissao com o Director da classe, a qucni toca 0 turno da presidencia. Na niesma sessao foi nomeado Director do gabinete de leitura, o sr. Francisco Moniz Barreto Corte Re^il. A classe de Litteratura tern celebrado treg conferencias particulares, nos dias 7, li e 27 de novembro, em que discutiu um programma oiferecido por um dos sous membros para a redaccao do jornal, e o regulamenlo, apre- senlade pela commissao especial, composta dos srs. Dr. J. A. Simoes de Carvallio, J. B. da Silva Ferrao, e Henrique O'Neill, para os Curses de leitura, que bao de principiar no proximo niez de Janeiro. Este regulamenlo ja foi presente a Direc- cao, e approvado em sessao do dia 28; e sera publicado no proximo niimere d'este jornal. 'Nesta sessao resolveu tambera a Direcfao assignar e prase, ate ao dia 20 do corrente, para a apresenlacao dos programmas dos rc- .1832. ' Num. 17. 176 0 INSTITUTO feridos cursos, afim de sereni approvados pelas (;iasses. Em conferencia do dia 7 de novcnibro fo- rani eleitos para Secrelario, o sr. Jose Julio d'Oliveira Pinlo, e Vice-Secretario, o sr. Luiz Jose dc Vasconcdlos Azcvedn Silva Carvajal. A classc de Lilteralura nomeou tambeni, na conferencia do dia 27, as tres conimissocs, de que iracta o seu reyulamenlo provisorio. A coramissao de Lilteralura, coniposla dos >rs. Dr. Adriao Pereira Forjaz, Luiz Jose de Vasconcellos Carvajal, c Dr. Antonio Bernar- dino de Meneze<; A de Bellas Lctras, coniposla do srs. An- tonio Ignacio Coellio de Moraes, Dr. Bernar- dino Joaquim da Silva Carnciro, e Henrique O'Neill: A de Bellas Aries, coniposla dos srs. Dr. Antonio Nunes de Carvalho, Alexandre Mei- relles do Canlo, c Dr. Jose Teixeira de Quei- roz de Moraes Sarmento. A classe de Sciencias Physico-Malhema- licas elegeu para Secrelario, o sr. Jacintho Anionio de Sousa, em conferencia do dia 7 do diclo mez. A sessao solemne da abertura do Instituto Iiade ter logar no proximo dia 19 do corren- ic. na forma do regulamenio provisorio. 0 Secrelario inlerino J. /. de Oliveira Pinto. REFLECgOES CRITICAS Sobre varies artigos religiosos da Encydopedie mo- (lerne. puhlicada em Paris por M. M. Firmin Di- dot Freres, em 1847, e seguintes. iNraODtccAO U.s males incalculaveis causados pela irre- ligiao sao de lodes conhecidos: a hisloria aponla-os, a humanidade senle-os, e a rcli- giao lamenla-os. Os conductores d'esles raios devasladores da sociedade humana sao, em grandc parte, OS livros inipios e irreligiosos. Homens de genio, e de insiruccao prosti- tuem 0 lalenlo, e os conhccinientos a inenli- ra, ao engano, e as paixoes. Todos OS scculos abundam em cspirilos fal- sos : cnumeral-os seria nao acabar. Quern podcria bosquejar os erros dos llico- logos? quern 05 desvios dos philosoplios? quern as framles dos jurisperilos? quern as Utopias dos polilicos? queni os cxlravjos dos medicos? quern as venalidades dos hisloriadores? queni as fulilidades dos littcratos? 0 abuso infectou muitos dos cultorcs da magestosa arvore da scicncia ; e a pobrc, civada por lanlos golpe.s t perdeu niuila da sciva com que uma ajustada razao Ihc nutria a vida. Os pomos 'nella co- Ihidos, longe de aviventar o espirito, niuitas vezes so a niorte produzeni. Nenliuns poreni niais damnosos a sociedade, que OS males causados pela penna irreligiosa. E leria sido a sociedade viclima de tantas devas- tarOes, se a irreligiao nao dorainasse, desde 0 volume da niais trascendenle sciencia, ale^ 0 pampldeto do ma is frivolo romance? Se 0 abuso justilicasse a exlinccao, ha que tempos devcria, nao digo ja ter acabado, mas ter sido riscado da niemoria liumana o mara- vilboso invenlo da imprensa?... Entre os abusos do espirito huniano, appa- rece orgullioso o racionalismo contemporaneo : ' assenlado em seu despolico llirono d'Allema- nlia, assuberba o niundo calholico ; nascido em nebulosa alhmospbera, procura mais ameno clima para vegelar: a imprensa calholica do nieio dia dcnuncia-o por toda a parte. A Franca ve-o gcrminar cm seu solo mimoso; mas ar- busto giganle ja nos assombra com sua maie- lica influencia. Qu'esl-ce que la Bible — Qu'esl-ce que lu Reli- gion— La Philosophie du socialisme par A. Gui- pin — a vida de Jesus pelo dr. Strauss, e muitos outros escriptos»'acio»irt/is(flsacham-se desgra- cadamentc em quasi todos os livreiros, e nas niaos da juventude inexperienle. A doutrina de similliantes obras e urn toxico mortal, a sua leitura, o gernien da desmoralisajao do nosso seculo, fonte inexgotavel de suas cxtra- vagantes revolucoes. 0 grande Bossuet cha- mava ao naluralismo do seu tempo alheismo disfarcado; c que se deve charaar ao racio- nalismo contemporaneo? Estas, e outras muilas eonsideracoes obri- gam-me a enipreliendor as — Re/lexoes criticas sdbre varios artigos religiosos da Encyclopedia Moderna. 0 ineu lini e servir a sciencia, nie- Ihorar os homens, e por conseguinte ser util a sociedade: o nieu lim e inciiar com esta lentativa lantos doutos, que, se publicassem pela imprensa algumas das suas niui logicas e eloi|ucnles preleccoes, o racionalismo con- temporaneo nao passearia em nosso solo tao altivo. A enipreza para uni so, como eu, e arduft: avalio as suas difliculdades, reconheco o em- maranliado caminbo que vou trilhar, mas espe- ro que 0 tornem iransilavel os soccorros de MM. Bossuet, Bergier, Glaire Moclieler, Tho- hick, Wiseman, Boselly de Lorgues, Maret. Nicolas, Vatroger, C'liassat, e outros. Facili- tar-se-a com os conselhos de lantos sabios d'esta Aeademia, que me bao de coadjuvar na defeza da verdade. a. b. de menezes. ' Eillendo jiela [>lirase rorinnalismn contempornnrn nao o ilso do raciucinio e da razao no estudo da religiao, mas o abuso. Enleiido a doutrina, *]ue naturalisa a reve- lfl9uo, ou que pretendc uiteTi'rclal-a so com o-anxilio da razito. I 0 INSTITUTO 17- A PHILOSOPHIA DO DIREITO EM PORTUGAL Conliniiado de pag. 64. Conclusao. Krause no seu Grundlage des Naturecthes (1803) conrebeu ja o direilo como o complexo organico das condicGes exleriores do destino racional do homem e da Inimanidade, c procu- rou desinvolvel-o nas suas relacoes com a moral, a familia, a nacao, c a liumanidade. Esla ideia do organismo. abracada por Krau- se, e a (|ue Troiixler deu niais extensao, posto que erroneamente deierminassc a sua appli- cacao, e devida, sem diivida, a influencia da reforma philosopliica de Schelling.' Enuilo de Bruno e de Spinoza, este ultimo pliilosopho, cm cujos esnriplos vemos a poesia nao poueas vezesligada com a pliilosophia,' tentoudemons- trar a represenlacao viva do ser absolulo no mundo pliysico e no mundo moral; indicou 0 parallelismo profundo entre estas duas naUi- rezas; e recebeu nos diversos dominios da liberdade liumana a ideia do organismo, que ja bavia despertado no espirilo dos naturalis- tas. Daqui nasceu umn concepcao harmonica do direilo, em que o individuo veio a ser con- cebido, nao isoiada e abstraciamente, mas nas suas relacoes organicas com a familia, com a sociedade, em tim com toda a liumanidade. E para sentir que Schelling se nao occu- passe em especial do dircito como depois fez Hegel, esse philosopho, cujas doulrinas repre- senlam ludo o que no pensamenlo ha de niais syslematiio e abslracio: apenas apreseniou ideias vagas, e iracou a applicacao poliiica do ECU syslema, examinando o direilo natural de Ficbte nas suas LicOes sdbre o melhodo dos esludos aeademicos , e no Idealismo Iranscen- dcnte, onde diz que a sciencia do dircito e para a liberdade, o que a meclianica 6 para 0 movimenlo. 0 systoma de Schelling, corrupcao da grande ideia do S. Paulo — in Deo vioiinus el move- mur et snmus — (que nao pode encontrar mais bello commenlario do que o systcraa da visao em Deus de Malebrancbe' nao e incompativcl ' Tronxcr {Pliilosojilliche licchlslekre — 1820) par- tinJij de priiicipios verdadelrus tiruu consecpiencias extra- vaganles; — conceben, e verdade, u fun da vida como o desinvolviineillo da natiireza, desinvolvimenlo que se verifira da parle do corpo e da alma, massempre em re- ^iiltfido 'nuQia iinidade mais elevada ; segiiindo porem a >}ste[na das antilheses e analogias, rfnluziu o direito e o moral a urn reflexo da oppusi^ao enlre o espirilo e o corpn, pnlre o elemenlo psycliieo e pli|sico ! * Cnbpra a Schellinir o sentir de iim dos mestres da critica Utleraria a respeito de nra liistoriador ; — an pent dire, f/u'il a besnin iV^lre poete^ non seuiement pour fire rl/tijiienl, mats pnnr (Ire orai> Villemain. ■^ Stjbre as consequencias do pantlieisino na ordem mo- ral nada ha a acCrescenlar de|)ois do que cscreveraui Ma- i3 com 0 direito nem com a moral. Ambas eslas sciencias presuppoem a individualidade, aper- sonalidadc, a liberdade, e a realidade do. mundo exterior; e esta philosophia, alem de desco- nhecer a realidade do mundo extra-pessoal (apcsar da sua apparencia de realismo) ani- quila a liberdade com a personalidade bumana , pois 0 panlheisrao destroe toda a substancia- lidade secundaria, toda a realidade imdepeii- deate, toda adistinccao de bem e mal, nunn palavra, a essencia do direito e da moral. E verdade que Schelling professa desde 1843 um novo systema a que deu o nonie de plnlo- sopliiapositiva da revelacao, noqual, parlindo da liberdade divina, e descobrindo na reve- lacao a manifestacao da accao de Deus, esta- beleceu uma philosophia da liberdade, deac- cordo com a bisloria e com as institnicoes sociaes; mas as suas ideias, applicadas a phi- losophia do direito, e desinvolvidas por Stahl, lem sofl'rido grandes criticas, esao talvez nieno.': suslenlaveis que oscu Idealismo transccndenle .'' Depois de ter profundado mais o estudo da natureza humana, e as novas ideias philoso- phicas, amplamente desinvolvidas nos cscri- ptos de Schelling, e de Uagel, Krause lentou em 1828 desinvolver rigorosamente o princi- pio do dircito, que bavia anteriormente csta- belecido. No seu Abriss des si/stemes des liecMs- pliilosophie concehcvt o direito como ocompkxo organico das condicoes internas e exlernas, depcndentes da vontade humana e neccssarias para o cumprimento do destino racional do homem e da humanidade. Esta concepcao scienlifica do direito e a mais compleia, que ale lioje tern apparecido, ])ois sem participar dos defeitos de todas as outras, enccrra, como dizAhrens, ludo o que 'iiellas se acha de verdadoiro ; refere-se a socia- hiiidade, como a do Grolius, mas alem disso marca as condicoes para o desinvolvimenio da vida social; distingue o direito da moral, como Thomasio, nao pelo caracter secundario da coaccao, mas considerando esta como fun, rei, Essni sur le pantheisme, Paris 1845; Nicolas In- trnd, Arhist.dc laphilas, Paris 1049, t. 1. pag. 227 e seg.; e o Diet- philos^ph. dc Franck. ■* Nuo se comprehende no fini, que nos prnpozemos, a expo^i^ao d'este novo systema de Schellins:, mas nao pode- mos deixar de mencionar como diprnas de mereciinenln 'nesla parte as obrns de Mailer, Schelling^ on la phihs. lie la nature etc, (Paris 1845), e de Biedermann, Die deutsche phihs, von Kant bis auj unsere Zeit (I^eip'/ij: 1843). Confessamos nao saber ainda o effeito das nova> ideias de Schellinj; sobre a pUilas^phia da natureza. de que elle foi o verdadeiro reslaurador, como confessa Cn- vier, i. cerlo que as ideias e.\ageradas do idealismo in- troduziraiu 'nesla sciencia principios que foram e lem sido allatuente crilicados, taes siio a fdrgn plaslica isimilliante ao principio da fdrma de T^antennais, que faz recordar asii/eras seminaes de Kronland e as honieomerias de Ana- .\n2orasi, e a transforma^do das causas finars em effi- cif//(fS.sustentada ainda eui 1845 por Kooseu, Der Strett des Aatnrgcsetezes mitdem Zweckbegriffe e\c.ef\og'iad:i por Forllai^e na Neue Jennisclie allgeni. Litteratitrzei- tii'tg, numero 30G e 307. 178 0 INSTITUTO aqiiclle como meio;' assegura, como Kant, coexislencia da liberdade de todos, mas nao se liiuita somente a ella. antes se refere a todas as faculdadcs, e a todos os fins do liomem c da hunianidadc. As ideias de Krause nao tardarara a domi- nar na republica das letras, c a formar alo uma eschola distincla, cmbora Wilni na sua bistoria da philosophia alleman llies nao de a devida importancia ; ' foram scguidas por Alirens, professor em Bnixellas, por Davinon, na sua Organisation sociale, e em fim por Leonhardi, e Boeder, professor de neiilclberg.' FallAnios com relacao a philosophia do diroilo mas as ideias sobre os oulros ranios da phi- losophia nao teni tido nienos acceitarao : na philosophia geral foi Tihcrghien sou fiel re- productor; na philosophia da historia, encon- irou em Allmeyer iim discipulo insigne, urn slrenuo defensor. Cumpre porem observar que tanlo cm Por- tugal, como em Franca, o syslema de Krause aponas teni sido adoplado c exposlo nas suas re- lafoes com a vida individual ; resla ainda uma grande lacuna, pois as suas ideias sobre a orga- nisacao social, tao admiravclmenle exposlas no 3eu Urbild dcr Menscheit, ainda nao appare- cem completamente applicadas nos tractados scieutificos, para o que concorre o nao haver traduccoes dos escriptos d'esle gcnio porlen- toso, e, entre nos principalmenle, o scr pouco vulgar 0 conhecimenlo da lingua germanica.' E quanto nao e isto para lamentar, quando conheeemos e pod(5nios apreciar, ao menos por traduccoes, os priniores da poesia, historia e jurisprudencia d'essa parte mais culla da Europa, cuja philosophia e erudicao profunda fazia extasiar o celehre naturalista franccz OeolTroy de Saint Dilaire! As obras da Savi- gny e Hugo no direito, de Kant em philoso- phia, de Goethe Schiller em poesia, de Strauss em theologia, e de Cams em scieacias nalu- raes, sao-nos mais faniiiiares, do que os es- criptos d'esses pensadorcs da Allemanha, que tern fcito, e fazeni da sciencia social o objucto coustante e aturado de sous estudos, de suas lucubracOes. 0 conhecimenlo d'estas obras seria de gratidd * Apesar deserhojtr ntlmitlitla ^eralmenle .idislinc^ao *\q direiio e tta moral como nm (Ins prtmpiros principios da sciencia, Lauer, pliilosoptio aUemuo inoderno da es- choirt de Maislre e de Booald, confimde de novo ostas diiassciencias nos sens elemenlos de pliilusopliia do direito. * Esta falta indescnipavel foi com jnsta razJio cerisri- raiJa por R^musat no sen Rapport sur la philosiphie nllemande (1844^. Roeder e hoje iim dos jirofessores mais netaveis da AUemanJia ; e a applicaijrio (pie Tazdosystema (ieKraiise ao direilo criminal i tanlo mais admi^a^'el quanto este ))]iilosopho n,^o sabia jiistiOcar aos ollios da philosophia o direilo social de punir. ' Deveraos lodavia fazer a devida jtisti^a a Pascal Dil- prateaBouchille;aqiiellenaWfi'uein(if/)cn(/n«(<'del844 (Jan. e Marijo), este no Dice, ties scitnc. pkilosoph. apre- senlaram bellissimos cxiractosda philosophia de Krause. iranscendencia; as doutriuas de Saint Simori, Fourier, Cabct, Considcranl, L. Blanc e outros socialislas dcixariain de ser considei-adas por muita gente o non pins ultra da sciencia; e vir-sc-ia por ventura a reconheccr que esses prelendidos reformadoros nada mais fizeram do que o romance da vida sot^ial ; quando e certo que a verdadcira philosophia deve basear suas doutrinas, nao sobre essas pliantaslicas leis da serie adanltrarrdo, nao sobre as pue- rilidades do plialanslerio, nem tao pouco 'nesse neologisnio incomprehensivcl do Fotirierismo (que so teria logar, se o nnivorso, como dizia Carlos Bonnet, so rcduzisse a nm espcclaculo d'nppnrencias), mas sim no cstudo profundo da naUircza, e na expericncia," cuja observa- cao proclamava como principio scicnlifico no sen novum orrjanum, o contcmporanco de Sha- kespeare, e d'essa epocha illuslre, em que a In- glaterra sob o governo de uma mulhcr regene- rava a arte e a philosophia." 0 delirio, que concebc chimeras tao cstranhas, liio arrisca- das, e nicnor argumenlo talvez da pobre ca- pai:i(lade humana, do que a teima que as re- produz sem embargo de tao scveras experien- cias." Todas as doulrinas, a que nos rcferimos, tern sido mais ou menos uma proleslacao do ins- tinclo do movimen to contra o sentimcnlo da con- servacao; mas a sociedade nao se dcixa guiar somente pela fe do inslincto, e mister que todos esses conceitos aniitlicticos veiiham formular-se na razao.'"Nao queremos com isto dizer que o socialismo seja em tudo uma chimera, c que nao haja 'nelle que aprovcitar; confesscmos com Blanqui que Ihe devemos muito, porque foram as suas hypotheses, que fizeram com que aver- dadeira sciencia social, conhecendo a falsidadc d'ellas, ehcgasse a delinir-se, a formular-se quasi definiiivamcnte ; c nao 6 por cerio exa- gerado applicar-Ihe o que Dugald Stewart disse a respciio da philosophia de Descartes— j-pd--' • II ii'i/ a i/u'uii vpritnble Itghlntenr dans^las tethp'i' moderite^. cU'st Ve-vpcrience — Tiiiers, //is;, dii consutat el Venipirc, t. I . '" Os .systemas socialislas, diganiol-o ainda que de passaf,'em, podem rodiizir-se em I'lllima an.dlyse a tres — Sansimiinisma — Fovrierismo — ■ e Cummunismo. O sys- tenia de Robert Owen com as suas sncieditdes cooperO' tivas sera umadoulrina pLilan tropica, mas sem valor scien- tjfico. Aipielles tres systenins, disse Danuion, srio os ter- nios de iiiiia serie loi,'ica e diio em rcsnllado tres princi- pios, o priineiro dos quaes e a anlittwse do spf^iindo, e o lerceiro a si/nthese de ambos, pois o enmmunismo (* o termo fatal dos dois primeiros. Nao entrAmos na aniilysc d'estas Ihcorias; L. Reybaud, A. Siidre, e o sr. A. L. Seabra o lizerara calialmente, e o commiinismo iiuo ptjde achar refula(;.HO raais completa, do que o si/stema das con- Irailic^des cconomicas de Proiidhon, de que o sr. P. A. Viaim noa esladanrto na Peninsula iima preciosa analyse. ' ' D. l-'rancisco Alex. Lobo, f'ida do Duqne de Cn- vadnt, D. Nnnn , pag. 43. ^^ *Num capiliilo das Zwanz. BliiL. re vista putdicada por J. Hervegh, sRo coniparadosos social istas com Ficlite, Scliellin;^ e He^el. Niio e na nnidade c profundidade de Ideias que pod^mos admittir tal compara(;So, mas so tios voos arrojados da imnginajiio. 0 INSTITOTO 179 (Ic-sc questiouar, se o mundo tiiou mais pro- veilo das veidades que dk eiisiiion, ou dos er- ros em (|iic se deixou caliii." A. sociedadc vu-se hoje forrada, com elTeilo, a constiluir uina vcrdadcira doulriiia social, sem ser necessario admillir com Darimon, que ella se aclia enlre duas contradiccoes — a eco- nomia poiitica, (jue nega o fuluro cm nome do prcsentc — c o socialismo, que nega o pre- senle em nome do fuluro." E cerlo que a hu- manidade torn de renunciar a muilas de suas Iradifocs, a vista dos progressos, per que o cspirilo iiuiiiano vae passando; mas ha dc por isso obedecei' cegamente ao instinclo dc mo- vimenlo que a inipelle? Nao, nao e o iuipuiso de uma intuirao ob- scura, que deve guiar a humanidade. Ideias positivas devem presidir a refoinia dc seus haLilos c liadicoes, c o socialismo nao as presta, porquc nao passa de uma negarao, de uma simples protestacao contra a legilimi- dade de um facto, e porque, abandonando a critica pura se entreijar a dedamacao e a Uto- pia, e tomando parte nas intrigas polilicas e religiosas, Irahiu o que havia de bom cm sua WIIMOO." A doulrina dc Krause forneceu cslas ideias a humanidade pela formula exacta c profun- da, que descobriu para o direito. Os csforcos d'esse homera, que ainda no Iranse final da vida exclamava, com a fe do pliilosoplio e do christao — o amor da humanidade acahard for cdntar a victoria — nao foram, nao hao de ser inuteis. E 0 sysiema de Krause, que hoje domina em Portugal, peios esforcos d'um dos eximios pro- lessores d'esta universidade, o sr. Dr. Ferrer, que, vcncendo os embaracos que ofl'crecia uma empreza, tanlo niais didicil quanto ia de enconlro aos systenias pbiiosophicos em voga no paiz, fez as lelras patrias, e a universida- de, um relevanlissimo service com a publica- cao dos seus Elementos de direito natural ou philosophia do direito, e de direito das yeutes. LEVY MARIA JORDAO. VETERINARIOS I Antes do esiabelecinienlo das cscliolas de Lyao e d'Alfort, em Franca, no meado do se- culo passado, um puro empirismo dominava OS polices e escassos couheoimentos, que a antiguidade nos transmittira sobre a arte ve- lerinaria. " -tfisi./es.illejof^ ifethfjih, lup, I, jiag. 223. ■•■* Basliat, Harmod.Vcenom,' (Paris 'Ij^il), pag. 4 seg., 554 seg. " Prouilhon, Vontrtid. icen. cap. VI. ^V 2. Os escriptoresTomanos, que traclaram d'esta materia, niio fizeram mais do que repetir os erros grosseiros e as practicas ridiculas e ab- surdas, que encontram nos livros de Arislo- teles e Plinio. E o proprio Vegecio, que no seu tempo passara pelo Oyppocrates da Vele- linaria, limitou-se a copiar, scm a menor cri- tica, OS receituarios, que encontrara nos au- ctores gregos e latinos, que o precederani, ate para curar os gados das feiticerias! Ruini, Ramazzini, e Solleysel, que se, ocr cuparam da veterinaria, em tempos mui pos-r leriores e cujos escriptos sao ja purgados dos muitos erros, que se leem nos auclores anti- gos, nao foram mais felizes, em tudo o que respeita aos conhecimeatos anatomicos e pa- tbologicos. 0 Parfait marechal, de Solleysel, que tanto uonie grangeara para csle auctor, c que fora reputado como um oraculo pelos amadores da arte veterinaria, conteni tamanbos erros, e processes lao absurdos, que so podem descul- par-se pela ignerancia do seu auctor, nos primeiros elementos de auatomia e de phy- siologia. E todavia a obra de Solleysel ser- viu geralmente de modelo aos auctores, tanto nacionaes, como eslrangeiros, que depois d'elle escreveram sobre a veterinaria, ale 0 tempo do illuslre fundador da eschola de Lyao. Quaudo esta eschola se fundou em 176J, pelos cuidados e diligencias de Bourgelat, ne- nhuma outra exislia entao na Europa. E d'esta epecha data o estabelecimento da Veterinaria, como verdadeira sciencia, na ordem dos co- nhecimenlos humanos. Bourgelat, e Lafosse, filho, apesar de rivaes, concurreram poderosamente, por seus escri- ptos e imporlantes observacoes, para dilalar OS limiles d'esta sciencia, e assegurar o seu future aperfeicoamenlo. Tres annos depois da fundafao da eschola de Lyao, os discipulos de Bourgelat, guiados por seu csclarecido mestre, estabeleceram, sob a proteccao do governe, a eschola de Al- fert, em 1765. 0 exempio de Franja foi imitado 'noutros paizes; e nas principaes capilaes da Europa se abriram escholas publicas de veterinaria.' Enlre nos, porem, os esludos veterinarios nao passaram dos escriptos de alguns auctores. que traclaram principalmente da Hippiatrica, por ser o ramo mais esludado desde a anti- guidade, e a que maior importancia se liga- va em tempos bcllicosos, cm que o mister das armas prevalecia sobre as laboriosas mas pa- cificas occupacoes da vida agricela. Eiitre esses escripteres alguns ha, que en- tao gozaram de raerecida celebridade, em al- tencao ao alraze em que se achava a vcle- ' As escholas de Copenbague, Madrid, Vienna, Ber- lim, Munich, Turini, Napoles, Padua, Hanover, etc. 180 0 INSTlTUTO rinaria ; ' mas ncm porisso a ahcitaria passou enlrc nos do niais grosseiro einpirismo, pcia I'alla de escliola c osludos espcciaes, 'neste ramo ; e sobre ludo pcIa falla dc habililacoes nos que se dedicavam a csla piolissao, para enleiuierem os escriplores iiiodcrnos, (jiie ira- ctarain dos diversos ramos da velerinaria. Ao grande adianlamciito que 'neste seculo tern lido a analoniia comparada, deve a ve- lerinaria OS seus maiores progrcssos, lornando racionaes os melliodos, ale enlao, einpirlca- jnenle iniporlados da medicina iiumana. Assim 0 seu esluJo ai)range iioje ludo o que respcila a conservarao da saude, mellio- ranicnlo c aperfeicoamenlo dos auiniaes, ou a hygiene velerinaria, a sua analomia — a na- lureza e raeclianisino dc cada oigao, ou a physiologia — ao csludo das doenfas dos ani- maes, lanlo em geral, como ua espociaiidadc, ou a sua patlioloyia — emlini A Iherapeutica — a materia niedica — as operacoes cirurgicas, e a velerinaria legal. A velerinaria exige lamhem o esludo das scieneias pliysicas e naUiraes, nas suas mui diversas relacOes, porque, como diz Mr. d'Ar- ))oval « aquelle que nao eonliece complela- raenle a scieucia dos animacs e dos agenles, que OS modificani, nao esla convenienlemenle habiiilado para Ihes conservar a saude, para curai-os, ou ao menos para Ihes paliiar as doencas.')! A velernaria, considerada debaixo d'esle, ponlo de visla, conslitue uma verdadeira scien- cia, ou antes uni ranio das scieneias medicas. Mas enlre a sciencia, que eslabelece os pre- ceitos, e a arle que saiie executal-os, ba ver- dadeiros limiles, que devcm sorvir de base a organisacao dos estudos veterinarios. 0 ensino da velerinaria, como sciencia, pertence aos cursos da iustruccao superior ; e deve ser estudada a par das facuidades e escboias de niedicina, como ja acontece 'nal- guns eslabelecimentos d'Ailenianba. E 'uesta parte o cstudo da velerinaria, em Franca, e ainda incomplelo, porque as suas escboias sao unicameiite destinadas para ouvintos, a quern fallani muitosdos indispensaveis subsidies para 0 esludo de uma sciencia, que exige as mes- mas, senao maiores babililacoes scientilicas, ijuc a propria niedicina. Ja no piano de estudos medicos, rcdigido pelo insigne Vicq d'Azyr, e apresenlado a .Vssembleia nacional em 1790 pela sociedade * Dos nossos antigos escriplores de velerinaria, o mais Dotavel for Antouio Pereira Rego, que publicou a — Instruc^ao da Cavallaria de brida, com urn copioso tiaclado de Atveitaria, impresso em Coimbra em 1679. A maior parte das obras, qtie entre n6s se deraui u es- lampa sobre esta arte, foram traduc^oes do Hispanliol, e taiobem algumas do Inglez. Das prioieiras, nma das niais estiniadas e — o Cnmjiendio de ^'eterinaria, cooi- ;josto por Fernando de Sande Lagb,^uja- tradiic^ao foi publicada em Lisboa em 1797. u h- ic;|;i': : ' H. d'Arbuval — Diction, de f'eterinaire, 1839. de mediciua, se estabciocia, que as escboias de velerinaria (izesscni parte das de niedicina ; ideia reproduzida, dois annos depois, no pro- jecto dc iiistriu'cao piibiica, apresenlado por Mr. Talleyrand, em 1792, e geralmente reco- nbecida iioje, como indispensavel, para ele- var OS estudos veterinarios ao par do estado actual ila sciencia. Em Franca, apesar d'aquellas lentalivas, e dc existir ja na academia de medicina uma seccao de velerinaria, ainda niio pude rcali- zar-se definitivamente essa tao util e neccs- saria reforma. 0 esludo da velfirinaria, considerada como arte, que ensina as regras para criar, aper- feicoar e curar os animaes, utilmenle empre- gados na econoniia domestica, pertence as escboias espcctaes, como as de Lvao, Tolosa, e Alfort, em Franca ; dc Berliiu e de Munsler, na Prussia; e de Wurtemberg; e aos cursos de economia rural, alem das escboias de Equi- lacao, e de Caudelaria. ' ■" ■ "'i ■ - A organisacao d'estas eScKolas diversifica nos dilVereules paizes, segundo o especial obje- cto do seu ensino, e as baliilitacoos, ijue para elle se requerem; mas todas lein o iiiu com- niuni de crear habeis praclicos 'numa profis- sao, oulr'ora tao desprezada, e quo boje lanlos e tao valiosos servifos esta prestaudo a econo- mia rural, na criacao e iractamento dos ga- dos, uraa das primeiras e principaes fontes da riqueza e prosperidade agricola. Das diversas escboias velerinarias, a de Alfort c a mais completa, lauto pelo niimero e exiensao das materias, que alii se professam, como pclos estabelecimentos destinados para OS exercicios e denionstracoes practicas. 0 curso de Alforl c de qualro annos, e comprebende — a anatomia, pbysiologia, hy- giene, pathologia, clinica e Iberapeulica ve- lerinaria, alem da physica, cbiniica, bisloria natural, c pharniacia applicadas, e da alvei- laria. 0 ensino nas escholas d'Allemanha e mais limitado. A de Wurlemberg, que c lida por uma das melliores, nao podc comparar-.se com- tudo a dc Alforl, particularmenie no que toca as colleccocs analomicas, e aos nieios clinicos. Esta escliola comprebende — a anatomia, e physiologia, a pathologia e tberapeutica, a cirurgia e alveitaria, dislribuidas cm qualro cursos. A de Berlin consta lambem de egual uiiinero de cursos, lidos era Ires annos, lendo por oh- jeclo a analomia e physiologia, a zoologia, a arle velerinaria, e a ferra dos cavallos.* A escliola de Caudelaria, era Franca, rc- formada em 1840, compOe-se de cinco ca- deiras para o ensino da Ilippialrica, esludo das diversas racas, hygiene, partos e criacao dc cavallos, bolanica, anatomia, alvcila.ria, OtDI jd/nl .lln-.irU'! ob .tannA • .,.'r ,..-;,^_-.« ,».-•> -_.,-;-., -it '., ■ n., -T n'"'M • ' Royer — L'Agi iculture AllemaniJe. ' " ' 0 INSTITUTO 181 pcimeiros elenienlos de veterinaria, equitacao, agricultura e conlabilidade agricola.' A Hispanha tern ulliraaineiilc nitlhorado muito 0 eusino da veterinaria, regularfdo esta parte dos seus esludos, segundo os nielhores modelos, e os mais auctorisados escriplos, pu- blicados em Franca e Aileniaulia subre esta materia. As escbolas veterinarias, assim organisa- das, l(5m preslado assignalados servicos a agri- cuitura e a econoniia domeslica. Desde o sen cslabulecimeiilo sao nuiito mais raras, e menos assoladoras as epizootias — a praclica do operacOes barbaras o quasi sem- pre fataes, e hnje substiluida por outras, di- cladas pelos vcrdadeiros principios da scien- cia; a parte operatoria tem-se tornado facil, ate nas maos dos meros practices ; o receitua- rio e simples e pouco dispciidioso. Entre tanto a bigicne veterinaria nao tem feito tao avultados progressos, como a tliera- peutica, o que nao e para admirar, porque nas escbolas veterinarias, collocadas, pela maior parte, nas capitaes, ou na sua proxi- midade, naoel'acil observar conveuienteraente OS animaes no estado de saude, c nas diver- sas condicOos, cm que os cousidera a econo- niia rural. E por isso, de ha muito, se tem curado de junclar o ensino d'csta sciencia ao da veteri- naria.' J. M. DE ABUEU, Continua, ASTRONOMIA Descoherta d'um novo planeta. 0 aslronomo inglcz Hind descobriu na tarda do dia 22 de agosto um novo planeta, cuja apparencia e a d'uma estrella de 9." grandeza, e a sua luz d'um amarello carregado. Posicoes observadas: Tempo medio Dist. pol.bor. de Greenwich ab app. sup. Agosto 22 ll'So^Sg' 22''22"29%74 97°32'14",1 12.27 16. .%^!^i, 25 ,2 Movimento medio diurno enV AB( = — 53". Era dist. pol. bor. = + B' ' '';' '' Esta descoberia foi loge annunciada pon Hind a M. Arago, conimunicada a Academia das Sciencias. Descoberta d'um cometa na constellacao dos Gemeos. Foi descoberto pelo P. Secchi um pequeno cometa na constellacao dos Gemeos, na nia- nban do dia 26 d'agosto ; e o resullado de suas observacgcs, coramunieado por elle de ' Annal. de I'Agriciilt. FraiK;. 1840. • Magn, Tiaiti d'Hi/giene f'elerinaire— Tom. I. Roma a M. Arago, e o seguinte: 0 cometa as 3'' 30'" tempo medio civil, precedia quasi quatro segundos uma pequena estrella (s') de 9." a 10." grandeza, e as S'Sa" a cobria eia- clanicnte pelo centre, de sorte que apenas se conbecia a existencia do cometa, por parecer que a estrella estava involvida n'uma subtil nebulosidade. Meia bora depois, o cometa ja se nao projectava sobre a estrella, e foi pos- sivcl fazer entre esta e aquelle algumas com- paracocs; mas por causa da luz crescentc do crcpusculo, a do cometa era muito fraca, e as liltimas observacoes sao pouco seguras. 'f res comparaeocs feilas por meio do micro- metro circular com o telescopio de Cauclioix, toniando por termo de coniparacao a estrella 14037 de Lalande H. C, serviram para de- terminar a posicao seguinte da estrella fs') : ar(s') = Lalande + 5°Vi3',6 ; declin. ($')= Lalande -f- o'20" ; que assim sera reconhecida. Tomando como posigao do cometa a da estrella no instante da occultacao central, sera; rn .- AfiCOStO Tempo medio r^o^^L^ de Honia 25''15''52", a.»r' = 7l.39»i31»,4, assentar: na sociedade, bem como no liomem, o movimento, que des- troe os systemas, e idenlico com o que os forma: — a necessidade, queosconstitue, iden- tica com a que os dissolve. Mudar o curso das ideias, mudar os senlimentos, os interesses, cas cousas, e sem diivida renovar a sociedade; epor isso que as revolucocs sociaes sao lentas, podendo apenas com custo. e so algumas vezes. indicar-se o memento, em que comecara, e em que acabam, N5o sao porem so os factos exleriores e mate- riaes, que constitueni o elemento vital da socie- dade : esta, como corpo moral, carece d'um identico desinvolvimcnlo 'nesle principio, que constilue uma parte tao esscncial de seu ser. E mister pois esludar o eslado interior e pessoa! dos homens; por um lado as ideias, as crencas, toda a vida intellectual do homera : por outro, as relaoijes, que ligam as ideias as accoes; as cren;as as detenninacoes da von- tade; 0 pensamento a liberdade humana. Nao partilhamos a opiniao d'aquelles que sustenlam que o eslado moral 6 dependente do eslado social : — que as relacoes dos homens entre si; os principios, ou os costumes, que Ihes presidem, decidem de suas ideias, de seuy senlimentos, de sua vida interior: que os gover- nos, e as inslituicoes fazem os povos. Quando uma revolucao social pretende mudar a face d'um povo, comeca por dominar a<; ideias, os senlimentos, as disposifoes interio- res 0 individuaes d'esse povo. Enlre o esladti social c 0 eslado viaral as influencias sao reciprocas. Se pode dizer-se que os governos fazem os povos, nao e menos exaclo que os povos fazem os governos. Esta marcba moral aconipanha por via de regra a social; seu progresso por lanto e lento, como o d'aquella. Guizot, fazendo eslas reflexoes nioraes, ad- verte, que a primeira vista parecerii inutil mencionar-se uma verdade lao simples, tao cvidente; mas que todavia o pouco aprejo que d'ella se faz exige laes consideracoes. ' « Em geral, estuda-se, descreve-se uma epd^ cha historica, diz este escriptor, quando elfe tem cessado de exislir: um eslado soci'a?, quando tern ja desapparecido. E entao em seii complexo, debaixo de sua forma completa e delinitiva, que essa epocha, esse eslado se apre- senia ao espirito do obscrvador. Facilmente elle acredila, que tal tem side sempre o eslado que analysa, esquecendo com facilidade que esses factos, que conlempla em todo o seu des- involvimenlo, chegaram a tal ponto, so depois de lerem passado por mil metamorphoses.!' 'l A consequencia d'este principio manifes- ta-se lanlo nos factos individuaes, como no- sociaes. Oppor-se-ii por venlura o acaso a solucao do problema hislorico? A philosophia da his- loria, e a analyse psychologica do homem nao nos perniiitem hesilar um so momenlo sfibre tal ponlo. Folheando a historia, podemos mostrar que ella nao e mais que um vaslo quadro d'unia serie de systemas, que se realisam no espaco. esuccedem no tempo. Assim como nossa intfl- ligencia em sua acjao esla muilas vezes depen- dente de principios delcrminativos, que podem augmentar ou diminuir d'uma maneira inde- finida, masque progressivaouretrograda.segui- sempre a lei dum syslema; da mosma sorte a sociedade esla sujeila a uma successao de principios; d'ella porem e sempre um sysfenJa. e conscquentemente sempre inlelligivel, sejd em sua inslituifSo, seja em sua acjao. Eni sua origem a sociedade e o primeiro systema. que se enconlra em relacao a natureza huraami : em seu maior grau de elevagao e um systetn;r geral, que abrange todos os oulros. Podfimos concluir, porlanto, que a civillsaV cao esla em potencia no homem, pois que's'p 188 oiNSTrruTO 'oelle fexiste a fossibilidade d'uma deteriuina- caolivre: em possibilidade nas cousas: porque ^ao ellas os elenientos sdbre que se ha de exercer aquella delerminacao. : Porque a historia e a obra da razao ; porque a razao e essencialmenle sysleraalica ; porque a historia nao podc ser senao uma succcssao de syslenias; porque os syslemas nascein, e succedem-se na comnuinidade das ideias, ou na sociedade, cousiderada como uma so pessoa; e que acredilaraos 'iiuma thcoria huniniiitaria. Taessaoasidelas, quenosparece, dovem prc- ceder a apreciafao hislorica de qual(|uer epo- cha, como rontendo sua riizao. 0 facto impor- lanie s&lne que prelendomos fazer algumas reflexoeseum dosmais brilliantcs argumenlos Jas ideias, que deixJinos exaradas. ' Bontinia. J. B. FEKnAO. ■ ENSINO DA AGRICULTURA NA TOSCANA Collocada, pelo seu ciima, na regido das oliveiras.'n antiga Elruria soube, pela iudus- tria dos sens habilanles, lornar o seu solo tao fertil, e tSo ameno, que mcreceu ser con- fiiderado como «o jardim da llalia.» Racionaes em sous melhodos, ilhistrados e asclarecidos em suas praclicas agrononiicas, OS agricuitores toscanos linham adopiado ja 0 methodo dos a/folhamentos, 'numa vasla es- eala. quando o systema dos pouzios era ainda 0 dominantc em Franca, em Allemanha, e DOS outros eslados da Europa. Nem a cstreiteza do territorio nera a sua pequeua populacao scrviram de obslaculo no engrandecimenlo das arles e das sciencins naquella repiiblica, que fora, na edade me- dia, 0 berco da moderna civilisacao. E a este tlorente esiadodeveu a agricullura oseu adian- lamento 'ncsie paiz, do quem ura poeta afa- fuado dissnra: ■ Dch! die non e tulto Toscana (/ mondo''} Entrelanlo a Toscana nan possuia uma so yranja modSio, urn unico Ci^labelecimenlo des- linado ao ensino da agricullura, quando o f-ahio c dislincto agrononio, o niarquez Cos- ^ino Ridolli, fundou em Molelo, em 1831, a primeira cschola agricola da Toscana. Accommodada as neeessidades e peculiares circumslancias d'esle paiz, a cschola de .Me- <':'> i, _ - ■ * li'i Piaregiocs agricolas sao estabelecidas-segttndo os linitcs meteurulogicos, economicos, agroiiotuicos e e$ta- wfslicos : us primeiros, dependentes du ordem dn nalure- ya, sSo por isso os niaii constantes, e, para tlesigiial-os, .Sam OS agrbnomos ompregar o nome das plantas, que *in cada regiao prosperatn e fructiGcam melhor, e que, ^ur Bssim dizer, Ihe dSo um caracter pliystonomico. Da» ciitco regioe^ ngricolas. em que hoje &e divide a Kiiropa, a 'i'uscana pretence u %.* suhdlvisao da regiao j M** a\\\e\i&r.'[f!aip'ariti. Cniis d'Agritvlt. tom.'i). j • AIB»ri. ' leto nao foi ama imilacSo servil de Roville, nem de Ilohenheim. 0 terreno destinado para osexercicios agri- colas, era, pela divcrsidade da sua composi- cao minerologica, e pelas suas differenles e variadas exposicOes, mui apropriado para en- saiar os diversos syslenias de cullura, e com- parar os seus resullados em relagao a econo- mia rural. Esta eschola conlava duas cliis>es de alu- mnos; para uns o ensino era graluilo; oulros pagavam uma ccrta quantia. Estes, perten- cendo iis classes mais ahasladas, c possuindo, pela maior parle, propriedadcs ruraos, fre- j quenlavani as licOes Iheoricas de agricullura \ e econoniia rural, prol'essadas pelo fundador da cschola, c assistiam lamhem aos exercicios practices, completando assim iini curso de inslruccao superior, iheorico e practico. A(|uellcs, deslinados para o servico da la- voura, jardinageni, e liorticultura, davam-se somenle aos exercicios o irabalhos manuaes. Oilo annos depois do estabelecimento da eschola de Melclo, o governo do grao-duque creou na universidade de Piza a faculdade de sciencias agronomicas,' Iransplaiitando para alii 0 ensino superior da agricullura, alim de 0 lornar mais ampio, sem augmenio de des- pesa, aproveilando para isso as cadeiras sub- sidiarias, ja creadas 'naquella universidade. Melelo licou ahandonndo, e o seu illustre fundador foi abrir, em 1840, a cadeira de agricullura cm Piza. Pelo lado economico o ensino de Meleto- nao foi feliz;raas nao o pndia, nem devia ser, J porque, como escliola, que era, devia despen- \ der para ensinar, ensaiando nuiitas vezes pro- cesses e semenleiras, cnjo mau resultado era previslo, para moslrar praclicamenle a impos- sibilidade, ou inconveniencia d'ellas ; e 'nislo se distingue essencialmenle a eschola da granja modelo, (]ue dcve ser o exeni[)lar da melhor e mais economica cullura. 0 tempo correu tambem muilo dcsfavora- vel para a agricullura, cm quanto durou a eschola de Melelo, seguindo-se a grandes seccas terriveis innndacOes. A faculdade de sciencias ngronomicas con- stitue um curso do Ires annos, comprehen- deiido as seguintes disciplinas : Faculdade de Sciencias Agronomicas ■ l.'Anno • I Geomelria, Physica, Chimica, c BotaoMa.. ^ ' Ijisia universidade, fundada muitos seculos antes do renascimento, e que goz^ra de graiide cclebridade, Bendrudencia, Philosopliia e Philologia, iVlcdicina e Cirurgia, Sciencias Physico-Malliematicas, Mathema- licas applicadns, Sciencias Agrcnoniifn!, Matezieur. 0 INSTITUTO 189 : 2.' Anno Algebra, Geometria descripliva, Topogra- phia, Chimiea agricola, e Demonslratoes no Institulo AgroDomico. '.'■'; 3.' Anno :, Geologia, Physica Tecihriologica, Archilectu- ra rural, Agrononiia e Demonstracoes no Insti- tulo. Os preparaloiios para esta faeukladc «ao : exanie de Ilaiiano, Aritlimetica e Gcomelria. 0 exame final versa sobrc as matcrias do 3.° anno. fita as demonsiracoes e exercicios practi- ces comprou 0 govirno urn lerruno jiinclo ao dique do Arno, aonde se ftindou o — Instilulo agrario, aoqiial roncorreiii, unia voz por se- mana, os alumnos da faculdade de sciencias agronomieas. 0 instilulo agraiio coniprehende diversos cnsaios de ciiltura, pdrticularmente de plan- 'tas forragineas — nma I'abrica de instrunien- tos aratorios — e algum gado bovino, suino, e merinos. Como este eslabelecimenlo nao possue; come o de Meleto, cxposicoes tao variadas, e llie lalla especialmenle a parte montanhosa, os professores at-onipanliani os alumnos, nos dias f'eriados, em algumas excursoes agricolas, aproveitando-se dos caminlios de I'crro. Os Irabaibos nianuacs d'este instilulo, que complela o ensino academico de Piza, sao de- sempenliados pelos alumnos, que sc desiinam unieamente a classc deabegoes, ou que, icndo propriedades suas, querem adquirir conheci- menlos piaeticos, para agricullal-as por suas proprias maos. > Assim 0 ensino da sciencia e da arte se com- liinam e auxiliam mutuaniente na nniversi- dade de Piza, com grande proveito da agri- cultura, e interesse geral do paiz. So na nossa universidade se livtsse seguido este cxempio:* se, a par do ensino tlieorico, -se procurasse eslabelecer o ensino practieo, peio menosde alguns dosniais impnrlantes pro- cesses agricolas, estamos cerlos, (juc se lenam gencralisado niais os conliecimentos d'aquella •sciencia, tornande palfiaveis as suas vanta- gens aos ollios da nioridade acadeniica, que assim adqiiiriria o goslo c iiistruccao neces- saria, para, de volla aos palrios lares, corri- gir, e melborar os absurdos e vjciosos syste- nias de cultura, que ainda boje sao a princi- pal causa do grande atrazo, cm que se aclia a nossa agricullura. J. m. de abheu. * O guverno destinoii a cerca ilos extiDClosbeneiliclinos "nesta cidade pan a |ilanta<;rio d'arvorea e arbiislos, an- uexando-a ao jardim bulanjco, eui 1 836. Este |ir<'dio devia coastiluir iima peqiiena escbola para as tiroes de aRricnl- Uira priclica; mas ailala(;5o actual da mmersidadc mal cliefn para as despcsos ordinnrini d03 seus eslabelcri- meutOK ! ] PROUDHON E A ECONOMIA POLITICA Continuado da pag. 161. "'" Analyse da theoria do valor de Froudhon Eis-me chegado ao ponto niais difficil e melindroso: a crilica. ,/! Criticar nao e objecto de grande diflicul- dade. Dm genie mediocre, e um pouce ana- lytico, 0 podera fazer sem grave esforgo. Mas criticar beni e o que raras vezes consegucm ainda os ingenhos de maior quilale. Alera dos conbecimcntos indispensavcis ao critico, n mister que elle se dispa de toda a paixao fa- voravel ou conlraria ao facto que critics; paixao que, transluzindo cm sua obra, e, por via de regra, de man sabor para quern \a. E 'nessa neutralidade absoluta que existc a maior forca da difficuldade ; e ella a que raras vezes se encontra, e de que mal se de- param vesiigios no que ba escripio acerca das obras de Proudhon. Talvez nao seja difficil dar a razao d'esic facto. "j-.n, Ordinariamente o que se da ae trabalho de escrever a crilica de uma obra, ou e um par- lidisla cego, que difficilmente encontra no vo- cabulario termos que o sallsl'acam, para fazer a apologia d'aquelle que exalla : ou um ad- versario apaixonado, que raras vezes sabc moderar-se em suas accusacOes, E deraais, em certos escriptores a injuria subslitue tae facilmcnte 0 argumenlo...! i ;• , i. ;, .; . Com relacao a Proudbon daT^e ■ ainda um oulro motive, que poucos escriptores com- mungam com elle. A audacia d'csle genio. na realidade admiravel, que tern atirado a face do nuindo civilisado as proposicSes raais arrojadas, em politica, cm pliilosophia, em religiao, e cm moral; que desceu a arena da discussao, desaliando lodas as cscbolas, todos OS syslemas, todas as crencas; e, ao mesmo lempo que com uma mao biandia a espada cxterminadora, com a oulra elevava o estan- darle oude bavia escripio a terrivel palavra — anarcliia; a audacia d'este genio, digo, so podia ser i'eita para crear ininiigos encarnica- dos ou partidarios entbusiastas. E 0 que com eifeito succedeu. Ao mesmo tempo que uns, e d'estes e o maior niime- ro, 0 considerara ininiigo declarade de tudo quanlo existe justo e sancto nas inslituicOes sociaes dos nossos dias, c o cobrem de sar- casnios, outros Ibe cbamam, como V. Gonsi- derant — o marletlo da prooidencia; ou, como Lamariine — a Nemesis^ftas sociedades' mp- dernus. , ' .. ." '.,.," Mas sera, no mundo da sciencia, tao excen- trica a posieao de Proudhon, que nao pOss.i merecer-lbe senao louvores exagerados, ou in- jurias vergonbosas? Nao sei ; masnesla breve 190 0 INSTITUTO analyse em qae vou entrar farei todos os es- lorfos para dar a Proudhon o louvor, ou a ficnsura, sem amor, e sem odio, segundo m'a diclar a minlia coosciencia.' Dois objectos se mc aprescntara a analyse: a materia, e a forma ; os principios, o o me- ihodo. Nao o inelliodo de Flegel em si, que esse ja eu adinitti liypolheiicameiile ; mas o me- Ihodo de Proudlion, que dando-se como secta- rio de Hegel, me parece que na realidade csta liinge de seguirlaofielmeiile, como pretende in- eulcal-o, OS principios raelhodologicosd'aquelle philosoplio. Nao sendo esle o principal objeclo do pro- sente trabalho, pequenoespaco poderoi dcstinar para a verilica^ao d'este ponlo. Pouco direi porlanlo, sohre a falsilicarao da melliodologia hegeliana ; falsificac.io que eslou longe de que- rer atlribuir a ignorancia de Proudhon. Nao foi isso 0 (]ue me fez ser inconsequenle ; mas outras causas, cuja invcstigacSo nos levaria para nuiito longe do Km a que tendemos, e ao qual ja e tempo de nos iruios approtimando. Pequeno niiniero de observacoes nos dei- xara fora de diivida sobre esle capilulo da accusacao de Proudhon. A antinomia em Uegel nao da logar a unia ideia de favor, ou desfavor, para cada urn dos terraos de que se compSe: a these, e a anti- these. Como cada um d'elles nada niais e, que uma phase do desinvolvimento da ideia no sen- lido da verdade, que se obtem pela synthese, a pliilosophia nao pode lancar sobre algum d'elles 0 sorriso do favor, ou o stygma da repro- vacao? E este o juizo que Proudhon faz do processo dialeclico, que pretende ter encon- trado ua cconomia politica? Nao. Elle diz: « a antinomia e o caracter essencial da eco- « nomia politica : isto e, ao mesmo tempo a sua « senlenfa de morte, ea suajustilicacao.^' Qua! sera a razao d'islo? Sera, porque Proudhon nas anlinomias da economia politica nao viu, ou nao (juiz ver, mais que a lucta do hem e do mal, das vantagens e dos inconvenientes; e por isso nao eiiconlrou ua sua applicacao da philosophia moderna aquclla sciencia mais que um processo moral, cuja lillima conse- quencia c a condemnacao e climinacao do mal, a approvacao e couservacao do bem? Talvez. Na dialcctica de Hegel a these, a antithese, e a synthese, sao trcs momrnlos da ideia : o segundo nasce do prinieiro, como o terceiro do primeiro e segundo. Porem, com relacao ao valor, Proudhon coni'essa que a suctessao (la antithese (valor do troca) a these, (valor lie ulilidade) e, nao so uma successao logica, ^ £ para senlir (|ue um tlistincto escriplor porlugiiez, • I »r. P. d'Amorim Vianna, cm uns, alijs bellissimos :ir- ligos, com que nas columnas da — Peninsula — encetou a analyse das — cnntradici;6es economicas — trade Prou- dlion com uma acrimonia algumas vezcs excessiva para um escriptor imparcial, » Eod. T. I, C. I, s^ I, png. 74. mas tambem uma successao historica. Mas, ao mesmo tempo, sendo a ideia do valor a base da sciencia economica, a serie d'esta ideia, ou a sua evolufSo dialeclica, deve ser a serie primitiva, da qua! nasfani todas as outras. Antes d'ella nada ; depoisd'ella — divi- sao do trabalho. macbinas, concorrencia, cre- dito, propriedade; em summa, o complexo de series anlinoniicas, que, nascendo da evolucao trilogica da ideia de valor, conslitue, segundo Proudhon, o lodo da economia politica Como succede pois que elle, para nos cxplicar a genealogia da ideia de valor, suppoe a divisao do trabalho, quando diz: « eu proporei a '( outros homens, meuscollaboradoresem func- « cues diversas, que me cedam uuia parte dos « sens productos em troca do men?'') Como uiuitojudiciosamentenola Karl Marr:' desde que o homem reconhece collaboradores em funccOes diversas, reconhece a divisao do trabalho; reconhecendo esla, reconhece uma ordem de produccao baseada sobre ella, reco- nhece a troca, e por isso valor de troca. De forma que, em ultima analyse, Proudhon. qucrendo cxplicar-nos a maneira como o valor de utilidade se Iransforma em valor de troca, reconhece a existencia d'essa iransformacao ja feita; para nos mostrar como o valor de troca se gera, e apparece, nol-o apresenta ja nas- cido, e creado. 'Neste ponlo a successao dia- leclica da anlilbese a these, do valor de troca ao valor de nso, deixa deexistir, nao so como success.ao philosophica, mas tambem como suc- cessao historica; e a evolucao do valor, de que Proudhon fizera a pedra angular do seu systenia, niio lica sendo mais que a prova irrecusavel da sua fulilidade. Porque, uma vez supposla a divisao do trabalho, tanlo Vale- ria parlir do valor da troca para o de utili- dade, como do do utilidade para o de troca; da these para a antithese, como da antbitbesc para a these; vislo que antithese exisle antes de exisiir ; pois que o valor de troca esta creado pela divisao do trabalho antes que a transformacao do valor de utilidade tonha pro- nunciado o — fiat — que Ihe ha de dar a e.xis- tencia! Singular contradiccao esta, a que um bomem de genio se deixou arrastarl Para Hegel o tempo, com relafao a diaie-' ctica,nada mais equeo contincntedos niomex-' ^ tos da evolucao da ideia. Esta move-se, agita-se. desinvolve-se e transforma-se em virtude de' uma actividade immanenle, condicao essen- cial da sua existencia, sem que do exterior re- ceba impulso algum, que possa accelerar-Ihe 0 movimento. ou determinar-llic a direccao. Com Proudhon, porem, nao succede o mesmo- A successao historica dos Icrmos dialecticos occupa muitas vezes o logar de successao phi- losophica. Assim, com relacao ao valor, dis ' Eod. pag. 66 et 6". ■' MiscTC de la philosniihie, pag. 4. 0 INSTITUTO 191 cile: « successao das duas especies de valor (de ulilidade e de iroca) apparece muilo melhor na hislori.i, do que na lheoria/» Foi aiuda cste 0 processo, pelo qual na sua discus- sao com Basliat subre a legilimidade do ju- re, Proudboii prelcndeu provar-liie a exisien- cia da anlinomia, porijue o juro na succes- sao historica se apresentava sob dois aspe- Clos conirarios, deteiniiHados pelas circum- siancias especiaes de cada epocba, segundo a influeocia dos capilaes na produccao. Oulra falsilicacao da dialeclica hegeliana, muilo nolavel, e a sul)sliluicao da anlinomia da ideia pola conlradiccao entre o bem e o raal, entre a vanlagemeo inconvenienle. 'Noste caso a ideia nao se move: sao as circumslan- cias, que delerniinam o bem e o mai, as que se translormani, c cuja Iransformacao, por lima illusao da nossa iiilelligencia, nos per- suadimos ver na ideia. Esse prelendido movi- nienlo dialeclico lica reduzido a luna illusao de optica, sintiibaiile aquella pelaqual quando descemos a correnle de um rio, se uos linge que as margcns so movem, e que nos estamos parados. Tao ficticio e aqui o inovimento das margens, como alii o nioviniento da ideia. JEsta substituicao de Proudbou, da tliese e an- litbese pelo bem e o raal, e a negagao dada por elle mesmo ao movinieuto dialeclico. D'esla grave aceusacao sera ainda elle quem t'orneca a prova. Diz o seguinle : « Para deter- !i minar o valor procede a sociedade do mesmo ( inodo que a razao na geracao das ideias. ( Primeiramente estabelece um facto, unia by- ( potbese priniaria,.... verdadeira antinoniia, ". cujos rasultados antagonicos se desinvolvem ' naeconomia social, do mesmo modo por que ' as consequencias teriam podido reduzir-se no espirilo: defbrma que o movimenlo indus- trial, seguindo cm ludo o niovimcnto das «. ideias, se divide em duas correnles: uma dos i< ejfeitos uteis, oulra dos resuUados suboersi- Kos.'a Yejamos agora como elle pOe cm pra- ctica estes principios. Na divisao do Irabalbo a vantagem e a rea- lisacao da egualdade das condicOes e intelli- gencias ; o inconvenienle e ser para nos nni ins- trumenlo de niiseria, a negacao e destruicao do mesmo trabalho.' Em quanto as machinas diz elle; « as macbinas, assim como a divisao •< do trabalbo, sao no actual systema da eco- « nomia social, ao mesmo tempo uma fonte de «' riqueza, e uma causa permanente e fatal « de miseria.')) A vantagem, e o inconvenienle: 0 bem, e o nial, em cada serie economica: — divisao do trabalbo, macbinas, concurrencia, raonopolio, imposto, propriedade, etc.; — eis 0 que Proudhon nos appresenta cm logar do processo dialeclico, que nos bavia prometlido. * Sjsl. des coDlrad, e'condraVT. I", pag. 67. ' Eod. pag. 116. ' Eod. pag. 117. • Eort. pa?. 16«. .•...,.•■;. • Chegado aesle ponto, ocreador da nova eco- nomia social nao passa, como diz Marr, do burguez a quem Napoleao parece um grandc boniem, porque fez muito bem e muilo mal. 0 novum organon de Proudbon fica reduzido as proporgoes de uma especie de manicheismo eco- noniico ; e o seu livro poderia muilo bem inli- tular-se: — Traclado das tantagens e inconvt:- nientes de algumas mstituicoes economicas e sociaes. ; ■ Em quanlo a synlbese d'eslas prelendidas series dialecticas, encontra-as Proudhon, nao por um lermo novo da evolucao trilogica da ideia ; mas pela eliminacao de um dos termos anlinomicos, e a conservacao do outro ; e eli- minacao do mal, e a conservacao do bem. Assim, com relagao a divisao do trabalbo, diz elle, que a synthesee: « uma recomposicao « que faz desapparecer os inconvenienles da di- « visao, conservando os seus effeilos uteis, *..« Em oulros logares, porem, fazconsistir a syn- lbese de dois termos antinomicos na serie se- guinle, segundo a ordem pela qual as coilo- cou no sou livro. D'esla forma, a synthese da anlinomia da divisao do trabalho sao as macbinas; a das macbinas a concurrencia; a da concurrencia o nionopolio, etc., etc.; reservando a synthese de todas eslas anlina- mias para oulra obra,que nos diznas — <7on- fessions d'un reoolucionaire, que comecara a publicar, mas nao podera concluir. Bastard isto, pelo que pertence ao methodo de Uegel applicado por Proudhon, para nos fazer acreditar que: se o illustre pbilosophO' allemao quebrasse boje a pedra do seutumulo, e voltasse ao niiindo dos vivos, renegaria a obra do reformador francez; viria queixar-se amargamenle de uma tao flagrante falsificacao da sua dialeclica, e nao consentiria que o pres- ligiodoseu nome servisse para armar um laco aos incautos, ou para allerrar aquelles que esiremecem so de ouvir o nome do pensador de Tubingen. Coittinua. i. J. D'OLIVEin.l PINTO. CHIMICA Descoberta de um novo metal < Aos sessenta e dois corpos simplices, que a chimica boje reconbece, Mr. Bergemann,., analysando a orangite, mineral de Brevig, na Noruega, pretendeu acresrenlar uni novo me- tal, a que deu ononie de donarium, dedonar, aniiga divindade germanica. Segundo Bergemann a orangite, despreza- das as outras substancias que entram, em ' Eod. pag. 118. "■ Journal de chira. Juill. 1852. 192 0 INSTITUTO mui pequena quantidade, na sua coniposifao, i leria lerrosa, cxlrahida da orangiie, e 9,366, r formada pelosilicalodedonarina hydralado. O oxido de donarium, ou a donarina teni por formula. Do' 0', e por conscquencia a da orangito e: Do', si, 2H'. 0 A., empregou o acido chlorliydrico para cxlrahir da orangite o oxido dc donarium; separada a silica por esla operafao juiicta-se A dissolucao amoniaco, d'onde resuila urn prccipilado branco, que e uiiia mislura de donarina e oxido de ferro. Calcina-se esle precipitado, iloqual se cxlraiieo oxido de (erro pclo acido fhlorliyJrico. A. donarina torna-sc insoluvel 'ncste acido; para solvel-a, cnipre- ga-se 0 acido sulfurico conccnUado cqucnlc; trala-se, linalmcnlc, a soiucao suifuricii pftio amoniaco, que precipila o liydralo de dona- rina. Esle liydialo, cm <)uanlo est.i huniido, c l-ranco, porem pouco a pouco vae passando para amarellado; s^cco ao ar, lonia a forma de unia niassa gomraosa amarella, cuja razura e avcrmelliada. Perde a sua agua a uma leniperaluia pouco elevada, c dissolvc-se facilmcnle nos acidos. 0 oxido de donarium, oblido pela calcina- cao do liydrato, apprescnla uni p6 vermcilio escuro, cuja densidadc e de i>,t)76 : e insolu- vel nus acidos ciilorhydrico, azolico, clioloro- azolico, e fluorhydrico ; no acido sulfurico con- cenlrado e qucnle, dissolve-se lentamenle. 0 oxido de donarium c reduzido pelo pola- ciocom desinvolvimenlodeluz; Iractando pela agua a massa calcinada, separa-se um po negro, ((ue, eslaodosficco, apresenla o brillio mclallito pela triluracao 'num almol'ariz de agala : csle po brilhanle 6 o donarium. 0 chlorureto de donaritnn sublima-sc debai- xo da forma de uma niassa branca, soUive! na agua e susceplivel dc rcduccao pelo poLacio. 0 svlfalo de donarina e representado. se- gnndo Bcrgemann, pela scguinle formula : Do' 0', 3So, 300. 0 mesnio cliiniico fez uma serie de obser- vajocs sobre os diver-sos saes de donarina para verilicar os sous principaes caracteres. Aexistencin porem do donarium foi conles- lada retenlcmenle por Mr. Damour,' (jue suppoe, que eslc prelcndido novo mclal (i o thorium, desroberlo por Berzelius cm 1828, porque as propricdades da donarina sao quasi idenlicas as da Iborina. As unicas didcrencas mais iiotaveis, que Bcrgemann noia entre as duas subslancias, sao a pequena densidade da donarina, comparada a lliorina, c a cor lubra da donarina calcinada. Segundo porem Damour a densidade da ma- ' ComptesReinIiisdel'.icadem.dcScieDC. t. XXXIII, p. 615. Diimero muito aproximado de 9,402, era que Berzelius calculou a densidade da theorina. Damour cnconlrou tambem na analyse da orangiie os oxidos plombico e uranico, em pequcnas quanlidades, e a presenca d'esles allribue elle a cor vermelba, que, no acto da calcinafao, tonia a donarina de Bcrgemann. A orangite, segundo a analyse dc Damour, e um hydro-silicalo de lliorina, que niio dif- fere da ihorile de Berzelius, e cuja formula e a scguinle : ill' Si' + 211'. A resolucao por lanto d"esle ponio depcnde de ullcriores analyses; e cm qunnlo eslas sc nao repclircm por divcrsos cliimicos, despidos de qualqucr prevenfao syslomalica, nao podc com seguranca conlnr-se o donarium de Ber- gemann no niimcro dos corpos siniplices, poslo que esla doscobcria tenba a scu favor o grande numcro dc corpos elcnienlares, que desde as brilhantes cxperiencias de Davy t6iu cnrique- cido OS annaes da chimica. J. M. DE ABREC. MEMORIAS HISTORICAS DA UNIVERSIDADE DE COimBRA Sao tao incerlas e escacas as nolicias, que OS chronislase bisloriadores antigos nos irans- miltiram sobre a fundacao da univcrsidade em TorUigal, fallani lanios e liio importantes documenlos, que ou se perdcram nas diver- sas trasladacOcs da universidaile, ou o des- cuido dos conlcmporancos dcixiira sepultados no csquecimenlo ; e lia lania parcialidade e conlradiccao nas memorias, (|ue d'aquelle tem- po se leem nas cluonicas monasticiis. que lal- vez seja esta a parte mais ignorada da nossa liistoria lilleraria. De dois unices cscriptores, sabemos, que, em especial, sc occuparam d'csle assumpto: 0 douto benelicindo Leilao Ferrcira, nas suas mui erudilas I\'olicias Chronoloyieas da Uni- vcrsidade de Coimbra, e o insigne reformador rcilor Figueiroa, nas Memorias da Universi\ dade ale lo34, e Callialogo dos Reitores, at6 1722. Eslas obras, porem, das quaes so sc impri- miu a primeira parte das Nolicias dc Leilao Fcrreira, comprchcndcndo os annos que dc- correm, dcsde o de 1288 ale 15;i7, sao roais uma compilacao de factos e documcntos colhi- dos nos divcrsos auclorcs, e extrahidos dos differentes cartorios, do que uma vcrdadeira hisloria da univcrsidade. Era nenhum d'elles, nem nos escriplores 0 INSTITUTO 193 prccedenles a cujo lestimunho recorreram, se encootram mcmorias algumas do estado lit- terario da universidade ; e do progresso que 'nella fizeram ns letlras e as sciencias, nos diversos periodos da sua existencia secular. Ale a liltinia iraslada£ao da univeisidade para Coimbia on nnno de 1337, ignoram-se OS nomes do -iMsi todos os reitores, que go- vernaram a univorsidade; e dos lentes que 'nella florer.'rnm ; e os auctores que eram seguidos mi'; aula:. Os poucos escri|itores, que iractam das cou- sas da unix^^rsii'ade, em quanlo discutiram, com vasla e por vezes faslidiosa erudifao, outros ponlus Je menor monta, nem sequer dao nolicia do systema de ensino, e da orga- nisacao dos esiudos academicos, nas succes- sivas rel'ormas, por que a universidade passara ate ao tempo delrei D. Joao III, e d'ahi por djante. Difficij empenho e por isso colligir esses ra- ros malerines, disperses no longo decurso de seple seculos, c involvidos no po de tantas ruipas, para com elles lecer a verdadeira his- toria d'esse grundioso nionumento das nossas glorias lilterarias. As succinlas noticias, que destinamos pu- blicar 'nesle jornal, com o litulo de memorias hisloricas da Universidade, sao apenas urn 11- geiro eshoco de uma obra digna de melhores ingenhos, e de mais apriraorado irabalho. Fundagao da Universidade I Ale 0 reinado de D. Diniz as leiras e scien- cias liam-se nas cailiedraes, e 'nalguns mos- teiros. Eram eslas as unicas cscbolas piiblicas, que enlao liavia no reino ; ' e, os que deseja- vam alcancar maior insiruccao, iam cursar nas universidadi's de Bolonha e de Paris, que en- tao gosavam grande celebridade. Pouco a pouco it fama d'esles estudos, o o Cavor e protcccao, com que eram recebidos os •lue 'naquellas universidades se habiJilavam com os graus academicoj, Coram desperlando os brios, e acoendendo a emuiagao d'ouiros ingenhos, a quern sobejavam os desejos, mas escaceavam os meios, para eniprehender Ion- gas e arriscadas viagens, em denianda de lao gabados esiudos. 0 ciero, sobre ludo, niosirava-se cmpenhado era promover os estudos. parlicularmenle do direito canonico, para pusteniar as suas pre- tonfoes contra a auctoridade dos principes. Fundado nos principios da moral, e direito canonico, linlia produzido uma saudavel re- I ' Monarch. Liisit. P. V, L. 16. cap. 7£.— Leililo 1 Ferreira, noliciaa chronol. lia Uiiiversid. 1,« P, Lisb. i 1729.— Sr. F. Froire de Carvalho. Ensaios s6l)re a liist! I litter, de Portugal.— Schaefer, Hist, de Portug. ' I forma nos costumes e nas ieis feudaes; a au- ctoridade ecclesiastica ganhara por isso o.« animos dos povos, vexados pelas oppressoes dos senliores; ' e o clero, que occupava assini OS primclros eargos publicos, desfructando grossas rcndas, conliecia a neeessidade de cercar-se do prestigio das letras, para tornar respeilavel, e duradouro o sou poder. Eis aqui por que o seculo Xlll. esla epocha mcmoravel, em que « a Europa lalina consti- tuia, porassim dizer, uma so nacao.'a viu fun- da r as mais famosas universidades, dotadas com rendas ecolesiasticas, eprolegidas pelos papas, que as enriqueceram de privilegios apostoli- cos, e Ihes concederam o foro ccclesiaslico. Os ados maiorcs celebravam-se nas catbe- draes ; os bispos, ou sous vigarios, conferiam os graus academicos, audorilate aposlolica : e OS papas niandavam reformar os estudos, e decidir as contestacoes enlre os cscholares pelos seus delegados.' 'Nestc esiado de cousas, era natural, que 0 clero pnrtuguez, que, nos prccedenles rei- nados, se tornara lao odioso e malquislo por suas excessivas e exageradas pretencoes, c pela desniedida ambijao de seus me'mbros. cansado emfim de lao porfiadas lutas, ou re- ceoso, talvcz, da firmeza de animo do novo monarcba, procurasse ganbarpela cullura das letras, e pelo saber e illustracao, dos que se dedicavam ao estado ecclesiastico, urn meio mais seguro para porseguir no caminho da dominacao, que era o Cio, a que-se encami- nhavam todos os sous esforjos. Com este intuilo, provavelmcnle, se dirigi- ram a D. Diniz os abbades e prioiesdealguns mosteiros e egrejas « rogando-ihe encarecida- « niente se dignasse de fazer ordenar um geral « M/urfonasuanobilissima cidade de Lisboa.' • Nao consta ao certo do dia e anno, nem do logar, aonde esla supplica fora dirigidaaquelle monarcba; nem lao pouco exisle d'ella outio docunienlo mais, dcr que uma carta feita pelos referidos abbades e priores, no anno de 1288, epor elles dirigida ao papa, na qual se leeni aquelj.is expressoes. 0 pensamenlo, porem, de erigir uma uni- versidade 'neste reino, nao podia deixar de eslar ha muilo no animo d'aquelle priocipe. que aos disvelos da mais priniorosa educacao, junctava os peregrines dotes de um claro c feliz ingenbo; profundos e vaslos conhecimenios nas sciencias e nas lettras, com que desde o.v seus mais verdes anuos se alializara lanto, que mereceu scr comparado a seu av6, Affonso, oiii- bio, a quern por ventura excedeu na difficil arte de reinar, que niui sabiamente soube ajudar com suas inspiracoes de poeta, e com a cul- tura das boas lettras e arles, de que fora u ' Cantii, Hist, universelle. ' Cuvier, Hist, de.i Scieoce.s Nalurelle*. T. I. ' Leitao F.. Nolic. ^Cuvier — Cantu. ' Monarch. Lusit. P. V. L. )C. c»y- i' . 194 0 INSTITUTO mais eximio protector:' e parecc-nos por isto mui verosimil, que.desde os priraeiros annos do seureinado, inlenlara estahelecer lao insi- gneobra, como refereo chronista Rui dePina;' e de feilo, ja no anno de 1289, se nao antes, estava fundada a universidade, como se infere da bulla de Nicolau IV, de que a diante falla- reinos. Da referida carta consta tambem, que os prelados e parochos, 'nella raencionados, obtido 0 consentinienio do rei « como padroeiro dos mosteiros e egrejas, » practicarara enlre si sobre 0 modo de prover ao salario dos mestres e doutores do novo estudo geral, assentando oqiie « se pagasse das rendas dos mesmos mosteiros « e egrejas, taxando logo o que cada uma u havia de conlribuir, reservada a congrua « suslenlacao.'i) Reguiadas por esta forma as cousas, cuida- ram os prelados de se dirigir ao papa para obler — (( a conlirmacao de uma obra lao pia ((C louvavel, intentada por servico de Deus, « honra da patria, e proveito geral c parti- « cular de todos.n E estando na villa de Mon- temdr-o-Novo, ahi ordenaram a sua supplica 80 papa, expondo-Ihe — « ser mui conveniente « ao reino e a sens moradores ler urn estudo K geral de sciencias, por vermos que a falta « d'elle, muitos desejosos de estudar, e entrar « no estado clerical, atalhados com a falla « das despesas, e descommodos dos caminhos « largos, e ainda dos perigos da vida, nao « ousam, e temem ir estudar a outras partes u remotas, receando estas incommodidades, de ■(que re>ulla aparlar-se de seu bom propo- « sito, c jicarno estado secular contra vontade; n dando tambem conta daresolucao que liaviani tomado, com consentimento do real padroeiro « havida picnaria deliberajao no caso » de con- lribuir, pelas rendas dos sous mosteiros e egre- jas, para os salaries dos mestres e doutores.' * ((Inda 'oaquella edade incuUa e fera. As forijas loda dada, hum sprilo raro Piadoso tempio ao brando Apollo erguera Sancto Diniz na Fe, uas armas claro. Da Palria pay, da sua lingua amigo, Daquellas Musas rusticaa amparo.n i A. Ferreira^ (Poemas Lusitanos — T. 2.°, ('arta X.t ' *» s6bre ho quaal (rei D. Diniz) se diz que huu dia estaando com lius sens prelados e nohres homens em concellio, lembrandose com mostran^as de senlimen- to, que seus regnos careciam de escholas e estudos, de que oulras teerras eram mui abastadas, Ihes falou ^nesta manejrra. assi beeni dezeja dc todo riieti cora^do^ que tambeem aja oimndanga de homens lelerados, e mny sabedores, e por esso propits em miiiha vontade pur becm comum de nieu regno, e graude proveyto de mens vassal- tos, e naturaes, f'azer nelle huum Estudo geranl, c muito honradv, ande todalas ciencias se teao porocm ante que ho pozesse em obra volo quiz assi notificar pera me dizerdes vosso concelho e parecer.n (Rui de Pina, Chronica d'elrei D. Diuiz, cap. XlII, que, no original existente no R. Archive, e cap. XIIII). • Monarch, Lusit. log. cil. O chroaista fr. F. Brandao lan^ou ^tta carta em Esta carta, datada d'aquella villa, aos dois dos idos de novembro da era de 1326, que cor- responde, como adverte judiciosamente Leitao Ferreira, aos doze dias do mez de novembro de 1288," e feita em noma do abbadc de A.lco- baca, dos priores de Santa Cruz de Coimbra, S. Vicente de Lisboa, D. prior de Guimaraes, prior d'Alcacova de Santarem, e mais vinle e dois reitores de diversas egrejas; e porque OS prelados que a lizeram, declararam 'nella so OS oragos das egrejas, e as terras onde cs- lavam situadas; da maior parte d'elles deixou a antiguidade ignorados os seus nomes, di- gnos de particular e lionrada memoria." Se estes i)orem foram os que primeiro offe- receram suas rendas para sustentacao dos estu- dos, parece egualmenlo certo, que os abbades da ordem de S. Bento contribuiram depois para o niesmo lim, pois que assim o declara a bulla de Nicolau IV. Os bispos, pela maior parte ausentes do reino, nao tomaram parte alguma 'neste ne- gocio ; mas foi causa d'isso o andarem liti- gando com o rei sobre jurisdicfoes, como diz Brandao," estando ainda inlerdicto o reino. E por este molivo, tambem, parece que o mo- narcha portuguez se nao dirigira directamen- te e em seu nome ao papa, sollicitando o de- ferimenlo d'aquella supplica, em quanto se nao concluira a concordia, entre elle e a curia roraana, sobre a contenda das jurisdic- coes, 0 que so teve logar no mez de fevereiro de 1289. Continua. J. SI. DE ABBEU. latim no appendice da V part, da Monarch. Lusit., em escriptura sil, declarando que Ih'a communicctra Seve- rim de Faria. A esle respeitodiz Figueiroa, « que esta carta se guar- da na torre do Tonibo, e que, a requerimento de Martim Duminguez, conego d'Evora, e reilor da universidade de Lisboa, por provis-'io regia de 4 de novembro de 1378, se passou certidSo della por urn tabellitto publico, em 12 de maio de 1379, em presen^a de Joao Annes, vassallo d'elrei, seu vedor de fazenda, que a apresenlou, |)orque devia tambem ler o officio de gnarda mur da dila torre, e d'ella ha urn traslado no carturio da universidade 'num livro com o tilulo de piivilegios, o qiial se acabou de e.».- crever em 20 de maio de 1471. Niio esta assignada a dicta carta, e diz o tabelliao, que estava escripta em per- gaminho, e sellada cum dezesete sellos pendenles de di- versos modos e flguras, que deviam ser de dezesete pre- lados e parochos que seriam somente os que se acliaram junctos, quando se fez a dicta carta." {Memorias du Vni- uers. Mss. ft. 1). '° L. F. Notic. etc. ^ 21 e segg. ** O dura abbade de Alcoba«;a chamava-se fr. Marti- nho, seguudo (Peste nome; foi eleilo dom abbade no anno de 1284, dignidade, que gozou, ate ao hm de julho de 1290, em que falleceu. O dom prior de Sancta Cruz era D. Durando Paei, eleito em 1284, e governon ate setembro de 1293. D. Payo Rodriguez, seguudo d'esle nome, era dom prior de Guimaraes desde I2a7 ate 1295. Qnanio ao prior de S. Vicente de Lisboa, conjectura- se que era pelos annos de 1249 ate 1390 urn D. Estevam. (Jlriibaga Illuslr. — Chron. dos regrantes — Mem. d'Acad. de Hist. 1725). '2 Monarch. Lusit. P. V, liv. 16, fl. 133. ® Jnjstitttt0 JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO BOLETIM DO INSTITUTO Na sessao de 17 de outubro elegeu a classe de sciencias moraes e sociaes as suas com- missoes, na forma do regulamenlo provisorio, e foram eleitos, para a coramissao de scien- cias moraes, os srs. dr. Adriao Pereira For- jaz de Sampaio, dr. Antonio Bernardino de Menezes e Luiz de Vasconcellos Azevedo e Silva Carvajal ; Para a coramissao de jurisprudencia, os srs. dr. Frederico d'Azevedo Faro e Noroniia, Levy Maria Jordao e Joao Baplista da Silva Ferrao ; Para a commissao de sciencias economicas e sociaes, os srs. dr. Vicente Ferrer Neto Paiva, Carlos Ramiro Couiinho e Jose Julio de Oliveira Pinto. Na sessao da Direccao de 18 de dezembro foi approvado o regulamenlo para o gabinete de leitura. A sessao solemne da abertura do Instituto leve logar no dia 19 de dezembro, e 'nella foi lido 0 relatorio dos trabalhos do Institute, da Direcfao e das Classes, e se prooedeu a eleicao de urn logar, vago, de secretario, e foi eleito o sr. Jose Julio de Oliveira Pinto. Na sessao da classe de litteratura de 19 de dezembro se procedeu a eleicao do logar de secretario, vago pcla eleifSo do sr. Jose Julio para secretario do Inslituto ; foi eleito o sr. Joaquim Januario de Sousa Torres e Almeida. 0 Secretario Jose Julio de Ohveira Pinto. REGULAIKiENTO Para os cnrsos de leitura do Instituto de Coimhra. (Approvado na sessao da Direci;,HO de S8 de novembro de 1852). Art. 1." Serao estabelecidos no Instituto de Coira- bra, na conformidade dos seus estatulos, cur- ses publicos e gratuitos sobre os differentes ramos de conhecimenlos relatives as classes, em que esla sociedade se divide. ^o'-- !• Janeiro 1 Art. 2.' Podera habililar-se para professor estes cur- sos qualquer socio do Inslituto, que apresen- lar 0 conipeiente programma e se responsa- bilisar pela sua (iel execucao. Art. 3.° Os programmas deverao designar o niimero das licoes — sua especialidade — e as opiniSes, que se pretende suslentar. Art. 4." Os auclores dos programmas deverao de- clarar por escripto a Direccao, do ado de Ih'os apresentar, o minimo espajo de tempo que podera medlar enlre cada lifao. Art. 5.° Os programmas deverao ser submeltidos pela Direcfao a approvacao das classes respe- ctivas, com assistencia dos seus auctores. De- pois de approvados serao publicados pela im- prensa. Art. 6.° A Direccao regulara os cursos de modo, que seus auctores possam deserapenhar no praso do anno lectivo, em que comefarem, pelo menos metade do seu programma. Am. 7.° As licoes so lerao logar nas vesperas, ou nos dias de feriado; Qcando livre a Direcfao designar o niimero de preleccoes que poderao ler logar em cada sessao, segundo o niimero dos habilitados, e de accordo com elles. § 1.° A Direccao assignara a ordem das prelecfoes, segundo a precedencia da apre- sentajao dos programmas, lendo sempre em vista a conveniencia de allerar os cursos em harmonia com a natureza das malerias. § 2.° A Direcfao designara os dias e as boras das preleccoes. Art. 8." 0 professor podera discorrer livremente em cada preleccao, ampliando ou resumindo a materia, e seguindo a ordera de exposicao que repular mais conveniente, com tanio que satisfafa ao programma. Art. 9." A Direccao regulara em cada sessao, de accordo com o professor, o maximo de tempo que podera durar cada licao, o qual nunca excedera hora e meia. Art. 10.° A Direccao promovera por todos os meios — 1853. Num. 19. 1»6 0 INSTITUTO 1 policia e ordem da sala das licoes ; e faci- litara a coiutirrencia aos espectadores, po- dcodo ate dirigir convites a qucm iiao for socio. Art. 11." K Diroccao, ou alguni dos seus membros, por ella delcgadoj, deverSo presidir aos cur- ios. RELATORIO DO INSTITUTO DE COIMBRA Lido na sessao solemne da abertnra, em 19 de dezembro de 1852 Senhores! — Depois que o Instituto prinei- piou a consliluir urn corpo moral indepen- dente, e a cooperar por impulso todo seu, livrecesponlaneo, para a grande obra do des- iuvolvimenlo intellectual e moral do liomeni, e esta a primeira vez, que reune os seus mem- bros, para Ihes apresenlar, em resumido qua- dro, 0 pouco que as circurastancias Ihe per- milliram fazer, para desempenhar o seu no- bre mister, propagando a instruccao, e dif- I'undindo as luzes. Ligado at6 o principio do presente anno pelos lacos de fraternidade e obrigafocs juri- dicas, com a sociedade denominada — Acade- mia Dramatica, se por uni lado se acbavam salis^feitos, a sua tendencia social, e o amor Iralerno para com ludo o que se refere a Aca- demia, ontre a qual nasceu, em ciijos bracos passou a infancia, e por cujos csforgos existc; por outro lado sentia, que a sua arcao se acliava iimilada a uma espbera inuilo restri- cla, que nao Ihe dava logar a fazer tanlo, quanio as suas foryas Ihe permiltiam, para desempenhar a elevada, tarefa que ihe impu- nha a qualidade de sociedade litteraria. Foi isto 0 que determinou o Instilulo a dissolver todos os lacos de obrigacao juridica, conservando somenle aquelle, que consignou no art. 4.° dos seus Estatutos — prestar drjuella sociedade ioda a coadjuvacao scif.nUfica e lille- raria, porera, mantendo iljesos, e ale mesmo disposto a robustecel-os, se tanlo for necessario, OS lafos da fraternidade que o prendiam, c ainda prendem asuairman, a Academia Dra- matica; foi 0 queodecidiu a constituir-se em ■lOciedade independente, com vida propria e livre, dentro do cireulo d'accao, que a car- rcira das lettras Ihe tracava. Mudadas a.ssini essencialmente as condicoes de sua existencia, era de primeira necessidade alterar a formula d'essa niesma existencia, a lei d'essas mesma.s condiroes. Eis o que deu logar a confeocao dos uovos estatutos, que, estabeleceudo em poucos artigos os principios fundameniaes, que presidiram a conslituicao da sociedade, deixaram aos regulamentos in- ternos explicar o inodo de !:var a effeito a applicacao d'cstes principios. Esta phase da vida do Instituto p6dedizer-se, que foi um segundo nascimento. Por isso con- siderou-se indispensavel charaar ao greniio d clle homens de saber jirofundo, e mancebos dotados de talento e actividade, scni os sujei- tar ao demorado processo das bahilitacoes le- gaes. Ampliando o risco do seu edilicio, o Instituto teria sido inconsequente, si' nao aug- raentasse o niimero de obrciros, que baviam de trabalhar 'nelle. Era uma necessidade da sua posifao; era uma niedida extraordinaria, que as circumstancias justificavam. e a que a singularidnde d'essa mesma posicao lirava todo 0 perigo, que podesse temer-sc com rela- cao ao future. Foi por isso que a Direccao, usando do voio de confianca, que oste Insti- tuto Ihe conferiu, conseguiu chamar ao seu greiuio homens de vaslo saber e grandes ser- vices as lettras patrias, os quaes nao duvidaram inscrever-se no niimero dos seus memhros. Taes foram, entre outros nao menos distinctos, 0 sr. Ferdinand Diniz, a queni Portugal tanlo deve por ser um dos poucos eslrangeiros, que sabcm fazer-Ihe justica, e se dedicaram com amor 6 desinteresse ao estudo da sua hisloria, e 0 sr. visconde de Santarem, que tanlo tern merecido das lettras, e tantos services lent, 'nesta carreira, prestado a sua e nossa patria. Mas a vida do Instituto de Coimbra, senho- res, para cumprir a honrosa missao de que se havia encarrcgado, para obter o uobre lim a que, como sociedade litleraria, se propozera, nao podia ficar limitada a discussoes estereis, e restricta ao pequeno ambilo da sala da.s suas sessoes. A sua vida devia ser, primeiro ([ue tudo, uma vida de relaoao. Conipreheii- dendo isto, eniprebendeu a publicacao de um jornal, que o ligasse a lodo o p;iiz; que fosse ao mesmo tempo um elemento para a reali- sacao dos seus projoctos, e um lestimunho da sua actividade e dos seus services. Este jornal principiou a pub!icar-se nr. primeiro d'abril do correnlc anno. A ciicumslancia ini- prevista da dispensa dos actos, (|ue separou por espaco de cinco mczes quasi todos os so- cles eliVctivos, ao mesmo tempo que paralisou a vida interior do Instituto, foi especialmenle nociva a esse jornal, que, privado da maior parte dos elementos com que no ado do seu nascimento conlara, apesar dos esforcos e boa vontadedos seus redactores, nao pode, talvez, satisfazer plenamente ao que a opiniao piiblica com razaoesperava d'elle. E ainda inCclizmente, senhores, na occasiao em ([ue a ahertura da Universidade parccia devcr i.onimunicar-lhe mais energia, mais vida, e collocal-o mais ao nivel Aa sua missao, a desorganisagao interna, produzida pcia demissao pcdiria por alguns benemeritos socios, que haviam tornado sobre si o peso dos trabalhos da sociedade, fez com queaquella circumstancia nao pcodu- 0 INSTITUTO 197 zisse immediatamente lodos os bons rcsiillados, que d'ella seesperavam. Aclualmente, poreni, a dedicacao e luzes de uraa commissao reda- clora, nomeada na forma do regulameuto iater- no da sociediide, nos promettem que os incon- venienles liao de ser removidos, e que o Ins- tiliito vae ser um jornal digno de uraa socie- dade lilleraria. 0 mesmo embaraco que acluou na publi- cacao do jornal, iiiQuiu lambem na vida da sociedade. So nos lins de outubro eque podo- ram p6r-se em andamento os seus negocios; e desde cntao a Direcjao lem feito lodos os esforcos para inlroduzir a ordein na sua ad- minislracao. Fizeram-se os regulamenlos inter- nos, que em breve viio ser publicados; rcgula- mento para oarchivo, para o gabinete de lei- tura, conlabilidade, elc, c tomaram-se outras medidas necessarias para a regularidade da sua adminisiraciio economica, com as quaes nao vos faligaremos agora. Pelo que respeita as classes, as circumstan- cias que ponderamos nao permitlem que os sens direclorcs venbani hoje apresentar-vos o relalorio dos seus irabalbos. Ainda ba pouco tempo poderam principiar a|funccionar; porem 'nesse pouco tempo, torn, especialmente a de Itlteratura, prestado valiosos servicos a socie- dade em geral. Quanto a parte economica da administra- cao nao e possivel apreseiilar-vos bojc um cir- cumslanciado relalorio; mas a Direcao vos promette, senhores, que com a possivel bre- vidade apresenlara as suas conlas, para screm examinndas e disculidas em sessao piiblica do Instiiuio. Resla fnllar-vos de um projeclo, que, occor- rendo a alguns uiembros d'esta sociedade, nao tardou a ser abracado por lodos, e que brc- vemente esperaiiios ver realisado. Querenios fallar-vos dos cursos de leitura, que diversos socios se propoem fazer sobre varies ramos das sciencias, perleiicentes as tres classes em que ^•ii; 0 luslituto se divide. 0 regulameuto para eslcs fjii cursos ja foi ap|>rovado, e vae ser publicado dentro em pouco. Esperauios, que no proximo mez de Janeiro podera dar-se principle a execucao d'esle pro- jeclo, que nao bonra menos osseus auctores, que OS que se offereceram para o realisar, e loda a sociedade que seappressou aacolhel-o como um meio efficacissimo de instruccao e civilisacao. Data de uiuilo pouco tempo o rcnascimenlo das sciencias e das lellras em Porlugal; e tendo-sn Jiniitado as escliolas csle meio de propagar a insiruccao e dcsinvolver o amor do esludo, nao tern produzido lodos os bont effeitos, que da sua vulgarisacao se poderiam esperar. Se esiescnsaios, que brcvemente vad ter logar, nao tiverem oulro resultado raais, que exciiar o goslo por esies Irabalbos, epelo estudo que dies necessariamente trazem com- sigo, 0 Institute de Coimbra lera feito uni grande service as lettras palrias. Esla sociedade, senhores, em virlude das circumslancias especiaes, no meio das (|uaes exisle, sustentada per pessoas ligadas a outras obrigafOes, que pouco tempo Ihes deixam livre. nao pode fazer o que em outras circumslan- cias Ihe seria facil ; e o mesmo pouco que faz, so 0 consegue a cusia de penosos sacrillcios, de grandes esforcos, de muilo boa vontade c dedicajao; e seria para lastimar, que 'numa epocba em que o principio da associacao e um elemenlo poderoso de grandes reformas nas sciencias e nas artes, quando um grande niimero de alumnos frequenla a Universidade de Coimbra, o eslabeiecimento scienlilico niais respeita vel de Porlugal, uma sociedade lille- raria nao podesse manter-se no meio d'esla juvenlude intelligenle, activa e briosa, que a Providencia destina para a regeneracao social e lilleraria da nossa palria. 0 Instiiuio alimenla a lisongeira esperanca de que as suas lileiras bao de ser conslante- mente engrossadas por novos operarios do ma- gesloso edilicio da sciencia. So assim, so com uma dedicacao conslanie do? seus, c a bene- volencia dos estrauhos, e que podera elevar- se a altura da missao que llie esla confiada ; missao que, se em alguns paizes e hoje um sacerdocio pacitico, no nosso ainda e infeliz- menle uma cruzada trabalhosa e cheia de pe- rigos. 0 secretario da classe de lilteralura, ser- vindo de 1.° secretario do Instiiuio, Jose Julio de Oliveira Pinto. PHYSICA M. Lament, director do Observalorio de Munich, achou, pela comparafao das varia- foes diurnas da declinacao magnelica em mui- tos annos. que ellas seguem um periodo de- cennal crescendo regularmenle dujanle cinco annos d'elle, e decrescendo do mesmo modo duranle os oulros cinco. Assim, disculindo as observacoLS lioraria.* feilas no observalorio de Bogenbausen, junclo de Munich, desde o mez de agosto de 1840, sublrahida a declinafuo das S"" da manhan, que e um minimum, da declinacao da 1'' da tarde, que (i um inaximum; as de Goeitingue; as de Busly-Ueat do eoronci iieau-l'oy; e fi- nalmenlo as de Cassini, de 1784 a 178S. obteve os seguinles resullados ; ,, ObservacOes Ejioclias do ma.rimum Epnch.i^ lio mii,imuiH de Ciissir.i 1780. ij do Beau-foy 1817 de Goeilingue 1837,0 de Bogenhausen 1848,b 1843, K E um facto nolavel, que merecc ser csludado. {LJnstititf, de 21 de julbo de 18:52 ; 198 0 INSTITDTO ASTRONOMIA Por uui grandc niimcro de observacoes, mencionadas na sessao da Academia das scien- cias dc 19 dc jullio de 1852, M. Mauvais de- terminou a coUimacSo do poln d'um circular mural de Forlin, islo c, a divisao d'este cir- cular correspoudcnte a direccao polar do eixo oplico do oculo ; 0 dcscubriu 'nesla collima- cdo variacoes, cuja coraparacao denunciava nma periodicidade anuua. Ainda que Mr. Mauvais nao achou uma lei, que ligasse bem eslas variagoes, comludo conlieceu que a colliniacao era minima no es- tio ; augmeniava ate o nieio do iuverno, lor- nando-se enlao maxima ; e depois diminuia ale 0 estio seguiule; sendo 12" o valor me- dio da sua variacao entre esles extremos: pelo que parece que a expressao C + 06'' sen. (180°+ 3) a pode reprcsentar aproxiniada- mente ;' adverlindo que no circular de For- tin as divisoes se succedem crescendo, quando 0 circulo, que anda ligado ao oculo, se move de none para sul. Com effeito M. Mauvais, oalculaudo por esta formula as variacoes para epochas inlermcdias, achou que nao diileriani muilo das observadas. Esle plienomeno e importante ; e ainda mais 0 sera quando o seu csludo Ihe assignar a verdadeira lei. No enlretanto a supposla ser- vira ao menos de corrigir uma boa parte da sua inQuencia na collimafao. Em quanto a explicacao d'elle, M. Mauvais limita-se por ora a notar a relagao que tem 0 seu periodo com o da variacao das tempe- raturas. « M. Arago, diz elle, mostrou, por obser- (( vacoes thermometricas relativas a diversas « profundidades, que as temperaturas exterio- >( res da terra se propagam lentamente alra- " ves do solo, de sorle que a certa profundi- « dade o maximum tem logar muitos mezes " depois do elleito produzido na superficie. « M. Henry, do obscrvatorio de Greenwich, « em uma memoria apresentada a sociedade « astronomica de Londres [Monlhj notices, vol. « VIII, p. 13i) achou uma variacao annua « periodica nas indicacoes do nivel dos ius- '< trumeotos das passagens de Greenwich e de K Cambridge, e outra na sua direccao azimu- 'ilij. ■i)y'j r.lj nilfu ;. ^ Longe de n(5tf St^gWatisSra jiortiu da seculo XVHF. Os nomesde Ruiisseau, Malherbe, Gilbert, Chaulieu, Del- lile, sao bem conhecidos. O que queremos dizer, e queal- guns versejadares, para adaptarem ao gOslo da nossa epo- cha aquellas poesias ; para llie fazerem perder a pliysiono- mia franceza, para as lornarenj suas, as caracterisam a seu modo, sem todavia conseguirem o disrar^al-as por tal arte, que nao se aponte imoiedialatnenle a sua origetn. ' Emilio Descbamps rormulou esta ideia nos rersos -«eguintes: I.a po^sie enfin, Peinlure qui se meul el mnsiqiie qui pense. 26 ' como pode muiias vezes o poeta vasar a ins- pirafSo DOS gelidos e fixos nioldes d'um cri- tico, trabalhados, a sangue frio, no remanso do gabinele? Todavia o sr. Palmeirira conci- lia adrairavelmeate estas duas condicoes es- theticas, posto que, como as f6rmas sao os interpretes fieis das nuances'' mais delicadas do pensamento, algumas vezes se reseutem da inspirajao, boa ou ma, que aoimou a sua alma 'nesses momentos vagos e indefinidos, em que o poeta, comprehendendo a sua mis- sao propbeiica, se desprende dos lacos mate- riaes da terra, para se elevar ao idealismo da vida ; para rasgar com mao ousada o veu do futuro; para devassar os arcanos da Pro- videncia ; para decifrar emfim os mysteries impenetraveis d'alem da campa. r Em geral as poesias fugitivas e amorosas do sr. I'almeirira nao egualam as suas poesias nacionaes e populares ; com tuJo ellas sao a maga e singela expressao do sentimenlo in- limo do poeta, das affeicoes mais puras do seu corafao; e a sua melodia revela o que ha de mais intimo no sentimenlo, mais energico na paixao. A pureza da ideia, a singeleza da expressao e docura, propriedade e naturali- dade das imagens assimelham-as a algumas poesias do auctor do Jocelyn. e das Medilacoes. Porem as oulras suas poesias tem alcangado um verdadeiro triumpho litterario e popular, triumpho certamente bem merecido. 0 povo as adoplou como suas, e as casou com sens cantos innocentes. Condemnal-as-a a arte? Entendo que nao. Esta donominacao de clas- sicos e romanticos, na opiniao d'um poeta contemporaneo, tem desapparecido completa- mente de todo o escripto e conversafao sen- sata. Essa lucta, que por tanto tempo ator- mentou a litteratura, acabou felizmente. Ja nao e a eschola romantica succedendo a das-"; sica. Nao. A intelligencia deu um voo mais arrojado. Esforcou-se por esclarecer as ope- rafoes da alma no conhecimento do belio;,. uma sciencia nova d'ahi nasceu — a estheli- ' ca, ou a theoria do bello na liiteratura e jias;i artes. Afferindo as poesias do sr. Palraeirim pelo padrao d'esta sciencia, a que modernamenle se tem dado tao grande impuiso, merecerao ellas 0 eslygma de reprovafao'? Nao. A sua lyra, que sempre tera sido o echo do norae do seu Dens, da sua patria e do seu amor, Ihe asseguram um futuro brilhante e um honroso logar entre os poetas d'este seculo. Nao reiiegueis, esperancoso poeta, o pre- cioso signal estampado por Deus na vossa fronte. Continuae, como ale aqui, vossa glo- 1 riosa carreira ; lembrando-vos d'aquellas ex- prcssoes de. George Sand: « teraos de crear * Servimo-nos d'este vocabulo, posto que seja pura- raeote francez, porque difficultosamente se pude Iraspai- sar ao portugnez, sem circuraloquio. Ghssarit rim pa lamas e frascs, etc., pelo sr. D. Francisco de S. I.uiz- *02 0 INSTITUTO uma lilieraiura iiiteiramenle nova, com os verdadeiros costumes popniares lao pouco co- nhecidos das outras classes. Esla litteratura oomeja no seio do povo, d'onde, em pouco tempo, surgira brilhante.'» }0ACUIM ]. DE S. TOARES E ALMEIDA. MEMORIAS HISTORICDS DA UNIVERSIDADE OE COIMBRA ContiDiiado de pag. 192. Quasi dois annos mediaram entre a siip- plica, dirigida pelo clero portuguez ao papa, e a expedicao da bulla, pela qual foi conlir- mado 0 estudo geral de Lisboa. Cingia eniao a tiara papal Nicolau IV, que succedfira no ponlificado a Qooorio IV em 128S. As negociacoes coraecadas na curia ro- mana, desde o tempo de Nicolau 111, sobre a contenda das jurisdiccoes enlre D. Diniz e 0 estado ecclesiastico, terminaram a final pela Concordia celebrada em Roma, no mez de fe- vereiro de 1289, entre os procuradores do lei, e OS prelados do reino. Era por lanto natural, que ale a decisao He tao grave negocio, de que pendia a quie- lajao do reino, se nao Iractasse em Roma de ouiro algura objecto importante, relativo a Portugal, mormente durando aioda o inter- dicto, que se tinha posto no reino. E de feito assim succedeu, porque so em agosto de 1290 foi expedida aquella bulla.' Ja porem a este tempo se acbava fundada em Lisboa a nova universidade, pelos ciiidados e lomavel provi- dencia de D. Diniz,' pois que ate a bulla e dirigida a universidade dos mestres e estu- dantes de Lisboa.' Nem era de esperar, que urn principe, lao dado as letras, deixasse de seguir o exemplo de seu avo Alfonso, o sabio, que elle sempre tomara por modfilo, e que ja havia fundado :'. primeira universidade de Hespanha, rauito iintes de obter a conlirmacao apostolica.' No anno pois de 1289, ou laUezja no an- tecedente, fundou D. Diniz a universidade em * Prefacio do Compagnon (lit tour de France. ^ ((Submotis quibiisdam obstaciiIis.» Bulla— Df itatn regit, na Monarch. Lus. P. V. * » quod procurante Dionysio Porlug. rege illustri cujuslibet licitae facultatis studta in civitate ulixbon. sunt de novo^ noa sine multa et laudabili pro> visione ptantata n Bull. cit. * « iJilectis filiis Universitati magistrorum et scola- rium ulixbon. salutem statuimus. . . . ut universi magistri actu regcates in civitate praedictn^ etc.» Bull. cit. ' A universidade de Salamanca, fundada em 1254, so f«i conGrmada muitus anaos depois, Moreri — DiccioR. Histor. T. X. Lisboa, maDdando fazer as escholas no bairro d'Alfama, onde eatao * Estatutos da universidade de 15 de fevereiro de 1309. (Monarch. Lusit. part. V, escript. XXV). ^ ^ Et si scholares quisquam volueritconvenire ratione crimiois vel contractus, etc. adeat eorum judices ordina- rios, silicet, episcopum, vel ejus vicarium seu viagis- trum scolarum, si hoc nescatui- ad suum officiutn pet- tinere. (Estat. cit.1 SOi 0 INSTITUTO' servar os privilegios d'ella, tomasse conheci- menlo de todas as causas dos estudantes e iiiais pessoas da universidadc, quer fossem ci- veis ou criminaes, intentadas civilinenle." Pouco a pouco OS conservadores se foram in- iroduzindo a conheeer tambem das causas cri- mioaes, ale que a universidadc veio a ficar exenipla da jurisdiccao ecciesioslica." Os graus de iicenciado c doiilor eram con- leridos aosesiudaales pclo bispo, ou seu viga- rio, do mesnio modo, que em Bolonha e nas iiiais universidades de Italia, dcpois de exa- inioados e approvados peranle olle pelos mes- ires. E e muilo provavel, que iiouvesse um exame publico na calbedral, no qua! argu- menlariara estudantes; e oulro privado em que argunientariam doutores; conferindo-se depois do priraeiro exame o grau de licencia- do, e 0 de doutor depois do exame privado, porque assim se practicava em Bolouba. Esta aucloridade que o papa deu ao bispo de Lisboa, passou depois para o prior de Santa Cruz de Coimbra, no tempo de D. Joao III, com 0 titulo de cancellano.-' 0 papa ordenava tambem que os mestres recebessem os rendimenlos dos sens benelicios e prebendas, nao obslaote estarem ausentes d'ellas. Recommendava finalmente o papa ao rei « que obrigasse com seu poder real aos cida- ■I doens de Lisboa, que aluguem aos estudantes ■I as casas, que tivereni, cm preco competente, " 0 qua! sera taixado por dois clerigos, dois lei- '( gos prudenles, calholicos e ajuramenlados, « escolbidos por osestudautes e pelos cidadoens « niesmos;» eque fizesse promelier, com jura- ' raento, seguranca e inimunidade a todos os « balios,"' niinistros eoDiciaes, seus, da raesma « cidade, para as pessoas, bens, emensageiros « dos estudantes."" Tal era a sumraa da bulla com que Nicolau IV, a titulo de promover o augmento dos eslu- dos, procurara tirmar mais a aucloridade apos- lolica em Portugal, como o haviam feilo seus predecessores nas outras universidades catho- licas. Nenhuraas outras nolicias encontramos da universidade ale a sua primeira trasladacao para Coimbra. E porem provavel, que seguindo 0 systema das universidades de Italia, houvesse 'nella dois reitores, estudantes do mesmo es- ludo, eleitos peia universidade, como venios eslabelecido depois, ate o tempo de D. Affonso " Figueir6a, Mem. mss. — L. Ferrcira Notic. ^J 366. ' ® Figueirfia, Mem. mss. 2' Havia ninitos annos que na universidaJe de Lisboa se dava o litulj de cancellorio ao bispo ou seu vigario, que conferiam os graus academicos, talvea porque na universidade de Salamanca exercilava este officio o mes- tre eschola da se, porquanto esia dignidade tinha anii- gamente o nome de cancellario, e com ellc foi creada na s( de TJsboa. (Figueiidn — Cunha — Hist. eccl. de Lisb.l ' ■** Admioistradores, ou mandatarios. " Bull.cil. Monarch. Lusil. P. V. V. Mas uem dos nomes d'elles, nem dos pri- meiros mestres que floreceram na universidade, 0 deseuido dos contemporancos, ou a voraci- dade do tempo nos conservou racmoria alguma ; e por isso ignoramos tambem os methodos de ensino que seguiram, e os textos por onde liam nas aulas. Mas, se em lamanha obscuridade pode arris- car-sealguma conjeclura, persuadimo-nos que 0 direilo romano se lia entao pelo Digesto, explicado priucipalmente pelas (jlosas de Ir- nerio e d'Acurcio. 0 Decreto de Graciano, as decretaes de Gregorio IX, ou o Extra, e o Sexto, constiluiam 'nesta epocba o corpus juris canonici, e deviam por isso Icr-se nos curses d'esta faculdade. A medicina de Avicenna e a pbilosopbia aristolelica complelavain, pro- vavelmente, o ensino acaderaico no estudo geral de Lisboa. 0 metbodo, que entao se seguia geralmente nas escholas, consistia na exposieao resumida, que faziam os mestres, das maierias. ou a summa ; liam depois os textos, que explicavam, cxpondo os diversos casos, e discutindo os pontos queslionaveis. Os estudantes escreviani 0 que 03 mestres Ibes dictavam. A principio havia uma so cadeira para cada faculdade, e os cursos eram annuaes, e por isso um so professor podia ba star para lodo o ensino; mas, alem das lieoes ordinarias, havia tambem leituras extraordinarias, assim dos que queriara graduar-se de licenciados e dou- tores, como de outros lentes, que, sem salario publico, vinham ler a universidade, ou para mostrarem a sua sciencia, e se habilitarem para entrar nas cadeiras ordinaries, ou porque OS estudantes se coacerlavam com elles, e Ihes pagavam o sou trabalbo." Esta practica era 'nesta epoclia geral nas universidades, e nao ba razao para suspeitar que em Portugal se Bzesse umacscepcao aquelia regra. Continua. J. M. DE ABREU. ADYERTENGIAS Tendo cessado de ser administrador d'este jornal o sr. J. Martins de Carvalbo, a pedido seu, annuncia-se que toda a correspondencia e expedienie do mesmo jornal deve ser, de hoje em diante, dirigida, franca de parte, ao sr. Jaciidho Antonio de Sousa, secrelario da com- missao redactora — rua do Correio n," B, ale novo aviso. — Coimbra, 18 de dezembro de 1852. 0 Secrelario inlcrino /. /. de Oliveira Pinto. Com esle numero cessa a remessa d'este jornal a todos os srs. assigiiantes, que ate o dia 20 do corrcnle nao mandarem satisfazcr a importancia das suas assignaturas. *' Figueirfia,Mem. mss. JORISAL SCIENTIFICO E LITTERARIO BOLETIM DO INSTITUTO DIRECCAO Na sessao do dia 8 de Janeiro foram apre- senlados diversos programmas de cursos de ieilura, que se mandaram remetter a respe- ctivu classe. Resolveu-se, que se publicassem OS nomes dos socios, a quern estavara dislri- buidos OS elogio? funebres dos socios falleci- dos, convidando aquelles para satisfazerem a esle encargo no mais breve espaco de tempo possivel, e sao os seguinles : Elogio funebre do sr. Silveslre Pinheiro Ferreira, encarregado ao sr. Vicente Ferrer Neto Paiva ; Do sr. cardeal palriarcha D. Francisco de S. Luiz Saraiva, ao sr. Luiz Arsenio Correia Caldeira; Do sr. Jose Yictorino Barrelo Feio, ao sr. \ntonio Nunes de Carvalho ; Do sr. Pedro Norberto Correia Pinto de Almeida, ao sr. Roque Joaquim Fernandes Tboniaz ; Do sr. Antonio Roberto de Araujo Taveira, ao sr. Jose Fructuoso Ayres de Gouveia Osorio. Na sessao do dia 9 foram distribuidos os seguinles elogios funebres: Ao sr. Basilio Alberto de Sousa Pinto, o do sr. Jose Alexandre de Campos; Ao sr. Bernardino Joaquim da Siiva Car- neiro, o do sr. Antonio Ribeiro de Liz Tei- xeira ; Ao sr. Joaquim Augusto Simoes de Carva- lho, 0 do sr. Agostinho do Moraes Pinto de Almeida ; Ao sr. Jeronynio Jose de Mello, o do sr. Agostinho Albano da Silveira Pinto. Dicidiu-se, que aos socios do anligo Insti- tuto da Academia Dramatica, pertencenles ao Inslituto de Coimbra, que nao houvessem ti- rado OS sous diplomas, se passem os novos, pagando somente a propina dos estatutos d'aquelle Inslituto. 0 1." Secretario /. /. Je Oliveira Pinto. CLASSE DE SCIENCIAS NIORAES E SOCIAES Kxtracto tia sessao annual da abertnra, em 9 de Janeiro de 1853 Foram apresentados ires programmas de cursos, um, em economia politica, sohre — liberdade de commercio, pelo sr. Jose Julio de Oliveira Pinto ; os oulros dois em philosophia, sendo um sobre — o principio da enlidade e Vol. I. Janeiro 15 sua applicacSo as sciencias moraes e sociaes. pelo sr. Joao Baptista Ferrao ; outro sobre — as relacOes entre o espirito e o corpo, por Levy M. Lordao. Foram remettidos as respeclivas commissoes. Foram eleitos, para director da classe o sr. Vicente Ferrer Neto Paiva, para secreta- rio 0 sr. Levy Maria Jordao, vice-secretario o sr. Diogo Pereira Forjaz de Sampaio; para meni- bros da eommissao de redaccao, no corrente anno, os srs. Baptista Ferrao, e Jose Julio. 0 Secretario da classe. Levy Maria Jordao. CLASSE DE UTTERATURA, BELLAS LETTRAS E ARTES Sessao annual da sua aberlura, cm 9 de Janeiro de 1853. 0 sr. Jose Maria de Abreu, director da classe, abriu a sessao, lendo o discurso se- guinte: Senhores — A classe de littcratura, beilas letlras e artes, reune-se hoje para celebrar, pela primeira vez, a sessao annual da sua abertura. Bem quizera eu 'neste dia poder dar-vos conta dos seus trabalbos lilterarios, no de- curso do anno findo; mas nao sao elles da ordem dos que avultam pelo niimero, ou que podem caplivar a attencao piibica, pelo seu brilho na republica lilteraria. 'Nesta primeira phase da sua existencia, a vida do Instilulo nao se traduz scnao pelos servijos da mais eslreraada dedicacao ; pelo modesio, mais laborioso mister de colligir ra- ros e disperses maleriaes, para com com elles constituir o grandioso edilicio litterario, que hoje vemos, felizmente, levanlado no meio d'esta briosa e illusirada academia. Vos sabeis, senhores, as graves difficuida- des em que temos lahorado para constituir esta sociedade sobre novas e soiidas bases; e eu posso com salisfacao dizer-vos, que entre OS zelosos obreiros de tao primoroso trabalhu a nenhuns cede a classe de iilteratura, eni dedicacao e amor pelas leltras patrias. Agora que um novo horisonte se abie diante de vos, cumpre-vos proseguir com infaiigavel ardor a obra, que generosamente tendes co- me;ado. 'Nesta ardua tarefa cabe a classe do Iilte- ratura uma nao pequena parte. A litteralura «e a expressao da sociedade. » A sua bisloria resume por isso, no rneio dos grandes acontecimentos, que l&m mudado a -1853. Num. 20. 206 0 INSTITUTO (ace do mundo, o que ha de mais elevado nas concep(6es do espirito humano, e de mais sublime c graudioso na civilisafao dos povos auligos e modernos. 'Nesse movimento geral, que irresislivel- mente nos conduz, pelo caminho da civilisa- fao e da liberdade, para a perfcctibilidade da esperic humaua, a nossa iittcratura, como a de toda.s as nacoes cuitas, oao podia ticar estacionaria. Seguiudo aquella lei immutavel, para a qual lendem lodos os esforfos da hu- manidade, cada am dos seus ramos se apre- senta hoje debaixo de uma nova face; cada urn d'elles procura cmancipar-se das formas auligas, para trajar as galas da luoderua ci- vilisafSo. Esla transifao, porem, conslitue na nossa litteralura uma epocha, tanlo mais difScil de caracterisar, quanto luclamos ainda enlre as iradijoes do passado, c aspiragoes do fuluro. A nossa lilleratura aniiga e rica e variada, como poucas; e pode dizer-se, que o lustre das armas jamais eclipsou a gloria das leltras palrias; se fomos grandes nas arles da guer- ra, fomos ainda maiores no esladio das let- tras. E todavia, senhores, muilas obras pri- mas dos nossos mais doutos e polidos escri- ptores nao chegaram a ver a luz piiblica, e jazem sepultas em perpeluo esquecimenlo ! No drama, no poema, e no romance, co- piamos hoje, muitas vezes, os auctores estra- nhos, sem curarmos de crear urn systema nosso, por onde possa aferir-se a pureza e elegancia do estylo, a belleza das formas, e a solidez dos pensamenlos. E os esforcos dos poucos, que ainda hoje sabem honrar as let- iras palrias, e que parecem destinados pela Providencia para Iransmitiir a posteridade os ultimos echos das nossas glorias litlerarias, oao tSm podido veneer aquella fatal len- dencia. Pelo romance e pela politica abandonamos 0 estudo da historia, das boas lettras, das hellas arles! A vossa missao, senhores, 6 concorrer para a grande obra do nosso adianlamcnlo lillcrario, exercilando a criiica com severa imparciali- dade, e procurando crear e dilTundir o gosto das lettras palrias, por vossos escriptos, por vossas discussoes scienlificas, e sobre tudo pelo vosso exemplo. Vos sois, pela maior parte, mancebos, a quern a patria ha de um dia cnnfiar os seus mais caros destinos. Entao, senhores, cuidados mais graves, occupajoes mais laboriosas vos roubarao o tempo, que vos quererieis dedicar a cullura das leltras; aproveitai-o agora 'nestes fugitives dias da mocidade, em quanto o vigor do espirito e a forpa da imagina^ao incitam os vossos brios litterarios. Todos OS ramos da lilleratura devem mere- cer a vossa atten^ao; mas para que vossas lides nos campos da culta Minerva possam produzir melbores e mais sazonados frucios, e roister designnr annualmeole os ossumplos sdhre que especialmcnle hao de versar os tra- balhos d'esla classe. A vossa sabcdoria compete escolher aquelles, de que primeiro vos deveis occupar no pre- senle anno. 0 acerlo da escoiha sera o pri- meiro testimunbo, que dareis, da vossa illus- tracao e zfilo pelas leltras palrias. Os ponlos escolhidos para Ihenia das dis- cussoes d'esla classe serao lambem assumpto para as raemorias, que houvereni de apresen- lar-se em nossas conferencias, para serem depois lidas nas sessoes solemnes do losiituto, e impressas no seu jorual, que e a maior dis- tinc^ao com que podemos preraiar o merito dos seus auctores. Os cursos publicos de leiuira podem versar lambem sobre alguns d'esses ponlos. Senhores! A empreza, que lomaes s6bre vossos hombros, e ardua c dilBcil ; mas para corajoesjuvenis, onde se aleia o fogo do enlhu- siasmo, para varoes doulos, e para mancebos briosos, aquera alentamasesperancas do por- vir, eu nao sei, que obsiaculos nao possa ven- eer 0 amor da patria e a gloria das lettras. Emseguida omesmo sr. director apresentou doze ponlos, que foram approvados para assum- pto das discussoes, memorias, e cursos de leilura d'esla classe, no corrente anno, sem prejuizo de quaesquer oulros, que se fossem offerecendo, e que a classe julgasse que mere- ciam ser approvados; ficando reservado para a proxima sessao desigoar a ordem por que deviam descutir-se aquelles pontes. Procedeu-se depois a cleicao do director, secrelario, e vice-secretario, e licaram eleilos, para director o sr. Jose Maria de Ahreu, para secrelario Joaquim Januario de Sousa Torres e Almeida, e para vice-secretario o sr. Joao Baplisla da Silva Ferrao. Foram nomeados membros da commissao de redaccao por esta classe os srs. Levy Maria Jordao e Jacintbo Antonio de Sousa. Assumptos designados pela Classe de Litteratnra, Bellas Lettras e Artes, para as suas discussoes, memorias, e cursos de leitura no anno de 1853. I. Necessidade da inslruccao litlcraria e scientifica do sexo feminino. II Estado actual da lilleratura dramatica em Portugal. III Influencia dos romaDces na familia c na sociedade. IV Desde quando data a decadencia das linguas anligas e dashumanidades enlre nos, e meio de reslaural-as. V Apreciafao das obras e services feilos a lilleratura patria pelo cardeal D. Francisco de S. Luiz Saraiva. YI Examc critico do melhodo de leitura repenlina. 0 INSTITUTO WJ VII Monumenlos sepulchraes de Coimbra com a exposi(3o dos factos, de que podem servir de proves, ou de illustracao. VIII Relajao enlre a orehitectura, escul- ptura, poesin e pintura. IX Epocha da inveofao da pintura a oleo; e a sua iofluencia sobre progressos da arte. X Classificaf5o dos differcntes generos de operas, acompanhada do resumo hislorico da sua origem, e epocha da sua introducao no theatro portuguez. XI Caracteres das tres escholas de musica — alleraan, franceza e italiana. XII Classiticacao dos differenles generos de declama^ao, e caracleres de cada urn d'elles. 0 Secretario da classe JoaquimJ. S. da Torres e Almeida. 0 CHRISTIANISMO, A EGREJA E 0 PROGRESSO LoDge vae a epocha, em que o historiador nao via, nos grandes factos da vida intima dos povos, niais que a obra do acaso, o rc- sultado immediato do pensamento de um so homem, ou, quando muito, de uma mesqui- nha inlriga politica. A historia era 'nesses tem- pos a chronica dos reis ; a voniade dos reis era 0 espirito da historia. Se alguma vez appare- cia a Providencia a figurar na explicafao de um grande successo, era o ultimo recurso do historiador, que, nao encontrando na terra o segredo de um acontecimento rebelde, se via constrangido a procurer no sobre- natural a so- lugao, que as foicas humanas the negavam. A intervencao da Providencia nao era aqui a ho- menagem rendida a um piincipio philosophico e sublime, que domina a historia e preside ao movimonto da vida dos povos; era umas vezes a ignorancia do historiador, que ia occul- lar-se a sombra augusta e inviolavel do san- ctuario ; oulras, diga-se a verdade, era a fe ardenie e nimiamente credula do chrisiao. Desde (|ue o homem alargou a esphera dos seus conhocinientos ; desde que de investiga- cao em investigacao entrou no espirito dos acontecimentos, e pela sua intejligencia pode dar aos fiictos esplicacoes mais satisfactorias, que aquellas que ate ahi procurava na Provi- dencia ou na magia, em Deus ou no demonio; desde que a philosophia desrubriu, e procla- mou a liualidade do homem, e do grande ser chamado — hunianidade — , como principio determinative dasua existencia e da sua acti- vidade, veio aproximando-se a epocha, em que 0 homem devia perguntar a si mesnio, se a vida dos povos nao scria a marcha pro- videncial da humanidade para o sen fim ; se as peripecias d'esse grande drama da vida da humanidade nao estariam ligadas umas as ou- tras por um laco occulto, por um principio universal? No dia em que o homem fez a si mesrao essa perguflta nasceu a philosophia da historia. Aluzd'ella os factos prendera-se, succedem- se, combinam-se ; e o historiador, que com 0 escapello da philosophia dissecar os mem- bros resequidos do passado, pode eslar cerio de que ha de enconirar atraves d'elles os ligii- mentos, que prendem dous factos, entre os quaes medeiam centenares deannos; edescu- brir a razao por que a causa dada em certa epocha, apparece seculos depois a produzir o seu effeito. a Meditando era cada passu dado pela huma- nidade, diz um celebre escriptor moderno, o nosso espirito ere descubrir 'nelle a unidade eharmonia; pensa podSr dar a explicacao dos factos pelas ideias que dies representam, e descubrir a esphinge imraovel no meio das areias movedijas do deserto. Aproximando en- tao 0 presente ao passado, como o effeito a causa, como o (im aos meios, transfere para a ordem eterna as leis, que governam o mundo moral.)) A historia e o vasto amphitheatro onde se disseca o immenso cadaver da vida passada da humanidade. 'Nesta tudo se liga, tudo se comhina, tudo obedeee as leis da harmonia. Nao ha um facto, por mais insignificante que a primeira vista pare^a, que nao va prender-se mais ou mcnos immediatamente no grande principio, que os domina todos ; que nao tenha uma significacao, embora occulta; que nao. contenha muitas vezes o germcn de algum grande successo. Um facto dos nossos dias, que ao primeiro aspecto mais extraordinario parece, e a influen- cia do principio religioso, como reaccao, con- tra a lendencia anti-religiosa da ultima metade do seculo passado, e ainda boa parte do actual ; facto que uns negam por impotentes para o explicar; que outros consideram um passo retrograde na via da civilizanao, porque o reputam inconciliavel com a marcha do pro- gresso, a cuja frente se havia collocado no seculo XVHIumaseita, quepretendia demolii 0 christianismo. Por outro lado, naofaltatam- bem quem pretenda prevalecer-se d'elle para declamar contra o progresso, e para nao vcr no liberalismo dos ultimos tempos outra cousa mais, que uma Utopia, que traz a morte no seu seio; um sonho inconsequenle, e sem fuu- damento na natureza dos homens edas cousas. E talvez este um dos pontes mais importantes da critica da civilisacao moderna, que convem estudar seriamente. Na decisao d'elle se in- volve a questao do progresso ; 'nesla questao eslao comprometlidns o passado, o presentu, e future da humanidade. Em quanto uns negam o facto; cm quanto outros olancam como baldao a face dos apos- tolos do progresso e da civilisacao, creio que fara um verdadeiro service, aquelle, que o suhordinar ao principio d'essa mesma civilisa- cao; que 0 apresenlar como uma das formas d'esse mesmo progresso; e que, mostrando M8 0 INSTITUTO como elle se liga ao passado, e nasce d'elle, como 0 cOTeiio da causa, a coDsequencia do principio, o tizer entrar na cathegoria que Ihe perlence Da ordem da civiljsajao da epocba actual. Eoque vou tentar dos poucos artigos, que se seguem. I As circumslancias, em que a Providencia havia collocado a egreja, no momento em que 0 vasto Jmpcrio romauo se dissolvia nas macs dos barbaros do norte, e que dos reslos nas- ciam as sociedades modero^s, Ihe deram o prinieiro logara frente dacivilisafSo europeia. Ella era a unica possuidora de aiguns res- tos de sricncia do mundo auligo, que haviam escapado d'aquelle grande calaclysmo, chama- do invasao dos barbaros. 0 que restava da philosophia, que no momento da conquista da Grecia viera, relugiada, abrigar-se ao pe do throDO dos imperadores de Roma, buscara agora a proteccao do sancluario chrislao, dlan- le do qual, para me servir da bella phrase de AUmeyer, o barbaro armado parava, tremia, e curvava a cabeca. Animada pelo fervor de uma crenja nova, cujo fim iramediato fora debellar a depravajao dos costumes, que minava o vasto imperio dos Cesares ; depravacao que, por ventura mais que a invasao dos barbaros, molivou a sua ruina, os costumes do clero eram, em geral, puros ; se nao absolutamenle, ao menos com relajao aos costumes eaos bomens da epocha. E 'nesia supremacia de instrucjao e de cos- tumes, que devemos procurar uma grande parte da explicacao d'esse, alias admiravel, pbenomeno da prompta submissao dos barba- ros a egreja ; ainda que a disciplioa bierarchica e forte d'esta coutribuisse poderosamente para esse facto. Foi esta a melhor epocha da egreja. Os primeiros bispos, lao altivos e inflexiveis para com OS fortes e poderosos, lao brandos e cheios de caridade para com os fracos e huniildes, eram verdadeiros tribunes populares, que da cadeira do evangeiho advogavam perante o mundo, que os esculava, a causa sempre pen- dente dos opprimidos. Ligando-se aos grandes pela sua constituigao hierarcbica, e as suas doutrinas de subordina^ao e obediencia ; aos pequenos pelos seus principios da liberdade, fraternidade, e egualdade perante Deus; abran- dando as paixoes indomitas dos vencedores, reprovando os vicios ignobeis dos vencidos; destruindo uni grande niimero de costumes barbaros de uns e oulros , a egreja contribuiu poderosamente para o melboramento do estado social. No meio da confusao espantosa, que succe- deu a queda do imperio romano, a egreja foi 0 ponto de reuniao para vencidos e vencedo- res ; foi 0 principio de toda a organisa^ao politica, a forca de loda a sociabilidade. Debai- xo da sua tutella se desiovoiveram povos flo- rescentes, costumes .«aos, a lilteratura, as scien- cias, e as artes. Naofalta hoje quern pretenda negar a egreja a iniciativa d'esse grande facto da emancipa- fio dos escravos. Guizot diz: « que a escra- vidao existiu durante muito tempo no seioda sociedade cbristan, sem que ella se mostrasse muito admirada, ou muito irritada, por este facto. Foi necessario, continiia clle, oconcurso de uma multidao de causas para abolir este mal, maior que todos os males, esta iniquidade maior que todas as iniquidades.» Nem dos livros sanctos, accrescenta outro escriptor, nem DOS escriplos dos padres da egreja, se encontra, ja nao digo um grito de rebeliiao, mas nem mesmo uma proposicao tendeute a fazer con- siderar este facto como il!egitimo.» Por outro lado aiguns economistas quizeram roubar a egreja, em proveilo dos principios d'elles, a gloria d'esse grande feilo, assignan- do-lhe, como causa, o interesse sordido, que fez ver aos proprietaries d'essas eras, que o trabalho do homem livre 6 mais productive, que 0 do escravo. Estes economistas desconhecem a escala do desinvolvimento intellectual dos povos, desde 0 seculo Y ate os nossos dias; alias naoat- tribuiriam aos bomens d'aquelle tempo uma observagao, que data de poucos annos ; nem accreditariam que, mesmo suppoodo-a feita, acluasse com mais forfa nos honiens d'essas eras de ferrea ignorancia, que nos da nossa epocha, em que a eseravatura e o reverse da medaiha d'esta civilisafao lao adiantada, em- bora OS brados da bumauidadc ultrajada, as conclusoes da sciencia, e a forga materia! de quasi todas as nafoes, se tenham associado para a sua destruicao. Quanto aos outros, e de crer que, antes de accusar a egreja, nao profundassem as cau- sas da sua apparente indifferenfa. 0 polytheisnio anligo, nem de facto, nem de direito aboliu a escravidao 0 chrislianis- mo condemnou-a como principio, abrangendo todos OS bomens debaixo do sancto nome de irmaos. Se a egreja nao chamou o escravo ii revolta, foi porque dois grandes obslaculos se Ibe oppozeram. 0 primeiro foi a indole da mesma egreja, que, em quanlo o cicro foi fiel a sua raissao, obrou sempre peia persua- fSo e pela brandura, reconhecendo quanlo c difficil e perigoso realisar nos factos uma re- volucao, cm quanlo nao esta operada na ra- zao e na consciencia dos homcns. 0 segundo eram as suas circumslancias cspcciacs no meio das paixoes desenfreadas dos barbaros, que Ihe lornavam a prudencia indispensavel, para evitar um cheque, que podia comprometter- Ihe a existencia, c com ella o future da hu- manidade, do ([ual era, por assim dizer, a depositaria. Mas por outro lado, ao mesmo tempo que ^'oINSTl'rUTO 209 acODselhava ao escravo a obediencia, persua- dia ao senhor a moderacao e bfandui'a ; pos- suindo escravos, na hunianidade com que os tractava, dava aos povos ura exempio, que corioborava as suas doutrinas; e nao raras vezes I'azia do escravo um ministro da reli- giao, que hoje dava ordens aquellcs, de quera honlem as recebia. Sanctificando a uniao con- jugal do escravo, deu-!he unia familia, os af- fectos do lar doniestico, e o amor da liberda- de. Foi por estes e outros nieios similhantes, que a egreja preparou esse grande successo da emancipacao dos escravos. Teria obrado melhor chamando o escravo a revolla? Nao o fazeudo, reconhecendo a escravidao como um direito? Nos nossos dias, faria bem a egreja chamando os proletaries a revolla conira os ricos, em logar de empru- gar lantos outros meios, de que ainda pode dispor para melhorar a sorts d'aquella infe- liz classe? Qual preferis, um Affre erapu- nhando uma espada ensanguentada, marchan- do a frenie de uma turba enfurecida a pilha- gem e a carniticina, ou um Affre sobre uma barricada empunhando a cruz, e pregando aos pobres a moderacao, aos ricos a caridade, e a todos a paz? Pode dizer-se que, 'naquellas epochas tera- pestuosas, a escravidao d5o era um direito, mas um facto excepcional, ao qual as vicis- situdes da guerra davam uma tal ou qual cor de legitimidade. A instituicao dos servos da gleba e de uma epocha posterior. E uma nova forma de escravidao modificada; e se se con- verleu 'nura direito, e 'uuraa instituicao per- manente, foi porque ja a esse tempo o cicro, descoahecendo a missao da egreja, e arras- tado pelas eircumstancias, pelas necessidades, e pelas ideias da epocha, havia buscado a allianca do podfer temporal. Outro successo brilhante da egreja, 'nesta epocha, foi a emancipacao da mulher, e a organisacao moral da familia. Debaixo da influencia do polytheismo an- tigo, assim como nos costumes dos barbaros do none, as relacoes enire o homera e a mu- lher tinham lodns um caracter de egoismo e brutalidade. Nas relacoes do homem para com a mulher predominava a insolencia e a f6rca; nas da mulher para com o homem, a astucia e a obediencia servil. Para com seus paes OS lilhos cram escravos; para com seus irmaos eram algumas vezes indilTerentes, o pela raaior parte inimigos. A organisacao legal da familia enlre os ro- manos, ao mesmo tempo que conseguiu dis- farcar atgumas d'estas raonstruosidades mo- raes, tornou outras mais salientes. Deu aos parentes o direito de julgar e condemnar a morte a mulher; permitliu o concubinato; deu ao pae o direito de vida e de morte so- bre OS lilhos; e algemou-os por toda a vida ao poste do pfttrio podSr'. A egreja raelhorou a sorte da mulher col- locando-a ao nivel do homera; aboliu i 'on- cubinato, e proclamou a indissolubilidade do matrimonio. Melhorou a sorte dos filhos, col- locando-os para com os paes 'numa ordern de relacoes mais elevadas, que a(|ueila que re- sullava da forca bruta. Creando a familia, a egreja creou o municipio, e com elle a liher- dade. Ondc encontrou ella forcas para tudo i'.to? Ja 0 disse: na grande influencia que exercia na ordeni intellectual e moral, sobre as ideias e costumes dos povos. Desde o seculo V ate 0 XVI 0 desinvolvimeuto intellectual e moral da Europa, foi, como diz Guizot, essencial- mente theologico. A philosophia, o direito, a polilica, a historia e mesmo as sciencias physicas e mathematicas, cultivadas pelas maos do clero no silencio dos claustros, onde os echos das desordens, que tumultuavam ca fora, nao iam perturbar os esludos do sabio, nem oscuidadosda familia distrahil-o, sahiam impregnados do espirito theologico, que era, por assim dizer, o sangue, que 'nessas eras gyrava nas veias do mundo europeu. Pelo ascendente que gosava, legitirao em quanlo que fundado na superioridade intel- lectual e moral da egreja, foi ella 'nesta epo- cha a grande operaria do edilicio social. 0 progresso foi obra d'ella, porque foi ella quem, salvando de um grande cataclysmo os reslos da civilisajao do mundo antigo, deu o pri- meiro impulso ao movimento intellectual e moral da Europa. A litteratura. as sciencias, as artes, o commercio, a industria, a familia, a liberdade, 'numa palavra, a sociedade in- teira, tal qual a vemos nos nossos dias, se quizerem compor a sua arvore genealogica, hao de ir de ascendente em ascendente. de gerafao em geracao, eocontrar na egreja a sua origem. Continua. JOSE JDLIO DE OLIVEIRA PINTO. ESTUDOS VETERINARIOS Continuado da pag. 181- II Os progresses que a veterinaria tinha feito na Europa desde o meado do seculo passado, nao eram conhecidos cntre nos, senao pela> traducfoes de alguns tractados especiaes d'a- quella sciencia, e particularmente de hyp- piatria. Possuindo antigamente excellentes racas dt cavallos, e tendo abundancia de gado bovnio e lanigero, haviamos deixado em complete esquecimento o estudo de uma sciencia, de que essencialmente depende a riqueza e prosperi- dade da industria agricola! A primeira eschola veterinaria, que existiu no reino, foi creada pelo alvara de 29 de ilO 0 INSTITUTO marvo tie 1830. Era esta cscliola destinada para habililar veterinarios niililares, e para seneralisar os coiiliecimenlos d'esla scicncia em benelicio da agriculiiira. Coiislava o sou curso de qiiatro annos, nos quaes se cnsinava aiialomia descripliva e ge- ral, pliysiologia, pharmacia, materia medica, hygiene, tlierapeutica, doencas epizooticas, palhologia interna e externa, medicina ope- ratoria, e cliuioa; alem d'este curso, havia uuia officiua de forjar forragcns, e de ferrar. Todo 0 servifo e reguiamcnio da eschola era militar. Os successos da guerra civil, que pouco depois tiverara logar no rcino, inulilisaram, logo no comeco, esie esiabelecimento, que, apesar de alguns defeiios na sua organisacao, sendo uui dos mais graves a falta de estudos preparalorios nas sciencias pliysicas e histo- rico-naturaes, porque ncnhuns se exigiara aos alumnos, lem com tudo o merito de ser o pri- meiro ensaio regular, que d'estes estudos se fez entre dos. Quinze aunos depois se instaurou a eschola veterinaria de Lisboa, em 1845.' Mas ja a este tempo se havia niandado ensinar a ve- terinaria eonjiinctamente com a agricultura ua facnidade de philosophia da universidade de Coimhra;° e com a botanica e agricultura ua academia polytechnica do Porto.' A. nova eschola veterinaria adoptou quasi 0 niesmo piano, que a primeira. Militar, como esta ; inleiramcnte isolada de lodas as rela- coes, que ligam estreilamenle o ensino da veterinaria ao da economia rural; collocada longe dos grandes lenlros agricolas, a nova eschola nao tinlia sobre a anterior outra mc- Ihoria mais, do que os preparalorios de de- senho linear, aritlimetica, geomelria, prin- cipios geracs de physica e chimica, e de his toria natural dos tres reinos, que agora se exigiam aos alumnos, para matricular-se no curso vcterinario, que tinha um anno menos do que na anliga eschola. A lei de 184i) providenciava tambeni acfirca dos estabelecimentos, que deviam fazer parte da eschola para os exercicios clinicos, e para 0 ensino praciico das diversas disciplinas. A eschola veterinaria, assini organisada, nem podia satisfazer as necessidades da scien- cia, nem as convenicncias publicas; e nao lardou que a cxperiencia o conlirmasse ple- namenle. Dois annos apenas tinham passado, quando 0 conselho escholar represenlou ao governo a necessidade de supprimir os estudos prepara- tories, CNigidos pcia lei de 1843, porque desde a sua promulgacao, nem um so alumno se ha- via matriculado 'naquella eschola! Os preparatories foram supprimidos, a e.\- ' Lei lie 28 ilc ahril ile 1845. • D. de 5 lie ilczembro 1836, art. 91. • D. lie 13 de Janeiro de 1837, arl. 157, ■ 'J fiisiJujl :^ ' cepcao da grammatica portugueza e friinceza, e principios de arithmetica ; e em logar d'elles se deiciminou, que os alumnos da eschola ve- terinaria frequentassem, conjunctamente com as cadeiras d'este curso, as de principios do physica e chimica e de botanica na eschola polytechnica. 0 curso de veteriaarin passou a ser de quatro annos. Taes sao as alterasoes, que o decrelo de 23 de junho de 1847, introduziu no piano de estudos d'aquelia eschola. . . - n Com 6sta reforma, porem, as aulas da es,- ■ chola continuaram a ficar abandonadas;Ve o ' ensino da sciencia nao lucrou nials. Como eschola normal de veterinaria, o piano dos sens estudos era muito insuQicientc, e a sua organisacao incompativel com um lim lal. . A sciencia veterinaria exige o proi'uudo es-ji tudo dos animaes considerados em lodas as ■. i suas relacoes: se o simples alveitar se con-) teuta com o conbecimento dos symptnraas mais geraes das molestias, para tractai-as empiri- camente ; a sciencia precisa de observar a naturcza d'essas moleslias ; a accao dos me- dicamenlos, e do regimen alimcntar no seu curative; era iim, a influencia, que tem, na l pathogenia das moleslias, e suas diversas com- ■. plicacues, o irabalho o exercicio dos animaes, nas mui variadas condicoes, em que se a chain , collocados pelas necessidades da iudustria. .id A veterinaria, porem, nao se limita hoje so;» a cura dos animaes doinesticos: o sou hni e:x mais vasto, e a§ suas agulicacOes mai^ilraa'^.u scendentes! ' \.^J',',y,i,'', ,,; ,,,,,,;. j, ;,',!,•, .oj.siilciq A induslria agricola consliiue aclualmente'- um dos primeiros eleraenlos ila piosperidade -i e grandeza das nacoes ; e os gados sao a ,(j principal base d'esla induslria; porisso a mul-jil tiplicacao, e aperfeifoamenlo das racas, e os b-,0 cuidados hygienicos para conservar a saudejb dos animaes, e tornal-os mais aplos para os sa niulliplicados fins, para que o homeni os desrjb** lina, dao a hygiene e a veterinaria legal .up»a>iB nova e imporiantissinia direccao, ; * E para satisfazer estas condicoes sao muito ul inferiores os estudos de unia eschola, cujo — iw « principal pm e hahilitarem-se alumnos com os « conhecimentos proprios para podei-em trar (( ctar convenicnlemeuie as cavalgaduras doen-iiul « tes, perlencentes aoscorpos do exercito; beniup « como para exercerem a arte veterinaria eni-. « qualquer parte do reiuc'jj oiss Indepcndenlemeule porem do seu fim esk-ii: pecial, um esiabelecimento, onde para os me^r^ tres, e para os discipuios, se nao requereml oulros preparatories mais, ;]ue arilhmclica principios de physica c chimica inorganica e botanica, nunca podia ser considerado como eschola normal de veterinaria, que exige o Sk-llS m * Veja-se o que a este t-espeito diz o s'r. Lapa, pro- fessor lin eschola veterinaria, 'num arltgo pnblicado no n." 41 d(i V volume da Revista P;>pular. , ' Lei de 28 de abril de 1846, art. l." 0 INSTITUTO ill completo estudo das sciencias physicas e his- torico-naturacs, e dos principaes ramps das sciencias niedicas. --^ •' ' ' ' \ vcterinaria, como sftieticia, na6 foi ainda ensinada em Porlugal. porque as duas ca- deiras, que a rclbrma de 1836 destinou, na instruccao superior, para o estudo da vcteri- naria, seiiam apenas sufficientes para o en- sino de urn dos seus ramos, quaiido nao ti- vessem outro oi)jeeto de que se occupar. Mas, na univcrsidade, a veterinaria faz parte da cadeira de agricullura ; e, na academia poly- technica, a cadeira de veterinaria compre- hende tambeni botanica, principios de agri- cultura e economia rural. Como arte, a veterinaria tern ficado sempre estacionaria em Portugal ; e a agricullura sof- fre as irisles consequencias do grande atrazo, se nao compteta ignorancia ate dos mais ele- mentares principios da alveilaria. '"/"'| , E todavia ha vinte e dois annos,'que cxiste entre nos unia eschoia veterinaria! A causa d'isto e obvia. A eschoia actual, pela sua organisajao puramente niilitar, pela sua collocacao na capital, c pcio fim especial, a que se dedica, nao pode ser frequentada senSo por alunmos raiiiiares, que se deslinam para servir nos corpos de cavallaria. 0 que persuadia a boa razao, provou-o a experien- cia de sobejo.' Yora d'aquelles aiuninos, a eschoia tern estado deserta, e nem podia dei- xar de assim acontecer, porque a veterinaria nao 6, nem pode ser por largos annos, uma profissao, que offereca interesses correspon- dentes aos sacrificios, que demanda o seu es- tudo na capital; porque o regimen railitar da eschoia nao se casa com os habitos paci- ficos da vida agricola ; e os agricultores sao OS mais inieressados em frequentar estes cstu- dos ; porque o ensino da arte veterinaria deve ser, como o da agricullura, ate certo ponto, regional; porque emiim o esludo de uma deve andar sempre ligado ao ensino da outra. Os conhecimentos de veterinaria deveni dif- fundir-se no meio dos grandes cenlros agri- colas por via deescliolas especiaes, para serem accessiveis ao maior ni'>mero de proprietaries ruraes, c para inleressar a todos pela especia- lidade de seu ensino em relacao aos gadoa, que mais abundam em cada regiao. Sem isto serao sempre baldados todos os esforcos, que se empregareni para colhfir do ensino da veterinaria' os grandes bencficios, de que a agricullura Ihc 6 devedora 'noutros paizes. Em todos elles sempre as escholis veteri- uariasforam indcpendentes dos estabelecimen- tos militares, porque, se aos corpos de caval- laria sao necessarios facultativos veterinarios, nao e precise, que estes se habilitem 'numa • Veja-se o prcambulo do d;crelo de 23 dejiinho de 1847, e o arligo cilado, do sr. Lapa. na ReciaUt Ponu- l„ '-." fAi! hn'iv-Sii -'u nr v.: >- eschoia mililar, do mesmo modu (|ue, para ser cirurgiao de qualquer rcgimento, hasta ter oblido approvacao 'numa eschoia civil. Esciiolas militares de cquitacao, como a de Saumur, em Franca, nas quaes se aprendem OS principios d'alveitaria. para ter bons fer- radores nos corpos de cavallaria, e se ensi- iiam as regras para conhecer e conservar os cavallos, sao na verdade necessarias para o scrvico do exercito, e devem ter urn regula- menlo mililar, mas nao assim as de veteri- naria. Das tres escholas veterinarias de Franja, nenhuma e mililar ; mas o governo manda frequentar na de Alfort quarenta pensionis- las militares; apesar de nem o regulamcnlo, nem os empregados pertencerem ao exercito. 0 ensino da veterinaria nao deve so limi- lar-se a algumas escholas isoladas: e preciso generalisal-o em todosos estabelecimentos agro- nomicos, e ligar sempre as praclicas agri- colas aos excrcicios veterinarios : e neeessario em fim dar a este ensino em cada regiao, segundo as suas peculiares circumslancias, uma direcao especial. E assim que a eschoia deTolosa foi creadaespecialmenlepara o estudo das molestias do gado bovino, que conslitue uma das principaes riquezas d'aquella regiao. E a nenhuma d'eslas condicoes pode satis- fazer a nossa eschoia veterinaria mililar.' Quando lao abandonado lem sido o ensino veterinario em Portugal, nao e para admirar as poucas obras origiuaes, que entre nos se tern raodernamenle publicado si)bre esia sciencia, Merecem comludo mencionar-se com lou- vor OS nomes dos srs. Girao,' Viana de Re- zende' c Dr. Macedo Pinto,'" cujos cscriplos muito tem concurrido para a instruccao dos nossos agricullores e alveitares. 0 compendio de veterinaria, porem, do sr. Macedo Pinlo e incontestavelmente a obra elementar mais completa, que 'nesle genero possuimos. 0 A. abrangeu, em resumido quadro, o vaslo piano dos esludos veterinarios. dohaixo de uma forma e systema inteiramente novo, nao so entre nos, mas ate na maior parte dos escriploresestrangeiros, que lem transplantado para os tractados de veterinaria os quadros nosographicos da medicina humana, e ate muitas vczes a sua linguagem, em completa desbarmonia com a anatomia e physiologia comparadas,; ; ..,, i.,,,; . -■ c...;yij.> ;..,...... .- ,r,.....^ oi; uo'lnoi'jiqai islodaaa odja^ii^'' ' Tinhamos lra5ado estas liahaB, tjuando Vimos pnUi- cado o decreto de 16 do correnle, que, exlin»iiindo a es- ciiola veterinaria militar, creou junto de cada eschoia re- gional agricola uma eschoia de veterinaria. 8 BcDnDinia rural e dfitiiestipo. fl« ensino SiJbre o gnd') tanigerii e cornigero. Lisboa, 1835, 2 vol., 8." ^ r * Diccionario de veterinaria. Lisboa, 1U45, 2 vol. — Zonselikiiiliigia veterin. — 1 vol. '" Compendio de veterinaria, on Medicina dos ani- maes domeslicos. Coimbra, 1852, 1 vol., 8." Daremos noticia especial d'esta obra 'nesle jornal. >\9 0 INSTITUTO Ksia olira iiiarca a verdadeira direccao, que lioje devein seguir os estudos veterinarios. 10 lie tleaenibro f.u/lictt.o. I. M. DE ABREU. WVn Medila(;ao Poelica Je Lamartiue Que esculo ! em lornu de niim resoa o bronze ! Piedosa miiUiUao me cerca em prantos ! For queni hao eates psalmos, eslas toclias? O morte, c a liia vuz que vem bradar-me A derradeira vez? Sou eii que actSrdo Subre as bordas da campa? 6 lu, eraanai^ao da luzdivina. Que 'nesle fragil corpo arder vieste, Despe o temor, a mnrte vem livrar-te; SoUa 0 voo. BIBLIOGRAPHIA "S^'^ 11., Sciencias Mathematicas , , , ,.;,,| Mechanica racional, pelo sr. Dr. Francisco tie pftslro; , Freire, Lenlecatliedralico da facuMatle deMatliemalica. Este livro, pela boa dis|iosirriti das materia?; pelo dis- ' cernimento, com que seu auctor aprovejtoti, e al^Umas vezes modiQcoii, o qne ha melhor iius tractados modernos , da sciencia ; pela boa escoiha d'exemplus , c pela conci- . siio e clareza, com que esla cscriplo. deve repular-se um trnbalho de hicontestavel mL-recimento e utilidade. Foi adoptado pelo consellio da meama faculdade para, compendio do 3.° anno na 4.* cadeira. b. ifbU'. ® JuiStitittu JORWAL SCIEISTIFICO E IJTTEUARIO BOLETIM DO INSTITUTO Classe de Sciencias Phj^sico-Malhematicas, A classe de sciencias physico-malhematicas, na sessao annual d'aberlura, que leve logar a 15 de Janeiro do corrente anno, reelegeu o sen director, o sr. Fiorencio Mago Barreto Feio, e o secrclario, Jaciniho Antonio de Sou- sa, Domeando vice-seeretario o sr. Jose Tei- xeira de Queiroz Almeida de Moraes. Na conl'orniidade do regulamento proviso- rio, foram eleitos na mesma sessao para a coinniissao de sciencias mathemalicas — os srs. Rodrigo R. de Sousa Pinto, Francisco de Cas- tro Freire, e Rayuiundo V. Rodrigues; para a commissiio de sciencias pliysicas — os srs. Roque F. Tliomaz, Joaquini A. SimOes, e Luiz Albano de Moraes; para a eommissao de sciencias medicas — os srs. Jeronyino Jose de Mello, Jose F. de Macedo Pinto, e Joao -Vnlonio de Sousa Doria ; para a eommissao redactora — os srs. Roque F. Tliomaz, c Antonio A. da Costa SimOes ; foi proposto para director do gabinete de leilura e liibliotliecario o sr. A. A. da Costa Simocs. D'entre varios pontos offerecidos pelos so- cios, foram escoliiidos doze para objecto das discussoes, e memoiias d'esla classe no pre- sente anno. 1 ,i,|.. IX Tlieoria da visao. X Caminhos de I'erro hydraulioos, o sun-i principaes vanlagens. XI Canalisacao do Mondego. XH Explicacao dos plienomeno's parlicula- res aos eclijises lotaes do sol. 0 Secretario da c1js.'>; /. A. de Sousa. INFLUENCIA DAS CRUZADAS NA CIVILISAgii; II Continuado de pa?. :8 Assumptos adoptados pela classe de sciencias phy- sico-mathematicas para as suas discussoes, me- morias, e cursos de leitura no anno de 1853. I Se a nioleslia das videiras e produzida pelas mesmas causas, que a das batatas; e quaes os meios do a reniediar. II Esiado da nossa mineracao; causa da sua decidencia ; utilidade, e nieios de restau- ral-a. III Inlliiencia das circumstancias geogra- phicas, geologicas, e chimicas na organisacao do horaem c dos animaes. IV Organisacao do ensino agricola em Por- tugal. V Historia dos progresses da mcdicina, ci- rurgia, e pharmacia, em Portugal. VI Efl'eilos nocivos da cultura do arroz, e meios de a melliorar, em relacao (i saude pu- blica. VU Hygiene privativa dos individuos de- dicados ao estudo. VIII Colleccao da legislafSo palria relaliva a mcdicina legal, e ao exercicio da medicina, cirurgia, e pharmacia, comparada com a das nacOes cultas. Vol. I. FEVEREino 1 Feudalismo Nas consideracoes phiiosophicas, que apre- senlamos em comdco d'este traballio, susten- liimos que e o liomem queni constiiue o mundo ; que e em razao das ideias, dos sen- timenlos, das disposicoes intellecluaes e mo- raes liumanas, que o mundo e regulado, que seu progressose deleriuina. Hoje, fazendo ai- gunias breves reflexoes sobrc a origem, cara- cter, e consequencias do leudiilismo, mostra- remos a realisacao d'a(iueHes principios. Na primeira epoclia da invasao barbara nenhum dos syslenias, que partilharaiu depois a civilisacaoeuropeia, teve o predominio; era 0 cahos lie todos os elementos, diz Guizot. a inlancia de todos os systemas, unia confusao universal, em que a lucta mesmo nao era, nem permanente, nem systematica. Do seio desla massa confusa e quo sahiram gradualniente os syslenias, que mais ou mc- nos l^eni inOuido na civiiisacao nioderna ; d'estes o primeiro loi seni diivida o feuda- lismo, que, estendendo seusranios s6bre quasi toda a Europa, e iuqirimindo seu lypo. parti- cular cm todas as oiganisacoes sociaes, teni suslenlado unia vida de seculos, de que a In- glalerra e Allemanlia ainda alentam os ulti- nios rcspiros. 0 cgoismo mal entendido, conduzindo ao isolauienlo, torna incompalivel o laco social. que una as nacoes para um fim communi ; este eleniento, cifrado no exaggerado senli- mento da libcrdade individual, e da indivi- dualidade humana, era o dominante nos po- vos invasorcs da Europa na epocha de que nos occupiimos. Esse seniimenlo predominan- le, e 0 continue cstado de guerrra, ja com os povos invadidos, ja com as hordas eguai- mente barbaras, cjue com impelo so prccipi- — 1833. Num. 21. 216 0 INSTITUTO lavam sobrc os |)iirueiros invasores, para par- tjlliarera suas conquislas, cxplicam sufficien- lemenle o eslado deploravel da grande cpo- cha, que se scguiu a queda do iniperio do occidente. Um estado violenlo, porem, como trans- iiirno das leis da cxistencia, traz conisigo sua desiruifao; o homera nSo foi desiinado para a ferocidade ; cm sua alma eslampou o Crea- dor 0 senlimeiUo nobrc da affeicao: esclare- na-se sua consciencia moral, tenha elle uma mais alia ideia de si mesmo, e immediata- inente os senlimenlos inais clevados, mais hraodos, mais duraveis, substiluirao suas ma- teriaes e duras inclinacoes; o homem sente um atliaclivo irresisiivel para o oulro homem; lem mesrao, na mais profunda abjeccao, uma necessidade de ouvir a voz, de ver a face de sou similhante. Este caracler sympalhico, fundamcnto prin- cipal* da sociabilidadc, o goslo pela ordem c pelo progresso, os reslos da anliga civili- sajao romana, os sublimes prineipios de bran- dura e alia moralidade do cliristianismo, H- nalniente homens grandes, que do cenlro da barbaridade se elevaram, pondo-se a frente d'esse grande movimento de confusao e guer- ra, foram sem diivida ascausas fundamentaes, que alentaram e desinvolverara o germen d'uma nova civilisacao, que lentamente comecou a manifeslar-sc na formacao do regimen feudal, e de que a nossa cpocha ainda nao viu o tcrnio. Parecera sem diivida eslranbo que o scn- limenloda liberdade individual, eda individua- lidade, viesse em lao breve espaco a produzir um syslema de repressao escravisadora e degra- danle! A exageracao cega d'aquelles prinei- pios de certo nao concurreu pouco para esse resultado; nao podendo sustenlar-se um prin- cipio, cae-se deordinario nosystema opposto, a forfa de o querer garanlir. A. individuali- dade e a energia da existencia pessoal era o facto dominaole dos vencedores do mundo ro- mano; o desinvolvimento da individualida de devia consequenlemenie resultar do regimen social, que sahisse de sen seio. As creofas e os senlimenlos, que os homens trazem quando se ligam a um determinado syslema social, nao podem, como ja lizemos ver, deixar de exercer sobre elle uma deter- rainada inQuencia,pro;)orcionaiaessee!emento novo, e a siiuajao moral da sociedade; mas essa situacao influe d'uma maneira egualmenle uniforme sobre aquellas novas disposijoes. 0 individuo dominava na sociedade germanica; ' TalTcz melhor diriamos unico, coDsideraiido a so- ciabilitlade e o humem subjectivamente, pois 'neste campo a^ raz5e3 nascidas das necessidades practicas nao podem ser altendidas; 'numa aprecia^ao d'aquella ordem nao ha necesaidades senno as constitutivas da hiimaDidade, considerada debaixo do mesmo ponto de Tjsta; a estas porem pertence a affectibilidade ^ pois e uma faculdade cou3titittiva do ser liumano. foi debaixo d'esta ideia que a sociedade feudal se dcsinvolveu, exagerou o principio, e a individualidadc de cada um licou sujeita a individualidade de poucos. Quando as Iribus barbaras desciam sobre 0 resio da Europa, dispersando-se pelas novas provincias que iam conquistando, seus chefes de familia eslabeleciam-sc a uma maior dis- lancia uns dosoutros; occupando vaslos domi- nios, augmenlavam em poder ; suas casas em pouco lornavam-se caslcllos; as povoacoes, que em lorao d'elles se formavam, nao se compunham de homens livres, seus eguaes, mas sim dos colonos ligados a suas terras : coasequentemenle as assembleias dos homens livres, era que se resolviam os negocios, tor- naram-se d'uma difficil convocacao, e o sys- lema que predominara na Germania devia. ver proximo seu acabamenlo. Quando uma populafao se aclia dispersa, e mister um grande desinvolvimento social, para que suas garan^ lias de liberdade nao scjam aniquiladas. Tal foi a origem do elemento feudal nascido nas Horeslas germanicas. Se, para fazer mais sensivel o desinvolvi- mento d'esta ideia, apreciarmos aorganisacao social dos povos gerraanicos na epocha, em que entreelles comecou a manifestar-se o prin- cipio feudal, achal-a-emos muito conforme com a ideia que d'estes povos nos dao Cesar, Tacito, e Ammiano Mareellino; as alteracoes nao sao de certo essenciaes. Seu nome de Germanicos, humens de guerra, dado lalvez, conforme Cesar, pelo terror que incutiam a seus vizinhos, e que era applicado egualmenle a loda a populafao armada, que falava a lingua ludescu, manifesta de certo a indole da antiga consliluicao d'estes povos. Duas sociedades muito similhanies, distinclas todavia, subsisliara na Germania: a sociedade datribu, inclinada a vida sedentaria, e enlre- gueaoscuidados agricolas, em quecmpregava OS colonos eescravos; e a sociedade guerreira e nomada, seguindo um chefe, que de ordi- nario os conduzia a victoria.'^ Immensos sao os ponlos de contaclo que se descobrem entre este estado social, eo das outras sociedades, de cujos comecos nos che- garam memoria ; laes se nos apresenlam os Gaulezes, quando, invadindo a Italia, e devas- tando Roma, passara a fundar na Asia os gallo-grecos, ougalalas: Roma nos primeiros tempos da moaarchia eda republica nao offe- rece um quadro mcnos carregado; somente 'nella predominam, com preferencia a Germa- nia, OS direitos especiaes de cidade, como nota Sismondi; as tribus selvagcns da Ame- 2 Cesar de Bell. Gall. Liv. 6, cap. 21 e 22. — Tacilo de Mor. Germ. cap. 26. — Os nomadas eram designados pelo norae de Snevos; os que linliam habitaijdes fixas pelo norae de Snxonios^ palavra^i que e.Yprimiaro esses caiacteres. que os romanos todavia tomaram como nome> proprios. 0 mSTlTUTO 217 rica em nossos dias nao apresentam differenie desinvolviraenlo. Tal e o resultado do principio similar, que era comSfo estabeleceraos. Muitas d'aquellas tribus barbaras linham reis ; outras elegiam d'enlrc a nobreza here- ditaria chafes, que punham a sua frente, com uma aucloridade todavia muito iimitada peio predominio do elemeuto dcmocratico, manifes- tado DOS comicios, em que a influencia do chefe era apenas a dapersuasao. Se aos principaes, ou magistrados, pertencia apresentar as propo- sicoes, que sesubmettiam aos comicios, se eram encarregados da execucao, ao povo cumpria de- cidir de todos os negocios importantes;' sua constituicSo, puramenle mililar, nao tioha outroobjecto maisque a defeza inlerna e exter- na dos cidadaos. A guerra, que enlre os povos barbaros e tida como uma necessidade para satisfazer sua avidez, nao foi considerada de outra sorte pelos antigos germaoicos. Porouira parte a ordem sacerdotal, podcndo intervir nas asserableiasgeraes do povo, tinha uma grande influencia nos negocios politicos, em que de ordinario era consuUada; servia a conservagao da paz, e nos comicios mantinba a ordem e a decencia:' so eila tinha o direito de punir, ou de casligar as pessoas livres, que nas assembieias ou na guerra faltavam a seus deveres; direito que exerciam, nao em virtude de alguma auctoridade ou cargo de magistratura, mas sim como per inspiragao divina e em nome dos deuses. Quando os barbaros se precipitaram sobre 0 resto da Europa, foi a predominagao d'este raesmo principio, que principaJmente dcu a preponderancia civil ao novo eleraenlo religio- se, que elles abracavam, e nao tanto a des- mesurada ambicao do clero, que oseculopas- sado fez valer d'uma maneira talvez apaixo- nada. Finalmente os chefes barbaros, da mesma sorte que'noutro tempo os antigos magistrados romanos, reuniam a auctoridade civil e mili- tar. 0 exercito e a nacao formavam um so todo, apresentando uma mesma ideia. Tal era o estado civil, social, e religioso dos apligos germanicos, descripto pelos AA. que citamos. 0 caracler particular d'csles povos fez-lhes soffrer pequenas aiterajoes ate ao tempo, em que de todo invadiram o imperio dooccidente: esta epocha marca um dos periodos mais saiien- tes da historia; e uma nova face, que vae revestir o principio social pela fusao dos dois elementos, romano e barbaro, no systema feudal. Continia, J. B. FERBAO. ' Ve majoribiis. diz Tacito, omnes consultant; ila tttmen ut en. quaqnc quorum penes plebem arbitrium est, apiid principes pertractenlur. — E quando aelei^Sodo rei, o mesmo A. nusdiz: — reges ex nobilitate sumunt. ' Silenlitun per sacerdotes, quibiis turn el coercendi jus est, imperatiir. Id. 28 COLLECCAO DE DOCUMENTOS INEDITOS : Oa poQCO conhecidos para a Historia litteraria, civil e politica do reino de Portugal e sens do- minios. CoDtinuado de pag. 240. Carta de el-rei de Aracao para o vice-rei 0. Joao de Castro Senhor — Altoe grande capitao do rei dos reis, esforfo dos grandes, fortaleza da terra, alteza doespirito, que tanto houra sua nafSo, temido D. Joao de Castro. Ja vossa senhoria tera sabido, como ante; de sua vinda a estas partes, eu, com parecer de todos os grandes do meu reino, tinhamos mandado pedir ao governador Martira Alfonso, que nos recebesse por amigos eservidores de el-rei de Portugal. E porque Ihe sobrevieram negocios, que Ih'o impediram, se deferiu o meu intento para outro tempo: o que cuido, que nao foi sem permissao divina; pois ficou para agora, em tempo que vossa senhoria esta governando estes estados, no qual estimarei muitO ter con- clusao este negocio; porque sei quanlo fico ganhando em ser liado por amizade com um rei tao poderoso como el-rei de Portugal, e per hum capitao tao insigne como vossa senho- ria e ; que cuido, que me licara servindo em iogar depae,ensinando-meocomorae haverei nas cousas do meu governo, e tudo o raais que devo fazer : porque, tendo sempre a minha oreiha o conselho de vossa senhoria, acertarei em tudo o que fizer. Confio tanto na virtude e verdade de vossa senhoria, que isio me faz nao ser mais comprido e largo nas palavras. Mas porque Cyde Alle, meu embaixador, sabe todo 0 segredo de meu coragao, e elle e o portador d'esta, nao quero enfadar a vossa senhoria : a elle me remetto em tudo, porque leva commissao minha, Paco, hoje Xde raarco de 46 (1346). Resposta do Tice-rei Muito alto, e muito poderoso rei. Os embai- xadores de vossa alteza vieram a esta cidade, aonde os tractei como de um rei tao insigne e singular, como eu sei que e. A carta, que me trouxeram de vossa alteza, esiimei tanto, que determine deixal-a em patrimonio, e por heran^a a meus lilhos; assim polas bonras, queme'nellafaz, como por 'nella sever sempre, que em mens dias achou el-rei meu senhor um amigo, e irmao tao grande como vossa alteza ; que sera o melhor patrimonio, que Ihes eu poderei deixar. Contractei com elles a forma das pazes, o que tudo fizeram. E eu folguei muito mais com ellas, para poder melhor mos- trar a vossa alteza quaoto ganhou com as pedir, e querer ter com el-r«i meu senhor. Ellas ficam feitas da maneira que pediram,, 218 0 INSTITUTO e eu aparelhado para as guanlar, e scrvir a vossa alleza em ludo o que de mini Ihe cum- prir. Hoje 25 de iuar$o de 4(>. (154C). Continita. N. PROUDHON E A ECONOMIA POLITICA Continuado de pag. 191. Descendo agora a analyse da theoria do valor, de Proudhon, considerada debaixo do pouto de vista de exactidao dos principios ecoDomicos, em que a baseia, nao sera diiB- cil niostrar que, admittindo mesmo por hypo- ihese a dislinccao enlre valor de ulilidade e valor de iroca, nao pode admittir-se a sua anlinomia. Eslas duas especies de valor podem parecer antinomicas em virtude de algum facto externo; mas de modo algum o sao por necessidade da sua nalureza. Comodisse em logar competente, Proudhon pretendeu demonstrar esta anlinomia, provan- do que 0 augmento do valor de utilidade con- lem era si a diminuifao do valor de troca, assim como o augmento do valor de troca, diininuigao do de utilidade. 0 argumento apre- sentado 'nessa occasiao esta longe de provar a favor d'esta these. Disse elle que o augmento geral da producgao traz comsigo diminuicao de prego ; e cita os exemplos de vinte saccos dc trigo, e cincoenta varas de panno, que se vendem por menos prejo, que raetade d'estes objectos em um anno, cm que a producjao fosse menor de metade. Ora, mesmo sendo isto assim, o que se segue eque, seaproducjao nao fosse dobrada por toda a parte, nao haveria uma tao grande diminuicao no prejo; e por isso o augmento do valor de utilidade nao traria comsigo dimi- nuicao do valor de troca; d'onde se segue que nao seriam antinomicos. Mas 0 augmento de producfao significa au- gmento de valor de utilidade? 0 que e valor de utilidade? Vimos que Proudhon o definiu — acapacidade que lodos os productos, natu- raes ou induslriaes, tem de satisfazer a sub- sistencia do homem. — Ora, como um sacco de trigo, ou a colbeita tenha sido escaca ou abundanle, alimenta sempre o mesmo niiraero de pessoas, assim como dez varas de linho veslem sempre 0 mesmo niimero deindividuos, segue-se que no anno de dobrada produccao, 0 valor de utilidade ficou sendo o mesmo; augmentando somente o niimero de objectos, aos quaes estava inherente esse valor. 'Nestas circurastancias a explicacao econo- mica da diminuicao de prego e facil, sem ser necessario recorrer a essa chimerica anlinomia. Todas as vezes, porera, que realmente se da um augmento do chamado valor de utili- dade, 0 valor de troca augmenla na devida proporjao. Assim, encontrando-se o meio de satisfazer com um producto qualquer a um mais variado niimero de necessidades ; por outras palavras, augmentando o valor de uli- lidade de um producto, os sens produclores 0 vendem por um prefo maior, isto e, aug- menla 0 sou valor de iroca. E so vem a des- cer, quando a produccao augmenta, sem que na mesma proporcao augmentem as ulilidades ; mas isso e lilho, nao de uma anlinomia, mas da alleragao das relacoes enlre os servijos. Porem, tudo isto e na hypolhcse dc se admil- tir a distincfao entre o valor de ulilidade e o valor de Iroca. Mas eu nego esla distincfao, que quasi lodos os economisias lim conside- rado como um dogma fundamental da scien- cia. Admitlo so o valor de iroca ; e privando assim a anlinomia de um de seus termos, lorno impossivel a existencia do movimento dialeclico na ideia do valor, base de toda a economia polilica. 0 proprio Proudhon nao admitle lal dis- linccao. Em outra de suas obras, inlilulada De la creation de I'ordre dans I'lmmanite, diz elle: « depois de lerem sustentado a legitimi- « dade da renda pela chimera do producto « liquido, e tornado um facto essencialmenle « anormal, como principio regulador da troca, « OS economisias... formularam scienlificamen- « le esta serie de erros por uma dislinccao que « se tornou famosa: valor de ulilidade, e va- « lor de troca... Creio que nao lenho neces- « sidade de enlrar em uma nova discussao >( para mostrar, que, segundo a sciencia, o valor « de utilidade, e o valor de troca, cm uma « sociedade regular, sao cousas perfeitamente « identicas.'n Mesmo no SysUme des contradictions econo- miques enconlramos a prova, de que Prou- dhon na realidade nao admiile a existencia do preiendido valor de utilidade. E o bora senso natural do pensador a reagir, e a re- velar-nos as suas conviccOes alraves do invol- lorio de anlinomias, com que pretendeu oc- cultal-as. Eis a prova. Sabemos ja que aquelle escri- ptor, dando os valores de ulilidade, de troca, e conslituido, como contemporaneos no pen- samenlo, os considera successivos na reali- dade objecliva dos faclos. 'Nesta ordem genealogica o valor de utili- dade, como these, occupa o primciro logar; e so dado o facto da permulacao apparece o valor de troca como antithesc. Dados esles precedenies, e evidenle, que Proudhon nega a utilidade a qualidade de valor, quando diz ; "O valor, como brevemente « veremos, indica uma relacao essencialmenle u social.*)) Esta relacao social, considcrada debaixo do pouto de visla da ideia de valor, so pode I Ch. i.°, n." 392, pag. 890, edit. Paris, 18.50. » Sy!»l- des contr. econom. T. !, pa^, 66. 0 iNSTITliTO 219 ser a Iroca ; d'onde se segue que so existe o valor de troca; porque o valor de utilidade sendo, como calhegoria, anterior a ella, uao pode suppol-a e iodical-a, e por isso nao e verdadeiro valor. E ua realidade assim e ; porque, sendo o valor de uliiidade a capacidade que os pro- ductos tem de satisfazer as necessidades do honieni, nao pode a sua existencia depeoder de uiua relacao social, seja qua! for a nalu- reza d'essa relagao. Para que exista uliiidade basla que o hoiiiem tenha necessidades, e a natureza Hie porporcione meios de as satisfa- zer. So 0 valor de iroca, o verdadeiro valor, nao pode exislir scin as relagoes sociaes da divisao do trabalho e do commercio. E tanto reconheceu Proudhon as legitimas consequeucias d'aquelle principio verdadeiro, que logo traclou de o modificar, dizendo que «e soiueote pela iroca que nos adquirimos a nofao de uliiidade.' » Este erro gravissimo, a que elle e arrastado pela necessidado de attenuar a verdade, que mesmo do seio da sua doulrina se levanla espontaneamenie para contestal-a, da logar a incoherencias indignas de urn homem de genio, como elle inqueslionavelmente e. Assim, lendo dicto que a utilidade 6 a ca- pacidade, que OS productos naluraes ou in- dustriaes tSm deservir para a subsistencia do homem, diz agora: « anniquilae a iroca, e a, utilidade se anniquilara.*') Assim o fructo que 0 selvagem coihe da arvore nao teria a capacidade de llie matar a fome ; nem a ca- bana que elle edilica o poder de o abrigar contra o rigor das eslacoes. Este Srro inqualificavel, a que Proudhon e arrastado pela sua propria argiimentacao, e 0 maior documento que pode apresentar-se para provar a inipolencia do homem contra a verdade, e niuiio mais contra as proprias con- vicfijes. Negando a existencia do valor de utilida- de, este escriptor operaria uma revolucao na sciencia economica, se livesse querido dcsin- volver e sustentar esle luminoso principio, que a sua vigorosa inlelligencia entreviu. E 0 que fez Baslial, o maior cconomista dos nossos dias, que com a sua llieoria do valor baseada uos servicos deu uma nova face a seiencia, e a collocou na altura a que era chamada pela imporlancia dos problemas que a sociedade llic liavia proposto e que clla se havia encarregado de resolver. Say disse a respeilo da cconomia polilica : R a ninguem e dado chegar aos coDlins da sciencia. Os sabios sobem uns aos hombros dos outros para lancar a vista para o hori- zonte, que de cada vez Ihes apparece mais cxtenso.o Proudhon pretendeu com ura so passo locar esses lirailes ; mas esqueceu que Sysl. des contr. (Sconom. T. ^. Eod. paj. 67. . 66. 0 espirito oaminha por periodos certos, e que as sciencias sao obra do espirito. Quiz deixar iiquem o sen secnlo ; pretendeu caminhar so, e pordeu-se no nieio do deserto. Mas em quanlo demoliu as velhas construc- foes de economistas e socialistas, que impe- diam a passagem, Proudhon elevou-se algu- mas vezes a uma altura, a qual poucos cri- licqs teni chegado. E por isso que, se os sens titulos como creador podem ser contestados, os seus Iraba- Ihos de critica Ihe valerara um nome jusla- menle celebre cntrc os d'aquelles. que tem feito da economia polilica o objecto dos seus esludos. JOSE joLio de oliveira pinto. PHYSICA APPLICADA Nota acerca dos meios de multiplicar as provas photograpliicas sobre metal, transferindo-as s6- bre espelbos albuminados. « As provas photographicas obtidas sobse metal, com as melhores condicoes que e por- sivel, reproduzem tao fielmenle a imagem da natureza, que se Ihes nao pode noiar oulro defeito, excepio o Ae {miroitage) reflexo de es- pelho, e a dilliculdade em multiplical-as. « As provas photographicas obtidas sobre papel nao olTorecem o reflexo de espclho, e po- dem multiplicar-se indetinidamente; porem nao satisfazem completamenle a gradagao suc- cessiva dos pianos, reproduzida com tamanha perfeicao nas provas sobre metal. '( Para se aproveilarem, scgundo M. Aime Rochas, as vauiagens, que isoladamento apre- senia cada um d'estes methodos, e se evita- rem os sens inconvenientes, nao e necessario mais do que fixar direclamente a imagem da natureza sobre uma chapa metallica, e por nieio da camara obscura tran.sferir 6sla ima- gem, lirada com toda a perfeicao, sobre um espelho albuminado, que depois servira, pelos processes conhecidos, para mulliplical-a sobre 0 papel. 11 {Comptes rendiis, 1852, Tome XXXIV, n." 7.) B. FEIO. ESTUDOS VETERINARIOS CoDtinuado de pag. !212. Ill Uma nova reforma acaba de niudar a or- ganisacao do ensino veterinario entre nos. A eschola veterinaria militar foi cxlincta, e, em logar d'ella, creou-se em cada uma das Ires escholas regionaes agricolas uma ca- deira de zootechnia, e principles de veteri- naria.' I D. de 16 de dezembro de 1852, art. 15 c 25. 880 0 INStltUTO 'Neste piano a instrucfao da arte veterina- ria ficou estremaniente acanhada, e o ensino da scieocia quasi de lodo esquecido. E sent diivida ulil e necessario difVuudir os coahecimeiilos velerinarios por meio das es- cholas regioiiaes; e ligar estreilamenle o en- sino da agricullura ao da velerinaria, como ja ponderamos;' mas nSo e menos indispen- savel crear uiiia eschola superior para o en- sino d'esta scicncia. Nem lia mais razao para estabelecer um inslitulo agricola, que para crear um curse superior de velerinaria. Como a agricullura, aquella sciencia tornar-se-ia enipiricn e eslacionaria, se licasse limilada so aos preceiios da arie. A velerinaria leni seguido os rapidos pro- gressos das sciencias niedicas na primeira me- tade d'esle seculo. Cada dia novas descober- tas, e novas theorias tem vindo enriquecer OS annaes da sciencia. Cada uma das phases, por que tem passado a medicina.tera tambem profundamenle modificado a velerinaria; cada ura dos seus ranios, emlim, conslilue hoje ou- tras tantas sciencias, que demandam um es- tudo especial. Debaixo d'este ponto de vista, a velerina- ria exige profundos e vastos conheciraentos, tanto para os que se dedicam a clinica, na classe de facultativos velerinarios, como para OS que se destinam ao magisterio. E de certo nao e 'numa eschola regional, uem 'noma so cadeira, que se ha de ensinar anatomia, physiologia, palhologia, therapeu- lica, materia medica, pharmacia, hygiene e clinica velerinaria. A sciencia deve considerar a velerinaria 'num ponto mais elevado, e transcendenle ; avaliar e disculir as theorias; comparar os seus resultados nas mui diversas condicoes da economia animal, e da indusiria agricola; seguir os progresses de todos os seus raraos; promover o seu estudo, e generalisar as suas applicacoes pela publicacao dos melhores es- criptos, e pela inlroduccao de novos raetho- ilos, e dos mais aperfeicoados processes. Tal e a missao da sciencia era relacao a veleri- 'naria, e tal deve ser tambem o iim d'uma es- ihola superior velerinaria. Reduzido, porem, come ficou pela nova re- lorma, o ensino velerinario a uma cadeira unica era cada eschola regional agricola, os que prelenderem habilitar-se como facultat - ves velerinarios, terao de frequenlar em pai- zes eslranhos os cursos d'esla sciencia ; por- (jue 0 ensino especial e privalivo de uma es- (•hola regional, nao so e insufficiente pela sua especialidade ; mas tem o grave inconve- nienle de tornar cegos partidarios de um sys- tema qualquer os alumnos, que liverem se- juido as licoes, e exercido a clinica com um '*» professor, direito, que ate em Franja muito V. a paj. 180, e 811 d'esle jornal tem concorfido, na opiniao dos mais cmirten* tes agronomos, para descrediio dos facultati- vos velerinarios, porque, apesar de frequen- tarem os cursos iheoricos de dilTerenies pro- fessores nas escholas velerinarias, exercera com um so a clinica ;' e por isle facilmenie pode julgar-se do que acoiileccra aos nossOs velerinarios, nao frcqueniando senao uma au- la, c nao ouvindo senao um prolessor. Basta lanfar os olhos sobrc a numerosa Col- lecjao de obras, que recentemenle se l6m pu- blicado nos diversos ramos d'essa sciencia, C seguir os seus pfogressos nos differenles pai- zes da Europa, para conhecer a impossibili- dade de reduzir o seu ensino somente d zOO- lechnia, e principles de velerinaria, nas treS escholas regionaes. 'Ncsie ponto relrogiadamos aos tempos, em que a velerinaria se limilava A simples alvti- taria, e, o que mais e para admirar, ao passo que se organisou o ensino agricola sob uma escala mais vasla, foi quasi do lodo banido 0 da velerinaria, de que hoje depende prin- cipalmenle a prosperidade agricola, e a ri-- queza de outras induslrias. E por isso vemos as nafoes mais cullas promover com tanto in- teresse a introducfao e aperfeicoamenlo das melhores rajas; prodigalisar tanlos cuidados pela multiplicacao d'ellas; e procurar por to- dos OS nieios adiantar os conhecimentos ve- lerinarios, para prevenir o flagello das epizoo> lias, e enzootias, de que tantas vezes sao vi- climas os gados, e ate o proprio homem. Pelo progresso d'esles estudos pode avaliar-se a prosperidade, eu deeadencia da agricullura cm cada paiz. Tudo persuadia por isso a necessidade de estabelecer o ensino superior da velerinaria junclo dos cursos das sciencias medicas, e phi- losophicas, creaado para esle Iim algumas ca- deiras especiaes. A relacao enlre os estudos medicos e vele- rinarios nao pode ser maior. Os cursos de anatomia, e physiologia humana C compara- da, podem ser communs aos estudantes de velerinaria, dando maior desinvolvimenlo a anatomia, e physiologia comparadas, no que respeita aos animaes domeslicos. A materia medica velerinaria apenas differe da humana nas doses, cm que se applicam os agentes pharmacologicos, que mui pouco diversificam no seu mode de obrar, e essas diPferenfas pode 0 professor nolal-as no decurso das li- coes. 0 que dizemos da materia medica, com mais razao se applica a pharmacia. Na ca- deira de palhologia geral interna e externa pode egualmente compiehender-se a parte ve- lerinaria. A medicina legal, e hygiene, pode tambem generalisar-se a velerinaria, de modo que bastaria estabelecer uma cadeira de pa- lhologia especial, e clinica velerinaria, e ou- ' Mti^a&, EcoU'ireterinairts. 0 INSTITUTO 221 tra de operafoes e clinica cirurgica veterinn- ria, para icr junclo a faculdade de niedici- na um curso complelo de velerinaria, com a maior economia, e maximo proveito da scien- cia. Os esliidos sul)sidiarios de malhematiea, e philosophia devem ser lambem commiins aos medicos e velerinarios. Unicamente por este meio, e qae a veleri- naria pode consiiiuir enlre nos uma verda- deira sciencia, e que os seus esludos hao de adquirir a importancia, de que 'noutros pai- zes gozani. Esta eschola devia eslabelecer-se em Coim- bra, porque reunia aqui todas as condicoes nfecessarias para o seu aperfeicoamcDlo scien- ti6co ; podendo lambem ser frequenlada pelos alumnos dos curses medico, e philosophico, que ou quizessem coiiiplolar os seus esludos com estes conhecimenlos, ou se destinassem ao exercicio de uma profissao, de que, debaixo do ponto de visla scieaiifico, sc honram mui- tos dos mais celebres agronomos, e dos mais disiinclos medicos de Franca, e da Alema- nha. Para a clinica velerinaria nunca fallariam cxemplares; mas para lornar mais regulares OS exercicios praclicos, podia facilmenle esla- belecer-se no edificio do coliegio, que foi dos benediclinos, um hospital de velerinaria, onde graluilamenle se curassem os animaes, que seus donos para alii niandassem, o que seria nao so um grande benefieio para a agricullura d'este disiricto, lao abnndanie em gado caval- lar, bovino, e suino, mas ale para os proprie- tarios de gado lanigero, que duranle o inverno desce das serranias da Beira alia, em grandes rebanhos, para buscar nos nossos campos os pasios, que escasseiam 'naquelless ilios, mais exposlos ao rigor da esiacao. 0 ensino superior da agricullura devia in- conlesiavelmenle estabelecer-se na nniversi- dade, ou constituindo uma faculdade especial, como em Piza, e 'noulras universidades, ou na faculdade de philosophia, onde ja exisie uma cadeira d'aquella sciencia. E 'nesie case a eschola velerinaria completaria os esludos agronomicos, que, assim collocados no cenlro do reino, se diffundiriam por lodo eile com vanlagem da sciencia e ulilidadc piiblica. Esla questao da organisacao do ensino su- perior de agricullura excede, pela sua impor- tancia e extensao, os limiles e principal ob- jecto d'esle arligo ; mas carece de ser atlenta- menle considerada, porque da sua solucao depende o futuro dos esludos philosophicos'na universidade. Em lodo 0 caso, porem, o ensino da sciencia velerinaria ficou de muilo peior condicao, do que se achava antes da ultima reform'a. 8 de Janeiro. J. M. DE ABREC. ASTRONOMIA Determinagao das differen^as das estrellas fnnda- mentaes em ascensao recta, por meio das obser- va96es de Bradley. <( 0 Irabalho immenso de que se occupou M. Le Verrier, sobre a reduccao e discussao das observacoes de Bradley, pozem evidencia um faclo importanle — o das variacoes periodi- cas que apresenlam de mez em niez no decurso de d'um anno, as differenjas d'ascensao recta das estrelliis separadas enlre side doze horas. Eslas singulares variacoes, assignaladas pela primeira vez na raemoria de M. Le Verrier, apresentada na sessao da Academia das scien- cias de 3 d'abril de 18B2, podem ser altribui- das a tres causas hem differenlcs : a desegual- dade periodica no andamenlo do relogio, de- vida a insuQicieneia da compensacao ordina- ria do pendulo: a variacSo diurna na posijao da luuela raeridiana : a difl'erenca de apprecia- cao, propria do observador, enlre as passa- gens, dos asiros, e as observadas de dia, c as observadas de nolle. As primeiras duas explicafoes sao as unicas que parccem a M. Faye verosimeis, e muilo mais a primeira d'ellas, aqual lambem M. Le Verrier prefere Em quanio nao apparecem as discussoes, a que a importancia d'este novo traballio con- vida OS aslronomos, adverte M. Faye que ha cinco annos se linha preoccupado ja, assim como outros aslronomos, acerca da possihili- dade d'esla causa d'erro. Para inteiramenle a eliminar, epara evilarloda a sua iafluencia 'num periodo diurno, annual ou semi-annual, propoz supprimir a compensacao, e collocar 0 relogio na camada snblerranea em que a temperalura e invariavel, e que se encontra logo a pequena profundidade. Se alem d'isso a pendula eslivcr dentro d'unia caixa hernie- licamenle fecbada, supprimem-se lambem as variacoes da pressao atmospherica, as qujies nao se poderiam eliminar por oulro modo, sem que se complicasse muilo mais o appare- Iho da compensajao. Os progresses da lelegra- phia electrica, e as vaslas applicacoes, que d'ella se eslao fazendo conlinuamenle, lornam desnecessario provar a possibilidade de eslabe- lecer uma communicacao permanenle enlre a camada de temperalura invariavel e a supcr- ficie do lerreno. « Sem enumerar todas as vanlagens, que a execucao d'esla propnsla apresenlaria, como a conservacao do azeite, a sua fluidez cons- lanle, a suppressao de todas as anomalias que podem provir das dilalacoes deseguaes do cobre e do ago de que sao forraadas as diversas peras do relogio, elc; bastara considerar, que em these egeralmenle n)elhor supprimir as causas dos erros, do que combatel-as cada uma de per si por meio de apparelbos especians, cuja complicacao cada vez se lorna maior, o cuja 222 0 INSTITUTO efficacia, pelo raenos entre cerlos limites, 6 duvidosa. Cemptei rendus, 1852, Tome XXXIV, n.» 17). Extracto da memoria de M. Le Verrier « A principal serie de obscrvafoes meridia- nas foiias cm Greeiiwich por Bradley, esta coniprehendida desdc o raez de selenibro de 17S0, ale juiho do anno de 17C2, cm que morreu esle eximio observador, lendo de odade setenla annos. Os manuscriptos de Bradley, successivamente reclaraados polasociedadereal de Londres, e pelo goveruo, foram em tim remellidos a universidade de Oxford, que se encarregou da sua publicajao. A. edicao de Oxford e de dous grossos volumes era grande folio, 0 prinieiro publicado em 179S, e o se- guudo em 1803. 1' Bessel considerou todas 6slas observafoes na sua excellenle obra inlilulada: Ftindamenta Astronomiae pro anno MDCCLV. Para esta epo- cha deduziu a posicao do equinoccio e o valor da obliquidade da ecliptica, as ascensoes reclas e as declinacoes de trinta eseis eslrellas fua- damenlaes, e linalmente as coordenadas de perlo de ires mil estrellas mais. Das eslrellas fundameniaes, foram comparadas directamenie com 0 Sol as treze seguinles : Aldeboran, a Ca- bra, Rigel, ot de Orion, Sirio, Castor, Procyon, Pollux, Regulo, Arcluro, Wega, a da Aguia, e a do Cysne. As vinle e tres restanles foram I'omparadas com as precedentes. « As ascensues reclas, assini oblidas para 1755, c inseridas nos Ftindamenta, foram re- produzidas sem a menor alteracao nas Tabulae Regiomontanae : e desde entao l^m servido de base aos iraballios aslronomicos os mais delicados. Parece com tudo que estes dados admiltom varias modilicafoes uteis. (1 Os movimentos dos planetas e do sol so podem appreciar-se pela comparagao d'estes aslros com as eslrellas. Admilta-se, para fixar as Tdeias, que o sol, por exemplo, se move num piano invariavcl, e que 'neste piano se >!nconlra uma eslrella A. Na Iheoria, a consi- deracao unicamentc d'esia eslrella bastara para .se appreciar o movimcnto angular do sol ; e se na practica se enipregam outras estrellas, eso porevitar erros que dependem da iniper- feifao dos inslrumenlos de observar. Com elfeito, nonsidere-se o memento em que 0 sol lenha locado o ponlo da sua orbila opposta a eslrella A, e em que passe ao meridiano quasi doze boras depoisd'esta eslrella. A dif- ferenca de ascensao recta entre a eslrella A e 0 sol, deduzida das observacoes directas d'estes dous aslros, podera scr incerla por miiilas causas. A pcndiila cxperimenla no seu anda- menio irregularidades, cujo effeilo seaugmenta com 0 tempo, que nao permittem que se possa avaliar directamenie uma differenca de doze boras em ascensao recta com a raesnia preci- sao do que uma differenca de tres boras. Alem d'isso pode acontccer que o sol e a eslrella A tenham mui diflerentes declinacoes, o que influira d'um modo enfadonho sobre a delcr- minagao da differenca em ascensao recta, se a posicao do inslrumenlo das passagens nao for conhecida com o maior rigor. 'I Pelo conlrario, quando o sol se approximar muilo da eslrella A,6sla podera lornar-se invi- sivel; e em lal caso, se apenas se tomou uma eslrella da comparagao, o andamenlo do sol nao podera ser observado 'numa porgao de sua orbila. <( Para evitar similbanies inconvenienles, es- colheram-se cerlo niimero de eslrellas conve- nientemenle distribuidas na abobeda celeste, cbamadas estrellas fundameniaes, e as quaes se referem as passagens dos planetas, tendo-sc cuidado de loniar, quanto seja possivel, as mais proximas d'ellcs, tanlo em ascensao recta, como em declinacao. Cumpre porem que as posifoes das estrellas, relativamente a uma d'ellas, tenham sido determiiiadas com loda a cxacli- dao quepermilte ocomplexo das observacoes ; porque sem isso poderiam resullar d'alli, para as theorias, erros mais graves do que aquelles que se querem eviiar, tomando urn ntiraero maior de eslrellas de comparajao. oEmpregando nas observacoes uma so es- lrella de coniparafao, por cerlo que as posi- coes observadas d'um planeta nao leriam in- dividualmenle lodo o rigor que era para de- sejar;uma boa parte, pelo menos, das causas de erro, que devem combaler-se, nao segui- riam uma lei systematica, e se podera che- gar a ter aquellas posicoes com mais cer- teza, muliiplicando oniimorodas observacoes. Sera inleiramenle o inverso, se, empregando um grande niimero d'estrellas de comparagao, muilas d'entre ellas formareni umgrupo, cuja posicao lenha sido mal delerminada em rela- fao asoulras eslrellas, e esteja aHeclada d'um erro e. Este firro passara lodo as posicoes dos planelas que forem referidos aquelle grupo ; e como em cada anno o Sol, por exemplo, vollando ao mesmo ponlo da sua orbila, se costuma comparar com o mesmo grupo d'es- trellas, segue-se necessariamcnte que bavera. 'nesla parte da orbila uma deformagao appa- renle, que se altribuira sem razao aos elemen- tos da tlicoria e as suas variacoes. (I Cumpre pois, lomando-se como um dos fundamcntos da aslronomia as observacoes de Bradley, comecar por deduzir d'ellas as diffe- redfas das ascensoes reclas das eslrellas com toda a exactidao que perniille o complexo das observacoes. Mas nao satisfazem a esta con- dicao siifficienlemenle as invesligacoes de Bes- sel, como pode ver-se na Memoria de M. Le Verrier, a qual 'rtesta pane da discussao e necessario recorrer. Comptes rendus, ISS'J. Tome XXXIV, n." 14). Cantinua. B. FEIO. 0 INSTITUTO 223 BREVE NOTICIA DAS OBRAS DE OIREITD DOS PRINCIPAES ESCRIPTORES HESPANHOES 0 desejo deobservar o eslado da inslrucjao publica enire os nossos vizinhos, os hispanhoes, levou-nos a Dispauha oaiino passado de 1882. Os nossos livieiros poucas ou nenhumas rela- foes comnierciaes tern com os de Qispanha, e poucos sao OS livros hispanhoes, que se ven- dem em Portugal ; em Hispanha nenhuus absolutaniente dos portuguezes; pelo menos em Cadiz, Sevilha, Madrid oBadajoz, Denhuns encontramos a veuda. Os prineipaes escriplo- res de direilo em Hispanlia apenas conhecem alguns livros dos nossos reinicolas anligos, dos raodernos nenliuns, nem ao menos as obras do sr. Paschoal Jose de Mello. Esia falla reci- proca do conhecimonto das obras d'um e outro paiz, dcterminou-nos a propor aos professorcs de Madrid a iroca annual das obras, destina- das a insirucfao piiblica, remetlidas recipro- camente pelas univursidades de Madrid e de Coimbra. Este projeclo foi apoiado pela im- prensa poriugueza, de lodas as cores polilicas, e approvado pelo govfimo portuguez, que ex- pediu ordem ao prelado d'esla universidade, para fazer a remessa pela secreiaria d'eslado dos negocios do reino, como com elleilo fez; e e de crer, que os livros ja tenhara chegado a universidade de Madrid, e que em breve teremos na livraria desta universidade os li- vros deslinados a instruccao publica em His- panha. Nao e aqui o logar de mencionar as vanta- gens d'esta niiilua communicacao de luzes entre os dois paizes, que tanlos pontes de contacto t6m enlre si. Nos conhecemos a lil- teratura franceza, ingleza, alleman, etc., mas nada, ou quasi nada da liispanhola. As cou- veniencias pois sao obvias, principalmente quanto as obras de dircito; porque, ou seja nos ternios da lei de 18 d'agosto de 1769, e dos estatuios d'esta universidade, ou seja pela tendencia, queos esludos juridicos iSm tornado enlre nos, para nos casos omissos se recorrer aos codigos das nacoes civilizadas (por agora nao pronunciamos juizo sobre a legalidade e polilica d'esta tendencia, lalamos do facto) e certo, que melhorsera recorrer as leis de His- panha do que as d'oulras nacoes, pela vizi- nhanca, analogia dos costumes e civilisacao, e pela identidade demuiias origens do direito posilivo d'anibas as nacoes. Alguns cscriplores de direito da universi- dade Madrid, alem de nos obsequiarem com as suas obras, as remetteram por nos para a livraria d'esta universidade, aonde seacham collocadas. Tambeni eompramos em Hispanha umagrande collecgao de obras de direito, phi- losophia, hisloria , etc. , guiados naescoiha e pre- fercncia pelos benemeritos professores da uni- versidade de Sevilha, os srs. Alava, Campos e Oviedo, e Laranha, aos quaes devemos as maiores attencocs, e folgamos de dar-lhes a tanta distancia os nossos agradecimentos. Vamos dar uma brcvc noticia das obras de direito que trouxemos de Hispanha, para ver se eslimulamos a curiosidade da sua lei- tura, quanto as que se acham na livraria da universidade; e da sua procura, quanto as outras; porque somente, sendo procuradas, principiarao os nossos livreiros a estabelecer relacoes comnierciaes com os de Hispanha ea raandal-as vir. Curso Historico-Exegetico Del Derecho Romano comparado con el Espaiiol por D. Pedro Gomez de la Serna. Madrid, Imprenta de la Compania de impressores y libreros del Reino, 1850. Esta obra, que sao dois grosses volumes em 4.°, de mais de 600 paginas cada urn, foi offerecida pelo sen auctor a livraria da uni- versidade, aonde podc ser consullada. Nada diremosacerca d'ella ; porque por pedido nosso deu sobre ella larga noticia na Gazeta dos Tri- bunaes o sr. Levy Maria Jordao, nosso amigo e muito estimado discipulo. Alem deque, re- ceiamos ser suspeitos, porque o sr. La Serna foi um dos professores, de Madrid, que nos deu largas provas da sua benevolencia. 0 sr. La Serna ja nao exerce o magisterio. Foi mi- nistro d'estado, e hoje entrega-se a nobre profissao de advogado, com grandes crcditos; e quando estivemos em .Madrid, era presidentc d'uma comraissao de reforma dos estudos. Elementos del Derecho Civil y Penal de Espana precedidos de una reseiia historica, por los Docto- res D. Pedro Gomez de la Serna, y D. Juan Manuel Montalban. Catedratico de Jurisprudencia de la Universidad de Madrid. Cuarta edicion. Madrid. Imprenta de la Compaiiia de impressores y libre- ros del Reino, 1851. Esta obra, de tres volumes em 4.°, de mais de 400 paginas cada um, compreliende nos dois primeiros tomos o direito civil de Hispanha. e no terceiro o direito penal, e foi cscripla em forma de compendio pelos sens insigncs au- clores. Em Hispanha o compendio de Sala era lao estimado, como em Portugal siio as obras do sr. Mello Freirc; e apesar da Ilustracion del Derecho Real de Espana, que, liavia pouco o mesmo Sala linha pubiicado, os sr. La Serna e Montalban, confessando o scu profundo res- peito por este illustrado jurisconsulto, por- que, (dizem elles no prologo) — sus leclionex fueran las primeras que guiaron nuestros eslu- dios de derecho espaiiol; ellas fueran tambien el leslo por que ensciidmos a los jovenes, cuja dhecion sieniifica nos estuve confiada, enten- deram que deviani organisar novo compendio a par do progresso dos estudos juridicos, das novas instiluicoes politicas, e da variacao de muitas das regras juridicas, que antes pas'^a- vam seni contradiccao. A primeira edicao d'esta obra appareceu cm 1841. Esta c as duas outras, que so Hie 224 0 INSTITUTO scguiram, npesar da muito numerosas, esgo- iar;ira-se no espaco de dez annos, de raodo que cm 1851 appareceu a quarla. Os auclo- res senipre lera ido corrigindo, augraeniando e aperfcicoaDdo a sua obra ; por6m 'nesla quarla edifao supprirairam a parte do processo civil c penal, que vinha nas aiiteriorcs ; por tereni publicado um curso academico de pro- cedimentos judiciales, vislo que a lei linha separado no cnsino universitario o estudo do direito civil c penal do processo. 0 consumo de Ires grandes edifoes em dez annos, e uma prova do merito da obra, e oao da necessidade d'ella, como niodestamenle dizem os auclores no prologo. Porem outra prova maior 6, que havendo nova universi- dades em Oispanha, em quasi lodas foi esta obra adoptada para compendio. E todos sa- bem a difEculdade que ha em mudarem de compendios os homens, que por elles esluda- rani, ou seja pela affeicao, que naturalmente lemos pelas obras, as quaes devemos os nossos conhecimentos, e segundo as quaes organisa- mos (permitla-se-nos a expressao) a nossa cabega, ou seja porque o homem e, segundo Horacio, laudator teniporis acti. Nada diremos sobre o estylo d'esta obra, porque nao somos juiz compelenle; no enlre- tanto parece-nos didatico, conciso e claro, como deve ser o de um compendio. Os au- ctores apresentam no lexto as regras juridi- cas, e em notas cilam as leis, que as prescre- vem. No texlo nao enlram em quesioes juri- dicas a fundo, e so em algumas notas deixam cocrer a pena a este respeito. Tambem nas notas dao conta da diversidade da legislacao particular por que se regem algumas provin- cias, como Aragao, Catalunha, Navarra, etc. ; porque a Hispanha nao tern ainda a fortuna de governar-se toda por uma iegislafao iden- tica, como exige a unidade nacional. Quanto a parte do direito penal, que veni no terceiro tomo, os srs. La Serna e Mon- talban, tendo cscripto uns elementos de di- reito penal segundo o estado da legislacao de Hispanha antes da publicacao do novo codigo penal em 1848, sempre incansaveis, apresen- tam DO terceiro tomo o compendio de direito penal, segundo as disposicoes do novo codigo, nesta quarta edigao de 1851. Esta obra e-nos muito util, nao so para o estudo da legislacao comparada, mas porque Qos apresenta uma resenha hislorica da legis- lacSo hispanhola, escripla com muita critica, desde o seculo IV e principios do V, ultimos tempos da dominacao romana em Hispanha, ate ao reinado actual. 'Nesla resenha nos dao conta das divcrsas magisiraturas das cidades de HL-.panha, dos concilios e conventos juri- dicos, dos senadores e curiaes em tempo dos romanos. Passando a dominacao goda e tem- pos posteriores, falam dos costumes germani- cos, e dito-nos a historia e analyse de todos I OS codigos, desde o de Tolosa ate aos ultimos, que regem a Hispanha. Expoem as diversas phases por que passaram os concilios e as cor- tes, fazem men^ao das constituifoes e foros particuiares das provincias, dos tribunaes dc justica, da organisa;ao judicial, edos caderoos ou foraes dos municipios. E facil de prever que 'nesla resenha se encontram muitas novidades, de que nao te- nios coohecimenlo pelas obras antigas; novi- dades devidas aos estudos hlstoricos em His- panha, feitos sobre os documentos historicos, que nao lemos ao nosso alcan^e. A importancia d'estes conhecimentos tam- bem e facil de ver, a quern se lembrar, que as fontes remotas da nossa legislacao se de- vem procurar em grande parte 'nestas insti- luigoes venerandas da edade media. Resla finalmente dizer alguma coisa sobre 0 syslema da obra. Os auctores dos Elemen- tos de direito civil seguiram o systema das Insiitulas de Jusiiniano — coisas, pessoas e accoes. Admiramos como os srs. La Serna e Monlalban, que 'nesla e em outras obras, de que darcmos conta, mostram estar ao par do estado actual da philosophia do direito em Aliemanha, admiltiram esta veiha divispio do direito civil. Nao ha direito de coisas, o di- reito refere-se sempre ao homem, e e forga em qualquer systema consideral-o senipre sub- jectivamente. No entretanlo hem vemos que e muito mais facil seguir esle caminho, por onde tem andado todos os jurisconsultos; as ideiasjuridicas arranjam-se melhor 'nesla direc- fao ja seguida. E ainda que o aperfeifoamento dos systemas seja uma prova do progresso scien- tifico, nao somos nos tao aferrados ao rigor dos systemas, que nao conhecamos qne ne- nhum ha ale hoje, que resisia ao rigor da logica, e ao escaipello da analyse 0 que imporla e que as materiassejam traciadascomordem,cla- reza e precisao, e eslas qualidades tern a obra. Por eslas consideragoes nao tomamos o tra- balho de examinar o systema dos elementos de direito penal, nem se era o mesmo do co- digo de 1848. Adverlimos porem que este.« elementos trazeni cm appendice a doutrina do real decreto de 7 de junho de 1851, que reforma e accrescenta muitas coisas ao codigo penal. Finalmente os redactores do novo codigo criminal, se tivessem vislo a censura, que os srs. La Serna e Montalhan fazem no liv. 1, cap. 1, § 1, not. 1.' ao artlgo 1.° do codigo penal de Hispanha, que diz — Delilo 6 falta es loda acion 6 omission voluntarin penada por la ley — por venlura nao o teriam iradu- zido no art. 1.° do nosso codigo — crime ou delilo e o facto voluntano, declarado punivel pela lei penal. Reeommendamos muito a leitura d'eslas duas obras. Cnnlmua. V. FERREK. €) Jn^tittttcr JORAAL SCIENTIFICO E LITTERARIO BOLETIM DO INSTITUTO DIHECtAO Em sessao de S do correnle resolveu a Di- rcccao, que se ordenasse o Almanuk do Ins- lituto para o anno de 18o4, e forain encar- regados d'esie Irabalho os srs. Anlonio Nu- nes de Carvalho, Florencio Mago Barreto Feio, Francisco de Caslro Freire, Jacintho Autonio de Sousa, e Jose Maria de Abreu. Na raesma sessao Coram assignados os dias, para comcfarem os cursos de leitura dos srs. Ferrao, Jose Julio e Levy; cujos programmas 'nham sido approvados na sessao do dia 3. ' 0 Secretario /. /. de Oliveira Pinto. CLASSE DE SCIENCIAS MORSES E SOCIAES SessSo do 1." de fevereiro. Foram apresentados a classe os program- mas de cursos de leilura dos srs. Ferrao, e Levy, em piiilosophia, e do sr. Jose Julio em economia. Depois de haverem sido examina- dos peias respeclivas commissoes, foram ap- provados peia classe e remellidos a Direccao. 0 sr. Moniz Barrelo foi proposlo a Direc- cao para director do gabinete. Foram approvados os seguintes pontes para as discussSes da Classe : Assnmptos adoptados pela classe de sciencias mo- raes e sociaes para as suas discussoes, memo- rias e cursos de leitura no anno de 1853. . I Qua! a raaneira de melhorar o systema de impostos ; e qual a influencia que o imposlo progressivo pdde ler 'nesle melhoramenlo. II Inconvenientes da inlervenjao dos go- vernos no syslema de bancos. III Quaes os nicios ma is proprios de esla- belecer o crodilo agricola, pela creacao de bancos ruraes. IV Influencia da descentralisacao adminis- trativs, e ceniralisarao polilica no estado actual de Portugal. V Influencia do elemenlo celtico na Penin- sula. VI Conveniencia do systema penitenciario entre nos. VII Influencia do esludo do direito romano na civilisacao moderna. YIII Influencia dos vinculos e morgados na organisacao civil da familia. Vol. I. Fevereiro 15 39 IX 0 que e a philosophia positica de Au- gu^lo Comic; e sua critica. X Necessidade de urn curso complelo di- pliilosophia, como preparatorio para os estii- dos universilarios. XI Qual a influencia das doutrinas cranio- scopicas na sciencia penal. XII Influencia do racionalismo nas scien- cias iheologicas. 0 Secretario Levy Maria Jorddo. PROGRAMinA D'UM CURSO Eld PHILOSOPHIA TRANSCENDENTE OBJECTO Deduc^ao do principio da entidade em relagao as sciencias philosophicas, moraes e sociaes 1.^ Li<}ao Servindo de introducgao Tdeia do progresso era rela^ao aquelles tres ramos, e suaderiva^ao do mesmo princijiio da enlidade. I PARTE DO CURSO Oeducgao da ideia da identidade em rela^ao as sciencias philosophicas 2." IjQao Ideia da razito. — Deduc<;HO da ideia da entidade em rela^MO aa ideiai> absolutas da raziio; e consequeDtemeote a Iheoria das concej)(;oes e perce|i(;5es, analysando o.-* caracterea mais salientes dos phenomeiios do espirito e da natureza em referencia a consciencia. 3." Li^do Ideia do subjectivo e objectivo. Seu antagonismo sera lima itecessidade de sua Datureza, uu antes uma diflicul- dade creada pelos philosoplios? Por oiitra : haver^ uido impossibilidade absolutade passar com criterio de certez:^ do subjectivo ao olyeclivo? — (Seguirei a negaliva). Esta diOicubiade eo fundamenlo principal do scepticismoobjc- clivo. Digressao sdbre as tbeorias mais notaveis do sce- pticismo. 4.' Licao Tdeia contr^ria ao principle Aceplico. Exposi^5o da tlieoria das alias probabllidades de Laplnce, Cournot e outros. Helai^So da theuria das altHS prttbaljilidades com h das certezas nieraroeule relalivas. Se uma e outra ievaiu em moral e direilo ao principio ulilitario de Bentliam. Tlieoria das certezas absolutas : sua ajirecia^iio em refe- rencia aos nieios por (pie se adquirem os conhecimeutos, Uapida analyse d'esses meios, especialmente a ctpnscien- cia e OS sentidos, por serem objecto de maior controversia. Mostrar, como consequencia dos principios exposlo.^ na segunda licao, a predomina<;So da ideia tia entidade eoi todas as reiai;oes, que temos exposto. II PARTE DO CURSO 5.* Li^ao Deduc^ao do mesmo principio da entidade em reia^-fio ^3 sciencias moraes: 1." quanto ao principio da moral ; 2.° (e mais desinvolvidamente) qnanlo ao principio do direilo, Coofronta^ao d'esles dois ramos — moral e direito — ideia de sua natureza. Qual o principio que Ihes ^er^e de base — i^seguirei oue ^ a ideia da entidade). Deduc- — 1853. Ndbi. 22. 220 0 INSTITUTO r'lo d'csia iJeia em relai;^) aos difTerenles ramos em que » (tireilo manife&ta uma ftMsao mats particular, comu a ;ir<>prtedade, associarao, direito de putiir. Ill PAHTE DO CUIISO 6.* Li(:So Dedi)r(;ao do oiesmo principio d.-i enlidade em rolat^rio A* scieticias sociaes : 1." Em reln(;rio uo direito publico, moslrando a theoria da sol)eraiiia, como synlhese do di- •reilo publico — e derivando-a do priiicipio da razJio ; '£." «*ra rela^ao i economia politica, bascando na llieoria do valor etla scieiicia, e fazendo predoniiimr no destnvolvi- nienlo d'este ramo, como elemeiito essencial, a ideia da rtitidade ; moslrando que esia sciencia tetide a emanci- |iar-8e da acanliada csphera que Ihe assigna o maior nii- niero do3 economistas. A primeira li<;uo lera logar no dia IG de fevereiro de J. B. DA StLVA. FBRRAO OE CARVALBO MARTENS. SCIENCIAS ECONOMICAS Programma de nm curso acerca da — Lilierdade de Commercio Licao 1.' IJeias geraes sobre a nocao de economia polilica, scus limilcs, sen olijeclo, e seu lim. Dirisao da economia politica em duas esclio- las — individualista e socialisla. Principios ca- racterislicos de cada iima. Sua ineOicacia para salisfazer as necessidadcs do progresso, e rea- lisar 0 aperfeicoametilo do estado do homem na ordem economica. Licdo 2.' No homem actuam simullaneamente duas lendencias, a primeira visla opposlas: o in- dividualismo, e a sociai)ilidadc. A primeira condicao do progresso e a harmonia d'ellas. Necessidade de urn principio na ordem eco- nomica, que opcre essa harmonia. Esle prin- cipio e 0 de Bastial. Tlieoria do valor de fiasliat. licao 3.' A concurrencia regular c a medida do va- lor. A concurrencia regular e a primeira ma- uifeslacao da liarmonia da sociahilidade com 0 iudividualismo ; c, 'nesta qualidade, um elemeuto de progresso e civilisacao. Licao i.' .V liberdade de commercio c a primeira con- dicao da concurrencia. 0 que e precisanientc a liberdade de commercio. Quaes sao os sens effeitos com relacao aos iniposios, dindustria, a ao commercio. Lieao S.' Causas ((uo se (em opposto ao cslabeleci- nienlo da liberdade do commercio. Argumen- los que se Hie oppiJem, e sua rcfutacao. Es- ludo da que.siao, debnivo do ponlo de visla da theoria, e da praclica; especialmeute com relacao a Porlugal. Licao 6.* A nia dircccao dada a actividade humana lem side uma das causas mais poderosas do proletariato moderno. A liberdade de com- mercio remedcia, em grande pane, esle in- oonvenienle, cquilibrando a produccao com 0 cohsurao,.c operando a divisao do iraha- Iho entro as nacoes. E liiialuienle um elu- menlo poderoso da civilisajao, augmontando progrossivamenle os lacos sociaes que uncm as individualidadcs que compOem o grande lodo cliamado — humanidade. A primeira licao lera logar no dia 23 de fevereiro de 18o3. JOSE JULIO DE OLUEIR.V PINTO 0 CHRISTIANISMO, A EGREJA E 0 PROGRESSO Conliiinadn de pa?. 209. II Nao sei se a uma pessima dircccao, dada a cerla ordem de esludos philosophicos, se a ma vontadc de alguns, que se dizcm philoso- phos, deve a cgreja o ler sido victima de ccn- suras pesadas, que nem a philosophia, nem a hisloria, davam direilo a fazer. Todjs as vczes que se Iracla de avaliar uma insliUiicao, e necessario tcr grande cuiJado em discriminar o faclo do diri'ito; as condi- coes necessarias da sua exisiencia e os acci- ilentes que a modificam. Coiifundir esles dois faclos, e inlroduzir na apreciacao uni elemento fal.vo, que infallivelmcnle ha de desnalural-a, e induzir o que a faz a consequencias erroneas. Com relacao a egrcja e tanlo mais facil esta confusao, quanlo os faclo« abusivos, que por mais de uma vez se manifeslam no seu seio, parecem algumas vezes ligados, ainda que na realidade nao o eslejani, com as condicoes da sua exisiencia. E talvez por isso que as ac- cusafoes conlra esla .«ociedade sao tao fre- qucnles, e que numerosos escriplores de boa nola Tazcm recahir sobre ella o [leso de res- ponsahilidades, que podem caber, qnando raui- lo. a maioria dos individuos (jue a compu- nh.Tm. E por esle motivo que en procuiarei distin- guir bem o faclo do direilo, na vida d'esta sociedade, para que, quando ao folhear as paginas sombrias e Iristes da bisioria do cle- ro, algumas vezes escriplas com sangue e la- grimas, nao poucas manchndas de vicios e crimes, saibauios se e a egrcja (|ue dcvemos accusar, on a maioria das indivjduiilidades . que a compunham ; q\ie, deixaudn-se domi- nar pelas circumsiancias da cpocha. muitas vezes esijueciam os principios da religiao do Crucilicado, que pela voz dos concilios a egrcja Ibes rccordava cm vao. Se 0 vicio, .se o crime, cnlraram nos prin- cipios da egrcja ; se ella os prescreveu, ou perinilliu em suas leis, caia sobre ella a cen- sura, caia sobre ella loda a rcsponsabilidade d'elles. Mas, se foram faclos indiiiduaes, ape- sar de frequenles, e practirados por muilos; se ella os ccnsurou, e proiurou reprimil-o< pelos mcios que tinha ao sen alcance, entao 0 INSTITUTO 827 d3o accusemos a egieja, accusemos o clero, nao accusemos a sociedadc, accusemos os io- dividuos. Ncnhum oscriptor, pelo menos dos que ro- nlieco, insi>liu quanlo fira mister em eonsi- derar a egrcja dcbaixo d'este ponto de visla. Uiii, que loinnu calorosamenle a sua dofeza, e que, apesar de uma vida curia, iegou a sua patria um nonie grande, talvez o niaior dos que liojc illu.-lram a llispnnha, Balnies, nao dislinguiu com a preci^ao necessaria esies dois fades. « Leiido a hisloria da cgccja, diz elle,' se enfontram a cada passo os concilios proclamando os principios de moral evange- lica, e ao mcsnio leinpo os faclos uiais escan- dalosos vem em cada pagina ofl'ender o lei- lor.o Ora, digo eu que estes factos, contrarios aos principiin que o chrislianismo proclaniava pela voz dos concilios, nao entram na hislo- ria da egreja, porque nao fazem parte da sua vida, nao sao consequencias dos seus princi- pios, nao sao filhos do seu modo de ser, nao sao condicofs da sua existencia. Se a egreja, represenlada nos concilios, fi- gurando conio sociedade; condemnava esses faclos practicados pelos individuos, figurando come individuos, nao podeni ser-llie impula- dos, e compreliendidos na sua hisloria. Aquelle que escrever a hiographia de um .loao X, ou Alexandre VI, podera enconlrar ahi motivos para censurar esses homens ; aquelle que es- crever a hisloria da egreja apenas pode ver ahi razoes para adniirar essa sociedade, que, quando a injusiica, e a inimoralidade, reina- vam absoluias na ordera civil, se levantava energica a comhatel-as. Foi por nao ler dado a esta dislinccao es- sencial a iniporlancia que merece, que Balmes nao pode explicar esta contradiccao apparenle entre o faclo eo direito, e saliiu d'ella, conio nao era de esperar de tao nolavel escriptor. Havia eu dicto que o chrislianismo livera por fim immedialo debellar a depravacao dos costumes, que minava o vaslo imperio dos cezares; emoslrado como a egreja, inlerprete da moral chrislan, luclou contra a dissolucao moral da sociedade anliga, e depois contra a rudeza e brulalidade dos barbaros invasores. Mostrei, talvez mais concisaniente do que ao assumpio convinha, como ella inQuin, na so- ciedade civil, pela emanciparao dos escravos, na sociedade domeslica pela organisacao moral da familia, e pela rebabililacao da mulher. E anibos estes faclos Ihc lem sido conteslados. Guizot, que, como dissc, Ihe contcstou o primeiro, altribuc o segundo ao I'eudalismo, assim como oulros aos costumes dos povos gor- nianicos, que, por causa de uma passagem nial interpretada de Tacilo,' nos represenlam ' El pratestnntitmo etc. cap. XXVIII. ^ Inesse qnin etiatn sanctum aliguid et provitlum pu' tanl: ncc aut concilium earum a^pernayttur ant responaa possuidos do maior respeilo para com o sexo f eminino. Se 0 feudalismo deu uTna furma ao culto da mulher pelas instituicoesda cavallaria, e por- que a encoiitrouja nobililada. Mas foi a egreja que operou essa nobililacao, e naoo feudalismo. oriundo dos bosques da Germania, onde a mu- lher nao linho por apanagio esse culio sublime. Cesar, e 0 niesnio Tacito, nos fornecem abun- danles provas d'isio ; nem se conforma com a pbiloso|)hia, ou com a hislori.i, que nas .■-ociedades, onde se admilie a polygamia,' a nuilher seaclie collocada aonivel do homem. Por lanto, a moral individual, e a moral piibliea e social, fundadas pelo chrislianismo, foram dois faclos da egreja. As soeiedades modernas, formadas dos reslos viciados da sociedade roniana, misiurados com a brulali- dade e fereza dos invasores, estariam longe de ser o que sao, se nao estivera la o chris- lianismo, que, como diz o nosso illuslre his- loriador, o sr. A. Herculano, « abrigava as soeiedades com a sua vasia sombra, e to- mando os membros desse cadaver gigante. que se desconjunclava, ia preparando cada um d'elles para o converter 'num corpo social cheio de mocidade e de vida.» Para a apreciacao das relacoes d'estes tres faclos : chrislianismo, egreja e progresso, nao considerarei 6 primeiro senao com relacao ao ponto que mais esireilamenle o liga a terra, OS seus principios de moral particular e pii- bliea, cuja exccllcncia nao carece hojc de ser demODslrada ; porque, mesmo entre as escho- las de socialistas e philosophos, que se creeni mais adianladas e progressislas, a moral chris- lan tern sido respeilada, e ale muitas veze^ invocada para a justiticacao de principios, que; ncni senipre eslao cm hramonia com ella. Mas para fazer prevalecer a moral chrislaa nos dous modos de ser, nas duas manifesta- coes caracleristicas do homem, o individuo, e a sociedade, seria sufficienle a apparicao do chrislianismo? Nao. Era necessaria uma inslituicao, que niio somcnle conservasse esta moral em lodaasua pureza, para a transmillir do geracao cm geracao, atraves dos serulos. e das revolucoe> lilhas do progresso, mas a |)regasse aos homens, e lizesse a sua applicacao conlinua aos aclos da vida humana. Todas as ideias, para excrcerem uma influeii- ticflligiint. I'iftimus iufi tiivo J'espticiant, f'etledam din aptid ptcrosqiie, numi/tis loco habilam. — De mor. Ger- man— Mas aqui n.*io era a mnllierque ae Jionrai'a, era a prophetiza. 'Noulra parte iliz Tacito a respeilo da mesmji Velleda : ac virgo nationis Bructerae tat^ irnperilabat : Vflere apud Gcrmanos juore^ quo plerns que foeminruo'n fatidicns, et augesccJite superstilione art/it) antur dea-i. < — HiH. /A'.— ' Kxceptis admodam pauci«, tiori libidinCf sed oh r.^;- hiliiatem plvribus nuptiis ambiuntnr. — Tacilo — Ve trici . Germ. — O me-smo Cesar — De belto Gafl. l.L. 1,5. — ■ »*8 0 INSTITIITO eia real iia socieii.idc, careccm do revestir \iina forma sciisivel 'nuiiia iusliluicao, que, I'ommunicamlo-lhes a vida, o movimcnto, a dirccfiio, possa impetlir q/ • sejani suffocadas pi?lo lunmllo do iuuikIo, c que so oblilerem, e iJesapparp(,a'n uo '"cio do combale Iravado •■nlro a impcrfeieao c o lira do homem, o bem e 0 mal, a aQirniaeao c a negafao. Eis omolivo peloqual loua a ideia que pre- tende aeluar na sociedado, e oliier uni fulu- vo, tende necessariameiUe a crear uma ins- illuicao, que a represenle e ua qual se incarne. . Nao se satisfazendo, diz Balmes, com diri- :;ir-sc as inlelligeneias, c operar per nieios indireclosnolerreno da practica, pede a mate- ria as suas formas, e procura apresentar-se de uin mode palpavel aos olhos da humani- dade.» E 0 que fez o chrislianismo ; e a razao da existencia da egreja. . Foi ella fiel a sua missao? Conservou puro 0 principio moral que o evangelho havia con- liado a sua guarda? Ou desceu a rojar-se no po das fraquezas humanas, a sentar-se no feslim da dissolucao, a beber o vicio e o crime na laca da orgia tumultuosa, ondeo mundo civil seembriagava? . Continutt. lOSE JDLIO d'olIVEIRA PINTO. INFLUENCE DAS CRUZKDAS NA CIVILISACiO (^ualinuado de pag. 217. Feudalismo Na epocha de que nos occupamos, os reis e assembicias gcrmanicas conservavam o mesrao caracler, que anleriormenle Ibes nolamos; aquelles nao eram niais que cbefes d'uma trihu armada : a giierra propriamenle dicta, aquella, que era rcsolvida pelo povo, reunido em assembleia, linba senipre por objcclo os grandcs intercsses doeslado Todos os honiens Hvres eram obrigados a concorrer aos arma- mentos geraes, cm que deviam servir sem estipcndio, indeninisando-os sufGcientenipnle a parte, que, como cidadaos, Hies coinpclia em lodos OS beus sociacs, e com espccialidade nosdespnjos dos vencidos, cm que, pode dizer- ^■e, aquelles todos se cifravani. Os coiidcs e magislrados oidinarios condu- 'iiain opoioeai massa ; era porem mister que «sle, sendo consullado, auclorisasse la! niovi- iiienlo: e assini que, conforme o lestimunho ua disposicao, indcpendentemente da vontade do povo, deviam per isso dar prcferencia as cbamadas faida. gucrras ou cspedicOes parli- ' culares.'ie aca.^o se achavam emcircurastau- tancias de as suslebtarem com honra e van- tage m. Os ccmpanbeirosd'armas dos cbefes germa- nicos, coiuraliiudo a obrigacao deosseguirem e defendercm cm lodas as expedicOes; scrvin- do-lhes de guarda d'honra cm tempo de paz, combatcndo por eiles na guerra, davam-lhcs uni poderoso meio para se cmanciparem da auctnridadc djs asscmbleias populares, de ordinario adversas, quando reconbtciara que 0 poder d'aquellcs se augmentava. Alcm d'isso, quanlo mais se alargava o dominio dos invasores sobrc as ruinas do iniperio romano, lanto mais diHicil se fazia a convoeafao das asscmbleias populares; mais as proviucias se tornavam indin'ercntes cm razao da sua maior dislancia ; consequente- niente por loda a parte diminuiam os motives do gucrras nacionaes. Demais, essas mesmas distancias, lornando-as muito mais dispendio- sas, tcndiam a diminuir seu mimero; feitos proprietaries esses mesmos povos, que outr'ora so respiravam dcvaslajao, tinbam mudado uma parte de sens babitos, lornando-se mais pacificos: aleni d'esias, mil outras razoes iara diminuindo o cntbusiasmo pelas guerras nacio- naes. Por outra parte, a amhifao dos reis, .suas queixas pessoacs com seus vizinhos, e as con- lesl:icoes de familias, os levavam a provocar gucrras, para as quaes a nacao nao podia prestar soccorros; consequcntemente o unico recurso que se Hie podia olfcrccer era o d'uma clientella, que, separando os interesses do prin- cipe, dos interesses do eslado, se promplifi- casse a abracar sua causa, sem examinar a justica ou conveniencia d'ella. Todavia uma grande difliculdade se oppu- nba ao augmento iudclinido d'esses compa- nlieiros d'armas; se dies sacrilicavam suas vidas pela causa deseus cbefes, a estes incura- biam todas as despesns da guerra; as rendas portanto que os principcs recebiam de seus vassallos livres deviam ser destinadas aquollas urgencias e a susicntncao dos companheiros d'armas ; os despojos pertenciam a todos os venccdorcs, como recompensa e incenlivo ; para f.izer lace pois a laes dispendios lorna- va-se-lbes uma necessidade uni coulinuo esta- do belligerante. Em razao d'esla impossibilidade, cm que se achavam os reis, de escusarcm urn grande niimero de vassallos, c ao nicsnio tempo de satisfazerem as exigencias d'esics, imagiiia- ram-se todos os meios de constraiigimento para que os bomcns livres, abundantes de bens, se lornassem vassallos do rci ou de seus barfies. A. analyse dos faclos, 'nesla epocha de con- * £sla dislinc<;Sio aclia-se rormalmento estabelecida no edicto lie Cressy, dado pcio iniperador Carlos o catoo em «77 (.art. XO).— Bullizio, T. «, (la^. 264. 0 INSTITUTO 229 fu>ao, suppoilo nos nao permilta aprcsenlar iimu opinJao dcHiiida solire a nalureza das primeiras irrupcoes gernianicas, leva-nos loda- via a presumir que pela maior parte forani guerras propriaraeiitc dictas ; que suas con- quistas, por laulo, contra os roiiianos, liiihani o caracter de nacionaes, e consequentemente cada cidadao parlilhava os despojos dos vcn- cidos; 0 que sabcraos acerca das sortes bar- liiricce, oil territorios cedidos aos barbaros, f'onfirma esta ideia. Por esia ordciii aos reis ou chcfes nao locava provavclmcnte mais que (una cxtensao de terreno mais cnnsideravel, dominio todavia que ellcs augnicntavam, ou fosse ptias ad(|uisiiOcs volunlarias, feitascom 0 producto de suas rendas; ou pela devoUi- tiio dos bens dos pailiculares, que morriiuii sem berdeiros (objecto consideravel, pois as iiiulberes e sua posleridade eram cxcluidas da siiccessao); ou finalmenle pelas coudom- iiacoes pacuniarias, que de direito revcrtiam jKira 0 chcfe. Mas desde o raoniento em que os rcndi- menlos ordinaries do rei forani insufficientes para occorrer as despesas, ou salisfazer as anibifoes de sous vassallos ; desde ([ue o des- pojo dos vcncidos nao podia supprir esias iietessidadcs, que as circumslancias cspcciaos da epocha cada dia tornavam mais urgoutes, nenbum oulro meio restava, que nao fosse o ^acri/icio dos dominios e direilos da coroa, a menos que o rci nao soubcsse insplrnr aos honiens livres, cujas proprit'dadcs fosscni suf- licienles a suas ambicoes, o descjo de se in- corporarem vohintarinmenle ao sou servico pessoai. Para inspirar esle desejo era mister desgoslar os bomens livres, os cidadaos aciivos de seu eslado de independencia, e concedor aos vassallos vanlagens baslanles para ibes fazer preferir o eslado de sulmrdinacao : laes forani os meios que a bistoria nos altesla lerem-se eniprcgndo. A terceira Capilular do anno 811, dizcndo exprcssamenle que cbcgaiam ao impoiador queixas, que ai]uelles que nao queriam alienar suas propriedades, eram obrigados a alisiar-se no exercito, para assiui os fazereni preferir a sorle de vassallos; que os condcs linhani oriia- uisado de lal sorte a ordcni dos cxercitos, que podiani dispensar do servico da guerra lodns aquellcs por quern se inleressasseni, liizcndo rccair lodo o peso da milicia solire os que careciam de nu'ios, on nao queriam siib- meiler-se as condifOcs, (|uc Ihes prescreviaiii. As rcpclidas con\ocafoes dos bomens livres, •^cm oulro uioiivo mais (|ue o distrahir de suas ubrigncOes aquellcs (|ue nao queriam fazer sacri(icio de sua independencia ;' as prcsta- cOes pecuniarias, como redu'-cao de servifos pessoaes, exigidas com lanto excesso, que chc- garam a fazer com que fossera cbamadas — ■* Capitnlares 2.', 3.', e 4.' de 803— Capitular do fmiJeradar Lamberto de 898. arimaniun — loda a soite de contribuijoeK, como se unicamente os bomens livres lossciii sujeitos aos impostos;' mil oulras cxigencia.-; de que cada pagina da bistoria d'cstes tcmpos nosforncce variados exeniplos, qucoutra cous.-. signilicam s'cnao o emprego d'aquellcs nieior- que (izciuos sabir como consequencia do «bj)i.- rilo e posicao da cpoclia? Os reis, vendo esgottados sous dominios, oi: reconhccendo a insufi'iciencia d'elles para saii-^- fazcrcm lisexigencias de sous vassallos, conie- caram ]ior conceder-lhcs dircitos e regalias, e bcm dcpressa os hrafos dasrondas piibliciw passarain a man dos vassallos: foi cntao quy ale se cbcgoii a vcr fazer objecto de donciui OS sen-icns dos bomens livres;' doncocs p;o- bibidas ja 'num concilio de 904 c polo im()i;- rador Laniberlo na capitular do 898 ; nao fal- landoescriplnrcs, quo, por este eslado de abjoi-- cao, leubam jiilgado, como unia especio do ev- cravos, os inl'elizes arimaitnes.^ Quanlo se njjo sente ainda aqiii a similban^'a entre est.n vexacoeseas exercidaspelospatricios romanos! Os vassallos, polo conlrario, gosavani dos maiores privilegios, assim o diz o documonio mais antigo do juramenio de (idclidade, cou- servado por Marculfe; syslema antigo de ()ui; ja Tacilo nos dii testimunho. 0 augniento das penas contra aquclles que lesavani suas pcs- soas ; 0 inieresse especial que os reis lomavaiu pelos sens ncgocios; as exenipcoes do scrvifo militar nas guerras nacionaes; os soccorr.., cMm Uberis ht.itiirn/ntft, qi>i vttlgo Uetiinnnni tticnntur. K outra carla do imi-elatlot- Hfnriijirel V, de 1084, pela (|iial elle du a iioi inosleiro— liberi,s hnuines, guts vulgo firimtinnos vocant. habilnn- tes in castetto ^nnti Fiti. i3i) 0 INSTITUTU Um grande obsiaculo todavia se oppunlia i. este syslcma ; nculiuin lajo folido iiHia o \assallo a seu iliefe, podia ahnndonal-o \wt oulro, cujas ixpedifoes llic iiarecossem mais i;onveni(Mili'S: os bens nidvt'is, perdciido-sc, ou deU'rior.iiulo-se pelo uso, nao pndiain scr dados condicionalnieiUti ; depois dc alguiii lem- po, por laiilo, se o vassallo se de.-ligava de suas ol)rii;:it-Oes, ostos signaes dc gcneiosidade tiuliain desapparecido, e a insiahilidade de taes rclaioes era cm cerlo niodo conipcnsada pela poiica solidez da recoinpeiisa ; ja assiin i iiao suceedia com as propriedades lerritoriaes, subsisliiido mesino depois da dissolucao do lonlracio, que liiilia nioiivado a cessao, lan- oavam em rosin ao vassallo sua ingratidao, beni como ao chefe sua fraiiueza, quaiido o vassallo di'ixava sou parlido;t'sla relarao |)ori'm como puiamente moral dcvia estabelecer urn vinculo pouco eflicaz 'numa epocha, em que ella nao era a principal motora da socicdade ; cumpria pois crcar lacos d'uma reiacao exterior a que podcsse presidir a coaccao : ochefc por- lanlo, reservaniio para si o domiuio directo dos immoveis, com que gralificava sens vassallos, 7!ao ihesconcedendosenao o usufrucloonerado com a condicao dos coslumados services, fun- dava essa reiacao de dependencia, em que de- via basear a permanencia de seu poder. A combinacao d'esles faclos devia dar um resuilado especial e novo, univcrsalisado tanlo mais, quan'o por loda a parte se fazia sentir a accao d'.iiuelles principios; este resultado foi 0 fi'udalismo ; seu estabeleciniento marca lima epocha da maior imporlancia na iiisloria dos desinvolvimenlos sociaes. E na predominacao dos principios expendi- dos, quando os immoveis foram dados vilalicia ou leniporariamenle a litulo de benellcio; quando a reiacao do vassallo para com osenhor, de pessoal que era, se tornou real, que faze- raos consislir a primeira epocha do systema feudal, ou antes o primeiro passo para o eslabe- lescimento definilivo de este syslema, qual de- pois 0 apresenta a historia. Nao desconhecemos que ja entao se encontram propriedades ler- ritoriaes dadas a vassallos com loda a pleni- tude do dominio,' e que, fundado 'neste faclo, (iuizot recusa a esta epocha o caracler, que ;icabamos de dar-lhe; laes factos porem, nao .sendo a exprossao do regimen geral, nao sao sufficientes para que ncguemos a predominacao do principio que analjsamos ; com islo lodavia nao queremos marcar esla epocha como fixa- niente'num ponlo; dizemos sim, que a gcne- ralidade inncgavel d'aquelie faclo deu uma nova feicao a socicdade. Covtiniia. J. B. FERRaO. ' Taes doajues se encontram nas cartas do imperador I.olacio I, 839 — Olhon II, de 980 — Olhon III, de !I96, 998, e 1000, e muilas outras cilaclai eni Mura- litio. Diss, de AUodiis. COUECglO OE DUCUMENTOS INEDITOS I Correapondencia inedita de D. Jua ■ de Castro, guvernndor e vice-rei da India Cuntinnaila da pa;;. SI 9. Carta de D. Joam de Castro ao infante D. Luiz, em que Ihe da conta do estado da India Portngneza em 1540.' A. obrigacao que tenlio dc servir a vossa aiteza pode lanto, que sabendoeu com quanta razao o hao de enfadar minlias cartas, na') posso acabar comniigo deixar dc lli'as escrever, e cahir em grossaria ; e lanto mais quanto sei mais cerlo, que 'uisto uso como sobcjo, e iinporluno. Was como ja mais se me podem arrancar da alma, e tirar da memoria as graudes honras c merces. que de vossa alleza teulio recebido, e OS niuitos beneficios, que alcancei de ser chegado a sua real casa, a trazer na bocca sou alto nome: temo tauto por algum caso ser nolado de iiigrato e desagradeeido, que o per- severado cuidado, que Irago para me guardar de poller cahir em tao abominavel culpa, mui asiiiha sera occasiao dc recebcr vossa aiteza com miuha escriptura algum enfadaiuento, sem eu sentir o (|ue faeo. i'or tanlo, senbor. este olliiio, e liceuca, que tomo tudos os annos, de Ihe fazer saber as novas d esla terra, du- rar-nie-a lanto, quanlo 'nella estiver, ou vossa alleza liouver por seu serviyo o conlrario. 0 vice-rei adoeceu de velbice, e das imporlu- nacoes e fadigas dos homens. Eslaria obra de seis mezes em uma cama, purgando seiii ppccados, e por derradeiro, aos tres dias de abril pagou a natiireza a divida, que Ihc lodos devemos. Por sou fallecimcnto vi alevantado por governador da India D. Estevao da Gamu. 0 qual, lanto que recebeu, e tomou posse d'esie perigosissimo, e tormentoso cargo, logo come- cou com niuito cuidado, e presteza a prover em algumas cousas, as quaes pela doenca do vicerei jaziam cohcrtas de mato. Principalmente mandou concertar muito bem a armada, e fazer de novo gales, e galeoes: e depois d'isto espediu cmbaxadores aos reis, e scnhores da terra firme, persuadindo-os a guardarem com elle as amizadcs, c allianfas antigas. E como as teve assentado, e quietos OS coracoes dos Indios, comejou a entendei nas cousas de fazenda, e regimento da terra, ordeuando, que nao navegassem chalins, para bem, e proveito da fazenda de el-rei. E com esias obras, c outras d'esla cafidade passamos 0 inverno. * D. JoSo de Castro foi da primeira vez a India eni 1538, sendo capitao da nan Grifo, na armada em que ia o vice-rei D. Garcia de Noronha, seu cuiihadu. £l-re( llie mandou dar mil cnizados cada anno, o tempo que serviss'^ na India, e portaria da forlaleza de Ormuz, que elle nu*,- aceitou. J. Freire de Andrade, /'. de D- Joaa de Cm- , tro, liv. 1.", 'J IG. 0 INSTITUTO 231 Br? 0 anno ie 1534 ale agora em loda a [iiiiia ciiamada Intragange t'oi a maior csle- rilhlade, qual niinca os homens ciiidarain dc vrr : inaiormenie no reino dc Bisnaga, onde f. tirado a limpo, que de Ires partes da genlc sprao morlas as duas. Ue lorma que, coino que aiiida esle mal nao baslava para vinganca, « casligo de peccados do povo, sobreveio-llie uma peste lao cruel, que foi cousa, segundo dizem, nionslruosa. Em muiias paries se viram fazer obras irracionaes, e conlra a nalureza dos liomens ; como as niaes goslarem as car- iies de seus proprios filiios; e ajunlarem-se OS povos, e cidadoes, e por coDsellio de lodes ircin-se lanfar nos rios e lagos : havendo que, '•scolliendo assi este genero de morle, fugiam aos irabalhos, e oppressOes de oulras muiius iiiortes. No grande reino de Canibaya ha ja dous anrios, que dura 'nelle a guerra civil; porque entrou compclencia entre os senliores e pri- vados, a quem teria em seu poder el-rei, que e nienino. E sobre esla cousa foram, e sao laiuanhas as differcncas, que esla a lerra per- dida emtamanha nianeira, queparece inipos- sivel tornar a levantar cabeca, apcsar da pros- peridade, que possuia. 0 Malabar esla lodo de |)az, e niuilo quieto : parece, que leva caniinbo de assenlar, e que- iirar as furias passadas. 0 que a nieu juizo, depois da destruicao dos Rumes, parece que '^iimpre maisaoesiado, econservacao da India, que loda ouira cousa. Temo (|ue o desconlenla- menio dos porliiguezes, e o pouco que consi- deram do fuluro, eslorve lamanbo bem. Os Rumcs 0 dia de hoje sao senbores de lodos OS porlos e logares, (|ue esiao nas praias do Seno Arabico, chamado neslas partes Es- treilo de Adem. Quae damnosa, e |ircjudicial nos seja esla vizinbanca, a nieu ver, lia pouco que doterminar, porque sonienle em estarem quedos nos farao tania guerra, e porao eju lanio gasto, que nao sera muito de nos por cm lernios de leixar a terra : vislo como sc nao pode representar falla, e necessidadc, que ca nao haja para as cousas do servico de el-rei e bfiu da republica. De modo. senlior, que para armar qnatro fuslas nao ha possibilidade. Pois para pagar soldos. ou manlimcnlos! ja somos desengana- dos! Polo qual a gente anda como pasiuada. I' fora de si : e d'aqui a virem cm cahir em extrcma desespi'raeao ha muilo pouco. 0 que me faz niuilas vezes conjeilurar na grande forca, e cspanlosa desprovidencia dos purtu- guezes, OS quaes em espaco de quarenla annos poderam csgotar as riquezas da India, as quaes pareciam sobrepujaroni as forcas dos hiima- nos em niuilos mundos; soni nos Hear, nao digo ja em que nos possamos sosler algiins tempos, mas magua e dor de lamanha des- aventura: oque certamenle com muita razao dcvia ser contado entre os septe milagres do mundo. Eeilar. E por larilo trabn- Ihe cada urn [jor alcancar boa fania e nomeada em sua terra, que e cousa mui natural, e do- vida a lodos. De maneira, senbor, que o ser- vir-se elrei d'estes homens sisudos, e singn- lares varoes; e a pouca estiraa, em que o'^ oulros, que se nao sabem apriiveilar, sao li- dos, pozeram a India e o reino em tal esla- do, que nos e, segundo eu ora vejo, mais ne- cessario apegar com os sanctos, que conliar em nossas forcas e poder.' Mas como quer que vossa alteza seja dolado de tanlas e lamanlias virtudes, quaes jamais a nalureza ajunlou em principe do universo. e que as cousas, que locam ao servico d<; elrei, e bem universal de seus reinos the se- jam sobre lodalas cousas d'esla vida aprasi- veis, creio que nao sera fora de proposito, c de miuba obrigncao dizer-lhe algiins pontes, nos quaes consiste muila parte de seu servi- co, e bem e conservacao d'esta sua dcstruida terra. A costa da India esla cheia de forta- lezas e castellos, onde se eonsumem as ren- das da India, e quanta fazenda vem de Por- tugal, sem que d'ellas se tirem oulros .fructos miiis, que opiiressoes e trabalbos : e se ja com ' estas forlalezas ganbaramos honra, e se forti- hcara e fizera maior o nosso poder; parecia cousa conveniente solTrcrmos os seus conti- nuos e demasiados gasios, que se 'nellas fa- zem. .Mas eu vejo, quo tudo islo e o contra- rio, e que por respeilo d'estas fortalezas so- mos fracos : oque, polas querermos susten- tar, pailecomos muiias deshouras c necessrds- dcs. iNao sei ceriamente, i|ue leis sao estas dos homens, tao crueis, que dizem ser abatimecto dos principesderribarparedes velhas, as quaes, postas em pe, desirueni os seus reinos, c a elles poem em perigo : e dernbal-as os f.\y. ' Cnraoes Luzinilas, Canlo 10, Ivslancia 68. 0 INSTITLTO ;;i-andes c niais poderosos, e a sons reinos iicmavenliiiados. Nesla terra, scniior, a meu >er, nao havia haver mais que Codiim, Goa, Ba^aim; c ainda Bacaiin mais por causa da madeira, que 'nella ha, (|ue por razao do di- nlieiro, que dizeiii, que ella rende, vislo a pouca gillie, que ha na India para as guar- dar, e os grandes inipediuioiilos, que leein para se soccorrerem. E conio ellns sejani niui- las, e OS soldados puucos, cansani o corpo, e a suhsiaiKia da India oslarcm lao dorrama- das; que aos turios clicgarcni a harra de Goa, uenliuin raniinho ha, ncin pode haver para .••e junlarcm. Aioni d'eslc inconvenicnle occu- pam eslas forlalezas tanla genie, arlilharia, iioiiihardeiros, e gaslam tanla soninia de pol- vora e niunicOes de guerra, que as nossas armadas hcaiii parecendo mais vasilhas de mercadoria e de carga, que iiavios de guerra. E tanihcmsao csias forlalezas lao fracas, que, lirando Diu, nenhuina das oulras e capaz de se defender oilo dias de nossos inimigos; e toniando unia, arnia-se grande occasiao para IIS reis, c scnlinres nossos viziniios se alfareni [lor elles. Porquo aflirmo a vossa alteza, que a genie do mundo, que mais segue aos ven- ';edores, c a genie da India. Assini, senhor, que eu nao saheria dar mais viva razao para sastcnlarnios eslas forlalezas, ou paredes sem fruilos, senao que deve ja de ser assim, por ;ios nao (icar cousa alguma por fazer, para pormos a India, e o eslado a elrei em balan- •;a, e exlreino perigo. Consideraudo nuiilas vezes commigo mosmo i\o niodo e disciplina, com que viveinos 'nes- !as paries, verdadeiramenle, senhor, que hco rspanlado e aloniio! e antes d'isto nao podia <'rcr, que o costume de quaiquer cousa, ou quica, consieliacao da terra niudasse lao fa- i.ilmente, e em jiromplo a nossa nauireza. Por que vejo, que em chegando de Portugal a In- dia, uo mesnio instanle lomamos nova forma, nova arte, nova maneira de viver. A pessoa, ]ue vem para soldado, na mesma hora quer parecer niercador: logo porha e julga nas lousas da guerra o que vem para mercador, e trahaiha de parecer soldado. Os lidalgos e oapilaes todo o tempo gaslam em pradicas siibrc a fazenda de elrei, e em emendas de jiiatriculas : os officiaes de fazend.i sobre as 'ifdeuanfas de balallias, e baterias de cida- iles. De sorte, senhor, que de cada homem lon-.ar o oiEcio allieio e improprio, nasce urn lamanho barbarismo, e I'orlc confusao em to- lala.s cousas. E bem olhado qunnlo se faz, parece ludo que ea e caso e acontecimenlo. (Jste cosso desconcerto ale agora pode-se sof- irer, por que conlendemos com nuillicres, c b^stas niansas ; porem ao presenie, que o co- inecSmos a haver com homens, lemo muilo de DOS acharmos euleados, e pouco practices. Pelo que tenha vossa alleza por cerlo, que o estado, em que esia posta a India e tfio sublil c perigoso, que mats qnc.toda outra cousa, que agora saiba, requer maior considerafao e remedio; porque a lerra esUi mui pohre, do que foi vihto oulr'ora, a genie quasi alevan- lada, a guerra de todo es(|uecidii : c o servico a elrei univ».rsalmenle conlrariado: os lidal- gos loilo 0 dia andam em ajunciamenio p uuioes: a pessoa do governador mais que t«- d,is desacalada. Ora veja vossn alteza, se sao lodas eslas cousas para arrecear, ou nao? Quanlo mais que uus toiiiarn com sesseiila g.illes em Sue/,, e com Adem, c todo o cs- Ireilo de Turios. E^le inveriio passado se amoliuaram cm Dio 11)0 soldados, a que os iiidios chamam Lascarins. e tomaram o haluarle grande, vi- rando, segundo dizeni. as hocciis das borabar- das em contra a forlaleza : foi necessario para concerto pagarcm-llie cerlo dinheiro. Prou- vera a Deus, que os vira eu niorlos, e a for- laleza lavrada cm sal, antes de os portugne- zes goblarcm de lal com[ianha, esahirem com lanto cm salvo ! Para stguranca d'esta terra dizcin, que cuniprc elrei manilar muita gente e dinheiro, e creio, que assiu) o escrevem a sua alleza. Mas a niim parece-me que com urn so homem arremedearia, o qual lizessc ju^iica, e castigassc sem rienhiim respeilo os lidalgos, assim como I'azia D Henrique, grande e singular varao, o niaior de nossos tempos. Porque sei que em Portugal, e assim mesmo na India se eiiganam com a genie, que anda neslas paries, direi a vossa alleza a verdade ilo que passa. Pode ser que na India sejam lancadosscis ou seple mil porluguezes; poren. leiiha vossa alteza por cerlo, que nao ha dois mil para dar batallia aos turcos; c ao gover- nador fazer mais do impossivel, ajunctara dois mil e quinhentos, e esles desarmados; por qiianto as armas, que do reino vein, recolhem- si' iios almazens do Acedecam, Hidalcam. 0 feiio de se suinirem lanlos porluguezes esta muilo craro, porque niorrem inlinitos. Esle in- verno, somenle nesla cidade de Goa, sac niorlos, por rol dos ofliciaes da misericordia, perto de septecenlos homens. Em Coroman- del andam conlinuamenle seiseentos homens; Malaca, Maluco com as terras dessas partes recolhem inlinidade de genie; fora os que vao para o Japao, e se espalham pela terra llrme, que nao leiii conlo. De sorte, senhor, que nao somente a India e bastanle de su- mir a genie de Portugal, mas quanta ha em loda a Europa I 0 governador esta de caminho para dar em Suez, e queimaras gales dos Turcos: leva quarenla ate cincoenia fustas, segundo agora csia orcado. Esta viagem tem agora, que esta em ternios de se fazer, tanla contrariedade, como provcitos. Quanlo ao vice-rci, se uiu homem se topava com outro, em logar de o salvar, fazia grandes caramunhas, que se per- dia a India, por nao ir o vice-rei a Suez quei- 0 INSTITUTO 833 mar esias gales, pedindo estromenlos, e fe do que diziam : a^orn dizcm se pcrde a India, porqiie vijo la. A ida me parece ma is obriga- loria, que nenliunia cousa oulra ; nem cu sa- licria imaginar como s« pode susicniar esta lerra, esliindo cstas gales em Suez. Verda- (ieiiameiite crcio, que o mesmo lem lodos para .-i, mas iialtualmenle sao os hnmetis da India lamanlios inimiyos morlacs dus govcrnado- res, que sc nao conlenlam aie os desfazeiem cm po I Eu, senhor, lico esle anno na India para ir a Suez com o governador. Em o fa- zer assim, cuido que faco algum servico a eirei ; pois que 'nesla Jornada gaslo loda nii- iilia fazenda, e ponlio em grandes perigo? luiuiia pessoa. Se me Deus Iraz vivo d'esie caminho, na primeira emharcacao que athar, irei para Portugal sem cousa d'esie mundo in'a poder eslorvar, salvo virem turcos a In- dia. Pesso a vossa alteza por sua real creme- uencia, que o liaja assini por bem. Nosso Se- nhor guarde e accrescenle a vida, e real es- tado de vossa alleza. Goa, aos 30 do mez de oulubro de iuiO. F. n. PONTE DE COIMBRA A. ponle de Coimbra era unia d'essas iiota- vtis obras de archileclura, que outr'ora avul- tavam sobre solo portuguez, como oulras mui- las, que ja desappareceram, ou de que nao existem senao deploravcis ruinas. Os seus vinte c quiiro arcos, a sua grande extensao em piano horisontal, lancado em linha, in- icrtompida apenas por uni angulo quasi ini- perceplivel, a fazeni superior a oulra qual- quer conslrucrao d'esie genero em .'orlugal. Assim a vemos ainda em nosso tempo, mas ja seni a anliga elegancia; a constanle suc- cessao dos invernos conspira para a total sub- niersao d'esie bello monuuienlo, que todos os annos perde pane da sua altura para debaixo das areias; e em breve ficara de todo sepul- tado nns enlranbas da terra. Desejarinmos escrever a historia d'esie fa- moso edilicio, para ([ue as geracOes futuras nos nao lancem em roslo a niesnia falla, de que lao jusiamente accu.'-aiiios as preturilas, por nao lerem deixado memoria de muilas das suas obras imporlanies; mas nao cbegando a lanlo nossas forcas, somentc olTerecemos ao publico uma coilecfao de aponlamenlos para I'lla ; indicanios os niateriaes para a conslruc- rao, a fiin de que arcbileclo mais babil os po- iiiia em obra. Cum esle inluito foi mister consultar escri- plores anligos, e mendigar 'nelles, e nos obli- lerados pergaminlios dos cartorios d'esta ci- dade, todos os esclarccinienlos para, sem pe- rigo de errar, satisfazer o nosso intento. Mas esses escripiores, alias niinuciosos 'nou- tras malerias, sao ora oniissos, era mui bre- 30 ves a este respeito ; e os doGumentos dos car- lorios, alem dc poucos, so tocam incidente- menle o antigo monumenlo, para cuja histo- loria tinhamos em mira dar uma copiosa col- leccao de aponlamenlos. Ja se ve que por mingua de nolicias omit- liremos alguns faclos imporlanies; oulros se- rao apresenlados so conjecliiralmente e os que refcrirmos do posilivo serao sempre fundados, ou cm inedilos, ou em obras ja impressas. Dividiiiios 0 nosso trabalbo em duas par- tes: a primeira desde a origem da ponte ale 0 reinado do Senbor D. Mauuel ; e a segunda, d'ahi ale o nosso tempo. A primeira sera pobre de documenlos, por- que dc lodos e assaz conbecido, que, quanto mais remontumos a antiguidade, niaior e a falla de cscriptos. A segunda sera mais abun- dantc d'elles, ainda que escassos em muitas circumstancias. 1 Scgundo Fr. RapiiacI de Jesus,' se o rci Alaces nao fundou a piimeira ponte de Coim- bra, nao deixaria de I'undar a segunda. Nao se csiranlie que, pelas proprias palavras, re- produzamos aqui dois dos fundamcntos do seu |)ari^cer; « A magcstado que nao escusou cas- « tello para sua vivcnda e segnranca, repa- « raria em fabricar uma ponte (dado que o « rio a nao livesse), quando fundava uma ci- (tdade? Nao se negue a soberania e o pri- « mor, a qucm se nao pode lirar o genio, e rn^ressos tJ-j pliysica trazeru necessariamente comsi»o estas frequentes tiansforma^ors U'js livros ilestinadus para o ensino d'esla scienoia. Porisso Poiiillet enriqueceu os seus prccedentes traba- llio.t coDi a^ mais recenles experiencias subre o calor; as de M. Pierre, sfibre a c]ilatai;rio dos lit|uitios — as de Per- son Ac^rca do r.alorico latente, e de fusiio, e s<5bre stias" rela^ues com as divetsas propriedades pliysicas dos cor-' pos— as de Seiiarmont sobre a conduclibllidade dos cris- taes; emfim com o resumo dos uUimos trubalhofi de Pro- voslaye, e Desains a respeilo do calor irradiante e sua compara^So com a lul. A nova edi^So dos Elements de Physique de Pouillet coipprehendc tambeai as mais recenles observa^des sobre- a electro-chjmica, galvanoplastia, phenomeaos de induc- ^ao, diainagneiisuio, Ulegraphia electrica, acustica, opti- ca etc., com novas E*nlaii>pa^ ccrre'spond^ntes a t dos e«- let; additsmeDtoR.' €) Jnstitttta .JOIi>AL SCIENTIFICO E LITTERARIO BOLETIM 00 INSTITUTO Sessito aoleinnt; No dia 20 de fevereiro liltimo leu o sr. ,Ie- ronvino Jose de Mello, em sessao solcmne do Insiiliilo, 0 eiogio funeljre do socio fallecido, II .abbado £6 do correnle, de|iois da pri;l(;c<;ao com que 'nesia noite ha de Jar principio ao cnrso s^bre — Liber- •lade do commercio — o »t. Jose Julio de Oliveira. No sabbado 5 de mar^o abrira o seu curso o rs Levy Maria Jordiio; e 'neste dia, como em lodos os sabbados, Hie as ferias IViirlada por clles, beredilaria, viialicia, ou Icniporariamenle.' As guerras que arruinavam os berdeiros doimpcrio giganle.que fundara um dos borne ns que ba dc senipre ser aduiirado na bisloria, Carlos Mngno; essas guerras, que por sereni de nenlium inlercsse para os povos, antes pelo conlrario, nao eram deliberadas nas suasasscni- bleias, tendo por isso o caracler de faidw, ou guerras parliculares, po.'.eram os reis 'numa absolula dcpendencia de seus vassallos. Estes, nao se descuidando de ganharcm posifao cada vez mais vantajosa, aspiravam a niveiar com ' Lib. fend. Liv. 1, tit. 1, f. I.... See! cum hoc jii« siiccessioni?a(l filius non perliih'ret: sic |iro|;re9snm est, nt ad lllios deveniret : in qnein scil. dominiis lioc vellet be* neficiiira confirmare. Qimd liodie ila slabililum est, nt ftd omiiej eiiunliter venial. 0 INSTITLTO 2r, ■!eiis reis, o que podc dizer-se quasi consegui- rani com a genoralisafao dos feudos heredila- rios.- E entao que os condes, e must dominici augmenliiram seu poder; as niesnias causas, 'jue conJuziiani aos feudos heredilarios, pro- fiuziram a indi'pendencia c heredilariedado d'esses imporlantes cargos. Cumpro notar um facto de grande impor- tancia para apreriar a inlluencia ecclesiaslica 'nesla epoclia. Toilos sabcmos que os wiiwi iominici, lendo sido cm coniero inspeclores tcmpnrarios cuviados pelo imperador (is pro- vinrias, a liiii de llscalisareni da conducia dos condes, depois chegaram a pstabeleecr-se permanenlcnienle com aujtoridade superior aos condes; supposto (|ue por uiiia aberracao cslravagante, os niesmos condes niuilas vezes accumutavam a aurioridade lic missi dominici DOS sous mesmos coiidados. Carlos Magno, conliando essa missao ordi- nariamenle a pessoas de duas orders cccle- siastica e civil, ou fosse porque o cullo cons- lituia uma parte do servifo publico, ou para previnir as exempfocs ecclesiasticas, ou por qualqueroulra razao. ereou assim uma posijao civil aos chefes ecclesiasticos. Desde o memento pois em que o logar de missus lomou o caracter de cargo pcrnianeiUe e com lerritorio (i\o, esta dupia commissSo apresenlou uma nova origem de contestacoes. A fraqueza dos impcradores collocava-os na impossibiiidade de remediarem o* mules que d'ahi provinhara; so o pod^r reiativo dos que haviam sido cncarregados, e queducidia qual dos dois predomiiiaria. E esia srm diivida uma das causas dos grandes feudos ecclesiasticos, que com o tempo passaram a anncxar-se aos cargos ecclesiasti- cos, em vez do screm unicamente pessoaes : seja exemplo o arcliiepiscopado de Colonia. As causas, que teinos notado, conduzindo ao eugrandetimeoto dos senhores fi'udaes, pro- duzirani idcnticos resultados em rel.ifao a(|ucl- Ics que Hies esiavam subjeiios, mas de quo elles indavia dependiam, ja para fazerem o service uo soberano, ja para sua defeza nas contos- lacoes com os outros senhores, generalisan- do-se assim o eslado feudal em lodas as ordens sociaes. Osystema devia produzir sous ultimos resul- tados, acabando por absorver em si todos os elemcnios da vida social; era um typo novo, que revestia a sociedade; assim passaram a feudo OS cargos civis, militares, judiciaries, e ale nicsmo ecclesiasticos. E do seio u'esta ordcm que se ergucn o grande facto social, que passanios a analysar, as cruzadas. Continun. I. B. FEnilAO. ' A capilular de Carlos o cah-o dc 877, nrl. 9. paroce ler a priineiralei que Gxoii a hereilitariedailL' dos feudos, «em ser mister conccs.-5o parlicdiar. BANCOS A6R1C0LAS, CREDITO TERRITORIAL Anossa agricullura, loda rolineira porfalta de escholas agrologicas, opprimida e avexada com usuras enormes, que a nao deiiam res- pirar; delinbada pela falla da animacao, que cncontra em outros paizes; e mormente pelo desequilibrio enlre precodo genero, e despesa de produccao, reclama o emprego d'este meio extraordinario, e salutar. Um banco agricola no Alenitejo, outro na Beira, e outro no Dou- ro, nao seriam o meio de dar vida a nossa agri- cullura? Assim torminava o primeiro artigo que es- crevemos sobre bancos agricolas ecredilo ter- ritorial, publicado em 0 n."o d'este periodico. Quizemos por esta forma chamar a altenciio do publico, e de quern rege a piiblica admi- nistracao. sobre um ponto de interesse vital. A scicncia dos bancos nao e uma sciencia vulgar; pelo contrario euniproblema a orga- nisavao e adminisiracao d'aquellas instilui- coes 0 mais complicado da econoinia politica. Os bancos agricolas sao os nienos conhecidos; e OS que demandaui maior e.siudo e modilica- fOes nas suas applicacoes practicas. Os bons exeniplos, que nos offerece a Escossia, as pas- mosas vantagens que a Pojoiii;! e Prussia teni alcancado d'aquellas instiiui.;o(. , que como per um poder niagico liberlarani as suas terras gra- vadascoin um pfisocnorme dedividas, quefaria succumbir a propriedade immovcl, nao podem julgar-se applicaveisa todo e qualquer povo, que nao tenlia a indole, os habitos, a mora- lidade dos que se propoe imitar. Asinfructuo- sas tentativas de Franca, feitas em epociias diversas para conseguir resultados oguaes, sao uma verdadeira licao que nao e rje desprezar; e, ou fosse pela nalureza das instiiuicoes ; ou pelas pessoas que as dirigiram; ou ja pela ignorancia piiblica ac^rca d'esso novo genero de credilo, o certo e que em Franca abando- narani por muilo tempo essa ideia do que tan- las vantagen-i podera aquelle paiz tcr alcan- cado, na opiniao dos homens compeientcs. Nao sao prosperas as circumsiancias do eslado actual da nossa agricullura, que esta bem longe da perfeicao, abundancia, e varie- dado de produccao, que ha cm Fraufa. Nem se pode repular em muilo melhor eslado do que na Prussia e na Polonia ha quarenia annos. A distraccao das especies mciallicas para o fa- tal gyro da agiotag m, a eslcrilidade em pro- duccao de azeite, que de ha annos se experi- mcnta em alguns disirictos, cujos era a princi- pal ri(|ueza, eo baixo preco dos generos com relacao a despesa de produccao, e a quanli- dadc de nioeda circulanle, sao males que todos OS cultivadores senlem, e de dia para dia os vaoempobrecendo. Para satisfizerem ao paga- mentodos imposios geraes e locaes, eas vex,i- loriasdespesas decobranca, menos bem regu- lada, ospequenosproprielarios vcndem espoii- J3S 0 INSTITUTO tauea ou forfadainenle a terra: c, a oao se acudir com remedio prompio e efficaz, em breve se achara a propriedade immovel accii- luulada nas niaos de um pcqueno niimero. Quem conhece o estado das provincias nao lera por exagcrado o qiiadro. Lembramos os tres pontos rcgionaes, da Beira, Douro, e Alemlpjo, por serem os em que se iiota mais dilTercnca dc produccao; sendo ao mesmo tempo as fonles principaes da produccao, c riqueza nacional. Os cereacs egado suino doAilemtejo, osvinlios especiaes do Douro, 0 milho, azeile e laranja da Beira, resuraem os productos mais valiosos da nossa nqueza territorial. Se 0 govfrno quizcr interferir, como de razao parcce, para a creacao de bancos agri- colas 'naquellas regioes, aondc projecla fuii- ilar tambem escholas de agricuitura, ticJmos cm que facilmenle o consegue ; e tera a gloria de applicar A enfezada cultura as duas mais poderosas alavancas, que a hao de levanlar do abatimento em que hoje se acha. Nem se creia que a falta de um bom sys- tema bypolhecario, de que em verdade care- cemos, seja obstaculo invencivel a realisacao do pensamento. Era Lisboa ou Porto incuiira essa circumstancia serios receios. Em terras ineoos populosas, e mais circumscriptas, sabcm avaliar-se as circumstancias das famiiias, co- iihece-se facilmente o estado da foriuna dos vizinhos. E quando se conceda ao banco o privilegio da fazenda piiblica sdbre as hypo- ihecas, desapparecem as apprehensoes, que por Ventura se podcm suscitar. Com a creacao de uma eschola a^ronomica, c a instiluifao de um banco agricola em Evora, jioderiamos esperar o ver reanimada a cullura dessa bella provincia, que, sendo o graneiro de Portugal, nao tern prosperado, loda entre- gue a rotina iradicional, desiituida de agua na maior parte do seu vasto lerritorio, c de popiilacao, impossivcl seni a existencia da agua : sendo que facilmenle se obtivera por incio dos pocos artesianos, e com ella a for- macao dos prados arlificiaes augmentava pro- digiosamente a riqueza emgados. Aextinccao dos pastes communs, seria tambem uma con- sequciioia necessaria d'esse mclhoramento. 0 priejuizo que elles causam, bcm se deisa ver na coraparacao dosgadosda comarca do Cralo cas mu- niias, que tern revelado a cxcellencia dos seus enibalsamanienlos. O-i llebrt'us scpultavam lora das povoacoes. Os .ludeus enlerravam os mortos nos jardins, ao longo das estradas, nos canipos e nas nion- lanbas. Os Gregos qucimavam os cadaveres, ou OS deposilavani em lumulos collocados a nuiila dislancia das povoacoes. Uma lei das doze labuas probibiu aos ro- manos a incineracao dos cadavcre^', c as se- pulluras dentro de Roma.* Em Alhenas, logo na sua fundacSo, os cnlcrramentos na cidade foram probibidos por Cecrops. E nao se diga que os primeiros obristaos esqueceram lao boas maxima.* dos seus anle- passados. Nos principios do christianismo, as tres primeiras nacoes, que o adoplaram, tive- ram a prescripcao legal dos enlerramentos lora das povoacoes. Muitos patricios, e pie- dosas damas, olfereceram o terreno, onde ^e construiram os cemilerios, que se atbavani nns vizinliancas de Roma. 0 imperador Constantino foi sepullado na basilica dos Sanclos Aposlolos, e, a sua imi- lacao, OS bomens dc uma vida saiicla foram aioancando nas egrejas lumulos priviicgiados. ' Hominem mortitum tti ttihi' ne scp^fit i~ nei^e uiilo^ ao 0 INSTITITO Como era de esperar, as riquczas e a vai- ilade invadiram o privilegio. No seculo VI ja iC abriiiiii nas cidades niuilas scpulluras; c no seculo IX lornou-se cumiiium o enturra- mento nas egrejas. Este abuse foi crescendo; •J ar dos teinplos foi-se viciando: muilos co- veiros morreram fulniiuados por enianatoes ^epukliiaes; muilas epideniias parlirani d'es- les focos dclelerios; e os casus desasliosos lorani-se niultiplicaudo ; mas so em 1744 e que se Icvanlou a primi;ira voz contra tao iiociva e inconvenienie praclica. H-ignol foi 0 primeiro que a slygmalisou: jcguiu-se Macel em 1709, I'ialloli em 1774, I' iSavier em 177o. Uma deduracao real, de 10 de marco de 1776, limilou os enterramen- li)s nos icmplos, aos arccbispos e bispos, aos parocbos e padioeiros das egrejas, aos lunda- . lores das caiiellas, e aos priucipaes mjgistra- .las do reiiio. E o decrelo de 12 de junlio de ISOi probibiu por uma vez em Franca os (-ulerraniLiUo< dentro das egrejas, uas cida- des, e em lodos os pnvoados. Por loda a Europa fnram banidos os enler- ramenlos nas egrejas. Enlre nos o decrelo de •<,\ de seleinbro de 18:Sd providenciou sobre :, conslruccao dos cemilerios, e probibiu ler- iiiinanieniente os enlerramentos nos lemplos. Mas as disposiroes d'es(e decrelo, lao civi- lisadoras, tao moraes, e lao bygienicas, ainda .-c nao cumprirain em Coimbra! Em Coinit)ra ainda o perfume, do iiuenso se mistura nos lemplos com o mepliilismo re- pugnanie da pulrefaccao cadaverica. E esla cidade esla gemendo cum a iusalubridade de tao corruptas emanacOes, conservando ainda uma vergonbosa praclica, ja proscripla ua niaior parte das povoacoes ruraes. 0 abuso ainda aqui nao para. As novo fre- guezias da cidade tern nas egrejas, nos claus- tros da Se nova, e nos pessimos cemilerios do S. Pedro e Salvador, U71 scpulluras; e tendo sido de 302 por anno o lernio medio dos obilos, nos ultimos dez annos devem ter- >c aborlo as sepuliuras de inula e oito c nieio em Irinta e oilo niezes e meio! 0 cab'ulo, 'nesle resultado geral, ainda li favorecido pelas sepuliuras em maior unmero do Salvador, Se nova, S. Cbristovao e S. Joao dc Almedina ; mas, se descermos a pariiculari- dade das outras frcguezias, acbiimos resulla- dos muilo mais dcsfavoraveis. Era Sancla ('ruz, Sancta Justa e Sanct'Iago dcveriaui ter-se renovado as sepuliuras de Ires cm tres annos, poueo mais ou menos ; em S. I'edro de dezenovc em dezenove mezes ; c em S. Bartbolomeu de dezoilo em dezoito mezes! ! 0 cemilerio dos bospitaes nenbuma vanla- geai Icvava as sepuliuras da cidade. Este ce- iiiilcrio lem de snpcrlicle 13:832 palmos qua- drados, c por conseguinlc 294 sepuliuras; e ii.ndo dado a esladisiica dos dez annos do 1841 a 18ol, lot) obitos, lermo medio, para cada anno; devem ter-se renovado as scpul- luras de dois em dois annos aproximadamente ; e 0 augmenlo da morlaiidade nos ultimos ire> annos da a abertura de sepuliuras cm 18S1 com menos de um anno!! !* De proposilo nao carregiimos este quadro. porque nos niagda lanta cegueira, tanto des- Icixo, e tanlo desprezo da policia e saiubri- dade piibllca 'numa cidade, como Coimbra. tao digna de melhores cuidados. Felizmcnle o z6lo e intelligencia das acluac> aucloridades de Coimbra promelte-nos ver em breve remediados lao graves males, pelo es- la belecimenio de um cemiterio, ha muilo pro- jeelado,' mas a que so agora se lem dado mais seria aUen^ao. A. A. DA COSTA SIHOES. BONAPARTE (Trnduc^iio ila XXXIII MedUa93o Poeticade Lamar liQ«). Wtim recife, onde as vagas vem parlir-ae, De loiifje n nauta vt: surdir da praia, Como artujo das nndas, nma campa ; Inda apesar do teinpo a pedra aheja, K eiitre os Infos das lieras e da" silvas Ve-se... um sceplro qiit'brado. kf\\\\ jaa... falta o nome !... a terra o diga. O sen nome? com sangue aclia-se escripto Desde o Tariais ao ciime do Cedar; K em pedra, e em bronze, e em peilos de valentes, E ate uo coracjao d'esses escravos Que o carro sen triliiava. Apos esses dois nomes, que apregoa Um sec'lo a oulro sec'lo, — em lingua d'homen* Um nome niinca assira Iroou tao longe ; Nunca o pe de um mortal, que um sCpro apnia, Assim lau forte se imprimiu na terra, K a^ora... eil-o imniovel ! Tres passos infantis medem-llie a loiisa ! Sua sombra nao solta um so murmurio, l)'inimi£<>» o pe Ibe piza a campa; Oi moscardos Ihe znnem sobre a fronle ; Sens manes o frajor somente e^cntam Da luonutona vaga. ' O sr. vice-reitor e a lacnldade de medicina acabn- ram com a insalubrulade do cemiterio dos hospitaes, a despeilo de prejuizos inveterados com que tiveram de lu- ctar. No principio do anno preterilo resolvetara que os cnterranientos dos cadaveres dos hospitacs se IJzessera na parte da quiuta da Conrfiada, destinada ja para cemile- rio. O [irimciro cadaver, que se enlerrou 'neste cemiterio. foi o de Antonio ForneUie, dos Cafaes do campo, fre^uc- zia de S. Marljnlio do Bispo, no I." de fevereiro de 185«. Veja-se a respeilo d'este individuo, nm arligo que pn- blicamos no Iris de 20 de mar^o do mesmo anno, com ,, titulo — Annmalin Javeia nmOelical, e sua importan- cia na paracentese. ■ Uma comraissao, nomeada pelo jjov^rno civil em 25 de a:;osto de 1851, projtoza exlreuiidade O. da qnintu da Conchada, como o local mais coiiveniente para o cemite- rio. F, a camara municipal, tendo obtido licen^a do go- vcrnn vendeu em abril do anno anno passado a cerra do exlincto convento de Thomar, que primeiro Ihe fdra cuii- cedida para o e.slabeIecimento do ceaiiterio, mas que peb> voto dos peritos fiVa jnlpada imprnpria para lal Cm. e assira habililada lem de^linado erapivb'^uder n'piella obr.\ no prcsenle anno. 0 INSTITUTO 211 Mas nau lemas, 6 sombra ainJa inqiiieta Que eii tillrajar-te veiiha em leu repouso ! Niinca a Ijra insiiltuu nmiJez das campas ; Da gloria sempix- fui asylo a inorte; Nada perse^ruir deve a fama tiia ; Nada... so a verdade. No fereiro e no ber^o involto em nuvens, Como o raiu, siir,i;isle das. tortnenlas ; Sem nome e juveii assombraste o uiiindo; Conic o Nilo, onde Memphis se retrala, Sem urn nome lambem referve em oiidas De Memiion nos deserlos. Dos Ihronos e do altar s<)bre as ruinas, Remonlado nas azas da victoria, Rei le osleiilasde urn jujvo re;:Jcida .' E o sec'lo vpie tao fund" arrebatava Os reis e os deiises. refliiindo a origeni, Reciioii ante us tens passos. Til, sem coiilal-os, corobateste os erros ! Liiclaste. outro Jacob, contra iimasoiubra; E esmagasle o pliaiitasma com teu peso. Prufanador sublime, tii briiicavas Com ludo que era graiide, como um impio Cos vjisiis sacrosantos. D'impolente delirio 'num accesso Um sec'lo envelli ?cido se rasgava, Bradando d'entre os ferros — liberdade — ; De repeiite do po surge um lieroe, Bate c'o sceptro... acorda-o, e eis o sonlio DesfeUo aute a verdade ! Oh ! se fusses entao nas maos legitimas Esse sceptro depor, que Ihes roubaram, E a tenda e o diadema aos reis cedesses,. . . O camj»eador dos reis, raaior do que elles, vjiie divinos perfumes, que aureas c'roas Te sagraria a gloria ! Magicas vozes d'lionra e liberdade Para ti eram como os sons do bronze. Que vao sem tino retunibar nos echos ; Stirdos a taes palavras tens ouvidos So entendiam o brandir d'espadas, E o clangor das trombelas, Desprezador de quauto o mundo adraira, Tu so do mundo o imperio cubi^avas ; Um pouco resislir-te era uUrajar-le; Tens desejos voavaui, como o tiro, Que vae bater no .-ilvo. que mirara Mesmo atraves de amigos. As ta^as dos festins nunca poderam Desenrugar-te a face mel;incliolica ; Ontras, lieroe. te cmbriagavam purpuras; Como um soldado alerta sob as armas, Tu vias da belb-za o rir e o pranto Sem risos, sem suspiros. O trom do bronze, a grila das batalhas, D'armas o lampejar, eis tens prazeres ; Somente o Jfu corcel lu afagavas, Quando as cliiias ao venlo desatadas Sulcavam uudulaiido o po sanguineu, E OS pes calcavaLn ferro. Sob a tua armadiira nao baliam Fibras do cora^ao, como aos mais Iiomens ; Sera odiu e sem amor, lu — so pensavas — ; Como a aguia reinaiido em ceu deserto, Para a terra me iir so a encaravas, Para a al)ra^ar eo'as garras. Siibir d'ura salto ao carro da victoria; Glorioso deslnmbrar o mundo inteiro; Calcar c'o mesmo pe reis e tribunos; Em odio e em amor temperar umjugo; E de novo etifrear c'o a mSo valente Puvo sollo e sem leis ; 31 Ser de nma gera^ao o pensamonto; Embolar os {uinhaes, calcar a iuveja: Abalar, e depois suster a terra : Aos sinistros claroes do raio em braza Contra os deuses jogar do mundo a sorte ; Que sonlio ! ! ! e eis leu deslino ! Mas de tao alto alfim te despeuhaste; Remessou-te a tormenta a estas roclias ; Viste inimigos a rasgar teu manlo: E a sorte, unico deus em que audaz cresle, Por ultimo favor, deu-te este esjia(;o Entre o Ihrono e o lumulo. Quern me dera sondar tens pensameiit s, Quando as recorda<;oes do teu passado ^ inham, como um remorso, aqui pungir-te; E c'os bragos cruzados no ampio peito, Horror, como o das trevas, sobre a fronte Ja calva te pousava i Como um pastor em pe na rocha erguida Ve n'agua a sua sombra ptojeclarse. E do rio ondiilar co'as vagas doidas ; Assim do teu pod^r no ermo cume. Na sombra do passado a ti buscando, Teus dias recordavas. E a teus olhos passavara, como as ondas Sublimes, que no mar ao longe esplendem, Scinlillaufes, comoellas te encanlavam! De um reflexo de gloria alluuiiando-te, Um brilho successive le mandavam, Que OS olhos teus prendia. Na ponte a desabar o raio affrontas, La do sancto deserlo o jio levantas, Teu corcel do Jordao nas raargens brinca, Uma serra escarpada aleni derrocas, Alem a rija e.Uido. do modoiiue se lirassi; lodo o prelexlo ou occasiao para novas discordias ou dislraccues, com que lanlo solTriaui as kniras, e o credito dos que as frequenlavam. Nao foi poreui esle o unico niolivo, que iniperou no anii:;o do nionarclia porluguez para ordenar aquolla mudanca, an- tes parece cousa averiguada que elle livera sempre o designio de Inzer d'osta cidade a sede da universidade.' E e provavelmcnle ' " prnpter fjraves disse/tsio'trs, et scniidala exarta p't^tmndiiin inter rires ciiuttitis fjusdeiit ex parte una, et schtilitres ibidem slitdentes ex altera^ ?ietiiiiverit, iiec esse possit cammode in endem civilittc sludium " itiitta Prufeetilfus piiiilicis de Clemeiite V. ^ t'nillu — Hisl. iiniv. ■* ItiiidePinu — Clirun. tie el-rei D. Diiiiz, cap. XIII. — 1 iikMii rex f Dionysius) nobis suipplicavit lit stiiilium tpsuol ad civitaleui Colirr brieui.ia, qucru. tit asserit est (isla a razao por (jue, em (|uanlo elia cslivcra em Lisboa, nao curarade dar-lbo eslalulos ; nein de aecrescental-a com privilogios, como lizera dopoisde trasladada para Cuimlira ; pcio mcnos 0 silencio de lodos os documentos acerca da universidade, ate a sua primeira Irasladacao, da logar para snspeiiar, ()iiam pouca impor- lancia ale ali gosara a(|uolle cstudn ijnul. Cuidou [)ortanto D. Uiniz de Irasladar para Cnimbra a universidade, impelrando para isso i bulla ponlilicia. Foi-llie esla cxpedula em 20 * de fevereiro do anno 13()S, que era olerceiro do ponlilicadu de Clemrule V, (jue enlao cingia a liiira papal. A aucloridade da curia romana I era 'ncsta epoclia illimilada, c as universidades ' sobre ludo, fundadas com reudas ecclesiasli- cas, conlirniadas pnr breves apostolicos, gosa- vani do foro e privilogios ecclesiasticos, c por isso se julgava necessaria a inlervencao do papa, sempre (jue se tractava dealgum ncgocio mais grave, que dizia respeilo a elhis. Pnr oulra bulla da niesnia data constiluia 0 papa ao arcebispo de Braga I). Marlinbo de Olivoira, e ao bi>po de Coimbra I). Eslevam Anncs Brocbardo, seus dclegados na Irasla- dacao da universidade para Coimbra, a qual coucdera os mcsmos privilegios, (lue ja linba de Nicolau IV. Nao consla, poreni, que os dois prelados lomassem parte algunia 'nesle negncio, e so- menle o bispo de Coimbra annexou a univer- sidade duas das seis egrejas, ciijos rendimenlos opapa deslinara para salario dos lenles, pela bulla, de que acinia fallamos.' E i'oram provavelmcnle eslas as unicas ren- das, com que foi doiado o novo estudo do Coimbra, lendo ccssado de conlribuir para as suasdespesasosabiiadesdeCisler, eosuia is pre- lados rcgularcs, e priores, prelexlando, acaso, a mudanca da universidade para Coimbra, para se cximirem d'aquelle oneroso encargo; pelo nienos e islo o que se deprcbende da bulla de Clemcnle V, e que se conlirma pcla cscripiura celcbrada enlre D. Diniz e o mes- Ire da ordetn de Chrislo, D. Joao Loureufo, em Janeiro de 1323, pela qual esle iillimo se obrigara por si e por scus successores a mau- ler OS mcsires do dilo estudo, e os outros encargos d'elle, em compensacao dos fructo:' e rendas das egrejas de Soure e Ponibal, do que D. Diniz Ibe lizera merce com aquella condicao. Eram eslas duas egrejas. que anli- gamenle linham pertencido aos Tcmplarios, as que Eslevao Annes Brocbardo annexara A universidade, para o salario dos mestres e niantimcnlo d'este estudo. Por lodo 0 tempo que a universidade esteve lorns miijis ncrommodits et ennveiiicns^ transferamiis.n Bull. cil. — ti In civilalom Coliinbriensi, (piam /ruee/c- gimus in kfir parte ftindanms irradicabililer sliidiiim fre- nerale." Carta de D. Diniz de 15 de fevereiro ile 1309. ' FigueirOa — Mem. ms.; — Leilio F. Nolic. da Univ. ^ 220. 0 INSTITUTO 243 em Coimbra, ale a sua primeira trasladacao para Lisljoa, nao consla que tivcsse oulras algunias rendas ou palrimonio para sua siis- tenlariio; [inrooe, poreni, que ja antes d'islo linlia liavidd algiinia doniora, ou dilliculdades no pagamcnlo d'aqiiclias rendas, por pane dos que possuinm asduas commcndas dcSoure e Pouilial,' ale que de lodo cessou aquclie rendiiuenlo com a mudanra da iiniversidade para Lishoa, por rnjo niolivo Clenicnie VI, a inslaufias de AITnnso IV, niandou uiiir ii universidade os frnclos de algumas egrejas do padroado real, aleaquantia detrcs mil libras, para os salarios dos lenlos." Antes poieni de se expedirem as lelras apos- tolicas, ordeiiara I). Diiiiz a nuidanca da uni- versidade para Coimhra, ondeella jase acliava em Janeiro de 1307, conio consta de umas constituiroes, que enire si lizcram 05 reilores e oiUciaesescliolares do estudo deCoinii)ra, para seu reginieiito, as quaes foram conlirniadas por carta do niesmo rei em Janeiro do dicto anno.' E e por isso mui provavel, que ja no anlecedente se houvesse verificado aqueila mudanca. Esle importanle documenlo lanca apenas lima escassa iuz sobre a organisacao da uni- versidade 'nesia nova piiase da sua existencia. Trasiadada para Coimbra por causa das gra- ves desordens. que linhani perluriiado o so- cego e regularidade dos estudos em Lisboa, era natural que os reilores c olTiciaes do novo es- tudo procurnssem desde logo precatar-se con- tra a repelicao de tao desagradaveis scenas, e por isso nassuas conslituicoes impozcrani se- veraspenas aos que por suas lorpezas deslion- rasscm o seu estado, e difamassem a universi- * Carta ile AffoiisoIVao conservador da iiniversidade, Francisco Annes, d.itadade Coimbra aos 15 de jnlbu do anno de l.Tia. — Livro verde da Univ. de 1471, p. 23 v. Fitjueiroa altrilnie por en^ano esta carta a D. Diniz. ' Bulla — Ouin s.licita cv/isi'lerfititinis indagie — Livro verde cit. '' Carta de i). Diniz, dalada de Santarenl aos 27 de Janeiro ila era de lJ4rj(aiino de 1,107) L. J." d'el-rei D. Fernando II. 10, no Arcliivo nacional. — J. P. Ribeiro — Dissert, chronol. T. 2, pag. £41. No livro verde dos privilegios da iiniversidade do anno de 1471, 11. 24, se encontrao treslailod'esla car la com data de 27 de Janeiro. era de 1.355, qne corres|)onde ao anno de 1317. Cora esta data faz nienij.'io d'ella Fiiriieiroa, trazeiiilu errado dia, que diz ser 29, ecom este erro a referiii Leitao Ferreira a pag. Ill das Silas Nuticias chroiiolopicas. Aiiibijs estes escriptores, porein, se engaiiaram por nao terein cunlieci- mento da certidao d'este dociimento passada da Torre do Tombo, em .31 de Janeiro de I49I . e que existia no car- torio da fazenda da iiniversidade, como refere J. P. Ri- beiro na ol)ra citaiia. Kste duciiinento desappareceii d'a- quelle importantissimo car lor io (que infelizmenteesta tioje quasi abandonadu ! ) onde fonios prociiral-o, receando nao houvesse algiim enpano na data referida por J. P. K. Na falta pon'm d'aqiieile documenlo, diligenciamos verifi- cal-a no R. Arcliiv. Nacion. onde se encontroii conforme com a cilaeao, que d'ella faz o A. das Disserta^oes cliro- liologicas, * " statuimiis lit si aliquis posposilis his, propter que stiidium venire debuit, el a dicta verecundia iiideco- rose inniisciieril tiirjubiis, ac facinorosibus, et inlionestis dade.' Preveniam lambem a faita da coilccta, com que ale alii concurriam para a sustenla- cao d'este estudo os mosleiros e egrejas ; ed'csta epoelia data o use das propinas dc tuatricula, esiillodas cartas de bacharel e lieenciado, i|ui' OS csclioiares deviam pagar ao procurador da universidadc para as despcsas d'ella.' 0 religiose c louvavel costume de assisiir aos enterramenlos dos escbolares, e ale dos sens ramiliarcs, foi prescriplo 'neslas consti- ttiicOcs, com mulcta para os que fallassem a dies '" Em fim os doulores e mestrcs cram obrigados a obedecer aos reilores; e os escbo- lares que fallassem as congregacoe.s, iiuando fossem convocados pelos reilores, tinliam dc pagar cinco soldos de muicla." Os reilores, que cram dois, aunualmenio eleitos peios escholares, exerciam com esies em congrcgacao loda a aucloridade academica. Tal era o syslema de Bolonba e de oulras tiniversidades dc Ilalia, que entre nds fdra adoplado, provavelmenle desde a fundacao do estudo gcral em Lisboa ; syslema ijue os- sencialmcnle dilTeria do das universidades do Paris, Inglalcrra, e Allemanba, onde o go- verno c direccao dos negociosacademicos com- pelia so aos professores. E com cstas conslituicoes se governou a universidadc depois da sua Irasladacao para Coimbra, ale que D. Diniz Ihe deu os pri- meiros cstaltilos cm 1309. Do silio onde primeiro estiveram 'nesta ci- dade as escbolas, nao resla o nienor vesti- gio, ou memoria; sabe-se apenas que eram ellas da porta de Almedtna para cima, e que este era o bairro dos csclioiares,'^ ainda cn- actibus, 111 viilnerando, vituperando, percutiendo aliena hostia frangendo, in publico liigendo, vel aliqiiid aliiid faciendo, perqiie status suns dehunesletiir, et uniiersi- las difauietiir, si conimoiiilns a Rectoribiis non desUterit, et se correxeril, innoniinose de studio a consorcio scolu- rium expelatur.t) Cnnslitiliqoes do Estudo de Coiiiibrn de 1307. ^ " Vfdenles iiisiiper iit Universitas sibi aliler adqui* rat, ipiani per generalcm collectam, statuimiis, lit ijui- cuniqiievoliierit I iterasl'niversi talis pro private quomodo, solvat qiiinqiie snlidos. t' Si lero aliquis liceiiciari conlingerit in loco Colim- brietisi sliulio, et litems voliieril testimoniales, /v;-o sigil- h^ cnrin, Cera, et silo solvat (]iiinqiie liberas, ipie pecil- nia dali debet prucuralorii Univ.Tsitatis ea in tilili- tatein sliidii, cum nece^se tiieriLJi/atd di^pnsitionem lie- ctiinim et srnlariiii'i converlenda; addicientes quod oniiies scolares solvanl anuatini in principio stiidii singnlos soli- dos, cum per Bedellum fiierinl requisili.M — Ibidem. * " " Stalniuius et lit omnes scolares intersinl sepiiltii- ris scolarium, vel eoriim servientiiim etc. — Il^ident. ' ' Ibidem. " "... purque vos mando que constrnguades todos aquelles, que d'ella Pdrta da Almedinct acima hao ca^as pera alusar, que as altiguem aos scolares antes que a onlros qiiaesquer..." Carta de D. Diniz, dalada de Coim- bra, aos 25 de niaio do anno de 1312. (( Sabede que a universicade do men stndo d'eSsa ci- dade nie enviaroni ilczer, que os scolares desse sludo n.ao jiodem aver as viandas e manlimenlos de pam cozido, e de vinlio, e de carnes e pescados etc. etc. por sens dinhei- rus etn cima na Almedtna , hu tern as schollas, c liitm de 244 0 INSTITUTO tao imii pohre de edilicios, e d'esses poucos, <|iie existiain, utiia lioa parte oslava ein rui- iias" '.Nesic roiiiado, e provavelmcnlc aiiida no seguinm, as lirOes liam-se cm c-asas de ulu- guel." a exccprao da llieologia, que se ensi- nava nos anligos coiiveiuos de S. Francisco da I'onle, c dc S. Uomingiis," amhos soter- rados hoje. Eraiii cnlao poiicas as cadeiras, e nao seria imii ciescido o iiiimero dos oiiviii- ics. c por isso lacilmcnle podt-riam acconimo- (lar-sc em casas parliculaies ; ja poiciii uo reiiiado de I). Pedro 1 o esUido em Coiiiihra linlia cscliolas — t taes e tamanluis, (|iio 'nel- las podiam ler os meslres e liacliarcis, cada iiin em sua scieneia. coin niaior prol dos e- cliolarcs, e lionra d'esle esludo ". Pruliil)ira por isso este rei, quo nenliuiu bach.irel ou escliolar lessc os livros niaiores em suas pou- sadas, ou em outros logares, lora das escliolas do dido esludo." E 6 provavel quo esle aliuso proviesse do liiiiiilo, em (|iie anleriornienle estavain os mcslics e leilores, de lerem em casas parliculares, por I'alla de escliolas pu- lilicas, ou pelo menos, que tivessem a capa- cidade necessaria para conler lodos os cs- cliolares, que vinhani apreuder a esle estudo geral. nprendrr scieneia, cotito Ihc cumpre. V. en VPtiiio o que me peiliroQi tentio por bem e m.imlo vos, (|iie as co.isas que a essa ciiluilc rhegaretn defura parte pera se vtniler e regalar, que cumpiirpiii pera sens maiitimentus dus di- los scular*»s, que Ilios facades alo \\yx vender em cinia na Almediiia" etc. Carta de D. Pedro I, de 'renliigal, aos tl) de oiitiibrD de annu de 135B. « Sabede que os reitnre?. docLures, meslres e bucliareis, scliolares do men estudn d'essa cidade me enviarom de- zer em como elles haviam seu bayrro limitado d'essa porta de Almedina para denlro, o qual Ihes lie hora mii>to estreito per razam das casas que na morlividade se perderaui, e pur outras pcssuasassi creliiros, como Ii-igos, como ieigas, que na dita Almedina fezeram suas mora- das, e mnram em elas ; e que al'iira esto al^uns mens of- liciaes, e dos infantes mens fillios llies pousam no dito liairro, e unlras pessoas. que liychegam etc E vendo o que me pediani... mando que o seu hnyrro, cnnio Ihcs Jie dado, sr-ja contado, como se/iipre fni, e Ihes nun po- iiliam subrello algiiiii embargo". — Carta do mesnio rei, de Monra, em 11 deabril do aimo de 1,160. Veja se tambem ontra carta desle rei, datada em Lei- ria aos 20 de fevereiro de 1.365. Livro veide da Univer- siJade. Caria de D. Fernando, |)assada em Tentugal a 6 de novembro de 1.170. ^ ^ '< Sabede cpie a universidade do men studo dessa villa me disse que por razam de min-:oa de casas, que ha em este lu^b na Almedina, leixarani a^uns eschola- res... de virem ao estudo... e la ubra compreliende a liistoria e Iheoria da tcle- praphia ek-ctrica, o sen fiituro, a sua legisla^ao, e os competentes apparellios corn as instruc(;oes practiras para usar dV'lles. Traitr de I'Exploitolhn dcs wines de Utiille par ,4. T. Ponson — Tom. I la II." plus uu atlas de 11 pi. IJi-ge - 2iJ fr. IU52. lisla obra conslara de 4 volumes, e com atlas de 74 cstampas, e compreliende os diversos methodos nsados na liel^'ica, Franca. Alleraanlia e Inglaterra para exlrac(;oc3 du3 miaeraes combiisUveis. €) JuiStittttir JORINAL SCIEINTIFICO E LITTEUAUIO BOLETIIfl DO INSTSTUTO Classe de Litteratura SessSo (Ic 2 lie marro de 1853. Presiilcncia do sr. Jose Maria ile Abreit Estaiulo presenles quinze socios, o sr. dire- (ioi- abiiu a sessao cram i)ilo horns da noile. Lida e approvada a acla da sessao anteceden- te, poz-se cm discussao o ponto ja comecado a disculir na sessao passada — a influcncia do romance iia fumilia e na sociedade. 0 sr. Ferrao susteiiluu que sondo lodes os factus siijeilos a uma lei, que constilue sua llicoria, 0 romance nao podia ser uma cxi-e- pcao a cslc principio universal; que por isso julgava que a (jueslao era com|ilexa coulendo iima parte llieorica e oulra practica: Iractaiido da piimeira, disse, que desde (|ue a pliiioso- pliia liiilia eievado a Esllielica a aluira de sciencia, a iilteratura cm geral tiuha sido fdassificada como urn corpo de sciencia, su- jeito por isso a uma llieoria determinada. Que 0 desinvolvimento da arle era uma consequen- fia necessaria da nalureza luimana ; que a ideia do jjello consliluia o ideal da arte. Que a intolligencia descobria tres series ou ordens do desinvolvimento da ideia em relacao a ar- le ; a forma symholica, a classica, c a roman- lica; concluindo que, se o romance, cm these, era uma consequencia do desinvulv imcnlo da ideia em relacao ao hello, expressando a ele- vacao do principio afl'ectivo e sensitive a essa ailura, seguia-so (|ue o romance, cm these, nao jiodia ser coudcmnado. Em hypothese, disse que julgava a queslao muito difficil, sendo mister descer-se a analyse ao mcnos de lodos OS lomances typos, o que seria ohjecto de nuiitas sessoes. 0 sr. Luiz de Vusconccllns suslenlou, quo 0 romance nao podia deixar da inlluir hene- ficamentc na I'amilia e porisso na sociedade. Vol. I. Marco \'6 porque 0 romance Icm regras determinadas pela sua nalureza, transgredindo as quaes elle nao pode ser considerado senao como uma aherracao, e nunca como typo, emhora a sciencia nao livesse ainda colligido ostas regras em um corpo de doutrina. Que o lim do romance, e, em geral, o da Iilteratura tendia ao desinvolvimento do honiem, que por isso era mister analysar este para deler- minar a forma d'esse desinvolvimento, e por consequencia o iim do romance. Para entrar 'ncsia analyse considerou rapidamente as dif- ferentos escholas philosophicas, marcando cn- Ire ellas o predominio exclusivo de urn dos dois piincipios physiologico, e psychologico, ate ii fusao d'estes na cschola nioderna. Se- gnindo a douirina d'esla. suslenlou, que o romance devia tender a desinvolver as facul- dades, lanto nnimaes, como racionaes do lio- mem, porque sem o desinvolvimento harmo- nico d'ellas, nao podeiia alcancar o bello. Considerou que na apreciacao mora! dos ro- mances se nao devia argumenlar do abuse para o uso ; aprcsenlou como typo do romance perleito, segundo a sua Ihcoria, os miirtyres de Chnieaiihriand, e do imperfeito o 3Ian- fredo de Byron Disse mais, que o romance exerce uma inQuencia mais especial na mu- [ Iher, inlluencia que sc rellecte no homem I pela educacae, concluindo d'aqui, que o ro- mance e um nieie prolicuo de desinvolvimento c apcrfoicoaniente da I'amilia, e per isso da sociedade. 0 sr. MeireUes suslenlou que Walter Scott era e mais nolavel romancista, porque nos sens romances cncontram-se lodos os princi- ples da arle niaravilhosamcnte applicados, e trouxe como exeniplo — Qnenlin Durward n,ao estimula as paixOcs, nao accnde a imagina- cao, mas encaminha o espirito para o bello, isto e, para e bem. 0 sr. Torres e Almeida disse, (|ue e ro- mance exerce sdbrc a sociedade uma inlluen- cia maior que os livros de philesophia, de — 1S33. Num. 2i. 246 0 INSTITUTO poesia e historia, ([iie o proprio drama ate. — Classificou 0 romance em historico, social, c dc pliaiilasia, appresentninio cm cada classe exemplos dos principaes roinaiicos das diversas escholas ; scguindo (\uc esses romances opcrani nnia infliiencia salular sobre a snciedade. Ter- minoii dizoiuio (|Me. apcsar dc siislenlar a opi- niao, do qiie a inlhieiicia dos romances 'j he- nelica, loilavia nao podia dcixar de confessar, <]ue dos romances de plianiasia on de imagi- nacao alguns ha, ainda que em pci|iieno m'l- mero, dos quaes se nao poderia dizer o mesmo que laniarline disse de Waller Scolt, cilando um trecho d'aqucllc auclor. 0 sr. Levy, depois de fazcr algiimns con- siderajoes sobre o que haviam dido os ora- dores antecedenles, suslentou que o romance se devia lodo rcduzir a romance de costumes, quanto ao seu dm, e (|iie a inlhicncia do ro- mance facto, cm geral, lem sido ma; que mesmo, quando naolossc ma, era indillcrenie, referindo-se aoque haviam dido na sessao nn- lecedente alguns oradores, disse que esles li- nham cstahelecido, que o romance aprescn- tava 0 mal e o bem, a lim dc pcia considera- cao d'esle so evitar aquelle que llcara agora conhecido; concluindo que, se o romance e lido pelas familias, deve examinar-se qual o estado d'eslas em geral, se tem a inslruccao necessaria ou nao, que se a nao tern, nao esla ainda suflicienlementc desinvolvido oprin- cipio racional prcdominando por isso niais os principles meiiianicos e animaes, mas que no romance aprcsenla-se o bem e o mal, (jue o mal lem rclacao com os dois ullimos priiici- pios (mcchaiiicfls e animaes); que sao ellcs que lambem prcdomiiiam no estado geral da civilisacao, que pnr isso hao de inclinar-se ao mal c uao ao bem, — se pelo conlrario com a inslruccao c civilisacao necessaria e>la desin- volvido 0 principio racional. eslc e por si sufiicientc para conhcccr o mal e dislinguil-o do verdadeiro heui, sendo por isto, 'nessa by- pothese, o rom;ince inutil ou indiflcrente. Osr. C'oH/i'n/io disse, que fora d'esle recinlo, 'noutro campo, com oulros adversaries segui- ria, talvcz, uma opiniao opposla, ])oreui {]ue sentado cntre os socios do Inslituto, acccilando 0 ponlo em queslao, julgava piejtulicial c noci- va, a inlluencia do rcjuiancc, lul cumo elle e, na familia e na sociedade. Suslentou que os fclizes resultados da re- volucao Iranceza de 1780 se deveram as cren- cas c opiniOes solidauiente haseadas dos plii- losoplios do seculo XVIII e que nas iristcs con- sequeucias da de 1848 sedebuxava a pcssima inlluencia do romance moderno. Suslentou que a publicidade dos crros na sciencia uao tinha 0 perigo dos melborcs romances modernos: e com I'roudlion, linmeni do progresso, (|ue o romance nao influia benclicamcnte na civili- sacao, e muilo podia inQuir cm conlrario d'ella. Disse que em Portugal o romance nao tinha cxistido propriamcnlc ale no fini do seculo passado, o que este facto o levava a pergun- lar, se scria por falta de imaginacao, que o romance e o drama, estas duas cxprcssOes da litleratura moderna, lao pouco linham sidocul- livados enlre nos. Suslentou que um dos primeiros romances, que enlre udssahira a lume, haseado no grande crcdilo do seu A., alacava um dos principios, cm que repousam as nossas cren^'as religiosas e moraes. Disse que o romance influiu remola ou pro- ximamente em muilos dos crimes, que faziam Iremer a sociedade, deu d'islo um cxempio fallando do processo de M '"° Lafarge, a quem a policia encontrara, lendo as mcmorias do diabo do Frcderico Souli6; citou lambem o Werlher de Goethe, (jue alguns suicidios pro- duziu na Allcraanlia. Couibaleu lambem a opiniao do sr. Vascon- cellos. Disse que o povo se nao nioralisava pelo romance, mas se civilisava pelas escho- las, e pelas assemblcias ; que nao sabia porque 0 povo nao lia as chronicas, tanlomais intcres- sanles que o romance. 0 sr. Guimaraes, referindo-sc ao que Ihe allribuira o sr. Mcirelles, redilicou que nao tinha estabelccido a superioridade de Dumas sobre Walter Scott, por queeram diversos os generos das duas escholas; que unicamenle dissera que Waller Scott nao era o lypo do romance, que disculiam — o romance com ia- fluencia social. Que a discussao tinha sido arrastada para um campo dc analyse lilteraria. Que o que convinha analysar, na opiniao d'elle orador, era a inlluencia e indole do romance social. Que 0 sr. Levy, rcferindo-sc a uma divisao feiln pelo orador na sessau anterior, dissera, <|ue a acbava erronea. Que o sr. Levy so qui- zera ver um genero de romance — o de cos- tumes; com 0 que nao concordava : que o ro- mance inlimo era clieio do lions modelos, como 0 Ohermann de Lenarcour, Leiia de Georges Sand, Werthcr deGoelhe, e oulros que cilou. Que 0 seu illusire amigo, cilando uma opi- niao da iM."" de StacI, adversa a influencia salular do romance, csqueccu-se de que a illusire escriplora tinha sido romancisla com a sua Carina e Delpliina. Refcrindo-se ao sr. Coutinho nao admillin que a mania suicida fosse inspirada exclusi- vamenle pela leiUira de romances. Lemhrou a Inglalerra, e os paizes do norle, ondc os memhros das classes ahastadas altenlam contra a pro|iria vida sem icrem passado pclos olhos um so romance, cconcluiu fazendo mais algu- mas consideracOes. Em consequencia da hora cstar Tnuitoadian- lada foi adiada a discussao para o dia ii do cor- renle. Osr. director levanlou a sessao eram 10 lioras da noite. /. B. da Silva Ferrdo, Vice-Sccrelario. 0 INSTITUTO 247 CURSOS DE LEITURA Nosdias2e !) do corrente, anoute, abriram OS seuscursos delcilurn, nasala do luslilulo, OS srs. Jose Julio dc Oliveira Piiilo, e Levy Maria Jordao ; o prime-iio sobre liberdade de commercio ; o si'guiido sobre Psycliolorjia. Cada unia d'cstas prelecrOcs diiroii uiua liora. scndo ouvidasconi niiiilo applaiiso. o com assistcncia de quasi lodos os socios du luslilulo, do cxni.° prelado da uiiiversidade, iiuiilos lentes, e urn iiumerosissiiiio concurso de academlcos, e ou- Iras pessoas da cidade. Nos niesmos dias, e em seguida a esUis prulecrOes, tevc loj,'ar na classe de iilleralura a conlinuacao da discussao do ponlo — Iii/luenciu dos romances na socied'ide e nafamilia, a (lual Icniiinou na sessao no dia ii. Aieni dos cursos ja coniecados, os srs. Luiz de VasconcL'llos Carvajal, o Alexandre de Moi- relles do Canlo aprescnlarain a Direcciio os prograninias de dois novos cursos. A classe de sciencias nioraes escolbeii para assunipio da discussao, que principiou no dia 12, 0 seguinle ponlo — Conveniencia do sys- tema penilenciario entre nos. A classe de Iilleralura desculira nas ses- soes seguinles, depois de concluida aquella discussao, o ponlo — Necessidade da inslnic- cao lillerana e scieniificu do sexo feminino. 0 CHRISTIAHISIVIO, A EGREJA E 0 PROGRESSO Cnnlinuado Je pag. SSS. Ill Quando a providencia, ou, se assini o que- reni, a lei elcrna do progresso, rejeilou, como inulil, esse grande instrunienlo de assimila- fao, clianiado o iniperio romano, e pela niao dos barbaros dcu o lillimo golpo nas suas in- sliluicoes envclliecidas, pode dizer-se, que nada ficou em pe, a nao ser a sociedadc cbrislan, e a jerareliia ecrlesiaslica. 0 elemenlo municipal,' similhanle a uma planta vivaz, que, sepullada nas ruinas de urn edifioio, vegeta occulla, rebenta de novo na superlicieda icrra, desinvolve-se, e flores- ce, sendo lalvez o unico que sobreviveu, enlre todos OS que eonsliluiam a organisocao da sociedadc roniana, acbou-se durante muilo tempo sepullado nas suas ruinas, esquecido, e scm forcas. Depois, quando a espccie dc ordem social, creada pelas reslriclas necessidades de peque- nas iribus, nao foi sufficicnlc para os inva- * Njla me conformo com os hisloriailores allemaes, que preteildem ile.^cobrir em eleinentos pariiculares aos invasores dos principios que presidiram a organisai;ao mu- nicipal (ia edade media. sores, ja senhores dc lantas provincias, o cbristianismo se dispoz a I'ornecer-llies ideias de uma ordem nova. 'Nislo obedecia a len- dencia de lodas as religioes, que aspiram sempre a dirigir os individuos, c algunias vezes as sociedades. Como religiao csseucial racnle rel'ormadora, csla lendencia era no clirislianismo uma verdadeira necessidade. Foi enlao que podcram inlroduzir-se na sociedadc as niaximas evaugelicas do amor do proxiiuo, da fralernidade buniana, de uma juslica e uma moral, superiores as inslilui- coes, e ao direilo posilivo, e a responsabili- dade perante Deus, dcvida pelos reis e pelos snbdilos, que era a espada de Damocles sus- pensa sobre a cabcca de lodo aquelle, que no silencio do seu corajao, nas irevas da sua consciencia, medilava a perpelracao de um crime. Mas nao foi esla a causa unica que invol- veu a cgreja na vida social e civil, e collo- cou 0 coracao fragil dos liomens que conipu- iiliam 0 sacerdocio, em conlaclo com as im- perfeicoes da civilisacao, por assim dizer, rudimenlal, d'essas eras. Quando no clepsydro do progresso passou a lilliraa bora do polyleisnio romano, e a voz do sacerdole de Christo cnioou um liynino nielodioso, cadenle, e sublime no indelermi- nado das suas formas, no poelico das suas en- tonacOcs, tal como a egreja primiliva os sabia modular, uos mesmos logares em que, ainda bavia pouco, os echos ])erdidos nas abobadas apenas sabiam repelir os grilos furiosos das baccbanlcs, ou os canlos hibricos das sacer- dolisas de Venus, nos ullimos paroxismos de uma religiao moribunda, grande foi o niimero dos pagSos (|uo fingiram abracar a nova cren- ca, sem fe, nem ronviccao, unicamenlc com 0 (im de conservar ompregos, ou gozar os privilegios e rii]uezas, que Conslanlino con- cedeu aos mini.slros da religiao Iriumpbanle. D'aqui vem uma, ainda (juc nao das mais podcrosas causas da corrupcao dos coslumes, na conservacao de uma boa parlc dos vicios da anliga sociedadc. Por oulro lado, ao mesmo lempo que o cs- pirilo da legislacao civil .se I'azia cbrislao, a adminislracao do imperin coniinuava pagan. Da mesma forma (jue anligamenle, a sobera- nia, idonlilicada coui o estado, conlinuou a possuir uma preponderancia illimilada, que assegurava aos sens vicios uma inlluencia enor- me. Os maus coslumes nao ceslou ccrlo, que, se 'nossas eras vestissem a alva stringe do sacerdote, nao po- ileiiam ii beira do sen lumulo despil-a ima- fulada, como a ba\iam recebido. Involvida na lucla desde os primeiros dias da sua existencia. ora contra a corrupcao ro- mana, ora contra a l)arbarid?de germauica, a egreja tinha procurado na solidao a inspiracao 0 a coragem, que demandava o combate. Ao mesmo tempo, fugindo para o fundo dos bos- (]ues, prorurava evilar as seduccoes da cida- de. Sympathisava com os campos, ecra coloni- sadora por dovocao. Aqui occupou o dominio do patricio romano; alem elevou os muros mas- sicos do urn convenlo; c por loda a parte agru- pou em volla de si as arles e os officios. 0 campauario da egreja, e as ameias do castello, eram, como diz Pellctan, dois pon- tos lixos, dois centres que allrabiam e agru- pavam em volta de si n monade liumana, dis- semiuada e lluctuanie no espafo. A populacHo laboriosa, protegida aqui jiela forca, acola pela piedade, veio socegadamento abrigar-se a sua sombra. 'Numa parte a aldeia se enroseava pela en- eosta do monte, silenciosa e trisle. Era a al- deia, liiha do castello, designada (|uasi senipre pelo nome do cerro, d'onde e?praiavam a vista da aguia pelas campinas, para dar o grito de alarme, on cntoar o canto de guerra em resposta ao do inimigo (jue se aproximava, ou em desalio ao que ia accommettcr-se na algara tumultuosa. 'Noutra parte, a povoacao dormia 'num re- canto da pianicie; pacilica c alegre, como a ovellia ao pe do pastor. Era a lillia do mos- leiro, quasi sempre designada polo nome do sancto, ([ue protcgia a sua egreja. Do alio do campanario partia diariameutc nnia voz vi- brante, que, ao romper da aurora, a cbamava ao trabalbo; ao cerrar do crepusculo, Ihe re- commendava o descanso; unias vczes a con- vidava no dia feslivo a vir entoar um bynino de paz ao Senlior da creacao ; onlras, solu- cando em dobres tremulos e compassados, cliorava com ella a morte de um pae, de um lillio, de um irmao ou de um amigo. Por csta forma o gucrreiro germanico, c o christianismo, tomaram posse cada um da sua metade da humanidade. Um reinou sdbre o lerrUorio, o oulro sobre o espirito. Um pos- suiu a riqueza, o outro a intluencja. Um ha- bitou 0 rochedo, o outro o valle. Um velou, 0 oulro colonisoii. E amhos, diz Pelletan, empunhando um a bandcira c o outro a cruz, cauiinharam sempre de montanha em nionta- nha, do deserlo em deserto, semearam detraz dos sens passos, e reparliram egualmenlc a hu- manidade sobre loda a supiMlicie do terrilorio. Mas, em quanlo o easlello feudal, triste, sombrio e desconliado, so reveslia de niura- Ihas, e so crrissava de ameias, a egreja, con- liada na fc, na protercfin da cruz, e na forca moral (|ue a animava, se conservava risonha c acariciadora, sempre pronipla a acolher lo- des OS desgracados, a alliviar loilas as miso- lias, a consolar todas as alllicroes. Assim se achou ideniilicada com o povo, involvida nas mais intimas relacdes da familia, scm dis- tinccao de raca, de patria, ou de coslnmes. Qiiando, ao cahir da noite, o viajante atra- vessava a immensa floresla. sombria e triste, quo, saudando as trevas, sussurrava um per- petuo gemido debaixo da abobada tiinehre dos sens ramos, podia cslar cerlo de ouvir, antes do ultimo adcus do dia, o som do sine, vi- braiido de echo cm echo, de tronco em Iron- 0 INSTITUTO 2 ill CO, de ramo em ranio, de follia cm follia, vir dar-lhc no mcio do rumorejar do arvoredo unia saudacao impregnada de melaucliolia sua- ve, 6 de religiosa poesia. D'alii a pouco po- dia esiar cerlo de vcr, a luz do lillinio raio, que do poente llic cnviava o crepusculo, a aguliia do canipanario, que, elevando a cabera enlre os carvallios iiiageslosos c os pinlieiros sonibrios llie soiria em sua alvura, como que dirighido-llie uiii convile liospilaleiro. Foi por esta forma que a egreja se acliou, pouco c pouco jiela ordem natural dascousas, ligada a propriedadc territorial. D'esle modo os convcHlos foram muilas vezesescliolas praciicas de agricullura, que por meio de processos, talvez iioje reprovados pela sciencia, mas en- tao OS mellioies eiUrc os conliecidos, conver- teram eslereis gondaras, e charnecas iiicul- las, em cainpos povoados e fecundos. Quaiido a mobilidade da conquisti succe- deu a eslabilidade da dominacao, e as tribus vindas do norle se iixaram em diversos pon- tes do terrilncio conquistado, a propriedade territorial adquiriu uma grande iniporlancia ; e a sua acquisicao foi uina ncccssidade para a egreja, a iim de manler a sua inQuencia, que 'ncsle periodo de claboracao social podia decidir dos deslinos futures da bumanidade. Para islo concurria ainda, por um lado a falta dc seguranca piiblica, que dava logar a que um grande niimero de proprietaries enlregasscm os scus bens a egreja, para os collocar dcbaixo da sua prolcccao, receben- do-os d'ella depois por um titulo precario; por outro lado a piedade dos tieis, e algumas vezes a supersticao, augmentarara estes bens por meio de legados e doacoes, que depois vieram a ser algumas vezes o fructo da men- tira, de factos immoraes, e ate de crimes. A isto accrescia ainda que os imperadorcs comecaram desde Constantino a considerar-se protectores da egreja ; e, 'nesta qualidade, en- lendiam que era dever seu prover a subsis- lencia dos minislros da religiao, por meio de doagoes, que muitas vezes recaiam sobrc bens de raiz. 'Neste caso eslavam especialmcnle aquellas que Ihe foram feitas pelos clicfes das tribus germanicas, dcsignados nas clironicas pelo elassico e pretcncioso titulo de reis, e impe- radores. Entre estas avuliam as que Ihe concedeu Karl. 0 grande (Carlos Magno), que, apre- ciando com um tacto profundo o poder da in- fluencia da egreja na civilisacao da sua epo- cha, concebeu o projeclo de fazer d'ella um instrumento docil para a realisacao das suas vastas concepcoes de ordem politica. Mas, sen- liudo quanlo convinha disfarcar esle piano, para nao dar alarme a egreja, que difficil- mente se resignaria a este papel secundario, dissimulou-o com as apparencias de uma sub- missao profunda, e uma piedade fcrvente, 32 dislribuindo-lbe com mao larga propricdadcs e privilegios. De tudo islo se seguiu, que, (juando no tempo do feudalismo a propriedade territorial se lornou a base da sociedade, o cicro so acbou occiipando um logar elevado na jerar- chia secular; e aniplioii consideravelmenle a jurisdirrao, de que ja gosava em virtude d'aquolles privilegios c imiiiunidados. Este facto di'U logar a egreja para penetrar mais profuiidameiite nas relacoes domesticas ; para a|iparecer a legislaciio ecclesiastica sobre maleriiis civis; e para a coufrontacao da le- gislacao civil com ella ; e, cm virtude d'isso, para o predominio dos tribunaes ecclcsiasti- cos sobre os seculares. Isto deu logar a que a jurisdiccao necessaiia accrescesse outra volun- laria, lillia da preferencia que os liligantes Ihe davam; porque facilmente so prcferia a auctoridade ecclesiastica, que decidia em nome da justica e da religiao, da verdade e de Deus, a dos senhores feudaes, que, nao conhecendo jusiica alem da pouta da sua espada. mais vezes mandavam como senhores, do que julgavam como juizes. As riquezas, de que por lodos estes modes a egreja veio a achar-se de posse, e a sua in- Uuencia, cnriiiuecendo e dando uma grande preponderanciii aos seus ministros, vieram a ser para estes uma fnnte de relaxacao nos costumes, e de decadencia na inslruccao. A epocha em que alguns hemens se haviani votado a uma vida de abnegaeao sublime, rccusando humildcmente as dignidades eccle- siasticas, havia passado, como o fervor origi- nario, a pureza, e a independencia, primitivas. Agora, unicamenle com a mira nas rique- zas e na preponderancia civil, politica, e ale mesmo domeslica, os nieiiihros das familias po- derosas dispiitavam por todos os meios licitos e illicitos aquellas dignidades ; as (|uaes, depois que OS impcranles seculares avocaram asiodi- reito de as prover, se tornaram o patrimonio_ d'aquelles que mais pcsavam na balanea das convenicncias seculares ; melhor sahiam mane- jar uma inlriga; ou mais avultados sacrificios ol'fereciam nos mui frequcntados altares da simonia. Os (lescendentes das familias aristrocralicas, trnnsplantados quasi sem transicao da vida civil para a ecclesiastica, conservavam os mes- mos babitos viciosos, que nao raras vezes tocavam es limites do crime, ea mesma igno- rancia, que era com algumas notaveis exce- pcoes, 0 niaior brazao das suas armas, e a mais religiosamente conservada entre as suas tradiccoes de familia. Nos henelicios mais insignilicantcs, que, nao desaliando a sua ambicao, erani provides nasoutras classes da sociedade, o cxemplodos superiores produzia as mcsmas, se nao pcores coiisequencias. Conviria talvez eshocar aqui com alguns ihO 0 INSTITUTO traces vigorosos o caracler moral do clero 'ncsla epoeha. Porein repugna-me fazel-o. Ua I'aclos tao immoraes, lia earactores tao repel- lentes, que per assiiu dizcr iiiaiicliani a queni OS loca. E que fazia a cgroja 'noste tempo? Os mui reslrictos limilcs ilc urn arligo nao dfio logar a unia analyse miuda e circunislaii- oiada, dos canoiics dos iiumerosos concilios, que so rcuniram para acudir coin reniedio a esic grando nial. Mas aquelle que sc dor ao iraballio do os pereorrcr lera a eada monienlo provas da eiiergia com que a egreja rcpellia esles factos, e desviava de si loda a respon- sal)ilidade de conivencia 'nelles. Mas nao passavara de proleslacijes sem elfei- 10. A corrupcao dos seus minisiros Ihe lirava OS inslrumenlos, por moio dos quaes poderia exercer niedidas de rigor. Aos canones dos concilios se junctaram de- iialde algumas capitulares, cartas de ponlili- ces, e OS iirados de indignacao do alguns liomens de coragcm, saber, c virludes, como foram Dincniar do Reims Riculf, de Soissons, Erard de Tours, e oulros niais, do quern a iiisloria iios conserva os nonies. Eram poucos para resistir a lorrenle; menos para mudar- llie 0 curso. Os seus esl'orcos, algumas vezes heroicos, scrviram somenle para tornar mais nolavel pelo conUasle csla dccadencia de uma classe, pouco antes tao illustre pela sua ins- truccao, e pela purcza de seus costumes. Mas acima do liomem esla Deus, acima da perturhacao de um dia a harmonia da eter- nidade. Esla perturhacao, momcntenea no mcio dos seculos, foi ainda um meioque oprogressoapro- veiloupara dar um novo impulso asociedadc, na via infinita que o honiem percorre desde a primeira hora do seu genesis. Coiitinua. J. J. UE OLIVEIUA TINTO. ESCRIPTURA REPENTI!JA Nova tentativa de revolucao orthographica Era ja tempo d'introduzir cm nossa lingua a unidade oriliograpliica. Eui asnacOcs cultas da Europa escreve-se com uma orthograpliia lixa invariavel; cntre nos, nao so os indoutos, mas ate os sabios e distinotos litleralos dis- cordam no modo de pintar a palavra — escre- vc-a cada qua! como imagina, variando a ortho- grapliia d'iiidividuo para individuo, no mcsmo escriplor, e ate no mesmo livro. Que assint fosse em edade de menos adian- lada civiiisacao e cultura intellectual, (drca era, a qual nilo havia resistir; porquetal e acon- dicao das cousas humanus — impcrl'eilissimas no priocipio, so com o tempo allingem seu pleno dosinvolviraento e formosura ; mas que ainda liojc exista o arbilrio na orthograpliia porluguoza, se orthograpliia se pode a isso chaiuar, e uma contradicao flagrante com a helk'za das lormas, o traiispareiiie e delicado do cstylo, que se ostenta nas ohras dos nossos mais coiispicuos escriplores. Sentido do ha niuilo esle desar, alguns ami- gos das letlras ti^m proposto varies systemas, mais ou menos contraries aos principios cm que deve asscnlar uma orthograpliia possivel ; e nao so por isso mas tamhcm pelo methodo inelllcaz com que os pretendiam fazer valer, ncnhuni d'elles vingou, c as cousas ficaram como d'antes, se nao cm peor eslado. Soarii presto a hora cm que deve operar-se esla salutar reformacao? Um sahio portugucz, um zeloso ]ireceptor da mocidade, um eslre- uuo aniante da instruccao puhlica e da hu- nianidade, o sr. Antonio Felieiano de Casti- Iho. emprehende uma complela revolufao or- thographica, propoe a orthograpliia philoso- pliica, ou phonica, denoniinada pelo auctor es- criptura repentina, e por elle exemplilicada nas seguiutes oitavas de Camoes. Az armaz, i ux varoiz asinaladux Qe da osidetal praia Lusilana Pur niarex niiqa dales navegadux Pasiirau Ida alai da Taprubana; Qe fli pcriguz i geraz cxfursadux, Maix du qe permitia a fdrca umana, Eire jele remota idiliqarau iS'ovu rainu, qe tatu sublimarau. I labai ax memoriax gluriozax D'aq(:lex raix, qe Idrau dilatadu Qu'a fc u iperiu, i ax terax visiozas D'Africa, i d'Azia adarau devaxtadu ; I aqelex, qe pur ohrax valurozax Se vau dax laix da niorte liberladu, Caladu cxpalarai pur luda a parte, Se -d lalu me ajudar ijefiu i arte.' Fundada excUisivamente na pronuncia da gente culta de Lishoa, esla orthograpliia, se- gundo 0 auclor, e a unica verdadeira, razoavel e liumana; a unica que naoeiupece toda a cullura inlellectual, que nao cxpOe ao ridiculo OS ignoraiites; a unica propria para a na^ao, cHJa maioria, por necessidade, prefere e deve prel'erir a futilidadcs clymologicas, a sua la- voura, as suas officinas, o seu commercio, e ale OS seus divertimentos, e o seu dormir. Eis-ahi 0 novo systema julgado por seu bencmerito auctor. Que nos releve clle olTe- ' L'llinta e(ii9ao da Leitura Repeuliua. 0 INSTITUTO 251 recermos ao publico o nosso juizo. Receava- mos fazel-o, porque assas respeilamos as potes- lades litteraiias, ainda que, superior a lodos OS rcspeilos humanos, julgiimos a razao. Os nossos reparos, porem, desfeilos vicloriosa- nientc por lao grande iiiestre, darao logar a nos instruirmos a nos e ao piililico. Eslc e o fira (jue nos propomos. A pronuncia, dizemos, nunca foi, nem e, em nacao algunia, o principio unico da orlho- grapiiia, faclo posilivo que lem sua razao plii- losopliica na distancia da opoe-ha, emqueieve logar a invenfao da cscriplura alplial)otica, aqueila, em qua o iiouiem comccou a enunciar 0 pensamenlo pelos sons articulados. A escri- ptura alphahelica, que veio subsliluir a escri- plura symbolica, applicada a linguas deriva- das, devia nao so lixar os sons mas lambem a origem que indica a sua significacao. Alem do que, o niiinero dos signaes graphicos foi sempre incomparavelmenle menor, que o das VQzcs e arlicuiacoes, Os bebreus, porexemplo, nao linham vogaes : os cbamados pontos vo- gacs I'oram iaventados no seculo VI pelos rabbinos. Mrs. Port Royal conlam dez vogaes, na lingua franceza ; Duclos, desesele, e muitas raais podera dislinguir qualquer que passar d'uma paraoutra, por voz conlinua e graduada. Acontece o mesmo acerca das fonsoanles. Mais: OS dilTerentes povos lomaram o alpba- beto uns dos oulros, e reprosentaram pelos niesmos caracleres vozes e arlicuiacoes niui diversas; d'onde vem que, por mais confornie que fosse a escriplura com a pronuncia, leria- mos sempre ridiculanienle uma lingua emque nao esiivessemos exerciiados. Podera a proniincia ser a base unica da orlhographia para o fuluro? So dois nieios se nos antolbam para o conscguir, se um despo- tismo grammatical poder revogar a lei do uso, ou mudar anaturcza do bomcm — inventar os caracteres que fallam para designar todos os elemenlos da palavra, o que a nenbum neo- grapho Icmbrou ainda, ou rcnunciar a lodos esses malizes da pronunci.ifao, que dao vida e energia a palavra, ccabir em uma aulonia- tica aspereza e monotomia, incompaliveis com 0 orgao da voz, e llm da funccao(iue cxerce, Sendo pois iinpo-^sivel a exacta corrcspon- deucia dos sons articulados com os signacs que OS represenlam, nao havondo lei alguma que OS possa ligar uns aos outros, senao a da convencao, a do uso, e sendo, por oulra parte, de pouco vullo lodas essas vantagens que so possam enconlrar na orlbograpbia a niais phonica possivel, parece-nos menosacer- tado 0 systema que volar o complete extermi- nio da elymologia, liod'Ariadne, que nos cun- duz no labyrintlio das signilicacocs. Abra-se o Miindo primitivo, t. 3.°, c. 12: ahi expoo Court de Geldin, uma a uma, as excellencias da elymologia. A elymologia, diz cste sabio, rcvela na palavra umaforca admi- ravel, porqiio palenteia a viva piniura do que significa; classificando os icrmos por farailias, e referindo-os a um liniitado niimcro de radi- caes d'onde deriv:im, cd'um precioso auixlio no esludo das linguas; estiidando as raizes linguislicas, como que surprebendo a natureza em seus mystorio-;, esclarece as origens dos povos, e a marclia e processes do espirito buniano; 6 a pedra de toque, linalmeiite, pela qual se podem avaliar os quilales da perfeicao actual d uma lingua, e conbecer os nieios de a conseguir. Quern se propoe fazer uma rofonna radical em nossa orlbograpbia, lendoeni menosprfeo 0 uso diuturno das nacues civilisadas, que manifesta oquer que ed'absolulo e irrcfraga- vel, parece-nos nao devcr prcfcrir a modica economica de tempo que podem fazer os que aprendem a ler palavras destacadas, ou algum livro escriplo ad hoc, as vantagens que razoa- velmente deve enconlrar quem se dedica ao esludo serio da lingua, e que scrao pcrdidas, se a escriplura se democratisar, a ponto de licarem obliierados lodos os sous escudos, e titulos geuealogicos. Ao povo que lem de empregar a nior parte do tempo na lavoura, nas ofBcinas, nos diver- timentos e nodormir, nao e que esta confiada a grande missao do progresso e aperfeicoa- menlo da inlelligencia ; seus conhecimentos sao por necessidade limitados, c com quanio outra cousa desejaramos, entendemos que pelas necessidades do povo, se nao ba de aferir qualquer reforma litteraria, quando outras de maior monla vem oppor solemnos prolestos. Iinaginemos adoplado o syslema proposlo. Fundem-se typos, imprimem-sejornaes e livros, le-sa e csluda-se por loda a parte aqueila peregrina escriplura. Como alcancar que a pronuncia seja a mesma em lodos os indivi- duos d'um logar, em lodos os logares d'uma pro- vincia, em lodas as provincias d'esle reino? Se aquelle systema tivera a virlude de produzir si- milbanle prodigio, baslara isso para dever ser adoplado por todos, posio que lemporariamen- te. .Mas a variedadc da pronuncia e o resuliado de causas pcrmanentes, que poderao, e verdade, diminuir em inlcnsidade, quando as vias dc commuiiicacao fizereni desapparecer de lodo as distaucias, mas que teni sempre inlluido, a ponto dc produzirem dialoctos e linguas diversas. A liberdade que suppoe a nova orlbogra- pbia, que nao quer ser tyranica, da em lillima analyse uma cbaograpbia indecifravel, como a que se nota entre a genie Ignorante, que no escrever segue a proniincia. 0 riso que nos assalta ao vermos a escriplura d'uin mi- nbolo bocal, ou d'uma preciosa ridicula, como ba muitas no escrever c em tudo, e salutar para preciosa, epara ominbolo, como e loda a censura judiciosa, aiuda quando fere o amor proprio. o-i? 0 INSTITL'TO Apoz esles rcparos vein oiUros de nfio mciios pomleracao. Dcixarcnios pi'rpcliiar paia ollios a conCusaoquoja cxistcpara o oiivido noslioino- iiinios.passareniosiiola incoliL'roiH'iadoosc-rcvor j Ulna iiu'Miia palavia dc dons iiiodos, com o Az armaz. Ax memnriax, c aiiida nienos cuidado nos dara a do Mibsliluir lli, nh por I, ii, com 0 iiiliiilo de cvilaroi'ontagio d'iKiuellealiacliio- iiico flya, quo uiiia dilliciildado iiiais alia so nos aprejiMUa. A giande heranra que o passado logon ao proscnlc, e o presonio ha do Icgar ao Inliiro, todo 0 salier liumano, csla doposilada nos livros ale agora osniplos corn a orlliograpliia ([no so Iracla de proscrever. Ora so o novo syslonia imi)6e a ohiigacao de so alislorcni d'essa lio- ranca riquissinia osqueporolle approndoiom a ler c escrevcr, 6 unia roiisa seni nonio ; so acaso snppoe indisponsavcl o conliocinienio da veiha orlliograpliia, onlao nao presenlimos a vanlageni, anlos nos parocc aggravar o nial que precisa de reinedio. Com effcilo, icndo a niiio de pinlar a palavra d'nm niodo e os ollios, de vel-a com oulra fignra, por capriclio ou por doscuido, ira a niao. pouco e |ionco, ira- caiido nm niisiiforio cada vez niais liurdaleiigo c avesso ao quo procura cstaliolecer — a rcgii- laridadc, a unilorniidade. Do que levaniosdiclo nao prelcndcmos dodu- zir, nem se deduz, que o systema proposio soja absurdo: lia alii I'undo do verdade a que lodos lorn prcsiado o sen assenso: a proniincia e uni dos principios cm quo dove hasear-se a orlliograpliia, loniada esia palavra em sua accepoao clyinologica ; poreni orro e, c mnilo grave, ao nosso pareccr, erigir a proniincia oni I'undamenlo unico, com u lolal exclnsao daelymologia, e douso, que nao soffie grandes innovacOes no (|ne por elle se aclia sanccio- nado. K d'esle cxclusivjsmo resnilon, sent diivj- da, 0 desfavor com que seniprc foram rpcobi- dos, em dilTerenles tempos o nacOes, os variados osforcos dos grammalicos que icnlnram esla- lielecor uma orlliograpliia niais ou nienos I'un- dada na prnniincia, sognndo o pen>ar de cada um. 0 P. Tlieodoro d'Aliiioida, Vorney, J. B.daSilva Lopes, D. Jose L'rculu, entro nos; Dubois, Dnilos. .Maigroi. Los(jhiclie, oni Fran- ca ; Wm. UulloUar, Alex. Gill, Charles Bulller, ha niais dnzenios annos cm Inghilcrra defon- derani cm \ao a noograpliia. E em ISi'J, I'or- inon-se cm Londres uma sociedade, que dis- punliad'nnia lypograpliia propria, onde piibli- cava um jornal e inipriniia livros cscriplos com a orihograpliia phonica, analoga ado sr. Gas- lillio; mas nao honve resislir ao usxis quern penes arbilriuin esl. E lodavia quasi se podc affirmarqne a lingua ingleza, porsi so, ministra mais exeniplos de discordancia, enlrea proniin- cia e a escripUira, do que lodas as oulras: Rous- seau dizia 't aprender o inglez e aprender duas vezes a lingua, uma, a ler, oulra, a fallar. » Tormina remos como principiamos. E uma necessidade innegavel lornar regular c uni- lornioa pinlura da palavra; mas proporgrandes rerornias (jue viio denconlro aos principios em que do\o assenlar uma orlliograpliia roalisavel — a elymologia, a proniincia e o uso, e einpre- hcndor uma larela inulil. F.m havendo um padrao razoaveliiieiile conccliido e excculado, ningiiem podera allcgar a impo'^sihilidadc de escrovcr rcgularmcnlc, o o liahiio, tiuo e uma segunda naluroza, fara quo lodos escrovam sem- pre do iiiesmo niodo, c com mais presleza, ([uc se houveram do consullar a proniincia, clemento caprichoso o inconslanle, 0 niodo do forniar osle padrao para a nossa orlliograpliia , c 0 que, em 1843, conecheu c comecon a por cm praxe o sahio auclor da proposla (iiic nos occiipa ■ — associarcm-se os mais dislinclos plii- lologos da nacao, e, comscicncia, c conscieneia escrevorom esse modcslo, mas imporlanlissimo livro — um vocahulario, scm dclinifues, dos lernios como dcvom ser inscriplos, um guia orlhograpliico, haralo e de modico volume: I'azel-o adoplar polo governo o suas dependen- cias, se lanlo e niisier. Os iiuiividuos quo se limilam a inslruccao primaria, scguil-o-ao som exame, que so com exanie se dislinguira aquella orihograpliia da actual; e os eruditos 0 philologos ahracal-o-ao egualmenle pelo acharcm fundado na base solida. J. A. DE SOCSA. HErflORIflS HISTORICttS DS UNIVERSIDBDE DE COIiyiBRa Coiiliniiaclo de ]>ag. 'iO-t. II Primeira trasladacao da universidade para Coimbra Trasladado para Coimbra o estudo geral de Lisboa, nao so desciiidon D. Diniz de prover ao bom regimen dos escholarcs, concedcndo- Ihcs \arios privilogios e cxonipcoes, para que mais desafogadamoiile podessem dar-sc aos csindos, sem que cnue elles, o os nioradores da cidado se levanlasscm rixas, e dissensOes, como aconlocera em quanlo a univcrsidadc eslivera em Lisboa. Com esles privilogios liulia lambem a(|iielle illustrado principe em visla promovcr a fre- quencia dos csiiidos, o exciiar o amor das sciencias enlre os sous vassallos, mais alToilos 'nacinollcs rudesc bellicosos lompos, ao inisier das arnias, do que ao traclo ameno e folgado das lellras. D'esses privilogios, uns diziam respeilo ao foro 0 adminislraeao da juslica nas causas dos escbolares, eoulros eram relalivos a seu gover- no economico. 2 Kslmlo hislorico-l>oelico, pag. l76. 0 INSTITUTO 2i)3 Pela bulla do Nicolau IV fora coiicedido a univcrsidade o Coro ecclesiaslico, ronio ja iiar- ramos. 0 hispo de Lisboa por si, ou pelo sen vigario exerciii toda a jurisdiccao, que o nics- tre-escliola Ihe dispulara, sobre os mcslres, e escbolaros, e alu sobre sews faniiliares nos ca- ses crimes: D. Diiiiz, iransfeiindo a univcr- sidade para Coimbra, tornara cxlensiva esta jurisdiccao aos casos civeis.' Os escholares, ou OS seus niocos, enconliados de nolle com armas, depois dc correr Ires vezes o sino grande da catliedi-al, cram Icvados presos para 0 caslello, c ao oulro dia enlrcgues ao juizo ecclesiaslico.^ 0 roi tornara os cscliolarcs sob sua guarda e encommenda , impoiido penas pccuniarias aos que Ibcs lizessem mal.' Ao al- caide de Coimbra, ordenara, que allcndcsse a soguranca dos escliolarcs, nao so em (|uanlo frequenlassem aquolle esludo, masquinze dias depois do SG parlircm para as suas terras.' A esempcao de (luacsquci- direilos de por- lagem sobre os manlimentos, (jiie ns escbola- ros mandassum vir de fora da cidade para seu uso, fdra-lhes amplamenle concedida.* Ti- nham lambem os escbolares seus acougues, carniceiros, vinbateiros, padoiras, e almota- ces por elles nomeados." E suecedendo dar-lbes 0 concelbo da cidade quatro carniceiros lao " pobres, que llies nao vendiam o que os escho- lares haviam mister, queixou-se d'isto a uni- vcrsidade a D. Diiiiz, que niandou dar-lbes quatro carniceiros dosmais ricosque bo uv esse.' Eslas e oulras providencias consignadas nas cartas de D. Diuiz paicnteiam claramenle o cuidado que o rci punba em cvitar conllictos cntre os escholares e os cidadaos; tornando-os independenlcs. 'Nesla mudanca da universidnde para Coim- kLra, era natural que os moradorcs da cidade estivessem receiosos ou prevcnidos contra os escbolares, pela fama dos disturhios, que em Lisboa haviam practicado, e que procurassern por isso livrar-sc de tao impoi'tuiios inquili- nos. E tal era aquella prsveucao, ou ma von- * Caria de O. Diniz, on Estntuhta de 15 de fevereiro do anno 1309, nas Prov. da Hist. Gen. ^ C. de D. Diniz de :2j de niuiu anno 1312 — Liv. verde da Univ. ' C. cil. na 1." nnia— C. de D. Diniz de 15 de feve- reiro de 1309, e 3 dc septembro de 1310 — Liv. verde, ■* C. de D, Diniz de 29 de dezembro de 1318. Id. ' C. cit. na 1," nola— ^C. de D. Diniz. 16 selembro 1310, e 1." ()e dez.'mliri) de I 31 1, C. de D. Fernando — 6 de novenibio, anno 1370. — Idem. •■ » Mando que os sciiolares do sludo ijessa villa ajam sens ai;ongues, sens carniceiros, e seus vinbateiros, e snas padeiras e nielam seus tilinnlacecs...^y C. de D. Diniz, ~7 novembro de 13011." C. de D. Diniz datada de Coimbra no anno de 13II — Regimenlo dos ainiolaces da nniversidade de 6 de agos- to de I 368 — Liv. verde Idem. ' C. de D. Diniz, 1." ilejuHio (anno 1309). Por onlra C. do l."de jnlbo do niesmo anno se deter- minou — a pedido da nniversidade que nenhnm re^ateiro comjire nada alee hnra dn terra, e que aqnelles que coni- prarem, que comprem publicamenle no agongue elc." tade, que ainda nos reinados seguintcs se cn- contram d'ella claros vestigios nas qncixas, que por divcrsas vezes a univcrsidade dirigira aos iraperautes contra os exorbitanlos |irccos, que OS donos das casas pediam de aluguel por cllas, c contra os emprasamentos, que maliciosanientc faziani por as nao darem aos estudantcs.' Para obviar as graves desordens, que d'a(]ui podiam originar-se, providenciara D. Diniz (|ue liouvessemdois taixadores cleitos annualmente pela cidade d'enlre os principaes cidadaos, e dois escbolares eleitos pela nniversidade para laixarem os precos dos alugueres, qiiaudo os escbolares nao podessem ajuslar-sc com os donos das casas;' das quaes nan podiam ser lancados, pagiindo seus alugueres, salvo quc- rendo seus douos niorar 'nellas, vendel-as, ou dal-as eui casamento aos lilbos, ou outros descendenles." Com 0 (im tambem dc affustar outras cau- sasde desordein ou distraccao entre os escho- lares, foi prohibido aos militares, c aos jo- graes pousarem nas moradas dos doutores, e escholares, ou pedir-lhcs cousa alguma;" era este provavelmente'um abuso que se tinba inlroduzido entre os escbolares, quando esti- verani em Lisboa, e que niuito devia concur- rer para a perturbacao dos estudos, niormcnte ^ " Sabede que a nniversidade dn rneu sludo desse loj,'o me disse, que alf;iins liiio cazas de aln^Miel em essa villa dt'lla porta de Alinedina acima, e que a> nnn qnorem alu- f:ar aos escludare.-i. e que disem, qvie as querem morar, e que morain em ellas por aKMim ponco de tempo, e vance deltas, e que eslo, que o fazem por iion pousarem, nein morarenl os escbolares em ellas, )>orqne vos mando, que conslranguades toilos aquelles, que della porta da Alme- dina acima baa caza.s para alugar, (jue .-is alugnem aos escbolares anies, que a oulros quaes quer; e se em eslt OS donos das cazas al-^um en^'ano fezerem pullas nao morarem us escbidares vds filbadeas e tbideas aos escbolares que as ellas niorem, em esse anno non deen alusuel deltas." — Carta de D. Diniz de 25 de maio de 1312. .< Oulro .sy me enviarom dezer, que elles non podem aver cazas de alu!,'uer na dita Almedina, como the lie rum- pridauro, por que as pessoas, cnjas som essas cazas a« poeem. e pedeni deltas grandes precos e desaguizados e taees by ba, que as emptazam maliciosamente a alfjnns pera os subredltos non poderem aver por seus alugueres. E en vendo o que me pidiam, mando, que vos e o con- servadiir desses scbolares vejades as cazas, que ouver para aln;rar na dita Almedina. e as oulras (jue sens donos apui- sadaniente poderem escnsar para ns vereni esses scbola- res por seus alu;;ueres, e fazedelbas aluiar por sens pre- cos, como for a^uisado, de ^uisa que iiito liaja by malicia. nem en^anu." Carta ile I"). Pedro I., ile Trntu-al 19 de oulubro do anno de 1358 — e il. de mesmo rei de 11 de aliril de 1361, e 22 fevereiro de 1365. ^ C. cilada na 1." nota, '» Idem. ** Idem — (( Mando e deCenito quo nnn seja nenhnm lam ousado, asi da minlia merce.conio do nieu rastro. como dos infantes mens irmaos, e oveenca.aes de niinha casa do civet, neii) oulro nenhnm, que pouse com elles (escbolares) nem cada um dejles, nem faram pousada nas casas que leyxam, e livprem suas allalas e snas consas, e se by pousarem, ou ponsarquizerem, vos lancadeos logo fora dessas cazas." — Carta de D. Fernando, Coimbra, 13 de julho de 1367 — Livr. verde. 3Si 0 INSTITUTO 'nesta epoclia cavalleirosa cm que o mister das armas, c as diversoes proprias d'esla pro- lissao, excitavam os aiiimos para folgiiedos mais proprios, dos arraiaes milliards, que das paleslras lillerarias. Para guardar esles privilegios, e promovcr tudo, que fosse a bom dos esUidos, c do-* es- cliolares, eslabelccera D. Diiiiz apenas mudada a univcrsidade, que houvesse dois conserva- dores oscolliidus d'ciitre os liomons hoiis da cidade." E foram prevavelmeiue Mariim Ali- nes, ahnoxaril'e 0111 Goiuil)ra, e Joao Domin- gucs, OS priuioiros que cxerceram esies car- gos por nomeacao regia," sendo os unicos olliciaes da univcrsidade, que enlao nao erain eioilos pelos e'scholares, e talvez a islo deva allribuir-se a desiiUelligencia, que por vczes houvcra, entre os escliolares e aquelles ma- gistrados, que ilies nao queriam cuaiprir os sous privilegios." Ainda que os conservadores se limitassem a principio a conliecer so dos privilegios da universidade, parece que pouco a pouco fo- ram eatendendo tambem nos demais iiegocios d'ella ; e ja cm 1313 deloraiinara D. Diniz, a requerimento da uaiversidade, que nas de- mandas entre 03 escbolares e os oulros ho- raeiis, nao houvesse appellacao, salvo por carta especial do rei." I'osteriormente as de- mandas dos escbolares em todo 0 rcino so podiam ser intentadas no juizo da conserva- toria;" e as suas senteacas foram mandadas passar em julgado." Assim a auetoridade do fiiro ecclesiastieo nos negocios da univcrsidade ia-se de todo perdendo, ao passo que a jurisdiccao dos con- servadores se estendia a todas as causas ci- veis, que diziam respeito aos escbolares, os quaes, a pretexto de evitareni os estorvos c (lelongas das domandas, que podiam distra- hil-os da applicacao aos estudos, nao cessa- vam de pedir para a sua conservatoria novos ' * C. de D. Oiniz citada na nota 1.* '' C. do mesmo rei de 'A de seteml)ro de 1310. /(/. ' * C. de D. Diniz a E^lecacn Bravo, e Affon^o Pires, conservadores da universidade do esliido de Coitnbra de 5J3demaiode 1313 — " Sabede que a iiuiversidade desse men studo dessa cidade me enviarom dezer, ([iie elles .soin per vos aifravados |>orqne Ihes fazedes audiencia na vossa pousada, e non Ihes queredes fazer no men corral dos mens pa{;os dessa cidade, on ;'i porta da See honde as cs ontros coaservailores vossos anlecessores, e vos acnstniua- vam fazer. Eontrosi nas porlarias, echancelarias, e (ire- i;ooes, e penhoras e execni^oes, e revelias, qtie em essa ininha avidiencia levades lamanhas, como na minha casa do civel ; e pediram me por merce, (pie Ihes oovesse a ello remedio elc." — Carta de D. p^ernando ao conserva- dor Joao Esteves da Moreira de 2-t de jullio de 1367. « Vi a carta, que me enviastes, em que dezeJes, que .loao Esteves da Moreira nao avia por sua prol de ser mais conservador desse studo, segnndo mais cumprida- menle he conteiido em huum stormento, que acodello perante mi for raostrado etc." — C. do mesmo rei de 24 de julho de 1368. '^ C.deD. Diniz — 18 de julho ISlo^Liv. vcrdecit. <« C. de D. AITonso IV.— 5 de maio de 1339— /rf. ^" C. do mesmo rei — 6dejunho 1327 — Id. privilegios, que D. Diniz e AfTonso IV Ihes liberalisaram com mao larga. Foi porem so no reinado d'este principe que OS conservadores comejaram a julgar por sentenca todoUos feito.i cive.is e criminaes, e que de todo acabou o I'oro ccelesiastico. E tal era a auetoridade, que entao se concedeu aquelles niagislrados cm todo o rcino, que po- diam mandar procedcr contra quaesquer pes- .ioas que bzessem ou dissessem injiirias aos escbolares, ou aos seus familiares em quaes- quer loqares, que scjiim moradores, posto que morem em coulos ou Imnras de aUjiins pode- rosos. " No tempo de .AITonso IV o d'abi cm diante OS diplomas regies so fazem menciio de ura conservador, e conjecluramos porisso que ces- sara o costume de se nomearem dois d'estes magistrados, talvez porque, tcndo-se oslen- dido mais a sua jurisdiccao, parecesse con- veniente reunir 'num so magistrado toda a auetoridade para Ibe dar maior lorca. D. Pedro I conlirmara todos aquelles pri- vilegios que OS conservadores ja tinbara, por evitar as contrariedades ou rcluctancias que, por aquelles tempos, a auetoridade d'estes magistrados ja encontrara no foro." Cortara D. Fernando a jurisdiccao dos con- servadores, probihindo-llies que descmbargas- sem feitos criminaes entre os escbolares, seus familiares c olficiaes do estudo de Coinibra ; pouco tempo, porem, parece que durara esta probibicao, porque, tendo a universidade re- presentado iiquclle monarcha por Gonealo Mi- gueis, sea reitor, allegando o grande damno que d'aii se erguia ao dicto estudo, pelo odio que Ibe tinliam os do concelbo, e por que era contra sen costume, revogou D. Fernando aquella determinacao, ordenando todavia que das sentencas dos conservadores houvesse ap- pellacao para a corte." Estes privilegios eoncedidos ao juizo da conservatoria tinbam excitado ciume entre os outros juizos nao privilegiados, e nao rare en- conlramos claras provas d'estes conllictos, e invasOes de auetoridade no furo da conserva- toria pelas oiitras justicas, nas repetidas quei- xas da universidade, e nas cartas regias de conlirmacao d'aquelles privilegios, no periodo que decorre desiie a primeira trasladacao da universidade paraCoimbra cm 1307, ate a se- gunda mudanca d'ella para Lisboa em 1377." Logo que a universidade se estabeleceu em Coimbra, pediu a D. Diniz para ter na casa real quern promovesse os negocios d'ella pe- rante 0 rei: foi-lbe a pctirao bonignamente deferida, conliando aquelle monarcba, con- forme OS desejos da universidade, este encar- ' " C. do mesmo rei — • 5 de Janeiro de 1355 — Id. »» C. de 1). Pedro I.— de 13 de abril 1361— W. -» C. de D. Fernando — 12 setemhro 1368 — Id. '* C. de D. Fernando de 12 e 14 de abril 1368 — 14 de oulubro, e G de noverabro 1370 — Id. 0 INSTITUTO Vob rcgo, a meslre Pedro, seu medico, e Martins Louredo, seu clerigo. Ordenou tamlieni D. Di- niz que as cartas, priviiegios, e oulras escri- pluras que iiouvcssem dc expedir-se a uiiiver- sidade fosseni escripias per Afl'onso Kaynuin- do, escrivao d'elrci ; e assini licou a univer- sidade desde enlao com o privilegio de se di- rigir direclaniente ao rei em todos os seus ne- gocios, e de haver lami)em direclamente as resposlas, e ordens regias." Conlinuou em vigor esla praclica nos se- guintes reinados. E desempenliava esie cargo no tempo de U. Pedro 1 (13i)S) Lourenco Es- teves, seu vassollo, o qua! porisso devia scr pessoa de grande qualidade, c das primciras linhagens.^' Quanto ao regimen interne d'este esludo geral pcrtencia eile propriamente aos escho- Jares. Os rcitores, os conscliieiros, c o hedel, porquc nao consta, que per muitos annos houvera mais do que um, e que por via de regra era liomem de recado, a queni porisso a universidade algunias vezes dcputava pe- rante o rei para tractar graves negocios d'ei- la,^' e em lim os odiciaes, eram todos eleitos pelos escliolares, indepcndentc de confirmncao regia,"' e este privilegio se guardou ate ao tempo de D. Joao I em que, representando a universidade sohre a nomcacao, que eirei fizera de um reccbcdor das rendas d'ella, contra os seus priviiegios, ordenou, este mo- narcha, que a universidade nomeasse seus officiaes, para terem depois confirmatao re- gia." Ale ao tempo de D. Manuel a universidade teve sempre dois reitores, que ordinariamente eram estudantcs, dos que uinda cursavam as aulas. Esles com o consellio dos conselheiros, coniposto de nieslrcs, ou escliolares, clcilos pela universidade presidiam ao governo d'ella. Dos reitores que liouve na universidade ate a sua segunda Irasladacao para Lisboa, apenas se conservaram os nomes de Gonjalo " C. de D. Diniz 16 de selembro 1.310 — Id. "■> C. de D. Pedro I. de 19 de ouliibro 1338— /rf. ** O bedel era ao inesmo tempo escrivao do esUido {feral, pelo menos ate D. AtToiiso V. D. JotMO I. dcterminiira que o bedel da universidade f^sse tabelli.To, e tivesse fe pilblica em todos os conlractos I>erlencenles a ella, e escrivao ilas suas rendas (Cartas de i eiS de novembro de 1300J. Por isso a elei^ao d'este officio costiimavarecaliir em sujellosinui letraduseenlen- didos. O celebre Fernao Lopes de Caslanheda, A. da Ilisto- ria do (leacuhviment!) e conqnista da India, leve o ofificiu de bedel ; e AITonso Esteves foi 'nesta qualidade, jiedir a D. Pedro I, da parte da universidmie a merce de no- mear-lhe promuvcdures na casa real em 1358- Ainda em 1537 ordenou D. Juiio III que o licenciado Nicolaii Lo- pes, que era bedel, regesse uma cadeira de Canones por haver falla de lentes, podendo elle nomear um serven- tuario ao olBcio, e no anno seguinte graduou-se 'nesta fa- culdade (Figveirda M. ms.) ^' C. cit. na nola l.» = ' C. de D. Joao 1 de 11 de abril 1415. (Fjgueiroa, M. ms.) Migueis, bacharel em Canones, e do prior de S. Jorge, que governavam na universidade dc Coimbra no anno de 13C8. A falta de memorias d'aquelle tempo, e a pouca importancia que enlao tinha este cargo de cieiffio annual ; c confiado a simples es- cliolares, explica aquelle silencio dos diversos escriptores a este respeito. Os eslatutos por que se havia de governar a universidade pertenciam aos escliolares, a quern se commetlera a auctoridade de prover cm tudo que losse a bem dos esludos e dos proprios escholares." Tal era em sumnta a organisacao econo- mica da universidade ate que D. Fernando a trasladou para Lisboa pela segunda vez em 1377. Contiaua. 3. M. DE AUREl'. PONTE DE COIMBRA Continiiailo de jiag. 234. II Cliegados ao reinado do senhor D. Manuel, encontramos um documento publico c irre- cusavel, que, mais que nenbuni outro, nos fornece noticias das reformas que a ponte dc Coimbra recebeu na epoclia dourada da na- cao portugueza. E a iiiscripcao aberta em pe- dra com frente para sancia Clara, e que fica a direila de qiiem vae da Porlagem para a ponte, um pouco antes de enlrar 'nella.' E porque tista lapida foi transferida do sou local primitivo, parece-nos aproveitar a op- porlunidadc para dnr uma ligcira descrip(;ao d'elle; nao aos contemporaneos, porque ainda conservam vivo conhecimento, mas para os vindouros. Entre as obras que a camara municipal de Coimbra promoveu cm 1836, para melliora- niento material da cidade, foi a deniolicao de quatro grosj^os muros parallelos, (|ue fecba- vam um pe(|ucno quadrado no espaco iuter- medio ao pnmciro arco da ponte, ao (|uinlal da cstalagem (boje cbaniada da Porlagem), e ii parede em que de novo assentaram a la- pida. Estcs quatro muros sustenlavam anti- gamcntc uma torrc, como da inscripcao se deprchende. Dois d'eslcs muros tinlia cida um seu ar- co; um dava eiilrada para o largo da Porla- gem; nem se podia da cidade ir para a ponte ^ ' C. cit. na nota 1.* ' No primeiro n." do Jntiqunrio Conimbricense se |)ii- blicou um j'aC'siaiilc dos caracteres d'esia inscri['<^5o ; e nqiii reproduzimos agora o sen contexto, guardando fie!- mente a ortngrapbia do original. (tOsserenisimo princi];^., « alto he mui poderoso Itey dom emanoell noso senlior o " primeiro em este nome lie quatorze na dinidade Reall, u mandou fazer de novo esla ponte ate as esperas lie re- tc dificar ale a cruz de sao fTrancisco he da dila cruz ale 11 santa crara de novo he acrescenlar esla tore he muro " era dc mill he 513 anos. .i 356 0 INSTITUTO sem se passar por baixo d'cstes dois arcos. Os oulros dois nao liiiliam aljerlura alguma, porem no <\nc nlliava para a ponle liavia iiiii sanclo AROilinlio em viillo giaiule 'nam ora siirviara para dar passagem as agiias cxtra- vasadas na occasiao de grandes enchentcs, e para lormar um caraiiilio solido; porque de- pois (jiie 0 iMondego coiuL-roii a saliir lora do a lapi nciilumia dillVruiica, no logar torio, ludo de pedra com poura on do oralorio. Por ciiiia d'osles qualro nuiios corriam uiis alegreles do rocrcio da I'aiiulia dos Abreus, cuja casa para ain linlia servonlia. No espafo que niediava enlre o feclio do arco, que (Java saliida para a ponle, c o ale- grele que coroava o n)uro, esiava enibehida a lapida com a referida inscripcao olliando direilamenle para a mesnia ponle. E e de nolar, que as ligiiras e imagem de N. Sonliora cm meio relevo, que ainda lioje vcmos na pedra por cima da inscripyao, ja se achavani nuililadas nnles da Iransfcreiicia. Em seguida aos diclos mures, mas em di- reccao ao logar do Cereeiro, e onde agora eslao uns assenlos de pedra com cncdslo para 0 rio, havia uma capella, em que sc celebrava missa aos prcsos, que llie assisliam da cadoia ; e em frcnle, da prisao, no meio do largo, acba- va-sc collocado o pelourinho. A camara mandou desiruir lodas eslas pe- cas para dar uma scrvenlia mais folgada ao povo; c leve o accordo, que Ihe cumpria, de fazer collocar a lapida, no silio publico e ad- quado, que boje lem. Do conlexto da inscripcao vemos que sao quatro os factos que ella nos inlica a res- peito da reforma da ponte, no reinado do se- nhor D. Manuel: 1.° que fora feiia de novo desde a cidade ale o arco das esplieras, e da cruz de S. Francisco ale Sancla Clara ;' 2.° que a parte enlre as espberas c a cruz (que sao qualro arcos) sonicnle fora reparada; 3.° que a ponle ja esiava consiruida em todo o seu comprlmcnlo, ale Sancla Clara antes de 1S13. pelo menos, e o que parece inl'erir-sc das palavras da lapida — mandou fazer de novo, 0 que suppOe a cxislencia de uma ponle an- terior ; 4.° que por cima dos qualro muros de que ja fallaraos, bavja uma lorrc que se accrescenlou na occasiao da reforma da ponle. Os seple arcos desde a Portagem ale o das espberas, sao mais alios do que os cinco d'abi ale ao 6; d'onde sc segue que a reforma 'naquella porcao da ponte consistiu na eleva- cao dos seple arcos a maior altura do que an- ieriormenle linbam: o leito do rio passava entao pelo espaco comprebendido por esses seple arcos; os cinco rcstantes ale o 0, e os ([ue d'abi coalinuam ate perlo de Sancta Clara - Os anligus conventos ile Snnct'Anna e de S. Fran- cisco foram |trimeiramente liinilailos na margera esqiierda do Mondegn, junto ao Slim d<:~EiUrcpi>ntcs,eiie daparle dehaixo da ponle, e a>|>ielle do lado dc cima, e |ior lanlo a crnz de S. Francisco dcveria estar em frenle do convenio provimoao caminho. e talvez mesmo conjuocta com o O' fla ponte. csui agora, seu primitivo leito, as aguas derramadas pclas planices conliguas accumulavam camadas de loilo (como ainda acontece) que tornavam o transiio impralicavel. Ainda (|ue a ponle pareca lanrada borison- laliuenie, a qiiem passa por cima d'ella, cm razao da suavidade do seu dcclive; quem a observar de lado nao podera deixar de nolar uma descida bem sensivel, desde o seu prin- cipio, a Portagem, ale ao 0; descida equiva- lente a nuve palmos.' E e muilo provavel, ou antes cerlo, que este dcclive continuava desde o 6, ou cruz de S. Francisco, ate a proxiinidade do anligo convenio de Sancta Clara; poiciue confronlando o pavimenlo, em que anligamenle devia assenlar o portico ao lim da ponle (que dava entrada para o con- venio) com a altura do primeiro arco junto ao 0, nao podemos deixar de rcconbecer, que de um ponto ao oulro liouvera uma ex- tensa rampa, ciubora disfarrada por inclina- cao suave. D'este portico nao apparcce ba muilos an- nos, acima do piano da ponle, mais do que 0 arco, que ainda suslenla grande porcao de um velbo froutispicio, ornado de algumas pe- cas, como sao dois escudos com as armas do convenio, e no meio d'elles uma Sancla Clara no seu niclio ; e por baixo d'eslas figuras, uma inscripcao, indicando que aquella obra fora feita no anno dc li)S7.' As columnas em que 0 arco assentava acbam-se compleiamenle solerradas. Pelo contrario, junto a cidade, devia a ponte, em tempos remolos, ser extraordina- riamente aha, nao tanlo para dar sabida as aguas, em occasiao de encbente, como pela necessidade dc nivelar o seu piano com o largo da Porlagem; alias haveria uma penosa subida desde o primeiro arco d'ella ate a rua da Calgada e Alegria. Em a bono d'este facto vem a existencia de uma espacosa cavidade na grossura da ponle enlre o lanco do primeiro arco, e o ponto em que ella se prende ao largo da Portagem; isto prova que a elevaciio da ponle 'neste sitio foi mais para egualar as superficies do que por causa das encbenies. 0 primeiro arco d'este lado ainda em 1790 estava quatorze palmos fora da agua.'Quem passar por baixo ainda vera nu curva d'ellc uma grande abcr- lura em forma de janella, que talvez deixas- sem desde a origem, ou postcriormente abris- sem para dar luz a uma capella, que abi se ' Mem. F.conom. da Acad, tomo 3." * Na mesma orlographia — Fezee csta obra na Era de J 537 annus stndo Abb.'' dcste Convenio D. Antonia de Castro, ^ Mrm. Econora. da Acad. vol. 3.^ 0 INSTITUTO 237 erigiu no anno de ICIiG,' qunndo o acaso descobriu a cavidadc. Antes da construccao do novo caes, ainda do lado do quintal da estalagem se doscobria a flor do terreno uma €sca<;a porcao do areo da porta que dava ser- venlia para a capella, mas depois ficoti sub- niprgida nas obras que a caniara niandou laziT. Nao duvidaraos que a ponte de Coinibra ficasse, no tempo do senhor rei D. Manuel, uma obra perfeitamenle acabada, digna de louvor 6 admiranao pela sua niagniliceneia, e por satisfazer hem aos tins da sua recon- struccao ; mas e certo (|uo a repelicao das enchentes, conlinuando a obsliuir (i leilo do rio com as areias, inulilisou em poucos an- nos a grande obra de 1513; porque cm 1808 ja ella estava preeisada de novos reparos. 'Neste anno delerniinou cirei D. Sebastiao a camara de Coimbra,' que a obra da ponte desde o Crucifixo de S. Fiancisco ale Saticla Clara, com suas sefventias se pozosse a lan- fos para se arrcmalar; e que a das grades nos pegocs da mesma ponte se fizcsse por jornal. E D. Philippe II, annuindo as repre- sentafOcs da camara, consentiu. ([uc polo roino se lancasse uma contribuicao de oilu mil cru- zados, para se coutinuar com as obras das pontes nova e vciha (por esta ultima cnten- demos a porcao d'ella, que so foi reparada em 1513), porque o diiibeiro da ultima linta nao linlia chegado para ellas, e seria uiu grande vexame para o povo pagar ontra vez, se a ponte se tornasse a arruinar.' Desta opocba em dianle nao enconlramos memorias dignas de referir-se acerea da ponte de Coim- bra. * * » NOTICIARIO SCIENTIFICO Meteorologia. — Chuvu vermelha em lieinis. Pelo meado de agosto, as 0 boras da manlian, depois de IS dias de sccca e calor, cahiu cm Reims uma chuva vermelha, que deixava pre- cipitar nos vasos era que era recebida, uma substancia similhante ao sangue ou a um oxido metallico rubro. Mr. Bourq, que observou esle phenomeno, enviou a Mr. Janin uma garrafa d'aquella agua, que foi examinada por mr. Cahours, e cis ahi o resullado da sua analyse. As materias em suspensao conliuham uma mislura de globulos esphericos organisados, que pareciam esporulos do coguraelos, com • Veja-se maisexleosanienle Mon. Luzil. P. 7 ° L. 4." ' L. 3." do regislo ile Prov. no arcli. da camara niii- nicipal 11. Si V. ^ Alviiruiie21 dt^uiaiode ] 608, dicto archivu, nu fim do lomb.) as." das ubras da Ponte. Km cnm|jrim(.'iila d'esle Alvara foi a conlribiii(;,lo lan- (;ada por loilo o reino, e dos tomboy da ponle coti^la m qiiantia^ t\\m as camaras, e nli^umas pess-oas. e corpora- i.Bes pa;aram, V. gr.. o roosleiro di- SaulaCrnz Ill^llio. O Bi»|io (». Air.jii-ode Castello-Brancu) 51^700. A en- Hiara di- I.eiria 80^000 reis —a de Saiilarem SOO^UiiO rcis etc. animalculos da classe dos monadas, vcrmelhos no ceniro, com dois ou tres cilios contractis. Uma porcao da mesma agua foi apresen- lada ii academia de Franca, e o sen exanie encarregado n uma commissao composta de Mrs. Milne Eduards, Pelouse, Decaisne, Qua- t re Cages. Organographia vegetal. — A 13 dcdezembro do anno passado, leu Mr. Tulasne no Insti- tuto de Franca, uma memoria sobre o appa- relho reproductor dos cogumelos. Com 0 aperfeicoamcnto dos microscopios, leni diniinuido cada vez mais o mimero das planlas :iganiicas ou privadas d'orgaos se- xuacs. Os lichens e os cogumelos pareciam consiiiuir uma excepcao ao principio, que boje e geralmente admitlido — em todas as plantas exisieni duas especies de orgaos re- productores analogos aos dos sexos nos ani- macs. Empreguei todos os esl'orcos, diz Mr. Tulasne, para fazer desapparecer esta anoma- lia, cxaniinando muilas especies dos Disco- mijcelo.i e descrcvendo por menor o appare- Ibo rei)roductor de cada uma. Esle trahalho foi onviiulo a seccao botanica da academia. Chimica. — Applicacdo da optica a analyse. Com 0 auxilio de um prisma, Mr. Stokes ex- plicou em presenca da seccao de chimica da associafao britanica, as linhas obscuras do cspectro luminoso e franjas prismaticas da luz, mostrando como pela interposicao de peque- nas porfoes de snbslancias chimicas em dis- solucao, e em outros casos pelos boloes for- mados ao macarico, permittem os meios opti- cos dcscohrir um grande niimero de corpos pela accao que exercem sobre a luz. Os saes de pcroxido de urano, por exempio, lem a pro- prlcdade de fazer appareecr linhas obseura* nunia porfao do espectro. Esia nova applicacao pode offerecer precio- sas vanlagens a analyse, resumindo nume- ro.-as e frci|ucntes vezes mallogradas investi- garOes para dcscohrir a presenca de um corpo quo existe cm pequena quantidade, caso em que de ordinario as provas enipregadas ate agora sao insulBcienles. Esperamos que esta descoberla sera precur- sora do mais uma importante eonquisia feila a materia pela intelligencia buniana. Geologia. — Mr. Ilennessei 'numa memoria. ultimamenle apresentada a academia real ir- landeza {Hnpport entre les theories geologi- qiies el la figure de la lerre) procurou esla- helecer a verdadeira relacao enire a theoria geologica, e a conliguracao do gloho terresie. mostrando lanloa incompatibilidade das theo- rias de Playfair e de Herscbcl, que, nao ad- millindo a lluidez primiliva do gloho, attri- biieiii a accao das aguas a sua figura csphe- rnidiil, como a de Lyell sobre os climas, para oxplicar a diuiiuuicao de lemperalura a sa- pcrlicie da terra, desde as primtiras epochas geologicas. »38 0 INSTITDTO 0 achaiamento dos polos seguado as theo- rias (Il> I'layfair e Herschel, e de 7^7, e o acha- tamenio tal conio resulta das observaydes 6 deyj-j. Assiiii a iheoria da solidez primitiva esia em contradicfao com os fades, e dIo pode por isso admiJlir-se. A. ilieoria dos climas de Lyell suppOe um transporie gradual de maierias do equador para os polos, para dar a razao da diminui- oao da superficie ardente do equador ; a terra a do jornal, terao a boodade de mandar com tempo renoval-as. Os senhores assignantes, que ainda eslc- jam em debito das suas assignaluras, sao ronvidados a mandal-as salisfazer com bn.'- vidade. Toda a correspondencia devera ser remel- lida franca de porle. f © M^im^lPIJ'©^ JORNAL SCIENTIFIGO E LITTERARIO. SEGUIVDO VOLUME. I COIMBRA IIUPKENSA DA ONIYERSiCADB. 1«54. INDIGE ALPHABETIGO DO SEGUNDO VOLUilE DO INSTITUTO C^J^-T^-.-r^ Advertencia 116 Album da snr.' baroneza da Foz (No) 127 Album do meu ainigo Joa^ A. Eapergueira (No) 323 Analyse Cbimica 19 Analyse do assucar na ourina lliS Aneurisma (cura d'um) 295 ApontamentoB sobre as constituifues do bis- pado de Leiria 86 Astronomia 33, 127 Augusto Lima 7 Avisos da redac^So 204, 283, 296 Baucos territoriaea 226, 238, 249 Bibliogrupbia 24, 60, 155, 204, 296 Bibliotheca do Musea Britaaico 244 Bibliotheca da universidade de Coimbra .... 243 Boletim do Institute 2 Breves reflesues hiatoricas sobre a navega^ao doMondego ecultura doa camposde Coimbra 68 78, 99, 128, 149, 159, 187, 214, 265, 289 Cahir da foiha (0) 160 Carta da faculdade de direito ao snr. A. Her- culano 66 Carta do snr. A. Herculano i faculdade de di- reito 13 Carta do eilr. A. Herculano em resposta & da faculdade de direito 66 Cemiterio d'Aldea (0) 70 Cemiterio de Coimbra 16 Cera da C'bina 201 Choro d'alma (0) 186 Christianismo, a Igreja e o progresso . . 5, 29, 50, 76 Classe de Littcratura 11 Classe de scieacias moraes 22 Collecfao de documentos ineditoa para a his- toria de Portugal e aeus dominios. . 47, 101, 202 212, 241, 253, 267, 281, 293 Collegio das Ursulinas em Coimbra 36 Conselho aupjrior de instruc^ao publica. . 157, 169 181. 193, 233, 245, 285 Conta da receita e despesa nos bospitaes da universidade 168, 180, 192, 256 Convento antigo de S. Francisco da Ponte em Coimbra 109 Costumes Americanos 275, 3SH Costumes judiciaries em Inglaterra 41, 52 Critica litteraria 49> 72 , 165, 177 Cruxifixo (0) 209 Denies humanos fosseia 295 Deacuberta de MS. gregoa em papyrus 81 Desejo (0) 101 Diecurso de Mr. Lamartine 113, 139 Effeitoa do raio 244 Elegia (Lamartine) 32 Elogio funebre, do snr. A. Albano 45 Elogio historico do aocio do Inatituto A. C. dos Guimar&es Moreira 92 Eachola regional d'agricultura em Coimbra. . 66 Eatadiatica litteraria da Univeraidade de Coim- bra 98 Estado actual da optica em relafSo i, cor doa corpos 240, 279 Eststisca dos estudantea matriculados ua uni- versidade de Coimbra, em 1853 para 18r)4 215 Eatatisticii pathologica dos hospitaes da uni- versidade de Coimbra 229, 269 Estradas de ferro em fins de 1851 80 Expediente 156 Faculdade de philoaophia 216, 235, 246 Falsifica^ao do Chi 190 Fecula (nova) 226 Fortunas eapeciaes d'alguna ricoa partieu- lares de Koma 153 Fragmentos litterarios 207, 220, 235, 246 Gabinete de leitura do lustituto 296 Geologia da lua 189 Gera9ao na sua subjectividade 161, 197 Gerafoea espontaneaa , 291 Grutas de Condeixa 43 Illumiua9ao electrica 152, 163, 190 lafluencia dos alimentos nas funcfoes mate- riaes e intellectuaes do homem 148, 188 Influencia das Cruzadas na oivilisajSo 38, 53 Institute de Coimbra 145 Instruc^ao publica 37 In8truc(;ao publica em Hespanha 96, 106, 130, 144 Inatruc^ao publica elitteraturanaLapeuia 252, 266 lustrucgao publica na Suecia e Noruega 121, 135, 146 Instruci;ao secundaria 171, 184 Introducijao 1 Liberdado do commercio 118 Littcratura Biblica 80 Luiz de Camoes (Soueto) 277 Mappas do movimento dos doentea uos boapi- taes da universidade 178, 180, 192, 256 Meios de promover a multiplicafao e melhora- mento doa animaea domeaticos 199, 210, 225, 240 250 Memorias historicas da universidade de Coim- bra 14, 27, 56, 73, 89, 173, 194, 223 Memoria sobre o piano d'estudos, orgaui8a9ao e pesaoal das escholas medicas estrangeiras 132 Methodo de Jacotot applicado 4 instrucfao primaria 112 Mezaa gyrantes 262, 277, 288 Minha vida (A) 17 Moleatia das viuhas 104, 179, 285 Moaaismo e as doutrinas religiosag do Egypto 4, 18 26 Morreu (Poesia) 32 Musica religioaa 85, 97 Noticiario ocientifico 22 Noticias litterariaa 105, 202, 216 Obras do Mondego 69 Ob3erva9oes meteorologicas 260 Ob3erva9oe8 meteorologieaa feitas do gabi- nete de physica da univeraidade de Coim- bra 255, 284 Origem dos Ziguezaguea doa raios 280 Pareoer da faculdade de direito sobre o 4." volume da historia de Portugal do aiir. A. Herculano 61 Phyaiologia e as palavras no seu sentido ideo- logico 32, 20 Poeta moribundo (0) 42 PublicaQuea litterariaa 244 P. Ovidio Nazao 116, 142, 176, 198, 237, 264 Premies 105,217 Programma d'um curso de philosophia e de littcratura 23 Projecto dereforma de informa<;iies academicaa 234 Questao da instrue^ao publica em 1853 . . 25, 40, 58 Ramo de amendoeira (0) 5 Reforma dos hospitaes da universidade . . 211, 227 Relajaodoeerimonial com queSS. MM. e AA. foram recebidoa em Coimbra em abril de 185J Rela^oes litterariaa entre as universidadea de Coimbra e Madrid » Rela^ao nominal doa actuaes soeioa effectives do Inatituto de Coimbra Saudade (Poema) 151 Systhema penitenciario 2 Teebnologia 130 Tenta^ao (poesia) 55 TradHC9ue8 e Imita^oes 10 Tratado elementar de Mathematicaa 166, 185 Tratado elementar de Pathologia medica. . . . Tribunaes d'amor na meia idade Um poeta braaileiro (A) 248 Uma noute em Roma - 88 Universidade de Coimbra 71, 133, 205, 217, 257, 273 UtilLdade das abelhaa 283 Variedades 10, 60, 95, 191 Varies premioa propostoa pela Academia de Franja 36 122 81 24 149 15 EUROS PRINCIPAES D ESTE VOLUME Pag. U 16 19 21 21 21 29 30 31 32 41 78 Col. l.« 2.' 2.' 2.' 2.' 2.' 2.' 2.' Lin. not. 2.' 15 3G 43 not. l.« not. 2.' 2 31 1.' 31 e 32 2." 2.* > l.« 2.' 35 44 56 20 41 Erro Nolentes ut etc. e da reac9ao Sao futiis por fdrma do cemiterio meetre chimioo Betracklueg iet endlnee Gaethe. 1379 vaticano que 0 economico uenhum concilio saui:- cionou Ah! Sopremos proclamarem do desanimar No extracto do Alvari do Biir. D. Affonso 5.» etc. 79 1.' 36 43 2.' 8 da not. 2. 118 1.' 60 > 2." 42 » » 50 119 m 60 120 I.' 2 » m 15 » , 54 , „ 62 134 1.' 23 135 » 34 136 u 22 ■ « 24 a 9 45 » U 52 » 2." 46 B 1> 50 138 S 42 139 l.« 19 139 a 42 134 i.« 60 135 2.' 3 142 2." 58 143 l.« 63 156 1.' 25 » « 31 ■ » 48 a 2.' 10 » » 28 165 2." 46 167 1.* 51 186 1." 41 » 2.« 3 223 2.' 6 229 DO alto da estat 245 2.' 4tJ » ■ 58 201 1.' nota. 262 ■ 43 ceria ■ ammonites, tortilis, margaritatafl, e Ser- pentinas. earemos revela 0 mundo desaparecido, ha bem . . , escoltar portoB com clla a exietes detumiu&ra obsevatorioa direiro procurard desviar-se esaholas moraea obrigpdoB perguatds mioitor Beu despatinio electivo sens, coBtumesetc. espressao Cadeira de mecanica applicada d geodoeia 0 moveiam e encarregar-se 0 poeia Calimaea demnindo vete d'Ap- polle ollario Saudamdia irritabiladade endosperema expirai;So, vegetal Phytogenecia de Decaudolle Na sua coroa gloriosa d'escriptorcB nao contam tanto a custosa perola oa illus- tres A. A. originalidadea etc. prepoeifSo lado impuro 0 ceu iiunca ascenderam que vale a vida I^e 14 annoa da Matta Jos^ Abilio d'OIiveira, conego da S6 de Evora e baoharel em direito, etc. « = 1290g r Rr Emendas Volcnfes ut. etc. e pela leacySo Sao feitos por fora da cidade illustre chimico Belrachtung ist endloe Goethe. 1377 — Vaticano que nenhum concilio ecumenico o aanc- cionou. — Ah Supremos proclamar — de desanimar No extracto do Alvari do sfir. U. AEFonso 5.", que j4 relatamos, vimoa que alguns an- noa antes de 1464 se tinha coustruido uma eslacada entulhada, que de nada aproveitou. Esti declara^ao nos induz aacreditar que a govi'inau^a de Coimbra perteudeu aegurar 0 rio por meio de marachoes, depois que elle come^ou nas euchentes, a sahir fora do primitivo leito, e talvez aquella estacada fosse 0 primeiro marachao, que o Moudego viu nas suas margens, junto a Coimbra. Foi urn fraoo recurso de que por neceeai- dade se lau9ou mao, e que se tern por Ven- tura coaservado at6 hojc a'eni reconhecida utilidade. Reaervamoa para outro logar tratar d'eata especie.» certas ammonites tortillis, margaritatua, aerpeu- tiuus. carecemos. devera 0 ao mundo desapparecido, reapparece, ha bem. . . cscallar factos com ella o exietes? — determinira observatorioa direito procurira-se deaviar o governo etc. eacholaa ruraes obrigadoa perguntas monitor seu despotismo electivo, Beaa coatumea etc expressao Cadeira de mecanica applicada, e geodeeia 0 moveram a encarregar-se 0 poeta Calimaco denominado vote d'Ap- polio clario Saudamia irritabilidade. endosperma expira^So vegetal Phytogenesia. de Decandolle, de Easpaill. Na sua coroa gloriosa d'eacrlptorea nSo contam tauto os illustres A. A. a cuatosa perola da originalidade, etc. proposijao. lodo impuro. — 0 ceu nunca offenderam de que val a vida Ati 14 annoa. de Molle Joao d'Aguiar, thesoureiro miir da S4 de Evora e doutor em theologia, etc. « = 1299g G= R- (D Jnotihib, JORIVAL SCIENTIFICO E LITTERAUIO. -««>®-*>- INTRODUCgAO T Ae longa a epocha era que o sabio media com o compasso os confinu da eciencia, e Ihe regulava os progreseos por periodos cer- t08, e de ante-mao calculados; em que uma sciencia cabia n'um livro, a sua comprehen- sao n'uma intelligencia, e o seu estudo na vida de um s6 homem. As scieocias, assim coiuo a litteratura e as artes, eraanciparam-se desta tutella. Respi- rarara o ar livre, mediram com o olhar o espajo, levaDtaram o vGo, e partiram d deacuberta de novos mundos. Nos noBsos dias raras sSo as que eontam um seculo de existencia, que para serem profundadas em seus elementos, consideradas nas suas diversas relayoes, determioadas pe- las suas variadissiraas applica5oes possiveis, nao demandem o triple, ou o quadruple da vida do individuo, consumida n'um estudo continuo, sera um moraento de repouso vo- tado a uraa dessas distrac^oes que encantam a existencia; e que lorige de serem uma deshonra para o sabio, nao poucas vezes sao proficuo auxilio na laboriosa tarefa, que nes- te miindo Ihe coube era patrimonio. Por outro lado a multiplicidade de rela- Qoes, em que o homem se acha diariamente envolvido, exige nolle uraa somraa de co- nheciinentos variadissimos; que, se nao o obriga a ser oranisciente, pelo menos o col- loca na necessidade de ser encyolopedico. Nao e raro ouvir-sc dizer, que as scicncias vao perdendo em profundidade o que ganharo em extensao. Nao e assim. Quando eram poucas as intelligencias, que, separadas do tuinulto do mundo poli- tico por um juraraento que as prendia jI solidao, scpultadas no fuudo de uma cella nesses sombrios tumulos de vivos, que se i chamavam mosteiroa, se votavara sera descan- 90 ao estudo assiduo dos diversos ramos do saber humane, nao era facil observar a superficialidade de conhecimentos. A sociedade civil dividia-se em duas gran- des classes, entre as quaes medeava um abysmo, que s6 muite depois o elemento burguez fez desapparecer. Do mesmo medo, no mundo das lettras quasi n3o havia transijao entre o verdadeiro sabio e o mais complete iguorante. Ou nao existia a sciencia; ou, quando existia, era preacrutada em toda a sua extensao, exami- Vol. II. Abril nada em toda a sua profundidade, analysada em todas as suas relajoes. Hoje o raaior numero nao se contenta com o ipse dixit do sabio, e quer ajuizar per si mesmo, embora com perigo de erro. E um facte. Se e para applaudir-se, ou lastimar- se, nao e questao que aqui se tracte. Mas as inve8tiga5oe8 profundas, essencial- mente analyticas, talvez mais do que o eram as de outr'ora, sao ainda a niissao de nao poucas intelligencias energicas e perseveran- tes, a cujos trabalhos ae devem oa progreasos das sciencias. O espago, que raedeava outr'ora entre o sabio e e ignorante, estil hoje occupado por uma classe, que nao tem o estudo per sacer- docie; que nao penetra com o facho da in- telligencia nos mais escuros labyrintos das sciencias ; mas, que, conhecendo que na so- ciedade moderna e illetrado faz a mesma figura, que fazia o covarde na sociedade cavalleirosa, mas analphabeta da edade-me- dia, procura conhecimentos pouco profun- dos, sim; mas variados e araenos em suas f6rmas, para poderem vasar-se nos moldes de todas as intelligencias, e nao cansarem o espirito com uma attenjao aturada, que nao p6de alliar-se bem com as coridijoes da sua vida. Satisfazer a esta tendencia, per assim di- zer, encyclopedica, do nosso seculo, eis o fim de varies generes de publicajSes, entre as quaes os jnrnaes scientiticos e litterarios oc- cupam um logar importante. TerA 0 Institdto no primeire anno da sua existencia preenchide esta missao? Nao somos n6s, quera o ha do decidir. Apenas poderaos prometter, que para o future ha de procurar satizfazer a estas con- digoes de seu fira, esfergando-se por se accom- modar a todas as intelligencias, e levar a instrucQao a todas as classes da sociedade. N'uma epocha, em que os esforges de tedes 03 horaens, que coraprehendera 0 seu dever, na parte que a providentia Ihes confiou na grande elaboragao do progresso e da civili- sagao, procurara chamar todas as classes, tudos OS individuos. A, meza do banquete so- cial, 0 aliraento do espirito, a instrucgao, nao iicanl sendo o patrimonio de algumas classes privilegiadas. Aquelles que, fortes com a consciencia do seu dever, animados pela grandeza da sua missao, antepuzerem e future da humanidadb aos mesquinhos intereaaea de alguma parcia- l.»— 1853 Num. 1. lidade do dia, se tal ptfde existir, n'lo scrSo acordados no sen doniiir de somno eterno pelas maldic^oes das gera^'oes f'uturas, as quaes tenliam legado como patrimonio a des- moraliza9rio e a ignorancia. BOLETIM DO INSTITUTO. CLASSE BE SCIENCUS PIIYSICO-MATHRMATICAS. Na sessao de 9 de raar^o do corrente anno, foi apresentado il classe de scicncias physico- mathematicas o parecer da respectiva coni- missao, que julgava habilita^ao litteraria siif- ficiente para a admissao a socio do Institiito, a memoria para isso offerecida polo candi- date o snr. Abel Maria Jordao ; e sendo vo- tado segundo o regulamento, e approvado, passoH-se era seguida A vota^ao para a,,?drais- 8ao definitiva do aocio proposto, o qua! fioou egualmente approvado e adifittido '^ socio do Institute. Tendo o snr. Jacintlio A. de Sousa side eleito secretario do Instituto, a classe elegeu para o substituir na qualidade de seu secre- tario, ao vice-secretario o sfir. Jos^ T. de Queiroz. O sfir. Director convidou depois com in- etancia os socios da classe a que escrevnssem sobre alguns dos pontos adoptados para cur- 803, niemorias e discussoes, fazendo sentir il classe a necessidade de chamar a sua attengao sobre este objecto, a fiiu de que nao parecesse indifFerente uo nieio das lidcs litteranas que occupani as outras sec^Ses do Instituto. Pon- derou tinaliiiente que convinlia eseolher d'en- tre esses pontos, aqneiles sobre que deviam versar as discussoes publicas da classe, obje cto, que ticou designado para ordem do dia da sessao seguinte. 0 Secretario da classe, J. T. de Queiroz. SYSTEMA I'E.\ITEM:IARI0. Uma das questoes sociaes que tern mereci- do, e mf reco ainda a inais seiia atten^ito dos governos, dos philosophos, e dos publicistas e a ado|,5ao do systema peniteiiciario para a repressao e preven^iio do crime por ineio da correcjao, e ediicayiio dos delinquentes. Ninguem hoje etn boa fe duvida da utili- dade de um systema, que representa o pro- gresso moral era um dos pontos mais irapor- tantes do organisrao social. Fora anachronismo qualquer relorma que hoje apparecesse de codigos penaes firraada nas velhas theorias criminaes, sera considerayao pelas exigencias de um systema penal, tilho da antiga disci- plina da egreja, fundado na auctoridade da razSo, e no principio da justiya, sanccionado pela experiencia de povos illustrados, que o t6m adoptado, e variamente modificado. Pende porem da escrupulosa averigua^'ilo dos factos o decidir qual dos dois systenias o de Philadelphia, e o de Auburn ; quaes das modilica^Ses a um e a outro tenham pro- duzido mais vantajosos resultado». Neste intuito se reunio um congresso penitenciario em Franckfort sohre Main em setembro de 1846, composto de juriscon- sultos, publicistas, e homens especiaes de muitos paizes; e nao temos por superfluo dar conhecimento ao publico das opiniocs mais respeitaveis emittidas naqiiella asserablea de sabios. Foi chamado a prcsidencia dessa reuniao Jlr. Mittermayer, um dos jurisconsultos, mais emincntes da Allemanha, e professor da uni- versidade de Heidelberg. Expoz no seu dis- curso de aliertura o estado das .sciencias roo- raes e politicas, occupando-se da questao da pena de moi te, qua ha vinte annos tem sido o objecto do tantas controversias. 0 Dr. N. H. Julius (de Berlin) deu inte- ressantes nuticias sobre o estado dos car- ceres na Prussia. Existem j;l feitos, e estao- se construindo penitenciarias segundo o sys- tema Pensylvanico em Colonia, Aquisgran, Berlin, Ratibor, llunster, e outros pontes. Ha na Prussia 26 estabelecimentos penaes, que contem 13:600 condemnados; corres- pondendo a uma popula^ito de 15 •/- ""'' Ihoes de habitantes, 1 condemnado a 1:168 habitantes. Mr. Jageman, commissionado pelo governo do grao duoado de Baden para assistir ao congresso, expoz o estiido dos estabelecimentos correccionaes do sou paiz ; e raostrou que a reforraa do systema penitenciario devia mar- ehnr a par da rcforma da legisla^ao penal. Disse que um systema de reclusao exclusivn- mente fundado nas inspira^Seg ardentcs, e sempre irrcflpxivas da philantropia eeria um erro ; e poderia dar margem a gravissimos abuses. Asfim o intcnd'-u o governo de Ba- den; e ao mcsnin tempo que reforma o seu codigo penal, nianda construir em Bruchsal sob o systema do isolamento coiiiplcto uma peniteneiaria, quo constara dc 416 ccUuias. Todavia a reclusao solitaria nao podera passar de seis annos ; e nao sera applicada alem de 70 annos de idado. Lindpainter, director das prisSes do ducado de Nassau, disse quo a reclusao solitaria estd tambem em practica no seu paiz; mas que a pena nao pode exceder a um anno. O fonde S. Karbeke fez conhecer o estado dos carceres na Polonia. Comeja-se ali a re- forraar a reclusao durante o processo, e de- pois a reclusao penal. Reconheceu-se vicioso o systema de Auburn ; mas no que toca k saude produziu efleitos maravilhosos ; porque baixou a 3 por 100 a mortandade que na prisao commiim era de 10 por 100 ; e fez desapparecer o tyfo earcerario. No espajo de dez annos apenas se notaram dois cases de alienajao mental. Mr. David (de Copenhague) deu explica5(5e8 sobre a refoi'tna penitenciaria no reino da Dinamarca. Tratou-se naquelle paiz prinieiro da reforina de cnrceres, do que na dos presi- dios. Em tres ou quatro annos Bcrao todos ob carcerea celiulares. O systema de isolamento absolute tem dado muito bous rcsultados. Estao-so construindo dois carceres para coiiter 400 presos cada uin, e outro cm Holstein para 320. Mr. Mtcnchen (de Christiania) disse que na Norupga o systema carcerario tem sido ato agora viciosissimo. Actual riicnte estao-se con- struindo, spgundo 0 systema pensilvaiiico, sete carceres de 114 cellulas cada um; uma prande penitenciaria que poderd cunteroOO mulhcrc; e outra para hoiuens de 230 a 240 individuos. Em 1849 ficarani concluidas e^ta8 construc- 95e8. Ficam abolidas as pcnas intamantes pelo novo codigo penal. Tambem na Suecia, disse o condi; Sparre, a organisa^ao penitenciaria estil muito atraza- da; e o numero de crimes tem crescido. Mas eatao destinadas quantiosas sominas para a coBstruc^iio de novoa carceres pelo syatenaa pensilvanico. Mr. Ducptiaux revindicou a prioridade do systema de Auburn para a Bel^ica. Aucto- rizado pela experiencia de 16 annos, diz que nilo tem produzido bons efleitos. Todos os directorea de carceres da Belgica cnncordam nisso, eno pasmoso numero de reincidencias: e assim julgam indispensavel a reclusao absolu- ta. O governo estil tao penetrado desta ver- dade, que preparou uma penitenciaria para 500 condeinnados. Mr. Dcm Text (da Hollanda) disse que se tem reconhecido incfRcaz e systema de Au- burn; se tem reduzido os presus ao isola- mento cellular; mas aein os privar de com- mnnicag.-io coin pvssoas, que niio scjam presas: e nom uma so voz se alevant'iu noa estados geracs contra este mothudo. Mr. W. Kussel, inspeclor dos carceres de Inglaterra, cxpoz o resuliado das suas obser- va^oos ; e pretiriu a reclusao solitaria ao sys- tema de Auburn. Mr. M. Luru.ico e Mittf-rmayer fallaram dos carceres de Toscana, e Lornbardia. Ne- nhum melhoramento hao experiraentudo por era; mas aguarda-se era breve ; porque o grao duque e o pontilice sao partidarios do systema penitenciario. Depois da luminosa exposicao que fez cada um do eatado daa prisSos do siju paiz, segui- ram-ae aa deliberajoes ; e accordou-se nas ae- guintes proposijSes; destinando nova reuniao em Bruxeilas em 1847. 1.' A reclusao individual deve applicar-se tanto aos accusados, como aoa reos, por f6rma que nSo haja communicacSo entre elles, af6ra OS casoB, em que a requerimento doa presos o magistrado do procegso a conainta nos ter- mos definidoB per lei. 2/ A reclusSo individual serd applicada aos que forem conderanados por pouco tempo com OB allivios que perniittam a natureza do crime, a individualidade, e comportaiuento dos presos. Sera cada preso occupado era tra- balho util; gozara todos oa diaa de algum ar livre; e receberA a instrucj.'io moral e litte- raria; tomando parte noa exercicios do culto. RecoberA as visitas que o regulamento aucto- rizar. 3.' Nas detengoes largas a reclusao indi- vidual serd acompanhada de allivios progres- sivoa compativeis com o principle da separa- yao. 4.* Ainda quando o eatado morboso, physico ou moral dos presos exija uma com- panhia conatante, nunca seril contiada a outro preso. 5.* As prisoea celluliires serao construidas por forma que todos os |)resos possao assiatir aos officios do culto, vendo e ouvindo o mi- nistro delle, e sendo vistos por este; mas seni quebra do principio da separajao. 6.^ A substitui^ao da reclusao individual a commum deve scr acompanliada da rainora- gao da pena nos codigoa penaes. 7." A revisao da legislajao penal; a instituigaio de commiasoes de inspecjao de prisSes; e de sociedades protectoras dos que concluiram suas penas, devem considerar-se como complemento indispeusavel da refornaa penitenciaria. Estas resolu5oea de uma assemblea tSo auctorizada, resuraem o fructo de porfiadas medita^oes, e conaummada experiencia. O systema de Auburn foi condemnado pelos seus resultados, e o Pensilvanico sanccionado pela practica. O trabalho em commum du- rante o dia entre homens votadoa ao crime e para esse fim organizados em assuciagoes: entre raalfeitores, que so conheciam e tratavam antes de fcreni presos, nao podia dar bom resultado A linguagem dosgestoa nuo s6 sup- pre, senao que ds vezes li maia exprcssiva, e pcriKOsa do que a oral. As couibitiaySes por uieio dos gestos znmbaiarn do silcncio ; e pre- pararam as cominunicajocs tt-legra]ihica3 ate de cella para cella; de que foram victiraas alguns em]iregados em uma penitenciaria. A reclusrio absoluta acha-se admittida, e auftorizada pelos fact'is em todos os povos civilizados. C.'icrry Ilill e Auburn, aymbolos de dois systemas, foram discutidos, e ac.irea- doa com as estadisticas. F(5de hoje asseverar- se que triuufou Cherry-Hill. E certo que a reclusao abaoluta, e deaacora- panhada de nieios bygicnicos, mormente intellcctuaes, produziu no principio muitos suicidios, rauitas alienagoes mentaes, e muita desesperagiio, que piorou o eatado moral dos presos, e compromctteu perigosamente a so- ciedade. Mas as prudentes moditicagoes no systema; o trabalho individual; a inatrucQao, a educagSo religiosa; e a tolerancia do trato com OB externoa regulada pela natureza do crime, tempo de prisSo, caracter, e babitos individuae!!, teem feito desappnrecer a mor- tandade, e Dumerosas reincidencias, que pu- nham em duvida a vantajein do systema Pen- silvanico. E para lamentitr que nesses congressos penitenciarios nao tenha apparecido urn por- tuguez ! quejnao varaos seguindo nesse genero de progresso humanitario os povos que nos precederara 1 que nao fosse traduzido em facto o projecto que appareceu em 1842 da con- Btruc^So de uma penitenciaria em Lisboa. Temos porera U que o Instituto de Coimbra fecunde com seus valiosos esfor908 uraa idea fertil, e de incontestavel ntilidade. M. O MOSAISMO E AS DOCTRINAS BELIGIOSAS DO EGYPTO. And still engage Within the same arena where they see Their feUowa fall before.... Byron. I. Se ha na historia najoes, onde a ac9ao da Providencia se manifeste de um mode bem claro e evidente, sac os Hebreus : a sua parte na civilisajao e no desenvolvimento humani- tario 6 immensa. Povo ikeologico por excel- lencia,^ forara elies os depositaries da cren9a da unidade de Deus, e da unidade e frater- nidade dos homens. Em quanto Roma se ele- vava apenas at6 a concepgiio da unidade de territorio, em quanto o polytheismo reinava por toda a parte, ellcs conservavam a idea de Deos unico, omnipotente, e immense; e esta preciosa idea, de novo revelada no Sinai, foi, escripta no bronze, doposta no sanctua- rio, como a proraessa, como a redemp^ao dos seculos futures, sobre a montanha de Siao f<5ra do alcance e dos insultos da conquista. Mas a missJXo do povo hebreu nao era senao preparatoria, devia cessar como vinda do Promettido das nayoes; era entao que esse germen devia desenvolverse e com- raunicar-se a toda a humanidade; era entao que se devia operar a verdadeira regeneragao do liomem e da sociedade. O povo escolhido nao quiz coinprehender esta verdade ; mas o christianismo elevava-se radiante sobre as bases da theologia mosaica, ao paseo que as aguias e os arietes romanos ameayavam a Boberba Judea, ao passo que nao ticava podra flobre pedra dessa cidade, que se charadra Jerusalem, e em quanto os descendentes dessa raja entao amaldi^oada vagueavam no mundo com o sfygma de deicidas impresso na fronte, e contirmavam de um modo o mais authentico as paiavras solemnes e ameajadoras dos pro- phetas. Mas esse povo escolhido, destinado a ser o berjo da doutrina, que devia mais tarde • Mendelssohn. regenerar o universe, niio era um povo isola- do, nSo constituia uma entidade desligada do vasto complexo da vida huraanitaria. A tra- dijSo mosaica revela antigas relajSes que o ligavam aos grandes imperios do Oriente, e a taboa ethnographica do Genesis mostra bem claramente que erani muito mais extensas do que n'outras epochas se julgava:' essas relajoes se manifestam desde a mais remota antiguidade com uma feijao mais particular a respeito dos Egypcies ; a civilisajSo d'esse povo, cullocado entre a Asia e a Europa, e que ferraava como a transijiio do Oriente & Grocia, participande simultancamente do genio daquelles deus mundos, devia sobre maneira influir nos Hebreus. Moises que tomdra sobre si a regenerajao desta nagao aviltada pcia escravidae, que fizera da idea de Deus o instrumento da educajae do seu peve, e que dissera aos judeus, sois uma nagao inietramente dietincia das oiitras,^ havia bebido a sciencia na corte de um Phara6, achava-se iniciado nos mys- teries do sacerdocio egypcie. ^ Participaria por ventura a theologia rae- saiea dessa influencia do Egypto? seria ella uma simples emanajlo dos sanctuaries de Memphis ou de Heliopolis? eu seria bebida nas proprias crengas e tradijoes judaicas c na revelajao divina? * N6s que crGmos intiraamente na missSe previdencial do povo hebreu nao hesitamos em seguir que as doutrinas religiosas de Moisds tin ham por base jd as crenjas nacio- naes, jd a revelajao e a inspira^ao. Nao tem faltado todavia, mesmo d'entre os theologos, quern veja nessas doutrinas a influencia dos Egypcios. A origera da questae rementa aos padres da egreja. S. Agostinho bem e dd a entender quando na sua Cidade de Deos (xviil, 89) protestava soleuineniente que os patriarohas e prophetas tinliani side iniciados pelo proprio Deus na sciencia da vida, e que a pretendida anli<;uidade dos Egypcies nao passava de racntira e do vaidade. ■' A opinilto do bispo d'Hippona doraineu na christandade ate ao seculo 17.°; mas entao foi a questae de novo agitada; procurou-se mostrar a mais intima anaiogia entre as duas theologias, entre as ceriraonias do culto, entre ' Erwald, Gesch. des Vollces Israel, t. 1 p. 270 eeg. 2 Ueuleron. XVIII, 14. 3 Act. Apost,\ll, 22 — Josephus {antig . jud.) e Philon (de vita Mos.) dizcm que o sacerdocio llie com- municou todos os conhecimentos, Dao exceptuando a sua philosophia exoterica. * Alfredo Maury, com quanto na Encyclopidie moderne iiegue uma tal influencia das doutrina egy- pcias, preteude todavia faier entroncar as cren^as e relif;iSo dos Hebreus nas cren^as e religiao da Asia, priucipalmente da India. Sao as mesmas ideas de Roynaud e de Clavel, cuja discussao e albeia do nosso proposito, mas a respeito das quaes diremos com Amp6re — os dous povos mais oppostos do Oriente sao os Indos e os Judeos ; nSo ha na historia contraste mais perfeito do que entre aa castas de BraUma e as tribus de Jehovah — 5 Vide S. Clem. d'Alex. Strom. I, 21. as crenjas e (iisciplina sagrada das duas re- ligioes ; e Kircher tanta impressao Ihe causou eeta pretendida aiBnidade (em cuja demons- tra9So insistiram dous theologos inglezes, Marshan e Spencer) que chegou a dizer que ou 0 Egypto procedia da Judea, ou a Judea do Egypto;* e a philosophia do seculo 18.° lan^ou mao destas ideas para corabater dire- ctamente a revelajao de Moists e indirecta- mente o Cbristianismo. * A questao tem continuado atd hoje, mas ob egypfologos tern encontrado uraa oppo8i9ao conslante nos sabios, que ajudados da sciencia • das novas descobertas vao tornando indis- putavel a divindade da religiao. ' O exame della constitue o objecto dos artigos seguintes, e a sua importancia mais saliente se raostra per ser o Egypto a na9ao da antiguidade que mais vivo interesse excita, e cujos vesti- gios, cheios de grandeza, de recorda9oes, c de mysteries, e destinados a servir de admira- jao is gera9oe8 que Ihes tem succedido na terra, sao, na phrase talvez exagerada, de Altmeyer, como um sphinx sagrado, como um grande problema, que exige aigda uma solu9ao definitiva. L. M. JORDAO. * Oedip. Aegypt. Prolyp. Agonist. C. 2 — Os tra- balhos dos antigos egyptologos foram compendiados porWitzius theologo hollandez na sua obra, Aegyptia- ca, eiue de aegyptiacontm eacrorum cum Hebraicea collatione. ^ Voltaire, Examen important de Milord Boling- brooke C. 5. ^ Devem sercontados entre os egyptologos, Schil- ler, Die Sendung Moses, de Wette, Biblia Dogm., MichSelis Mos. Recht, Reinhold, Die hebraisch. Mys- ier, Leroux, De VhumaniU, Reynaud, Encyclop. nouv iTi. Zoroaeire — defendem a nacionalidade e divin- dade da religiao judaica Valke, die Helig. desalt. Tes- tam., Hengstenberg, die Authent. des Pentateuch., Sal- vador, Institutions de Moise, etc. O RAHO DE AMENDOEIRA (Traducfao da 40.* Meditafao Poetica de Lamartine) Branca flor da amendoeira, Symbolo da formusura, Como tu, a flor da rida Florece e cae prematura. Quer das maus d'amor colhida, Quer n'umii trauma cnleada, Como OS prazeres que fogem Eis-te em breve deefolhada. Antes que voem delicias, Ao zetiro as disputemos; Antes quo fujam aromas, Nos calices oa libemos. A belleia fugitiva Pode i flor ser comparada, Qus antes das boras do baile Cae das tran^as ja murchada. V4e-ee um dia, outre surge, E a primavera a passar, Cada flor que o vento leva, Diz-nos: — cuidae em gozar. J4 que tem de perecer, De perecer sem tornar, ■ Ao menos do amor nos labios PoBSam as rozas murcbar. F. O CHBISTIAMSHO, A EGREJA E O PROGRESSO. Continuado de pag. 383. IV. Ao mesmo tempo que o clero decahia, o impulso, que a egreja havia dado k socieda- de, actuava sobre alia, e accelerava o raovi- mento do progresso. Os costumes raelhoravam ; a familia aca- bava de constituir-se k sombra das nascentes institui9oes munioipaes ; o assassinate, e o roubo, cessavam de ser factos quotidianos, e come9avara a ser punidoa como crimes ; a propriedade, a honra, e a vida do cidadao deixavam de estar d merce do mais forte. Foi um grande, e memoravel periodo, este do deseuvolvimento municipal. O pro- gresso actuava sob todas as suas Krmas nestas sociedades imperfeitas; o desenvolvimento intellectual e moral, acompanhava o raelho- ramento nas condi^oes materiaes da existen- cia physica. Do verbo do Golgotha nascera a arvora da liberdade, que, regada com o sangue dos martyres logo ao desabrochar das primeiras folhas, vecejava agora, abrigada &, sombra do municipio, cultivada earinhosamente pelas maos rudes, mas honradas, dos populares. Companheira fiel da sciencia, abriu-Ihe as portas do sancluario, onde esta vivera at6 alii encerrada. A sciencia deixou a alampada, que at6 entao a alumidra nas suas investiga- 9oes do passado, feitas em companhia do raonge pallido e taciturno, que, sem descen- dencia que o ligasse ao futuro, deixdra mor- rer a esperan9a, e apenas conservdra a me- raoria ; sorriu-se aos raios limpidos do sol do» campos ; sentou-se ao lar doraestico, e pro- curou na vida soi^ial o segredo da sua exis- tencia. Descendo da altura, a que a antiguidade a havia elevado, collocou se ao nivel da esta- tura huraana; e, alliando-se com a arte, con- trahiu um hymineu fecundo de progresso e civiliza9ao. Todo entregue aos mesquinhos interesses do dia, o clero havia perdido aquelle olhar de aguia, que de uma so vez prescrutava seculos inteiros. A idea do progresso niorreu em sua intelligencia ; e elle n3o conheceu qual era o logar, que Ihe pertencia neste grande moviraento da civilizajao europea ; nao viu que, se o povo se instruia e mora- lizava, era nccessario que a sua in8truc9ao e moraliza(.'ao fosse sempre adeante da dos povos, a tim de conscrvar a siipremacia, que n'outras eras Ihe havia dado a sua incontesta- vel superioridade intellectual e moral. A egreja involveu a fronte no manto da sua tristeza ; chorou na solidao os erros dos seus ministros; e, confiada nas palavras do seu Creador, que Ihe promettera a immor- talidade, BUpplicou ao Etemo que Ihe abre- ■viasse estes araargos dias de tribulajBes e de jirova. Mais de urn raciunalislu da epnctia pe riu no fiindo do seu cora9ao, e nieditoii iima injuria para cuspir na face daquella, que ■esperava ver dentro era pouco baixar ao tu- aiiulo, envolta no lungo sudario de torpezas tecido pelos seus eacerdotes. Estes, veudo quo os povos progrediam, e que esse progresso, do qual desconheciam a causa, Ihes roubava a antiga influencia, ten- taram obstar-lhe. Nao sabcndo, ou nao que- rendo, coUocar se il frente da civilisayao, que em sua niarcha os doixava dquem, pretende- ram sustel-a. Era uma lucta louca e inutil, esta do ho- niein contra Deus, que creara a lei do jiro- gresso na ordeni moral da hunianidade. No entanto luctou. A epocha dos nninicipios foi uma cruzada immensa contra a tyrannia do feudalismo, <]ue via com dor ir desabando aos golpes do alviao dos populares o raassi^o edilici fraco, do nobre contra o plobeu ; e a religiao de Ohristo e a raiie do pobre, i a protectora do fraco; e, superior aoa pequenoa orgulho:? destes vermes, que se arrastam na 8U|)erlicie da terra, e se chamam homens, nao Ihes conhece desiguaidades peraute a grandeza do Omnipotente. 0 progresso luctou contra o obstaculo ; e o obstaculo foi o abuso, niio o principio; foi o facto, nao o direito. A ri'voiu^no anti-religiosa do seculo XVIII foi jil a segiinda phase dessa grande lucta, que rebciituu com Luther, continuou com Voltaire, e niorreu com Chateaubriand. Como e possivel ver associados estes tres nomes, o niongo euthusiasta, o philosopho atheu, e o litterato chrislao? E porque cada um delles resume o espirito da sua epocha, da phase da luesma revoluyao, em que tomou parte. Luther representa a primeira, enthusiastica e fogosa, tendo por fim revindicar a liber- dade, que pela primeira vez ae Ihe negava; moderada era seu principio, exagerada so- mente pelo erro, e pelas paizSes. Voltaire representa a sep;unda epocha da revolusao; representa a reac^ao systematica, calculada, e ao mesmo tempo violenta ; exa- gerada no seu fim, e nao poucas vezea im- moral e criminosa, nos meios que empregou para o attingir. Chateaubriand i o sol depois da tempesta- de. Representa a reac9ao reiigiosa do scculo actual, tendente a corrigir a epocha prece- dente da revolu9ao, e reduzil-a aos seus ver- dadeiros iimites, a assental-a em bazes raais solidas, pondo-a era harmonia com a natureza do homera, os seus sentimeutos, e as suas necessidades. O progresso triumphou do clero, a veiu depositar no pedestal da cruz os louros da sua victoria. Os Marti/res foram a elcgia do vencedor magnanimo, que veiu ao campo da bataiha cantar as antigas glorias dos ven- cidos & beira do seu tumulo. O Genio do Christianismo foi o seu hymno de victoria, cntoado ao arvorar de novo o estandarte da eruz, que no revolver do combate havia aido lan9ado por terra. Continim. J. J. DE OLIVEIRA PINTO. AUGUSTO LIMA. Si la poegie est rhisloire uni~ verselle du coeiir de rhorooie, la po^sie lyrique en est la cbrODique et le journal. La Balance. Chants du Cr4- puscule — Vici. Hooo. E noite. Mas uma d'estas noites em que a lua, coando-se atravez dns salgueiros do rio, povoa as suas margens d'estes seres phantas- ticos e vaporosos, sonhados por Ossian nos lagos da Escocia ; em quo o brilho das estrellas amortecido, mas voluptuoso, 6 como o lan- guido olhar da donzela, jurando fallazes protestos d'ura amor eterno. Aqui, junto a nos, como a natureza dese- nhou um quadro, tao magnlHco, quanto me- lancolico ! Nao ouvis, como urn suspiro de saudade, o brando sussurrar da brii^a por entre as ar- vores do bosque? Nao ouvis o timido escoar da fontinha, como ura segredo d'amor murmurado ao ou- vido do araante? Nao vedes aquella rosa, proxima d fonte, rodeada d'abrolhos ? E como ella vive do seio de tantos espinhos sosinha e solitaria, como a luz vaga da esperanja no meio das tor- mentas da vida? E que a agua da fonte a vivifica; 6 que o melancolico murmurio da agua llie mitiga a saudade, Ihe alivia a dor. A rosa k o amor. Os abrolhos sSo as decepgSes. A fontinha 6 a poesia do soffrimento, a resignagao na dor, a e8peran9a... no futuro. Eis a imagem das poesias do sFlr. Lima. Araou, mas araou uma mulhcr, que nao soube comprehender a grandeza da sua alma, que pisou aos pes as suas mais fatidicas espe- ran9a8, que desfolhou uma a uma as suas illusSes mais queridas. Essa mulher com o cora9ao regclado pela indifferenga disse-Ihe um dia — esquoce-mc! E o snr. Lima sentiu todo o peso d'esta blasphemia A religiao do coragSo: a sua alma a este golpe inesperado vacillou, mas gragas aos ceus, nao desereu. Podia, ardendo cm ciumes, como o Otlielo de Shakspeare, cravar ura punhal no peito- d'essa porfida mulher; podia, como o Wer- ther do Goethe, acabar a vida com o iim tragico de suicidio ; podia at6, como o Jacopo Ortis de Foscolo, renegar o sou ser, araal- digoar o Eterno e os obras da creagao; mas nao 0 fez. Tomou a lyra suspirosa de La- martine ; cantou a sua magoa, a injuria que a mulher Ihe cuspiu tias faces; mergulhou-se em pranto e escreveu uma quadra sublime em que transluz toda a amargura da sua alma, baptisada pelo soffrimento. E um grito plangente, agudo, arrancado do intimo do peito, 6 o grito do mancebo, que viu dis- siparem-se-lhe as iUusoes, como o fumo, ao sopro da realidade. E o iindar d'uma qua- dra dourada, em que tudo k prazer, felici- dade e crenga; 6 o principiar d'uma outra bem negra, em que tudo e dor, decepjao e scepticismo. Vejo agora que nunca d'est'alma Nem sonhaste sequer a extensao... Tao de pressa alto mar nao se acalma Nao se abafa tao cedo o volcao ! Mas apesar d'e:^te deseugano atroz, o fogo desolador do scepticismo nao raurchou a flor vigosa da esperanga. Ainda ere c julga im- possivel esquecel-a, como 6 impossivel a lyra do bardo esquecer-so de geraer, ao peito da virgem esquecer-se d'arfar. Esquecer-te! que dizes, que pensas? Como pusso teus votos cumprir S'inda lucto co'as fraguas imiuensas D'um amor que s'enrosca ao porvir? E Stenio auiaado a Lelia com o amor de poeta e de mancebo, a quern a duvida nao tem ainda embotado o sentimento e a razao. E Stenio aportando-a nos bragos, collando OS seus labios nacarados e ardentes nos labios pallidos e frios de Lelia, quo o repelle, dizen- do com uma voz secca e dura — laissez-moi;, je ne vous aime plus. E Stenio quer vingar- se d'essa mulher, matando-a, mas recnrda-se de que Ihe 6 indifferonte a vida. E Stenio d'amaute apaixonado e louco, quer tornar-se philosopho e frio, e ao tim de tres palavras nao p6de suster a dor dentro do peito e c pranto rebenta-lhe dos olbosl O snr. Lima cantou a natureza e o amor, estes dous tliemas de poesia, primitives, mas- sempre inexgotaveis e vigosos. 8 Segundo o auctor do Cromwell a poesia tem tres idades, das quaes cada uma cor- responde da tres phases successivas da civi- lizagao — os tempos priraitivos, antigos e nio- ■dernos ; a ode, a epopea o o drama ; a Bi- blia, Homero, e Shakspeare. Se ha epochas, em que o presente res- peita as institui^oes legadas pelo passado, ha outras tambem, em que estas desabam em ruinas, sobre as quaes se construe o edificio do future. Este reluctar de cren^as a que hoje assistimos no raundo politico, b o pre- cursor d'uraa nova era de renova^ao social. Affonao de Lamartine com a inspirajao de propheta o vaticina nos Destinos da poesia. O mundo politico reflecte-se no raundo litte- rario. K a poesia accompanha passo a passo a sociedade das suas transformajoes progres- sivas. A nossa epocha 6, para assim dizer, o arrebol d'essa transforma^ao, e assim corao na aurora da humanidade, n'esses tempos priraitivos ou fabulosos, a poesia hoje tara- iem 6 lyrica. Que a poesia, nos tempos raodernos, re- Tiasce pela ode, 6 impossivel negar-se, e tanto Victor Hugo conheceu esta verdade, que disse ■no prefacio d'um dos seus dramas, que a nossa epocha, par iasp que dramatica, 6 emi- nenteniente lyrica. E o que ha de raais se- milhante, diz elle, entre o principio e o fim; o por do sol tera seus vises do nascer; o ve- Iho torna-se infante. Parece-nop, que o celebre dramaturge fran- cez se exagerou um pouco. Talvez a is'^o o levasse a sua paixao pelo drama, e a lem- bran^a de que e logar vago pela morte do auctor do Macbeth podcria ser occupado pelo auctor do Hernani. Olhemos para a Fran9a. A reacfae littera- ria, que desde 1830 se tem operado, nao co- me^ou pelo drama, mas pela poesia lyrica. Depois das can(,'oe3 de Beranger, das elegias Jitstttuto, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO, -s«»— CARTA DO s5(K. A. HEKCULANO A FACULDADE DE UIKEITO 0 sfir. A. Herculano aoaba de dirigir d faculdade de direito por via do seu presidente, 0 ex."" prelado da universidade, a carta que se segue : 111.""' e Ex.""" Sfir. Nao ignora V. Ex." que no estado actual das sciencias historicas nao 6 licito aog historiadores limitarern-se & narrativa dos successes politicos, no nieio dos quaes os povos 86 constituirara, desinvolveram e pro- gredirani no caminho indefinito da civilisa- 52o. Cumpre-lhes collocar ao lado dos phe- nomenos da vida externa das nayoes os que foruiaiQ a sua vida interna, a sua autonomia. Sao duas ordens do factoa que mutuamente se explicam, e sera cuja approximayao a philo- sophia historica seria impoesivel. Tendo comnicttido, por uin amor das cousas patrias muito superior its poucas forgas que em mira sentia para tamanho assumpto, escrever a historia do nosso paiz, vim a achar-me pelo decurso do nieu trabalho n'lima situajao difficultosa. Estavam de um lado as doiitrinas da sciciicia que me constrangiam a desenhar o quadro das instituijoes de Portugal no periodo era que esta sociedade se constituia: estava de outro lado a niinha incorapeti-ncia para o fazer. Nao sendo jurisconsulto, nao bavendo recebido no seio da Faculdade de Direito dessa Universidade os elemenlos que podiani habilitar-me para deduzir de monuraentos ils vezes quasi inintelligiveis, aerapre obscuros e pela niaior parte nunca cstudados, o direito publico e civil daquellas eras semibarbaras, fallecor-rae-hia o esforjo para proseguir na empreza, se nao viesse animar-me a esperanja da indulgencia daquel- les a quera especialmente pertence aclarar nessa parte as trevas do passado. Consolava- j me tambem a idea de que, se as minhas apreciajBes dos factos sociaes que nos sub- ministrara os monuraentos dos seculos XII e j XIII podiam ser mais de unia vez inexactas, j a exposigSo d'esses factos, feita com a sinceri- dade e escrnpulo de que me parece ter dado i alguraas provas, devia sem duvida ser util aos homens professos em taes materias, para doB mesmos factos tirarera inducjSea mais luminosas aobre a indole e characteres das inBtituigoes primordiaes do paiz. Foi por ieso ' Vol. II. Abril que no VII livro da Historia de Portugal, e ainda mais no VIII publicado agora, procurei estribar nos textos lielmente interpretados e transcriplos as minhas affirmativas. Assim, ao lado de muitos erros que alii haverd, fi- car.ao os meios para outros mais babeis acer- tareni. Este systems, que adoptei com des- vanlagem para o efFeito purameute litterario da obra, tenciono seguil-o no immediate vo- lume, dedicado ainda d organisayao social do reino nos seculos XII e XIII. Mas, para que o resultado de um preceito da sciencia se nao reputasse ura impulso de vaidade, importava que eu proprio fizesse, perante quem a devia fazer, a confissao solemne, diganios assim, da illegitimidade dos meus titulos para tractar materias de pro- fissiio alheia. E por esta razao que tomo a libcrdade de dirigir esta carta a v. ex.^ como prelado da Universidade, e de por nas suas maos dous exemplares do IV volume da Historia de Portugal, um dos quaes eii desejaria subujetter & censura da Faculdade de Direito, unicamente como testeraunho de que reconheQo que a ella em particular com- pete rixar as doutrinas historicas era relajao ao antigo dii'eito publico e privado de Por- tugal. Sou com a maior consideragao,— do v. ex.* — venerador e criado. Lisbon, 28 de marjo de 1853. A. Herculano. Esta carta, que mostra olaramente a con- sideragao que o auctor tem pela faculdade de direito da nossa universidade, foi com o exemplar do IV volume da Historia de Por- tugal apresentada pelo ex."'" prelado ao oonselho da faculdade de direito em sessao do dia 13 do corrente abril, e o conselho decidiu por unanimidade de votos ^ liaviam cursado nas universidades de Italia, e particulanuente na de Boloulia, a mais afamada, entao, entre todas pela sua oscI^oIh de direito. Deviam elles |ior isso transplantar para a nova uiiiversidade os systemas, quo alii lives- sem aprendido, e seguir os auctores por onde se liam as sciencias n'aquellas universidades; o que torna mui provavel a 8upposi9ao de que o Digesto se explicava pelas glosas de Acursio, oujas opinioes eram entao citadas no foro, como lei expressa. A eschola de Bar- tholo devia pouco depois iuvadir a nossa juris- prudoncia, conio a de todas as na9oe8, que toraaram o direito rouiano por base da sua legisla^ao. Assim, poucos progresses podiani fazer entre nos ate ao fim do seculo XV os estudos juridicos sob o influxo d'aquellas duas escholas, que tao piejudiciaes foram ao verdadeiro estudo do direito romano, depois de re^tamado no Occidente. O direito canonico nao escapara d fatal inflnencia dos glos^adores, e interpretes. Nesta epocha, porem, o Decreto de Graciano, ap- provado ]ior Eugenic III, comcgara a ler-se, por sua aucti^ridade, nas eacliolas de Boloidia, nomeando-se para as ligoes d elle dois profcs- sores, dos quaes um fora o mesmo Graciano ; e eis aVii talvez a razao porque so mencionam duas cadeiras de direito canonico nos estatutos da universidade, onde aquelle Decreto se devia tor introduzido conio texto das lijoes da jurisprudencia canonica. Nao vem &> nosso intents referir aqui os muitos e graves dcfeitos desta compila(;rto dos canones; cunipre porem notar que o Decreto de Graciano, ordenado segundo o methodo eseholastico, at6 ent?io cstranho A. sciencia canonica, e composto de maior numero de leis romanas, do que todas as precedentes compila^ocs, devia ser adoptado com preferencia em todas as escholas, onde comejava a florecer o estudo do direito roma- no, e por isso nenhuma duvida pude resiar de que por elle se lera em Coimbra o direito canonico antigo, em quanto o pontiticio seria explicado successivaraente pelas Decretaes de Gregorio IX, polo Sexto, e pelas Clemen- tinas. Ate d tomada de Constantinopla, no meio do seculo XV, a medicina arabe prevalecia em toda a Europa, auctorisada pelos escri- I ptos e lijijes dos mais insignes medicos, que [ nas famosas escholas dos aralies de Ilespanha, e nas que, a imita^ao destas, se fundaram em Franga e noutros paizes, durante os se- culos XI e XII, tinliam ido beber aquellas doutrinas. Assim, OS interpretes e commentadores arabico-galenicos douiinaram exchisivamente em a nossa eschola niedica at6 aos fins do seculo XV. As obras de Avicena, e de Razis tinham a primazia; e a medicina hippocratica era quasi desconhecida entre nos, ou pelo menos nao se fozia d'ella estimacao. Neste ponto nao podia, por tanto, ter grande iniportancia o ensino da medicina, que entao se lia na universidade cm uma unica cadeira. Nem dos professores que priraeiro leram esta sciencia na universidade, nem dos seus escriptos, se purventura alguns destes existi- ram, resta memoria. A mesma obscuridade reina cm tudo que respeita ao ensino da faouldade das artes: devia elle ser perfeitameute eseholastico, e exclusivanieute votado & philosophia arabico- peripatetica, entao dominante. Tal era a organisajao litteraria da univer- sidade, depois que D. Diniz a trasladara para Coimbra em 1307, e com a qua] subsistiu com mui pequenas differengas nos reinados seguintes at6 D. Joao I. Eram entao os saUrios dos mestres mui diminutos, se os conipararmos com os de tempos posteriores, mas talvez avultados em relagao ao valor do nuraerario, e ao prejo dos gene- ros n'aquella epocha. 0 mestre de leis tinha 600 libras de prata, cada uma das quaes equivalia a 36 rcis' : os de canones e de medicina, 500: o de gram- matica, 200 : o de logica, 100 : o de rausica, 6:") : a 40 libras eram dadas aos dois conser- vadores. ^ CouHnua. J- M. DE ABREU. OS TRIBL'NAKS DE AMOR NA MEIA IDADE. Se n'uma epocha em que oamor andava as- sociado na opiniao e na poesia a tudo que ha de mais bello e generoso, se n'uma epocha em que elle era o ser ideal que dominava os torneioB, as batalhas, a corte e a poesia, a importancia das mulheres era imraensa, uma institui^ao. He que jd achamos vestigios na Fran(,-a antes do seculo XI ^, veiu tornar ainda mais brilhante essa importancia. Falla- mos dos cclebres tribuuaes a que nesses tem- pos todos de galantcio e de cangoes, e era que 1 Esci-ipt. cit. n« nota 4.' 2 Elaeidario deViterbo — verb. 2«Vra«. = L. Fer- reira § 3U3. 5 Mormente na Provenfa, Romarin, Piirre Feu etc. 16 amor e pocsia erara quasi synonymos, ' se dava o nome de Cours d'amotir. O fim deste ciirioso poder jitdiciario era docidir as disputas dos poetas e poetisas, e proniinciar em ultima instancia sobre ([lies- toee amorosas e cnprichos de amantes. N'um d'osses tril)im;ic9, iiresiHido pela cnndeBsa de Champagne, foi mui questionado se, tendo lima dama imposto ao sen amante a rondi- ^no dc nao e>.altar em publico o sen mereci- mento, e tcndo elle violado a condi^ao por ver atacada a honra dessa daraa, deveria ou nao perder o seu amor. Verdadeira parodia dos tribiinaes judicia- ries, estes tribiinaes de Courtoisie et de gen- tillesse, cnmo Ihes chama Fauchet *, compu- nham-se de cavalleiros e damas do grande mundo; impunham penas, presereviam a for- ma dos romphiteiifos, ou os artigns de recon- ciiiajao entre os amantes ; e eram yX perma- nentes, como os de Hermengarda, viscondessa de Narbonna (a quem o trovador Pierre deu o nome mysterioso de Tort n'avez), e o da celebre Leonor de Poitou ; yX temporaries, funccionando s6 por occasiao de festas e das denominadas cours jyleniires, ou quando assim o exigia algum facto notavel da gaianteria. Dissemos que estes tribunaes decidiam em ultima instancia, por isso que liavia juizes inferiores, dos quaes para elles se recorria ; taes eram o BnilU de joie, o Vicaire d'aniour dans le Dtslrict de joie, etc. Estiis dieputas amorosas tinham o nome dc tensons, e eram decididas jA polos casos jul- gados, jil por uma especie de lei de 31 ou 32 artigos, a qual, se dermos credito a An- dr6 Oapella, historiador desta instituifSo, se julgava ter sido descoberta no tumulo do famoso rei Arthur por um cavalleiro bretao. A esta lei toda poetica tambem niio faltou um comaientador ; houve um jurisconsulto tSo pouco poetico, que se lembrou de Ihe escrevc^ um commentario, o qual Marchangy compara com muito espirlto aos eellos de churnbo que as alfandegas poem nos finos gazes d'ltalia.' Essenc^ialmente nascida do espirito de ga- lanteio, esta instituijao, com quanto t,ilvez op- portuna em sua origem para fazer penetrar nos costumes a cortezia e lealdade, punindo OS infractores com a pena da opiniao, veiu com o tempo a degenerar n'uma verdadeira libertinagem a.ik desapparecer de todo no se- culo XIII. L. M. J. I Neste Beotido podia Petrarcha dizer do trovador Arnald Daniel : tGran maestro d'amor, ch'alla sua terra, "Aticor fa onor col dir polito e bello.^ ' Orig. de la lang. et poh. franc. L. 2, p. .'')78. ^ Gaule poetig. t. 3, pag. 222, not. 2. CEMITIvRIO DE COIMBItA. Continuado de pag. 383 I O alto da Concliada, na extreraidade 0, da quinta do sfir. Pio, d o local escolhido para I o cemiterio de Coinibra. 0 seu portico, em relavao & torre da Univereidade, tica a N. 22* ! O. O parallclogrammo que o liroita tem os lados maiores na dircc(,'!io 0. 12" S. a E. ! 12° N. ; e em todo o seu comprimento o terreno desce com exposiyao ao N. j A orientagao do ceniiterio 6 a melhor que 1 se poderia escolhcr. E verdade que nestes [ sitioB prodomina o vcnto N. cm grande parte do anno; mas 6 geralracnte sabido que o abaixamonto da teniperatiira, proprio deste vento, dirainue o poder nocivo dos miasmas deleterios, talvcz pela constricgiio dos orifi- cio8 absorventes, em consequencia da impres- j sao do frio, e da reac9ao que appareoe de- I pois. A coincidencia da humidado atmo- [ spberica com o venlo O., e da eleva9ao da tem- peratura com os ventos E. e S., relaxando os tecidos animaes, diminue nos individuos a forfa de resistencia d acjao deleteria das ema- na93e8 putridas, e assim augnienta a insalu- bridade destes miasmas, quando trazidos por aquelles ventos. Um cemiterio situado a E. S. ou O. a6 poderia admittir-se, quando, entre o ponto eaciilhido e a cidade uma floresta, uma col- lina, ou outra circumstancia especial tizessem elevar os miasmas, ou os desviassem de mode que estes ventos os levassem por cima ou aos lados da povoa^ao ; e tambem quando o ter- reno ao N. fosse baixo e humido, ou tivesse outras condi9oes improprias d'um cemiterio. A exposi9ao ao N. 6 tambem conforme com OS preceitos da hygiene. Como a parte mais elevada do cemiterio 6 a que tica para o lado da Cidade, o vento N., depois de ter levantado os effluvios cadavcricos, eleva-se no alto da Conchada, ganhando uma altura, que o faz correr por cima da Cidade. Cora esta exposi9ao, o terreno 6 lavado pelos ven- tos E. e O , que levam os miasmas, por f6ra do cemiterio, para Montes Claros e campo de Bolao. N5o ha fontes, po908, ou ribeiras que de- vara inquinar-se dos productos cadavericos. A cisterna da casa do siir. Pio, com agua des- tinada para uses domesticos, dista do cemi- terio 222° e ha de permeio um pequeno valle. O terreno da Conchada ha de favorecer a decomposi9ao cadaverica. A forma9ao do cal- careo de Coimbra & que dd assento ao cemi- terio. Este calcareo pertonce & parte inferior dos terrenos jurassicos, pela sua po9i9ao abaixo do oolithe e pelos seus characteres paleontologicos.' < Neste e n'outros trabalhos que emprehendi, o 17 As suas camadas comefann inferioriuente por conglomeradoB e breccias calcaieas, pas- sando logo a um calcareo argiloso, amarel- lado, muito duro, d'aspecto e fractura ter- rosa. E atravessado por veioa de calcareo spatico, em partes cavernoso, contondo ac- cidentalraente peqnenas por9oe8 de iiiHgnesia. Entre as camadas d'esfe calcareo apparecem pequenos leitos d'argila e calcareo terroso, terminados siiperiornicnte por uiii calcareo mui rijo e cavernoso, com pequenas- camadas de silex branco. Em geral, a estractificagao de todas as camadas 6 bem pronunciada ; mas apre-en(a a cada passo intersecjoes de pequenas f'allias, que atravessam a formajao at6 grande pro- fundidade, dividindo as camadas em grandes massas prisraaticas. Ha por^iii outras falhas d'uma ordem superior, verdadeiros valles de retracqao, que lanfados do poente ao na?cente deram logar aos valles de llontarroio, Coze- Ihas etc., separando em rauitas collinas este grande massigo calcareo. Uraa deslas collinas i 0 alto da Conchada, escolhido para o cenii- terio. O Bubsolo da Conchada, entre o seu cal- careo e a pequena camada de liunius, ou terra vegetal, 6 terreno de alluviao, de data incerta, d'uma espessura variavel de 0™,5 a 3°", composto de argila ferruginosa e calcarea, com areia siliciosa e pequenos seisos da niesma natureza. Os enterramenfos hao de fazer-se no terreno d'este sub-solii; ou, antes, na mistura d'elle com o humus e calcareo da collina, que reune as condigoes geralraente exigiiias no terreno dos cemiterios, para cujo fira tem preferencia OS compostos de cat, argila e areia; uao po- ' demos porem scientlficamente designar o seu grau de bondade, p irque nao achamos de- terrainadas com prccisilo as prupor^oes em j que devem estar os tros elemfiitos geulogi- [ cos, nem a influencia directa, que elles pos- j sam ter na decomposijao cadaverica. Apenas ■ vemos apontada a sua influencia indirecta, pela propriedade, que tem o terreno assim composto, de se repassar da humidade na I proporjao mais convcniente & putrofacfao ca- daverica. A cal soponifica as gorduras do cadaver, e por isso, longe de apressar a decomposiyiio dos tecidos, como se ere vulgarmente, pelo contrario a retarda. Da argila e da ai-eia nao conhecemos alguma acjao chimica sobre OS tecidos organicos. Cada urn dos tres mineraes, considerados de per si, p(5de ter uma certa acjao physica. ■ A cal e argila, absorvendo os humores cada- vericos, e a areia, deixando-se repassar dos sr. Carlos Ribeiro no campo, calcflndo oa terrenos, e no gabiuetc com os fosseis na mao, coadjuvou-me Bempre com os sens notorios conhecimentos geologi- coB e geodesicos. Folgo de poder aqui festimunhar 0 meu profundo reconliecimento por tao valioaoa ser- vi^os. mesmos humorea, promovem a seccura dos tecidos. Parecendo assim desfavoravel i decompo- sijao cadaverica a acjao isolada d'aquellas tres subslancias mineraes, e sendo practica- mente sabido que a putrefac^ao 6 mais prora- pta noB terrenos que tem aquella composijao, parece que deveremos attribuir o phenomena d sua influencia indirecta; isto 6, d, sua per- meabilidade em certo j^vAu, em quanto a chi- mica nao adeantar os nossos conhecimentos a este respcito. A distancia do ceraiterio da Conchada 6 cxeessiva' — SuO." em beta recta, e Loll."" pela estrada que se ha de abrir por Montar- niio, cerca da Grar;a etc.; mas este inconve- niente deverd desapparecer com o systema de carreteiras ou uarros mortuarios, que a Ca- mara tenciona adoptar. Km geral podemos- dizer que a sahibridade das povoajoes ganha com a maior distancia dos cemiterios; mas o servijo evidentcmente se difBculta na pro- por^ao da distancia. Conciliaudo com a hy- giene a commodidade do servijo, 6caria ra- zoavel a metade da distancia da cidade & Con- chada, se 0 terreno o permittisse. A. A. DA COSTA SIMOES. ' Segundo Foy esta distancia deverA eer d'alguns centenHres de metres. Maret marca 25 a 30 pes- (70'°, 1975) a 91",4.37) para o espacjo atmospherico in- feccionado por um cadaver, deveudo diminuir 2 a S pSa (G^jOaoS) a (y"',U37) por cada pe de profuadidade nos cadaveves sepultados. Tambem faz entrar no calculo a refraci;ao dos raios miasmaticos na razao da piofuudidade da oepultura. A MINHA VIDA Pobre poet:i, a tiia vida Que triste vida nao e ! U'llliHoes que to cercaram Neubuma resta de pi, No peito frio-gelado Morreram creni;a3 e fe. Eu tive crenQiiB no mundo, Seoti as cien(ja3 fiuar; Tive f^ n'uma douzella Dc liiidos olhos sem par, Mas vi a dama formosa Mentidas fallas fallar. Era bella, era formosa, Tao formosa como o lirio, Amei-a com desespero Com freneei, com delirio; De.i-lhe a c'roa do pofta Deu-me a c'roa de martyrio! D'um sorriso na aniargura Soletrei-lbe a decepjao; Imploreillie um — sim — nos labios, Esprigulijou-se-lhe um-nao. Era 0 gelo quando cahe Sobre as lavas d'um volcao. 18 E depois eii tantos praritos E tiio sentidoa cliorei, Que »8 miubrts faces coitadus Com esses pvautos createi, A magna jiuugcnto o triste Comigo nioaino calei. Essa ft n'alma embnlada Eu vi-a n'alma cxtiiiguir, JSeoco\i-se-mo o sentimeuto Poi" tao at'*-*rho sentir: Veio a mil" da imlift"reii(;a Men cora(;ao compiiniir. Yi a morte dc bcm perto, Cruzei 03 brakes, Borii. Novo amor me prometteram, Mas da promessa di^scri, Amisade me olVerlavatn Mas dosdenbei, m;is liiigi. E a flor da minba vida Murcboii se ainda em botSo, Pelas lagrimas fanada Que bvotaram d'afflicQao, Por essas dores que devo Da desgra^a ;1 fevrea mao. E rojadas no p6 essas cren(;a3 Tcnbo f^, teiilio ereiii^a em Jesns, Tenho K no amor do F^tcrno, Tenho creucja no astro da cniz! E. MARECOS. O MOSAISMO E AS DOUTItlNAS IlELIGIOSAS no EGYPTO Contiuuado de pag. 4 II. Toda a pliilosophia tem antecedentes, diz Vai'herot ' : o neo-|ilatonismo intcrro(;;a sue- cessivamciite Orplieu, Homeio, Hesiodo, Pytliagoras, Platuo, Aristoteles e Zcn;io, e descobre nelles n germen, o fiindo do seu proprio pensamento : do nicsmo modo a In- dia p&a sobre Grecia, esta brilha sobre a cidade de Romnlo, e ainbas veiu a modificar a civilieafao dos tempos posteriores. Nesia coiiimiinioa^'Jo universal do gcnioj ncste niagnetismo fern fini, conio ihe chama Airud JIartin, 6 difficil assignar a parte de cada na^ao. Que a thecdogia e ao mesnio tempo pro- funda pliilosophia de Blois^s tem antecedentes, iiao o negamos; mas para os conhecerraos nao <5 o Egypto, nao 6 a India, nao e a Persia, que devenuis interrogar; sac as cren^'as do povo licbreu, sao as tradijoes conservadas pelos patriarcbas, sao as doutrinas a elles re- voladas pelo Decs de Abraliao e de Isaac. Na materia que ncstes artigos nns propo- tnos tractar devcmos distinguir as cerimo- nias do culto da essencia c da substancia do dogma. Que naquellaa haja em parte alguma ana- • Hist, de VicoU d'Alexand. t. 1. p. 1. logia cntre os hebreus e os egypcios nito o ncganuis, c Calmet nas suas Disscrta^ucs so- hrc a Esciii/lura jtSaiictii o cjnietisa ' ; mas 6 por outre lado bem conhecida a leuacidade com que os proplietas procurarani afastar os judeus de nuiitas practicas supcrsticiosas que liavi:iin trazido do Egypto. ^ N63 conaidci'amos a queslao tiio f6raente em rclai,ao ao dogma, pondo de parte o que diz fL'spcito ao culto, por tir nclla pouca ou nuidiuma influencia. A Relij;iru) tJath')lica nao se pode negar que participa alguin tanto da antiguidade em algumas das cerimonias de seu culto ; mas diremos por isso que olla nao 6 mais do que iima derivai^ao das falsaa religioes que a precederam'i' I'or ctrto que nao, e e neste sentido que se devem entender estas palavras que Chateaubriand deixou eseriptas no seu Gcnio do Christianisnio — - OHO instanU evi que jixamos os ollios sobre o sacerdoie chiistao jubjamo-nos transportados a patria de Numa, de l.ycu.rgo ou de Zo- rvadro.yi Espor rapidamente as doutrinas religiosas dos Egypcios, eomparal-as depois com aa de Moists, 6 o systema que vamos seguir, para tornar mais saliente a verdade da pro- posi^ao que apresentAmos no primeiro artigo. Os auctores que tem escripto sobre esta parte da historia dcsse povo ou cxaggeram sobre maneira a sua sabedoria, como tizeram OS neo-platonicos' e os sabios francezes que acompanliarau\ Bonaparte a esse paiz ou caliciii no excesso contrario deprimindo-a em deuiasia, como Brouwer, Letronne e Am- pere. Que o Egypto era um p;)vo dos mais il- lusirados da antiguidade nao ha negal-o. O poela hcbreu, querendo exaltar a Salomao, reproseutado na Escriptuia como 0 mais sa- bio dos humcns, diz que o seu saber excedia todo o dos lOgj'pcios * ; 0 mesmo attesta S. Clemente do Alexandria; e o teslemuuho deste Padre da Igreja, que aJguem julgou suspeito, foi modernamente confirmado do modo mais authentico ; Diodoro (1, 49) falla de unia bibliotheca egypcia, a qual t'az re- moBtar quatorze scculos antes da era chri«ta; Champollion descobriu as suas ruinas, e luije possuimos papyros datados deste antigo de- posito dos conhecimentos huinanos. As inscrip^oes dos templos, as pyramidea da antiga Mizraim nao silo mudas como aa mumias que encerram ; esses livros de granito 1 Tom. 2. Part. 1. p. 35. e seg. ^ Jos. XXIV., 14; Ezech XX., 7, S,_ etc.— 0 bezerro de euro era talvez uma recorda^ao do boi sajrrado dos egy| cioa. ' £ a elles que Egger c outros attribuem a com- posi(;ao dos livros herme/icos, verdadeiro mixto de doutrinas grcgaa, de crenvas orieiitaes e de aenti- mentos ohristaos. — Baebr, Real Encycloped. des At- lerlhumswiss. v." Hermes; Dice, dee icienc. philos. de Franck, v.° Egyptiens. 4 Liv. 3. dos Keis, VI., 30. 19 e de marmore nao sao, como escreveu Mar- tin, monumentos inintellip;iveis do nm pcn- samento que ji passou. Hoje depois dos tra- balhos de Champollion, de Rosellini e outros sabios podemos dizer que o veu que a iiossos olhos eneobria a historia dessa iiajiio estd, senao de todu, ao nienos em parte levaiita- do ' : seus hieroglyphoa j;l nao sao mjsterios indec'ii'raveis. A parte religiosa acliava-se coino dividida em dous campus. O sacerdncio ei-a eui suas raniificajues inKnitaa o depositario da religiao, a qual, envolta cm mysU'rio;=, e6 era oom- municada aos rcis : a massa do povo nao co- checia essa religiao em essencia, se a possuia, era verdadeiramente degenerada e cheia de fabulas as niais grosseiias. E o que nos levam a crer Origenes, S. Clemente d'Alexandria, e a maior parte dos esi-riptores gregus. A doutrina dos sacerdotes apresenta-se, como a dos brahmanes da India e a dos ma- g08 da Persia, debaixo da duplieada f/jrma de tbeogouia e de cosmogonia, e baseada n'ura pantheismo ora raais physico ora mais intellectual, e na personiticajiio da natureza, mais ou nienos identiticada com as potencias do espirito, e concebida debaixo de uma uni- dade mysteriosa, onde Deos e o universo se confundem. Revela urn deos sem norae, incorporeo e infinito, origem de fodas as cousas, e que devia eer adorado em sileucio; 6 o pal, bom per excellencia, e eterno; 6 o todo no tudo e pelo todo ; 6 anterior ao primogenito dos deoses, que I'oi o primeiro dos rcis. 0 mundo foi f'eito pela palavra de Deos, a qual 6 a sua vontade, e ao mesmo tempo seu corpo. O creador supremo gerou de si proprio o creador subordinado, filho semelhante ao pae. E Kii'ph, e Amtjun, 6 o espirito que tudo penetra, o principio de toda a organisajSo, a alma do mundo emlim. ^ Com o espirito nasceu tambem a materia do principio uiiico, que a ambos encerra de toda a eternidade. A materia penetrada e aniniada pelo espirito 6 o receptaeiilo e a cir- cula.ao de todas as cousas, e encerra em si todos OS elemcntos e Mruias elementares. Era grosseira e sem Krma quando o espirito Ihe imprimiu o movimento, a concentrou n'uma 86 massa, e Ihe deu a f6rma de uma esphera com todas as suas qualidades. Essa espliera 6 o ovo do mundo, que Kneph deixa escapar da bocca, o verbo manifestado, a palavra vi- sivel que 0 Deraiurgo proferiu quando quiz formar todas as cousas. ' Vide a tal respeito os estimaveis discursos do cardeal Wisemana sobre as rela^oee das sciencias na- turai^s com a religiao revelada. 2 Era entre outros inodo3 represcnfado como um homem de cor azul para esprimir a iucorapatibilidade e iuvisibilidade do creador, tendo na mao um cinto e um sceptro, que o deaignam como rei, como esphito yivificador, e na cabe^a uma penna, emblema do mo- vimento e da intelligeucis. 0 mundo, hello mas nao bom, 6 o segundo dos seres existcntea : nao deixa pela sua parte de crear, porque & movel; e o movimento nao 6 possivel senao pela geragao; & igual a uma esphera e a uma cabeja, acima da qual nao ha cousa alguiua material, do mesmo modo que abaixo de si nada tern de intelligi- I vel. O universo representa um grande animal, I eomposto de materia e de espirito, 6 uma divindade, imagem de outra maior, unida » clla, babitando como na fonte fecunda de toda a vida. Emtim um ser supremo, manifestando-se debaixo de tres f'ormas principaes; um verbo creador, intelligencia soberana ; a queda das almas, um paraiso, um inferni), um purga- torio pela metempsychose; allegorias, perso- nificagoes do sol, da lua, do ceo, da terra, i dos annos, das eotayoes etc., ou, para melhor ' dizer a divindade transfonnando-.~c, manifes- tando-se e reproduzindo-se em tudo isto; n'uma palavra grandes verdades servindo de base a immensos erros, eia a que se rcduz na ! phrase de um historiador moderno, o abbade Rohrbaeher, a philosophia religiosa do Egy- pto, onde a unidade de Deos serve como de base ao polytheismo o mais extravagautc, e este como de vestibule &, unidade de Deos. • Continua. l. m. JORDAO. ANALVaE CHIMICA Das tinias empregadas pelos arabes na Alhambra em Granada. Os ornaraentos interiores das principaes salas do palacio da Alhambra, antiga resi- dencia dos reis mouros em Granada, sao foitas de gesso ; as mnlduras e desenbos era relevo representam f6inias de pbantasia : o contorno do desenho nunca reproduz objectos natu- raes, como florcs ou animaes, porque esta rcproducgao e prohibida pela religiao de Ma- homet : sao as frtrmas geometricas que se re- petem constantemente, mas que nem por isso sao menos elegantes e delieadas. Desde a epocha da construcgao da Alham- bra, esses ornamentos nilo soffreram detri- mento consideravel ; acham-se quasi como no tempo dos Abencerrages; alem de que pro- tege-03 o bello clima da Andaluzia, e o go- verno hespanhol todos os annos applica uma somma para a conaervagao daquelle precioso mcmumento. Em algumas das salas e galerias que circumdam o celebie pateo dos LuiJes c de notar que as cores, applicadas outr'ora pelos arabes nas anfractuosidades das molduras^ I Rohrbaeher, Histoireunio. de I'Eglise Cathot. torn. 1 e 3; Creuser, Heliyions de l'antiqniU tvndait p&r Guigniault; etc. 20 -subsistem em toda a sua intogridade; Sao simples essas cores; compoem-se unicamente hysiulogia. Haverd identidade I entre osentido etymologico e scientifico d'esta j palavra? Serd propria a sua applicajao no : sentido scientifico? Serao preferiveis outras que a elle se tern pretendido substituir para j (iesignar a sciencia pkysiologica ? Eis o objecto j d'este Irabalho, que com quanto possa parecer I futil ou de nenhuma import.incia, todavia 6 em seus resultados que principalmente se manifesta o interesse de sua materia. E bem sabido que a palavra physiologia se deriva das gregas ^luait e Xo-jo; ; ii onretlos comecou por lamentar 0 estado das pri^Oes entre n6>i, clogiando 6s esforcos do procurador regio 0 sr. J Al. Forjaz para 0 seu mellioVamento : declarou inclinar-pe ao pyslema de Pbiladelphia; pois acbava que, nao podcndo a pona" de prisfio melhor satisfazer ao fim da correc- cSo ou raelljoranienlo do cuJp.'.do senao poto isolamenln com- plcto e cellular, 0 systema de Auburn nao podia precncber esse Bm. Keuinnlando ao principio penal, cuja transformacao eomplela atlribuiu a infiueiicia do Cliristianisnio, mostrou como o isoiamenlo cumplolo, wnprcgado eiu I'hilailelphia, delle se derivava necessariamente; e lornou sonsivt'l que 0 systema de Auburn com 0 traballio em comnium c 0 isolnmento nocturno nSo podia pnr mudo alguin dar 0 rcsullado quo se esperava. Disse mais que no sy^lenia de Auburn se dizia que 0 silencio forcado na occasiao em que os presos trabalbavam cm com- mum era um muro de bronze que uotre ellos se Icvantava ; porem que elle orador nao acbava que esse isoiamenlo moral extinguisse a vida de relacflo cnlre os presos; para isto mos- trou que 0 silencio forcado nao impedia a communicac&o, e recorrendo a priiicipios pbilosopbicos, que largamente e'xpoz, demonslriiu que ndo era so |)ela palavia que 0 bomem se comraunicava com sous senielhantes, mas lambem porpestos, sigaaes, etc. Dabi deduziu que isto podia ter uma pessima influencia na rebabilitacao do crimiiioso; accrescentando mais contra 0 systema de Auburn a pouca vanlagem do trabalho violentado, e dos avtllantes castigos corporae:'. 0 sr. Rkanhi Guimardcs declarou seguir as ideas do 9r. Jos6 Julio: quo todas as razScs 0 levavara a preTerir 0 sys- tonia de Auburn; que as penas doviam ser fundadas no prin- ciple do direito, e que cste n;lo podia ir de encontro a uma das tendenci.is inai? es?cnciaes do buirn'm, i|ua! e a suciabi- lidade, como ^uccedia no systema de I'biladelpbia. Mostrou maiA que este 8y»tema nao podia pelo isotamento cellular trazer comsigo 0 arrependinierito e moralisacao do culpado, como 0 l^n> de Auburn, e citou para exemplo'uni dicio do ge- neral Lafajette. Eiiitim concluiu que, devundo a pena ser economica, como dizia Hossi, e era tambom 0 sentir do Ben- Ibam e outros criniinalisias, acbava ser 0 systema de .^fiiburn mais propno para sati>fa2er a esse tim, assim como para a melhor execucao du Irabalho, a vista das ideas cconomicas hoje em voga'na republica das lettras. 0 sr. Levy coinecou por dizcr que se Ibe nSo estranhasse nesla quesiao 0 die remonlar ao principio fundamental do direito, pois acbava que sem is^o nao era possivel dar um 86 passo. Suslentou 0 principio de Rredor (0 reslabelecimento do estado-de-hireiio pcln melhorameuto dn criminoso]^ 0 qual ia dc accordu com a tbeorJa juridica dc Krausc ; declarou que rcjeria^a 0 ty.-lema do Hoi-si, porque no campo do direito nfio admillia ^>eiiiiu um principio absoluto do justo; e mostrou de- pois como do principio dc U cstabclciimonio de Ciisas peniten- ciarias; ^.^ um mem do emprogo piompto para os que sabis- scm das penitonciarius. Susli'plou qao taes instiluicncs incum- biam como de^er A sociedade. Kstabeleccu como base d'um bom syslema penilenciario a classilicacao de presos; isoiamenlo iluraiite a iioite; trabalho e educacfio civil e religiosa om coiumum; silencio absoluto enlrc os'prcsos; cniprego de esporaiica de alcancnr minoracao de rigor etc. todas as vezes que se' dessem pr'ovas dc me- Ihoramonto; e ^^ubslituicao dos castigos coiporacs, pralicados nap pcnitcuciarias d',\ul'urn, pelo isoiamenlo lomporario. Suslentou que este systema mixto eslava em perfeita har- monia com os principios fundamcnlaes de direito penal, polo qual nao pndia admittir penas perpfluas e irreparaveis, e de- fi-ndcii-o ainda com ar^unionlos psychoIogico^, e oconomicos. Aprosentou como causas principaes dos crimes a falta do instruccao moral e civil; e 0 augmenlo ilo prolctarialo, cuja oiigcm'historiea indagon; aprescntindo alguns meios de me- Ihorar rsta classe. Suslentou, (inalmente, 0 dircilo que tinlia a sociedade de cxigir 0 trabalho aos presos, devendo todavia estabeleccr nas penitenciarias caixas economicas, etc. 0 Sccretario, Lei'u Maria Jorddo. NOTICIAIUO SCI£NTIFICO. Physica. Acerca do poder dispersivo das duAs eiectric'idadesj tem-se dicto e repetido em difforentes Meniorias quo a olectricidade ne- gativa ou reainosa se perde mais proaiptaraente do que a clectrlcidade positiva ou vitrea. As * cxperieneias iiiih:iiii sido feitas com a electri- I cidadedo uma gairafa deLeyde, que se descar- I regava por uiii cxoitador, ou espintherometro^ I terminado era rada uma de auas duaa blfur- cagojs por uma Lola e uma ponta. Taes eram, I por Qxeniplo, as expcriencias dc Belli. M, j Zantedfiechi achou que esta proposigao nao ! se vt^-lfiuava, pelo menos na doscarga dos ele- ct roplior^ is. Dous elec-trophoros, carregados po itivatnent'*, nao tiiiliam coiiservado a carga ruaifi d'uuj niez, e cai-regados negativamente ainHa davara, passados oito mezes, signaes mui manifestoi d'electricidadc. Kstas observa- (^■oes, feitas plle,t/io UrsnJino das Cha- gas, em S. Josi' de Coimbra, no dia 14 de fevereiro do corrente anno. Com esle tilulo acaba de sair ;! luz uma ciiriosa e mui in- tcressante Memoria, em que se (14 noticta do ostado d'aquelle CoUe^Jo. iiHo s6 no que toca ao editicio e 4s obras alii fei- las, para aproprial-o ao liiii, para que f(jra doslinado; mas tarabem quanto ao adeanlamento dos estudo.», lavores, e bellas artes. t, a primeira vez que entre n6s se apresenta assim ao pu- blico 0 quadro dos estudos de uma casa de educaoSo do sexo feminiiio; e este quadro, siiigclo, coiiio e, oU'erece overdadeiro modelo da mai.'; tma e aprimorada educacSo, e da mais solida e proveitosa instruccAo. Mas nno e este o unico titulo, por que se recommenda esta excellente Memoria, tflo apreciavel pela copia de factos e noticias d'a(iuelle estabelccimenlo: como pela elegancia, e araenidade do eslylo, e pureza de linpuagem, repassada da mais religiosa unccSo, com que o A. soube ornar o assumpto, captivando a atten'cSo, e enlevando o espirito com t4o enge- nbosa traca, que fazrecordar as mais bellas paginas do nosso tr. Luiz de Sousa. E, para nSo parecermos encarecidos, aqui eslampamos, por amoslra, a breve descripcSo da yaranda do collegio, d'onde se dcsfructa uma das mais formosas vistas das encantadoras margens do Moiidego. "Na frenle d'esla espacosa varanda, ou mirante, em todo o • correr do edificio, esteiide-se urn laboleiro de terra plana, ucercado de niuro alto, e dividido por muilos alegretes, em nruas de miirta, que offerecem 4s meninas o passeio mais apra- (tzivel, e a dislrac4o mais agradavei, sem serem devassadas de nparte alguma ; e' podendo ser observadas das janellas do Col- • fegio. que quasi todas para alii c4era. Tudas tern n'este re- ■ cintn 0 seu jardmsinbo de llores, em que cmprcgaui cuidados, «de que um dia se hio de lembrar com saudade, quando outros, nque l(Jm tanio de tristes c enganosos, como aquellcs de ale- (igres e innocentes, Ihes vierem roubar o somno e o socego ; e nperturbar essas felicidades do mundo, com que, por ventura, tttantas vezes tfiem sonbado. "Sobranceira ao Mondego, como todo o ediGcio o 6, e se- nnboreando suas bellas margens, desde a quinta de S. Jorge, oaonde ellc parece nascer, atitaquasi 4 ponte da Cidreira, no (icampo do ItolJo, d'ella, e jifl ciica, que Ihe Ilea ao sop§ re- (icoslada, ladeira acima, d«eila-se a vista na fresctira dos la- nranjaes e quintas, que correm de uma e oulra beira do rio; oalgumas com edilicios nobres, e todas ricas de bortas, poma- nres, vinbas e bosques, que na maior parte do anno manteem «uma verdura perpelua. flMil casacs e lugarejos, se des(;obreni alvejando, semeados "aqui e alii por entre os bosques e extensos olivedos, at6 a •aliura dos monies, que rodeani a cidade. ff A Boa Vista, a poetica Lapa dos Esteios, a quinta das Cao- «nas, a da Varzea c a das Lagrimas com sens niejancolicos • cedros, nilo sei se gnardando a fonte ihs amofes, se cborando Ju0titub, JOIlIViVL SCIENTIFICO E LITTERARIO. -im projecto de lei auctorisando o guverno a f'azer despesas com liomens habilitados em sciencias physico-ma- thematicas para visitarem e se instruirem noB methodos de ensino dos ramos industriaes em Franya e Allemanlia; e no iim de dois [ annos serem provides no ensino desses ramos em OS nossos lyceus. Parece que o estado pouco lisongeiro das nossas financas embar- i gou o paaso ^quelle piojocto na commissao ' de fazenda, a que fora remettido. Nao seria todavia grande a despesa, a que 0 projecto obrigava o tliesouro : e, se o fosse, despesas reproductivas, e de tao grande mo- mento, sao dignas de algum sacrificio. E certo que ao pequeno numero de escho- las de instruo9ao primaria nao concorre o i numero de alumnos que fura de esperar : nem aos lyceus acode numero que corresponda &. despesa que com dies se faz. Mas o que estd acontecendo ontre n6s tem succedido n'outros paizes ; porque o gosto das lettras e das sciencias nao se decreta, nem se inocula nos povos senao lenta e. gradualmente. A in9truc9ao 6 arvore que nao dd fruoto no pri- meiro anno. Temos actualmente 1:168 cadeiras de ins- trucjao primaria de ambos os sexos, frequen- tadas por 43:200 alumnos. Custa ao estado cada alumno 1(5900 r6is annualmente De instruc^ao secundaria temos 243 cadeiras, fre- quentadas por 3:515 alumnos. Custa cada um annualmente 15f5i930. Continua. M. 0 MOSAISMO E AS DOCTUINAS HELIGIOSAS DO EGYPTO Continuado da pag. 19. III. A differen^a que separa o raosaismo das doutrinas religiosas do Egypto e de todos OS outros cultos da antiguidade manifesta-se do modo mais claro e evidente. A doutrina mosaica de Deus e da creayao distingne-se completamente dos theorias religiosas da India, da Persia e do Egypto; ao passo que proclaraa a unidade de Jehovah, destroe o culto material dos idolos, aniquila o (-ym- bolismo egypcio, e fulmina o absurdo systema da tran8inigra(,uui das iilmas. Tai ito, apesar de pagao e prevenido contra os judeos, con- firma isto niL'smo (|uando diz d.i sua historta (V, 5): — aos Egypcios adoram a maior parte dos animaes e Hguras compostas de dift'erentes especie«i, os judeos concebem um 86 DeoB pelo pensaniento, Deos soberano, im- mudavel et''.» Exatuinando psychologicamente os hebreos, vemos o producto puro do pensamento, a unidade pnra de Deos, elevandn-se e desen- vcilvendo se na consctencia d'esse povo em opposi^ao extrema com a natureza, em con- tradigao essencial com todas as noQoes autigas. Foi no Sinai quo se nianifestou tssa profunda e radical scissao, cntre o mundo polytheista e o mundo nionotheista; foi entao que o espirito humano p' netrou em si mesrao, e esclarecido pela revc'.u;ao, se curvou respeiicso perante o principiu piiblime e espiritui.lista da uni- dade de um Deos immaterial e irameiiso, abandonando o sensualismo da India, de Ba- bylonia e do Egypto com suas insirlentes pre- rogativas, para nos servirmos das expressoea de Altmeyer. Hegel nas suas Li^oes sobre a philosophia da religido contirma e desenvolve este paral- lelismo qne estabelecemos entre os principios religiosos dos hebreus e dos egypcios. • O conceito da religiao, diz elle, nao se deter- mina, nao se desenvolve e poe na consciencia senao depois de passar por duas phases bem distiiictas, a religiao da natureza, e a religiao do espirito. Na religiao da natureza a aperce- ! pQao immediata, o mundo sensivel i con- siderado como a expressao directa de Deos; a substancia d'este k confundida com o phe- nomeno, e nelle adorada ; o intinito nao se distingue do finite ; o espirito e a materia constituem uma unidade immediala. Assim se manifcsta essa religiao nos sens periodos de fcticiiisnio e dc raaf^ia na China, no Thibet, e na India ; e at6 qiiando chega a formular a distinc^ao e o dualismo, nao passa alem dos limitcs da natureza, nao toca ainda o memento da subjectivldade. Na religiao do espirito Deos k concebido como subjectivl- dade, como espirito puro, como separado da natureza: por isso na sublime religiao judaioa, a substancia appareoe concentrada em sua espiritualidade, unica e perfeitamcnte distin- cta do mundo ; & a reflexao absoluta em si, o Deos um, eternamente identico a si, e para o qual o mundo nao passa de um phenoraeno que nao subsiste por si, de uma apparencia, que 6 uma apparencia de Deos. O sabio historiador do povo judaico, o distincto allemao Ewald concorda perfeita- 1 Ed. de Marheiuecke, 1832. Vide tanibem OtJ;, litgd e.l la pliilos. alhmande, o quni nu^'ta parte nao apresp.utii i|uasi senao estractos tr.idnzidos das lic- i;jes do celebri? philosopho d'alem do lllieno. 27 mente corn estas ideas. Para oUe o inosaisrao & um veru.'xdeiro espiritualismo que se desen- volve era pposifao cim o culto material do Eg^ypto, p nao duvidn por isso de considerar a iucta, donde os isranlistaa, guiados por Moi- sts, sairam victoriosos, como uiua Iucta ver- dadeiramtiitc religiosa. ' Discordando pois tao essencialmenlH o prin- cipio fundamental da theologia mosaiea da religiao di Egypto, como considerar esta como fonte daquellaV As ideas da natureza de Deos, da creagao, da alma, da origera e degtino dd homem, conservadas por Moists, i e As quaes os progrenso^ da sciencia o da civilisajao nada tern accrescentado, sao, diz judiciosani'Mite Beauvais, ^ unia prova raani- festa da sua revelajao. Na vordade nao 6 de certo piT esta forma que o espirito humano apparece no principio de seu de^envolvimento, e nao pod. 'ia nesta parte o povo hebieo sobreeair aos outros povos, a nao ser pur in- terven^ao especial da divindade, por nieio da revela^au. Nem isto foi em algum tempo objeoto de duvida entre os judeus. Os dous Talmuds e todos o rabbinos mnstram que a crenya na inspira^ao dos livros sanctos foi sempra entre elles um (logma de f6; de sorte que, diz o abbade Giaire, ■* nao s6 os judeos da Palestina mas ainda os hellf^nistas, os sclii.smatioos de Heliopolis, 09 Samaritanos, e as tres seitas que existiam no tempo de Christo, isto e, os pbariseos, os saduceos e os essenios acredita- vara na in-^pira^ao divina de seus livros. O que ievaraos dicto ;icerca do principio roosaico da uuidade de Deos se applica do mesmo modo a dotitrina da immortalidade da alma, que appareee em toda a sua pureza desligada da metempsycbosa da India o do Egypt ., lei fatal que se resolve na confusao da alma em Deos, ou em o nada. * E bein claro. pois, que nao e ao Egypto que Moises foi bc'lier suas doutrinas, porque uma diffe- renca radical separa os principios fundamen- taes das duas iheologias. 0 principio unitario proclamado por Moists foi como a estrella que guiou a humanidade a novos e mais brilhantes destinos. Foi delle que saiu o principio da uuidade da especie humana, assim como da igualdade religiosa nasceu tanibem a igualdade civil, pois 6 certo que a religiao e o estado corao que se oon- substanciavam entao em um si elemento ; tal 6, no sentir de Lauzente, o fundamento das celebres iustituijSes mosaicas do anno sab- ' Ew.ild Geschichte dea Volkee Israel torn. 1." p. 47.'> seg., torn. •2." p. 34 sej^., 93 aeg. — Ooinpare-se AViner, Biblisches Reabaort i-rbuch, V. ° Geaetz. ' iinn, de philos., hilrod pag. 4. 3 Introd. histor. el critiq torn. 1 ." pag. 24. ' Algiius porem querem que a oiucepQao da alma fosse no Egypto superior a India, por couservar a sua individiialidade para o creafior, (jomo snstenta Rosellini, Moniimenti civili, torn. S." p. 285-333. So- bre 0 principio da immortalidade da alma (Mitrc os Hebreos vid« (jlaire loc. cil. tom. 2.' pag. 48i aeg. batico e do jubileo, as quaes o historiador allemao Leo {Vorlesungen iiher din Geschichte des judischen Siarites) considera, sem muito fundamento, coiuo uma especie do lei agraria nascida da collisao do sacerdocio e do povo contra os grandes proprietarios. ' Se a formula 'mitaria, mas puramente nie- taphysica, do Ji:hovah hebreo nao se hou- vera personificado, teria, diz E. Pelletan, llcado eternamente sellada no sanotuario de Jerusalem; e na verdade a missao dos lie- breos nao era senao preparatoria ; estava reaervado ao christianismo preencher e realizar o que apenas havia sido annunciadn pela reli- giao mosaica, e applicar it humanidade in- teira o principio da solidariedade, que nao ultrapassara ate entao os liinites da iiaciona- lidade judaica. Concluindo estes artigos sobre um?. materia de taiita importancia e traiiKcendencia, reco- nhe'cmos haver, quando muito, esbojado uma questao, que merecia ter sido tractada por quom, dotado do cotihecimentos e.qieciaes neste raruo do saber humano, podesse, senao resolvel-a, ao menos esclarecel-a e siuipli- fical-a. L. M. JORDAO. MEMORIAS HISTORICAS DA CNIVERSIDADE DE COIMBRA. * III. Primeira trasladagao da universidade de Cuimbra para Liaboa. At^ ao anno de 1338 permaneceu a uni- versidade em Coimbra; destinara entretanto Affonso IV transferir para esta cidade a cor- te, logo que se effeituasse o casamento do principe D, Pedro com a infanta de Castella D. Constan9a, e era por isso natural que por tal motive quizesse tirar d'alli os ostudos, por evitar que os escholares se distrahissera das suas occupajoes com os folguedos! e di- versoes da corte. Acaso cuticorreria tambem para aquella resolugrio a falta, que entao havia, de casas no bairro d'Almedina, como notdmos ji no decurso d'esta narrativa, para se accommodarem os cavalleiros com os seus pagens e mais comitiva que seguia a corte, quando ji para os estudantes, cujo nuuiero la crescendo, nao chegavam as pousadas. 1 Sobre a verdadeira natureza d'estas iustitui^oes, que, devendo a suaorigem k epocha de Moises, vieram com 0 volver do tempo a cair em desnso, sao dignas de especial menQao as duas disserta^oes deanuo Ile- brceorum jubilceo de Kranold e Woldius, coroadaa pela ' faculdade de theologia de Gottingue em 1837, e a analvse que d'ellas fez Bahr. nos annaes de Heidel- berg" em 184U. ~ Continindo da p-'g- 15. 28 N3o faltaria tambein receio de que entre os cavalleiros e jograes da cOrte, e 03 escho- lares se levantassem novos diiiturbius, coino acontecera na piiineira vez que a universi- dade estivora em Lisboa. Foseem purini estes, ou outro3 luotivos que influiraiu no auimo do lei para a indi- cada mudanja, 6 certo que pelo uienos em maio do anno seguinte (1339) a universidade 80 achava eui Lisboa', provavelmente nas mesmas casas onde j^ estivera, no sitio da Pedreira, e ahi se conservou perto de deze seis anno8, atd o de 1354, em que Aflfonso IV novamente a trausferiu para Coirabia. Por todo este tempo quo a univeraidade estevc em Lisboa nao consta que se toniasse pruvidencia alguma litteraria ; e o maior si- leucio reina nas memorias d'aquelle tempo ileerca dos estudos aoaderaicos. Nepte periodo a exiatencia da univeraidade 6 apenas conhecida por duas bullas de Cle- mente VI de 1345 e 1350. J;i antes d'esta raudan^a da universidade fora necessario de- mandar oa commendadores de Soure e Pom- bal, para pagarem pelo rendimenfo d'estas duas egrejas, da ordem de Oliriato, a eontri- buigao, a que estavam obrigados para os sa- larios dos mestres do Estudo de Coimbra. Transferida por^m a universidade para Lis- boa, parece que abertaraente se reciisaram ao pagamcnto d'esta coiitribuiQao, allegando, talvez, que ceasara este encargo com a refe- rida mudanga, serviudo-se assim do mesmo pretexto com que anteriormente oa prelados de diversos mosteiros se escusaram ao paga- mcnto das coUoctas, que haviam ofl'erecido para a sustentayao da universidade, quando Bc fundara primeiro em Lisboa. O certo 6 que o papa concedou, a instan- cias do rei, a annexagao dos fruotos de a!gu- maa egrejas do padroado real at6 & quantia de tres rail libras, que a tanto montava a contribuijao das cuminendaa de Suure e Pom- bal, para os aalarios dos lentes da univerai- dade de Liaboa. - Eata bulla s6 teve, por^m, esecugao paa- sadoa quatro annos. Fora causa de tamanba dila^ao, a difficuldade ou resistencia de alguns priores das egrejas annexadas tema de ropressao sobre uma base da niesraa fdrraa permanente no terrivel tribunal da Inquiaigao. Nao me cangarei em mostrar com Cantu, Balmes, etc., quaes foram as razoes puliti- CRS que na Hespanha e Portugal derarn lo- gar & sua creagao. Nao creio na absoluta verdade d'ossas raz5es que apresentam ; nem, dadas elks, creio que o dui possa justiHcar 08 mpios. Mas iquellea que, ao fazcr a enu- meragao dos negros crimes, com que esse tribunal manchou as paginas da historia mo- derna, e grangeou um noiiie odioso, que f6re como uma maidicjao, fazem recahir sobre a egreja a responsabilidade d'esses crimes, direi s^mente, que nenlmm concilio ecuraenico o sanccionou ; que Xisto IV, Innocencio VIII e Lean X, nno poucas vezes modifioaram as barbaras sentenjas da Inquisi9ao hespa- nhola; qu ■ GregorioVII e Paulo III sa de- clararara contra estos assassinatos legaes, chamando-os contraries ao evangelho e ds doutrinas dos sanctos-padres; que s6 d custa de reiteradas Bujjplicas do pio D. Joao III foi ella permit'ida em Portugal; e finalmente que Paulo III aniraou os napolitanos a re- sistir a Carlos V, quando este pretendeu esta- belecer este tribunal execravel naquelle for- moBO paiz. Predispostos os espiritos para a lucta; pro- pagada a convicjao da necessidade do movi- mento liberal, o povo preparou-se para elle. (Jrendo encontrar em seu caminho a egreja, dispoz-se a examinar os titulos com que ella . pretendia constituir-se arbitra dos destinos do povo, permittindo-lhe o moviraento, ou ordenando Ihe a inacjao. Na sua causa a reforma de Luther foi, diga o que quizer Guizot, um csfon,'o da in- telligencia humana no aentido da civilisayao e do progresso. Tal foi o seu caracter; e, se parece ser outro, i porque a consideram s6 no memento do seu choque contra o poder da egreja ; e porque, eropenhando-a nessa lucta desaitrosa, as circumstancias em que se achou colli cada, a sua causa verdadeira des- apparece no redemoinhar da peleja, e em seu logar apparece aquillo que nao foi mais que a occasiao. Se revestiu uma f6ruia de revolu9ao contra ' 0 poder da egreja, foi porque os povos creram encontrar em seu caminho esse poder como uma barreira, que era necessario transpor ou derribar. Se se incarnou no principio do livre esame; se, como quer Guizot, foi um arrojo do espirito humano no sentido da li- berdade, uraa necessidade nova de pensar, de julgar livremente, por sua conta e s6 com as suas forgas, dos factos e das ideas, que a Europa recebia atd ahi da mao da auctoridade; se, n'uma palavra, foi uma in- surreijao do espirito humano contra o poder absolutonaordemespiritual, foi porque, crendo encontrar a supreraacia d'esse poder a pedir- Ihe contas, considerou necessario examinar a discutir os seus titulos de legitimidade; crendo encontrar um obstaculo, julgou necessario vencel-o. Se 08 revolucionarios progressistas d'essas eras soubi'ssem que a egreja e o clero igno- rante e immoral tinham cada um sua ban- deira distincta; se soubessem quan'os ger- mens de liberdade, do progresso e civilisa- jao contdm o cliristianismo, dos quaes a egreja & depositaria, quantas dcsordens e crimes poderiam ter-se evitado! Nao succedeu pordin assim. A revolujao rebentou, e Martinho Luther foi o sou principal heroe. Este homem, do qual Meile d'Aiibign(^ quiz faz^r um semi- : deus, estd mui longc de ser o que ao primeiro aspeoto parece. Hypoerita, superficial e de- pravado, este filho da reforma deveu ds cir- cumstancias tudo 0 que foi. Animado e im- petuoso, foi cloquente, se o movimento con- tinuo do espirito constitue a eloquencia. Mas esta impetuosidade nao era forya. Cantu com- ; para Luther a um pequeno regato, que, pre- cipitando-se de uraa grande altara, adquire rapidez em sua corrente, e produz na queda um grande ruido. Em outraa circumstancias I nao passaria de urn homem obscure. Mas o I acase, ou a providencia, o havia collocado ! no foco da revolujao; a vaga que passou o ' levantou em seu dorao gigantesco, e o mos- ] trou ao mundo. I O tenue raio do sol, que fulge de repente ao dcscerrar das nuvens, deslumbra os olhos que toca. Assim foi Luther. A natureza creou 0 um charlatao; as circumstancias fi- zeram-no um heroe. O vulgo viu o no perpaa- sar da vaga, no descerrar da nuvem : e ado- rou-o. A vaga aumiu-se; o raio apagou-so; e que ficou do heroe? O nome de um ho- mem, do fragil instrumento de uma revelu- gao. Depois que as ultimas netas do hymno sussurraram melodiosas, mas frouxas, nas cordas da harpa, e adorraeceram, embaladaa pela aragem do crespusculo, e a mao do bat do se mirreu, que i o que resta? Um instrumento mudo; algumas cordas inertes, que o vento que passa percorre em vao. Tal foi Luther. Continua. j. j. de OLIVEIRA PINTO, 32 ELEGIA. (Traducfao da 43.* Meditaflo Poetica de Lsmartine) Colham-se as rosus ua manha da vida; Ao menos, no fupir dn piimavera, Dae fiores os perfumes se respirem. 0 peito se franquee aos oaatos gosoa, Amemos sem medida, 6 chara amantel Quando o nauta no meio da tormenta Ve o fragil baiiel quasi a afuudir-se, As praias que deixou dirige as vistaa, E tarde chora a paz que alii goz:iva. Ah ! quanto dera por volver o triste Aos auiigos d'aldfia, ao lar paterno, E de novo passar, juncto ao que adora, Dias talvez sem gloria, mas tranquilloa I Assim um velho, curvo ao p620 d'aunos, Da inocidade em vao os tempos chora. Diz: — volvei-me essas horas profanadas, De que eu, 6 ceus, nao soube aproveitar-me. So lae responde a morte; os ceus eao surdos; Inflexiveis o arrojam ao sepulchro, Nao consentindo que se abaise ao menos A apanbar essas Sores desprezadas. Amemos, vida minba ! E riamos do afan, que os homens levam Atraz de um fumo t&o, que Ihes consome Metade da existencia, esperdifada Em sonhoB e chimeras. N5o invejemoB seu orgulho esteril, Deixemos & ambifao os seus castellos. Mas n6s, da bora incertos, Tratemos d'esgotar da vida a ta9a, Em quanto as macs a empunham. Quer OS louros nos cinjam, E nos fastos sauguentos de Bellona Nosso noma s'inscreva em bronze e marmore ; Quer da singela flor que as bellas colbem S'intrance a bumilde er'oa; VamoB todos saltar na mesma praia. jDe que val no momento do naufragio Em pomposo galeao ter navegado, Ou n'um batel ligeiro, Solitario viajeiro, Ter s6 juncto das margens bordejado ? , F. MORREU. NSo p6de maiB o corafSo co'a vida. OABBET {Camoet). Lindas flores tem OB prados, Ob verdes bosques copados, Os jardins mais encantados, Mas nenhuma como eu vi; Nenhuma flor 6 tao bella, Tao formosa como aquella, Como aquella, que eu colhi. Tinba nas folhas vifosas A vermelba cor das rosas; Das violetas vergonhoBas A roia mimosa cor, E quanta c6r ha na terra, No prado, no val, na serra, Que diga aos olbos — amor. Entre TifOsaB folhas embalada Pelo sopro da tarde, era tao linda, Que na terra nao ha, nao ba nas ondas, Nao ha no [uiio ceu entre as estrelliis, Estrella, per'la ou flor que nao vencera. Curvava se, iniinosa, eutre os cariuhos De mil auras subtle, e as leves auras Perfumadae co'a flor, loucas corriam Doudejando no eepa^o, e o grato aroma Trazido em torno a mim tolheu-mc o sizo. Corri louco d'amor, Uucei-ibe a dextra, Adextra nic rasgou com mil espiiibos. Que, traidora, occultava, mas que importal Colbi-te linda flor I e agora dira Quanto saugue nas veias me circula Por de novo colher-te, embora a morte Me colhesse tambem. Ah! volve & vida! Volve, mimosa flor, que eu possa ainda Ver-te, louco d'amor, formosa e pura, GoBar inda uina vez teu grato aroma, E com beijos d'amor volver-te & morte. Morreu ! nas maos desfolhada Tenlio a flor que tauto amei ! Ai flor I que tao malfadada Fosto, e eu que te matei, Quern ha-de agora, quem ha-de Matar no peito a saiidadel Ai triste que me ceguei ! Matei -a com beijos. . . . Mas, ai, meus desejoB Nao pude matar. Matei-a! coitadal Eil-a desfolhada E eu a chorar. Ah ! corre meu pranto E possas tu tanto E tanto correr, Que em breve me mates Que era breve desates Meu triste sofl'rer. J. MOEBIBA DE PINHO. A PHYSIOLOGIA E AS PALAVRAS NO SEC SENTIDO IDEOLOGICO Continuado de pag. 21, 0 homem 6, como levamos dicto, a expres- sSo synthetica e harmonica do reino aDimal, do qual, segundo Carus e Ahrens, nao faz parte, mas eim do reino que chamam hominal. Oken, um doa sectarios mais celebres da philosophia da natureza, aciia no homem realizado o mesrao principio, partindo da com- parayao dos processos de mauifestajao. 0 ser vivo 6 para elle um galvaniBtno organico^ ; o universe um galvanismo inor- ganico. No universo dao ae trea processos d'acjao, correspondentes d these, antithese, e synthese ; o chiniismo principio de dissolu- 9ao; o indijftrentismo, principio de indif- > Oken deduz sua expressSo metapborica da ele- ctricidade dyuamica ; o universo representa uma pi- Iha, cujo circuito i fechado; idea reproduzida por Liebig, Nouvtlka Lettree, etc. 33 ferenja, — o magnetismo, principio de con- nexiio. Tddos estes processus se achain repeti- dos no hotiiem, constituindo sen estiido para algUDS coiiio Gorup Besanez, Lehraann e outros, a Zoochimia ' : ao primciro corrcs- ponde a digestcio, func^ao em que os princi- pios externos introduzidos no organismo, sao para assim dizer decompostos; ao segundo correspoiide a respiragao, processo electri- ficante, pelo o qual o sangue, centro de vida organica, o organismo em dissolui;ao, se vi- vitica ; ao terceiro corresponde a nutrit^dv, operajao que sustenta o ser sobre dou8 abysmos insondaveis, o tempo e o espayo. E assim tambem que a trindade de Oken, pezo, calor e luz, obrando sobre o raundo, Be acha repetida no animal ; osso, musculo, 0 nervo. Pelo que respeita ao principio virtual, 6 certo que igualmente se verilica no homem. Tanto este principio, como o material sao realiza^oes do ahsoluto. que se verilicam por meio de ideas, que d'eile sahem, nao por uma potencia acliva e intelligente, mas por neces- sidade logica, manifestnndo-se por uma evo- lu9ao necessaria, por ideas-typos, differentes do pensamento, das quaes ja falluva Platao no sen Timeo. Oken mostra no homom a identidade do principio \irtual por esta f(5rma. A mani festajao ou expreasao do Absoluto 6 o ether (o Absoluto em tensao e polaridaile), o qual polarisando-se produz a luz "2; esta, reagindo sobre o ether nao polarisado, produz o calor, actividado destruida (o tempo materialisado de Hegel); elevando ae successivamente at6 &, produc^So da vida. E por este raodo que Oken, e tambem Schelling, partem do Abso- luto, principio de identidade pura, que reune em ai o principio da identidade, e da nao- identidade, donde tudo sahe por polarisajao (eleraento negative e positive), e que por Buccossivas potencias da em resultado os dif- ferentes objectos — (A)' materia, (A)- luz, (A)' organismo, que em si mesmo se polarisa, dando o eiemento positive a irritabilidade, 0 negative a sensibilidade. Segundo esta theo- ria de Oken a expressao do Absoluto vem a Ber + A — A = 0. Por estes principios se conclue facilmente, que o homem i um resumo do universo, um microcosmo, cujo perfeito conhecimento quasi que vem a depender do macrocosmo, E certo que os philosophos da natureza desde Schelling ^ tem concorrido para che- ' Liebig, exaggerando a influeucia dachimica, apre- seuta algtimaB opiniocs que parecem verdadeirae, mas que nao sao domonstradas positivaioente como bem nota 0. Kohlrausch. Physiologie und. Cheniie in ihrer gpgenaietip;en Stellung; belcuchtet durch etne Kritik von Liebig. Thierclifmie. 2 A traiispaiencia iibstracta Ihe chama Hegel. 3 Schelling e geralmeute reputado o fundador d'este systPma; nao fVz porem mais do quedesenvol- ver a propoeiQao de Harder e as ideas de Spinosa e Kant, como diz H. Heine. garmos a este resultado com o seu systema do construcgao a priori ; m;is nem por isso somos sectaries d'essa pliilosophia, que, nao se p{5de negar, teria levado as sciencias na- turaes a um abysmo a nao serem os trabalhos de Muller, Valentin e outros. Nao queremos porem dizer com isto que desprezamos a espe- culaqao ; recoiihecemos suas vantagens; mas nao queremos que se torne nocessario um novo Bacon, que, com quanto tao fertil fosse em bons resultados, como reconhece Ilersuhel', levou todavia as sciencias ao excesso contra- rio. A palavra physiologia pois e propria, mais do que se julga ; o seu sentido scientifico corresponde ao etymologico, ou se tome a natureza na accepjao de Hippocrates, ou no sentido lato, e este mesmo parece-nos ainda mais proprio, do que o de Hippocrates; pois elle categoricamente decide uma questao sobre a qual tanto discordam os physiologis- tas, que recorrem para a explicayao dos phe- nomenos vitaes, uns a uma forya, sobre cuja natureza Suhelling e Hegel divergem de Bur- dach e de Muller, outros com Rail A, organi- Bajao, outros enifira com Carpenter a uma propriedade innata da materia ; concordando todos mais ou menos, que o organismo nao 6 passividade absoluta. Com quanto a palavra physiologia possa offerecer alguns inconvenientes pela signitica- 9ao varia que p6de apresentar a palavra na- tureza, nao sao elles tao fortes que nos lovem a abandonal-a e substituil-a por outra. Acha- se sancoionada por uma applicagao deseculoe, e precisaiido a signiHoagao da natureza, de- sapparecem todos esses inconvenientes. Por isso a expressao Biologia, pela primeira vez empregada por Treviranus e depois por Littr6 e Herbart, parece-nos desnecessaria, assim como as de Zoonomia, Organomia e Dynamologia propostas por outros, e que a sciencia tem desprezado, conservando a sua primitiva denominajao. A. M. DIAS JOKDAO. ASTRONOMIA. DeterminagSo das differengas das estrellas fundamintaes em ascensao recta, por meio das observaipes de Bradley. * aRestringindo assim o presente extracto ao ponto principal da Memoria, entra M. Le Verrier na apreciafao das circurastancias, que I'orara objecto d'este seu importante tra- balho. ' Na obscnridnde da natureza e do espirito, diz elle, resplandeceu o illuatre Bacon, qual estrulla ma- tinal annunciando a aurora. 2 Coufinuado de pag. 341 do primeiro vol. 34 dAs const.iDtea da notagJio o da aberra^'ao, de que Bessel usou iios Fiindamentu, sTio differentes das que com razao actualmente se admitteui. As ascensoes rectas, determi- nadns nos Fundamenta, deviaiu de ser por estes motivos aftV-ctadas d'liin erro systema- tico, que M. Le Verrier tractou de conigir. Bossel iiao deii as datas das obsorvagoes qua enipiegou para cada estrella directaraente comparada com o Sol, mas aim o numero d'estas obsei'vagoes, o que basta para se po- der de novo achar as suas datas. Porque re- jeitando entre as observagoes de Bradley as que sjio muito incompletas para serem discu- tidas, apenas resta incerteza em pequeno nu- mero d'ellas, o que na presente indagacao nenlium ineonvenieiite ofl'erece. tAs ascensoes rectas niedias, dadas nas Tabulae liegiomontanae (Tabula X, sect. I), corrigiram-se pois para 1755. Para obter as torrccgoes das raesmas noa annos proxiraos, recorreu-se Mm d'isso por uraa parte ao cata- logo de Greenwich para 184r); e, por outra, a uraa nova determinajao das constantes da precessao. aEstas correcjocs servirara para rectificar OS numeros dados na terccira e setima co- lumna das paginas do lado esquerdo da Ta- boa X das Tabulae Regiomontanae. Mas os nuvoeros d'estas columnas careceram d'outra rectifieagao por causa do erro da nutacao lunar transmittido por Bessel a Lindenau. Por tim 03 numeros da segunda cohnnna das paginas do lado direito da mesma Taboa ex- periinentarara uiiia mudan§a correspondente il da constante da aberragao. oPor nieio das Tabulae Regiomontanae assim correctas, se poderam formar eplieme- rides das posi^Ces provisorias das trinta e seis estrellas fundamentaes, e comprehendendo to- das as observacOes feitas por Bradley dcerca das mesmas estrellas. E nccessario agora com- parar estas posigties thooricas com as proprias observajoes. oOs intervallos dos fios da lunela meri- diana de Bradley foram novamente determi- nados on verilicados. Estes intervallos serviram para reduzir nao g6 as observajoes incomple- tas, mas tambera as observagoes complefas, nas quaes todos os fios foram individual- mente reduzidos ao mpridiano. Assim pode- ram constatar-se os erroa de escritura ou de impressao que existem na edijao d'Oxford. oDepois de varias outras consideragoes que dcerca d'este objecto cont^m a Memoria de M. Le Verrier, scgue-se o fallar da situagao do instrumenio das passagens, cujo estudo particular mostrou a JI. Le Verrier, que a Taboa de correcgao dada por Bessel, pagina 9 dos Fundamenta, 6 completamente insuf- ficicnte. aO estudo da luneta meridiana & dividido era duas sec^oes. «Na primeira secgao se consideram as epochas em que as observagoes da polar, ou antes as observ.ignns do livel, da collimagao, e da mira permiltiram jnlgar da situai,'Si) do iiiatrumento. ((Na sigunda necgao se tracta dis ppoohas era que para tixar a posigao do iuslruuKHito se deve recorrer A eousidpragao das cstreilaa nnrte e sui. En''outram-se n'eate caso diffieul- dades particulate?, provindo nao sii de que se carece de grande iiuuiero de observai^oes para chcgar a alguraa exactidfio, mas prin- cipalmcntc de que as correcjoes do inslru- mento, e as posi(;ries relativas das estrellas, dependem uraas das outras. Podiam, sem du- vida, formar-se equagoes rigorosa*:, em que entrassem estas diversas incognitas, e depoia resolver estiis equajoes. Mas esle laminho seria muito longo, e levaria a calculos quasi interrainaveis. E melhor recorrer ao methodo das ap|iroxima(,Mje3 successivas. a Assim M. Le Verrier comegou por dedu- zir o mais exactaraent? que era possivel, as diti'eren(;as das ascensoes rectas das estrellas norte e sul, da consideragao das observayoea feitaa nas epochas em que o in^trumetito das passagens tinha podido ser rectiticado por meio da polar. Com estas estrellas determi- nou as correcgocs do instrumento nas epochaa em que nao havia observayoes da polar ; de- pois applicou o complexo d'> todas as obser- vagoes de Bradley a uraa nova determinagao das difFerengas das ascensoes rectas das estrel- las. Com esta segunda approxiraayao das as- censoes rectas das estrellas, calculou outra vez as correcgoes do instrumento, que experimen- taram ligeiras niodificagoes. Por fiui verificou que estas moditicagoes nao eram susceptiveis de causar mudanya nas posiyoes relativas, pre- cedenteraente determinadas para as estrellas. (lUra dos mais graves inconveuientes que poderia ofierecor um catalogo de estrellas, se- ria que um grupo d'eutre ellas fosse ali'ectado, em relajiio iis outras, d'um erro systeraatico. Conv^m tanto maia fazer por evitar este erro, quanto 6 de reccar que se enoontre na situagao das estrellas separadas entre si doze horas, em ascensao recta, se para a determina- gao d'este ponto delicado do problcma nao tiverem sido aproveitados todos os recursoa daa observagoes de que se dispoe. Para eate effeito, M. Le Verrier adoptou o seguinte piano. «Na 1." Sccgao foram determinadas as si- tuayoes relativas das estrellas d'um priraeiro grupo, fonuado das principaes estrellas das doze ultimas horas. ((As estrellas foram escolhidas do modo mais craincnt(;mente apropriado, para pelo seu estudo se conlitmar a precisao a que se p(5de chfgar por um numero dado de obser- vagoes do Bradley, quando as determinagoes individuaes das as.censoes rectas d'aquellas estrellas, relativaraente a uraa d'ellas, nao po- dem ser influenciadas, nem por irregularidade no andamento da pendula, nem por um erro na determinagao do estado da luneta; mas 35 so pelas iiiexaetidoes comtnettidas na cstima- 5ao dos tempos das passageiis atraz dos Kos da luiieta. (lAs correcQoes mais consideraveis sao em segundos de teiiipo + 0^,18 e +0", 16 de f c p daAguia; e — 0%10 de ot do Cisne: assiin na dift'eren^a d'ascensao recta entre f da Agnia e a do Cisne existe uiu erro de 0*,28, que estiuiado era segundos d'arcos e do 4",'2. <(Na 2." St'cgao, procedeu-se simillmnte- mente para ura segundo grupo das principaes estrellas das doze primeiras horas. oN'estas cita-se o desvio, por exeniplo, entre Pollux e Rigel que i 0'',14, ou 2",1. «Eni quanto que para as ditt'erentes estrel- las, as correcij'oes sao as mesraas, sondo determinadas, ou para a primeira metade, ou para a segunda metade das observaciies de Bradley, soraente Sirio nprescnta uma anomalia consideravel. A correcgao da sua ascensao recta sendo +0^,22 em 1751, apenas 6 -f- 0^,02 em ITtjl. De sorte que as observagoes de Bradley bastam para p6r em evideiicia, d'urn modo incontestavel, a variabiliclade do raoviuiento proprio de Sirio. Ainda mais : o sentido e a grandeza da variajao n'esta epocha se ajusta, tanto quanto Be podia esperar, com o resultado deduzido da theoria que M. Peters estabeleceu, sup- pondo que Sirio fosse uma estrella dupla, e que seu companheiro fosse um corpo escu- ro. E assira se contirma cada vez mais este facto tao iniportante, descoberto por Bessel, e que couslitue uma das mais curiosas reve- la^ijes da astronomia do seculo XIX. Jnstitnta, JORIVAL SCIEIVTIFICO E LITTERARIO. -<:>s«s»- IiNSTRUCCAO PCBLICA. N'uin (ins relatorio3, lidos na ultima ses- sao de conf'erencia geral do Conselho superior d'in8truc9ao publica, citou-se o seguinte tre- cho do relatorio do Commissario dos estudos do districto do Funchal, que, pela importancia elevada do assumpto, julgamos digno de publicar-s° nas coluranas do Instituto, para charoar sobre elle as medita^oes de todas as pessoas illustradas, que se empenham no pro- gresso da instruc^ao e moralidade publioa. «H.i, diz o Commissario no seu relatorio, ha tal instrucjao religiosa, cuja falta nao pdde deixar de ser uma grande vergonlia para quern quer que a sofii-a; porque nao ha ser racional, que, transpondo a edade, em que a K suppre a sciencia, u.-io tenha obrigagao de, pelo menos a si proprio, dar razito das suas crengas, visto serem estas inevitavelmente os principios determinantes da sua aetividade. Oondifao f^sencial para querer e crer.s Mas fori,'a e cont'essar que entre n6s desgra- ^adamente, af6ra as nojoes eleraentarea de doutrina chri^itii, que se adquirem na es- chola, pelo que toca A religiao nada raais se ensina & mocidade; porque fallece na orga- nisajao dos iyceus uma oadeira, que tenha a seu cargo aquelle ensino; que de indispen- save! dosenvolujao aos principios riidimen- tares da eschola; que eultive e fortalc9a este adniiravel instincto do infinito, este senti- mento religio-o, que 6 o maior dos titulos de fidalguia da nossa espeeie. Daqui vera a crassa ignorancia, que em taes materias revela a geragao dc que faze- mos parte. Quizesse alguem dar-se ao incom- modo de interrogar os priraeiros cem homens, que acaso encontrasse por essas ruas; quizesse ter o trabalho de perguntar-lhes — que reli- giao e a vossa ? quem foi o fundador d'esta religiao? onde e quando nasceu e morreu ? que dogmas ensinou, que sacranientos insti- tuiu ? qual a authentieidade dos livros que dao testimunho da sua diviua missaoV quaes as prini'ipaes provas da verdade da religiao que professais? estou certo, que de cem nao acharia seis assaz habilitados para responde- reni racionalmente a estas perguntas. Todos, ou quasi todos, ignoram, e — o que mais 6 — rauitos fazem gabo d'esta sua ignorancia a tal respeito. Vol. II. IIaio 0 povo que nSo sabe ler contenta-se com a sua fe, se a tern. Mas os individuos, que por qualquer grdu de illustrajao tern chegado a emergir da classe popular, como o ensino racional Ihes nao tenha robustecido os prin- cipios que beberam na eschola, em ehegando d edade era que a razao succede ao instincto, aos priraeiros botes do scepticismo dao por vencida a sua fe. Dulcificam-Ihe a derrota as paixSes. Entra-lhes a irreligiao, para o dizer assim, por todos os poros do corpo ; e com ella vem a descorapostura de vida e a re!axa9ao de costumes ; vem este egoismo alvar que nao tem entranhas para ninguem ; vem esta desconfianga de tudo e de todos, que, quebrando todos os lajos de sociedade e de t'amilia, obriga cada homcm a ver no seu similhante um obstaculo d sua felicidade. Daqui vera este espirito de desorganisajao que do ha tempos a esta parte esvoaja por cima da sociedade aterrada, e ameaja sepul- tal-a nas ruinas das suas raais venerandas institiii^oes. Daqui vem essa multiplicidade de mon- struosas Utopias, que pije era probleraa a res- ponsabilidade humana, a intervenjao da Pro- videncia no governo d'este mundo, o sagrado do lar doraestico, a inviolabilidade do tha- lamo, a transniissao dos bens de familia, a pro]iriedade, o governo e a paz do estado. Daqui vera esta fatalidade invencivel, que tern ferido, e ha de ferir sempre, de esteri- lidade a quantos esforjos fizermos para re- forraar a sociedade, era quanto nao curarmos seriamente de nos reformarmos a ncjs raesmos, e darmos d gera§ao que ha de substituir-nos costumes mais severos, hal>itos raais puros, opinioes mais cordatas, principios mais ver- dadeiros e crengas religiosas mais fortes. Verdade e que, felizmente, entre n6s ainda 0 mal se nao tem apresentado com aspecto tao temeroso. Mas releva premunir a moci- dade com a theriaga contra o contagio, por- que o veneno por ahi anda condensado em livros que corrom pela mao de todos ; e o perigo & tanto maior, quanto mais bellas e seductoras sao as f6rma3 em que elle se des- farga . Nao se entenda que eu desejo nos Iyceus ura curso analogo ao que se professa nas cadei- ras de theologia dos seminaries ; nao desejo tal. 15— 1853 Ndu. 4 38 No3 seminnrios 03 cstudos srio nsjuciw.s para unia clas^e de cidadJios 00m i-ertas e designadas funcgSea na ordem civil. No? ly- ceu3, tanto os ostiidoR que existein, coiuo est'oiitro ciija falta deploro, sao estiidos^iiraes para todas as classes de cidadaos, quer ve- i nham a ter, quer nao, funcjoes publicas na \ sociedade. i A base dos estudos theologicos nos aemi- narios k exclusivainente a auctoridade. O fuii- daiueuto do ensino religioso nos lyceus deve ser principalinente a razao, inas a razao applicada ao estudo e exarae dos factos de que Ihe d:i testiinunho a auctoridade. S. Paulo, fallando da ii, define-a n'estes ter- mos: — obsiiquium rationabile vestrum. Creio tirmemente com S. Paulo, que assira como se desce da (& natural i sciencia, tambem p6de subir-se da sciencia d (& sobrenatural. Tao pouco inimigo 6 da razao humana o christianismo, que elle 6 a verdade mesiua, e apenas uni supplemento a esta razao. 0 panto estd era qne a razao entre com since- ridade e boa fe no exarae das provas era que assenta a verdade do christianismo. So com esta condi9ao pode a razao ter {& no christia- nismo, porque s6 com esta condi9ao se Ihe nianifesta a verdade. A theodicea, que f6rraa a terceira parte da ontnlogia especial, p6de ir at6 0 ponto de f'aner sentir d razao a necessidade de uma revelajao sobrenatural ; e para a razao sentir esta necessidade basta que tenha conseiencia da immobilidade dos limites, que Ihe cir- cumscrevem o poder, e da incapacidade em que labora para resolver deBnitivamente, per si s6, certos problenias, que sem cessar atormentam a alma humana, mas ciijas so- luyoes estao n'uma ordeui de cousas ditferente da actual, f6ra da condijao do tempo e do espajo. At6 aqui pode ir a theodicea. Mas daqui em deante acaba a tarefa d'csta, e come9a a sentir-se a necessidade d'cutra disciplina, que tomando por ponto de partida as conclusoes da theodicea, v4, mediante os auxilios do raciocinio e da critica historica, sondando todos 03 fundamentos da certeza da revelayao positiva, a niajestosa verdade dos dogmas e da moral d'ella, e a historia do seu estabe- cimento e diB'usao entre os homens. Tal 6, conclue 0 Comraissario, a idija sura- maria do curso que eu muito folgava de ver instituido nos lyceus para complemento do quadro dos estudos d'elles ; c que em ver- dade tem muito mais cabiraento n'este qua- dro que algumas cadeiras de linguas, cujo conhecimento, por mais util que seja para certas profissoes, e sempre unia especialidad^, que nao p6de f'azer parte de um ensino, que s6 deve ter em mira 0 desenvolvimento e cultura racional dos instinctos intellectuaes e moraes da humanidade.i) INFl.tlRNCIA OAS CRUZADAS NA CIVII.ISAQAO. ContiiiuHdo lie pag iiUf) do prinieiro vol. Cruzadas. A philosophia da historia faz lioje ver nas cruza las uin grande facto |)olitico, e um grande facto religioso. A analyse, ([uando se limit^i il fiimi)l'>s apreciayao dos factos sera cuidar daa circumst mcias e3peciae^ do logar e do tempo em que so agitaram, desvirtua a sua missao ; criticara-se depois de passadas epochas, as eraprezas cuja causa se ignora; porque seriam hoje intempestivas, acredita- se facilmente que o foram na epocha, em que se exeeutaram. Kis o que suocedeu com 0 grande facto que apreciamos. Se recorremos aos escriptores do seculo passado, raesmo os raaia imparciaes e criti- cos, n6s 08 vemos formando uma opiniao sobre este grande movimeuto europeu, bem ditferente do que se mostra hoje plausivel- mente sustentada por Michaud, Kohrbacher, Canlu, e Guizot. oMuitos seculos se acreditou de boa (& que a religiao podia e devia mesmo ser propagada pelas annas. Nao i pois de admirar que uma guerra emprehendula p aa recuperar os san- ctos logares parecesse justa, piedosa e raeri- toria. O uso que parece aucti^risar os abusos, at6 nos seculos illustrados, deve tornar-nos indulgentes para com nossos pais, que viviam em tempos de trevaa. Se elles tiverani pre- juizos, nao os temos n6s tambem ? Ha por Ventura muito tempo que reconheceraos oa abusos das ciuzadasV Nao se tem at6 nossos dias acreditado que a religiao interessa era defender este genero de guerras? Tal 6 a sorte dos prejuizos; estabelecem-se nos tem- pos de ignoiancia, e duram ainda mesmo quando a luz tera dissipado as trevas ; sao necessarios seculos para os destruir.» Estas refl.'xoes d'ura homem iraparcial e verdadeiraniente philosopho, Condillac, mos- tram bem quaes eram as ideas do seculo passado em rolajao ds cruzadas. Xada maia sensato n'esta especialidade, se ainda hoje se podesae dizer que as cruzadas foram uma gueira unicamente de religiao, que uao houve n'ellas um tlra altainente politico a preen- cher, uma ntcesaidade urgente a reniediar. Eti'ectivamente por^m succede o contrario. Vamos tentar demoustral-o. Jerusalem, que vira sobre suas collinas Da- vid, Saloraao, Joas, Nabuchodonosor, Ale- xandre, Ptolonieu, Anthiocho, Pompeo, Crasso, Tito, Adriiino, Constantino, Chos- roea, lleraclio, e Omar, devia ainda ahi ver hasteado o signal da redemp(,ao pelo brayo mais forte que empunhou a espada nos secu- los ferreos da edade media. Devia ver sentar- ^ ee em seu throno um heroe, que era nada 39 cedendo aos que o procederam, soube humi- Ihar-se, como David, recuaando cingir o dia- dema real oiide o Rederaptor cingira uma coroa de desprezo : fallamos de Godet'roy de Bouillon. Se no moio do feudalisino propagado por quasi toda a Europa se aprpsentain circumstan- cias especiaes e imponentes, que exigera um movimento geral; se essas circurastanciaa sao o estado belligerante da Europa, e este movi- mento as cruzadas, para bem se poderera precisar seus raotivos i mister langar as vistas sobre esse estado da Europa n'esta epocha. N'eases necuios em que a ignorancia e anar- chia erara o estado normal, o maior flageilo de que a Europa se via ameajada era a inva- sao mahometana. O oriente, o iraporio grego, que por sua grande heresia, o antichristia- nisrao doutrinal de Ario, de que as outras he- resias nao sao eenao a consequencia, preparou o caminho ao antichristianiamo politico, o iraperio do Mahomet; — o imporio grego, dizemos, soffreu oa resultados funestos de Buaa aberragoes civis e religiosas. O occidente tauibein tinlia visto as hordas anticliristas de Slahomet, tinha-as visto ;'is portas de Roma e no coragiio da Franca: inaso occidente, nao obstante suas diversidades nacionaes, tinlia uma mesraa crenca; tinha vencido e expulsado as armas do falso profeta; tinha-as expulsado ilas Gallias, da Italia, expulsava-cis da Sicilia, da Corsega e da Sar- denha, fazia-lhea uma guerra aberta e con- tinua na Hespanha. Ilavia quatro secnlos que a espada de Carlos Martel, e de Carlos Maguo, a espada do occidente nSo tinha entrado na bainha ; e ainda hoje raesmo, depois de doze seculos, a espada da Franga continiia no solo afri- cano o que comegou iios caiupos de Poitiers. O oriente pelo contrario, o imperio grego, separado da christandade roniana. e era si mesrao dividido; no espiritual pelo schisma e heresia; no temporal pelo espiiito de anarchia e de rebelliao, que nao eesaava de Hie jiolluir o throno com o sangue de seus iroperadores ; via-se atacado, mutilado e dividido, dimi- niiido succeasivaniente pelo imperio anticliris- \:m do falso propheta. O imperio grego tinha perdido a Africa, tinha perdido o Egypto, tinha perdido a Syria, acabiva de perder a Asia ineiior; um snltao reinava em Icone; um sullao reinava em Kiei^a; Antiochia aeabava de cahir em suaa maos. Eatcs por uma parte, e oa Petcheneguea, ou Coaacos por outra, ameagavatn todoa os dias Cunstautinopla ; o iuiperador, segundo suas proprias expressoe.s, nao fazia niais que fugir dianti! d'ellca de cidade em cidade. Assim que Constantiimpla cahisse em sen poder, nada im|)edia aos turcos de ae lanjarem sobre a Allcmanha, entuo desolada por conti- nuas guerras, occupando-se o seu chefe havia quarenta auuos em fazer a guerra, nao aos iniraigos que anieagavam a Europa, mas a seus proprios vassallos e d egreja. Que pnderiam entjto fazer a Franga, ador- mecido o seu rei nos bragos da voluptuosi- dade? A Inglaterra, cujo rei cuidava mais em resgatar seus vassallos e as egrejas, que em defendel-as contra o inimigo? A Heapanha a bragos com seus dominadores, que com con- tinuas invasoes procuravam cada vez mais siibjugal-a. Os Turcos da Asia, chegados pela Alle- manlia, os Sarracenos da Africa, vindos pela Ilesp.anlia, encontrar-se-hiam no solo da Fran- ga, para dahi marcharem sobre a Italia, e em pouco a Europa curvaria sua cabega na presenga das raeias luas. Tal era a posigao da Europa n'esta epocha. O Evangelho e o Koran, inconciliaveis por natureza, disputavam o predominio do mun- do: amboa abrigando vastos pianos, ambos poderosos, contavam ambos com povos decididos, enthusiasmados, promptos a pre- cipitar-se uns sobre os outros. Nao faltavam de uma parte e de outra probabilidades em que fundar justas esperangas de triumpho ; o principio mahometano, porem, havia tornado a offensiva. De que parte ficaria a victoria nao seria dado conjecturar com probabilidade. Que conducta pois deveria scguir a Europa christa para se preservar do perigo que a ameagava? Seria mais conveniente que tran- quilla esperasse o ataque dos muaulmanos, ou que, levantando-se em massa, se arrojasse sobre o inimigo, bnscando-o no seu proprio paiz, onde elle se cuiisiderava invencivel"? As aracagas instavam, jd do oriente, jd do occidente; mas o oriente era na actualidade 0 ponto mais cm perigo, no occidente, nao estando tiio corruptos os defensores, eram mais esforgados. A philosophia, conqnistando seus f(5ro8, tern prosL'ripto de suas apreciagioea historicas o principio do arbitrario. Independentemente do conhecimento especial das causas, quem ha que hoje se atreva a negar o principio da cauaalidade, quando mesmo nao possa comprehender a sua realisagao individual? As- sim a sciencia ve com prazer estender-se o seu dominio : e a sciencia da historia niio 6 de certo a que tem avangado menos n'esta via do _ progresso. j £ por isao que a opiniao que nao viu nas cruzadas mais que o resultado de urn cego enthusiasmo, ou de uma irreflectida avidez de conquistas, sem pensamento, sem destino, ' cae hoje perante a philosophia, que Ihe diz : — nao ha phenomeno sem lei ; a historia toda 6 um systema. — As excepgoes, por mais repetidas e exaggeradas, nao destroem este principio, nao chegam nunca a universalisa- rem-se, assim o confirma o facto que analy- saraos. Por mais d'uma vez tinha havido o pensa- 1 mento de arraar toda a Europa para a op- 40 por em inassa nos musulinanos. ^o tempo I de suas primeiras incursSes nan ss im iginara I que unia horda de Boduinos pndesse expor j a tao grande perigo o mundo cliristao ; e a , cliristandade mesmo nao se achava agglome- ! rada ainda na unidade do imperio. A16m i d'isso havia serapre ura obstaculo nos gregos, 1 que, separados do resto da Europa, jd pelo orgulho, jd pela hereaia, irapediani tentar-se j um esforjo commum. Mas as circurastancias, que notamos, exi- 1 giara agora um prompto reraedio ; e foi o , proprio imperio grego, jjl quasi reduzido a cadaver, quern veiu implorar o poder, cujos progresses pouco antes neutralizara, quando talvez mais efficazes. Jil o imperador Miguel Ducas havia ira- plurado 0 soccorro dos oecidentaes, dirigindo- se a Gregorio VII, com proraessa de fazer cessar a separajao das egrejas latina e grega ; e este homem de epoclia tinha alistado ura poderoEO esercito para corrcr era soccorro do oriente. Mas n'esta epocha um mal nao menos fuuesto anieajava o occidente, eram as guer- ras civis, que devastavam a Allemanha. Este pensamento, seguido por Victor III, deu o primeiro ensaio da guerra que em poucos annos devia fazer transportar a Europa a pelejar n'um solu estranho. Os Genovezes, e OS Pisonos, levantando-se para combater os Sarracenos de Africa, contentaram-se com ! pequenos resultados, voltando ufanos por tor- narem tributario um rei mouro. Cantu, nao se esquecendo de procurar para a sua patria a gloria de dar comedo a esta em- preza, diz: os Italianos foram os primciins i a emprehender estas expedi9oos, que durante dois seculos agitaram a Europa e a Asia; mas estava reservado a ura homem obscuro fazer saltar a cenlelha, que devia incendiar OS materiaes j4 prepaiados. Foi no pontiticado de Urbano II que um estado interne mais pacific© deu logar a rea- lizar a obra, de que Gregorio VII lan^ara os fundamentos. Fallamos da primeira e mais iintavel das cruzadas, typo pelo qual podere- mos avaliar as oiitras. Aleixo Comneno, apertado por uma parte pelos Turcos, e por outra pelos Cossacos, recor- reu com mais efficacia ao meio, que jd Miguel Ducas havia empregado, implorando o soc- corro de todos 09 guerreiroa do occidente, pela carta dirigida ao conde Roberto de Flan- dres, e a todos os principes christaos, clerigos e leigos. Niio sendo nosso intento historiar factos, s6 sim aprecial-os philosophicamente, nao noa detereraos por isso em longas narra^i^es. Do que teinos dicto podemos concluir que ura grande perigo araeajava a Europa; em- barayalo era de certo um passo summamente politico. Seria porim esse ura dos fins principacs, que Be propozeram os cruzados? C'onlitiua. J. B. FERKAO. A QUESTiO DA INSTRUCgAo I'UBLICA EM 1853 Contimiado de pag. 2G O numero de 1:168 cadeiraa publicas em instrucfao primaria nem rosponde a popula9ao do paiz, que pdde avaliarse em 3.600:000 habitantes, nem ao nuraero do 3:900 paro- chias, que ha no continente o ilhas adja- centes. Se quizeramos fazer comparagiio com o numero de escholas de outros povos raais chegados ao nosso em forja de popuiagao, por ex., Hollands e Belgica, grande fora a nosaa desvantagem. Mas ainda consultando o estado de um povo, menos favorecido da fortuna, que costuma trazer-se para exemplo da raiseria ; e aonde a instruc^ao popular se diz pouco vulgarisada, a Irlanda, o numero de escliolas primarias era 1850 era 4:900, frequentadas por 548:000 alumnos, sendo a popula^ao de 9.820:000 habitantes. E vemos n'esta estatistica nao s6 a superioridade de nuraero de escholas, mas a raaior frequencia d'ellas. Se attenderraos ao atrazo da instrucgao primaria dos nosaos vizinhos antes da sua reforma de 1838, ao verdadeiro incremento d'ella so depois de 1845, e ao numero de escholas que possue actualmente, orjando por 7:000 as pagas pelo estado, e quasi egual numero de escholas livres, acabaremos por nos convencermos de que n'esse ramo de in- strucQao vao muito adeante de n68 tudos os outros povoa do mundo civilisado; e que 6 de absoluta necessidade todo e qualquer sacrificio que as necessidades publicas exigem para alargar a sua esphera e nielhorar o seu estado. 0 desleixo habitual dos povos muito con- corre para o estado de abatiracnto que de- ploramos. Ainda quando 66 tracta dos inte- ressos raais earns, tudo se aguarda do gover- no. Nao sabem iraitar-se as practicas e bona excraplos de outros povos. 0 espirito de as- sociajiio, o sentimento de beneficencia nao tern auxiliado entre u6s o desenvolvimento da inslruc^riii popular, se except larmos as ilhas adjacontes, onde a maior pai te das ca- dciras cxisteutes sao sustentadas p'los sobejos dos rendimeutos das confrarias, e rendinientos de muiiicipalidades, ou cxclusivaraente, ou de combinayao com subsidies do thesouro publico. Ainda o desmazelo pode ser notado na pouca frequencia das 1:168 cadeiras que hoje existem, e que deveriam instniir numero de alumnos rauito superior a 43:200, de que fizemos raengao. Mas e de crer que as dis- tancias, pelo menos nas terras raais dospo- voadas, como o sao A16ra-Tejo, e Estrema- dura, obstem a frequencia maior. Niio p6de por isso deduzir se arguniento da pouca fre- quencia contra a necessidade de augmento das 41 escholas. A di8po8i9ao da ultima lei que manda estabeleccl as a distaniMa miiica supe- rior a mil quarto de legua ainda nuo foi realizada. Uuia escbola para cada parocliia em povoa- foes ruraes, e nas cidades o villas populosas o numero siifficiente com rela^ao jl popula- ^iio e ao periinetro das terras e nma neces sidado urgent^, hoje gcralmeiite reconhocida. Sao mui eacassos os meios do thesouro, i verdadu ; mas nao havcra meio de derramar a instruc(,'ao scm gravame da fazenda publica? Tcmos iioticia do uiiia proposta, apresentada ao governo pela auctoridade sufierior do ensino publico, em que se propunha applicar a um fim tao juste e sancto os sobejos dos rendinientos de irmandades, e confrarias, depois de satisfeitos os eneargos pios. A idea nao e nova. O decroto de 21 de outubro de 1836 jA Ihe dera esse destine, que nunca se realizou : o do 20 de setembro de 1844 nos artt. 'J e 45 sustentou a inesma idea, fazen- do-a extensiva egualmente ds camaras ; mas consignando a com o character facultativo. O que k novo, o que pode converter a idea em realidade, i5 o character olrigatorio, que a proposta ret'i;rida Ihe dava, acompauhado das garantias de disposigoes administrativas, e fiscaes. Faiece que em um paiz, constituido pelo principle religiose, se devcra ter apro- veitado melhor uma idea tao fecunda e eco- nomica. Mas niio basta realizar uma so idea para fazer entrar no progresso a instruc9ao prima- ria. A questao d coniplexa ; demanda reso- lugao raais larga. Do que serviria multiplicar escholas, se n;io houvesse professores dignos para as regerem? Os que ha d'este genero Isao poucos. Us homens de merito acham com facilidade empregos mais lucrativos. Sem que Be formem & custa do estado os meatres da instrucjao priraaria, nao teremus quein digna- mente possa rcger o enaino. Escholas nor- roaes sao de primeira nccessidade, ainda antes de decretar a crea§ao das novas escholas. E nao diremos que ae criera as normaes d imi- tagao da de Lisboa. Nem se carece de tao dispendiosos estabelecimentos; nem e nos gran- des centros de populafao e de riqueza onde elles provani melhor. A grande eschola nor- mal de Berlin! foi dalli transferida para Po- tsdam. A excellente eschola normal de Bruhl estd collocada em pequena e aprazivcl aldea. Com pouca despeza podiam instituir-se escho- las normaes pequenas juiicto a algumas escho- las das que esistem regidas por bona profes- sores. Serd este o meio de haver bons meatres sera que aeja necessaiio elevar muito os ordenados, Em Franca atd 1848 podiam os ordenados dos professores de instrucyao pri- raaria reputar-se inferiores aos nossos. Em Hcspanha ainda nao sao superiores. Fodem, e devem melhorar-se os nossos sem aiigmonto do despeza puLlica, niediante alguma raodica subven^ao dos alumnos para despezas da eschola; e fard esse novo elemento que os alumnos aproveitera raais; e os paes d'elles tiscalizem melhor os deveres dos professores. A in!-truc(,'ao totalmente gratuita costuma produzir radu effeito. Mas 6 de saber que a alma da in8truc9ao 6 a inspoc^ao. Sem ella aerd tudo baldado. Preseuteraente nao ha inspecgito. Os conimis- sarios de estudos, que a lei chama a reitores dos lyceus, nao podem cuidar do governo d'estes e de visitar escholas primarias. E de primeira, e abaoluta neoessidade organisar a inspecjao das escholas primarias. A inspec9ao por6m sendo gratuita nenhiira effeito pro- duzird. Provam mal funcyoes gratuitas. A nomeagao de um inspector ao menos para cada districto, pago pelo Estado, aerd in- disponsavel, se quizerem aproveitar a idea de commissoea locaes gratuitas. Contliiua. M. COSTUMES JUDICIARIOS EM INGLATERRA. Ainda agora se apresenta n'este paiz o sin- gular espectaculo de um povo que nilo tem leis escriptas, ou, para o dizer melhor, onde a tradi9ao de uma jurisprudencia fluctuante substitue, na m6r parte daa tranaac9oes civis, OS codigossystematicamente redigidos, osoor- poa de leis iramutaveis e de uma interpreta- 9ao facil. Dahi re^ulta que a chamada polos inglezes lei commum nao pode ser conhecida senao por quem dedicar ao sen estudo a vida toda. O antigo commentador Eostescue, e depois Blackstone, confessam que vinte annos apenas bastam para poder consultar os re- portorios, os diccionarios, os tractados innu- meraveis donde podem ser extraidas as no- 9oes prcciosas que um estudante applicado adquire em tres annos de estudo, era uma na9ao onde existem codigos para todos os raraos de direito. A lei, desconhecida ate dos que a appli- cara, acha-se virtualmente annullada, e os juizes, que deviam ser interpretea doceis, tornam-se arbitros supremos. Suppoem el- les, 6 verdade (mas nao fazera mais que suppol-o), a existencia de um costume igno- rado de todos, e com que ninguem razoavel- mente p6de ser obrigado a conformar-se. E todavia esta jurisprudencia arbitraria, au- ctorisada 8(5meute pela intelligencia e probi- dade individual, & respeitada por todos; uni- camente alguns espiritos, por isso mesmo re- putados demasiado temerarios, chegaram a duvidar de suas vantagens e certeza. Eminen- tes jurisconsultos, como lord Mansfield, por exeraplo, chegaram at6 a proclamarem a lei convnum como superior d lei estat ato ; conside- rando a lei commum mais adaptada a todas as circumstancias, mais Hexivel, menos limitada em suas prescrip^iies, e a lei-estatuto incom- 42 pleta oni snaa provisoes, o quasi nuiica mi- ' nistaiuli) el('iiiont^)3 para uma dccisru) con- tbriiie ;i estriota equiilaclo. Kste cstado tie ccjiisas, faoilmcute tolerado por iiin povo de todo absorvido pola industria, dil aus advo^ados e principalinente aos pro- curadores iiiiia liberdade de ai'i,a(i, uma au- dacia, uin podir de que abusam (requentes vezes. Km virtude d'um accordo tacito, em ! que interesses identieos nao soflVem a iiieuor J liiscordaucia, aufjmcniara com todas as ru- bricas da rabulice a obscuridade que in- vcilve o meeanismo das operayoes jiidiciaes. O actd mais iiisignitieante 6 por elles pro- ! loiigado, sobiecarregado de palavras baiba- ras, delini^oes redundantes, clausulas cnig- maticas: acervo indigesto, donde se podiara eliiuiriar cinco sextas partes sem nada tirar } ao esseiicial do doiumento, se uao houves- sem o intuito de desaniraar previamente o liomem cuja prudencia induza a ler o que assigna, e a procurar comprehender formu- las mysteriosas. E bom, e indispensavel que toda essa escuridao aterre desde o principio o cliente que quizer ian^ar em um processo a incommoda luz do senso commura. E mis- ter que, contrite e perplexo, se abandone cegamento A. boa f6 de seus conselheiros, d equidude de seus juizes, Mt'diante estas precaujijes, todo o inglez a quem, por infelicidade, tocou a obriga^ao d'estcr em justi^a fica tanto a raercG dos lio- mens de lei, como o naufragado inerme i merce dos selvagens, a quem pede hospitali- dade. Os bens, a lionra, tudo depende abso- lutamente d'elles. Passivo e resignado como o mais humilde, o mais sileneioso eomparsa, entra no drama, cuja catastrophe a elle so amea^a. A defesa da causa faz-se em uma lingua em que elle nem sequor comprehende seus mais caros interesses. Sua individuali- dade, seu nome, aniquilam-se no meio da algazarra. Reeebe notiticajoes que dissera dirigidas a algum vizinho, porque o nomeam com uma alcunha de convenyao, reliquia ex- travagante da symbolica judiciaria da edade media. Se se tracta d urn terreno cuja posse reclama, ou cujos limites defendo, esta pro- priedade transtigurada pela giria dos escri- vaes, toma urn novo aspecto, dimensoes des- conhecidas. Supponhanios que se tracta d'uma geira de charneca esteril no alto d'um monte, a escriptura de venda, cuja leitura ouve pela primeira vez, enumera edificios, casas, aposentos, jardinp, pastes, brejos, tapadas, moinlios, ppdreiras, etc., etc. (noraenclatura que occuparia duas paginas), que dcpendem ou poderiara depender d'este pifio campo, onde apenas vegeta ao sol e d cliuva alguina triste giesta. Os discursos dos advogados tern seus eni- gmas, sua tautologia barbara, auas designa- ^•063 ambiguas, consagradas pelo uso de seis ou scte seculos. Sao as mesnias inepcias, as uiesmas exigencias ineticulosas que Cicero censurava nos tribunacs de Roma. R deve notar-se que os advogados mmlornos pro- longaram singularmcntc a exiona.ni) dos arra- zoados. Tern por si a aucturidadc do parla- mcnto, ([Ue encaixilha os ?'(7/.s- em uma mid- dura gotliica de massic^'as propor^'ORs ; os disciir.sos dos oradores politicos, palavrorio interminavel quo afoga em duas boras de fluida eloquencia uma dose homcopathica de boa e conchidente argumeutagao ; o e^^tylo dos arestos, nao mcnos veiboso e pesado ; o do pulpito e das controversias religiosas mais diffuRO que em nenhiima outia egreja do mundo, sera fallar dos biindes, das li^oes economicas, das hareugas sobre a livre per- mutagao e a taxa dos pobres, de tudo o quo emtim characterisa a enfermidade oratoria tao inveterada nos inglezes. O I'OETA MORIBUNDO (Trailucc.lo da 'i3." MeilitacJo Hoctica dc l.amarline) Do nieu curio viver quebrou-se a taca I Foge-me a vida no arquejar do peito ; Nem ais noni pranto poilem ja sustal-a ; Co'a ponla d'aza a niorte sobre o bronze Bateu descompassada a hora exlreiua ! Gemer ou caiilar devo ? Canlemos, pois que ainda cropunho a lyra, Cantemos, pois que a moite, como ao cysne, Da vida ao de?pt'dir-me sopra o eslrn. E prcs.igio feliz que eu devo ao genio ; Noss'alnm lodn amor, toda barmonia, Em bymoos se desale ! Ouebra-se a lyra em hyuinos melodiosus ; yuando vai a apagar-se a luz rebrilba, Liinca antes de expirar darSo fulgente ; 0 cysne lila o ceo na bora extrenia ; Homem, so tu conlemplas o passado, Choras, conlas teus dias I Nossos dias que sao para cborar-sc ? Um sol, dcpois um sol ; uma liora c outra ; A que vem sempre irmS da que ha fugido ; Se uma dita nos Iraz, logo outra as rouba ; Alan, repouso e dor ; — d'envolla, um sonbo, 0 dia, e logo a noite ! Quem ve fugir-lbe a esp'ranca a c.ada inslanle, E 4s ruinas dos anuos, como as heras, Fincanilo as mSos s'enlea, — esse que chore. Sem tcr lancado uma raiz na terra, Eu »ou sem'custo, qual ligeira folba, Nas azas de uma brisa ! Os poelas sao aves de passagem, Que nao amassam sobre a praia os ninbos, (Joe nilo pousam nos ramos do arvoredo ; Preguirosos boiando i (lor das aguas. Canlaui Innge da praia, e s6 Ibe escuta O niundo a voz sonora. Slinhas niSos inexperlas sobre a lyra Tentearani sem meslre os sons divines ; Inspir.ac5es celestes nao se apprendem, Nuo ap'prende o regato a deslizar-sc, As aguias a pairar, a doce abclba A tabricar seus favos. SOa na erguida lorrc o .som do bronze, Ora triste, ora alegre, cclebrando Nasnimento, bvmcneo e a niorte ao rabo ; Eu era como 6 bronze hem temp'rado, Tarabein cada paixao vibrando n'alma. Sollava uma barmonia. 43 Assim, durante a noite, uma harpa aolia Casa ao tuido d'apiia o» sous ijueixumes, l)e uni zopliiio eslrcmecc ao siipro brando ; Allonilo 0 viaiidanle p4ra c csouta, Nao sabe cstasiado Jonde [larteiii Sus|iiios l.lo si'nliilos. Jlinha liar|]a niuita vez niolbfi de lagiimas ■ Mas i 0 pranlo i|ual celeste orvalhu ; Tanibem o coiaeAo teni dias trjstes ; Nas lacas do restim corre ejpn'inido IJo caclio 0 sumo ; o balsamo iierfuma Depois de aos pes calcado. Dous niinb'alma forniou d'um sopin anienle Tudo 0 que elia tocava ardia ejii biaza : I'or isso tnuito amei, por isso niorrn ! E tudo ao sopio iiieu desfez-se cm cinzas, Conio 0 Togo do ceo consome inteiia A sarca onde ba cahido. _ Mas 0 tempo ? — sumiu-se. Mas a gloria ? Ah ! 0 qu'jmporla esse echo vSo dos sec'los Scarneo talvez das geracOes futoras ? ' O vos que Ibo fadais por'vir eterno, Ouvi-me urn som da Ijra, c vedc 03 ventof" Como era breve 0 dissipam ! Ob ! dae a morte mais segura esp'ranca. Debil recordacao de ura som perdido ' Dos tumulos persiste acaso em lorno ? Wum al do monbundo exist.; a gloria I Mortaes, que prometleis clerna fama, Uizei — tendes dois dias ? O3 ceos atlesto, — desde que eu respiro, Meus labios sem sorrir nunca sollaram Nome que engrandeceu delirio bumano : Cada vez mais vazio, como a casca Sccca, que em vfio sugamos, sejiipre 0 tenbo Dos labios expellido. O3 bomens i corrente que os arrasia N'um dehrio de gloria embevecidos, ' Fiam urn nome, que de dia em dia, 0 tempo em suas ondas enfraquece. Urn sec'lo 0 vij brilhar, um sec'lo 0 lanca Ao mar do esquecimeiilo. Se a esse mar sem praia um nome arrojo Que boie, ou que se afunile, 0 que m'iinp.j'rta ?I Fode esse nome acaso engrandecer-me ? Cysne que para 0 ciSo remonla 0 vuo, Se das azas a sombra inda fluclua Ka terra, acaso indaga 7 Mas teus cantos ? — Pergunta 4 philomela I'orque ,'i noite os sens quebros se misluram I) entre as raraadas ao murmurio d'agua : Cantava, como canta a avezinba, Como 0 boraem respira, as auras gemern, Como a fonte murmura. Amar, rezar, canlar, — eis niinba vida. De tudo 0 que os mortaes na terra aiireiam Nada n'esta bora extrema a custo ileixo ; ' Nada, alem dus suspiros para 0 ceo, l)os exlasis da lyra, e do silencio Expressivo do amor. Sentir aos p6s da amante as cordas d'oiro Na lyra estremecer, e os sons barmonicos Levar-lhe an coracSo doce delirio. Ver-Ihe 0 pranlo correr das faces lindas yual do cahx da ilor transborda em perolas D'aurora 0 brando orvalbo : yer d'uma virgem meiga 0 olbar modesto Iriste Ctar-sc na celeste abobada, Como quem quer segurr os sons que fogem ■ Uepois btar-se em ti em casta chamma ' t baixar-se, e brilbar, como da noite Um facbo que Ireraiila : Ver-lbe adejar no rosto 0 pensaraento ■ A palavra faltar-lbe aos labios Iremulds • t apoz silencio longo emCm ouvir-Ihe tssa palavra que nos ceos retinae yue 0 anio e serapbim repele - eu te amo 1 — his s6 porque eu suspiro. Km suspiro ! um pezar ! palavras futeis. tu nas azas da inorle aos ceos me elevo • tu vou onde os inslinctos me chamavam • Onde .«e vf brilbar a voz da e.sp'ranca ; Eu vou atraz dos sons da minha lyra, ' Atraz dos meus suspiros I Como essa ave quo ve por entre 0 escuro, Com OS olhos da i das loisas Erguem-se .■is vezes preccs fervorosas ; lla morte na mansSo sorri-se a esp'ranca ; Um pe na campa solla-nos da terra ; " 0 horizonte 6 mais vaslo, e mais ligeira Noss'alma voa aos cins. Quebre-se, de-se ao vento, ao mar, is chamnias, Lyra que um som nSo leve, que afinasse Acconle co'a minha alma ; que os meus dedos IrSo vibrar hem cedo na har|ia d'anjos Hossanas immortaes, a cujo aocento Talvez os c^os suspenda . . . Talvez . . . porSm da morte a mao pesada Sobre a lyra passou ; a corda estala. E soltou um gemido extremo aos ares. Calou-se a minba lyra . . . Agora as vossas, Amigos, empunbae ; passe a minb'alma Envolla em harmonias. F. GRCTAS DE CONDEIXA 1 A villa de Oondeixa assenta n'um calcareo concrecionado, d'um araarello sujo ' ; n'limas partes brando e teiroso ; e n'outras t.ao diiro, que se cniprega em mrts de moinho, bom conhecidas em todo o reino. Este calcareo offerece geralinente uma estructura cellulo»a e muito irregular. Nos massifos mais com- pactos, e at^ nas proprias m(')g, a rocha & Wa crivada de pequenas cellulas, que Ihes dao um aspecto cavernoso ; mas n'outras partes veem-se anfractuosidades numerosas, ' Damos uma noticia breve d'est.a3 grutas, que ha pOHCO visitamoa com 03 srs. doutoree Seceo e SimiJes de Csrvalho. 2 0 sr. Carlos Ribeiro, a quem communicamoa eata noticia, mandou-nos de Bragani;a interessantes esela- rcciraentos aobre 03 terrenes em que asaenta 0 cal- careo de C'ondeixa, que apresentamos em iiota por ae aehar j4 composto o nosso artigo. Diz que OB ealeareos da 'Venda do Cego pertenccm aojuraasicoinferioroulias8ico3uperior,characterisado por ammonitee, tortilis, margaritatas, e serpcntinaa : que as areas, grea, e ealeareos, que apparecem de C'on- deixa para Soure, de C'ondeixa para a Eedinha, e n'alguna pontes de Oondeixa para Alcabideque, sao tcrrenos aubcretaceos : e que, sobre estes cretacoos e calcareo da Venda do Cego, 6 que assenta o cal- careo concrecionado de C'ondeixa, calcareo d'agua doce, travertin dos Italiai;os. Nao assigna epochs prccisa a esta forma^ao, inclinando-se comturto a que seja anterior ao cataclysmo que determiuou a abertura do valle do Mondego em Coimbra, e todo o relevo actual da Beira. Admitte que as aguas de Sarnache e C'ondeixa viio addiccionando suceessivamente novas camadas ao calcareo concrr. ln„:ido ; e attribue a este tr.abalho, ainda hojc coutmuado, o estado em que se acham, na gruta da Eira Pedriuha, na os-:os humanos, que julga posaivel pertencerem aos tempos historicos, 44 que n'alguns pontos dao logar a verdadeiros griitas. Por causa d'esta estriu-tura cavernos:i, ptda naturcza cali-aroa da rorha, i; abundancia d'agiia quo I'irciilain ii'este terreiio, intiltram- se coin t'acilidado as dissolii^ni'S calcareas, que, ])eiictraii(lo at6 as anfractuosiJadcs on cavei'- nas, se iiicrustain n'aquellas superficies, tor- iiaiidoas polidas, ou cobriodo-as dc stalactites e stalagmites com fcirmas mui vaiiadas. Se esta formajao sedimentosa por anaiogia com o calcareo concreciouado do N. de liiglaterra, foi dovida & aggrega^ao e coiicrec- ^•ao de mineraes dissolvidos, e em repouso, no fundo das aguas, d semelLanya das coa- crecyiics que tcm logar na cal hydraulica, nao admira que o todo d'esta forma^-ao cal- caroa sc apresente com o aspecto d'uiii mon- tao de stalactites; e que, a par de muitos vegetaes fosseis, appareyain verdadeiras crys- tallisa^-oes que, pelo seu rendado e delicadeza de suas agullias, simulain plantas delicadas, que se tivesseni petrificado. Um estudo minucioso dos characteres pale- ontologicos d'esta forma^'ao poderi decidir estes pontos duvidosos, e mostrar a sua liga- filo com OS calcareos jurassicos das collinas de Coimbra. O apparecimento, pois, d'estas grutas nas vizinlian(,as de Condeixa 6 um phenomeno mui frequeute em semelhantes terrenos ; mas nem por isso menos digno de ser observado. A Grata nova, a Lajiinha, e uma outra gruta, a Eira Pedrinlia, em que appareceram ossos humanos, tern iiiuito valor scientifico, partioularmente a ultima, pelo estado em que se acham aquelles ossos. A Gruta nova descobriu-se ha poucos ma- zes n'uma pedreira que se estava lavrando para construcyiJes de alvenaria. Metro e meio a dois metros de profundidade, appa- receu na abobada uma abertura arredon- dada, por onde se desce a custo. Entran- do-se na gruta, veem-se magniticas stala- ctites que dao iiquelle todo urn aspecto mara- viHioso. A gruta, com a f6rma hemispherica, tern quatro metros de diametro. A abobada 0 as paredes sao rauito irregulares, apresen- tando escaninhos ou pequenas grutas em direcjoes differentes, e tudo forrado de stala- ctites e [stalagmites. A Lripinha, jil conhecida de tempos im- raemoriaea, tern a forma d'um palco scenico, abcrto n'uma rocha, que sc eleva a muitos metros. Tem de notavel uma copiosa fontc, que ao longo da parede posterior da gruta, se despenha em len^^ol d'um resalto em forma de cornija. Por cima d'esta gruta ve-se outra il maneira de canal sinuoso, com muitos metros de extensao, em cujas paredes se nota o polido cliaracteristico do calcareo do Condeixa. A Gruta da Eira Pedrinha, onde appar^jce- ram os ossos humanos, tambem se descobriu ha pouco n'uma pedreira cm lavra ao N. da villa. A rocha eatd cortada verticalraente. Na parte inferior d'este corte vO se um bu- raco, primeiro horizontal, e dcpois um pouco ubliquo e curvo ate chegar ao eitio dos ossos. Terii a extensao de quatro metros, e tao estreito que apenas p6de entrar de rastos um , homem magro. Os operarios da pedreira, que primeiro I alii foram, encontraram alguns ossos sollos ; ' e quebraram a martcUo outros que viram engastados na rocha. Quando entrdmos n'esta gruta apenas podcmos ver, cravada no cal- careo duro, uma tibia humana, com o canal medullar descoberto em consequencia de raar- telladas que o tinliam fracturado, com a rocha, e parte do osso que o cobria. A extremidade superior da tibia estava escondida no interior da pedra, que a muito custo pod^uios quebrar. Um bocado d'este osso saiu coUadii ;i rocha fracturada. N'este exemplar distingue-se a linha de separa^ao entre a rocha e o osso, cuja sub- i stancia compacta e cellulosa se acha n'um estado de pcrfeita conservajao. Alguns bocados de craneo, que os opera- rios tinham achado soltos na gruta, estao cobertos d'uma iucrustayao crystallina da mesma rocha ; mas nos pontos descobertos ve-se 0 osso a desfazer-se, e como confun- didas as substancias compacta e diploica. Ainilaquefaltcm n'estes ossos alguns chara- cteres de verdadeiros tosseis, uma tal desco- berta 6 coratudo de grande importancia, paia esclarecer as questoes historicas e geo- logicas, suscitadas pelo apparecimento de ossos humanos nas cavernas de ossos e naa biechas osseas da Europa e do Brazil. A forma de sepulturas abertas na rocha : a mistura d'ossos humanos com objectos de arte : a posi^ao d'estes ossos : a sua mistura com ossos de anligos mamaes fosseis, ou de animaes da epocha actual : os despojos de animaes de differentes epochas e costumes (ippostos : a fossilisa^ao de excrementos ; e muitas outras particularidades d'esta gruta, podem ser um fertil assumpto para as inda- ga^oes dos historiadores e dos geologos. Poderao estas particularidades indicar se aquella gruta foi escolhida na antiguidade para sepulturas humanas ; se toi habitajSo, defesa, ou guarida d'aquelles individuos em epochas tumultuosas ; se alguns assassiuos alii esconderam os vestigios do seu crime ; se os cadaveres para 1:1 foram levados por animaes de que fussem preza ; se emfim as aguas ar- rastaram aquelles ossos na sua torrente, etc. Poderao esclarecer nos tambem, sobre a epo- cha d'aquella formajao calcarea ; e, subindo a questoes geologicas de maior transcenden- cia, apontar por ventura alguns indicios mais interessantes sobre a extincyao rapida das cspecies perdidas no ultimo cataclysmo geo- logico, ou o seu desapparecimento successivo e gradual, devido a causas tambem graduaes; sobre a reuiiiao fortuita dos o.-isos humanos, 45 na mesma gruta, com fosseia de aniroaes antehistoricos, alii depoaitados era epochas muilo raais remotas, e outros iraportantes pontos gcitntiticns. Uma conimiasao da faculdade de philoso- phia jd examinou aquellea ossos a pedido do sr. governador civil, que, por vote da mesma commissao, mandou cortar na pedreira a grande massa da rocha que Ihe fica por cima, para facilitar a sua explorayao. Aguar- damos 0 resuitado d'este interessante e curioso trabalho. A. A. DA COSTA SIMOES. ELOGIO FUNEBRE. Prwcipe lugubres Cantus Melpomene Senhores ! — Venho hoje cumprir um de- ver difficil e penoso, imposto pela Direc9ao do Inttiluto de Coimbra, associagao a que rauito mo lionro de pertencer. Em aessao de 9 de Janeiro ultimo me en- carregara a Direcgao do elogio funebre d'um do3 socios mais distinctos d'esta instituifSo litteraria. Difficil i o dever para quem co- nhece a grandeza do assurapto, digno de penna mai< sabia, e de voz mais eloijuente ; para quem 6, conio eu sou, absolutamente inexperiento n'esse genero de discursos desti- nados a ri nder urn justo culto de honiena- gem &i leitras, e a perpetuar d'est'arte me- morias illustres. Penoso para mini especial- merite, que sinto avivar-se-me a pungente saudade d'um sabio illuslre, d'um mestrc respeitavel e benevolente, d'um cora^ao sem- pre generoso e patriotico, d'um amigo eon- stantP, e companheiro estiinavel em traba- llios litterarios e parlanientares. Mas cedo A, ju8ti9a da delibera^ao ; comquanto sinta o desacerto na escolha. A voz da universidade nao podia ficar silenciosa ; sendo a primeira que devera alevantar antipliona n'este solemne concerto de hcmienagens tributadas ao genio, A. sabedoria, ao patriotismo illustrado. Ha noraes, senhores, que basta proferil-os para fiizer o seu elogio. Tal i o respeito e a admira5So, que souberam grangear do pu- blico. Ainda mais ; as grandes mcmorias so- bre a aduiirajao, que inapiram, dao ligoes mysteriosas a quem sabe consultal-as. O ou- vido applicado & campa dos homens de inge- nho aiuda recebe atlento sons propheticos, que excitam os brios da posteridade. Tenho deante de mim uma grande vida intellectual, ligada aos grandes acontecimen- tos da nossa historia contemporanea. O sr. dr. Agostinho Albano da Silveira Pinto, mini.'itro de estado honorario, vice- presidente do tribunal de contas, antigo op- positor da faculdade de pbilosophia n'esta universidadi-, e socio d'este Institute, ji nao existe ! o dia 18 de oiitubro de 1852 foi o ultimo da sua precioBa vida I Na?ceu na cidade do Porto em 17 de julho de 1785. Foram sens paes, o bacharel em medicina e philusophia Jos6 Xavier da Sil- veira, e D. Maria Perpetua Pereira da Sil- veira. Desde a primeira infancia mostrou o conselheiro Albano a mais decidida vocaQao para a carreira litteraria. Educado por um tio matprno alguns annoa em Lisboa, apren- deu as linguas franceza e ingleza em poucos raezes : mas perdendo seu tio por efFeito de subita e inesperada morte, regressou A casa paterna em Ourem, e d'alli foi para Thomar frequentar oa eatudos classicoa, come meio de habilita9ao para a universidade. Em pouco mais d'um anno conseguiu o maneebo espe- ran9080 apprender todos os preparatorios ne- cessarios & matricula do primeiro anno ma- theraatico e philoeophico, que teve logar em outubro de 1801. Aasignalada a frcquencia dos cursoa de matheraatica e philoaophia pelas mais deciai- vaa provas d'um talento nao vulgar e supe- rior aproveitamento, propoz-se ao grdu de doutor na faculdade de philosophia, e com elle foi condecorado em 26 de Maio de 1806, contando apenas vinte annos de idade. Tao reconhecido era o merito relevante do novo doutor, que logo nos annos de 1807 a 1808, e de 1808 a 1809 foi nomeado de- monstrador extraordinario da cadeira de his- toria natural. Foi no anno de 1808 para 1809 que eu live a fortuna de ouvir as sabias prolec9oes do joven professor, na qualidade de seu discipulo, e de admirar os vastos co- nheciiiicntos, claroza e precisao, que sempre characterisavam as suas explica90e8. Despachado oppositor da faculdade de philosophia em 19 de dczf-mbro de 1811, continuou no servi90 de demonstrador de historia natural, e regeu tambem n'esse anno a cadeira de metallurgia. Continuando noa annos seguintes o servi9o de demonstrador de historia natural, foi frequentando a faculdade de medicina, em que foi bacharel formado, tcndo sido por vezea premiado como estu- dante distincto : sendo que ainda antes de fnrmado era medicina fora nomeado medico d'um dos hoapitaea inglezea, entao estabcle- cido em Coimbra, e n'este servi90 grangeara 0 nome de um habilissimo practice. Interrompidos os trabalhos litterarios da universidade pela invasao doa francezea, o sr. conselheiro Albano quiz aervir tambera a sua patria na carreira daa armas. Aliatado na companhia de artilheiros academicoa, ser- viu por algum tempo n'esta arma, e foi de- poia despachado tenente ajudante do mesmo corpo academico. Dissolvido este corpo com a expulsao do exercito franccz do territorio portuguez, foi o sr. conselheiro Albano nomeado official do corpo de guias ds ordens do general Wel- lington. Fez servijos nas batalhas de Tala- vera, Badajoz^ Fuentes de Honor e Bussaco, pelos quaes obteve a medalha n.° 2, da cam- 46 panha da guerra peninsular, a ciuz de s. ni. eatholica, e a medalha de s. m. britannica. Em 1811 tcrminou a sua carreira inilitar, e voltou ao servi^o universitario. Mas niio vcndo osperangas de obter tao breve o dcspa- eho de lente na sua faculdade ; e ofl'erecen- do-se-llie o logar de professor de lingnas fran- ceza e ingleza na academia de niarinha e coiiimercio da cidadc do Forto, resolveu aeceital-o. Serviu este cniprego desde -8 de Janeiro de 1815 at6 3 d'outubro de 1818, era que foi despachado lente da cadeira de agri- cultura da mesina aeaderaia. Em 1819 regeu esta cadeira e a de philosopbia racional e moral, na ausencia do professor respectivo. Era 1826 foi nomeado director da real I eschola de cirurgia do Porto. Em 1827 rae- j dico da real caraara. Em 1828 socio corre- spoudente da academia real das sciencias de Lisboa. Em 1834 director da academia de marinha e commercio, logar que jil por vezes servira interinamente. E n'esto mesmo anno foi Bocio fundador e presidente da sociedade litteraria Portuense : e urn dos promotores da do asylo de primeira infancia no Porto, cujos estatutos e regulamento se encarregou de organisar. Era 1836 foi noraeado socio cor- respondente da sociedade pharmaceutica lu- sitana ; membro correspondente da as80cia9ao dos amigos das lettras ; socio da sociedade de sciencias physicas, chimicas, artes agricolas e industriaes de Franga; socio correspondente da sociedade de chimica medica de Paris ; e n'este mesmo anno foi eleito deputado as cortes pelo collegio eleitoral do Braga. Os inesperados acontecinientos politicos de sfitembro de 1836, inutilisando aquella elei- 9ao, privaram igualraente o sr. conselbeiro Albano do emprego publico era que servia, e do qual pediu a sua exoneragao. l Era 1837 foi convidado pela associagao commercial do Porto para reger uma cadeira de econoraia politica, creada por subscrip^ao patriotica. Em 30 de maio d'esse anno foi inaugurado o ensino da economia politica n'aquella cadeira era sessao solerane com ura ; discurso do professor, que corre impresso : ! e continuou no exercicio d'aquelle ensino at6 junho de 1838. Eleito entao deputado, foi tomar parte nos trabalhos parlaraentares, | era que continuou seguidaraente honrado com '■ 03 suffragios e confianca de seus constituin- j tes, e dando sempre irrecusaveis provas de i subida intelligencia e aprimorados conheci- mentos, especialmente em sciencias economi- cas e finanqas. \ Em testiraunho do apre90 de seus vastos ^ conhecimentos e esciarecido patriotismo, foi nnmeado vogal e vice-presideiite do tribunal de contas em 1842 ; e honrado com a con- ! Banga da soberana, chamando-o aos seus coneelhoB na qualidade de ministro e secre- tario d'estado dos negocios da marinha e Ultramar em 1848. E a esse tempo jd a muni- iicencia real o havia distinguido e conde- | corado em occasioes differentes com o habito da ordcm do Christo, commendadur da mesma ordera e da da Conccigao de Villa -Vigosa, ca- valleiro da ordeiii de Torre e Eapada, e carta de cunselho. Nos empregos litterarios, scinntiticoe e administrativos, em que o sr. conselheiro Albano servira, ficou a sua illustie nieraoria perpetuada por excellentes escriptos, que le- gara impressos e manuscriptis. Trabalhador indefesso, quiz assignalar cada unia das phases da sua viila publica com alguma producgao de utilidade practica. Pu- blicou em 1816 os seus fc^leraentos de Gram- matica Franceza, de que hoje tcraos a o.* edigao. Em 1822 o projecto de regulamento para as cadeias do Porto e comarca. Km 1823 o relatorio eobre a adrainistragao dos expostos e casa da roda do Forto. Em 1827 as primeiras linhaa de chimica e botanica. Era 1832 as noyoes sobre a cholera-raorbus Indiana. Em 1833 as conclusoes practicas ou aphoria- mos, deduzidos da observagao sobre a cholera- raorbus. Em 1834 e 1835 muitos e muito interessantes artigos litterarios e scientificos no Repositorio Litterario Portuense : e nos Annaes da Sociedade Litteraria do Porto pu- blicou uma excellente memoria sobre a grip- pe, doenja que entai) grassara epidemica : e o elogio funebre de Agostinho Jos6 Freire. Tambem era 1835 publicou o Codigo Phar- maceutico Lusitano, que foi logo admittido corao pharmacopea legal; e era 1836 a Phar- macographia do codigo pharraaccutico. Em 1838 apparecerara as suas Prelegoes de Eco- nomia Politica. Era 1839 a Divida Publica Portugueza, sua historia, progresso e estado. Em 1841 — a Cr'i&e financeira. Em 1843 o Exame critico das causas proximas da actual situagao ^/tJianceiVa. Em 1847 a Exposigao sy- noptica do systema geral da fazenda publica era Portugal. Em 1849 o Relatorio e documen- tos da commissao de inquerito sobre as opera- goes do banco de Portugal. E consta que deixara o sr. conselheiro Albano manuscriptos iraportantes : entre elies a Historia y[no?ic«tVa de Portugal desde a fun- dagao da monarchia at6 1843. Tal 6, senhores, era resumido quadro a biographia do sabio contemporaneo, cujo norae honra este Instituto desde 3 de Maryo de 1849, e cuja perda hoje deploramos. Ahi tendes uma vida litteraria, politica e militar, toda trabalhada e gasta no servigo da sua patria. Poucos exemplos achareis na historia de tanta dedicagao, c tao proveitosa a prol da humanidade. E 6 de ver, senhores, que tantos, tao se- rios e variados trabalhos, que tenho nion- cionado, nao comprehendendo varias com- missoes de que o illustre finado fora por vezes encarregado, nunca o estorvarani do exerci- cio da practica da mediiina, que sempre cxercera com rara felicidade e generosidade inimitavel. 47 Mas quem vive seculos em dias nao p6de durar niuitus annos. Uma vifia intellectual tao traballiada, tao cheia de pensamentos e de eniogoes, forjosaniente antecipava a eene- ctude. De ha rauito que o sabio illustre sen- tia a saude arruinada. Via debilitar-se de dia para dia o vigor pJiysico, a que todavia re- sistira por alguns annos a robustez do espi- rito ; af6 que a ordem natural veiu estabe- lecer o equilibrio entre o physico e o moral ao por do sol da vida I Era 1851, jd entibiadas as f(ir9as do espi- rito, a rauito custo sustentava os debates par- lamentares, em que sempre se enipenhava com fervoroao zelo e assiduidade incessante. Tinha sobre tudo a peito as questoes eco- nomicMS, em que a sua voz era com recollii- mento e respeitoso silencio escutada como auctoridade raui competeute. Em 1852 poucas vezes se ouviu jd aquella voz no parlaraento ! E foi entao que o cora- Qao presago, sentindo aproximar-se a hora fatal, couiu que Ihe inspirou um desejo ira- paciente de visitar a terra onde uascera, para em fini Ihe entregar os ultiraos restos raor- taes ! Perdemos, senhores, um dos maiores or- naraentos do nosso Institute ! a patria um cidadao honrado e virtuoso ! as sciencias e as lettras uma das maiores illustrajiles do seculo ! Mas nao seja tudo funebre ! Ahsint funere Nenicc ! coiigratulemo-nos, senhores, pela glo- ria que o nosBO consocio ganhou para o seu paiz. Confieraos que vivo serd sempre o seu nome entre nis ; e para todos oa verdadeiros portuguezes, que se empenham em sustentar o triplice jjalladium da liberdade, indepen- dencia e gloria nacional. J. ]. DE MELLO. C0LLE(CAO DE DOCUMENTOS JNEDITOS PAHA A BISTOBIA DE POBTOGAL E SEDS DOMINIOS. Correspondencia de D. Joao de Castro, goveruador e viee-rei da India. ' Carta do vict-rei a el-rei de Patane.^ Muito alto e poderoso Salim mixaa, rei potentissimo dos Patanes. A f:ima, que corre pelo mundo, da gran- deza, justija, e muita virtude de vossa alteza, me deu occasiao pera, jd que o nao posso ' Continuado do vol. 1.°, pag. 354. 2 Elrei de I'atane 6 o mais poderoso rei, que agora ha em toda a Asia : tein o sen reino dentro no sertao. Da India 14 eao quatro mezea de caminho : deve de ser polliis impcdinicntos d'elle. Do primeiro porto ate & cidade, onde reside sao trezentas leguas. Agora i tambem rei d'^ Bengala,outrograudi83iLno reino, com 0 que ficou de tao grande poder, que conhecidameute elrei de Cambaia, e todos 03 outros reis niouros e gentioe, Ibe tem notavel niedo. (Nota do oompilador d'eetes documentOB.) ver, desejar sobre todas as cousas de o ser- vir. E para Ihe raanil'estar esta vontade, que tenho ha muitos tempos, fiz rauitas vezes pres- tes meus embaixadores, aos quaes os Guza- rates impediram sempre a passagem para easas partes, sem nunca Ihes quererem abrir cami- nho, para que seguramente podessem chegar, onde V. a. estivesse. Polio que me foi neces- sario mandar Id este portador em trajos des- conhecidos, e nao convenientes pera aparece- rem diante de sua real presenja, s6 a fira de por este modo virem a exeuugao os meus dezejos, e de Ihe ser apresentada esta minha carta, na qual Ihe fa^o alguraas lembrangaa mui importantes e neeessarias a seu servifo, e a acrescentamento de seu real estado pera 0 que me olFere^o com dez mil homens, e cem velas apparelhadas, querendo v. a. acei- tar de mim este servijo. Antes de outra cousa alguma, lembro a V. a. que o reiuo de Cambaia estd 0 dia d'hoje tao enfraquecido e gastado, que serd cousa muito fauil, nao somente a um rei tao pode- roso, como V. a. 6, tomal-o ; mas tambem o menor capitao dos que v. a. tem, o poderd fazer muito bem, todas as vezes, que quizer; porque 0 seu rei 6 mo^o, e tao exercitado em todos os vicios e mdus costumes, como tambem esquecido do que t6ca d sua honra, e a bem de sua republica : e com isto esta tao malquistado de todo 0 povo, polla grande crueza e tirania, que com elle usa, que i cousa de maravilha. Os Guzarates sao taes homens, que todas as mulheres de outraa na- 9oes Ihes fazera muita vantagem, d'onde pro- ccde, todas as vezes que ouvem dizer ter V. a. vontade de Ihes fazer guerra, nao terem outro eaforgo, nem contianga em outras ar- mas, e defensoea, salvo era se encommenda- rem d clemencia e piedade dos vencedores, sem fazerem fundaraento de porem suas cou- sas nas maos, e voltas de fortuna ; e averi- guarem a justija de suas cousas, honraa, vidas, fazendas, e liberdades pollas armaa, como e costume ; antes tem por preceito, e remedio nobre e soberano, nao somente todas as nagoes, que vivem polla redondeza da terra; mas os feros brutoa, os quaes nao quiz a natu- reza deixar sem este dom, ordenando a cada um d'elles, armas pera offender e animo pera se nao deixar sugigar e veneer de sous contra- rioa. Pols notorio &, que elrei de Cambaia nao vive em outra esperanga, quando Ihe dao no- vas da vinda de v. a. aobre seu reino, nem espera de se salvar n'outro bra90, que se en- cantoar e metter nos logares mais remotes e escondidos de sua terra, que estao situa- dos d borda do mar, e acolher-se debaixo da sombra, eraparo, e favor dos portugue- zes, o qual desde agora para todo sempre Ihe faltard pelas rauitas ingratidoea, que tem mostrado, de poucos dias a esta parte, das grandes amizades e boas obras, que tem rece- bido do muito alto e muito poderoso rei de Portugal, meu senhor, e geralmente de toda 48 a nafao portugueza, quo n'estis partes anda. Pi'las quaes cousas v. a. tein apparelhada a mellior conjuncyao, que podia, nao digo negoc'iar, mas saber pedir e desejar pera acabar de ajuutar estes reinos do Cambaia coin OS sens, e alargar sous seuhorios tanto, Cum sua fania, e raereciraeuto de suas gran- dezas e singiilares virtudes ; e para que v. a. podesse mais singularmente cobrar estas ter- ras sem perda de sua gente neui gastos de sous thesnuros, me tenbo ora concertado secre- tainente com alguns senhores Cluzarates, e pessoas mui principaes do reino, para que tanto que ouvirem, que v. a. antra poUas terras dentro, se alevantarem todos com seus b.ga- res e f'ortalezas. De manoira sr., que os reinos de Cambaia o estao eppcrando com as portas abertas, sem nenhuma contradic§ao nem impedimenta : por tanto nao perca v. a. tamanha occasiilo como Ihe ora o tempo ni(J8tra, e a fortuiia Ihe tem apparelhado. E porque v. a. nao tcnha em nenhuma duvida ao eu servir u'esta Jornada e empreza, como aciraa Ihe tcnho offerecido, me fico fazeudo pi estes pera logo este verao se fazer a guerra a Cambaia de fogo e sangue, assim por mar, como por terra, e a saquear e destruir toda a costa do mar, e no iiiverno me ir assentar no logar de Bagaim com seiscentos cavallei- ros do esporas douradas, e guioes de seda e cavallos arabios, com os quaes, com ajuda de nosso Senhor, primeiramente, darei tanto que fazer a eh-ei, que mui seguramente Ihe possa V. a. vir tomando toda sua terra, da qual nao quero outra couea para elrei, racu senlior, salvo alguns logarea maritimos, que eu tomar. E estes niio pera mais, que pera a mais gente dos Rumes se nao virom metter n'ellea ; e assim assentar antre v. a. e elrei de Portugal, meu sr., pazes e amizades per- petuas pera todo sempre, e fazer de raaneira, que entre ambos haja uma lianga e contra- ctos de irraandade mui verdadeira, contra todolos reis e senhores, que com cada um d'elles quizesse ter differenga, e mover guerra. E por esta maneira 6cara v. a. logrando a melhor e maior parte de toda a terra, e elrei meu sr. possuindo o mar, sem haver cousa no mundo, que Ihe possa fazer nojo, e de esturvo a gozar seus imperios, salvo o poder e vontade do alto e verdadeiro Deus, contra o qual nao podera os mortaes fazer resistencia alguma. Escrita em Goa a 4 de julho de 1546. Esta carta levou um ■patamar christao, de confianja, i. cidade d'Agra, no reino de Patane, onde elrei estava com toda a sua corte e cavallaria. Vista por elrei a carta do vicerei, mostrou folgar muito com clla, e Ihe respondeu logo, a qual resposta fui dada ao vice-rei, e estando em Diu, depois de ter desbaratado, e destruido o excrcito de elrei de Cambaia, e vinha eecrita em parcio, com letras de ouro : o seu traslado d o seguinte : liesposla de elrei de Patane ao vice-rei. Em nome do poderoso. Capitrio geral D. Juiii) de Castro, govornador do mnita piedade e foruiosura, ora quern ha rauita" qualidades para ser muito chegado ao rei, e de muita experiencia, e de saber de Snlomao, sem ne- nhuma mi suspeita. () mensageiro de sua carta chegou a n6s, a qual vinha muito cortez, e chei;i de muito amor e amizade, a qual voio a muito bom tempo, e muito boa hora A. corte d'este rei poderoso, e sobesse o que n'ella vinha, em que dizeis e daveis conta das cousas, que passara hi nas terras dos gtizarafes, que estao debaixo do poder d'esse milu homem de Ma- raude guzarate, de que elle foi causa, no que desfez muito em sua honia, pois que revolveu as cousas que estavam quietas, e que o rei dos reis, e senhor dos sctuhores vos tenha dadas, havendoo elle assim por seu serviyo, como o elle 6 de nos dar o senhorio d'estes reinos; e a propria espada, de que se Deos serve, nos Heu na nossa mao, escolhen- do-nos antro todo o povo por senhor d'eile, e n(5s somos sombra, era que todos se aco- Ihem, e pastor de todo o povo. Exemplo velho e, que as cartas siSo meia conversa9ao antre as pessoas : os mensageiros, que me mandastes, e a Sii^taucia do seu recado, chegou a nis, dando conta de como estaes prestes com vosso exercito. Deoa vos pros- pere e de victoria. A amizade antre n6% 6 muito antiga, e agora de novo i confirmada com elrei de Portugal. Nossos costumes sao, quando taes recados mandam, que com elles se mande tambem um cavallo, ou peja no- raeada em signal d'araizadc, porque com isto nos ganha a vontade, e nos iicamos obrigados ; depois de bem cuidada e consi- derada a res[)osta, que Ihe haviamos de dar de sermos todos uns, e muitu aniigos, e isto fica de manoira, que ficamoa prezos por uma cadea dcitada ao pescojo, para nunca se esta amizade perder, a qual temos em conta de pedras preciosas, e se algura embaixador houveres de mandar de vosso rei, venha d'esta maneira que dizemos, e ser.i recebido coriforme a nosaos costumes, porque nisso receberemos muita honra. — Feita na cidade de Agrd, no raez de xiva (que responde ao mez de outubro). ERRATAS DO N.° 3. Pa(j. Col. Link. Erro 29 2." 2 1379 .■!0 2, a 31 Tnlicano 111 1';= 3le32 que 0 ecomenico ne- nliiim concilio sanc- cionou 32 2.« 35 Ahi Emend a 1377 Vaticano que nenbura con- cilio ecunienico 0 sanccionou Ab ® Jn^tiUttiT) JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. CRITICA I.riTERARlA. Eleinciiloi de Hygiene privaila — por D. Pedro Felipe Mantati — Barcelona 184fi. Elemeulos de Hygiene pnhtica — /jo** D. Pedro Felipe Manlnu — Barcelona 1817. A estreita rclagfio que ha entre aquelles dois rainos de scieiicias medicas, dii-iios azo a rciuiir no inesmo jiiizo ciitico aqiiellas diias producgoes scieiiLificas de uin liabil medico Hespanhol. Desejosos sempre de investigar e eiiconlrar bellezas, antes do que topar corn defoitos nas publica96cs liUerarias, e sciontificas , iiao le- tnos per bom o syslema que algiijis seguem , de andar cajando pelas obras iiiipeifei(;6es, iiicolierencias e erros, que e facil acliar aiii- da na5 menos iinperfeitas , encobriiido os va- lores reaes , cpieellas eiicerram , os legitimes titidos de gloria de sens auctores. E nfio ignoratnos que por esse tlieor fica mais facil o ofl'icio de ciilico; que poise. i^la nienos a ver del'eitos que adescobrir bellezas. Mas temos que a vara de censor, a ii.io des- curregar luimana, e imparcial, sera uma nrnia nociva , e iiumoral: t'ara indiguar uns, desalentar oulros ; e assim afugentar escri- ptores acreditados que recusain exporsua no- moada an juizo sn-peitoso de homens , ciija com|)etoncia regeitam ; e oiitros que encelan- do es-a iiobre carreira careceui de alento e animajao para levarem ao ponto de per- fei^ao o que nao costuina sair perl'eilo dos primoiros iraros da penna. Nfio sao as obras citadas de Manlau as que niais precisavam deste projogo para as- scntar o sen juizo critico ; porcpie iieni na parte lilteraria, nem na scientit'ica hao mis- ter I'avor. Nao diremos que contenliaui Ideas novas ; nem oassumptose presta muito a inven- ^•ao. Os mndil'icadores do organisnio vivo lein sido tao estudados desde Hippocrates ate OS nossos dias ; legisladores religiosos e poll- ticos tem em lodos os tempos ligado tao grande importancia a conservagao da saude dos povos, e inellioramento das condigoes pLysieas e nioraesda especie liumana, que a liygiene converlida ja em inslrumento da reii- giao , ou da politica uoJe dizer-se a sciencia mais cultivada, e conliecida: e a nao ser algum novo modit'icador devido a circum- VOL. II. Jl.NHU 1.° stancias accldenlacs e imprevistas; ou filho das pliases diversas porquc vai passando a riviliia^ao, pouras novidades pode offerecer qualquer livro novo neste ramo de conlieci- mentos humanos. Mas saber coUigir o que ha bom espallja- do pelos muitos escriptos que a sciencia pos- sue ; coordenar, e saljer distribuir as doutri- nas ; dar-llies a clareza, e precisfio que fa- cilitarn a sua intolligcncia , nao e facil, iu- glorio , nem desvalioso empenho. Dispur beni OS priiicipios, e verdades doutrinaes de qual- quer sciencia; e desla arte facililar o sen es- tudo e conliecimento , tanibem e invengao, nao concedida a qualquer engenho vulgar. Se com rarasexcepynes devidas a especialidade do clima , habitos, e modo de viver dos iia- bitantes de llespanha, podemos achar em Londe , Roslam , Levy e outros as condi- goes, e preceitoi hygienicos publicados por Matilaii 5 nao sera facil achar a concisao , precisao, e clareza que sfio o melhor titulo de gloria deste auctor. Tomando , a e.semplo dos antigos , por pouto de partida a consideragao das seiscoi- sas , ditas niio naturaes; — circuiiifusa , ap- plicata , inge.sla , gesta, pcrccpta, excreta — e repartindo assim por cinco secjoes todas as doutriiias dos diversos rnodificadores , por couiprehender na segunda os tpie respeitani a ullima secjfio; deuominando-as atinosfero- logia, cosmetologia, bromatologia , gy- mnastica , peiceplologia , e seguiiido o mesmo phino na hygiene publica, e na particu- lar compreliende todas as noyoes geraes de hygiene, sein que se veja obrigado a repeti- yoes, infalliveis quaiido o piano da exposi- yfio segue a ordeui das fuucgoes; havendo rnodificadores couimuns a muitas dellas. Na hygiene privada destina urna parte da obra ao couhcciuienlo das difl'erenyas indi- viduaes, como fora de esperar, variando a acgao dos agenles na razao dos temperamen- tos , idiosincrasias, constituigfio , edades , ha- bitos, e profissoes. Em liygiene publica da muito especial consideragiw aos melhora- menlos devidos ao progresso da civilisag.'to , laes como penilenciarias, cemiterios, nielho- dos de cullura, e de induslria fabril : con- cluindo por inui judiciosas reflexoes acerca da organlsacao do ensino medico, e da saude publica. - 1853. Num. 3. 50 Um complexo de douliiuas tfio sa? , e acooinodadas as riecessidades publicas , expos- tas em eslilo didaclico corn a inaior perspi- cuidado moreceu com razao a hoiira de ser adoptado para livro 4e texto nas escholas ine- dicas. Seremos nao menos imparciaes no repaio que fazcmos de que nao fosse mais explicilo o auclor na pane bromatologica , desceiido das generalidades dos alimeiitos a especiali- dade dos mais usuaes ; sendo essa a parte mais impoiLante da liyu'iene , e a que mais convcm ao conliecimenlo de lodes. Tamlieiii nos pareceu que quando o auctor tern de lo- car em cliimica organica fica algum tanto aquem da sciencia. Mas eslas e outras im- perfei5ocs , talvez deseuidos, nao podein des- valiar a obra por inuitos titulos recomenda- Tel. M. CHRISTIAMSMO , A EGREJA E O PROGRESSO. Continuado de paj. 31. VI A acgao da lei do progresso e' lenta , mas incessanle. Tentar suspendel-a e obrar con- tra a nalureza. Se no seu vagaroso peregri- nar de seculos encontra um obstaculo , que no momento nao pode veneer, delermiiia em oulro sentido a sua marclia ; obra , mas la- tente, cavando-o em volta para o derribar. Segundo e maior ou menor e^se obstaculo, mais ou menos atuiada a sua acfao, a civi- liza^ao parece suspender-se durante um maior ou menor periodo de len)po. Um maior ou menor numero de seculos decorre , sem que na arvore da vida social desponte um novo ramo. Quando successivas c.irgas de electricidade se aggiomeram cm um poiito, sustidas por uma soiu^fio de conlinuidade que Hies corta a corronte, um effeito necessario e' a pro- ducjao da centellia, apenas um corpo estra- nlio, appro])riado, se poe em contacto com o corpo conductor. O mesmo succede nas leis nioraes do progrcsso e da civilisa^ao. Suspendidas na sua manifestajfio social por um grande obstaculo que llies corla o cami- nho , param ; mas concentram a sua ac$ao em um so ponto, ate' que o apparecimento de um preloxto accommodado de logar a que surja a rcvohUj-fio, que e a centellia do pro- gresso. O que e pois a revolujao? E um rnovimenlo lapido do progresso , pelo qual clle prelende realizar em pouco tempo a civilisagao que devera ter-se reali- zado, se nao I'ora o obstaculo que se Ihe oppoz. Por isso toda a revolugao que nao tende a destruir um obstaculo ao progresso, e ao mesmo tfimpr* f'azer andar a civiliza^.'m um ospa(;o igual aquelle que esse obstaculo a retardou , ou nao e verdadeira revolu(;ao , ou t'oi desviada do caminlio em que a sua causa natural a coUociira O fim do seculo XVIII nssistiu a um destes iinpulsos vigorosos do progresso, eui que em alguns dins se anda Jornada de secu- los; em que as ret'oruias, que succedem con- tinuamente umas as outras, parecem impelli- das a um redemoinlio vcrtigiuoso, sem prin- cipio que Ihes presida , sem lei que as regu- le; eni quanto que nao sao mais que a ac^'ao de alguiis seculos de progresso inauit'estando- se , depois de reduzida singularmente a con- difj'fio de tempo, nao poucas vezes alterada a condiCj'ao do logar, e quasi sempre trans- formada a condi^-fio de modo. Neste rapido rolar do carro do progresso muitas viclunas forain esmagadas ; e aquelles que outr'ora liaviajii tcntado dizer-llie : — nao passariis d'aqui! expiaram agora no san- gue de sens t'lllios a loucura passada , que OS collocara eui guerra com o omnipotente, o qual fizera da lei do progresso a lei pri- meira da liumanidade. E uma sccna terrivel e nova , este rede- moinliar immenso tia revolugfio bumana, cliamada revolu^ao franceza. Era um rede- moinliar de victimas humanas subindo era comprida fileira os degraus do cadafalso; caliindo em abundanlo seara nos vasloscam- pos de batallia ; redemoinhar de principios politicos varridos pelo sopro de novas doulri- nas ; redemolnliar de organisacrio economica e industrial, revolvidas ao Italbiiciar incerto e inexperiente de uma sciencia na infancia; tinalmenle redemoinbar de cren(;as religiosas que, umas sobre as outras, rolavam envol- vidas no mesmo anatliema da revolujao; so- bre a cruz a deusa da ra%do , sobre a densa da razao o altar do ente siipi^nio. Inipellidos pela intriga, pela violencia , ou pela opiniiio publica, os liomens succedem- se no podcr e no patibulo; um so passo os separa. Com os pergaininlios da noljreza sao rasgados os Evangellios ; em politica trium- plia oContraclo social ; em religiao aduvida, quando nao o atlieismo. O arislocrata e o sacerdote vao junctos expiar com o seu san- gue as suas culpas, e as das geragoes pas- sadas. D'alii a um dia a revolujfio em sen banquete de Saturno casligara em sens filhos OS sens proprios excessos. Sobranceiro a este rajiido perpassar de vnl- tos giguntescos, umaa vezes sublimes de inspiragao e virtude, outras vezes grandes pela dedicagfio, mas repellentes pelo sangua queoscobre; sobranceiro a este redemoinhar lumultuoso de principios e de creugas, de jKirtidos e de t'acgoes a disputarem o sceptro do t'uluro , estd immovel um vulto zombeteiro, com a t'ronte sulcada de prot'iindas rugas , com o sorriso do escarneo estampado nos sumidos labios. 51 Este vnlto escarnecedor e a sombra de Voltaire. Nao foi a revolugao franceza quem apeou o christianismo do pedestal, donde haviain dezesete seciilos que via passar ante si submissos, o rico e o pobre, o fraco e o for- te, o grande e o pequeno. Forain os ency- olopedistas, e a sua frente Voltaire. Estes iios scus dias de oiiiin'potencia fulininaram o anatliema; a revolu^fio exeeutoii-o. Enlre estes dons nomcs , — Luther , e Vol- taire, dormem dous seculos ; mas se du- zentos annos os separam na reiagfio do tem- po, maior e talvez o periodo que eslaurea entre as duas epoclias em que viveram , coii- sideradas sob a relajao do proRjesso. E no entanto, raras vezes occorre a tnente do pen- sador um desles nomes, sein que o outro o acoiiipanlie, coiiio se fora a sua sombra. Qual e este lago intimo que os prende ? Em virtude de qual lei os encontramos na niesma linlui na perspectiva da liistoria ? A reforma de Lullier cumpriu duas gran- des mifsoes : liniilou a excessiva auctoridade do pontificado; foi a sua missao para coin a egreja ; inlroduziu o espirito de exame no seio da religifio; foi a sua missfio para com o cliristianismo. Este espirito de exame, que uma religiao coiiscia da sua forja e da sua verdade nunca devera recear , foi um dos elementos mais poderosos da civilisagfio mo- deriia ; aigumas vezes fonte de luctas detes- taveis pela sua forma, porem seuipre fecun- das de progresso , e desenvolvimenlo social. A elle devemos a niaior parte dos nomes que ha tres seculos a esta parte, em todos OS ramos das sciencias, tornaram conhecido o torrao em que nasceraiii. Mas tcndo sido, como vimos, a degrada- 5ao intellectual e moral do clero a causa que mais se oppoz a marcha lenta, mas in- cessante, doprogresso, e determinou a re- volugfio de Luther, como pretexto, eata pa- recen tender como fim principal a unia rege- iiera^'ao intellectual e moral dessa classe , pouco antes tao illustrada e virluosa. D'a- qui veiu a revolu^ao lutherana o nome de reforma. A egreja, que por tantas vezes havia pre- tcndido arrancar os seus membros desse esta- do de decadeiicia , que de dia para dia se tornava mais prejudicial ao fim para que o Christo a instiUiira, conheceu a necessidade de ir ao encontro da revolu^ao, e de ahra- .^ar o que nella houvesse de legitimo. Insti- tuigao essencialmente progressista , desmen- (tina a sua natureza se nao o lizesse. Porem ■a grande maioria dos seus membros havia desviado ha inuito a vista do progresso e dcsenvolvimento social, para que com um rapido relancear d' olhos , lan^ado sobre a reforma, pudesse apreciar as suas tendencias reaes, a sua indole e natureza intima, eo .seu alcance futuro, Foi por isso que nao viii nella mais que o fim apparenle: a refor- ma intellectual c moral do clero. O concilio de Trento, que se reuniu para lavrar um novo pacto de unirio entre a egreja e o pro- gresso, que pareciarn divorciados de ha inui- to, iifio cliegou a resolver esta questao im- mensa. Se tocou n'ella, foi para renovar o anligo anathema contra o acto da razao em materia de fe. O fun deste grande arto da egreja foi assim mallogrado. A antiga opposicao da gra^a e do livre arbitrio, do dogmatismo e da razao, da religiao e da philosophia , ficou de pe ; se e que nao langou novas raizes. Por nao at- tenderem a isto, e que alguns zelosos adver- saries do protestantismo o accusam de ma fe, porque nao se submetteu a egreja de Roma logo que esta abrajou o fim que elle se propuzera : — a regenera^fio do clero. jNao foi a reforma que obrou de mii fe para com a egreja ; foi a egreja que nao comprehendeu a reforma. No seculo XV MI um espasmo geral ha- via paralizado a ac^ao do progresso. Todos esperavam uma crise immensa que havia de decidir da vida ou da morte da civiiisagao. Todos sentiam a necessidade de um impulse, mas ignoravam quem poderia dal-o. Seria a egreja ? Impossivel. Bossuet repou- sava sob a louza (1704); e quando vivesse, embora fosse elle so um concilio vivo e sem- prcreunido, como Ihe chama um philoso- pho dos nossos dias , nao teria forcas para uma empreza tfio grande. O clero achava-se sem forgas no seio da corrupgfio e da igno- rancia : os tonicos que o concdio de Trento Ihe applicou nfio puderam reanimar este cor- po enervado. Nao o digo eu ; dil-o Massil- lon que assistiu aos ultimos momentos do seculo XVII, e vlu chegar ao seu zenith o sol do seculo XVIU (1663—1742). Diz elle fallando do clero em um dos seus ser- moes : « vos sois oeslrume e as varreduras da terra, e quereis converter-vos em sal della? Vossois, qual outro Lazaro , um cadaver podre e infecto, e quereis ser os ministros da ressurrei^ao e da vida? n Uma sciencia nova se elevara de repente cheia de projectos e de esperanjas. Foi a economia politica. Mas nem ella era propria pela sua indole para operar reformas do gene- ro d'aquellas que o estado social reclamava; nem, quando o fosse, com tao poucos dias de existencia , podia ter auctoridade sufficiente para se consliluir guia da humanidade. Restava a philosnpliia. Em posse da gran- de alavanca que conquistara, o livre exame, a philosophia nao recuava agora diante de nenhum problema. Confiada na experiencia ad(|uirida durante uma existencia de tantos seculos; orgulhosa com os grandes nomes que durante essa longa vida a illustraiam ; enlendeu que era chegado o momento de operar directa e immediatamente sobre a civilisagao, em que ate ahi apcnas tinha to- rnado uma parte indirccta e parcial. 52 O atitasoiiismo desaslroso , em que o cle- ro e OS philosoplios liaviain colldcadi a plii- lo5opliia e o eliristianisMio , clecidiii aqui dos destiiios desLe movimeuto. Se em logar dos pliilosoplios , o cleri) livesse actuado no pro- {,•rl'^30 do secido XVI 1 1 , a pliilosopliia tenia sido proscripla. No dia da rovolu^fio os plii- losoplios teriam sido arrastados as fogueiras da iiiqiiisi^fio, fulininados peio ciero com o uiiatliema de liereges, como os sacerdoles de Cliiisto foram arraslados uguillioliiia , liumi- lliados, escaniecidos , com o epitiielo decliar- lalaes ijonglcurs). Nao siiccedou porem as- sim. A pliilosopliia preleudia reiiiar scin ri- val, ao mesmo tempo que via ua iiilhieiicia do clero , pela maior parte corriipto e igiio- laiite, um obstaciilo ao piogresso. Em posse do livre exame, qiie submettia a analyse to- dos OS priiicipios , toda? as creii(;as, todas as doulriiias; crendo ver a causa do clero liga- da a causa da eg'eja , c a da egreja a do cliristianismo , a pliilosopliia do seculo XVII I preteiideu aniquilal-o, julgando aniqudar com elle a eausa do espasuio social que clla se eiicarregava de resnlver. Talvez um priiieipio d_' rivalidadc iiilor- viesse tambem. A pliilosopliia nfio podia ver sem desgoslo uma parte dos domiuios que ambicioiiava occupados por uma doiUriiia, ciijos mitiistros a linliam perseguido n'oiitras eras. A sombra de Savonarola levanla- va-se terrivel a clamar vitigaiiga ; os encyclo- jjedistas ouviram-na , eoe^pirito de (jiordario Bruno OS inspirou. Durante esses aniios de termentajao em que os escriptos pliiloaoplii- cos se cruzavam em lodos os sentidos, e re- veitiain todas as fornias, a aboli^ao do cliris tianisino foi o trabalho incessanle que os plii- losoplios cumpriram , . por assimdizer, por instincto; sem nenlium accordo prcvio, mas com uma barmonia admi ravel. As doutrinas dos pliilosoplios popularisa- ram-se; e quando cliegou o rnomento da ex- plosfio , o allar do Cliristo I'oi arrojado aos ares de envolla com o tliroiio dos reis. O baculo e o seeptro, o manto real e a vesle do sacerdote, foram envolvidos no mesmo redemoinlio destruidor. No tnomento em que se iiistallava o culto da deu%a da ra%do , e depois o do cnte supremo , os sacerdotes eram arrastados ao cadal'also a prete\to de nfio le- lem sauccionado a revolujao com ojuramen- to exigido, couio o rei o fora a pretexto de traic.'io. F.stariam satisfeitos os desejos dos pliiloso- plios ! Estaria cumprida a divisa dessa guer- ra encarnicada, que Voltaire llie deu nas celebres palavras: — esmaguemos o infamcl As doutrinas espii itualistas do christianisiiio perder-se-liiam no malerialismo da eschola encvclopedista e da rovolui;rio , como os ossos dos reis de l'"raiK;a na valla commum onde OS langou uma vingaiiga sacrilega e estu- pida? Se tal era o preco por que Voltaii-e podia dormir cm |)az oseu derradeiro somno, mai- de um tremor conviilso lia de ter agitado no fiindo do sen tiimiilo o p6 do grande sceplico de Ferney. Contiii'ua 1. 3. D'OLIVEIRA PINTO. COSTUMES JUDICI.iRlOS EM INGLATERUA CoiUinilatio (ie pa2:. 4^. O arrnsoado , dizinuios , elougo. () proce^- so nfio e breve: absorvo muitas vezcs aquaria oarte de uma vida. (Ins autos que toda .i genie diria conclusos, em Inglaterra apeiui^ cstao no comedo. E que lia nisso de cxtra- ordiuario? Aquelle povo tao praclico, tfio ufano do sen sterling good sense, nao reco- iilieceu que, lendo nos ullimos cem annos duplicado a sua pop'ilagao, e augmentado, cm proporCj'ao ainda mais consideravcl , a romplica9rio dos iiiteresses, era conveniente augmentar o numero dos tribunaes e dos juices. Teem so doze, nem mais um ; e por uma razao excellenle , — nunca liveram mais. Nao vos satisfaz esta raz.'io ? Dirvos-liao Coke e Blakstone que doze eram as Iribus d'Israet , que liouve mna lei de doze taboas, c q\ie Jesus Clulslo seconlciitou com doze aposlolos. Jiistaes ? Um erudiclo vos contara quesegundo Snorro, o Herodoto do norte , no reino d'Asalieim alem do 'I'anais, quando a cidade d'Asgard era domirtada por Odin, os doze sacerdotes do palacio, n.'io so tinliain a sen cargo fazer sacriticios ans dsuses , senao tambem decidir liligios enlre os liomens. Accre^centara que o nso judicial dos doze aldermen remonla a Regner Lodbrok , monarelia mytlio, que os reis do mar (or- mavam sen estado maior de doze cliefes, e, para cortar a questfio pela raiz, que Carlos Alagiio teve doze pares. E nao se imagine que estes doze raagis- trados a quern incumbe decidir todas as questoes iitigiosas dos tres reiiios , sejam escriipulosamente escolliidos dentre os mais vigorosos c activos jurisconsultoi. Nao, que fora isso eslabelecer iim desaeordo entre a idade das instiluiyoes e a dos liomens. N.io caliem em tal contra-senso. Lm exacto senti- mento de liarmonia administrativa faz dar a pret'erencia aosadvogados decrepitos, aosjuris- coiisultos encanecidossobre os autos. A inaior parte so cliegam a oceupar o Icgar de juizcs quando uma vida laboriosa, trinta annos de praclica, e as enfermidades que dalii resultam parecem dever condemnal-os ao repouso. Eslream-se, semi-paralylicos , quasi cegos, e^falfados, debeis, nesta peiiosa vida para aqual sfio arrastados, e onde sfio relidos por vantagens consideraveis mui superiores aos services que podem preslar. Etn poder dellc!, aceumulam-se os traballios judiciaes , encliein-se os cartorios, prolongam-se as 53 jitempa^oes, e a causa intentada pelo av6 clie}i:a intacta as mfios dos nelos. Taes delongas Irazein coiusigo enormes irastos , e ec|iiivalein a luna recusa de juslija para a rnaior parte dos cidadfios incapazes d'arrostar com as despesas inais ou uietios leacs d' u;ii processo que dura vinte aiinos. laaccessiveis ao pobre, indulgentes com os ricos , eatc? tribunaci pndein , seui querer, em inuitas fircuinstancias, servir d'iiislrumento a niais impudente espoliagfio, a inais tyrannica oporessao. Citaremos a chancellaria , onde iiinguem , sem coininetler imprudencia , levara qiialquer deitiajida que nao exceda 500 libras (mais de dois c;intos de reis) , porque veucedor ou veticido, o que iolenla a causa Lein a eerteza de pcrder pelo mcnos esla quautia. Eate exempio basla para provar que o cou- curso da justica, ein muitos casos, e uui privilegio exclusivo, uni objecto de luxo, somente ao alcance das grandes forlunas, e a que o pobre deve reiuinciar ainda que esteja rail vezes cerlo do seu direito. Nao e poi^ d'estranhar que esle eslado de cousas , a ollios vistos profundamenle vicioao, leulia sido por inuitas ve/.es censurado. Era-o no tempo de Bacon , cujo geuio pliiloaopliico dominava o chaos legistativo , os coiiliiclos de jurisdicyao, a indecisao das doutriuas, que ja nosseculos XVI e XVII eteruisavam as acgoes judiciaes. As foiiles de direito , os livros que conslituem autlioridade sac lioje quinze vezes mais nuuierosos do que enlao eram ' , e todavia Bacon lastimava que se liouvesscm inultiplicado a ponto de a con- fuiidirem osjuizes, eternizaieiu os processes e I'azerein seulir ao advogado as vantagens de urn codigo inetliodico. n ^. Os publicistub independentes da actuali- dade nao deixain de clamar coutra tao enartnes abusos : pedein maior numero de jujzes, iiisistem sobre a necessidade de reduzir a uiiia juri^prudeucia unilbrme os costumes, OS precedentes, as tradici;6e5, no meio das quaes, coiiio inim dedalo inextricavel , se perde a sagacidade do juiz e se nutrem as interesseiras manlias eastucias Ao-, attorneys • porem no regime oligarchico, os vicins da constitui^ao, saodefeudidosobstinadameiite , enaosecorrigem seu So com os repetidosexfor- jos de muitas geragdes. Mai se cousegaem insignificantes inodifitagoes as quaes dao uma iraportancia facticia, attenta a energia da resisti;ncia. Intrinclieirados em suas gotliicas forlificagoes, os alios torys, como la dizem , nao cedem o posto , ainda que o vejam des- inantelado, serao quaiido eslao prestes a seiem esmagados debaixo de suas ruinas. As- aim que, abstramdo da indomita obstinai^ao de sens antagoiiistas , da continua excitagio ' As dilTerenles obras que con«liliiera o Codigo civil e criminal da Gram-Brclanha , andaiii por seis ceolos Tolumes fscriploa em normando , francez , raau lalira , e inglez moderiiu. ^ AphorisDio "U. do cspirilo publico, corn razao se pode'ra desesperar de que fossem feitas algumas reformas ainda as mais indispensaveis ; era forgoso crer na eterna duracfio dessas insti- tuigoes judiciaes , que, no seio da eivilisa- <;iio, perpetuam os barbaros usos de uma jurisdicgao caduca, as incertas doulrinas de uina legislacfio incoherente. 1NFLI7ENCIA DAS CUHZADAS NA CIVILISACAO. Conlinuado de pag. 40 do primeiru vol. jCruxadas. Os senlimentos e as crengas religiosas elevadas ate o entliusiasmo ; a lacta con- tinua desde o fira do seculo setimo contra o maliometismo ; o estado da Europa nessa epocha, cm que ludo se linlia tornado local e circumscripto ; o gosto finalmente , naopela vida errante, mas sim pelo seu movimento e aveiituras, fizeram , no sentir de Guizot, com que os povos , aspirando a Iranspor os estreitos iimites, aque seacliavam circumscri- plos, se precipitassein nas cruzadas , como numa ncva existencia, mais larga, mais variada, que uinas vezes recordava a antiga lilierdade barbara, outras abria a perspe- cliva d'um vasto futuro. fi innegavel que estas circumstanciaa exerceram uma manifesta intluencia no facto das cruzadas ; todavia nao nos parece que fossem suas causas fundamentaes e unicas. EsLabelecendo um parallelismo entre esle successo e os cliaruados lieroicos na infaucia dos povos , em que esles obram livrc e esponta- peameiite, sem premedila^no, sevi intengao potitica , sem comliinagao de governo , Guizot considera as cruzadas como o successo heroico da liiiropa modorna , movimento individual, e juntamente geral , e por isso nao dirigido. Porem se pretendendo derivar da natureza das sociedades os grandes factos sociaes, que teem feito mudar sua face, langarmos as vistas sobre o rapido quadro do estado d'organizagfio da Europa nesta epocha que tragamos nos artigos precedentes, seremos levados a concordar que do seio d' uma organizagao viciosa e anomola, d' entje povos pouco ligados pelos lagos sociaes, nao e possivel sairem factor perfeitamente cara- cterisados. Se pois, para precizar suas caeusas geraes fosse mister modelar por meio da analyse todas , as suas variadas pliazes pelo typo a que as pre- tendemos refcrir. Se lijra d' esta exacta liarmonia nao nos fosse permittido accredilar na intluencia directa de certos principio= fundamentaes e reguladorcs, seriamos obri- gados a admittir o imperio da desordem e do acaso. Effectivamente, porem, naoeassini- 54 Quaiulo a ordeni dos siiccessos nao eslu exaclainciUe regularizada , poique iifio o esla ados priiicipios , c for9oso paia |)ieci5ar as caiisas fundainenlaes dos grandes movi- menlos despiezar aiioinalias iiisignificaiites , que coino qiiaiilidadcs infiiiitainente peque- nas , podem ser desprezadas nesle calculo, todo de probabilidadcs. Loiige de nos querer negar o predomiiiio da caiisalidade e da ordern ; somente nao daiiios tanla jmportancia as caiisas especiaes, que sc apartam dos principles geraes e reguladores : causas tanto mais frequciilcs , quaulo o la^o unitario das iiacionalidadcs u.'io esla precizaoiente determinado ate a sua ultima classe. Lcvados per este principio accreditamos, que se o facto das cruzadas nao se apresenta seinpre,em seu desenlace, coino consequencia de uni principio calciilado ; se parece muilas vezes nao ter lido um pensatnenlo regulador, nao deveremos lodavia desta apparencia con- cluir para a reaiidade. Eisaqui OS argumenlos que nos levani a seguir urna opiiiifio contrariaado illuslre his- toriador francez ; bem persiuididos que fazer face ao inimigo comnium , era nao so uma necessidade politica ne5la epocba, mas ainda que esse foi um dos priucipaes fms que, a par do zelo religiose do desejo de conquistas e de adquirir riquezas, pensadamente se propozeraui os priucipaes chelVs das cruzadas. A carta de Alexis Commeno ao coude Roberto de Flandres e um teslemuidio do que dizemos ; depois de fazer valer os priiici- pios religiososj mostrando por toda a parte a profanagao dos templos e mil abominaijoes contra a religiao e contra a moral, pralicadas pelos sectaries do falso propheta, eile con- clue, que OS barbaros tiuham invadido quasi todo o paiz desde Jerusalem ate a Grecia, todas as regioes superiores do imperio grego, as duas Cappadocias , as duas Plirygias, a Bithynia, Troia, o Ponto, a Galacia, a Libya, a Pampliylia, a Jauria , e a Lycia com as priucipaes illias. It Quasi nada mais me resta , diz die, que Constantinopla , que ellesameagam tirar-nos, se Decs e os Latinos nao vierera em nosso soccorro ; por(|ue Ja com duzentos navios, que teem feito conslruir pelos prisioneiros gregos,=eapoderaram duma praga importaiile sobre a Propontida, d'onde ameagaui con- quistar Constantinopla. Nesle estado de consternagito rogo a lodos os guerreiros clirislaos , jii exercitados nas guerras do Oc- cidente , que se esforcem igualinente por liherlar o imperio grego. Antes qucro, siibmetter-mc aos Latinos, que ser iufeliz prcsa dos barbaros. •• K uma descripgao do estado deploravel ilo imperio dos gregos, e por isso do risco etninente do rcsto da Europa. Lembra as guerras do Occidentc, cnmo nascidas d' um principio ideutico , mas ostas foram guerras de necessidade, exigidas pelas cireunistancias (|uc instavam, e nao um facto siuiilliaute lis guerras lieroicas. Sa as circumslancias do Oriente eram asmesmas, sens resuUados devcriam ser idenlicos, e idenlicas por tanto as razoes detenniualivas d' aquclles chefes ja costumados a peleja. .1 Antes pois , continua o imperador, que Couslautinopla seja toiiiada pelos barbaros , vns deveis coiubatcr coui lodas as torijas. tt E effectivamento quem nao preveria as conse- cpiencias d' uma tal conquista? Passando a cliave do Oriente li m'lo do inimigo, a Eu- ropa ficaria aberla a suas incursoes, e o cliris- tiauismo, que a symbniizava, veria cstreita- rcm-se cada vez tnais sens dominios. Mas nao sao cstas as unicas razoes , que o imperador apresenta para determinar os oulros principes e senliores clirislaos a soc- correUo julgando n.'io sulTicientes os principios religiosos, e o interessc que liaveria em evitar o mal , ellc emprega a esperanga d" oulros interesses. Lembra ao conde de Flandres e aos principes do Occidente as immensas riquezas de Constantinopla, que passariam brevemente asmaosdof barbaros, se as forgas do Occidente nao Ihe impozessem uma bar- reira. Por outra parte Pedro Hermita , que presenciiira o estado deploravel do Oriente entregava a Urbano II cartas do patriarcba de Jerusalem, em que se fazia uma igual pintura do estado deploravel daquelle impe- rio : — percorria as corles de todos os |irincipes do Occidente einlluia uo animn do povo , di- rigindo seu euthusiasmo religiose para o fim que se propunlia de combinagao com LIrbano e OS principes para quem Ireiixera cartas. A soberania ecclesiastica deGregorie VII tinlia encontradoem Urbane II um fertcsus- tentaculo; conscio da posi^ao social e civil que occupava, comprehendeu bein (|ue mei- es poderiam concorrer para se obler o re- sultado, que a necessidade politica da Euro- pa exigia. Ja no conoilio de Placencia {I de margo de 1095) OS cmbaixadores de Alexis Comine- no liaviam implorado soccorro, expoudo os molivos que initavam por prompto remcdio. Mas no concilio de Clermont (18 de no- vembro de 1095) os dois objeotos priucipaes foram a par, de Dtos, e a gucrra de Deos; aquella entre os clirislaos, esla contra OS infieis. Amboseram uma necessidade ; occor- rer-se-llies, pois, foi mais do que um faclo arbitrario ; foi um passo de politica entre os ctiefes clirislaos. Se Pedro Hermita, fallando come en- viado dos christaos do Oriente, so apre- senta por motive determinalivo do grande facto que se procurava realizar, os principles religiosos, Urbano vai maisavante, e,cotno politico jtra^a em poucas palavras o perigo que ameagava a Europa. ii A impiedade victoriosa, diz elle, lem es- 55 palhadosiiaslrcva5 sobre as mais ricas proviii- ciasdaAsia: AiUiocliia, Eplieso, Nicea sfio hoje cidadcs miisiilmanas ; as liordas barbaras dosTurcos lem plantado seus estaiidarles sobre as inargens do llellespontn, d'nnde amea- gain todos os paizes chrislaos. Se Decs, ar- mando coiilra elles seus proprios filhos, nao suspender sua inarcha triumphante , que na- gao, que reino podera fechar-lhes as pnrtas do Occidente ? » O papa Urhaiin 1 1 era francez de nasciinen- to , filhodoConde de Lemur; fallava a fran- cezes, a computriotas ; era na forga d'anirno dos francezes que a egreja fundava sua prin- cipal esperanga; seus antepassados tio tempo de Carlos Marlel , haviam quebrado o poder malioMielaiio nos campos de Poitiers; a seus descendentes cabia ir conipletar ua Asia a obra gloriosa de seus maiores. Foi por coniiecer sua bravura e sua pie- dade, diz Rolirbacher, que Urbano, seu compalriota, atravessou os Alpes, e llies trouxe a palavra de Deos. Que se julgiieda impre^sfio profunda que deveriain produzir nos sonliores e baroes christaos de Franqa. taes rellexoes, repetidas em mais d'um encon- tro pelo cliet'e da christandade, seu coiiipa- triota , seu pareiite, seu amigo! a Se vos Iriumphaes, diz Urbano, as ben- ertos — o dia raiou , Se se fecliam — foi noule medouha , Que no ceu negro manto lan^on. Quando a morle me dis sem piedade , Deixa , ao menos , que eu possa cliorar , Deixa, ao raenos , que as plantas te oeije, Jk que as faces nao posso beijar. Pobre louco ! que choras no mundo Que sorrindo t'escula gemer , Mais valera da vida deixar-te , Mais valera de lodo morrer. Pobre louco ! que mostras no peito , Larjas f'ridas que a morle te faz , Morre ! morre ! lalvez que ua campa , Pobre louco , decances em paz. Feiticeira — tem di5 da minh'alma ! Feiticeira — que mal te fiz eu ? Se me roubas a vida da terra , "Nao me roubes a vida do ceo Coimbra — Maio 1847. MEMORIAS HISTOniCAS 1)\ UNIVEIISIOADE DE COIMBRA. Segwida traslada^no da universidade de Coimbra para Lisboa. Continuado de pag. 29. Mandiira D. Fernando virdefora doreino alguni Ifintes, que liouvessom de ensinar na universidade as diversas sniencias , segundo entao se liam nas inais celebres escholas de Fran<;a e de Italia , e particiilarinente nas de Hespanlia , quando esle pnncipe deler- iiiinou mudar novamente a universidade para Lisljoa, com o fundaniento de que os lentes cstrangeiros so naquella cidade queriam ler.' E de feito teve esta niudanga logar ' « E vendo e considerando , que se o nosso sludo , qjte ora estao na cidade de Coimbra , fosse mudado na cidade de Lisboa , que na nossa terra poderia aver mais lettrados, que averia , se o dito studo na dita cidade de Coimbra eslevesse , por al?uns lentes, que de outros regnos mandamos vir , nTui queriam leer se nou na cidade de LisDoa mandamos que o dito studo ; que no3 nlUinos mezca de 1377 , pois que em Janeiro do anno seijuinte a univeisidado se acliava ja em Lisboa.' Mas ou fosse porque aquelles lentes nfio cliegarara a vir, ou por que livessem maior deniora, do quese eontava , e certo, que no priiieipio desle mesmo anno nao liavia no novo esludo de Lisboa ledoies de leis , decre- taes, logica e plidojopliia, por cujo motive a universidade pedira ao rei que lli'os assignas- se, ^ Ignora-se quantos e quaes I'ossem os noineados; sabe se apenas que D. Fernando izentara de certos encargos , a pedido da uni- versidade , OS mordomos e servidores destes lentes , e dos escliolares , os quaes Ihes administravam os bens em suas terras e igrcjas ^ ; e pode por isto conjecturar-so , que unia parte, se n.'io todos os lenles, que prinieiro leram em Liaboa , depois de trasladado para alii o esludo geral, eram natuiaes destereino, onde possuiain bens ou beneficios , com que se manlinliam. Antes, porem , de por em practica aquella resolu(;rio de trasladar para Lisboa o estudo de Coimbra, ordenara D. Fernando aos reitores e universidade do dito estudo, que llie mandassein pessoa da sua eleigao , com quern practicasse acerca desta mudanga , para que nfio faltassem em Lisboa casas para rnorarem os lentes eescholarcs , e outras cousas pertencentes ao mesmo estudo. * Recaiu a escoiha da universidade em Lopo Esteves , bacharel em leis, que por parte d' ella apresentou ao rei uma extensa sup- plica , para que nao so llie conservasse todos OS privilegios, que e;te estudo geral ate alii goziira, mas Ihe acrescentasse outros de novo , no tocante ujurisdicgao dos conservadores , e as prcrogativas dos escliolares. ' Pretendiam elles , entre outras cousas, que o rei benignamente llies concedera , que houvesse so dois taixadores , oleito um pela cidade e outro pelos escliolares, que taixas- seni o pre<;o das casas , onde elles morassem , ainda que tivessein feito avengas com os donos d'ellas; c que se acaso os escliolares houvessem pago maior preijo, que o taixado , fossem aqnelles theudos de Ihes tornar o demais. ora eslaa na dila cidade de Coimbra , seia em a dila cidade de Lisboa pela guiza, que ante suiya estar. •> C. de D. Fernando dada em Coimbra aos 3 dejunho de 1377 — JJv. verde da Univ. — A duvida de Leiliio Ferreira (Mem. cliron. da univ. ^. 456) , de que a universidade eslivcsse ainda em Coimbra em junho deste anno (1377), niio lem o menor fundamcido a visla desta carta , ed'outra do mesmo rei do 1. ° de jullio dilu anno . escrila a AITonso Marlins Alvernaz, onde se leem eslas palavras — « Sabede que OS rectores e universidade do studo , que ora estaa na cidade de Coimbra etc. 1 C. do mesmo rei, dada em Coimbra. no 1." de Janeiro de 1378 — Idem. -* Idem, •* Idem. ' C. cil. na nola 1.^ '' Idem, 57 Parecera esla iilUnia preteiigiio demasiada, e por isso se luio altercu a antiga legiila^ao sobre os taixadores das casas, seiiao qiianto ao luimero delles, que ficarani lediizidos a dois, de qiuilro que erain, ale que a final veiu este olBcio , com o tempo, a cair em desuso. A auctoridade dos conseivadores ia-se tor- naiido excossiva ; e pnr isso D. Fernando, nao conleiite de eslabelecer as appcllac^oes lias senten^as civeis e criminaes destes inafris- trados , corno n'outra parte deixamos rel'erido , nao conl'irmara ns piivilegios dos escliolares, como llio elles pcdiiam por Lopo Esteves, sem cnarctar mais aqiiella auctoridade , orde- nando que os conservadores dessem aggravo nos feitos civeis E taes eram ,03 aliusos que a sombra dos privilegios do foro da conservatoria se coin- nietliani , que o rei proliibiraos conservadores de darem cartas citatorias , contra pessoas residentes fora da cidade e seu termo a requeriuiento dos escliolares, sern que estes primeiro jurassem, que nao obravam raali- ciosaincnte , e que seguiani o estudo com o verdadeiro liui de aprender, e nao para se aprovcitarem da prerogativa do (oro academi- co. Nao fora , porem , esta providcncia bastan- te, ao que parece , para cortar aqnelJes abusos , porque alguns annos di-pois (1384), o inestre de A viz scndo vegente do reiuo,con(irmoii estes mesinos previlegios, mas com a clausula de que as cita^oes requerldas peios esludantes fossem primeiro examinadas jjor dolsdouloies do estudo , e , nao os liavendo , por dois lentes em direito com o conservador, para que nao liouvesse nellas malicia on engano. O demandador devia assiai deelara]-o sob juramento, e nao podia gnzar do lore da conservatoria antes de ter freqiieritado por dois annos o estudo, hem fazer cila^ao por titulo de doai^ao eutre vivos. ' Lopo E^teves allegara tambem por parte da universidade o prejuizo , que soffriam os escliolares, de nao poderem advogar nem publica , nem particularmente, por nfiolerern para isso licenga regia , o que era causa, dizia a universidade, de " alguns nao que- rerem aprender , nem vir ao dito estudo jj pelo que pedira, que fosse conoedida aos escliolares aquella licenja, nao soemquanto frequenlasseni o estudo , mas depois uas suas terras. A nimia preponderancia que os escliolares se queriam arrogar nestas e noutras preten- goes com grave prejuizo dos estudos , fa encontrando repugnancia no animo dos imperantes, a proporjao que o progresso das sciencias mostrava a necessidade de aperfei- goar cada urn dos sens rarnos, e subordinar o exercicio das diversas proAssoes litterarias ' C. do Meatre de Aviz, de 15 deoulubro do 138i ■ Li 7. Verde. a certas e determinadas habllitagoes. Assim D. Fernando concedeu so aosdoutores, niestres e bacliareis, ampla faculdade de advogarem , sem outro titulo mais que o do seu grau. ' Nao seesquocera Lopo Esteves de requerer tudo, que dizia respeitoao particular regimen dos escolares; tanto u cerca das casas , para elles morarem , como dos agougues , padeiras, viniiateirose pescadeiras , as quaes todas deviam ir vender no bairro das escliolas , que tambem sedelerminou fosse omesnioem que ellas estivcrain antes de trasladadas n ultima vez para Goimbra: e de feito tudo se regulou neste ponto a contento da uni- versidade. Quanto us cartas on diplomas, que a universidade lioiivesse de expedir , ordenou- se,quc fossem escriptos pelo bedel, que era ao mesmo tempo secretario do estudo , liavida primeiro deliberacao em conselliodos reitores, lentes e eonsellieiros , como o pedira o procurador do dito estudo. Ainda quepelos estatutns de D. Diniscada faculdade tinha urn lenteso, e muito provavel. que posteriormente se augmentasse este nu- mcro, pois que nesla epoclia a universidade propozera a D. Fernando, que os lentes de manlia em direito fizessem ao menos dois actos no anno, em que os escbolares podes- sem argumenlar: o que assim Ihe fora con- cedido. ^ Nao raro acontecia n'aquelles tempos se- rem lentes, juizes e advogados simples esclio- lares sem exames nem greios academicos, e niio e por isso para estranliar, que so ao cabo de tantos annos se estabelecessem o^ actos nos cursos da universidade, e se tor- nasse mais regular a frequencia das aulas. Assim vemos ordenar-se enlao pela primeira vez, que no comego do estudo prestassem os lentes juramento , na mao do reitor, de lerem bem e com proveito dos escliolares as leilu- ras, que llies fossem assiguadas, ate ao meado de agosto, eui que deviam cessar as I levies. ^ 'J'aes eram, emsumtna, as principaes dis- posigoes, quo so conllnham na carta, pela qual D.Fernando ordenara a trasladagao do estudo de Coimbra. ' " Mandnmos , que possaoi eslo fazer os (|iie forenl doulores , c meslrcs , e bacliaret'S , e outros non , porqiie aus escliolares non pertence , nem e proveitosu de o fazerera , por non averem azo de leixar o esludo , e de ajirender , porqne clie;;ilera , e ajam crao na sci* encia , )i (C tie 3 de junho de 137", cit. na nola 1^) -^ Fijiieirua diz qne ate aos estaliitus de 1-131 nrio .nchara noticia de se fazerenl actus na universidade, no que certamente se enganou , pois que na carta de O. Fernando do l.°dejuthode 1377 se !e o seguinlc — f* Ontro si nos pedio (Lopo Esleves) qne fosse nossa merce que " OS lentes do mauhli em direito fizessem no menos dois " autos noaaito pera os escholares averem inoilo dearcuir. " A esto respondeulos. Mandumos que nos prazia e praz •■ de se fazer e guardar pela ijiiiza , que por ellc foi pedido. »» Liv. — verde. ' C. cit. na nola anttceilcnie. 58 Como havia jii annos que este principe linha iiiteiilo de fazer esta imidariga, e n'lo ljueria que faltasse cousa alj^uma , qui; mais podesse coiicorrcr para que o novo estudo fosse froqiientado de £;rande nuuiero deescho- lares de lodo o reiiio, solicitiira do p;ipa Gregorio XE uiiia bulla, para que os dou- lores, iiiostres, liceuciados e bachaieis em todas as faculdades podessem iisar das respe- clivas in>ij;nins. '■ Fora a bulla expedida dnis annos antes d'aquella inudanga (137C) ao tempo oui que a universidade estava aiiida em Coimbia, posto que a bulla e dirigida ao estudo de Lihboa, ou porque era em Koma itrnojada esta circumslancia , ou porque o papa cjuizera por aquellernodo t'azer inlervir a aucloridade apostolica nesta nova instaura^-ao do estudo geral em Li^boa, que leve logar , como ja referimos , iios ultimos mezes do anno de 1377. IVesse mesmo anno representou a universi- dade a D. Fernando para que fossem os oscholares izcntos de pagar dizima e por- tagem dos mantimentes que trouxessem para o estudo, e devia ser inui crescido o numero d'aquelles eecholares, por que na petigfio se faz inen^fio dos do Alemtejo , Alemdouro, Coimbra, e d'outros iogares. ^ D. Fernando nao so llies concedera este privilegio, mas determinara tambeni que os leiites e escliolares nao podessem ser consLrangidos a tomar na cidade, onde estivesse o esludo , officio publico ou privado, ou encargo algum pessoal ; nao OS dispensou com tudo de terem cavallos, como Hie fora pedido. ' Do mesmo modo os escusara de pagarern _/in<(zs, talhas epeitas;' e a redizinia das suas rendas ao papa. ' li para favorecer mais o esLudo , D. Fernando concedeu aos officiaes, e servidores delle os mesmos privilegios, que tinham os Lentes e escliolares. ' Pretendera tambem a universidade que Uie fosse concedido citar, e demandar perante o seu conservador qualquer juiz ou ofiicial , que nao cumprisse as sentenijas, ou man- dados daquelle magistrado. fista insislencia em ampliar a aucloridade da conservatoria desagradara ao rei , que via n'aquella prelen- ' Bulla Qtwd stent Jide (frgnis. Liv. verde. '^ Cartas de D. Feruando de 1 , e 11 de Janeiro de 1.178. ^ A lei de 21 de agosto do anno de 1357 obriga\'a a ler cavallos e armas aos que tinham duas mil lihras , qiiando antes basta\'am mil e quinlientas. — J. P. Ribeiro , Additam. a Synopse chron. '^ Tatha — <(contribui(;So que se lan^ava por cabe<;a , e na quat todos sao cortados , segundo os seus cabedaes e Iiaveres. Vera ilo werbo tttleo , cortar etc. — Viterbo , Elucidario. Peita — « expressao cquivalente de cnhimnia-y e que resume as numerosas multas, applicadas ao tisco. » — Veja-se o snr. A. Herculano , Hist, de Portug. torn IV. pag. 401. ' C. de D. Fernando de 4 de raaio de 13G3. • C. do 1.° de Janeiro de 1378. qao a origem de graves conflictos entre as diversas.iusti<;as da? suas terras e o magistrado da universidade, e por isso ordenou que se nao procedesse em lal materia sem primeiro se verificar se os ditos juizes e officiaes nfio curnpriain o que llies era determinado pelo conservador, c os motivos que para isso tinliani, para se haver dcpois o remedio com conliecimenlo de causa. ' Quaiito lis pessoas, que compunliam o governo do novo estudo geral , reina tanta obscuridade nas memorias d'aqiielle tempo, que apenas consla com cerlcza , que no anno seguinte ao da traslada<,''io da universidade (1379) era reilor Martim Domingues, conego d'Evora ^ Os diplomas regios fazeni sempre men9.n0 de mais deum reilor em cada anno, mas iguora-5e quem fora o eompanlieiro de Martim Domingues no dito cargo. Para o logar de conservador , talvez , o mais imporlante entfio de todo o estudo , nomeara D. Fernando, a pedido da universidade , Af- fonso Martins Alvernaz ', que fora juiz em Coimbra, e que por morte deste principe seguiu as partes de Castella. Com esta nova mudan^a da universidade para Lisboa pouco ganhariam os estudos. As providcncias , que D. Fernando ordenara , eram na essencia as mesinas, que seus predeces- sores haviam estabelecido ; e a liisloria da universidade no espa(;o de quasi um seculo, que jii contava de existencia , resunie-se toda nos privilegios concedidos aos escholares, a quem a liberalidade dos principes tornara neste ponto, cada vez mais exigentes. Assim, no meio deslas successivas trans- lada^oes do estudo geral, a sua reforma lit- teraria ficara quazi completamente esquecida. Continiia. 1. ji. br ABREU. A QUESTAO DA IXSTRUCC-lO PUBLICA EM 1853. Continuado de pag. 41. As considera(;oes rapidas lanijadas em OS numeros antecedentes licerca do estado da iustruc^ao priinaria e secundaria, levam-nos a expur jiiizo do estado da superior. Os dois primeiros ramos constituem verda- deiramente a instruc<;ao naoional , sendo a primeira indispensavel a todos , e a segtinda ' Idem. ' Idem. ^ Consta de uma certidao de varies privilegios da universidade, passada em \t dc maio de 1379 — LIv. Verd. ' C. de D. Fernando, Coimbra 1.° de jullio de 1377. 59 a maiori'a da sociedade. A superior e deuma nlasse inais elevada, destiriada as profissoes liberaes, que, posto que iiidispensavel aos differentes rarnos do servic^o publico, e'todavia procurada autes como meio de fortuna, do que pelo fun da cultura , eelcvajfio da intel- ligencia. Considerada , como deve ser no organismo social, em o ponio de vista das iiecessi- dades publicas: sera esle o ponIo de parti- da para appreciar a exisleucia, e a prodiic- 5ao das escholas que temos de estudos superiores. Per inuito tempo populayfio mais vasta , c exigericias mais numerosas acjiaram satisfac- 9ao pli'iia nos estudos de uuia universidade composta de lodos os ramos de scieiicias c liuiiiauidades , e muilo conoeiluada por solidez na iiislrucgao, discipliua e regulari- dade de administrajao ; aleui de quatro escliolas especiaes em cirurgia, commercio, p maiinlia. Audando o tempo, novas exigenclas da civiiisajao, accresenladas no seoulo em que vivemosjdfimandavam maisescliolaseapeciaes, como meio de liabililagao, e garaiitia para as diversas profissoes. As artes sobre tudo ate enlao menos coiisideradas , pediam li sciencia o principio vivificador. llouve em 1836 uina reforma em estudos supcriores. Fol enlao criada a cscliola poly- tecliiiicaem Lisboa,eacadeinia polyleccluiica no Porto. Asescbolas cirurgicas accrcscenta- das com mais ramos de sciencias medicas, foram elevadas a categoria de escholas medico-cirurgicas providas de nove cadeiras de ensiuo. Criaram-se tambem academias de bellas artes em Lisboa e Porto. Satisfazendo ao fim da sua criagio os novos institulos, ninguein dira que nao fossem necessaiios. Mas correspondem elles a esse fim ? a sua orgaiiisa^fio , o estado actual de seu ensino sali^faz ds necessidades publicas? E esla a quest.To. Se o ensino da eschola polytechnica tives- se, como lire cumpria, o caracter positive e praclico ; se tomasse por niodelo a eschola polytechnica de Viana d' Austria, o instituto polyteclinico de Inglaterra , ou a eschola de Paris na sua organisagao primiliva, e na reforma, que acaba de receber , grandes interessps podia ter criado , de benelicio in- calculavel para o paiz. No estado, em que esta, reduzida a eschola especulativa, pejada do ensino transceudente, mas abstracto, po- de reputar-se inutil : na universidade havia lodos OS ramos de ensino que a eschola pos- sue. Mais praclico, e assim mais conforme a nalureza do instituto, leni sido o caracter da academia do Porto, se desde a sua instal- lagao Ihe foram dados estabelecimenlos , materiaes, machinas, inslrumenlos, e dota- Sao annual, indispensaveis ao desenvolvi- mento das sciencia industriaes, que cultiva com proveilo conhecido, mui vanlajosos pro- ductos livera dado. As escholas cirurgicas com a convenlente reforma que obtiveram em 182.5, tinham todos OS elementos scientificos necessarios ao fim da sua criag.'io. Careciam unicarnente os alumnos de mais subido grau de habililajao em estudos preparatorios para a admissao aos das escholas. Os novos ramos de inslruc- (j'fio , com que forain dotadas, sobre supertluos collocarain os profossores e alumnos em uma posi5ao falsa, esuscitaram as aspira^oes com que tem inovido guerra tenaz a universidade. Nao se podera fazer accusagao conscienciosa as escholas pelas pretengoes que teem desen- volvido. Aiiida que ha desigualdade nos estudos scientificos das escholas e da faculdade de medicina, e nos de sciencias auxiliares , que servem de liabilila^ao a uns e outros alumnos, a comparajfio feita com as escholas de oulros paizes, v. g. ,aFran<;a, aonde nao ha a mesma organisagao de estudos medicos em Paris, Montpellier, e Strasburgo , anima e alenta aquellas preten^oes. E na verda- de a ultima organisagao das escholas com a reforma de 18,36, e posteriormente a de 184'4 quiz dar-lhes a physionomia de faculdade? , lirando-as da ordem de escholas especiaes. Mas serao preclsas Ires faculdades de medicina a Ires niilhoes e meio de habitantes circumscriptos a uma orla occidental da Euiopa, ou terao sali^feito melhor as escholas reformadas as necessidades da saude publica? Nem sao precisas ; nem a Franca tem mais de Ires, sendo a sua populagao dez vezes maior; nem o servi^o publico tem melhora- do com a auiplia(;ao scientifica das escholas; antes peiorado , diz a opiniao publica. A consequeiicia logica parece ser reformar as escholas; reslituir-lhes a nalureza, lioje adulterada , de escholas especiaes da arte cirurgica, rediizindo as iheorias medicas as uoijoes geraes indispensaveis no exercicio da cliiiica cirurgica. Sera essa reforma conforme a razao , c a practica geralmenle sanccinnada pelas sabias li(;oes da experiencia. Ainda nos paizes em que, ou um so grau habilita para o exercicio de todos OS ramos da arte de curar, ou qual- quer dos graus em medicina, ou cirurgia, a practica distingue oque em iheoria se quer julgar inseparavel. Nem Roux e Sanson curaram nunca de medicina, nem Andral e Marjolin de cirurgia. Sao trio vastos e elevados os descobrimenlos , que especial- menle neste seculo enriquecem lodos os ramos de sciencias medicas, (jue e impossivel ser eminente em lodos elles. O charlatao e que nao duvidarii curar de tudo. Devem reduzir-se as escholas aos seus justos limites. A frenuencia dellas o exige imperiosamenle a um paiz pobre, e embaraga- do em finangas. A despesa annual de cada alumno na eschola de Lisboa sobe a 236^000 60 rs. , na do Porto anda perlo (h. SfiOj^OOO rs. E enormo , cspaiila osla dejposa ! iiao nclia cxempio no cstraiigeiro. Na iinivcrsidiide dc Coiinbra iiilo clie;?a o cu^lo a 40,j)000 rs. A rausa dolla t-a poiica coiicorrciicia de aliitiinos, c esta a prova iriais decisiva e decretoria da siiperlluidadu em escLolas iiicxlicas. £ conveui saber-se, que akun das escliolas no continenle lia outra oscliola iiicdico- cirurijica no Funchal , frcqiiiMilada por Ires aliiiiinos ! Tanta, e tfio iniitil dcspcsa em inslruc^ao superior, e lanlo escrupido , tanto at'an em regalear a primaria ! ! A eschola superior niais perfeila, mais regular, e rica de sabias Uadi^'oes ac- cuniuladas por seis se'culos if a universidade. Seis seculos de existencia revelam grarjdu vigor de vida : e, se elle nao fAra, nfio tivera resistido esse grandioso cstabelecimeuto litterario ao espirito deslruidor de f'rivolos innovadores. Rcformada em 1772 por um genio, cjue soube anticipar os seculos t'uturos; por um genio que poJe Ijaver-se por contemporaneo , e bapUsada na civilisarao inoderna em 1836 c 18 *i, pode reputar-se a par das universi- dades deste seculo, ou das da idade media, que ose'culo 19 reformara. Nao diremos sem embargo que nenliuui meliioramemto llie conveniia, ou deva admitlir-se. O sy sterna de longa opposigao para o magisterio , sendo o que inspira mais seguras garaiitias, e o que se pode dizer gerabiiente adoptado na I'.uropa culta, applicado ao 1.° grau do Magisterio le[n iuconvenieiites serios. A obriga^fio de re=idir e t'azer servijos sem compensagao de iiiteresses desvia uns, e pretere oulros aspirantes. A experiencia acon- sellia como iiabilitagfio mais conveniente para esse 1.° grau o eoncurso de oslentajao seguido de um ordenado i'lxo para os esco- lliidos, que devem I'ormar o viveiro do Magisterio. Para os alumnos sera conveniente fazer o grau de liabilitasfio para a admissao a uni- versidade. O lioinem Ibrmado em uina uni- versidade deve apre.-eMlar uma educagfio Jittoraria inui dislincta. Faz-se mais reparo nesta qualidade do que no aproveitamento scienlilico do alumno. 'I'aivez que accesso deujasiado facil a scieiicia tenlia t'eito mal as arles. O.-equilibrio e indispensavel. Temos considerado em gloljo um assuinpto vasto e eomplicado. O deseuvolvimenlo de cada um dos olijeclos que entrain na corn- posic^ao da graiide qucstao social , que nos occupa, pede largas paginas; nao cabe nas coiumnas de um jornal , mas alii I'lcam langadas as ideas i'undamentaes ; posies em relevo os defeitos, e meios de reforma para expriinireni a nossa humildc opiniao, e aberlo o canipo a discussfio , que nos lerraos da gravidade e da decencia nao deixara de ser util as patrias lelras, M. VARIED.4DES. Atigmeiilo [troijrcssifo do genero humano. O professor Newm.in da universiJ.-ule ile Cdirobtir^b diz, que <: uialheiDuticamentc cerlo , que, se a povoa<;riL> que nctimltllnnle e\i9te no miniiio fu^su cveseenito sucn.'S- sivameiile por (^spuru de H on I'i seridos na nicsma pro- port^'io , en» qin* ha alt;mn lenijio es(:t aiiirineillatldo a povonriio da Gra-ISretaidia , nao Inixeria aolide conbesseiu subre a piirle soli-la da terra os buaieiis , mnlhercs » e ineninos , assi^'nando-se somcnte para ead.i mil o eiiipai;o (te nu) pe qtiadrado. A poToni;ao dos Kiilados-Unidos da America do Norte era cm 1840 de 17 luillioes de liiibilantes : e scjjniido o ultimo cenao constava em IttfjO de *iCi niilhoes. Se cou- liniiar a crcicer na mesnia pro!;;reBsao , daqui a 50 aunos tera 150 niilhoes de liabitantes ; e passado outro seculo tera Ib9i3 niilliocs de liatiitantes .' Dolls ter<;os mais do que a actual povoa(;ao provavel ilo niluido iiiteiro , tpie se calcnla ser de mil milhoes. Estado dii Inslriicrdo Primaria em Franca, A consrripQao miUlar mostra , que de cada mil inan- cebos tirados & sorte cousa de 40 salieni ler e escrever ; 500 sabem someute ler ; e mais de 400 nao sabein ncm ler, nem escrever , nem tem instruct^.to nentiuiua. N. BlBt.lOGRAPIIIA. O snr. Rodrigo Rilieiro de hiinsa Pinto, lente catlie- dratico da faculdadefie niallieiualica , e -.'* astrouunio do Oifse|■^aloril^ de Coimbra, publicou mais um trabalho scienlifiiro com o tilulo de Com/ilemeritos de Geotitetria Discn/tliva. Tendo si.lo ailoplado para tcxto das Ii(;oes em Geoaielria Oisi-n|diva, o rospeclivo tralado de Air. i<'oiircy , o snr. S. Piuto quau'io fui encarrei^ado de ler esia materia, achou que o ensino nio se turnava completo , nem (ao priM'eiliiso aos sens unvinles , si*in anq)liar, emesiuosubs- lilnir , nus i(»:;ares conveuienles , ao meUiodo syntbelico, euipre;;ado por Mr. Kourcy o iiielhodo analylico. Nestes cou)[deiuentos Iransinz . como em onlras pnbli- cri<;ues scientilicas do anctor , i;ni espirib* proruiulo , e immensos recnrsos aualylicos , pois que nao s(5 colligiu, c coordenoii o (pie lera em liuos, que tratam d'esla materia , nias [ainbem deii denittnstraeSes siias . fnicto do sen laiento, genio, e medilai^rio , sini|)Iiflcando assim muitos ib's prorcssos ^Tapbicos, e.tudicionaiido impurtan- tes theoremas de inmicdiata utiiidade praclica nas cons- truc^oes. O conselho da faciildade de mallii'inalica avaliando dcviilainenle o merito deste IrabaUio resolieii pur lina- niniidade que fosse adoptado no ensino da respecliva ca- dcira. K. V. RODRIGUES. ERRATAS ho iN.' '». Pag. Col. Li'ili 41 '; Krro 44 sopremos » )) 5b prurlainarem 4- 1.* 'iO do tlesanimar Emeu :a siiprenics proel iinar de des.inimitr ® Jn0titttt os aliimnoi das difforenlcs faculdades podem t'reqiwiuar os cursos da escliola e assisiir aos Irabalho? riiraes , traballios que miiito facil- mente se podenj realisar em tjiial'iuer das inelhores Quiiilas dos arrahaldcs da cidade ([ue se destinar para os ensaios praclicos. A universidade precisa de se coUocar a frcntc da instriic^fio publica, e de assmnir o iogar que Ihe compete como primeiro ins- tilulo soientifico do paiz. D' esta alllaiii^a dos estudos de Coiinbra com as ideas novas, alveo aclia-se plenamente obstruido d'areia : em poucas paries conserva essa convpnienle iuft-rioridade ii» terras marginaes. Daqui rcsultam tres gravissiinos males : a ritinrt da navegn^do j a cstcri/idiule dot ter- renos • e o prcjuiso da snudc dos povof ^ todos reclatnarn energicas provideiicias , por (jue sfio calamidades publicas. j4 mind, da navegagdo: porque o leito do rio ttitalmente obstruido , nao deixa ap- parecer a superticie, nos niezes do estio , se iiHo uMia pequena por^ao d'agua, em quanto que a outra, talvez a maior parte della, se escoa por entre as areias , que por serem muilo grossas Hie dao facil passagem. A porgao da agua que corre pela parte superior das areias, mais compete o nome de regato, quo de rio; e uma fila escura extendida ao acaso sobre um campo branco. Este regato constantemente serpenteando entre serras de areia , vai depois encorporar- se com aguas mais fundas e abimiiantes , abaixo de Montc-mor , onde a nevegagao e favorecida pelas mares. Os transportes pelo rio tornam-se irnpra- licaveis nos mezes de julho, agosto e setembro; tern liavido aniios em que o> barcos, com rnenos de meia carga , gastam ties dias para suliir as quatro leguas dcsde. Monte-iMor ale Coimbra. A poiite desta cidade nfio e meno^ pre- judicial a navega^fiO do Mondego; quasi sepultada nas areias, como j;'i dissemos ', n:1o permittc, ainda nas pequenas enclientes que OS bareos ])as5em por baixo de sens arcos , por falta de capacidade. yl cstcrilidade dos lerrcnos : 1." porque o alveo j;i pejado de areias nao reeebe as Movarni'nte arrastadas pelas enclientes; a violencia das inunda^oes as espallia pela superficic dos campos, e lorna as lerras incapazes de cultnra : 2.° porque o campo acha-se em partes cgualado ao leilo do rio, n'outras inferior, e n' outtas mais alto: no primeiro caso , se o rio ingrossa , ainda que nao trasborde, estando as terras j;i senieadas, afoga assementeiras ; porque, por uma pro- priedade conhecida, a agua ahandonada a si rnesino, p-ocura sempre a liorisontalidade , e filtrando-se pelo terreno soUo e poroso , vai inundar assim os sitios iuferiores u super- I'lcie da corrcnte : no segundo caso porque alem das razoes ja referidas , as terras no verao ficam constantcmnnte alagadas, ou apai'iladas e [)or lanlo incapazes de cultura: e no terceiro em fmi , as terras nao cstao ao alcance das pequenas enclientes, ncm soffrein OS damnos das que se acliam nos dous ' Mcmoria sobre a ponle de Coimbra no 1.' vol. deste jurnuL 69 priineiros casos, e por isso ainda sao abun- (lanlemeiite produclivas. O prcjiiiso da savde dos povot : porque os vegetaes dcpositados nas terras alagadigas e apai'iladas , alii se corrompctn ; converlem-se <;in focos de podridao , e exalam vapores ine- pliiticos, ipie desenvolvem as doeii^as que, em todos os aniios, devastam liorrorosa- inente as povoagoes visinlias aos cainpos do Mondcgo. Todos sabein que as areias pelas torreiiles despe^j'ada? e trazidas das serras da Beira , sao a causa principal dostes males; nao podernos deixar de soffrcl-oj, porque nao e possivel remover facilinenle a causa ; uias podeui os estra^os impedir-se lemporariameiito ; a na- vega^'ao do Moiidego , e a agriciiltura dos campos podem ler inellioraineiito. Estas desgrajas nlio sfio novas na liiitoria dos campos de Coimbra; e ntna repetiyao de factos acontecidos nos seculos trausacLos. A presente jjjera^ao soffre prejuisos em sua I'orluua semelliaiites a oulros que as geragoes ja distanles tambem sotiVerain. O alveo do Mondego nfio tem levado semure a mesma direcgao, neni os campos foram sempre todos cultivados; tudo tern experimenlado inuitas allerajoes ; alguns terrenos que n' uma epoclia eram estereis, n'outra lornaram-se feiteis, e vice versa. A fortuna dos propiictarios dos campos de Coimlira foi sempre mais ou menos vacilanle; iiiais soiida teiido o rio um aiveo profundo; inais contigente sendo elle quasi livelado com as terras uiarginacs : e dc todo perdida, tendo o mcsmo piano horisoutal do campo. Os presentes esmorecem a vista dos estragos, suppondo que o mal nao tern reaiedio ; mas quaudo pelo decurso de^ta inemoria virem que, em circumstauuias identicas, o pa- trimonio de seus avos obteve utilissiraos mellioramentos , conliamos que a e^peranya renascera em seu coratjao. E verdade que antigamente vinliam mais a tempo as providencias para occorrer a estes males; agora tem elias sido mais tardas, mas nem por isso devemosdesespcrar. A fal- la de conliecimentos liistoricos faz acreditar como novos OS factos contemporaneos , quan- do elles muitas vezes nao sao mais que uma continuajao de effeitos que se succedem com longos iiitervallos. Mos mesmo antes de procurar os elemenlos deste pequeno tra- balho, pensavamos que esse encanaraento docretado em 1791 fura o primciro aberto pela arte para o Mondego, e que o campo cm tempo nenlium tinlia estado tao perdido, como agora; porem ficamos desenganados , quaudo depois de reiteradas indagayoes des- cobrimos um tao avultado numero de pro- visoes , decrotos , avisos etc. , etc. , passados em tempos remotos para remediar os estragos deste rio, que se eslivessem todos colligidos formariam um corpuiento volume de Icgisla- t'lO especial do Mondego. Ninguem ate hoje , ao menos que nos cons- te , se tem dado ao traballio de estudar estii Icgislayao , e aprender por ella a liistoria do Mondego, e dos campos do Coimbra. fi verdade que algunias memorias tem sido publicadas a esle respeito; mas seus auclores trataram oassumpto mais pelo lado scienlifico do que pelo historico. Os acontecHnentos posteriores attestam que nao foram felizes, como f'aremos ver quando compararmos a doutriua com os factos. Diques, marachocs, encanamentos etc., tudo tem sido destruido pela violencia da torrenle nas cnchentes; de sorte que se nos decidisscmos por estas tao repetidas catas- troplies, diriamos que o Mondego esta fora dos preceitos da liydraulica: mas nao, outras serao por certo as causas que teem frustrado tautos traballios e mellioramentos inteutados; o Mondego nao tem sido, segundo parece, devidamente estudado, nem talvez os prin- cipios da sciencia lenliatn sido bem ap- plicados; e por isso as obras n" elle feitas ainda nao coioaram os exforf;os d'engenheiro algum. Os estragos que o Mondego tem causado em Coimbra e seus arrabaldes, datam dc tempos mui antigos; ju no anno de 1464 encontramo? providencias para obviar a estes males; e talvez que anteriormenle tivesse liavido outras , cujos documeiitos se perdes- sem por de-leixo dos cartorarios, assim como tem aconlecido a muitos mais modernos , de que nfio sabemos sen.'io por allusao. E pois desde o anno dc 1464 que prin- cipiamos a referir as obras que se tem feito no Mondego para remediar os damnos das suas enclientes, apontando a logislagao que llie diz respeito. OBEAS DO MONDEGO. Uma Carta de D. Affonso V. datada em 'I'entugal a 22 de setembro de 1464 ' nos descobre que o Slondego se acliava tuo eiiUilhado deareiaque uma pequena encliente fazia grandes estragos no campo ale Monte- mor , e na cidade e mosteiros do sea ar- rabalde ^: que para occorrer a estes damnos se tinlia feito construir uma estacada entu- Ihada com grandes despezas e traballio que de pouco aproveitou: que a camara (officiaes e homens buos da cidade de Coimbra') nao achavam outro meio de impcdir o mal se nao pondo cm praclica o costume antigo que era proliibir as quelmadas na distancia de legua d'uma e outra margem do rio , desde Coimbra ' Periaminho n." 70 da camara de Coimbra. ' Eram os conventos de S.Francisco, Sania Clara, Sanla Anna e S. Dominjos, que tocamos jior incidente Da Memoria da ponte de Coimbra, 70 ate Sea ; que os desobedicntes fossem obri- gado5 a responder perante as auctoridades desta cidade: que adopLando-se esla medida nao viria mais areia ao rio (!); e a que nelle eslava seria levada pela ap^ua. Elrei deferiu como a caniara pedia, e inipoz graves penas aos transgressores. Nao e preciso chamar a aLtenf^ao dos leito- rcs para Hies fazcr sentir a violenciae injus- liga doola medida ; e e de crcr que os povos Ihe fjzesseni uma resistencia compacia ; os camaristas de 1464 queriani saciificar o in- teresse geral ao particular ; providencias de5ta naturcza foratn senipre odiosas. Por eslas razoes e por falLa de memorias em con- trario accreditarnos que o alvan'i do senhor D.^Afl'onso V. nunca tevc execugao. E todavia certo que delle be tirou uma certidao (aos 14 de junho de 1469)5 a roquerimento do procurador geral do conce- Ibo de Coimbra 5 para a entregar a urn Joao Vasques de Mello, escudeiro, que estava encarregado de o publicar pelas villas e logares da Beira , em cujos termos era imposta a prohibi^ao das queimadas. * Supposto este alvaru nao fosse obscrvado nas povoa^oes da Beira a camara diligenciou applical-o dentro dos limites do concelho de Coimbra, como consta d' algumas das suas posturas. * O systema da nao roteagfio dos monies da Beira a pezar de iniquo sempre teve defen- sores : eum pensamento, que tern passado de geragao em geragao ; ainda em 1790 5 enlre OS quesiLos a que Estevao Cabral foi man- dado responder vinha este — se convinha que ^e nao cultivassem os monies que faziam face para o mondego, ou para ouLro qualquer rio que nelle desaguasse. ^ Continua, * No archivo da camara existe a certidao 3 que e o perg n • 70 de que para aqui nos aproveit/imos , mas nao encontraroos o original. ^ Memoria aobre o Monde^o •por Estevao Cabral no vol. 3.^ das de Econ. e Agric. da Acad. ' Ibidem. 0 CEMITERIO DALDfiA. (Traduzido de Gray) Sinio um sino a troar, Ingubre e Irisle, Ao dia que fenece o adeu9 saudoso. Por trillios tortuusos , passo lento, O gado s'encaiiiinha ao gralo aprisco j E o lavrador , da iida afadigado, A placida choiipana a custo chega : O mundo deixa entregue ao luclo e as trcvas, E da niiDh'alma as reOexSes sombrias. Todo dos prados se apagou o brilho ! Mudo silencio em turno a mim vaguea ; So d'alados insectos o zunido Ousa de quando em quando interrompel-o; O seu murmurio, Ingubre , dormenle, Ao loDge la se escuta oa campioa. Donde vindes , suapiros tarn sentidos ! Ah! sols i\o raocho , que na torre velba , Que ns heras cingem , triste aos ceos sa qtieixa. A nntiga solidilo vim pcrturbar-lhe: Os Btius Ihe profanei sombrios busques. Musgo , que em po desfez a mao do tempo , ])ol)aixu doslas arvores copailas Eleva-se em inontoos ; aqui debaixo Destes olmos , a sombra dos ciprestes, Dus simples habitanles desta nIdOa ().s rusiicos aios em paz descaii^am Nesla lam J ostreila , pcrennal morada. Oas avcs o gnr;,'eio , a voz do gallo , Nem da campeHlre flaula os sons maviosos Desle fuuereo Jt;ito erguel-os podem ; Ncm mais hao-dc guzar , nunca dispertos , Prrfumts m.itinaes , que sobre as azas Os zefiros em vao Ihes conduzirem. Co foucinho na mao viam-se outr'hora Aa messes derrubar , jirostar por terra ; Cedia indocil campo aos seuB trabalhos ; Soberbos bois apoz dc si guiavara ; Audaciosos carvalhos quantas vczea Gemer se ouviram nas cerradas tnatas , Do seu raachado aos repetidos golpes ! Para elles nilo e, que a chamma ardente Se accende no fogao , — ou que jirepara O ruslico janlar a esposa anciosa ; Para elles nao ^ , que a tenra infancia Ergue innocentes maos , offcrece um beijo , Um beijo que Ih'inveja a mae em zelos. Por que desprezas tu , homem vaidoso , Os seus uleis trabalhos , o singelo De seus prazeres, seu desliuo obscuro ? Por que um surriso sollas de soberba Desdenhoso esculando a bistoria simples, E succinta do pobre iiao manchado ? As pompas do poder , do sangiie o orgulho , As rifjuczas , 0 fauslo , a formosura , Da hora inevjtavel nao se eximem ; Todo 0 brilho da gluria as campas corre. Dos templos as abobadas sagradas Cos elogios seus nao retiniram ; Nem vaidosos trofeos sobre os sepulchros Faliaz Ihe alevantou mao de vindouros: Seiis fados nau choreis , grandes do mundo. Soberbo mauzoleo acaso pode Ao morto revocar o extinclo sopro? P(Sde acaso aquecer do incenso o fumo O po ja frio ? da lisunja as \'oze3 Do finado entranhar-se dos ouvidos ? Talvez sob esia terra desprezada Se occulte um cora(;ao outr''hora accezo N'uma chamma celeste, agora extincta, E maos dignas talvez d'um aureo sceplro , E talvez de pulsar a maga lyra. Somente Ihe Taltou, que a sciencia amiga , Dos despojos do tempo enriquecida , Abrisse aos olhos seus o livro immense. Em sua alma abafou nobres transportes Indigencia oppressora ; em sua origem O fogo Ihe gelou do genio ardente, Q'n ideas creadoras sopra n'alma. Assim s'escundem mil preciosas pedras Das montanbas nos concaves sombrios ; Balsamicos perfumes no deaerto Assim eihalam recatadas flores. Talvez, talvez repouse aqui um Hampden j Que aos injustos exfor^os dos tyrannos Intrepido opporia alta virlude ; Talvez um Milton, que morreu inglorio Sem nos cantos sollar torreute* d'eetro; 71 Um Cromwel , cujas niaos se nSo manchirnni Com 0 saugue da patria miseranda. Subido engenlio , in6pira(;i5L's sublimes , Nao Ihe ganharara tbrono d'alta gloria ; Sua Borte os. privou , mesquinha , obscura, Dos trofeos da virtude e do renome. Do doni celeste de fazer dilosaa , De ver risonho o pobre agradecido. Se Ihes tolhcu porem graiides virludes , Tambeoi os desviou ile grandes crimes ■ Sobre degraos ao Ihrono nao subiram Tinctos de seus iriiwos no rubro sangue • Nem sobre a ra(;a huraana , impios, duros As porlas encerraram da clemencia. , Nunca da feia culpa atormentados As faces Ih'assomou rubor do crime, E nunca da coiisciencia assustadora Os repeloes soffreram lenierosos ; Do vicio sobre o allar queimando incensos Co'a torpe musa os ceos nSo profanaram. Mas eis sobre esla campa um monumento , Que do tempo aos ullrajes qiier roubal-a Sobre a pedra alguns versos mai tra9ados Suppiicam do viandante algunias lagrimas. E ha cora^ao que deixe sem saudades Vida que o fez polar denlro do peitor Quem do olvido jamais , quem do silencio , Quiz volunlario ser a preza triste? Quem da vida o calor , da luz o imperio , Sem custo abandonou , e foge , e morre Sem que um magoado olliar ao mundo volva. Nossa alma , quando vela , apraz-lhe , exnita Com saudades , com ais , com pranto triste ; Do moribundo a vista , e.vtincta quasi , Lagrimas ternas supplicar parece • Li do fundo da campa a natureza Um grilo solta ; — d'entre as cinzas nossas Inilamniada faisca tambem sur-^e. - De mim tarabem , que um cullo presto ai'ora A estas frias cinzas desprezadas , E que nos versos mens as torno a vida , Da solidilo se acuso aigiuu amigo Se um vate pensador tambem um'dia Seus passos dirigir por estes campos , Meus destinos talvez saber procure. E talvez que um pastor , eucanecido Pelos annos , se apresse a responder-Ihe : « Muitas vezes o vi , raiando a aurora ; •■ Com sen passo ligeiro o fresco orvalh'o " Do calice das (lores sacudia : " Nesles Iloridos campos vinha sempre " O quadro conlerapjar do sol surgindo. '• Olha , nuo ves , no fundo \i do valle " Um anligo carvalho , cujos ramos " Curvados forniam niagestosa sombra > - Do ribeiro o muraiurio ali'scutava , '• D'ali , c'os olhos , Ihe seguia o curso. « Unias vezes orrava pelos bosques , ■• E aos labios Ihe acudia um riso amargo ■ « Eutre-cortadas fallas se Ihe ouviam , « Talvez iraagens d'um delirio d'alraa ; « As vezes parccia aniquilado , « Corao se o reprovasse a natureza « Ou desesp'rado amor o consumisse. « Porem nos ceos surgiu um dia a aurora « bem que elle apparecesse, e o sol debalde " S eievou no horizonte , elle niio vein " O ribeiro escutar , senlar-se ;is sombras. « Logo OS lugubres cantos, logo o enlerro « bua morte por flm annunciaram. •< Ca veiu a terra dos finados .' « Olha OS versos gravados sobre a campa , " A moita que os eocobre eu fa desvio. — EPITAFIO — Em teu seioo recebc, 6 terra ainiga. Este nao mendigou com vil cubi^a Da forluna o favor, da fama incensos; Terna melancholia foi sen fado ; A sciencia Ihe abriu os seus thesouros, Sen nasciraento hurailde esclarecendo ; O ceo o cumulou de seus favores , Dando-Ihe um'alma terna e benifazeja; Sobre as desditas lagrimas piedosas, Seu unico ihesouro , derraraava ; Um amigo buscou , teve um amigo. Deste asylo profundo , nem o lirilho Do bem que praclicou ao mundo oslentes , Nem manifesles impio os seus defeitos. Seus defeitos aqui , suas virtudes. No seio do seu pie , do Deus clemente , Entre o lemor e a esp'ranja em paz descanyam ; F. UNIVEaSlDADE DE COIMBRA Relagoes litterarias com Hespanha, e Franga. A universidade central de Madrid acaba de etiviar a de Coimbra a collec5ao das tnais notaveii obras dos professores delodas as universidades de Hespanha , e que estao adoptadas para o ensino das diversas facul- dades, e cursos scientificos, em lestemunho de reconhecirnento pela oflerla, que a uni- versidade de Coimbra Ihe fizera , em agosto do anno fjndo, dos compendios ordenados pelos respectivos lentes para use das suas cadeiras. . Acoaipanliava aquelle valioso presente uma carta do inarquez de Morante, reitor da universidade central, para o vice-reitor da nossa universidade , com termos tao lisongeiros para esla corporajao , que nao podemos deixar de transcrever textualraente alguns trechos d'aquella honrosissima carta: ' El gobierno de s. m. a quien di cuenta del magnifico regalo de libros , que v. eve* tiivo a bien remitir ;'i nombre de esa universidaj a esla central, y de la halgiieiia comunicacion que v. exc." me dirigio en S3 ue agosto de 18S3 de orden de s. m. f. , manifestan- do que el regalo de los cilados libros era solo uma prueba del vivo deseo que anima a esa nacion de mante- ner con Espagiia las mas estrcchas relaciones literarias, en real orden de 2^ enero del corrieule ano , me autorisd para I'adquisicion de las obras que esta universidad pro- puso al gobierno se regalaran a esa, en justa cor- respondencia a su fino obsequio El regalo de esta universidad no admite com- paracion con el que le hizo esa ; tiene sin embargo a su favor la recomendacion de haber yo |)rocurado con el mayor esmero pedir a los catedraticos de todas las uni- versidades de Espaiia razon de las obras de enseiianza de que son autores y haber por consiguiente logrado adquirir las mas notables en su clase de la epoca ao- tual A coliecfao dos livrosofferecidos pelo uni- versidade de Madrid coniprehende sessenta e n cinco obras de cinquenta diversos autores , sobre historia, litteratura, geographia, plii- losopliia , jurisprudencia, medicina , e scien- cias physico-matbematicas. Estas obras estarao paleiites na bibliolheca da universidade, e por esle modo comegarao a ser versados enlre nos os escriptos, ate agora ijuasi desconhecidos, dos mais eminentes pro- lessores de Hespanlia. E o iiiesmo acontecerii nas universidades do reino visiriho com os compendios e obras dos nossos professores o que dc certo hade conciirrer poderosamante para o adiaiitaiuento do ensino publico em todas as universidades da peninsula. O governo de Fran(;a tainbern pela s\ia parte manifestou o desejo de conliecer e reunir todos os programmas de iuslrucgao publica , adoptados nos nossos estabelecinien- tos scientificos ; e por este motivo o consellio superior de instrucjao publica ordenou que as faculdades da universidade coordenassem OS respectivos prograaimas para salisl'azer ao pedido do minislro de Franca era Lisboa. O empcniio que as nagoes mais cultas tnostram de conliecer a organisajao dos nos- sos esludos; os systeinas de ensino adoptados nas diversas escliolas , e os compendios dos nossos professores, e urn testemunlio bem honroso do conceito que ainda Uie merece- mos , e um nobre incentivo para os que se dedicam a elevada missfio do ensino publico neste paiz. A. CRITIC A LITTERARIA. UANDAl PABA LOS UAESTROS dc Eicuclas de Parvulos , por el ill.™° siir. D. Pablo Montesino , Madrid 1850. A institiiigao de escliolas de criangas , a que oulros dilo o nome de escliolas de mater- iiidade, ou casas de asylo, e uui testemunlio vivo e iionroso de progresso de civilisasfio em materia de educagao publica, devido ao seculo 19.° A idea geradora nao diremos que fosse casual e repentina; que dede o bergo da sociedade e de crer que mais obrigadas a deixar suas moradas para cuidarcm das necessidades da vida, confiassem seus lenros filhos a alguroa visinlia que velando-os prevenissc osriscos, a que os innocentes estao sujeilos na primeira epocha da existencia. Tambem e facil de accreditar que , dcsen. volvida,e aperfeigoada aquella idea simples, mas por extreino fecunda, fosse a criadora de casas de asylo da primeira infancia, dirigi- das por mullieres lionestas e carinhosas, movidas de alguraa gratificayao a guardar , e educar crian^as entreguesaos seus desvelos. A caridade elevou a mesma idea criando associa^oes directoras da()uelles estabeleci- mentos sustentados pela bcnificencia parti- cular. Mas nuo e lao simples e obvia a evolu- 5.'io daquelle pensamento, como pode parecer. So a intelllgencia ameslrada pelos resultados nao for muilo attenta e escrujiMlosa no co- nhecimento dos fini, eobservancia dos meios, as casas de asylo podem desnaturar-se. Ainda rcapeitadiH todos os termos da disciplina , da uioralidade , e da virtude clirist.'i , pode a direc^ao viciosa transformar os asylos de ediicajao, I'ln asylos de indigenles; ou em simples escliolas de instrucg.'io primaria. E nHo e essa a natureza da institui^'fio. A neceisidade da direc^ao regular , uni- foruie e adaplada , tern feito criar em todos OS povos civilisadoi um centro director para Ihe irnprimir o niovimento. Foi vogal desta junta em Hespaiilia D. Pablo Montesino, e por ella encarrcgado de redigir odirectorio para regular a administrajao dos asylos. N.'io podia ser mais acertada a escolha. D. Pablo, tendo que expatriar-se em 1822 pelos acontecimeiitos de Cadix , em que t'lgurou como deputado da na^fio, peregrinoii ostudando os paizes mais cultoi da Europa. Procurou especialmente inforuiar-se do esta- do da in^truc^ao em cada um delles. Levava impresso o amor da palria , a saudade de fillios seus, e de amigos, e alentava esperan- gas de a]5plicar um dia aos seus, progressos e mcllioraiiientos, que via nos estranlios. D. Pablo foi um dos liomens raros, que nao param no desejo de propagar a instrucgao. Assim ii.'io parasse a vida delle, tfio preciosa para o genero luimano, em dezembro de 1850! Em tres partes dividiu o A- oescripto, de que nos occupamos. Trata na I.' da razao e origem das novas escliolas ; do seu caracter e objecto; dos meios de escolher os mestres; adminislragao e inspecg.'io dellas. Na 2." descreve o local, e aprestes noces- sarios ; materiaes de ensino ; nietliodo de ensinar; e classil'icagfio dos aluninos. Na 3." expoe OS principios geraes de educagao pliisica , intellectual e moral das criangas. Escripto com gosto e mestria aquelle livrinlio e nao so iiecessario nos estabeleci- mentos para que fora feito; se n.'io tambem aos chefes de lamilia, pela copia de bons preceilos liygienicos , e regras de educagao , que nelle encontram dispostos em boa ordeiii reclieados de exemplos estimaveis, e maximas da moral mais s.'i ; c matizados de cangoes alegres para exercicio da voz , inoculajao das ideas por meio da liarmonia, e adoga- mento das fibras do corajao. M. ® 3mtitnt0, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. MBMORIAS HISTOnicAS DA UMVEKSIDADE OE COIMUUA. Segunia tratladaf&o da Unieersidadc de Coimbra para Liiboa. Continuado de pag. 56. 1323 — 1433. Oi graves successos que se passaram no reino por morte de D. Fernando , nfio podi- am dei.xar de reflcctir-se sobre o novo esludo geral de Lisboa. As dissensoes cntre os partidarioj da regenle e o mestre de A viz, iiaviam e.\citado os aniriios , e acordado ol brios nacionaes , como que presagiando id oi perigos de uina invasfm estrangoira emi- nenle. Lisboa sobre ludo abragara fer- vorosamente o partido do mestre de Aviz, que entfio symbolisava a causa da indepen- dencia portugueza. H e bem de crer, que o corpo escholar nao fora lestemiinlia rnuda no meio destas variadas scenas, que se represen- tavam na capital, e que dalii eclioavau. por todo o reino iMul podiam por cerlo aqiioilcs aiilmos demancebos, no verdor dosannos, caiarcom- sigo 05 generosoi senlluienloi rjo amor da patna e da liberdade, para a sos se entre.M- rem aos estudos entre o e,tropilo das armas e o ruido d" aqnellas lides populares. As^im e rnui natural que essa mocidade ardente c entliusiastica , que de todo o reino acudia ao estudo de Lisboa, se associasse a^ora ao partido do meslre de Aviz , a quern ; (aivez , nestas dilVieeis circums:ar,Jas pre^tdra as- signalados servi(,-os. No meio do completn tilnncio dc todos os ■iionuroentos contempnraneos, um facto parrc- vir em apoio destas nossas conjeciuras. Os largos privilcgios eisenvoe,, que noseu lon-o remado o „,estre do Aviz concedera aos escholaroi, e de que adiante farcmos meu- ^■.'lo, sao talvez um testemunlio bem sicrni- ticat.vo doapre^o, que merecera o proceder dos escliolares durante a lucla , quesctravdra entre oprmcipe Poriug.iez eo rei de Castella. A e,tas ronsiderasoes accre?ciam , talvez, outras de no menor ; eso no auimo do ^'"- "• JCLHO 1." mestre deAviz, pela obriga^.^o em que eslava para com os moradores de Lisboa, a quern por isso desejaria mostrar-se agradecido. As- slm vemol-o nfio soconfrrmar, como defensor do roino , lodos os privilegios e eslalutos da universidade ; mas ordenar que ella perma- necesse perpetuamente n' aquella cidade. ' Os lentes e escholares foram dispensados de terem annas e cavallos ^ , e alliviados das peilas, fmtas , lalhas e pedidos ' para as urgencies doestado, privilegio esle que fora lambom concedido ao bedel e conservador do estudo ■*. A pezar, porem,de todas estas providencias a favor dos escholares, sempre as justi^as da cidade punliam difficuldade em Ibes guardar os privilegios , e recusavam cumprir OS mandados do conservador, e dos almota- ces ; o que obrigara a universidade a queixar- se por vezes a D. Jo.'io I., por seus procura- dores, entre os quaes figura um fr. Joao Veegas , o primeiro lente de theologia na universidade, de que acliamos memoria , contra aquelles abusos e violencias exercidas nas pesioas dos escholares , ou dos seus fami- liarcs. ' « . . . . Fazemos saber que por honra e exal^amento da rnui nohrc cidartc de Litltoa , e universidade e esludo d^vlln C'.nfirmainos e approvanius us nianda-Ios snhredtto-i ( |)ri\ ilefjros ., constitiji(;ofS , ordenarues etc ) e oiilor°;amu.s ser prriipliiiulo , e que slee perpeti me«(re de Aviz de 3 de oulubro 1384 — Liv. verde ila L'niv.) = C. da nipsnia data conflrniando aos duuturcs, liceiirjadus e barhareis em o Juizd privalivo iU conSLTvatoria em todos os foilos crimes on civeis dos (.'sclidlaips , inaiidaiido-sL- eiUre;^ar lop) ao con^ervador os escliolarrs , que se acliasscin prczos ii nrdem do corregedoj- de Lisljoa ' . Da parte dos conservadores , parecp, (|iie tainbem liavia algiins al)ii>ns, prnicipaliiieiite por causa das pousadas dos eM-liolare^ , que se queixavaiii, que o eoll^ervado^ lira> n'lo dava , qiiaiido nisso liavia eriiKara^'n [)or parte dos donos das ca^as , sem coi rer procc^so , no que sot'friam s:rande prejuizo; doude resul- lou ordeiiar clrei , que os estudautes fosseui aposentados deiUro em Iresdias, depois da sua chej,'ada a cidade ^. Os conservadores faziam audiencia no aiiro dase, do niesmo modo que ( ni Coimbra, antes de trasladado o estiido para Lisboa ; e as escliolas eslavani a Porta da Cruz : os esclio- lares queixavam-se que Hies Cicava muito lon- Jie do seu bairro, e que jx^rdiaiii por isso as ligoes, quando hi iaiii: o conservador teve ordera para fazer audiencia inais perlo do estudo, e dofeito as audiencias faziain-se de- pois no adro da egreja de S. Thome ^. Tiniia a universidade pelos estalutos de D. Dinis o privilegio do erear os seus offrcios, e prover a nomeajfio delles , e nesta posse esta- va, quando D. Jofio I proven no officio de provedor e recebedor das rendas da universi- dade Lourenjo Marlins com os mesiuos pri- vilegios, que os escliolares tinliam '. Ate alii pouoa ou nenl)uma imporlancia tivera este officio, que nao gozava dos pri- ' ■• . . . . O conscrvailor e jiiis e ha Je ciirelieccr ile lodolloi feilos civees e crimes ilosscolares . . . . Mandamos a vds e a todallaj ciulras nossis jiisligas quaes qiier que sejaiii il,)s nossos reciios , qiietl'aqni em iliiinle ikki conhe(;ailes de feilo iienhuiii crime, nem ciiel de iienlium ■chular que seja do cor|io da imiversidaile .... pIc. i (C. R. a Afonso Fiiseirn, correseilor de Lisboa , 4 de niaio 1408 — Lio. verite ) " .... Oiilni si miind.iinos a lodas nus^as jiisliras nssi i-orrc-ie.I,irei , coino meiriiilios , e oiilros c(iiiiesqiier dc qualqiier condii;.'io , que s.'j.i , que nori cuiihe(;.iin de cila- i;3es , nem demandas, nein eml).ir;;os , que llies |ieranle <-IIh< fcreui feilas, e se ho aljnem quizer ileoiandar , on emUarirar, oucilar, viis nianilai-o peraiile o conservador do dilo sliido ; e ..ie o contrario fizerdes , niandamos a quiilqoer tahaliam, que voseinprase, quo ao Icrcc-irodia pareijades peranle u Jilo conservador a deser porque nao faieilei nosso mandado (C. R. de 26 de Janeiro 1413 — /rf.) ■' ■' C. R. do 2,1 de aliril 1398. C. cit. na nola aniecedenle. = Escripl. celebrada enire o procurador da universidade Joao Rodrijuej , e o conservador Vicente Dominguei em 29 de akril de 1403 — Lit', verde, Pusleriorinenle as audiencias eoulros actos ac.ademicos ainda se faiiam al|,'uraos vezes na crasla da se , e no collegio do estudo, nas escholas dasleis ,ou das decretaes. * C. R. de SG de Janeiro 1415 — iid, cerde. vilegios academioo:., e era corao estraidio ao estudo. A noinea^an, porem , ladoii pain Lisljoa, em lunas as eliainadas da tnon/.i vcllin , no ^itio da Pedreira, coaio jd disseirios : mas on pur fpie com o tempo viessem a quelles faetos , dc que falici , um dos que iiKiuesliouavclinenle avultani mais, e o rcstabelecimento do cliristiaiiismo , proicripto pi'la revolucjao A uma acvao violenla succede semprc nnia reac(;ao excessiva; mas o principio de liar- monia , que preside li ordem pbisica e moral do universo, a obriga a retroceder , ate en- cnnlrar os liiriiles, deque razoavelmente nfio devera lor passado. E porisso que a utna re- voliKj-no succede quasi sempre nma reac^ao tanto maior, quauto fora o espa^o que a re- volucilo se adianUira, alem dos limiles ()ue llie as^il;nava o restabelecimento da marcha do progresso interrompida. Isao poucas vezes a reac(jiu> e ainda excessiva, e provoca uina revoju^ao nova, que talvez ainda exagerada, determina outra reac^ao. H assim de revolu- ^ao em reac^ao , de reac^ao em revolugao, as exagcra^oes vao diminuindo, ate' que o facto se ache reduzido as suas proporgoes legitimas Desde esse mnmenlo , o facto que na vespera era um princi|)io de lucta, torna- se uma questao docidida. A hunianidade es- quecc-o; e vae para oulro campo trabalhar na laboriosa tarefa do seu destino. A acgao e rcacgao nao e somente uma lei de ordem moral ; e lambcm uma lei de ordem phisica. Porem na ordem moral arevolucao, e a reac^ao que e a segunda phase da rcvo- lu(;ao, sfio modos indispensaveis da exislencia doser moral, chamado humanidadc. Som el- les o fiat da creagao, que deu a existencia ao scr" , perder-se-hia no temiio, sem eehos que o reperculissem : sem dies o progresso nao exisliria, porque o progresso e o ser, assim como o ser e o progresso. Ao fusilar dorelampago da revolujao des- cobrem-sc sempre novos liorisoutes. O ho- mem , impellido pela lei do progresso, que conslilue a sua existcncia, arroja-se ao meio das Ircvas a prociirar o muudo novo, q>ie ao fulgnrar dn relampago entrevira. Umas vczes rola ao alii-.mo, e a reacg'io o recou- duz ao caminho do progresso ; outras atlinge esse Icrreno do futuro, (|ue avi^l:'lra, mas para o qual nao estava amda aolimalado pela civilisa^ao; e e a reacfjao qiiem vcm dizer- Ihe: ainda n.'io e chegado o leu dia ; hoje o teu lugar e alem ! Foi o que succedcu aqui. Quando se havia procurado um principio que desse a sociedade o impulso que Ihe fal- tava, o christianismo fora nao somente posto de parte, como um inslrumento quebrado ; mas atacado como um obstaculo, que era n \ necessario veneer , on nao exist ir. Prociira- va-se um principio Hvcial , refortii.idor , lole- rante, liberal, progressista, de iiina niorall- dade jncoiileslavel ; e, porqueoclero era im- moral, relrogrado oil eslacioiiario, tyranni- zador, inlolcrantc, iiiimigo de relbrmas , e esseiicialinente pgoista, perseguiu-se a egreja ; proscreveu-se o cliristianismo 1 Porem os pliilosoplios nao se lemhraram que a religiao ea philosopliia do povo ; c que asUicorias, que se diboutiam no meio das assemlileas legislytivas, nao podiam en- clier aquelle vacuo di'ixado p(>la proscriprao da fe, logo que, lendo passado o prjmeiro tnomento de enthusiasino , a refiexfio voUasse a occupar o sen logar anligo. Foi porisso que, quando naampullicta do tempo caliia o uUimo grao de area do sccu- lo XVIII, o? ospiritos estavain todos prepa- rados para a reacgfio. Faltava so uma voz atrevida que se elevasse para dar o signal. Esta vozappareceu. Foi a de Cliateaubriand. Este signal soOu. Foi o Genio do Cliristia- nismo. Eu creio que nem mesmo Cliateaiibiiand compreliendeu bcm o papel que reprezentava neste drama giganlesco. u Kracurioso, diz elle , ver um pigmeu enLezar os seus pequenos bragos para suftbuar os progressos do seculo, suspender a civilizajiio , e fazer retrogadar o genero humauo. « JSao; Ciialeaubriaud nao foi o inimigo do progresso, foi um dos seus maiores agentes ; nao fez rctrogradar o gene- ro humano; peio conLrario; foi o homem da providencia que appareceu no seu dia ; foi um instrumoiilo da civilisagao, que execuloii o seu mister, e qucbrou-se. Retrogradas foram somente as tentativas anti-chrislas dos pliilosophos do seculo XVIII. A uma religiao, forte com as con- quistas do passado, feitas na vanguarda da civilisa^ao, e sejladas com o sangue dos seus niartyres ; llgada ao futuro por uma inslitui^ao moralisadora , organisada e forte , cliamada a egrcja ; que substiluiam as escholas de Reid , de Kant, e de l{ous=eau ! A religiao natural, isto e, o cliristianismo nos seus primitivos rudimentos. Nao era isto retrogradar seculos? II O seculo XVIII, diz um pliiiosoplio inoderno , nao se coiilieceii a si mesmo: sendo fillio do cliristianismo, amaldi(;ooii-o. « Porventura appareceram de repente sobre a terra as ideas sublimes de Dcus, e da saa providencia , os principios de liumanidade e de ju3li(,'a universal , que este seculo refor- mador applicoii a organisajao da sociedade modcrna? P6de liaver qiiem o creia , como ha quem acredile que o lerceiro estado surgiii da terra em 1789, arrancado do nada pela evocajao revolucionaria. Mas para aquelle, que por um poiico tiver observado como os principios sociaes actuam no desenvolvimento da liumanida- de ; que estiver babiluado a vel-oi traosmit- tirem-se de gera(;ao em gera^ao , como ui:i fidoicommisso perpetuo, o terceiro estado, que a voz de Sieyes appareceu a tomar uma parte activa nos destinos da Europa moderna , era uma crea^fio d" seculos , operada succes- sivameiitc por um trabalho, obscuro sim, mas constante, da civilisajfio ; era a lieran<;a pnlitica dos antigos povos do meio-dia da Eiiropa, Iransmitlida aos modernos , atiavez dos escravos dos liomanos, dos servos dos Godos e dos Frankos, dos vassalos dos- senhores feudaes, e dos subditos dos reios de direito divino. Da mesma forma, os principios soeiaes do seculo XVIII eram uma Leran^a moral e religiosa do Christo , Iransmitlida de seculo, em seculo, de povo, em povo, de gera^ao, em geragao ; e ao mesmo tempo da pliilosnphia do seculo XVII, opulenta com OS legados de uma longa cadea de phi- losophos , da qua! o primciro annel estava craviido no liimulo de Plalao, e o ultimo e'lo vinlia soldar-se nas louzas de Leibnitz, e Descartes. Foi assim que o seculo XVIII, quando cuidava ter siibstitiiido ao evangelho do cliristianismo o evangellio da religiao natural que havia escripto , nao tinlia feito mais que escrever a philosopliia da religiao clirista. Um escriptor dos nossos dias diz , que o cliiistianismo tem tido muitas er£(s; a era moral ou evangelica, a era dos ma'rtyres, a era metapliysica ou tlieologica, a era politica, e fmalineiite a era ou edade pliilosophica. E jiistauiente esta, de todas a mais sublime, a que Ihe abriu o odio impotenle dos plii- losophos da religiiio natural. Tomaram a palma por e^piiilios ; e a coroa de martyrio converteu-se em coroa de gloria. E , ainda mesmo quando se procurasse uma religi'io nova para siibstiluir o chris- lianismo, esquecer-se-liia que elle nao e uma religiao conio as outras. Nenhuma de- terminoii complelamenle como elle as con- die(,'nes essenciars da vida moral da liumani- dade , resolvendo assim por uma vez o gran- de problema , que todas as leligiSes positivas em vao tinliam tenlado resoiver. N.'io qiiero dizer com isto que o cliristia- nismo fecbou as barreiras da intelligeneia , e disse a razao do homem : nao passaras d'aqiii! O cliristianismo ohedeceu ao sen pnnripio, coinmuin a todas as religioes : recollier , conservar , e ensinar vcrdades es- senciacs a vida moral da humanidade. Porem a acc.NO do espirito do homem , que e es- sencial nente progressisla nr'io para aqui: tende ronstanlemente a explicar as verdades descubertas, e a descubrir sem cessar verda- des novas. Por isso o christianismo adtjuire um novo brilho a cada progresso da sciencia, e; fechando a carreira das religioes, nao fecha a do espirito humano, que e vasto como o infinito, sera termo como o tempo, e sem limites como o espa^o. 78 Assim areligiao c aphilosophia teem cada uma sen logar distincto; mas desgrajada- mente teem sido collocndas n' um desaslroso antagoJiismo, origem de liiclas, que por mais de iima vez Icem iiupedido a maicha do progresso. Os philoioplios do scculo pus iado, qiierendo dar a ptnlosoi)liia iim lo'jar importante na vida moral da Inuiianidade , (liio o encoiUraram soii,"io iios dnminios qui' a rcligiao occupava. A pliiloso[)liia pros- crevpu o clirislianismo p:>ra Hie licrdar o patriinonio; a tunica do Cliristo lui do novo jogada aos dados entre as diveisas seitas philosophicas, que aspiravam a direcffio auprcma da hnmanidade. A revolui;;io transbordava. Dosde esse momento, a reacgfio era nnia necc-sidade , que a omnipotencia do creador nao podi'ria desviar. Cliateaubriand diz : „ se o elTeito do Gcnio do Ckristianismo nao livesse sido mais que uma reac^-fio contra as doutrinas , in. ipiaos se atlribuiam as desgra(;as revolu- cionarias, esle effeilo leria cessado apenas a causa desapparecesse; nao se teria prolon- .yado ale o mo(nento em que en escrevo. n Chateaubriand nao fazia nm verdadeiro jiiizo da reac^ao. A reacjao nao e um impulso do momento, urn auto de uma causa externa sobre a revolu^ao ; e um periodo da mesma revoliijao. O impulso religjoso da epoclia , traduzido no Gcnio do Christianismo , foi moderado em si , e muito mais se o com- pararmos com a revolugao, a qual succedia iNisto se encontra o inotivo porque uma revo- lufao nova nfio vein rectificar esta reac^ao. O movimento religiose do principio do seculo XIX nao foi tambem , corno diz , Chateaubriand , urn effeito do Gcniodo Chris- tianismo. Foi nm facto de nma epoclia; foi uma necessidade da civilisa^^ao , que Chateaubriand compreliendeu , c o Genio do Christianismo traduziu. Mellior o aprecia elle, quando, n'outro logar, fallando a respeilo da mesma obra , diz : d vein a pro- posito , e no sen momento. » Desta lucta contra os philosoplios, o christianismo saliiu revestido de toda a IJoesia primitiva, que parecia haver perdido nos lodagaes immundos a que sacerdotes corruptos o haviam arraslado; aniinado de todas as tendeneias sociaes, que pareciain desfeitas no roc^ar de alguns seculos contra o egoismo da classe clerical. Hoje, em todas as na(;nes da Europa , uma pleiade de illustres poetas vai iu^pirar- 5P nas cren(j'as da rellgifio do Crucificado ; mais de uma escliola de pliilosophos esrreve na sua bandeira o verbo do Cliristo , infellz- mente algumas vezes mal compreliendido nos seus variadissitnos pianos de reorganisa- jao social. E por isso que o navegante, qne,ao pas- sar deante da enseada de Saint-Malo , avistar sobre um rochedo do ilhote do Grand-Be uma grosseira cruz de pedra , dourada pelos raioi do sol do poenle, ajunclara seus louvores ao canlleo das ondas e ao liymno da brisa datard';, para commemorar o nomr do liomoin , que a providencia mandou no sen dia entoar um caiitico de uma religiao d amor, em rpspojta ao liymno doextermiiiio que oiitros tinliam cntoado , a luz dosarcho- li's rellcctida no cutelo da snlllioliria. Cuntinua. j. j. d'OLlVHlK.4. Pl.NTO. BREVES REILEXOES HISTOIIICAS SOItllE A .NAVEGACAO IH) HONnEGO, E CILTDPA DOS CAMPOS DE COlMltRA. Conliuuiido de pa|;, 10. Por falta de docuiiientos nao sabeiiios sc desde 1-164 ate 1191 liouve mais alguma providcii-ia para atalliar os prcjiiizos causa- do5 pelo Mondego. fvao e porem de crer que, indo o mal cm crescimeiilo , e nao seiido a proliibig.'io das qiieimadas remedio proficiio, ainda mesmo adrnitlida a sua execugao, decorresse o espa^o de 27 annos , sem se fazerem algumas obras, pelo menos paiciaes, neste rio , on sem que o governo expedisse ordens para ellas. Uma provisno do tnr. rei. D. Manoel , do anno de 1191, e outras medidas tomadas daqui em dianle alel5()9, nos deixam entre- ver o cstado deploravel a que as inunda- 5oes do Mondego tialiam reduzido Coimbra , sens arrabaldes e campo durante este tracto de tempo; e manifestam ao mesmo tempo a solicitude com que o povo procurava chegar ao termo de tanta calamidade. Naqiielle anno pois de 1191 , creou o snr. D. Manoel o logar de couteiro dos fogos e ma(;ada3 do rio Mondego, nomeando para elle Pero Biandao da cidade de Coimbra ; deu-lhe o regimento doscainpos deSaiiiarem para o observar , e impor as mesmas penas aos que lanfasscin niagadas para pescar lampreas, e pozessem fogos '. No extiacto do alvara do Snr. D. Af- foiiso V. que jarelatamos, vimos que alguns annos antes de 146 1, se tinlia conslruido uma esldcada entul/tada que de nada aproveitoii. lista declara(;ao nos iuduz a acredilar que a governan^a de Coimbra pretendeii segurar o rio por ineio de maraclioes, depots que lanrou nifio, e que se tem por ventura coii- scrvado ate hoje sem reconhecida utilidade. Rcservamos para outro logar tratar desta especie. A mesma causa que obrigou a recorrer aos marachoes, n.'io podia deixar de sugerir a idea de um caes, que acoinpanliando a cidade cm todo o sen comprimento pelo lado do rio, a defendesse das invasoos do Alon- dego. Com effeito a necessidade d'uma cons- trucjao desta iiatureza coinejou a lembrar entre OS meUioramentos materiacs de Coimbra < Elucidario , art. coiileiro do: fogoa. 79 desde 1636. Aos 7 de n)ar5o deste anno niandoii o governo que a Camara Ibe remet- tcsse iiin auto da avalia^fio (com audiencia dos iiiterei-sados) doscliiios, que se prolendia trocar para torreiros do cae?. ^ R lo^o dalii a dois annos (27 d'agosto de 1538) mandon elrei fazer o or^amento d' uma parede ao longo da cidade ate defronte de Santa jNIar- garidn ', com declara(;ao das l)ra(;;is decom- priniento e altura que devia ter. ' De Idas em dianle ate 1667, [Xirece nao ter liavido obras imporlantes no Mondego ; encontramos, e verdade , roemorias de alguns reparos , feilos priiicipalnienle por meio de maraclioes, que nfio inerecem o traballio da narragfio. Nao deixaremos porein de lenibrar urn alvara de 22 de fevereiro de 1540 , que insta pelo rigoroso cumprimenlo d' outro mais antigo, sobre aprohibi^ao das magadas no Mondego para pescar lainpreas; e a razuo era, diz a lelra delle, porcpie — ii entul/iaiH e fj%em alombar o rio , e quando Im c/ieias elle sdi da inadre , e causa grande damno aos mosleiros e campo. ' Tanibeni nfio deixaremos cm silencio a tentaliva deutii doutor Eytor Vaz, da cidade de Coimbra, para alliviar das areias o leito do rio fazendo-as mover para louge com a corrente da agua. Referimos o facto mais pela novidade da invengfio, do que pela sua iitilidade, porque julgamos nao passoii d'um brinco puerii ; e consta d' uma provisao de 28 de maio de 1560. * O dito doutor foi a Lisboa por ciiama- menlo de sua magestade eulii llie expoz que tinha inventado ctria obra e artijicio , que ap- plicando-se ao rio Mondego faria mover, as areias, e daria corrente a agua, com o que se remediaria mufto o dainno que o rio fazia a cidade e campos ale' Santo-Varao. lista e]ipo?icfio agradou , e a consequencia foi ser expedida a provi^fio para que a obra se fizes- se na conforrnidade d'uns apontamentos que o mesmo doutor entregou a sua magcitade e que por copia foram remettidos a camara de Coimbra. Diz mais a provisfio que o inventor seria o pjovedor da obra, e que sua magestade folgaria de saber o lesullado. Em 1667, ja a experiencia de muitos annos liulia provado , que o syslema de maraclioes nao correspond ia ao fini desejado ; que OS reparos feitos no verao erao destro^a- dos no inverno pela violencia da corrente; e que as obras parciaes dirigidas pelas auctori- dades de Coimbra erao illusorias. A necessi- dade urgia, e obrigava a procurar urn piano de obras mais vasto , um recurso mais solido , ' Torao 3." tlag cartas e p^i^i^egios d' elrei fl — 142 , no arch, da camara de Coimbra. ^ Neste tempo linlia Santa Marjarida a «ua capella , a quem da ponte d' agna de Maias em frente da ladeira da forca , na planrcie para o tado do rio. ■= Torao dito 11 — 88. * Ibid fl — 20. ' Ibid. — n — 129. onde ao inenos se fundassem as esperanjas de tanta genie prejudicada. E qiial seria estc recurso! uma niedida gerai, uni novo enca- naraenlo tra^ado e dirigido por ura enge- nheiro. Eis o alvo , em que nesta epocha se fitavain as vistas do governo, da camara e aucloridades de Coimbra; e para este effeilo se tomaram as providencias seguintes. Um alvara de 2 de Janeiro de 1567, determinou que o reitor da universidade, cabido , priores e reilores dus ordens reli- giosas de Coimbra conferissem com o bispo sobre OS meios de remediar as doen^as, e a perda do campo, para se darem as provi- dencias neceisarias. ' Nao sabemos qua! fosse o resuitado desta conferencia , mas pode inferir-se ()elos actos subsequentes ; porque aos 26 de outubro desse mesmo anno pardcipou elrei a camara de Coiml)ra que mandava Antonio jMendex JMeslre dc sucts obras, para fazer o encana- mento do Mondego e um qano na rua da sopliia. ^ Este mestre das obras d'elrei , veiu , e ver- dade a Coimbra, e praclicou com os cama- ristas a cerca do novo encanamento , porem nao poderam desde logo principiar as obras por falta de dinlieiro, e de meios para o ha ver. A camara representou a elrei o emba- rayo era que se via, e foi-llie respondido por sua magestade que se estavani a passar as provisoes para as fintas, e que para prin- cipio da obra mandava emprestar quinlientos cruzados do cofre dos orfaos ■'. Se ncbte anno (1667) se nao abrin uni novo encanamento ao mcnas procurou-se me- lliorar o que entao liavia ; por que em re- suitado das lembradas providencias que aca- bamos de apontar , comegou a manifestar-se mais activjdadc, e e.vtensfio de traballios; e appareceraai obras em maior escala do que nos annos anleriores. A obra de oilo maraclines que o gover- no tinha maiidado fazer no Mondego, amoti- nou o povo de Coimbra contra as auctori- dad(!s , que foram escandalosa e gravemente insultadas, mm nao sabemos mais as parti- cularidades fundumentaes. A camara preten- deu socegar os revoltosos (em 1568); e com este iiituito mandou um deputado a Almei- rim com officios relalando os acontecimentos a elrei, e pedindo que maudasse sobreestar na obra dos maraclioes. Teve em resposta que seni embargo das pondoracjoes expostas nos of- I'lcioi , e das razoes dadas pelo deputado, continuasse a obra dos maraclioes por ser pro- veitosa a scguranga da ponte , e bein corn- mum dc todos *. Em 17 de outubro de 1568, respondeu elrei a, camara que era da sua approvacao que 1 —Ibid. (1.-36. 2 —Ibid. ft. 22. ' —Ibid. fl. dilus * —Ibid. — a. 23. 80 be constniisseni de pedra e cal na distancia de bosseiita bra^as, e que dalii por dianle se tizesseiii de maraoliao os dois cainiiihos que do crucifixo da ponle ' pailiam, urn para (■iina com direc^ao ao conveiilo de Sanla Anna; e oulro para baixo em dircc^fin a S. Irancisco: que se procisava levarilar oulra planta da olira da pnnte , e dos rnarachoes , poique fazeiido-:ie pela priineira tiarja se ala- garia a cidade e arrabaldes : e que a caniara devia cont'erenciar corn o coriegednr a cerca da allura que se havia de dai- a ponte que de novo se acrescentava -. For estcs tempos tirdia o rio alarj^ado miii- to o seu Unto para o lado de Santa Clara ; e e de suppor que esla altcia(;'io obrigasse a fa- zer al,'um acresceritaiuento na ponle ; ao rne- nos e o que paiece di'ver eiitender-se do do- cumcnto pioximarnenle referido , comhinado i-om a opiniuo da cainara que vinlia a ser — deixar ficar dois ou tres aicos aberlos na ponte veiha para saida das af^uas, que corres- sem para o lado do convento dc Santa Cla- ra; porque nfio sendo assim , receava que o alveo se convertesse em alajjoa , como acon- tecera em S. Dorningos por ser ahi o terreno mais baixo; e quo o convento dft Sanla Cla- ra se lornasse doentio. EIrei regeitou este parecer da carnara , e mandou que na ponte vellia nfio t'lcasse arco algutn , por que seria prejuizo da cidado, e nfio se conseguiria dos inaracliues o effeito desejado ; e a agua achando vasdo por aqirelles arcos, sempre o rio por alii se langaria , e nfio tornaria a mai, corno se esperava '. No anno segiiinte (1569) nao houve rieees- sidade de rnarachoes, mas continuavam as obras da ponle ; porque em 7 de fevereiro mandou o governo que se applicasse paia as obras desta o dinlieiro desUnado para a quelles , por nesse aruio nao screm pieci- -'55 '■ Contintia. LITTERATURA 131CL1CA. .4 Biblia. Os livros da Biblia foram pcla primeira vez divididosem capitulos pelo cardeal Hugo em 12o3, nn mcado do secujo decimo tercei- ro da era cbrista. Os judeos adoptaram de- poii esta divisao nos seus exeiriplarcs. O Rabbiiio Nathan no seculo decimo ijuinto dividiu em versos os capitulos dos li- vros do velho testamento; e os chiiiinns ado- ptaram tambem esla divisao. Os capitulos dos livros do novo testamento foram tambem — Veja se a pag. 393 nota 1 do 1.° vos desle jomal ' — Dito tomo 3.° fl. — 8t vers, e sew. ' —Ibid. II. ditas. ' — Idid. (1. 69. Vers. divididos cm versos no mcio do seculo deci- mo sexto pelo impressor francez Roberto Es- levao. O primeiro exemplar impressodonovo testamento assim dividido foi publicado por este impressor em 1551. Os judeos n.'io reconheccm como genuinos, verdadeiros, e divinamente inspiradosse nao OS livros comprehend idos na primeira parte da Biblia on o velho testamento ; os chris- tfios adinittem como taes n.'io so esses, mas tambem os de que se cornpoe a segunda , e se chani'io o novo testamento. Ncnhuina nacj.'io tem publicado maior nu- mero de cxeriiplares de loda a Biblia , e de partes del la, nem promovido a sua versao em maior numero de linguas e dialectos que a na^'fio ingleza; como se mostra pelo rela- torio da sociedade biblica ingleza e extran- geira , apresentado na sessao annual da mesma sociedade em 5 de maio de 1852, no qual se le que esta sociedade dislribuiu durante o anno passado 1,154:613 exemplares da Escriptura sagrada. Despendeu nes^e anno com eUa publioa(,'.'io 103:930 libras sterlinas , mais de um mllhao e cincoenta mil cruzados ! A receita foi 108:119 lib. st. Quasi meta- de desla sornuia procedeu do producto da venda de exemplares da Biblia , e de partes della. O numero das versoes completas de loda a Biblia , ou de partes della era ate a quelle dia de 175. Destas 121 rmnca d'antes tiiiham sido irnpressas. A sociedade tinlia promovido a impress.^o e dislribuijiio da Biblia em li8 linguas.oii dialectos. (f . .1/.) N. ESTRADAS DE FERRO EM FI.XS DE 18 51. O numero de milhas de estradas de ferro, que se estavaui conslrnindo em dezembro de 1851 sobre a superficie da terra, e'de2-l:54fi (mais de 3:000 legoas porluguezas) : 13:826 milhas no heiiiisferio oriental, e 10,720 ditas no occidental. A sua dlslribui(;ao por estados e a seguintc: Nos l'"blados Unidos da Ame- rica do Norte 10:720 milhas; nas coloni- as Britanicas da America 23 milhas; na Illia de Cuba 359 rn. ; na Nova Granada 22 m. ; na America do sul 30 m. ; Na Gr.'i-Bre- tanha 6:621 ni.; em Franca 1:831 ni. ; na Belgica 350 rn. ; na Russia 122 m.. e em Ilespanha 60 milhas. E a sua extensao aiig- menta diariamente. A estrada de ferro mais comprida e a que conduz de New York ao lago Erie (America do Norte), a qual tem de comprimenlo 467 milhas. O numero de passageiros quetransitou po- las estradas de ferro da Gra-Bretaiiha desde o 1.° de julho ate o fim de dezembro do anno de 1850 foi de 41:087:919. (F. H.) <;8>I DESCOBERTA DE MS. GREGOS EM PAPYRUS. A 2 df fevrfiiro de 1!153 cm luiia se^sao da sociedadc real de lilteratura de Londres, o Rd°. C. Babiiigton deii conta das ora^oes de Ilyperidcs, celebre orador grego , contem- poraiieo de Deinosllienes , em cuja piihlica^.'io estivera ullimamente occiipado. Disse, que em 1847 mr. Harris de Alexandria desco- brira em 'I'liubas no ako Egypto tres fragmen- tos de hum codice f;''<'S° '^"' P^Py"^ ) '"" dos quaes conliiilia parte de nii;a ora^fio do Hiperides oonlia Demosthenes, acciisandn-o de ter acceilado uma peita. Estes f'ragmen- tos foram piiblicados primeiramente em Al- lemanlia , e depois em Inglaterra por Mr. Babiiigton ; concordando os editores de am- bos Os paizes, que esles fragmentos eram par- tes dc differeutes oragoes. i'elo mesmo tempo mr. Arden, aiidando a viajar no Kgypto , ol>te- ve de uiis arabes outro papyrus, o qual foi entreguc a mr. Babington , e de que se tirou um fac-simile, que esta prompto para se publicar. Eue papyrus contem uma oragao completa de Ily perides a favor de Euxenippo , e quinze cohitmias de outra. A oragiio a fa- vor de Euxenippo e importante por ser reia- liva a uma disputa sobre algumas terras concedidas por Filipe re! de Macedonia aos Atlienienses depois da balallia de Chirondea Acham-se nella inuitas notieias hisloricas, e algumas sobre as miiias de prata de Laurio. O estylo desla oragao e perspicuo, e a lin- guagem grega muito elegante: ha nella algu- mas palavras, que mui raras vezes se encon- tram. A data dos frugmentos da ora(;ao a favor dc Lycophron esta verificado ser incliii- da deniro de um breve periodo ; porqiie se faz nclles mengao de Dioxispo o pugilistas que combateu na presejiga de Alexandre Magno no anno de 326 antes de Christo, e que provavelmente partiu da Europa pelos annos de 334. E provavel , que a data des- ta oragfio S''ja do mesino teinpo pouco mais ou menos. Ella contem algumas notieias im- ))ortan(es do governo da iiha de Lemnos. (^la relag.'io se ve nfjo so quaes sHo as disciplines que compoe o quadro de cada faculdade e a sua colocagSn , se nao tambem os melhores li- vros, adoptados em Hespanha para com- pendios. Da carta do marquez de Morante vc-se , que vieram duas vias, uma pelo correio, e outra pelaembaixada de Portugal , que acom- panhava o caixfio dos livros. O nosso prelado jii recebeu , ha mais de dois mezes , ambas as vias, uma com as marcas dos correios de Hespanha e de Portugal, e a outra com a marca somente do correio de Lisboa. Donde se deduz com evidencia, que o caixao dos livros, que acompanhava a segunda via pela embaixada, ja cliegou ao governo de Lisljoa, porem ainda nao chegou a esta universidade; pediinos pois ao governo , que , quanlo antes, faga remetter a esta universidade os livros, que OS professores estiio desejosos de ver , e consultar. Finalmente tomamos a lilierdade de lem- brar tres cousas ; 1." que e tempo de cuidar da remega dos livros, que este anno devem ser enviados a Madrid ; 2." que este anno nao devem e?quecer luuitas obras importan- les , que o anno passado nao foram , v. g. , o Direito Criminal e Historia do Direito Portuguez do si~ir. Paschoal Jo^i- de Meilo , o compendio de Historia do Direito Portuguez do siir. Coclho da Rocha , o Direito Cri- minal do snr. Bazilio Alberto , o Cursn de Direito Civil do siir. Liz Teixeira, os Manuaes do siir. Ereitas, as obras do snr. (jollies de Moura, que ni\o foram etc.; 3." que seria conveuiente seguir o exempln do marquez de Morante, dirigindo-se o pre- lado da nossa universidade aos directores do> diversos estabelecimentos d'instrucqfio publi- ca, convidando-os a remetter-lhe as obras, que entendessem que devium ser enviadas a universidade de Madrid. Folgamos de ver realisado um dos pensa- mentos, que nos Icvou li Hespanha, — a mutua communicajao de livros cntre as duas 82 universidades : e fajenios volos para que ella se verifi(|iie aiiniialrnente , como vc aclia estabclecidd pelos dois j,'()veruos de Portugal I' dc lle-panlia, com jeral approva^ao dos liomens de Idtras (raiiil)os os paizes, e reco- nliccido iiitcresse para a iiistrucran pnblica. V. FEllRKU. lll.°°oex."'%nr. — Sua Alai^eslade Fide- lis>itiia, a Sfciliora D. Maria II., conliccc- dcira da <;raiide utilidado, i|iie rt'siiltarii a* sciencias da coiiiiniiiiicarao de cniilicciinentds I'titre as duas universidades de Madrid e dc C()iml)ra , lioiive por liem ordenar, que esta coinejasse aqiiella comiuuiiica<;rio e a conll- uuasse depois , remctleiido a de Madrid = exemplares da sua legisK-K^fio , tahellas dos compendios adoptados , nacionaes ou ostraii- ,i,'eiro5, comtiientarios , niodcdos etc. A univer^idade deCoiiiil)ra soube apreciar a regfia deliberagfio , e exiiltou com ella: e seus cscriplores deram provas desse apre^o no bom fjr.ido e promplidfio com que cor- reram a ofterecer excuiplares de siias ol)ras, para dar conliecinierlo dellas a seus collej^as de Madrid. Tanlo conliecem dies as vaiita- gens do estabelecimento reciproco de relagoes entre os dois corpos scientificos. Como humilde fillio da uiiiversidade de Coimbra , e encarregado actualinente do seu governo , cabe-me a especial lionra de ser o priineiro a cumprir a ordeni da minlia augusla Soberana, remellcndo com esta para a uiii- versidade de Madrid, dentro de dois caixoes, OS exemplarfs, queconstani da rela(,rio junta, assim da logisla(;ao d'instruc^ao publica e academica, como d'obras d'escriptorci por- luguezes , adoptadas no ensino da de Cuim- bra, oil como compendios oucomo expo^ilo- res ; c das paulas dos livros, de que aiiiuial- ineiite os abimuos da academia se devem prover. Praza aos ceos que iguaes remessas se fagam d'ora avante , sein inlerrup(;ao ; e que as duas na^oes, iinidas pela nature/a, o sejam aeinprc em todas as suas rela^oes. Aproveilo esta occasifio para segurar a miiilia grande considerayao c respeito para com V. ex.", como cliefe dessa uiiiversidade. Deos giiarde a v. ex." muitos aniios. Coim- bra 25 de agoslo de ISftO. 111."°° e ex."° snr. reitor da uiiiversidade de Madrid. Jose Manocl de Lemon, Vice-reitor da universidade. RELAC.\0 Dm obras d'auctores portuguezcs , oi traduzida e annotadas por dies , das quaes se fa: i/sn nu uuivcrsidade de Coimbra , bcm enino da Icgisla- Cao sobrc instruciuo publica , offerecidas a uni- verndade de Madrid pela de Coimbra. llesumo da Hisloria da Egreja do Aiiligo Tcsiainento — Cuimbra 1827. Fr. Joaquim de Santa Clara , monge be- nedit. — Conspectus Ilermeneulicae Sacrae Novj Testamenti — Coimbra 1827. f^. Ferrer — Elemontos de Direito Natii- Va! ou de Pliilosopjiia de Direito. — Jd. Com- menlario aos inesiiios. — Id. Dircilo das Geii- tes — Coimbra 1350. — Id. Curso de Direito iNatural — Coimbra 1813. Paschoal Jose de Mel/o Freire — Institu- tiones Juris Civiijs Lusilani tuiii I'lililici turn Privati , ;{ vol. 4." edij. 1815. A/. A. C. da Rocha — liislitui^ues de Di- reito Civil Portuguez, 3 vol. 2." ediy. — Coim- bra 1848. Carta Conslitucional da Monarrliia Per- tiigueza, com o Acto Addicioiial. Ordeiia(;oes do Reino — 3 vol., Coimbra 1850 e 1851. Jsovissima Heforma Judiciaria com o Re- porlorio — Coimt)ra 1850, 1 vol. 8.° Ferreira Hordes — Codigo Commercial Portuguez — Coimiira 1851, 1 vol. 8.° Codigo Administrativo I'ortug. de 18 de Maryo de 1842 — Coimbra 1849. Nazareth — Processo Civil e Criminal — Coimbra 1850. Soares Franco — Elemenlos d'Anatomia — Lijboa 1825, 2 vol. Mello — Primeiras Linlias de Phisiologia — Coimbra IStfi, 1 vol. Galvdo — Curso Elementar de Hygiene — Porto 1845, 1. vol. yllbano — Codigo Pharraaceutico Lusitano — Porto 1846, 1 vol. Francoeur — Curso Complelo de Matlie- maticas Puras, traduzido do Francez — Coimbra 1339, 2 vol. Sousd Pinto — Calculo das Epbemerides Aslronomicas de Coimbra — Coimbra 1849, 2 exemplaies. — Id. Addilaineiilo asiNotasdo Calculo (IrtTerencial de L. B. Francoeur — Coimlira 1843, I'ollieto. Moura — Coinpeiidio de Granimatica l,a- tiiia e Portugueza — (>.' edi<;. — Oimbra 1850, 1 vul. — Id. Selecta e vet. script, loca etc. — Coimbra 1848, 2 vol. 3." (com urn copioso Index Latinitalis.) Moraes — Compeiidio de Grammalica Gre- ga— Coiml)ra 1844, 8.° Paz — Compeiidio dos Principiosde Gram- malica llebraiea — Coimbra 182(1, 2." ediy. D. Diogo — Arte I'rciiiceza — Coimbra 1823,8.° br. J. E. B.de Lima — Clirestomatia Portu- gueza— Coimbra 1810,3.'' Doria — Mnemonica — Coimbra 1850. — Id. lUenientos de Piiiiosoplna Uacional — Coimbra 185^. — 7(/. Hisloria liiiversal — Coimbra 1813. Carneiro — Eli'ini'iilos de Moral e Princi- pios de Direilo Natural — Coimbra 1851. — Id. (ieograpliia e Cliionologia — Coimbra 1851, S.'cdie. — 7(i. Poetiea para uso das Escliolas— Coimbra 1851, 3." edi?. — /c?. Econoinia Politiea — Coimbra 1850. Mauricio — AIolliouo do jVIiiaica — Coiin- I)ra ISOC, I."*;-. Sclocla ad us\im Scolniiim Illjelorices et Poptius Inca — Coiaibra 182a, 1 vol. 8." Ciirdoso — Elctiieiilariae Klietoriies Iii?l.i- tiitione^ — Cdiinbra ISIIJ. — Id. 'J'iadiiC(,;'io — Coinibra 18.31 (da 2." cdic;. latum.) — /(/. Bosqueju Ilislorico da Lilleiatiira Classiea Gre-^a Laliiia e I'orlugiicza — Coiiiilira 18-16, 2.' edi^-. — /(/.Logarcs Seleclos do?ClaS6icos Portiir;iiezes — Coiriihra 1851, 2 " I'di^. Siniucs — LicjfK's df. Pliilnsopliia Chymica — Cnirnlira 18.50, 1 vol. 3.° JMacedo — Compendio de Velerinaria, on niedicina dos Aniiiiaes doinesticos — Coiiubra 1362. Sccco — Manual Ilistorico de Diiojlo Uo- iiiano — Coiiiibra 1843, 1 vol. 8.° Jvplii'ineridcs Aslroiioinicas para o Meridin- no do Obseivatorio de Coirnbia para o anno de 18d'l — Coiuibra, 1 vol. 4.° — 2 exenipl. Selecta e vcteiibus Scriploribus I'oemata — Coinibra 18.3;5. Forja% — lilenienlos d'Econoniia e Esta- dislica — Coiuibra 18.b0, 1 vol. JMoraes Pinto — Eleiiienlos d'Aritliiuelica — Coimbra 1860, 1 vol. Rtijino — Coiiipendio d'Ariliinietica — Coimbra 181-9, 1 vol. Jacome — Primeiras Nogoes d'Algebra — Coimbra 1849. Florencio Magn — Oralio proamnua Stu- diorum Inslauralioiie — 2 exemplares. C. J. Pinheiro — Invenlario scienlificodas Pe^as e preparados do Tliealro Anatomico — Coimbra 1829, 1 vol. Riviira— Resolag'io Analitica dos Proble- inas Geoinelricos etc. — Coimbra 1815. Sebastido Corvo , lente de mallieuialiea — Notas sobre a Di/.ima periodica — Coimbra 1325. lilslatulos Novos da Universidade (1772), 3 vol. —M Antif;os (1654), I \oL— Id. Antitjiiissiinos (1593), 1 vol. Legislagfio sobre a Inslriicgao Pablica 1 vol — Abreu, Legislajao Academica — Coimbra 1851 , 1 vol. Ftrrer — Cadastro — Coimbra 1849 , iVilliet. Ilela(;ao dos Estudantes da Universidade e Lyceu em o anno de 1861 . — 1852, 1851—18.63 e 18.62—1853. llcla^fio doslivros em use na universidade no anno de 1850 — 1861.1 Forjaz — Memorias do Bussaco — 1 vol. (ol't'erta do Auctor.) Coimbra secretaria da universidade cm 23 d'ago^lo de 1862. Vicsnte Jose de P^asconcellos e Silva , se- cretaiio da universidade. 111.""' y Esc."'- S.'— El Gobierno de S. M. , a quien di cnenta del magnifico regalo de libros, que V. E. luvo a bien remitir a norabre de i-sa Universidad a esta Central , y de la lialagnena comunicacion , que V. ii. inedirigio en 23 de Ago^lo de 1852 deordem de S. Al. F., manileslantlo que el regalo fie los cilados libros era solo una prueba del vivo desco . que anima a esa Nacion de man- ter con Espana las mas estreclias relaciones litterarias, en Real orden de 22 do Enero del corricnte nno no solo me auctoriso para laadquisiclon y encuadernacion de las obras , que esta Lniversidad propuso al Gobierno se regaliiram a esa en jusia correspondencia a sti I'mo obsequio, sino que espreso ser la volunlade de S. jVl. se den las gracias , en sii Ueal noMibre a U. f^iceute Ferrer Neto de Paivci, ilustrado Professor de esa Universi- dad pnr el zelo , que ha niostrado cerca del (iubicrno de S. Si. [', eu favor de esta Central. Ciimpio por lo mismo con la mas grata satisfacion las prescripciones de la citada Ileal orden, y ruego encarecjdamenle a V. I*;, se sirva trascribir al S.°' Nelo Paiva esta comunicacion en la parte, que le es relativa. iil S.'' Encargado dos Negocios de Por- tugal en esta Corte me lia dispensado el favor de liacer-se cargo de esta comunicacion (que remeto a V. Ji, duplicada por el correo) y d'el cajon con rolnlo para V. E. en el cual van contenidos los que menciona la adjunta nota igual a la que acompafio a la comuni- cacion , que recibira V. E. por el correo. El regalo de esta Lniversidad no admele comparacion com el que le liizo esa, tiene, sin embargo a su favor la recomendacion de liaber yo procurado con el mayor esmero pe- dir a los Catedraticos de tndns las Universi- dades de Espana razon de las obras de ensefianza , de que son auctores , y de liaber por conscguinle logrado adquirir las mas notables en su clase de la epoca actual. Bien luibiera yo querido que fuera mayor el numero de las obras, que esta Universidad regalara aessa; pero mi afan de no demorar la remesa , mientras adquiriii nolicia deolras obras, ha puesto liniite a mis deseos , y den- Iro de el los reduzco a que esa Universidad y la Nacion Portuguesa vean en esla debil niucstra de apresso el que inspiran a la Uni- versidad Central V. E. y los dignos Profe- sores de esa , que se adelantaron a ofrecer- nos los opimos (rutos de sus Irabajos intelc- ctualy. Acepte con tal motivo las seguridades de mi mas distingnida considciacion , conio su particular aj)asionado , y como ( jefe de esta Universidad Central, que se confiesa deii- dora a esa tie las mas solicitas atenciones. Dios guarde a V. E. muchos aiios. Madrid 28 de Abril de 1863. El Rector, Marques de Moranle. El Secrctario general de la univeriidad central , Fictoriano Marino. 84 Nota exata de lot Ubros . que eontiene el eajon dirigido con rolulo al III."" y Ex."" Sei'ior Vice- Rector de la Univcrsidad dc Coimbra por con- ducto de la Embajada de Portuijnl em Madrid y que la Uiiirersidad Central retjala a la uni- rersidad de Coimbra. Reales de vulon. 1 lianj — filosnfia (iiornlv fiitul.iiiieiitos de rclegion 8.°' riislica. 12 I /'/. I'llosofia de Paiev 8.'"' riistica. ]t! ] Id. Comprndio de idem 8.°' nistica. 10 1 Id. CcUecismo de docliina e Ijisto- ria saijrada — ruslica. 4 1 MonluH — liigiene puLlica , '2 vol. 8.°' nistica. 40 1 Id. higiene privada 8.°' rinlica. 21 1 Id. psicdiogia y toxica S." rustica. 32 1 Id. manual dc literaliira 8.°' pasta. 24 1 Td. crnnolojjia 8 °' rustica. 7 I Galdo — lii-toiia natural 8." ruslica. 30 1 falUdor II Chavarri — fisica v quimi- ca 8.°' rustica. ' 30 1 Chavarri — quiinica por Boucbardat 8.°' rustica. 40 I Id. fisioa , quimica e liistoria na- tural medicas, 3 torn. 8.°' rustica. 30 1 Verdejo — p;eografia 8.°' pasta. por 1 Id. liistoria universal 8.°'' pasta. 1 'Terradillos — tro^os de lileratura espanolla y latina S.''' ruslica. 1 Id. Cur;o de lileratura latina 8.°' rustica. 1 Losano — g-ramatica griega , 2 loin. 4.° rustica. 1 Cutanda — Bolanica descriptiva 2 torn. 8.°' ruslica. 1 ./Jmador — liistoria de los Judios en Espana 4.° Iiolandesa. 1 Id. Obras del Marques deSan- tillana fol rustica. 1 Id. liistoria de Judios Oviedo 2 vol. fol. rusti'-a. 1 Guia del quimico pratico 8.°' rustica 1 jiguirre — disceplina eclesiaslica 2 vol. 4.° ruslica. 1 Lnso — derecho mercanlil 8 "' rentica. 1 Id. dereeiio penal con el suple- mento 8.°' rustica. 1 Montalban — derecho civil e penal de Espana 3 torn. 8.°' rustica. 1 Id. prooedimentos judiciales 3 torn. 8." ruslica. 1 Strna — Ctirso exegelico de derecho romano 2 lorn. 4.° ruslica. 1 Janer — moral medica, preliininares clinicos, tratado del tiCo, Cisiolo- logia, higiene, therapia , instru- clones sobre el colera, y Ires orationes inaugurales. ValU economia politica 4.° rustica. Fallin — Ae malimalicas 2 torn. 4.° ruslica. 2Vamarn«' — gramalica franceza 8."' pasta. 14 16 40 54 45 45 30 120 19 72 12 18 60 62 100 30 30 50 20 Id. Compendio 8.°' holandesa. 8 Frau — la homeopatia jusgada 4.° rustica. 12 Hi/sern — lilosofiia medica reinante 4.° pasta. 18 Tora— inemorias sobre el plan de estudios medicos 4.° ruslica. Mata — mederina legal y toxicologia 3 lorn. 8 " rustica. 60 Drunicn — palologia intinia 2 torn. 8." rustica. 60 Gimenei — uomenclatura farmaceuti- ca , 2 tern. 4° rustica. 44 Id. larifa 4 ° rustica. 12 Id. farniacia esperinienlal 4." rust. 92 /(/. materia farniaceutica 4.° rust. 50 Id. furmacopea razonada 2 torn. 4.° ruslica. 92 fiso — derecho civil 8.°' ruslica. 14 Canuclo Miguel — entrodiicion al estudio del derecho 8.°' rustica. 14 Cepeda — leciones de legislacion cas- tellana 8.°' rustica. 8 Pastor — Cuadro sinoplico de enve- nenanientos. 20 Fo% — derecho natural civil, 2 torn. 8." rustica. 24 Id. Lileratura griega 8." rustica. 6 Rubio — eiocuencia sagrada , 2 tom. 4.° ruslica. 18 Rivera — Curse dc liistoria , 3 vol. 8.°' rustica. 30 Fort — eiocuencia sagrada, 2 tom. 8.°' ruslica. 16 Collecion de concordalos 0.°' rustica. 18 Colmciro — apuntes para la flora de Castilia 8." rustica. 12 Palacios — Curso de geografia 8.°' rust. 20 Navaillac — moral y religion 3.°' ruslica. 10 La litia — lecciones del derecho hes- pnnol 3 vol. 8.°' ruslica. 45 Mantes — aforismos de Hipocrates 2 vol. 4.° rustica. 40 Sanches Barhcro — retorica e poetica 8.'" pasta. 20 NuiieT, Arenas — Curso de filosofia 3 vol. 8.°'' ruslica. 48 Colmeiro — derecho administrative 2 tom. 4.° rustica. 56 Garcia Blanco — analises filosot'ico- hebreo 3 vol. 4.° rustica. 80 Castro — historia universal 3 vol. 8.°' rustica. 30 Licta — lecciones de lileratura 4.° rust. 36 f^arela Mantes — aiitroprolofjia etc. Ciisarcs — quimica 2 vol. 8.°' renlica. Sala — digesta romaiio hisp. traduc. por Claras. 1 Moreno — instrunientos pulilicos. Madrid 29 de Abril de 1853. El Kector , Marques de Morantc. El Secretario general , ricloriano jMarino €) Jn0titttt0) JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. A MUSICA RELIGIOSA. A necessidade d'orar, de recorrer a iim Ente superior , fonteeternado justo e do bem , e uma das mais sublimes manifestajoes do sentimento humano. Dirija-nos eiiibora o desfallecer, ou oaspirar da alma, a incerlezu ou alogica do espirilo, em qualquer circiiius- tancia sentimos seinpre a necessidade de por a cinia da vida uin ideal supremo, que satis- faja o enlendimento, eacaluie os suspires do cora^ao. O senlimenlo religioso e iodepen- denle detodoo dogma positivo ; revela-se de- baixo de mil formas diversas, no hymno do sacerdote, nas castas adoragoes do amaiite, no extase do poeta , na coiitemplagao relle- ctida do philosoplio. A oragao da mullier , de que falla Fenelon, lem a mesma origem que aexciamagfio de Newton ao descubrir nas leis da natureza provas irrecusaveis da existencia d' uni supremo creador. Em nenliuma doutrina, senao no chiistia- nismo, se encontra iim lodo de verdades profundas, de symbolos adoraveis , de solu- goes metaphysicas, de inefaveis niyslerios , que satisfaga a inteliigencia e o sentimento, o pliilosnplio e o arlista. As pompas, as cereinoiiias , os rilos e as oragnes da Egreja Catholica constiluem um drama admiravel , no qual se representam todas as phases do destine humano, desde o nascimento ate a niorte. A musica devia ser a lingnagem prc- ferida por uma reljgifio d'amor e de myste- rio; por isso a egreja fez della uma das ma- gnificencias do culto. A musica religiosa e a parte da arle, que mais se resenlo da desordem e inquietagao, que caracterisa a sociedade moderna. Ver- dadeiramenle nao lemos n)usica religiosa, n'lo temos uma forma consagrada a expressao da oragao, nao temos uma manifestagao pacifica das esperaii^as da alma n'um me- Ihor porvir. A vida e para nos um campo circumscripto , onde todos eiitram corn fervor , para ganhar uma victoria ephemera, ou morrer alii. O paraizo com suaseternas felici- dades ja se nao abre por cima de nossas cabegas para reeeber os queixumes dos des- gragados. Asartcs expriiriem as sensualidades da vida material, o folgar dos vencedores , ou o blasphemar dos vencidos. As arles Vol. H. juiHO 15 . nao tern infmito; o sen reino e deste mundo, e por isso nao ha musica religiosa. Neste eslado de cousas Ires partidos plei- teiam entre si a regeneragao deste genero de mu>ica. Pretende um, que nas egrejas se cante uiiicamente o canto-chao : outro, que se juncte a este a musica vocal accompa- nhada soraente pelo orgao : o terceiro final- mento sustenla,que seria absurdo privar a musica religiosa dos immensos recursos da arte e instrumenlagao moderna. Um rapido langar d' ollios sobre a historia da musica religiosa, vae habilitar-nos para apreciar a questao que, acabamos de apresenlar. O christianismo penetrando pouco e pouco no imperio romano, edirigindo com difficul- dade a sociedade antiga , leve de empregar toda a circunspecgao para attingir o fim que se propunha. As ideas nioraes , que conslituem a substaneia da sua dcutrina, nao so nao eram iiileiramente novas, porque tinham sidopresentidas, e para o dizer assim,prepara. das pelos philosophos, e o livre desenvolvi- mento do espirito humano, como reconhece S. Clemenle, Alhenagoras, Origenes, Sinesio e muitos outros padres da egreja; mas os instrumentos, destas ideas, mas as formas niateriaes que serviram para as draniatizar aos ollios da multidao, eram egualmente trazidas das tradigoes do paganismo. Os chrislaos, poderosos pela protegao dos im. peradores, lomaram as basilicas romanas, onde a jusliga do velho mundo pronunciava sens oraculos , e fizeram dellas templos do Dens vivo. Os lialiitos dos sacerdotes , muitos usos, symbolos, e poeticas cerimonias , como as embalsamagoes , o incenso , as tocbas, as obiagoes , etc., nfio tiveram ontra origem, O christianismo, que tinha em mira gover- nar os liomens , fallando-lhes ao cora^ao, n.io quiz por-se em guerra aberia com o passado; pelo contrario insinuou-se pouco e pouco nos costumes e nos habitos do povo que o seguia , econduziu-o doceniente a re. generagiio moral , sanctificando suas festas seculares, recolhendo e purificando a poesia antiga. Assirn que, todas as festas instituidas era honra de Jano foram conservadas ; a festa da Circuiiicisdo celebrada no primelro de Janeiro vein substiluir a festa de Jano ; a feita da Purificando, a das Lupcrcaesj ks Ambarva- 1853. NoM. 8. .-fe. -^^.. ,! 86 j^^\ iia siicccderau; as Rogagdcs- E nirida que a lii$toria nao vies^ em apoio dcstes faclos, teiicoiitraiiaiuns sou fiiiidanu-iito iia loi^ica do espirilo liuniano, que piocede bCiupie do conlit'cido para o doscoriliecido, e Diinca produz coiisa^ Hovn^ » smii ter' recebido o fieriDC do passado. O cllli^lialli5lno luu) procedcii d'oiitra sortc. Apodi'roii-se do iimiido aiiligo , apoiando-sc iios cosUimes , poesia e iisos do paganisms, quo elle depurou « saiiclificou com o amlar do tempo. A lilliiirgia rlirisl.'i, clieiade soducloras pompas, (It; mclancolicos tnyslerio^ , deiouvolveii-se ;i sonibra do evangellio o da lenda , variando suas ora^oes e ccrimonias so;,'undo os paizes, OS seculos e os hotnens. E am poema com- poslo de rail e|)isodios divcr^os, lodos clioios de uni unico e divino e.-pirilo. A musica succdiiu o mcsmo que a ar- oliitoclura, e a lodas as lormas da arle an- liga : o cliristiaiiiimo apodoroii-so da que oxistia no tempo da sua iutroducfao, e I'el-a servir ao fnu que se propunlia. S. Am- hrosio, quando foi proclamado bispo de Milao, escollieu , eiiire as melodias co- uliecidas, as menos complicadas da musica groga , e adaptou-lhes palavras latinas, que revelam o espirito cluislao. Hsta opera9ao simplissima, que de certo foi ensaiada antes de S. Aml)rosio, c depois muilas vezcs repelida, teve um rcsullado feliz. O povo apiendeu a couhecer os priucipios da nova fe, cantando liymuos pjedosos ao som darias que Ibeeram familiarcs. EsLcsliymiios em versos rliytiuMcos, que S. Auibrosio foi buscar as egrejas orienlaes , corno positiva- incnte diz S. Agostiiilio , foram loi;o altera- dos debaixo do dupio aspeclo da melodia e das palavras. O povo auxiliado pela acjao dissolvente dosbarbarosj quo iiivadiram o impeiio roma- iio , perdeu o seulido da prosodia latina , e nfio poude niais reconliucer os limites , eocaracter respeclivo das qualro escalas de toui esco- Ihidas por S. Amiirosio. Haviam as toiisas chegado a lal poulo no fim do seculo VI , que OS fieis jd se nao cnleiidiam nem a cerea do valor metrico das palavras, nem arespeito da e\ten(;ao o caracter dli BARIIOS. ConsliUiifjflps do Bispado de Lciria. (\ .vol. in 4. =gQlh. ^^ semUigar nem an. de ed.) D. Bra?, do liarros, 1.° bispo de Leiria , aprcsenlado pelo snr. D. Jorio III, e con- firmado pelo papa Paulo III , toinou posse em 28 de jiillio de 151-'>, do bispado , ao qual reuuneiou em 1550. Fora uin dos sens primeiros ciiidados reformar u as coiiditiu- (dcs per que se rt:gia a yg^eja j) clerisia dn dila cidade as i/e.s em outro It'po fc% do Pedro de boa meinoria hpo da (ritarda y comendiitario do mocsteiro de Sdcia crwi de Cot/bra ' )> e para este effeilo compoz umas constiUii^nes, que foram as primeiras, pelas quaes se governou Leiria, cutiio eleva- da a bispado ; porquo ate esta opoea todas as egrejas, quo liojo abrange o bispado de Lei- ria , erani da jurisdiccao dos priores mores de S. Cruz de Coimlira''. Os nossos bibliograplios poucas e incxactas iioticias tiveram desLas Constituicjoes ; ou nada dizem a seu respeito, ou confundem com oulra edicgao posterior esta, de que falla- mos. L5arbosa na bibliotlieca lusitana faz men- 5ao das Constitui^oes do bispado de Leiria , que D. Brazde Barros redigira , a que foram aceitas em synodo pelocabido, approvadas e cnnfirmadas pelo nuncio aposlolico Joao de Monte Poiiciaiio em Lisboa , no 1.° de junlio de 1549; |)orem , omittindo e=La edi- (;ao, diz unicamente, que sahiram impresaas e accrccentadas por sen, successor no bispado , D. Psdro Caslilho. Coimbra : IGOl , folio. Pareco-nos pois, que so della livesse noticia , ou a niencionaria, ou escreveria com mais exactidfio, dizeiido, que foram reimpressas e accrecenLadas por D. Pedro Castillio etc. e e isto mesrno o que se le na Hisloria Ecde- sia^tica de Braga,-" a qual Barbosa se re- fere : Com monoi exactidao escrevou lambem o A. da Bibliotlieca Lusitrina escoUiida, ' "que us Constiluir/oes de D. Braz do Barros t'oraui impressas om Coimbra por Manool de Araujo. IGOl. foi. » tuppondo talvez, se- gundo Barbosa, que esta edi^'io das Consti- ruiooes de IGOl, seria a primeira inipressao das de D. Braz de Barros; o que nao pode- • Pr(51o;;o das Const. ^ Aljiimas eyrcjas , que compoe hoje o bispado dt Leiria , iiiio pertencerani a S. Cruz , e foram aDDexodaf depois da ereci;ao do bispado. ■> Aceitou (o bispo D. Braz) com animo de pdr em ordem e eslalieleccr at cotitat d'nqiiella egrrja , como fez com Conttitiii^oes , que depois accrecentoii e im- primio de iioco em Coimbra no anno de IbOI o iispo D. Pedro Caslilho- — D. R. da Cuolia. — II. cap. 78. « Purlo 18«. ''^ ria ter lugar se ao meno5 lesse o tiliilo deltas '. Nao pndemos saber porqiie molivo se Ihe tern charnado Constitiii^oes de D. Biai; de Barros, ipiando claramente \e ve , que sfio de D. Pedro Castillio nao so do litiilo, mas tambem do prologo dolas '. Antonio Ribejro dos Santos na sua Mem- ria sobre a typoj^rafia porlugueza do seculo XV^I,' tambem nao menciona eitas Coii«li- Inijoes; e somos levados a tier, que iifio as oinitliria, se dellas tivera exaclo conlicci- nienlo; porcpic nos nicneioiia, entre as ed)<,'oes (Ic Coiinbra dessa epoelia, iima obra dc Brnz de Barro5 o Espel/io dapcrfti^do, em ^'ollii- cu, impre^sa no inosleiro de S. Cruz; c afio falla das Con^titui56es , quando nos parecc que estas, se podem considerar obra luais recomendavel a (odos os rospeitos, e digna de mencionar-se. Tambem o (Jatalogo dos li- vros, que se deviam ler para a conLinua^fio do Diccionario portuguez pela Acadcmia real das sciencias, nao da. noticia deste livro, d' onde concluimos, que e pouco fonhecido e niiiilo raro. Aponta , e verdadc , Constit. do Bispado de Leiria mas sfio as de 1601. fol. — Esto livro das Conslituigoes de Leiria por D. Braz de B.irros eern 4.° rnin. sem anno , nem lugar de impressao; mas deve ler sido impresso de 1545, em que D. Biaz tomou posse do bispado, a IdoO, em que o renun- eiou ; e a nao ser impresso antes da appio- vagfio das Constituigoes pelo synodo e pclo nuncio apostolico , foi-o depois de 1549, ou antes nesse mesmo anno ; mas persuadimos- iios , que quando as Const, foram approvadas pelo synodo em 1549, como quer Barbosa, jii ellas cslavam impressas, por que, para o terem sido depois do synodo, que as approvou , faria D. Braz mengao desse synodo na sua carta de publica^i'So , como era costume, e se ve em lodas as consli- [uiijOes synodaes, e nomeadanieute eui as ' Constilni^oes synodaes do l)ispado ile Leiri,! feitas f orden-tdas em »yMudu pello stMihor Diim Pedro CasliMio I>is|)o de Leiria etc. e por sen inandado inipressas em Coimhra por Manoel D'araliju impressor del Rev N. S. na universidade de Coimbra anno 1601. v * « par nno srrvireni jij at (Constit.) fjue fez o stnlior bispa Dom Ilraz tie ion tiiCHioria, ttosso predecessor .^ asst por n (ittrra^do , que depois oitve em mitittis cousaty ordeiiatlas pern o govcrnn da egreja . . . . como por a fjite restiUun da an- nexaciio dai etjrrjas e poro das ritlos de Oiirem e Porto de Mos .... foi ncce$sario augintntarem-se as cons- tUuigoes , mndnrem-sc atyiimas , e declararein-sc otilras ; pelo que , ordenumos as conslitui^/ics (/iir not pareceram necessnrin* pera a seriigo de IJtos . . , concociimos synodo diacesano , e o cciebrnmos nestn cidnile de Leiria eni os vinte ciitco dias da mes de itnn^o^ do anno de mit e tfuinhentas e novcnla e oito : n e cuiiliiiua affirmando , (D. Pedro Caslillio) que foram approvadas e aceil.is , maodantlo que est.is se giiardasscm, e as anli:;as fussem revogadns pela sua carla de 3 d'oulubro de 1601, a Sual, transcripla na 1.* follia do livro , e o Prdlogo das CeDfcliliii(;oes. ' Mem. de Litter. T 8'. p. 1* de Coimhra feitas por D. Jorge d' Almeida em 152L '; como porem nada diz dc tal synodo , suppomos, que em 1549 jii estavam estampadas, a nao se qneror julgar , que dizem res[K'ito a essa approvagtio do synodo estas palavras, que se acliam na carta da publlea^So, no livro das constituigr.es : c por serein (as const, per que se regia u egrejii c clcrcsiii dn cidade de Leiria o* quaes em outro tempo J'e% D. Pedro de bo i memoriti c comendatario do moestciro de •S. Cruz. J tan conforines aos sctos canones : CO consellLo c acurdo do dilo cabido as veneramos, tomamos, recebcmos e acepia- mo.s. I) Mas (,'claro, que se refere essa appro- vagao do rabido lis conslitiiif'oos , pelas quaes se rigia Leiria antes de bispado, e durante a sugei^ao a S. Cruz de Coimbra, mcsmo porque dizendo depois, que as alterou e mudou, usando do officio pastoral, as man- da observar , sem que falle em approvagao dessas miidan(;as esseiiciaes. Conjecturamos , que seriao impressas em Coimbra ou por Joao Barreira e Jo.io Alvarez imprimidores da universidade , que por este tempo trabalhavam em Coimbra com niuito credito, ou no mosleiro de S. Cruz pelo^ mesmos conegos. Confrontamos obras impressas por Bar- reira e Aivares com as Constitiiiijoes de D. Braz — o Tractado da vida e marly rio doa cinco Martyres de Marrocos. Coimbra 1568 por Joao Aivares — e a 2.* parte da Histo- ria da nossa redempgao. Coimbra 1554, por Joao Barreira^, e vimos que corabi- nam em formato, papel , typo e cor da tinta , e por isto quercriamos, que fossem impressas por elles as Constiluigoes. Oulras razoes parecem persuadir, que fossem im- pressas em o rnosteiro de S. Cruz , e por m.'io dos conegos: nao so o ter sido D. Braz refnruiador de S. Cruz ate 1544; mas tam- bem o mandar alli estauipar o seu livro Esp"llio dc perfei(;am , que , D. Braz , diz na dedicatoria, fora impresso em S. Cruz por mac dos conegos ■" , nos fazem acrcdilar , < Const, de Coiiilbfa — Bra;aI321. gatb. : Esta- Conslilui<;oes , talvez as nr.-iis .intijjas dc que lia noticia , s.'io rarisaimas. - Barreira e Aivares eratu sorios, e ha algnmas im- pressoes , que Irazem os nomes de ambo«^ como p-r ei, n Hisloria de Knsehin de Cesarea . trad, por fr. Jo.'io de Crni impressa em Coimhra por Jodo .-Uvtres socio de Joiia /iarrciVu — o Tralado da fonfissao , onde se le no firn « acaliou-se de emprimir esle Tralado da (t conlissao na cidade de Coimlira p^r Jo."io Barreira , «• " Jo.lo Aivares, enipriraidores da universidade, '27 >!e .1 j:ineiro de l.'i47. " — ^ e a obra — Aiiomuta Christiana . Cunimhricar ^ a/ind .Iiiannem Knrreriuin , el Joaanem Alvnrnm i lijpograpl'os regios 1550. ^ Impresso cm 15:!4. Le-se em bastanlcs inpre-- soes de S. Cru?, , e nesla do Espelho da Perfei^ilo , que o> conpcos as Qzeram por snas nliios. Os mesmos cone^oa impnmiam ainda em 1553, como se v5 cm o livro da* Conslilui(;oes e costumes de Santa Cruz , onde-se IS — u imprimia-se o presenle livro per 08 canonicos rcsolaret* do n\oesleiro de Saota Crui da cidaUi^ etc, •» E j» -S8 que fiSra o livro impresso em S. Cruz c pelos conegos; aiiida que lambem podia ser impresso em o mo-lciro, mm por alburn dos impressorei B.iiieira, e Alvarez. O livro Iie"-ra e perfjifom da conucrso^-om diw MoHi^es foy iinprimidii em ho insign^ mocsUiro dc fcln Cruz da mui/ nobre c sent- pre leal cid.idc dc Coimbra (mas) per Derma galharde 1631, fol. gnlli. E para notar que o typo golliico desle livro taiiibein coin- bina com o das con^lillliv'|es , e que ja neste anno era reforuiador Braz de Barroa , por quo come^ou a retbrma em 1527, e acabou-a em 151-4-. Todavia nao dissimidamos , que pelo nieado do seculo XVI bavia em Leiria imprensa typografica, aiiida que muilo fra- ca, pois que nao lemos nolieia de ediyao, que dolla saisse por esse tempo. O fronlispicio do livro e, segundo o costume d'aquelle tempo, uma porlada mais regular certamaiite, do que as usuacs do meadodo seculo XVI. Sobre uma base geral se elevam aos lados duas columnas , no meio das quaes est'io pendentcs de lau^adas corpos d'aimas ; a cimallia , que as columuas sus- lenlam, tem no meio um pelicauo, abriudo o peito, e dous gclfinlios virados para elle sao como romanos , e formam o remale da portada. Dentrodesta haumquadro, que represenla a Annuncia^.io da Virgem; o desenho e tosco , e a gravura grosseira e rude, as figuras pouco animadas, vasias e quasi des- criplas so por contornos : por baixo do quadro estd em gothico o litulo do livro: Constituigues do Bispado de Leiria. Toda a lelra do livro egolliica , a pontua- (jao reduz-se a dnus pontes e pouto final, as hasteas , que dcnotam no fim da regra nao estar acabada a palavra, s.-io dous riscos paralellos de alto a baixo incliiiados, nao tem reclamos , e as foliias sfio numeradas , dei.xando verso; o papel e' trigueirn, mas consislente, a tinta bastante preta , e o typo igual. A escriptura^ao tem divisao de titulos, e pstes sao subdivididos em constilui^oes , cada uma com sua epigrafe: alguns dos titulos sTio designados a margem com a letra — |)era o povo. No verso do fronlispicio esta a carta da publicagfto das Constitui^oes pelo Bispo D. Braz sem lugar, onde fura escripta, e sem data; no fim tem o reporlorio ou indice das Constituiyoes. J. A. PEREIRA. Antcriorraente , em cpoca mais proxima ao anno siipposlo daa Constitui(;Oes de Leiria, imprimiam. como o declara o referido livro dos Costumes, impresso em 1548, e ha delle edl9ues anlcriores de 1534 e 1544. Aa e(li*;3es de 1553 ika em caracleres romanos. ' A. R. dos Santos — Mem. cit. UMA NOITE EM ROMA. (Krajmenlo de trnduc(;5o da XLIX !\Iedita95o poelica , de Lamartine.) Qual dos Elisios o clarrio serene , Do Colyseo I103 dentelados mnros , Ueixa u astro da nolle rnl paz (piiet.i Froixos donnir sens plitcidus tcHl'xos : llnios que OS vuslos punos lite bniliqueam , Das eras escoando-se eiilre os Infos , Desenham dentro huninoso espa(;o ; Dissereis ser de nm poso inleiro a campa , Onde a ineiuona u nolle ilo passado Enanlc veio eiu husca de uma sombra. Das cupulas pur ciina inda elevado , Quasi a topar nos ceos o monnmento D'atpii OS olhos incilar parece ! Em sell deduiu a visla desvairada , De purlnl em portal , de'scada em'scada Corre serpeando o lni;ulire deserto ; Fngindo losre e desce , e volve e perde-se. A ruina , as arcadas debriic^ando , Suspende da inuralha os ne^rus lani^os , Como do mar no abismo er;;nidas rocbas ; Ou ia dos cimos da solierba allura Mansa descenilo a ni^elar-se a terra , Uual enlre llores desce ao valle a incosta , Vem-nus aus pes morrer por entre a relva. Nos concavos soiubnos , enlre as fendas , Vem raizes lan<;ar aereos bosques ; Lutando contra o tempo aqui as eras Cos despojos dos honiens s'enriquecem ; Sobera de sec'lo em sec'lo, como o olvido. Ale as cimas conquislaiulo ludo ! O buxo , 0 leixo iminovel , e o cypresle Erguem tremendo os sens funereos ramos. Dentre as freslas pendendo o goivo humilde Prende a ralz duirada as larjias fendas, E aos ares baloi(;ando os ramos murchoa , Cresce , como a saudade, enlre as ruinas. A'slreila frisa o salleador dos ares Suspende o ninho sen , e em seu repouso Por meus passos disperlo, um som agudo Qu'ingrossa o echo, pavoroso solla ; E al<;ando o \^o , logo desce e paira Sobre minha cabei;a em ar sinistro. Dos cuncavus, das sombras das arcadas , Surdem gemidos d'a\es agoireiras ; Na sombra ergueiulo em viio pupilla ardente j As azas ro(;a o mocho pelos muros ; A pombinha assuslada por meus passes , De cypresle em cypresle voa e desce , E nas bordas quebradas de nma nrna Pousa , cumu alma errante , laslimosa. Os ventos gibiUando entre as abertas , Em uivus, em suspiros se desfazem ; Dissereis que dos annus a lorrente Enlre as arcadas rola furibunda Vajenles vagas, que de dia em dia, Levam , niinam , derriibam quanlo os homens No meio da currenle ediOcaram. As nuvens Huclnando era ceo sombrio, Pelo recinio as sombras vam lan^ando , E ora , da Ilia os raius escondendo , Cobrem d'escnras trevas o moimento ; Ora , rasgadus por ligeiro sijpro , Dcixam cahir na relva um dia pallido,' Que a espa9o8 alumia, qual corisco, Este fanlasma em pe de um sec'lo exlinclo ; E Ibe disenha as mutiladas formas E es fronloes verdes dos quebrados arcoJ ; Os largos alicerces derrocados. Suspenses capileis ameai;adores , E a cruz elerna , que vencendo a allura , Sobranceira s'inclina, qual o mastro BaliJo pela mile da tempestade. 89 Oh ! qual le eu vejo , 6 Roma ! o raae de Cesares i Eis-me calcando ao8 pes h-us monuoienlos, Eis o teni|io mais forte que os leiis fastos VmsL a lima apagando as liias glurias ! Hao lie OS homens morrer , e as suas fabricas Pleitear dura^ao co'a elernidade? Nao, — que o tempo, 6 niinas , tudo eguala, E nssim de nossos fados nus con^ota. NeMfhora em que da noile o facho lugubre Fluctua, como urn olbo do passadoj E palliilo alumia os setle oiteiros, Apraz-nie o vir scismar subre esta campa, E ver da nuile o astro esclarecenrio Deste ceo, senipre novo, o u2ul brilhante , E du Tibre espelhar-se na correnle. Na miuha'harpa, que roi;a ave nocliirna, Carpidos suns me apraz sultar , o Uoma , Subre os destru);os teus por leua deslinus ! (F.) UBMORIAS HISTORICAS DA DNIVEBSIDADE DE COIMBRA. Segunda tratladagao da Universidade de Coimira para Litlioa. 1383 — 1433. Contiouado de paj. 76. O estado litterario da universidade no pe- riodo , que vamos escrevendo, apresenta-se- nos debaixo de urn aspeclo mais favoia- vel, a avaliannos polns poucas e escassas nolicias , que encontramos nos nionuirieiilo= d'aquclla epoclia. Desvanecidos os receios da dominajao es- trangeira, era natural, que no ocio da paz OS animos enlendcisem mais no estudo das letlras. Uma graude tran^forma5,'lO social se operava entretanlo nos liahitos, e tosluines da na(;.'io. A conquista de Ceuta ahrira-noso caminbo dos mares, e dera novo iiopulso as nossas rela^oes couinierciaes corn os outros povos do muiido. A Iraiiquilidade interior do reino, e os |)ros|)eros resiiltados das nossas conquistas e descohertas na costa occidental de Africa, niio podiain por isso deixar de influir mui poderosamente na cultura c adiau- tamento das sciencias. D. Joao I conliara a direcgiio dos estudos aosen clianceller ' , i]ue ern Bollonha frequen- tara a escliola juridica de Bartliolo. A ius- truc^ao publica, circunscripla enlao aos estu- dos da universidade, comofava assiin a occu- par um logar dislincto na administra(,-ao do estado, e Joiio das Regras , que soube'ra ganliar o animo do rei , e aproveilar as suas * C. de D. Jouf) 1 de 25 de oiitiibro 1400. Em 1415 tinha encarrego do estudo o doillor Gil Marlins, e em 1418 exercia ainda esle cargo, era que parece suc- ceJera a Jo'io das Regras — Carlas do mesmo rei de 26 de Janeiro 1415 , e 23 de agoslo 1418. Lie. verde. felizes disposi<^oes, para Introdusir no regi- men do reino os inelliorarnenlos , que obser- vara n'outros paizes, devia por niuilo empe- nho na refornia dos estudos , que estavani a sen cargo. Assini em cada uma das facul- dades juridicas se liaviam creado duas novas cadeiras A tlieologia passou a ler-se nas aulas da universidade (1-100); e para a grammalica, (|ue a principle tivera uma so cadeira, liavia enlao (juatro, em que pro- vavelmente se Main as Ilumanidades '. Nao fura , porem , so devida aos conselhos, e infliiencia do cbanceller, a reforma , que enl.'io se operara nos estudos da universida- de. Ko meio de l.'io graves cuidados, e lutan- do com tantas difficuldades , como as que en- t.'io se oft'ereciam no regiuiouto do estado, certo nao cabia nas forgas de um so homem , por mui experimenlado que fosse no raanejo dos negocios publiros, realisar todas essas reformas, para cuja execu^ao era mister mui- tas vezes veneer a reluctancia de antigos ha- bitos , e OS prejuisos proprios da rudeza d'a- quelles tempos. O infante D. Henrique, que desde os " mais verdes annos mostrara decidida incli- nag.io pelas lettras , nas quaes fora insigne, era sobre tudo versado nas sciencias exactas, de que elle estabelecera uma das mais famo- sas escliolas, que entao existira na Europa, e donde sairam os nossos primeiros, e mais ousados descobridores. A fama dos iiidisputaveis talentos do in- fante ; a novidade das suas descoberlas no oceano allantico, e o trato ameno , ebenigno coin que elle agasalhava os sabios nacionaes e estrangeiros, havia attrahido muilos destes ao reino, e excitado em todos o gosto por aquelles estudos. A pequena villa de Sagres era ent.^o o centro deste grande movicnento litterario , que d'ahi se diffundia por todo o reino, e a cuja podcrosa intliiencia devemos as nos- sas mais glorio^as conquistas e descoberlas , no espaijo de dois seculos de quasi n.'io iuter» rompidns triumplios. Nfio se contentava, porem, so o infante de assim promover a cultura das sciencias. Mercera-liie particular considerayao a uni- versidade, a qual fizera importanles doagoes^, 1 Cartas citadns nanola anieoedfnte — Carta de doa^ i;So da infante D. Henrique de 12 de outubro 1431 = Idem. '■' Cnmprara o infante D. Henrique na fregueiia de S. Tliome uns pa(;os cum suas pertenc;as por quatro cenlas corias deouroa JuSo Annes , armeiro d'elrei , porescrilura celelirada em 12 de ouluhro de 1431 , e no mesmo dia fez iloa^ao d'eltes a universidade para se lerera ali todas as scii-Mu'ias, e as sete arlos lit)erae9 , que eram — gram- malica, rtielorica, nrithmelica, niusica , geomelria, e astrologia. Deslini'ira tamtiem o in/anle as aulas em que deviam ler-se as divers.is faculdades e arles , mandando collocar em cada uma deltas os competenlps cmbleraas , na aula de tticolo^ia a Trindade ; Galleno na de niedici- na ; um emperador na de leis ; na de decrctaes um papa, e Aristuteles na sala de philosophia (C. do infante de 12 de outubro 1431) 90 por cujo motive foia por olla clcito sen pro- tector ' , seiido o infante o priineiio que love este cargo, e que exerccu jmisdic^ao corno- tal. D. Diuis, quando fundara a universi- dade, toinou-a dchaixo da sua prnlec(;an , o o mesino praticarain os sui-ccssores deste prin- cipc , mas, alem da iionK'ayfio dns coiiserva- dores, tienliuni outro at-to de aiicloridado exerciam na universidade. A protrreiiria , porem , que nesta elui^ao a universidade de'ra ao terceiro dos fillios do rci , nfio tora por certo indilTercnto para o progresso dos cstu- dos academicos. Nfioc hnje possivel seguir o fio das provi- deneias, que o infante e o chanccUer deviam ler adoptado , para & reforma da universidade , e o nnico docnmento que lan(;a aigurna iiiz sobre este importanle ponlo da nossa liistoria litteraria, sao os estatutos de 14-31. Anteriorniente a esta cpoclia (I3fil) pro- liiliira a universidade que os liachaieis, e 03 simples escliolares ensinasseni parlicidarmcnte fora das aulas pnblicas do estudo, inipondo niultas e outras penas aos que transgredusem esleestaluto , que fijra confirrnado pelo meslre de Aviz. ^ Devia ser grande o almso que nisto liavia , porque naobaslara pararontel-o ajiroljibi^ao ordenada por D. Pedro I , dequejii fizemos mengao, e islo mesmn se depreliende das pro- prias expressoes do dito Catatuto^. Ao niesmo passo foram permitlidas as leituras extraor- dinarias nas aulas da universidade a todos OS bacliareis e eseolares examinados, e ap- provados por um mestre, ou doutor da pro- Por escriplura de 25 de mar^o de 14-t3 fez o infante nicrce a uniiersidade de doze raarcos de prala para salario do lente dc prima de (lieuiojria , cnja merce conflrinara depois por Carta de 23 de selcnihro de HBO (Kijueirfla. Mem. nis. = iMunarcli. Lus. P. V. p. 3'2'i). ' « O primciro prutector e governador da nniversi- dade foi o infanle D. Henrique . a queni succeden seu sobrinho D. Fernando, irniao d"elrei D. AITunso V, e pai d'elrei D. Manoel ; depois o foi 0 niesni'> rei D. Af- foDSo Vj e por romniissao , e nao por eIei<;.Ho da uni- versidade , o foi tanibem gen sobrinlio o l)ispo de Lame^o D. Rodrigo deNoronha, e rennnciando esta occupa(;ao , o mesmo rei recomend.iii a universidaile , que ejegesse ao cardeal D. Jorse , aqiiem succeden eirei D. Joao Jl. e depois o foram lodos os reis deste reino. » (ITigueiroa. .Mem. cit.) If,'nora-se oanno em que o infanle fora eleito protector. Figneirfja faz unicamenle mencao de um documento de 1443, em que o infante figura como protector (carta de S3 de agosto de 1143 no A,i>. rerile). Enisle, porem, um aliara do infanle de 29 de ontuliru de 1418 , con- firmando o privilegio que tinliam os bacliareis e doutores em direito de advogarem sem licen^a regia , do qual nao le\e, taliez, nuticia aqueile A.; e como ale este anno tivera cncarrego do esludo o doutor Gil Martins (V. a nota l.») parece que nelle teria logar a elei9iio do infanle. ^ C. lie mestre de Aviz de 3 de oidnbro 1384. — Qitoniain uonttlti bachalarii et scholar cs se ahsntant nb scholis ac maxime qiiidam discoli npparenter et opiiiatiee icientis qui iisurparilei silti nomiiiri niagislroriim et doctorum in celldlisqite tin- dique discipnlos eircimferre sotent , et collegia nou jure permissa celebrant. •< (Eslat. de 1384. — Lio. ticrdc). pria facnidade '. V.ia. o systema das anligas nniver^idildes de AUi'inanlin , que ainda lioje vigora em niuilas dellas. Esta concurioncia entre os piofe.isote-i ordinarios e os leitores exiraordiiiarios, authorisados pela universi- dade, revela n'aquella epoclia utn gnio de adi;intamento niui superior ao que rasoavcl- nu'iile podia esperar-se na nossa situai;;'io. Vimos ja (|ue se augrnentara o nuniero das cadeiras da universidade, e deviam por isso ser mais eomjjieto, os estudos; quanlo, po- rem, ao rnetliodo de ensiiio , e aos auctores que se Ham nas aulas, reina quasi a mesina obscuridade, que nos tempos anteriores. As ideas, que nesta epoclia vogavam na tlieologia e na jiiri^prudencia , nao deviam ser desconliecidas em Portugal, c mui pro- vavelmeiite a escliola juridica deBartliolo, que enl.'io gosava grande credito e auetori- dadc, substituira na universidade os antigos giosadores por influencia do clianceller. A crea^iio de duas novas cadeiras na faeuldade de Lcis parece indicar tambein , que na mes- ma epoclia se liavia jntrodusido na universi- dade a divisao, adoptada no seculo XIV , no ensino do Corpus juris ''■. A tlieologia, pa.sando dos claustros para as aulas da universidade, nfio podia ficar estacionaria no meio das grave? e inteririina- veis disputas e coiitestagoes, que de novo se agitavain entre oi reaes p, nominaes \ c, lal- vez OS commentarios de Duraiido , ou de Biel ja por este tetnpo comegassem a ler-se no estudo de Lisboa. !Na doa^ao que o infante D. Henrique fizera a universidade de umas ca>as no bairro dos escolares para nellas se lerem as scien- cias e ailes liberaes, mencionam se entre estas a aritliemetica, geomelria, e astrologia; e se altendermos ao euipenlio comqiie este es- clarecido priiicipe promovia o esludo dns sci- encias exactas com o intuito de adianlar a na- vegagfio , e dilatar as nossas descobeitas alem do cabo bojador, nao nos parece duvidoso , que no seu tempo se comegaram a ensinar na universidade as matlieinaticas piiras ^. Estas reformas, que vistas liluz da moder- na eivilisacfio , parecerao, talvez , demasia- daiiiente acaiiliadas e incoinpletas , eram com tiido, na epochs em que vainos , um teste- niunlio solemne do adiautamento dos nossos couliecinientos , e um presagio I'eliz dos mai- ores progresses, que deviamos alcanjar no segninte seculo. N'um outro ponlo a organisac^ao litteraria do estudo de Lisboa liavia inelliorado muito. ' — " Stattn'mus ut quicnnque tiachnloriorufii sen scholariorinn in arte grainaiirnli , seu in qiiacnnque alia facilitate sen sciencia loliierint docere sice instruere , legal in selwlis publicis etc. — Id. ^ No seculo XIV e d' ahi por diante as tres paries de Diiresto , e o Codigo eram lidas por ilois doulores, e um terceiro lia as Institntas. (Canlu. Hist, univ.) ^ Barros. Dec. 1." liv 1.° cap. XVI = Stoltler. Origem e progresses das mattiemalicas em Portugal pag. 22. '91 Os actoj e exames publicos, que ate aqui se faziain na univcrsidade , eiam mui poiicos, e scm o rigor e solemnidade, que depois li- verain. No vcstidn , e nos exercicios academicos nao liavia tanibem regularidade, e as iiabili. ta(job5 para o magislerio tifio estavain bem dei'midas. O corpo escliolar prociirara iiiais eiigrandecer-se pi-los privilegios, que oblivera da coroa , do que pelos tilulos littciarios, que devia adquiiir pela boa disposi(;ao dos seus estudos, e pelo rigor das provas publicas Conliecera a uuiversidade esle inconveiii- ente, e para retnedial-o ordenou uns estatu- tos, OS primoiros de que lia memoria depoia da carta do privilegios, que D. Diiiis Uie concedera. Rra enlfio reitor o vigario de S. Ttiome Vell.isco Estevaui , e os estatiUos forain asslgnados na se a 16 de jullio de H3l depois das vesperas. Ordeuara aquclle csUtuto coino se bavia de obter o gnio de bacliarel , licenciado e doutor nas diversas faculdades. Cada anuo lectivo consrava de oito niezes pelo iiienos, e o grao de bacliarel so era conferido aos que cursavaui as aulas por Ires annos, e dcfendiam publicauienle umas coriclusoes pe- rante os respeclivos meslres e doutores; a faculdade proccdia depois ao julgameiUo de sufficicncia em costumes e lilteratura dos candidalos '; se estes nao obtinharn maioria de votos , deviam tepetir os curses ate se- rem julgados sufiicienLes. Admiltiaui-se tam- bem ao gnio de bacliarel os escliolares das universidades estrangeiras , que, depois de cursarem urn trienio, faziain um curso bienal de leitura com pennissfio dos ineslres respecli- vos; ou que frequentavam um quinqueiiio as aulas, eliain tres li5oessucce^sivas comvenia dos leiiles. A estas ligoes , em tlieologia , devia assistir sempre o lenle privative. Jim ambos estes casos diqiensavamse as coiiclusoes. O gr;io conferia-se com o mesmo ceremo- nial, que lioje se pratica. Par este acto eram os bacliareis obrigados a dar luvas aos reitores , e a todos os lentes e doutores, ■e a pngar para a area da universidade uma coroa-, e o maximo tres , e igual propiiia tinlia o lenlR presidenle,e o bedel. So bacliareis podiam ser aduiiltidos ao ado de li:^enciado (examen ad licentiam doctoralem velmagisiralemj , mas era mister cursar as aulas (piatro annos, e defender umas conclusoes, que se al'tixavam cinco dias antes nas eseliolas, e sobre as quaes podiam argumentar todos os doutores que quisessem. Dispensavam-se as conclusoes aos que depois de ciiico annos de frequencia, liam por qua- tro annos na universidade e eram examinados * " . . . . Si omnes , vel mnior pars sitae facnltatis assemeriiU euni esse moribus el scientia sufficientem , qmi rnro inveiiilur , admitlaiU eiim. (Est. cil. Lie. rcrde 0. IX.) ^ Esla nioeila ale ao tempo de U. Manuel valia 216 reis — Vilerbo. Eliicidario. pelo lente respeclivo. No julgamento destas provas exigia-se inais que o simples gnio de sufficicncia '. O acto de licenciado fazia-se na ogri'ja da se' com assistencia dos lentes , reitores, e can- cellario, os quaes pela manlia assignavam dois poiitos ao lieenciando , e depois de vcsperas s<- faziaoacto, em que argiimentavam os licen- ciados, quando Caltavam os mestres e douto- res ; findo este, procedia-se a votagao, e, se o lieenciando era approvado, o caneel- lario llie conferia o grao. No fim do acto, ou depois do grao servia-se uma refei^'ao aos lentes e reitores a eiista do lieenciando ^, que devia pagar Ires coroas para a universi- dade, e outras tantasao presidente (patrino) c acada doutor uma coroa ■'. Antes do doutoiamento , que em tlieologia se cliamava iiwgis/crio, i'aziam os licenoiados um acto selemne a que, por ser na vespera do doutoramento , se dava o nome de vespe- rias, que con^istia n'uma questao proposta pelo presidente, c sobre a qual argumenta- vam ao doutorando quatro doutores, no fim recitava o presidente uma ora9ao * , e o vesperisando dava uma collayao aos mestres e mais pessoas que o acompanhavam de casa ate' a universidade. No dia seguinte pela manha ajuntava-so a universidade com as suas cliaramelhi* e Irombetas a porta do doutorando, e dahi o acompanliava ate a ca- tliedral, onde se celebrava uma missa do Es- pirito santo, finda a qual, se conferia o grao do mesmo modo , com pouca diferenga , que ainda liqje se usa. Antes, porem do doutora- mento tiiilia o doutorando obrigagao de dar ao lente, que servia de padrinlio , e ao bedel um vestido complete ; e a todos os lentes, rei- tores e cancellaiio se repartiam n'aqurlle acto barretes e luvas; os lentes da facDidadc tinham nlem disto faius ; e aos officiaes da universida- de, e pessoas nobres, que se acliavam presen- tes, tambem sedavam luvas \ Onovodoutor devia dar uaijantar a todo^ os lentes e ofl'ici- aes da universidade, e no dia seguinte faziani OS ejcholares com elle uma cavalgada pela cidade, e ia.m assistir as vesperas em santa JNIaria da se '. Os bacliareis, licenciados , e doutores, ou ' ZT/polens moribus ct fariinifia poten't interare exa- men Oil pyaedictfiin It-eejiliam. Eslat. cit. ^ <■ ifi vesprris terUent exaniinnndum^ quo perttcto et cxcluso examl/talo , et siimplis confertiunibiis et vino expensis licenti.indi , mngistri etc. <> ///. ^ " .... ante quant cuncedntnr licciitia ^ snlvitt i/ui- versildti trcs coronas , et totidein putrino , et iilns do- ctoribus siniftttas faces , ct singulos coronas nuri. " (d. * «'.... Si magister regens vult diccre aliqua ytcosi in modiim baljni , dicnt. i> Id. ->.... tunc dcntur (magistris } birreta singula cunt gladiolis et chirotecis ^ ct aliis niagistris et tloctoribiis ntinruni fttcultatum , et recturibus , et clinncellnrio bir- reta , ct singula paria clilrotecarvm , et chirotccas omnibus gradnatia , elofjicialilius , personis etiam nolnbilibua.t< Id. ^ ' Sckolarea in crastinuni debent eqnilare cum daclore ^ et ire per cicitatcni auJiturivesperos udsanctani Mariant u Id. 92 inestrcs prestavain jiirainento ao reccber dc cada griw ; a formula dcste jiiranicnto di- versificava segmido os g'-aos. Eilatuira-sc li'io hem a piecedoncia, que eiUre os nieslros, licenciados o bacliareis devia haver, quaiilo as ligoes , que liain na iiniversidatlo , c aos salarioi, que por ellas llie couipi'liam. O vcstido acadfrnico fora olijeclo de uin tilulo e.-.pec'ial lle^tcs estatiilos, prcscrcveu- do-se que o dos lenles , licoiiciadoi , e liaclia- reis fossi' lalar, e o dos eschnlarcs um pouco mais curio '. Para evilar as diversiies da tnocidade estudiosa , c oulros dcscaiuiiiliosconi que podia perverter-se, doterminura este esla- lulo, que OS escliolares nao tivessem comsigo cavallos, juinentos, caes, nein aves para ca^ar, nem nierelnzps ^. Tal era o cnmplexo das providencias, que a universidade estabelecera para a regulari- dade e boa ordem dos estudos, e sobr« as quaes se basearam lodas as ret'ormas, que posleriormente so introduslrain nclla por os- pago de tres seculos. Continua. j. m. de ABREU. ELOGIO HISTOIIICO DO SOCIO DO INSTITDTO. Antonio Carlos dos Gidniardes Moreira. Sf.nhores! Eu nunca vi um amigo das sciencias e das letlras arrebatado pela morle na flor dosannos, semque a alma se menao apertasse , que o cora^'io se i)iio condocsse, que OS ollios nie nao cljorassem , e que um cerlo esmorccimento intuno me nao roubas- se as for^'as. Ou seja uma viclima politica como Andre Chenier, ou seja um suioida cocno Chalerton e Marianno de Larra , ou seja um orgulhoso, morto de fome por nao querer pedir esmolla a porta dos grandes como Malfilatre, que iinporia ? o sangue das victimas lastimo-o quaes quer que el las sejam ; a desnrienta^'ao, que leva certos ho- mens ao suicidio, respeito-a ; a morte pela maneira que certos homens preferem a vjda de esmolla, sei comprehendel' a , e em lodo o caso 0 (pie vejo sempre e uma flor cai'da do calix antes d' espalliar os sens perfumes pela terra , i um fructo arrancado li arvore pela tempestade antes de maduro , e um martyr despenhado na scpullura antes da coroa de gloria que Ihe recon)pense as vi- gilias, euma saudade para as letlras , e uma perda para a palrla. ' Magitiri el ihctorei , el legentes ticenliali el hatha- larii . ... in hahitn hoiiesto ad mintis talari ; et caeiri scholaret hmesti sallim usque ad medinm tibiam. Id. ^ u Qtiod niitlus icholari) teneatei/iiiim, jumenlitm, canet , aies ve ad rennndum nee mulierem suspectam in domo $110 cantinuam , et qnicunijiie contra praedicla ^tatuta fecerit ,. non gaudiat pricilegio studii. — Jdem. Estas considcra^oes occorrem-me , ao ter lioje de Icvantar a minlia voz na vossa pre- sen^a , para cclebrar a niemoria d' um dos nnssos socios, caidos na (lor da idade , que para mini nao era unicamente o mancebo auiigo das lettras, nao era so o irmiio por esta fralcrnidade que o Instituto estabeleceu ; nao era ^6o auiigo, cujas qualidades conheci e apreciei , era lambeni o liomeni que fora cmiiallado pelas mesmas brizas , aliinenlado pejas mesmas aguas, enascido na mcsina ter- ra cm que eu nasni , e entao liaveis de per- niittir, que acompanhe com toda a grande- sa e solemnidade da minha dor, a inscripgao do sen nome , que hoje venlio fazer nas mcmorias do Institute. Senhores ! O anno de 1847 roubou-nos tres medicos di-linctos, tanto pelas suas quali- dades, como peln sen saber, e todos tao novos que sommadas as idades nao ascendem a mais d' um seculo. Aos 11 de Janeiro morreu Henrique Jose de Castro, aos 14 d' esse mesmo mez per- demos Francisco Antonio de Mello , aos 2 de novembro morreu Antonio Carlos dos Guimaraes Moreira. Os snrs. Francisco de Castro Freire, e Antonio Joaquim Ribeiro CJomes d'Abreu, pagando o ultimo tribute a memoria dos dois primeiros, accordaram a tri^teza n'esta sala ; eu tondo de pagar lioje igiial Iributo a memoria do terceiro, quizera poder fazer o mesmo : mercce-o o infeiliz consocio , cuja memoria celebratnos, porem eu , posto possua a niesma dorquelhes captivou as attengoes , nao possuo o mesmo griio de talenlo com que elles as souberam prender , e eiitao espero que me relevareis a inferioridade do meu discurso. O snr. Antonio Carlos dos Guimaraes Moreira nasceu em Leiria aos 13 de fevereiro de 1818 d' uma familia iionesla e distincta pelas suas (pialidades; familia que llie sou- be plantar na alma esses principios de vir- tude , que elle alii acatou em (pianto viveu, e tanlo, que a elles quiz sacrificar nao ?6 o descanso e a saude, que niuilo era ja , mas sacrificou lambein a vida , que era o mais que podia ser. Logo vereis , que nao sou exagerado n' estas palavras ; e se as virdes repetidas por mais d'uma \ez, cousiderai , que por niuito que se diga, nada e demasiado para o ejogio de certas ac^oes , que ainda, para consolagao dos bons , apparecem neste seculo de cor- rup(;ao moral. Bem novo se viu orfao , por que tiniia a penas poucos annos quando perdeu sen pae. jl Esta perda eseirpre grande para uma fami- J lia, e OS interesses e o futuro de A. Carlos resenliram-se d'ella taoextranrdinariamente , que bem pode dizer-se que d'abi llie provciu essa triateza, quo sempre o acompanhou, esse desgosto inlimo que sempre se Ihe leu no rosto , essa concentraj.'io cm si mesmo, que o nao deixou corromper , mas que antes 93 Ihe apurou a alma , povoando-a d' ekvadis- simos pensatnentos. Frequentnu o nosso socio as aulas do se- minatio de Leiria comsunifiioadiantamento , alii esludoii todos os preparalnrios neces- saries para a freqiiencia da imiversidade , e quando chegou a epoclia de se eiitregar aos estudos superiores, parliii para Coimbra, a fun de se forrnar em mediciiva. Cedo foi ; porqiie apeuas conlava etitao 18 annos, porem , ja iiesta idade A. Carlos parecia mais um lioinein cuidadoso do future do que um mancebo inexpeiiente. Demais o ceo, que aindn infante , o linba privado de pae, j/i na adolescencia Llie havia arrancado a mae dos brakes; esLa, junto a beira da sepiiltura liavia-llie apontado para siias ir- nifis , e elle reputava um rigorozo dever , o satiifazer a semelliante legado , amparando- as no mundo-, e servindo-ilie de pae. Senliores ! Eu nao vos descreverei os sa- crificios porqcie passou o nosso socio para se formar ; guardarei silencio sobre as contrarie- dades que soffreii ; callarei os obstaculos que se llie apresentaram , e que elle com alurada perseveran9a soube veneer. O descrevel-os redundaria em sen elogio , e certo, porem, a enumera(;ao d' aquelles mesmos, em que eu me podesse dispensar de ser cauteloso , lievar-me-hia muito longe neste Iraballio, e por isso bastaque vos diga , que foi arroslando com todas as dilTicu-ldades , que elle p>or um estiido cuidadoso , inlelli- gente , e laureado no 4.° anno- com um par- lid©, cliegou a obter uma honrosa formaLura em medicina. Esta posiyao ganliada a custa proprios Cflleijas , qtifnim- ca o viram, qiiaiido AjiidiuUe de ilinica Hos liojpitaos, vkilar iiiiia oiifeniinrta apressada- ineiite , como I'azctii aljriiti> iiifdicos, antes o viram scnipre cstiidar coiii placidez os sym- plomas da iiiol.'5t;,i , interrojraiidri o dnenic c.'ii>olaiido.o , daiido-llio coragem , o niilrin- d"-llie esperai)(,'as. Ahi estam todos esses (pie o viram iiltinia- iiienteinaiidar vir iima cadeira para so assenlaf jiinlii de cada doeritc na visjta dos hospi- taes , per ja qiicl)rantado de for^-as e exteniia- do de tralialho so nao poder conservar em pe, e niio queror ao mesmo tempo pedirescu sa do servi(;o. Ahi esta toda a cidade, que n'essa mes- ina occasiao o via correr a casa dos desvnli- dos, de qiiem era o medico por excellencia, e em cujas lagrimas elle acliava maior recon- pensa do que no euro; por que a recom- pensa do verdadeiro medico, nSo esta no prefo vil ; esta nas lagriinas do pobre , esui no reconhccimealo cordeal do rico, esia no apertar da mao do amigo, e esIa principal- mente na conscientia, no eontenlamoiito in- timo do si tni'smo — nes^a palma ideal e invi- sivel , que e' tamheni a verdadeira paga do artista neste mundo. Mas, Senliores , para que estou eu ado- niorar-me nestas consideracncs ? Que prerisao leidio eu de especificar fa- ctos quando existe um que falla rnais alio do que todns, o que nno posso deixar de re- gistar nas memorias do Instilulo, por que o considero um ado de qualificado heroismo ? Ouvi, e chamac-ine dcpois exagerado , se poderdcs. Uma fdliluiia da Ex."" D. Hir.i d'Albu- querque acliava-se atacada morlalrnenle por uma Angina maligna ou gangrcno'ia. Anto- nio Carlos era o seu medico, via o peri- go docontagio, mas nao hezitou um itistante. t'cixxea.%Farandas, ve-a , assiste-llie, toma-a nos brajos, trala-a como medico , como ami- go, como pae, ao mesmo tempo infeecio. na-se e contralie uma semelliante molestia logo nas primeiras visitas ! Abandona a innocente, logo que se reco- nbece doente ? Nao. A. Carlos nno era ca- pax disso; jd vos disse que era uni medico flirislao, que era um sacerdote da sua nlasse, que era, como diz Huf'eland, o practico que sabia arriscar a sua vida , e o quo e mais precioso, a sua lionra e a sua reputacao, quando a vida do doente estava compromeltida. Ju doente bastantc torna para a cabeeieira da pobre crcan^a , abi emprega novos exfor- <;n3j ahi acaba d'int'eecionar-se , e so quan- do de todo Ihe nao podia ser ulil por falia de forras e (pie volta para casa , c se deita n'uina cama donde nfio devia sair se nao para a sopultura ! " I'or que tornou ;is Varandas, ja tao doente jdiz-lbe um amigo ? quando o viu voltar ja sem alentos. Por que tornei, diz A. Carlos , sorrindo? Por que resputei isso um dever. 'J oniei por que quiz mostrar a uma familia a quern era obrigado o quanto me in- leressava por ella. Tornei, e nao estou arre- peii.|i<)o, (pie sinto por paga um summo coii- tentainenlo i R oquo assim fallava era um inanccbo de 99 annos, atacado d'um perigosissimo padcci- mento i|iic em oito dias Ihc devia roubar a vida! Sim, Senliores, cm oito dias se consumiu a existencia do nosso presado socio. Ao tercel' ro dia do seu padecimento julgou-se melhor., iiulriu esperangas de restabeleoimenlo , e isto , case notavel !, sem saber que iiesse mesmo dia se faziam preces a Deos no convento de S. Tliereza pcia sua vida ! Passado porem esse relainpago d'csperan- 5a , nunca mais se illudiu , a niorte avisinha- va-se a passos agigantados , c no constante delirio que a preccdeu , o que mais Ihe oc- cupava OS sentidos era o futuro das suas ex- tremosas irmfis, que cllc coine(;ara a am- parar. De vez em quando apparecia tambem um rellexo, do pensamento que cllo liavia abri- gado no corajiio , pela niiilber,que ainbicio- nava para compaiiheira de seus dias, e no meio de ludo isto desponlava de longe a longe o sentimento de assim se ver a borda da so pultura cm idade tfio nova, e depois du lantos sacrit'icios inl'eiizmente feiios. I'odos OS soccorros se Hie preslaram , to- dos OS sens collegas corieram para verem se o podiam salvar, o sen presado aiiiigoAnto- nio Augiisto da Cosla Snnoes, assi-tiu-Ihe com uin desvello digno de tndo o elogio, nada faltoii , mas nada o podc arrancar as garras da morte. O dia 2 de novembro de 1847 ainda elle o viu ralar, mas os sinos que n'essc dia em toada lugiil)re ennvidavain em toda a Coimbra OS christ.'ios a fazer preces pelo, mortos, ja tambem pediratn ora(,'(')es por alma de A. Car- los , por que quando a larde se cravou o sol no horizonte, os ollios do martyr estavam fecha- dos para sempre, e nfio o viram esconder. Senhores, deixai-me no meio das minlias lagrimas perguntar-vos. Que recompensas recebe enlre n(is a virtude? Que honras se prestam as vittiinas de tao nobres acfoes ? Que elogios fiincbivs, que obsequios pos- ihumos se fazem aos heroes de taes feitos! Em que memorias se eternlzam , era que lapides se gravain os seus nomes ? Em Fran5a a academia destribue todo* 05 annos os cbamadoj prcmios dc virttide. 95 Os noDies dos que mais nolaveis se torna- raiii pela sua caiidade sfio alii pioclamados coin adniira^ao e rc>peil0 3 e dcpois fjravados na iiiemoria d'aquella grande asscinblea. As aojc'ies mais bem fazejas que durante o anno se pradcarain sao alii conimeiiiora- Has em eloqiicriles discursos, que iinpressos nos joiiiaes dizein em poucas lioras a todo o paiz (pie se pagou um Iribulo ;i viilude. Em Fran<,a em 18-19 deleiminou-se queos Homes dos facultativos c aluimios das facul- dades medicas , que niorressem viclrnias do beu zelo no tratamento dos colericos fossem fjravados niima lapida rnarmorea , para sor collocada no iiiuzou Diipuylren. Enlre nos o que se determiiia, o que se faz , o <)ue se reconperisa? Oil ! aqui possoeu dizcr com o nosso Garret. Ergo-me a delalar tamanho crime. E elerna a voz me gelara nos labios. Neste momento , acreditae-m.;, desvanec^'o- me de pertencer ao vosso grjmio. Contra esta mancha da patiia nos kvantamos nos. Pobres , nfio podemos tecer ontras coroas aob nossos irmfios que nao sejam esles elogios. As nossas mcmorias , sio os unicos archives dos seus feitos , e pouco , mas ac menos nfio se dira, que esquccemos na morte aqncUes de que em vida nos lembramos para llie abrir- uios OS brakes. 1. I. R. CORDEIRO. VARIED ADES. ydocidade do som. Sogundo as experiencias feitas nas cordas de arame do caminho de ferro de Versailles , verit"icou-se . que a velocidade media do som era de 3,40.'} inetros por seguiido; isto e, mais do dobro daquella que llie atlribuiam Newton, Halley, Dtiliamel , e outros sabios. Transmi'Ssilo dos sons. ^Jas regioens arcticas, qiiando o thermo- melro eslii a bai.xo de zero, a gente pode conversar em distaneia uma da outra de mais de liunia milha. O doutor Jamieson de Edin- bourgli affirma, que ouviu todas as palavras de um sermfio na distaneia de mais de duas tnillias. Velocidade da hn. Das experiencias feitas ultimamente per mr. Fizeau em Paris por nieio de um apa- relho uiui engenlioso, resulla que um raio de luz artificial atravessa cm uto segundo o espa(;o de 70,000 leguas francezas. Segun- do as obserTayoes aslronomicas a velocidade da luz do sol no mesmo espago de tempo ed« 192,000 milhas ou perto de 65,000 legua.^ portuguezas. Thdegrapho ehctrico. O cuslo deuina linlia telegrapliica eiri In- glaterra ede 1501ibras slerlinas (600,000 r.') por niillia. Na America do Nolle e na Pn>s- sia cusla cada milha menos de 20 lib. St. (80,000 r.'j. Na Pruisia o ihelegraplio consta de uma coida de arame, que se cstende por de bai.xo da terra pelo espago de 1,402 mi- llias ('1-20 leguas Portuguezas) coberla crun gutta perclia , como os da Amcri de livros. A destruiijao de livros, que tem havido ein diversos tempos, e incalculavel. O facto mais anligo , que se conhece neste genero e o que refere Beroso, de Nabonassar rei de Babylo- nia, 747 annos antes da vinda de Christo. Estc rei mandou destruir lodos os livros, que tratavam da historia dos reis seus predecesso- rcs. Dalii a ftOO annos Chioang Ti. empera- dor da Cliina mandou queijnar todos os livros que havia no imperio, exceplciando somente OS que tratavam da historia da suafamilia, c OS de astrologia e de medicina. Nos primel- ros seculos do cbristianismo os pagfios e o* christ.'ios destruiam sem escrupulo os livros dos seus contraries. No anno de 390 da era christa a magnifica jivraria, que existia no templo de Serapis em Alexandria, foi intel- ramente saqueada e dispersa. Nos frequen- tes incendios que tem havido em Constanti- nopla tem ardido milhares de mdbares de livros. Quando os turcos tomaram a cidade d'0 SECUNDAIUO. Calhecismo e historia sngrada. El Calecisino de la doctrina cristiana c^plicado, por D. Santuiijo Josd Garcia Maze. Compendio de la historia de la religion , por el mismo autor. Calecismo e liistoria sagrada , por D. Juan Diaz de Baeza. Rdigiiio e moral La religion demostrada al alcance de los ninos, por Don Jaime Balmes. Tralado elemental de moral y jeligion , por D. Salvador Mestres. Fundamenlos de la religion, por el abate Para (traducido por Orodea). Lingua castelhana. Gramaticd castellana , de la Real Aca- demia espafiola. ditade D. Vicente Salva. — de D. Braulio Amezaga. Lingua latina. Gramatica latina, de D. Luis de Mata y Araiijo. dila de D. Haimundo de Miguel. Arte de gramalica latina, por D. Miguel Avellana. Para a vcrsdo do latim e castelhana. Coleccion de autores y Irozos seleclos mandada formar y publicar por el Gobierno. Rhelorica e poet/ca. Arte de hablar en prosa y verso, por D. Jose Gomez Hermosilla. Manual de literalura , por D. Antocio Gi- y Zarate (pri(nera parte). Curse elemental de retorica y poe'lica, ordenado por Don Alfredo Adolfo Camus, Para la version , la coleccion oficial de autores y trozos selectos. Geograjia. Lecciones de geografia fisica y politica , por D. Fiancibco Verdejo Paez. Tratado de geografia , por D. Joaquin Palacios y Rodriguez. Elementos de geografia universal , por D. Angel Iznardi. Elementos de geografia astronomica, fisica y politica, por D. Antonio de Montenegro. Atlas de Bacliilier. liistoria. Elementos de historia universal, por D. Francisco Verdejo Paez. Cuiso elemental de historia , por D. Joaquim Federico de Rivera. Programas y curso elemental de historia, por D. Fernando de Castro. Elementos de mathematical. Tratados de aritmetica, algebra, geo- nietria, trigonoraetria y topografia, por D. Juan Cortazar. Curso complete de matematicas puras, por D. Jose Maria de Odriozola. Tratado elemental de matemuticas , por D. Jose Mariano Vallcjo. Psicologia e logica. Curso de p-sicologia y logica, por D. Pedro Felipe Monlau y D. Jose Maria Rey. Manual de logica. por D. Juan Diaz de Baeza — dilo por D. Manuel Munoz Garnica. Fisica experimental e no^ues de chimica. Curso elemental de fisica y nociones de quimica, por D. Venancio Gonzalez Val- ledor y D. Juan Chavarri. Elementos de fisica y nociones de quimica, por D. Genaro Morquecho y Palma. Elementos de fisica experimental y nociones de quimica, por D. Francisco de Paula Monlells y Nadal. Nogoes de historia natural. Cuadernos de historia natural, de Millne Edwards, Iraducidos por D. Miguel Guitar. y Buch. Manual de liistoria natural , por D. Manuel Maria Jose de Galdo. lUementos de historia natural, de Bou- charlat. Linguas vivas. La designacion de las obras de texto para estas asignaturas queda a libre eleccion de los professores. Continiia. V. FERRER. ERRATA IMPORTANTE DO N.° 7. No artigo — Brevet rrjiexoes hiatoricas sodre a na- vega^no du Mundego e ciilliira do campus de Coimbra, «aiii impresso do numero niitecedeiite cum notavel inexa- ctidan , por erro typograpliico , o periudo que come^a — «. No extracto do alvaru do snr. D. Affonso V elc. pag, 78 col. 2.* linli. 41 , e por Uso se repete Da sua iolegra o mesino pcriodo coDi a devida correc^'io. •I No eitracio do alvara do liir. D. AITunso V. que j4 relatamus , vinios que ulsuns annus antes de 1464, se tinba coiislrnidu iinia estacada entidhada que de nada aprovettou. E^U declaragau nos indnz a acreditar que a gavernnn^a de Coimlira perlendeii segurur o rio por meio de maraciioes , depttis que elle comei^oii nas enchenlea , a sair fora do primitivo leilo , e lalvez aquella eslacada fosse 0 priineiro niaracdrio qtie o .Mundego viu Das sua* margens , junto a Coimlira. Fui uni fraco recurso de que por necessidade se lnn(;uu mHu , e qite se lem por veotura conservado ale linje pern recoiihecida iiltlidade, B.eser»a- mos para outro logar tratar dcsta especie. " Pag. Cot. Linli. Erros. Emend. 79 1.* 36 ceria cerim ® JmititiitiT) JORISAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. A MUSICA RELIGIOSA. Conlinuado de 86. Qual e pois a significa9fio , o veidadelro fun do Iraballio de codififaijfio operada por S. Anibrosio o S. Gregorio ? ¥o\ unia siiii- plifica(,rio da musica grega , ciijns tons nn- merosos e complicados, senielliantes aos dia- Icctoi ingenliosos e dclicados que inati/:avam H lingua gcral desta na^ao prcdestiiiada , nao L'ram accessiveis ao onvido ju barharo do povo do occidonle. Na inusica Ci-z o clirialidiiismo o mesnio que cm vejdadej de ordein superior : desceu ale 05 simples d'es- pirito, poz-se a, frente dos polires e ignoran- tes , obodeceu ao instiucto sujjrenio do povo , que siinplifica tudo o que toca , e reiuo^a pelo seiitiinenlo a sciencia luelicaz doi dou- lo5 e dos patricios. As-itn e que S. Ambrosia? , inuj proximo ainda da civilisajao loiiiana, por(]ue viveu no uieado do bixulo IV, a un-diidia^ d'origeni oiienlal e mni conhecidas do povo, ajunta palavras clirislans corn metro e rytlinio segun- do a piosodia laliiia , e passado^ niais de duzentos anuos, tornando-be a lingua de Vu'- Silio , Iloracio e Cicero uni dialeuto baiba- ro . sente S. Gregorio a necessidade de fazer uma nova coileccao de inelodiab, e junla- llies palavras sein r)/tlniio e sein valor pro- sodico. £?la e a razao porque o anlipliona- rio de S. Grcgo'io se cliama ctmtus firtinis , canto clilio, nielopea solemiie, que precede lenlanienlp e nao eniprega =onao palavras e sons d'igual valor. O canto-cliao greguriano dil'i'undese pela Europa corn tanta rapidez coino o ciirislia- nisaio. Cada missionarjo que parlia de Ruuia para pregar aos barbaros a f'e nova , levava eom>igo utn exemplar destes cantos consa- grados e veneraveis, que propagava com a palavra do Evangellio. Sujcilo a interpreta- ?oes diversas e transmittido por signaes con- fuios e uma notag/io imperfeilissinja , o can- to-clia.o ecclesiastico em breve se corrompeu. A partjr do fim do seculo VII, ja ninguem se entendia quanto ao numero d<>s tons, nem a respeito do caiacter particular de cada uma das escalas. Susleniavam uns que devia haver oito totjs, outros nove , do/!e , outros qualorre c ate quirize. P6de-sc ver na obra Vol. II. AcosTo 1. de Gerlierl — Dc cantti r.t inusica sacra — , o luimero consideravel d'auctores que seguiam npinioes dilVerenles nesta importante questfio. Cada paiz e ale cada provincia interpre- lava a sen modo o canlo-chao ecclesiastico, cujas formas indecisas e inloa(^oes flucluan- les se |Mestavam a njil Iransformajoes diver- r-as. Canlores ignorantes com voz rouca e liarbara , sobrecarregarain eslas njelodias de seus ridiculos improvisos. Os tons acliavam- se altcrados, as palavras truncadas, os Icmi de uma vocalisa^ao grosseira taziam-se ou- vir em todas as notas finaes, e sua horrivel cacopbonia assemelliava , diz urn auttor coe- vo, a um rinclio de cavallo , {hinnilus erjuinus^. A esla desordem fecunda onde , debaixo da acjfio da fantasia iiisciente ae elaboravam os elemenlos da rnusica moder- na , accrescia demais a iutroducg.^o nas egre- j 13 d'un/a multidao de cangoes mundanas que para ali accompanhava o povo como aura da vida secular; de palavras profanas e mui- las vczes obscenas que se intromelliam com as da liturgia ; d'uma serie de scenas bur- lescas , como afeda do burro, por exemplo, que liaviam transforniado o euro e a nave da egreja catliolica em verdadeiro tlieatro de feira. E-pecialuiente em Fianga , pelo mea- do do seculo XIII, e que esla iucrivel con- fus'io das cousas as mais sanclas e as mais profanas cliegou ao seu apogeu. O popa Jofio XXIL que residia cm Avi- gnon, n'uma decretal de 1322, censurou com acrimonia e colera estes desacatos feitos d magestade do ciilto divino, e proliibiu acs canlores o corronipercm a melopea da egreja com ornatos de sua invencjao. Porera nem o anatliema do papa Joao XXII, nem as repelidas queixas dos conci- lios e de todos os tlieoricos desde Guido Arezzo ale Glareano , que se levanlai-ani constantemenle contra a ignoranria dos can- tofes , conseguirarn evitar a allerac^ao do canlo-chao ecclesiastico. O espirilo humano traballiava caladamenle na sua emancipa- 5110, e as formas da musica liturgica nao forain mais respeitadas do que o dogma e a disciplina da egreja. Os heresiarcas triumpha- ram por loda a parte; romperam os la<,-os da .tulella eccli'siaitica ; e depois de uma lucla heroica e adiniraveis trabalbos de paciencia e erudic^-fio escolaslica , a fantasia liumana — 1853. Nlm- 9- 98 quebrou as velbas f6rina3 da arte hieratica , como o livre arbilrio se desprencleii das catliegorias iuiporativas do dngiiia calhulico, que ale eiUfio llie liaviuin im|jedido o v6o. No principio do ^oculo XVI e que teve logar este mafrnifico dosahrocliar da vida. O espirilo liiiniano, ao ii'pL'iiliiio acordar di- seu longo letliargo , abiindoiioii para sernpre o limbo da fe ingciiua e seguiu a direcgao de sen proprio destiiio. Entao e que as artes plasticas abandonariim os typos devotos , transniiltidoi pelo^ Hyzantinos , e dirigiratii- se ao estudo da naliireza, alcaii(;aiido expri- niir peios meios daaile, suas diversas gra- da^oes e divinas bellezas ; entao e que foi crfiada pela priincira vez a verdadeira miisi- ca religiosa do cidlo catliolico. Aqnelle que vein eni fun quebrar com a nieia idade , e que aproveitaiido os Irabalhos dos contrapon- tislas belgas , a cuja escliola perloncia , soube primeiro Iradnzir em nma forma excellente, a lernura, a serenidade, o sopro espiritua- lista do christiaiiismo, foi Paleslrina ! cuja obra admiravel marca unia nova 'epocha na historia da inusica , e podia comparar-se a de Raphael, se a lingua dos sons possuisse entao os reciirssos de que dispunha a pinlura para exprimir a variedade e os contrastes das paixoes humanas. Palcstrina inspirou-se docanto-chao grego- riano , cujas formas apnron acornpanliando-o com uma harmonia simpiosmente consoante, mas clara e profunda. Palestrina, Orlando de Lassus e Jofio Gabriel de Veneza, sao os tres grandes mestres da musica reiigiosa do seculo XVI. P6de-se affirmar que nao bouve verdadeira musica reiigiosa antes do seculo XVI , por- que e mister que uma lingua se forme ante-i de poder uniformar a expressao dos diversos sentimentos que agitam o cora^fio humano. A propriedade doestylo, a arte de dar a cada paixfio o accenlo que llie e proprio, suppoe um espirito maduro e urn instruraento aplo para o servir. O infante expriine o que sente com palavras confusas e incompletas, e falla a sua mae como fallaria a Deos se o compreliendes^e ; so ao lioincm feito cabe invocar oEnte Supremo d'oulra sorte. Assim e na infancia de todas as artes. Antes do seculo XVI, a musica de todos OS povos e de todos os generos e' semelliante, e monoclirona. A can^ao popular tern o mesmo theor melodico queo canlo-clifio eccle- siastico. As mais bellas melodias iiliirgicas dizem-se dos seculos XI e XII, porem e mui difficil assignar-llies uma epocha precisa e conhecer sens verdadeiros auctores. Em geral, na historia da meia idade, confunde- se oauctor da leltra com o da musica, e por isso attribuem a S. Thomaz d' Aquino a composig.'io d'alguns cantos liturgicos, que tao pouco perlcncem a S. Bernardo, S. Gre- gorio e S. Ambrosio. A historia da rnusica reiigiosa podc divi- dir-se em quatro grandes epochas. Ate o seculo XVI , so se encontrain melodias de pequena exteny.'io , accenlo mais devoto que religioso , formas simples do inslincto que torcpja por atinar com a rola ; e depois os trabalhos aridos, mas indispensaveis dos con- trafinnli,i:is, os graminaticos e os dialeclicos da lingua musira. No seculo XVI tloresce a verdadeira musica reiigiosa , cujo creador foi Paleslrina. Modifica-se depois no seculo XVII com a introduc^'Tio da dissonancia na- tural, que e para a linguagem musica, o que as cores do prisma s'lo para a pintura ; e depois vae-se enriquecendo siiccessivamente com todas as conquislas da arte, e torna-se lias m'los dos Carissimi, dos Scarlatti, dos Jomelli, dos Marcells, dos Ilcendel e dos Mosart a manifestagao mais admiravel do espirito divino que illumina o cora^ao do liomcm. ESTADISTICA LITTERARIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA , no anno lectivo de 1852 a 18S3. Matricularara-se neste anno lectivo nas cinco fdculdades da universidade e no lyceii de C/oimbra novecentos e setenia estudantes , contados individualmente , porque uma par- te delles frequentam simultancamente mais de uma faculdade, sendo a different/a para mais dos matriculados era relagao ao numero individual quinhcntos e onze. No lectivo antecedente o numero indivi- dual dos estudantes foi de novecentos e dezaseis , cincoenta e quatro menos, que no anno findo. Fizerain aclo nas cinco faculdades sete- centos e selenta e sete estudantes como se ve do seguiute niappa : ■Mappa dos ncfos que se Jlzeram na univer- sidade em 1853 para 1853. 45 c w Bepro- Totael a Faculdades III It- vadot 1 ? Theologia 87 9 1 97 5 Direito 407 25 4 436 13 Medicina 46 4 2 52 n M.ilhematica 51 12 .3 66 43 Philosophia 106 13 1 126 34 To" Tnl.n-s (i!)7 63 1 7 777 Nas cinco faculdades fizeram formatura cento e vinte e cinco bachareis, e doutorou- se em Dircilo um sextanisla, Pelo mappa 99 seguinte se ve o resullado das qualifica^oes finaes que obliveram no jiiizo das Informagoes. As faciildades de Theologia , Direito, Malliemallca e Pliilosopliia , conferiraiii viii- te e oilo preinlos pecuniarios, e as lioiiras do accessit a qiiarenta e uiii estiidatites mais distiiiclos por sen lalento e applica(;ao. Facuhlades Pre Olios Accessit TliKologia Direito Mathemalita Pliilnsopliia 8 4 11 5 8 1« 12 5 Totacs 28 ■U Em Medicina nfio se deram premies por tereni tido perdfio d'acto no anno antece- deiite OS estudantes da faciildade , na tornia do coitume. Desde dezembro de 1853 ate ao ultimo dc jiillio proximo passado fizeram-se perante o jury acadeniico oitocenlos e dois exainos das diacipiinas prcparatorias para os cursos da universidade. Exames perante o jury academico. Diicjplinai .S5 2 -si a. £ a. li a. i z as ToUCi 1 Lalina 134 40 36 210 iGrega 15 6 (( 21 1 1lebraica L'"S°»MAl!ema 4 2 « 4 2 1 1'ranceza 83 25 27 135 \Ingleza 14 a (( 14 PhilosophiaRac. el Moral , ePrinc.de j 93 33 38 164 Direito Natural ; Oral., Poet.. Litter. 1 Classica , llistoria 82 27 15 124 Chronol. etc. Arithmelica, Alge- bra eGeomclria 89 17 22 128 Totaes 516 148 138 80ii A despesa com o pessoal da universidade e jyceu foi de 44:162|'980 reis. Nos hospi- taes ('. mais estabelecimentos annexes a uni- versidade gaslaram-se nove contos equinhen- tos e sete mil e novecentos reis. Dcspesas com os estolielccimcntos da univer- sidade. Lyceu 00^02.5 Secretaria e geraes 1.50^300 llospitaes 4:775,|220 Dispeusalorio pliarmaceutico. . . 541 j^8^5 'I'liealro anatoinico 282,;Sf440 Observatorio astronomico 1 l^bOb Laboratorio cbimico 288|f81& Miiseu de Historia Natural .... 136^855 Gabinete de Mineralogia 2 J'040 Ciabinete de Physica 33^070 Jardim Botaiiico 704^090 Aula de DeseniiO 14^'545 Bibliolheca 290^935 Cap.?lla 892^100 Casa das obras b9b^37& Arclieiros 698|'829 9:607^900 A importancia dos rendimentos da univer- sidade, proveniente das matriculas e mais propinas, foi de dezariove contos duzentos e quarenta e Ires mil cento e setenta e cinco reis. Rendimetifos proprios da universidade, It&b matriculas da universidade 17:881/668 266 ditas do lyceu 329^.567 51 Cartas de formatura 1:031^'940 Total T9I243J175 Publicaram-se pela imprensa da universi- dade quarenta eoito volumes de varias obras litterarias e scienlificas , alem de grande uuantidade de impressos para dilVerentes re- parti^oes, e d'outros yulgarmente intitulados nas lypographias remendos , no decurso do anno lectivo tindo. Os factos que consignamos aqui poderao servir para resolver algumas das mais graves questoes universitarias , que nao vem aonosso iiitento tractar agora, mas cuja solugfio e da maior transcendencia , porque della depende o credito da nossa prirneira academia, e o progresso e aperfei^oainento das lettras pa- trias. A. BUEVES REFLEXOES IIISTOItlCAS SOBRE A NAVEGACAO DO MONDEGO , E CULTCRA DOS CAMPOS DE COIMBRA. Conlinuado de pag. Su. Desde 1569 ale 1627 nao deparamos com mais providencias relativas a obras do Mon- don-o . a nao ser o rcgimenlo dos maraclioes e uma provi-ao sobre fintas de que adiante daremos conta. 100 Oi trnliallio; aiUcriorinciilo tia^ados , a> conleroiicins de aiictoridadcj , a vinda do mii engcnlieiro a Coiiiibra para dirigir as obras tiido ajiuiava a peisuasao de qi:e o ciicaiia- nienlo dicrolado em lt)()7 se liiiha coiuliii- do, Gate a escacpz do iDedidas li^gi^lal iva^ (jiie se nota no inlcivallo de I&GS) a Ki^?, auxiliavaii) esia opinifio, pois era dc >ii|)por que tondo-^e aliorto urn novo encanarnriilo nao fosse por iiiuiLos annos necossario iccor- ler a oulras obras. I^ao aconlcceu porem assim ; em 157o , nao so ainda nao liavia ciicanainonto novo, mas parece ato, qno esse projeeto ostava abandonado. Nfio e luiia pe(;a ofTicial, mas sim documoiito indirooto, que nos osclarece li cerca d'este I'aclo. Uma csciiptiira do alToramenIo que a ca- niara fez de 50 varas de marnoliao junto a ponte em 1575, nos desvia de urn erro a que OS documeatos de 15()7 ji'i cilados nos podiatn induzir. » Klrei (diz a escriplura) . " mandon fnzer os maraclioes, para ver se « podia encanar o rio, a lerra e sitio dellos » i'oi pago a sens donos com o dinbciro das " fmtas , e ficaram sendo da cidade e dos " rocios della ; a obra dos marachoes nao I'oi depulados que as camaras deCoimbra, Mcnlomor e Teiitugal llie deviam cnviar, cada lima dous (§. 7.°) I'ara a arrocadat;ao destas fintas havia dous rec(;l)odores , que ganliavain dez por cento da iuiporLancia recebida ; um tliesoiireiro e um Oacrivfio ambn, triennaes, proposlos pelo provedor c de|)u[ados e confirmados por eirei; sou ordenado eram dez mil reis para cada uin , e iseii^'fio de fintas durante o tem- po do cargo; ao cscriv.'io pagava-se fambem a imporlanciadaeicripta (>^^. 3.°, 10.° e 11.°). Iluvia em 'J'entiigal um celeiro com tres cliavos, e um cofro com outras Ires, este para o dinlieiro dos cereaes, e aquelle para recollier os fnictos das fintas. As cliaves esla- vam igualm«nte repartidas pelo provedor, cicrivao e tliesoureiro. liavia tembem dous livros para a enlrada e sai'da , dos goneros e dinlieiro; e outro especial para carregaf^'ao do produclo das condeuayoes. Estes livros , fiudo o anno, deviam ficar arcliivados na camara de Coimbra (§^.4.°, 9.°, 20.° e 24.°) Scruigos pessocics e punas 'I'odos os lavra- dores do campo e visjnliaii^'as eram obriga- dos a trabalhar um dia de graca, quando e onde Hies fosse dcterminado pelo provedor ; OS que tivessem boisserviriam com elles , e os que OS nao Livessem concorreriain com en- cliadas, pas, baldes etc.; se faltassem paga- riam de condemnayao estes oincoenla reis, e aquelles cem reis. Ao juiz ordinario de cada povoagfio incumbia apresenlar-so com OS dilos o|)erario3 no local que llie fosse apontado para dar conta das pessoas que fiiltavam , e se nao cumprisse era condemaa- do pelo provedor, mas nunca em mais de duzeiitos reis (§. 5.°) As commuuidades e corpora(,-oes , alem da finta , deviam em todos os aniios no mez d'Agosto, mandar por uma carrada de pedra li borda do rio, no local quo Hies foase desi- gnado, e no ca^o de omi5>ao o provedor a mandana para'lii conduzir por conta das inesmas corporajoes. (§. 6.°). 'i'odns OS moradores a duas leguas de uma 0 outra margem do Mondego, deviam pie^tar servicos com sens carros , pas e'baldes nos inaraclioes e quebradas quando fossem cha- inados pelo provedor, mas reccbiam paga segundo o coslume da terra (Jj. 23.°). Medidas preventiaas. Era |)rnliibida a pesca de mergullio e de naca desde os ma- raclioos da Geria ale a ponte da Cal , sob pena de dous annos de degredo para Africa , p de dez cruzados , metade para o accnsa- dor, c metade para o cofie do campo (^.16.°). N'lo se pcrmittia a pastagem no campo ao gado suino sem ser pastorado ; e sendo en- contrado a dislancia de seis aguilliadiis cra- veiras do rio ou valias, ainda mesmo com pastor, pagavam seus donos com reis por 105 PUEMIOS. Relagdo notninal dos catudantc^ previiados peia iiniversidadc dc Coimbra no anno iectivo de 18o2 para l8o3. FACULDADE DE THEOLOGIA. l.** ^4n.no. I.** Premio — Joiio Manuel Cardoso de Napoles. 2." dito — Clemenle Josu iIp Mello. 1." Accessit — Airosliriho Parheco Pereira da Cnnha. 2." dito — Manoei Auijiislo du Suiisa Pires de Lima. 2." ^nno. 1.' Premio — Jose Gomes Marlins, 'i.** dito — Jose da Conceii^ao IMiranda. I." Accessit — JoSL* de Maltos Viegas. 3." Jnno. 1." Accessit. — Jouo Rddii^iies. ^.° dito — • Antonio do Carmo. 4." Jnno. X,'^ Premio — Albino JacinlUo Jose d'Andrade e Siiva. 2." dito — Manoei Bernardo ile Soiisa Ennes Accessit. — Francisco dos Santos Donato. 5 " Anno. 1.° Prem/o — Manoei Ahes da Motla Veiga. 2." dito — Damazio Jacintho Frajjoso. 1.^ Accessit, — Manui^l Tavares da Silva. '^.'^ dito — Joaquim Maria de Sousa. FACULDADE DE DIREITO. 1.** Anno. Premio — Antonio Aires de Guiivea. 1." Accessit. — Jose Correa Harcourt. 2." dito — Nicolaii A Ives da Molta Veiga. 3." dito — Anlunio Giincalves Guilinlm. 4." dito — Ernesto Fredenco Pereira Marecos. 3.° ./Inno. Premio — Jacintho Atitonio de Soiisa. 1." Accpusil — Vicente Pedro Dias. 2.0 rf/7o — Manuel Ram.-s. 3." dito — Lniz Antonio No^ueira. 4," dito—'Josti Juaqiiini KdjeiiL-. 4." yinno. 1° Accessit—" \ii2iislo Cczar Barjona de Freilas. 2." dito — Antonio Alves cla Fonseca. 3.° dito — Carlos Rauiiro Cuntinlio, 4.° dtto — Francisco Muniz Barreto Corte-Real. 5.° ylnno. 1." Premio — Joao Biiptista da SUva Ferrao de Carva- Iho Martens. 2." dito — Jo:ie Jnlio de Oliveira Pinto. 1.° Accessit —Joaquim Jose Paes da Silva. S?.** dito — Francisco Aiigusto Furtado de Mesqiiila Paiva Pinlo. 3." dito — Antonio Cortez Bermeo de Lobao. 4.® dilo — Jose de Abreu Cardoso Muniz Castello BraDco, FACULDADE DE MATIIEMATICA. 1." ^nno Partido — Veilro de Alcantara de Carvalho e Va9con- ccllos. Premio — Manoei da Cosla. 1.° Accessit — Julio Maria dos Santos. ■i." rf/io — Manoei Marlins Pinheiro. Premios 3." Jiio — Loiiren(;o Antonio de Carvalho. 4.° dito — Jose Augusto Correa de Barros. 2.' Jnno. l." PariiVtf — Antonio Pinto de Ma^albaens Airiiinr. 2.^ f///o— Adolpho Soares Cardoso S.** dito — Joaqitim Pires de Sousa Gomes. premio — Carlos Maria Gomes Mnchado. .•iccc«Si7 — Fredericu de Lima Muyer. 3." An7io. 1." Prf/ziiO — Joaquim Jose Coellio de Carvalho. 2." dito — Manoei Affonso d'Esperaueira. 1 ° Accessit ~*Ed'y.irt]o Pinto da Silva Cnnha. 2," rf//tf— Liiiz Pinto de IM-sqiiita Carvalho. 3." (/i7o — Jose Cabral Gordtlho de Oliveira Miranda, 4." j^nno. I Tose Pereira da Costa Cardoso. I Matliiasde Carvalho e Vasconcellos. 1.° ^fcfss// ^ Janiiariu Correa de Almeida. 2.*' dito — Francisco Antonio de Brito Limji(». 3.° dilo — Jose d'Albuqurqne. 5." Jnno. premio^ \.n\.o\\\o Jnsi* Teixeira. Accessit — Aurelio Pinlo Leite. FACULDADE DE PfllLOSOPHIA. 1." J^nno. Accessit — Pedro de Alcantara de Carvalho e Vascon- cellus. G." Jmio. Partido— Knlomo Ani^iisto de Oliveira. PremiO— Joaqnim Goiigalves de Miranda. Acctssit — Joaquim Pires de Sonsa Gomes. 3." Jnno. l.*^ Partido — D. Joaquim da Boa Morte Alvares de Moiira. 2." ditu — Antonio de Carvalho Coulinho e Vascon- ccllu«. Premio — Albino Au;;nsto Giraldcs. 1." Accessit — Jeronymo Au2;u3to de Bivar Gomes da Costa. 2." dito — Manoei Francisco dc Medeiros. 4." Jnno. Accessit — Airostinho Antonio do Soulo. ^•0TIC1AS LITTERARIAS. Estadistica dos cxames de bacharel em Icltras etit Frun^a. A estadHlica dos exames de hacliarel em Ictlrns em Franra, nos ullitnos qiialro an- nns, da o Iciiiio medio di; sessenta e cinco reprova^oes em cada cem candidalos ao dito gr;io. A prova de urn lliema em latim ou fiancez, que n'este anno se exigiii aos can- didatos pels primeira vez , nfio influia sensi- vclmeiite no resultado geral das approvagoes finaei, por que se aiigmentou as reprovagoes na serie das provas escritas, tambem deixa- ram per isso de ser cxcluidos nas provas oraes algiins, que sem o rigor das primciras o teriain sido nestas. Eis aqui o resultado 106 dustes exames em todas as faculdadcs das kttras desde 1.160 ate 1853. Annos AppioYjdoi Eicluiiiot na LirluiJoi •> pcova oral Total di» concurroQic* 1850 1851 1852 ISdS 725 665 4.90 311. 976 975 676 530 328 292 233 91 2029 1932 1399 9(1. Ohras ineditas. O cardcal Angelo Mai, bem conliecido por sens Iraballios liuerarios , puMicou agora com o tiuilo — Patnim nova bibliotheca — uma collec(,'ao de obras ineditas dos padres grugos e latinos, tirada dos maniiscrilos do vaticano. Contem e=ta collec^ao ontre oiitras obras duzentos novos sermoes de Santo Ago- slinho, e treze opuscuios de S. Cyrillo. INSTnUCCAO PDBLICA EM HESPANHA. Ohras approvadas para o ensino publico nas universidadet e institutos de Bespanha em 1851. Coiilinuado de pay. 96. FACULTAD DE FILOSOFIA. Lengna grega. Gramatica griega, por D. Saturnine Lozano y Blanco. — dita, por D. Antonio Bergnes de las Casas. — dita, por el Coro- nel San Roman. Para la version del griego. Crestomatia griega, por D. Antonio Bergnes de las Casas. Coleccion de trozos escogidos , publicada en Valencia sin noiiibre de aulor en 1047. Lengita hchrea. Anulisis filosofieo de la escritura y lengua liebrea, por D. Antonio Garcia HIanco. Gramatica , de D. Salvador Berneda. Biblia hebraica , de Leipsick , cuarta edicion. Lengua drahe. Ciramalica, de Bacas Merino. — dita, del P. Franciaco Clanas. — dita, de lirpennior. Trozos de traduccion a eleccion d» los oatedraticos. Litcratiira y composicion laiina. Manual hislorico y critico de la literalura latina, por U. Angel Maria Terradillos. Leccioties de liieratura latina , por D. Jacinto Diaz. Para la version y composicior^ de idem. Coleccion de los PP. Escolapios. Preceptistas latinos, por D. Alfredo Adolfo Camus. Trozos selectos , por D. Angel Maria Terradillos. Literatura general y espanola. Manual de titeratura , por D. Antonio Gil y Ziirate. Elementos de literatura, por D. Pedro Felipe Monlaii. jiinpHacion de la fdosnfia. Manual de filosofia , de Servant Bauvais, traducido por D. Jose Lopez Uribe. Compeiidio de fdosot'ia, por D. Juan Jose Arboli. Curso completo de filosofia. — Psicolog/a, logica y moral, de Tissot, traduccion de D. Isaac Nunez Arenas. — Gramatica general escrita por el niisrno. Resiimen histnrico de la filosofia. Manual de la jiistoria de la filosofia, por D. Tomas Garcia Luna. Econoinia poll lira. Curso de economia politica, por D. Rusebio Maria del Valle. Economia politica ecle'ctica , por D. Ma. nuel Colmeiro. Elementos de economia politica, de Garnier por D. Eugenio Oclioa. Geografia aslronoinica , fisica y politica. Compeudio de aitronomia , de llerscliell, traducido por Monlojo. Geografia astronomica , por Antillon. Geografia de Verdejo para la parte fisica y politica. Algebra superior y geometria nnaliticn. Geometria analitica, por Zorra(juin. Idem, por Santa Maria. Cdlculos sublimes. Tralado delcaiculo difereiicial e integral, de Boucliardal , traducido porD. Geronimo del Campo. Idem, deD. F'ernando Garcia San Pedro. Idem, por Navier, traducido. JMecdnica. Tratado de Mecanica, de Poisson, tra- ducido por D. Geronimo di'l Campo. Idem, de Boucliardat, tercera edicion. Idem, deD. Fernando Garcia San Pedro. Ampliacion de la fisica. Tratado de ('i^ica experimental y meleo- rologia , de Pouillet, traducido. Curso completo de fisica experimental , por D. l''ernando Santos de Castro. 'J'ratado elemental de fisica, de Despretz , traducido. Quimica general, Tralado de quimica general, por D. Antonio Casares. Curso elemental de quimica, de Regnault traducido por D. Gregorio Verdii. Curso de quimica, arreglado a las ex- plicaciones de Don Vicente Santiago de Masarnau , por D. Jose Maria Perez y D. Benito Tarnavo. 107 ^mpUacion de la quimica. Curso de quimica general por Pelouze y Freray. Tratado completo de quimica, de Las- saigne, Iraducido por D. i'lancisco Alvarez Aicalii. Tralado deqiiimica organica, por Liebig. jMineralogia. Tratado elenieiUal de mineralogia, por Beudant. — Idem, de Diifrenoy. — Idem, de Brard. Botcinica. Niievo manual de botiinica, de Girardin y J. Juillel, Iraducido por D. J. M. C. Nuevos elemcntos de bolanica y fisioiogia vegetal, de Aquiles Ilicliard, setima edicion. Manual de botunica descripliva , por D. Vicente Cutanda y D. Mariano del Amo, para los ejercicios practices de clasificacion. Zoologia. Elemcntos de zoologia , 6 lecciones sobre laanatomia, la fisioiogia, la clasificacion y coitumbres de los animales , por Milne Edwards. Idem, por Milne Edwards y Aquiles Corate, traduccion de D. Pedro Barinaga. Introduccion a todas las znologias , de Aquiles Comte , Iraducida por D. J. M. G. v D. J. G. FACCLTAD DE MEDICINA. PRIMER ANO. Fisica y qiijoiica de npticacioa , anatomia general y descripliva. Fisica de apUcncion d la medicina. Tralado elemental de fisica general medica por D. Antonio Riveroy Serrano: dos lomos. Lecciones de fisica medica, por D. Ma- nuel Losela y Rodriguez: un tnino. Quimica apl/caila a la medicina. Pronluario de quimica metlicu , por D. Juan Cliavarri. Elenientos deqinrnica, por A. Roucliardat traduridosal castellano de la segimda edicion. 'J'ralado de quimica medica, por D. Francisco Mercader y Bernal. Anatomia general., descripliva y prdctica. Tratado de anatomia general , descriptiva y topografica , por D. Lorenso Boscasa : tres tomos. Compendio de anatomia general, descri- pliva y lopografica, por D. Agapito Zuriaga: dos tomos. Niievo manual de anatomia general , jior L. G. Marcheseaux, traducido por D. Francisco Mendez Alvaro: un tomo. Tratado completo de anatomia general, por F. Heule, traducido por los redactores de la Bibliotcca escogida de medicina y cirugia : un tomo. Manual del anatomico disector, por Ernesto Alejandro Lanth , traducido por D, Carlos Quijano y Malo : dos tomos. SEGCNDO ASO. Historta natural aplicada a ]a medicina , fisioiogia e higiene privada. Hisloria natural aplicada a la medicina. Elemenlos detiistoria natural medica, por Aquiles Richard, traducidos por D. Bar- tolome Obrador. Tratado de liisloria natural medica, por M. Edwards y A. Comte, traducido al castellano. Fisioiogia. Ensayo de antropologia , 6 sea historia filosofica del iiombre, por D. Jose Varela Monies: cuatro tomos. Compendio de fisioiogia , ilustrado con Liminas , por Mulier , traducido por D. Francisco Alvarez y D. Nicolas Casas. Manual de fisioiogia, por D. Juan Rivot y Ferrer. Higiene privada. F-lemenlos de liigiene privada, por D. Pedro Felipe Monlaii : un tomo. Tratado completo de higiene, por Carlos Londe , traducido al castellano. Manual de higiene , por el doctor Foy , traducido por un medico de esta corte : un tomo. TEnCER ANO. Patologia general, anatomia palolo^ica terapeutica , Diuteria medica y arte de recetar. Patologia general. Tralado elemental de patologia general y anatomia palologica, por D. Francisco de Paula Folch y Arnich : un tomo. Tralado completo de patologia general, por A. F. Choinel , Iraducido al castellano. Tratado elemental de patologia general y semevulica , por IJcndy y Beliier, traducido por D. Cayetano Baheiro : dos tomos. jinatoinia palologica. Manual de anatomia palologica, por D. Manuel Jose de Porto: un tomo. Tralado elemental de patologia general y anatomia palologica, por D. P'rancioco de Paula Foleli y Amicli : un tomo. Terajidutica. Tratado de terapeutica general, por D. Luis Oms y Don Jose Oriol Ferreras. Tratado de terapeutica y materia medica , por A. Trousseaux y Pidoux, traducido al castellano. Tratado elemental de terapeutica medica , por L. Martinet , Iraducido por D. Lorenzo Boscasa : un tomo. Materia medica. Manual de materia medica, por 11. Milne Edwards y P. Vavaseur , traducido por D. Luis Oms y D. Jose Oriol Ferreras: dos lomos. 108 Curso de materia tne'dica 6 do farinacolo- pia , por , J. Toi, Iraducido por D. Juan Bautisla Foix y Gual : dos tonios. lilfmLMilos cl« terapiMilica y luiiU'iia uiedi- ca , i)or D. IJamoii Capdevila : iin tomo. CCARTO ASO. Kitob^ia qtiirdrgica , operocinnis , aoatoDiia qniriSrgi- ca J \emiiijcs. Patologia quinirgica. \ucvos clemeiilos do ciriij,'i'a _v medicina operatoria, por M. L. F. Begin, traducidos por D. Kamon Fran : dos tomos. Tratado completo de ciriigia, por M. J. Ciielins, tradiicido por D. A. Sancliez Bus- tamanle: tres loino>. Tralado de patologia externa y medicina operatoria, por A. Vidal (de Casis), Iradu- cido al caslelianii. Jinatoinia quinirgica. Manual de analoinia qnirurgica, por 11. M. Ed-.vards, traducido por D. llainon San- chez y Aleiino: dos toinos. Tratado coinplpto de anatomi'a qnirurgica , por A. L. M. V.dpeau, traducido por los redaclores de la Biblioleca de medicina y cirugi'a : nn lomo. Tratado de anatomi'a qnirurgica, por Pe- Irequin, Iraducido por D. Juan Maestre ds San Juan Maestre de San Juan y D. Agus- tin Ramirez de Marauri. Opcrjciotie.s. Manual de medicina operatoria, por Mal- g;aiae, traducido al castellano de la cuarla V ultima edicion. Nuevos elcmentos de medicina operatoria, por M. Valpeau , traducidos por D. Manuel Leclcrc y D. Juan Jose de Elizalde: cuatro tomos. (■^rndnjca. Elcmentos del arj,e de los apo^ilos, por D. Matias Nieto y S(_-rra:io y D. Franciico Mcndez Alvaro: un tomo. 'J'ratado cnmpleto de vendajes, aposilos y ciiras, por M. N. Gerdy , traducido por D. Jose. Rodrigo y D. Francisco de Santana : dos tomos QriNTO .\X0. Palologia medica , obslelrici.i , enferraedades de nifios , clinica qnirurgica. Patologia medica. 'I'ratado completo de medicina pructica , I-o: C. G. Hnrfcland , traducido al castellano. 'J'ratado elemental de ch'nica y patologia medica, por I.,. Martinet, traducido por D. G. Ron re y Fernandez : dos tomos. Nuevos elcmentos de medicina en latin, con la traduccion castellana al frente, por M. Y. Capuron, traducidos por D Ramon Frau y D. Juan Trias: dos tomos. Obstctricia. Tratado practico de los partos . por F. Y. Moreaii , traducido al cajtellaiio. Tratado practico del arte de partcar . por Cliailly , traducido por D. F. Mendez Alvaro. JNIamial dc ohstetricia, por M. Antonio Duges, traducido por D. Jose Rodrigo: dcs tomos, Enftrnicdades de niugcrcs. 'J'ratado completo de las eniermedades de las mugeres, por D. Jose' Arce y Luquc tres tomos. Tratado elemental completo de las enfer- med.idc:! de las mugeres, por D. Luis Oms y D. Jose Oriol I'erreras: dos tomos. L'jnj'ei'nicdades de los niiios. 'J'ratado practico de las cnfermedades de los ninns, por J''. Barrier, traducido por D. Luis Oms y Garrigolas y Don Jose Oriol I'^erreras : un tomo. Tratado completo de las entermedades de los ninos, por A. Scliuitz y B. Wolf, tra- ducido por D. Santiago Palacios y .Villalva : tres tomos. Enfcrincdades dc mugeres y de ninos. 'J'ratado elemental de las cnfermedades de las mugeres y de los ninos, por Fabre y D'lluc : nueva edicion espanola. Clinica qnirurgica. Manual de clinica quiriirgica , por Taver- nier , Iraducido al castellano : un tomo. Los set'ialados para patologia qnirurgica y opcraciones. SESTO A So. Clinica medica, medicina legal, to\icologia Clinica medica. Prolegomenos de clinica medica, por D. Ignacio Ametller. Aforismos y pronosticos de Hipocrates, traducidos al castellano. Las obrasseilaladas para patologia medica. Medicina legal Tratado dc; medicina y cirugi'a legal, por D. I'edro Mala: dos tomos. 'J'ratado de medicina legal , por D- Ramon I'^crrer y Garce's : un tomo. I.lementos de medicina y cirugi'a leg^I , arreglados a la legisl:^cion espanola, por D. Pedro Miguel de Peiro y D. Josc Itodrigo : un tomo. Toxicologta. Cornpcndio de toxicologia general v espe- cial, por U. Pedro Mata : nn tomo. SRPTIMO ASo. lligienc piiblica. EIen]entos de higiene publica, por D. Pe- dro J'elipe Monlau : dos toraos. 'J'ratado completo de liigiene publica , por Miguel Levy, traducido al castellano: un tomo. Moral medica. 'I'ratado elemental de moral , por D. Felix Janer : un tomo. ConUnna. V. FpRRER. JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. O CONVE.VTO ANTIGO DE S. FRANCISCO DA POME EM COIMBRA. " Reslos, que JH contemporaneos fosles " De nossus bons e simples Maiores *• Gosia meu Curasao d*enlerrogar-vos '• E gosIa de vos crer. De novo a lilsloria ram logar. Limitados as antigas cliro- nicas, pouco rolliemos talvez de suas pagi- nas, cheias de iSo eiicontradas opinines'; lodavia quern preza a gloria de sua lerra natal , nao deve esquecer-se de collocar a par das memorias dos feitos , que a enobreccin , adeiim mnnumento, que llie foj taohonroso. Concordam os liistoriadores e clironistas, em que o convento de S. Francisco, clia- mado da ponte, fora fundado pelo Infante D. Pedro, fjlho de D. Sanclio I ' , da par- te de baixo da ponte na margem esquerda do mondcgo sobranceira ao rio vinle de- graos^. Nenhum vestigio ha, que possa designar ao certo o local deste respeitavel monumento; somos porein obrigados a '■rer, pelo que dizem os historiadores, que fstaria logo abaixo d'cntre pontes por onde agora vai o alveo do rio , que n'aquclles teujpos era muito estreito; e tanto se foi, por causa das areas, levantando , como alar- gando; assim o assevera o erudito clironista cinco Marljrcs, veio com ell.is para Leilo, c de la as enviou a Coimbra pnr um fidalgo , chaniado Affonso Pi- res d'Ariianil. Mon. lus. 1. 13 cap. 18. — Es|ier8nc;aitc. * Miin. lus. 1. 16 cap. II. ■• Chron. seraf I. 1 1. 2. cap. S9. ' Mon. lusil. liv. 16. cap. 11 cil. Annaes d'Arajilo por Geronimo <^urila I. 1. paj,'. 161. ' Quia facio et projiotw perficere si Detis rotfierit . Eeclcsiam fralnim minortnn Colimbrlcensis , mnttdo eli^em Eccletiic CCClibras. Hem — mando Ecclesia Colimiricen- ais de ordinc/ralriimminorum , et I (a) libras pre ad Jaciendum uniim allare bealte catlmrinae. . . . (i*)- ' Hisl. seraf. I. 1. liv. 2. cap. 29. (a) I. t.i1*«s mt'r. Elucid, de S. Rot. dii que 1 ao tcculo 10 < il • 11 valia niit. {b) Prorii pin ■ bill, geool. f. 1 . pig. ^3. HI ^ao de D. Pedro, o cruel ; e que dopois fcira bispo desta cidade. Tiveram lamhfjin parte na cerimonia da sapra(;ao o bispo de Viseu , e fr. Gil , bispo de Cirondnni '. Qiiizerarnos poder dar uma idea deste ce- iebre edificio, quo sctii duvida doveria ser de boa tra(;a ; mas nem o» liisloriadores fallam de sua architecliira e capacidadcs , neui lioje cxiste al^'um vestif;io, que podcsacmos cxa- minar. Descobriinos s(3incnte na Quinta de S. Joao do piolho tres f^randes iinagens de pedra de oilo a dez paliuos cada uma, ern tres nichos d'alvenaria: a primeira de S. Antonio, a segunda da Senhora da Cnncei- jao , e a outra de S. Francisco; e e tradirao nos senhorios desla quiufa, que estas iina- gens pertenceram ao anligo convento de S. Francisco da ponte, cotno se collige de uma inscripgao, que esla junto a imagem de Nossa Senhora, a qual diz: u esla irnagem de N. S. daConceijao, e a de S Francisco, e de S. Antonio foram do convento vellio da ponte, de que cram berafeilores os SS. desla quinta 1609 ^.« Seisto e verdade, eas imagens pertencessem a egreja , on afronlatia do con- vento , o que e' mais de crer, deveria o edi- ficio ter grander dimensoes. Nao deix.iremos de notar, que a iiistoria breve de Coinibra pelo iicenciado B. de Brito Boteliio se ensa- nou , quando diz , que o convento de S. Fran- cisco da ponte, fundado pelo infante D. Pe- dro, tein sobre o segundo andar do dormi- torio o sen claustro e refetnrio , e mais offi- cinas, etc. ; porque islo diz respeito ao con- vento moderno; como eile mesmo enlende, quando diz ; porque logo par cima fica o regio convento de S. Clara , etc. ; e nao ao con- vento, fundado por D. Pedro, que era o velho, e de que ja no seu tempo nem vesti- gios havia^. Parece, que ji'i era 1506 de tal inodo as clieias do Mondego importunavam o conven- to , que o snr. D. Manoel, vendo o grande perigo, em que estavain os religiosos, e os grandes incommodos, que sofriam , alcan- 50U do papa Julio II uma Bulla para elles se poderem mudar: todavia os frades so em 1694 se resolveram a deixar seu anligo con- vento, por ja alii nao poderem habitar *. Procurarara com elfeito novo local para ' Hist serjf. I. 2 cap. 29. = Hist, de S. Domin- jros liv. 3. cap. 4. AUiins dizem , que D. Vasco uiio foi "uispo de Coimbra ; porem lemos , aleiu das provas , que Hppresenta o erudilo auctur do catlialui^o dos bispos de Coiinlira nas memor. d'acad. da hist. poel. para o aono de 17'i-l pas^. 114, urn ducnnienlu de .S. Anna de Ciiim- bra , onde se 1^ : na era de 1403 annos (an. de chr. 1305) 14 dias do mez de noveinbro na cidade de Coimbra deo- Iro na see da dita cidade.. ,, perdanle Juham Rodrigiies prior deTeixoso, e viijario j^eral do unrado padre, e senlior iloni Vasco , por meri.e de Hens e da santa egreja de Roma, bispo da dica cidade. ^ Esla inscripQ^o nSo tern signaes ile muilo antiga ; parece , sejundo as confroatai^oes , que Ozeraoj ger des principios deste sccnlo. ' Hist, breve de Coimbra pag. 80. * Hist, seraf. t. 1. 1. g. cap. 3S. fundarem nova casa , e escolheram o silio chamado a Jcnicoca fora da porta do castel- lo ; mas que vieram a coder aos carraelitas descalgos ' para elles fundarem o seu colle- gio. Kscollieram enlan ficar atraz do seu convento vclbo nas fa Idas do monte da Fspe- ranga : onde cm 2 de maio de 1G02 Ian90u a primeira pedra o grande e virtuosissiroo bispo de Coimbra D. Affonso de Caslello Branco , sendo provincial fr. Amador de S. Francisco ^. Este novo convento foi feilo de ciuiolas, conio affirina a in5crip9ao, que esla sobre a porta principal da egreja : u estai ohra.i se fherain com csmolas dos fieis chrit- tdo!<. Em duas oulras inscrip^oes , que eslao sobre as outras duas portas, tambem se le: Em 2 de maio de 1603 se lanrou a primeira pedra neste edificio : islo n'uma, e na outra : Em 29 de novcmbro dc 1609 se passaram OS religiosos para este convento ^. Foi pois neste dia 29denovembro del609, que com mui solemne acompanhamento fize- ran; os religiosos a sua IrasladaQ.'io *. O con- vento velho foi-se logo demolindo, e ja em IC'll appuas existia descoberto um peda^o de parede, que nesse mesmo anno foi des- feito por pedreiros ' ; dcsaparecendo assim OS ullimos vcsligios deste recinto consagrado a honra de Deos, a praclica da virtude, e que fora habilado quasi qualrocenlos annos! Muitos sao cs aconlecimentos , que a histo- ria patria nos refere succedidos neste con- vento e sua egreja. Aqui elrei D. Diniz ordenava suas tropas, para obrigar li for^a d'armas , e reduzir a obe- diencia seu filho o infante D. Aflbnso, que, indignado pelas demonstra^oes dc amor c carinho, com que seu pai tractava a seu filho bastardo, D. Alfonso Sanches, se havia le- vanlado contra elle ; vindo a congra^ar-se em fim , depois de varios recontros, pelos rogos e lagrimas da rainha S. Isabel '. Aqui o infante D. Diniz, filho d'elrei D. Pedro 1 c de D. Igncz de Castro, esteve alo- jado com sens camaradas , quando , seguindo o parlido dc Henrique II de Castella , entrou no reino para fazer guerra a D. Fernando, por este se haver alliado com D. Joao du- que de Lencaslre pcrlendente da coroa de Castella '. Aqui se aquarlellaram D. Joao Affonso, conde de Barcellos , Joao Rodrigues Porto- carreiro, Jo.io Affonso, cabe5a de vacca , fidalgos da cotniliva de D. Joao I de Castel- la, quando , pertcndendo a coroa de Portugal de que se dizia herdeira D. Briles, sua mu- • Oil. liisl. seraf. = Cil. liisl. seraf. ^ Alsnein diz qtie a obra fora feila a cnsla do bispo, c qne por modestia mandura all pur aquella inscnp(,-a.i. ^ Cil. liisl. ser. 1. S! cap. 33. * Jdem. ' Nones de Leao , chron. dc O. Diniz fui. 154=. Nobiliario do conde D. Pedro til. 7 foi. 33 ' N. de Leao, chron. de D. Fernando foi. 199 — hisl. 9er«f. I. e. cap 30. 112 Iheri filha de D. Fernando, cntroii no reino com mao armada , chaiiiado por D. Leonor sua soffra , e esteve em Coirnbra '. Aqui estivcram as cadeiras de tlieoloijia , pcrlenct'iiles a univorsidade , no tempo do senbor rei D. Diniz^. Aqui tambetn veio expirar na tlor de sens dias, D. I'ilippp, princope deCeilava, que, seiido em Ceil'io prisioneiro pelos portiiguczi-s , e callieciimeno no collegio de Goa , vein para Lisboa , e d'abi para este convento, onde doveria segiiir OS eslndos '. Tudo islo porem nao e l.'io notavel, como o acto das curies de 1385 , em que foi accla- mado rei na ejjreja do convenlo , e talvez coroado, D. Joao , Mestre d'Aviz, ej;ientao defensor do reino *. Eram crilicas as cir- cumslancias do reino, niais do que um os pertendentes , a dccis'io das cortes importava talvez a independencia nacional ; mas a saga- cidade de Joao das Regras , e o valor dece- dido de D. Nuno Aivares Pereira, dirigin- do a favor do Meslre d'Aviz os volos da assemblea, livrarara a patria do jugo extran- geiro, e deram-llie um rei cxcellente, pai e protector de seus subditos. J. A. PEREIRA. methodo de jacotot applicado a instruc(.;ao primaria. Em 1831 Joseph Payne, fazendo compen- diosa exposigao do methodo de Jacolot no ensino primario, lentou vulgarisal-o em In- glaterra ; e foi-Ibe facil achar coUaborado- res em um paiz, onde se altende seriamente ao principio da economia de tempo. Pro- mettia-se ensinar por aqueile melhodo a ler e escrever em quinze dias. Consistia onovo descobrimGnto cm comejar a ler palavras ensinadas a pronunciar pelo inestre, apresenlando-as escriplas em label- las, que apresentavam jnnlamente asmesnias palavras divididas nas suas syllabas compo- nenles. Assim collocavam em uma labella The grief of Calypso forthe dc pnrlurs of Ulisscs icoittd admit of no coiiforl. The grief of Ca-lt/-pso for-the de-par-tu- re of U-lis-scs icoitld ad-niit of no con-fort. Depoii de saberem os alumiios pronunci-ir t'slas palavras, e conhecerem o valor de cada lima das syllabas , que as compoc, exerci- tavam-os em acbar as mesmas palavras em pa- ginas diversas dolivro abertas ao acaso , para haver acerteza de quedidlas tinbara conbcci- Tnenlo perfeito. Similbantemenle se ensinavam a escre- ' D. Jo,1o 7. de Castella esleve nos arrabaldes d'a- lem do rio. Nun. de LeSo , chr. de D. Joiio I cap. iO. — Mcnior. para a hist, de D. Joao I. ^ Hist, seraf. alias , moii. lus. liv. 16. cap. 73 , 83 etc. ^ Hist, seraf. ' JVIariz d. 4. cap. 1, — N. de Leao clir. de D. Joao I. — Mon. lus. etc. vel-as, imitando a escripta do mestre ; e se corrigiam os defeilos quanlo d forma, dlmen- soes , e dlrct'^ao das lelras. Ki'pelidos ensaios convenceram daexngera- (,'ao de apprender em cpiinze dias ; mas o que se verificou , foi que ern poucos mezes clie- gavam a saber o que pelo melhodo antigo e\igi;i aniios. Ja era giande a vantagetn do novo melhodo; mas n.'m obstante foi aban- donado : e este facto n'um paiz t.'io amante do progreiso verdadeiro , tao emprcbendedor , e tao porseveranle , c allamenle significalivo. Crraves devem de ser os inconvenienles que embargaram o passo a um methodo lao en- ibuiiaslicamente adoptado, apenas conhcGido. Quern retlcclir no niecanismo , e cxecii^fio do nielbodo , facilmente comprehende , que OS seus resultados depcndem e^spncialnton te dos doles pessoaes do professor. E mister que este lenba alem da clareza e precisao, muita lolerancia, resignai^ao , e pachorra para diri- gir um ensino, que da mais Irabalho ao professor do que ao alnmno. Nuo pode ser applicado a muitos alumnos em grau dilTc- renle de adiantamento por um so professor; por que este podera apenas leccionar duas classes no espa(,'o de tempo que e licito de- morar os meninos em Irabalbos de escbola : e assim seriam necessarios mais professores em cada eschola ; ou o ensino se confiard a monitores; e leremos os inconvenienles do melhodo mutuo. F innegavel a vanlagem de appreciar as lellras na leitura, nao pelo sen valor nomi- nal , mas pelo de suas combina^nes. Se ao conhecimento destas se jvmlam as ideas que exprimem ; se coinei;ar o ensino da Icilnra pelos nomes dos objectos, que os meninos conhecem , pelas phrases que usam em suas cotiversajoes familiafes, o apprendizado sera inuito mais facil. E sem queslao vicioso o methodo de carregar de abslraccoos o espi- rito , que iifio sabe abstrair, de apprender nomes de lelras, syllabas, e palavras, a que nao pode ligar ideas , de metier na memoria das criaii^as uma indigcsia moles, que facilmente se evapora por desacompa- nhada de ideas. A idea da palavra , o juizo da phrase, acompanhando a sua expre*- sao , fixa na memoria o conhecimento de seu valor. O menino que aprende a pronun- ciar o seu nome escripto , ou de pessoa sua conhecida, com facilidade alcanna o valor das syllabas, que o compoem ; e os nomes das lelras , de que estas sao formadas. Neste methodo de aprender sfio conlinuamcnle activas as faculdades menlaes: o a nalurcza deslas repugna a opera(;ao passiva. Nao cremos que admilta conlestag.'io o principio pbilosophico em que o melhodo assenta. Mas como, e cm que cxtens.^o pode elle ser applicado a inslruc(;ao publica? O ensino individual admitle o principio em toda a sua enlensao. O simultaueo so a pode admiuir para 113 nluinnosde uma ale diias classes. Nas esflio- las do eslado, em que nao pode negar-se entrada a uin aliimno, seja qual for o sen grau de instruc^ao, o professor tein que divi- dir a aula de ordinario em seis e inais clas- ses; e nesle caso a esclmla precisara de tres professores ; e coin sallas separadas para evi- tar a confusfio no eu^iIlo. As despezas com a instruc^ao crescem extraordinariamenle neste melliodo de ensiiio. O tempo que forra , e o caracter da inslrucjao, e da educagao moral compensam aquolle aufjmento' E oqueainda se nfio dapor averi;T,]ado. Nfio tem progredido OS eiisaios em Iiislaterra, Franga e Belgica. A exposi^-ao puldica dos alumnos no primei- ro destes paizes parece nao ter aliouado a exceilencia do metliodo; porque se nolou nao ser solida a inslrucjao que elles apresenta- vam. Carece pois ainda da sanc^ao da ex- periencia. Se ao raethodo de Jacolot accrcscenlarnios a harmonia musical , os contos engra^ados , e as figuras symbolicas das letras do alplia- beto tereinos o metliodo de leitura, dila re- pentina, que por 111 corre com o cunbo de grande novidade. A miisica e a distracguo dos contos miiito concorrem de certo para fazer agradavel um estudo fastidioso nas edades da mfancia, em que a applica^ao seria nHo poJe ter logar. A lingoagem symbollica dizem uns que e inulll , outros que prejudicial pela coiifusao que faz a dessimilbanva das letras das figuras que as representam. Ilavendo neste os inconvenientes apontados no methodo de Jacotot , ainda se nao poHe assentar juizo seguro das coriveniencias. Jla opinioes encontradas, e de lioinens compe- lentes. Uns o tem por verdadeira Utopia; outros proclamarn vantagens decisivas e de- monstradas. Temos por exagerado o la no tempo, em que vivcu, porqiie a liistona do nosso talento e por via de regra a da nossa vida. O conde de Daru iia^ceu , e appareceu na scena do inundo , n'uma des^as raras epoclias , em que a sociedade em disiolu^fio c zero , e o homem tudo ; epoclias funestas para a j;;ene- ralidade, e gloriosas para o individuo! tem- pos borrascosos, que estiinuiam o genio , quando tifio o annullnin ; tetnpestades civis, que engrandecem o liomem , quando nfio o arrojam ao abysmo. Nos dias de bonan(;a e d'ordeni , o espayo para as fa^anlias de cada um e estreito, porque a sen(ia esta trajada ; e , paraassim dizer, escripta d'antenifio a sua vida. IS'ascemos naclasse, para que a fortuna nos deslina ; ea sociedade nfto permil.te , que se transponliam as suas graduayoes : de soite que em um estado normal e forgoso seguir OS que nos precedem , impollidos pelos que nos acompanham em um leito social j;l trilliado; e nos caminiiamos por elle com passo mais ou menos tirme, segundo as nos. sas foryas ; se , transpondo-o , graugeamos cele- bridade, onossonome einvocado; e em duas palavras somos symbolisados ! e eis aqui a pagina de nossa vida em uin seculo, a de centenares d'oulros com a simples mudanya de nome ! Mas nesses dramas desordenados o sanguinolenlos , em que se regeneram os imperios, ou s'arrastam ii sua queda, quan- do e derribado o systema antigo, e o novo nao esta ainda criado ; nesses grandes e me- donlios interregnos da razao e das leis, em que o pensamento nao ousa retleclir, e sobre OS quaes a propria liistoria janya urn espesso veo, para n.'io despertar a sua sinistra recor- dayfio ! tudo muda, a scena e invadida, os liomens nfio sao ja actores ; sao liomens , que despem a mascara, que se inedem corpo a corpo, que abandonam a linguagein con- vencional de sens papeis, para adoplarein a vehementc e espontanea de seus iiiteresses, de suas necessidades 5 de suas paixoes, ou de seus furores! Iioroisino, cobardia, talento, genio, estupidcz, tudo serve, toda a arma e boa! tudo tern seu predominio, inlluencia e acceitafao. Ura cai , para subir outro, nenlium esta na sua posigfio, ou pelo menos nao persiste nella; o mesmo homem, elevado pela instabilidade da onda popular, estii sujeito as inais duras vicissitudes, eexerceos mais oppo-tos encargos : a fortuna zoniba do talento e do genio! S;io necessarios discursos para as prajas, pianos para o consellio, liyinnos para otriumplio , conhecimenlos para a logi^Ia5ao, maos habeis e probas para as linaM(;as. I'rocura-se um homem I seu nierito o designa, e o perigo nao admitte desculpas, nein recusas ! ao acaso se Uie impoe os en- cargos OS mais desproporcionados as suas for(,'as, Oi mais repugnantes ale as suas iiicli- na(;i)cs : e s'eiilre Cslas vietiinas do favor po- pular, apparece um homent dolado de virtu- des, e do valor, activo e energico , cmfim proprio para a missiio lionrosa e difficil, que se Ihe coni'ia , e que elle acceita , porque a sua siiperioridade, o sen civismo , o a sua consciencia a isso o deterrninam, o espirito desle homem sai da esphera vulgar, desen- volve-se o seu talento ; as suas faculdades miilliplicam-se, cada encargo ciia-lhc uma lialiilila(;ao , cada sacrificio uma virlude, as circum-tancias lornam-no grande, e a neces- sidade fal-o universal; e quando aposaanar- chia succedc o governo , essegoverno procura apniar-?e nos elemenlos, que a revnluyao nao destruiu, e como n'aquelle individuo nfio ve ju o homem da turba , mas o da ordem , o da reparagao, aproveita-o , eiigrandecendo-o, poiQue o considera seu. Este homem 6 Mr. Daru, o segredo da sua universalidade acha- se escripto em seu destino , e o das suas luzes , e de seu genio vos sera revelado pelos seus ados e pelas suas obras. Mr. Daru , nascido em Montpellier em 1767, d'uma illuslre e honrada familia, re- cebeu uma educayfio analoga ao seu nasci- iiiento, e foi destinado para a vida inilitar. A levoluyao surprehendeu-o no vcrdor dos annos, como a aurtua d'uma regeneragao mo- ral e politica, porque entao uinda s'ignora- va , cpie OS povos nfio se regeneram com theo- rias , mas com a virtude ou com a morte; e o machado ensanguentado das revoluyoes nfio tiiiha cutrado nos calculos da esperanya. Daru passou sob as annas o periodo, em que a Franca inteira lanyou mao dellas, e eslando einpregado no ministerio da guerra , abando- nou o seu logar a 18 do Fniclidnr (duode- cimo me?, darepublica franceza) , para servir a patria nos perigos, que a ameaqavaui. Dez mezes de prisfio foram a rocompcnsa destc dia d'eutliuiiasmo e de valor. Quarlel-mestre general dos exercitos, secrelario geral do ministerio da gueria, cominissario para a convenyfio de Marengo, seu nome figurou nos rclatorios de nossas victorias; e na admi- nistrayao dos exercitos , ale alii confusa , como a desordem , improvideiilc , cotno o acaso, comejou-se a conliecer a intlueiicia das suas luzes e da sua probidade ; e o homem, cujo volver d'olhos equivalia a uma sentenga , tinha-o eslremado da multidao , a reconbe- cido nelle essa paeiencia o energia , que elle na sua linguagem pouco limada comparava ao boi , e ao leao. Cedo vamos achartribuno a Daru ; este tilulo nao quadra ao seu nome , porijue de triliuno tiiilia uaicamcnte a upuo- minajao. Sahido da eschola da anarch ia , 11 dotado d'uin cspirito finne, c d'lim cornrao recto, comprehendia incllior nesta cpoclia o poder, doqiie a liberdade, porqiie o poder era a necessidade do inoinento ; e eao horror da licen^a que cum pre ir prociirar o prin- cipio de dedica(;ao no lioriieiii , que f'oi o poder enoariia mais gloriosos titulos, a alma de Fenelon , de quern tinlia recebido as inspiragoes. Daru honravaio, apezar d'elle s'assentar em bancos oppostos , porque todas as virtu- des se comprehendem. Em sua resposta fal- lou-llie da sua piedade celeste, e da sua in- fatigavel caridade, porque era o unico ho- mem , de ciijas virtudes se podia fallar face a face, pori]uc de todos eram conliecidas , mcnos delle. Morreu I e a voz da bemaven- turanga s'ergueu sobre seu tumulo, e immor- talizou perante vos essa vida, cujo termo pareceu mais o mystico somno do justo, do- que a morte. Nao posso pronunciar o seu nome, esse nome , que vivira sempre em meu coraCj'ao. sem fazer uma pausa, sem saudar ao mcnos com uma lagrima, com um re- speito essa virtude, que I'ulgiu em nossos dia> de tempestade, como um arco iris de recon- cdiagfio e de paz, que figurou nos partidos para concilial-os ; nas lettras para as illu- strar , ena politica para a ennobreccr. Mais feliz , ou mais desgrajado do que a maior parte d'entre vos, eu associo a dor e saudade geral da Fran(;a e da Europa, a d'uma cara eillustre amizadc, que perdi. As ultimas liuhas, que sua mao moribunda tra- (;ou , essas linlias interrompidas pela morte, eram-me dirigidas, e esta prova dedistincjao nao se riscara de meu corarao , a ella hei de ser sempre fiel. O litulo mais honorilico para mim e' o de ter merecido a amizade d'umtal liomem , e a minha mais doce consolajao a deacliar-me ligado a sua memoria , para sem- pre a venerar. A obra predilecta de Mr. Daru c a a tra- ducijao de Horacio, comcgada nos carceres do terror , proseguida e acabada nos campos , nos palacios, atrave's de todas as vicissitu- des d'uma vida tao traballuida e t.'io agi- tada sempre. Horacio era o poeta da epoclia , como Danlf e o da nossa : cada epociia ailopia e restaura alternativamente esses genios immorlaes , que sao sempre tainljem liomens filbos das cir- ciimslancias, ella se refundc nelles , porque sfio a sua imagem , traliindo a sua natureza, para seguir as suas predilecgoes. A epocha assinnlhava-se a d'Augusto: a Europa aca- bava de passar pelas pcnosas provas d'uma revoluij'ao, que ainda nao comprehendia ; era necessario desviar os olhos d'um passado manchado de sangue e d'opprobrio, ser in- serisivcl as mudaiKjas no pessoal e no systeraa governalivo, aos queixumes ou adulagoes, ■■ em fim ao servilisnio popular. Era necessario saltar por cima de tudo , langar sobre todas as cousas uma vista superficial e indilferente , para nao encarar com o horror , ou coin f< desprezo, pregar aos homens essa doutrina esteril e facil , esse epiciirismo da razao, que nfio causa remorsos a escravidao, nem ii:- quiela a tyraiinia , que se vinga de tudo e de todos com ura ligeiro sorriso ironico, que 116 ik'leita a iiidilTeronja e consola a fraqueza, vicio e a virtiido s'ataviain do niesmo iiiodo. jSieste caso esla Iloracio, q ainifjo do Brulo I' de JMocenas , o liomcm , quo abalo o -^eii esciido ua preson^a dos Filippc?, equocaula a firmeza cstoioa , justuin ac tciiiccm , orilre as dclicias do 'I'ibur e os doleilos do Rnma. lim poeta tal dovia agradar cm tal niomoii- lo. O poder iiiquicto devia vor com unia alegria tecrctu oa espiiitos desvairados dos jjrandoj pcnsainontoj das re.iolu(;ooi scrias , ciitregarom-sc a cssa indidgeiito e braiida pliilosopliia , que arrosta o desLino com pa- cioncia e encara os homeiis soin aiiiinosidade. Os tyraiMins e os povos, lao avidos uiis e outrosd'adula(;6es , loom sompre acolliido bem OS poetas desla escbola. Nao e para elles que s'abrom os carceres de Forrara, que se Ic- lantam os cadafaUos do Rouchor , •; d'Andre Clienier, que Syracusa tern piagas e Flo- renya exilios, poique ellos cantam nos ban- (pietes dos poderosos e naa satuniaes popida- les ornados de monolonas gragas. Uma sym- patliia occulta liga e^tes poetas a lodos os ly- raiinos, porque elles deleilam , em quaiito OS soplihtas irritaui o corai,ao e excitam conlra si o rigor d'aquelles. Daru porem iiao teve tal pensameiuo , quaudo deu ao prelo a traducjao de Hoiacio. Iloracio era o amigo de sua alma, e ello queria que o fosse doseu seculo ; einpreza do espirilo liuuiatio a mais dillicil, senao impossivel. A individualidado d uma lingua e d'um estilo nao se Iraduz, porque e' t.'io incommunicavel como outra qualquer individualidade. O mais que e pos- bivel, e verier d'uma lingua para a outra o pensainento do auclor ; mas a forma desse pensamento , sou nrnato e sua harmonia ex- cedem as forgas do traductor; e quem poJe dizer, qual a forma em rolagfio ao pensa- mento e a cor a da imagem \ Se o que se pretende Iradusir nfio e um pensamento e so- iiiente uma impre^suo fugiliva, uma visao imperfeita da imaginagao, ou da alma do poeta, um som vago e confuso do sua lyra, uma graga do sou espirito sem enfeites e ^em alavios, que resta ao traductor ! ulguma^pa- lavras sem expressao, nom graga, simiUian- tes as nioedas dum metal escuro e pesado , pelas quaes se troca a draciima d'ouro clieia de fulgor pela sua qualidado e cuulio. Na poesia d'outra edado lia tambem sompre nma parte j;i morta , uma siguilicacjao dos tempos, do5 costumes, dos logares, doscul- tos, das opinioes, que nao podoirios plutar, porque nao a comprelieiidemos ! elimine-sc d uma poesia a sua data, a sua crenga , era fim a sua orlgiualidade, que restara ! o (]ue resta d'uma ostalua dos douses despojada ilo caracler diviuo, um bocado de inarniore mais ou meiios trabalhado. A revolugiio , quo <) christianismo produsiu na poesia , essa re- volugao, cujos progressos sio sensiveis em Daule, em Milton, em Tasso, Petiarca e Alhalie , teni lido lento desenvolvimenlo enlre nos! Em nossos coragoes eslava o cliristia- nisnio, e em nossos labios o paganismo ; e desta conlradiij'io iiascia a frieza e o dcsacor- do entre a nossa poesia e o coragao bumano; todavia cssa revolugfio se tnaiiifesla emfim, e nos emanci|>u d'uma musa sem individua- lidado, d lima plillosnjjliia sem esperan(,'as e som principios, d'uma mylliologia som fe, e nos pedo alguma cousa grave e mysteriosa , como o destiiio liumano, olov-iida como nos- sas esperaiijas, infiiiita como nossos desejos, severa como nossos deveres , profunda c torna como nosso poniamenlo e affoigoes. Fiiial- mente pede-nos o que o cliefe de loda a poe- sia inoderna mtiilo bem deniiiu do seguinte mcdo , i( pjrlar chs ncll aiiiinii si sentc , essa linguagem, que s'ontonje , que sefalla, que eclioa na alma liumana, como o eclio vivo do nossos senlimcnlos os mais intimos , como a melodia de nosso pensamento. Conlinua. amandio t. b. FEIO. ADVERTENCIA. Nao mo constando o aciiarem-se vertidas para porluguez , ou pelo menos o correiem impressas Iraducgoes algumas para o nosso idioma das Elegias do poeta Ovidio , sem duvida um dos mais primorosos poetas lati- nos, empreliendi ha annos a versao do algu- mas das suas Elegias dos cinco livrcs Dos Tristcs, entre el las escolliendo as, que me pareceram mais dignas de serem conhecidas. Apresento agora eite meu traballio, oqual Baton bem longe de dar por perfeito, servin- do aponas para eslimular a outrem , para que o faga mellior. Se nao fora, alem de vellio, o acliar-me quasi cego, poliria mais a minlia traduc- fao , e ale' a faria completa de todas as Elegias destes cinco livros, e dos quatro Do Ponto : Agradega-me o publico Portuguez a boa vontade, fallo d'aquelles, que ainda culti- vam a lltleralura latina, e sabem dar-llie o aprego, que com lanta razao ella merece. Eui 11 dejuidio de 18 ')d. O consellieiro Frcire de Carcallio. P. OVIDIO NAZAO : Dos Tristes — Livro \.° : Elegia 3." AllGDMENTO. Expoe Ovidio n'e^ta Elegia com palavras as mais lameutoias a dor que a ordein de Auguato Ibecausara , mandando-o desterrado de Roma para a Scyiliia ; e declara o que fez durante a nolle, que precedeo d sua par- lida. Descreve com palavras as mais sentidas as lagrimas da sua esposa ; c dos sens dome- sticos. Diz a final, que logo no principio da sua viagem , llie sobreveio uma grande tor- menta no mar Jonio , da qual faz uma pin- 117 lura muito apropriada. tormenta, que ponto aterrou os proprios mariiilieiros, se julgaiaiii inleiramenle perdidos. QuanJo ,i raenle d'aqnella „„iie a im,i„.cm I ristissmia me occorre , u derr.uleira , Era que da,l,j me fdi murnr em Koraa • Qi-»nd„ da noile, em que deis,) ir.„ ei,;,r:,. J^rendas me leiul.ro. ci.rreni-me ilos oiljos Pelo men roslo lasrimas era Bo. Proiima a luj ja liia dcsponlariii.> Em que as rai.s dei.var da A„s„a,a e.vtremas , ue Cesar os decrelos me ordejunara ; Para eu me prcjiarar nera ment,^ idonea JJem tempo ha.ia ja ; lon^-a de,„,jra ' Maior torpor aos memliros mens daria • Ue servos nem a escoiha , e companheiro , «em roiipas, „,,ra dinheiro, quaes coi.vinlia A urn proftrijo arranjar, affliclo pude : tatupido jazi , [lem cojiio aqueile Aquem de Jove os rai,.s fulmlnaram , 4. raal sabe, se morlo ou liio e.vi»le! Logo porem que a dor mesma esta niivem Me dessipoii do espirito , e os spi.tidos Sen iiso recobrar em Dm poderarji . O "llimo adeos, ja proximo a j.ait.da, Uirjjo aos Irlsles mens raros ami-,,3- J)e muitos d'elles lim ou ouiro aponas Via em lorno de raim. A Es,,osa amanle , Lhorando amargamente enlre os sens bracos Anum , lambem choroso , me aperlava ■ ' ' ^igno de mcllior sorte , pur seu ruslo Lima chuva do lagrimas corria. Da Lybia ao longe oos remolos climas AJioba niba morando , aos inforlunios Aleiis allit-a vivla. Aonde os olhos Volvesseis, soar sd lulo, gemidos , Podeneis oiivir, funereo tudo Deniro da habi(a(;ao se apresenlava • Men deslino lata] contrisia a todos ' Ao marido , a consorle, aos propno's servos : ^em_ lagrimas „5o ha da easa ,.m canto ■ ^e e licito empregar exemplos graudes om assiimplos peqiienos , lal de Truia *.ra a face, em niinas converlida iJos homens e dos cHes soar as lo'zes Ja nao se oui iam , e as noclnrnas pias IJelraja no alio ceo hia giii.indo • Aellaosoll,„scrg„emlo,eocapilolio i'llando, aos lares mens propi„q„„ • " O ^„mps (ex-olamei) Labila.lores " lao vizinhus a m.m : leraplus sa'Tados ■• Que ja mai, ,|„s mens olhos serao vislo's ■ " D'^of's-qiiedeQuirinoaaltacidade ' '■ Dentro de si conl.m , e que a dei.var-vos bou por furva obr.gado , eu v„s ,„ido ■ Uesde ho,e , para nuuca mais sandar-vos ; ■ U od.os com tudo e,vonerai , d Deoses *:>'«, Jesterro men ; dizei a Aniruslo , Varao celeste, que iraprudencia apenas tot o que reo me fez , „3o ja neq ucias ■ ■;Bemeomo,vdssabeis;„auLda';e"a' f"' r° '•r'"=™ • <= "" ""*"o conceda Fad perdao,propiciadiv,„dade. •A °>'"lrecorland„-lbeossol„n,s; Comaeustreraulosrabfo^ s'l;"-'"- Contra os Penates evh»j.« i , ^^» t. ja da Arcadia a Ursa , revolvido Oelinba.„,oaiudaaMi,raasderrrde,;a a tal que Noi e era aquella a da ordenada r„5a. Ah^da„do-rae alguem pressa , ve^es qiiania, Ve?es ou' ^ '""V"'^' accelerar-me intenlas? vt^es quantas a hora ja marcada l-ara a yagem proposta , bora a mais anta Naolenteiiludirf Toquei .res vezes " ' Da porta olimiar, e vezes tanlas lorno, atraz; que o p^ tardio , inerle «.ra aos ,lezejus mens coudescendente : Ve2«,„u,tasoadenstendojadado, ^e; iinda vez lornei a repetil-o ; ' EulWbeijos,comojaparti„do. Na faces imprimi : as n-esmas ordens E rae";::,r'"^-7-.--."n,esmo Ka:rfaMr;rL"^rprnr"''"'^- :DerRr^r'"-^"-'--p-" UMoRomadeix-ar; demora justa ; Q'alquer dos dous desastres me permile A I aEsposa e da familia o abrigo fos que i,ra estreilo fraternal enlace onde o raeu cora,;r.o , leaes consocos ■ p- T"":» "' rfe Thcseu, mens Ddos pcitos ■ P-n,eindaedado,ab'ra,;ar-vo,,n,';o"- « e al.ra.;ar-vos talve^ n„„ca mais possa ' 4:^::der.™^l^-r--''----- Arlicnbol.s mal deixo as palavras, D alma al,ra,;a„do a qnantos me r^deiam - Em qoanlo fallo , e lodos nds choram ;, R"n,p,do tinha da manha a estrella ' raraoceo nilidissima, molesia ' ' ara dos todos : d'elles separado pV'ei, como se os membros mens deivara (l.d Priamolicou, quando o contrario D.<,neco„vinl,a,parecerseguindo ' Doir'"^"''"'-™ --in^Jores uo iigneo bojo do fatal cavailo ) - Soltam entao os mens clamor , ^eraid.s Cora as raSos lacerara os despido Luo, Abra,;ada com.go a terna KspUa ' ' Ao s.u cbilro estas ..„,es trisles ajnnta • ' Arra„ca,-,e de man Cdi.) „,„g,^era p„de. "lemosambos, sim arabos iremos ■ ;; ^''^/f^S'M'-le, quero ser cl,a,aad„ A uagera comt,go; a ,i||ima terra " A»,loraedara: car.a pequena , ■' Se'a i'ra'.f/r'""".'"" '""'" '"••""'er-me : Se a ,™ ,1 cezar le retralie da patria, ■' Delia me faz sahir o amor de esposa li-uala-me este amor ao proprio Ce?ar' , Jnlenla.a seguir-me , e nao d'agora Era este o seu projecto, a mnito o tinlia ■ t so para men bem desistio d'elle — Da casa saio, on le>am-me nao' morlo Sollo o cabello pelas hirtas faces D ella (dizera) que ao vir snrgindo a noile Sen„m„r,aco'ad.-.r,laminha-ausencia Kra enconlrada sobre o pavimento : Manchados os caiiellos, e do frio Solo dado li.e foi poder ergner-se Abandonada a lamentar-se'enlriira' t a casa inleira sua : que do espos'o vezes muilas o nome repelindo Nao choron menos , do que se oda Ijlha P- o proprio corpo men exposto visse Ja sobre pira ; que morrer qnizera E , morrendo, roubar-se li dor da auzencia • Mas que em respeilo a mim nao pereceia . ' t-onlinua a viver ; e pois que o fado Assim o ordena . viva . e o seu anvilio O m,sero consorle anipare , anime. — Ja no Oceano a g,iarda se mergulha Da Enmanlida Ursa , e o seu influxo 118 Gcra borrascai nos equsreo* plaiao*. Do Jonio mar as onilaa ja corUtnoa N'lo i>or nwsso guerer , mos obri^jadoa Do medo , n"^ "*** ^'"' **^'' corajosjs. Triste de raim ! cum (|iianU ftiriu os ventus Sulhis nao \eju as uiulas k-vaiilitr(*m , E as ar^rts ferver no fuildo ttt»\»mo I Na altura iijiial ao mnnle a ^aga sobe , E sObre a pupa e priW cavaljaiido , N'ellas assuila os r^'lralailos deost-s. Do pinhi> as Iraves ranjeui , e o* calabrea , A;;ilado3 do veiilo Ireincm ; gome C'os males nos.-sos o navio iiilf iro : t'rio terror do oaiila ao ruslo sobe , E f cm \t'a do agovernar coin re;;ra e aile, Detxa a veneida lu'io sei^uir sem leroe! Kcm como o picador^ minguado em forras, Sobre o pesro<;o rigido do pOlro Deixu caliir do freio iiniiilejs rciteas ; Assim observo, que o jiilolo , as velas Sollas , deixa scguir a nao a esteira Nao ja no runto , qne fllado linha , Mas por onde i\o venlo o impcto o arroja : E, se outras auras nos uao manda Eolo, A esse mesnio lu;;ar , nonde accolber-me Me era vedaiirada a seva morte (; All! sublrabi , o deoses, se e possivel , u Quern ja murreu , da morte inda salvar-^e. ti Continua. fjieise de CARVALIIO. LIBERDADE DE COMMERCIO. Nao precisamos por certo de mostrar a importancia, que entre nos deve de necessi- dade ter a que^lao da liberdade de com- mercio, para a loruarmos digna das paginas do Inslitulo, que sem se afastar de sua luis- siio verdadeiramenlc scienlifica, nao duvidou associar-se d graude cnizada da moderna civilisagao, fazeiido ouvir sua voz do centre da civilisagao do nosso paiz — a Universida- de — '. Infelizmcnle, para aqiielles que nao sabem o que se ])a^sa n'osscs pnizes , quo se enipcniiam na realisagao dos graudes progres- ses , pelos quaes o seculo desanove , elabo- rando uma completa transformajao na vida dos povos, propara uma nova e maravilliosa civilisagao, para a qual nos pareceiiios desa- percebidos , senao repugnantes ; e quo por vciituta julgarcm da importancia d'osta fa- mosa que^lao de nossos dias, segundo o in- teresse, que eila parece ate boje tor inspira- do a imprensa portugueza, para esses care- inos de fazer uma observagao. A causa da liberdade de cominercio lia sobre tudo mister fazer reconhccor suas van- tagens, e patentear a grandeza da sua mis- ' Curso sobre a liberdade de cotnmercio pelo socio do iDstituto o snr. Jose Julio d'OUveira Pinto, do anno lectiro de 185S a 1853. jao , para alcangar o dominio dos factosi : assitn tein ella procedido, onde mais dirficil parecia a victoria, onde roais solidos e cora- pletos tein sido os seus Iriumphos. Entre nos por tanto , que a par dos gran- des males, que tern creado, manlido e mul- tiplicado o velho systoma, deve a ado- pgao da liberdade commercial , (a qual s6- meiite podc curar-nos d'esta Icrrivel paraly- sia, que em brove nos conduzira a uriia ver- dadeira morte social, e cujos symptoinas bem se rovelam em nossa progressiva deca- dencia) , organisatido e dirigindo convenien- teniente, vivificando, e ale inesmo crcando nossas foryas productivas, fazer jorrar a riqueza e prosperidade social d'cssas fonles, com as quaes tao liberalmente nos dotou a providen- cia , eque, vergonha edizel-o, o nosso raaior cuidado parece ter sido, nao diremos so desprezal-as , mas ate destruil-as, se tanto e possivel ; entre nos , repetirnos , advogar a causa da liberdade de commercio e commet- ter esforgo tfio difficil como pouco usado, — cuidar de nossos verdadeiros interesses. £ este nosso prinieiro exforgo iim ensaio, ao qual desejaramos dar maior desenvolvi- mento, e por'ventura completal-o : todavia , para quem tiver estudado nnssas condicgoes sociaes e conhecer as verdadeiras circumstan- cias de Portugal, facilmente se manifesta como nos e applicavel , alem do que em especial dizemos , tudo quanto em geral vamos expor. De todos OS ttiodos pnrque mais se revela ao pensador odesenvolvimento , progrosso on civilisagao da humanidade; de todos os plie- nomenos, que mais indicam e inaiiifi'>tarii sou fim tao providencial, como sublime e magestoso , nenliura ba, sera duvida, como a liberdade commercial. O seculo dezanove ja coroado de uma au- reola, que eternaniente revela irradiar sobre OS destines da humanidade, seerapenba ain- da em uma supreraa manifestagao de sua raaravilbosa missao. Nao duvidamos affir- mal-o: a liberdade de coiiiuiorcio , que podc bem dizer-se, hoje se assenta no mais suberbo tbreno, que se pode erigir as cousas huma- nas , e cujo dominio sao as mais illustradas inleliigencias , e.\tendendo o mundo dos fa- ctos , sera o cumprimeiito do grande deside- ratum , a solugao do mais difficil problema, a mais gloriosa palma destc seculo , seu mais bello florae. A liberdade de commercio , ninguem o podera desconboccr , e urn grande facto, se a considoramos ate elevar-se a altura de um grande principle economico ; destruindo um por um todos os obstaculos, que offcrece uma grande conquista ; luctando contra todo um mundo de mais de quatro mil annos, de umrospeito, ou antes, culto Iradicciona! , por suas antigas leis e instituigoes; desmotQ- 119 nando ate o ultimo cimeiito todo um edifi- cio, ou systema, que fora o palladium de tantas nacionallidadcs, o que liavia affionla- do immovel o choque de taiilos ahalos ou crises , pelas quaes lem passado a luimani- dade, cujaexistencia em suas differenles pha- ses sao outras tantas revnlu^ocs no genesis de sua civilis!K;ao. Forte de um tao prando passado, identi- ficado com lodos os elemenlos do vellio or- ganismo , sanctificado no alLar da palria conquistadora , religiosamentc observado no evangellio do despolismo, supreiiia lex do feudalismo , o tutelar protector do monopo- lio , do privilegio e da espoliagfio, debaixo de variadas e inCmitas tormas , juslificado por tantas aberragoes do espirilo bumano em scu estudo superficial das verdadeiras leis da prosperidade , e riqueza dos povos, escol- tado de preconceitos t.'io falsos como fune- stos : o systema prohibilivo , ou prolector tern oiisado dispular o campo a nova civili- sagfio , formando com as reliquias do antigo organismo novos obstaculos a marctia irrc- sistivel do progresso. Assim se explica a longa idade de um sysle- tema, que se nos apresenta com tao ruins feigoes, de um regimen, cujas consequencias sao duplicadamente desastrosas ; lanio pelos males, que lem causado, como pelos bens, de que tem privado a iiiimanidade , por tfio contrario ao progresso , riqueza e civilisagao dos povo-i. Considerado o systema prohibilivo , ou pro- tector comn um facto verdadeiramente eco- iiomico, com Colbert ; nfiosendo sua_exislen- cia anterior, por assim dizer, mais do que uma praclica cega ; em sua natureza sempre modificada pelos differentes graus de civili- sajao dos povos, facilmente se revela a sua importancia pela da epocha , que o vio nascer. E se com Pelletaiii devemos estudar as leis do desenvolvimcnto e progresso da liuma- nidade, honrar cada urn dos graudes faclos, que successivamenle foram chamados a for- inar a grande obra da civilisagao, fazeiido- Ihes a devida justiga pelo logar, e missao, que llieseabe; podendo por issodizer-se com mr. Chevallier, que o systema prohibilivo, com o seu corlejo de restricgoes e monopolies podia concordar com as ideas ecostumes dos tempos de Sully e de Colbert em Franga , de Hen-jqueVlII ede Cromwell em Ingia- terra ; acaso podera elle justificar-se ainda ! Ha ja rniiilo tempo, diz o mesmo escri- plor , que ^e liavia formado o processo do systema prohibilivo peranle o tribunal da razao ; ha ja perte de um seculo, que Adam Smith , Turgot e Franklin deraonslraram a futilidade de suas pretengoes'. Ha ja muito tempo, aorescentaremos nos, ique a sciencla economica havia proclamado o grande principio da liberdade commercial; e podemos melhor dizer, que a condigao do systema prohibilivo quasi que nasceu com elle mesmo: a da liberdade de commercio com a mesma sciencia economica. A resposta de Legendre a Colbert — lais- sez nous /aire, a qual mais tarde Quesnay accrescenlou — ne pas trap gouverner , c. que OS phisiocratas traduziram pelo bein co- nhecido axioma — ltiisse% faire — laisse%paS' ser — , nao e outra cousa senao a liberdade commercial. Debalde procuram alguns eco- nomislas denegrir a aurora da liberdade commercial, enos vem Jobard repetir ainda , que aquelle axioma era — la liberie de tout faire — economica, moral, polilica e reli- giosamenle fallando. No. enlendemos , com mr. Gamier ', que — lais^e^ faire — quer di- zer, deixai Irabalhar, ou a liberdade do tra- balho — laisse-^ passer — deixai trocar, ou a liberdade de commercio. Ainda o systema mercantil era como que olTicialmente reconhecido, e cercado de um presligio e homenagem , que tanto tem con- corrido para a sua existencia e conservag.'io , e ja Jluskisson e Pilt annunciavam a aurora da liberdade de commercio, que o fumo dos canhues de Bonaparte devia relardar. Foi de repenle, em 18.38, que alguns ho- mens etilao pouco conhecidos com uma mao, firme arvoraram o estandarle da liberdade de commercio: a voz deCobden, de Bright , de Tompson, de Moore, de Williers , de Wilson e de Fox se organisou a liga com- mercial— ant i com law league. — E quern ha, que desconhega a ospanlosa forga e in- fluencia, que lem tornado esla heroica cruza- da , ajudada por Peel e Russel , e o que e maisaiiida, seguida por Derby e mr.d'Israe^ li, o minislerio eampeao do proleccionismo. Se na verdade era mister uma coragera pouco vulgar, para ousar uma tal emprcza, tendo de combater adversarios, que tinham por si a riqueza; a inlluencia, o poder le- gislativo, a egreja e um systema de mono- polies tfio forlemente organisado, como ha- bilmente manlido pela mais forte oligarchia do mundo, a oligarchia ingleza; devemos admillir, que se nfio fora asantidade da sua causa, a liga teria succumbido. Etn parte alguma tinha o antigo systema t.ao fortes elementos para a resislencia, d'aqui a gran- deza doesforgo; e nesta formidavel lucta, em que se prende a attengao do mundo, cada Iriumpho da liga tem sido saudado por uma ucclamagao universal. Assim a theoria da liberdade de commer- cio , como todas as outras propagandas, filhas da revolugao philosophica do ultimo secu- lo, tendo como que desaparecido , ha bem poucos annos , para conquistar o imperio da opinifio, e reinar pelos faclos; e o que e Mr. Cherallier — Gxamen dii Sjst. Com. connu ' Die. de I'econora polil lerm. laUeer faire, laisepr •ur le nom de »ys(. protect. | passer. 120 niais extraordiuario , em seu reaparecimento escolheu para cscollar corn sua bandoira cosmospolita, na phrase de Ledru Rollin, a Dials ulta torre da iiiais feudal das fortale- zas do vellio ref;iiiieii. Mas a agita^ao iii^leza , a Suissa, o Zol- hverein, todas cssas reformas, alleroa^oes e modifica^oes, que lioje se operaiii por loda a parte na logisL-K^ao commercial dos povos , na ijual so cinpi'iiliam os inais illu?lrado6 governos , refundiiido as paiitas das alfaiide- gas, restringiiido e aboliiido inuitos direilos proteelorps ; edi poiicas palavras, para que a liberdade de coimnercio coiiqiuslasse o do- niinio dos portos, (ora iiiisler iiiiia oulra conquisla , sciii duvida iiiais yloriosa, o do- minio da opiiiiao , o triiimplio da scieiicia, que a liberdade commercial seelovasse lialtii- ra de urn jcraiide priiieipio ecoiKunico, para assim dizer , sc leyitimasse , reiuasse pelo direito , para depois rciriar de fuclo. E aqui , no campo da sciencia , a que ngora somos Irazidos debaixo do triplice poiito de vista , economico , politico e moral , que temos de aprcciar o ;;raiide principio da liberdade de commercio em toda a sua ex- tensao e fecundidade, saudar o novo Messias de nossa civilisa^uo. A liberdade de commercio, comojd disse- nios, filiia da ievolu(;ao pliilosopliica princi- piada no ultimo seculo , e proseguida ate u6s com o mesmo impulso, que a creara, desta grande reagfio contra uni longo passa- do, houve de cliocar-se ncsta lucta formida. vel com OS mais poderosos elementos do vellio organismo ; e se a santidade da causa, o a grandeza do fiui , que se propuidia, era a niaior garantia de sua fortuna; por outro lado , o que e baslanle singular , o prolec- cioiiismo em sua egide gravara a mesma causa, que parecia defender; sua rcsistencia parecia egualmente legiliiiia. E e ainda por este tilulo, que o vellio syslenia recliassado no cauipo da sciencia, lenlou defender-se no campo dos factos , no qual oespcrava a mesma fortuna. Os protec- cioiiistas lio|e sfio os liomeiis practices ; em eco- iiomia politica nSo iia principios alisulutos. O sjstema protector ideiiiificado em sua nalureza coin uma outra existencia social, por uma louca preten^'ao parece descoiiliecer o deslino incxoravel , que marciira a ultima liora d'aquella existencia, a lei fatal, que com ella a condemnara. Nao jerd por Ventura uma louca preteiiyao , que, quando novas leis preaidem a organisa(;ao social , quando toda uma nova civili^a^ao se encarnou na liumanidade, destruido o antigo organismo ; o vellio systoma , deliatendo-se entre a vkla c a morle , debaixo das ruiiias, que o prote- giam , diga em sens ultimos arrauoos a essa inesma civilisac^ao: — tu nao existes. Na vcrdadc negar, que a liberdade do commercio seja iim principio economico, dizcndo-se. que em economia politica, nfio ha principios absolutes , he negar a sciencia ecouoniica, a civiligao deste seculo por ella tao maraviUioso. A liberdade de commercio, diz o protec- cionismo, nao e a civilisa^ao do seculo dfcza- nove ; por que fillia ile uma revolu^ao, que condemnara — I' exploitation de I' homine Jiar I'lwiiime, — ella a favorece ; filha de uma re- voluc^fio, que proclamara a liberdade, ella a deslroe; por que conduz pela concorrencia aespolia^ao, a r.ppressao, a destrui(,'ao do I'raco pelo forte; filhade uma revolugao, que pioclamara o desenvolviuiento industrial dos povos, ella o vein malar; porciue, cm fim, sendo uma revolu^fio , cujo tilulo mais glo- rioso de sua missfio fora a regenera^ao do proletariado , a extinjao pelo Irabalho de uni niedonlio pauperismo, que devora aqueU la classe, a soluyao do farnoso probleina da propriedade, o desenvolvimento moral dos povos, era poucas palavras, uma completa transfornia^fto social em sua pcrfectibilidade progressiva; a liijerdade de commercio, diz o systerna probibilivo, procurando esconder- se no manlo de uma patriotica protecgiio, como se Irajando novas gallas se fizera desco- nhecido , e por ventuia mais bem quisto , o a n(!ga(,-ao de uma tal civilisacao. Pelo desastroso influxo d'aquelle principio o proletariado se mulliplica, o Iraballio desa- parece, ou e esmagado debaixo da lyrannia do capital, a niiseria corioe as entraiihas de niilliares de victimas, que nas contorsoes de sua dolorosa existencia mais e mais desfalle- cem ; u desmoralisa^ao e o quadro mais he ■ diondo, que pode aprcsenlaroe da degrada^ao humana : e ti ainda debaixo do pedistil lio maior monumento, que podia erigir a s'ui gloria, que se fazem ouvir os geniiddj da liumanidade, como para Ihe dizer: o leu Iriumpho e uma fic<;aO , a tua gloria apre- goam na e^tes gemidos, o tcu ainor e' mais cruel , do que os afagos do ligie, esinagas a victima, que fiiiges amar : a Inglalerra dizem OS protecciouisla, offerece este especlaculo lfio_ extraordiuario. E com eslas, e ainda inuilas outras consi- derai,'iies , que os proteccioiiislas condemnan- do a liberdade de commercio, ousam dizer : se o pruteccionismo nfio e inn priuci|)io eco- nomico, a liberdade de commercio lainbem o nfio <• ; em economia politica nfio ha prin- cipios aiisolutos, noi somos os liomens pra- clicos. Melhor seriadizerein : a Economia po- lictica niio e uma sciencia, sera uma pra- clica (a rotina), quando muito uma arte. Por ccrto que os prolcccionistas tern razao ; oil a liberdade de coinniercio e uiii piincipio , ou nao poJe liaver sciencia economica. A liberdade de commercio, pode bem dizer-se, Iraz compronitttida a sciencui economica; e e ainda por essa razao, que se pode reputar a quostao da liberdade commercial coino a mais intoressante de nossos dias. Continiiu. F. MONU BARRETO. ® Zmtitnto, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. INSTRUCC-AO PUBMCA NA SUECIA E NORUEtJA. A iiibtriicjao pvihlica, nos paizes do norte daEiiropa, e g^eraliiiente tida cm pouca mon ta. O systcina politico de aljjuns dellt-j , coino a Russia, siiboidiiiada a triplice influencia da autocracia , da orthodoocia , e da naciona- lidade , que lia tempos domina a sua orga- nisagao uiiiversilaria ; os escassos meios de outros , comn a Siiecia , a Noruega , a Fi- landia, e a Uiiiamarca, pareciam oppor urn invencivel obstaciilo ao desenvolvimeiito do cnsino , e da instnic<;ao piiblica n'estes paizes , que todavia podcdi servir de modelo , pelo zelo e perseveran^a com que lem sal)ido pro- rnover e general isar a inslriic(^ao e os conbe- cimenlos uleis ale as ultimas classes da so- ciedade, oblendo iins lao subido griiu de il iustrai;ao, que outros povos mais properos , e mais adianladcs era civijisagfio, nfio tem podido altiiigir. Debaixo d'este ponto de vista a Suecia e Noruega apresenla urn dos mais singulares exemplos. Nenhum paiz , talvez, com me- norcs meios tem realisado tfio itnportaiites luelhorameiitos na sua instruc^ao publica. O seu systeuia de ensiiio abratige todas as classes, e fonipce os eiementos necessaiios para todas as profijsoes com lal barmonia , que em todas ellas tem produsido as maiores iliustra9oes ; poetas e bistoriadores como OEblenscliIager, Tegner , eGeijer; pliiloso- pbos, como Sverdeiiborg , e Atterbosa: natu- ralistascomo Berselius, eLinueo; astronomos como Cl-ius ; mecbanicos e ingeiiiieiros , como Polliem, Cliapinan, e Erik^on. A vida intflleclual d'estes povos manifesta- se assim deum modo, que revela clarameiite a solidez de suas iristilui<;oes lilterarias, e a perfeii;ao de seus mclbodos praclicos, e cou- vein por isso esludal-as nas suas differenles fafes, como urn dos meios de ciiegar a solu- 5ao do problema commum da iiistiucgao pu- blica Nos paizes catiiolicos o clero estavade posse da inslruc^ao e da educa(,ao naclonal : as escholas eram filiaes das egrejas , e dos inosteJros: em cada calliedral liavia urn mes- I tre eschola (cnnonicus scfiolast/cus) que tin ba a direc^ao das cscbolas. Tal era o systeuja geralmente seguido na meia idade. A inslruc^ao publica estava assim consti- YoL. II. Seiembbo i; tuida na Suecia e N'oruega, quaiido Gustavo W asa , introdusindo a reforma rcligiosa n'a- quelle reino, acabou com todos os privilegios dos cal>id<)s, coiiiiecidos com o titulo de con- sistorios , apossou-se de parte das suas ren- das , e aiinullou a autoridade temporal da prelados ; mas em compensajao os novos con- sii-torios lutberanos liveram , entre outras at- tribiiignes, a direc^iio de toda a instrucjao puldica; as escbolas tinbam porem desapare- cido com a extinrgao dos mosteiros e supres- sao das egrejas catliolicas , e o principe refor- mador, no meio das graves dissencjoes que ajitaram o reino, nao podera dolar o paiz com novos estabeleciinentos para o ensino publico. Gustavo Adolplio completou esta reforma, restiluindo ao clero o ensino da mocidade, e collocanHo as escbolas e as universidades sob a immediata direc^ao dos consistories. () clero tornara por lanto a senborar-se da instruc^ao publica, e adquirir a influencia que a reforma parecia ter-lhe feilo perder para sempre; e todavia Gustavo Adolpbo fora constante antagonista do clero, e pro- curara refrear-llie as ambicoes. N'esta epo- cba, fora dos estudos classicos, nenbum ou- tio genero de educagao estava em voga , e o clero era enlao o unico que possuia estes conbecimentos e que cultivava as sciencia ; e fora impossivel encontrar mestres para o ensino publico n'outra classe. Alem dibto o clero lutberano nfio represen- tava o e^plrito de classe que caracterisa o clero calbolico, e constituia unja ordem de func- cinarios publicos, tendo o rei por seu cbefe supremo tanto no espiritual como no tempo- ral. A interveii(;ao por tanto de um clero tal no ensino publico nao contrariava o espirito da reforma, nem offerecia algum dos inconve- nientes, que se attribuiam ao antigo systena. Apezar disto Gustavo Adolpbo procurara emancipar o ensino publico da Ijitcla eccle- siastica , eslatuindo cm seus regulamentos o estabelecimento de grandes inslitutos scien- tificos, em que esludassem separadamcnte e com mestres differcntes os alumnos que se dedicavam a vida ecclesiastica , e os que as- piravam aos cargos civi's. Gustavo Adolpho nao tinlia porem mestres para esles differcn- tes in^tllulos , e nem elle, nem os seus succes- sores poderam realisar esle piano ; e Carlos XI (lH37)concedeu defmitivamente ao clero _18S3 NuM- H. _h. 122 o direito de exercer o niagesterio, rogiilando tambeni as altrilnii^oes dos consistorios Esle regiilaiiieiito aiiida lioje tern for^a de li'i. J^os dois rciiios uiiidos cnda consistorio compoe-se do bispo diocosaiio quo e o pre-i- denle, do paiochn da callicdnj, e di.5 pin- fessorcs e Icitores dos gvmiiasio?. Nas dioce- ses de Up>al, Lund e Chrisliania , que sao sedes dr. imiversidades , so os proffssqros dt; theologia sao inembros doi respcclivos consis- tories, e iiao podcin ser admillidos irtlles se- uao OS padres da nicsrna diocese. Em 17(;2 peitendcii-ae soiidarisar a ins- truc^ao, e os Icitores deixarain de peitenci^r aos consistorios, e de serem por ellos diri<;i dos. O clero viu mao gtiido esla iisiirpa<;ai> dos sens direitos, e o governo , cedeiido em fim as siias instdncias, revogou aquelle e»- tatiito em 1779. Os consistorios exercem liojc fiinc(;oes ad ministralivas e jiidiciai-s; proveetn dadmiiiis- trai^ao dos bens das parochias c das cscbolas; Tegiilani os salarios dos parochos e dos ines- tres; e decidem os letigios enlre a^ogreja eo ensino no que toca ao esjiirituid. E da coni- pelencia dos consistorios o provjinenlo de qua- si todos OS einpregos ecclesiasLicos , os exa- mes para a adinissao ao tninistcrio eccle^ias- tico , e a nnnieacao de lodos os protessoros e enipregados nos gyinnasios e escliojas. Aleiii dos consistorios dioccsanos, simile dos aniigos cabidos, lia no reino de Sueeia muitas onlras in^titiii^oes a que se da aqiiel- ]a denomina^'io , laes sfio o cotisistorio de Sloclsliolrno, que se compoe do prinieno paroclro, e dos cnras das principaes cgrejas da cidade ; o consislorio da corte, pres;clido pelo pnmeiro esiiioler do rei ; o consi^lorio do almiraiilado; e o consistorio de caiii|ianlia. As atlriliui^ies d'esles consistorios sao mera- menle espiritiiaes. Em cada universidade lia tainbein urn con- sistorio acadornico, compo^to de todos os len- tes, e ilicsoureiro da universidade , e presidi- do pelo rcitor (rector magnijiciis). O clian- celler que e o principe real de Sueeia e >Jo tuega, e o protector. Kstes consistorios, ou senados academicos, nomeam os professores, administram afiixendadas nniversidades ; jul- gain as causas de todas as pessoas do corpo acadeniico; examinaui os candidalos; lem a seu cargo a policia acadeniica ; dirigem ,linal- mente, lodos os negocios universitarios no temporal e espiritual Para coiihecer das cau- sas civeis e crimes dos membros do corpo academico, o senado noinca uma coinniissao especial ( consistorium minus) presidida pelo reitor que serviu no anno anterior; as deci- soes, porem , dos negocios mais graves e de interesse geral , saosempre tomadas em assem- blea geral de todo o senado academico (con- sistorium ucademicum majus.) Tal e a organi^a^fio do consistorio luthe- rano na Sueeia e Norucga. Conlinua. ujK: - Relilguo do ceremonial com qne a universi' d.ide de. Cuinibrii , recchcu Stin Mugesfade a Rain hi a Senhora D. Ahiria 1 1 , El Rei D. Fernando siu nns[usto esposo , c setis nnginlos JilhoH , .S' /lUezii Rent o Principe D Pedro d' yjlaant.ira Dik/uc dc Br;t- giinga , c o scrcnissiino siir. D. Lniz Ft- lippc Duque do Porto , em abril de 10j2. ' 'I'endo o siir. vice-reitor da universidade o doutor Jose Alaiioel de Leuios , deao da see calliedral de Coimbra, lontc ratliedra- lico da t'aculilade de llieologia , vogal ordina- rio do coriscllio superior d'instruc(;fio publi- ca , recebido as partiripa^oes officiaes com u Fausta nollcia da proxima vinda a esla cida- de de S. M. a Uainlia, d'HIivei seu augusto esposo , de Sua Alleza o Principe Real , e do sereiiissiuio sfir. Infante D. Luiz Duque do Poito, convocou o claustro pleno da univer» sidade no dia 12 d'abril para llie coQimiini* car esle t'eliz acontecimcnlo , e ao mesmo leir po propor o que cunqiria, que se lizesse li'esla solemne occasifio, para que o recebi- ineuto, de S.S. M.M , e A. A., por parte da universidade, fosse em tudo digno de tao alias personagens , e desla corpora<;'to. Accordou o claustro , depois de breve dis- cubsao , que o snr. vice-rcilor, com o conse- !lio dos decanos, tendo em vista o que se pracliciira na recepgfio dos sfir.' Ileis D. Jofio III, e D. Sebastian, quando vieram a universidade nos annos de looO e 1570, e d'EIHci o snr D. I'^crnando, entfio Principe Ileal, em julbo de 1836 , e que tudo constava dos respeclivos termos dos claustros , orde- nasse um programma dilinitivo. No inesmo claustro se resolveu , que fosse em poiluguez a oragao gralulatoria , que de- via ser recitada na presenija do S.S. M.M. e A. A. por um dos lentes decanos e que hou- vesse feriado nas escliolas nos dias 19, 20 e 21, anteriores afeliz cliegada de S. M. , que ordenaria depois os mais feriados que Ihe aprouvesse: finalmente que, sendo possivel , liouvcsse um doutoramento na presen^a de S.S. M.M. Em virtude d'estas resoluyoes, convo- cou o snr. vice reitor no dia seguinte as 8 lioras da manliaa o conscllio dos decanos, no qua! se accordou nocompctenle prograni- ma , que se aclia impresso. Em conseqiiencia do m;io tempo nao pou- de S. M. chegar a villa de Condeixa senao na quinta feira , que se contavam 22 d'abril, enlrando por consequencia n'esta cidade no dia seguinte. * Tendo-se publicado n'este jornal a nnrraliva das recepnues feilas |)ela universidade as pfssons reaes ein diiers'is cprjcllin, sepnndo os arcslos, iiwe exisliaoi no seu arcliiio, coroplelamos huje esla parte da historia acadeniica com a reltir/w do ctremoniat com que a niii- versidade receljeu S S. M M. e A. A. em aliril de 185i, a qiial foi ordenada pelo secrelario da uniiersidade o siir. conselheiro I'icenle Josr lie I'nsconcelhs c Silra, pars ae lan9ar ng livro dgs dauslros da mesma universidade. 123 Na referida quinia feira pela manhri par- tin o sur. vicc-reitor parn a villa de Condei- xa, aonde S S. M.iM. e A. A. liaviain de pernoitar. Cliegandn ali , foi apresciitado a S.S. M.M. pelo duqiie de Saldanlia mordo- ino mor , e depois de feilos os cuinprimentos do est do, da parte da iiiiiversidudi: , c to- inando as reacs ordens de S S. M.M , se dirigiii o mcsiiio snr. vice-reitor ao duqiie mordiimo mor, propotido-llie o que se llio offerecia u cerca do ceremonial com que a iiniversidade se aparelliavu para receber a 8. S. M.M. e A. A., para que elle, tomando as recrjas ordens de S. M. a Rainlia, lioiives- se de 111 'as comiiumicar, a I'lm de serein pontualmcnte cumpridas. N'esse iiu^smo dia il noute , dignou-se S. M. declaiar ao snr. vice-reilor pelo referido du- que, que, coiiforniando-se em ludo coin os votns da universidade , e desejando conservar- llie todas as lioiiras e merces, que llie fize- ram os snr.' reis, sens augustos anlecessores , permitlia — " Que em lodos os actos , e acom- panhaincMtos academicos, a que S.S. M M. e A.A. se acliassem preseiiles, se cubrissem OS lenles e doutores com as suas borlas , depois de S.S. M.M. e A.A. se cul)rirem , corao se [iraticara nos recebimeiitos dos snr.' reis D. Joao III, e D. Sebasliao. ji Que durante a orajfio gratulaloria , que se havia de recitar na sala grandc na pre- senga de S.S M.M., c=tariam os lenles e doutores sentados, como se praclicara pe- rante eirei D. Sebasliao em 1&70, e peranle EIRei , entao principe real , em jullio de 1336. "Que S.S. M.M. se dignariam assistir ao exame privado em matlieinalica que, na manlia do dia immediato ao da sua cliega- da a Coimbra, devia fazer o repetenle Luiz Albano d'Andrade Moraes c Almeida, per- mittindo, que nesse aclo o sfir. vice-reilor , e Icntes da (aculdade cstivessem sentados nas suas respeciivas caili'iras. Que para maior distincjao S S. M.M. nao so assistiriam na Iribuna real ao douloramento , que se devia seguir no dia iminediato ao do exame priva- do, mas qua sua A. o Principe R. se digna- jia servir de padrinlio do doutorando. a Que n'eate aclo , coino nos mais em que se reunisse na sala grande ocorpo academico na presenja de S.S. M.M. , os grandes do reino, tomariam assento no douloral, entre o snr. vice-reitor e os lenles da faculdade de llioo- logia. Finalinenle que, nos preslilos acade- micos, a corte iria cm seguimento de S.S. M.M. como se praclicara nas recepgoes dos snr." reis D. Joao HI, D. Sebasliio, e d'ElUei em 1836.,, Mo dia seguinte 23 d'abril pelas 9 lioras ,da manha, partiu a cO>rle loda dc Condei.xa em direilura a esta cidade. Logo que a real comitiva se poz em marclia , ordenou S. M. , que a carroagem , em que vinlia o snr. vice- reitor, precedesse immedialamenle o coclie real , querendo d'este niodo couservar a pre. cedencia que os snr.' rela D. Joao III e D. Sebasliao concederam a universidade (agora represenlada pelo seu prelado) quando aella vie ram. Pelas 11 lioras da manli'i, uma girandola de foguetes , lanr;ada do alio das Calgadas d« Santa Clara , annunciando a aproxiinagao da real comeliva , foi logo correspondida por outra da lorre da imiversidade , repicando iinmeilialamejite os sinos todos da cidade. Dado esle signal, se reuniu o corpo cathe- dra lico com as suas in-,ignias na sala gran- de dos acLns , na conformidade dos arligos 2.° e 3.° do programma do consellio dos de- canos, e locnando a presidencia o doutor Manoel de Serpa Mathado , par do reino, lente de prima, e decano da faculdade de direilo, sedirigiu cm prestilo, e por ordem de laculdades, a see calhedral. Entrclanlo cliegaram S.S. M M. e A.A. a ponle , onde OS esludantes, formando duas alas desde as portas da cidade ate ao O' da ponle, sauda- ram com repetidos vivas as reaes persnnagens. A real comeliva seguindo d'ali pela Cal- gada, rua das Fangas, couraga de Li.boa, maico da Feira , ale ao largo da see, a porta da qual forain S S. M.M. e A.A recebidas dehaixo do palio pelo corpo da universidade , cabido, e por todas as autoridades , no meio de numerosi,simo, e mui lusido concurso. Ali as.istiram S.S. M.M. e A.A. ao solemne Te Dcwn laudcimus, que entoou o doutor Francisco d'Arantes, clianlrc da see, eslando o corpo academico dentro da capella mor. Aeabado o Tc Deuin , se ordenou o prestir to real com que S S. M.M. foram acompa- nhadas desde a calliedral ate ao pago da universidade pela rua dos Loios, e rua Larga, do mndo seguinle. Adianle iam os arclieiros com as suas alabardas, e o meirinbo da universidade; seguiam-se os musicos, tocando as charamcllas e mais inslrumentos de so- pio; logo OS lenles e doutores pbilosopbos, matbemalicos, medicos, juristas e iheologos , todos dois a dois pelas suas antiguidades , e ordem de faculdade , e com capellos , e borlas na cabega ; apoz estes os bedeis com as suas majas ; e alia/, o secrelario e ineslre de ce- remoniascom a sua insignia. Seguiam-se logo S.S MM. e AA. debaixo do palio, cujas \aras levavam os camariJtas : o snr. vice- reilor ia do lado direilo de S.S. MM., c do esquerdo, o decano de direilo. Alraz do palio, I'a o guarda mor das escbolas com os couti- nuos, seguindo-se loda a corlc , governador civil, juiz de direilo, e mais auloridades. Os esludantes formavam adianle dos archei- ros duas alas, por entre as quaes passou o preslito real. As ruas do transilo estavara juncadas de ilores , e asjanellas guarnecidas de ricas tapegarias ; e um arco triumphal de grandeza cologal se acliava collocado em frenle da porta ferrea. Tanto que a real co- meliva cliegou a porta da sala do do eel , 124 todo o corpo acadeniico se retirou , depois de _pedir veiiia a S. M. As qiiatro lioras da tarde snliiram S S. M.M. 0 A. A. a po, do pa(;o, ucotnpanliadas pelo diiqiie mordoiiio nior , daaia , e caina- rista de Somalia, e mais pessoas da corlc, e pelo snr. vico-reilor, cnni os decanos das cinco faciildades, e o secictario e mosire de ceremonias, e se diri^'iiam a bibliotlieca , observalorio a-.troiiomic(i , e miiseii de liistn- ria natural, sendo recebklas a porta dos di versos cslalieleciinenlos pelos lenles directo- res, e pelas faculdades respeclivas, cm cor- po. D'alii recnilieram-se ao pa^o, que se achava brilliaiitomeiite illnniinado , assiiii como o arco, e alaciieda defroiite do colle- gio de S. Paido, sendci extraordiiiaria a conciirrencia d'espcctadores , n' eslas nontes, ao pateo da universidade, para vcrem e sail darem e S.S. M.M. c A. A. No dia segiiinle pola manhjia, que se contavam 2ld'abril, correu o sino para o exame privado de inatheniatica, que n'este •dia fez Liiiz Albano de Aiidrade Moraes e Almeida, 'natural de Santa Comba-Dao, districto de Viseii. Finda a I.* bqao, a que foram presentf-s o snr. vice-reitor e o presidente , o consellieiro Thoniaz d'Aquino de Carvallio, leiite de prima e deca no da facuLlade, e na qua! argiimentaram os lentes Francisco de Castro Freire, Rodrijjo Kibeiro de Sonsa Pinto, e Abilio Alfonso da Silva Monteiio, foi o secretario e mestre de ceremonias dar parte a S. M. a Rainlia , para que fosse servida desio;nar a iiora em que devia come- jar a 2.° li^'.'io, a que S. M. fizera constar que se digriaria assislir ; e logo S.S. M.M. e A. A. acompanliadns pelo siir. vice-reitor com todos OS lentes da faculdade, e pelo secreta- rio emcstre de ceremonias , sedirigiram com toda acorte a sala dos exames privados para assistirem a esta li(;.'io. No topo da dita sala, seacliava levantado um estrado bem alcallfado e sobre ellequa- Iro cadeiras d'e-paldar, nas quaes se assen- taram S.S. M.M. e A. A. Ao lado esqiierdo secollocaram duas cadeiras, tanibem d'espal- dar, lima para o snr. vice-reitor, e outra para o lente mais antigo que na vota^ao havia de servir d'escrufinador, com iima ineza forrada de damasco carinezim, e sobre ella uma ampulheta de bronze dourado, o livro dos santos Kvangellios, dois escrutiiiios e uma escrivaninlia de prala. Abaixo da cadeira do snr. vice-reitor, do mesmo lado, se collocoii uma rneza com duas cadeiras para o lente de prima , presi- dente, e para o licenciando. Os lentes toma- ram o logar do costume n'este acto. O duque mordomo in6r, e a datna de S. M. a Rainha assentaram-se do lado direito^da sala, abaixo do estrado real. O a^-o de s's. A. A., o ca- raarista, e mais pessoas da corte, conserva- ram-se ao fundo da sala, ao lado direilo da mesa do secretario , que all se achava no sen assento. Tomados OS logares , c tendo-sc S. M. a Rainha dignado inandar comejar esta li^ao , argiimentcram n' olla por sua ordein os lentes, Agostiiilio de .Moraes I'iiito d' Al- meida, Jacoine Luiz Sarniento de Vas- concellos e Castro, e l''lorencio Mago Bar- reto Felo , pedindo a devida venia. Findo o ultimo argiimenio se relirou da sala o licen* ciado ; e logo levantando-se o secretario se dirigio a S. M. a Rainlia, pediiulo-llie licen- csi para em seu real nomc ler a admoesta^'So ordenada no livro 1.° titiilo 4." capilo 5." ^. 69." dos novos estatulos. K finda a lei- tura d'ella, se procedeu a vota^ao coin todas as solemnidades prescriptas nos mesmos esta- tutos; e, tendo o licenciando sai'do approvado Neniinc Discrepanle , S. M. a Rainlia de- terminou lionrar com sua presenca o acto de se conferir o griio ao dilo licenciando, pncaininliando-se para este fun com ElRei e S.S. A. A., precedidos pelo siir. vice-reitor com toda a faculdade, e seguidas da corle , para a triliiina real da capilla da universi- dade. D'ali veio o snr. vice-reilor com a faculdade, na forma do costume, para a capella , aonde conferio soleiiiiieineiite o grao ao liceiiciado. Findo este acto, o ^nr. vice- reilor com a faculdade , e o novo liceiiciado , voltaram ao paqo , aonde beijaratn a miio a S..S. M.M. e A.A.I agradeceiido a lioiira e merce que llie fizeram assistiudo dqiielle acln. As onze horns da maiili'i correu o sino grande a ajuntar para a ora^.'io, que havia de recilar na sala grande na preseiija de S S. M.M. o decano da faculdade de direito. Perto do meio dia reunido todo o corpo academico com as siias iiisignias nos geraes da universidade, se dirigio a dita sala pela via lafina, indo diaiite os arclieiros com o meirinho, seguindo-se a banda de iniisjca , COS lentes e doutores das cinco faculdades, dois a dois , pela sua ordeni , depois destes OS bedeis com as suas niagas , logo depois o secretario e mestre de ceremonias com a sua insignia, seguindo-se o snr. vice-reitor, ten- do a seu lado os coiisellieiros , doiitor Luiz Manoel Soares, decano de tlienlogia , e dou- lor Manoel de Serpa Macliado , decano de direilo: fecliava e^le acompanhameiito o guarda mor das escholas , com os continues dos geraes. Chegando o preslito a sala onde enlrou pela porta do fundo , nao se tendo abcrto a porta principal ate eiitrar a real cometiva, por causa do immenso conciirso dos espcctadores, que se achava na via lati- na , OS lentes e doutores sublrani para os douloraes , ficando o snr. vice-reitor com o consellio dos decanos a porta da sala, em quanto uma depula^fio de dois conselheiros decanos, o doulor Manoel de Serpa Macha- do, lente de prima de direito, e o doutor Antonio Joaquiin de Campos, lente de pri- 125 ma de medicina , com o secretario e mestre de ceremonias , giiarda rtior e bedeis , foram esperar S.S. M.M. e A. A. a porta da sala do docel para d'ahi os acompariliarem ate a aala grande. Logo S.S. MM. e A. A. vesti- dos em grande ceremonia se encamiiiharam para a sala, precedidos dadita dcpiita^'iio , e segnidps por toda a cortc em grande unifor- me. A porta da sala foram reccbidos pelo snr. vice-reilor com o consellio dos decanos, e acompanliados ale aos degriios do tlirono que se acliava levaiitado no topo da sala, no logar da cadcira da pre&idencia. Tinlia-se ali levanlado um estrado de cin- co degriios alcatifados , o sobre elle se lia- viam collocado quatro cadeiras d'espaldar de veliido carinezirn de tela d'oiim, debaixo de um rico docci de veUido , lamben) cannc- ziin. Na primeira d'estas cadeiras se asse/itou S. M. a Uainlia, lendo KIRei a sua esqiier- da, e seguindo-se o Princepe Real , e o siir. Infante D. Liiiz na ultima cadelra. Tanto que S S. M.M. e A. A se assentaram , orde- nou S. M. a Rainlia ao secretario e meslre de ceremonias, que fizesse signal ao corpo academico para se assentar nos doutores. No topo dodoutoral lidlreila do throno se assen- taram a dama de S. M., D. Maria das Do- res Sousa Coutinho, e o camarisla Thomaz de Melb Biayner , par do reino. Do mesmo lado , no douloral de tlieologia , estava levan- tado o sitial de veludo carmezim no logar, onde se assenlou o siir. vice-reitor, seguin- do-se a sua direila o duque mordomo mor, e OS outros grandes do reino, e junto a estes 08 lentes e doutores tln^ologos, e matliema- tlcos. A esquerda do throno, no douloral de dircito, tomarain as^ento, o viseonde da Car- rreira ayo de S.S. A. A. e os genoraes barftn da Foz , e barao de Sarmenlo , ajudantes de campo d'EIRei, seguindo-se do mesmo lado OS lentes, e doutores dc direilo, medirina e philosophia; sendo ao todo selenta e quatro OS lentes e doutores, que se acharam prescn- tes n esle ado. Denlro da Carangiiejola , aonde se acliava levantada do lado Cjquerdo a cadeira da prezidencia para o orador , eslava o secreta- rio e mestre de ceremanias no sen escabelo , o cabido da see calliedial, os ajudanles d'or- dens do marchal duque deSaldanha, varias pessoas da nobreza , e os bedeis e continuos. No douloral do lado direilo ao fundo da sala, eslavam o governador civil e os ma- gislrados judiciaes da cidade edislricto vesti- dos com as suas beccas , e os professores do lyceu , que n.'io eram doutores. -Estando todos nos sens logares , e tendo-se aberto a porta principal da sala, donde se tinliam tirado os bancos , e que logo se en- cheu de espectadores, siibio o secretario e mestre de ceremonias ao douloral de tlireilo para conduzir o respectivo letite decano , ■doutor Manoel de Serpa Machado , a cadei- ra , onde devia recitar a orajao gratulatoria, feitas primeiramcnle as devidas venias a S.S. M.M. e AA. Subindo a cadeira o referido decano , leu em pe, e descuberto a competente ora5ao, que corre impressa; nao se tendo tambem cubcrto as pessoas reaes^ nem acorte, nem OS lentes Acabada a ora^.'io , vollaram S.S. M.M. c A. A. ao pago , sendo precedidas pelo preslilo academico na mesma forma porque tinha lido logar no dia antecedente , quando S.S. M.M. vieiam da cathedral para a uni- vcrsidade Chegaiido asala do docel , onde tambem se achava levanlado um estrado de tres degraos com quatro cadeiras d' espaldar debaixo de urn docel de veludo carmezim , digna- ram-se S S. M.M. e A. A. dar beijamao solemne ao consellio superior d'instruc^ao |)ublica, aos Ionics e doutores por ordein de faculdades, estando todos com as in- signias, e a uma deputa?.'^ dos estudantes de todos OS cursos, a qual dirigio a S. M. a rainha um discurso de congralula(;ao pela sua feliz chegada a esta cidade, a que S. M. se dignou responder , concedendo-Ihe eoi prernio do seu brioso aproveitamento a dispen sa do ado no presente anno leclivo. As' & horas foi S. M. a Rainha era carri- nho, com KI-ReieS.S. A. A., visitar o col- legiodas Ursullnas, recenlementeestabelecido no extincto collegio de S. Jose dos Marianos , vnltando d'ali pelo jardim bolanico, onde S S. M.M. foram recebidas pelo sr. vice-rei- tor com o consellio dos decanos e pela fa- culdade de philosophia em corpo. S.S. A. A., que ja de inanha tinham visitado o jardim, dirigirara-se com o seu ayo a quinta de S. Cruz, recolhendo- se S.S. MM. ao page pelas 7 horas da larde. No domingo 25, as 3 horas da manba, vollaram S S. A. A. a pe' com o seu ayo e o barfio de Sarmenlo, e o snr. vice-reilor ao museu , e laboratorio chimico, onde por ordein do siir. vice-reilor se achavam os respoclivos lentes diectores que , na volla d'aquelles eslabelecimentos (que S.S. A. A. examinuram com muita alten(,'ao , moslrando muilos couhecimenlos em varies ramos da hisloria natural), os acompanharam ao pagp. As 10 horas da manliii locou o sino ao capello , e, reuuido o preslilo no museu, sob a prezidencia do sfir. vice-reilor, se encaminliou na forma do costume ale ii capella da universidade para assislir li missa. Pouco depois aparcceram S.S. M.M. e A. A. na tribiina real com toda a Corte em grande ceremonia. Logo que S.S. M-M. chegaram a Iribuna, todo o corpo academico se poz de pe, seguindo-se a missa rezada que celcbrou o chaiitre da real capella da universidade o bacharel Antonio Lopo Cor- reia de Castro, e durante a qual locou o org.'io. I Finda a missa , se encaminhou o piestito 126 paraasala grande, e, subindo os lontes para OS doiitoraes, foi o secrotario e aiesire de ceremonias com os dccanos de direilo , e mediciiia, e precedido dos bedeis . e meiri- nho, biircar S A. o Principe Reiil , que Sua Ma!;psta(!c a Raiiilia se dii;iiuia peniiil- lir, que fosse |)a(lrinlio do doutoraiido Luiz Albaiio d'Aiidrade .Morae^ e Almeida, <)iie no dia aiiti'cc'denle luera cxame privado em inatliemalica. S. A. Jvoal , veslido com o grande unifornie de l)ri';adeiro , precedido pela depiita^'fio acadeiiiica, e scgnido pelo seu ayo, e pelo ajudnnle de serviyo o barao de Sarmeiilo, se dirigio u sala pela jjorta do fiindo, Glide foi recebido pelo snr. vice- reitor com os decanos das facnldades , e acompanliado pelos mesnios , pelos dois oradores do capello , e pelo dontorajido ale ii carangnejola na ordem segninle — adiante iam os bedeis, apoz esles os dojs oradores da facnidade de inallieinaliea , com o lente de prima da mesma , e em segnida os decanos de llieologia , direilo , medicina, e plilosophia, depois o secrelario me-lre de ceremonias ao qiial se segniaS.A , teodo ;i sna direita o snr vice-reitor, e a esqiierda o dontoraiido, alraz de S. A R. la a corle. Cliegando a carangnejc'ila , totnoii S. A R, assenlo dcbaixo do docel , na mesina cadeira em que no dia antecedenle a-si^lira a ora^-ao. Adireila de S. A. R. seas^enlaram no doutoral , na forma do costmne, o sfir. vice-reilor, e o lenle de prima de mallie- matica que liavia de condecorar com as insigiiias dniitoraes ao doutoraiido. !■, no doutoral do lado esquerdo do llirono o ayo de S. A. R. e o ajiidante de servii^o. Os ajiidantes do rnaretlial lomaram assenlo nos bancos dentro da caiangiiejnia ; e OS oradores, que foram os doiitores Jose Joaquiin iVLmso Preto, e Francisco Pereira Torres Coellio, o doiilorando, o secrelario, e OS bpd(-is occuparain os Ingares do costume. S.S. M. M. e A. o >nt. Infanle diiqiie do Porto, assisliram a estc acto nas tribiinas da sala. Logo que S. A. R. se assentou , e cubrio, fez signal ao mestre de cerimonias para que todos se assentassem e cubrissein ; o que as- sim praclicaram lodos os lenles e doutores, asseiitando.se e pondo as borlas na cabei^a. O ^loutoraiido, levanlando-se , fez a devida ve- nia a S. A. R. e recilou em pe a ora<,ao lalina do eslilo a ppdir o grau de doutor, agredeceiido a grande lionra, e merce que S. A. R. se dignara fazer-llie na quelli' acto: seguiram-se as oragoes dos dois ora- dores, que as recilaram assentados , assiin como a do conselheiro Tliomaz d'Aquino de Carvallio, lente de prima, e decano de niathemalica, que o condecorou com as in- signias douloraes, depois de prestado pelo doutorando o juramcnlo do estilo nas mfios do snr. \ice-reitor. Acabado do conferir o grao , o novo dou- tor, acompanliado pelo lenle de prima, pelo secrelario e respeelivo bedel , dirigio-se ao llirono , aonde S. A. R se acliava assentado , e ajnelJKiu jiara llie beijar a iii.'io S. A. , levanlando-se logo com sumiiui alfabiUdade , iiabragou, levantando-se enlao lodas as facul dades, (|iie so se assentaiam depois do novo doutor ter dado os abra(;os a todos , e se acliar no doutoral eiitre o snr. vice- reitor, e o leiUc de prima. Depois de uma breve pauza se levaiuou o novo doutor para dar as devidas gra(;as , lornan- do dopoia a assentar-se. Eiitiio levanlando- se, o secrelario mestre de ceremonias lez uma profunda venia a S. A. R. , que ^e levaiilou , descendo os degraos do llirono, e sendo acompanliado ale a sala do docel em pre^tito, como no dia anlecedeiile , com a dill'ereii<;a, de que S. A. 11. ia a direita do novo doutor, eaesquerdado sfir. vice-reitor, e era precedido immediatamente pelo lente de prima , e pelos dois oradores da faculdade de mallieiiialica. A' eiilrada da sala do docel se acliavam S.S. MM e o snr. Infante Duque do Porto, (|ue se dignaram , asrim como S. A. R. , recelier novamenle os cumprimenlos de lodo o corpo academico, com a inaior afla- biliilade e considerac^'fio ; deixando a lodos admirados o ar magesloso, e sobremaneira gravce allencioso , ccinoque S. A. I{. assistio a este aclo , de um modo muilo superior a di-cri^ao propria da sua juvenil edade. O ceremonial que se observou n'cbte doii- lorameiito, no que respeita li presen^a de S. A. K.', foi regulado pelo coiisellio dos decanos, que para e^te fim o snr. vice-reilor convocou na maiilia do rnesmo dia 2-i , n'uma das salas do museu , como consia do respe- ctive) lermo a fl. 149. N'e_-la larde foi S. M. a Rainlia no seu coclie , com o serenir?i!iio sfir. Infante D. Luiz , ao realconvenlo de Santa Clara, venerar o corpo da rainlia sanla Kabel, que all se conserva, indo lambem El-Rei com o Prin- cepe Fi. , a cavallo, com toda acorte; foram depois ver a fonte das ligrimas, recolliendo. se ao pai^o no fim da tarde. No dia 26 as 7 lioras da manlia sabiram S.S. M.M. e A. A. do pa^o da univer- sidade de caminlio para o Bii^aco, e d'ali para a Cidade do I'orto , sendo acom- panliados pelas pessoas da sua real comeliva, pelo j,'^overiiador civil do dislricto e niais autoridades, e polo secrelario da iini- ver>idade. A' ponle d'agoa de Maias foram os reaes viaganles saudados pelos esUidanles , que, forinavam duas compridas alas d'ambos OS lados da referida ponle; sendo cor- respondidos graciosamenle por S.S. M.M. e A. A. estas espontaneas demonslracoes de amor e veneragfio da briosa niocidade academica. 127 ASTRONOMIA. No decurso doannode 1852enriqiieccu-se a astronon)ia com inais oito planelas lelesco- picos, em cnjo descobriiijeiilo , se re.i;ijtaram com fjloriosa men^fio os iiomcs de Hind do observatorio de Bi>iiop em Lnndres; de Cjas- paris do observatorio de Napnles ; de Lulher, astroriomo do obscrvalorlo de Blik, perto de Diisseldorf ; deOhacoriiac do observatorio de Marselha ; e de IJermann Gold^cljiiiidt piiitor de liiatoria residiiido em Pan's. £m sessao da aoademia das sciencias de P'ranc^a de 20 de dezeriibro d'esse anno, foi proclamado o preiiiro d'astronomia fundado por Lalaiide, teiido julgado a ro-pectiva com- missao que todos os que liaviani concorndo para o descobrimentod'a()nelles astros, tniliain direito ao dito prernio, parecer que foj pp|a academia unaniriienienle adoptado. Ciimpre porem advertir, que n'esta ses-ao forani so- mente mencinnados sete dos novos planelas , sendo de-conliecido ainda o planiMa Thalia, com que ao di^tincto a^tronorno Hind coube a gloria de fecliar o anno de 1862. £is a rela(;,'io dos poquenos plane'as co- nhecidos, adJicionada com os oito ultiiiiu- mente descobtrtos: Ceres — por PiazzI em ) de Janeiro de 1801. Pallas — por Olbcrs era 28 do marco de 1802. Juno — por ILirding cm I de selecnbro de 1804-. Vesla — por Olbers em 29 demarco de 1807. Astrca — pur Henclcrip9;"io a,5as niinuciosa, e Valz encoiitrou alli medalbas eguaes as de Riilfi; poiein o maior nuniero d'ellas linbanr MASSAAlHTfiN (MassalieLon) , no genitive do plural, clii, iVJa^saliotes. A^siln Mas-alia paia esle planeta, e Lute- tia para o planeta desc.iberto em Pan's pclo sabio artista Gokbclimidt, como Partbenope para Napoles, e Ceres para a Sicilia, sac noines de logares que olterecein recordajoes perpetuas, e mais sigiiilieativos para o desco- briinenlo d'esses astros , do que osdamytbo- 1 og i a . ' Phocense de Pliocida provincia da Grecitt. KO ALBUM E.X."" SR.> BARONEZA DA FOZ. Albiins custosos com dour.idas fullias Si'io como as sal:is oiulc os lionieii.s falsos . D'amor e d'hunra mil proltrslus fazciu Nnuca sentidus. As minhas trovas lito sera arle feilns Sau irrilus d'alma que fiii::ir nao sahe, Sao aia sentidos qiip roiejatn rha;fas Bern fiiiidas n'aliiia. Mai soam hrados em doiiradas salas , Albiins tloiiradus mal rnnisititem t^o^as Que alristein olhus que crim meigos risos- Matam d'amures. Eli sou qiial solo d'infeciinda roclia, Onile as bonitias vecejar nao podem,. Onde so brotam entre os rijos seixoS'- Ntfjros alrulhos. 128 Otttr'ora om maato d'egmallid* relra O negro dorso Ibe icstia alegre, Sobre ello outr'ora sera cessar brotavam Jasmins e rusas. Rijaa torrentes de f^elailas chiivas O vcrde nianlu Ih'arrAncaraiQ lodo , JaamiDS e rosas o liifao iiieiKnibo Ceifuu bramindo. Ja Ttii diloso, ja cingiram cVuas A louca fronte que d'amor perdida Pensar nao soube, que nao nnseera rosas Eroias d'espiulius. Rosas suavea que eir colbi sorrindo , Da Iriste vida na risonha aurora. Nescio, julgava que livesse o miiada Rusas etenias. Murcharam tudas ; deshotadas, seccaB, Todas cahiraui , so na Irislc fronte, A^'ora reslani an redor cravados Durus espinhus. Perdoa no Irisle que sorrir nao pode , Sa vem com prantoa desluslar leu album , K as lindas folhas que merecem cantos D'estro divino. Hon quat niendi[::o, que bondosa acolLes, t^ue aceita {rralo f^'eneroso alhergue; Mas que so pode tribu(ar-te em paga Ben9Sos e pranto. n. O'Neill. ilREVES RCFLEXOES HISTORICAS SOBRE A >A- VEGArVO DO MO.\DEGO , B CCLTORA DOS CAMPOS DE COl.tlOltA. Continuado de pag. 101. Em lf)27, encontranioi repelido , com pouca differeiija, o inesrno piano de obras, ja proposto e mencioiiado no anno de 1.3G7; donde se ve que as providencias do reginienlo dos maraclioes erain iifio so pela inaior parte inefficazes senao Lainbern alyiuiias d' tllas absurdas. E neeesario nfio ter observado ao meno5 uma das jjrandes enclientes do Mon- dego, para acredilar que os povos das visi- nhancjas desles campos, ou ainda mesmo os de Porluj^al inteiro , podessem , coin pas enxadas ebaldes, fazer obra que desviasse do curso natural um e^paiilnso volume d' a"-uas que, repel idas vezes em todos os invernos, se despenha das alcantiladas serras da beira, <■ se espallia com iiiipctuosa lorrenl:e pelos campos de Coimbra. No anno de que vamos escrevendo , acha vam-be os campos (como adiante inostra- lemos) quasi lolalmente arruinados pelo ladn do sul; e se tal era a sua sorte deste lado, como nao seria ao norte , quando e certo ler a agua constantcmente moslrado lendencia para correr n' es,a diree(;,=io, por ser por alii o campo mais baixo ? Das ruinas pelo lado Ho sul mostraremos urn documento incoii- testavel; e, ainda que nos falte outro que sirva egiialmente de prova qunnto as do lado do norte, nfio deixa de ser islo menos patente a quern souber que o Mondego ncsta e|)oclia estava dividiiio junto ao sitio da Memoria, pouco mais ou menos, em dous grandes ramos , dos quaes um corria pelo sul do rampo, e o oulro conlinuava o sen curso pelo alveo anligo ; donde e t'orgoso concluir que o alveo do norte se acliava tao obslruido d' areias que as correntes procuravam por necessidade um leilo mais coininodo a sua tendencia natural. Na prescn^a de t.io desastrosas ruinas os infelizes proprietarios do campo de Coimbra n.'io podiaui dear estatuas insensiveis, vendo lodos OS annos crescer Cjpanlosamente a desgraga de suas familias pela falta de um encanamento para o Mondego; sens energico brados tocaram com a convicgao da desgra^a OS ouvidos do rei e das autoridades ; e em resultado, apparece n'esta eporha, grande inleresse por um encanamento, como vere- mos pelos docuinentos seguintes: Uma provisao de 20 d' abnl de 1627, refcre-se a oulra um pouco anterior, que mandou rcunir em Coimbra os povos visinlios ao campo, d'um e outro lado do Mondego, para elegerem uma junta que deliberasse sobre os negocios relatives ao encanamento: n.'to encontramos esla provisao , mas aquella e iiastante para nos minislrar sufTiciente conbeciu)ento dos factos. A camara de Coimbra, receosa de que a midlidao das povoa^oes congregadas para a eleii^ao da juiUa nfio pertubasse o socego da Cidade , pediu ao governo que mandaSiC fazer a eleigfio por outro metiiodo. A sua repre- senta<;rio foi attendida, mandando-se que OS procuradorcs das commuiildades , e os feilnres do diK|ue d' Aveiro e do marquez de Ferreira (proprietarios mais poderosos do campo), c assim os ol'ficiaes das camaras das villas, concelbos e logares circumvisiulios ao campo , d'uma e outra parte do rio, eleges- sem duas pessoas das que o povo Hies apre« sentas-e para jiinla;iicule com aquelles pro- curadores irem requerer, por cada povo, o que julga»sem convenienle na occasiao em que se liouvessem de reunir com a camara de Coimbra para Iraclar do negocio do encanamenlo. Desta provisao consta que os architcctos encarregados das obras do novo encanamento liaviam de partir de Lisboa para Coimbra no dia 26 do dito mez. ' Nfio sabemos se com el'leito se constituiu a junta, por que nem d^lia nem de suas dflibera(,oe3 tornamos d' ora em diante a enconlrar memoria alguma; lodavia houve o pensameiilo de a crear, etalvez o documento que vamos referir, e ao qiial ainda ha pouco aiiudimos, d'uma vestoriu feila ao sul dos campos de Coiuibra, fosse ou iim trcballio ' Arcb. M.' n 394 •■ sej? do I..* 1.° de Prov. e Privil, e Rejwrt. daj E^travag. — Mondego.— i 129 determinado pela mesma junta, ou pelos caniaristas para llie fornccer informaQoes certas e segiirus, em que clla podesse t'lin- dar as siius deliherayoes. Fosse porem Cala ou outra a causa da vcstoria , e certo que o documetilo exisle com lodos os caracleres de aulbenticidnde. ' Nelle se descreve otrisle quadro das ruinas que os canipos tiiiliaiii sofTrido pela parte do sul, priuclpaluieiite na distancia que niedeia ontre Ciiimbra e o logar doAuiiMl; aponlaremos d'elle soinente as partes que podern iiiteressar ao nosso liin. A comuiissfio que procedeu a este exaine compunlia-se d' um procurador do bispo, um vereador cescrivfio da carnara de Coiui- bra, nieslre d' obras Isidro Manoel , e d' uni Manoel Siniois escrivfio dos orfaos couici perilo dos cainpos ao sul do Mojidejjo. Quando esta comtiiKsao cliei^ava a al^^uuiu povoa(,'fio liu)ilrot't! do lainpo, que linlia de ser inspecioiuido , escolhia alii outro Inuvado perilo do local para dar iiiforina^'o''s e o. sou parecer. O primeiro auto de axame e dalado d:i Rapoula (pouco mais ou menos onde lioje cliamainos — Memoria, ou Pedrado), em 27 de maio de 1827; e n'elle <;e declara que n'este sitio devia o no cou]ei,ar a correr puru o lado do sid , segundo as ordeiis de sua mageslade. A commi,:-ao declarou que as terras, desde o sitio da Rapoula ale' iMoiile- sfio (uma grande parte dellas foroiras a Mitra) , eslavam desde muitos annos estereis por causa das aroias, equenao havia prejuisci al;jum em se eiicanar o rio por esle lado ale MoiUesfio. Passararn depois a inspeccionar os campos da Corugeiia e da Sugeira, e eneontraraui (|uasi de lodo arruiiiados os pra/.os que por ahi havia da uiiiversidade , Santa Clara, S Lazaro etc. ; e dicerarn que nfio se encauaudn o rio depressa se arruinariam de todo ; quf por eslcs prazos pasfava a valla da quebrada que havia no inaracli.'io da Itapoula, poi onde corria unia ter^a parte da agua do rio, e quo as lerras que ficassem d' uui e outro lado do encanauienlo se podiam toruai productivas. Viram o campo de Taveiro, que era da universidade, por onde estava delermiuado que passasse o rio; e declararam que se IIr' deviam corlar dez geiras, por ser de rnaia proveito para o resLo que iiielhorava coin o encananiento. Dos exames feitos nos campos de Vitla- Pouca eAmeal resultarajn eslas declaraijOes : que estes caiupos eslavam retalhados em pantanos causados pela quebrada e valla qjie corria por estes silios ; e que nfio causava damno algum aos predios o encananiento que eslava por alii dt-terminado abrir-se ate Pereira, antes oiuito os mellioiava. * Eatre os papeis avulsos ilo arcb. muoicipal , e ori;j;iDal, Nos campos de. Pereira e Formozelhe notavam que nos de Formozeihe o encana- mento linlia de corlar boas terras do bispo conde , no que Uie causava grave prejuiso, porem que s. ex.* era contente com isso ; letido de ir o encanacnento na maior parte pelo rio vellio: e que nos campos junto a. egreja de Pereira, onde passa a valla da Arzdia, poiica ruina se causava as terras, porque, leiido de passa r por alii o encana- rnenlo , a valla era larga e com grande oagem ^ por isso com pouca cava se podia por ella encanar o rio. O llieor defies aulos de vesloria nos revel- lam alguns faclos que iifio teraos ainda encoutrado n' outros documenlos, e vem a aer — que o governo linlia decrelado um novo encaiiamenlo pela parte meridional do campo; que o Mondego se encontrava n'este lem|)o (1627) dividido em dous ramos no Llio da Rapoula; e finalmenle que a maior parte do campo se tinba tornado esterii. A|)ezar destas diligencias, ainda em 1629 iiijo se liavia tra^ado um pUuio detipitivo de encanameulo, poique por uma provisao dalada de Madrid aos 6 d' abril d'esle anno ' se communica a camara de Coimbra que >ua rnagestade para alalliar os damnos do Mondego, a que desde muilo tempo se procurava dar remedio, tinha niandado proceder as diligencias de que Iraclava um documenio que acompanliava a mesma pro- visao ^ ; e que na companliia do bi^po da dila cidade vinlia um .4rchilcclo, para ver couio a obra se devia levar a effcito , ao qual a camara devia pagar 2o reales por dia. Ha com aquella data mais uma carta regia para que a camara logo que tivesse aviso do bispo , se reunisse no logar e a hora que s. ex." mandnsse, para todos junta- uienle Iraclarem a re.-poito do meUior modo de encanar o Mondego. ' Doiide se ve clara- menle que em 1C27 estava sim decretado o (■ncanamento pelo sul do campo , mas ainda em 1C2!) se uao acliava levantada a sua (danla. A par das projectadas obras de canalisa- <;'[0 Iratava-se larubem de construir iim caes novo junto de Coiuibra, Rfii 4 de fevereiro de 1638 requereu a camaia ao governo a apprcvarao da obra, e pediu que o rei Ihe mandasse um dos seus Arcliilectos para n. diii^ir. Aos 24 de fevereiro do anno seguinte acliava-se o architeelo ( Luiz de Frias) com OS vereadorps da camara e os vinlp e quatro Alisleres do povo no caes vellio da cidade, onde u todos se embarcaram rio acima ate 11 defronle da quinta dos frades Benlos, vol- u taram dalii pelo rio abaixo, vendo a it queda do Mondego, e grande damno que * Alch. M.' all. 153 de Provisoes orisinaes. 2 N'lo lifparraiiios com esle ilucnmt*nto , salvo se elle for 0 (Ins anlus de vesturia que acimu ilenms em resume. ^ \re[\. M» nil 151 Mo L.° do Proiisoes origiiiaei. 130 M fati* pot nao haver ciies ; assentaram que K o archileclo como meslre mandndn por u sUa ma^estade , e que eiilendia o que; so u devia fazer, fi/iossp a trara d' iim caes do K fnodn q>ie o rio iiaocontimiasse adi'leiiorar « A cidade ' u Etn 5 de Mar^o sej^'uiiiLe llrdia Luiz de Frias concluido o doseiiho do novo (Mies; aprescnloii-o aos camnrblas, que se deram por salisfeilos, inandaiKio que o ar- cliilecto o levnsse com alguns apniilaiiiiMilos da obra ; para rehilar liido ita nicso ttopi^o, afim de qrie Sua Diagealade dett-riiiNias^e u que fi)?>.e fnnveiiii'nte. ^ De l(i3iJ em diante hte 1681. nfio erichii- tranios docimientiw algmis relali»os a nbras do Mondej,'o. Deste siler-cio parece dever inferir-se, ao tnenos com proLiabilidade, que alguns nvellioranieiitos sc obliveram pela> providencias , que refeririios iius aniinj pre- cedentes de 1627 a 1629 on a 1639, sc houvermos de considerar a obra do caes , como parte do encanamento. Do di(o anno de 1684 havia iima carta Tegia para D. Siniuo da Gaiiia, reitor da universidade e snperintendente do Mondego, ordenar o piano d"um encanamentn. ' E em 1694 (12 de maio) maridoii eirei proceder ao novo encanampnln , cotntrangendo os donos das terras, por onde ''lie liavia de passar, a •♦endel-as por arbilrio de lonvados on a serem indeninisados , qvierendo, no terreno do alveo anligo * TECHXOLOGIA. J^ovo processo para gravar em metal e especialinciite em oj'O. Segundo a memoria de Mr. Talbot pli}'- siooingjpz, mergullia-se a lamina d"a<;o , que se prelende gravar , em vinagre mUturadn com urn poucod'acido snlfurico; asubslancia, que se deposila sobio a lamina para formar uoia camada imprcssionavel , e uma mi>tiua de gelalina e de bichromato de potas?a. I'ri- meiro secca-se e aquece-se levemente a la- mina, cobre->e loda iinirormemente com a inistura, e n'uina posi^-io horisontal aque- ce-se brandamenle ;i cliaina d'uma alampa- da ate que a lamina esleja perfeitamente secca. Esta deve entfio moslrar-se com uma bella cor amarella e uniforme ; se notarmos espa(;os ondcados prnduzidos por uma espeuie de cliristalisa(;rLO microscopica , e isso signal de que ha escesso de bichromato. ' Autos origioaes entre os papeis avulsos do Arch. '' de Coimbra. ■» Esle dociimente vem cilado no Report," das extfav. como exislenle no cart." da fazenda da uiiivereidade palriiD. anl. {?av. 7 mas nSo a montramos. » U.° ReporloriQ. Se pretendemos gravar unl objecto piano, como uma renda, a foiha d'uma planla , collocamol-a sobre a lamina e e.\pomol-a d'csto modo ao sol durante um ou dois mi- niitos. Se queremos gravar um objocto em rele- vo, lomamos uma iinagem iirgativa pelos meios ordinarios ; depois tiramos uma irna- geui positiva sobre ])apel ou vidro, e final. inc'iite collocamos e^ta ultima iuiagem bol)ce a lamina e expoinol a ao scl. A imageui obtida e duuia cor amarella que se de^tara do (undo escuro do rcslo da larnada gelatiriosa; immergcsse a lamina cm uuia Cuba clieia d'agua fria durante perto de dois miuMtos. A agua torna a imagem branca , e tendo jnergiilliado alguns minutos a lamina em alcool, e seccando-a depois a um calor mi(- derado , a imagem branca apparece aiiida mais clara no fundo escuro. Ilesla agora fazer intervir 0 reactivo chi- mico que deve gravar a lamina. A ac^ao deste reactivo deve ser suO'icientemeHte forte sol)re OS Ira^os produzidos pela luz , e niui fraca em todos OS outros pontos. Mr. Talbot expenuientou differentes rea- ctivos, e preferiu o bichlorureto de platina ddiiido n'uma por^ao d'agua que elle nao indica. Em dois miuulos produz-se a acgao ; lava-se a lamina com uma e^ponja imbebida n'uma dissolii(jao de sal mariiiho , ate' que a gelatina tenha desapparecido. INSTRCCCAO PUBI.IEA EM UESPAiNH.V. Obras appyorafttis para o rnsf'W publico nas univtrsidtides e itislUtiltts dt Jlesj/anlia em iUjl. Cuntinuado de pag. 108. FACULTAD DE FAUMACIA. PKIMCIl ANO. Mineralogia de nplicacion. LeccionRs mineralogia, por D. Agustin Yanez : nn tomo. Elementos de mineralogia, por Brad Salacroux. Elementos de liistoria natural , traducidos por D. Jose Rodrigo : cinco tomos. Zoologij. de apUcacion. Lecciones de zoologia , por D. Aguslin Yanez : un tomo Elementos de zoologia , por D. M. Edwards y A. Comte , traducidos al castel- lano : nn tomo. Materia farmaciutica mineral y animal. Tratado de materia farmateulica por D. Manuel Jimenez : un tomo. 131 SEGIJNno ANO Botiinicii de aplicac'ton. Leccloiies cIh IjoUinica, de D. Agnstiii Yanez : un Inmo. Mariin'l de bnliinicu dcscripliva , por D. Vicente Ciitaiida y D. Mariano del Amo: dos tOMlOS. Manual de bouinica, por Girardin y Juillet : un lomo. Materia fonnncenlica vegetal. Tratado de materia farmaceiilica , por D. Manual Jimenez: un toruo. TBIICEU ANO. Farmncin quinnco-inorgdn/ca. Tratado de t'arcnaeia opeijitoria , por D. Raimundo P'or? y Cornet: dns innioi. Tratado de furinacia experimental, por D. Manuel Jiftienez: dos tomoa. Curse coinpl'to de fiirmacla , por Le ; Canu, traducido al casteiiano : dos lomos. CPARTO A So. Fariiiacia quimico-or gdnica. Curso cornplet" de farmacia , por Le Canu , traducidn al caslellano. Tratado de t'arinaria teorica y practiea , por Souheiran, traducido de la ultima edicion dos tomos. Tratado de qni'mica ors'anica , pnr J. Liebig, tradiitido al casteiiano: tres lomos. ! QUINTO AND. Praciica Farmaceutica. Las obras desi^^nadas para tercero y cuarto a no. FACULTAD DE JURISPRUDENCIA. PItl.MEK AND. Prolegfimenos del derecho. Proler;6ineno^ del derecho , por D. Pedro Gomez do la Serna. Prolet^omenos del derecho , por E|. Car- melo Miquel. , ,, Falch , enciclopedia jun'dica. Historia eleiitaital del dereclio romano. Historia de la lefjisjacion romana desde su on'gen hasta las legislaeiones rnodernas, por Ortolan , traducida por Don Ricardo R. de la Camara. Lecciones de historia de la legislacion ro- mana, por Don Jose Maria Anlequera. Introducion hislorica al estudio del dere- cho romano, por D. Pedro Gomez de la Serna. Instituciones del derecho romano. Curso hislorico exege'tico del derecho ro- mano comparado con el espaiiol , por D. Pedro Gomez de la Serna. Explicarion historica de las instituciones del I'.niperador Jusliniano, por Mr. Ortolan. El cate(Jratico que acepte estc texto debera liacer nolar a sus discipulos las variantes del dereclio romano con el espafiol en los puntos principales. Instituliones romano-hispanaead usum ihv- ronum hispanorum ordinatse, opera Joannis Sala , pra'positi Valentili. Kn esle ano se explicara desde el proemio de las instituciones de Justiniano hasta el litulo X del libro segundo. SEGCNDO AXO. Los misnios autores senalados para e! es- tudio de la-i Institiciones del dereclio romano en el primer curso. Rrte coinpremiera desde el titulo X dei libro segundo hasta el (iiial. TERCER ANO. Historia del derecho espaiiol. Tli^loiia de la logislacion espaiiola , por D. Jose Maria Anlequera. Hislnria del dereclio espanol , por D. Joan Sempere y Guarinos. La re>ena hi?larica de la legislacion espa- nola que precede a los Elementos de derecho civil y penal de Ejpafia, por ios doctores D. I'edro Gomez de la Serna y D. Juan Ma- nuel Moiitalvan. Dtrcclio civil de Espana. Elementos del derecho civil y penal de Irspafui, por los dn<^ores D. Pedro Gomez de la Serna y D. Juan Manuel Monlalvaii. Ilislracinn del derecho Real de Espana, por D. Juan Sala. '• . Novisima iluvlracion del derepho e^pafiol , por D. Juaii M'lrcill'i Ortiz. Dericho mcrcanlil. Elementos de derecho mercantil, por D- Hu-jeiiiii de Tapia. S.\ Codigo de Comercio exlractado , con la explicacion al pie de cada arliculo , por D. Jo;e' de Vicente, cuarta edicion. Elementos de derecho mercantil, por D Eiistoquio Laso. Dereclio jienol. Elementos del derecho penal de Espana, por Ins doriores D. Pedro Gomez de la Ser- na V D. Juan Manuel Monlalvan. I'.lemenlos del derecho penal de Espana , por D. Eiistoquio Laso. Instituciones del dereclio penal de Fspaiia, por D. lldefonso Aurioles y Montero. eCARTO AND. Prolegomenos y elementos del derecho cano- nico universal y particular de E»paiia. Dominici Cavallarii instituliones juris ca« norvici. El catedratico que acepte este livro de tex- 132 to debeni hacer notar Ins variante respeclp al dereclio canonico de la Igresia de liis. pana. Iiislitiitioniim cannnii'aiiiin libri HI, an- Clone Jiiliii LaiireiK'ii) Solvaifio. Manual de dereclio eclcuiiUlieo de loda- las coiifeciones cri^tianas, por D. Feinaiidc' Walter, con adieiones reUuivaj a la di4ci|ili- na eclesiuslica de l^spaiia. QCIKTO A.NO. Disciplina general de la Igresia y pnrii culiir de Esjiana. Curse de disci[)lina eelesiaslira oeneral v particular de Espaiia, por el Dr. D. Joa- quin A{;nirre. Disciplina cclesia-itica general de Oriente y Occideiite, la particular de Espana y ul- tima del CoMcilio de Trenlo, por Caparros Dereclio piihliio. No hahiendo un lexlo aconiodado a esia asignalura, lo= catedraticos explicaran lo-. fuiid.iiiientiis de la Couslitucion politica de la monarquia espaiiola. Dereclio adininistrativo. Dereclio adminislrativo espanol , por D. Manuel Colnieiro. Eletneulos del dere -lio adininistrativo , por D. Manuel Ortiz de Znniga. Instituciones de dereclio adrninistralivo es- panol, por Don Pedro Gomez de la Serna. SEXTO ASO. Ampliocion del dereclio espniiol. Hisloria criticn y filosofica de los cudigos y de s'ls •principoles dispoaiciones , y de las noveda- des que inlrodiijeron. Mierlras no \v.iya. ohras de texto acomoda- das a esta aslgnatura , los caledraticos adopta- ran por guia para siis explicacioiies uno de OS liliros designados para texto de la lli^toria del dereclio espafiol ; y por sii orden , sin re- pelir lo que los discipulos aprendieron en el ano lercero, se ocupanin de la hisloria exter- na de iiuestro dereclio, consideraiido en gene- ral nuestros codigos en la parte civil bajo su aspecto liistorico , critico, lilo^ofico y litera- rio , utilizando los Irabajos lieclios por niies- tros jnrisconsultos en eata iinportaiite parte de la ciencia. Despues entraran en el examen interno de las disposiciones de los codigos por su orden cronologico , senalando las variacio- nes sucesivas que sufrieron las diferentes iusli- luciones, iijando^e en las mas notables, lia- ciendo su liistoria, deterrninando las causas que influyeron en las alleraciones , ventajas e incoiivenieiiles de las novedades cansadas, liasta tijar las disposiciones vigentes de nues- fro dereclio. Los caledraticos rccomendariin la lectura fje las moiiogratias 6 Iralados e^peciales mas selcclos de las principalcs instituciones 6 coiii- pilaciones. Ttoria de los procedimientos. Elementosde practica forense, por D. Ma- nuel Ortiz de Zi'iniga. Tratado a<'adeinico forense de proccdi- inienlns judiciiiles , por los di clores D. Pedro Gomez de la Serna y D. Juan Manuel Mon- lidv^n. Iiistiluciones praclicas 6 ciirso elemental de practica I'orence , por D. Juan Maria Ro- driguez. SKTIMO aSo. AmpUdcion del derccho espanol , parte mer- can til II pi-nal y fticros porliciilares. Hislo- ria criticd-filoscifica do los Codigos y sitl princi pales disposiciones ?/ de las noveda* des tjuc iiiirodujcron. (Segundo curso.) Mientras no liaya livros de lexto arreglados a cila aslgnatura , se procedeia por un orden analogo al del cnrso (irecedente. En la parte de fueros parlieiilarcs , los ca- ledraticos liariin notar las variantes con nues- tro dereclio comiin en los de Aragon, Cata- liina , Navarra, Vizcaya, Alava, Guipuzcoa y Mallorca. Para la parte mercanlil se designan los li- bros siguicntes. Instituciones del dereclio mercantil de Es- pana , por Don Ramon Marli de Eixala. Tratado del dereclio mercantil de Espaiia , por D. A. B. abogado de Barcelona. Para el derecho penal. Codigo penal concordado yaumentado, por D. Joaquin Francisco Pa^lieco. Comentarios al nuevo Coligo penal, por D. Tomas Maria de Vismanos y D.Cirio .Al- varez Martinez. El Codigo penal explicado, por D. Jo^e Castro y Orozco y D. Miinuel Ortiz de Zii- r'liga. Practica forense. Esta asignatura no tiene texto por no ha- ber en ella explicaciones teoricas. Todo el liempo deberan invertirlo los alumnos en tra- bajos practicos dirigidos y corregidos por los profesores , que les harau notar los defeclos que aquellos contuvieren , y precisar las for- mulas de los escritos. Conlima. v- r. n. PAIVA. ERRATA DO N.° 4. Png. 43 Cot. Link. «.» 8danol.«.* Erro. ammonites , tor- tilh , margnrilu- tas, c ser})(.'[iti- nas. Emenda. ■ ammonites tor- tilis, margari- tatus . e ser- peottaus, i. ® Jn^tittttiJ, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Movimenlo da faculdade de mathematica no anno leclico de 1852 para 1853. Distribuigdo transitoria ' das disciplinas e professores que as leram. 1.° Anno Estudantes tnatriculados 81, perderam o anno 34 — nao fizeram acto 20, approvados nemine discrepante 21 , approvados sim- plicitcr 7 , reprovados 2. 1.* Cadeira — Arlthmetica • algebra ele- mentor ; geometria syntkelica ; trigo7iO' rnelria plana. Compendios , Curso Com- pleto de Mathematicas Piiras de Francoeur, 1.° volume Elements de Gcomefrie , de Le- gendre. Professor, Dr. Rufino GuerraOzrio. 2.° Anno Estudantes matriculados 30, perderam o anno 6, nao fizeram acto 7. approvados nemine discrepante 11, e approvados sim- pliciter 5 , reprovados 1. 2.' Cadeira — Geometria synthetica e analytica aduas dimensues; algebra superior :. series • principios elemenlares de calculo dif- ferencial e integral. Compendios, Geometria d'Euclides, e Cnrso Completo de Mathe- maticas Puras de Francoeur 1." e2.° volume Professor, Dr. Raymundo Venancio Rodri- gues. 3.° Anno. Estudantes matriculados 13, perderao o anno 2, nao fizeram acto 3, approvados nemine discrepante 7. 3.* Cadeira — Algebra superior; geometria analytica a tres dimensoes ; trigonometria espherica , calculo differencial e integral , e das differengas. Gom\>enAio, Curso Completo de Mathematicas Puras de Francoeur , 2° volume. Professores , Dr. Jacome Luiz Sar- menlo de Vasconcellos noprincipio do anno; no resto. Dr. Abilio Affonso da Silva Monteiro. 4.° Anno. Estudantes matriculados 10 , perderam o anno 1 , approvados nemine discrepante 9. 4." Cadeira — Mechanica racional e geometria discriptiva. Compendios Traite, dc Mecanique , de Francoeur j Traite de Geometric Discriptive de Fourcy ; Com- plementos da Geometria discriptiva de Fourcy , por Sousa Pinto. Professor, Dr. Francisco de Castro Freire. 5.* Cadeira — Optica e astronomia pra- ctica. Compendios, Elements d' optique de La Caille ; Traite d' Astronomic Physique , de Biot. Professor , Dr. Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto. 5.° Anno ' Em conseqiienci.i da passagem do antigo para o novo plaao , e para remediar os inconvenientes nos doi» ullimus nnnos , da cessaQSo das aulas mais cedo do que o regular, em virlude dos perdSes d'aclo. — Vede o n.° 14 do 1." vol. d'este Jornal. Vol. II. Estudantes matriculados 3, approvados nemine discrepante 3. e.' Cadeira — Geodesia e hydraulica. Compendios, Geodesie, de Francoeur. Traite de mdcanique , de Poisson. Professor Dr. Joaquim Gongalves Mamede. 7." Cadeira — Mecanica celeste. Com- pendios , Theorie analytique du sysiteme dii Monde , par Pontecoulante ; Mecanique Celeste de Laplace. Professores, Drs. Tho- maz d'Aquino de Carvallio, no principio do anno; no reslo, Dr. Jacome Luiz Sarmento de Vasconcellos. 6.° Anno Estudante matriculado 1. Repetigao das cadeiras 4.' e 7." Texlo assiiTiiado para a dissertayao inau- gural , De attractione sphasroidum a splicera parum aberrantium. Repartigoes para as theses: 1.° Mechanica dos solidos theorica e applicada j 2.° Me- chanica dos fluidos theorica e applicada; 3.° Astronomia P/iysica ; 4.° Geodesia c Mechanica celeste. Cursos de leitura para a habilita^ao ii classe de oppozitores. (Vede o n.° 17 do 1.° vol. d'este jornal, pag. 279). Despachos que tiveram logar na Faculdade depois da abertura das aulas. Para o logar vago pelo fallecimento do lente cathedratico , Dr. Agostinlio de Moraes Plnlo d' Almeida, foi despacliado o I.* Setbmbro 15 — 1833 Num. 12. 134 lente substituto Pr. Raymundo Venancio Rodrigiies. Foi nomeado oppositor, e depois despa- chado para o lojjar vapo de 4.° lenles subs- tituto, o Doutor Joso 'J'eixoira de Queiroz. Para o lo{;ar vago ctn consequencia da nomeajfio do 2.° lonte calliedratico da facul- dade o Dr. Jose Ferreira I'estaiia para vogal do consplho ultrainarino , foi dcspa- chado o Dr. Kufino Guerra Osorio. Distincgoes. Em consequencia de frequencia e aotos finaes obliveratn distinc^'ocs n' este anno le- ctivo OS estudantes de que ja se fez menjfio no n.° 9 do 2.° vol. d'este jornal. Alteragoes — livros adoptados — e outras providencias. Em resposta a consulta do consellio da faculdade de niallienialicaacerca dos raotivos e considera^oes, que o levaram a adoptar o piano de distrlbuifSo das disciplinas das cadeiras de inatliematica, e bem assim sobre o fundamento que deteiuiinura o mesmo con- sellio a p6r em execujfio o referido piano no anno leclivo ultimo: bouve S. M. por bem declar que llie sera muito agradavel saber, que os resultados da mencionada distribuijao de disciplinas tern correspondldo ao fim de conveniencia publica que o conse- Iho teve em vista. Tendo o consellio da faculdade concor- dado unanimemente em que se pedisse ao governo de S. M. auctorisa^-ao para alternar as aulas do curso matlieniatico nos annos, que se juljjasse conveniente, sendo o miniino d' estas aulas assim alternadas de 2 lioras , e ficando para ellas suppriniido o feriado da 5." feira. : foi o mesmo consellio para issoau- thorisado por decreto de 23 de outubro de 1852. E effectivamente se alternarani n'esta conformidade as aulas do 4.° e 6.° anno. Por proposta do vogal Dr. Mamede decidiu depois a congregagao , que havendo na semana um ou mais dias feriados, marca- dos pot lei 5 se lesse nodia immediato, aletn da ligao ordinaria , uma extraordinaria , de hora emeia, na outra oadoira. Em ordem a fazer entrar successivamente o curso malhematico no piano ultiniamente adoptado, decidiu o consellio da [''aculdade que , no anno proximo Icclivo de 185.3 — 1854 , se pozesse aquelle piano em execujao em to- das as cadeiras com as seguintes excepjoes : 3.° jinno. 4.' CciAQua — Geometriaanalytica a Ires dlmengoes. j superficies e curvas no espago j mecanica racional. 4." yfnno. 5.' Cadeira — Optica ; astronomia pratica. A 6." Cadeira de mecanica applicada a geodesia conliniia no 5.° anno. Os Estu- dantes do 4.° anno estudarao mecanica racio- nal na 4.* cadeira; e geometria discriptiva , na cadeira que se assignar na 1.* coiigrega- ^fio do proximo anno loctivo. Foi approvada para cotnpendio a 2.* parte da Dynamica, appresctntada polo vogal Dr. Gastro ; e tendo estt declarado que ccdia da propriedade da 1." edi^ao dos sens Elcnienlos de Mecanica Racional , a favor de luiprensa da universidade , com tanto que esta se promptificasse a imprimil-a de modo que podcsse servir para o ensino no anno proximo. O consellio instou com o snr. vice-reilor para que recominendasso que esta impres-sao, e as que se eslao fazendo na tnesma typograpliia para uso da faculdade, se fizessem com preferencia a oulros quaes- quer traballios. For proposta do lente respectivo foi ado- ptado para compendio de B.' Cadeira a Mecanica applicada , de Navier. O vogal Sousa Pinto apresenlou um manuscripto conlendo a 1." parte de um compendio de Astronomia; e o consellio da Faculdade tendo na niaior considera^ao este valioso servi^o , nonieou immedialamente uma cominissfio, composta dos vogaes J. Sarmento e Barreto Feio, para o exeminar e darem sobre elle o sen paracer. Gonstando ao consellio que se tractava de distribuir pclos differenlcs estabelecimentos pertencejiles auniversidade os livros acumula- dos no anligo coUegio das artes , encarregou o vogal Gastro deescollier dentre elles aquel- les que devessem passar para a livraria do observatorio. Satisfazendo ao officio do niinisterio dos negocios do reino , acompaiiliando outro do inini;lerio da guerra, no qual se mostra a conveniencia de que a faculdade de ma- tliematica classifique numericamente os alu- mnos do 3." anno no fim dos annos lectivos , e 03 do 4.° e 5.° no anno actual, pelo mesmo modo que sao classificados os da escliola Polyteclmica: decidiu o mesmo conselho fazer este anno a class! fica<;ao pelo modo indicado, reservando-se para propor opor- tunamente sobre elle as modificajoes que julgar mais convenientes. Decidiu mais o mesmo conselho , que no relatorio annual da faculdade, incumbido ao vogal Gastro, se fizessem ao governo de S M. as requesigoes seguintes: De OOOJOOO reis por uma vez para se organizar a aula de desenlio , agora jirovida de" professor vitalicjo, em conformidade com a consulta que sobre este objecto dirigira o consellio ao mesmo governo em 15 de margo de 1343. De lOOJ'OOO reis, annuaes para compra de livros e assignaluras de jornaes scientificos para a faculdade e Observatorio. De 200>^000 reis , por uma vez para obras deurgencia a que e' necessario proceder para arranjo de duas aulas para uso da faculdade. 135 Obiervatorio. Tendo o conselbo da faculdade repre- sentado sobre a necessidade que liavia de prover a continuaQao do calculo das eplie- inerides por collaboradores teinporarios , na impossibilidade de se preencherem os logares vagos de ajudantes do Observalorio , por falta de opposilores legalmente habilitados: houve por bem S. M. aulhorizar o prelado da universidade para escoUier para esse fim dois doutores da faculdade. Ao consclho da faculdade foram presentes as informagoes que pcdira em 2 de maio de 1851 , comonecessiiiias paradar oseu parecer sobre a escolha dos instrumentos, que o governo por carta de lei de 23 de abril de 1850 fora authorisado a comprar para o observalorio da universidade. D'estas in- formagoes resultara, que os distiiictos Astro- nomos M.M. Airy, Struve e Faye julgaram preferivcl o circular meridianno (Tranzil- circle) u Lunela meridianna, e ao circular mural , para a combinagao das funcgoes d' estes dois instrumentos; por ser susceptivel de mais exacta orientagao que a do ultimo; por se fazerem com elle mais observagoes completas de ascengao recta e declinagao ; por se enipregar neslas observagoes um so observador; e por ser menos dispendiosa a sua collncagfio. N o observalorio de Greenwich lem a Luneta meridianna e o circular mural cahido em desuso ; e o mesmo se espera acontega no observalorio do Cabo da Boa Espcranga , e em muitos obsevatorios da Allemanba. O conselho , a vista d' estas in- formagoes tao explicitas e terminantes , nHo duvidou propor ao governo a escolha do circular meridianno em logar do circular mural e da Lunela meridianna ; masentendeu que, para ser o observalorio da universidade um eslabelecimenlo correspondente ao fim da corporagao , a qual esla com especialida- de confiada no paiz a cultura das sciencias, deveni os seus meios instrumentaes ser da mesma classe que os dos grandes observa- tories dislinados a promover o adiantamento da astronomia e aperfeigoamenlo das laboas astronomicas , como o eram no fim do seculo passado aquclles queaclualmente possue. Por isso foi de parecer, que se fosse possivei comprar um circular meridianno da mesma . classe , que o dos observalorios de Green- vrich eCabo, de oito pollegadas deaberlura, seria essa acquisigao a mais conveniente para o observalorio ; e se para o conseguir fosse necessario que se prescindisse por algum tempo do equatorial , assim mesmo nao duvidava preleril-a a dos dois instrumentos de uma classe iiiferior; por que assim poderia o observalorio satisfazer ao fim principal de sua creagao , fazendo-se n'elle observagoes fundamenlaes, com quepossa concorrer para a ^correcgfio das laboas astronomicas a par dos eslabelecimenlos da mesma ordem. Julgou lambem util lembrar ao governo , que se o zelo e amor da sciencia astronomica de M. Airy o moveram e encarrcgar-se de dirigir a conslrucgao dos instrumentos pedidos, sera esse um dos mais importantes servigos scieti- tificos, que o nosso paiz pode receber d'aqucU le illustre aslronomo. Em portaria do ministerio do reino 'par* licipou-se ao conselho , que ja tinham sido recebidas na secretaria d' aquelle ministerio as informagoes pedidas para Inglaterra a cerca dos dois instrumentos circular meridian* no e telesccpio de forga para uso do observa- lorio ; e jidgando-se o governo em breve habilitado com os meios de mandar fazer a incomenda, pedio que o conselho da facuU dade de mathematica informasse se havera em Coimbra artista competente para desem- penhar opportunamente o trabalho da col- locagfio dos mencionados instrumentos, ou se julge indispensavel, que venham com a remessa delles alguns esclarecimentos para servirem de giiia segura a quern houver de ser encarregado d'aquelle trabalho. O conse* Iho, attendendo a que o circular meridianno e similhante a Luneta meridianna, que o habil machinista do observalorio de Coimbra ajudou'a coUocar , nao julgou de necessidade commetler a pessoa estranhe a collocagao dos dois instrumentos, que o governo de S. M. manda comprar para o mesmo observa- lorio. Achou porem conveniente , para facil execugfio d'aquelles trabalhos, que acompa- nhem os instrumentos o seu desenho, repre- sentando-os na posigao em que devem func- cionar ; a sua descripgao ; a numeragao das pegas ; e quaesquer indicagoes que possam ser uleis para o mesmo fim. INSTRUCCAO PUBr.ICA NA SUECIA E NORUEGA. (Continuado de paj. 121). Instrucgdo Primaria na Suecia. Assalas de asylo, ou escholas da primeira infancia (smdbarn skolor) sao o preliminar para a instrucgao primaria na Suecia e No- ruega. O numero d'ellas tern augmentado muito. Ha salas de azilo sustentadas pelr. governo, e outras fundadas por parliculares. Admittem-se n'ellas criangas desde os Ires ate aos oito annos, e ali se conservam lodos 05 dias, Ires horas de manlia e ttes de tarde. O ensino n'estes azilos e feito sempre debai- xo de uma forma recreativa, e acommodado a tenra idade dos alumnos, que sao entre- gues aos cuidados de mestras, que fazem as vezes de verdadeiras maes. A direcg'io das salas d' azilo esta a cargo de uma com- 136 Inisi^ao administrativa , e sob a inspecfao dos consistories. Os beneficios d'esta inslilui^ao tem-se co- nhecido praticamenle n'este paiz , e cada vez e menor o nuniero de criaiigas, que danles »e encontravam beras e dias inteiros vagiiean- do pelas ruas no inais complelo abandono, expostas a mil perigos , e ameagadas de se desmoralisarem. Das saias deaziloos aiiimnos pasnam para as escbolas primarias, ciijo regidar estabele- cimeiuo coiita pouco mais de doze atinos de existencia. O ensino particular estava intimamente arreigado nos iiabitos e costumes stvulares d'estes povos , e fura por isso muidiHicil ven- eer as rehictancias que se apresoiitavain con- tra as novas escholas para plantar este syste- ma , c fazel-o fructilicar; o fanatismo po- pular chegiira a ponlo de por fogo a aku- mas dessas escholas. Perlendia-se que o novo estatuto atacava o diroiro incontestavel que OS paes tinliara de ensinar os fillios ; e pro- curard desviar-se o governo do caminlio que encetara, encarecendo os vaos peri"os de derramar a inslrucyao entre o povo por via das escholas publicas. Todos estes esforgos foram baldados, por que o governo presistiu ra reforma decretada , e o resultado deu um cabal desengano ate aos mais pertinazes an- tagonistas d'esta reforma. Em 1340 a Dieta estabeleceu as sommas necessarias para a sustentajfio dos seminarios , ou escholas normaes dos mestres de inslrucfao primaria, e para as demais escholas. A estas sommas os estados juntaram uma contribui^aopessoal , ou taiha, de oitenta rcis por cada homem ,e metade as mulheres para asustentagfio das escholas primarias, de modo que, contando apenas a Suecia 3:500:000 habitanles, so o orgamento da instrucyao primaria somma em mil e seis centos conlos, nao enlrando n'esta somma as contribui^oes das municipalidades e dos particiilares para d. versos adlos c esaholas nao subsidiadas pelo governo. O estatuto real de 11 de Junho de 1812 organisou definilivamenle as escholas prima- rias, e citaremos pcir Isso em summa as suas disposijoes, para melhor avaliartuos depois OS sens efleitos nos dois reinos unidos. Todas as parochias urbanas e moraes sao obrigadas a sustentar, pelo menos , uma eschola^a, com um mestre approvado e nomeado pela auctoridade competente : as pequenns parochias, ou curatos, que estao sugeitos a um unico pastor, reunem-se al- gumas vezes para estabelecer uma eschola commum. A lei permitte porem a crea^ao de eschoUs ambulantes (ski/tlbara-skolorj, quando nfio e possivel estabelecer as escholas Jixas, por falta absoluta de meios, pela grande dislancia entre os cazaes que compoe a porochia, pela difiiculdade do transito, ou por outros graves inconvenientes materiaes. As escholas ambulantes consistem em me- stres, que tern por obrigagao visitar succes- sivamenle, em certas epochas do anno, os cazaes, e aldeas de um districto escholar, dando li^ocs aosalumnos de ambns os sexos. Cada districto escholar e adiniuistrado por uma commiss.'io composta do parocho local, que e o presidente, e de membros eleitos pela parochia. A commissrio supcrinlende nas escholas do seu districto, e rei,'nla o seu re- gimen interno, com approvagao do conslslo- rio. A ella perlence tambem estabelecer as difi'erencas , que deve haver no ensino dos dois sexos; o numero dos dias e horas das lifoes, e a idade em que os meninos devem ser admittidos as escholas; geralmente e aos 9 annos que esta adrnissao tern lugar. Chegada esta idade , todos os meninos de- vem ir a eschola da sua parochia, e somen- te sao dispeii^ados d'esta obrigag.lo os que justific.To, que em suas casas , ou n'alguuia eschola particular frequentfio os mesmos estudos, que na eschola parochial; o gover- no faz depois examinar pelos paroclios os alumnos educados particularmente , e, nao satisfazendo ao exame, obriga-os a seguir a Cschola parochial. Os meninos pobres sao sustentados nas escholas a custa do publico. Para com as familias nigligenles em mandarern os filhos as escholas a legislajSo e rigorosissima. Os parochos e o conselho da parochia avi- sao primeiro officialinente os chefes de fami- lia , ou tutores, para mandarem os filhos as escholas; se estes nao satisfazem uquellesdois avisos, sao Ihes tirades os filhos ou tulelailos do patrio poder , e enlregues a outras pessoas, que se obrigam a culdar na initrucc.'io d'elles a custa dos proprios p.'ies , ou tutores, para evitar que alguns voluntariamente se deixas- sem incorrer n'esta pena , para se pnuparcra e'i despezas da sustentagao dos proprios filhos. Nas escholas primarias niio se exige dos alumnos senao o griio de instrucgao corres- pondente a sua rapacidade; todos entretanlo suo obrigpdos a saber ler correntemente o sueco, e o latim, escrever correlamente, fazer as quatro operaco"s fundamentaes da arithmetica , cantar os salmos , e re^ponder de cor as perguutas do catheeismo indispcnsa- veis para a priuieira coininunh:'io. Alem das escholas parochiaes, e permitti- do o estabelecimento de escholas particula- res , que todavia sao sujeitas a inspec^ao da commiss.io parochial, e do consislorio. A leivigente estabeleceu na capital do rei- no, e nas cidades episcopaes , semminarios, ou escholas normaes, para criar mestres para a instrucgao primaria. Kstes seminarios estao debaixo da immediala direccflo dos consisto- ries. Paraserera n'elles admittidos, os alumnos mestres devem apresentar attestado de proce- dimenlo e costumes , e mostrar-se habilitados em todas as partes do programma da instruc- sao primaria. 137 Aos aiumnos meslres, que sao pobres abo- na o estado uma ajuda de custo, que os consistories distribuetn pelos mais necessila- dos I e que raoslrem maior aproveitameiito, na razao de 16/000 leis ou 10/700 para cada urn. Esta ajuda de custo e concedida souiente per um anno ate dezoito mazes, Os aluintios mestres que, dentro em seis mazes depois de concluido o seu curso, recusam algum logar de mestre eschola , sao obrigados a restituir a importancia da ajuda de custo re- cebida , para assim evitar os abuses , e nao faltarem mestres liabiliiados para as escholas primarias. Os mestre-escholas s;lo eleilos em escruti- nio secrete pelas assembleas parochiaes sobre uma lista triplice, apresentada pelo consisto- rio. Os candidatos a este magislerio sao exa- minados perante o consistorio , e devem sa- ber ensinar a ler e escrever , cathecismo , liistoria sagrada, geographia physica e po- litica, arilhmetica ate a regra de tres inclu- sivamente , geometria elemenlar, desenho linear, e alguns principios de historia natural. Devem tambem ter conhecimento dos me- thodos d'ensino mutuo, das regras gyronasti- cas , e do canto religioso. Tal e o programina dos seminaries , ou escholas normaes. O salario dos mestre-escholas esta arbitra- do per anno em 16 tunnas ' de trigo, do qual raetade e page em genero, e eutra me- tade em dinheiro, que anda ordinariamente per 16:900 reis. As parochias fornecem-lhe casa, lenha, paste no verae , e feno no in- verne para uma vaca ; e, quande a parochia nao poder satisfazer esta ultima condicgao, da ao mestre em conipensa^ae mais duas tunnai de trigo. Devem tambem os mestres ter a sua disposigao uma por9ao de terrene para cnltirarem per sua conta, e para ensaiar os alumnes na practica da horticultura. Para estas despesas cencorre a parochia com o producto de uma contribuijfio de 30 a 40 reis per cada comparochiano, alem do producto da matricula dos aiumnos, que nao sao pobres ; se os rendimentos da parochia assim nao chegao o governo suppre essa falta. Os mestres de ensino primarie podem ser demittidos pelas commissoes parochiaes por incapacidade manilesta para desempenho das suas func^oes. Se o impedimento provem da idade ou de molestia grave , os mestres podem ser appo- zentados len)porariamente, ou jubilados com o ordenado por inteiro, ou com parte d'elle, segundo for deterraioado pela commissao com a assemblea parochial. As commissoes parochiaes fazeni annual- litroi » A Iwma vale 14B,4a 97S . e o liiro vale •-,- ilo tiossa alqnWre: s3o pois as 16 lunnai igiiaes a t69<>1l 3<|0">. Oo'i- loMq- llel. mente um relatorio sobre o eslado das suas escholas , que e apresentade ao consistorio , que todos os tres annos dirige ao rei um re- latorio geral. Taes sao as principaes disposi^oes da le- gisla^ao por onde se rege a instruc^rio pri- maria neste paiz. Dezoito mezes depois da publicagao do estatuto real de 18 dejunho de 1842, acha- vam-se eslabelecidas em quasi todas as paro- chias as novas escholas primarias. Dioceses, que ate entao nao tinham visto uma so esche. la publica, haviam abra^ado completamen- te a nova reforma ; e de 268:000 meninos de 8 a 12 annos, que se contavam entao no rei- no, mais da quinla parte frequenlava ja as escholas primarias. Este nnmero tem successivamente crescido com o augmento de muitas novas escholas fiuidadas a custa do governo e pelo zelo e diligencia dos particulares. No espajo de dez annos apontava-se um unico case em que fora mister applicar o rigor da lei contra utn chefe familia , que recusara mandar seus fi- Ihos a eschola. A pezar pore'm d'estas incentestaveis van- tagens , sempre a instruc(;ao se tornava di(fi» cil e por vezes impraticavel nas pequenas aldeas e lugarejos mui distantes da se'de da porochia , e onde a falta de brakes, e tam- bem a pobreza dos seus habitantes nao podia dispensar o servigo dos filhos , nem dispender corn elles longe de casa. Para remediar estes inconvenientes foram estabelecidas as escholas ambulnntes, mas a difficu Idade de crear tantas d'estas escholas, come oexigiam as necessidades populares, e o maior emba- rago ainda que se oflerecia na falta de mestres para este oneroso servifo, tornara quasi inu- teis OS beneficios, que d'esta inslituigao deviam esperar-se. lista questao occupava ja a attengao dos consislnrlos, quando o conde Torsten Ru- denskold procureu resolvel-a pela aliianga iiitima do ensino domestico com o systems escholar. Observara elle, que em muitos districtos , em quanto a eschola parochial era frequen- lada por grande numero de aiumnos dos ao redores, uma populagao muito mais nume- rosa, situada a um quarto, ate uma milha de dislancia , nao podia gozar o beneficio d'aquella instrucj.'io. D'este facto concluiu o conde Tersten a necessidade de fundar esche- las vicinaes , ou auxiliares da eschola paro- chial nas aldeas e lugarejos mais afastados da sede da parochia, mas permanentes, e nao ambulantes. Para supprir a falta de mestres, e pou- par OS salaries que se Ihe deviara dar, Torsten estabeleceu , que estas escholas seriam regi- das per monitores , isto e, por alumnes mais adiantados da eschola central ou parochial, OS quaes viriara duas vezes por semana , de manha , dar aula na aldea ou logarejo que 138 Ihe fosse destinado, mediante um pequeno salario. Oeriiino n'estas escliolas aiixiliares abran- je Soinente a parte niais cletneiitar, e iiidi- spensavcl da inslriir<^ao priinaria. Os alnmnos podem depois complclar a sua educa<;ao na oscliola parochial. Os monitores 9,10 viijiados pelos chefes do faniilia, que no inlervalo dos dias de aula auxiliam os alutnnos, e sfio 03 sens reptti- dores naturaes para que eiles nfio esque^ao a li^ao dos monitores, e possam dar boa conta de si na semana seofiiiiile. Tal era o systema , que o conde Torsten se propoz ensaiar, e cujos bons resultados foram , talvez , muito alem das suas espe- ran^as. A falta de monitores foi o que a principio mais o embarajou , porqiienem os encontra- va na major parte das escliolassullicientemen- te iiabitados, nem dos que havia, al^'unsque- liam sujeitar-se aquelle trabalho. Os pais tam- bera punham difticuldade em privar-se do ser- vice dos filhos, chegados a idade de 15 ou 16 annos,em que ja comegavam a ter presti- mo na lavoura, ou n'outras industrias. Tudo porem venceu a paciencia e dedicajao de tao zeloso e incansavel protector de instruc- 5ao primaria. O primeiro ensaio d'este systema foi feito na propriedade particular de Leckro , e de- pois em raaior escaia , e debaixo da protecgao do governo,na parochia de Otterstad. Na falta de monitores, Torsten repartiu entre si e o mestre da eschola parocliial o trabalho dos monitores. O resultado d'estes eusaios inoslrou ao seu A. que duas lijoes somente de manh'i por semana , na eschola vicinal , aproveitavam muito mais aos alumnos do que seis dias completos na eschola parochial cheia de numerosos ouvintes. As ventagens praticas do systema de m. liudensiiold lem-lhe grangeado numerosos imitadores, e a sancgao dos consistories; e aquelle systema pode considerar-se hoje como lei do estado em materia de instrucyao pri- maria. Com elle lucram as escholas parochiaes, porque dcsembaragadas do ensino rudimentar, em queoccupavam a maior parte do tempo, podem dar maior desenvolvimento a parte complementar da instruc^ao primaria, e aos elementos das sciencias moraes, e politicas, e physico-mathematicas e naturaes tao uteis e t.^o necessarias a todos os cidadaos no exer- cicio dos seus direitos poljticos, e nos tra- balhos industriaes das suas diversas profissoes. faes sao os melhoramentos que m. Rudens- kold propoem introduzir nas escholas paro- chiaes, consideradas como principaes centres da instrucgao primaria , e especie dc escholas iiormaes dos seus monitores , e de todos os alumnos que oupelaproximidadedestas escho- las, ou pelos meios que tern, podem segiiir o curse complete d'ellas. As escholas vicinaffl tern egualmente reco- nhecido ventagom sobre as ambulantet por» que, alem das dilTiculdades que se encontram no estabelecimento d'estas , o seu ensino cm cada local nun p6de exceder dois mezes, e OS alumnos perdem nos dez restantes o fructo d'aqucllas poucas li^-oes. Eslc systema, como se vS , assenta princi- paluiente na boa escollia e numero dos mo- nitores, que sao o coroUario do estabeleci- mento das escholas auxiliares. Sem elles a institui^ao d'estas escholas seria impossivel, porque logo que houvesse de nomear-so um mestre pago para cada uma d'ellas, a escho- la seria parochial, e nfio se teria evitado a despesa , que era o principal obslaculo para a multiplicajfio de taes escholas. O ponto porem esta em achar monitores. Rudenskold parece ter resolvido favoravelmenle esta diffi- culdade. No seu relatorio, dirigido em Janeiro de 1851 ao consistorio de Kara, se exprimia elle a este respeito do modo seguinte: " O mancebn de quinze ou desaseis annos , que tern completado os estudos na eschola parochial, deve a seus pais, quando sao po- bres, o seu service bra(;al. ;; Raro arontece porem que n'aquella ida- de OS mancebos possam logo ganhar um sa- lario como OS jornaleiros, ou homens de offi- cio , ja calejados no trabalho. A expectativa dos lucres do seu trabalho nao pode por tanto intluir muito no animo dos pais nem dos fillios n'estes primeiros annos. Ora empregando eu um mancebo de quinze ou desaseis annos na eschola vicinal, como monitor, dou-llie pelo service de duas manhiis cento e vinle reis. E uma paga insi- gnificante, mas assim mesnio somma no fim do anno escolar quatro mil oito centos reis, que e' salario deum trabalhador n'esta idade. Mas o minitor tem a ventagem de dois mezes e mtio de ferias, e de qualro dias por se- mana em que pode empregar-se no servigo de seus pais. Os services , que o monitor presta n esta qualidade a sociedade ; o repouso do corpo, ainda pouco afeito ao trabalho, nas duas manhas destinadas ao servi<^o da eschola , a utilidade emfim de recordar e aperfeijoar n'estes exercicios hebdomadarios os conheci- mentos adquiridos na eschola parochial, sao outros tantos motives porque elles ncceitarao de boa vonlade este encargo. Pela sua parte os pais nao sentirao as pou- cas horasque os fillies gastam na eschola; ve- rao, antes, com salisfacgae, que elles ape- nas chegados a adolescencia, nao so os aju- dam em seus trabalhos, mas ate Ihe ganham um salario, sem que as funcgoes eschelares Ihes enfraquegam a robustez do corpo, nem Ihe fagam esquecer a humilde condi;ae dos pais, u Tal e' a immensa transformagao , que a instrucs-'io primaria tem experimentado n'esle 139 paiz , onde ba doze annos ainda havia ape- nas uin , entre mil mcninos que soubesse ler o seu calhecismo. Contintia. DISCURSO DEMr. LAMARTINE, rtcilado na academia franceza em 1830 , tomando posse do logar , que ficou vago , pela morte do conde Daru. Continuado de pag. 116, A queda do imperio, de que M. Daru fora umadascohimnas, fez mudar suas vistas para os documentos da liistoria. Resolveu-se a escrevel-d , escoliiendo Veneza, e esta eos30j Quanto quizera, repulsou u inGdo: Em mini lens pois de proceder lao nobre Uma bem que infeliz , saa teslemmiha , Se e que o testeniunlio men d'apref^o 6 di?no. No amor , que me consa^ras , neni te excede A. consorte d' Heilor , uem Laudamia , O poela Calimaes , demnindo Veted*Apolle ollario U poeta Shiletas , natural da ilha dc Cos. Do exliocla esposo cotnpanheira embora ' : Tu , se OS louvores do Meonio Vale Tcr podesses obliilo , apds deixaras De Penelope a fama , on jii ISo altos Sentimenlos a ti somenle os devo Sem cnrecer de nonnas , laes virludea Devendo desde o bercjo i natureja ; Ou d'esposa fiel colbeiulo exeniplos Da alta princeza nas lirOcs «U|;uslas, * Por li em longos annos cidlivadas ; Fez-vos conformes amizade assidua, Se e licito a qiiem fez pequeno a sorte, Aos grandes eraprehender assimilhar-se. — Ai de mim! Purqiie nao tcrao mens versos Poder baslanle para hunrar leu nome , E e raenor que o ten merilo a voz minha! Mas que ! . . . Se o viiior lodo meu anligo Dos meus males i for^a cxiinto exisle!... Entre as beroinas de mais nobre fama Terias um lo-ar : Tu a primeira Fulgurarias por lens doles d'alma. Ciualqner valor pureiu , que os mens louvorea Oblenham no porvir , lu d'evo em evo Perenne viveras n'esles mens versos. OUTRA CARTA Em contiaua(;ao da anlecedente da pag. 101. Depois de ter escrito a v. A., e manda- das as vias a Cocliim , succederam as cousas seguintes. Galvao Viegas e Ciisnaa , que Martim Affonso tinlia mandados por em- baixadores ao Idalcao, como tenbo dito na carta geial a v. A., me escreveraai : que estavam retheudos n'uina cidade do Bala- guate, cliamada Bisapor , esperando que viesse o Idalcao da guerra, em que andava com elrei de Bisnagad , dandome conta do negocio, a que laa cram , que era venderem Mealecao, e seus tiUios por cincoenta mil pardaos : dizendo-me , que esperavam por meu recado, pera saberem oque nisso aviam de fazer. E o Idalcao me escreveu uma carta de visita5i\o, sem me falarnestenegocio cousa alguma. Eu llie respoiidi a sua visitagfio, tazendo-lhe niuilos oCferecimentos , e dizen- do-lhe, que v. A. me mandava, que o ser- visse: fazendo-Uie saber quao contente v. A. estava de sua amizade, e quanto a presava. Aos embaixadores , que laa estavam nao quiz responder cousa alguma, a. cerca do que me escreveram do negocio, a que laa eram mandados por Martim Affonso; por- que soube, que llie aviam de ser tomadas as cartas e vistas. Por onde llie nao mandei nenhuma commissao, nem poder , pera pode- rem fazer neste negocio cousa alguma; antes pelo mode das cartas, que Ihes escrevi, como tambcm por avisos, que secretamente llies niandei, os certificava, que por nenbuma cousa avia de entregar ao Idalcao esse mou- ro Mealecao. Depois de recebidas as minbas cartas, e avisos; ou fosse por os peitar o Idalcao, ou por Iho fazer fazer per for- KrotasilM"'''""'* "'""'"'•'^ "=<>"> 0 seu morto esposo * Livia , esposa d'Aagasto. 143 Sa, fizerim os embaixadores contracto com elle, assim como levavam por regimento de Martim Affonso. E logo o Idalcfio , sem inais considejagao , nem recado mandou de Bisa- por a Galvao Viegas com dous embaixadc res, e capitaes de gente de pee, e de cavalo, e OS cincoenta rail pardaos, escrevendo-me : que Ibe raaudasse entregar Mealecao , e seus fillios, e que por aquelles capitaes me man- dava o dinbeiro, por que se contractava ; e que depois de Mealecao ser posto em suas terras, me maudaria Crisuaa. Eu Ibe lespon- di espantaiido-me, e agravando-me muito d elle; aveiido tres mezes , que estava eu na India, sem me fazer saber cousa alguma desse negocio: e assim de contractar co'm os embaixadores, que latinba, depois de eu ser nesla terra, sem eiles terem minha com- missao, nein auetoridade pera fazer nenhum contracto; e desenganando-o logo, a que Ihe nao avia de entregar Mealecao, sem primei- ro o fazer saber a v. A. ; e que se a isso quizessem mandar embaixador a v. A. Ihe daria inuito boa embarca(;ao, e todo o neces- sario pera a viajem : allegando-lbe mais o servigo, que Ibe fizera em nao soltar Meale- cao, tanto que aqui cbeguei ; pois o achava prezo nesta fortaleza de Goa sem culpas, nem cousa, que tivesse comettido contra o servijo de v. A. E que pois o niio queria pera mais , que para estar seguro delle ; que em nenbuma parte o podia estar tanto, como de o eu ter em meu poder: e que pera isso Ibe daria todalas seguran^as , que elle qui- zesse. A Galviio Viegas live sentenceado ;i morte pelo caso , que cometteu ; mas a peti- Sao de muitos Ihe perdoei ; e em pao-o de seu castigo o tornei a mandar ao Id'alcao com OS seus embaixadores. P'ica o caso nestes termos, e eu aparelhando-me pera o que puder ser. Fiz qje alardo da gente de cavalo, que nesta cidade ha, e acliei quatrocentos bomens de cavalo, os arabios muito bem armados, e ataviados. Eu tenbo mandado a muitas partes desta eosta por madeira, e tavoado, pera concerto desta armada, e jYi me tem vindo muila; de maneira que, posto que tenba guerra com o Idalcao, poderei concertar toda a armada , sem ter necessidade de cousa alguma de suas terias. E assi man- do aperceber os almazeins de mantimentos. O que me dislo parece, e assim aos homens antiguos , e de esperiencia e , que o Idalcao nao quererd a guerra, por estar muito mal quisto dos seus. E de uma parte Ihe faz guerra o Nizamaluco, e da outra elrei de Bisnagua. E entregando eu Mealecfio a quaU quer destes dous senhores, sera causa baslan- te pera o Idalcao peider o estado , que tem. Este caso da entrega de Mealecao por di- nbeiro estd tfio mal recebido no povo, que, ainda que o eu quizera fazer, m'o nao con- sentiriam ; e cada dia rne vera fazer lembran- Sas, pedindo-me afincadamente, que tal cousa nao faja ; porque antes se querem poor 144 a todo o irabalho, que sobre islo Ihes podia vir. E creia v. A. , que se tal fizera , fura causa bastanle pera de lodo perderem os Porluguezes ocredito, e nfio coiifiarein inais nelles , nem quererem nossa amisade. EIrei de Cande, que viva n'um cabo da lllia de Coylfio, me escreveu , que se queria fazer christ'io com todo o seu povo. 'I'em difleren^as com eirei Madune, irmfio d'ejrei de CeylTio, que seuipre foi tiosso inimigo; e nianda-me pcdir Irinta , ou corciUa homens. Eu Ihos mando, e com elles o padre iVei Antonio do Casal com um companheiro seu, pera o baptizarem : e para selembro que vem , dando-me os negocios logar , espero de ir la, ou mandar, como viir, que sera mais service de Deos, e de v. A. Nosso Senlior acrescenle a vida, e real estado de v. A. per largos annos. Escrita nesta sua cidade de Goa a 24 de dezembro de 45 (1545.) N. INSTRUCCAO PDBLICA EM HESPANHA. Obras approi-atfas para o entino publico nas univertidades e iiistitutos de Hespanha em 1851. Conlinuado de pag. 130. FACULTAD DE TEOLOGIA. PRIMER aSO. Fundamentos de la religion y lugares teologicos. Fundamcntos de la religion. Tractatus de vera religione, auctore Lu- dovico Baiily. De fundainentis religionis et de fontibus irapielatis, a P. A. Vasseelii. El tratado de religion de Perrone. Lugares teologicos. Loci tlicologici J. Opst-raet. Los tralados do lugares teologicos de las obras de Ciiarmes y Perrone. SEGCDDO Y TERCER ANO. Tcologia dogmalica en sus dos partes es- peculativa y prdctica. Theologia universa, auctore P. Thamaex Ciiarmes: edicion de Madrid. Prolectiones tlieologicse , J, Perrone S. J. Institutiones llieologicic , auctore J, B. Bouvier, episcopo cenomanensi. CCARTO ANO. Teologia moral. Compendium Salmaticence, sive universo theologico moralis quxstiones, a P. Antonio a S. Josepho : selima edicion. Universa; tlieologia; moralis accurata com» plexio, Patris Fulgentii cuniliati. El tratado de teologia moral de la obra de Charmes. QUINTO ASO. Historia y elemenloa de derecho canonico. OBATOBU 8AGBADA. Elementos del derecho cononico. Los autores designados para el cuarlo a£o de la facultad de jurisprudencia. Oratoria sagrada. Retorica aclesiastica del V. P. Fr. Luis de CJranada. Lecciones y modelos de oratoria sagrada y I'orense, por D. Francisco Knciso Cas- trillon. Principios geneiales de retorica y poetica, por D. Antonio Gil Zarate. SEXTO ASO. Sagrada escritura. Para la parte hermendutica, 6 sean las reglas gencrales de la interpretacion. Introduccion a la Sagrada Escritura, por el P. Bernardo Lauiy. Introduccion liistorica y critica a laSagra- da Escritura, por T. B, Glaire, traducida del trances ul castellano. Hernieneulica sacra, seu introductio in omiies et singuios libros Veteris ac Novi Foederis, li J. H. Jasseiis. 4 Para la parte exegctica 6 sea la misma interpretacion. Dilucidationes seleclarum Sacrae Scripturce qua-stionum , auctore F. Martino Wouters. Jacobi Tiriiii in universam S. Scripturam commeiuarius P. J. Stephani Menschii , cora- menlarius totius S. Scriptursc. El catcdriitico senalaia los capitulos del sagrado lexto que se lian de inlerpretar con el auxilio de los espresados comentadores. SGTIMO ANO. Historia y disciplina general de la Iglesia y la particular de Espaiia. Los libros seiialados para el quinto ano de la facultad de jurisprudencia. ® Jn0tititta, JOR>AL SCIEIVTIFICO E LITTERARIO. INSIITUTO DE COIMBRA— SESSlO DA DIRECClO. Na primeira sessfio deste anno leotivo foi presente a Direcf^'fio um officio do cxm.°snr. consc'llieiro vice-reitor da iiniveriidade iii- clciindo por copia a portaria do miniilerio do leino , que abaixo Iraiiscrevemos. A Direc- 5ao do Institiilo mandou registrar a mesma portaria, eofticioii ao exm ° preiado, agrade- cendo a sua coopera^fio neste negocio , e pe- dindo-llie que liouvesse de dar as provideii- cias para que o Institulo gozasse desde logo daquelle beneficio, e fossem remettidos li Re- dac9ao os escriptos do consellio superior e faculdades academicas, que liouvessem de entrar neste numero. A Direcg'io attendendo a que por esta con- cessao do governo diminuiam as dospezas do Inslituto resolveu : Que affluindo n)ateria por parte do conse- llio superior e faculdades academicas, se ele- vas^e , de vez em quaudo, a dezeseis o nu- mero das paglnas dojornal, de maneira que nao augmentasse a despeza annual orgada em 150,|000 reis: Que d'ora avanle fosse o jornal franqueado para todos os assignantes e socios lionorarios : Que de Janeiro de 18o4 era diaiite (icasse a preslacjfio dos socios effectivos reduzida a 240 reis mensaes. A Direcr-ao deu as providencias necessarias para que o gabinete de loitura seja brevemen- te prnvido de jornaes estrangeiros litterurios e scientificos, e para como^ar a formar a sua bil)liotheca com os donatives de obras offerecidas por alguns auctores , socios do Institulo, corn as que espera obter das livra- jfias dos conventos exlinctos, accumuladas lie collegio dasarles , e com as que vaiencoin- mendar, logo que as circumstancias o per- mittirem. A Direcgao espera de em lireve podcr abalxar o preqo das asMgiiaturas do gabi- nete sritisfazendo assim a proposta que llie foi feita nesla sessiio. O seoretario do Institnto, Jacintho Antonio de Soma. Sua Magestade a Rainlia , altenclendo ao que Ihe represenlou o Instituto deCoirnbra , para que se Ihe permitiisse fazer impriuiir na typographia ^'U'-. II. OlTlDRO 1 "- da Unlvcrsidade, eporconta doEstado, o jornal sciemifico , que o Inslituto pretende publicar, e bem assim , que se Ihe destinasse cerlo logar para as suas sessoes : Consideraniio quanto imporla promover e dif- fundir , por todos os meios possiveis os conheci- iDenlos scientificos , e lilterarios ; Considerando que o eilificio do collegio de S. Paulo, onde exisle a Academia Dramatica tern a capacidade malarial necessaria nao so para sua accomoda^ lo , senao tambcm para a do Instituto dc Coimbra , como se prova pelo facto de se acliar alii ja estabelecida provisoriamente esta associacao ; Considerando que a coadjuvagao scicntifica e lltteraria , que as mencionadas associacijes se devera muluamente preslar, sera tanto mais facil e efficaz , quanto o local de suas reuniijes for um e o mesmo ; Tendo presenles as ponderagijcs feilas pelo Conselho superior d'inslruc(;ao publica em sua consulla de i5 dejunho de iSSa ; e i)elo vice- Reitor da Lniversidade em seu officio de i8 de junho proximo passado ; Visto o artigo i6g da lei de 20 de setembro de 1844 » que auctorisa o Governo a niandar imprimir nas imprensas nacionaes de Lisboa c Coimbra os jornaes necessaries para se pro- mover o progresso, e aperfeiijoamento de todos OS elemenlos scientificos, lillerarios e arlislicos ; Visto o artigo 168 da mesma lei, que auctori- sa o Governo a collocar os estabelecimenlos lit- (erarios e scientificos nos edificios nacionaes mais apropriados aos usos dos mesmos estabeleci- menlos : Ha por bem ordenar: I- que na typographia da Universidade seja impresso , por conta do Estado , o jornal que o Inslituto de Coimbra pretende publicar, e cuja dcspeza annual e orcada em iSo^ooo reis , devendo semelhanle irapressao ser feita debaiso das scguinles condicoes : Que o papel necessario para a publica^ao do jornal seja forneuiJo pelo Instituto : Que metade das columnas do jornal seja re ■ servada para a parte official do Conselho supe- rior d'inslrucgao publica, e das Faculdaiies aca- demicas , e para o movimenio dos hospitaes da Universidade , sua receila , e despeza , e para preencher as denials indicacoes , deque trata o artigo 107 da lei de -o de setembro de 1844 : Que a concessiio para a impressao do jornal por conta do Estado , e com as clausulas referi • das dure , cm quanlo semelhanle publicacao se nao desviar doj uteis intuilos, com que e cieada e o Conselho superior d'lnstruc^an publica n'lo 18S3. Num. i3. ->■■ 14( . f' ^^\ prover a publics jao d'um jornal scu proprio, em que se tralem de modo conveniente todus 05 interesses scieatificos , lilterarios e artisticos do paiz : y." que na parte disponivol d(i edificio do collcgio de S. Paulo seja definilivamcnte esta- belecido o liistituto de Coinibra , sem que este 6que sujeito ao eiicargo da renda , com que ate agora tcm conliibuido |)ela sua residencia iaterina no luesnio local. O que se participa ao Conselliciro vice-Reitor da Universldade de Coimbra para sua intelli* gencia e effcitos devidos. — Pace das Necessi- dades em 5 de setembro de i853. — Rodrij^o icas e intellectuaes , bom como nos ficlos cliimicos e pliysiologicos da e?ono;ni.i linmana; todavia ali- agora estas dil'ferenc;a» nao Coram explicadas seguii- do as regras d'uina investiga^ao racioual. Encontramos em alguns auctores que a carne e o pao coiilerm piiosplioro , que o leite e o-i ovos trazem uma materia gorda pliospiiorada semelliante ado cerebro, e que d'esta materia plio-pliorada depeiidi- a for- majao e conseguinleuiente a actividade do cerebro. Por isso , dizem elles , e que se nao pode admiltir , uinexce^so de pliospiioro, nas pes^oas que pensam muito, porque fazeni delle grande consumo; e lica por lanto ver- dadeiro o piincipio — point de, pcnaee suns p/iosp/ioi'c. A scieneia nao conliece facto algum que ductorize a adinittir, no organi-mo animal, ou nos aliinentos do homem e dos animaes, a cxistencia do pliosplioro separado de siias cninbina<,'6es como sealli encontra oenxofre. Esta de ha muito demoiislrado quo o acido pliospliorico obtido de inenos, na incinera^ao das malerias animaes ou alimenlares, do que o exlraliido pela via liumida, provem d'uma perda occasionada pelo calor que decoinpoe o acido pliospliorico em presen^a do carvao eo volatilija ; sabese tamiiem que esla perda pode evitar-se com a addi^ao de um alcali ou terra alealina que fixe o acido pliosplio- rico. Ale' lioje ninguem provou que exisle pliosplioro j)uro no cerebro , nos aliinentos ou em qualijiier materia gorda do corpo. A existencia de semellianles combina^oes pliosplioradas , e sua iiilluencia na [iroducijao do pensaineiito con^tituem uma opiaiao d'al- guns amadorcs , opiniao que asseiUa em no- (j'oes superliciaes seiii o menor fundamento tcientifico. E certo que tres pessoas uma das quaes se tenlia saciado de vaca e piio , oulra de pao e qiieijo ou bacalliaii , e a outra de ba- tatas, consideram cada uma debaixo de aspectos difl'ereiites , uma dilficiildade qual- quer que se llies offerega. A aci^fio dos ditfe- rentes alirnenlos sobre o cerebro e os nervos varia evidenteinente segundo certos prinei- pios parliculares que esses alirnenlos conleem. Uin urso existente no museii anatomico de Giesseii, moslrou um temperamento ni- miamenle brando em quanto o nulriram coin p.'io exclusivamenle ; alguns dias de regime animal tornaraino man , briguenlo e ale perigoso para o guarda. Sabe-se que a irascibilidade dos porcos pode ser exaltada, pelo regime de carne, a poiito de OS fazer atacar o lioinem. Os animaes carnivoros sao em geral mais fortes, mais atrevidos, mais bcllicosos do que OS herbivoros que sao feitos preza d a- quelles. A niesma differen^a se nota entre as na^oes que vivem de plaiitas, e aquellas cuja nutri^ao principal e carne. Se a forya d'um individuo consisle na somma dos effeitos dynarnicos que pode pro- duzir, sem prejuizo da saude, para veneer 149 resistenclas , esta forga esui evidenlemonte na razao directa das partes plasticas de seus ali:nentos. As povoa<;oes que se alinieiitam de trigo e ceiileio, debaixo deste ponto de vista, sao niais fortes do que os que eomciii arroz e batatas, e estes mais rnbuslos do que os negros que coniem cuscu5u , tapioca e niau- dioca , etc. Continiia. TRATADO ELEMENTAL DE PATUOLOGIA MEDICA, Por D. Juan Brumen — Caledralico en la facultad de medicina de la uiiiversidad de Madrid. A obra de que dainos noljcia ao publico e uma das que compoem a excellente col- lecgao offerecida a nossa unlversidade pela de Madrid. Edicg.'io nitida; distribuijao de doutrinas methodica, e bem ordenada ; phrase cor- recta ; estilo didactico ; tiieorias positivas, e legitimadas pelos factos; preceitos tlierapeuli- cos sanccionados pela practica propria, e alheia dos auctores inais acreditados; taes sao OS dotes que recouiinendam uma obra acabada em patliologia interna. Sem preten^oes de novidade, nem alardo de intelligencia superior, em dia com os pro- gressos do novo humorismo e solidismo, in- teirado do estado das sciencias auxiliares da medicina, especialmente da cliymica organi- ca, que vai de dia para dia mudando a face da sciencia , o doutor Brumen coliocando a patliologia medica no seu verdadeiro campo de sciencia de observayao , soube colligir, e dispor as verdades doutrinaes por tal arte, que sem o pretender aniquilla o scepticismo ridiculo filbo da ignorancia, e da inercia (infelizmenle) de alguns filhos de lisculapio : e salva a sciencia do opprobrio, a que a in- discrip^ao d' alguns tern pretendido ar- rastal-a. A historia das enfermidades , a marcha e dura9ao de cada uma , a etiologia , diagnostic coj e prognostico acham-se descriptos com a major clareza e precisao: mas sobre tudo o quadro symptomatologico e sempre trajado por mao de mestre. Nao era de suppor que a hydropathia, tanto em moda nesta nossa epocha, houvesse escapado ao juizo seguro do auctor. A bo- roeopathia, que ainda lioje conta tantos fa- naticos , uns que nunca estudaram a medici- na , outros que deviam vnltar aos bancos das escliolas, e julgada severa , mas imparcial- inente em frente da medicina secular. Profes- sando o eclecticismo illustrado, assim como foi colligindo o auctor da patliologia tudo o que achou de mejlior nas obras de anligos, e modernos, de que moslra ter conlieciiuen- to perfeilo, foi tanibem aproveitando de todos OS systemas, e nietliodos curatives o que ha de rasoavcl, sanccionado pelo poder do tem- po e da experiencia. Seguindo por aquolla tra^a a sabida ma- xima de — Jloriferis est apes insallibus omnia libant — se iiao deu novidades o Dr. Brumen , nao deixa de ser por isso um genio privile- giado ; por que o talento de bem colligir, coordenar, e expor com precisao e lucidez, n.'io e vulgar. A importancia , que Ihe mereoeu a allera- (^.'io dos elementos constitulivos do saiigue para formar a y.* classe de niol'-stias, foi bem inerccida , e aproveitada. liendendoesta Imuienagf-ni devida ao liuuiorismo raoderrio aplaiiou uiuitas das difficulilades com que os solidistas lopavam iia classifitat^ao, patho- gciiia, e iherapeutica de varias euferinida- dos. Ji talvez andasse mais coherente o auctor niettendo neste quadro a cholera-asiatica , do que iiickiiiido-a no das febres, de que a cholera parece sor a negagao. Alas pondo de parte um ou outro defeito de classifica^ao , que de ordinario se encontram em todos os systemns, o que e iunegavel e que a cholera , a febre amarella e o typho , acliaram por derradeiro um novo sydhnam na palria de Miguel Cervet. Cremos nao ser precise alongar mais a analyse, que nos proposemo«, para dar em globo a idea da obra , que ate para livro de texto das aulas pode com raz.'io ser apro- veitada. M. BKEVES REFLEXOES HISTORICAS SOllRC A NA- VnGAr,.VO DO MONDEGO , B CULTIJRA DOS CA.MPOS DE COlMBltA. Continuado dc pa;. 130. N'lo se estranhe que o decreto citado, ain- da que exteuso, seja aqui apreseutado na sua intrega, porque alem deo julgaruios inedito , e a uuica pega legislativa, que a respeitn d'obras do Mondego temos ate esta data encoiurado , elaborada com mais pericia e co- uhecimcnto da materia. Do seu theor se co- nlieceru. que nesta epocha se tinha feito nm estudo scienlifico a cerca do Mondego e dos campos adjacentes , e quese procurava dar a este rio uma direc(;iio , por novo leito , segun- do OS priiicipios de hydraulica. 'J'iuha-se em fiiu recouliecido que se o alvco fosse direito ganharia a corrente mais forga e arrastaria as areias parao mar , etc. , etc. E ainda que Cita doutriua verdadeira em these , nos parera ineficaz ein liypothese, folgauios de se haver eucoiitrado uin centro scieutifico para onde se deviam encamiuhar todas as providencias e trabalhos futuros, iiuiiedindo assim uma encliente de provisoes quasi sempre inepta-, contradictorias, e absurdas. Dccrcto. i'.E^l lilrei fago saber a vos desen- a bargador Pedro da Cunha e Sousa que, in- li teulaudo alalliaros damnos , que causam as a inunda^oes do rio Mondego, cuja superin- ti lendencia vos tenlio ericarregado, fuiservi- 150 (lo iiinmlar passar o clecr<^lo de 12 dc inalo desleaniio, do tlieor sej;iiinle : Mavendo-se- iiie repreaeiitado miiilas vezes e d'aniios a esla parte, por vniios niinislios e pcssnas zolosas do meu servi(,'n o do bedi coiiuiiiim do reino, os inloleravois dainnos que o rio Moiidej^o coin suas ordinarias inuii- da(joos teiii caiisado , e cada anno vai evi- denternente caii^ando, asaiin nos edilioios da cidade de Coinil)ja com que em ij'ran- de parte a tern del'ormado, coiiio fainbein na saude publica dos mnradores della, e dos povos circumvi-iinlios , os quaes pade- ceni graves enfermidades , que muitas ve- zes cliegam atirar-llies as vidas pelos pan- lanos que de;xa e se corrompe o ar com elles, e ullimamenle por que se vai sub- merpindo a ponte sendo a mais forn)Osa de todo o reino, e ainda de muitos oulros, e pera se fabriear oulra, se esla fallar iiao liavera despeza que seja bastante alein do grande prejuizo que leni ffitoaos campos, afogando a maior e a meilior parte delles, dos quaes pera abundancia do reino se recoUiiam muitos fructos, c ainda impedin- do a foz com que desemboca no mar, pera nao poderem nella entrar as embarcagoes com notavel diininui^ao no commercio ; e mandando fazer sobre esta materia multi- plicadas diligencias e vestorias por pessoas practicas e iiitelligentes seacordou uiiifor- memente que poderia ter remedio tal que nuo somente naocontinuassern , mas antes se reparassem os rel'eridos damnos , se o rio se encanasse por outra parte, fazendo se OS maraclioes e niais obras a e»le fim nec^ssarias, com as quaes teria acorreute mais direita, e levandoas aguas mais forga lan^aiiain as arreias ao mar; e nao somen- te nao levanlariam mais, mas se abaixa- riam com alivio dos campos, bs quaes se poderiam scmear e nuo liaveria os pantanos nocivos ii saude, nern a cidade se inunda- ria , e a ponte ficaria seni oppressfio e peri, go que se temia: e considerando-se esta materia como pedia a sua importancia, tenlio resolvido que se fara esta obra tao necessaria como util ao l)em commum do reino, cuja superinlendencia tenho encar- regado ao dr. Pedro da Cunha e Sousa do meu desembargo e desembargador da casa da supplica§ao, ao qual mando Irate della pelo modo e logares que se tem acorda- do , nao se perdendo occasiao nem tempo, e llie dou poder de nomcar um escrivfio pe-soa da sua satisfa^ao, e um meirinlio que tambem terd seu escrivao por elle no- mcado, sendo providos por tempo d'um anno. (1 E por que a contribui^fio do real d'a- gua que se p-.ii'n naquella cidade foi em sua origem concedida pera se despender em obras de ponte, cues, caminiios e outras semeliiantes, e ao depois parte dclla seap- plicou lis fortificajoes das prayas da Beira, mas por ullin)a resiilu(,'ao que tdiiiei pej,i junta dos tres estados a mandei estar em deposilo pera este mesmo t'lni do remedio das munda(;6es do Mondcgo, como com erteito esld no convento de Sancta Cruz em um cofre que nelie se conserva : Hei por bem que dc?ste deposito e do mais rendi- menlo que tbrcaliindose fara a olira ; tendo osuperinteiidente enlendidu (|ue podeedeve constranger as pessoas que livorcm fazen- das iios logares pelos quaes se lia de fazer o novo alveo, e dar nova correnle ao rio, pera que as veiidam , ou a parte dellas que for necessaria pelo justo pre^o , em que forem esliniadas, por pessoas que bem en- tendain ; e se aigumas forem de morgado , capella oudoutra semelliante quaiidadc se mandara eutregar o prejo no juizo da pro- vedoria, a que tocar perase fazer o empre- go ; e se as taes pessoas , cu jas terras se hao de comprar, se acommodarem com outras das que o rio deixar no alveo, que de presente tem, se Hie darao p.-npnrciona- damente conforme oseu rendimento, e ain- da com alguma favoravel ventagem ; oquc se cntendera sem prejuizo de quem tiver direito, e as taes terras que o rio bade dei- xar no alveo que de presente tem, as quaes nao se derem em troco na forma referi- da , fioarao sendo da inesuia contribui^ao e consignacao do real d'agua , pois com ellas se adquirem , e enlao quando se co- nlieja o que sao e a importancia do seu rendimento, ou deseu valor , se dara a pro- videncia que parecer conveniento, pera se dispor dellas em modo que se possa aliviar quanto seja possivel a dita cnntribui^ao e em favor dn povoque concorre com ella, e pera o effeilo desia obra nomeaia o su- perinlendente nieslres e apontadores que llie parecer, e podera tnaudal-a fazer por empreilada, ou por niedi^uo de brajas , ou alguma a jorual como julgar que e maia conveniente, pela contian(;a que de sua pessoa fago, segiiindo a forma de receita e despeza que se l!ie mandar , pela junta dos tres estados pera a mesma arrecada^ao , e com o mesmo poder e jurisdicgao , saindo do mesmo effeilo do depnsito de conlribui- 9fio que se for vencendo ; e acabara as ol)ras dos camiidios e cal(;adas l Ihe lan^a u'alma, Saudade sem esp' rau^a e dor d' inferno , Vai-le, saudade , que mil mortes suETro. Nas boras do silencio iret senlar-me Omie nem chegue o Rusurrar do mundo , Onde dos homens as pai.voes mesquinhas Me dei;;eui suspirar a soi comigo. Alli da triste gemedora lyra Tristes sons lirarei , alii prostrado, D'aquella que perdi dizer mil vezes O nome , o noma que gravado teuho Dentro do cora(;ao , com mil suspires Por ella cbamarei , debalde erabora. Que importa que meus cantos rudes sejam t Senle S(5 , por venlura , quem na lyra Sabiameute pranteia o mal que solTre ? Nao senle, niio se queixa a Iriste rola , Niio iliz no seu cemer a dor que sente ? Nao (era cora^ao quem vuz nao teuba Mei*ra e sonora , que enfeitice 03 echds? Su pode o rouxinol oarpir seu iiinho ? Chora no piuheiral o rijo venio , Choram folhas , os bosques; a lorrente , Que era van na pedra da, geme e suspira. Brame o touro se ^^ tin^ida a terra Do sangue d'um dos sens , o leao rnge E do deserto infindo acorda os echos Se seus fiilhos perdeu , e o ne;,To mochu . Quundo a lua no ceu caminha Irisle, Puusado em ne^ros truocos triste pia. Tern toda a uatiireza uqi ai seutido , Com que pode dizer a dor que suffre ; So lu, meu cora<;ao , nao terus vozes Com que possas carpir ? chora nao temas , Um echo bas-de encontrar em peito amaute. Qiiaudo d' estrellas mil o ceu s'esmalta , Quaudo a lua , qual barca aventureira , Por entre estrellas mil no ceu descreve Com magico fuliror seu iirando cnrso; Quando canta na horta o negro grille , E a rouca rii ne charco se lamenta ; Qiiando apenas se ouve la no uuteiro O balido do Iriste cordeirinho. Que cbama , incauto , seu feroz imigo ; Unando se v^ brilhar per entre as folhas A vacillante luz na pobre cho^a , E la bem longe , desperlando os echos , O cao d*algum cazal teimoso ladra ; Quando entre espesios verde-negres ramos Aqui , alli , s'escula o rei das aves , CoDie9a o canto seu , proionga as nolas , E o canto se esvae tao mago e brando Qiial ultiuio vibrar d'eolia lyra; Quando cangada a natureza busca O placido repouso , enlao sentado A SOS com a minha dor, com a mao na fronte, Pensalivo cenleuq)lo a natureza. Entao o nome teu sobe do peilo , Vera nos labios pousar , e se um suspire Mens labios apartou , teu nome digo. Teu nome que eu repito aos ecus , as onda?. 152 As boiiinas Jo prado e ao bosque nmena ; E OS cells 6 as ontlas , a bonina e o busqiie O tell nome iientil mil veiesdizcra : No ceu o Vfjo escripio em letras d'onro, No prado ein per'las mil , s' escuto as onda9 No sell braiulo lular com a roclia altiva , S'escuto o siisiirrar dna loirzas raiiias , Quando o venlo ila turtle o bo:)(]iie oiideia , Rill \ezes , vezes mil ten noiue escuto. Oh n'essas horas , qiiando o sol s'esconde. Quern me dera ciiorar f ai qiiciu me dera Eiitre soliu;os mil dizer ten non.e , Pass:»r a inleira iiuulc em dtV-e pranlo. Maa que vale o carpir ; que valeiii [ireces Qunndo a sorte diz — nao : Ai qiiandu oS ullios (^arn;ados de eliorar a liiz penlessem ; Qiiaodo de bradus mil exllausto o peito , Senlisse 0 corai^'ao i-elado e exanirue ; Quando sem tinu, dirsvairaila a mente, Ku te fosse pedir aus cells e as undas ; Se eu buscasse siquer a sombi'a tiia Oade outrora te vi , n'csscs recinlos Tao sa;;radus para mim . oada eucuntrara. 'I'lido fo?e , men Deiis , tndo se abysma N'esse pe^jo sem fim , n'essa vora;,'era Que passado se diz: o aiuur e a vida K d'en\oUa com o tempo o proprio miindo Tudo morre . men Deus ! Senhor ! piedade , Tu nos luaudaste amar : on da-me aijora No peilo nm cora^ilo de rijo bronze ; Ou leva-rae , men Deus, oiide miiiha\a1ma Perdida em ti , Selllior , e8qilfi;a a \ida, CoRio aos liomcns esqiiece o horror das trevas , Quando no pnro ceu ten sol tiil;,'ura. Cuiinbra , Setcmbro de 1833. iiENiiiyi'E O'NEILL. ILLUMINACAO ELECTRICA. N.'io vira lalvez longe a cpocha em que a eleclricidade siibslitua o gaz carbonado, e, einanando de um cleclroniotor central, eircule em condiictores ramtficados, para alitnentar de dislancia em distancia focos de luz branca e viva. Para que esta concepQfio elovada, todavia, se realise e mister aperfeigoar o que aclual- inente existe e que por wjntitra apparc^a aU gum novo invento qiieainda nao desponla no vasto horisonte dos descobiitnentos modernos. Lfma breve revista sobre a historia deste curioso objecto moitrar-nos-iia , quanto e possivel, sem o auxilio de estampas, a ver- dade do que levainos dito. A primeira experiencia de luz eieclrica fel-a o celi'bre cliitnico inglez Davy, que liavendo rnandado construir a grande pilha da sociedade de Londres, leve a idea de llie arinar os polos com dous cones de carvao, e operai a descarga pelas extremidades. Davy viu logo saliir um jorro de luz com brillio superior ao de qualcjuer oiitra luz artificial, e comparavel a do sol. Persuadido de que a combuslfio do carvao nfto infliiia na belieza do phenomeno , collocou os carvoes no vacuo, e obteve , coin effeilo, unia luz tao brilhante, sem que o carv.io se consumis- se pela ac(,ao dooxigenio do ar. Para tornar o carvjio mellior conductor, calcinou-o a alta lemperatura, merguJIiando-o logo em mercurio. A expcrit.'ncia foi por muitos annos repe- tida, com soleranidade, nos cursos publicos ; porem sua durajfio era necessariamente curta: as pillias que entao liavia nao forneciam uma corrcnle constaiile, alem de que os carvoes incandescentes desenvolviam muito fumo, que ern poucos inslanles obscureciam as parcdes do globo destinado a conlel-os no vacuo. Succederia ainda lioji.- o mosmo se a pillia de Grove, modificada por Bunsen , nfio viesse inlnistrar aos nlivsicos uma cor- rente eieclrica forte c duravel. A pillia de Bunsen appareceu em 1813 e logo Mr. Leao Foiicault, concebcu o pensa- mento d'applicar a luz eieclrica ao micros- copio solar, e geraliiiente a todas as expe- riencias d'optica que empregam a luz do sol. Contini'ia. MEMORIA Sobre el plan deestudios, laor^anizacion , y e! personal de las Eaciielas Medicas estranjiras , con aplicaeion a la iiacional de San Carlos de Madrid , |)or £). J\Ielchi or Sanchez de Poca. Na excellente e riqitissima colleccjao de exemplares d' obras e?criptas, e publicadas neslcs ultimos annos em lispanlia, que a uni- versidade de Madrid otTereceu d deCoimbra, como satisfagao e prova de apre^o , em que leve o brinde , que esta lite fizera das suas ultimas publica56cs litteraiias , c scientificas vein a memoria acima mencionada de valor subido para a sciencia do ensino. Simples brochura, sem os primores d'arte que adornam , attrahem , e tiiuito recom- meiidam a perfei^ao de iiidustria no seu geuero represenlada pcio bem acabado na impressao e encaderna^'ao dos livros recebi- dos de Madrid, nem por isso e somenos o valor della intrinseco. Rocommenda-se o tnerccimenlo da obra pelo do seu auctor, bem conliecido, e acre- ditado dentro e fora do seu paiz. E nao desdiz o desenho, a phrase, e o estllo della, dos titulos em que assetita a nomeada do dr. Sanchez. Discorrendo varies paizes todos ditfereutes do seu em lingua, orgauisatjao , caracter e costumes, ningiicm em tao limi- tado tempo podia compreliender melhor, desenvolver, e applicar aos seus omecanismo do eiisino medico observado nos estranhos. 'I'endo por mais adaptado ;i situagfio de l'>spauha o piano dos estudos medicos dtissiuios campos da moralidnde. Dar-ilie-liemos de mfio , todavia, para sodei- xarmos fallar os numerosos faclos d'algumas das fortunas colossaes de particulares : f'actos que de persi sos mais alto fallam , do que todas as consideragoes que acaso se liouves- sem de fazer. E para que melhor possarn gravar-se esses mesmos factos , na memoria dos menos lidos dos nossos leitores, curaremo^ de llios transcrever sob a forma alpliabetica. ylplcio — niorto no anno .W depois de Cliristo, e celebre gastrononio da sua eda- de , tinha umafortuna de 3:000 contos; coii- tando-se que so na devassidao chegara elle a consumir a enorme somma de 1:860 con- tos ! K refere Seneca (consol. ad Helv. 10) , d'accordo com JlJarcial (Epig. III. 22) e com Dio. (I. LVII. 19) , que este devasso gastronomo sesuicidara com veneno , quando chegara a ver sua riqueza reduzida a 320 contos, receiando morrer de fome no meio dos seus continuos excpssos ! jlugusio — raorto no anno 14 depois de Christo , deixou uma fortuna elevada por Tacito a grande somma de 32:000 contos! E nam deve causar-nos adinirajao , e^sa tao 154 iiiimensa forUina , se nos recordarmos que o inesmo jlugtisto chegara a receber no espa^o de 20 annos, (e so em preseiites e heran^asj , maij de 16:000 contos. So ao povo roinano deixdra die, como de sen testamento se ve , 1:240 contos, deixnndo aos cldadaos pobres 108 j contos: ooriio pode colher-se do inesino Tacito (Ann I. loU e do aiitigo oscripUir dos doze Ccsares , Caio Suclonio Tranquil- lo (vid. d'Auir)! As rendas do irnperio do miindo , (accre*- centaiemos ainda), erain porentaode 198:000 contos; e eliegarani a ser atd de l:120;00t) contos nos tempos do f^cspasiano , que ava- liara todas as despezas do estado , qnando subiii aollirono,em 1:210:000 contos! Som- nia enorniissima , na voidade ; ma^ nio sera preciso suppor-se com Biidcxi ejiisto Lipsio , <|iie lionve alguin engano de conta no precita- do biiigraplio dos doze Cesares , nma vez considerada essa vaslissima amplitnde do irn- perio dos roinanos, e essas grandissimas des- pezas i'orjadas da sua adminislra<;ao I ! Cidlhto — liberto do imperador Caligula que succedeia no tlirono a Tiberio , deixou por sua nioite a miii consideravel fortuiia de 6:400 contos ! Cecilia Claudio Isidore — apezar de haver perdido nas guerras civfs dos sens tempos, \ima crescida parte da sua fortuna, deixou ainda por seu testamento 1;8()0 contos; alem de deixar tarabem 1:116 e,-cravos, 3:600 junctasde hois de trabalho, e 257:000 cabe^as d'ouiro fato ! Crasso — denominado o nco por anto- nomasia , liniia so em terras a enorme fortuna de 9:600 contos; e possuia outra egual , em escravos, rebanlios , casas e mobilias! K tal era, a elevada idea deriqueza, que formava este nosso Public Crasso, » que nao julgava liem merecido o epitlieto de rico , em quem nfio pudesse, com sua so fortuna, manter as despezas d'um exercito on d'urna legi'io pelo menos (Pirn. Sen. 1. XXXIII. 10 — (.'icer. Otlic. 1. I. 8)!! Demclrio — liberto do grande Poinpeii., tinlia de seu um capital , que se lia calculado em 3:000 contos ! Hortensio — insigne orador de Iloma, e digno rival de Cicero naepoclia florescenle da oratoria , (entre os annos dc 700 e 850), cliegou a graugear pela advocacia em que tora mui versado , aimmensa fortuna de 3:200 contos ! Lentulo — o augur por excellencia , tintia a nqueza enormissima de 12:400 contos ! Lucidlo — morlo 47 annos antes deCllri^to, foi senlior d'urna fortuna, avaliada em niais de 19:200 contos! So pela casa de Mario, que iiavia sido comprada por Cornelia, dera Lvcidlo a boa somma d' uns 62 contos ; e e l)em sabido , que por sua morte se venderatn OS peixes d'urna so dassuas quintas , por 138 contos: somma nolavel pela qual tamliem se cliegara a vender oviveiro inteiro de Caio Herio, como se collie de Plinio Senior (L. IX. 64 e 55), e de Plularclio na vida de Mario. Preciso era, todavja, que assim tives- se uma fortuna e uns provinienlos laograndes quem Iiavia o costume habitual de gastar em cada refei^.'io diaria principal 6 contos, na luxuosa salla d'j]pollo em Roma! ! I Marco Antonio — morlo 31 annos antes de Cliristo, e a quem Cleopctra fizera um grandioso brinde, (no qual engulira uma perola dissolvida em vinagre, avaliada em 310 contos), tinlia de seu a fortuna de 19:200 contos ! — E e^ta perola era de inui- to niaior valor que a mujlo t'allada perola, (|ue offerecera Jidio Cesar a. Sirrilia, mae de Bruto, apezar do seu graiidissimo valor de 186 conlos ! A'Jildo — morto 48 annos antes de Christo , condeuinado a desterro depois do assassinato de Clodio apezar de levar comsigo para Marselha uma parte dos sens haveres , deixou ainda uma fortuna, que se tonfiscara para pagamento de suas dividas, de 2: 1-00 contos ! dividas que importavam em 2:170 contos, mas que nada avolumavam , ao lado d'un= 7:755 ^ contos que devia Jidio Cesar, por exempio, na occasiao da sua pretura d'Hes- panha (Appian. De Bell. Civil , I. II. 432) !!! j\orciso — morto no anno 54, e liberto de Claudia de(|uem fora depois secretarlo, pode ajuntar a immensa fortuna de 8:000 contos! Pallas — liberto do mesmo Claudia, que succedera no imperio a Caligula, etivera por successor a Nero, tinha de seu 9:300 contos! Plinio Junior — morto no anno 113, e digno representante de tfio digno nome , tinha uma riqueza de 3:200 contos! Roscio — morto antes de Cliristo 62 annos , e actor de lao maxima nomeada entre os romanos , que chegara a ser para aquelles antigos tempos o que fora Talma para a nossa edade , era senlior so em bens de 3:200 contos! \i afora os immensos presentes com que OS sens o heneficiavam , (e que avultavam em grossas sommas iios fins dos annos), linha ainda o re. idimento annual de32contos! Sallustio — morto 35 annos antesde Chris- to , e muito conhecido escriptor classico de latinidade, deixou por sua morte a immensa fortuna de 9:600 contos ! Scaiiro — o einiliano , morlo 50 annos antes de Cliristo, c irenro do bem conhecido Sylla , tinha a fortuna de 12 800 contos ! E de M. Scauro nos refere Plinio o naluralista (1. XXXVl. 15. s. 24), que so a sua casa de campo, (ii qual os sens escravos maliciosa- mente haviam lan^-ado o fogo), se avaliara em 3:100 contos! Seneca — o philosopho , morto no anno 65, possuia nma fortuna de 9:600 contos! Si/lla — o dictador , morto antes de Christo 70 annos , tinha de seu 24:000 contos !! E Tiberio — morto no anno 37 , deixou por sou fallecimento uma fortuna mais consi- deravel ainda, que ad'.\ugnsto: pois que nos seus cofres se encontrara a somma de 155 85:400 contos ! — Somma por extremo consi- deravel, mas que seu successor Caligula ohegara a p;astar em menos d'um anno (Sueton. Vid. de Calig. 37) III E se nos nao qnizeramos liniilar, us indica5oe3 das fortunas miUionarias , na rigorosa signilicajfio da palavra ; poderamos indicar ainda algumas outras de particulares romanos , verdadoiramente grandes e ad- miraveis, em rela(;ao ;'u nece-,sidades e lis rniserias do povo emgeral. Poderiamos men- cionar Caldo, que morrera 42 aimos antes de Cliristo , e de quern nos diz Seneca (]ue tinlia unia fortuna de 12B contos. Podeiiainos niencionar Esopo , (compa- nheiro do celebradissiino Jioscio), o qual deixara por sua morte uma lieran^'a de 800 contos , apezar de haver feito despezas excessi- vas , e entre ellas , por exeinpio, a d'um jantar que Uie custiira para cima de 3 contos ! despeza gastiononiica imniensa, mas que nada avulta ao lado do jantar (T H diogabalo , que Hie custiira 93 contos, e ao lado do quasi incrivel jantar de Caligula, avaliado na despeza de 310 contos, como nos alteslam Siiicca {Com. ad. Ilelv. 9) c Lampridio (G. 27) !!! Poderiamos niencionar as joias de Lollia Paulina.) dos tempos de Plinio, avaliadas em 12 1 contos ! E poderiamos men- cionar Virgilio esse celebradissimo vate de Mantua, niorto 19 annos antes de Cliristo, o qual deixara por sua morte uma fortuna que Servio avaliara em 300 contos! Ee para notar-se, que todaasua riqueza provinlia de benet'icios especiaes d'yjugusto e de sua familia, e muito nomeadameiite d'Octavia , a qual so pela — tu ALircellus eris , (singular ooniposi9rio poetica sua), Hie maudara dar 2:320:000 rs. , a razao d'uma dada quota dc preniio por cada verso! E poderiamos ainda, descer a fallar de muitos desvarios da desregrada gastronomia dos romanos, e que piovam de sobejo a excessiva riqueza d'algiunas pessoas parti- culares que os practicavam. bastarla citar ent;'io , (alem da ja menciouada perola eiigulida por Cleopatra, no festim de Alarco ytntonio), a perola que iora eiigulida por Clodio , lilbo do comediante Eso'io , avaliada em 31 contos! Bern como essa que tora engulida por Caligula, e de que nos falla Suetonio na sua vida (C. 3-1) ! Sobpjos sao, lodavia, os dilFerentes exem- plos que acabamos d'especilicar em resume , para que po.sa reconliecer-se a fundo, ate onde havia chegado o luxo devassjssimo dos tomanos, e ate onde haviam cliegado, por consequencid, (atravez da prevaricagao geial dos sens costumes e das suas acgoes), a depreda^ao e os vexames forgosos de que haviam de ter langado miio n'alguma occasiao, para chegarem a conseguir , fortunas tao extra- ordinariamente colossaes ! Era um estado, n'uma palavra, de tao agglomeradas riquezas n'alguns poucos parti- culares, e de tiio desregrados e tao male- volos costumes por tanto , que ate Cesar cbegara a comprar a amisado servil do consul Lucio Paulo, collega de Marcello no anno de 701 de Roma, pela iiomma de 1:116 contos, chegando a comprar a mesma araisade servil de Curido, pela muilo maior somma de 1:860 contos!!! E e o que de feito nos affianjam Jppiano (De Bejlo Civ. II. 443) e Sudonio (V. de C. 29), com Valtrio Maximo (L. [X. 1. 6) e Felldo Patercnlo (I. 11. 13)!!! Braga, JuUio de 18.53. J. J. DA S. PEREIRi CALD.\S. BIBLIOGRAPHIA. Para aervir de lexlo as Ii(;oe9 ilo priineiro anno malhe- matico, acaija de sahif do prelo , e Je ser dislribuiJa aos respeclivos ahiinnos , a Parte I.", conlendo a Arithinetiea e yllgebra elementnr , do curso ceniplelo de malliemalicus purus por L. B. Francoeiir , novamente Iradiizido, correclo e aui;menlado pelos l.-nlcs cathedra- licos da F.icuUaile de Malliemalica os Siiis. Francisco de Castro Freire , e Rodrijo Ribeiro de Suiisa Pinlo. ^Esla nova edii;ao ; em que os illnslres tradnclores se nuo pouparam reconhecidamente a esror(;os e diligenciaa , para que fosse a lodos os rcspeilos aprimorada , e em que poileram , como so ve da aJverlencia que serve de inlro- duc^ao, mais d'espai;o confronlar com o original as currec(;oes e melhorami-ntos , que a pralica do ensino , o que havia de melhor n'oulras oliras mais modernas , e que finalraenle o seu iiicau(;avel zHi3 e conslaiile dedicai;ao pela sciencia, llies siii;:;eriu como mais uteis e apr.ipriados ; i para u curso de malliemalicas puras, professado na Uiiiversidade , nm excellente compendio, que deie considerar-se antes como oljra original do que como simples traduc(;ao , por isso que n.ao houie pagina onde se nio fizessem allerac;oes on addi^iies varas. Balizaram depois, por ineio de eslacas, a largura que se iiiarcou ao novo alvco; e inliinuiani judieialiuenle os douos das iiisuas e catnpos coufinaiUes para asua propriacuata fazereui a demoliyfio. Delerminaraiii que a largura do rio no campo das Merces fosse souieiile de 137 varas, 0 no da Goria de II,'! , ein atlengao li violencia da curreiite n'esles sitios. Ern 16 de noveuibro do inesmo anno mandarain abrir valias na areia para desen- tulliar 05 arcos da ponte; e effeclivamerite se abriram como consla do respeclivo auto. No dia 20 do dito mcz eanno roviniram-se na ponte o ja citado juiz couiaiissario , e mais juizes com mestres d'obra de pedra e cal, e concordaram em que as guardas da ponte arruinadas pela euciieiite d' aqiielle anno se fizessem de alvenaria com boa or- gamaga , da largiira dos nr. dr. Castro. Para provar o valor da Chute des feuilles basta diser-se , que inereceu ao auclor da Harpa do Crente as lionras da traducgao, que vein no sen volume de poesias. Todavia, no men liumilde sentir, a raaior parte das obras poeticas de Alillevoye sixo um pouco descoradas , e esta mesina poesia de que fallamos, sendo a mellior, n'lO esta. exempta d'esse defeito. Um colorido mais vivo em nada a prejudicaria. A imitagao, por este lado, reseiite-se algiima cousa do original ; porem a phrase e tao casliga , o verso 161 tao singelo e elegante ao mesmo tempo , o pensamento tiio delicado e melaiicolico , que ninguem por certo cleixani de a repular uma comijnsir.'io d'elevado tnerilo. O snr. Uodrigues e'jabern conliecido pcla versfiod' uin poeina de Florian , o E/iestr,i: pela collecjao de maximas e modelos , que no fim d'esse poema, offerece ;i itislruc^ao de todos para llies iiiciilcar a practica das diias tirtudcs, a fraternidade e a reciproca amisadc. O siir. Alexandre Herciilano fallando sobre esla ver.suo no I'.morama, em 1810, e-creveu oseguiiile: Kis aqiii unia traduc^.'io d'aquellas que d'lo tanta Lonra ao tradu- clor , quanto o original da ao auctor. Todos coMliecem o minio e a gra^a dp quanlo es- creveu Florian : mas nem todos sabem que unia das suas mais formosas composi^'oes se acha trasladada em nossa lingua, sem que perdcs- se uma unica das suas galas nativas. Por lal arte se houve otraductor, tao aprimorada- mente Iraballiou, concertou e puliu a sua versao , que a nao ser obra tao conliecida na antiga Iitteratura franceza , podera passar por nasoida em terra de Portugal , pelo tor- neado das phrases ser n'esta obrinha essen- cialmente portuguez, e os vocabulos castigos, sem que entre elles appare^am descuidos em que muitas vezes caem ainda os bons Ira- ductores. Este elogio sincero e desinteressado, rubri- cado com a assignalura do primeiro escri- plor do nosso paiz, e , em quanto a noi, o major tropheu , que urn homem que escreve para o publico, pode alcan^ar. Sirva elle d'alivio ao nosso presado amigo e mestre, o siir. Rodrigues, no meio das injusli<;as revoltantes deque infelizmente tern eido victima. TOBBES E ALMEIDA. 0 CAHiR DA FOr.HA. ISlITAtiO DE SIILLEVOYB. Jit OS bosqiies , (Ifsfolhando-se , Marram do otilunu a fereza ; J.'i (!u mystf^rio a belleza Perdeii . cu*a ftilha, a illusao; Nao mais ruuxinol siianssioio Se cscuLa [lesta ^oidao ! Porem %p-sc ainda — pallido, C6r de morle a passo lento , tJm joven , que alii o alento . Dissereis , ia finar ; D'annos verdes a aura placida , Derradeira, ia aspirar. ' Doce bosque (disse) no intimo, Te amei d'alina , e nesle instante, Vcnlio dar-le o adens ainanle , O adeos de queoi vai inorrer ; Seca fulha , a cahir tremnla , Me apunia o fim que heide ter. » II D'am mime fnnesto oraciiloi Oiivi bem claro . e dizia , Que eu a rolha^em verja , Revestir d'amarellez; Porem (soou voz mais funebre) , Que era esta a ultima vez ! >• II Que plerno cypreste lugubre , Mais sem cor que o propno oulnno , JA me as!ioudira\a alto somno , Que eu ua rani))a ia diirmir ; Que en tinha api'nas nm atonio , De juventiide a medir ! » « Que, nem mais veria o pam|)ano , Brilhar, nem lieiva nu i)radu ; Vou murrer — vou desi-'rai^adu , Em bre*e flnar-me assim; D'enrns sinio ja friissinio , Cuar-me o sdpru ruim! •» « Vi , como sorobra phanlastica, Fusir minlia prinunera; Trisle morte boje me espera , Cabiila foiha vou ser ; Possain Tnlhas , alaslrando-se , Men jazigo aqui 'sounder ! » 'Scondam-me da raae lernissima. . ••• Porem, se aqui dcsfjreabada , Vier minha doce amada , Chorar , quando a luz se fiir , Cum leve rugido acordem-me, Para ou\ir-lhe um ai d'amor I • Disse; — e foram vozes ultimas,... Foram ; que em fim , da floresta , Ultima foiha , que resla , Cai , e o infeliz cahiu ! Sob o robre lojo um tumulo , Pia mSo Ihe construiu, Mas essa t^o erma lapida , S6 d'al^um za^al sabida , A ninguem chama , ou convida, Ninguem a vai visitar! Nem u amante tima so la^rima , Um so ai , Ihe fot volar ! — M. R. S. A. A GEUACAO NA SUA SUBJECTIVIDADE. Die Fehigkeilen der Stlbtterhaltung und iter Forlpjlaitz'ings kc/ireu in jeder art von lebendeu l^csen ipifder — Valentin — Grundriis der PhysMojie. Expresso o infinito no finito, polo apareci- menlo da materia universal, ialtava cotn- pletar o quadro majestoso da creajfio, pela evolii^fio de uma existencia, que, sentindo seu valor e imporlancia, podesse compre- liender a for^a creadora, antolliando com tudi) sua ini'erioridade. Uealisou-se tao sublime existencia, prece- dendo outras, que lenta e progressivamente marchando mostravaui o progresso da dea ate' a sua completa manifeilajfio. Moiyses 162 descrevendo o ado creador no spu scmprc admiravel. Genesis (repptidas vezes com pouca critifa exainiruuio) soiibo compre. hender rapida e do^linetamente , uma idea entao d« necessidade oljscura, e pntentcando assim iinlverso, desde logo se convertou em iieces- sidade. A vida, cnniiderada objectivamente , eum phenomeiio passageiro — e uni circiilod'acjao do ser , que sa/ndo, d' iiin pniilo do infmito o trafa no (•spa(;o, para voltar ao rnesino ponlo : OS seres , que o descrovem siio momen- taneos, como elle em cniriparayao a idea, e series infinitas se produzem por urn meio especial para a poder assegurar no tempo, coiitiimando com a impressao da creagao , e conduzindo-a por iim espa^o iiifinito ou in- caloiilavel ale sua realisa<;rio e.\trema. A gerafao, garantia da pnssibilidade tem- poraria e successiva para a idei vida, con- tinuando a creajao , segue sua raarclia, resurac-a, dynamisando lenlamente os prin- cipios materiaes , que a nulri(,-ao, garantia depossibiiidade ser para a idea individual, ja tinha encetado, e que a creayfio executara em indivisivel instante ; e por isso a geragHo garantia da idea vida um gruo inferior da crea9r(o e superior em pntencia a nutri^'fio Porem »e o individiio gerado nao affastasse por tempo o principio destniidor (elemento compensador ou antes garantia da evolu^ao da idea) se nao buscaise equilibrar-se eui luta tao desigual ■, a geragao seria um absurdo umnoumene, que nada designava , neces- sitando por isto de uma como ponte, para poder veneer ou tran-paiaar o vacuo pro- fundo, que separa osdous altos pnntos do ser e nao ser: tal e a nutri^ao, que continua, ou antes enceta a dynamisarao dos elemen- tos , con^ervando e desenvolvendo o indi viduo por plienomenos, cuja expressao alge- bn'ca sera A ' , sendo A * gera^fin , A^ creacjao ; em que osgraus designam a inferioridade de potencia. E a gera^ao uaia verdade manifesta e logica — e'a synlliese da Iricliotoniia da idea vida, cuja antliiteiC morte e tao logica, como a propria geracao. Se sua existencia nao fosse um facto real e verdadeiro, a gera- cao seria um absurdo; sao ideas correlalivas gcragiio e mortc, posta uma segue-se outra , e^rfeeiprocamente. Consistindo na dynamisa- ^ao dos elemenlos o processo vital ,'cliegaria um inomento em que a materia universal seria absolutamente dynamisada , e por isso a nutricao e a existencia seriam um impos- sivcl por negagao de vida poUncial, ou pos- sibilidade vital. Foi por isto , que a mao benefioa doGfeador, harmonica e provontiva estabeleceu um principio d'ordem , aprimeira visia absurdo, que so a meditac'io resolve, e a experiencia confirma. Voltaire eontem- plando a harmonia tao admiravel do poder innnito, tambem podoria repetir C est cet Etrs infini qii on 'sert et qu o" adore. Assim a morte e a geracao sao leis neces- sarias , ambas nobres no fun , mas differenles nos meios: a gera5rio , suhjeclivamenle con- siderada, prehenche sem duvida niais elevada missfio , ajudada , com tudo, poh nutricao:. sem ella nao existiriam as especies, cjue hoje existcm, escapando a calaeyse do globo, demonstrada pcla sciencia e pela hisloria , e que ainda hoje nos apresentam phenoinenos dignos do estudo do philosoplio. Sera pois a crea^iio da vida para a geraijfio o mesmo que esta para a nutriijao, e reci- procamente: sao . como vimos, modalidades, que reconhecem a mesma fonte de origem ; julgamos absurda a opinifio de Bucbez, qu& tem uma como filha da for^a serial , outra da circular, sem o demonstrar , e a nao ser pelo genio eminenteniente especniador, nem de especial mengao seria digna. A serie continua dos seres e a nutri(;ao do principio da idea; pois ha em verdade vida composiQao, e decomposigao morte, elemen- t03 do processo pelo qua! a vida, principio universal e latente , se expressa; e para cuja manifestagao elle e a formula viva deaplica- 5ao. Nao sejulgue esta nossa opiniao confusa e inintelligivel : toda ella se fuiida, em que a natureza da vida, so se pode explicar por uma niodificale frasco se relaciona com um onlro 6 por meio de um tubo , conte'ni este segundo frasco agna de vul oude se forma o carbonato de cal pelo acido carbonico, desenvolvido em « durante a fermentagfio e passado pelo tnbo de communicagao ; para maior scguran5;a (do acido carbonico do ar) se acresceuia uuioutro •frasco c com agua de cal relacionado com o frasco b por um outro tubo: eui comego da ^fermentagao se desenvolvem numerozas cry. ptogaraicas, circumstancia que nem sempre pode ser adusida como prova iufallivel da existencia do assucar. 3.° Se se ferve a ourina suspeita com uma dissolugao de potassa causlica , o lodo se cora d'ura rubroescuro, eacrescentando.se o acido nitrico apresenta-se o cheiro carectristico do inelasso ; o processo de Trommer funda-se em que tractadaa ourina pela dissolugao d'um alcali esulfalo de cobre ella precipita o oxido de cobre reduzido no acto da ebuUigiio ou depois,obtendo-3e um precepiladoamarellado , ou um ponco rubro. Pode este processo , fiegundo Fehling ser empregado para reco- nhecer a quantidade de assucar conlido : toma-se uma epruvetta, on ura vaso com um tubo d'effus'if. , egraduado para a aprecia- gao de volumes, langa-se-Ihe uma dissolugao aquosa composta da seguinte raaneira 40 gramas de sulfato de cobre, 160 gramas de tartarato de potassa e 540 gramas de lixiviij de soda de 1,12 densidade; loma-se uma segunda epruvetta onde esta a ourma para cuja dissolugao se emprega agua na razao de 9 ou 19 vezes o sen volnme, entao langao- se 10 centlmetros cnbicos da dissolugao de cobre em 40 centimotros cubicos d'agua, leva-se o liquido a ebiiligilo, e langa-se a ourina na epruvella ate nao se foruiar preci- pitado rubro, correspondendo em resnilado aos 10 centlmetros cubicos da dissolugao de cobre 0,0')77 gramas de glucoza : posterior- mente pelo espirito devinliose podem obter as quantidades de assucar jd separado por este processo. D. G. Valentin Grimdrias der Physiolojie — 1851 §. 968. A. M. Dus JORDAO. INFLUENCIA DOS ALIMENTOS NAS FUNC^OES MATElllAES E INTELLECTDAES DO HOMEJI. Coatinuado de pag. 148. Oiitras relagoes offerecera os alimentos de respiragao, que se distinguem principalmen. te pela rapidez e duragao de seus effeitos. Passam-se horas antes queoamido do pao , que se dissolve no estoinago e nos inlestinos passe para o sangue e seja ali empregado. O assucar de leite e o de uvas nao precisam desta dissolugao preliminar feita pelos orgaos digestives, passain ao sangue com mais rapi- dez. O effeitoda gordura e mais lento, mas tambem persiste por mais tempo. De lodos OS alimentos de respiragao, o alcool e o que obra mais promptamente. O vinlio e os sucos vegelaes fermentados , em getal, distinguem-se da aguardente por conterem alcalis, acidos organicos e oulras substancias ainda nao determinadas pola chimica. A cerveja e uma imitagao do vi- nbo, A aguardente conip6e-se de agua e d'um principio do vinlio. Km virtude de sens principios particula- res , o vinlio offerece certas condigoes por cuJa reuniao se compensam mais ou menos, no fim d'algum tempo, na economia, as consequencias da excitagao cerebral e nervosa causada pelo alcool , de modo que a ingestao do vinbo tem consequencias nienos desfavo- raveis que a da aguardente. O valor commercial de um vinho esta na razao dirccta de seus effeitos ioimediatos e 164 inversa do seus effeitos subspquenles. Na egunldado de todas as oiilras circunstancias, o prego de iitn viiilio e taiito iiiaior, qiianto mcllior se neiitralisam sens effeitos |)or uiii aiigincnto correspondeiile na actividade das func^oes oniimrlorias do piilmrio e dos rins. Na deterniina(;ao do valor dos vinlios, enlra sempre em oaloulo a liqiieza alcoolica ; to- davia o pre(;o dos vinlios fines nao dcpende da quanlidade d'alcool qiip conleem ; mas antes da propor^ao em qiieeulram seus prin- cipios nao volateis. A tier ou o ciieiro do vinho nflo infliie no pre^o seniio porqiie e o indice de todos os sens effeitos coliectivos. Nenliuin prodncto natural on faclicio ex- cede o vinho considerado como meio d»* conforto qnando as for(,'as da vida se acliam exlianslas: o vinlio anirna o espirilo nos dias de Iristeza, corrii^e e compensa os effeitos das perturba^oes da economia, servindo como de preservalivo contra leves aiterajoes cau- sadas pela natureza inorganica. O alcool occnpa um logar distincto con- siderado como alimento da reipira<^ao. A ingestSo do alcool dispensa o uso dos alimen- los amilaceus e sacarinos, porem o alcool e incompativel com a gordura. * Em mnitos paizes altribiie-se a pobreza e a miseria ao consumo progressive e exagerado da agnardenle : e nm erro, O nso da aguardcnte nao e a cansa , mas o effeito da miseria. E nma excepgao a regra o homem nntrido que nsa beber agnardente. Porem qnando o Iraballiador, com sen traba- Iho ganlia menos do que necessita para com- prar os alimentos com que ha de sustentar- se, uma necessidade imperiosa, inexhorave] o forga a recorrer a agnardente. Como que- rem que elle trabaihe se a mesqninhez de sua nutrigao Ihe roiiba quotidianamente uma cerla qnantidade de for^a ? A aguardenle , pela acgao que tern sobre osnervos, permitte-llie reparar, a custa do corpo, a forcja que Ihe falla, gaslar hoje a forga que, pela ordeni natural das cousas . nao devia empregar-se s" nao a manha. fi como nma lelra sacada sobre a saude , e que nao podendo pagar-se por falla de recursos tem de ser reformada todos os dias. O traba- Ihador consomme o sen capital em vez dos jnros e dalii resulta a inevitavel quebra do sen corpo. O clia, o cafe e o chocolate nfio obram sobre as fnncgoes vitaes como o vinho. Con- somem-se por anno na Europa e na America mais de 40 railhoes de kilogrammas de cha , (') Qnando se estabpleceram as socipHades de tempe- ra n<;a , era miiilos estahflecimenlus ioqlezes, pnzaram a dJnIiPiro Q cervi-ja que lojus as dias receliiara os lr:il)a- Ihadores , us (luacs didia se atislinbain lug;o que entravam naquellas sociedades. Mas em breve senliu-se que o con- sumo do paoauijmenlava n'uma propori;ao e.vlracjrdinaria , de maneira que a cerveja era paga duas vezei, uma em diobeiro, outra, em |>ao. e na Allemanha. mais de 30 milhoes de ki* lograininas do cafe. Na Inglaterra ena Ame- rica o (ha constitno parte da nutrif.io quoli- diana do mais infimo Iraballiador, assim co- mo do inais rico proprietario. £m Allema- nha, as povoacjoes d.is cidades e dos campos fazeui lanto maior uso do cafe, qnanlo mais limitada o para ellas a quantidade e escolha dos alimentos, do maneira qne all o mais pequi'iio salario snbdivide-se sempre em duas paries, nmn para o cafe, a outra para o pao 0 batatas. Estes factos nao sac favora- veis a opiniao segnndo a qnal o uso do cafe e do cha nao e mais do que um habilo. E corto qne milhoes de homens tem vivi- do som haverem conhecido ocha e o cafe, e a experiencia diaria demonstra que ura e outro pndem ser dispensados, dadas certas condi(;oes, sem que as fiincjoes pnramente animaes da economia sejam prejuclicadas ; mas fora um erro ne-^ar todo o effeito uti! a estas Ijebidas, e resta saber se nao havendo cha nem cafe, o instincto do povo nao pro. curaria e nao acharia meio de os substitnir, A sciencia que ainda nos deve mnito nesta materia, dir-nos-ha se foi uma tendencia vi. ciosa para excitar as func^c^es nervosas que levou aoemprego de tal meio todos os povos , desde as praias do oceano pacifico , para cu- jas solidoes se retira o indio dias inleiros a fim de ali se eml)riagar com c5oa, ale as regio"! asiaticas onde os kamtschadales e os karia-kes prcparam uma bebida narcotica com cognmelos venenosos. Parece pelo contrario, senfiocerto, muito verosomil, que o homem experimentando , na vida agitada de nossa epoclia , oertas lacu- nas, certas necessidades que nao pode satis- fazer com a quanlidade , soube achar pelo instincio , naquelles prodnctos vegetaes, o verdadeiro meio de dar a sua nutri^ao diaria a quanlidade que Ihe faltava. Uada substau- cia que toma inilne nas func<;6es vitaes, obra de oerlo modo sobre osysteina nervoso, sol)re os sentidos ou sobre a vontade do ho- mem . Em sua nbra classica , Macaulay, eminen- te observador no dominio da historia , da uma particular alten^no a influencia do cafe no e-.lado politico da Inglaterra no secnio XVII., mas o problema qne doixa sem so- Inc^ao e a parte qne os principios do cafe tiveram enlfio na direc^ao dos espiritos O ponco que sabemos dos effeitos physiologicos destas bebidas nao iriere'^e ser menoionado. Altribnem ordinariamenle estes etfeitos a pre- senca da thei'na, identica com a cafeina do cafe' Alein de qne nao ha bebida, qne em relacj.'io a sua natureza e partes constituintes , apresente mais analogia com o caldo de carne, e e mui provavel que o uso do cha e do cafe assente sobre os etTeitos excitantes e vivificanles que estas bebidas tem decommura com o caldo. 165 O cliii de cerlas qualidades pelo menos coiUein o principio aclivo das a^uas niiheraes as niais aclivas, e por peijiiciia que seja a qiianlidade dn ferro toiiiado no clia , iieiu por isso iiifliie menos iias fuiic(;oes vilaes. As subslancias enipyreuinalicas coiiLidas no cafe dfio a esta liebida a propriedade do obslar us dUsoliigoes e dec()iiipo>i9(Ses que sao prevocadas e entietidas na ecoiio(nia pelos fermentos Sal)e-se (pi« lodas as subslancias empyreuniaticas sao desl'avoraveis li f'ermen- lagAo e pulrefac^ao : a caine de fumo, por exeinplo, dii;ere-se menos faciluienle do que a carne simple^mente salgada. As pessoas cujos orgfios sao I'racos ou sensiveis pcrcebcm facilmenle , que uiu pouco de cafe forte, tornado depois do jantar, faz parar imiiiedia- lamente a dineslno, que n.'io conliui'ia senao depois que o cafe sai'u do esloriiafjo e foi absorvido. Aquejles (|ue tein org.ios robuslos , serve-lhe> o cafe, pi-l.i mesnia razfio para inoderar aactivldade digesliva, exalLada pe.o vinlio c pspeciurias. O cliii nao embaraca a digestao conio o cafe; mas acelera os movimenlns peristailicns doj inlesLiuos ; este effeilo maiiifesta-se por nauseas (|ue succedeni a ingestao do clid for- te, priucipahnente em jejuni. Continua. CRITICA LITTERARIA. Tratado elemental de Pjjjcholorjh e Ltgica por U. P. Ph. de il/an/au, e U. J. lU. It e Ueredia. E t'lo necessario o e-tudo serio de Plii- losophia melapliysica para furmar o soiido saber , e organisar a verdadeira scieneia, corno sao infebzmenle raros 05 cojiqjeadioa que d'eila tralein bem. I'eusa-se vulgaraienle , que, para fazer um bom Iratado eleineiiiar d'aquella di^cip|jna , se rcquer , como conditjfio iinprescindivel, uin espiiito creador em Ludo : que innove na substancia das doulrinas, na forma da exposl^ao, no metliodo da deduc- jao. K d'aqui vem , que uns so aspirando a celeliridade , carregam os seus escriptos de observagoes novas e engenbosas siui , mas de pouco proveito para aquelle-), a quern os de=Li- natn. Oulros procurando em tudo um noma singular apresentam as doutrinas , amda as mais triviaes, debaixode uma forma lao vaga, escura, e retorcida, que elles proprios sao os primeiros a duvidar, se a si inesmos se en- lendem ! £nganam-se uns e outros; se niio pos en- ganamos nos. Para confec-ciouar um bom tratado cleuienlar de Pliilosophia melapliy- sica, lioje que a sciencia esta ifio rica de factos e observa^oes, nao se exige tanto a originalidade quecrie, como perseveranra , critica, e bom senso: aquella, para reler e sobrepensar o muito que anda disperse polos graudcs mejlres; e^la , para soparar , oxpor e ordenar com acerlo. Senlinres dii rica lierauja , que os seus passados Ihes logaraui , lenham os melaphysicos d'lioje bom juizo apenas para se aprnveitarem d'a- quella riijueza, e coin eila aproveitarem aos oulros. Isto conlieceram, isto acabam de realizar cm Ilespardia dois diatinclos escriptores. D. P. Pli. do Monlau, e D. J. M. Rev e Ueredia, lomaiido pnr devisa o dito lao singello, couio profundainente vi'rdadeiro, d'um seu cboradn compalridta — em inn l'ivrt> de casino nao se. procure i>rtme-ditadainenlfi 0 que e inais pliiloiop/iic!) ^ sn'iidn o que inais utd eque se aaiba — releratii e medilaiam , o que anda escripto sobro os diverscs ramos da Pliilosophia metapliysica , dentroe foia do seu paiz , separaram o verdadeiro do falso e do prejudicial ; o util e compreliensivel do engenlioso e esteril; e lembradns da epoclia em que viviam , e das pcssnas para queni iam escrever , poseram-se a obra. D'entre as doulrinas que liaviam lido e apurado, tomaraui priineiro aquellas , que pegas amplas e seguras do grande edificin, que iam levanlar , podessem sustentar tndas as oiitras. Estas , ou ainda as liraram d'onde liaviam recebido as primeiras, ou as ajuncla- ram do seu proprio cabedal ; eas^im foram pro- seguindo, com infaligavel perseveran(;a ale' verem coroados os seus desejos, e conjumada a sua obra, e a sua gloria. Jistes dois varoes bein mercceram daslelras c da sua patna , a qual deram um tratado eleinentar tie Pliilciso|)liia, onde seencnnira ludo oque e para florojar em uui escripto d'a- quello geneio. As questoes princip-ies acbam- so alii traladas com solidez e boa crilica : apanliadas em brevissimo espago na frente dos §^. ; expostas coin cl.ireza logo em segui- da ; e sobre ludo deduzidas por um metliodo excell'nte Na sua coroa gloriosa de oscri- ploros nao conlam lanto a custosa perola os illuslres AA. da originalidade , que neni sempre abrillianta a quern a lem , e niuilus vezes cega aquein a \e, como a flor sinijella do bom senso em que descan(;am e se coin- prazem todos os olhns, ainda os indilVe- rentes. Isa Psycliolugia , parle sobre que escievpii , Moulau nada ornitliu que fosse digno d« saber-se, e necessario em um livro elernentar. Leu e pensou detidameiite o que melhor bavia escripto sobre o objeclo, e teve a arte nao vulgar de o faztr seu ; dando assiin ate ilquillo, que outros linliam dicto, um ar de novidade e desaffectada originalidade, que os apaixonados da sciencia nao veem com indifferenja. A par do seu talento, marclia a sua boa critica. Nao se inlernou demasiado nos recessos profundos da psycliologia trans- 166 cendente, N'lO inquiriii , por exemplo, qual aiiatureza inliinada alma ? qual a sua oii^'cin ? qual oseueslado, quaudo se|)arada do corpo! elc. , etc. Ci>ui isso q'le laria? cansar graiide pane dos sens loitores ; e aproveitar |)ouco, se tanto, aquolles para quein escrevia. Nao se creia poriini que o prudeiite A. lioslilize, ou dcspreze , essas e similliantes quesloes. Nada disso: diz so que snbre cllas mui escas- sos dados subminUlra a t-xperieiicia e iiiliina oh3erva9ao: que quasi ludo e obra de com- jectura. Paj;a-se poreiii , e plenamente , d'essa omissfio , se o e, quaiido depois de marcada profuiidamenle a dit'lereuga eutre a nialeria organisada e o piincipio active, que nelia sente, pensa e quer, bosqueja rapidarnente OS altributos esseiicjaes da alma ; e em se- j,'uida , com inao de mestre, tra^a o variaSo quadio das suas faculdades, e fun^oes. Aqui, lofjo eui tVente poe a seiisibilidade , taculdade variadissinia em suas ('undoes, pela qual o lioniem seiile prazer e dor , goza e sofl're ( Ed/itticii.) E o que o judicioso A. diz, relalivo a differeuga eiitre a iaipiess.'io e a sensajao, enlre a sen5a(;ao e o conlieci- mento, entre lodos estes plieiioaienos e a vo- ligfio ou aclividade retlectida, ao passo que corta desde logo os voos as preterigoes aeu- sualistas; derrarua vivissima luz sobre o que segue, e revela um pensaiiieiito vivaz , pro- fundo eacostuniado a recoUier-se em si, a estudar suas intimas modilicagoes, e a apa- nliar as rnais delicadas relagoes, que ellas leni entre si. Depois das sensagoes , discorre pclos senli- meiilos, OS quaes, leuil)rado do seu systema , divide cm estlielicos, iiilellectuaes e moraes. ^Nao e novo, o que sobre isto diz; nem facilmente opodeiia scr, depois do muito que a tal re^^peito esereveu a escbola escooe- za , eos que icuitaram e desenvolverain as suas doulrinas: todavia e exposlo com clareza, brevidade e ortlem. Coroa da estlietica, e fiui da senaibilidade , apparece por ultimo o prazer e a dor, a bclleza e o gosto ; objectos omillidos na maior parte dos coinpendios de Pliiiosopliia que and-un entre nos. Na seguuda parle do seii tratado — sobre a intelligencia — (^A'oolog-ia) iMonlau foi euiincnlemente eclectico. iSao calou os tactos, ii.io OS torceu , nao criou systema novo : ineditou o que esla escripto ; e mirando sobie tudo a ex|)licagiio plena dos phenoinenos cognoscitivoi, analyson-os miudaiiienle , e referiu-os a uma laculdade mae — a intelli- gencia. Abaixo d'esta, e como liinc(;oes suas, ou sublaculdades, poz a pcrcepgdo interna e externa, o jui%o , a attencdo, a recorda- gdo , a altslrac(;ao , a generaiisagdo , a induc- gdo , a deducgdo, a imaginagdo e a signijica- gdo. Entre os pequenos artigos, em que vem explicada cada uma d'aquellas subfaculda- des, avultam principalmenle, e metecem especial mengao , os que apresentam a tlie- oria do juizo; a memoria e a associacfio das idea~ : a dirt'eren<,a cnlro idear e entre idear e conliecer; e a origcin tfio questionada, das idi'as e dos conlieciinentos. IJeaiata o quadro das faculdades, com o tratado da vontade, (^Prasologin) de que I'alla, assim eui geral , mostrando com rara sagacidade o caracter proprio e dislinclivo d'esia I'acnidade; conio em particular discor- rendo sobre a vontade, sirictumente tal , sobre a espontaniedaile , liberdade , liabitos, c — fiin de aetividade rellcctida — o bem u a felici^lade. Ainda aqui o prudenle A. pro- ^egue o niesino eclectismo esclarecido. N.'io regeila oousa alguma do que, convenienle e necessario eque se saiba: t'az sopor ajunctar tudo debaixo d' uma idea, que tudo abrace e explique, fugindo semprc de questoes oci- osas. A analyse dos elementos que compoem lodo o acto volitivo ; a essencia da liberdade e sua intluencia na vontade; o desejo e o instincto com os sens poiitos de simillian(;a e dil'ferenij'a: a Iheoria do bem, e sobre tudo digna d'elogio, se nao pela novidade da doutrina, de certn pela novidade da forma, e rigor do metliodo, por que as materias cstao expostas. K tao longe levou o A. a paixao pela boa ordem , eclareza, que no fim do seu tratado, ajunctou , uma svntl:e>e de todas as materias nelle contidas: eminencia deleitosa , d'onde d'uin relaucear d' olhos o leitor pode tornar a ver com saudade todo o espa<,o que per- correra, e as diveisas vevedas , que t.'io agradavi'lmente Irilliara. Conlinua. TRATADO ELEMENTAL DE MATEMATIC.'.S por D. Aclsclo F. Vail in c Dusl'dlo, catc- dralico en la uiiivenidadc de Madrid. ]Sa bclla crllec^'ao de livros, que a uni- versidade de Madrid olTereceu a de Coim- bra , e cuja relagfio veni transcripta no n.° 7 do Jiislilulo, acliam-se dois tomos da obra assim intiluliida, o primeiro dos quaes e um tratado d' Antlimetica, e o segundo um tra- tado d' Algebra Elementar. O auctor divide a Aritlimetica era duas partes, uma do calculo arilhmetico , outra da comparagdo arithiiietica- e ^cada uma d'estas em duas secgoes , uma reiativa aos nurneros abstractos, outra aos concretes. A primeira secgao do calculo ariilimetico com- preliende as operajoes sobrenumeros inteiros, desde a addigfio ale a exttacgfio da raiz cubica; os caracteres de divisibilidade dos numeros inteiros; o maxime divisor com- 167 mum, e o minimo miiltiplo cnmmum : a ouLra conlcim a exposigao dn anlif^o systi>ma hespanliol tie pesos e inediilas, e do novo syslema liii.'trico ; e as opeiut^nes sohre in- com()lexos e complexos. i\a priiiicira sccQao da comparaij-rio aritlimt'lica tiala-5e das ra- zees , proporf;opi , profijressoes , e logarilhmos : na segiiiida trala-se das regras de tres , de companliia, conjuncla, de liga, dejuros, e descontos. E finalaioiite leriiiina a obia poi- iiiais ampio deseiivnlviniento em notas d'algunias doutrinas do lexlo, e por exer- cicios prnprios para adqiiirir facilidade na practica das opera<;ries arithineticas, e para recordar os priiicipios em que ellas se fun- dam. Em cada uiua das partes d'esle l)eni coor- denado syslenia o auctor coine^a por eslabe- lecer as delHii(,'oes e os principif)s que serveni de fundanieuLo as regras, enuncia estas , de- monstra-as, e apresenta um exempin para cada uma em qiiadro demonslrativo , com a explicagfio correspondente em lingiiagern ; depois faz obscrva'jdcs tendentes a indicar as propriedades que resultam da doutrina ex- posta, on a facilitar a practica das opera- 5065; e fmalmonle exainina a iiilluencia da variacdo dos dados sohre o rcsuUado. A exposii^ao e luminosa e rnethodica; a? demonstragoes sao rigorosas ; os quadros de- nionstrativos bem disposlos ; e as doiitrinns illustradas corn grancle copia de problemns analogos, entre os quaes, se a materia o per- mitte , apparcce sempre algum relativo aos novos pesos e medidas. Desceudo a especia- lidades cjtareinos , d'entre ascousas que mais 1103 agradaraiu, a fonna eleganle dada ;i demonslragao da inalterabilidade do (jrodu- cto de muitos factores , quaudo se altera a ordem d'elles; a succinta mas interes-arite noticia dos dilTeretites svsteinas de numera- jfio , que teem sido usados ou propostos ; a discreta escollia das noyoes mais essenr:aes sobre a origem e use das fracgoes contmuas; a opportuna apresentagao do fuudamento dos theoremas relatives aos numeros iucoumien- suraveis, e sua applicagao as operayoes ari- thmcticas em que elles entrain ; e a simples e clara exposijiio da regra de liga. Nam tira o valor ii obra a aocumulagao talvez menos necessaria de preposigoes e distincgoes , que algumas vezes notamos ; como acontece na separa(;ao dos numeros 'decimaes e mixto-decimaes e dos tbeoremas respectivos a uns e outros, a qual da logar a repetigoes que, attendendo a lei commum de numera- 5ao, se poderiam dispcnsar. Porque estes defeitos , se o sao, e outros ainda menos im- portantes que nao mencionamos, procedem por Ventura d'uma escrupulosa fidelidade ao piano tragado. Nao censuramos a adopgflo que o auctor fez algumas vezes, comjudiciosa parcimonia , dos symbolos algebricos : antes julgamos pro- veitoso , e em nada opposto a indole aritlime- tica , o pnidente uso d'estes , quando emprega- dos para designar com a devida generalidade as quantidades sobre que se discorre, e nao coino olementos de processes algebricos. Oquefica dicto, c o que diremos , quando fallarmos da algebra elunientar , patcntcara a boa conta em que lemos a obra ; e aboriara a sinceridade dos votes, que fazemos pela continuagao d'ella. S. P. A mociilade e o tempo d'ostiidar ; a vcIIiilc 0 de pralicar. UotssE.iu ( Lcs [tcceries. ) Viver nao 6 res|)ir,ir , 6 nbrar: e fazcr uso de nossiis orgiios , ile nossns senlidos , Ue nossas faculdades , de lodas as partes de nos mesmus que nos dao o sentimenlo de nossa existcncia. 0 homcm que mais tern vivido, nao c o que conta mais auiKis d'existencia , seniio o que mais torn sentido a vida. Rousseau f Anile.) ERRATAS DO N.° 10. Par,. 118 tl M 119 120 Col. Link. 60 Erros, Emend. 1." 60 60 15 5-1 62 caremos careremos. rerela de\cra o nilirifln. 0 a.» miindo (lesaparectdo ,ha desappareci'io , re/i- licm . . . parece , La bem. . . escolt.ir psrallar portus tartos cum p!la a com clla o existes. existea? DO NV 11. 134 I.^ 23 detfiniiiii'ir.'i detpnniiii'ira I3.i „ •6i obsevaturios obsprvalurius. 136 „ 22 direiro direito •• " 24 procnrnru. des- viar se pr')cnr;'ira-!?e (lesviar o g.iverno etc. „ n 45 esiilioliis esiliolna „ » 52 moraes riinips n 2.» 4(5 ohris|idu8 olirig'ailos „ „ 30 piTiT'iulas ptrmmtas 130 l''» 42 19 minilor monitor 139 aeu deispolismo sell diiS|iwti.smo p'r- electivo sni3 , cti*o, sens costii- costuiiifs elo. njps f-ic- " n 42 espressiio expressao 131 1.' 60 135 J!.» 3 142 2." 58 143 1." 63 AO N.° 12. Cndeira /f^ me* canua applicada a gcoflesia o luoveram e en- carreanr-se O poeta Call- moes , denmindo veie d''JppoUe nllario Laudamdia Cadeira dc mtcn- nfca npplicddn , e geodosla o rooveram a eii- carre':ar-se O poeta Cnlimam denominmlo fair d'AppoUo clario Laudaiuia 168 2 a s- 5 « S Ik o o to 3~. CO 0-' C3 Exislii Enlrarnm. f ^ Safram. Morreram. Esisip Kvisli.- 'Enlrarani. Salrani. Morreram. r Evi^lt- Existiam. Entr;iram. Morfpram. E\i>;l''m. E\i-liani. Enlraram. Miirieram- j E\i>li'm. Existiam. Enlraram. S.'Uram. Morreram. E\ist •^ 3 n Hi ° r^. -, M SJ ft 2 a. «- S "^ —-3 Q a, — Ga o: C ::-. o = o C M c o c o o o Q (^ "^ f^ r^ 3 2 5 S-i 3- CJ := M 3 a "> o ;^ S ?|ri3 r: N n. Cfl — _ — 3 f^ t: - a c^ 2_ eS • "* . 3 j; «. 3 ^" • • c: ■zL, W' . • I--/ . L' ~> . . : . : 5 . = = • • . ■ . • - a. • • 0) ^ •••••■• 0^ _, 2- ::•:•:: rs r-* r—i H- H- ** 4^ :j3 iO C-. CO c w — .^ O' &»'&s'&%fe*e-.i'&si e? t-» :.; ^ — CO io 03 o i^ o w' o o* — I — O' a, o S^ a, a a, a 3 CO 'aC ^ ® Ju0titttta, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. COXSELHO SUPERIOR DE INSTRUCCAO PUBLICA — RELATORIOS. IiNSTRDCgiO SECUNDARIA. Senhores! Aqui vos dissemos na iillima confeieiicia de 30 de outiibro passado , que , no anno lectivo de 1851 para 1853, as ca- deiras dos lyceus e aulas annexas, de que linliamos entao iioticia , Ijaviam sidofrequen- tadas por 3:279 alumnos. Depois dessa epo- clia foram-rios reinettidos os relatorios que nos fallavam entao, e que derain em resul- tado mais 55 alumnos. Ao numero de 794 alumnos, que frequen- taram naijueile anno as aulas devidamenle habililadas de ensino particular, devenios agora accrescentar mais 120, em residlado do mais 8 mappas, que de novo nos cliega- ram. Sfio dignos d'elogio , por hem elaborados , OS relatorios de todos os nossos commissa- rios ; seriamos pore'm injustos se nfio men- cionasseino^ espt'ciahneiite o do commisjario d'esludos do Fuiiclial. Nclle se manifesta o zelo coin que lodo-i os professores d'aquelle lyceu se esmeram em clevar a instruc^fio que Ihes esta comuiellida ao nivel da mais adiaii- tada da epoclia actual. Assim o comprova a escollia para compendios, da Algebra do silr. J. L- Sarmenio ; de Geometria de Le- gendre, em seguida ao 1." livro d'Euclides ; do Resumo das Li^'oes de Mr. Dupin sobre Geometria applicada; do compendio de Re- lliorica do snr. Freire de Carvallio; do de Litteratura do snr. Borges de Figueiredo; do compendio da Geographia e Clironologia do snr. Sacra Familia ; do de Ilistoria do snr. Doria ; da Graramatica de Urcullu; do Spel- ling Book, do Telemaco, da Grammalica Franceza de Monteverde , e das Fabulas de Lafontaine. Para suprir a falla de compen- dios adequados ao ensino nas outras discipli- iias , appresentaram os respectivos Professo- res traballios proprios, que mereceram a' approvajao do consellio d'aquelle lyceu. E J;i que viemos a fallar deste relatorio do commiisario do Fnnclial , nao sera fora de proposito, que aqui vos comniuuiquemos o seguinte Ireclio, sobre o qual niio tendo ainda este conselljo um juizo assenlado , e de talnalureza que o inesmo- consellio conveio, Vol. n> NovEMBBO 1. pela imporlancia elevada doassumplo, em que deviamos chamar sobre elle a vossa attengao e subsequentes meditagoes. !» Ha , diz o commissario no seu relatorios ha tal instrucgao religiosa, cuja falla nao pode deixar de ser uina grande vergonha para quem quer que a sol'fra ; por que nao baser racional , que, transpondo a edade em que a fe' snpre a sciencia , nfio tenlia obri- gagao de, pelo menos a si proprio, dar a raz'io das suas crengas , visto serem estas ine- vitavelmenle os principios delerminantes de sua actividade. Condic^fio essencial para que- rer e crer. Mas forga e confessar, que entre nos des- gra(,'adamenle , afora as nojoes elemenlares de doulrina christa que seadquirem na escho- la, pelo que toca a religiao nada mais se ensina a mocidade ; por que fallece na orga- nisagao dos lyceus uma cadeira, que lenha a seu cargo aquelle ensino; que de indispen- savel desenvolui;ao aos principios rudimen- laes da escliola ; que cultive e fortaleja esle adiniravel insUnclo do infmito, este senti- mento religioso , que e o maior dos titulos de fidalguia da nossa especie. D'aqui vera a crassa ignorancia, que em taes materias revela a gera^ao de que faze- inos parte. Quizesse alguem dar-se ao in- commodo de interrogar o-: primeiros cem ho- meiis , que acaso encontrasse por essas ruas ; quizesse ler o traballio de perguntar-llies — II que religi.io e a vossa? quem foi o funda- dor desta "-eligiao? onde e quando nasceu e morreu I que dogmas ensinou , que Sacra- mentos institiiiu 1 qual a aulbenticidade dos livros que dfio teslemunlio de sua vida e divina missao? quaes as principaes provas da verdade da religiao que professaes? etc. , estou certo, que dos cem nao acbaria seis assaz liabililados para responderem racional- mente a e-las pergunlas. Todos on quad to- dos igiioram, e, o que mais e, muitos fazern garbo d'esta sua ignorancia a tal respeilo ! U povo que nao sabe ler , conlenta-se com a sua fe, se a tern. Mas os ii)di^'iduns (]ue por qualqiier gran d'illustra^ao tern chegado a emergir da classe popular, como o ensino racional Hies nfio tenlia robustccido os prin- cipios que beberam na escliola; e;n cliegan- do ii edade em que a razao succede ao in^liu- — 1853. NcM. 15. 170 do , aos primeiros boles do sceplicismo dao por veiH'ida a sua fo. Dulcifjcaiii-llie a der- rota as paixnes. Kntra-llies aincligi.'io, para o dizer assiiii , por toilos os poros do corpo; e com ella vem a descornpostiira de vida e a relaxac^uo dos cosliimes; vetn esle egoisrno alvar que nao lein cnlranlias para ninyuein ; vena esla desconfianga de tiido e de todos, que, quoUrandci lodos os la^os dc suciedade e de faniilia , obrifja cada liomem a ver no sen seiiii'Uianle apeiias uiii obslaculo a sua felicidadc. D'ai|ui vein este espirito de desorganisa- 5ao que de ha tempos a esta parte esvoa^a por cima da sociedade aterrada, e amea^'a sepullala nas ruiiias das suas mais veneraii- das inslituigoes. D'aqui veni essa mulliplicidade de moii- struo^as Utopias, que poo etii probleina a respoiisabilidade lumiana, a interven^ao da providencia no governo d'este muiido, o sa- grade do lar domeslico, a inviolabilidade do tbalamo, a Iransiuissao dos bens da fanii- lia , a propriedade , o governo e a paz do eslado. D'aqui vem esta fatalidade invencivel que tern ferido, e ha de forir sempre da esteri- lidade a quanlos exfor^os fa^amos para re- formar a sociedade, em quanto nuo curar- mos seriamenle de nos reformarnios a mis mesmos, e darmos a gera^ao que lia de substituir-nos costumes mais severos , habilos mais puros, opinioes mais cordatas, princi- pios mais verdadeiros, e crengas religiosas mais fortes. Verdade e que , feliziriente , entre nos ain- da o nial so nao teiu apresenlado com aspe- cto lao temeroso. Mas releva premuuir a mo- cidade com a Iriaga contra o contagio; por que o veneno por alii anda condensado em livros que correm pela mao de lodos; e o perigo e tanto maior , quanto mais bellas e seductoras sao as formas em que elle se disfar^a. Nao se enlenda que eu desejo nos lyceus um curso analogo ao que se professa nas ca- deiras de theologia dos seminaries: nao de- sejo tal. No seminario os esUidos sao especiaes para uma classe de cidadaos com cerlas e desi- gnadas func^oes na ordem civil. Nos lyceus, tanto OS estudos que existem , como est'ou- tro cuja falta deploro ; sao estudos gcracs para todas as classes de cidadaos, quer ve- nham a ler , quer nao, funcsoes publicas na sociedade. A base dos estudos theologicos nos semi- narios e' exclusivainenle a auctoridade. O fundamento do ensino religiose nos lyceus deve ser principaluiente a razdo , mas a ra- zao applicada ao estudo e exame dos factos de que Ihe dd testemunho a auctoridade. S. Paulo fallando da fe', defme-a n'estes termos : — ohscquiuni rationabile vestrum. Creio firmemente com S. Paulo, que assim como se desce da fe' natural a sciencia , tambem podo fubii-se da sciencia a fe sobrcnatural. 'ITio poiico iriimigo e da razan luiuiaua o christianisiuo, que elk" e a verdade mosma, e apcuas um supleiiieiito a esta raziio. O pouto estii em que a raz.'io entre com since- ridade e boa d' no exaiiie das provas em que asseuta a verdade do chli^liaIlismo. So com esta coiidic^no pode a razao ler fe no cluislia- ui>mo, por que so com esta (ondi<,'rio se Ihe manifcsta a verdade. A tlieodicea, que forma a terceira parte da ontologia especial , poile ir al<' o ponlo de fazcr senlir u razao a nocessidade de uma revela(,rio sobrcnatural; e para a razao scntir esta nocessidade basta que tciiba coiisciencia da immobilidadc dos limites, que liie cir- cum^crevem o poder, e da iiicapncidadc em que labora , para resolver defiiiilivamcnte , por si ;-(j, certos probk-mas , que srm cessar atormeiilam a alma huniana , mas cujas so- lu^nes estao n'uma ordem de cousas dlffe- rente da actual , fora das condijoes do tem- po e do espa^o. Ale aqui pode a thoodicca. Mas d'aeiui em diarite acaba a tarefa d'esta, e comega a senlir-se a neccssidade d'outra discipliiia, que toinando por poulo de parlida as con- clusoes da theodicea, Vii , mcdiaule os auxi- lios do raciocinio e da critica liislorica, son- dando os fundamentos da certeza da revela- ^ao positira, a masestosa verdade dos dog- mas e da moral d'elle, e a historia do seu estabclecimento ediffusao entre os honiens. Tal e, conclue o commissario, a idea summaria do curso que eu muito folgara de ver insliluido nos lyceus para ooiiipleuiento do quadro dos estudos d'elles; e que em ver- dade tern muito mais cabimento neste qua- dro que ulgurnas cadelras de linguas , cujo conliecimento, por mais ulil que scja para certas profissoes , e' sempre uma especiolida- de , que nao pode fazer parte de um ensino , que so deve ler em mira o desenvolvimeiito e cullura racional dos instinctos intellectuaes e moraes dahumanidade ». Senhores! Passando agora a dar-vos conta dos Irabalhos de maior monta , que mais particularmente se referem a 2." secQao d'este cons?lho , cumpre dizer-vos , que em virlude dos processes por elle preparados , foram pro- vidas neste semestre a 1." cadeira de sec(;ao central de Lisboa ; — a I." e 2." do lyceu de Beja ; adelatim daLouza — aS." e 4.* doly- ceu de Vianna do Castello ; — as substituijoes dal.'eS.'do lyceu de Coimbra, e as da 4.^6 5.' no Porto. Foraui tambem provides os logares , de conservador da bibliotlieca de Lisboa, — e os de conimissarios d' estudos dos districtos de Villa-Real c Castello Branco. Em cousequencia das consullas d'este con- sellio foram jubilados os professores da 2.° cadeira do lyceu de Coimbra, o de lalim de Gambia, e o da 5." cadeira do lyceu do Funchal. 171 Alem d'outras cnnsultas sobre differentes objectos, como exonera^oes e restituigoes de professores ; Iransferencia e crea^fio on rcsta- belecimcnto de cadeiras, fez subir tainbetn a. presenga deSiia Majeslade asseguiiites , de que julganios conveniente dar-vos conla. Uina acompanliando iiiii projecio de lei para a coiiseivagao e adminiblragfio da bibiio- theca de Braga por conla do consellio do respectivo lyceu. Oiitra tan)bein acornpanliada de um pro- jecto da lei para a proiiibifao do ensiiio par- tticular acs professores d'instrucg'io secundaria. Diias acompaiihando o programiiia da ca- deira de AriLhmetica, Algebra e Geometria, aberta esle anno no liceu nacional de Coim- bra ; e as niodifica^nes e altera^oes nas ins- truc^oes regidamentares dos exames prepa- ratories de Geometria para a priineira ina- tricula da universidade. Outra pednido a casa do recolliiinento das Dores em Villa Real para a collocaguo do lyceii. O Irabalbo pore'm de mais vulto, que iil- timamenle occupou o consellio em rela5ao a instrucgao secundaria, foi o projecto de regnlainento geral dos iyceus. Ha miiilo que por nos era reconhecida a necessidade d'este regulamento; o conselho convencido de que somente a praclica e a experiencia podiam suggerir as providencias mais accomodadas a natureza dos lyceus, e mais proprias para Ihes dar andamento , ha- via encarregado, como por vezes ja aqui vos dissemos, aos consellios dos cinco lyceus maiores a confecgao de regulamentos espe- ciaes em que fossem corisignadas essas pro- videncias. Sobre esles regulamentos formou o consellio o regulaniento geral, que acaba de elevar a presenja de Sua Majestade ; e posto que se nao libongei de ter colligidn nelle lodas as providencias, que possam fazer florecer os lyceus e eleval-os a maior perfei^fio , por isso que sendo ainda recente a experiencia, nao pode a praotica ter feito conliecer lodas as siias necessidades ; parece-lhe todavia que contem as mais essenciaes, as quaes se po- derao ir alargando com mais experiencia, sem alterar as bases do referido projecto. Nas coiiferenciasextraordinarias da 2.' sec- jfio , teni OS vogaes extraordmarios, cujo numero actualmente e muito diminuto, dado conta dos traballios que llies tem sido incum- bidos. O Dr. addido snr. Torres Coellio ap- presentou o prograunna que Ihc liavia sido encarregado, no qual definiu bem as mate- rias que devem por ora fazer parte dos exames de Arithmetica , principios d'Alge- bra, e de Geometria, exigidos para a admis- sao na universidade. JNa ultima dValas secgoes de conferencia extraordinaria foram approvados para tliema de discussao nas conferencia? seguintes estes pontes : 1." Sera conveniente incorporar nos lyceus o ensino de sciencias industriaes ? Sendo-o , quaes, e como se devem ensinar? 2.° Qual sera o metliodo mais econoraico para formar bons mestres de sciencias com destino ao ensino dos lyceus? •3.° Na traduc^uo dos lyceus anligos e mo- dernos bavera metliodo d'ensino preferivel ao que actualmente se segue nas escliolas '. 4.' No ensino das diversas disciplinas que constituem a instruc^fio dos lyceus, seni pre- ferivel ao methodo singular e progressive adoptado enlre nos, o eu-iiio conjuncto de varios ramos na mesma classe ? Sendo-o , qual a dislinjao mais util ] Para niio cau^ar mais as vossas cittenQoes, aqui findaremos a curta exposl^ao dos nossos traballios , que correram pela 2.' secgao d'este consellio, durante o ultimo semestre ; sera ella bastante para vos demonstrar, que a pesar de reduzido quasi a ametade o nu- mero dos vogaes do conselho, nao temos Iraqueado no empenlio de promover o anda- mento da instrucCj'fio publica, tanto quanto as nossas forjas e variadas obrigagoes o per- mlttem. Coimbra , 30 de Abril de 1853 . INSTRUCCAO SECUNDARIA. Ensino da Arithmetica e Geometria elementar em Portugal. « A prosperidade d'um povo resulta do emprego sabiaraente combinado das cousas e dos homens. « P'oi uma senten^a proclamada por um dos homens J que mais ennobreceram o nosso seculo; tanlo por seu elevado talento, como pelas sabias ligoes que deu sobre as matlie- maticas, ea excellencia e difficuldades do magisterio. Sahiu da bocca de Lacroix, quando analisava os raelhodos d'ensino das escholascentraes de Franca no seculo XVIII. « O estado, continua elle, nfio p6de , nem deve fazer acquisigao d'individuos, mas siin de talentos. Convem-Uic que as intelli- gencias sublimes acliem todos os ineios de se desenvolverem 5 mais para utilidade da pa- tria , que para vantagem dos proprios indi- viduos que as possuem. O homeni que nao souber tirar mais que um fraco partido de suas forqas moraes, podera servir o paiz d'uina niaiieira muito mais proveilosa , exercendo as forgas pliisicas. E um ferro , que nao podendo receber a tempera propria para formar inslrumen- tos preciosos, serve todavia para ligar o» materiaes d'utn grande edilicio , augmentau- do sua solidez. A severidade do ensino nas escholas pu- blicas do se^rundo Krau e pois vaiilaiosa u sociedade; visto que rajnislra o meio de reco- 172 nhecer os cspiritos capazes de recebercra ciil- tura, (' desviar a(]iielli's que nao poderiaiii aproveilal-a. !> Ki'speilariainos o voto de tao coinpetenle jiiiz, ijuaiido iiiosmo por falla de provas li- vesse a coiivic^ao de ceder li auctoiidade : quaiifo tiiais que a histoiia e a observa^ao qiiotidiana nns I'azem ver, que iiiuilas vezes unia iiitelli:;encia , que por u)ai applieada in'i'i passa de luediana , t'az graiides pro^'ressoj aproveitada na leiidencia natural do iiidivi- duo. E lioje princi|)alu)enle ([ue a illii>lra<,'rin e o progresso teem conveneido a lodos da neccjsidade e vaiitajrem da iiistruc^ao; linje queseacliatn eiitre iios tniiito inais cnltivadas as sciencias, e liapara os estudos uina atlueu- ciaextraordiiiaria, iiielbor se poderiain buscar OS ineios de elevar o g'rau d'iiHtrucgao , augfiieutando as babilita^'oes litterarias; des- viaiido a^^iln aquelles alumuos, que, por sua insuflicieiieia intellectual , mais aproveitariaui a si e a sociedade abandonando a estrada das sciencias, e seguindo outro ruiiio niais con- fornie a sua natural disposi^ao. F sein duvida pas escbolas seinmdarias , nos estudos preparatorios para as aulas supe- riores , onde mellior se pode e deve fazer a selecjao. A razao inostra , e a experiencia confiruia , que a falta de preparatorios ou an- tes, OS preparatorios obtidos sob a inlluencia do patronato, sao uma desgTa9a para os pro- tegidos ; e' uma barreira alevantada entreelles e a sciencia. E quando no iiieio ja da carreira litteraria, uni julgamento desfavoravel e o resultado do priuieiro inal enlendido favor; nada ha que possa conipensar ao estudante esse desgosto. Aletii de que, o liomeni , que cultiva as letras , adquire tal po-ig;'io social, que no fini da carreira Ihe e qua^i iinpos- sivel oretrocesso, enibora reconbe^a a incoii. veniencia de sua situa^ao, antevendo inesnio as vantagens provaveis d'outra qualquer oc- cupagfio, que por certo nao teria recusado antes de encetar o carainho das letras, ou quando lancjado n'elle o encontrasse demasiado arduo e escabroso. E pois d'utilidade geral , e uma necessi- dade scienlifica, que os estudos elementares da instrucjao secundaria sejain professados e exigidos com todo o rigor; que sera isso uma valiosa garantia para as sciencias. JNao se petise, porem , que sornos da opi- niao d'aquelles, que sdb pretextos frivo- los e levados por ideas injustas, julgam con- veniente augmentar as difficuldades mate- riaes, como meio de diininuir a concurren- cia . Bern ao contrario queremos e dese- jamos, que as portas sacrosantas da sciencia se abram de par em par a quantos quizerem ter all entrada ; e ate reprovamos as exigen- cias pecnniarias, como um grave inconve- niente para o progresso. E per isso, ao passo que pugnamos pein rigor nos estudos secundarios, pugnaromos ainda com mais for^a por que se prestem igualmenle a todos os alumnos os meins de cnu5<'guir a inslruc(;ao reipierida Didicultal- OS com obslaculos pecuniarios e tornar as sciencias o apanagio dos poderosos , e fechar as porlas aos talentos desl'avorecidos da for- tuna : o que e, em quaiito a nos, um grave prt'juizo para as sciencias, e para a sociedade. Quantas vezes Hcbaixo do teclo miseravel do hnmem abandonado da fortuna nasce um lalento sublitne, cujo desonvolvimento scria uma bella aeipilsi^ao para a sociedade ! Aproveital-o , auxilial-o franqueando-llie os meios de se instruir, seria ao mesmo tem- po uin acto de pliilantropia , e d'interesse social : pois que a protPc(;ao ao talento inte- res^a ainda mais a sociedade, que ao indi- viduo protegido. Quaiitas familias ha no seio da sociedade, que so [)or tradigao conliecem os gosos d'ella I que nan vivem senSo para soffrer , que igno- ram todas as vantagens da civilisacjfio ! ! Que importa a esses desgragados a conveniencia das de^cobertas , e dos aperfei^oamentos ma- teriaes do inundo civilisado? ! EUes nao sao mais favorecidos da sorte por viverem no seculn das luzes , que se tiveram vindo ao inun- do um ou dois seeiilos antes. Sao os pobres Tantalos da sociedade , que morrein de fo- ine e sede , por nao poderem beber a agua em que estiio mergulliados , nem tocar os pomos , que quasi llies pousam sobre a ca- bega ! Elles, a for(^a de soffrer, e enfastiados com a realidade aftlicliva domundo, buscain fre- queiilernente no uso vicioso dos.licores es- plrituosos a transi^ao para o paiz dos sonlins , uaico prazer compative! com sua desgragada posi(;ao ! Mas entre esses mesmos apparece com fre- quencia o talenlo, que a natureza parece di=lrihuir-lhes mais prodigamente , por uma singular compensa^fio com os insultos da fori una ! Por tanto negar a esta numerosa classe o be.neficioflainstruc^fio ; ou diflicultar-llie com exigencias pecnniarias o acci'sso lis sciencias, e aggravar mais a sorte do infeliz, e menos- prezar os interesses da sociedade, pelos quaes deve sempre velar um governo zeloso do bem do sen paiz. E por isso que julgamos de conveniencia e jiisti^a , que seja gratuila a inslruc(,'ao , mormente a primaria e secundaria, que sfio as ()ue interessao ao maior numero. E teriamos por lanto por injusto aquelle regtilamento d'instrucgfio , que nao propor- oionasse ao publico os meios d'admissao as aulas superiores. E todavia em Portugal tern existido cssa injusti(,\a desde 1841 para cii; e ate jii des- de 18,16 , depois que o Collegia das Arte* em Coimbra foi , pelo decreto de 17 de no- vembro elevado a catliegoria de Ivccu. A lei de 20 de setembro de 1844, que 173 ^eu uma nova forma aos estudos , e que or- ganisou uni iiiais vaato piano d'inslruc^rio ; deixou escapar , a respeilo do ensino de ari- ihmetica e geoinetria elemenlar, iima dispo- iii9rio, que nao pode deixar de ser laxada d'injiisla , inconvenienle e absurda. Per ella se crenn iini lyceu em cada uma das capitaes de dislriclos adminiilrativos e dioceses do reino : e em cada uma dollas uma cadeira d'aritlimetica e geoinetria com appiica^ao as arles, e primeiras nojoes d'al- gebra. Mas o art 60 estabeleceu , que nos lyceus de Lislioa , Porto e Coimbra n;lo liouvesse cadeira especial, d'arilhinetica e geometria ; por considerar como equivalenles as da faculdade de matliematica de Coimbra, e as da eschola e arademia polytecluiicas de Lisboa e Porto. N'esla disposi^ao nao sealtendeu aliistnria do passado : e por isso uma lei que poster- gava OS dados da experiencia, nao podia deixar de caliir no absurdo, e de ser, como e, inconvenienle e injusta. Continiia. l. ALBANO. UEMORIAS niSTORICAS DA UNIVEOSIDADB DE COIMBRA. Segunda traslada^aa da universidade da Coimbra para Lisboa. 1433 — 1-180 Continuado de pag. 92. Quasi trinla annos exercera o infante D. Heniique o cargo de protector da universida- de, ate ao de 14(J0, em que vein a fallecer. Os poucos docuinentos , que desta epoclia nos restam, nao deixam a menor duvida so- bre o bom andamento das cousas acadeniicas durante a vida do infante protector. Affonso v., ao passo que procurara engran- decer a universidade com novos privilegios e izen^oes, que ella Hie pedira para os leiites e escliolares; nfio se descnidava tarnbem de prover ao adiantamento dos estudos. Com este inluito, e para excitar a frequencia das aulas no esludo de Lisboa , concedera aos estudantos theologos , medicos e juristas, que tiellas fossem continuos , certos privile- gios, que ale all so gosavam os lentes '. Os ' Por carta de D. Affonso V. de 28 de agoslo de 14)40 forara respundidus os capilidos, que a imiversidade apresenliira nas curies , celeliradas em Lisboa no Inez de dezembro do anno antecedenle , concedemlo-Ihe os privi- legios qtie OS reitores e esctiulares oelies pediam para o esludo gcral. Os cnseiros dos lenles , officiaes eesliidanlcs , continnosem Iheulogia . direilo, e uiedicina , foram isenlos de Ihes tomarem palha, cevada , roupas , e bestas. Os bachareis da uiiiversidade tiveram preferencia para os cargos publicos sobre os graduados fora do reino, que de mais eram obrigados a pagar vmle coroas para a universidade '. Deslinara tambem este principe reslaurar os estudos em Coinibra, rreando nesla cidade uma nova universidas bispos e cabbidos, que todos recusaram ciim()ril-a. D. Henrique fallecera em Sagres no mest de novembro de 14t)0, tendo anteriormente confirmado as doagoes , que fizera a univer- sidade, com obriga^fio de irem os reito- res, lenles e escliolares em procissao eele- brar a festa da Annunciagao a Santa Maria da Gra^a, no mosteiro de S. Agostiidio, d'onde teve origem o primciro preslito'^ , que liouve na universidade. Dispoz tambem o infante, que o lente de piima de llieologia fizesse todos os annos na aberlura da univer- sidade a orayao de sapient ia ' . Taes foram lis ultimos actos , que assignalaram o pro- lectorado d'aquelle esclarecido principe , a ' Bulla cil. na not. antecedente. ^ " E Uuuhem sera theiido (o lente de prima de theo- login) ir a Santa Maria da GrH(;:i, que e nu mosteiro de Saulo Ai^QSlinho da dila ciiliule [mr dia de Saula Maria ila Anuiinciac;um , que e a SJ5 de mar(;o, e hi dira niissa canlrul , que por este encar;,'o linlia Ires mil reais : dava laml)em o rei mil reals , de que se tirava um cruzado de offerta a missa, e o resto era applicado p.ira os f;ijis;iinentos da e^reja (Estai. de D. Manoel — Ms. no Cortor. da universid.) Em todos esles aidos ou prestitos, aleui do reilor e escliolares , eram obrijados a ir lodos os bacbareis , nilo sendo desembarjadores , e, fallnndo a elles , pa;;avanl nnia mulla de tres doliras de oura para a area de estndo. (J'Jst. cit.) Quando depois a universidade foi Irasladada para Coinibra, continuaram a fazer-se estes raesmos pres- litos , conio tereraos occasiriu de notar no decurao desta narraliva. • BrandJo — .Uun. Lusit, los. cit. no nota antecedente. 175 quem siiccedeu neste cargo o infante D. Fernando, irnao do rei. Affon^o V. provera algumas cadeiras da universidade em sugeito:^ lani iiihabeis, que nao so nfio liam nas escliolas, mas ate pa- jjavam a mestres , c|ue particularinente llies iam dar li^'ao ' . Era iim f^ravisiinio es- candalo esle; e a universidade, ou por que vira nfiendidos os seus direitos pelo provi- menln , que o rei fizera das cadeiras, para que ate ali ella eslava na posse de eleger inestres , sepundo os seus estatutos; ou por seu proprio decoro, e beni da sciencia, re- presentara ener>jicanienle a esle prnicipe, exponJo-llie o mal, que n'eUe negocio ia aos e^ludos. A pertengao dos escliolares , con- siderada por estelado, e' um documeiilo , que revcia o euipenho eojn que elli-s zelavani o crc'dito do estudo gerai, e tern o cuulio da liberdade e iudependencia, que na nieia idade era a caracleristica predoininante das uni- versidades. O rei nfio so promeltou roinediar de future taes abusos, mas ate escreveu ao infante protector, para que nfio cumprisse quaesquer provjinentos de mestres , que die lizesse jjor itnportunidade dos reqiicrentes ^. Dissemoi ja, que os reitores erain anniial- iiiente eleitos. Affonso V ordenou por uin alvara a forma d'e^td eleijao. Este do- cumento, pouco conliecidu, lan^a unia luz inui importante sobre a organisayao da uni- versidade n'esta epcciia , para mencionar- inos , em sumina, as suas principaes dispo- sijoes. No comedo do estudo reuniam-se os estudan- les da esciiola de canones, e prestando ju- ramento nas mfios dos reitores do anno aii- leceilente, perante o bedel , escollilam quatro estudanles da dita eschola , dos mais graves peia idade, sciencia e cornposliira de cobtu- 111 es , para delles se eleger niu reitor. A fschola de leis fazia de per si oulro tanto. Concliiida esta primeira elei^iio, todos os escliolares, lentes e consellieiros, eleglam dentre os candidatos propostos pelas duas escholas dois , <]ue liaviam de servir de rei- tores, um por rada uma dellas. Feita a ejeijao dos reitores, reuniam-se os escliolares de cada eschola , e elegiam dois dos niais antigos , e mais sabedores d'entre elles, os quaes n'aquelle anno serviam de consellieiros Os e^cllolares tambem eicolliiain as materias que OS lentes deviam ler pelo anno adiante '. Assiin todo o governo da universidade re- sidia no eorpo escholar, que so recorria ao eliefe supremo do cstado para obter d'elle iiovos privilegios, ou o augmento das suas rendas. * C. de D. Alfonso V. de 13 Je abril 1469 — Figueiroa — Mem. Ms. ^ Carta cit. na nota anlecedeote. ■* AIv. de 21 de julho 1471 , no Cartorio da fazenda da Univ. = J. P. Ribeiro — Dissert, chronol. torn. II Fii^iicirua , e Leitao Ferreira nao li\ erum nolicia al^tima deate documeuto. As duas faculdades de canones e leis ainda entfio constituiam a parte principal do estudo geial. A tlieologia, e inediciiia linhain ape- nas uma cadeira, e niio gosavam os privile- gios das outras faculdades na elei<,"ao dos reitores, mas nomeavatn consellieiros como as duas primeiras. Em todo este systema predominava o principio da elei^.^o pelos escliolares, e os lentes cram estranlios ao regimen da uni- versidade, que Ihes pagava salario pelas lijoes que liam nella. Vimos ja coino D. Jofio I. le iiitiomelti-ra a prover os officios, que cram da elei(j.'io do estudo geral , e apezar queja universidade represenlara contra esta invasao nas suas attribuijoes , Alfonso V. nomeara lentes para lerem no estudo geral , sem nem se qiier ouvir o corpo escliolar. Algiins aii- iios mais tarde, eslranliara este principe, que a universidade se mftlesse a interpretar os seus estatutos , iiiaiidaiido que os obscrvasse taes quaes se acliavam eslabelecidos '. Assinn o poder real ia pouco a pouco cerceando a aucloridade dos rscholares, ate que a final vein de todo a acabar com ella nos seguintes reinados. Mas, se por um lado a universi- dade perdia de suas prerogativas , ganliara pela mellior ordein e regularidade que se ia inttodiisindo no ensino publico. Eiitre as di- versas providencias , que corn este intento D. Affonso estabelecera, algumas tinham per fini evitar, por ineio de inultas, que eram appli- cadas para as despesas do estudo, as faltas dos lentes, e proinover que elles fossein pon- tiiaes noj deveres do seu officio^; sysiema e,ste j;i anteriormente ordenado pelo infante D. Henrique ^. Regulou lambein o referido alvara a ma- teria das repeti^:ues , que os lentes de prima de direito eram obrigados a fazer duas vezes no anno perante a universidade. Consistia este acto , um dos mais imporlantes do estu- do, na exposi^ao que o lente de prima fazia dos assumptos , quee.\plirara diiraide o anno lectivo. Este encargo estendeu-se depois a todos OS lentes proprietaries , e tambem ar- giimenlavam naqurlle acto sol)re a materia da repeti^ao, os lentes porturno. Para que o lente de prima nao se excusable d'aqui-lla ' C. de D. AfTonso V., 12 julho 1476. ^ '« Item 08 lentes lecram seguniio o estatnlo ataa Santa Maria da-^osto , e leerain per relogios o tempo que lie ordeiiaiio , e o bejel comjirara relo^ios do dinlieiro da universidade elc. « Item a Missa , que sse iliz na eapeella das escholas sse cunu*i;ara de dizer em nascendo o soil , e acabada (I« dizer OS leentes de prima seram presles pera cume(;areni a leer suas lii^ooens. (< Item as fautas , que Gzerem os leentes , queremos que sejaui pera corri^jiuiento das eschollas. " Alv. cit. de 21 de jolho 1471. ■^ C. de 23 de a;;osto 1443 , que ordenava , que u bedel fosse todos os sabbados pelas escholas aahiriaiias , e soubesse [lor jtiraiueiito as lii;oes em que os lentes I'al- taram n'aquella semana , e as assentasse em seu livro para as dar em rol aorecebedor , e este Ihas desconlar , elc. — L. Ferreira — Nolic. da ddiv. n.° 759. 176 obrigagao , e para ao mesino tempo me- llior se preparar paraella , coino convinlia , se estabeleceii 5 tpie clle podes^i• por subslitiito por si, a conlenlo dos eschnhires, que lesse um mez por cada repeti'.-fio , que o primario t'lzejse, mas faltaiido aqiiella oHrii^a^ao era iiiultado por cada vez em cem reis, que se Ihe desconlavam no salario'. Por oiitro di- ploma t'oi diHerminado , que se nao coni'eris- som 05 graus, aos que iifio livessem complc- lado OS aiitios doscursoi, corno iios estatulos ^e requeria ■'. Duas circumsUiiciai , dijjuas de mencio- nar-se , enconlramoj neste douumento: pri- moirameiue eslraiilia-se ali a universidade nao so o querer iulerpretar os estatiilos, co- ino jadissemos, mas lambeni o soborno que, segdiulo linliaiii dito ao rei,liouvera no pro- vimenlo das cadeiras. Esta f^rave insinua(,''io , acaso, nascera da m:i vontade , que a resi- slencia da universidade aos proviineiitos pou- co antes feitos pelo rei , llie granj^eara no anirno dos perlendentes, ou dos seus po- derosos protectores , que a>siin viam rna- logradas suas ambi^oes. O facto, pelo me- nos, que dera logar a queixa do rei con- tra o estudo geral , nfio fora provado ; e nao seria justo lan^-al-o a conta do corpo escholar, quando ouLros rmtivos mui pon- derosos nos movem a suspeilar da indispn^i- jao , que aquella occorrencia, e as larijas contendas sobre a posse das egrejas , tinliam suscitado contra a universidade n'esta epo- cha. A outra circuiiistancia, que vem mencio- nada n'aquelie docuniento, e relativa ao nuniero dos reilores, que ate entSo foram dois, annualmente eleitos, como vimos. A universidade perteiidia, que iiouvesse um so, talvez para tacililar o aiidamento dos negocios academicos. O rei commetteu a de- cisao d'esta pertengao ao bispo de Lamego , D. Rodrif'o de Noronlia, juntamente corn a universidade''. Qual fora o acordo ceie- brado a cste re^peito entre o bispo e a uni- versidade, nenlium documento o revela. L todavia , certo que d'esde esta epoclia nao consla , que fosse eleito se nao um reitor em cada anno , pnsto que os diplomas regies ale D. Jofio II, fazein seuiprc men^ao de reilo- res, oque pareceindicar, que naohavia ain- da legislacjfio , que auctorizasse a perteiKjfio dos escbolares, que, talvez, por sin)i)le5 deliberarfio do bispo com o conselho dn universidade, comejararn a eleger um so reitor. O protectorado da universidade passara das maos vigorosas do infaule D. Henrique para as de sen sobrinho o infiinte D. Fernan- do, logo depois da rnorte do primeiro. Ne- nhum aclo, porera , digno de referir-se assi- Alv. cit. de 21 jiiUio 1471. C. de 12 de julho 1476. C. cit. na outa antecedente. gnalou o governo de Fernando , que fora de curta dura(;,'io, e pouco adiantaniento para as lettras Em 1176 AlTonso V. de'ra commissao a seu sobrinlio o bispo de Lamego, de quern atraz fallamos, para tralar, como protector , rertos negocios da universidade. Andava en- tfio mui aceza a contenda enire a universi- dade e OS cabl)idos, por causa de annexa^'fio (las prcl)endas, que o papa destindra para o estudo de Lisboa , e o proprio D. Rodrigo fora nomoado executor da bulla. Affonso V. ou por que quizesse ver se as co\isas vinliam a um acordo razoavel entre a universidade e os cabbidos, ou , oquee mais provavel , coden- do us\istas ambiciosas docardeal de Alpedri- nlia, que tinlia todo o valimento e iutluen- cia no aniino desle principe , e que tainanlia parte tivera na resistencia dos cabbidos aquel- la bulla, insinuara a universidade para que o elegesse pr.r seu protector, para o que elle proprio renunciava ao protectorado, para que a elei(;ao podosse recair no cardeal'. E de feito leve ella logar em 8 de maryo de 1479^. Assim a commissao do bispo de Lamego durara pouco mais de dois annos. Quanto ao cardeal , ignora-se se aceiton o emprego, em que o rei o confirmara logo depois da eleigao ; pelo nienos n.^o consta de acto algum em que elle inierviesse como pro- tector. E, porem 5 certo, que, depois da elei^ao do cardeal , a universidade nao ele- geu oiitro protector se nao D. Manoel em 149-3, e, desdo esta epocha, sempre o pro- tectorado andou annexo ao reinante, que era eleito pela universidade, e prestava juramcn- to , logo que subia ao tlirono. CoiUinua. i- M. de ABREL'. ' C. de 27 de fevtreiro 1479 — Figueiroa — JIfem. Ms. 2 F. P. Fr.inklin = Mem. de D. Jorje da Costa — nas Mein. dAcad. R. das Sc. torn. 8.° P. I. P. OVIDIO NAZ.VO: Doi Trhtes— Livro 3.°: Ekgia .3. ARGCMENTO. Ovidio dirigindo da Scyliiia esta elegia a sua es|)0sa , desculpa-se de llie nao cicrever por sua propria mfio, por se achar gravis- simameute enfermo, e diz-Ilie que de todos OS seus males o maior e' o achar-se privado da vista da sua consorte. Recomenda-llie , que mande trazer para [loma os seus ossos em uma pequena urna, sobre a ([ual faja 177 escrever o epitaphio , que I he envia escripto proxiinamentc ao fim desla Elegia. Se acaso , vendo , que por mao nSo minha Esta carta te escrevo , te admiraras ; Sabe , que eiiferiiio, e enfermo iiiia extremas £ jgnutiis pai tes do orbc eii rue (Micuulrava , K quasi da exisleiicia niioha incerto. Pois , qual jid^as men aniinu acoiiipantm Esperan^a , jazendo em chnia infauslo. JE eiilre durus Saniomalas e Getas ? Estes iires nial solTro , ys a|;uas suas Nao lue acueliiniu , uem a propria terra Sei de que modo conlenlar-me possa ; Commuda liabita^au aqui n.^o lenlio , E a uni corpo cnlV-rmo iilil alimento ; Nem Apolmea muo , (pie ulivio presle ^ Acs males mens com arte medicados. Que me console, amigo aqui nao vejo, E me dislraia , os leiiipos en;:anaudo Tao vagarosos , Com jocimdas fallas. CaiK;ado exislo neiles derradeirus Paizes e na^oes , e quanlo ao longe De mim vive , me occitpa a raenle afflicta ; Tudu me lerabra , e mais que ludo occupaa , Querida esjiosa , a raiuha ideia , e a parte Ko meu pL'ilo pnmeira le pL-rleuce. Comtigo lallo auzeute, e as vdzes miahas So por ti chamam : nm so dia ou noite , Sem de li me lembrar nao sl- ha volvidu: Quern me onve assim fallar sempre na boca Tendo o ten nome , jnlga , que deliro : Se , exausto o paladar , neni j;i da lingua Me e dado nso fazer , mal poile o vinho, Sobre ella gota a gota destilado, Reslituir-lbe o vigor; mas por venlura , Se a vinda tna ajgnem me anunciasse , Resurj^^iria logo, e tn serias Do men alnnto a causa esperancosa. Assim da vida pois iocerto e\islu, K lu de mim talvez alegre o tempo Passas e deslembrada .... All ! nao (o allirmo) Ningnem 5 niiignem o ignora , 6 doce esposa , Tn nao obras assim , bem conliecido E o leu proceder; sem mini teus dias Da trisleza o negrnme en^oive, enluta. — Se a sorte minlia pois deu aos meus annos O devido remate, e e ja chegado Do meu viver o flm lao premalnro; Porqne nao permillisles , grandes deoses , Que tao proximo ao Qm , a patria ao meoo* Me desse, como o ber^o a sepultura? On que ale a morle o tempo do castigo Deferido me fosse? ou que ao desterro Men precedesse accelerada a morte ? Assim podendo a Inz cerrar mens olhos Da macula da culpa izento ainda? Para acabar somenle agora a vida Em misero desterro m'aconcedem f — Em tao longinquas e ignolas plagas Os dias findarei ? e feia e tri:-le Seri como o logar a morte minha? No leilo costumado definliando Nao se ira o meu corpo ? e quera me'chore Niio terei , ja na pyra collocado? Nem da consorle as lagrimas , correndo Sol)re o men rosto , alongarao o prazo Curio , que lie viver me resta ainda? Nem as minhas darei ultimas ordens ? Nem da esposa fiel as maos piedosas , Entre amargoso , derradeiro pranto Virao fechar mens olhos moribundoa ? E entre meu corpo sem funereas honras , Sem pompa sepulcral , sem ser chorado, Por barbara sera terra coberto ? Deveras , que morri ouvindo, a mente Toda em perturba^lo , pavido peilo Ferir , dilacerar com Del dextera? G para csle paiz debalde os olhos Edtendendo , do misero consortc Nao mais apenas invocar que o nome?. ,, — Mas nao laceres nSo as lindas faces, Nem arranques a tranga ; aos teus affagos , C luz dos olhos meus , eu lui roubado Nao b6 d'agora ; ha muito. . .Ah quaado a patria Perdi , tambem entSo tu me perdeste ; Foi-me o desterro mais , que a morte acerbo. — Agora, se e que o podes , (mas que o possas Nao acredito) 6 tu , optima esposa, Folga , ao ver , que , morrendo a males tantos Sinto posto o female : abranda , adoija , Quanlo e possivel, com robuslo peilo Os furgados di'Ziislres ; predisposto Para isso o cora^-ao ja tens lia muilo. Oxala que assim como os corpos morrero , Tamliem as ahnas nossas finalizem, Nem parte raiulia alguaia a pyra escape; Pois , se immurlal aos vacuus ares vOa O espirilo subtil , e se as douirinas Sao do velho de Samos verdadeiras, Entre assombras sarmalicas vagando D'um romano andara tambem a sombra , E ent-e maues lerozes peregrina , Obrigada sera a andar sem leruio. — DL-iilro d'uma pequena urna os mens ossos Comtudo ordena que encerrudos spjam , E ao meu desterro pora termo a morte : Ningnem pode iiiipedir-t'o : (a urn irraao t«tinct(. Uma thebana iriu5 deu sepultura. Das do rei a dcspeilo ordens severas) : Folhas , pds aromaticus Ihe ajunta , E em terreno os sepulla junto a Roma. O viandanle , rapido passando , Sobre o marmoreo tumiilo , gravado Em grandes letras, leia esle epilaphio : « Eu , que aqui jazo , dos amores ternos " Cantor, Nazao morri por lor ingenho ; « Mas tu , que passas, se algum dia amasle , " Nao te peje o dizer : Em pnz dcscanctm " Do Poeta IVazdo os frios ossos '». E so para epitaphio isto bastaiile ; Que OS mens escriptos da existencia minha Sao maior , mais diuturno monumento ; E d'elli^s mal me resultasse embura , Confio , q;ie ao autor sen darao nome , E lunira duragao enlre os vindouros. — Tu fimerea com tudo ao morto a ofTerta Annnalmente apresenta , e a sepultura , De flores adornada Ihe humedece Com lagrimas vetlidas de saudade ; Que, bem que o fogu convertido lenha O corpo em cinzas , a scintilla Iriate Ha de officios sentir lao piedosos. — Mais quizera escrever ; porem , fallando , Se me can(;ou a voz , e a lingua secca , Para inda mais diclar , nega-me as for(;as. — O meu lalvez exlremo adeos recebe ; De que vivas feliz aceita os votos , Bem que seja infeliz quern I'os envia. Contimia. f. de CARVALHO. CRITICA LITTERARIA. Tratado elemental de Psychologm e Logica , por D. P. Ph. deMontau , e D. J. J\L R. e Heredia. (Continuado de pag. 160). O compendio da Logica esUi redigido segundo o mesmn piano , que presidju a confec^ao do da Psychologia, Alii se ve a inesma dicyao animada setn exagera^oes 178 poeticas; a niesmu concisao nervosa sem obsciiridade; a mesrna ordem , exacg'io e gravidadcdidactica. Asirnillian^a de Monlaii , tainbcin Ileredia apanlia e eiUuDjja na fren- tc dos ^^. a siibilaiu'ia das doiitiinas, que immediatamenle segue da convciiienle exposi- <;rio. Jvesta, pori'in , ambos se dilTerL-nyao do sen compatriola I5abnes. Balmes relrata a doiitrina li imaniiia<;fio, exemplificando : Monlaii e Iloredia expuo-iia miles a intel- ligeiicia, descrevendo. Mas nam por issn (lesmeiecem 03 illiistres AA. Os exeinplos, que elles mui longo estfio de desprczar, po- dem ser I'acilmcnle siippridos 011 variados por urn niestre liabil: a exposigao racional, pore'in , iiao podeia ser tao facilineiile siipprida pelos exemplos. Partindo da difini^ao de Logica — « a u scieiicia que expoe as leis da ititelligencia . « e as regras, que Ixao de dirigil-a na inve- :i stigayao e enunciagao da verdade — » Heredia toma conio objecto da logica — a intelligencia do homem, nas suas relajoes com a verdade coiiliecida e enuuciada; e como fun — a aeerlada direcgao das funcgoes inlellectuaes na acquisigao e eiuinciagao da mesma verdade. Vastissimo na materia que abrange, o objecto admilte uma exposlgio variada e rica : o fini , porem , lerminante e claro la esta apontando para o alvo que a exposiyao deve tnirar. Em liarmonia, pois , com esse objeclo e com esse fim, o priideiile A. divide toda a sua obra em quatro sec- 5oes. Na Critica , a primeira destas, trata elle na parte geral , — dojuizo, instrumento criti- co, de que a voiUade se serve para descu- brir a verdade, pelos meios variados que a providencia poz a sua disposigao. Aqui , de- pois de decom por o com plexodesses meios , — OS plieiiomenos inlellectuaes, a que o juizo se applica, — estuda as coiidigoes neces-^arias , e as regras que conduzein a essa legitima ap- plicagao. Mm seguida, analysa os elemenlos dojuizo, classil'ica as suas especies, expoe OS seus estados e valor logico. E como n'csla parte segue a cscliola Allema, e trata um objeclo de si elevado , o A. apparece menos claro, do que e nas oulras partes da sua obra : lodavia vel-o-beis sempre exacto e profundo na doutrina; sempre uiethodico e judicioso na cxposigao. Ao tratado do juizo ajunta o da certeza, duvida e probabilidade ; d'oude tonia occasiao para rebaler, como vicloriosa- uicute rebate, os devaneios do scepticiiino. Logo depois dojuizo occupa-se dos crilerios iNao innova nesta parte: mas tambem nao copia servilm.enle. Leu, pensou , e depois langou no papel — os seus peiisamenlos. Em seguida discorre sobre a auclnridade, sobrc a criliea liistorica, e a hermeneulica ; e lem a arte de colligir agradavelmente cm poucas paginas, o que indigestamente anda disperso por volumes inteiros. Aqui lermina a critica geral. Na especial esluda o A. cada uma das funcgoes inlel- lectuaes; as quaes, lenibrado do que ficara dicto na Psycliologia , reduz engenhosaniente a quatro classes: 1." funcgoes empiricas (percep- giies, externa e interna) que subminislram maleriaes para os conlii-eiuientos : 2.* represen- tatinas (niemoria e imaginagfio) que os repro- duzem: 3." reg-u/(]//ur lermo a esta segunda secgao. E por venlura , a parte mais profunda de toda a obra. Alii se indicam os 179 principios cle que as scicncias se compoe; explica-se a demonslrag'io <)iie os expoe e desejivolvc ; moslra-se a dilTeieiica que ha entre as sciencias experiiuentaes e as racionaes : e as reflexoes que o A. ajunta por essa oc- casifio , fazeni leiiibrar as pagiiias profundas do seu compatriota Balnies. No enlender de Hi-ifdia, a Grammatica e a Dialectica sao para a enuncia^no da verdade , o que a crilica e o nielliodo sao jiara a sua ac(|uisi^rio : deveiii por tanlo sepuir-se inin)ediaIauicnlo a estas duas dis- ciplinas: por que esla primeiro o coiilieccr a verdade ; so depois de couLecida e que vem o coiDmunical-a aos oulros por palavras. Na llieoria dos signaes do penbauieiilo , assim ualuraes como convencioiiaes, nada acliamos novo, se nao o rnodo couio o A. encara as quesloes as mais tiiviaes, e o lalcnlo com que atiiein'za os a^sumptos mais aridoi e iiigratos. Trauscreve ; imita: mas, ainJa assim , leiuaarte de quasi criar irnilan- do. Apaulia com rara sagacidade, e segue com alurada paciencia as mais fugitivas rela- <;6ei que ertre a iiiiguagem ha e as dif- ferentes funcf;oes da intelligencia. Chegando a questao faniosa da origem da linguagem , solire a qual tanlo se lem escripto , e tfio pouco fora mister escrever, Heredia mostra- se philosopho prudente. Enlre a temeri- (lade da razao e as prctenQoes exorbitantes da Iheologia, dirige-se imparcial, peio caminho mais curio, ao seu fjm — a verdade — ; reba- lendo aquella em condescender com esla. Proseguindo depois, nadaescapadsua penetra- ^ao ; desde o artigo e o nome ate a theoria cngcnhosa do verbo e da proposicjao ; desde o grito inarticulado ateas combinajoes variadis- simas da escriptura phonographica. Mas esle sabio escriplor ja mais cnfada ; por que e sempre aprasivel e judicioso. Dolado d'um espirilo de singular energia, depois de se ter resaciado de longa e variada leilura, dahi , a for5a de medila^iio, extrahiu , quanlo era vital e proveitoso. Percorreu uma selva im- mensa — a grammatica, colhendo de pas- sagera flores somente , com que entreteceu as paginas interessantes do seu livro. Em fim , na Dialeclica , coroa da logica , o illustrado A. trata primeiro da proposijfio ; e adopta a theoria Allcmfi relativamente a sua quaiitidade, qualidade, relagoes e moda- lidade. A pezar de escura, pela raesma abstrac- <,-rio do objecto, esta llieoria e com tudo a mais exacla e completa : e o A., a urn tempo profundo e prudente, a esclarece ja. com OS exemplos que ajunta as regras, ja com a forma um pouco concreta que da a enuncia^ao. Da proposigao, considerada absolutae relativamente, passa a argumenta- $ao , assumpto especialissimo da Dialeclica; e d'entre as formas d'argumentagao toma para objeclo principal do seu exaine a mais simples de todas — o syllogismo. Profun- damente convencido de que a theoria escho- laslica, debaixo do involucro da sua linguagem relorcida e baroco escondia muilas verdades d'alla metaphysica, Heredia trata detida- mente da materia, formas e modos do syl- logismo, que remata com os sophismas. Aqui termina a obra. Seguimos muito de perto estes dois escii- ptores, expondo as suas doulrinas por miu- do , e quasi pela mesma oidem , por que se achiio deduzidasuosspusescriptos. Edesobre- pensado o fizemos. Entendenios, que n'esse numero e qualidade de doulrinas, n'essa deducgao melhodica e nova, esta um dos merilos principaes, — talvez o principal — , dos dois illustres escriplores. Se nao foram originaes na subslancia (e disso repetimos nfio se precisava), foram-no na forma, e derrio a sua pallia um lico presente ; — um livro exccllente no seu genero. Para lamentar e', que nao tenham escritOjde baixodo mesmo piano , sobre as reslanles paries de Philosophia — a 'J'lieodiceaeaMoral — , e sobre a Ilistoria da Philosophia. TIaveria entfio um curso elemenlar daquella sciericia — optimo, que bem poderia adoplar-se para compendio nas nossas escholas , oude nao ha um born. Enlre lanto lalvez podessemns aproveitar-nos d'a- quelle excellenle trabalho , supprindo o que llie falla com os Iralados que sobre o objecto Balmes nos deixou na sua Philosophia Elemenlar. Nem o estylo e exposigao d'esle genio eminenle differe demasiado da exposi- cao e estylo dos seus compatriolas. Glare sem grandes redimdancias , conciso sem omit- tir o necessario, mais criador , e menos me- thodico, Balmes dit'feren^a-se principalmente em que, elevando-se nas azas d'uma ima- gina^ao viva e fellcissima, rompe de quando em quando em derlamagoes eloquentes e em divagagoes brilhanlos que bem poderiam esciisar-se em uma obra elemenlar: emquanto — Monlau e Heredia nao menos nervosos e profundos na doiitrina, sao mais modestos nas galas da dicgfio. VARIEDADE Moleslia das Yinhas. Fox suppoem, que o apparecimenlo do oidium nas videiras , e o resultado de uma moleslia pro- duzida pelo desenvolvimenlo de uma cspecie particular de vermes , cuja priraeira geracao se reconhece porpequenas picaduras , nas folhasdas videiras, nas quaes depusitam os ovos. Esle A. aconselha por isso , que se arranquem as folhas lo- go que apresenlarera sinaes d'aquellas picaduras. ADVEUTENCIA. Os Relalorios do conselho superior subrc — instniccao primaria , publicailos no numero anle- cedenle a paginas to" e 1S8 , foram lidos n^is conferencias geracs de abril e oulubro do cor- rente anno. 180 -I" re C S O o ■E. ^ in ^ 5. ^ o - 'I' c it. 5- ! CO to to CD (O lO ExisliAiu. Enlraram. | y c Sairam. / ^ 2< Ul i\Ion Evisip Exi^tiam. Etilrnrani. ■ 2 Sairam. S3 iMorreraiii. E\isle E-xistiam. Enlraram. Sairam. ^lorrerani. Exislem. Exisliam. Enlraram. Sairam. Jlurrcrani. k P". Evislera. Kxisliam. Eulrnram. Sairam. 3Iorreram. 1 m Evislfm. (O o Exisliam. Enlraram. Sairam. Morreram. o lO o Exislpm. it. "1. CO CO S3 n a> c^ o. re re re .-s cr 3 3 S s; o re c o o C 2. re S •O Q. ^ -> CJ (5 "■ = CR -, " " re 2 » re 3 g ■3 2.S-g 3 W5 ^ re 3 o a. -■ 7:: ■fea C;t CD .^ CO O O O o O O o e-. o o o o o o .t-> o: O O O £ ca.l^CL£i.i:^^ii.re3 il. rereorerere';csre S- BB335523S-. " % °3 3333H25- re — — . ^ -■ g 3 2 li. o "= — o Hi !=3 b ^3 o to re p- n. ^ Mk tn 4fi^ or w o-: X -^ CO ^I M w O » — • — OC ^I lO (CI C^ Ci 'O T^ — — — O — O '-3 O 00 00 l>0 O O: O Oc C/c O Iw iO O CJ! o Co S5 s c^ 7^ sc (^ C to o ^ ja e a cauiara municipal de Moura pela gratil'ica^fio que arranjaram a favor do professor , que hoiiver de reger a cadeira d'ensino primario e latim , ha inuito tempo vagas ; 1 com os programmas para compen- dios d'agricullura, bistoria universal , 'escri- ))turai;rio, e desenho ; e 1 fmalmeuie com a data de21 de outubro corrente em que este tribunal declarou que jidgava nao dever alLorar o rogulainento, quo Cora remeltido com oulra sua consuila de 2G do juulio de 1319, para a forraa(;rio do jury encarregado de exames preparalorios, para a matricula das differenles faculdades da iiniversidade , accrescentando somente que entendc, que o exame de grego deve ser exlensivo a facul- dade de diieito como preparalorio. Naconferencia ordinaria doconsclho geral , celebrado em 30 d'abril do anno corrente , deu-se-voi conliccimento deque na sejsfio ex- Lraordinaria da segunda sec^ao, a que no mesmo mez presidiu o vogal ordmario o snr. Castio Fr^ire, foram approvados, para thema da discussao, os segiiintes pontos: 1.° sera conveniente incorporar nos lycous o ensino das sciencias induslriaes ! Sendo-o, quaes, e como se devem ensinar , 2.° qual sera o metliodo mais economico para formar bons mestres de sciencias com dostino ao ensino dos lyceus ; 3." na traduc^ao das linguas antigas c modernas liaverii metliodo d'ensino prel'erivel ao (pie aclualmente se segue nas escliolas, 1:° no ensino das diversas disci- plinas, que constituem a instrucjao dos lyceus, sera preferivcl ao metliodo singular e piogressivo adoptado etilre nos o ensino conjuncto de varios ramos d;i tnesina classe ? Senilo-o , qual a distribuijao mais util ? Para que assumpto tao importante nao deixasse de ser tratado, como conveiu, deter- minou o ex.™" sfir. consellieiro Sousa Pinto, vogal ordinario, director c presidenle da segunda secjao , em sessao extraordinaria de 21 do corrente mez, que se dessem aos vogaes extraordinarios da referida secQao os primeiros pontos , para serem , em opportuna occasifio, discutidos , depois de niaduramente meditados. E\pediram-se pela secretaria dcsde 12 d'abril ale 17 d'outubro corrente : Ordens : Pa ra concursos rPortaria ^ Oliieioi, ^_Editaes 67 21 es 492 Para informes, inlimafoes e parlicipa- coes 114 Ciicnlares sobre o modo d'arrecadajao da receita dos lyceus 21 Dictas sobre o pagainento de propinas de matriculas pelos aluinnos externos aoi Lyceus 18 Total "723 Desprichos. Para provimento temporario f de lalim 3 de cadeiras ^ dos lyceus 2 Para titulo de capacidaje para ensino particular de latini 3 Total . . . . ~7 Cabe aqut dizer-vos , que nao torn sido baldadas as diligencias do consellio, para que cesse o en-ino particular nao auctorisa- do na conformidade do decreto de 20 de setembro de 1844, e do art. 21 do decreto de 10 de Janeiro de 1851 ; come^ando a aflluir em maior numero requerimentos de profes- sores pedindo titulos de capacidade, e por isso jd lioje se contam 51 professores parti- culares d'instrucjao particular secundaria legabiiente liabililados. E isto , sem duvida, devido as inrtancia-s, com que este consellio 183 Item recommendatlo aos governadores civis que velein sobre uin objecto de taiita ponde- rafao. Passo agora, Senliores, a dar-vos coiita dos lyceiis, das escholas annexas, e da iii5- truc9fio especial. Ha no continente, cadeiras de lyceiis 105, d'estas eslfio providas 91 , vagas e a concurso 5, vagas e reservadas 9, enlre ellas a d'agri- culUira, econoniia, e escriplura^ao e niais oiitras 3, que ainda se nfio poseram a con- curso. £m o nurnero das cadeiras dos lyceus en- tram as cadeiras de francez e inglez , crea- das, pelo dccrelo de 28 de junlio do anno correnle no de Vianna doCastello, e jjelo de 26 de jullio dielo no d'Aveiro. Cadeiras annexas HI, das quaes eslao providas G9, vagas e a concnrso 13 , vagas e reservadas 29, sendo pela maior parte as de lalini conservadas no piano do l.°de feve- reiro de 1860, ainda nao approvado quanlo a ellas. Ha nas illias , cadeiras de lyceus 18, d'es- tas estao prnvMas 16, vagas e a cnncurso 2. Cadeiras annexas 10, nas quaes entra a de lalim , creada por decreto de 12 de outu- bro d'este anno na villa do Porto de Santa Maria, dislricto de Ponta Delgada , provi- das 8 , vagas e a concnrso 1 , vagas e reser- vadas 1. !No di^triclo de Portalegre ha tambeni unia cadeira de laliai por legado em Fron- teira. Total das cadeiras 244, das quaes eslfio providas 184, vagas e a concurso 21 , vagas e reservadas 39. Enlrando n'eslas as de econoniia industrial e escriptura^ao , agricul- tura eeconoinia rural, cujos compendios ain- da nao t'orani approvados; e as annexas aos lyceus, cujoplan.i, coino vos disse, ainda nao foi detinitivamente approvado para todos OS districtos. Os Ivcens definitivamente constituidos no contmente sao os d'Aveiro , Braga , Bragan- ja, Castello-Branco, Conijbra, Evora , Fa- ro, Leiria , Li^boa , Portalegre, Porto, Santare'm , Villa Keal e Viseu ; e nas illias — Angra e Funclial. Os mais nao se tein mandado consti- tuir, por nao se acliarem providas algunias ' cadeiras, ou por nao haver casa para a sua I collocacfio. Nein todos os lycens estao collocados em edificios publicos ; Irata-se poie'm de collocar n'elles os de Beja , Vianna do Caslello, e Villa Real. Aloia os couiinissarios dos esln- dos e reitores dos lyceus d'Aveiro, Beja, Braga, Bragan^a , Castello Branco , Porta- legre e Porto, e os das llhas : das quaes so veio o inappa do d'Angra do primeiro se- mestre , todos os mais I'oram, no anno lecti- ctivo findo, exactos nas reniessas dos relato- rios e mappas , que a Iffi Ihes incumbe, O procedirnento dos prinieiros, que falta- ram ans sens devercs , nao pode deixar de ser estranhado , censurado mesmo por este conselho. Sein OS precisos esclarecimentos e mappas estalisticos, que os delegados do conselho sfio obrigados a enviar a si'cretaria nao so no fim do anno lectivo, mas tambem em cada mez , impossivel e, senliores , por esses poucos e escassos relalorios, que lioje temos, avaliar o estado dos lyceus e escholas an- nexas. Na falta pois de dados ifio indispensaveis , pouco tenho a relatar-vos sobre o progresso e melhorainento de uni ramo d'instrucgfio, de que nao se podem dispensar aquelles que occijpam OS primeiros logares na sociedade, ou que abra^-ain profissoes livres de uma ordem mais elevada, por isso que elle se couipoe dos principles da razfio e do gosix), do conliei'iineiito daslinguas sabias , da hl:to- ria, da litteratura nacional , e das sciencias exactas e naturaes. Fiinccionarani com regnlaridade , no anno lectivo de 1862 para ISSS, 102 cadeiras, que foram frequentadas por 2:538 alumnos; aendo em 146 cadeiras o numero dos alumnos , no anno anterior, de 3:506; nao hoiive po- rem a mesma regnlaridade na cadeira de philosopliia racional e moral do lyceii d' Evo- ra, a qual esteve fechada ate 17 de dezem- bro, e egualmente inlerrompida desde 7 de Janeiro ale 23 do dicto mez, sendo posterior- menle regida pelo professor da 3.* cadeira ale o fim do anno lectivo. Ha 6 collegios com tilulo d'auctorisagao desde 1844, dos quaes temos 8 mappas, d'onde consta que tern tido 133 alumnos. Em quanlo pore'm se nfio receberem os relalorios e mappas, que ainda fallam , e se n.'io obliverem os dos alumnos, que frequen- tam as escholas particulares , cujo numero e talvez superior ao dos cpie frequentam as publicas, nao ha os dados necessaries para nejles assentar a estalislica actual e compa- rativa d'esla parte da instruc<;ao. JNfio havendo ainda no lyceu de Coimbra a cadeira d'arithmetica , algebra egeometria, tfio precisa nao so para aquelles que frequen- tam o curso geral dos lyceus, mas tambem como preparatorio para as faculdades da universidade , e muito especialmenle para a frequencia do 1.° anno nuithemalico , abriu- se extraordinariamenle , no anno lectivo fin- do , a aula d'aquellas diseiplinas, cuja falta tem sido ale aqiii bcm sensivel , e pela af- lluencia que leve d'alumros, subindo a 103 o seu numero, e pelo sen aproveitamento bem se denionstrou a ulilidade e necessidade da crea^ao d'esla cadeira no referido lyceu. A liarmonia e uniformidade do ensino nos diflerentes lyceus e escholas annexas e muito nece^isaria para regularidade da instrucgao, e exacta apprecia^fio do aproveitamento dos alumnos, e mal se pode ella conseguir esco- lliendo cada iima das escholas os compcii- 184 dios para o ensiiio na forma do dispoilo no art J(>7. do decrolo de 20 de seluiiibro de 184-J. A*siin falta a uiiidade, e conscguintc- meiile o podor de diiec<;;io , confiado ao coiisellio superior pcio citado decrelo, c iiao e facil a npprcuia^-ao do iiicrito dos aluitinos que pasiaiu do4 1. cous para as eicliulaa su- periorei. Com o fun de rciiiediar ostcs dous males decidiu o coiisillio juiular a. sua tojisulla dc 15 dojiiiilio do anno pa3>ado unia proposta de lei, na i)nal ^e diueruiiiia, (jne oa coui- pendios, por onde sedevi'in ler as di^clplina^ do cn?iiio secundarioj acjain prnposlos e ap- j)rovad()6 por oale conscllio , e tpie neiilmin l)rofe6.-or publico d' instruc^'ao secundaria ))cssa cinprogar-se no eiisino particular sem auclori^al,•^lo do };overno. Lata ni!ci's>idade no en:-ino secundario ja foi rcconliecida pdi coii>eli]0 do lyc>!u d'Evora, o qua], no aiuio leclivo I'lndo, adoptou para toxto das li^oes da aula de j)L]los_op|]ia racional c moral os compeudios dos stirs. IJrs. Doria e Carneiro. O commissario dos estudos d'aquelle lyceu pondera, em seu rclalorio , que seria uina proyideiicia aoertada njandar o conselljo abrir o conciir=o para o provimento das subs.uiuij6cs da 1." e 2.% e da 3 ' e 4.° cadeira, por seacliar gia e direilo fre- quenlassem o primeiro anno nialliemalieo, para llies servir de preparatorio : mas a ex- pel iencia mostrou que aquelle esludo , por deina?iado sublime, nao eslava ao alcance de todas as iutelligencias ; |)or(pie no longo inlervallo de mais de nieio seculo (|uasi ne- nlium alunino approveilou semelliaiile dispo- si^fio : e a gromelria para o exame era estu- dada parlicularmente. Em consei|uencia d'isso o governo de 1830 creou no Collegio das Aries uma cadeira de gt^ometria, cuja organisacjao e regencia fora confiada ao iiosso insigne compatriola, o siir. Sacra-Familia. lista cadeira, cuja necessidade liavia side allainenle reconljecida pelas vantagens da sciencia, e pela dignidade do ensino, ficou lodavia esquecida na reforina de 36, e em lodas as-subsequeiiles. \L por isso o prepara- torio de geometria ficou novainenle enlregue ao ensino parlicular, tornando-se lauto mais violenlo e dis|)endioso para os alumnos, <^uaiilo mais rigorosos se lornavam piogres- sivainenle, como deviam , os programmas para o mcimo cxame, Por quanto a maiur 185 parte dos alurnnos esliidavam este prepara- torio 'em Coimbra , onde iiiio liavia cadeira especial para o seu ensino ! £is-aqui pois o que nos julgamos ser uma injusti(,a nianifesla para os alumnns, em queiii se casti^M pecuiiiariainenle o crime da residencia. Qiicm esliver em IJraga, oil n'alguma outra terra oiide liaja lyceu , sen) ser Cniiiihra, Porto ou Lisboa , lem iiiiia aula publica para o eatiido de geometria , onde sera adiniltido mediante a modica quanlia de 1920 rs. Mas, se tern a desfortiina de residir em Coiml)ra, seru obrigado a comprar caro, material e inlelliicluabuerile, aquelle prepara- torio. I'cr quanto ou ha de frequentar o 1." anno mallicrnaLicn, pagando a onerosa propina de 19200 rs. alein da grandc; di^spr^sa de livros cxcusadosj parte dos quaes jamais ))recibaia abrir em sua vida; ou lem de frequentar em aula particular o inesrno estudo, retribdindo tariibem d'unia maiieiia Lastaiite violcnta o Iraliallio do professor. De mais no 1.° matliemalico oeoupa-se grande parte do anno com e^tudos im- proprios a instructjao secundaria, em quanto que se passa rapidamente por aquelles , que naais uteis e necessarios llie sao ; pois e beni sabido , que as exigencias scientificas na faculdade de niatlieinatica sao muilo mais sublimes, e differcntes das dos lyceus. Mesles, segundo o disposto no art. 47 da supracitada lei de 20 de setembro, deve a arillimetica e geometria ser estudada com applicagfio as arles; e apenas se exigem as primeiras nogoes d'algebra ; em quanto que no primeiro inalliematieo a parte theorica prcdomina sobre a praclica, que e' quasi nulla , por falla de tempo ; e asuialerias sfio por tarilo esludadas na allura , a que deve clevar-se a sciencia , por liaver ali um estudo superior, e iifio elemeiitar, conio deve ser o dos lyceus liis aqui pois um grave inconveniente no estudo, uma iiijusti^a palpavel i'eita aos direitos dos aluiunos da inesma aija ; e um nbiurdo manit'eslo em se equiparar o estudo da inslruc(,'ao secundaiia ao da superior! Aliim de que no primeiro matljematico leva grande parte do anno o estudo dos logaritliujos, da trigoinmetria , de geometria analylica , das equa<,'6es do segundo giau ern nlgebia, dos problomas indeterminados , da geometria dos solidos, etc. , elc. ; o que tudo e excusado para o exame do lyceu. E o estudaute prcciza .de todo o tempo para aquelle estudo: em quanto que poderia reuiiir V. d'oulro preparalorio com o da geometria «3lementar. Por outra parte firam os alurnnos pouco desenvolvidos no mais importante do seu estudo; ntiquella parte que se toriia o alvo principal de todo o seu traballio, e que nos I usos da vida mais ulil Ihe vira a ser: e a Cippiica^.ao da aritliinetica e geometria a resolugiio dos problemas de constante uso social : pois que ainda que no primeiro anno da faculdade de matliematica se d.'io os principios para aquella resolu^.'io; todavia a- variedade e multiplicidade de materias, que teem de ser vencidas no anno lectivo, nao permittem , que se possa empregar muito tempo com problemas de certa ordem : mor- mente com os mais elementares, que sao taiiibem os mais precisos na inslruc<;ao secundaria. O conhecimento da modi^ao e compara. (;ao das superficies ])lanas, e da capacidade dos solidos, e um dos objectos, que rnais iuteressa ao indiviJuo de qual(|iier ordem social. Proprietario ou arlista, precisa fre- quentemente de saber medir as varas ou hra- ^as quadradas de certa obra , que fez, ou mandou fazer d'empreilada : calculara porjao de papel necessaria para cobrir uma super- ficie determinada; ou a por^ao dtJ madeira para forrar eerta casa : n-talhar um cauipo rle forma que os rclallios lenlKiui eutre si certa rela(;ao : avaliar a capacidade d'um pogo ou d'um reservalorio qualquer, etc. etc. Tudo isto se poJe dizer, que sao pro- blemas de cada dia; sao aquelles cuja so- lugfio mais importa conhecer. Ha ainda na actualidade uma outra necessidade , fillia do progresso , e da ultima lcgisla(;:'io. Odecreto del3 dedezembro de 1852 man- dando por em execu^ao em Portugal , den- tro cui 10 annos, o systema metrico-docimal francez, creou a necessidade de cada um sc instruir no novo systema, a fim de se habili- tar para a resolu(;ao de todos os variados problemas, a que clle pode dar logar; e esse estudo n.io pode deixar de ser objecto da instruccao secundaria , e nao da supeiiir, onde apenas se da uma passageira noticia do systema , em relajiio a sua base fundamen- tal e nomenclatura. Estas 3 muitas outras razoes, que pode'ra- mos aqui adJuzir, reconlieeidas pelo claustro pleno da utiiversidade, e por elle manifes- ladas no seu piano de reforma , foraui sem duvida as quedetsrminaram o Ex."" prelado a propor ao governo a reintegrajao da ca- deira d'arithmelica e geometria no lyceu iiacional de Coimbra. O governo , attendendo tfio jusla recla- magfio , mas manietado pela falla d'or(,-a- mento , creou apenas provisorlamente aquel- la cadeira por portaria de 33 de dcscmbro de 1352: para que, satisfazendo d'esse niodo as exigencias da instruc(;ao publica, fizes- se cunjunctamente um ensaio, para obscr- var o aproveitamento da niedida. A extraordinaria aflluencia d'alumnos, e a gradagiio de seus exames finaes , prova- ram simulianeamente a conveniencia e as vantagens da cadeira : provasque foram ainda conlinuadas neste anno, em que concorre- ram a matiicula 100 estudantes ; tendo side no anno antecedento 103 ! 186 Confiamos pois que as Cortes, a queni o governo devoril appresonlar no seu relato- rio a liiitoria d'aquella medida , allendc- rfio t'lo jiislas razoes , croando definitiva- tnenle a cadeira d'arilliuiclica e geomctria elemeiilar no lyrcu uacional de Coiiiil)ra ; pois que sua iililjdade deixou de ser proble- malica depois de jullio de 18J3. L. ALBA.NO. 0 CHORD D'ALMA. Ao mcu amii/o Euscri|ilo que a |iatria chora ausente^ Qiial lillio i)iie iieixou piilernus lares, Que a maiilnjuo d'uin pai tiuvio luedunha , Na bura em (|UP Irilhuu (in crime a seada , £ fita subre a terra os ulhus triples Eat hura de remorso. Oh , quantas vezes , sens lamentos outjo ^ Quando o peccado , dos infiTnus Glho, Os Ia);os arnia coni que a Irisle prende ; Quantas vezes llie escutu u pranlu amargo, Quando a verdade ilie apparece borrenda. « Ai de mim \ Onde eslao as rosas brancas « Que a frunte me eiu^iam, « Quando do ceu delxei a niansiio pura! " Onde eslan , ai de mim , Candidas vested, " Que eu out'rora trajei ! » No momenlo do adeus, os aiijos todos « Me di.^seram surrindo: " Talrez loniro nao seja o tea desterro , " Mas em qiianio natj for pur ti nianchada « A c'rua d'aujo , que le auurna a fronte, « Em quanlo nao maochar o \'il peccado " As alias roupas d'immnrtal candura, « Tu podes vir , irma, l»riucar com os anjoa, " Qunridu 0 somuii , qu^ a morte tanlo imila), •' SepuUa a nalureza em seu ropouso. " Senhor Deus , eu pequci ! As alvas roupas " Negras m'as tem loruadu o !ado impuro « Das VIS paixoes, de qucm i^ae fix escrava. « Unia a uma perdi ae rusas l)rapea8 , «< Tristes saudades de que fui outrura « O remorso cruel , que mc alormenta , " Na fronte me pousou , e nusndo as portas " Do ceu , do bello ceu que lauto choro , " Triste me apresentei , oj* anjus lodoa « Medissf.ram clioraudo : « Alma perdjda .. volve, vohe a terra, « Os anjos do Scnlior Irajar uao podein " Negras roupas de d(5 , rouxas saudades, Senhor Deus , eu pequei ! No proprio tempio , Peranle o leu altar, amor impuro Queimou meu corarlo, perdeu minlt'alma. Ell vj nascer o sol , sem que mens labios Te louvassem, Seidiur , sem que prostrado Eu adorasse um Deus qire a hiz derraina Subre OS bons , sobre o man sem pur difrentja, Qie doura as messes do alheu , do creute, E que com mito igual reparte a tuiios , Como Pai carinhoso , o pao da vida. Eu vi sumir-se o sol , sem que minb^alma Brados de ^ratidao aus ceus ersuesse. Senhor Deus, eu peqriei ! Mas tu disseste: « Vinde a mim, linde a mim na hora afllicta « Eu vos consularei , sereis ou%idas. X Oielhas que eu perdi , vinde ao rebanho, " Escutai minha voz , quero a raeus hombros '■ As mais debeis leiar, quero meu sanjue " Pur lodae derramar, aalvnl-aa lodas ; « E maia hymnos nos ceus mens anjos tecem " Aquclle que peccou , se o crime deixa , »» Que a cem Justus que o ceu nunca ascenderam* Coimbra. DENBIQCE O'NEILL. TRATADO ELEMENTAL DE MATEMATICAS por D. jldsclo F. Fallin e Buslillo, cate- dratico en la universidade de Madrid. (Conlinuado de paj;. 1G7). Tendo analysado resiimidainente a Ari. tliinelii'a , Careinns o uiesiiio a re^peito da Alyel)ia elernenlar. Dividea o amrlor em duas partes, iinia do calculo a/gcbrico , oiilra da comparagdo algebrica ; e a se{junda d'eslas em duas secjoes, uiiia d;\ co mpara^Mt de dciecritaldade , outra da coinpuragdo d« egnaldade. O calculo algebrico comprelieiide as ope- razoes fuiidatiienlaes relatiras lis quaiilidades al^ehricas reaes , de loriiia iiileira ou frac- cioiiaria e com qtiaesquer expoeutes; e as relativas ;ls expressoes ima^'inarias ; e lar»- bein a formula do binomio de Newton, com algumas applica(;oes. Na comparagiio de desegualdade eiitram as razoes, propor- 5oes , e progressoes , lanto aritlimeticas como geoiiietricas. Da comparayfio de egualdade sao objeclo as analyses delenninada e inde- lermiiiada do priiiieiro e seguiidn grau ; as equa(,-6es biquadradas; e as de dois termos. E cornpleta o texlo a tlieoria algebrica dos logarilliinos, com a sua applica(;rio us equa- goes exponenciaes , e aos juros coinposlos , e annuidades. Finalmente rematam a obra os pxercicios, proprlos para habituar os principiantes a priiclica dos calculos algebricos e da reso- lugao dos prohlenias, e para recordar as doulrinas fundarneiitaes ; e as nolas , tenden- les a illustrar e anipliar o texto com noti- cias liisloricas, com desenvolviuiento de dou- lrinas d'elle, e com novas demonstra^ries. Em geral, as definl(;nes e nogoes prelimi- nares sfio exactas e suirjcientes ; as regras enunciadas com precisao e clareza ; os descnvoivimealos e exemplos copiosos ; os quadros bem disposlos ; e as discussoes diri- gidas com rigor aiialylico. Como exempla- res d'eslas qualidades citarenios a introduc- gfio a tlieoria das equagoes, com a nota respecliva ; os desenvolvimenlos e exemplos relalivos ao calculo das expressoes imagina- rias ; o qiiadro das raizes das equagoes do segundo grau; e a discuss.'io das solugoes d'este grau , feila sobre o problenia dos ponlos egualmente illuminados por duas luzes. Parece-nos conveniente a insergao da for- mula do binomio de NeU'ton na Algebra clemenlar; como caso particular da inulli- plicagao dos binomios, sendo o expoenle in- leiro e posilivo; ecomo propria para facilitai 187 a intelligencia dos processos da extracf no das raizes nuiiiericas de lodos os graus. E iifjo deixaremos de nolar a beni coordeiiada exposi^ao, que o auclor faz , da tlieoria das combiuajoes, em que funda a investigajfio da lei dos coelTjcieiiles da foriiiiila. Tainbetn acliamos acerlada a ieml)ran5a de encelar aqiii a resolii^-fio das eqiia^oes binomias; pri'veiiindo assiui os principianles sobre a inultiplicidade das raizes das qiiaiiu- dades , e sobre a rela^iio d'cllas com as raizes CQirespoiidentes da uiiidade. Poiido de parte a demonstrajao iiileiitada na nota XVI , que coiicliiiria se a serie fosse convergente , oalguns pequeiios defcilos, que o auclor certameule corrigira em oulra edijuo, e quo nao intluem no merecimeuLo do seu trabalho; leimiiiaremos com uuia observaijao , em derempeniio da obrigagfio que nos corre Sera talvez prematura a con- siderajfio das quaiitidades negatjvas como verdadeiras quaulidades, oppostas as positivas, appreSoiUada no principio da obra , para leitores que nao tetiliam noyoes algumas d'algebra ; porque tanto a iiecessidade de dar aos signaes-J-e — a dupla significafao de inlierciiles a iialureza das quaulidades respectivas e de indices de opera^,-6es , conio a misUira e comparagao de quaulidades de nalureza opposta , podem oltslar a que no espiiilo dos principiaules pcneUem as dou- trinas algebricas com a iiecessaria clareza ; sem que baslem para remover esla difficul- dade as exactas e bem cabidas rellexoes, com que , no lexlo e nas uotas , o auclor mosua a confonnidade d'aquelles dois usos. Mas isto, que podera ser del'eito em quanto a. opporluuidade , e uma belleza no syjtema pliilosopliico da obra; e ufio diminue o valor dos bons doles, que conlirmam o nosso juizo e votos, jii emiltidos , a respeito d'ella. S. P. BREVES 11EFLEX(5eS niSTORICAS SOBHE A KAVGGACAO DO MO^DEGO , K CCLTUKA DOS CiUPOS DE COIMBUA. Continuado de paj. 160. Pelo decurso d'esta inemoria ja o leitor tern visto que, quando por uin lado se faziam esfor(,'os para evilar os eslragos dos campos, per meio d'um bom encanamenlo, tarobem per oulro lado acainara municipal de Coim- bra nao deixava de ser sollicila em liberlar a cidade das invasoes do Moudego. I'^m 1538 se tinha tratado ja da conslrucgao d'um muro ' , enlre a cidade e o rio, para que as enclienles nao inundassem as ruas. Esla obra < Pa;. 79 col. 1." desle jornal. nao passou de projeclo, nem temos encon- trado prova alguma para acredilar quo ella se lovasse a elfeilo ; e de suppor que a falla de meios obstasse a uma conslruccfio lao in- Icressanle como dispendiosa. A necessidadc d'uma oljra d'esla natiireza era tao urgenle quo em tempos mais moder- nos a camara por via de sou procurador representou a drei, em termos bem signifi- cativos a preclsfio de se fazer um caes com a devida seguran<;a , enlre a cidade e o rio , desde a ponle ate ao porto ou boifiieirdo do .Senhor dos Oleiros. Eur qualquer love en- clionle (dizia o procurador em 1718) ficam alagadus por muilos dias os moradnres das (Veguezias de S. Bartholomeu , S. Tliiago, Santa Cruz e Santa Justa, do que resulla padecerem grandes calamidadcs , sendo a mais sensivel d'cllas a falla de sustento , que apenas a algumas pesfoas por caridade se adminibtra em barcns. E qnando as enclien- les sfio mais crescidas locam na porta do mosteiro de Santa Cruz, causando lantos eslragos queem menos decincoenia annos fica- ra arrulnada a cidade baixa , e o mosteiro inha- bitavel ; e lembrava que ao longo do caps se abrisse uma valla para dar escoamento as aguas da cidade para o rio; c que o dinheiro para estas obras poderia saliir do cofre do real d'agua '. E^la obra niio passou de projeclo assim como a de 15;i8; demandava avultadas des- pesas , e os meios eram escassos. A jusla representajfio do procurador municipal leve o andamenlo coslumado de iuformagoes , mas nao passou daqui , e Cnimbra csleve piivada d'uma obra de primeira necessidade desde 1538 , e so passados Ires seculos e que viu principiar essa famosa construcjfio , que fp|izrnenle , ainda que de vagar , vai prosoguindo. Talvez que a lingungem empregada pelo procurador do uiunlcipio de Coimlira, a que acima alludimos , pare(;a algum tanlo oxagge- rada ; porem nSo podomos deixar de reco- nliecer que a maior parte da cidade baixa estaria lioje desliabitada , se nao tivosse lia- vido a precau^.'io de allear de annos em annos as mas, para consorvar o sou piano alguns palmos superior ao da corrente ordina- ria do rio. Os Irabalhos feitos em 1108 e 1709, para abrir um novo encanamenlo ao Alondego pelo norte do Campo, como ja expoze- mos (pag. 159 e ICO), foram por cerlo de pouco proveito ; e assim era de esperar da obra enlao gisada ; o director procurou alar- gar e nao aprofundar o alveo ; isto era o mcsmo que estragar terienos, vexar proprio- tarios , e consumir dinheiro sem residlado algum plausivel ; o director nao comprelien- deu o pensamento expondido no decrelo d« ' Arcli. raunicip. torn. 1.' 1742 X, rcspoflas e cartaa a elrei. 188 12 de niaio lie 1C94 (pap-. 14!) c scgg.). Fojse urn erro de inleHigi.'ii(;ia, on alguina oulra causa que empeceu a dovida cxociirao d'a- quelle decreto, (i tora de diivida que o cla- mor publico ])e(lia cm 1791 oiitro ciicana- iiieuto para o Rlondi'^o , que foi ef'fectiva- inenle dccretado em '.IS de marjo d"e?te lueiuio amio. Eii o piano da nova o uUiina cannli-iacfio (.■oulbrnie a lolra do dccrelo: sijjuir o alvco que o rio linlia conu'(,-ado a abrir junlo ao Ai!!u';;ue , corlaudo todaj ai insuas iiiouclioes , on caniallidcs, que so cnconlrasscni noalinlia- ineuto do novo I'ilo, seui coiiipensa^-ao aos ])ossuidorcs por serein usurpa^oes do alveo; dar-ilie nova direcyfio deFioiile de JMonlc- inor, e abrir novo alven em Lares; principi- ar desde a I'liz do Moiidc^o ale Ooimbra, e pralicar aciuia d'esla cidade as obras coiive- nieut.es '. A dircc(,'rio d'eate cncanamenl.o foi encar- regada ao pmlessor de hydraulica Kstevfio Cabral , que linlia sidu padre da coinpauliia, e n'csla epocba se eucoutrava niuilo acre- ditado com o governo [.elos sens conlieci- inev^tos scienlificos, e por uma memoria (de que inais adiuute liavemos de tractar) que escreveu sobre o encanamento do Mondej^o, coino se collie do aviso de 20 de inaio d'a- queile anno, dirigido ao superinlendente Jose de Magalliaes de Caslello-Branco ^ , donde tambem consla que esle veucia 2:400 reis ptM- dia para ajuda de cuslo, e aquelle !)G:000 reis de ordenado por mez. Depois do decreto de 1791 continua ainda .1 legislaijao relaliva ao encanacnenlo do Mondcgu ; parte d'ella, ale 1807, enconlra- se em resiuno no llejiorlorio das Exlravagan- les (verbo encanamenlo) , e loda , na sua iulegra , registada no liv. 1 " da secrelaria das obias do Mondego , que e o mais anlign do archive; e o primeiro documenlo que all! esla regi-.tado e de 4 de niar(,'o do re- ferido anno. D'esta data em diante cessarn as iiossas indaga^oes sobre a iegi^laleta de ici;isla(;ao. ^ tjccrelaria iJaa ubras do llondego liv, J.° de regislo foi. 3 e sei,'^\ INFLCENCI.V I.OS AIIMENTOS NA9 FUNCOOBS MATEKIAES E IM ELI.GCTDAES DO HOMEU. Cunlinuada de pig. 165. A despesa diaria em alimenlos de respira- <;ao eieva-se ao quiiilu|do, e ale ao sextuplo do peso das sull^laru■ias plasticas. Per isso em tempo de carestia a falta dos primeiros e que se lorna mais sensivel em lodas as classes da sociedade , no entrelanto que a gordura, e a inanleiga encarecem juncta- inente com o trigo, e as batatas cbesaui a um prego comparativamenle mais elevado que o do trigo: o pre^o da carne fica ordi- nariamente o mesmo que nos annns d'abuii- dancia. Uma das causas que conlribuem pa- ra esla circumstancia , e que o p.'io po.le subsliluir a carne, mas em rela(,'ao as nec.es- sidndes do liomern lu'io pode ser lao comple- lanieute sub-slituido pela carne ' Outra causa do bai.\o pre(;o da carne, c' que nos annos de mas collieila.s devidas a exce^so de liumi- dade , quaiido as plantas alimenlares ordina- rlas nao ]5rosperam , lialojavia, em aluin- daneia, forragem verde, trevo, lierva, rai- zes. A carue conserva sen baixo preijo por- que o pedido della nao sobe na mesma rcla- r;ao que o pedido do pao, Nos annos seccos, o agrononio nao tern forragens ; ve-se obri- gado a malar o gado e veudel-o por qual- qiier pre^o, e o augmenio da offerta faz entao abaixar o pre(;o ainda mais que nos annos ordinaries. O liomem carnivoro, para sub/iilir, pre- cisa de um dominio immense, bem mais ex- lenso que o do le.'io e do tigre, porque mala sem comer, sempre que se llie offerece occa- siao Uma nngao de cagadores encerrada em um terreno liniitado c incapaz de se multiplicar. O carbono in lispensavel para a respira^no, lem de ser lomado nos aiiimaes que n'um ter- reno d.ido so podem exislir em numero limi- lado. Eiles aniiiiaes recobem das plantas os principios de sen sangue e oigaos, e prestain esles principios aos indlos ca^adores , que os consomem sem mistura de subslaneias que enlretenliam a respira^fio d'aquelles aniniaes durante a vida. Assim que, no entrctaulo que o inrlio podia, com um so animal e peso egual de fecula , enlreler a saude e a ' Eis'alii] 0 que refere Mr. Darwin em sen incora- para^et iivto , tao rico de belias obst-rvaijoes fellas por occasiao da sua eslada entre os pampas. « Conse;'uimos comprar aqui iini pouco de bisconto. Havia muilos dias que n.":o tinlia comido senao carne, e dava-nie bcm Com esle re::ime, mas parece-nie nao coinir se niio a nma vida miiilo acliva. Tenho ouvido qneem Iniilalarra rerlus duenlca si.jeilos c.xctusivameiUe ao regime de carne, che,'aui a n.'io podcr vel-a , ainda qnando e.sperani com ella rccnjierHr a sande. Todavia os pampas, niPZes inleiros, nao eomeni oolra consa. V. porein de n-jlar qne cumern nmila yordura , e fazem punco caso da carne maijra. » Homero , descrevendo os fe.-lins de sen her(ie8 , paja sem- jire nm jiisto Iribulu de cluijius a gordura Jlorida , do lotubo de purc«. 189 vida diiranle ceito niimero de dias , ha mis- ter do coiijiunir cinco animaes para piodii- r.ir o calor iiecessario no riiesino tempo. Em a niilri^'ao do indio lia urn excesso de idi- inc'iilos plasticos, e quasi seniprc falla dos iIldlspell^avei5 para respiia^-ao ; ddlii veui cxislir tios homens caniivoros pailicular pro- peu-^fio |.'ara a agiiardeiiLe. Ninjj'uem se expres^a inais claro o pro- fiiiidauieiite soltre a iilllidadL' da agricuituia , do ipie uin cliefe amoriccino , nas pi.l.ivias que diiif,'iu aos luidsisa^ucs , sua tribu. Alii as Iranscievemos quaes lel'ere Cievecicur: M Nao vedos que os braucos vivern de f^rfios, e noj de came I que a carue e\ip;e n.ais de tririla niezes para se ciear e muitas veze? e lara? que CcuJa um dos tnaiavilliosos graos que elk'S seuieam na terra produz mais do centuplo? que a carne Leiii quatro pernas para fuyir, e iios :6 duas para a alcan^ar ? que OS firfios pousani e biolaui onde os lio- iiiens braucos os seuieam ? que o iuteruo e para iios o peuoso tempo di cara , e para olles o tempo do repou^o? Por isso e que files tein taulos fiilios e vivein mais tempo que noj. A lodos o^ que me ouveui — antes que as arvores que assombram iiossas caba- iiai tenliam perecido de vclhice, antes que o bordo do valle deixe de produzir as-iucar , a la^a dos que semeam trigo extirpara a ra^a dos que comein carne , se estes cayadores se niio resolverem a seiuear ! . . . » O indio de^ppude cm suas penosas caga- das uma lou-ideravel por^ao de forga , mas o effeito produzido e uiui fraco e iiao esta ou) rcld^ao a desjiesa. Continiia. OliOLOGIA DA LUA. Dois natur.ilistas ilalinnos publlparam lia pouco uma mui ujlejesraulH uieu/oria sobre f>s volcoes da lua , distribuindoos em tres classes. ' A primcira conipreliende as crateras cujos brtrdos desappareceram , a ponto que se coii- fuiidem aclualrnenle com as plauicies, q.ie OS torneam. Uma cratera d'esta espetie podc comparar-se a uma "'scavac^fio, que indica im simile nos subma- rinhns, actualmente transformados em peque- nos lagos. As crateras d'esta esppoie cstfio todas dis- postas a superficie da lua, seguindo cerlas ' Snr la Geolnsie de la Lune — par le P. Secchi , aitronuiue, e M, Ponzi , geulugiie au cullcja remain. direc^oes, como lendo por origem fendas abertas no corpo da lua, laes sfio , por exempio, oi poutns desiguados com os no- ines de ArMlul , Purbacli , yll/i/ionsiis , etc. A exisleiieia de taes leridus p6de explicar-se pela sublova<,-ao do Ti/cho , dos yi/icnhios iuiiarcs, e d'outros syatemas de tnontaulias biuares mui elevadas, parallelas ai|uellas liulias de crateras, do mesmo modo que a longa serie de volcoes da Italia segue a drrecjfio dos Apeuiuos. A seguuda classe de volcoes brnares com, prelieiide os (]ue apreseutaui os bordos das crateras elevados no mcuo das planicies, que Hie fi( am em toi no. Por via de regra tem uma forma regular, e o lerreuo em redor vai-se elevaudo circularmente ale' ao pe do volcao , como se ve no 'J'l/cho , no Cupcrnuo, e no ylristotclcs. A forma regul ir d'e^tes volcoes, parcce inditar, que as suas d>'joc56es nao touiararn o ca racier de lavas. As iiioulaulias volcanicas ao S. IC. de Iloiua sao as analogaj das 1 una res d'esia classe. O estado de conserva^ao que se nola nestas crateras e uma prova de que as suas dejeegoes cnuaiatiram cm malerias escoriaceas , e esseuciabuente leves. E^tes volcoes sao de data mais receirte, e a elevat^fio pareee pos- terior d con^olida^fio da superficie lunar, que deve ter experimenlado alternativamente elevaij-oes e abalimenlos a roda do sen cen- tro, e de feilo a altura do solo ;i roda do volcao e proporcional a eleva^ao da sua cratera. l'.,[e= plienomenos devem ter produ- zido x\i\ superficie da lua inudari(;as tao pro- iundas c tao iritensas como a clevai,rio das Andes sobre o nosso globo. A maior parte d'estas crateras, e das dos volcoes da jiri- meira classe apresenlam no ceritro uma pe- quena illia em forma de zimborio de egreja , mui similliaule ao dos antigos volcoes ter- ri'stres, cujas crateras tem no centro uma roclia triiclivlica. Os vclc:6t'S lunnres da lerceira classe sao raros, e mui siinillianles aos que as vezes surgem de repenle em potitos da superficie dalerra, t|iie pareciam estar a colierlo de quiil'juer intluencia volcanira. E^les volcoes poJein coiisiderar-se como o derradeiro ex- for<,'o das acgoes volcanicas qiia^i extinctas. Diapersos na superficie lunar , acliarn-se de- baixo da forma de tracliytes, ou de lavas, parlrculariuente na proximrdade das crate, ras de aivclainentn , ou da priiueira classe, e alguris meouio dentro das antigas crateras, mas luio no ceniro, indicando que a epoelia da sua appari(,'ao fcira posterior u coiiipleta consolrda^,'So d'aquellas primilivas crateras. As cavidades dos volcoes de lerceira classe teem a forma de uma pvramide conica inver- sa , e taiita |)rofundidado como os riossos volcoes em actividade. Todos estes factos mostram a concordan- cia das ac^oes volcanicas , na lua , e na terra , cou) a unica differenca , que e:ta coiiserva 190 volcoes em actividade, em qiianlo os da lua Sao todoi exlinclos. As forma(;oes pliitonicas liinares circun- dam vastas bacia*, e os sens ponlos culmi- nantes estfio collocados parallelameiito a li- nha dos volcoes iiiodornos. Ponzi nfio nega a existoncia da agua a siiperlicie da lua; siippoe todavia, que esui lioje no dcgolo, e quo, exposta ao frio dos espat^ns plautlarus , nfio podi; ser derieti- da pclos raios solares. Este inlenso frio, e outras causas , que nos sao descoiiliecidas , devem ler ab^orvido , e fixadd lodo o ar atino!;- pherico, que oulr'ora consliluia a atiiiosplie- ra da lua, do inesmo u)odo que as coinbitia- (;6es ciiiuiicas, que tiveraiM logar, quaiido se corisolidaraiii os iiossos continenles, teiii sensiveluipute diaiiiiuido a exlensao da aluios- pheia U■|•ll■^lle. falsificacao do CHA. Falsifica-sc o clia , ou misUirando nelle diversas prepaiaCj'oes para [he dar clieiro , e cor; ou fabricaiido-o com I'ollias de oulras plantas. Em Cantao e nas suas visinhanjas da-se cor ao clui com curcuma, gesso, annil, e inuilas vezes com o azul de Prussia. A cor do clui verde eo resullado dos processos , de que John Davis nos da a seguinte nolicia. ( The cliincse , torn 3. p. 2-i-l.j O cliii , lal como se collie na planta , e puril'icado, separando-Uie as semonles, e alguns ramitos da mesma ou d'outras plantas. As unicas qualidades que podem ciiamar-se iiaturaes sao eslas, colliidas nas diver?as es- ta^oes do anno; todas as outras sao artili- ciaes. Lan^am n'uma caldt'ira de turro, posla sobre lume biaudo unia certa qiianlidade de clui {Doliea Sjucliong). Mecliom-se as I'l.llias ate se aquecerem iiniformemente, lan^a-se dupois uma collier de gesso, e outra de curcuma, e duas de annil em cada viiite libras de cliii, meclie-se tudo novamente por alguns rninutos, e tira-se depois a caldeira do lume. As lollias do clia acliam-se entfio contraidas pelo calor , e tomam formas e grossuras diversas; para se- paral-as passam-se por um crivo. As lollias pequenas e sobre o comprido , que passani primeiio pelo crivo, c[j. e^gotado pcia infusfio', para o preparar de modo que se confunde couio o l>om did. No anno de 13 13 so ern Londres liavin oilo d'estas fabricas, alemdas i|ue cslao espalhadas pnr lodo o reino unido. Nas hospedarias, e nascasas do bebidas com- prava-se a (piarenta reis a libra das folhasde clui, que jii tinlia servido, lanyava-se de infusao n'uma dissulu^ao d° gomma , secca- va-se depiijs, e junclavam-se-lhe diffcrentcs materia? Cdloraiiles, segurido se queria obtcr o cha verdo , ou ])reto. Peita esta prepara- <,"ao , niislurarii o clui com malerias odorife- ras. Esta fabrica^fio foi prohibida, apezar d'isso , porem , coiitinuu , aiiida em grande escala aquelle abuso. Falsilica-se tambem o clui, ])rcparando as follias dos alamos , castanheiros da India , cho- pos , pilrileiios, e outras plantas adstrin- gentes com os mesmos ingredienles , que o clui verdadeiro. Descubriu-se recenlemente uma nova falsiflca^,■.^o do ch;i amda inais abusiva , felizrnenle, porein , pouco usada ; consisle esta em misturar com o clia verde gun powder excremenlos dos bixos da seda por causa da forma arredondada que elles teem. {Rev. des iracaux chirn. sept. 1853.) ILLU.MI.\.\CAO ELECTRICA, Conlinuado de pag. 152. Em abril de 18 tt, Mr. Foucault apresen. ton a academia das scienoias um apparellio denominado microscopio pholo-electnco , cu- jos resulladns produziram algiima sensa5ao. A luz era branca, viva e de um brillio tfio aturado que permittia observar commoda- iiiente os objpctos niicroscopicos. O melho- raiiiento da lunte luminosa era principalmen- te devido ;i nalureza e forma dos carvoes com que e?lavam armados 03 polos da pilha. Aos cones de carvao apagados nomercurio, havia iMr. ['"oueaull substiluido varas pris- malicas quadradas de dous ou tres millime- tros d'aresta , cortadas pelo lapidario na massa de graphite dura e pouco couibustivd que se deposita nas paredes das retortas , onde e dislillado o carvao com o lim d'obter gaz de illuminagTio. Em consequencia da sua conductibilidade , deiisidade e lenta combii- stibilidade, esla variedade de carbono, cba- niado carvao de ga% , ale o presenle e supe- rior a qualquer oulro que sc pode empregar para obler a luz eloclrica. Cortado em Ion- gas varas sufiicienternente delgadas e d'egual espessura em lodo o comprimenlo, o carvilio de gaz periiiitte que se opere muilo tempo 191 ao ar, e a luz que brillia nas extremidadea continua a irradiar sem obstaculo em lodas as direcfoes. 'J'aes sfio as coudi^ocs {|iie de- ram ii luz elec(fica o aspeclo cjiie lioje apre- senta. Operando ao conlacto do ar, encontra-se o inconveniente do gajto piogies^ivo e dese- giial dos carvncs; por isso o apparellio era constriiido de tiiodo que se llie podesse apjo- ximar a riifio. I'orc'in e^la opeia9rio era di-li- cada e difilcil de exixutar: coiiviiilia i:.eiitar d'ella ooperador, e toriiar o apparellio Hide pendente d'esle auxilio. llnuve <|ueui jul- gasse que a opi-ra^ao podia tiear a cargo de um macliinisiiio previainenle regulado pelo valor provavel do ga^to ijuc devia ser re- parado ; mas em breve se coiilieceu que esta rela^ao nfio podia prever-se, e que o movirneuto do machiiiismo auxiliar seaipre era mui lento on mui vcloz. O que conviulia era um orjrao susceplivel de ser impressio- nado pela miidanja de dnlancia que se desse entre os carvocs pnlares, e capaz de coiiter suas variances entre dous liuiites estreilos. Apoz dous annos de assiduo Iraballio , Mr. Foucault, em Janeiro de 18t9, apre^eiitou um ajjparellio que resolve o problema satis- factoriamentc. Esse aparelho destinado parti- cularmentc a experiencias d'oplica , satisfaz tambem a condiyao de conservar immovel no espayo o ponlo radioso que queremos empregar, de marieira que nao somenle os rarvoes se conservam csponlaneamente ii distancia niais propria para excilar uma viva luz, mas alem d'isso aproxiinam-se corn ve- locidades que fazein re.ipectivamente equdi- brio ao gasto desegual de cada um- d'elles. Conlinua . VARIEDADES. Paltoniolorria. Creou-se recenlemenle em Franca uma cadeira de palennlo.'ogia no inuseu de liis- toria natural, em logar dadebolanica rural, vaga |)ela morte do celebre bolauico Adrinno de Jussieu. Eis aqui algims trechos do relatorio do minlslro da iiislrud^ao publica , que acompanliava o respeclivo projecto : « Uma das uiais glorio^as conquistas da sciencia^ a^-ignalou os priineiros annos do seculoXIX. Dasentranhas da terra surgiram a voz de Cuvier reliquias de todos 09 reinos da natureza, que pertenceram as edades ignoradas na historia do universo. Especies ate entao desconliecidas , appaieceram de novo com sua primitiva organisagao, e seu proprio caracter. Um metliodo, que poderia dizer-fe inspirado, e que a experiencia con. firmura pleuamente , cliegara a reconstruir um mundo extincto, e a dilatar os liinites dos conhecimentos hjstorioos, com geral es- panto, alem dos tempos, que precederam a apparijuo do horaem sobre a terra. ti Creada a sciencia paleontologica , logo a novidade e grandeza de seus resullados nao so nas seiencias naturaes, mas ate na historia e na religiao , despertarani a atten9rio dos raais elevados engenlios. Os gorernos promoveram este importanljsslmo estudo , de que em muitos paizes se crearam cadeiras especiaes, sendo d'esle numero a Inglaterra , Russia, Belgica , Prussia, Suecia e Estados-Unidos. li 'I'odavja a paj«'onlologia nao occupa ainda em Franra , onde esta sciencia nascera , o_ logar que llie compete, e que jii obteve n outras nayoes , e apenas se estuda siimmaria- mente nos maiores estabelecimentos como introduc^fio ii zoologia , botanica, egeologia. O ininistro terminava este relatorio, pro- pondo para professor da nova cadeira a Alcide d Orljigny , bem conhecido por seus escriptos sobre a paleontnlogia , alem d'outros traba- llios scientificos de egual monta. Uiii decielo imperial de 5 dejiillio ultimo, oonlirmou as propostas do niiiiistro sobre a creai^ao da nova cadeira, e designa<;ao do respeclivo professor. Rev. de Inslr. Publ. n.° 14. jimcrica. Colombo, como e bem sabido , foi o primeiro que descobriu o novo mundo etn M93. Quaiito a Americo Vespucci, a suii primeira cxpedi^ao foi posterior ii lercejra de Colombo, e coincide com a de Alonso de llojeda, e do celebre piloto Juan de la Costa. O nuqipa mais antigo, que conhece do novo mundo, e do anno de 1600, e e desenhado por Juan de la Costa. O nome de America apparece pela primeira vez no anno de 1520 no niappa mundi de Pedro Appiauo , annexo ;i edi^ao de Solino publicado por Caaiers«m 1.^22, enoglobo deSclioener de 1620, que se guarda na livraria de Nu- remberg. Americo Vespucci morreu em 1612, a 20 de fevereiro , e por isso oito annos antes que o seu nome fosse dado publicaraente dquella nova parte do mundo. N. A vaiilade soffre de myopi.i : longe de si nada ve que avulle. Quando nao ha necessidade , 0 sabio cala , 0 nescio falla. (A. A. de M. Canalho.) ErvUATA DO N.° 14. Pag. Cot. Link. Erros. Emend, 165 2.* 46 Nasua cori3a{;lo- Na sua coroa plo- riusa d'escriplo- riusa d'escripto- res nao Cuntam res nao coolatn tanto a ctislosa tanlo 03 illuslres perola os illustres AA. a cuslosa AA. da oriijiaa- perola da oripi- lidade, elc. ^ oalidade, etc. 102 o o 3 3- a a. ^ C I— cr> o D- (75 " it s 2 re -3 K\isli.'ii Enlraram. Morreram o a; EmsIp to o KvlstiaDI. En'niram. Sairam. iMorrerani. 2 M\ intern. to 05 Kxislutm. Enlrarnm. Sairain. Morreram. Exislem. E\i^tiam. Enlraraiu. o E.visliam. Enlraram. Sai'ram. Murreram. Existem. 3 ■~1 *0 Kvihiiam. Etitrarain. Sairam. Morreram. Evjslcm. O o o S a a. c a c a E 3 §33 o 3 r^ -, ci. c :^ c^ a. c. =:. O Q f^ ^ o f^ o 3 3 3 3 5 3 3 'SOS 3 3 e-. f^ o ra f^ f* '^ "^ S3- O O o c a; . 3. ^ 3 3 3 3 ' = = ? 2- 5 — w a. r" - w ^32 • 5 as w 3 « w ; c ci. o r. 2. 3 ■^ eu 2 re o ?5 b E X^-.. ^ to -^ -*• ^ Ot 4^ 00 oc to t* OT or — M Ol W CJr — wi "■ ^"^ "''^ ^. ;&^ ^ l£=% ^ ^. ^. ^ &^ QC^i — — .— ■ — otioo; 00 C: — » C: O: — O w O Ot w O: O: it: -— ' O "^1 W ® Jtt^titttta^ JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. CONSELHO SUPERIOR DE LVSTRUCCAO PUBLICA — RELATORIOS. INSTBDCCiO SDPERIOR. Conferencia de 31 ■ ^ Brandao, Mon. Lusit. P. V. liv. 16. ' Havia pelos eslatntos de D. Manoel as se;uintes cadeiras na universidade; a An prinm e vespera em tlieu- lojla; em canones, e lels , alenl d'estas, a ileler^a; em medicina de prima , e vespera ; era arles uma de lojica , oulradegrammalicn, e dnas de plnlosophia moral , e natural. As cadeiras de vespera de tlieolu-ia , e a de philosophia moral forani creadas de novo. Os lentes de prima de llieolo;;ia , canones, e leis tinham de ordenado Iriiita mil reis cada nm ; vinte os de vespera , e dez os de ter(;a de canones e leis. O lente de prima de medicina tiniia vinte mil reis, e o de vespera quinKe : vinte mil reis os lentes de philosophia moral, e natural , e dez os de crammatica e loijica. (isslor. rit.) graduagao dos lentes' , que, no fim das li- 5oes, tinbam obrigaQao de responder as du. vidas e perguntas dos sens ouvintes. O grao de baebarcl conferia-se aos alumnos, que tinliain cursado cinco annos em iheologia, direilo, ou medicina, e Ires , sendo em artes ; antes, porem, de receber esle griio deviam OS escbolares ler publicainenle sobre as ma- terias dos oursos Ires liyoe^, com argnmenta- ^,10. li este era o iinico acto que '.lavia na universidade ate ao bacbarel A prova d'anno fnzia-se por jurarneiito de testemunlias pe- rante o bedel, qLie servia ao iiiesmo tempo de escrivao do eUurJo , e o reilor, ou mestre que dava o grao : podiain tambem receber este grao os que , nao lendo coinplelado os sens cursos , com liido o mestre jiirava, que eram siifjicientes. Aos tlieologos e cano- nistas nao so conferia o respectivo grao , sem serein bachareis em urles. O curso n'esta faculdade constava de um anno de logica, em que ouviam as ligoes d'esta cadeira, e provavelmenle da de philosophia moral, e dois de philosophia natural. Ern iheologia lia-se o mestre das sentengas , e talvez mais tarde, a Escriptnra^. O curso dos canonistas versava sobre o dccreto , e o texto dos me- dicos era o Avicena. Do grao de bacharel dos legiilas nSo faz mengao este estatuto, mas e provavel que no sen curso seguissem o digesto, e o codigo. Para receber o grao de lioenciatura ; cur- savam os bachareis tres annos em artes, e quatro nas ontras facuidades, ouvindo as ligoes de primn. Acabados os cursos , defendiam umas conclusoes , em que arffu- mentavam os meslres e doutores, mas nao se volava depois deste acto, que era de nie'ra ostentagao. Os pontos para o exame privado tiravam-se dois dias antes com as- sislencia do cancellario ; que tinha oprimeiro logar no e>tudo, reilor e meslres.^ E ao segunrlo dia depois devesperas ia o lieencian- do , a se com solemne acompanhainento de toda a universidade fazer dnas ligoes, de uina bora cada uiria, sobre aquelles ponlos. ^ « Ordenamos que OS lentes de prima leam cada dia , que fiir de leer quasi hora e mea , e os outros lentes uraa hora , os quaes lentes comeraram a ler um dia depois de S. Lucas , e conlinuarao ate Santa Maria de ajosto inclusive , esomente j^nardariio as festas , que seguardain na nossa rela^So. n {Eslat. cit.) ^ ' SP hoiwer cadeira tie f/iitiia. » Id. ^ It I Nesles dois dias (de ponto para exame privado) enviarS (o hacharel) a caila mestre ou doutor uma Canada de vinlio branco , e outra de vernielho bom , e uma i;aliub;i, e ao reitor. escriv.ao e bedel , e levarao isto doljrado o camcell-irio , e pailriiiiio . . . . . , O dia seL'uinte ilepois dos [lontos , a larde , irao os meslres, ou doutores da faculdade, e assi toda a universidaile a casa do bacbarel, e o bedel com a sua massa , e os meslres on doutores em sen liahito irao todos ordenidainente pera a see, e ante elles irao moros com tantas tocllas , quanta^ sao necessarias, duas pera o camcellario . duas jiera o padnnlio, e reilor, e meslres on doutores da faculdade senbas tochas e d bedel outra , e a cada um td'esles uma caixa de comfeijtos , e farjio de lal maneira . que entrem era exame um pouco antes de sol pustii etc ■> /(/. 196 Concliiidas as li^oes , relirava-se o licencian- do , em qiianto os inestres tomavam uma con- soada , e se di^punliam os arf;iimcntoi , quo erani pelo meiioa quatro , coine^ando pclo doiitor iiiais mndcrno, para o que era nova- mente cliamado o liceiiciando. Findo este acto , conferiaiii os mestres entre si sobre n inerilo do candidaio, e passavam depois a vota^fio , que o liedfl laii^ava no livro, N'esles actos versavani as li^oe, cm arles sobre dois pontos do logica , e pliilosopliia natural , em tlieologia sobre dois livros do nu'stre das sentenjas; para os canonistas cram as li^'oes nas dr.cretacs c no dccreto j para os legislas no codij;o e nodigesto velho j e para os medicos em Avicena , e na arte. Niio rare sedispensavaa frequenciados cursos , para arepeli<;no, aos bacliarels, mediante Ires ligoes , que elles t'aziam publicameute , e em que podiara argumenlar os outros escliolares. Os que depois d'esta prova eram julgados sufficientes , podiam det'emier conclusoes e fazer exame privado. Aquelle ado cbamava- se Ac_sufficicncia. O douloramenlo era na se. O reilor e toda a universidade acompanhava processional- menle de caza ate a cathedral o doutorando , que ia de capello, c vestido rossaganle. Ccle- brava-se all missa do Espirilo Santo , finda aqual, tomavam todos os seus iogares, e o doutorando fazia uma breve li95o , em que argumentavam o reitor, e mestres da facul- dade , distribuiam-se entno propinas ao can- cellario, reitor, meslres, bachareis, e fidalgos, que estavam presenles ' ; seguia-se uma orajao laudatoria do graduando, que recitava um doulor, e logo o doutorando prestava o jiira- mento do estilo, e recebia de joelhos as iiisi- gnias doutoraes, e o osculo, que llie dava o lenle, que servia do padrinho. As cadeiras e subsliluiroes eram providas porconcurso, quedurava vintedias, econslava de Ires ligoos, em que os oppozitores ar.'ju- menlavam entre si: o que obtinlia maior niimero de votos era provide pelo reilor, e confirmado pelo rei ou pelo protector. N'cites eoiicursos vota o reilor, todos os lenles da universidade, OS bachareis quejd nfiocursavam, e OS estudantes da ri'S|)ectiva t'aculdade, que jd tivessem completado dois curso?. Os op- positores as cadeiras deviam pelo luenos ser l)acliareis, e os lentes de prima , n.'io sendo doutores, eram obrigados a graduar-se dentro de um anno da sua promo^So. ^ Tal era em summa a0rganisa5.no litteraria da universidade no pcriodo, que vamos escre- vendo. Alguns annosdepois (1518) secrearam ' Neste ado davam-se Iiivas a todos os bachareis ; e aos licenciados edolilores, alem dasluvas, barreles ; aos Tidaliioa , e ofGciaes do estiido luvas, e o cancellario, e padrinho tinbam dobrada propina de hivas e barreles. Para a area do estiido pagava o doutorando cinco debras de euro de banda , e Ires mil reaes ao l)edel cm logar da lesle Jorrada, que jielos antigos eslatulos se Ihe dava. ^ Eatttl. cil. as cadeiras de sexto dasdecretaes, e de astro- nomia, que fAra provida com oito mil reJ! de ordcnado, e ol)riga<;rio de ler uma vez por semaiia, em tnestre F'llippe, doutor em me- dicina ' , a quem succedera ']'l)o[naz Torres, medico e astrologo mui alamado n'aquclles tempos, que (Vira mestre do principe D. .lo.'iu.^ Inslituira tambem D. Manoel um collegio de ejtudos, com o titulo de S. Tho- maz , no convenlo de S. Domingos de Lis- lioa , para collegiacs domitiicos e jeronv- mos. ^ E e muilo provavel , que ello fosse in- corporado na universidade, como succedera com o dos menoritas. Ao mesmo tempo man- diiia elrc'i vir de Franca o doutor Diogo de Gouvea, tlieologo na universidade de Paris, para se oppor a cadeira de vespera de tlieo- logia', deque i'dra primeiro lenle IV Joao Claro, varfio mui douto e consuniado nas letras sagradas. * Asdm tudo parece indicar o adiantamento dos estudos academioos nesta e|)oclia, a pesar dos errados e viciosos me- thodos de ensino, que por inuito tempo do- minaram nas escholas. No governo economico da universidade , os novos eslatutos linham feito uma grave mu- dan^a. A eleijfio dos lentes e de todos os empregados' ficara dependente da confirma- ^ao regia. Os reitores, que ale esla epoclia foram quasi sempre eieitos d'entre os escho- lares, que ainda cursavam, deviam ser pelos estalutos pessoas nobres, ou constiluidas em dignidade. N'esia eleigao, que se fazia vespera de S. Martinho, votavam somente OS conselheiros e depulados, com o (jue fica- ram privados os escholares de uma das suas • Por C. R. de 26 de abril 1518 foi creada a cadeira de scxlo das Decretaes, e jior ontra carta de :£9 de oiiliibro do uiesoio anno a de matliematica. 2 Thumaz Torres tumou posse em 19 de otdiibro de 1521 da cadeira de astronomia , que leu ate 1537- — Fiijueiroa, Mem. n.s. ^ Em 28 de Janeiro de 1517 se abrin o esludo d'esle collegio , o primeiro que n'este reino tiveram os domi- nicos, e jeronyraos. — L. Ferreira , Nolle, da univ. n.« 981. ' Diogo de Gouvea , foi reitor do collegio de Santa Barbara em Pariz , e conego da se de Lisboa, Alguna AA. confundem e>le doutor com outros dois, que hou»e do raesmo nonu'^ e dos quaes um, sobrintio do antecedente , foi prior nior de Palmella , e o ultimo foi lenle na uni- versidade, depots delraaladada para Coimbra. — L. Fer- reira, Notic. da univ. n." 965. e Figueiroa, Mevh. Ill 3. « Visch. Bibliolh. ord. cisters. = Alcoba(;a llluslr. tit. XII. — Fr. Joao de Magdalena , eremita de S. Asostinho, que occupou a cadeira de piima de theologia ate 1515, em que falleceu , gosava lambera a reputa<;io de var:To donlo , e mui vcrsado nas letras hnmanas. « Tinha a universiilade , aleni do reitor , e dos con- selheiros , deputados , e bedel , os seguintes officiaes : dois tasadores , eieitos annualmente com os conselheiros; dois almotaccs ; sarcador do recebedur ; enqueredor , gnarda diis escholas, solicitador, conservador , e clian- celler , que era sempre o lente de prima de lets , segun- do OS estalutos, e na confomiidade da C. U. de 6 de dezembro de 1507, pm que elrei mandara a universidade a estaropa do sello , do que ella devia usor ; c por esle encargo tinha o dito lente Ires mil reais : o consenador recebia seis mil de ordenado ; o bedel Ires mil , e mars cem reais de cada lenle , pela carta que Ihe passava. 197 melhores regalias. Para este cargo e para o de vice-reilor nao potliain ser eleitos os leiites. Os consellieiros erain eleitos na tnesma oc- casiao, ein rminero de seis , pelos do anno antecedente coin o reitor. A eleiyao dos de- piitados f'azia-se vespeia de S. Liicas, em consellio de coiiseliieiros. Os deputados erain em numero de dez, cinco lenles, e ciiico do corpo escholar. O reilor com os conselheiros entendiam sobre o governo litterario da universidade, e eram por isso escoiliidas sempre para e?te cargo as pessoas mais auctorisadas do esUido. O consellio dos depiilados previa ii adiuini- stragao ecoriomiea da universidade, e corria com todos OS negocios, que diziam respjito a sua fazenda. ' Por esta forma ordenou D, Manoei as cousas do estudn geral , sob sua aiictoridade e inspec(j'ao E pode com verdade dizer-se , que se a nova retorma acabiira com muitos dos privilegios dos escliolares , nem por i>so OS estudos gaiiliaram meiios com aprotec^ao, que o rei llie liljeralisara. Com taei disposi^oes era natural, que muitos, que iam estudar , fora do reino, demandassem agora com preferencia as aulas da universidade de Lisboa , attraliidos pela fama dos seus novos estudos, por ciijo mo- tivo, provavelmente, doara este principe a universidade umascasas ,para ali seestabelece- reni escholas gtraes, com maior largiieza, junto das que o infante D. Henrique doiira tambem ao estudo de Lisboa, e nas quaes ate' dqueila epocba estiveram as escholas, no bairro d'Alfama a S. Vicente de Fora, onde ainda lioje se conservani vestigios doedificio, que D. Manoei mandara levanlar. ^ Vimos ja qua! fora o resuUado da conten- da suscitada entre a universidade, e os prela- dos e cabbidos do reino, por causa da posse das conesias no pontificado de Sislo IV. l!)ra entao laslimoso o eslado de iguorancia de todos OS cabbidos de Hespanlia e Portugal , na maior parte dos quaes nao liavia um unico letrado. Para remediar lao grave falta ordenara aquelle ponlifice, que em tndas asca- thedraes de Castella e Leao , os preiados e cabbidos provessem por concurso duas pre- bendas , uma n'um mestre ou licenciado ■* Reunion tarabem esle estntiito as ohri^a^ues dos orGciaes ilo estutio , as procissoes , mjssas e prtfga(;ues , qne havia de haver cada anno, o mudo de pro\er nas faltas dos leot»;s , o haliilo que nsariaru uos actos scho- laslicos , a ordem rjiie devjam guardar nos assentos , as jubiia^ops , a forma dos arrendanienlns , etc. , etc. ■^ « Fazeuins niorcee e doa9ao a dita universidade de oulras casas em lo^ar , qtie parece mais convenienle, edifiradas em forma e disposi^ao de escholas gcraes. » — Eslat. ril. Em IB de Janeiro de 1.503 comprou D. Manoei ao condeslavel D. Affonso, umas casas , (pie foram do infan- te D. Henrique, e as doou a universida prograinmas para o concufso dos preinioi devein oxhibir eslns cpiestoos, como problema>, q\ie se propoe aoj criailores, paia que ellcs OS resolvau) em sua iililidade; c indlcar-Uies OS nu'ios mais elVicazes ^ para melliorar os animaes da sua localidade em proveilo pro- prio, e por forma lal , (luo , aiiida no caso de n.lo obtereai preiuio algum, possam scr recom|)ensados dassiias fadigas e gastos pelos liicros provenieiilos do melliorami.'tito que obtiveram nos sens animaos. O oriador que n-oebe um premio por tor satisfeito ascoiidi^uei do programma, obtem , alem d'esta reconipi'nsa peciiniaria, os creditos ea repiita^ao debnm criador , oque llie dove feciblar a venda dos sens prodnctos, o ad- quirir a estima dos sens conoidadfios. E por tanto miiito conveiiienle , que o govertio, as junctas geraes de dislricto , e as cainaras municipaes estabele^am os premios que t'orem compativeis com os sens recursos pecuuiarios. JEstes premios devem ser distribuidos aos cria- dores por unijnry probo e inteligenle , depois que elle tiver apreciado dividameiile asquali- dades dos exemplares, que bouverem ap- parecido na exposigao ou no concurso do servi(;o. Mxposigdo de cmimaes. ' Devera ser deler- minado no prograinma dos premios o dia da exposijao, e pnblicado com a anticipagao conveniente, a tim de que os criadores pos- sam empregar os ineios necessaries, para criar animaes com as qualidades exigidas no programma. Sera convenieiite estabelecer nma exposi- jao dos animaes do todos osjdistrictos do reino, de tres ou deqnatro em qnatro annos, para mclhor se conbecer o progrejso desle raino de industria agricola. Pelo decreto de 16 de novembro de 1852 se manda fazer * O decreto de 16 de novemljro de 1853 , deteriniDa uo arti;'u 1.° que em caria iiin dus districlos adiuinistra- tifos se eslabele9am evposi(;oes anniiaes deo:ddtis de todos OS generus , com o flrn de proinover o apiiraiueiilo das raf-as pur ineio de pretmos peciiniarios e d,^ nien(;o'^s honrosas para os criadores. No art. 9 eslabelece que os preoiios peciiniarios serao os sei^uintes : — •J ,2 CiDO. a: Carallar Azenino ^f'accuiii La'iit/ero 1 Suino 1.° a." 3° 606000 40^000 25^000 SO^OOO liiSllllO tiiJOOO 403000 20,3000 iD^OOO 203000; lOSOOi) 5^000 10;5000 65000 3,S000 Admira-nos que sendo esle decreto mnito minnciosonas suas disiiusi^iles pelo que respeila a execuijao do 1.° art. umitlis&e a parte principal, deixanJo de determinar a orjanisaijao c a puhlica<;iio d'nm |)ro|,'ramma , para rcjular » di3lril)Upi;ao dos premios , e inilisilar aos lavradores os meihoraoieutos que Ibes couvem euprehender* annualmente uma exposiQao de animaes em cada districto do reino : nesta deve observar- se o mellioramento dasdiversas ra§a3 decada um d'elles. Uma on dnas vezes por anno poderia tambem I'azer-se nma exposi^ao nos coiicellios on comarcas, em que lia criajao do gado grosso e mindo. Nesta ultima o .jury encarrcgado da dis- tribiii(,\'io dos premios, pod? tornar em coii- sideraij'ao o eslado sanilario dos animaes , o modo mais economico de nntrii-ns, a jii- llneiicia do angmento da cullura das plantas piutenses e forraginosas etc. Concurso do servigo. — N'uma simples expoiiijao pode apreciar-se o volume, as formasealgnmas das qualidades dos animaes , mas nfio a sua aplidiio p;ira o serviyo ; para salisfazer a esla ultima condlgao, estabelece- ram-se as corridas. O concurso das corridas nao so facilila a diitribni^'ao dos premios, mas proraove o melliorarnonlo dos animaes , lornando-os mais prestadios ; por isso que os criadores que |iertondein apresenlar um potro , touro, 011 qualquer outro animal n'um concurso, nao dirigem a sua attenjao somente a augmentar a estatura dos animaes , on a lornar as suas lormas mais regidares , mas procurara sobre tndo obter animaes dntados de niuita forga, agdidade e ontras aptidoes para os diversos servi(;os , a que teem de ser d(^stiMados. E por meio d'este concurso accommodado a cada localidade, que se podera conseguir o mellioramenlo dos animaes destinados ao trabalbo. O premio que se concede em virtude d'este concurso e menos sujeito a recrimina- 5oes , e a desanimar os criadores que nao ibram premiados. O cavallo que ganliou o prego n'uma corrida, a junta de bois que em menos tempo fez am sulco na terra , de uma dada profundidade , destluguem-se por factos que nao dao azo a parcialidade dos juizes. Os exercicios mais nsados nestes concnrsos sfio — corridas adesfilada on a toda a brida; corridas a galope on carreira accelerada ; corridas a grande galope saltando fossos ; cor- ridas de travez sobre terrenoaspero edesegual ; corridas a Irote ; corridas a passo ; corridas de um tiro de bois on de bestas , pnxando car- rnagem carro on cliarrua etc. listes e outros exercicios servindo do espe- claculo on divertimento publico, podi'm oP- ferecer uma baze segura para a distribni^ao dos premios, de-tinados a |)roinover a^ quali- dades re^pectivas ii aptidao dos animaes para o traballio. O espectaculo das corridas dos cavnllos e mais exercicioi dos animae? domesticos, e taudieni nm energico niei'tilivo para anirnar 05 criadores a fim de aperfei^oarem os animaas destinados ao servi(,-o. Nao foi somente como espectacidos publicos que estes exercicios tiveram tanta voga enlre OS Gregos e Roinanos, mas com vi^Las dp 201 excitar o gofto pela nrte da equita^ao, e de promover o mellioraniento dos animaes. Estes mesmos niotivos fizerain que moderna- mente estes jogos setenham restabelecido nas naroes civiliMndas. Continua. j. F. de MACEDO PINTO. CERA DA CHINA. Cerlas arvores picadas por urn insecto par- ticular, piodnzein uina secre^ao tiio alva e brilljanle como o >pcrniacele, e que se der- rete so a tcmpeialura de 83.% propriedade estd que torna niui ulil aquclla siibslancia , de que se fazem excellcntes velas para i]lurnina5fio. A cera da China, conliecida tambem com os nonies de cera branca de inseeto, cera do Japdo , e esjjermacefc vege- tiil , foi descoberla n'aquelle paiz pelo meado do seculo XIII . Nesta epoclia, eainda niuitos annosdepoia, esta subslancia era poiico abun- dante, suice>-sivanieiiie , ])oieni , tern aquella indiistria crescido a porito , que ja hfije se exporta o rnellior de 400^ arraleis no valor de novenla e seis contos de reis, Segundo Wilham Lockart o insecto que produz a cera na China, constitue uma espe- cie nova do genero Coccus. Em uma das suas recentes viagens aqiielle imperio, Wil- liam cclheu n'uma d'aqiiellas arvores uma amostra da cerabrula, contendo o insecto, que a prcduz , nos diversos eslados do seu desenvolviriiento , e niuitos pedajos de casca da arvore da cera. Mr. We^lwood, que exa- minou cuidadosamenle aquella amostra, deu a nova especie de insecto o noine de Coccus sinensis. Todos os individiios, que se en- contravaui n'aquella amostra, eraiu femeas ; o seu esquelelo dessecado , constitue uma especie de niassa cpiasi espherica , occa ; interiormente brilhante, de cor esciira aver- melhada. Esla niassa, que represenla o inse- cto no seu eslado de perfeilo desenvolvimen- to , tern de dianieiro entre tres a quatro decimos depolegada. Em um doslados apre- seuta uma aberlura linear, que parece ser a parte por onde o animal esla em contacto com a arvore. Ale'ru d'aquelles insectos de maior volume, muitos outros mais pequenos, e novos, que provavolnjente sfio os verda- dejros productores da cera, se encontravam n'ella. A cera em bruto empasla-se naturalmente ii rcda dos ramos das arvores, formando uma camada branca, aveludada e fibrosa, de um ou dois decimos de polegada de espessura, e n'esle estado se separa facilmente da arvore. A cultura e produc^ao da cera da Cbina , e objecto de cuidados especiaes. Em mar<;o ou abril os cultivadores do alguns districlos d'aquellc imperio, e do Japao, buscam nos campos OS casulos, que cnnleem os ovos do insecto (^coccus sitiensis) eiuolam estes casu- los em folhas de gengibre, e os pendaram nos ramos de certas arvores. No fim de oito a trinta dias os insectos come^am a sair dos ovos e a segurar-se logo aos ramos e as fo- Ihas, n'este estado sfio elles brancos ; e teem a grossura de um grao de milho. Uma abun. dante secregfio branca e cerosa corre a ro- da de cada ura d'estes insectos, cobrindo a arvore como se estivesse forrada de neve. O insecto vai progressivamente crescendo no meio d'aquella secre^fio ale ao ponto em que, augmentando sempre esta , o volume do insecto diminue proporcionalmenle, o que fez accreditar a alguns auctores, que o pro- prio insecto se reduzia a cera. Em junho ou julho cessa n produc^ao da cera, e e n'esta epocha, que se recolhe. A cera esta as vezes tao pouco adherente ao tronco, e aos ramos das arvores, que se separa promptamente n'uma so peja ; quan- do pore'm eslii mais pegada nas arvores, nao e possivel tiral-a toda, e isto mesmo con- ve'm , porque a cera , que fica adherente ;i casca, foruece os casulos dos insectos neces- saries para a propagagao do anno seguinte. A verdadeira nalureza da arvore, que da esla cera , nao e ainda bem conhecida. Mr. Julien perlcnde que o Rhus succeda- nea , o Liguslrum lucidum , o Hibiscus Syriaciis , e uma quarta especie, ainda nao classiticada pelos botanicos, sfio as arvores sobre as quaes o insecto se fixa indistincta- meule. Enlretanto o ligustrum lucidum pa- rece ser, o que melhor Hie convem , e que mais se cultiva na China. Mr. Fortune pelo contrario duvida, que o inseclo se alimente de alguma das especies niencionadas. Os missionarjos catholicos da China Ihes mos- liaram uma planta, que, segundo elles affir- mavam , era a do insecto da cera. Um exem- plar d'esta planta foi ha pouco enviado para Inglaterra. E um arbusto de haste linhosa , com pe e meio de allura. Ainda n.'io flore- ceu , e por isso nfio pode determinar-se por ora com certeza a especie e genero, nem mesmo a ordem natural , a que pertence , mas pelas follias assenielha-se muilo a algu- mas especies de Fraxinus. A composijao da cera da China e, segun- do Brcdie, a seguinte : Carbonio 82,235 Hydrogenio 13,576 Oxigenio 4,190 iiumeros ■conforme a formula: C" H'"' O' A cera da China levada ao ponto de t'usao com o alcali solido se decompoe, dando em resultado dois dilferentes productos , observa- dos por Masckelyne; a c(rot/7ia(C" IV^ O^) e o acido cerolico (C* IP* O*), o que mostra que no acto da saponificagao da cera pela potasse se fixaram dois equivalentes d'agua. 202 A ciira do commorcio fiitide a 83.'; e depois de cninplolamenltt purificada a 81,6. E pouco soluvel no alcool , ou no ether ; dissolve-se porein facilineiite nu iiapliLhe, onde pode obler-se crislalisada. O conimi-rcio da cora da China esta ainda em graiido atrazo iia Eiiropa. Em 1316 e 18-i7 alffiinia* importa^oes liouve d'esle jje- iiero cm Iiifjlatena j ii'.as couio a5 pinprie- dades d'este producto iialural eram quasi de lodo ifTiioradas , nfio teve exlraegfio , e oi especidndores de>aiiimarain com esla piiinei- ra'teiitatira Entrelatito ;761 em jurisprudencia e sciencias economi- cas; 4:183 em medicina; 2:644 em philoso- phia : e 1:577 sem destine conhecido. Na universidade de Vienna cursaram ao todo 7:630; em Berlim 2:171 ; em Munich 1:961; em Praga 1316; em Bonna 1:012; em Breslau 864; e em Leipsiclc 812. Os professores nestas universidades sSo 1:666; dos quaes 851 ordinaries, 348 ex- 204 Iraordinarlos, 40 honorarios, e 427 parti- culares. Tirando os professores honorarios, que nao exercitam o magislerio, resla urn professor para cada 14 almnnos , e no anno de 1852, em que diuiiiiuiu o numero dos aluinnos, havia um professor para cada 11 alinnnos. IIVRARU NACIONAL DB PARIS. A livraria nacional de Paris e aclual- mente a niaicr da Europa. Conlem um milliao e duzentos mil volumes; cem mil inanuicritos ; um milliao de gravuras, e cem mil medallias , e oulros objectos de aiitigui- dades. BIBLIOGRAPHIA. Histoirc du Droit francais par Laferri^re- Parii 1853 , 4 vol. 8." O A. d'esta excellente obra merece o re- conhecimento de todos , os que verdadeira- mente presam os esludos iiistoricos ; e d'ella podera dizer-se com o illustre professor de Heidelberg — u eis aqui um livro , monumeiito de estudos conscienciosos, e que revela nobre severidade na critica; espirilo verdadeira- mente scientifico; a fidelidade do liistoria- dor, e a engenliosa concepgiio do plilloso- plio, apreciando o desenvolvimenlo do direi- to debaixo do mais elevado ponto de vista do progresso da civilisagfio. ' h A leiliira d'esLe livro, obra digiia de um jiirisconsulto , e de um clirislfio, faz-nos ver admiravclmente a marciia soiemne e irresis- tivel dos seculos, que sesuccedem, langando cada um a sua pedra no grandioso mouu- mento, que a humanidade constroe. E-.te nionumento e qual oulro lemplo druidico das margens do Sena, que as virgens derriba- vam , e reedil'cavam de continuo. Conjtriii- do com ruinas e de>pnjos, surge sempre mais vasto e elevado para abrigar debaixo de suas sanctas abol)edas maior numero de povos. O impcrio roniano denominava-se — o im- perio universal, o mundo — orbis romanus ; e esle mundo viu dilatar suas barreiras dean- te as hordas germanicas. Tudo parecia en- lao perdido para a causa da civilisagao, e da liberdade , e tudo renasceu com a nova sei- va. Ochristianismo era inuito mais vasloqueo imperio, e a nova civilisagao muito mais pura, que a dos seculos precedentes ; o pro- prio direilo feudal e rauitas vezes maisjusto nas suas maximas, que o direito lomano. ' Millermaier — ^nna/es de Litterature de Heidel- berg—IB5Q, n.° 8. Na liiitoria commum nem sempre pode descortlnar-se atravez o estampido e o fucno das balallias , e por enlre as paixoes, e as intrigas dos liomens a lenta , mas continua lransl'orma(;riO das cousas , que esscncialmen- te coiistituein a vida da humanidade. O livro da Laferrie're mostra-nos palpavelmoiite csta vida do mundo tal , como ella e; asualeitura iuspira-uos plena confianga no futuro, por que o passado nos indica, que cada grande periodo da liistoria nos da uma somma maior de verdade e justi^a. O 1.° volume comprehende a exposigao do direito , e das inslitui(;oes da republica romana. Eis aqui o juizo que delle forma Millermaier. « A engenlio^a exposi(,'ao d'estas inslituigoes, e do sen desenvolvimenlo; a originalidade das considerajoes que o A. apresenta ; o perfeilo conhecimento , e uso judicioio das fontes, onde foi beber , dao grande valor a esle volume, e superioridade sobro muitas das melliores obras allemas d'este gencro. » O 2.° volume expoem o direito gallico antes da inlroduc^ao do direilo romano nas Gallias, e a mislura dos dois direiloj duran- te OS quatros seculos da domina^ao iuiperial. Na 2." parte d'este volume o A. depojs de ter esludado a influencia da philosophia estoica e do chrisliauismo sobre a religiao romana, indica como se refundiu o direilo dos vencedores com o dos vencidos , e des- creve os principles geraes do direito parti- cular dos gaullezes no seculo XVI. O 3.° volume occupa-se do direito germa- nico nos periodos nerovigieiios e carlovlgien- nos, em suas relajoes com o direito civil, penal e canonico. O 4.° volume comeja ein Hugo Capelo, e acaba em S. Luiz. N'esle 4.° volume ha uma sec^ao muilo importante relallva a hisloria das escliolas , e das universidades , ao renascimento do direilo romano, e ao de:.envolvimento do ensino do direito cano- nico. Esle volume termina com a exposi9.io do direito particular da epocha feudal. AVISO DA REDACCAO. Assigna-se este jornal era Coimbra no ga- binete de leilura dolnstituto, rua L,irga ; cm Lisbon no Centro Commercial , Calgada do Ferregiiil n.° 13 e 14; no Porto na loja de Francisco Gomes da Fonsrca , rua das Hortas n.° i'62 e 153, em Braga em casa de Domingos Jose Vieira da Cruz, rua do Souto; em Firo, em casa do Dr. Miguti Rodrigucs de Sousa Piedade ; era Estar- reja , em casa do Dr. Manoel Marques Pires. ® JitJSitittttcr, JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. CNIVEHSIDADE DE COIMBIU. — PnOCRAMMAS. FACULDADE DE nULOSOPHU. 1853—1854. 1.*^ ASyo. — PHYSICA , E CHIAIICA INORGAMCA. Lente — Dr. Luiz Ferreira I'imeniel. Nor;6Es GERAES. — Defmicao e objecto da chiiin'ca — disUnc^io enlre a pliysica e a cliimica — compara^ilo dos plienomenos physicos e chimicos — rela9ao da chitui- ca com as sciencias naluraes. ho(;6es PUELiMiNAKEs D E PHYSICA. — Materia e cor- pos — prupriedades geraes da materia — extensao, irape- nelrabilidade, divisibilidade — estados dos corpos — sulido ^.liquiUo, aeriforme, globular, vesicular, esphe- roidat. For(;a8 on potencias natiiraes — allrac^ao universal — cohesrio, adhesuo — propriedades dos corpos solidus e liqiiidus, que dependcm da atlract^ao mok-cular e do estado d'ag^rerja^ao de suas particulas — porusidade dureza, majleabilidade , ductilidade, peso — furma e cristallisa^ao — principios da cristaljographia — formas regulares — formas primitivas e seciindarias — formas irre^ulares ou accidf nlaes , etc. — syslemas crislajjinns — medidaa dos crisla.-s — isumerismo, allolropia — dimur- phismo , i>ulvmurphismo , e isomorphismo — propriedades do eslailo aeri forme. Colorico. — Dilata^ao dos corpos pelo calorico — lem- peraluras — tliermuutelrus — Ihermuscopios , e pyrume- Iros — propa^arao do calorico — irradia^ao, euiissriu, reflexao , al)Sorp);ao, conductibiiidadc — mudan^a d'esta- do dos corpus — calorico si^nsivel e calorico lalente — calorico especifico , caloriraetros , ebnili^ao, cunsjela^ao , mixturas friffonleras, elr. — producijao do calor jier- cussao , oltrilo, coui))ress3o , combiislao, etc. Eleclricidade. — Plienomenos elcctricos — lei d'attrac- ^Ses e repulsops <-leclricas — meios de jiroduzir a elt-ctri- cidade — coii-Iuctibilidade — clislribui(;au da elec ricidade k snperficie e no interior dos corpi.s — commimicai;ao da elfClricidatle , ac^oes por infliiencia — inslrument.,8 e apparelhos eiectrico3 — el^clroscopos, electromelros , ek- ctrophoros , machinas electricas , irarrafa de LeyJe , etc. — efffilus — electriciddde por ruiUaclo — pilbas , sua construc^ao e projirit-'dades — fur^a electru-niutriz — effeilos. CHiMiCA i.\ORG,VMCA. — No^ocs ^Prflfs. — I'heuome- nos chimicos —natureza cliimica dos corpus — di\j,iio dos corpus em simp^s e compostus— caraclercs e pro- priedades pbysicas , orfranolMpiJcas e chimicas para dislinguir os corpus — alomos moleculas e parliculas — moleculas iiile-ranles — fur(;as moleculares— atfiui- dade — inOiiencia i|as circumslaufias sobre a ac(;ao Cbimica— kis de coml.inn^ao — eqiii,alenles , propur- 90H8 muitiplas— de(iui(;Un:ts d'csta cadeira sao dislribuidas na ur- deoi sc^uinlt- : MECHAMCA. — Principios ^rrafts — no(;Ses do re|miiso e do moviraf-'tito ; fortj.is ; It-is do eqiijlilirio ; leia do mo- vimeotu ; moviim'nlo ciirvilmeo; ^nw iilade ; irravitutjilo ; considerii<;Scj ^eriifs sobrc ii iict;'io das for^as. Mechauica ths tolulvs — condn;ocs do equilibrio d'lmi CorpD Bullicil^ido |ior nnia uii mais fon;as ; mai-Inrms ; rei^iateacias piissixas ; chelo ar — ondas sonoras — cunimunicai,ao das vibra- qoes dw ar aos rnrpos, que se acbiuu ein contaelu com elle— Vflocidade de propaL^ai^au do sum — vibra^Oes das cordas leiisas — cumpara^ao dus sons — escala musical — a\aliai;ao nnnierica dos sons — sons concumilanles , ou Ions tiHrmouiros — accordes e dissonancias — sust«iii- do» e beuit'es — temperamenlus — escala dus instrunn-n- tos de sons G\os — propa;;a^au e Cummunica^ao do mo- vimenlo \ibralorio nos corpos sulidus — vibra^Ce8 nor- maes das ver^'as rigidas — vibra^oes das membranas tensas — vibra^ocs loniiiludinaes e taiigenciaes — vibra- qao do ar nus tubus dus iuslrumentus de venlo — appli- ca^Ces — sons resullantes — sons refleclidus. OPTICA. — Phenomenoa geraes. ^Hypolbeses sobre a natureza da luz ; corpos Irausparenles , lran»luctdus e opacos ; transmis?ao da luz em linlia recla ; sombra e penumbra; velocidade de propairai;ao da luz ; leis do decrescimenlo d'inlensidade da luz ; photometria, Catoptrico. — Leis da rellevau e^pt■cular ; refle.vao ir- regular ; intensidade da luz reileclida re|;ularmente ; phe- nomenos da rf'flexao sobre espelhos pianos ; rellexiio sobre espelhos curvos ; calciilo relativo a delerminai^ao dus fo- cos ,■ furmaij'ao dasiiuagens e delerniina^iio da sua posi(;jlo ; e3])ellios prisinaticos 5 cj'lindiicus , pyramidaes e conicus. Dioplricn. — Leis da rerrac^au; polencia refracliva e poder tefrangenle , limites da refrac<;ao e reflexao tolal ; refrac^ao atmospherica ; miragem ; refrac(;ao da luz na passagem d'um nieio indeGnilo para uutro , separa- dos por uma auperficie plana; rcfrac^ao alravez d'um meio lerminado por superficies plauas e inclinadas enlre si; phenonienus dus prismas; delcrniina^au dos indices de refrac(;ao nus corpos solidos , liquidos e gazusus ; refracQao da luz na sua passagem d'um meio iudeGnilo para oiitro , separadus por uma superficie esplierica ; calciilo relativo a distancia fucal ; lentes convergenles e divergenles; furmtda geral para a determina(;ao dus focos ; centro oplico e eixos secundarius ; furma^ao das iraagens, sua pusi^ao e sua granileza comparaJa com a do ohjeclo; aUerrai;ao d'espherictdade. Decomposi<;rio da luz natural — Espectro solar ; dif- ferenle refrangibilidade |)tica. — Microscopios ; telescopies; micromelro de Rucluui ; camara escura; camiira liicida ; meirascupio; lanterna m.i^'ica ; phantasmagoria; mlcros- cxpio solar. Ilefrac(;5o dnpla. — Plicnomeno fundanipntul ; eixos de rpfrac);:lo ; Ums da rerriici;rio nos cri>tru's d'um sd eixo, leis da refraci;rio nt)s cristaes de duis eixos ; refrac^So diipla do \ idro comprimidu ; reflevila sobre os cristaes lM-re(rau;;enti's. Anneis cur.idus. — Colora<;ao da luz , produzida por lam mas deU'adis , phenoinetio fundamiMital dos anneis corailos ; medid.i da i-spessiira da laiuiiia d'ar ; pheno- inenos relalivos aus anneis curaJos ; opaciilade e colora- (;itu dos Corpus. DilTrac^jlo. — Pheaomenos geraes; appurelho de dif- fracqiiu ; nie'lida das fraiijas; explic.'H;ao. Pularisa(;.M», — Plietiumenos fuu'lameiitaes ; polarisaqao pela rellexao ; polarisatjao pela refcac(;So ; polarisa^ilo pela refract;,!)) dupla ; pulariscopius ; colurai;ai) da luz polarisada ; potaris.ye. — Sua forma^ao — neve vermelha dus alpea e das re^'ioes pulares. Grnniso e snraiva. — Em que differem estes raeteoro* urn do uulro — plienomenos cuncomitantes — forma, eslructura e grandcza dos graos — explica(;ao. Serena, orvnlko ^ geada e rf^f'/y. — Ctrcumstancias , que acompanham a forraa(;.ao de cada urn d'esles me- leoros — tlieoria de sua forma^ao, f'entus. — Sua direc(;ao e velocidade — caracter dos ventos, segiindo a natureza dos paizes , donde soprnm — prupagai;ao — ventos d'impulsao e d'aspira^ao — du- ra(;ao dos ventos — ventos geraes, periodicos e acciden- taes ou irrei:utares — causas dos ventos — hypotheses de Descartes, Halley, D'AlemUerl, Laplace e Saigey — disciissao d'eslas hypotheses — vaiitagens dos ventos. Furacues. — Caracleres d'esles ventos — signaes pre- cursores — effeitos desastrosos — explica^ao. 207 Trombas, — Descrip^iio d'estes raeteoros — tres eape- cies de trumbas — efff^itos das trumbas — orifi;en). Trovowlas. — Pheiiunienus princtpaes — relaiiipagos — trovSo — rwiu — cffcilus physicus do raio — efl'eilus chi- micos — eflt_'i(us nmi^neticos — freqiiencia das tro\'oadas nos differeriles lojjares — si^rnafs preL'iirsures — Ihfuria — precaiii;ii(j durante as Irovoadas — nieius d'evilar a queda do raio— para-raios. Miragciii. — descript^jio do phenomeno — liistoria — explica^iio — prodtn-);ao artificial ^ mira:;ein no mar — paraselene e outroa ptienooienos de mira^eni. Atco iris. — Descripcjao do phenomeno — descoberta rla sua explica<;ao — prorluc<;ao artificial — tbeoria — arcos secundarios — arco iris pela reflexilo — arco iris luuar. Aerolithes. — Definit^ao — hisloria — circumstancias accessorias — ori^^em. Eslrellns culeiiles. — Definic^ao — circumstancias ac- cessorias— explica(;5o. ^a/o». -- Descrip(;3o do phenomeno — hypotheses a cerca da cans.i que o produz. Aurora boreal. — Descrip(;ao — circumstancias acces- sorias— rela^-iio d'este plieuomeno com o luagnetisuio — eip!ica(;rio. Temperatitra da terra. — Temperatitra do ar a super- ficie do sulo — temperatura uiedia d'lim lo;^ar — linhas isothermes — calor central — temperatura dos dois hemis- pherios — frio dos lo^^ares elevadus — temperatura dos mares — equilibrio de temperatura da terra — foates do calor. FRAGMENTOS LITTERARIOS. DEFESA Dk. TBEOBU DO BELLO. Dois dias depois da priineira leilura fiii honradocoiji iiina carta aiioiiyiiia , cujoaiictor parece ser mna seiiliora. Eisaqiii a carta.... tJiir. — « Terminoii v. a sua primeira leilura « pedindo ao auditorio — nao que recebesse " — senao que inedilasie a theoria, cuja " exposi^ao tizera v. tao aduiiraveluieiite « Accedendo ao cotsvite de v. tbrceJHi por " subineter aoexaine da t'ria rellexao ajguiiias " prQposi(;6es fundameiUaes , que a meuiona u me conservara ; mas — permitla-tne v. a u franqueza — por muito que eu folgasse de u convericer-ine da verdade de uiiia tbeoria u que diviiiisa a belleza, acliei-lbe laes dif- « ficuldades , que nao eslou convencida. u Disse V. que o fundaineulo da arte e o u bello; e que so pode procrear um priiiior u d'arle o genio que teulia sido lecuiidado « pelo ideal do bello. Ora teiido v diclu que t( esleeraiiuia manifesla^fio de Ueos, julguei- K me auctorisada a itil'erir da tlieona de v. u que so poderaser arlisla oespirito do liomein K em que Deos se leuba uianit'estado, que « ame a Deos, eiielle crea. II Mas parece-me que os factos desmenlem K esta rigorosa illa^'ao da theoria. v. por M certo nao denegara a Voltaire o nome de u artista: e queui foi Voltaire? o maior « sceptico do seculo passado .... Nao cito te OS noiiies de miiitos outros, por que hei K muito medo ao ridicule de « fcmme 11 savante )i deixo a capacidade de v. suprir " as niinhas omissoes. 11 Liinito-riie pois a pniideiar-llie quesendo 11 muitos OS factos que conliero inconciliaveis 11 corn OS corollarios da suallicorja, nao pos- « so adinillir a verdade d'esla, em quanlo 11 me fallar tao alto a aucloridade d'aquel- 11 les. Fata. v. grande i)ein a uma mulher 11 se acaso se digriar esciarccer estas diividas 11 em alguma das subsfquenles leiluras. Pede- 11 ili'o a — dc V. — Ouvinle e rcspeitadora. * * # Primeiro que tudo, cumpre-me assegiirar ao illustrado auclor dacaila,que sincera- inenle e de lodo o meu coragao liie agrade^o a exlrema delicadeza com que me dii conta da dillicuidade (|ue serve de obstaciilo a sua convie(,'fto, respeito a verdude da llieoria que live alionra deexpor aqui. K se aigiim traba- llio me deu a exposic^ao d'essa tbeoria, que de meu, so lem as t'orinas deque a revesli , para a por mais ao alcance de todas as intel- ligencias , d'esse eslou sobejamente pago com o resullado que oblive, fazeiido gerininar no espirito de pe^soa que parece ler taiilo espirito, uma ideafecunda, cujodesenvolvimento, au- xiliado pela mi'dita9ao propria e pelo esludo dos livros da scieiicia , virii, um dia a dar- Ihe, a cerca d'aquella tbeoria, forte convic- ^ao. iim segundo logar e tambem meu dever declarar que acceito da mellior vontade, couio rigorosaniente logico, o corollario que lira o auclor da carta, da proposi^ao funda- mental da tbeoria , para assim a levar a prova irrefragavel dos factos. Por quanto, lendo eu dido que o fim da arte e a expres- sao do bello, como ninguem pode exprimir o bello sem o amar, nem ainal-o sem crer nelle , e obvio que so o espirito que ame a Deos e crea a Deos, so esse pode ser fecun- dado pelo ideal do bello, so esse pode exprimir o bello e ser artista, uma vez que o bello seja , como o quer a theoria, um symbolo de Deos, um raio da perfei^ao intiuita, que cahindo na iiitelligencia do genio solfre ser por elle encarnado nas lormas sensiveis da arte. Segue-se por laaloque verdadeiro artista so o pode ser o hoinem religioso. Sceptico absoluto e artista sao ideas que mutuainente se repelleii) ; ninguem poie ser uma e outra cou^a ao mesmo tempo. Mao e islo o que prelende o auclor da carta? Pois ahi esla exaclainenle o que tambem llie eu coucedo. Alequi nao ha a menor di^crepaiicia entre nossas ideas; e:tamos perl'eitumeule de acordo neste ponlo. Donde come(;a pois a divergencia? Eui que consiste a dilficuldade? Em que asjenta a objec<,'ao f ludaguemol-o Parece-me, que a instancia do auclor pode ri^orosameiite leduzir-se a esla forma syl- lo"islica : — S^ a vossci theoria everdadcira, diz elle, todas as cot^sequencias que dtlla 208 rigorosamcnte se dedmain , hdo de scr vcr- dadciras como clla. Mas csta conseqncncia , mas a conscquencia que cu aqui sulto dii thcoria , e falsa em vista dos factos que a contradizcm. Logo a falsidadc que em l(d conso/uencia apparece, rstd iia tlieoria d'ondc a desprcndc'ra o raciocinio. liepurai, sciiUores, ijue ■■6 no caso de os faclos coiitriulizereiii aconsequoncia , e que a falsiiiadc d'e^ta pode dar iPbliinunho contra a voidade da lljeoria. ISo caso contraiio porcni ... no caso de niio haver lal contradic- yfio enlre os faclos e a conseqiiencia . . . no caso de ser a conseqncncia plcnamente con- firmada pelos faclos, ja se icqnea ohjecQao , beui longe de destruir a tlieoria, so valcra a corroboral-a ; porquesoprovard apostcriori. o que ja a priori linlia indicado a razfio — que so o lioinem religioso pode ser arLista. Ve-se por tanto que loda a qnestao se reduz ao e.\aine iniparcial dos factos Oia que e o que dizein os factos '. O auctor da carta , alludindo aos nomcs de varies sceplicos que, seiii dei.xareni de ser scepticos, cullivarani asartes com brillio, cita expressaincnte o nome de Voltaire. Reconliejo com o auctor que Voltaire foi o niaior sceptrco do seculo passado. Reco- nbego tambem que em poesia dramalica foi o major arlista do scu seculo. Mas seguir- se-ba d'alii nccessariamenle que secptico e arthta sejam cousasque podein caber junctas? Parece-me que nfio. O auctor da carta far-me-lia a merce de reconliecer tambem que em Voltaire bavia duas entidades dislinclas, num so bomeni verdadeiro. Uina era o Voltaire pliilosoplio , — o Voltaire auctor do diccionan'o philoso- pltico e da philosophia da historia , — eiige- nbo maiigno e por ventura mediocre, cjue so folgava de metier a buUia e coi)rir de irrisfio as mais venerandas crenjas da liuina- nidade. A outra era o Voltaire artista , — o Voltaire poela dramatico — genio sublime e arrojado , e a mais de urn respeito tao dif- I'erente do Voltaire pliilosoplio, que com razao se pode dizer que este nao quiz deixar a outrem o iiKOminodo de refulal-o — e a perpetua refulagao de si proprio. Nao se creia que eu vonlio a qui fazer com estas palavras uiii epigramma a niemoria de Vollaire: nao , seniiores, FoUaire 6 o nome de urn illustre finado. Tanto iiasla para tal nfio poder ser minlia intenjao — Pane scpiiltis. Mas ba mais. A contiadic5ao cujo espe- ctaculo tanto nos conlrisla no drama da vida de Vollaire — sabeis por que nos contrista? li por que essa e pouco mais ou menos acon- dicjfio natural de todo o homem no estado presentc da bumanidade. Digo que todo o bomem e, como foi Voltaire, uma contradic- yao; porquc todo o homem e uma dualidade, na qua! se fundem , sem se confundirem, a razao com a paixao, oespirito com a materia, o anjo com o brnto. Assim como a vida phvsiiilogica e conibate das for^as de dentro conlra aa forgas de fora, d'eslas que teiidem a destruir, com acpu-llas que tendem a con- servar; do niesnio inodo, a vida inlinia, a vida moral da humaiiidade e tamhcin iiin conibate, mas combale do anjo contra o brulo, e do brulo conlra o anjo. Durante esle combale, que coinet^a e acaba com a vida pre^cllte do homem , ora vcnce o anjo, ora vence o bruto. Quando o anjo vence, o lionicni aiegra-se, alra a fronle para o ceo, porde de vista os limos da terra, so aspira e leiide paraDeos, couio I'onle delodo o bem , como porlo de salvainenlo onde lem de repimsar-be desua peregrinayiio neste inundo. Quaiulo poreui vcnce o brulo, o homem eiilrislcce, poe o roslo no chf.o , olha silencioso para a terra como ijuem Ihe pede a paz de urn lumulo, porque o homem tem coiiscien- cia de sua fraqueza , sabe que fez nial , tem vergonha de si proprio, coiihece-se como um pro^cripto do ceo... Oh senhores ! Equal de no.^ nfio tem pela inemoria a cerleza de haver occiipado, mais de uma vez na vida, uma oil outra d'estas duas posi^ues ? Qiial se nfio lembra de haver feito algum bem , de ler practicado algum mal , de ter sido uma» vezes mais anjo que brulo, outras vezes mais brulo que anjo ? Pois isio que mais ou menos tem acon- tecido a todos nos, e exaclamenle o mesrno que acontecera a Vollaire com maior iiilensi- dade , porque Voltaire foi um grande homem , e o condao iiievilavel de todos os grandes homens, e refleutirem a humanidade intensa- mente e em proporgoes gigantescas. Digo pois que Vollaire foi a contradic^ao em pes- soa ; quenelle, mais que em algura outro homem do sen tempo , conibaleram o botn com o mail geiiio da humanidade, a carne com oespirito, o anjo com o brulo: qiiando o bruto venceii , Vollaire foi pliilosoplio, quando venceu o anjo foi arlista. ii na verdade, como philosopho Voltaire delirou , nein podia deixar de delirar; por que tendo-se-lhe encarnado n'alma em loda sua energia a missao do seculo 18.° que era a de?lriii(;ao da idea vellia em que assentava a ordein social d'enlfio, Voltaire devia delirar, porque Voltaire viiilia para destruir : — d'aqui a philosophia, d'aqui o scepliiismo de Voltaire. Como arlista porem , Vollaire linlia a prcbcieiicia do genio. Voltaire sabia que apoz o seculo que destruisse, viria oiilro seculo que havia de reparar, — que o sce- pticisnio podia sim dar cabo do presente ; mas como nao tiiilia vida para mais , como nfio podia sobreviver nein um iiislante ao preencliiraento do sen desliiio; o futuro, per- tencia inevilaveliuente ao dogmalisnio ; |)er- lencia as alias creii(;as da humanidade, per- tencia a fe — mas a fe renascida das pro- prias cinzas — a fe depurada no crisol da 209 tribulagao das manclias que contrahira em seu sacrilego amplexo com a Cor^a, — a fe reslitiiida licandura e pureza primiliva, com que caliira do alto da (^raz no seio d'alma dos simples e dos opprimidos d'este miiiido Tudo isle sabia Voltaire , porque llnlia o ge- nio da arte: e coiiio i^so era o mesmo que queria o anjo em Voltiiire, os pensamentns que llie irradiam no (=^pirilo, os senlimentos que llie siirdem n'alma , as palavias que llie cahem dos labios , ludo vem radioso e pal- pitante de vida ; ludo vem tinclo d'csla te viva na verdadc, que lia de ser a salvajfio do future , ttido vejn recendendo e^tes per- fumes do ceo, esle amor ineffavel de Deos e dos bomens, verdudeira e unica lei de igiuil- dade c fruteniidadc , sellada com o sangue do bomem-Deos, e promulsada ba dezenove seculos no alto do Ciolgotha. Duvidaes, senhore^, diividaes da rigorosa exactidao dadistincgao queaqui fa^o! Olliae aos resultados. Como pliilosoplio — que e de Voltaire! Vol- taire morreu com o seu seculo ! . . , A iui- mensa collec(j'ao de seus escriptos phjioso- pbicos sfio apenas um ornato das grandes livrarias. Mas ha tanlo p6 sobre esses livroa ! Parece que ahi ba um fetido de cadaver que desgosta, e delles repelle a mao da curiosidade . . . O certo e que de Voltaire para cii a sciencia tem caminhado e progre- dido lanto , que lodas essas obras pliiloso- pbicas, senao sao um moriuraenlo de vergo- nba para o es|iirito bumano, sao um como marco miliiario, levantado na e»liada da sciencia, para advertir o orgullioso espirito do boinem , dos erros a que searrisca quando rompendo com as tradi^-oes do passado, renegando da aucloridade dos seculos que o precederam, se lan^-a sosinbo e desajudado, sem outro guia mais que uma razao apai- xonada , nos campos do infinito Eis aqui o mais que lioje valem as obras pbilosopliicas de Voltaire. Mas quanto ao Voltaire arlista ja nao e o mesmo. Como artista quasi que se nao pode dizer que Voltaire foi de lal paiz , nem detal seculo; porque Voltaire vive aiiida lioje com nosco, como vivera com o» bomens da sua terra e com os homens do seu tempo, como lia de viver com lodos os homens das gerajoes do porvir ; porque a verdade e a virlude , que sao a alma das suas grandes composi^oos dramaticas, por isso mesmo que sao etenias como Deos , asseguram a memoria de Vohaire uma dura^ao igual a da huina- tiidade no tempo e no espago. Como arlista Voltaire nao morreu ; por- que o verdadeiro genio nao niorre nunca. Pelo contrario — Voltaire encanla , enleva, arrebata, como se vivo fosse, como se vivesse no meio de nos. Mas, com que remata Vol- taire lodos e=tes milagres do genio?.. Sera com o desprezo acintoso e retlectido das crengas da humanidade ? .. Seiii com P'se mesmo espirito de scepticismo, com que tanto folga de perseguir em seus escriptos pliilosophicos a verdade religiosa? Sera com estesacrilegio hitego do ridiculo, com o qual pnrecia ter feiro pacto para ('eraser dnfaine. 9. . Nao! liem longe d' isso .... a va- ra magica, a que deve Voltaire todo o poder com que nos remeehe a alma — sabeis qual tlla e'? SHo as satictas cren>,as da huma- nidade; siio esses mesmos principios de moral christ.a, que havia bebido em sua juventude por maos de jesuitas, no antigo collegio de Liiiz o Grande, sao as altas verdades do chriilianismo , de que Ihe havia formado a educa<;ao a seiva da alma, e que, a niio sabidas d'elle , ainda agora llie despontavain no espirito e governavam o rora(;.'io. Conlinm. m.b. de xMEN'DO.NCA. O CRUCIFIXO. (Traduc^ao da XXII. medila^no poelica de Lamartine.) (!» In , que eu recolhi sobre os seits labios , Com seu ultimo alento e extremo adeus, Symbolo sancto , dum de um muribuodo y Iraaijem do meu Deus ' Sobre teus pes sa^^rados qu.-intas lagrimas Tem corrido , senhor , desde esse iuslante, Em que eu le recebi . aiuda quenle Dos ais do ajonisanle. Ardia nos brandoes ja debil chamma , tjiu padre murmurava os sanrtos hymuos , Nessa toada triste que acalenta O somno dos meninos. Um reflexo d'esp'ran(;a ainda brillta\u Nesses trai^os augustos da beldade ; A dor, fiigindo , ih'iniprimira a gra(^a , A morte , a mujeslade. Viam-se as Iran^.is ouduliir-ihe ao vento , E as vezes encobrir fei(joes celestes, Qual ondula no marraur de um sepulchro A sombra dos cyprestes. Um do funt'bre leilo ja pentlenle, Sobre o peiht curvado inda oulro bra^o , Parecia apertar a sancta Imauem N'um ni'ii estreito abra^o. Para beijal-a os labios se enlre-aljriain , .Mas nesse beijo o espirito fu^ira, Qual antes de os queimar, devora a chamma Perfumes snbre a pyra. Somno da morte a bucca Ihe celara , Do peito o palpitar ja nao se ouvia, G nos olhos scui luz , pesada e trisle , A palpelira caliia. E eu , em pe , cheio de um terror secrelo , Nao ousava tocar resto adorado , Como se a morle na mtidez sublime O houvera consa^jrado! Meu silencio enlendeu osacerdole. Das frias m3i)S tirando o crucifixo : M Eis. meu dllio, a saudade , e eis a esperanea. Oh ! recebe-as submisso. ?» Sim , seras senipre minha , herant^a funebre ! Selte vezes o arbuslo que eu planlei Junto a cam|ia, a folha^em tem uindado « E inda le nao deixei. S6bre esle corat^iio mirrado c Iriste 'I'u es perenne esrmlo contra o olvido , Meus olhos no marOm c'o pranto amartro O tem amoUecido. 210 O' confiJenle d'ulina, que se aparia , Vem , rcpcte uvilni yt'Z aos mens oin iJos , O que escutasle eiilflo , e elln te rlisse NcKSfS tons tito diimijos. Qiinailo ocfulla ids vcos, qii' esconde as vislas , Todti nm si a nu^sa alma coiicentraila , Surja ao ultirnu adeiis , sc \e du curpo No9 gcliis exilaila ; Qiiando enlre a vidn e a morte vacillaiite , Cunio lull frui'lo tlo ramo a dfspefjar-se , Treiiie de susto suhre o iii-f^ro ali^'smu , Onile \ai nieri,'ijlhiir-3t' : Dos psiilinos e dus als qimiulo noss* alma Nao uuve a mel:iiu'i)!ica liarnionia : Fiel aaiigii, aos laliius niuribundoi CuHado iia a^'onia , Para atlniiiiar-llte o liurrur i\o passaniento . Para as \islas i:iiiar-Ihe para I)i_-ii3 , Cunsulador duino, o que Ihe dizes Jiiiitu aus oii\idos sf us ! Senhor tambem niurreste , e as liias lagrimas Nessa nolle em que tii orasle era vaOj Do sagrado Olivele, ale a aurora, Cahiram pelo cliao ! Da cruz d'onde sundaste o ;,'rao myslerio Viste o pranlo rurrer da virseni pura, Km luclo a natureza , e tu le^ando Teu corpo a sepiiltura. Ao Iriste percador , JESUS, permilte Sen siispiro exiialar soltre o leu seio , De mim le lemlira enlao, lu , que da morte NTiu tiveste receio. Quern o sitio huscar, onde expirante Sua bOcca sultou o e.\tremo adeus , Seu' sprllo ^uiara d' all miuli'alma Aos pL-s do Hiesuio Deus. Ah I venha , venha enlau um enle amigo, Como anjo ile amor Irislo , e magoado , Em solu(;os collier-me sobre os labios O preciuso le^'adu ! CoDsola^ao e arrimo au muribundo. Amor puro e esperao^as consagraado , Vae , o sanctu penhor, dus qu' inda Gcam De niiSo em mao passandu ! Te que, dos uiurtus alluindo a abubada, Selte vezes a lul)a de signal , E acorde os que da cruz a sombra dormem O somuu sepulchral! MEIOS DE PROMOVEK A MLLTIPUCAgXO E MELHOBA- BEN'TO DOS ANIUAES DOUESTICOS. < ir. CuUura das plantas pratensea e forraginosas. Todos OS meios qm- possam einpregar-se para prombver a iimllipliragao e aperfei^oa- mento dos animaes doiiiejlicos serao inf'ruc- tuosos , se nao melhoraiinos a nossa agricultu- ra , suhstiliiindo o svstema dos poiisios pelo dos afolliamentos, e se nao estabclecennos a cultura das plantas forraginosas e os pra- dos artificiaes, sacrificando a estes alguns alqiieires de cereaes , cujo valor sera bem coinpensado pelo reridimento que deve provir do augmento da criasfio de bons anirnaes. A exten^ao da cultura das plantas forra- ginosas e um dos imdljores tneios para me- ' Condescendcndo com as inslancias do A. desle ar- ligo , declaramos que a nota a esle tilulo, que vem no numero anlecedenle a pag. 119, petleiice a Redaci;ao (o que i visivel). liiorar a agriciiltura; os vegetaes deslinados para aliiiiontar os herbivnros, sendo colliidos antes de eslarein inadiiros, corrigem o solo em logar de o esgoiur, e privam a terra das niiU lierviis; etn l"im , a^ plaiilas forraginosas tem uma inlluenoia saliitar sobre a fecundida- de do bdlo. A cultura d'estas plantas offerecc sempre grandes vaiitageiis, mas e sobre tudo iias pro- xiniidades das ci'lades, i)ue da major rendi- iiienlo pi-lo eniprego dos fenos , dus pallias e das forragens para aliinento das vacca» leiteiras e dos aiiimaes de scrvi^o. Connbra , rodeada de bellos cauipos, n'lO apresenta no seu niorcado se nao pallias de cevadd e de trigo, e veTde de cevada. Esle e outios faclos da nieMiia ordeui mostrain o la- ineiitavel atrazo em i]ue esla a agiiciillnra. A culliira das plantas forraginr^as mercce ser anjinada n'alguina^ provincias,e e>tabeleci- da n'o.ilras em que e desconlieoida ; nao so pelo rendiineiilo que produz , inas por que e CI principal meio de multiplicar os anirnaes doinesticos e aperfeijoar as suas ra^as. 'J'einos por vezes percorrido o campo de Coiuibra, e magoa-nos vel-o coberto de ani- rnaes pequenos, eiifezados, deformes, e de pouco valor. l'"6ra-nos natural investigar a caii>a de tamanlia uiizeria, por isso que nos parecia em desacordo com a amenidade do elima e ferlilidade do solo : qual sera pois a causa do acanliainenlo naestatura, da irre- gularida de das formas, e da magreza, tao frequentes nos cavallos e nos gados do referido campo 1 Alem do descuido com que se tractam os aniinaes, cnconlra-se n causa principal deste esudo na cultura rutineiraa que esta reduzi- do o campo de Coimbra; cultiva-se nelle o millio e depots fjca em pou^io a maior parte do anno, de>tinado a pastagens communs on antes a imi logradouro publico, por que as poucas plantas, (]ue nascem espontanea- raente, nao podem vegetar n'uui solo pizado e repizado por anirnaes de diversas especies. O esladi) d'esta e d'oiitras localidades em iilenlicas eircumstancias , nao poJe melliorar ^em providencias legislativas , ipie lerminan- lemente acabem por uma vez com as pas- tagens communs , e por conseipiencia com os pousios; a lim deque cada lavrador tenlia a propriedade do S(mi terreno, nao so durante a cidlura do [uiliio, mas em lodo o anno, e possa eslabelecer as cuUuras, que mais con- vierem us suas eircumstancias Se OS lavradores reservarem uma pequena parte do terreno para a cultura das planta-; pratenses, eciillivarem a= forraginosas no tem- po em (|ue o terreno Hies fica livre da cullura do milho on outro qualquer cereal, obterao uma base solida ))ara multiplicar e melliorar [)rodigiosamente os animaes domeslicos, dos tpiaea tiiarao giande rendimento; por isso que OS gados sao um producto , um meio pro- ductor c um instrumenlo de fertilisar a terra. 211 As oljserva^oe^ que acahamos de fazer, jii algiiein iiosapresunloii conio ol)jecyao — aseu- cljeiites do iMoiidcijn. i\as peqiieijai iiuiBdajcies a inaior parte do carnpo e suscepLivel de cultiira, e nas },'ran- des iiiundagoee , que sfio muilo raias , aindaque o lavrador siilfre^se ul,i;uiii prcjiiizo, este llie ficava compeasado pelos lucros que liavia li- rado nos aurioi em que nfio liouvera j^'rande^ euclieiUes. Demais ou eslas sao deinoradas, e n'este caso podia aliineiitar os aiiiiiiaes ao estabulo coin a rezerva que deve ter de forraf;eiis seccas, ou sao passageivas e ii'este caso tiao eslragain os prados e a culUira das plaiitas t'oriaginosas. Aclualiiieute perde o lavrador no priiiK'iro ca;o a niaiorparle dosaniinaes, por nfio ter pastageiis nem alimentos para os sus- tentar; e no segundo caso ve dezimar os seus rebanlios pela torrenle das agua?; o tpie nfio acouteceria se elles I'ossem criados pelo syste- ina de estabulajfio , e nao vivessem seuipre no campo. Deseiiganeni-se oa lavradores, que se a terra e eicas^a, e dies vivem na mizeria, e por causa dos precouceitos , de suas practicas ronceiras, esobre tudo, daiudolenciacoin que diiigein o actual syslema de agricultura: a cultura do inilbo, que de remotos tempos se i'az no campo de Coimbra, por serexclusi- va , tein ejgotado ecanjado oterreno, tornan- do-oesteril; cuitivera conslanteniente a terra e alteineiiias cuUuras, sequereni obter variados productos , que i'ai^ixni a aburidancia da fauii- lia, e ibes (acilitem acreaj.-iode bons gados , OS quaes podem ser t'oiite da sua riqueza. 'I'emos lia^tantes exeuiplos d'esta verdade nas na^'oes visuilias: a Inglaterra na relbruia doseu autigo svatemade agricultura liaiitou as terras destinadas acullura doscereaes, e deu grande extensao a cultura das plantas pra- lenses e t'orragiuosas : conj e^ta refornia nfio so augmentou prodigiosainente o niiuierodis aniinaes e do seu pezo, rnas via com arlnjira- 5ao crescer coiisideraveluiente a produgfiodos cereaes ; amda que a extensao do lerreno I'os- se manor, como era bem adubado e anianha- do , liavia se tornado mais fertil Esla trans- t'orma^'ao da agricullura , toniando baratas as subsistencias, deu grando impuUo a sua in- dustria. Poderemos encontrar exeinplos mais pro- xitnos, observando a no^sa piovincia do iVIinlio abundante em pa.-tos e lonagens, e ja rica em criayfio de gados, tendo um solo e clima inferior ao das margens do Montlego. A major parte dos agricultores e domina- da pelo preconceito de t|ue os uossos animaes domeslicos sao os melliores em relajao ao paiz: nas nagoes em que a agricultura estiver levada ao ultimo grao de perf'eijao , e onde se tiver tractado com preceilo da creagao dos animaes e do seu mollioraaiento, este preconceito pode ser uma verdade, que deva ser respeitada ; tnas entre nos e um erro de que resultam grandes prejuizos, por isso que temos tudo a fazer, sendo muitopouco oque lieidamos dos nossos anlepassados. Devemos por tauto antes de conie^'ar o niellioramento das rai^as dos animaes domesticns , dar adevida extensao a cultura das plantas forraginosas , e pratenses. Contima J. r. de MACEDO PINIO. UfFOBMA DOS HOSPITAES DA UNIVERSIDADE. Com o duplicado fim de soccorrer a, saude dos enfernios pobres , e de haver os exeai- plares necessarios ao ensino da arte de curar, (ei reunir o grande ministro da reforma universitaria de 1772, n'um so hospital pro- prio da universidade lodos os enfermos , que d'antes couconiam ao hospital da cidade : e mandou naquelle preparar todas as ofticinas indispensaveis a cura e trataniento dos doen- tes ; bem como as que demanda o ensino regular, e completo da clniica medica e cirurgica. Fora collocado aquelle eslabeleeiinento practico no edificio da Conceigao, junto ao muscu de historia natural , aproveitaudo uma parte d'este no pavimento inferior para a construcgao do theatro aiiatomico, e do dis- pensatorio pharmaceutico. Tragada , e execulada a organisagao do novo llo^pital com cinco eufermarias , con- forme a disposigao dos estalutos, uma para estudantes pobres, e ricos tratadosasua casta; outra para officiacs e pessoas privilegiadas da universidade; a terccira e quarta para OS dois sexos dos enfermos pobres da cidade esuburbios; ea quinta para os exames de medicina e cirurgia practica ; a capacidade do edificio podia apenas prestar a cento e vinte enfermos diarios. Crescendo este nuuie- ro progressivamerite ; e alargada por impid- sos de liumanidade a area da repartiyao destinada ao recebimento dos enfermos; seudo que de todo o disiricto afluiam, e fora iuliumauo fechar as portas , e negar guarida a dnsgraga e a miseria, que as^im soffrera pena immerecida, pondo-se ale em risco a vida dos miseraveis doentes; ha iiiuito que a faculdade de medicina senlia a necessida- de de alargar a esphera do exercicio clinico, e do en^ino medico do hospital de clinica geral. Mas nfio via por onde rernar, Deparou-se favoravel eiisejo em 1834. com a exlincjfio das ordens religiosas. liavia edi- ficios vagos de coavenlos e collegios: e con- segiiio eiitao a i'aculdade a rasa do extincto collegio de S. Jeronymo aondc eslabeleceu a eni'ermaria geral do sexo masculino, e a do extincto convento de S. Jose dos Alaria- nos para onde mndou o hospital de molestias cutam^as chronicas, ate entao collocado no sitio inais balxo, e uial sfio , da cidade. 212 Remediadas assim, e mui convenicnle- mente as neces>idades da:-aiidi', e do cnsiiio, foi cm 1851 dado o edifioio de S Jose dos Mariaiios ao collegio de Saiila IJraiila, de Peroira: e, lendo de reinover-se os Lazaios por essa causa, foi llio dest'mada a casa de S. Joioiivmo, ticaudo do novo a faciddade red(i7.ida'ao edificio da Co^lcel^,•^^o para hos- pital de cliiijca goral. Siibia eiilfio ja a irezenloj o iiumcro dos enlermos. A eslrei- leza da casa causava a estieileza do gasa- lliado. A acciiimda^ao dos doenles peiorava a coiuliv'io das moleitias; comproineltia a vida dos padocenles ; e Iranslornava a mar- cha e regiilaiidade dos symplomas, iiuili- lisando assiiii veidades doulrinaes da praxe niedica. l'"oi iiina lalalidade latneiitavel ! A resjioiisahilidade do ensino, e do ruia- tivo DOS liospilaes, pesava todavia nos hoin- hros da f'aculdade de mediciiia. Nfio llie podia sot'frer o aiiimo taiUa calainidade ; iiem contemplar impassivel o iranslonio do cxercicio, e do ensiiio da sua protissao gene- rosa. Represeiitou , iiistou com o goveriio, lespeilosa mas energica Lenibrou que unia paile do edificio do cxliaclo collegio das artes podia rccollier inui commodameiite algiins enfennos, que era urgente reinover da casa da Contei^ao aLuUiada d'eiles. Assim o resolvcu o govetno; e em seguida creoii uma commis=fto pl■e^idida pelo prela- do da uiiiversidade, e composla de uiii vo- gal iiomeado pelacamaia, oulro pela lacul- dade de mediciiia, e iim pela miseiicordia , fazendo tamliem parle d'ella o diiector das obras publicas do dislricto. Fora romineUido a commissao o escoUier novo local para esUibelecimento de uiii lios- pitalaccoiiiinodadoasnecessidadesdocuralivo dos enfernios, e exigencias do ensino; pio- pondo as obras e prepares necessarios paia o fun indicado : e appreciar ale que poiito sera conveniente coiifiar a misericordia da cidade a susteiUagao e Iratamenlo dos en- fermos, concorreiido a camara com algum veciirso, e a adiiiinistra^fio do hospital; re- seivando para a I'aculdade a susteiiU9rio e tralaiiieiilo dos exemplaros do eiisiiio : pre- parando a commissao os regulamentos neces- sarios, a reforma^'ao , que julgar coiivenieiite. E tfio imporlonte, como difficil, trabalho- sa e arriscada, a tarela da commissao, mor- iiiente na seguiida e terceira parte do pro- bleina que se (il'ferece ao seu estiido , e dis- cussao. A primoira parle parcce estar resolvicla, e com graiidc prolicieneia. A colnmi^sao esco- Ihendo a casa do collegio das artes, que por sua vasta capacidade, couslruc^fio e expcsi- ^■ao, paiece Inlhada de molde para um ma- gnilico hospital; e reunindo-o a casa contigua de S. Jeroriymo, lem preparado um dos melhores ho^pilaes da Europa. Medida a capacidade das casas sob os preceitos hygie- iiicos, accomiiioda mui folgadamente quatro- centos e cincoonta doentes, respeitada a iii- dependencia desexos, divisfio e regularidade de servi(;o; e com separa^fio e independeiicia das casas de convale^ceii^a, Sabemos cpio ha uma |)laiila bem deseiihada por um subsli- to da Caculdatle de mediciiia, apert'ei^oada e colonda na r('[)arti(,'rio das obras publicas, para ser apresenlada aogoveruo, represeiitan- do o collegio das artes com as suas diversas repartiij'ocs , e accoiiiiiioda(,'oes. K Irabaiho estimavel e de muilo pre^o para osclareci- meiito do governo e do publico. A reiiiiifio da casa de S. Jcronymo d do collegio das arles toriiou iudispensavel a rcmo^ao dos Lazaros para oulro local. I'lslaii- do a disposijao da uiiiversidade a casa do collegio dos iiiilitares, forain para all inii- dados. E poslo que S. Jose dos Mariancs seja o silio e casa inais propiio para <• tra- taniento daquellas ent'eniiidades, iifio deisa de haver alguma conveniencia na escolha da nova casa, que por sua capacidade e cons- trucjfio, pode ser desliuada para hospital especial de lodas as niolestias cutaiieas: e d'eslas especialidades ha grande falta n'este nosso paiz. llavendo necessidade de um novo theatro analoiiiico , e nuiseu aualoiDieo-pathologico ; porque o que exisle nem lem as condigoes prescriplas nos e>tatutos, nem satisfaz as exigencias da scieiicia, e espirito do seculo, e de esperar que na vasla capacidade do novo hospital se escolha local appropriado para iiiii bom pavilhiio, em que as diisec- (joes possam =er acoiiipaiihadas das observa(,'oes microscopicas, e trabalhos de injecyao. Sera por Ventura esle o objecto mais dispendioso; masnao poderia serteiitado em occasiao mais opportuua, havendo o governo civil recebido ulliinaiuente aciina de quatro contos de reis de juros depadioes, perlencentes aos bens proprios do hospital. O dispensalorio , e laboratorio pharinaceu- tico laiiibeii) acluini cominodo aposeuto no edilicio do collegio das artes, sem que seja necea^aria grande despesa () novo lio5|)ilal vai oiganisado ao goslo moderiio. 'I'lezenlos a qualrocentos doenles e o numero maximo que hoje se adopta em lodos OS hospitaes. llospitaes monstros pas- saram de moda. lleprova-os a sciencia tun- dada na observag.'io. Continua. DOCUMENTOS I.NEDITOS. Falla que o viso-rei D. Jolio de Catlrofez aos capilies , e oiUrai pessotts o dia da gido balallia (,Je Dio.) » Senhores! Se nr.e parecera que a gran- deza do vosso aniino , e o grande esforso de vosso brago, e o grande alvoro(;o, que me todos inojlraes pera a empicza, i]ue lemos 913 tiUie mans, procedia de nfio eiUenderdes a gravcza do iieijocio, e a iinporlancia d'elle, e que temeraiiamenle , ^em oiitia neiiluuna considera^'fio eiiliaveis n'ella ; tivera o cora- gac) inenos alogre, e iifio me alrt^vera a qiie- rer mosliar por armas a eirei de CaiiibavH qiiaiito iiiais forte e iiin e\ercito de tres mil hoiiiens delL-rminados , que n sen de sp^sellta mil : por que avirlude e Ibicja nnida, dizem, ipie aiais t'oite e ; mas por que sei que vos ieuibra, que sois e^teius e alicerces, que ao prcsente suslem e det'eiidpiii a india, que e uma moiada J que ibi edilicada solire tantas vidas e saiigue portuguez, assitn de fidalijos muilo nobres, coino de outia o;enlo , ciuja t'ama e noiiie co[ii taata gloria c lionra anda por lodo o mundo: e o que deveis ao tronco d'oude |)rocedeis, e aos avos, de que tanto ves honraes; por que cuido que trazeis deaiite OS olhos, e muito viva a meiiioria de seus f'eilos, por que iiao somente se deram por conteules de vencerern com pouca gente, e nial provida grandes exercitns, nai partes d' Africa, e iias da Asia, oiide nos agora todoi acliamos; mas lam hem nas da nossa iiuropa, onde temos elrei uosso seidior, e nossos paes e maes: aonde tiveram muilos e giaiides recoutros , e debates com os roma- iioi, em tempo que senhoreavam o mundo todo, aos quaes, scndo tao poucos, deram tanto traballio, que iiao so uma vez, se nao mu'itas alcani,'arani dellcs victorias mui assi- gnaladas, com que o nome portuguez ficou antre elles muilo celebrado Lembro-vos as grandes victorias, que os iioisos anlecessores alcangaram neste mesmo logar de nossos inimigos: e que ficando elrei de Cambaya d'e-la vez sem castigo da offen- sa, que tern feito a elrei nosso senlior, e aos seus capitaes; quam abatidos ficamos, e quanto niellior uos e a todos morrer iiesta empre^a, que ficar com vida, sem fazer co- iiliecer aos imigos o erro, que commetteram , e o engano, em quecairam; com teiem pera si, que na multidao dos miutos estava a victoria certa. Polo que cumpre , que lodo? com animo alegre e esforgado offeregamos nossas vidas, po/ido-as em todos os perigos, por defensao de nossa lei, e por augmeiito do estado d'elrei iiosso senlior. Porque em ta] caso 5 succedendo nao sairmos como dese- janios, nao teremoa conla que dar; pois aca- bamos em cousa de tanto servigo de Deos , e em que ia tanto a reputagao e opinlao do nome portuguez: e os que escaparmos com vida ficamos ganbando nma fama lao gln- riosa, que uunca ja mais podera ser esquecl- da; nem os que vierem poderao perder a inemoria , e lembranja de urn dia tao iiisi- gne, como e o que se nos hoje -offerece. iSao quero que tenbaes em pouco a forga dos imigos, nem menos, que cuideis , que o haveis de baver com gente fraca e medrosa do vosso brago ; se nao que vos persuadaes haver de ser a balalha muito rija, perigosa, e cruel de parte a parte: porque nunca foi bom feito despresar oinimigo; antes temos visto grandes desventuras e desarranjos , por terein em pouco suas forcjas, e nao fazerem caso d'ellas. O que agora quero, senhores, de vos , e que vos nao pareca, que o baveis de haver com Guzarates somente, se nao com turcos, rumes, arabios, persios, abexins , farlaques , OS ipiaas Iiao de trabalhar por vos nao ven- derem muito barato seu sangue, e por verem se podem ir por diaiile com o seu intento , que nao e' onlro, se nao tomarem esta forta- leza, com morte e destruigao de todos, que aqui estamos. Porque fazendo nos esta con- ta, tenho por averigiiado, que pleijaremos com dobradas fnrjas; as quaes espero , que Deoj nol-as accrescente ; pois confiamos na grandeza de sua misericordia, e tambem , pois ve que tudo resulta em service seu. Ora pois, senhores, para que e trazer- vos a memoria os grandes feitos em armas, que por todo o niundo se lizeram ; pois me podeis dizer , (]ue os nao vistes , e que os historiadores favorecem as partes? Nao vos quero persuadir nonhuma cousa com exemplos passados , senao com homens vivos da nossa mesma na5ao,.que ou sac vossos parentes, ou foram muito vossos amigos, que sendo muito poucos em nuniero prevaleceram sem- pre contra tanta multidao de imigos, como muitos dos que aqui estaes tereis visto: Em tempo do governador D. Jleniique, na for- laleza de Calecut , em teni))o que era nossa, o qual desembartando de um batel pera en- tiarem na dita forlaleza, por estar cercada dos niouros, pleijou com dez mil mouros , que Uie quizeram iinpedir a desembarcagrio , e apesar d'elles, desembarcaram , e se re- colheram na fortaleza , deixando grandes sinaes nas carnes dos mouros do fio das suas espadas, e da forc^a dos seus bragos. Km Ceylao tambem trinla portuguezes mal dispostos, e nao tendo outras armas mais que langas e espadas, pleijaram sexta feira de endoengas com Balagem com 700 soldados mouros, dos quaes malaram muitos e osdes- baralaram , tomando-Ihe suas fustas no porto de Columbo. E que vos direi das consas que o graiide Affonso de Albuqueique fez nas partes de iVIalaca contra tao grande poder de mouros com 600 portuguezes somente? Tambem vos leinbro o que fez o governador Pero Masca- ranhas com -100 homens natomada deBineii- tao , entraudo por um rio cinco leguas , to- mando a cidade , sem Ih'a poderem defender dez mil homens de pleija, tendo preaente o seu proprio rei , que os fazia pleijar com do- bradas forgas ? E pois Deos assim tern mos- trado o muito que nos quer, que razfio podtt haver, lendo confianga nelle , que nos possa estorvar de mostrarmos a estes mouros , que nao somos inferioresaos portuguezes, que nos tempos passados alcanjaram tantas victorias 214 delles? E a qncm isto nao pareccr bem , nao deve de se Icnibiar da obrij^a^ao que tein a Decs , e a sen rei , e aos avos , d'onde proce- de, coiiio so If (iiliiara dos |RTi!;os evidcnti's, que iH>>la ciiiprfza oslaiii certos, e da tiiorto, que queierd t'ligir, du qiial nao lia alii podcr escapar na terra, quaiido por Dcoa for or- denado. Ora pois, senliores , lembro-vos , que ten- de5 iim rei por seiilior , tao dc^^-jozo de vos fazer inerces, e lam compadecidn de vossas iiecessitlades, que vos esta obrigando a llie defenderdes esta sua I'orlaleza, como elle, e eu esperainos, que facjaes : e que o proveito que distose nos senile, aiein das raznes , que jii V06 disse, e que ficatido agora veucedores (o que eu tenlio por ituii certo , pois lemos Decs pela nos^a parte) que nuiica niais os imigos terao atreviinento pera loriiaiein outra vez a se levaiilarein contra iios : por que , ain- da que elles se estriliaui no favor, e ajuda, que teem nos lurcos, assiin por serem fortes, como por serem exercitados e deslros nas armas ; lodavia nao se podein comparar com o nosso animo, que tao coslumado esta a alcanyar niuitas e j^randes victorias delles. Poiide todas estas razoes diante dos ollios; fazei conta que pieijais em presenga d'elrei nosso senhor , o ipial hade julgar vossos tra- balhos , e remunorar vossos servigos , nao como quern esta d'aqui cinco mil leguas, se nao como se estivera presente a todos os combates e recontros, que por vos passa- rera. .Exfor^ai-vos , valentes e animosos portu- guezes, leaes e bons va-.salos , ou , por dizer mellior, amados fdlios d'aquelle grande rei de Portugal, a que todos cliamaes pal; plei- jai todos com grande coraf;ao; pois tendes por guia, e vos acnmpanlia Christo crucifica- do (dizendo isto amostrou a todos urn cru- cifixo, pondo-se de giolhos diante elle I') tornando a conlinuar a sua practica , foi di- zendo, que acomrneltessem os imigos com grande animo, e que nao arreciassem mor- rer n'aquella empreza; por que dizia elle, que dizia Petrarca — chc bcl mourire tutu la vita lionora.) N . BREVES REFLEXOES niSTOniCAS SOBBE A NAVEGACAO DOMONUEGO, B CDLTDUA DOS CAMPOS DE COIMBltA. Continuado de pa^. ]88. Nao tendo encontrado , como ja dissemos (nota 1. pag. 188 deste jornalj o decreto de 88 de niar(;o de 1791 , para por meio delle nos liabilitarmos a fazei a descrjp^ao das ruinas dos campos de Coimbra, tivemos de aproveitar para aqui algmnas noticias dispersas j)ela extensa memoria que Eslevao Cabral escrcven a cerca do Mondego '. Mas antes de darmos essa idea do estado dos campos de Coimbra em 1791 , convem remonlar ao anno de 1708, porque pclos faclos referidos iiaqudla memona , enlendemos poder con- eluir que a causa de se nao ter levado a effeilo o enranainento dccrelado em 12 de maio de 1694 (pag. 149 desle jnrnal) foi a opposi^-ao dos povos. Alguns engenlieiios mandados jjejn governo de sua majestade (D. Joao V.) a Coimbra para examiiiar o Mondego, forain de opiniao que o leito deste rio se abrrsse pelo sul do campojuucto a S. Martinlio do Bi-po, Villa- Pouea e Arzilla. liste parecer dcsagradou a muita genie, e logo subiram aotlirono varias representac^'i'ies que lizeram mudar o piano , e o rejullado foi rnandar-se que o alveo nao fosse mudado, mas siui fortilicado ; e que o desembargadnr Miguel Kernandes de Andrade viesse a Coimbra na qualidade He juiz com- missario para fazer reduzir a corrente do rio ao sen anligo alveo e aiitigo eataiio. Entao se derani as providencias que deixamos lem» bradas a pag. 169 e seguiate entre as quaes figura um maracliao de pedra ecal, niauda- do construir n'um boqucirao ou quebrada por onde o rio se dividia para a esquerda, um quarto de legua abaixo de Coimbra. A violencia das enchentes, que vieram de- pois, deslruirani aquelle grande paredao mandado fabricar em 1709; secco.i-se o alveo vellio, e o rio sem leito fixo corria , desde 1783, disperse pelo campo ^. As areias amontoadas pelo campo occupa- vam em 1790, uma superficie de duas leguas de comprimento , e mais de seis mil palmos de largura ^. A elevagao do plaiw das terras do campo , nao era, nos fins de juUio de 1790, superior a agua clara do rio , mais de tres a (juatro palmos *. Ilavia no dito anno em diversos pontos do campo de Coimbra muitos panes, alguns dos tpiaes se mediam a leguas, e nao se cultiva- vam se n.ao em algumas pequenas paries, em jullio ou agosto quasi inutilmente Entre outros eram recommendaveis o campo baixo de Boi.'iO ate a Geria, o de S P'acundo, Cioga, Tenlugal, Arzilla, Maiorca etc. etc '. Eis aqui o estado de ruiria em que so en- conlrava em 1790, o leit-* PKEMIOS. I>Jo diaoilo domez dedezeiiibro teve logar na sala grande dos actos da uiiiversidade , a distribui(;'io solenine dos preinioi confcridos pelos conselhos das faciildades de tlieologia, direilo, tnalliemaLica e pliilosopliia, aos aluniiios, cujos nomes ju publicamos no n.° , 9 d'este jornal. ." — ISSi. NcM. 19. 218 Esta solemnidade acadetnica f6ra ordena- da pelos Eslatiitos de 1772 para os preinios das tres faciildades de sciencias naluraes; mas so etii 1310 se celcbrou pela primeira vez , por occasiao doi preinios, (]ue pelo de- creto de 26 de novembro de 1839, se esta- belecerain para todas as taculdades. Nos prjiiieiros annos fazia o reitor uma ora^ao em porUiguez , louvando o aproveita- inento dos preiiiiados, e excitando o brio de lodos a alcanjarem eguaes hoiiras ; se- guiaiii-se depois os discursos dos decanos de lodas as faculdades, especiaiinente dirigidos aos respeclivos aliimnos. Pobteriormente ordeiiou o conselbo dos decanos, que, ale'm da ora^ao do reitor, liouvesse so o discurso de iim leiile decano por lurno annual ; e as- sim se pratica hoje. Os lentes de todas as faculdades assistein a este acto com as suas insignias , e os premiados tern urn logar dis- tincto na saia , oiide se assenlaui pela mesma ordem de faculdades, que os lentes. Clia- inados pelo secretario e mestre de ceremonias da universidade os premiados, vem por sua ordem a meza em que esta o reitor com OS cinco decanos, receber do da faculdade lespectiva o coinpetente diploma. Antes da dislribuigao dos premios celebra- 56 na real capella da universidade a festivi- dade de Nossa Senliora da Conceijao , sua especial padroeira , com assistencia de todo o corpo academico. Esta solemnidade, sempre tSo fesliva para a universidade, apresentava este anno um aspecto melancolico e lugubre, den;mciando a profunda impressao do doloroso aconteci- mento, que viera contristar todos os cora- 5oes. Era o luto da patria pela prematura e infausta perda da excelsa Rainha, que pouco mais de um anno antes estivera no meio d'aquella assemblea litteraria. As gallas des- ses jubilosoi dias breve se trocaram pelo rnais rigoroso luto! As paredes da sala nuas, ascadeiras coberlasde do, oprofundosilencio de toda a assemblea, interrompido so pela voz dosoradores, a quem a lei impunha a obrigagao de recordar a. mocidade acade- mica a importancia d'aquelle acto soleriine, iorn.-avam um espectaculo verdadeiramente tocante, que fizera brotar copiosas lagrimas de saudade. Os discursos recitados pelo prelado da universidade, e pelo decano da faculdade de direito n'esta occasiao foram os seguiutes : FiLLA DO EI."" sl'lR. BISPO ELEITO DB BRAOiSgA , VICB BEITOa DA DNIVEBSIDADE. Senhobes! a lei aniversltaria , conferindo lionras e premios aos alumnos , que sobresaeni por scu talento e applicacao , e excitando assim a eraulacao dos outros para disputarera aquel- les t glorlA ou merecercra galardao egual, (etc era visia promovcr o progresso das sciencias e daj lelras. Para inelhor conseguir tuo iraportante (im, a mcsma lei determiiiou , que os diplomas dos premios , partUlos e ticcessit , fossem entregues aos proprios aggraciados n'esta sala grande , cm dia festivo, na presenoa de sens meslres , e do publico respcitavel e illustrado. Eis , Seiihores , o motivo , que nos reane aqui hoje, que a Santa Egreja eelebra o raysterio sacro-santo da Conceicao inimaculada de Nossa -Senhora , proteclora d'esle reino A' solemnidade nligiosa , segue se agora esta, d'entre as I'estas acadeuiicas a mais grata para todos. IS'ella se comprazem os mestres pelo bom resultado dos seus trabalhos ; os premiados pela gloria , que obliveram ; os condiscipulos com a esperanija de que a obteriio egual , se forcejarem por ella ; os pacs, familias e amigos dos jovens premiados , por verem publicamente reconheci- do e galardoado o merito de pessoas , que Ihes sao tao caras ; eu em fim , por ver coroados em grande parte os mens desejos , a felicidadc em tudo e seujpre dos fillios d'esta acadcoiia. A formalidade da lei vai cumprir-se, mas o seu fira , a realidade ! . . . essa depende de vos, illuslres academicos, flor da mocidade portu- gueza , es]>erancas da patria ! Attendei, nobres mancebos: o saber e a pro- bidade sao lioje, como sempre o deverao ser, os principaes dotes porque o liomem tern valia na sociedade. Logo vereis sair d'entre vos luesmos , e approximar-se d'esla raeza , quem Tos poJe servir de modelo no cstudo e appli- cacao, meio unieo de conscguir o saber; da probidade, encontraes no rccinto d'esta sala grande copia de egregios exempiares- liuitai OS , eu vol-o exhoi'lo em nome da patria , do rei , dos vossos jjaes , familias e ami- gos ; imitai uns e outros, egualai-os , excedei-os ate. Se assim o lizerdcs , merecereis as bencaos da mesma patria , do rei , de vossos jtaes , fami- lias c amigos , cm cujo nuiacro , fareis justi^a , le me contardes. DISCDKSO RECITADO PELO DECANO DA PACCLDAUE DE DIREITO, O 1LL.°° E EI." SHU. MANOEL DK SERPA MACHADO, PAR DO BEINO. Respeitaveis anciaos, que occupaes o logar eminente em torno do principe eleito da Egreja lusitana, que por gloria nossa preside a universi- dade, e a este acto solernnc de triumpho litterario: e vos sabios e distinctus professores, carissimos companlieiros ineus, que tendesa vosso cargo o grao mais elevado da instruc^ilo publica ; e vos tambem precioaos mancebos, que concurreis a receber o testimunho publico do vosso distincto merecimento, que outros como vos esperam obter nos annos subsequentes ; e bem assim todos os que formaui cortejo t'lo brillianle a esta scientiflca reuniao; relevae, que eu solicite a vossa atten- 9ao em assumpto tao digno della. A arvore das sciencias e da sabedoria e uma arvore tao antiga como o mundo , e permitta se o dizel-o , e uma arvore cosmopolita , que tem prosperado em todo o universo habitado, quer successiva, quer siinultaocamente, sem 219 limita^ao de tempo, nem Consultemos mais oulro facto, Sabeis , queo assumplo da ylhira e la.mhem de pura iuvenjao de Voltaire. Sabeis que ao bora fidalgo hespaniiol Alvares (o qua] so a for^'a de moderag.io e bondade queria governar o Peru), succedeu seu filho Gui- mdo , que, a pezar de bom filho que era, enlendeu dever seguir no governo dacolonia, theor de politica dlffereiUe da que seguira seu pae. Goverriador do Peru, desposa-se Gusmfio com Alzira, cuja mao eslava pro- mettida a Zamnra, chefe indigena de uma parte d'aquelle imperio: ^/wra consente em casar-se com Giismdo, porque ere que ivomo- ra cahira gloriosa viclima de seu valor no campo da balalha. Mai Zamora n.'io titilia morrido. Ao cabo de tres annos de captivei- ro, de que o livrdra a bondade do pae de Gusmdo , vem , apresentar-se a Ahira, e pede-Ihe o cumprimento de sua promessa. Alzira estremece de horror em tal situa^ao : confedsa a Zamora o muito amor que Ihe ajnda consagra; mas diz-Ihe que jamais podera ser sua esposa; porque para bem do seu paiz sacrificara a obediencia de- vida a seu pae o culto dos seus deuzes, e a paz de toda vida — era esposa de Gusindo ! . . Apenas embatem de chofre na grande alma de Zamora as ideas de tanta perda — a perda do coragao d\4hira — a do throno de seus maiores — a da liberdade do seu paiz; Za- mora sahe como um birioso da presenga da sua amanle, penetra disfargado em soldado hespanhol nos pagos de Gusmdo , busca-o, e descarrega-Ihe no peito um golpe . . . ao qual commelte a vingauya d'aquelles Ires objectos tao caros ao seu cora^'ao, — o throno . — o amor — e a patria. Gusindo scute-se ferido mortahnente , e arreperide-se. Prestes a espi- rar reune de roda de seu leito de morte Alva- res sen pae, Zamora, Alzha sua mullier, Montezo pae de Alzira, muitos americanos; e assim Ihes falla ; itZIUA — ACTO V. SCENA 7.' Gusmdo. II Occo , que quer a minha (norte, suspon- « de-a por um memento para trazer-rne i'l u vossa presenga , 6 meu pae. A alma fugiti- .1 va prestes a abandonar esle corpo , para 11 deante de vos.... mas para imilar-vos. a Morro... cdhe o veo ; nova luz me alu- u mia.... Que so ao cabo da carreira da ii vida podesse eu conhecer-me ! . . Ate esta ii fatal hora que me arroja para o tumulo, ii que tenho eu feito sen.'io opprimir a liuma- ii nidade com o pezo do meu orgulhol,.. ti O ceu vinga a terra; e justo; nem eu ii posso pagar com a vida o sangue que hei ii derramado... Cegou-me a prosperidade , ii desengana-me a morte.. . Perdao . . . per- ii dao aquelle por cuja mfio me ha ferido ii Deos. Era senhor neste paiz; ainda gover- ii no nelle; so eu posso perdoar, e perdoo ii a Zamora (Para Zamora.) ii Vive, soberbo inimigo ; se livre, e lem- ii bra-te de quaes foram o dever e a morte de ii um christ.io Montezo, americanos, vos ii todos, victimas de meu orgulho, lembrai- it vos de que minha clemencia nao ficou « aquemde meus crimes; contae-o a America; ti e dizei aos rels d'ella que os christaos sao ii proprios para governal-a. (Para Zamora.) u Reconhece a differenga dos deuses a it quem servimos : os teus ordenamte a vin- ii ganga e a morte; o meu, quando acabas ii de assassinar-me, manda-me que te perdoe it e lastime o tea destine. Zamora. it Que! Queres forgar-me ao arrependi- it mento 1 Gusmdo, it Quero mais; que sejas meu amigo. Alzi- tt ra nunca foi feliz em poder de seu cruel tt marido : na hora extrema da vida , eu a it reslituo ao teu amor. Oh vivei, sede it felizes, nao me tenhaes odio. Tomae conta it do governo de vossos estados , reparae vos- ti sas gloriosas muralhas, e, se e possivel, ii abeiigoae a memoria do meu nome, (Para Alvares.) it Tende a bondade de servirdes de pae a It estes felizes consortes, fazei com que a ii verdadeira luz chegue um dia a raiaj- para it elles; oil! se um dia forem christ.'ios . . . it Zamora e vosso filho, suppre a minha fal- ii ta, , . , » 222 Repetirei aqui, senbores, a mp^ma perpmita que vos I'nzia ha pouoo : — pruleria inventar esta scena honieni nija alma se nlio tive5^e creado e niitrido aos pritos da moral cliiisla ? Podoria concelipr este gcnerosissimo caractor de Giismao arlista que nu'i cressc, e cressf com vcliomencia , na divindado de uma rtdi- gifio , que assini leva o perd.'io das injiirias alem da mais cnmpji'la almef;H<;rio pessoal ! Saberia dar a Ciusiiifio iima morte tfio lieroi- ca, tao sublime, tao slorin-amente ehrista , qiiem nao tivesse aprendido a perdoar e a morrer com aqiielle que do alio da oruy! di- zia para sua mae, fallandodo discipulo ama- do — .1 Minlia viae, cisaqui o fai fif/ioi^ j — e para o discipulo, fallando de sua mfie — " Discipulo eis aqui a tua iride >' ? Oil ! (^ue me imporla que Voltaire em alguma de suas lioras mas tenlia o salanico desvanecimenio de dizer-me — « Ndo crdo ii ■ se as mais alias concept^oes do seu eiifienho, se 03 mais intimos pensamentos de seu espi- rito, se os mais instinctivos sentiitieutos de seu coragao me revelam, mellior que a pa- lavra reflectida , as verdadeiras cren<;as de sua alma, a verdadeira seiva de seu pensa- mento? Posse muito bem comprehender que lalvez a vaidade, lalvez a precisfio de agradar a corrup^fio que ocercava, ate mesmo a no- <:essidade de resignar-se ;i imperiosa missao tlo sou seculo , lenliam por ventura posto nos labios a Voltaire palavra que Uie nao vinha do inlimo:-^palavra a qua! nao respondia nenhuma convlr(;ao profunda no sanrtuario do seu pensamenlo. Mas quando vejo aquella grande alma doixando-se ir ao sabor das inspira^oes que Ihe vem do alto ; quando a vejo pefdendo de vista o lodo e podndpes tla terra para cravar os oliios, como aguia, no sol da verdadeira belli'za ; quando a ou(;o soar como uma liarpa colia, e a desprende- rem-se d'ella torrenles e lorrentes de liarmo- nia que nos elevam o cora^fio a Deos, romo as preces do juslo: entiio e que o genio do Vollaire se me aniollia cm toda a plenitude de seu poder , tao grande , tao radioso , tfio brilliante de perpetua juventude, como al- gum d'estes anjos que, segundo as tradi^oes biblicas, vinliam nos tempos antigos trazer aos patriarclias da Ijumanidade os mandates do Altissimo. Mas aqui prevejo uma cbjec^fio. A isto dira alguem : — u f^oltairc ndo foi so pacta dramalicoj foi tambem pacta epico, foi ate mcsvio piocta heroc-comico. E " la Pticelle dc Orleans ?. . . .ii Entendo La Pucclle de Orleans niio faz brecha na theoria espiritualista do bello. Bem longe de provar (|ue pode ser artista quern nao for homeni religioso, tudo o que prova La Pucclle e exactamente o contrario — e que Voltaire nao foi artista nesta composijao por ter deixado de ser homem religioso. y/ Domella d'Orlcant e uma composijao em verso; nao e uuia composicj'io poetica, nao e uma composi(,rio arlistica; porque a forma da arte e um accideute, que nada tern de commum com a esseiicia d'ella. O iiumero , o rliytlimo dos sons da palavra pode inlluir mais ou nieiios na parte musical da [loesia ; mas nao da nem lira nada a essencia da composi(;ao poetica, porque a essencia da poesia esta — nfio na forma — mas na idfia , mas na uatureza iutiuia da arte, mas na produc^fio livre do scntlmeiito do bello. Ora dizei-me, — e e osle o sentimento que nos inspira a leilura da Don%cUa d'Orleuns? Wfio sei se alguni de vos ten! tido o dissa- bor de Icr esta composi^ao volteriana. . . . mas o que sei c que nVste auditorio nao ha uma so pessoa , que possa sem corar , mesmo sem um sentimento de horror ler ajguns tre- chos d'esta obra de Vollaire O que sei e que a foaldade que d'ella tlan^suda, o cynis- mo que reve por loda ella, me inhibem de por-Ihe mfio para fazer cila<;6es textuaes com que prove as minhas as^er^'oes. O que sei e que La llarpe, alias o major admirador de Voltaire, traz a respeito d'ella estas formaes palavras: — Ndo hahoinem verdadciramentc de hem , que se ndo corra de rergonha ao pronunciar a titulo d'esta obra , ndo so pelo que toca d moral e d religido , sc ndo mesmo pelo que respcita a esta decencia publico, que e u/na das lets sociaes reccbidas de todos OS povos pnliciados. — O que sei tinalment* e que, a pezar da corrupijao, que tanto a larga reliiava na alia sociedade frauceza con- temporanea de Vollaire, nao houve em toda a Franca um honiem assaz immoral que quizesse prrstar seu nome para a puljlicajao de uma obra, a cujo editor promeltiam os costumes da epocha larga colheila de inte- rcsses ; a primeira edigao da Pucclle foi clandestina. Ora sera em obra tal que podenios ter esperan(;as de enconlrar o que constitueafei- 5ao altamente caracteristica de toda a arte — a idea e o sentimento do belln? Nao de certo. Considerando esta composi^ao no poulo de vista artistico exclusivamente , La Ilarpe da-lhe a qualificaijao de u iiionstro , e tdo monstro em potsia epica , coiko em iiiorali- dadc. » A deiiomma(,'ao de monstro n'este caso, equivale a qualquer outra que designe o grdu summo do J'cio. Ora o que e' feio n.'io e bello, o que e muito feio enega^So de toda a bclleza. Logo, se a composicfio de que se trala nfio e bella, segue-se que nao e uma coniposi(,'rio poetica, nao e uuia composigao arlistica: segue-se que o espirito que a pro- crcou n'lo e^tava nesse interim alumiado pelo genio da arte; concebeu nastrevas, conce- beu um monstro; concebeu-o n'uma d'aquel- las lioras mas, em que a carne vence o espirito, em que o brulo vence o anjo, Quanto a Voltaire, parece-rne sufficien- le o que levo dicto, porque me parece de- 223 monstradn por faclos da vida litteraria de Voltaire que este , bem longe de ser sceptico e artista ao mesmo tempo (o que seria con- tradictorio com urn corollario da iniiilia iheo- ria) so foi arti:?ta, quando deixou de sor sce- ptic© ; so toi artista, quando leve o poder de acordar ria ahna dos honiens o seiUitnenlo do bello ; e so teve esle poder, quando soube encarnar na forma material da palavra viva as altas ideas do berHj e do verdadeiro — forrnas intelli;:^iveis , mediante as quaes se revela a alma do homem o ser abi^oluto , o Deos tim e trino ao mesmo t^nipo, que em reiagfio a sensibiiidade e a subsiancia do bel- lo, etn rela^fio a vontade e a substancia do bem J em rela^'ao a inlelligencia e a substan- cia do verdadeiro ^ sem deixar de ser , toda- via, urn so e o mesmo ser, uma s6 e a mesma substancia. i Continua. m. a. db MENDONCA. no ALBUU DOUBU AMIGOJOSfi AFFONSO ESPE&GUBUIA. Talvez em breve nos separe a sorle , Talvez p'ra scmpre Iriste adeiis le diga , Talvez meu nome da meraoria percas. Taiobeui p'ra senipre.' TaWez urn dia , revolvendo as fulhas D*este teu AlLmru , o men nome enconlres , Que 0 fragil livro conservou mais tempo Que o pen^ameoto I Hoje dissesle: Pede um canto a miisai N'este meu livro rpiero ver teu nome , A par d'aquelies que mais gratos foram Na flor da vida. Que hei de eu canlar-le na quebrada lyra? Que bei de eu dizer-le que nao sejam prantos , Eu que da vida as illusoes eocontro Ceifadas todas I Ebrio d'esp'r-in^as es qtial sol nascente, Vaalo borisonle tens na vida lua. E. voas, voas n'um futuro immense Risonbo todo. Eu qual Phaethonte , na carreira iosana , Quebrado o carro , desabei das nuvens ; Eia-me por terra, sem vigor prostrado , Morto inseiiulLo. Sou qual na praia o malfadado nauta , Que o mar bramindo arreme9ou n'areia, Olhando trisle , pelo mar infindo , As naus que pasaara. Entre eilas vejo o teu baixel ligeiro , Si<:lleb loyares , a que poderia aspirar, cede»se ao patroiiato, ou sacrificasse, por (|iiaes<)iier oiilros mo- tives menos airosos, a sua conscieiicia na escol ha dos candidates ao mai'isterio. D. Jofio HI. quizora obviar a estes inconvenientes , liniitando niais o nuniero dos volautes , e determinando quefosseni so da propria lacnl- dade , em que se proviam as eadeiras. ■* Era urn palliativo que nfio podia curar o mal, que lavrava prol'undameiile no seio do corpo escliolar; por isso veni a final aquelie ptiiicipe a provcr a maior parte das cadeiras, sem concurso , em snjeitos lialieis, que para esse fim raandara vir de fura do reiiio, onde li- nham ido estudar. Com tal proccdimento o esludo de Li^boa devia ter decaiiido muito no conceito do rei , que em vfio lentara reslabelecer a boa ordeni e disciplina na universidade. Acaso tambcm urn facto, que, n' oulras circumstancias, poderia atlriluiir-se a invoiunlario esqueci- mento, viera agora augmenlar os aggravos do rei contra a universidade. Dois annos havia, que D. Joao subira ao throno, sem que neste intervallo a universidade curasse de elegel-o seu protector, parecendo assim n.'io ter em muita conta esta lionra , ou querendo talvez isentar-se da auctoridade do protector; e foi so por ordem regia , que os esciiolares fizerain esta eleijfio em dezenibro de 1523 ^ Alguns annos depois (1528), estabelecera fr. Braz de Barrels, queenlao era reformador ■ de S. Cruz de Coimbra , urn curso pul>lico de humanidades , theologia edireilo canonico, no dilo mosteiro, mandando vir de Pariz - TTiestres para reger estas disciplinas. A fan)a e novidade d'estes estudos attrahira muito^ " ouvintes as aulas de S. Cruz; e, como era tuo crescido o numero, que nao cabiam ja no mosteiro, determiuou o P. fr Braz fnndar junto delle dois collegios com a in- vocajao de S. Miguel , e Todos os Santos, no sitio, onde depois esleve a Inquisi^'fio. ■" ' Estalulos cit. 2 It .... em Iheologia votarao stJmenle com o reitor OS grandeg , cunsellieirus , e ouvintes, que tiverem cursos para volar da faculdade de theoiojria ; e oas de direito era umas e onlras , pela conformidade das facuIdadeSj votarao com o dito reitor lezisl.is e canon islas , quesegundo OS estalutos de\ em volar ; e nas de medicina somenle 03" Uledicos; e nas de arles Totaram theolo^os , medicos, e arlislas graduados, ou ouvintes, que tiverem cursos con- forme OS eslalulos para poderem volar com o dilo reilor , por serem fncuidades subordinadas, " C. R. de 29 de junho 1534 — Carter, da univ. ^ Figueiroa, Mem, ms — L- Ferreira , nolic. da univ. n.° 1005. * O coilegio de Todos os Santos era destinado para tllcologos c artistaa i o de S. Miguel para canonislas, e tbeulogos. Junto ao inoiilciro de uuia e outra parte da egreja fuodou lambem fr. Braz por ordem deD- JoAo III. Come90U-se a obra com diulieiro da uni- versidade, que para esle fun D. Joao III. mandara dar a fr. Braz Cada inn destes dois collegios devia ter nove collegiaes, alem dos porcionistas, que ordiruiriainenle eram (idalgos, ou pessoas illv)5trej, que ali viviaiji a sua custa. Us collegiaes de S. Miguel eram conliecidos corn o titulo de roxos , e os de Todos OS Santos, com o di'. /lardos, em razao da cor das becas , que usavam. ' Os estudos de Coimbra deviam em breve adquirir grande superioiidadc sobre 03 de Lisboa , ftivorecidos, como eram, pelo rei, que so aguardava o ensejo opportuno para realizar a Irasladayao da universidade para Coimbta , convencido , de que unicainente por este nieio lograria por termo aos abusos, que septaclicavam noestudc ile Li^bqa. Acaso inlluira tambem nestn re3olu(,ao a lembrani;a dos antigos aggravos, e da mu vontade, que OS esciiolares mostraram na eleii^fio do pro- tector. Fossem , porem , estes, ou outros os niotivos, que determinaram aquella inudan^a nao e menos certo, que no ponlo, a que tinham vindo as cousas, a conserva^ao da universidade em Lisboa era giavemenle pre- judicial para o adiantamenlo dos estudos. Entrando o anno de 1532, D. Joao so provia as cadeiras lemporariamente e com a clausula de os nomeados servirem em quanto se nao mudasse a universidade. ^ O estudo de Lisboa , vendo por estes indicios clara- nienle amea^ada a sua exislencia, dililjerou em Consellio representar ao rei, seu pro- tector, contra aquella pretendida mudanga ,' que devia ser causa de grande descontenta- niento entre o corpo escliolar, oqual de certo naopoupariadiligencias paraobstar aquefus- se levado a efTeito aquelie projeclo. Em quanlo estas cousas se passavam (153.J), mandava D. Joao vir de Pariz mestres afamados, a quem tizera mui avultados parlidos para virem ler na nova universidade as sciencias, que nella deviam professar-se. * Ao mesrao tempo se fundava em Coimbra o coUegio de S. Boaventura com as rendas dos padres claustraes, para o que o rei alcan^dra uin aulas e geraes para os esludos com o nonie de colleeios de S. .lorio e S. Agoslinho, nos quaes se liam humanida- des ate 1537 em que a universidade foi trasladada pnra Coimbra, e ainda neste anno e nos seruinles os lenles de arles leram nli as suas lii.-Ses. O collegio de S. Agos- linho ficava ao lado direilo da egnja, enire esta e a purlaria do mosleiro , onde ainda uUimamenle exislia a aula dos quoilUbttoa , e agosUniana. Do collegio de S. Joao , que ficava ao lado esqucrdo d.i mesma egreja , reslava a aula delalim por cima da parochia com servenlia pela rua das Figueirinhas. (D. Nicolau, chr. dos Regr. V. II. liv, 10 — L. Ferreira, Notic. da univ. n.'lOll, e segg. — Moreira de Soiisa , Mem. ms. .— Leal , discurso apolog, do coll. de S. Pedro n." 154^ ' Eslalulos e conslituicjoes dos collegios deS. Miguel e de Todos os Sanlos , consl. 1." e 4 ' ^ Livros da univers. anno 153s!, no cartor. da mesma. ' Conselho de 25 de oulubro de 1535 — Figueiroa, Mem, ma. * D. Nicolau Chron. dos Regrantcs , P. 2.^ L 7." cap. 15. 225 breve de Paulo III, e era este collegio deslinado para os menoritas t'reqiientarem a Tiniversidade , coiiio no esliido de Lisboa. ' Per estas disposigoes ve-se claramente quaiu pouca iinportancia mereceram aqiielle principe as sollicitajoes , e acaso taiiibein os inanejos e ardis, que os escliolares de Lisboa eiiipre- gariam para fazer vakr as suas preteixjoes. E de feilo em abril de lbd7 a uiiiversidade acliava-se de novo cm Coiiiibra, cento e ses- senta annos depois da sua ultima trasladajuo para Lisbna. ■^ A bistoria da universidade nos ultimos annos, que precederam esta mudanga, e tfio obscura, que nial pode aventurar-se alguuia conjectura a cerca do progresso dos estndos nesta epoclia. Apenas anoticia dealguns pro- t'es;cMes mui doutos, ^ que per estes tempos occuparam diversas cadeiras na universidade, faz acredilar que no rneio dos abusos, que .-e liaviain introduzido no corpo eschoiar, e que t/io prejudiciaes deviam ser para seu adiantamento , nfio se Lavia de lodo apagado o facho das sciencias. Js'a legislajao academica nenliuma altera- gao nolavel se liavia feito durante este mesino periodo ', em que os graves cuidados da nova niudanja do estudo, occupavam toda a atten- f fio do rei , que se linijlara a providenciar sobre OS abusos dos escholares, os quaes deixamos referidos,e que sodeviam acabar com a nova reforma , que transplanliira para o solo mimoso de Coiinbra a arvore f'rondosa das sciencias. Continua. i. m. db ABREU. ' Soledade , bistor. seraf. P. 4.* ■ LivTos da uuivers, antio de 1537 , Qo cartor. da me^ma. ^ Enlre os lentes insignea, que nesta epocha liam na unirershlade de Lisboa , conlaiu-se os segiiintes : fr, Bal- thazar Liaipo, que depuis foi bispo do Porto, e arce- liispo de Braira, o qua! succedeu era 1321 a mestre fr. Joao Claro , na cadeira de prima de theologia, ea regeu com grande apj>lauso ate 1530. Pedro Mar;j;ulbo , doutor em artes e tlieologia na universidade dePariz, e l>acharel eai canones pela de Salamanca , succedendo na cadeira de prima a fr. Balthazar, escreveu varias obras mui estimadas, e gosou areputa^ao de homem devasto saber. Thomaz Torres, aslrononio afamado , de quem ja demos nuticia , regeii a cadeira de astronomia ate 1535. O in- signe matbematico Pedro Nunes , doiUor em medicina pela uni\cr&idade de Lisboa, regeu nella as cadeiras de logica , e mtthapbysicii. O celebre naturalisla Garcia fl'florta, foi leule de pbilusupliia natural ale 1534, em que partiu para a India, onde piiblicou (1563) o livro inlilulado — Colof/iiios dos Simples etc. Francisco de Mon- <;ou , leve a cadeira de prima de tbeologia em Lisboa , e leu depois Escriptora em Cuirabra, publicuuo ■ — Espijo del principe Cliristia'io, e oiilras obras com que deixuu honrada memuria como varao mui doulo e itiiistrado. Era mestre em artes e duutor em theologia em AlcaU , onde tambem foi lente desta faculdade. * As diias unicas providencias que merecemreferir-se siio a C. R. de 1530 conGrmando o privilej^io, que os escholares anteriormente tinbam de nao pagarera dizimo , neni porlagem dos objectos destinados para o seu parti- cular uso ; e a C. de S9 dejunho de 1534 estabelecendo , que fossem de Ires mezes as vota^oes desde jullio ate Betembro , e que se nao leria desde ipiarta feira de treras ate domingo depaechoa, mas eslo providenria foi revoga- da depois, — L. Ferreira ^ notic. cbronol. da uoivers. MKI08 DS PBOIfOVEB A MCtTIPLICAgiO B 3IELI!0R»- MB.NTO DOS ANIMAKS DOaESTICOS. III. Bancos ruraes. ' A facilidade em obter capilaes por modico juro e' urn dos meios , que muito pode pro- mover as emprezas de creag.io e inclliora- mento dos animaes domesticos. Os bancos ruraes, como os da Polonia , e d'outros paizes, que, accommodados as nossas circiimslancias, tnobilisassciii a pro- priedade e augmentassem a quantidade dos valores em circuiagfio, podiam ser um dos meios mais efficazes, para desenvolver a nosaa industria agricola. A crea^iio dos referidos bancos e reclamada pelas circumstancias d'esta epocha ; sein ella , a agricuitura nao pode prosperar, e os in- teresses agricolas dos peqiienos lavradores devem necessariamente definliar cada vez mais. Qualquerinfortunio langa o javrador pouco abastado nas garras do agiota ; e desde esse motnento a usura Ihe lira nao so o producto do seu trabalho, mas vae progressivaiiiente diminuindo os sens haveres ate exgotar-llie o ultimo seitii. E por tanto uma urgente necessidadc o providenciar, a fini de quo a agricuitura possa encontrar capitaes por um juro de 3 oil 4 por ^; por isso que ella n'lo pode su- portar o elevado juro por que na actualidade se obtem os capitaes. Km quanto se nfio gozam os beneficios dos bancos ruraes, podiam succorrer-se os peqiienos lavradores por meio das mi^oricor- dias, constituindo estas exclusivamente em bancos ruraes, facilitando as suas transajoes com OS lavradores, e determinando-llies , que so podessem dar a cada individuo pequenas quantias; a fun de que o seu sangiie girasse por todas as venulas do corpo agricola, e o vivificasse, Por este modo , sern desviar o rendimento dos finidos das misericordias dos pios fins para que fcjra deslinado, esperamos que o poder legislativo animara a agricuitura , oon- segiiindo minorar a mizeria de miiitas fa- milias. PoderSo dizer-nos que as misericordias dao OS sens capitaes a 5 por |: mas e geralraenle sabido, que este beneficio raras vp/es cheo-a ao pequeno lavrador. e grandes dilficuldades obslam a que o possa conseguir: ao lavra- dor entregue as lides da agricuitura n.'io resta tempo para seguir o caminho tortuoso , que ' Sobre a utilidade dos bancos ruraes vejara-se os artigos de um nosso enimio mestre , publicados n'este jornal , vol. 1." pag. 83 e 365. 226 dirige ao cofre da misericordia; e quantas vezes tenia elle trilhal-o, e e expellido ! Para ciiiiinlo de desi^raga teni as miseri- cordias concedido capitals a iiidividiios , tjiio vSo agiotar com os pcqiipnos lavradori's, exigindo-llu'S niu jiiro enoriiiissimo ; e por osta forma 05 fiindos (jiie podiatn I'eitilizar as pe- <|iienas ctiltiiras saoo iiistnimento , qiieasdci- Iroe; por isso t|iic a agiolageni se lein vulga- lisado por 16i(na, que podo julgar-se uiii caii- crrv epideniico, roendo as entranlias da iiojsa iiidustria agricola, Contimia. i. p. de MACEDO PINTO. NOVA FECULA. A uiolestia das batatas lem-se generalisado lanto, que ainea(;a quasi de complela destrui- sando-se dos mesmos , a con- currencia nao p('>de deixar de ser fraca , e alio o prego do uzo destes meios de produc^ao. Quaes sSo porem as circnrnstancias do pro- prietario, quando se ve obripado a tomar d'emprestinio , ou para comprar uuia terra que Ihe faz conla, ou para cultivar as que jii possue f Primeiramente a seguranya , que Ihe e'dado otTerecer ao credor, represenla-se como a iDais segura de lodas , por que nfio e senao a mesiua terra. 'I'odavia sao tantos e tao va- riados os djreilos de domlnio e posse, que se cruzam , por assiin dizer, sobre os l)ens de raiz, e ifio susceptiveis de litigios de evenlo o mais duvidoso, que a seguran^a das hy- potliecas nao e' tao real e ahsolulamenle livre d'incertezas , como por Ventura alguein pen- sara a primeira vista. A este iuconveniente accresce a possibilida- de de se depreciar a propriedade tanto por defeilo do possuidor, que ihe nao accode com OS reparos necessarios, como por calami- dades naturaes, incendios d'edit'icios , inun- dagoes, moles-lias das planlas , etc , nfio con- tando com as delongas dos processos d'execu- ^ao, e com a possjbilidade d'uma adjudica- <;ao forc^ada. Pelo que toca ao reemboljo do capital niutuado, o emprestador nao pode absoluta- mente restituil-o, nos casos ordinaries, senao pela via penosissinia da expropriagao, ven- dendo a hypolheca. E por tanto impossive! para elle, e iliuso- rio para o credor, obrigar-se a restituigao, dentro em curto prazo , na totalidade , e ainda mcsnio em grandes parcellas do mesmo ca- pital. JSi'.'io sfio menores as difficuldades, que em- barajam o agricultor, tomador do empresli- mo, de pagar um juro grande ao capilaiisla : porque a terra, na qual emprega os valores mutuados, em regra nfio da para tanto. Km consequencia o capitali^ta, empres- tando, — renuncia a seus capitaes por uui tempo indefmido, correndo todo o risco da incerteza dos direilos que possam gravar a propriedade hypothecada , e nao menos o resu Itado da hasta publica; — em compensa- 9ao d'esta renuncia nao pode pacluar um juro forte e equivalente a efse risco: — e de mais, o litulo do credito tem de ser formalisa- do com soJemnidades embaragosas, e de um modo lao manifesto, que nao so o publico, mas o fisco, tomarao todo o conhecimento da Iransacgao. Todas estas circumstancias sao mais que sufficientes para embaragar a concurrencia dos capitaes a agricullura, sujeitando os cul- livadores adura alternaliva de ou nao haverem OS valores, sem os quaes todos os raelhora- luentos agrarios sao impossiveis; oO de os pagarem por um prego e condicjoes, que os arruinam. Como resolver estas difi'iculdades ? Como facilitar o contacto tao conveniente da terra com os capitaes? 'I'al e o problema, que a inslituijao dos bancos territoriaes se propoz resolver. Continua. •!• FOIUAZ. REFOUMA DOS HOSPITAES DA CNIVERSIDADE. Conlinuado de pag. 212. Um hospital que aloja trezentos a quatro- centos enferuios diartos , havidos da vasta regiao que corre das serranias da Beira as praias da foz do Mondego , e do Vouga, mi- iiistra numero de exemplares mais que suffi- ciente para o ensino da arte de curar. As variedades dos solo, clima, exposijao, tetn- jieramenlos, habitos, e modos de vida dos povos coinprehendidos nos limiles indicados, raro se encontram em areas de terreno mui- to mais largo? e povoados. Assim que, pode- mos asseverar afoutaraente, que nos vastos e monblruosos hospitaes de S. Jose de Lisboa, de Deos de Pariz , e Leiio, e alguns outros qui! ainda conservam Inglateria e Aliema- nha, nao serii frequente a vnriedade de mo- leatias , que diariamenle possue o hospital da universidade, para se escoLlierem de entre ellas OS niais impcutantea objectos do ensino da medicina e cirurgia. Mas como tem croscido progressivamente o numero de enfermos , e minguado as ren- das do hospital com as mudan(,-as iiavidas na econouiia social, tem sido indispensavel e gravoso ao lliesouro ac.udir r.oui o necessario para o curativo, sempre regular e desvela- do, dos doentes; e para as despesas do ensi- no, a que sao especialmente applicados. Era cousa natural ao governo dfsejoso de alliviar os encargos geraes , e guiado pelo principio da econoniia , tao fecundo e orga- nisador, considlar os recursos locaes dos povos immediatamente beiiefieiados gom a institui^aodo hospital, procuraniJo haver meio» para njelhoramcntos em administragao , e fis- calisagao dos rendimenlos locaes. Taes pa- rece terem sido as vistas na nomeagao da 228 coiimissrio atraz dictn ; em que sSo reprc- sentados osintcrosses de lodos oscorpos, que se prcjiimiu pnderein coiicorrer para a sus- tentajfio do nnvo liospital. Tfio importante como difficil e einliaiac^o- sa e a tarefa da ronimissao. Os iiislitiilos pios , que ctilre no^ possuerii hoje aviillados capitaes , devidoj a devo^ao , e espirito reli- gioso do um povo einineiileiiicnie calhnlico, tein corrido a arbitrio dos admiiiistradoies, som noxo , unidado, iieni ix-giilaridade , qiial conveiii a boa orgaiiisaffio da beiieficencia piiblica. Miiilos e miiilo censuraveis abuses lem o tempo e o desleixo, se nfio algiitn ou- tre vicio, inlroduzido nas inslitui<;6es mais sanclas , e dignas de maior respeito e vene- rajao. Muilas deltas e sabido que teem de- generado a ponlo de falsearern o espirito da sua creacao. Consta que a conimissao movida dos me- lliores sentiinentns , e animada do ardentc desejo de respoiider fielmente ao pensameiUn do gcverno, procurou informar-se do estado dos rendimentos, despesas, e adininistra^'io dos inslitutos pios, misericordias e alverga- rias, e das forgas de fazenda de cada uin dos muuicipios. Pensaniento grandiose e fecundo, mas de execugao difficil e con- trastada. E sempre difficil ebter esclarecimentos na- quelle genero; e exactos, quasi impossivel. A iiicuria, o desleixo, a irregularidade por um lado, e por outre o empenlio em occul- tar a verdade, quando se suspeila fiscalisa- jao de abusos , sfio obstaculos quasi invisi- veis para utn calculo estadi^lico ; e a conti- nuagao d'aquelles vicios , com quanio abusi- va , nfio deixa de scrvir para fins parlicula- res. Parece que infelizmente se tem realisado este juizo. A commissfie tem luctado com mil difficuldades; mas o seu zelo, e devogfio sincera parece todavia ler conseguido alguin resultado. Destinado primitivameiile o hospital da universidade para recolher e tratar os enfer- mos da cidade e suburbios, asjlando hoje os dodislriclo, e' de razao que nao se atenha so aos recursos do conselho, e geraes do estado, havende ri'outros povos do districte meios de receita , que sem offensa de com- promisbo, nem vexaine dos povos Ihe possam ser applicaveis. E praetica geralmente seguida estabelece- rem as misericordias liospitaes para curar os indigentes : e |)or sem duvida e esta uma das misericordias mais bem intendidas. No distri- cte de Coimbra ha rnuitas casas de miseri- cordias sem hospilaes, e outras com hospi- taes sem exercicie. E de crer que o refugio , e agasalho prestado ate agora pcle hospital da universidade leiiham favoiecido , e ate cerlo poiito desculpado essa incuria. Mas tambem c incontroverso que, continuando o hospital da universidade a recolher os enfer- tnos d'aquellei ceucelhos, e tiavende sobejcs de r.^ndimcntos depois de satisfeitos religio- samente os encargos das misericordias respe- ctivas, devem esses sobejos servir de subsi- dio as de'pesas do mesmo hospital. K se outros sobejos se poderem apurar, depois de regulada convenicntenicnte a administragao das casas pelo principle da severa economia, ■ devem elles seguir e mesmo destine. " Das muiiicipalidades do Bronchi te ] Febre jsM-lrica veruiiiiosa 166 Febre iiittruiittenle :j n Pneumonia c/irotiica . . . . , n •» Enterile chronica » n liheuntntismo articular chronica . n n J.umOngo ti n Bronchite r, -n Bronchite-otstrucgoo do ba^o . . n n Ascite n n Anasurca M •» Auuaurca-ascit n » Diurrhea-bronchile w •) Olisiruc^no do bago n n Obslruc^ito do Jigado « . , . n n PIdcimdo tia axilla dircita . , n t> IJlcfras alonicas nas pernaa n -^ Sarna 8 Febre iolcrmiUenle t'astrica w n Bronchite n » Obstmcgdo do ba^o 1 Meningo-encepbalile 6 Angina , . n Sarna 46 Pneuiijonia . M Entcrite chronica n Rhcumati^ow articular chronica . . , n Phlfhite dneliaca externa do lado csquerdo n Fractvra do craneo (com o delirio ila pneuuiuniay saitou d'uma janella) . 7, Sai fit 1 Piiftiinonia chronica 2 Pleiiriz 1 Gastrile t G.istrite cbronica 5 Entente » Bronchite , i> Bydrothorax 3 Enterile chronica 1 S|.I'-nite 1 Cystile fj Ophtalmia » Vlcerns na cornea ........ » Bronchilc . . » n Darfs Hsti'ocopas i Erysipela na fare »» n'uma perna •i Erysi])<'h pblegiuonosa o'lima perna » n n n HrOUchifo - obs- triic^iio do huQo 3 Rheiinfiatiamo articular 25 RliL'umalismo articular chrunico w n I'ebre intermittenle-o6strnc§do do ba^o n n Brouchilc rSrotiica n n Uorcs osUocnpns . , . - 2 Plenroilynia 8 Lumbago « paraplexia incompleta ....... 39 Bronchite » Ferida aimples n'xunpi . . •■ . " Sarna 21 Bronchite chronica n M Ithcumnlismo articular chronica H » Vlturodynia o " 4 6 S ■"^(i 5 l;i 1 1 £ 2 2 5 10 4 1 I 83 1 2 2 1 II 1 5 2 1 1 52 1 1 1 6 1 1 1 5 I 41 1 1 1 1 1 1 1 3 19 7 ] 37 1 1 l:! 1 1 230 1 3 1 1 3 1 S 18 IS 1 3 15 15 MOLESTIAS. 16 12 M •• AunsaTca » m Aiiasarr.a'tilbuminuria'i m m Obftruc^ao do bn^o H ■ IiiJJdinmagdo da perna eaquerda n >i Abcessa uv seio maxillar es'/uerdo Snliiirras i^aslricas Asnta Gastral;;ia Aj)opln\ia Apoplexia i>orosa Hemiplegia PHrapleitia Dyspfjpsia Amaurofce Tisica pulmonar Ascile » J-eritonite H Pnetnnonin " nlbitminuria i Hydrolhorax * • • » ascite » . . Hydropericardiu'/iyrfroiAtfroJ: Hyilrocele-orc/ii/c Anasarca »» Ascile n ptdtimao no m&o direito Hemoptyse » Ascite Calanho da bexiga — Paraplegia }} m Hematuria Diarrhea M Herytipeia na face ....... Escurbuto Jctericia . , , . . Bleuorrhagia . . . , » Dores esleocopas Caocros sypfailiticos w ■ phimosis — buboes .... n n Buboes M » Gangrcna do prepucio . Phimosis — btiboea — doret osteocopas Porn plii 1110818 CotidyloDias nu prepucio « Em ruda d'lima fistula do anus— j/in- grcna do perineu e scroto — pneumonia Buboes gyphiliticos >r » Doret eateocopas Orchile syphilitica M » Bltnorhugitt Dorea osteocopas n « Bronchite » M Clceras syphiliticas n'uma nadega . )» » ^yp'> Hide Hypertrophia da ccra^ao '» ins'ifjicicncia dc valvuias .... » Pneumonia Cancro dp cslomago ObsUuc^ao do bat^o » » Ascite Albuminaria r Aniisarca — ascite Inflarama^rto do prepucio (cffeilo d'um alfiQete entre o prepucio e a ^lande) Panaririo n'um dedo da niao direita Urc'trile Orchile Tumures ioflammatorioa no coilo e peito . . . . » M no pedo t >• no porineu- — sarria *» » u'uma perna *• >• n'lim pe Tumor escrophuloso na nadega direitft f^hkiiiuao oa nadega esquerda 10 U 2 8 3 7 1 I 1 1 10 1 231 30 1 a 9 I 1 n 3 45 1 66 75i MOLESTliS. Ahcea'so inflaaimaluriu I! • u*um brrtfjo e dorBu . . . . •) ■ n'lima im(iei,'a •• w n'uraa peroa Abcf'sso frlo em tutia a pprna direita Abcesso por con;XL'Sirio . . Fistula nas [laretles abdomiuaes Aperlus da tiretra Cirro na glainle — Hemopliae . Gangrena seail Carbiinculo ii'iim brago Feridas simples na cabe^a M n nas exlremidades Ferida conliisa n'lim pe Conliii-tjes na rejiiiVo occijMtal N no pettu n nas exlremidades inferiorea Ulceras atonicas n'uin jupllio ,y n nas pernas Ulceras escropbiilusas nas pernas ,..,,.. Ulceras syphililicas nas pernas Ulceras ])Soricas nas pernas Djslensau das parades abdominaes (effeito d'nma quef n n'uinaarticula^aoradio-carpica DislensHo de lipamentos n'ura pe Luxatjao scapnlo-hnmeral esquerda Anenrisraa da crural direila Fraclura do niaxillar inferior ■• de costellas Caria da qninta costelta esquerda ; fiistula de anno e Dieio (effeito dVima facada) » do ilcon esqiierdo e cabe^a do femur . , Espinba xentosa na perna esquerda c bra<;o direito » » n^Mua perna Onyxis n'um dedo du pti Herpes Tiiilia Saraa Sypliilides .Moleslias n.^o classiflcadas, (Um entrou morDinndo ; dojs sairain no dia 8p;;iMate ao da entrada ; e tudjs OS ui.tis siiu de ntotestias ciruigicas. As nuidaof^as de chlinicos n'esta enfermaria deram log-ar a que nas pa|)eletas d*esle3 nao appurecesaem designados OS diagnoslicos 24 309 10 S9 290 108 60 632 3 1 1 'i I 1 1 I 1 1 3 li a 1 1 3 i I 9 I 2 1 R 3 1 64 5fi 66 754 MovimsTito Existiam Entraram Sairam Fallcccram Uela<;3o dos fallecidos para os] entrados para os saidos para todos os traclados (exislen- tes e eotradofi) Janeiro 127 108 12 1:10,5 1:9 1:21,1 Fevereiru 134 161 145 12 1:13,4 1:12,1 1:24,5 Marfo 137 135 111 12 1:11,8 1:9,2 1:22,6 Jiril 149 105 121 7 1:15 1:17,2 1:3G,2 Maio 120 112 123 7 1:16 1:17,5 1:34 Junho 1011 97 83 10 1:9,7 1:8,3 1:20,5 Scmestre 737 692 60 1:1^,2 1:11,5 1:14.4 232 Ell) 5 Je Janeiro di; 1853, foram mnda- dos, do liospilal da Concoi^-fio para o (Jol- legio das Artes, todos os doeiiles de molestias internas, que exisliam uas ciifermarias do liomens. Corn csta niiKlaix^a desacciiinularatn- se OS doentes d'aqncllo liospital cjiie, al.Mii de iiiingoado em recursos peciiniarios, e liio pobre de boas coiidi^iies liyj;ienicas, nem se oner tinlia para os seus doenles todo o lir ijue deveriaui respirar. Era urn foco de infec^ao, ciijo efl'eilo periiicioso jii se coiiie- <,ava a senlir iios iiiezes de iiiaior atciiinula- ^■ao. Depois da nnidan<;a, foi irniito sensivi-I o roellior earaeler que loinarani as molestias em ambas ascasas, e com especialidade no Collegio das Aries. Nos priniciros Ires Inezes d'este seniestre, ensaiei o inetliodo expectante no Irataiiienlo da febie iiilermillente. A rela^ao dos doenles, a quern fullaram os accesses sem medicaiiientos, para os que resislirain aeste melhodo, foi de 1:3, &. A economia dobulfato de quinino nfio conipensou a despeza , que o liospilal teve de t'azer com a maior demora dos doenles, a quem mais larde foi preciso empregar o aiileperiodico, e que se teriani curado logo nos primeiros dias, que s« perde- ram em expeclagao. Deede o dia 19 de fevereiro au! ao fun de inari,-o, live separada dos meus doenles uma enferraaria de 20 canvas pouco maisou jnenos, para o ensaio do tralamento liomoeopalliico. Este ensaio dirigido com lodo o cuidado pelo sfir. Doria, seguido por mini e por oulros collegas , e presenciado por (piasi lodos os alumnos do -1.° e 5." anno medico, ulio nie fez crear a menor suspeila deque os globulos deHaiinemann produzam noorganismo algum effeilo sensivel. Na designac^'ao das moleslias, conlinuo a seguir a cla3siiica<;ao que adoptei na pulilica- <,'ao da priineira e^lali^tica, a de Janeiro de 1053, alterando-a apenas n'urn ou n'oulro ponlo mcaos essencial. No Liberal do Moudego n." 187 prelcndi justificar esle arbilrio do modo seguiiite — u Seguimos n'eslas estalis- ticas as class! fica^oes dos compeudios de pallioiogia interna e pathologia cirurgica da univcrsidade, llulVlund e Begin; e, para as molestias cutaneas, guiamo-nos pelo ensaio dermosographico do si"ir. B. A. Gomes. Aclianios conveniente liarmonisar, n'uin hos- pital doensino, a eslalislica patliologiea com as clasbifica^oes doscompendios de pathologia; e por outro lado evitamos as difficuldades , que haviamos de encontrar, se quizesse-mos seguir a nomenclatura e cla3sifica^-;'ioadoplada pelo consellio de saude no quadro nosogra- pliico, que publicou em edital de 31 de dezernbro de 1844, para servir de guia a lodos OS I'acultalivos nos seus atteslados, mappas necrologicos etc. » Sobre a classifica- 5ao dasedades, disse no niesmo jornal n.° 202 o seguinte : — u adoptei a divisao das edades em quatro epochas principaes , por ser a mais gcralmente admittida. Sobre onumero d'aunos de cada opoclia, lia inuiti) maior divcrgencia; mas segui a divisao legal man- daila a<]oplar, nos mappas da pnpulajao das lop')graphias medicas , pelo consellio de saude publica do reino, em circular de22dcmarco do 1838. ,: As molestias consideradas como complica- goes , e ainda mesmo como cmisecpienoias da mole^tia principal , vao indicadas em lelra ilalica. I'ara mellior se ajuizar do movimenlo palliologico da enl'ermaria , pnnho em casa especial , ;i esquerda da dcsigiiagao de oada molestia, o numero colloctivo d'esta nmlostia simples, e da mesma doeni,'a com todas as couiplicaf;nes que vfio designadas em scguida. Podera notar-se que o rheumalismo articular cliroiiico, pore\einplo, apparece n'uma parto complicadocoin a broncliilo chronica, e n'outra parte a bronchite complicada com o rheu- matismo. No 1.° caso, o doeute enlrou no hospital so com o rheumalismo ; ou, se trazia as duas molestias, o rheumalismo era mais iiilenso ou mais saiienle; e vice versa no 2,* caso. Nao lenho por invariaveis estas bases que adoptei ; e espero mesmo que a practica me ira ensinando as siias modificagoes. Do minucioso ao resuinido d'uma eslatislica pathologica, ha uma grande distancia ; e, entre estes extremos, ha de haver muita os- cilla^ao e muito arbilrio, em quanto alguma corporagao legalmenle auctori?ada nao der , em harmonia com a organisagao dos nossos liospitaes, as bases e modelos que fai,'am encaminhar as eslatislica* especiaes e uni- formes a uma estatisoa geral do reino. Ivn quanto nao se adoplarem providencias sobre a publica^.io d'uma e^talistica regular de iodo o hospital da universidade, continuarei publicando aeslatistica da minlia enferniaria , ou de todas as enl'eruiarias de homens , que lenho seguidamenle publicado, dosde Janeiro de 1852, no Liberal do Mondogo e na Gazeta JVledica de Lisboa. A eslatislica denovembro e dezembro de 1852, tern liaslanles imperfei- (;oes , que n;io monciono aqui . por terem sido lembradas, em grande parte, n'oulro jornal ' A. A. daCOST.\ SIMOES. ' Observador , d." 650. A devocao d'um philosopho p6de nutrir-se com a oraciio , o cstudo e a niediUcao; mas os sen- timeiUos religiosos do povo nao secunservam sem 0 cxercicio do cullo publico. {Gibbon.} EIIUATA DO N.° 16. Pag. Cot. Link. Erros. Kmend. 186 1.* 41 Udo impuro loilo iin|iiiro (I 5J,» 3 0 ceu tiuiica as* o ceu uuncn ofrtn- ceaJerain derain ® Jnstitiita^ JOR^AL SCIENTIIICO E LITTERARIO. CIRCULAR DO CONSELIIO SUPERIOR DE JNSTRUCCAO PUBLICA AOS COJIMISSARIOS DOS ESTCDOS. O conselho superior de instriictjao puhlica , inforniado, pelos lelatorios annuaei que al- guns dos sens delegados teem eli^vado a di- gnidade e perfei^an exij;ida, da falla de organisa^ao regular e unlforine no ensino das escliolas de in^truc^fio primaria, entre- gue quasi exciusivarneiite ao arliitrio , nem sempre prudeiite e illiistrado, do? professo- res ; reconliece a urgcnte necessidade de urn direclorio, que pondo lermo a irregiilarida- des , sernpre prejudlciaes , salisfaja as exi- gencias rcspeitaveis do ramo de eiisino pu- blico iiials ulil e indispensavel as necessida- des da vida social. A lei de 20 de setembro de 184t, dandn nova organisagao a instrucgfio popular, lia- via omiltido em sua prudente reseiva o que toca a melliodos de ensino. Dos que se achavam em |)raclica sanccionados pela e\- periencia de pnvos , que foram adeaiite de nos em reformas e mellioramentos de instiuc- 9ao , liavia nas escliolas do paiz por esse tempo o methodo de ensino mutuo , e o simultaneo. O mutuo menos dispendio50 reune a econoniia algumas vantageiis no en- sino das noynes mais elemenlares; nias sacrj- fica-llies a economla do tempo, a perfei^an e solidez da inslrucgfio ; e, o que a ludo sobreleva, a educagao religiosa e moral, em que deve assentar a inslrucrlio primaria. O simullaneo mais seguro, e menos longo satis- faz mellior as indica^oes da instruc^.^o e educa^ao moral da infancia ; porque acom- panha o desenvolvimenlo do espirito da t'or- magao do cora^fio, quando o professor solli- cito e desveiado vai lai)9ando nelle com mao prudenle e caridosa os germes das virludes; eassini formado, o liabilo davirtude afiigen- ta o vicio. Mellior ainda sati^fara as exigen- cias do ensino o methodo simultaneo-miituo , reunindo as vantagens de um e de oulro: e este e' o mais seguido nas escliolas do estado. O methodo individual, sendo o mais na- tural; porque o modo de ensinar e educar soffre nioditicaQoes relalivas ao temperamen- to, sexo , cduca(;.'io , e habitos do indivi- duo , nem sera ajjplicavel era loda a exten- VoL. II, Jij»Eino 15 sao a escholas publicas de freqiM^ncia supe- rior a dez alumnos; nem e tambein isento de inconvenientes muilo atlendiveis, que o tem desconceituado na opiniao dos homens conipetentes. Cada um d'estes nietliodos pode scr leva- do a execu^ao por differentes processes en- saiados em muitos paizes, onde o empenho desvelado pela instruc(,'i>o do povo tem pre- s)dido a. dii'fusao e melhoramento da instruc- 5ao primaria, e reroinmeudado a posleridade OS nomes de Pestalozzi , Jacotol , Apporti , e oulros ; e lambem entre nos tem havido sinceros esfoii,os para abreviar c aperfeigoar o ensino do priineiio ramo de instruc^ao, que demanda o baptisino da civilisa^ao mo- derna. Se nfio lodos, alguns dos meios em- pregados nes^es processes differentes poderao com vantagem ser aproveitados em um me- thodo mixlo. O regulamento geral das escholas prima- rias decretado tm 1850 encerra os principles da organisagao do ensino nas aulas, as ideas fundamentaes da sua direc^ao, e melliora- mentos progressives, e do regimen discipli- nar: mas nem podia prescrever todas as re- gras no modo de applica^ao practica de qualquer methoiio, que a lei nfio fixara ; nem devia obslar de lode a liberdade que e indispensavel conceder ao professor no ensi- no, re>peilando a sua voca^ao, lendencias, e habilos: e na esperan^a de possuirmos professores habilitados em eschola normal que se prepara desde 10+6, fora inulil desen- volver mais no regulamento lodas as hypo- iheses, que podem verificar-se na applica^ao da lei; porque lodas se devem suppor desen- volvidas no engine, e educaciu' dos ahimnes- mestres; sendo que a intelligencia , o zcle , e dedica(,rio do professor sfio o verdadeiro c mais efficaz regulamento da sua eschola. Nao se Icndo porem , infelizmente, reali- sado alguns dos elemenlns, com que o con- selho centava para a regencia das escholas; e principalujente na falta de individuos com- pctenleniente habllilados coin os curses de escholas normaes, e indispensavel, ate ur- gente, o regular de algum niedo o arbitrio dos professores na organisa^ao litteiruia das escholas, e na marcha do ensino com refe- reiicia aos rames delle , no 1.° e a.° grau da in-lruc9ao primaria. — iSSt. NiM- 20. 234 6 neste ponto de vista, e para um objecto da maior transceiidencia , que o cnnsellio resolveii thamar a atlcH^.io dos snrs. coin- missarios dos e^tudo5. Peiieuados da iiiipor- tancia da sua iniis'io, c aniuiados do zido indi-.p(^iisavel u ^uslenta^ao da sua dignidade, e de crer que p|le^ nao so, leiiliani guardado o rospeilo as li'is da admiriislia(,ao lilleraria por intcresse proprio, mas que lenliatn ale comprcliendido a razfio moral das leis, e por ella encainiiiliado os profcssores na sua exe- cu^ao, supprindo assirn algunias dispo^ijoes, em que a lei firasse sileiiciosu. E^pcra confiadamenle oconsellio, que v. s."*, coiifeiindo com alguns p■ofe^sorcs da sua niaior confiatiCja , e aprovcilando as sabias li^oes da experiencia llie preste zelosa coope- xajfio , e liaja de formular o sou parecer em bazes, que sirvaui para fundameular uui directorio , compreliendendo a organisagao litleraria da cscliola, com divisao em clas- ses, rcferciicia ao melhodo simples, ou mix- to, que julgar preferivel, e aos objectos do ensino, e estado de adiantamento dos alum- nos ; a dislril)ui<;ao das ii^oes pelas boras do dia , e dias da scmana ; a direc5rio do ensino em cada uma das classes ; os deveres do professor em relajao a educajao religiosa , e moral de todas , e ao ensino lilterario de cada uma; o modo , e tempo de promo^ao dos alumnos de uma para oulra classe ; a forma e processo dos exames annuaes, e dos litulos de babijitac^ao para graus superiores de instruc^ao; a verifica^ao de frequencia diaria , e annual dos alumnos, os premios e as penas moraes, que Ibe parecerem mais adequadas, e elTicazes para regular o sen pro- cedimenlo moral e lilterario, tendo em visla o disposlo no decrelo de 20 de dezemliro de 18o0. O objecto e grave , urgente, e de grande momento para a illustracjfio publica ; sera a qual nem se escuta a voz da razao , nem esia segura a liberdade. O conselho tern feilo estudos sobre esta importante parte da admi- nistrai^ao ; lem preparado trabalhos: mas de- ieja ser esclarecido com o voto das pessoas mais auctorisadas, e competentes ; c espera que sem demora v. s." comece o desenipenlio da missfio, que muilo Ibe recommenda , certo da sua inlelligcncia e dedicagfio ; e mce^sante promova afervorada continaa(;ao de tonfe- rencias ate poder assentar juizo seguro, que possa coadjuvar o conselho na satisfacj'io de um desejo , de que podem provir incalcula- vcis vantagens a instrue^ao primaria. 111.'"°' Snr.' Redactores. — Pe^o a V. o favor de publicarem no Institulo o seguinte projccto de reforma d'informa^oes academi- cas. De V. Am.° eCr.°era."'y.'" f^. Ferrer Neto Paiva. PROJECTO DE REFORMA DE INFORMAgOES ACADEMICAS. Art. 1." As intorrnacjoes sobre sciencia e costumes somenle serfio dadas depnis da for- matura, e do grau de liceiiciado. Art. Q ° Tautoumas, couinoutras, serao dadas pelos conscllios das faculdades compos- tos dos lentes calbedraticos e sul)stilutos or- dinarios, o todoi julgarao conio jinados. Art. 3.° Umas e outras serrio dadas por escrutinio secreto sem conterencia previa dos conselbos das faculdades. An. 4.°. As informa^oes de sciencia e costuujes seriio ojuizo dos conselbos das facul- dades, manifeslado pelos votos das maiorias em bilhetes impressos. §. 1.° No caso d'empale lem logar o cal- culo de Minerva. §1. 2.° jNa acta da sessao dos conselbos somenle seiu lari^ado ojuizo da claisifica9rio do esludante , sem se mencionarem os diffe- renles votos em conlrario Informagucs de sciencia. Art. b.° Os vogaes dos conselbos votarao nas informagoesde sciencia depois da formatu. ra, por biUietescom asdeclaragoes de — iujfi- cicntc ,^boin — , e distincto. §. iinico. Os votos de distincto , que nao formarem maioria absoluta, serao conlados na classificajfio de bom. Art. 6.° Os efTeitos juridicos d'estas infor- majoes sao : §. 1,° O esludante, classilicado snfficicntc por maioria absoluta, pode usar de suas car- las, mas nao pode matricular-se no sexto anno da faeuldade, nem ser despachado pelo governo para logar, para que seja liabilita- jao neci'sfaria a carta de formatura. §. 2.° O esludante, classificado born por maioria absoluta, pode ser despacliado pelo governo para os logares mencionados no §. antecedente, mas nao pode matricular-se no sexto anno. ^. 3." O esludante, classificado distincto por maioria absoluta, pode matricular-se no sexto anno, e, por maioria de razao, ser despacliado pelo governo para os diclos lo- gares. Art. 7.° Os estudantes , que no primeiro escrutinio tiverem sido classi ficados como distinclos, enlrarfio em segundo escrutinio, no qual os vogaes dos conselbos votarfio por bilbeles de — born — e muilo bom; e o es- ludante, que obliver dois tergos de muilo bom , sera classificado de merecimento relevan- te. Art. 8.° Os efTeitos d'estas informajoes sao : ^. 1.° O esludante classificado de mcreci- menlo relevante , malriculando-se no sexto anno, tera preferencia para os ados de con- clusoes magnas, e exame privado. Entre 235 cstudantes de merecimento rclevantc tern logar a prefeiencia da antiguidade do graii de bacliiirel. §. 2.° O erliidante dc merecimento rclevan- te, serii preferido pelo governo no dospacho para qnalquer logar, que elle requeira, e para que a carta de formatiira for liabilita- ijao necessaria, a todos os classificados bons , ou distincius:. Art. 9.° Depois do gran de licenciado os vogaes dos coiibellios volarao por billiftes de — boin, — e miiito bom. Art. 10.° Os eCfeitosjuridicosdeslasinfor- tnagoes i-fio : §. 1.° O estudanle, que oblivcr maioria absoluta de volos de bom, sera, classit'icado bom, podera usar da carta de liceuciado, mas nfio podera receber o grau de doutor. §. 2.° O esliidaiite, que obtiver tiiaioria absoluta de votos de muilo boiii , sera cias- sificado dislincto , e podera toniar o grau de doutor. §. 3." Os estudaiites, classificados distin- ctos , enlrarfio em segundo eacrulinio, em que OS vogaes votar.'io por billietes de bom e inuito bom; e o estudaiite que obtiver dois ler^os de muito bom sera rlassificado dc mereci- mento relevunlc , e lera preferencia no grau de doutor , ficando considcrado como doutor mais antigo do que os classificados distinctos no mesmo anno. §. 4.° O esludante class! ficado de jreercci- tncnto rclevanle , sera preferido pelo governo no despacho para qualquer logar, que elle requeira, e para queseja liabilita^fio necessa- ria a carta de formatura , aos estudanles clas- sificados bons, ou distinctos. §. 5.° O estudanle , que a esta classifica- 9ao de nicrcciinento rclevantc junlar oulra egual nas informa^'oes de formatura, lera direilo a tomar gratuitameiile o grau de doutor. §. 6." A classifica^fio de merecimento rc- levantc so nas infornia^oes de licenciado, sendo por unauimidade de votos de muito bom , taiiibem da direilo a tomar capello gra- tuilamente. Itiformagoes dc costumes. Art. 11." Antes da vota(;rio sobre scienciae costumes nas informajoes de formatura serao presentes aos conselhos das faculdades as notas seguinles : §. 1.° De repreliensfio, prisao, e riscadu- ra, declarando-se os molivos destas penas. §. 2.° De policias correct ionaes , querel- las, e senlen^as criininaes, proferidas pelo juizo de direilo de Coimbra, durante o tem- po, que OS estudanles frequenlaram a univer- sidade e o lyceu de Cuimbra , passadas cj: officio a requisi^ao da secretaria da univer- sidade. § 3.° Das preterijoes, e perdas danno por fallas n.'io abonadas. §. 4.° De todas as nolicias, que o prelado da universidade tiver reunido pela policia academica, de que e cliefe. An. 12.° Depois deludo examinado pelos conselhos das faculdades, os vogaes votam por billietes de — mdu — irregular — r: re- gular. §. unico. A vota^fio sobre costumes sera no mesmo escrutinio, que a volagao sobre sciencia; o vicio d'uina n,1o annulla a oulra. An. l.'{." Os effeilos juridicos destas in- forma(;oes sfio : §. 1.° O estiidante, classificado mdu por maioria absolula de volos, nao pode nunca matricular-se no sexto anno da faculdade, nem ser despacliado pelo governo para logar , para que seja habilitagiio necessaria a carta de flaia ponderar que o norne dc L'tiz de C(i'»dcs e lioje — seiiao o unico — o maior epilogo de lodas as glorias porluguozas. Que e de todos esses padroes de gloria plaii- tados pelo valor de r)o-sos maiores por lodas essas coslas bravlas d'Africa, d'Asia e da America? Que e d'essa arvore do Estado, de que falla Jaciiillio Freire, plantada no extremo orieiite, lao carregada de troplieoi , e regada com o sangue de tanlos marlyres da leiildade, do palilolismo, e da t'e ! Que e feilo de 'I'angere, de Ceuta , d'Arzila, e d'Azamor em Afritaf Que e de Ceilfio , de Cocliiiii , de Caiianor , d'Ormuz , de t'liaul, de Negapatfio , de Momlia^a e de Malaca na Asia ? Que e feito do Brasil na Auierica ? Que ede todas essas joias , que com os contos de suas laiigas andarain engastando tiossos maiores na coroa dos nossos reis ? Oli senhores !. . . . Delias, jade la se despronde- ram e caliiram de lodo ! Delias, se aiuda hi estao, eslao mareadas e sem brillio ; porque a medida que nos foi arrefecendo a fe eiij Deos, fol-se-nos esfnando a lealdade nos pei- tos, foi-se-nos enervando o valor nos brayos , femes perdende o amor da patria I . . . Ja lioje iiae ha de roda de uos senao ruinas. Mas em raeio de todas e^tas ruina^ ha ainda em pe um monumenlo unico, — que ainda lembra ao mundo o nosso passade de gloria, — ain- da faz respeitado na Europa o nome porLu- guez, — ainda e para uos um fiador de inde- pendencia, de nacionalidade. Sabeis qual e esse monumenlo? e o poema doi Luxiadjs. Mas o auctor d'esle poema; — o liumein que linha feilo a Porliigal o mais valinjo presente que podiam forjas liumanas fazer- Ihe; — esse homem , que na derradcira qua- dra da vida o unite the^ouro que linha, era a amisade de um escravo, que de poila em porta esmolava para elle e pao da caridade . . — esse homem, ao Jiienos depois de mortn. . . onde, onde dorme esse homem o sornno de sepulchro? Qual e o monumenlo que encerra as cinzas de Camoes? Qual e a letra que assignala a cam pa que conlein ihesouro de tamanha valia ? Oh nada, senhores ! nadadisso exisfe, porque de nada d'isso curou Portu- gal! Assim come perdemos afe'que jnspirava as grandes emprezas, lambem fomes perden- de a gralidao que as galardoa. Dois secidos correram sem que ce^sasse de pezar sobre nos o labee de nfio-pagamento d'esta divida de honra nacional. Com e secule XIX, com o secule em que vivemos veie e sfir. Garrett .. . e para esta existencia privilegiada eslava reservada a gloria de pagar com o friicto de suas lucubrajoes poeticas a divida da sua na^ao. A meinoria de Camoes tern lioje um monumenlo . . . E o poema do snr. Garrett. A outra oouiposii,ao de (pie vos fallava, e o drama Fr. Luiz dc Soiisa de inesmo auctor. Sem duvida conheceis muito do as- sumptn d'este driina. . . . Sabeis que D. Ma- gdaieud , vuiva de D. Joan dc Portugal, que lizeram inorto na batalha d'Alcacer- Quibii , casuia em segundas iiupcias com Ahiiiocl dc Sijusn ('outinlio , que d'ell.i hou- ve lima uiiica liiha por nome Moriii. Quan- do na companliia d'esla I'llha, d'este ihejoiiro de graras angelicas, mais se gosavam os dois e-posos da paz c aleirrias ineffaveis que usa semear a virlude no remanso do lar domes- tico, vem tal goipe de intorlunio que con- verte n'um inferno vivo lodo este eden de I'clicidade. Quebra, quebra os la^os d'aquelle leriio amor conjugal , que a ben(;rio da reli- gifio linha sanctiticado I Mala de vergonha o aiije de pureza, que nfio pode sobicviver ii pi'rda do nome de sens paes ! K para nao abrir mais duas covas, conlenta-se com lan- ^ar dois escapularios sobre a cabe^a de dois Infelizes, a quern ja nao permille a lei o tractarnento de uesposos d, mas a qiiem unia religiao toda-enlranhas concede ainda o doce ncme dc airmfios,,. Maiiocl dc Sousa e D- AJagdaUna abiacjam a vida do claiislre ; por que D, Joao dc Portugal eslava vivo ; e o segundo malrimonio era nullo Agora que assim temos recordado o as- sumpto de cada um d'eslcs primores d'arte da moderna eschola portugueza, agora e que tica bem pedir-vos que oi submeltaes a uma experiencia. Km logar do caracter de Catnoes \ em lo- gar do de Fr Lni%dc Sousa do snr. Garrett ; em logar de qunlquer d'estes typos immor- taes de palriolismo , de escUuecida piedade, e de heroica re^igna^'5o chrisla, poude, se- nhores , ponde pelo pensaiiiento o caracler do um scepiico, ode umatheu, o de um d'estes uialerialislas alvares, para os quaes nao lia mais fuluio aleui dos degraus da campa : I'azei mentalinenle tiio barbara substitui^'ao , e dizei-me — continuara a subsislir com ella o niesino encaulo e belleza, com que alias nos diliciavam o espirito taes compo- sigoes ! Se Frci Luiz de Sousa fosse um sceptico, e D. Magdalena uma discipula de Voltaire, pederiam doer-nos lanto no aniago d'alma as dores e Iribulagoes d'e=te par desditoso, a quem um acaso funesto arranca ao niesino tempo o amor de esposos, e o tiio querido fruclo d'esse amor? 'I'eriam elles n'alma for- Va para lanto, lanta resignagao , se ao cabo de lodas as provnngas d'esla vida nfio lubri- gasc-em n'outra melhor a gloriosa coroa do rnarlyrlo? Lembrar-se-iam nuuca deprocurar juncto dos altares, na solidao declaustro, o prelengamento d'esle penoso sacrificio de viver, senao esperassem de com elle alcan- carem graja deante de Dcos? 237 E se Camoes fosse um espirito foile, se nao cresse em Deos , se nao cresje na lei de Deos, que nos manda servir e amar a patria e 03 homens, ainda que so pata outra vida tenhamos de a^uardar o galardao das boas obras , que liouverinos feito nesla; ter-se-ia Camoes resignado a esgotar ate as (c/.es o calix de unia vida de opprobrios, de Tome, de miserias, so para levar a cabo a realiia- 9ao do pensaineiUo do seu destino, so para levanlar em prol d'ingratos portuguezes o maior inoiuunento de gloria que ate' hoje ba possuido Portugal? Este mimo, esta frescura de sentimento e de vida, este perfume de sanctidade que espargeni por essas coinposi^'oes os principios de moralidade e de religiao, de queplasmara esses dois caracteres o geiiio do snr. Garrett ; poderia cousa alguma d'essas alii desabro- char e viver debaixo do bafo esterilisador do scepticisino e da impiedade? Nao, senhores, mil vezes nao. As relagoes da arte com a verdade e com a virlude sfio tfio intimas, que a primeira niio pode ir sem as outras , iifio pode sem ellas cliegar ao seu fim; absolutainente nao pode acordar na alma do homem o senti- mento do bello. E>te senticnento, como bem vezes o temos diclo, e um sentimento mixto de admiragao e de amor puro e desinteres- sado. E o homem, a pezar de todas suas miserias, e feito por maueira; sua origem e lao nobre, sens destinos sao lao altos; que nao pode admirar se nao o immcnso , nao pode amar se nao o bem, nao pode crcr se- nao na verdade. Mas visto que a verdade e o bem, ontologicamente coiisiderados , sao, na poetjca linguagem de Platao , o logos, isto e, o a raedianeiro 11 , o unico ponto de contacto entre o fniito e o infinito, entre a razao de Deos e a Intel ligencia do homem ; o bem e o verdadciro , com sua forma sensivel , que e o hello , nao sao em seu ponto de vista object ivo senao qualida- des , senao modil'ica^oes, senao altribu- tos ; cuja unica substancia e Deos. Deos e pois a substancia ontologica do bello, que e a forma sensivel do bem e do verdadciro. E visto que nlnguem pode ser artista sem exprimir o bello, exprimil-o sem oamar, amal-o sem crer nelle; segue-se que bO o boniem religioso, so o homem que amar a Deos e ere'r em Deos, so esse tera o verda- deiro sentimento do bello; so, tendo-o , po- dera exprimil-o; so exprimindo-o, podera ser artista. Isto que jii nos havia indicado o racioci- nio, e exactamenle o mesmo que agora nos acabain de demonslrar a observag.ao e a experiencia ; — a observagao, applieada ao exame de Ires factos da vida litteraria de Voltaire, a Zaira, a Al'Jra,e a DonzeUa d'Orleansj — e a experiencia, averiguando dois factos da vida litteraria do snr. Gar- rett, o poenia Camoes, e o drama Fr. Lui% de Sousa. Mas acima de todos estes factos e provas ha aiiida um facto , ha mais outra prova, que por ser a mais culrainante e comprehensiva de todas , e por isso mesmo a que de industria he! reservado para fecho d'abobada, para remate e eoroa final d'e^te modesto edil'icio, que eu pobre operario da intelligencia, tfio falho de forcas , como rico de vontade, muilo folgara de poder levantar aqui em honra de Deos e proveito da arte. Conlinua. M. R. de MENDONCA. P. OVIDIO NAZAO: Dot Tristes — Livro 4.°: Elegia 3.' ARGCMENTO. Pede Ovidio a uma e outra ursa do polo, que fitem os sens olhos em Roma e na sua esposa ; e llie digam , se ella do seu raarido vive saudosa, ou esquecida. Reprehende-se depois a si mesmo, por duvidar da fidelU dade da sua esposa, quando alias sabe, que e d'ella ternamente amado. Pas^a depois a louval-a e a significar-lhe o seu sentimento, por ser a causa de que ella viva em perpetuo luto Exorta-a por fim a que Ihe permane^a sempre fiel. Feras, granile e menor, enxulas ambas, AqiittUa u3 ^regas nuns raarcantlo o riimo, Esta us nuus tie Siiluiiia i puis no polo Siiiiuuo poslas, sem niiiica ao occidente Inled locar as agiias do oceano , Tutlo ved'^s , e a ellierca circumdando MuU alia rejiao , a orbita vossa Sempre da lerra acima se stibllma ; A \ista dirii^i , eu vus giipplico, Sobrc as montanhas, que se diz. outrora Mai Iransposera Remu d'llia prole ; E a fronle vossa nilida volvendo P.ira a iniiiha consorle . antiiinciai-me Se i\\i esposo infelu se lembra ainda — Mas ai ! I-*urque peri:iinlo o que sabido E por mim de sobejo ? Porque arabisuo Medo a ininlia esj)eran(;a se niislura ? Cre o que existe, pois e o que desejai , E cessa de lemer o que e seijuro : D'uma firmcia certa certo existe, Nenl com voa mentirosa a ti relates O que as flxas no polo eslrellas nunca , Nunca podem dizer-te, antes cunGa Em que de ti lemlirani;a sempre uutre, Que dus cuidadus seus ^3 vivo objecto : E, pois nada mais pode, tem comsifjo Ten nome unido ao seu , e a iiiiaijem lua , Como esluudo pres-iile anda em scus olhos-: E , se ainda vive , bem que estando ao louge , E de ti tSo dislante o amor te guurda. ^Ajusla dor enlreyue a inente afflicia , E ii voz do coru(;.lo preslando ouvidos , \caso de ti fo;;e o aomno brando : Assaltum-le os cuidados , quando 0 leilo, E do repjuso men a estaiicia tocus , Sem coiisenlirem que de mim le esquer;as ? E no au^e d'affluM.ao immensa a noite Eterna le parece ? e os (juebrantados Ussos do corpo inquieto a dOr llagela ? Queissoassim scja , nao, ab ! uSoduvido, * 238 E maid du que hau aiiiila , e que apreat'iUc O leu aiiiitr si-iiiifs »If f\Cn- tSu c.isU ; Nem que mnntr Itiruu-iilo n alma te iiiicee , Do ((lie iL ttifliiiiKi Aiulruiivica seiitirA , Quaiido , >lu fivo theasiilicu Icviulu Do sen Hoitur o curjm \\o rudaiulo. — Do leu uin«ir iimii S'i [■•■(jn-ie us provas , Mem ilixtT |nissn qnal uirc.-lu qiit'ira ^ Que a tit:i nlma pur inim expcrinieiilo ; Se a trislfiH le pnn^e. cis iin;criicia O ser (J.i tun dur a i-iiiisa , a iiri(;<;m ; Mao \ivts trislf? alflijif-iiR' , nSo [uostr^s , Que (111 |>L-ri]iilu tt^ii Cfiisui te vs iti:;ria I — Os teiM raalfs purcm , 6 lUi tspusas Tu a mais lirn.i , si-iite ; e Iriste u leiiipij Vive ajius us 4'oiuniuiis iuissi.'s di'sastres : Chora os nieiij iiiforlunius ; causa o diuro Um tal oil qtial dflcitL', i; a dur suavisaiu As lagrimas , e ale -s lambem ai'ura , expulsa De li . d'liiio 0 pf-aar , d'lssu a veigonha. Qiiando , ferido subilo d'um raioj O iniquo Capaneo morreu , acaso Leste ja , que a consurle sua , e Vadne , De o ler se envergonhasse pur maridu ? Nem (piando o proprio rei do mundo o§ fogos , Teus com seus raios exliiiunio, Phaetuule, De serps prole sua os tens pareiiles Negar-te deveriam : uem Semeile Por Cadmo fui , sen pai , ha\ida espuria , Alhea ao leito sen , purque ambiciosa Perden a uda a instaiicias pruprias suas. Kem tu , purque ferido fui de Juve Pelos golpes iradus , jiurpuiiuu Rubor deixes subir A Ijza face; Mas antes na defensa miuha eslrenun Cada \ez mais o majs moslrar-le deves : De boa espusa ostenla-le o mudello ; Tuas virludes ennobre^am , duirera Lfm desaslroso luiriibre successu, — Arduu e o caminho, que condua a gloria : Qnem Heitor conhecera , se a ventura Si.bre Trota poiisasse sempre as aza^i ; Pelu raeio dus publicos desastres A eslrada corre da virtude egreeia : Si*m prcslinu) a Ina arte fura , d Tipliy* , Se I'licapeliiilas undiis n.lo se cri^Ufssem No luruieuluso niar ; sadlos soaipre Se OS hoiiUMist fiissem , que valur , d Pliel)(i . Teria a, (pie iuven|a»tc, iirle preaiarile. X virtiid ■ cscuiidida , e iba bnuan(;a Nos lem|NtK ociowi , resphmdere , E osleiila n s"'ii puder nos burrascosos. — I).i-Ic puii a furtiina iiiitdia adversa Lugar para adquirir alius fnnuniufl , K cuusi'iciiij ipte ulTrrere um iiouie a lim |*rtra cmii;:'! bt-nrvulemia assidua Com que siibiis da liloria au cume excelao. — Ocrasiau lao prospera apruVt-ita. Visto que a ten'* pteseide : aos tens lotivufes Um cauipci dilaladu eis teus a'icrtu. Coutiniia f. de CAllVAi.lIO BAXCOS TEUKITOUIAES. Conlinuado de pa^. 227. A forma mais natural e singela d estes estabeletirnentos corisiste ern uma associa^^ao de proprietarios, que tomam as ac^oes do banco. Kstas act^oes sao representadas em liens de raiz , livres e desembarf^adcs , os quaes ficam em seu poder, porem obrigados aos resuUados das Iransac^oes. Os proprietaries, que carecem d'einpresti- mos, recorrem ao banco, offerecendo-lhes as compelentes hypotbecas, cujas qualidades e estado juridicoo banco seencarrega d'averi*ju» ar e vorificar : e, quando asjuli^ue sufiicienle? , effeitua-se o emprestimo por um valor total , sempre inferior ao dos bens iiypoLhecados, e sob condigao de pagar o tomador, ale'm do juro fixado, uma annuidade para amortiza. ^ao successiva do capital mutuado, Os aceionistas podem eguabnente ser soc- corridos por emprestimo sobre uma parte do valor de suas ac^nes. Alas em que e^pecies sao transmittidos estes capitues? jiis aqui a caracteristica especia* lissiuja do iustituto. O banco territorial nao e uma assoclayao de capitalislas, de>ljiiada a fazer emprestimos de numerario; neni mesmo, sendo con^tituido pela forma indi- cada , Ihe e possivel dispor de quanUas me- lallicas. Nao cnlrega por lanto aos tomadores quaesquer valores em dinlieiro, mas sim — titulos de divida do nicsino banco , como apoiices on notas , de grandes e pequenos valores, passados — ao portador^ porem nao pagaveis — a vista ^ e contendo obrigayao de jure. Por via d'estes titulos o banco substitue-se ao propriolario, que precisa tomar o cmpres- timo, garatitindo-o sob sua responsabilidade, iifto so por meio de suas acgoes, mas pela hypolheca , aceite do mesmo proprietario. 239 Este vende os tilulos, e realisa d'est'arte as quantias nietallicas , deque lia mister; e aiiida niesmo os pode eiupregar ate certo ponto, como moeda, vi^tn que sao — oo portador, dfsde que o creciito do hanco , e a illustragfio da sociedude, o perinitlir. O capllalista nfio prccisa de seoccupar da averipua^fio das circLinistanrias do touKidor, 0 da liypollipca que llie olTerece ; coiistituo- se, pela cnmpra dos tilulo';, effectuada sem formalidados e em particular, cre'dor nao de um individuo , mas de urna rorpora^ao for- te, recoil liecida e auxiliada pelas leis, o banco territorial. O lomador nao careoe de mendigar de capitalista em capitalista , e de llies revelar suas necessidades ; e depois de servido, dor- me tranquillo sem receio de ser expropriado de srus beus , uma vez que sati5t'are todos OS alimentos importados, deixando livre o consumo das carnes dos animaes creados no paiz, para cpie naosejam alimento exclusivo das classes abastadas mas de lodo o povo , e por e,-ta forma se animava a nossa agricultura. j4nimaes desliiiados para alimento. Seria inuito proveitoso excluir dos a(,'ougues as rezes magras ou por nieios directos ou indirectamen- te multando-as com um Iributo , a tim de pro- mover a creag.'io de gado grosso e miudo, de^liiiado unicamontepara alimento, e promo- ver nas ragas indigenas a quaiidade de nutri- rem e engordarem prompta e ecoaomicameiite. Continua. j. f. de MACEDO PIXTO. ESTADO ACTDAL DA OPTICA EM nELA(IO a' COU DOS conpos. A cor dos corpos , dizia Newton, provem de unia disposigao particular de suas mo- leculas, a qual os torna proprios para retlec- tirem eai maior quantidade os raios de cerla cor e transmittirem ou extinguirem todos os outros. Assim que, a cor d'uui corpo depen- dia principalmente da espessura molecular da superficie, eo phenomeuo entrava na theoria da coloragao das laniinas delgadas edos acces- SOS, A theoria das ondulagoes nada veio acres- centar a daemiss.'io no que respeita a explica- yao da cor dos corpos. Entre estes dons syste- mas d'optica , existe porem um terceiro cujo nome e principios apenas sao conliecidos : e o systeina chimico imaginado ou antes desen- volvido por Parrot, pliysico francez ao servigo da Russia, e ampliiicado em 1815 nos u4n- naes de Gdbert. Ao parecer de Parrot, a luz e um agente chimico, como ocalore a eleclricidade. Ala- terialisado e Iransmittido seguiido as ideas de Newton, combiua-se com os corpos pon- deraveis, provocando e dcstruindo as combi- nagnes desses corpos; livre e espalliado no e^pago, produz os raios liimiuosus; em com- binagao com a materia pondeiavel , incdifica- llie as propriedades tanto phy-^icas como chi- micas. E todas estas quaiidade* , nao as podc perder pelo repoiiso, nem adquiril-as por inovimentos ondutalorios. A' tlieoria de Young e de Fresnel , oppu- nha Parrot a seguiiite experiencia. Intro- duz-se em uina camara obscura um fasciculn 241 de \m de 10 a 15 iiiilliijielros de diametro, diiigiiio lidrisontaliiietite e ualiindo sobre uni diaplirafj;iiiri vertical , que ttfiilia iiina feiida borisoiilul de urn iiiillimotro. A rneio coriti- metro d'e-ta t'eiida deve eatar collocado, por de traz do diaplirafftna, uiu vaso dc vidio de faces parallelas l)ciii veiticaes, conteiido no fundo iiina di■l^olll^:io de sal luaiiiilio , e agua piua na parle superior. Operaiido-se a inistura lentameiile e |)or cainadas liorison- taes, a luz que as atravessa iiao coiiliiiua sen caiiiiMlio em liiilia recta e liorijoulal; mas curva-se para liaixo, auginenta d'espessura , sahe do va-.o com iuclina^ao de 21 a 23 graus abaixo do liorisonle, e apresenla as cores prislIlalica^ em outro diaphragm^ que se poe a 2 ou ." milliini'tros de distaiicia. Esta dis- persao do Casciculo, e sua emergeacia obliqua attingem o maxiiuo iia camada liquida oiide a rnislura se faz mais depres-a. Se fazeuios cl)egar os raios luminosos um pouco olilii|uaiueiile de baixo para ciaia , vemol-cs relraiigiieui-seiio liquido, nao ja do outro lado da normal a superficie d'inciden- cia , mas do inesmolado , istu e , apro.siuiam-se das caaiadas lii|uidas mais densas , e emergeui ainda do outro lado do vaso, abaixo do bori- sonte, com o qual fazem um augiilo menor que abaixo da incideneia recta. Hcje, conhecidos os numerosos effeitos dii- micos da luz , verificada a existencia dos raios efficazes ou chimicos, mais ret'rangiveis do que OS raios do espectro visivel. derroladas todas as llieorias pelos prodigios da [jhoto- grapbia, boje , dizemos, a idea d'um poder cliiuiico da luz e universal , e,apesar do silen- cio dos auclores que recenlemente escreveram Iratados de pliysica ou de cbimica, e tbrgo^o conceder largo espajo a lodos esles pheno- menos em que a luz parece avanlajar-se a materia ponderavel. Referiremos em breves palavras as novas experiencias sobre a coloragfio dos corpos feitas [Jrincipalmente em Inglalerra e AUema- nlja. E sabido que Bre\vsler;|d'Edimburg fez nurnerosas observagoes sobre esta iuleressan- te materia, quaudo, como ellediz, preteii- deii Iratar a fcjudo a optica mineralogira. Eslas observagoes cslao dissemiuadas pelos jornaes scienlificos e colleccjoes academicas Aqni limitar-nos-liemos a f.iUar do que e^te babil pliysico deuomiua dispcrsao interna da luz. A dissolugao da materia coloranle das folhas no alcool apre^eiUa uuia bella cor verde; mas se atravez d'esta dissolujfio fazemos pas- sar um fasciculo de luz solar condeusado por uma lentillia , esta hiz toaia uma l)rillianle cor rubra de sangue. Brewster altribuiu a causa d'este plienomeiio a uma dispersdo interna, e observou depois o mesmo effeito em outras dissolugoes vegetaes , nos oleos essenciaes e em alguns solidos. Tal coloraj.'io nao podia altribuir-se a rellexao da luz, pro- duzida pelas particulas em suspensao no li- quido, vislo como a luz assim reflectida teria sido polarisada, no entanto quea luz dispcrsa- da era pouco differcnte da natural. Algum tempo defjois John Hersciiel des- cobriu um phenomeno ainda rnais singular. Uma fraca dissolu^ao de sulfato de quinino do commercio e incolora e transparente, observando-a a luz transmittida; mas loma uma cor azul particular, quaudo a conside- ramos a luz reflectida diffusa. Esia luz azul porem nao e>ta polarisada ; n.'io se prnduz se- uao na delgada cauiada dc liquido, arjjaccnte a parede do va^o (pie dii entrada a luz, podeudo depois alrave^sar miiitas poUegadas do liquido. A luz que atravessou lodo o li- quidoiiaoappareceseusivelinenteenfraqiiecida uem corada ; mas perdeu a prnpriedade de manil'estar a cor azul em outra di^soiugao tie sulfato de quinino que encoutre na passa- ge m. A luz assim iiuidificada denomina-a Hers- ciiel fasciculu fjiijjolisado. I'oiom outro observador, o principe de Salm-Uorstmor , teve recentemenle a feliz idea de fazer passar a luz assim epipolisada jK-la di-solugao de sulfato de (piinino, atravez de uma dissoliigao da materia verde das jdantas, de curcuma ou de casca decas- taiilieiro , e o plieuomeno da colorajao repro- duziu-se. Stokes repetiu a experiencia de Hersciiel com 05 differentes raios do espectro solar. Quasi todos os raios coiados, experimeutados cada um por sua vez , passaram intaclos atra- vez da di^jolugao desulfalode quinino; porem apartir do meio das Ii=las g e h do espectro, ate muito alem da violeta extrema , a Inz incideiite dava origem a um azul celeste, compreliendido entre a parede que recebia a luz iiicidente e outra superficie Iragada p.. liquido a certa dislancia d'esta parede A superficie posterior indicadora do logar onde a luz azul estava exiiaurida por absorpi^ao on ditfusao, acliava-so ao principio nnii dislante e ate fora do vaso ; mas ei medida que os raios incidentes se tornavam mais refrangi- veis, aproximava-se da parede referida, de fei(,'rio que a espessiira do azul diminiiia com rapidez, e tornava-se miii fraca em relagao aos raios que vinliam desde um pouco alem da violeta extrema ale a extremidade do espectro invisivel ou clijmico. Continua. DOCUMENTOS INEDITOS. Carta que o riso-rei D. Joiio de Castro escreveo a el-rei itosso senhor o anno de 46 (1546). Depois da parlida das naos do anno pas- sado se acabou o Ydalcao de declarar por nosso imigo; e a por porobra fazer-nos guer- ra , inandando seus capitaes sobre esta illia 242 de Goa , e toliieiido t]iie ticnbuns mantimenlos, madeira, nem couza oulra alguma saisse de suas terras pera esta cidade: e mandatido cercar lodes os pottos de sen reino, se fez presles pera em pessoa vir cercar esta cidade, seiii declarar ontra causa para tamaidio rompimcnto e rotiira, tiiais que nao Ihe querer en vender Mealecao e sens fdlios por ciiicoenta mil pardaos, como Martiin Af- (bnso de So.isa linlia com el!e concertado , assi e da rnaneira que jii teniio escrilo a v. a. o anno passado. Ku fiii dissimulando e sofrendo estas afrontas, em qiianlo o tempo, e a rezao o consenliam ; cnnsiderando , que v. a. nao me eiilegera para vir aievanlar, e fazer truerras ii India; mas para a governar, e manter em paz, e jusli^a: nao para a vir enclier de roubos e morte d'liomens ; senfio para a liinpar de vicios, e maos costumes. Nem me mandava em seu regimento, que conquislasse de novo reinos, c terras estranlias ; mas que llie guardasse, e conservasse as que delongo tempo linha jaguanliado, e llie ficaram por propria e verdadeira pran(,-a de seu pai. Porque assi como parece bem , que de soldados venliamos a merecer ser capitaes ; assI se deve muiU; d'estranliar , que de capitaes tornemos oulra vez a fazer oflicios de soldados. E com estas couzas junlamenle se me represenlava, como me fora enlregue toda a armada de v. a. Ifio dannificada, e podre , que c6 as maos se desfazia; e que pera a deixar estar no mar em hu inverno, se ivia toda ao fundo; e varala nao me era possivel , por cazo de nao achar na sua ribeira envazadura? , cabre- stantes, cadrenaes , viradores, picadeiros, escoras , que sao os eslromenlos, que se requeriam pera fazer esla obra ; sem os quaes se nao pode faser couza alguma. E assi mesmo me passava mullas vezes pola memoria os mans pensanierilos d'elrei de Cambaia, e como seus embuxadores frequenlavam as Cortes dos reis e senliores do Balaguate e Malavar. Mas em fitn vendo, que me hia desfazendo sobola amarra , e que a tempeian^a, sizo, e sofrimento, que moslrava, causava ja no Ydaicao , eseus capitaes ^oberba, e ousadia ; crendo os mouros, que esla temperan^a me vinba mais do temor e receio, que d'elles avia, que por dcsejar a paz, para bem e assosseguo do universal povo da India, como e' costume de todolos fracos, e maos: pareceu-me couza justa e necessaria nfio esperar mais, e fazer-iue na oulra volta. E confiado nas ajudas divinas, mais que nas forgas liumanas, detenninei de Uie fazer a guerra por mar, e por terra , e encommendar a causa de nnssas differengas as armas , e a fortuna : porque na verdade os graiides esla- dos, assi como se guanham com a langa na rano, assi se n'lo podom defender semella; e muito mais este, que tfio alonguado estaa de v. a. , que quasi as nossas pegadas se querem acabar de virar, e contra-pdr as de nossos parenles e amigos, que la liabitain nehsas moradas e terras; e primeiro que liajamos reposta de nossas cartas , e v. a. queira soc- correr a nossas necessidades , da o sol u)uilaa vollas, e quer acabar de fazer duas inteiras revolugoes. Polo que fiz prestes quatrocentos de cavalo iDui luzidos, os quaes levava lodolos dias aocainpoern batallias , exercitan- do-os em escaramugas, cyladas, e outras arles do guerra. E mandei rogar os malos , fazendo caminlios na terra firme, e apare- lliando janguadas para passar o rio : e fiz muilas carrelas de campo, moslrando querer cauiinliar pola terra dentro : dando a en- tender, que o meu preposito era ir tomar Hilhiguao, e nelle aievanlar por rei Meale- cao. E como com muita brevidade fiz prestes hua armada de fustas , e catures, queniandei langar sobre a cidade de Dabul, na qual armada mandei porcapitao mor Nuno Pereira, que e hum fidalgo, que ha muitos annos que caa serve a v. a. muito bem, e gentil cavaleiro de sua pessoa, e homem mnito sizudo , honesto , e de bora viver: e os capi- l.'ies , que com elle mandei foram cazados, e inoradores desta cidade , todos homens de muito servigo, e esperiencia na guerra; a saber, Malheus Fernandes , Bertolameu Bispo, Joam Fernandes, Pero Gongalves. Eaposesta armada mandei outras, pera se laugarein sobre os porlos e rios das terras do Ydaleao, de maneira que nenhuma cou?a llie podesse entrar, nem sair. K as armadas que trazia em Cambaia, de que andavam por capitaes Antonio de Souto mayor, e Diogode Reinozo, fiz ehegar pera as terras do Ydaicao, pera, taiilo que tivessem meu recado, darem todas juntainenle em terra, e lalarem, e deslroirem toda a costa do mar. Isto as^^feito, comecei a Iralar com elrei de Bi^nagua, e com alguns seiihnres, e capitaes do Balaguate; persuadindo-lhes, que lizessem lodos guerra ao Ydaicao; porque eu o apertaria tanto de minlia parte, que elles muilo a seu salvo pola sua ihe podessem guaiihar toda a terra. I*; com OS capit.'ies , de que elle se fiava , e de que mais conta fazia, me carteei laobe , mostrando nas minhas cartas seiem repostas d'outras suas, nas quaes tralava com elles, que me entreguassem vivo o\dalcao, pera eu fazer delle o que quizesse. Estas cartas encaminhei de maneira, que fossem vistas do Ydalcfio: com as quaes se perturbou em Innla maneira, que logo mandou cortar as cahegas a todas as pessoas , de que presumia terem uegoceagiio comigo. H esta negoceagao, e aparato fez tamaiiho abalo em todo Bala- guate, ciue descobertameiile comegavam os Decanvsa murmurar do Ydalcfio, eapedirem por senlior a Mealecao. E aiidava grande clamor no povo , dizendo : que ja nao podiam naveguar, nem viam saida as mercadorias da terra , nem podiam ter remedio para se venderern seus manlimcntos. E muitos dei- 243 xavam as cidades , e logarcs mari'.iinos, e se inetiam pola terra dentio ; por cazo do g;rande aperlo , ern que os linlia poslo Nuno Pcreira era Dabiil , eoiitroscapilae; por oiilras paries; OS quaes liveram tal recadn na giiarda d'estes porlos, que le as aluiailias nfio podiam sair a pescar. Eslcs clamoros do povo forarn etn tanto crecimento, il convenienle depnis de completar as collec^oes da biMiotheca geral e das t'a- c-uldades , com oslivros queexistem n"a()iiello deposito , enriqiiecer a liiraria do seininario episcopal d'esta cidade , com muitas oljras, que Itie faltam , e de que no deposito geral devem existir exemplares repel idos, porque e na verdade lastimoso, que ali se estejam deteriorando ol>ras , que ainda tem inuito valor, sem o publico illu^trado, eamocidade estudiosa collier proveito algum d'ellas. Parece-nos lainbem que de algumas obras, deque ha muitos exemplares, eque lioje sfio procuradas nos mercados estrangenos , se po- deriam fazer Uocas miii vantajosas por obras modernas, parlicularinente de liistoria e sci- encias natiiraes, de que lanta falla ha na bi- bliotlieca. Para isto era necessario cuidar-se sem demora de calalogar, e classifiear aquel- ie rico de|)oiilo , objecto na verdade de gran- de trabalho, e que exige despesas superiores adola^fio universilaria , as quaes por isso mes- mo se deveiu solicilar com instancia: assim o pede o interesse publico, e o crc'dito da nni- versidade, a q\iem scenlregou esse deposilo de lanlos cenlos de volumes de obras litlerarias e scienlificas. PORQt ERAZAO A LAMPREIA. 0 SAI.J1A0 E OITROSPEIXES DEIXAM O 3IAK El'ROClRAJl A AGl'A UOCE E3] CERTAS EPCCIIAS. Millet, procurando ascausasd'eslaemigra- gao , estudou a intluencia que exerce a agua salgada ou salobra nos ovoa d'esles peixes, e acbou que a preaenra do sal , ainda em prn- porcjoes pequcnissimas , perturbava de l.il niodo a repioducjao , que nern se qner em aguas mui pouco salobras podia ler logar. A ac(;iio da agua salgada sobre os ovos de salinao ou de Irula , pode reconliecer-se u simples vista: na parte superior engrupam-se gotas oleosas ; todo o systema que forma, nesta regiao do ovo , uina manolia ejbran- qui^ada, soffre uma revolu^'.'io , que deslroe toda a liarmonia deose systema ; o glnbo do ovo defrrma-se, conserva uma cur amarel- lada e toma a tran^pa^encia opalina No ovo fecundado em que os primeiros elemenlosd'nrgaiu-acan ja se tem manifestado, destroe-se promptamente toda a liarmonia d"e4a organ isa(,-ao E tambem nolavel a ac(;rio da agua salgada sobre o ovo que, por uma allera^ao , se torniiu branco ou opaco , porque Ihe restilue sua fransparencia opaliua. Podem-se acom- panliar as phases d'esle phenomeno sem o auxilio do microscopio: o interior do ovo apresenla, no fim d'alguns minutos, um nueleo opaco, que se vae esclarecendo a medida que a agua penetra no interior. PUBLICACOES I.ITTERARIAS. EN'SAIO SOIIUK A CHOLERA KPinMIICA pelns bfirs. Francisco Jose dn Cunha f'ianna e Antonio j^iaria Barbosa. Com este modeslo tilulo recebemos um opusculo de 200 paginas , oiide se encontram utilissimos conhecimenlos a cerca d'este importante objecto. PROJECTO DE ESTATUTOS DA CAIXA DE CRE- DITO E SOCCORKOS MUTCOS DA ASSOCIA^AO IN- DUSTRIAL pouTUENCE. O auclor do extenso e bem elaborado relatorio que acompanha este projecto , o ii\r. Antonio Ferrc'radcJMacedo Fiiilo, desenvolveu a liistoria e principios economicos daquelles estabelecimentos por tal arte, que o seu traballio torna-se digno de ser lido e estudado , por quern verdadeira- menle se interessa pela prosperidade da in- dustria nacioiial. EFFEITOS DO RAIO. (_) raio , diz mr. Robin, da logai como a electricidade e o calorico, a combina- ^ries , que absorvcin instantaueamente o oxi- genio interior, produzindo por isso a niorte por aspliixia. .\ electricidade fulininante di- minue a quantidade do oxigenio no sangue , e evita acorrupcao. Tal e o resultado de re- centcs oliserva^oes. BIDLIOTUECA DO III'SEU BRITAMCO. Esta bibliolhecft contc'in 510:110 exem- plares de obras iiTi|)res-as. ERU.ATA no N.° 19. Pag. Col. Link. Erro. Emetttf. 2i3 2.* 6 que vale a uila de 46 JoXo da Fonaeca do Vallc , nomeailu para o l<>{ar de porteiro dolyceii iiHcional dnlistrifl.i de Caslt-llo Branco, j»or decreto tie 25 d'ouliiliru ile U(.)3. Ditr;;o Juse Li'3, immejulo |iiirit o loi^ar de porteiro do lyceu n.icional ilo dialrirto de Brji;;jn(;a, por decreto de 28 de ii.>vcinliri) de I8.)3. Antonio Gunipa Hcnri'iues, nomeado para o Io;:ar de jturteiro do lyceii narioiul ilo districlo do Fuoclial , por decrelo de 4 de iiovcmliro de 10j3. O SecreUrio (Jeial — Jusv Anionic tl' Amorim. AVISO DA COMMISSAO GERAL DE INSTBUCtiO PBIHABIA. Sendo desiimnia conveniencia reiinirem-sp nacomiiiissaogeriilde iiiblruc(,\"io primaria pelo melhodo porlugiic^ iioliciaa exactas do todasas escliolas em que se protoisa pelo mesino iiie- tliodo, pelo pri'sente aviso se coiividain os respecllvos profei-sores e professoias a eiivia- rern-llie quanto antes resposla aos seguiiiles quesilos : Primelro — qual o nome do ineslre ou ineslra. Segimdo — em que tetnpo e coaj que liabilitajoes cninegou o sou ensiiio pelu metliodo novo, ecom quo nuiiiero dealuiiiaos ou ahimnas. Terceiro — que augniaiito ou que diminiii^fio liouve subsequenleiueiUe ues^e niimero. Quarto — quo rcjullados teem colhido dos seus traballiob para o adiaiiLameiilo dos seus discipulos. Quiiito — qual ojuizo com- parative que a sua propria o.\perieticia o teui liabililado a fazer do melliojo novo o do antigo. Sexto — que mudanyas para mellior intende poderem-se fazer no etisino novo Se- timo — quem suslenta aescliola ecorno, eein que est;ido se aolia ella de aba^tecimeuto dos utensi= iieressar ios. Oilavo — (jue au)paro iam a eschoja encoiitrado nas auctoridadej ou iios parlicuiaros. Nnno — que einbarajos toem encoiitrado, o d'eiiire oUes quaes sao veii- civels, e cotiio. Decinio — qual a opiiiiiio geral dos inoradores da terra a cerca desta leformaffio no ensino. Undecimo — de que livros se servein os discipulos para se de=em- bara^arem na leitiira, e quaes sao os que tnais parecptn captivar-llios a atloayfio. Duo- decimo — que mestres teem t'rei|ueiilado os trabalhos da escliola com o intuito de se liabilitarem para (azeretn o mesmo ensino, e quaes effectivamenle se come^araiu a i'azer , e com que aproveitamento. Decimo terceiro — qiiantas lioras se pode calcularque se des- pendem em fazer-se conliecer o alpliabeto; <]uaiitas a ensinar a lor por sillabas, e quaii- las a ensinar a ler por cinia , e com pontua- ^ao; quantas para se licarem lendo e escre- vendo contas pelos algarismos arabicos, e quantas pelos algarisinos lomanos. Decimo quarto — cm que iiropor^fio estfto osaluainos, se por Ventura os lia, que mo,trem desgostar do metliodo novo, para os alumnos que ma- nifestamente gostam delle. Decimo quinlo — em que proporjao estavam na escliola do amigo ensino os esludantes que l!ie queriam com OS que o detestavam. Decimo sexto — i]uc dilTi'ien^a se tern reconhecido haver o inotliudo novo operado na clareza e correc^ao da prdo porluguez no reino e ilhas — lio mestrc ou mcstra de imtnu-gdo primaria de (o noiue da terra) — Fulano ou fulana. FRAGMENTOS LITTERARIOS. DEFESA DA THEORIA DO BELLO. Cunlinuado de paj. S37. Lm seculo, aos oUios da vordadeira phiio- snpliia , c o desenvolvimento de uuia idea , que dostacando-se doeteriio pensamento de Deos , vein encarnar se nos factos do miindo mo- ral. A pliilosopliia de cada seculo e a inicial doniina9rio d'essa idea no pensamcnto dos liomens que o compoe. K a lilleratura d'esse seculo , como seja obra immodiata d'este pensamento, nfio so retlecte priniorosamenle aqu"lla pliilosopliia, senfio tambem e a mais alia formula da idea que o seculo e cliaina- do a realizar no governo providencial d'este inundo. Tao inlimas sfio pois as relayoes que ^o dfio entre a pliilosopliia e a litteraturajde cada seculo , que o espirito obsorvador pode pelo raciocinio — ou descer a priori da plii- losopliia para a lilleratuia, — ou subir a posteriori da lilleratura para a pliilosopliia. No seoulo passado a pliilosopliia que mais doaiinou foi a philosopliia de Locke , de Condillac, de Tracy, de Cabannis ; foi a pliilosopliia empirica — sc7ujialista a princi- pio — depois matcrialista — e por fun abso- 247 liilaiiieule scc/3//ta ; philosophia desor^^anisa- dora, subversiva, e, se o posso dizer assim , iniia da morte, portjiie rediizindo o pensa- mento a uma pura machina do sciisagoes, quebra o inundo de deiitro contra o mundo de fora, faz do liomem iim reflexo da natu- reza, e da alma iim aecidente da materia. A litleratura quo saliiii d'e5ta pliilosophia , a unica que ella podia dar, foi a liltoratura que nao admitt'; outros codigos afora a rlie- torica de Aristotelos e a poetica do Iloracio; I'oi a litteratura que tende a incruslar a arte iia natureza, na qual ve uma palavra sem senlido , uni symbolo sem siguificado; foi a Jitleratura que so cura da forma, que mala o espirilo por amor do cadaver, que faz da imitagao material o principio e fiui derra- deiro da arte. Mai no seculo que vai correndo — gragas aos incansaveis esforgos de Stuart e Reid na Escojsia , de Kant e Ficiite na Alleinanlia, de Royer-Cnjlard e Cousin em Franga , de Koimini e Gallupi na Italia! — a piiiloso- pliia que mais douiina, a que vai avassal- lando maior nurnero de intelligencias, e a ))liilosopliia do pensamcnto — pliilosophia sublime, que mais ou menos transcondente, mais ou roenos idealista, mais ou menos eclectica, se ajnuma vez se desmanda e(n seus voos ambiciosos apoz o cysne da acade- mia em cata do verdadeiro absoluto, nunca o faz com inlengao ma, nunca perde de vista OS altos foros do espirito humano, nunca menospreza nem confunde este espi- rito com o fragil encerro em que vive; mas qiiando d'eiift nfio tenlia feito um Deos, juiga-o semelliante a Deos. Ora qual e a litteratura, que vai saliindo d'esta philosopliia ! llespondam a esta per- gunta as tendeucias e as doutrinas, e as iradigoes da nova e-cliola litteraria , — d'es- sa e=chola , a qual pertcMico a maxima parte da lilleratura iiodierna; — d'essa nova cru- zada do genio, que alii leva o seculo apoz si, e a cuja frente marcliam os grandes no- mes de Chateaubriand , de Goclhc , de La- mart/ne, do l^ictor Hugo, e tambem de Garrett, de AUxandrc Hcrculano , de C'ljs- ftV/iO?. . . . Queui liaalii que tendo salioroado alguma das hollas pagiiias destes grandes raestres, nuo liaja de prornpto reconliecido que a mor forga do interesse que nos inspi- ram , e do encanto com que nos arrtbatam 9uas coinposi(;oes, provem da realisagfio das tradijoes platoniras, provem doespiritualismo d'essa theoria, queatiavez das firmas da arte so busca e adora a idea viva do Deos, como fonte de toda a belleza ; provem em fun d'este vago aspirar da alma para o invisivel, d'este inelancolico cismar no fuluro, d'e-te senti- mento religioso , que approxunaiido o ceo da terra franqaeia ao ponsarnenlo do genio OS inexgotaveis lliesouros de um mundo lodo ideal e infinito? A bandeira lii gloria da moderna eschola litteraria e o espiritualismo, e a philosopliia dePlat'io, e a esthetica do Santo Agostinho , que poe o fundameato da arte na idea do bellii, e adora o bello, como forma sensivel do hem c do verdadeiro., cuja substancia onlologica e Dco^ Esta Icndoncia da nova eschola e' consequencia inevital da missan dada por Deos ao seculo a quera ella per- tcnce. Vindo ao caho do catnclisrno que nos legara em seus paroxismos a philosophia do seculo passado, a nova eschola nfio achou , a sua enlrada no muiido, senfio ruiiias c do>lro(;os. Muito, oh muito gemeo e chorou ella sobre essas ruinas, mas n.'io se limitou a gemer e a chorar.. .. Viu o altar por terra feito pedagos : e com a alma abrazada de fe em Deos e de amor pelos homens , poz-se a junctar e reunir esses pedagos , ate que . . . recoristruiu o altar. Viu povos ebrios de sangue, devorando-se uns aos outros, e ado- rando a anarchia com o nome do uliberda- de : » esclarecexi os povos; disse-lhes que a liberdade viiiha da otdom , que a ordem vMiha da lei , que a lei viiiha de Deos; e levoii OS povos para o pe do altar. Viu reis transidos de susto sobre seus thronos , perple- xes e vacillantes entre a apostasia e o mar- tyrio da realeza , enlre o canhao assestado contra o povo , eo cadafalso erguido para elles ; tambem esclareceu os reis; disse-lhes que se ja nao podiam reinar em nome de Deos, podiam ainda reinar em nome da lei ; que so de Deos viera; e levou os reis para ao pe do altar. Eil-os-ahi pois reunidos a voz da nova eschola litteraria em torno do altar de Deos vivo os povos e os reis: — estcs, quebrando de suas prelensoes e cir- cumscrevendo o seu poder para bem dos po- vos ; — aquelles, cedendo de parte de seus direitos em prol dos reis: e d'estas mutuas coucessoes alii vao sahindo a ordcm pcla Liberdade , c a liberdade pela vrdem, — du- plicado objeclo da missao commettida ao seculo em que viveinos ; e voto o mai> since- re, o mais ardente, da nova eschola litte- raria. Por tanto, senhores, se areligiao, como fica dicto, e a seiva deque se nulie esta bella arvoie da moderna eschola lilleraria, n6» que llie saboreamos os fruclos, que Uie aspi- raoios o doce aroma das flores de que so arreia , que a sombra d'ella virnos buscar a paz e esqueciiiiento das fadigas e tribulagoes d'esta vida; oh nao! nao tenhamos vergonlia de proclamar os beneficios que Ihe devemos. Nuo tenhamos acovardia dedosertar agio- rio^a bandeira da litteratura do iiosso seculo. Nfio renegiiemos a auctoridade dos prineipios que llie teem dado vida e poder para recon. struir o inundo moral, para sanclificara liber- dade entre os reis e a ordem enlre os povos : porque, afora todas as consideragoes de con. venieucia que nisso haja para mellioria e pro- gresso da arte, a religiao, esla aspiraguo insliuctiva da alma para o in&nito, e uina 248 das mais instaiilcs necessiJades do horaetn na iiitosridade de sua tri|)lice nalureza. Conio ser intolligciue o lioitiein e a toaa a liora vivaineiile atornieiitado pelo desejo de profiindar cerlas Qiie>loes , que nelle estao palpitando de iiiipacieiicia, mas cuja solu^fio dcfinitiva esta fora do tempo e docspajo, n'outra ordem de coiisas estranlia ao miiiido visivel. — Quern souctif Dondc vim? Para ondc von f Que c este muiido que habito , mas pclo qual lerci dc passar cotno unia iombra? — Oh senliores ! e quem ha ahi que iiHiilas vezes na vida nfio teiiha proposto a si ]iroprio estes problemas terriveis f Pois a religiao, que e a philosophia do povo, tern para lodos elles na majestosa prorundoza de seus dogmas solugoes por extreme claras. Como ser moral o homeiu acha em si certos principios com a necessidade de crer nelles, com a obrigagao de realisal-os por suas ac^oes, quaesquer que sejain as coii- sequeucias, prosperas ou funestas , que d'essa realisa^fio Ihe advenhao. — Porque razdo me ndo hei dc cu revollar contra tacs prhicipios i Porque ndo hci de apczar delles , e scin remorsos , onfaxcr o mal que qucro, ou deixar de fdicr o bein que dcuof iVdo sou cu um ser livre? — Sim, sou livre ; mas esta lei do bem e do mal, a razfio porciue nao posso tranigredlj-a iuipunenieiite , e porque nao vem de iniin , e porque nao foi coustiLuida ])or niim , e porque nao e obra do houiem , e so obra de Deos. Eis alii pois outra vez a religiao apparecendo ao hoinem para san- clificar-lhe a lei moral, que li base de toda a ordem social , e para por-Uie por saiic^ao cterna d'essa lei as penas e recompeiisas de outra vida, na qual o homein teni de res- ponder peranle Deos pelo bem e pelo mal que hoiiver praclicado nesta. Em fim, como ser sensivel o hoinein e' tfio fraco ! Ncite valle de miierias em que vive, tern necessidade de tantas consoiagoes ! E que outras consolQ56es lia ahi que mais Ihe aproveitem que as consolafoes religiosas ? . . . Que importa que me eu sinta perecer a miiigua de justi^a Cii nesta vida, se creio que depois d'ella hei de ser sobradamente justllicado por um Ser que ea justi(;a em pessoa ! Que im- porta que me persigarn invejas ou malque- renjas hum anas, sea religiao me temensinado a ter fe na ellicacia deuin appelio para alem da humanidade ? Que importa que a doenja ou a vclhice , trazendo a morte pela inao, venham siirprender-me em ineio de miiilias niegrias, e arrojar-iiie para a sepultura, se eu sei que esta sepultura e apenas porta para outra vida, onde ncui mens dias teraoconta, nem minlias alegrias limite! Eis aqui couio a religiao, como esta iillia do ceo, desce do ceo a terra para vir sentar-se a cabeceira de todo o leito de dor, para enxugar com mfio carinhosa toda a lagrima d'aiigustia, para constituir-se a compaiiheira e desvellada amiga do infortunio da humanidade. For lanlo, senhores , se laus sac as rela- joes da religiao com a arte e com a felici- dade do liomem mesmo sobre esta terra , mal liaja, oh ! mal haja a falsa sciencia , que absolulamento iiicapaz dediminuir o numero dos males iiihereiitcs a humanidade se abalaii(,'asse a doslruir, nos devaneios de seu orgulho impolente as consobKjoes postas pela mfio da religjfio ao po d'esses males. Oh maldi^-'io ! maldi(,'ao sobre ella ! porque se Ihe fora dado desec-ar a fonte de taes con- sola9(5es , .... a arte iiao teria mais espirito que a vivificasse, nem o povo mais philoso- phia que o instruisse, nem a moral mais sanc^fio que a defendessc, nem o estado mais ordem quo o mantivesse, nem a pre- pntencia mais lemor que a soffreas^e, nem a desgra^'a mais esperauja que Ihe servisse ! O muiido moral recahiria no cahos ; o homem , hnje o rel da crea^'ao, desceria abaixo do nivel do bruto; e a falsa sciencia , que seria a unica luz d'este inferno, teria no hediondo Ofpectaculo da sua obra a mais severa puni- ^ao de sens erros. M.n. DE MENDONCA. A CM POETA BRASILEIRO. Ah! gu'au moins tu piiisses te dire: V.etclinuts i/ni 711' oiU ftnu, c^estmoi qui lesiuBpire, Et sa tnuse est mori souvenir. (Lumarline) Qual novo Cystie , que por nosso9 climas Nd flurente cst;u;rio us ares corla , E um iror^i-'io sunoroso , Da nritiireza aus liyiiinos afliiado, Na mui veloz carii?ira \ae Irinanilo ; K lilts (I<,'i\a uma saudade N'esse echo il'liarmoriia, que revela Da musica celeste al^^timad iiutas ; Assiin passas e nos deixas Tu , filho di> Brasil , canlar suave. .\ssim vas e nos deixas .'..mas volvendo An ninlio ten paterno , oil ! nao le esque^a 'I'erra de leiisiavus, onde enconlrasle Amif^os, que olvidar-te nunca podenl , Peilos , como d'irnitlus, onde pereime Mill {jrala vivera tiia memoria , ^ E essa lyra , que feres tao sonora , Nao a desdenlies , nem ao ocio a entreaties ; Desprendidas do innndo al^^iins monientos , Almas DO ceo teinp*radas de harmonia , Para o ceo em bymnos vocm. Oh I nao te peze o norae de poela .' I^eixft o viilijo niofar . . . Missao sublime E do vale a niissito , que o dom da l^'ra ('oiil siiaves ciin(;oes diviuisaiulo , A huniaiiiJade alenla harmuiiiosu Da vida nos cauiiiitios lao ditflceis; K ergiie a Deos os sens liymnus mais ardentes ; Vae nas campas^sollar trisles pemidos ; S(i caslo e puro amor na lyra entiia , E aos auiii:os distanles lerno envia Uma endeixa tie saudade. 249 BANCOS TEnniTORIAES. Continuado de pag. S40. lid em Portufjal iima especie de bancos agrarios (se este nome llie pode ser applicavel), por via dosquaesa lei poderia talvez lentar a grande reforma, que ocredilo territorial recla- ma. Fallamos das misericordias, nigiimai mil- lionarias, cujos fundos se empregain sobre escriptiiras d'liypotliecas com lodos os incon- venienles e gravjssinios incoinmodos, que af- fectani tanto oemprestador, como o lomador. Seria talvez pnssivel e faciimente realizavel fazer com que as quantias metallicas fossem alii substituidas por lilulos ao portador, einit- tidos pelas misericordias, em geral ,ou apenas pelas priiicipaes, e garantidos pelas mesmas, prooedendo-se de sua parte com as cautelas necessarias para com os tomadores c suas respeolivas liypotliecas. As misericordias, quaesquer, bem oomo outros estabelecimentos, e tndo o rapitallsta , comprando na pra^aesles tiUilos, empregariaiii com seguranga e facilimameiite suas eco- nomias, asquaes em outra occasifio recobra- riam da mesma forma. Garantidos oslitulos por esta forma , como estes estabelecimentos carecem frequentemenle d'emprestar fundos, ser-lties-iatao facil, como coiiveniente segurar o pre^o , ao pur, com- prando-os no mercado ; e quando, como e tnni possivel , subisse acima do par, tanto maior seria a v.intagem do tomador. D'esta sorte as misericordias, sem prejuizo deseusinteressesedodestino de suaseconomias ou legados, ficariam constituidas niedianairas entre oscapitalistas e os cultivadores , livrando a estes das avidas e crueis garras da uzura; e OS outros estabelecimentos menores escusa- riam de irderramar, obrigados da netessi- dade , sens pequenos fundos no commercio d'agiotagem e das acQoes das companhias. Alem destesrecursos, outros imuomparavel- mente superiores poderfio firmar o cre'dilo dos titulos territoriaes, offerecendo-llies um fecundo e constante alimento, a saber, as economias reoobidas i^eias caixas econoniicas. D'ahi pnderao sair os priineiros capitaes que se liajam de empregar nos titujos dos bancos, e para odiante concorrerao podorosa- menle a sustentar seu curso no mercado. Se esta proposicfto e verdadeira , a instilni- 5ao dos bancos territoriaes produzira mais liniae niui geral vantagem ; serviru d'aiimento a economia de todas as classes da sociedade; e resolvera, em geral utilidade , um grande problema economico: — qual o meio mais prompto , el'ficaz e seguro, de fazer valer os Ihesouros que enlram nas caixas ecnnomicas? A altcra^ao, que por ventura soria indis- pensavel fazer-se na legi~la^ao correspon- dente, nao se nos represenia lamanlia e tao grave, como alguem cuidaid. Todas as tranfaccoes entre osliancos eseus proprios accionistas pelas hypotliecas de suas ac^oes, bem como com os iiovos lomadures de cre'dito, poderiam etTeiluar-se seguniio as normas cslabelecidas a cerca de contractos hypoliiecarios Bastaria porlanio talve;., alein daauctorisa- ^ao e approva(;ao d'estatutos parliculares , o reconliecimenlo legal dos titulos e dasobriga- (,'oes, que por elles contraliem os bancos, com todos OS effeilos e responsabilidades de papeis commeiciaes. Quando a legislagao civil , posta por esta forma em accordo com a natureza dos bancos territoriaes, permittir que elles caminliem regular e seguramente ; e a iilustracao pubiica a coadjuvar, a firmeza da garantia do em- prestimo, onenlium cuidado sobre as circums- tancias do individuo tomador, a regularida- de do pagamenlo dos juros, e o processo suc- cessivo da amortiza^ao , nao podem deixar de produzir o effeitode faciimente se venderem e comprarem estes titulos , ate mesmo cora agio. Coristituirao um meio simples e facil, tanto como seguro, d'empregar de prompto quae^quer economias que avultem a impor- lancia dos menores d'esles mesmos titulos. O estudo do credito publico, e do com- mercio dos titulos, representativos d'este credito, fara ver , nao so de que modo a idea dos titulos de credito territorial, e de seu commercio, parece ter d'ahi procedido , mas nao menos cnmo e natural que uma parte dos capitaes, que secon-omem naagiotagem, procure, pela organisayao do cre'dilo ter- ritoiial, urn emprego mais seguro nos titulos que o representarem. O estado toma empreslimos — a juro ptr- peliio , isto e, sera se obrigar a restituir o capital; e apetias destina alguns rendimentos para os amorlizar paulatinamento , compran- do na pra^a suas proprias inscrip^oes. O capitali^la emprega sens fundos nestas inscripfj'oes, comprando-as; e quando precisa dos mesmos fundos, vende-as egualraente. A sociedade, contribuiute pelos impostos, eo devedor. O governo , medianeiro entre ella e os capilalislas, recebe os impostos, paga OS juros, e cura das amortiza5oes. O credito da sociedade e do governo, a firmeza de tao altas garantias, a faciiidade de coniprar e vender as inscripgoes, expiicam a auftlencia de capitaes a este genero de negooio. Uma organisagao , e vantagens analogas , produziriam effeitos semelliantes no credito territorial. Limitamo-nos a estas observajoes, suf. ficlenles para desempenlio do fim , a que nos propozemoj. No Diccion. cT Econ. Polit. s^^U^a — credito territorial deMr. Wolowski e nos muitos e importanlesescriptosahi apon- tados, podem ler-se mais amplas noticiasdos bancos territoriaes emseuvariado desenvolvi- inenlo. m 250 Aproveilaremoa aiiula t'lo so iiente a se- giiitile observii^fio de Coquelin : liCoino per- miltem (diz c=te OscripLor) ino'iiiizar os cre- ditoi sobre liypolliecas iia loriiia do, lilulos tio portador , sao causa de que se derraiiie na circida^'iio uma inassa de valores, que alias ficariain eslereis; — e desta sorle au- fTmeiilam a riqueza nacioiial, mulliplicando OS incios d\icgcw, que a induitria possue. » — Por oceasiao da iiivajfio da Prussia |)3lo excrcilo I'rancez em 1806, e e<,'ualmenle na sulileva(;ao da Poloiiia eni 1831 (diz lambein o sfir. S. Pinlieiro), em quanlo Lo- dos OS fundos publicos e privados estavam fora da circula^ao, ou qua?! inteirauiente deprcciados, os lihilos dos baucos teirilorlaes sustentavam-se quasi constaulemenle a, 95 °. Era facil de conipreliender a razao : oi valores que garanliam os oulros papeis , tiiiliani desap- ])arecido, entrelaulo que a Ijypollieca destes j)ermaiiecia ; ecoino os produclos nfio liuliam soffrido alleragao, o valor dos beus liypo- thecadoi conservava-se quasi no inestno esla- do.— A Franca acaba de adoptar os bancos ler- litoriaes. Uma sociedade, livremente eslabelecida eni Pariz no principio do anno proximo, converlcu-se, lia pouco, em urn grande banco com o nome de — crcdilo terrilorial , apoiada e auxiliada pelo governo, o qual concorre com o capital de 10 millioes de francos. A annuidade, que liao de pagar os loma- dores, compreliendendo o juro , a amorliza. 5ao, e ocusleio do estabelecimeuto, e de 5 "• Podem ler-se no Jornal dos cconomidas de 18a2, pag. 371 e 405 , os estalulos , e o decrelo do governo. A. FORJAZ. MEIOS DB PROMOVEB A Ml'LTlPLICAgiO B MELHOBA- UENTO DOS ANIUAES DOUESTICUS. Conlinuada de pag. 840. V. Esiabelecimenlos destinados ao melhora- ■mento dos animacs domesticos. As caudelarias e as quintas exemplares sao OS estabelecimentos, destinados a multiplica- <,\'io e aperfei^oamento dos animaes. As caudelarias sao privalivas dos animaes monodactylos ; as quintas devem compreliender todas as especies de aniinaes dome^licos. Qualquer dos referidos estabelecimentos pode ter por fim o aperfei5oamento das ra^as ; osensaiosacerca dos mellioramenlos quemais convem ao paiz, em relajHo ao solo, aos alimentfis, e aos liabilns dos creadores; a inultipiicasao dos animaes; ou a conserva- 5*10 de bons reproJuctores , sendo viveiros, doude se tirem animaes sadios e de raja pura para as dilTerenle^ loculidades do reino. Esles esiabelecimenlos podem ser sustenta- dos e dirigidos pelo governo ou por parli- ciilares. Em Portugal apenas tern havido caudelarias suslenladas pelos particulares e dirigidas peln governo ; mas neslas caudelarias OS animaes luio eslaxam congregados n'um leslabelecimento , mas dispersos ()elos lavra- doies de cada localidade. Quasi lodos os no^sos primeiros reis to- maram providencias a cerca da creai^ao dos cavallos, porque as necessidades da guerra faziam ter em muila conta este objecto iieisas cpoclias, em que dominava o espirilo de couquiata. Os caudeis que na guerra capita- neavam os villues eram na paz os que fisca- lisavam e promoviam a crearao dos cavallos. Foi no reiuado de D. F'ernando que se eslabeleceram mais exlensas providencias sobre a creajfio da especie cavallina, T, 119. L. V. da Ord. AH". A liberdade que esta legislajao concedia aos creadores, e os pre- ceitos que involvia, siio motivos sufiicientes para a considerarmos como o fundaraento das iiossas caudelarias. Eire; D. Joao II. niio so confirraou e ainpliou este regimeulo com diversas pro- videncias, prolubindo expressamente a crea- gaoeoemprego das beslas muares,«nias tam- bem mandou vir cavallos arabes paracobriQao, OS quaes dislribuiu por todo o reino com o pro- posito de melliorar as ragas cavallares. Pena i'ui que nos seguinles reiuados nfio se con- tinuasse lao sabio alvilre, que enlao fora lanlo mais proveitoso, quanlo as nossas rayas cavaiiaies estavam menos distanles do typo arabe, poii nao la muilo longe odominio dos arabes,eera muilo facil continuar aquelle piano de melborauienlo , por isso que eslavamos senliores docommercio da Arabia e da Persia. O regimeulo de 22 de oulubro de 1566 approvado por elrei D. Sebasliao em 14 de' fcvereiro de 15G9, sendo confeccionado sobre a legi-lajfio de D. Fernando , era mais op- presjivo e dispolico do que cala. Aquelle regimeulo das caudelarias foi re- formado em data de 23 de setembro de 1692 em virtude d'um decrelo de 27 de agosto de 1679, que o liavia mandadoemendar e acres- cenlar. lim fun as novas inslrucgoes a cerca deste ultimo regimeulo sao daladas de 13 de oulubro de 1736. ('itaremos as principaes di^posijoes desta legialag.'io para darmos uma no(;.'io geral das nossas caudelarias. Eslabelecia em cada cotnarca uma junta composta do corregedor, do juiz de fora e do capitao mor : peilencia a junta a adminislracjao dacreagfio dos cavallos; a pro- posla de Ires iudividuos dos quaes nomeava o rei urn superinleiideiile para cada caudelaria ; a designatjfio das pessoas que deviam ter cavallo ou egua ; por fim, o julgamenlo das cicusas desle ultimo encargo. 251 Iiiipunha-sc o encarf^o de Icr pfjiia f,inlil a lodo o individuo que tivesse 400^^000 rs. em l)eiis de raiz , nos logares riii que nfio linuvessem pastes communs 600,^000 rs. , e nao si^iido lavrador 700^000 rs. ; e so se izenlava o iiulividuo que tivesse cavallo para lan^a- iiienLo, Esta era a disposiyfio das novas iii- strucgoes; mas a dos rei,'iment05 aiUeriores irnpuiilia o referido eucargo aos lavradores dp muito menor fortuna, e o n.-giinento aritigo exigia somente lOOj'OOO rs. de bens etc. Cdda caiidelaria se compunha de .35 eguas dc lisla e um so garanlifio , e por cada egua se pagava aocavalleiro lOalqueires de pao , e ate mesnio no anno em que ell.i ficasse vasia. 'J'odos OS creadores eram obrigado, a mandar as suas eguas ao cavallo da caudelaria, nfio se podendo eximir de assim ol'azer, quem tivesse egua que nrio fosse de lista. O superintendenle tinlia a seu cargo vigiar e fijcalisar tudo o que dizia respeito a sua caudelaria, vcndo com seui proprios olhos se OS cavalleiros tratavam bem o seu cavallo, J)rincipa|mente no tempo do langamenlo. lira tambem da sua obrigacjao t'azer os as- sentos nolivro genealngico da sua caudelaria, iioque respeita a riliayao dos potros ou poldras, sua venda , nome do vendedor e do compra- dor, o logar para onde era levada a cria etc. 'J'inlia tambem a seu cargo niandac marcar gratuitamente as crias. O cavalleiro era obrigado a ter cavallo de Janjamenlo bem pensado , a fazer a lista de todas as eguas pcrtencentes a sua reparti(;.'io, e avisar o superintendenle das que fallas- scm etc. Um decreto dascortes constituintesdatado de 12 de mar^o de J821 extinguiu as cau- delarias publicas do reino, e revogou todos os reglmentos , leis e ordenagoes a este respeilo. Aquella legislajao, determinada pelas necessidades da guerra , e nao pelas da agri- ctiltura , era toda relativa ao gado cavallar ; mas nesle niesino moslrou exuberanleinente a experiencia que as medidas repressivas e one- rosas nao produziram o mellioramenlo que se desejara. infelizinente a industria pecuaria , depois da extiiic^ao dascaudelarias, nao prosperou , antes tocou o niaior grau da sua decadeiicia , como era natural; por isso que ficou eutregue aos preconceitos e iiignorancia dos creadores, faitando-llie a direc9fio, e aprolecgao, que a auctoridade devia preslar a objecto de lama- nlia importancia. Sao dignos de todo o elogio alguns par- ticulares, quo conliecendo o estado de de- generayao a que o abandono do governo conduzira as ditiferentes racas dos animaes domeslicos , se anteciparam em promover o desinvolviinento desteramo de industria agri- cola. As caudelarias reaes de Mafra e Alter s.no OS estabelecimentos que merecem par- ticular attenyao , e que podem ja servir de modclo aos creadores: os cruzauienlos d.i ra(;a arabe com a ingleza de piiro sangue on com a raga d'Alter, e d'esla ultima corn n cavallo andaluz , os castigamentos por seier- g'lO nos individuos da rat;a d'Alter, em fiui o cruzamento do boi zebu com as vaccas in- digenas s'lo ensaios de sumnia considerac^fio , e OS sens productos foram devidamente aprc- ciados pelos entendedores na exposigfio, qui' teve logar em Belem em 13 de junho de 1852. ' A inlelligencia e o goslo com que S. !M. Eireio senlior D. Fernando tern creado eslcs estal)elccimenlos , a generosidade com que teni franqueado aos creadores os animaes das suas caudelarias, para apurareni as ra(,'as indigenas etc. , s.'io poderosos esforgos em favor do progresio da nossa industria pecuaria, que eonstituem um monumento da sua gloria , e excilam o nosso rcconliecimento e gratidao. Estes estabelecimentos srin particulares , e nao p6Jem ter a necessaria influencia sobre todo o reino, por tanlo convein empregar nao OS meios coercitivos das antigas leis, mas instruc^ao e prolec^fio : s.'io estes os meios de que o governo se deve servir para multiplicar e mellioraranossa producgao pecuaria ; porem pelo exemplo e que se ensinam as praticas relativas a creajfio e mellioramenlo dos ani- maes; por isso que os creadores esl.^o quasi sempre persuadidos de que seguem o mellior svslema : por tanlo e' necessario convencel-os com a pratica e com os resukados que della se oblem , ensinando-Uies os melliores proces- sos de crear e Diethorar o cavallo, o boi, o carneiro , etc. Asquinlasagricolas sao os estabelecimentos mais adequados para oensino pratico, e sao tambem os mais economicos, pela variedade de alimentajiio que fornecem , pela vantagem de aproveitar o servigo dos animaes e os estrumes, e pela facilidade de reunir na mesma localidade todas as especies de animaes do- meslicos, e estudar mellior as suas relajoes. Estas quinlas n.'io devern ser estabeleci- mentos de luxo, mas modelos de <]ue os lavradores possam fazer applicaf.'io as suas lierdades. Pelo decreto de 16 de desembro de 1862 " arligo 2 ° ti Km cada uma d is antigas pro- u vincias do reino se creara pelo menos uma II quinla deensino deslinada a fnrniar abegaos a maiores e qumteiros instruidos. * Oi bellos prorliiclos (lascauiJelari.TS reips e il'.ilgiins creadores furain iiliilosopbicamente qiialificailns pelo am, Lapa , o qual por nieio (ruiiia analyse zooUchuica apre- ciou ilevidamente as condi<;5es que baviani presiiliil'j .-'t crea<;.*io doi animaes que cuncorrerara a refi-riita eiposi- 9ao , e iildigitoii as iDodificac^ocs que cuiivmha adoptar sobre esle olijecto , litcisia popuitir torn. /'. ^ As dispoaiijoes desledecrelo , apesarde insiifCeicnles a cerca do desinvolvimento que exi;,'e o estado aclual da zoutechiiia, ofTerecem lodavia ofi eleinenlos sobre os quaes o governo pode organisar um sysleuia de providencias , teiidenles adirigir acrea^aOj e promover o raelhoranieiilo dos aaimaes domeslicoa. 252 Jiilas quintas devom tambem ser destlnadas nn onsino pratico sobre a orea^io, conscrva- <;;\o e tnpllioramenlo dos aniniaos domesticos. « Arligo 11.° Ilaveraem rada iima d'eslas «i escliolas (regionaos) uma qiiiulaexcin[)lar , i. oiide se executarao os processes e pralicas '. agricolas. « Arligo 14.° Junto das escliolas regionaes I. liaverd uma caudi'laria deslinada ao aper- ti feigoamento de tndns as ra<,'as de gado n ficando estes estabeloiimeiitos sujeitos ao I. regimento geral das c5cliolas regionaes. Nestes estabeleciinenlos a|pm do ensinn pratico relative a reprodiiC(,'rio , crea^.io e inellioramento das differentes ra^as de aiii- niaes domesticos, deve haver uiii viveiro de iiidividuos de lodas as espeoies domeslicas, dotide se possam tirar reproductores sadios e de boa ra9a para a cobri^fio em todas a^ localldades dessa regiao. li Art. 32.° O inslitulo agricola tera os 41 segiiintes eslabelecimcntos 7.° os Li necessarios cabanoes e estabulos para o li alojameiito dos gados. Este deverd ser o cstabelecimento mais completo no que respeita ao ensino sobre crea(;ao e mellioraiDento dos aiiimaes do- mesticos, e ser maia particularmentedestinado a ensaios , tendeiitcs a determiiiar — quaes sejam as rayas exolicas, que mais convern aclimatar em o nosso paiz ; quaes as mais pro- prias para cnizar com as iudigeiias; quaes a? pliintas pralenses e forraginosas que uiais convem as rayas iiiiportadai , etc. It Art. 40.° Havera um consellio de aper- « feijoamento do institiito agricola ...... E este conselho o mais competeiite para coordenar as in5truc<;6es praticas que devem dirigir a multiplica(;:'io e mcllioratnento das iiossas ra(;as de aiiimaes domesticos, hoje t'lo degeiieradas. Por este mode podera dar-se uma direc- cao uni Forme a este ramoda industria agricola, bciido as referidas iiistruc^oes accommodadas :'i5 diversas localidades, e aos lavradores of- ferecendo-se animaes sadios e de boa raga j)ara a cobriffio. As camaras podem ser encarregadas de viilgarisar as referidas iustrucijoes e de zelar o bom tratamento dos animaes destinados |)ara acobrigfio, de reclamal-os quando mor- rereui , e de pagar a sua sustentag.'io. A junta geral do districto deve fiscalisar sobre as camaras no que diz respeito d crea- cao dos animaes , e proper ao consellio do instituto agricola, quaes s.'io os animaes deque necessita cada localidade , para ine- lliorar as ragas indigenas. A cobri^ao gratiiita por animaes escolhidos e de ra^a pura tacilila aos pequenos lavradores o podercm melliorar os sens animaes; se esta Jirovidencia nfio tern dado, ii'outros paizes lao bons resullados, como se esperava, e pela facilidade com que os lavradores encon- Iram reproductores de boa raga; mas eiilre noi aconlece n contrario; pois so por meio de grandes despejas se poder'io conseguir, a maior parte dos lavradores n'lo as podeni lazer, e ainda nienos veneer os obstaciilos , (pie pela manr parte se oppoe d importag'io dos animaes das raeas mais estimadns. 3. P. DB MACEDO PIMO. INSTRUCCAO PUIU.IC.V E UTTERATUR4 NA 1.AP0NIA. I. O ostabelecimcnto das primciras escliolas da Laponia remonla ao principio do seculo XVI; mas parece fora de duvida , ii.'io ol)5tante a escassez e obsciiridade dos docu- mentos historicos , que os missionarios ca- tliolicos cliegando a este paiz n'uma epoclia anterior, se enipregaram em instrulr os Lap.'ios, nao so nos conliecimentos divinos, seniio lambem e ate certo gran , nos liu- manos. Todavia do reinado de (Justavo Adol- plio (i que data a primeira institiii^.-io d'uma escliol.i propriamente dila. Ksteprincipe tinha obiervado que, pastoreados por parochos viiidoi da Suecia , que pre'gavam exclusiva- mente na lingua sueca , os Lapfios faziam D"ucos progresses na religi.'io clirisla ; e ale'm d'isso tinlia-se convencido de que os meninos que na conformidade do edicto de Carlos IX, vinham estudar nauniversidade d'Upsal, ou uiorriam alii de nostalgia e d'outras enfer- midades provenientes da mudan^a de cliina , on por tal sorte se liabiluavam que, depois de completada a sua cducaf^fio recnsavam regressar ao sen miseravel paiz. Para obvjar taes inconvenientes , ordenou que uma escliola destinada somente para os Lapaos fosse fundada em Pitlieu cidade limi- trophe. Nicolau Andn^^ paroclio d'esta cida- de, foi nomeado director da escliola , e obteve do rei perniissfio detraduzir e fazer imprimir na lingua lapona todos os livros que julgasse necessarios. Conserva se ainda de Nicolau um ritual dedieadoa Gustavo, onde Iheagra- deceo favor eutorgado,e faz votes porque todas as classes da Suecia , bem como tedes os paizes chri^l^les da terra conlie^am os ira- mensos beneficios conferidos por este raonarcha d Laponia, e a munificencia que oslentdra, digna de singular louver, estabelecendo para OS povos d'este paiz uma escliola especial destinada a instruil-os no estiido da religiiie e das letras. Pclos esfor^os dc Nicolau Andra; todos os livros adequados foram d custa do governo 253 sueuo traduzidos e impresses, e dislrilmidos depnii aos alumnos da esclioln de Pitlieii. Ksles livros forain pritneiro uiii aheccdaiio, depnis OS mandatnentos da lei de Ueos , o credo, o padre nosso , canticos escolliidos cnjii o modo de celebrar o officio diviiio, .d'niar e cantar. Com Nicolau Andrae as- socioii-se deiitfo em poiico Jofio Torno.His ciira e preboste de Tornea. lisle eiirii|iieceLi a lilbliotlieca da escliola da Laporiia com i:rande numero de publicayoes novas, erUre as quaes citaremos os jisalmos dc David , os provcrbios de Salomcio , o ccclciiastts , o ec- clesiastico , o cattchisnio de Luther , o can- tico dos canticos , os cvangclhos c as cpistolas , a historia da paixdo de Jesus Ckristo , a des- (rui'^'do de Jerusalem, a liturg/a , e diversos fonnularios d'oragues. Assiin que , a eschola de Pitlieii correspon- dia cada vez inais cabalinenle ao fim de sua fimda^ao : o esUido da religifio e das lelras hunianas iam a par. A escliola era (Veqiienta- da por consideravel numero de meninos, lividoj d'instruir-se, f'azeiido alguns dellcs taes progres;os que, mandados ciirsar a iini- versidade d'Upsal, o governo jidgou a pro- jjosilo fazel-os ordenar em consequencia do sen aproveilamenlo , para mais tarde osenviar oomo raissionarios e nieatres, a sens compa- trintas. A intluencia da eschola de Pitliea logo se fez sentir em toda a exlens'io da Laponia: OS que ponco antes assistiyni as piedicas, comprehendendo somente algiimas palavras, rnconlraram por fitn em livros escritos nasua lingna, a instrnc^fio que llies fallava. Donde t.omon entre elles singular iiicremcnto a dou- Irina ciniata, que comejaram a conliecer e amar. IJnia das cansas que mais cflicazmente contribuiu para a prospendade da escliola de Pitliea, foi ter Gustavo Adolplio nfio so provido com mao larga aos salarios dos mestres , mas ateabonado soiiimas destinadas a snslentar e vestir todos os meninos pobres que quize^scm frequcntal-a. Ko entnnlo esta ojcliola veio a ser reputada insufficiente; siluada (ora dos confins pro- priamenle ditos da Lapnnia , receou-se que as difficnidades do transito nao enfraqiieces- sein poUL'O a pouco o zelo que os Lapaos tinliam a principio mostrado em la mandarem sens fillios. 'J'al foi o inolivo por que o senador Joao Skytte, bariio de Duderliolf, representou ao rei e obleve que a escliola de Pitliea seria rnndada mesmo para o interior da Laponia, e fixada junto u cgreja de Lyksele ria parocliia d'Umea. As cartas regias de Gustavo Adolpho, datadas de 20 de junlio de 16.'!1 , oidenam a transferencia da escliola.. E e de notar que n'esta epoclia o rei de Snecia estava em Al- lemanlia entrcgue aos cuidados da guerra que agitava cnlao toda a Europa. Os liistoria- dores succos aproveitam este facto para inostrar ate que ponto o illustre guerreiro, mesnio nos canipos de batallia, prestava al- ten^fio a mais minuciosa u adminislra^ao do sens eslados. A escliola de Lyksele on d'Umea adqniriu grande superioridade sobre a de Pithea. Em vez de ser entregue a simples administra5;i() d'um cura, teve como director especial nni dos mais illustres senadores do reino, em cuja f'ainilia ficaria perpelnamente a direc- (;'io da dita escliola, Sua exislencia foialeni d isso contirmada por nm estaluto autlientico emanado do poder real. A escliola de Pithea linha segnros os ordenados de seus mestres; mas a de LyUsele ajnntou ainda mais para sua suslenta^fio os dizimos d'lima grando parocliia inteira, e como se estes fundos nao baslassem , foi auctorisado o barfio Skytte para applicar ao mesmo fim quaesquer oulros reciirsos que podesse conseguir. O barao Skytte corresponden nobremente a confianja de Gustavo Adolpho; renniu j;i de sens proprios dons, ja das liberalidadnsde seus amigos, nmasomnia de cinco mil thalers (quasi vinte milhoes de francos), que entrc- gou a coioa pata a explora^fio de suas minas de cobre, com a condi<,'ao de que cederia ;i eschola de Lyksele as rendas de ccrtas quintas situadas na parochia d'Umcil e na provincia de Westiobothnia. Como Gustavo Adolpho ja tinha morrido, cste contracio foi pelo bariio Skytte concluido com a rainlia Christina no L° de novernbro de 163t. Rev. de rinstr. Publ. n.° 31. Continua. DOCUMENTOS INEDITOS. Carta que o viso-rei D. Joao de Ctixtro escreveo a cl-rei nosso senlior o anno df 4G (1j4G). Conlinuado de paj, 243. No tempo que tive estas deferenjas e tra- brilhos com o Ydalcao, fni muilas vezes requerido d'elrei de Tanor, que fosse laa , e levasse comigo muita geiite, e armada, por- qiie se queria fazer clirislfio e tomar-me n an 8 ao bispo por padrinhos. iisla obra era tal, e mostrava tamanlio servigo 3t: Deos e de v. a., que pola primeira a mi, e a toda a provincia a!vora(;ou mnito, e fiz prestes alguns navios de remo, que podiani navegar, com determinajfio, que se as coii- sas do Ydalcfio afroxassem , ir a Tanor, que e a cidade metropoly d'este rei, e mora- da anligua dos outros rcis passados, pera o 254 f;i7.cr christ'io com toJa a pompa caparalo, (]ue tal auto, e tal pessoa roqiicriatii : mas vendo que as cousas do Baliif;alo mc nao davam cste logar, c que i-lroi de Tanor me apeitava muito, o mo peilia, que levas^e comigo toda a gente, o armada, e podcr da India, comecei a col)rar ;ilf;uma sospeila , e presumir que o iiilciilo d'este rei podia ser i'azer-ine quobrar com o (j'ainorim , lei de Calecut, de quern elle e mortal iinigo. E a islo fazia muita fee a natural coiidi^ao d'esle rei, o qual (i tao suerrciro, e belicoso, e contratos, que o viso-rei enui elle fizera. E com esla reposta se tor- I'OUj o embaxador. E vendo eu estes movi- uieiilos, e guerras, que se ordenavam no Ma- labar, e assi! seudo avisado per cartas de iiH'atrc Diogo, em que me eserevia, que ehci de Tanor se queria fazer cbristao escondida- menle de sous vassalos, e com certas condi- t;oes, que nao scrviam a nossa fee; lomei o pareccr do bispo d'esla cidade , e d'outras pessoas religiosas, e dos fidalgos, capitfies , e cidadaos, e povo da cidade, os ()uaes lodos foram do pareccr, que ao presente mo nao bolisse daqui , e diferlsse a ida do Tanor peia o mez desetOMil)ro ; porquedentro d'este tempo se iiianifestaria a tengjlo, everdadeiro preposi- to , quo mostrava esto rei ; e quo em tanto louiariam assento as couzas do Malavar, e LJ.diguate; o segundo cstivessem, assi faria o que neste caso fosse mais servigo do Deos , e de V. a. A 30 de Janeiro fui avisado de Ormus , como OS turcos, que estfio de guarnigfiQ em Babilonia, deeeram pelo Eufrates abaxo, c tomaram liuma terra , que se cliamava Zaquia , nude faziam liuma forlaloza a borda do rio liufrates , na terra da banda tia Persia, hum dia e nieio de caminlio da cidado de Bagoraa pelo rio acima. Tanto que islo soube escrevi a eIrei do Bajnraa aconselliando-llie que nao consentisse a par desi tao ruins visinlios, e que logo Ilie tizesse a guerra, e os tirasse daquella ladroeira, offorecendo-lhe ajuda, c armada pera isso. O que me pareco d'esta novidade e' quererem os turcos tomar Ba- (;()raa , e passar alii a armada, que tem em Suez; porque d'osta maneira nos podorao fa- zer mellior a guerra , por caso de cstarem visinlios de Ormus, e teiem nas illias do Ba- rem e Jolfar gr;'io copia de marinlieiros , e a terra tie Ba(,'oraa ser forlil do mantimentos; e cada voz que ouvercm mister genie, ihes pode vir de Babilonia, ou Bajodade , que eomesmo, em tres dias pelo Eufrates abaxo; as quaes couzas Hie falt'io todas em Suez, que (■ hum dezerto , no qual ainda as fe'ras nfio podem abitar. E tambem passando a sua armada eui Bagoraa, meterao em grande traballio ao Xeque Ismael, e a toda a Per- sia. A Ires dias do marjo me escreveu o Xeque Ismael, e mandou uin prezente de panos e sodas, pedindo-me os direitos de sessenta cavallos , que niandava do presente aos reis e senliores do Balaguate. E porque a contia era muila, tomei consellio com os veadores da fazenda, fidalgos, e capitaes , que nisto me podiani bem aconsolliar; e por todos me dizereni , que compria muito ao serviQo de V. a. nfio escandalizar em nada , mas antes traballiar por conservar sua ainizade , e lello inuilo contonlo; por cauza da muita guerra, e tral)aHio, que podia dar a Ornii'is ; mos- trando-me as perdase danos , que Hie ja vierao, por llio n.'io fazerein algumas cousas d'esta calidade, que mandiira pedir aos capitaes de Ornii'is : pelo que, por parecer bem a todos. Hie concedi Cslca direitos, com os quaes o sen embaxador se tornou niuito con- tente e satisfeito. Continua. N. 255 OBSERVACOES METEOUOLOfilCAS . FEITAS NO r.ABlXETE DE PIIYSICA DA UMVEIISIDADE DE COIMBUA. .\itno 2 Pressao almosplierica ao meio dia Kslado hypromelrico da almos- phera ao meio dia S VIA* — o Qu=nlida.lc .Ic va- por jquoio contido cm um luctro cu- Lico dc at Jiiiieiro Altiira barome- lrica a 0."cenliy. Tensao ilo vapor alniu>pherii'0 Pressao do ar 8CCC0 Gniu de humi- dade do ar o E c Di.is Graua .vnlier. Millimelros Atilliinetros Miltim* tr<*s rrfaninias. 1 7 754,07 6,008 748.062 0,763 6.22 s. i 7,5 737,333 6,278 731,055 0,7729 6,49 s. 3 0 729,291 7,143 722,148 0,8529 7,37 s. 4 8,5 733,492 7,598 725,894 0,8793 7,37 N O. 5 9,5 741,0«G 8,306 732,780 0,9037 8,52 N.O. 6 9 748,757 7,559 741,198 0,8485 7,77 S.O. 7 10 748,159 U 6R0 738 479 0,9162 8.89 SO. 8 9,5 747,001 8 645 738,356 0,8927 8,«7 s. 9 9 750,221 8.041 742,180 0,9026 8,20 s. 10 10' 7J3,317 7,8:J7 725,430 0,8325 8,08 N. 11 9 752,688 7,553 745,135 0,8479 7,70 N. 13 9,5 751,786 8,7 743,080 0,9405 8,93 S. E. 13 10 751,129 8,6;!0 742 449 0,9162 8,89 S. 14 10 741,324 8,309 732,959 0,8833 8,57 S E. 15 10 741,071 8,076 732,995 0,8524 8,27 S.E. 16 9,5 751,329 8,108 743,221 0 88il 8,32 K. 17 9 757,833 7,457 750,376 0,8371 7,00 E. 18 9 755,149 7,381 747,768 0,8286 7,59 S E. v.) 9 754,54 7,276 747.264 0:8186 7,48 S.E. ■iO 9 758,595 7,-92 751,303 0,818i; 7,49 S.E 21 10 760,749 8,275 752,474 0 8734 8,47 S.E. 22 10 760,749 8,473 752,276 0,8943 8,68 O. 23 10 750,946 7,9l!l 7W,oucoduras. Aexcep^ao docoryndon nenhuma risca o vidro. O sen peso esperifico e de 27 a 46: so oscheelin cfl/corfo excede muitoo pesodequalquer flellas. A maior parte sao infusiveis ao raa^arico , cuja aci^So so lie per si nenhuma rednz. Geniros — 29.° baryta — 30.° stronciana — 31.° cal — 32,° magnezia — 33.° yttria — 34.° alumina. CLASSE (ji'ARTA. — Metoes. — Cumiireheuile e.nta classe dua^ divisoes beai disliiu-laa em rel.i^'3o ao aspecto. 1.° Os m-'taes nativos , e as combina^Pes de una com outms no estado melailicu. 2.° As couibina(;5es dos metaes com o oxigenio ou com OS acidos. Os mineraes que pertenrem a primeira divisao teem em iier.il um brilho metallico pronnnciado, que Ihes da Mill caraiter exlerior notaxel, que bem os distingue dus onlroa mineraes. As rnaibinai;oes dun melaes com o oxigenio, ou com OS iicidus raras vezes apresentam simillianle brilho: e por eslc liido se confiindem com os silicat.-s. Nao ol)slanle, tpem ellaspela niainr [-arle nma cor pr.ip'ia , e particular, que nos giiia nu sen estodo. O sen peso esiierifico ^ em leral baslante eh-vado ; e quasi sempre d.'io peio ensaio um reL'ulo on nma esroria melalloide. (ienero — 35." cerio — 36.° inan.ranez — 37.° ferro — 38 ° cotiallo — 39.° nickel — 40.° zinco — 41 ° cadmio — 4'i.* chumlio— 43 ° eslanho — 44° bismullio — 45.° ,ir;,iiio — 4(1. ° cobr^ — 47.° [irat.i— 48.° ouro — 49.* |,|;,tina — 50.° iridi") — 51.° p.tla-lio. cussE yri>TA. — Silicaias. — Os mineraes que com- poem esla classr te -m um aspecto lapi leo., que por muito lempo OS fez c-mliecilus pelo nome de pedrns Formain duus griipos distinolos: os siltcatos kylraiados ^ e os silicatos nnhydros: os primeirus sao lenros , e de facil ilissoln^-'to nos acidos , os seguudos sSo duros , com muila difficublade se dissolvem nellea , e mesmo a maior parte resi«le a ac<;ao d'aquelles reagentes. O peso e.-pecifico dns silicatos e de 25 a 36 , limite a que subein poucos d'elles. (ienero —52.° silicatos aluminosos — 53.° silicatos — 185 V. NUM 2-2, 258 ahiminosns hyilralmlos— 54.** silicAlus d'aliimina , cal , ou sens isomorplhta — 55.° silicates al'imiiiusos e aknlinns com miis, isonu>r|>lii>>,. — Sfi." silicakts oliiminososliyilr.itii- ilns com alcalis , c-il , e seus isoii)'ir|>hus. — 5?.*' sil'icalns riilo almuinusus. — 58" silicn-almiiinalos. — 59.° siijr-u- rtuato? — 60" silico-lioralus. — Gt.** silicu-liluiml-m, — G:J.**siIicalussiilfurift;ros. —63." (iluminaloa. — 64.*'8iibs- tancias iJo coni|'osi^rii» (lescnnluTnia. CLAssc SB\T.\. — Combuittfeis. — Esles miiieraes apreseiilam aiiulji pcla niaiur parte si^'iiaes da sua i.rij;rm ofiianica ; e (|ii;»iiiU» a cribtallisar.lo l-n'iu apa^'ailo t-ste caracler mineral, coiuo na inellite , aimlu assiin mpsmo se recuuheceiu i>ela nattireza dos elemtnilos de sua com- pos i^ao. Os coml'iistivtMs deori'*i'm orjanira ardcm a mni I>at\as lemjteratitras , ci'iii chamma e com clit-iro pruniiiiciado- Sao leiiros ; e sen |ii*su especiricu de ordm.ifio uiui frac»j , nao >ai aU'm de 15. Existem Ires divisoes disliiu't.is ; — I." resiims. — 2." hiluiufs. — 3.° C(»iul)iislivffis fussi'i:^ , cum|ii'«liPt)di.'ndo a aiithrai-ilp, o carvao de pudra , os li^'iiilis e a Inrfa. Gfiuro. — 65.** rcsinas. — GG." lntiiiues. — 67.° cum- busliveis fcsseiii. Das ajiplica^oes da Diiiieralugia , e das suas rela95es , com a geulugia. Du einpr'-g^o dos niineraes na cnnstriicc^ao e decora93io dos edificiusj na at,'ricuUiira , na ])iiiliira e deseuhu. Das siibslancias inineraes coiidiuslivfis. GBULUGiA. — Gcogrnpkia Phys'ca. — Iiupurfancia do estiido da geoyraphia pliysica. Da forma e dt-nsidade da (erra. Do eslado actual da sua superGcie era rela^ao h parte sulida e liqiiida. Da divisao da lerra em conliaentes on grandea masses y cm ilhas on pequeiios tractos. Dos rius 5 la:^uSj e meiJiterraiieos. Dus ucceaiU'S , sirsa diusoes, e caracteristifSs. Das plaiiicies e steppes , — tltsertos ^ — silvaSf — lla- nos ^ — pampas , — e stwannaha Dislril)ui<;ao das plaiuiras {plateaux) , montanhas , e planicies nus difTerentes cuntins pulus para o equadur. Excep^ao em qiiantu ao liumeni. Lei da distrilJui9ao das ra^as humanas. — Ethnoloyia. Causas dan madan^as das f< igors pUysUns da terra. — Da natureza da acrao alino^pherica e aquosa. Effeilud da ac^ao atmospherica. Das luiidau^Fis de temperalura: das geieiras, e gelos Quctuautea. Das ruclias pulidas , e estriadas. Hypotheses diversas jjara a explica^ao do niovimento descendente daa j,'eleiras {glaciers). Da ac^ao erosiva das a;:ua8 Correntes , — da for^a de transporte , e dissolvente das aguas. Das vagas e mares. Da ac^So daa aguas como forcja creadora, Dos deltas^fluviaes , e marinhos. EfTeilos observados naa costas da Hullanda , do Adriatico , etc. , etc. Dos voIc5es , e productos votcanicos. Da distribui^So dos vglcoes , e da connex3o de uns com outros a distunciSf e com a ac^^o dos lerremutofi. — Dfscripijito d'nrnbos 03 plu^nomeuoa , e di* sua aci;3o oa tjcia^'ui, e depressuo de tractos de tcrri. Mistona do Vesnvio. Destruii;ilo de Ilerculano e Poihp.'ia. Do t.'uiplo de Serapis c i\o fnrle Sindrer ^ etc , etc. D.19 fur<;aa sul)lerrnui'us, aiu'la nao l)eni conhecidas , que irraduiilineiile elevam on il._'priinem grandes por^oes ila supt-rfnie terrestre: ciTeilos ohservados inid c-slag do Hallico, f oulras pnrag.-ns do nurth-wrsl da Europa, e plnMioiitenos rt'hilivos uocresrimfulo dos recifes de coraea. Da acijan dos seres orgauisadua. Dus trnt>altios do tionu-ni , e da sua iiiQucucia uob oulros auinia'-s, e ua di^tril>ui(;ao tlos vesretaes. Da U2;fncia doscoraes, e dusanimaes infusutios fimiaea , c uiarinhua. Da acij-ao das plantas na fornia^ao das turfeiraa. D \s uBm,o;:s da zoologia e botakica cu.ii a gcologia, KM QUVNTU A«)S RESTOS FOSSEIS UOS SERFS ORGAMSADOK. — J'aliToutologia — Das eapecics cxtinctas. Importancia relaliva dus fwsseis : os leslaceos , as mednlhiis da cria- ^rio. Das floras auli:;as dusdilTerentes periodus geulogicos. Dos animaes inverlebrados de orgaiiisa^ao mats simples Dos cepliajopodos. Dos peixes Itcterorercos do periodo pala?zoico, Dos replis ^\\j periodo secundario. Das aves e n)aniraaes. Dos pachiderines etc., etc., e das i\\es t,'i:,'antescas do perio'io terciario. Gi'.oLOGf.v Di'scuTPTivA. — Da8 fochas estratificadas e oao estratificadas. Da sua pusirao relativa , e do sea contheudo ori,'anico , e iniif:;anico. Das (luas classes de rochas ein quanto d sua origem provaii-I. Daa qne fitram manifestamente dr-positadas d*a[^ia : rochas a/uosai , neptnninas. n.is clararncnte fonnaclas pela acjao do calor : — igiieus J plutunicaa. Das dHori:;eui mechnnira , eaquosa, mas de])ui8 altera- das pelo calor: — mcthamcrpfiicas. Da cstratifica(;ao : — coocordanle , dlscordante , trans- j*ressi\'a. Da incIina(;rio e dIrec(;ao das camadas. Dos eiv'is il'elcva^ao : anticlynicos , e syncIynico5. Da clivasem e juntas d'estratrficatjau. Da criatallisa(;rto parcial ou Complela d;i3 rocba;^. Das rochas i^'ueas : —sua nalureza , e pf.si^ao em rela- cjin us oulra'^. Dus seus caractcrcs physicos e chimicos. Da sua dislrihuii;ao frcugraphica Da nalureaa das veias, dykes, falhas mi fend:iK. D4 cla-sifica(;So das ruchas i^nmes. Das ruchai methamorphicaa , e suas rela^ues cum as rochns igneas, Passageiu i\o granito act gnris , do gres ao quart zo , do calcano aos mnrtnores crtsldllinos. Das suas rela^S^s com as rochas aqu(jsas Pssairt'in do ackisto nrgilloso au fo-'^sit'/ero. Clas3ifica(;ao dai. ruciias ui^lhaiuorphicas. Do giieis, niica-Bchialo , achislo ar«;illua.>, e caicoreo melliainurphico. Das rochas aquosas Priiicipios da sua rla6sifica(;iSu — S'-gnridii a sua superpnsi(;ao , — natureza do coidheudo organico, — e compo3ii;ao mineral. Periodo PaUiozoico. TiiimEENo siLURiANu: — iuf'-Tior, — medio, ^ i- supt-riDr. Caracter mineral. Fosseis caract'-risticos principals , Onrars e zoopbytos : calenipora , gruptvlithes , ^ cerlo c'lcrinitei. Cruslaieos : IrHobites. MoUuscos : pentanteru teplcvna., orthoceratites elc, Peixes. liegiOes siluriariHS de Portugal. TEKRENo DiivoMANu : — cafacler mineral. Fogsels prin- cipaes. Coraes : /afwf((f* : Cnistaceos — hrontes Brachio- pudos; eatceola-, e outros molbiscos — climenm^ orthocs' ralitfs etc. Peixes . P levy chin ^ cocosteua y cephalaspit etc. etc. TEKUE>o CARBOiNiFERo. — Caractef mineral. Fossei* vcgulHea ; /('/os , calaniites^ lepidoilendrum ^ sggiltaria , ttygmaria etc., etc. Coraes ; ample xu8 ^ cyalhophyUtm. 259 Encriaites : aclyocrinis ^ placlycrinis. Molluscos : produ' ctus , spiri/er , terebratula , iiaticn , evomphalui . gouyntitet etc. Peixes. mfgnlichtys ^ ciadodutt elc. — Terreno car- bonifero (?) de Valuiigo. TERHENo PF.uuiANO. — Caracter mineral Fosseis vecje- taes : caulerpitrs , caltimiles, Cunies ; Fenesiella. I\Iu!- luscus : product ti » ^ spiri/ir , ortlits . nucnla. etc. Pclxeg : jananaa ^ patwoniscusL'U-. iifiiis: Pata-osnuruSi thedocon- totaurus Periodo Senmdario. TERRBNo TRiAssico. — Fusst^iit voRelafs : voltzia , eqni' actum. Atiiniars : enerinitff^ lUifnrmis. Molluscos : ovicnla, ctriit/lts , 7inutihif!. Peixt-s : plaroitus pal^oniscus '-tc, Replis : pegadas no noro gres vermelho La/tyrint/todon ^ rkiurosttiirus. Iniprcssrics de prs dt aves no ?ioio grt» vermelho, (Cniintcticnl). TEHRc.vo Livs^icu ^ Caracler iiiirifpul. Fusspis n-i^e- lae» : Zamia , etc. Ratliiuii:s : pcntarrtiiiti.^ ., op/iyodenni-a, Molliiscds : sp/rifcr , irrtbrtUutu , ijri/p'ita , nnimontifs ^ e belemtiitts. t\i\'-s: dapo'feus ^ Ifpfdntua ^ coprolil'ua de cnistaceos. Rtplia: iclyosuurus^ plesiosaiirus elc. ect. TERRE.\o ooLiTicn : infrrinr , iDfdii) , e snperiur. Caracler miiit.Titl. Phmtas fosseis : '/.amiies , cynrlcas. Cur.ies, raryvpiitliis, aslrvns elr. Hsitliailos: apyocrimtea ^ diadema spatangtis etc. ArticiiUiIos. Cmslaceos. Ins(--clt)a. Mulluscds : hitjonias , nmmonites , belemnitea elc. etc. Pfixes : Upiolcj}is , cnfintia elc. Reptis : lesiosanrn.t , megnlosanros , pterodactihis. Mainniaea : dydeifus (/) (Stunesfjiild. ) TERfiUNo w'EEALDTA.NO. ^ Caracter mineral, Fu8sei3 Tegelaes : cycadtas., sphenopttris endoginites etc., elc. Insectos, ecriislacHDS. MuMnscus" c^f/fl« , paludinn. Peixes, hybodus ^ lepidotiis ^ Rpplis: igunnodontey fieliosausrts. — Dcscrip(;ao lio terreno oulitico, ftstmcrelaceu ileCoimbra. TRRRENO CKETACEo: — siihcliv isuu em ilistrictos. lypicos Fosseis caracleristicos. Coraes, a zoopbytus , esrhara , eaponja, infiisorios , furamiaiferos. Railiados , cydaria , OJiancfiytes, m'trsujtilts. i\Iiiliusc(j.«» spowfylus^^plagyostoma, pecttn , terebratula^ ammoniies^ turrilites, baculilea , .«(a- phites. Peixes: herix^ lamna^ciupaa. R»'pti3,;no«o«afirtJi, tnrtarugaa, TERRENu TEHCFAitio- — Gri/;70 cocene : subdivisSo da serie em Hifferpntes paizes. Fosseis caracterisUcos : plan- las , fruutos , e seiii'Miles. Zoophitos , e foraminif' roa. Cnistaceos; cnranguajos e layostiis. MoUti>co3, pictnn- eultis , crassatiUa , ctrythium , roluta elc. Pelves : raias , 8(fualus , Diimer>.3.i9 ctenoides e cycloides. R''}ilis : erocodiios , stn/entrs , larturngns. Avcs : ab'ttres elc. Mammaes : pac'tydermts , dydelfuSj macacos ^ Cflaceo$ Griipo mt:oct'ne : siil)iiivi»i>>'s da s'-rie Fusseis. Fnsci- cidarin ^ forain'tnifcros , numinidites Mollnsros : Aslar- te ^ fusjis , murts ^ elc Pf-ixps: ctenoidea , ecycloi'hs. Muminaes:, Uinotheriuin. — Terreno lerciario da Estre- madura : bacia de I^i:>l'ua Grupo pliocene : 9iilidi\i>3o. — Fosseis : planlas . infu- fl')rio3. .Mulliiscus similliuntes em f:rande numero aos dos mares visinh- i. Pcives; ctenoidts , e cycloidta, Mara- tnaes : Maslo Ionic ^ elc. Novo plior.nr , on pleistocene. Detritus diluvianos: rochas erraljras, ca\eriias usseas : lerrenua g^ellados da Siberia. Fos»e;s ; especies recenlea de molluscos: Helix , paludi/ut He. Mamnjaes : ehphiis^ bos ^ cervus y uraua ^ e liicetiii das (avernas, elc. Forma^ocs recenlts do caicareo, e saibro {gres). Praias elevadas. Resiiiiio da (ieologia de VorlugaK GEui.o(jrA Pirysicv. — Ci^nsideraijoes hypotlielicas en- bre a natunza das caiisas dende resullo'i o d.-pusilu , e eleva9ao siiliSt-queiil.- dus cslralns: — tempo em que essas causas ubraraiu , e miidan(;;is (\\\*' modificaram a cunili- ^'io das ruchdS eslralilicadas , depnis do sen depusilo. Da consulida^ao das roclias , e das siias frsctiiras. Da furma^-ao e enclumentu das veias ou i)elas melal- Uferas- Da re|.n;;\o da act^rio volcanica com os Ifrreinolos ; e da cauBH da eniprao das lualerlas em fusiio durante os paroxiamos volcuiiicos. H_yj>uthfse d.i deslrui^ao d-is seres or^anisadoa, e da mtro'luc(;rnj siiL-cesiivae gradual de iudividuos deur^anisa- <;5o mais complicada. Conditjfles da vcffetaqSo durante o periodo palieozoico. Limiiafjao appiin^nle d.19 animaes a puticas esperiesde typos inferiores d'or^anisa^a-j em grnnde parte d<» periudo paiienzoico. DislriliiiiijSo d(}s pt-ixes no mrsm,! pprio'lo. D'ts replis nas rochas do terrenu seciindario. IiilriMliici;ao dus niamina«'3. Dislribuii^riu de certos gnipoa de raammaea no periodo lerciario. Pofsibilidade da crande e\lent;ito das meamai especies em r»'i:ioes' mni lonirinqiias , durante o periodo pal.-pu'/oico. Limited conijiaraljiamente mni eslreilos , da dislriboi- (jao de r'lrmas idenlicns nus periodo* geolo^ncus po&te- riores, c prrsenteniente, THEuniAs GERviis D\ GEoLOGiA. — Tlieorias dependen- tea de consitiera(;oe9 ;;eolo?icas sobre o calor central da terra. Provas do memento do calor para o cenlro. Idfas ilf Fourier J e oulros. ElTeitos da cunlraci;ao supposia da crcsta or- les , e raei'is d'extrac^ao. Do esgoto das aguas no inte- rior das niinas. Da Geometria sublerraneaj ou arte de Ira^ar aa plan- tad das mina^. Da prpparai;ao mechanica dos mineraes. D-t legisln^.'iu a respeito das mina*. E&tadu actual da minera<,'ao portugueza et<'. 260 OBSERVACOES METEOROI.OGICAS. Tenrlo resolvido o conselho da faculdadc de phil'isopliiu que do inez de Janeiro pnr diaiite so piihlica^sein ii'csle jornal a, oliscrva- 5oes irit-looroln^ii as foitas no gabinete de physica da univerbidade, aproveilamos esla occasifio para fazer aliriiiiiai retlexoes sobre OS mappas melcorulogicos piiblicadns pelo snr. Jose Antonio Dias Pegado , lente de physica na escliola polytcchiiica de Li^lioa Kao nos i7iove a islo aniino hosid , ou vonladc de depriiidr o beiii coiiliecido inereciaienlo jcientifico do illiisire professor, mas sini o desejo de sernios esclarecidos sobre a|i;iinias dijvrdas por s. s.', a qucni desde ja pediino» descidpa da oiizadia e dos erros, que com- meUerinos. Laii^aiido OS olhos soI)re os rnappas nie- teorolo{;icos dosnr I'egado, pareceu-nos des- cobrir uma singular dcsliarrnonia entre a tens'io do vapor atinosplierico , o griiu d'liumi- dade do ar, e a qnantidade de vapor contido em um metro cultico d'este llnido. Para <• verificarnios , fizemos algunscalculos , liaseados sobre os dados foraecidos pelos mesmos map- pas, e adquirirnos a convicgfio de que n.'io existe com effeito o nienor accrdo entre as tres referidas quantidades, sendo alias tfio dependenles umas das outras, que basla co- nheceruma d'ellas, para se poderem calcidar as outras duas. Seria inutil o fazer uma analyse de cada um dos mappas, por ser commum a todos elles a nicsma anoinaii.i; tomaremos por isso ao acaso um d'elles , e disculiremos somente dois on ties exemplos, a fin) de nao darmos detnasiada extensfio a este arligo. E sabido que se enleiide por grau d'liuiiii- dade do ar a relagfio entre a qnantidade de vapor aquoso, que ellecontem debaixo d'uin dudo volume no [nnmento da observa^'io, e a queelleconteria debaixo do mesuio volume, se eslivesse saturado; ou , o que vale o mesmo, a relagao entre a tensao do vapor contido noar, easuatensfio maximaa tempe- ratura existente Se designarmos pois por G o grau d'liuniidade do ar, por p' o peso du vapor que elle contem debaixo d'um dado volume, por p o peso do vapor que elle con- teria debaixo do mesmo volume, se estivesse satuiado, por_/'' a teusao do vapor contido no ar, e per/ a tensao maxima do vapor a tern- I t^ peratura existente, tereraos : G=-z=7. P I No dia 1." d'abril, sendoa tomperatura do ar ao ineio dia de 14,°7 cent. , acliou o snr. Pegado que a tensao do vajior atmosplierico era equivalente ao peso d'uma columna de mercuric de 12°"° d'altura. Ora, se procurarmos nas taboas, que vem nos tratados de physica, a tensao maxima do vapor aquoso atempera- tura de IS,"? cent, acliaremos 12,°"°458 ' ; ' Serumos-iios dai (aluai de Rcgnaull , que Jlo a temos portanto G r 12 = 0,963. Se 1-2.4S8 em vez de representarmos pela unidade o eslado de satura(,','io , o represenlarmos por 100, como fez o -nr. Pegado, sera 96,3 n gr;ui d'liumidade do ar , e nao !)0,y, corao vem no mappa. No dia seguinte, 2 d'abril, em que a leuiperatura do ar era de 15° cent., acliou o snr. Pegado a tensao do vapor atmosplierico egualalO.""" t)ra, srndo a tens.'io maxima do vapor a temperatura de Lyegual a 12,"""699, f 10 teremos G=- = = 0,787, ou 78,7, f 12.699 ' ' ' ' represenlando por 100 o estado de saturajSo, e nao 74,5, como se aclia no mappa. No dia 3 do mesmo mez , sendo a lempera» tura do ar de 14,°9, e a tensfio do vapor atmosplierico egual a 11,""'5, como diz o snr Pegado, seria o grau d'humidade do ar 91,1, e nfio 85,6; porque, dividindo ll,°""i pnr 12,'°°'619, tensao maxima do vapor aquoso a temperatura de 14,°9 , aclia-se 0,911. O desaccordo e ainda maior n'outros casos; nao multiplicari'mos por(>m os exemplos, porque os referidos sfio sulficientes para fazer ver que o grau d'liumidade do ar nao corres. ponde nunca a tensao do vapor aquoso, con- lido no mesmo lluido. As dit'ferenyas sao mui consideraveis , e em nosso intender nao se podem attribuir a nao serem perfeitamente identicas as taboas, de que nos servimos para conhecer a tensfio maxima do vapor aquoso a temperatura da obscrva^ao. Parece- nos que, qualquer que seja o tnelliodo ado- plado na avaliajfio do eslado liygrometrico do ar, nao se pode hunca cliegar a tae- disparidades. O desaccordo sobe muito de ponto , e ap parcce ainda em maior cscala, qiiaudo st compara a tensao do vapor almo:.plierico com a qnantidade de vapor contido em um metro cubico d'ar. Ai|ui as anoiiialias sao laes, que condiizem , sen:1o a absnidos, pelo menos a principios oppostos aos geralinente adoplados por todos os physicos. P61e-se calcular a qnantidade de vapor contido em um metro cubico d'ar no luomento da observa(,-rto pela formula : P = 760(l!r.00?6 5x0' ''"^" * ^ relasao entre a deiisidade do vapor aquoso e a do ar nas meMiias circumstancias de press.'io e de tem- peratura , je o peso d'um metro cubico d'ar a 0° do thermometro cenligrado e debaixo da pressao de 0,'"76, /' a tensfio do vapor contido no ar, eta temperatura existente, expressa em graus centigrados. Introduzindo n'esta formula os valores de Icnslo m.ixinm ilo vapor nqiiuso a difTercDlcs Icmpera- liiras de dcciuia era dcxiiaa de jrau do llierinometro ci-iiligrudu. 261 i cde« ' , efazendo <=14,°7, temperaliira do ar ao m.eio dia no 1.° d'abril , e /' = 12, """458, tensao maxima do vapor a esta temperatiira, acha-se P = 12s,56: e o peso do vapor contido em iim nietro cubicod'arno estado de saturac^fio ;i temperatura de 14,"7 cent. O sfir. Pegado acliou que um metro cubico d'ar conlinlia nonionienlo daobserva- gfio uma quantidade de vapor egual al2*,7, isto e, nma qiianlidade superior a que o ar conteriadebaixo do mesmo volume, seestives- se saturado! iisle case nao eo unico, em que apparecesimilliante disparate; poderiamos citar muitos outros: mas o que sobre ludo iinporta notar e' a grande disparidade, que sempre seacha , quando secompara a quanti- dade de vapor contido em um metro cubico d'ar com a tensao do mesmo vapor, tomando em considerayao a temperatura existente. Dir-se-hia que o siir. Pegado nfio calculou nenhuma d'estas quantidades, mas que as determinou empiricamente, servindo-se para isto d'algumas taboas defeituosas e incorre- ctas, ou que empregou um methododitferente para chegar ao conhecimento de cada uma d'ellas. Anomalias d'esta ordem nao podem talvez explicar-se d'outra maneira ; porque , qualquer que seja o liygrometro que se ado- pie , como duas das quantidades relativas ao estado hygrometrico do ar se deduzem sempre , como consequencias necessarias da terceira, e impossivel haver a menor disparidade entre ellas. Suppondo que o Snr. Pegado nao possue aindaohygrometro condensadorde Regnault, instrumento de moderna invengao e o mais exacto de todos os instrumentos d'esle gene- ro , rf forgoso que s. s.' se tenha servido do hygrometro de Daniel, do deSaussure, ou do psychroinetro , chamado tambem hygro- metro d'evaporatjao. Vejamos , se algum d'estes instrumentos podia conduzil-o aoa resultados, que se acham consignados nos mappas de suas observagoes meteorologicas. Hygrometro dc condensa^do de Daniel. For meio d'este liygrometro obtem-se a temperatura dasaluragao, isto e, a tempera- tura, em que o ar ficaria saturado pela quantidade de vapor, que elle contem. Conhecida esta temperatura, procura-se a tensao do vapor, que llie corre?piinde nas taboas , que dao a tensao maxima do vapor aquoso a dilTerenles temperaturas, e tem-se assim conliecido a tensao do vapor contido no ar. Procurando depois nas mesmas taboas ' BioteQay-Lussac, tendodeterminado czperimenlal- menle os valorem de ^ e de tt , tintiaiD achado ^ = ^- = 0,625 , e ir = 1290s ; mas Regnaull , (lelerrainanilo nuvamente esles valores por uma serie d'experieiiciaa feitas com todo o esmero edclicadeza , achou^ = 0,622 , e iv =18986. Adoptamos de preferencia esles ralores , Biada que naodesconhecemos que sendo as dilTtreoijas lHo pequenas , como na realidade suo , nSo iulluem sensivel* meDle nos resultados. a tensao maxima do vapor a temperatura da observag.io, e dividindo a primeira pela segunda, obtem-se o grau d'humidade do ar, ou a fracgao de saturagfio. Para achar depois a quantidade de vapor contido em um metro cubico d'ar ,calcula-se pela formula • J- J n ^x%xf' . , indicada : Jr:= . , introdu- 760(l-i-0,00366Sx<)' zindo n'ella os respectivos valores de cada uma das quantidades algebricas. Suppo- nhamos que tinhamos achado que a tensao do vapor atmospherico era, como vcm in- dicado no mappa , IS""". Procurando a ten- sfio maxima do vapor a temperatura deli,°7, achariamos 12, """468; teriamos por con- 12 seguinte: G=—-— = 0,963, ou G=: 96,3, representando por 100 o estado de saturajao. Pnra termos depois o valor de P, introdu- ziriamos na formula os valores de,J e de k, e fazendo f = l'2""'', e i = 14,*7, achariamos f = 128,09. Teriamos portanto /' = 12""° , G=:96,3,e P = 12»,09 '. Hygrometro de Sautsure. Para avaliar por este hygrometro o grau d'humidade do ar , e mister conhecer a tensao, que tem o vapor atmospherico, quan- do o instrumento marca este ou aqueile n.° de graus. Este trabalho foi emprehendido por Gay-Lussac, Melloni e outros, que depois d'uma longa serie d'experiencias chegaram a obter um numero de resultados sulficiente para poderem formar uma tabella que du a tensfio do vapor contido no ar correspondente a cada uma das indicagoes do hygrometro. A tabella de Gay-Lussac aindaqueconstruida soinente para a tempera- tura de 10° cent., do mesmo modo que a de Melloni o fora para a temperatura de 22° a 23°, pode com tudo applicar-se sem erro sensivel a qualquer outra temperatura cornprehendida dentro dos limiles thermo- metricos da atmosphera ; ja porque , com- parando a tabella de Melloni com a que Biot construiu , interpolando os resultados oblidos por Gay-Lussac, acha-se pequena differenga entre ellas; ja porque resulta das • P<5de-se tambem achar o valor de P , procurando nas taboas , que vem nos tralados de pliysica , a densidade maxima do vapor aquoso a lemperalura da observaijao. Corao a densidade do vapor e touiada em relaijio a da agua disliiiada a lemperalura de 4° cent. , e um metro cubico d'agunn'eslascircuraslancias pcsa 1.000. 000 {■ram- mas, bastari mulliplicar por 1.000.000 a densidade oblida , para lerinos , expresso era grammas, o peso d'um metro cubico de vapor no estado de salura(;aa a lemperalura existente. Multiplicando depois este peso pela fracijao de salura^ao , teremos o peso do vapor con- lido em um melro cubico d'.ir no moraento da observa- i;ao. Esle melhodo porem n3o e suseeplivel d'uma eia- clidao sufCcienle , quando t' e um n." fraccionario , porque as taboas sciraente d3o ai densidades do vapor correspondenles a lemperaturai exjiressai por um n.° inleiro de graus. 262 experiencias de Resnault , que as inHicagoes do hy;;ronietin ile Saiissiiro sio sensivclineiite indepeiKleiitc* da lemperaliira. A lal)i'lla n- sideravel no corpo movel , iiora por uma forte resistencia , queseexperimenla qiiando se perlende fazel-o parar. Depoisque as inesnias pessoas conseguiram dar movimento a me^a, torna-se muito uienos necessario o contacio das exlremidades das tiiaos, e mnilas vezes OS diversos operadores podein nbrar izclada- mente. A pressao das maos delermina nao so movimentos de rotarjfio na meza , mas alem delles energicos balanjos para um e para outre lado. Todos estes effeitos sao, por assiin dizer produzidos, sem couhecimento dos operado- res, por esses pequenis6i:iio5 tnovimento-, de- siguados com o iiome de moviuienlos invo- luiitarios, e de que nos , ao que parece, uao temos couscieucia. Estamos no caso da vari- iilia do condao, do annel suspense per um fio que se appoia sobre a testa olliaiido para uma designada direcyae, e de todos esses movimentos, que o pasmo , a ndniira- 9ao, o receio, a surpreza, e em geral as sensagoes imprevistas, determinam espnnla- neamente em nossos orgfios. Accrescente-se , que basta uma ligeirissima manifesta^ao da vontade , para fazer mudar o sentido do mo- vimento da direita para a esquerda , ou vice vena. Finahneiile e uuia circumstancia fa- voral a experiencia, que nao haja de parte dos actores um influxo ho-til a manifesta^ao que se espera, porque esse influxo ainda q\ie seja individual, quando for muito pronuu- ciado , pode conseguir que se paralyse a ac- ^ao dos operadores, que, a nao ser isso , leriam alcangado um resultado consideravel e promplo. Quasi que nao acal)ariamos , pertendendo fazer nraa lista des effeitos ou perteudidos effeitos, que cm vez dcse nao podtrem cxjjli- car , estdo pdo conlrario longe de se pode- rem confirmar. Para couiprelieiider porem a razao , porque as maravillias altribuidas as mezas gyrantes tern ganlio credito para com graiide numero de pessoas , hastaru dizer que e muito natural que a imagina^ao; coin o seu amor innate do maravilhose e das emojoes novas, tenho visto prodigies iiaquillo que nao sabe explicar, e que e na- tural tambem que as maos, com a sua for^a muscular activada por um effeito nervoso, ponliam em movimento um corpo movel qualquer. E nao esque9a que so pertende- lues explicar um facto physico , sem que- rermos fazer valer as considera^oes logicas, que alias ja foram descnvolvidas com grande superioridade por intelligencias de primeira erdciii. Nao Itasta fazer um milagre ; e ne- cessario ainda que esse milagre nao seja uni ab-urde; e sera absurdo, se estiver em con- Iradi^ae com as leis da natureza. Desde os magicos de todas as epociias da antiguidade, OS endemoninliados da edade media, a astro- iogia , OS coiivulsionistas de S, Medaid, as curas miraculosas deMesancs, o magnetismo animal, ate as mezas gyrantes actuaes , loda» essas epulemias da credulidade publica, refor^adas pela ignorancia e pi-la velliacaria, tern todas um ponlo comuium — o absurdo e o ritliculo. Sem ser necessario appelar paru OS que pensam a sangue frio nas cren^as em effeitos sobrenaturaes , basta ver come julga cada edade as das edades precedentes Cicero nao concebia como dois aruspices podessem olliar um para o oulro sem se rirein , e nos, nos agora, nao concebemos cemo o povo ro- mano podia ver os dois impostores sem llies dar bordoadas. O rotnaiio que atirava ao rio com os frangos sagrados que recusavam co- mer , dizendo com razio , que, visto nao quererem comer, cumpria dar-liies de beber , faria mellior em atirar em vez dos frangos, com aquelles, que d'isso formavam prono- slicos e oraculos. Nos que somes d'este se- culo, eminenlemente telerante , nao atirernoa com ninguem ao rio, mas para tirar toda a for^a a ma fe, opponliaraos o ridicule ao impiissivel que se tondecora com o nome de maravillioso. Pondo de parte tudo o que esla fora da al^ada dos conliecimenlos posi- tives, vejamos como a sciencia do erganis- mo, Apht/siolo^ia, ea sciencia do movimen- to, a mecanica, explicam esses impulsos energicos, impresses a massas muitas vezes assaz pesadai por operadores que produzeui esse elfeilo quasi sem o perceber. Isto e que e exiraordinario. Mas uma multidfio imuien- sa de faclos snalogos se appresentam a quern possue o segredo d'estes singulares movimen- tos involuntarios. Todos convem que, em resultado das fre- quentes relayoes entre o corpo e a alma, nfio e possivel conceber um pensamento re- liiliyo a movimentos, sem que o corpo sh nao resiuta involuntariamenl(!. Um lord in- gjf'z alfirmava, que o seu cavallo eslava por lal forma adestrado , que ba^ava vir-llie a idea e moviiuejito que queri.i que elle exe- cuta^se, para que de promplo fosse realisado. .i Com effeito, dizia elle, o cava.l-iro , que pensa n'uma evolu^ao qualquer, faz sem querer um movimento em liarmonia com esse pensamento, e por mais ligeiro que seja esse movimento, o meu cavallo percebe-o e obedece. d E um effeito do mesme genero que se pro- duz na acsao das maos assentes sobre a meza. No momente era que , depois de uma expectativa mais ou menoslonga, se chega a eslabelecer uma trepidagao nervosa nas maos, e uma cencordancia geral nas peque- nas impulsoes individuaes de todes os ope- 264 radores, e entuo que a meza recebe um ex- for^o sufTicienle e come9a a mover-se. O cotilacto das extreniidades das maos obra tambem sein duvida pela communica^ao d'uma influencia nervosa insensivel , a fim de estabelecer a siinultaneidade de ac^fio. Ale entao , a pressfio individual das maos de cada pessoa , obrando so e desacompa- nhadamente, on rnesmo em contradic^ao, lornava-se inefl'icaz. 'I'odos conhecem a grita fortemente ryllimada, com que os obreiros e OS marinheiros alcan9am a concordancia d'ac^ao necessaria em seus trabalhos. A in- fluencia do rytlnno musico para determinar a concordancia entre aac^ao de lodas as maos e tao real, que se tein visto mezas rebeldes, ou antes maos ineHTicazes, dareni resullados decisivos aos prinieiros sons de um piano em que se toca qualquer pe^a com cadencia forte. Dir-se-nos-ha que as proprias mezas tem composlo musica , e que deveriamos invocar esta auctoridade ; concordamos , mas nao queremos somenle, como se diz , ter ra%do^ queremos alem disso tcr ra%do rasoa- velmente. Eis-nos pois clicgados ao ponto em que todos OS operadores obram em harmonia pelo effeito do tempo e das probabilidades (e cumpre adverlir ao leitor, que o nao souber, que todas as probabilidades vem com o tempo a lornar-se em cerUza) ^ mas esta acyao insensivel, que se produz desa- percebida para cada operador , junctando- Jhe a concordancia e a conspira^ao necessa- ria de todas as impulsoes, esta causa, dire- mosnos, sera assaz energica, assaz poderosa para dar movimento e niesmo uma grande velocidade a uma massa muito pesada ! Ve- jamos o que a este respeito nos diz a phy- siologia. Continua* P. OVIDIO NA/AO: Dos Tristes — Livro 4.': Ele^ia 8.' ARCnMENTO. Queixa-se Ovidio ja quinquagenario de liaver encanecido em um paiz e regiao pessi- mos, quando devia estar gosando da patria , da companbia de sua esposa e dos seus ami- gos. Accrescenta, que se n^outro tempo o Oraculo de Delphos ou a Pomba Dodonca Ihe tivessem profetizado um tai futuro, nao daria credito algum aos seus pronosticos. Da como verdadeirissima a senten^a, de que nao ha cousa tao forte que nao esteja sujeita a vontade e ao poder divine. Admoesta por fim aos seus leitores que, escarmentados pelo que nelle observam , tralem de nao desmerecer a benevolencia de Augusto. Do cisne as plumns j:i na froDle imitu \ Ting:e-me a alva velhice a ne::ra coma: Os froxos annos , e da inercia a idade , Ja se apossam de Diim, e alt' mal posso Em poiico Grmes p^s .susler mcu corpo. — O tempo era cheijado, em que o rematc, Poslo aos trabalhos mens , viver tranqiiillo Devia , e sem lemor , que me iti(]uieta9se ; Dar-me ao descaiiru , que a miiilia alma seoipre , Sempre tanlo ai;radou : e aos metis esludos , Em simve remauso entregiie lodo , Celebrar minha casa exi;;iia, e os velhos Penates, e us paternos mens dominies, Por sen scnhor agora abanduiiados ; E da espusa no seio e netos caros, Na palria minlia envelhecer seguro, Findar contava assim da idade os annos: N'outro tempo, e de cerlo eu roerecia . Que d'elles esle fosse o seu remate : Mas di>s Deoses nao foi essa a vontadd, Que, por terra e por mnr em lonsas vias , A's sarmaUcas plazas me arrojaram. — Para que do alio mar nao sejam presa , Aos cavos e^taleiros conduzidas, Sao as naos das borrascas agitadas: A fim de que nao caia, e as muitas palmas , Na carreira adquiridas , nao deshonre, pasta nos pradus lan^uido cavallo: Ja scm preslimo o immerito soldado y Junto aos lares antigos depusita As armas , que empunhuu , cin^Ju com gloria , •^ Para mim , a quem ja a idade inerte, Minoriira o vigor , tambem chegado , Era 0 tempo de obler com a gladiatoria Vara o repouso.... Sim este era o tempo; E nao de scr mandado em clima estranbo , Longe peregrinar, e a sede ardenle , Com a fria linha ir matar dos Gelas ; Antes sim ir morar em ocio brando , Nos horlos, que ja live , ajli dos homens : E de Roma gosando a convivencia. — Ignaro do fuluro , assim outr(5ra , Da velhice passar placido a vlda , Puder eu desejava Mas adrer§08 Os fados encuntrei , elles, que amenos « Outori;ando-nic os mens annos primeiros, Tao gravosos os ultimos me tornam , E tendo bistros dez sem mancha alguma Ate agora vivido , hoje da vida No mnis duru quartel sou maitratado ; E ja proximo a mela ^ que eu julgava, Quasi eslaudo a tocar| minba carro9a Vejo em total ruina desfazer-se. — E pussivel , que eslujlo eu obrigasse A irar-se contra mim, a quem mais brando, ■ Oiitro em si n^o comtem o Orbe immenso? ..... Que OS mens dclicloa a clemeocia sua Tendo excedido , do men erro em pena ; Gosar me nSo negasse o bera da vida ? , Devo pois ir viver da patria ao louge ^ Debaixo do boreal eixo na plaga , Do mar Euxino a esqiicrda collucada. — Se o Oractdo de Delplios lal presagio , E a propria Dodonea lue aiinunciassem , Qualquer dos dons por falso o julgaria. — Nada pois ha tao forte, bem que o premla , Diamantina cad^a , que aos de Jove Firme resista rapidos coriscos ; Nada ha t3o alto e sobranceiro aos p'rigos , Que a um Deos niio seja inferior , sujeito. — Mas, bem que parte das desgra^as minhas ; Devam a propria culpa a origem ma ; Ainda assim foi maior do que ella o damno , Que irrogou sobre mim a ira do Numen. — Por mens desaslres \6s escarmentados, Leitores mens, ficai ; tornai-vos gratos^ Aquelle , que em puder iguala aos Deoses. Conlima f. de CARVALHO. 265 BREVES RBFlE^tOES HISTORICAS SOBRE A SAVEGArVO DO MONDEGO , B CULTURA DOS CAJIPOS DE COISIBIIA. Conlinuado de pag. 215. II. Teinos dado iioticia de lodas as obraa que desde 1464 lem liavido no encanameiito do Mondego, cilaiido egualmente a legi^lagao que llies diz lespeito; tambein temos notado alguns defeitos , que, segiindo o nosso pare- oer comctielteram os anligos engenlieiros ; e agora nao deixaremos de manifestar a nossa opiniao em materia tfio importante; neui era de suppor que, tendo estudado com intcres- se este assumpto, e desejando vivamente o mellioramenlo dos campos de Coimbra, e da navegagao do Mondego, nfco formassemos tambem uni piano de canalisa^ao ; e ainda que elle nfio inerega ser adoptado, nao nos reslara a magoa de o deixar sem publica^ao, Mas antes de expor a nossa opiniao diremos duas palavras que juigamos necessarias I'lcer- ca do primitivo ieito do Mondego, e dos campos que ilie s.'io contiguos. Seria bastante penoso , mas nno impossivel marcar ainda iioje os pontes, pnr onde o Mondego ievava a sua correnle nos primei- ros tempos da monarciiia portugueza ; nao por meio de signaes grapiiicos on vestigios, que desde esses tempos ainda existam na su- perficie do lerreno ; tnas sim ppla analyse das confrontagoes dos predios dcsignadas nos do- cumentos empliyteulicos cuevos, applicando> as agora aos mesmos predios mencionados n'aquelles documenlos; mas como o nosso trabailio nao exige lao rjgorosa exactidao , prescindimos d'esse iuiperlinente edesnecessa- rio apuro, contenlando-nos so com a indicu- 9ao do meio, porque entendemos que e suf- licienle declarar os pontos principaes que o rio banliava no se\i curso desde a ponte de Coimbra ale se perder no mar. O Mondego, logo abaixo de Coimbra, seguia a direcgfio do norte, para onde ainda hoje mostra tendencia , ale baler no monte da Geria , daqui era reflectido, seguindopara sudo-esle, em angulo egual ao da sua inciden-' cia; e depoisde muitos e variados gyros torava no monte da Ladroeira ; daqui lambem , como na Geria, conlinuava o seu curso em liiilia de reflexao para sudo-esle, formando de- pois uma grande curva pela raiz do monte de Verride, e d'outros que llie sfio conjiui- clos, ate cahir quasi perpendiciilarmentesobre o monte ao norte do campo , um pouco abaixo de Maiorca : correndo dalii em dianle com uma direc^rio quasi em linlia recta, en- coslado aos monies do norte , passava Lares , e conlinuava na mesma linlia ate aos monies de Lavos , depoia de ter atravessado o campo perto do Canal, circumdava a Morraceira. Tendo-se approximado d'este smontes formava uma exlensa curva ate cahir na direcgao de sul a norte soiire a villa da P'igueira. Era esle , segundo parece, o Ieito primiti- vo do Mondego, que elle, sem auxilio al- gum da arte, tinha aberto pela sua propria forga, E evidente que desde muitos seculos se devia ter reconliecido a necessidade de simplilicar um alveo romplicado com tfto grandes tortuosidades. Ainda mesmo quando a cultura dos campos de Coimbra nao ca- recesse deste melhoramenlo no alveo do rio , a commodidade dos povos, a facilidade da navegajao , eapromptidao das relayoes com- merciaes, reclamavain que o Mondego ti- vesse um Ieito regular e expedite; porque sendo , como e , a veia mais importante da vida commercial da dilatada provincia da Beira, nunca lao imporlanle principio da prosperidade dos povos poderia ter o devido desenvolvimento , em quanlo n.iose removes- ^em OS eslorvos que impeciam a prompta navegaq'io do rio Perdeu-se uma bella occasiao de praticar este interessanle piano, e tarde vira oulra. O siir Estevao Cabral tendo reconliecido as vantagens d'um encanamenlo em linha recta, foi mesquinho propondo ao Governo um pro- jeclo em reclas partidas • dizendo que — jul- gava de pouco damno as pequenas torturas, e custosissinia a recta era tanla dislancia '. Se mais de uma vez temos feito lembrar al- ■ guinas faltas que o snr. l^stevao Cabral dei- xou no encanamenlo do Mondego, commetti- do a sua direcgao, n.'to e para de modo alguni escurecer a memoria deste engenheiro , mas sim para evitar que algum oulro com o mes- mo encargo teniia no future de ser arguido por faltas semellianles. Dissemos que o Mondego, assim da La- droeira como de Lares por dianle se dirigia em llnha recta para sudo-esle ate principiar a descrever grandes curvas pela raiz dos monies de Verride e de Lavos; e o snr. Eslevfio Cabral reconlieceu a ulilidade que provinlia de se abreviar o comprimenlo do antigo alveo, evitando aquellas duas exlensas curvas, no que, segundo as medigoes por elle feilas, a navega^jao economisava cerca de legua e meia de caminho; porque so a volta de Lavos linha de mais do que em linhu recla novecenlas bragas ^. Hsle pensamenlo devemos confessal-o , e uma das partes mais importante do projeclo d'aquelle hydraulico. Porem o resultado nao corrcspondeu a. es- peranga, por nao se fazer bom uso dos nieios , segundo os principios da seiencia ; perlende- ram obrigar a agua a correr por um Ieito, amoldado, nao aoseu volume nem iidirec(;ri(i e forga da corrente, mas sim ao capricho do engenheiro. Logo abaixo da Ladroeira abri- ram uma vaila, e oulra abaixo de Lares, que eramcomo perpendiculares us reclas que > $^. 32 e 35 (]a sua yi citada Memoria. 2 Ibid. ^f. 10 — 20 — e 39. 266 n alveo antigo sei^iiia iro>lPS silios; e claro i|iie iioi poiitos de parlida se (orriiararn an- fjiilos rectos relativamente a nova direcgfio , por oude (jiiizerain for9ai- a corrcnU' ; para o con- seojuii obstruirani o leito vcllio para a ajjua retrocedi>r para as vallas , e se^iiir por I'llas, iinia por Monlemor , ea oulra por Villa- Verde, ate a Fisneira ' Esla olira prodiizin lioin efl^ilo abaixo de Lares, onde lioje rlianiajii — Volla. A incli- iia^fio do canipo e aqni quasi iinperceplivel , () sen piano aclia-se conio nivelado corn o uiar, eas aJJua^do rio oneorporam-se alii coin as das mares, donde resulla clief^ar a este ^itio a corrente do rio niiiilo eiifraqnecida , e nesle eslado lacilaKUile obedeee a direci,'ao ror(,ada que llie deram Mas nao aconteeeu assini junto da Ladtneira; o effeito aqui foi deploravei. O Mondei;o fem n'este ponto uuia violencia irresislivel , porque o plaiiodo uampo da Ladroeira e para ciina nniito luai-i inclinado do que dalii para baixo. Vierani as enchenles do inverno e arreljataram os lapuines corn que tinliani pertendido do-.viar a corrente do sen aiiligo caininho. D'eala obra resullou que n'uns annos corre a agua loda (no verao) pcla volla de Verride ; e n'oulros divide-se em dous ramos, para a- quella direc<,-ao que e a do anligo leito, e para a v;illa de Montenior ; o que e mui ))rejudieial a navegacao nos me^es doeslio, por causa da escacez de agua. Os principaes esludos liydraulicos do Mon- dego devem fazer-se no iiiveino, e a vista das giandes enclientes, observando-o em todo o curso desde Coimbra ale a sua foz ; as ob- servaeoes feitas no verfio s";o eiiganosas. iNos mezes do estio, lem o JVlondego a mansidao de cordeiro ; mas no inverno apresenta mui- tas vezes a fereza de tigre embiavecido No principio do seculo 15 ° ainda o Mon- dego, na occasifio de grandes enchentes, nao excedia os limites do sen leito; e se por Ven- tura algunia vez OS Irasbordava, parecequea inunda(;ao nfio era geral au cam()o ; porque em documentos do principio d'aqueile seculo, e do fun do antccedente leuios encontrado que OS senliorios inipunbain aos inquilinos a obriga^ao de levarem os seus gados para as terras , e de f'azcreni abi pouz'idus e morada , e de morarem. corpuralmente por si e suas pcssoas nas terras ^. .No anno de 1363 (era de 1400) prot'eriu o vigario geral de Coimbra sentenja contra um inquilino que negava o pagamenlo do diziino do gado que creava nas terras que a egreja de S. Pedro linlia no cam- po do Ravauul, oude o inquilino era mora- < Di il.ir\i;'i.p .rOviMri\.i (moiienianiPnle Morrareira) feila ]iur D. AlTunso H>'nri'|ucs c.msla i|ue o Mondi';.'!) |ierlo lie L.^res suilava uni Ipra^o em ilirec^Jo a fi'>z ; e que a maior poiijao ilo rio cin^wa o campu pelo lajo de Lavus flcandij P'lr e»le m.j l.i luili o terreno Ja Murracei- rajcercado pelas a^uas di M inde:;o 2 Duciimenlus d.i carturiu de S. Pedro de Coiniljra , anno de 1395 e 1400 (era de 1433 e ile U38). dor ' . Isle prova que o campo era iiabiladc em algumas partes, o que nao aconleceria -e a? iiiunda(;oes fossem geraes. Eslas condi^oestao vulgare^ nos con tract os eiiiphvteuticosd'aqurl- les tempos, raro apparecem nos doeuinenlos do meado do aeculo 16 °, e dalii por dianle cairam em tinne aiiti;,'o pa;;arem os lavradores , 'pie niorassem iias terras, que ascj,'rejas deCoimhra tinhain no cnmpo , o dtzimo tios fiuUos e cria't^as [cren^ao) n egreju ctijas fvrem as lUltis terras. 267 collooada iirna pscliola em cada ej^reja das 4ote |jrii)ci|)aes dci par/., a lyie todas depen- deriain do consisloiio de Ilertiosaiid. Cada eschola cornpleia recebia do estado uinaajiida dft cuslo amiiial para siistcntar e veslir seis aliimii05, pi'lo tempo que cram obrigadoi a segiiir o ciirso que era bieiuial. Alein das sele escholas priiicipacs, loraiii aiiclorisados a fuii- dar outras mcatres parliculares , que sondo approvados pelo coiisistorio recubiam o salario de cincoeiila e quatro tiiniias ' do covada, do qual viiile tniinas erain pajjas em ffptiero e o resto eii) diiilieiro. Com ea(e salariodevia o ineslre prover u sua susl^'iila^ao e de seis doa aliimnos que lre(|iienlavam a sua cscliola. Fiualuieiile em inuilos lofjarejos mais distaii- les aloaugaram as escliolas propriamente ditas uiuilos caleclirsmos, que eiam dos parodies ou de parliculares. Todavia os coslunies nomades de fjrande parte dos Lapfios, e a dilTiculdade cada vez inaior d'encoutrar para ns que tiiiliam uina vida sedentaria, inestre- suffioieiiteiiiente inslruidos e zelosos , fez ver ao governo sueco que era Impossivel de applicar a tal povo utna verda- deira centralisajao escholar. Per lanto em 1820 a organisayao das escbolas da Laponia tbi radicaluienle luodilicada , ou antes forain as escliolas suppriiuidas de facto. Foram snbsliluidas por ini^biouaiios , uns collocados em districtos fixos, e outros encarregados de seguir a populagao iiomade em suas peregri- nacjoes periodicas. Estcs missioiiarios desem- penhaiij ao mesmo tempo as func^oes de pa- roclio e de meslre-escliola. O novo systcma tinlia sol)re o antigo a vautagem de popula- risar niuilo mais a instruc^an que cliegava d esle modo a todas as tribus do paiz , of- ferecendo laml)em mais seguran^a peio lado da luoralidade e aplidao dos luestres. Tal e o systema que aiuda esla presente- mente etii vigor na Laponia, e que a pezar d algumas reclama9riei que se apreseiitaram , o governo sueco parece dispoalo a conservar. Kev. de rinstr, Hubl. n." 31. DOCUMENTOS I.VEDITOS. Carta que o viso^rei D. Jono de Castro etcreveo a el-rei riosso aenhor o\fltmo de 46 (1546). Conlinuadu de pa^, 254, No inesmo dia me tnandou a esta cidade Jordao de Freitas a eirei de Maluco prezo em ferros. E tanio que soube ser clieguado ;i barra, o mandei visitar ao mar, e ao outro dia o fiz desembarcar com grande aparato , e recebimento, aposentando-o emhumas Ijoas cazas, onde Ibe iiiandava dar todo o neces- sario pera seu gasto , e despeza; assi pella preeininencia, que tinha de nome real , como ' Veja-se a nola da paj. 137 d'este jornal. por ter sabido antes de sua clieguada parte da 5ua niiiita inoceiicia, e da malicia de Jordao de Freitas: e as;! mesmo como ficava Maluco em grande perigo, pola prizao, e mac tratauienlo , que fizeram a esle rei. Por- que depois de Ibe roul>arem , e saquearem suus cazas, e deilareiii ferros, como a mal- feitor, llie foryaram suas molheres coin la- manlias descine=tidades , que se nao podeni dizer a v. a. Passadcs alguns dias depois dacbeguada desle rei, me veio faiar com hila peti(;a, requorendo-me, que llie fizesse jus- ti(,-.i , e uiaiidasse ver as dcvassas , e aiitos, que Jordao de Freitas contra elle me manda- va ; e coiifoniie a suas culpas o despacbasse. Eu vi estas culpas, e deva^sas com lodolos deaeinbargadores; e por se nao mostrar por ellas nao ter eIrei feito nenliij desserviijo a v. a., nem emcorrido em oulra culpa al- gua; antes se pruvar pormuilas tesleniunhas, que mandei lirar no galeao, em que veio , como sempre e o servira bem , e verdadeira- nieute; e Jordfio de F'reitas fazcr-Ihe eslas injurias, a fim de o desapossar do reino , a- fiMi de o dar a outro seu irmao, com quern Joidiio de Freitas cazara hila sobrinha, que em Malaca tinha: confornie a jusliija delreininei com Os dezembargadores , que elle foj-e resliluido em seu reino, e que Jordao de Freilas viesse prezo a esla cidade em far- ms, e outras couzas , que v. a. vera na seiiteiiga, e aulos que Ihe mando. Para a publicagao d'esta seuten^a delrei de Maluco mandei fazer hu teatro grande no lerreiro doSabayo, inuito bem aparamer.tado , aonde o mandei hir acompanliado de toda a nobieza , quf na Indja avia , e eu acom]>anhado dos emba.sadores , que n'esta cidade estavam , e dos desembarguadores o sai a receber , e o levei ao lealro de madeira, aonde estavam feilos assenlos pera mi, e pera elle, e em- banadnres, a cada liu confornie a sua di- guidade. E aii em prezen^a de todos mandei ao Ouvidor geral, que em voz alta lesse a forma da seulenga. Fj acabado de ser lida , me alevantei do ioguar, em que estava as- senlado e Ihe meti na rafio uin ceplro, e D. Alvaro, men filho Ihe poz a corda na cabe^a, mostrando-lhe per estas insigniasque ficava oulra tcz rei , e mais honrado , que lodos; pois te enlfio a nenhiJ outro fora dado aquellas insignias reaes. F^ste aulo foi mui solemne, e muito pera ver , e de cobrar- inos grande reputagfio entre os mouros: e lanto, que ouve muilos dos einbaxadores , que disseraoj que hu dos sinaes , que linhaiii da nossa lei ser milhorquea sua, f<")ra aquel- la maneira de jiisUga , que virfm guardar-se a elrei de Maluco. E juntamente, em pri'- zenga d« todos , em nome de v. a. encar- reguei o cuidado da capitania de Maluco a Bernaldim de Souza , por sua bondade , e servigo, e cavalaria , que neiie lia ; o qual nao sonientes cabia nelle esle carrego , mas lodo- los grandes e honrados, que n'esta terra ha- 268 I'fllo ijne eslou miii confiado, que nellc 5ervir;i tainbem a v. a., como e a opinifio, e coiifian^a, que delle tenho. E cntrando a riion(;rio , com que se parte para Maluco, iiiandei aparclhar elrei de lodo o iieces^ario pera a viai^o, e dando-llie muitas dadivas cm nome de v. a. , o niaiidei niui contente, f alegrc pera seu reino. A dt'z dias de niar(;o mandei Antonio de Soiito-mayor com dez fustasucosta do Arabic, pera saber novas dos rumes : e Ihe dei em regimento, que nao entrasse das portas do citreito para dentro; mas que pola costa de iiarbora e Ze^'la traballiasse de toniar lln- ■;oa , e saber o ponto, e estado, em que es- lavam as couzas dos rumes: e quando quer que o nSo podesse saber por esta parte a- travessasse a Xael c Caxem , e por esta banda iizesse polas saljer Ksendo caso, que acliasse nova certa dos turcos passarem a Ormiis, ^e fosse direitamente a iliia da Maceira, e riessa paragem andasse te' o tempo, qua alii podiam ser as nossas naos, que mon^ao de niarijo aviara de partir da India para Ormus, e avendo falla dellas, as fizesse arribar a costa da India, E tanto que o tivesse feito, se fosse com sua armada meter dentro da fortaleza de Ormiis. Partido pois Antonio de Souto-mayor com este regimento, chegando ao monte felix encontrou liu galleao de Coge (Jofar, que vinha de Tana^arim , muitobem armado, e artilliado, e cheio de ruuies, e gente branca. C0me5and0.se a peleja, Antonio de Souto-mayor emvestio com sua fusta o galleao, saitando dentro nelle por autre mui- tas bombas de fogo, pedras , e lan<;as, que liiearremegavam, af6raasfrechas,bestas,ear- labuzes, que sempre tiravao, econfessou, que Luiz de Souza saltdra diante delle. No que, a raeu ver, ganhou major honra, que no l>om feito, que fez. Nesta fusta de Anlonio de Souto-mayor liia doin Joam de 'J'ayde , fiilio de dom AITonso de Tayde, e dom Vasco dalmada, filho de dom Alvaro d'Abranclies , 0 Luiz de Souza, de (|ue assima fiz men^.'io, sobrinho do bispo dangra , nuno ferrejra, fiilio d'anlonio ferreira , francisco de cras- tro, filbo d'antonio decrastro de monte-mor, Adriao pereira filho do porto-carreiro E ao tempo de emvestir foi dom Jofio todo <|iieimado de polvora, asside bombas, coinn dovitros arlificios, com que tiravao, e dom Vasco ficou muilo ferido, e os mais dos Las- carins muito mnl tratados : demuneira que abalallia foi mui porfiada; mas em fim o galleao foi euitrado por virtude, e esf'or^o de Antouio de Souto-mayor, e de Luiz de Souza, e os turcos todos niortos , que seriiio por todos em numero setenta com os passa- geiros. Dos uossos Lascarins nao morreo iienhfl ; posto que a mor parte delles ficas- =em feridos, e queimados. Isto assim feito, mandou Antonio de Soutomayor o galefio caminho da India, e liija fusta das suas em sua guarda, de que era capitfio Alvaro Lo- pes, lu"i valente Lascarim, c iinmcm de bom viver, e que a muitos tempos que anda nesta terra servindo v. a.: na qual companhia man- dou dom Joao de Tayde, e dom Vasco, pera se virem curar das feridas. Os quaes quando chegarao a esia cidade se nfio podiam conhe- cer; porque dom Jo'io trazia todo o rosto queimado, e assim as pernas, e maos, sem ter nenliua semilhan^a do que era: dom Vasco vinlia mui maltratado das feridas , de maneira <)ue, se os v. a. vira nesse ponto, sem mais Ihe lembrar osmerecimentos deseus pays, e avos, nao tenho nenhua duvida, que tardiira pouco de Ihes fazer merce das melho- res fortalezas da India. Eu os mandei curar, e fazer todolos remedlos possiveis , de manei- ra que vieri'io a sarar ; mas depois de saos , veio dom Vasco a adoeccr de febres , e es- tando doente , Ihe deo h"i accidente de co- lyqua , ou mordexim, como qua cham.'io , de que faleceo. Era dom Vasco gentil mancebo, muito esforgado , dado a bos costumes. Parece, que OS trabalhos da viagern , que forfio gran- dissimos, e as feridas, que ouve forio causa de sua doenga, e morte, per onde com mui- ta rezao deve v. a. satisfazer a seu pay e irmaos seu servigo. Tornando Antonio de Souto-mayor a fazer sua viagem , chegou a Barboraa, e Zeila, onde soube as novas dos rumes: mas por de todo se certyficar, atra- vessou a outra costa. E estando surto em hua enseada , que esla defora das portas do es- treito, vierao ter com elle duas naos de Coje (^ofar, e hu parao, muito bem armadas, e cheias de gente. Saindo a ellas se comessou a peleja muito forte : porque a nao maior deu liu cabo a menor, metendo o parao no ineio : e como quer que vinhao arlylhadas, e traziao gr.'io copia de gente de guerra , frecheiros, e arcabuzeiros , e o mar andasse g rosso , n.'io podiam as nossas fustas cliegar a ellas, por melhor vontade que Antonio de Souto-mayor para isso tinha; mas trazendo-as rodeadas , ihe fazia a guerra de fora. E tanto se veio a esquenlar, que se meteu com a sua fusta antre as naos, e Ihes cortou o cabo; posto que com mnito risco de sua pessoa , e dc (odos OS que com elle liiao E como as apar- tou , per essa via emvestio a mais pequena, apegando-Ihe fogo, de maneira que ardeo com toda a fazenda , que nella hia. E logo se foi ao parao, o qual tomou , e queimou. Km quanto se estas couzas faziam , a outra nao ti've tempo de se aeolher, e entrar pera dentro do estreito. Este feito de Antonio de Souto-mayor foi mui falLido , e deu grande reputaj.'io aos portuguezes. Nesta segunda peleja foi (uorto Luiz de Souza, de que as- sima falei , de edade de dezoilo annos; mor- re3 diia bombardada , que Ihe deu pellas ilhargas. E assi foi morto tfiobe Francisco de Castro de hu pellouro, que Ihe deu pellos peitos, que o espedassou. Continua. N. 269 ESTATlSTir.A PATHOLOGIC.V DOS HOSPITAES DA UNIVERSIDADE. BOMENS SEURSTBE DB JVLBO A DEZEMIinO DE 1853. yOl.ESTIAS. EDADES O 2 S J 'Z tr . 1 ^ _ eo , so i -•s Q ' o c u 1 ^ 1 12 Febre simples 1 .3 2 1 5 5 5 4 3 2 1 5 14 1 7 2 1 Tvpliu Febre ^^-l^il^ica ,..•.. Ft •« li/ieumaliamo articular ehronico > . 1 1 ■• 1 Bronchite 1 1 2 ■ * Btenorrliugia 1 1 „ « Ol/itruciSo do litt^o c figailo . . . 1 I n » Titmor i'ljlamiiiuiorio no abilonien . . 1 1 m n L'lcerns atonicas n'unia pertta . . 1 ] 3 Febre pnslrica veriuiiiofiu o J 3 178 15 5'i 33 15 114 1 115 M n Pneumonia 1 1 N m Broncltite Q 'f 1 5 Asrite 1 2 2 1 n » liittrrhen 1 1 ti ti Ohstrnr^nu do lia^o i 30 12 33 14 47 * w Ohstrur^ilo do Jigndo .... 1 1 •f M Olislrtic^tio do ba^o e Jigado 1 1 1 1 m ml Ictras atonicas nns pernai . 1 1 1* • Titilia , , , 1 1 1 1 16 Febre intermiMeiite ^'a»trica " 1 » ObttrucfSo do baco • • 9 1 4 2 13 1 2 15 I 3 I 28 Mi-nin-il<> 3 1 1 6 1 2 10 1 5 3 1 IC 1 1 7 Slomaljte it Heinopliti/se w Htnwrrlioidas . . . • I 1 n Olislruc^ijo do bii^o 2 1 1 2 1 3 1 1 1 3 Gitstnle thrutiicii 3 I Fnleiile . . . 1 \ 1 3 1 Gastru-iiiterite — pneumonia 1 4 Otile .... 1 & 2 1 3 1 i Splcnile £ 4 6 7 5 Cyslile 1 I 5 2 1 3 4 3 3 6 2 Erysijiela n:i face , . , . . « n*iiiua penia 1 ] ») 2 N n'lima |)t,-rna — o/teite I 1 4 Rbeuiiiati^niu articular .... ... 1 M - ' 1 " •• Sgphiiis gcral a Rlieuinalisino arlicubir chronica » n .Ipoptexia lorota .... " " Ascile 4 1 1 0 1 1 3 U 24 Pleiiroi!ynia 1 1 3 II 1 6 6 1 2 5 2 10 20 1 1 1' " Febre intLrmittente •» Jjiimbago . . . • 1 1 ■ Ascite — ft^bre intermttlente 1 1 »» Hypi'rlropliia do corOQiio I 1 12 4 I 1 6 4 1 10 PI Obstrtic^ao do ba^o u nlceras atoiticas nos pernoa 1 1 I Bronchite vesicular — Atcite I i 9 1 1 2 3 1 4 1 li J 1 1 Epilepsia 1 Cephalaliria 1 2 2 Asiua 1 2 1 2 2 9 Gaslralgia I B 1 5 3 ' 1 270 MOt.ESTlAS I I iin 1 £8 34 7 12 13 6 1 1 1 10 1 1 1 4 2 6 1 2 2 ■2 1 7 CuIIica • ^ ■ . Apuplexia i • • Pfinilysia da bexi::* Ht'uii))lt.':^ia Riraiile-iia Dys[it;iisia Tisica pnlmonar * • . . Tisini laryii^ea , . . . Ascito '» Pneumonia " BrvnchUe • . • . " A'iiisttrca M Jniisarca — frhre inteTtnittente •» Obslrticg/io do daQO Hyilrucftlr Ana:9urca n Fiffre intcrmittente It Diarrhea n Obatrur^So do ^ago E'lemacin ims [ternuij • . • . Heiiuiptyse H'Mimtenifse llemerrhoida^ ,... H(Mi]:ituria «... JJiarrliea Escorbuto ,.....,... » ObitrucqSo do ba^o ,...».,. Ictcricia . . , Escn>|)liula8 , , . . Bleuuiirhagia . . • , » Paraphimosis n Canrros sypluliticas ...... » ConihjlomtiS •'.. » OrchUe • Cancroa syphiliticus Bubues sypliililicus Rures osleucopas Hyperlruphia tlo coia^'Do » »» Congcsiuo pulmonnr . . . Aneiirisraa do c(jrat:au Cunt'eslau piilmonar — Laryngite chronica - . . . Hi'palisa(;rtu putniuiiar ^ . . . 01>slruc(;ao do bii(; na Rrliriil-i^rii) coxo-femoral direila » na re,_'i:"lo pupJItea n ll'lilU juclhu H n'lmia perna Fihlula no ptrili> ..., Esruriii'^oi'S riiJ!* pc3 . • . . . E'ldiireiiineiilu d'um lesLicnlu Pulypo, nas fauces Cirro no lahio Inferior Gau^Tt-ita n'um bia^o (cuiisccutiva a ferimentos por arma de fugu) Gangrepa d'um dedo das m3us (por uin ferimenlo) . i:J 1 1 2 1 1 25 3 " I 1 B 1 14 1 0 1 1 1 1 271 MOl.tsTlAS, 13 Feriilaa biuiples na cabf^a n » nu peilu » II n>is extreinidailei . . . 4 Fcridns coutusas naa cxlremiiJaJes . 5 Ferittas por uriua tie fugo ...... 3 Qiieiiiiatltiras . . . . 14 Cuiiuisoes 11.1 calji'^a » no truMcu .... . , y) lias extrumitludes .... 52 Uk-cr.is » escorlmtioas ....... n syphltiticas » |).surica9 1 Calaralns 7 Dislens'iu de ii;;anientu9 no cnllo . . . , » jj nasi exlremiiladt^a 1 Lnxat^ao da articiilai;ao iteu-femorul direita 9 Fjuclura d'liina cla\icula w d'uiiia huniiipl.ila » (i'anrli.is oS lira^uS » du leiiiiir dJreilu w da ntiila ' . . . da Uh'in 9 Espinlia \enlosu lias exlremidadea 2 Ephelides , 1 Erythema 12 Herpes 10 Tinha ■4 Sarna 2 Sypliiiitles 4 Elc|)hanliasL' 19 .Mulei>tia9 luo classiQcadas *.,.., 773 1 2 1 5 1 1 •i 1 1 I 3 1 2 ':! 2 1 2:1 1 1 1 3 1 1 1 1 3 J 1 I 1 1 1 2 3 ft I 1 1 6 4 7 3 2 1 1 3 1 I 1 4 10 64 326 2'JI 591 1 1 117 ] 70 0 41 1 3 4 1 1 6 I 1 1 1 I 1 4 'J 2 1 ]2 10 4 2 4 18 773 * O inipeiliiiiento d'niu eniprff^iulo da areila(;rio deu lHp:ar ao exlravin de 11 papelelas, cujo niiiiiero incliii nas iiiolestias itau classifii-ndiis , toinandu o arbitrio de f.tzer iinta distribuii;riu pr-'purciunal das edadfS respeclivas. Na tnaiur parle dasontras 7, huuve drscuido deselhe piV o diairnuslicu da iiuilesti.i. Eslas p oiitras faltas contimiarau a aer pualas dcbaivo damesina epiL,'rapi]e com as mule^lias que nao se pojerem capiluiar. MovtJtiehlo Exi^tiain Eiitraram » . . . . Sairam Falleceram Rela(;ao dos falIccido3 para os'enlrados para os saido3 para todos os trala- do Collegio das Aries eS jL-roiiyino, a qiial se tiriha corneyado em 5 de Janeiro '. Mlldoll-^c a ent'ermaria de liomens de inole-tias cirur- f,'ica», para o Collegio das Aries, em 11 de jetembro ; a 10 de noveiiibro passoii para o Colle^io dos Militares o lioipilal de S. Laza- lo, que e-tava em S. Jeroiiyiiio; e no? dia^ 16 e 13 foram mudadas as mullieres do hospital da Coiiceiguo para este edilicio de S. .leroiiymo. Os dois edificios do Collegio das Artes e S. Jerony nio , contigiios em paredes ineiaa , ja se eiicoiiLram communicados , foruiaiido uiiia so casa que, pela sua po^i^ao, capacldade, exposigao, e construcjao su~ccplivel d." se adaptar as commodidades do servi§o e boas coa- di^oes de hygiene, pode tornar-se uiii mai^ni- fico hospital, tim dos mc/hores /ios/>ilaci da Buropa , como disse, n'esle jornal n." 18, ' Veja 0 0." 19 d'este jornal pag. 232. pcssoa muito conipeteiite , e que teoi visfo OS bnps liospilaes das na(;6es mais civilisadas. Qiieiii obsrrvou a marcha atcrradora de muilas niolostias, o caracter pernicioso e iuiprevislo que loinavam , as inorles inopi- nanas que appareciam , e todo o quadro do- loroso dos dnenles arnoiitoados no hospital da Coacei(;ao; se o couiparar com o quadro lisougeiro quehoje offerece odoCi)llegio das Aries, n;\o deixara deallribuir grande parle da feliz differenja as melliores condi^oes hy- gieuicas d'esta casa, e principaimenle a. sua vasta capacidade e veuliiagao, que perniit- lem aos doeiiles um ar mais puro , ainda su?ceptiTel de se nielhorar com um systema de venliladores pouco dispeudioso. A estalistica neerologica dos hospilaes da universidade pode lioje moslrar-se com van- tagem sohre a dos liospilaes de S. Jose' de Lisboa, Sanlo Anlonio do Parlo, e ainda mesino sobre a major parle dos priucipaes de llespanlia, Fraii^a, Inglalerrae Belgira , como se ve do segiiinle mappa. Annoa. 1853 1862 1852 a 1853 1852 Media d'iilgiinsi anno8 litilenure^^ a 1B52» , Hospilaes. Ho>pilaes tia universidade de Cnjuihra . Hospital de S. Jose e anuexos de Lisboa Hospital de Santo Anlonio, do Porto''. Ho?pilid geral de Madrid^ Holel-Dicu Uliarite lUiueii S. Denis Versailles . Leon Vienna Loiidrcs • • * Gazcia mcdica de Lisbga n." 1. 2 Id. ii." IS. ^ Id. ii." 5. * Juriial de ph.iraiacia e sciencias accessorina de Lisboa n." de dezouihro dt- I8j2. Uela^i'io dos fatltcidus pfiraos en tradus- :10,7 1:5,65 1:8,43 1:7,38 1 :7,45 1 :8,89 1:7,5 :U. 12 l:'J,3 1:11 :12,5 1:8 XiVKaS i. A. D» COST.\ SI.MOKS. ® Jn^tittttu, JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO. tIMVEnSIDADE DE COIMBHA.- PROGRAMMAS. FACUID4DB BE PniLOSOPnU. 1833—1854, 3.° ASNO — 7.« CiDEim. ^N«ICtXTUaA -ECOXOM.i RUHiL-TBTBnz.VAR.i E TECH.VOLOGIi. Lenle. _ Dr. ;»fanorf Marqu,, de Figucirtdo. AORICUtTLHi. e«l"d«r a agricltura conm officio, arle e ^c „o,a a?ronom,a- indole da cadeira -divisC _ I " i . n,eio;;nr"^:: ^:r:::;::.^t;?.;;°T ^"'r -^ eleia^ao, expos,.;™, inclina^ao, pusicio „,-,r — cans(ilui,;Ho !.'eolo-i<-a — sid,.-,],. '* T P'"'"''".''''?* :a^2rrdf^i^£^t^^^^^^^ ^a.-;^:::^,nl;;a— X 3^ ren.es s,s,e„,as de class.ficavao -7T^, ^e^ ir^'" - meios .le o Cunhecer - propriedades nhvsira _' '"f ^V- c.po„,a„ea_a„a,v.e H,„„ica _ E^^J^, ^ 5:;:nnd;i;xri:r"'-^""''^''^^-'^- ^^^-^ m-J.. '" "■'° - ""^<:1''""«'S e eslimulanles _ cal _ « '^j" - "e ..^i:r:..as ::;i:;-j;r""^-'''"''"'^"°' VoZ f,7''""^«* S"«s_,„a„e„„a -..„™. MiRco ) . o hUnV^r " ^"""'"'■•".•S'' «^ »c?3o-.co„dicoespara ofabr.co doseslr.nnes mixlos _ preceilos .,« s ,a a, ,d- O^.eT;,'''"'""''"'' r-^'""" - l"S"r- profundidade'. cZ ZK ~ ^""""""'^' 0" queimadas _ conslruc- 9S0 de diqnes — es;olo. uJ^fT^ ' """■"""""" "y^n^.-Arado propria- Do basle ou de Rov ille. _ Arados de es.eio e de roda _ deUrabanl-deMulard-escocez-nmericano. - Arado, de duasrodas-charr.a Ruse - clmrr„a de jo^o dian- le.ro- de aneca fiva _ Guilberme _ de Brie - Grange - Araer.cana-de aiveca amovivel-de dnas aiveeas- de a,vecas „,„veis sobre „„, eixo.-Arados e charrua. de mudas rel as_,|„pla de Valcourl - de Gnilberme -de Baro„v,ile_deTrocbu._Charma esnuelelo. _ fcxl.rpador enchada a cuvallo-de Dombasle- Wil- k,e_de Hayward.- Escarifioadur — Guill,ernie - de Luke — de rula^So de Murlon. — Grade Iriaagular — qi.adran.Md..r-enrva simples ou d„pla._Rulo ou cr- l.ndro -de anneis_de meio caivilho - de camlho omipbto— ],so_eslriadu-de denles-de disros. — Kas — enchadas— picOes — ah ioes — sadics — aiicinhos clt. __Semenle,ro8 de cylindro - t,mbor , de palhela I' r - de rnll , mo,l,i,cad„ p„r Hill _ de Hujues - Barril b-^nlerna - de Norfolk. _ Fu„ci„bo _ fonce - Jada- nlla— fouee rocadoura elc. — Marhinas de ceifar — de Sra,lb_de Bell. - !M,,ddna de debnihar- malbos - malbos e c.vlmdros — rolos _ canelladus — de Laa_le,oes inlerna. — alTec^iies prod..2.,las nor del sarra„jo das fu„. ..Oes da > i.la ve.elal por e.vcesso , ou deb.h.lade ,,a >..geb,v.1o_l,.s6es evierna, o„ feri.las. >>■ S! Plaidas nocivas — paras.las - pbaner.,gamas — cryplogaraas - para,«ilas i,der.,as (parasilas inlesl.naes o. b,o«e„as ,le DeCand„lb)-ferr„gem-carvao ou alforra— esporau o.. cravagem — carie —plaulas nociias pur s.mpl.s ajiproxiiiia^ao. i- 3.° Ani.r.aes .bimninhos — mammaes — familias dos carniior,>s _ i.is.rlivoros e ruedores — aves — mol- losros -.nseclos _ classes coleopleros , lepidopleros e u.pleros - meios para evilar os seus eslragos. ~ "^^ '•• NtM. 23. 274 sTSTEMAs DE crtTCJRA, — A^^ridiltura noniada ou pasloril — romana , ou dos poiisios — d'alterna^ues ou dos afTolbaiueiil-is — divisrio tie Gn^pariii — syslemas physicos — aiidri. pliystcos — undroctycus (com|»rehe[ideiido os syslemas llurealal . de piislos , ctdlico , das innndiirues teraponirias , puuzitis , cidtnras coulinuas e dos eslrunies , quiif exleriores, qtiur produziilus) = syslemas inlensivo eexleiisi\u dus Allemiles = tlicuri:i ilos nlTulliameiilcis — liiversas n|iinioes du Kasjiail — Liflu^ — De-C.iiiilul|f , Gasparin e niilros — leis dus alToJi.imcalos — • utiluhnlfs d'este syslcma — ciiudiruHS ipie modificaiu osgiros qjiiiilo ao lUUHtTti lit* aiinos u t;sci)llia de plaiilas GEiKiKAtMiiA A(iitic<>L\. — . N.tluralisu^'uu dos ve:;elaf8 — considcra^Ses gcrafs — dineieii(;a eiitre Emluralisa(;."nj e aclimaiarao — ni«tdiiii*a(;oes na a|iplicat;ao das leia da !:eoi;rapIua Ix.liinica a ;:eu.ira|diia aL'ricolu — tliruria das naluralisaroes — meios para consepiir a naturalisai^ao e pernuilatjau das plaiilas dus d i versos pa izes — ei-lufas — dilTerentes esppcies quanlo ao fiiu e leinptTHlnra — con- ili^oes essLMU'iacs na sua conslrncc;rip — UH'ios de elevar a tenipi'ralnra — fernienliirao da casca do carvallio — calurifcrus dear c de vapor — Iractamenlo das pUuilas nas estuCas. LAVOUKv (AKVicL'LTt;n v). — Constderagoes geraes — sement-'ira — lavort-s d'eiUretcuimentu — rej;as — cuihfi- ta — L'puclia — operarut'S^ceifa — exlraccao — trans])or- te — (J-liu!lia — liinpa. = Coiiscr\at;uo das colheitas — armazenai^em — nii-'das — ordinarias — lu^lezas — Ame- ricanaa — HoUandczas. ■ — Cellijiros — cundi';6es — ordi- naries— d« Sinclair — Siros — Condi(;oes — sublerraneos — E2;ipcio3 — Romanes — Hii;i;raro3 — do Lasleyrie — Lncrolx,etc. aereus. — Culhiras especiaes. — Cereaes ^ leguminosas de semerites farinaceas — raizes — forragens — pastos prados natnraes e arliflciaes — oiea2;inosas — texteis ou filameutosas — aroniatiras — lincloriaes. HORTAs (itoiiTicfLTUKA). — No^ocs prelifflinares — operaroes ceraes de cultura — escollia — prepara^ao e melhoranienlo do terreno — exposi^-rto eabri3:us — semeo- teiras — lavores de enlretenimenlo — saclias — montlas — arrendas — cuidados as plaiitas — prutoc^ao — desbasle — planta^ao^re^as — -coiheilas econserva^ao dassementes. Culturas especiaes^cuUuras aaturaes — cuUuras for- ^adas. ARVORES E ARBUSTOs (arboricultur a). — Rci^raa geraes — sementeiraa — Irausplantat^ao — niultipHca^iio por mergulhia — oslaca , e eoxtrlia — enxetto tie eu- costo — de racha — de cor6a — d'escudo — de flauta — jnglez ou de copnlatjao — herhaceo -7- poda — moleslias e accideiites — itebilidade — vi(;o on plfclura — caria -^ cancro — i;omraa lepra — arroxeatio — niorilhau — feri- das — planlas pariisitas — inseetos nocivus etc. VER(iEIS E rOMAHCS (pUMICULTURA OU PuMOLOOIA). — Nalnreza epreparaerio do solo — exposii^ao — diiua — pIanta(;ao — poita — dilTererdes especies de puda — puda dc Montrenil — lie leqne — palmar uu de Fursylh — fru- ctifica^ao e colheila — couservai;ao dos (ruclus. = Cul- turas especiaes. MATAs E FLORESTAS (siLTici'LTUR a) , — Considera<;oe8 Jjeracs — \anlap:fiia das florestas em Ires relaro'-s , terre- no, clima e productus — escolha e preparacSo do ter- reno— arroleaniento — es^olo de paulanus — sementcira — condi^ijes — escniha das eSsencias — bundarle das ae- □lentes — qnanlidade — epucha etc. ^ planla^oes — con- di^oes — iliversos moiios de planla^ao — amaiduis diver- sos — desUaste — curie — conserva(;iio e manulen(;aii dos bosques — npplica(;oes — avalia(;ao das matas — diffe- renles meios — inslrumentos para conhecer a allura dai arvores. = Culturas especiaes. PATSAGKM. — NotjO'.s ^eraes — corpos de arvoredo — lapiiraes — rnaa <(e jardins — avenidas e eslradas — piano de urn jardira de paysagem — amanhos — dectite — tosquia. JARDi.\s (FLORicuLTraA). — Abrlgos- — cercas— -ta- piimes — sebes vivas e niortas — eslufas — uteusilios — instrumentos e machinaa de jardinnijem — escolha e pre- parariio do terreno — divisau e piano de um jardim — amanhos cunimuns as planlas de recreio, =^ Culturas especiaes. ECOsoMiA RURAL. — Inlroduc^iiO — divisues — 1.* administra^HO rural — 2.^ criat^So dos animaes douiestt- cos — 3.* industria agricola (artes agricolas). 1." oniSAO. — AJminislrn^ao rural. — O'jfclo — necessidade — vanlai^eiis — elenientos da pri»iliir);r»o — Iruballio — capital — terra — lalento — ipie conipri'tieudeni 1." — cliefe do cstabelecimeuto 2.° — a proprii-dude rural — pmcnra — avaliariln — acqiiisir'io — urgaiiija- 9ao — e admiuistraijilo da proprirdaile rural. Cliefe do e*tal»eleciuuMilo — coudir^iies cssenciaes n'elle — l.** fnu'liis indnslriaf-s , uu capitaes inimateriaus — ins- truivilu n;,'rJcola — dilTercides modus dc eufinar a airricnUur.i — Ires sytfleinas d'ensino — ilispusiroes pessoaes — 2.** fuii- dos pnidiulnus , ou capital's nialeriae* — proprios , ou lie creilito — bancos jtjrrii-uias — eM-elleiifia dos baocos escucezes de circula^rm , depi'silo e creilito. iiA i'iioPitii-:DADi: Ht'UAL. — Escolltii flnproprietlade- — Condii;Cles trt-raes — estado physicu , politico , adnunislra- tivu , economico e industrial do paiz — condi(;oes cepc- ci.tes — est.ido actual, pr»'(;o etc. AmliuqCio da propricdade rural. — Dous syslemns — 1." tiislonco oil Iradiciunal — av;tlia(;ao em jrlobo — pelod inijiosbis — [)elo8 arrrndanienliis — p;irrel|.ir — pelaa co- llicitas nu'dias , e de>pesis — 2.** syslenia racional — systema tie Timer , Wo^'bl , c Kreyssiir — avaliai;ao da produc(;ao vegetal, animal e fabricas agricolas — uva- lia(;nii d(is hens de raiz e movcis. yic(/uisi^(io (fa priipriedndt rtirnL — Evarat^ da oritr»*in e natmeza da propned.ide, e rori'liro.-s corn que possa eslar oiierada — medicao — limites — cadasiro — conlra- cto — cumli^oes e formalidades — exploraerio pelo aduii- nislrador e pelo reniieiro — arrendameido por metmls dos fruclos — ordiiiario — i:oadi(;oes e clausnlas diver»as do Hrrendauieiilo — furniiilas — difToreiites especies de arriMidameiitt) , como o eiupliileulico e oiilros. Orgnntsa^iio da propricdudc rural. — Escollia do systema de ciiltiira — di\ersos servi^os — 1," servi^o di>s capitaes — capital deacqni8i9rio e de granijeio — D\o on move! — avaliat;uo dos capilaes — 2.° servi^u pessoal — chefe do estabelecimento e ajiidantes — qnalidiules — uumero — condiroea do ajiiale — joriialeiros — apreudizes — 3.** ser- vi^-o da proprietlmle — extensrio — mellmramentos — principios econoniicos — calenlo — operat^oes topopra- phicas — agrimeiisura — nivelamento — piano de cami- nhos, canaes etc. — carta topograpliica — piano de me. Ihoramentos — conslruc{;rn!S rtiraes — condi^i5es cerat-s como localidade , siIuat;rio, forma etc.- — divisiio — casa de hal)itii^!io, de alojiimento dos domeslicus , de arre- cadaijao e manufacluras — exeinplos e modelos das di- versas cunstnic^jes — re^ras practic.ts p-ira a construe- ^ri.i — 4." servi(;o dos animaes de Irab.ilho — composifjSo dus Irens — lral)aIho dos animaes e despesas — quanlida- de , qualidade e brevidade do trahallio — forija e numero dos treiis — 5." si'rvi^o da mobiliu — 4 cateiiorias — fer- ramenlas {oniis) de mao — instrumentos de cultura — de lavru — de pulverisa^ao , atenuacao e dfsloca^'io do suto — "de aeineiiteira , de amanhos, de collieita e estrumes — machinas de IrahaUiar » limpar , moerdc — Utensilios ^escollia dos apparelhos agricolHS — ecuuomia de fur<;a — brevidacle do traballio — perfei^ao — simples na c.iii«- tr>iC(;ao — fortes etc. — composi^ao da mubilia — fi." servi^o dos animaes ilerenda — especies — numerns — fin» — meios de avalii^ao e de vantagem da prudueelo animal — 7.° servi^o d'ebtruines — consiimmo e prodiir(;aod'elIes — 8 " servi^os diversos — de semeiiles — de combiistivel e oulroB. Jdtiuniilrn^flo da propriedade. — I." Direc(;ao geral — direccao ecunomica e admini>Irativa dos objeclos im- moveis — dos moveis — das (»pera(;oes agricoIas —do pessoal — 2 " escollia de um systema de trahalhos a;;ri- colas — 3° traballios agricolas e avaliacjao — 4.° lucros e rendas — vendas e compras — 5." conlal'ilidade , van- tagem e necessidade — methodos de contabilidade — partidas singelas — dobradas — mixlas — invenlario — redac(;ao e lim de um jornal , on livro de razao — livrti de caixa — livros especiaes de conlas de cultura, de or- dem , de cootas correntes, 2* iJivisAO. — Criagdo dos nnimnpa domestt'cosfZoo- tfchnia,) — Classes — orden:* — especies dos atiimaen domehticor* — iitilldades — trabalho , producto, estrumes — economia do gado — hygiene, multiplica^ao e cria9io =:hy£riene =re8pirai;ilo — nutri^ao — subslancias alinien- tares — aceio — temperatnra — exercicio = mitltipIica93o — ra(;a — oielboramcnlo por meio de ra^as eatranhas — 275 rrusimenio — nielhoria das do pais — c:raodeza ou taihe «1a ra^a — qualidade dos animaes reprodtictorea — idade niai3 convenienle — regras a observar — gesla^ao e parto =:cria^rio = tres periodos — castra^iio — ceva — cundi- ^'oes e circiinistanciafl para bem cevar 09 animaes. Cuneidera^Sea especiaea retalivag a cada especie de gado. 3.* DivisAO. — Ttidnstrin agricola fartes agrifolaa). — Fahrico do^i difT-Tcnles pruduclos a2;ricoIiis — prudu- cliis animaes — uiel — lacliiMiijus — leite — mnnli'i::;i — qijeij') = prodiii-los vet'tlaes — furiniia era<;oes dus clinmiisL-us do pello — cylindru quente — forno com abol-ada de fcrro — appart-'lho do hydrogenio com aspirn(;ao — a alcuhol — teceiagem da la cardada — caiil*-llas e reipiisilus — operai^oes subseqiieii- les — api^oar — macliiiias de piloes e de mallios — frisar — '(osantc. — lustrar pela preiisa — teceiagem da seda — •■flofos — particularidades respecli\as aos \eludos , seliiis , fitaa e gaz;is. =::=Te(;idus ih' mallia — t^ar de meias — 'le cordues — Glas — applicacao as dilTerentes materias primal — rendas — filos — blonds — bobiueles. •J. 5," Tccidos im|)ermeaveis — oleadoe — encerados — tapetea encerados — stores transparenles — dissol u^ao da gomma elaslica e applica^ao aos laTetas gommados elaslicus — lecidos duplos ■ — sondas — tecidos elaaticos de fios de gomma elaslica. «J. 6." Coiiros — cortume — difTerentes processes per acnles chimicas e raechanicas — officina— instrumentoa e machinas — opera^Oes — lavagem — depilacauelc. — pro- cesso de Vauqueliii — moagem da casca decarvalho — ciJiir.ts da Russia — da Hnngria — Pergaminlio, i^i''itEssA(.. — ^S. ].« Papel — processo ordinario — operai;r)ps — lixiviacao — cscolha — lavagem — moagera — braiiqtieamenlo — fabrico — colagem etc. — machinas de papel conliriuo — dilTereiites materias primas para «i papel — din'erenles especies de papel — cartao — carto- nagens. tf. 2." Typograpiiia — processo lypographico — opera- ^oes e mslrumenlos — prensas a Stanhope — uiecliaujcaa — sleriolipagem — pulyli|ingem. •J. 3.° Gravura em m.»deira — cobre — 390 — vidro — prucessos , instrumenlos e siibstancias. ^. 4.° Lytographia — processes e substancins — nleo- silios e instrunientos — aulographia. CALoJtii'icArAo n itLiHKNArio, — ^.° ] ." — Carbonisa- ^ao — dilTerenles processes — carvao vegetal — animal e mineral — algiimas appiicacoes do carvao — filtnig. ^.^e." — Apparellios pyrotecliiiiros — machinas snfllantes — fullcs — cylindros — lrombas= chamines=: fo?oe3 = caloriferos aar, agua e vapor:^ fornos evajioralorios , de calcinar , de fundir e reduzir. ^.° 3.° — Substancias proprias para a iilnmlna^Jlo — fiolidas — liqiiidas — gazosas = apj)areIhos — lampadas ordinarias — dt; Davy — d'Argand — mechanicasde Carcel — de Gagneau — hydroslaticas de Girard — de Tilorier — appareltins de ittumina^ao a gaz — p'jrifica(;uo do gaz — apparelho de Darcel — apparelhos de gaz portalil — flpplicaijoes da illumina(;ao — Faroes de Bordier e de Fresnell. MATERIAS COLOR ANTES — PINTL'RA. CofeS VejelaftS animaes — mineraes — meios de extrac^ao mechanicos e chimiciis — pintura— vemizes. TI.\TrRARIAS — M0RDE^TES ESTAMPARIAS. Con- sidera(;ois geraes sobre analureza das materias tincloriaes -— nmrdenles — alumeu — acelato de alumina — clilororeto de estanho — saes rie ferro — descrip(;;au das ofGcinas — divisoes — inslrumcntos — Unas — fornos — fogoes — a vapor — cnchugailures— esliifas— agnas — roml)Usliveis = applicagiiii aos dilTerentes tecidus — eslamparias — chila* — ca(;as — jiapeis pintados — aveludados , etc. — machinas — instriimeiitos — officinas. I iTRiF(f:Af;r"n:s. — Loiic;a — porcellana — composi^So — (rtbrico e propriedades das massas cerauiicas — forntas -^ modelaij.Mi — colora9riu — vemizes — materias coloranles — o\idus — ocres — lustres luelallicus — metacs — coc^ao — instrumenlos — fornos = clatsifiracao — 1." terras cosidus — 2." luucas ct'mmous — 3° faian»;a commum , ou italiana — 4.° fina, ou in^leza — 5." gres ceraniicos . ou Iiiui;as de gies — H.** porcellanas c!oras on chinezas — 7." porcellauas tenras ou franct-zas ^esuiall'* — \idro3— cbris- tacs. coNSTRucrofis. — Caiiaes — eclusas ^sinr) de mcrgu. Ihadores — dramas — eslradas — Cfimirilios de ferro — di(pies -^ pontes de madeira — de pedra — de ferro — su»pt*nsas — giraiilt-s. MACHINAS f)M RRSAS. — Macliinas de percus&ao — de pressao — de di\ t-ao de substancias — de gaslar as superficies — de relipjoaria — de eleiar a L,2.i\d — de vapor. COSTUMES AMERICANOS. ' Existe em New-York e em toda a America iiigieza Dili uso miiito agradavel : os esLran- geiros sfio recebido? corijo pencionistas no inlerior de familias, as mais das vezes mui respeilaveis e abastadas. Por iiina modesta * Extraliilio d'llnia ^iagein a America pubHc«da eni 18 J3 por M. E. Joine. 276 reSribuifHo e com boas informa^ncs , iiin gentleman e admitlido n'estas /"iii/i/((/-/(Ouscs, oiide enconlra a luainr inlimidade, e e con- siderado coiiio iii('iiil)ro da faiiiilia. [nclusiva- nioiilo as iiR'iiiiins da casa tiatain-no sein vi>lii[iibie de cfririionia i; coin fainiliaridade 1'ratcriial. A cilada, poiein , esUi irmilas vczcs dcbaixo dc tloics. Se iiao limiviT loda a ro>crva amcTicana, se iiin fiancei com sua aiiiablli- dade , com as idi'as de galanleria dijeitam-llie a discn^Ho e reserva a rudes provas. Of- ferecem-lbe o bra^o no passeio, e ate o recel)ein no seu quarto, sem que disso se murmiire. Os dous esposos tern direilo de se escreverem cousas lernissimas , e em dia de S. Valentim, festivo para os amantes, o esposo cnvia ao olijecto de sens peusainenlos uma epistola em verso , em papcl de tarja dourada, com elegantes vinhetas , eprincipal- mente com avullados coracnes em cliammas e traspassados de settas. So os e>posos tem direito de offerecer este tribulo annual de lernura. Ha mnilo quem empregue lal processo para enternecer o cora(;ao das iiiliumanas. Alguns niandam pelo ccir'eio uma ou duas duzias de cartas a oulras tanlas bell.is lierdeiras. Semeam amor nos coracnes para collier dnltars. Entre tantns d'aqurllas inge- nliosas sementes, so por inui'a infelicidade se n;1o consegue que alguma gormine e pro- duza fructo. Passado o longo noviriado matrimonial, se o esposo e bello , amavel , expcrlo, engra- gado, bravo e liabil negociai.-te, a esposa consente em inclinar-llie acerviz; mas des- .gra(;ado delle, se no tempo da provajao, ma- iiifesta alguma fraqueza , algum defeito; porque entao lem ella o direilo de o volar ao desprezo, no entanto que o pobre gcnlle- iiian, embora llie descubra grandes vicios redlilbitorios , nao pode gosar da mesriia vantagein, e lia de recebel-a sob pena de gale's e execrayao publica. Os jornaes narram com cores feias a breach of promise-, a qiiebra da promessa do misero grillieta. Os paes de familia fulininam-o ; os juizes cnndemnam-o ao maxiuntm e a tnais; as mullieres dao-IIie o tractamento de rascal. Se acaso o criminoso e francez e ainda em cima catliolico, lornam-se plireneticos ; o 9.11 hediondo celibatario e classificado enlre os roplis mais venenosos e horrendos, enlre as serpentes cascaveis e os crocodillos. Alii estii de que serve aos francezes a malaventiirada repulacj-fio de galanteadores. Devemos Indavia i'azer justica, e d'acordo rom a opiniHo i^c- lal, coiivimos em que as aiiiericanas sfio excelleiUes iiiaes de f'amilia. Sao ifio subrnis- s.as a sens njaridos, quanlo eraiii livres antes de casada-i, sao dedicadas e cuidadnsas, e viveni miii reliradas no interior de suas casas. N'um paiz I'lo vasto e pouco povoado , facil 0 do comprclieiider esle fanati.-ino ma- trimonial. Uii) liomem casado fjoza do lanla estima, olisequios c previles^ios quanto e' vilipendlado sendo solteiro. E mister que e»te tenha iima alma miii negra e o peccado bem apgarrado aocorpopara poder reMslir a conjiiragao geral. Ale oi padres se inlromcl- tem nbouri, Mississipi , e nas Floridas. lim cada (ima d'estas terras linlia mnlher e lilhos, de maneira que em snas numerosas missoes gosava a commodidade de estar sempre com familia. Um dia , um de sens cunliados de Missouri, honiem dc mans figados, encontra-o a pregar mui de- votacnente a penitencia aos peccadores arre- pendidos. Acabado o sermao, comprimen- tava o padre e dava-iiie noticias de sua inuliier de Missouri, a Esta erjuivocado ^e- nbor, « llie diz um sujeilo do Missrssipi , que alii e.--tava, a o reverendo e casado no meu condudo com a fillia de men visinlin Saunderson, « A tiamoia ejtava em parte de^fiada. O liomem queria logo alii malar o sen cliaro cunliado ; mas conseguiram persua- dir-llie tpie era n)ellior entregal-o ajusti^'a para ser eiilorcado. Passiira apenas um mez (pie o polyganjo eslava preso e que sua lii^toria andava nos jornaes , quando chegavam enlileiradas suas aeis mnlliere-i com os irmaos, e os paes e os primos, todos dispostos a rir no supplicio do padre; elle porem soul)e-os lograr: escapou- se da piijfio e fugju para a California, onde agora esta babilitado para casar com uina septima mullier. Cunliniui. SONETO A LlilZ DE CAMOES. Tti qite do Povo-heroe , do Lusitano , Alias jic(;Ol's caiituisl^ stmoroso ; D'Jgnez it case trisle e lacrimoso , Dom Pedro vin;;alivo , e o Pae t/ranno: Tu que as iras crueis do prSo Thebauo , E u Adaiiiastor canUste jiaM'Toso , De Venus linda o reino deleiloso , £ aos Nautas do porvir rasgado o arcano : To , que no exlremo arranco araarpurado , Da palria , patria ingriita , s:i'mPbundo , Carpiste a siijei<;ao , churaste o fado : C;im5e9 , prande Cami^es , ijenio profiindo, Nubre cantor do Gama sublmmdo , Es de Lisia o brazSo , pasuio do muodo. F. AS MEZAS r.YRANTES, CONSIDEBADAS NAS SI AS BEI.ACUES COM A MICANICA E COM A pnrSIOLOGIA. Conlinuado de pa";. 264. Todos 03 movin)cntos niuscnlares sao de- terminados nos corpos por alavancas da ter- ceira especie, nas quaes o ponto de apoio (ica vizinho do da applica^.'io da f'or9a, a qual, por conseguinte, por pequeno , cami- nl)o que percorra, imprime grande veloci- dade as partes que se movem. Para tornar mais claro isto que dizemos, estendamos o lirajo, e procuremos depois dobral-o. Os ossos do bra^o e do antebra(;o lem o seu ponto de apoio no cntovelo. Osdois fortes musculos i|ue guarnecem os l)ra50s de ambos os lados do cotovelo contra[iem-se e puxam de urna e oulra parte pelo tendao, que passa muito proximo do mesnto cotovelo, isto e, do pon- to de apoio. Rejiilla d'aqui que um pequeno movimento d'este tendiio vai produzir na mao, que Ilea na extremidade do brago respectivo, um movimento muito forte e muito rapido; e cumprenotar, que o mo- mento eiii que sedctermina este movimento, e exaclameute aqueile em que tem mais energia e velocidade. Ne-se momento as acgoes do musculo e do tendfio acliaiD-se nas ciicumsLancias mais favoraveis. O brago par- te |)oi, com grandissima velocidade, a qual e tauto maior, quanto mais perto fica do mo- vimento de impulsao; d'onde se concliie, que se considerarmos os primeiros impulsos d'lim tremor nervoso doi orgfios , nao e pos- sivel marcar limites a velncidade destes pri- meiros movinienlos organicos, sejam elle>, ou nao sejam , sen^iveis aos operadores. Por miUiares de exemplos podorn ser escla- recidos esles dados da mecanica dos orgaos. Comegando pelos presligiadores , vuigarmen- te chamados pellotiquciros, a sua arte con- siste em embair as vislas dns espectadores com ligeirezas de maos tao rapidas, cpie nao pos- sam ser percebidas. 'J'odos esles movimentos tem uma pequena extensao : 03 copos em que se faz o passe maravilhoso , quasi que se locam, e o movimento vagaroso de uma das maps encobre a falcalrua rapida da outra. £ sabido, que na arte de esgrima sao mais 278 de recear os pequenos movimentos, e que o jogador que se conserva coberto, nao per- mlttiiulo que a inao que empunlia a espada fa(,'a seiuio pequonas excursoes , tem luiia vaiitapNii iininensa. No que se cbaiua forte e frnco da ainia, tiao e somenle a diitatu-ia a guarda-uiao que intlue, mas e [jreci^o ain- da ter em coiila se a anna pslii no sou ponto de pallida, ou se leiu andado ja unia parte do cnuiinlio que tem de peixorrer. Proxiuia ao ponto de partiJa, a sua acjfio e quasi irresistivel. O inesmo aconlece nas corridas a pe : para serem rapidas devem execiitar-se por lueio de passns mui curtos e muito cerrados. — Mas, dir-se-lia, se em vez do passo ser de 60 a 80 ceutimetros, for apenas de 30 cen- timetros, como e que a velocidade pode ser raaior ? Sel-o-lia, por que em vez de dar urn passo muito comprido, dar-se-li'io quatro ou cinco pequenos, que farao um total mais vantajoso. Debaixo d'esle aspecto direnios, que as duas lindas statuas antigas de Hip- pomenc e de^talantc, que se podem ver nas Tullierius , parecem correr com mais ele- gancia do que rapidez. As suas attitudes aecusam saltos muito alongados , e por isso pouco rapidos. A rapariga selvagem , de que tanlo se occupou a Fjanga no seculo passa- do , corria com grande velocidade, dando passos muito curtos. Se a pequenez do passo sejunctar uma attitude fortemente inclina- da, que permitta aos membros inferiores comprirnir-se para logo irapeliirem o corpo para diante, ter-se-lia as condigoes mais van- tajosas para a celeridade, embora nao o se- jam para elegancia das corridas. Comparem- se tarabetn as danjas espanbolas, em que o dansarino dansn rapidnmente sobre si mesmo, com as dansas comparativamente pouco aiii- madas da opera fraiiceza. Para ulliaio exein- plo, o famoso cavailo \ng\ez Eclipse , que ate lioje nao tern encontrado rival, e que corria por minuto uma mitlia rngle%a (1610 me- tros) , gaiopava seen graga , com a cabega baixa e quasi inellida entre as maos, com o corpo muito inclinado, e dando saltos cur- tos, mas tao rapidos, que andava por hora vinte e cinco legoas de quatro kilouietros cada uma : o que excede de ametade da velocidade de um furacao Na clinica njedica observa-se um grande numero de factos analogos. Um doente, ata- cado de um tremor nervoso, quebrava as guardas da carna com opunho, quando a crise o surpreliendia tendo o brago em con- tacto contra este obstaculo; uma senliora ja vellia, em caso idcntico, enlerrava a extre- midade dos dedos pelas carnes dentro ; e as pessoas que sao sujeitas a bater o queixo , em consequencia de accidentes nervosos , chegam tnuitas vezes a quebrar os denies uns contra os outros em virtude desses pri- meiros movimentos, tao pequenos, tao pou- co e.xtensos, tilo involuntarios, mas tao po- derosos. Por ultimo ja vimos um soldado moribundo, em consequencia de um tetano traumatico, com a ponta do pe atirar con) uma taboa , que rodeava um laiiquc gelado em que havia caliido, e na sua agonia ner- vosa I'azer cstalar a lai)oa com ruido espan- lOsO. Aiguns annos alraz loi a atten(;ao publiea excitada em Paris, pelas Caculdades sobre- naturaes, e entfiochamadas electricas de uma rapariga da classe operaria, de uui aspecto exterior o mais repugnante e eslupido, mas que, segundo se dizia , operava tnuitos pro- digies. Deu isto logar a apreseula(;ao de uma miiuoria a academia daS sciencias, desgragadauiente accessivel a toda? as per- teiuoes de observadores eslranhos. Uma com- niiss.'io, de que I'aziamos parte, foi nomeada para verifjcar os perteiididos inilagres. Escu- sado sera dizer que nenlium delles se repro- duziu , apcsar da boa voiitade dos membros da couunissao, que eslavam condoidos da boa te dos paes e ainigos que a linliam tra- zido a Paris com plena seguraiija, e que julgaram poder aproveilar-se , como objecto de especuiajiio , de suas virtudes sobrenatu- raes. No meio dos prodigies que n.'io opera- va , descobriu-se unicamenle um effeito mui- to natural da. priiiicira destensdo dos mus- culos , que em subido grau se tornava cu- rio^a. Esta rapariga baixa, grossa, e a quem apropriadamente se tiiilia dado o nome de trcmelf^a, — tendo-se priuieiro asseutado n'u- ma cadena e levantando-se depois com mui- to vagar — , tinha a I'aculdade , no meio dos movimentos que empregava para erguer-se, de atirar para Iraz , com uma velocidade terrivel , com a cadeira quedeixava . sein que fosse possivel desciibrir niovimenlo algum que desse com o corpo, e so pela simples desten- sao do mulculo quedeixava a cadeira. N'uma das sessoes d'exame no gabinele de physica do jardim das plantas, muilas cadeiras do ani- phitheatro ibram aliradas contra as paredes e se quebraram. Uma segunda cadeira, que tinhamos collocado por precau(;ao atraz d"a- quella em que estava senlada a rapariga eleclrica, para em caso de necessidade ga- ranlir duas pessoas que conversavam no fun- do da salla, foi arrastada pela cadeira nti- rada , e nao obstou a que os dois sabios fos- sem advertidos da sua distracgfio n'um d parte. Por fim muitos dos creados emprega- dos no jardim das plantas, consegulram , ainda que meuos brilliantemenle , fazer esta liabilidade de mecanica organica. Quem qui- zer fazer uma idea d'este jogo de musculos por um effeito analogo , nao tem mais do que apertar ligeiramente na parte mais gros- sa, o brago de uma pessoa, que muilas vezes seguidas faz acgao de fechar o punlio: sentir-se-lia logo a elevagao do musculo , e reconheccr-se-ha o movimento que poderia resultar, se fosse muito rapida a mudanga de forma. Continua. 279 ESTADO ACTUAL DA OPTICA BM RELA^AO A c6r DOS CORPOS. (Conlinuado de paj, 841). Sabe-se que E. Becquerel , por via de pro- cesses plinlograpliicos , co^^eguul Ira^ar as linlias fixas do especiro invi»ivel, analogas as do especlro visivel dcacobertas por Fraii- enhofer. Pois iia expeiiencia de Stokes as Tiiesrnas listas de cor violela e do especlto chiinico se apreseiUaraiii , iiUerrorupeiido o espago azul por pianos obscuros que se pro- jectavani seguTido simples linhas em cerlas direcgoes. rsasfirciiEHslancias inais favoraveis Stokes reconliecia tres listas aiiida inais di- stanles do que a ultuiia do espectro dese- iiliado por Becquerel. Ha pouco descobriu o pliysico iiiglez , rnediante urn prisma, que a luz azul dis- persada , de que fallauios, iiao e liomo- genea , inas formada de raios iiieiios ret'ran- gentes do que o raio incideate que llie deu origem ; de sorle que da coloragao ou dispersao inlerna da luz resulta dimiuuir a refrarigibilidade desta luz, nao so a da que provem do espectro visivel, mas ate a dos raios que pertencem ao espectro invisivel , com tanlo (|ue a ref'rangibilidade dos raios assim dispersados, nfio ultrapasse os limites de refrarigibilidade do espectro visivel. Por outra , OS raios do espectro invisivel, que sao assim dispersados, toruam-se azues , e por cou- sequencia visiveis. Comprehende-se agora porque Stokes in- titulou sua memoria — Changement dercfran- gibiUti de la lumicre Nem sempre ibi eii- tcndido o sentido de suas expressoes, nem as cir<:umstaiicias em que elle operou , nem as deducgoes que tirou de suas experiencias. A palavra fluorcacencia com que designa o acto da dispers.'io da luz, ou poder dispersivo do corpo que a causa, illudiu alguns leilores, corno por exemplo, Moser de Kccnigsberg , que repetiu e verificou estasobservagoes , e fez esforjos para demonstrar que o phenomeno de que se Irala nao o devido a phos- ■jihorescencia. Stokes inostrou que o phenomeno nao pro- vem da reflexao das particulas solidas , que fluctuam na dissolug.'io , separando o producto dessa reflexao denominada por elle dispersao interior falsa , para a dislinguir da dispersao interior verdadeira ou independenle da relle- x.TO. Poder-se-hia suppor , todavia , que a luz azul , dispersada interiormente , esia niisturada com luz natural, retlectida pela parede do vaso ; poreui a segunda memoria , cuja analyse se encontra em o n.° 31 da Revue de I'lns- tructio7i Publique de 1853, remove esta dilTiculdade. Alii achamos mencionados dous meios absorventes : um cliamado pn'nc//)a/, que detem os raios do espectro visivel; oulro denominado complementar , que detem os raios do espectro invisivel ; e per detraz destes so ex isle o negro absoluto: interposto enlre estes dous meios um corpo siisceplivcl de mudar a refrangibilidade da luz, e consi- derando-o atravez do scgundo meio, devemos ver o corpo, porque recebe os raios chimicos que o pnmeiro absorveiite dcixa passar , e dispersa iima parte desscs raios invisiveis, dimimiiiidti-lhes a refrangibilidade, e lor- iiando OS vi^iveis e capazes de passar pcio segundo absorveiite ; no eiilaiito que collocando o corpo cntre o ollio e os dous absorventes postos umaolado do oulro, ja o nfio veremos , porque pelos meios nao passara luz alguma para o corpo. 1'udo isto e maravillioso : na llieoria da cmiss.'io fora mister admitlir (]ue as moleculas de luz, atrnvessando um liquido, podeiii mudar de cur; na theoria das ondulagoes, e forgoso suppor que uina onda pi'ide mudar deexteiisao; liypollieses egualmente absurdas; no systema cliimico, explica-se ci facto, sup- pondo que um atomo cur de violela dcsloca, de suacombinagao com o liquido , um atomo azul, o prinieiro fixando-se, e o segundo erradiando depois que fica livre. Da mesma sorte um atomo escuro desloca um atomo lumi- noso , sendo o contrario o que ordinaria- mente succede, isto e, os corpos extingueni quasi sempre os raios luminosos, para por em liberdade os raios cliimicos ; e verificar a emissSo destes e na verdado um objectodigno de ser estudado. Dos liquidos que produzem a dispersao in- terna com mais intensidade, faz Stokes es- pecial mcn(;ao do decoclo de casca de casta- nheiro da India , do extracto alcoolico de datura stramonium, da linlura fraca de curcuma, e da tintura de ruiva em uma solugao de alumen ; mas nestes varia nfio so a cor da luz dispersada , mas tanibem a por- <;ilo do espectro oiide a dispersao coineja. Tem-se nolado que adissolugfio alcoolica da materia verde das plantas dispersa uma uiagiiifica cor rubra , que comega logo pela lista b, e acaba um pouco alem do espectro visivel. F'ormando um espectro linear, e dispondo nelle differentes corpos solidos observados rnediante um prisma, achou-se que a mor parte das substancias organisadas , pau, papel, panno, coiro, etc., produzem uma dispersao de luz. O mosmo succede com OS papeis embebidos degyrasol , de curcuma, de sulfato de quinino etc. lisle plienomeno , porein rara vez se apresenla empregando corpos inorganicos, e lia casi1idado , que doveiii ser collocados miiito aleiii do liiiiite oxlreinn assigiiado ao ospeclro iliidiico. Riles raios sao iiilerceptados pelo vidro, tnas Iransmittidos pcio qiiarUo. Os raios d'uiiia faisca cleclrica , que provoca a pliospliorcscenciii d'um plio>piioro de CanlSo , passain tao livreuiente pcloquarlzo como pela iijiua , Mias sao iiUeiceplados logo quo se junta aoliquido uiiia pequena quanlidade de suir.ilo dc quinino. ORIGEM DOS Z1GUEZ\GUES DOS RAIOS. As experiencias especiac-i com que se pre- toiide explicar o plieiioincno ein questao svjp- ]>oeni o conlieciinento d'outras, que roiiie^-a- leiiios por sutciiitarneiite referir. Por tiieio do appareilio d'inducc^ao de llliuiukoilV, as faiscas da correnle iiiducta podeui produzir-se a distancia, ja oppondo uina a outra as duas cxlieuiidades do fio in- ducto; jd piovocaudo-as por interuiedio d'um corpo conductor estraulio ao circuito indu- cto, mas n'esle case a reacijao eleclrica e inluiitaniente menos energica n'um dos polos (|Uft no outro. As faiacas assim provocadas produzem-se em distancia taiilo iiiaior, quanto forem me- nos frequenles as inlerrup^oes da correnle iuduclora, de sorte que para as obter com toda a sua energia, o uieilior mcio e inter- romper com a iiiao a corrente inductora. Aleui d'isto empregando, como meios provo- cadores das f.iiscas, dous fios de ferro muito delgados enroscados a roda de tios metis gros- sos do inesmo melai , um dos fios torna-ve rubro na exlreinidade e queiina, e o oulro nao boffie apparenleuieule eleva^fio alguma de teinperatura. Taes >iui , segundo as exp'> riencias.de Quel, Rliumkorff e Despretz sobre a luz csUalificada produzida noovo phliosophico ' OS etYeitosconliPcidos do singular plienoinono da faisca p<>r inducg.io. Uma nova bene d'observa',-6es feilas por Moncel para analyaar o qup aconlece quando a faisca pa-sa a travez dos corpos d'un a conduclibdidade inferior, deu os seguinlos resultados assaz iniportantes. Solire um livro encadcrnado com as loni- badas e ornalos dourados, applicando aos dous ponlos niais distaiiles d'este conjuncio de dourailuras as duas exlremidades do fio inducto, a suinlilla passaalravez de lodas as douraduras, edesenlia em raios de fogo todos OS ornato? em que o ouro Cala applicado. Fazendo-se a mesma experiencia sobre um trago de p6 metallico , de limallia de cobre, por exemplo, a I'aisca passa de grao a grao * Da-se o nome tie livo phihsophico a um ellipsoiile de vidro, uccoe vasio il'ar, alrnvessado nosenlidu doeixo maiur pur duas haeleas metallicas collocadas a cer[a dtslancia umu da oidra. e descreve raios de fogo que podem exteri- der-se ale dous deciuielros de romprimento (com uiii 66 elcmcnto de Bunzel coino cle- ctro-molor). N'esta experiencia cumpre primeiro notar que a laisca nao segue em India recla , po- rem forma uma serie de ziguozagues contor- iieados em todos os sentidos como o raio , e olferece sobi^oes de continuidade em muitas partes, principalmente quando a limallia e muito miuda e constilue um contluclor de mellior conductibilidade. Rni aegundo logar, quando a faisca e produzida a pequena di- stancia da limallia, um dos polos apresenta uma luz rul)ra, que indica a fuaao das parti- culas de cobre, em quanto o outro polo parece exercer uma ac^.lo attractiva sobre a limallia , cujas particulas se agglomeram uinas as outraa e formam passados alguns instantes uma poupa, que pole ter dous a Ires centimetros de comprimenlo, se o fio se levanla com precaugao. Kstc plieiiomeno d'attrac(;ao existe nos dous polos, mas a(|uel- le em que apparece do modo mais sensi- vel , e precisamente o que produz a faiaca em diatancia sobre um corpo metallico isolado que se llie apresenta, islo e, o polo positivo. Finaluienle produznido a faisca electriea entre os dous polos do circuito na proximi- dade da limallia, a scintilla curva-se para passar pelo conductor inferior. Esta experiencia prova do modo mais evi- dente que os ^loueza^ucs dns raios sao devi- dos as particulas inateriaes (do vapor d agua conden^ado ou da cliiiva), que existem na atmosp'.iera no momento da deacarga , e que fonnam entre as duas electricidades desen- volvidalancia uma da outia de quasi cinco centimelros, d'um dos polos sahe um raio vertical mui pequeno de luz arioxada, e o outro polo lan^a liori- sonlulinente em diversas diiec(joes chispas estridentes em ziguezague, cuja extremidade e' d'um fogo rubro mui vivo. As oliiapas po- dem ter de comprimento dous a tres centi- metros: o reato do intervallo e aem luz, 281 HumedecPndo uma Cta de fio em siilfato de cobre dis:.olvido, ou em af;ua acidula- da, e nas dnas ponlas affastadas uma da nutra q^la^i dez cetitimetros , prodiiziiido-se a sciiililla com as duas exlremidades do cir- ciiilo iiiduclo, uma das faiscas e cor de vio- li'ta rosada, e a oulra d'um I'n^'o rubrn vi- vi^simo. lisle plionoiiieiio iiao se manifesta ii'iima fila emiii'bida em agiia piira: as fai-- cas s'io ii'esle caso ambas arroxadas ; a scin- tilla rubra salie do polo que a riao produz em dislancia coin o conductor isolado. Quando a cliamma se emprcga como con- duclor inferior inlermedio enlre as duas ex- tremidades do fio indiicto, a faisca produz- se a distancia niuilo inais consideravel ciue no ar livre, o que e facil de compreliender , porque o ar estandn extremaniente dilatado no espaijo occupado pela cliamma, e ale cerlo ponto privado de sua propriedade ito- ladora, A cliamma deve pois considerar-^e como verdadeiro conductor de condiictibili- dade inftrior j e> inlervindo em circiimslan- cias analogas as dcs outros conduclores , reproduzem-se os mesmos effeitos. A faisca provocada da parte d'um corpo metallico isolado a travez da cliamma , e com um so conductor, apenas se ve , mas ouve-se um som crepitanle, e a cliamma apparece agitada. No interior da cliamma, a faisca tern a forma d'um globo de fogo branco, ciijo nucleo central e' azulado. E de advertirque o calor modifica as con- diQoes de conduclibilidade dos diversos corpos referidos. A vela de cera , por exemplo, no eslado solido nao conduz electricidade algu- ma , mas sim no eslado defiisfio: n'este caso a fui^ca produzida pelos conductores e azul rosada, e a cera arde n'uin dos polos. A pillia pode servir lambem de conductor inferior enlre a exlracorrenle e o cireuilo induclo. Assim que, fortes correnles podem provocar-se da parte d'um vaso cm que esia agua acidulada , mas com um so dos condu- ctores do circuito induclo, variando a natu- reza d'este conductor conforme o sentido da correnle da pilba. E de notar que em diversas experiencias em que sao enipregados os liquidos como conductores iiiferiores, pode allongar-se a fdisca espalliando o liquido conductor em partes enxutas com o conductor da propria corrente. Experiencias especiaes para demonslrar que OS %iguczagues dos raios sao devidos d conduclibilidade secundaria do vapor d'ngua condemado , diffundido no ar alinosphcrico- A e.xperiencia cilnda dos raios de fogo conlorneados em lodos os senlidos quando a faisca de inducyao e produzida a Iravez da limalha rnetallica, mosira a olhos vistos o phenomeno dos ziguez'rgues dos raws ■ po- rem pode objectar-se , que nfio lia diffundida no ar atmospherico porgao de p6 conductor sufficiente para eslabclecer uma analogia positiva entre os dous plienomcnos , e que esla experiencia nao prova que o vapor d'agua , no estado vesicular ou ainda condensado, esla em circuiri'-lancias identicas a respeilo da faisca cleclrica. Moslra-se lodavia por duas esperiencias que sub^isle a analogia. Kspargindo ligeiramente uma camada d'a- gua sobre uma lamina envernizada, ou antes expondo ao vapor d'agua a fc-rver uma sujier- ficie nrio melallica , logo que a corrente por indiic^'ao for estabelecida pela inlcrrup^fio com a mao da corrente induclora, d('-col)rir- se-liao longos Iraijos de fogo que sulcarfio o vapor condensado, e que representarlio os produzidos sobre a limallia melallica, e' ver- dad" que em ponto muito mais peqiieno e de maneira mais estavel, mas em compensac^ao muito mais claramenle circiimscriplos, Por lanto o vapor d'agua condensado estd abso- lutamente no caso da limallia melallica. Falta porem saber se o vapor d'agua con- densado, diffundido no meio do ar ja humi- do , pode exercer a mesina ac(;rio que eslando isolado sobre uma placa de vidro, e no meio do ar sei;co. A idenlidade da ac(,-ao lambem se demonstra. Com effeilo tomando umvasoclieio d'agua pura, e provocando da parte d'agua a faisca electrica por meio dos dous conductores ; a faisca passara da superficie da agua aos dous conduclores, mas nao d'um ao outro, se a distancia for baslante consideravel. Ora pol- vilbando a superficie da agua com limalha melallica , os raios de fogo passarfio enlre os dous conductores a travez da limallia, eserao lanlo mais conlorneados e variados em sua circumscripijao , quanlo a dcscarga eleclriea desnu-irrejrar maior numero de pailiculas me- lullicas, e as repellir em lodos 0= seiuidos. Donde Moncel conclue que, ao vapor d'a- gua condensado e a cliuva que srmpre lia nas lempestades, sao devidos os ziguczagucs dos raios, a perf'i'^rio de sens conlorno-, e o proiongamenlo do caminho que naturalmeii- te percorrem. DOCUME.NTOS I.NEDITOS. Carta que o viso-rei 1). Juiio dp Cattra escrevett a etvei tiosso senhor o anno de -tG (ia4(>). ConlinuaJo de pai. 268. Acabada per esla maneira a peleja, Antonio de Soulo-iiiayor se passou a oulra costa do Abexiin : dalii rota batyda se veio caminlioda India, e cmlrou n'esla cidade a 21 de main. Mas a forluna nao quiz, que Antonio de Souto-mayor goza>se estas victorias; porque de sua cheguada a um mez adr^eceo de febre.f , e sem llie poderem valer fizicos . nem mei- zinlias, se passou d'esla vida peia a oulra 282 com tanianbo sentimento dos Lascarins, e povo d'esta cidadc, que foi coiiza pstranha, o pera notar : porque 03 ollios de lodos cstavao ja poslos nellc, e sua vida, esforgo, e boa dila nas rniizas da guenadavao cortas e?pe- raii^as de vitr a ser iimi marcado capitfio. Ku o fill cnlerrar no mosteiro de S. Francisco, aconipaiiliado de lodolos capiLaes, fidal;;os, e ffcnte dVsta ciilado. Sua mfii vive cm Lis- hoa , e e miiito pobro, e necessitada : foi mollier do mais lionrrado liomem que o.ive, oqueservioa v. a. neslas partes, e nas d' Africa com mais verdade ; que on beijarei as mfios a V. a. quercr-llie fai'cr alguma tiierce pera ajiida do sustenlamento de sua vida, e pera reniedio de tamaulia desconsola<;ao , como hade ter , quando soubcr a oerda de hii tal fillio. Luizde Souza , e Francisco deCraslro, ()ue fnrfio mortos das bombardadas , erao iiiui ,«:cnlis niancebos; porque alem de sereni gentis cavaleiros, erao dolados de niuitas gramas , e ral3'dades ; per onde estava certo averem de vir a ser liomr^s mui honrados , e de niuita iiiarqua; pelo que as suas mortes forain sen- tidas mill geraimenle. Mas como quer que ella for tarn bonrosa , e em servic^o de Deos , o. de V. a. , ella seja bem vinda. Francisco de Craslro tern laa hij irm:lo muilo bom liomcm , e que tem caamuilo bo nome , que sechama Cliristovjio de Craslro , que so foi o anno pas- sado. K tinha qua railro irmao, que se clia- mava Vasco da Cuuba, o qual como soiibc, que Dio estava cercado, me pedio licenya, e se foi meter deniro na fortaleza. A este Christovao de Craslro mefara v. a mui grao merceem se querer lenibrar d'elle , elliefazer rnerce pnia inorte de seu irni'io, que Ihe es- pedai^arfio em seu Servian, e destoutro , que morreo em Dio, como adyanle direi. A quatorze d'abril me derao liua carta de dom Joao Ma^carenhas, em que me fazia saber, que ticava cercado dos Guzarates, dequem era capitan Cnje ^ofar Pelo que com a inaior brevidade, que pude i'lz prestes nove fuslas , e caturcs em espaco de Ires dias , nos quaes maiidei obra de dozentos homeu* inui escolliidos, e todos arcabiizeiios , e vinle ecinco pipas de poivorade l)ouibarda , e duas despingiiarda , e mais vinte quinlacs decliiim- bo, com muilas encliadas, alferses, piqiioes , e omze mil pardaos doiiro para pagauiento da genie, e dez bomliardeiros. De Ha^aym mandei la pa^^ar mais cincoenla liomi^s com niuilos manliaientos : e de (^liaiil outros cin- coenta. Antes deste socorro , sem ter nova algua , tinha en ja maudado emvernar a Dio, Grc-gorio de Vasconcellos couihuacom- panhia decern Lascarins, e assi hua caravel- la com quinze pipas de polvora de bonibar- da, e liila despinguaida, e dez quinlaes de cobre de pasta, pera se fazcrem carreguado- res , ecincoenta vigas, e dez candis de cairo, com ontras muitas cousas neccssarias a for- taleza. Os fidalgos, que mandei per capitiics destas nove fuslas, e catures foiao: dom fei- nando, men filho; dom joao dabranches ? filho do capilao dom Amiao; dom Francisco d'almcida, fiUio de dom Lopo d'almeida: Jorge da silva, filho danrrique correa da sil- va ; pracia liodriguez de lavora , filho de chri-tovfio de lavora; Diogo de Ileinoso, lilho de fernfio deanesde Soiilo-mayor ; Anto- nio da Cunlia 5 irmao de Vasco da Cunha ; Dio- g'o da Silva, filho defernao peres dandrade; Pero lopes de Souza, filho dafonso lopes da cos- ta; Antonio moniz , filho damrrique moniz. Os quaes todos so me vierao oforecer ; pera qiieos mandasse todos a Dio servir a v. a. , salvo dom fernando, que me qucria fogir; pello (]ue me pareceo uielhor mandal-o por minha vontade : pera com sua ida obriguar mais OS hoiiio-i , 0 trabalharern declieguar, e erntrar na fortaleza; pnr caso de ser ja emlrada den- verno, e a Iravessa da enseada mui perigosa noste tempo. A boa vonlade, com que todos forao servir a v. a. causa as muilas merces, que V. a. fez as possoas, que da outra vez, em tempo do Viso-rey dom (iracia defende- rao a fortaleza de Dio; e assi as que cada dia faz aos que o servem. Alem destes fidal- gos per si , e de llies ficar per eranga e ben- <;ao de sens pais, e avos , folgarem de servir v. a. Ksle socorro enlrou todo em Dio a sal- vamento , lirando tres catures, que arribarao a Ba^ayin com tempo; mas os oulros , pas- sando grandes Irabalhos no mar, por causa de ser ja passada a nionyao, chegarfio a Dio. A emlrada foi mui requestada; por que os Guzarates linhao feito a borda do no hu grande bastiao, e posta nelle muila arlelha- ria , que varejava polo rio abaxo ale a barra ; e teiido nelle grao numero darcabuzes, pre- zumiao de lolherem a desombaica^-ao aos nos- sos. Na companhia de dom fernando mandei Bastiao coellio , por ser homem abil, e ex- primeniiado assi na guerra do mar, como na da terra, e ter visto muilos cercos , e com ba- les, e saber bem todalas maneiras, com que se hade defender, e repairar hua fortaleza. De nianeira que, acabado dentrar este socor- ro em Dio, se ^arrarao as barras, e ficou o mar ynavegavel , e a fortaleza com a genie, manlimentos, ernonigoes, que assima dign a V. a. , e com dom Joao Mascarenhas don- tro por capilao, (]ue ho lal fidulgo, e cavalei- ro , que priinoiro o farao em poslas , que Ihe tomem hiia so amea A deznseis d'abril me escrevoo dom heroni- mo de Noronha, capilao de Baraym, fazen- do-me saber, que o vmlia cercar o Ijramajuco com muita genie de pe e de cavalo. Pello que logo mandei armar cinco fuslas, nas quaes mandei dom francisco de menezes ; por me parecer, que olle inelhor que outra pes- soa o podia ii ajudar nosta guerra; assi po- las calidades , que nelle avia , que sao taes, que mui raramente se acharfio em alguem, como taobem pola mnita pratica , que tinha da terra, e grande credito autre os Guzara- tes, c Decanis; polas fortalezas , que Uies 283 tomoii , e batalhas, que Ihe venceo : alem de serein irm;1os , e muito amia;o3. E em sua cnni|)aiilii.T niaiidei dom Duarle de Menezes, fiiho do c-niide da Feira ; o Miguel da Curilia , filho de Joaiii Brandfio; por seiem fidalgos inuito speciaes, e trazeieiii tiiais n ponto em servir v. a., e acornpaaliareni , c acalaretii seus rapilaes, que iioutra cousa algua. Oa quaes, cotiio outros '.Teados de v. a. , e Las- eariiis mui liouirados parlirfio desta cida(!e com dom fraiici-ico a viiUe e qualro dias do luez dabril , e achando veiUo pro'?pero, clie- guarao torlos a Baeaim a salvamenlo. — Avinla dous dabril me escreveo o vNiza- nialuco, c mandou liu embaxador, aquei- xando-se muilo dos agravos que o capitfio, e moradoies de Cliaul ILe faziam : requeiciido- ine, que acodisse a isso ; seiifio que llie coin- piia a elle buscar o remedio. Fazendo-me saber camanlio servidor, e amigo tora 50in- pre de v. a, Eu Ihe respond! logo , e despa- cbei o seu emhaxador, concedeudo-llie ludo o que pedia em seus apnntamentos ; per serem cousas jnslas, eassenladas per conlratos, que OS governadores passados linbno feito coin elle. Mas receoso, que estas novidades, e pe- titorios vtessem a desarmar em guerra, e di- ferengas, maiormeiile em tempo de tanlas revoltas, em que Dio estava cercado, e Ba- gaim perto , e propinco a isso: provi logo Chaiil de polvora , cliumbo, repairos darte- Iharia, enxofre, salylre, e outras moni96es, que forao na companliia do euibaxador. — Continva. N. FACTO POCCO CONHECIDO SOBRE A UTILIDADE DAS ABELUAS. As abelhas nSo so nos dfio o mel e a cera, mas tambem favorecein a fruclifica(;ao das arvores. bin pomarem cuja visinliantja e>tejam numerosas colincas, produz mais fructos do que oulro em que se nao de esta circum- stancia, com quanto reuiia as mesmas con- di^oes: a dillereu^a sera tanto inaior quan- to as especies d'arvores cultivadas contiverem mais mel, e por isso, attraliirem mais as abelhas. A explioai^rio de-te facto e facil : a abelha, inlroduziudo-se noscaiices das flores, faz cahir o p6 feciindaule sobre oesligma, ou para alii o traiisporta quando se revolve den- tro da llor , para melhor Ihe extrahir os succos. liesulta dalii urna f'ecundagfio arleficial que muitas vezes e naturalmente impedida por condijoes almosphericas desfavoraveis. O que dizemos das arvores fructiferas pode applicar-se a todas as outras plantas visitadas pelas abelhas. E pois urn acto de boa pro- vldencia por um corti(;o d'abelhas, onde se desejar obter fructos e sementes de plantas em maiorabundancia. O observadorque, per- correndo n'um belle dia de verao um campo cultivado, ouvir zumbir cm lorno de si my- riades de insectos de todos os generos, com- prehendera que milhares de heclolitros de sementes e de fructos ha-de augmentar a fe- cuiida interven^fio d'aquelles aiiimaes. Uma so abelha frequenta por dia milhares de flores; irnagino-se quanlas ser.'io esquadriiihadas por umonxame! As margens do Rheno , na parte media deste rio s.^o , na Allemanha, os ler- renos mais ricos em fructos; ora , e riiui raro acliar alii um cultivador, um proprietario que nno tenhaalguns corli^os d'abelhas; tam- bem alii nao ha anno em que as IVuclas fal- tem de todo. 'I'ermiuamos com um conselho ; Sequereisser bcm succedidos na arbnricultura, condiyao essencial, cultivae as abelhas. AVISO DA REDACClO. Com o secjuinle numero termina o 1° anno tVesta ptthlicnrdo. A Redac- cdo ar/radece aos snrs. assiynanles seu valioso auxdio , cuja conlitiua^do espe- ra merecer-lhes ; e remellerd o Insti- tulo dquelles que em tempo competenle ndo mandarern revoyar suas assigna- turas. Aos shrs. assignanlcs que esldo em deficit, roga Ihes que satisjagam a imporlancia devida , antes de come^ar o novo anno d'esle jornal. Toda a correspondencia deve ser dinqida franca de porte : o Inslituto cotitinuard aofferecer eyualvautagern. n J • . r por anno... ]4'4-10 I'reco da assignatura < '^ '^ ,.;. i por semestre ;>00 EIll{.\TA DO N." 13. rag. Col. 155 1.' Link, 25 31 48 10 28 Erro. irritabilnilade eiid'isperenia pxpirai^ao, vegelai Pliijtogenecia de Dccaiuluile Emcml. irritabilidadc. endosperma. expira(;iio vegetal . Phytogenesia. de DecHlldolIe . de Raspaii , DO N.° 19. atOnoalloilaestal. Del4annos DO N.° 21. 245 4." 40 da Malta >. 58 Juse Abilio d'O- Jiveira, Conego da^Se d'Evora , e bacharel em direito , etc. DO N." 22. Ale 14 aniio.s. de RIolle. Joiio d' .^iruiar , Tliesoureiro Mdr fta Se d'Evnra , e dnii- lur em lJleoIugi.i , etc. 201 262 nola 43 X = 12905 K r G — -r 11=1299^ R—r 284 ■n^BB^ OBSERVACOES METEOROI.OGICAS . FEITAS NO GABIiXETE DE PIIYSICA DA UMVEKSIDADE DE COI.VBRA. Anno lie Pressao alniospherica ao '""" '^"' phera ao meio .lia 3 1G54 ^ r 83 3 ^ Allitra Itaromp- Telis.'io tlu vapur Press.HO do ar Quantidade de \a- poraijuofo coDtido Mez toii em ['ortiigal, e fura niiiilo para desejar que a fun de remo- ver este griiiide rnal se eiisaiassem tndos os meios que offerecem algiinia probabilidade de eflicacia , mornieiile , qiiaiido taes en=aio5 nao detiiandarn grandes despesas. Du Ijreuil digno professor d'arboricidtura em Fran(,-a, piiblicoii receiitemenle , no Jour- nal d' Agriculture pratique, um arligo a cerca desle importaiue objeclo. Aliiilos remedios teem sjdo aconselliados , diz Du [jreiiil, porem tieiilium dos que appa- receram uluz publica, produziram resullados salisfaclorios ; on nao erani efficazes, ou nao podiam ap|)licar-se a cultura em grande. Os vinliateiro! da comiiiuiia de 'I'liouiery , pro- ximos de ('"onlainebleau , cuja uiiica iiidustria Vol. II. Minto 13 e, como se sabe, a cultura de uvas para mesa , tambem softVeram as consequencias do oidium, deide 1831. Eusaiaram ospalliar tlor d'enxofre sobre as parreiras previaaieiite molliadas, e consegiiiram t'azer cessar a mo- lestia , poslo que a flor de eiixofre , adiierindo as uvas, as toriiou menos vendaveis. No anno seguinte, a maior parte dos vinlia- teiros d'aquelle logar subslituiram a flor d'enxofre pelo liydrosuifalo de cal; mas uTio se deram liem : a colheita perdeu-se em grande parte. Um delles, Rose Cliarmeux , que se lembrara de usar da tlor d'enxofre a secco, obleve um resultado complete, sem que se de'sse o inconveniente de ficar pegado as uvas o enxofre , coino qnando as parreiras eram previamenle huuiedtcidas. O anno pas- sado todos os vinhateiros de 'J'liomery empre- garam o processo da enxofragem a secco, e a collieila que tiveram, niinca foi t.^obella.' Eis alii a descripi^ao do instrumento que se emprega na enxofragem a secco, inventa- do por Gontier, agrioultor de jVlnnlrouge, e successivameute aperfiMjoado pelos vinha- teiros de 'J'liomery. Consiste em um folle ordinario , termmado por uma eaixa de lata, que faz corpo com o tubo conduitor do ar. Esla caixa, sogundo rnostra a figiira, que seiilimoi nao poder apreientar ^ , e'cyliudrica edividida linrisoulalinente em dous reparii- meiilos. O de baixo e foriiiado por uma rede melallica cujas mallias teem pouco mais ou menos 0"',001 de abertura ; c o de cima, por uma serie de fios de ferro disposlos longitudi- ualmente com intervallos de 0"',01. () alto da caixa esta muuido de um orificio por onde ?e iiilroduz a tlor d'enxofre. Concebe-se fa- cilmentecomo posta alii esla substancia bem becea e bem pulveiirada, passa a Iravez dos dous reparlimeiitos e calie no fundo. Pondo ent.lo o folle em movimenlo, a coriente d'ar arrasla a llor d'enxofre em forma tie nuvem, cujas particulas vao doposilar-se sobre iu ' Snliemus q\ie o anno pai-sado , na Ilha da Madeira, uma senhura ingleza , applicuu a llor d'en.vufre a molesliii das tinlias, 6 oldeve lima perfeila collieila —porem oh haljilaules daqwella illia , oppiinliam a efncacia do reme- dio, u cuslo e a difficwldade da applica(;ao. - Um rico prupritlario de Cuimlira , a quem com- municamos eslanolicia, vac ensaiar a enxufra^-ein a sc-cco e para isso ja mandoii lazer o insuuiucnlo dcscriplo, que em lireve eslara a \euda. — 185i. .NiM. 24. 286 follias, caches e gomos dacepa, para onde se dirige a corrente. Em Fian^a , o pre^o d'este singelo apparelho t; 610 reis. Das ol)serva(;oes que I'oraiii feitas eni 'I'lio- mery, dodiiz-se a conveiiifiicia de cO[ne(;ar a enxofrngom antes d'apparecer a molestia, repetiiido tics vczes a opera(;jo. A piiiiieira devc ter logar uni poiico antes de abrireiii as (lores; a segiiiida , qiiaiido os liagos d'li- vas cliegain a graiideza de grfios de cliiiintio de caja, e a tcrceira, qiiarido as iivas ja estfio do taniaiilio de ervillias. A flor d'eii- xofre dcve cliegar cgualiiienle a todas as fo- llias e caclios de cada copa. A mellior lioia de pralicar cata operagao e ao nieio dia, e quando o calor esta mais intcnso. Em 1'omery applica-se este processo nao so iis vinlias de laladas , rnas taiiibem , e com egiKil vatitagein , as de halceiro e de pe. iNifio offerece por tanto difficuldade a varie- dade de cidtura. Ha poreiii urn ponto impor- taiite que c mister esclarecer — o custo da operajfio. Os dados fornecidos por um dos mais illustrados vinliateiros de Thomery , Rose Cliarmeux, sao os seguinles : DESPBSl FEITA COM A ENXOFRAGEM COMPLETA DE IM HECTARE (8264,4 VARiS «UADRADis) DE TlNUi. 30 kilogr. (66 arraleis) de flor d'enxofre para Ires enxofragena siicessivaa , a 35 rs. Jr. cenl. por kilogr. (S,2 arr.) 1680 (10,50) 1 (lia de trahalho de urn homem , para cada enxofragem , Iree dias a 3'iO (2fr.) 960 (6,00) Total.. 8640 (16,50) Attendendo ao maior pre^o por que entre nos se lia de obter a flor d'eiixofre, e ao inenord.rs joriiaes, pode dizer-se que despen- deiido 4j||000 reis com cada hectare de terra devinhas, conseguir-se-ha evitar a molestia que arnea^a privar-nos de um dos nossos mais ricos produ — uNfiotardam urn moinento. Disse-llies que sereuiiissetn aqui. n — 51 iistii bem certa deque ellas presencearam tudo , e podem dar leslimunho das duas en- trevislas. — !> A esse respeilo estou peifeila- inenle tranquilla , as quatro testimunhas, d'ambas as vezes, estavam inesmo a porta do gabinete ondenosacliavamos. — »Ob! as mil maravill)as,optimamenle ! . .asenhora tcm um engenho . .. etc. , e a conversa continuou por muilo tempo galliofeira e espirituosa : o advo- gado e a rapariga pleiteavam finura e malicia, « Ah ! exclama em fim odoutor, recordando-se de um ponto importanle , creio que nfio me occullara per mais tempo o nome da victima afortuiiada; poique em lim, niio me e possivel advogar sem conbecer a parte adversa. Vamos, elle ja nos nfio pode esca- par.ii " lista cerlo diaso?« — tiCerlissimo , nao p6:le haver escapatorio. « — ;> Entao gale's ou casar couiigo!" — n Sem duvida ! Saiba- mos-liie o nome; sera meu conhecido?)! — 11 Sim , senhor. " — " Ora essa ! Ent;1o quem e?i) ;i E o senhor mesmo , " respondeu el la surrindo e coraiido , « e as te-.teinunl)as sfio quatro firigidos clientes que ahi estao senla- dos a sua porta. O doulor em leis , com esle golpe impre- visto e a queima roupa, ficou por um mo- mento atordoado. Einbrulharam-se-lhe as ideas muilo niais do que na primeira visita. Poretn asson:ando-lhe n'alma pouco e pouco o espiritoanalvtico, descobriu ipie , meltendo tudo em calculo , nada tinha o choque de desagradavel , que, pelo contrario, a logra- qao havia sido mais bem pregada do que elle imaginava, e que o mellior partido a seguir era casar com uma joven bella, dotada de muito espirito e coragao, que acabava de provar o amor que Ihe tinha de um modo lao original, quanto lisongeiro para o seu amor proprio. Referiremos ouira avenlura cujo desfecho foi menos alegre. I'm joven bretao novamente desembarca- do para occupar logar mui vantajoso em uma casa de commercio, liospedou-se em uma dessas famil;/-houses de segiinda ordern. Achavam-se entre os commensaes duas ou tres raparigas, uma das quaes ja iim tanto tnadura jurou in pcto por Santa Catlierina, a quem muilas vezes touciiro, que o recem cliegado seria seu marido, ainda que liouvcssede emjiregar para isso osultimos recursos. O brelfio cslava a ponto de caliir no lago , quando uma alma caridosa o avisou dos costumes do paiz , e Ihe explicou por miudo o mecanismo da armadilha rnatriujonial americanu. « Muilo obiigado, disse elle, honicm prcvenido vale por dons; muito alilada deve de ser a que me apanhar. A rapariga que ignorava esta perfidia, levava por dianle o seu intento ; poretn o bretao estava firme como um rochedo. Nao sei se tniss Pamela tinha estudado a lactica militar que em|)regou a viuva Wadman contra o cora^ao do tio Tobias em 'L'ristram Shandy, talvez a tivesse palpilado iiistin- ctivamente; o certo e, que nao a procuran- do o nosso homem , resolveu ella ir ter com elle. For acaso , os dous quartos eram no mesrao andar ; todas as noites buscava ella nm pre- texto para Ihe enlrar no quarto. O pobre do mojo tremia vendo-a fechar a porta e demorar-se o fatal quarto de hora; e lodavia nao tinha animo para a mandar embora; porque nao obstante os sens vinte e cinco annos, era sympathica, tinha uns bellos olhos azues, longas tranjas de cabello, c o maii. Uma noite, estando ja proximo o dia de S. Catlierina , deciduj a bella miss , dar pressa ao negocio, para escapar a este termo fatal. Erao onze horas da noite, coin o pretexlo de acender uma vela, entra no quarto do bretao que se occupava de verilicar conlas; acesa a vela, pede-llie explira^oes sobre uma pas- ^age^n de um auct(u I'lancez, que ella eslava lendo. lleclina-se sobre as costas da cadeira em que eslava o bretao, poe-lhe por cima do homl)ro um torneado bra^o nu, para melhor segurar o livro, e >uas compridas inadeixas lo^-am pela face do meslre , em quanlo le o trecho em francez estropeado , porem com a voz harmoniosa edi'licada, quesaliia deuma bnca cujo halilo tepido o fazia estremecer ; o tio 'J'obias nao teria resi'^tido mais do que o bretao. Ja se ve ipie a li^fio nfio podia durar muito ; passado uni momento, tinham- se trocado os papeis : a discipula ralliava ao meslre, doceinente por se obstinar em ser um odioso celibalano, demostrando-lhe as dolicias do hymineo e os hortores dasolidao, que ella desejava dissipar. II Ah senhora, ii diz o bretao ja enlrado de amor, mas sempre desconfiado, " eu fiz um juramcnto, e so posso offerecer-lhe o cora5.io, nio ja. a raao. 5! It Pois , meu amigo, quem Ihe pede niao? 288 CM consagro-lhe urn amor desintpressado ; a niiio dar-in'ii-lia depois , dizia cUa d parte, n u Ila-de jiirar-nie que miuca se servird das leis d'csla lerra, para nie violeiilar. >i ii Jiiro tiidii (1 que qiii7er , anio-o , iiij^'ralo, ejuro fazer a sua IVliridadt' >• Keiiiovido o receio de perder a lilicrdado, o joven aiiianto entrcgon-s'' si-m teiiior as doguras do um iiojvado illegitiuio; mas passado pouco tempo, eis ijue rol)enta a boail)a. Um (iia, estnndo em scu c^i-riplorio na paz dainiioceiicja, vii>rain-llii' dizer que um senlior desejava t'allai-llie incstiio a |)orla Diri;;e-se alii o lintricm ^em nada desconfiar; immodialameiile doiis empregados da policia e outro da justija Uie inliuiain que nsacoiri- panlie a casa do juiz, scui mais explica^oos. Chegado peranle S. S,", alii ve a sua di'ioe amiga, e logo comprelieiido tudo. O magis- tiado com voz irada: a O senlior recotiliece haver seduzido esla joven ? n — u Peidlio snr juiz, com esla jjequena dif'feren^a, que a senliora e que me seduziu, nfio ja eu a ella.u — )i Deixemo-nos de gta^as , senhor francez, julga que esla em seu infernal paiz de corrupt Jo, que o leve o demo? Vamos, diga sim ou nao, quer dar a esla inleressanle menina a reparajao que Ihe deve, segundo o atteslam as testiniunhas ; ou quer faltar asua palavra? » — « Eu fallar u ininlia palavra ! Deus me livre; pelo coulrario a senliora eque viola o juramento que me deu de nunca me obrigar acasar u — ii Como assim , my dear I jurci fazer-vos feliz , e e isso o que eu quero. u — " Mf'tlam me na cadea esse maldilo fian- cez sem te e sem pudor , e se denlro d'oilo dias ae nao decidir, snja enviado para as gale's. O rapaz em nada era brelao ; resistiu com lieroi^mo, a despeilo do calabou^o, a despeito do pao e agua , a despeilo dos lo- gos da dama de seus peiisamenlos que Ihe ia eiidere(;ar lernas liomilias a travez das grades da prizfio. Aproximaiidn-je pore'm o dia de juizo, mandou o iufi-liz pri^iullelro vir um advogado , que, dadas lodas as explica5oes , Ihe doclarou mui deseugauadamenle, a ne- cessidade de ca^ar quanlo antes para evilar as gales. » Se o senlior fosse uin santo de Israel, se fosse inembro das sociedades bi- blicas , lalvez ai basse circuuislancias alenuan- tes, principalmente se fosse yankee ; mas o senlior d um indigno catliolico, pouco devo- io, e ainda em ciuia, francez; e condemna- do sem misericordia. u O francez, dando-se por convencido, pagou ao advogado , pagou as cuslas , casou com a perfida, perdeu o seu logar; mas em com- pensa^fio privou-se de sua mullier, emigran- do para a California, oilo dias depois das nupcias. Continiia. AS MEZAS GYRANTES , CONSIDERADIS NAS SUAS BELA^OES COM A HF.CANICA E COM A IMIVSIOLOUIA. Conlinii.uli) de pap. S78. Quando uina ave de rapina , uina ave de (nns cslcndidaf , cumo dizeui Ilomero, Ilc- siodo e La Fontaine, paira por cima de um paiz, observaiido d'uuia dislancia imuiensa o animal que |>ri'leiide agarrar , julga-se geralinenle que clla nfio sobe nem dcsc^- , mas que se suslenta sempre ii mesma allura , sem fazer movimciilo algum. E uui grande erro. () facto iria d'encimlro a todos os priu- cipios da mccanica. Tivemos occasiao de nos ce'tificar, observando estas aves do mais alto dos Pyrenees e das moiilarilias cenlraes da Franij'a, quando nos acliavamos a mesma ulluin que ellas, deque no seu estado de re|)ouso , vfio baixando seiisiveluieute. Ve-se que ellas se vao projectando iias encostas das monlanlias fronleiras em ponlos cada vez nieiios elevados. O que llies domora a que- da , e a grande acjao , o grande attrito que as suas pennas, pela sua forma erii;ada de mil saliencias, exercem sobre o ar ambiente. Debaixo d'este aspeeto examini'uiios uma grande penna d'uina aguia do Himalaya que nos tinliam dado, em Londres, no escripto- rio da comiinnliia das ludias orientaes. Era realuieiiie para admirar a resistencia queeste corpo experimeiUava da paile do ar , (piando nelle se fazia agilar com alguma rapidez : dispondo e^ta penna para servir de volante n'uin apparellm de rotat^'ao, o scu effcito era <|n;ilri) ou cinco vezes niaior que o de uma fi'llia de papel da mesma dimensao. Assim uuia a\e ipie eslende as azas, sem iinprimir movimento, desce pouco, em consei|uencia da resistencia do ar contra as penims das suas azas, mas desce, e este moviin<'iito tor- na-se priiicipaluienle scusivel ao observador que o refere a umfundoque Ihe fii5rio do corpo que nutriu , dando origein debaixo de cerlas iiifluencias a organismosd'outraespecie , a materia continua a viver com outras modificagoes. 'I'al e a opi- niao dos que adrnittem moleeulas organicas que manifestam diversns formas segundo as leis a que ealao sujeitas ; tal e o pensaniento dos que, com Tiedmann , dizcm que a polen- cia ]ila?tica ou a foi(;a geradora da materia nao se extingue depois da inorte, e vinla- nove dodilo mez , e com elle todolos cazados de Cliaul; os<]uae3, tanto que ellecheguou , armarao suas Fustas, e com a mor brevidade do mundo, egrandes guajlosdesnasfazeiidas o segiiirao: a saber, Pito Prelo, Diogo Lopes dagyam , Jam Ninie> Hornem , Jacoine do Conto, Anlonio Fernandes, Jam Garcez, Guaspar Lopes, Simao FoinanJfS Raiuallio , Fern.'io Uias, Domingos Fernandes, Riiy Fernandes, feitor, que foi em Gliaul , Alvaro dalmada, Gon|,allo Gomes, .Vntonio Uias. Sendo dom Alvaio jd em meo golfao com toda esla companliia, llie deo tamanlio temporal de vento oesnoroejle, que arribou a iliia das vaqiias, quasi perdido com toda lia armada: e ne^la dlia se encontrou com dom Francisco de Monezes, que saira de Bajaim com liija armada de quinze fuslas pera ir socorrer a Dio, como llio eu tinlia mandado no iuverno. E logo ambos se ajunuirao, e torniirfio a acomeler o golfao. Scndo entrados bom pedago per elle dentro ; llies tornou a dar oiilro tempo muito rijo, e muito maior, de sorte que com grao Iraballio puderao arribar com perda de duas fuslas, e com toda a armada aberta, e desaparelhada. Destas duas fustas se salvou a gente de liua dellas , por pellejarem bem , e se sostenta- rem na praia , te dom Alvaro Ihe poder acodir ; e a da outra fusla se entregou , nao podendo rezislir aos mouros, e cslaa catyva em poder do Bramaluco. Passadacsla fortuna, tornarao outra vez dom Alvaro e dom Fran- cisco conieter o mar, e enconlraiao liua nao de Coge (j^ofar, que vinlia de M(H|ua muilo riqna, e a tornarao. Sendo ((nasi naveguados , Ilies tornou a dar outro tempo muilo maior, (jue OS passados, por onde lornarao a arribar millagrosamenle. Ja neste tempo se llies desarmavao as armadas, porque os Las- carins , enfadados do mar, e da maa vida, que passavao com as grandes ciiuvas, e IVios, llies fogiao todos. Neste comenos Antonio Moniz, fillio danrriqnc Moniz, e Gracia Rodriguez de Tavora com oylo companlieiros entrarao nua galvela e delermiiiar.ao de mor- rer, on enlrarem em Dyo. Os(|uaesavenlura- do-se ao caminlio , for.'io o mais do tempo debaxo do mar le ciieguarem a Dio, aonde entrarao na forlaleza , e derao novas como dom Alvaro ficava no goHao com liija ar- mada de cincoenta e cinco fuslas O que deo grande esfor^o aos nossos ; porque a este tempo estavao em eslrema necessidade, e esperava-se cada dia, que cs mouros os entrassem. Foi este feito mui nolavel , que lizerao estes dons mancebos , e que por elle merecem muita merce a v. a. Passado este lerceiro temporal lornon dom Alvaro, e dom Francisco a sua perfia. E desta quaria vez aprove a nosso Senlior de OS levar a Dio a vinta cinco dias do mez dagosto, posto que com grandissimo Iraba- llio: porem do suas armadas somentes os acompanluirao dezesseis fuslas; porque as oulras, liuas por ni\o poderem, outras por n.'io quererem , arribarao, e nao clieguarao com elles. Os capilaes, que os acompanlia- riio saoossegumies : dom Duarte de Menezes , dom Joao de Taide, Nuno Pereira, Ballezar da Silva, dom Afonso de Monrroyo, Duarte Pereira, Antonio de Valadares, Francisco Giiylliem, Diogo Fernandez, Pero Gon- (^alves, Riiv P'ernandez, Pero Prelo, Anlonio Fernandez, Jam Rodriguez Correa, Alvaro d'Almada, Domingos Fernandez, Miguel da Cunlia, Lnpo de Souza, dom Jorge de Menezes, Jorge da Silva, dom Joao de Abranclies, dom Duarte Ddssa , F'ernao de Souza, Anlonio Nunes, e Luiz do Mello em outra galvela. Os que nao quizerao clieguar a Dio, me pareceo bem callar, tomando exempio da Sagrada Escritura , que sempre nos poem os nomes dos boos, e dissimulla , e cala o non)e dos maos. Paroce, que se lardara dom Alvaro majs scis dias, se perdera a forlaleza de Dio seni iR-nliu rcmedio. Donde naceo liu proverbio em loda a India , dizendo : que dom Joao Mascliarenlias defendera a forlaleza , e dom Alvaro a salvara. Porque a maneira, de que acliou a forlaleza foi grande piedade pera ver ; como quer que os mnros e baluarles erao todos arrazados com o cliao , e as cavas emtupidas, sera aver sinal donde forao : a penle quasi loda inorla ; e a que 295 ficava era fcrida , e doente. Anlre os quaes niortos acliurao doni Fernando, meu fillio, o qnal inorreo com toda a nobreza, que estava em Dio, desta maneira: Tinlifio os moiiros niinado o baliiarte Sfio Tyago, e liua parl(' do iniiro, e por essa parte punhiio loda sua forsa, pora entrar a forlaleza ; pelo que como aluf^uar niais pcrijjozo de tndos acodia doni Fernando a guarda delle com toda a mancchia, e pente nobre , que na forlaleza e^lava : fazeiido os iiioiiros (nostra de dar liu coinbale diadeSfio 'I'yago, acodio ilom F'ernando a guarda delle , como acos- lumava : eslando cm sima dcfendendo a entrada aos de fora, derao os moiiros fogo as minas , e fizerao revoar o haluarte, e muro, aonde niorreo dom 'I'erriando , e loda a principal gente, que no l>aliiaile eslava. Dizem , que dom Joiio cntendera o nogocio , e OS mandara avi^ar ; 7nas por parecer de liu certo Lome o deixatao de fazer. A sua len^ao foi parecer-lhe ser mais servijo de V. a.; mas a obra mosttou , que mais acerlado fora fazer o que dom Joao Ihe mandara dizer. O que ate esse tempo fez dom F'ernando deixo de dizer a v. a. ; por que nao pode ser que os iiomes sejao ifio macs, que alguns delles nao tenbao cuidado de dizer a v. a. os services, e grandes traballios , que passfio mens fillios peloservir ; pois ho eu live sempre, e tenbo lao prompto pera aprezenlar mui nieudamente ante v. a. todos aqueles, que Uie fazem os allieios. Continnu. N. CIBA BADlCiL D UM ANEIEISMA POR UEIO DA IXJEC- (AO DE ACETATO DE SESOHOXIDO DE FEIIRO. IS'umerosos tern sido os mi'ios ensaiados para curar esla lesao que de ordinario pro- duz a morte do individuo. A ligadura da arteriu enlre o cora^fio e o porito aff'ctado e n meio f]ue ordinariamente se einprega com o fim d'ol)slar aos progres- ses e crmaequencias do mal : com tudo por demasido doloroso, e U-- vezes iuipossivel, foi substituldo por outros , iiuaginados por diver- sos practicns ; urn delles e a coagulajfio do sangue no ponto lesado. O gelo foi a subslancia de que primcira- mente se lan(;ou niuo, e Guerm de Bordeos diz ler obtido bons resullados. Esle meio porein foi abandonado , porque segundo a opiniao de Moulinie e mui pouco effjcaz quando se eniprega so, e expne a gangrena quatido o seu uso e mui conlitiuado. Mon- taggia, celebre clrurgifio italiauo, aconselhou no tratamento dos ancurismas o uso dos astringenles , como meio coagulador do san- gue , depois d'injectadns no lumor aneurismal por ineio da puiicgao d'uni trocnte. Reslava achar a substancia que dotada de lal pro- priedade satisfizesse a rstas condigues. Coube a Pravaz a honra d'applicar o perchlorureto de ferro no tratamento dos aneurismas. To- dos sabem a influencia nociva que o chloro exerce na economia animal depois da sua absorp^ao, e todos conhecem o grande risco de se pOr em contacto com o liquido vivifica- dor , uma substancia em cuja composi^ao enlrava um corpo que podia ser causa de consequencias funestissimas. Levado por ostas considera^oes Ruspini fez lodos OS esfor^os para achar um composto que nao sendo inferior no poder hernostatico deixasse d'eslar em opposijao com as con- dj(;ocs necessarias para a manifeslacfio da vida. Urn resultado feliz coroou lodos os traballios de Ruspini, e o acetato de sesqiiio- xido de ferro foi o composto deslinado a cura radical dos aneurismas sem coniprornet- ter a vida do doente. As experiencias e os factos vieram confirmar esta idea. Em Janeiro d'este anno (185-t) Lussana empregou pela primeira vez o hernostatico de Ruspini na cura d'um aneurisma na arleria niaxillar externa, e observou que oito ou dez gottas d'acelalo de sesquioxido de ferro injectadas no tumoraneurismal , por meiod'uma seringa de vidro, cram sufficientes para se operar , a coagulajao, e lao proinptamente que , tirado o dedo de cima da incisao, no fim d'um mi- nulo, nenlium sangue se escapou pela aber- tura, adquirindo o tumor grande dureza, e augmcnlando pouco de volume. Dias depois , o tumor diniinuiu em consequencia d'uma aljsorpjao lenta e gradual, e a punc^ao ex- ploradora ao deciuio dia mostrou a efiicacia de tal meio hernostatico. Apreaenlamos e^la observa^'ao por nos pa- recer digna de se repelir e confirmar, todas as vezes que as circumstancias o permittam. F. DENIES HUMANOS FOSSEIS. O grande facto apresenlado na ultima reu- niao da a5Sociai,rio allema em Tubingue foi, OS esclareciinenlos do my>terio dos denies liumanos fosseis achados nos Alpes .Suabios, em forma^fio do periodo mamoulli; al,guiis moitrarain diividas a respciio de sereni ou nao denies humanos, vi?to que n.'io acredi- tavam que o homem existisse no tempo d'este animal Desde o anno de 1852, alguns cra- neos humanos completos e com dentes se encontraram na mesma localidadc ' ; esta des- ' O Arligo — Gnilas dc Conileixa — do n.° 4 do 2." anno d'este jornal , lambeni pulilicado no jornal tin Sociodade Pljarroaceulica Lusilnna n.® de novembro de Ifto-i, da noliria de craneos tiiimanos e outros ossos en;.'astados cm calcarco concrecionado , ou cotierlos de iiicruslai^oes cristaljiias da mesma roctia . que furam en- conlrados o anno paefiado , na Ciruta da Eira Pedrinha . perlo de Condei.va. 296 roberta, sc for devidamcnle avUhenticada , leva natural ruenle a conoluir que a ra^a iminana oxistia conteinporaucamonlo com o niastddonte, o oulros giaiides aniinacs aiiLi- diluviiiiios. Gaz, Med. de Lisboa tow. 2." h/ IS, BiBLIOGRAPHIA. Tnhoas auxHiarrs para o calcuio das ephemcriilea astro- rivmicas ilo vatorio tla univimiilale tie Cohnbrai prlo snr .hicuii e J.tih Sarnienlo , lutte suOstiluto or' (linario da Faciildatle de yiuthemalica. t snhiiUi quo as taboos aiixiliarca, deslinadas a fa- cililar o calciilu dus annuticius d.is e|ihemei idt'S aslroiio uiicas , sao dc siimiiia ulilidade, lu'to so purqiie loinain iiietiDS peiiusu o ariilu e loii^'o Iraltallio que elle exi:;e , »eDaolaml'i'm [lorqin; us rosiillad'.s a?sim ublidus , qiiaiido se coin[mrmn com usaclmdos dijectiuiieiile p'-las foniiulus , offerert'ui uma jirova eqiiiialeiile a leptlitjao do niesaio calcuio pur dois calculadores diversus. Os ifriiucirus volumes das cpliemerides astrouoraiL-as de Coimbia , que se turnaram nula\eis i)e.bi ilisposic-ao eii- Kenhosa Jus seus arli^os , pela iiovid;ide d'algiins d'estes , e pelos uielhudos pailiciilares empri!ii;ados no calcuio de mnitos , deveram o sen credilo, e a lionrosa men^ao que d'elies IJzeram alyuns sabios fslrangeirus , nao so a essaa qualidades, nias ainda a abiindante cuUec^ao das taboas 'auxiliares e meiuorias que cunleem. Infelizmente , ja pur ser moiios conheciJaaliuL^ua por- tugueza , ja peU careacia (rniformai;oes a ccrca da coDiposi^au de uiuitas d'aqiiellas laboas, a analyse das mesmas ephemerides resenliu-se da dilficuldade que estas causas oppualiam a compbla apreciat;ao do SfU mereci- mento , c fui pur vciitura nit-iius \aiit.tjusa do que seria se nao enconUasse taes ubslaculus. Nao acontcce purem o mesaio com as taboas que an- nunciamus. Nao so ua iiilrojui-^au d'ellas oauctur expoe com sufGcit-nle clan-za o iiiudo da sua compusi<;au , e eoumera as suas vantai^ens , mas ;ijiiuU exeiiiplus que /acililam o sen uso, e iu\estiL:a escro[tulusameute os li- miles dos erros que d'csle pudem rtisullar. Assim o exariie da iriU-oilurcao liabilila o leifor para usar das taboas cum sei;urani;a , p.ira cuulieier o j^'rau d'exactidau com que jiude runlar, e para a\aliar a lui- poriancia c mfrecimentu dealt- Irabalhu , que, em virlude do juizo do cun?L'lliu da laculdadc;. de m.illiematica , fui re[)ulado inlortssaule e diguo de publicar-se. S. P. GABINETE DE LEITCRA DO INSTITUTO. Ricebein-sc neslc eitabdtciminto ^ por troca uts.gnutura os stgniales jurnaes . par Diario do Govenio, Diario das Corles. Ui'volu(;ao de Selembro. Esperau(;a, Purluijuez. Inipreniia c Lei. Progresso. "Nafjao. Gazpta dos Tiibunaes. Kevisia Eslrant:eira. Panorama. AmiL;o da Relipirio. Ga/ela Medica de Lisboa. E-scoIiasle Medico. E^culapio. Jurual da Soci<'dade Phar- maceulica fjiisitana. Jornal da Sociedade tie Pharm. e Scieiicias ac- CL'Ssorias. Joriial do CeiitroPromotor. DE COIMCR.l. O Conimbricensc. O Popular. O lasliluLo. DO roriTO. Periodico do8 Pobres. Concordia. Ecco Popular. Jornal ilo Povo. Portugal. Jornal da Associa^ao In- dustrial I*i)rlupnse. A V'oz du Opi-rario. A Familia Catliolica. A Cruz ni: DKiCt. Pbarcl do Minho. O Mndorailo. Alalaya Catholica. d'aveiiio. Campcaii do Vouga. DE VISEU. O Visionsc. DV ILHA DA MVUEIIIA. A Ordem. O Amigo do Povo, DA ILHA DE S. MIOUEI.. O Correio iMichaelensc. O A^orianu Oriental. A Ilha. Revista dos A cores. DA ILQA TERCKIRA. O Anirrense. DO MARANHAU. O GIoIk DE Pi:u\AMULro. O Cosmopolita, DG MADRID. Porvenir Medico. Herablo Medico. Chronica